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2478 DIÁRIO DA REPÚBLICA

Ministério das Finanç as ARTIGO 3.º


(Reconhecimento e tutela)
Decreto executivo n.º 94/05:
Sobre o Orçamento Consolidado das Empresas Públicas. 1. São reconhecidos e valorizados como bens de inte-
resse cultural relevante as línguas nacionais, os testemunhos
históricos, paleontológicos, arqueológicos, arquitectónicos,
ASSEMBLEIA NACIONAL artísticos, etnográficos, biológicos, industriais, técnicos e
_____ todos os documentos gráficos, fotográficos, discográficos,
Lei n.º 14/05 fílmicos, fonográficos, bibliográficos reflectindo valores da
de 7 de Outubro memória, antiguidade, autenticidade, originalidade, raridade,
exemplaridade, singularidade e outros bens culturais, que
Havendo necessidade do Estado adoptar uma política de pela sua natureza mereçam a tutela do Estado Angolano.
defesa do Património Cultural dotada de instrumentos jurídi-
2. O ensino, valorização, defesa das línguas nacionais e
cos, que classifiquem, garantam a protecção necessária e
das suas variantes locais constituem objecto de políticas e
concedam apoios e incentivos às entidades públicas e pri-
legislação próprias.
vadas que possuam ou cuidem de bens materiais e imate-
ARTIGO 4.º
riais, móveis e imóveis, integrantes do Património Cultural;
(Salvaguarda e valorização)
Tornando-se imperioso estabelecer o âmbito e o objecto 1. O levantamento, estudo, protecção, valorização e
dos valores integrantes do Património Cultural, os métodos divulgação do Património Cultural incumbem especial-
e as medidas para a sua protecção e valorização, bem como
mente ao Estado, aos Governos Provinciais, às administra-
os órgãos do Estado encarregues, a nível central e local, de
ções locais, às autarquias locais, aos proprietários possuido-
velar pela sua conservação;
res ou detentores de quaisquer suas parcelas e, em geral, às
Nestes termos, ao abrigo da alínea b) do artigo 88.º da instituições culturais, religiosas, militares ou de outro tipo,
Lei Constitucional, a Assembleia Nacional aprova a seguin- às associações para o efeito constituídas e ainda aos cida-
te: dãos.

LEI DO PATRIMÓNIO CULTURAL 2. O Estado, através do Ministério de tutela, dos Gover-


nos Provinciais e das administrações locais devem procurar
CAPÍTULO I promover a sensibilização e a participação dos cidadãos na
Princípios Fundamentais
salvaguarda do Património Cultural e assegurar as condi-
ARTIGO 1.º ções da sua fruição.
(Objecto)
3. Os proprietários, possuidores ou detentores de
1. A presente lei estabelece as bases da política e do regi- Património Cultural devem ser chamados a colaborar com o
me de protecção e valorização do Património Cultural con- Estado, com os Governos Provinciais e as administrações
siderado como de interesse relevante para compreensão, locais no registo e inventário do referido património.
permanência e construção da identidade cultural angolana.
4. As populações devem ser associadas às medidas de
2. A política do Património Cultural integra as acções protecção e de conservação e solicitadas a colaborar na dig-
promovidas pelo Estado, Governos Provinciais, adminis- nificação, defesa e fruição do Património Cultural.
trações locais, associações e diferentes sensibilidades da
ARTIGO 5.º
sociedade civil, visando assegurar no espaço nacional a
(Protecção legal)
efectivação do direito à cultura e à fruição cultural nos
vários domínios da vida social. 1. Compete ao Governo, através do Ministério de tutela,
promover a protecção legal do Património Cultural.
ARTIGO 2.º
(Definição) 2. O Estado promove, pelo Ministério de tutela, designa-
damente através dos seus órgãos e serviços provinciais, em
1. Entende-se por Património Cultural todos os bens conjunto com outras instituições públicas, as medidas
materiais e imateriais, que pelo seu reconhecido valor
necessárias e indispensáveis para uma acção permanente e
devem ser objecto de tutela do direito.
concertada de levantamento, estudo, protecção, conser-
2. Constituem, ainda, Património Cultural Angolano vação e valorização dos bens culturais.
quaisquer outros bens que, sejam considerados como tais, 3. Para os fins do disposto no n.º 1 do presente artigo, o
pelos usos e costumes e pelas convenções internacionais, Governo tem como instrumentos o levantamento, o registo
que vinculem o Estado Angolano. e a classificação dos bens culturais.
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4. Independentemente do tipo de propriedade, os bens fotográficas, cinematográficas, registos sonoros


culturais materiais são submetidos às regras especiais, que e outros;
estabelecem designadamente a sua função social, alienação d) todos os bens, do passado ou do presente, de natu-
e forma de intervenção. reza religiosa ou não que sejam considerados de
valor, nos domínios científico, artístico ou téc-
CAPÍTULO II nico.
Regime Geral de Protecção do Património Cultural ARTIGO 7.º
(Critérios de classificação)
SECÇÃO I
Bens Materiais 1. A protecção legal dos bens materiais que integram o
Património Cultural assenta na classificação dos bens
SUBSECÇÃO I
móveis e imóveis.
Disposições Comuns
2. Os bens imóveis podem ser classificados como monu-
ARTIGO 6.º
mentos, conjuntos e sítios eventualmente agrupáveis em
(Disposições gerais)
categorias, nos termos que forem regulamentados e os
1. Por bens culturais imóveis entende-se: móveis, unitária ou conjuntamente como de valor cultural.

a) monumentos: obras de arquitectura, composições 3. Todos os bens podem ainda ser classificados como de
importantes ou criações mais modestas, notá- valor local, regional, nacional ou internacional.
veis pelo seu interesse histórico, arqueológico, 4. O enquadramento orgânico, natural ou constituído
artístico, científico, técnico ou social, incluindo dos bens culturais imóveis que afecte a percepção e a leitu-
as instalações ou elementos decorativos que ra de elementos e conjuntos ou que com eles esteja directa-
fazem parte integrante destas obras, bem como mente relacionado, por razões de integração especial ou
as obras de escultura ou de pintura monumental; motivos sociais, económicos ou culturais deve ser sempre
b) conjuntos: agrupamentos arquitectónicos urbanos definido de acordo com a importância arqueológica, histó-
ou rurais de suficiente coesão, de modo a pode- rica, etnológica, artística, arquitectónica, urbanística ou
rem ser delimitados geograficamente e notáveis, paisagística do lugar, por constituir parte indispensável na
simultaneamente, pela sua unidade ou integra- defesa dos mesmos.
ção na paisagem e pelo seu interesse histórico,
arqueológico, artístico, científico ou social; ARTIGO 8.º

c) sítios: obras do homem ou obras conjuntas do (Mecanismos de classificação)

homem e da natureza, espaços suficientemente As classificações de bens são precedidas de notificação


característicos e homogéneos, de maneira a prévia do proprietário e, no caso dos imóveis, cumulativa-
poderem ser delimitados geograficamente, notá- mente da administração municipal respectiva imediata-
veis pelo seu interesse histórico, arqueológico, mente após a determinação da abertura do respectivo pro-
artístico, científico ou social. cesso de instrução.
2. Por bens culturais móveis entende-se: ARTIGO 9.º
(Fundamentos de classificação)
a) os bens de significado valor cultural que repre-
sentem a expressão ou o testemunho da criação 1. As classificações incidem sobre bens que, pelo seu
humana ou da evolução da natureza ou da técni- relevante valor cultural, devem merecer especial protecção.
ca, neles incluindo os que se encontram no inte-
2. As decisões de classificação devem ser devidamente
rior de imóveis ou que deles tenham sido retira-
fundamentadas segundo critérios de natureza cultural,
dos, soterrados ou submersos ou forem encon-
nomeadamente de carácter artístico e histórico.
trados em lugares de interesse arqueológico,
histórico, etnológico ou noutros locais; 3. Os critérios para a selecção de imóveis a classificar
b) as obras de pintura, escultura e desenho, os têxteis, são estabelecidos pelo Ministério de tutela.
as espécies biorganológicas, os utensílios ou os
objectos de valor artístico, científico ou técnico; ARTIGO 10.º
(Etapas do processo de classificação)
c) os manuscritos valiosos, os livros raros, particular-
mente os incunábulos, documentos e publica- 1. Consideram-se em vias de classificação os bens em
ções de interesse especial nos domínios cientí- relação aos quais houver despacho do Ministério de tutela a
fico, artístico ou técnico, incluindo as espécies determinar a abertura do respectivo processo de instrução.
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2. Na fase de instrução do processo de classificação, os ARTIGO 13.º


bens imóveis a ela sujeitos e os localizados na respectiva (Restauro, demolições e conservação)
zona de protecção não podem ser demolidos, alienados ou 1. Os imóveis classificados ou em vias de classificação
expropriados ou restaurados ou transformados sem autori- não podem ser demolidos, no todo ou em parte, nem ser
zação expressa da entidade competente para o efeito. objecto de obras de restauro, sem prévio parecer dos órgãos
3. Os bens móveis não podem, durante a pendência do competentes do Ministério de tutela.
seu processo de classificação, ser alienados, alterados, 2. Os estudos e os projectos para os trabalhos de con-
restaurados ou exportados sem autorização do Ministro de servação, consolidação, modificação, reintegração e restau-
tutela, ouvidos, obrigatoriamente, os órgãos consultivos ro em bens classificados ou em vias de classificação devem
competentes. ser elaborados e subscritos por um técnico de qualificação
reconhecida ou sob a sua responsabilidade directa.
4. São anuláveis, à solicitação do Ministério de tutela,
durante o prazo de um ano, as alienações de bens classifi- 3. Quando julgar ser esse o único modo de garantir os
cados ou em vias de classificação feitas sem a devida auto- objectivos que lhe compete defender, o Ministério de tutela
rização. pode determinar que os trabalhos a efectuar, referidos no
ARTIGO 11.º número anterior, sejam acompanhados por técnicos especia-
(Objectivo da protecção e valorização do património cultural) lizados por ele designados ou aceites.
ARTIGO 14.º
1. Como tarefa fundamental do Estado e dever dos cida-
(Direitos e deveres)
dãos, a protecção e valorização do Património Cultural
visam: 1. É direito e dever de todos os cidadãos preservar,
defender e valorizar o Património Cultural.
a) incentivar e assegurar o acesso de todos à fruição
cultural; 2. Constitui obrigação do Estado e demais entidades
b) vivificar a identidade comum do povo angolano e públicas e privadas promover a salvaguarda e valorização
fortalecer a consciência e a participação histó- do Património Cultural do povo angolano.
rica do povo angolano em realidades culturais 3. Os proprietários, possuidores ou detentores de bens
de âmbito regional e internacional; classificados ou em vias de classificação, tendo em vista a
c) promover o bem-estar social e económico e o finalidade de limitar os riscos de degradação física do patri-
desenvolvimento regional e local; mónio arquitectural, devem:
d) defender a qualidade ambiental e paisagística.
a) ter em consideração os problemas específicos da
2. Constituem objectivos primários da política cultural o conservação do património nas políticas de luta
conhecimento, a protecção, a valorização e o crescimento contra a poluição praticadas a nível nacional ou
dos bens materiais e imateriais. internacional;
b) apoiar a investigação científica no intuito de iden-
ARTIGO 12.º
tificar e analisar os efeitos prejudiciais da polui-
(Competência para desencadear a classificação)
ção e definir os meios de reduzir ou eliminar as
respectivas causas.
1. O processo de classificação pode ser desencadeado
pelo Ministério de tutela, pelos Governos Provinciais, pelas 4. Os proprietários, possuidores ou detentores de móveis
administrações locais ou por qualquer pessoa singular ou ou imóveis classificados ou em vias de classificação, res-
colectiva. ponsáveis pela sua conservação devem executar todas as
obras que o Ministério de tutela considerar necessárias para
2. Cabe, em especial, às administrações locais o dever assegurar a sua salvaguarda.
de promover a classificação de bens culturais nas respec-
tivas áreas. 5. No caso de tais obras não terem sido iniciadas ou con-
cluídas dentro do prazo fixado, pode o Ministério de tutela
3. Os processos de classificação devem ser fundamen- determinar que as mesmas sejam executadas pelo Estado,
tados e devidamente instruídos, em princípio, pelos seus correndo o seu custeio por conta do proprietário, possuidor
promotores, cabendo ao Ministério de tutela prestar o apoio ou detentor.
técnico requerido.
6. Quando o referido proprietário possuidor ou detentor
4. Os bens culturais são classificados por decreto execu- comprovar não possuir meios para o pagamento integral das
tivo do Ministro de tutela. obras ou as mesmas constituírem ónus desproporcionado
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para as suas possibilidades, deve ser o custeio suportado, ARTIGO 17.º


(Registos de bens)
total ou parcialmente, pelo Estado, consoante o que for apu-
rado em cada caso. 1. Todos os bens culturais devem fazer parte de um
ARTIGO 15.º
registo de inventário sistemático e exaustivo a elaborar pela
(Expropriação)
estrutura competente do Ministério de tutela.
2. Os bens classificados devem estar inscritos em catá-
1. Sempre que se verifique depreciação de uma proprie-
logo próprio.
dade ou um acto de negligência, por acção ou omissão do
proprietário, possuidor ou detentor que ponha em risco os 3. A classificação ou desclassificação dos bens imóveis
bens culturais móveis ou imóveis classificados ou em vias são objecto de averbamento no registo predial.
de classificação, o Ministério de tutela pode, ouvido o res-
4. Os bens imóveis classificados, quer unitária, quer
pectivo proprietário, promover a expropriação dos referidos
conjuntamente, são objecto de um certificado de registo e
bens.
acompanhados de uma cópia deste emitido pelo Ministério
2. Os Governos Provinciais podem, em condições idên- de tutela.
ticas, promover a expropriação dos bens móveis ou imóveis ARTIGO 18.º
classificados, precedido de parecer favorável da estrutura (Processo de desclassificação)

competente do Ministério de tutela. A um eventual processo de desclassificação aplicar-se-á,


com as necessárias adaptações, o disposto nos artigos 7.º,
3. Nos termos dos números anteriores, podem ser igual-
8.º, 9.º e 10.º da presente lei.
mente expropriados bens imóveis situados nas zonas de
protecção dos bens classificados desde que prejudiquem a SUBSECÇÃO II
boa conservação desses bens e ofendam ou desvirtuem as Regime Específico dos Bens Imóveis
suas características ou enquadramento. ARTIGO 19.º

4. Sempre que o proprietário de um bem cultural se opo- (Zona especial de protecção)

nha à sua classificação, pode determinar-se a expropriação 1. Os imóveis classificados dispõem sempre de uma
desse bem, nos termos da lei. zona especial de protecção delimitada, nos termos da Lei
n.º 3/04, de 25 de Junho — Lei do Ordenamento do
ARTIGO 16.º
Território e do Urbanismo, através do seu órgão compe-
(Alienação)
tente.
1. A alienação de bens classificados deve ser comuni- 2. Deve ser fixada uma zona especial de protecção, nos
cada previamente ao Ministério de tutela, considerando-se, termos da Lei n.º 3/04, de 25 de Junho - Lei do Ordena-
no caso dos bens imóveis, tal notificação como requisito mento do Território e do Urbanismo, ouvidos os Governos
essencial para a inscrição de transmissão no registo predial. Provinciais e nela podendo incluir-se uma zona de edifica-
2. O Estado, através dos Governos Provinciais e os pro- ção proibida, em todos os casos, salvo naqueles cujo enqua-
prietários de parte de bens classificados gozam, pela ordem dramento fica perfeitamente salvaguardado com a zona de
indicada, de direito de preferência em caso de venda de protecção tipo.
bens classificados ou em vias de classificação, bem como 3. Enquanto não for fixada uma zona especial de pro-
dos imóveis situados em zonas de protecção. tecção, os imóveis classificados devem beneficiar de uma
zona de protecção de 50m, contados a partir dos limites
3. Sendo a alienação feita em hasta pública, o Estado,
exteriores do imóvel.
através do Ministério de tutela e os Governos Provinciais
podem usar do direito de preferência, contanto que o efecti- 4. Aos proprietários de imóveis abrangidos pelas zonas
vem dentro do prazo de cinco dias a contar da data da adju- de edificação proibida é assegurado o direito de requerer ao
dicação. Governo a sua expropriação, nos termos da lei e regula-
mentos em vigor por utilidade pública.
4. Os bens classificados pertencentes ao Estado só
podem ser alienados através de decretos executivos espe- ARTIGO 20.º
cialmente elaborados para o efeito e assinados conjun- (Competência na delimitação de zonas de protecção)

tamente pelos Ministérios das Finanças, do Planeamento e 1. A delimitação da área dos conjuntos e sítios deve ser
o de tutela, ouvidos previamente os serviços competentes. fixada nos termos da Lei n.º 3/04, de 25 de Junho — Lei do
Ordenamento do Território e do Urbanismo.
5. A presente lei estabelece as limitações incidentes
sobre a transmissão de bens classificados ou em vias de 2. Cabe aos órgãos dos Governos Provinciais a delimi-
classificação pertencentes a pessoas colectivas públicas ou tação relativa a conjuntos e sítios que se inserem no âmbito
a outras pessoas colectivas tituladas ou subvencionadas das suas competências jurisdicionais, para o que devem dis-
pelo Estado ou pelos Governos Provinciais e adminis- por da colaboração, se for caso disso, de outros serviços
trações locais. governamentais.
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3. Para delimitação relativa aos bens de valor local é pode o Ministério de tutela ordenar que os referidos móveis
competente a administração municipal respectiva, que pode sejam transferidos, a título de depósito, para a guarda de
recorrer à colaboração de outras entidades, sempre que jul- bibliotecas, arquivos ou museus.
gar útil.
ARTIGO 21.º 4. Fica expressamente proibido o tráfico de bens cultu-
(Interdições às zonas de protecção) rais classificados ou em vias de classificação.

As zonas de protecção dos imóveis classificados nos ter- ARTIGO 25.º


mos do artigo anterior são servidões administrativas, nas (Herança e legados)
quais não podem ser autorizadas pelas administrações ou
outras entidades alienações ou quaisquer obras de demoli- A transmissão por herança ou legado de bens classifi-
ção, instalação, construção, reconstrução, criação ou trans- cados deve ser comunicada ao Ministério de tutela para
formação de zonas verdes, bem como qualquer movimento efeitos de registo.
de terras ou dragagens, nem alteração ou diferente utiliza-
ção contrária à traça originária, sem prévia autorização do ARTIGO 26.º
Ministério de tutela. (Usucapião)

ARTIGO 22.º Os bens culturais classificados não são susceptíveis de


(Licenciamento de obras em bens classificados) aquisição por usucapião.

Todos os pedidos de licença de obras em bens classifi-


cados devem ser elaborados e subscritos por técnicos espe- ARTIGO 27.º
cializados de qualificação reconhecida ou sob a sua directa (Critérios de constituição de colecções)
responsabilidade.
1. As colecções de bens culturais são organizadas segun-
ARTIGO 23.º do critérios de homogeneidade, devendo manter-se, sempre
(Proibição de deslocação) que possível, a sua integridade.

Nenhum monumento classificado ou em vias de classi- 2. Sempre que se prove risco de dispersão das referidas
ficação pode ser deslocado, em parte ou na totalidade, do colecções, o Ministério de tutela deve tomar as medidas
lugar que lhe compete, excepto no caso de a salvaguarda necessárias e adequadas à salvaguarda, devendo ouvir, para
material do mesmo o exigir imperativamente, devendo a o efeito, os serviços competentes.
autoridade competente fornecer todas as garantias neces-
sárias quanto à desmontagem, à remoção e à reerecção do ARTIGO 28.º
monumento em lugar apropriado. (Permuta e transferência)

SUBSECÇÃO III 1. O Ministro de tutela pode autorizar, ouvidos os servi-


Regime Específico dos Bens Móveis e Imóveis ços competentes, a permuta ou transferência de bens cultu-
rais móveis classificados ou em vias de classificação entre
ARTIGO 24.º museus, bibliotecas, arquivos ou outros serviços públicos.
(Procedimentos cautelares)
2. O Governo pode autorizar, ouvidos os serviços com-
1. Sempre que os bens móveis e imóveis classificados petentes, em condições excepcionais e em função de acor-
ou em vias de o serem, corram perigo de manifesto extra- dos bilaterais, a permuta, definitiva ou temporária, de bens
vio, perda ou deterioração, deve o Ministério de tutela culturais móveis pertencentes ao Estado por outros existen-
determinar as medidas cautelares indispensáveis e adequa- tes noutros países e que se revistam de excepcional interes-
das a cada caso. se para o Património Cultural Angolano.

2. Se as medidas conservatórias importarem para o res- 3. No caso de permuta definitiva com outros países de
pectivo proprietário a obrigação de praticar determinados bens móveis classificados ou em vias de classificação, a
actos, devem ser fixados os prazos e as condições da sua autorização deve revestir a forma de decreto.
execução, nomeadamente a prestação de apoio financeiro
por parte do Estado. ARTIGO 29.º
(Isenção de direitos aduaneiros)
3. Sempre que quaisquer medidas cautelares forem jul-
gadas insuficientes ou as medidas conservatórias não forem 1. Ficam isentas de direitos aduaneiros, emolumentos
acatadas ou executadas no prazo e condições impostas, gerais aduaneiros e demais imposições, excepto do paga-
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mento do imposto de selo e das restantes taxas devidas pela SUBSECÇÃO IV


prestação de serviços, a importação definitiva de obras de Regime Específico do Património Arqueológico
arte e obras de valor histórico que se destinem a museus,
bibliotecas e arquivos do Estado e a outras pessoas colec- ARTIGO 32.º
tivas de utilidade pública sempre que estejam vocacionadas (Bens arqueológicos)
para o efeito.
Os bens arqueológicos, imóveis ou móveis, são patrimó-
2. Ficam dispensadas de caução dos direitos aduaneiros, nio nacional.
emolumentos gerais aduaneiros e demais imposições,
excepto do pagamento do imposto de selo e das restantes ARTIGO 33.º
taxas devidas pela prestação de serviços, a importação tem- (Definição de trabalhos arqueológicos)
porária e a reexportação, a exportação temporária e a reim-
portação de obras de arte e obras de valor histórico que se 1. Para efeitos da presente lei, entende-se por trabalhos
destinem a exposições, exibições, feiras especializadas ou arqueológicos todas as investigações que tenham por finali-
para conserto, manutenção ou reabilitação, efectuada por
dade a descoberta de bens de carácter arqueológico, no caso
museus, bibliotecas, arquivos do Estado e outras pessoas
de estas investigações implicarem uma escavação do solo
colectivas de utilidade pública vocacionadas para o efeito.
ou uma exploração sistemática da sua superfície, bem como
no caso de se realizarem no leito ou no subsolo de águas
3. Os bens a que se refere os números anteriores devem
ser reconhecidos pelo Ministério de tutela como de com- interiores ou territoriais.
provado interesse para o enriquecimento do património.
2. São abrangidos pelas disposições da presente lei os
ARTIGO 30.º testemunhos arqueológicos descobertos nas áreas submer-
(Regime de exportação) sas ou arrojados pelas águas.

1. Podem ser exportados, sem dependência de autoriza- ARTIGO 34.º


ção e em regime de simples tomada de sinais, os bens cultu- (Trabalhos arqueológicos em bens classificados)
rais móveis importados temporariamente, desde que a sua
permanência no País não exceda o prazo de três meses para 1. A realização de trabalhos arqueológicos em monu-
além do período de tempo em que esses bens tenham esta- mentos, conjuntos e sítios classificados ou em vias de clas-
do a ser utilizados com fins culturais de interesse público. sificação, nas respectivas zonas de protecção e ainda em
imóveis não classificados mas de interesse arqueológico
2. As obras de arte, obras com valor histórico destinadas carece de autorização prévia do Ministério de tutela.
a exposições ou outros fins culturais, podem ser objecto de
exportação temporária desde que devidamente certificadas
2. Pode o Ministério de tutela mandar inspeccionar os
pelo Ministério de tutela de acordo com os requisitos a esta-
belecer necessários à obtenção do referido certificado. trabalhos arqueológicos e ordenar a sua suspensão quando
os mesmos não obedecerem a critérios científicos ou não
ARTIGO 31.º cumprirem as condições eventualmente fixadas.
(Depositários)
ARTIGO 35.º
1. Os proprietários possuidores ou detentores de bens (Descoberta de testemunhos arqueológicos)
móveis classificados ou em vias de classificação são consi-
derados depositários dos mesmos, nos termos da legislação 1. Quem tiver encontrado ou encontrar em terreno
civil. público ou particular, incluindo em meio submerso, quais-
quer testemunhos arqueológicos, fica obrigado a dar ime-
2. Quando algum bem cultural móvel classificado ou em diato conhecimento à autoridade local que, por sua vez,
vias de classificação for indevidamente exportado, o res-
deve informar de imediato o Ministério de tutela a fim de
pectivo proprietário, possuidor ou detentor fica sujeito às
serem tomadas as providências necessárias.
disposições legais que sancionam tal acto.

3. A exportação ilegal dos bens culturais implica sem 2. A autoridade local deve assegurar a salvaguarda des-
embargo da aplicação das demais penalidades previstas na ses testemunhos, nomeadamente recorrendo a entidades
lei em relação aos infractores, a apreensão dos bens em científicas de reconhecida idoneidade que efectuem estudos
causa e a sua incorporação nas colecções do Estado ou a na província sem prejuízo da imediata comunicação ao
devolução aos países de origem, quando for caso disso. Ministério de tutela.
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ARTIGO 36.º a) os arquivos públicos conservados a título perma-


(Protecção de reservas arqueológicas) nente por um processo de avaliação em confor-
midade com a ordem jurídica;
1. Em qualquer lugar onde se presuma a existência de b) os arquivos públicos com mais de 100 anos;
monumentos, conjuntos ou sítios arqueológicos pode ser c) os arquivos privados e colecções aleatórias que se
estabelecida, com carácter preventivo e temporário, pelo revelem de interesse cultural.
Ministério de Tutela uma reserva arqueológica de protec-
ção, de forma a garantir-se a execução de trabalhos de emer- 2. Devem ser objecto de inventário os arquivos e colec-
gência, com vista a determinar o seu interesse. ções aleatórias abrangidos pela previsão do artigo 37.º:

2. Com a finalidade de se proteger a eventual riqueza a) os arquivos que se encontrem a qualquer título na
arqueológica do subsolo das áreas urbanas, o Ministério de posse ou à guarda do Estado;
tutela deve promover a publicação da legislação cautelar b) os arquivos que venham a ser doados ou apresen-
tados pelos respectivos possuidores, se outro
específica que contemple as diversas situações.
não for o motivo invocado para a respectiva
inventariação nos termos do regime geral de
3. Qualquer particular que prove ter sido directamente
protecção dos bens culturais.
prejudicado por efeito do disposto no n.º 1 pode requerer
indemnização à entidade responsável pelo estabelecimento
3. Cada arquivo inventariado, ou apresentado para
da reserva arqueológica. inventariação, deve ser descrito de acordo com as normas
gerais definidas pelo Arquivo Histórico de Angola.
SUBSECÇÃO V
Regime Específico do Património Arquivístico SUBSECÇÃO VI
Regime Específico do Património Audiovisual
ARTIGO 37.º
(Conceito e âmbito do património arquivístico) ARTIGO 39.º
(Património Audiovisual)
1. Integram o Património Arquivístico todos os arquivos
produzidos por instituições angolanas ou estrangeiras quan- 1. Integram o Património Audiovisual as séries de ima-
do as mesmas versarem sobre questões relativas a Angola gens, fixadas sobre qualquer suporte, bem como as geradas
que se revistam de interesse cultural relevante. ou reproduzidas por qualquer tipo de aplicação informática
ou informatizada, também em suporte virtual, acompanha-
2. Entende-se por arquivo o conjunto orgânico de docu- das ou não de som, as quais, sendo projectadas, dão uma
mentos de qualquer época, em qualquer forma e tipo de impressão de movimento e que, tendo sido realizadas para
suporte material, produzidos por uma pessoa física ou jurí- fins de comunicação, distribuição ao público ou de docu-
dica, pública ou privada no exercício das suas funções e mentação, se revistam de interesse cultural relevante e
actividades e conservados como testemunho e como fonte preencham pelo menos um de entre os seguintes requisitos:
de informação para os fins administrativos e científicos.
a) hajam resultado de produções nacionais;
3. Entende-se também como integrantes do Património b) hajam resultado de produções estrangeiras distri-
Arquivístico: buídas, editadas ou teledifundidas comercial-
mente em Angola;
c) integrem, independentemente da nacionalidade da
a) conjuntos não orgânicos de documentos de arqui-
produção, colecções ou espólios conservados
vos que se revistam de interesse cultural rele-
em instituições públicas ou que, independen-
vante para a investigação científica; temente da natureza jurídica do detentor, se dis-
b) entende-se por arquivos não orgânicos os tingam pela notabilidade.
documentos cuja origem é aleatória, porém, as
suas características sendo comuns, os assuntos 2. Integram, nomeadamente o património audiovisual as
neles versados, o suporte e tipologia, a sua pro- produções cinematográficas, as produções televisivas e as
tecção torna-se imperiosa para os fins da inves- produções videográficas.
tigação científica.
3. Sem prejuízo do regime geral, devem ser objecto de
ARTIGO 38.º classificação como de interesse nacional:
(Formas de protecção do património arquivístico)
a) os elementos matriciais das obras de produção
1. São objecto de classificação: nacional abrangidas pela previsão do n.º 1 do
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presente artigo ou das que para este efeito lhes c) os manuscritos autógrafos, bem como todos os
sejam equiparadas pela legislação de desenvol- documentos que registem as técnicas e os hábi-
vimento; tos de trabalho de autores e personalidades notá-
b) cópias conforme aos elementos matriciais referi- veis das letras, artes e ciência, seja qual for o
dos na alínea anterior, quando estes já não exis- nível de acabamento do texto ou textos neles
tirem; contidos;
c) cópias de obras de produção estrangeira, mas que d) as colecções e espólios de autores e personali-
foram distribuídas em território nacional inte- dades notáveis das letras, artes e ciência, consi-
grando novos elementos escritos ou orais que os derados como universalidades de facto reunidas
diferenciam dos elementos matriciais, nomea- pelos mesmos ou por terceiros.
damente por lhe terem sido agregados, por
legendagem ou dobragem em língua portu- ARTIGO 41.º
guesa, elementos naturais da realidade cultural (Inventariação do Património Bibliográfico)
angolana.
1. Devem ser objecto de inventário todas as espécies
4. Devem ser objecto de inventário todas as obras abran- enunciadas nas alíneas a) e b) do n.º 3 do artigo 40.º, bem
gidas pela previsão do n.º 1 do presente artigo e as séries de como as referidas nas alíneas c) e d) da mesma disposição,
imagens amadoras apresentadas voluntariamente pelos res- que venham a ser voluntariamente apresentadas pelos res-
pectivos possuidores que sejam portadores de interesse cul- pectivos possuidores, se outro não for o motivo invocado
tural relevante. para a respectiva inventariação, nos termos do regime geral
de protecção de bens culturais.
SUBSECÇÃO VII
Regime Específico do Património Bibliográfico
2. Cada espécie bibliográfica inventariada ou apresen-
tada para inventariação, deve ser descrita de acordo com as
regras estabelecidas pela Biblioteca Nacional de Angola,
ARTIGO 40.º
(Património Bibliográfico)
providenciando-se para que as respectivas descrições sejam
compatibilizadas e validadas.
1. Integram o Património Bibliográfico as espécies,
colecções e fundos bibliográficos que se encontrem, a qual-
SUBSECÇÃO VIII
quer título, na posse de pessoas colectivas públicas, inde-
Regime Específico do Património Fonográfico
pendentemente da data em que foram produzidos ou reuni-
dos, bem como as colecções e espólios literários.
ARTIGO 42.º
(Património Fonográfico)
2. Devem igualmente integrar o Património Biblio-
gráfico:
1. Integram o Património Fonográfico as séries de sons
a) as espécies, colecções e fundos bibliográficos de fixadas sobre qualquer suporte, bem como as geradas ou
pessoas colectivas de utilidade pública, produzi- reproduzidas por qualquer tipo de aplicação informática ou
dos ou reunidos há mais de 25 anos, se outro informatizada, também em suporte virtual, e que, tendo sido
não for o valor invocado para a respectiva realizadas para fins de comunicação, distribuição ao públi-
inventariação; co ou de documentação, se revistam de interesse cultural
b) as colecções e espólios literários pertencentes a relevante e preencham pelo menos um de entre os seguintes
pessoas colectivas de utilidade pública, se outro requisitos:
não for o valor invocado para a respectiva
inventariação; a) hajam resultado de produções nacionais ou de pro-
c) as espécies, colecções e fundos bibliográficos que duções estrangeiras relacionadas com a realida-
se encontrem, a qualquer titular, na posse priva- de e a cultura angolana;
da, produzidos ou reunidos há mais de b) integrem, independentemente da nacionalidade da
50 anos, bem como as colecções e espólios lite- produção, colecções ou espólios conservados
rários, se outro não for o valor invocado para a em instituições públicas ou que, independen-
respectiva inventariação. temente da natureza jurídica do detentor, se dis-
3. Podem ser objecto de classificação as espécies biblio- tingam pela sua notabilidade;
gráficas com especial valor de civilização ou de cultura e c) representem ou testemunhem vivências ou factos
em particular: nacionais relevantes.

a) os manuscritos notáveis; 2. As séries de sons amadores podem ser incluídas no


b) os impressos raros; Património Fonográfico, nos termos da lei.
2486 DIÁRIO DA REPÚBLICA

SUB-SECÇÃO IX métodos orais ou através de gestos e se vão modificando


Regime Específico do Património Fotográfico com o tempo por um processo de recreação colectiva.

ARTIGO 43.º 3. Na sua dinâmica, o conceito estende-se à totalidade


(Património Fotográfico) das expressões que constituem as culturas actuais que não
se confinam só ao passado mas também se prolongam no
Integram o Património Fotográfico todas as imagens presente e perspectivam o futuro.
obtidas por processos fotográficos, qualquer que seja o
suporte, positivos ou negativos, transparentes ou opacas, a 4. Fazem parte desse conjunto as tradições orais, usos e
cores ou a preto e branco, bem como as colecções, séries e costumes, as línguas, a música, a dança, os rituais, as festi-
fundos compostos por tais espécies que, sendo notáveis pela vidades, os conhecimentos da medicina e da farmacopeia
antiguidade, qualidade do conteúdo, processo fotográfico tradicional, as artes, as habilidades e sistemas de pensa-
utilizado ou carácter informativo sobre o contexto histórico- mentos.
-cultural em que foram produzidas, preencham ainda pelo
menos um de entre os seguintes requisitos: ARTIGO 46.º
(Formas de protecção)
a) hajam sido produzidas por autores nacionais ou
por estrangeiros sobre Angola; 1. Com o objectivo de protecção do Património Imate-
b) contenham imagens que possuam significado no rial, deve o Estado:
contexto da história da fotografia nacional ou da
fotografia estrangeira quando se encontrem pre- a) promover o respeito pelos valores gerais da cul-
dominantemente em território angolano há mais tura; a defesa da identidade e da memória
de 25 anos; colectiva angolana, protegendo, em particular,
c) se refiram a acontecimentos, personagens ou bens os valores de integridade, verdade e autoria das
culturais ou ambientais relevantes para a memó- obras do engenho humano de todas as criações
ria colectiva angolana. culturais, sejam quais forem as formas e meios
por que se manifestem e corporizem;
SUBSECÇÃO X b) promover a protecção dos portadores dos bens
Regime Específico do Património Natural imateriais;
c) assegurar a defesa dos valores culturais, etnoló-
ARTIGO 44.º gicos e etnográficos;
(Património Natural) d) apoiar a revitalização e a conservação das tradi-
ções culturais populares em vias de desapa-
1. Entende-se por Património Natural as formações físi- recimento;
cas e as espécies biológicas ou grupos de tais formações e e) promover a recolha, conservação e fruição popular
conjuntos de tais espécies que tenham valor do ponto de do património fotográfico, fílmico, fonográfico,
vista estético ou científico; as formações geológicas e fisio- bem como de outros domínios do Património
gráficas e as zonas estritamente delimitadas que constituam Imaterial.
habitat de espécies animais e vegetais e que tenham valor
do ponto de vista da ciência ou da conservação; sítios ou 2. As manifestações da tradição cultural angolana que
zonas naturais estritamente delimitadas que tenham valor não se encontrem ainda fixadas em suporte físico ou outro
do ponto de vista da ciência ou da conservação; os sítios e devem ser objecto de registo gráfico e audiovisual para efei-
lugares paisagísticos de excepcional beleza natural. tos de preservação e divulgação.

2. O Património Natural é protegido nos termos da pre- 3. Para a sua conservação devem ser criadas instituições
sente lei, da Lei n.º 3/04, de 25 de Junho - Lei do Ordena- especializadas.
mento do Território e do Urbanismo e demais legislação
aplicável. CAPÍTULO III
SECÇÃO II Fomento da Conservação e
Bens Imateriais Valorização do Património Cultural

ARTIGO 45.º ARTIGO 47.º


(Conceito) (Conservação e valorização)

1. Entende-se por Património Cultural Imaterial o con- 1. A protecção, conservação, valorização e revitalização
junto das manifestações culturais tradicionais e populares do Património Cultural devem ser consideradas obrigatórias
que são criações colectivas emanadas de uma comunidade, no ordenamento do território e na planificação a nível
fundadas na tradição e transmitidas fundamentalmente por nacional, provincial e local.
I SÉRIE — N.º 120 — DE 7 OUTUBRO DE 2005 2487

2. O Governo deve promover acções concertadas entre ARTIGO 50.º


os serviços públicos, especialmente através dos serviços (Apoio financeiro)
provinciais e privados com vista à implementação e aplica-
ção de uma política activa de levantamento, estudo, conser- 1. O Governo deve promover o apoio financeiro ou a
vação e integração do Património Cultural na vida colecti- possibilidade de recurso a formas especiais de crédito para
va. obras e para aquisições, nos termos dos n.os 2 e 3 do
artigo 14.º, em condições favoráveis, a proprietários
3. As medidas de carácter preventivo e correctivo devem privados, com a condição de estes procederem a trabalhos
ser completadas com outras que visem dar a cada um dos de protecção, conservação, valorização e revitalização dos
bens culturais uma função que os insira adequadamente na
seus bens imobiliários, de acordo com as normas estabele-
vida social, económica, científica e cultural, compatível
cidas sobre a matéria e orientação dos serviços compe-
com o seu carácter específico.
tentes.
4. As acções de levantamento, estudo, protecção, con-
servação, valorização e revitalização do Património Cul- 2. Os benefícios financeiros referidos no número ante-
tural devem adequar-se ao progresso científico e técnico rior podem ser subordinados a especiais condições e garan-
comprovado nas disciplinas implicadas. tias de utilização pública, a que fiquem sujeitos os bens em
causa, em termos a fixar, caso a caso, pelo Ministério de
5. O Governo deve promover acções de formação de tutela.
técnicos, investigadores, artífices e outro pessoal especia- ARTIGO 51.º
lizado, procurando, sempre que possível, compatibilizar o (Arrendamentos de imóveis classificados)
progresso científico e técnico com as tecnologias tradi-
cionais que fazem parte da herança cultural angolana. Os arrendamentos dos imóveis classificados são sujeitos
a regime especial de modo a evitar a sua degradação e con-
ARTIGO 48.º
tribuir para a sua preservação.
(Despesas para salvaguarda de bens)

ARTIGO 52.º
1. Os órgãos da administração central, provincial e local
(Promoção de acções educativas)
devem consignar nos seus orçamentos uma percentagem de
fundos proporcional à importância dos bens que integram o
Património Cultural sob sua responsabilidade e de acordo 1. O Governo deve empreender e apoiar acções educati-
com os planos de actividade previamente estabelecidos, vas capazes de fomentar o interesse e respeito público pelo
com o objectivo de acorrer à protecção, conservação, estu- Património Cultural, como testemunho de uma memória
do, valorização e revitalização desses bens e participar colectiva definidora da identidade nacional.
financeiramente, quando for caso disso, nos trabalhos reali-
zados nos mesmos pelos seus proprietários, quer sejam 2. Devem ser tomadas medidas adequadas à promoção e
públicos ou privados. realce do valor cultural e educativo do Património Cultural,
como motivação fundamental da sua protecção, conser-
2. As despesas respeitantes à salvaguarda de bens cultu-
vação, revalorização e fruição, sem deixar de ter em conta o
rais postos em perigo pela execução de obras do sector
público, incluindo trabalhos arqueológicos preliminares, valor sócio-económico desse mesmo património, na sua
são suportadas pelas entidades promotoras do respectivo qualidade de recurso activo a ter em conta na dinâmica de
projecto, as quais devem, para o efeito, considerar nos orça- desenvolvimento do País.
mentos a previsão desses encargos.
3. O Governo deve facilitar e estimular a criação de
3. Tratando-se de obras de iniciativa privada, os encar- organizações voluntárias destinadas a apoiar as autoridades
gos podem ser suportados, em comparticipação, pelas enti- nacionais e locais no exercício pleno dos seus poderes e
dades promotoras do projecto e pelas entidades directamen- objectivos de salvaguarda e vitalização em matéria de pro-
te interessadas na salvaguarda desse património mediante tecção do Património Cultural, de forma a regulamentar
prévia concertação.
posteriormente.
ARTIGO 49.º
(Regimes fiscais)
4. Devem ser asseguradas as modalidades de informa-
ção e de exposição destinadas a explicar e divulgar as
O Governo deve promover o estabelecimento de regi- acções projectadas, em curso ou realizadas no campo do
mes fiscais apropriados a mais adequada salvaguarda e ao estudo e da salvaguarda do Património Cultural, designada-
estímulo à defesa do Património Cultural Nacional que se mente a promoção da publicação de inventários do
encontra na posse de particulares. Património Cultural.
2488 DIÁRIO DA REPÚBLICA

ARTIGO 53.º a) a falta de notificação ao Ministério de tutela no


(Intercâmbio cultural) âmbito do Património Cultural os actos ou
omissões que acarretem a alienação, oneração
1. O Estado Angolano deve colaborar com outros ou qualquer acto que possa pôr em causa o bem
Estados, com organizações internacionais, intergoverna- classificado como fazendo parte do Património
mentais e não governamentais, no domínio da protecção, Cultural;
conservação, valorização, estudo e divulgação do Patri- b) obstruir a faculdade de inspecção pelos organis-
mónio Cultural. mos competentes de bens a classificar e ou clas-
sificados;
2. A cooperação referida no número anterior concre- c) a falta de conservação de um bem classificado
tiza-se, designadamente, através do intercâmbio de infor- como Património Cultural, nacional ou local e
mações, publicações, meios humanos e técnicos, bem como quando tenha existido apoios efectivos para a
através da assinatura de acordos culturais, não governa- sua recuperação;
mentais, no domínio da protecção, conservação, valoriza- d) a sonegação de bens que, pela sua natureza, sejam
ção, estudo e divulgação do Património Cultural. de qualificar como Património Cultural e, quan-
do o infractor seja um cidadão que saiba ler e
CAPÍTULO IV escrever ou que pela sua posição social tenha o
Benefícios e Incentivos Fiscais dever de divulgar o bem em causa;
e) o desrespeito pelos marcos classificados por enti-
dades oficiais para fins arqueológicos ou o des-
ARTIGO 54.º
(Regime de benefícios e incentivos fiscais)
coberto em escavações arqueológicas.

A definição e estruturação do regime de benefícios e


4. Constituem infracções muito graves quando haja dolo
incentivos fiscais relativos à protecção e valorização do
no acto ou omissão:
Património Cultural são objecto de legislação específica.
a) a destruição total ou parcial de um bem ou bens
ARTIGO 55.º
classificados que pelo seu valor deva ser classi-
(Emolumentos notariais e registrais)
ficado;
b) a alienação total ou parcial de um bem conside-
1. Os actos que tenham por objecto bens imóveis ou
rado como Património Cultural, quando por
móveis classificados, bem como a contracção de emprés-
actos de vandalismo se destruam os sinais de
timos com o fim de respectiva aquisição, estão isentos de
identificação;
quaisquer emolumentos notariais e de registo.
c) a destruição ou deterioração irreparável de bens
2. A isenção emolumentar prevista no número anterior declarados como Património Cultural ou de
não abrange os emolumentos pessoais nem as importâncias interesse cultural.
correspondentes à participação emolumentar devida aos
notários, conservadores e oficiais do registo e do notariado ARTIGO 57.º
pela sua intervenção nos actos. (Responsabilidade)

CAPÍTULO V 1. São responsáveis pelas infracções previstas na pre-


Sanções Administrativas e Penais sente lei:

ARTIGO 56.º a) os considerados de acordo com a legislação penal


(Infracções) como autores, mandantes, cúmplices ou enco-
bridores;
1. Constituem infracções contra o Património Cultural b) os responsáveis pelas intervenções ou realizações
as acções ou omissões violadoras do disposto na presente de obras que sejam pessoas físicas ou jurídicas,
lei, sendo sancionados de acordo com a presente lei, sem públicas ou privadas;
prejuízo do previsto no Código Penal. c) os responsáveis da administração que pelas com-
petências inerentes ao organismo tenham a res-
2. Constituem infracções administrativas em matéria de
ponsabilidade no local de mandar suspender
protecção do Património Cultural os actos ou omissões que
desrespeitem as obrigações previstas na presente lei, classi- qualquer actividade que possa ofender ou pôr
ficando-as de graves e muito graves. em risco o bem classificado como Património
Cultural, por infracções administrativas até à
3. Constituem infracções graves: decisão final administrativa ou judicial.
I SÉRIE — N.º 120 — DE 7 OUTUBRO DE 2005 2489

2. A responsabilidade deve ser proporcional à infracção 2. As infracções administrativas previstas no presente


quando seja susceptível de tal avaliação, orientando-se nos capítulo são imprescritíveis.
princípios da competência específica do órgão responsável,
e, quando tenha agido com intenção ou para manutenção de ARTIGO 62.º
interesses pessoais ou patrimoniais directos ou indirectos.
(Sanções penais)

ARTIGO 58.º
(Multas)
Os crimes praticados contra o Património Cultural
devem obedecer ao critério previsto na presente lei, sem
Nos casos em que o dano causado ao Património Cultural prejuízo das disposições gerais previstas no Código Penal.
seja susceptível de avaliação pecuniária ou económica, deve
ser punido com a multa de 10 vezes mais acrescida do valor ARTIGO 63.º
atribuído pelos especialistas ou o do mercado. (Crime contra o património)

ARTIGO 59.º
1. Comete o crime contra o património aquele que pro-
(Aplicação das multas)
ceda de forma a sonegar, a obstruir, a destruir, a alienar
ou a apropriar-se de bens classificados como sendo de
1. A aplicação das multas por infracções contra o
Património Cultural compete aos organismos que por razões interesse patrimonial concluído regularmente por entidades
de competência específica lhes cabe tutelar o Património públicas especializadas.
Cultural, sem prejuízo dos princípios da cooperação e inter-
dependência orgânica. 2. A prática de actos previstos no n.º 1 do presente arti-
go é qualificável como crime punível com pena de prisão de
2. A aplicação de multas por infracções contra o dois a oito anos.
Património Natural compete aos organismos que por razões
de competência específica lhes cabe tutelar o ordenamento 3. É ainda qualificado como crime contra o património:
do território, o urbanismo e o ambiente, as pescas, a geolo-
gia e minas, a agricultura e o desenvolvimento rural.
a) o auxílio ou a passagem de informações de dados
ARTIGO 60.º sobre bens susceptíveis de classificação ou em
(Procedimento para aplicação das multas) vias de classificação;
b) a exportação ou expedição de um bem classifi-
1. A aplicação das multas contra infracções sobre o cado como de interesse patrimonial cultural;
Património Cultural, exceptuando-se o Património Natural, c) o deslocamento de um bem imóvel classificado ou
compete ao Ministério da Cultura, sem afastar o previsto no em vias de classificação;
artigo anterior, cabendo-lhe o pedido de informação ou d) a destruição de vestígios que facilitem a identi-
dando informações oficiosas aos Ministérios das Finanças,
ficação do bem;
Justiça, Urbanismo e Ambiente e Obras Públicas.
e) a aquisição ou destruição de um imóvel classifi-
2. Ao Ministro cabe praticar todos os actos necessários cado ou em vias de classificação;
para a boa resolução do litígio, atendendo os interesses f) a alienação ou destruição do imóvel ou móvel de
superiores do Estado. valor histórico-cultural;
g) a obstrução, sonegação ou destruição de um bem
3. É vedada a aplicação de multas sem que se apure a que, pelo seu valor histórico, deva ser classifi-
verdade material dos factos ou sem a resolução final dos cado, ou tenha sido classificado ou em vias de
peritos ou especialistas, e a audição prévia do infractor nos classificação como fazendo parte do Património
termos do Decreto-Lei n.º 16-A/95, de 15 de Dezembro, Cultural por razões étnicas ou regionais;
sobre as Normas do Procedimento Administrativo, bem h) a amputação ou deformação da tradição oral;
como a prática de actos com intuito dilatório.
i) a designação incorrecta voluntária do Património
Onomástico.
ARTIGO 61.º
(Reparação e prescrição)
4. A prática de factos previstos nas alíneas a), c), d) e e)
1. As sanções previstas no presente capítulo não impli- deve ser punida com uma pena adicional de 1/3 sobre a pena
cam a falta de restituição do bem, sempre que possível, prevista no n.º 2 do presente artigo, quando se tratar de ins-
obrigando os infractores à reparação e restituição das coisas tituições ou pessoas que pelo seu estatuto devem contribuir
no estado em que se encontrarem. para a protecção, zelo e divulgação do Património Cultural.
2490 DIÁRIO DA REPÚBLICA

ARTIGO 64.º 2. Os processos cíveis que versem sobre bens culturais


(Sanções acessórias) classificados ou em vias de classificação são equiparáveis
aos direitos patrimoniais.
1. As sanções criminais não prejudicam a aplicação de
multas previstas no presente capítulo, devendo a mesma ser CAPÍTULO VI
graduada conforme se trate de factos graves ou muito gra- Disposições Finais e Transitórias
ves.
ARTIGO 67.º
(Regulamentação)
2. Podem ser aplicadas concomitantemente as seguintes
sanções acessórias: A presente lei deve ser regulamentada pelo Governo no
prazo de 120 dias, contados da data da entrada em vigor.
a) confisco de todo material que serve para a prática
do crime ou da infracção, conforme o caso; ARTIGO 68.º
b) interdição do exercício da profissão quando se (Dúvidas e omissões)
trate de sujeitos que pela sua qualidade profis-
sional devem contribuir para a protecção e As dúvidas e omissões que suscitarem da interpretação
divulgação do Património Cultural; e aplicação da presente lei são resolvidas pela Assembleia
Nacional.
c) suspensão ou privação de apoios que tenham sido
disponibilizados para a protecção ou salva- Vista e aprovada pela Assembleia Nacional, em Luanda,
guarda do bem; aos 12 de Julho de 2005.
d) restrição de acesso aos locais públicos ou privados
reservados; Publique-se.
e) anulação, suspensão ou encerramento de institui-
O Presidente da Assembleia Nacional, Roberto António
ções públicas ou privadas que, de forma reitera-
Víctor Francisco de Almeida.
da, pratiquem actos ou omissões susceptíveis de
prejudicar o património classificado ou em vias Promulgada em 7 de Setembro de 2005.
de classificação;
f) a realização de trabalhos arqueológicos não autori- O Presidente da República, JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS.
zados pelo Ministério de tutela deve ser sus-
pensa logo que dela tenha conhecimento, sendo CONSELHO DE MINISTROS
confiscado o espólio eventualmente recolhido e, _______
no caso de os responsáveis terem sido autoriza-
Resolução n.º 49/05
dos a realizar escavações noutros locais, as
de 7 de Outubro
respectivas licenças devem ser anuladas.
Havendo necessidade de se aprovar o programa de
ARTIGO 65.º trabalho do Gabinete de Obras Especiais para o triénio
(Embargo de obras) 2005/2007, no âmbito das suas atribuições definidas pelo
Decreto n.º 57/01, de 21 de Outubro;
Sempre que os Governos Provinciais, devidamente aler-
tados, não procedam ao embargo administrativo de obras Nos termos das disposições combinadas da alínea f)
realizadas contra o disposto na presente lei, o Ministério de do artigo 112.º, do artigo 113.º e da alínea g) do n.º 2 do arti-
tutela pode, através dos serviços competentes, promover o go 114.º, todos da Lei Constitucional, o Governo emite a
seu embargo judicial ou suspender administrativamente seguinte resolução:
quando possa fazê-lo, bem como informar outros organis-
1.º — É aprovado o Programa de Trabalho do Gabinete
mos para tanto habilitados, no âmbito do privilégio da exe-
de Obras Especiais, para o triénio 2005/2007, anexo à pre-
cução prévia.
sente resolução da qual faz parte integrante.
ARTIGO 66.º 2.º — A presente resolução entra em vigor na data da sua
(Sanções aos agentes públicos e privados) publicação.

1. Os funcionários ou agentes públicos do Estado, dos Vista e aprovada em Conselho de Ministros, em Luanda,
Governos Provinciais e das administrações locais são res- aos 13 de Julho de 2005.
ponsabilizados civil, administrativa e criminalmente pelos Publique-se.
prejuízos comprovados em bens classificados decorrentes
de acto ou omissão que lhes sejam directamente imputáveis, O Primeiro Ministro, Fernando da Piedade Dias dos
por dolo ou negligência. Santos.

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