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O Professor Henri Breuil Pelo Dovtor Maxvet, Heuexo Prokator Catena da Usveidde de Litho Dior do Msen Eaaicco Quando o Rev. P.* Breuil se iniciou na Pré-Histéria em 1890, jé esta jovem ciéneia se encontrava fortemente alicercada na vit6ria de Bou- cher de Perthes sobre os adversérios do homem antédiluviano; ja estava assente na ordenagio geral que Lartet, com base na Paleontologia, criara para os tempos pleistocenos ¢ na sistematizagio que Gabriel de Mortillet, Tancando mio da tipologia, conseguira estabelecer para as indistrias pré-historicas, A antiguidade do homem que durante muito tempo se calculara em cerca de 6 000 anos tinha sido projectada assim muito para além. Nao se aereditava porém na arte quaternéria, que se julgava uma falsificagio dos jesuftas e até dum mogo investigador que se iniciava entao chamado Henri Breuil, Mestres, como Cartailhac, outro arquedlogo francés credor da pré- -historia portuguesa, duvidaram também, embora este nobremente se retra- tasse em «Meia culpa d'un sceptiquey. Ao paleolitico antigo faltava uma organizagio com base na Geolo- gia —nos terragos fluviais ¢ nas praias antigas—e ao leptolitico, para empregar a nomenclatura de Breuil, um estudo cultural apoiado na fauna, na indistria e nas produgées artisticas. mesolitico julgava-se um hiato, na erenea de que o homem acom- panhara os gelos no seu recuo para a linha actual. 210 MANUEL MELENO Todo este quadro se vai porém modificar e 0 maior obreiro dessa renovagio foi o Prof. Henri Breuil. * ‘Trés estimulos concorreram para despertar a vocagdo préchistérica de Henri Breuil. Em primeiro lugar seu Pai que se dedicava & Entomologia ¢ asso: ciava, quando menino, & colheita de colespteros, criando-lhe assim 0 gosto das cigneias naturais, que hoje professa com a mais alta competéneia © fervor. Com que emogio ele fala ainda da primeira borboleta que tomou nos campos de lucerna da sua terra natal! Em segundo lugar © gedlogo abevilense d’Ault du Mesnil, que Ihe abre © caminho da Geologia ¢ Osteologia comparada, Finalmente professor do Seminirio d’Issy, P.* Guibert que Ihe pie nas mios as obras de Mortillet e Cartailhac e a revista «L.’Anthropologie». £ ainda pelo brago d’Ault du Mesnil que vai a Saint-Acheul e a Abeville © pode evocar, no Museu local, as paginas épicas da vida primitiva, em frente dos restos duma fauna gigantesea e dos rudes instrumentos de que © homem se utilizava! Foi também d’Ault que lhe proporcionou a comparticipacio nas esea- vacdes de Campigny e the sugeriu uma proveitosa peregrinagio pelas esta- ses classicas do S.W. da Franga, Foi entio que conheceu Piette, viu as suas coleegées e pode admirar as manifestagées artisticas do paleolitico superior. Estas foram, como ele diz, 0 relampago que Ihe iluminou 0 caminho a seguir! A descoberta pouco depois da extensa gruta de Combarelles, com uma série de cavalos gravados, seguida logo pela do labirinto de Font- ~de-Gaume, com uma galeria de pintura naturalista, ¢ a vi a0 santuério de Altamira, com as suas salas plenas de misteriosa beleza, encheram-lhe © espfrito dum verdadeiro deslumbramento e da ansia de resolver 0 pro- dlemas fundamentais da idade da rena: a sua estratigrafia industrial © a interpretagio da sua arte. © PROFESSOR HENRI BREULL 2a Foi no Congreso de Génova de 1912 que o Rev. P.* Breuil apre- sentou as suas «Subdivisions du Paléolithique supérieur et leurs signifi- cation», que 45 anos depois, so, neste filme que é a Pré-Historia, ainda a base do que se escreve sobre tal época. Com efeito, a revisio, aliés im- precisa, tentada por Perony, e a mais consistente de Miss Garrod, esta de 1936, apesar do alargamento do campo de investigagio © dos novos elementos que se foram carreando, estio contidas na eriagéo de Breuil € no so mais do que um desenvolvimento da mesma. Foi porém a arte rupestre que absorveu a maior parte da vida deste sibio préshistoriador, ow debrucado sobre as colecgdes; ou desenhando, fis veres deitado de costas, & luz de lampadas ou velas, no interior das cavernas; ou percorrendo serranias, indiferente ao clima © & perseguigio dos lobos, & procura de abrigos ou rochas gravadas ou pintadas! E assim deste modo pode, na arte mobiliria, estabelecer a sucessio dos estilos, as linhas de evolugzo, ora do esquema para a figura ora desta para o esquema, ¢ A margem a extenso das migragdes ¢ a area da expan- sto das trocas; péde, na arte parietal, ajudar a liquidar as davidas sobre a autenticidade das cavernas pintadas, da cronologia neolitica que Ihe era atribuida, ¢ publicar, com 0 auxilio do Principe de Ménaco, seis mag- nifieas monografias sobre «Les peintures et gratures murales des cavernes paléolithiques: 1— Altamira. I —FontdeGaume. III —Cavernes can- tabriques. IV — Pasiega (Santander). V—Pileta (Malaga). VI—Com- barelles; péde ainda olhando o todo, perscrutar a origem ¢ a evolugéo da arte, desde as incisdes ¢ tracos aurignacenses até aos frescos madale- nenses as figuras barroeas do azilense ¢ definir o ciclo franco-cantibrico com o seu naturalismo, as vezes intelectual, as suas figuras-retratos, as suas composigées, sem ideia de conjunto, mas rieas dum belo impres- sionismo.

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