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AULA 8

CAPÍTULO DA DECISÃO

Definição - É qualquer parte autônoma dela, que por si, constitua uma decisão própria.

Quando ela tem capítulos, pode-se dizer que a decisão é objetivamente complexa, é
como se ela fosse um conjunto com vários elementos, tendo no mínimo mais de um
elemento.
Quando ela tem capítulo, se tirar o capítulo, ele sozinho vira uma decisão.
Uma decisão, por exemplo, que julga mais de um pedido cumulado, essa decisão tem
dois capítulos, no mínimo, um para cada um dos pedido, cada capítulo desse, sozinho, é
uma decisão.

Hipóteses, se o pedido for relativo, há uma pretensão fracionável, pagar 10, e o juiz
condena o réu em 5, ao condenar o réu em cinco, ele absolveu o réu em cinco, essa
decisão tem dois capítulos, um que condenou o réu em cinco, e outro que absolveu o réu
em cinco.

Isto pode ganhar dimensões de uma bola de neve, é um problema seríssimo, por que
envolve um série de coisas, implica em quase todos os ramos do direito processual, a
teoria da decisão.
Toda decisão que aprecia o mérito é porque o juiz, mesmo que implicitamente proferiu
uma decisão acerca da admissibilidade, essa parte da decisão acerca da admissibilidade
é um capítulo, salvo quando ficou atrás com o saneador e não ocorreram circunstâncias
supervenientes acerca da admissibilidade, quando enfrenta mais de uma questão de
admissibilidade, se incompetência do juízo, falta de capacidade do autor, nulidade de
citação, cada decisão dessa é um capítulo, a idéia é pensar em um conjunto.
Tem-se uma decisão objetivamente complexa, quando naquela decisão tem mais de
uma, tudo que eu puder tirar e virar uma decisão própria, é uma decisão, a decisão
acerca DA COMPETÊNCIA É UMA DECISÃO, a decisão acerca da falta de
capacidade é uma decisão, a decisão acerca da admissibilidade é uma decisão, um
capítulo, uma parte autônoma dela.
Pode ocorrer que os capítulos, eles sejam dependentes um do outro, o capítulo relativo,
por exemplo, a liquidação, é dependente do capítulo que fixou o que vai ser liquidado,
ou qualquer PARTE AUTÔNOMA, QUANDO SE FALA PARTE AUTÔNOMA É
AQUILO POR SI ser uma decisão, forma-se um capítulo, via de regra toda decisão de
mérito tem dois capítulos, um de admissibilidade e um de mérito, salvo se o de
admissibilidade ficou lá atrás no saneador, e mesmo essa parte relativa a
admissibilidade e essa parte relativa ao mérito podem ter um conjunto com mais de um
elemento, a parte relativa a admissibilidade pode ter mais de um capítulo, e a parte
relativa ao mérito pode ter mais de um capítulo, a importância disso é muito grande,
porque influi na teoria dos recursos, influi na execução, influi na condenação das verbas
sucumbenciais, no recurso então é uma coisa absurda porque além de envolver a
questão recursal, envolve também um problema de coisa julgada, o capítulo quando não
é impugnado, ele transita em julgado, aquela parte da decisão quando não é impugnada
ela transita em julgado, e reformá-la ou anulá-la como se faz muito, é total ignorância
da teoria dos capítulos, é afrontar a coisa julgada, o que é uma afronta direta à norma
constitucional, daí a importância disso, eu tenho um conjunto chamado decisão em um
conjunto com mais de um elemento, nada obstante dentro deste conjunto pode haver
outro e ele ter mais de um elemento e cada parte desta constitui uma decisão autônoma,
se retirá-la, ela vira uma decisão.
Sinceramente, não tem como entender essas coisas sem ter uma base teórica na teoria do
processo, do direito, porque você está lidando com um problema de ultima ratio, com
um problema da definitividade das decisões, está lidando com jurisdição que é a única
que pode decidir por último, é obvio que a complexidade tem que ser muito maior.
Capítulo da decisão é qualquer parte autônoma dela, qualquer parte que sozinha
constitua uma decisão. As hipóteses são infindas, tem que se enfrentar questão por
questão, quanto mais capítulos uma decisão tiver, maior vai ser o dispositivo dela, e vai
ter que ter uma decisão acerca de cada capítulo dele, o juiz vai ter que se declarar
competente, vai dizer que o autor tem capacidade, vai dizer que a citação foi boa, vai
julgar todos os pedidos cumulados, e tudo isso há de estar no dispositivo, porque é no
dispositivo onde está a decisão do caso concreto, a norma individual, o preceito que ele
firmou, o imperativo, “declaro-me incompetente”, “desconstituo o contrato”, “ordeno ao
réu a fazer isto”, tudo isto vai estar lá no dispositivo, como arremate.

Requisitos da sentença.
Quando estou falando aqui em sentença, estou me referindo a sentença como sinônimo
de decisão, sentença- lato sensu , a grosso modo.
Pode-se dizer que basicamente o requisito da sentença é a congruência dela, mas essa
congruência deve ser vista sob dois prismas distintos, primeiro uma congruência dela
própria, uma congruência interna, a decisão vai ser internamente congruente, depois
uma congruência que se reporta a questões de fora da sentença, externas, ela aí vai ser
externamente congruente.
Analisando primeiro a congruência externa: é o respeito, salvo naquelas exceções que
vimos quando analisamos o pedido, o respeito à regra da congruência estampada no art.
128, e ratificada no caput do art. 460, ou seja, salvo as exceções que já vimos, a
sentença ela não pode ser ultra, extra ou citra, ou seja, além, diversa, ou aquém,
respectivamente. Isto dá uma falsa idéia que ela pode ser ultra, extra e citra em relação
ao pedido, isto dá uma idéia simplificadora do problema, na verdade ela pode ser ultra,
extra ou citra em relação a qualquer dos elementos da demanda (se for é viciada), em
sendo problemática pode ser ultra, extra ou citra não só em relação ao pedido, mas a
qualquer dos elementos da demanda, partes, pedido ou causa, e, além disto, ao
fundamento da defesa. O problema pode ser não só em relação ao pedido, mas também
partes, pedido, causa ou o fundamento da defesa. Ultra é mais, ela pode julgar a mais,
tanto em relação à parte que não está, como em relação à causa de pedir que não está
alegada e não pode se conhecer de ofício, como em relação ao pedido que não foi
formulado, como em relação ao fundamento da defesa que também não foi formulado e
que o juiz não pode conhecer de ofício, ou seja, além daquilo que foi trazido, o juiz traz
algo novo na decisão. Extra é a mesma coisa, só que algo diverso, ele nem analisa o que
está, ele traz algo que não foi alegado, ele julga apenas para uma parte, que não é
nenhuma das partes processuais, não é nenhum dos sujeitos processuais, é alguém de
fora, ele julga um pedido que não foi formulado. E citra é menos, há dois litisconsortes,
ele só julga com base em um, eu tenho vários fundamentos, o juiz rejeita um e julga
improcedente meu pedido, ela é citra petita em relação à causa de pedir, eu tenho vários
fundamentos de defesa, ele sem apreciar todos julga procedente o pedido do autor, ela é
citra petita em relação aos fundamentos da defesa, eu tenho dois pedidos cumulados, ele
só aprecia um, não sendo aquelas hipóteses onde um vincula o outro, a decisão também
é citra petita.
Para acolher a pretensão de uma parte, não é necessária a análise de todos os
fundamentos dela, eu tenho erro e dolo e quero a anulação do contrato, qualquer um dos
dois me dá o que eu pretendo, se o juiz apontar para o erro ele vai anular, não
analisando o dolo, esa decisão não tem problema nenhum e não é citra petita, para
acolher a pretensão de alguém, eu não preciso analisar todos os fundamentos dela, agora
para rejeitar não, se eu for rejeitar, eu terei de analisar todos os fundamentos que ela
traz, salvo se entre eles houver uma relação lógica de subordinação, que pode haver, de
modo que, a análise de um depende da análise do outro, sem um, o outro não serve de
nada, então se eu tenho erro e dolo e quero a anulação do contrato, o juiz não pode
rejeitar o erro e julgar improcedente, ele também terá de rejeitar o dolo, eu tenho dez
fundamentos de defesa, para que ele possa julgar procedente ele vai ter que rejeitar os
10, salvo se tive uma relação lógica de subordinação um sozinho de nada adianta, ele
depende do outro. Uma sentença ultra, extra e citra é uma sentença que diz respeito a
regra lá do 128 e 460 § único, a sentença ultra, extra e citra, salvo se for citra em relação
ao pedido, é uma sentença defeituosa e via de regra vai ser invalidada.
Ultra em relação às partes, ao pedido, à causa, ao fundamento, extra em relação às
partes, ao pedido, à causa e ao fundamento, citra em relação às partes, à causa e ao
fundamento, é uma relação defeituosa, problemática. Quando ela é citra em relação ao
pedido ou em relação à um dos pedidos cumulados,ou parcela de um pedido, ou porção
fracionada de um pedido, sendo o pedido a conclusão da demanda, a maquete da
sentença, ele vai delimitar a prestação jurisdicional, eu tenho um pedido que o juiz não
apreciou, eu posso dizer, em relação ao que não foi apreciado, que há decisão? Se eu
peço algo e o juiz não aprecia, eu posso dizer que há decisão? Se o juiz não firma o
preceito acerca daquilo? Se eu peço condenação de danos morais e materiais, o juiz
julga um e nem julga o outro, tem preceito em relação ao outro? Tem algum dispositivo
acerca do que não foi apreciado? Na realidade não há decisão, há ausência de decisão, o
juiz não julgou o que tinha que julgar, é por isso que quando o juiz não aprecia o mérito,
não tem decisão do mérito. Como eu posso retirar aquilo que o juiz não julgou? Não
posso falar em trânsito em julgado daquilo que o juiz não julgou. O artigo ... vai incidir
sobre o item sobre o qual não houve decisão, a possibilidade de reiteração do núcleo do
processo (José Carlos Barbosa Moreira), não tem decisão aí, não tem trânsito em
julgado, não tem coisa julgada, o juiz não julgou o que tinha de julgar, o que se vai fazer
aí? Interpor embargos declaratórios, tecnicamente não é um recurso, embora na prática
vá se fazer um recurso, porque só se recorre de algo que foi decidido e aí não tem
decisão, eu vou informar ao tribunal que o juiz não cumpriu, sequer iniciou a prestação
jurisdicional. O tribunal vai reformar, invalidar? Não, como ele vai reformar ou
invalidar algo que não existe? Eu só posso anular o que existe. Não tem reforma, não
tem invalidação, tem uma ordem do tribunal “Julga o que tu não julgaste”, só isso, um
recado, tecnicamente é isso que vai ocorrer. Agora, isso é só em relação ao pedido,
porque se ela deixa de dizer algo em relação à causa, mas julga o pedido, ele julgou,
mas ele não enfrentou todas as questões que eram necessárias, embora tenha julgado,
apreciado o pedido, rejeitado ou acolhido ele não ultrapassou o que era necessário, e aí
sim há uma decisão problemática, defeituosa e que não respeita esta regra da
congruência, quando a congruência é externa, ela vai se reportar ao que está fora dela,
seja da demanda, seja da defesa, está fora dela e ela tem de respeitar isso.
Mas a decisão ela tem ainda uma congruência dela própria, uma congruência interna,
toda sentença há de ser certa, a certeza da sentença corresponde à certeza do pedido,
lembrando que há pedidos que não precisam ser certos, são implícitos, mas isso não
implica em sentença implícita, a decisão há de ser certa, mesmo tendo pedido implícito,
a falta de certeza da decisão acarreta o defeito dela. Em alguns casos ela precisa
delimitar a extensão de seu objeto, tem que ser determinada ou líquida, uma decisão
ilíquida é incompleta, falta algo, parágrafo único art. 459, a decisão não pode ser
ilíquida, a determinação do pedido implica na necessidade de a decisão também ser
determinada, isso não quer dizer que quando o pedido seja indeterminado, naquelas
hipóteses do 286 a sentença não possa ser líquida, a iliquidez do pedido, a
indeterminação do pedido não acarreta a necessidade da decisão também ser
indeterminada e ilíquida, o ideal é que ela fale de tudo, nos juizados por exemplo, em
qualquer hipótese ela tem que sair líquida, art. 38 lei 9.099, ela vai ter que sair pronta,
acabada. Quando ela é ilíquida, e nas hipóteses que pode ser ilíquida ela vai precisar ser
completada, a liquidação vai integrar o que está faltando, além disto a decisão tem que
ser clara, onde se possa perceber o que foi decidido. Ela tem que ter coerência, a
conclusão do dispositivo terá que corresponder às premissas levantadas na
fundamentação, o dispositivo só arremata, sendo uma chave da fundamentação, uma
fórmula dela,e eu apenas concretizar através do dispositivo, se não houver a
correspondência, se a norma individual for diversa ou contrária ou contraditória à Ratio
decidendi, essa decisão é incoerente, contém um vício lógico, não é congruente
internamente. Basicamente são estes os requisitos da sentença.
O § único do art. 460 “A sentença há de ser certa ainda que decida relação jurídica
condicional”. O que é uma relação jurídica condicional? Ela é fruto de quê? De um ato
jurídico, mais especificamente de um negócio jurídico cuja sua eficácia está modulada,
o fator que modula a eficácia deste com a condição do meio da sua eficácia, um
testamento por exemplo, só tem eficácia com a morte do testador, muitos não
conseguem entender que o testamento só gera um direito expectativo a receber a
herança, a promessa de compra e venda gera um direito expectativo, um direito
expectativo a ter a coisa prometida, e o direito expectado é o direito a ter, esses efeitos
jurídicos estão modulados em sua eficácia, muitos dizem que a sentença ela não pode
ser condicional com base nesse parágrafo único, Marinoni por exemplo, mas será que é
isto mesmo? Será que uma sentença não pode estabelecer limite, fatores, para sua
eficácia? Não pode modular, delimitar seus efeitos jamais? Ou seja, a sentença não tem
em seu suporte fático nenhum elemento negocial, nenhum poder de auto regrar a
vontade, ou seja, o juiz profere a sentença e a eficácia surge de um só jato? Será que é
isso mesmo? Ou será que a sentença pode sim estabelecer isto? O § único do art. 460,
diz apenas que a sentença tem que ser certa, mesmo que decida relação condicional. O
art. 461 § 5° diz que o juiz indica uma ordem dirigida á alguém, e para o cumprimento
desta ordem ela usa de meios coercitivos, vários, muito além daqueles que estão
indicados no § 5° do art. 461, um deles é a multa por descumprimento da decisão, o
código não diz qual é o valor, nem a periodicidade desta multa, se é uma vez só, ou se
ela se renova, quem vai dizer isto? O juiz diante do caso, quando o juiz está regulando
uma multa, ele não está limitando a eficácia da decisão? É óbvio que ele está. Ele está
dizendo: “A multa vai ser desta forma, a partir de tal data, nesta periodicidade, reservo-
me no entanto o poder de mudar isto”, o poder de auto regramento da vontade, é
elemento negocial presente no suporte fático da decisão.
O art. 24 da Lei 9868 diz que o STF por 2/3 de seus membros pode delimitar a eficácia
da decretação de inconstitucionalidade, percebam a eficácia própria da decisão de
constitucionalidade ou inconstitucionalidade, ou a declaração ou a desconstituição
negativa, mas o supremo pode ir além, ele pode modular isso, este é o elemento
negocial presente no suporte fático de uma decisão, a sentença contém um poder de auto
regramento da vontade, ela pode estabelecer fatores para a sua eficácia, o problema é
que é uma norma em branco da teoria do negócio jurídico que Pontes há muito já deu a
contribuição dele, identificou que é elemento do negócio jurídico. A declaração de
vontade não é um negócio jurídico, é o suporte fático que jurisdicisado, depois de
jurisdicisado é que se transforma em negócio jurídico. O poder de auto regrar a vontade
diminui conforme for o tipo do direito, nem mesmo no direito privado, esse poder é
ilimitado, é sempre estabelecido pela norma, por mais que ela seja indeterminada, por
mais que seja poder de regramento vai estar limitada, mas havendo este poder, eu posso
falar em negócio jurídico. O que é negócio? É poder de disposição, de escolha, negócio
jurídico é elemento fundamental do suporte fático, é o poder de auto regramento da
vontade, é a possibilidade mínima que seja, eu não posso, por exemplo, dizer que sou
pai de alguém e escolher como é que eu vou fazer isso, ou eu digo que sou pai, expresso
a vontade de ser pai ou não, se eu manifestar a vontade os efeitos atuam de uma só vez,
se eu manifesto, a eficácia do ato jurídico, que aí é stricto sensu, foi toda de uma vez só.

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