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Giovanni Seabra

Ivo Mendonça
(organizadores)

Educação ambiental:
Responsabilidade para a
conservação da sociobiodiversidade

Editora Universitária da UFPB


João Pessoa - PB
2011
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
reitor
RÔMULO SOARES POLARI
vice-reitora
MARIA YARA CAMPOS MATOS

EDITORA UNIVERSITÁRIA
diretor
JOSÉ LUIZ DA SILVA
vice-diretor
JOSÉ AUGUSTO DOS SANTOS FILHO
supervisor de editoração
ALMIR CORREIA DE VASCONCELLOS JUNIOR
Arte Gráfica: Cláudia Neu
Capa: Ivo Thadeu Lira Mendonça
Editoração: Ivo Thadeu Lira Mendonça
E-mail: gs_consultoria@yahoo.com.br

E24 Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da


sociobiodiversidade / Giovanni Seabra, Ivo Mendonça
(organizadores). – João Pessoa: Editora Universitária da
UFPB, 2011.

V. 1

1.782 p.: il.

ISBN: 978-85-7745-938-4

1. Educação Ambiental. 2. Meio Ambiente. 3. Biogeografia


e Biodiversidade. 4. Mudanças Climáticas. 5. Agroecologia. 6.
Recursos Hídricos. 7. Degradação Ambiental. I. Seabra,
Giovanni de Farias. II. Mendonça, Ivo Thadeu Lira

UFPB/BC CDU: 37:504

As opiniões externadas nesta obra são de responsabilidade exclusiva dos seus autores.

Todos os direitos desta edição reservados à GS Consultoria Ambiental e Planejamento do Turismo Ltda.
Apresentação

A Assembléia Geral das Nações Unidades elegeu 2011 como o Ano Internacional das Florestas.
Coincidentemente, neste mesmo ano, o Congresso Nacional emerge como cenário para os debates
aquecidos envolvendo a aprovação do novíssimo Código Florestal do Brasil, cujos principais atores
são os parlamentares, os empresários rurais, ambientalistas e membros da sociedade civil organizada.
Contrariamente ao movimento ecológico nacional, houve no Brasil aumento na queima das florestas, os
problemas e desastres ambientais urbanos foram acentuados e os danos decorrentes da exploração do
petróleo em águas marinhas nacionais são agravados e, a curto e médio prazo, irreversíveis.

Estas e outras questões de natureza socioambiental foram abordadas no II CNEA & IV ENBio. Os 21
eixos temáticos pautados nas principais temáticas socioambientais serviram de base para elaboração dos
850 trabalhos apresentados nos eventos e publicados neste livro na forma de artigos. Os temas enfocados
incluem a preservação dos ecossistemas através do manejo sustentável, a conscientização da sociedade e o
papel que ela deve exercer no desenvolvimento global sustentável.

Conservar florestas é preservar não somente a vida das árvores. E sim manter viva toda a
biodiversidade do Planeta, e com ela as sociedades humanas. A Educação Ambiental como política efetiva
governamental, com o uso dos meios de comunicação de massa, de modo a atingir o nível familiar e todos
os níveis de ensino, é o principal instrumento para conservar a natureza e o ambiente em que vivemos.

O II Congresso Nacional de Educação Ambiental e o IV Encontro Nordestino de Biogeografia


ocorreram simultaneamente em João Pessoa, no período de 12 a 15 de outubro de 2011, reunindo 1.500
participantes, entre pesquisadores, professores, estudantes e cidadãos de todos os setores da sociedade.
Os participantes do II CNEA e IV ENBio, conforme constatado nos artigos publicados neste livro,
demonstraram, talento, conhecimento e responsabilidade ao apontar os Caminhos para a Conservação da
Sociobiodiversidade.

Giovanni Seabra
Ivo Thadeu Lira Mendonça
Sumário

APRESENTAÇÃO .................................................................................................................................................. 5

SUMÁRIO ............................................................................................................................................................ 6

1. EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SAÚDE GLOBAL................................................................................................15

RISCOS AO MEIO AMBIENTE E A SAÚDE HUMANA DECORRENTES DO DESCARTE INADEQUADO DE


BATERIAS E APARELHOS CELULARES ......................................................................................................16
O TERMO ZOONOSES NA CONCEPÇÃO DOS MORADORES DO BAIRRO MULTIRÃO, LOCALIZADO NO
MUNICÍPIO DE SERRA TALHADA/PE .......................................................................................................24
AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES ALIMENTÍCIAS DA POPULAÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA DA RIBEIRA/PB
EM COMPARAÇÃO COM 50 ANOS ATRÁS ..............................................................................................29
EDUCAÇÃO AMBIENTAL VOLTADA PARA O CONTROLE DA DENGUE E A PERCEPÇÃO DAS CRIANÇAS EM
UMA COMUNIDADE DO SERTÃO DE PERNAMBUCO ..............................................................................36
APRENDIZAGEM BASEADA EM PROJETOS/PROBLEMAS: ESTUDO DE CASO DO MONITORAMENTO
ESTUDANTIL DE DOIS CORPOS D'ÁGUA DO MUNICIPIO DE ITABAIANA/SERGIPE ..................................43
MODELAGEM DA PROPAGAÇÃO DA ESQUISTOSSOMOSE EM BOM CONSELHO- PE ........................................51
AS CONDIÇÕES SOCIO AMBIENTAIS E SUA RELAÇÃO COM A DENGUE: UM ESTUDO DE CASO NO
BAIRRO NATAL, ITUIUTABA/MG .............................................................................................................59
VIGILÂNCIA AMBIENTAL E A IMPORTÂNCIA DO MONITORAMENTO DE MOSQUITOS DE IMPORTÂNCIA
DE SAÚDE PÚBLICA .................................................................................................................................68
ÁLGEBRA DE MAPAS NA ECOEPIDEMIOLOGIA DA ESQUISTOSSOMOSE MANSONI NO MUNICÍPIO DE
SANTO AMARO, BAHIA, NO PERÍODO DE 2006 – 2008. ..........................................................................77
CONCEPÇÕES E PERCEPÇÕES SOBRE A DENGUE: DIAGNÓSTICO SOCIOAMBIENTAL NO ENTORNO DE
UMA ÁREA DE PRESERVAÇÃO EM VARZEA PAULISTA/SP .......................................................................85
DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DE TRIATOMA SPP. (HEMIPTERA, REDUVIIDAE) NAS ECORREGIÕES DO
ESTADO DA BAHIA ..................................................................................................................................93
MOBILIZAÇÃO SOCIAL PARA O CONTROLE DE SIMULÍDEOS NO RIO GRANDE DO SUL ...................................100
EDUCAÇÃO ALIMENTAR: UTILIZAÇÃO DA PALMA FORRAGEIRA NO COMBATE A FOME ENDÊMICA NO
MUNICÍPIO DE GILBUÉS-PI....................................................................................................................104
PROBLEMAS SOCIOECONÔMICO E DE SAÚDE DA POPULAÇÃO ATENDIDA PELA UNIDADE DE SAÚDE DA
FAMÍLIA MANDACARU IX (JOÃO PESSOA/PB) ......................................................................................112
OS BARBEIROS E A DOENÇA DE CHAGAS SEGUNDO OS MORADORES DA ZONA RURAL DO MUNICÍPIO
DE TREMEDAL, SUDOESTE DA BAHIA: UMA ABORDAGEM ETNOPARASITOLÓGICA ............................119
A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA O ENSINO DA ENGENHARIA SANITÁRIA E
AMBIENTAL NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ .............................................................................126
DETERMINAÇÃO DE ISOTERMA DE ADSORÇÃO DA PROTEÍNA BSA EM RESINA ANIÔNICA ............................133
EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA O SANEAMENTO DA HABITAÇÃO RURAL .......................................................139
EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SAÚDE GLOBAL COMO INSTRUMENTO PARA A MELHORIA DO ENSINO
INFANTIL ...............................................................................................................................................145
A INFLUÊNCIA DE ELEMENTOS MICROMETEOROLÓGICOS NA INCIDÊNCIA DOS CASOS DE DENGUE NA
AMAZÔNIA OCIDENTAL ........................................................................................................................151
CULICÍDEOS CAPTURADOS EM AMBIENTE DE CERRADO MARANHENSE. ......................................................158

2. BIOGEOGRAFIA E BIODIVERSIDADE ........................................................................................................162


COLORAÇÃO COMO DETERMINANTE NA COLHEITA DE SEMENTES DE ERVA-DOCE ......................................163
PERCEPÇÃO SOBRE OS ANFÍBIOS EM ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS E POPULARES DE COMUNIDADES
INTERIORANAS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE. ....................................................................169
CONHECIMENTO, UTILIZAÇÃO E DIVERSIDADE DE PLANTAS MEDICINAIS ENTRE ALUNOS DA REDE
PÚBLICA EM ESPERANÇA, PARAÍBA ......................................................................................................175
FENOLOGIA REPRODUTIVA DE PERIANDRA MEDITERRANEA MART. EX BENTH. (FABACEAE) E SUA
INTERAÇÃO ECOLÓGICA COM POLINIZADORES EM REMANESCENTE DE MATA ATLANTICA. ..............182
“PEIXE OU MAMÍFERO?”: CONHECIMENTO ETNOBIOLÓGICO DE ESTUDANTES DE ESCOLAS PÚBLICAS
NO ESTADO DO PARÁ-UMA CONTRIBUIÇÃO À CONSERVAÇÃO DOS MAMÍFEROS AQUÁTICOS. .........190
FLORÍSTICA E FITOSSOCIOLOGIA EM UMA ÁREA INVADIDA POR SESBANIA VIRGATA (CAV). PERS. NA
PARAÍBA ...............................................................................................................................................195
BIOGEOGRAFIA APLICADA À GESTÃO AMBIENTAL .........................................................................................202
RECONHECIMENTO DE PLANTAS MEDICINAIS NATIVAS DA CAATINGA ATRAVÉS DA IDENTIFICAÇÃO DE
FRUTOS E SEMENTES ............................................................................................................................209
ANÁLISE FITOSSOCIOLÓGICA DE UMA ÁREA DE ECÓTONO CAATINGA/CERRADO EM BARBALHA - CE,
BRASIL...................................................................................................................................................217
BIOMETRIA DE FRUTOS DE POINCIANELLA PYRAMIDALIS TUL. NO SEMIÁRIDO DA PARAÍBA, BRASIL ...........224
VIABILIDADE E VIGOR DE SEMENTES DE CEREUS JAMACARU DC.: EM DIFERENTES TEMPERATURAS E
VOLUMES DE ÁGUA NO SUBSTRATO ....................................................................................................231
LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO DE PLANTAS MEDICINAIS UTILIZADAS NA COMUNIDADE
QUILOMBOLA DOS MACACOS, SÃO MIGUEL DO TAPUIO, PIAUÍ ..........................................................238
APLICAÇÃO DO ÍNDICE DE VEGETAÇÃO POR DIFERENÇA NORMALIZADA (NDVI) NA AVALIAÇÃO DO
EFEITO DE BORDA: MANGUEZAL DO PINA - PE.....................................................................................248
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE FISIOLÓGICA DE SEMENTES DE SABIÁ (MIMOSA CAESALPINIIFOLIA
BENTH.) DE DIFERENTES TAMANHOS E PROCEDÊNCIAS ......................................................................255
COLETA, BENEFICIAMENTO E GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE SEIS ESPÉCIES ARBÓREAS NATIVAS DA
CAATINGA PARAIBANA .........................................................................................................................262
UM ESTUDO ECONÔMICO E FITOGEOGRÁFICO DA CAATINGA DO NORDESTE BRASILEIRO...........................268
A PRESERVAÇÃO DAS TARTARUGAS MARINHAS NO LITORAL DO IPOJUCA-PE NA PERSPECTIVA DE
PESCADORES ARTESANAIS ...................................................................................................................274
AVALIAÇÃO DE LINHAGENS DE LEVEDURAS E BACTÉRIAS ISOLADAS DE SOLOS DO SEMIÁRIDO
POTIGUAR QUANTO AO POTENCIAL DE DEGRADAÇÃO DE PETRÓLEO ................................................280
CONHECIMENTO POPULAR E USO DAS PLANTAS DA RESTINGA PELA COMUNIDADE DE BARRA DE
SERINHAÉM, APA DE PRATIGI-BAHIA ...................................................................................................288
CARACTERÍSTICAS FLORÍSTICAS DO INSELBERGUES ESPINHO BRANCO NO MUNICÍPIO DE PATOS-PB ..........297
LEVANTAMENTO DE ESPÉCIES ARBÓREAS DO CAMPUS OESTE DA UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO
SEMI-ÁRIDO ..........................................................................................................................................305
UMA ANÁLISE SOBRE O MANEJO DO BIOMA CAATINGA NA PARAÍBA: OS CASOS ESPECÍFICOS DAS
CIDADES DE AREIA E BOA VISTA. ..........................................................................................................311
LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO DE PLANTAS COM POTENCIAL ECÔNOMICO EM UM ECÓTONO
LOCALIZADA NA CIDADE DE BARBALHA – CE ........................................................................................319
PRESERVAÇÃO E CONSERVAÇÃO DA VIDA SILVESTRE ATRAVÉS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL DO BARCO
ESCOLA CHAMA MARÉ/RN ...................................................................................................................326
ANÁLISE FLORÍSTICA E FITOSSOCIOLÓGICA DA VEGETAÇÃO EM FRAGMENTOS DE CAATINGA NA
MICROBACIA HIDROGRÁFICA RIACHO CAJAZEIRAS, RN .......................................................................334
CARACTERIZAÇÃO DAS FORMAÇÕES FLORESTAIS NO DOMÍNIO DA MATA DO SERÓ, NO MUNICIPIO DE
DONA INÊS/PB. .....................................................................................................................................341
ESTUDO SOBRE A DISTRIBUIÇÃO DA ALGAROBA PROSOPIS JULIFLORA (SW.) DC. NO MUNICÍPIO DE
CAICÓ/RN. ............................................................................................................................................350
UTILIZAÇÃO DE FORMALDEÍDO NA COLETA DA MACROFAUNA DO SOLO EM ÁREA DE CAATINGA NO
SEMIÁRIDO DA PARAÍBA ......................................................................................................................354
COMPARAÇÃO DE LEVANTAMENTOS FITOSSOCIOLÓGICOS NA RESERVA LEGAL RIACHO PACARÉ-PB..........359
LEVANTAMENTO FITOGEOGRÁFICO E DIVERSIDADE FLORÍSTICA DA CAATINGA ARBUSTIVO-ARBÓREA:
SÍTIO BOA VENTURA, SERRA DA RAIZ – PARAÍBA .................................................................................366
EXTRATOS VEGETAIS E SEUS EFEITOS NA SANIDADE E FISIOLOGIA DE SEMENTES DE FLAMBOYANT-
MIRIM (CAESALPINIA PULCHERRIMA L.)...............................................................................................373
INVENTÁRIO FLORÍSTICO DO SEMI-ÁRIDO NORDESTINO NO MUNICÍPIO DE MOSSORÓ-RN .........................378
BANCOS DE SEMENTES DE PLANTAS DANINHAS EM ÁREA DE ALGODOEIRO HERBÁCEO, ANTES E APÓS
DIFERENTES TRATAMENTOS HERBICÍDICOS.........................................................................................384
BIODIVERSIDADE VEGETAL DO PARQUE ESTADUAL DO BACANGA, MUNICÍPIO DE SÃO LUÍS – MA ..............394
UMEDECIMENTO DO SUBSTRATO E TEMPERATURA NA GERMINAÇÃO E VIGOR DE SEMENTES DE INGA
INGOIDES (RICH.) WILLD .......................................................................................................................402
COMPARAÇÃO DO BANCO DE SEMENTES ENTRE ÁREAS PRESERVADA E ANTROPIZADA DE CAATINGA .......408
ANALISE DA DENSIDADE DE VEGETAÇÃO DA BACIA HIDROGRAFICA DO RIO DOCE/RN. ................................416
A BIOGEOGRAFIA E SUA CONTRIBUIÇÃO NOS ESTUDOS DA VEGETAÇÃO: UMA ANÁLISE TEÓRICA...............423
UTILIZAÇÃO DE ESPÉCIES CARISMÁTICAS DA MASTOFAUNA COMO FERRAMENTA PARA A EDUCAÇÃO
AMBIENTAL ..........................................................................................................................................427
A BIOGEOGRAFIA COMO ELEMENTO NA CONFIGURAÇÃO DE INICIATIVAS PLANIFICADORAS
INTEGRADAS.........................................................................................................................................435
A BIODIVERSIDADE NA REGIÃO DO LAGO DA USINA HIDRELÉTRICA DE TUCURUÍ, UMA VISÃO A PARTIR
DO SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA.......................................................................................447
BIODIVERSIDADE E INTERFERÊNCIAS ANTRÓPICAS: UM ESTUDO FITOGEOGRÁFICO DA BACIA DO RIO
VAZA BARRIS EM SERGIPE ....................................................................................................................454
RIQUEZA, ABUNDÂNCIA E USO DAS ESPÉCIES VEGETAIS EM UMA CAATINGA, SANTA QUITÉRIA, CE ............462
MATA ATLÂNTICA, ANÁLISE BIBLIOGRÁFICA SOBRE O BIOMA FRAGMENTADO (2000 – 2009) .....................467
LEVANTAMENTO DE MAMÍFEROS DEPOSITADOS NO CENTRO DE TRIAGEM DE ANIMAIS SILVESTRES
(CETAS) DO IBAMA NA PARAÍBA NOS ANOS 2009 E 2010.....................................................................474
RIQUEZA ICTIOFAUNÍSTICA DO AÇUDE BOQUEIRÃO: RELAÇÃO DO CONHECIMENTO ECOLÓGICO
LOCAL COM INFORMAÇÕES CIENTÍFICAS JÁ EXISTENTES .....................................................................481
BIOGEOGRAFIA E POTENCIAL DAS ESPÉCIES FLORÍSTICAS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO CURU - CE .............488
ANÁLISE DE PROTEÍNAS DIFERENCIALMENTE EXPRESSAS DE BURKHOLDERIA SP. EXPOSTAS AO FENOL ......497
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO DA MAMOMEIRA BRS ENERGIA SUBMETIDA A DIFERENTES
DOSES E FONTES DE MATÉRIA ORGÂNICA E COBERTURA DO SOLO .....................................................505
CLADONIA SALZMANNII NYL. (LÍQUEN) NA MODIFICAÇÃO DOS ATRIBUTOS QUÍMICOS DE UM SOLO
ARENOSO DO NORDESTE BRASILEIRO ..................................................................................................514
OCORRÊNCIA DE BARATAS (BLATTODEA) DOMÉSTICAS NA CIDADE DE CHAPADINHA (MA), BRASIL. ...........520
A SERRA DE SANTA CATARINA E A TEORIA DOS REDUTOS E REFÚGIOS: REGISTROS PALEOCLIMÁTICOS
NO SERTÃO PARAIBANO .......................................................................................................................525
DIFERENÇAS NA COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA DE ESPÉCIES HERBÁCEAS EM TRÊS MICROHABITES DA
CAATINGA.............................................................................................................................................531
ESTUDO DA COMUNIDADE EPIFÍTICA VASCULAR PRESENTE EM UM FRAGMENTO DE FLORESTA
OMBRÓFILA ABERTA SITUADO NO MUNICÍPIO DE AREIA, PB ..............................................................538
EFEITO DA INFLUÊNCIA SAZONAL SOBRE A DINÂMICA POPULACIONAL DE POINCIANELLA
PYRAMIDALIS (TUL.) L. P. QUEIROZ EM UMA ÁREA DE FLORESTA SECA NO BRASIL .............................545
EMERGÊNCIA DE PLÂNTULAS E CRESCIMENTO INICIAL DE PIMENTA CAYENNE EM MEIO ORGÂNICO E
SUBMETIDA A TIPOS E QUANTIDADES DE ÁGUAS DIFERENTES............................................................552
PRODUTOS NATURAIS E SEUS EFEITOS SOBRE A MICOFLORA E FISIOLOGIA EM SEMENTES DE SABIÁ
(MIMOSA CAESALPINIAEFOLIA BENTH) ................................................................................................559
ETNOBOTÂNICA DE PLANTAS DE CAATINGA, FAZENDA MOURÕES, ASSU-RN, BRASIL ..................................565
QUALIDADE FISIOLÓGICA DE SEMENTES DE CNIDOSCOLUS PHYLLACANTHUS PAX & K. HOFFM
TRATADAS COM ÓLEO NATURAL ..........................................................................................................571
LEVANTAMENTO FITOGEOGRÁFICO DA MATA ATLÂNTICA, DA RESERVA LEGAL RIACHO PACARÉ, RIO
TINTO /PB .............................................................................................................................................580
EMERGÊNCIA E CRESCIMENTO INICIAL DE PLÂNTULAS DE CLITORIA FAIRCHILDIANA EM FUNÇÃO DA
PROFUNDIDADE E POSIÇÃO DE SEMEADURA ......................................................................................587
MANEJO HÍDRICO DA MAMONEIRA BRS ENERGIA EM DIFERENTES LÂMINAS. ..............................................595
COMÉRCIO ILEGAL DE ANIMAIS SILVESTRES: UM LEVANTAMENTO DA PROBLEMÁTICA NO MUNICÍPIO
DE MOSSORÓ – RN ...............................................................................................................................604

3. MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SOCIOBIODIVERSIDADE ...............................................................................610

IMPACTOS CLIMÁTICOS – A VARIABILIDADE DO BALANÇO HÍDRICO NAS ÚLTIMAS 04 DÉCADAS – UMA


CONTRIBUIÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL PARA A PRODUÇÃO DE GRÃOS EM
GILBUÉS ................................................................................................................................................611
GEOGRAFIA DOS TRANSPORTES: SISTEMA DE TRANSPORTE COLETIVO E SUAS IMPLICAÇÕES NO CLIMA
URBANO. ..............................................................................................................................................617
A POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL: EXPERIÊNCIAS E DESAFIOS NO
TRABALHO INTERDISCIPLINAR EM UMA ESCOLA PRIVADA DE CONTAGEM.........................................622
URBANIZAÇÃO E SISTEMA VIÁRIO: INFLUÊNCIAS DAS ILHAS DE CALOR E ILHAS DE FRESCOR NA
QUALIDADE DE VIDA NA CIDADE DE BELÉM-PA ...................................................................................628
DIFERENÇAS NA SENSAÇÃO DE CONFORTO TÉRMICO EM DETERMINADOS PONTOS NA CIDADE DE
JOÃO PESSOA-PB ..................................................................................................................................636
SAZONALIDADE NA COMPOSIÇÃO E ABUNDÂNCIA DE FAMÍLIAS DE MOSCAS (BRACHYCERA E
CYCHLORRHAPHA) NO PARQUE ESTADUAL DO RIO DOCE ...................................................................641
IMPLICAÇÕES DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS E OUTRAS AÇÕES ANTRÓPICAS PARA O TURISMO NO RIO
DAS MORTES, MATO GROSSO ..............................................................................................................646
PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE ESTUDANTES MACAENSES SOBRE OS RISCOS OCASIONADOS PELAS
MUDANÇAS CLIMÁTICAS ......................................................................................................................652
ANÁLISE GEOAMBIENTAL DO NÚCLEO DE DESERTIFICAÇÃO EM GILBUÉS - PIAUÍ .........................................660
INFLUÊNCIA DAS CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS AVALIADAS NA MESOREGIÃO DO AGRESTE
PARAIBANO ..........................................................................................................................................668
FATOS SOBRE O ANTROPISMO NA CAATINGA ................................................................................................673
ANÁLISE METEOROLOGICA DE PRECIPITAÇÃO E TEMPERATURA DO AR EM CATOLÉ DO ROCHA,
ESTADO DA PARAÍBA ............................................................................................................................680
POTENCIALIDADE DE ESTOQUE DE CARBONO NOS SOLOS SOB VEGETAÇÃO NATIVA DA BACIA DO RIO
ARAGUARI, MG .....................................................................................................................................685
PERCEPÇÃO AMBIENTAL: UMA CONTRIBUIÇÃO NO ESTUDO DO PROCESSO DE DESERTIFICAÇÃO NO
SERIDÓ ORIENTAL NORTE-RIO-GRANDENSE ........................................................................................694
IMPACTOS CLIMÁTICOS NO ESPAÇO GEOGRÁFICO DE CAMPINA GRANDE – UM ESTUDO DA
VARIABILIDADE DA TEMPERATURA DO AR SOBRE A ÁREA URBANA ....................................................702
POLÍTICA DE COMBATE Á SECA E ESTRATÉGIAS DE CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO: O CONTEXTO DO
ESTADO DO CEARÁ ...............................................................................................................................709
IMPACTOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS GLOBAIS NAS CULTURAS DO ALGODOEIRO E DA
MAMONEIRA ........................................................................................................................................716
INDICADORES E ÁREAS DE DESERTIFICAÇÃO NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO .....................................................722
CONCENTRAÇÃO DE OZÔNIO TROPOSFÉRICO NO MUNICÍPIO DE SERRA TALHADA-PE .................................730
DEGRADAÇÃO E DESERTIFICAÇÃO: EVOLUÇÃO DOS ESTUDOS NA PARAÍBA COM UTILIZAÇÃO DE
GEOTECNOLOGIAS ...............................................................................................................................736

4. EDUCAÇÃO AMBIENTAL, CONSCIENTIZAÇÃO E MOBILIZAÇÃO SOCIAL ..................................................746

EDUCADORES AMBIENTAIS NO SERTÃO DAS GERAIS: UMA ABORDAGEM DAS ESCOLAS ATENDIDAS NO
MUNICÍPIO DE VARZELÂNDIA – MG .....................................................................................................747
EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO MEIO RURAL: UMA EXPERIÊNCIA COM AGRICULTORAS BENEFICIADORAS
DE FRUTAS NATIVAS NO CURIMATAÚ PARAIBANO ..............................................................................756
NÍVEL DE CONSCIENTIZAÇÃO E DE AÇÃO DE JOVENS ALUNOS DO ENSINO MÉDIO DE ESCOLAS
PÚBLICAS DO MUNICÍPIO DE CORRENTES/PE EM RELAÇÃO A PRESERVAÇÃO AMBIENTAL .................762
CONSTRUINDO UMA ÉTICA AMBIENTAL: REFLEXÕES SOBRE O POTENCIAL DA ENERGIA SOLAR NA
ATUALIDADE .........................................................................................................................................767
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL MEDIATIZADA PELA ARTE NA FORMAÇÃO CONTINUADA DE EDUCADORES........772
EDUCAÇÃO AMBIENTAL FORMAL: UM INSTRUMENTO DE CONSCIENTIZAÇÃO E MOBILIZAÇÃO SOCIAL ......777
CAMPANHAS E EVENTOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL – DA MOBILIZAÇÃO À EDUCAÇÃO – A
EXPERIÊNCIA PROMATA .......................................................................................................................783
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: A PERCEPÇÃO SOBRE MEIO AMBIENTE ENTENDIDO POR ALUNOS DE ENSINO
FUNDAMENTAL NO MUNICÍPIO DE PARAUAPEBAS-PA........................................................................788
EDUCAÇÃO AMBIENTAL NOS ENSINOS MÉDIO E FUNDAMENTAL II, ESTUDO DE CASO NA ESCOLA
ESTADUAL SIGISMUNDO GONÇALVES, OLINDA – PE (BRASIL) .............................................................793
“CONSTRUÇÃO DE UM BLOG PARA SENSIBILIZAR E MOBILIZAR A COMUNIDADE ESCOLAR DO CEFET -
MG SOBRE COLETA SELETIVA”..............................................................................................................797
A SEMANA DA FLORESTA: EXPERIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL FORMAL NA ZONA OESTE DO RIO
DE JANEIRO. ..........................................................................................................................................801
INSTRUMENTO CONSCIENTIZADOR NAS RELAÇÕES HOMEM AMBIENTE: EDUCAÇÃO E PRÁXIS
AMBIENTAL ..........................................................................................................................................806
ANÁLISE DA SUSTENTABILIDADE DO SERIDÓ ORIENTAL NORTE-RIO-GRANDENSE: SEGUINDO A TRILHA
DA PEGADA ECOLÓGICA .......................................................................................................................811
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO PROCESSO FORMADOR DE POLICIAIS MILITARES NO MARANHÃO ................819
O DISCURSO AMBIENTALISTA NA MÍDIA (RE) SIGNIFICADO POR ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO ..............826
UNIVERSIDADE E ESCOLA: CONSTRUINDO SABERES E PRÁTICAS EM EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL............835
CAMINHANDO PELAS TRILHAS DO BACANGA, EM SÃO LUÍS DO MARANHÃO: CONSTRUINDO A
HISTÓRIA E CONSCIÊNCIA AMBIENTAL COM AS COMUNIDADES LOCAIS.............................................843
CONCEPÇÃO SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DOS ALUNOS DO CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E
AMBIENTAIS – UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA. .....................................................851
EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA A FORMAÇÃO DO CIDADÃO SOCIOAMBIENTALMENTE CRÍTICO ...................859
DIAGNÓSTICO DO PROJETO SALA VERDE EM INSTITUIÇÕES PÚBLICAS NO RIO GRANDE DO NORTE - RN .....864
HISTÓRIA AMBIENTAL: NOTAS SOBRE O CULTIVO DE TOMATE EM PESQUEIRA ............................................872
O COLETIVO, O SOCIAL E O SOCIOAMBIENTAL NAS REPRESENTAÇÕES ATRAVÉS DO DISCURSO DO
SUJEITO COLETIVO EM PESQUISA QUALITATIVA ..................................................................................878
A CONTRIBUIÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL QUANTO A INFLUÊNCIA DA MÍDIA PARA O CONSUMO ........886
O PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS .............................................893
A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE AS QUESTÕES AMBIENTAIS EM ALUNOS DO ENSINO
MÉDIO DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE SANTANA DO IPANEMA/AL .......................................................898
OS INDIOS XUKURU E OS CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS NO AGRESTE PERNAMBUCANO ...........................905
NOVOS RUMOS PARA A EUCAÇÃO NO CAMPO ATRAVÉS DA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO POPULAR E
DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL ..................................................................................................................914
CONSUMO CONSCIENTE: UMA PROPOSTA SUSTENTÁVEL NO AMBIENTE ESCOLAR .....................................920
EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS PÚBLICAS: O CASO DO PROJETO SOCIEDADE E NATUREZA...............926
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: FATORES QUE INFLUENCIAM A PERCEPÇÃO DOS ALUNOS E PROFESSORES
RELACIONADA ÀS QUESTÕES AMBIENTAIS ..........................................................................................932
A TEMÁTICA AMBIENTAL: UMA APRECIAÇÃO HISTÓRICA ..............................................................................938
PERCEPÇÃO DOS MORADORES SOBRE POTENCIAL TURÍSTICO DO DISTRITO DE MIRAPORANGA,
UBERLÂNDIA, MG: UMA PROPOSTA DE VALORIZAÇÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DO TURISMO..............946
EDUCAÇÃO AMBIENTAL E MOVIMENTOS SOCIAIS: O QUE NOS ENSINA O MOVIMENTO
“TERMOELÉTRICAS, JAMAIS!” ..............................................................................................................952
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: ABORDANDO TEMAS QUE CONTRIBUEM PARA A MELHORIA DA QUALIDADE
DE VIDA DA POPULAÇÃO ......................................................................................................................959
OS CONCEITOS DE NATUREZA, MEIO AMBIENTE E LUGAR E SUA RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO
AMBIENTAL ESCOLAR ...........................................................................................................................965
FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA SUSTENTABILIDADE ................................973
GESTÃO AMBIENTAL PARTICIPATIVA ALIADA À EDUCAÇÃO AMBIENTAL CAMINHOS PARA A
SUSTENTABILIDADE, UMA EXPERIÊNCIA NO PARANÁ DO ARANAPÚ NA RDSM/AM. ..........................978
EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA A SUSTENTABILIDADE NA LAGOA DO PIATÓ, RIO GRANDE DO NORTE. .........984
CONCEPÇÃO AMBIENTAL DOS EDUCANDOS DA EJA SOBRE OS RESÍDUOS SÓLIDOS ......................................989
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO FERRAMENTA DE CONSCIENTIZAÇÃO NA IMPLEMENTAÇÃO DA NBR
ISO 14.001:2004 – ESTUDO DE CASO....................................................................................................995
A CONSCIÊNCIA E O SUJEITO/ASSUJEITADO .................................................................................................1003
GESTÃO AMBIENTAL E ESCOLA: ANÁLISES EM PROL DA CONSTRUÇÃO DE UMA ATITUDE AMBIENTAL ......1009
O DESAFIO DA INTERDISCIPLINARIDADE NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO MEDIADO PELA
EDUCAÇÃO AMBIENTAL .....................................................................................................................1016
SOBRE O EMPODERAMENTO DE ESTUDOS DIVULGADOS EM PERIÓDICOS DIVERSOS: A EMERGÊNCIA
DO ENFOQUE COMUNITÁRIO.............................................................................................................1023
FONTES DE INFORMAÇÕES E PROBLEMAS AMBIENTAIS LOCAIS: UM ESTUDO EM ESCOLAS PÚBLICAS
DE JOÃO PESSOA-PB ...........................................................................................................................1030
O LUGAR DA MEMÓRIA NOS PROJETOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL: O CASO DA INTERVENÇÃO SOCIAL
“EM PASSAGEM PELO AMBIENTE”- ANDARAÍ (BA) ............................................................................1036
ECO-PERCEPÇÃO E CULTURA RELIGIOSA: O CASO DE ESTUDANTES DE ENSINO FUNDAMENTAL, ILHÉUS,
BAHIA. ................................................................................................................................................1045
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO ESTRATÉGIA DE CONSCIENTIZAÇÃO E MOBILIZAÇÃO SOCIAL AOS
FREQUENTADORES E COMERCIANTES DA PRAÇA DA PAZ, LOCALIZADA EM JOÃO PESSOA - PB........1051
CORREDOR AMBIENTAL: UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO PEDAGOGICA ...............................................1059
EDUCAÇÃO AMBIENTAL, CULTURA DE PAZ E JUVENTUDES EM TEMPOS DE CONSUMO EXCESSIVO ...........1065
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL ENQUANTO ESTRATÉGIA DE CONSCIENTIZAÇÃO PARA O ENFRENTAMENTO
DA CRISE SOCIOAMBIENTAL ...............................................................................................................1070
PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS MORADORES DE SERRA TALHADA – PE SOBRE ARBORIZAÇÃO URBANA ......1077
EDUCAÇÃO AMBIENTAL E EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA NA UFCG: PRÁTICA DE CONSCIENTIZAÇÃO
AMBIENTAL NA CIDADE DE SOUSA-PB ...............................................................................................1082
EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA O USO SUSTENTÁVEL DO LITORAL PERNAMBUCANO: O PROJETO VERÃO
AMBIENTAL: ESSA É A NOSSA PRAIA ..................................................................................................1088
NAS TRILHAS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DA AUTOÉTICA: UM OLHAR SOB A LUZ DA
COMPLEXIDADE..................................................................................................................................1095
CICLO DE PALESTRA: MEIO AMBIENTE E EDUCAÇÃO AMBIENTAL................................................................1100
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UM CAMINHO PARA A FORMAÇÃO INTEGRAL DO SER HUMANO........................1105
24 ANOS DE CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL: EXPERIÊNCIA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL DA ESCOLA
SANTA CECÍLIA, ÁGUAS BELAS-PE .......................................................................................................1112
DIREITO A QUALIDADE DE VIDA E ANÁLISE DE INDICADORES APOIADA PELA TECNOLOGIA DO
GEOPROCESSAMENTO .......................................................................................................................1118
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: A SUSTENTABILIDADE A PARTIR DAS
PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL................................................................................................1126
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA FORMAÇÃO DOS ALUNOS DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE
CAMPINAS, SP.....................................................................................................................................1132
CONSCIÊNCIA AMBIENTAL – REFORMULANDO A AÇÃO ...............................................................................1138
HÁBITOS DE CONSUMO E PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE ADOLESCENTES. .....................................................1144
OFICINA SOBRE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: UMA ABORDAGEM PARA FORMAÇÃO DE
PROFESSORES .....................................................................................................................................1150
POR ENTRE CONCEPÇÕES E PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO E SUSTENTABILIDADE: EDUCAÇÃO AMBIENTAL
NAS COMUNIDADES AO LONGO DA BR-230 (TRANSAMAZÔNICA). ...................................................1157
PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UM INSTRUMENTO DE CONSCIENTIZAÇÃO E MOBILIZAÇÃO
SOCIAL. ...............................................................................................................................................1163
GEOGRAFIA: TOMADORES DE DECISÃO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ...........................................1170
EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO ESTRATÉGIA PARA PREVENÇÃO DE ACIDENTES OFÍDICOS NA
CAATINGA POTIGUAR .........................................................................................................................1175
A CONTRIBUIÇÃO DA EDUCAÇÃO E PERCEPÇÃO AMBIENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL
SUTENTÁVEL .......................................................................................................................................1183
ESTRATÉGIAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESPAÇOS CORPORATIVOS: 1ª SEMANA DO MEIO
AMBIENTE EM EMPRESA DO SETOR DE TRANSPORTES......................................................................1190
LIXO UM PROBLEMA DE TODOS: COOPERATIVA “ACORDO VERDE” FRENTE SUA PERSPECTIVA SOCIAL E
AMBIENTAL ........................................................................................................................................1197
INSERÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA PÚBLICA: MEIO DE CONSCIENTIZAÇÃO PARA A
CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO ESCOLAR .......................................................................................1203
ATITUDES AMBIENTAIS ENTRE ALUNOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM ESCOLA DO
MUNICÍPIO DE MACEIÓ, ALAGOAS .....................................................................................................1210
CONSCIÊNCIA AMBIENTAL: CONHECIMENTO DOS ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL DE UMA
ESCOLA PÚBLICA DE DOIS RIACHOS-AL SOBRE O DESTINO E A APLICAÇÃO DO LIXO .........................1216
EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA EEB JOSÉ GONÇALVES DA SILVA – SÃO DANIEL - ITAPIPOCA, CE:
RELATO DE EXPERIÊNCIAS ..................................................................................................................1225
CONSELHOS CONSULTIVOS E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: CONCIENTIZAÇÃO E PARTICIPAÇÃO COLETIVA
EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO ......................................................................................................1232
EDUCAÇÃO AMBIENTAL INTEGRADA: MEIO AMBIENTE, SAÚDE E CIDADANIA NA PERSPECTIVA
SERTANEJA .........................................................................................................................................1237
PARA ALÉM DA SALA DE AULAS: TROCANDO SABERES AMBIENTAIS COM ESTUDANTES DAS SÉRIES
INICIAIS ...............................................................................................................................................1243
AS CONTRIBUIÇÕES DA MEMÓRIA E DA EXPERIÊNCIA DO SUJEITO IDOSO NAS PRÁTICAS DE PESQUISA
EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL ...............................................................................................................1249
CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL COMO FORMA DE PRESERVAÇÃO DOS ANIMAIS SILVESTRES DA ÁREA
DE PROTEÇÃO AMBIENTAL BOMFIN-GUARAÍRA/RN..........................................................................1255
ALTERAÇÕES SOCIOAMBIENTAIS DE ACORDO COM A PERCEPÇÃO DOS IDOSOS DO MUNICÍPIO DE
PARAUAPEBAS, PARÁ. ........................................................................................................................1262
EDUCAÇÃO E SENSIBILIZAÇÃO AMBIENTAL ENTRE PROFESSORES INDÍGENAS DE RONDÔNIA E
NOROESTE DE MATO GROSSO............................................................................................................1268
PARADOXOS E CONTRADIÇÕES DE UM PROCESSO PARTICIPATIVO: O CASO DE MARAGOJIPE E SEU
DESTINO .............................................................................................................................................1274
EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM GARGAÚ: A PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA NO PROJETO MANGUE
SUSTENTÁVEL .....................................................................................................................................1279
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA SOCIEDADE CIVIL ORGANIZADA: O CASO DO GRUPO DE INTERESSE
AMBIENTAL – GIA, FORTALEZA/CE. ....................................................................................................1286
EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM DUAS COMUNIDADES DA ZONA SUL DE PORTO ALEGRE – RS. ........................1292
A VISITA A UM LIXÃO PARA DESPERTAR A CIDADANIA .................................................................................1302
O QUE A CIÊNCIA DIZ SOBRE OS ANIMAIS.....................................................................................................1307
RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL UNIVERSITÁRIA EM COMUNIDADES RURAIS DO MUNICÍPIO DE
IBIMIRIM, PERNAMBUCO ...................................................................................................................1313
EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS DE ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO DO MUNICÍPIO DE
JUAZEIRO DO NORTE / CEARÁ: UMA CONTRIBUIÇÃO À CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL –
RELATO DE EXPERIÊNCIAS ..................................................................................................................1319
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: RESPONSABILIDADE DE TODOS. ...........................................................................1328
A CONSTRUÇÃO DA HISTÓRIA AMBIENTAL COMO ESTRATÉGIA DIDÁTICA PARA ABORDAGEM DAS
RELAÇÕES SOCIEDADE E NATUREZA NA ILHA DE MARÉ – SALVADOR - BA .........................................1336
MARCO REGULADOR DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL BRASILEIRA E A QUALIDADE DE VIDA ............................1344
ANÁLISE DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL JUNTO A MORADORES DA COLÔNIA DE PESCADORES Z3,
PELOTAS .............................................................................................................................................1351
EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS NO
MUNICÍPIO DE RIO TINTO – PB ...........................................................................................................1359
A ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR E SUA INFLUÊNCIA NA PERCEPÇÃO DE ALUNOS DO 6° ANO
QUANTO AO RISCO DE EXTINÇÃO DO PAU-BRASIL (CAESALPINIA ECHINATA) ...................................1367
A CONSCIÊNCIA AMBIENTAL DAS MARICULTORAS DE RIO DO FOGO/RN EM CONCOMITÂNCIA COM A
MOBILIZAÇÃO SOCIAL VOLTADA PARA O CULTIVO DE MACROALGAS ...............................................1378
EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMUNITÁRIA NO CONTEXTO DO MUNICÍPIO DE VITÓRIA DE SANTO ANTÃO -
PE: ESTUDOS, DESAFIOS E PRÁTICAS ..................................................................................................1384
RECICLANDO ESPERANÇA: ECONOMIA SOLIDÁRIA E SUSTENTABILIDADE A SERVIÇO DA GERAÇÃO DE
RENDA E PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE....................................................................................1391
MEIO AMBIENTE E EDUCAÇÃO: UM DIAGNÓSTICO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL FORMAL NO
SEMIÁRIDO ALAGOANO .....................................................................................................................1398
EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA RIO CAETÉ: UMA EXPERIÊNCIA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA
ESCOLA PÚBLICA.................................................................................................................................1406
EDUCAÇÃO PATRIMONIAL E PERCEPÇÃO AMBIENTAL NO MUNICÍPIO DE SANTANA DO CARIRI-CEARÁ.....1414
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE PROFESSORAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL ...1422
CONCEPÇÕES SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DE PROFESSORAS DAS SÉRIES INICIAIS EM FORMAÇÃO
EM SERVIÇO. .......................................................................................................................................1430
CONCEPÇÕES DE PROFESSORES DO ENSINO MÉDIO ACERCA DA INSERÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
EM SUAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS ....................................................................................................1438
INVESTIGANDO A AMBIENTALIZAÇÃO CURRICULAR DE UM CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS
BIOLÓGICAS ........................................................................................................................................1445
A DIMENSÃO AMBIENTAL E OS CURRÍCULOS DOS CURSOS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES....................1453
EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA .........................................................................1460
TRANSFERÊNCIA DA INFORMAÇÃO PARA MANTER HOMEM / TERRA SUSTENTÁVEL ..................................1465
A GESTÃO AMBIENTAL PARTICIPATIVA COMO ESTRATÉGIA DO DESENVOLVIMENTO LOCAL: O
SEMIÁRIDO PERNAMBUCANO. ..........................................................................................................1473

5. ECOPEDAGOGIA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL ..........................................................................................1481

A IMPORTANCIA DA PESQUISA AMBIENTAL EM PROGRAMAS DE POS-GRADUAÇÃO ..................................1482


ECOPEDAGOGIA: UM DIFERENTE OLHAR PARA A ABORDAGEM EDUCACIONAL..........................................1489
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA EXPERIÊNCIA EM ESCOLAS INDÍGENAS .......................................................1497
A ECOLOGIA NO ENSINO BÁSICO E SUA APLICABILIDADE NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL ................................1504
DIAGNÓSTICO DA AMBIENTALIZAÇÃO CURRICULAR DO CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS
BIOLÓGICAS DA UESB - CAMPUS DE JEQUIÉ/BA .................................................................................1511
O MAPA MENTAL E AS REPRESENTAÇÕES SOBRE MEIO AMBIENTE DE ALUNOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA
DE PALMAS (TO) .................................................................................................................................1520
OFICINAS DE RECICLAGEM COMO RECURSO DIDÁTICO E INCENTIVO A PRÁTICA DA EDUCAÇÃO
AMBIENTAL NO AMBIENTE ESCOLAR .................................................................................................1528
TRABALHOS NA ÁREA AMBIENTAL INFLUENCIAM O COMPORTAMENTO DOS ALUNOS EM
INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR? ................................................................................................1535
PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE ALUNOS DA ESCOLA ESTADUAL BURITI, EM UMA TRILHA INTERPRETATIVA
NA RESERVA BIOLÓGICA GUARIBAS, RIO TINTO, PB. ..........................................................................1542
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: COMO MEIO DE PRESERVAÇÃO DO MAIOR REMANESCENTE DA MATA
ATLÂNTICA NO ESTADO DE PERNAMBUCO, RECIFE - BRASIL. ............................................................1548
O QUE É “MEIO AMBIENTE”? ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DE ESTUDANTES DE UMA ESCOLA DO SERTÃO
DO PAJEÚ/SERRA TALHADA – PE ........................................................................................................1552
O PODER DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL PELA PRÁTICA VIVIDA. .....................................................................1557
ANÁLISE DAS PERCEPÇÕES SOCIOAMBIENTAIS DE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO EM UM COLÉGIO
ESTADUAL NO RIO DE JANEIRO ..........................................................................................................1563
AS QUESTÕES SOCIOAMBIENTAIS NO EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO (2006 A 2010)......................1570
PERCEPÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL SOBRE O RIO BELÉM (CURITIBA – PR) EM ESCOLAS MUNICIPAIS
DE SEU ENTORNO ...............................................................................................................................1576
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA DE SURDOS ..................................1583
PAISAGENS E ECOLOGIAS: IMPRESSÕES DE ALUNOS DO COLÉGIO MUNICIPAL PROFESSORA DIDI
ANDRADE............................................................................................................................................1589
AFINAL, A EDUCAÇÃO AMBIENTAL CHEGOU ÀS ESCOLAS? ..........................................................................1597
VIVEIRO EDUCADOR: UMA EXPERIÊNCIA NA AMAZÔNIA.............................................................................1603
OFICINA PEDAGÓGICA “DESVENDANDO AS VANTAGENS E DESVANTAGENS DA ENERGIA NUCLEAR”:
UMA PROPOSTA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL ....................................................................................1610
EDUCAÇÃO AMBIENTAL E PEDAGOGIA: REFLEXÕES E PRÁTICAS .................................................................1615
A PRESENÇA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO COTIDIANO ESCOLAR EM CHAPADINHA - MA .......................1622
O OLHAR DE DISCENTES DO ENSINO FUNDAMENTAL SOBRE AS PRAIAS DO LITORAL PIAUIENSE ................1628
EDUCAÇÃO AMBIENTAL, CURRÍCULO ESCOLAR E ENSINO MÉDIO INTEGRADO ...........................................1634
O QUE É MEIO AMBIENTE? QUESTIONANDO ALUNOS SURDOS E OUVINTES NA ESCOLA PÚBLICA .............1641
SENSIBILIZAÇÃO DE UMA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR, ATRAVÉS DA ARTETERAPIA, PARA ATUAÇÃO EM
EDUCAÇÃO AMBIENTAL .....................................................................................................................1651
PRODUÇÃO ACADÊMICA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL: TRABALHOS DE CONCLUSÃO DE CURSO ................1658
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: VISÃO DOS ALUNOS AOS PROBLEMAS AMBIENTAIS ............................................1666
ECOPEDAGOGIA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO SEMIÁRIDO CEARENSE ....................................1671
ECOPEDAGOGIA: O HAICAI COMO INSTRUMENTO PARA A PERCEPÇÃO AMBIENTAL. ................................1677
MODELO DE AVALIAÇÃO DE DISSERTAÇÕES E TESES EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM MINAS GERAIS ........1682
PRÁTICAS EDUCATIVAS PARA O ENSINO DA EA PARA ESTUDANTES DE PEDAGOGIA EM FOZ DO IGUAÇU
(PR) .....................................................................................................................................................1692
PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE MORADORES DA COMUNIDADE DE VILA FELICIDADE, RECIFE-PE ...................1700
ENSINO DE ECOLOGIA: A VISÃO E AS DIFICULDADES DOS PROFESSORES DOS ENSINOS FUNDAMENTAL
E MÉDIO DE JOÃO PESSOA, PB - DADOS PRELIMINARES....................................................................1707
ECOPEDAGOGIA E A CONSTRUÇÃO DO SUJEITO ECOLÓGICO ......................................................................1710
PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS ALUNOS DA REDE PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE TIBAU DO SUL/RN SOBRE
O ECOSSISTEMA MANGUEZAL. ...........................................................................................................1715
NARRATIVAS COMO FERRAMENTA DE ESTUDO NA FORMAÇÃO DE EDUCADORES AMBIENTAIS ................1722
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: A IMPORTÂNCIA DA ECOPEDAGOGIA E DA SUSTENTABILIDADE PARA A
SOCIEDADE E A ESCOLA ......................................................................................................................1729
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: PERCEPÇÕES E PRÁTICAS DOS ESTUDANTES DO CURSO TÉCNICO
EM EDIFICAÇÕES LAGARTO/SE ...........................................................................................................1734
A CONTRIBUIÇÃO DA HISTÓRIA AMBIENTAL NA ELABORAÇÃO DE INSTRUMENTOS PEDAGÓGICOS
PARA PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL. .....................................................................................1741
PEDAGOGIA DA FRATERNIDADE ECOLÓGICA: EDUCAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL..........1749
O PAPEL DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA ESTUDANTES DO 1º ANO DO ENSINO MÉDIO DA ESCOLA
ESTADUAL TONICO FRANCO, EM ITUIUTABA – MG............................................................................1755
A CAATINGA VAI À ESCOLA: A IMPORTÂNCIA DA BIODIVERSIDADE .............................................................1764
CONCEPÇÕES EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL DE ALUNOS DO CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DA
FACULDADE DE EDUCAÇÃO DE ITAPIPOCA, CEARÁ: UMA ANÁLISE CONCEITUAL ..............................1769
CONEXÕES DE SABERES E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL: SOMANDO SABERES E EXPERIÊNCIAS PARA A
INOVAÇÃO DA PRÁTICA ECOPEDAGÓGICA EM COMUNIDADES POPULARES ....................................1776
1. Educação Ambiental e Saúde Global
16

RISCOS AO MEIO AMBIENTE E A SAÚDE HUMANA DECORRENTES DO


DESCARTE INADEQUADO DE BATERIAS E APARELHOS CELULARES
Adriana dos Santos BEZERRA
Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais (UFCG)
Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (UFPB/UEPB)
Docente do curso de Administração da Faculdade Maurício de Nassau Campina Grande/PB adriana_bezerra@hotmail.com
Silvana Câmara TORQUATO
Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais pela UFCG
silvana.torquato@hotmail.com
Prof. Dr. Wilton Silva LOPES
Doutor em Química pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Pós-Doutor em Saneamento pela Universidade de São
Paulo (USP)
wiltonuepb@gmail.com

RESUMO
Dentre os problemas ambientais atuais mais graves, destaca-se a preocupação com os resíduos
sólidos, sobretudo quando se tratam de resíduos sólidos perigosos, representando riscos sanitários e
ambientais causando a contaminação de pessoas, animais, lençóis freáticos e subsolo. Essa preocupação se
manifesta devido ao rápido crescimento das taxas de geração de REEE e pela presença de substâncias
tóxicas na composição dos mesmos. O presente estudo tem como objetivo averiguar quais os riscos ao
meio ambiente e a saúde humana estão associados ao descarte inadequado de baterias e aparelhos
celulares e ainda qual a destinação mais adequada para este tipo de resíduo, considerando que os resíduos
tecnológicos, por suas características, são considerados resíduos Classe I – perigosos, pois algumas partes
contêm metais pesados e necessitam de cuidados específicos e gerenciamento apropriado da
armazenagem à disposição final.
Palavras-chave: metais pesados; resíduos tecnológicos; baterias e aparelhos celulares.

INTRODUÇÃO
Nos últimos anos o mercado mundial de celulares sofreu grandes transformações. Os avanços
tecnológicos no setor de comunicação são constantes, especificamente na produção de celulares, tornando
o aparelho celular cada vez mais acessível a todos, fazendo com que tais produtos passem a ser vistos como
um sonho de consumo tecnológico rapidamente descartado e substituído, transformando-se em tecnologia
obsoleta, resultando em uma desmedida quantidade de aparelhos que tem como destino o descarte
inadequado.
Dados da Anatel indicam que o Brasil terminou o mês de Maio de 2011 com 215 milhões de
celulares e uma densidade 110,5 cel/100 hab, considerando ainda que a média de troca de aparelho celular
é de apenas um ano (TELECO, 2011), surge a preocupação com o destino dado aos aparelhos descartados
por seus proprietários.
Como todo equipamento eletro-eletrônico, as baterias e aparelhos celulares são confeccionados
com grandes quantidades de substâncias tóxicas, nocivas ao meio ambiente e a saúde das populações,
como cádmio, arsênio, chumbo, níquel, entre outros, porém esta ainda é uma preocupação recente por
parte dos governantes. Em localidades em que há a ausência de um gerenciamento adequado dos resíduos
sólidos urbanos que destinem adequadamente os Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos (REEE)
tais resíduos tem como destino lixões e aterros sanitários, incorrendo em graves riscos sanitários e
ambientais.
Diante deste cenário, o presente estudo tem como objetivo averiguar o quais os riscos ao meio
ambiente e a saúde humana associados ao descarte inadequado de baterias e aparelhos celulares.

METODOLOGIA
Marconi e Lakatos (2007) observam que os critérios para a classificação dos tipos de pesquisa
variam de acordo com o enfoque dado pelo autor. Considerando-se o critério de classificação de pesquisa
proposto por Vergara (2007), quanto aos fins a pesquisa será exploratória, pois foi realizada em área na
qual há pouco conhecimento acumulado e sistematizado.

João Pessoa, outubro de 2011


17

Quanto aos meios, a pesquisa será bibliográfica, porque para a fundamentação teórico-
metodológica do trabalho recorreu-se ao uso de material publicado em livros, revistas, teses, dissertações,
jornais, redes eletrônicas, ou seja, material acessível ao público em geral.
Segundo Cervo e Bervian (2003), a pesquisa bibliográfica procura explicar um problema a partir de
referências teóricas publicadas em documentos e qualquer espécie de pesquisa, em qualquer área, supõe e
exige uma pesquisa bibliográfica prévia, quer para o levantamento do estado da arte do tema, quer para
fundamentação teórica ou ainda para justificar os limites e contribuições da própria pesquisa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS: CONTEXTUALIZAÇÃO
Os resíduos sólidos urbanos (RSU) e sua destinação adequada estão entre as principais
preocupações da sociedade na atualidade. Tal preocupação é evidenciada por estes serem importantes
agentes causadores de degradação do ambiente urbano e natural, constituindo meios para o
desenvolvimento e proliferação de vetores transmissores de diversas doenças infecciosas. De acordo com
Mazzer & Cavalcanti (2004), o crescimento da população, o desenvolvimento industrial e a urbanização
acelerada, atrelados à postura individualista da sociedade, vêm contribuindo para o aumento do uso dos
recursos naturais e para a geração de resíduos. Na maioria das vezes, esses resíduos são devolvidos ao
meio ambiente, de forma inadequada, levando à contaminação do solo e das águas, trazendo vários
prejuízos ambientais, sociais e econômicos.
O volume crescente de resíduos sólidos não é uma preocupação recente e está atrelado ao
aumento da capacidade produtiva e ao crescimento populacional. Entretanto, a elevação do teor tóxico dos
resíduos sólidos urbanos tem despertado ultimamente maiores atenções. Tais alterações estão
relacionadas às mudanças nas características dos resíduos sólidos gerados nas áreas urbanas, trazendo
dificuldades técnicas e operacionais para a destinação final e tratamento apropriados.
Lima et al (2008) afirmam que o manejo inadequado de resíduos sólidos de origens diversas gera
desperdícios, contribuindo de forma significativa à manutenção das desigualdades sociais, tornando-se
uma ameaça a saúde pública e agravando a degradação ambiental comprometendo ainda a qualidade de
vida das comunidades dos centros urbanos.
A ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas (2004), define resíduos sólidos como resíduos
nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar,
comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de
sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição,
bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública
de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis em face à
melhor tecnologia disponível.
Os resíduos, segundo a ABNT (2004), são classificados em:
Resíduos classe I – Perigosos: apresentam riscos à saúde pública, provocando mortalidade,
incidência de doenças ou acentuando seus índices, ou ao meio ambiente, quando o resíduo for gerenciado
de forma inadequada. Podem ter características como inflamabilidade, corrosividade, reatividade,
toxicidade e patogenicidade.
Resíduos classe II – Não perigosos, divididos em:
Resíduos classe II A – Não inertes: aqueles que não se enquadram nas classificações de resíduos
classe I - Perigosos ou de resíduos classe II B- Inertes. Podem ter propriedades, tais como:
biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água.
Resíduos classe II B – Inertes: que não se degradam ou não se decompõem quando dispostos no
solo.

RESÍDUOS DE EQUIPAMENTOS ELÉTRICOS/ELETRÔNICOS


Em meio aos resíduos sólidos gerados nos grandes centros urbanos há um tipo particular: os
Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos (REEE), denominados Resíduos Tecnológicos ou ainda e-
resíduos, como é o caso de pilhas, baterias, lâmpadas fluorescentes, telefones celulares, computadores,
televisões, rádios e impressoras etc.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


18

Hofmann-Gatti (2008) ressalta que a partir do incremento da indústria da informática e das


telecomunicações verifica-se um aumento e diversificação de produtos - gerados pelo avanço de uma
tecnologia cada vez mais complexa - que são descartados com muita rapidez, justamente pela aceleração
do desenvolvimento tecnológico.
Os equipamentos elétricos e eletrônicos se tornam resíduos após o esgotamento de sua vida útil e
este processo de obsolescência tem sido antecipado devido ao acelerado desenvolvimento tecnológico.
Segundo a United Nations Environment Programme – UNEP (2009), cerca de 20 a 50 milhões de toneladas
são descartadas no mundo inteiro anualmente, representando 5% de todos os resíduos sólidos urbanos. Na
União Européia está previsto um aumento de 3 a 5% ao ano e os países em desenvolvimento devem
triplicar sua produção de e-resíduos até 2010.
Para Leite (2006, p.34) houve uma aceleração no desenvolvimento tecnológico experimentado pela
humanidade principalmente após a Segunda Guerra Mundial, permitindo a introdução constante, e com
velocidade crescente, de novas tecnologias e de novos materiais, contribuindo para a melhoria da
performance técnica e para a redução de preços e dos ciclos de vida útil de grande parcela dos bens de
consumo duráveis e semiduráveis.
Conforme Lima et al (2008), o e-lixo apresenta características próprias que o diferem do lixo
comum. É um lixo volumoso ocupando grandes espaços físicos e, alguns possuem componentes perigosos
(metais pesados e compostos bromados, entre outros) necessitando de gestão eficaz e políticas públicas
para direcionar produtores e consumidores a um gerenciamento adequado de uso e descarte. Aliado ao
fato tem-se ainda a falta de incentivo à reciclagem, os altos preços dos serviços de manutenção, do
tratamento dos elementos químicos e a falta de peças para equipamentos obsoletos.
Os impactos causados pelo crescente descarte dos REEE sem a devida destinação são imensos.
Atualmente as questões de saúde ambiental e humana, relacionadas ao descarte e destinação inadequada
dos diversos tipos de equipamentos elétricos e eletrônicos após sua vida útil, têm gerado grande
preocupação e amplas discussões. Tal preocupação se manifesta devido ao rápido crescimento das taxas de
geração de REEE e pela presença de substâncias tóxicas na composição dos mesmos.
Os resíduos tecnológicos, por suas características, são considerados resíduos Classe I – perigosos,
pois algumas partes contêm metais pesados e necessitam de cuidados específicos e do gerenciamento
apropriado da armazenagem à disposição final.
A destinação dada a esse material pós-consumo está diretamente relacionada ao fator cultural,
econômico e as legislações específicas de cada país. Na ausência de políticas públicas específicas para estes
resíduos o armazenamento e disposição não segura em terrenos baldios, mares, lixões, provocando
poluição ambiental. No Brasil, entre 2002 e 2016 a geração dos resíduos tecnológicos poderá chegar a
493.400 toneladas/ano, representando uma média por habitante de 2,6 kg/ano (RODRIGUES, 2007). Diante
deste cenário, torna-se evidente a necessidade de encontrar alternativas que possam minimizar os
impactos ambientais causados pela destinação inadequada destes resíduos.

DESTINAÇÃO DOS RESÍDUOS DE EQUIPAMENTOS ELÉTRICOS E ELETRÔNICOS


No Brasil, após mais de duas décadas de discussões e vários trâmites, a Lei nº 12.305 de 2 de agosto
de 2010 que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) foi sancionada e entrando em vigor na
data de sua publicação. Além de Estados e municípios, as empresas e empreendimentos privados terão que
se ajustar à Lei Federal. Conseqüentemente, serão necessárias alterações operacionais e na conduta
empresarial, com o compartilhamento de responsabilidades pelo ciclo de vida dos produtos, e sendo assim,
a responsabilidade não se restringe apenas aos fabricantes. A responsabilidade compartilhada se estenderá
a todos os geradores de resíduos sólidos, incluindo pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou
privado, que gerem resíduos por meio de suas atividades, inclusive o consumo (PNRS, 2010).
A União Européia, por meio de duas diretivas publicadas em 2003, padronizou a produção,
comercialização e o descarte de equipamentos elétricos e eletrônicos: a Diretiva 2002/96/CE sobre
Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos (WEEE) e a Diretiva 2002/95/CE sobre a Restrição do Uso de
Substâncias Perigosas (RoHS)1.

1
RoHS sigla da expressão: Restriction of the Use of certain Hazardous Substances in Electrical and Electronic
Equipment.

João Pessoa, outubro de 2011


19

Conforme Ansanelli (2007), a diretiva WEEE é um regulamento em vigor desde 2006, com o
objetivo de prevenir e diminuir os resíduos de uma lista de equipamentos eletro-eletrônicos selecionados
segundo o estágio atual de análise científica. Fundamenta-se nos princípios do poluidor pagador, precaução
e na responsabilidade estendida do produtor. A responsabilidade do produtor está associada às etapas de
coleta seletiva, tratamento, recuperação, reciclagem e financiamento. A RoHS visa eliminar e/ou reduzir as
substâncias perigosas presentes nos equipamentos eletroeletrônicos. Esta é complementar à WEEE na
medida em que substitui substâncias perigosas nos equipamentos eletroeletrônicos por materiais mais
seguros facilitando a reciclagem.
Kumar & Putnam (2008) observam que a diretiva REEE essencialmente se aplica a todos os
equipamentos que podem ser conectados a um circuito elétrico ou que funcionam com pilhas. Ela inclui
grandes e pequenos equipamentos, eletrodomésticos, equipamentos de tecnologia da informação e
telecomunicações, equipamentos de iluminação, ferramentas eletrônicas, brinquedos e equipamentos
desportivos, alguns dispositivos médicos, instrumentos de acompanhamento e controle.
O objetivo da Diretiva REEE's é a prevenção de resíduos de equipamentos e procura para melhorar
o desempenho ambiental de todos os envolvidos no ciclo, incluindo produtores, distribuidores,
consumidores e, especialmente, as operações diretamente envolvidos no tratamento de resíduos de
equipamentos elétrico e eletrônico.
Para viabilizar gerenciamento adequado dos REEE, a exemplo da União Européia, são necessárias
medidas legislativas que propiciem a padronização não apenas da comercialização, como também do
processo produtivo, utilização e descarte dos produtos. Tais condições são necessárias e essenciais para a
redução da degradação do meio ambiente, sendo estas medidas indispensáveis para que se aumentem as
quantidades de materiais reciclados, disciplinem os processos de recuperação dos materiais e a destinação
final adequada de seus rejeitos.

ELEMENTOS NOCIVOS PRESENTES NOS CELULARES E BATERIAS


Os telefones celulares passam por um aumento mundial de utilização sem precedentes. Este fato,
aliado a velocidade de obsolescência decorrente dos avanços tecnológicos que criam continuamente novos
produtos com características desejadas pelo consumidor, contribui para significativo volume de resíduos
gerados.
Geyer & Blass (2009) ressaltam que os incentivos econômicos de fabricantes de telefones celulares
e recondicionadores não estão atualmente bem alinhados com o desempenho ambiental de reutilização.
Mesmo com os avanços tecnológicos e a mudança no design dos celulares, percebe-se que não há
um avanço no desempenho ambiental nos novos produtos lançados e comercializados. Wu et al (2008)
realizaram uma investigação quantitativa sobre o desempenho ambiental de dois aparelhos celulares, um
modelo mais antigo e outro mais novo, onde os mesmos foram avaliados em termos de Indicador Potencial
de Toxicidade (IPT) e verificou-se que a composição e as percentagens dos componentes nos dois aparelhos
são semelhantes, mesmo com o peso do aparelho mais antigo sendo o dobro do modelo mais recente haja
vista, as porcentagens de cada elemento em relação ao peso total dos dois modelos são semelhantes.
O impacto causado ao meio ambiente e aos seres humanos é decorrente não apenas das baterias,
mas também do aparelho celular e seus componentes. O crescente volume de resíduos gerados pelo
descarte de aparelhos e baterias de celular representa um dos mais sérios riscos ao meio ambiente e à
saúde das populações na atualidade, mais precisamente pelo nível de toxicidade presente nas diversas
partes que os constituem.
Telefones celulares descartados em aterros sanitários ou incinerados criam a possibilidade de
liberar substâncias tóxicas (metais pesados) que antes estavam nas baterias, circuitos impressos, displays
de cristal líquido, carcaças de plástico ou fiação (FRANKE, 2009). Nnorom e Osibanjo (2009) colocam que
no caso de telefones celulares, a caixa de plástico representa entre 15 e 55% do peso total, sem bateria.
Elementos como chumbo, cádmio, cromo, mercúrio, bromo, estanho e antimônio são ou foram
adicionados aos polímeros como pigmentos, cargas, estabilizadores UV e retardadores de chama.
Segundo Wu et al (2008), os constituintes metálicos primários dos aparelhos celulares são Al, Fe,
Cu, Co, Zn, Ni, Sn, Cr e Pb e salienta ainda que o chumbo é uma substância bastante problemática,
conhecida como perigosa, com uso fortemente restringido ou proibido em eletrônicos pela legislação da
(UE), baseada na legislação (RoHS). Outros 15 elementos também foram confirmados em pequenas

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


20

quantidades, alguns dos quais, como Be, Cd, As e Sb, pode ser altamente tóxico para o meio ambiente e
seres humanos. De acordo com o relatório da Basel Action Network2 (2004), um estudo feito na
Universidade da Flórida, indicou que a composição média dos celulares
foi de 45% de plástico, 40% placa de circuito (placa mãe), 4% de cristal líquido (LCD),
3% de placa de magnésio e 8% de metais diversos. Estes números não incluem a bateria do telefone celular.
São encontradas nestes materiais as seguintes substâncias tóxicas: chumbo, cobre, bromatos retardadores
de chama, berilo, cromo hexavalente, arsênio, cádmio, prata, ouro e níquel.
Os tóxicos bioacumulativos persistentes ou PBTs (Persistent Bioaccumulative Toxins) são
substâncias que estão presentes em telefones celulares como chumbo, cádmio, bromatos retardantes de
chama, berílio, mercúrio, cromo e cobre.
Segundo o relatório da Basel Action Network (2004), estas substâncias são particularmente
perigosas porque são persistentes no ambiente e não degradam por um longo período de tempo,
movendo-se facilmente no ambiente, propagando-se no ar, na água e no solo, resultando na acumulação
de toxinas longe da fonte poluidora original. Tais substâncias se acumulam no tecido adiposo dos seres
humanos e animais, sendo gradativamente concentradas, colocando em risco a saúde humana e os
ecossistemas.

POTENCIAL POLUIDOR DOS ELEMENTOS QUÍMICOS UTILIZADOS EM PILHAS E BATERIAS


Elemento EFEITOS SOBRE O HOMEM
Dores abdominais (cólica, espasmo e rigidez)
Disfunção renal
Pb
Anemia, problemas pulmonares
Chumbo*
Neurite periférica (paralisia)
Encefalopatia (sonolência, manias, delírio, convulsões e coma)
Gengivite, salivação, diarréia (com sangramento)
Dores abdominais (especialmente epigástrio, vômitos, gosto metálico)
Congestão, inapetência, indigestão
Hg Dermatite e elevação da pressão arterial
Mercúrio Estomatites (inflamação da mucosa da boca), ulceração da faringe e do esôfago, lesões
renais e no tubo digestivo
Insônia, dores de cabeça, colapso, delírio, convulsões
Lesões cerebrais e neurológicas provocando desordens psicológicas afetando o cérebro
Manifestações digestivas (náusea, vômito, diarréia)
Disfunção renal
Cd Problemas pulmonares
Cádmio* Envenenamento (quando ingerido)
Pneumonite (quando inalado)
Câncer (o cádmio é carcinogênico)
Câncer (o níquel é carcinogênico)
Ni
Dermatite
Níquel
Intoxicação em geral
Distúrbios digestivos e impregnação da boca pelo metal
Ag
Argiria (intoxicação crônica) provocando coloração azulada da pele
Prata
Morte
Li Inalação – ocorrerá lesão mesmo com pronto atendimento
Lítio Ingestão – mínima lesão residual, se nenhum tratamento for aplicado

2
Basel Action Network (BAN) é a única organização no mundo centrada em combater a exportação de
resíduos tóxicos, tecnologias e produtos tóxicos de sociedades industrializadas para os países em desenvolvimento,
servindo como uma guardiã e promotora da Convenção de Basiléia e suas decisões. A Convenção de Basiléia trata do
Controle de Movimentos Transfronteiriços de Resíduos Perigosos e seu Depósito e surgiu no início de 1981, sendo
patrocinado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

João Pessoa, outubro de 2011


21

Disfunção do sistema neurológico


Mn
Afeta o cérebro
Manganês
Gagueira e insônia
Problemas pulmonares
Zn
Pode causar lesão residual, a menos que seja dado atendimento imediato
Zinco
Contato com os olhos – lesão grave mesmo com pronto atendimento
* Mesmo em pequenas quantidades.
Quadro 1 - Potencial poluidor dos elementos químicos utilizados em pilhas e baterias
Fonte: adaptado de MONTEIRO et al (2001)

Conforme Monteiro et al (2001), as pilhas e baterias podem conter um ou mais dos seguintes
metais pesados: chumbo (Pb), cádmio (Cd), mercúrio (Hg), níquel (Ni), prata (Ag), lítio (Li), zinco (Zn),
manganês (Mn) e seus compostos. As substâncias das pilhas que contêm esses metais possuem
características de corrosividade, reatividade e toxicidade e são classificadas como "Resíduos Perigosos –
Classe I". As substâncias contendo cádmio, chumbo, mercúrio, prata e níquel causam impactos negativos
sobre o meio ambiente e, em especial, sobre o homem. Alguns dos elementos químicos utilizados em
pilhas e baterias e o respectivo potencial poluidor de cada um deles, que causam problemas ao meio
ambiente e afetam a saúde humana, podem ser vistos no Quadro 1.
Segundo Nnorom e Osibanjo (2007), esses resíduos de componentes eletrônicos podem
representar potencial perigo para o ambiente e a saúde humana nos países em desenvolvimento,
considerando as diversas práticas de gestão de baixo custo. Nnorom e Osibanjo (2009) relatam em uma
pesquisa realizada para examinar os níveis de metais pesados (Pb, Cd, Ni e Ag) em resíduos de carcaça
plástica em telefones móveis. Os resultados do estudo mostraram que os níveis de chumbo, cádmio, níquel
e prata nestas unidades não constituem perigo significativo se forem adequadamente geridas.

DESTINAÇÃO ADEQUADA DE RESÍDUOS DE EQUIPAMENTOS ELÉTRICOS E ELETRÔNICOS


Em localidades em que não há incentivo e investimentos apropriados para dar a destinação
adequada a tais resíduos, estes passam rotineiramente a ser queimados abertamente, descartados em
águas superficiais ou com resíduos sólidos urbanos, causando danos a meio ambiente e afetando a saúde
da população local, sobretudo comunidades com baixo nível de renda e condições sanitárias desfavoráveis
em que estão expostas a diversos vetores de doenças, insetos e animais peçonhentos.
De acordo com dados divulgados na Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (IBGE, 2002), estima-
se que são gerados no país cerca de 157 mil toneladas de resíduos domiciliares e comerciais por dia.
Entretanto, 20% da população brasileira ainda não conta com serviços regulares de coleta. Observando em
número de municípios, o resultado não é favorável, pois 63,6% utilizam lixões e 32,2%, aterros adequados
(13,8% sanitários, 18,4% aterros controlados), sendo que 5% não informaram para onde vão seus resíduos.
Para Abreu e Palhares (2006), os lixões são a maior ameaça às populações de baixa renda por
estarem localizados nas periferias, perto de áreas pobres. O lixo é depositado deliberadamente a céu
aberto e não recebe nenhuma forma de tratamento. Com isso, há liberação de gás metano (gás oriundo da
decomposição de matérias orgânicas, extremamente poluente e tóxico) e chorume (líquido de cor negra
que se forma no lixo pelo acúmulo de água, no caso, decorrente das chuvas, e provocador do mau cheiro).
Ambos, gás metano e o chorume, são extremamente poluentes e tóxicos, o primeiro polui o ar e o segundo
representa forte ameaça aos lençóis freáticos e rios. Além de gerar poluentes, o lixão atrai uma série de
animais vetores, como ratos, baratas e outros insetos, responsáveis pela transmissão de diversas doenças
graves.
De acordo com Monteiro et al (2001), a única forma de se dar destino final adequado aos resíduos
sólidos é através de aterros, sejam eles sanitários, controlados, com lixo triturado ou com lixo compactado.
O aterro sanitário consiste em uma área especialmente preparada para receber os resíduos, o que
justifica os elevados custos de implantação. Segundo Abreu e Palhares (2006), os aterros sanitários
recebem altos investimentos em infra-estrutura, pois seu solo é inteiramente impermeabilizado, o que
evita que o chorume contamine o subsolo.
Monteiro et al (2001) destacam que o aterro sanitário é um método para disposição final dos
resíduos sólidos urbanos, sobre terreno natural, através do seu confinamento em camadas cobertas com

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


22

material inerte, geralmente solo, segundo normas operacionais específicas, de modo a evitar danos ao
meio ambiente, em particular à saúde e à segurança pública.
Para Abreu e Palhares (2006), o aterro controlado foi criado em vias de amenizar os problemas
oriundos dos lixões. Pode ser considerado como uma espécie de “lixão controlado”, já que o lixo é
depositado e acumulado sem receber nenhum tipo de tratamento anterior e à medida que vão se
formando camadas de lixo, estas são intercaladas por uma camada de terra que diminui o mau cheiro e a
presença de animais. Porém, esta medida não impede que haja contaminação do solo e dos lençóis
freáticos e nem a liberação do gás metano.
Conforme Monteiro et al (2001, p.150), o aterro controlado também é uma forma de se confinar
tecnicamente o resíduo coletado sem poluir o ambiente externo, porém, sem promover a coleta e o
tratamento do chorume e a coleta e a queima do biogás. O autor afirma ainda que todos os demais
processos ditos como de destinação final (usinas de reciclagem, de compostagem e de incineração) são, na
realidade, processos de tratamento ou beneficiamento do lixo, e não prescindem de um aterro para a
disposição de seus rejeitos. Abreu e Palhares (2006), acrescentam ainda que a incineração visa reduzir o
volume e peso do lixo, transformando-o em cinzas entretanto, não é aconselhável porque há emissão de
dióxido de carbono e liberação de substâncias tóxicas que, se não controladas, causam problemas sérios à
saúde.
Todavia, a destinação apropriada para a disposição de resíduos sólidos tecnológicos, exatamente
pela toxicidade que representam, como é o caso de celulares e baterias, seria em aterros industriais classe
I. Conforme Monteiro et al (2001), os aterros industriais podem ser classificados nas classes I, II ou III,
conforme a periculosidade dos resíduos a serem dispostos, ou seja, os aterros Classe I podem receber
resíduos industriais perigosos; os Classe II, resíduos não-inertes; e os Classe III, somente resíduos inertes.
Considerando as diversas técnicas de gestão de resíduos de baixo custo, a exemplo dos lixões,
praticadas em localidades em que não há maiores investimentos e uma política de resíduos sólidos que
funcione efetivamente, os resíduos de componentes eletrônicos representam perigo para o ambiente e a
saúde humana, pois passam a ter uma destinação inadequada. Rotineiramente estes resíduos são
queimados, descartados em águas superficiais ou com resíduos sólidos urbanos, causando prejuízos ao
meio ambiente e afetando a saúde da população, principalmente para aquelas comunidades de baixa renda
próximas aos lixões e aterros.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Atualmente as questões de saúde ambiental e humana, relacionadas ao descarte de resíduos
tecnológicos têm gerado amplas discussões sobre a responsabilidade de fabricantes e consumidores. Os
impactos causados pelo crescente descarte de baterias e aparelhos celulares sem a correta destinação são
incontestáveis. No presente estudo foi possível apresentar os principais males ao meio ambiente e a saúde
humana causados pela destinação inadequada de baterias a aparelhos celulares e ainda a destinação
adequada para este tipo de resíduo. No Brasil, na ausência de legislações que funcionem efetivamente
normalizando o uso de substâncias tóxicas na produção de equipamentos eletroeletrônicos, ainda com a
PNRS carecendo de detalhamento e prazos da logística de retorno destes resíduos e a lenta adequação dos
empreendimentos à nova lei, é de extrema importância que os consumidores sintam-se responsáveis pelo
retorno de seus produtos pós-consumo ao ciclo produtivo ou dando a destinação apropriada, estes
resíduos que podem causar prejuízos sanitários e ambientais incalculáveis.

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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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O TERMO ZOONOSES NA CONCEPÇÃO DOS MORADORES DO BAIRRO


MULTIRÃO, LOCALIZADO NO MUNICÍPIO DE SERRA TALHADA/PE
Aline Cristina Ferreira NUNES
Graduanda Bolsista do Programa de Iniciação Científica (PIBIC/UFRPE) Universidade Federal Rural de Pernambuco -
Unidade Acadêmica de Serra Talhada, (UFRPE/UAST)
E-mail: alinenunesje@hotmail.com
Valéria Judite de SÁ
Graduanda do Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas (UFRPE /UAST)
Marilene Maria de LIMA
Professora Adjunta I UFRPE/UAST

RESUMO
Zoonoses são doenças ou infecções naturalmente transmissíveis entre animais vertebrados e seres
humanos. O trabalho objetivou avaliar a concepção dos moradores do bairro Mutirão, localizado no
município de Serra Talhada, em Pernambuco, sobre o termo zoonoses. A coleta dos dados foi realizada
mediante a aplicação de questionários, por meio de entrevistas. Foram selecionados 20 moradores, de
modo aleatório, como amostra representativa da comunidade. Tratando-se do nível de escolaridade, 5%
dos entrevistados possuíam ensino fundamental completo (1ª a 4ª série), 50% ensino fundamental
incompleto, 5% 1° grau completo, 10% 2° grau completo e 30% analfabetos. Em relação ao conhecimento
do termo zoonose, 30% dos entrevistados alegaram já ter ouvido falar no termo e 70% o desconheciam
totalmente. As doenças zoonóticas assinaladas pelos entrevistados foram: tuberculose 25%, raiva 95%,
calazar (leishmaniose) 85%, larva migrans (cobreiro) 65%, sarna 95%, leptospirose 45%, bicho-do-pé 50%,
toxoplasmose 20%, brucelose 50% e peste bubônica 20%. Notou-se que doenças não zoonóticas presentes
na lista ofertada foram assinaladas como tendo caráter zoonótico, como por exemplo, lepra 25%, sarampo
15%, dengue 75%, filariose 20%, cólera 5%, catapora 20%, meningite 5% e AIDS 10%. Duas das doenças não
zoonóticas, rubéola e tétano, não foram citadas pelos entrevistados como tendo caráter zoonótico. Apesar
de não possuir conhecimento científico, a comunidade tem percepção de que os animais podem transmitir
doenças causando danos à saúde.
Palavras-chave: zoonoses, Multirão, escolaridade, saúde.

INTRODUÇÃO
Segundo o comitê da Organização Mundial de Saúde (OMS), zoonoses são doenças ou infecções
naturalmente transmissíveis entre animais vertebrados e seres humanos. Existem mais de 150 doenças de
caráter zoonótico, entre elas estão à leptospirose, toxoplasmose, leishmaniose, larva migrans cutânea
(LMC), larva migrans visceral (LMV), raiva, doença de Chagas, febre maculos, dentre outras (LANGONI,
2004). Uma série de agentes infecciosos, tais como, vírus e príons, bactérias, protozoários, helmintos e até
fungos e microsporídias, são responsáveis por enfermidades de caráter zoonótico (MARTINS, 2008).
Um grande número de fatores sociais, culturais, econômicos e ambientais exerce um papel
fundamental na criação de condições favoráveis para o surgimento destas enfermidades (MARTINS, 2008).
A relação entre o homem e o animal, vem se tornando cada vez mais próxima, principalmente com os
animais de estimação que possuem um papel importante na estrutura familiar e social (ANTUNES, 2001).
De maneira geral, a incidência de tais doenças ocorre, geralmente, sob condições adversas de vida
que se atrelam a processos de degradação ambiental, sendo, muitas vezes predominante em áreas
populacionais de baixa renda, com má estrutura sanitária, onde o homem altera as condições do meio e
modifica as paisagens naturais. Dessa forma, os elos de ligação entre o homem e o meio em que vive
tornam-se um fator de risco à saúde, pois os elementos ambientais e antrópicos são constantemente a
base para a proliferação e desenvolvimento de agentes patogênicos (COMIS et al., 2005).
As propagações dessas doenças, no semi-árido nordestino, vêm atingindo um percentual de
pessoas relativamente alto, quando relacionados a áreas de baixa renda ou expostas a condições de
saneamento básico precário, ambos associados ao nível de escolaridade da comunidade (WIJEYARATNE et
al., 1994). Tendo em vista as condições favoráveis da comunidade, o trabalho foi aplicado como método de

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análise, com o objetivo de avaliar a concepção dos moradores do bairro Mutirão, localizado no município
de Serra Talhada, em Pernambuco, sobre o termo zoonoses.

MATERIAL E MÉTODOS
2.1. Área de Estudo
O município de Serra Talhada está localizado no Sertão do Pajeú no estado de Pernambuco, com
uma área territorial de 2.952,8 Km2, situa-se a 427 km de Recife e conta com uma população
aproximadamente de 78.960 habitantes (IBGE, 2006; 2010) (Fig. I). O bairro Mutirão encontra-se localizado
na periferia da cidade e apresenta condições precárias de saneamento básico.

Figura I. Mapa indicando a localização de Serra Talhada - Pernambuco. Fonte: BELTRÃO et al.
(2005).

2.2. Coleta de Dados


Os dados foram obtidos entre o período de Março a Julho de 2010, mediante a aplicação de
questionários estruturados com perguntas abertas e fechadas. Foram selecionados 20 moradores, de modo
aleatório, como amostra representativa da comunidade. Os questionários continham perguntas sobre o
nível educacional do entrevistado, grau de conhecimento sobre o tema específico, quais doenças
reconheciam como sendo zoonose, se o entrevistado possuía algum animal de estimação e, caso possuísse,
qual a espécie.
3.3. Análise dos Dados
Para observar a existência de associação significativa em relação ao conhecimento do significado do
termo zoonoses, foi realizada análise estatística através do teste do qui-quadrado (χ2) de acordo com
Callegari- Jacques.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram entrevistados 20 moradores, destes, 30% (6/20) alegaram já ter ouvido falar em zoonoses,
descrevendo-as como sendo doenças de animais transmitidas ao homem, o restante dos entrevistados, ou
seja, 70% (14/20) desconheciam o termo, sendo que deste total, 14,3% (2/14) alegaram que zoonoses são
doenças que só afetam os animais e 85,7% (12/14) que são doenças de animais transmitidas ao homem
(Tab. I). Ao finalizar as entrevistas foram expostas as explicações e orientações acerca do termo por parte
dos entrevistadores e pôde-se perceber que apesar do desconhecimento do termo técnico, zoonoses, há
uma conscientização dos entrevistados, de que animais transmitem doenças aos seres humanos. O que se

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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constitui em um fator importante, pois ao saber que pode adquirir alguma doença de um animal as pessoas
preocupam-se em prevenir (LIMA, 2003).
Com relação ao nível de escolaridade, 5% (1/20) dos entrevistados possuíam ensino fundamental
completo (1ª a 4ª série), 50% (10/20) ensino fundamental incompleto, 5% (1/10) 1° grau completo, 10%
(2/20) 2° grau completo e 30% (6/20) analfabetos. Tais resultados corroboram com as observações de
Lima-Costa (2004), o qual afirma que o nível de escolaridade exerce influência na qualidade de vida e
promoção da saúde da população pelo acesso a informação.
Para avaliar a percepção dos entrevistados sobre as doenças que eles reconheciam como sendo
zoonoses, ofertou-se uma lista contendo tanto doenças zoonóticas como não zoonóticas. As doenças
zoonóticas assinaladas pelos entrevistados foram: tuberculose (5/20), raiva (19/20), calazar (leishmaniose)
(17/20), larva migrans (cobreiro) (13/20), sarna (19/20), leptospirose (9/20), bicho-do-pé (10/20),
toxoplasmose (4/20), brucelose (10/20) e peste bubônica (4/20) (Tab. II). Notou-se que doenças não
zoonóticas presentes na lista ofertada foram assinaladas como tendo caráter zoonótico, como por
exemplo, lepra (5/20), sarampo (3/20), dengue (15/20), filariose (4/20), cólera (1/20), catapora (4/20),
meningite (1/20) e AIDS (2/20). Vale ressaltar que duas das doenças não zoonóticas, rubéola (0/20) e
tétano (0/20), não obtiveram nenhum percentual, não sendo, portanto citadas pelos entrevistados como
tendo caráter zoonótico (Tab. III). Apesar de haver informação, através da mídia, do agente comunitário de
saúde (ACS) e de campanhas de vacinação, infantil e para adultos, a população ainda desconhece a cadeia
de transmissão de enfermidades comuns nos centros urbanos.
As doenças zoonóticas que apresentaram maior percentual foram sarna 95% e raiva 95%, seguidas
de calazar (leishmaniose) 85%.
A sarna (escabiose) é causada por um ácaro pertencente à classe Arachnida, família Sarcoptidae
(BOTELHO, 2002). Segundo Rey (2002), a família Sarcoptidae reúne pequenos ácaros, quase invisíveis a olho
nu, com pernas curtas e sem garras, corpo ovóide e esbranquiçado. Apesar de muitas espécies serem
parasitos de mamíferos, somente Sarcoptes scabiei é encontrada no ser humano. A sarna sarcóptica é uma
doença encontrada em todo mundo, em todas as regiões e climas, porém, costuma predominar onde a
aplicação de medidas de higiênicas pessoais e coletivas é escassa. Botelho (2002) relata que a transmissão
da sarna se dá por contato direto, ou seja, um doente entra em contato com uma pessoa sadia.

Tabela I: Percepção dos moradores do bairro Mutirão sobre o significado do termo zoonoses
Você conhece o significado
do termo zoonoses? FA FR
Sim 06 30,0%
Não 14 70,0%
Total 20 100,0%
FA: Frequência absoluta; FR: Frequência relativa
p-valor = 0,0736
Tabela II. Percepção dos moradores do bairro Mutirão em relação às doenças zoonóticas
Quais doenças você reconhece como
sendo zoonose? FA FR%
Tuberculose 05 25,0
Raiva 19 95,0
Calazar (leishmaniose) 17 85,0
Larva migrans (cobreiro) 13 65,0
Sarna 19 95,0
Leptospirose 09 45,0
Bicho de pé 10 50,0
Toxoplasmose 04 20,0
Brucelose 10 50,0
Peste bubônica 04 20,0
FA: Frequência absoluta; FR: Frequência relativa

João Pessoa, outubro de 2011


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Tabela III: Doenças não zoonóticas assinaladas pelos moradores do bairro Mutirão como tendo
caráter zoonótico
Quais doenças você reconhece como
sendo zoonose? FA FR%
Lepra 05 25,0
Sarampo 03 15,0
Dengue 15 75,0
Filariose 04 20,0
Cólera 01 5,0
Catapora 04 20,0
Meningite 01 5,0
Rubéola 00 0,0
Tétano 00 0,0
AIDS 02 10,0
FA: Frequência absoluta; FR: Frequência relativa

O vírus da raiva pertence à família Rhabdoviridae e ao gênero Lyssavirus (RACZ e MENCK, 2004).
Segundo Kotait e Carrieri (2004) a raiva é transmitida ao homem pela inoculação do vírus da raiva contido
na saliva de animais infectados, principalmente por meio de mordeduras. Murray et. al. (2004) alegam que
o vírus ataca o sistema nervoso central, gerando distúrbio de comportamento e causando dificuldade ao
paciente em respirar e até mesmo engolir água. Também segundo os autores, a raiva é uma das mais
antigas doenças conhecidas e mesmo nos dias atuais, ainda representa um sério problema de saúde
pública.
A leishmaniose é uma doença causada por parasitos intracelulares obrigatórios pertencentes ao
gênero Leishmania (ROSS, 1903 apud GENARO, 2002). O protozoário completa seu ciclo biológico em dois
hospedeiros, um invertebrado (insetos hematófagos conhecidos como flebotomíneos pertencentes à
ordem Díptera) considerado natural, no qual dificilmente a Leishmania causa doença e o outro é um
vertebrado (grande variedade de mamíferos entre eles o homem, embora as infecções sejam mais comuns
em canídeos e roedores) considerado casual, neste a infecção por Leishmanias normalmente provoca
lesões de pele (GENARO, 2002; MICHALICK, 2002).
Em relação à posse de animais, 80% (16/20) dos entrevistados declararam possuir algum animal de
estimação. Observou-se que a maioria dos entrevistados tem preferência por aves, representando 45%
(9/16). Entretanto, deve-se salientar que alguns entrevistados possuíam concomitantemente mais de um
animal, onde os cães representaram 25% (5/16) e os gatos 20% (4/16).
Segundo Mcnicholas et al. (2005) a ligação emocional proporcionada por este convívio pode trazer
benefícios físicos e psicológicos, além de melhorar a integralização social de portadores de doenças
imunossupressoras, idosos, crianças e pessoas com necessidades especiais. Porém, Corrêa et al. (1993)
alertam que esse convívio próximo entre o homem e seus animais de estimação não fica limitado apenas a
uma situação de coabitação familiar, pois esses animais frequentam áreas públicas e, com frequência,
acabam se contaminando e ao depositarem seus dejetos nesses locais, acabam contagiando o solo com
formas evolutivas infectantes de endoparasitos e provocando doenças em seres humanos e outros animais.
Capuano e Rocha (2005) relatam que a população infantil corresponde ao grupo mais exposto devido ao
hábito de brincar em contato com o solo e aos hábitos de geofagia, de andar descalço, de se deixar abraçar,
lamber e morder por seus animais.

CONCLUSÃO
Com este trabalho pôde-se concluir que mesmo não possuindo conhecimento científico, a
comunidade tem percepção de que os animais podem transmitir doenças causando danos à saúde.

REFERÊNCIAS
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João Pessoa, outubro de 2011


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AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES ALIMENTÍCIAS DA POPULAÇÃO DA BACIA


HIDROGRÁFICA DA RIBEIRA/PB EM COMPARAÇÃO COM 50 ANOS ATRÁS
1
André Aires de FARIAS
2
Marcelo Meira LEITE
3
Telma Lucia Bezerra ALVES
1
Licenciado em Ciências Agrárias e Mestrando em Recursos Naturais, na Universidade Federal de Campina
Grande, UFCG. E-mail: andreaires61@hotmail.com;
2
Eng. Eletrônico, MBA Gestão e Marketing, Mestrando em Recursos Naturais, UFCG. E -mail:
marcelomeiraleite@gmail.com;
3
Graduada em Geografia, Mestranda em Recursos Naturais na Universidade Federal de Campina Grande –
UFCG. E-mail: telmalu@yahoo.com.br.

RESUMO
O trabalho objetivou fazer um levantamento das condições alimentícias, buscando averiguar se
houve mudanças significativas de hábitos, estilos de vida, alterações ambientais e principalmente o registro
da percepção e leitura, da comunidade e da realidade vivenciada, feita pelo idoso, utilizando como
delimitação e base territorial a bacia hidrográfica da Ribeira de Cabaceiras-PB. O maior interesse nesta
pesquisa vem do fato de que já está plenamente comparado que a alimentação de um povo influencia
diretamente na saúde deste povo, assim como na percepção da qualidade de vida, de uma forma geral.
Foram aplicados questionários para avaliar a situação das variáveis relacionadas às condições alimentícias:
balanceamento da dieta, facilidade na aquisição de alimentos, qualidade dos alimentos quanto à idade,
conservação e agrotóxicos, qualidade das carnes, alimentos produzidos na propriedade, tipo, origem dos
frangos e ovos, consumo de açúcar, adoçante e fonte de gordura. Verificou-se uma melhoria significativa
nas condições de alimentação da população pesquisada. Esta melhoria pode ser atribuída, principalmente,
à disponibilização de melhores subsídios por parte do poder público, na forma de aposentadorias,
possibilitando um maior poder de compra, pela facilidade de aquisição, diversidade, aumento da
quantidade consumida e conservação dos produtos. Por outro lado, houve uma queda na produção local de
alimentos, bem como uma diminuição da qualidade dos mesmos, além do aumento de gêneros cultivados
com a utilização de defensivos químicos. Ficou constatado também, um aumento no consumo de produtos
industrializados (frangos, ovos, adoçante, óleo), fazendo-se necessárias pesquisas futuras mais detalhadas
sobre implicações em decorrência dessas adições e/ ou substituições na alimentação dos idosos e da
população em geral.
Palavras-chave: Bacia Hidrográfica; Condições alimentícias; Base Territorial.

INTRODUÇÃO
Condições alimentícias – uma das mais importantes necessidades do ser humano. O ser humano
deve se alimentar corretamente para assegurar sua saúde. Uma alimentação na quantidade adequada, e
com qualidade, é condição primordial a partir da qual vem às demais perseguidas como condicionais para
uma boa condição de vida. Vale observar, entretanto, que quando se trata de alimentação é muito
importante o aspecto do balanceamento dos gêneros consumidos. Ou seja, não basta comer, tem que
saber comer.
Entretanto, muitas vezes, o fato de não se utilizar de certos tipos de alimentos não é devido à falta
de hábito, ou à falta de conhecimento sobre como consumir uma dieta balanceada. Uma das principais
causas para isto pode ser simplesmente a falta de condições financeiras, ou mesmo de disponibilidade dos
alimentos na região em que se encontra a pessoa.
Outro fator importante a ser observado é que a alimentação é dinâmica e depende dos costumes
regionais. Assim, para se fazer uma avaliação isenta da influência dos gostos pessoais, os hábitos
alimentares devem ser analisados com base no balanceamento e no teor nutritivo. Alguns exemplos
mostram a importância desta isenção de percepções neste tipo de análise. É o caso do consumo de miolo
da gado, ou de miúdos de bode, que para alguns pode parecer um tanto excêntrico. Na China, por exemplo,

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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são consumidos cobras, escorpiões e os mais variados tipos de insetos – costume totalmente contrário aos
hábitos correntes da população brasileira.
Para se ter uma visão da evolução ao longo do tempo é preciso consultar as bases de dados da
região ou, de forma, mais direta, pesquisar diretamente junto a pessoas que vivenciam o momento atual e
estiveram presentes no passado. Os idosos residentes na região se enquadram no perfil desejado, podendo
tanto falar sobre os hábitos atuais como relatar a experiência alimentar do passado.
Desde os tempos antigos os seres humanos têm uma relação direta com a natureza, utilizando a
mesma para garantir a manutenção da espécie. De modo que, com o passar dos anos, e devido
principalmente à revolução industrial, observa-se uma intensa utilização dos recursos naturais disponíveis,
gerando verdadeiras agressões ao meio ambiente e comprometendo o seu equilíbrio. Desta maneira é
válida a investigação dos residentes veteranos de um determinado local, com vistas à aquisição de
informações concernentes às modificações percebidas pelos atores locais ao longo do tempo, nos aspectos
relacionados às condições alimentícias.
De acordo com a Lei n° 10. 741/2003 os idosos, população consultada neste trabalho, são pessoas
com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do
Poder Público assegurar ao idoso, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, às
culturas, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência
familiar e comunitária. Nesse sentido, é necessário identificar aspectos relacionados às condições de vida,
que estejam ou não ligados as questões ambientais, compreendendo que o meio ambiente não se refere
somente aos aspectos dos recursos da natureza, mas também a todos os elementos que compõem o
habitat da comunidade (BRASIL, 2003).
Correa e França (2006), observam que, considerando a grande experiência de vida, “um dos papéis
sociais atribuídos ao idoso é o de ser a memória coletiva de seu grupo social, na arte de contar histórias e
de transmitir seu legado cultural. A sobrevivência do passado depende das lembranças que emergem da
memória e que são traduzidas para outrem. Apropriar-se da memória e transmitir esse legado cultural é
reconstruir o passado, dar a ele a possibilidade de ser atualizado e narrado de uma forma diferente. É ter
de volta o sentimento de pertencer a uma história ou mesmo à própria sociedade”.
Para Machado et al (2006), a proposta de que os idosos transmitam informações sobre as
transformações sociais, econômicas e do meio ambiente para os mais jovens confere um modelo
alternativo extra-escolar desses conhecimentos, o conhecimento do que assistiram no passado. Nesse
contexto de investigação, os aspectos relacionados ao meio ambiente, como tipo e origem das carnes,
produção de alimentos, consumo de alimentos orgânicos, utilização de agrotóxicos, são elementos
fundamentais para se efetuar um comparativo das práticas passadas com o presente, assumindo papel
relevante para o conhecimento agrícola.
Este estudo procura identificar, através de pesquisa junto a idosos residentes na comunidade de
Ribeira-PB, as condições alimentícias da região, comparando com a situação 50 anos atrás. É decisivo para a
obtenção de resultados confiáveis e representativos se definir uma base territorial que contemplasse uma
comunidade de pessoas e ao mesmo tempo um conjunto de recursos naturais passíveis de alterações. A
bacia hidrográfica da Ribeira, município de Cabaceiras-PB, atende a estas necessidades pela produção de
conhecimentos a respeito dos aspectos tradicionais e contemporâneos da região.
Há um entendimento, devido a múltiplas razões, de que a bacia hidrográfica é uma importante
unidade territorial, delimitada naturalmente, correspondendo a uma área limitada por um divisor de águas
que drena a água de chuvas por ravinas, canais e tributários, para um curso principal, desaguando
diretamente no oceano ou num lago, onde é possível realizar vários diagnósticos - Ambiental, Físico-
Conservacionista e Sócio-econômico. O diagnóstico da população idosa pode ser compreendido como um
conjunto de informações que enriquece o conhecimento e as percepções sobre as condições gerais de vida.
Dentre estas condições se encontra o aspecto relacionado às condições alimentícias, que podem estar
intimamente ligada às questões da super exploração dos espaços e recursos naturais (ROCHA, 1997).
A bacia hidrográfica é uma unidade básica de análise e planejamento ambiental, por permitir
conhecer e avaliar os seus diversos componentes, processos e interações. Pressupõe ainda, múltiplas
dimensões e expressões espaciais (bacias de ordem zero, microbacias e sub-bacias). Por isso, numa bacia é
possível avaliar de forma integrada as ações humanas sobre o ambiente e seus desdobramentos sobre o
equilíbrio hidrológico (BOTELHO & SILVA, 2004).

João Pessoa, outubro de 2011


31

Nos últimos anos algumas mudanças na alimentação dos agricultores vêm se tornando
comuns. Alguns agricultores diminuíram a produção de alimentos e, com isso, buscam esses
produtos no mercado local. O espaço rural brasileiro sofre profundas transformações
provenientes das ações políticas, sociais, econômicas, ambientais e culturais. Essas mudanças
acontecem tanto nas grandes propriedades quanto nas pequenas e em todo o território brasileiro.
Zanetti & Menasche (2011), conversando com os agricultores, observou que eles são unânimes em
afirmar que a variedade de alimentos hoje é bem maior que a de antigamente e destacam a facilidade de
acesso a esses alimentos nos supermercados locais. Porém, quando indagados sobre a alimentação de
antigamente, é possível identificar uma certa nostalgia e saudades da comida de épocas passadas. Dona
Carmem relata:
O pão de antigamente era gostoso, bem gostoso. A farinha, também ela tinha junto aquelas partes
do trigo que eu digo, a flor da farinha, sei lá o que, a farinha comprada não tem aquele gosto, a gente
sentia o perfume do pão, antigamente, que se tu passava na frente de uma casa que tinha a mulher
cozinhando o pão no forno a lenha, vinha aquele cheirinho, que dava vontade.
De acordo com Zanetti & Menasche (2011), além da disponibilidade de carnes, outro fator que
influenciava muito no consumo ou não desse alimento era sua conservação. Como as famílias não
possuíam energia elétrica e, consequentemente, refrigeradores que conservassem a carne, outros métodos
de conservação eram utilizados para prolongar a vida útil desse alimento. Dona Amália, 66 anos, relata bem
como faziam para conservar as carnes no tempo de sua infância e juventude:
Antigamente, quando se matava uma galinha, não é como agora, que tu pega dois quilos, três, vai
tudo na panela. Uma vez não, tu matava e tinha que dividir, metade hoje e metade amanhã. Aí, pra
conservar a galinha, penduravam fora da janela e, se tu tinha o poço, amarrava a galinha e soltava lá
embaixo, não encosta na água, mas bem perto, pra ficar fresquinho. Eu lembro que na nona fazia assim.
Colocava a galinha dentro do balde, que descia pra pegar água, e conservava. E com o porco, era feito
salame e banha, e a carne era tudo picada e cozida e guardada nas latas, junto com a banha, assim tinha
que ser. Uma rês, em casa nunca se matava, porque o que tu ia fazer?
Em seu trabalho, Menasche et al., (2008), relatam que, antigamente, no meio rural, a carne
mais consumida era a de suíno que, armazenada em barril cheio de banha, conservava-se por mais
tempo do que a carne bovina. No entanto, com a chegada dos congeladores e refrigeradores, essa
prática foi alterada. A possibilidade de armazenamento favoreceu o consumo de carne bovina,
presente quase que cotidianamente na mesa das unidades familiares, e o consumo de carne suína
diminuiu.
Por outro lado, Castro (2008), relata de maneira detalhada a problemática da fome no Brasil, em
específico na região Nordeste, evidenciando a carência alimentar pela qual passou os habitantes dessa
região, em decorrência das grandes secas registradas ao longo da história. Toda a deficiência nutritiva é
exposta com riqueza de detalhes, evidenciando os ciclos epidêmicos de fome no sertão nordestino:
“Se o sertão do Nordeste não estivesse exposto à fatalidade climática das secas, talvez não
figurasse entre as áreas de fome do continente americano. Infelizmente, as secas periódicas,
desorganizando por completo a economia primária da região, extinguindo as fontes naturais de vida,
crestando as pastagens, dizimando o gado e arrasando as lavouras, reduzem o sertão a uma paisagem
desértica, com seus habitantes sempre desprovidos de reservas, morrendo à míngua de água e de
alimentos. Morrendo de fome aguda ou escapando esfomeados, aos magotes, para outras zonas, fugindo
atemorizados à morte que os dizimaria de vez na terra devastada”
A leitura que se faz da evolução dessas circunstâncias não consiste nas modificações das
mudanças climáticas, porém a logística de armazenamento, distribuição e circulação de alimentos
atualmente é certamente mais favorável a sobrevivência humana, dentre outros aspectos.
A alimentação talvez tenha sido o ato social mais facilitado pelas técnicas e objetos técnicos
domésticos. Desse modo, a energia elétrica e alguns eletrodomésticos têm influenciado nos hábitos
alimentares das unidades familiares, seja nos tipos de alimentos consumidos, seja na oferta destes
por um período mais prolongado. A praticidade também é buscada pelas famílias rurais, sendo um

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


32

dos fatores que têm favorecido o aumento do consumo de alimentos comprados que poderiam ser
produzidos no próprio estabelecimento (GRISA, 2007).
O trabalho objetivou fazer um levantamento das condições alimentícias, buscando averiguar se
houve mudanças significativas de hábitos, estilos de vida, alterações ambientais e principalmente o registro
da percepção e leitura, da comunidade e da realidade vivenciada pelo idoso, utilizando como delimitação e
base territorial a bacia hidrográfica da Ribeira de Cabaceiras-PB.

METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada na comunidade do distrito de Ribeira, pertencente ao município de
Cabaceiras, estado da Paraíba, localizada nas coordenadas geográficas 07º 29’ 20” Sul e 36º 17’ 13” Oeste.
Um roteiro de entrevista sobre o idoso foi empregado para obter informações que servissem para avaliar as
condições de vida da população hoje em comparação com aquelas de um horizonte de até 50 anos atrás.
Foi dada ênfase à identificação de modificações alimentícias ocorridas ao longo destes últimos cinqüenta
anos, bem como as conseqüentes melhorias ou prejuízos para as condições de vida da comunidade.
O trabalho teve uma duração aproximada de um mês, em que foram efetivados coleta de dados e
elaboração e aplicação dos questionários. Os idosos precisavam ter 60 anos ou mais e residirem
atualmente na comunidade de Ribeira – PB.
O questionário continha 71 perguntas, sendo 7 abertas e 64 fechadas. As questões abertas
permitiram a expressão livre em linguagem corrente. As questões fechadas disponibilizavam escolhas
determinadas, para as quais foram atribuídas pontuações, como segue: pontuação 1 para “péssimo/ muito
baixo/ muito difícil”, 2 para “ruim/ baixo/ difícil”, 3 para “regular” e 4 para “Bom”, e 5 para “Excelente”.
Os dados coletados foram processados no aplicativo Excel 2007, permitindo a realização facilitada
de análises estatísticas, com o objetivo de identificar o perfil do grupo de idosos e suas principais
características. Para o tratamento estatístico foi utilizada a moda, o valor que ocorre com maior freqüência
em uma série de valores (CRESPO,1996).
Todas as etapas deste trabalho obedeceram às diretrizes da Resolução Nº 196 de 10 de Outubro de
1996, sendo os participantes informados dos objetivos do trabalho, além de concordarem com a publicação
científica dos resultados compilados, assinando o termo de consentimento competente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dos entrevistados 56% têm entre 60 e 70 anos e 44 % têm entre 70 e 80 anos; 67% habitam a
região desde que nasceram, 17% há mais de 50 anos e 16% há mais de 30 anos. Com relação ao nível de
instrução 72% dos idosos são alfabetizados, 22% com ensino fundamental e apenas 6% tem o ensino
médio. A investigação contou com uma amostra composta por 18 idosos pertencentes ao Clube Social da
Melhor Idade, na Ribeira. O que equivale a, aproximadamente, 20% da população idosa local.
Para avaliação da alimentação procurou-se averiguar a disponibilidade e consumo, no passado e no
presente, de seis grupos de alimentos necessários para uma dieta nutritiva. Os resultados obtidos
mostraram que atualmente as pessoas têm acesso a uma diversidade maior de alimentos do que no
passado, apresentando moda 4 (consumo dos seis grupos pelo menos seis vezes por semana). Isso pode ser
justificado pelo recebimento de uma renda fixa (aposentadoria), assim como pela ampliação de pontos
comerciais de distribuição dos alimentos. Ficou evidenciado que no passado as condições de acesso a
alimentos era muito mais difíceis, sobretudo pela falta de recursos e dificuldade de deslocamento até a
sede municipal, Cabaceiras, além da existência freqüente de períodos de seca, que impossibilitavam as
colheitas.
Os alimentos, no aspecto qualidade, quanto à idade e conservação, foram considerados como eram
velhos e mal conservados no passado, ocorrendo o contrário no presente. Isso se explica pela utilização de
geladeiras e freezers e da existência atual de controle de qualidade quanto à composição e validade dos
produtos. Antigamente os alimentos eram acondicionados em tonéis de zinco, envolvidos em “papel de
embrulho” e dispostos em feiras livres sem padronização. Conhecia-se a procedência das carnes, mas não
existia, nem existe ainda, na comunidade controle de qualidade ou observância de aspectos sanitários,
exceto quando se consome a carne industrializada.
Uma informação muito importante que se obteve foi com relação aos alimentos orgânicos,
observando-se que no passado mais da metade dos alimentos consumidos eram orgânicos, produzidos

João Pessoa, outubro de 2011


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localmente sem agrotóxicos, e no presente consome-se mais “alimentos industrializados” cuja procedência
não se conhece, mas se subentende que foram cultivados com agrotóxicos.
Com o surgimento da Revolução Verde e com a expectativa de aumentar potencialmente a
produção e a resistência das culturas, houve uma expansão e proliferação da utilização de defensivos
químicos, para atender a demanda de uma população que estava deixando de ser predominantemente
rural, para se tornar urbana, necessitando de abastecimento.
Esse dado corrobora com a análise do item “Alimentos produzidos na propriedade”, ficando
evidenciado que essa população produzia mais da metade do que consumia e atualmente produz menos da
metade ou quase nada, sendo a produção orgânica local mínima.
Foram questionados o consumo de açúcar, a fonte de gordura e o tipo e origem de ovos e aves
(frangos, galinhas, perus etc.). No passado as pessoas da comunidade utilizavam apenas o açúcar como
adoçante. Com o transcorrer das décadas (cinco, no mínimo), passou-se a utilizar além do açúcar o
adoçante dietético. Observando-se, entretanto, que o consumo de antes era oriundo de fontes como a
rapadura e em quantidade muito menor do que a consumida atualmente.
A fonte de gordura era o toucinho, banha ou sebo e o consumo de aves e ovos era oriundo de
criatórios domiciliares. Atualmente são utilizados o óleo vegetal e a margarina, e incorporado ao consumo
de ovos e aves de criatórios aqueles derivados de “granjas”, ou seja, industrializados. O gráfico 1 sintetiza
as informações supracitadas.

Gráfico 1: Condições de vida na Ribeira: Alimentação

Embora as famílias estudadas em Ribeira-PB não relatem, em relação a seu passado, tempos de
fome e necessidades, como fazem aqueles escutados por Woortmann (2007), eles mencionam os tempos
antigos como tempos difíceis, quando, às vezes, especialmente as crianças, gostariam de comer “algo
diferente”, mas tinham que se contentar em comer o que lhes era servido à mesa.
Indicações muito importantes dizem respeito a características dos hábitos alimentares forçados
devido à indisponibilidade de alternativas na região, ou mesmo por causa das precárias condições
financeiras reinantes. Algumas situações parecem até inverossímeis para os dias de hoje. Ao serem
perguntados sobre que alimentos comem hoje e que não comiam no passado, foram obtidas repostas das
mais variadas, sendo que as mais contundentes estão listadas na tabela 1:

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Tabela 1: Alimentos que não eram utilizados 50 anos atrás


ALIMENTOS QUE NÃO ERAM UTILIZADOS PERCENTUAL DE RESPONDENTES (%)
Arroz 56
Macarrão 39
Enlatados 33
Encaixados (congelados) 33
Embora em percentual menor, os seguintes alimentos também foram mencionados como não
utilizados no passado: carne de vaca, carne de sol, peixe, carne de frango, frutas, verduras, massas em
geral, pães, bolos, iogurtes, aveia e granola. Observando que até feijão, tão comum, nos dias de hoje,
também não era consumido por parte da população.
Por outro lado, a comodidade e a disponibilidade de gêneros industrializados fizeram com que
alguns alimentos anteriormente preparados pelas próprias pessoas, hoje só sejam encontrados na forma
de produtos prontos, adquiridos no comércio. Isto pareceu comum, apesar de haver quase uma
unanimidade sobre a maior qualidade dos alimentos no passado. Opinião esta quase sempre acompanhada
com uma ponta de saudade. Exemplos destes casos são mostrados na tabela 2:

Tabela 2: Alimentos anteriormente processados “em casa” e que não são mais consumidos
ALIMENTOS NÃO MAIS UTILIZADOS PERCENTUAL DE RESPONDENTES (%)
Xerém "de milho moído" 83
Mugunzá "de milho pisado" 61

Além daqueles mencionados na Tabela 2, também foram citados como não mais consumidos os
seguintes alimentos: feijão de corda, beju, rapadura preta, feijão com rapadura, miúdo de gado, cabeça de
gado. Isto demonstra que os hábitos alimentares do passado eram radicalmente diferentes daqueles
observados nos dias atuais.

CONCLUSÕES
A partir dos dados coletados, foi possível verificar uma melhoria significativa nas condições de
alimentação da população pesquisada. Esta melhoria pode ser atribuída, principalmente, à disponibilização
de melhores subsídios por parte do poder público, na forma de aposentadorias, possibilitando um maior
poder de compra, pela facilidade de aquisição, pela diversidade hoje existente, pelo aumento da
quantidade consumida e pela conservação dos produtos. Por outro lado, houve uma queda na produção
local de alimentos, representados por gêneros de qualidade assegurada devido aos cuidados com o cultivo
e o não uso de defensivos agrícolas.
Ficou constatado um aumento no consumo de produtos industrializados (frangos, ovos, adoçante,
óleo), fazendo-se necessárias pesquisas futuras mais detalhadas sobre implicações, em decorrência dessas
adições e/ ou substituições na alimentação dos idosos e da população em geral.

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MACHADO, R.F.O; VELASCO, F.L.C.G.; AMIM, V. O Encontro da Política Nacional da Educação
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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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EDUCAÇÃO AMBIENTAL VOLTADA PARA O CONTROLE DA DENGUE E A


PERCEPÇÃO DAS CRIANÇAS EM UMA COMUNIDADE DO SERTÃO DE
PERNAMBUCO
Cássia Poliana PRÍNCIPE NUNES¹;
Thays Sharllye ALVES PINHEIRO¹;
Mauro de MELO JÚNIOR²
1Alunas bolsistas de Extensão (PRAE/UFRPE – 2011), da Unidade Acadêmica de Serra Talhada, Universidade Federal Rural
de Pernambuco (UAST/UFRPE), Fazenda Saco, s/n, Caixa Postal 063, Serra Talhada - PE. CEP 56.900-000.
E-mails: cassiaprincipe@hotmail.com, thays.sharllye@hotmail.com;
2Professor Adjunto, UAST/UFRPE. E-mail: mmelojunior@gmail.com.

RESUMO
O Brasil é, dentre os países da América, um dos que vem registrando grandes epidemias de dengue
atualmente. O município de Serra Talhada se apresenta como uma das cidades com alto índice de
infestação da doença no estado de Pernambuco. O presente trabalho foi realizado com jovens do Programa
de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) de uma comunidade carente do município. Essa população é
caracterizada pelo baixo índice de informação, prevenção e ocorrência de muitos casos da doença, e, a
partir desse contexto, achamos pertinente realizar uma intervenção de conscientização ambiental. O
objetivo principal das atividades propostas é possibilitar o acesso destes jovens atores às informações
sobre a dengue, desde o ciclo de vida do vetor até a transmissão da doença, de modo que as crianças
absorvam o conhecimento, despertando o senso crítico a respeito da relação entre a realidade ambiental
vivida por eles e a proliferação da doença na comunidade. Utilizando uma metodologia simples e dinâmica,
procurou-se analisar duas vertentes da percepção dos jovens envolvidos no projeto: (i) informações prévias
que eles possuíam sobre a dengue, através de desenhos e dinâmicas, e (ii) assimilação posterior do
conteúdo abordado em aula expositiva, peça de teatro e jogos. Os resultados confirmaram um
conhecimento prévio limitado e muito associado às campanhas públicas de combate à dengue, mas com
pouco senso crítico a respeito da biologia do vetor e da doença. A assimilação dos conhecimentos após a
intervenção foi considerada satisfatória, apesar da dificuldade de quebrar alguns “pré-conceitos”,
provavelmente provenientes de métodos informativos usuais pouco eficientes.
Palavras-chave: Dengue; PETI; Semiárido; Conscientização ambiental;

INTRODUÇÃO
A dengue é uma doença febril aguda, de etiologia viral e de evolução benigna na forma clássica, e
grave na forma hemorrágica. A dengue é, hoje, a mais importante arbovirose (doença transmitida por
artrópodes) que afeta o homem e constitui-se em sério problema de saúde pública no mundo,
especialmente nos países tropicais, onde as condições do meio ambiente favorecem a proliferação do
Aedes aegypti, principal mosquito vetor (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002). No Brasil, à semelhança do que
vem ocorrendo em vários países das Américas, nas últimas décadas vêm se registrando epidemias de
dengue em vários Estados (LIMA, 1999).
Segundo Tauil (2002), uma justificativa para a multiplicação e disseminação do mosquito vetor da
dengue no Brasil, atualmente, está relacionada a um alto contingente populacional nas zonas urbanas
decorrente de um intenso fluxo rural-urbano nos últimos 30 anos. Esse deslocamento resultou em uma
porcentagem de 80% da população brasileira vivendo hoje em área urbana. Em decorrência disso, as
cidades não oferecem as condições favoráveis à população de forma geral, e cerca de 20% dessa população
passa a viver em lugares deficientes no que se refere a fatores como o abastecimento de água e a coleta de
degetos. Nessas condições, a necessidade de armazenamento de água torna essa população mais
susceptível à dengue pelo fato de favorecer a proliferação do mosquito.
Outro fator relevante para uma intensa proliferação do mosquito vetor da dengue diz respeito ao
descarte de forma incorreta de embalagens plásticas, pneus usados, garrafas e qualquer outro resíduo que
possa vir a acumular água. Em locais onde há uma quantidade relativamente alta de resíduos lançados

João Pessoa, outubro de 2011


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diretamente no ambiente, o número de casos notificados se apresenta maior, se comparado a outros locais
com menos resíduos. E, segundo Silva (2003) esse descarte dos resíduos associados ao baixo poder
aquisitivo e ao baixo nível cultural da população, sem dúvida, torna favorável a disseminação do mosquito
Aedes aegypti. A partir disso, é possível então relacionar esses fatores com a realidade do município de
Serra Talhada. Segundo o Atlas do Desenvolvimento Humano, o município apresentou um aumento no IDH
entre os anos de 1991 e 2000, de 0,591 para 0,682. Apesar dessa melhoria, o Índice de Desigualdade Social
no município é considerado alto (Índice de Gini: 0,59) (PNUD, 2000), além de estar associado a elevados
índices de analfabetismo e pobreza que agravam as condições da população. Além disso, segundo o
Ministério da Saúde (2010), Serra Talhada apresenta-se como um dos 10 municípios com risco de surtos de
dengue em Pernambuco, com um índice de infestação de 8,2, sendo um dos maiores do sertão do Estado.
Diante do exposto, observa-se que dentre todos os bairros de Serra Talhada, considerando-se as
condições ambientais, o bairro do Mutirão representa a parcela da população que está mais suscetível à
dengue no município. Esse trabalho teve como objetivo principal a realização de uma intervenção de
conscientização ambiental com as crianças do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) do
bairro, possibilitando o acesso destes jovens atores às informações sobre a dengue. Neste caso, o programa
abordou didaticamente desde o ciclo de vida do vetor até a transmissão da doença, de modo que as
crianças absorvessem o conhecimento, despertando o senso crítico a respeito da relação entre a realidade
ambiental vivida por eles e a proliferação da doença na comunidade.

DESCRIÇÃO DE ÁREA
O município de Serra Talhada está localizado no sertão de Pernambuco, a cerca de 420 km da
capital, Recife. Com uma população de aproximadamente 79.232 habitantes (IBGE, 2010), distribuídos nos
11 bairros da cidade, dentre eles o bairro do Mutirão (conhecido oficialmente por José Tomé de Sousa
Ramos), comunidade esta localizada próxima ao Campus da Unidade Acadêmica de Serra Talhada, da
Universidade Federal Rural de Pernambuco.
O bairro do Mutirão é conhecido por abrigar uma parcela significativa da população do município
que não tem acesso as condições básicas de saneamento. Grande parte das ruas do bairro não possui
calçamento, observando-se uma grande quantidade de esgotos a céu aberto próximos às residências e até
mesmo crianças brincando em suas intermediações (Figura 1). Outras características observadas são a
quantidade significativa de lixo jogado em todo o bairro e, segundo os moradores, a freqüente falta de
água. Para contornar esse problema no abastecimento hídrico, muitos moradores recorrem à prática de
armazenamento de água, tornando o bairro um local propício para o desenvolvimento do vetor da dengue,
o que pode ser comprovado pelo elevado índice de casos relatados durante entrevistas informais com os
moradores.

Figura 1. Flagrantes de crianças brincando próximo a esgotos e água acumulada a céu aberto
(direita), bem como passando dentro de obras em construção e com acúmulo de água (esquerda), no bairro
do Mutirão (Serra Talhada, PE).

MATERIAL E MÉTODOS

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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As atividades de conscientização foram realizadas com um grupo de alunos do Programa de


Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), do bairro do Mutirão (Serra Talhada, PE). Este é um programa
desenvolvido pelo Governo Federal e administrado pelo Ministério de Desenvolvimento Social e Combate a
Fome e tem como objetivo, segundo o site Portal da Transparência do Governo, garantir a retirada de
crianças e adolescentes de até 16 anos das atividades ligadas ao trabalho infantil. Na unidade do programa
presente no bairro do Mutirão encontram-se inseridas 150 crianças e adolescentes distribuídos entre os
turnos da manhã e tarde, dos quais, entre 30 e 40 participaram das três intervenções aplicadas, entre maio
e junho de 2011.
 AVALIAÇÃO INICIAL
De início, após um momento de interação com as crianças, estas foram questionadas a respeito do
tema dengue, com perguntas como: “Alguém aqui sabe o que é dengue?”, “Quem já teve dengue ou
conhece alguém que teve?”, “O que é que lembra a palavra dengue?”. Essa interação foi feita com objetivo
de identificar o conhecimento desses atores sem uma orientação prévia a respeito da doença.
Para solidificar as informações observadas durante o questionamento utilizou-se o método de
desenhos. A partir do desenho a criança organiza informações, processa experiências vividas e pensadas,
revela seu aprendizado e pode desenvolver um estilo de representação singular do mundo (GOLDBERG et
al, 2005). As crianças foram organizadas em grupos de três alunos, de forma a dinamizar a discussão em
torno do tema, e cada grupo recebeu folhas e lápis coloridos para que então ilustrasse seus conhecimentos
prévios sobre a dengue.
 APLICAÇÃO DA OFICINA
Alguns dias após a avaliação inicial dos jovens atores houve a aplicação da oficina de
conscientização sobre a doença. Com duração de cerca de uma hora, a oficina teve início com uma
apresentação expositiva de slides abordando informações gerais sobre o mosquito Aedes aegypti, todos os
estágios do seu ciclo de vida, os locais propícios para o seu desenvolvimento, os sintomas da doença, o
tempo que o vírus permanece no organismo e as formas de prevenção da doença (Figura 2).
Com o intuito de aproximar as informações passadas no primeiro momento à realidade dos atores
mirins, foi apresentado um teatro educativo. O teatro tinha como personagens duas crianças
hipoteticamente com a mesma idade dos atores e o mosquito vetor, conversando sobre a doença. Para a
realização deste teatro, foi montado um pequeno cenário onde havia um local com possíveis condições de
proliferação do mosquito (com garrafas, lixo, potes plásticos com água) e outro que não oferecia estas
condições (lixo jogado no lugar correto, garrafas e recipientes que acumulam água com a boca para baixo).

Figura 2. Momento inicial da oficina de conscientização ambiental dos atores, com apresentação de
slides informativos sobre a doença.
Durante a apresentação do teatro, os personagens interagiam com os jovens atores
fazendo perguntas sobre as informações passadas inicialmente, questionando as relações entre os cenários
criados e o desenvolvimento do vetor, bem como os instigando a colocar em prática o conteúdo abordado
de forma interativa e prazerosa (Figura 3).

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Figura 3. Durante a aplicação da oficina houve interação entre os participantes e as crianças.

 AVALIAÇÃO APÓS A APLICAÇÃO DA OFICINA


A avaliação dos atores após a oficina foi realizada por meio de atividades do Folheto da
Turma da Mônica “Vamos Combater a Dengue”, de Maurício de Sousa (disponíveis no site
http://espacoeducar-liza.blogspot.com/2009/04/dengue-pode-matar-baixe-aqui-gibizinho.html). As
atividades utilizadas foram escolhidas como forma de avaliar a assimilação do conhecimento obtido de
forma mais dinâmica, principalmente pela faixa etária que exige atividades mais interativas. As atividades
consistem na interação de jogos de raciocínio e ilustrações acerca dos pontos abordados na oficina.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante as etapas iniciais do trabalho, a maioria das crianças reagiu com resistência aos trabalhos
propostos, porém através do uso de atividades interativas e um período de contato direto com eles, foi
obtido o vínculo necessário para o desenvolvimento da atividade sugerida.
Por meio dos materiais disponibilizados para os grupos, os jovens atores expuseram das mais
variadas maneiras o que conheciam sobre a dengue (Figura 4). Ao entregarem o desenho, muitos
explicavam o que haviam colocado no trabalho. Em um dos desenhos, ao ser questionado sobre o que
havia dentro da caixa d’água desenhada, um dos atores afirmou “é um balde cheio de dengue” (Figura 5).
Isso confirma a idéia de que muitos relacionavam a dengue exclusivamente ao mosquito, ou seja, o próprio
mosquito era considerado a doença em si, como foi demonstrado por Chiaravalloti Neto (1998), em um
estudo semelhante desenvolvido em Umuarama no estado do Paraná. A maior parte das crianças
demonstrou uma visão consciente em relação a alguns hábitos dos moradores do local (como o descarte do
lixo em terrenos, o armazenamento inadequado da água) e a sua influência na ocorrência da doença.

Figura 4. Exemplos de diferentes percepções das crianças do Programa de Erradicação do Trabalho


Infantil, do bairro do Mutirão (Serra Talhada, PE), sobre a dengue.

Apesar de grande parte possuir conhecimento da prevenção quanto à proliferação do mosquito,


percebeu-se, devido à semelhança entre os desenhos, que essas informações estavam quase sempre

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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relacionadas a informativos distribuídos em campanhas (Figura 6), ou seja, eles provavelmente não tinham
conhecimento real da relação, por exemplo, entre a água acumulada e os estágios de desenvolvimento do
mosquito. Neste caso, estariam apenas transmitindo o que observou em panfletos e cartazes.

Figura 5. Exemplo de percepção infantil de uma criança que considerava o mosquito da dengue
como a própria doença.

Figura 6. Exemplo de um dos desenhos que refletem o conhecimento associado ao que é divulgado
em folhetos e cartazes educativos de campanhas nacionais de combate à dengue.

Quanto à visão geral da doença, percebe-se uma desorganização de idéias em quase todos os
desenhos apresentados. Muitos demonstram ter alguma noção do tema, por exemplo, sabem que a
doença é transmitida por um mosquito, têm alguma idéia dos sintomas, mas não conseguem relacionar de
forma correta. Isso pode ser observado na diversidade de formas do mosquito (Figura 7), na relação das
manchas avermelhadas com a catapora (Figura 8) e no ciclo do mosquito, pois muitos acreditavam que de
um mosquito “nascia” outro, sem estágios larvais.

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Figura 7. Variedade de formas do mosquito apresentada nos desenhos das crianças do Programa de
Erradicação do Trabalho Infantil do bairro do Mutirão (Serra Talhada, PE).

Figura 8. Desenho de uma criança do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil do bairro do


Mutirão (Serra Talhada, PE), que associou as manchas vermelhas da dengue com a catapora.

Durante a apresentação do teatro, ao serem questionados pelos personagens, os atores se


revelaram mais interativos e dispostos a expressar o conhecimento acerca do tema, demonstrando terem
assimilado a maior parte das informações apresentadas nos slides, durante a intervenção educativa. Os
resultados observados no decorrer do teatro reforçam a idéia apresentada por Dallabona et al. (2004),
segundo a qual a atividade lúdica contribui para uma melhoria no ensino infantil, já que esta permite que a
criança desenvolva seu poder de expressão, de análise, de crítica e até de transformação da realidade e da
sociedade na qual está inserida.
Porém observou-se que eles não tinham idéia do nome científico do mosquito, referindo-se a ele
por “mosquito da dengue” mesmo com a explicação. Segundo Leite (2003), as dificuldades na organização
de idéias em crianças é um fator ligado a classes sociais, ou seja, o fato de serem crianças carentes
possivelmente contribui para que ocorra certa lentidão no desenvolvimento. E que essa dificuldade pode
ser superada através de atividades artísticas, assim pressupõe-se que o incentivo a métodos em que haja
possibilidade de uma maior interação, como o que foi realizado, pode resultar em uma aprendizagem mais
eficaz.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, é possível perceber que as dificuldades do primeiro momento cessaram à
medida que as atividades foram proporcionando um ambiente mais interativo. Os resultados confirmaram
um conhecimento prévio limitado e muito associado às campanhas públicas de combate à dengue, mas
com pouco senso crítico a respeito da biologia do vetor e da doença. A assimilação dos conhecimentos após
a oficina foi considerada satisfatória, apesar da dificuldade de quebrar alguns “pré-conceitos”
provavelmente provenientes de campanhas e métodos informativos pouco eficientes.

AGRADECIMENTOS
Agradecemos a Pró-reitoria de Atividades de Extensão da UFRPE, pelas bolsas de Extensão cedidas
às duas alunas e à equipe do PETI, bairro do Mutirão (Serra Talhada, PE), pelo apoio e disponibilidade do
espaço dos jovens para a realização do trabalho, e, em especial, agradecemos à coordenadora do PETI, a
Sra. Regina Silva. Aos demais participantes do projeto Caracterização Ambiental Participativa e sua relação
com a saúde na comunidade do Mutirão (Serra Talhada, PE), coordenado pelo último autor.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CHIARAVALLOTI NETO, F. C.; MORAES, M. S.; FERNANDES, M. A. Avaliação dos resultados de
atividades de incentivo à participação da comunidade no controle da dengue em um bairro periférico do

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Município de São José do Rio Preto, São Paulo, e da relação entre conhecimentos e práticas desta
população. Caderno Saúde Pública, Rio de Janeiro, 14(Sup. 2):101-109, 1998.
DALLABONA, S. R.; MENDES S. M. S. O lúdico na educação infantil: Jogar, brincar, uma forma de
educar. Revista de divulgação técnico-científica do ICPG. Vol. 1 n. 4 - jan.-mar./2004.
FILHO, C. T. L. Denominação de bairros de Serra Talhada. Disponível em
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GOLDBERG, L. G.; YUNES, M. A. M.; FREITAS, J. V. O desenho infantil na ótica da ecologia do
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LEITE, C. O.; PINHO, F.; KOEHLER, S. M. F. Um estudo sobre as dificuldades de aprendizagem das
crianças: contribuição da arte. Congreso internacional la nueva alfabetización: um reto para la educación
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LENZI, M. F.; COURA, L. C. Prevenção da dengue: a informação em foco. Revista da Sociedade
Brasileira de Medicina Tropical, Rio de Janeiro,jul./ago. 2004.
LIMA, V. L.C.; FIGUEIREDO, L.T.M; CORREA , H. R. LEITE, O. F.; RANGEL, O; VIDO, A .A.; OLIVEIRA, S.
S.; OWA,M. A.; CARLUCCI, R. H. Dengue: inquérito sorológico pós-epidêmico em zona urbana do Estado de
São Paulo (Brasil). Revista de Saúde Pública vol.33 n.6. São Paulo, Dez. 1999.
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PNUD. Índice de Desenvolvimento Humano - Municipal, 1991 e 2000. Disponível em:
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%20dados%20de%202000).htm. Último acesso em: 06 de julho de 2011.
PORTAL DA TRANSPARÊNCIA. Programa de Erradicação do Trabalho Infantil. Disponível em:
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TAUIL, P. L. Aspectos críticos do controle do dengue no Brasil. Caderno de Saúde Pública, Rio de
Janeiro, p.867-861, mai./jun. 2002.

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APRENDIZAGEM BASEADA EM PROJETOS/PROBLEMAS: ESTUDO DE CASO


DO MONITORAMENTO ESTUDANTIL DE DOIS CORPOS D'ÁGUA DO
MUNICIPIO DE ITABAIANA/SERGIPE
Fernanda Tatiane dos Santos REIS
Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Sergipe
nandareis.bio@gmail.com
Paulo Sérgio MAROTI
Professor Adjunto do Departamento de Biociências da Universidade Federal de Sergipe paulo_teo@yahoo.com.br

RESUMO
Este artigo tem por finalidade apresentar o estudo de caso do projeto: “O que tem na água que
você bebe?”, uma parceria entre a Universidade Federal de Sergipe por meio do Programa de Iniciação a
Docência (PIBID) e duas escolas da rede estadual de ensino público, desenvolvido no ano letivo de 2010
que teve como fio condutor a Aprendizagem Baseada em Projetos/Problemas (ABP). A situação problema
utilizada no projeto girou em torno da questão orientadora “o que tem na água que você bebe?” tendo o
monitoramento da “saúde” de dois corpos d’água locais pela equipe do projeto através de técnicas do
ensino investigativo como o estudo do meio, ecologia da paisagem e expedições cientificas estudantis
monitoramento levantamento, como metodologias adotas. Os resultados do projeto que serão
apresentados, vão desde os dados coletados pelas diferentes técnicas utilizadas no estudo, até o caráter
social e de pesquisa pedagógica da pratica vivenciada.
PALAVRAS-CHAVES: ABP- Aprendizagem Baseada em Problemas; Estudo do meio; Expedições
Científicas;

INTRODUÇÃO
A falência do modelo atual de ensino, considerado ultrapassado e utilizado na maioria das escolas
baseado na transmissão de conceitos, tem sido comprovada pelas provas de indicadores escolares do
governo federal. Já que o índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) 2009 mostra claramente
que nossos alunos estão aprendendo pouco, pois as notas estão a anos-luz da nota seis, um padrão
definido como aceitável para os membros de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A fim de
evitar generalizações ou simplificações, sabe-se que existem diferentes variáveis que influenciam na
qualidade atual do ensino básico no Brasil, mas uma das mais importantes razões a nosso entender e que
nos interessa para o desenvolvimento deste trabalho, é a qualidade da formação dos professores e
conseqüente, da aprendizagem do aluno.
As universidades que formam professores (licenciaturas), não diferente das escolas, adotam
também o modelo fragmentado de transmissão do conhecimento criando assim um “fosso” que separa a
teoria da prática. O professor, formado sob este modelo, tende a fazer o mesmo em sala de aula, não
promovendo a interligação das disciplinas e mesmo dos conteúdos conceituais da disciplina que é
responsável. Tal situação é agravada pela não contextualização da realidade vivida pelo aluno.
Por conta disso, muitos educadores apontam que o desafio da educação no século XXI é o
desenvolvimento de diferentes habilidades dos alunos durante o processo de ensino-aprendizagem. A
bióloga argentina Melina Furman é uma das representantes da nova corrente de ensino, a investigativa,
que propõe se basear em uma situação-problema para oferecer aos alunos a oportunidade de observar,
levantar hipóteses, fazer registros e tirar conclusões. Assim como os entusiastas praticantes da ABP, sigla
da metodologia norte-americana “Aprendizagem Baseada em Projetos”, que por conta das técnicas
adotadas é também conhecida como “Aprendizagem Baseada em Investigação” ou “Aprendizagem Baseada
em Problemas”. Apesar de ser uma alternativa instigante para a resolução das lacunas educacionais do
século XXI, as técnicas utilizadas pelos educadores/pesquisadores da nova corrente de ensino não são
novas, como atesta os professores da linha da ABP:
Por mais de 100 anos, educadores como John Dewey descreveram os benefícios da aprendizagem
experimental, prática e dirigida pelo aluno. A maioria dos professores, cientes do valor de projetos que

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envolvam e desafiem os alunos, tem utilizado viagens de campo, investigações laboratoriais e atividades
interdisciplinares que enriquecem e ampliam o programa de ensino. “Fazer projetos” é uma antiga tradição
na educação estadunidense. (BUCK INSTITUTE FOR EDUCATION, 2008, p.17)
E não só na educação estadunidense. O Brasil teve um marco histórico no tocante à preocupação
com o ensino centrado no aluno e no desenvolvimento de habilidades em sistema de projetos, o
“Movimento Escola Nova”, que teve suas primeiras manifestações no período político do estado novo.
Dentre as contribuições políticas (pela prioridade não nos cabe espaço comentar) e cientificas dos três
educadores brasileiros que lideraram o Movimento Escolanovista, Anísio Teixeira, Lourenço Filho e
Fernando de Azevedo, este sintetizou nos seus trabalhos o ideal da Escola Nova, que de certa forma é
comungado entre os adeptos das metodologias para o século XXI citadas anteriormente.
Para ele o ideal da Escola Nova envolvia três aspectos: escola única, escola do trabalho, escola-
comunidade... A escola única foi entendida como uma educação uniforme, uma formação comum,
obrigatória e gratuita [...]
Quanto à escola do trabalho [...] o que esta em causa, aí, é o estimulo às observações e experiências
da criança, levando-a desenvolver o trabalho com interesse e prazerosamente, satisfazendo sua curiosidade
intelectual: “o aluno observa, experimenta, projeta e executa. O mestre estimula, aconselha, orienta" (idem,
p.74).
No que se refere ao terceiro principio, o da escola-comunidade, postula que a escola seja organizada
como uma comunidade em miniatura, incentivando o trabalho em grupo preferencialmente ao individual.
(SAVIANE, 2008, Pg. 211 e 212)
O educador/pesquisador experimental Celestin Freinet foi o precursor do movimento da Escola
Nova na França e também defendia e praticava uma escola voltada para o trabalho/comunidade e uma
educação pela vida. Para demonstrar o grau de vanguarda deste educador, segue duas citações, a primeira
de Celestin Freinet do ano de 1968 e a segunda dos entusiastas da ABP publicada em 2008, ambas sobre o
desafio de uma educação mutante:
[...] No passado o mundo mudava ao ritmo dos séculos; o que se ensinava às crianças ainda era
válido trinta anos depois. O que ensinamos hoje talvez não vigore dentro de dois, ou dentro de um ano. [...]
Eis a nova realidade. Hoje é preciso que nos preocupemos menos em dar noções, princípios e conhecimentos
às crianças, do que em prepará-las para que se adaptem com habilidade e inteligência ao mundo mutante no
qual logo terão que integrar-se. Precisamos preparar os processos válidos para preparar essa adaptabilidade.
(FREINET, 1979, p. 164 apud FREINET, 1964)
[...] o mundo mudou. Quase todos os professores compreendem como a cultura industrial moldou a
organização e os métodos das escolas nos séculos XIX e XX e reconhecem que as escolas agora precisam se
adaptar a um novo século. Não há duvida de que as crianças precisam tanto de conhecimento quanto de
habilidades para ter êxito. Essa necessidade é determinada não apenas pelas demandas da força de trabalho
por empregados com alto desempenho que possam planejar, trabalhar em equipe e se comunicar, mas
também pela necessidade de ajudar todos os jovens a adquirir responsabilidade cívica e a dominar suas
novas funções como cidadãos do mundo. (BUCK INSTITUTE FOR EDUCATION, 2008, p.17)
Através da pesquisa prática os educadores já citados, entre outros, desenvolveram técnicas para o
trabalho investigativo do ensino. Segue a descrição de algumas destas: Estudo do Meio Local, Expedições
Científicas Estudantis, Aulas-passeio da Pedagogia Freinet, utilizadas no projeto desenvolvido pelos autores,
melhor detalhadas no tópico Metodologia.
As expedições Científicas Estudantis foram Inspiradas tanto nas grandes Expedições Científicas
realizadas no passado em nosso país (Langsdorff, Spix e Martius, Saint-Hilaire, entre outros), quanto nas
aulas-passeio propostas pela Pedagogia Freinet (MARQUES, 1994 apud SAMPAIO, 1989). Estas consistem
num recurso metodológico do ensino das Ciências que visa resgatar a visão naturalista no trato das
questões ambientais e promover à iniciação a docência, em que os grupos de alunos organizam-se em
torno de temas ou problemas ambientais específicos da região, e saem a campo devidamente
instrumentalizados e motivados a observar, analisar e coletar dados através de fichas de observação e
coleta, desenvolvendo atitudes e habilidades científicas. O resultado esperado em cada expedição é um
estudo abrangente do local escolhido, revelando problemas e gerando temas para trabalho posterior.
O Estudo do meio é definido por Pontuschka (1991) como uma metodologia em que alunos e
professores são colocados em situação de pesquisa e juntos analisam o espaço humanizado e
problematizam situações contatadas em busca de respostas, portanto professores e alunos juntos
produzem o conhecimento e a finalidade da referida metodologia seria, justamente favorecer a percepção,

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ou seja, ao estudar seu meio o aluno/docente aprende a criticar suas imperfeições e injustiças, de
participar da realização de uma realidade mais justa, se aproximando por sua vez das características da
pesquisa-ação.
Ainda segundo Pontuschka (op. Cit.) o estudo do meio contribui para superar a visão fragmentada,
tão fortemente disseminada, em função da própria estrutura do currículo escolar que insiste em aprisionar
cada saber em sua respectiva disciplina. Com este estudo, tais fragmentos de disciplinas utilizados pela
maioria das escolas, são interligados com a finalidade de facilitar a aprendizagem dos alunos, que
perceberão que História, Biologia, Geografia e outras disciplinas têm muitas coisas em comum.
As Aulas-passeio da Pedagogia Freinet consistem em uma das técnicas da linha de pensamento
pedagógico de Célestin Freinet, também denominada Escola Moderna, um marco referencial para muitos
professores que se propõem a realizar trabalhos em que o tema principal é o ambiente e a vida das pessoas
nas comunidades onde estão as escolas.
A aula passeio é de especial interesse, podendo ser definida como uma atividade realizada a partir
de um planejamento existente, ou de um emergente centro de interesse dos estudantes (mas, sempre a
partir de um plano estruturado coparticipativamente), tendo em vista o estudo dos diferentes ambientes
(naturais e sociais), em suas múltiplas relações e como as outras técnicas fundamenta-se em quatro eixos
principais, a cooperação, a afetividade, a documentação e a comunicação. (SAMPAIO, 1989)
Como visto acima as diferentes técnicas utilizadas na aprendizagem por projetos enfatizam o
pensamento crítico e criativo; a resolução de problemas; a tomada de decisões; análise; o aprendizado
cooperativo; e a capacidade de comunicação, atitudes que convergem para a contextualização dos temas
trabalhados. Lidando assim com inteligências infelizmente ainda pouco trabalhadas nas escolas, que vão
alem da escrita, leitura e matemática. (LEGAN, 2007). Percebe-se a partir da descrição das diferentes
técnicas que as mesmas compartilham características como: 1- Comprometimento com uma concepção
curricular de trabalho, funcionando até mesmo como momento de culminância das atividades de um
período e fornecendo subsídios para o período posterior; 2- Preparação para a realização das atividades,
utilizando-se os mais variados métodos, técnicas e equipamentos para o estudo do meio; 3- Diferenciação
do tradicional excursionismo ou das aulas de campo, em que a mesma dinâmica tradicional da sala de aula
é adotada (aula expositiva); 4- Realização de atividades sócio-interativas (entrevistas, produção coletiva de
textos, jornalzinho e rádio escolar ou rádio corredor) e artísticas: livre expressão ou manifestação, painéis
decorativos e informativos e dramatização;
Como se pode perceber no item um do parágrafo anterior, as técnicas usadas na corrente
investigativa de ensino preocupam-se com a concepção curricular, ou seja, as atividades não buscam
separar-se do currículo. Os professores adeptos da ABP orientam que os projetos não sejam uma atividade
a parte, que despenda o curto tempo do professor, mas que realmente substitua uma parte dos assuntos
que seriam trabalhados em aulas expositivas:
“[...] é útil não pensar a ABP como algo que toma tempo do programa regular de ensino. Em vez
disso considere um projeto focado em padrões como um método central de ensino e aprendizagem que
substitui o ensino convencional de uma parte de seu programa.” (BUCK INSTITUTE FOR EDUCATION, 2008,
p.17)
Como defendia Freinet, se achamos que os modelos atuais de ensino são inadequados, pois não se
adaptam ao novo século, devemos experimentar técnicas novas como ele o fez, assim como adaptar
experiências bem sucedidas para a realidade da classe, da escola, dos alunos e de nós próprios, os
professores, alem de publicar/divulgar os resultados obtidos através das praticas/pesquisas pedagógicas
que utilizaram tais técnicas do ensino investigativo. Para ampliar tal divulgação é que relatamos a
experiência do projeto intitulado “O que tem na água que você bebe?”. O projeto intitulado “O que tem na
água que você bebe?” desenvolvido durante o ano letivo de 2010 foi uma parceria entre a Universidade
Federal de Sergipe, Campus de Itabaiana (expansão), e duas escolas estaduais (E.E) da rede de ensino
publico e que teve como objetivo principal incentivar o caráter investigativo dos escolares ao comparar a
"saúde" de dois açudes da cidade de Itabaiana/Sergipe.

METODOLOGIA
As escolas contribuíram sempre que puderam com as suas instalações (biblioteca, pátio, sala de
informática, sala de vídeo, cozinha etc.) e materiais de apoio (giz, pincel, cartolinas, televisão, DVD etc.)

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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para o desenvolvimento das atividades do projeto e na disponibilização de transporte para as atividades


realizadas fora da escola. Os participantes da E.E César Leite foram alunos do 9º ano do ensino
fundamental e da E.E Murilo Braga foram alunos do 1º ano do ensino médio, além de um
professor/supervisor por escola. Tais supervisores, o coordenador/orientador do projeto e as quatro
graduandas participantes receberam apoio no formato de bolsas do Programa Institucional de Iniciação a
Docência (PIBID/CAPES), uma iniciativa plausível de estímulo às licenciaturas, cursos atualmente mal vistos
pela sociedade, infelizmente, por conta de sua desvalorização social e econômica.
Aproximando-nos um pouco mais das características já apresentadas de uma aprendizagem
baseada em Projetos/Problemas/Investigação o projeto trabalhou em consonância com a investigação
pelos diferentes características relatadas à seguir: numa edição anterior do PIBID tentou-se desenvolver
projetos em conjunto com os professores de ciências das duas escolas mencionadas, no horário de suas
aulas. Os resultados foram desanimadores, pois não se teve um satisfatório envolvimento dos docentes, a
preocupação se concentrava em concluir o cronograma escolar e muitas vezes as temáticas acabavam
sendo trabalhadas de forma superficial e separadas. Outro problema sentido, foi sobre a necessidade de
"Poder" em sala de aula, os alunos muitas vezes não respeitavam as bolsistas por estes não estarem
diretamente ligados à decisão das notas, um vicio a ser trabalhado a longo prazo.
Por conta de tal experiência, foi decidido desenvolver o projeto no período contrário do escolar, e
com alunos e professores que se interessassem, tendo os primeiros que se inscrever no projeto na
secretaria da escola e os últimos, recebido carta convite para participação. Para os alunos, as inscrições se
limitaram a 25 alunos por escola. Este limite se deu por conta da previsão de trabalhos de campo,
atividades que demandam um número mediano de alunos para a própria segurança dos mesmos e do
ambiente a ser visitado. Como as atividades de campo incluiríam visitas a corpos d’água com coletas, pela
bibliografia referencial utilizada no projeto o melhor período para tal realização é o matutino. Dessa forma
decidimos trabalhar com alunos do turno da tarde, pois eles não precisariam perder aula para participarem
das atividades do projeto que aconteceriam de manhã.
A escolha dos corpos d'água açude da Marcela (AM) e Barragem Jacarecica (BJ) (figura I A) se deu
por diferentes motivos: conhecimento prévio do local pelos integrantes do PIBID, que já haviam feito o
monitoramento do AM e BJ no ano de 2007; a presença dos corpos d'água no imaginário da população por
seus valores históricos. O AM foi criado para o abastecimento público de água, tendo seu uso modificado
para irrigação e atualmente é o receptor da maior parte do esgoto doméstico da cidade (não tratado). A BJ
mais recente que o AM, já foi criada para o abastecimento público e para irrigação; pelas diferenças no
tocante a saúde dos dois corpos d'água, o AM situado na parte urbana do município em situação crítica e a
BJ, situada na porção rural do município, encontra-se em melhor situação que o AM. Tal dicotomia
(ambientalmente equilibrado e totalmente desequilibrado) é sugerido por Shiel et al, 2003 para a
realização de trabalhos com escolas, uma vez que se torna muito didática tal comparação.
A cerca da séries adotadas, observou-se o potencial de padrões curriculares que trabalhassem em
consonância tanto com os objetivos do projeto como com os parâmetros curriculares nacionais como o
tópico da físico-química do 9º ano, com assuntos como pH, misturas e elementos químicos.
Quanto à autonomia dos alunos, ou seja, o grau de envolvimento dos mesmos, pode-se perceber
que pelas decisões/precauções tomadas pelos integrantes do PIBID/Biologia a cerca da serie, turno,
período do trabalho, padrão curricular, determinação dos corpos d'água a serem monitorados, os alunos
tiveram uma participação limitada no tocante ao planejamento do projeto.
Entretanto na determinação das situações problemas, apesar de se ter o tema gerador água como
fio condutor, não obedeceu uma seqüência linear de assuntos a seguir ditadas, os alunos que
apresentavam as demandas (dúvidas ou curiosidades apresentadas, por exemplo) para o planejamento das
atividades por conta dos integrantes do PIBID, e estes sempre que possível, estruturavam um link com os
padrões curriculares.
A primeira atividade, de apresentação do projeto, foi dirigida pela situação-problema que o intitula:
O que tem na água que você bebe? Os alunos especularam de onde vinha a água usavada nas atividades
cotidianas e foram instigados à refletir sobre a qualidade da mesma, sendo convidados para uma vista de
campo nos dois corpos d'água que seriam estudados no projeto. Como tal campo teria o objetivo de
reconhecimento do local, e levando em consideração que boa parte dos alunos não conhecia os corpos

João Pessoa, outubro de 2011


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d'água a serem visitados/estudados, na 1ª atividade não foi apresentada fotos ou qualquer informação que
viesse a influenciar a percepção dos alunos.
O campo de reconhecimento dos locais foi orientado pela técnica de estudo do meio local, muito
utilizada nas aulas-passeio da Pedagogia Freinet, em que o aluno é instigado a olhar a sua volta, apontando
em cadernos/fichas de campo, suas principais observações, incluindo as relativas à paisagem (natural ou
humanizada).
Foram utilizadas duas fichas de campo. A primeira (Figura I D) para anotação dos dados
climatológicos e de localização que contou com os seguintes instrumentos: GPS, maquete didática do
município, cartas cartográficas (relevo, hidrografia e Bacia hidrográfica/1:60.000), bússola, caixa didática de
análise da direção do vento, caixa didática de análise da velocidade do vento e anemômetro digital; a
segunda (Figura I E) para os dados de observação da paisagem, com o complemento de câmeras
fotográficas.
Nesta atividade de estudo do meio os escolares foram divididos em dois grupos mistos, ou seja,
com alunos da zona rural e da zona urbana pelos diferentes olhares do ambiente que poderiam existir. Os
instrumentos que possibilitaram “medir” tais diferenças foram os depoimentos/relatos dos alunos, as fotos
e os mapas mentais (mapas de trajeto) do local, produzidos pelos mesmos. (Figura 1B)
Após as observações da paisagem realizadas durante o estudo do meio, quando indagados, os
alunos responderam com clareza que a “saúde” do AM estava numa situação bem pior do que a da BJ. Mas
isso não bastava, eles necessitariam de mais “provas” (alem das fotos) para tal afirmação, foi nesse
contexto de investigação que os alunos foram convidados para responderem a tais indagações participando
das atividades que antecederiam as Expedições Científicas Escolares.
Além da repetição das análises feitas no campo de estudo do meio, foram acrescentadas às
atividades das Expedições Cientificas Estudantis um aspecto mais técnico, o da análise físico-químico da
água (pH, condutividade, nitrato, fosfato, entre outros). Antes, foi apresentado aos alunos o funcionamento
dos instrumentos (figura 1 C) que seriam utilizados: o Eco Kit - kit educativo composto por frascos e
reagentes utilizados para medição de fosfato, nitrato e turbidez da água e o kit microbiológico composto
por cartelas com meio de cultura que quando mergulhadas na amostra de água e aquecidas em estufa
apresentam pigmentos relativos à colônia de bactérias E. coli e salmonela, ambos da empresa Alfakit
(www.alfakit.com.br); os aparelhos: pHmetro, oxímetro, condutivímetro, termômetros e psicrômetros para
as medidas respectivas de Ph, oxigênio dissolvido, condutividade elétrica, temperatura (água e ar) e
umidade relativa do ar; materiais de apoio como luvas, piceta com água destilada, béquer, papel toalha,
garrafa PET e bolsa plástica para descarte. Para anotação de tais dados foi apresentada uma terceira ficha
de campo, a referente aos dados físico-químicos. (figura 1 F)
Como os integrantes do PIBID já haviam selecionado os pontos de coleta de água, foi estendida aos
alunos a decisão de quantas e quando seriam realizadas as expedições – chegou-se a decisão de duas na
estiagem e duas na época chuvosa. Esta decisão se deu por conta das duas principais situações-problemas
criadas pelo grupo: 1ª- Quais as diferenças nos dados da qualidade da água entre a represa de ambiente
rural (BJ) e o de ambiente urbano (AM)? 2ª Quais as diferenças entre os dados do período chuvoso (Abril a
julho- 2010) e do período da seca (Agosto de 2010 a Abril- 2011).
Os produtos produzidos pelos integrantes do projeto variaram desde a tabulação dos dados
coletados nas expedições proveniente das fichas de campo (dados do clima, da paisagem e físico-químicos)
que posteriormente foram transformados em gráficos para a comparação dos dados e discussão da
validação ou não das hipóteses/situações-problemas levantados sobre a “saúde” dos corpos d'água, até
produtos indiretos provenientes das atividades anteriores e posteriores ao campo como fotografias,
produção textual, produção audiovisual, relatórios técnicos, apresentações orais, confecção de cartazes,
desenho a lupa, mapas mentais etc.

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Figura I: A- Localização da Barragem Jacarecica e do Açude Marcela no município de


Itabaiana/Sergipe; B- Mapa mental do percurso até chegar ao corpo d'água feito por um dos escolares; C-
Materiais utilizados nas expedições científicas estudantis; D- Ficha de campo de analise do clima; E- Ficha
de campo da observação da paisagem; F- Ficha de campo para a coleta dos dados Físico-Químicos;

RESUSTADOS E DISCUSSÕES
Como já esperado, ocorreu uma diminuição significativa entre o número de alunos que iniciaram o
projeto e o de concludentes, pois ao trabalhar com projetos é depositada uma parte maior de
responsabilidade aos adolescentes, esta precisa ser proveniente de valores pessoais, pois em nenhum
momento foram condicionadas sua participação à motivações relacionadas às notas ou algo do tipo. Outra
conclusão que parece simples, para entender a redução dos concludentes, esta relacionada às respostas
dadas pelos mesmos no inicio do projeto quanto à pergunta das expectativas de participação. A maioria
dos alunos respondeu ser uma oportunidade de conhecer lugares novos e passear, já que souberam que
teríamos visitas de campo e outra característica marcante nas repostas, foi à oportunidade do uso de
equipamentos não existentes na escola, presentes nos laboratórios da Universidade para a realização de
experimentos, o que indica que atividades como estas, não vem sendo desenvolvidas em suas escolas.
Quanto à hipótese gerada pelos integrantes do PIBID, no estudo do meio realizado, da existência de
diferentes olhares entre os alunos por conta de suas diferentes experiências de vida, justificando assim a
divisão dos alunos em dois grupos mistos: com alunos da zona rural e da zona urbana, ela foi confirmada
pelas observações ligadas ao conhecimento botânico e da agricultura local por parte dos alunos de zona
rural, destoantes das dos alunos da zona urbana que se fixaram em principio nas construções humanas,
como o caso de uma estátua presente na represa (BJ). Cabe destacar que a observação do aluno agricultor
Gabriel, fundamenta a prova clara da importância do conhecimento rural: ele mostrou em campo duas
árvores, uma denominada de Juremeira macho e a outra Juremeira Fêmea (gênero Mimosa). Quando
indagado do por quê da diferenciação de gênero para uma mesma espécie de planta, explicou que existem
dois motivos, a quantidade de espinhos: macho (mais espinhos) e Fêmea (menos espinhos) e as diferentes

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utilizações: a planta macho para a lenha e a planta fêmea, suas cinzas são utilizadas como cicatrizante para
ferimentos.
As Expedições Científicas para análise dos aspectos físico-químicos da água foram bastante
produtivas do ponto de vista didático, pois facilitou aproximação dos alunos com materiais e métodos
científicos tratados de forma tão superficial nas aulas teóricas na escola. Os próprios alunos nos relataram
como ficou mais fácil por participarem das atividades do projeto a aprendizagem de assuntos como o Ph
(potencial hidrogeniônico).
Quanto aos resultados provenientes das coletas dos dados acima, vários são os cruzamentos
possíveis para se trabalhar com as duas situações-problemas utilizadas no projeto. Mas como o foco
principal deste trabalho é mostrar a importância da aproximação dos escolares de métodos científico-
investigativos usados na resolução de problemas que envolvem o estudo do seu meio local, não nos cabe
fazer uma análise do ponto de vista técnico, tanto por que o espaço que nos resta para escrita seria
insuficiente, como também porque a maioria dos materiais utilizados faz parte de kits educativos, ou seja,
não possuem o rigor necessário para confecção de laudos técnicos.
No entanto segue descrição de uma das atividades teóricas (que ocorriam tanto antes como depois
das expedições científicas) que utilizou dois parâmetros físico-químicos: o nitrogênio e o fosfato. Tal
levantamento objetivava a comprovação que associações científico-investigativas representam ótimas
oportunidades para instigar atividades de ensino-aprendizagem junto ao público escolar.
Ao tabular os dados de nitrogênio e nitrato de uma das expedições científicas, os alunos
observaram que o nível de fosfato e nitrato presentes na água da BJ estava variando muito entre os pontos
de coleta de água, alem de estar mais alto que os dados das expedições anteriores. Na verdade antes
mesmo de tabular os dados, ainda em campo, sabendo que produtos como sabão e detergentes tinham os
elementos (Nitrato e fosfato) como ingredientes, os alunos elaboraram a hipótese ao observar a presença
de mulheres lavando roupa no dia da coleta no ponto um, a quantidade de fosfato seria maior neste ponto
do que nos outros dois pontos devido ao sabão utilizado na lavagem das roupas. Mas quando os alunos
observaram os dados, se surpreenderam, pois o ponto dois havia maior índice de fosfato. Logo os alunos
elaboraram outra hipótese, de que o vento seria o responsável de levar o sabão usado pelas lavadeiras até
o ponto dois, aumentando assim a quantidade de fósforo no referido ponto. Aproveitando dessa iniciativa,
os integrantes do PIBID elaboraram uma atividade teórica movida pelo tema: Os malefícios do deposito do
fósforo e do nitrogênio nos corpos d'água estudados, tendo como principal objetivo aproximar os alunos do
seu cotidiano ao refletir sobre o uso de detergentes e agrotóxicos e como estes produtos afetam a
dinâmica e a “saúde” dos corpos d'água estudados por meio de diferentes práticas como comparação dos
dados com os parâmetros estabelecidos pelo CONAMA, observação dos rótulos de sacos de adubos
agrícolas, exibição de filme e realização de experimento para mostrar a perda da tensão superficial da água
quando do depósito dos produtos já mencionados.
Como qualquer experiência nova, também tivemos alguns desafios no desenvolver do projeto. Uma
das dificuldades sentidas pelos alunos foi o preenchimento das fichas de campo, pois continham termos
que apesar de serem tratados antes da visita eram ainda muito abstratos para eles, reafirmando assim a
importância das atividades prévias-preparatórias para o estudo do meio.
Outra dificuldade foi à confusão inicial de que o estudo do meio fosse um simples passeio, em que
os alunos se “libertariam” das atividades escolares. Como Freinet e tantos outros acolhedores da sua
pedagogia, temos dificuldades de implementar essa forma de trabalho, já que, os alunos não foram
habituados a isto desde pequenos- afinal trabalhamos com alunos da 9º ano do ensino fundamental e 1º
ano do ensino médio, como o próprio educador apontava, a tarefa não seria fácil, sendo necessário certo
tempo para fazer com que os alunos se acostumassem com a nova forma de aprendizado. No entanto a
falta de receptividade não foi uma exclusividade dos alunos, já que nenhum professor da escola, e tão
pouco da Universidade, que foram convidados a participar, aderiram ao projeto. Os picos emocionais
também foram freqüentes nas atividades de campo, o entusiasmo dos alunos ao chegarem à área de
estudo e o posterior desapontamento por parte de alguns quando perceberam a quantidade de trabalho
que precisariam desempenhar, alem de reclamações relacionados ao sol e da falta de algum lugar para
sentar. Como o projeto durou um ano ficaram evidentes picos de entusiasmo. O momento que exemplifica
tal fato refere-se ao meio do projeto, em que se forma a famosa “barriga” dos projetos, ou seja, as
atividades passam a ser familiares e menos empolgantes para os alunos. Quanto à relevância social dos

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estudos do projeto aqui descritos, pretende-se fazer uso dos diferentes produtos: fotos, mapas mentais dos
alunos, tabelas e gráficos dos dados físico-químicos, para auxílio na composição de um laudo ambiental. A
função do laudo é dar credibilidade no tocante à preocupação da comunidade, representada pela
Universidade e escolas envolvidas, quanto a providencias necessárias para melhoria da qualidade da água
dos dois corpos d'água estudados, principalmente o AM.

CONCLUSÃO
No tocante aos resultados do projeto/pesquisa descritos, do ponto de vista científico que
comprovem a eficácia pedagógica das técnicas descritas, podemos citar algumas manifestações de
melhorias sutis nas habilidades e hábitos mentais dos alunos como: melhoria na expressão oral, expressão
textual, leitura, capacidade crítica de elaboração de hipóteses etc. Acreditamos na verdade que resultados
mais concisos na pesquisa em educação não são mensuráveis num intervalo tão curto de tempo. No
entanto, muitos outros trabalhos que utilizaram tais técnicas nos deram e nos darão confiança através de
seus bons resultados para que sigamos as práticas de projetos baseados na investigação do meio local, um
grande exemplo é o itinerário de Celestin Freinet (FREINET, 1979, apud FREINET 1965) que após um longo
amadurecimento, fruto de quarenta anos de experiências, tem suas técnicas invocadas até hoje por toda
parte onde se considera objetivamente a situação difícil da pedagogia contemporânea, e a necessidade
urgente de recuperar um atraso que se arrisca a comprometer para sempre a educação democrática.
Espera-se que as bases do projeto descritos neste trabalho sirvam como incentivo para os profissionais da
educação que desejam desenvolver atividades inovadoras como as apresentadas. Sendo o papel principal
da educação a formação do cidadão, o estudo do meio ao qual o indivíduo se insere não constitui um
complemento, mas uma importante ferramenta para o ensino.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Orientações curriculares para o ensino médio - Ciências da
natureza, matemática e suas tecnologias. volume 2.Brasília, DF : 2006.
BUCK INSTITUTE FOR EDUCATION. Aprendizagem baseada em Projetos: guia para professores de
ensino fundamental e médio. Tradução Daniel Bueno. 2. ed. rev. Porto Alegre: Artmed, 2008.
FREINET, Élise. O Itinerário de Célestin Freinet. Rio de Janeiro: Francisco Alves Editora S. A. 1979.
LEGAN, Lucia; A escola sustentável: eco-alfabetização pelo ambiente. 2ª edição. São Paulo:
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, Pirenópolis, GO: Ecocentro IPEC, 2007.
MARQUES, Paulo Henrique Carneiro. 1994. Expedição Científica Estudantil. Monografia de
graduação. Curitiba: Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Federal do Paraná, 1994.
PONTUSCHKA, Nídia Nacib (Org.). O Estudo do meio como trabalho integrador das práticas do
ensino. Boletim Paulista de Geografia, São Paulo, n.70, 1991.
SAMPAIO, Rosa Maria Whitaker Ferreira. Evolução histórica e atualidades. São Paulo: Scipione,
1989.
SAVIANE, Dermeval; Historia das idéias pedagógicas no Brasil. 2. Ed. Ver. E ampl. - Campinas, São
Paulo: Autores Associados, 2008.
SCHIEL, Dietrich; MASCARENHAS, Sérgio; VALEIRAS, Nora; SANTOS, Silvia. A .M. O estudo de Bacias
Hidrográficas uma estratégia para a educação ambiental. 2a edição. Ed. Rima, São Carlos - SP, 2003

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MODELAGEM DA PROPAGAÇÃO DA ESQUISTOSSOMOSE EM BOM


CONSELHO- PE
Gabryella Vasconcelos da SILVA
Universidade de Pernambuco - Campus Garanhuns (UPE – FACETEG). Graduanda do curso de Licenciatura em Matemática
gabryellavasconcelos@gmail.com
Pâmela Maciel SOBRAL
Universidade de Pernambuco - Campus Garanhuns (UPE – FACETEG). Graduanda do curso de Licenciatura em Matemática
pamela.nett@gmail.com
Willames de Albuquerque SOARES
Universidade de Pernambuco - Campus Garanhuns (UPE – FACETEG). Professor Doutor e Coordenador do curso de
Licenciatura em Matemática- UPE/FACETEG
willames.soares@upe.br

RESUMO
A água é de fundamental importância para a sobrevivência de todos os seres vivos, foi a partir dela
que surgiram às primeiras formas terrestres. Porém, atualmente, este recurso torna-se cada vez mais
escasso devido a sua má utilização, neste sentido, a diluição de esgotos se mostra como um dos seus piores
usos desenvolvendo diversas doenças infecciosas. Este trabalho objetivou verificar se o modelo
matemático de equações diferenciais ordinárias, denominado modelo SIR, proposto por Kermack e
McKendrick em 1927 apresenta-se viável para a determinação de doenças infecciosas, para tanto,
utilizamos o mesmo para determinar a propagação da esquistossomose na cidade de Bom Conselho-PE, no
período de 2002 a 2008, verificando, deste modo, à importância dos modelos matemáticos na
determinação de doenças infecciosas. Os dados utilizados no modelo foram obtidos anualmente pela
Secretaria Municipal de Saúde de Bom Conselho situada no agreste Pernambucano. Após a realização do
trabalho pode-se observar que, o modelo supracitado se apresenta apto para determinação da
esquistossomose, evidenciando a relevante importância dos modelos matemáticos na determinação da
estabilidade da doença e indicando as melhores estratégias de controle para doenças infecciosas.
Palavras-Chave: Modelo Matemático, Esquistossomose e Bom Conselho.

INTRODUÇÃO
A água é fundamental para o planeta. Nela, surgiram às primeiras formas de vida, e a partir dela,
originaram-se as formas terrestres, as quais somente conseguiram sobreviver na medida em que puderam
desenvolver mecanismos fisiológicos que lhes permitiram retirar água do meio e retê-la em seus próprios
organismos. Não é por acaso que as primeiras civilizações se instalaram em regiões onde havia solo
produtivo, e sempre às margens de rios onde havia disponibilidade de água essencial ao atendimento de
suas necessidades básicas. Desde o início, o homem se preocupou com os problemas relativos à qualidade
e à quantidade de água suficiente para seu consumo, embora sem grandes conhecimentos sobre a mesma
(FUNASA, 2006).
À medida que o mundo evolui e se globaliza, este recurso torna-se cada vez mais escasso devido a
sua má utilização, por exemplo, a diluição de esgotos se mostra como um dos seus piores usos. Vale
ressaltar que, a falta de serviços de saneamento e de abastecimento de água potável pode trazer grandes
problemas para muitos indivíduos, principalmente, os que residem em municípios de pequeno porte.
Dentre as inúmeras doenças causadas por veiculação hídrica destaca-se, a esquistossomose causada pelo
verme Schistosoma Mansoni. A propagação desta doença depende da existência de caramujos (hospedeiro
intermediário) e do contato do homem (hospedeiro definitivo) com águas que contenham caramujos
contaminados.
Uma maneira auxiliar no controle da propagação dessa e outras epidemiologias são os modelos
matemáticos, pois, entre as informações fornecidas destacam-se dois parâmetros epidemiológicos
relevantes: a força de infecção, caracterizada pela ocorrência de uma doença ou a taxa de como essa
doença se propaga na população, este parâmetro pode determinar não somente a dimensão da
propagação de uma doença infecciosa como também o esforço necessário para combatê-la; e a razão de

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reprodutibilidade basal, definida no caso de doenças infecciosas, é obtida em função de parâmetros


introduzidos no modelo, cujo objetivo é extinguir a doença (ALVARENGA, 2008).
A representação por meio de modelos matemáticos destrincha a rede de inter-relações, apontando
efeitos indiretos e características-chave do sistema, o que facilita o seu monitoramento e permite que se
façam prognósticos sobre o comportamento futuro do sistema ou sua reação a diferentes tipos de
perturbações (BARROS, 2007). Sendo assim, a utilização de modelos matemáticos para a verificação da
expansão da esquistossomose é um recurso viável para que se busquem possíveis soluções para o controle
desta doença. Além disso, outras medidas podem ser tomadas pelos órgãos públicos de saúde como, por
exemplo, a construção de sistemas de esgotos que tem como principal objetivo a não acumulação de água.
Os modelos mais recomendados para o estudo de macroparasitas são denominados modelos
estocásticos. Estes modelos são compostos com base na definição de uma variável aleatória representando
o que se quer modelar. Os modelos determinísticos por sua vez, por apresentarem médias, podem ser
relevantes caso uma população seja considerada suficientemente grande, determinando a estabilidade da
doença e indicando as melhores estratégias de controle (YANG & BARROSO, 1999). O objetivo deste
trabalho é verificar se o modelo matemático de equações diferenciais ordinárias, denominado modelo SIR,
proposto por Kermack e McKendrick em 1927 apresenta-se viável para a determinação de doenças
infecciosas, para tanto, utilizamos o mesmo para determinar a propagação da esquistossomose na cidade
de Bom Conselho-PE no período de 2002 a 2008, verificando, deste modo, à importância dos modelos
matemáticos na determinação de doenças infecciosas.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1- Área de estudo
A cidade de Bom Conselho possui uma área de 792,182 Km² e uma população estimada em 45.503
habitantes. Apresenta uma densidade demográfica de 57,44 habitantes por quilometro quadrado, é
formado pelos distritos Bom Conselho (sede), Barra do Brejo, Caldeirões, Lagoa de São Jose e Rainha Isabel
e pelos povoados logradouros dos Leões, Cachoeira do Pinto, e Igreja Nova. Possui clima ameno e de
transição, entre quente e úmido e semiárido quente, com temperatura média anual em torno de 24 graus,
está distante 282 km da capital Recife, fica no agreste meridional, com coordenadas geográficas latitude 9º
10’ 10 e longitude 36º 28’ 15, fazendo fronteira com o estado de Alagoas (IBGE, 2010).
A vegetação nativa é composta por caatinga hiperxerófila com trechos de Floresta Caducifólia
(MOREIRA & SENE, 2005). A base da economia gira em torno da pecuária de corte e leite que são as
atividades mais expressivas, junto com a produção artesanal, semi-artesanal e industrial de laticínios no
estado. Produz para o consumo da região, café, mandioca, macaxeira, inhame, batata-doce, jaca, caju,
manga, carambola, hortaliças e folhagens comercializadas em feira livre. Bom Conselho dispõe como
principais atrativos turísticos suas cachoeiras (do Pinto e da Rainha Isabel). A cachoeira do Pinto localiza-se
ao largo da vila Cachoeira do Pinto. Além da vila, é rodeado por uma vegetação de caatinga arbustiva
degredada e alguns arvoredos espaçados.

2.2- A Modelagem da Esquistossomose


A modelagem se trata de uma construção de modelos que são representações simplificadas e
abstratas de um fenômeno ou situação concreta, baseado em descrições formais de objetos, relações e
processos permitindo simulações de efeitos de alterações em fenômenos, possibilita por sua vez descrever
toda a dinâmica de evolução da esquistossomose, tornando-se um relevante auxiliador para que se possa
chegar ao seu controle ou erradicação.
A esquistossomose é uma endemia cuja ocorrência está intimamente ligada às condições de vida da
população, é desenvolvida no organismo pelas espécies do Schistosoma, sendo que na América encontra-se
apenas a espécie Schistosoma mansoni. São parasitas que tem no homem seu hospedeiro definitivo, mas
que necessita de caramujos de água doce como hospedeiros intermediários para desenvolver seu ciclo
evolutivo.
Para o desenvolvimento do Schistosoma mansoni, agente etiológico da doença, é necessário o
acasalamento de machos e fêmeas em vasos do sistema mesentérico. Após as posturas, os ovos do parasita
chegam à luz do intestino e são eliminados com as fezes ou pela urina. Em contato com a água, os ovos
libertam uma larva ciliada denominada miracídio que penetra no caramujo. (VRANJAC, 2007). As cercarias

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são larvas que infectam o homem, quando este entra em contato com ambientes hídricos de água doce,
desenvolvendo a doença. A quantidade de homens infectados é representada no modelo SIR por I.
Assim, resumidamente, a transmissão dessa doença se dá pela liberação de ovos através da urina
ou fezes do homem infectado, os ovos eliminados evoluem para larvas na água, estas se alojam e se
desenvolvem em caramujos. Estes últimos liberam a larva adulta, que ao permanecer na água contaminam
o homem. No sistema venoso humano, os parasitas se desenvolvem se reproduzem e eliminam ovos,
desenvolvendo um ciclo de reprodução (RIBEIRO, 2008).
Vale ressaltar que, recursos de saneamento básicos como: abastecimento de água tratada,
instalações sanitárias e destino adequado dos esgotos sanitários, são capazes de prevenir essa doença em
pequenas cidades ou bairros periféricos das cidades maiores. No entanto, obras de drenagem e construção
de um sistema de canalizações para águas pluviais se apresentam também necessários. Essas medidas são
exigidas pela urbanização, independentemente da ocorrência da esquistossomose.

2.2.1- Descrição do Modelo


Para que uma modelagem seja considerada relevante, é necessário o conhecimento do máximo de
informações daquilo que se deseja descrever. Após isso, escolhem-se as que são essenciais para o estudo
do fenômeno. Quanto mais informações forem inseridas num modelo, mais realístico ele se torna.
Portanto, existe a necessidade de se conhecer com antecedência o fenômeno a ser modelado, a fim de se
ter condições para escolher as informações essenciais e retirar do modelo (caso seja necessário) aquelas
menos relevantes, pelo menos num primeiro momento de análise.
Contudo, para que se possa determinar a propagação da esquistossomose em Bom
Conselho, é preciso, inicialmente, descrevermos o modelo matemático a ser aplicado delineando suas
particularidades. Só assim, será possível trabalhar em função dos dados característicos desta cidade.

2.2.2- Modelo de Kermack e McKendrick


Este modelo foi desenvolvido em 1927, e descreve a propagação das doenças infecciosas
de transmissão direta pessoa-a-pessoa e retrata a dinâmica de uma população dividida em três classes,
(figura 1), denominado Modelo SIR.

Susceptíveis

Infecção

Infectados

Morte ou Remoção

Removidos

Figura 1: Dinâmica da população.

A primeira classe corresponde a das pessoas susceptíveis, ou seja, aquelas que ainda não foram
contaminadas pela doença. A segunda classe caracteriza-se pelas pessoas infectadas, isto é, as que tiveram
contato com a doença e, por consequência, foram contaminadas. A última classe é a das pessoas
removidas, seja em casos de cura ou de óbito.

As taxas de transição entre as classes estão definidas abaixo:


: Taxa de mudança de suscetíveis;
: Taxa de mudança de infectados;

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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: Taxa de mudança de removidos.


Este modelo considera uma população constante, desprezando-se os nascimentos e as
migrações, assim temos:
N = S + I + R= cte (1)
Onde: N = total da população;
S = número de pessoas suscetíveis
I = número de pessoas infectadas;
R = número de pessoas removidas.
Esse modelo baseou-se em duas hipóteses: 1) a razão de variação da população susceptível é
proporcional ao número de encontros entre a população susceptível e infectada; e 2) a razão de variação
da população removida é proporcional à população infectada. Utilizando essas hipóteses de acordo com as
taxas de transição, temos:
Taxa de mudança de S = - Taxa de infecção.
Taxa de mudança de I = Taxa de infecção – taxa de remoção.
Taxa de mudança de R = Taxa de remoção.
Sabendo que a taxa de infecção = βSI, β = cte, resulta-se no seguinte sistema de equações
diferenciais:
= - βS I (2)
= βSI – yI (3)
= yI (4)

MATERIAIS E MÉTODOS
3.1- Métodos de Resolução Numérica de Equações Parciais
Para a resolução das equações diferenciais apresentadas no modelo SIR, será utilizado o método de
Runge-Kutta de 4ª ordem.
Analogamente, tendo-se que integrar o sistema de equações diferenciais:
y´ = f(x,y,z) (5)
z´ = g(x,y,z) (6)
t´ = h(x,y,z) (7)
A partir dos valores (xv, yv, zv) e para o intervalo h, calculam-se os valores:
k1 = hf (xv,yv,zv) (8)
k2= hf (xv + , yv + , zv + ) (9)
k3 = hf (xv + ,yv + , zv + (10)
k4= hf (xv + h, yv + k3, zv + l3) (11)
l1= hg (xv,yv,zv) (12)
l2= hg (xv + , yv + , zv + ) (13)
l3= hg (xv + ,yv + , zv + (14)
l4= hg (xv + h, yv + k3, zv + l3) (15)
m1= hh (xv,yv,zv) (16)
m2= hh (xv + , yv + , zv + ) (17)
m3= hh (xv + ,yv + , zv + (18)
m4= hh (xv + h, yv +k3, zv +l3) (19)

Com estes valores se calculam:


yv + 1 = yv+ (k1 + 2k2 + 2k3 + k4) (20)
zv + 1 = zv+ (l1 + 2l2 + 2l3 + l4) (21)
t v + 1 = t v+ (m1 + 2m2 + 2m3 + m4) (22)

João Pessoa, outubro de 2011


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3.2- Mapas da Propagação da Esquistossomose


Para determinarmos a propagação da esquistossomose serão construídos mapas a partir de
dados obtidos anualmente pela Secretaria de Saúde no município de Bom Conselho. Nestes dados estará
contida a quantidade de pessoas contaminadas pela esquistossomose em diferentes regiões do município
que foram discretizadas. A partir da análise destes mapas determinaremos como se sucedeu a propagação
da esquistossomose em Bom Conselho no período de 2002 a 2008.
Os gráficos tridimensionais serão construídos utilizando o SoftWareSurfer.

3.3- Aplicação do Modelo SIR (1927).


A partir das informações obtidas na Secretaria de Saúde de Bom Conselho como dados sobre a
quantidade de pessoas infectadas pela esquistossomose em cada região dessa cidade no período de 2002 a
2008 e o número total da população em cada ano, será possível calcular o número de indivíduos que se
apresentavam infectados ou não. Para tal procedimento será utilizado o intervalo de tempo (h) em que a
doença se propaga determinado pelos dias que compõe um ano, ou seja, 365 que serão convertidos em
horas e o número total de habitantes (N) determinados de acordo com número da população de cada
localidade que compõe Bom Conselho. Assim, será desenvolvida cada equação, sempre a seguinte com
dados da equação anterior. Deste modo, possibilitará apresentar os resultados correspondentes ao número
de indivíduos suscetíveis (y’), infectados (z’) e removidos (t’).

4- RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1- Propagação da Esquistossomose diante da Análise dos Mapas.
A propagação da esquistossomose na cidade de Bom Conselho no ano de 2002 apresentou um
maior número de pessoas infectadas na região de Rainha Isabel com 271 casos dos quais foram tratados
209, outra região com número significativo de pessoas infectadas foi a Vila Lagoa de São José com 58 casos,
onde 46 foram tratados nesse ano. Em contrapartida, houve regiões que apresentaram casos da doença em
uma menor quantidade tais como: Sítio Carneiro e o Sítio Capim Grosso que apresentaram 10 e 5 casos da
doença, respectivamente.
Na expansão desta doença no ano de 2003, observou-se claramente que a mesma foi se
propagando aos poucos, havendo uma leve expansão em regiões próximas as supracitadas. As regiões que
mostram um número de casos significativos são Bom Conselho-Trecho II com 95 casos e Bom Conselho
trecho IV com 55 casos, dos quais foram tratados 78 e 45 casos, respectivamente. Porém, em Rainha Isabel
houve um pequeno decréscimo apresentando agora 247 casos dos quais 231 foram tratados.
A propagação da esquistossomose correspondente ao ano de 2004 se mostrou um pouco menos
acentuada em relação ao ano anterior em determinadas regiões como em Rainha Isabel que apresenta
agora 207 casos com 201 tratados e em Bom Conselho- trecho II com 48 casos, onde todos os
contaminados foram tratados. Em Bom Conselho trecho IV não houve casos da doença. Isso nos mostra
que foram tomadas providências adequadas para combater a esquistossomose, obtendo resultados
satisfatórios.
No ano de 2005, houve um controle bastante significativo da doença, observou-se que as regiões
onde apresentavam menor concentração da mesma, se comparado ao ano de 2004, agora se mostram
totalmente erradicadas, restando apenas poucas regiões com expressivo número de casos, por exemplo,
Bom Conselho trecho III com 236 casos. Contudo, pode-se considerar que houve uma maior eficiência no
combate contra a esquistossomose.
Em 2006, houve um aumento considerável do número de casos da doença, o que mostra o número
pessoas infectadas em Bom Conselho trecho I, Bom Conselho trecho II e a vila de Caldeirões com 210, 116 e
94 casos, respectivamente. Observou-se então que, se comparado ao ano anterior, diversas regiões que
não apresentavam casos da doença agora se mostram de maneira significativa. Isso se evidencia, pois,
neste ano não foram tomadas nenhuma providência para controlar a expansão desta doença.
Durante 2007, a doença se propagou de maneira mais expressiva, apresentando com maior
número de casos Rainha Isabel, Bom Conselho- Trecho III e Bom Conselho- Trecho I com 264, 253 e 204
casos da doença, respectivamente. Estes dados se comparados ao ano de 2004, que apresentou para estas
mesmas regiões 207, 19 e 14 casos, respectivamente, observou-se que apesar de controlada em 2005 após

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


56

este ano a doença só aumentou o que prejudicou toda a população desta cidade. Vale ressaltar que, em
2007 foi o ano que apresentou o maior número de casos da doença nas regiões supracitadas, este ano
totalizou 1.283 casos da doença, se analisado os dados de 2002 à 2008.
Já em 2008, a doença volta a apresentar um novo controle, onde o maior número de pessoas
infectadas registrou-se em Bom Conselho-Trecho I com 117 casos da doença, logo em seguida destaca-se a
vila de Caldeirões e Rainha Isabel com 70 e 64 casos, respectivamente. Em relação ao ano anterior mostra-
se uma redução bastante significativa, visto que, no ano de 2008 totalizou-se apenas 508 casos da doença,
perdendo apenas para o ano de 2002 com 440 casos de pessoas infectadas no decorrer de todo o ano. Vale
salientar que, este foi o ano que apresentou o menor número de casos da doença em termos percentuais
correspondendo a apenas 2% do total da população contaminada.

4.2- Resultados da Modelagem


Por meio da resolução das equações propostas no modelo SIR (1927) foi possível demonstrar a
expansão da esquistossomose nos anos de 2002 a 2008 (figura 2), a partir do número de habitantes e a
quantidade de pessoas suscetíveis, infectadas e removidas, correspondente a cada ano. Vale ressaltar que,
em 2003 e 2004 a quantidade de pessoas infectada correspondeu a 3% do total da população em cada ano,
já em 2005 e 2006 obtiveram uma população contaminada correspondente a 4% em cada ano e 2007 e
2008 apresentaram 7 e 2% da população contaminada, respectivamente.
Observou-se que em 2002 foi o ano que apresentou o maior número de casos da doença em taxas
percentuais correspondente a 440 indivíduos infectados numa população de 4497 habitantes, o que
equivale a 10% deste total. Em 2008 foi o ano que menos apresentou casos da doença, foram 508 casos
numa população de 24749 habitantes, o que corresponde a apenas 2% deste total.

Figura 2: Propagação da Esquistossomose de 2002 a 2008.

João Pessoa, outubro de 2011


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Figura 3: Propagação da Esquistossomose mantendo as condições de 2002.

Caso fossem mantidas as condições do ano de 2002 (figura 3) que apresentou 701 casos da doença
numa população de 4497 de habitantes o que corresponde a 10% do total da população.
Independentemente do número de casos dos outros anos a estimativa de pessoas infectadas de 2003 a
2008 seria 701,116, 26, 7, 2 e 1 casos, respectivamente. Ou seja, mantendo-se o mesmo número de casos
apresentados em 2002 ao longo dos anos a doença chegaria a sua erradicação.

5- CONCLUSÕES
Os modelos matemáticos se mostram como um relevante instrumento capaz de subsidiar no
controle ou erradicação da esquistossomose, pois, auxiliam na compreensão de muitos fenômenos
biológicos. O modelo de Kermack e McKendrick, (1927) denominado modelo SIR se mostra um dos modelos
mais utilizados na representação de doenças infecciosas, ressaltando, que por meio deste modelo são
adquiridos parâmetros básicos para a construção conceitual de outros modelos.
Utilizamos tal modelo para determinar a expansão da esquistossomose na cidade de Bom
Conselho-PE, onde o mesmo determina três parâmetros fundamentais: taxa de população infectada, taxa
de população removida e taxa de população apta a adquirir a doença. Verificamos no decorrer da pesquisa,
que esta doença se mostrou em constantes oscilações no decorrer de todo o período analisado, onde a
mesma se apresentou em alguns anos controlada e em outros sem controle algum prejudicando
significativamente os habitantes da cidade de Bom Conselho. Fato este decorrente da falta de manejo dos
recursos hídricos existente nesta cidade, juntamente com a falta de saneamento básico e de orientação à
população.
Concluímos que, mesmo este modelo apresentando poucas características, por meio dele foi
possível chegar à determinação da expansão da esquistossomose no período de 2002 a 2008 da referida
cidade, tornando-o viável para na determinação de doenças infecciosas. Assim, este modelo, tal como
outros modelos epidemiológicos, pode ser utilizado como mais uma ferramenta auxiliar pelos órgãos
públicos de saúde com o propósito de obter dados que contribuam para desenvolver estratégias de
controle para doenças infecciosas minimizando ou até mesmo erradicando tais doenças.

6- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVARENGA, L. R., Modelagem de epidemias através de modelos baseados em indivíduos. Programa
de Pós-graduação em Engenharia Elétrica Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2008.
BARROS, A. M. R., Modelos matemáticos de equações diferenciais ordinárias aplicados à
epidemiologia, 2007, p. 62- 67.
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, MINISTÉRIO DA SAÚDE (FUNASA). Manual de saneamento. 3°
edição revisada, Brasília, 2006.
IBGE. Censo demográfico: Contagem da população. IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística, 2010. Disponível em: < www.ibge.gov.b>. Acesso em 02 de maio de 2011.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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MOREIRA, J. C.; SENE, J. C. E. Geografia: volume único. Ed. Scipione. São Paulo-SP, 2005, p. 410.
RIBEIRO, J. O. Modelos matemáticos para esquistossomose. Dissertação de mestrado, Universidade
Federal de Pernambuco Centro de Ciências Exatas e da Natureza Departamento de Matemática. Recife-PE,
2008.
VRANJAC, A., Vigilância Epidemiológica e Controle da Esquistossomose: Normas e instruções. Centro
de Vigilância epidemiológica (CVE), 2007.
YANG, H. M., BARROSO, S., Modelagem matemática para macroparasitas com ênfase em
esquistossomose, 1999. Disponível em: http://www.ime.unicamp.br/~biomat/bio9art_6.pdf. Acesso em:
15 de maio de 2011.

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AS CONDIÇÕES SOCIO AMBIENTAIS E SUA RELAÇÃO COM A DENGUE: UM


ESTUDO DE CASO NO BAIRRO NATAL, ITUIUTABA/MG
Hosana Maria Oliveira BARCELOS
Graduanda Curso de Graduação em Geografia/UFU
Glece Eurípedes da Silva ALVES
Graduanda Curso de Graduação em Geografia/UFU
Gerusa Gonçalves MOURA
Professora Curso de Graduação em Geografia/UFU
gerusa@pontal.ufu.br

RESUMO
O trabalho objetiva compreender as condições sociais, econômicas e ambientais do bairro Natal em
Ituiutaba/MG, relacionando-o com a proliferação de doenças, como a dengue, com o intuito de propor,
junto à comunidade local, tendo a escola como o centro difusor, ações intervencionistas que visem o
combate e a prevenção dessa doença no município. Para isso, os objetivos específicos propostos são
elaborar um banco de dados socioambiental do bairro Natal; propor projetos de intervenção que visem o
combate e a prevenção à doença; promover alternativas de inserção da família em atividades de cunho
socioambiental promovidas pela escola e pelos alunos, através da formação da “brigada-mirim” de
combate à Dengue. Para desenvolver esse trabalho, a metodologia empregada baseou-se no levantamento
e revisão bibliográfica sobre a temática em livros, periódicos, internet, jornais e outras fontes de pesquisa;
levantamento e avaliação de dados epidemiológicos dessa endemia junto ao setor de epidemiologia
municipal; levantamento das condições socioambientais do bairro Natal, em Ituiutaba (MG), por meio de
observação direta e aplicação de questionários/entrevistas com os moradores, desenvolvimento de
metodologias e ações para o controle e combate dessa endemia, por meio da mobilização da sociedade e
do Poder Público, tendo como centro de difusão de conhecimento, atitudes e comportamentos, as escolas
localizadas no bairro Natal.
Palavras-chaves: dengue, periferia, ambiente, condições sociais, escola.

INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, apesar das melhorias do Ministério da Saúde, várias das doenças tropicais, com
destaque para a doença de Chagas, Leishmaniose e a Dengue, continuam a causar vítimas, principalmente
em famílias de menor poder aquisitivo, que habitam o espaço rural ou os bairros periféricos das cidades,
onde a infraestrutura é insuficiente para atender à todos que neles habitam. E foi pensando nessa situação
que esse trabalho foi proposto com o objetivo de compreender as condições sociais, econômicas e
ambientais do bairro Natal em Ituiutaba/MG, relacionando-as com a proliferação de doenças como a
Dengue e, a partir desse diagnóstico, propor atividades de intervenção que pudessem contribuir com a
comunidade local, no sentido de evitar a proliferação da Dengue na cidade, cujos índices apresentam-se
altos.
Para desenvolver essas atividades, buscou-se, como parceira, a Escola Estadual Cônego Ângelo, que
se tornou o centro difusor das ações intervencionistas que visaram o combate e a prevenção dessa doença
no município. Para isso, os objetivos específicos propostos foram elaborar um banco de dados
socioambiental do bairro Natal em Ituiutaba/MG; propor, junto à comunidade escolar do bairro Natal
projetos de intervenção que visassem o combate e a prevenção da Dengue; promoção de alternativas de
inserção da família em atividades de cunho socioambiental promovidas pela escola e pelos alunos, a partir
da formação da “brigada mirim” de combate à Dengue.
A dengue é na atualidade uma significante e preocupante infecção viral e se faz um grave problema
para a saúde pública no mundo. É conceituada como uma doença tropical por ter maior incidência nos
trópicos e por estar intimamente relacionada às variáveis climáticas. Para Pessoa (1960), as doenças
tropicais são as moléstias de ocorrência frequente nos trópicos e de observação rara, quando ainda vistas,
nos países de clima temperado.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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As doenças tropicais são conceituadas por três principais correntes, a primeira dá destaque aos
aspectos do ambiente como temperatura e umidade; outra correlaciona as condições de
subdesenvolvimento e uma terceira relaciona os dois critérios, valorizando os aspectos geográficos
regionais.
A dengue manifesta-se como uma enfermidade infecciosa aguda caracterizada por um amplo
espectro clínico, que varia desde formas de infecção assintomática ou febre indiferenciada, até as graves
formas de hemorragia e/ou choque. Os casos típicos da dengue, segundo Pontes e Ruffino-Netto (1994),
podem ser agrupados em duas categorias principais: a) síndrome de febre da dengue ou dengue clássica;
febre hemorrágica da dengue ou dengue hemorrágica/síndrome de choque da dengue.
A dengue clássica caracteriza-se por uma febre alta de início abrupto, cefaleia intensa, dor
retrorbitária, dores articulares e musculares, prostação, acompanhada algumas vezes de exantema máculo-
papular, podendo ocorrer alguns fenômenos hemorrágicos sem maiores conseqüências (petéquia, epistaxe,
gengivorragia). A dengue hemorrágica/ síndrome de choque da dengue é caracterizada por um quadro de
febre alta, inicialmente indiferenciável do quadro dengue clássica, que se segue quando da normalização da
temperatura entre o terceiro e o quinto dia da enfermidade de fenômenos hemorrágicos (petéquia,
púrpura, equimose, epistaxe, sangramento gengival, sufuções hemorrágicas, hematêmese, melena) e/ou
insuficiência circulatória com ou sem choque hipovolêmico (PONTES, RUFFINO-NETTO, 1994).
Segundo Andrieus (2008 apud SILVA, 2002), o primeiro relato de caso de doença semelhante à
dengue foi registrado numa enciclopédia chinesa da Dinastia Chin (265 a 420 anos a.C). Por achar que a
doença estava associada a insetos, eles a denominaram de veneno da água. Vários autores divergem em
relação á primeira epidemia de dengue no mundo. Para alguns, os primeiros relatos sobre a dengue
ocorreram na Ilha de Java em 1779 e, posteriormente, em 1780, nos EUA. Outros autores acreditam que a
primeira epidemia da doença aconteceu em 1784 no continente Europeu e, outros, preferem acreditar que
o primeiro registro de casos aconteceu em Cuba, em 1782.
No século passado aconteceram várias epidemias, como na Austrália (1904 a 1905), no Panamá
(1904 a 1912), na África do Sul (1921), África Oriental (1925), Grécia (1927 a 1928), Filipinas (1956),
Tailândia (1958), Vietnã do Sul (1960), Cingapura (1926), Malásia (1963), Indonésia (1969) e Birmânia
(1970). (COSTA, 2001 apud SILVA, 2008, p.166).
Pontes e Ruffino-Neto (1994) afirmam que o Aedes aegypti provavelmente é originário da África, da
região da Etiópia, posteriormente introduzido na América no período de colonização por meio das
embarcações da qual se distribuiu para regiões tropicais e subtropicais do globo terrestre. O Aedes
albopictus, espécie com ampla distribuição no Sul da Ásia Oriental e no Pacífico do Sul, até a bem pouco
tempo não havia se introduzido de forma definitiva no Ocidente. Provavelmente, percorrendo as grandes
rotas do comércio internacional, em 1985 penetrou no Texas e, posteriormente, em vários outros estados
dos EUA. Em 1986, o Aedes albopictus foi encontrado também no Brasil, no Estado do Rio de Janeiro, em
Minas Gerais e Espírito Santo pelo intercâmbio marítimo entre o Japão no sistema portuário do Estado do
Espírito Santo, disseminando-se a partir daí para vários estados brasileiros.
O Aedes albopictus é uma espécie originalmente silvestre e possui capacidade de sobrevivência e
multiplicação em ambientes mais amplos do que aqueles restritos ao domicílio e peridomicílio. Tem boa
adaptação aos criadouros artificiais compartilhando locais com o Aedes aegypti. Porém, é bem adaptado
aos ambientes onde predominam os espaços abertos com vegetação nas áreas urbanas ou suburbanas, e
na zona rural com embricamento de folhas em orifícios de bambus entre outros (PONTES, RUFFINO-NETTO,
1994).
Segundo Câmara et all (2007, p.25), em uma pesquisa feita para a Revista da Sociedade Brasileira
de Medicina Tropical a partir de dados da Fundação Nacional de Saúde - FUNASA (1986 a 2003), observou-
se que “[...] as regiões Nordeste e Sudeste do Brasil apresentam 86% dos casos de dengue do país sendo
que, um número significativo menor concentra-se nas regiões Sul, Centro-Oeste e Norte”. Nesta pesquisa,
os autores analisaram o comportamento histórico da dengue segundo as regiões anteriormente citadas e
as relações entre casos notificados da doença, tamanho de populações e densidade vetorial, constatando-
se assim, que as regiões Sudeste e Nordeste comparadas às demais, apresentam uma porcentagem
bastante significativa nos casos da doença devido a predominância dos climas tropical úmido e quente e
úmido.

João Pessoa, outubro de 2011


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O autor ainda ressalta que se encontram hoje em 27 Estados da Federação, 3.794 municípios com
um total de 60% de notificações da doença na América. A incidência dos casos de dengue hemorrágica
ocorre com significância apesar das tentativas de controle, que por razões complexas, necessita de estudos
para uma melhor elucidação. O primeiro caso de dengue no Brasil consta no Período Colonial, em 1865, na
cidade de Recife, onde sete anos depois uma nova epidemia de dengue levou a morte 2.000 pessoas em
Salvador/BA.
O fato não é diferente na região do Pontal do Triangulo Mineiro, especificamente na cidade de
Ituiutaba/MG, onde o clima e as altas temperaturas favorecem a reprodução do mosquito transmissor. O
bairro Natal, escolhido como área de estudo sobre a incidência da dengue, localiza-se na área periférica do
município, sendo considerado um dos bairros mais antigos da cidade, onde se concentra, também, uma
população de nível socioeconômico baixo, que vivem em condições precárias, rodeadas por terrenos
baldios. Essas situações aliadas ao clima quente e úmido da região Sudeste fazem uma perfeita combinação
na proliferação do Aedes Aegypti, mosquito vetor da doença, como veremos a seguir.
A dengue é hoje objeto da maior campanha de saúde pública do Brasil, que se concentra no
controle do Aedes aegypti, vetor reconhecido como transmissor do vírus da dengue em nosso meio
(CAMARA, 2007). Segundo estimativas do IBGE (2010), aproximadamente 40% dos casos registrados de
dengue ocorrem em municípios com menos de 100.000 habitantes. O mosquito (Figura 1) distribui-se
amplamente nas regiões tropicais e subtropicais, pois se trata de um mosquito de hábitos essencialmente
domésticos. As condições domiciliares ou peridomiciliares ofertadas pelo modo de vida das populações
humanas proporcionam locais de ovoposição, pois a urbanização juntamente com a larga utilização de
modernos recipientes artificiais, determina crescente proliferação do mosquito.

Figura 1: Mosquito Aedes aegypti.


Fonte: http://dengue.org.br. Acesso em: agosto 2010.

Apesar das leis e determinações do uso do solo, o espaço é, na verdade, organizado por ações
particulares, que, selecionando áreas, realizando empreendimentos e induzindo a aplicação de
investimentos públicos, criam padrões diferenciados de organização espacial para as classes de alta e baixa
renda, que resultarão numa segregação espacial cada vez mais periférica, o que contribuirá efetivamente
para a incidência maior de doenças, como a Dengue, na periferia da cidade.

O bairro Natal em Ituiutaba/MG


Um dos motivos que justifica a escolha do bairro Natal como objeto de nossas pesquisas, é sua
localização na parte periférica da cidade, apresentando áreas que propiciam a presença do vetor da
dengue, devido às formas de ocupação e organização espacial, bem como seus aspectos sociais, financeiros
e culturais da população que nele habita.
O bairro Natal tem sua origem marcada pela Lei nº220, decretada pela Comarca e sancionada pelo
prefeito Davi Ribeiro de Gouveia, no ano de 1953, promovendo o loteamento em que foi aprovado o Plano
Diretor no artigo 2º parágrafo B; na então, denominada Vila Natal, Setor Sul da cidade, conforme o traçado
constante do plano de urbanização com loteamentos para residências (Mapa 1).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Mapa 1: Ituiutaba/MG: localização do bairro Natal.

De acordo com dados obtidos pelo Sr. José Tanús (Secretaria de Planejamento da Prefeitura
Municipal de Ituiutaba/MG), o bairro Natal possui, hoje, 2.092 imóveis, sendo que destes, 1.925 são
edificados e 168 são terrenos vagos. Devido ao seu acentuado crescimento urbano, a proporção maior
desses terrenos vagos encontram-se próximos a divisa com o córrego Pirapitinga, cujo curso d’água passa
por esta área do bairro de menor adensamento, propiciando, assim, uma característica de rural – urbano.
De acordo com o trabalho realizado, a partir do questionário socioambiental pode-se obter alguns
dados sobre a comunidade envolvida no projeto, dentre outros, as condições socioeconômicas, bem como
o tempo de moradia no bairro, a renda e o conhecimento que tem sobre a dengue e medidas a tomar para
evitá-la.
Foi possível observar que a maior parte do bairro é caracterizada por população de baixa renda, a
qual convive com situações desfavoráveis à sua saúde como a presença de terrenos baldios, lixo espalhado
a céu aberto, casas desprovidas de infraestrutura e com deficiência no saneamento básico. Devido a tais
problemas socioambientais nesta localidade, ocorre uma maior probabilidade de proliferação do Aedes
aegypti, facilitando também a dispersão do vetor.
Verificou-se que a população entrevistada é composta por pessoas de faixa etária de 26% até os 30
anos de idade; 34% com idade de 30 a 50 anos e 40% com mais de 50 anos, como demonstra o Gráfico 1,
que nos ajuda a analisar que no bairro há o predomínio de pessoas mais velhas, que nasceram e cresceram
no mesmo lugar, como pode ser comprovado pelo Gráfico 2, que representa o tempo de moradia da
população no bairro. E, como pode ser verificado no mesmo, 72% da população vive no bairro há mais de
10 anos; 20% vivem a menos de dez anos e apenas 8% vivem menos de um ano.

João Pessoa, outubro de 2011


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Gráfico 1 – Ituiutaba/MG: faixa etária dos moradores do Bairro Natal, 2010.


Fonte: Pesquisa direta, 2010.

Gráfico 2 – Ituiutaba/MG: tempo de moradia no Bairro Natal, 2010.


Fonte: Pesquisa direta, 2010.

Quanto à renda familiar foi observado também que 24% da população do bairro têm uma renda de
até um (1) salário mínimo; 66% até três salários mínimos; 8% de cinco a sete salários mínimos e 2% de sete
a dez salários mínimos (Gráfico 3). Com esses dados pode-se perceber que, em geral, a população do bairro
é considerada como de baixa renda, pois mais da metade da população no máximo 3 salários mínimos, que
não é suficiente para manter a família, que é composta, geralmente, por até quatro pessoas, como
demonstra o Gráfico 4.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


64

Gráfico 3 – Ituiutaba/MG: renda familiar dos moradores do Bairro Natal, 2010.


Fonte: Pesquisa direta, 2010.

Gráfico 4 – Ituiutaba/MG: nº pessoas por casa no Bairro Natal, 2010.


Fonte: Pesquisa direta, 2010.

Quanto à situação da moradia pôde-se observar que 63% das residências são próprias; 20% são
alugadas; 10% cedidas e apenas 5% financiadas (Gráfico 5), o que demonstra a fixação da população no
bairro há um tempo significativo, pois mais da metade dos moradores já são proprietários das residências
onde moram.

João Pessoa, outubro de 2011


65

Gráfico 5 – Ituiutaba/MG: condição da moradia no Bairro Natal, 2010.


Fonte: Pesquisa direta, 2010.

Foi possível ainda constatar que das atividades desenvolvidas pela população do bairro são
diversificadas, ou seja, cerca 24% da população são autônomos; 20% são donas de casa; 30% são
aposentados e 22% exercem diferentes atividades com renda fixa (domésticas, vendedores, torneiros,
motoristas, entre outros, o que acaba explicando a renda familiar média encontrada no bairro, como foi
demonstrado no Gráfico 3. Além disso, pode-se verificar que a escolaridade dos moradores também
justifica a ocupação profissional dos morados.
Analisando o grau de conhecimento dos moradores do bairro sobre a Dengue, averiguamos a partir
dos questionários que 60% dos entrevistados já contraíram ou possuem algum familiar que já foi infectado
pela Dengue; e os 40% restantes da população não tiveram contato com a doença, o que demonstra um
alto grau de infestação do vetor no bairro e reforça ainda mais a importância de um trabalho de
conscientização da população sobre a Dengue.
Quanto ao nível de conhecimento da população a respeito da doença, grande parte da população
demonstrou bom conhecimento sobre a mesma, principalmente quanto aos meios de prevenção
necessários, os sintomas que ela apresenta e as medidas a serem tomadas em casos de infecção.

As ações intervencionistas: procedimentos e resultados


A base metodológica deste trabalho baseou-se em pesquisa qualitativa, utilizando o método da
pesquisa-ação participante, que objetivou a inserção e participação direta da comunidade nas pesquisas,
especialmente os alunos da Escola Estadual Cônego Ângelo, localizada no bairro Natal, em Ituiutaba/MG.
A primeira etapa deste trabalho consistiu em revisão bibliográfica sobre o assunto, com leituras de
autores que trabalham com a temática e que realizaram trabalhos semelhantes ao proposto pelo projeto.
Já com um embasamento teórico acerca da temática, a segunda etapa de desenvolvimento deste trabalho
pautou-se em visitas in loco para elaborar o diagnóstico socioambiental do bairro Natal. A partir desta
identificação, foi selecionada a escola do bairro (Figura 2) para o desenvolvimento da pesquisa-ação.
Após o reconhecimento da área de estudo, os pesquisadores voltaram ao local para aplicar um
questionário afim de obter alguns dados sobre a população, tais como as condições socioeconômicas (faixa
etária, tempo de moradia, renda, escolaridade, ocupação profissional, número de moradores por casa),
bem como o entendimento/conhecimento da população local sobre a Dengue e as medidas a tomar para
prevenir a mesma.
A quarta etapa consistiu na identificação e aplicação de ações de mobilização da comunidade local
para o controle e combate à Dengue. Para isso, foram ministradas palestras sobre a Dengue (doença,
transmissão, vetores, tratamento, etc.) para os alunos da Escola Estadual Cônego Ângelo. Além das
palestras, alguns alunos foram selecionados e treinados para atuarem como “Agentes Ambientais Mirins”,
compondo a “Brigada Mirim de Combate à Dengue”, em que contamos com o apoio dos técnicos da

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


66

Secretaria Municipal de Saúde, que os ajudaram a criar critérios para avaliar as áreas residenciais e
identificar os possíveis focos do mosquito transmissor no bairro.
Após o treinamento os agentes mirins foram às ruas, acompanhados pelos Agentes do Centro de
Zoonoses e os executores do projeto, visitar as residências, observando as condições dos quintais e
orientando os moradores sobre os cuidados para a prevenção o foco do mosquito Aedes Aegypti e, com
isso evitar a Dengue.
A etapa seguinte constituiu na confecção de mosquitéricas pelos alunos da Escola Estadual Cônego
Ângelo, que consiste em uma armadilha para capturar o ovo do mosquito. A mosquitérica é utilizada como
local de reprodução do mosquito adulto, que deposita os ovos nas laterais da armadilha, que devido a
diferença de pressão entre o dia e a noite, a água percorre pelas paredes da armadilha transportando os
ovos para baixo do tule, que após se transformarem em mosquito ficam aprisionados abaixo do tule,
evitando assim o contato com o meio.
A última etapa contou com a realização de uma palestra envolvendo os Agentes de Saúde do
Centro de Zoonose de Ituiutaba, os executores do projeto e toda a equipe escolar. Nesta palestra, os alunos
foram indagados sobre o que aprenderam em relação a doença e seu vetor, durante as atividades
efetuadas na escola. Os agentes mirins participaram da palestra, relatando aos demais colegas a
experiência que vivenciaram no campo, contribuindo para o enriquecimento do aprendizado dos demais
alunos. Na mesma ocasião, foi produzido um vídeo com todas as etapas das atividades desenvolvidas, que
foram repassados para a Secretaria de Educação para a divulgação do trabalho.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados com o desenvolvimento deste projeto foram positivos, pois além de permitir o
levantamento de dados socioambiental do bairro Natal, pode-se observar que para se ter eficácia quanto
ao controle e prevenção do vírus da Dengue, necessita-se de esclarecimentos para que o vetor não se
prolifere e para que isso aconteça é preciso uma ação conjunta da comunidade local, que a partir do
momento que conseguir reconhecer que as más condições de moradias, os hábitos incorretos e demais
problemas em relação ao meio ambiente devem ser combatidos e, que o trabalho para isso é intenso e
participativo e; esperamos que o desenvolvimento desse trabalho tenha contribuído para que a população
escolhida para o desenvolvimento do trabalho tenha adquirido essa consciência.
No entanto, é importante ressaltar que esses resultados só foram possíveis a partir da participação
da comunidade e das autoridades locais. Dentre os nossos parceiros, tivemos o apoio do Pároco (Padre
João Clemente) da Igreja Nossa Senhora Aparecida, que nos disponibilizou o barracão da Paróquia para a
realização de uma palestra de esclarecimento sobre o mosquito Aedes aegypti, sua prevenção e os
cuidados sobre o vírus da dengue. A parceria com a Escola Cônego Ângelo, que tem como diretora a Sra.
Maria da Luz e a Supervisora Betânia, forma de suma importância, pois sem a participação dos alunos (seja
como ouvintes ou participantes da Brigada-Mirin de Combate à Dengue) e o apoio na organização das
atividades o trabalho não teria alcançado os resultados esperados. Outra parceria importante foi a
estabelecido com a coordenadora do Centro de Controle Zoonoses, Sra. Rosália, que disponibilizando os
agentes do órgão e alguns microscópicos para serem utilizados nas palestras da escola.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Guia de vigilância epidemiológica.
Brasília: Ministério da Saúde, 2002.
______. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Diretoria Técnica de Gestão.
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Paulo, 2001.
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COSTA, M. da C. N.; TEIXEIRA, M. da G. L. C. A concepção de “espaço” na investigação
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João Pessoa, outubro de 2011


67

LEFEVRE, Fernando et al. Representações sociais sobre relações entre vasos de plantas e o vetor da
dengue. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v.38, n.3, jun. 2004.
MENDONÇA, F. A.; SOUZA, A. V.; DUTRA, D. A. Saúde Pública, Urbanização e Dengue no Brasil.
Sociedade & Natureza, Uberlândia, v.21, n.3, dez. 2009.
MOURA, Gerusa Gonçalves. Imagens e representações da periferia de Uberlândia (MG): um estudo
de caso do Setor Oeste. 2003. 317f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universidade Federal de
Uberlândia, Uberlândia, 2003.
OLIVEIRA, B. S. Ituiutaba (MG) na rede urbana tijucana: (re) configuração sócio-espaciais no período
de 1950 a 2000. 205 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universidade Federal de Uberlândia,
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PEDROSO, L. B.; MOURA, G. G. Diagnóstico epidemiológico de dengue no município de Ituiutaba-
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do Brasil: aspectos epidemiológicos. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v.28, n.3, jun. 1994.
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erradicação às políticas de controle. Revista Hygeia. Uberlândia, v.3, n.6, jun. 2008.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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VIGILÂNCIA AMBIENTAL E A IMPORTÂNCIA DO MONITORAMENTO DE


MOSQUITOS DE IMPORTÂNCIA DE SAÚDE PÚBLICA3
Suélem Marques OLIVEIRA
Graduanda em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia
suelemarques@live.com
Igor Antônio SILVA
Graduando em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia
igorgeoufu@hotmail.com

RESUMO
Dentre a fauna entomológica de interesse médico-sanitário, os mais importantes pelas endemias
que estabelecem no Brasil, destacam-se os dípteros hematófagos flebotomíneos e culicídeos. É com esses
que o Laboratório de Geografia Médica e Vigilância Ambiental em Saúde trabalha, realizando capturas,
identificando as espécies e relacionado-as aos nichos ecológicos. Este é realizado em um empreendimento
localizado no estado de Goiás, e atinge três municípios: Catalão, Campo Alegre de Goiás e Davinópolis. O
monitoramento tem como objetivo identificar alterações na distribuição e densidade da fauna
entomológica que poderão ser provocadas pelas modificações ambientais relacionadas com a construção
da barragem do AHE Serra do Facão. As capturas noturnas foram feitas por meio de instalação de uma
armadilha tipo Shannon com lâmpada de 100 w ligadas à bateria de 12 volts e 4 CDC (Center on Disease
Control) no seu entorno, num raio máximo de 50m uma da outra. Elas foram realizadas num período de 3
horas, das 18 às 21h. As preocupações deste projeto de controle de vetores é com o monitoramento das
espécies potencialmente transmissoras de leishmanioses, malária, febre amarela e filarioses. A pesquisa foi
realizada nos meses de Janeiro a Junho de 2011. No total foram capturados 228 mosquistos, dentre eles 42
anófeles, 12 flebótomos e 174 culex. O gênero de mosquito que apresentou maior número de espécies
capturadas e identificadas foram os Culex, com 13 espécies, seguido respectivamente pelos Anófeles com 2
espécies e os Flebótomos com 1 espécie identificada. Em relação ao sexo, em todos os gêneros
predominaram mosquitos fêmeas.
Palavras – Chaves: Vigilância; monitoramento; mosquitos; saúde ambiental; Goiás.

INTRODUÇÃO
Dentre a fauna entomológica de interesse médico-sanitário, os mais importantes pelas endemias
que estabelecem no Brasil, destacam-se os triatomíneos e os dípteros hematófagos flebotomíneos e
culicídeos. É com esses que o Projeto de Controle de Vetores trabalha, realizando capturas, identificando as
espécies e relacionado-as aos nichos ecológicos. O monitoramento tem como objetivo identificar
alterações na distribuição e densidade da fauna entomológica que poderão ser provocadas pelas
modificações ambientais relacionadas com a construção da barragem do AHE Serra do Facão.
Este empreendimento foi construído no estado de Goiás e afetará os municípios de Catalão e
Campo Alegre de Goiás. Decidiu-se então concentrar as atividades de Vigilância Epidemiológica nestes dois
municípios e também em Davinópolis, município este que contempla o rio São Marcos. As áreas para
monitoramento de vetores foram definidas a partir de critérios ambientais e de proteção epidemiológica das
populações na Área diretamente afetada pelo AHE Serra do Facão.
Como critérios ambientais utilizamos os seguintes parâmetros:
Presença de nichos ecológicos relacionados à mata;
Presença de nichos ecológicos relacionados ao cerrado;
Presença de nichos ecológicos relacionados à ambientes antropizados.
Como critério de proteção epidemiológica das populações utilizou o seguinte parâmetros:
Locais de maiores densidade demográfica.

3
Esta pesquisa é realizada pelo Laboratório de Geografia Médica e Vigilância Ambiental em Saúde da
Universidade Federal de Uberlândia. Ambos os alunos são orientados pelo Professor Paulo Cezar Mendes e Samuel do
Carmo Lima.

João Pessoa, outubro de 2011


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Um critério secundário utilizado foi:


localização de pontos de captura de mosquitos nas margens do rio e na cota máxima de inundação
do reservatório da Usina Hidrelétrica, para que o monitoramento possa ter continuidade, após o
enchimento do reservatório.

Os principais mosquitos monitorados são os: flebotomíneos, anófeles e os outros culicídeos.


Os flebotomíneos são os vetores das leishmanioses. As leishmanioses acometem todos os anos
cerca de dois milhões de pessoas no mundo e ainda assim, é uma das doenças negligenciadas, ignoradas
pelas grandes indústrias farmacêuticas, por que atingem majoritariamente as populações menos
favorecidas. As leishmanioses são causadas por protozoários do gênero Leishmania, com dois tipos principais:
leishmaniose tegumentar, que ataca a pele e a mucosa, e a leishmaniose visceral (ou Calazar), que ataca as
vísceras (fígado, o baço, os gânglios linfáticos e a medula óssea), a mais letal.
O parasita é transmitido ao homem pelos flebotomíneos, popularmente conhecido como
mosquito-pólvora, palha, birigui, asa branca. A transmissão acontece quando uma fêmea infectada passa o
protozoário a uma vítima saudável, enquanto se alimenta de seu sangue. Além do homem, vários
mamíferos silvestres (como o gambá, alguns roedores, dentre outros) e domésticos (cão, cavalo etc.)
também podem ser contaminados, e se tornam hospedeiros. Alguns desses hospedeiros, por desempenhar
papel importante na manutenção do parasita na natureza são então chamados de reservatórios. O cão
doméstico é considerado o reservatório epidemiologicamente mais importante para a leishmaniose visceral
americana.
Os Culicídeos são popularmente conhecido como “pernilongo” e podem ser vetores de muitas
doenças, dentre elas a malária (anópheles), a febre amarela (haemagogus) e as filarioses (Culex, Anopheles
ou Aedes).
A malária é uma doença infecciosa aguda causada por protozoários do gênero Plasmodium,
transmitidos pela picada do mosquito Anopheles, da família Culicidae, gênero Anopheles, sendo a principal
espécie o Anopheles darling. São conhecidos popularmente como “carapanã”, “muriçoca”, “sovela”,
“mosquito-prego”, “bicuda”. A doença se manifesta com um quadro febril, com calafrios, suores e cefaléia.
O Brasil registrou 545.696 casos de malária em 2006, dado este concentrado quase exclusivamente na
região Amazônica (99,7%). Em outras regiões podem ocorrer surtos, relacionados com a chegada de
doentes em áreas que possuem o mosquito.
A Filariose ou elefantíase é a doença causada pelos parasitas nematóides Wuchereria bancrofti,
comumente chamados filária, que se alojam nos vasos linfáticos, causando linfedema. Os principais
acometimentos das filirioses são inchaço e aumento dos membros, geralmente das pernas (elefantíase),
hidrocela: inchaço do escroto (lesão genital) e dor e inchaço das glândulas linfáticas, freqüentemente com
náuseas, febre e vômitos (infecção linfática). Esta doença é também conhecida como elefantíase, devido ao
aspecto de perna de elefante do paciente com esta doença. O mosquito transmissor é o Culex
quinquefasciatus. Estima-se que no Brasil haja cerca de 50 mil pessoas são portadores de filarososes e 3
milhões estejam em áreas consideradas de risco (BRASIL 2005).
A febre amarela é uma doença causada por um vírus do gênero Flavivirus, da família Flaviviridae. Os
sintomas da doença são febre alta, dor de cabeça, vômito e insuficiência dos rins e do fígado. Se o paciente
se recupera fica imune. Durante as epidemias, os sintomas tendem a ser mais severos, com icterícia e
hemorragias; até metade das pessoas infectadas podem morrer. Não há nenhum tratamento específico,
com exceção de uma boa assistência médica. A vacinação é a medida eficaz de proteção, com validade de
dez anos, e, além disso, as pessoas devem se proteger contra as picadas dos mosquitos.
É transmitida através da picada de um mosquito infectado ou de um mosquito que transporta o
sangue infectado de um humano ou de um macaco. Desde 1942, o Brasil não registra nenhum caso de
febre amarela urbana. No ciclo urbano, a transmissão se daria pelo conhecido Aedes aegypti, transmissor
da dengue. Os casos recentes de febre amarela ocorridos no Brasil foram de febre amarela silvestre, ou
seja, de transmissão no meio rural, cujo vetor são mosquitos do gênero Haemagogus (H. janthinomys e
H.albomaculatus) e os do gênero Sabethes, sendo a espécie H. janthinomys a que mais se destaca na
manutenção do vírus (BRASIL 1999).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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MÉTODOS E MATERIAIS UTILIZADOS


Após estudos preliminares sobre a imagem de satélite da área, reuniões de discussão dos critérios
para a definição dos locais de monitoramento de vetores, no Laboratório de Geografia Médica da UFU e no
SEFAC, com a equipe de Fauna e Flora, os seis (6) pontos de amostragem ficaram assim definidos:

FIGURA 1: Mapa de localização dos pontos de captura no AHE Serra do Facão, Goiás
Fonte: COSTA, I.M., junho, 2009.

Canteiro de obras do AHE Serra do Facão - DAVINÓPOLIS


218309 / 8002223
Comunidade Pires Belo - CATALÃO
204820 / 8017000
Margem do rio próximo à Ponte dos Carapinas - CATALÃO
216273 / 8018201

Margem do rio próximo à Balsa Porto Pacheco - CAMPO ALEGRE DE GOIÁS

João Pessoa, outubro de 2011


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222032 / 8033774
Margem do rio próximo à Balsa Manoel Souto - CAMPO ALEGRE DE GOIÁS
228551 / 8062983
Comunidade Varão - DAVINÓPOLIS
223207 / 8001421
Cada um dos seis pontos de captura são monitorados uma vez a cada dois meses. Deste modo, as
capturas nos meses impares são feitas nos pontos 1, 2 e 3, e nos meses pares 4, 5 e 6. São utilizadas
armadilhas CDC luminosas (automáticas) e armadilha tipo SHANNON. As capturas se iniciam ao entardecer,
ao aparecimento do primeiro mosquito de importância sanitária e prossegue por três períodos horários. A
armadilha denominada Shannon (figura 2) é instalada próximo a mata e no interior é colocado uma lâmpada de
100w ligada a bateria de 12 volts.

FIGURA 2: Armadilha Shannon utilizada nas capturas


Fonte: Laboratório de Geografia Médica e Vigilância Ambiental em Saúde – UFU

FIGURA 3: Capturar de Castro utilizado para prender os insetos.


Fonte: Laboratório de Geografia Médica e Vigilância Ambiental em Saúde – UFU

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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FIGURA 4: Armadilha CDC instalada em locais com presença de vegetação, água ou animais.
Fonte: Laboratório de Geografia Médica e Vigilância Ambiental em Saúde - UFU

Utilizamos a armadilha luminosa do tipo CDC (Center on Disease Control), também alimentada com
baterias de 12 Volts (cf. Figura 4). Estas são de captura automática. Instalam-se 4 CDCs num raio distante
cerca de 30 metros da armadilha de Shannon e com a mesma distância uma das outras, para que a influência da
luminosidade de cada uma não interfira uma nas outras.
As medidas de temperatura e umidade relativa do ar foram realizadas a cada hora, utilizando-se um
aparelho termo-higrômetro com termômetros de bulbo seco e úmido. A velocidade dos ventos era
observada utilizando-se a escala de ventos de Beaufort. Em cada ponto é feito uma descrição das condições
climáticas, de vegetação e dos problemas existentes e causados por causa da construção da barragem.
Quando há alteração quanto ao nível da água, destruição de residências e dispersão de animais todas essas
são registradas em fotografias.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os resultados apresentados neste trabalho referem-se ao monitoramento realizado entre os meses
de janeiro e junho de 2011. Os dados de captura estão dispostos por ponto de coleta. No total foram
capturados 228 mosquitos, sendo, 42 do gênero Anófeles, 12 Flebótomos e 174 Culex. O gênero de
mosquito que apresentou maior número de espécies capturadas e identificadas foram os Culex, com 13
espécies, seguido respectivamente pelos Anófeles com 2 espécies e os Flebótomos com 1 espécie
identificada. Em relação ao sexo, em todos os gêneros predominaram mosquitos fêmeas. Os anófeles
somam um total de 42 sendo todos fêmeas, os flebótomos são no total 12 sendo 6 machos e 6 fêmeas e
174 Culex sendo 14 machos e 160 fêmeas.

GÊNERO GÊNERO GÊNERO


LOCAL DE
CAPTURA Anópheles Flebótomos/Lutzomyia Culex
ESPÉCIE M. F. T. ESPÉCIE M. F. T. ESPÉCIE MFT
...
- - - - - - - - Culex carrollia - 11
- - - - - - - - Culex - 11
melanoconion
- - - - - - - - Haemagogus - 11
Ponto1: Canteiro
spegazzini
de Obras do AHE
Serra do Facão - - - - - - - - Culex sp - 22

João Pessoa, outubro de 2011


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- - - - - - - - Culex lutzia - 11
TOTAL 0 0 0 TOTAL 0 0 0 TOTAL 066
Anópheles darlingi - 12 12 - - - - Culex anoedioporpa - 55

Ponto2: Ponte Anópheles sp - 11 11 - - - - Culex carrollia - 33


dos Carapinas, - - - - - - - - Culex aedinus - 11
margem
esquerda do rio - - - - - - - - Culex sp - 44

TOTAL 0 23 23 TOTAL 0 0 0 TOTAL 011


33
Anópheles darlingi - 1 1 - - - - Culex carrollia 66
Anópheles sp - 6 6 - - - - Culex coronator 33
Ponto3: Ponte - - - - - - - - Haemagogus 11
dos Carapinas, spegazzini
acima da cota de - - - - - - - - Culex sp 344
inundação 14
- - - - - - - - Culex nigripalpus - 11

- - - - - - Culex 235
melanoconion
- - - - - - - Culex anoedioporpa - 22
Culex lutzia - 66
TOTAL 0 7 7 TOTAL 0 0 0 TOTAL 566
38
- - - - - - - - - ---
Ponto 4: Balsa - - - - - - - - - ---
Porto Pacheco. TOTAL TOTAL TOTAL
Anópheles darlingi - 2 2 - - - - Haemagogus - 11
spegazzini
Ponto 5: Faz. Anópheles sp - 1 1 - - - - Culex sp - 11
Rancharia 00
(Embaúba) - - - - - - - - Culex - 11
melanoconion
- - - - - - - - Culex - 11
quinquefasciatus
TOTAL 0 3 3 TOTAL TOTAL 011
33
Anópheles darlingi - 4 4 Lutzomyia neivai 6 6 12 Culex coronator - 11
Ponto 6: Balsa Anópheles sp - 5 5 - - - - Culex sp 934
Manoel Souto, 43
margem direita - - - - - - - - Culex anoedioporpa - 22
- - - - - - - - Culex - 88
quinquefasciatus
- - - - - - - - Culex lutzia - 11
- - - - - - - - Culex - 55
melanoconion
- - - - - - - - Culex tinolestes - 44
- - - - - - - - Culex aedinus - 22
- - - - - - - - Culex carrollia - 66
- - - - - - - - Haemagogus sp - 11
- - - - - - - - Haemagogus - 11
tropicalis

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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TOTAL 0 9 9 TOTAL 6 6 12 TOTAL 967


65
6 MESES TOTAL GERAL 0 42 42 TOTAL GERAL 6 6 12 TOTAL GERAL 111
467
04
NÚMERO DE MOSQUITOS CAPTURADOS DE JAN/11 A JUN/11 = 228
Fonte: Laboratório de Geografia Médica e Vigilância Ambiental em Saúde / UFU -2011

Gráfico 1: Serra do Facão: Anófeles, Flebótomos e Culex capturados no período de Janeiro a Julho
de 2011.
Fonte: Laboratório de Geografia Médica e Vigilância Ambiental em Saúde / UFU - 2011

A análise do número de mosquitos capturados demonstra que os culex atingiram os maiores


índices de captura (76%). As anófeles e flebótomos atingiram respectivamente 19% e 5% (Gráf.1). Apenas
no ponto 4 não houve captura de mosquitos e em todos os outros pontos houve uma quantidade
significativa de coleta.

João Pessoa, outubro de 2011


75

Gráfico 2: Serra do Facão: Espécies de Culex capturados no período de Janeiro a Julho de 2011.
Fonte: Laboratório de Geografia Médica e Vigilância Ambiental em Saúde / UFU - 2011

Neste gráfico temos representado a quantidade de culicídeos capturados nos primeiros seis meses
deste ano. Destacamos que houve 103 unidades de Culex sp, 16 unidades de C. carrollia e 12 C.
melanoconion. A maioria destes foram capturados nos pontos 3 ( Local de área íngreme, em posição
topográfica imediatamente acima da cota máxima de inundação do reservatório) e 6 (Localizado na margem do
rio São Marcos, onde a mata ciliar apresenta-se alterada, com ocorrência de mata secundária composta de
vegetação arbustiva e arbórea. O solo apresenta uma espessa cobertura de matéria orgânica, composta
principalmente por folhas e ramagens em processo de decomposição).
No ponto 4 podemos observar que não houve captura. Esse local sofre constantemente influência
antrópica. Como está área é de fácil acesso a margem da represa algumas pessoas vão para pescar, alocam
barcos e canoas e ficam longos períodos naquela área. Quando vão embora, ateam fogo por toda a área e
depositam grande quantidade de lixo em buracos. Este cenário devido a grande movimentação não é um local
propicio a proliferação dos insetos.

Figura 5: A esquerda estrutura montado pelos visitantes e no lado direito lixo queimado após
deixarem o local. Fonte: Laboratório de Geografia Médica e Vigilância Ambiental em Saúde – UFU/2011

Vale ainda salientar que o Ponto 1 é que apresenta menor número de mosquitos capturados.
Sendo atribuído como possíveis fatores a intensa movimentação de veículos e máquinas, a iluminação dos
postes de luz e refletores, a poeira e a fumaça gerada pelo intenso transito e, por fim a grandes alterações
ambientais na área de vegetação no entorno da barragem.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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CONSIDERAÇÕES FINAIS
As preocupações deste projeto de controle de vetores com o monitoramento das espécies
potencialmente transmissoras de leishmanioses, malária, febre amarela, filarioses, não são de modo
nenhum, desnecessárias. As alterações ambientais que já ocorrem, desde muito tempo na Área
Diretamente Afetada pelo AHE Serra do Facão, e as que estão sendo produzidas pelo empreendimento
estão desestabilizando a fauna entomológica.
Consideramos que as metodologias utilizadas para o monitoramento dos vetores são sensíveis para
identificar rapidamente as alterações ambientais e modificações na distribuição e densidade das espécies
monitoradas, o que é de fundamental importância para o controle do aumento da incidência das doenças
endêmicas e mesmo prevenir surtos epidêmicos.
O Laboratório de Geografia Médica e Vigilância Ambiental em Saúde com a finalidade de
complementar a pesquisa busca parcerias com centros de pesquisas capazes de detectar a infectividade
dos insetos através de procedimentos como ELISA. Nosso objetivo é fechar nosso estudo com o máximo de
informações possíveis para assegurar aquela população condições seguras de bem-estar.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Manual de vigilância epidemiológica da febre amarela. Brasília: Ministério da
Saúde/Fundação Nacional de Saúde, 1999.
BRASIL. Doenças infecciosas e parasitárias: guia de bolso. 6. ed. rev. Brasília. Ministério da Saúde.
Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica, 2005, 320 p.
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Brasília. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, 2005, 816 p.
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MARTINS, F.; SILVA, I. G. da; BEZERRA, W.A.; MACIEL, I.J.; SILVA, H.H.G.da; LIMA, C.G.; CANTUÁRIA,
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Psychodidae) em áreas com transmissão de leishmaniose, no Estado de Goiás. Rev. patol. Trop 31(2):211-
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OLIVEIRA, A.W.S. de; SILVA, I.G. da Distribuição geográfica e indicadores entomológicos de
triatomíneos sinantrópicos capturados no Estado de Goiás. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina
Tropical 40(2):204-208, 2007

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ÁLGEBRA DE MAPAS NA ECOEPIDEMIOLOGIA DA ESQUISTOSSOMOSE


MANSONI NO MUNICÍPIO DE SANTO AMARO, BAHIA, NO PERÍODO DE
2006 – 2008.
Jefferson de Campos Costa
Ardemírio de Barros Silva
Maria Emilia Bavia
Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS)
Universidade Federal da Bahia (UFBA)

RESUMO
O estudo ecoepidemiológico da esquistossomose mansônica, no município de Santo Amaro na
Bahia justifica-se pelo registro da presença e manutenção da doença no ambiente, que apresenta taxas
crescentes e preocupantes de endemicidade, que passa a ser de suma relevância para o entendimento do
aumento da prevalência da doença e sua dispersão espacial dentro do município no período de 2006 a
2008.
Os mapas temáticos da divisão administrativa por setores censitários do município de Santo Amaro,
mapas de solo, MDT, hidrografia e informações epidemiológicas georreferenciadas dos indivíduos caso e da
presença de moluscos na área, servirão de base para a construção do mapa ecoepidemiológico da
esquistossomose mansônica do município em estudo, com delimitação das áreas favoráveis de
contaminação.
A metodologia clássica do Programa de Controle da Esquistossomose que se baseia na busca ativa
dos portadores de Schistosoma mansoni por meio de inquéritos coproscópicos censitários periódicos e
tratamento dos portadores com droga específica, não tem conseguido reduzir a magnitude da doença. A
dispersão da endemia tem colocado em pauta de discussão a metodologia empregada, e exigido a adoção
de novas estratégias de ação.
De acordo com a orientação da Organização Mundial de Saúde, que postula o enfoque de risco
para o estudo de doenças endêmicas em países sub-desenvolvidos e em desenvolvimento
econômico,objetivou-se com este trabalho delimitar as áreas geográficas favoráveis para a
esquistossomose mansônica no município de Santo Amaro-Bahia através das geotecnologias, bem como,
estabelecer o perfil ecoepidemiológico, e assim contribuir para um processo de remodelação e adequação
das estratégias dos programas de controle dessa endemia no município em estudo.
O trabalho consta de uma abordagem interdisciplinar que integra a biogeografia digital, ecologia
epidemiológica, hidrografia, limnologia, parasitologia, malacologia e geoprocessamento, que em conjunto
fundamentarão hipóteses e resultados esclarecedores para a pesquisa.
Palavras-Chave: Esquistossomose Mansônica, epidemiologia espacial, Sistemas de Informações
Geográficos.

ABSTRACT
Schistosomiasis mansoni is a serious public health problem with approximately six million infected
individuals in Brazil. The ecoepidemiological study of schistosomiasis is justified by the confirmed presence
and persistence of this disease in the environment, with increasing rates of endemicity, which is now of
paramount importance in understanding its increased prevalence and spatial dispersion within the city over
the period of 2006 to 2008. The thematic maps of the administrative division of census tracts in the city of
Santo Amaro, soil maps, MDT, hydrography, georeferenced epidemiological information of individuals, and
the presence of shellfish in the area, serve as a basis for the construction of an ecoepidemiological map of
schistosomiasis mansoni in the studied municipality, with delineation of favorable areas for disease spread.
The classical methodology of the Schistosomiasis Control Program, based on the active search of patients
with Schistosoma mansoni through periodic coproscopic surveys and treatment of positive patients with
specific drugs, has not been able to reduce the magnitude of this disease. The spread of this disease has
brought up questioning of the current methodology and a search for new strategies. Following the

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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guidance of the World Health Organization, which delineates the approach to risk studies of endemic
diseases in underdeveloped and developing countries, this study aims to define the geographical areas
favourable for schistosomiasis in Santo Amaro, Bahia through the use of geotechnologies, and to establish
an ecoepidemiological profile, contributing to a process of reshaping and adapting strategies of programs
designed to control this disease in the municipality of Santo Amaro. The work includes an interdisciplinary
approach integrating digital biogeography, ecology, epidemiology, hydrology, limnology, parasitology,
malacology, and geoprocessing, which together will generate research hypothesis and serve to answer
them.
Keywords: Schistosomiasis, spatial epidemiology, Geographic Information Systems.

1. INTRODUÇÃO
A Esquistossomose Mansônica é considerada atualmente pela Organização Mundial de Saúde
(OMS) como um sério problema de Saúde Pública que afeta mais de duzentos milhões de pessoas em 74
países. Essa doença é uma helmintíase causada pela infecção humana de Schistosoma mansoni com focos
em vários países do mundo. No continente americano, além do Brasil, existem focos na Venezuela,
Suriname, Santa Lucia, Martinica, Guadalupe, República Dominicana, Montserrat, Porto Rico, Haiti,
Dominica e San Martin (DOUMANGE7 et. al., 1987).
No Brasil, a doença é considerada endêmica, com seis milhões de infectados, distribuídos em
dezenove estados da Federação. (KATZ & PEIXOTO8, 2000; BINA & PRATA³, 2003). As estimativas sobre a
esquistossomose no Brasil indicam a existência de até 12 milhões de casos (REY11, 2001). Entretanto,
segundo Katz & Almeida9(2003) a inclusão da oxamniquine nos programas de controle da endemia a partir
de 1972, para o tratamento dos casos diagnosticados com a administração em dose única, reduziu o
número de portadores do verme para 6 milhões de pessoas na atualidade.
Ainda que essa estimativa se aproxime da realidade, o panorama epidemiológico em relação à
esquistossomose segue preocupante, pois é certo que o número de pessoas que vivem sob o risco
permanente de infecção supere muito o número de casos existentes. A par do aumento do número de
casos, em decorrência das más condições do saneamento básico, pelo menos 70 milhões de brasileiros
vivem sob o risco permanente da infecção por S. mansoni segundo Barbosa¹ (1980) discutiu essas questões
e assinalou que, o número de indivíduos sujeitos ao contágio e desenvolvimento das formas graves da
doença, debilitantes e irreversíveis, mantém a esquistossomose como um sério problema de saúde pública,
que afeta negativamente a capacidade de trabalho de uma parcela significativa da população brasileira.
A Bahia é o estado com a segunda maior área endêmica do país, com média de 165,8 internações
/ano e 40,2 óbitos /ano, notificados em 65% (271/417) dos municípios (BRASIL4, 2006a).
Como o processo saúde-doença é o produto direto das inter-relações complexas e dinâmicas entre
o homem e o meio-ambiente num espaço geográfico definido (BAVIA3, 1996; NEVES12, 1998), tem-se
observado que a situação da saúde de uma população em determinado tempo e espaço é influenciada,
pelas transformações de caráter econômico e ocorrências de origem natural (temperatura, umidade,
precipitação, latitude, solo, topografia, vegetação). A análise ecológica de dados ambientais e
epidemiológicos pode permitir mais que uma verificação de associações entre estes fenômenos, uma
melhor compreensão do contexto em que se produzem os processos sócio espaciais.
Os Sistemas de Informações Geográficas (SIG) têm sido utilizados como ferramenta de consolidação
e análise de grandes bases de dados sobre saúde e ambiente. Estes sistemas permitem a captura,
armazenamento, manipulação, análise e exibição de dados georreferenciados, isto é, relacionados a
entidades gráficas com representação espacial (SUSSER14, 1994).
A espacialização de informações permite agregar o evento ao local em que ele ocorreu com a
associação das geotecnologias como instrumento fundamental na avaliação do impacto dos processos
ambientais e mensuração do risco da população (CÂMARA6 et. al.; 2002; TAVARES15, 2006).
A identificação de grupos populacionais submetidos a risco é uma tarefa imprescindível para a
elaboração de programas preventivos e como meio de avaliação de exposições diferenciadas. A localização
desses grupos no espaço permite um maior detalhamento do contexto social e ambiental em que estas
exposições ocorrem, ao mesmo tempo em que introduz novas variáveis, intrínsecas ao espaço, que podem
dificultar sua interpretação (JOLLEY10 et. al., 1992; BARCELLO & SANTOS2, 1996).

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A Organização Mundial de Saúde preconiza o uso das geotecnologias, como nova ferramenta para o
estudo das doenças endêmicas em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento.
Esta pesquisa revela resultado do modelamento das ocorrências positivas dos casos investigados
pelo exame laboratorial croposcópico da população, registradas no período de 2006 a 2008 no município
de Santo Amaro na Bahia, por meio do levantamento biogeográfico da Biomphalaria sp e através da
superposição de mapas de Solo, Hidrografia, MDT (retenção, textura e fluxo de água) com o uso da álgebra
de mapas, para identificar áreas mais propícias para a doença ocorrer no município em estudo.

ÁREA DE ESTUDO
O estudo foi realizado no município de Santo Amaro, distante da capital Salvador 75 km, localizado
geograficamente na latitude 12°32’49’’S e longitude 38°42’43’’W, com 518,260 Km ² de área, 57.675
habitantes e densidade demográfica de 118 habitantes / km ².
Localizado no Recôncavo Baiano o município em estudo, além de haver uma concentrada atividade
agropastoril, possui um histórico de fomento da economia muito importante na região com a monocultura
da cana-de-açúcar, desde o período colonial durante os séculos XVI, XVII e XVIII. Essa atividade, viabilizada
pela ocorrência de solos férteis conhecidos como massapê, era voltada para o mercado externo através do
sistema de plantation. Tal conjuntura contribuiu para o adensamento demográfico do município diante da
demanda de mão de obra, surgimento do trabalho escravo, da infraestrutura canavieira (engenhos,
armazéns, casarões etc.) e consequente povoamento. Em 1872, Santo Amaro, Cachoeira, e Maragogipe se
tornaram uma das áreas mais urbanizadas do Brasil, (SEI13, 2000).

3. MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa utilizou os casos positivos diagnosticados na área do município, no período de
2006/2007/2008, através do Programa de Controle da esquistossomose (PCE) realizado pela Secretaria
Municipal de Saúde de Santo Amaro (SMS) e pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB). A
sequência de procedimentos metodológicos incluiu:
I. Seleção das Bases Cartográficas, da área de estudo (setores censitários e logradouros obtidos da
Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI);
II. Construção do Banco de Dados Epidemiológico: Casos positivos para a Esquistossomose
Mansônica (número de indivíduos positivos, sexo, idade, localidade, ano);
III. Georreferenciamento através do receptor GPS dos locais de coleta do planorbídeo Biomphalaria
sp. As coordenadas serão medidas em sistema de projeção UTM, datum SAD 69 (South América, 1969);
IV. Utilização do software Arcgis 9.3 para georreferenciamento dos mapas de Solo, MDT e
Hidrografia;
V. Utilização o software Global Mapper 8.0 para conversão de formatos.
VII. Plotagem dos Pontos georreferenciados nos mapas digitalizados, para identificação dos setores
censitários com maior numero de casos positivos, com o auxílio do software IDRISI;
VIII. Álgebra dos mapas selecionados neste estudo, para a geração de uma carta síntese de situação
da Esquistossomose Massoni, com o auxílio do software IDRISI;
IX. Identificação das áreas favoráveis para a esquistossomose usando os softwares IDRISI e SURFER.

4. RESULTADOS
O presente estudo foi realizado com o método de modelagem Cartográfica em Sistemas de
Informações Geográficas (SIG) da Esquistossomose mansoni no município de Santo Amaro, Bahia.
Na equação algébrica final dos mapas, já padronizados quanto à resolução espacial com seu
número de colunas e linhas, foi realizada a superposição dos mapas com os seguintes dados: / informações
dos infectados totais nos setores censitários, e distribuição espacial da Biomphalaria sp no município, rios,
solos, acúmulo de água e fluxo.
A composição final com as áreas favoráveis para a doença foi reeditada, para que os setores
ficassem dispostos juntos com os atributos que estivessem agregados aos seus valores da composição
aritmética da álgebra de mapas.
Com base nos dados de esquistossomose mansoni e inquérito malacológico, disponibilizados pelo
Programa de Controle da Esquistossomose (PCE) da Secretaria Municipal de Santo Amaro e pela Secretaria

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


80

de Saúde do Estado da Bahia (SESAB), foram produzidos mapas temáticos do município de Santo Amaro. A
figura 1 apresenta o mapa com a distribuição espacial das 18 localidades de infectados nos dezesseis
setores do município.

Figura 1: localidades por setores Censitários ( SEI , 2000).

A tabela 1 apresenta os dados disponibilizados pela Secretaria Municipal de Saúde com o número
de infectados por ano / setor:

Tabela 1: Infectados por setor e ano. (SESAB)


Setores 2006 2007 2008
Censitários
4 4 x 355
8 26 x x
9 x x 43
10 x x 26
11 306 87 x
12 86 303 x
14 x 108 x
15 x 8 x
Total 422 506 424

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A tabulação dos dados por setor possibilitou fazer a modelagem epidemiológica espacial no
município de Santo Amaro e editar o número de infectados por gênero e sua faixa etária nos anos de 2006,
2007 e 2008. A modelagem cartográfica foi realizada gerando cartogramas sínteses por ano e sexo,
conforme exemplifica a figura 2.

60
8 50
6 40
4 30
2 20

0 10
1 2 3 4 5 6
infectados 1 2 6 4 8 6 0
1 2 3 4 5 6
infectados 19 42 43 53 22 19
5

2
TOTAL - 240 INFECTADOS
1

0
1 2 3 4 5 6
infectados 0 4 2 5 5 1

Figura 2: Cartograma síntese - Infectados do sexo masculino por idade e setor no ano de 2008.

5. DISCUSSÃO
Com a tabulação cruzada dos dados, obteve-se o resultado que ilustra os oito setores onde foram
encontradas pessoas infectadas pelo parasito nos anos de 2006, 2007 e 2008. A etapa seguinte destinou-se
á elaboração de um mapa no qual se pode visualizar a distribuição dos moluscos Biomphalaria sp dentro do
município (figura 3), distribuídos nos setores buscando similaridade com a distribuição do parasito e na
composição final para as áreas de risco.
Com os infectados e moluscos já georreferenciados e padronizados na mesma escala e resolução,
foram elaborados mapas temáticos geoambientais para serem usados na tabulação cruzada da álgebra de
mapas. A Esquistossomose mansoni é uma doença, que depende de veiculação hídrica, portanto a
hidrografia tem o papel relevante.
Outra variável estudada refere-se ao comprometimento do solo onde se encontram esses moluscos
e o substrato ao qual eles possam sobreviver durante o tempo em que não estão diretamente em contato
com a água. As áreas de acúmulo de água, após precipitação pluviométrica seriam os possíveis lugares de
se encontrar os vetores de transmissão da doença.
O modelo digital do terreno também utilizado para a álgebra dos mapas possibilitou calcular os
vetores de fluxos d’água. O fluxo d’água é importante, porque aponta a presença de pequenos canais
d’água e a sua distribuição no município.

A figura 3 representa a modelagem cartográfica da álgebra de mapas por superposição dos


atributos da esquistossomose mansoni com utilização do procedimento de overlay.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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SETOR 1 SETOR 2 SETOR 3


INFECTADOS
+ INFECTADOS
1
+ INFECTADOS

+
SOLOS SOLOS
1
+ ACÚMULO
ÁGUA + 2

+
RIOS

+
RIOS PERMANENTES
+ FLUXO INTERMITENTES

+ MAPA
MOLUSCOS DE
SUPERPOSIÇÃO
Figura 3: Metodologia utilizada para a álgebra de mapas.

Após a inferência média ponderada para sobreposição dos atributos ambientais e dados de
relevância epidemiológica, foi gerado o mapa síntese (figura 4).

Figura 4: Mapa síntese resultante da inferência média ponderada

João Pessoa, outubro de 2011


83

O mapa síntese foi reclassificado para identificar as áreas onde a esquistossomose pode ocorrer
(figura 5).

Figura 5: Mapa síntese – Resultado da álgebra de mapas de acordo com o grau de urgência para o
controle da doença em áreas favoráveis.

A abordagem metodológica apresentada mostrou ser eficiente quanto à utilização do SIG no estudo
em epidemiologia espacial e na composição dos fatores determinantes para a presença do parasito. A
superposição dos mapas de acúmulo de água e sua retenção em diferentes tipos de solos, fluxos d’água,
hidrografia, distribuição espacial do molusco e do parasito através dos infectados, possibilitou obter
resultados que definem claramente as áreas onde as chances de ocorrer a doença são mais favoráveis e a
sua disseminação. Esses resultados podem auxiliar no processo de reformulação e adequação das
estratégias do controle de endemias do município com a otimização de suas atividades, recursos
financeiros além de ajudar na gestão pública da área de saúde.
A aplicação do geoprocessamento e SIG revelou-se indispensável para esse tipo de estudo, já que
possibilitou avaliar com precisão as áreas de interesse em relação à doença estudada, bem como modelar,
mapear e interpretar a vulnerabilidade socioambiental a partir dos critérios passíveis de mensuração.

6. REFERÊNCIAS
BARBOSA, F.S.1980. Considerações sobre os métodos profiláticos no controle da esquistossomose.
Ci e Cult 32:1628-1632.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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BARCELLOS, C.; SANTOS, S.M. Georreferenciamento de dados secundários sobre ambiente e saúde.
In: SEMANA ESTADUAL DE GEOPROCESSAMENTO 1., 1996, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: Fórum
Estadual de Geoprocessamento, 1996.
BAVIA, M. E. 1996. Geographic information systems for schistosomiasis in Brazil.. 99 f. Tese
(Doutorado) - Louisiana State University, Baton Rouge, Louisiana.
BINA, J.C. & PRATA, A. 2003. Esquistossomose na área hiperendêmica de Taquarendi. I – Infecção
pelo Schistosoma mansoni e formas graves. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 36, n.
2, p. 211-216.
BRASIL, 2006. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Sistema Nacional de
Vigilância em Saúde, Relatório de Situação, Bahia. Brasília, 26p.
CÂMARA, G.; MONTEIRO, A.M.; FUKS, S.D.; CARVALHO, M.S. 2002. Análise espacial e
geoprocessamento. São Jose dos Campos, SP: INPE.
DOUMENGE JP, Mott KE, Cheung G, Villenave D, Chapuis P, Perrin MF, Thomas GR,. 1987. Atlas de
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CEGET/CNRS, Genève, OMS/WHO, 400 p.
KATZ, N.; PEIXOTO, S.V. 2000. Análise crítica da estimativa do número de portadores de
esquistossomose mansoni no Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 33, n. 3, p.
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KATZ, N., ALMEIDA K. 2003. Esquistossomose, xistosa, barriga d’água. Ci e Cult 55: 38-41.
JOLLEY, D. J.; JARMAN, B. & ELLIOT, P. Socioeconomic confounding. In: Geographical and
Environmental Epidemiology: Methods for Small- Area Studies (P. Elliot, J. Cuzick, D. English & R. Stern,
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TAVARES, A.C.Q. Distribuição espaço-temporal do crime contra a vida em Salvador entre 2000 e
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Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, 2006.

João Pessoa, outubro de 2011


85

CONCEPÇÕES E PERCEPÇÕES SOBRE A DENGUE: DIAGNÓSTICO


SOCIOAMBIENTAL NO ENTORNO DE UMA ÁREA DE PRESERVAÇÃO EM
VARZEA PAULISTA/SP
juliana Rink
Docente do Centro Universitário Padre Anchieta/ Doutoranda em Educação – FE/Unicamp
julianar@anchieta.br
Diego Meleiro Novaretti
Aluno do Centro Universitário Padre Anchieta / Mestre em Engenharia Urbana -UFSCar
dnovaretti@ymail.com

Resumo
Este trabalho apresenta os resultados de um projeto de iniciação científica em andamento, cujo
objetivo é identificar, mapear e categorizar as concepções e percepções socioambientais dos moradores do
entorno de uma área de preservação ambiental, localizada no município de Várzea Paulista (SP) a respeito
da dengue, com ênfase no vetor Aedes aegypti. Para isso, foi aplicado um questionário semiestruturado em
uma amostra aleatória de 50 domicílios, durante janeiro de 2011. O questionário, composto por doze
questões abertas, contou com uma caracterização sociográfica dos indivíduos e com um grupo de questões
referentes aos conceitos e percepções dos entrevistados sobre a dengue, seu modo de transmissão, seu
agente transmissor e medidas profiláticas. Constatou-se desconhecimento de vários elementos do ciclo de
vida do vetor e do vírus causador da doença, relacionando-a diretamente com o mosquito Aedes aegypti. A
grande maioria relacionou o contágio com a água parada/acumulada, não citando a necessidade de picada
do vetor (72%). Mais de 70% demonstraram não discriminar adequadamente o tipo de água/condições
apropriada para estabelecer criadouros do vetor e somente 20% dos entrevistados afirmaram que os
resíduos sólidos teriam alguma relação com os criadouros do vetor. Os resultados evidenciam uma forte
fragmentação dos conhecimentos por parte dos moradores, que pode agravar o cenário de possível
proliferação do vetor no local. Assim, com base no mapeamento das concepções e percepções dos
indivíduos residentes às margens do parque, será possível criar e executar um programa de EA que tenha
possibilidades mais reais de provocar mudança na realidade local.
Palavras-chaves: dengue, concepções e percepções, saúde pública, educação ambiental.

1. Introdução
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a dengue é um dos principais problemas de
saúde pública no mundo. Estima-se que entre 50 a 100 milhões de pessoas se infectem anualmente, em
mais de 100 países, de todos os continentes, exceto a Europa. Cerca de 550 mil doentes necessitam de
hospitalização e 20 mil morrem em conseqüência da dengue.
O panorama brasileiro também não é otimista. As condições socioambientais favoráveis à expansão
do Aedes aegypti possibilitaram a dispersão do vetor no país desde sua reintrodução em 1976 e o avanço
da doença é cada vez mais rápido. Programas e iniciativas pouco integradas e sem participação ativa da
comunidade mostraram-se incapazes de conter um vetor com altíssima capacidade de adaptação ao novo
ambiente criado pela urbanização acelerada e pelos novos hábitos. De acordo com as diretrizes nacionais
para prevenção e controle de epidemias de dengue, a situação epidemiológica está se agravando dentro
dos estados e municípios e, apesar dos esforços do Ministério da Saúde, há epidemias nos principais
centros urbanos do país (BRASIL, 2009).
Sabe-se que o setor de saúde, por si só, não consegue derrubar tal cenário, já que há uma rede de
fatores que favorecem a proliferação do vetor da dengue. Historicamente, a rápida urbanização do país
gerou deficiência na infra-estrutura de saneamento básico, tais como falta de abastecimento de água,
coleta e destinação inadequada de resíduos sólidos (BRASIL, 2008). Assim, é cada vez mais necessária a
presença de projetos e ações articulados que transcendam o setor da saúde, fornecendo subsídios para que
o problema seja discutido sob uma perspectiva interdisciplinar. Ainda conforme o Ministério da Saúde
(BRASIL, 2001), o combate ao Aedes aegypti sempre foi desenvolvido seguindo as diretrizes da erradicação

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


86

vertical, onde a participação comunitária não era tida como atividade essencial. Contudo, hoje a
abordagem ampla e a participação comunitária são consideradas fundamentais e imprescindíveis para
controlar o vetor.
Entra em cena, então, a Educação Ambiental (EA). Considerada desde 1965 como “medida sócio-
educativa para melhoria da qualidade ambiental” (BRASIL, 1965), a EA é definida pelo PRONEA (Programa
Nacional de Educação Ambiental) como:

“os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem
de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade” (BRASIL, 1999).

Nesse contexto, a EA está vinculada a todos os objetivos de proteção ao meio ambiente e


desenvolvimento sustentável por ser um instrumento capaz de proporcionar o aumento da consciência
pública, envolvendo a comunidade na busca por soluções para os problemas existentes e na construção de
um senso pessoal de responsabilidade em relação à temática aqui discutida. O próprio Ministério da Saúde
tem elencado a adoção de atividades, ações e programas em EA como uma das principais formas de
promover a participação comunitária no saneamento domiciliar, visando contribuir para a eliminação de
criadouros potenciais do vetor da dengue (BRASIL, 2009); diretriz exemplificada pelo investimento de mais
de R$ 40 milhões em campanhas publicitárias de sensibilização no ano de 2009.
Ao considerarmos o controle ao vetor como uma das maneiras mais eficazes para combater a
dengue, a participação popular no combate ao Aedes aegypti é essencial. Assim, é de extrema importância
propor ações de EA que façam intervenção em populações locais, a fim de provocar uma mudança de
atitude da população que combata o panorama atual da doença.
É nesse contexto que se situa a presente pesquisa. A ideia do estudo surgiu a partir de alunos do
Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental do Centro Universitário Padre Anchieta (Jundiaí/SP),
durante a disciplina intitulada “Tópicos em Saúde Ambiental”, ministrada no segundo semestre de 2010.
Uma das atividades propostas para a turma foi a escolha de um local com condições favoráveis para
proliferação de animais sinantrópicos e/ou vetores, com intuito de realizar um diagnóstico socioambiental
do entorno e, se possível, realizar ações de EA junto à população.
Dessa forma, os alunos que trabalhavam nas imediações do Parque Ecológico Chico Mendes
(Várzea Paulista/SP) o escolheram para realizar o diagnóstico preliminar requisitado pela disciplina. O
relatório destacou que o panorama de acelerada urbanização do município gera um déficit na infra-
estrutura de serviços urbanos, cuja manifestação mais visível é a carência de saneamento e problemas
constantes com enchentes. Essa situação, aliado ao regime de chuvas alterado ocorrido no final de 2009 e
início de 2010 e conceitos equivocados sobre a biologia do vetor caracterizam-se como risco
socioambiental. A despeito dos esforços da prefeitura local, dos agentes comunitários de saúde e das
campanhas preventivas e informativas, a maioria das pessoas entrevistadas pelos alunos não consideravam
a “simples” presença do vetor Aedes sp. como um risco provável à saúde, acreditando que o inseto não
esteja contaminado ou, ainda, que não seja realmente o inseto transmissor da dengue (FRANCO & RINK,
2011). A esse respeito é interessante citar os estudos realizados por Chiaravalloti Neto et al. (1998) e
Chiaravalloti et al (2002) – os autores mostram que mesmo que os conhecimentos sobre a dengue e os
vetores sejam incorporados por um conjunto de indivíduos, não haverá necessariamente uma mudança de
hábitos e, conseqüentemente, a redução do número de criadouros a ponto de evitar a transmissão da
doença.
Tais resultados levaram a uma sistematização do estudo, que foi apresentado para a Secretaria de
Obras e Meio Ambiente do município. Após aprovação institucional pelo Comitê de Pesquisa e Extensão e
pelo Comitê de Ética, o projeto recebeu aval e apoio do poder público para execução.
Assim, nasceu esse projeto de iniciação científica, cujo objetivo geral é identificar, mapear e
categorizar as concepções e percepções socioambientais dos moradores do entorno do Parque Ecológico
Chico Mendes (Várzea Paulista/SP) a respeito da dengue, com ênfase no vetor Aedes aegypti.
A pesquisa sobre concepções e percepções socioambientais é declarada desde 1973 pela
Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura (UNESCO) como sendo extremamente
importante, já que consiste na investigação sobre valores, expectativas e atitudes que os sujeitos possuem

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87

em relação ao entorno onde vivem. Portanto, a partir desses conceitos e percepções, os indivíduos
interagem com o mundo e provocam interações positivas ou relativas sobre o ambiente (FERNANDES et al.,
2009). Nesse sentido, acredita-se que o estudo das concepções e percepções socioambientais da
comunidade de entorno do Parque Ecológico Chico Mendes constitui-se de ferramenta essencial para o
planejamento de ações de EA que promovam a sensibilização e desenvolvimento de novas posturas por
parte da população, principalmente no que tange ao controle da dengue.

2. Caracterização do local de estudo


Várzea Paulista é um município localizado na microrregião econômica da cidade de Jundiaí.
Emancipada desde 1965, possui população estimada em 110 mil habitantes, onde mais de 40% possui
ingresso familiar de 0 até 4 salários mínimos. Apesar de ter o IDH Municipal de 0,795, satisfatório se
compararmos com o IDH médio do Estado de São Paulo, 0,82, é notório o vertiginoso declínio quando
analisada as regiões periféricas, onde se concentram as populações socialmente vulneráveis (classes D e E)
(VÁRZEA PAULISTA, 2010).
A população é predominantemente de trabalhadores pertencentes à classe de renda C (57%) e, D e
E (23%). A renda per capita é de 1,5 salários mínimo, semelhante à média nacional, mas bem abaixo de
Jundiaí (2,5). Por ter sido emancipada apenas há 43 anos e, como toda cidade que experimenta um
processo acelerado de crescimento, o município teve seu desenvolvimento espacial de forma
desorganizada e sem o devido planejamento urbano e, consequentemente, ambiental.
Apresentadas a caracterização do município, passaremos agora a focar nos dados obtidos
sobre a situação ambiental do mesmo e, em específico, sobre a criação e funcionamento do Parque
Ecológico Chico Mendes.
De acordo com os dados obtidos na Secretaria de Obras e Meio Ambiente da Prefeitura de
Várzea Paulista, o Parque conta com 133.400 m² dos quais, 63% constituem um bosque denso sobre
uma encosta íngreme, com desnível médio de 60 m, com predominância de árvores nativas em estágio
médio de recuperação14. Também conta com um Centro de Educação Ambiental (CEA), utilizado em
geral para receber visitas dos alunos da escola básica. O Parque e o CEA foram criados em 2008 através de
uma compensação ambiental de empresa metalúrgica instalada na cidade. Na ocasião, a empresa detectou
danos ambientais e fez uma comunicação espontânea a CETESB, Prefeitura e Promotoria Pública. Como
consequência, foi criado um Termo de Ajuste de Conduta para que a empresa fizesse um trabalho de
recuperação do solo e das águas e um projeto de compensação ambiental no valor de R$ 500 mil, que
originou a criação do Parque.
Com anfiteatro, mini viveiro de mudas, orquidário, área de compostagem, playground, biblioteca,
sala de pesquisas, o Parque é ladeado com mais de 50 mil metros de mata nativa em uma área de 133 mil
metros quadrados. O CEA é referencia municipal nas atividades de sensibilização e conscientização popular
sobre várias questões ambientais e também abriga ações do programa municipal de mobilização social para
o controle do Aedes aegypti.
Conforme a prefeitura, a implantação do projeto do Parque Ecológico teve como objetivo primário
a preservação da fauna e flora numa perspectiva socioambiental, integrando a qualidade de vida da
população e também oferecendo a ela um espaço físico de lazer e conscientização ambiental (VÁRZEA
PAULISTA, 2009).
As áreas no entorno do parque já são intensamente utilizadas pelos moradores e encontram-se em
estágio de degradação antrópica. A população que vive nas imediações foi se apropriando dos trechos mais
planos, criando espaços para práticas esportivas e caminhadas, praças e mirantes para descanso e
contemplação da paisagem, parquinhos para as crianças brincarem, plantando árvores frutíferas e
floríferas, verduras, legumes, plantas medicinais e flores, improvisando equipamentos e mobiliário para a
prática de atividades variadas.

4
A floresta em estágio médio de sucessão apresenta único estrato arbóreo, com altura máxima de 12 metros
e diâmetro de caule de até 30 cm.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Figura 1: Fotografia aérea do Parque Ecológico Chico Mendes.


Fonte: Arquivo da Secretaria Municipal de Obras e Meio Ambiente, Prefeitura de Várzea Paulista,
2007.

Sendo um parque urbano, o projeto visava dar-lhe grande diversidade de usos e de usuários, com
alamedas, equipamentos, mobiliários e jardins adequados a crianças, jovens, adultos, idosos, portadores de
deficiência, entre outros; os limites do local não são murados, contanto apenas com cerca-viva. De acordo
com essa concepção, murar o Parque prejudicaria suas relações com o entorno e diminuiria os fluxos de
circulação e dos fluxos visuais, o que não ocorre ao utilizar árvores, arbustos e forração que permitem a
visibilidade do bosque e das várzeas.
Todavia, mesmo após a implementação do Parque, a população continua a ocupar, desmatar e
destinar resíduos de forma inadequada no local. Sabe-se que o acúmulo de resíduos sólidos e de
construção civil tem sido apontado como elementos potencializadores dos criadouros para o Aedes aegypti
(TORRES, 2005), cenário que evidencia a situação de risco socioambiental existente no entorno do Parque.

3. Aspectos metodológicos
A presente pesquisa possui cunho quali-quantitativo e baseia-se principalmente na análise de
questionários abertos, aplicados aos moradores do entorno do Parque a fim de identificar a percepção da
população do entorno em relação à doença e aos possíveis focos de vetores e, conseqüentemente, a inter-
relação entre a disposição irregular de resíduos e a proliferação de criadores do mosquito transmissor no
local.
Inicialmente optou-se pela realização de uma amostragem piloto, tendo em vista que a área de
abrangência que envolve todo o entorno do Parque é muito extensa e será coberta pela presente pesquisa
em etapas posteriores.
Assim, para esta amostragem inicial, foi selecionada a área de entorno do Parque considerada mais
degradada ambientalmente e que recebe maior impacto antrópico. Ainda, de acordo com a prefeitura
municipal, a área escolhida abrange os moradores mais antigos do bairro que muitas vezes fazem usos
indevidos da área, como criação de animais, plantação de exóticas e disposição irregular de resíduos, fator
relevante para a determinação da referida área como interesse principal da aplicação do questionário
piloto (FRANCO & RINK, 2011).
Após a realização do mapeamento e da caracterização do local a ser investigado, de acordo com
identificação de condições favoráveis para proliferação do vetor e de posse das informações levantadas
acima, foram selecionadas quatro ruas – Rua Catanduva, Rua Guarujá, Rua Orindiuva e Rua Cafezal –
destacadas no mapa abaixo.

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Figura 2: Fotografia aérea da região do Parque Ecológico Chico Mendes e suas relações com o
entorno, destacando as ruas em que o questionário piloto foi aplicado. Fonte: Arquivo da Secretaria
Municipal de Obras e Meio Ambiente, Prefeitura de Várzea Paulista, 2008, modificado pelos autores.

Tanto na amostragem piloto quanto nas posteriores etapas da pesquisa, o questionário apresenta
dois grandes conjuntos de questões.
O primeiro serve para caracterizar os indivíduos entrevistados - um dos passos iniciais para o
estudo da percepção ambiental, já que os resultados obtidos estão diretamente associados a essas
características, pois, elas influenciam direta e indiretamente a percepção que as pessoas têm do ambiente
a sua volta. Para tanto, foram elaboradas algumas questões sócioculturais, tais como idade, gênero, nível
de instrução, entre outros, que irão nos indicar o contexto sociocultural dos sujeitos entrevistados.
Já o segundo conjunto de questões refere-se aos conceitos e percepções dos entrevistados sobre
meio ambiente, saúde e principalmente vetores de doenças, totalizando doze perguntas. Para análise das
percepções sobre os conceitos de Meio Ambiente tomaremos como referencial as categorias sugeridas por
Sato (2001).
Desta forma a amostragem piloto foi realizada em 50 domicílios nas ruas citadas, iniciando-se em
cada rua à partir da primeira casa mais próxima ao Parque, alternando-se linearmente uma casa sim, e
outra não, de acordo com a recepção dos moradores. Quando havia recusa de entrevista ou ausência do
morador, considerava-se o imóvel seguinte.
Após a aplicação dos questionários modelos, as respostas foram tabuladas por meio do uso de
planilha eletrônica e analisadas de acordo com o intento desta primeira etapa. Os resultados e as análises
apresentadas servirão de diretrizes para a continuidade do projeto, que envolverá mais duas fases,
comentadas a seguir.
Na etapa procedente, a partir da análise já feita e conseqüente readequação do questionário, o
mesmo será aplicado em todo o entorno do Parque, abrangendo uma maior parte dos moradores.
Com essas duas etapas propostas busca-se fortalecer as bases do ciclo proposto pelas atividades de
Iniciação Científica que servem de apoio a qualquer comunidade universitária: a interligação entre o
Ensino, a Pesquisa e a Extensão Universitária.

4. apresentação e discussão dos resultados


Conforme dito anteriormente, as entrevistas foram realizadas com 50 moradores (23 do sexo
masculino e 27 do sexo feminino), com faixa etária compreendida entre 15 e 93 anos, sendo que a faixa
etária predominante foi dos 20-40 anos (35%). Quanto ao nível de escolaridade dos entrevistados, a

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


90

pesquisa revelou que 50% possuem o Ensino fundamental incompleto, 32% concluíram o Ensino
Fundamental, 12% concluíram o Ensino Médio e 6 % são analfabetos.
Também foi considerado importante o tempo em que os moradores residem no domicílio onde foi
realizada a entrevista. Cerca de 5% responderam que moravam a menos de 5 anos, 15% moravam entre 5 e
10 anos, 20% moravam entre 11 e 20 anos e 60% moravam a mais de 20 anos. Todos os entrevistados
afirmaram nunca ter contraído dengue.
Em relação à pergunta “O que é dengue?”, 80% dos indivíduos responderam que a mesma é um
mosquito. Apenas 14% dos indivíduos disseram se tratar de uma doença. Respostas com caráter religioso,
como “é um castigo divino”, compuseram 4% da amostra. Com base nesses resultados, é possível afirmar
que a percepção predominante dos moradores associa a doença ao mosquito e à sua picada, considerando
a doença como sendo o próprio vetor. Consideramos que tal concepção é amplamente reforçada pelo
discurso dos meios de comunicação e das próprias campanhas de prevenção da doença, que na grande
maioria das vezes trazem como símbolo o inseto sendo exterminado ou ainda personificam os desenhos do
vetor. A existência do vírus é quase que totalmente ignorada, tendo sido citada por apenas um morador
entrevistado.
Mediante a questão “Como se contrai dengue?”, a grande maioria relacionou o contágio com a água
parada/acumulada, não citando a necessidade de picada do vetor (72%). Dez indivíduos (20%) citaram que
a doença é adquirida pela picada do mosquito transmissor. Surpreendentemente, quatro indivíduos (8%)
afirmaram que a doença pode ser transmitida diretamente de pessoa para pessoa (contágio direto).
No que se refere à pergunta “Você sabe explicar por que eliminar a água parada é tão importante
para a prevenção doença?”, as respostas obtidas revelam uma série de concepções errôneas relativas à
biologia e ciclo de vida do Aedes aegypti. Mais de 70% dos entrevistados responderam que a água parada
“junta” ou “cria” o mosquito da dengue e, desses moradores, quase todos disseram que a água em questão
tem que ser suja para que ocorra tal “criação” do transmissor. Isso nos mostra que a população
entrevistada não discrimina adequadamente o tipo de água/condições apropriada para estabelecer
criadouros do vetor. Outro aspecto relevante foi o desconhecimento da fase de ovo no ciclo reprodutivo do
agente. Esse dado nos permite inferir que a percepção da população em relação aos potenciais recipientes
e ao transporte passivo dos ovos é praticamente nula. Além disso, foi possível observar certa inquietação
por parte dos moradores nessa questão, principalmente nas mulheres. Respostas como “na minha casa
não tem dengue, não, é limpinha” ; “eu lavo o quintal sempre e não deixo água acumulada nunca” ; “aqui é
tudo limpo, mas no Parque é uma sujeira só”, revelam que a presença de mosquitos (e, portanto, do vetor
da dengue) é vinculada a ambientes descuidados, sujos ou insalubres. Tal percepção pode acarretar no
aumento do risco socioambiental no entorno, favorecendo certamente a proliferação do vetor. O uso
indiscriminado de inseticidas também apareceu em várias respostas dadas nessa questão.
Por fim, a questão “Você acha que existe alguma relação entre lixo (resíduos sólidos) e a dengue? Se
sim, qual?” teve resultados preocupantes. A grande maioria dos entrevistados (80%) respondeu que sim,
estabelecendo uma relação positiva entre os resíduos sólidos e a doença. Contudo, somente 20% dos
entrevistados afirmaram que os resíduos seriam recipientes que acumulariam água e poderiam se tornar
criadouros do vetor. Os demais não souberam exemplificar a relação. Quatorze por cento dos moradores
declararam que não havia relação alguma, já que “o mosquito se cria em água e não em lixo”; enquanto
que 6% dos indivíduos declararam não saber responder.

5 consideraçoes finais
Apesar de a pesquisa contar com dados preliminares, a análise qualitativa e quantitativa efetuada
permite traçar alguns indicativos sobre as concepções e percepções sobre a dengue e seu vetor, por parte
dos moradores do entorno do Parque Ecológico Chico Mendes (Várzea Paulista/SP).
Tal como em Lefrève (2007), é possível afirmar que os conhecimentos sobre os vários aspectos da
doença revelados pelo conjunto de entrevistados são incompletos, muitas vezes equivocados e fortemente
influenciado pelas informações veiculadas pelos veículos midiáticos. É importante considerar os aspectos
sociais dos moradores: a baixa escolaridade dificulta o acesso e a compreensão das informações veiculadas
campanhas e iniciativas no combate à doença. Há grande desconhecimento do ciclo reprodutivo do vetor,
elemento que eleva o risco de proliferação do vetor na localidade, já que influencia diretamente nas ações
que a população ali estabelece.

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Também foi constatada a intensa fragmentação dos conhecimentos por parte dos entrevistados: os
elementos água, vegetação do Parque, mosquitos, vírus, lixo, resíduo, aparecem nas respostas, mas sem
relação intrínseca entre esses elementos. Isso pode significar mera reprodução de discursos apreendidos
por meio de diversas fontes, sem mudança conceitual efetiva por parte do cidadão.
Os resultados indicam a necessidade de ações planejadas de EA que levem em conta tais
representações e conhecimentos prévios dos indivíduos. Ao levar o mapeamento das percepções dos
moradores para os gestores públicos, será possível criar e executar um programa de EA que tenha
possibilidades mais reais de provocar mudança na realidade local. Os materiais informativos e atividades
pontuais são importantes, mas a população deve ser efetivamente envolvida na análise do contexto onde
está inserida, a fim de promover mudança de atitudes nesse grupo social e no ambiente que o circunda.
Após a reaplicação e nova tabulação dos dados, com a conseqüente re-análise dos resultados
obtidos, pretende-se fazer atividades de discussão da temática com a comunidade, através de audiências
públicas, atividades nas escolas do entorno da área pesquisada, Unidades Básicas de Saúde e intervenções
junto ao Centro de Educação Ambiental do Parque.

Agradecimentos
Os autores agradecem ao apoio da Secretaria Municipal de Obras de Várzea Paulista/SP e à Polícia
Ambiental do Município.

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DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DE Triatoma spp. (HEMIPTERA, REDUVIIDAE)


NAS ECORREGIÕES DO ESTADO DA BAHIA
OLIVEIRA, K. C. S.1, COSTA NETO, E. M.2, GURGEL-GONÇALVES, R.3
1Graduanda do curso de Licenciatura em Geografia, Bolsista de IC. Universidade Estadual de Feira de Santana,
Departamento de Ciências Humanas e Filosóficas. E-mail: karyne_fsa@hotmail.com
2Professor Orientador. Universidade Estadual de Feira de Santana, Departamento de Ciências Biológicas. E -mail:
eraldont@hotmail.com
3Professor. Universidade de Brasília, Faculdade de Medicina. E -mail: rgurgel@unb.br

Resumo
A Bahia é o estado brasileiro que apresenta a maior variedade de espécies de triatomíneos, vetores
da doença de Chagas. Espécimes infectados por Trypanosoma cruzi têm sido frequentemente
encontrados em áreas rurais e urbanas da Bahia, entretanto, a distribuição geográfica desses
triatomíneos ainda não foi bem investigada, nem os fatores que influenciam a domiciliação. O presente
trabalho discute a distribuição geográfica das espécies de Triatoma no território baiano de acordo com
ecorregiões definidas para o Estado. Os registros de ocorrência dos triatomíneos foram obtidos a partir
de dados de capturas domiciliares nos municípios baianos entre 2001 e 2009, fornecidos pelo
Programa de Controle da Doença de Chagas. As coordenadas geográficas foram obtidas e os mapas de
distribuição das espécies foram criados e editados usando o programa ArcView. Foram registradas dez
espécies do gênero Triatoma no estado da Bahia: T. sordida, T. pseudomaculata, T. infestans, T. brasiliensis,
T. petrocchiae, T. melanocephala, T. lenti, T. tibiamaculata, T. costalimai e T. vitticeps. Os resultados
mostraram uma associação entre a ocorrência das espécies de Triatoma na Bahia e as ecorregiões; por
exemplo, T. pseudomaculata e T. brasiliensis ocorreram predominantemente na caatinga, diferente de T.
tibiamaculata, cuja ocorrência foi relacionada a áreas de floresta atlântica. Por outro lado, T. sordida
ocorreu em mais de três ecorregiões. Os mapas indicaram ainda uma maior ocorrência de triatomíneos na
região semiárida da Bahia, coincidindo com áreas de caatinga. T. sordida, T. pseudomaculata e T.
brasiliensis apresentaram maior importância epidemiológica considerando a ampla ocorrência no estado da
Bahia e o potencial sinantrópico. Os principais desafios para o controle e vigilância entomológica da doença
de Chagas na Bahia são a eliminação dos focos residuais de T. infestans e a redução da infestação e
colonização das casas por espécies nativas com ampla distribuição e alto potencial sinantrópico descritas
no presente trabalho.
Palavras-chave: Triatoma, ecorregiões, Bahia, vigilância entomológica, doença de Chagas.

Introdução
A doença de Chagas, também conhecida por Tripanossomíase Americana, é uma zoonose endêmica
do continente americano, que tem como agente etiológico o parasito hemoflagelado Trypanosoma cruzi
(CHAGAS, 1909). A principal forma de transmissão é a partir da contaminação de mucosas com fezes de
insetos hematófagos da subfamília Triatominae (Hemiptera, Reduviidae). Algumas espécies de triatomíneos
colonizam casas de baixa qualidade, favorecendo a transmissão do parasito ao homem e animais
domésticos (Lent e Wygodzinsky, 1979).
Essa doença é considerada a infecção parasitária de maior importância na América Latina devido
ao impacto econômico e social (DIAS, 2007). O número de pessoas infectadas pelo T. cruzi foi estimado
entre 16 e 18 milhões em 1990 (WHO, 1991). Atualmente, essa estimativa caiu para 7,7 milhões,
evidenciando o sucesso das campanhas de controle vetorial (OPAS, 2006; RASSI et al., 2010). Entretanto,
ainda há o risco de transmissão do parasito por espécies de vetores silvestres que podem invadir o
ambiente doméstico e iniciar novos focos, mantendo cerca de 109 milhões de indivíduos (20% da América
Latina) sob risco de adquirir a infecção (OPAS, 2006). Dessa forma, é necessária uma estratégia de
intervenção periódica nas áreas onde vetores silvestres e peridomésticos ocorrem e mantêm o risco de
transmissão do T. cruzi ao homem (Schofield et al., 2006).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Atualmente, são conhecidas 142 espécies de triatomíneos (Galvão et al., 2003; Forero et al., 2004;
Schofield e Galvão, 2009; Frías-Lasserre, 2010). A Bahia é o estado brasileiro que apresenta a maior
variedade de espécies de triatomíneos. Estudos pioneiros sobre as espécies e distribuição geográfica de
triatomíneos na Bahia foram realizados por Sherlock e Serafim (1972). Segundo Dias et al. (2000), 21
espécies ocorrem no estado entre as 27 registradas para a região Nordeste. Em 1998, 35 dos 111
municípios baianos investigados apresentaram infestação das casas por triatomíneos, sendo que dos cerca
de 28.500 triatomíneos examinados, 1,25% deles estavam infectados por T. cruzi (DIAS et al. 2000).
Adicionalmente, espécimes de triatomíneos infectados por T. cruzi têm sido frequentemente encontrados
em áreas urbanas no estado da Bahia (DIAS-LIMA e SHERLOCK, 2000; SANTANA et al., 2011). Entretanto, a
origem desses triatomíneos ainda não foi bem investigada, nem os fatores que influenciam a domiciliação.
Entre 1990 e 1997, o estado da Bahia apresentou o maior número de internações por doença de
Chagas comparando com outros estados da região Nordeste (Dias et al., 2000), mostrando, dessa forma, o
grande impacto da doença na Bahia, que conseqüentemente leva a um sério problema de saúde pública.
Algumas das espécies do gênero Triatoma estão relacionadas à transmissão do T. cruzi na região
Nordeste, principalmente por manter uma relação direta com as habitações humanas. A domiciliação
desses triatomíneos pode estar associada à ação antrópica, uso e ocupação do solo propiciando
modificações na dispersão e distribuição geográfica das espécies, permitindo crescimento populacional
destes insetos e, consequentemente, maior risco de transmissão da doença de Chagas (Forattini, 1980).
Isso mostra a importância de se conhecer melhor a distribuição geográfica dos potenciais vetores do T.
cruzi ao homem. Nesse sentido, o presente trabalho discute a distribuição biogeográfica das espécies de
Triatoma no território baiano de acordo com ecorregiões definidas para o Estado.

Metodologia
Área de estudo
De acordo com o IBGE (censo 2010), o estado da Bahia é dividido em 417 municípios, ocupando
uma área de 567.295,669 km2 e possuindo uma população de 13.633.969 habitantes, sendo que a maior
parte da população (74%) é residente em áreas urbanas. O estado da Bahia está localizado na região
Nordeste do Brasil, apresentando grande variabilidade climática, topográfica e ecológica. De acordo com
similaridades ambientais, são conhecidas 49 ecorregiões no Brasil, sendo que o estado baiano apresenta
sete ecorregiões: cerrado, caatinga, florestas seca, floresta atlântica, floresta do interior da Bahia (mata de
cipó), manguezal e restinga.
As áreas de cerrado estão localizadas principalmente no oeste baiano, caracterizadas pela
vegetação savânica, variando de campos abertos a florestas fechadas. O clima é marcado por duas
estações, uma seca entre maio e setembro e outra chuvosa entre outubro e abril. A vegetação savânica
também está presente na Chapada Diamantina, na região central da Bahia, entre 700 e 2.000 m de altitude.
Na região central e nordeste da Bahia, predomina a caatinga, abrangendo 258 municípios
distribuídos em uma área de 388.274 km². A vegetação é xerófita, as árvores são baixas com troncos
retorcidos. O clima é semiárido com baixa umidade e pouco volume pluviométrico, o que define a paisagem
e os hábitos dos moradores nesta ecorregião.
As florestas secas são consideradas áreas de transição entre o cerrado e a caatinga. O clima é
principalmente tropical, com uma estação de cinco meses secos. As florestas secas são bastante densas,
com árvores alcançando até 25-30m de altura.
A floresta atlântica estende-se por toda a costa leste da Bahia. As principais formações vegetais
encontradas na região são as florestas (vegetação arbórea), as matas de tabuleiros e matas semidecíduas.
O clima é essencialmente tropical, quente e úmido. A floresta do interior da Bahia é uma ecorregião
formada por um mosaico de florestas perenes misturado com florestas semidecíduas. Estes habitats estão
espalhados por uma região de colinas, chapadas, pequenas montanhas e vales de rios entre a caatinga e a
floresta atlântica. Dentre estas se encontra a floresta estacional semidecidual do planalto da Conquista
(mata de cipó). Este ambiente possui biota singular, mas está altamente ameaçada por ações antrópicas,
principalmente pelo estabelecimento de pastagens.
As restingas são ecossistemas costeiros distribuídos ao norte e sul da Bahia. Ao norte o clima é mais
seco com temperaturas médias de 28ºC e ao sul o clima é mais úmido com pluviosidade média de 1.600

João Pessoa, outubro de 2011


95

mm anuais. Finalmente, os manguezais ocorrem em áreas alagadas com solos salinos de praias, ocorrendo
desde a zona intertidal até a marca de maré alta (WWF, 2001).

Coleta de dados
Os registros de ocorrência das espécies de triatomíneos foram obtidos a partir de dados de
capturas em ambiente domiciliar entre 2001 e 2009, fornecidos pelo Programa de Controle da Doença de
Chagas do estado da Bahia. Dados de ocorrência das espécies de triatomíneos em ambiente domiciliar
entre 1975 e 1983 também foram considerados (Silveira et al., 1984). Este programa mantém a vigilância
ativa (pesquisa dos agentes em unidades domiciliares pelo menos uma vez ao ano) e passiva (notificação
pelo morador nos Postos de Informações de Triatomíneos – PITs) de acordo com uma classificação de risco
(Silveira, 2004).
Os registros de ocorrência das espécies foram relacionados com as ecorregiões (WWF, 2001)
presentes no Estado e as coordenadas geográficas (longitude e latitude da sede do município) foram
obtidas usando a base de dados do IBGE (http://www.ibge.gov.br). Os mapas de distribuição geográfica
das espécies de Triatoma na Bahia foram criados e editados usando o programa ArcView (versão 3.2).

Resultados e Discussão
Foram registradas dez espécies do gênero Triatoma em ambiente domiciliar entre 2001 e 2009 no
estado da Bahia: T. sordida, T. pseudomaculata, T. infestans, T. brasiliensis, T. petrocchiae, T.
melanocephala, T. lenti, T. tibiamaculata, T. costalimai e T. vitticeps (Fig. 1). Outras espécies recentemente
descritas como T. sherlocki e T. juazeirensis (PAPA et al., 2002, COSTA e FELIX, 2007) e a espécie
cosmopolita T. rubrofasciata (DIAS et al., 2000) também já foram registradas na Bahia, porém não foram
detectadas em ambiente domiciliar entre 2001 e 2009. Considerando estes registros, são reconhecidas 13
espécies de Triatoma no estado da Bahia.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


96

Figura 1. Distribuição geográfica de Triatoma spp. no estado da Bahia por ecorregião.

João Pessoa, outubro de 2011


97

A espécie mais amplamente distribuída foi T. sordida (148 registros), seguida de T. brasiliensis (95
registros) e T. pseudomaculata (67 registros). T. sordida é a espécie de triatomíneo mais capturada no
Brasil, sendo característica do cerrado (Diotaiuti et al., 1993). Na Bahia, T. sordida foi a principal espécie em
áreas de cerrado do oeste baiano, porém também ocorreu em campos rupestres, áreas de caatinga,
florestas secas e úmidas, mostrando capacidade adaptativa a diferentes ecorregiões. Apesar disso, T.
sordida ocorre predominantemente no peridomicílio e alimenta-se geralmente de sangue de aves, o que
reduz as chances de transmissão do T. cruzi ao homem por esse vetor (Diotaiuti et al., 1993; DIAS et al.,
2000). T. brasiliensis e T. pseudomaculata ocorreram em áreas mais secas, predominantemente na
caatinga, o que está de acordo com Costa et al. (1998) e Machado-de-Assis et al. (2007). T. pseudomaculata
vive naturalmente sob cascas de árvores secas na caatinga (Carcavallo et al., 1998) e um dos fatores de
risco de domiciliação desta espécie pode ser o transporte passivo de lenha para uso diário e madeira
para construção de cercas. O clima semiárido da região central e nordeste da Bahia, com temperaturas
médias anuais entre 27ºC e 29ºC e chuvas irregulares, são favoráveis à ocorrência destas espécies nessas
áreas.
A quarta espécie mais amplamente distribuída foi T. melanocephala ocorrendo desde áreas de
caatinga na região central da Bahia até a floresta Atlântica. Já T. lenti apresentou uma distribuição mais
restrita a florestas secas e caatinga, não ocorrendo em áreas mais úmidas. Esta espécie também foi
detectada em áreas rupestres da Chapada Diamantina. A ecologia de T. melanocephala e T. lenti ainda não
é bem conhecida (Carcavallo et al., 1998) e futuros estudos nessas áreas poderão esclarecer o potencial de
domiciliação dessas espécies.
A ocorrência residual de T. infestans em vários municípios na Bahia após os esforços de
controle sinaliza a importância de uma vigilância entomológica continuada com a finalidade de eliminação
dessa espécie no estado (Silveira e Dias, 2011).
T. tibiamaculata apresentou uma distribuição geográfica mais restrita às ecorregiões florestais
(floresta atlântica e floresta de cipó). Essa espécie foi registrada somente na porção leste da Bahia em
algumas poucas áreas de restinga e de caatinga, além do sul do Estado com apenas um registro da espécie.
No território baiano, espécimes de T. tibiamaculata infectados por T. cruzi têm sido frequentemente
encontrados em áreas urbanas, principalmente nos meses mais quentes (SANTANA et al., 2011).
Outras espécies de Triatoma ocorreram raramente na Bahia, como T. petrocchiae com um registro
na região da Chapada Diamantina, T. costalimai com dois registros na região oeste da Bahia e T. vitticeps
com um registro na região do sudoeste baiano.
Os resultados mostraram uma associação entre a ocorrência das espécies de Triatoma na Bahia e
as ecorregiões; por exemplo, T. pseudomaculata e T. brasiliensis ocorreram predominantemente na
caatinga, diferente de T. tibiamaculata, cuja ocorrência foi relacionada a áreas de floresta atlântica. Por
outro lado, T. sordida apresentou uma distribuição mais ampla, ocorrendo em mais de três ecorregiões. Os
mapas de distribuição geográfica indicaram ainda uma maior ocorrência de triatomíneos na região
semiárida da Bahia, coincidindo com áreas de caatinga. T. sordida, T. pseudomaculata e T. brasiliensis
foram as espécies de Triatoma com maior importância epidemiológica considerando a ampla ocorrência no
estado da Bahia e o potencial sinantrópico.
Os principais desafios para o controle e vigilância entomológica da doença de Chagas na Bahia são a
eliminação dos focos residuais de T. infestans e a redução da infestação e colonização das casas por
espécies nativas com ampla distribuição e alto potencial sinantrópico descritas no presente trabalho. Para
isso, recomenda-se reforçar o controle nos municípios de maior risco de transmissão (com registro de T.
infestans) com a visitação rotineira dos agentes de saúde e reforço de programas como o PETi (Programa
de Eliminação de T. infestans). Nos outros municípios, recomenda-se reforçar a vigilância das espécies
nativas com ampliação dos PITs (Postos de Informações de Triatomíneos), estímulo à notificação pelo
morador com medidas educacionais, controle químico seletivo e manejo ambiental. Essas ações devem ser
realizadas principalmente nas áreas semiáridas da Bahia, onde a ocorrência e os índices de infestação são
maiores.

AGRADECIMENTOS
A Jorge Mendonça, da Secretaria Estadual de Saúde de Salvador, Bahia.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


98

Referências
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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


100

MOBILIZAÇÃO SOCIAL PARA O CONTROLE DE SIMULÍDEOS NO RIO


GRANDE DO SUL
Lucia Beatriz Lopes Ferreira MARDINI;
Secretaria da Saúde/Centro Estadual de Vigilância em Saúde
Médica Veterinária
lucia-mardini@saude.rs.gov.br
Tânia Marli Stasiak WILHELMS,
Arquiteta
tania-wilhelms@saude.rs.gov.br
Secretaria da Saúde/Centro Estadual de Vigilância em Saúde
Tânia Maria AZAMBUJA
Engenheira
Secretaria da Saúde/Centro Estadual de Vigilância em Saúde
tania-azambuja@saude.rs.gov.br

RESUMO
O ataque de insetos da família simuliidae (DIPTERA:SIMULIIDAE) no Rio Grande do Sul causa
agravos à saúde, motivo pelo qual são considerados como um problema de saúde pública. Atualmente 42%
dos municípios do estado estão vinculados a este Programa e realizam alguma ação para o controle do
inseto. Em Bom Jesus, localizado a 237 km de Porto Alegre, na serra gaucha, a população tanto na área
urbana quanto na área rural, passou a sofrer ataque deste inseto em 2009. Devido a esta situação, a
Secretaria Estadual da Saúde, Centro Estadual de Vigilância em Saúde (SES/CEVS) orientou a implantação
de ações para seu controle. Avaliações das condições ambientais do município indicaram a ocorrência de
depósito de lixo nos cursos de água, ausência de esgotamento sanitário, desmatamento das matas ciliares
e desinformação da população sobre o vínculo desta situação com a presença do inseto. Foi reunido um
grupo técnico no CEVS para desenvolver um estudo de caso e encaminhar sugestões em apoio ao municio,
nas ações necessárias para minimizar o problema. Como resultados, foi criada uma agenda de atividades no
município, incluindo palestras de sensibilização para a comunidade. Como parte desta agenda foram
realizadas duas reuniões. A primeira com a participação de 250 servidores da prefeitura que serão
multiplicadores das informações e recomendações para a comunidade. Foram repassadas as informações
de todas as ações desenvolvidas até o momento e a situação ambiental como causa do ataque do inseto. A
segunda reunião de sensibilização foi com as 50 famílias em situação de vulnerabilidade social, residentes
na periferia do município e que receberão banheiros construídos pela prefeitura em parceria com a
Secretaria Estadual de Habitação. A importância do saneamento para redução do ataque de simulídeos fez
parte da oficina com as famílias.
Palavras chave: Simulídeos, controle, Bom Jesus, mobilização social

INTRODUÇÃO
Simulídeos são insetos cosmopolitas que no Brasil recebem o nome vulgar de pium no norte e
borrachudos no sul e sudeste (HAMADA & MARDINI, 2011). Algumas espécies da família Simuliidae são
antropofílicas. Os ataques destes insetos no Rio Grande do Sul, além de extremo desconforto, geram
agravos à saúde com o desenvolvimento de reações alérgicas e infecções secundárias causadas por suas
picadas (MARDINI, 2009). O controle destes insetos envolve manejo ambiental, controle entomológico da
fase larval com inseticidas biológicos e educação ambiental. Por se constituir num problema de Saúde
Pública, a coordenação estadual do Programa está a cargo da Secretaria da Saúde no Centro Estadual de
Vigilância em Saúde (SES/CEVS) e tem como objetivo assessorar os municípios na implantação de ações que
resultem na diminuição do ataque do inseto. Atualmente 42% dos municípios do estado estão vinculados
ao Programa Estadual, entre eles, Bom Jesus, com 11 mil habitantes,localizado a 237 km de Porto Alegre,
na serra gaúcha, a 1046 metros de altitude (MARDINI et al.2011) (Figura 1 e 2).
Em 2009 o município registrou intenso ataque de borrachudos. Na avaliação epidemiológica
realizada para avaliar a situação do ataque, 82% da população entrevistada apresentou reações alérgicas
decorrentes das picadas do inseto (MARDINI et al. 2011). Para a identificação das espécies envolvidas no

João Pessoa, outubro de 2011


101

ataque, foram realizadas quatro coletas de pupas em riachos na periferia da cidade. Nestas coletas foram
identificadas seis espécies, das quais três são conhecidamente antropofílicas e duas suspeitas de
antropofilia (Tabela 1).

Tabela 1. Espécies coletadas em 2010 no município de Bom Jesus, RS


Espécie Situação
Simulium inaequale antropofílico
Simulium grupo incrustatum antropofílico
Simulium grupo subnigrum Não antropofílico
Simulium orbitale Suspeito de antropofilia
Simulium pertinax antropofílico
Simulium riograndense Suspeito de antropofilia

Frente a esta situação, em 2010, umas séries de atividades foram desenvolvidas para implantação
das ações técnicas de controle do inseto sob orientação da SES/CEVS, iniciando com a capacitação da
equipe municipal encarregada do trabalho. A seguir, os riachos foram mapeados, georeferenciados e
receberam estacas numeradas com o objetivo de facilitar seu percurso por ocasião da aplicação do
biolarvicida.
Foi realizado um levantamento hidrológico para definir o melhor local para a construção do
medidor de vazão tipo “Parshal” modificado (SILVEIRA et al, 1995; SILVEIRA, 1997), estrutura que permite
determinar a vazão do curso de água no momento da aplicação do biolarvicida, assim como determinar as
doses do produto e os pontos de aplicação conforme o Guia de Orientação da SES/CEVS (RIO GRANDE DO
SUL, 2006) Após a construção do medidor de vazão, todos os riachos do município foram correlacionados
com a calha em porcentagens, permitindo o cálculo da dose a ser aplicada nestes cursos de água.
Paralelamente a implantação da técnica que permite o controle entomológico do vetor, a equipe do
Programa Estadual realizou levantamento ambiental nas localidades com registro de ataque do inseto. O
levantamento possibilitou verificar a deposição irregular de lixo orgânico e inorgânico nos riachos, ausência
de esgotamento sanitário, favorecendo o desenvolvimento do ciclo do inseto pela maior oferta de alimento
e substrato de fixação, além de desmatamento das margens dos cursos de água. Verificou-se também que
a população conhecia o inseto, mas desconhecia que fatores associados ao meio ambiente favorecem seu
ciclo de vida. Com base nestas informações foi reunido um grupo técnico para realizar um estudo de caso.

MEDODOLOGIA
Estudo de caso com avaliação das variáveis ambientais presentes no levantamento ambiental nas
áreas urbana e rural. Criação de grupo técnico no CEVS para análise dos dados coletados e elaboração de
relatório com recomendações de curto, médio e longo prazo. Planejamento de ações, cronograma de
reuniões com os gestores do município, servidores municipais incluindo mobilização popular.

RESULTADOS
Com base na avaliação do município foram realizadas reuniões no CEVS para o estudo do caso Bom
Jesus. Este estudo teve a participação de técnicos da Vigilância Ambiental em Saúde, da Vigilância
Epidemiológica e residente do CEVS. O estudo apontou as áreas de vulnerabilidade no município relativas a
enchentes, deslizamentos, localização inapropriada de moradias, situação de poluição dos cursos de água,
desmatamento, deposição inadequada de lixo e do esgotamento sanitário, vinculando estas situações
levantadas com o aumento do ataque do inseto (figura 3).Como produto deste estudo, foi construído um
relatório entregue ao gestor municipal e seu secretariado com propostas para o desenvolvimento de
atividades em curto, médio e longo prazo. Em curto prazo, o relatório indicou a emergência da realização
do controle entomológico do inseto com o objetivo de reduzir sua população e com isto seu ataque.
Também foi apontada a necessidade imediata da sensibilização da comunidade para mudanças de hábitos
na deposição do lixo orgânico e inorgânico. Em médio prazo, revisão da situação do esgotamento sanitário
no município e em longo prazo, implantação de sistemas de tratamento de esgoto residencial.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


102

Na etapa de sensibilização para mudança de comportamento, o grupo técnico do CEVS promoveu


junto com o município, uma reunião com todos os seus servidores em um evento que durou 3 horas e teve
a participação de 250 pessoas. Nesta reunião foram relatados os trabalhos realizados até o momento,
mostrando a realidade da situação ambiental no município e indicando a necessidade de cada um ser
agente transformador desta situação, com o compromisso da multiplicação das informações junto a sua
localidade (Figura 4). A seguir a equipe trabalhou com 50 famílias moradoras de áreas de vulnerabilidade
social e que estão sendo contempladas com banheiros construídos pela prefeitura em parceria com a
Secretaria de Habitação, Saneamento e Desenvolvimento social (SEHADUR-RS). O objetivo deste trabalho
foi mostrar de forma clara e objetiva a ligação entre a presença do inseto e o saneamento residencial,
transferindo para cada família a responsabilidade como agente de transformação e disseminação das
informações (Figura 5).

DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
O problema apontado pelo município de Bom Jesus, com base na reclamação de seus moradores
era o forte ataque dos insetos conhecidos como borrachudos. A avaliação dos técnicos do Programa
Estadual de Controle do Simulídeos da SES/CEVS indicou que havia grande proliferação do inseto e que a
população estava desenvolvendo reações alérgicas decorrentes das picadas, conforme o instrumento
epidemiológico aplicado. As etapas do protocolo técnico necessárias ao enfrentamento do problema para
o controle entomológico do inseto foram desenvolvidas pelo município com a assessoria da equipe do
Programa Estadual do CEVS, o que fez com que a população do inseto baixasse a níveis aceitáveis.
Entretanto, era importante encontrar a causa do problema e para isto foi mobilizada uma equipe
multiprofissional com o objetivo de realizar uma avaliação por diferentes focos. Esta análise indicou as
variáveis ambientais e sociais envolvidas no problema, com população de baixa renda e baixo nível de
educação formal, deposição de lixo nos riachos, ausência de saneamento, baixa estima dos moradores,
convivendo com um ambiente desordenado e poluído. Embora não existam movimentos sociais no
município, o que dificulta o envolvimento da comunidade em ações participativas, o apoio do gestor
municipal foi positivo. As ações concretas como o projeto de construção de banheiros, foram marcos
importantes para começar a mudar a situação ambiental e de mobilização no município. Após este
primeiro passo, com a mobilização política do executivo e social da comunidade, a caminhada continua
para a ampliação do saneamento ambiental no município.

FIGURAS

Figura 1: Município de Bom Jesus, Figura 2: Mapa aéreo de Bom Jesus


Rio Grande do Sul com a rede hidrológica em vermelho

João Pessoa, outubro de 2011


103

Figura 3: Riacho em Bom Jesus,RS

Figura 4: Reunião e palestra de sensibilização Figura 5: Reunião com as 50 famílias contemplados


para os servidores, Bom Jesus, RS com banheiros, Bom Jesus, RS

REFERÊNCIAS:
HAMADA, N. ; MARDINI, L.B.L.F.. Entomologia médica e veterinária., Ed. Atheneu org. Carlos
Brisola Marcondes. p.71-93, 526p. 2011.
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MARDINI, LBLF; WILHELMS, TMS; FLORES,E.R.;KIELING,E.; AZAMBUJA,T.; DIAS,V.º; COSTA,IA.
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Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais, v.3, n.4, p.31-39, 1995.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


104

EDUCAÇÃO ALIMENTAR: UTILIZAÇÃO DA PALMA FORRAGEIRA NO


COMBATE A FOME ENDÊMICA NO MUNICÍPIO DE GILBUÉS-PI
Maria da Conceição Marcelino PATRÍCIO1
Raimundo Mainar de MEDEIROS2
Virgínia Mirtes de Alcântara SILVA3
1Mestranda em recursos naturais
2Doutorando em meteorologia
3 Graduada em Ciências Biológicas
Centro de Tecnologias e Recursos Naturais - CTRN - UFCG-Universidade Federal de Campina Grande
Campus Campina Grande - Avenida Aprígio Veloso, 882, bairro do Bodocongó-pb, Brasil
Caixa Postal 10078 - 58109-970
3Universidade Vale do Acaraú – UVA
Av. da Universidade, 850 - Campus da Betânia CEP. 62.040-370 - Sobral - Ceará
Telefone para contato: (88) 3677-4271
Emails: ceicca@gmail.com; mainarmedeiros@gmail.com; virginia.mirtes@ig.com.br

RESUMO
A fome é um problema de dimensão global, ocorre principalmente em países subdesenvolvidos. As
conseqüências das desigualdades socioeconômicas passam a ser demarcadas como ausência do
desenvolvimento em nível mundial. O subdesenvolvimento caracteriza o atraso, o responsável pela
existência da pobreza, da fome, da exclusão e da vulnerabilidade social. Fome é um termo que se dá a
sensação fisiológica, no qual, o corpo percebe que necessita de alimentos para manter suas atividades
inerentes à vida. Mas, a ideia desse trabalho não é discutir a fome epidêmica e sim fornecer uma ampla
visão das coletivas fomes parciais (endêmica) em sua infinita variedade. O município de Gilbués-PI possui
uma população carente e além disso, as hortaliças e olericulturas são vindas de outra cidade, Barreiras-BA
uma vez por semana. Portanto, o consumo da palma na alimentação humana nesse município é bastante
viável por ser uma cultura de fácil manejo e de adaptação ao clima semiárido. Essa hortaliça do sertão,
assim chamada por alguns pesquisadores possui alto teor nutricional, como vitaminas cálcio e ferro. O
principal objetivo desse artigo é levar o conhecimento e o incentivo ao consumo da palma como sendo uma
das formas de combater a subnutrição. Este trabalho deve começar pelas escolas, com participação de
alunos, professores e merendeiras, desenvolvendo e incentivando plantios de palmas, no intuito de
eliminar a escassez nutricional através de uma educação alimentar, como também abolir os efeitos do
preconceito com a utilização da palma, uma vez que esta só é utilizada pelos nordestinos para a
alimentação animal. Espera-se que as informações aqui apresentadas possam subsidiar futuras pesquisas
na região com a implantação de projetos que viabilizem o consumo da palma e contribua com o
desenvolvimento sustentável.
Palavras chaves: Palma forrageira, fome endêmica, educação alimentar.

1. INTRODUÇÃO
A fome é um problema tão antigo quanto à vida, afirma Josué de Castro. A grande ameaça do
problema da fome não é a insuficiência alimentar e sim a alimentação mal constituída, ou seja, pobre em
nutrientes. Com isso, a ausência de proteínas e vitaminas determinará o mau funcionamento do
organismo, ocasionando defeitos nas crianças e fraquezas nos adultos. Os efeitos da má alimentação são
muito mais profundos do que se pensava influi no aprendizado, na longevidade e na qualidade de vida.
Grupos inteiros de populações se deixam morrer lentamente de fome, apesar de comerem todos os dias.
Neste artigo, apresenta a palma forrageira como uma das alternativas de combate a fome
endêmica, principalmente em comunidades carentes de regiões propícias a longa estiagem. A palma é uma
cultura de fácil manejo e de riquíssimos nutrientes, além de se adaptar a solos semiáridos. Conforme
Domingues (1963), a palma forrageira é cultivada com sucesso no semi-árido nordestino e nas regiões
áridas e semi-áridas dos Estados Unidos, México, África do Sul e Austrália tendo sido introduzida no

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Brasil em 1880, no Estado de Pernambuco, por meio de raquetes provenientes do Texas,


Estados Unidos.
O Município de Gilbués-PI, é muito carente em hortaliças e olericultura. As hortaliças são trazidas
uma vez por semana de Barreiras-BA, implicando diretamente em sua qualidade no mercado e as frutas
regionais sazonais não são necessárias o suficiente para se ter um estoque após um período de entresafra,
ocorrendo assim, um desequilíbrio nutricional.
O broto da palma está sendo usado na alimentação humana, como hortaliças do deserto, com altos
teores nutricionais e de sabor agradável. Até então, os produtores só conheciam a utilização da palma
como forrageira para alimentação animal. A proposta contida neste artigo é inserir a cultura da palma em
unidades de ensino no Município de Gilbués-PI. Essa é uma das alternativas plausível, de trabalhar com a
comunidade escolar em prol de uma boa educação alimentar, como também erradicar com o preconceito
da palma forrageira, e assim, gerar futuros cidadãos nutridos e pensantes.

2.1. Localização geográfica


O município de Gilbués está localizado na microrregião do Alto Médio Gurguéia, compreendendo
2 o
uma área de 3.495 km . A sede municipal tem as coordenadas geográficas de 09 49’55’’ de latitude sul e
o
45 20’38’’de longitude oeste de Greenwich e está a cerca de 800 km de Teresina, capital do estado do
Piauí. No mapa, ilustrado na Figura 1, está a localização do Piauí dentro do Brasil, no detalhe superior em
vermelho e do município de Gilbués em vermelho na parte inferior do mapa do Piuaí.
O Município está inserido na faixa de transição entre o domínio dos cerrados do Brasil Central e o
domínio do semi-árido do nordeste brasileiro. Como conseqüência sua cobertura vegetal caracteriza-se por
uma variação entre Cerrado, Cerradão e Caatinga.

Figura 1: Localização do Município de Gilbués em relação ao Estado do Piauí


Fonte: http://www.wikipedia.org. Adaptado.

4 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

4.1 - A fome no mundo


Logo nas primeiras páginas do livro “Geografia da Fome” de Josué de Castro, é enfatizado o
problema da fome como sendo algo tão antigo quanto à vida. Seguindo os princípios de Lavoisier no séc.
XIX, considerado o criador da química moderna, os elementos químicos são encontrados na natureza e nos
seres vivos, supunham que seriam imutáveis e indestrutíveis. Portanto, o organismo não sabe fabricar
elementos químicos. Por essa razão, os indivíduos devem encontrá-los todos na sua alimentação. Já no
século XX acreditava-se que de posse dos alimentos os seres vivos poderiam sintetizar todas as moléculas
de que precisariam. Mas os indivíduos são químicos incompletos. Descobriu-se também uma série de
moléculas (vitaminas, ácidos graxos, ácidos aminados) dos quais não sabemos produzir e que é preciso
encontrá-las preparadas dentro da alimentação e que são indispensáveis à vida.
Castro (1984), já dizia que a grande ameaça do problema da fome não é a insuficiência de
alimentos e sim a alimentação mal constituída, ou seja, pobre em nutrientes. Com isso, a ausência de

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moléculas no alimento determinará o mau funcionamento do organismo ocasionando defeitos nas crianças
e fraqueza parcial nos adultos. Os efeitos da má alimentação são muito mais profundos do que se pensava,
influi na longevidade e na qualidade de vida. A fome, como objeto, no discurso de Josué de Castro, é bem
definida. Diferentemente da fome provocada por contingências excepcionais, ele se refere à fome oculta,
na qual, pela falta permanente de determinados elementos nutritivos, em seus regimes habituais, grupos
inteiros de populações se deixam morrer lentamente de fome, apesar de comerem todos os dias.
O princípio das Teorias de Thomas Robert Malthus no séc. XVIII e XIX defendem que o ritmo
do crescimento populacional cresce de forma progressiva e geométrica e quanto ao crescimento dos
alimentos seria de forma progressiva e aritmética, ou seja, ao passar dos tempos o crescimento
populacional ultrapassaria o crescimento da produção de alimentos, chegando a conclusão que as áreas
cultiváveis de todos os continentes estariam completamente esgotadas e que no entanto a população
mundial continuaria a crescer, gerando dessa forma uma fome generalizada. O que Malthus não previu foi
o avanço da tecnologia no setor agrícola (mecanização, irrigação, melhoramento genético e entre outros).
A produção de alimentos se acelerou graças ao desenvolvimento tecnológico (HENRIQUES, 2007).
O progresso da ciência, permite produzir alimentos em larga escala, trava epidemias e
melhora as condições de vida. Infelizmente os recursos são maus distribuídos, as más gestões políticas são
cada vez mais presentes num mundo complexo e desequilibrado.
O problema da fome não é fácil de ser resolvido, não restam dúvidas. Mas pode ser exposto
claramente. A Revista eletrônica Mundo e Missão traz um relato das verdadeiras causas da fome do
mundo, são elas: as grandes áreas com monoculturas, que na maioria das vezes é destinada à exportação;
diferentes condições de comércio entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos os quais exportam a
matéria prima a preços manipulados pelos países desenvolvidos e na busca de incentivos fiscais e mão de
obra barata; e ainda os conflitos armados, dívidas externas, desigualdades sociais e o neo-colonialismo.
Tudo isso, contribui para o alastramento da pobreza e miséria em todo mundo.

- A fome no Brasil
A fome no Brasil é endêmica (e não epidêmicas ocasionadas pelas guerras, grandes catástrofes
naturais), ou seja, também chamada de fome oculta que tem o mesmo significado de desnutrição.
Portanto, se a alimentação não for balanceada pode desencadear no indivíduo uma série de problemas de
saúde, principalmente a desnutrição pela ausência de alimentos vitais que pode levar a morte. São
principalmente essas coletivas fomes parciais e específicas que em sua infinita variedade constituem os
estudos de Josué de Castro.
Conforme Valente et al, o desequilíbrio de peso, para mais ou para menos está relacionado à má
alimentação, uma vez que os açucares e as farinhas consumidas em excesso provocam aumento de peso,
mas não alimentam. A desnutrição atinge cerca de 800 milhões de pessoas em todo mundo afirma Eliane
Percília da Equipe Brasil Escola.
Os avanços tecnológicos no Brasil e no mundo já conseguiram resolver problemas tão complexos
como: o domínio da energia nuclear, eólica, solar e tecnologia de ponta, fazendo com que se entendam o
domínio espacial e terrestre, mas, ainda não conseguiram formular meios para abolir com a fome e a
miséria humana.
Estudos comparativos entre a fome e outras calamidades (fome e epidemias) verifica-se que a fome
é a menos debatida, a menos conhecida em suas causas e efeitos (CASTRO, 2011 p.12).
Castro em viajem pelo Brasil elaborou cartas temáticas para as áreas da Amazônia, do Nordeste
compreendendo o litoral e o sertão e para as regiões Centro Oeste e Sul, mostrou e analisou que para cada
uma dessas áreas constatou que o processo de colonização juntamente com o da produção de alimentos e
do aparecimento de doenças, está abotoar ao mal uso de consumo irregular de proteínas e vitaminas que
não decorrem de fenômenos naturais e sim da gestão mal aplicada dos tomadores de decisões publicas e
privadas. Para o autor a reforma agrária seria a solução para a fome. Sendo que, a Reforma Agrária no
Brasil não funciona, devido à corrupção generalizada dos assentados e governantes.
A fome no Brasil não sendo um problema epidêmico, sua natureza é política, social e econômica, ou
seja, não provém de guerras, catástrofes ambientais ou de um regime de escassez, mas, sim, da falta de
recursos que a população carente se depara para adquirir sua alimentação cotidiana. A fome também
produz mais fome, em um ciclo vicioso no qual populações famintas, debilitadas e impossibilitadas de

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produzir alimentos realizam atividades predatórias dos recursos naturais, gerando pobreza de solo e
conseqüentemente levando a desertificação, extinção de espécies animais e vegetais e o
comprometimento do próprio futuro. Entre as causas econômicas da fome, a pobreza continua a ser a mais
importante e profunda (CASTRO et. al. 2003).
E, como o que garante o acesso das pessoas aos alimentos é o seu poder de compra, a perversa
concentração de riqueza produz a miséria de milhões de pessoas e gera o episódio da fome endêmica no
mundo. Vale ressaltar o quanto à fome tem sido objeto de políticas governamentais ou, pelo contrário, o
quanto tem sido desconsiderada.
- Regiões semi-áridas nordestina
Segundo Castro, a flora e a fauna da região semiárida são pobres em recursos alimentares, devido
as dificuldades naturais do clima, precipitação pluvial média anual inferior a 800 mm, e a variabilidade da
salinidade do solo e do lençol freático e espelho de água, exceção feita ao rio São Francisco.
O Nordeste sempre foi uma região cujo destino esteve muito associado a sua condição de colônia
de exploração. Portanto, devido as suas características climáticas e a proximidade com a Europa, não
diferentemente do resto do Brasil, desde o período de sua ocupação passou por diferentes ciclos de
atividades predatórias de seus recursos naturais, de ordem agrícola, pecuária, industrial ou de extrativismo,
que resultaram em danos irreversíveis aos seus biomas e respectivos ecossistemas.
Ainda em Castro, para enfrentar relativa pobreza natural do sertão, a ocupação econômica desta
região se deu por meio da pecuária extensiva, iniciada no século XVI, impulsionada pelo mercado que se
formava nas zonas canavieiras cada vez mais carentes de animais para utilização como força de tração e
para atender ao mercado consumidor de carne e de mineração. Os rebanhos caprinos, ouvinos e bovino
(pé-duro), rústicos e resistentes a altas variações climáticas, também se adaptaram às condições
ambientais da região semi-árida, contribuindo para aumentar a oferta local de carne e leite, gerando desse
modo as atividades pecuárias extensivas e a lavoura de algodão na região.
A questão de segurança alimentar e nutricional no semiárido nordestino não podem ser dissociadas
do processo estrutural de desigualdade que desfigura, historicamente, o desenvolvimento socioeconômico
do país. O Brasil é um país de enormes desigualdades econômico e grandes problemas sociais. A renda de
1% da sua população mais rica é quase igual aquela dos 50% mais pobres, o que leva o Brasil a fazer parte
da lista dos países com maior desigualdade em distribuição de renda do mundo (FORACHE apud YOUNG,
2004).
Segundo o PAN-Brasil (2004), a região semiárida brasileira, foi definida pelo Decreto no 11.701 de
10/03/2003, abrangendo partes estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco,
Alagoas, Sergipe, Bahia e Minas Gerais, abrangendo uma área de 969.589,4km2 onde vivem cerca de 20,8
milhões de habitantes. (BRASIL, 2005). Constituindo a mais extensa e mais populosa área de pobreza de
todo o mundo, em termos de terras contínuas de um só país e com um baixo nível de desenvolvimento
humano.

A origem da palma forrageira no nordeste


Desde no início do século passado, a palma forrageira é cultivada com sucesso no semi-árido
nordestino e nas regiões áridas e semi-áridas dos Estados Unidos, México, África do Sul e Austrália tendo
sido introduzida no Brasil em 1880, no Estado de Pernambuco, por meio de raquetes
provenientes do Texas, Estados Unidos. Ainda nesse século já se recomendava a utilização das
cactáceas como alimento para o gado. Os custos são baixos, reproduz bem e depois de quatro anos, lucros
sem despesa alguma. A colheita é constante anualmente, durante um período de quatro décadas sem a
menor despesa de cultivo e os frutos aparecem sempre na época do verão (DOMINGUES apud RODRIGUES,
1963).
Conforme Texeira et al. (1999), a palma forrageira foi adotada no Brasil por apresentar
características morfofisiológicas que a tornam apropriada a regiões semi-áridas, constituindo-se uma das
mais importantes bases de alimentação para bovinos.
Na região Nordeste brasileiro, estima-se uma área plantada com palma forrageira em torno de
550.000ha, destacando-se Pernambuco e Alagoas, estados que possui no momento, a maior área cultivada
com esta cactácea (ARAÚJO, 2005).

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4.4 - A palma forrageira na alimentação humana


A palma forrageira é cultivada principalmente para suporte alimentar às cadeias produtivas
dos bovinos, caprinos e ouvinos, além de ser usada também em vários municípios da Chapada Diamantina
como verduras em diversas preparações culinárias para a alimentação humana, aponto de ser
comercializadas nas feiras livres (CHIACCHIO, 2008).
Para as pastagens, o emprego da palma forrageira é bastante conhecido nas regiões onde há longos
períodos de estiagem, água escassa e pouca alternativa de alimento. Já na alimentação humana, o vegetal
vem sendo utilizado em preparações culinárias, tradicionalmente, no México, desde o Império Asteca. Só
muito depois, chegou à Itália, difundindo-se pela Europa.
Conforme Bezerra (2010), hoje, esses preparos recebem toques sofisticados da alta gastronomia,
em pratos e bebidas saborosos e nutritivos. Principalmente, porque a palma forrageira passou a ser vista
como uma das possibilidades de combater a fome e a desnutrição, tão presentes no semi-árido nordestino.
Inclui o fato de esta planta ser aliada nos tratamentos de saúde.
Estudos sobre os componentes nutricionais da palma forrageira indicam se tratar de um vegetal
mais nutritivo do que os comumente encontrados na culinária vegetariana, como a couve, a beterraba e a
banana, com a vantagem de ter baixo custo, sem pesar no orçamento das populações mais carentes. Vale
reforçar que em países como o México, os Estados Unidos e o Japão têm esse vegetal como um alimento
nobre, tradicionalmente servido em restaurantes e hotéis de luxo, em preparos como sucos, saladas, pratos
guisados cozidos e doces. Enquanto no Brasil, o preconceito impede o consumo da palma, principalmente
os nordestinos que no máximo plantam para a ração animal (BEZERRA, 2010).
Os diversos micronutrientes contidos neste vegetal (incluindo, uma grande quantidade de vitamina
A, do complexo B e C, e minerais como o ferro, cálcio potássio e outros), de acordo com a professora da
Universidade Federal da Paraíba e engenheira de alimentos, Ione Diniz, ajudam a evitar a cegueira noturna
nos recém nascidos, além de colaborar para o crescimento das crianças. Ao alimentá-las desde cedo com a
hortaliça, é observada uma melhora na saúde geral por se tratar de uma excelente fonte de nutrientes
essenciais. Comparações nutricionais de alguns alimentos com palma, ver tabela 01.

Alimento Vitamina A (mg) Ferro (mg) Cálcio (mg)


Palma 220 2,8 200
(broto)
Tomate 180 0,8 10
Pimentão 150 0,6 07
Vagem 120 1,3 55
Quiabo 90 0,6 60
Chuchu 20 0,5 07
Couve-flor 05 0,7 120
Tabela 01: Comparação dos valores nutricionais do broto de palma com os das verduras mais utilizadas em
100g de hortaliça.
Fonte: SEBRAE, 2001

Além da ração para animais, como é usada comumente, a palma, que tem três variedades, a
gigante, a doce e a redonda, serve para alimentação humana. “No México, a palma é considerada uma
terceira hortaliça para o consumo humano”, disse o diretor técnico da FAEC (Federação da Agricultura e
Pecuária do Estado do Ceará, engº agrônomo Jorge Prado. De acordo com ele, em todo o País tem gente
morrendo de fome enquanto alimentos como a palma ainda não são explorados devidamente.
A cactácea pode além de ser uma importante aliada nos tratamentos de saúde, já que é rica em
vitaminas A, complexo B e C e minerais como Cálcio, Magnésio, Sódio, Potássio além de 17 tipos de
aminoácidos. A palma é mais nutritiva que alimentos como a couve, a beterraba, a maçã e a banana com a
vantagem de ser um produto mais econômico. Em outras partes do mundo, a palma forrageira é usada na
alimentação humana, arraçoamento animal, como fonte de energia, na medicina, na indústria de
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cosméticos, na proteção e conservação do solo, dentre outros usos nobres, a exemplo da fabricação de
adesivos, colas, fibras para artesanato, papel, corantes, mucilagem, ornamentação e até antitranspirantes
(NUNES, 2011).

- Sugestões para o plantio da palma forrageira em unidades escolares no município de Gilbués-PI


.
O avanço do processo de desertificação nesta região tem reduzido bastante a capacidade
produtiva. As reduções dos recursos hídricos, devido os assoriamentos, empobrecimento dos pequenos
produtores, têm estimulado o seu refúgio. O município é repleto de contrastes ambientais e
socioeconômicos. De um lado, a pobreza extrema, onde predomina o terreno irregular cheio de crateras e
ondulações formadas pela desertificação. Por outro lado, na parte mais alta e plana terras férteis onde há
investimentos agrícolas na produção de grão de soja, milho, milheto, sorgo e algodão. A terra avermelhada
é pobre em cobertura vegetal e ganha espaço a cada dia sobre o município ampliando a miséria da
população mais carente (FERNANDES, 2004).
De acordo com o PAN-Brasil (2004), a desertificação é o resultado final da exploração inadequada
dos recursos naturais de uma região, caracterizada pela degradação do solo, dos recursos hídricos, pelo
desmatamento e principalmente pela extinção da biodiversidade. Dessa forma, aumenta diretamente o
empobrecimento das comunidades, principalmente rurais, reduzindo ou extinguindo a capacidade
produtiva da terra, afetando a sustentabilidade do desenvolvimento comprometendo o futuro das
próximas gerações.
Matallo Junior (2001), afirma que a desertificação está relacionada a uma ruptura no sistema de
equilíbrio do meio ambiente e o sistema de exploração humana, gerando uma crise climática
desencadeando outros processos de degradação, e que a “ideia de degradação de terra é ela mesma uma
ideias complexa com diferentes componentes”. Sejam esses componentes físicos, biológicos, hídricos e
socioeconômicos. Os impactos desses componentes no ambiente geram: degradações de solo, vegetação,
recursos hídricos e redução da qualidade de vida da população.
Com a exaustão do garimpo diamantífero restaram apenas fome e degradação ambiental. Uma
parcela considerável da população de Gilbués vive com grandes dificuldades, mal podendo se sustentar,
devido à escassez de nutrientes no organismo. Além da deficiência de gramíneas e pastos para a
manutenção, alimentação e engorda dos rebanhos bovinos, caprinos e ouvinos.
O município de Gilbués-PI é muito carente em hortaliças e olericultura, uma vez que estas vêm de
outro Estado, Barreiras-BA, uma vez por semana e muitas não chegam com qualidade adequada no
mercado, quanto as frutas regionais não são suficientes para garantir um estoque no período de entresafra,
ocorrendo assim um desequilíbrio nutricional.
O broto da palma está sendo usado na alimentação humana, como hortaliça do deserto, com altos
teores nutricionais e de sabor agradável. Até então os produtores só conheciam a utilização da palma
forrageira para alimentação animal.
Para acabar com o proconceito dessa cultura, é preciso que haja políticas públicas voltadas para a
educação alimentar, esse processo passaria pelas escolas, com palestras, vídeos e outras mídias para
mostrar a importancia dessa cultura na alimentação humana. Dentro da própria escola, como
mostra a Figura 01, é possível iniciar o processo de implantação da palma. Os alunos deverão participar de
todo o processo de plantação, o principal objetivo é fazer com que as crianças cresçam com a certeza de
que o cultivo da palma não tem que ser somente para forragem. Para o manejo do pequeno cultivo é tirado
um grupo de alunos, mães, professores, merendeiras para uma capacitação culinária. Dessa forma, os
alunos aprendem a manejar a palma e a produzir vários alimentos como: sucos, sorvetes, picolé, sopa.
Saladas, cremes, tortas, guisados, ensopados e bolos.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Figura 01: Exemplo de horta dentro da unidade escolar


Fonte: Ione Alves Diniz

O Projeto Palma é um exemplo desse beneficiamento que começa nas escolas com filhos de
produtores rurais e vai até o campo em vários municípios da Paraiba como: Itabaiana, Taperuá, Barra de
Santa Rosa, Cabaceiras, Monteiro e entre outros que vivem com escassez nutricional devido às poucas
chuvas nessas regiões Esses municípios que participam do projeto, as prefeituras cedem a terra e a infra-
estrutura necessária para implantar uma unidade de demonstração e os produtores de forma associativa
entram com o trabalho, ao final a produção é dividida entre eles. O SENAR (Serviço Nacional de
Aprendizagem Rural) e a FAEPA (Federação da Agricultura e Pecuária da Paraíba) montam o Núcleo de
Tecnologia Social, com equipamentos para processamento da palma, transformando-a em concentrado
para suplementar a alimentação humana e animal.
O combate às carências alimentares é visto pelo Projeto Fome Zero como um esforço que deve
envolver não apenas o governo federal, mas também as administrações estaduais, municipais, cooperativas
e a sociedade de modo geral, por meio de políticas locais de segurança alimentar, adequada à realidade
urbana ou rural, aprofundando experiências existentes, como os bancos de alimentos, os restaurantes
populares e o apoio à agricultura familiar. O objetivo desse artigo é mostrar que é possível erradicar a fome
endêmica por meios de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento sustentável, juntamente com
uma boa educação alimentar.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho consistiu em uma análise contextualizada que levanta as questões
relacionadas à fome endêmica na região de Gilbués sudoeste do Piauí. Essa região se encontra diante de
um quadro avassalador devido o processo de desertificação e como consequencia disso o solo torna-se
inadequado para a agricultura, principalmente de hortaliças e olericulturas. É preciso desenvolver
programas que possa contribuir para a divulgação de conhecimento no domínio da educação alimentar
como também a ambiental.
Resultados satisfatórios deverão surgir após o estabelecimento da horta, juntamente com a
comunidade escolar, coleta e beneficiamento da palma como suplementos alimentares nos seres humanos.
A priori deve-se se vencer as barreiras e os preconceitos dessa cultura, para que de um modo geral a palma
venha enriquecer o nosso cardápio.
As doenças infecciosas, a ausência e carência em grandes proporções de avitaminoses e minerais
nos hábitos alimentares, fazem com que ocorra uma maior parcela de fome endêmica. A fome endêmica é
um problema estrutural, esta realidade vem silenciosamente afetando a população em sua maior parcela,
mesmo se alimentando todos os dias. Portanto, a importância da utilização da palma forrageira como
alternativa de suprir todas as carências nutricionais, principalmente em comunidades carentes que há um
grande número de crianças em idade escolar que precisa de uma boa alimentação para um bom
rendimento cognitivo.
Os benefícios de uma boa alimentação são muitos, além de trazer disposição, previnem doenças e
obesidade. E quando se trata de crianças e adolescentes, que estão em pleno estágio de desenvolvimento,
uma alimentação que ofereça nutrientes necessários ao organismo é fundamental. As escolas possuem um

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papel prepoderante na educação. Com a educação alimentar não poderia ser diferente. Apostar na
melhoria da qualidade de vida de seus alunos é um desafio a ser encarado, principalmente vencer a
resistência e o preconceito do uso da palma como alimento humano.

6 - BIBLIOGRAFIA
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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


112

PROBLEMAS SOCIOECONÔMICO E DE SAÚDE DA POPULAÇÃO ATENDIDA


PELA UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA MANDACARU IX (JOÃO
PESSOA/PB)
Maria de Fátima Dantas Pereira1;
José A. Novaes da Silva2.
1 Estudante do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas - CCEN – UFPB; E-mail: fattima_danttas@hotmail.com;
2 Professor do DBM – CCEN – UFPB; E-mail: baruty@gmail.com

Resumo
O estudo foi desenvolvido com a Comunidade atendida pela Unidade de Saúde da Família
Mandacaru IX, no bairro de Mandacaru, localizado no município de João Pessoa, Paraíba. O objetivo é
analisar a qualidade de vida dos moradores bem como montar um quadro relativo à hipertensão arterial.
Para isso utilizou-se como métodos: coletas de dados a partir das Fichas A, questionário individual
estruturado e o WHOQOL-HIV BREF. A população apresenta um universo de aproximadamente 568
pessoas, das quais 369 foram pesquisadas e constatadas que a comunidade é formada majoritariamente
por negros que representam 75,5% dos moradores. Em relação ao sexo a comunidade é formada por 46,6%
de homens e 53,4% de mulheres. De acordo com análise dos dados verificou-se que a comunidade
apresenta baixa qualidade de vida, além de problemas sociais e econômicos referente à moradia,
localização geográfica, infraestrutura, educação, qualificação profissional, emprego e renda, o que afeta de
forma direta a saúde da população no que se refere aos agravantes de saúde, principalmente a hipertensão
arterial a qual se mostra prevalente na população negra.
Palavras-chave: 1. População negra. 2. Hipertensão arterial. 3. Saúde. 4. Unidade de Saúde da
Família Mandacaru IX. 5. Bairro Mandacaru.

Introdução
O presente estudo busca caracterizar as condições sociais e de saúde dos moradores do bairro de
Mandacaru, localizado na região Norte no Município de João Pessoa. O grupo avaliado corresponde à
população da microárea 03 da Unidade de Saúde Mandacaru IX (USF IX). De acordo com o censo do IBGE
do ano 2000 residem nesta área cerca 12.776 pessoas. Segundo Macedo (2009) o bairro de Mandacaru
surgiu a partir de um acordo firmado entre o Padre Zé e Dona Iaiá Paiva proprietária do Sítio Mandacaru,
que decidiu doar suas terras para construção de casas para as pessoas carentes, sensibilizada com o
trabalho filantrópico do instituto São José. Atualmente a unidade urbana de habitação faz divisa com os
seguintes bairros (Ipês, Estados, Padre Zé, Roger) e com a cidade Portuária de Cabedelo.
Uma característica importante do bairro é a sua riqueza cultural, onde sobrevivem várias
expressões da cultura popular. Nele encontramos três tribos indígenas, uma delas a Tupinambá, foi
fundada em 1948, Quadrilhas Juninas e Grupos de Ciranda. Em relação a sua estrutura encontramos uma
Biblioteca Comunitária Mandacaru que é um "Ponto de Leitura" da Associação Comunitária de Educação e
Cultura - CACTOS em parceria com o Ministério da Cultura (O NORTE ON LINE, 2009). Nele ainda
encontramos uma pedreira em atividade, uma fazenda de camarão marinho. Com relação à infraestrutura
85% do bairro é calçado, possui saneamento básico e água encanada. Infelizmente esta face da localidade é
menos conhecida sendo a mesma muito conhecida da imprensa pessoense devido aos altos índices de
violência. O nome da unidade de urbanização é uma homenagem a um cacto muito freqüente no nordeste
brasileiro.
A saúde passou a ser legitimada como um direito humano pela Organização Mundial de Saúde
(OMS) a partir da Constituição de 1946, onde foi definida, não apenas como a ausência de doença, mas, o
bem-estar físico, mental e social (DALLARI, 1988). Com isso, a saúde passa a ser definida como o bem-estar
completo do indivíduo, além da ausência de patologias, é preciso ter-se uma alimentação saudável,
moradia adequada, boas condições de emprego e renda, nível da instrução, corpo e mente saudável, como
também o acesso aos serviços de saúde pública que respeite os direitos e a individualidade de cada um,

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113

assim, independente de raça/cor, religião, sexo, gênero, classe social, como também ambiente em que
vivem.
O Ministério da Saúde (MS), tem se preocupado com grupos vulneráveis e específicos formadores
de nossa população. Dois exemplos recentes são a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra
(PNSIPN), aprovada em 2006 pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS), a Política Nacional de Saúde Integral
de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, aprovada em 2010 e a Política Nacional de Atenção
Integral à Saúde do Homem aprovada em 2008. A grande dificuldade é que estas políticas necessitam de
planos de ação, envolvendo a preparação dos profissionais de saúde nos estados e municípios, e muitas
vezes esta etapa, por demandar verbas e também a presença de pessoas capacitadas para ministrarem
cursos e formações, não saem do papel ou não chegam a desempenhar o impacto desejado Barboza; Rocha
(2010) e Figueiredo; Peixoto (2010).
Esta nova visão do Ministério da Saúde vem em resposta a crescente “política de criação de
identidades”. Por meio deste diferentes grupos historicamente excluídos e vivenciando situações adversas
buscam conquistar seus direitos (SILVA, 2009). Dentro desta grande gama identitária encontramos os
Movimentos Sociais Negros, que a partir da Conferência de Durban, ocorrida em agosto de 2001, passou a
reivindicar atenção para doenças e agravos nela prevalentes. Dentre os agravos podemos citar a doença
falciforme, o câncer de próstata, diabetes melitos e a hipertensão (BRASIL, 2005).
Objetivo
Com base no exposto este trabalho objetiva apresentar as condições socioeconômicas e de saúde
da população adescrita pela USF Mandacaru IX, para analisar a qualidade de vida de seus moradores. Os
resultados irão contribuir para orientar sobre futuras ações educativas voltadas para a educação em saúde.

Metodologia
O campo de estudo é a microárea 03 da área 175 filiada a Unidade de Saúde da Família Mandacaru
IX (USF IX). A coleta de dados é baseada nas fichas A, que são fichas produzidas pela secretaria municipal
de saúde para o cadastro das famílias junto ao Sistema de Informação de Atenção Básica (SIAB). Estas nos
forneceram informações tais como número de pessoas por moradia, doenças, tamanho da casa. Um
questionário individual foi aplicado para 106 pessoas e a partir do mesmo coletaram-se informações tais
como o pertencimento etnicorracial, e a religião. A este grupo também foi aplicado, WHOQOL-HIV BREF,
um instrumento voltado para a coleta de informações relativas à qualidade de vida previamente validado
pela Organização Mundial de Saúde.
Os dados foram coletados no período de abril a maio, num espaço de tempo de 30 dias, com o
consentimento dos participantes, através de questionários aplicados no domicílio. Os mesmos foram
digitados, organizados e filtrados por meio do programa Excel.

Resultados e discussão
Na microárea 03 residem, 163 famílias, num total de 568 pessoas. Trabalhamos com uma amostra
de 106 famílias, totalizando 369 pessoas havendo 46,6% do sexo masculino e 53,4% do feminino. A
distribuição das mesmas em função do sexo e das diferentes faixas etárias são apresentadas na tabela 01.
De acordo com a autodeclaração das pessoas no quesito “raça”/cor da comunidade tem-se que
autodenominaram pretas como 10,38%, mulatas 0,94%, pardas 32,08%, morenas 32,1%. Amarelos, brancos
e indígenas representaram, respectivamente, 1,9%; 21,7% e 0,9%. A soma dos pertencentes a cores A
população negra local (originada pelo somatório de mulatos, pretos, pardos e morenos) foi de 75,5%.
Pensar a população tendo por base o pertencimento etnicorracial é de profunda relevância, pois desvela
assimetrias em saúde que muitas vezes se ocultam quando se esta é vista e trabalhada em um plano mais
amplo e geral.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Tabela 01. Distribuição percentual por faixa etária e sexo.

O gráfico 01 compara o percentual, segundo “raça”/cor da população pessoense, segundo o censo


do IBGE do ano 2000, com a autodeclaração dos moradores atendidos na microrregião alvo do presente
estudo. Pode-se perceber que a população negra constitui a maioria dos moradores. Os dados aqui
apresentados corroboram os apresentados por Silva; Fonseca (2010) que também trabalharam com
mulheres residentes em bairros populares da Grande João Pessoa.

Gráfico 01. Pertencimento etnicorracial dos moradores da comunidade.

A ocupação de 369 pessoas, de acordo com os dados coletados a partir das Fichas A, nos mostram
que (47,41%) dos habitantes (homens e mulheres) não exercem nenhum tipo de atividade remunerada, os
aposentados representam um grupo de (7,32%) e o restante dos habitantes representam um grupo de
(45,27%), desempenham alguma atividade econômica. A grande maioria recebe baixos salários devido à
falta de qualificação profissional e a baixa escolarização. Em relação ao quantitativo mensal de dinheiro
frente às despesas mensais 0,9% de homens brancos e 2,8% de negros afirmam que o valor recebido é
muito baixo em relação às despesas. Entre as mulheres encontram-se nesta mesma condição 3% de
mulheres brancas e 7,3% de negras. As autodeclaradas indígenas e amarelas representam 0,3% e 0,5%. Em
relação à diferença da renda entre negros e brancos observa-se que “ao longo das duas últimas décadas do
século 20, a renda per capita dos negros representou apenas 40% da dos brancos. Os brancos em 1980
ainda teriam uma renda per capita 110% maior que a dos negros de 2000” (PNUD, 2005, p. 16).
No que tange a escolaridade, as Fichas A, fornecem apenas informações sobre as matrículas das
crianças e jovens, mas não informa a série na qual o estudante está matriculado, o que impossibilita de
analisar a defasagem entre série e idade ou evasão escolar. De acordo com os dados coletados, das 115

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crianças e jovens de ambos os sexos, (68,7%) freqüentam a escola. Dos 32 jovens na faixa etária entre 15 e
18 anos de ambos os sexos, (90,63%) freqüentam a escola. Isto é bastante preocupante, pois se trata de
uma comunidade urbana, fato esse que influencia nas desigualdades sócias, no que se refere a emprego e
renda, como também as dificuldades de absorção pelo mercado de trabalho (ALMEIDA, et al., 2009).

Infraestrutura e condições de moradia


Os domicílios da comunidade em estudo, construídos com tijolos, são caracterizados como
aglomerados urbanos, pois apresentam diversas casas em um mesmo terreno, construídas e cobertas com
materiais de baixa qualidade, tamanhos dos cômodos inadequados, mal acabados, sem espaços adequados
para as crianças brincarem, além de a localização geográfica apresentar ladeiras, o que dificulta o
deslocamento de idosos, e cadeirantes. Das residências 26,2% possuem entre 2 a 4 cômodos; 65% são
formadas por 5 a 6 compartimentos e apenas 8,7% das casas apresentam entre 8 a 11 cômodos.
De acordo com a amostra em estudo dos 106 domicílios, todos são cobertos pelos serviços de
abastecimento de água, de energia e coleta de lixo. Em relação à água consumida (58,49%) dos habitantes
desta comunidade, consomem água clorada, tratamento realizado pela Companhia de Água e Esgoto da
Paraíba (CAGEPA), (38,68%) consomem água filtrada e (2,83%) água fervida. Quanto ao destino das fezes e
urinas (90,57%), utiliza o sistema de esgoto da CAGEPA e os demais utiliza fossa seca. O nível de satisfação
dos moradores com as condições da moradia é apresentado no gráfico 02 e a observação do mesmo nos
mostra que 71,7% dos entrevistados estão satisfeitos ou muito satisfeitos com as condições nas quais
vivem.

A B

C
D

Figura 01. (a) Aglomeramento de casas. (B) Vista panorâmica de uma das ladeiras. (C) Escola Pública. (D) Posto de Saúde.

O estado geral da moradia é um fator relevante para conhecer a qualidade de vida das
comunidades, de acordo com a organização Pan-americana de Saúde, a saúde é influenciada pelas
condições socioeconômicas do indivíduo, além das predisposições genéticas e seu estilo de vida. No
presente trabalho entende-se a qualidade de vida como: “a percepção do indivíduo sobre a sua posição na
vida, no contexto da cultura e dos sistemas de valores nos quais ele vive, e em relação a seus objetivos,

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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expectativas, padrões e preocupações” (SEIDL; ZANON, 2004), sendo, portanto um conceito que extrapola
o poder aquisitivo.
As condições das habitações e o suporte das mesmas, no que concerte ao suprimento de água e da
coleta de lixo se constituem em um fator protetor contra várias doenças. Um ponto que favorece o
presente ponto de vista é ausência da descrição nas Fichas A, de ocorrência de diarréia e de parasitoses
entre as crianças. Em relação a estas afecções, Lima; Vasconcelos; Silva (1998) ao trabalharem com uma
comunidade de assentados, que não disponham de água tratada, observaram que 56,5% dos moradores
apresentavam algum tipo de parasitose.

Gráfico 02. Nível de satisfação com as condições da moradia.

A habitação é um fator determinante de saúde da população, pois seus moradores estão


relacionados com o ambiente em que vive, levando em consideração o território geográfico e social onde
se localiza como também os materiais usados para a construção, à qualidade desses materiais, como foi
construída, o tamanho dos cômodos, a qualidade dos acabamentos e coberturas, a segurança e a
combinação de todos esses elementos para uma habitação de qualidade. A habitação é um espaço
importante para o desenvolvimento de uma família saudável, pois é nela onde ocorrem as interações
familiares (AZEREDO, et al., 2007).
Em relação à infraestrutura o bairro do Mandacaru consta com nove unidades de PSF, Centro de
Saúde, templos católicos, evangélicos, bem como de umbanda e candomblé.

Hipertensão arterial: um exemplo de assimetria na saúde


De acordo com os dados das Fichas A, no que se refere às doenças, a hipertensão arterial atinge
(4,1%) dos homens e (9,5%) das mulheres. De acordo com os dados coletados a doença apenas tem sido
reportada por pessoas acima dos trinta anos de idade. O cruzamento dos casos de pressão alta com a
“raça”/cor dos moradores nos mostra que entre os homens 3,8% dos casos são de negros um valor que
alcança 9,0% entre as mulheres negras, demonstrando a prevalência da doença na população negra e de
forma mais marcante entre as mulheres negras. Na epidemiologia da doença chamaram de imediato a
atenção da elevada prevalência em negros americanos (LESSA, 2001). Cooper et al. (1999) sugerem que a
ancestralidade negra, ligada a fatores hereditários, não explicam totalmente a prevalência da hipertensão
na população negra. Estes autores demonstram que a prevalência de hipertensão na área rural da Nigéria
era de 7% com um aumento nas áreas urbanas, ao passo que 26% dos negros jamaicanos e 33% dos negros
norte-americanos sofriam. Estas variações nos sugerem que fatores tanto ambientais quanto culturais, tais
como, os lugares ocupados pelas populações negras em diferentes espaços estejam ligados a níveis
pressórios mais elevados. Lessa e colaboradores (2006) também observaram uma maior percentual de
casos da doença na população negra de Salvador, sendo que os níveis pressórios mais elevados eram o de
mulheres negras. O fato de encontrarmos um maior percentual de mulheres hipertensas pode estar ligado
ao fato destas apresentarem um maior cuidado com a saúde, procurando as unidades de saúde com mais

João Pessoa, outubro de 2011


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freqüência (NOBLAT et al, 2004). Muito embora uma maior preocupação com a saúde tenha sido descrito,
com maior freqüência entre a população do sexo feminino é importante que seja citado dado descrito por
Sampaio (2011) segundo o qual de um grupo de 15 mulheres com diagnóstico positivo para a hipertensão,
08 só iniciaram o seu tratamento após uma crise.
A maior prevalência da hipertensão nas mulheres negras pode estar ligada as diferentes formas de
discriminação que estas podem sofrer. No Brasil, o Ministério da Saúde reconhece a existência de um
potencial patogênico decorrente das discriminações. No caso das mulheres negras submetidas às
discriminações de raça, de gênero e de classe social, observa-se um risco maior do comprometimento de
sua identidade, da imagem corporal, de seu autoconceito e autoestima, tais práticas excludentes as
impedem de desenvolverem estratégias positivas de enfrentamento, tornando maior o risco de
comprometimento para sua saúde (CORDEIRO; FERREIRA, 2009).
Estes números podem estar diretamente relacionados ao quantos homens e mulheres consideram
como estão aproveitando suas vidas. Em relação a este ponto temos que 0,9% de brancos e 1,9% de negros
aproveitam pouco. Entre as mulheres brancas e negras estes números sobem, respectivamente, para 9,4%
e 29,2%, um percentual mais elevado de mulheres consideram que estão aproveito pouco sua vida. Um
maior percentual de mulheres hipertensas também foi detectado por Silva (2007) entre os moradores da
comunidade quilombola de Caiana dos Crioulos.
A hipertensão arterial, a doença crônica de maior incidência no mundo contemporâneo (BRASIL,
2006), é um dos exemplos de assimetria encontrados na saúde, pois sua prevalência esta ligada tanto a
aspectos raciais quanto ao gênero, observando-se uma nítida prevalência na mulher negra. O
desenvolvimento da hipertensão vai muito além do consumo elevado de sal, estando frequentemente
associados à baixa escolaridade, aos problemas sociais crônicos, como pobreza, hostilidade e racismo
pontos estes que têm sido utilizados para tentar explicar as grandes diferenças de prevalência de
hipertensão entre os negros americanos (Lessa, 1998). Araújo (1994) demonstrava a maior probabilidade
(9%) de aparecimento desta doença nas mulheres negras e alertando ainda para as conseqüências no
processo gravídico e na morte materna por toxemia decorrente de hipertensão arterial. Paixão; Carvano
(2008, p. 49) apontam para um número mais elevado de óbitos entre a população negra. Segundo os
autores, entre os anos de 1999 e 2005 “a mortalidade de pretos e pardos por hipertensão cresceu 81,6%,
ao passo, que entre brancos, 67,8%” e no que tange as mulheres, entre os anos de 2000 a 2005 a
mortalidade por “hipertensão das pretas e pardas cresceu mais (70,1%) do que a das brancas (58,1%)”.
Assim o quadro relativo à pressão alta observada entre as mulheres negras da comunidade atendida
acompanha um quadro de vulnerabilidade a doença observada a nível nacional.

Considerações finais
O presente trabalho demonstrou a grande assimetria a qual estão submetidos brancos e negros
moradores da microárea analisada. Embora os dois grupos dividam e vivam o no mesmo espaço urbano
encontramos na população negra os piores indicadores de qualidade de vida, sustentabilidade, sendo
também este grupo mais vulnerável a hipertensão que um maior número de mulheres em particular as
mulheres negras. Para alterar este quadro uma proposta seria uma maior aproximação entre as secretarias
da saúde, educação e ação social para juntas encontrarem resolutividade para os problemas que afetam a
comunidade da USF Mandacaru IX. Um ponto essencial para a melhoria seria a criação e implantação de
políticas públicas específicas que atendessem a diversidade/assimetria encontrada na comunidade.

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João Pessoa, outubro de 2011


119

OS BARBEIROS E A DOENÇA DE CHAGAS SEGUNDO OS MORADORES DA


ZONA RURAL DO MUNICÍPIO DE TREMEDAL, SUDOESTE DA BAHIA: UMA
ABORDAGEM ETNOPARASITOLÓGICA
SOUZA, N. S.1, COSTA NETO, E. M.2, GURGEL-GONÇALVES, R.3
1Graduanda do curso de Licenciatura em Geografia, Bolsista de IC. Universidade Estadual de Feira de Santana,
Departamento de Ciências Humanas e Filosóficas. E-mail: marasaturnino4@hotmail.com
2Professor Orientador. Universidade Estadual de Feira de Santana, Departamento de Ciências Biológicas. E-mail:
eraldont@hotmail.com
3Professor. Universidade de Brasília, Faculdade de Medicina. E -mail: rgurgel@unb.br

Resumo
Doença de Chagas, uma zoonose endêmica do continente americano, é considerada a infecção
parasitária de maior importância na América Latina devido ao impacto econômico e social. A Bahia é o
estado nordestino que apresenta a maior variedade de espécies de triatomíneos: 21 espécies ocorrem no
estado entre as 27 registradas para a região Nordeste. Esse artigo registra como os moradores da zona
rural do município de Tremedal, no sudoeste da Bahia, percebem a doença de Chagas. Essa abordagem
etnoparasitológica considera aspectos etnotaxonômicos (identificação dos triatomíneos) e socioculturais
(fatores antrópicos que contribuem para a domiciliação dos barbeiros), buscando-se elaborar medidas que
subsidiem propostas culturalmente viáveis relacionadas com saúde pública na região, bem como
estratégias que levem a um menor risco de contato com espécies de barbeiros vetores. Os dados
etnobiológicos foram obtidos mediante realização de entrevistas semiestruturadas no período de 20 a 25
de fevereiro de 2011, com 58 moradores. As representações socioculturais registradas na zona rural de
Tremedal podem ter um impacto significativo sobre a eficácia das intervenções, uma vez que as crenças
locais sobre a causa da doença devem ser avaliadas para determinar se programas de educação em saúde
pública são efetivos para garantir uma melhor forma de controle. Ações dirigidas aos indivíduos visando à
promoção da saúde devem estar voltadas aos seus hábitos, comportamentos e práticas sociais. O processo
de detecção de triatomíneos com a participação da população significa uma vigilância contínua, se
comparado às atividades rotineiras realizadas pelas equipes de profissionais de campo do Ministério da
Saúde. A maioria dos entrevistados (93,2%) reconheceu positivamente os insetos mostrados no teste
projetivo como barbeiros. Entretanto, poucos souberam características relacionadas à sazonalidade,
formas de reprodução e alimentação. Apesar dos respondentes (64%) relatarem que os barbeiros vêm do
“mato”, poucos reconheceram a galinheiros como locais de alojamento dos mesmos. A maioria dos
entrevistados (91%) afirmou que o barbeiro causa doença e sabia alguma forma de prevenir a infestação
dos insetos nas casas. As práticas citadas no caso de encontro de barbeiros nas casas foram captura e envio
para os agentes de endemias (58%) e matar o inseto (40%). Esses resultados mostram que moradores de
áreas rurais de Tremedal possuem um conhecimento satisfatório sobre a identificação, formas de
prevenção e práticas em relação ao barbeiro, porém não tem uma noção adequada do impacto da doença
transmitida pelo inseto. Programas de educação em saúde enfatizando a doença de chagas poderiam
incentivar ainda mais a população na vigilância e controle dos barbeiros em Tremedal.
Palavras-chave: Triatominae, doença de Chagas, saúde pública, educação ambiental, Bahia.

Introdução
A Tripanossomíase Americana ou doença de Chagas é uma zoonose endêmica do continente
americano tendo como agente etiológico o parasito hemoflagelado Trypanosoma cruzi, que é transmitido
pelas fezes de barbeiros, insetos hematófagos da subfamília Triatominae (Hemiptera, Reduviidae) (Chagas,
1909). Essa doença é considerada a infecção parasitária de maior importância na América Latina devido ao
impacto econômico e social (Dias, 2007).
O número de pessoas infectadas pelo T. cruzi na América Latina foi estimado entre 16 e 18 milhões
em 1990 (WHO, 1991). Atualmente, essa estimativa caiu para 7,7 milhões, evidenciando o sucesso das
campanhas de controle vetorial (OPAS, 2006; Rassi et al., 2010). Entretanto, ainda há o risco de transmissão

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


120

do parasito por espécies de vetores silvestres que podem invadir o ambiente doméstico e iniciar novos
focos, mantendo cerca de 109 milhões de indivíduos (20% da América Latina) sob risco de adquirir a
infecção (OPAS, 2006). Importante levar em consideração a modificação do homem no ambiente natural,
que pode contribuir para a dispersão destes insetos de seus ambientes silvestres para o domicílio humano.
Dessa forma, é necessária uma estratégia de intervenção periódica nas áreas onde vetores silvestres e
peridomésticos ocorrem e mantêm o risco de transmissão do T. cruzi ao homem (Schofield et al., 2006).
A Bahia é o estado nordestino que apresenta a maior variedade de espécies de triatomíneos.
Estudos pioneiros sobre as espécies e distribuição geográfica de triatomíneos foram realizados por Sherlock
e Serafim (1972). Segundo Dias et al. (2000), 21 espécies ocorrem no estado entre as 27 registradas para a
região Nordeste. Após o controle da principal espécie vetora (Triatoma infestans), outras espécies de
triatomíneos têm recebido atenção da vigilância entomológica, sendo frequentemente encontradas no
perimomicílio e intradomicílio, como T. sordida, T. pseudomaculata, T. brasiliensis, Panstrongylus megistus
e Rhodnius neglectus. Em 1998, 35 dos 111 municípios baianos investigados apresentaram infestação das
casas por triatomíneos, resultando em 291 unidades domiciliares positivas, sendo cerca de 28.500
triatomíneos examinados, estando 1,25% deles infectados por T. cruzi (DIAS et al., 2000). Entretanto, a
origem desses triatomíneos ainda não foi bem investigada, nem os fatores que influenciam a domiciliação.
Finalmente, o estado da Bahia apresentou entre 1990 e 1997 o maior número de internações por doença
de Chagas comparando com outros estados da região Nordeste (Dias et al., 2000), mostrando, dessa forma,
o grande impacto da doença na Bahia.
A incapacidade laboral associada a esta doença se traduz em dificuldade de inserção no mercado
de trabalho, desemprego e aposentadorias precoces (Dias e BORGES Dias, 1979), transformando a vida dos
indivíduos infectados e gerando alto custo para a sociedade. Assim, estratégias de saúde pública devem
estar voltadas para incluir as representações (maneiras de pensar) e os comportamentos (maneiras de agir)
que os indivíduos possuem para alcançar uma eficiente vigilância epidemiológica do T. cruzi (Uchôa et al.,
2002).
A etnobiologia pode ser entendida como o estudo do conhecimento e das conceituações
desenvolvidas por qualquer sociedade a respeito da biologia (Posey, 1987). No caso de estudos
etnoparasitológicos, o pesquisador, a partir de metodologia adequada, busca registrar os conhecimentos e
as atitudes dos indivíduos sobre os parasitos e as doenças parasitárias, incluindo as formas tradicionais de
tratar os sintomas decorrentes. Estudar, documentar e utilizar esse conjunto de saberes e práticas é muito
importante para encurtar os caminhos da investigação científica com a finalidade de aprender novas
maneiras de lidar com as parasitoses e suas formas de controle, auxiliando novas práticas médicas (Gurgel-
GonçaLves et al., 2007).
Há poucos estudos disponíveis sobre as representações populares relativas à doença de Chagas
(Uchôa et al., 2002). Estudos sobre concepção dessa doença e de triatomíneos em Mambaí-GO (Bizerra et
al., 1981) e Posse-GO (Willians-Blangero et al., 1999) demonstraram que a maioria da população tinha um
alto grau de conhecimento sobre o tema. Por outro lado, em um estudo realizado na Guatemala, 11% dos
soropositivos não reconheciam sinais e sintomas da doença de Chagas (Nix et al., 1995). Estudos realizados
sobre atitudes e conhecimentos referentes à doença de Chagas entre profissionais de saúde da rede
pública de Maringá-PR e Paiçandu-PR indicaram que um grande percentual de profissionais de todas as
categorias apresentou dúvidas relacionadas aos mecanismos de transmissão da doença, reconhecimento
de triatomíneos e encaminhamento de denúncias desses insetos, testes para confirmação do diagnóstico e
possibilidades de tratamento (Colosio et al., 2007). Esses autores indicam que o sucesso ou fracasso do
controle dessa doença nas Américas depende da participação da população local em detectar os vetores
(barbeiros) e avisar às autoridades governamentais, responsáveis pela aplicação dos inseticidas.
Além disso, os indivíduos geralmente reconhecem diferentes tipos de insetos que apresentam
aparência morfológica semelhante aos triatomíneos como barbeiros, eliminando espécimes não
prejudiciais; e utilizam recursos terapêuticos tradicionais (matérias-primas vegetais e orações) no
tratamento de suas doenças (Costa-Neto, 2004).
As representações socioculturais podem ter um impacto significativo sobre a eficácia das
intervenções, uma vez que as crenças locais sobre a causa da doença devem ser avaliadas para determinar
se programas de educação em saúde pública são efetivos para garantir uma melhor forma de controle.
Ações dirigidas aos indivíduos visando à promoção da saúde devem estar voltadas aos seus hábitos,

João Pessoa, outubro de 2011


121

comportamentos e práticas sociais. O processo de detecção de triatomíneos com a participação da


população significa uma vigilância contínua, se comparado às atividades rotineiras realizadas pelas equipes
de profissionais de campo do Ministério da Saúde (Falavigna-Guilherme et al., 2002).
Esse artigo registra como os moradores da zona rural do município de Tremedal, no sudoeste da
Bahia, percebem os barbeiros e a doença de Chagas. Essa abordagem etnoparasitológica considera
aspectos etnotaxonômicos (identificação dos triatomíneos) e socioculturais (fatores antrópicos que
contribuem para a domiciliação dos barbeiros), buscando-se elaborar medidas que subsidiem propostas
culturalmente viáveis relacionadas com saúde pública na região, bem como estratégias que levem a um
menor risco de contato com espécies de barbeiros vetores.

Metodologia
Os dados etnobiológicos foram obtidos mediante realização de entrevistas semiestruturadas
(Sturtevant, 1964) no período de 20 a 25 de fevereiro de 2011. O universo amostral foi constituído de
indivíduos de ambos os sexos e de faixas etárias diferentes. Os indivíduos participantes do estudo
assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) concordando em fornecer as
informações aos pesquisadores. As entrevistas ocorreram em contextos individuais e coletivos, buscando-
se sempre registrar as percepções sobre os insetos, a doença de Chagas, os sintomas e como prevenir-se da
doença.
Os dados foram analisados quali-quantitativamente, seguindo o modelo de união das diversas
competências individuais (Marques, 1991), considerando toda informação fornecida. Os controles foram
feitos por meio de testes de verificação de consistência e de validade das respostas, recorrendo-se a
entrevistas repetidas em situações sincrônicas, em que uma mesma pergunta é feita a indivíduos diferentes
em tempos bastante próximos.
Todo material etnográfico (entrevistas, fotografias, mapas etc.) está guardado no Laboratório de
Etnobiologia e Etnoecologia da Universidade Estadual de Feira de Santana para fins comprobatórios.

Resultados
Um total de 58 indivíduos foi entrevistado, sendo 19 do gênero masculino e 39 do feminino. A
idade média dos participantes foi de 48 anos. A média de filhos na amostra investigada é de 4,2. O grau de
instrução está assim distribuído: 43% são analfabetos, 29% têm o primário, 10% possuem o fundamental
incompleto, 6% têm o fundamental completo, 8% têm o ensino médio e apenas 1% tem ensino superior.
Das 58 residências visitadas, 36 possuíam despensa dentro de casa, enquanto 19 não possuíam
despensa. Apenas três casas tinham despensa fora da casa principal. Do total de casas, 55 (96%) contam
com eletricidade. O tempo médio de construção da residência é de 23,9 anos. O número médio de
cômodos das casas do meio rural de Tremedal é de 8, e de janelas é de 7.
Quanto à estrutura física das casas: 48 têm abertura entre telhado e parede; 48 apresentam
buracos na parede; 43 possuem fendas no piso; 30 têm buracos que dão acesso ao meio externo. Um total
de 98% das casas tem cobertura de telha e 76% (n=44) delas apresentam paredes constituídas de tijolos
com revestimento. No entanto, observam-se casas com paredes de taipa (7%), adobe (8%), de tijolo com e
sem revestimento (5%). Quanto ao acabamento do piso, a maioria das casas possui piso de cerâmica (38%)
ou uma mistura de cerâmica e cimento (33%); 20% das casas apresentam piso de cimento e apenas 12%
têm piso de cimento e terra batida.
A média de animais criados na zona rural de Tremedal, segundo as comunidades visitadas, é:
suínos: 8,39; eqüinos e bovinos: 5,07; caprinos: 6,7; gatos: 4,75; cães: 4,32; animais de granja (galinhas,
patos, perus, gansos, galinhas-de-angola): 76,92.
As distâncias médias dos locais de criação desses animais são: galinheiro, 11,4m; chiqueiro, 7,8m;
curral, 8,3m. O poleiro onde as galinhas dormem fica a aproximadamente 10,7 metros da casa. Entulhos
foram observados na maioria das casas e ficam a 9,5 metros. Palmeiras, como Syagrus coronata e Coccus
nuccifera, estão a apenas 1,6 metro de distância.
Dos 58 entrevistados, 54 (93,2%) reconheceram positivamente os insetos mostrados no teste
projetivo como barbeiros. Além de serem denominados localmente como barbeiros, os triatomíneos são
também conhecidos pelos seguintes nomes comuns: chupão, besouro e bicho-chupança.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


122

Perguntados sobre a época do ano em que os barbeiros aparecem, 34,4% disseram ser o período
de verão, enquanto 14% falaram ser no inverno. A maioria (52%), no entanto, não soube responder.
A maioria dos respondentes (N=37) disse que os barbeiros vêm do “mato”. Poucos reconheceram a
existência de galinheiros e de casas velhas como locais de alojamento de barbeiros: 5% e 7%,
respectivamente.
Quando perguntados sobre quando viram o barbeiro pela última vez, as respostas foram: dentro de
casa (26%), por meio dos agentes da vigilância epidemiológica (8%), no quintal (5%). Nove moradores (15%)
não disseram quando viram o barbeiro pela última vez, enquanto que 6% deles afirmaram nunca ter visto
esse inseto.
Quando perguntados sobre o modo como o barbeiro se reproduz, 48 (83%) não souberam
informar; apenas 8 (14%) comentaram sobre oviposição. No que se refere ao tempo de vida de um
triatomíneo, 98% não souberam informar e o único que respondeu disse ainda que o barbeiro vive por 7
anos.
Com relação à alimentação, 38% dos respondentes afirmaram que o barbeiro se alimenta de
sangue e 6% disseram que ele se alimenta de outros animais. No entanto, mais da metade dos
entrevistados (56%) não soube dizer do que o barbeiro se alimenta.
Um total de 53 respondentes (91%) afirmou que o barbeiro causa doença, enquanto apenas cinco
disseram que não. A maioria também já tinha ouvido falar em doença de Chagas (n = 56; 96%). Um total de
31 entrevistados (54%) não conhece quem tem ou teve a doença de Chagas, enquanto 27 (46%) deles
conhecem alguém com a doença.
Quando perguntados sobre o que se deve fazer para evitar que os barbeiros entrem dentro
de casa, 20 (34%) falaram sobre casa limpa, 16 (27%) não sabem o que fazer. Dedetizar a casa e o entorno
foi a resposta dada por seis entrevistados (10%). Queimar fezes de gado, queimar algo que tenha cheiro,
evitar fendas nas casas, evitar criar animais perto da casa e usar inseticida foram respostas que apareceram
apenas uma única vez cada. Houve quem confundiu com o controle do mosquito da dengue e disse sobre
não deixar água parada (n = 2; 3,5%)
O que faz quando vê um barbeiro: 34 disseram prender o animal numa caixa de fósforos para
entregar ao agente de saúde da comunidade ou levar pessoalmente à vigilância de endemias. Cerca de 40%
dos respondentes disseram que matam o barbeiro ou insetos parecidos com triatomíneos. Apenas um
entrevistado disse não saber o que fazer.
Perguntados o que deve ser feito para evitar contrair a doença de Chagas, 31 dos respondentes não
souberam informar o que fazer; das 17 pessoas que responderam saber o que fazer, as respostam foram:
manter a casa limpa, evitar o contato com o barbeiro, dedetizar a casa, acabar com o mosquito.

Discussão
A maioria dos entrevistados não possui grau de instrução, o que contribui para a percepção que os
mesmos apresentam sobre a doença e o barbeiro. Sendo assim, o conhecimento destes moradores está
associado aos seus relatos de experiências, suas percepções e concepções sobre ambos. Dessa forma,
constatou-se que apesar da maioria dos moradores não apresentar um nível de escolaridade, os mesmos
reconheceram o inseto, sabendo diferenciá-lo dos demais, reconhecendo-o por outros nomes populares,
como: chupão, besouro e bicho-chupança.
No Brasil e na América Latina, registram-se diferentes nomes populares para esse grupo de
hemípteros hematófagos (Lenko e Papavero, 1996; Schofield e Galvão, 2009). Daly (1998) enfatiza que o
nome de um animal ou de uma planta aponta para um conceito, categoria ou táxon, que é um arquivo de
história natural cheio de informação, uma vez que pode revelar, assim como, às vezes, obscurecer, como os
processos de percepção, identificação e nominação foram e estão organizados. Para Atran (1990), a
obtenção do vocabulário (léxico) adotado por determinada população local seria o primeiro passo para
acessar as informações sobre os diversos domínios cognitivos que compõem a mente e também uma forma
de aproximação indireta da formação e difusão de conceitos relacionados ao universo pesquisado.
Cerca de 34,4% disseram ser o período de verão a época do ano em que os barbeiros são vistos.
Isso está de acordo com a biologia desses insetos, pois várias espécies dispersam em épocas mais quentes
e, consequentemente, são mais capturadas ou percebidas pela população (Dias e DIAS, 1968; Forattini et
al., 1982, 1984; Mendes et al., 2008).

João Pessoa, outubro de 2011


123

Através da análise do universo comportamental acerca dos modos de agir e pensar a doença e o
inseto, ficou evidente que a maioria da população entrevistada não soube responder em qual época do ano
o inseto é mais freqüente, assim como os entrevistados não tiveram conhecimento sobre a reprodução por
oviposição, quanto tempo vive e seus hábitos alimentares. Quando perguntados de onde esse inseto vem,
uma porcentagem maior de entrevistados respondeu que ele vem do mato. Muitos não associaram a
ligação do barbeiro com galinheiros, chiqueiros, currais e suas residências, uma vez que a proximidade das
residências a esses locais pode contribuir com a domiciliação dos barbeiros (Forattini, 1980).
Os triatomíneos reproduzem-se por oviposição, as fêmeas põem os ovos dez a trinta dias após a
cópula. As posturas são depositadas nos locais onde o inseto se abriga. O total de ovos varia conforme a
espécie e está em consonância com a alimentação, temperatura e umidade. O período de incubação é de
trinta dias após a oviposição e as ninfas passam por cinco mudas de pele e começam a sugar sangue de dois
a três dias depois de terem eclodido, condição essa essencial necessária para a ecdise. A duração do estágio
de ninfa varia conforme as espécies e tem relação com as condições de temperatura, umidade e repastos
sanguíneos. O ciclo evolutivo de ovo a adulto pode durar 300 dias e em algumas espécies nunca termina
antes de dois anos (Carrera, 1991).
O fato de que mais da metade dos entrevistados não soube reconhecer o hábito hematófago do
barbeiro é algo que desperta preocupação, visto que a transmissão do parasita ocorre devido à
alimentação quando o inseto, desde que parasitado, suga o sangue da vítima e neste momento transmite o
protozoário (Lent e Wygodzinsky, 1979). Necessita-se então que campanhas de educação sobre aspectos
da biologia e ecologia dos triatomíneos sejam mais eficazes para permitir um melhor conhecimento sobre
esses insetos e a forma pela qual o indivíduo pode ser contaminado e acabe contraindo a doença de
Chagas.
É reconhecida pela maioria dos entrevistados de Tremedal que o barbeiro causa algum tipo de
doença, pois muitos dos moradores das áreas rurais pesquisadas ouviram até falar sobre a doença de
chagas, mas não associaram esta ao seu vetor.
Sobre as formas de prevenção relacionadas ao contato do barbeiro com as residências a maioria
falou em limpeza, cerca de 10% disseram “foliar” (detetizar) a casa, houve quem confundiu com o controle
do mosquito da dengue e comentou sobre não deixar água parada. Já em relação ao que fazer para se
prevenir da doença de chagas muitos não souberam o que responder, falaram manter a casa limpa, evitar
contato com o barbeiro, detetizar a casa e acabar com o mosquito.
A maioria dos entrevistados de Tremedal relatou alguma atitude relacionada ao encontro do
barbeiro nas casas, sendo a captura e envio para o agente de saúde a mais citada. Entretanto, a outra
prática citada (matar o barbeiro, 40%) não ajuda a vigilância da doença de Chagas, pois os barbeiros devem
ser encaminhados vivos para realização dos exames parasitológicos que irão indicar se os mesmos estavam
ou não infectados, uma informação epidemiológica importante para as estratégias de controle. Essa
informação deveria ser transmitida para os moradores pelos agentes de endemias locais, tornando a
vigilância mais eficiente.
Das 58 residências visitadas 36 apresentam dispensas dentro de casa e 19 não apresentaram e três
tiveram dispensas fora da casa. O local da dispensa associado à proximidade com galinheiro, chiqueiro,
curral, palmeira e outros pode estar contribuindo para um maior contato do triatomíneo ao homem e,
consequentemente, a doença de chagas, caso o barbeiro esteja contaminado pelo parasito Trypanosoma
cruzi.
Estudos realizados em Goiás sobre a avaliação do sistema de vigilância entomológica da doença de
chagas com participação popular (Silveira et al., 2009) apontaram resultados similares aos de Tremedal, em
ambos os estudos notou-se a influencia da idade dos entrevistados, do seu grau de instrução e da
experiência vivida em relação à doença e sua transmissão pelo vetor no conhecimento existente.
As representações socioculturais registradas na zona rural de Tremedal permitem dizer que os
sujeitos participantes até possuem conhecimento adequado em relação à identificação, formas de
prevenção e medidas acertadas de encaminhamento de espécimes de barbeiros aos agentes da vigilância
epidemiológica, porém são têm boa noção em relação ao impacto da doença causada por esses insetos.
Isso deve acontecer porque os efeitos da doença de Chagas são silenciosos e crônicos. Um programa de
educação em saúde focando este aspecto e o impacto da doença de Chagas crônica (manifestações

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


124

patológicas e perda de qualidade de vida) poderia incentivar ainda mais a população na vigilância e
controle desses insetos

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125

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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


126

A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA O ENSINO DA


ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO
PARÁ
5
Camila Rodrigues e RODRIGUES
6
Maria Ludetana ARAÚJO
7
Rodrigo Silvano Silva RODRIGUES

RESUMO
A Educação Ambiental busca a formação do indivíduo a partir do intercâmbio com o meio e com
outros sujeitos. Parte da formação acadêmica de um Engenheiro Sanitarista consiste em conhecer as bases
de Desenvolvimento Sustentável e Educação Ambiental Participativa e, dessa forma, esse profissional deve
utilizar tais conceitos no decorrer de seus projetos para atender à sociedade, já que, teoricamente, é o mais
comprometido dentre os engenheiros com a questão social, não podendo, embora, rejeitar o crescimento
econômico e o meio ambiente. O objetivo deste trabalho é demonstrar a importância da Educação
Ambiental na formação acadêmica de Estudantes do Curso Engenharia Sanitária e Ambiental e no perfil
profissional dos futuros engenheiros. Este estudo foi fundamentado na conceituação e concepção da
Educação Ambiental, da formação, gestão e capacitação de pessoas, através da análise de bibliografias e
projetos existentes, e nele foram abordados: o sentimento, o pensamento e a forma de agir do profissional;
a participação, a responsabilidade, o diálogo e a cidadania; o pertencimento; o cuidado, o entendimento e
a preservação da vida. Além disso, foram aplicados questionários a alguns destes estudantes com o intuito
de obter dados referentes a essas questões, e foi consultado o Projeto Pedagógico do Curso. No âmbito
educativo, o Sanitarista pode enfrentar diversas dificuldades associadas ao comportamento da população
devido a valores arraigados em sua cultura, porém, apesar destes empecilhos, a Educação Ambiental é, de
fato, uma realidade necessária para o desenvolvimento de ações sustentáveis. De acordo com o art.8 da lei
nº 9.795 de 27 de Abril de 1999, (Política Nacional de Educação Ambiental - PNEA), as atividades vinculadas
devem ser desenvolvidas na educação em geral e na educação escolar. Logo cabe empregá-las, também, ao
ambiente de formação profissional, o que justifica que cada vez mais estão se formando profissionais bem
qualificados na questão ambiental.
Palavras-chave: Educação Ambiental, Engenharia Sanitária, Formação e gestão de pessoas.

INTRODUÇÃO
A Educação Ambiental é uma das mais importantes exigências educacionais da atualidade, não
somente em nível de nação, mas também de mundo. Esta nasceu da sensibilidade de aliar os
conhecimentos científico, tecnológico, artístico e cultural a uma nova consciência de valores de respeito
aos recursos humanos e naturais, buscando sempre uma estratégia ética que desencadeie em
Desenvolvimento Sustentável. Empenha-se em estabelecer a construção de uma sociedade justa e
igualitária para todos e ecologicamente equilibrada, onde os seres humanos relacionem-se
harmoniosamente entre si e com outras formas de vida. A Educação Ambiental poderá contribuir para a
formação de cidadãos conscientes, aptos para se decidirem a atuar na realidade socioambiental de um
modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade local e global (ZACARIAS,
2000). Além disso, busca demonstrar a importância da interdependência econômica, social, política e

5
Graduanda do Curso de Engenharia Sanitária e Ambiental do Instituto de Tecnologia, Faculdade de
Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal do Pará – Universidade Federal do Pará. Rua Augusto
Corrêa, 01. Guamá. CEP 66075-110 – calmi_rr@hotmail.com
6
Doutoranda em Ciências da Educação. Universidade de Madrid. UNDE. Professora Especialista em Educação
Ambiental da Universidade Federal do Pará. PAFOR/UFPA – ludetana@yahoo.com.br
7
Graduando do Curso de Engenharia Sanitária e Ambiental do Instituto de Tecnologia, Faculdade de
Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal do Pará. Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/UFPA –
rodrigo.rodrigues@itec.ufpa.br

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ecológica. Para isso, faz-se necessário formar uma prática educacional sincronizada e sintonizada com a
vida em sociedade.
De acordo com os pressupostos descritos pela Educação Ambiental, o planejamento das ações deve
ser participativo, onde todos os sujeitos envolvidos contribuem de forma a facilitar a compreensão e
atuação sobre a realidade a ser explorada, tendo assim uma participação ativa na elaboração teórica e
prática das ações para a superação dos problemas diagnosticados. Além disso, é muito importante a
participação de estudantes de diferentes cursos de graduação no debate sobre Educação Ambiental e
Desenvolvimento Sustentável, por permitir uma visão ampla e crítica sobre o assunto, contextualizada e
problematizada na realidade de suas práticas.
A Universidade Federal do Pará (UFPA) é considerada uma das maiores universidades brasileiras em
extensão e em número de estudantes. A Cidade Universitária Professor José da Silveira Netto, Campus
Guamá, Cidade de Belém, Estado do Pará, Região Amazônica, pertencente aos bairros do Guamá e
Montese, abrange área de 4.500.000 m², com estimativa populacional diária de 40.572 pessoas entre
estudantes, servidores e visitantes.
Dentre as mais de 100 Faculdades existentes, encontra-se a Faculdade de Engenharia Sanitária e
Ambiental (FAESA), anteriormente chamada apenas de Engenharia Sanitária, a qual foi criada após estudo
elaborado mediante convênio entre o extinto Banco Nacional de Habitação (BNH) e a Associação Brasileira
de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), que concluiu a necessidade de 3.000 Engenheiros Sanitaristas
para o cumprimento das metas do Plano Nacional de Saneamento (PLANASA), concebido pelo Governo
Federal na década de 70, com o objetivo de atender às demandas do setor saneamento, sendo implantado
na UFPA em 1978. No início da década de 90, passou-se a buscar um novo perfil de Grade Curricular,
adaptando o termo “saneamento básico” ao termo “saneamento ambiental”, que é mais amplo. Assim,
deixou-se de adotar uma grade curricular restritamente baseada no tripé do saneamento básico
(abastecimento de água, esgotamento sanitário e resíduos sólidos) para incorporar atividades como
saneamento ambiental, introdução ao estudo de impactos ambientais, aproveitamento de águas
subterrâneas, poluição da água, e atividades como Resíduos Sólidos e Limpeza Pública, Qualidade do Ar e
do Solo ganharam a complementação das atividades curriculares como Técnicas de Controle dos Resíduos
Sólidos e Técnicas de Controle de Poluição do Ar, fortalecendo um enfoque mais ambientalista,
considerando sempre a preservação dos reservatórios ambientais: água, solo e ar.
Segundo o Projeto Pedagógico do Curso de Engenharia Sanitária e Ambiental (PPCESA), os cursos
de Graduação em Engenharia têm como perfil do formando egresso (o profissional engenheiro) a formação
generalista, humanista, crítica e reflexiva, sendo este capacitado a absorver e desenvolver novas
tecnologias, estimulando a sua atuação crítica e criativa na identificação e resolução de problemas,
considerando seus aspectos políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais, com visão ética e
humanística, em atendimento às demandas da sociedade.
As atribuições do Engenheiro Sanitarista e Ambientalista são regidas pelas resoluções 310/86 e
447/00 do CONFEA. Na Resolução 310/86 são discriminadas as atividades do Engenheiro Sanitarista. A
Resolução 447/00 dispõe sobre o registro profissional do Engenheiro Ambientalista e discrimina suas
atividades profissionais.
Os Engenheiros Sanitaristas e Ambientalistas são os profissionais capazes de atender aos anseios
populacionais presentes nas diretrizes do saneamento ambiental, sendo na administração pública ou
privada, e são capacitados para atenuar os impactos sócio-econômicos e ambientais causados pela ação
antrópica. Para muitos, são tidos como os engenheiros mais voltados às necessidades sociais, tendo em
vista que seus projetos não buscam somente alargar quantitativos em obras e serviços, e sim o quantitativo
e qualitativo quanto ao atendimento populacional.
Sendo a Educação Ambiental um componente essencial e permanente da educação nacional, e
devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em
caráter formal e não formal (Art.2 da Lei nº 9795 de 27 de abril de 1999 da Política Nacional de Educação
Ambiental), viu-se a necessidade de avaliar a inserção e dedução do referido assunto na formação
profissional dos futuros Engenheiros Sanitaristas e Ambientalistas.
É inquestionável a relação positiva entre os investimentos em conforto ambiental e a qualidade da
vida da população, porém são grandes os desafios quando se procura direcionar as ações para a melhoria

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


128

das condições de vida no mundo. Um deles é relativo à mudança de atitudes na interação com o
patrimônio básico para a vida humana, que é o meio ambiente.
O principal objetivo desse trabalho é demonstrar a importância da Educação Ambiental na
formação acadêmica de estudantes do curso Engenharia Sanitária e Ambiental e no perfil profissional dos
futuros engenheiros.

MATERIAIS E MÉTODOS
As práticas de Educação Ambiental requerem sólidas fundamentações conceituais, dessa forma, o
estudo foi baseado nos conceitos e concepções da Educação Ambiental, da formação, gestão e capacitação
de pessoas.
Outras ferramentas foram análise de bibliografias e projetos existentes que relacionam as
temáticas, entre outros relevantes para pesquisa.
No estudo foram abordados:
Sentimento, pensamento e forma de agir:
Missão, papel, propósito continuativo da Educação Ambiental, identidade da Educação Ambiental;
Participação, responsabilidade, diálogo e cidadania;
Pertencimento: a busca do ‘nós’;
Cuidado, entendimento e preservação da vida.
Além disso, neste estudo, buscou-se associar as relações dos estudantes do Curso de Engenharia
Sanitária e Ambiental da UFPA com as questões ambientais na Cidade Universitária, seus hábitos e sua
percepção quanto ao ambiente que compartilham. Do mesmo modo, observaram-se as propostas
empregadas pelo Projeto Pedagógico (PP) do Curso.

Para a obtenção dos dados, foram aplicados questionários a aproximadamente 40% destes
Estudantes, com o intuito de obter dados referentes a essa questão. Também, foi consultado, o PPCESA, a
fim de verificar as bases para a regulamentação do Curso referentes aos temas saneamento ambiental e
meio ambiente, buscando analisar se este objetiva desenvolver nos estudantes a preocupação e o juízo
crítico referentes às questões ambientais.
Aos estudantes, foram enfatizadas perguntas alusivas à preocupação, conservação e
comportamento mediante ao ambiente de estudo, tais como, seus sentimentos em relação à infra-
estrutura da Cidade Universidade; se descartavam seu lixo em locais adequados, utilizando os contêineres
da coleta seletiva ou as lixeiras das salas e dos corredores; sua percepção quanto aos serviços de
saneamento e meio ambiente prestados pela Instituição, buscando verificar até que ponto o meio
universitário influência em seu cotidiano e suas atitudes.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Através do estudo realizado, onde os discentes foram agrupados pelo tempo em que freqüentam a
UFPA, observou-se que a maioria dos entrevistados relatou satisfação entre bom e regular em relação à
infra-estrutura da Cidade Universitária.
Em relação a preocupações e práticas ambientais, foram questionados assuntos como tipos de
consumo de água, formas de deposição de resíduos sólidos, uso racional de energia elétrica, papel e água,
cuidados com a saúde coletiva, problemas socioambientais e, principalmente, em a relação aos usos da
infra-estrutura urbana da Cidade Universitária.
Por meio do tratamento de dados, notou-se que, através da média, 79,64% dos discentes afirmam
praticar a conservação ambiental na Cidade Universitária e preocupar-se com ela, conforme mostra o
tabela 1.

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Tabela 1. Pesquisa de prática de conservação ambiental.


Tempo que freqüenta a UFPA % de prática de conservação
De 6 meses à 1 ano 83,30%
De 1,5 a 2 anos 83,30%
De 2,5 a 3 anos 76,20%
De 3,5 a 4 anos 73,30%
De 4,5 a 5 anos 83,30%
De 5,5 a/ou mais 77,80%
Não responderam 80,30%
Média da % 79,64%

Através da análise do estudo realizado, podemos relacionar esses dados ao que propõe o Curso de
Engenharia Sanitária e Ambiental, que é principalmente garantir a utilização do espaço ambiental de modo
consciente e sustentável. Sustentabilidade, neste contexto, seria saber manusear o espaço, de modo que se
possa visar o controle dos impactos advindos das atitudes da comunidade, para que tais ações não
interfiram no futuro das próximas gerações.
Sobre a infra-estrutura da Cidade Universitária, pode-se observar que grande parte dos estudantes
entrevistados mostrou conhecer os tipos de serviços de saneamento existente na Universidade, como
mostra a tabela 2.

Tabela 2. Pesquisa de conhecimento dos tipos de serviços de saneamento na UFPA.


% Conhecimento referente aos tipos de serviços de saneamento na UFPA
Pergun
tas Não
Sim Não
Responderam
1* 97,76 % 1,44 % 0,79 %
2* 86,12 % 9,04 % 4,84 %
3* 57,43 % 27,64 % 14,94 %
4* 59,34 % 21,85 % 18,81 %
5* 82,21 % 11,33 % 6,46 %
6* 79,04 % 10,16 % 10,80 %
1*. A UFPA possui sistema de abastecimento de água? Resposta correta: Sim.
2*. A UFPA possui sistema de drenagem? Resposta correta: Sim.
3*. A UFPA possui sistema de tratamento de água? Resposta correta: Sim.
4*. A UFPA possui coleta convencional de lixo? Resposta correta: Sim.
5*. A UFPA possui rede coletora de esgoto? Resposta correta: Não.
6*. A UFPA possui coleta seletiva de lixo? Resposta correta: Sim.

As respostas informadas, maiormente, foram corretas. A maior dúvida adveio sobre a questão da
rede coletora de esgoto, onde a maioria dos estudantes afirmou a sua existência, porém, atualmente, assim
como na maior parte do município de Belém, a Cidade Universitária possui seus esgotos lançados no
sistema de drenagem.
Segundo o PPCESA, ao egresso do Curso de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFPA, caberá,
considerando as peculiaridades da região amazônica, uma maior sensibilidade às questões ambientais e a
busca permanente da autossustentabilidade dos ecossistemas naturais. Dessa forma, os profissionais
egressos devem atender a características bem definidas, a fim de demonstrar sólida formação teórica e
competência técnica e político-social; desenvolver e utilizar tecnologias inovadoras voltadas para a
construção de novos saberes; competência técnica, que lhes permita associar soluções tecnológicas
eficientes, compatibilizadas com a real situação socioeconômica da área a ser trabalhada; exatidão na

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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elaboração e implantação de projetos, evitando com isso qualquer tipo de agressão ambiental;
compreender a sua realidade histórica e intervir de forma criativa para o desenvolvimento do seu meio;
propor e desenvolver trabalho coletivo e cooperativo; habilidade numérica devido aos estudos
contemplarem freqüentemente cálculos matemáticos, físicos, químicos e orçamentários; meticulosidade
que permita detalhar minuciosamente todos os sistemas de controle sanitário e ambiental; raciocínio
abstrato, observando a lógica e a clareza de problemas muitas vezes complexos, que obrigam uma
ordenação acurada para a sua solução; sociabilidade, característica de extrema importância, já que a área
prescinde primordialmente do papel das populações atendidas, que terão sua qualidade de vida mantida e
até melhorada; ter respeito à liberdade, à ética e à democracia. Em resumo, o profissional da Engenharia
Sanitária e Ambiental a ser formado deverá apresentar competência para o exercício profissional, dirigida
principalmente ao controle de resíduos como um todo, integrando sempre as suas ações de uma forma
geral com as questões econômicas, sociais e ambientais.

CONSIDERAÇÕES
Quando se trata do sentir, pensar e agir, a missão do Sanitarista é conscientizar a população,
orientando-a sobre os efeitos da poluição e a forma de evitá-las, buscando, assim, estratégias de tentar
modificar o curso histórico da degradação socioambiental. O objetivo dessa missão é defender a
preservação/conservação da natureza e a luta pelos direitos da vida em todos os espaços, compreender o
mundo e os valores éticos, estéticos, democráticos e humanizados, bem como despertar os indivíduos para
os laços que constituem a espécie coletiva em vários sentidos.
Além do mais, esse profissional deve ser participativo, baseando-se na “Reflexão-Ação”, e ter
envolvimento individual na esfera pública. O diálogo e a percepção dos direitos e deveres e a intervenção
consciente na realidade não devem ser deixados de lado, bem como a tolerância-respeito ao outro e ao
princípio da liberdade. Não significa renunciar a sua própria verdade ou indiferença, mas respeitar o outro
e o princípio da liberdade (BOBBIO, 1986). É necessário distanciar-se da cultura política arraigada em
valores (privilégio, servilismo e resignação) que sustentam uma educação elitista que forma os que
mandam e os que obedecem.
O estudante deve buscar em sua formação a “Identidade da Educação Ambiental” com o objetivo
de estimular o desenvolvimento de uma consciência ambiental de forma ecológica, social, política, cultural
e econômica, contribuindo para um espírito de responsabilidade e solidariedade entre os indivíduos. Essa
Identidade não é solução para todos os males; só existe na estreita relação de produção de fazer educação
mais ampla com o processo de transformação de toda a educação. Ela também é produto da sociedade.
Quanto ao significado de Pertencimento, pode-se perceber que o meio ambiente, na concepção
desses Sanitaristas, depende de:
Estreitar laços entre o indivíduo e a coletividade. Educar não se reduz meramente à informação do
acesso à instrução, mas envolve subjetividade, aliança com o desconhecido, solidariedade e
comprometimento com o futuro;
Buscar o aperfeiçoamento da pessoa, cuja ação de aperfeiçoar pode incorporar o compromisso à
preservação ambiental;
Despertar a co-responsabilidade em relação às questões socioambientais, sentir-se parte do
processo, demonstrando interesse e preocupação pelo meio ambiente, e sensibilizar-se por estas questões,
tendo consciência do meio ambiente global e participando ativamente das tarefas que tem por objetivo
resolver problemas ambientais;
Requerer conhecimento para embasar uma leitura crítica da realidade, adquirir diversidades de
experiências e compreensão fundamental do meio ambiente e dos problemas anexos, e buscar
instrumentos e habilidades necessárias para determinar e solucionar problemas ambientais concretos;
Promover um aprendizado sobre a importância da defesa da qualidade ambiental, que significa
despertar os cidadãos para a responsabilidade de cada um na defesa da vida.

A solução dos problemas ambientais tem sido considerada cada vez mais urgente para garantir o
futuro da humanidade e depende da relação que se estabelece entre sociedade e natureza, tanto na
dimensão coletiva como na individual. Esta preocupação é percebida em nossa Constituição Federal, no

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artigo 225, onde fica claro que devemos atender ao desenvolvimento do país de forma sustentável,
garantindo condições de vida às futuras gerações.
De acordo com a pesquisa realizada em meio aos Discentes de Engenharia Sanitária e Ambiental da
UFPA, foi verificado que suas relações ambientais estão em conformidade com o que propõe sua formação
profissional em seu Projeto Pedagógico.
As respostas alcançadas se enquadraram positivamente ao estudo realizado. Vale ressaltar, de
acordo com as opiniões dos discentes, que muitos se mostraram conhecedores quanto aos serviços de
saneamento que atendem a população universitária, pois para relatar a existência destes, basta efetuar
uma observação simples para identificá-los, como é o caso do sistema de drenagem urbana, do sistema de
abastecimento e tratamento de água, do sistema de coleta seletiva de resíduos sólidos, que se encontram a
mostra de todos.
Com base nos dados alcançados junto aos questionamentos levantados para os Estudantes do
Curso, pôde-se analisar o seu desempenho nos aspectos de observação dos serviços de saneamento
ambiental e meio ambiente, pois muitos relataram a existência dos mesmos, demonstrando assim seus
conhecimentos sobre o assunto. De certa forma, isso passa a ser um parâmetro importante para analisar o
grau de interesse que os graduandos possuem em relação à sua área de atuação, já que para a futura
atuação profissional, devem apresentar afeição pelo assunto, tendo ainda que levar em consideração que o
Engenheiro Sanitarista e Ambientalista possui uma forte relação com a infra-estrutura urbana e com as
necessidades da sociedade. Do mesmo modo, foi observada certa insatisfação dos entrevistados quanto à
infra-estrutura da Cidade Universitária, declarando que mudanças ainda são necessárias.
O Curso de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFPA, segundo o PPCESA, possui por objetivos a
formação de profissionais para atuarem nas áreas de saneamento, meio ambiente, recursos hídricos, saúde
pública e outras atividades para atender a demanda da sociedade, especialmente da Região Amazônica.
Essa atuação deve ser de maneira crítica, debatendo temas atuais, relacionando a globalidade,
universalidade, localidade e particularidade. Além de habilitar profissionais com conhecimento nas áreas de
hidráulica e recursos hídricos, abastecimento e tratamento de água, coleta e tratamento de águas
residuárias, sistemas integrados de resíduos sólidos, controle da qualidade de alimentos e controle de
resíduos e vetores; preparar profissionais com uma visão crítica dos problemas da Região Amazônica,
possibilitando o uso de técnicas preservacionistas e mitigadoras, aliadas às questões socioeconômicas;
propiciar um exercício eficaz do domínio das técnicas de controle de resíduos adotando e desenvolvendo
metodologias que agilizem os profissionais da área; apoiar as entidades governamentais e não-
governamentais, prefeituras municipais, companhias de saneamento, ministério público, políticas
ambientais e as comunidades como um todo, especialmente aquelas de condição socioeconômicas
debilitadas.
O PPCESA deixa claro que pretende desenvolver no aluno um senso crítico de cidadania, que
possibilite a prática permanente, busca da atualização profissional, postura pró-ativa e empreendedora,
compromisso com a ética profissional durante a sua vida profissional.
De acordo com o art.8 da lei nº 9.795 de 27 de Abril de 1999, Política Nacional de Educação
Ambiental (PNEA), as atividades vinculadas devem ser desenvolvidas na educação em geral e na educação
escolar. Logo cabe empregá-la, também, ao ambiente de formação profissional, o que justifica que cada vez
mais estão se formando profissionais bem qualificados na questão ambiental. Vendo a este modo,
podemos destacar que é de extrema importância que os discentes do Curso já possuam uma boa relação
com o assunto, assim, potencialmente há expectativas de profissionais que se mostrem bem instruídos e
preocupados com as questões levantadas no estudo, passando a ter boas conceituações.
No âmbito educativo, o Sanitarista pode enfrentar inúmeras dificuldades associadas ao
comportamento da população devido a valores arraigados em sua cultura, assim como a falta de percepção
por parte da própria sociedade, atrelada a problemas socioambientais. Na região Nordeste, por exemplo,
existem problemas relacionados à escassez de água, enquanto que na região Norte, os problemas estão
associados ao excesso, o que diferencia o modo como essas realidades são tratadas pelos governantes e
pela população. Porém é imprescindível o respeito aos processos culturais específicos de cada comunidade,
uma vez que há diversas formas de relacionamento socioambientais.
Apesar das dificuldades, a prática da Educação Ambiental não é utopia, é uma realidade necessária
para o desenvolvimento de ações sustentáveis, sendo bastante eficiente quando resulta de um projeto

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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político-pedagógico orgânico em que há uma forte interação entre os profissionais e a comunidade, ambos
comprometidos com a preservação da vida, até mesmo como um exercício pleno de cidadania.
Como fechamento, deve-se um tom especial à palavra ‘cuidado’, que possui inúmeros significados e
que, no contexto da ação, revelou-se como um bem necessário impresso nas manifestações dos
Sanitaristas como uma forma para buscar a qualidade de vida para todos na satisfação de suas
necessidades humanas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOBBIO, N. O. Futuro da Democracia: uma defesa das regras do jogo. Trad. Marco Aurélio
Nogueira. – Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.
BRANCO, S. Educação Ambiental, metodologia e prática. Rio de Janeiro: Dunya, 2003.
BRASIL. Lei nº 9795 de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política
Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Lei nº 9795 de 27 de abril de 1999 da Política
Nacional de Educação Ambiental.
CARVALHO, V. S. de. Educação Ambiental & Desenvolvimento Comunitário. Rio de Janeiro: Wak,
2006.
COIMBRA, A. de S. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental. Rio Grande:
Universidade Federal do Rio Grande, 2005.
CONFEA. Resolução n. 310, de 1986. Discrimina as atividades do Engenheiro Sanitarista. CONFEA,
Brasília, 23 JUL 1986.
CONFEA. Resolução n. 218, de 1973. Discrimina atividades das diferentes modalidades profissionais
da Engenharia, Arquitetura e Agronomia. CONFEA, Rio de Janeiro, 29 JUN 1973.
CONFEA. Resolução n. 447, de 2000. Dispõe sobre o registro profissional do engenheiro ambiental e
discrimina suas atividades profissionais. CONFEA, Publicada no D.O.U. de 13 OUT 2000 - Seção I – Pág.
184/185.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ. Instituto de Tecnologia.
<http://www.itec.ufpa.br/index.php?option=com_content&view=article&id=293&Itemid=130> 26 de
setembro de 2010.
QUINTAS, J. S. Pensando e praticando a educação ambiental na gestão ambiental. Brasília: IBAMA,
2002.
SOARES, Ana Maria Dantas et al. Educação Ambiental: Construindo Metodologias e Práticas
Participativas. Disponível em: <
http://www.anppas.org.br/encontro_anual/encontro2/GT/GT10/ana_maria_dantas.pdf>. Acesso em: 03
de julho de 2011.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ. Instituto de Tecnologia. Faculdade de Engenharia Sanitária e
Ambiental. Projeto Pedagógico do Curso de Engenharia Sanitária e Ambiental. 2010.
ZACARIAS, R. Consumo, lixo e educação ambiental: uma abordagem crítica. Juiz de Fora: FEME,
2000.

João Pessoa, outubro de 2011


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DETERMINAÇÃO DE ISOTERMA DE ADSORÇÃO DA PROTEÍNA BSA EM


RESINA ANIÔNICA8
Daniel Mota de ANDRADE¹
Graduando em Engenharia Ambiental, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia(UESB)
dmandrade4@yahoo.com.br
Rúbner Gonçalves PEREIRA2
Mestrando em Engenharia de Alimentos, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)
rubnergp@gmail.com
Rafael da Costa Ilhéu FONTAN3
Professor do Departamento de Tecnologia Rural e Animal(DTRA), UESB
rafaelfontan@yahoo.com.br

RESUMO
A explosão no crescimento populacional no Brasil, sobretudo no mundo, exige um aumento similar
na produção de alimentos. No entanto essa produção deve ser avaliada também, como geradora potencial
de resíduos que agridem o meio ambiente. Na produção de grande parte dos derivados do leite, obtêm-se
resíduos impactantes aos recursos naturais, como é o caso do soro do queijo. Esse efluente, por possuir
alta carga poluidora, desperta interesses para técnicas em que se consiga elevada eficiência na purificação
de compostos de origem biológica. Dentre os processos capazes de purificar esses compostos está a
adsorção. A adsorção caracteriza-se por permitir a separação de componentes de interesses presentes em
uma solução, que são transferidos para a superfície de um adsorvente sólido, mantendo as características
físico-químicas do composto isolado. Assim, o objetivo com este estudo foi determinar as relações de
equilíbrio do processo adsortivo da proteína BSA em resina aniônica, na temperatura de 40 °C, pH=7,4 e
adição de 0,1M de NaCl. Observou-se a partir dos resultados obtidos, que o modelo de Langmuir
apresenta-se como o melhor ajuste, em relação aos parâmetros estatísticos e por propor uma explicação
do fenômeno físico da adsorção.
PALAVRAS-CHAVE: Q Sapharose Fast Flow, modelos matemáticos, soro do leite.

INTRODUÇÃO:
A EMBRAPA (2009) aponta o Brasil como um dos maiores produtores de leite do mundo, ocupando
o quinto lugar no ranking, com aproximadamente 29.112.000 litros de leite produzidos por ano, e esse
numero tende a crescer em sintonia com o desenvolvimento econômico do país e principalmente com o
aumento populacional. No entanto, essa produção deve ser avaliada também, como geradora potencial de
resíduos que influenciam adversamente o meio ambiente. Na fabricação da maior parte dos produtos
derivados do leite, obtêm-se resíduos impactantes aos recursos naturais, como é o caso do soro de queijo.
O grande volume de soro produzido mundialmente, possui alta carga poluidora, devido à sua
elevada demanda bioquímica de oxigênio (DBO), que está entre 40.000-50.000 ppm. (PEREA et al, 1993)
despertando portanto, interesses para técnicas em que se consiga elevada eficiência de adsorção e
separação de compostos orgânicos presentes no mesmo.
Dentre as técnicas de separação e extração de biomoléculas, tanto para fins de purificação quanto
para tratamento de efluentes, existe a adsorção. Esta técnica consiste em um fenômeno físico-químico
onde o componente em fase líquida é transferido para a superfície de uma fase sólida. Os componentes
que se unem à superfície são chamados adsorvatos, enquanto que a fase sólida que retém o adsorvato é
chamada adsorvente. A remoção das moléculas a partir da superfície é chamada dessorção (MASEL, 1996).
Sendo a adsorção um fenômeno essencialmente de superfície, para que um adsorvente tenha uma
capacidade adsortiva significativa, deve apresentar uma elevada área superficial específica, o que implica
em uma estrutura altamente porosa. As propriedades adsortivas dependem do tamanho dos poros, da
distribuição do tamanho dos poros e da natureza da superfície sólida (BRAGA, 2008).

8
Orientadora: Renata Cristina Ferreira Bonomo – Professora DTRA/UESB

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Segundo Guiochon et al. (1994), o equilíbrio termodinâmico nos processos adsortivos geralmente é
apresentado na forma de isotermas de adsorção. As isotermas são apresentadas sob a forma de gráficos,
sendo dadas pela relação entre a concentração de soluto na solução (na abcissa, expressa em unidades de
massa de soluto por volume de solução) e a concentração de soluto na superfície do adsorvente (na
ordenada, expressa em unidades de massa de soluto por massa de adsorvente) (ARAÚJO, 1996).
Isotermas, tanto para compostos puros como para misturas de diferentes compostos são de grande
importância nas ciências de separação, pois permitem calcular o desempenho de unidades, comparar o
potencial de diferentes esquemas de separação e, com algumas extensões, predizer as taxas de produção e
a extensão da purificação que deverá ser alcançada. Por último, dizem claramente qual deverá ser a melhor
separação possível e permitem comparações simples entre diferentes esquemas de separação (GUIOCHON
et al, 1994).
No estudo do equilíbrio, a isoterma de adsorção representa o equilíbrio sólido-líquido de um soluto
adsorvido em uma dada massa de fase estacionária em contato com uma solução contendo o soluto. As
isotermas mais utilizadas atualmente no equilíbrio sólido-líquido são as de Langmuir e Freundlich (FONTAN
et al., 2003).
O modelo de isoterma de LANGMUIR (1916), Equação 1, aparece para explicar, de forma favorável,
os dados de adsorção obtidos em baixas ou em moderadas concentrações.
qm c (
q
kd  c 1)
Onde q é a quantidade de soluto adsorvido por unidade de massa ou por volume do adsorvente
(mg/g ou mg/mL); qm é a quantidade máxima de soluto adsorvida na fase sólida (mg/g); c é a concentração
do soluto na fase líquida, no equilíbrio (mg/mL); kd é a constante de dissociação que descreve o equilíbrio
da adsorção (mg/mL).
De acordo com Guiochon et al. (1994), o modelo de Langmuir aparece como a primeira escolha de
equação teórica para ajustes de resultados experimentais em que se considera a adsorção de um
componente.
O modelo de isoterma empírica de Freundlich (equação 2) descreve a adsorção de componentes
polares em adsorventes polares ou de compostos fortemente polares em solventes cuja polaridade é baixa
ou média:
(
q  KC 1/ n 2)
Onde: o expoente 1/n é menor que a unidade.
O modelo de Freundlich parece próprio para avaliar a adsorção de certas proteínas em
cromatografia de troca iônica (GUIOCHON et al., 1994) e tem a principal desvantagem de violar o modelo
da isoterma de Gibbs, já que não é termodinamicamente consistente.
Ambos os modelos têm uso extensivo para descrever o comportamento e a capacidade de
adsorção em vários processos de remoção de compostos orgânicos em água e são comumente usadas para
selecionar o melhor adsorvente em relação a outros, estimar a vida útil do adsorvente e testar a
capacidade de adsorção deste (OXENFORD & LYKINS, 1991).
Com base nessa necessidade de se determinar parâmetros essenciais na obtenção de um
adsorvente mais eficiente na remoção de compostos orgânicos, potenciais poluidores, presente em corpos
d’água objetivou-se analizar o comportamento de equilíbrio no processo adsortivo da proteína do soro
bovino (BSA) na resina aniônica Q Sapharose Fast Flow.

MATERIAL E MÉTODOS:
O experimento foi conduzido no laboratório de Engenharia de Processos (LEP) da Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia, campus Juvino Oliveira, Itapetinga-Ba. O adsorvente utilizado no
experimento foi a resina aniônica Q Sapharose Fast Flow, e o adsorvato foi albumina de soro bovino (BSA).
A curva padrão foi construída a partir de uma solução de 1mg/mL de soro albumina bovina (BSA) e
suas diluições (20 µg.mL-1, 60 µg.mL-1, 100 µg.mL-1, 200 µg.mL-1, 300 µg.mL-1, 400 µg.mL-1, 500 µg.mL-1, 600
µg.mL-1, 700 µg.mL-1, 800 µg.mL-1, 900 µg.mL-1, 1000 µg.mL-1), sendo que a quantificação de proteínas
seguiu o método de Bradford em micro-ensaio (BRADFORD, 1976).

João Pessoa, outubro de 2011


135

Foram pesados aproximadamente 0,1 g de resina aniônica Q Sapharose Fast Flow, acondicionados
com 4 mL de solução tampão fosfato de sódio (pH 7,4) 0,02 M com adição de cloreto de sódio 0,1 M, em
tubos de ensaio, que foram colocados em rotação contínua, durante 12 horas a temperatura ambiente.
Posteriormente adicionou-se 1 mL da solução da proteína e o processo adsortivo foi mantido por
outras 12 horas com agitação constante e temperatura controlada numa estufa BOD a 40° C. Antes de se
realizar a leitura os tubos foram centrifugados a uma rotação de 3000 rpm durante 3 minutos.
Em seguida, alíquotas de 100 μL da solução foram adicionadas em tubos contendo 5 mL de solução
de Bradford para a quantificação da proteína, agitando em vórtice e deixando em repouso por 5 minutos. A
leitura da absorbância foi realizada em espectrofotômetro no comprimento de onda de 595 nm. As análises
foram feitas em triplicatas.
Foram ajustados modelos não-lineares aos dados experimentais observando o coeficiente de
determinação, a significância dos parâmetros, a análise dos resíduos e a concordância com o fenômeno
estudado. Os modelos foram avaliados e os respectivos gráficos construídos utilizando-se o software
SigmaPlot® v.11.0.

RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A partir dos resultados experimentais plotou-se um gráfico que relaciona as concentrações na
solução e no adsorvente após atingir o equilíbrio (Figura 1). As curvas construídas representam as
isotermas de adsorção dos modelos de Langmuir e Freundlich.

Figura 1 – Dados de equilíbrio de adsorção da proteína BSA na resina Q Sapharose Fast Flow.

De acordo com a significância dos parâmetros e com o coeficiente de determinação (R2 > 0,90), os
modelos de Langmuir e Freundlich ajustaram-se satisfatoriamente aos dados experimentais (Tabela 1). As
equações obtidas foram utilizadas para calcular a concentração de BSA na resina no equilíbrio (Tabela2),
para verificar a aleatoriedade de erro.
Entretanto o modelo que se ajustou de forma mais satisfatória aos dados experimentais foi o de
Langmuir, que apresentou R2 = 0,972 e menores erros na análise de aleatoriedade de resíduos (Figura 2),

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


136

além de ser favorável para a adsorção de um componente, compreender uma extensa faixa de
concentração e considerar que o processo ocorre em monocamada.

Tabela 1 – Parâmetros dos modelos de isoterma de Langmuir e Freundlich.

Tabela 2 – Valores experimentais e preditos das concentrações no equilíbrio da proteína BSA na


resina aniônica.

João Pessoa, outubro de 2011


137

Figura 2 – Análise de resíduo da concentração de BSA na resina no equilíbrio.


Observou-se que a quantidade máxima de BSA que é adsorvida pela resina Q Sapharose Fast Flow,
utilizando 0,1 M de NaCl, na temperatura de 40°C foi de 33,503 mg.g-1. Em relação a constante kd, que
representa a razão entre a constante de dessorção e adsorção, o valor encontrado sugere que o equilíbrio
se desloca no sentido da dissociação do produto resina-BSA e consequentemente a dessorção ocorre fácil e
rapidamente.

CONCLUSÕES
O processo adsotivo utlizado demonstrou que a resina aniônica Q Sapharose Fast Flow obtém
resultados satisfatórios na separação da proteína BSA nas condições estudadas.
Utilizando os modelos matemáticos não-lineares de Langmuir e Freundlich, foram obtidas equações
que representam as relações de equilíbrio do processo. O modelo proposto por Langmuir foi escolhido
como melhor ajuste.
Para otimizar os resultados obtidos faz-se necessário outros estudos a fim de avaliar a influência
das variáveis pH, temperatura e concentração de sal.

REFERÊNCIAS
ARAÚJO, M. O. D. Adsorção de albumina de soro bovino em resinas trocadoras de íons, Campinas,
[Dissertação de mestrado], Faculdade de Engenharia Química, Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP), SP, 85 p, 1996.
BRADFORD, M., A rapid and sensitive method for the quantitation of microgram quanties of protein
utilizing the principle of protein-dye biding, Analytical Biochemistry, v. 72, p. 248-254, 1976.
BRAGA, R. M. Uso de argilominerais e diatomita como adsorvente de fenóis em águas produzidas
na indústria de petróleo. [Dissertação de mestrado] Programa de Pós- Graduação em Ciência e Engenharia
de Petróleo, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal, 82 p, 2008.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


138

FONTAN, R. C. I.; MINIM, L. A.; BONOMO, R. C. F.; COIMBRA, J. S. R.; SARAIVA, S. H.; MINIM, V. P. R.
Utilização de técnicas adsortivas na purificação de proteínas do soro de queijo. Revista do Instituto de
Laticínios Cândido Tostes, v. 58, n. 333, p. 210-214, 2003.
GUIOCHON, G., SHIRAZI, S. G. and KATTI, A. M. Fundamentals of Preparative and Nonlinear
Chromatography. Academic Press, 1ª ed., London, 697p, 1994.
LANGMUIR, I., The Constituition and Fundamental Properties of Solids and Liquids.
Journal of the American Chemical Society, v. 30, p.2263-2295, 1916.
MASEL, R. I. Principles of Adsorption and reaction on solid surfaces. Canada, John Wiley & Sons, p.
112, 1996.
OXENFORD, J.L.; LYKINS, W. Jr. Conference summary: Pratical aspects of the design and use of GAC.
Jornal American Water Woorks Association. Washington, p. 58-64, 1991.
PEREA, A,. UGALDE, U., RODRIGUES, I. and SERR, J.L. Preparations and characterization of whey
protein hydrolysates: applications in industrial whey bioconversion process.
Enzyme and Microbial Technology, v. 15, p. 418-423, 1993.

João Pessoa, outubro de 2011


139

EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA O SANEAMENTO DA HABITAÇÃO RURAL


Antonio Cesar Cassol da ROCHA,
Divisão de Engenharia de Saúde Pública, Fundação Nacional de Saúde/RS antonio.rocha@funasa.gov.br
Arquiteto Sanitarista
Kátia Jobim LIPPOLD,
Kátia.lippold@funasa.gov.br
Serviço de Saúde Ambiental, Seção de Educação em Saúde, Fundação Nacional de Saúde/RS
Educadora, Sanitarista
Tânia Marli Stasiak WILHELMS,
Divisão de Vigilância Ambiental em Saúde – Secretaria Estadual de Saúde/RS
tania-wilhelms@saude.rs.gov.br
Arquiteta Sanitarista

RESUMO
A promoção da melhoria das habitações onde se verifica o favorecimento da colonização de
vetores da doença de Chagas apresenta-se com singularidade na região noroeste do estado do Rio Grande
do Sul, pois se refere a necessidade de melhorias das propriedades e da necessidade de mudanças nos
hábitos econômico-culturais de utilização dos espaços de moradia rural. A Fundação Nacional de Saúde em
parceria com a Secretaria Estadual de Saúde vem trabalhando no Programa de Melhoria Habitacional para
o Controle da Doença de Chagas desde 2001 com o objetivo de tornar as unidades habitacionais refratárias
ao Triatoma infestans (barbeiro), transmissor da doença de Chagas. O Programa desencadeou um processo
que envolveu capacitações, inquérito domiciliar, ajuste de propostas municipais, oficinas educativas,
reorganizações administrativas e técnicas e a integração dos gestores do Sistema Único de Saúde. O
investimento público nesta área de melhoria habitacional tem motivado a população contemplada em
atuar na vigilância do vetor além de levar a reflexão sobre a qualidade de vida por meio das propostas de
educação em saúde ambiental. O desenvolvimento do processo educativo, teve o papel de comprometer
os beneficiados a serem os agentes transformadores da realidade local, contribuindo para a
sustentabilidade das melhorias implantadas.
Palavras-Chave: Doença de Chagas; Melhoria habitacional; Triatoma infestans; Saneamento
domiciliar; Educação em saúde ambiental.

INTRODUÇÃO
A doença de Chagas, causada pelo Trypanosoma cruzi, é um problema de saúde pública no Brasil. A
via de transmissão mais importante desta doença é vetorial intradomiciliar, através do Triatoma infestans
seu principal vetor no Rio Grande do Sul. Em decorrência da característica da transmissão natural da
doença de Chagas as atividades prioritárias desenvolvidas no Programa de Controle da Doença de Chagas
(PCDCh) são de vigilância entomológica.
O Ministério da Saúde, na década de 80, através da Superintendência de Campanhas de Saúde
Pública (SUCAM) usou como forma de controle do vetor o tratamento químico. Anos de borrifação nas
residências e no peridomicílio das áreas com presença do barbeiro reduziram sua infestação. Os recursos
financeiros deste programa no território brasileiro, incluindo o controle entomológico tem sido alvo de
intensa discussão, mas pouco se investiu no programa de melhoria habitacional para o controle do vetor,
principalmente nas zonas rurais.
No Rio Grande do Sul a presença do vetor está vinculada às precárias condições de moradia
principalmente da população rural e a dificuldade na sua eliminação é atribuída as condições sócio-culturais
dos moradores, aos hábitos e costumes, a forma de armazenamento de madeira e implementos agrícolas,
bem como a manutenção dos depósitos de alimentos e abrigos de animais presentes no peridomicílio, os
chamados anexos da residência (anexos).
O PCDCh tem desenvolvido varias atividades, entre elas a pesquisa ativa do vetor, o
tratamento químico ou borrifação, as visitas mensais aos Posto de Informação de Triatomíneos (PITs),
elaboração do Plano Operativo Anual, a atualização dos mapas utilizando o georeferenciamento, a

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


140

vigilância epidemiológica de pacientes e exames sorológicos dos moradores de residências onde foi
encontrado triatomíneos.
Além das ações de vigilância entomológica a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) em parceria
com o Centro Estadual de Vigilância em Saúde da Secretaria Estadual de Saúde (CEVS/SES) realiza o
Programa de Melhoria Habitacional para o Controle da Doença de Chagas (PMHCh) na região noroeste do
Rio Grande do Sul. A melhoria habitacional é uma medida de controle indicada para esta região, devido as
características culturais da população em manter inúmeros anexos em más condições no peridomicílio,
favorecendo o desenvolvimento deste vetor. Nesta área a economia rural é caracterizada por pequenas e
médias propriedades com vários anexos, herança do hábito dos colonizadores principalmente por
imigrantes italianos, poloneses e alemães. Fazem parte destes anexos galpões, galinheiros, pocilgas, fornos,
cercas entre outros, que configurem peridomicilio conforme a propriedade a ser atendida pelo Programa.
A parceria entre a Funasa e a SES/ CEVS tem integrado ações de vigilância ambiental com as ações
de saneamento. O programa fundamenta-se em critérios epidemiológicos e segue as orientações técnicas
dos convênios da Funasa na escolha dos municípios, localidades e moradores beneficiados.
O Projeto de Educação em Saúde e Mobilização Social – Pesms (Funasa) é parte integrante
do convênio sendo elaborado e desenvolvido pelas Prefeituras Municipais conveniadas com a participação
das comunidades beneficiadas.
O Pesms tem o objetivo de estimular a participação e a organização comunitária, por
intermédio de ações permanentes de educação em saúde, proporcionando acesso às melhorias
habitacionais. É uma estratégia integrada para alcançar os indicadores de impacto correspondentes, de
modo a estimular o controle social e a participação da comunidade.
A educação em saúde ambiental é compreendida neste processo como exercício de
cidadania, de participação social e de formação de consciência crítica dos sujeitos ao atuar na
transformação da realidade.

METODOLOGIA
Os municípios e suas respectivas localidades são selecionados a partir dos critérios técnicos
estabelecidos, indicados pelo CEVS/SES – áreas de risco ao Triatoma infestans (Figura 01). São consideradas
áreas de risco as áreas com persistência de infestação nos últimos cinco anos (critério técnico). O Estado
classifica os municípios em três grupos, conforme a presença do vetor: I) municípios com infestação
persistente (positivo mais de 2 vezes em 5 anos); II) municípios com infestação recorrente (positivo até 2
vezes em 5 anos); III) municípios com infestação esporádica (positivo uma vez em 5 anos).

João Pessoa, outubro de 2011


141

Figura 01: Áreas de risco com resíduos de infestação por


Triatoma infestans (1996-2001) RS.

A relação dos municípios contemplados é publicada pela Funasa e a Equipe Técnica


desenvolve as atividades após o empenho do recurso financeiro.
As atividades propostas para a localidade beneficiada são desenvolvidas através de equipe
multidisciplinar das áreas de engenharia, educação, agricultura e saúde. Inicialmente a equipe observa e se
apropria da realidade para identificar os problemas de saúde e suas causas além da doença de chagas que é
o objeto principal do programa. Os conhecimentos são compartilhados através das reuniões e oficinas
visando alternativas para soluções.
Fazem parte deste processo à apropriação da legislação, determinação das parcerias,
capacitações para técnicos e operários da construção civil, aplicação de inquérito sanitário, visitas
domiciliares, oficinas educativas, orientação para elaboração do projeto, assessoramento aos técnicos dos
municípios, oficinas com a comunidade, capacitação para prestação de contas, acompanhamento nas
execuções das obras e nas atividades educativas.
As famílias são sensibilizadas durante as atividades educativas e nas visitas individuais sobre
saúde ambiental enfatizando-se aspectos referentes ao meio rural; quanto à importância da limpeza e
caiação de todos os anexos até mesmo com relação às edificações que não sofreram reformas, alcançando
assim várias melhorias com custo mínimo. Apartir das oficinas educativas a comunidade organiza-se para
em conjunto contribuir com ações como mutirões de limpeza, poda de árvores, organização de hortas
entre outras.
Todas as atividades do Programa são integradas com o Projeto de Educação em Saúde e
Mobilização Social (Pesms) desde a fase de planejamento, execução das obras e avaliação dos serviços
implantados. O processo educativo permanece ao longo do desenvolvimento das ações e continua após a
conclusão das obras físicas em caráter de avaliação. Durante o desenvolvimento do projeto é realizado o
acompanhamento técnico das obras e a avaliação permanente das ações executadas.
Os técnicos da Funasa e do CEVS/SES realizam o suporte técnico aos gestores municipais
durante todas as fases do processo. Estas atividades integram as instituições unindo suas missões e seus
técnicos.

RESULTADOS

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


142

O programa já atendeu aproximadamente 1500 Unidades Habitacionais (Uds) com ações de


restaurações e/ou reconstrução juntamente com o projeto educativo atingindo em torno de 6000 pessoas.
Atualmente está tendo continuidade através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Observa-se a transformação da realidade local nas habitações bem como a satisfação das
famílias beneficiadas ao participarem e a se responsabilizarem com o processo de melhoria.
Nesta região existem muitos domicílios que são grandes. O hábito local de usar madeira na
sua construção e a necessidade de realizar inúmeras ações de restauração implica em maior aplicação de
recursos. As péssimas condições de algumas propriedades e dos seus anexos levam a decisão da sua
demolição aproveitando-se parte do material na reconstrução (figura 02).
As madeiras sem condições de uso foram picadas para serem aproveitadas como combustível
no fogão ou forno, seguindo indicação das atividades educativas onde os proprietários participavam das
decisões.

Figura 02: Propriedade rural no município de Santa Rosa – RS


Fonte: Arquivos do CEVS/SES

Os projetos mantiveram a originalidade das propriedades, embora muitas tenham sido


redimensionadas visando à organização dos espaços internos e externos.
As construções novas foram planejadas em alvenaria, pois a madeira de boa qualidade tem
custo elevado e necessita de muita manutenção, o que é difícil no meio rural. Estas foram de tipologia
simples, adequadas ao local e ao clima da região.
As casas e em alguns casos, os anexos, possuem porões aproveitando a inclinação do terreno
e proporcionando a ventilação deste devido os pisos serem de madeira, (Figura 04). É comum o porão ser
utilizado como depósito tornando-se alojamento de animais domésticos e com isto um local favorável para
o T. infestans que encontra o abrigo e alimento.
Após as reuniões educativas de informação e sensibilização do problema estes espaços foram
limpos e em certos casos fechados com tela ou alvenaria, sendo esta ação de extrema importância para o
controle do vetor.

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Figura 03: Município de Alegria - RS Figura 04: Município de Alegria - RS


Execução do Módulo Sanitário e restauração Casa após a restauração.
da casa. Fonte: Arquivos do CEVS/SES
Fonte: Arquivos do CEVS/SES

Neste projeto o módulo sanitário é edificado na extremidade da casa facilitando o aceso,


(Figura 03 e 04). As antigas fossas secas são demolidas evitando a contaminação do meio ambiente. Além
dessas obras os beneficiários realizam atividades pactuadas nas oficinas educativas como limpezas nos
porões e pátios, armazenamento correto de madeiras, podas de árvores, demolições de edificações sem
utilização, manejo adequado com animais e com o ambiente externo da propriedade.

CONCLUSÃO
As atividades de melhoria habitacional tiveram destaque na 6ª Avaliação do Programa Nacional de
Controle da Doença de Chagas no Brasil e foi recomendada a continuidade do mesmo. Os focos residuais
do vetor estão atribuídos aos hábitos e costumes no manuseio do ambiente. O saneamento e a melhoria
habitacional previnem vários agravos à saúde além de melhorar a qualidade de vida da população.
A descentralização das ações de controle das endemias para os estados, tornou premente a
parceria dos gestores do SUS para a continuidade e a viabilização deste programa, permitindo que o
ambiente de moradia, o ambiente cultural e o ambiente sócio-econômico se integrem nas ações de
habitação e de saneamento ambiental.
A criação do grupo multidisciplinar que se formou para este trabalho foi positiva, construindo
ações que resultaram em um conjunto de soluções. A inserção dos profissionais junto à comunidade foi
fundamental para o estímulo da população a participarem de todas as etapas da implantação e execução
do projeto.
Além da mudança física, onde predominaram as restaurações percebeu-se a mudança de
hábitos, elevando a auto-estima da população beneficiada, tudo isto reflexo das oficinas educativas nas
quais os envolvidos sempre participaram e se responsabilizaram pelo processo.
O saneamento e a melhoria habitacional previnem vários agravos de saúde, não somente o
controle da doença de Chagas; além de melhorar a qualidade de vida da população e o meio ambiente.
O programa está movimentando a comunidade e a circulação de recursos no município e
também motivando a integração dos gestores do Sistema Único de Saúde (SUS). A avaliação do impacto
epidemiológico de controle do vetor é contínua e permanente, procurando manter sempre a habitação
saudável.
O Pesms proporcionou a reflexão das comunidades quanto aos seus problemas de saúde
estimulando a busca de soluções individuais ou coletivas, permitindo também uma maior aproximação da
comunidade com os gestores municipais.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


144

As ações de educação em saúde são de extrema importância, pois estimulam a apropriação do


conhecimento e o exercício do controle social sobre as melhorias habitacionais que estão sendo realizadas.
A participação da comunidade em todas as fases do processo está contribuindo para a
sustentabilidade das obras implantadas, melhorando a auto-estima da população beneficiada, mantendo a
vigilância e promovendo a saúde.

BIBLIOGRAFIA
EPIDEMIOLOGIA da doença de Chagas. Revista de Patologia Tropical, Goiás, v. 29, jan./jun.2000.
Suplemento.
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE. Controle da doença de Chagas. Brasília, 1996.
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE. Critérios e procedimentos para aplicação de recursos financeiros.
Brasília, 2001.
BRASI Ministério da Saúde. Superintendência de Campanhas de Saúde Pública – SUCAM. Doença de
Chagas: Texto de apoio. Brasília, 1989, 52 p.
SILVA, L. J. Doença de Chagas no Brasil: sua expansão e fatores de risco perspectivas para um futuro
próximo. Revista de Patologia Tropical. Goiânia, GO, v.29, p 67-74 jan./jun. 2000 suplemento.
DIAS, J.C. DIAS, B. R. Aspectos sociais, econômicos e culturais da Doença de Chagas. Ciência e
Cultura, n: 31 p. 105–124, 1979.
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE. Educação em Saúde - Diretrizes. Brasília, 2007.

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EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SAÚDE GLOBAL COMO INSTRUMENTO PARA A


MELHORIA DO ENSINO INFANTIL
Thayz Rodrigues Enedino1, thayzsuzuky@yahoo.com.br;
Micheline de Azevedo Lima2, michelinealima@hotmail.com;
Évio Eduardo Chaves de Melo3, jetmelo@hotmail.com.
1 Graduanda do Curso de Ecologia, Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Rua Manoel Gonçalves, Centro, Rio Tinto, PB,
CEP 58.297-000.
2 Professora Adjunta do Departamento de Engenharia e Meio Ambiente da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Rua
Manoel Gonçalves, Centro, Rio Tinto, PB, CEP. 58. 297-000.
3 Professor Adjunto do Departamento de Engenharia e Meio Ambiente da Universidade Federal d a Paraíba (UFPB) Rua
Manoel Gonçalves, Centro, Rio Tinto, PB, CEP. 58. 297-000.
Universidade Federal da Paraíba, Departamento de Engenharia e Meio Ambiente,
Rua Manuel Gonçalves, s/n. CEP. 58. 297-000 Rio Tinto, Paraíba, Brasil.

RESUMO
No ensino infantil, a educação ambiental deve ser desenvolvida com finalidade de ajudar os alunos
a construírem uma consciência ambiental para que possam assumir posições afinadas com os valores
referentes à proteção e melhoria do meio ambiente. Para isso é importante atribuir significado àquilo que
aprendem sobre a questão ambiental. O objetivo deste trabalho é identificar os problemas ambientais
presente na escola, inserir palestra no campo de saúde global e fazer ações educativas para assim
desenvolver os instrumentos mais viáveis à conduta do estudante. O projeto desenvolvido foi um
instrumento para a melhoria da qualidade do ensino infantil implantado na Escola Adailton Coelho Costa
através do projeto de extensão “Ecologia e Saúde na Escola” formado por 17 estudantes, 1 bolsista, 2
coordenadores e uma enfermeira do PSF. Nos procedimentos metodológicos foram utilizados cartazes
ilustrativos, data-show, dinâmicas interativas e foram elaborados entrevistas para saber o rendimento do
aluno em relação ao ensino da educação ambiental. A maioria dos estudantes apresentou mudanças de
comportamento a exemplo de deixarem a sala de aula limpa, separa lixo orgânico dos sólidos, saber a
importância do desenvolvimento sustentável e despertaram um novo olhar para as questões ambientais.
Portanto concluirmos que, a educação ambiental oferece os instrumentos ideais para que os alunos
possam compreender os problemas de saúde global e ambiental para assim colocar em prática o exercício
da cidadania proporcionando a construção de uma sociedade ecologicamente correta.
PALAVRAS-CHAVE: escola, meio ambiental, saúde.

INTRODUÇÃO
A Educação Ambiental surgiu como resposta à preocupação da sociedade com o futuro da vida,
cuja principal finalidade é superar a dicotomia entre natureza e sociedade, através da formação de uma
consciência ecológica das pessoas. Sustentada na aprendizagem permanente, a educação ambiental baseia-
se no respeito a todas as formas de vida e no estímulo às sociedades socialmente justas e ecologicamente
equilibradas, mantendo entre si a relação de interdependência e diversidade. Esta conduta ética e moral
são pautadas na responsabilidade individual e coletiva, tanto em nível local, como nacional e global.
Infelizmente, com raras exceções, tal conduta está ausente no modelo político de produção industrial e
agroindustrial do país, pois a lógica de mercado impede qualquer ética e o simples exercício da cidadania
(Seabra, 2009).
Educação Ambiental é um processo educativo eminentemente político, que visa ao
desenvolvimento dos educadores de uma consciência crítica acerca das instituições, atores e fatores sociais
geradores de riscos e respectivos conflitos socioambientais. Busca uma estratégia pedagógica do
enfrentamento de tais conflitos a partir de meios coletivos de exercício da cidadania, pautados na criação
de demandas por políticas públicas participativas conforme requer a gestão ambiental democrática
(Layargues, 2002).
Na Constituição Federal, na Lei nº 9.795/99, a educação ambiental é institui a Política Nacional de
Educação Ambiental e em seu Decreto regulamentador (4.281/02), deve proporcionar as condições para o
desenvolvimento das capacidades necessárias para que grupos sociais, em diferentes contextos

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


146

socioambientais do país, intervenham de modo qualificado, tanto na gestão do uso dos recursos
ambientais, quanto na concepção e aplicação de decisões que afetam a qualidade do ambiente, seja físico-
natural ou construído (Quintas, 2002).
A saúde global, em geral, indica a consideração das necessidades de saúde da população de todo o
planeta, acima dos interesses de nações em particular e está relacionada às variações de condições
ambientais (Brown, 2006). A alteração do estado de conservação do planeta Terra ocorre comumente com
o aumento do aquecimento global e ações antrópicas favorecendo um mau desequilíbrio natural. Então
ensinar aos alunos a importância de cuidar da natureza é um papel vital para uma boa qualidade de vida na
Terra. Sendo assim, atitudes favoráveis à saúde são construídas desde a infância, por meio da identificação
de valores observados nos grupos de referência (Gil, 1999). A escola é como um microorganismo social, que
cumpre um papel de destaque na formação de cidadãos para uma vida saudável, considerando-se a relação
entre o grau de escolaridade e o nível de saúde dos indivíduos e grupos populacionais (Leavell, 1977).
Segundo o Ministério da Saúde, as escolas têm apresentado diversas significações no que diz respeito à sua
função social, missão e organização, de modo que, atualmente, apresentam-se como espaços sociais nos
quais são desenvolvidas processos de ensino e aprendizagem que articulam ações de natureza diversas,
envolvendo seu território e seu entorno (Brasil, 2006a).
O principal objetivo desse trabalho é inserir a educação ambiental e saúde global como
instrumento de ensino na Escola Adailton Coelho Costa para integrar as crianças ao Meio Ambiente como
também oferecer uma melhor qualidade de saúde coletiva, proporcionando uma visão ecológica na
exploração dos recursos naturais.
MATERIAIS E MÉTODOS
Área de estudo
O estudo foi realizado na Escola Adailton Coelho Costa situada na cidade de Mamanguape-PB,
aproximadamente 50 km da capital, a qual possui uma área de 349 Km2, inserida na microrregião norte do
Estado, cujas coordenadas geográficas são: 6º50’20' de latitude sul e 35º07’33' de longitude (Figura 1).

Figura 1: Mapa de localização da cidade de Mamanguape-PB. Fonte: IBGE, 2010.

O município de Mamanguape está inserido na unidade geoambiental dos tabuleiros costeiros. O


Vale do Mamanguape possui as principais áreas de preservação ambiental do Estado, Reserva Biológica
Guaribas e Área de Proteção Ambiental peixe-boi, as quais vêm sendo foco de pesquisas e de projetos de
extensão, buscando melhorias de interação correta com a população.
A escola Adailton Coelho Costa fica situada especificamente no bairro Gurguri. Em 2010
estavam matriculados aproximadamente 315 alunos, entre crianças e adolescentes, distribuídos nos turnos
manhã e tarde.
Coleta de Dados e Atividades exercidas

No primeiro momento, foi realizada uma pesquisa com abordagem qualitativa, por meio de uma
entrevista direta com o diretor e todos os professores e funcionários da escola Adailton Coelho Costa onde

João Pessoa, outubro de 2011


147

foram desenvolvidos os trabalhos feitos pela equipe do projeto composta por 17 alunos da UFPB do curso
de Ecologia, uma coordenadora e colaborador que faz parte da equipe de professores do Departamento de
Engenharia e Meio Ambiente da UFPB, e por último uma enfermeira, colaboradora extensionista (Foto 1).

Foto1: Equipe do projeto “Ecologia e saúde na escolar” Fonte: Izolda dos Santos Rodrigues Neta.

Neste momento foi discutida uma série de questões, que teve como finalidade, construir um maior
embasamento para adentrar-se em determinadas características e diagnosticar as necessidades
apresentadas, sendo também proposto, aos mesmos, a colaboração e a sensibilização sobre a importância
desse projeto para toda a comunidade. Após a entrevista, foram lançados a todos da equipe do projeto a
incumbência de tratar os assuntos discutidos através de uma gama de possibilidades levando aos alunos a
promoção de hábitos e posturas voltadas para a melhoria das condições de qualidade de vida e
comprometimento e consciência ambiental.
A segunda parte iniciou com as ações propriamente ditas através dos grupos formados por seis
pessoas que vão à escola, a cada oito dias, visitar as salas de aulas para discutir e orientar como serem
cidadãos atuantes e comprometidos com a busca de soluções viáveis para os problemas ambientais e de
saúde, visando melhores condições de saúde.
Reuniões de planejamento foram feitas a cada quinze dias para distribuir os assuntos e designar os
nomes que formaram os grupos de visita, e que essas visitas foram feitas três vezes a mesmas salas de
aulas, a fim de avaliar e verificar se houve melhor compreensão e sensibilização do público trabalhado.
Cada assunto abordado ocorreu de acordo com o “Cronograma do Projeto”.
Os assuntos desenvolvidos em sala de aula contam com uma gama de diversidade de atividades
desenvolvidas como foco educativo e vem sendo desenvolvidas respeitando cada faixa etária dos
estudantes trabalhados. As pesquisas sobre os assuntos dos temas diagnosticados para serem abordados
foram de natureza bibliográfica, sempre com embasamento científico. Os temas trabalhados foram

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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palestras sobre cuidados com a higiene, educação ambiental, saúde global, comportamento alimentar,
plantas medicinais, saúde bucal entre outros.
As atividades educativas vêm sendo trabalhadas por meios de palestras orais e áudios-visuais,
através de cartazes e slides utilizando data-show, vídeos, oficinas, apresentações artístico-culturais de
caráter lúdico, fantoches, dinâmicas de grupos, distribuição de folhetos, construções coletivas de cartazes,
brincadeiras de caráter educativo, gincanas, músicas e etc. Em alguns temas, como saúde bucal, houve dois
momentos, o teórico (na construção da importância da higiene bucal) e prático (distribuição de escovas e
cremes dentais, além do ensino a escovação correta dos dentes) monitorado e orientado pelos membros
do projeto. A educação ambiental também seguiu a mesma linha de conduta, onde os alunos realizaram na
parte prática a implantação de pequenos coletores coloridos para coleta seletiva, o cultivo e cuidado de
plantas e as coletas de lixos espalhados na escola.
As avaliações foram executadas no decorrer das atividades através de questionários
interativos, confecção de cartazes, pinturas e outros, utilizando diferentes materiais como: cartolina,
caneta, revista, jornal, tesoura, cola, papel ofício, tecido, tinta colorida, isopor, CD e borracha (Foto 2).
Desta forma, foi possível medir o nível de aprendizado dos alunos através da compreensão dos temas
abordados.

Foto 2: Atividades exercidas pelas crianças no projeto. Fonte: Izolda dos Santo Rodrigues Neta.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A educação garante o acesso às informações necessárias para a valorização e incorporação de
hábitos saudáveis (prevenção ativa), além de promover uma cultura de paz, valorizando não só o indivíduo
e suas habilidades, mas também o coletivo, capacitando-os a resolverem problemas pessoais e da
comunidade. As informações foram transmitidas de forma lúdica, por meio de dramatizações, música,
vídeos, jogos, atividades culturais e serviços de saúde para compreender sobre a importância do
desenvolvimento sustentável e o despertar de um novo olhar para as questões ambientais (Foto 3).
O desenvolvimento do projeto proporcionou resultados positivos e satisfatórios, observados e
evidenciados a partir de reuniões com o corpo docente e diretor da escola, sendo o projeto valorizado pela
didática utilizada através de abordagem interativa com os alunos. A maioria dos discentes apresentou
interesse crescente pelos temas abordados, onde se notou a participação efetiva tanto nas atividades
teóricas como nas práticas, além do cuidado com a escola, deixando a sala de aula limpa e separando os
lixos gerados. Outro resultado do projeto foi à redução do número de evasão dos alunos nos dias
programados das atividades do projeto.

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Foto 3: Dinâmica de grupos com as crianças e a enfermeira e colaborada Káthya Daniella. Fonte:
Izolda dos Santos Rodrigues Neta

A equipe do projeto preocupou-se em gravar as reuniões de avaliação com os profissionais da


escola, bem como das atividades realizadas com os alunos, em razão de demonstrar qualitativamente e
quantativamente os resultados finais da extensão e com isso, demonstrar o potencial de importância do
referido projeto.
Os membros da escola trouxeram nas suas falas elementos importantes que indicam os resultados
das atividades desenvolvidas, onde afirmam:
“A metodologia que vocês utilizam no projeto, faz o aluno se interessar mais pelos temas”
(Professora da 2ª série);
“[...] e nós, professores, terminamos aprendendo também” (Professora da 4ª série);
“Percebe-se a mudança de comportamento do aluno até na hora da merenda” (Diretora)
“[...] mudanças nas atitudes, escovando os dentes, deixando o banheiro limpo, não jogando o lixo
no chão, isso é muito importante” (Funcionário)
“Acreditamos que cada vez mais, eles vão assimilando os temas” (Professor da 3ª série)
“É notável a participação deles, eles estão bem empolgados [...]”

As diferentes práticas e metodologias abordadas contribuíram para incentivar os professores em


desenvolver e implantar ações locais nas escolas. Esse processo é, portanto, compartilhado e construído
coletivamente, de forma que seja factível de execução. A promoção da educação para a saúde em meio
escolar é um processo em permanente desenvolvimento. Estes processos devem ser capazes de contribuir
para a aquisição de competências das crianças, permitindo-lhes confrontar-se positivamente consigo
mesmas, construir um projeto de vida e ser capazes de fazer escolhas individuais, conscientes e
responsáveis.

CONCLUSÃO
O Projeto “Ecologia e Saúde na Escola” fortaleceu a atenção à saúde básica na escola, devendo ser
visto como um núcleo motivador da atuação participativa dos diversos profissionais na comunidade
escolar, que integra suas ações com os diferentes serviços, projetos e atividades de saúde disponíveis na
área e prioriza as demandas das escolas.
A metodologia aplicada no ensino da educação ambiental na escola ofereceu instrumentos ideais
para que os alunos possam compreender os problemas ambientais e de saúde global para assim colocar em
prática o exercício da cidadania proporcionando a construção de uma sociedade ecologicamente correta.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


150

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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educação. Brasília: Secretaria de Vigilância em Saúde. Ministério da Saúde, 2006 a.
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riscos. Editora Universitária (Org.). UFPB. João Pessoa, 2009, 11-24 p.

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A INFLUÊNCIA DE ELEMENTOS MICROMETEOROLÓGICOS NA INCIDÊNCIA


DOS CASOS DE DENGUE NA AMAZÔNIA OCIDENTAL
Ronei da Silva FURTADO¹
Vinicius Alexandre Sikora de SOUZA²
Renata Gonçalves AGUIAR³
¹Graduando em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de Rondônia (UNIR), Rua Rio Amazonas, n. 351, 76900-
000, Ji-Paraná. E-mail: wayneronei@hotmail.com
²Graduando em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de Rondônia (UNIR), Rua Rio Amazonas, n. 351, 76900-
000, Ji-Paraná.
³Professora Assistente da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), Departamento de Engenharia Ambiental, Rua Rio
Amazonas, n.º 351, 76900-000, Ji-Paraná e Doutoranda no PPG em Física Ambiental – UFMT.

RESUMO
A dengue é uma patologia causada por um vírus que ocorre nos trópicos, sendo transmitida apenas
pela fêmea do mosquito da espécie Aedes aegypti e sua proliferação é ocasionada principalmente por
problemas urbanos, como, por exemplo, o armazenamento de água em recipientes inadequados. No
entanto, além dos problemas ocasionados por ações antrópicas, há também fatores naturais que
influenciam nesse processo, dentre os quais se destaca o clima - pois a incidência de dengue varia de
acordo com as condições climáticas, sendo a precipitação, a umidade do ar e a radiação solar condições
que favorecem a essa proliferação. Nesse sentido, o presente trabalho avaliou a influência de elementos
micrometeorológicos nos casos de dengue no município de Ji-Paraná – Rondônia nos anos de 2002 a 2008,
o qual se encontra na Amazônia Ocidental. Foram utilizadas técnicas de correlações entre os casos da
doença estudada e os parâmetros micrometeorológicos. Foi verificado que a precipitação é o fator que
mais influencia a incidência da dengue, embora não tenha havido valores estatísticos significativos.
Palavras-chave: Precipitação, clima, patologia, radiação solar.

ABSTRACT
Dengue is a disease caused by a virus that occurs in the tropics, and is transmitted only by the
female Aedes aegypti mosquito species, in which their proliferation is caused mainly by urban problems, for
example, storing water in containers inadequate. However, problems caused by human actions, there are
also natural factors that influence this process among which stands out the weather – because the
incidence of this varies according to climatic conditions – the increase in temperature, rainfall and humidity
air, which contribute in favor of proliferation. Accordingly, the present study evaluated the influence of
meteorological variables in cases of dengue in the Ji-Paraná - Rondônia, which is in the western Amazon,
for the years 2002 to 2008, totaling a period of 84 months, using techniques of correlations between the
cases of the disease studied and meteorological parameters. It was found that precipitation is the factor
that most influences the incidence of dengue, although there were statistically significant.
Keywords: Precipitation, climate, disease, solar radiation.

INTRODUÇÃO
Atualmente a dengue causa mais enfermidades e mortes nos seres humanos do que
qualquer outra doença transmitida por insetos, pois a cada ano, estima-se que 50 a 100 milhões de
pessoas são infectadas pela dengue e que dois quintos da população mundial está em risco de contrair essa
moléstia (CAZELLES et al., 2005). A WHO (2000) destaca que a distribuição geográfica da doença, frequência
dos ciclos de epidemia, bem como o número de casos de dengue aumentou drasticamente durante as
últimas duas décadas, tornado-se dessa forma um grave problema de saúde internacional, afetando
principalmente as regiões tropicais e sub-tropicais ao redor do mundo – especialmente em áreas urbanas e
peri-urbanas.
A dengue é uma patologia causada por um vírus que ocorre nos trópicos, sendo transmitida apenas
pela fêmea do mosquito da espécie Aedes aegypti que, ao se alimentarem de sangue humano para suprir

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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as necessidades protéicas da oviposição, infectam-se picando indivíduos virêmicos, e assim, infectam


indivíduos sadios quando fazem novo repasto sanguíneo (VERONESI; FOCACIA, 1996).
A proliferação do vetor causador dessa patologia se deve principalmente a problemas
urbanos, tais como: armazenamento de água em recipientes inadequados, falta de fiscalização apropriada
em estabelecimentos e residências que armazenam pneus, vasos de plantas, assim como nos depósitos de
lixo.
No entanto, além dos problemas ocasionados por ações antrópicas, há também fatores naturais
que influenciam nesse processo, dentre os quais se destaca o clima. O clima afeta diretamente a
proliferação do Aedes Aegypti, pois sua incidência flutua com as condições climáticas e está associada com
o aumento da temperatura, pluviosidade e umidade do ar, condições que favorecem o crescimento do
número de criadouros disponíveis e também o desenvolvimento do vetor (RIBEIRO et al., 2006).
Possuindo dois terços do território coberto pela Floresta Amazônica, o Estado de Rondônia,
localizado na região Norte do país, atualmente encontra-se em plena expansão agrícola, uma condição que
favorece a proliferação dos vetores e o aparecimento de casos dessa patologia. Além disso, esse Estado faz
fronteira com a Bolívia e abriga a principal ligação rodoviária do Acre com o restante do país, a BR-364, e
assim Rondônia ocupa posição de destaque na propagação de arbovírus (HENRIQUES, 2008).
Mediante o exposto, se observou a relevância de verificar a relação entre os casos dessa doença
com os dados da precipitação, umidade relativa do ar e radiação solar incidente no município de Ji-Paraná,
utilizando uma série de dados dos anos de 2002 a 2008.

MATERIAL E MÉTODOS
O município de Ji-Paraná (Figura 1) possui 116.610 habitantes (IBGE, 2010) e está localizado na
região central de Rondônia, a 10º52 53"S e 61º30 45"O, sendo esse inserido na Amazônia Ocidental.

Figura 1 - Localização do município de Ji-Paraná.

João Pessoa, outubro de 2011


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Na classificação de Köppen, o clima da região é caracterizado como CWa (tropical-quente e úmido)


(SEDAM, 2009). Segundo Aguiar et al. (2006), a temperatura média anual oscila de 24ºC na estação
chuvosa a 25ºC na seca. A precipitação pluviométrica anual é em média acima de 2.000 mm, com umidade
relativa do ar média de 82% (WEBLER; AGUIAR; AGUIAR, 2007).
O período estudado foi de 2002 a 2008, com utilização de dados micrometeorológicos e de
doenças, em escala mensal. Os índices de pessoas infectadas pelo vírus da dengue foram obtidos junto à
Divisão de Controle de Vetores da Secretaria Municipal de Saúde de Ji-Paraná – RO (SEMUSA), onde os
mesmos foram comparados com dados obtidos nos Boletins Climatológicos através da Secretaria do Estado
e Desenvolvimento Ambiental (SEDAM).
Primeiramente foi realizado um teste de normalidade Kolmogorov-Smirnov com nível de
significância de 0,05, utilizando o software Biostat 5.0 (AYRES et al., 2007). Foi constatado que não houve
evidências estatísticas para afirmar que os dados não sejam normais, sendo possível seguir com os
tratamentos estatísticos desse estudo.
A comparação dos dados foi realizada por meio do método de regressão linear simples,
comparando os dados na forma de totais mensais com o índice de ocorrência mensal, para que as
correlações fossem realizadas de forma direta entre as variações dos parâmetros climáticos estudados e a
variação de casos, considerando que o número de casos confirmados em estudo foi por convenção
representada pelo mês epidemiológico, no total de 84 meses.
Vale destacar que para essa análise os dados atenderam os pressupostos e para confirmar
estatisticamente se os coeficientes de determinação (r²) possuem resultados significantes, foi realizado um
teste de hipótese com nível de significância (α) igual a 0,05.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao comparar as séries de casos de dengue e precipitação (Figura 2) foi observado que os
dados não apresentam expressiva correlação, sendo que apenas nos últimos dois anos foi apresentada uma
relação mais clara entre o aumento no índice de chuvas e a incidência da dengue no município. Tal
observação diverge do padrão encontrado por Braga et al. (2004), que constataram a existência de uma
relação bem definida entre a precipitação e os casos de dengue na Paraíba, no período de 1998 a 2002,
sendo que essa defasagem na relação entre as variáveis estudadas ocorreu somente em um intervalo de
um a dois meses do período estudado.

Figura 2 - Distribuição dos casos de dengue e precipitação no município de Ji-Paraná - RO.

Ao analisar a relação entre a incidência de casos de dengue e a umidade relativa do ar é perceptível


uma divergência nos dados (Figura 3), ou seja, não foi possível observar uma tendência na variação dessa
variável com os casos de dengue. Situação semelhante foi descrita por Johansson, Dominic e Glass (2009),

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


154

onde tal pesquisa constatou a inexistência da relação entre essas variáveis para certas regiões de Porto
Rico.
No entanto, Lima, Firmino e Gomes Filho (2008), observaram, nos estados de Alagoas e Paraíba,
que durante os períodos mais úmidos, a distribuição espacial da doença se apresentou menos intensa,
enquanto que nos períodos mais secos as possibilidades de ocorrência aumentam. Frisa-se ainda que os
estudos de Gomes Filho et al. (2001) em Campina Grande-PB e Czuy et al. (2001) no município de Maringá-
PR, ambos citados em Andrade e Dantas (2004), relataram a umidade relativa do ar como o elemento que
mais influenciou na incidência de dengue em relação aos demais elementos micrometeorológicos
analisados.
Destaca-se também na Figura 3 que nos anos 2004, 2007 e 2008 não foram possíveis obter os
dados da umidade relativa do ar, o que pode ser um dos motivos para a inexistência de uma correlação
satisfatória entre essas variáveis.
Foi evidenciado a existência de flutuações nos dados da radiação solar de um mês para outro, como
pode ser observado na Figura 4. Outro fator notório a essa variavel é a existência de dados idênticos nos
primeiro semestre dos anos de 2003 e 2004, o que pode denotar falhas no equipamento que realiza essa
medição ou erro do responsável pela coleta dos dados. Assim, essas condicionantes acrescidas da
indisponibilidade de dados nos anos de 2005, 2007 e 2008 e no segundo semestre dos anos de 2003 e 2004
podem ter tornado inviável a inferência do número de casos de dengue em relação a radiação solar,
impossibilitando dessa maneira confirmar a constatação de Santos et al. (2008), que verificou a existência
de uma relação indiretamente propocional dessa variável com a dengue, devido a mesma eliminar os locais
de procriação do vetor.

Figura 3 - Distribuição dos casos de dengue e umidade relativa do ar média no município de Ji-
Paraná - RO.

João Pessoa, outubro de 2011


155

Figura 4 - Distribuição dos casos de dengue e radiação solar média no município de Ji-Paraná - RO.

Foi constatado que em Ji-Paraná, para o período estudado, a incidência dos casos de dengue está
fracamente correlacionada com os elementos micrometeorológicos (Tabela 1), principalmente em relação
a umidade relativa do ar, sendo que em relação à radiação solar incidente não houve evidências estatísticas
para confirmar a existência de significância do coeficiente de determinação dos mesmos com a doença.
Evidenciando dessa forma uma possível confirmação para os relatos de Johansson, Dominic e Glass
(2009), onde tais autores evidenciam que a impossibilidade na criação de modelos de regressão da dengue
com certas variáveis climáticas residem nos fenômenos de auto-correlação, sendo a mesma uma
característica natural dos sistemas de doenças infecciosas, devido o número de novas infecções está
intimamente relacionado com o número de infecções recentes, isso resulta em resíduos correlacionados na
análise de regressão; e colinearidade, a qual se torna presente em tais análises por meio das grandes
sazonalidades das variáveis envolvidas, onde os casos de surgimento da dengue podem corresponder a
eventos que ocorreram a períodos anteriores do seu surgimento.

Tabela 1 - Relações estatísticas da dengue com os elementos micrometeorológicos no município de


Ji-Paraná entre os anos de 2002 a 2008.
Coeficiente de
Elemento Micrometeorológico Equação Valor-p
Determinação (R²)
8,58.10-
Precipitação y = 0,071x + 0,836 (1) 0,121
07
Umidade relativa do ar y = 0,914x - 70,94 (2) 0,095 0,0162
Radiação solar y = -0,000x + 23,61 (3) 0,142 0,7398

Ressalta-se que somente no caso da precipitação é que se registrou um coeficiente de regressão


linear acima de 0,10 (cerca 0,12), ou seja, 12% da variabilidade do índice de ocorrência de dengue é
explicada pela variação da precipitação. Provavelmente 88% da variação do índice possa ser explicado por
outros fatores como, por exemplo, infraestrutura do saneamento básico. Confirmando assim, a
necessidade de se relevar dados referentes às condições de vida da população (por exemplo, saneamento
básico, renda etc.) em relação à ocorrência da dengue.
Essa baixa correlação da dengue com a precipitação também foi observada por Andrade e Dantas
(2004), que verificaram que aproximadamente 38% dos casos de dengue ocorridos em Campina Grande -
PB, no período de 1999 a 2001, estavam associados com a precipitação e 62% dos casos restantes estavam
correlacionados com fatores ambientais, biológicos, socioeconômicos, dentre outros.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


156

No entanto, tais constatações discordam dos estudos de Monteiro et al. (2009), que encontraram
uma correlação positiva, variando de 0,68 a 0,88, entre o número de indivíduos infectados por essa
arbovirose e a intensidade pluviométrica no período 2002 a 2006, na cidade de Teresina no Piauí.
Vale salientar que o objetivo do estudo de predizer a incidência da dengue por meio de
elementos micrometeorológicos possa ter sido comprometido pela não contabilização de todos os casos de
dengue ocorridos no município. A SEMUSA apenas coleta dados em hospitais e clínicas de saúde, o que leva
a desconsideração de casos dessa moléstia que não foram registrados nesses estabelecimentos, devido aos
doentes nem sempre procurarem o sistema de saúde.
Além disso, segundo Duarte e França (2006), os dados de incidência dessa doença podem
apresentar discrepâncias da realidade devido aos casos de dengue registrados no sistema de notificação
serem aqueles de evolução mais grave e assim a totalidade de casos de enfermos internados no sistema
público de saúde não é representada, o que subestima a taxa de letalidade da doença, como confirmaram
os autores supracitados ao analisar os dados de incidência dessa doença nos sistemas de saúde em Belo
Horizonte – MG.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante dos resultados obtidos, se concluiu que a precipitação dentre os elementos
micrometeorológicos analisados foi o que demonstrou maior influência nos casos de dengue no município,
embora se acredite que não foi possível encontrar melhores resultados por haver falhas na contabilização
dos casos de dengue.

AGRADECIMENTOS
Agradecemos a SEMUSA e a SEDAM pela disponibilização dos dados para o
desenvolvimento desse estudo.

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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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CULICÍDEOS CAPTURADOS EM AMBIENTE DE CERRADO MARANHENSE.


SILVA, M.S.S.1; LIMA, W.R2 SILVA, C. G.3.
1 Autora: Discente do curso de Ciências Biológicas da Universidade Fe deral do Maranhão.
2co-Autor: Discente do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Maranhão.
3Orientador: Docente da Universidade Federal do Maranhão-UFMA, campus IV de Chapadinha 65500-000,
fax.(98)34711201,Chapadinha.*autor por correspondência: clagsilva@hotmail.com

RESUMO
Os culicídeos (Diptera) são insetos de grande relevância para programas de saúde pública, pois
apresentam alto grau de antropização e podem vetoriar microorganismos ao seres humanos, os quais
podem inclusive levar a óbito. Este estudo teve como objetivo, avaliar em condições de campo a
preferência de oviposição e conseqüente desenvolvimento larval de Culicideos, em relação a diferentes
meios aquosos. Larvitrampas de borracha (pneus automotivos) foram distribuídas ao longo de uma trilha
de cerrado, no campus da Universidade Federal do Maranhão em Chapadinha-MA, os quais foram
abastecidos com: T1= água potável, T2= água + cereal (alpiste) e T3= água + ração comercial para cães. As
coletas foram realizadas em intervalos de dez dias durante o mês maio de 2010, sendo o material
entomológico identificado no Laboratório de Entomologia. Os dados foram analisados estatisticamente
através da ANOVA e Qui-quadrado (0,05). Um total de 4.579 imaturos foram encontrados distribuídos
entre os gêneros, Aedes, Culex e Toxorhynchites.
Não houve diferença significativa entre os tratamentos (P>0,05) a nível de subfamília
(Toxorhynchitinae e Culicinae) porém houve diferenças significativas dos gêneros Aedes e Culex entre os
tratamento T2 e T3 (P<0,05). Aedes e Culex tiveram oviposição preferencial para meios contendo matéria
orgânica, enquanto que o Toxorhynchites não demonstrou preferência para oviposição e desenvolvimento
larval em área de cerrado silvestre.
Palavras-chave: Aedes, Culex, Toxorhynchites, cerrado.

INTRODUÇÃO
Os culicídeos (Diptera: Culicidae) são insetos conhecidos popularmente como: mosquitos,
pernilongos, muriçocas ou carapanãs, sendo que os adultos são alados, as fêmeas geralmente são
hematófagas, enquanto que nas fases imaturas vivem em ambiente aquático alimentando-se de
microorganismos e podem ser encontrados em praticamente todas as regiões do globo (SOUTO 1994).
Estudos relacionados com abundância de espécies de culicídeos têm tornado cada vez mais
importantes por se tratar de vetores potenciais na transmissão de doenças, em diferentes áreas urbanas,
principalmente em áreas de reserva natural e em periferias (TAIPE-LAGOS & NATAL, 2003). Podendo
doença se manifestar na forma viral não especifica ou na forma grave e fatal conhecida como febre
hemorrágica da dengue (FHD), diversos fatores estão relacionados a infecção pelo dengue, entre eles
podemos citar: a faixa etária, condições imunológica, pré disposição genética além de características
singulares do vetor e do meio (GLUBER, 1995) segundo Mourão (2004 ), casos de FHD em lactantes, sugere
que a presença de anticorpos esta relacionada com a forma grave da doença.
Além da importância médico sanitária supracitada a fauna Culicidae pode ser utilizada para avaliar
o grau de alterações ocorridas em determinada região. Algumas espécies podem atuar como
bioindicadores dessas modificações, seja pelo aumento em sua densidade populacional ou até sua ausência
(DORVILLÉ, 1996; MASSAD, 1998). Em ambiente doméstico, os criadouros são em geral constituídos de
materiais que podem ser facilmente descartados no ambiente, ou solucionáveis, ou mesmo evitáveis (como
vasos de plantas com água e pratos de xaxins), que acabam não recebendo nenhuma atenção da
população, apenas em períodos em que a densidade populacional do vetor aumenta consideravelmente.
(BRASSOLATTI et al., 2002) segundo Forattini (2003) 60% em caixas d’água, 12% em potes, latas e garrafas,
8,0% em vasos de planta, 7,0% em pneus, 4,0% em tambores e 9,0% em outros recipientes, a maior
ocorrência se dá pela dificuldade de acesso a esses recipientes, visto a incidência, os programas de saúde
priorizam as medidas mecânicas aliadas a conscientização ambiental e programas de eliminação dos
criadouros.

João Pessoa, outubro de 2011


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Na atividade de oviposição de culicídeos, a seleção do criadouro pode estar associada a fatores


presentes na água, tais como: matéria orgânica, compostos químicos e presença de imaturos, o que leva a
preferência para atração e desenvolvimento para certas espécies de culicídeos de importância sanitária.
(MARQUES & MIRANDA,1992). Este estudo teve como objetivo conhecer em condições de campo a
preferência de oviposição de culicídeos em relação a diferentes meios aquosos.

MATERIAIS E METODOS
O experimento foi realizado ao longo de uma trilha em área de cerrado dentro da reserva do
Campus IV da Universidade Federal do Maranhão no Centro de Ciências Agrárias e Ambiental no município
de Chapadinha-MA (S 03°44’02.3 e W 043°19’00.7). O período de coletas foi de 30 (trinta) dias (maio de
2010), com precipitação pluviométrica média de 219,3 mm3 e temperaturas mínimas e máximas oscilando
entre 13,8 e 33°C (INMET- Chapadinha, Sistema meteorológico agropecuário- AGRITEMPO), condições
típicas do período chuvoso da região nordeste brasileiro e favorável para o desenvolvimento de culicídeos.
As coletas foram realizadas a cada dez dias (três coletas) utilizando como larvitrampas quinze
recipientes de borracha (pneus automotivos) método usado por RACHOU et al.(1954), FORATTINI (1962) e
NAWROCKI & GRAIG (1989). Sendo estas dispostas ao longo da trilha, e distribuídas entre três tratamentos
com cinco larvitrampas cada. O tratamento 1 (T1) era constituído de 2L de Água Potável +40 g de cereal
(alpiste), o tratamento 2 (T2) era constituído de apenas uma solução 2 L de Água Potável e o tratamento 3
(T3) era composto de 2L de Água Potável + 20 g de ração comercial para filhotes de cães e gatos.
Permanecendo por 10 dias e em seguida o material era transferido para outros recipientes (bandejas
brancas) e transportados para o Laboratório de Biologia da Universidade Federal do Maranhão-CCAA,
Campus de Chapadinha-MA. Em seguida, as larvas eram quantificadas e identificadas pelo método de
FORATTINI (1965).
As análises estatísticas aplicadas nos tratamentos foram: Análise de variância (ANOVA) para
estabelecer a existência de significância quantitativamente (P<0,05) dentro do experimento seguindo o
modelo estatístico: γij= µ + αi + βj + εijk, sendo que, γij é o valor atribuído às contagens das larvas dos
mosquitos considerando os tratamentos e os períodos de coletas, µ é a média geral, αi é o efeito atribuído
aos tratamentos, βj é o efeito atribuído aos períodos de coletas e εijk é o erro experimental. As distribuições
entre os tratamentos quanto aos gêneros identificados foram testadas pelo Qui-quadrado (χ2) com índice
de significância de 5%.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Um total de 4.579 culicídeos imaturos foram quantificados, sendo os mesmos pertencentes aos
gêneros Aedes (Linnaeus,1762), Culex (Linnaeus,1758) e Toxorhynchites (Bourroul,1904). A média de
imaturos entre os tratamentos foi de 106,1 para o tratamento T1, 98,2 para o tratamento T2 e 101,0 para o
tratamento T3, e desvio padrão de 110,36 para T1, 73,47 para T2 e 76,39 para T3.
A análise de Variância apresenta-se não significativa (P<0,05) com relação a subfamília
(Toxorhynchitinae e Culicinae) e os tratamentos, esse resultado demonstra que as diferentes soluções não
se diferenciam quanto à atratividade para oviposição, sendo totalmente ao acaso. No entanto as variações
dentro de cada tratamento são altíssimas (desvio padrão), assim, os três gêneros foram submetidos ao
teste não-paramétrico χ2 identificando que há significância (P<0,05) dos gêneros Aedes e Culex entre os três
tratamentos, ou seja, o gênero Aedes com maior freqüência de oviposição para o tratamento T2 e o Culex
para o tratamento T3, quanto ao gênero Toxorhynchites, não apresentou preferência, pelos tratamentos
utilizados (Tabela I).

Tabela I. Distribuição por gênero de mosquitos entre os tratamentos.

Gêneros
Tratamentos
Culex Aedes Toxorhynchites
T1 108 28 7
T2 21 46 2

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


160

T3 47 69 1

O gênero Aedes se desenvolve a partir de um ciclo aquático, que é influenciado pelo tipo e pela
qualidade dos reservatórios de água, podendo desenvolver-se á diferentes tipos de ambientes, desde a
água limpa até mesmo á esgotos (BESERRA et al,2009). O gênero Culex tem o desenvolvimento em
ambientes com elevados índices de temperaturas e com alto teor de matéria orgânica, ou seja, ambiente
poluído e baixo teor de oxigênio (MORAIS et al., 2006). As comparações realizadas entre as proporções do
número de indivíduos coletados por gênero entre os três tipos de tratamentos demonstraram que os
gêneros Culex e Aedes apresentam fortes tendências a diferentes ambientes para depositar seus ovos e
consequentemente o desenvolvimento das larvas.
O gênero Toxorhynchites apresenta em suas fases larvárias o comportamento alimentar predatório,
embora possam predar, são considerados predadores não obrigatórios, isto é, usam esse método de
alimentação quando falta alimento no criadouro ou em encontros casuais com a presa, demonstrando
assim ser um gênero pouco seletivo quanto às ambientes para se reproduzir (LOPES,1999).
No tratamento 2 Teve-se melhor desenvolvimento das espécies do gênero Aedes, que apresentam
um ciclo aquático influenciado pelo tipo e qualidade dos reservatórios. Segundo VAREJÃO et al. (2005), este
prefere reproduzir-se em reservatórios com água limpaembora possam se adaptar às situações impostas
pelo homem. O desenvolvimento do gênero Aedes não é limitado a águas totalmente limpas. De acordo
com BESERRA et al. (2009), a espécie A. aegypti tem capacidade de se desenvolver tanto em águas limpas
quanto em ambientes com elevados graus de poluição como, esgoto doméstico bruto, que apresenta
elevada concentração de material orgânico.
Segundo MASSAD & FORATTINI (1998), muitos fatores como: distribuição espacial, taxas de
desenvolvimento e sobrevivência e ciclo gonotrófico que atuam sobre o vetor são altamente dependentes
da temperatura. Os efeitos causados pelo desmatamento sobre a saúde são diversos, particularmente essa
mesma ação feita em sua maioria em florestas tropicais, provoca influência sobre as mudanças ambientais
do mundo (WALSH et al., 1993). Resultados semelhantes foram encontrados por KUWABARA (2008), que
verificou que no verão (período com chuva) foi o período estacional onde foi observada maior abundância.

CONCLUSÃO
Em uma região silvestre de cerrado no Estado do Maranhão, os culicídeos, a nível de subfamília
(Toxorhynchitinae e Culicinae) não apresentaram seletividade ao recipiente aquático . Contudo, os gêneros
Aedes e Culex, apresentaram preferência na oviposição em meios aquosos com consideráveis
concentrações de matéria orgânica. Enquanto que o gênero Toxorhynchites não demonstrou preferência
para oviposição e desenvolvimento larval.

REFERÊNCIAS
BESERRA,E.B.; FREITAS,E.M.; SOUZA,J.T.; FERNANDES,C.R.M.; SANTOS,K.D .Ciclo de vida de Aedes
(Stegomyia) aegypti (Diptera, Culicidae) em águas com diferentes características. Iheringia, Sér. Zool., Porto
Alegre, v.99, n.3, p.281-285, 2009.
DORVILLÉ L.F.M. Mosquitoes as bioindicators of forest degradation in southeastern Brazil, a
statistical evaluation of published data in the literature. Stud Neotrop Environ., .v. 31, p. 68-78, 1996.
FORATTINI, O. P. Entomologia Médica, Culicini: Culex, Aedes e Psorophora. São Paulo: Ed.
Universidade de São Paulo. 506 p. v. 2.1965.
FORATTINI,O.P., BRITO,M., Reservatórios Domiciliares de Água e Controle do Aedes aegypti. Rev.
Saúde Pública v. 37, p. 676-677, 2003.
FORATTTNI, O.P. Entomologia Médica. São Paulo, EDUSP, v. 1, 662p. 1962.
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Problem. Emerging Infectious Diseases v 1, p 55-57, 1995.

João Pessoa, outubro de 2011


161

INMET- Chapadinha, Sistema meteorológico agropecuário- AGRITEMPO, Disponível em


http://www.agritempo.gov.br/ acesso em: 10/06/2010
KUWABARA,E.F. Ecologia de culicidae (diptera) e fisiologia de anopheles (kerteszia) cruzii dyar &
knab, 1908 em área litorânea do estado do Paraná, Brasil. Curitiba. 2008. 160f.Tese de Doutorado pela
Universidade Federal do Paraná.
LOPES, J. Ecologia de mosquitos (Diptera, Culicidae) em criadouros naturais e artificiais de área rural
do norte do Paraná, Brasil. VIII. Influência das larvas predadoras (Toxorhynchites sp., Limatus durhamii e
Cu/ex bigotJl sobre a população de larvas de Cu/ex Quinquefasciatus e Cu/ex eduardoi. Revista bras.
Zool.,1999.
MARQUES C.C.A., MIRANDA, C. Influência de extratos de formas evolutivas sobre atividades de
oviposição de fêmeas de Aedes (S) albopictus (Skuse). Rev Saúde Pública, v.26, p.71-269, 1992.
MASSAD, E.; FORATTINI, O. P. Modelling the temperature sensitivity of some physiological
parameters of epidemiologic significance. Ecosystem Health; v.4, n.2, p.120-129, 1998.
MORAIS S. A.; M. T. MARRELLI & D. NATAL. Aspectos da distribuição de Culex (Culex)
quinquefasciatus Say (Diptera, Culicidae) na região do rio Pinheiros, na cidade de São Paulo, Estado de São
Paulo, Brasil. Revista Brasileira de Entomologia v.50, p.413-18, 2006.
MOURÃO, M.P.G., LACERDA, M.V.G., BASTOS, M. S. et al. Febre Hemorrágica em Lactentes: Relato
de Dois Casos. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical v. 37, p 175-176, 2004.
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RACHOU, R.G.; M.M. LIMA & J.A .F. NETO. Levantamento preliminar de criadouros de Culex
fatigans em Florianópolis (Estado de Santa Catarina). Rev. Bras. Malariol. Doenças tropicais v.6, p.497-500,
1954.
SOUTO R.N.P. Sazonalidade de Culicídeos (Diptera- Culicidae) e Tentativas de Isolamento de
Arbovírus em Floresta e Savana do Estado do Amapá.1994, 115f.Dissertação (Mestrado) - Universidade
Federal do Pará, Museu Paraense Emílio Goeldi.
TAIPE-LAGOS, C.B; NATAL, D. Abundância de culicídeos em área metropolitana preservada e suas
implicações epidemiológicas. Rev Saúde Pública. v.37, n.3, p.275-279, 2003.
VAREJÃO, J. B. M.; SANTOS, C. B. DOS; REZENDE, H. R.; BEVILACQUA, L.C. & FALQUETO, A.
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WALSH, J. F.; MOLYNEUX, D. H. & BIRLEY, M. H. Deforestation: effects on vector-borne disease.
Parasitology; v.106, p.55-75, 1993.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


2. Biogeografia e Biodiversidade
163

COLORAÇÃO COMO DETERMINANTE NA COLHEITA DE SEMENTES DE


ERVA-DOCE
1 2 3
Givanildo Zildo da SILVA ; Amanda Kelly Dias BEZERRA ; Riselane de Lucena Alcântara BRUNO
1
Graduando em Agronomia, UFPB/CCA/Areia – PB
2
Graduanda em Agronomia, UFPB/CCA/Areia – PB
3
Professora do Departamento de Fitotecnia e Ciências Ambientais, UFPB/ CCA/ Areia – PB
amanda_kely_@hotmail.com

RESUMO
A erva-doce (Foeniculum vulgare Mill.) pertence à família Apiacea e é cultivada em todo o Brasil,
representando uma importante fonte de renda para os agricultores; que muitas vezes, não conhecem as
técnicas ideais e o momento certo da colheita, o que pode resultar em diminuição do potencial fisiológico e
da qualidade da semente. Dessa forma, foi realizado um estudo de identificação do momento ideal para
realizar a colheita das sementes de F. vulgare, baseado na coloração do fruto. As sementes de erva-doce
foram colhidas manualmente, beneficiadas e separadas pela coloração do tegumento: V – verde; VA –
verde com listras amareladas, VM – verde com listras amarronzadas e M – marrom. Foram avaliadas as
seguintes variáveis: comprimento, largura, teor de água, massa seca e fresca da semente; porcentagem e
índice de velocidade de germinação (IVG); e comprimento e massa seca de plântulas. Os dados foram
analisados em delineamento inteiramente casualizado, com quatro repetições, sendo realizado teste de
Tukey (5%). Observou-se que as sementes VA apresentaram maior comprimento (5,79mm), largura
(2,20mm) e massa fresca (1,05g). A massa seca, nas sementes de VA (0,267) e VM (0,276), foi superior ao V
(0,177g) e M (0,174). As sementes V (75,93%) e VA (73,82%) apresentaram maiores teores de água, em
comparação ao VM (33,26%) e M (19,98%). O tratamento M proporcionou maior porcentagem de
germinação, 33%, porém não diferiu de VA (19%) e VM (22%). O vigor, avaliado pelo IVG, comprimento e
massa seca de plântulas, foi superior em VM (0,621; 14,08cm; 0,0521g) e M (0,811; 14,60cm; 0,0579g), não
diferindo estatisticamente entre si. A colheita das sementes de erva-doce deve ser realizada quando
apresentarem coloração do tegumento verde com listras amarronzadas, que é o momento em que ocorre
redução do teor de água e observa-se maior massa seca e vigor.
PALAVRAS-CHAVE: Apiaceae, Foeniculum vulgare Mill., maturação, qualidade fisiológica,
tegumento.

INTRODUÇÃO
A erva-doce (Foeniculum vulgare Mill.) pertence à família Apiacea e também é conhecida como anis
e funcho. É uma erva perene ou bienal, aromática, amplamente cultivada em todo o Brasil (LORENZI e
MATOS, 2008) e apresenta propriedades aromáticas, condimentares e medicinais; podendo ser usada
como medicamento natural e na indústria cosmética (SIMÕES et al., 2004) por apresentar óleo essencial
rico em vários princípios ativos com atividade biológica (SOUSA et al., 2005). Ela representa uma
importante fonte de renda para agricultores de todo o país, que muitas vezes, não conhecem as técnicas
ideais e o momento certo da colheita do fruto, o que pode resultar em diminuição do potencial fisiológico e
da qualidade da semente.
Um dos aspectos para obtenção de sementes com potencial fisiológico elevado é o momento da
colheita, que pode ser determinado pelo estádio de desenvolvimento do fruto ou da semente (CARVALHO
e NAKAGAWA, 2000), que influencia diretamente a germinação, o vigor e as propriedades físicas e químicas
da semente. Durante o processo de maturação, ocorrem várias transformações tanto químicas quanto
físicas no fruto e na semente, como mudança de coloração, perda de água, diminuição do peso específico e
maior atração pelos pássaros; ocorrendo também muitas vezes acúmulo de substâncias de reservas, tais
como compostos orgânicos solúveis, óleos e proteínas (DEICHMANN, 1967; DIAS, 2001). Dessa forma, a
maturidade fisiológica é alcançada quando as sementes exibem os valores máximos do poder germinativo,
do vigor e do peso da matéria seca, apresentando, geralmente, aumento em tamanho e decréscimo no
teor de água (CARVALHO e NAKAGAWA, 2000).
Contudo, na prática, o aspecto externo do fruto é um dos melhores indicadores da época da
colheita, destacando-se a coloração, odor, tamanho e textura (CARRASCO, 2003); especialmente para os

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


164

pequenos produtores. Diante do exposto, objetivou-se com esta pesquisa realizar um estudo de
identificação do momento ideal para realizar a colheita das sementes de F. vulgare, baseado na coloração
do tegumento.

MATERIAL E MÉTODOS
Foram transplantadas mudas de erva-doce, cultivar Esperança, com 45 dias após a semeadura, num
campo experimental localizado na fazenda Boa Sorte, município de Montadas, na Paraíba. Os frutos de
erva-doce são formados por dois aquênios (fruto-sementes) e por este motivo, foram considerados como
sementes neste trabalho.
As sementes foram colhidas manualmente, sendo retiradas todas as umbelas presentes em 20
indivíduos, que foram escolhidos ao acaso. As umbelas foram encaminhadas para o Laboratório de Análise
de Sementes do Departamento de Fitotecnia do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da
Paraíba, em Areia – PB. Inicialmente, as sementes foram retiradas das umbelas, homogeneizadas e
separadas pelas seguintes colorações do tegumento: verde (V), verde com listras amareladas (VA), verde
com listras amarronzadas (VM) e marrom (M), representando quatro tratamentos.
Foram avaliadas as seguintes variáveis: comprimento e largura da semente – determinados
medindo-se com paquímetro digital, em quatro repetições de 25 sementes; teor de água da semente-
determinado utilizando-se quatro repetições de 50 sementes, acondicionadas em recipientes metálicos,
levadas à estufa a 105 ± 3°C por 24 horas e pesadas em balança analítica com precisão de 0,001g; massa
seca e fresca da semente - determinada pesando-se, em balança analítica com precisão de 0,001g, quatro
repetições de 50 sementes antes e após serem levadas à estufa a 105 ± 3°C por 24 horas; porcentagem de
germinação de sementes - correspondente à porcentagem de sementes germinadas até o 20º dia após a
semeadura, que foi realizada em papel e mantidas em caixas plásticas tipo gerbox e acondicionadas em
câmara de germinação à temperatura alternada de 20-30ºC; índice de velocidade de germinação - foram
feitas contagens diárias para o cálculo do IVG, onde utilizou-se a equação descrita por Maguire (1962);
comprimento de plântulas - as plântulas normais de cada tratamento foram medidas com paquímetro
digital no final do teste de germinação; massa seca de plântulas - após as medições, as plântulas foram
levadas à estufa a 105º C por 24 horas e após esse período, foram pesadas em balança analítica com
precisão de 0,001g. Foram consideradas normais aquelas plântulas que apresentaram características
condizentes com as prescritas pelas Regras para Análises de Sementes - RAS (BRASIL, 2009). Os dados
foram analisados em delineamento inteiramente casualizado (DIC), considerando os quatro tratamentos,
sendo realizado teste de Tukey a 5% de probabilidade para a comparação múltipla de médias.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os dados referentes às variáveis (análise de variância – Tabela 1): comprimento, largura, massa
fresca, massa seca e teor de água da semente de erva-doce, em função da coloração da semente, estão
representados na Tabela 2.
Observou-se que as sementes verdes com listras amareladas (VA) apresentaram maior
comprimento (5,79 mm) e largura (2,20 mm). Este tratamento também proporcionou os maiores
resultados para a variável massa fresca da semente (1,055 g), quando comparado com os demais
tratamentos (V – 0,818, VM – 0,658 e M – 0,226 g). A massa seca, nas sementes VA (0,267 g) e verdes com
listras amarronzadas (VM) (0,276 g), foi superior às verdes (V) (0,177 g) e marrons (M) (0,174 g). As
sementes V (75,93%) e VA (73,82%) apresentaram maiores teores de água, em comparação aos
tratamentos VM (33,26%) e M (19,98%).

Tabela 1. Resumo da Análise de Variância (quadrado médio e coeficiente de variação) das variáveis
comprimento, largura, massa fresca e seca e teor de água da semente de erva-doce (Foeniculum vulgare
Mill.), em função da coloração da semente.
Comprimento Largura da Massa fresca Massa seca da Teor de
da semente semente da semente semente água
QM trat 0,565** 0,157** 0,487** 0,012** 3981,60**
CV (%) 2,60 5,35 12,37 6,95 6,86
Valores significativos a 1% (**) e a 5% (*) pelo teste F.

João Pessoa, outubro de 2011


165

Tabela 2. Dados referentes ao comprimento (mm), largura (mm), massa fresca (g), massa seca (g) e
teor de água (%) das sementes de erva-doce (Foeniculum vulgare Mill.), em função da coloração da
semente.
Comprimento Largura da Massa fresca Massa seca da
Teor de água
da semente semente da semente semente
V 5,11bc 1,92b 0,818b 0,177b 75,93a
VA 5,79a 2,20a 1,055a 0,267a 73,82a
VM 5,34b 1,86b 0,658b 0,276a 33,26b
M 4,91c 1,73b 0,226c 0,174b 7,98c
Médias seguidas pelas mesmas letras nas colunas não diferem entre si, pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade. (V – sementes verdes; VA – sementes verdes com listras amareladas; VM – sementes verdes
com listras amarronzadas; M – sementes marrons).

A redução do tamanho e da massa fresca da semente ocorre devido à perda de água para o
ambiente, que para Carvalho e Nakagawa (2000), ocorre gradativamente no decorrer do desenvolvimento
até o final da maturação fisiológica. Apenas as sementes marrons apresentaram teor de água adequado
para comercialização, que segundo Brasil (2009), deve ser menor que 13%. As sementes verdes com listras
amarronzadas, ao serem coletadas, precisam passar por secagem, pois para (CARVALHO e NAKAGAWA,
2000), a alta umidade favorece o desenvolvimento de patógenos, principalmente bactérias e fungos.
Dornelas (2006) observou teor de água próximo para sementes secas de erva-doce coletadas em campo
experimental (11,76%); já Stefanello (2006) e Torres (2004) encontraram umidades menores, de 5,2% e
7,8%, respectivamente, em sementes de erva-doce adquiridas com empresas de produção e
comercialização de sementes.

Tabela 3. Resumo da Análise de Variância (quadrado médio e coeficiente de variação) das variáveis
IVG, % de germinação de sementes, comprimento (cm) e massa seca (g) de plântulas de erva-doce
(Foeniculum vulgare Mill.), em função da coloração da semente.
Comprimento de Massa seca de
IVG % de germinação
plântulas plântulas
QM trat 0,329** 422,66** 0,243** 0,268*
CV (%) 31,30 36,72 16,82 18,65
Valores significativos a 1% (**) e a 5% (*) pelo teste F.

Tabela 4. Dados referentes ao IVG, % de germinação de sementes, comprimento e massa seca de


plântulas de erva-doce (Foeniculum vulgare Mill.), em função da coloração da semente.
% de Comprimento Massa seca de
IVG
germinação de plântulas plântulas
V 0,136c 8b 12,11b 0,0420b
VA 0,449bc 19ab 12,85b 0,0449b
VM 0,621ab 22ab 14,08a 0,0521a
M 0,811a 33a 14,60a 0,0579a
Médias seguidas pelas mesmas letras nas colunas não diferem entre si, pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade. (V – sementes verdes; VA – sementes verdes com listras amareladas; VM – sementes verdes
com listras amarronzadas; M – sementes marrons).

O tratamento M proporcionou maior porcentagem de germinação (33%); porém não diferiu de VA


(19%) e VM (22%); apenas as sementes verdes apresentaram taxa de germinação inferior estatisticamente
(8%). O vigor avaliado pelo IVG, comprimento e massa seca de plântulas, foi superior em VM (0,621;
14,08cm; 0,052lg) e M (0,811; 14,60cm; 0,0579g), não diferindo estatisticamente entre si.
A menor taxa de emergência em sementes colhidas verdes também foi verificada em diversas
pesquisas com espécies oleaginosas. Estudando sementes de leiteiro (Peschiera fuchsiaefolia A. DC.),

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


166

Martins et al. (2004) verificaram que a emergência das sementes verdes e maduras de cor alaranjada, foi
de cerca de 15% e 53%, respectivamente; Vieira (2005) observou que as sementes de girassol (Helianthus
annuus L.) quando verdes germinaram 78%, enquanto as sementes maduras, 96%; em sementes de
mamona (Ricinus communis L.), o fruto deve estar com cerca de 2/3 com a coloração marrom para
apresentar germinação satisfatória (BELTRÃO et al., 2003); e em sementes de canola (Brassica napus L.),
Rosseto e Nakagawa (2000) obtiveram germinação de 4% e 16% em sementes verdes e em estádios
avançados de maturação, respectivamente.
Em algumas espécies não se verifica a influência do estádio de maturação, indicado pela coloração,
na germinação das sementes, como é o caso do gergelim (S. indicum) que apresentou variação de 96-98%
de germinação tanto em sementes verdes como em sementes secas (LAGO et al., 2001); do citrumelo
(híbrido de Citrus paradisi Macfad. e Poncirus trifoliata L.), com germinação de cerca de 80% em sementes
nos dois estádios (SILVA, 2007); e da canela-guaicá (Ocotea puberula Reich.), onde observou-se
germinação de 77% das sementes verdes e de 82%, das marrons (HIRANO e POSSAMAI, 2008), não
diferindo estatisticamente entre si. Tais resultados mostram que, nessas espécies, mesmo não estando
completamente maduras, as sementes já se apresentam aptas à germinação a partir de um determinado
momento durante o período de maturação fisiológica; fato que também ocorre com as sementes da erva-
doce.
Esta superioridade no vigor verificada nas sementes verdes com listras amarronzadas e nas
sementes marrons deve ser atribuída à umidade e consequentemente ao estádio de maturação, pois
Carvalho e Nakagawa (2000) mostram que o ponto de maturação fisiológica, quando a semente apresenta
maior vigor, está relacionado à menor umidade, bem como ao maior acúmulo de matéria seca nas
sementes. Assim como na cultura da erva-doce, outros autores também verificaram que o estádio de
maturação afetou significativamente o IVE ou IVG. Souza Júnior et al. (2007) observaram que em sementes
de araçarana (Calypthrantes clusiifolia (Miq.) O. Berg), o resultado do IVG passou de 0,4201 em sementes
verdes, para 1,3005, em sementes em estádio mais avançado de maturação. O mesmo foi observado por
Guimarães e Barbosa (2007) em sementes de jacarandá (Machaerium brasiliensis Vogel), que tiveram o
resultado do IVE de 0,19 em sementes verdes e 0,47 em sementes mais maduras. Porém, em sementes de
pessegueiro (Prunus persica (L.) Batsch.), Wagner Júnior et al. (2006) não constataram diferença
significativa da influência do estádio de maturação da semente nas características comprimento e massa
seca de plântulas, como ocorreu com a erva-doce.
Além disso, pesquisas realizadas com sementes de soja (Glycine max (L.) Merr.) (PÁDUA, 2006) e de
repolho (Brassica oleraceae var. capitata L.) (FREITAS et al., 2007) mostraram que a absorção deficiente de
clorofila das sementes pela planta reduz consideravelmente o vigor das sementes; esse processo ocorre
durante a maturação das sementes e tem como consequência a mudança da coloração do tegumento.
Zorato (2007) ressalta que sementes com cotilédones esverdeados podem sofrer efeitos deletérios
causados por deterioração advinda da não-degradação dos cloropigmento, que são bastante susceptíveis a
reações de degradação.

CONCLUSÃO
A colheita das sementes de erva-doce deve ser realizada quando o tegumento apresentar coloração
verde com listras amarronzadas, momento em que ocorre redução do teor de água e observa-se maior
vigor; porém, para comercialização, essas sementes devem ser submetidas à secagem para evitar o
desenvolvimento de patógenos. Dessa forma, o período da produção é diminuído, reduzindo os custos de
produção e as perdas por deterioração natural das sementes.

AGRADECIMENTOS
Ao CNPq e à FINEP, pelo apoio financeiro.

REFERÊNCIAS
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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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João Pessoa, outubro de 2011


169

PERCEPÇÃO SOBRE OS ANFÍBIOS EM ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS E


POPULARES DE COMUNIDADES INTERIORANAS DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO NORTE.
1
Autor: Amanda RODRIGUES DE AGUIAR
2
Co-autores: Carlos Alberto PEREIRA DE ARAÚJO JÚNIOR
3
Keliton GOMES FERREIRA
1
Autor: Graduanda do curso de Ciências Biológicas da Universidade Potiguar,
email: amanda_ihita@hotmail.com;
2
Co-autor: Graduando do curso de Ciências Biológicas da Universidade Potiguar;
3
Co-autor: Graduando do curso de Ciências Biológicas da Universidade Potiguar;

RESUMO
A classificação zoológica popular refere-se ao modo como os seres humanos interagem com os
animais de acordo com a cultura em que estão inseridos. No Brasil os anfíbios são bem conhecidos por suas
formas e comportamento, inspirando muitas lendas e despertando a curiosidade de muitos. O presente
artigo aborda a percepção dos anfíbios através do conhecimento científico e popular, buscando compará-
los, esclarecendo algumas divergências existentes entre eles e conferindo o nível dessa percepção tomando
como base o conceito de Etnozoologia, que faz parte de um campo de estudo mais abrangente, a
Etnobiologia. A pesquisa foi realizada através da aplicação de um simples questionário para discentes de
variados cursos da Universidade Potiguar e populares de três municípios do estado do Rio Grande do Norte,
totalizando em 147 questionários. As respostas se apresentaram bem semelhantes, com caracteres
conceituais, estéticos, ecológicos e desprezíveis. O conhecimento zoológico tradicional se faz resultado de
muitas gerações de saberes acumulados, experimentação e troca de informação, que atualmente chama
atenção da comunidade científica para pesquisas e avaliações de impactos ambientais, manejo de recursos
e desenvolvimento sustentável.
Palavras-chaves: etnozoologia, etnobiologia, cultura, conhecimento zoológico tradicional.

INTRODUÇÃO
Os anfíbios do latim Amphibia, que significa que seus representantes têm “vida dupla” constituem
uma classe de animais vertebrados, ectotérmicos que não possuem bolsa amniótica. São animais que
apresentam uma ampla diversidade de espécies, cerca de 5.500, muito bem adaptados e geralmente estão
entre os vertebrados mais abundantes e presentes em maior número de hábitats (LIMA et al, 2005).
Esta classe está dividida em três ordens: Anura, representada por sapos, rãs e pererecas, a ordem
Caudata, representada pelas salamandras e tritões e a ordem Gymnophiona, tendo como representante a
cecília ou vulgarmente chamada de cobra-cega.
Os anfíbios são elementos importantíssimos nas cadeias e teias ecológicas, pois atuam como
agentes controladores da população de insetos e outros invertebrados, evitando a proliferação de pragas e
epidemias. Também apresentam-se como bioindicadores por serem animais sensíveis à alterações
ambientais e ações antrópicas. Além disso, na sua pele apresentam compostos químicos de interesse para
grandes indústrias farmacêuticas, com poderes curativos, analgésicos ou até mesmo anti-cancerígenos, por
isso são alvos fáceis da biopirataria.
No Brasil os anfíbios anuros são animais bem conhecidos por suas peculiaridades de forma e
comportamento, inspirando muitas lendas e crenças populares e despertando a curiosidade de crianças e
adultos. O estudo da interação entre homem e animal faz parte da Etnozoologia, que também pode ser
chamada de conhecimento zoológico tradicional ou conhecimento zoológico indígena e esta faz parte de
um campo de estudo mais abrangente, a Etnobiologia.

Orientador: Miguel ROCHA NETO. Msc. Professor da Universidade Potiguar.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


170

O termo etnozoologia surgiu nos Estados Unidos no final do século XIX, tendo sido cunhado e
definido por Mason (1899) como “a zoologia da região tal como narrada pelo selvagem”. Ao investigar as
técnicas de caça de alguns povos indígenas norte-americanos, Mason dissera que toda a fauna de uma
dada região, direta ou indiretamente, entra na vida e pensamento de um povo.
O prefixo “etno” se refere ao sistema de conhecimento e aquisição típicos de uma dada cultura,
portanto a etnozoologia diz respeito ao estudo dos conhecimentos, significados e usos dos animais nas
sociedades humanas. A etnozoologia se define como o estudo interdisciplinar dos pensamentos e
percepções, dos sentimentos e dos comportamentos que ligam as relações entre as populações humanas
que os possuem com as espécies de animais dos ecossistemas que as incluem.
No que se refere à classificação zoológica popular, os seres humanos percebem, identificam,
categorizam, classificam e utilizam os animais de acordo com os costumes e percepções próprios de cada
cultura, estabelecendo uma diversidade de interações com as espécies animais nas localidades onde
residem (POSEY, 1986). Assim, para essa classificação alguns anfíbios e até mesmo outros animais não
relacionados sistematicamente, como golfinho, cobra, tartaruga, peixe etc., são denominados “anfíbios”.
Tomando como base o ponto de vista etnozoológico, o seguinte trabalho tem por objetivo conferir
o nível de percepção dos anfíbios pela população de alguns municípios do interior do estado do Rio Grande
do Norte e por discentes da Universidade Potiguar afim de comparar o conhecimento científico com o
popular.

MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi realizado a partir da aplicação de questionários que foi disposta em duas partes. A
primeira realizada no interior do estado do Rio Grande do Norte, através do Espaço Ecológico do Museu
Itinerante, orientado pelo professor Miguel Rocha da Universidade Potiguar de Natal/RN, foi possível fazer
visitas aos municípios de Ceará-Mirim e Nísia Floresta. Também com o apoio da Caravana Ecológica, projeto
do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (IDEMA) foi
possível visitar o município de Itajá.
No segundo momento os questionários foram aplicados para discentes da Universidade Potiguar,
localizada na capital do estado, Natal.
A aquisição dos dados foi feita durante os meses de maio e junho de 2011, com o público alvo do
museu e da caravana em sua maioria alunos de ensino fundamental e nativos interessados na exposição,
além de universitários dos cursos de enfermagem, medicina, farmácia e biologia que foram abordados
pelos corredores da universidade.
O questionário constituía-se de 4 perguntas simples: 1- O que você entende por anfíbios?; 2-Cite
exemplos de anfíbios; 3- Qual a importância dos anfíbios na natureza? e 4- Qual a sua reação ao se deparar
com um anfíbio? Com os seguintes quesitos objetivos: Matar, fugir, deixar livre ou outros. Na abordagem
dos entrevistados era explicada a razão do questionário. Foi aplicado um total de 147 questionários, 74 aos
universitários e 69 a população dos municípios.
De forma surpreendente os universitários ao serem abordados se mostraram bem
dispostos à responder as perguntas que por eles foram julgadas de fácil resposta, tornando simples a
realização do trabalho. No entanto, no interior do estado, muitas pessoas por timidez mostravam
resistência às abordagens, dificultando a obtenção de dados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nos municípios do interior do estado, quando questionados “O que você entende por anfíbios?” os
69 entrevistados responderam destacando caracteres conceituais, estéticos, ecológicos ou desprezíveis. O
caráter conceitual foi um dos mais citados, no qual foram obtidas respostas como “São animais que vivem
tanto na água como na terra”; “São animais que nascem de ovos, portanto são ovíparos. Vivem na terra e
na água.”. Empatado com o caráter desprezível, representado por respostas do tipo “São animais ruins
porque atacam.”; “É uma coisa muito nojenta.”; “Que eles são muito perigosos.”. Algumas respostas de
caráter desprezível apresentavam complementos que demonstravam a consciência das pessoas com
relação à importância desses animais, muitas respostas eram “São seres nojentos, mas se forem retirados
da natureza podem prejudicá-la.”, ou “Pra mim eles são importantes mais a rã eu não gosto porque é
nojenta.”. Tanto o caráter conceitual quanto o desprezível representaram cerca de 26% das respostas cada

João Pessoa, outubro de 2011


171

um, sendo ambos maioria. O caráter ecológico também foi citado em cerca de 10% das respostas, sendo
estas “São animais importantes para a natureza.”; “São bioindicadores.”; ou “Eles são muito sensíveis.”. 4%
das respostas evidenciavam o caráter estético, “São animais pequenos e bonitos.”, ou “Eu entendo que são
bichinhos com corpo mole.”. As outras respostas foram deixadas em branco ou foram respondidas com
“Não sei.”, ou “Não entendo nada.”.
Ao exemplificarem anfíbios, os entrevistados responderam 16 animais (Figura 1), dos quais
a maioria não se classifica como anfíbio.

Figura 1: Porcentagem dos animais mencionados pela população interiorana do RN.

Quanto a importância desses animais, a maioria das respostas, cerca de 65%, foram de forma
positiva. Muitos enfatizam a importância desses animais no equilíbrio ecológico e a atuação dos anfíbios na
cadeia alimentar para o controle de insetos. Algumas respostas obtidas foram “Prestam o seu serviço de
contribuição na preservação do meio ambiente, se alimentando de insetos nocivos à natureza.”; “Eles tem
importante atuação na cadeia alimentar.”; “Eles mantêm o equilíbrio ecológico.”; “Servem de alimento e
controlam a população de outros animais.”; “Eles também contribuem no equilíbrio do meio ambiente,
além de se alimentar de insetos.”. A porcentagem restante ficou dividida entre respostas negativas, em que
os anfíbios não possuem nenhuma importância na natureza como, “Servem pra fazer medo.”; “Pra muitas
mulheres fugirem de medo.”; ou “O sapo serve pra encher o saco.” e a outra metade representa respostas
em branco ou que não sabem.
A última questão, sendo objetiva, com quatro opções de respostas (Figura 2), indagava a reação das
pessoas ao se depararem com um anfíbio.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


172

Figura 2: Porcentagem das respostas sobre a reação do indivíduo ao se deparar com um anfíbio.

De acordo com o gráfico a resposta “Deixar livre” foi a mais assinalada, seguida da opção
“Fugir” e posteriormente, “Outros” onde alguns responderam que gritariam, pegariam para brincar ou até
mesmo para examinar. “Matar” foi a resposta menos assinalada, perdendo inclusive para as respostas em
branco.
A pesquisa realizada com 73 universitários obteve um maior número de respostas
conceituais na pergunta “O que você entende por anfíbios?”, sendo elas “ Os lisamfíbios são vertebrados
que tem sistema digestório incompleto, tem fecundação externa, vivem na terra ou na água. O termo
anfíbio significa duas vidas.”; “Animais que tem ciclo de vida tanto aquático quanto terrestre.”; “São
animais de sangue frio, possuem 2 habitats aquático e terrestre.”; Animais capazes de viver na água e na
terra que necessitam do corpo hidratado para sobreviver em terra, vivem parte da vida em terra e água.”;
ou “Animais que tem ciclo de vida tanto aquático quanto terrestre.”. O caráter estético foi apresentado por
apenas um discente entrevistado que respondeu
“Animais de pele úmida e delicada.” .O caráter desprezível apresentou o mesmo resultado, na qual
a resposta foi “É uma animal nojento.”. Ficando em segundo como o mais respondido estão os “não sei” e
as respostas deixadas em branco.
No momento de citarem exemplos de anfíbios os universitários responderam 13 animais
(Figura 3) em que alguns também não se encaixam como anfíbios.

João Pessoa, outubro de 2011


173

Figura 3: Porcentagem dos animais mencionados pelos universitários.

A pergunta “Qual a importância dos anfíbios na natureza?” recebeu cerca de 87% de


respostas positivas dos universitários dentre elas estão, “Os anfíbios tem importância fundamental para o
equilíbrio da natureza, pois os mesmos são controladores de outras espécies como por exemplo os insetos.”;
“Eles precisam existir para o funcionamento da cadeia alimentar”; “Para o equilíbrio ambiental e como
bioindicadores”. O restante da porcentagem de distribui em respostas
Em branco ou que não sabem e apenas uma resposta negativa a qual dizia que os anfíbios não
possuem nenhuma importância para natureza.
Quanto a reação ao se depararem com um anfíbio a grande maioria respondeu que deixaria o
animal livre (Figura 4).

Figura 4: Porcentagem das respostas dos universitários sobre a reação ao se depararem com um
anfíbio.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


174

Os discentes que assinalaram a opção “Outros” explicaram que apreciavam, fotografavam e


coletavam ou apenas observavam o animal.
De acordo com os dados obtidos percebe-se uma semelhança entre as respostas coletadas nos
municípios e na universidade, ambos apresentam conceitos que aprenderam no processo educativo formal,
entretanto no âmbito científico foi alcançado um conhecimento mais aprofundado sobre anfíbios.
Isso se dá porque o conhecimento zoológico tradicional é o resultado de muitas gerações de
saberes acumulados, experimentação e troca de informação segundo. O repúdio visto em algumas
respostas caracteriza esse tipo de conhecimento, tal como o de jogar sal no dorso de um sapo para matá-lo,
que não é um conhecimento cientifico, entretanto o possui, pois o animal morre devido a respiração
cutânea. Esse conhecimento popular observado, apesar de crer em alguns mitos, chama a atenção da
comunidade científica em suas diversas áreas para pesquisas e avaliações de impactos ambientais, manejo
de recursos e desenvolvimento sustentável.
No meio científico alguns anfíbios também são classificados como nocivos, mas devido às glândulas
paratóides localizadas na lateral do dorso, já o conhecimento popular afirma que o animal excreta uma
espécie de urina que atinge nossos olhos causando cegueira momentânea ou permanente. Por esse e
outros motivos como a pele rugosa e úmida, que em sua maioria causa sensações de desprezo, medo e
aversão é que surgem obstáculos para o desenvolvimento de uma estratégia eficaz de conservação das
espécies.
Tendo em vista essa perspectiva de que os anfíbios no geral são considerados animais desprezíveis,
já que as classificações faunísticas muitas vezes são influenciadas tanto pelo emocional, quanto pela cultura
que se construiu em relação aos animais, vimos através deste trabalho uma maneira de desmistificar
“histórias de pessoas antigas” que transcenderam gerações.

CONCLUSÃO
Mediante a análise dos resultados apresentados neste trabalho podemos concluir que se torna
evidente a diferença de conhecimento popular, obtido pela população interiorana do estado e o
conhecimento cientifico, alcançado pelos discentes. Esta era uma questão bem óbvia, a ver que a
população do interior é detentora de um grande conhecimento herdado de geração em geração,
levando-os assim a expressar com convicção, até os dias atuais, o saber sobre os mitos e folclores e
os induzindo a acreditar que estes são os conhecimentos válidos.
Também podemos avaliar que parte da população acadêmica, apesar de obter um nível
elevado de conhecimento, apresenta respostas com características semelhantes às obtidas junto à
população do interior com relação aos mitos e folclores, no entanto, outra parte proporcionou respostas
mais elaboradas e sem influências folclóricas.

REFERÊNCIAS
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Brasil. Revista de Biologia e Ciências da Terra, Paraíba, v. 7, n. 2, p.117-123, 2007.
COSTA-NETO, Eraldo Medeiros; CARVALHO, Paula Dib de. Percepção dos insetos pelos graduandos
da Universidade Estadual de Feira de Santana, Bahia, Brasil. Acta Scientiarumn: Biological Sciences,
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COSTA-NETO, Eraldo Medeiros; SANTOS-FITA, Dídac. As interações entre os seres humanos e os
animais: a contribuição da etnozoologia. Biotemas, Florianópolis, v. 20, n. 4, p.99-110, dez. 2007.
LIMA, Albertina P. et al. Guia de sapos da Reserva Adolpho Ducke, Amazômia Central. Manaus:
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POSEY, Darrell Addison. Entomologia de tribos indígenas da Amazônia. In: Ribeiro, D. (ed.). Suma
Etnológica Brasileira. Rio de Janeiro: Vozes/Finep, 1986. p. 251-272. v. 1. Etnobiologia.

João Pessoa, outubro de 2011


175

CONHECIMENTO, UTILIZAÇÃO E DIVERSIDADE DE PLANTAS MEDICINAIS


ENTRE ALUNOS DA REDE PÚBLICA EM ESPERANÇA, PARAÍBA
Maria Clerya Alvino LEITE
Licenciada em Ciências Biológicas pela UPE. Mestre em Ciências da Nutrição e Doutoranda em Produtos Naturais e
Sintéticos Bioativos pela UFPB. cleryaalvino@hotmail.com
Ana Ligia Passos de Oliveira COSTA
Bióloga. Especialista em Gestão e Analise Ambiental. Professora mediadora (tutora) do Curso de Licenciatura em Ciências
Biológicas da UPE/UEPB. analigiajg@yahoo.com.br
Pedro Henrique de Barros FALCÃO
Biólogo. Mestre em Ciências na área de Biologia Celular e Molecular. Doutorando em Ensino, Filosofia e História das
Ciências pela UFBA. Pró-Reitor de extensão da UPE.

RESUMO
Embora existam vários estudos a respeito do uso e eficácia de plantas medicinais, a literatura
científica ainda é escassa no sentido de detalhar o que pensam e o que conhecem as comunidades. Se
tratando da escola fundamental e, tendo em vista o papel que ela representa na formação do indivíduo
objetivou-se analisar o conhecimento e a utilização acerca de plantas medicinais entre alunos do ensino
fundamental da rede pública em Esperança-PB. Trata-se de um estudo descritivo com abordagem
quantitativa realizada por meio da aplicação de um questionário em duas escolas localizadas na cidade de
Esperança-PB durante o mês de outubro de 2010. A amostra foi composta por 54 alunos utilizando a
técnica de amostragem probabilística por conveniência. O questionário abordava a utilização,
conhecimento, motivo para uso, obtenção, forma de preparo de plantas medicinais, além de outros itens.
O critério de inclusão foi a presença dos alunos no período de coleta de dados e a sua disponibilidade em
participar da pesquisa por meio da assinatura do Termo Consentimento Livre e Esclarecido por seus pais ou
responsáveis. Os dados foram analisados utilizando o software Estatístico Assistat. 88,89% dos alunos
afirmaram terem conhecimento sobre as plantas medicinais, sendo este adquirido pelos familiares
(61,11%). Quase todos os alunos (98,15%) relataram utilizarem ou já ter utilizado plantas medicinais e que
às vezes (47,17%) elas têm ação benéfica no tratamento de doenças. A forma mais significativa de
obtenção das plantas foi a própria residência (39,62%) e a orientação sobre o uso foi pelas informações
com familiares (86,79%). Foram citadas 17 plantas pelos alunos, onde a mais utilizada (39,62%) foi a erva
cidreira (Lippia alba Mill), seguida (28,30%) do capim santo (Cymbopogon citratrus Stapf). A parte mais
utilizada foi a folha (81,13%) e o modo de preparo foi o chá (96,23%) e o xarope (13,21%). O principal
motivo pelo qual as utilizam está relacionado ao tratamento de doenças (50,94%). Apenas 13,21% dos
alunos citaram ter passado por reação adversa. Os resultados obtidos neste estudo indicam a significância
da utilização de plantas medicinais abrindo interesse e participação dos alunos na busca do tratamento e
cura das doenças.
Palavras-chave: Plantas medicinais, Produtos naturais, Toxicidade.

INTRODUÇÃO
A fitoterapia é a área do conhecimento que busca a cura das doenças através das plantas
medicinais. Repousa sobre uma tradição secular, sendo amplamente difundida através dos raizeiros,
curandeiros e benzedeiras. As plantas também são amplamente utilizadas pelas famílias, principalmente
em forma de chás, infusões e lambedores. Na verdade, o uso de espécies vegetais com fins terapêuticos
remonta ao início da civilização humana, confundindo-se com a própria origem do homem.
Resgatar o conhecimento sobre plantas medicinais e suas técnicas terapêuticas é uma maneira de
deixar registrado um modo de aprendizado informal que contribui para a valorização da medicina popular,
além de gerar informações sobre a saúde da comunidade local (PILLA; AMOROZO; FURLAN, 2006).
É fundamental a escola valorizar o saber popular como forma de incentivar e de abrigar a
participação da comunidade e principalmente dos alunos. Dessa forma, considerando a escola fundamental
e, tendo em vista o papel que ela representa na formação do cidadão e a sua potencialidade de estimular a
criação de conceitos, idéias, bem como sua atitude questionadora e crítica em relação à realidade, esse

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


176

trabalho tem por objetivo realizar uma investigação sobre o conhecimento, utilização e diversidade de
plantas medicinais entre alunos do ensino fundamental da rede pública em Esperança-PB.
MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi do tipo exploratória, descritiva, com abordagem quantitativa e de corte transversal
realizada com visita às escolas e aplicação de questionário estruturado orientado pelos objetivos do estudo.
O estudo foi desenvolvido em duas escolas da rede pública do município de Esperança-PB, a Escola
Municipal de Ensino Fundamental Dom Manuel Palmeira da Rocha e Escola Municipal de Ensino
Fundamental Olímpia Souto.
A população envolvida na presente pesquisa foi dos alunos do ensino fundamental II regularmente
matriculados no 8º e 9º ano do ano letivo de 2010 nas escolas citadas no item acima.
A amostra foi constituída pelos alunos utilizando a técnica de amostragem não probabilística por
conveniência, apresentando como critérios de inclusão: alunos que estiveram na sala de aula no período de
coleta de dados e que aceitaram participar da pesquisa mediante assinatura do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE) pelos pais ou responsáveis. O critério de exclusão foi pais/responsáveis que se
recusaram a assinar o TCLE e alunos que não aceitaram participar da pesquisa. Foram distribuídos 200
questionários aos alunos, contudo, somente 54 destes retornaram com os mesmos para serem respondidos
na sala de aula, compondo assim, a amostra do presente estudo.
O instrumento utilizado para a coleta de dados foi um roteiro composto por questões que
exploraram as informações referentes ao conhecimento, uso e diversidade de plantas medicinais; por parte
dos alunos. Versavam as seguintes questões: 1 Se o aluno tem conhecimento sobre plantas medicinais; 2
Onde foi adquirido este conhecimento; 3 Se o aluno já utilizou a planta medicinal sob alguma forma; 4 A
frequência do uso; 5 Se ele tem crença na cura pelas plantas medicinais; 6 Onde ele obtém as plantas que
utiliza; 7 Quem indicou ou recomendou o uso da planta e 8 As plantas mais utilizadas pelos entrevistados.
Os questionários estruturados foram aplicados pelos pesquisadores em sala de aula, e as instruções
foram feitas com relação ao preenchimento do formulário. A coleta de dados foi realizada durante o mês
de outubro de 2010. Os pesquisados tiveram sua participação autorizada através de TCLE assinado pelos
pais/responsáveis.
Os dados foram armazenados num banco de dados desenvolvido no Microsoft Excel 2007. Para a
análise quantitativa dos dados foi utilizado o software estatístico Assistat versão 7.5 beta.
Para caracterizar a amostra, foram utilizadas tabelas contendo frequências absolutas e
relativas, médias e desvios-padrão.
A pesquisa foi norteada pelos princípios éticos da Resolução n.º 196//1996 do Conselho Nacional
de Saúde.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dos formulários tabulados, observa-se pela Tabela 1, que 88,89% dos alunos relataram terem
conhecimento sobre as plantas medicinais. Leite et al. (2010), em um levantamento semelhante na cidade
de Patos, Estado da Paraíba, observaram que 100% dos alunos da escola pública e 92% da escola privada
sabem o que é uma planta medicinal e acreditam na cura de doenças através da fitoterapia. Cruz, Furlan e
Joaquim (2009) demonstraram em seu estudo que alunos do ensino fundamental, de um modo geral,
afirmaram que as plantas utilizadas são usadas para a cura de doenças. Quanto questionados quais plantas
medicinais os alunos conheciam, colocaram-se a seguinte questão: “Quais plantas medicinais vocês
conhecem?”. Neste momento, foi verificado que as plantas mais citadas foram: camomila (20,77%), boldo
(18,46%) e alecrim (10%).
Quanto ao conhecimento sobre plantas medicinais, relataram que o adquiriram por familiares
(61,11%), vizinhos e amigos (18,53%%), escola (14,81%), mídia (7,41%) e livros (3,70%). Já Cruz, Furlan e
Joaquim (2009) analisando a origem do conhecimento sobre plantas medicinais em alunos do ensino
fundamental da rede particular do município de São José dos Campos, São Paulo descreveram que tal
conhecimento foi adquirido por meio do curso de graduação (37%) e livros (18%). Neste estudo, os
antecedentes familiares responderam somente por 9% das citações. Contudo, os dados da presente
pesquisa corrobora com o estudo de Leite et al. (2010), onde o conhecimento adquirido sobre o tema de
57% dos discentes da escola pública e 53% da escola privada veio por meio da família. Esses dados
demonstram, portanto, que o aprendizado sobre a utilização das plantas medicinais é repassado de

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177

geração a geração, tendo também a influência de amigos e vizinhos no repasse de informações acerca do
tema.

Tabela 1 – Distribuição numérica e percentual conforme o conhecimento e a fonte do conhecimento das


plantas medicinais pelo aluno. Escola Municipal de Ensino Fundamental Dom Manuel Palmeira da Rocha e Olímpia
Souto, Esperança-PB, out. 2010.
Questionamento Nº %
Você tem conhecimento sobre plantas medicinais?
Sim 48 88,89
Não 6 11,11
Este conhecimento foi adquirido por (pela)?
Antecedentes familiares 33 61,11
Vizinhos e amigos 10 18,52
Escola 8 14,81
Mídia – rádio/TV 4 7,41
Livros 2 3,70
Total 54 100

A partir do levantamento dos dados obtidos junto aos alunos das escolas públicas de Esperança-PB
verificou-se que 98,15% dos participantes utilizam de plantas medicinais para fins terapêuticos, valor muito
semelhante ao encontrado por Viganó, Viganó e Cruz-Silva (2007) (98%) (Tabela 2). Leite et al. (2010), em
um levantamento semelhante na cidade de Patos-PB observaram uma porcentagem de uso de 82% de
plantas medicinais, verificando também que grande parte da população utiliza-se dessas plantas.
Cerca de 43,4% dos alunos fazem uso de plantas medicinais raramente e 37,74% com pouca
frequência. Contudo, em outro estudo, observou-se que mais de 50% dos entrevistados fazem uso de
plantas medicinais com uma frequência quase que cotidiana (VIGANÓ; VIGANÓ; CRUZ-SILVA, 2007). Nestes
casos, deve-se atentar para os casos de superdosagem, podendo estas plantas apresentarem efeitos
terapêuticos quando utilizadas na quantidade e periodicidade corretas.
Quando questionados sobre a ação benéfica das plantas medicinais no tratamento de doenças, a
maioria dos alunos acredita ter ação benéfica às vezes (47,17%) e 30,19% acreditam no uso de plantas
medicinas para tratar doenças. Os restantes (22,64%) afirmaram que algumas plantas pode ter ação
benéfica no tratamento de enfermidades. Esses dados demonstram que nem todas as plantas medicinais,
somente pelo fato de ser natural, são benéficas para o ser humano, havendo casos de serem até tóxicas
para os seres humanos.

Tabela 2 - Distribuição numérica e percentual de utilização, frequência e percepção da ação benéfica do uso
de plantas medicinais pelos alunos. Escola Municipal de Ensino Fundamental Dom Manuel Palmeira da Rocha e
Olímpia Souto, Esperança-PB, out. 2010.
Questionamento Nº %
Você utiliza ou já utilizou plantas medicinais?
Sim 53 98,15
Não 1 1,85
Caso SIM, com que frequência?
1 vez por semana 3 5,66
Mais de uma vez por semana 4 7,55
1 vez por mês 3 5,66
Pouca frequência 20 37,74
Raramente 23 43,40
Você acredita que as plantas medicinais tem ação benéfica no tratamento de doenças?
Sim 16 30,19
Algumas sim 12 22,64
Às vezes 25 47,17
Total 54 100

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


178

A maioria dos alunos obtém as plantas medicinais na própria residência (39,62%), 32,08% obtêm as
plantas dos familiares ou amigos (9,43%) e 16,98% em feiras livres e/ou em supermercados (Tabela 3). Os
resultados mostram que os alunos têm facilidade na obtenção das plantas medicinais. Um trabalho
realizado em Três Barras do Paraná (Estado do Paraná) por Viganó, Viganó e Cruz-Silva (1997), verificou que
44% das plantas utilizadas como medicinais são obtidas na própria residência, no quintal de casa, como
também através dos familiares ou amigos (31%), 11% da pastoral, 4% de farmácias, 3% da mata e 7%
adquiriram em outras fontes. Esses resultados reforçam outro dado mostrado neste trabalho, como sendo
a família a principal fonte de incentivo e obtenção das plantas medicinais para uso terapêutico.

Tabela 3 - Distribuição numérica e percentual do modo de obtenção e indicação das plantas medicinais pelos
alunos. Escola Municipal de Ensino Fundamental Dom Manuel Palmeira da Rocha e Olímpia Souto, Esperança-PB, out.
2010.
*
A soma dos valores das percentagens deu mais de 100% em virtude dos participantes haverem indicado mais
de uma resposta.
**
Foi composto por enfermeiro e agente comunitário de saúde.
Questionamento Nº %
Onde você obtém as plantas medicinais que utiliza?*
Própria residência 21 39,62
Familiares 17 32,08
Amigos 5 9,43
Mata 2 3,77
Feiras livres/supermercados 9 16,98
Vizinhos 6 11,32
Quem indicou ou recomendou o uso da planta?*
Familiares 46 86,79
Amigos 6 11,32
Vizinhos 2 3,77
Profissionais de saúde** 2 3,77
Livros medicinais 4 7,55
Total 53 100

Foram mencionadas 17 plantas medicinas, porém, as cinco mais citadas pelos alunos em ordem
decrescente foram: erva cidreira (39,62%), capim santo (28,30%), boldo (16,98%), erva-doce (16,98%) e
eucalipto (15,09%), como pode ser observado na Tabela 4. As plantas mais citadas no estudo de Pinto,
Amorozo e Furlan (2006) foram o mastruz (Chenopodium ambrosioides L.) e a erva-cidreira (Lippia alba
Mill). O número de usos terapêuticos relacionado a estas espécies está também entre os maiores. Já em
outro estudo, o boldo, o capim santo e a hortelã estão entre as plantas medicinais mais usadas (PILLA;
AMOROZO; FURLAN, 2006).
A erva cidreira, também conhecida pelo nome popular "Melissa", é uma planta da mesma família e
que têm aspecto semelhante à hortelã. Têm propriedades calmantes, sedativas e também pode ser útil em
casos de resfriados com febre. Pode também ser utilizada para combater estresse, cólicas uterinas,
problemas gastrointestinais, respiratórios (tosse, bronquite, asma) e insônia. Muito utilizada na forma de
chás e óleo essencial na aromaterapia (TAYHHO, 2006).
As indicações para uso do capim santo são o nervosismo, ansiedade, cólicas intestinais, gases e
febre. O boldo é indicado para falta de apetite, problemas do estômago e fígado; também é usado para
litíase renal (cálculo na vesícula). A erva-doce é indicada para distúrbios gastrointestinais: dispepsia, cólicas
e tosse produtiva. O eucalipto está indicado para casos de bronquites, gripes e catarro. O consumo
exagerado pode provocar vômitos e diarreia (RECANTO DAS LETRAS, [2010?]).
Em estudo realizado por Leite et al. (2010), foram mencionadas 34 plantas pelos discentes de
escola pública, onde a mais utilizada (78%) foi a erva cidreira (Lippia alba Mill), indicada pelos mesmos para
doenças gastrointestinais, dores musculares e de cabeça e como calmante; porém, apenas 9 plantas foram

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179

mencionaram pelos alunos da escola privada, onde a mais citada por 34% dos alunos foi a babosa (Aloe
vera L.).
Tabela 4 - Distribuição numérica e percentual das plantas medicinais utilizada pelos alunos. Escola Municipal
de Ensino Fundamental Dom Manuel Palmeira da Rocha e Olímpia Souto, Esperança-PB, out. 2010.
*
A soma dos valores das percentagens deu mais de 100% em virtude dos participantes haverem indicado mais
**
de uma resposta. Foi composta por mastruz, pé de laranja, arruda e raiz de urtiga.
Planta medicinal* Nº %
Nome específico Nome popular
Lippia alba (Mill.) Erva cidreira 21 39,62
Cymbopogon citratrus (DC) Stapf Capim santo 15 28,30
Vernonia condensata Beker. Boldo 09 16,98
Pimpinella anisum (L.) Erva-doce 09 16,98
Eucalyptus globulus Eucalipto 08 15,09
Labil
Sambucus nigra L Sabugueiro 03 5,66
Punica granatum L. Romã 03 5,66
Matricaria chamomilla (L.) Camomila 03 5,66
Malva sylvestris L. Malva 02 3,77
Cinnamomum zeylanicum Blum Canela 02 3,77
Psidium guajava L. Folha de goiaba 02 3,77
Menha arvensis L. Hortelã 02 3,77
Anethum graveolens L. Endro 02 3,77
Outra** 04 7,55
Não respondeu 03 5,66
Total 53 100

Nota-se pela Tabela 5 que as partes das plantas mais usadas foram a folha (81,13%), seguida da
casca, raiz e toda a planta que obtiveram 11,32 % cada, a flor (9,43%) e a semente (7,55%). O uso
acentuado da folha, também citado por Borba e Macedo (2006), mostra que os alunos procuram manter a
integridade das espécies vegetais, retirando partes delas que possam ser repostas normalmente pelas
próprias plantas, minimizando o seu risco de perda ou extinção. Contudo, é notório o grande uso da raiz e
da casca pelos alunos na preparação do remédio caseiro.
Verificou-se que existem semelhanças e diferenças na maneira de uso, principalmente quando se
refere a parte da planta a ser utilizada. Alguns preferem usar mais as folhas do vegetal, enquanto outros
acreditam que o efeito só é garantido utilizando toda a planta ou outras partes mostradas na Tabela 5.
Na cidade de Esperança-PB, a forma mais usada pelos alunos no preparo do medicamento caseiro
foi o chá (96,23%). Além desta forma, foram citados no estudo, em menores proporções, preparos como:
xarope (13,21%), suco (5,66%) e in natura (3,77%) (Tabela 5). Sobre as formas de utilização das plantas
medicinais observou-se que o chá é a forma mais conhecida. Resultado este que é também compartilhado
por outros autores (BORBA; MACEDO, 2006; COSTA et al., 2002). Entretanto, foram apresentadas outras
formas de utilização, como descritas na Tabela 5. Em trabalho de levantamento etnobotânico, Viganó,
Viganó e Cruz-Sousa (2007) observaram que prevaleceu o uso de chás por infusão (40%), decocção (28%),
no chimarrão (11%) e maceração (9%). De acordo com Martins et al. (2000), para cada caso e tipo de
material vegetal existe uma forma de preparo mais adequada e eficaz.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


180

Tabela 5 - Distribuição numérica e percentual conforme a parte da planta e o modo de preparo das plantas
medicinais utilizada pelos alunos. Escola Municipal de Ensino Fundamental Dom Manuel Palmeira da Rocha e Olímpia
Souto, Esperança-PB, out. 2010.
*
A soma dos valores das percentagens deu mais de 100% em virtude dos participantes haverem indicado mais
de uma resposta.
Questionamento Nº %
Qual (is) a(s) parte(s) da planta que você utiliza?*
Folha 43 81,13
Flor 5 9,43
Casca 6 11,32
Raiz 6 11,32
Semente 4 7,55
Toda a planta 6 11,31
Qual (is) o(s) modo(s) de preparo (forma de uso)?*
Chá 51 96,23
Suco 3 5,66
Xarope 7 13,21
In natura 2 3,77
Total 53 100

CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES
Os resultados obtidos através do presente estudo indicam a significância da utilização de plantas
medicinais abrindo interesse e participação dos alunos na busca do tratamento e de cura das doenças.
Existe uma procura enorme por esse meio alternativo na terapêutica das enfermidades. Demonstra
também que a maioria dos alunos possuem um certo conhecimento sobre as plantas medicinais, citando o
nome popular da planta e para que a utiliza, porém, outros alunos demonstraram um conhecimento
superficial acerca do tema, não se atentando, por exemplo, para o perigo do uso errado e descontrolado
destas plantas, assim como, a toxicidade de algumas. Os dados deste estudo demonstraram também a
grande influência que a família tem na obtenção e orientação sobre o uso de plantas medicinais.
Foi possível observar nas citações dos alunos da cidade de Esperança-PB uma boa diversidade de
espécies medicinais com fins terapêuticos, reflete até certo ponto a acreditação destes nos benefícios
destas plantas; todas as partes vegetais foram indicadas para o preparo de remédios, no entanto, as mais
utilizadas foram às folhas, cascas, raízes, bem como também toda a planta.
É fundamental que o conhecimento popular gerado nestas escolas públicas possa ser
compartilhado com outros alunos, tornando-se necessárias estratégias de desenvolvimento para essas
escolas que despertem o interesse desses alunos, como a criação de espaços, como os hortos medicinais ou
Farmácias Vivas, onde esse conhecimento possa ser mantido e fortalecido através de mecanismos de
geração de renda e de valorização desse conhecimento. Podendo, dessa forma, haver o retorno dos
benefícios advindos do conhecimento empírico fornecido por essas escolas em forma de melhoria de sua
qualidade de vida.

REFERÊNCIAS
BORBA, A. M; MACEDO, M. Plantas medicinais usadas para a saúde bucal pela comunidade do
bairro Santa Cruz, Chapada dos Guimarães, MT, Brasil. Acta Botânica Brasílica, São Paulo, v.20, n.4, p.771-
782, 2006.
COSTA, L.C.B. et al. Abordagem etnobotânica acerca do uso de plantas medicinais na Vila
Cachoeira, Ilhéus, Bahia, Brasil. Acta Farm. Bon., Buenos Aires, v. 21, n. 3, p. 205-211, 2002.
CRUZ, L. P; FURLAN, M. R; JOAQUIM, W. M. O estudo de plantas medicinais no ensino
fundamental: uma possibilidade para o ensino da Botânica. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA
EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS, 7., 2009, Florianópolis. Anais.....Florianópolis, 2009.
LEITE, I. A; MORAIS, A. M; GUEDES, A. F; LUCENA, D. S; LEITE, C. A; LETIE, M. C. A; MARINHO, M.
G. V. Conhecimento e utilização de plantas medicinais: análise comparativa entre alunos do ensino

João Pessoa, outubro de 2011


181

fundamental de escolas pública e privada. In: SIMPÓSIO DE PLANTAS MEDICINAIS DO BRASIL, 21., 2010,
João Pessoa. Anais.... João Pessoa: UFPB, 2010.
PILLA, M. A. C; AMOROZO, M. C. M; FURLAN, A. Obtenção e uso das plantas medicinais no distrito
de Martim Francisco, Município de Mogi-Mirim, SP, Brasil. Acta Botânica Brasílica, São Paulo, v.20, n.4,
p.789-802, out./dez. 2006.
PINTO, E. P. P; AMOROZO, M. C. M; FURLAN, A. Conhecimento popular sobre plantas medicinais em
comunidades rurais de mata atlântica – Itacaré, BA, Brasil. Acta Botânica Brasílica, São Paulo, v.20, n.4,
p.751-762. 2006
RECANTO DAS LETRAS. Indicações de plantas medicinais, [2010?]. Disponível em:
http://recantodasletras.uol.com.br/resenhas/15295. Acesso em: 02 jan. 2011.
TAYHHO. Distribuidor de produtos naturais e fitoterápicos. http://www.fitoterapicos.info/erva-
cidreira.php. Acesso em: 02 jan. 2011.
VIGANÓ, J; VIGANÓ, J. A; CRUZ-SILVA, C. T. A. Utilização de plantas medicinais pela população da
região urbana de Três Barras do Paraná. Acta Scientiarum. Health Science, Maringá, v. 29, n. 1, p. 51-58
2007.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


182

FENOLOGIA REPRODUTIVA DE PERIANDRA MEDITERRANEA MART. EX


BENTH. (FABACEAE) E SUA INTERAÇÃO ECOLÓGICA COM POLINIZADORES
EM REMANESCENTE DE MATA ATLANTICA.
Andressa Cavalcante MEIRELES
Graduanda em Ecologia, UFPB, Campus IV, Litoral Norte andressaecologia@gmail.com
Zelma Glebya Maciel QUIRINO
Orientadora, UFPB, Campus IV, Litoral Norte.

RESUMO
As relações entre planta e polinizador são muito importantes na estruturação de comunidades, pois
podem influenciar no sucesso reprodutivo, fluxo gênico, dispersão, distribuição espacial e na permanência
das espécies vegetais em suas áreas de ocorrência. Considerando a importância de tais estudos investigou-
se a fenologia, biologia reprodutiva e a ecologia da polinização de Periandra mediterranea. O estudo foi
conduzido entre agosto de 2010 á julho de 2011 através de observações diretas no campo na Reserva
Biológica Guaribas, Paraíba, Brasil. As fenofases vegetativas queda e brotamento foliar ocorreram o ano
todo enquanto as fenofases reprodutivas floração e frutificação oscilaram apresentando pico no mês de
setembro se correlacionando com o início da estação seca. A espécie apresenta flores hermafroditas,
papilionáceas, zigomorfas, ressupinadas na pré-antese, pediceladas, com bractéolas pareadas e opostas,
inseridas na base do cálice e ovadas. As pétalas são modificadas em quilha que protegem os órgãos
reprodutivos estames e estigma; alas que envolvem a quilha e a estandarte que serve de plataforma de
pouso para o visitante floral. Os órgãos reprodutivos permanecem inclusos na quilha, sendo expostos
somente durante o contato com os visitantes florais, os mais freqüentes são as abelhas Xylocopa sp. e a
Bombus sp. O mecanismo de polinização apresentado é o tripping, e a deposição do pólen no corpo do
animal é nototríbica. Testes de autopolinização demonstraram frutificação de aproximadamente 26%, na
polinização controle indicou 100% de sucesso na produção de frutos. Conclui-se que P. mediterranea
apresenta um padrão de floração e frutificação anual, continuo e de longa duração ocorrendo com
intensidade no inicio da estação seca, a queda e o brotamento foliar ocorrem durante o ano todo. Os testes
reprodutivos demonstraram a importância do polinizador efetivo a Xylocopa sp. para a espécie vegetal
confirmando que a presença dos polinizadores é fundamental para garantir seu sucesso reprodutivo.
Palavras-chaves: Ecologia reprodutiva; Fenologia; Polinização.

INTRODUÇÃO
Periandra mediterranea Mart. ex Benth. é uma espécie de Fabaceae nativa do Brasil possuindo uma
ampla distribuição biogeográfica abrangendo os biomas Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica. Seu
domínio fitogeográfico envolve o Norte (Pará, Tocantins), Nordeste (Maranhão, Piauí, Ceará, Paraíba,
Pernambuco, Bahia), Centro-Oeste (Mato Grosso, Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul), Sudeste
(Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro), Sul (Paraná).
Estudos sobre a biologia da reprodução têm sido utilizados para a conservação e recuperação de
habitats naturais afetados pela fragmentação, pois podem fornecer informações importantes relacionadas
à facilitação e competição por polinizadores, sucesso reprodutivo e manutenção do fluxo gênico
intraespecífico (Kearns et al. 1998, Ghazoul 2006). Dentre áreas degradadas podemos se destaca os
remanescentes florestais de Mata Atlântica no Nordeste do Brasil são encontrados em maior perigo,
considerando de ter sido a sua biota muito alterada nos cinco séculos de colonização (Silqueira-Filho,
2006).
As relações entre planta e polinizador são muito importantes na estruturação de comunidades, pois
podem influenciar na distribuição espacial, na riqueza e na abundância de espécies, na estrutura trófica e
na fenodinâmica (Janzen 1970; Bawa et al. 1984). Associadas ao estudo da fenologia, estas informações são
de grande valia no planejamento de projetos que utilizem espécies vegetais capazes de atrair a fauna e que
apresentem diferentes épocas de floração e frutificação ao longo do ano, para que os agentes polinizadores
e dispersores permaneçam na área (Guimarães, 2009).

João Pessoa, outubro de 2011


183

Dentro deste contexto, a ecologia da polinização e os eventos fenológicos, tais como floração e
frutificação, exercem influência sobre os recursos disponíveis para muitos organismos (Conceição et al.
2007); e ajudam no entendimento das interações entre flores e polinizadores, sendo importante na
compreensão dos mecanismos de diversificação das características florais (Yamamoto et al. 2007),
podendo auxiliar na compreensão da dinâmica das populações do ecossistema, subsidiando a implantação
de programas de manejo e conservação (Machado e Lopes, 2003).
Considerando a importância de tais estudos, este trabalho teve por objetivo investigar a biologia
reprodutiva de Periandra mediterrânea Mart. ex Benth. uma espécie pertencente a família Fabaceae que
ecologicamente possui grande valor devido à capacidade de fixar nitrogênio, associando-se as Rhizobium e
ao Bradyhizobium, o que torna ainda mais importante em solos onde ocorre deficiência desse elemento
(Lopes, 1963 apud Dutra, 2005). Apresenta ainda uma grande importância farmacológica antinflamatória
ressaltada por Pereira et al. (2000), amplamente utilizada na etnomedicina brasileira como supressor
de tosse, expectorante, diurético e laxante.

OBJETIVO
Objetivou-se o estudo da fenologia, biologia reprodutiva e da interação ecológica de Periandra
mediterranea Mart. ex Benth. com seus polinizadores ressaltando sua importância para a permanência e
sucesso reprodutivo da espécie vegetal na área estudada.

METODOLOGIA
O projeto foi realizado na Reserva Biológica Guaribas sendo composta por remanescentes de Mata
Atlântica, localizada nos municípios de Rio Tinto e de Mamanguape (6°40’53”S e 35°09’59”W) e situada no
litoral norte da Paraíba.
O estudo foi conduzindo entre agosto de 2009 e maio de 2011 onde foram selecionados e
etiquetados 20 indivíduos da espécie Periandra mediterranea. No período de floração no campo foi feito o
registro da freqüência, duração, horário e comportamento dos visitantes às flores. A fenologia foi
acompanhada mensalmente, onde foram registradas as fenofases: floração e frutificação. Durante a
floração, foi realizada a contagem do número médio de flores por indivíduo e a descrição morfológica das
flores. Para análise do sistema reprodutivo foram conduzidos em campo experimentos de autopolinização
além do acompanhamento de populações controle.

RESULTADOS
Características da espécie
Periandra mediteranea Mart. ex Benth. é um sub arbusto de aproximadamente 1,15 metros (n=30),
apresenta flores tipicamente papilionáceas, zigomorfas, ressupinadas na pré-antese, pediceladas, com
bractéolas pareadas e opostas, inseridas na base do cálice e ovadas, durante a antese apresenta odor
adocicado e os recursos disponíveis para os visitantes consistem em néctar e pólen. A espécie apresenta 2-
3 botões por inflorescência sendo que 1-2 se encontram abertos a cada dia e 1-2 inflorescência por ramo
(n=20). As pétalas são modificadas em quilha que envolve e protege os órgãos reprodutivos estames e
estigma; alas que envolvem a quilha e a estandarte que serve de plataforma de pouso para o visitante floral
(Figura I). O nectário nesta espécie encontra-se entre a base da coluna estaminal e do ovário, sendo esse
último súpero, o pistilo apresentou tamanho inferior ao dos estames (Tabela I), entretanto seu
posicionamento proporcionava hercogamia, onde durante a visita o polinizador tocava primeiro o estigma
e depois as anteras. O androceu é composto de dez estames sendo nove unidos e um de menor tamanho
solto dos demais.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


184

Figura I- Detalhe da flor de Periandra mediterranea Mart. ex Benth., A e B- Alas; C- Quilha; D-


Estandarte; seta- guia de néctar.

Tabela I – Medidas e coloração dos verticilos florais de Periandra mediterranea Mart. ex Benth.
Fenologia reprodutiva

Com relação ás fenofases vegetativas queda e brotamento foliar os indivíduos apresentaram


comportamento diferente em ambas as estações seca e chuvosa, onde alguns indivíduos apresentavam
emissão foliar durante o ano todo e outros tiveram 100% de queda em alguns meses de estudo. Quanto ás
fenofases reprodutivas, floração e frutificação estas se intensificaram no mês de setembro se
correlacionando com o início da estação seca da área de estudo.
Visitantes florais
Periandra mediterranea apresentou variedade em espécies de visitantes entre eles se destacam a
abelhas Xylocopa spp., Apis mellifera, Bombus sp. e ainda indivíduos das ordens Trochiliformes,
Hymenopterae Lepidóptera (Tabela II). A Xylocopa sp. é o polinizador efetivo realizado suas visitas pelo
mecanismo de“tripping”, no qual as abelhas apresentavam o comportamento de pousar no estandarte e
através do peso exercido com seu corpo são capazes de expor os órgãos reprodutivos que se encontram
inclusos na quilha (figura II), posteriormente, introduziam a língua na base dos elementos florais para
alcançar o néctar. Como conseqüência, os órgãos reprodutivos das flores eram liberados e contatavam a

João Pessoa, outubro de 2011


185

região dorsal do corpo da abelha, onde o pólen ficava depositado, caracterizando a polinização nototríbica
(Figura III A).

Figura II – Vista lateral da flor de Periandra medirranea Mart. ex Benth.: A- antes e B- após a visita
do polinizador efetivo; seta- órgãos reprodutivos expostos.

Tabela II- Visitantes florais de Periandra mediterranea Marth. Ex Benth. Pe - polinizador efetivo, Pi
– pilhador, N- néctar, P- pólen.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


186

Figura III – Visitantes florais: A – Xylocopa spp. ; B- Bombus sp.; C- Esfingideo ; D- Vespidae.

O pico de visitas de Xylocopa spp. foi entre 13:00 as 14:00 ocorrendo também no período da
manhã principalmente nos intervalos entre 9:00 as 10:00, abelhas como Apis mellifera, Bombus sp.e
representantes das ordens Lepdóptera e Vespidae foram observados pilhando o néctar de P. mediterranea
ocorrendo em proporções muito baixas e apresentando o comportamento de pousar sobre a quilha e
introduzir a tromba diretamente na base da corola, acessando o nectário sem acionar o sistema que expõe as
estruturas reprodutivas. Indivíduos da ordem Trochiliformes apresentaram um comportamento territorial
repugnando outros animais, durante as visitas introduziam a bico nas flores fazendo a retirada de néctar
sem constatar nos órgãos reprodutivos da planta, foi observado ainda que a realização da mesma rota de
visitação caracterizando o comportamento “traplines” (Figuras III e IV).

Figura IV– Frequência de visitantes florais de Periandra mediterranea Mart. ex Benth. no período de
agosto de 2009 a junho de 2011.

João Pessoa, outubro de 2011


187

Experimentos de polinização
Testes de autopolinização espontânea (n=30) demonstraram baixa formação de frutos de
aproximadamente 26%, na polinização controle (n=30) indicou 100% de sucesso na produção de frutos.
DISCUSSÃO
O período de floração é variado entre as espécies, em estudos realizados com Kiill e Drumond
(2001) observando a Gliricidia sepium (Jacq.), e Agostini (2004) observando Mucuna sp. identificaram que
as espécies têm pico de floração na estação seca, podendo a redução de umidade do solo e da atmosfera
terem agido como um sinal para a floração da espécie , assim como foi verificado na tendência apresentada
por na população de P. mediterranea no local desse estudo, a qual tem um aumento da atividade
reprodutiva nos meses mais secos, no entanto, esta atividade reprodutiva pode ser estimulada pelo
aumento da precipitação em meses que antecedem a floração.
As flores de Periandra mediterranea apresentam um mecanismo de polinização compartilhado por
outras Faboideae, no qual as estruturas sexuais permanecem inclusas na quilha, sendo expostas somente
durante o contato com o visitante (Etcheverry et al. 2008, Kiill & Drumond 2001, Agbawa & Obute 2007).
Flores polinizadas por determinados visitantes, de um modo geral, compartilham um conjunto
típico de características, relacionadas ao tamanho, comportamento e outras particularidades da biologia
dos seus visitantes (Rodarte et al. 2008). As flores de P. mediterranea são papilionáceas, com diversos
atributos associados por Endress (1994) e Faegri van der Pijl (1979) à melitofilia como zigomorfia, coloração
violácea, forma tridimensional, néctar abrigado na base de uma corola tubular, odor intenso e adocicado, e
antese diurna que estão associados à atração dos agentes polinizadores. Além disso, nestas flores o
estandarte possui ranhuras radiais atuando como plataforma de pouso e coloração diferenciada, que
funciona como guia de néctar (Endress 1994). Embora esta síndrome de polinização seja predominante
nesses gêneros (Arroyo 1981), espécies são polinizadas por aves e beija flores de modo legitimo
apresentando dessa forma um sistema de ornitofilia generalista (Etcheverry et al. 2005). Apesar de P.
mediterranea apresentar morfologia próxima a essas espécies, as aves restringe á pilhar o néctar por não
contatar suas partes reprodutivas.
De acordo com Dutra (2009) Periandra mediterranea e outras espécies de Fabaceae como Clitoria
falcata var. falcata, Centrosema spp., Chamaecrista spp. e Senna spp. representam importantes fontes
alimentares para abelhas grandes, pois fornecem, em conjunto, recursos florais ao longo do ano, auxiliando
na manutenção desses insetos. A fauna de visitantes de Vigna Caracalla (Etcheverryet al. 2008) é
semelhante à observada em P. mediterranea caracterizada por abelhas dos gêneros Xylocopa e Bombus
que realizavam visitas legítimas enquanto a Apis mellifera e indivíduos da ordem Lepdóptera restringiam a
pilhar néctar.
O padrão de polinização observado em Periandra mediterranea é semelhante ao citado por Kiill e
Drumond (2001) para Gliricidia sepium (JACQ.) caracterizando-se pela distensão e reflexão do estandarte
com os órgãos reprodutivos permanecendo inclusos na quilha, sendo expostos somente durante o contato
com o visitante. Esta morfologia restringe o número de polinizadores efetivos que, além de posicionar-se
corretamente entre as peças florais, devem possuir o tamanho e peso adequados para exercer pressão
suficiente para expor os órgãos reprodutivos. Em contrapartida, os polinizadores especialistas tendem a
visitar um maior número de flores da mesma espécie, tornando a polinização cruzada mais eficiente e
menos custosa, uma vez que o pólen só é liberado quando acionado o mecanismo. Este mecanismo foi
observado também em outras espécies de Fabaceae como Centrosema pubescens Benth. (Borges, 2006),
Sophora tomentosa L. (Nogueira & Arruda, 2006), Abrus precatorius L. e Abrus Pulchellus Wall. ex Thw.
(Agbagwa&Obute, 2007) e Canavalia brasiliensis Mart. ex Benth. (Guedes et. al 2005).
O comportamento de Vespidae em Calliandra twedieii Benth. é semelhante o observado em P.
mediterranea ás vezes procuravam a recompensa floral, uma das espécies posou sobre o cálice e fazia
movimentos esfregando suas patas no aparelho bucal (Cardoso 2007).
O mecanismo“tripping” é comum em várias espécies de Fabaceae (Arroyo, 1981), como é o caso de
Centrosema pubescens Benth. (Borges, 2006).
A transferência de pólen pelos visitantes efetivos realizada através da deposição nototríbica é
comum em plantas de flores com quilha invertida. Observações de campo e de laboratório de algumas
flores com esta característica demonstram que estas possuem um forte mecanismo que impede a retirada

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


188

de néctar, o que restringe o acesso a este recurso apenas para abelhas grandes e com muita força (Amaral
2009).
O número de frutos formados em autopolinização natural foi relativamente baixo, podendo ser
explicado pelo alto número de frutos abortados. Em Fabaceae a incidência de frutos abortados é alta como
em duas espécies de Dahlstedtia (Teixeira et al., 2001) e em Mucuna sp. (Agostini, 2004).

CONCLUSÃO
Periandra mediterranea apresenta um padrão de floração e frutificação anual, continuo e de longa
duração de acordo com a classificação de Newstrom et al. (1994) ocorrendo com intensidade no início da
estação seca, a queda e o brotamento foliar ocorrem durante o ano todo. Os testes reprodutivos
demonstraram a importância do polinizador efetivo a Xylocopa sp. para a espécie vegetal estudada
confirmando que a presença dos polinizadores é fundamental para garantir seu sucesso reprodutivo.

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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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“PEIXE OU MAMÍFERO?”: CONHECIMENTO ETNOBIOLÓGICO DE


ESTUDANTES DE ESCOLAS PÚBLICAS NO ESTADO DO PARÁ-UMA
CONTRIBUIÇÃO À CONSERVAÇÃO DOS MAMÍFEROS AQUÁTICOS.
Angélica Lúcia Figueiredo Rodrigues.
Universidade Federal do Pará, GEMAM/MPEG. E-mail: angelicagemam@yahoo.com.br. Estudante de pós-graduação em
Teoria e Pesquisa do Comportamento/ NTPC/ UFPA.
Bruna Maria Martins.
Oceanógrafa do Projeto Bicho D’Água, GEMAM/ MPEG. E-mail: bruna_oceano@yahoo.com.br
Renatha Gomes Ramos. Pesquisadora colaboradora do GEMAM/MPEG. E -mail: renathar2@yahoo.com.br

RESUMO
Esta pesquisa teve o intuito precípuo de investigar as concepções prévias de alunos de escolas
públicas na faixa etária dos 10 a 15 anos, moradores ribeirinhos da costa leste da Ilha de Marajó. Tal estudo
permitirá a construção de um projeto de educação ambiental que será aplicado e testado durante fase do
projeto, pertinente à conservação dos mamíferos aquáticos. Com base no depoimento desta população,
mediante entrevistas semi-estruturadas, organizaram-se categorias de análise baseadas nos conhecimentos
etnobiológicos a respeito, principalmente, dos cetáceos. Os resultados desta pesquisa justificam a
continuidade e um aprofundamento de estudos no campo da etnobiologia que poderá abrir precedentes
para começarmos a delinear um plano de conservação para os cetáceos da costa norte do Brasil, aliando
conhecimento tradicional e educação ambiental, e contando com a participação de diversos atores sociais,
principalmente aqueles que vivem em áreas importantes do ponto de vista da conservação da fauna
aquática.
Palavras-Chaves: mamíferos aquáticos, etnobiologia, educação ambiental.

INTRODUÇÃO
Os mamíferos aquáticos correspondem a um dos mais conspícuos componentes da diversidade
biológica marinha (Geraci & Lounsbury, 2005). O termo “mamífero marinho” compreende cinco grupos, a
saber: os cetáceos (baleias, golfinhos, toninhas, cachalotes), pinípedes (leões-marinhos, lobos-marinhos,
morsas e focas), sirênios (peixei-bois, dugongos e vaca-marinha), mustelídeos (lontras e ariranhas) e urso
polar (Jefferson, Webber & Pitman, 2008). Os dados mais recentes de estudos na costa norte do Brasil
deve-se ao esforço de monitoramentos implementados por Salvatore et al. (2008) que revelaram a
ocorrência de 24 espécies de mamíferos aquáticos (Siciliano et al., 2008; Ramos; Siciliano; Ribeiro, 2010;
Tavares et al., 2010).
A multiplicidade de interações que as culturas humanas estabelecem com os animais é abordada
pela perspectiva da Etnozoologia, ramo da Etnobiologia que investiga os conhecimentos, significados e usos
dos animais nas sociedades humanas. Desse modo a Etnozoologia apresenta-se como uma valiosa
ferramenta interpretativa quando se estudam as interações entre humanos e animais em uma determinada
região (Santos-Fita e Costa-Neto, 2007).
Algumas espécies são escolhidas estrategicamente e de acordo com o grau de interesse das
pessoas, sendo usadas como alvo nos programas de conservação. Essas espécies denominam-se espécies
bandeiras (Carrillo et al., 2007).
Betler (1995) reporta que a educação ambiental é um componente interessante aos programas de
conservação de espécies bandeiras em conjunto com outras ações tais como pesquisa, reprodução em
cativeiro e atuação política. Diversos programas de conservação com espécies bandeiras utilizam educação
ambiental e têm se mostrado promissores. Dentro dessa ótica, Trujillo et al. (2010), acreditam que os
mamíferos aquáticos podem funcionar como embaixadores dos ecossistemas aquáticos, despertando,
através do seu apelo carismático, o interesse nas pessoas pela sua conservação.

Orientadora: Maria Luisa da Silva. Coordenadora do Laboratório de Ornitologia e Bioacústica. E-mail:


silva.malu@uol.com.br

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Esta pesquisa tem o intuito precípuo de investigar quais as concepções prévias de alunos do Ensino
Fundamental II que estejam na faixa etária dos 10 a 15 anos de escolas públicas localizadas na costa leste
da Ilha de Marajó que permitirá a construção de um projeto de educação ambiental e será aplicado e
testado durante fase do projeto, pertinente à conservação dos mamíferos aquáticos.

MATERIAL E MÉTODOS
Participaram da pesquisa 33 alunos de ambos sexos da Vila de Joanes, pertencente ao município de
Salvaterra, localizado na costa leste da Ilha de Marajó, PA. Os discentes estão distribuídos entre os 7º e 9º
anos do ensino fundamental da Escola Municipal de Joanes. As séries escolhidas justificam-se pelo fato dos
alunos terem, ou ainda estarem, estudando dentro do conteúdo programático de Ciências, o assunto seres
vivos e meio ambiente.
O diagnóstico se deu por meio de entrevistas semi-estruturadas e foram executadas entre os dias
27 de abril a 22 de maio de 2011, com o intuito de sistematizar o conhecimento dos estudantes sobre os
mamíferos aquáticos e questões culturais relacionadas ao imaginário popular na comunidade pesqueira da
Vila de Joanes, Salvaterra, Ilha de Marajó, PA.
O método consiste em solicitar a participação voluntária de alunos. Em seguida, explicam-se
brevemente os objetivos da pesquisa e os alunos são cadastrados. Durante o evento, coleta-se o local de
moradia e dia e hora disponível para realização da entrevista.
Para este estudo, foi selecionada uma escola municipal sediada na Vila de Joanes, município de
Salvaterra, Ilha de Marajó, Pará. Esta escola funciona em três turnos, com ensino fundamental I (2º a 5º
anos) pela manhã, ensino fundamental II (6º ao 9º anos) à tarde e noite, e conta ainda com turmas da
Educação de Jovens e Adultos (EJA). A escola está sob jurisdição da secretaria municipal de educação, com
sede no município de Salvaterra, PA.
Na etapa seguinte, três pesquisadores devidamente treinados, seguem para casa dos alunos
cadastrados e iniciam as entrevistas perfazendo um total de 11 perguntas referentes às quatro espécies de
mamíferos aquáticos que ocorrem na região (duas de botos e duas de peixes-boi) e uma de não ocorrência
na área, mas de destaque no âmbito dos projetos de conservação, tendo cuidado de permitir que o aluno
fique à vontade para responder às perguntas sem fugir do tema norteador. Cada entrevistador tinha um
catálogo com fotos e desenhos de cada espécie alvo da pesquisa. Antecedente a esta etapa, segue uma
série de formalidades éticas, onde cada responsável do menor assina um “Termo de consentimento livre e
esclarecido” autorizando o mesmo a participar do estudo. Ao final de cada entrevista o pesquisador
solicitou que o aluno preenchesse uma prancha topográfica que continha cinco gravuras de espécies de
mamíferos aquáticos com lacunas para preenchimentos dos nomes das partes que configuravam a
morfologia externa do animal (Figura 1).

Figura 9: Topografia corporal dos cetáceos.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


192

Ao final de todo processo de diagnóstico, entregávamos uma carteirinha com as informações geral
do participante que o tornava colaborador-mirim do GEMAM (Grupo de Estudos de Mamíferos Aquáticos
da Amazônia) (Figura 2).

Figura 10: Carteirinha Colaborador-mirim do Grupo de Estudos de Mamíferos Aquáticos (GEMAM).

Os dados qualitativos foram interpretados e categorizados através de histogramas com o intuito de


identificar rapidamente os padrões de variabilidade, para isso utilizou-se programa de computador
Statistica, StatSoft versão 7.1.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise dos resultados referentes aos questionários exploratórios permitiu avaliar as


construções de conceitos dos estudantes relacionados ao ambiente onde os cetáceos residem na região, e
principalmente, sobre os botos (história natural, ecologia, comportamento) e finalmente a conservação
desta mastofauna.
Detivemo-nos em perguntas para averiguar o conhecimento mais detalhado dos alunos sobre os
botos e baleias, abordando aspectos relacionados primeiro ao conhecimento dos animais, avistagens, local
de ocorrência (questão 1), partindo do princípio que as investigações passaram-se em comunidade
ribeirinhas assentadas em ilhas e isso podia ser um indicativo de que havia uma relação “mais estreita” com
o animal e principalmente por viverem em um ambiente pesqueiro. Quando mostramos imagens
fotográficas ou ilustrações de baleia-jubarte (Megaptera novaenglia), 87% dos alunos dizem conhecê-la e a
maior parte (66%) a viu na televisão em algum programa ambiental. A maioria dos alunos (51%) não soube
responder sobre o tipo de ambiente em que vivem esses animais, mesmo assim 27% conseguiram indicar
os oceanos como habitat para a espécie. Esse é um resultado esperado, já que a região não é usada pela
espécie durante suas rotas migratórias e em circunstâncias dos poucos encalhes documentados para a
região. Até o presente estudo, se tem apenas um registro de baleia, possivelmente da espécie
Balaenoptera musculus (baleia-azul) para a costa leste do Marajó segundo Siciliano et al. (2008).
Com relação ao conhecimento de cetáceos, 86% conhecem o boto-vermelho (Inia geoffrensis) e
utilizaram vários termos (etnoespécies) para identificá-lo tais como: boto-da-Amazônia, boto-malhado,
simplesmente boto ou ainda, peixe-espada. Outra espécie questionada para os mesmo parâmetros foi o
boto-cinza (Sotalia guianensis), sendo que a maior parcela da amostra (96%) diz conhecer o animal e o
identifica usando as etnoespécies golfinho, boto, boto-cinza, boto-malhado, boto-cuxi e boto-rosa. Quanto
ao habitat de ocorrência desses animais, para o boto-cinza verificamos que maioria das respostas indica o
ambiente aquático como preferencial, sendo que 40% apontam os rios. Os resultados demonstram que
frequentemente os alunos desta comunidade avistam botos, assim é importante frisar que parte dos

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alunos entrevistados é filhos de pescadores e alguns deles têm, além do estudo, a pesca como atividade
ocupacional. Rodrigues et al (no prelo) encontraram situação parecida em pesquisas com alunos de mesmo
perfil nos municípios de Soure e Abaetetuba, ambas no estado do Pará.
Quanto aos aspectos ecológicos (questões 4, 8 e 9), para o item alimentação dividimos questões
referentes à alimentação apenas dos cetáceos adultos e outra específica sobre alimentação dos filhotes.
Segundo os alunos, 61% relataram não ter esta informação. Já para os botos, nas duas espécies, a maior
parte da amostra indicou o forrageio de peixes. Os alunos demonstraram conhecer aspectos da
alimentação dos botos quando afirmaram que os mesmos alimentam-se de peixes. Acrescentam-se aí os
relatos dos alunos demonstrando que os mesmos possuem conhecimento sobre a dieta dos filhotes
baseada em leite. Pescadores experientes de Cananéia, no litoral sul de São Paulo, também demonstram
conhecer aspectos da ecologia trófica desses animais, inclusive dos filhotes, pois sabem que se alimentam
de leite quando nascem (Oliveira, 2007).
Quando perguntados sobre como nasciam os filhotes para cada espécie indicada nas imagens, 87%
não souberam responder e apenas 10% sugeriu respostas que indicavam placenta. Estes resultados
também foram encontrados para os botos.
No aspecto conservação, tanto para baleias (33%) quanto para os botos-cinza (75%) e botos-
vermelho (26%), parte da amostra concorda que os cetáceos sofrem ameaças do tipo interações com a
pesca, poluições e destruição do habitat entre os itens mais frequentes.
Os conhecimentos adquiridos pelos alunos pesquisados dentro do âmbito deste estudo têm
contribuição de vários caminhos, desde a família, passando pelos elementos culturais (músicas, estórias do
local) até a educação formal. As várias influências norteiam o arcabouço de conhecimento desses alunos
sobre elementos que fazem parte do seu contexto ambiental. Rodrigues (2008) relata que em comunidades
de pesca tradicional as crianças iniciam cedo as atividades relacionadas à pesca, acompanhando seus pais e
demais parentes no ofício. Muitas abandonam os estudos para dedicarem-se exclusivamente a esse tipo de
trabalho. As estórias contadas pelos alunos têm sempre um interlocutor que pode ser o pai, o avô ou um
parente próximo que guarde uma relação estreita com os ambientes lacustres e com os animais que dele
fazem parte.

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Os resultados desta pesquisa justificam a continuidade e um aprofundamento de pesquisas no
campo da etnobiologia que poderá abrir precedentes para começarmos a delinear um plano de
conservação para os cetáceos da costa norte do Brasil, aliando conhecimento tradicional e educação
ambiental, e contando com a participação de diversos atores sociais, principalmente aqueles que vivem em
áreas importantes do ponto de vista da conservação da mastofauna aquática.

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Colombia, 249 pp.

João Pessoa, outubro de 2011


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FLORÍSTICA E FITOSSOCIOLOGIA EM UMA ÁREA INVADIDA POR Sesbania


virgata (CAV). PERS. NA PARAÍBA
Ariosto Céleo de ARAÚJO
Graduando em Agronomia pela Universidade Federal da Paraíba, Campus Universitário, Cidade Universitária, CEP 58397 -
000, Areia-PB, Brasil. Fone: (83) 3362-2300 Ramal 254.Fax: (83) 3362-2259. E-mail:ariosto.agronomia@gmail.com
Juliano Ricardo FABRICANTE
Doutor em agronomia, Fundação Universidade Federal do Vale do São Francisco, Petrolina -PE, Brasil. Caixa Postal 252.
Fone: (87) 3986-3806. E-mail: julianofabricante@hotmail.com
Leonaldo Alves de ANDRADE
Professor Dr. da Universidade Federal da Paraíba, Campus Universitário, Cidade Universitária, CEP 58.397 -000, Areia-PB,
Brasil. Fone:(83) 3362-2300 Ramal 254.Fax:(83)3362-2259. E-mail: landrade@cca.ufpb.br

RESUMO
A espécie Sesbania virgata (Cav.) Pers., devido a sua característica de agressividade e, por
conseguinte, os danos expressivos causados na vegetação da caatinga, vêm recebendo enfoque especial no
que se refere ao tema invasão biológica. É de suma importância o aprofundamento de estudos que aludem
à invasão biológica, para tanto, a análise dos ambientes invadidos definem um melhor entendimento das
estratégias de invasão, de modo a subsidiar ações conservacionistas a fim de proteger o patrimônio
genético autóctone. O presente estudo foi realizado em um trecho de uma margem do rio Paraíba, no
município de Natuba - PB, com o objetivo de avaliar a influência de S. virgata sobre o componente vegetal
alvo da referida região. Na metodologia, foram alocadas dez parcelas de 10x10 (100m²), nos quais os
indivíduos adultos de todas as espécies do componente arbustivo-arbóreo foram inventariados e medidos.
Para a avaliação da estrutura, foram calculados a área basal e os valores relativos e absolutos de
Frequência, Densidade, Dominância, Valor de Importância e Diversidade. A espécie tem se demonstrado
apropria a ambientes com efetivas atividades antrópicas a exemplo da grande parte da área da Caatinga,
onde desde o inicio da sua ocupação vem passando por um processo de exploração desordenado. A baixa
diversidade, conjuntamente com os dados de estrutura das populações, revelam os graves impactos que S
virgata provoca nas comunidades invadidas.
Palavras-chave: Fitossociologia, invasão biológica, matas ciliares.

INTRODUÇÃO
Entende-se como invasão biológica o processo de introdução de determinado organismo,
intencionalmente ou não, tornando-o incoercível além de sua área natural de distribuição geográfica,
afetando assim, a resiliência dos ecossistemas e a biodiversidade local. Tais características contribuem
indubitavelmente para que as invasões biológicas sejam consideradas como a segunda maior causa global
em perdas da diversidade biológica (Ziller, 2001).
A invasão biológica apresenta um inexorável impacto sobre as biotas nativas de todo o planeta,
sendo ela um significativo agente de degradação ambiental (Novacek & Cleland, 2001; Sheil, 2001). Tais
características apontam tal problemática como um assunto preponderante no meio ecológico global, que
ainda carece de investigações efetivas em ambientes tropicais (Fine, 2002).
Estudos realizados apontam que mais de 120 mil espécies, incluindo plantas, animais e
microorganismos, possuem características invasivas, suscitando perdas econômicas na ordem de US$ 230
bilhões ao ano. Referente a danos ambientais, o custo anual ocasionado pelas invasões biológicas já
atingem US$ 100 bilhões anuais (Cenargen – Embrapa, 2005).
Diante da veemência do problema, a invasão biológica vem atualmente recebendo atenção de
pesquisadores e parte da sociedade (FAO, 2005). Nos anos noventa, estudos dessa natureza tiveram um
salto considerável. Dentre os estudos conhecidos, destacam-se os desenvolvidos por Noble (1989), Roy
(1990), Rejmanek e Richardson (1996), Williamson e Fitter (1996), Pegado et al. (2006), Lawes e Grice
(2007), Andrade et al. (2008) e Santana e Encinas (2008).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


196

A espécie Sesbania virgata é uma Fabaceae arbustiva, com ocorrência natural na América do Sul,
atinge cerca de 6 m de altura, possui um comportamento fotossintético típico de plantas pioneiras.
Desenvolve-se naturalmente em terrenos úmidos e associa-se com Azorhizobium spp. (Chaves et al. 2004).
A espécie tem se demonstrado apropria a ambientes com efetivas atividades antrópicas a exemplo
das proximidades de estradas, margens de rios, pequenos córregos, terrenos baldios e áreas desmatadas
onde a mesma não encontra competidores. Segundo Lima (2003), Blumenthal, (2005) e Filgueiras (2005), as
regiões tropicais, a exemplo do Brasil, possuem facilitadores, como o clima favorável e a presença de nichos
vagos disponíveis aos táxons alóctones. Tais características propiciam grandes vantagens ecofisiológicas às
espécies exóticas em relação às espécies autóctones, o que ocasiona uma rápida dispersão, tornando as
primeiras invasivas nos ambientes nativos.
É de suma importância o aprofundamento de estudos que se referem à invasão biológica. Para
tanto, a análise dos ambientes invadidos definem um melhor entendimento das estratégias de invasão.
Segundo Aquino (2000), os estudos de estrutura populacional buscam analisar parâmetros quantitativos de
modo que se possam associar tais parâmetros à forma como as espécies exploram o ambiente e fornecer
dados sobre o seu crescimento e desenvolvimento.
Este trabalho teve como objetivo averiguar a estrutura populacional de Sesbania virgata (Cav.)
Pers. (Fabaceae) nas margens do Rio Paraíba de modo a subsidiar ações conservacionistas e orientar
políticas públicas destinadas ao controle e ou manejo de S. virgata.

MATERIAIS E MÉTODOS
Área de estudo
O município de Natuba, situado em uma zona de transição entre os biomas caatinga e mata
atlântica, possui área territorial de 205 km² (IBGE, 2011). A região possui precipitação anual de 900 mm e a
vegetação é representada pela Savana Estépica, com a presença de algumas entidades taxonômicas
florestais.
Para a realização deste trabalho foi selecionado uma área às margens do Rio Paraíba, situada entre
as coordenadas geográficas (07° 32' S e 35° 33' W) e altitude média de 364 m.

Figura 1- Disposição das parcelas na margem do Rio Paraíba, Natuba - PB.

Métodos
Foram instaladas 10 parcelas de 10 m x 10 m, totalizando 1.000 m² de área amostral. Todos os
indivíduos da espécie alvo do estudo e da comunidade arbustivo-arbórea inseridos no interior das unidades
amostrais foram amostrados, tendo sido mensurados o diâmetro à altura do solo (DAS) e altura total, por
meio de suta dendrométrica e vara telescópica graduada, respectivamente. Foram amostrados os
indivíduos adultos, sendo ponderados os que possuíam (DAS) maior que 3 cm.

João Pessoa, outubro de 2011


197

Para a avaliação da estrutura, foram calculados a área basal e os valores relativos e absolutos de
Frequência (FR e FA), Densidade (DR e DA), Dominância (DoR e DoA) e o Valor de Importância (VI) (Brown-
Blanquet, 1950; Müller-Dombois&Ellemberg, 1974). A diversidade da área estudada foi avaliada por meio
do índice de Shannon-Weaver (H’) (Ricklefs 1996).
As análises estatísticas foram feitas utilizando-se o Software Mata Nativa© 2(Cientec, 2002).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram amostradas 368 plantas. Desse total, 350 eram da espécie S. virgata, seis eram da
Parkinsoniaaculeata L., seis da Geoffroeaspinosa, três da Prosopisjuliflora e três da Tabebuia caraiba Bur.
(Tabela 1).

Espécie N D D F F D D V
A R A R oA oR I
S. virgata(Cav.) Pers. 350 3500 95.11 100 47.62 7.281 93.90 236.62
P. aculeataL. 6 60 1.63 40 19.05 0.084 1.08 21.76
P. aculeataL. 6 60 1.63 30 14.29 0.192 2.47 18.38
P. juliflora 3 30 0.82 20 9.52 0.128 1.66 11.99
T. caraíba Bur. 3 30 0.82 20 9.52 0.069 0.89 11.23
Total 368 3680 100 210 100 7.755 100 300
Tabela 1- Parâmetros estruturais do extrato arbustivo-arbóreo amostrados as margens do Rio
Paraíba, Natuba, PB. Sendo: N= número de indivíduos; DR= densidade relativa (%); FR= frequência relativa
(%); DoR= dominância relativa e VI= índice de valor de importância.

No tocante à densidade, evidenciou-se que S. virgata predomina sobre as demais espécies (Tabela
1). Para estas, foram encontradas densidades, muito baixas, demonstrando ocorrência esporádica no local
estudado. Para os valores de DoA e DoR, S.virgata apresentou um valor muito alto em relação as demais
espécies, evidenciando-se uma total ocupação do ambiente (Tabela 1).
De acordo com o MMA (2002), a Caatinga sofreu, durante o seu processo de ocupação, graves
danos em seu componente vegetal devido a constante exploração realizada de forma desordenada. Devido
às características naturais da vegetação, qualquer tipo de degradação corrobora na proliferação de demais
espécies com potencialidades agressivas, como o Crotonsonderianus Muell. Arg.
Da mesma forma, no que se refere a FA e FR, S. virgata também apresentou os maiores valores.
Como afirma Ziller (2001), tal variável influencia no desempenho dos processos ecológicos naturais,
afetando diretamente aspectos como a redução das populações de espécies nativas, ocasionando perdas
consideráveis de biodiversidade e, na maioria das vezes, áreas de interesse ecosocioambiental. Como o
caso de áreas de matas ciliares, onde as mesmas desempenham funções ambientais e ecológicas
estratégicas, possuindo alto grau de endemismo e maior biodiversidade quando comparadas com áreas
adjacentes (Andrade et al., 2005)
Com relação ao índice de diversidade (H’), verifica-se um valor muito baixo (H’ = 0,26), se
comparado a áreas da região isentas de espécies invasoras, o que pode ser confirmado a partir da análise
de trabalho conduzido no mesmo bioma por Pegado et al. (2006). Este autor encontrou índice de
diversidade, para indivíduos adultos, de 2,81, valor bem superior ao encontrado no presente trabalho.
Deste modo, evidencia-se que a presença de S.virgata modificou consideravelmente a fitodiversidade do
ambiente, o que destaca a baixa equabilidade da comunidade em virtude da alta ocorrência de indivíduos
da espécie invasora.
Dentre os fatores associados para o sucesso da espécie na área, pode-se mencionar a questão da
fácil dispersão de seus propágulos através das eventuais cheias ocorrentes no rio, a dispersão via animais e,
sobretudo, a grande presença de nichos vagos, deixando o ambiente em condições ambientais favoráveis a
uma rápida dispersão de S. virgata. Segundo Campos et al. (2005), apesar de vários órgãos governamentais
indicarem o cultivo de espécies alóctones invasoras em várias situações, tais órgãos não dão o enfoque
necessário a questão da dispersão das mesmas, e assim vários problemas tem sido observados com
inúmeras espécies a exemplo de Prosopis juliflora, Pinuspallida, Acaciamearnsii e Sesbania virgata (Campos
et al., 2006; Andrade, 2006).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


198

Conforme Sousa et al. (2011), em estudos realizados na mesma região, constatou-se que
indivíduos de S. virgata, em um período de seis meses, apresentaram valores médios de 3,1 ± 0,7 m de
altura, 3,3 ± 0,4 m de copa média e 4,7 ± 0,8 cm de DNS, ratificando a sua rápida capacidade de
crescimento e desenvolvimento. Tal característica invasiva também foi constatada por Coutinho et al.
(2005) em uma área degradada por extração de argila, onde o crescimento das plantas estabilizou-se entre
o 8º e 10º mês de avaliação.
Com relação ao Valor de Importância (VI) (Figura 2), as espécies que apresentaram os maiores
valores foram respectivamente, S. virgata (236,62) (Figura 2), P. aculeata. (21,76), G. spinosa(18,38), P.
juliflora (11.99) e T. caraiba Bur. (11,231). O VI refere-se ao grau de importância que a espécie exerce em
determinado ambiente e é composto pela somatória dos demais parâmetros estruturais da espécie. Como
afirma Parker et al. (1999), a redução na importância das espécies nativas em remanescentes é um dos
principais reflexos dos processos de invasão biológica, pois interfere na resiliência dos ecossistemas.

Figura 2.Valor de Importância (VI) das espécies ocorrentes as margens do Rio Paraíba, Natuba, PB.

Observa-se na Figura 3, que a espécie S. virgata possui, no ambiente de ocorrência, condições


favoráveis à sua dispersão (água disponível, solo, luminosidade, nichos vagos), o que favoreceu a ocupação
da área de mata ciliar e a diminuição da heterogeneidade vegetal, causando impactos na resiliência do
ecossistema avaliado.

João Pessoa, outubro de 2011


199

Figura 3. Margem do Rio Paraíba, Natuba, PB - 2010.

De acordo com Souza et al. (2011), os sítios preferenciais de S. virgata na caatinga são as matas
ciliares. Nesses locais, a espécie apresenta características agressivas. Em outras regiões ela também vem
demonstrando importância, como no município de Bauru, SP, onde a mesma já é considerada invasora em
áreas de preservação permanente (Bauru, 2007).
Não se sabe ao certo como S. virgata chegou à região, mas supõe-se que foi introduzida a fim de
recomposição de matas ciliares. Isso ratifica o que afirma Durigan e Nogueira (1990), que para a
recomposição vegetal devem ser utilizadas somente espécies de ocorrência natural da região.

CONCLUSÃO
A espécie S. virgata afetou fortemente a estrutura e a diversidade da mata ciliar do Rio Paraíba na
cidade de Natuba, PB;
O processo de invasão da espécie S. virgata prejudica de forma efetiva a resiliência do
ambiente, tornando as perdas ecológicas sob constantes acréscimos lineares, o que exige a necessidade de
soluções emergenciais de modo a eliminar os indivíduos ocorrentes e preservar as áreas não infestadas.

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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


202

BIOGEOGRAFIA APLICADA À GESTÃO AMBIENTAL


Edson Vicente da Silva
Professor da Universidade Federal do Ceará - UFC
Pesquisador do CNPq
E-mail: cacau@ufc.br

Introdução
A Biogeografia, como área de conhecimento científico integra a Ciência Geográfica, e tem como seu
objetivo de análise a distribuição geográfica dos seres vivos, explicando suas relações com outros
componentes geoambientais e com a organização social. Assim ela se inter-relaciona diretamente com os
outros setores e disciplinas da Geografia como um todo, ou seja Geografia Física, Humana e Instrumental.
Em seu desenvolvimento científico assume um enfoque interdisciplinar que a leva a percorrer terrenos
teórico-metodológicos alheios à Geografia, como a Biologia e a Ecologia. No contexto atual contribui com a
Biotecnologia, Ciências Médicas, Bioquímica e a Análise Ambiental.
O Planejamento e a Gestão Ambiental assumem novas posturas metodológicas em razão da
extrema complexidade das relações Sociedade e Natureza, incorporando enfoques teóricos sistêmicos e
interdisciplinares. Assim a Biogeografia contribui nesse sentido, ampliando os seus conhecimentos
tradicionais e aplicando novas interações disciplinares, no intuito de estimular a interdisciplinaridade
necessária à gestão dos territórios. A essência desse artigo é relatar como a Biogeografia têm contribuído
nas diferentes etapas e processos essenciais ao desenvolvimento de planos de gestão ambientais em
diferentes escalas de análise.
A Biogeografia, em sua essência, estuda a distribuição dos seres vivos, além de explicar as suas
inter-relações com os outros componentes e processos geoambientais e biológicos. Dessa forma, a
Biogeografia encontra-se no limbo da interface entre a Geografia e a Biologia, não assumindo porém, uma
total independência com relação a essas duas áreas de conhecimento. No âmbito das ciências geográficas
ela fornece um enfoque maior aos seres vivos, subdividindo-se em Fitogeografia (estudo da vegetação, sua
estrutura, fisionomia, taxonomia, etc.) e Zoogeografia (grupos faunísticos, funções dentro das unidades
ambientais, relações com seres humanos, taxonomia, etc.). Não é uma ciência independente, compõem
sim uma disciplina dentro do conjunto das ciências geográficas, inter-relacionando-se com os estudo de
geologia, geomorfologia, solos, clima e dos recursos hídricos.
Com relação a Biologia, a Biogeografia obviamente aproxima-se da Botânica e da Zoologia,
perpassando pelas taxonomias vegetal e animal. Porém em sua aplicabilidade, ela agrega-se mais à
Ecologia, seja ela vegetal ou animal, bem como à Ecologia Humana, ao abordar as relações entre biocenose
e os seres humanos. A Autoecologia propicia um maior conhecimento das espécies quanto as suas funções
e suas possibilidades de servirem como bioindicadores de qualidades/problemas ambientais. Já a
Sinecologia, fornece as bases para o conhecimento das comunidades e sua atuação na conformação das
paisagens, através da interação com os outros componentes ambientais e as atividades humanas.
A Biogeografia, é portanto, uma área científica bastante ampla e heterogênea, que atua em três
principais direções, que se complementam na análise do conjunto paisagístico: (i) a corologia, que estuda
as áreas geográficas das unidades taxionômicas (famílias, gêneros e espécies), as origens e transformações
que ocorrem, e sua distribuição geográfica; (ii) a biocenologia, que analisa as comunidades de organismos e
sua organização, bem como sua composição taxonômica e sua dinâmica; (iii) a ecologia, que interpreta as
inter-relações dos organismos e suas comunidades com o meio biótico e abiótico.
Esses três enfoques são diferenciados, porém inter-relacionados nos estudos biogeográficos,
propiciando varias possibilidades de inserção junto a outras áreas de conhecimento geográfico, nas
diferentes etapas para se chegar até a gestão ambiental. Desde a opção por ampliar diferentes
fundamentos teórico-metodológicos, como os enfoques sistêmico, ecodinâmico, geoecológico ou da
complexidade, a Biogeografia pode inserir-se como um aporte metodológico na complementação das
diferentes vertentes da análise, diagnóstico, planejamento e da própria gestão ambiental.

A inserção da Biogeografia na análise espacial

João Pessoa, outubro de 2011


203

Para compreender as interações entre a Biogeografia e outras disciplinas aplicadas na análise,


diagnóstico, planejamento e gestão ambiental, faz-se necessário discutir alguns conceitos básicos. Esses
conceitos estão vinculados à biosfera, flora e fauna, biota, comunidades vegetal e animal, biocenose e
ecossistema. A compreensão desses conceitos é de fundamental importância para que a inserção de
procedimentos biogeográficos com os outros enfoques metodológicos sejam eficientes.
O conceito de biosfera, condiz com a envoltura superficial do planeta, onde se desenvolvem todas
as atividades biológicas, com uma espessura máxima de cerca de 20 km. Esse enfoque biogeográfico
correlaciona o conceito de biosfera com o de geosfera, utilizado pela análise geossistêmica, que a considera
como a maior e mais ampla unidade sistêmica do planeta.
A flora e fauna correspondem ao conjunto de espécies/gêneros de vegetais e animais de uma
determinada região, que é estabelecida territorialmente e pode ser devidamente cartografada. O
conhecimento taxonômico da composição biológica de uma paisagem é fundamental na etapa de
inventário, na leitura da realidade espacial, principalmente quanto à definição de funções ambientais de
cada espécie, atuação na estabilização/colonização/sucessão ecológica-ambiental, como ainda de
indicadores biológicos, fonte de recursos naturais e possíveis vetores de enfermidades humanas, por
exemplo. A biota representa a união entre a flora e a fauna, ou seja, o conjunto de espécies historicamente
formadas em um território. Ela é de fundamental importância para a caracterização do ambiente interno
de um sistema natural, bem como a definição das características próprias de cada diferente unidade de
paisagem. Reflete também o nível de amadurecimento das relações entre os componentes geoambientais,
quanto aos processos de evolução da paisagem, em razão dos efeitos do macrorelevo e das
flutuações/estabilizações climáticas.
A concepção de comunidade vegetal é de caráter fisionômico e fitoecológico, uma vez que
considera as diferentes estruturas e tipos fisionômicos dos vegetais, em função de suas distintas formas de
vida. Na interpretação da realidade espacial geográfica, as comunidades vegetais, como formações
fitogeográficas, são interpretadas em diferentes escalas, indicando limites de biomas, geossistemas e
geofacies dos territórios analisados. Os estágios de conservação de um sistema ambiental, se
correlacionam diretamente com a intensidade das formas de ocupação e o uso tecnológico do espaço pelas
diferentes sociedades.
Por outro lado, a comunidade animal é um conceito análogo ao da vegetação. A Zoogeografia
considera como comunidade animal o complexo formado pelos indivíduos de diferentes espécies animais
em uma determinada área geográfica. Por meio da analise das comunidades animais é possível identificar
níveis de estabilidade ambiental, condições climáticas presentes e pretéritas e correlações com populações
humanas tradicionais. Biocenose, é uma definição utilizada para designar as comunidades de seres vivos
(animais e vegetais) que um lugar com as mesmas condições ambientais podem comportar. A biocenose
pode ser compartimentada em fitocenose (comunidades vegetais), zoocenose (comunidades animais) e
microbiocenose (comunidades de microorganismos). Delimitando-se as distintas biocenoses, é possível a
identificação de feições paisagísticas/geossistêmicas e inclusive de geofácies e geótopos, uma vez
possibilita elementos de interpretação e representação cartográfica em diferentes escalas e dimensões
ambientais.
A concepção de ecossistema, utilizada pela Biogeografia, leva diretamente aos fundamentos
teórico-metodológicos da Teoria dos Sistemas, da Análise Geossistêmica e da Ecodinâmica de autores como
Bertallanfy (1977), Tansley (1935), Tricart (1977), Bertrand (1972), Christofoletti (1979), e Rodriguez et al
(2010). Na abordagem sistêmica, pode-se diferenciar na ciência geográfica, a identificação de dois tipos de
sistemas: o ecossistema, utilizado pela Biogeografia e o geossistema, objeto de estudo da Geografia Física.
Rodriguez et al (2010) afirmam que o termo ecossistema é utilizado em diferentes concepções,
podendo ser definido como a associação de organismos vivos, constituindo um sistema que ocupa
determinado território. Em geral os estudos de ecossistemas direcionam-se ao sentido de conhecer o
centro do sistema, seu meio físico, organismos biológicos, seres humanos e suas inter-relações. Conforme
Claro Valdés (1996), o ecossistema não tem um volume definido, já que pode ser considerado desde uma
gota de água até uma biocenose, ou inclusive a biosfera como um ecossistema de todos os organismos
vivos.
Por outra parte, o geossistema pode ser abordado com as seguintes concepções: como formação
natural, como funções terrestres complexas, que incluem a Natureza, a população e a economia, como

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


204

qualquer sistema terrestre ou como qualquer objeto sistêmico estudado pela Geografia Física. Enquanto o
ecossistema é considerado um complexo monocêntrico ou biocêntrico, geossistema absorve um nível
maior e policêntrico. Assim, o geossistema envolve um maior número de componentes e de relações que o
ecossistema. Outra peculiaridade do geossistema é o seu caráter territorial ou espacial (TROPPMAIR, 1995),
o que lhe confere dimensões diferenciadas, como critérios de análise definidas por meio de escalas. Na
visão de Claro Valdés (1996), entre o ecossistema e o geossistema existem pontos de contato, sendo que
inclusive em alguns casos seus limites espaciais coincidem. O ecossistema por sua essência é uma noção
parcial, subordinada ao geossistema na qualidade de subsistema.
Outros critérios usados na Biogeografia, com base a fundamentos teórico-metodológicos da
Ecologia, fornece as bases relativas aos ciclos biogeoquímicos, cadeias alimentares, sucessões e clímax
ecológicos. Esses enfoques são importantes não apenas para a análise da estrutura espacial, mas
principalmente para a compreensão da dinâmica temporo-espacial dos territórios a serem avaliados.
Assume ainda a interpretação dos fluxos de matéria, energia e informação, que ocorrem na natureza de
forma constante e permanente, sendo que os componentes bióticos possuem papéis relevantes quanto a
funções de fixação, reciclagem e transporte de elementos dentro de cada sistema/complexo natural. Com a
interferência humana os direcionamentos e intensidades dos fluxos biogeoquímicos são modificados,
geralmente implicando em transformações paisagísticas e impactos que causam prejuízos socioambientais.
O estudo da cadeia alimentar, geralmente é direcionada a compreensão da funcionalidade e níveis
de estabilidade de um dado sistema natural ou antropo-natural, dentro de um contexto maior de um dado
território. Não aborda apenas e exclusivamente aspectos de caráter biológico, uma vez que considera os
fluxos de matéria e de energia dentro de cada cadeia alimentar, bem como as inter-relações entre espécies
autótrofas, heterótrofas e saprófitas no contexto da cadeia alimentar. O conhecimento da estrutura e
funcionabilidade de uma cadeia alimentar, subsidia informações no estabelecimento de níveis de
estabilidade ambiental dos sistemas analisados.
A interpretação dos processos de sucessão ecológica e clímax, está relacionada a análise das
transformações qualitativas que se manifestam nas comunidades de seres vivos no tempo e espaço. Nesse
sentido, considera os diferentes estados de evolução de um sistema biológico, desde o estado inicial de
colonização até alcançar um estagio relativamente estável denominado clímax. As sucessões podem
ocorrer por modificações da drenagem, a erosão/sedimentação, ou serem resultados das alterações
ambientais resultantes das ações da própria comunidade biológica. Os conceitos de comunidade clímax, ou
das que se encontram em estágio de equilíbrio ecológico, podem ser diferenciados em fitoclímax e
pedoclímax. Na primeira os fatores climáticos favorecem a sua evolução na direção do clímax, enquanto no
segundo caso, os solos propiciam esse desenvolvimento. Esses critérios de diferentes estágios de sucessão
ecológica e clímax, utilizado na Biogeografia é considerado como um importante subsídio para a definição
de ambientes ecodinâmicos, estabelecidos por Tricart (1977).
Os procedimentos necessários para a efetivação de planos de gestão ambiental, devem ser
procedidos por etapas de análise, diagnóstico e planejamento ambiental. A complementação e integração
dessas diferentes etapas de interpretação e valoração do espaço geográfico são pré-requisitos para a fase
de gestão ambiental e o acondicionamento territorial.
A Biogeografia fornece subsídios fundamentais à concretização das etapas dos planos de gestão e
suas compartimentações metodológicas, como o inventário, a análise setorial, a abordagem geossistêmica,
ecodinâmica e na interpretação das condições geoecológicas da paisagem. O inventário das condições
bióticas é subsidiado pela Biogeografia por meio dos estudos de fitoecologia, onde se delimitam e
descrevem aspectos fisionômicos e florísticos, bem como a cartografia temática das unidades
vegetacionais. A determinação dos componentes faunísticos pode ser representado taxionomicamente em
um dos principais grupos que compõem a fauna de um território ou sistema ambiental.
Com relação à análise setorial, sempre busca-se interpretar as especificidades de cada componente
geoambiental. A vegetação, flora e fauna no caso, devem ser interpretadas de forma a se conhecer as
diferentes inter-relações que as mesmas assumem com os outros geocomponentes da paisagem. Tipologia
e dinâmica climática, substrato/sedimentos litológicos, feições do relevo, percursos e acúmulos de águas
superficiais, afloramentos hídricos e outros aspectos geoambientais, por exemplo, se interagem de forma
contínua e recíproca, com os componentes e processos bióticos, devendo serem analisados de forma

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205

integrada, uma vez que são determinantes para a identificação e delimitação cartográfica das unidades e
sistemas ambientais.
Por meio da análise geossistêmica, é possível se estabelecerem os tipos de interações existentes
entre os componentes e processos geoambientais de um geossistema ou de suas subdivisões. A
Biogeografia fornece procedimentos teórico-metodológicos adequados para a devida integração de
estudos com outras disciplinas do conhecimento geográfico essenciais à análise integrada de seus
complexos ambientais. O geossistema em seu contexto policêntrico e territorial, demanda conhecimentos
e métodos aplicados à compreensão das relações Sociedade-Natureza. Assim, as informações sobre a
biogeografia de um território, subsidia elementos para a identificação e compartimentação dos
geossistemas, principalmente através da vegetação e sua composição florístico-fisionômica. Aporta ainda,
dados referentes ao uso dos recursos biológicos diretos, e também outros atributos naturais consorciados à
vegetação, flora e fauna, através de constituição de ambientes como florestas, savanas, campos, lagoas,
etc.
Acrescenta-se que dois dos principais componentes geoambientais necessários a
indicação/delimitação de geossistemas/geofáceis, são os tipos/formas de relevo e os tipos/feições
vegetacionais. Considera-se portanto, que a ação e composição biótica de um território é fundamental para
a definição de unidades geossistêmicas, e que o conhecimento dos aspectos biogeográficos aportam
critérios básicos para a compartimentação/zoneamento geossistêmico.
A ecodinâmica recorre diretamente aos procedimentos teóricos e metodológicos da ecologia, da
mesma forma que a Biogeografia o incorpora em suas ações de análise. Tricart (1977), considera o
ecossistema como um sistema de análise da Geografia Física, sendo que o conceito de sistema, na sua
concepção, consiste no melhor instrumento lógico para análise dos problemas ambientais. Afirma que a
sua utilização permite a adoção de uma atitude dialética por meio de uma visão de conjunto do meio
ambiente.
Na visão de Tricart (1977), a ecodinâmica oferece duas vantagens:
“Melhorar a geografia física, corrigindo o excesso unilateral da atitude analítica, corrigindo
o excesso unilateral da atitude analítica, de qual sofreu, isolando-se cada vez mais das outras
ciências e permanecendo uma disciplina por demais acadêmica. Ao lado das pesquisas analíticas,
deveremos desenvolver uma geografia física global, cooperando com a ecologia no estudo do meio
ambiente e, por conseqüência, útil e apta como base de muitas citações práticas.
Reequilibrar a própria ecologia. Na verdade quase todos os ecólogos se formaram inicialmente
como botânicos ou zoólogos, a base de sistemática e fisiologia. Em decorrência disso, eles estudam mais as
relações mútuas entre seres vivos do que as vinculações entre esses seres e o seu meio ambiente. Não
devemos criticá-los: faltou-lhe o apoio da geografia física, pulverizada e totalmente alheia aos aspectos
ecológicos” (TRICART, 1977, pág 19-20)
Compreende-se nas afirmações do autor, que a Ecologia e a Geografia Física, a partir de uma
possível fusão de enfoque metodológicos, poderiam permitir uma análise do espaço geográfico com maior
capacidade de síntese. Nesse sentido, a Biogeografia é a disciplina que apresenta maior capacidade de
integração metodológica nesse sentido, podendo assim subsidiar substancialmente a análise espaço-
temporal através da ecodinâmica.
A ecodinâmica incorpora interpretações de três principais níveis dos componentes geoambientais:
nível de atmosfera, nível de parte aérea da vegetação e nível da superfície do solo. No que consiste a
análise da parte aérea e vegetação, aspectos biogeográficos são inseridos como critérios de interpretação:
a fotossíntese como base a sustentação da cadeia alimentar, a radiação absorvida pela vegetação e seu
efeito sobre a pedogênese, a interceptação das precipitações e os efeitos da rugosidade da vegetação.
Tratando sobre o nível superficial de litosfera, destaca-se a importância do provimento de detritos vegetais
na proteção contra a erosão e na própria pedogênese, o efeito dos vegetais terrestres no ciclo hidrológico e
meteorização das rochas.
Portanto, a Biogeografia se integra aos estudos da ecodinâmica através de seus conceitos e
métodos, aportando informações sobre a fito e zoogeografia, de forma a propiciar a identificação, análise e
representação cartográfica dos ambientes ecodinâmicos de caráter diferenciados: estáveis, intermediários
e instáveis. A presença, estrutura, funcionalidade, estacionalidade e nível de conservação de vegetação é

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


206

um dos critérios mais fortes para a definição de níveis de estabilidade ecodinâmica, uma vez que influi
diretamente nos processos de morfogênese e de pedogênese.
A Geoecologia, como fundamento teórico-metodológico, incorpora a paisagem como seu objeto de
estudo, direcionando em sua aplicabilidade diferentes enfoques: estrutural, funcional, evolutivo-dinâmico,
atropogênico e integrativo da estabilidade e sustentabilidade da paisagem. Na abordagem da estrutura
(vertical e horizontal) a Biogeografia possibilita a análise da biocenose, realizando interpretações na
distribuição e associação das espécies da fauna e flora, bem como das suas inter-relações espaciais com os
outros componentes geoambientais na composição de uma unidade de paisagem.
O enfoque funcional da paisagem tem a finalidade de perceber como ela está estruturada e quais
relações condicionam a organização de seus elementos, definindo assim as suas funções naturais e sociais.
Dessa forma, a Biogeografia ajuda a compreender as manifestações naturais, na formação da paisagem
com relação ao grupo de processos que atuam na formação das estruturas vertical do perfil como:
biogênese, pedogênese, migração de elementos orgânicos, infiltração, e evaporação hídrica e acumulação
biogênica. Alguns tipos de paisagem apresentam um caráter biogênico dominante em sua funcionalidade,
como é o caso dos bancos de corais, atóis e cupinzeiros.
Considerando os aspectos evolutivos-dinâmico da paisagem, o conhecimento biogeográfico é
importante para se diagnosticar alguns aspectos referentes a colonização, sucessão e clímax de uma
paisagem, estabelecendo critérios de bioestabilidade e biodiversidade, que constituem indicadores de
diferentes níveis de equilíbrio evolutivo e de sua dinâmica. No enfoque antropogênico, o nível de
interferência humana sobre a biocenose, as modificações estruturais e funcionais exercidas sobre a
vegetação e grupos faunísticos, são informações de caráter biogeográfico fundamentais nos diagnósticos
geoecológicos.
Quanto aos aspectos de estabilidade e sustentabilidade paisagística, a Biogeografia aporta à análise
geoecológica, dados referentes às funções da vegetação na estabilidade geomorfológica de uma unidade
geoambiental. Acrescenta ainda dados sobre a estrutura e funcionalidade da cadeia alimentar, e as funções
dos organismos produtores, consumidores e saprófitas, relacionado-se à estabilidade ambiental. Com
relação a sustentabilidade, a análise da produtividade, diversidade e potencialidades do recursos
biológicos, é essencial para o estabelecimento de propostas de gestão ambiental direcionadas a um
desenvolvimento sustentável.

A cartografia biogeográfica como subsídio ao diagnóstico ambiental


Os mapas de informações biogeográficas constituem parte da cartografia temática, que é essencial
para a representação das condições naturais. Esses mapas biogeográficos são necessários para diferentes
disciplinas geográficas e biológicas, bem como para a análises e diagnósticos que incluam a avaliação das
condições geoambientais (estruturas e processos), bem como da regionalização natural e econômica de um
território. Propiciam um melhor conhecimento sobre as limitações, problemas e potencialidades dos
recursos naturais e os efeitos das ocupações humanas sobre as mesmas.
Claro Valdés (1996), explica que existem diferentes modos e formas de representação
cartográfica das condições biogeográficas. Essas modalidades de mapas, variam em função de suas escalas,
dos territórios correspondentes, do grau de generalização que possuam, bem como do objeto e objetivo de
sua construção. Segundo o seu conteúdo, os mapas biogeográficos podem ser aplicados, universais,
parciais e gerais, tratando sobre complexos faunísticos e florísticos.
Os mapas aplicados, compreendem os mapas indicativos e os de espécies úteis, entre
outros. Apresenta espécies ou comunidades bioindicadoras de condições ambientais, por exemplo as
espécies de mangue e o manguezal, indicam planícies fluviomarinhas. Os de espécies úteis, representam a
distribuição de plantas silvestres de valores medicinal e econômico, além de os mais aptos à caça e a pesca.
A elaboração de mapas universais serve para indicar a distribuição e organização da biota.
Alguns deles são os mapas florísticos e faunísticos, enquanto outros constituem a representação
cartográfica da vegetação e dos grupos faunísticos. Já os mapas parciais, compreendem a indicação de
espécies individuais ou as categorias sistemáticas superiores. Os de espécies individuais demonstram a
distribuição nos diferentes ambientes do terreno, e os de população de espécies individuais, mostram as
diversas características de povoamento vegetal e animal, incluindo fenômenos de dispersão e migração.

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207

Os mapas gerais são representações espaciais de complexos de plantas e animais,


indicando extensão e localização de conjuntos fito e zoogeográficos, compreendem ordens ou classes,
podem também ser de representações de biomassa e produção animal e vegetal, cadeias de alimentação,
níveis de biodiversidade, e de população que originam a circulação de portadores de enfermidades.
De acordo com o território, os mapas podem ter caráter de abrangência global, regional ou
local. Podendo ainda assumir representações analíticas ou sintéticas. Os analíticos têm índices mais simples
e específicos, como por exemplo os mapas fenológicos, e os sintéticos são os que congregam vários índices,
como o de regionalização biótica.
No que consiste as formas de representação cartográfica, os mais utilizados são os mapas
de pontos, quadrículas, superfícies de extensão, limites absoluto de distribuição e de símbolos. São
empregados para representar áreas dos táxons e suas distribuições, os dados existentes sobre os mesmos e
os resultados das pesquisas. Em razão de suas escalas, podem ter diferentes aplicabilidades, desde
pesquisas em áreas chaves até a caracterização biogeográfica de grandes regiões. Dessa forma, os mapas
biogeográficos propiciam elementos e subsídios para a elaboração de análises e diagnósticos que podem
ser incorporados na elaboração de mapeamentos de síntese e propositivos, destinados ao planejamento e
gestão de um dado território.

A Biogeografia no âmbito da gestão local


Atualmente há um progressivo direcionamento à implantação de estratégias de gestão de caráter
local dos territórios, em razão de possibilidades de uma maior ação participativa da comunidade,
ampliando-se assim a democratização na tomada de decisões. O aprimoramento dos conhecimentos
científicos sobre os componentes e recursos biológicos, permitem a abertura de um leque mais amplo com
relação às possibilidades de gestão a nível local.
Levantamentos biogeográficos, com enfoques na taxonomia, caracterização das comunidades
bióticas e das inter-relações ecológicas, oferece diagnósticos apropriados a apresentação de soluções de
problemas, adaptações às limitações naturais e socioeconômicas, a otimização no uso dos recursos
biológicos disponíveis. Assim, tanto o inventário de espécies, as consorciações e relações com feições
ambientais, funções ecológicas na sucessão e clímax ecológico, propriedades físico-químicas das espécies, a
importância e função de cada comunidade fitoecológica e faunística, são informações apropriadas para o
estabelecimento de alternativas de gestão. É necessário compreender que no âmbito dos saberes
tradicionais, cada espécie da fauna e flora, associação ou comunidade da fito ou zoocenose, têm uma
simbologia popular e forma de uso ou aproveitamentos específicos que advêm de relações generacionais
passadas. O conhecimento de população sobre a fauna e flora é empírico e acumulativo, sendo
considerado nos estudos biogeográficos por meio de análises fito e zooetnoecológicas.
Os saberes tradicionais e os conhecimentos científicos desenvolvidos na Biogeografia, inter-
relacionados com outras áreas científicas, preenchem as lacunas existentes na complementação da
interdisciplinaridade, que é necessária ao planejamento ambiental direcionado à sustentabilidade
socioambiental. Deve-se compreender que quanto maior a biodiversidade local, mais ampla a criatividade e
a diversidade cultural que uma comunidade tende a possuir. Assim, a Biogeografia segue contribuindo não
apenas na gestão dos recursos biológicos de um território, mas sim subsidiando e integrando-se com outras
áreas de conhecimento, em rumo a um planejamento integrado e interdisciplinar, que busca as
possibilidades reais para um desenvolvimento sustentável local, de forma coerente e efetiva.

Referências
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dos complexo territoriais naturais. Georgia: Editora da Universidade de Tbilisi, 1983. (em russo)
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BERTRAND, G. La nature en geographie un paradigme dínterface. Toulouse, Gedoc, N. 34, 1991.
BERTRAND, G. Paisagem e Geografia Física Global: esboço metodológico. In: Cadernos de Ciências
da Terra. São Paulo, v. 13, p. 1-27, 1972.
CHRISTOFOLETTI, A. Análise de Sistemas em Geografia. São Paulo: Hucitec/EDUSP, 1979.
CLARO VALDÉS, A.R. Biogeografia. Havana: Editorial Pueblo y Edicación, 1996.
FERNANDES, A. BEZERRA, P. Estudo Fitogeográfico do Brasil. Fortaleza: Stylus Comunicações, 1990.

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ROUGERIE, G. e BEROUTCHACHVILI, N.L. Géosystèmes et paysages. Bilan et métodes. Paris: Armand
Colin, 1991.
SOCHAVA, V.B. Introdução à Teoria dos Geossistemas. Novosibirsk: Editora Nauka. 1978. (em russo)
TANSLEY, A.G. The use and abuse of vegetational concepts and terms. Ecology 16, 284-307, 1935.
TRICART, Jean. Ecodinâmica. Rio de Janeiro, IBGE, Diretoria Técnica, SUPREN, 91p, 1977.
TROPPMAIR, H. Biogeografia e meio ambiente. Rio Claro: Graf-set, 1995.

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RECONHECIMENTO DE PLANTAS MEDICINAIS NATIVAS DA CAATINGA


ATRAVÉS DA IDENTIFICAÇÃO DE FRUTOS E SEMENTES
1 2 3
Camila Firmino de AZEVEDO ; Katiane da Rosa Gomes da SILVA ; Riselane de Lucena Alcântara BRUNO
1
Bióloga, doutoranda do Programa de Pós-graduação em Agronomia, UFPB/CCA/Areia – PB
2
Bióloga, bolsista PNPD, CAPES/UFPB/CCA/Areia – PB
3
Professora do Departamento de Fitotecnia e Ciências Ambientais, UFPB/ CCA/ Areia – PB
camfiraze@bol.com.br

RESUMO
A Caatinga é representada por uma região semiárida, onde várias espécies vegetais estão
diminuindo, principalmente devido à degradação ambiental. Muitas dessas plantas são pouco conhecidas
no que diz respeito à morfologia, fisiologia e ecologia, dificultando extremamente sua identificação. Dessa
forma, objetivou-se com essa pesquisa, descrever a morfologia de frutos e sementes de 12 espécies nativas
da Caatinga, com o intuito de auxiliar na diferenciação, disseminação e conservação. Foi descrita a
morfologia externa de frutos e sementes de 12 espécies nativas da Caatinga pertencentes a diferentes
famílias botânicas: Anacardiaceae (Myracrodruon urundeuva Fr. All. e Schinopsis brasiliensis Engl.),
Apocynaceae (Aspidosperma pyrifolium Mart.), Burseraceae (Commiphora leptophloeos (Mart.) J. B. Gillett),
Euphorbiaceae (Sapium lanceolatum Huber), Leguminosae – Caesalpinioideae (Caesalpinia ferrea Mart.,
Caesalpinia pyramidalis Tul. e Parkinsonia aculeata L.) e Leguminosae – Mimosoidea (Mimosa arenosa
(Willd.) Poir., Mimosa caesalpinifolia Benthan, Piptadenia stipulaceae (Benth.) Ducke e Mimosa tenuiflora
(Willd.) Poir.). Observou-se que caracteres como tipo de fruto, coloração, formato, tamanho, deiscência do
fruto, presença de apêndices e alas, tipo de superfície e número de sementes por fruto revelaram-se
extremamente úteis na diferenciação das plantas medicinais nativas da Caatinga avaliadas neste estudo;
pois além de várias espécies desse bioma apresentarem semelhanças na morfologia de órgãos vegetativos,
existe uma grande variação na morfologia externa de frutos e sementes, revelando-se características
bastante relevantes para a identificação desses vegetais no campo.
PALAVRAS-CHAVE: morfologia, espécies florestais, semiárido, identificação no campo.

INTRODUÇÃO
A Caatinga é o único bioma exclusivamente brasileiro e ocorre em todos os estados do Nordeste e
norte de Minas Gerais. Ela é caracterizada como uma região semiárida, apresentando plantas adaptadas
fisiologicamente às condições de deficiência hídrica e térmica. Muitos desses vegetais encontram-se
extremamente diminuídos em suas populações naturais, principalmente pela degradação ambiental e pelo
uso irracional dos mesmos; o que, de acordo com Alves et al. (2008), resulta em intensa devastação, por ser
menos valorizado e por ter sido por muito tempo considerado pobre em biodiversidade. Por este motivo, é
que apenas nos últimos anos a Caatinga passou a ser estudada mais detalhadamente e até hoje pouco se
sabe sobre suas potencialidades (GARIGLIO et al., 2010). As espécies vegetais desse bioma são pouco
conhecidas não apenas pela população em geral, mas também por acadêmicos e cientistas, dificultando a
realização de pesquisas, principalmente na fase de coleta e identificação.
O estudo e a conservação da diversidade biológica da Caatinga é um dos maiores desafios da
ciência no Brasil, pois é a região natural brasileira menos protegida, já que as unidades de conservação
cobrem menos de 2% do seu território (LEAL et al., 2003; VELLOSO et al., 2002). Dessa forma, é necessária
e urgente a realização de estudos com espécies deste bioma, com pesquisas que envolvam fisiologia,
morfologia, taxonomia, ecologia, entre outras; que possam contribuir para o reconhecimento,
disseminação e conservação de tais espécies.
Dentre os estudos de morfologia vegetal, a caracterização de frutos e sementes tem papel
relevante nas pesquisas de ecologia, pois auxiliam na identificação taxonômica dos vegetais e ajudam no
reconhecimento das espécies; informação essencial para a disseminação e produção de espécies florestais.
A descrição morfológica de sementes, em especial, é de bastante valia, já que são bastante resistentes às

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variações ambientais, principalmente em regiões semiáridas, podendo permanecer intactas por um longo
período aguardando as condições ideais para germinarem.
Diante do exposto, objetivou-se descrever a organização estrutural externa de frutos e sementes
de 12 espécies nativas da Caatinga, com o intuito de auxiliar na diferenciação.

MATERIAL E MÉTODOS
Foram coletados, em áreas da Caatinga paraibana, frutos e sementes maduros de 12 espécies
medicinais arbóreas pertencentes a diferentes famílias. A descrição com nome das espécies, a família, o
local (cidade) e a data de coleta estão representados na Tabela 1. Foi realizada uma descrição detalhada da
morfologia externa de frutos e sementes das espécies, dando ênfase às características que facilitam a
diferenciação no campo. Para determinação das dimensões, foram realizadas 50 medições, utilizando-se
paquímetro digital; e para pesagem das sementes, foi utilizada balança analítica com precisão de 0,001g.
Todas as espécies foram fotografadas para auxiliar a descrição e identificação. De cada espécie, foram
determinadas as seguintes características dos frutos: tipo, dimensões, coloração, formato, textura,
deiscência, número de sementes por fruto e presença de ala; e das sementes: dimensões, peso, coloração
do tegumento, tipo de superfície, formato, presença de ala e presença de apêndices.
Tabela 1. Relação das espécies medicinais nativas da Caatinga estudadas e suas respectivas famílias,
nomes comuns, local e data de coleta.
L
Nome ocal de Data de
Família Nome científico
comum coleta coleta
(PB)
Myracrodruon urundeuva Fr. Aroeira-do- Serra
Outubro/2010
All. sertão Branca
Anacardiaceae
São João
Schinopsis brasiliensis Engl. Braúna Novembro/2010
do Cariri
Serra
Apocynaceae Aspidosperma pyrifolium Mart. Pereiro Novembro/2010
Branca
Commiphora leptophloeos
Burseraceae Imburana Cuité Abril/2011
(Mart.) J. B. Gillett
Euphorbiaceae Sapium lanceolatum Huber Burra-leiteira Cuité Abril/2011
Caesalpinia ferrea Mart. Jucá Cuité Abril/2011
Serra
Leguminosae Caesalpinia pyramidalis Tul. Catingueira Outubro/2010
Branca
(Caesalpinioideae)
Serra
Parkinsonia aculeata L. Turco Abril/2011
Branca
Espinheiro-
Mimosa arenosa (Willd.) Poir. Cuité Abril/2011
branco
Mimosa caesalpinifolia Serra
Sabiá Outubro/2010
Leguminosae Benthan Branca
(Mimosoidea) Piptadenia stipulaceae (Benth.)
Jurema-branca Boa Vista Novembro/2010
Ducke
Mimosa tenuiflora (Willd.) São João
Jurema-preta Outubro/2010
Poir. do Cariri

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Myracrodruon urundeuva Fr. All. possui fruto pequeno (Figura 1), com 3,8 – 4,5 mm de
comprimento, 3,5 – 4,8 mm de largura e 2,8 – 3,8 mm de espessura; indeiscente, do tipo drupa globosa,
apresentando uma semente e cerca de 8,5 mg. O seu formato varia de redondo a ovoide, com coloração
marrom, superfície rugosa e sépalas secas e persistentes (alas). A semente da aroeira-do-sertão pode ser
considerada como fruto-semente, pois é muito difícil separá-la do fruto e para Griz e Machado (2001), toda
esta estrutura é determinada como diásporo ou unidade de dispersão. A descrição do tipo de fruto está de

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acordo com Maia (2004) e Barroso et al. (2004), porém Lorenzi (2008) o define como aquênio. De acordo
com Griz e Machado (2001) as sépalas auxiliam na dispersão pelo vento, estratégia comum em espécies da
Caatinga.

Figura 1. Myracrodruon urundeuva Fr. All. a. disposição dos frutos na planta. b. fruto com alas. c. fruto sem
alas.

Schinopsis brasiliensis Engl. apresenta fruto do tipo sâmara (Figura 2), com 30,2 – 37,7 mm de
comprimento, 11,5 – 13,8 mm de largura e 6,9 – 9,0 mm de espessura; indeiscente, com formato oblongo e
achatado, superfície lisa, coloração marrom clara, apresentando ala e apenas uma semente por fruto. A
semente possui 12,2 – 14,5 mm de comprimento, 8,6 – 10,2 mm de largura e 3,9 – 5,5 mm de espessura; é
marrom clara, ovoide, achatada, de superfície estriada e peso de 21 mg; o endocarpo envolve a semente
por completo e é extremamente rígido, sendo muito difícil desprendê-lo. A semente é dispersa pelo vento
juntamente com todas as estruturas do fruto, que apresenta uma ala para auxiliar nesse processo; por este
motivo, para (SILVA e RODAL, 2009) todas essas estruturas são consideradas como a unidade de dispersão.
De acordo com Oliveira e Oliveira (2008), o endocarpo que envolve a semente é o principal responsável
pela dormência nesta espécie, por ser completamente impermeável à água. S. brasiliensis e M. urundeuva
são muito difíceis de serem diferenciadas devido a semelhanças dos órgãos vegetativos (MAIA, 2004) e por
este motivo, a caracterização morfológica de frutos e sementes torna-se ainda mais relevante.

Figura 2. Schinopsis brasiliensis Engl. a. disposição dos frutos na planta. b. fruto. c. semente com endocarpo.

O fruto de Aspidosperma pyrifolium Mart. é do tipo folículo piriforme (Figura 3), com 47,9 – 77,6
mm de comprimento e 27,2 – 42,2 mm de largura; deiscente, lenhoso, de superfície rugosa e coloração
marrom, apresentando rugas brancas, forma de gota achatada e 4 – 9 sementes por fruto. A semente é
redonda, com 13,0 – 19,1 mm de comprimento, 13,1 – 18,2 mm de largura e 0,8 – 1,5 mm de espessura;
achatada, de coloração marrom amarelada, superfície lisa, apresentando ala e 13 mg de peso. As sementes
de pereiro apresentam certa dificuldade para serem coletadas, pois logo após a deiscência do fruto, as
sementes se desprendem e são carregadas pelo vento; dessa forma, os frutos devem ser coletados quando
estão no inicio da deiscência, para que as sementes não sejam perdidas. Para Leal et al. (2003), as alas e o
formato das sementes são os principais responsáveis pelo sucesso da dispersão, espalhando as sementes
por longas distâncias (SILVA et al., 2004).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Figura 3. Aspidosperma pyrifolium Mart. a. disposição do fruto maduro na planta. b. fruto após deiscência. c.
semente.

Commiphora leptophloeos (Mart.) J. B. Gillett (Figura 4) apresenta fruto do tipo cápsula globosa,
com 19,2 – 24,3 mm de comprimento e 16,7 – 20,9 mm de diâmetro; deiscente, de coloração verde,
superfície lisa, formato variando de redondo a ovoide e contendo apenas uma semente. A semente é preta,
de formato ovoide levemente achatado, apresentando 9,2 – 11,8 mm de comprimento, 6,1 – 8,8 mm de
largura e 3,1 – 5,6 mm de espessura; superfície rugosa, peso de 11 mg e apresenta um arilo de coloração
vermelha. A imburana ainda é muito pouco estudada e são raros os trabalhos que tratam da morfologia e
ecologia da espécie. A descrição do fruto está de acordo com Maia (2004), porém Leal et al. (2003)
classifica o fruto como baga e Barroso et al. (2004), como drupa; este explica ainda que a interpretação da
morfologia dos frutos das Burseraceae ainda é muito controversa entre os autores.

Figura 4. Commiphora leptophloeos (Mart.) J. B. Gillett. a. disposição do fruto imaturo na planta. b. fruto
aberto após queda. c. semente.

O fruto de Sapium lanceolatum Huber é uma capsula globosa (Figura 8) contendo 3 sementes, de
superfície lisa quando verde e rugosa quando maduro, coloração marrom, formato arredondado e
deiscente. Quando o fruto se abre, as sementes ficam aderidas ao pedúnculo. As sementes possuem
formato de gota achatada em um dos lados, 6,9 – 8,8 mm de comprimento, 5,6 – 6,6 mm de largura e 4,4 –
5,4 mm de espessura; superfície rugosa, coloração preta com partes avermelhadas da sarcotesta, pesando
cerca de 11 mg. Para Barroso et al. (2004), a sarcotesta é praticamente impossível de se desprender da
semente e também ocorre em outras euforbiáceas.

Figura 8. Sapium lanceolatum Huber. a. disposição do fruto imaturo na planta. b. fruto maduro. c. sementes
aderidas ao pedúnculo. d. semente.

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Caesalpinia ferrea Mart. apresenta fruto do tipo legume (Figura 10), 53,9 – 118,6 mm de
comprimento, 20,1 – 27,7 mm de largura e 6,2 – 10,2 mm de espessura; contendo 3 – 10 sementes,
indeiscente, de formato oblongo achatado, coloração amarronzada e superfície rugosa. Sua semente é lisa,
com 10,7 – 13,0 mm de comprimento, 6,1 – 9,3 mm de largura e 3,6 – 5,8 mm de espessura; ovoide
achatada e marrom clara, pesando cerca de 26 mg. O tegumento de sua semente é bastante rígido e
segundo Crepaldi et al. (1998), é o principal responsável pela dormência. Queiroz (2009) explica que a C.
ferrea pertence a um grupo de espécies muito semelhantes, dessa forma, trabalhos de descrições que
enfoquem a diferenciação da espécie são essenciais.

Figura 10. Caesalpinia ferrea Mart. a. fruto maduro. b. semente.

O fruto de Caesalpinia pyramidalis Tul. é do tipo legume (Figura 11), apresenta 65,5 – 104,2 mm de
comprimento, 17,1 – 25,2 mm de largura e 2,5 – 5,6 mm de espessura; contendo 3 – 9 sementes,
deiscente, de coloração marrom escura, superfície lisa e formato oblongo achatado. A semente tem
formato ovoide achatado, com 9,5 – 13,9 mm de comprimento, 7,8 – 11,2 mm de largura e 1,8 – 3,0 de
espessura; coloração marrom clara e superfície lisa, pesando aproximadamente 15 mg. A catingueira
apresenta ampla distribuição na Caatinga e por este motivo, o seu reconhecimento no campo é essencial;
para Queiroz (2009), ela é umas das espécies que mais contribuem para a fisionomia característica desse
bioma.

Figura 11. Caesalpinia pyramidalis Tul. a. disposição dos frutos maduros na planta. b. fruto aberto e
espiralado após a deiscência. c. fruto aberto. d. semente.

Parkinsonia aculeata L. apresenta fruto do tipo legume (Figura 12), 32,9 – 83,6 mm de
comprimento, 3,2 – 3,8 mm de largura e 3,2 – 4,0 mm de espessura; contendo 1 – 5 sementes, indeiscente,
de formato oblongo pouco achatado e saliente na região da semente, com extremidades afiladas,
coloração marrom acinzentada e superfície rugosa. Sua semente é lisa, com 8,5 – 10,0 mm de
comprimento, 5,3 – 7,0 mm de largura e 4,3 – 5,4 de espessura; oblonga e marrom rajada, pesando cerca
de 8 mg. De acordo com Lorenzi (2008), os frutos de turco devem ser coletados diretamente da planta,
devido a ele ser indeiscente e permanecer por um tempo ainda aderidos após a maturação. Esta é uma
espécie ainda pouco estudada e pesquisas futuras são necessárias, principalmente sobre sua ecologia,
anatomia e fisiologia.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


214

Figura 12. Parkinsonia aculeata L. a. disposição dos frutos maduros na planta. b. fruto aberto. c. semente.

Mimosa arenosa (Willd.) Poir. apresenta fruto do tipo legume (Figura 17), 60,6 – 123,8 mm de
comprimento, 26,1 – 35,9 mm de largura e 2,0 – 3,7 mm de espessura; contendo 7 – 14 sementes,
deiscente, de formato oblongo pouco achatado e pouco saliente na região da semente, coloração marrom
clara e superfície lisa. Sua semente é lisa, com 8,3 – 10,0 mm de comprimento, 4,4 – 5,8 mm de largura, 1,5
– 2,6 de espessura; oblonga achatada e marrom rajada, pesando cerca de 7,5 mg. Estudos de descrição com
M. arenosa são escassos, para Queiroz (2009) este gênero ainda é pouco conhecido no que diz respeito à
diferenciação das espécies e a morfologia tem se mostrado uma ferramenta eficaz na identificação no
campo.

Figura 17. Mimosa arenosa (Willd.) Poir. a. disposição dos frutos maduros na planta. b. fruto. c. semente.

Mimosa caesalpinifolia Benthan tem fruto do tipo legume (Figura 18) dividido em 5 – 10 artículos
quadrangulares que contem em cada, uma semente; 51,6 – 81,2 mm de comprimento, 8,1 – 11,1 mm de
largura e 1,7 – 2,7 mm de espessura; indeiscente, de coloração marrom escura, superfície rugosa e formato
oblongo achatado. As sementes são lisas, com 6,2 – 7,1 mm de comprimento, 5,7 – 6,7 mm de largura e 1,7
– 2,0 de espessura; quadrangulares, achatadas, marrons, com cicatriz circundando cada lado e peso de 4
mg. Lorenzi (2008) identifica o tipo de fruto de sabiá como craspédio que, de acordo com Barroso (2004), é
um tipo de legume que possui carpelo fragmentado em artículos, os quais ficam íntegros após a maturação.
Confirmando essa característica, observou-se que a dispersão natural das sementes ocorre pela queda dos
artículos.

Figura 18. Mimosa caesalpinifolia Benthan. a. fruto. b. semente.

Piptadenia stipulaceae (Benth.) Ducke possui fruto do tipo legume (Figura 19), 60,2 – 104,0 mm de
comprimento e 14,3 – 19,7 mm de largura, 3 – 10 sementes, deiscente, de coloração marrom clara,

João Pessoa, outubro de 2011


215

superfície lisa, formato oblongo achatado e saliente na região da semente. As sementes são lisas, com 5,2 –
6,7 mm de comprimento, 4,3 – 5,3 mm de largura e 1,9 – 2,3 de espessura; formato variando de circulares
a ovoides, achatadas, marrons, com cicatriz na altura do eixo hipocótilo-radícula e peso de 4 mg. A jurema-
branca é endêmica e muito semelhante a outras leguminosas da Caatinga (QUEIROZ, 2009) e por este
motivo é que a diferenciação através da morfologia de frutos e sementes é tão importante. Futuras
pesquisas com esta espécie são necessárias, pois ela ainda é pouco conhecida no que diz respeito à
morfologia, fisiologia e ecologia.

Figura 19. Piptadenia stipulaceae (Benth.) Ducke. a. disposição dos frutos maduros na planta. b. fruto aberto
após a deiscência. c. semente.

O fruto de Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir. é do tipo legume (Figura 20), com 32,1 – 55,4 mm de
comprimento, 5,8 – 7,7 mm de largura e 0,7 – 1,1 mm de espessura; dividido em 4 – 8 artículos
quadrangulares que contem uma semente em cada, indeiscente, de coloração marrom escura, superfície
rugosa e formato oblongo achatado. As sementes são lisas, apresentam 3,9 – 5,3 mm de comprimento, 2,7
– 3,7 mm de largura e 0,6 – 0,9 mm de espessura; são circulares achatadas e afiladas nas duas
extremidades, marrons claras e com peso de 1 mg. O fruto foi identificado como craspédio por Queiroz
(2009) e, de forma geral, apresenta as mesmas características morfológicas e de dispersão dos craspédios
de sabiá. De acordo com Camargo-Ricalde e Grether (1998), os artículos são carregados pelo vento e
podem ser disseminados por até 5 m da planta-mãe em áreas de vegetação densa e até 8 m, em áreas
abertas. A morfologia, especialmente a da semente, demonstrou-se de grande valia para a diferenciação de
M. tenuiflora e M. caesalpinifolia, já que os frutos apresentam vários aspectos semelhantes.

Figura 20. Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir. a. disposição dos frutos maduros na planta. b. semente.

A descrição morfológica é uma das principais ferramentas utilizadas para identificar os vegetais,
demonstrando-se especialmente importante para a diferenciação de espécies florestais, pois cada vegetal
apresenta particularidades que podem ser utilizadas nessa identificação. A morfologia externa de frutos e
sementes é de extrema importância, pois é um dos assuntos mais complexos da morfologia vegetal
(BARROSO, 2004). Para a Caatinga tais estudos são ainda mais relevantes, pois este bioma é pouco
conhecido (LEAL et al., 2003) e segundo Gariglio et al. (2010), o aumento do conhecimento auxilia na
utilização sustentável dos recursos.

CONCLUSÕES

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


216

A caracterização morfológica de frutos e sementes de plantas medicinais nativas da Caatinga é


extremamente útil na diferenciação das espécies, pois existe grande variação na morfologia externa destes
órgãos, revelando-se aspectos bastante relevantes para a identificação destas espécies no campo.

REFERÊNCIAS
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ecogeográfica. Caminhos da Geografia. v.9, n.27, p.143-155, 2008.
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217

ANÁLISE FITOSSOCIOLÓGICA DE UMA ÁREA DE ECÓTONO


CAATINGA/CERRADO EM BARBALHA - CE, BRASIL
Daiany Alves RIBEIRO
Graduanda do curso de Ciências Biológicas/Bolsista FUNCAP/Laboratório de Botânica/URCA
daiany_ars@hotmail.com
Ismael Meneses Moraes FEITOSA
Graduando do curso de Ciências Biológicas/Laboratório de Botânica/URCA
Thatiane Maria Souza de ARAÚJO
Pesquisadora do Laboratório de Botânica/Universidade Regional do Cariri - URCA

RESUMO
Apesar de ecótonos apresentarem uma grande riqueza florística, congregando espécies de ambas
as comunidades, estudos sobre eles ainda não são comuns no Brasil. A distribuição das formações
vegetacionais nestas áreas de transição está ligada a fatores geomorfológicos, edáficos e climáticos.
Objetivando contribuir com estudos em áreas de ecótonos, foi realizada a análise fitossociológica em uma
ecótono Caatinga/Cerrado em Barbalha – CE. Foram alocadas 15 parcelas de 20x20 m², pautadas
aleatoriamente na área, amostrando-se indivíduos vivos com diâmetro do caule ao nível do solo (DNS) ≥
3cm e altura ≥ 1m. Analisaram-se os seguintes parâmetros fitossociológicos: altura, diâmetro, densidade,
área basal e índice de valor de importância. Foram registrados um total de 46 espécies, das quais 36 foram
identificadas até o momento, sendo estas distribuídas em 15 famílias. Leguminosae foi à família mais
representativa, tanto em número de espécies (19), como em IVI (37,15%). A maior altura alcançada foi de
20m, atingida pela espécie Orbignya sp., enquanto que o maior diâmetro (118 cm) esteve com Hymenaea
velutina Ducke. Entre as espécies que se destacaram com maior densidade, área basal e IVI estão Thiloa
glaucocarpa (Mart.) Eichler, (26,83 ind./há., 21,89 m²/ha. e 56,49), Cassia curvifolia Vog. (28 ind./h., 18,55
m²/ha., e 54,31) e Croton blanchetianus Muell. Arg. (9,3 ind./ha., 4,83 m²/ha., 18,79). A densidade total e
área basal por hectare foram de 5.715 ind./ha. e 13,53 m²/ha., respectivamente.
Palavras-chave: Fitossociologia, ecótono, plantas

ABSTRACT
Although ecotones present a large number of species, bringing together species from both
communities, studies on them are yet not common in Brazil. The distribution of vegetation
formations in these transition areas is linked to geomorphological, climatic and edaphic factors. In
order to contribute to studies in areas of ecotones, it was perfomerd an ecotone phytosociological
analysis on Caatinga/Cerrado in Barbalha – CE. 15 plots of 20x20m² were allocated, guided randomly
in the area, sampling live individuals with stem diameter at ground level (DNS) ≥ 3 cm and height ≥
1m. The following phytosociological parameters were analyzed: height, diameter, density, basal
area and importance value index. Were recorded a total of 46 species, of wich 36 have been
identified so far, which are distributed in 15 families. Leguminosae was the most representative
family, both in number of species (19) and as IVI (37.15%). The greatest height reached was 20m,
achieved by the species Orbignya sp., while the larger diameter (118 cm) was with Hymenaea
velutina Ducke. Among the species that stood out with greater density, basal area and IVI are
Thiloa glaucocarpa (Mart.) Eichler (26.83 ind./ha., 21.89 m²/ha. and 56.49), Cassia curvifolia Vog.
(28 ind./h,, 18.55 m²/ha. and 54.31) and Croton blanchetianus Muell. Arg. (9.3 ind./ha., 4.83
m²/ha., 18.79). The total density and basal area per hectare were 5,715 ind./ha. and 13.53 m²/ha.,
respectively.
Keywords: Phytosociology, ecotone, plants

1 INTRODUÇÃO
Na região nordeste do país, a formação vegetacional mais expressiva é a Caatinga, em sentido
restrito ela ocupa 58% de seu território e 11% do território brasileiro. Está compreendido entre as áreas

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


218

dos Estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, o sudoeste do Piauí,
partes do interior da Bahia e do norte de Minas Gerais.
Ela é fortemente condicionado pelas irregularidades da distribuição das chuvas, exibe acentuadas
variações nas condições adafo-climáticas e, apesar de ser pouco conhecida quanto a biodiversidade e
distribuição geográfica dos organismos, apresenta forte heterogeneidade entre os habitats no que se refere
a composição florística e abundância das populações (SAMPAIO, 1995; TABARELLI & VICENTE 2002;
ARAUJO & TABARELLI 2002).
Segundo Figueiredo (1997), a vegetação decídua corresponde cerca de 80% da cobertura vegetal
do Ceará representada principalmente pela caatinga stricto sensu que ocorre associada a outras formações
também decíduas, porém ocupando menos extensão, como carrasco (arbustivo) e mata seca (floresta), que
ocorre também em chapadas e serras.
O termo cerrado em sentido restrito designa uma vegetação de fisionomia e flora próprias,
classificada como savana dentro dos padrões de vegetação so mundo (EITEN, 1994). Este bioma constitui a
segunda maior formação vegetacional do Brasil (MEIRA NETO & SAPORETTI JÚNIOR, 2002), onde ocupava
cerca de 23% do território nacional (AQUINO et al., 2007). O ocorre em 15 Estados distribuindo-se
principalmente em Goiás, Tocantins, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia e Distrito federal (ARRUDA,
2005). No Nordeste, as disjunções de cerrado podem ser encontradas nos Estados de Pernambuco
(SARMENTO & SOARES, 1971), Paraíba (OLIVEIRA-FILHO & CARVALHO, 1993) e Ceará ( FIGUEIREDO &
FERNANDES, 1987).
No sul do Estado do Ceará, nos municípios de Iguatu, Salgado, nas serras de Caririaçu e na Chapada
do Araripe (FIGUEIREDO, 1989; 1997; FERNANDES, 1990). No Planalto Araripe, o contato sob a forma de
ecótono, entre a Floresta Estacional e a Savana (cerrado), reveste parte dessa Chapada, na sua porção
oriental, estendendo-se por sua vertente sul. O litoral setentrional é representado pelo ecótono entre
Restinga, Cerrado e Caatinga, enquanto que no oriental, tem-se o ecótono Cerrado/Floresta Estacional e
Cerrado/Caatinga. Áreas de transição entre tais domínios podem ser perfeitamente observadas nessas
regiões, dando origem a fitofisionomias bem diferenciadas, principalmente no que se refere à composição
de espécies e à abundância e porte dos indivíduos (SANTOS, 2007).
Os ecótonos são áreas de transição entre duas ou mais formações vegetais com características
distintas. Contêm dimensões consideráveis e são importantes contatos de biomas, no que se refere ao
encontro e interação entre os elementos bióticos, e constituem laboratórios para se estudar os pulsos de
expansão (ARRUDA, 2005). Recentemente, o IBAMA realizou um estudo que definiu 78 ecorregiões do
Brasil, baseado em imagens de satélite que exploraram todos os biomas do país e estudo determinou que o
ecótono Caatinga/Cerrado abrange cerca de 1,33% no Brasil.
Considerando a escassez de estudos nas áreas de transição principalmente no Ceará, realizou-se
uma análise fitossociológica da estrutura vegetacional de um ecótono Caatinga/Cerrado localizado no
município de Barbalha-CE, visando melhor caracterizar esse tipo de vegetação.

2 MATERIAS E MÉTODOS
2.1 Área de estudo
A área de estudo corresponde a um fragmento de uma área de transição caatinga/cerrado, situado
nas localidades do município de Barbalha no sul do Ceará. O levantamento florístico foi realizado em área
de 0.600ha uma área de transição caatinga/cerrado situada a nordeste da chapada Araripe (07º24’S e
39º20’W e 900m de altitude), dentro da área da Floresta Nacional do Araripe (FLONA-Araripe), no
município de Barbalha, Ceará. O solo é constituído por associação de latossolos Vermelho-Distróficos
(JACOMINE, 1973). A temperatura média anual estimada por regressão foi de 24,1ºC (SUDENE, 1982),
oscilando de 22,1ºC no mês mais frio (julho) a 25,8ºC no mês mais quente (novembro). Segundo os
conceitos de Coutinho (1978) e Ribeiro & Walter (1998), a vegetação desta área pode ser enquadrada na
fisionomia de cerrado s.s..

2.2 Amostragem
Para a amostragem da vegetação foi utilizado o método de parcelas múltiplas (CAIN & CASTRO,
1971). Foram alocadas 15 parcelas de dimensões 20x20m, distribuídas aleatoriamente na área,
amostrando-se indivíduos vivos com diâmetro do caule ao nível do solo (DNS) ≥ 3cm e altura ≥ 1m.

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Na área selecionada foi coletado mensalmente todo o material botânico fértil dos estratos
herbáceo, arbustivo e arbóreo e este material foi condicionado em sacos plásticos, tratado segundo as
técnicas convencionais de herborização (MORI et al., 1989) e sua identificação foi feita com base em
bibliografia especializada, por comparação com material depositado, por envio a especialistas ou por
comparação com exsicatas do Herbário Caririense Dárdano de Andrade Lima (HCDAL) da Universidade
Regional do Cariri onde as espécies foram devidamente depositadas.

2.3 Análise de dados


Para a caracterização de arquitetura de abundância e tamanho (MARTINS, 1991) foram calculados
os parâmetros gerais de Densidade Total, Área Basal Total, Altura e Diâmetros médios e máximos e em
nível estrutural foram calculados, para cada família e espécies, os parâmetros de Densidade, Freqüência e
Dominância, absolutas e relativas, e Índice de Valor de Importância através do FITOPAC (SHEPHERD, 1995).

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Na análise fitossociológica da área estudada foram registrados 3429 indivíduos entre arbustivos e
arbóreos. O processamento e a análise dos dados revelaram um conjunto florístico representado por 15
famílias e 46 espécies (Tabela 01). Dentre as 46 espécies levantadas, apenas oito foram identificadas até
nível de gênero e até o momento 10 foram classificadas como morfoespécies.
A família com maior riqueza de espécie foi Leguminosae com 19, seguida respectivamente de
Euphorbiaceae, Sapindaceae, Anacardiaceae, que apresentaram duas espécies cada. As demais famílias
(23,91%) foram representadas por apenas uma espécie. Como conseqüência do maior número de espécies
41,30%, Leguminosae foi à família mais representativa apresentando também maior IVI (37,15%), seguida
de Combretaceae e Euphorbiaceae com IVI de 64.18 e 23.45, respectivamente o que deixa a família mais
representativa da Caatinga em terceiro lugar entre as famílias encontradas no ecótono.
As famílias mais representativas em termos de espécies na área são as mais encontradas em
estudos de vegetação de cerrado, concordando com vários outros trabalhos desenvolvidos no bioma
(FELFILI, et al. 1993; WEISER & GODOY, 2001; SILVA, 2002), onde têm-se verificado que a família
Leguminosae tem sido a mais diversificada na maioria dos levantamentos realizados. Em segundo lugar,
temos a família Euphorbiaceae que normalmente se destaca com o maior número de espécies em locais de
caatinga (RODAL, 1992; ARAÚJO et al., 1995). Isto não ocorreu na área em estudo talvez por se tratar de
um écotono.
Dentre as espécies que predominaram com relação aos parâmetros de abundância, temos em
ordem de IVI, Thiloa glaucocarpa (56,49), Cassia curvifolia. (54,31), Croton blanchetianus (18,79), Mongolia
pubescens (27,92).
A flora do écotono estudado foi caracterizada por apresentar espécies com altura média e máxima
de 6m e 20m, respectivamente e as espécies Hymenaea velutina e Orbignya sp. apresentaram indivíduos
com altura máxima de 20m. Esta medida foi superior a faixa de variação para caatinga, que segundo
(SAMPAIO, 1996), está entre 10-15m. Mais em outros trabalhos foram registrados valores de 18m
(MENDES, 2007) e 19m (RODAL, 1992; ALEOFORADO FILHO, et al., 2003) e enquanto que a maior altura
registrada para cerrado no Ceará é de 12m (SÁ, 1994), mesmo assim a maior concentração esteve na classe
de altura 2-8m. Os diâmetros médio e máximo foram 4,5cm e 118cm, respectivamente. Mongolia
pubescens com 56cm e Hymenaea velutina com 118cm foram as espécies que se destacaram com os
maiores diâmetros.
Os indivíduos amostrados apresentaram densidade de 5,715ind/ha, área basal de 13,5m²/ha., em
revisão feita por Sampaio (1996), os valores de densidade e área basal para vegetação de caatinga variam
de 1,080 a 4,250ind./ha. e de 15,6 a 52m²/ha, mostrando que na área estudada possui uma densidade
superior as de caatinga e uma áreas basal dentro da faixa de variação.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


220

TABELA 01 - Relação das famílias amostradas na área de ecótono Caatinga/Cerrado em Barbalha,

CE, com o NI = nº de indivíduos, e seus parâmetros fitossociológicos. DR = Densidade relativa; DoR =


Dominância Relativa; FR = Freqüência Relativa; IVI = Índice de valor de importância AB = Area Basal.

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221

Tabela 01: continuação

Tabela 01: Elaborada pelos próprios autores.

Nos levantamentos de cerrado s.s. (FELFILI, et al., 1994) as amplitudes de densidade e área basal
encontradas foram 6,64 a 1,396ind./ha. e 5,79 a 11,30m²/ha. Sendo, portanto valores menores que os
encontrados para o écotono caatinga/cerrado de Barbalha, entretanto estes valores mais altos podem está
relacionados aos critérios de inclusão.

4 CONCLUSÃO
Apesar de áreas de ecótono Caatinga/Cerrado apresentarem uma expressiva riqueza florística e
parâmetros estruturais (altura, diâmetro, densidade e área basal) na faixa de variação em que alguns dados
apresentados chegam a ser superiores as dos dois ecossistemas citados, é necessário ressaltar a
importância de trabalhos realizados em áreas de transição. E com base no que foi analisado e discutido é
visível que os estudos realizados nestas áreas são bastante escassos ou mesmo inexistentes o que dificulta
em uma comparação conclusiva.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


222

5 REFERÊNCIAS
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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


224

BIOMETRIA DE FRUTOS DE Poincianella pyramidalis TUL. NO SEMIÁRIDO


DA PARAÍBA, BRASIL
Danielle Brígida Candeia RIBEIRO¹ (dani.brigida@hotmail.com)
Giovana Patrícia dos Santos SALES¹ (giovanapatricia.sales@gmail.com)
Jacob Silva SOUTO² (jacob_souto@uol.com.br)
¹Bióloga, Mestranda em Agronomia/PPGA/UFPB,
²Eng° Agrônomo, DSc., Prof. Associado, UFCG-PPGA/UFPB

RESUMO
Dentre as famílias de espécies arbóreas da Caatinga, a Leguminosae é uma das mais
representativas, apresentando a Poincianella pyramidalis Tul. como espécie de elevada distribuição nesses
ambientes. O objetivo deste trabalho foi estudar a variabilidade biométrica de frutos de P. pyramidalis
(catingueira) em uma população localizada em área da Fazenda Cachoeira de São Porfírio no Núcleo de
Desertificação do Seridó, município de Várzea, PB (06°48’47,0” S e 36°57’28,6” W), com altitude de 285 m.
Foram coletados trezentos e dois frutos maduros, e de cada fruto foram obtidas as medidas de
comprimento, largura e espessura. O comprimento, largura e espessura dos frutos variaram de 5,1 a 16,0
cm, 0,6 a 2,17 cm e, 1,0 a 4,0 mm, respectivamente. As correlações entre comprimento e largura e, largura
e espessura de frutos de P. pyramidalis foram baixas e positivas (r = 0,465 e r = 0,151), respectivamente. Já
para comprimento e espessura do fruto verificou-se que existe correlação baixa e negativa (r = -0,149).
Concluiu-se que existe variabilidade para os caracteres comprimento, largura e espessura de frutos de P.
pyramidalis coletados no Núcleo de Desertificação do Seridó.
Palavras-chave: caatinga, catingueira, núcleo de desertificação

INTRODUÇÃO
Dentre as famílias de espécies arbóreas da Caatinga, a Leguminosae é uma das mais
representativas, sendo constituída por 293 espécies que estão distribuídas entre suas três subfamílias,
Faboideae, Caesalpinoideae e Mimosoideae (GIULIETTI et al., 2004), sendo constituída de 171 gêneros com
cerca de 2.250 espécies tropicais e subtropicais (SCHRIRE et al., 2005).
No Nordeste do Brasil, dentro do bioma caatinga, a espécie P. pyramidalis Tul., (Leguminosae),
popularmente conhecida por “catingueira” é bastante conhecida, podendo ser encontrada em diversas
associações vegetais. Ocorre nos Estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco,
Alagoas, Sergipe e Bahia. Vegeta em lugares pedregosos, sendo considerada endêmica da caatinga. A sua
elevada distribuição nas áreas de caatinga pode significar que a mesma está bem adaptada ao ambiente de
solos rasos e ao acentuado déficit hídrico durante vários meses do ano (SANTANA e SOUTO, 2006).
Apesar da importância econômico-social apresentada por P. pyramidalis para o semiárido
brasileiro, o extrativismo (corte) indiscriminado da madeira tem contribuído para a redução das populações
locais, urgindo medidas para implementação de programas para a conservação e manejo sustentável dessa
espécie. Com isso, é possível ocorrer perda de material genético sem que se tenha conhecimento científico
sobre a utilização deste. Além disso, a espécie é indicada para a primeira e a segunda fase de recomposição
florestal mista de áreas degradadas (COSTA et al. 2009).
Dez anos antes (SAMPAIO, 2002) já se afirmava que, cerca de 200.000 km2 de matas naturais da
caatinga nordestina tinham sido substituídas por culturas agrícolas e/ou pastagens e a madeira das
espécies nativas utilizadas como carvão para uso doméstico e industrial. No Núcleo de Desertificação do
Seridó, região localizada entre os Estados da Paraíba e Rio Grande do Norte, o problema do desmatamento
vem sendo agravado pela presença de inúmeras olarias e cerâmicas que tem agravado o processo de
desertificação devido a elevada demanda por lenha para geração de energia sendo, a madeira oriunda de
P. pyramidalis uma das mais cobiçadas pela indústria.
Costa et al. (2002) encontraram, na região do Seridó da Paraíba, grande variação da biomassa
arbóreo-arbustiva, estando relacionada principalmente às condições topográficas e ao uso da terra.
Sucessivos cortes para uso de lenha, ou supressão para uso agrícola, ou pastoreio, e posteriormente a

João Pessoa, outubro de 2011


225

regeneração após abandono, resultaram na quebra do equilíbrio entre espécies tardias, intermediárias e
pioneiras, na exposição do solo e perda do banco de sementes. A degradação é, ainda, proporcional ao tipo
de alteração do solo, à intensidade e tempo de uso.
Em estudos realizados por Andrade et al. (2005) no município de São João do Cariri, Estado da
Paraíba, P. pyramidalis apresentou maior densidade em área mais conservada, por ser muito explorada, em
virtude do seu potencial para lenha, além de palatável para caprinos. Para Amorim et al. (2009), mesmo
locais de caatinga com pequena diversidade de espécies podem abrigar comunidades com padrões
fenológicos complexos, principalmente quanto à floração e à frutificação.
Percebida a importância de P. pyramidalis para o bioma caatinga, mister se faz a realização de
estudos objetivando caracterizar melhor esta espécie. Dentre estes estudos, a ampliação do conhecimento
sobre a caracterização dos seus frutos é de vital importância, mesmo considerando a grande variabilidade
que possa existir quanto às suas dimensões.
Segundo Cruz et al. (2001), a caracterização biométrica de frutos pode fornecer importante
informação de modo a permitir diferenciar espécies do mesmo gênero no campo, como ocorre com a
Hymenaea courbaril L. que tem frutos cerca de quatro vezes maior que os frutos de H. intermédia Ducke.
O conhecimento da biometria dos frutos de uma espécie fornece informações valiosíssimas para a
conservação e exploração dessa espécie, constituindo um importante instrumento para se detectar a
variabilidade genética dentro de uma determinada população, material este que poderá ser utilizado em
programas de melhoramento.
O fruto de P. pyramidalis é do tipo legume, seco, deiscente, glabro, de coloração marrom-
esverdeada ou nigrescente, pouco brilhoso, plano, delgado, de consistência coriácea com sutura dorsal
pouco dilatada. A sua dispersão é do tipo autocórica (SILVA e MATOS, 1998).
Pouco se sabe a respeito da biometria de frutos de P. pyramidalis, mesmo se considerando a
importância que esta espécie apresenta para o bioma caatinga. Diante do exposto, o presente estudo
buscou avaliar as características biométricas de frutos de P. pyramidalis de área em processo de
desertificação no Estado da Paraíba.

MATERIAL E MÉTODOS
Características do local de coleta
Os frutos foram coletados em área remanescente de caatinga, no Núcleo de Desertificação do
Seridó, com 48 ha, na Fazenda Cachoeira de São Porfírio, município de Várzea (PB) (06°48’47,0” S e
36°57’28,6” W). O clima na região, segundo a classificação de Koeppen é do tipo BSh, com verões quentes e
secos e, temperatura média anual superior a 25 ºC.
A área de estudo apresenta altitude média de 285 m, onde a vegetação expressa uma condição de
sobrevivência ligada à deficiência hídrica, com precipitação média anual em torno de 600 mm.

Escolha dos indivíduos e coleta dos frutos


Os indivíduos de Poincianella pyramidalis na área de estudo apresentam altura média de 2,71 m. Os
frutos maduros, originários de nove árvores, foram coletados diretamente nas copas, em junho de 2011,
final da época chuvosa na região, após percorrer a área de estudo em toda a sua extensão. Após coletados,
os frutos foram acondicionados em sacos de polietileno e levados ao Laboratório de Nutrição Mineral de
Plantas da Universidade Federal de Campina Grande, Campus de Patos (PB), onde foram realizadas as
avaliações.

Caracterização biométrica dos frutos


As avaliações biométricas foram realizadas tão logo as amostras chegaram ao Laboratório. Foram
selecionados 302 frutos, separando-se aqueles visualmente sadios, inteiros e sem deformação. Foram
determinados o comprimento (cm), medido no sentido longitudinal do fruto (Fig. 1) e largura média (cm),
determinada em três posições do fruto (medidas no terço superior, mediano e inferior do fruto), com
auxílio de uma régua (Fig. 2) e, espessura média (mm), determinada na parte central do fruto (Fig. 3), com
auxílio de um paquímetro.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


226

Fig. 1. Comprimento do fruto no sentido longitudinal

Fig. 2. Largura média do fruto

Fig. 3. Espessura média do fruto

Análise estatística
Os dados foram arranjados em forma gráfica (histograma) mostrando a sua distribuição, facilitando
assim, a sua interpretação. Inicialmente calculou-se a amplitude (R), que é a diferença entre o maior e o
menor valor encontrado entre os dados. Após, encontrou-se o número de classes (K), utilizando a equação
de Sturges (Paiva, 1982):

K = 1 + 3,33log n

Tendo-se a amplitude e o número de classes, determinou-se o tamanho da classe (h),


fazendo uso da seguinte equação:

R
h=
K

A análise dos dados foi feita utilizando-se o Excel (RIBEIRO JÚNIOR, 2004) e o programa estatístico
ASSISTAT 10.0. A correlação entre as variáveis estudadas foi calculada de acordo com Pearson e utilizaram-
se os diagramas de regressão linear.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

João Pessoa, outubro de 2011


227

Os frutos de Poincianella pyramidalis apresentaram comprimento variando de 5,1 a 16,0 cm (Figura


1) sendo que, 86,42% desses frutos apresentaram comprimento distribuído entre 6,3 e 10,1 cm. Coutinho
et al. (2008), em estudo realizado no município de Ceará-Mirim (RN) com o objetivo de determinar
variáveis biométricas e aspectos morfológicos e físicos em frutos e sementes de P. pyramidalis obtiveram
valores para comprimento do fruto variando de 6,5 a 10,9 cm. Nota-se, no entanto, que no presente estudo
foi observado, também, fruto com até 16,0 cm de comprimento. Por se diferenciar dos demais,
apresentando característica biométrica que pode ser explorada em trabalhos futuros de melhoramento
para esta espécie, desse fruto foram retiradas as sementes para que seja feita a sua propagação e posterior
plantio.

Figura 1. Classe de comprimento (cm) de frutos de Poincianella pyramidalis obtidos na


Fazenda Cachoeira de São Porfírio, em Várzea (PB).

Objetivando estudar o processo de maturação de sementes de P. pyramidalis com base no ponto


de maturidade fisiológica, Lima (2011) verificou que os maiores comprimentos dos frutos ocorreram aos
110 dias após a antese (8,19 cm). Vale ressaltar que esse estudo foi desenvolvido no município de Soledade
(PB), microregião do Curimataú Ocidental, agreste paraibano, com altitude de 535m. Possivelmente as
condições climáticas da região favoreceram o maior comprimento dos frutos no município de Várzea.
A largura dos frutos de P. pyramidalis variou de 0,6 a 2,17 cm (Figura 2). Ao se analisar a figura 2
constata-se que 94,68% dos frutos estudados apresentaram largura compreendida entre 1,4 e 1,99 cm.
Esta informação vem corroborar os dados divulgados por Silva e Matos (1998) que, ao coletarem frutos
maduros próximo à deiscência, no município de Patos (PB), com o intuito de obter informações sobre a
morfologia em 100 frutos de P. pyramidalis, verificaram que a largura variou de 1,7 a 2,3 cm.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


228

Figura 2. Classe de largura (cm) de frutos de Poincianella pyramidalis obtidos na


Fazenda Cachoeira de São Porfírio, em Várzea (PB).

Os resultados encontrados no presente estudo mostram a variabilidade para largura de


frutos de P. pyramidalis devido à variação em suas dimensões.
Visando aumentar a disponibilidade de informações sobre biometria de frutos de P. pyramidalis,
Coutinho et al. (2008) desenvolveram trabalho com apenas 42 frutos em Ceará-Mirim (RN) e, constataram
que os frutos apresentaram largura variando de 1,1 a 2,9 cm.
Aguiar et al. (2007), estudando parâmetros indicativos da maturação de frutos de árvores de
Poincianella echinata Lam., espécie da mesma família que P. pyramidalis, visando determinar a melhor
época de colheita para propagação, observaram que a largura média de 100 frutos variou de 2,29 a 2,75 cm
entre a 5ª e 9ª semana após a antese, valores estes superiores aos encontrados no presente estudo porém,
dentro da faixa encontrada por Coutinho et al. (2008) no Rio Grande do Norte (Brasil).
Em relação a espessura dos frutos de P. pyramidalis (Figura 3), verifica-se que ocorreu uma maior
concentração (82,1%) de frutos com espessura variando de 1,0 a 4,0 mm, resultados estes que discordam
daqueles encontrados por Coutinho et al. (2008) em frutos selecionados no município de Ceará Mirim, no
Estado do Rio Grande do Norte, o qual variou de 2,3 a 9,0 mm.

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Figura 3. Classe de espessura (mm) de frutos de Poincianella pyramidalis obtidos na


Fazenda Cachoeira de São Porfírio, em Várzea (PB).

Resultados similares ao do presente estudo foi observado por Lima (2011) em trabalho de campo
conduzido na Fazenda Açude, município de Soledade-PB. A colheita dos frutos teve início aos 75 dias após a
antese, sendo realizadas cinco colheitas, ao longo do experimento, em intervalos quinzenais, estendendo-
se até aos 135 dias após a antese. O autor observou que os frutos, no início da avaliação apresentavam-se
com 1,01 mm e só atingiram valores máximos aos 135 dias após a antese (4,27 mm).
Para Alves et al. (2005) os frutos de Mimosa caesalpiniifolia Benth. (sabiá), planta
pertencente à família Mimosaceae, apresentaram valores máximos de espessura (2,93 mm) aos 152 dias
após a antese. A biometria de frutos, segundo Alves et al. (2007), constitui importante subsídio para a
diferenciação de espécies de um mesmo gênero e entre variedades de uma mesma espécie, como é o caso
de Bauhinia divaricata L.
A correlação de Pearson indicou que houve correlação entre comprimento e largura do
fruto de P. pyramidalis (r = 0,465), largura e espessura do fruto (r = 0,151) e comprimento e espessura do
fruto (r = - 0,149). No entanto, é de se observar que as correlações entre comprimento e espessura e,
largura e espessura não foram marcantes o suficiente para serem utilizadas no melhoramento de P.
pyramidalis.
É sabido que a análise de correlação entre caracteres é importante no melhoramento de plantas
visto que, segundo Falconer (1987), possibilita a seleção indireta do caráter desejado, principalmente
quando os caracteres envolvidos possuem herança complexa e estão correlacionados a outro facilmente
identificável.
Para futuros trabalhos com P. pyramidalis o conhecimento dos caracteres estudados no presente
trabalho e de outros que poderão ser incorporados, poderá resultar em maior eficiência na seleção dos
caracteres que se pretende melhorar, ganhando tempo e economizando trabalho, quando comparado a
seleção isolada para determinado caráter, conforme afirma

CONCLUSÕES
Existe variabilidade para os caracteres comprimento, largura e espessura de frutos de Poincianella
pyramidalis coletados no Núcleo de Desertificação do Seridó;

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


230

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João Pessoa, outubro de 2011


231

VIABILIDADE E VIGOR DE SEMENTES DE CEREUS JAMACARU DC.: EM


DIFERENTES TEMPERATURAS E VOLUMES DE ÁGUA NO SUBSTRATO
Eliane da Silva Freire
Universidade Federal da Paraíba – UFPB. Depto. Fitotecnia. Aluna do Curso de Agronomia
E-mail: elianedasilvafreire@yahoo.com.br
Edna Ursulino Alves
Universidade Federal da Paraíba – UFPB. Profa. Adjunta do Depto. de Fitotecnia.
E-mail: ednaursulino@cca.ufpb.br
Luciana Rodrigues de Araújo
Universidade Federal da Paraíba – UFPB. Depto. Fitotecnia. Bolsista PNPD/CAPES
E-mail: lraraujo1@yahoo.com.br

RESUMO
O mandacaru (Cereus jamacaru DC.) é uma espécie nativa da vegetação da caatinga, pertencente à
família Cactácea. As incertezas climáticas no nordeste tornam as cactáceas uma alternativa alimentar e
uma fonte de água para os animais, principalmente caprinos, ovinos e bovinos na época seca. Este trabalho
foi conduzido com o objetivo de avaliar a germinação e o vigor de sementes de mandacaru expostas em
diferentes temperaturas e volumes de água no substrato. As sementes foram distribuídas no substrato
papel toalha do tipo germitest, organizados em rolos e umedecidos com volumes de água equivalentes a
2,0; 2,5; 3,0; 3,5 e 4,0 vezes o peso do substrato seco, sem adição posterior de água e mantidas em
germinador do tipo Biochemical Oxigen Demand (B.O.D.), nas temperaturas constantes de 25, 30 e 35 °C e
alternada de 20-30 °C. As variáveis avaliadas foram: germinação, primeira contagem, índice de velocidade
de germinação, comprimento e massa seca de plântulas. O delineamento experimental foi o inteiramente
ao acaso com os tratamentos distribuídos em esquema fatorial 5 x 4 (volumes de água e temperaturas). A
temperatura constante de 25 °C e os volumes de água entre 3,0 e 3,3 são recomendados para avaliar a
germinação, primeira contagem, índice de velocidade de germinação e comprimento de plântulas de C.
jamacaru. Para avaliação do vigor, através do peso da massa seca de plântulas as temperaturas indicadas
são 25, 30 e 35 ºC constantes sob volume de água de 4,0 vezes o peso do substrato seco.
Palavras-chave: Mandacaru, disponibilidade de água, qualidade fisiológica.

INTRODUÇÃO
As cactáceas destacam-se principalmente por evitarem as perdas de água nas horas mais quentes
do dia sendo plantas xerófilas resistentes à seca, e bastante adaptadas em regiões do semi-árido, onde
apresentam grande importância na alimentação durante o período de seca. Uma das diversas espécies
dessa família é o mandacaru (Cereus jamacaru DC.), cactácea imponente e colunar com um forte tronco e
provido de espinhos medindo até 20 cm de comprimento, flores noturnas, enormes, brancas e frutos
vistosos (GOMES, 1977) consumidos in natura pela população. São grandes, avermelhados com polpa
branca provida de muitas sementes pretas e bem pequenas que segundo (CAVALCANTI e RESENDE, 2007)
servem de alimento para animais silvestres da caatinga, pássaros e humanos. A espécie também é utilizada
em ornamentações e seu desenvolvimento ocorre em regiões mais secas no semi-árido nordestino
cobrindo áreas extensas da caatinga geralmente em solos rasos e sobre rochas (LIMA, 1996). Cresce em
solos pedregosos e, junto a outras espécies de cactáceas, forma a paisagem típica da região semi-árida do
Nordeste, sendo encontrado nos Estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco,
Alagoas, Sergipe, Bahia e norte de Minas Gerais (SILVA e ALVES, 2009).
Dentre os fatores que afetam a germinação de sementes, a umidade é um dos mais importantes,
pois, inicia o processo germinativo (BORGES e RENA, 1993). Durante este processo, a absorção de água
promove o amolecimento do tegumento e aumento do volume do embrião e dos tecidos de reserva,
favorecendo a ruptura do tegumento, a difusão gasosa e a emergência da raiz primária. Proporciona, ainda,
a diluição do protoplasma, permitindo a difusão de hormônios e, consequentemente, ativação de sistemas
enzimáticos. Com isso, desenvolve-se a digestão, translocação e a assimilação das reservas, resultando no
crescimento do embrião (MARCOS FILHO, 2005).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


232

Nos testes de germinação, a quantidade inicial de água a ser adicionada depende da natureza do
substrato e, principalmente, das exigências de cada espécie, devendo ser, previamente, determinada, para
que sempre seja usada a mesma quantidade nos testes de rotina (FIGLIOLIA et al., 1993). Assim, o
conhecimento das condições adequadas para a germinação de sementes é de grande importância,
principalmente pelas respostas diferenciadas que podem apresentar, devido a diversos fatores, como
dormência, condições ambientais (água, luz, temperatura e oxigênio) e ocorrência de agentes patogênicos
associados ao substrato (POPINIGIS, 1985; BRASIL, 2009; CARVALHO e NAKAGAWA, 2000).
A temperatura é outro fator que pode regular o processo germinativo de três maneiras:
determinando a capacidade e taxa de germinação; removendo a dormência primária ou secundária e
induzindo dormência secundária (BEWLEY e BLACK, 1994). De acordo com Carvalho e Nakagawa (2000), a
temperatura afeta a percentagem, velocidade e uniformidade de germinação e está relacionada com os
processos bioquímicos.
A temperatura é um elemento básico para uma melhor condução em testes de germinação
(STOCKMAN et al., 2007). A mesma está relacionada com o poder germinativo em que sobre variações
prejudica a percentagem e velocidade na germinação (MARCOS FILHO, 2005). Muitas espécies apresentam
sementes expressam seu potencial germinativo máximo em temperaturas constantes, enquanto que outras
o fazem em temperaturas alternadas (FIGLIOLIA et al., 1993). Existe temperatura ótima em que se obtém
porcentagem máxima na velocidade de germinação e abaixo da qual a germinação é prejudicada (MAYER e
POLJAKOFF-MAYBER, 1989).
Diante dessas considerações, este trabalho teve como principal o objetivo de avaliar a germinação
e o vigor de sementes de mandacaru expostas em diferentes temperaturas e volumes de água no
substrato.

MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no Laboratório de Análise de Sementes (LAS), do Centro de Ciências
Agrárias, da Universidade Federal da Paraíba, em Areia -PB, entre os meses de abril e maio de 2011, com
frutos de Cereus jamacaru colhidos de três plantas adultas no município de Boa Vista-PB. Logo após, foram
enviados aos LAS, onde se realizou o beneficiamento com a abertura dos frutos para retirada das sementes,
as quais foram lavadas em água corrente para extração da polpa manualmente.
Após o beneficiamento as sementes foram distribuídas em substrato papel umedecido com
quantidade de água destilada equivalente a 2,0; 2,5; 3,0; 3,5 e 4,0 vezes a massa do papel seco, em quatro
repetições de 25 sementes e, em seguida foram feitos rolos em papel toalha do tipo germitest e
acondicionados em sacos plásticos. Posteriormente, o material foi transferido para o germinador do tipo
B.O.D. nas temperaturas constantes de 25, 30 e 35 °C e alternada de 20-30 °C. As avaliações foram
efetuadas diariamente dos cinco aos 14 dias após a instalação do teste, sendo avaliado a porcentagem de
germinação, primeira contagem e índice de velocidade de germinação, bem como o comprimento e a
massa seca das plântulas. No final do teste as plântulas normais de cada repetição foram medidas com o
auxílio de uma régua graduada em centímetros, para determinação do comprimento de plântulas. Em
seguida, as mesmas foram acondicionadas em sacos de papel do tipo kraft e levados à estufa regulada a 65
ºC até atingirem peso constante e, decorrido esse período, foram pesadas em balança analítica com
precisão de 0,001g (NAKAGAWA, 1999).
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente ao acaso, em quatro repetições e os
dados foram submetidos à análise de variância e de regressão polinomial, sendo as médias comparadas
pelo teste de Scott-Knott, a 5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com os resultados da Figura 1, observa-se que a temperatura de 25 °C com o volume de
água de 3,3 vezes o peso do papel, foi responsável pela máxima germinação das sementes de C. jamacaru.
Para a temperatura de 30 °C observou-se que à medida que ocorreu aumento nos volumes de água, houve
redução no percentual de germinação. Verificou-se ainda que houve uma redução drástica na taxa de
germinação quando as sementes foram submetidas à temperatura de 35 °C. Para as sementes de Tabebuia
capitata, Castro (2003) verificou que as temperaturas de 30 e 35 °C resultaram nas maiores porcentagens
de germinação, tanto para protrusão da raiz primária quanto para formação de plântulas normais. Guedes

João Pessoa, outubro de 2011


233

et al. (2009) verificaram que a temperatura de 30 ºC mostrou-se mais adequada para a condução dos testes
de germinação em substrato rolo de papel, para as sementes de C. jamacaru.
Dessa forma considera-se que a germinação mais favorável pode ser induzida por diversas
quantidades de água, as quais ocupariam uma faixa de amplitude específica, de acordo com a espécie.

Figura 1. Germinação de sementes de Cereus jamacaru submetidas a diferentes volumes de água e


temperaturas.
Com relação ao vigor, avaliado pela primeira contagem de germinação (Figura 2), observou-se que
o volume de água de 3,0 vezes o peso do papel seco, foi responsável pela maior porcentagem de sementes
(34%) na temperatura de 25 ºC. Com relação às outras temperaturas os resultados não evidenciaram efeito
significativo entre os tratamentos, indicando que as quantidades no substrato não exerceram influência
sobre as médias da germinação.
A germinação de sementes de maxixe (Cucumis anguria L.) foi beneficiada pelas quantidades de
água na faixa de 1,0 a 2,5 vezes o peso do substrato papel, por sua vez a quantidade de 3,0 vezes o peso do
substrato causou decréscimos na germinação (GENTIL e TORRES, 2001).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


234

Figura 2. Primeira contagem de germinação de sementes de Cereus jamacaru submetidas a


diferentes volumes de água e temperaturas.

Os resultados do índice de velocidade de germinação (Figura 3) evidenciaram mais uma vez que as
sementes de C. jamacaru mantidas na temperatura de 25 ºC foram as que apresentaram melhor
desempenho, com um volume de água de 3,2 vezes o peso do papel. Na temperatura de 30 ºC observou-se
que houve redução do índice de velocidade de germinação devido ao aumento da quantidade de água no
substrato. Estudando sementes de porongo (Largenaria siceraria), Bisognin et al. (1991), observaram
menor velocidade de germinação quando utilizaram a proporção de água equivalente a 3,0 vezes o peso do
substrato. O umedecimento do substrato com volume de água igual a 3,0 vezes o peso do papel mostrou
ser desfavorável à germinação de sementes de maxixe (GENTIL e TORRES, 2001).

João Pessoa, outubro de 2011


235

Figura 3. Índice de velocidade de germinação de sementes de Cereus jamacaru submetidas a


diferentes volumes de água e temperaturas.

O desempenho do comprimento de plântulas de C. jamacaru em função do umedecimento do


substrato encontra-se na Figura 4. Na temperatura de 25 ºC o maior comprimento (1,87 cm) foi alcançado
com o volume de água de 3,0 vezes o peso do papel, enquanto que na temperatura de 35 ºC o
comprimento máximo atingido (1,31 cm) foi alcançado com o volume de 4 vezes o peso do papel.
O comprimento de plântulas de C. jamacaru foi maior nas temperaturas de 25 e 30 ºC, no substrato
de rolo de papel e os menores foram encontrados no substrato sobre papel, nas temperaturas 20-30 ºC
alternada e 30 °C constante (GUEDES et al., 2009).
A massa seca de plântulas de C. jamacaru (Figura 5) foi maior quando submetidas às temperaturas
constantes de 25, 30 e 35 °C com o volume de água de quatro vezes o peso seco do papel.

20-30 25 30 35
2

1,8
Comprimento de plântulas (cm)

1,6

1,4

1,2

0,8
y20-30 = 1,57

0,6 y25 = -0,7029x2 + 4,4891x - 5,2603


R2 = 0,8098
y30 = 1,51
0,4
y35 = 0,548x - 1,058
0,2 R2 = 0,5694

0
2 2,5 3 3,5 4
Volumes de água (mL)
Figura 4. Comprimento de plântulas de Cereus jamacaru oriundas de sementes submetidas a
diferentes volumes de água e temperaturas

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


236

Figura 5. Massa seca de plântulas de Cereus jamacaru oriundas de sementes submetidas a


diferentes volumes de água e temperaturas.

CONCLUSÕES
A temperatura constante de 25 °C e os volumes de água entre 3,0 e 3,3 são recomendados para
avaliar a germinação, primeira contagem, índice de velocidade de germinação e comprimento de plântulas
de C. jamacaru.
Para avaliação do vigor, através do peso da massa seca de plântulas as temperaturas
indicadas são 25, 30 e 35 ºC constantes sob volume de água de 4,0 vezes o peso do substrato seco.

REFERENCIAS
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CAVALCANTI, N.B.; RESENDE, G.M. Efeito de diferentes substratos no desenvolvimento de
mandacaru (Cereus jamacaru P. DC.), facheiro (PilosocereuspachycladusRitter), xiquexique
(Pilosocereusgounellei(A. WebwrEx K. Schum.) Bly. ExRowl.) e coroa-de-frade (MelocactusbahiensisBritton&
Rose). Caatinga, Mossoró, v.20, n.1, p.28-35, 2007.
FIGLIOLIA , M. B.; OLIVEIRA , E. C.; PIÑA-RODRIGUES, F. C. M. Análise de sementes. In: Aguiar, J. B.;
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João Pessoa, outubro de 2011


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GENTIL, P.F.; TORRES, S.B. Umedecimento do substrato e germinação de sementes de maxixe


(Cucumis anguria L.). Revista Brasileira de Sementes, Brasília, v.23, n.2, p.113-116, 2001.
GOMES, P. Forragens fartas na seca. São Paulo: Nobel, 1977. 236p.
GUEDES, R.S.; ALVES, E.U.; GONÇALVES, E.P.; BRUNO, R.L.A.; BRAGA JÚNIOR, J.M.; MEDEIROS, M.S.
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LIMA, J. L. S. Plantas forrageiras das caatingas: usos e potencialidades. Petrolina:
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germinação. Revista Brasileira de Sementes, v. 29, n. 3, p. 139-143, 2007.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


238

LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO DE PLANTAS MEDICINAIS UTILIZADAS


NA COMUNIDADE QUILOMBOLA DOS MACACOS, SÃO MIGUEL DO
TAPUIO, PIAUÍ
Fábio José VIEIRA
Doutorando em Desenvolvimento e Meio Ambiente PRODEMA/UFPI
(fabiojosevieira75@gmail.com)
José Luis Lopes ARAÚJO
Departamento de Geografia/ PRODEMA/UFPI
Roseli Farias Melo de BARROS
Departamento de Biologia/PRODEMA/UFPI
(rbarros.ufpi@yahoo.com.br)

RESUMO
A Comunidade Quilombola dos Macacos está localizada no município de São Miguel do Tapuio,
Piauí. Objetivou-se levantar informações socioeconômicas e sobre as espécies medicinais utilizadas pela
comunidade, identificando as formas de usos e indicações terapêuticas atribuídas pelos quilombolas às
etnoespécies. Dos 106 habitantes da comunidade, 20 foram indicados como conhecedores da vegetação
local, bem como suas finalidades, com os quais foram realizadas entrevistas semi-estruturadas; destes,
cinco foram os informantes-chave, e com eles foi realizada a técnica de turnê guiada. Calculou-se a
Importância Relativa (IR) de cada espécie citada. Todo o material coletado encontra-se depositado no
Herbário Graziela Barroso (TEPB) da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Foram identificadas 74 espécies
com propriedades medicinais, distribuídas em 40 famílias botânicas. Leguminosae (10,29%), Euphorbiaceae
(8,82%) e Lamiaceae (7,35%), obtiveram maior número de espécies. Copaifera luetzeulburgii Harms.
(pódoi), Himatanthus drasticus (Mart.) Plumel (janaguba) e Myracrodruon urundeuva Allemão (aroeira),
obtiveram os maiores valores de IR: 2,00; 1,80 e 1,75, respectivamente. As folhas (36,98%) e chás (53,42%),
foram a parte e a forma de preparo mais utilizadas pelos moradores do quilombo. Apesar da distribuição
de remédios industrializados, pela equipe do PSF, observou-se a preferência pela plantas medicinais
adquiridas, principalmente na vegetação nativa.
Palavras-chave: plantas medicinais, etnobotânica quantitativa, quilombo, São Miguel do Tapuio,
Piauí.

INTRODUÇÃO
O uso de plantas com fins medicinais, para tratamento, cura ou prevenção de doenças, é uma das
mais antigas formas de práticas da medicina. Durante as duas últimas décadas, o interesse pelos sistemas
de medicinas tradicionais, intensificou-se como um assunto de importância mundial (Agra et al., 2005).
Muitas sociedades tradicionais ou autóctones possuem uma vasta farmacopéia natural, em boa
parte proveniente dos recursos vegetais encontrados nos ambientes naturais ocupados por estas
populações, ou cultivados em ambientes antropicamente alterados (Amorozo, 2002). Portanto, resgatar
este conhecimento e suas técnicas terapêuticas, contribui para a valorização da medicina popular, além de
gerar informações sobre a saúde da comunidade local (Pilla et al., 2006), como também pode fornecer
dados para novas fontes de princípios ativos.
Embora a pesquisa científica sobre plantas medicinais utilizadas por comunidades tradicionais
brasileiras ser recente (Pinto et al., 2006), vários pesquisadores têm desenvolvido pesquisas nesta linha,
como: Amorozo & Gély (1988); Milliken & Albert (1996); Gonçalves & Martins (1998); Rêgo (1998);
Castellucci et al. (2000); Rodrigues & Carvalho (2001); Amorozo (2002); Coutinho et al. (2002); Franco &
Fontana (2002); Medeiros et al. (2004); Souza & Felfili (2005); Almeida et al. (2006); Borba & Macedo
(2006); Pinto et al. (2006) e Leão et al. (2007).
Para o Piauí, no campo das plantas medicinais, registramos os trabalhos de Berg & Silva (1985);
Santos et al. (2007) e apenas Franco & Barros (2006) desenvolveram pesquisa em comunidades tradicionais
no Estado.

João Pessoa, outubro de 2011


239

A transmissão oral do conhecimento sobre o uso de plantas pelas comunidades tradicionais é


praticada há gerações, porém o processo de aculturação, onde as novas gerações incorporam os meios
modernos de comunicação, causam a perda desta tão valiosa transmissão oral (Medeiros et al., 2004),
aliado a isso, tem a degradação ambiental e a desagregação dos sistemas de vida tradicional que ameaçam,
além de um acervo de conhecimento empírico, um patrimônio genético de valor inestimável para as
gerações futuras (Amorozo & Gély,1988).
Diante do exposto desenvolvemos o estudo na Comunidade Quilombola dos Macacos em
São Miguel do Tapuio, Piauí, com o objetivo de levantar informações sobre as etnoespécies utilizadas como
medicinais, identificando seus modos de preparos, indicações terapêuticas.

MATERIAL E MÉTODO
Descrição da Área
O município de São Miguel do Tapuio situa-se a 260km de Teresina, e ocupa uma área de
6.533km², correspondente a 2,61% do total do Estado. Está situada na mesorregião Centro Piauiense e
microrregião de Campo Maior e ocupa a 172º posição no ranking estadual de exclusão social (CEPRO, 1992;
Lima, 2003). Possui segundo a CEPRO (1992) um clima classificado como Tropical Semi-Árido Quente, com
duração do período seco de seis meses e uma vegetação de Cerrado e Cerradão.
A Comunidade Quilombola dos Macacos situa-se a 26km ao sul da cidade, com uma área de 2000
ha aproximadamente, onde habitam 106 indivíduos, distribuídos em 27 famílias, que sobrevivem da
agricultura de subsistência e da criação extensiva de galinhas, porcos, bodes , carneiros, bois e vacas, com
renda familiar na grande maioria complementada com auxílios do Governo Federal, como aposentadorias e
bolsas família.
A base econômica da Comunidade dos Macacos é a agricultura de subsistência que é
complementada em algumas famílias por aposentadorias (11,11% dos indivíduos), por bolsas família
(59,26%), e por aposentadorias/bolsas famílias (7,41%). Entretanto, 22,22% destas, não possuem nenhum
tipo de benefício concedido pelo Governo.
O nível de alfabetização dos integrantes da Comunidade Quilombola dos Macacos é considerado
bom para a região, pois 73,75% dos indivíduos são alfabetizados; o saneamento básico é inexistente, pois
não observa-se fossas sépticas em nenhuma das residências e a destinação do lixo, na sua grande maioria é
deixada a céu aberto. O abastecimento de água é feito através de gravitação, onde as águas do brejo dos
Macacos são represadas, passando a serem distribuídas através de encanação até as residências. Não há
energia elétrica.
Uma equipe do Programa Saúde da Família (PSF) atende a comunidade, visitando-os uma
vez por mês; quando diagnosticados casos mais sérios de doenças, estes são encaminhados para a sede do
município ou para Teresina, dependo da gravidade. Apesar do atendimento do PSF, com a indicação de
remédios industrializados, observou-se ainda, um intenso uso da medicina popular.
A história da comunidade é marcada pela luta da posse da terra que se agravou, principalmente na
década de 1990, quando o posseiro que se dizia dono das terras tentou expulsar uma das famílias. Este fato
desencadeou uma revolta dentro da comunidade, que resolveu juntar forças para lutar pela retomada das
terras, que segundo eles pertenceram aos seus antepassados (INCRA, 2006). Apesar de possuírem o título
de auto-reconhecimento de Comunidade remanescente de quilombo, expedido pela Fundação Palmares
em maio de 2005, esperam o título de posse definitiva da terra, expedido pelo Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (INCRA).
Coleta de dados
A coleta de dados etnobotânicos e sócio-econômicos visou o conhecimento das plantas medicinais
utilizadas pelos quilombolas, bem como a realidade vivida pelos mesmos. Foram aplicados questionários
com as 27 famílias da comunidade, havendo a participação de todos os membros da casa, onde os
entrevistados foram questionados inicialmente sobre informações de caráter sócio-econômico: idade,
estado civil, renda, moradia e saneamento. Em seguida, direcionou-se perguntas relativas ao uso e
conhecimento das plantas utilizadas como medicinais. Dos 106 habitantes da comunidade, 20 foram
indicados como conhecedores da vegetação e suas finalidades, destes, cinco como informantes-chave, com
os quais foi desenvolvida a técnica de turnê guiada (Albuquerque & Lucena, 2004). A pesquisa de campo foi
realizada entre janeiro de 2006 e abril de 2007.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


240

Para coleta e herborização de material botânico, utilizou-se a metodologia de Mori et al.


(1989), quinzenalmente no período chuvoso e mensalmente no seco. O material testemunho encontra-se
incorporado ao acervo do Herbário Graziela Barroso (TEPB) da Universidade Federal do Piauí. As
identificações das espécies foram feitas com base em bibliografia especializada, comparações com
exsicatas identificadas e envio de material a especialistas.
A Importância Relativa (IR) de cada espécie, foi calculada com base na proposta de Bennett
& Prance (2000), onde o valor máximo do IR obtido por uma espécie será 2, através da fórmula IR = NSC +
NP, onde NSC é igual ao número de sistemas corporais tratados por uma determinada espécie (NSCE),
dividido pelo número total de sistemas corporais, tratados pela espécie mais versátil (NSCEV); NP coincide
com a relação entre o número de propriedades atribuídas a uma determinada espécie (NPE) e o número
total de propriedades atribuídas à espécie mais versátil (NPEV).
As doenças citadas foram agrupadas em 15 categorias, com base na OMS (2000), sofrendo
algumas modificações: transtornos do sistema respiratório; transtornos do sistema circulatório; transtornos
do sistema nervoso; transtornos do sistema digestivo; transtornos do sistema genito-urinário; doenças do
sistema osteomuscular; inflamações e dores em geral; doenças parasitárias; neoplasias; doenças do
sangue; doenças de pele e tecido celular sub-cutâneo; impotência sexual; doenças das glândulas
endócrinas e do metabolismo; transtornos do sistema sensorial (visão) e mordida de cobra.

RESULTADO E DISCUSSÃO
A vegetação encontrada na região foi de transição, com predominância do bioma Caatinga
e elementos de Cerrado e Mata Semi-decídua, diferentemente da citada na CEPRO (1992).
As espécies indicadas pelos informantes foram coletadas em quintais, roças, capoeiras,
hortas, e nas áreas de vegetação nativa. A maior parte das espécies utilizadas como medicinais (68,5%),
cresce espontaneamente em ambientes naturais ou antropicamente modificados, sendo as demais (31,5%),
cultivadas em canteiros nos quintais e também na horta comunitária. Dados semelhantes foram
encontrados por Abreu (2000) no quilombo Mimbó, em Amarante – PI, em uma área de transição
vegetacional de cerrado e mata ciliar e, por Franco & Barros (2006) numa área de transição de cerrado e
floresta decidual mista, na Comunidade Quilombola Olho D’água dos Pires, em Esperantina - PI.
Observa-se que as mulheres têm o maior conhecimento sobre uso das plantas cultivadas
nos quintais e locais próximos as residências e com as plantas utilizadas no trato de doenças relacionadas
ao sistema reprodutor feminino. Amorozo & Gély (1988) no Baixo Amazonas, em Barcarena – PA,
corroboram com o observado na Comunidade dos Macacos.
Um total de 74 etnoespécies foram identificadas e citadas como medicinais, distribuídas em
69 gêneros e 40 famílias botânicas (Tabela 1). Leguminosae (10,29%), Euphorbiaceae (8,82%) e Lamiaceae
(7,35%), são as famílias mais representativas em número de espécies. Almeida & Albuquerque (2002),
também incluem estas famílias entre as que contribuíram com o maior número de espécies medicinais no
levantamento de uso e conservação de plantas e animais medicinais no agreste Pernambucano. Franco &
Barros (2006) também citam as famílias Leguminosae e Euphorbiaceae, como as mais representativas.

Tabela 1: Lista das etnoespécies citadas como medicinais pela Comunidade Quilombola dos
Macacos, São Miguel do Tapuio, Piauí. NC = número de coletor (FV = Fábio Vieira) ; il - identificada no local-
não coletada; PU = parte usada; IR = importância relativa; FP = forma de preparo.
Família/espécie/nome vulgar NC PU IR Indicação de uso FP
ANACARDIACEAE
Myracrodruon urundeuva 34 casca do 1,75 gastrite; úlcera; garrafada
Allemão 9 tronco inflamação do útero;
(aroeira) resto de parto;
torção
APIACEAE
Anethum graveolens L. 35 sementes 0,90 depressão; chá
(endro) 8 hipertensão; febre;
cólicas
Coriandrum sativum L. 35 sementes 0,45 calmante; cólicas chá
(coentro) 9

João Pessoa, outubro de 2011


241

Família/espécie/nome vulgar NC PU IR Indicação de uso FP


APOCYNACEAE
Himatanthus drasticus (Mart.) 12 casca do 1,80 inflamação em geral; garrafada e
Plumel 2 tronco; látex câncer; úlcera; látex
(janaguba) menstruação
irregular
ARECACEAE
Copernicia prunifera (Mill.) H. E. il raiz 0,65 menstruação garrafada
Moore irregular; impotência
(carnaúba) sexual
Mauritia flexuosa L. il sementes 0,45 queimaduras óleo
(buriti)
ASTERACEAE
Wedelia aff. villosa Gardn. 11 folhas 0,45 pneumonia chá
(camara) 2
BIGNONIACEAE
Mansoa hirtusa DC. 26 raiz 0,25 gripe chá
(cipó-de-alho) 3
Tabebuia impetiginosa (Mart. 33 casca do 1,10 gastrite; úlcera; dor garrafada
ex DC.) Standl 3 tronco na coluna
(pau-d’arco-roxo)
BORAGINACEAE
Heliotropium indicum L. 34 raiz 0,45 inflamação em geral chá
(crista-de-galo) 5
BROMELIACEAE
Neoglaziovia variegata (Arr. 89 folhas 0,45 mordida de cobra sumo
Cam.) Mez
(croá)
BURSERACEAE
Commiphora leptophloeos 63 casca do 0,45 hemorragia chá
(Mart.) Gillet. tronco
(imburana-de-espinho)
CACTACEAE
Cereus jamacaru DC. 14 caule 0,90 inflamação em geral; sumo
(mandacaru) 4 inchaço em geral
Melocactus zehntneri Britton & 42 flores 0,45 gripe xarope
Rose 7
(coroa-de-frade)
CAPPARACEAE
Cleome spinosa Jacq. 27 raiz 0,45 gripe chá
(mussambê) 1
CECROPIACEAE
Cecropia pachystachya Trécul. 42 folhas 0,45 mestruação irregular chá
(torém) 6
CHENOPODIACEAE
Beta vulgaris L. il caule 0,45 gripe xarope
(beterraba)
Chenopodium ambrosioides L. 29 parte aérea da 1,10 verminose; dor na sumo;
(mastruz) 6 planta coluna e ossos emplastro
COMBRETACEAE
Combretum leprosum Mart. 11 casca do 1,35 inflamação em geral; chá; garrafada
(mufumbo) 6 tronco; sangramento; dor de
semente barriga
CONVOLVULACEAE
Ipomoea asarifolia (Desr.) Roem 41 folhas novas 0,45 supurar tumores emplastro
& Schult 7
(salsa)
Operculina macrocarpa (L.) 27 raiz 1,55 amebíase; prisão de mingau

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


242

Família/espécie/nome vulgar NC PU IR Indicação de uso FP


Farw. 7 ventre; expectorante
(batata-de-purga)
CUCURBITACEAE
Citrullus vulgaris Schrad il sementes 1,10 gripe; febre; sumo
(melancia) intestino
Curcubita pepo L. il sementes 0,45 gripe sumo
(abóbora)
Momordica charantia L. 39 folhas 0,65 impigem; erisipele uso tópico
(melão-de-são-caetano) 8
EUPHORBIACEAE
Chamaesyce hyssopifolia (L.) 15 planta inteira 0,45 menstruação chá
Small. 0 irregular
(erva-santa)
Croton grawioides Baill. 82 folhas 0,65 gripe; constipação banho
(canelinha)
C. heliotropiifolius Kunth. 60 folhas 1,25 gripe; arrancar farpa chá
(velame)
Euphorbia tirucalli L. 41 látex 0,45 câncer látex
(cachorra-pelada) 4
Jatropha gossypiifolia L. 43 látex 0,45 visão látex
(pião-roxo) 1
Ricinus communis L. il sementes 0,45 resto de parto; óleo
(mamona) picada de cobra
LAMIACEAE
Plectranthus barbatus Andrews il folhas 0,90 infecção intestinal; chá
(boldo) ressaca
Hyptis suaveolens Poit. 20 folhas e flores 0,45 gripe chá
(bamburral) 3
Mentha arvensis L. 42 folhas 0,45 gripe chá
(hortelã-vick) 2
Ocimum americanum L. 41 parte áerea 0,90 gripe; dor de barriga banho; chá
(esturarque) 9
O. gratissimum L. 42 folhas 0,45 gripe chá
(mão-de-vaca) 0
Rhaphiodon echinus (Nees & 10 folhas 0,45 enxaqueca chá
Mart.) Schauer 9
(betônica-de-brejo)
LEGUMINOSAE
CAESALPINIOIDEAE
Caesalpinia bracteosa Tul. 14 casca do 1,35 amebíase; dor nos chá; garrafada
(catingueira) 2 tronco rins; gastrite
C. ferrea Mart. ex Tul. 10 casca do 1,35 calmante; gripe; dor chá; garrafada
(jucá) 2 tronco; fruto nos rins
Copaifera luetzelburgii Harms. 15 casca do 2,00 anemia; gastrite; dor garrafada;
(podói) 4 tronco; óleo nos rins; úlcera; emplastro;
mordida de cobra óleo
Hymenaea martiana Ducke 39 casca do 0,75 úlcera; dor de chá; garrafada
(jatobá) 9 tronco barriga
Senna occidentalis (L.) Link 40 folhas 0,45 expectorante xarope
(fedegoso) 9
MIMOSOIDEAE
Piptadenia moniliformis Benth. 10 casca do 0,45 infecção intestinal chá
(angico-rama-de-bezerro) 1 tronco
PAPILONOIDEAE
Amburana cearensis (Allemão) 42 casca do 0,45 gripe banho
A.C.Sm. 3 tronco
(imburana-de-cheiro)

João Pessoa, outubro de 2011


243

Família/espécie/nome vulgar NC PU IR Indicação de uso FP


Indigofera suffruticosa Mill. 15 folhas 0,25 impigem uso tópico
(anil-brabo) 2
LILIACEAE
Allium sativum L. il bulbo 0,45 gripe chá
(alho)
A. schoenoprasum L. il planta inteira 0,45 expectorante xarope
(cebolinha)
MALPIGHIACEAE
Byrsonima sp 39 casca do 0,90 úlcera; gastrite; chá
(murici-verdadeiro) 7 tronco dente infeccionado
MALVACEAE
Abelmoschus esculentus (L.) il sementes 0,25 verminose chá
Moench
(quiabo)
Gossypium herbaceum L. 29 folhas e 1,80 amigdalite; infecção chá
(algodão) 7 sementes intestinal; dentição;
próstata
Malva sylvestris L. il folhas 0,45 gripe chá
(malva-do-reino)
MORACEAE
Brosimum gaudichaudii Trécul 34 casca do 1,10 vitiligo; depurativo chá
(inharé) 4 tronco; folhas do sangue
MYRTACEAE
Psidium guajava L. il folhas novas 1,35 infecção intestinal; chá
(goiaba) dentição de criança;
amigdalite
MUSACEAE
Musa paradisiaca L. il parte da 0,45 expectorante chá
(banana) inflorescência
(brácteas)
NYCTAGINACEAE
Boerhavia diffusa L. 41 raiz 1,35 gripe; depurativo chá; garrafada
(pega-pinto) 2 sangue; menstruação
irregular
Guapira graciliflora (Mart. ex J. 42 casca do 0,80 inflamação da garrafada
A. Schimidt) Lundel 8 tronco próstata; dor nos rins
(pau-piranha)
OLACACEAE
Ximenia americana L. 35 casca do 1,55 úlcera; gastrite; garrafada;
(ameixa) 6 tronco feridas; inflamação emplastro
do útero
PASSIFLORACEAE
Passiflora edulis Sims il fruto 0,45 calmante suco
(maracujá)
PEDALIACEAE
Sesamum indicum L. 42 sementes 0,90 febre; gripe sumo
(gergelim) 1
POACEAE
Cymbopogon citratus (DC.) il folhas 0,90 febre; calmante chá
Stapf.
(capim-santo)
RHAMNACEAE
Ziziphus joazeiro Mart. 40 casca do 0,45 feridas emplastro
(juá) 4 tronco
RUBIACEAE
Coutarea hexandra (Jacq.) K. 31 casca do 0,45 feridas emplastro
Schum 2 tronco

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


244

Família/espécie/nome vulgar NC PU IR Indicação de uso FP


(quina-quina)
Tocoyena formosa (Cham. K. 74 casca do 0,45 torção emplastro
Schlfdl.) K. Schum tronco
(jenipapinho)
RUTACEAE
Citrus aurantium L. il folhas 0,45 gripe chá
(laranja)
C. limonum Risso il folhas e frutos 0,90 gripe; hipertensão chá
(limão)
Ruta graveolens L. il folhas 0,45 gases chá
(arruda)
SCROPHULARIACEAE
Scoparia dulcis L. 40 raiz e folhas 0,90 feridas; infecção chá
(vassourinha) 8 urinária
SMILACACEAE
Smilax campestris Griseb. 42 raiz 0,65 impotência sexual; garrafada
(japecanga) 5 inflamação no útero
STERCULIACEAE
Helicteres sacarolha A. St-Hil. 81 raiz 0,45 dor de barriga chá
(saca-trapo)
TURNERACEAE
Turnera ulmifolia L. 41 folhas 0,45 arrancar farpas emplastro
(tira-estrepe) 5
VERBENACEAE
Clerodendron sp 83 folhas e flores 0,45 gripe chá; banho
(alecrim)
Lippia alba (Mill.) N. E. Br. il folhas 0,45 calmante chá
(erva-cidreira)
VIOLACEAE
Hybanthus ipepacuanha Baill. 20 folhas e flores 0,45 dentição de criança chá
(pepaconha) 8
ZINGIBERACEAE
Curcuma longa L. il bulbo 0,65 gripe; rouquidão chá
(açafroa)
Zingiber officinale Roscoe. il bulbo 0,90 dor em geral; chá
(gengibre) garganta inflamada

Quanto aos sistemas tratados com as plantas medicinais, na comunidade estudada o que obteve o
maior destaque foi o sistema respiratório (36,76% das espécies), seguido pelos sistema digestivo (22,06%) e
genito-urinário (13,23%). Almeida & Albuquerque (2002), Albuquerque & Andrade (2002) e Franco & Barros
(2006) encontraram resultados semelhantes nos estudos realizados no estado de Pernambuco e na
Comunidade quilombola Olho D’Água dos Pires, em Esperantina – PI, respectivamente. Entretanto, no
Quilombo Mimbó, em Amarante – PI, Abreu (2000) relata que as doenças relacionadas ao aparelho
reprodutor feminino são as mais citadas pelos moradores do quilombo, seguida pelas doenças do aparelho
digestivo. Pilla et al. (2006) no distrito de Martim Francisco, município de Mogi-Mirim – SP e Chaves (2005)
no município de Cocal – PI, citam as afecções relacionadas ao sistema digestivo, seguido pelo respiratório
no levantamento das plantas medicinais utilizadas nessas regiões.
Observou-se, que há certo equilíbrio quanto a indicação de uso, pois 52, 05% das espécies possui
apenas um uso e 47, 95% possuem dois ou mais. Dados semelhantes foram obtidos por Franco & Barros
(2006), no quilombo Olho D’Água dos Pires, em Esperantina-PI.
Partes usadas e formas de uso - Quanto à parte usada da planta no preparo dos remédios, destaca-
se as folhas (36,98%), cascas (23,28%), sementes e raízes (13,70%), seguidas por flores (5,48%), fruto, látex
e bulbo (4,10%), parte aérea e planta inteira (2,74%) e inflorescência 1,36%. Resultados semelhantes foram
encontrados por Franco & Barros (2006), no Quilombo Olho D`água dos Pires, Esperantina – PI. Costa-Neto
& Oliveira (2000), Amorozo (2002) e Coelho et al. (2005) também citam as folhas como a parte mais usada

João Pessoa, outubro de 2011


245

por moradores das comunidades em Santo Antônio do Leverger – MT, Tanquinho – BA, e na comunidade
Mumbuca, no Jalapão – TO, respectivamente. Por sua vez, Albuquerque & Andrade (2002) ao realizarem
estudo em uma área de Caatinga no estado do Pernambuco, citam que a preferência nestas áreas é pelas
cascas, por estarem disponíveis o ano todo, em função da caducifolia das folhas na época seca. Coutinho et
al. (2002) também citam as cascas como recurso mais utilizado pelos indígenas do Maranhão.
Em relação à indicação de uso, o chá (decocto e infusão) obteve 53,42% das indicações, seguida
pela garrafada (16,43%), emplastros (10,96%), sumo (8,22%), xarope (5,48%), banho e óleo (4,10%), uso
tópico (2,74%) e mingau (1,36%). Dados semelhantes foram obtidos por Parente & Rosa (2001) ao levantar
as plantas medicinais comercializadas no município de Barra do Piraí – RJ e Pinto et al. (2006) nas
comunidades rurais, em Itacaré – BA.
Na preparação de alguns remédios, há o uso combinado de mais de uma espécie, principalmente
no preparo das garrafadas e xaropes. Está prática é bastante difundida nas comunidades rurais, como
observado por Pinto et al. (2006), em Itacaré – BA; Franco & Barros (2006) no Quilombo Olho D’Água dos
Pires, em Esperantina – PI e Silva et al. (2006) no povoado Colônia Treze, em Lagarto – SE.
Importância Relativa - Dezesseis espécies (21,62% do total), atingiram IR superior a 1, indicadas
para até 12 sistemas corporais. Em valores relativos, estes resultados são parecidos aos obtidos por
Almeida et al. (2006) na região de Xingó, onde 16% das espécies utilizadas obtiveram os mesmos valores,
sendo indicadas para até nove sistemas corporais. Na Comunidade Quilombola dos Macacos, a grande
maioria das espécies são nativas e encontradas em áreas de vegetação densa, a exemplo de Myracrodruon
urundeuva (aroeira), referida para o tratamento de três sistemas corporais e Himatanthus drasticus
(janaguba), para quatro.
A espécie que obteve o maior IR (2,00) foi Copaifera luetzelburgii (podói), bastante difundida no
tratamento de anemia, gastrite, dor nos rins, úlcera e mordida de cobra, utilizada na forma de garrafada,
emplastro e óleo. Himatanthus drasticus (janaguba) usada no tratamento de inflamações em geral, câncer,
úlcera e menstruação irregular, e Gossypium herbaceum L, no tratamento de amigdalite, infecção
intestinal, dentição de criança, próstata e gripe, aparecem com o segundo maior IR (1,80). Franco & Barros
(2006) citam uma espécie de janaguba (Himatanthus sucuuba (Spruce ex Müll. Arg.) Woodson) como mais
versátil no levantamento de plantas medicinais no quilombo Olho D’ Água dos Pires, em Esperantina-PI.
A perda de espécies de valor terapêutico e informações sobre elas vêm da junção de vários
fatores, dentre eles estão o processo de aculturação, que as comunidades tradicionais sofrem ao longo dos
anos e, o desinteresse dos membros mais jovens em manter vivo o conhecimento tradicional, o qual se
encontra, principalmente, em poder dos mais velhos. Entretanto, mesmo com a presença periódica da
equipe do PSF, observou-se que a prática da medicina popular ainda é bastante difundida entre os
moradores da Comunidade Quilombola dos Macacos, em São Miguel do Tapuio – PI. Portanto, torna-se
necessário o compartilhamento do conhecimento entre as gerações mais jovens para a manutenção do
saber tradicional na comunidade.

AGRADECIMENTO
À Comunidade Quilombola dos Macacos, pela recepção e disponibilidade em colaborar nas
entrevistas e coleta de material; ao Diretório Alemão DAAD, pela concessão de bolsa de estudo concedida
ao primeiro autor; aos especialistas pela disponibilidade em confirmar ou identificar o material botânico;
aos estagiários do herbário Graziela Barroso (TEPB) da Universidade Federal do Piauí, pelo apoio
incondicional.

REFERÊNCIAS
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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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João Pessoa, outubro de 2011


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Acta Botanica Brasilica, v.20, n.1, p. 135-142, 2006.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


248

APLICAÇÃO DO ÍNDICE DE VEGETAÇÃO POR DIFERENÇA NORMALIZADA


(NDVI) NA AVALIAÇÃO DO EFEITO DE BORDA: MANGUEZAL DO PINA - PE.
Fátima Verônica Pereira VILA NOVA ¹
Mariana Pêssoa COELHO ²
Maria Fernanda Abrantes TORRES ³
¹
Mestranda do Programa de Pós Graduação em Geografia da Universidade Federal de Pernambuco (PPGEO – UFPE).
Avenida Acadêmico Helio Ramos, S/N, Cidade Universitária, CEP: 50670-901 – Recife – PE. Integrante do Grupo de
Estudos em Biogeografia e Meio Ambiente da Universidade Federal de Pernambuco (BIOMA – UFPE). Bolsista
do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ). veronica.vn@hotmail.com
² Mestranda do Programa de Pós Graduação em Geografia da Universidade Federal de Pernambuco (PPGEO – UFPE).
Avenida Acadêmico Helio Ramos, S/N, Cidade Universitária, CEP: 50670 -901 – Recife – PE. Integrante do Grupo de
Estudos em Biogeografia e Meio Ambiente da Universidade Federal de Pernambuco (BIOMA – UFPE). Bolsista
da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE). maripc14@gmail.com
³ Professor Adjunto I – Departamento de Ciências Geográficas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Avenida
Acadêmico Helio Ramos, S/N, Cidade Universitária, CEP: 50670 -901 – Recife – PE. Coordenadora do Grupo de Estudos em
Biogeografia e Meio Ambiente da Universidade Federal de Pernambuco - BIOMA – UFPE. daetorres@hotmail.com

RESUMO
Os manguezais ocupam uma fração significativa do litoral brasileiro. Em Pernambuco, a área total
ocupada pelo ecossistema foi estimada em 17.372 h. O manguezal do Pina possui uma das maiores
extensões em zona urbana do Brasil e tem sido submetido ao longo do tempo a sucessivos impactos
negativos, decorrentes principalmente da ocupação em seus arredores. Estudos têm ressaltado o efeito de
borda, que são alterações nas margens dos fragmentos florestais. A maioria dos estudos conhecidos se
refere à Mata Atlântica, havendo, deste modo, lacunas no entendimento do efeito de borda em fragmentos
de manguezais. Assim, o objetivo do trabalho foi analisar a fração vegetada no manguezal do Pina-PE, com
ferramentas de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento, no intuito de conhecer a caracterização
espacial e o efeito de borda no mesmo. A análise espaço temporal foi desenvolvida a partir das imagens
dos anos 1989, 2000 e 2010 utilizando o NDVI, que posteriormente foram classificadas através do ERDAS
imagine 9.3 e ARCGIS 9.3. Desta forma, foi possível observar que ocorreram modificações na composição
da vegetação, bem como na forma do fragmento. A imagem de 1989 possibilitou visualizar que a área
ocupada por vegetação esparsa, semi densa e densa era predominante. Em 2000, observou-se que houve
uma redução da área total vegetada, apesar do aumento da vegetação densa. No ano de 2010 é perceptível
a expansão urbana sobre o manguezal, bem como o acréscimo estrutural da vegetação densa. Além disso,
foi constatado que a forma do fragmento sofreu mudanças. Em 1989, o formato era ligeiramente circular.
Entre 2000 e 2010 a forma do fragmento passa de ligeiramente circular para ligeiramente quadrada. A
utilização do NDVI como ferramenta de análise do efeito de borda no manguezal possibilitou a constatação
de mudanças tanto na composição como na forma do fragmento, fornecendo subsídios à conservação do
ecossistema.
Palavras chave: Fragmento, efeito de borda, NDVI, manguezal.

1 Introdução
A zona costeira tem sido o centro das atividades humanas devido à sua importância biológica e
econômica para as populações, alta produtividade e fácil acessibilidade, encontrando-se, dessa forma, sob
uma forte pressão antrópica. Essa interferência provoca modificações nos ecossistemas, como restingas e
manguezais, e na biodiversidade, muitas vezes levando à eliminação de espécies sensíveis (BARROS, 1998).
O manguezal recebe influência marinha constante através do regime de marés, apresenta margens
com sedimento lamoso e águas abrigadas que permitem o surgimento de flora especializada, adaptada à
flutuação de salinidade, bem como proporciona condições propícias para alimentação, proteção e
reprodução de muitas espécies animais, sendo considerado importante transformador de nutrientes em
matéria orgânica. Os manguezais ocupam uma fração significativa do litoral brasileiro, estendendo-se do

João Pessoa, outubro de 2011


249

extremo norte no Estado do Amapá até o seu limite sul, em Santa Catarina (SCHAEFFFER–NOVELLI, 1995;
VANNUCCI, 1999).
Em Pernambuco, Coelho e Torres (1982) estimaram a área total ocupada por manguezal em 17.372
hectares. Muitas dessas áreas têm sido substituídas no processo de conversão de terra para o uso humano,
estando, portanto, em processo de fragmentação, comprometendo a integridade do ecossistema. O
tamanho e o grau de isolamento do fragmento, bem como a frequência e intensidade dos tensores
antrópicos são fatores que influenciam a sobrevivência de fauna e flora (MAC ARTHUR e WILSON, 1967)
Estudos em fragmentos têm ressaltado o efeito de borda, que são alterações nas áreas
mais externas dos fragmentos florestais tais como o aumento da vegetação arbustiva e diminuição da
vegetação arbórea decorrentes da elevação da temperatura e redução da umidade (MURCIA, 1995). A
maioria dos estudos conhecidos em fragmentos se refere à Mata Atlântica, havendo, deste modo, há
lacunas no entendimento do efeito de borda em fragmentos de manguezais.
O manguezal do Pina, situado em Recife, capital pernambucana, é considerado uma das
maiores áreas de manguezais do Brasil e tem sido submetido, ao longo do tempo, a sucessivos impactos
negativos como aterros, desmatamentos, entre outros, decorrentes principalmente da ocupação em seus
arredores Esses processos têm se acelerado nos últimos anos (BARBOSA, 2010).
Devido à velocidade das transformações há necessidade de se utilizar ferramentas que
possibilitem a produção de conhecimento rápida, segura e que tenham relativamente baixo custo e para
isso, o uso de recursos instrumentais oferecidos pelo Sensoriamento Remoto (SR), com auxílio dos Sistemas
de Informações Geográficas (SIGs) e dos Sistemas de Posicionamento Global (GPS), têm sido
imprescindíveis (AZEVEDO, 2001).
A densidade da vegetação é um dos aspectos biológico alterados pelo efeito de borda em
um fragmento (RODRIGUES, 1998). Portanto, o Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NVVI) se
apresenta como alternativa de análise e monitoramento.
Assim, o objetivo desse trabalho foi analisar o fragmento de mangue, no Pina – PE, com
ferramentas de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento, visando conhecer a caracterização espacial e
o efeito de borda no mesmo, a fim de subsidiar estratégias de conservação.

2 Material e Métodos
2.1 Área de estudo
O município do Recife situa-se no litoral oriental da América do Sul, na costa do Nordeste
brasileiro, e é o principal núcleo urbano da Região Metropolitana, onde se concentra boa parte da
população (PCR, 2000). Limita-se no norte, sul e oeste a mesorregião da Mata Pernambucana e a leste com
Oceano Atlântico.
A bacia do Pina (Figura 01) está situada em plena zona urbana do Recife - PE, sendo formada pela
confluência dos rios Capibaribe, Tejipió, Jiquiá, Jordão e Pina e tem grande importância devido ao seu papel
sócio-econômico e ambiental, principalmente por se tratar de uma área portuária (FEITOSA; PASSAVANTE,
1990).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


250

Figura 01 - Manguezal do Pina, Recife – PE.

De acordo com a classificação de Köppen, a área apresenta um clima do tipo As’. Andrade (1977)
classifica este clima como pseudotropical da costa nordestina, pois na maioria das áreas que apresenta este
tipo climático (Tropical Úmido) o regime de chuva é de primavera-verão, enquanto que no litoral
pernambucano o regime de chuvas é de outono (antecipada) e inverno (concentrada). Possui uma extensão
de 3,6 km e largura variável, sendo a mínima de 0,26 km e a máxima de 0,86 km, perfazendo uma área total
de, aproximadamente, 2,02 km² (FEITOSA 1988).
O Manguezal do Pina localiza-se na porção sul da cidade do Recife, no bairro do Pina, entre as
coordenadas de 8º5’30” e 8º6’30” S; 34º54’30” e 34º53’00” W, em uma área pertencente à Marinha do
Brasil, conhecida como antiga “Estação Rádio Pina” (BARBOSA, 2010).
O Relatório de Impactos Ambientais, oriundo do projeto de construção da Via Mangue, afirma que
a área de manguezal ocupava, no ano de 2007, uma extensão aproximada de 223,26ha. Esta área está
inserida na Região Político Administrativa 6 (RPA 6), sendo considerada uma Zona Especial de Proteção
Ambiental (ZEPA 2). A região em estudo possui aspecto essencialmente aquático, com manguezais e ilhas
envolvidos por braços dos rios Jordão e Pina, mas com influência de outros dois rios, Tejipió e Capibaribe,
possuindo uma das maiores extensões de mangue em ambiente urbano do Brasil (BARBOSA, 2010).
2.2 NDVI e Análise do efeito de borda
A análise espaço temporal foi realizada a partir das imagens dos anos 1989, 2000 e 2010,
utilizando o Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI), do satélite LANDSAT 5, sensor TM,
órbita 214, ponto 66 da faixa espectral do visível-infravermelho (VISIR, com resolução espacial de 30
metros) trabalhadas nos softwares ERDAS imagine 9.3 e ARCGIS 9.3 disponibilizados pelo Grupo de
Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento- SERGEO do Departamento de Ciências Geográficas da
Universidade Federal de Pernambuco-UFPE. Posteriormente, foi realizada uma análise do efeito de borda
no manguezal.
A análise espaço temporal da vegetação consistiu no emprego do Índice por Diferença
Normalizada (NDVI), o qual utiliza as bandas 3 e 4 da imagem, as quais atuam no comprimento de onda que
vai de 0,4μm a 0,8μm correspondente à região do visível-vermelho e ao infravermelho próximo.
Para o cálculo do NDVI foi utilizada a equação que é definida por:

João Pessoa, outubro de 2011


251

NDVI = ( ReflectB4 - ReflectB3 ) / ( ReflectB4 + ReflectB3 )


Onde:
Reflect B4 = reflectância no infravermelho próximo;
Reflect B3 = reflectância no vermelho.
Os valores numéricos do NDVI podem variar entre -1 e 1, em que a vegetação está associada
aos valores positivos e materiais que refletem mais intensamente na porção do vermelho em comparação
com o infravermelho próximo (nuvens, água e neve) apresentam NDVI negativo. Solos descobertos e
rochas refletem o vermelho e o infravermelho próximo quase na mesma intensidade, por conseguinte, seu
NDVI aproxima-se de zero (RIZZI, 2004).
As classes foram divididas em seis: não classificada, praia ou banco de areia, área urbana e/ou
solo exposto, vegetação esparsa, vegetação semi densa e vegetação densa (mangue).
3 Resultados e Discussão
Os cálculos e a classificação do NDVI nas imagens de 1989, 2000 e 2010 no manguezal do Pina
permitiram a análise das alterações ocorridas, que apontam que ocorreram modificações na composição
da vegetação, bem como na forma do fragmento (Figura 02).

Figura 02 – Variação espaço temporal da vegetação no manguezal do Pina, Recife-PE, nos anos de 1989,
2000 e 2010.

No imageamento de 1989 observou-se que a maior área constituída de vegetação densa


está no centro do fragmento. Segundo Rodrigues (1993) e Malcolm (1994), a densidade das plantas em
fragmentos aumenta próximo à borda, no entanto, estudos em fragmentos pequenos em área urbana
encontraram comportamento antagônico (VOLTOLINI, WLUDARSKI e SILVA, 2009). Portanto, o tamanho do
fragmento se apresenta como fator relevante no comportamento da vegetação (Figura 03).
Outro fator que pode justificar a maior densidade da vegetação numa área distante da zona de
contato com a área urbana é o tempo de formação do fragmento, em que a vegetação ainda está se
adaptando às modificações no seu entorno (RODRIGUES, 1998). A análise espaço temporal possibilitou essa
observação.
A ocupação da Zona Sul do Recife onde o manguezal está situado começou a ser intensificada a
partir da década de 1960, com o início da verticalização (CAVALCANTI 2004 apud BARBOSA et al. 2011).
Assim, a ocorrência de grandes aterros, canalização de rios, impermeabilização da superfície, entre outras
formas de descaracterização dos sistemas naturais foram pressionando e fragmentando restingas e
manguezais.
Em 2000, foi possível constatar que houve um aumento da área de vegetação densa e expansão da
mesma em direção à zona de contato com a área urbana, corroborando com a relação do tempo na

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


252

formação do fragmento e a densidade da vegetação, o mesmo comportamento sendo observado na


imagem de 2010 (Figura 03).

Figura 03 – Densidade da vegetação no fragmento nos anos de 1989, 2000 e 2010 no manguezal do
Pina, Recife–PE.

A densidade da vegetação e a forma do fragmento são as premissas de análises desse estudo. Além
destes, a luz na borda de fragmentos florestais, umidade, composição de espécies vegetais, largura da
borda são parâmetros utilizados para investigações do efeito de borda em remanescentes florestais
(RODRIGUES, 1998). No entanto, outros fatores como o aumento da disponibilidade de nutrientes através
de efluentes domésticos e modificações na hidrodinâmica do estuário devem ser considerados ao se
analisar fragmentos de mangue e o efeito de borda no mesmo.
A análise do NDVI na imagem de 1989 possibilitou visualizar que a área composta de vegetação
esparsa, semi densa e densa era predominante em relação à área urbana. Em 2000, observou-se que há
uma diminuição da área ocupada por vegetação, apesar do aumento da vegetação densa. No ano de 2010 é
perceptível a expansão urbana sobre o manguezal, bem como a dominância de vegetação densa.
Os manguezais são sistemas abertos, recebendo, em geral, um importante fluxo de água doce,
sedimento e nutrientes do ambiente terrestre e exportando matéria orgânica para o mar ou águas
estuarinas (VANNUCCI, 2002), havendo, portanto, uma intrínseca relação entre as condições ambientais
desse ecossistema com os sistemas adjacentes, seja natural ou artificial. Ao analisar a estrutura do
manguezal do Pina, Barbosa (2010) observou a dominância do gênero Laguncularia. A maior
representatividade deste gênero em relação aos demais, mesmo com o aumento da densidade da
vegetação, é um indicio de um ambiente alterado (PERIA, 1990).
Além das alterações na constituição da vegetação, constatou-se que a forma do fragmento também
sofreu mudanças. Em 1989, a composição da vegetação esparsa, semi densa e densa tinha o formato
ligeiramente circular. Entre 2000 e 2010 houve uma diminuição da vegetação esparsa e semi densa e o
aumento da vegetação densa e a forma do fragmento passou de ligeiramente circular para ligeiramente
quadrada, como mostra a área destacada em preto (Figura 04).

João Pessoa, outubro de 2011


253

Figura 04 – Forma do fragmento nos anos de 1989 e 2010 no manguezal do Pina, Recife-PE.

O formato circular sofre menor impacto em relação aos fragmentos com contornos quadrados e
retangulares (BARROS; BUENO, 1998). Os fragmentos florestais de formato quadrado, dependendo da área,
podem sofrer o efeito de borda em quase 90% (HERRMANN; RODRIGUES e LIMA, 2005). Assim, o efeito das
alterações no entorno do manguezal do Pina diminuíram a sua capacidade de regeneração e
funcionamento.

4 Conclusões
A utilização do NDVI como ferramenta de análise do efeito de borda num fragmento de mangue no
manguezal do Pina possibilitou a constatação de mudanças tanto na composição da vegetação como na
forma, que passou de ligeiramente redonda à quadrada, revelando aspectos importantes das
transformações na vegetação através da análise espaço temporal.
A análise de outros parâmetros além de densidade da vegetação e formato do fragmento é
necessária para uma maior compreensão do efeito de borda no manguezal do Pina, devido à complexidade
que envolve o fluxo de matéria e energia nesse ecossistema.

5 Referências
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AZEVEDO, E. C.; MANGABEIRA, J. A. de C. Mapeamento de Uso das Terras Utilizando Processamento
Digital de Imagem de Sensoriamento Remoto. Comunicado Técnico 7 do Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento. Campinas-SP. ISSN 1415-2118. Dezembro, 2001.
BARBOSA et al. Análise espaço-temporal por fotointerpretação do uso e ocupação do solo de um
trecho do setor leste do Parque dos Manguezais, Boa Viagem, Recife-PE, Brasil. In: Anais XV Simpósio
Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, Curitiba, PR, Brasil, 30 de abril a 05 de maio de 2011, INPE
p.7007. Disponível em: <http://www.dsr.inpe.br/sbsr2011/files/p1607.pdf> Acessado em: 01/07/2011
BARBOSA, F. G. Estrutura e análise espaço temporal da vegetação do manguezal do Pina, Recife-PE
: subsídios para manejo, monitoramento e conservação. Dissertação – Universidade Federal de
Pernambuco. CFCH. Geografia. 89 f.: il., fig., tab. Recife: 2010.
BARROS, N. C. C. Manual de Geografia do Turismo: meio ambiente, cultura e paisagens. Recife:
Editora Universitária da UFPE, 1998.
COELHO, P. A; TORRES, M. F. A. Áreas estuarinas de Pernambuco: Trabalhos Oceanográficos da
Universidade Federal de Pernambuco. Recife, v.17, p. 67-80, 1982.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


254

FEITOSA, F. A. N.; PASSAVANTE, J. Z. de O. Variação sazonal da biomassa primária do fitoplâncton


da bacia do Pina (Recife, Pernambuco, Brasil). Trabalhos Oceanográficos da Universidade Federal de
Pernambuco. Recife: v. 21, p. 33-46, 1990.
HERRMANN B. C., RODRIGUES E., LIMA A. A paisagem como condicionadora de bordas de
fragmentos florestais. Floresta, Curitiba, PR, v.35, n. 1, jan./abr. 2005.
MAC ARTHUR, R. H.; WILSON, E. O. The Theory of Island Biogeography. Princeton University Press,
Princeton. 202 p. 1967.
MALCOLM, J.R. Edge Effects in Central Amazonian Forest Fragments. Ecology. 75 (8): 2438-2445,
1994. Disponível em: http://www.jstor.org/pss/1940897. Acessado em: 20/07/2011.
MURCIA, C. Edge effects in fragmented forest: implications for conservation. Trends Ecology and
Evolution 10:58-62. 1995.
PERIA, L. C. S., FERNANDES, P. P. C. P., MENEZES, G.V., GRASSO, M. & TOGNELLA, M. M. P. Estudos
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estrutura, função e manejo, Águas de Lindóia, São Paulo, Academia de Ciências do Estado de São Paulo, v.
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PREFEITURA DA CIDADE DO RECIFE, PCR. Secretaria de Planejamento, Urbanismo e Meio Ambiente.
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RIZZI, R. Geotecnologias em um sistema de estimativa da produção de soja: estudo de caso no Rio
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SCHAFFER-NOVELLI, Y. Manguezal: ecossistema entre a terra e o mar. Caribbean Ecological
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VANNUCCI, M. Os Manguezais e nós: Uma Síntese de Percepções. Tradução de Denise Navas
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VOLTOLINI J. C.,WLUDARSKI, A., SILVA I. Structure of vegetation on the edge and interior of a small
forest fragment in an urban area. Revista Biociências, Unitau. v. 15, n. 2, p 133-138, 2009.

João Pessoa, outubro de 2011


255

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE FISIOLÓGICA DE SEMENTES DE SABIÁ


(MIMOSA CAESALPINIIFOLIA BENTH.) DE DIFERENTES TAMANHOS E
PROCEDÊNCIAS
Fernando Antonio Melo da COSTA
Graduando do curso de Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
E-mail: nando_ufcg@hotmail.com
Francisco Figueiredo de ALEXANDRIA JUNIOR
Graduado em Agronomia e Pós-graduando em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
Amonikele Gomes LEITE
Graduanda em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)

RESUMO: O sabiá (Mimosa caesalpiniifolia Benth.) ocorre naturalmente em áreas de Caatinga de


vários Estados da região Nordeste, sendo explorada como fonte de madeira, como alternativa energética, e
como forragem. É uma das espécies mais promissoras para a implantação de florestas de uso múltiplo e
recuperação de áreas degradadas. O trabalho foi realizado em casa de vegetação do Departamento de
Fitotecnia do Centro de Ciências Agrárias, da Universidade Federal da Paraíba, em Areia - PB, (Latitude 6°
58’ 12’’ S e Longitude 35° 42’ 15’’ N), no período de dezembro de 2006 a abril de 2007. Os frutos de sabiá
foram coletados de árvores matrizes de quatro procedências (Areia, Arara, Capim de Cheiro e Remígio) do
Estado da Paraíba. Em seguida foram transportados para o Laboratório de Análise de Sementes para
beneficiamento manual. Após o beneficiamento, as sementes de cada localidade foram classificadas pelo
tamanho com a utilização de peneiras de malha de arame de diferentes dimensões (0,00; 2,00; 2,83; 3,36 e
4,00mm). Foram utilizadas sementes retidas nas malhas de quatro peneiras para cada procedência, mais
sementes não classificadas pelo tamanho (peneira de 0,00mm). Após o beneficiamento e classificação das
sementes determinou-se a dimensão das sementes, o teor de água e o teste de emergência das plântulas.
O objetivo foi avaliar a qualidade física e fisiológica de sementes de M. caesalpiniifolia de tamanhos e
procedências distintas. A emergência de plântulas e o Teor de umidade de sabiá não foi influenciada pelas
diferentes procedências e peneiras. Ocorreu intensa variação na performace das sementes de diferentes
tamanhos e procedências, não assegurando a associação entre tamanho e procedência nas sementes dessa
espécie.
Palavras-chaves: Dimensões das sementes, Umidade, emergência de plâtulas

INTRODUÇÃO
O sabiá (Mimosa caesalpiniifolia Benth.) ocorre naturalmente em áreas de Caatinga de vários
Estados da região Nordeste, caracterizando-se por apresentar rápido crescimento, alta capacidade de
regeneração e resistência à seca. A espécie é explorada como fonte de madeira, devido à sua alta
resistência físico-mecânica, como alternativa energética pelo seu alto poder calorífico e como forragem,
pelo seu alto valor nutritivo. Nativa da região Nordeste do Brasil pertence à família Mimosaceae, sendo
conhecida também como sabiá ou sansão-do-campo (RIBEIRO, 1984). A árvore apresenta características
ornamentais, e é também muito utilizado como cerca viva e, por ser pioneira, é ideal para recomposição de
áreas degradadas (LORENZI, 2002). É uma das espécies mais promissoras para a implantação de florestas
de uso múltiplo, devido ao seu rápido crescimento, bom valor protéico e energético, constituindo-se em
uma das principais espécies lenhosas que compõem a vegetação nativa da caatinga. Sendo também
empregada para alimentação animal, apícola, combustível, medicinal e ornamental (MOURA et al., 1998).
A propagação por sementes é o principal método pelo qual as plantas se reproduzem na natureza e
a maneira mais usual de propagação nos cultivos agrícolas (HARTMANN et al., 1990). Para as espécies que
se encontram em estado selvagem na natureza, a reprodução sexuada toma especial importância, pois é
uma maneira de manter a variabilidade genética, mesmo após o início da domesticação do vegetal.
Considera-se ainda que a propagação por sementes é mais fácil e econômica quando comparada à
propagação vegetativa e a micropropagação (PEREIRA et al., 1995).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


256

A quantidade e qualidade de sementes produzidas em pomares e áreas de produção podem ser


influenciadas por fatores genéticos e ambientais. Dentre os fatores ambientais, pode-se citar a influência
climática (temperatura e precipitação), disponibilidade de nutrientes do solo, doenças e presença de
agentes polinizadores. Entre os fatores genéticos estão os mecanismos de auto-incompatibilidade,
florescimento e estresse provocado por doenças (PAULA, 2005).
Devido aos problemas encontrados para a obtenção de sementes, é necessário fazer a seleção de
matrizes no campo, bem como acompanhar seu comportamento quanto à produção e qualidade das
sementes em função das variáveis ambientais. Assim, a marcação de árvores matrizes para a produção de
sementes auxilia a prática de coleta e permite o monitoramento da produção e da qualidade das sementes.
Esta prática é muito importante para o bom rendimento das atividades de produção de mudas e
conhecimento da fenologia das espécies (NAPPO et al., 2006). A avaliação da qualidade fisiológica de lotes
de sementes requer metodologias padronizadas. As Regras para Analise de Sementes (RAS) apresentam
padrões e metodologias definidas para espécies exóticas de alto valor comercial para o Brasil (Pinus,
Acacia, Eucalyptus). Porém, muitas espécies florestais, nativas brasileiras (Araucaria angustifolia),
ornamentais e medicinais da região neotropical não apresentam metodologias padronizadas para análise
da qualidade. (Rodrigues et al., 2006)
Diante do exposto, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a qualidade física e fisiológica de
sementes de M. caesalpiniifolia de tamanhos e procedências distintas.

MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi realizado em casa de vegetação do Departamento de Fitotecnia do Centro de
Ciências Agrárias, da Universidade Federal da Paraíba, em Areia - PB, (Latitude 6° 58’ 12’’ S e Longitude 35°
42’ 15’’ N), no período de dezembro de 2006 a abril de 2007. A região encontra-se numa altitude de 574,62
m, com temperatura média anual entre 23-24 oC e precipitação de 1400 mm.
Os frutos de sabiá (M. caesalpiniifolia) foram coletados diretamente de árvores matrizes de quatro
procedências (Areia, Arara, Capim de Cheiro e Remígio) do Estado da Paraíba. Em seguida foram
transportados para o Laboratório de Análise de Sementes para beneficiamento manual que constou de
batedura em sacos para obtenção das sementes, sendo eliminadas aquelas malformadas. Após o
beneficiamento, as sementes de cada localidade foram classificadas pelo tamanho com a utilização de
peneiras de malha de arame de diferentes dimensões (0,00; 2,00; 2,83; 3,36 e 4,00mm). Foram utilizadas
sementes retidas nas malhas de quatro peneiras para cada procedência, mais sementes não classificadas
pelo tamanho (peneira de 0,00mm).
Após o beneficiamento e classificação das sementes, determinou-se as características descritas a
seguir, como forma de avaliar o efeito dos tratamentos:

Dimensões das sementes


De cada uma das procedências e peneiras, uma amostra de 100 sementes foi retirada
aleatoriamente e medida com o auxílio de um paquímetro digital, sendo efetuada as determinações de
comprimento, largura e espessura e os resultados foram expressos em milímetros.

Teor de água
A umidade foi determinada pelo método da estufa a 105 ± 3oC por 24 horas em quatro repetições
de 25 sementes por procedência e peneira. Os resultados de porcentagem de umidade foram expressos em
base úmida. (BRASIL, 1992).

Teste de emergência de plântulas


As sementes das diferentes procedências e peneiras foram semeadas a uma profundidade de dois
centímetros, em bandejas plásticas de dimensões 40 × 25 × 8 cm, contendo areia esterilizada em autoclave
e umedecida com quantidade de água equivalente a 60% da capacidade de retenção. Foram utilizadas
quatro repetições de 25 sementes, cujas contagens iniciaram-se aos dois e se estenderam até os 16 dias
após a semeadura (MARTINS et al., 1992). O critério adotado foi emergência dos cotilédones acima do nível
do substrato.

João Pessoa, outubro de 2011


257

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dimensões das sementes
Analisando-se a Tabela 1, verificou-se que não houve interação significativa entre as peneiras e
procedências para o comprimento das sementes, havendo apenas efeito isolado das peneiras e
procedências sobre essa característica.

Tabela 1: Resumo da análise de variância das dimensões das sementes em função de


diferentes tamahos e procedências
Fonte de G Quadrados médios
Variação L Comprimento Largura Espessura
Procedências 3 0,1624** 0,1182** 0,0096**
(Pr)
Peneiras (Pn) 4 1,6262** 7,4703** 0,0351**
Interação Pr x 1 0,0414NS 0,0886** 0,0116**
Pn 2
CV (%) 2,84 3,08 2,19

**, * significativo a 1 e 5%, respectivamente; NS não significativo

Analisando-se os dados da Tabela 2, verificou-se maior comprimento nas sementes retidas na


peneira de malha 4,00 mm e menor naquelas de malha 2,00mm, as quais não diferiram das sementes não
classificadas pelo tamanho. Quanto às procedências, as sementes de Arara apresentaram menor
comprimento em relação às de Capim de Cheiro. Comportamento semelhante também foi observado por
Ferreira e Torres (2000), em sementes de Acacia Senegal (L.). Embora os resultados não tenham
demonstrado interação entre peneiras e procedências para comprimento das sementes, ainda observa-se
pequenas diferenças fenotípicas podendo estar relacionadas com os aspectos de nutrição do solo e
pluviometria.

Tabela 2: Comprimento de sementes de M. caesalpiniifolia em função de diferentes


procedências e peneiras.

Procedências Comprimento (mm)


Areia 6,16 ab
Arara 6,06 b
Capim de Cheiro 6,28 a
Remígio 6,14 ab
Peneiras (mm)
0,00 6,09 c
2,00 5,79 d
2,83 5,99 c
3,36 6,31 b
4,00 6,62 a

Médias seguidas de mesma letra minúscula não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de
Tukey a 5%.
Quanto à largura, o maior valor foi registrado nas sementes retidas na peneira de 4,00mm para
todas as procedências. As sementes da peneira de 2,00mm apresentaram menor largura em todas as
procedências (Tabela 3). Biruel (2001) enfatizou a importância de se classificar as sementes através de suas
dimensões, uma vez que em Caesalpinia ferrea Mart. ex. Tul. var. leiostachya Benth. aquelas de maior
largura tiveram melhor comportamento germinativo.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


258

Tabela 3: Largura de sementes de M. caesalpiniifolia em função de diferentes


procedências e peneiras. Procedências
Peneiras (mm)
Areia Arara Capim de Cheiro Remígio
0,00 5,30 bA 4,96 cB 5,08 bAB 5,06 bAB
2,00 4,11 dA 4,22 dA 4,02 dA 4,15 dA
2,83 4,77 cA 4,72 cA 4,65 cA 4,67 cA
3,36 5,31 bA 5,42 bA 4,80 bcB 5,35 bA
4,00 5,91 aA 5,91 aA 6,01 aA 6,09 aA
Dms coluna 0,31
Dms linha 0,29

Médias seguidas de mesma letra minúscula na coluna e maiúscula na linha, não diferem
estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey a 5%.
Em relação à espessura (Tabela 4), verificou-se que entre as sementes oriundas de Areia, com
exceção da peneira 0,00mm as demais apresentaram maior valor e não diferiram estatisticamente entre si.
Entre as sementes retidas nas peneiras 3,36 e 4,00mm não houve diferenças quanto a espessura entre
todas as procedências. Observou-se também que as sementes de Capim de Cheiro, da peneira 2,00mm
foram as de menor espessura quando comparadas com aquelas das demais procedências. Tais resultados
assemelham-se aos de Andrade et al. (1996) quando observaram diferenças no comprimento, largura e
espessura de sementes de Euterpe edulis. No entanto, Ferreira e Torres (2000) não verificaram diferenças
na espessura das sementes de Acacia senegal, de diferentes tamanhos.
A biometria das sementes, aliada as observações das plântulas, permite fazer a
identificação das estruturas, de forma a oferecer subsídios à interpretação correta dos testes de
germinação (ARAÚJO e MATTOS, 1991), sendo também utilizada para diferenciar espécies pioneiras e não
pioneiras em florestas tropicais (BASKIN e BASKIN, 1998).

Tabela 4: Espessura de sementes de M. caesalpiniifolia em função de diferentes


procedências e peneirasProcedências
.
Peneiras (mm)
Areia Arara Capim de Cheiro Remígio
0,00 1,61 bA 1,62 abA 1,67 aA 1,63 abA
2,00 1,67 abA 1,57 bB 1,43 bC 1,59 bB
2,83 1,70 aA 1,68 aA 1,72 aA 1,60 abB
3,36 1,70 aA 1,65 aA 1,69 aA 1,67 aA
4,00 1,70 aA 1,67 aA 1,67 aA 1,64 abA
Dms coluna 0,72
Dms linha 0,67

Médias seguidas de mesma letra minúscula na coluna e maiúscula na linha, não diferem
estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey a 5%.

Teor de água das sementes


Para o teor de água das sementes verificou-se efeito significativo dos fatores isolados (procedências
e peneiras), bem como para a interação entre os mesmos (Tabela 5).

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Tabela 5: Resumo da análise de variância da umidade, emergência e da primeira


contagem
Quadrados médios
Fonte de Variação GL
Umidade Emergência
Procedências (Pr) 3 8,8229** 21,7792NS
Peneiras (Pn) 4 8,1473** 153,1437**
Interação Pr x Pn 12 1,6815** 51,4771**
CV (%) 7,02 3,88

**, * significativo a 1 e 5%, respectivamente; NS não significativo


Os maiores teores de umidade ocorreram com as sementes retidas nas peneiras 3,36 e 4,00 mm
provenientes de Areia, Arara e Remígio. As sementes provenientes Areia, da peneira 2,00 e 2,83mm
apresentaram menor teor de umidade em relação as demais procedências (Tabela 6). Resultados
semelhantes foram obtidos por Ferreira e Torres (2000) ao observarem que as sementes maiores de Acacia
senegal apresentaram maior teor de água em relação às sementes menores. Os autores acrescentaram
ainda que isto pode ter sido causado pela remoção de substâncias voláteis juntamente com a água,
resultando, assim, em variações no peso da amostra. Fato similar pode ter ocorrido com as sementes
utilizadas no presente estudo.
O teor de umidade dos lotes de sementes em estudo variou entre 4 e 8%, o que proporcionou uma
boa qualidade fisiológica das sementes em análise. Sementes que apresentam umidade naturalmente
baixa, de acordo com Carvalho e Nakagawa (2000), são de caráter ortodoxo e, quando submetidas a baixas
temperaturas, conservam o poder germinativo durante longos períodos.

Tabela 6: Teor de umidade (%) de sementes de M. caesalpiniifolia em função de


diferentes procedências e peneiras.

Procedências
Peneiras (mm)
Areia Arara Capim de Cheiro Remígio
0,00 6,05 bB 7,23 abA 6,05 aB 6,95 bA
2,00 4,40 cC 6,82 bA 5,62 aB 6,28 bAB
2,83 4,36 cC 7,19 abA 5,81 aB 6,82 bA
3,36 7,50 aA 7,53 abA 6,41 aB 7,02 bAB
4,00 7,77 aA 7,84 aA 6,38 aB 7,96 aA
Dms coluna 0,92
Dms linha 0,87

Médias seguidas de mesma letra minúscula na coluna e maiúscula na linha, não diferem
estatisticamente entre
Emergência desi, pelo teste de Tukey a 5%.
plântulas
Com relação à emergência de plântulas, também se constatou efeito significativo das procedências
e peneiras isoladamente, assim como da interação entre estes (Tabela 5). Analisando-se os dados da Tabela
7, verificou-se que não houve diferença significativa entre as sementes das diferentes peneiras e
procedências. Entre as procedências, os menores valores foram encontrados com as sementes
provenientes de Remígio, peneira 2,00mm e Capim de Cheiro, peneiras 2,00 e 3,36mm. Observou-se
também, que entre as sementes de Areia e Arara não houve diferença com relação à emergência entre as
diferentes peneiras. Ferreira e Torres (2000) também observaram que a germinação de sementes de Acacia
senegal não foi afetada pelo tamanho das sementes. No entanto, Castro e Dutra (1997) observaram que as
sementes de Leucaena leucocephala (Lam.) de Wit de maior tamanho (retidas na peneira com diâmetro de
5,51 mm) apresentaram maior porcentagem de germinação. Martins et al. (2000) verificaram que

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


260

sementes de Euterpe edulis pesando 0,78g, separadas na peneira 26, apresentaram pior desempenho que
aquelas com peso igual ou superior a 0,97g.

Tabela 7: procedência de plântulas (%) de sementes de M. caesalpiniifolia em função


de diferentes procedências e peneiras.

Procedências
Peneiras (mm)
Areia Arara Capim de Cheiro Remígio
0,00 94 aA 97 aA 99 aA 96 aA
2,00 90 aA 93 aA 91 bA 79 bA
2,83 92 aA 91 aA 94 abA 97 aA
3,36 92 aA 91 aA 92 bA 92 aA
4,00 93 aA 93 aA 95 abA 96 aA
Dms coluna 7,17
Dms linha 6,74

Médias seguidas de mesma letra minúscula na coluna e maiúscula na linha, não diferem
estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey a 5%.
CONCLUSÕES
A emergência de plântulas e o Teor de umidade de M. caesalpiniifolia não foi influenciada
pelas diferentes procedências e peneiras.
Há intensa variação na performace das sementes de diferentes tamanhos e procedências,
não assegurando a associação entre tamanho e procedência nas sementes dessa espécie.

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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


262

COLETA, BENEFICIAMENTO E GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE SEIS


ESPÉCIES ARBÓREAS NATIVAS DA CAATINGA PARAIBANA
ARAÚJO, Fernando dos Santos.
(UFPB) – nandosantos005@hotmail.com
SILVA, Givanildo Zildo.
(UFPB) - givanildozildo@hotmail.com
BEZERRA, Amanda Kelly Dias.
(UFPB) – Amanda_kely_@hotmail.com
Graduandos em Agronomia - Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências Agrárias, Departamento de Fitotecnia e
Ciências Ambientais, Campus II, Areia, PB.

RESUMO
A caatinga é um bioma que vem sofrendo com a degradação ambiental, tornando-se urgente à
busca de meios para minimizá-la. O reflorestamento vem sendo a principal forma de recuperação, mas o
pouco conhecimento sobre a propagação das espécies aliado a falta de sementes em quantidade e
qualidade ainda são maiores dificuldades encontradas quando se pretende produzir mudas em grande
quantidade e de alta qualidade. Diante do exposto este trabalho teve como objetivo oferecer informações
gerais sobre a coleta, beneficiamento e germinação de sementes de seis espécies arbóreas nativas da
caatinga. A pesquisa de campo foi feita no município de Soledade-PB e as determinações e testes realizados
no laboratório de análise de sementes UFPB/CCA em Areia-PB. As variáveis avaliadas foram: época de
colheita, métodos de beneficiamento de frutos e sementes, peso de mil sementes, quantidade de
sementes por quilograma, germinação, inicio e final de germinação, critério e tipo de germinação. A época
de coleta de sementes variou de acordo com a espécie, distribuindo-se ao longo do segundo semestre do
ano e início do ano seguinte. A secagem complementar, seguida da remoção de partes do fruto aderidas a
semente, separação de impurezas e de sementes danificadas e infestadas podem melhorar a qualidade
final dos lotes de sementes. As sementes de aroeira, angico, mofumbo, catingueira e cumaru não
apresentam dormência, germinando sem nenhum tratamento pré-germinativo, no entanto, sementes de
baraúna precisão de tratamento para acelerar a germinação.
Palavras-chave: sementes florestais, semiárido, germinação, beneficiamento

1 – INTRODUÇÃO
A Caatinga é um bioma exclusivamente brasileiro que recobre cerca de 10% do território nacional
(CASTRO et al., 2006). Vem sofrendo forte pressão antrópica o que gera sua fragmentação e a redução dos
habitas naturais. A vegetação do Bioma Caatinga encontra-se em processo de degradação devido a
desmatamentos e queimadas, práticas comuns de preparo do solo empregadas no processo de substituição
da mata nativa por pastagens e cultivos, o que prejudica a manutenção de populações da fauna silvestre, a
qualidade da água, o equilíbrio do clima e do solo (ANDRADE-LIMA, 1981). A utilização dos recursos da
caatinga ainda se fundamenta em princípios puramente extrativistas, sem a perspectiva de um manejo
sustentável, observando-se perdas irrecuperáveis na diversidade florística e faunística (DRUMOND et al.,
2000). Nesse sentido, é necessário o apoio ao desenvolvimento de ações de pesquisa, ensino e extensão
que promovam a conscientização das comunidades rurais em relação à preservação de espécies ameaçadas
de extinção.
A transferência de tecnologias visando a exploração racional de plantas da caatinga é uma forma de
mudar o comportamento do homem em relação à natureza, e para construir juntamente com ela um
pensamento voltado para um modelo de desenvolvimento sustentável. Sendo assim a conscientização nas
escolas e no campo, classes diretamente envolvidas com o bioma caatinga, podem contribuir com a
conservação das poucas áreas preservadas ainda existentes (ABÍLIO et al. 2010).

Orientador: BRUNO, Riselane de Lucena Alcântara – Orientador – Profª Drª Adjunto do Depto. de Fitotecnia
do CCA/UFPB, Cx. Postal 02, 58397-000, Areia-PB; e-mail: lane@cca.ufpb.br

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Nos últimos anos tem-se intensificado os estudos a cerca da propagação de espécies arbóreas da
caatinga, visto a sua preservação e utilização para os mais diversos fins. No entanto, são poucas as
informações que viabilizem a implantação de viveiros para produção de mudas, principalmente pela falta
de sementes em quantidade e qualidade. Por isso existe a necessidade de estudos que determinem fatores
importantes relacionados à produção de sementes, como a época mais adequada para coletar frutos no
campo, a fim de obter as sementes de melhor qualidade, de forma a permitir que possivelmente
apresentem uma elevada emergência e desenvolvimento rápido para produção de mudas. Durante as
etapas de colheita e beneficiamento, ocorrem os maiores riscos das sementes sofrerem danos, perdendo a
sua viabilidade. Por conseguinte, é necessário planejar tecnicamente essas etapas para obter sementes de
boa qualidade e em quantidade suficiente (NOGUEIRA et al. 2007).
Diante do exposto este trabalho teve como objetivo oferecer informações gerais sobre a coleta,
beneficiamento e germinação de sementes de seis espécies arbóreas nativas da caatinga.

2 - MATERIAL E MÉTODOS
O estudo de campo foi conduzido no município de Soledade-PB, na microrregião do
Curimataú Ocidental, no Agreste Paraibano. A área tem relevo predominantemente suave ondulado, com
altitude em torno de 535 m em relação ao nível do mar e clima semiárido. As determinações e testes após
o levantamento de informações e coleta de material no campo foram realizados no laboratório de analise
de sementes UFPB/CCA em Areia-PB. Selecionaram-se seis espécies arbóreas (Tab. 1) para os estudos,
levando em consideração sua importância econômica e ambiental. TABELA 1. Nome científico, família e
nome vulgar de seis espécies arbóreas ocorrentes em uma área da caatinga paraibana no município de
Soledade – PB.
Nome científico Família Nome vulgar
Schinopsis brasiliensis Engl. Anacardiaceae Baraúna
Caesalpinia pyramidalis Tul. Fabaceae Catingueira
Combretum leprosum Mart. Combretaceae Mofumbo
Amburana cearensis (Allemão) A.C. Smith Anacardiaceae Cumaru
Myracrodruon urundeuva Fr. All. Anacardiaceae Aroeira
Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan Fabaceae Angico

2.1 – Época de colheita e métodos de beneficiamento de fruto e sementes:


A avaliação da época de colheita das sementes foi realizada através de monitoramento das
espécies na área durante dois anos (2009 e 2010), o método de colheita e beneficiamento foi escolhido
com base em estudos preliminares de observação no campo e laboratório.
2.2 – Peso de mil sementes:
Para a determinação do peso de mil sementes foram pesadas em balança analítica oito
repetições de 100 sementes de cada uma das espécies e calculado conforme Brasil (2009).
2.3 - Número de sementes por quilograma:
Foi obtido pesando-se oito repetições de 100 sementes de cada espécie, e estimado
segundo Oliveira (2007).
2.4 - Germinação:
Foi conduzida em casa de cultivo protegido, utilizando-se quatro repetições de 25 sementes
para cada espécie, semeadas em bandejas plásticas contendo areia lavada e esterilizada como substrato.
Foram consideradas como germinadas apenas as plântulas normais conforme Brasil (2009), contabilizadas
após a estabilização da germinação.
2.5 – Inicio e final de germinação:
Após a semeadura foram realizadas observações diárias para contabilizar o número de dias
gasto para que as primeiras plântulas emergissem na superfície do substrato, tomando-se como inicio da

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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germinação. As observações continuaram até que a emergência das plântulas se estabilizasse, então foi
contabilizado o número total de dias gasto para a germinação total das sementes.
2.6 – Critério e tipo de germinação:
O critério de germinação adotado foi realizado com base nas recomendações de Feliciano
(1989), e o tipo de germinação conforme Duke e Polhill (1981).

3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO
A época de coleta de sementes variou de acordo com a espécie, distribuindo-se ao longo de
todo o ano. As espécies estudadas começam a florescer no inicio e ao longo da estação chuvosa, nos meses
de abril a maio, exceto o angico que floresce na estação seca, estando os frutos aptos a serem colhidos no
segundo semestre do ano e inicio do ano seguinte (Tabela. 2). Os eventos fenológicos da grande maioria
das espécies da caatinga estão correlacionados com os eventos climáticos, destacando-se os pulsos de
precipitação. Normalmente a brotação ocorre após as primeiras chuvas, a floração e a frutificação ocorrem
durante o período chuvoso e a queda acentuada de folhas acontece no início do período seco (PARENTE,
2009). Portanto o atraso ou a antecipação das chuvas determina quando os frutos estarão aptos a serem
coletados para as diferentes espécies. A catingueira floresce continuamente por vários meses, dependendo
das condições climáticas, o que permite muitas colheitas, enquanto que sementes de cumaru e aroeira
estão disponíveis em apenas uma época do ano por um período curto de aproximadamente 30 dias.
Frutos que são dispersos pelo vento ou apresentam deiscência natural como os de baraúna,
mofumbo, aroeira e cumaru precisam ser coletados quando ainda estão ligados à árvore, antes da
dispersão natural (Tabela. 2). A dispersão do tipo autocoria é uma característica das sementes de
catingueira em que, os frutos ao atingirem a maturidade fisiológica, se abrem e lançam as sementes a
longas distâncias (MAIA, 2004) que também precisam ser coletadas quando ainda ligadas à planta mãe.
Segundo Lima, (2010) a colheita de sementes de catingueira deve ser realizada quando os frutos
apresentarem-se com a coloração marrom clara. Lopes, 2010 recomenda a colheita dos frutos de cumaru
ainda na planta, quando apresentarem coloração marrom escuro e ápice enrugado, pois, após esse
período, às sementes sofrem rápida dispersão. Silva (2010), trabalhando com a qualidade de diásporos de
baraúna, obteve germinação superior a 50 % ao coletar frutos ainda ligados a planta mãe com a coloração
marrom clara. O inicio da dispersão natural e a coloração marrom escuro dos frutos de angico são bons
indicativos para a colheita (NOGUEIRA et al. 2007).
Tabela 2. Época de coleta e método de colheita de sementes de sete espécies arbóreas em uma
área da caatinga paraibana no município de Soledade-PB.
Espécie Época de coleta Método de colheita
Baraúna Novembro a fevereiro Na árvore quando começarem a queda espontânea
Na árvore quando os frutos apresentarem coloração
Catingueira Julho a agosto marrom-esverdeada, antes que ocorra a dispersão
natural
Na árvore quando os frutos apresentarem coloração
Mofumbo Setembro a outubro
palha
Na árvore quando as vagens começarem a abertura
Cumaru Outubro a novembro
natural, apresentando coloração marrom escuro
Aroeira Novembro a dezembro Na árvore quando começarem a queda espontânea
Angico Janeiro a março Na árvore no inicio da deiscência natural

Para beneficiamento é necessário submeter os frutos coletados a uma secagem


complementar, que pode ser realizada à sombra ou ao sol para facilitar a deiscência das sementes ou ainda
serem abertos manualmente logo após a coleta. A secagem natural é muito usada para espécies florestais
(NOGUEIRA et al. 2007) onde os frutos ou sementes são colocados ao sol, espalhados em camadas pouco
espessas e protegidos da umidade excessiva durante a noite. Os frutos que possuem sementes muito
pequenas ou aladas, como baraúna, aroeira, cumaru e mofumbo, recomendam-se protegê-los com tela,
para que as sementes não sejam carregadas pelo vento. No caso de frutos que apresentam autocoria, ou
seja, aquelas que apresentam dispersão por mecanismos da própria planta, como catingueira, também é

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importante utilizar uma tela, a fim de evitar que os frutos, ao se abrirem, arremessem as sementes a certa
distância.
Frutos do tipo seco indeiscente não se separam naturalmente das sementes, visto a essa
característica, as sementes precisam ser removidas manualmente com bastante cuidado para não serem
danificadas. Os frutos de mofumbo devem ser abertos manualmente, em baraúna se faz a remoção da ala e
de parte do mesocarpo dos frutos, utilizando-se como semente o endocarpo contendo a semente em seu
interior. Nos frutos de aroeira se faz apenas a remoção dos cálices persistentes, considerado-os como
unidade-semente ou diásporos (Tabela. 3).
Remover a ala e demais partes do fruto aderido à semente facilita a semeadura no viveiro e
reduz o volume para o armazenamento (NOGUEIRA et al. 2007). A eliminação de sementes chochas, mal
formadas e danificadas por fungos e insetos também deve ser realizada para obtenção de lotes de
sementes com melhor qualidade e homogeneidade. Muitas vezes o beneficiamento é dispendioso, fazendo
com que muitos viveirista realizem a semeadura dos próprios frutos, como em mofumbo e sabiá, no
entanto, a germinação é baixa (MAIA, 2004).
O peso de mil sementes variou entre as espécies, sendo as sementes de baraúna, mofumbo
e cumaru as mais pesadas enquanto que o número de sementes por quilograma foi maior nas sementes de
aroeira, catingueira e angico (Tabela. 3). Observa-se que ocorreu uma relação inversa entre essas duas
variáveis, pois quanto menor o peso de mil sementes maior o número de sementes por quilograma. A
variável número de sementes por quilograma encerra uma importante informação prática para os
produtores de mudas, porque fornece o conhecimento do peso de sementes que é necessário ser colhido
ou adquirido pelo viveirista para planejar a produção (FIGLIOLIA et al., 1993).
Tabela 3. Método de beneficiamento, quantidade de sementes por quilograma e peso de mil
sementes de seis espécies arbóreas ocorrentes em uma área da caatinga paraibana no município de
Soledade-PB.
Peso
de
Sementes/kg mil
Espécie Método de beneficiamento
(Qtde.) seme
ntes
(g)
Baraúna Remoção da ala, pericarpo e mesocarpo 6243 86,5
Catingueira Secagem ao sol seguida de abertura manual 11668 85,7
Mofumbo Abertura manual das sâmaras 11198 89,3
Cumaru Secagem, abertura manual e remoção da ala 8264 121,0
Aroeira Remoção dos cálices (alas) e de impurezas 56000 17,8
Angico Secagem ao sol seguida de abertura manual 15625 64,0
As sementes de aroeira, angico, mofumbo, catingueira e cumaru não apresentam
dormência, germinando sem nenhum tratamento pré-germinativo. Resultados semelhantes foram
encontrados por Duarte (1968) em estudo aplicando técnicas de escarificação mecânica e química em
sementes de cumaru, aroeira e angico, onde constatou que os valores de germinação das testemunhas foi
superiores aos tratamentos aplicados. Solto 1996 também conseguiu cerca de 80% de germinação em
sementes de angico e catingueira sem nenhum tratamento.
Sementes de Baraúna recém coletadas e semeadas sem nenhum tratamento atingiram
apenas 12 % de germinação. Segundo Santos (2010) sementes de baraúna apresentam dormência do tipo
física, onde o tegumento não permite a absorção de água pela semente, recomendando a escarificação
mecânica dos diásporos na região oposta a micrópila como método para superar a dormência. Outras
espécies arbóreas da catinga também apresentam tal fenômeno como em Caesalpinia ferrea Mart ex Tul
(COELHO et al. 2010) e Cassia grandis L.f. (MELO e RODOLFO JUNIOR, 2006). Este tipo de dormência pode
ser facilmente superada quando as sementes são submetidas a escarificação mecânica ou química (H2SO4)
e ainda imersão em água quente.
Na tabela 4 observa-se que a germinação das sementes de angico, catingueira e aroeira,
tiveram inicio entre o segundo e o quarto dia após a semeadura e atingiram a porcentagem final de

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


266

germinação de 5 a 8 dias após a semeadura, sem necessidade de tratamento para acelerar a germinação,
enquadrando-se no critério de germinação imediata proposta por Feliciano (1989), no entanto quando as
sementes demoram tempo superior a duas semanas para atingir a porcentagem final de germinação
podem ser classificadas como lentas (FELICIANO, 1989), enquadrando-se neste critério as sementes de
baraúna, cumaru e mofumbo as quais apresentaram germinação bastante desuniforme iniciando-se a
partir do oitavo e nono dia e prolongando-se até mais de duas semanas após a semeadura.
De acordo com o conceito de Duke & Polhill (1981), a germinação de mofumbo é do tipo
hipógea, caracterizada por não haver o alongamento do hipocótilo e os cotilédones se mantém no interior
do tegumento, sob o substrato durante a germinação e ainda, segundo o mesmo autor, a germinação de
catingueira, baraúna, angico e aroeira podem ser classificadas como epígea fanerocotiledonar, na qual o
hipocótilo alonga-se e curva-se para cima, levando os cotilédones para fora do solo, que se expandem em
órgãos fotossintéticos. Apenas as sementes de cumaru apresentaram germinação semi-hipógea,
concordando também com a classificação proposta por Cunha e Ferreira (2003) e Miquel (1987).
TABELA 4. Características da germinação de sementes de sete espécies arbóreas em uma área da
caatinga paraibana no município de Soledade-PB.
Características da germinação
Espécie
Critério Tipo Início (dias) Final (dias) G

Baraúna Lenta Epígea 9 29 1


%
2
Catingueira Imediata Epígea 3 8 9
0
Mofumbo Lenta Hipógea 8 26 7
8
Cumaru Lenta Semi-hipógea 9 27 8
5
Aroeira Imediata Epígea 4 8 7
0
Angico Imediata Epígea 2 5 6
0
4- CONCLUSÃO
A época de coleta de sementes variou de acordo com a espécie, distribuindo-se ao longo de todo o
ano, onde o atraso ou a antecipação das chuvas determina quando os frutos estarão aptos a serem
coletados para as diferentes espécies.
A secagem complementar, seguida da remoção de partes do fruto aderidas a semente, separação
de impurezas e sementes danificadas e infestadas podem melhorar a qualidade final dos lotes de
sementes.
O peso de mil sementes variou entre as espécies, sendo as sementes de baraúna, mofumbo e
cumaru as mais pesadas enquanto que o número de sementes por quilograma foi maior nas sementes de
aroeira, catingueira e angico.
As sementes de aroeira, angico, mofumbo, catingueira e cumaru não apresentam dormência,
germinando sem nenhum tratamento pré-germinativo, no entanto, sementes de baraúna precisão de
tratamento para acelerar a germinação.

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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


268

UM ESTUDO ECONÔMICO E FITOGEOGRÁFICO DA CAATINGA DO


NORDESTE BRASILEIRO

Genigláucio Gusmão
Graduando do Curso de Licenciatura Plena em Geografia- UEPB
glauciogusmao@yahoo.com.br
Andréa Ferreira Leite
Graduada em Administração de empresas-UFCG
andrealeiteh@hotmail.com
Joana Dar’c Araújo Ferreira
Profª: Doutora do curso de licenciatura plena em Geografia DG UEPB
joanadarcarcn@yahoo.com.br

RESUMO
O presente artigo tem como objetivo, mostrar a importância dos inúmeros aspectos no qual a
caatinga se apresenta, tendo como foco principal suas características físicas, morfológica, estruturais,
históricas, social e, sobretudo econômica, elevando-a dentro da condição de bioma, a uma mata
genuinamente brasileira. Muito embora sua capacidade de renovação e resistência ainda seja muito
grande, a caatinga vem sendo explorada dentro das mais diversas forma, uso exacerbado de sua flora,
áreas em total desmatamento, sobretudo para cultivo da agropecuária, causando em muito dos casos
estados de desertificação, fazendo com que seu estado de conservação venha sendo ameaçado
constantemente. Diante desses fatos corriqueiros, o artigo tem o objetivo de transparecer dentro da
realidade existente e de forma simples, as verdadeiras condições com que nos dias de hoje se apresenta e
sobrevive nossa caatinga.
Palavras-chave: Renovação, Desmatamento, Realidade.

1. INTRODUÇÃO
Como todos os biomas existentes por toda esfera terrestre, a caatinga que compõe todo Nordeste
brasileiro até o norte de Minas Gerais, não se coloca na posição diferente ou antagônica dos inúmeros
fatores negativos nela atribuidos, sejam esses fatores de ordem naturais, ou antrópicas. Hoje sua
existência ainda tão importante na vida de tantos seres, nos leva constantemente a refletir se não a
lamentar, o porquê, de tanto descaso na manutenção e conservação desse bioma tão exuberante, e de
tantas facetas.
Atualmente, cerca de apenas 2% de seu território está em unidade de conservação, o que nos leva
em conjunto com as unidades de estudos e os órgãos competentes, a buscar não só na forma de mostrar à
sua importância, nos seus vários aspectos, entre estes físicos, morfológicos, estruturais, característicos,
sociais econômicos etc. Como também a de procurar de forma ampla, exercer no mínimo, não só na
condição de cidadão, de integrante vivenciador dessa flora, buscar respostas, assim como, o caminho que
nos conduza e que nos leve à sua preservação, continuidade, e à sua existência.

2. OBJETIVO
Não só de forma descritiva, mas, sobretudo conceitual, mostrar a Caatinga dentro de suas
respectivas características: físicas, morfológicas, sociais, econômicas, como também sua predominância
regional, a verdadeira importância desses fatores, os quais são determinantes e conclusivos na busca de
uma possível conscientização como elemento crucial, para o despertar e o compromisso social da mesma,
conduzindo o individuo à permanência e conservação da mais brasileira das matas. Sendo a Caatinga, um
dos elementos da mais alta importância nos inúmeros aspectos existentes, entre estes: econômico,
estrutural, morfológico, sobretudo ecológico, como também a única grande região natural brasileira cujos
limites estão inteiramente restrito ao território nacional, o referente artigo coloca-se na eminente
preocupação e na busca não só da conservação como também de sua própria existência.

João Pessoa, outubro de 2011


269

3. METODOLOGIA
O presente artigo teve como principal busca de conhecimento, dentre as inúmeras formas
existentes no âmbito das ciências humanas, sobretudo da geografia, mostrar os principais parâmetros
positivos e negativos, entre os quais o literário, poético, e o descritivo a forma mais coerente e
hegemônica, de classificar, descrever e relatar, amplamente, os cotidianos e facetas a que são colocadas
todas as formas de subexistência da nossa fauna Caatinga. Utilizando-se como método científico a
abordagem teórica, descritiva e bibliográfica.

4. CARACTERÍSTICAS GERAIS
O termo caatinga é formado de duas palavras de origem tupi: Kaa (prefixo que quer dizer, floresta,
mata) e tinga (um sufixo que significa branco, claro). Esse termo designa um tipo de vegetação
arborescente, xerófila, e caducifólia que recobre as terras semi-áridas do Nordeste brasileiro
A caatinga foi mencionada pela primeira vez por Gabriel Soares de Souza, em 1587, em sua obra
Tratado Descritivo do Brasil. No entanto, sua primeira definição científica deve-se ao naturalista alemão
Carl Friedrich Philip Von Martius (1840): sylva aestu aphylla. Essa definição destaca os principais traços da
caatinga: vegetação arborescente, portanto lenhosa (sylva) com perda total das folhas (aphylla) durante a
estação seca (aestu) Martius percorreu o Brasil entre 1817 e 1820, deixando uma das principais obras de
referência sobre a vegetação brasileira intitulada flora brasiliensis.
A Caatinga é uma área coberta por vegetal verdadeiramente brasileira, isto é, própria da região,
sendo que não são encontradas em nenhuma parte do mundo. Originalmente, essa vegetação cobria uma
área equivalente a 11% do território nacional, isto é, cerca de 734.478 km², sendo encontrada nos Estados
do Piauí, Maranhão, Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Paraíba, Sergipe e no
Norte de Minas Gerais. Na caatinga estimasse a existência de 2.000 a 3.000 espécies de vegetais.
A caatinga é uma formação vegetal arbórea e arbustiva em que quase todas as espécies perdem as
folhas como meio de resistir à estação seca. Ela se apresenta mais ou menos rica em cactáceas,
bromeliáceas e outras espécies espinhentas e plantas herbáceas anuais. Em razão da semi-aridez climática,
a quantidade de espécies é relativamente pouco numerosa, mas mesmo assim, seus aspectos fisionômicos
variam muito a tal ponto que seria melhor dizer caatingas, pois se trata de tipos de vegetação que só têm
em comum a proporção maior ou menor de cactáceas e quedas de folhas.
Essas diferenças fisionômicas se devem, não apenas às variações climáticas regionais e locais e à
composição florística, mas também a certos fatores como: topografia, tipos de solo e impactos das
atividades humanas. O homem é responsável por modificações estruturais, florísticas e ecológicas que dão
origem, por vezes, a núcleos de degradação e desertificação.
Apesar da degradação que as caatingas apresentam, ainda podem ser diferenciados tipos que
variam da formação mais ou menos densa e arborescente, até as formações com aspecto de estepes. A
riqueza maior ou menor em cactáceas e bromeliáceas terrestres introduz modificações gerais nos quadros
morfológicos e fisionômicos.
No caso do território paraibano Por exemplo, as cactáceas são muito abundantes no cariri (550
metros de altitude) entre Soledade, São João do Cariri e Juazeirinho, e de menor ocorrência na depressão
de patos (250 metros de altitude)
O mesmo ocorre com as bromeliáceas terrestres, o coroá e a macambira-de-chão, que tem sua
ocorrência limitada ao cariri e ao curimataú.

5. CLASSIFICAÇÃO
De maneira geral as caatingas, podem ser agrupadas em quatro tipos principais:
1º Caatingas arbóreas, mais ou menos densas com ou sem cactáceas, se situam nas
serras e outras elevações e apresentam, normalmente, um estrato arborescente com cerca de 7 a 8
metros, podendo excepcionalmente, quando preservadas , atingir 15 metros. Elas podem apresentar ou
não, localmente, uma certa quantidade de grandes cactáceas (mandacaru ou facheiro). O estrato arbustivo
é variado, com 2 a 3 metros, mais ou menos denso, algumas cactáceas de pequeno porte e um tapete
herbáceo anual mais ou menos desenvolvido de acordo com as condições pluviométricas anuais e edáficas
na densidade dos estratos superiores.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


270

2º Caatingas arbustivas densas, com pouco ou muitas cactáceas e bromeliáceas, são,


na sua maioria, formadas de arbusto com altura inferior a 4 ou 5 metros, subarbustos muito ramificados
desde o nível do solo. Essas caatingas não têm estratificação nítida. Por vezes algumas árvores espanam
destacam-se do estrato arbustivo. Localmente, cactáceas (mandacaru e facheiro) pode dominar o estrato
arbustivo.
3° Caatinga mais ou menos abertas, com arbusto dispostos em touceiras esparsas e
com grande quantidade de cactáceas. Trata-se de caatingas formadas por arbustos e subarbustos, baixos e
dispostos em touceiras e pequenos grupos de árvores e arvoretas. Elas apresentam algumas manchas de
solo nu ou recoberto por um tapete de gramíneas mais ou menos descontínuas e afloramentos rochosos. O
número de cactáceas baixas (xiquexique) é, por vezes, importante. Esses tipos de caatinga caracterizam
tanto os setores com aridez edáfica e climática severa, solos compactos e pedregosos e com grande
quantidade de afloramentos rochosos, como também os setores degradados por atividades antrópicas.

4º Caatingas ralas, esparsas, baixas. Esse tipo é formado de pequeno arbusto dispostos
em tufos esparsos e separados por grandes extensões de solo nu ou recobertas por um tapete gramineano
e herbáceo por vezes bastante desenvolvido (cerca de 70 centímetros de altura) Nos setores com grandes
quantidades de afloramentos rochosos e solos muito pedregosos, as cactáceas prostradas (quipá e
Xiquexique) e as bromeliáceas terrestres (macambira) e de rochedos são bastante numerosas. Essas
caatingas encontram-se bem representadas na microrregião de Patos e no Seridó paraibano, por exemplo,
assim como nos setores extremamente degradados por antigas práticas agrícolas, principalmente a
agricultura do algodão.

6. DESCRIÇÃO FISICA
O agreste constitui uma faixa de transição entre o Nordeste semi-árido e espinhento e outro
Nordeste úmidos e verdejantes dos canaviais. Há sempre na paisagem desta subárea a presença da água.
Rios que não chegam a secar totalmente no verão, mantendo sempre um magro filete de água ou
empoçados a distância. A vegetação se organiza sob a forma de florestas espinhentas—scubsforests--,
prolongando no solo semi-árido do sertão a mata região úmida. Já a caatinga é o reino das cactáceas. No
solo ríspido e seco estouram as coroa-de-frade e os mandacarus eriçados de espinhos. As árvores
acocoradas em arbustos e as formações herbáceas completam a paisagem adusta da caatinga. É a zona de
maior aridez do Nordeste, com seus rios reduzidos nas épocas secas às faixas de areia, leitos ardentes
inteiramente expostos ao sol. No alto sertão, o clima se ameniza suavemente, a vegetação, do tipo de
savana, se enfeita em certas zonas, com as fitas verdes dos carnaubais, enlaçando os vales férteis da região.
Rareiam um pouco as espécies espinhentas e as secas são menos impiedosas. Verifica-se, assim, que a
caatinga é o verdadeiro coração do deserto. Ai se localiza os principais centros de aridez da região. Ai se
apresenta a vegetação no máximo de sua convergente adaptação ao rigor climático, à extrema secura
ambiente. O agreste e o alto sertão são formas atenuadas da caatinga.
A flora de toda a região é do tipo xerófito, adaptada aos rigores da secura ambiente: à falta
de água no solo e do vapor d`água na atmosfera. As espécies arbóreas reduzem seu porte, se arbustizam
em posturas nanicas para sobreviver. O frondoso cajueiro da praia --- Anacardium occidentale --- na
caatinga adusta se inferioriza em arbusto, o cajuí do sertão --- Anacardium humilis---, em cajueiro anão das
chapadas arenosas. As folhas se reduzem ao mínimo para evitar a evaporação, os caules se
impermeabilizam, as raízes se espalham em todas as direções para sugar a umidade escassa. Todos os
órgãos da planta se apresentam nesta luta incessante contra a falta d`água. As espécie que sobrevivem o
fazem, ou à custa de uma economia rigorosa em seus gastos, ou à custa da formação de reservas aquosas
nos bulbos, raízes e caules.
Entre as famílias que compõem a flora xerófita destacam-se as cactáceas, tais como as
palmatórias, os mandacarus, os xiquexiques e os facheiros. Plantas dum valor inestimável na época das
secas ajudando a gente e o gado a escapar aos seus rigores mortíferos. Ao lado das ríspidas cactáceas,
dando cor e características à flora do sertão, estão as resistentes bromeliáceas --- as suas macambiras
croias e croatais, exibindo as lâminas recurvas e afiadas de suas folhas em sabre. Pertencem as cactáceas e
as bromeliáceas a uma categoria especial de plantas chamadas por Sant-Hilaire de fontes vegetais e por
Bernadim de Sant-Pierre de manaciais vegetais do deserto.

João Pessoa, outubro de 2011


271

Euclides da cunha, em certos arroubos de imaginação poética, exagera a abundância e


prestimosidade dessas plantas, para indignação de outros estudiosos mais comedidos, mais fiéis à
realidade científica e menos amantes dos exageros poéticos em suas expressões geográficas. Assim, sobre
certas bromeliáceas escreveu Euclides da Cunha: “
As águas que fogem no volver selvagem das torrentes, ou entre as camadas inclinadas dos xistos,
ficam retidas, longo tempo, nas espatas das bromélias, aviventando-as. “No pino dos verões um pé de
macambira é para o matuto sequioso um copo de água cristalina e pura” Sobre o umbuzeiro, anacardiácea
que é tabém uma fonte vegetal escreve o estilista de “Os Sertões (...) se não existisse o umbuzeiro, aquele
trato do sertão tão estéril que até nele escasseiam os carnaubais, tão providencialmente despersos nos que o
convizinham até do Ceará, estaria despovoado. O umbu é para o infeliz matuto o mesmo que o mauritia para
os garaúnos dos ihanos. Alimenta-o e mitiga-lhe a sede. ( CASTRO, Josué de, 2010)

São certamente um tanto excessivas tais palavras e só podem ser justificadas pelo
mecanismo de inconsciente deformação que o espírito provoca diante do aparecimento inesperado de uma
solução milagrosa para a angustia da sede. A mentalidade coletiva exagera o fato e ele ganha foros de
verdade, transmitindo de uns aos outros. É o mesmo mecanismo que explica que um geógrafo do valor e
da honestidade científica de um E. F. Gauthier afirme ter sido inteiramente extinto o Atilope andax, do
Saara argelino, pelo furor com que os nômades, chefes das caravanas, os caçavam, para buscar nas suas
entranhas, no seu estômago multisseptado, as reservas abundantes de água com que aplacavam a sede nas
largas travessias entre os distantes oásis saarianos. O Ádax, fonte animal de água, seria assim no Saara uma
salvação providencial semelhante às cactáceas, no Nordeste do Brasil.
José Luiz de Castro, autor de um bom trabalho de sistematização “Contribuição para o dicionário da
flora do Nordeste brasileiro”, publicação da I.F.O.C.S---, comenta com indignação os exageros euclidianos
que comprometeram até certo ponto o valor científico de muitas das afirmações do grande sociólogo:
Tão verídicas quanto estas afirmações de Euclides da Cunha só esta outra do mesmo autor...` Nestas quadras
cruéis em que as soalheiras se agravam às vezes com incêndios espontaneamente acesos com as ventanias atritando
rijamente os galhos secos destonados...` O único comentário que seria permitido a tais absurdos é ainda Euclides da
Cunha que no-lo sugere naquela frase: ...` O poeta é soberano no pequeno reino em que o entroniza a sua fantasia”
Frase em que o geólogo americano J.C Banner sintetiza a crítica que, como conhecedor do amazonas, pudera ter feito
aos escritos de Euclides sobre o grande estado nacional. (CASTRO, Josué de, 2010)

E não só foi Euclides --- geógrafo e poeta ---, quem se deixou levar por esse exagero de ver rios
correndo e fontes brotando de plantas milagrosas que criam oásis vivos no deserto adusto. Um dos mais
fiéis documentadores da natureza brasileira, o Padre Fernão Cardim, cujas sóbrias qualidades de escritor
fizeram com que suas descrições de plantas e animais da terra fossem, na opinião abalizada de Rodolfo
Garcia, “perfeitas e acabadas como diagnosis de naturalista” (CASTRO, Josué de 2010.) também caiu no
mesmo pecado. Descrevendo outra árvore que dá água nos sertões nordestinos assim escreveu Cardim, em
Clima e Terra do Brasil: “esta árvore se dá em campos e sertão da Bahia em lugares onde não há água; e
muito grande e larga nos ramos tem uns buracos de comprimento de um braço que estão cheios de água
que não transborda nem no inverno e no verão, nem se sabe donde vem esta água, e serve não somente
de fonte, mas ainda de um grande rio caudal, e acontece chegarem100 almas ao pé dela e todos ficam
agasalhados, bebem e levam tudo o que querem e nunca falta água; e muito gostosa e clara e grande
remedia para os que vão ao sertão quando não acham outra” Esta árvore a que se refere Cardim seria,
quando opina R. Garcia, em notas à obra do grande cronista, a Geoffroya spinosa conhecida entre os
nativos de umari, que significa árvore que verte água, da qual transuda água em certos períodos do ano
capaz de molhar o solo; “ mas daí a árvore fonte ou árvore rio que se descreve, vai mais prodígio do que
verdade.” O exemplo do que acabamos de dizer nota-se no umbuzeiro --- spondias tuberosa--- cujas raízes
horizontalmente distendidas intumescidas perto da superfície da terra, formam tubérculos nodosos e
cheios de água desde o tamanho de um punho até ao de uma cabeça de criança. Verifica-se assim que, se
nos casos dos incêndios espontâneos de galhos secos, Euclides é de um exagero comprometedor, no caso
umbuzeiro dando água a populações inteiras, o exagero é relativo; é apenas a verdade colorida pelo estilo
um tanto empolado do autor.

7. A CAATINGA COMO RECURSO ENERGÉTICO-FLORESTAL

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


272

A vegetação lenhosa da caatinga constitui a fonte mais importante de produtos energéticos para a
população nordestina. A partir de 1994, com a crise mundial do petróleo, alguns setores industriais tiveram
de buscar fontes alternativas de energia na biomassa. Como resultado, a lenha e o carvão vegetal passaram
a ser as fontes mais importantes de energia primária para a indústria, chegando a representar cerca de 73%
de consumo em alguns estados nordestinos. Em termos de consumo global para o Nordeste, estima-se que
o consumo de lenha e do carvão atende aproximadamente 33% do consumo de energia. Na Paraíba por
exemplo, os combustíveis lenhosos figuram em primeiro lugar na matriz energética do estado,
respondendo por 40 do consumo de energia.
O sistema de exploração florestal nas propriedades rurais é seletivo. Em primeiro lugar,
quando ocorre a retirada das madeiras mais nobres, o instrumento utilizado é o machado. Posteriormente,
ha um corte raso, com empilhamento e estocagem do material que é aproveitado como lenha, carvão
vegetal, varas e estacas. Nessa fase, predomina o uso da foice. A exploração é acompanhada da queima dos
galhos ramos e restos florestais que recobrem os tocos das árvores recém cortadas o que dificulta a sua
regeneração. Os produtos adquiridos lenha e carvão vegetal entram como compensação aos custos de
produção agrícola. Após 5ou 10 anos as áreas desmatadas são abandonadas, a regeneração natural da
caatinga.
Mas, geralmente, a exploração da caatinga feita de forma predatória, uma vez que ela é na
maioria das vezes, considerada pelos produtores rurais, como um grave empecilho ao desenvolvimento das
atividades agropecuárias.
Observa-se, na realidade uma falta de tração no manejo dos recursos florestais, associados
ao a carência de informação técnicas e econômicas dirigidas principalmente ao pequeno produtor rural que
concorre para uma baixa produtividade da caatinga. No entanto outros fatores contribuem:
Fatores Climáticos: a produção biológica em função da deficiência hídrica durante um determinado
período gera como conseqüência, alterações nocivas no metabolismo e na morfologia das plantas
cultivadas na região.
Fatores biológicos: a falta de conhecimento sobre as espécies nativas da caatinga (reprodução,
idade de maturação, biótipo, potencialidade, etc.) impede sua utilização em plantios energéticos e de usos
múltiplos (forrageiros, energético e recuperação das áreas degradadas.
Fatores técnicos: o desconhecimento de técnicas de manejo da vegetação nativa que aumenta a
produtividade e assegurem sua continuidade.
Fatores econômicos: a falta de incentivos e de créditos, assim como a ausência de dados sobre o
rendimento de das espécies florestais e de estudos sobre comercialização, custos, demanda real e futura,
contribuem para limitar a disponibilidade da matéria-prima florestal.
Ainda aos fatores citados, a falta de uma política florestal adequada e o pouco acesso a outras
fontes de combustíveis, devido aos seus autos custos, elevam a pressão sobre a cobertura florestal da
região.
Dentre as regiões semi-áridas da Paraíba, destaca-se o Cariri Ocidental, onde a produção de lenha e
carvão é mais importante. Trata-se de uma atividade de substituição, sobre tudo durante as secas, e
diretamente dependente das práticas agropastoris. Os desmatamentos, provocados ao mesmo tempo pela
introdução de novos tipos de pastagens e pela re-exploração das capoeiras, constituem a base da produção
de combustíveis lenhosos. As caatingas também constituem o suporte indispensável à criação extensiva,
base econômica dos cariris, e fornecem também o essencial da madeira utilizada como lenha e na
fabricação do carvão- atividade cujo desenvolvimento se acelerou principalmente a partir de 1980,
constituindo a única fonte de renda durante os períodos da seca.
A superexploração do potencial madeireiro da caatinga traz sérias conseqüências para esse
ecossistema, sobretudo numa região pobre em recursos naturais, embora os desmatamentos façam parte
das atividades agrícolas tradicionais dos fazendeiros dos cariris. Fora dos períodos de seca grave, a caatinga
raramente é desmatada para a produção de carvão e para o comércio de lenha. Nos anos normais, estas
atividades são complementares e associadas à agricultura e á pecuária. Geralmente, no último trimestre do
ano, os fornos para fabricação de carvão proliferam, assim como os desmatamentos crescem em número e
logicamente em quantidade de lenha vendida. Essa é a época em que, na região, verifica-se um aumento
na produção e no comércio dos combustíveis lenhosos. A maioria dos desmatamentos é praticada em
propriedades grandes, nas quais ainda existam áreas em caatingas ou capoeiras extensas.

João Pessoa, outubro de 2011


273

Espécie da Caatinga utilizada para lenha e Fabricação de Carvão


Nome popular Nome Científico
Jurema Mimosa hostilis
Catingueira Caesalpinia pyramidalis
Pereiro Aspidopesperma pyrifolium
Aroeira Astronium urundeuva
Juazeiro Zizyphus joazeiro
Fonte: Melo, A.C. (1998), Seg. MEDEIROS (1995)

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo tem como objetivo principal, mostrar não só as principais características físicas,
estruturais e biológicas da nossa caatinga, como também de alguma forma transmitir de forma simples, à
expressão real que todo esse bioma genuinamente brasileiro possui. Desta forma procurando conduzir e
transmitir ao cidadão comum da zona rural até o mais urbanizado, à sua importância econômica, social,
ecológica, regionalista e de tantos encantos, como também a verdadeira realidade em que hoje se
encontra nosso bioma tão nordestino, tão brasileiro, tão peculiar, que é a caatinga.

REFERÊNCIAS
Castro, Josué de, 1908-1973. Geografia da fome. 10ª Ed.- Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2010.
Melo, Antonio Sérgio Tavares de, - Uma Geoecologia do Semi-árido, A Paraíba 2002
http://www.blogdicas.net/a-caatinga-brasileira/

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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A PRESERVAÇÃO DAS TARTARUGAS MARINHAS NO LITORAL DO IPOJUCA-


PE NA PERSPECTIVA DE PESCADORES ARTESANAIS9
Gerlaine Amara da SILVA
Graduanda em Licenciatura Plena em Ciências Biológicas da Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE. Rua Dom
Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos. CEP: 52171-900 - Recife, PE/ Brasil.
gebiologa@hotmail.com
Milena Santos Costa NEVES
Graduanda em Ciências Biológicas da Universidade de Pernambuco – UPE. Av. Agamenon Magalhães, s/n - Santo Amaro.
CEP: 50.100-010 - Recife, PE/ Brasil.
milenascn@hotmail.com
Bárbara de Oliveira SILVA
Bióloga da ONG Ecoassociados. PE 09 km 0 Galeria Espaço Arena, sala 03 - Porto de Galinhas -
Ipojuca - PE – Brasil.
ecoassociados@bol.com.br

RESUMO
Este trabalho teve por objetivo analisar a percepção ambiental e a interação dos pescadores da
Colônia Z-12 de Porto de Galinha – Ipojuca/PE com as tartarugas marinhas, a fim de obter subsídios para a
criação de um programa de Educação Ambiental visando à conservação desses animais. Foram realizadas
entrevistas semi-estruturadas com a comunidade pesqueira no mês de janeiro de 2011 e registros
fotográficos, que mostraram resultados significativos. Entre os resultados, destacam-se os seguintes: a
maioria dos pescadores entrevistados (do total de 32) exerce a atividade há mais de 20 anos; desses, quase
50% admitiram que tivessem vivido a experiência de ter uma tartaruga presa em suas redes de pesca;
quando ocorre um acidente como esses, a maioria declarou que devolve a tartaruga ao mar. Os pescadores
mostraram possuir certos conhecimentos da ecologia das tartarugas marinhas, porém não apontam sua
importância para o ecossistema marinho. No entanto, do total, 55,5% dos pescadores entrevistados estão
dispostos a receber formação para a conservação de tartarugas marinhas, mostrando que é possível
estabelecer uma relação sustentável entre ambiente marinho e a prática da pesca artesanal.
PALAVRAS CHAVES: Percepção Ambiental Pescadores Artesanais. Educação Ambiental.

INTRODUÇÃO
As tartarugas marinhas, historicamente, fazem parte da natureza e da cultura de comunidades
costeiras, servindo de alimento e como um meio de adquirir recurso financeiro. No Brasil, são registradas
cinco espécies de tartarugas marinhas, onde quatro, Eretmochelys imbricata (Linnaeus, 1766), Lepidochelys
olivacea (Eschscholtz, 1829), Caretta caretta (Linnaeus,1758) e Chelonia mydas ( Linnaeus, 1758) desovam
no litoral do Ipojuca/PE.
Entender as interações dos pescadores com estes animais é de fundamental importância para
melhor compreender o que ocorre no momento das capturas incidentais. No país ainda são poucos os
estudos sobre pesca artesanal e a interação da comunidade pesqueira com as tartarugas marinhas.
Em Porto de Galinhas/ PE, desenvolveu-se uma importante comunidade de pescadores artesanais,
a Colônia de Pesca Z-12 e, neste mesmo local, a organização não-governamental (ONG) Ecoassociados
desenvolve trabalhos de conservação e monitoramento de tartarugas marinhas.
A Colônia Z-12, segundo seu atual presidente, foi fundada em 23 de setembro de 1951, nas
proximidades de um pequeno porto natural existente na parte inferior da barreira de recifes que protege a
praia, o qual ainda abriga praticamente toda a frota do município, cujas embarcações são utilizadas nas
pescarias e o presente estudo está baseado nas informações cedidas pelos pescadores sendo consideradas
todas as experiências e discursos.

9
Este trabalho, na sua fase final, contou com a orientação da professora Carmem R. O. Farias da Universidade
Federal Rural de Pernambuco – UFRPE. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos - CEP: 52171-900 - Recife, PE/
Brasil. E-mail: crofarias@gmail.com

João Pessoa, outubro de 2011


275

Na mesma área de estudo, há 13 anos, surgiu a ONG Ecoassociados, que desenvolve trabalhos de
conservação e monitoramento de tartarugas marinhas cobrindo uma área de 12 km, de um trabalho que
envolve ações de educação ambiental com a comunidade escolar, pescadores, jangadeiros, artesãos e
turistas.
Este trabalho tem como contexto geral a área de atuação da ONG Ecoassociados, em que as
autoras atuam como militantes e educadoras ambientais, a falta de informações sobre a população local,
particularmente a de pescadores artesanais, tem dificultado o desenvolvimento de projetos de EA
consistentes que preparem a comunidade para lidar com as tartarugas marinhas, tornando-se ela também
agente de educação ambiental comunitária.
O objetivo geral é compreender a percepção ambiental e a interação dos pescadores da Colônia Z-
12 de Porto de Galinhasa/PE com as tartarugas marinhas, a fim de obter subsídios para a criação de um
programa de Educação Ambiental para a comunidade do entorno e turistas, visando à conservação desses
animais e o desenvolvimento de uma ética ambiental compatível com a importância que se deve conferir a
todas as formas de vida.

PERCEPÇÃO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL


Entende-se por percepção a interação do indivíduo com seu meio. Este envolvimento dá-se através
dos órgãos do sentido. Para que possamos realmente perceber, é necessário que tenhamos algum
interesse no objeto de percepção e esse interesse é baseado nos conhecimentos, na cultura, na ética, e na
postura de cada um, fazendo com que cada pessoa tenha uma percepção diferenciada para o mesmo
objeto (PALMA, 2005).
A pesquisa de percepção ambiental pode ser utilizada nas mais variadas áreas do conhecimento.
Com esta análise pode-se determinar as necessidades de uma população e propor melhorias. Para
Okamoto (1996, p.200):

[...] sensacionam-se os estímulos do meio ambiente sem se ter consciência disto. Pela
mente seletiva, diante do bombardeio de estímulos, são selecionados os aspectos de interesse ou
que tenham chamado a atenção, e só aí que ocorre a percepção (imagem) e a consciência
(pensamento, sentimento), resultando em uma resposta que conduz a um comportamento.

O estudo da percepção ambiental é de fundamental importância para que possamos compreender


as inter-relações entre as pessoas e seus ambientes, suas expectativas, satisfações e insatisfações,
julgamentos e condutas.
A percepção ambiental, sendo usada como um instrumento da educação ambiental poderá ajudar
na defesa do meio natural e sociocultural, pois ela aproxima as pessoas da sua “casa”, despertando-o para
o cuidado e o respeito para com o ambiente em que vivem.
Infelizmente no Brasil, apesar do crescimento do interesse na realização de pesquisas de
percepção ambiental na biologia marinha, grande parte desses estudos que vem sendo realizados por
estudantes universitários de graduação e pós-graduação não chegam a serem publicados e divulgados
(VASCONCELOS et al., 2008).

A TARTARUGA MARINHA COMO MOTIVAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A INTEGRAÇÃO


COMUNITÁRIA
Das sete espécies existentes de tartarugas marinhas, cinco – Dermochelys coriacea (Linnaeus,
1766), Chelonia mydas (Linnaeus, 1758), Caretta caretta (Linnaeus, 1758), Eretmochelys imbricata
(Linnaeus, 1766), Lepidochelys olivacea (Eschscholtz, 1829), utilizam a costa brasileira para reprodução e
alimentação (MARCOVALDI; MARCOVALDI, 1999).
A redução das populações de tartarugas marinhas tem sido diretamente ou indiretamente atribuída
à destruição dos habitats, a ações humanas em praias de desova, predação de ovos, jovens e adultos, pesca
predatória e poluição. No entanto, a captura incidental em pescarias tem sido amplamente reconhecida
como um dos mais graves fatores de mortalidade de tartarugas marinhas atualmente. Algumas pesquisas

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


276

indicam que, de cada mil filhotes, um ou dois chegam à vida adulta. Desse ponto de vista, a vida das
tartarugas está sempre em risco, desde o nascimento até a vida adulta.
A maior parte dos recursos pesqueiros explorados no mundo é capturada na zona costeira, no
interior dos estuários e sobre a plataforma continental. Portanto, todos os recursos naturais ali existentes
se tornam muito expostos e vulneráveis aos efeitos da atividade humana (CADDY; GRIFFITHS, 1995).
Nesse sentido, ao lado do surgimento de importantes projetos e programas de salvaguarda das
tartarugas marinhas, como o Projeto TAMAR e Projeto Guajiru, há um grande desafio no sentido
educacional.
A educação ambiental em contextos de zona costeira, não pode se limitar a transmitir
conhecimentos e informações dispersas sobre ambiente e espécies animais. Na verdade, requer-se que seja
uma pedagogia da ação e pela ação e que possa, além de promover a mudança de comportamento do
sujeito, em sua relação cotidiana com ambiente e com os recursos naturais, promover também novos
valores ambientalmente responsáveis no meio social.

METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO
Este trabalho foi realizado em Porto de Galinhas, município do Ipojuca, Estado de Pernambuco, no
mês de janeiro de 2011 com 32 pescadores, inclusive da praia de Serrambi, escolhidos aleatoriamente.
Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, sendo que para coleta de dados em campo
optou-se pelos seguintes procedimentos metodológicos: (i) utilização de entrevistas semi-estruturadas,
baseadas em questões abertas e fechadas gerando informações qualitativas (ALBUQUERQUE; LUCENA,
2004), (roteiro em anexo); e (ii) entrevistas informais, onde o entrevistado discorria à vontade sobre
assuntos ou fatos do cotidiano, sendo as informações obtidas anotadas. Neste tipo de entrevista, alguns
tópicos são fixos e outros são definidos conforme o andamento desta, visando à liberdade do
pesquisador em aprofundar-se em determinadas questões durante a condução da entrevista
(VIERTLER, 2002). Durante o trabalho foram capturadas fotos em câmera amadora digital e todas as
informações coletadas foram devidamente analisadas posteriormente.
A elaboração das questões baseou-se em exemplos de questionários utilizados em outros
trabalhos. Algumas informações adicionais importantes puderam ser obtidas diretamente da colônia de
pesca Z-12, por intermédio do atual presidente Sr. Josias Clementino.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Análise das entrevistas
Foram entrevistados 32 pescadores com idades entre 20 e 71 anos, onde 72,2% deles têm idade
acima de 40 anos e exerce a atividade há mais de 20 anos, o que demonstra relevante experiência com o
mar.
Dos pescadores entrevistados, apenas 44,4% admitiram que já tivessem uma tartaruga presa em
suas redes e afirmaram ainda que a rede de arrasto seja a responsável pela morte de tartarugas e que
deveria, portanto, ser proibida. Tanto os jovens quanto os pescadores mais velhos, tem consciência do risco
de extinção de pelo menos uma espécie de tartaruga marinha, em razão da produção de souvenir usando o
casco dos animais.
Do total, 55% apresentaram outros nomes além da espécie de pente, comum no litoral sul de
Pernambuco. Quando perguntados sobre as maneiras de identificação morte/vida do animal capturado,
61% afirmam que sabem identificar quando uma tartaruga está viva ou morta e sugeriram alguns critérios
de identificação, como por exemplo, a cor da pele e brilho dos olhos.
Quando a questão era o que faziam ao encontrar uma tartaruga presa na rede, 100% relataram que
soltam ao mar atualmente, ainda que os antigos pescadores10 fizessem de forma diferente. Um dos
entrevistados relatou que: antigamente furava os olhos da tartaruga porque ela rasgou a rede, dava
paulada, amarrava bóia pra ela não afundar e matava mesmo pra comer a carne dela. (J. S., 62 anos).
Durante as entrevistas informais, outros temas foram abordados pelos pescadores como, a ecologia
das tartarugas marinhas; a grande quantidade de tartarugas que são vistas em Serrambi e maus tratos.
Dentro do contexto, eles foram perguntados se conheciam alguma instituição ou grupo que trabalhava com

10
Neste trabalho utiliza-se itálico para enfatizar as falas dos entrevistados.

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277

conservação desses animais ali na localidade e o nome da ONG Ecoassociados é desconhecido por 61,1%
dos pescadores.
Esses resultados, embora preliminares, indicam a necessidade de um trabalho de educação
ambiental específico para a zona costeira, que contribuam para que os pescadores artesanais e suas
famílias sejam agentes difusores de uma cultura de preservação das tartarugas marinhas, assim como de
todo ambiente costeiro.
Além de uma educação em valores, fundamental para o engajamento desses atores sociais nos
processos de defesa e salvaguarda ambiental, um programa de EA deve incluir também a ativação de
algumas atitudes básicas, que habilite a comunidade a tomar providências imediatas quando se deparam
com uma situação de risco de vida das tartarugas, como, por exemplo, é preciso que conheçam os
pressupostos de um salvamento de tartaruga presa em rede de pesca.
Ressalta-se, no entanto, que as ações de EA devem ser construídas a partir e em conjunto com a
população local, notadamente os pescadores do Ipojuca. Um dos principais aprendizados que depreende-
se desta pesquisa é, justamente, que se precisa levar em conta a história e a perspectiva da comunidade
sobre o ambiente em que vivem, caso contrário qualquer prática de EA pode se tornar arbitrária e
normativa.
Espera-se que um programa de EA para a comunidade em foco seja capaz de mostrar que é
possível estabelecer uma relação sustentável entre ambiente marinho e a prática da pesca artesanal, sendo
essa proposta considerada válida visto que grande parte dos pescadores entrevistados afirma que gostaria
de participar de uma ação educativa, que inclua um treinamento específico para salvamento de tartarugas
marinhas.

Registros fotográficos
As fotografias também constituíram fontes da presente pesquisa. São imagens que contribuem
para que se visualizem as pessoas e seus ambientes de vida e de trabalho em Porto de Galinhas. As pessoas
em questão são pescadores e seus ambientes de vida são compostos pelo mar, os barcos e a pesca.
(Fontes: Ecoassociados).

Foto 1. Entrevista com pescador de Porto de Galinhas . Foto 2. Equipe da Ecoassociados com pescador de
Serrambi

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


278

Foto 3. Barcos dos pescadores ancorados. Foto 4. A pesca.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluído este trabalho, cabe destacar a importância do conhecimento dos pescadores
sobre o assunto, gerado a partir da íntima relação entre sua atividade de pesca artesanal e o meio
ambiente. Estes podem não reconhecer as classificações biológicas destes animais, entretanto, suas
experiências trazem conhecimentos práticos e/ou observações que a ciência conservadora não conseguiria
registrar. Apenas temos acesso a estes conhecimentos da experiência por meio da vivência próxima e
solidária com esta comunidade. Entende-se que conciliar os esforços dos militantes ambientalistas a esta
sabedoria pode auxiliar na busca pela diminuição da captura incidental das tartarugas através de artes de
pesca letais para estes animais, valorizando a conscientização dos pescadores e a busca conjunta de
medidas mitigadoras deste risco, mediante práticas de EA comunitária.
Por fim, nosso trabalho corrobora que a percepção ambiental pode ajudar na construção de
programas e metodologias para despertar nas pessoas a tomada de consciência frente aos problemas
ambientais locais. É preciso compreender como os indivíduos com quem trabalhamos percebem e se
engajam no ambiente em que vivem.

REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, P.U. and LUCENA, R.F.P. (2004). Métodos na pesquisa etnobotânica. Recife: Livro
Rápido/ NUPEEA. 189p. M&M;
CADDY, J. F. and GRIFFITHS, R. C. (1995). Living marine resources and their sustainable
development: some environmental and institutional perspectives. FAO Fisheries technical paper, 353:167p.
Rome;
MARCOVALDI, M.A.; MARCOVALDI, G.G. Marine turtles of Brazil: the history and structure of Projeto
Tamar-Ibama. Biological conservation, Essex, n. 91, p.35-41, 1999;
OKAMOTO, Jun. 1996. Percepção Ambiental e Comportamento. São Paulo. Ed. Plêiade.200p.;
PALMA, I. R. 2005. Análise da percepção ambiental como instrumento ao planejamento da
educação ambiental. Dissertação de mestrado. Universidade Federal do rio Grande do sul- UFRGS;
VASCONCELOS, F.A.L., Amaral, F.D. & Steiner, A.Q. (2008) - Students view of reef environments in
the metropolitan area of Recife, Pernambuco State, Brazil. Arquivos de Ciências do Mar, 41(1):104- 112.
(disponível em http://www.labomar.ufc.br/ a r q u i v o s _ e x t r a s / P D F _ R e v 4 1 _ 1
/13_Artigo_Flavia_Vasconcelos.pdf);

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279

VIERTLER, R. B. 2002. Métodos antropológicos como ferramenta para estudos em etnobiologia e


etnoecologia. In: AMOROZO, M. C. de M.; MING, L. C. & Silva, S. P. (Eds.). Métodos de coleta e análise de
dados em etnobiologia, etnoecologia e disciplinas correlatas. UNESP/CNPq, São Paulo, Brasil, p.11-30.

ANEXO

Roteiro da entrevista semi-estruturada realizada com pescadores artesanais do Ipojuca/PE.

Há quanto tempo você trabalha com pesca?


Quais os locais onde você pesca?
Alguma tartaruga já ficou presa na sua rede?
Com que freqüência é encontrada tartarugas em sua rede?
( )sempre ( ) de vez em quando ( ) raramente ( ) nunca
O que você faz quando uma tartaruga fica presa em sua rede?
Você sabia que Porto de Galinhas é berçário de uma espécie de tartarugas que está em processo
de extinção?
Você acha que a pesca com redes pode prejudicar as tartarugas?
Você consegue diferenciar uma tartaruga que está desmaiada de uma realmente morta? De que
forma?
Você teria interesse em aprender técnicas de manejo de tartarugas marinhas?
Você conhece o trabalho realizado pela ONG Ecoassociados em Porto de Galinhas?

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


280

AVALIAÇÃO DE LINHAGENS DE LEVEDURAS E BACTÉRIAS ISOLADAS DE


SOLOS DO SEMIÁRIDO POTIGUAR QUANTO AO POTENCIAL DE
DEGRADAÇÃO DE PETRÓLEO
Giovanna de Araújo Spinelli
Aluna Regular do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental/ IFRN. gi_spinelli@ho tmail.com
Fabíola Gomes de Carvalho
Profª Orientadora, Engª Agrônoma, Dra. Ciências do Solo/ IFRN. fabiola.carvalho@ifrn.edu.br

RESUMO
O presente trabalho visa através da técnica de biorremediação buscar algumas considerações
teóricas, análises e avaliações quanto ao uso de linhagens de leveduras e bactérias isoladas de solos do
semiárido potiguar no âmbito do potencial de degradação de petróleo. O isolamento das linhagens será
realizado a partir de amostras de solo diluídas em solução salina (0,85% NaCl), sendo as respectivas
suspensões semeadas em placas, incubadas e enriquecidas em 100 ml do meio mineral Bushnell Haas (BH)
sólido, adicionando-se óleo cru como fonte de carbono através da técnica de incorporação. Na técnica de
biorremediação com o uso de bactérias e leveduras, as colônias isoladas são purificadas por estrias em
placas de petri, contendo meios sólidos. Através da microscopia óptica, a morfologia dos isolados é
analisada e assim caracteriza-se e classificam-se os diferentes grupos microbianos. A exploração de
petróleo e gás natural é a principal atividade geradora de resíduos perigosos Classe I no RN, que apresenta
uma produção anual de 47,6 mil toneladas e estoque de cerca de 420 mil toneladas de passivo ambiental à
espera de uma destinação adequada ou tratamento. Dessa forma, a aplicação da biorremediação torna-se
viável para o equilíbrio do meio ambiente, além de ser uma prática de simples aplicação e de baixo custo
operacional. O objetivo do trabalho, dessa forma, é buscar analisar e investigar os efeitos da
biorremediação por meio do isolamento de bactérias e leveduras dos solos do semiárido potiguar na busca
de aprimoramento de técnicas para potencializar sua eficácia, tendo como fonte a pesquisa bibliográfica.
PALAVRAS-CHAVE: Biorremediação, petróleo, biodegradação, semiárido, bactérias, leveduras.

THEORETICAL CONSIDERATIONS IN EVALUATING LINEAGES OF YEASTS AND BACTERIA ISOLATED


FROM SOILS OF SEMI-ARID POTIGUAR REGARDING THE POTENTIAL DEGRADATION OF OIL
ABSTRACT
The present study will through the technique of bioremediation fetch some theoretical
considerations, analyses and reviews regarding the use of lineages of yeasts and bacteria isolated from soils
of semi-arid potiguar under the potential degradation of oil. The isolation of strains will be held from soil
samples diluted in saline solution (0.85% NaCl), being their suspension plates sown, incubated and enriched
in 100 ml of mineral Bushnell Haas (BH) solid, adding-if crude oil as a source of carbon through the
technique of incorporation. The technique of bioremediation using bacteria and yeasts isolated colonies,
are purified by scratches in Petri dishes, containing the means solid, Tryptic Soy Agar – TSA for bacteria and
yeasts to Sabouraud – SAT. By optical microscopy, the morphology of isolated is parsed and thus
characterised and classifies the different microbial groups. The bioremediation offers some advantages
over other remediation techniques because it is ecologically correct, does not alter the equilibrium of
ecosystems, targeting only the biodegradation of pollutant compounds, thus reducing their concentration
and/or toxicity (PRITCHARD et al., 1991, PRINCE, 1993). The oil and natural gas exploration is the main
activity generates waste hazardous class I in RN, which presents an annual production of 47.6 thousand
tons and inventory of about 417 thousand tons of environmental liabilities awaiting a proper disposal or
treatment. This way, the application of bioremediation becomes viable for the balance of the environment,
in addition to being a practice of simple application and low operating costs. The goal of the work,
therefore, seek to analyse and investigate the effects of the technique of bioremediation through isolation
of bacteria and yeasts in soils of semi-arid potiguar in finding ideas to maximize their effectiveness, taking
as the bibliographic search source.
KEY-WORDS: Bioremediation, petroleum, biodegradation, semiarid, bacteria, yeasts.

João Pessoa, outubro de 2011


281

INTRODUÇÃO
Os problemas de poluição e degradação ambiental intensificaram-se com a formação das cidades
populosas, e como afirma Dias (2000), com a revolução industrial no final do século XVIII, a produção de
resíduos intensificou-se devido à mecanização dos processos de produção. Além da geração de resíduos
sólidos, houve a geração de efluentes líquidos e compostos voláteis resultante de processos industrias.
Um exemplo de resíduo a se destacar é o petróleo. “A indústria de petróleo, em suas diversas
atividades – exploração, produção, refino, transporte e comercialização – apresenta um risco ambiental
inerente, que precisa ser constantemente gerenciado.” (SEABRA, P.N., ANO).
No Brasil, tanto a exploração quanto as inúmeras formas de utilização do petróleo, trazem consigo
devastosos impactos ambientais, que seguem de norte a sul do país, atingindo principalmente as áreas dos
pólos de produção de petróleo. Além disso, o transporte do petróleo é realizado por meio de oleodutos
terrestres, marinhos e navios tanque, podendo ocasionar acidentes com vazamentos de óleo, aumentando
os níveis de contaminação nos ambientes marinhos e terrestres (SOUZA, 2003).
Sendo o aspecto ambiental um fator de diferenciação competitiva entre as empresas modernas,
cada empresa, sobretudo as de petróleo, procuram implementar políticas de segurança e gestão ambiental
como forma de melhorar sua imagem no mercado e apregoar o desenvolvimento sustentável de suas
atividades.
O Rio Grande do Norte, por ser o maior produtor de petróleo em terra do Brasil expõem as áreas
produtoras de petróleo a ameaças de vazamentos, aumentando, dessa forma, o interesse por técnicas de
recuperação de áreas degradadas e preservação ambiental pelas empresas petrolíferas.
A biorremediação microbiana de petróleo se insere justamente nesse contexto, cujo objetivo é
induzir ou acelerar os processos biológicos naturais de reciclagem de compostos de interesse, incluindo
compostos orgânicos ou inorgânicos presentes em concentrações elevadas nas áreas contaminadas. O
desafio principal é utilizar de forma equilibrada a capacidade natural dos microrganismos em degradar a
matéria orgânica e compostos orgânicos não tóxicos, tanto de origem natural como compostos sintéticos
não existentes na natureza: os chamados xenobióticos (BRAGA et al., 2004). Se fossemos fazer uma
analogia do processo da biorremediação com o ser humano, o solo seria o próprio ser humano, os resíduos
químicos seriam a infecção, e a biorremediação seria o catalisador do processo das células brancas de
destruírem a infecção, um medicamento.
A biorremediação destaca-se por apresentar vantagens, como, o baixo custo, possível tratamento
in situ e ex situ, os produtos utilizados em sua aplicação não são tóxicos e não apresentam risco ao meio
ambiente, pode ser aplicada para a degradação de substâncias consideradas de difícil degradação, e o fato
de que a biorremediação não transfere o contaminante, mas o transforma oxidando-o ou mineralizando-o.
Apesar de ser um método pouco evoluído no Brasil, essa técnica obteve um grande crescimento nos
últimos anos, passando a ser reconhecida como uma tecnologia considerada aplicável a um largo espectro
de contaminações.
Várias substâncias nocivas ao equilíbrio de ecossistemas podem ser degradadas por
microorganismos (Davis e Cornwell, 1991), como é o caso do petróleo. De acordo com Henry e Heinke
(1989), alguns materiais tóxicos como fenóis, óleos e resíduos de refino de petróleo, têm obtido sucesso na
biodegradação, por meio de tratamentos biológicos. A aplicação da biorremediação torna-se viável para o
equilíbrio do meio ambiente. Entretanto, de acordo com Dias (2000) a técnica demanda alguns fatores
essenciais, são eles: presença de agentes biológicos capazes de degradar as substâncias-alvo em número
suficiente para efetivar o processo de degradação dentro de um período de tempo aceitável, as enzimas
responsáveis pela degradação do composto-alvo devem estar ativas, e as condições ambientais devem
estar favoráveis (pH, temperatura, umidade, aeração).
Dessa forma, para o desenvolvimento desta pesquisa utilizar-se-á como suporte teórico-
metodológico alguns conceitos teóricos obtidos em pesquisa bibliográfica, apresentando dados úteis à
pesquisa sobre biorremediação do petróleo, de forma a aprimorar técnicas e conceitos para a
potencialização da prática da biorremediação do petróleo na região do semiárido potiguar.

CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS NO ÂMBITO DA BIORREMEDIAÇÃO DO PETRÓLEO

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


282

É difícil de acreditar que a indústria do petróleo tenha desenvolvido sua produção tanto e com
tanta rapidez desde as primeiras descobertas de petróleo pelos indígenas, a fim de usá-lo como óleo
medicinal ou para massagens, e do primeiro poço moderno, perfurado por Drake no ano de 1859, em
Titusville, Pennsylvania, até a imensa indústria que abrange não só nos Estados Unidos, mas todo o mundo
(SHREVE et. al, 1997).
A produção de petróleo no Brasil cresceu de 750 m3 /dia na época da criação da Petrobras para
mais de 182.000 m3 /dia no final dos anos 90 graças aos contínuos avanços tecnológicos de perfuração e
produção na plataforma continental. Da década de trinta até os dias atuais, a indústria do petróleo cresce
progressivamente, consequentemente, são liberados mais petróleo, seus derivados e resíduos oleosos ao
meio ambiente, provenientes dos motores e lavagens dos tanques de navios cargueiros, petroleiros e
pesqueiros, da descarga de água de lastro, e os vazamentos provenientes das operações de carga e
descarga nos portos e terminais (COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL – CETESB,
2005).
O Rio Grande do Norte classifica-se como o maior produtor nacional de petróleo em terra e o
segundo no mar. O gráfico I mostra os estados brasileiros, comparando a produção de petróleo em terra.
Gráfico I – Comparativo da Produção de Petróleo, por estado, em terra.

Fonte: ANP – Agência Nacional de Petróleo. Disponível em


<http://www.bdep.gov.br/?pg=2623&m=&t1=&t2=&t3=&t4=&ar=&ps=&cachebust=1290711144643>.
Os municípios produtores de petróleo no Rio Grande do Norte são: Assu, Alto do Rodrigues, Apodi,
Areia Branca, Carnaubais, Felipe Guerra, Governador Dix-Sept Rosado, Guamaré, Macau, Mossoró,
Pendências, Porto do Mangue, Serra do Mel e Upanema como mostra a figura 1.

João Pessoa, outubro de 2011


283

Figura 1 – Mapa exibindo os municípios produtores de petróleo. Fonte: Livro Rio Grande do Norte:
Geografia. Galvão, Maria Luiza de Medeiros. Natal, Edição do Autor, 2005; pag. 34.
Como conseqüência, a geração de resíduos torna-se um fator preocupante, que deve ser abordado
para que se crie uma corrente de consciência na população, pressionando as empresas que estão
envolvidas no processo de exploração do petróleo a aplicar investimentos necessários para a segurança e
proteção ao meio ambiente, em projetos de preservação ambiental e de tratamento de resíduos,
desenvolvimento de combustíveis mais limpos, criação e manutenção de centros de treinamento a
combate a poluição, elaboração de planos de contingência e certificação de seus processos ou atividades
pelas normas vigentes, tais como ISO 14001, BS 8800, etc.(CARDOSO, 2004).
Dessa forma o tratamento de solos contaminados por petróleo torna-se um desafio cada vez mais
focado pelas empresas petrolíferas. Existem várias técnicas de biodegradação, a biorremediação destaca-se
entre elas por ser de fácil aplicação, além de ser ecologicamente correta, não alterando o equilíbrio dos
ecossistemas, visando apenas à degradação dos compostos poluentes.
No Brasil não se tem estimativas quanto aos números de áreas contaminadas por resíduos
perigosos. Entretanto, mesmo que um resíduo não seja classificado como perigoso, se não for tratado de
forma adequada, poderá se tornar uma intensa fonte de contaminação ambiental e risco a saúde humana,
pois dependendo dos processos naturais biológicos que ali ocorram, poderá vir a gerar substâncias
perigosas. (DIAS, 2000).
Para definir o conceito de biorremediação iremos citar a agência de Proteção Ambiental Americana
(USEPA) que afirma: “Biorremediação é o processo de tratamento que utiliza a ocorrência natural de
microrganismos para degradar substâncias toxicamente perigosas transformando-as em substâncias menos
ou não tóxicas”. Durante muitos anos achava-se que qualquer composto orgânico deveria ser
biodegradável. Esse conceito foi mudado somente após a descoberta de substâncias resistentes à
biodegradação, chamadas recalcitrantes ou bioimunes. Além disso, outras substâncias, como muitos
compostos orgânicos, biodegradam-se apenas parcialmente, sem mineralizar-se por completo; elas são
transformadas em compostos orgânicos, onde alguns podem ser bioimunes ou mesmo mais tóxicos que as
substâncias originais, por isso é necessário ter cuidado ao aplicar a técnica da biorremediação, é necessário
avaliar meticulosamente cada caso a ser aplicada a técnica de biorremediação, analisando a flora, a
geologia, a hidrogeologia, tendo uma visão multidisciplinar sobre os efeitos da biorremediação naquela
área, classificando sua aplicação como vantajosa ou não vantajosa e acompanhando o processo da
biorremediação solo, controlado-o, pois uma ausência de competição e de predadores entre os
microorganismos, ou de qualquer fator ambiental que possa controlar uma superpopulação, pode ter
efeitos tão catastróficos ao meio ambiente quanto um acidente. Quando os acidentes ocorrem no solo,
ocorre o intemperismo, que são processos naturais de desintegração, ocorrendo principalmente a
evaporação, oxidação e biodegradação.
A biorremediação pode ser usada como tratamento de resíduos sólidos seja em áreas controladas
como os aterros, seja em áreas degradadas anteriormente, áreas contaminadas por pesticidas, explosivos,
óleo e os mais diversos compostos, decorrentes das mais diversas ocorrências: despejos, acidentes, antigos
aterros, etc. Entretanto, como já foi dito anteriormente, nesse estudo estamos abordando a
biorremediação do petróleo.
Os processos de biorremediação têm lugar sob condições tanto aeróbicas como anaeróbicas. A
aeração do solo exerce um grande papel, pois gera o crescimento do número de bactérias aeróbias que
oxidam espécies químicas reduzidas, já que a disponibilidade de oxigênio está fixamente relacionada com à
cinética da oxidação dos hidrocarbonetos. Mesmo encontrando-se em condições anaeróbicas a
biodegradação dos compostos poluentes pode acontecer, entretanto com menos intensidade.
Existem técnicas de biorremediação de tratamentos “in situ" (no local) e "ex situ" (fora do local)
que pode envolver inúmeros procedimentos. A maioria dessas estratégias se aplica aos tratamentos de
superfície, enquanto outras são específicas para a biorremediação em sub-superfície como é o caso da
bioventilação, que consiste na injeção de ar no solo (ou camada) contaminado para estimular a degradação
do contaminante. As técnicas de biorremediação in situ geralmente envolvem o bioestímulo e o
bioaumento, cujo objetivo é aumentar a atividade microbiana local, por meio de alterações, seja
adicionando-se nutrientes para os microorganismos, ajustando o pH, ou controlando a umidade e a
aeração do solo, para potencializar a atividade microbiana, propiciando condições favoráveis à

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


284

biodegradação. A bioaumentação ocorre com a adição de microorganismos exógenos ao solo, devido em


algumas situações a população nativa não está adaptada,e está impotente na degradação de substratos de
uma mistura complexa. A técnica de bioestimulação se dá por meio da adição de nutrientes, substâncias
contendo nitrogênio e fósforo, que nutrem os microorganismos, tornando-se essenciais. Já a
biorremediação ex situ inclue a remoção do material contaminado por meio da escavação do solo, para que
seja tratado. Em geral, essa estratégia envolve o uso de biorreatores, que tem a função de adequar as
condições favoráveis para os microorganismos, equilibrando e gerenciando o aumento do controle entre os
microorganismos. Os métodos in situ e ex situ podem ser usados simultaneamente para potencializar a
biodegradação (DIAS, 2000).
Além disso, segundo Dias, a biorremediação, por ser uma tecnologia de menor custo do que outras
técnicas de remediação, tem se destacado como uma alternativa atraente. Ela apresenta várias vantagens:
pode ser um método mais barato em relação a outras tecnologias (33% a 50% mais barata em alguns
casos); quando usada in situ, a biorremediação evita escavações, evitando um maior impacto, além disso
sendo um processo natural, degradam-se dejetos em geral a CO2, água e ácidos graxos, como o petróleo; a
possibilidade de melhoramento de microorganismos e uma maior eficácia também se destaca como grande
vantagem. Entretanto como todo processo, a biorremediação apresenta limitações, não degradando todos
os dejetos a que se aplica; possui um tempo de operação lento; demanda gerenciamento, para se ter um
equilíbrio populacional dos microorganismos.
Por isso, pesquisas no âmbito da biorremediação têm se tornado valiosas, pois os processos
biológicos envolvidos são ainda mal conhecidos e é necessário que se aborde o problema de forma
multidisciplinar, para que assim a biorremediação seja cada vez mais adotada e aperfeiçoada por empresas
não só nas áreas de produção de petróleo, mas também em outras empresas, envolvendo outros rejeitos.

3. Metodologia
3.1 Isolamento das espécies
A obtenção de isolados de bactérias e leveduras foi realizada a partir de amostras de solo coletadas
nos municípios de Alto do Rodrigues e Carnaubais no estado do Rio Grande do Norte. As amostragens de
solo foram realizadas na profundidade de 0-20 cm em áreas de vegetação nativa e em áreas próximas a
poços de exploração de petróleo.

3.1.1 Método 1
Inicialmente foram diluídos 10g de solo em 90ml de meio Bushnell Haas (BH) cuja composição em
g/L é: 1g de KH2PO4, 1g de K2HPO4, 1g de NH4NO3, 0,2g de MgSO4.7H2O, 0,05g de FeCl3, 0,02g de
CaCl2.2H2O, para 1L de H2O. As suspensões solo:meio BH foram submetidas a agitação de 150 rpm e
temperatura de 30ºC, durante 21 dias, onde a cada 7 dias foi realizado um isolamento a partir do semeio
de 0,2mL de suspensão em placas de Petri, em triplicata, contendo meio de cultivo BH (Figura 3). As placas
foram incubadas em estufa até o surgimento das colônias.

Figura 3 – Amostras de solo submetidas a agitação em meio BH .

3.1.2 Método 2

João Pessoa, outubro de 2011


285

Foi realizada uma adaptação ao método 1 como forma de viabilizar o experimento, onde foram
diluídos 10g de solo em 90mL de solução salina (NaCl 0,85%) sendo esta suspensão submetida à agitação
de 150 rpm, temperatura de 30ºC durante 30 minutos. Em seguida realizou-se uma diluição seriada
solo:solução salina sendo semeadas em triplicata 0,2mL das diluições 10-4, 10-5 e 10-6 em meio BH sólido
tendo óleo cru como única fonte de carbono. A incubação foi realizada em estufa a 30°C para bactérias e
35°C para leveduras até o surgimento das colônias.

3.2 Purificação de isolados de bactérias e leveduras


Após a incubação foram selecionadas colônias de bactérias ou leveduras que apresentavam
características visualmente diferentes, buscando, assim, obter todas as espécies ali presentes. Estas
colônias foram então purificadas através da técnica de esgotamento em placas contendo meio sólido BH.
3.3 Teste de degradação in vitro de óleo cru
Os isolados foram inoculados em meio BH líquido e submetidos à agitação de 150 rpm,
temperatura de 30ºC até a observação de crescimento satisfatório (análise microscópica) (Figura 4).

Figura 4. Inoculação de isolados em meio BH líquido.

Para o teste de degradação in vitro de óleo cru foi utilizada uma placa de polietileno com 24
cavidades, contendo 1,8 ml de meio (BH ou BH + Extrato de levedura) em cada cavidade, 1 gota de óleo cru
e 0,1 ml de inóculo (Figura 5) .

ARVN
Legenda:
CPP ARVN = Alto do Rodrigues
Vegetação Nativa
CPP = Carnaubais Poço
ARPP1 Petrolífero
ARPP = Alto do Rodrigues Poço
ARPP2 Petrolífero

Meio BH Meio BH +
Extrato de
Levedura

Figura 5. Teste de degradação in vitro de óleo cru.


Para cada isolado, o teste foi realizado em triplicata e a placa foi mantida sob incubação durante 7
dias, sendo considerada positiva a cavidade onde o microrganismo foi capaz de afetar a gota de petróleo,
promovendo a modificação da textura, a diminuição da espessura da gota, turvação do meio e crescimento
visível do microrganismo na superfície do petróleo. A partir da análise visual da degradação de óleo das
espécies foram selecionados os isolados que demonstraram ter maior potencial degradador.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


286

4. Resultados e Discussão
Observa-se que após 3 dias da inoculação já é perceptível a degradação do petróleo pelo isolado
ARPP1 (Isolado 1 Alto do Rodrigues poço de petróleo) seja no meio BH ou no meio BH + Extrato de levedura
(Figura 6), mas sobretudo no meio BH.

ARVN Legenda:
ARVN = Alto do Rodrigues
CPP
Vegetação Nativa
CPP = Carnaubais Poço
ARPP1
Petrolífero
ARPP = Alto do Rodrigues
ARPP2
Poço Petrolífero

Meio BH Meio BH +
Extrato de Levedura
Figura 6. Resultado do teste de degradação in
vitro 3 dias após inoculação.

O resultado de degradação de petróleo em um intervalo tão curto (3 dias) é excelente uma vez as
referencias de literatura pesquisadas apontam que são necessários de 7 a 11 dias para visualização da
degradação do petróleo em ensaios in vitro utilizando placas de polietileno.
O isolado ARPP 1 (Isolado 1 Alto do Rodrigues poço de petróleo) intensificou o seu potencial de
degradação, apresentando o melhor desempenho dentre os isolados testados aos sete dias após a
incubação em meio BH (Figura 7). Observa-se também que após 7 dias de incubação que o isolado ARVN
(Alto do Rodrigues vegetação nativa) não demonstrou potencial para degradação de petróleo in vitro e que
para os isolado CPP (Carnaubais poço petróleo) e ARPP2 (Isolado 2 Alto do Rodrigues poço de petróleo)
houve degradação de petróleo somente em meio acrescido com extrato de levedura, demonstrando que
esta fonte de nitrogênio suplementar agiu como bioestímulo a degradação do poluente, principalmente
para o isolado ARPP2 (Figura 7). A introdução de nutrientes adicionais na forma de fertilizantes orgânicos
e/ou inorgânicos em um sistema contaminado, tem sido relatada como um fator de aceleração da
degradação de hidrocarbonetos, devido à elevação do número de microrganismos causado pelo aumento
dos níveis de nutrientes (Sarkar et al., 2005).

ARVN
Legenda:
ARVN = Alto do Rodrigues Vegetação
CPP Nativa
CPP = Carnaubais Poço Petrolífero
ARPP = Alto do Rodrigues Poço
ARPP1 Petrolífero

ARPP2

Meio BH Meio BH + Extrato


de Levedura

Figura 7. Resultado do teste de degradação in vitro 7 dias após inoculação.

5. Conclusões

João Pessoa, outubro de 2011


287

Nestas condições experimentais os isolados ARVN, ARPP1 e ARPP2 embora tenham sejam
provenientes da mesma região (Alto do Rodrigues) diferenciaram-se quanto ao potencial para degradação
de petróleo, sendo provável, que a exposição ao longo dos anos a solos contaminados por petróleo levou a
uma seleção natural de organismos hábeis (ARPP1 e ARPP2) em degradar petróleo utilizando-o como fonte
de carbono e que esta população adaptada apresenta forte potencial para ensaios futuros de
biorremediação in situ de petróleo, desde que conforme observado seja bioestimulada.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAIRD, Colin; trad. RECIO, Maria Angeles Lobo; CARRERA, Luiz Carlos Marques. – Química
Ambiental 2. Ed. – Porto Alegre: Bookman, 2002.
BDEP – Banco de Dados de Exploração e Produção, Produção de Petróleo Por Estado (2000-2009):
Arquivos relacionados, Acesso em Nov. 2010,
http://www.bdep.gov.br/?pg=2623&m=&t1=&t2=&t3=&t4=&ar=&ps=&cachebust=1290711144643
CARDOSO, Luiz Cláudio dos Santos; Logística do petróleo: transporte e armazenamento. – (Rio de
Janeiro: Interciência, 2004).
CETESB, 1992 Resíduos sólidos industriais. Companhia de tecnologia de saneamento ambiental. São
Paulo, SP. CLARK J.R., BROWN, D. N., 1977
DIAS, Ana Elisa Xavier de Oliveira; Resíduos Sólidos, Ambiente e Saúde: uma visão multidisclipinar,
cap. 4: Biorremediação de Áreas Afetadas por Resíduos Sólidos Tóxicos; organizadoras: SISINNO, Cristina
Lucia Silveira; OLIVEIRA, Rosália Maria – Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2000.
GALVÃO, Maria Luiza de Medeiros; Rio Grande do Norte: Geografia – Natal, Edição do Autor, 2005.
LORA, Electo Eduardo Silva; Prevenção e controle da poluição nos setores energético, industrial e
de transporte – 2. Ed. – Rio de Janeiro : Interciencia, 2002
SEABRA, P. N. Uso da biorremediação em áreas impactadas pela industria de petróleo.
Biodegradação. Embrapa Meio Ambiente, Jaguariúna/SP. 41-59 p. 2001.
THÉRY, Hervé; MELLO, Neli Aparecida. Atlas do Brasil: Disparidades e Dinâmicas do Território. / –
São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2005.
THOMAS, José Eduardo organizador. Fundamentos de Engenharia de petróleo. – 2. Ed. – Rio de
Janeiro: Interciência: PETROBRAS, 2004.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


288

CONHECIMENTO POPULAR E USO DAS PLANTAS DA RESTINGA PELA


COMUNIDADE DE BARRA DE SERINHAÉM, APA DE PRATIGI-BAHIA
1
CONCEIÇÃO, Hélen Rocha
2
MARTINS, Márcio Lacerda Lopes
3
TEIXEIRA, Marcos da Cunha
1
Acadêmica do Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.
2
Professor Assistente do Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
3
Professor Adjunto do Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Bioló gicas, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia,
Tutor do Programa de Educação Tutorial Conexões de Saberes Socioambientais
Autor correspondente: marcosteixeiraufrb@gmail.com

RESUMO
Neste estudo, apresentamos um pouco do conhecimento e dos usos atribuídos às plantas do
ecossistema de restinga pelos moradores da comunidade pesqueira de Barra de Serinhaém, localizada nos
limites da Área de Proteção Ambiental do Pratigi-BA. A coleta de dados consistiu na realização de
entrevistas semi-estruturadas nas residências e considerou o conhecimento dos entrevistados sobre as
plantas, nomes populares (etnoespécies), suas partes utilizadas e as formas de uso das mesmas. Foram
entrevistadas 33 famílias, com representação tanto dos nativos quando dos imigrantes, bem como de
crianças, jovens e idosos. Foram registradas 97 etnoespécies das quais as mais citadas foram: amesca,
orquídea, gravatá, cupiíba, dendezeiro, maçaranduba, sucupira, caroba, aroeira, murici, cajueiro, garu,
aderno, bromélia, jataipeba e ingazeira. As formas de uso mais frequentemente registradas foram
medicinais e alimentares, que juntas representaram 36,4%. Quanto ao órgão da planta mais utilizado pelas
famílias, o fruto foi o mais citado (33% dos informantes). Os resultados obtidos permitem afirmar que,
embora se trate de uma comunidade pesqueira, a restinga representa uma importante fonte
complementar de recursos para as famílias e que este ecossistema possui um significado cultural
importante para a comunidade, fato demonstrado pelo grande número de etnoespécies citados e pelos
diferentes usos atribuídos às plantas. Novos estudos serão realizados para coleta e identificação das
espécies botânicas para produção de uma coleção e um catálogo das principais espécies vegetais utilizadas
pela comunidade o qual será ofertado à escola local.
Palavras-chave: APA de Pratigi, etnobotânica, restinga

INTRODUÇÃO
“Há um vilarejo ali
Onde areja um vento bom
Na varanda, quem descansa
Vê o horizonte deitar no chão.
(Vilarejo – Marisa Monte)

Assim como a ciência, os saberes locais também são fontes importantes de conhecimento. No
entanto, abordam diferentes pontos de vista, pois enquanto a ciência tem como fim a globalização do
conhecimento, os saberes locais representam a visão que explicita uma cultura localizada. Os desafios do
mundo moderno têm levado cada vez mais os pesquisadores a reconhecer as limitações da ciência na
solução dos problemas do cotidiano. Essa nova realidade tem se apresentado de forma bastante
contundente para as ciências biológicas e em especial para a botânica, cuja missão é o registro da
biodiversidade vegetal com vistas a sua conservação. Do lado das ciências humanas, o desafio é o registro e
a preservação da diversidade cultural, em especial das comunidades tradicionais. Essas diferentes tradições
e formas de sobrevivência das comunidades humanas foram construídas e evoluíram em intima associação
e dependência da biodiversidade. Por isso, nenhum planejamento visando o manejo ou a conservação da
biodiversidade deve privilegiar um desses patrimônios em detrimento do outro. Diante desse cenário, é
razoável que se defenda a ideia de integração entre os conhecimentos científicos e populares.

João Pessoa, outubro de 2011


289

Entre as ciências que vem buscando uma aproximação com os saberes populares destaca-se a
Etnobotânica que utiliza e valoriza o conhecimento tradicional dos povos sobre as plantas e possibilita
entender a relação entre a cultura e a natureza. Esses estudos desempenham funções importantes ao
reunir informações acerca dos possíveis usos de plantas que poderão contribuir para o desenvolvimento de
novas formas de exploração dos ecossistemas em oposição às formas destrutivas vigentes (ALBUQUERQUE,
2002a; BORGES & PEIXOTO, 2009; PATZLAFF & PEIXOTO, 2009). No Brasil, a construção e a transformação
da etnobotânica acontecem em um cenário de diversidade cultural e de diversidade biológica, que juntos
constituem um patrimônio de imenso valor. Estudos desta natureza tornam-se ainda mais necessários na
Zona Costeira Brasileira, onde os diversos ecossistemas que a compõem vêm sendo fortemente impactados
devido às atividades de especulação imobiliária e expansão urbana (FONSECA-KRUEL & PEIXOTO, 2004).
Poucos estudos têm sido realizados na região nordestina com o objetivo de desenvolver programas
de conservação e recuperação dos recursos naturais, inclusive em relação ao conhecimento e usos que as
populações assentadas fazem dos recursos ainda encontrados nos remanescentes florestais (SILVA et al.
2005). O Litoral da Bahia é um dos roteiros turísticos mais procurados o que aumenta os riscos de impactos
sociais, culturais econômicos e ambientais nas comunidades tradicionais, há muito estabelecidas nessas
áreas.
Entre os ecossistemas litorâneos, a restinga certamente está entre os mais afetados pelas novas
formas de uso dos recursos naturais. Esses ecossistemas estendem-se por 79% do litoral brasileiro, sobre
sedimento quaternário tanto do Pleistoceno quanto do Holoceno (LACERDA et al. 1993). Muito pouco
dessa área está devidamente protegida sob Unidades de Conservação. A restinga pode ser considerada
como um dos biomas mais ameaçados pela ação antrópica, principalmente pela ocupação e urbanização de
sua área, impacto este que tem adquirido grandes proporções nos tempos atuais. É por isso que Diegues
(2000) citado por Borges & Peixoto (2009) defende que a cultura tradicional das populações de pescadores,
grupo social com fortes ligações com a natureza, deve ser estudada, protegida e valorizada, pois, com isso,
torna-se maior a probabilidade de assegurar os serviços ambientais dos ecossistemas naturais, combinando
a manutenção da cobertura vegetal e a melhoria da qualidade de vida do homem nas áreas onde vivem.
É preciso valorizar o conhecimento empírico tradicional das sociedades humanas e gerar novos
conhecimentos que subsidiem os trabalhos sobre uso sustentável da biodiversidade a partir das formas de
manejo dos ecossistemas adotado pelas comunidades. Nesse contexto, merecem atenção especial as
comunidades tradicionais cujos espaços de vivência histórica foram anexados ou transformados em
unidades de conservação. O objetivo deste estudo foi investigar o conhecimento sobre as plantas da
restinga historicamente construído pelos moradores da comunidade de Barra de Serinhaém, localizada
dentro dos limites da Área de Proteção Ambiental do Pratigi-BA.

MATERIAL E MÉTODOS
A área de estudo
A Área de Proteção ambiental do Pratigi possui 85.686 hectares e localiza-se no Baixo Sul da
Bahia (FISCHER, 2007), nos municípios de Ibirapitanga, Igrapiúna, Ituberá, Nilo Peçanha, e Piraí do
Norte (Figura 1). Inserida no corredor central da Mata Atlântica, criada em abril de 1998 com objetivo de
proteger as grandes extensões de praias, restingas, manguezais e remanescentes de floresta ombrófila
densa, bem como promover o desenvolvimento rural e urbano dos municípios que a abrigam (AGIR, 2009).
O município de Ituberá possui cerca de 417,542 km2 de área e a população estimada é de 24.169
habitantes (IBGE, 2009). As Coordenadas Geográficas são: 13°44’S e 39°08’W e a economia é caracterizada
pelo cultivo de produtos diversificados, produzidos em pequena escala, a exemplo do cacau, dendê, coco,
cravo da índia, pimenta do reino, piaçava, borracha, guaraná e recentemente, o palmito (FONSECA, 2002).
A comunidade de Barra de Serinhaém, foco deste estudo, está localizada na porção estuarina do
município de Ituberá (Figura 1) e possui atualmente 545 habitantes, distribuídos em 132 famílias. O acesso
à comunidade pode ser por via marítima (aproximadamente 2 horas de barco a partir da sede do
município); ou por via terrestre, pela praia de Pratigi em maré baixa. A paisagem é composta por densas
áreas de manguezal, matas, vegetação de várzea; e também por extensos coqueirais, dendezeiros e
piaçaveiras (FONSECA, 2002).

Primeiras aproximações

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


290

Primeiramente, é preciso esclarecer que a primeira autoria deste trabalho é moradora do município
de Ituberá e já há algum tempo frequentava a comunidade de Barra de Serinhaém. Mesmo assim, sentimos
necessidade de estreitarmos os laços com a comunidade no intuito de garantirmos nossa aceitação e,
consequentemente, a confiança dos moradores para nos fornecer as informações desejadas. Assim,
realizamos algumas visitas aleatórias à comunidade no período de junho a agosto de 2010, para
reconhecimento da área e estabelecimento de relações. Em seguida, procuramos a agente de Saúde da
comunidade, explicamos nossa proposta de projeto e solicitamos sua ajuda para uma aproximação mais
efetiva com a comunidade. Além disso, a mesma nos auxiliou no entendimento dos aspectos físicos,
demográficos, relações sociais, figuras humanas de destaque e possíveis lideranças. Foi com a ajuda da
agente de saúde que fomos aos poucos conhecendo as pessoas da comunidade e estabelecendo laços de
confiança e somente após o terceiro mês iniciamos as primeiras coletas de dados.

Figura 1. Localização da Área de Proteção Ambiental do Pratigi onde está inserida a Comunidade de
Barra de Serinhaém (adaptado de Fischer, 2007 e AGIR, 2009).

Caracterização dos entrevistados


Para caracterização dos entrevistados, o questionário continha dados pessoais dos informantes,
como idade, profissão e local de origem. A princípio, não houve critério de inclusão para os entrevistados e
a entrevista procedia à medida que alguma pessoa da residência visitada se dispunha a responder às
perguntas.

Coleta dos dados


A coleta de dados consistiu na realização de entrevistas semi-estruturadas nas residências por meio
de um questionário desenvolvido a partir de adaptações de outros estudos disponíveis na literatura (JESUS,
1997; FERRAZ et al. 2006; MIRANDA & HANAZAKI, 2008). Os dados foram anotados em fichas de campo e
como não foram coletadas espécies botânicas, obteve-se apenas um registro de nomes populares, os quais
foram chamados de etnoespécie (MIRANDA & HANAZAKI, 2008). Para cada etnoespécie indicada como útil,
foi solicitado citar quais as partes da planta eram comumente utilizadas e com que finalidade. As

João Pessoa, outubro de 2011


291

etnoespécies foram enquadradas nas seguintes categorias de uso: medicinal, alimentar, ornamental,
construção e outros, seguindo-se a divisão utilizada por Fonseca-Kruel & Peixoto (2004). A categoria
“outros” inclui artesanato, fabricação de óleos, defumagem e incensos. Os dados foram organizados em
planilhas eletrônicas para estimar as frequências de citação das etnoespécies seus respectivos tipos de uso
pelos informantes.

RESULTADOS
Foram entrevistados 33 moradores, sendo um de cada residência. Esse total corresponde a 25% do
total de residências existentes na comunidade. Entre os entrevistados 45,5% se declararam nativos e
54,5%, advindos de outros lugares. A faixa etária variou entre 11 e 84 anos, sendo a maior proporção de
entrevistados (42,1%), com idade superior a 50 anos, a maioria mulheres (72,7%).
A maioria dos entrevistados (72,7%) declarou que já visitou a mata de restinga que fica nas
proximidades da vila enquanto os demais disseram não conhecê-la.
Foram registrados 97 nomes populares de plantas (etnoespécies) sendo que as mais
frequentemente citadas pelos informantes: amesca (11); orquídea (10); gravatá, cupiíba e dendezeiro (7);
maçaranduba, sucupira, caroba, aroeira, murici, cajueiro e garu (6); aderno, bromélia, jataipéba e ingazeira
(5) (Tabela 1).
Dos usos atribuídos pelos moradores as finalidades medicinal e alimentar merecem destaque com
36,4% cada uma, o que corresponde a 39 citações. As plantas com valor ornamental representaram 8,4%,
ou seja, 09 citações. Já as categorias lenha e construção representaram 4,7% e 3,7%, respectivamente,
sendo que a finalidade lenha foi mencionada por cinco moradores, enquanto a categoria construção obteve
quatro citações.
Dentre as partes da planta, ou órgãos vegetais, o fruto é o mais explorado (33,0% das citações). O
caule também apresentou resultados expressivos (31,1%). As folhas foram citadas por 17,9% dos
entrevistados. Apenas 6,6% afirmaram explorar a planta em sua totalidade; enquanto flor, raiz e semente
representaram 7,5%; 1,9% e 1,9%, respectivamente.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


292

Tabela 1. Etnoespécies botânicas do ecossistema de restinga e respectivas formas de uso citadas


pelos moradores da comunidade de Barra de Serinhaém, na APA do Pratigi-BA. (me = medicinal; al =
alimentação; co = construção; le = lenha; or = ornamentação; ou = outras formas de uso).
No Etnoespécie FA FR (%) No Etnoespécie FA FR (%)

1 Amesca 11 4,825 51 Arcansus 1 0,439


2 Orquídea 10 4,386 52 Bambu 1 0,439
3 Cupiíba 7 3,070 53 Bananeira 1 0,439
4 Dendezeiro 7 3,070 54 Barbatimão 1 0,439
5 Gravatá 7 3,070 55 Bugi 1 0,439
6 Aroeira 6 2,632 56 Cacto 1 0,439
8 Cajueiro 6 2,632 57 Caldo 1 0,439
9 Caroba 6 2,632 58 Cana-de-macaco 1 0,439
10 Garu 6 2,632 59 Canela 1 0,439
11 Maçaranduba 6 2,632 60 Cipó-de-amesca 1 0,439
12 Murici 6 2,632 61 Cocó 1 0,439
13 Sucupira; sicupira 6 2,632 62 Coquinho 1 0,439
14 Aderno 5 2,193 63 Croto 1 0,439
15 Bromélia 5 2,193 64 Escada-de-macaco 1 0,439
16 Engazeira, ingazeira 5 2,193 65 Genipapo 1 0,439
17 Jataipeba 5 2,193 66 Golfo 1 0,439
18 Embaúba; umbaúba 6 2,632 67 Gueréim 1 0,439
19 Gameleira 4 1,754 68 Guina-rosa 1 0,439
20 Jacarandá 4 1,754 69 Ingá-7-anos 1 0,439
21 Lôro 4 1,754 70 Ingá-canivete 1 0,439
22 Bacupari 3 1,316 71 Ingá-cipó 1 0,439
23 Bananeira-do-mato 3 1,316 72 Inhaíba 1 0,439
24 Coqueiro 3 1,316 73 Jambo 1 0,439
25 Muçerengue 3 1,316 74 Jamburandi 1 0,439
26 Murta 3 1,316 75 Jaqueira 1 0,439
27 Bacural 2 0,877 76 Jatobá 1 0,439
28 Baga-de- louro 2 0,877 77 Jenipapo-do-mato 1 0,439
29 Biriba 2 0,877 78 Jussara 1 0,439
30 Carqueja 2 0,877 79 Licuri 1 0,439
31 Cipó 2 0,877 80 Macambira 1 0,439
32 Coco-babão 2 0,877 81 Matataíba 1 0,439
33 Conduru 2 0,877 82 Mucugê 1 0,439
34 Coquinho de buri 2 0,877 83 Muçutaíba 1 0,439
35 Feto 2 0,877 83 Noz-moscada 1 0,439
36 Gravatá-de-campo 2 0,877 84 Paparaíba 1 0,439
37 Ibiruçú 2 0,877 85 Pati 1 0,439
38 Landirana 2 0,877 86 Piquiá 1 0,439
39 Mangueira 2 0,877 87 Piquiá-do-mato 1 0,439
40 Oiti 2 0,877 88 Pupunha 1 0,439
41 Olandi 2 0,877 89 Quina 1 0,439
42 Palmeira 2 0,877 90 Sapé 1 0,439
43 Pindaíba 2 0,877 91 Sapucaia 1 0,439
44 Samambaia 2 0,877 92 Seringueira 1 0,439
45 Taipoca 2 0,877 93 Taioba 1 0,439
46 Abacateiro 1 0,439 94 Tati 1 0,439
47 Abacaxi-do-mato 1 0,439 95 Tiririca 1 0,439
48 Angelica-do-mato 1 0,439 96 Trinca-trinca 1 0,439
49 Araçá 1 0,439 97 Xananã 1 0,439
50 Araticum 1 0,439

João Pessoa, outubro de 2011


293

Outros
Categotias de uso Ornamental
Lenha
Construção
Alimentar
Medicinal

0 10 20 30 40 50

Citações

Figura 11. Número de espécies e categorias de uso, em valores absolutos mencionadas pelos
habitantes de Barra de Serinhaém, Ituberá, BA.

Toda
Órgãos utilizados

Semente
Fruto
Flor
Folha
Caule
Raiz

0 5 10 15 20 25 30 35 40

Citações

Figura 3. Órgãos vegetais explorados pelos moradores da comunidade de Barra de Serinhaém.


Citações em valores absolutos.

DISCUSSÃO
Embora uma parcela considerável dos informantes afirme não conhecer a mata de restinga
próxima à vila, a quantidade de etnoespécies citadas revela que a comunidade de Barra de Serinhaém
detém um conhecimento rico sobre a flora da restinga e que esse ecossistema tem um importante
significado na complementação alimentar e na saúde das famílias.
Os resultados obtidos neste estudo corroboram com outros estudos etnobotânicos realizados com
outras comunidades tradicionais que vivem sobre os ecossistemas de restinga em outras localidades.
Miranda & Hanazaki (2008), por exemplo, ao estudar comunidades litorâneas da Ilha do Cardoso (SP) e da
Ilha de Santa Catarina-SC, entrevistaram individualmente 63 pessoas nas duas áreas de estudo. Mas, ao
contrário do presente estudo, as autoras selecionaram os seus informantes com base na faixa etária, além
do tempo de residência no local, que deveria ser superior a cinco anos. Mesmo assim, percebe-se certa
similaridade entre as áreas supracitadas e barra de Serinhaém, especialmente no que tange à utilização das
plantas na comunidade, pois as autoras observaram predomínio das categorias medicinal, alimentar e

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


294

manufatura. Resultados semelhantes também foram obtidos por Fonseca-Kruel & Peixoto (2004), em
Arraial do Cabo (RJ), pois, das 68 espécies registradas pelas autoras, a maioria (31) foi classificada como
alimentar, seguida de medicinais (27), uso em teconologias (20), como lenha (6), para construção (6) e
ornamentais (2). Portanto, com exceção da categoria “tecnologia”, todas as outras foram registradas no
presente estudo e com frequências correspondentes.
Quanto aos órgãos das plantas; os resultados obtidos neste estudo são similares ao trabalho de
Fonseca-Kruel & Peixoto (2004) que também registraram os frutos como os mais úteis (28%). As
etnoespécies encontradas por esses autores e também utilizadas pelas famílias em Barra de Serinhaém
incluem: bacupari, aroeira, ingá, murici, murta e caju. Esses resultados demonstram coerência com a maior
frequência do uso como alimentação, para os quais os frutos são os mais importante; e para o uso
medicinal, para o qual os frutos contribuem significativamente.
Um aspecto importante é que os homens citaram com maior frequência as madeiras-de-lei fazendo
referências à finalidade de construção. Já as mulheres, fizeram maior referência ao uso medicinal,
alimentar e ornamental, como orquídeas e bromélias. Assim, os resultados permitem sugerir que a
construção do conhecimento sobre da comunidade sobre o ecossistema de restinga envolve questões
ligadas ao gênero e está diretamente ligado á divisão cultural do trabalho na comunidade.
Os entrevistados informaram que o conhecimento sobre os usos das plantas são oriundos de seus
antepassados (pais/avós), o que demonstra um esforço de manutenção da cultura da comunidade
localidade, a exemplo de outras comunidades que vivem sobre a restinga, como observado por outros
autores (GIRALDI & HANAZAKI, 2010; CARNEIRO et al. 2010). Embora não tenhamos investigado a relação
entre a idade do informante e o grau de conhecimento do mesmo, esta relação foi evidente neste estudo,
pois as pessoas com faixa etária acima de 50 anos citavam sempre um maior número de etnoespécies que
os mais jovens. Mais ainda, da mesma forma como registrados por outros autores em estudos semelhantes
a estes (BOSCOLLO & VALLE, 2008; CARNEIRO et al. 2010) estas pessoas discorreram sobre a estrutura da
mata e o uso das plantas com mais propriedade que os mais jovens. Contudo, não se pode inferir que esse
fato seja um indício de que essa tradição vem sendo perdida. Nesse aspecto, cita-se ainda que as crianças
demostraram interesse no tema e algumas delas fizeram questão de participar da entrevista. Porém, em
geral, os pais e avós evitavam a intromissão e não os autorizavam a falar, alegando que podiam atrapalhar
a condução da entrevista.
Dentre as espécies citadas, a que mais se destacou foi a Amesca, que na comunidade possui um
alto valor medicinal sendo a resina extraída do caule utilizada como expectorante. Boscollo & Valle (2008)
explicitaram atividade anti-inflamatória, anti-malárica e analgésica para a resina e também encontraram
citações sobre esta etnoespécie, na restinga de Quissamã (RJ). Além disso, Almeida et al, (2008) menciona
esta etnoespécie (epíteto específico: Protium heptaphyllum (Aubl.) Família Burseraceae) com diversas
atribuições, não só medicinais, como também na fabricação de vernizes e tintas, calafetagem de
embarcações e repelente de insetos. Trata-se de uma espécie encontrada na Região Amazônica e nas
Restingas da Região Nordeste, segundo dados do autor; sempre enfatizando a poderosa ação medicinal
inerente à resina que é extraída do caule. Outros nomes vernaculares também são referentes a esta
espécie vegetal, tais como: breu branco verdadeiro, breu, amescla (ou almesca). Os moradores enfatizaram
o conhecimento passado ao longo das gerações, e foi unânime entre as citações o poder de cura que esta
planta apresenta. Esta também foi a espécie mais explorada em termos de órgão, pois os moradores
citaram raiz, caule e frutos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados obtidos permitem afirmar que, embora se trate de uma comunidade pesqueira, as
plantas da restinga representam uma importante fonte complementar de recursos alimentares e
medicinais para as famílias e que este ecossistema possui um significado cultural importante para a
comunidade, fato demonstrado pelo grande número de etnoespécies citados e pelos diferentes usos
atribuídos ás plantas. Quanto a esse aspecto, é preciso considerar que o total de etnoespécies pode não
correspondem exatamente ao total de espécies botânicas, pois podem existir nomes comuns diferentes
para uma mesma espécie. Da mesma forma, o numero de espécies botânicas pode ser maior que 97, pois
um mesmo nome comum pode estar sendo utilizado para designar mais de uma espécie.

João Pessoa, outubro de 2011


295

Mesmo sendo uma área de mata distante da vila percebemos que os informantes possuem um
vasto conhecimento e uma íntima relação com o meio a sua volta. Conhecimento este que tem
representado uma estratégia definitiva de sobrevivência da comunidade. Por isso, um aspecto importante a
ser considerado é que, com a criação da APA do Pratigi, o poder público estabeleceu normas que limitam
ou proíbem a implantação ou desenvolvimento de atividades que afetem as características ambientais
dessas áreas e suas condições ecológicas, ou ainda que ameacem as espécies da biota regional. É uma
forma de conservação que disciplina o uso e a ocupação do solo, através de zoneamento, procedimentos
de controle e fiscalização, e programas de educação ambiental. Por isso, não descartamos a possibilidade
de que alguns entrevistados tenham evitado dar maiores detalhamento sobre uso mais frequente das
plantas para fins como lenha e construção, por exemplo.
A íntima relação das comunidades com o ecossistema de restinga, registrada neste estudo, nos
alerta para a necessidade de se buscar condições para que os enfoques tradicionais de manejo dos
ecossistemas dessa comunidade sejam valorizados no gerenciamento da APA do Pratigi. Como afirma
Diegues (1998), “a política ambiental vigente, ao ignorar o potencial conservacionista dos segmentos
culturalmente diferenciados que historicamente preservaram a qualidade das áreas que ocupam, tem
desprezado possivelmente uma das únicas vias adequadas para alcançar os objetivos que propõe”.
Finalmente, reafirmamos que este estudo corrobora com os argumentos de que os conhecimentos
etnobotânicos podem contribuir para o conhecimento científico. No entanto, a etnobotânica não serve
apenas como ferramenta para resgatar o conhecimento tradicional, mas também é importante no resgate
dos valores culturais das comunidades em foco (PRANCE, 1987). Sendo assim, novos estudos serão
realizados para coleta e identificação das espécies botânicas que subsidiarão a produção de uma coleção e
um catálogo das principais espécies vegetais utilizadas pela comunidade o qual será ofertado à escola local.

Agradecimentos: a toda a comunidade de Barra de Serinhaém pelo acolhimento dos pesquisadores,


especialmente aos moradores que concederam as entrevistas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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João Pessoa, outubro de 2011


297

CARACTERÍSTICAS FLORÍSTICAS DO INSELBERGUES ESPINHO BRANCO NO


MUNICÍPIO DE PATOS-PB
11
Elenide de Sousa Martins
12
Helena Martins Fausto
13
Carolina dos Santos Guedes

RESUMO
Inselbergues são formações geológicas indicadoras de processo de pediplanação em áreas
semiáridas. São formados pela erosão diferencial e caracterizam-se pelo isolamento em relação a outras
formações e, em relação às áreas adjacentes, muitas vezes funcionam como ilhas biológicas. Estes
ambientes oferecem abrigo e alimento, o que faz com que animais e plantas ali se estabeleçam, efêmera
ou definitivamente. O presente estudo buscou Identificar a vegetação do Inselbergue localizado na zona
periurbana do município de Patos – PB, conhecido como Espinho Branco. Foi utilizado para mapear as áreas
estudadas em campo o aparelho de GPS, máquina fotográfica, caderneta de campo e ferramentas manuais
para utilização em campo. Em gabinete foi realizado a confecção de mapa com imagem do Google Earth,
classificação das espécies encontradas em campo. O Inselbergue Espinho Branco apresenta uma subida
mais íngreme a sudeste e um aclive mais suave a noroeste. Foram estudadas seis áreas, escolhidas ao
acaso, que apesar da época do ano, estiagem, e do ambiente altamente xérico, apresentaram boa
quantidade de espécies. No entorno do “serrote” destaca-se a vegetação xérica com destaque para a
Jurema. Na superfície do inselbergue foram localizados três tipos e microhabitats: superfície de rocha,
fendas e depressões da rocha. Sendo, estas últimas duas, as mais ricas biologicamente. Nas seis áreas
estudadas destaca-se a quarta área que possui maior número de espécies como também espécies que só
foram nesta área, como a Aroeira, Imburana de Cambão, Mandacaru, Melosa, Mororó Liso, Pau de Serrote,
Velame e Mijo de Raposa que não foi identificado, tendo a predominância de angico, espécie rara da
caatinga.
Palavras-chave: Caatinga, Ambiente Xérico, inselberques.

1 INTRODUÇÃO
A vegetação predominante nos inselbergues é superficial com domínio de ervas e arbustos
(BARTHLOTT et al. 1993; POREMBSKI et al. 1998). Esses afloramentos são considerados ambientes xéricos8
devido ao fato das comunidades vegetais presentes nesses locais ficarem diretamente expostas à ação do
sol e vento (GRÖGER e BARTHLOTT, 1996). A temperatura atmosférica pode alcançar valores acima de 45°
(GROGER e BARTHLOTT, 1996). Geralmente a diversidade e cobertura vegetal sobre afloramentos rochosos
tendem a aumentar de acordo com a umidade, a estabilidade e disponibilidade de rochas nos lugares para
a germinação das sementes (LARSON et al. 2000).
A vegetação sobre inselbergue podem variar de acordo com as Características da rocha onde cresce
como propriedades químicas e composição, os padrões de erosão e fraturando padrão que, por sua vez
relacionados com a composição da rocha (rochas ultramáficas, quartzitos, granitos, calcários, arenitos) e as
condições ambientais locais, variações topográficas e microclimáticas e contexto florístico regional,
paleoclima e da história (POREMBSKI et al. 1994; ESCUDERO 1996, LARSON et al. 2000; SEINE et al. 1998,
BURKE, 2002).

O bioma Caatinga é o único bioma exclusivamente brasileiro, sendo o maior e mais importante
ecossistema da Região Nordeste do Brasil, estendendo-se pelo domínio de climas semi-áridos, numa área

11
Licenciada em Geografia pelas Faculdades Integradas de Patos, discente do Curso de Ciências Agrárias pela
UFPB. elenidemartins@hotmail.com
12
Discente do Curso de Geografia pelas Faculdades Integradas de Patos. helenamartins88@hotmail.com
13
Discente do Curso de Ciências Biológicas da UFCG, Campus de Patos.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


298

de quase 100 milhões de hectares, cerca de 11% do território nacional, cobre aproximadamente 800.000
km² do Nordeste brasileiro (ANDRADE et al., 2005). A caatinga é caracterizada como formação xerófila,
lenhosa, decidual, em geral espinhosa, com presença de plantas suculentas e afilas, variando do padrão
arbóreo arbustivo e com extrato herbáceo estacional. Essa vegetação xerófila é essencialmente
heterogênea no que se refere à fitofisionomia e à estrutura, tornando difícil a elaboração de esquemas
classificatórios capazes de contemplar satisfatoriamente as inúmeras tipologias alivocorrentes (ANDRADE-
LIMA, 1981; BERNARDES, 1985; ANDRADE et al., 2005). A presença ou ausência de chuvas é fundamental
no estabelecimento do cenário da
vegetação da caatinga. No período chuvoso predomina o verde e no período seco um tom cinza,
quando a vegetação hiberna fazendo jus ao nome indígena caatinga que significa “mata branca”
(MALVEZZI, 2007).
Estudar a biodiversidade em inselbergues é importante em diversos aspectos. Sendo um ambiente
ecologicamente isolado de seu entorno, constituem paisagens destacada pela sua beleza, guarda um
grande potencial para estudos sobre biodiversidade, sendo que tais estudos têm demonstrado inusitada
riqueza de espécies e reforçado a idéia de que áreas ricas nesse tipo de relevo sejam consideradas como
prioritárias para a preservação. Tais estudos contribuíram de forma decisiva para proteção destes
ambientes, sendo ecossistemas fragmentados em microhabitats expostos na superfície da rocha (KLUGE e
BRULFERT, 2000).
O presente trabalho possui o objetivo de identificar e classificar as espécies vegetais encontradas
no Inselbergue Espinho Branco. Justifica-se pela necessidade de conhecimento destas espécies existentes
nestes ambientes, destacando em estudo o Inselbergue Espinho Branco localizado no município de Patos –
PB.

2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Caracterização da área de estudo
A pesquisa foi realizada em campo e em gabinete, com caráter exploratório quali-quantitativa
realizada com visitas no local e análise posterior do material coletado.
A cidade de Patos se insere na mesorregião do Sertão Paraibano, situada a 300 km da capital João
Pessoa, entre as coordenadas geográficas de 7°01’28’’S e 37°16’48’’W, com altitude média de 249 m. Sua
abrangência territorial é de 506 km², sob o efeito de um clima semiárido quente e seco do tipo Bsh,
segundo a classificação climática de Köppen, que pode na estação seca atingir até 11 meses ao ano
(BELTRÃO, 2005). As temperaturas locais oscilam entre 24 a 34ºC, apresentando temperatura média anual
de 27,8ºC. Com uma pluviosidade média anual de 600 mm.ano-¹ com potencial de evapotranspiração acima
de 2 000 mm.ano-¹.
O acesso principal para a cidade é pela BR-230, conectando-se com a capital do Estado. Limita-se
com São José de Espinharas, Malta, Catingueira Santa Terezinha, São José do Bonfim, Cacimba de Areia,
Quixaba e São Mamede, sendo uma cidade pólo.
Na pesquisa de campo foram realizadas visitas no Inselbergue Espinho Branco, onde foram
estudadas seis áreas sorteadas aleatoriamente, com superfícies médias de 100 m2, onde foi feito o
levantamento botânico e de condições de conservação. A área foi medida, isolada e referenciada, para
efeitos do presente estudo. Foi realizada a identificação dos habitats existentes no inselbergue.
Concomitantemente foi realizada a identificação de espécies vegetais com a ajuda de um “mateiro”
profissional, que desenvolve trabalhos junto aos discentes e docentes do CSTR/UFCG em Patos – PB, que
identificou as plantas existentes nas áreas estudadas. Foram ainda fotografadas todas as áreas, sendo feito
ainda um levantamento das características de declividade e cobertura vegetal. Todas as fotografias do
presente trabalho são de propriedade da autora.
Concomitantemente à pesquisa foram realizados levantamentos bibliográficos, com consulta em
livros, sites, artigos científicos, revistas e documentos técnicos, reforçando o conhecimento sobre a
vegetação de inselbergues em todo o mundo, especialmente na região paraibana, no intuito de enriquecer
o presente trabalho.
Após a pesquisa em campo, os dados foram catalogados e, a partir daí, foram realizadas análises
estatísticas e classificação da vegetação encontrada nas áreas estudadas. As espécies vegetais encontradas

João Pessoa, outubro de 2011


299

foram identificadas através de consulta à literatura especializada, com ajuda de materiais da biblioteca do
campus da UFCG de Patos.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Identificação e descrição da vegetação no Espinho Branco
A identificação da vegetação procedeu-se com visitas in loco no intuito de estudar a florística do
inselbergue Espinho Branco em seis áreas, escolhidas ao acaso, que apesar da época do ano, estiagem, e do
ambiente altamente xérico, apresentaram boa quantidade de espécies. Sendo registradas por meio escrito
e fotográfico.

Figura 1: Imagem de satélite correspondente as seis Área estudados no Espinho Branco. (Fonte: Google
Earth.com modificado).

3.1.1 Primeira área


A área um, pode ser classificada como pequena depressão onde um solo raso pode desenvolver-se.
Sendo encontradas 11 espécies vegetais, destacados na Tabela 1.

Tabela 1: Espécies encontradas na área um


NOME POPULAR NOME CIENTÍFICO
Alfazema brava Hyptis suaveolens (L) Poit
Canela de ema Xerophytac Cinerasceans Roem.et Schult
Feijão de Rolinha Macroptillium lathyroides (L.) Urban
Gergelim bravo Sesamum indicum L.
Macambira de lajeiro Eucholirium Spectabile Mart.
Maniçoba Manihot gloziovii Muell.arg.
Mucunã Dioclea grandiflora Mart.
Capim panasco Aristida adscensionis L.
Rabo de raposa Arrojadoa rhodanlha(Guerke) Br.et Rose
Urtiga branca Loasa rupestris Gardner
Xiquexique Pilosocereus gounellei(Weber) Byl.et Rowl.

Uma característica marcante nesta área foi a declividade, com o vento a solta vento com altitude
de 405,32m da base a área. O solo bastante pedregoso, com seixos e matacões que circunda toda a área. A
predominância nesta área é o de capim panasco (Aristida adscensionis L.), que cobre todo o chão, ondulado

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


300

ao vento. Na época de estiagem amarelece e confere à paisagem um colorido paleáceo claro,


inconfundível. Trata-se de uma gramínea nativa que compõe o estrato herbáceo, muito resistente às
estiagens.
As espécies que foram encontradas apenas nesta primeira área são a alfazema brava, a mucunã e o
rabo de raposa. A alfazema brava é uma planta arbustiva perene, de ramos castanho-acinzentados e que
atinge cerca de um metro de altura, é resistência ao sol e à aridez da pedra, possui propriedades medicinais
com atividade anti-séptica e insecticida. A mucunã é um cipó vigoroso, trepador, subindo à copa das
árvores ou recobrindo conjuntos de arbustos por quase toda a área das caatingas, onde não
excessivamente seca (LIMA, 1989). O rabo de raposa é da família Cactácea, é uma planta ereta, com
ramificações aparentemente dicotômicas, articulada a intervalos irregulares.

3.1.2 SEGUNDA ÁREA


A área dois localiza-se no topo do inselbergue, na superfície da rocha, com pouco solo e exposição
máxima de luz e ventos fortes o dia todo. Caracteriza se por uma vegetação rasteira e espaçada. Com uma
altitude de 410,37m entre base e a área, foram encontradas cinco espécies. As espécies ali encontradas são
listadas na Tabela 2, que segue:

Tabela 2: Espécies encontradas na área dois


NOME POPULAR NOME CIENTÍFICO
Canela de ema Xerophytac Cinerasceans Roem.et Schult.
Gergelim bravo Sesamum indicum L.
Capim panasco Aristida adscensionis L.
Urtiga branca Loasa rupestris Gardner
Xique-xique Pilosocereus gounellei(Weber) Byl.et Rowl.

Nesta área podemos destacar a Canela de ema (Xerophytac Cinerasceans Roem.et Schult.) da
família Velloziacea, que apesar de se encontrarem espaçada na área, destaca-se na área, por ser a espécie
de maior porte entre as demais.
A canela de ema possui o caule ereto e com poucas ramificações, não apresenta pêlos. Seus ramos
são duas pontas (dicotômicos), cilíndricos, com bainhas fibrosas (onde se liga ao caule). Já suas flores são
actinomorfas (quando as pétalas e sépalas são semelhantes). É um arbusto comum no cerrado brasileiro,
muito usada como planta ornamental, não só pela sua coloração, mas também pela beleza de suas
folhagens. A canela de ema tem ainda um potencial forrageiro (as folhas geralmente são escolhidas pelo
gado em áreas de pastagens nativas).

3.1.3 Terceira área


A área três encontra-se numa pequena depressão com uma altitude de 379,12m, bastante
destacada da área adjacente, onde se encontra um ambiente bem particular que recebe fortes ventos e
grande insolação principalmente na primeira parte do dia. As espécies encontradas ali são listadas na
Tabela 3: que segue:

Tabela 3: Espécies encontradas na área três


NOME POPULAR NOME CIENTÍFICO
Canela de ema Xerophytac Cinerasceans Roem.et Schult.
Gergelim bravo Sesamum indicum L.
Jurema preta Mimosa tenuiflora(Willd.) Poir.
Macambira Eucholirium Spectabile Mart.
Capim panasco Aristida adscensionis L.

As espécies nesta área é semelhante à anterior, destacando a jurema preta (Mimosa hostillis
Wild.)Poir, que marca a paisagem na área.

João Pessoa, outubro de 2011


301

Esta pequena área se destacou pela dicotomia formada com a área adjacente já que está localizado
numa pequena depressão rodeada pela rocha nua, o que lhe dá destaque, apesar do pequeno tamanho,
pode ser visto em fotos de satélite.
A jurema-preta pertence à família Leguminosae, caracterizada da Caatinga, é uma leguminosa que
atinge cerca de 4,0m de altura, apresenta espinhos, é resistente a estiagem, e que no final da estação
chuvosa suas folhas envelhecem e caem naturalmente, permanecendo em dormência até o início das
chuvas. Em seu habitat natural, a jurema-preta tem sido explorada para produção de estacas e lenha, além
de apresenta, um grande potencial de produção de forragem constituindo, na maioria das vezes, a principal
fonte de alimentação animal.

3.1.4 Quarta área


A área quatro se destaca por ser uma fenda na rocha, o que lhe dá a característica de um solo mais
profundo, por conseguinte existe a presença de árvores e espécies que não foram encontradas nas outras
áreas, conforme pode ser visto na Figura 4 que segue:
Com uma altitude de 357,49m, destaca-se nesta área a presença de espécies raras da caatinga
da região, como a Aroeira, Angico e o Mororó. O fato de ser esta fenda protegida dos ventos e com
solo relativamente profundo, certamente favoreceu o desenvolvimento destas espécies que são mais
exigentes em relação a solo e umidade.

Tabela 4: Espécies encontradas na área quatro


NOME POPULAR NOME CIENTÍFICO
Aroeira Astronium Urundeuva (Allemão) Engl.
Angico
Anadenanthera Colubrina (vell.) Brenan Var. Cebil (Griseb.) Altshul
Chocalho de vaqueiro Não identificado
Imburana-de-cambão Bursera leptophloeos Mart.
Jurema preta Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir.
Macambira Eucholirium Spectabile Mart.
Mandacaru Cereus Jamacaru Dc.
Maniçoba Monihot glaziovii Muell. Arg.
Melosa Herissantia tiubae (K.Sch.) Briz.
Mijo de raposa vermelho Não identificado
Mijo de raposa amarelo Não identificado
Mijo de raposa roxo Não identicado
Mororó de espinho Babinia Cheilantha (Bong.) Steud.
Mororó liso Babinia Cheilantha (Bong.) Steud
Pau de Serrote Sphaeroma serratum
Velame Croton campestris St. Hil.
Urtiga branca Loasa rupestris Gardner

Na quarta área foram encontradas 17 espécies, entretanto, duas das espécies ali encontradas não
foram identificadas: Mijo de Raposa (amarelo, roxo e vermelho) e Chocalho de Vaqueiro. Nesta área
destaca – se a predominância de angico.
O Angico (Anadenanthera colubrina var. cebil) da família Fabaceae-Mimosaceae, é uma planta
decídua, heliófila, silvestre e xerófila seletiva. Ocorre, indiferentemente, em solos secos e úmidos, porém
profundos. Tolera também solos rasos e compactados. Na região Nordeste, ocorre nos solos areníticos,
calcários e aluviais. Está entre as espécies nativas do Semi-Árido que se encontra em risco de extinção,
apesar de ser uma espécie de ampla ocorrência, facilmente adaptada a diversos tipos de ambiente.
(ALBUQUERQUE e ANDRADE, 2002).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


302

As espécies que foram encontradas apenas nesta área foram: a Aroeira, Imburana de Cambão,
Mandacaru, Melosa, Mororó Liso, Pau de Serrote, Velame e Mijo de Raposa.

3.1.5 Quinta área


Na área cinco se encontra com uma altitude de 361,10m, em uma depressão na rocha com solo
relativamente profundo, foram encontradas 11 espécies. Não sendo identificado a espécies conhecida
vulgarmente por chocalho de vaqueiro. Que segue na tabela 5.

Tabela 5: Espécies encontradas na área cinco.


NOME POPULAR NOME CIENTÍFICO
Angico Anadenanthera Colubrina (vell.) B. Var. C. (Griseb.) Altshu
Chocalho de vaqueiro Não idetificado
Feijão de Rolinha Macroptillium lathyroides (L.) Urban
Jurema branca Pipladenia stipulacea (Benth.) Duche
Macambira Eucholirium Spectabile Mart.
Maniçoba Monihot glaziovii Muell. Arg.
Mororó de espinho Babinia Cheilantha (Bong.) Steud.
Maria preta Miconia macrothyrsa
Capim panasco Aristida adscensionis L.
Urtiga branca Loasa rupestris Gardner
Xique-xique Pilosocereus gounellei(Weber) Byl.et Rowl.

O solo nesta área está totalmente coberto pela vegetação, com a predominância marcante da
Urtiga Branca (Loasa rupestris Gardner) da família das Lamiaceae, é uma erva anual a subperene, localizada
nas depressões dos lajedos da caatinga, com acúmulo de algum solo onde, durante as chuvas, fica retida,
também alguma água. Freqüentemente considerada uma erva daninha, porém é considerada uma planta
medicinal com propriedades adstringente, emoliente e expectorante. Observam-se ainda as espécies de
maior porte que se destaca nesta área, como o antigo e a jurema Branca. As espécies que foram
encontradas apenas nesta área foi à jurema branca, mororó de espinho, Maria preta e chocalho de
vaqueiro que não foi identificado.
3.1.6 Sexta área

A altitude da área seis é 409,16 m, é formada por uma ilha de vegetação, ao meio da rocha nua,
com solo relativamente raso, foram encontradas nove espécie de plantas, sendo que nesta área possui seis
espécies, que foram encontradas apenas nesta área, como o ipê, rompe gibão, capim santo bravo, malva,
parreira e unha de gato. Que segue na tabela 6:

Tabela 6 Espécies encontradas na área seis.


NOME POPULAR NOME CIENTÍFICO
Capim Santo bravo Cymbopogon citratus Stapf.
Jurema branca Pipladenia stipulacea (Benth.) Duche
Malva Gayaaurea st.Hil
Capim panasco Aristida adscensionis L.
Parreira Cessus erosa L.C.Rich.
Unha de gato Mimosa bimucronata
Rompe gibão Sideroxylon obtusifolium (Roem. & Schult.) T.D.Penn.
Xique-xique Pilosocereus gounellei(Weber) Byl.et Rowl.
Ipê Tabebuia heptaphylla (Vell.) Toledo

João Pessoa, outubro de 2011


303

Dentre as espécies desta área, destaca-se a parreira que é encontrada nos ambientes mais variados
da caatinga, apresenta-se com cipó vigoroso, multirramificado, atingindo até 4 cm de diâmetro na base do
caule, e 5 a 6 metros de comprimento, crescendo pelo chão ou subindo pelos arbustos e pequenas árvores.
Outra espécie que merece destaque é a malva que é um substrato bem ramificado, que atinge 0,80
cm a 1,20 metros de altura, podendo chegar, excepcionalmente a quase 2 metros com caule e ramos cinza
claro. Espécie forrageira, de modo que, onde não protegida, apresenta porte reduzido; por um lado, as
espécies nascido entre as macambiras crescem ao tamanho máximo e são os que mais freqüentemente
chegam à produção de frutos.

4 CONCLUSÕES
Neste estudo pode-se concluir que as seis áreas estudadas é um ambiente altamente xérico que
possuem umas grandes variedades de espécies.
Na primeira área o solo bastante pedregoso, com seixos e matacões que circunda toda a área, com
predominância de capim panasco, que cobre todo o chão, ondulado ao vento. A segunda área Caracteriza
por uma vegetação rasteira e esparça, destacar se a Canela de ema por ser a espécie de maior porte entre
as demais. A terceira área encontra-se numa pequena depressão, destacando a jurema preta, que marca a
paisagem na área, localizada numa pequena depressão rodeada pela rocha nua, que lhe dá destaque,
apesar do pequeno tamanho.
Na quarta área está localizado numa pequena depressão rodeada pela rocha nua, destaca-se nesta
área a presença de espécies raras na caatinga da região, como a Aroeira, Angico e o Mororó, com
predominância de angico. Não foram identificadas duas espécies o Mijo de Raposa (amarelo, roxo e
vermelho) e o Chocalho de Vaqueiro. As espécies que foram encontradas apenas nesta área foram: a
Aroeira, Imburana de Cambão, Mandacaru, Melosa, Mororó Liso, Pau de Serrote, Velame e Mijo de Raposa.
A área cinco é uma depressão na rocha com solo relativamente profundo, o solo está totalmente
coberto pela vegetação, com a predominância de Urtiga Branca. As espécies que foram encontradas apenas
nesta área foi a jurema branca, mororó de espinho, Maria preta e chocalho de vaqueiro que não foi
identificado. A área seis é formada por uma ilha de vegetação, ao meio da rocha nua, com solo
relativamente raso, possui seis espécies, que foram encontradas apenas nesta área, como o ipê, rompe
gibão, capim santo bravo, malva, parreira e unha de gato.
Notou-se grande variação entre algumas áreas denotando a alta diversidade existente neste tipo de
ambiente.

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João Pessoa, outubro de 2011


305

LEVANTAMENTO DE ESPÉCIES ARBÓREAS DO CAMPUS OESTE DA


UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO
Igor Julyetson Silva PROCOPIO
Graduando em Engenharia Agronômica - UFERSA
igor.procopio@yahoo.com.br
Maiele Leandro da SILVA
Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA. Professora do Departamento de Ciências Vegetais
maiele@ufersa.edu.br

RESUMO
O presente artigo tem como importância no levantamento de espécies arbóreas no campus oeste
da Ufersa, distribuídas pelo perímetro com o objetivo na preservação do meio ambiente. A arborização é
de fundamental importância para a qualidade de vida nos centros urbanos. Por isso que, em cidades onde
ocorre o planejamento das arborizações, a preocupação é tornar o ambiente urbano diversificado quanto
às espécies empregadas, mais homogêneo e envolvente com a paisagem circundante. Dessa forma o
presente trabalho teve como objetivo quantificar as espécies arbóreas do campus oeste da UFERSA.
Mostrar que é relevante essa discussão e fundamental sobre as árvores que desempenham um papel
importante no equilíbrio ecológico pelas suas diferentes funções biológicas. O pesquisa em questão foi
conduzida a partir de uma discurssão relacionado ao total de espécies distribuídas no perímetro do campus
oeste da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) e em área do mesmo campus, situada no
municipio de Mossoró-RN de coordenadas geográficas 5o11' de latitude sul, 37o20' de longitude W. Gr.,
com 18 m de altitude, com uma temperatura média anual em torno de 27,5 0C, umidade relativa de 68,9%,
nebulosidade média anual de 4,4 décimos e precipitação média anual de 673,9 mm, com clima quente e
seco, localizada na região semi-árida do nordeste brasileiro.Diante do exposto anteriormente conclui-se
que, o campus oesta da UFERSA apresentou em seu levantamento arbóreo uma grande frequência de Nim
(Azadiractha indica A. Juss) 55,17% entre todas as plantas levantadas.O número de frequência árvores
nativas na atual situação do levantamento arbóreo do campus oeste da UFERSA é considerada médio, pois
os resultados demonstram que as espécies exóticas superam.Em relação ao número de ocorrência foi
observado que existe uma grande diferença entre plantas adultas e plantas jovens, apresentado plantas
adultas como a maioria das espécies.
PALAVRAS-CHAVE: educação ambiental, preservação, meio ambiente, equilíbrio ecológico.

INTRODUÇÃO
A arborização é de fundamental importância para a qualidade de vida nos centros urbanos. Por isso
que, em cidades onde ocorre o planejamento das arborizações, a preocupação é tornar o ambiente urbano
diversificado quanto às espécies empregadas, mais homogêneo e envolvente com a paisagem circundante
(Melo & Romanini, 2005).
Gonçalves et al. (2002), afirma que as árvores possuem diferentes funções na zona urbana. A
ecológica está correlacionada ao lazer que as sombras das mesmas proporcionam as pessoas; função
educativa que possibilita a realização de atividades extraclasse e de programas de preservação ambiental;
função psicológica, pois causar certo relaxamento nas pessoas que se encontram nas áreas urbanas,
atuando como anti-estresse e a função de estética onde diversifica a paisagem e embeleza um ambiente.
O campus oeste da ufersa possui um bom número de árvores, onde se encontra uma árvore
centenária e outras espécies nativas e exóticas de grande e pequeno porte que fazem parte da arborização
da universidade. Muitas dessas árvores servem de refúgio e alimentação para muitos organismos e
interação com o meio ambiente.
A preservação dos espaços arborizados depende diretamente de uma política de urbanização e ao
mesmo tempo a conscientização da sociedade como um todo.

Orientador: Rômulo Magno Oliveira de FREITAS. Graduado em Engenharia Agronômica e pós-graduando em


Fitotecnia – UFERSA. romulomagno_23@hotmail.com

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Dessa forma o presente trabalho teve como objetivo quantificar as espécies arbóreas do campus
oeste da UFERSA. Mostrar que é relevante essa discussão e fundamental sobre as árvores que
desempenham um papel importante no equilíbrio ecológico pelas suas diferentes funções biológicas.

REFERENCIAL TEÓRICO
Sobre todos os pontos de vista, é muito importante se fazer um levantamento de espécies arbóreas
de uma determinada área para se tê ideia ou uma noção de espécies que ali existem em abundância e ou
não, também é relevante saber que em certas áreas existem em grande número algumas espécies em
relação há outras áreas mostrando a grande diversidade de espécies.
Sabe - se que existe uma fundamental importância sobre a arborização no meio urbano como um
todo e nesse contexto o campus oeste da UFERSA se insere nessa condição semelhante. Uma vez que a
arborização nuns trás inúmeros benefícios ao meio ambiente.
A arborização urbana (árvores isoladas) e a floresta urbana (árvores agrupadas) ocupam,
naturalmente, um espaço tridimensional muitas vezes esquecidos pelos planejadores. Esse espaço
tridimensional é parcialmente visível e parcialmente invisível, (Paiva e Gonçalves, 2002).
Melo Filho (1985), afirma que as principais funções da arborização são: função química – absorção
de gás carbônico e liberação de oxigênio, melhorando a qualidade do ar urbano; função física – oferta de
sombra, absorção de ruídos e proteção térmica; função paisagística – quebra da monotonia da paisagem,
pelos diferentes aspectos e textura; função ecológica – abrigo e alimento de animais; e função psicológica –
bem-estar das pessoas provocado pelas massas verdes.
Soares (1998), afirma que durante a noite, as árvores apenas respiram consumindo oxigênio e
liberam o gás carbônico na atmosfera exatamente como os animais. Entretanto, durante o dia, aproveitam
o gás que produziram, somando com o recurso da luz solar, exerce a fotossíntese, fonte das substâncias
orgânicas que sustentam a vida em geral.
A área verde tem função de se constituir em um espaço "social e coletivo", sendo importante para
a manutenção da qualidade de vida. Por facilitar o acesso de todos, independentemente da classe social,
promove integração entre os homens (Martins Júnior, 1996). A Organização Mundial de Saúde (OMS)
recomenda que as cidades tenham, no mínimo, 12 metros quadrados de área verde por habitante (Lang,
2000).
É importante enfatizar que arborização é um planejamento prévio, mesmo que esse conceito esteja
se modificando aos pouco. Por isso que a arborização de um lugar requer efetivação de benefícios e ao
mesmo tempo em que seja adequadamente planejada de forma sustentável.
Falar em arborização exige-se, previamente, a elaboração de um projeto, que, necessariamente,
deve começar por um levantamento da situação reinante, quando será cadastrada a vegetação existente
contemplando a caráter histórico e urbanístico do local, determinando a que quadro urbano pertence o
logradouro. Um cuidado especial deve ser tomado para não desfigurar um quadro paisagístico já
consagrado na tradição da cidade. Toda uma série de elementos da paisagem da rua deverá ser levantada e
outras características das construções, tendo em vista garantir uma melhoria das condições de conforto
ambiental do logradouro. Tendo sido feito esse levantamento da situação existente pode-se passar para
escolha das espécies adequadas. (Hoste, 1991).
O paisagismo possui uma função fundamental além de, garantir a permanência do equilíbrio
biológico que são as necessidades atuais e futuras.
Sendo assim, é de suma importância preservar a paisagem original de forma a garantir suas
características e conservação bem como sua melhoria constante.
MATERIAL E MÉTODOS
O pesquisa em questão foi conduzida a partir de uma discurssão relacionado ao total de espécies
distribuídas no perímetro do campus oeste da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) e em
área do mesmo campus, situada no municipio de Mossoró-RN de coordenadas geográficas 5o11' de latitude
sul, 37o20' de longitude W. Gr., com 18 m de altitude, com uma temperatura média anual em torno de
27,50C, umidade relativa de 68,9%, nebulosidade média anual de 4,4 décimos e precipitação média anual
de 673,9 mm, com clima quente e seco, localizada na região semi-árida do nordeste brasileiro (Lima e Silva
et al., 2004).

João Pessoa, outubro de 2011


307

A pesquisa foi desenvolvida nos departamentos de engenharia, ciências animais e nas vilas
acadêmicas masculinas e femininas.
A pesquisa foi realizada entre os dias 25 a 28 de junho de 2011 e, para que tais objetivos fossem
atingidos, inicialmente partiu-se da contagem das árvores existentes em todo o perímetro do campo oeste,
Tal contagem foi elaborada de forma que foi dividida em mudas e plantas adultas de modo a se ter uma
ideia de percentual encontrado no campus oeste e ao mesmo tempo, fazendo a análise bibliográfica das
árvores e observando os benefícios e problemas que as mesmas podem causar.
A frequência relativa de cada espécie foi calculada pela razão entre o número de indivíduos da
espécie e o número total de espécimes, multiplicada por 100.
A diversidade de espécies foram avaliadas e classificadas como plantas jovens ou adultas. Com base
nos dados, pode-se avaliar a homogeneidade da arborização do campus oeste da UFERSA.
Sendo assim, a pesquisa torna-se relevante, uma vez que aborda um assunto importante e também
para divulgar informações sobre tal levantamento. Os resultados foram apresentados textualmente e
graficamente, analisados e discutidos através de literaturas que reforçam os assuntos que abordam o tema
analisado.

RESULTADOS E DISCURSSÃO
O campus oeste da ufersa possui vários departamentos, além de vila acadêmica masculina e
feminina onde se pode observar e destacar uma grande variação de espécies. O levantamento apresentou
36 espécies divididas entre mudas e plantas adultas distribuídas. Através do levantamento ficou destacado
um maior índice de frequência de Nim (Azadirachta indica A.), Mangueira (Mangífera indica L.) e a Acácia
(Acácia-mimosa) constatando que existem espécies arbóreas preservadas, das quais algumas dão frutos
comestíveis de bom sabor (TABELA 1).

Tabela 1. Frequência de plantas encontradas no campus oeste da Universidade Federal Rural do


Semi-Árido – UFERSA em Junho de 2011.
NOME VULGAR NOME CIENTÍFICO FREQUÊNCIA (%)
Craibeira Tabebuia áurea 2,40
Nim Azadiractha indica A. Juss 55,17
Acerola Malpighia glabra Linn 2,03
Acácia vermelha Acacia mimosa 5,90
Flamboyant Delonix regia Raff 0,92
Cajarana Spondias lutea L 2,03
Mangueira Mangifera indica Linn 7,75
Oiti Licania tomentosa Benth 1,48
Carnaúba Copernicia prunifera 1,29
Limão Citrus aurantifolia L 0,55
Algodão do pará Hibiscus pernanbucensi Arruda 0,37
Pereiro Aspidosperma pyrifolium Mart 0,18
Leucena Leucaena leucocephala (Lam.) 2,03
Tamarindo Tamarindus indica L 1,29
Algaroba Prosopis juliflora DC 0,92
Juazeiro Ziziphus joazeiros Mart. 1,11
Pau-branco Auxemma oncocalyx 0,18
Oiticica Licania rigida Benth. 0,18
Pinha Annona squamosa L. 0,55
Ficus Ficus elastica 3,32
Azeitona-roxa Eugenia jambolana Lam 0,18
Eucalipto Eucalyptus globulus Labil 0,37
Palmeira imperial Roystonea oleracea 0,92

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Faveleira Cnidoscolus phyllacanthus 2,03


Chuva de ouro Senna ferruginea Schrad. Ex DC. 1,29
Castanhola Terminalia catappa 0,92
Mulungu Erythrina velutina Willd. 0,18
Trapiá Crataeva tapiá 0,37
Umbu Spondias tuberosa Arr. 0,74
Ipê-roxo Tabebuia impetiginosa 0,74
Jucá Caesalpinia férrea Mart. 1,48
Sapota Manilkara zapota 0,18
Baobá Adansonia digitata 0,18
Sabiá Mimosa caesalpiniifolia Benth 0,18
Xique-xique Pilosocereus gounellei 0,37
Arueira Schinus terebinthifolia 0,18
TOTAL 100,00

Ainda na Tabela 1, observa-se que existe um grande número de frequência de Nim (Azadiractha
indica A. Juss) 55,17%. Esse resultado se justifica pelo grande índice de plantio desta árvore exótica.
Rossato et al, (2008) afirma que, a dominância de uma espécie varia de acordo com a cidade e
região do Brasil. Outros trabalhos mostram uma dominância de Caesalpinia peltophoroides na arborização
de São Pedro-SP (Bortoleto et al. 2007), Platanus acerifoliga em Campos do Jordão-SP (Andrade, 2002),
Lagerstroemia indica em Curitiba-PR (Milano, 1984), Tipuana tipu em Jacareí-SP (Faria et al. 2007).
Milano e Dalcin (2000), afirmam que cada espécie não deve ultrapassar de 10 a 15% do. Total de
indivíduos da população urbana para um planejamento adequado da arborização.
Foi observado através do levantamento que existe uma frequência maior de espécies exóticas em
relação às espécies nativas (Figura 1), se compara com o município de Assis-SP onde o resultado foi
semelhante com cerca de 61,82% de espécies exóticas utilizadas na sua arborização (Rossato et al, 2008).
Na determinação das espécies, verificou-se que a arborização do Campus oeste da UFERSA é
composta por 55,56% por árvores exóticas e 44,44% nativas (Figura 1).

Figura 1. Frequência de plantas nativas e exóticas encontradas no campus oeste da Universidade


Federal Rural do Semiárido em junho de 2011.

João Pessoa, outubro de 2011


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Figura 2. Número de plantas jovens e adultas, nativas e exóticas encontradas no campus oeste da
Universidade Federal Rural do Semiárido em junho de 2011.

O número de ocorrência de plantas jovens é muito baixo em relação às adultas entre as nativas, e
da mesma forma entre as exóticas. Já em relação entre espécies, as exóticas superam as nativas.
A utilização de espécies exóticas à flora brasileira representou 54,5% das espécies plantadas nas
vias na cidade de Colíder e em Matupá, e as espécies exóticas totalizaram 64,7% do total amostrado
(Almeida et al, 2010)
De acordo com esse resultado, fica claro que deve haver uma conscientização para que tenha mais
incentivo ao plantio de espécies nativas uma vez que, melhora a arborização de um lugar como também
mostrar a importância de tal espécie para o meio ambiente.

CONCLUSÃO
Diante do exposto anteriormente conclui-se que, o campus oesta da UFERSA apresentou em seu
levantamento arbóreo uma grande frequência de Nim (Azadiractha indica A. Juss) 55,17% entre todas as
plantas levantadas.
O número de frequência árvores nativas na atual situação do levantamento arbóreo do campus
oeste da UFERSA é considerada médio, pois os resultados demonstram que as espécies exóticas superam.
Em relação ao número de ocorrência foi observado que existe uma grande diferença entre plantas
adultas e plantas jovens, apresentado plantas adultas como a maioria das espécies.

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João Pessoa, outubro de 2011


311

UMA ANÁLISE SOBRE O MANEJO DO BIOMA CAATINGA NA PARAÍBA: OS


CASOS ESPECÍFICOS DAS CIDADES DE AREIA E BOA VISTA.
Ingrid Rodrigues Leite
Aluna de graduação em licenciatura em Geografia pela UFCG/PB.
Indyni_@hotmail.com
Francisco Guedes de Albuquerque Júnior
Aluno de graduação em licenciatura em Geografia pela UFCG/PB.
Débora Coelho Moura
Professora Doutora do curso de Geografia UFCG/PB.
dcoelhomoura@bol.com.br

RESUMO
Este artigo é resultado de uma analise objetiva e descritiva da degradação e conservação do bioma
que ocupa a maior parte do estado da Paraíba: a caatinga, o trabalho está circunscrito a duas áreas de
observação: uma no município de Boa Vista-PB e a outra que se deterá diversidade da floresta atlântica
encontrada em um brejo de altitude no municipio de Areia-PB. Desta forma, destacando a degradação
ambiental em que o primeiro se encontra, devido à extração da bentonita, e a situação da reserva ecológica
do município de Areia-PB, a Mata do Pau Ferro, onde é preservada um remanescente da mata Atlântica.
Palavras-Chave: degradação ambiental, leis ambientais, Paraíba, caatinga e brejo.

ABSTRACT:
This article is the result of an objective and descriptive analysis of degradation andconservation of
the biome that occupies most of the state of Paraiba, the caatinga, the work is limited to two viewing
areas: one in the city of Boa Vista-PB and the other will stop the Atlantic forest diversity found in a
swamp of altitude in the municipality ofAreia, Brazil. Thus, highlighting the environmental degradation in
which the first is dueto the extraction of bentonite, and the situation of the ecological reserve in
themunicipality of Areia, Brazil, the Mata do Pau Ferro, where is preserved a remnant of Atlantic forest.
Key-words: environmental degradation, environmental laws, Paraíba, caatinga and ramiforest.

1.0 Introdução
O presente artigo trata da atual situação em que se encontra a conservação e degradação do bioma
caatinga, encontrado no estado da Paraíba. Os dois casos estudados são apresentados um de degradação
devido a extração do minério bentonita na cidade de Boa Vista-PB e outro de conservação devido a ação do
estado que criou no município de Areia-PB a chamada Mata do Pau Ferro. A metodologia que iremos usar
será de caráter investigativo, tendo como principal método o dialético, pois partiremos da análise do
fenômeno e a mudança que ele sofre e sofreu na sociedade, partindo sempre da descrição do visível, e
tendo como etapa anterior a pesquisa documental e bibliográfica, obtendo com isso um olhar aguçado para
termos uma observação direta e extensiva. A partir disso realizou-se um estudo exploratório, descritivo,
utilizando-se a pesquisa de campo, sendo realizadas no mês de novembro de 2010 e no mês de Junho de
2011. Tendo como principal equipamento para a coleta de informações, a entrevista com guias e atores
locais, máquinas fotográficas, levantamento de dados bibliográficos, e o reconhecimento da área a ser
estudada.

2.0 Degradação ambiental e sociedade.


A definição do conceito de ambiente, nas suas duas vertentes(social e ambiental) tem passado por
inúmeras transformações por muitos anos, sendo com isso discutível e muito variado. Para George
(1984,p.9) ‘ o ambiente é o resultado de um conjunto de fatores sociais e econômicos que atuam no meio
físico e biológico’. Enquanto que para Cunha e Guerra (1996,p.337) ‘é o espaço onde se desenvolve a vida
vegetal e animal(inclusive o homem)’, segundo esse mesmo autor:
O processo histórico de ocupação desse espaço, bem como suas transformações em uma
determinada época e sociedade faz com que o meio ambiente tenha um caráter dinâmico. Dessa forma, o

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


312

ambiente é alterado pelas atividades humanas e o grau de alteração de um espaço, em relação a outro, e
avaliado pelos diferentes modos de produção e/ou diferentes estágios de desenvolvimento da tecnologia.
Em função e interesses econômicos e políticos o ambiente sofre processos de degradação, interferindo na
qualidade de vida, aumentando a preocupação mundial. (CUNHA e GUERRA,1996p.337.)
As questões ambientais progressivamente vem se integrando ao cotidiano dos atores
sociais quer seja a sociedade civil, grupos organizados e também ao estado, em toda as suas
instancias, fazendo com que haja um preocupação maior com o espaço onde vivemos.
Mccormick(1992,p.16) relata que, embora os movimentos ambientalistas sejam registrado no
período do pós-guerra, a destruição ambiental tem uma longa trajetória, sendo que, a cerca de
3.700 anos, as cidades suméricas foram abandonadas quando as terras irrigadas, que haviam
produzido os primeiros excedentes agrícolas do mundo, começaram a tornar – se cada vez mais
salinizadas e alagadiças.

De acordo com Viola (1998 apud BASSO, 200, p.36)

Nos Estados Unidos a preocupação com a degradação ambiental surgiu em meados da


década de 1960, ampliando-se para o Canadá, países da Europa Ocidental, Austrália e Nova
Zelândia na década de 1970, atingindo os países capitalistas periféricos e a União Soviética nos anos
80. Em 1972 surge a primeira publicação de expressão internacional que alerta sobre o
desequilíbrio ecológico do planeta, denominada limites do crescimento. No mesmo ano da
conferencia de Estocolmo. (VIOLA apud BASSO,1998.)

Mccormick (op.citp.16) relata ainda que `os primeiros movimentos ambientalistas não conseguiram
ter um começo claro, não começou num pais para depois espalhar-se em outro; emergiu de lugares
diferentes, em tempos diferentes e geralmente por motivos diferentes`. Desde lá foram se organizadas
várias, ‘reuniões’ para tentar sanar esse problema, com o desgaste ambiental para tal na conferencia de
Estocolmo/Conferencia da ONU – Organização das Nações Unidas, realizada em junho de 1972, sobre o
ambiente humano, foi onde aconteceu o marco histórico político internacional, onde foi estabelecido o
plano de ação mundial, com o objetivo de inspirar e orientar a humanidade para a preservação e melhoria
do ambiente humano, e reconhecer o desenvolvimento da educação ambiental como elemento critico para
combater a crise ambiental no mundo.
No Brasil, em 2003 destacam-se as contribuições da 1◦ Conferencia nacional da cidades, que de
acordo com o ministério do meio ambiente (2003,p.7)

Teve como objetivo estimular o debate as contribuições para a construção da política de


desenvolvimento urbano do pais, e a 1◦ conferencia nacional do meio ambiente, cujo objetivo foi o
de ampliar o debate sobre a sustentabilidade ambiental do país á luz do aperfeiçoamento e da
consolidação do Sistema Nacional de Meio Ambiente – SISNAMA, onde temas estratégicos como os
recursos hídricos, conservação da biodiversidade, agricultura/pecuária/recursos pesqueiros e
florestais, infra-estrutura(transporte e energia), meio ambiente urbano, mudanças climáticas foram
discutidos, assim como as formas de conviver no meio ambiente urbano e rural e de produzir e
consumir de maneira ecologicamente viável, economicamente justa e socialmente desejável.

Mas vale ressaltar que essa preocupação com o meio ambiente, não começou sem motivo, muitas
das pessoas que procuravam combater a degradação ambiental, tiveram esse desejo através das suas
preocupações pessoais com o uso dos recursos naturais.
Destacando-se a poluição e/ou contaminação dos recursos hídricos e do solo, causados pela
poluição/ e ou contaminação advindas da deficiência em saneamento básico, principalmente pela produção
e destinação final inadequada dos resíduos sólidos nas aglomerações urbanas, que por sua vez trazem
sérias conseqüências de ordem sanitária, econômica e social, podendo influenciar na qualidade de vida das
populações e no destino do planeta. (KINASZ; WERLE,2006.65).

3.0 Boa Vista e Areia –PB. Biomas iguais situações diferentes.

João Pessoa, outubro de 2011


313

3.1 Boa Vista


O município de Boa Vista – PB se localiza na Microrregião de Campina Grande, na Mesorregião do
Agreste paraibano, e foi colonizado por Teodósio de Oliveira Ledo a partir da segunda metade do século
XVII. Esta colonização se baseou na agricultura de subsistência e na pecuária extensiva. Tais atividades se
constituíram na base da economia do município até o final da década de 1960. A partir desse período se
iniciou o interesse pelo minério bentonita, que se encontra no subsolo de algumas frações do seu território
(Bravo, Lages e Juá). A bentonita é proveniente de cinzas vulcânicas de eras geológicas pretéritas, sendo
retirada do subsolo e utilizada, após o beneficiamento, em diversos ramos da indústria, tais como:
medicamentos, material de limpeza, perfuração de poços de petróleo e água, pelotização de minério de
ferro, fundição siderúrgica, entre outros.
No final da década de 1960, fazendeiros das localidades rurais de Bravo, Lages e Juá5
enviaram amostras do mineral bentonita, que afloravam em suas propriedades, para serem analisadas em
São Paulo e em Salvador. As análises dessas amostras evidenciaram que a bentonita de Boa Vista-PB eram
de ótima qualidade para o uso em diversos setores industriais. Nesse mesmo período, esses fazendeiros
criaram as empresas para extrair o mineral: Mineração Bravo (EMIBRA), Mineração Azevedo (EMA) e
Mineração Lages. Ao mesmo tempo, financiadas, em parte, pelos incentivos da SUDENE, as indústrias de
beneficiamento da bentonita se instalaram em João Pessoa, Campina Grande, Cabedelo e Queimadas.
Estavam, assim, estabelecidas as hierarquias espaciais da divisão territorial da produção do referido
mineral no Estado da Paraíba.Em meados dos anos oitenta as empresas beneficiadoras se instalam no
município de Boa Vista – PB, promovendo substanciais mudanças na sua organização espacial.
Boa Vista é uma cidade especial por ser detentora de uma enorme área para exploração da
bentonita, um valioso mineral que é utilizado principalmente na perfuração de poços, mas que também
serve de matéria-prima para confecção de uma série de produtos.
Entre as empresas beneficiadoras da bentonita localizadas em Boa Vista-PB constam: a Bentonit
União Nordeste (BUN), BENTONISA, NECON, DRESCON- Produtos de Perfuração, todas com unidades de
beneficiamento; a DOLOMIL, a UBM etc. com depósitos; além da empresas de extração do mineral
pertencentes ou ligadas, através de contrato de fornecimento, com as beneficiadoras, a exemplo da
Mineração Lages, Lajedo Mineração, Drescon Mineração, EMA, EMIBRA, etc.(FIALHO,2010.)

No estudo de campo ficou evidenciada à degradação que a extração de minério traz ao meio
ambiente do município, pois este proporciona a retirada da vegetação que segundo SARAIVA(2010) é do
tipo caatinga hiperxerófila.

Com a retirada da cobertura vegetal o solo fica exposto, a ação dos ventos, da chuva e a extração
da bentonita que causa a formação de crateras e que contribui para a aceleração da degradação solo. Vale
salientar que a vegetação serve também como material de combustão para empresas de extração
bentonita.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


314

Os postos de trabalhos gerado na indústria mineral da bentonita compõem um grupo de indivíduos


jovens, que dispõem dos pré-requisitos exigidos em algumas etapas da produção desse mineral, são
sujeitos que dispõem de força para exercer as etapas pesadas (transporte da bentonita ativa ensacada até
os caminhões, por exemplo). Apesar de trazer novos elementos para a constituição das suas categorias de
trabalhadores, não representa a atividade principal a absorver a população economicamente ativa do
município de Boa Vista.No município, a falta de utilização de práticas de conservação dos solos vem
acelerando o processo de desertificação, principalmente pelas freqüentes queimadas. Na maioria das
vezes, elas são realizadas para formação de pastagens e agricultura de autoconsumo, no entanto
promovem a diminuição dos nutrientes dos solos, a erosão e o assoreamento dos corpos d'água.
O município de Boa Vista apresenta alto risco à degradação das terras pela pressão
antrópica, catalisadora do processo de desertificação, que tem como conseqüência aguçamento dos
problemas sociais, econômicos, culturais, políticos e ambientais.

3.2 Lajedo do Bravo.


O lajedo do Bravo localiza-se na Área de Proteção Ambiental do Cariri, criada pelo decreto Nº. 25.
083, de 08 de junho de 2004 está localizada entre os municípios de Cabaceiras, Boa Vista e São João do
Cariri, no Estado da Paraíba, Nordeste do Brasil. A Área de Preservação Ambiental(APA) abrange uma
porção territorial de 18.560 ha (dezoito mil quinhentos e sessenta hectares), delimitados por segmentos de
reta, denominados de vértices V1 a V6, e por limites naturais constituídos por trechos do Rio Taperoá e
Riacho Gangorra, que complementam o perímetro entre V6 e V1. Considera-se também, como
pertencentes à área da APA, uma faixa contínua de 1.000m (mil metros) contadas a partir do leito destes
cursos d’água, no sentido exterior das Áreas de Preservação Ambiental. (FIALHO, 2010).
O Lajedo do Sítio Bravo, com beleza ímpar, constitui o extremo Leste do grande maciço rochoso
que a APA se propõe a preservar. Ao nos aproximarmos dele, começam as surpresas. Logo no início do
aclive, há um conjunto de grandes matacões arredondados, decorados com arte rupestre. A trilha, de 800
m de extensão, termina exatamente junto a outra paragem de estética irretocável. São tanques de água
escavados pela Natureza na dura rocha do lajedo. Essas lagoas são extremamente ricas em restos ósseos de
grandes mamíferos do período pleistoceno, que começaram a se formar há um milhão de anos, em meio
aos grandes lajedos; esses lagos certamente serviram para saciar a sede dos grandes animais, a exemplo do
tigre-dente-de-sabre e da preguiça gigante, de existência comprovada pelos fósseis encontrados e
identificados nessa localidade.
Prosseguindo para o Norte, vamos encontrar uma série de grandes matacões arredondados
empilhados, formando abrigos naturais que, tanto os paleoíndios como os índios e, mais recentemente, os

João Pessoa, outubro de 2011


315

cangaceiros e fazendeiros fizeram uso, para se abrigar do Sol, da chuva e do frio característico das noites da
região.
No Lajedo do Bravo encontram-se também símbolos e gravuras geométricas esculpidos em baixo
relevo na rocha que se enquadram na Tradição Itacoatiara. É comum encontrar sob abrigos naturais em
abóbada, mesas ritualísticas da época e restos de artefatos como urnas de sepultamento, lascas de sílex e
outros ornamentos. A leste do Lajedo do Bravo, na Bacia de Boa Vista de idade Meso-Cenozóica ocorrem
fósseis preservados compreendendo: troncos silicificados, folhas e icnofósseis impressas em argilitos
bentoníticos.

No sítio do Bravo, está a concentração dessa riqueza iconográfica, sendo os mais belos e visíveis
registros rupestres da região. Pássaros, figuras humanas e desenhos geométricos estão pintados
geralmente nas grutas formadas pelas grandes rochas que se sobrepõem nos lajedos. Provavelmente eram
locais onde os antigos habitantes permaneciam abrigados das intempéries da natureza ou para a prática de
rituais religiosos. É através da observação empírica pode-se perceber que a forma de vida vegetal da área
remete principalmente a espécies da caatinga, como a macambira, cactáceas.

3.3 Areia – PB.


Areia é um município brasileiro do estado da Paraíba, localizado na microrregião do Brejo
Paraibano em um brejo de Altitude. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística),
no ano de 2006 sua população era estimada em 26.569 habitantes. A área territorial é de 269 km².
Com muitas riquezas naturais, situada em local elevado, Areia, no inverno, é coberta por uma leve
neblina, e suas terras possuem diversas fontes, balneários aquáticos e a reserva ecológica da Mata do Pau
Ferro.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


316

3.4 Reserva Ecológica da Mata do Pau Ferro.


A Reserva Ecológica da Mata do Pau Ferro é uma gleba de terra de 600 hectares situada no sítio
"Vaca Brava", pertencente ao Governo do Estado da Paraíba. Foi criada pelo Decreto-Lei nº 14.832, de 19
de outubro de 1992 e localiza-se mais precisamente na microrregião do Brejo Paraibano, a 9Km
quilômetros da sede do município de Areia, Paraíba, entre as coordenadas geográficas: 6º 58’12" latitude
sul e 35º 42’ 15" longitude oeste de Greenwich.

Constitui-se como um dos últimos remanescentes de Mata Atlântica do Nordeste representando


1% de mata de Brejo de Altitude que ainda existe na Paraíba. O nome Pau ferro vem da Árvore Pau Ferro
que existia abundantemente em seus domínios e por ser muito boa para a confecção de móveis foi
destruída e hoje não se encontra mais esta árvore. Caracteriza-se como mata de brejo de altitude. A
temperatura anual fica em torno dos 22ºC e as médias pluviométricas alcançam cerca de 1400 mm anuais.
Apresenta uma paisagem exuberante, típica de mata densa, com árvores de grande porte.

Os Brejos de Altitude do Nordeste são áreas mais úmidas que o semi-árido que os rodeia por causa
do efeito orográfico nas precipitações e na redução da temperatura. As matas serranas que eles abrigam
são consideradas como disjunção ecológica da Mata Atlântica, ilhadas pela vegetação de caatinga, condição
que torna os remanescentes das áreas de elevada biodiversidade.
Na Mata é possível a prática do ecoturismo onde se pode apreciar a fauna e principalmente a flora,
como por exemplo: a Macaíba, Jatobá, Ingá, Sucupira Branca, Munguba, Catolé, Pau D’arco, Sambaqui,
Guabiraba, Murici entre outras, inclusive Pau-Ferro.

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317

4.0 Considerações finais.

A produção de resíduos sólidos causados pelo minério, representa um sério problema a ser
enfrentado pelo poder público e sociedade civil, na medida em que vem aumentando significativamente;
sendo que medidas para eficiência na seleção, segregação, destinação, temporária, coleta, transporte,
tratamento e destinação final, apesar de serem necessários não recebem uma olhar mais atento do estado.
Com isso salientamos que no Lajedo do Bravo, e em Areia-PB acontece apenas a conservação dos meios
naturais feita por moradores locais que não estão ligados diretamente as empresas do minério (ou seja, um
pequena parcela na conservação), e já nas áreas circunvizinhas ao lajedo, ainda na cidade de Boa Vista uma
enorme Exploração. Exploração essa que gera um grande deterioramento no solo, deixando-o pobre e sem
vida, fazendo com que ele fique inadequado para outros tipos de uso. Já no caso da reserva de mata em
Areia –PB, a sua área foi adquirida pelo Estado em 1937 e, tem sido objeto de estudo por muitos dos
estudantes do campi da UFPB em Areia –PB, fazendo com que esse fosse um dos principais motivos por
aquela área ser protegida, devido a sua riqueza ainda não explorada. Em síntese acreditamos que existe
essa diferença de preservação para com ambas as áreas devido aos interesses dos atores locais, que por
muitas vezes são sim responsáveis pelo desgaste ou pela conservação, sabemos que por trás de tudo isso,
existe alguns tipos de investimento ou falta dele pelo estado, então ressaltamos que essa tipos de manejo
são responsabilidade de todos os atores que compõem aquela determinada localidade. E não só de uma
única pessoa, pois parte de um interesse coletivo e comum das partes interessadas.

5.0 Bibliografia
ANDRADE, G.O. & LINS, R.C. 1964. Introdução ao estudo dos brejos pernambucanos. Revista
Arquivos da Faculdade de Filosofia 2:21-33.
ARAÚJO. José Silvan Borborema. Et Al. Mineração e industrialização da bentonita e as mutações no
espaço agrário de Boa Vista- PB: Um estudo de caso das Localidades de Bravo e Urubu. XIX ENGA, São
Paulo, 2009.
FIALHO, Djair Araújo. Et. Al. Diagnóstico geoambiental e geoturístico na área de proteção ambiental
do cariri paraibano. XVI Encontro Nacional de Geógrafos Jul/2010 Pág. 1 – 10. Disponível em:
http://www.agb.org.br/evento/download.php?idTrabalho=2887 acesso: 17 Nov 2010.
MAYO, S.J. & FEVEREIRO, V.P.B. 1982. Mata do Pau-Ferro: a pilot study of the brejo forest.Royal
Botanic Gardens, Kew, London.
NASCIMENTO, I. 2002. Levantamento florístico e fitossociológico das matas ciliares na reserva
ecológica Mata do Pau-Ferro, Areia, PB. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal da Paraíba, Areia.
SARAIVA, Alzira Gabrielle soares. Et. Al. Análise multitemporal do processo de desertificação do
município de boa vista-pb utilizando dados orbitais. III Simpósio Brasileiro de Ciências Geodésicas e
Tecnologias da Geoinformação Recife - PE, 27-30 de Julho de 2010 p. 001-008 Disponível em:
http://www.ufpe.br/cgtg/SIMGEOIII/IIISIMGEO_CD/artigos/Todos_Artigos/A_262.pdf acesso: 17 Nov
2010.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


318

TABARELLI, M. 2004. Brejos de Altitude em Pernambuco e Paraíba. História Natural, Ecologia e


Conservação. Série Biodiversidade 9. Brasília – DF, Ministério do Meio Ambiente, 324p.

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319

LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO DE PLANTAS COM POTENCIAL


ECÔNOMICO EM UM ECÓTONO LOCALIZADA NA CIDADE DE BARBALHA –
CE
Ismael Meneses Moraes FEITOSA
Ismaelfeitosa83@yahoo.com.br
Graduando em Ciências Biológicas, Universidade Regional do Cariri – URCA
Daiany Alves RIBEIRO
Daiany_ars@hotmail.com
Graduando em Ciências Biológicas, Universidade Regional do Cariri – URCA; Bolsista da FUNCAPE
Ms.Thatiane Maria Souza de ARAÚJO
martaalmeida10@yahoo.com.br
Laboratório de Botânica/Universidade Regional do Cariri – URCA

RESUMO
O trabalho objetivou realizar o levantamento etnobotânico dos recursos vegetais encontrados em
um estudo realizado em uma área no município de Barbalha, Ceará. Os dados foram obtidos a partir de um
estudo fitossociológico realizado em uma área de convergência entre dois ecossistemas (ecótono)
Caatinga/Cerrado, sendo identificadas 33 taxas, 29 espécies e quatro identificadas taxonomicamente até
gênero. As categorias de uso dos recursos vegetais encontrados foram classificadas de acordo com a
compilação e revisão bibliográfica de diversos trabalhos etnobotânicos entre outros. Foram referidas nove
categorias de uso, sendo elas: madeireiro, forrageiro, medicinal, veterinária, para a alimentação humana,
ornamentação, apícolas, produtoras de cera e/ou óleo e para a restauração florestal. As categorias
madeireiras e apícolas foram as mais representativa tanto para as identificadas até espécies como para
gênero, enquanto que a medicinal registrou-se apenas para as identificadas até espécies. Entre as espécies
com mais categorias de uso podemos citar Croton blanchetianus Baill. e Myracrondruon urundeuva Fr.
Allem. O gênero Tabebuia sp. obteve cinco possibilidades de uso. Os estudos etnobotânicos visam
contribuir para o conhecimento dos recursos vegetais além de ajudar na conservação e/ou preservação de
áreas com grande diversidade biológica.
PALAVRAS – CHAVE: etnobotânica, ecótono, categorias de uso, Barbalha

ABSTRACT
The objective was to carry out an ethnobotanical survey of plant resources found in a study
conducted in an area in the city of Barbalha, Ceará. Data were obtained from a phytosociological study
carried out in an area of convergence between two ecosystems (ecotones) Caatinga Cerrado, identifying 33
charges, 29 species and four taxonomically identified to genus. The categories of use of plant resources
found were classified according to the compilation and review of various ethnobotanical work among
others. We use these nine categories, namely: timber, fodder, medicine, veterinary medicine, for food,
ornamentation, apiculture, production of wax and / or oil and for forest restoration. The category and
logging bee was the most representative for both species identified so as to gender, while the medical
register only for those identified to species. Among the species with the most categories of use can cite
Croton blanchetianus Baill. and Myracrondruon urundeuva Allem Br. The genus Tabebuia sp. had five
possible uses. Ethnobotanical studies aim to contribute to the knowledge of plant resources and help in the
conservation and / or preservation of areas with high biodiversity.
KEY - WORDS: ethnobotany, ecotone, use categories, Barbalha

INTRODUÇÃO
A etnobotânica desponta como o campo interdisciplinar que compreende o estudo e a
interpretação do conhecimento, significação cultural, manejo e usos tradicionais dos elementos da flora
(CABALLERO, 1979).
Para Alcorn (1997), a etnobotânica é uma ciência que, atualmente, prima pelo registro sobre as
relações estabelecidas entre comunidades humanas e plantas, de forma contextualizada. E segundo Pasa et

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


320

all. (2005) é visível o papel que povos tradicionais desempenham na exploração dos ambientes naturais,
fornecendo informações sobre as diferentes formas de manejo executadas no seu cotidiano e usufruindo
da exploração enquanto forma de sustentação desses povos.
No Brasil e em muitos outros países cada vez mais estudos relacionados a descrever as utilidades e
usos dos recursos vegetais pelas comunidades tradicionais estão sendo realizados como forma tanto de
obter mais conhecimento sobre a flora mundial como também na busca de construir um modelo eficiente
de desenvolvimento sustentável.
São vários os estudos no Brasil que tratam do conhecimento das comunidades tradicionais
à respeito dos recursos vegetais utilizados por eles nos mais diversos ecossistemas (NETO & MORAIS, 2003;
PASA et all., 2005 e PINTO et all., 2006), inclusive em áreas de transição entre biomas. As comunidades
tradicionais usam as plantas como forma alternativa e viável para resolver diversos problemas no seu dia-a-
dia, sendo a maioria das vezes para o tratamento de doenças ou manutenção da saúde, já que a saúde no
Brasil é deficitária e não beneficia à todos. Porém podem utilizá-las também na construção civil, alimento
para animais (caprinos, bovinos, aves etc.), para a ornamentação entre outros.
Estudos etnobotânicos tornam-se, também, importantes para garantir a perpetuação do
conhecimento autóctone destas comunidades, pois sua continuidade é constantemente ameaçada por
fatores externos. O principal agente que influencia a perda do conhecimento passado entre as gerações
está justamente, de acordo com Amorozo (1996), na mudança de valor atribuído ao saber local para
assegurar a sobrevivência e a reprodução da sociedade em face de novos problemas e novos desafios,
devido a incerteza quanto a eficácia dos velhos métodos de agir.
A partir do que foi exposto este trabalho teve como objetivo realizar um levantamento
etnobotânico de plantas classificadas em diferentes categorias de uso em uma área de transição
vegetacional (Caatinga/Cerrado) localizada na cidade de Barbalha – CE. Este estudo também torna-se
importante por fornecer dados preliminares para estudos mais detalhados a respeito dos usos e utilidades
das espécies vegetais encontradas nessa região.

MATERIAIS E MÉTODOS
Área de estudo
A área de estudo localiza-se na cidade de Barbalha – CE, sendo esta delimitada pelas coordenadas
geográficas 07° 18’ 40” S e 39° 18’ 15” W, pertencente a Mesoregião Sul Cearense e distante da capital
cearense 405,0 Km. A cidade possui uma área de 479,18 Km2, de clima tropical quente semi-árido brando e
pluviosidade de 1.153 mm tendo o período chuvoso entre os meses de janeiro e abril. O solo da região é
composto por Solos Aluviais, Solos Litólicos, Latossolo Vermelho-Amarelo e Podzólico Vermelho-Amarelo
(IPECE, 2010), tendo predominância o Latossolo Vermelho-Distrófico, segundo Brasil (1972) apud Costa &
Araújo (2007). A vegetação da região é caracterizada por Carrasco, Floresta Caducifólia Espinhosa, Floresta
Subcaducifólia Tropical Pluvial, Floresta Subcaducifólia Xeromorfa e Floresta Subperenifólia Tropical Pluvio-
Nebular (IPECE, 2010).
Segundo dados disponíveis no site da Prefeitura Municipal de Barbalha, a economia tem sua base
tradicional no comercio e agricultura, todavia há atividades econômicas ligadas, também, ao turismo e ao
atendimento de saúde, na qual este abrange todo o nordeste.

Levantamento Etnobotânico
Primeiramente os dados botânicos foram obtidos a partir de um estudo fitossociológico realizados
em 15 parcelas de 20x20 m, totalizando assim uma área de seis hectares, localizada em uma importante
área onde convergem características vegetacionais do Cerrado e da Caatinga (ecótono). Para a
classificação dos usos das espécies vegetais foi utilizado informações disponíveis na literatura especializada,
além da revisão bibliográfica referente a trabalhos que indicassem o uso de plantas para os mais diversos
fins, onde as mais representativas tiveram até seis tipos de usos.

RESULTADOS E DISCURSSÃO
A etnobotânica vem realizando pesquisas em diversas comunidades, desenvolvendo instrumentos
para avaliar os recursos vegetais utilizados nessas áreas e apontando propostas de uso sustentável dos
mesmos, como forma de conservação (SOUZA, 2007).

João Pessoa, outubro de 2011


321

No estudo realizado registrou-se 3.429 indivíduos classificados em 33 taxas, sendo que 29 foram
identificadas até nível de espécie e quatro identificadas até gênero, distribuídas em 16 famílias. A partir da
revisão de literatura as plantas que apresentaram algum tipo de uso foram enquadradas em nove
etnocategorias, sendo elas: madeireiro, forrageiro, medicinal, veterinária, para a alimentação humana,
ornamentação, apícolas, produtoras de cera e/ou óleo e para a restauração florestal. As amostras coletadas
pertencem a uma área onde dois biomas importantes convergem e nas quais são apontados como grandes
detentores de diversidade biológica. O ecótone Cerrado-Caatinga abrange cerca de 1,3% do território
nacional, de acordo com dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA, 2003).
Das 29 espécies encontradas, 27 possuem algum tipo de uso e apenas duas não foram
encontrados registros de usos, 93% e 7% respectivamente. As espécies Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud.,
Croton blanchetianus Baill, Guazuma ulmifolia Lam., Jatropha pohliana Mull. Arg., Mimosa tenuiflora
(Willd.) Poir., Myracrondruon urundeuva Fr. Allem destacaram-se, obtendo até seis potencialidades. Com
relação as quatro plantas identificadas até nível de gênero apenas duas, Machaerium sp. e Tabebuia sp.,
apresentaram algum tipo de categoria de uso, onde a mais representativa foi a do gênero Tabebuia sp.,
com cinco possibilidades de uso. As tabelas 01 e 02 mostram mais detalhes obtidos a partir da compilação
da literatura especializada.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


322

Tabela 1: Lista de plantas, seus nomes vulgares, o ambiente onde podem ser encontradas e suas
possibilidades de usos. A madeireiro; B Forrageiro; C medicinal; D veterinária caseira; E alimentação
humana; F Ornamental; G apícola; H restauração florestal e I produtora de cera/óleo.

João Pessoa, outubro de 2011


323

Continua...

As categorias de uso madeireiro (21%), medicinal (19%) e apícola (19%) detiveram 59% dos usos
mencionados para as espécies, sendo exemplos Jatropha pohliana Mull. Arg., Copaifera langsdorffi Desf. e
Myracrondruon urundeuva Fr. Allem., respectivamente. Enquanto que as outras categorias, restauração
florestal (11%) com Astronium fraxinifolium Schott., forragem (9%) onde podemos citar Guazuma ulmifolia
Lam., alimentação humana (8%) com Rollinia leptopetala R. E. Fr., ornamentação (7%), Luetzelburgia
auriculata (Allemão) Ducke, cera e/ou óleo (4%), Talisisa esculenta (Cambess) Radek e veterinária caseira
(2%), Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir. representou 41% do total de usos. Lucena et al. (2006) também
menciona o uso madeireiro, especificamente utilizada para combustível e construção domestica, como a
categoria de uso mais citada em uma estudo realizado nas cidades de Alagoinha e Caruaru, estado de
Pernambuco. Outros estudos também corroboram que a categoria medicinal é uma das mais importantes
para as comunidades sejam elas indígenas, rurais ou urbanas (SILVA & PROENÇA, 2008; PEREIRA et al.,
2005; ARRUDA, 1997). A espécie Copaifera langsdorffi não foi classificada neste estudo como sendo uma
das mais representativas, porém Almeida e Albuquerque (2002) indicam que ela possui um dos mais altos
índices quanto ao valor de importância (IR) das plantas conhecidas como medicinais na feira de Caruaru,
sendo esta, segundo os autores, utilizado o óleo como antiflamatório, para gripes, tosses, resfriados, dores

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


324

no corpo, para tratar de feridas abertas, quebraduras e alergias. Para Maia (2004) as espécies indicadas
para a categoria apícola são importantíssimas, pois servem como abrigo e alimentação de abelhas nativas
entre outros animais.
As categorias de uso madeireiro (25%) e apícola (25%) foram as mais representativas para
os indivíduos identificados até nível de gênero. O uso medicinal e forrageiro cada um obteve 12%,
restauração florestal e ornamenta 13%, enquanto para alimentação humana, veterinária e cera e/ou óleo
não foi encontrado nenhum tipo de registro.
As famílias mais representativas em relação a diversidade foram Papilionoideae (7 ssp.) e
Mimosaceae (7 ssp.), Caesalpiniaceae (4 ssp.), Euphorbiaceae (2 ssp.) e Anacardiaceae (2 ssp.), enquanto
que as demais foram representadas por apenas uma espécie. A subfamília Papilionoideae é a maior das três
subfamílias de Fabaceae composta por 476 gêneros e 13.860 espécies, sendo também a mais diversa e
amplamente distribuída, segundo Gepts et al. (2005), provavelmente deve ser por isso que espécies desta
família apareceram mais vezes no estudo. A família Mimosaceae também foi mencionada em um estudo
realizado por Florentino et al. (2007) em quintais agroflorestais como sendo uma das mais representativas,
juntamente com Euphorbiaceae e Caesalpiniaceae.

CONCLUSÃO
Dentre as etnoespécies identificadas neste estudo as mais representativas alcançaram até seis
categorias, sendo exemplos Myracrondruon urundeuva Fr. Allem (aroeira) e Bauhinia cheilantha (Bong.)
Steud. (mororó). A etnocategoria madeireiro, medicinal e apícola foram as mais citadas nos estudos
bibliográficos pesquisados, onde juntas detiveram mais da metade dos usos mencionados.
Tabebuia sp. foi a que apresentou o maior numero de usos entre as taxas identificadas até nível de
gênero, cinco usos mencionados, sendo eles: madeireiro, medicinal, ornamental, apícola e para
restauração florestal.
A família Mimosaceae e a subfamília Papilionoideae foram as que apresentaram maior diversidade,
sete cada um.
A área de estudo mostrou-se com uma grande diversidade biológica relacionada a flora mostrando
até espécies listadas nas ameaçadas de extinção como é o caso da aroeira (Myracrondruon urundeuva),
dessa forma tornando-se necessário a preservação dessa área. Outro motivo seria porque o local é um
ecótono, onde dois dos ecossistemas mais ameaçados do planeta convergem.
Por fim estudos etnobotânicos em áreas de transição ainda são poucos no meio acadêmico e
mesmo com uma extensa revisão de literatura dos mais diversos usos dos recursos vegetais muitas plantas
ainda estariam foram dos olhares da ciência.

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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


326

PRESERVAÇÃO E CONSERVAÇÃO DA VIDA SILVESTRE ATRAVÉS DA


EDUCAÇÃO AMBIENTAL DO BARCO ESCOLA CHAMA MARÉ/RN
Izabela Costa LAURENTINO*
Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Potiguar - UnP
Estudante de Pós Graduação em Comportamento Animal e Ecologia - FATERN
blynha@hotmail.com
Rafael Turíbio Moraes de SOUSA**
Licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade Potiguar - UnP
Estudante de Pós Graduação em Comportamento Animal e Ecologia - FATERN***
rafael.tmoraes@hotmail.com
* Bióloga e autora do artigo; ** Biólogo e co-autor do artigo.
*** Estácio FATERN - Faculdade de Excelência Educacional do Rio Grande do Norte.

RESUMO
A diversidade biológica ou biodiversidade é o termo usado para designar a variedade de todas as
formas de vida existente na terra. Desde o mais diminuto micróbio até o mais corpulento animal, assim
como os ecossistemas de que fazem parte. O Projeto Barco-escola Chama-maré é uma iniciativa do
Governo do Estado, através da Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos/Instituto de
Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente - IDEMA, dentro do Programa de Recuperação do Estuário
do Rio Potengi, que tem com a finalidade desenvolver ações voltadas para a preservação, conservação e
recuperação desse importante patrimônio natural. Possui uma estrutura flutuante (barco-escola) que
funciona como espaço pedagógico de educação ambiental, atendendo um público-alvo constituído por
professores e estudantes (a partir dos 10 anos) dos três níveis de ensino da rede pública e privada do
Estado, além de grupos organizados da sociedade civil. Esse Projeto teve início em outubro de 2006 onde
realiza três viagens diárias, atendendo cerca de 3.000 pessoas/mês.
PALAVRAS CHAVES: Conservação, Preservação, Educação Ambiental, Vida Silvestre e Barco Escola

INTRODUÇÃO
A educação ambiental se caracteriza como relevante ferramenta pedagógica não apenas
para o ensino das ciências, mas principalmente para despertar em crianças, jovens e adultos a
sensibilização ambiental.

O Potengi é o principal rio do Rio Grande do Norte, que gerou frutos econômicos e sociais para
todo o nosso Estado oferecendo condições para a sobrevivência de milhares de pessoas ao longo da
história. Ainda hoje há quem tente retirar parte de seu sustento das águas sujas e negras do rio. Mas a
atual realidade é bem diferente. O Potengi foi tomado pela poluição e deixou de ser fonte de
riquezas, passando a receber lixo e esgoto de cerca de 30 bairros de Natal. Com sorte ainda existem
algumas ações que pretendem lutar contra o curso da poluição.
Um belo exemplo é o projeto Barco-escola Chama-maré. Uma das ações educativas desenvolvidas
pelo Programa Potengi Vivo, do Instituto de Defesa do Meio Ambiente do Rio Grande do Norte - IDEMA,
em parceria com a Fundação para o Desenvolvimento Sustentável da Terra Potiguar – FUNDEP, em
conjunto com a Universidade Potiguar – UnP, visando a recuperação do estuário Potengi.
A proposta é levar conhecimento e lazer à população dentro de uma questão de consciência
ambiental. O Chama-maré é uma estrutura flutuante que funciona como espaço pedagógico de educação
ambiental voltado para uma visão crítica e reflexiva sobre questões ambientais do rio Potengi. A
Embarcação, do tipo catamarã, foi patrocinada pela Petrobrás e tem capacidade para até 60 pessoas além
da tripulação, que é formada por alunos e professores dos cursos de Turismo, História e Biologia da
Universidade Potiguar e UFRN.
Os passeios são verdadeiras aulas dentro de um roteiro construído pela equipe pedagógica. O
trajeto inclui as belas paisagens e cartões postais (as naturais e as assinadas pelo homem) como a Fortaleza

João Pessoa, outubro de 2011


327

dos Reis Magos, a Ponte Newton Navarro, “a ponte de todos” e a chamada “ponte velha”, outro acesso à
Zona Norte de Natal.
Além do Chama-maré, outra ação também no Potengi é o Projeto “Boomerang”, que tem o
objetivo de retirar o lixo das margens do rio. Ao longo de três anos de projeto, aproximadamente 60 mil
pessoas já navegaram pelas águas do Potengi a bordo do Barco-escola. As pesquisas realizadas pela equipe
já catalogaram 25 novas espécies de animais, entre peixes e aves, provando que ainda há sobrevivência no
local.
As temáticas inspiradas no circuito das aulas-passeio são aprofundadas em projetos de educação
ambiental nas escolas, como forma de articular os conteúdos pedagógicos do Projeto Barco-escola Chama-
maré com o Projeto Político-Pedagógico das instituições de ensino. Os professores e monitores, dentro do
que postula a multidisciplinaridade, constroem com os participantes conhecimentos relacionados às suas
respectivas áreas.
O Projeto Barco Escola está inserido em uma das Unidades de Conservação do estado Rio Grande
do Norte, com a finalidade de não só proteger o rio Potengi, mas também toda a vida silvestre ali existente.
Segundo a Lei 9985/00, as unidades de conservação cumprem funções ecológicas, científicas,
econômicas, sociais e políticas e devem adotar obrigatoriamente sistema de manejo. Suas principais
funções são conservar a biodiversidade; proteger espécies raras ou em perigo de extinção; paisagens e
belezas naturais; bacias e recursos hídricos; além de zelar pelo manejo de recursos de flora e fauna;
monitoramento ambiental; e uso sustentável de recursos naturais.
Lei N. 9.985, em 18 de julho de 2000 e define Unidades de Conservação como: “espaço territorial e
seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes,
legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime
especial de administração, ao qual se aplicam as garantias adequadas de proteção;” O SNUC (Sistema
Nacional de Unidades de Conservação da Natureza)
A Unidade de Conservação, tem como objetivo tornar o Barco-escola Chama-maré um espaço de
reflexão crítica sobre as questões ambientais do estuário do rio Potengi, abordando aspectos ecológicos,
históricos, culturais, econômicos e sociais, como também mobilizar professores e estudantes para o estudo
e a prática da educação ambiental a partir de uma abordagem crítica e emancipatória, e estimular diálogos
reflexivos e integrar as ações educativas desenvolvidas na escola com a proposta pedagógica do Barco-
escola.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
No ambiente urbano das médias e grandes cidades, a escola, além de outros meios de comunicação
é responsável pela educação do indivíduo e conseqüentemente da sociedade, uma vez que há o repasse de
informações, isso gera um sistema dinâmico e abrangente a todos.
A população está cada vez mais envolvida com as novas tecnologias e com cenários urbanos
perdendo desta maneira, a relação natural que tinham com a terra e suas culturas. Os cenários, tipo
“shopping center”, passam a ser normais na vida dos jovens e os valores relacionados com a natureza não
tem mais pontos de referência na atual sociedade moderna.
O relacionamento da humanidade com a natureza, que teve início com um mínimo de interferência
nos ecossistemas, tem hoje culminado numa forte pressão exercida sobre os recursos naturais.
Atualmente, são comuns a contaminação dos cursos de água, a poluição atmosférica, a devastação das
florestas, a caça indiscriminada e a redução ou mesmo destruição do hábitat faunístico, além de muitas
outras formas de agressão ao meio ambiente.
Dentro deste contexto, é clara a necessidade de mudar o comportamento do homem em relação à
natureza, no sentido de promover sob um modelo de desenvolvimento sustentável (processo que assegura
uma gestão responsável dos recursos do planeta de forma a preservar os interesses das gerações futuras e,
ao mesmo tempo atender as necessidades das gerações atuais), a compatibilização de práticas econômicas
e conservacionistas, com reflexos positivos evidentes junto à qualidade de vida de todos.
A Educação Ambiental faz atualmente parte de muitos cenários de práticas pedagógicas de
professores. É fato o avanço no sentido da aceitação e da compreensão da importância dos seus princípios
para a formação de sujeitos ecológicos. Porém, a consolidação de uma Educação Ambiental Crítica e de
superação de um ensino fragmentado e pautado na transmissão de conceitos, requer um trabalho de

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


328

formação inicial e continuada coerente com esses princípios. A escola tem um papel fundamental na
produção do conhecimento para a preservação das espécies já que a mesma tem a necessidade de formar
novas posturas em relação ao meio ambiente, fato de grande relevância uma vez que os professores
exercem esse papel de mediador de informações e princípios.

A educação ambiental se constitui numa forma abrangente de educação, que se propõe


atingir todos os cidadãos, através de um processo pedagógico participativo permanente que
procura incutir no educando uma consciência crítica sobre a problemática ambiental,
compreendendo-se como crítica a capacidade de captar a gênese e a evolução de problemas
ambientais. (OLIVEIRA, 1996, p. 18).

Diante disso, a Escola precisa estar voltada para a construção da cidadania, na qual, a formação do
indivíduo só faz sentido se pensada em relação com o mundo, ou seja, fazendo-o perceber e sentir a
ligação/interação/interdependência que possuem todas as coisas. Deste modo, a escola é o cenário
perfeito para a produção do conhecimento e de futuros cidadãos consciente com relação ao meio
ambiente e a preservação das espécies e ecossistemas.
Entretanto não é apenas o ensino formal que deve ser executado com essas práticas, pois se
entendendo que apesar da condição sócio-econômica ser fator determinante na motivação de delitos
contra a fauna e flora, tais como tráfico, caça e comércio, é o fator educacional que pode atuar fortemente
na formação do grande público para o desenvolvimento de uma consciência coletiva de preservação das
espécies.
A possibilidade de ver a beleza, observar detalhes de comportamento ou morfologia, ouvir
vocalizações, tudo isso ativa os canais sensitivos e afetivos que favorecem a aprendizado, quaisquer que
sejam os conteúdos. Esse contato direto do indivíduo com os animais proporciona a relação “encarnada
com a natureza” proposta por Ingold, (1995).

“Contribuir para a preservação da diversidade biológica e dos ecossistemas naturais;


propiciar o manejo adequado dos recursos da fauna e flora; incentivar a pesquisa científica e
estudos compatíveis com as características da área; propiciar educação ambiental; e garantir o
monitoramento ambiental.” (MMA, 2002)

Esta relação encarnada se dá através do modo de pensar desenvolvido com a sensibilidade,


habilidades, sentidos e percepção. A educação ambiental emerge como alternativa pedagógica para
atuação em uma realidade complexa e multifacetada que caracteriza a questão ambiental
atualmente. Além disso, a educação ambiental permite um processo de ensino das ciências
naturais mais ilustrativos, unindo conhecimentos teóricos à prática, despertando a ética ambiental
ao mesmo tempo em que coloca os educandos contato direto com os elementos naturais.
Paquarelli Jr., (2005) e Bondía, (2002), defendem o aprofundamento da dimensão da experiência na
educação a partir da experiência/sentido, pois segundo sua concepção, atividades experimentais sensitivas
têm a capacidade de tornar o indivíduo predisposto à experimentação, que pelo seu caráter subjetivo,
relativo e pessoal, desenvolve mentes heterogêneas, plurais.
Essa proposta vem de encontro à deseja formação de um aluno com desenvolvido senso crítico e
de uma escola que deseja desenvolver as potencialidades do aluno respeitando suas idiossincrasias e
evitando assim “fabricar alunos” para uma sociedade uniforme, pasteurizada.

METODOLOGIA
A Unidade de Conservação Parque Estadual, possuí uma superfície aproximadamente 824,43 há,
com perímetro aproximadamente de 37,8 km. Natal é o município que ocupa 5,87% da Unidade de
Conservação. Os seus biomas e ecossistemas relevantes são o ecossistema manguezal e o bioma marinho.
O Barco-escola parte do Iate Clube de Natal e navega no trecho entre a Ponte Ferroviária de Igapó
passando pela Fortaleza dos Reis Magos até a Boca da Barra da Bacia Hidrográfica do Rio Potengi. A aula-

João Pessoa, outubro de 2011


329

passeio é realizada no tempo de uma hora e meia, observando um roteiro pré-estabelecido pela equipe do
Projeto.
O perímetro que delimita o Parque dos Mangues inicia-se no Ponto P-001, situado no bairro da
Redinha, próximo ao terminal de barcaças, segue para o ponto P-002 e daí vai até a margem da praia
chegando ao ponto P-004, margeando a orla da praia segue até o ponto P-013 na margem esquerda da
gamboa Manibú, cruzando a gamboa chega até o ponto P-014 nas margens do manguezal, contorna o
manguezal até a margem esquerda da gamboa Manibú situada no Ponto P-024. Daí cruza a gamboa na sua
margem direita chegando ao ponto P-025, contornando-se o manguezal chega ao ponto P-077, nos limites
do bairro Salinas na comunidade Beira Rio. Segue então até o ponto P-078, no talude do viveiro de camarão
localizado neste ponto, seguindo pelo talude e contornando o manguezal e os limites com os viveiros
chegam ao ponto P-190, no talude que delimita a área da Emparn, contorna a área da Emparn até chegar
ao ponto P-194, daí passa a margear o manguezal nos limites com os viveiros até chegar ao ponto P-310,
nos limites do manguezal com o bairro Potengi, contorna este limite até chegar ao ponto P-320 no talude
do viveiro localizado neste ponto, percorre então o limite do manguezal com os viveiros até chegar ao
ponto P-333, nos limites do manguezal no bairro de Redinha, percorre este limite então até chegar ao
ponto P-337, nos limites do bairro de Redinha com a gamboa Jaguaribe. Percorrendo a margem esquerda
da gamboa vai-se até o limite do manguezal no ponto P-342, sobe pela margem do manguezal até o ponto
P-347, nos limites com o viveiro localizado neste ponto. Daí segue contornando o manguezal até chegar as
margens da Avenida Dr. João Medeiros Filho no ponto P-386, segue na Avenida Dr. João Medeiros Filho até
o ponto P-388, seguindo daí margeando o manguezal até o ponto P-393, deste vai para o ponto P-394,
seguindo para o ponto P-395, indo novamente para o ponto P-001 fechando o perímetro.
A avaliação realizada ocorreu através de depoimentos espontâneos e de formulários próprios,
aplicados junto aos participantes da aula-passeio, no momento em que a aula está sendo finalizada. Estes
instrumentos de avaliação são estruturados por segmentos, assim distribuídos: alunos de ensino
fundamental, alunos de ensino médio, representantes de escolas e de grupos especiais (alunos de
instituições de ensino superior, grupos organizados da sociedade civil). Os dados obtidos são
sistematizados e analisados, sendo publicados em relatórios trimestrais, sendo utilizados para pesquisa,
consulta e replanejamento das ações.
As aulas passeios seguem um roteiro de uma forma geral saindo do Iate Clube de Natal, em uma
embarcação tipo Catamarã sobre o estuário do rio Potengi em direção a Fortaleza dos Reis Magos,
passando sob a Ponte de Todos até a Boca da Barra, a vista da Redinha de onde volta, entra na Gamboa
Jaguaribe, vai até a Ponte Velha no Igapó para atracar novamente no Iate Clube. Esta viagem, cercada de
um cenário de beleza ímpar, é orientada por professores e monitores abordando aspectos importantes:
biológicos, culturais, históricos, geográficos e socioeconômicos que fomentam o debate e o olhar crítico em
face às contradições apresentadas no percurso. Objetivando oferecer uma visão global do estuário do rio
Potengi, se constitui como um significativo instrumento pedagógico no aprofundamento das informações e
conhecimentos construídos ao longo da aula-passeio. Monitores e professores da equipe de execução da
aula-passeio fazem a apresentação da Maquete destacando os aspectos enfocados no circuito, ampliando
as análises e repercussões no processo de urbanização da cidade e seus impactos sobre o Rio e os bairros
do entorno.

ANÁLISE E DISCURSSÃO DOS RESULTADOS


A educação ambiental se caracteriza hoje como relevante instrumento pedagógico para a
construção de conhecimentos sobre a questão ambiental e, acima de tudo, para sensibilizar os
cidadãos quanto à necessidade, urgente, da mudança de postura exploratória, tecnicista e
antropocêntrica que o homem vem travando com os recursos naturais. Neste sentido, o Projeto
Barco-escola Chama-maré atua no cenário do Rio Grande do Norte para promover uma maior
sensibilização quanto à realidade que vive o rio Potengi atualmente. Muito embora se detendo à
problemática do Rio Potengi, pode-se constatar que os participantes da aula-passeio ampliam sua
visão da problemática ambiental global, chegando a sentirem-se sensibilizados quanto à
necessidade de desenvolverem novas posturas no trato com o meio ambiente.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


330

O Barco também é utilizado como Monitoramento e Limpeza, onde a ação de monitoramento


ambiental do Estuário do Rio Potengi “Barco-limpeza” faz parte do Programa de Recuperação e
Conservação do Estuário do Rio Potengi do Governo do Estado/IDEMA, que tem por finalidade propor
ações integradas para recuperar o Rio Potengi. Os trabalhadores coletam até 400 kg de lixo todos os dias,
mas quando o projeto começou eram por volta de 500 kg ao dia. Grande parte do material retirado é
composto por garrafas pet, sacos plásticos e até óleo de cozinha. A idéia do Barco de Monitoramento e
Limpeza surgiu a partir dos resultados do diagnóstico sobre a situação atual do estuário e da necessidade
de propor ações imediatas visando a sua recuperação. Sua atividade principal é coletar e identificar,
diariamente, resíduos sólidos encontrados no estuário (uma média de 7 toneladas/mês) e fazer sua
destinação adequada, em parceira com a Companhia de Serviços Urbanos de Natal – URBANA. A parir daí
forma-se um grupo de mutirão de limpeza que é uma ação de educação ambiental realizada pelo Projeto,
três vezes ao ano, durante uma manhã (de 7 as 13 horas) com foco na retirada de resíduos sólidos (lixo) do
Estuário do Rio Potengi, sendo trabalhada pelos professores do barco-escola durante o processo das aulas-
passeios.

Tabela 01 – Quadro síntese com total de participantes, de outubro de 2006 a junho de 2011.
ANO PERÍODO PARTICIPANTES
2006 Outubro a Dezembro 3.366
2007 Fevereiro a Dezembro 13.688
2008 Fevereiro a Dezembro 19.116
2009 Fevereiro a Dezembro 17.399
2010 Fevereiro a Dezembro 18. 638
2011 Fevereiro a Junho 9.506
TOTAL 81.713
Fonte: Secretaria Executiva do Projeto Barco-escola

Fonte: Secretaria Executiva do Projeto Barco-escola

Envolve nessa oportunidade, as comunidades locais e cerca de 20 instituições parceiras,


mobilizando mais de 400 voluntários. Essa atividade tem estimulando, professores e alunos de escolas
públicas e privadas, além de universidades e das próprias comunidades ribeirinhas a desenvolverem
projetos semelhantes, voltados para a sensibilização ambiental e a coleta manual do lixo nas margens do
rio.

João Pessoa, outubro de 2011


331

Fonte: Secretaria Executiva do Projeto Barco-escola

Alguns resíduos sólidos coletados são recicláveis (papel, papelão, plástico, metais) e utilizados em
oficinas pedagógicas nessas escolas. A impressa local tem dado um apoio importante a essas ações de
limpeza, no acompanhamento e divulgação desse trabalho, dando conhecimento e multiplicando esse
exemplo para milhares de pessoas. A média de lixo recolhida por mutirão fica em torno de 7 a 8 toneladas.
No que concerne ao ensino das disciplinas aplicadas em sala de aula, como História,
Geografia e Biologia, percebe-se que a proposta pedagógica da aula-passeio contempla de forma
satisfatória estas áreas do conhecimento, descrevendo a Biologia respectivamente a vida silvestre
da unidade de conservação.

Fonte: Secretaria Executiva do Projeto Barco-escola

Em uma perspectiva multidisciplinar, o Projeto Barco-escola Chama-maré realiza aulas-passeio


inseridas em um contexto de educação ambiental, dispondo de professores e monitores de diversas áreas.
Nesse espaço de aprendizagem, os participantes constroem conhecimentos sobre as potencialidades
(fauna e flora) e problemas ambientais (poluição) do Estuário do Rio Potengi, que se constitui em relevante
patrimônio natural e histórico-cultural da cidade do Natal. A referida aula-passeio contribui para a
sensibilização ambiental objetivando uma postura crítica e reflexiva sobre a realidade socioambiental do
Potengi.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Projeto Barco-escola Chama-maré se caracteriza como importante instrumento didático-
pedagógico, na perspectiva da educação ambiental, tendo como foco de atuação o Estuário do Rio Potengi
e a Unidade de Conservação.
A preservação dos serviços ecológicos deve ser prioridade dentro de estratégias de conservação e
uso da biodiversidade da região. Tais estratégias devem considerar ecossistemas e/ou paisagens, e não
somente espécies, como unidades a serem conservadas. Dessa forma, estaremos conservando as funções
básicas que mantêm a biosfera ativa e, por conseqüência as espécies existentes (conhecidas e
desconhecidas).
No decorrer das aulas no Barco Escola, são constatadas várias espécies da fauna e da flora na
Unidade de Conservação. Podemos destacar na sua flora, Terminalia catapp, Ceratonia sp, Cocos nucifera,
Sporobolus virginicus, Eichhornia sp, Acrosticum aureum, Avicennia germinans, Alternanthera marítima, e
uma grande diversidade de vegetação herbácea. Já o na margem da Gamboa Jaguaribe possui uma
vegetação nativa e exótica, e na margem da Gamboa Manimbu possui a vegetação fixadora de duna. E na
sua fauna encontram-se a classe Insecta Hamadryas februa, Uca maracoani. Aquáticas destacam-se
Callinectes danae, Sphoeroides testudineus, Bagre marinus, Hippocampus sp, Oligoplites saurus. Dos répteis
destacam-se a Iguana iguana, Boa constrictor, Oxyrhopus trigeminus. Da Anphbia Leptodactylus ocellatus.
Das aves, Egretta thula., Ardea alba e Pluvialis squatarola. A ordem Mamallia destaca-se os Procyon
cancrivorus, Artibeus lituratus e Callithrix jacchus. Assim dando continuidade a narrativa dos monumentos
históricos localizados na Unidade de Conservação, enfatizando um pouco da História do Patrimônio
Histórico do Estado do Rio Grande do Norte.
O fim dos impactos ambientais deve ser pensado não apenas como uma necessidade urgente
de preservação da biodiversidade, mas, de modo mais profundo, como uma mudança necessária nos
padrões de pensamento antropocêntricos, que privilegiam a existência humana em relação às demais.
A necessidade desta mudança se justifica pela abordagem bioética, que ultrapassa o plano de nossas
diferenças como espécies, e alcança aquele que nos iguala: o plano do interesse pela vida.

REFERÊNCIAS
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nº 19, 2002.
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João Pessoa, outubro de 2011


333

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Administração e Sociologia, 2005.
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SILVA, Marta Cassaro. O ambiente: uma urgência interdisciplinar. Campinas, SP: Papirus, 2005.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


334

ANÁLISE FLORÍSTICA E FITOSSOCIOLÓGICA DA VEGETAÇÃO EM


FRAGMENTOS DE CAATINGA NA MICROBACIA HIDROGRÁFICA RIACHO
CAJAZEIRAS, RN
SOUZA, Guilherme Fernandes.
Graduando: UERN/CAMEAM/CGE
gfstricolor_paulista@hotmail.com
MEDEIROS, Jacimária Fonseca.
Orientador: UERN/CAMEAM/CGE
jacimáriamedeiros@uern.br

RESUMO
Esta pesquisa se configurou em uma análise florística e fitossociológica da vegetação em
fragmentos de caatinga na microbacia hidrográfica do Riacho Cajazeiras-RN. Foi analisada a vegetação em
dois ambientes um antropizado e um mais conservado, pautando-se em uma visualização da composição
florística e evidenciando os parâmetros fitossociológicos. Foram demarcadas 10 parcelas, 5 em cada área
estudada em sistemas de delimitação de 10m x 10m. Foi constatado a localização de 385 indivíduos,
localizados em 6 famílias e 13 espécies. Onde as que se destacaram em números de indivíduos nas duas
áreas foram Croton Sonderianus (52,20%), Caesalpinia Pyramidalis (18,18%), Combretum Leprosum (5,97%).
Na classificação por área pode-se perceber a diferenciação entre os requisitos citados anteriormente, a
área antropizada é dotada de 184 indivíduos situados 5 famílias e 7 espécies, já na área mais conservada
foram constatadas 201 indivíduos distribuídos em 6 famílias e 13 espécies. Nas duas áreas foram
determinados os parâmetros fitossociológicos de densidade, freqüência, dominância e índice de valor de
importância. Foi analisado que a espécie Croton sonderianus detém os maiores valores de densidade
relativa, e freqüência relativa nas duas áreas, opondo-se os resultados apresentados pela Caesalpinia
pyramidalis que a segunda espécie em relação Densidade Relativa na área antropizada em comparação
com o ambiente conservado, sendo que a representada nesta ótica é a Myracrodruon Urudeuva.
Palavras Chaves: Análise Florística; Caatinga; Microbacia.

1 - INTRODUÇÃO
O ecossistema caatinga tem sua ocorrência em quase todos os estados do Nordeste e norte de
Minas Gerais, apresentando-se como principal cobertura vegetal da região, com características
diferenciadas em relação às mudanças de estações, as plantas se evidenciam por formações xerófilas e
variadas. Segundo Ross (2008), A caatinga é considerada uma mata seca que desenvolve um mecanismo de
perca de folhas durante o período de secas, além disso, as plantas estão adaptadas às condições variadas
do clima, principalmente as secas. O bioma adaptado às condições do clima semiárido abarca uma vasta
área do território potiguar. A caatinga localiza-se em relevos variados e condições de solo diversas a qual
influência em seus aspectos florísticos e características das plantas, as quais se adaptam e promovem
diferenciações entre as plantas de áreas planas e áreas de relevo mais elevado. A cobertura vegetal
predomina os dobramentos do cinturão orogênico do ciclo brasiliano, as estruturas de relevo são
predominantemente planas de baixas altitudes, que variam entre 50 m e 300 m, com a presença de morros
residuais Ross (2006). O clima semiárido condiciona o tipo de formação vegetal, evidenciado popularmente
por conter apenas duas estações uma chuvosa e uma seca chamada de verão, as chuvas do Nordeste são
mal distribuídas, e com baixa pluviosidade ao longo do ano. Assim como outras formações vegetais, a
caatinga perpassou por constantes descaracterizações ao longo do tempo, tendo com precursores a
exploração de madeira e agropecuária, apontando-se com área de preocupação no que diz respeito à
conservação das espécies vegetais e manutenção do bioma.
As análises florísticas e fitossociológicas proporcionam o conhecimento das áreas de
formações vegetais apontando ações de conhecimento e conservação de complexos vegetacionais. Na
composição florística são identificados às espécies e famílias encontradas em determinadas áreas,
promovendo a conscientização das características que refletem a presença de determinadas plantas em um

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ambiente. Quanto aos estudos de bacia hidrográfica em relação às caracterizações vegetacionais em


fragmentos de caatinga, cabe salientar que tal estudo proporciona a identificação dos elementos que a
compõe concebendo a importância da mesma para formação vegetal. Dessa forma este trabalho tem
como objetivo desenvolver estudos em fragmentos de caatinga localizados na microbacia do Riacho
Cajazeiras. As análises se detiveram em identificação da composição florística e a realização dos
parâmetros fitossociológicos, em duas áreas com ações antrópicas diferenciadas com a perspectiva de
promover ações de conservação na área quanto ao complexo vegetacional da área em foco.
2 - REFERENCIAL TEÓRICO
Localizado no semiárido do Nordeste Brasileiro o ecossistema caatinga abrange uma vasta área de
aproximadamente 800.000 Km², na qual estende-se pelos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba,
Pernambuco, Piauí, Sergipe, Rio Grande do Norte e parte de Minas Gerais. Segundo Rodal ET. AL (1992) o
território nordestino é composto por uma vegetação xerófila, de fisionomia e florísticas variadas. Para
tanto Duque (1980) e Figueiredo (1983) acrescenta essa abordagem caracterizando-as como lenhosas
decíduas e em sua maioria suculentas e de estrato herbáceo. Contudo, para Fernandes (2000) é mais
conveniente conceituar a caatinga a partir de duas fisionomias arbórea e arbustiva. Para Ross (2008)
ecologicamente podemos definir cinco tipos de caatinga:

Caatinga seca não arbórea – As associações vegetais crescem em grupos, mas não formam
dossel. Há grande predomínio de cactáceas e não ocorrem árvores. Caatinga seca arbórea –
Predomínio o pau-pereiro e arbustos isolados. Caatinga arbustiva densa – São bosques densos com
árvores isolados. É o tipo mais amplamente distribuído. Caatinga de relevo mais elevado – São
bosques densos com pluviosidade alta. Caatinga do chapadão do moxotó – É um tipo especial de
caatinga que ocorre nesse planalto arenoso, com muitas cactáceas arbóreas em forma de
“candelabros”. (ROSS, 2008 p. 176).

Com regime pluviométrico baixo e apenas uma estação chuvosa conceituada de (inverno), a
irregularidade das chuvas na região condiciona o tipo de vegetação. São matas secas, abertas deciduais,
que adolescem em condições climáticas a qual o regime pluviométrico é condicionante e o volume anual de
umidade está abaixo dos 700 mm, além do que as pouca chuvas estão relacionadas aos fortes ventos alísios
que não trazem umidade para região nordeste Ross (2008). Rodal ET. AL (1992) relaciona a deficiência
hídrica a baixa pluviosidade e alta evapotranspiração, além da mínima capacidade de retenção de água dos
solos, em sua maioria rasos e pedregosos. Ainda segundo o autor, a área de caatinga está submetida a 1000
mm/ano, entretanto essas medidas tendem a reduzir-se a valores de 300 mm/ano.
Desde a colonização o ecossistema caatinga passa por constantes explorações, consequência da
expansão e criação bovina atrelada ás práticas agrícolas, sendo que com a mecanização e o avanço da
agropecuária a exploração acentuou-se. Cabe salientar também as práticas de extração de madeira, assim
como outras ações de utilização do solo. Para Ross (2006), a caatinga está incluída em uma classificação de
sistemas fortemente transformados pelas as atividades humanas. O autor ver retratar a realidade
degradante do bioma na seguinte reflexão.

As caatingas brasileiras vêm sendo inteiramente degradadas nas últimas décadas,


principalmente pelo avanço da agricultura irrigada. Á área remanescente do domínio é inferior a
50% da área originária e menos de 1% está protegido por unidades de conservação. Já observam
áreas de desertificação. A pecuária intensiva, agroindústria, a extração de madeiras e agricultura de
subsistência são as maiores causas do desmatamento das caatingas. (Ross, 2008 p 177.)

Diante disso é notório evidenciar os impactos com essas práticas na vegetação, dessa forma é
observável uma constante descaracterização do bioma, abrangendo os padrões de diversidade e estrutura
das espécies. Segundo o IBAMA (1991) os desmatamentos a as queimadas são ainda práticas comuns de
utilização das terras para agropecuária, a qual a destruição da vegetação, a qualidade da água, além de
outros fatores. No que diz respeito à micro região do Alto Oeste Potiguar, segundo o instituto IDEMA
(2002), a cobertura caatinga apresenta um elevado grau de devastação caracterizada em uma zona grave,
apontando-se o processo de desertificação. As análises florísticas e fitossociológicas proporcionam

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


336

compreensão da vegetação de uma área, além de contribuir para os estudos de conservação. Para Souza
(2009) os estudos das áreas florestadas propiciam conhecimentos sobre a real situação das áreas,
desencadeando práticas que venham favorecer a recuperação das mesmas. Para tanto este estudo foi
realizado em fragmentos florestais existentes na microbacia do Riacho Cajazeiras. Souza (2009), diz que os
estudos referentes à bacia hidrográfica são importantes, pois permitem uma caracterização dos elementos
naturais nelas inseridos, a qual contribui a conservação e qualidade da água. A bacia hidrográfica
compreende o territóri que, pelas suas características topográficas, geológicas de solo e vegetação recebe e
conduz todas as águas que precipitam em sua superfície para um ponto central chamado de exutório Souza
(2009 p 2). A “partir do conhecimento da composição florística é possível conhecer sua “estrutura”
taxonômica” permitindo assim caracterizá-la e compará-la, Rodal ET. AL (1992) apud Pielou (1975).
Portanto este trabalho tem como propósito, visualizar a real situação da área em estudo como também
obter informações que venham subsidiar ações de conservação e planejamento.

3 - MATERIAL E MÉTODOS
Os estudos de vegetação em caatinga embutido em analises Florísticos e Fitossociológicos
desenvolvidos, se detiveram em atividades realizadas em conhecimento e delimitação da Micro bacia
Hidrográfica do Riacho Cajazeiras. Para a efetuação do trabalho foram utilizados os Softwares Google Earth,
a qual veio proporcionar a identificação da Microbacia, visualizando seus limites, desde a nascente no
Município de Água Nova – RN até o açude 25 de Março, localizado na cidade de Pau dos Ferros – RN. Nesse
sentido, é relevante destacar a importância do riacho, pois o mesmo vem a ser afluente do Rio Apodi
Mossoró. Após as atividades citadas, foram destacadas a realização de um Mosaico, com as imagens de
satélite obtidas com softwares Google Earth, para tanto se utilizou também o programa Corel Draw, onde
sua função se deu no recorte e montagem do Mosaico da microbacia.
Diante da identificação e analise da Microbacia, foi possível constatar as áreas para efetuação dos
estudos em vegetação caatinga. As atividades de campo se detiveram na Serra do Bom Será no Município
de Água Nova, sendo que se localizando em dois ambientes um antropizado e outro mais conservado, em
altitudes diferenciadas. Quanto ás análises das plantas foi medido o Perímetro Basal e Altura de cada
indivíduo, utilizando-se fitas métricas e trenas, seguindo o parâmetro de inclusão de 10 centímetros de
perímetro basal e 1 metro para a altura. Cabe salientar a importância de uma equipe para realização das
atividades, pois demanda de uma quantidade de tempo considerável para a realização do trabalho.
Portanto, as experiências em campo proporcionaram a obtenção de dados, a qual foram tabulados para os
futuros resultados das analises florísticas e fitossociológicas da microbacia do Riacho Cajazeiras. Os estudos
se propuseram em analises quantitativas e qualitativas de vegetação caatinga em dois ambientes, um
antropisado e um mais conservado utilizando o sistema de delimitação de parcelas de 10 x 10 ou 100m², a
qual abrangeu o número de 10 parcelas, sendo 5 em cada área estudada. A tabulação dos dados se realizou
no laboratório de Cartografia do curso de Geografia,CAMEAM/UERN, utilizando-se o software Microsoft
Excel, calculando-se a área basal das espécies, e os parâmetros fitossociológicos Densidade Absoluta e
Relativa, Frequência Absoluta e Relativa, Dominância Absoluta e Relativa e Valo de Importância.
1.2 Métodos dos Parâmetros Fitossociológicos.
A densidade Relativa – (D%) A densidade relativa se configura no número de indivíduos amostrados
em uma espécie em relação percentual ao total de indivíduos de todas as espécies presentes, calculando-se
da seguinte forma:
D% = ni . 100/N
ni: N° de indivíduos amostrados de uma espécie;
N = Percentual do número total de indivíduos de todas as espécies.

A frequência Absoluta – (Fab) É a ocorrência de cada espécie em alguma ou em todas as


amostras calculado assim:
Fab = n° de ocorrência das espécies/N° total de espécies.

A frequência Relativa – (F%) É o número de ocorrências de uma espécie em relação


percentual ao número total de ocorrências de todas as espécies calculada dessa forma:
F% n° de ocorrências da espécie x 100/ N° total de ocorrências.

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337

No que diz respeito aos valores de dominância é verificado a taxa de ocupação de uma
determinada espécie ou vegetação, calculado pelos parâmetros de perímetro e diâmetro.
Dominância Absoluta – (Doab) É caracterizada pela área basal da espécie por unidade de
área amostral calculada dessa forma:
Doab = ab/A
ab: Área basal individual
A: Unidade de área amostral

Dominância Relativa – (Do%) É caracterizada pela área basal (AB) de uma espécie com
relação percentual ao total de áreas basais de todas as espécies.
Do%: AB. 100/ Abtot
AB: Área basal da espécie;
Abtot: Área basal de todas as espécies.

Quanto ao Valor de Importância (VI) é a soma dos valores relativos a todos os parâmetros de
Frequência, Densidade e Dominância a qual propícia o valor de importância da espécie na comunidade.
VI = (FR% + DR% + DoR%)

4 - RESULTADOS E DISCUSSÃO
1.1 Composições Florística.
Nas analises Florísticas foram identificados 385 indivíduos, distribuídos em 6 famílias e 13
espécies. As famílias estão caracterizadas em Anarcardiaceae, Apocynaceae, Combretaceae, Euphobaceae,
Fabaceae e Rhamnaceae, distribuídas nas espécies Amburana Cearensis, Anandenanthera columbrina,
Aspidosperma, Pyrifolium, Bauhinia Cheilanta, Croton Sonderianus, Caesalpinia Férrea, Cobretum Leprosum,
Jatropha Poliana, Myracrodruom Urudueva Allemão, Piptadenia Stipucacea, Tipuana Auriculata, Ziziphus
Joazeiro. Verificou-se que na área antropizada foram encontradas 184 indivíduos situados 5 famílias e 7
espécies, já na área mais conservada foram constatadas 201 indivíduos distribuídos em 6 famílias e 13
espécies. (Na Tabela 1 e 2 é possível a visualização da classificação de famílias e espécies em cada área).
Torna-se evidente a diferenciação nas duas áreas promovendo as características que os difere, á
área antropizada abarca menos indivíduos como também a diversidade de famílias e espécies, podendo-se
perceber uma descaracterização do complexo vegetacional nas áreas mais aplainadas, consequência da
prática de extração de madeira e agropecuária. Toda via no ambiente mais conservado foi possível concluir
a existência de uma considerável diversidade de espécies em virtude de sua localização e condições
irregulares do solo, a qual dificulta a execução das práticas citadas anteriormente.
As espécies com o maior número de indivíduos nas duas áreas foram Croton Sonderianus
(52,20%), Caesalpinia Pyramidalis (18,18%), Combretum Leprosum (5,97%). Quando partimos para as
diferenças em valores percentuais na distribuição de indivíduos em cada área, os estudos correspondem da
seguinte forma na área mais antropizada, destacam-se Croton Sonderianus (50,54%), Caesalpinia
Pyramidalis (29,89%), Combretum Leprosum (8,69%). Assim como na área antropizada o Croton
Sonderianus (53,71%), é a espécie que apresenta o maior número de indivíduos no ambiente mais
conservado, seguido de Myracrodruom Urudueva Allemão (7,96%) e Caesalpinia Pyramidalis (7,46%). Como
evidencia os dados a espécies Croton Sonderianus vulgarmente chamada de Marmeleiro, ocupa uma
considerável área destacando-se em quantidades de indivíduos nos ambientes, percentualmente mais de
50% dos indivíduos amostrados são desta espécie. A Caesalpinia Pyramidalis, a Catingueira, também foi
vislumbrada nos dois ambientes, entretanto com um valor percentual inferior no mais conservado,
diferentemente do que ocorreu com as espécies Combretum Leprosum e Myracrodruom Urudueva Allemão
ocupando diferenças em valores percentuais nas áreas destacadas.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


338

Tabela I. Famílias e espécies encontradas em área antropizada, na microbacia do Riacho Cajazeiras.


Família/ Espécie Nome Vulgar
APOCYNACEAE
Aspidosperma, Pyrifolium Pereiro
COMBRETACEAE
Combretum cf. leprosum mart. Mofumbo
EUPHORBIACEAE
Croton sonderianus müll. Arg. Marmeleiro
Jatropha Poliana Pinhão
FABACEAE - CAESALPINIOIDEAE
Caesalpinia pyramidalis Tul. Catingueira
FABACEAE – MIMOSOIDEAE
Piptadenia stipulacea (Benth.) Ducke Jurema Branca
Anadenanthera colubrina Angico

Tabela II. Famílias e espécies encontradas em área mais conservada, na microbacia do Riacho Cajazeiras.
Família / Espécie Nome Vulgar
ANARCARDIACEAE
Myracrodruon urudeuva Allemão Aroeira
APOCYNACEAE
Aspidosperma, Pyrifolium Pereiro
COMBRETACEAE
Combretum cf. leprosum mart. Mofumbo
EUPHORBIACEAE
Croton sonderianus müll. Arg. Marmeleiro
Jatropha Poliana Pinhão
FABACEAE
Tipuana Auriculata Pau Mocó
FABACEAE - CAESALPINIOIDEAE
Caesalpinia pyramidalis Tul. Catingueira
Bauhinia cheilantha Mororó
Caesalpina férrea Jucá
FABACEAE – FABOIDEAE
Amburana cearensis Cumaru
FABACEAE – MIMOSOIDEAE
Piptadenia stipulacea (Benth.) Ducke Jurema Branca
Anadenanthera colubrina Angico
RHAMNACEAE
Ziziphus joazeiro Juazeiro

Quanto à ocorrência de espécies por parcelas nas duas áreas podemos caracterizar a localização
dos indivíduos encontrados, na área antropizada com as maiores ocorrências estão as espécies Croton
sonderianus, Combretum Leprosum que ocorre nas cinco parcelas, e a Caesalpinia pyramidalis, Piptadenia
Stipulacea presentes em quatro parcelas. Na área mais conservada destacam-se as espécies com maiores
ocorrências Croton sonderianus também presente nas cinco parcelas, assim como no ambiente
antropisado, Piptadenia Stipulacea em quatro, e as Caesalpinia pyramidalis, Combretum Leprosum em três
parcelas. (A ocorrência das demais espécies por parcelas nas duas áreas estão na tabela III).

João Pessoa, outubro de 2011


339

Tabela III: Ocorrências das espécies por área e parcelas na Microcacia do Riacho Cajazeiras.
Espécies Ocorrência de Ocorrência por N° de Nº total de
Espécie por parcela em Indivíduos por Indivíduos
Área I/II Área. Área.
Amburana cearensis II II/1 II/2 2
Anadenanthera colubrina I/II I/2 na II/1 I/3 na II/1 4
Aspidosperma pyrifolium I/II I/1 na II/1 I/2 na II/1 3
Bauhinia cheilantha II II/4 II/11 11
Caesalpinia pyramidalis I/II I/4 na II/3 I/55 na II/15 70
Caesalpina férrea II II/2 II/14 14
Croton sonderianus müll. I/II I/5 na II/5 I/93 na II/108 201
Combretum Leprosum I/II I/5 na II/3 I/16 na II/7 23
Jatropha poliana I/II I/1 na II/2 I/1 na II/7 8
Myracrodruon Urudeuva II II/2 II/16 16
Piptadenia Stipulacea I/II I/4 na II/4 I/13 na II/5 18
Tipuana Auriculata II II/2 II/14 14
Ziziphus joazeiro II II/1 II/1 1
385

1.2 Aspectos Fitosociológicos.


Dentre os diagnósticos feitos na área antropizada foi possível evidenciar a hegemonia da espécie
Croton sonderianus, abarcando os maiores valores de Densidade Relativa (19,255%), Frequência Relativa
(7,042%) e Dominância Relativa (18,864%). Outras espécies destacaram-se no ambiente como a Caesalpinia
pyramidalis com a Densidade Relativa (11,387%), entretanto a segunda espécie em relação à Frequência
Relativa é a Combretum Leprosum com (7,042%) assemelhando-se a Croton sonderianus, a qual vem ser
seguida em Dominância Relativa também pela Combretum Leprosum (4,486%).
Na área mais conservada, ou seja, onde as atividades de degradação no ambiente não atingiram de
forma atenuante o complexo vegetacional, é possível conceber os parâmetros fitossociológicos, abordando
características diferenciadas em relação à outra área estudada, com também semelhanças em espécies
quanto aos aspectos de Densidade Relativa. Dessa forma a espécie que se destaca em relação aos dois
primeiros parâmetros é a Croton sonderianus com a Densidade Relativa (22,177%), Frequência Relativa
(6,944%) e com a Dominância Relativa (14,480%). Em relação às demais espécies podemos evidenciar a
Myracrodruon Urudeuva em Densidade Relativa (3,285%) seguido da Caesalpinia pyramidalis (3,106%), em
Frequência Relativa estão a Bauhinia cheilantha (5,634), e a Caesalpinia pyramidalis (4,225%), e por fim a
Dominância Relativa sobressaindo-se a Myracrodruon Urudeuva (15,461) sobre a Croton sonderianus
(14,480%).
5 - CONCLUSÕES:
A espécie com maior incidência nas duas áreas foi Croton Sonderianus, seguida da
Caesalpinia Pyramidalis e Combretum Leprosum. As famílias com maiores representações foram
Euphorbiaceae, Fabaceae. A família Fabaceae – Caesalpinioideae demonstrou o maior número de espécies
três as Caesalpinia pyramidalis (Catingueira), Caesalpina férrea (Jucá) Bauhinia cheilantha (Mororó), a
segunda família com duas espécies Fabaceae – Mimosoideae, as Anadenanthera colubrina (Angico) e
Piptadenia stipulacea (Jurema Branca), também com duas Espécies a Família Euphorbiaceae com as Croton
sonderianus müll (marmeleiro) e Jatropha Poliana (Pinhão).
Diante de todos os trabalhos executados foi possível constatar uma descaracterização da
área, em virtude de práticas antrópicas de exploração vegetal destacando-se a extração de madeira com a
principal delas, além da agricultura de subsistência altamente relacionada com a pecuária. Notam-se
diferenças relacionadas quanto às duas áreas em relação ao processo de exploração, em virtude das
condições irregulares do relevo e a presença de espécies vegetais características desses lugares, o
ambiente mais conservado torna-se mais exposto à retirada de madeira. Toda via a área mais antropizada

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


340

em conseqüência das condições de relevo mais propicia as atividades de devastação apresentam-se, com
mais eficácia tonando-se nítidos a devastação vegetal por conta da agricultura e da pecuária.

6 - REFERÊNCIAS
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João Pessoa, outubro de 2011


341

CARACTERIZAÇÃO DAS FORMAÇÕES FLORESTAIS NO DOMÍNIO DA MATA


DO SERÓ, NO MUNICIPIO DE DONA INÊS/PB.
Jairo Teixeira Esperidião.
Aluno da Especialização em Geografia e Território (UEPB). jairo_incentiva@hotmail.com
José Jakson Amancio Alves.
Prof. Dr. do Curso de Geografia da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), e -mail: jaksonamancio@uepb.edu.br

RESUMO
O trabalho resulta do projeto de pesquisa para realização do TCC do curso de licenciatura plena em
Geografia, da Universidade Estadual da Paraíba, que teve como um de seus escopos realizar caracterização
das formações florestais no domínio da Mata do Seró, localizada no município de Dona Inês/PB; Considera-
se, para tanto, sua especificidade geomorfológica de área de transição, entre a zona da mata e a zona das
caatingas interioranas com trechos quase tão úmidos como o litoral e outros secos como o sertão, daí a
importância da pesquisa. Esta zona de transição no estado da Paraíba abrange áreas planas e superfícies
elevadas da porção oriental do Planalto da Borborema, onde se vê a transição entre os brejos e o sertão. A
primeira etapa dessa caracterização foi realizada por meio de reconhecimento geral do domínio da mata,
utilizando-se técnicas de interpretação de imagens, checagens de campo e bibliográfico, nos quais
obtivemos as informações necessárias para a identificação dos aspectos fisionômicos das formações
florestais. Assim, foram identificadas 07 formações que fazem parte da paisagem, como também,
identificamos os fatores edáficos que condicionam as áreas de ocorrência de cada uma delas, resultando
em um recorte importante sobre a distribuição geográfica dessas formações florestais.
Palavras-Chave: Caracterização. Formação Florestal. Fitogeografia. Georreferenciamento.

INTRODUÇÃO
A relação entre população e recursos tem sido antiga e crucial fonte de preocupação geográfica
inspirando os movimentos sociais ambientalistas e territoriais. Tais preocupações têm levado: delimitação
ao controle e à defesa dos territórios e da sobrevivência dos seres vivos; e à restrição do acesso aos
recursos e de seu uso pelos indivíduos de dentro e de fora dos grupos territorializados, pensando na
elaboração de politicas ambientais com intuito de preservar estoques de recursos naturais. A ampliação
continuada do uso inadequado ou da pressão demográfica sobre os recursos pode levar a perda da
eficiência na exploração da biodiversidade ou à trágica degradação ambiental e, consequentemente, à
ineficiência das defesas territoriais.
Sabe-se que a ocupação e exploração do solo, nas regiões tropicais, deixou como herança uma
paisagem florestal altamente fragmentada. Um dos principais fatores que contribuíram para esta
fragmentação foi à expansão agrícola, principalmente nas regiões com características edáficas favoráveis à
mecanização (VIANA et al. 1992). A vegetação primitiva do nordeste foi quase totalmente devastada e o
solo foi intensamente ocupado pelas culturas agrícolas e pastagens. Há mais de vinte anos, as formações
arbóreas já encontravam-se reduzidas a pequenos fragmentos isolados (DUQUE, 1980).
As ações antrópicas sistematizadas levaram ao desaparecimento quase que completo da cobertura
vegetal dessa região, dando lugar a uma vegetação de xerofilismo mais acentuado, com características
semelhantes às caatingas. Lins (1989), afirma que resta às “áreas de exceção” dentro do domínio dessa
formação florestal do nordeste semi-árido.
Quando o processo de substituição da cobertura florestal por outros usos do solo acontece de
forma desordenada, resulta numa série de ameaças à conservação da biodiversidade regional, à qualidade
dos recursos hídricos e, consequentemente, à qualidade de vida da sociedade. Entre outros fatores, o
desenvolvimento sustentável de uma região está diretamente relacionado com as características gerais da
sua cobertura florestal como, por exemplo, o estado de conservação dos fragmentos.
Dentro deste contexto encontra-se a Mata do Seró no município de Dona Inês/PB, classificada pelo
IBAMA (2010) como Floresta Estacional Semidecidual, em bom estado de conservação, localizada em uma
área de transição entre a zona da mata e a zona das caatingas interioranas. Nesse contexto, o trabalho

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


342

busca realizar uma caracterização da composição fitogeográfica da cobertura florestal por meio do
georreferenciamento das formações florestais associando-as aos fatores condicionantes de sua formação
geomorfológica de região de transição.

REFERENCIAL TEÓRICO
Na tipologia da Floresta Atlântica nordestina as matas situadas em serras e planaltos do semi-árido
conhecidas como os Brejos de Altitudes são ilhas florestais mais ou menos úmidos, em função de sua
condição climática peculiar, já que o relevo cria uma barreira às massas de ar, que acabam depositando
umidade nos vertentes e barlaventos, grotões e vales de serras (ANDRADE LIMA, 1964). Podem ser
classificadas como montanas, quando situadas acima de 600 m ou sub-montanas entre 100 e 600 m
(VELOSO et al. 1991) variando de ombrófilas a estacionais.
As espécies que constituem a composição florística desta formação florestal apresenta adaptações
fisiológicas e/ou morfológicas, que as tornam resistentes a deficiência hídrica estacional. Tais adaptações
são: capacidade de armazenamento de água em partes da planta; deciduidade, ou seja, capacidade de
perda total das folhas no período seco, sendo a característica responsável pela denominação deste tipo
florestal; órgão para absorção da umidade atmosférica ou de chuvas; entre outros (RODRIGUES, 1999). Os
gêneros de espécies cactáceas e bromeliáceas apresentam alta densidade nesta formação fitogeográfica,
como mandacaru e o ananás.
A caatinga está circunscrita ao domínio morfoclimático do semi-árido (Ab’ Saber, 1974). Neste
bioma, ocorre um grande número de formações vegetais, fionômico e floristicamente distintas (ANDRADE
LIMA, 1964, FERNANDES & BEZERRA, 1990, SOUZA et al. 1994) onde a caatinga é a formação
predominante, cercando os brejos de altitudes com sua vegetação.
Com base nestas informações, nos subitens seguintes são feitas abordagens sobre as principais
características das formações florestais citadas:

FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL


Esta formação fitogeográfica apresenta características condicionantes com as condições climáticas
da região de ocorrência. Apresentando duas estações distintas, uma chuvosa e outra seca, ou com
acentuada variação térmica (VELOSO, 1992).
O termo estacional menciona as transformações de aspecto ou comportamento da comunidade
conforme as estações do ano. O termo semidecidual refere-se à deciduidade, ou seja, a capacidade de
perda foliar na estação seca, observada em algumas espécies típicas dessa formação (RODRIGUES, 1999).
Aos fatores condicionantes, destaca-se que esta formação florestal ocupa as mais variadas condições
edáficas, ocorrendo tanto em solos mais argilosos quanto em solos arenosos.

FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL SUBMONTANA


Esta formação freqüentemente ocorre nas encostas interioranas das serras, onde a formação
geológica data dos períodos Jurássico e Cretáceo (VELOSO, 1992). É utilizada esta denominação para
especificar uma formação fitogeográfica que ocorre em áreas da Floresta Estacional Semidecidual com
declividades mais acentuadas dentro deste domínio de floresta.
Nas encostas interioranas das serras marítimas, os gêneros dominantes, com indivíduos
caducifólios, são os mesmos que ocorrem na floresta ombrófila atlântica, como Cedrela, Parapiptdenia e
Cariniana, sendo que nos planaltos areníticos os ecótipos deciduais que caracterizam esta formação
pertencem aos gêneros Hymenaea (jatobá), Copaifera (óleo-vermelho), Peltophorum (canafístula),
Astronium, Tabebuia e muitos outros (FILHO, 1992).

FLORESTA ESTACIONAL DECIDUAL


A distribuição territorial demonstra que a Floresta Estacional Decidual ocorre de forma descontínua
e em áreas relativamente pequenas nas Regiões Nordeste e Sudeste Brasileiro (VELOSO, 1992). Este fato foi
confirmado por Rodrigues (1999) ao mencionar a ocorrência de remanescentes deste tipo de floresta na
região dos municípios nordestino e paulista. Nesta ocasião, verificou-se que os fragmentos ocorrem sempre
sobre litólico, característico por ser raso, com elevada acidez e baixa capacidade de retenção hídrica na

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estação seca. De acordo com o novo sistema de classificação de solos os solos das áreas de ocorrência
desta formação florestal se enquadra no grupo dos Neossolos Litólicos (PARDO, 2001).
Esse tipo de vegetação, que é caracterizado por duas estações climáticas bem definidas, sendo uma
chuvosa e outra seca. No período da seca, espécies do estado estrato arbóreo apresentam-se quase que na
totalidade desprovidas da cobertura foliar em função das condições desfavoráveis do clima (VELOSO 1992).

FLORESTA ESTACIONAL DECIDUAL SUBMONTANA


A denominação Floresta Estacional Decidual Submontana foi utilizada pelo Instituto de Geografia
Brasileiro e Estatística – IBGE para especificar uma formação fitogeográfica que ocorre em áreas com
declividade mais acentuadas em relação às áreas de ocorrência da Floresta Estacional Decidual.
Nesta formação encontra-se dispersas as maiores disjunções deste tipo de vegetação florestal
decidual. Classificada como submontana entre 100 e 600 m (VELOSO et al. 1991) variando de ombrófilas a
estacionais.

SAVANA-ESTÉPICA (CAATINGA DO SERTÃO ÁRIDO)


O binômio Savana-Estépica, criado e apresentado por Trochain em 1948/54 (APUD. SCHENELL,
1957) e reafirmado no Acordo Interafricano sobre os tipos de vegetação da África Tropical (TROCHAIN,
1957), foi originalmente usado para designar uma vegetação tropical de características estépicas próximo à
Zona Holártica africana.
O termo foi empregado para designar a área do “sertão árido nordestino” com dupla
estacionalidade, apresenta frequentemente dois períodos secos anuais, um com longo déficit hídrico
seguido de chuvas intermitentes e outro com seca curta seguido de chuvas torrenciais que podem faltar
durante anos. Este tipo de vegetação ou classe de formação subdivide-se em quatro subgrupos de
formações situadas em áreas geomorfologicamente distintas, destacaremos duas: Savana-Estépica
Florestada (Cerradão) e Savana-Estépica Arborizada (Cerrado).

SAVANA-ESTÉPICA FLORESTADA (CERRADÃO)


Esta formação fitogeográfica distingue-se ao longo das matas estacionais pelo aspecto ou
fisionomia e, principalmente, pela sua composição florística (RIZINNI, 1997). Subgrupo de formação
caracterizado por micro e/ou manofanerófitos, com média de 5 m, excepcionalmente ultrapassado os 7 m
de altura, mais ou menos densos, com grossos troncos e esgalhamento bastante ramificado em geral
provido de espinhos e/ou acúleos, com total decidualidade na época desfavorável.
A flora do “sertão nordestino” (caatinga), situada na grande depressão interplanáltica bastante
arrasada, é caracterizada, sobretudo pelos gêneros: Cavanillesia e Chorisia da família Bombacaceae, de
dispersão Pantropical, sendo que o gênero Cavanillesia, Neotropical, é homólogo do gênero Adansônia,
Paleotropical africana; Schinopsis e Astronium, pertencente à família Anacardiaceae que é de dispersão
Pantropical, são Neotropicais, sendo o primeiro andino-argentino e o segundo afro-amazônico; Acácia,
Mimosa, Cássia, e outros da família Leguminosae, de dispersão Pantropical, com distribuição descontínua,
apresentam maior número de ecpotipos do Novo Mundo.

SAVANA-ESTÉPICA ARBORIZADA (CERRADO)

Os cerrados ou campos cerrados são a forma brasileira da formação geral chamada Savana. Muitas
vezes é savana arborizada ou podendo chegar a ser um simples campo sujo, com apenas arbustos mal
desenvolvidos e esparsos por cima do tapete gramináceo (RIZZINI, 1997). O Manual Técnico da Vegetação
Brasileira (IBGE, 1993), as áreas de ocorrência desta formação fitogeográfica são definidas como Encraves
de Cerrados e consideradas como uma das regiões de domínio da Mata Atlântica.
Na depressão interplanáltica nordestina (Caatinga do sertão árido), dominam os ecótipos: Spondias
tuberosa (Anacardiaceae) sendo o gênero de dispersão amazônica, mas a espécie dessa depressão
endêmica; Commiphora leptoploeos (Burseraceae), o gênero de dispersão afro-amazônica, mas a espécie
também endêmica; Cnidoscolus phyllacanthus (Euphorbiaceae) com família de dispersão Pantropical,
porém de ecótipo endêmico; Aspidosperma pyrifolium (Apocynaceae), o gênero com dispersão andino-

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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argentina, mas do ecótipo endêmico; e vários ecótipos do gênero Mimosa (Leguminosae Mim.) que muito
bem caracterizam grandes áreas do “sertão nordestino” (Caatinga).

MATERIAL, METODOLOGIA E LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO


O Município de Dona Inês/PB que, faz parte do Estado da Paraíba, está localizado a 6º Latitude Sul e
35º Longitude Oeste, sobre as coordenadas 06º 37’ 13’’ e 35º 37’ 29’’ respectivamente, na Mesorregião do
Agreste, Microrregião do Curimataú Oriental, fazendo parte assim, do Planalto da Borborema (Escarpa
Oriental), do Estado da Paraíba. Tem uma altitude de, aproximadamente, 480 metros acima do nível do
mar e uma área territorial de 132 km2.
A Mata do Seró está localizada ao norte do município de Dona Inês situada nos sítios Seró,
Canafístula e Pimenta, fazendo parte do Assentamento Fazenda Sítio, ocupando uma área de 54.7986
hectares equivalente a 143 m², uma altitude de 498 m, situada entre as coordenadas 06° 37’ 12’’ Latitude
Sul e 35° 36’ 38’’ Longitude Oeste.
A caracterização das formações florestais no domínio da Mata do Seró foi realizada a partir de um
considerável levantamento bibliográfico, em que procuramos identificar as diferentes formações florestais
que ocorrem na região.
Grande parte do material bibliográfico utilizado neste trabalho foi conseguido por meio de consulta
na biblioteca da UEPB, na Biblioteca do Centro Cultural do Municipal de Dona Inês/PB. A outra parte foi
adquirida no acervo particular do Professor Orientador Dr. José Jakson Amâncio Alves, de alguns
pesquisadores e via internet.
A caracterização das formações vegetais da Mata do Seró partiu do pressuposto de que o estudo de
uma determinada vegetação pode ser feito pela compreensão de três aspectos: aspectos fisionômicos –
trata-se da aparência que a vegetação exibe. Esta aparência resulta do conjunto das formas de vida das
plantas; aspectos estrutural (sinúsia) – trata-se da ordenação das diferentes formas de vida que compõem
a vegetação e que se faz de maneira estratificada; e aspecto da composição – trata-se da composição
florística constituinte da vegetação.
Rizzini (1997) ressalta que o estudo de uma determinada vegetação por meio do aspecto
fisionômico propicia uma caracterização, em geral, simples e prática. No entanto, não se deve
desconsiderar os fatores ecológicos e florísticos, derivados do ambiente e tomados da flora
respectivamente, visto que são condicionantes das diferentes formações fitogeográficas.
Com base no Manual Técnico de Vegetação Brasileira (VELOSO, 1992), no Mapa da Vegetação do
Brasil (IBGE, 1993) e nas definições técnicas do Tratado de Fitogeografia do Brasil (RIZZINI, 1997), nesta
pesquisa se considerou o seguinte sistema de nomenclatura para as formações florestais que ocorrem no
Estado da Paraíba:

Quadro 1 – Formações Florestais


Fonte: Pesquisa de campo
Grupos Formações
1 Floresta Estacional Semidecidual
.
Floresta Estacional Semidecidual submontana
2 Floresta Estacional Decidual
.
Floresta Estacional Decidual submontana
3 Savana-Estépica Caatinga do Sertão-Árido
.
Savana-Estépica Florestada (Cerradão)
Savana Estépica Arborizada (Cerrado)

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O termo Floresta Estacional se refere às formações que apresentam um comportamento


fisionômico diferenciado dependendo do período do ano, se chuvoso ou seco. Como parte deste grupo, a
decidual sub-montana que são situadas entre 100 e 600 m. No caso das Savana-Estépica, o termo refere-se
à vegetação de caatinga do sertão-árido que é constituída de arvoretas e arbustivas.

GEORREFERENCIAMENTO DAS FORMAÇÕES FITOGEOGRÁFICAS


Nesta etapa foi essencial o uso de um receptor GPS – Global Positioning System. Neste caso,
utilizou-se um GPS de navegação Gramim e Trex de 123 canais e com antena interna. Este aparelho
apresentou uma exatidão média de 10 metros. Em concomitância com a pesquisa bibliográfica sobre os
levantamentos fitossociológicos e florísticos, realizou-se o georreferenciamento dos pontos das
coordenadas das formações estudas.
Esta prática possibilitou um reconhecimento fisionômico das diferentes formações florestais
existentes na Mata do Seró e seu domínio. Dessa forma, pode-se estabelecer um padrão visual da
fisionomia de cada formação. Com base nos estudos preliminares da cobertura florestal seguimos pelas
vias principais e trilhas que visitamos em diferentes pontos da Mata. Cada local visitado foi
georreferenciado com o receptor GPS, por meio do registro das suas coordenadas geográficas em UTM
(Universal Transversa de Mercator). Em cada ponto, num total de 100 (cem), foram anotados e
fotografados as fisionomias das formações florestais predominantes na paisagem.
O banco de dados do mapeamento de campo contendo as coordenadas de cada ponto de
ocorrência das formações florestais, entre outras anotações, foi tabulado e organizado utilizando-se o
software Excel no sistema operacional Windows 2000.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A vegetação da Mata do Seró é do tipo acatingado. Por se tratar de uma área de transição climática
entre o Brejo úmido e o Cariri semi-árido; Possui em sua constituição pequenas matas subcaducifoliadas
resultantes da associação dos solos litólicos e podzólicos, com espécies xerófilas da caatinga e espécies de
mata úmida.
Por meio da pesquisa bibliográfica e dos estudos de campo durante o mapeamento e o
georreferenciamento, constatou-se que o domínio da Mata do Seró apresenta uma grande diversidade de
fisionomias florestais, apresenta-se de vários tipos florestais dependendo da altimetria. Foram identificadas
07 (sete) formações que fazem parte do mosaico florestal da paisagem. Todas foram citadas pelo Manual
Técnico da Vegetação Brasileira (IBGE, 1992), como pertencentes à região estudada. Estas formações são:

Figura 1 (Jairo, 2010) – Aspecto geral de um


remanescente de Floresta Estacional Semidecidual no
domínio da Mata do Seró.

FLORESTA ESTACIONAL SEMICIDUAL – é a formação florestal que predomina na paisagem da Mata


do Seró, geralmente na forma de pequenos e isolados fragmentos. Apresenta um dossel irregular, com

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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altura média de 20 metros, denso e onde frequentemente destacam-se árvores emergentes de algumas
espécies como: Hymenaea courbaril (Jatobá). No período da estiagem apresenta uma fisionomia típica,
onde ocorre um desfolhamento parcial dos indivíduos arbóreos, podendo ocorrer em 50% deles.

Figura 2 (Jairo, 2010) – Vista geral da Mata do Seró,


Floresta Estacional Semidecidual Submontana.

FLORESTA ESTACIONAL SEMICIDUAL SUBMONTANA – esta formação é muito semelhante a


da Floresta Estacional Semidecidual em sua fisionomia, principalmente no período de deciduidade,
diferenciando por apresentar um dossel descontínuo em razão dos constantes deslizamentos de terra que
formam clareiras. Outro fator de distinção é a ocorrência em áreas declivinosas. Observa-se que nesta
formação também ocorrem árvores emergentes de algumas espécies como: Tabebuia heptaphylla (Ipê
roxo), Cetrolobium tomentosum (Araribá) e Chorisia speciosa (Paineira).

Figura 3 (Jairo, 2010) – Fragmento de Floresta


Estacional Decidual na época da estiagem, no domínio da
Mata do Seró.

FLORESTA ESTACIONAL DECIDUAL – no período chuvoso apresenta uma fisionomia


semelhante ao da Floresta Estacional Semidecidual, diferenciando-se por apresentar um dossel mais baixo,
por volta de 15 metros. O período da seca é visivelmente diferenciado em função do elevado índice de
deciduidade das espécies arbóreas, ocorrendo quase na totalidade dos indivíduos. Nos estratos inferiores
observa-se uma alta densidade de espécies de bromeliáceas e cactáceas

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Figura 4 (Jairo, 2010) – Domínio da Mata do Seró,


Floresta Estacional Decidual Submontana.

FLORESTA ESTACIONAL DECIDUAL SUBMONTANA – a fiosionomia desta formação é muito


semelhante ao da Floresta Estacional Decidual, principalmente no período de deciduidade. A ocorrência em
áreas declivosas é um fator que caracteriza este tipo de formação florestal. Observa-se ainda que nesta
formação também ocorrem árvores emergentes de algumas espécies.

Figura 5 (Jairo, 2010) – Domínio da Mata do Seró,


Savana Estépica – Caatinga do Sertão-Árido.

SAVANA ESTÉPICA - CATINGADA – esta formação mantém o seu padrão fisionômico durante o ano
todo, destacando-se na paisagem no período da seca em função da ausência de deciduidade. No estrato
arbóreo há predominância de indivíduos pouco desenvolvidos promovendo um dossel baixo e denso. O
estrato inferior apresenta uma alta densidade de espécies arbóreas e arbustivas de caráter xerófilo, com
grande quantidade de plantas espinhosas, cactáceas e bromeliáceas.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Figura 6 (Jairo, 2010) – Aspecto fisionômico de


Savana Estépica Florestada no domínio da Mata do Seró.

SAVANA ESTÉPICA FLORESTADA – por se tratar de uma vegetação de área de transição entre as
espécies arbóreas de capoeira baixa e a capoeira alta, a savana florestada apresenta uma fisionomia
florestal com espécies arbóreas típicas das savanas, como: Anadenanthera macrocarpa (Angico) e Styrax
ferrugineus (Benjoeiro). As espécies arbóreas de savana que se desenvolvem nesta formação apresentam
fustes mais desenvolvidos e menos tortuosos.

Figura 7 (Jairo, 2010) – Aspecto fisionômico de


Savana Estépica Arborizada no domínio da Mata do Seró.

SAVANA ESTÉPICA ARBORIZADA – com um padrão fisionômico muito diferente das florestas, esta
formação apresenta uma composição arbórea pouco densa, composta por arvoretas e arvores baixas,
inclinadas e muito tortuosas. O lenho das árvores apresenta casca grossa e sulcada. A maior parte das
espécies apresenta folhas rígidas e coriáceas. O estrato herbáceo é composto por uma densidade muito
elevada de espécies de gramíneas.
Com esse estudo foi possível realizar a identificação no campo das diferentes formações florestais
que compõem o domínio da Mata do Seró no Município de Dona Inês/PB, tendo como base os seus
aspectos fisionômicos, formando a paisagem dessa Mata. O estudo fisionômico proporcionou o
conhecimento das diferentes formações florestais que constituem a paisagem do domínio da Mata,

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demonstrando que esta região apresenta uma cobertura florestal muito complexa e muito ameaçada de
extinção.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na Mata do Seró, o consumo predatório dos recursos naturais tem mostrado a necessidade da
implantação de estratégias ambientais no sentido mais amplo, tais como a transformação da área em uma
unidade de conservação e o zoneamento agroecológico e econômico na região; de forma que, o
desenvolvimento das atividades humanas venham a ser pautadas em bases mais sustentáveis.
Também é de fundamental importância o comprometimento da sociedade em todos os níveis;
político e social para a conservação dos remanescentes florestais, o habitat natural da biota terrestre, nessa
perspectiva enfatizamos o pensamento de Veiga (2007), “a abordagem sócio ambiental pressupõe a
inevitável necessidade de procurar compatibilizar as atividades humanas em geral e o crescimento
econômico em particular com a manutenção de suas bases naturais; particularmente com a conservação
ecossistêmica”.
Nesse sentido, esse trabalho é importante, consistindo em uma contribuição, pois as informações
bibliográficas compiladas e averiguação in locu possibilita diferenciá-las em termos de fisionomia. Neste
caso constatou-se que o período de estiagem ocorreu como um fator favorável a diferenciação fisionômica
entre as florestais em função da variação do grau de deciduidade entre estas. Ainda, como parte da
caracterização, o georreferenciamento dos pontos de verificação possibilitou a confirmação das formações
fitogeográficas. Por meio desta atividade confirmou-se que 3 (três) grupos ocorrem no domínio da Mata do
Seró, que são: Floresta Estacional Semidecidual, Floresta Estacional Decidual e Savana Estépica. Esses três
grupos apresentam cada um duas formações distintas. Como mencionamos anteriormente, o
georreferenciamento nos possibilitou compreender que nas áreas com um índice de altimetria elevada à
mata apresenta espécies de mata úmida em bom estado de preservação.

REFERÊNCIAS
AB’ SÁBER, A. N. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidade paisagísticas. São Paulo: Ateliê,
2003.
ANDRADE, M. C. Ecossistema e potencialidades dos recursos naturais do Nordeste. Recife:
SUDENE/UFPE, v.2. p.348, 1989.
FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Manual Técnico da Vegetação
Brasileira, Rio de Janeiro: IBGE, 1992. n.1. (Séries Manuais Técnicos em Geociência).
HUECK, K. O mapeamento fitogeográfico e sua importância prática para a silvicultura. Anuário
Brasileiro de Economia Florestal, v.8, n.8, p.90-96, 1955.
JOLY, A. B. Conheça a Vegetação Brasileira. São Paulo: USP/ Polígono, p165, 1970.
LEITÃO FILHO, H. F. Considerações sobre a florística de florestas tropicais e subtropicais do Brasil.
IPEF, n.45, p.41-46, 1987.
RIZINNI, C. T. Tratado de Fitogeografia do Brasil: Aspectos ecológicos, sociológicos e florísticos 2ª
ed., Rio de Janeiro, Âmbito Cultural, 1997.
VELOSO, H. P. (Org.) Manual técnico da vegetação brasileira. Rio de Janeiro: IBGE/ Departamento
de recursos naturais e estudos ambientais, 1992.
VIANA, V. M.; TABANEZ, A. J. MARTINEZ, J. L. A. Restauração e manejo de fragmentos de florestas
naturais. Revista do Instituto Florestal, v.4, p.400-406, 1992.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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ESTUDO SOBRE A DISTRIBUIÇÃO DA ALGAROBA PROSOPIS JULIFLORA


(SW.) DC. NO MUNICÍPIO DE CAICÓ/RN.
GUEDES, J. C. F
Graduando em Geografia UFRN. E-mail: janio_legionario@yahoo.com
SANTOS-SOBRINHO, G. F. dos
Graduando em Geografia UFRN. E-mail: geraldo_labesa@yahoo.com.br
SILVA-CHIANCA, I. R
Graduando em Geografia UFRN. E-mail: igssonlabesa@yahoo.com.br

RESUMO
O presente trabalho teve como finalidade apresentar a distribuição da algaroba Prosopis juliflora
(Sw.) DC. no município de Caicó/RN na atualidade, como foi introduzida na Caatinga, e quais foram os seus
impactos, sejam eles positivos e negativos dentro do Bioma abordado. Após algum tempo, notou-se como
a introdução dessa arbórea na Caatinga gerou tanto impacto diante da vegetação nativa, tendo aquela
como uma planta exótica com comportamento invasor, gerando o que seria a competição com as plantas
nativas, devido à mesma fazer parte do gênero Prosopis, que tem como característica a capacidade de
manter-se verde nos períodos de estiagem, devido a mesma conseguir absorver água em grandes
profundidades para a sua sobrevivência, competindo assim com as demais, fator esse que a coloca como
sendo uma planta invasora.
E esse tal comportamento invasor, é o que vem causando junto com outros fatores, como por
exemplo, atividades de mineração, pastoreios assim como, atividades ceramísticas, causando o que alguns
autores denominam como núcleos de desertificação, não só no município de Caicó/RN, mais também em
toda a Caatinga.
PALAVRAS CHAVES: Caatinga, desertificação, algaroba, comportamento invasor, planta exótica.

INTRODUÇÃO
A Caatinga é um bioma exclusivamente brasileiro; portanto ele é único no mundo, ocupando uma
área de 11% do território nacional brasileiro, ou seja, uma área superior a 750.000 Km², englobando de
forma contínua parte dos estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco,
Alagoas, Sergipe, Bahia e parte do Norte de Minas Gerais, ocupando o que seria mais de 70% do território
do Nordeste, e composto predominantemente por plantas de porte arbustivo arbóreo, caducifólias e muito
tolerantes ao déficit hídrico (Andrade-Lima, 1981 apud Gonçalves, 2011).
A biota da Caatinga é uma das mais diversas e o seu nome tem origem no tupi-guarani significando
“floresta branca”, que certamente caracteriza bem o aspecto da vegetação na estação seca, quando as
folhas caem (Albuquerque & Bandeira, 1995) e apenas os troncos brancos e brilhosos das árvores e
arbustos permanecem na paisagem seca (Leal, 2005). Segundo Larcher (2006), a resistência à seca é a
capacidade da planta de superar períodos de estiagem, ou seja, seu poder de resiliência, e é uma
característica complexa.
Segundo Camacho, alguns pesquisadores consideram a Caatinga, o sertão, e o seridó, como
fitofisionomias xerófilas, do que como tipo de vegetação. Assim, Rizzini (1997) e Foury (1972) apud
Camacho, comentaram a respeito dessa terminologia.
Segundo eles é perfeitamente aceitável a utilização do termo Caatinga, desde que seja
acompanhado de um adjetivo (ou mais de um), como: Caatinga arbórea, Caatinga arbustiva densa, etc.
Assim, a Caatinga é considerada desde o século XVI como um dos principais recursos para o
desenvolvimento regional.
Além dos fatores fisiológicos e climáticos, historicamente foi forte a pressão antrópica que o
semiárido brasileiro sofreu ao longo de sua colonização.

Orientador: Prof. Renato de Medeiros Rocha. Coordenador do laboratório de Ecologia do Semiárido –


LABESA. E-mail: renatocaico@yahoo.com.br

João Pessoa, outubro de 2011


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São muitos os fatores que levam a tais agressões, variando desde a exploração ilegal da madeira
até o mau uso do solo, ocasionando destruição no devido bioma, como também a utilização da vegetação
como combustível para vários fins econômicos, entre eles pode ser citada a atividade ceramista que é
muito presente na região nordeste, como também, a retirada da vegetação para fins agrícolas podendo ser
citado o pastoreio, que acarreta o pisoteamento do solo, que fica compactado e que mais tarde irá
prejudicar o reflorestamento natural de espécies nativas.
Dessa forma, a Caatinga tem sofrido grandes modificações através de atividades antrópicas (com
danos irreversíveis em algumas áreas), sendo a falta de informações sobre a importância da preservação
um dos problemas mais frequentes. Isso gera hoje uma das maiores crises de perda de biodiversidade na
Terra, pois é a caatinga o bioma mais rico em biodiversidade do mundo, uma vez que está o localizado na
região tropical, e é esta localização que lhe dá condições de manter essa biodiversidade, e que está sendo
prejudicada pela introdução de espécies invasoras.
Por volta do século XX mais precisamente em 1942 no Estado de Pernambuco, foi
introduzida a algaroba (Prosopis juliflora), uma espécie exótica de comportamento invasor que surgiu no
cenário da Caatinga como uma alternativa para suprir com as necessidades dos habitantes locais,
necessidades essas como, por exemplo, servir de alimentação para animais do tipo bovino, caprino entre
outros. Pois a mesma consegue sobreviver com pouca água, e essa escassez de água é bastante comum na
região da caatinga.
Segundo Mendes (1984) as algarobas são plantas leguminosas da sub-familia Mimosoideae
e do gênero Prosopis. Tal gênero possui 44 espécies distribuídas nas regiões áridas e semiáridas do
continente americano, do norte da África e do leste da Ásia. Dessas 44, apenas três espécies são nativas da
Ásia e apenas uma da África. Das 40 espécies naturais do continente americano, 31 são da América do Sul,
das quais 29 são encontradas na Argentina.
Vale frisar que, nem todas as espécies de plantas do gênero Prosopis são conhecidas
popularmente pelo nome de algaroba, mais as que são assim denominadas, adaptam-se muito bem às mais
variáveis condições climáticas de aridez e semiaridez.
Conforme Mendes (1984), neste gênero são incluídos arbustos e árvores de caule curto,
embora encontrem algumas de até vinte metros de altura, tendo um caule com um diâmetro de
aproximadamente um metro.
A maioria dessas espécies apresentam ramos com espinhos, folhas bipinadas e as flores são
hermafroditas, pequenas e geralmente ocorrem agrupadas em vagens alongadas. As vagens crescem em
pencas, formando grupos de até doze unidades, medindo geralmente de 3 a 25 cm de comprimento,
apresentam-se curvadas e contém várias sementes envolvidas pela a polpa. Quando maduras, as vagens
caem no solo, porém não se abrem ao secar.
A Prosopis juliflora é uma planta de porte alto, podendo chegar a uma altura de até 15 (quinze)
metros ou mais, assim como o seu tronco retorcido possui muitas ramificações como também espinhos, e o
que mais lhe diferencia das demais espécies nativas é o seu sistema radicular que pode ser um sistema de
raízes profundas chegando a alcançar os lençóis freáticos, onde extrai a água necessária para a sua
sobrevivência. O sistema profundo contem três raízes principais, tendo como função de sustentar assim
como de procurar água em reservas subterrâneas (Tume et, al 1989, apud Franco, 2008)
O outro tipo de sistema radicular é o que se desenvolve na direção lateral, gerando assim uma
espécie de tapete superficial que consegue absorver a água da chuva, assim como a umidade do ar (FIG. 01
e 02).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


352

Figura 01: Sistema radicular profundo. Figura 02: Sistema radicular superficial.
Fonte: Franco, 2008. Fonte: Franco, 2008.

Tal comportamento de suas raízes é o que vem gerando a perda da qualidade do solo chegando
também a ocupar as áreas no qual seria de outros taxa, gerando o que chamamos de desertificação; nesse
caso, seria a perda da biodiversidade nativa do bioma Caatinga provocada por essa planta exótica (P.
juliflora) que agora chamada de invasora.

METODOLOGIA
O presente trabalho adotou o método de estudo qualitativo, através do levantamento bibliográfico
em teses, dissertações, monografias, artigos e periódicos que tratem do assunto das plantas exóticas
invasoras na Caatinga, destacando a algaroba, no município de Caicó/RN.
Foram aplicados questionários abertos e entrevistas semiconduzidas com pessoas que residem nos
locais a serem estudados para se captar o grau de conhecimento a respeito do assunto, além de
observações e curiosidades sobre a dinâmica desta espécie invasora em solo caicoense.
Depois de aplicado os questionários, notou-se que a maioria dessas pessoas, utilizam-se da
algaroba como meio de sustentabilidade, no qual principalmente a população da zona rural, utiliza-se da
mesma para seus determinados fins, como por exemplo, a madeira que é muito utilizada para a combustão
em fornalhas para atividades ceramísticas, muito comum na região do Seridó.
Não só a madeira mais também a vagens são muito utilizadas como alimento para o gado,
acarretando de certa forma a propagação da espécie pela região.
Isso ocorre devido o gado quebrar a dormência das sementes da algaroba, isso ocorre devido,
como a sementes da algaroba são muito rígidas, a partir do momento que elas passam pelo estomago dos
animais, os ácidos encontrados nele acabam que diluindo a camada superior das sementes, deixando elas
mais propicias para a germinação, após contato com o solo, já que as mesmas são eliminadas nos dejetos
desses animais.
E após serem coletadas amostras do solo para saber o desgaste que a algaroba causa no território
caicoense, foi possível analisar a escassez de minerais assim como dos recursos hídricos.
E por essa escassez hídrica, espécies que crescem próximos a algaroba foram quase que extintas,
vendo que onde encontra-se a algaroba as outras espécies de flora não proliferam com facilidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após ter estudado a algaroba (P.juliflora),foi possível avaliar um aspecto marcante e determinante
para a distribuição e proliferação da planta, prejudicando assim o Bioma Caatinga, que é a falta de
conhecimento das pessoas no tocante ao que denomina-se comportamento invasor da algaroba.
A planta que até então foi introduzida no Nordeste em 1942 para suprir como as necessidades da
seca, como a escassez de água vem gerando um fator impactante no Bioma, como a limitação para que as

João Pessoa, outubro de 2011


353

outras plantas proliferem já que a mesma consegue absorver a água ao seu redor e em grandes
profundidades para a sua sobrevivência, como também a distribuição por outros vetores.
Vetores esses como o gado, pássaros e outros animais que alimentam-se das sementes, facilitando
a quebra de dormência de sementes, permitindo sua fixação em solos escassos de minerais formando
assim ciclos contínuos e que muitas vezes inibem ou restringem o desenvolvimento das espécies naturais
do ambiente. Os resultados demonstram que P. juliflora encontra-se bem estabelecida dentro do bioma
Caatinga, e que sua presença altera a fisionomia dos ecossistemas afetados de forma a comprometer a
variabilidade interespecífica dos outros grupos comuns neste bioma brasileiro. Dessa forma, a partir desses
dados coletados, possa servir de estudo para outros futuros trabalhos, que venham a viabilizar estratégias
que possam conter as perdas biológicas no bioma caatinga, estabelecendo metas de ação para controle da
espécie em locais de risco a contaminação biológica irreversível.

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Campina Grande. Centro de tecnologia e recursos naturais. Campina Grande/PB, 2008. 112p.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


354

UTILIZAÇÃO DE FORMALDEÍDO NA COLETA DA MACROFAUNA DO SOLO


EM ÁREA DE CAATINGA NO SEMIÁRIDO DA PARAÍBA
Jéssica Sousa Brito¹
Graduanda do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas/UFCG, Campus de Patos
jessic_jsb@hotmail.com
Jacob Silva Souto²
Professor Associado, Dr., Unidade Acadêmica de Engenharia Florestal/UFCG
jacob_souto@uol.com.br
Francisco Avelar Pereira Júnior³
Engenheiro Agrônomo, MDA/SAF/ Coop. Plural
avelar.junior@yahoo.com.br

RESUMO
A atividade biológica do solo é responsável por inúmeras transformações físicas e químicas dos
resíduos orgânicos que são depositados, mantendo assim, a sustentabilidade do ambientes. No Nordeste
brasileiro, ainda são incipientes os estudos sobre a população da macrofauna em área de Caatinga. O
presente estudo objetivou avaliar a densidade e a biomassa da macrofauna, em bosque com vegetação de
caatinga no âmbito do Centro de Saúde e Tecnologia Rural/UFCG, em Patos (PB). Para coleta da população
da macrofauna foram utilizadas soluções de formaldeído (formol), que corresponderam aos tratamentos,
com quatro repetições, nas concentrações de 1%, 3%, 5%, 7% e 9%, respectivamente, em área circunscrita
por um molde de ferro de 0,5 m x 0,5 m. No tocante a biomassa e densidade da macrofauna coletadas,
observou-se que não houve diferenças estatísticas entre os tratamentos utilizados. Os resultados do estudo
permitiram concluir que: as Ordens Coleoptera, Haplotaxida, Isoptera e Isopoda predominaram no
ambiente de estudo e, as concentrações de formol não influenciaram, estatisticamente, na coleta de
indivíduos da macrofauna do solo.
Palavras-chave: biota do solo, formol, minhocas, caatinga.

INTRODUÇÃO
Os solos formam a interface entre a atmosfera e a litosfera, possuindo elementos de ambos – água,
ar e matéria orgânica – juntamente com a diversidade de organismos e materiais de origem biológica. Esses
elementos interagem, continuamente, com a atmosfera e litosfera, pois nos solos os materiais orgânicos
são quebrados para formar os compostos orgânicos estáveis, pela ação dos organismos, dissipando seu
conteúdo energético e contribuindo para a ciclagem de nutrientes. Assim, o solo se caracteriza como um
reservatório faunístico composto por uma grande diversidade de organismos que garantem o seu
biofuncionamento e a sustentação de todo o bioma (JACOBS et al., 2007).
O sistema solo-serrapilheira é o habitat natural para grande variedade de organismos, que diferem
em tamanho e metabolismo e são responsáveis pela manutenção e produtividade dos ecossistemas. Nesse
sistema, os organismos do solo funcionam como importante reservatório de nutrientes essenciais às
plantas. São eles que promovem o processo de decomposição da matéria orgânica, sendo esta um processo
essencialmente biológico e dependente das interações entre as diferentes funções dos organismos edáficos
e também afetado por fatores abióticos como a qualidade dos resíduos e as condições edafoclimáticas.
A composição da fauna do solo reflete o funcionamento do ecossistema, visto que ela exerce um
papel fundamental na fragmentação do material vegetal e na regulação indireta dos processos biológicos
do solo, estabelecendo interação em diferentes níveis com os microrganismos (CORREIA, 2002); seu estudo
é importante para a compreensão ecológica do funcionamento edáfico, já que o desequilíbrio dessas
comunidades pode resultar em desastres, como a explosão de pragas ou a destruição da estrutura física do
solo e consequente perda da fertilidade e da capacidade produtiva.
Segundo Swift et al. (1979) os invertebrados do solo podem ser classificados de acordo com seu
comprimento em três grupos: a microfauna (< 0,2 mm), que inclui nematódeos e rotíferos; mesofauna (0,2
– 2,0 mm), que inclui ácaros, alguns insetos e enquitrídeos e, a macrofauna (> 2,0 mm), composta por
miriápodes, insetos e oligoquetos.

João Pessoa, outubro de 2011


355

Estudos sobre o processo de decomposição da serapilheira vêm sendo desenvolvidos em vários


ecossistemas, onde incluem o conhecimento sobre as comunidades de decompositores (microrganismos e
organismos da meso e macrofauna), as características da qualidade da serapilheira e os fatores abióticos
que influenciam nas diferentes fases do processo de decomposição. No bioma caatinga são escassas as
informações sobre a ciclagem de nutrientes com junção dos fatores bióticos e abióticos, onde a integração
desses dados permitirá compreender melhor a dinâmica da ciclagem na manutenção da sustentabilidade.
No Nordeste a produção de biomassa depende da precipitação anual e de sua distribuição. Com a
intensa degradação da Caatinga, essa produção sofre redução drástica, favorecendo a exposição direta do
solo, deixando-os com baixos níveis de fertilidade, o que torna essas áreas degradadas (SOUTO et al.,
1999).
O objetivo deste trabalho foi avaliar a densidade populacional e a biomassa da macrofauna edáfica,
em bosque com vegetação sob vegetação de caatinga, uma vez que informações sobre as flutuações das
comunidades desses organismos são incipientes para esse ecossistema tão ameaçado no semiárido da
Paraíba.
Material e Métodos
O estudo foi desenvolvido no Viveiro Florestal do Centro de Saúde e Tecnologia Rural/UFCG, no
município de Patos (PB), a uma altitude média de 250 metros, com clima semi-árido do tipo BSh, segundo a
classificação de Köeppen (1948), com médias térmicas anuais superiores a 25°C e pluviosidade média anual
inferior a 1000 mm/ano com chuvas irregulares.
Para coleta dos organismos da macrofauna do solo utilizou-se solução de formaldeído (formol) em
diferentes concentrações, onde se aplicou 5,0 litros da solução em uma área de solo de 0,25 m², definida
por um molde vazado de ferro (Figura 1), de acordo com o tratamento definido. Os indivíduos da
macrofauna expulsos, durante o período de 10 minutos, foram coletados manualmente com auxílio de
pinça metálica sendo, em seguida, transferidos para recipientes de vidro com capacidade de 500 mL
contendo solução de álcool a 70%.

Figura 1. Moldura metálica utilizada para distribuição uniforme da solução de formaldeído (Foto de
Souto, J.S., 2011).
O delineamento estatístico utilizado foi inteiramente casualizado com cinco tratamentos onde os
tratamentos foram constituídos por soluções de formol com diferentes concentrações (1%, 3%, 5%, 7% e
9%), com quatro repetições.
O esquema de Análise de Variância para o estudo sobre a densidade e a biomassa da macrofauna
coletada na área experimental se encontra na tabela 1. Os dados obtidos foram submetidos à análise de
variância e a comparação de médias foi feita utilizando-se o teste de Tukey a 5% de probabilidade,
utilizando-se o programa ASSISTAT (SILVA & AZEVEDO, 2009).

FONTE DE VARIAÇAO GRAUS DE LIBERDADE


Tratamentos 4
Resíduo 15

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


356

TOTAL 19
Tabela 1. Esquema de análise de variância utilizado para a deposição de serapilheira.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para a biomassa da macrofauna do solo, observou-se que não houve diferença significativa entre os
tratamentos, conforme visualizado no quadro de análise de variância (Tabela 2). Apesar de não ter havido
diferença significativa entre os tratamentos (Tabela 3), os maiores valores para a biomassa da macrofauna
encontrada na área experimental foram encontrados quando se adicionou formaldeído a 7 % e 5 %,
respectivamente.

Fonte de variação Graus de liberdade SQ QM F


Tratamentos 4 0,19957 0,04989 1,0295ns
Resíduo 15 0,72693 0,04846
Total 19 0,92650
Tabela 2. Quadro de análise de variância para os dados de biomassa da macrofauna.

Tratamentos Biomassa (g)/0,25m²


T1= formol 1 % 0,050a
T2= formol 3 % 0,032a
T3= formol 5 % 0,195a
T4= formol 7 % 0,272a
T5= formol 9 % 0,027a
dms 0,481
Tabela 3. Biomassa (g) da macrofauna do solo obtida com o uso de formaldeído em área de
caatinga.

A análise de variância revelou que não ocorreu diferenças significativas (p<0,05) entre os
tratamentos no tocante ao número de indivíduos da macrofauna edáfica coletados (Tabela 4). Isto se deve
provavelmente ao número de coletas, que deveriam ser feitas em várias épocas do ano para observação da
flutuação sazonal e maior precisão dos dados.

Tratamentos Nº médio de indivíduos/0,25m²


T1= formol 1 % 6,75a
T2= formol 3 % 4,25a
T3= formol 5 % 9,50a
T4= formol 7 % 10,0a
T5= formol 9 % 5,50a
dms 10,42
Tabela 4. Número médio de indivíduos da macrofauna do solo obtido com a aplicação de diferentes
concentrações de formol (média de quatro repetições).

Apesar de não ter havido diferenças significativas entre os tratamentos, conforme observado na
tabela 4 constata-se que o uso de formol nas concentrações de 7 % e 5 %, respectivamente, proporcionou a
captura do maior número de organismos da macrofauna na área de estudo. Segundo Hendrix et al. (1990),
alterações na abundância desses organismos constituem-se bons indicadores de mudanças no sistema
edáfico, dada à estreita associação da comunidade da fauna do solo com os processos que ocorrem no
subsistema decompositor. Além disso, eles são capazes de alterar características físicas dos solos e atua
também fragmentando detritos vegetais, estimulando a atividade microbiana e regulando as populações de
microrganismos, da microfauna e da mesofauna.
A composição relativa da comunidade de macrofauna do solo pode ser vista na figura 2,
apresentando os principais grupos encontrados. Em todas as glebas houve uma forte dominância de
João Pessoa, outubro de 2011
357

besouros (Coleoptera), seguido de minhocas (Haplotaxida), cupins (Isoptera) e tatuzinho (Isopoda). Esse
predomínio de Coleoptera, principalmente na fase larval, é justificado por Assis Júnior (2000) ao afirmar
que este os organismos deste grupo taxonômico se multiplica rapidamente no período em que o solo
apresenta alto conteúdo de água no solo, a exemplo da época de coleta dos organismos do solo no
presente estudo o qual se deu no mês de junho/2010, onde a precipitação pluviométrica foi suficiente para
manter o solo úmido.

Figura 2. Número de indivíduos por Ordem, da comunidade de macrofauna do solo coletada em


bosque do Centro de Saúde Tecnologia Rural/UFCG, Campus de Patos, em Junho/2011.

A comunidade da macrofauna edáfica é fortemente influenciada pela ação antrópica, podendo


modificar sua abundância e diversidade principalmente pela perturbação do ambiente físico e pela
modificação da qualidade e quantidade da matéria orgânica (LAVELLE et al., 1993 e TIAN et al., 1993). Pela
sua intensa participação nos processos biológicos dos ecossistemas naturais, a fauna edáfica é considerada
como importante indicadora da qualidade biológica do solo, podendo ser útil na avaliação de
agroecossistemas degradados (WINK et al., 2005).
Vale salientar que a área onde foi instalado o experimento é um bosque constituído de espécies de
ocorrência na caatinga, enriquecido com espécies exóticas, principalmente leucena, propiciando desta
forma, uma melhor oferta de nitrogênio fornecida por esta e outras leguminosas, promovendo um
microclima com alta umidade e elevada umidade do solo.
Gomes et al. (2008) ao avaliarem a distribuição dos grupos da macrofauna edáfica, na época
chuvosa, em uma área com capim panasco (Aristida setifolia) e, outra área com faveleira (Cnidoscolus
phyllacanthus) e craibera (Tabebuia aurea) em Patos (PB), observaram que o grupo taxômico Hymenoptera
dominou as áreas estudadas, resultado este confirmado por Rodrigues et.al. (2007) no município de Várzea
(PB). No entanto, no presente estudo, o grupo Hymenoptera não foi dominante.
Para Vargas e Hungria (1997), as formigas constituem um dos grupos mais importantes da fauna
edáfica, particularmente em regiões tropicais e subtropicais. e isso, tanto pela abundancia e diversidade
quanto pela sua influência na regulação do equilíbrio ecológico (muitas espécies são parasitas ou
predadoras de várias pragas de insetos) e pela sua ação pedológica,

CONCLUSÕES

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


358

As ordens Coleoptera, Haplotaxida, Isoptera e Isopoda predominaram no ambiente de estudo;


As concentrações de formol não influenciaram, estatisticamente, na coleta de indivíduos da
macrofauna do solo.

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João Pessoa, outubro de 2011


359

COMPARAÇÃO DE LEVANTAMENTOS FITOSSOCIOLÓGICOS NA RESERVA


LEGAL RIACHO PACARÉ-PB
João Paulo da Silva Cavalcante
Aluno bolsista de Graduação do Curso de Geografia, UEPB-CH
Jpcavalcante20@hotmail.com
Thalis de Vasconcelos Pontes
Aluno bolsista de Graduação do Curso de Geografia, UEPB-CH
thalispontes@hotmail.com
Luciene Vieira de Arruda
Profa. Dra. do Curso de Geografia, UEPB-CH
luciviar@hotmail.com

RESUMO
A Mata Atlântica abriga mais de 20 mil espécies de plantas, das quais 50% são endêmicas, ou seja,
espécies que não existem em nenhum outro lugar do mundo (COPABIANCO, 2001). Na Paraíba o bioma da
Mata Atlântica engloba 22 municípios, com uma extensão de 5.231 km 2, correspondente a 9,3% do
território Paraibano (SUDEMA, 2004). O presente trabalho tem como objetivo realizar um estudo
comparativo de levantamentos fitossociológicos da RLRP, Miriri Alimentos e Bioenergia/PB, município de
Rio Tinto-PB. O tipo de amostragem aplicada foi o método dos quadrados, proposta por Mueller-Dombois
& Ellenberg (1974), Rodal et al., (1992) e Araújo & Ferraz (2004). Foram instaladas três unidades amostrais
cada uma com 100 m2, espalhados pela Reserva com a finalidade de cobrir a área pesquisada o mais
heterogeneamente possível.Todos os indivíduos vivos com altura igual ou superior a 1 metro foram
considerados árvores. Constatou-se 268 indivíduos pertencentes a 23 famílias, distribuídos em 37 espécies,
sendo 34 identificadas na ordem taxonômica e 03 espécies indeterminadas. As famílias com maior número
de espécies foram Fabaceae, seguida por Bignoniacea, Anonaceae e Mirtaceae. Por meio da pesquisa
constatou-se uma floresta densa, rica em espécies e biodiversidade.
Palavras- chaves: Mata Atlântica, Levantamento Fitossociológico e Espécies Vegetais

INTRODUÇÃO
A intervenção humana sobre o relevo terrestre, que seja em áreas urbanas ou rurais, demanda a
ocupação e a transformação da superfície do terreno. Dependendo do tamanho da intervenção, das
práticas conservacionistas utilizadas e dos riscos geomorfológicos envolvidos, os impactos ambientais
associados poderão causar grandes prejuízos ao meio e aos seres humanos (GUERRA, 2003).
A Mata Atlântica abriga mais de 20 mil espécies de plantas, das quais 50% são endêmicas, ou seja,
espécies que não existem em nenhum outro lugar do mundo. É a floresta mais rica do mundo em espécies
de árvores por unidade de área, com 454 espécies identificadas em um único hectare no sul da Bahia.
Abriga também 1,6 milhão de espécies animais, incluindo: insetos; mamíferos (261 espécies, sendo 73
endêmicas); pássaros (620 espécies, sendo 160 endêmicas); anfíbios (260 espécies, sendo 128 endêmicas).
Comparada com a Floresta Amazônica a Mata Atlântica apresenta, proporcionalmente, maior diversidade
biológica. No caso dos mamíferos, por exemplo, estão catalogadas 218 espécies na Mata Atlântica contra
353 na Amazônia, apesar desta ser quatro vezes maior do que a área original da primeira (Capobianco,
2001).
No Nordeste brasileiro os poucos remanescentes de mata atlântica que ainda existem estão
reduzidos a pequenos fragmentos cercados de atividade antrópica (SNE, 2002). No Estado da Paraíba esse
bioma engloba 22 municípios, situados em uma faixa de até 100 km da costa litorânea para o interior, com
uma extensão de 5.231 km2, correspondente a 9,3% do território paraibano (SUDEMA, 2004).
A Reserva Legal Riacho Pacaré (RLRP) está localizada no município de Rio Tinto-PB na Microrregião
Rio Tinto, na Mesorregião Mata Paraibana do Estado da Paraíba. Encontra-se na unidade ambiental dos
Tabuleiros Costeiros. Esta unidade acompanha o litoral de todo o nordeste, apresenta altitude média de 50
a 100 metros. Compreende platôs de origem sedimentar, que apresentam grau de entalhamento variável,
ora com vales estreitos e encostas abruptas, ora abertos com encostas suaves e fundos com amplas

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


360

várzeas, os solos são profundos e de baixa fertilidade natura O clima é do tipo Tropical Chuvoso com verão
seco. O período chuvoso vai de fevereiro e termina em outubro com precipitação média anual de 1.634.2
mm. A vegetação é predominantemente do tipo Floresta Subperenifólia, com partes de Floresta
Subcaducifólia e Cerrado/ Floresta. Os solos são representados pelos Latossolos e Podzólicos nos topos de
chapadas e topos residuais; pelos Podzólicos com Fregipan, Podzólicos Plínticos e Podzóis nas pequenas
depressões nos tabuleiros; pelos Podzólicos Concrecionários em áreas dissecadas e encostas e Gleissolos e
Solos Aluviais nas áreas de várzeas (CPRM, 2005).
As principais ameaças à Mata Atlântica têm sido, ao longo dos anos, a expansão da agricultura e da
pecuária, o avanço das áreas urbanas e a exploração madeireira indevida. Essa pressão antrópica provocou
a perda de parte da sua biodiversidade e propiciou a entrada de espécies invasoras no ecossistema,
descaracterizando e tornando a vegetação mais pobre (CAPOBIANCO, 2001).
Segundo MARAGON et al. (2003), os levantamentos fitossociológicos são imensamente
importantes para a compreensão da dinâmica das espécies arbóreas, apóia-se na taxonomia vegetal e
possui estreitas relações com a fitogeografia e as ciências florestais. Para a caracterização de uma
determinada floresta, primeiramente é necessário reconhecer as espécies presentes no local e fazer uma
análise de sua estrutura, podendo-se assim, estudar seu desenvolvimento (BERGER et al., 2004). Dessa
forma, o presente trabalho tem como objetivo realizar um estudo comparativo de levantamentos
fitossociológicos da RLRP, Miriri Alimentos e Bioenergia/PB, município de Rio Tinto-PB.

METODOLOGIA
A pesquisa ocorreu na Reserva Legal Riacho Pacaré, pertencente à Miriri Alimentos e Bioenergia
S/A, situada no município de Rio Tinto/PB. Trata-se de uma unidade de conservação particular localizada na
Fazenda Santa Emilia, com 56,06ha, que busca preservar resquícios de mata Atlântica (GONÇALVES E
SANTOS, 2010).

Quadro 1: Coordenadas UTM das parcelas levantadas na RLRP


PARCELA DATA COORDENADAS UTM
01 21/02/2011 0283792 /9239269
02 21/02/2011 0283576 /9239359
03 25/02/2011 0284675/9238878
Fonte: Trabalho de Campo, 2011.

O tipo de amostragem aplicada foi o método dos quadrados, proposta por Mueller-Dombois &
Ellenberg (1974), Rodal et al., (1992) e Araújo & Ferraz (2004). Foram instaladas três unidades amostrais
cada uma com 100 m2, espalhados pela Reserva com a finalidade de cobrir a área pesquisada o mais
heterogeneamente possível. Os pontos foram demarcados em coordenadas UTM (Unidades Transversas de
Marcator). Todos os indivíduos vivos com altura igual ou superior a 1 metro foram considerados árvores,
em todas elas foram anexadas blocos de papel de cor amarela para enumerar a quantidade de indivíduos
dentro do quadrado. Para cada indivíduo foi coletado material botânico para identificação, medindo o DAP
(diâmetro a altura do peito), a altura média através de uma vara metálica graduada de 5 m, a cobertura da
copa e altura do tronco, também se constata na ficha de campo o nome popular e a etno-botanica. Foram
calculados os parâmetros gerais: número de indivíduos (N); área basal (AB); densidade relativa (DR%);
freqüência absoluta (FA); freqüência relativa (FR%); dominância absoluta (DoA); dominância relativa
(DoR%); e valor de importância (VI).
Durante os três meses, nos períodos de janeiro a março de 2010, foram coletados materiais férteis
das espécies pesquisadas. A identificação das espécies foi realizada a partir de literatura especializada,
comparação com outras exsicatas, por meio de fotos e pesquisas bibliográficas.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

João Pessoa, outubro de 2011


361

No total de perfis analisados na RLRP, constatou-se 268 indivíduos pertencentes a 23 famílias,


distribuídos em 37 espécies, sendo 34 identificadas na ordem taxonômica e 03 espécies indeterminadas. As
famílias com maior número de espécies foram Fabaceae (quatro espécies), seguida por Bignoniacea,
Anonaceae e Mirtaceae (com três espécies cada uma). As espécies com maior incidência em representação
foram Protium heptahyllum (Aubl.) March seguida por Eschweleira ovata (Cambess)Mart e Ingá Vera, que
pertencem, respectivamente, às famílias Burseraceae, Lecythidaceae e Fabaceae.

Tabela1. Famílias e espécies na área RLRP – Miriri/PB

FAMÍLIA ESPÉCIE

Lecythidaceae Lecythis pinosis


Eschweleira ovata

Anarcadiceae Thyrsodium spruceanum

Erythroxylaceae Erythroxylum deciduum

Chrysobalanaceae Hirtella hebeclada

Malhpighiaceae Byrsonima verbascifolia


Byrsonima sericea

Apocynaceae Echites cururu

Burseraceae Protium heptaphyllum

Salicaceae Casearia decandra

Myrtaceae Myrtus communis


Acca sellowiana
Psidium cattleyanum
Moraceae Brosimum guianense

Annonaceae Xylopia brasiliensis


Annona salzmannii
Campomonesia
Rubiceae Platycyamus regnelli

Bignoniácea Handroanthus serratifolius


Tabe ** avellanedae
Crescentia cujite
Araliceae Schefflera morototoni

Fabaceae Ingá dysantha


Samanea tubulosa
Apuleia férrea
Ingá vera
Lauráceae Ocotea opifera

Boraginaceae Cordia superba

Sapotaceae Manilkara Huber


I
Loranthaceae Struthanthus marginatus

Cactaceae
Sapindaceae Cupania racemosa

Asteraceae Baccharis dracunculifolia

Arecaceae Bactris setosa

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


362

Polygonaceae Coccolola SP

Tabela 2. Espécies e parâmetros fitossociológicos na área 1 da RLRP

Espécies N° AB DR(%) FA FR(%) DoA DoR VI


(%)
Lecythis pisonis 01 65.0389 1.51 83.33 7.46 0.65 4.53 13.50
Thyrsodium 07 8.0424 10.61 100.00 8.95 0.08 0.56 20.12
spruceanum
Erythroxylum deciduum 04 4.5239 6.06 83.33 7.46 0.04 0.32 13.84
Eschweleira ovata 12 4.5239 18.19 100.00 8.95 0.04 0.32 27.46
Hirtella hebeclada 06 8.5530 9.09 83.33 7.46 0.09 0.60 17.15
Byrsonima verbascifolia 03 486.9558 4.55 33.33 2.99 4.87 33.93 41.47
Echites cururu 01 3.4636 1.51 66.66 5.97 0.03 0.24 7.72
Protium heptaphyllum 04 3.4636 6.06 100.00 8.95 0.03 0.24 15.25
Casearia decandra 03 1.3273 4.55 50.00 4.48 0.01 0.09 9.12
Acca sellowiana 04 1.5393 6.06 83.33 7.46 0.02 0.11 13.63
Brosimum guianense 11 9.0792 16.67 83.33 7.46 0.09 0.63 24.76
Xylopia brasiliensis 04 7.5476 6.06 50.00 4.48 0.08 0.53 11.07
Platycyamus regnelii 02 201.0624 3.04 83.33 7.46 2.01 14.01 24.51
Psidium cattleyanum 01 0.7854 1.51 16.66 1.50 0.01 0.05 3.06
Annona salzmannii 01 25.5176 1.51 33.33 2.99 0.26 1.78 6.28
Handroanthus 01 31.1725 1.51 33.33 2.99 0.31 2.17 6.67
serratifolius
Byrsonima sericea 01 572.5566 1.51 33.33 2.99 5.73 39.89 44.39

TOTAL 66 1435.1530 100 1116.62 100 14.35 100 300.00


FONTE: Dados coletados no período de janeiro a março de 2010 na RLRP – Miriri/PB
Dados: N(número de indivíduos), AB (área basal), DR% (densidade relativa), FA (freqüência Absoluta), FR%
(freqüência relativa), DoA (dominância absoluta), DoR% (dominância relativa), VI (valor de importância)

Na área 1, a Byrsonima sericea apresentou 44.39 de Valor de importância (VI) , foi espécie que
apresentou o maior VI, contudo apresentou uma baixa freqüência absoluta. Tal motivo ocorreu pelo fato
da espécie se apresentar apenas em um dos três levantamentos realizados. Espécies com Eschweleira
ovata, Protium heptaphyllum, Thyrsodium spruceanum, Platycyamus regnelii, Lecythis pisonis, Xylopia
brasiliensis, Brosimum guianense, Acca sellowiana, Casearia decandra, Echites cururu, Hirtella hebeclada,
Erythroxylum deciduum, apresentaram as maiores freqüências absolutas es, mas ocupam posições
inferiores em importância, devido às baixas dominâncias.
A Schefflera morototoni apresentou 42.20 de Valor de importância na área 2 da RLRP e o Ingá
dysantha apresentou o menor (VI) com 3.45. Apresentou também dois indivíduos não identificado: o (Cajá
Bravo e o Pau Falho). Na área 3, Schefflera morototoni teve o maior valor de Importância com 53.67 e o
aparecimento de outra espécie indeterminada que foi o (Cardeiro).
As médias das alturas das espécies constatadas nas unidades amostrais foram: área 1 51m; área 2
61.4m e área 3 44.6 m (Gráfico 1). As médias do DAP foram respectivamente 38,2 cm. 43,3 cm e 51,2 cm
(Gráfico 2). E as médias da altura da copa corresponde à 19,27m; 16.27m e 25.23m (Grafico 3).
Esses dados nos revelam que os indivíduos encontrados na área 3 se destacam por apresentar os
mais elevados índices do Diâmetro da Altura do Peito (DAP) com 51.2 cm e as maiores copas de árvores
com média de 25.23 m, contudo seus indivíduos possuem também a menor média de altura dentre os três
aqui analisados. A área 2 apresentou os maiores índices de altura, aproximadamente 61.4 m e o menor
índice de cobertura da copa com 16.27 m. A área 1 ficou com suas médias entre as área 2 e 3. São árvores
de grande porte e se encontram em estágio avançado de desenvolvimento.

João Pessoa, outubro de 2011


363

Tabela 3. Espécies e parâmetros fitossociológicos na área 2 da RLRP

Espécies N° AB DR (%) FA FR (%) DoA DoR %) VI

Schefflera morototoni 01 490.8750 0.92 66.66 6.07 4.91 35.91 42.20


Hirtella hebeclada 06 41.8539 5.50 83.33 7.58 0.42 3.00 16.08
Eschweleira ovata 10 3.8013 9.18 100.00 9.09 0.03 0.27 18.54
CAJÁ BRAVO 01 176.7150 0.92 16.66 1.51 1.77 12.67 15.10
Annona salzmannii 04 8.0424 3.67 33.33 3.03 0.08 0.58 7.28
Thyrsodium spruceanum 16 2.0106 14.68 100.00 9.09 0.02 0.14 23.91
Acca sellowiana 05 0.6361 4.59 83.33 7.58 0.01 0.05 12.22
Brosimum guianense 27 1.1309 24.77 83.33 7.58 0.01 0.08 32.43
Protium heptaphyllum 06 0.3848 5.50 100.00 9.09 0.01 0.03 14.62
Ingá dysantha 02 1.5393 1.83 16.66 1.51 0.02 0.11 3.45
Platycyamus regnelii 02 91.6090 1.83 83.33 7.58 0.92 6.57 15.98
PAU FALHO 09 145.2675 8.26 16.66 1.51 1.45 10.42 20.19
Samanea tubulosa 01 40.7151 0.92 33.33 3.03 0.41 2.92 6.87
Apuleia férrea 03 9.0792 2.75 16.66 1.51 0.09 0.65 4.91
Erythroxylum deciduum 08 2.0106 7.34 83.33 7.58 0.02 0.14 15.06
Xylopia brasiliensis 02 11.9459 1.83 50.00 4.55 0.12 0.86 7.24
Lecythis pisonis 01 1.7671 0.92 83.33 7.58 0.01 0.13 8.63
Inga vera 01 1.7671 2.75 16.66 1.51 0.01 0.13 4.39
Campomonesia guaviroba 03 49.0168 0.92 16.66 1.51 0.49 3.51 5.94
Tabebuia avellanedae 01 314.1600 0.92 16.66 1.51 3.14 22.53 24.96
TOTAL 109 1394.3276 100 1099.92 100 13.94 100 300.00
FONTE: Dados coletados no período de janeiro a março de 2010 na RLRP – Miriri/PB
Dados: N(número de indivíduos), AB (área basal), DR% (densidade relativa), FA (freqüência Absoluta), FR%
(freqüência relativa), DoA (dominância absoluta), DoR% (dominância relativa), VI (valor de importância)

Tabela 4. Espécies e parâmetros fitossociológicos na área 3 da RLRP


Espécies N° AB DR (%) FA FR (%) DoA DoR VI
(%)
Hirtella hebeclada 03 32.1700 3.22 83.33 7.57 0.32 1.19 11.98
Ocotea Opifera 01 314.1600 1.08 16.66 1.52 3.14 11.63 14.23
Inga vera 01 1.5394 1.08 83.33 7.57 0.02 0.06 8.71
Eschweleira ovata 13 6.6052 13.97 100.00 9.09 0.07 0.24 23.30
Brosimum guianense 07 4.9087 7.53 83.33 7.57 0.05 0.18 15.28
Cordia superba 08 4.1548 8.60 33.33 3.03 0.04 0.15 11.78
Protium heptaphyllum 16 9.0792 17.20 100.00 9.09 0.09 0.33 26.62
Erythroxylum deciduum 13 4.5239 13.97 83.33 7.57 0.04 0.17 21.71
Acca sellowiana 13 1.5394 13.97 83.33 7.57 0.02 0.06 21.60
Myrtus communis 03 0.9503 3.22 16.66 1.52 0.01 0.04 4.78
Manilkara huberi 01 7.0686 1.08 16.66 1.52 0.07 0.26 2.86
Struthanthus marginatus 01 2.5447 1.08 16.66 1.52 0.02 0.09 2.69
CARDEIRO 01 7.0686 1.08 16.66 1.52 0.07 0.26 2.86
Cupania racemosa 03 1.1310 3.22 33.33 3.03 0.01 0.04 6.29
Baccharis dracunculifolia 01 1.5394 1.08 16.66 1.52 0.02 0.06 2.66
Bactris setosa 03 8.0425 3.22 33.33 3.03 0.08 0.30 6.55
Crescentia cujite 01 706.8600 1.08 16.66 1.52 7.07 26.17 28.77
Thyrsodium spruceanum 01 3.8013 1.08 100.00 9.09 0.04 0.14 10.31
Coccoloba sp. 01 314.1600 1.08 16.66 1.52 3.14 11.63 14.23
Lecythis pisonis 01 12.5664 1.08 83.33 7.57 0.12 0.47 9.12
Schefflera morototoni 01 1256.6400 1.08 66.66 6.06 12.57 46.53 53.67
TOTAL 93 2701.0534 100 1099.91 100 27.01 100 300

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


364

FONTE: Dados coletados no período de janeiro a março de 2010 na RLRP – Miriri/PB


Dados: N(número de indivíduos), AB (área basal), DR% (densidade relativa), FA (freqüência Absoluta), FR%
(freqüência relativa), DoA (dominância absoluta), DoR% (dominância relativa), VI (valor de importância)

Fonte: Dados coletados no período de janeiro a março de 2011 na RLRP/PB

Pode-se contatar com o seguinte estudo que nove espécies se encontram nas três parcelas
estudadas, são elas: Acca sellowiana, Brosimum guianense, Lecythis pisonis, Thyrsodium spruceanum,
Erytroxylum decidium, Eschweleira ovata, Hirtella Hebeclada e Protium heptaphyllum. Cinco delas ocorrem
em, pelo menos duas parcelas: Xylopia brasilenses, Annona salzmannii, Platycyamus regnelli, Schefflera
morototoni e Ingá Vera. Todas as outras espécies ocorrem em uma das três áreas.
A partir dos resultados obtidos da comparação dos três levantamentos realizados, as áreas
apresentam grande diversidade de espécies, apresenta folhas largas e vegetação perene com grande
diversidade de espécies epífitas, como bromélias e orquídeas. Apesar de verificamos um bom status de
conservação da área estudada, a mata atlântica presente nessa unidade de conservação esta sofrendo um
intenso processo de pressão antrópica, por parte de pessoas que retiram as suas madeiras e etc.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
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João Pessoa, outubro de 2011


365

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Mascarenhas, Breno Augusto Beltrão, Luiz Carlos de Souza Junior, Franklin de Morais, Vanildo Almeida
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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


366

LEVANTAMENTO FITOGEOGRÁFICO E DIVERSIDADE FLORÍSTICA DA


CAATINGA ARBUSTIVO-ARBÓREA: SÍTIO BOA VENTURA, SERRA DA RAIZ –
PARAÍBA
1
Joel Maciel Pereira CORDEIRO
2
Josenilson Soares BASÍLIO
1 - Professor de Geografia do ensino fundamental da escola “Ozéias Aranhas de Vasconcelos” – Pedro Régis, PB. Graduado
em Geografia pela UEPB; Aluno do curso de Especialização em Geografia e Território: planejamento urbano, rural e
ambiental pela UEPB.
joelmpcordeiro@yahoo.com.br
2 - Professor de Ciências do ensino fundamental da escola “Ulisses Maurício de Pontes” – Sertãozinho, PB. Graduado em
Geografia pela UEPB, Biologia pela UVA e Especialista em Agroecologia pela UFPB. josenilsonsoares@hotmail.com

Resumo
O referente trabalho apresenta a diversidade florística da caatinga arbustivo-arbórea através de
levantamento fitogeográfico desenvolvido no Sítio Boa Ventura, zona rural do município de Serra da Raiz –
Paraíba. Para o levantamento fitogeográfico foi empregado o método dos quadrados, estabelecendo no
interior da área pesquisada 10 parcelas de 10m x 10m (100m²), totalizando 1000m². Em cada parcela foram
considerados para efeito de coleta de dados todos os indivíduos do extrato arbustivo-arbóreo que
atenderam os critérios de inclusão: diâmetro a altura do peito (DAP) ≥ a 3cm e altura total ≥ a 2m,
excluindo cipós e bromeliáceas. O trabalho resultou no registro de 428 indivíduos pertencentes a 35
espécies e 20 famílias, sendo a Mimosaceae, Caesalpiniaceae, e Nictaginaceae com maior número de
representantes, compondo juntas 54,42% dos indivíduos registrados.
Palavras-chave: Caatinga hipoxerófila. Diversidade florística. Comunidade vegetal.

Abstract
The paper presents regarding its diversity of savanna shrubs and trees through a survey developed
in phytogeographical Site Boa Ventura, rural municipality of Serra da Raiz - Paraíba. To survey was used
phytogeographical squares method, establishing within the area surveyed 10 plots of 10m x 10m (100m ²),
totaling 1000 square meters. In each plot were considered for the purpose of data collection all subjects
extract woody who met the inclusion criteria: diameter at breast height (DBH) ≥ 5 cm and height ≥ 2 m
total, excluding lianas and bromeliads. The work resulted in registration of 428 individuals belonging to 35
species and 20 families, and the Mimosaceae, Caesalpiniaceae, and Nictaginaceae with the largest number
of representatives, together making up 54,42% of registered individuals.
Keywords: Caatinga hypoxerophytic. Floristic diversity. Plant community.

Introdução
A caatinga é uma vegetação constituída por um conjunto de plantas de aspecto seco, com árvores e
arbustos densos, baixos, retorcidos, recobertos por espinhos, folhas pequenas e caducas no verão para
proteger a planta da desidratação causada pelo calor. A caatinga apresenta-se com sua composição
florística bastante diversificada, sobretudo, por razões climáticas, edáficas, topográficas e antrópicas,
ocorrendo um grande número de espécies endêmicas adaptadas ao clima semi-árido do Nordeste brasileiro
(ALVES; ARAÚJO; NASCIMENTO, 2009).
Conforme aparece em Lacerda e Barbosa (2006, p. 49) as Caesalpiniaceae, Mimosaceae,
Euphorbiaceae, Fabaceae e Cactaceae são as famílias botânicas encontradas com maior frequencia na
caatinga. Da mesma forma a catingueira (Caesalpinia pyramidalis Tul.), as juremas (Mimosa ssp) e os
marmeleiros (Croton ssp) são as espécies mais comuns nos diversos levantamentos realizados por toda o
bioma.
Outro aspecto relevante do bioma caatinga é o aumento constante de impactos degradantes
proporcionados pelas ações antrópicas. A desertificação proveniente de atividades humanas como a
retirada da cobertura vegetal e queimadas para implantação de agricultura de subsistência e formação de
pastagens para a prática pecuarista está relacionada com as vulnerabilidades, sendo os principais impactos

João Pessoa, outubro de 2011


367

responsáveis pela perca da fertilidade dos solos por toda extensão territorial deste bioma. Essas práticas
repercutem diretamente no aparecimento das erosões, que, por sua vez, desencadeiam o processo de
desertificação em estágio severo, os assoreamentos dos recursos hídricos, além do êxodo rural (SOUSA;
FERNANDES; BARBOSA, 2008).
Nesta perspectiva, justifica-se a necessidade em promover o incentivo à preservação da caatinga
através de estudos relacionados ao conhecimento de sua biodiversidade, para que, desta forma, seja
empregado o uso dos recursos naturais disponíveis sem que haja necessariamente a degradação ambiental
nestas áreas, proporcionando, portanto, a garantia de sobrevivência da diversidade de seres vivos que a
habitam, bem como das populações humanas que dependem destes ambientes para sobreviverem.
Desta forma, o presente trabalho demonstra a composição florística do extrato arbustivo-arbóreo
em trecho de mata nativa composto por vegetação do tipo caatinga hipoxerófila, encontrado nas serras do
piermont da Borborema, localizadas no Sítio Boa Ventura, zona rural do município de Serra da Raiz –
Paraíba, ambiente possuidor de uma rica e complexa diversidade de espécies vegetais, ainda pouco
estudada.

Material e métodos
O presente trabalho foi realizado no município de Serra da Raiz, localizado na microrregião de
Guarabaira, situada no Agreste paraibano. Este município possui uma área de 29,08 Km², estando
localizado a 6°68’S e 35°44’W (IBGE, 2011). O clima na região, segundo a classificação de Köppen é do tipo
As’ quente e úmido com chuvas de outono-inverno, apresentando temperatura média de 26°C e
precipitações que variam entre 1000 e 1200 mm anuais (FELICIANO; MELO, 2003). A topografia do lugar
apresenta-se forte ondulado, com vertentes côncavo-convexas e altitude média de 280 m.
A área de caatinga amostrada localiza-se na zona rural de Serra da Raiz, no Sítio Boa Ventura,
distante 6 km da sede municipal. O fragmento de mata apresenta uma área total de aproximadamente 20
ha de floresta nativa, situadas em encostas pertencentes a serras do piermont da Borborema, nos limites
municipais de Serra da Raiz e Sertãozinho. O levantamento fitogeográfico foi realizado em trecho de mata
de encosta escolhida aleatoriamente, sendo estabelecidos três levantamentos no período de setembro de
2010 a março de 2011, tendo como ambiente específico da pesquisa o sopé, a meia encosta e o topo,
sendo eleitas cinco áreas amostrais.
Foi empregado para o levantamento fitogeográfico o método dos quadrados (MUELLER-DOMBOIS;
ELLENBERG, 1974), estabelecendo no interior da área pesquisada 10 parcelas de 10 x 10m (100m²), sendo
duas parcelas em cada área amostral, totalizando 1000m²; a distância entre as parcelas foi de 5m. Em cada
parcela foram considerados para efeito de coleta de dados todos os indivíduos do extrato arbustivo-
arbóreo que atenderam os critérios de inclusão: diâmetro a altura do peito (DAP) ≥ a 3 cm e altura total ≥ a
2 m, excluindo cipós e bromeliáceas.
Para o registro da comunidade vegetal foram anotados: o nome popular, conforme descrição dos
moradores locais; a circunferência do caule, usando fita métrica; e a altura total, estimada visualmente por
comparação com uma vara de 8 m. A identificação das espécies foram estabelecidas através de consultas a
especialistas e por meio de morfologia comparada, utilizando bibliografia especializada.

Resultados e discussão
O levantamento fitogeográfico realizado em Boa Ventura, no município paraibano de Serra da Raiz
envolveu 428 indivíduos pertencentes a 35 espécies, distribuídas em 20 famílias. O hábito predominante foi
o arbóreo, representados por 27 espécies, conforme aparece na Tabela 1. A formação vegetal é composta,
em sua maioria, por espécies da caatinga hipoxerófila (Zizipus joazeiro, Piptadenia macrocarpa, Astronium
urundeuva, Pithecolobium polycephalum, Caesalpinia ferrea) e, em menor parte, por representantes da
mata tropical subúmida (Cecropia pachystachya, Coccoloba latifolia, Tabebuia serratifolia, Talisia esculenta,
Aspidosperma ulei), compondo em seu conjunto um extrato arbustivo-arbóreo semelhante a uma floresta,
com indivíduos que atingem até 12 m de altura.
Família/espécie Nome popular Hábito
ANACARDIACEAE
Astronium fraxinifolium Schott. Sete capas Árvore

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


368

Astronium urundeuva Engl. Aroeira Árvore


APOCYNACEAE
Aspidosperma ulei Mgf. Piaca Árvore
BIGNONIACEAE
Tabebuia serratifolia (Vahl) Nichols. Pau d'arco amarelo Árvore
Tabebuia avellanedae Lor. Pau d'arco roxo Árvore
BORAGINACEAE
Cordia trichotoma Freijorge Árvore
CAESALPINIACEAE
Caesalpinia ferrea Mart. ex Tul. Jucá Árvore
Bahuinia cheilantha (Bong.) Steud. Mororó Arbusto
Pterogynes nitens Madeira nova Árvore
CAPARACEAE
Capparis flexuosa (L.) L. Feijão bravo Árvore
ESTERCULACEAE
Guazuma ulmifolia Lam. Mutamba Árvore
EUPHORBIACEAE
Jatropha curcas Linn. Pinhão manso Árvore
Sapium lanceolatum Burra leiteira Árvore
FABACEAE
Machaerium angustifolium Vog. Espinho rei Árvore
FLACURTIACEAE
Casearia ramiflora Vahl. Café bravo Arbusto
Xylosma salzmanni Eichl. Espinho de agulha Arbusto
MIMOSACEAE
Acacia glomerosa Benth. Amorosa Arbusto
Mimosa caesalpiniaefolia Sabiá Árvore
Mimosa malacocentra Mart. Calumbí Arbusto
Mimosa nigra Mart. Jurema preta Árvore
Mimosa tenuiflora Willd. Espinheiro Árvore
Piptadenia macrocarpa Benth. Angico Árvore
Pithecolobium saman Jacq. Bordão de velho Árvore
Pithecolobium polycephalum Benth. Vassourinha Árvore
MIRTACEAE
Psidium albidum Cam. Cumati Arbusto
MORACEAE
Cecropia pachystachya Mart. Capeira Árvore
NICTAGINACEAE
Pisonia tomentosa João mole Árvore
PALMACEAE
Syagrus picrophylla Barb. Rodr. Catolé Árvore
POLIGONACEAE
Coccoloba latifolia Lam. Cravaçu Árvore
RAMNACEAE
Zizipus joazeiro Mart. Juazeiro Árvore

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RUBIACEAE
Tocoyena formosa K. Schum. Jenipapo bravo Arbusto
Coutarea hexandra (Jacqu.) Schum. Quina quina Arbusto
RUTACEAE
Fagara rhoifolia Engl. Limãozinho Árvore
SAPINDACEAE
Cupania racemosa (Vell.) Radalk. Cabotã de rego Árvore
Talisia esculenta Radalk. Pitombeira Árvore

Tabela 1: Espécies vegetais encontradas no levantamento fitogeográfico desenvolvido no Sítio Boa


Ventura, Serra da Raiz, Paraíba, distribuídas por famílias botânicas e hábito. Fonte: Arquivo dos autores,
2011.

Com relação às famílias botânicas, sobressaem as Mimosaceae, Caesalpiniaceae e Nictaginaceae


(Figura 1), compondo juntas 54,42% dos indivíduos registrados. As Mimosaceae e Caesalpiniaceae
aparecem entre as principais famílias botânicas da caatinga em diversas áreas, independente de regimes
pluviométricos, condições do solo e formações geomorfológicas, conforme aparecem nos levantamentos
realizados por Lacerda e Barbosa (2006) em matas ciliares no semi-árido paraibano; Almeida Neto et al.
(2009), no Curimataú paraibano; Melo et al. (2010) em matas de encostas no Agreste paraibano (Piermont
da Borborema) e Córdula; Queiroz; Alves (2010), no Sertão pernambucano, tanto em áreas de solos
sedimentares, como em solos rasos e pedregosos derivados de embasamentos cristalinos.

Figura 1: Distribuição de famílias botânicas encontradas na área amostral, Sítio Boa Ventura, Serra
da Raiz, Paraíba. Fonte: arquivo dos autores, 2011

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


370

As espécies com maior número de representantes foram Mimosa tenuiflora (10,04%),


Pithecolobium polycephalum (8,64%), Pisonia tomentosa (7,94%), Guazuma ulmifolia (7,24%), Coutarea
hexandra (6,30%), assim como demonstra a Tabela 2. Ainda com relação às espécies vegetais encontradas
no ambiente amostral, observa-se que ocorre um grande número de indivíduos, porém com pouca
diversidade de espécies. As espécies Astronium urundeuva, Tabebuia avellanedae, Psidium albidum e
Tocoyena formosa aparecem com apenas 1 indivíduo na área amostral. Da mesma forma, as famílias
Moraceae, Ramnaceae, Palmaceae, Mirtaceae, Bignoniaceae e Anacardiaceae aparecem representadas por
menos de 1% do total de indivíduos, compondo ao todo, apenas 3,95% da composição florística local.
Enquanto ao porte dos indivíduos, observa-se que há uma predominância de árvores que possuem
altura entre 4 e 6 m (49,76%), enquanto uma minoria ultrapassa os 12 m de altura total, sendo as espécies
madeira nova (Pterogynes nitens), pitombeira (Talisia esculenta), capeira (Cecropia pachystachya) e piaca
(Aspidosperma ulei), apresentando porte mais elevado comparado às demais espécies na área amostral. Na
figura 2 aparece o número de indivíduos distribuídos pela altura total.
Embora haja uma grande diversidade de espécies vegetais na região pesquisada, diferentes
atividades antrópicas contribuem para a degradação ambiental na região. Dentre eles, o desmatamento
aparece como principal responsável pela redução na diversidade da flora nativa. Segundo o IBGE (2011), no
ano de 2009 cerca de 388m³ de madeira foram retiradas das matas do município de Serra da Raiz, sendo
empregada como combustível (biomassa) para abastecer fogões de lenha, fornos de padarias e/ou casas de
farinha.

Figura 2: distribuição das espécies vegetais enquanto ao porte na área amostral – Sítio Boa Ventura,
Serra da Raiz, Paraíba. Fonte: arquivo dos autores, 2011

Tabela 2: Distribuição das espécies vegetais encontradas na área amostral – Sítio Boa Ventura,
Serra da Raiz, Paraíba, em ordem decrescente de Número de Indivíduos (NI) e Densidade Relativa (DR).
Fonte: Arquivo dos autores, 2011.
Família/espécie Nome popular NI DR
Mimosa tenuiflora Willd. Espinheiro 43 10,04%
Pithecolobium polycephalum Benth Vassourinha 37 8,64%
Pisonia tomentosa João mole 34 7,94%
Guazuma ulmifolia Lam. Mutamba 31 7,24%
Coutarea hexandra (Jacqu.) Schum. Quina quina 27 6,30%
Mimosa caesalpinioideae Sabiá 24 5,60%
Casearia ramiflora Vahl. Café bravo 24 5,60%

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Caesalpinia ferrea Mart. ex Tul. Jucá 21 4,90%


Aspidosperma ulei Mgf. Piaca 19 4,43%
Bahuinia cheilantha (Bong.) Steud. Mororó 17 3,97%
Acacia glomerosa Benth. Amorosa 14 3,27%
Mimosa malacocentra Mart. Calumbí 14 3,27%
Coccoloba latifolia Lam. Cravaçu 14 3,27%
Cordia trichotoma Freijorge 13 3,03%
Pithecolobium saman Jacq. Bordão de velho 11 2,57%
Capparis flexuosa (L.) L. Feijão bravo 9 2,10%
Fagara rhoifolia Engl. Limãozinho 9 2,10%
Pterogyne nitens Madeira nova 8 1,86%
Jatropha curcas Linn. Pinhão manso 7 1,65%
Machaerium angustifolium Vog. Espinho rei 7 1,65%
Xylosma salzmanni Eichl. Espinho de agulha 7 1,65%
Piptadenia macrocarpa Benth. Angico 6 1,40%
Talisia esculenta Radalk. Pitombeira 5 1,16%
Syagrus picrophylla Barb. Rodr. Catolé 4 0,93%
Mimosa nigra Mart. Jurema preta 4 0,93%
Zizipus joazeiro Mart. Juazeiro 3 0,71%
Cupania racemosa (Vell.) Radalk. Cabotã de rego 3 0,71%
Tabebuia serratifolia (Vahl) Nichols. Pau d'arco amarelo 3 0,71%
Astronium fraxinifolium Schott. Sete capas 2 0,47%
Sapium lanceolatum Burra leiteira 2 0,47%
Cecropia pachystachya Mart. Capeira 2 0,47%
Astronium urundeuva Engl. Aroeira 1 0,24%
Psidium albidum Cam. Cumati 1 0,24%
Tabebuia avellanedae Lor. Pau d'arco roxo 1 0,24%
Tocoyena formosa Jenipapo bravo 1 0,24%
Total - 428 100,00%

Conforme descreve Almeida Neto et al. (2009, p. 188) “a identificação das espécies e o seu
comportamento em comunidades vegetais é o começo de todo o processo para a compreensão de um
ecossistema”. Desta forma, o conhecimento da vegetação neste trecho de mata nativa proporciona os
subsídios necessários ao desenvolvimento de novas pesquisas que demonstrem os meios adequados de se
conciliar o uso dos recursos naturais disponíveis de forma sustentável, aliando o desenvolvimento
econômico e a preservação ambiental nestas regiões.

Conclusão
A área amostral no trecho de mata nativa do Sítio Boa Ventura, município de Serra da Raiz – PB
apresenta sua vegetação constituída por um extrato arbustivo-arbóreo com indivíduos que atingem até
12m de altura. Em sua composição florística fazem-se presentes representantes da caatinga hipoxerófila,
assim como, em menor parte, da floresta tropical subúmida, representando assim, uma área de transição
entre estes biomas.
Com relação à comunidade vegetal, foram registrados 428 indivíduos pertencentes a 35 espécies e
20 famílias, sendo a Mimosaceae, Caesalpiniaceae, e Nictaginaceae com maior número de representantes,
compondo juntas 54,42% dos indivíduos registrados. As espécies Mimosa tenuiflora, Pithecolobium

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


372

polycephalum, Pisonia tomentosa, Guazuma ulmifolia e Coutarea hexandra aparecem com maior número
de representantes, totalizando 40,18% dos indivíduos na área amostral.
A região apresenta um grande número de indivíduos, porém, a área amostral poderia abrigar uma
maior diversidade de espécies. O desmatamento para extração de lenha aparece como principal agente
degradante da diversidade florística, necessitando, portanto, de medidas mais adequadas que concilie a
preservação ambiental e o desenvolvimento econômico na região.

Referências
ALMEIDA NETO, J. X. de; ANDRADE, A. P. de; LACERDA, A. V. de; FÉLIX, L. P.; BRUNO, R. de L. A.
Composição florística, estrutura e análise populacional do feijão-bravo (Capparis flexuosa L.) no semiárido
paraibano, Brasil. Revista Caatinga, Mossoró, v.22, n.4, p.187-194, outubro/dezembro 2009.
ALVES, J. J. A.; ARAÚJO, M. A. de; NASCIMENTO, S. S. do. Degradação da Caatinga: uma
investigação ecogeográfica. Revista Caatinga, Mossoró, v. 22, n3, p. 126-135, julho/setembro 2009.
CÓRDULA, E.; QUEIROZ, L. P. de; ALVES, M. Diversidade e distribuição de leguminosae em uma área
prioritária para a conservação da caatinga em Pernambuco – Brasil. Revista Caatinga, Mossoró, v. 23, n. 3,
p. 33-40, julho/setembro, 2010.
FELICIANO, M. de L. M.; MELO, R. B. Atlas do Estado da Paraíba – informações para gestão do
patrimônio natural (Mapas). João Pessoa: SEPLAN/IDEME/APAN/UFPB, 2003.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Cidades@. Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/cidadesat/default.php. Acesso em 20 de jan. de 2011.
LACERDA, A. V. de.; BARBOSA, F. M. Matas ciliares no domínio das caatingas. João Pessoa: Ed.
Universitária/UFPB, 2006.
MELO, A. F. de; FRANÇA, D. S. de; SILVA, R. F. da; OLIVEIRA, E. do N.; ARRUDA, L. V. de; FREITAS, R.;
ALVES, C. A. B. Caracterização e diversidade fitossociológica da Serra da Jurema, Guarabira-PB. XVI
Encontro Nacional dos Geógrafos. Anais… AGB, Porto Alegre, 2010.
MUELLER-DOMBOIS, D.; ELLENBERG, H. Aims and methods of vegetation ecology. New York: Jonh
Wiley & Sons, 1974.
SOUSA, R. F. de; FERNANDES, M. de F.; BARBOSA, M. F. Vulnerabilidades, semi-aridez e
desertificação: cenários de riscos no Cariri Paraibano. In: Revista OKARA: Geografia em debate. João
Pessoa, PB, DGEOC/CCEN/UFPB – v.2, n.2, p. 128-206, 2008. Disponível em: <http://www.okara.ufpb.br>.
Acesso em: 21 mar. 2011.

João Pessoa, outubro de 2011


373

EXTRATOS VEGETAIS E SEUS EFEITOS NA SANIDADE E FISIOLOGIA DE


SEMENTES DE FLAMBOYANT-MIRIM (Caesalpinia pulcherrima L.)
José George Ferreira MEDEIROS
Aluno do Programa de Pós-graduação em agronomia da UFPB
georgemedeiros_jp@hotmail.com
Rodrigo Pereira LEITE
Aluno do Programa de Pós-graduação em agronomia da UFPB
Luciana Cordeiro do NASCIMENTO
Professora do Programa de Pós Graduação em Agronomia da UFPB
Universidade Federal da Paraíba- Campus II. Rodovia BR 079 Km 12, Areia-PB, CEP: 58397-000

RESUMO
A maioria dos patógenos que causam doenças nas plantas cultivadas podem ser veiculados e
transmitidos pelas sementes, com grande significado econômico, devido às perdas identificadas nas mais
variadas espécies vegetais. Objetivou-se neste trabalho avaliar a eficiência dos extratos de
alamanda(Allamanda cathartica L.), melão de são caetano (Momordica charantia L.)e óleo de erva-
doce (Pimpinella anisum L.) sobre a micoflora e fisiologia de sementes de flamboyant-mirim
(Caesalpiniapulcherrima L.). O delineamento experimental utilizado no teste de sanidade foi o inteiramente
casualizado com cinco tratamentos, distribuídos em dez repetições de vinte unidades. As sementes foram
imersas nos extratos por cinco minutos, sendo a testemunha embebida somente em água destilada
esterilizada (ADE). Em seguida, as sementes foram acondicionadas em placas de Petri, contendo papel filtro
estéril e umedecido com ADE sob temperatura de 25°C ± 2°C. Após sete dias de incubação, as sementes
foram avaliadas quanto à presença de fungos. Para o teste de germinação, foram utilizadas 200 sementes,
sendo quatro repetições de 50 sementes por tratamento, distribuídas em rolos de papel germitest
previamente esterilizados, e colocadas para germinar em câmara de germinação a 27°C. Os testes de vigor
consistiram de primeira contagem e índice de velocidade de germinação. Os tratamentos utilizados foram
eficientes reduzindo a incidênciados fungos Cladosporium sp., Aspergillus sp.,Rhizopus sp., Penicillium
sp., Nigrospora sp e Pestalotia sp.Os tratamentos utilizados proporcionaram maior porcentagem de
germinação das plântulas.

PALAVRAS-CHAVE: Controle alternativo, Espécie florestal, Patologia.


INTRODUÇÃO
Os ecossistemas tropicais têm sofrido grandes pressões que resultam em perdas irreparáveis da
diversidade biológica. Grande parte das pesquisas sobre biodiversidade não envolve os recursos genéticos
florestais, os quais são altamente demandados, tanto para fornecimento de material genético para uso em
florestas de rápido crescimento, como para fornecimento de produtos, principalmente no caso de florestas
nativas (IPEF, 2011).
Em conseqüência da ação antrópica nas formações florestais do Brasil, especialmente em locais de
grande concentração populacional ou de intensas atividades agrícolas, como no caso das áreas de domínio
da Mata Atlântica, verifica-se uma gradativa e acentuada redução nestas comunidades, tanto em área física
quanto em termos de tamanho genético das populações das espécies que as compõem (SILVA, 2010). Uma
das espécies com interesse diversificado e utilizadas em programas de reflorestamento encontra-se a do
gênero Caesalpinia spp., cuja propagação é feita por sementes e a qualidade sanitária pode ser um entrave
para a obtenção de mudas sadias.
Caesalpiniapulcherrima(L.) Sw. é uma espécie arbustiva nativa da África oriental conhecida
vulgarmente por poinciana-anã, baio-de-estudante, orgulho de barbados, flor-do-paraíso e flamboyant-
mirim(LORENZI; SOUSA, 2001). É uma espécie cultivada pela sua beleza, destacada principalmente pela
diversidade de inflorescências, o seu pequeno porte a torna apropriada para a arborização das cidades e
reflorestamento de centros urbanos, já que não atinge a fiação elétrica (CEMIG, 2007).
A associação de sementes com microrganismos constitui-senuma preocupação cada vez maior,
principalmente nos países tropicais, onde condições climáticas mais diversificadas fazem com que um

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


374

maior número de problemas sanitários torne-se previsível (MACHADO, 2000). Na área florestal brasileira,
estudos foram feitos sobre a transmissão de fungos por sementes (SANTOS et al., 2000). Por ser um insumo
biológico, sujeito a uma série de fatores, a manipulação de sementes requer cuidados especiais sob
diversos aspectos
O aumento no uso de defensivos agrícolas no controle de pragas e doenças, em todo o mundo, vem
despertando a consciência para problemas como contaminação ambiental, acumulação de resíduos nos
alimentos, contaminação do operador, além do aumento dos custos de produção (GOMES, 2009). Vários
compostos podem ser utilizados como controle alternativo podendo ser enquadrados, nesta categoria, os
extratos, as caldas, os agentes de biocontrole e os óleos essenciais (FERNANDES, 2000), sendo que a
utilização de óleos essenciais de plantas medicinais tem mostrado resultados bastante promissores no
controle de fitopatógenos (SCHWAN-ESTRADA et al. 2003, GUIRALDOet al. 2004).Com base no exposto o
objetivo deste estudo foi avaliar o efeito potencial do uso de extratos naturais no tratamento de sementes
de flamboyant-mirim e sua influência sobre a micoflora e qualidade fisiológica das sementes.

MATERIAL E MÉTODOS
Foram empregadas, neste estudo, sementes de flamboyant-mirimcoletadas em matrizes no
município de João Pessoa – PB (7° 7’34.20"S 34°52’22.58"W). Os tratamentos foram constituídos de
extratos hidroalcoólicos de melão de são caetanoe alamanda, além do óleo de erva-docee do fungicida
Captan, na dosagem recomendada pelo fabricante.
Os tratamentos consistiram de T1-Testemunha (sementes não tratadas); T2-Fungicida Captan(240
kg.ha-1); T3 -Óleo de erva-doce (2%); T4 - Extrato de melão de são caetano (1000ppm) e T5- Extrato de
alamanda (1000ppm). A avaliação da incidência dos patógenos nas sementesfoi feita a partir da
visualização dos fungos sobre as mesmas utilizando o método de incubação em papel-de-filtro (Blottertest)
(ZAUZA et al., 2007).
Foram utilizadas 200 sementes por tratamento, sendo distribuídas em dez repetições de vinte
unidades. As sementes foram colocadas em placas de Petri sobre uma camada dupla de papel de filtro
esterilizada e umedecida com ADE. As placas permaneceram em incubação durante sete dias sob
temperatura de 25°C ± 2°C. A detecção e identificação dos fungos foi realizada com auxílio de microscópio
ótico e estereoscópio, sendo comparadas às descrições constantes na literatura (MATHUR; KONGSDAL
2003).O delineamento utilizado foi o inteiramente casualizado, constituído de cinco tratamentos conforme
descrito anteriormente, com 10 repetições de vinte sementes.
No teste de germinação, foram utilizadas 200 sementes (quatro repetições de 50 sementes) para
cada tratamento, distribuídas em papel germitest e incubadas em câmara de germinação regulada à
temperatura constante de 27°C. O volume de água destilada utilizado para embebição do papel foi
equivalente a 2,5 vezes o peso do substrato. As contagens de sementes germinadas e não germinadas
foram realizadas no quarto e décimo segundodia após a semeadura, e as avaliações efetuadas segundo os
critérios estabelecidos pelas Regras para Análise de Sementes (BRASIL, 2009).

Os testes de vigor consistiram de primeira contagem e índice de velocidade de germinação (IVG). A


primeira contagem foi avaliada através da percentagem de plântulas normais determinadas no quarto dia,
originadas das sementes submetidas ao teste de germinação. Para o índice de velocidade de germinação
foram realizadas contagens diárias a partir da germinação da primeira plântula no teste de germinação, até
a data em que o estande permaneceu constante. O IVG foi determinado pelo emprego da fórmula descrita
por NAKAGAWA (1994).
Foi utilizado DICcom os mesmos tratamentos do teste de sanidade, distribuídos em quatro
repetições de 50 sementes cada. As médias foram comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5% de
significância, usando o software estatístico SAS® (SAS, 1992).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados referentes à composição e incidência da micoflora das sementes de
flamboyant-mirim encontram-se apresentados na Figura 1.Foram observados fungos dos gêneros:
Cladosporium sp., Aspergillus sp.,Rhizopus sp., Penicillium sp., Nigrospora sp e Pestalotia sp.Micoflora

João Pessoa, outubro de 2011


375

semelhante foi detectada por Santos et al. (2007) estudando a qualidade sanitária das sementes de
espécies florestais.
Em relação ao percentual de incidência de cada fungo, observou-se, nas sementes não tratadas os
seguintes valores (Figura 1): Cladosporium sp. (15%), Aspergillus sp. (5%), Rhizophus sp. (10%), Penicillium
sp. (7%), Nigrospora sp. (1%) e Pestalotia sp (6%).
Os dados apresentados na Figura 1 demonstram que o tratamento químico (T2) proporcionou a
erradicação dos fungos detectados nas sementes de flamboyant-mirim. Efeito semelhante foi obtido
usando o fungicida carbendazim no tratamento de sementes de outras espécies florestais nativas a
exemplo de caixeta (Tabebuia cassinoides (Lam.) D.C.) e canafístula (Peltophorum dubium (Sprengel)
Taubert) (MACHADO et al., 2004), comprovando que o tratamento químico constitui-se em um método
eficiente para o controle de patógenos de sementes (MERTZ, et al., 2009).

Figura 1: Incidência de fungos em sementes de Caesalpinia pulcherrima L., após os seguintes


tratamentos: T1- testemunha; T2 - fungicida (Captan®); T3- óleo de erva-doce (2%); T4- extrato de melão de
são caetano (1000ppm) e T5- extrato de alamanda (1000ppm).

Observou-se que o óleo essencial de erva-doce (T3), apresentou um potencial efeito fungitóxico,
eliminando em100%a micoflora presente nas sementes com resultados semelhantes aos obtidos com o
fungicida químico (Figura 1).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Mata et al. (2009) utilizando o óleo essencial de erva-doce como controle alternativo de patógenos
em sementes de Cereus jamacaru,obtiveram um efeito direto na redução da micoflora e no aumento da
germinação das sementes.
Os extratos de melão de são caetano (T4) e alamanda (T5) apresentaram resultados semelhantes,
não diferindo estatisticamente entre si (Figura 1). Ambos mostraram eficiência reduzindo de forma
generalizada a incidência dos diferentes gêneros fúngicos. De acordo com Martins et al. (2009) o extrato de
melão de são caetano foi eficiente no controle de fungos em sementes de Manihot glaziovii, porém
apresentando variações entre os diferentes gêneros.
A avaliação da qualidade sanitária das sementes com o emprego de extratos vegetais tem sido
analisada por diversos autores como Souza et al. (2002), Pereira et al. (2006) e Mata et al. (2009), que
demonstraram o efeito dos extratos sobre a redução na micoflora e do aumento do poder germinativo de
sementes.
Na tabela 1, encontram-se os resultados do teste de germinação de sementes de flamboyant-
mirim. Após os tratamentos, observou-se que a testemunha (T1) apresentou índices de germinação
semelhantes ao captan® (T2). As sementes tratadas com óleo de erva-doce (T3), extrato de melão de são
caetano (T4) e alamanda (T5) obtiveram os maiores percentuais de germinação comprovando o incremento
destes tratamentos sobre a germinação das sementes de flamboyant-mirim. Estes resultados evidenciaram
que a utilização dos tratamentos óleo de erva-doce (T3), extrato de melão de são caetano (T4) e extrato de
alamanda (T5) permitiu menor incidência e maior germinação das sementes.
Tabela 1: Valores médios de germinação, primeira contagem e velocidade da germinação de
sementes de sementes de Caesalpiniapulcherrima L., após tratamentos com extratos vegetais.
Tratamentos Germinação Primeira contagem IVG
T1 - Testemunha 69,00b 10,00c 4,50a
T2 - Captan® 78,00ab 18,75ab 2,20b
T3 - Óleo de erva doce 83,00a 19,00ab 2,07b
T4 - Extrato MSC* 87,00a 20,20a 2,15b
T5 - Extrato de Alamanda 85,00a 20,00a 3,63ab
CV(%) 8,62 4,43 15,82
Médias seguidas por mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo Teste de Tukey ao nível de 5%
probabilidade.*MSC significa: melão de são caetano.

Nos resultados referentes ao vigor das sementes, avaliado pelo teste de primeira contagem (Tabela
1), observou-se que os tratamentos catpan® (T2), óleo de erva doce (T3), extrato de melão de são caetano
(T4) e alamanda (T5), proporcionaram maior porcentagem de plântulas, não diferindo significativamente
entre si. O resultado do vigor das sementes na testemunha está relacionado com o alto índice de fungos
detectadosna mesma, interferindo diretamente na germinação e no vigor das plântulas.
Em relação aos resultados do índice de velocidade da germinação (Tabela 1), verificou-se que a
testemunha (T1) não diferiu do tratamento com extrato de alamanda (T5). Os tratamentos captan ® (T2),
óleo de erva doce (T3) e extrato de melão de são caetano(T4)diferiram da testemunha com menor índice
de velocidade da germinação (IVG).

CONCLUSÃO
- O óleo de erva doce e osextratos de melão de são caetanoe alamanda nas concentrações
testadasforam eficientesreduzindo a micoflorafúngica presentes nas sementes de erva-doce.
- Os produtos vegetais utilizados proporcionaram um maior percentual de germinação de sementes
de flamboyant mirim.

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INVENTÁRIO FLORÍSTICO DO SEMI-ÁRIDO NORDESTINO NO MUNICÍPIO


DE MOSSORÓ-RN
José Rivanildo de Souza PINTO
Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA. Graduando do Curso de Agronomia
rivanildo.ufersa@gmail.com
André Rodolfo de Oliveira RIBEIRO
Universidade de Brasília – UNB. Mestrando em Botânica
andre_rodolf@hotmail.com

RESUMO
O bioma caatinga destaca-se por ser um bioma exclusivamente brasileiro, com estação chuvosa
curta e longo período de estiagem que pode se estender por anos. O presente trabalho foi realizado com o
objetivo de estudar a composição florística do município de Mossoró-RN, catalogando e identificando as
espécies potencialmente econômicas para a região. O trabalho foi desenvolvido no município de Mossoró-
RN, através das análises de materiais herborizados depositados no Herbário MOSS da Universidade Federal
Rural do Semi-Árido. Foram catalogados no município de Mossoró 547 espécies, distribuídos em 298
gêneros pertencentes a 79 famílias. A família com maior número de espécies foi a Fabaceae (115), seguida
da Poaceae (66) e Euphorpiaceae (46). Os gêneros de maior riqueza foram Croton (14), Cyperus (13),
Mimosa (12). A flora da Caatinga do Município de Mossoró esta bem representada.
PALAVRAS-CHAVE: Caatinga, ecossistemas, composição florística, vegetação nativa.

INTRODUÇÃO
A Caatinga é um mosaico de arbustos espinhosos e florestas sazonalmente secas que cobre a maior
parte dos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e a
parte nordeste de Minas Gerais, no vale do Jequitinhonha. Estendendo-se por cerca de 735.000km2 é
limitada a leste e a oeste pelas florestas Atlântica e Amazônica, respectivamente, e ao sul pelo Cerrado
(LEAL et al., 2005).
A precipitação média anual varia entre 240 e 1.500mm, mas metade da região recebe menos de
750mm e algumas áreas centrais menos de 500mm (SAMPAIO, 1995; PRADO, 2003). É caracterizada por
um sistema de chuvas extremamente irregular de ano para ano, o que resulta em secas severas periódicas
(KROL et al., 2001; CHIANG & KOUTAVAS, 2004).
A Caatinga é um bioma que apresenta elevada importância ecológica, social e econômica e também
é considerada dominante na Região Nordeste do Brasil, distribuindo-se por todos os estados dessa região,
uma das mais pobres do país. Portanto, seus recursos naturais são utilizados principalmente em ambientes
rurais e na periferia dos centros urbanos, sobretudo em comunidades carentes ou de baixa renda
(SAMPAIO et al., 2007).
A paisagem é dominada por uma vegetação arbustiva, ramificada e espinhosa, com muitas
euforbiáceas, bromeliáceas e cactáceas (COIMBRA FILHO & CÂMARA, 1996). Existem muitos gêneros
endêmicos de cactáceas, como Leocereus, Tacinga e Zehntnerella (PRANCE, 1987). Outros gêneros comuns
da caatinga atual são Bromelia (Bromeliaceae), Pilosocereus (Cactaceae), Caesalpinia (Caesalpiniaceae,
Leguminosae), Aspidosperma (Apocynaceae), Mimosa (Mimosaceae, Leguminosae) e Caliandra (Fabaceae,
Leguminosae).
Os autores Vanzolini et al., (1980); Andrade-Lima, (1982); e Prance, (1987) descrevem a caatinga
como um ecossistema pobre em espécies e endemismos. Entretanto, estudos recentes têm desafiado esse
ponto de vista e demonstrado a importância da Caatinga para a conservação da biodiversidade brasileira
(LEAL et al., 2003). Já foram registradas 932 espécies de plantas vasculares (GIULIETTI et al., 2004). Embora
os inventários sejam incompletos, o nível de endemismo é bastante alto para as espécies vegetais.
Considerando somente as plantas lenhosas e as suculentas, por exemplo, existem 18 gêneros e 318
espécies endêmicas (34% das espécies descritas; GIULIETTI et al., 2004) distribuídos em 42 famílias
(SAMPAIO et al., 2002). Esses valores são muito mais altos que os publicados anteriormente (PACHECO,

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2004; SILVA et al., 2004) e são iguais ou mais altos que aqueles registrados para outras florestas secas do
mundo (LEAL et al., 2003).
Mas o número real de espécies na Caatinga é, provavelmente, ainda maior, uma vez que 41% da
região nunca foram investigada e 80% permanece subamostrada (TABARELLI & VICENTE, 2004). Apesar de
ser a única grande região natural brasileira cujos limites estão inteiramente restritos ao território nacional,
pouca atenção tem sido dada à conservação da variada e marcante paisagem da Caatinga, e a contribuição
da sua biota à biodiversidade extremamente alta do Brasil tem sido subestimada (SILVA et al., 2004).
Devido à grande importância de se estudar a vegetação desse bioma exclusivamente brasileiro o
presente trabalho teve como objetivo listar as espécies do componente florístico do município de Mossoró-
RN.

MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi desenvolvido na cidade de Mossoró-RN, de coordenadas geográficas 5o11' de
latitude sul, 37o20' de longitude W. Gr., com 18 m de altitude, com uma temperatura média anual em torno
de 27,50C, umidade relativa de 68,9%, nebulosidade média anual de 4,4 décimos e precipitação média
anual de 673,9 mm, com clima quente e seco, localizada na região semi-árida do nordeste brasileiro (LIMA
e SILVA et al., 2004). Com uma área de 2.110,207 km², possui uma população de 259.886 habitantes,
densidade 123,16 hab./km² (IBGE, 2010).
Para o diagnóstico da composição florística do município foi utilizado o método de inventário de
caráter quantitativo, do tipo censo, denominado inventário total seguindo a metodologia de Silva Filho et
al. (2002). Os dados foram obtidos através das análises de materiais herborizados depositados desde 1970
á 2010, no Herbário MOSS "DÁRDANO DE ANDRADE LIMA" do Departamento de Ciências Vegetais da
Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) contendo todas as informações de coleta das espécies.
O censo consta da identificação e freqüências dos gêneros e famílias.
Identificação do material botânico foi realizada com a utilização de coleções botânicas já existentes
no HMC, por meio de consulta a literatura especializada e a especialistas. O sistema de classificação
adotado foi o do Angiosperm Phylogeny Group - APG II (2003).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram catalogados no município de Mossoró 547 espécies, distribuídos em 298 gêneros
pertencentes a 79 famílias. As famílias de maior número de espécies foram Fabaceae com 115; Poaceae
com 66; Euphorbiaceae com 46; Cyperacea com 25; Convolvulaceae e asteraceae com 24 e Malvaceae com
22, correspondendo por 59% do total de espécies registradas (Figura 1). Em análises florístico de vegetação
de caatinga no município de Juveníli-MG, Santos et al. (2009; 2008) também citaram a família Fabaceae
como de grande riqueza. Assim como no presente estudo, Rodal et al. (1992), Alcoforado-Filho (2003);
Amorim (2005); Calixto Junior & Drumond (2011) em uma revisão dos levantamentos quantitativos em
outras regiões do semiárido brasileiro, observaram que a família Fabaceae foi uma das mais bem
representadas. Trinta e uma famílias apresentaram apenas uma espécie que foram: Agavaceae, Aizoaceae,
Alismataceae, Bromeliaceae, Burseraceae, Cannabaceae, Celastraceae, Ceratophyllaceae,
Chrysobalanaceae, Dioscoreaceae, Gentianaceae, Gesneriaceae, Hydrophyllaceae, Liliaceae, Loasaceae,
Molluginaceae, Nephrolepidaceae, Orchidaceae, Papaveraceae, Pedaliaceae, Phytolacaceae, Polygonaceae,
Polypodiaceae, Rhamnaceae, Sapotaceae, Thelypteridaceae, Urticaceae, Umbelliferae, Violaceae,
Zygophyllaceae.

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Figura 1. Número de espécies das famílias mais representativas no Município de Mossoró-RN.

Os gêneros de maior riqueza foram Croton (14), Cyperus (13), Mimosa (12), Ipomoea (11), Sida (10),
Senna (9), Urochloa (8), Chamaecrista e Paspalum (7), os demais gêneros apresentaram número espécies
inferiores a seis (Figura 2).

Figura 2. Número de espécies dos gêneros mais representativas no Município de Mossoró-RN.

O componente predominante em número de espécies foi o herbáceo, respondendo por 49% do


total das espécies, com destaque para Poaceae (24%) e Fabaceae (12%) (Figura 3). A flora herbácea da
caatinga reunia, até o momento, um total de 568 espécies (PEREIRA et al.1989; ARAÚJO et al. 2002a;
PESSOA et al. 2004; REIS et al. 2006; ARAÚJO et al. 2005; FEITOZA et al. 2008). No município de Mossoró
foram inventariadas até o momento 266 espécies herbácea.
Para o estrato arbóreo foram catalogadas 15% do total das espécies, estando bem representada a
família Fabaceae com 46%. Essa família também foi citada como mais numerosa em outros levantamentos
do componente arbustivo-arbóreo de Caatinga (FIGUEIREDO, 1987; LEMOS et al., 2004; AMORIM et al.,

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381

2005; GOMES et al., 2006; SANTANA; SOUTO, 2006). O estrato arbustivo representou 21% das espécies,
com destaque para Euphorbiaceae e Fabaceae com 23,28 e 18,10% das espécies, respectivamente.

Figura 3. Freqüência dos hábitos das espécies catalogadas no Município de Mossoró-RN.

CONCLUSÕES
A flora da Caatinga do Município de Mossoró esta bem representada. As famílias Fabaceae,
Poaceae e Euphorbiaceae possuem maior riqueza florística. O gênero com maior número de espécies foi o
Croton.

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João Pessoa, outubro de 2011


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SILVA, J.M.C.; TABARELLI, M.; FONSECA, M.T. & LINS, L.V. (orgs.). Biodiversidade da Caatinga: áreas
e ações prioritárias para a conservação. Ministério do Meio Ambiente, Brasília, 2004.
TABARELLI, M. & VICENTE, A. Conhecimento sobre plantas lenhosas da Caatinga: lacunas
geográficas e ecológicas. In: J.M.C. Silva, M. Tabarelli, M.T. Fonseca & L.V. Lins (orgs.). Biodiversidade da
Caatinga: áreas e ações prioritárias para a conservação. pp. 101-111. Ministério do Meio Ambiente,
Brasília, 2004.
VANZOLINI, P.E.; RAMOS COSTA, A.M.M. & VITT, L.J. Répteis das Caatingas. Academia Brasileira de
Ciências, Rio de Janeiro, 1980.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


384

BANCOS DE SEMENTES DE PLANTAS DANINHAS EM ÁREA DE


ALGODOEIRO HERBÁCEO, ANTES E APÓS DIFERENTES TRATAMENTOS
HERBICÍDICOS.
José Rodrigues PEREIRA
Pesquisador da Embrapa Algodão, Rua Osvaldo Cruz, 1143 - Centenário, CEP 58.428-095, Campina Grande, PB. E-mail:
rodrigue@cnpa.embrapa.br
Whéllyson Pereira ARAÚJO
Mestrando em Engenharia Agrícola, Universidade Federal de Campina Grande, E -mail: wpacordao@hotmail.com
Antonia Eliene DUARTE
Professor da Universidade Regional do Cariri, Crato,CE, E-mail: aeduarte2010@hotmail.com

RESUMO
Objetivando identificar e classificar taxonomicamente, através das sementes presentes no solo, as
espécies botânicas de plantas daninhas, como também determinar o número e distribuição no perfil do
solo (0 - 10 e 10 - 20 cm de profundidade) das sementes viáveis dessas espécies de plantas, em duas épocas
de coleta/avaliação (antes do plantio/aplicação e 70 dias depois da aplicação pré-emergente de
tratamentos de controle de plantas daninhas) em uma área cultivada com algodoeiro herbáceo, utilizando
os tratamentos 1.metalachlor + pendimethalin; 2.metalachlor + diuron; 3.metalachlor + oxadiazon;
4.diuron + pendimethalin; 5. diuron + oxadiazon; 6.pendimethalin + oxadiazon; 7.metalachlor + diuron +
pendimethalin; 8.metalachlor + diuron + oxadiazon; 9.metalachlor +pendimethalin + oxadiazon; 10.diuron +
pendimethalin + oxadiazon; 11. metalachlor + diuron + pendimethalin + oxadiazon; 12.testemunha
capinada; e, 13.testemunha não capinada), distribuídos em 3 repetições, um experimento foi instalado na
Estação Experimental da Embrapa, Barbalha, CE. A identificação, classificação e contagem das sementes
viáveis/m2 das espécies do banco inicial e final de plantas daninhas da área de cultivo nos diferentes
tratamentos foi realizada através da retirada de amostras de solo na área útil de cada parcela nas
profundidades de 0 - 10 e 10 - 20 cm e da utilização de pistas e chaves de classificação botânica. Concluiu-
se que: não houve variação no número de espécies botânicas de plantas daninhas identificadas, a grande
maioria da classe dicotiledônea, com predominância da Raphiodon echinus no banco inicial, e da Portulaca
oleraceae, no banco final; os maiores números médios e amplitudes médias de variação de sementes
viáveis/m2 de espécies de plantas daninhas foram encontradas aos 70 dias depois da aplicação dos
tratamentos (no banco final de sementes), concentradas na camada de 0 a 10 cm do perfil do solo.
Palavras-chave: Gossypium hirsutum L. r. latifolium Hutch., dinâmica populacional,
Agroecossistema.

WEED SEEDBANKS ON AN UPLAND COTTON CROP, BEFORE AND AFTER DIFFERENT HERBICIDES
TREATMENTS.
ABSTRACT
The study aimed to identify and classify taxonomically, by seeds found in the soil, botanical weed
species, as well to determine the number and the distribution of viable seeds these plants in the soil profile
(0 - 10 and 10 - 20 cm) in two evaluations (before planting/aplication and 70 days after pre-emergent
aplication of weed control treatments) on an upland cotton crop, using the treatments 1.metalachlor +
pendimethalin; 2.metalachlor + diuron; 3.metalachlor + oxadiazon; 4.diuron + pendimethalin; 5. oxadiazon
+ diuron; 6.pendimethalin + oxadiazon; 7.metalachlor + diuron + pendimethalin; 8.metalachlor + oxadiazon
+ diuron; 9.metalachlor + oxadiazon + pendimethalin; 10.diuron + pendimethalin + oxadiazon; 11.
metalachlor + diuron + pendimethalin + oxadiazon; 12. mechanical control; and, 13. no control, distributed
in 3 replications. The experiment was installed in the Embrapa Experimental Station, located in Barbalha,
CE. The botanical identification, taxonomic classification and counting of viable seeds/m2 of the species of
the initial and final seedbanks of weed plants on the crop area in those different treatments was performed
by soil samples retired in the useful area of the experimental units on the 0 - 10 and 10 to 20 cm deep
layers and by use of botanical classification clues and keys. It was concluded that: it were not identified

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differences on botanical species number of weeds in the seedbanks of the area, the vast majority of
dicotyledon class, mainly Raphiodon echinus in the initial, and Portulaca oleracea in the final seedbank; the
largest medium number and variation amplitude of weed viable seeds/m2 of all taxonomic classes and soil
depth were found at 70 days after treatments application (final seedbank), concentrated in the 0 to 10 cm
of the soil profile.
Keywords: Gossypium hirsutum L. r. latifolium Hutch., dynamics of weed population, agro-
ecossystem.

INTRODUÇÃO
O agroecossistema é um sistema complexo onde intervêm diversos componentes: culturas
econômicas, plantas daninhas, microorganismos, clima, solo. O problema enfrentado no controle das
plantas daninhas pode estruturar-se em quatro níveis: indivíduo, população, comunidade e
agroecossistema. A partir do completo conhecimento da biologia das espécies e das relações desenvolvidas
entre elas e o meio em que se inserem, é que poderão ser desenvolvidos modelos eficientes de manejo de
plantas daninhas em áreas agrícolas (Lacerda, 2003).
O banco de sementes é uma reserva de sementes viáveis no solo presente na superfície ou em
diferentes profundidades (Lacerda, 2003). As altas produções de sementes juntamente com a dormência,
conferem às espécies daninhas a capacidade de perpetuação da espécie e capacidade competitiva. A maior
parte das sementes produzidas por uma planta daninha não germina logo após sua maturação, vindo a
fazê-la somente muitos anos mais tarde, aguardando condições ideais de germinação, desenvolvimento e
multiplicação, devido à existência de uma dormência temporária (Lorenzi, 2000).
O banco de sementes pode retardar o aparecimento de biótipos de plantas daninhas resistentes a
um determinado herbicida. Quanto maior for o período de dormência das sementes das plantas daninhas,
maior será o tempo necessário para esgotar o banco de sementes do biótipo susceptível no solo, mesmo
que haja pressão de seleção muito forte (Christoffoleti, 2004).
Monquero e Cristofolleti (2003), avaliando a influência da aplicação repetitiva do glyphosate sobre
a dinâmica do banco de sementes das plantas daninhas tolerantes, verificaram que o banco de sementes
teve aumento significativo, principalmente nas menores doses. Contudo, o banco de sementes das espécies
suscetíveis diminuiu ao longo do tempo, mesmo nas menores doses do glyphosate. Os autores concluíram
que o uso intensivo do herbicida glyphosate pode ocasionar uma mudança na área, aumentando a
freqüência das plantas tolerantes ao longo dos anos.
Objetivou-se com este trabalho identificar e classificar taxonomicamente, através das
sementes presentes no solo de uma área agrícola, as espécies botânicas de plantas daninhas, como
também determinar o número e distribuição no perfil do solo (0 - 10 e 10 - 20 cm de profundidade) das
sementes viáveis dessas espécies de plantas, em duas épocas de coleta/avaliação (antes do
plantio/aplicação e 70 dias depois da aplicação pré-emergente de tratamentos de controle de plantas
daninhas) em uma área cultivada com algodoeiro herbáceo (Gossypium hirsutum L. r. Latifolium Hutch.).

MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na Estação Experimental da Embrapa Algodão, localizada no
município de Barbalha, CE (7°19' S, 39°18' O). O solo da área experimental é de textura arenosa e de baixo
teor de matéria orgânica do tipo Latossolo Vermelho-Amarelo Distrófico (Caracterização Química, segundo
o Laboratório de Química e Física do Solo da Embrapa Algodão, Campina Grande, PB: pH 6,6; 2,8 g/kg de
matéria orgânica; 11,0 mmolc/dm3 de Ca+2; 4,0 mmolc/dm3 de Mg+2; 0,3 mmolc/dm3 de Na+; 6,0 mmolc/dm3
de K+; 0,5 mmolc/dm3 de Al+3 e 2,9 mg/dm3de P).
A caracterização física da área, conforme análise realizada pelo Laboratório de Química e Física de
Solo da Universidade Federal do Ceará – UFC, Fortaleza, CE, respectivamente nas profundidades de 0-10 e
10-20 cm foi a seguinte: densidade global (g/cm3) 1,48 e 1,46; densidade das partículas (g/cm3) 2,69 e 2,66;
umidade 0,033 MPa (g/100g) 3,14 e 3,14; Umidade 1,5 MPa (g/100g) 2,56 e 0,58; Umidade Água Útil
(g/100g) 0,58 e 1,17; Areia grossa (g/kg) 630 e 600; Areia fina (g/kg) 300 e 310; Silte (g/kg) 50 e 40; Argila
(g/kg) 20 e 50; Argila Natural (g/kg) 10 e 10.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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A precipitação pluvial ocorrida no período de condução do experimento (12/03 a


19/06/2004) foi de 318,50 mm e as temperaturas mínimas e máximas foram em média de 28 e 32 oC,
respectivamente (FUNCEME, 2005).
A área experimental totalizou 1.216 m2, composta por 39 unidades experimentais medindo 5,0 m x
4,0 m (20 m2). Utilizou-se a cultivar de algodão herbáceo BRS 187 8H, semeada no espaçamento de 1,0 m
entre fileiras, com 10 plantas por metro linear, sendo as sementes deslintadas e tratadas quimicamente
antes do plantio. O preparo de solo consistiu de uma aração, com arado de discos, e duas gradagens, com
grade niveladora, estas seguidas de calagem (0,5 + 0,5 t/ha de calcário dolomítico), para correção do pH do
solo. O solo da área também recebeu adubação de NPK na forma de sulfato de amônio (150 kg/ha),
superfosfato simples (150 kg/ha), e cloreto de potássio (33 kg/ha), respectivamente, e adubação orgânica
com torta de filtro de cana-de-açúcar (6 t/ha). As pragas foram controladas a contento.
O plantio do algodão e a aplicação dos tratamentos, em pré-emergência, ocorreu no dia 12 de
março de 2004 (imediatamente após o plantio).
A água utilizada no preparo dos tratamentos herbicídicos testados apresentava pH 7,2. Os
tratamentos foram todos aplicados em pré-emergência com relação à cultura e as plantas daninhas, com
pulverizador costal da marca Jacto, com capacidade de 20 L, equipado com bico da marca Teejet 8004, com
malha 50, a um volume de calda aproximado de 300 L/ha. Na testemunha capinada, as capinas foram
realizadas semanalmente.
Para avaliação dos bancos de sementes, antes do plantio (Inicial) e 70 dias depois a aplicação dos
tratamentos (Final), coletou-se 4 amostras de solo de 250 g, ao acaso dentro da área útil (2,0 m x 4,0 m = 8
m2) das parcelas submetidas aos seguintes tratamentos: 1. metalachlor + pendimethalin; 2. metalachlor +
diuron; 3. metalachlor + oxadiazon; 4. diuron + pendimethalin; 5. diuron + oxadiazon; 6. pendimethalin +
oxadiazon; 7. metalachlor + diuron + pendimethalin; 8. metalachlor + diuron + oxadiazon; 9. Metalachlor
+pendimethalin + oxadiazon; 10. diuron + pendimethalin + oxadiazon; 11.metalachlor + diuron +
pendimethalin + oxadiazon; 12. testemunha capinada; 13. testemunha não capinada, distribuídos em 3
repetições, usando um trado tubular de 2,5 cm de diâmetro, em duas profundidades (de 0 -10 e 10 – 20
cm) do solo da área experimental.
As amostras de solo foram acondicionadas em sacos plásticos, identificadas e submetidas a um
processo de peneiramento (em peneira tipo 01, com malha de 0,5 mm), seguido de flotação, para facilitar a
identificação, a classificação e a contagem das sementes das espécies de plantas daninhas encontradas na
área de cultivo. Na operação de flotação, utilizou-se uma solução saturada de CaCl2.2H2O (cloreto de cálcio,
diidratado, com 75% de pureza e com densidade de 1,40 - 1,42 g.cm-3). Esta densidade, superior à das
sementes, permitiu que todas flutuassem, após alguns movimentos com bastão de vidro, para liberar
sementes presas no fundo do recipiente. As sementes foram retiradas com auxílio de um pincel fino,
colocadas em recipientes específicos por amostra e postas a secar à sombra.
As sementes obtidas foram identificadas, classificadas e contadas, usando lupa com cabo
de 60 mm de diâmetro e pinça. As sementes foram levemente pressionadas com o auxílio da pinça, para
identificar sementes não viáveis (chochas) (As sementes chochas foram eliminadas). Foi feito um catálogo
com amostras de sementes das diversas espécies de plantas daninhas existentes na área para comparar
com as pistas comuns de identificação sugeridas por Martim e Barkley (1961).
A estimativa do número de sementes viáveis/m2 das espécies de plantas daninhas
encontradas nas parcelas experimentais foi determinada em função da área do trado tubular de coleta de
solo de 2,5 cm de diâmetro, multiplicado pelo número de amostras (4 amostras por parcela) e subamostras
coletadas (10 subamostras/amostra), ou seja, 0,0196 m2 de área/parcela.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na coleta antes do plantio/aplicação dos tratamentos, um total de 22 espécies botânicas de plantas
daninhas foi identificado, das quais 4 foram monocotiledôneas e 18 dicotiledôneas (Tabela 1). Na avaliação
realizada 70 dias depois da aplicação dos tratamentos, foi encontrado um total de 21 espécies, sendo 5
monocotiledôneas e 16 dicotiledôneas (Tabela 2).

João Pessoa, outubro de 2011


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Tabela 1. Estimativa, por tratamento de controle estudado, da média e da amplitude de variação do


número de sementes viáveis/m2 de plantas daninhas, encontradas e botanicamente identificadas, antes do
plantio (Banco Inicial), nas profundidades de 0 – 10 cm e de 10 – 20 cm, em área de cultivo de algodão
herbáceo. Barbalha, CE. 2004.
Sementes Viáveis/m2
Média Amplitude
Profundidade
Espécies
0 – 10 cm 10 – 20 cm 0 – 10 cm 10 – 20 cm

Trat. 1 - metalachlor + pendimethalin (1,92 + 0,88 kg do i. a. /ha)


Mimosa pudica 0 68 0 0-68
Portulaca oleraceae 1020 680 0-1020 0-680
Portulaca halimoides 680 0 0-680 0
Raphiodon echinus 1632 2040 0-2448 0-3672
Trat. 2 - metalachlor + diuron (1,92 + 1,52 kg do i. a. /ha)
Leuca martinicenses 136 136 0-136 0-136
Mimosa pudica 0 68 0 0-204
Panicum máximum 0 68 0 0-204
Portulaca oleraceae 544 0-816 0-476 0,06
Raphiodon echinus 1632 408 1224-1632 408-1224
Sida cordifolia 136 0 0-408 0
Sidastrum paniculatum 0 68 0 0-204
Walteria indica 68 0 0-204 0
Trat. 3 - metalachlor + oxadiazon (1,92 + 0,44 kg do i. a. /ha)
Cyperus distans 68 68 0-204 0-204
Leuca martinicenses 476 204 204-816 0-408
Portulaca oleraceae 136 544 0-408 0-1224
Portulaca halimoides 476 408 0-476 0-408
Raphiodon echinus 3264 2856 2448-3672 0-4896
Sida cordifolia 136 0 0-204 0
Zornia latifolia 0 136 0 0-408
Trat. 4 - diuron + pendimethalin (1,52 + 0,88 kg do i. a. /ha)
Cyperus distans 0 68 0 0-204
Leuca martinicenses 272 0 0-816 0
Indigofera hirsuta 68 0 0 0-68
Mollugo verticillata 0 68 0 0-68
Panicum maximum 68 0 0-68 0
Portulaca oleraceae 272 680 0-816 0-2040
Portulaca halimoides 1564 136 0-1836 0-204
Raphiodon echinus 2040 1632 0-2040 0-2448

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Sida cordifolia 0 68 0 0-204


Zornia latifolia 68 68 0-68 0-204
Trat. 5 - diuron + oxadiazon (1,52 + 0,44 kg do i. a. /ha)
Cyperus ferax 68 0 0-204 0
Mimosa pudica 0 68 0 0-68
Portulaca oleraceae 816 544 0-2448 0-1632
Portulaca halimoides 1768 544 612-2040 0-544
Raphiodon echinus 2040 2856 0-2448 2448-3672
Zornia latifolia 272 0 0-612 0
Trat. 6 - pendimethalin + oxadiazon (0,88 + 0,44 kg do i. a. /ha)
Cenchrus echinatus 0 272 0 0-612
Leuca martinicenses 68 136 0-204 0-408
Moutabea sp. 0 68 0 0-204
Portulaca oleraceae 952 408 0-1836 0-1020
Portulaca halimoides 748 408 0-748 0-408
Raphiodon echinus 1632 1224 0-2448 0-3672
Sebastiania corniculata 0 136 0 0-408
Sida cordifolia 68 0 0-204 0
Zornia latifolia 68 68 0-68 0-68
Trat. 7 - metalachlor + diuron + pendimethalin (1,68 + 1,33 + 0,77 kg do i. a. /ha)
Leuca martinicenses 340 204-340 0-340 0,50
Portulaca oleraceae 1156 884 612-2244 612-1224
Sida cordifolia 0 68 0 0-68
Sida linifolia 68 0 0-68 0
Sidastrum paniculatum 0 68 0 0-204
Turnera indica 0 68 0 0-68
Zornia latifolia 136 0 0-408 0
Walteria indica 0 68 0 0-68
Trat. 8 - metalachlor + diuron + oxadiazon (1,68 + 1,33 + 0,39 kg do i. a. /ha)
Cyperus distans 68 0 0-68 0
Leuca martinicenses 408 408 0-1224 204-612
Portulaca oleraceae 748 1496 204-816 612-1496
Portulaca halimoides 68 0 0-68 0
Raphiodon echinus 1224 408 0-2448 0-1224
Sidastrum paniculatum 136 68 0-408 0-204
Trat. 9 - metalachlor + pendimethalin + oxadiazon (1,68 + 0,77 + 0,39 kg do i. a. /ha)
Cyperus distans 0 68 0 0-204
Indigofera hirsuta 68 0 0-68 0
Leuca martinicenses 680 272 0-1428 0-816
Moutabea sp. 0 68 0 0-204
Panicum máximum 0 68 0 0-204
Portulaca oleraceae 1020 1020 612-1020 816-1020

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Setaria geniculata 68 0 0-204 0


Solanum ambrosiacum 68 0 0-68 0
Raphiodon echinus 0 816 0 0-1224
Trat. 10 – diuron + pendimethalin + oxadiazon (1,33 + 0,77 + 0,39 kg do i. a. /ha)
Leuca martinicenses 816 68 408-1224 0-204
Portulaca oleraceae 1904 408 1428-1904 0-408
Portulaca halimoides 0 136 0 0-204
Raphiodon echinus 1224 816 0-2448 0-1224
Sebastiania corniculata 0 68 0 0-204
Senna ocidentalis 68 0 0-204 0
Setaria geniculata 0 68 0 0-68
Sidastrum paniculatum 0 68 0 0-204
Zornia latifolia 68 0 0-68 0
Trat. 11-metalachlor+diuron+pendimethalin+oxadiazon (1,44 + 1,14 + 0,66 + 0,33 kg do i. a. /ha)
Leuca martinicenses 340 68 204-340 0-204
Mimosa pudica 0 68 0 0-68
Portulaca oleraceae 1020 476 408-1020 204-612
Raphiodon echinus 2856 1224 0-4896 0-2448
Sebastiania corniculata 68 0 0-68 0
Sida cordifolia 68 0 0-68 0
Walteria indica 0 68 0 0-204
Trat. 12 - Testemunha Capinada
Leuca martinicenses 408 272 0-816 0-816
Portulaca oleraceae 2176 1292 1428-3468 408 -2244
Portulaca halimoides 0 68 0 0-204
Raphiodon echinus 2856 408 1224-4896 0-1224
Sebastiania corniculata 68 0 0-68 0
Zornia latifolia 68 0 0-68 0
Trat. 13 - Testemunha não Capinada
Leuca martinicenses 408 272 0-816 0-816
Portulaca oleraceae 2788 1156 1836-4080 816 -1428
Portulaca halimoides 0 68 0 0-204
Raphiodon echinus 408 816 0-1224 0-1224
Sebastiania corniculata 68 0 0-68 0
Zornia latifolia 68 0 0-68 0

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


390

Tabela 2. Estimativa, por tratamento de controle estudado, da média e da amplitude de variação do


número de sementes viáveis/m2 de plantas daninhas, encontradas e botanicamente identificadas, após 70
dias de aplicação dos tratamentos (Banco Final), nas profundidades de 0 – 10 cm e de 10 – 20 cm, em área
de cultivo de algodão herbáceo. Barbalha, CE. 2004.

Sementes Viáveis/m2
Média Amplitude
Profundidade
Espécies 0 – 10 cm 10 – 20 cm 0 – 10 cm 10 – 20 cm

Trat. 1 - metalachlor + pendimethalin (1,92 + 0,88 kg do i. a. /ha)


Boehavia diffusa 0 68 0 0-204
Cyperus distans 748 680 0-2244 0-183
Leuca martinicenses 340 680 0-340 408-680
Panicum maximum 68 0 0-204 0
Portulaca oleraceae 2040 3060 0-3060 1428-5100
Raphiodon echinus 1700 1292 0-2652 0-2652
Sida cordifolia 68 0 0-204 0
Zornia latifólia 68 204 0-204 0-6012
Trat. 2 - metalachlor + diuron (1,92 + 1,52 kg do i. a. /ha)
Helianthus annus 0 68 0 0-204
Leuca martinicenses 1428 136 204-3876 0-204
Mimosa pudica 68 136 0-204 0-136
Portulaca oleraceae 1360 1360 816-2040 1224-1632
Portulaca halimoides 0 68 0 0-204
Raphiodon echinus 3740 1700 1428-7344 1224-2448
Sebastiania corniculata 136 0 0-204 0
Setaria geniculata 0 68 0 0-204
Trat. 3 - metalachlor + oxadiazon (1,92 + 0,44 kg do i. a. /ha)
Cyperus distans 408 272 0-612 0-816
Leuca martinicenses 1156 136 1020-1224 0-204
Raphiodon echinus 1632 952 0-2448 408-1224
Sebastiania corniculata 68 0 0-204 0
Trat. 4 - diuron + pendimethalin (1,52 + 0,88 kg do i. a. /ha)
Cyperus distans 612 102 0-1224 0-204
Leuca martinicenses 306 204 0-2448 0-1836
Portulaca oleraceae 3570 816 1632-5508 612-2856
Raphiodon echinus 1632 0 1224-1632 0
Walteria indica 68 0 0-204 0
Zornia latifolia 102 0 0-204 0
Trat.5 - diuron + oxadiazon (1,52 + 0,44 kg do i. a. /ha)

João Pessoa, outubro de 2011


391

Cyperus distans 68 0 0-204 0


Leuca martinicenses 544 0 408-612 0
Portulaca oleraceae 4692 3332 1020-4692 1020-3332
Portulaca halimoides 68 68 0-204 0-204
Raphiodon echinus 1904 1428 0-4488 0-2652
Trat. 6 - pendimethalin + oxadiazon (0,88 + 0,44 kg do i. a. /ha)
Leuca martinicenses 408 476 204-612 0-816
Mimosa pudica 136 136 0-408 0-136
Moutabea sp. 68 0 0-204 0
Portulaca oleraceae 2992 1972 816-6120 1224-2652
Raphiodon echinus 2924 2856 1224-6120 1224-3672
Trat. 7 - metalachlor + diuron + pendimethalin (1,68 + 1,33 + 0,77 kg do i. a. /ha)
Crotalaria retusa 0 68 0 0-204
Cyperus distans 476 272 0-476 0-272
Leuca martinicenses 408 136 0-816 0-204
Mimosa pudica 68 0 0-204 0
Moutabea sp. 272 0 0-272 0
Portulaca oleraceae 1496 1496 612-2652 612-3060
Portulaca halimoides 136 68 0-408 0-68
Raphiodon echinus 408 884 0-1224 0-884
Sebastiania corniculata 68 68 0-68 0-68
Sida cordifolia 68 0 0-68 0
Zornia latifolia 68 0 0-68 0
Trat. 8 - metalachlor + diuron + oxadiazon (1,68 + 1,33 + 0,39 kg do i. a. /ha)
Cyperus distans 680 272 204-680 0-272
Cyperus ferax 0 68 0 0-204
Leuca martinicenses 2584 1292 0-7140 0-3672
Portulaca oleraceae 2924 2108 408-6732 816-4488
Portulaca halimoides 68 0 0-204 0
Raphiodon echinus 2448 408 0-3672 0-1224
Sebastiania corniculata 68 68 0-68 0-68
Turnera indica 68 0 0-204 0
Zornia latifolia 0 68 0 0-204
Trat. 9 - metalachlor + pendimethalin + oxadiazon (1,68 + 0,77 + 0,39 kg do i. a. /ha)
Leuca martinicenses 1224 204 612-2040 0-408
Portulaca oleraceae 1020 1020 102-1020 0-1020
Raphiodon echinus 408 884 0-408 0-884
Trat. 10 – diuron + pendimethalin + oxadiazon (1,33 + 0,77 + 0,39 kg do i. a. /ha)
Cyperus distans 0 952 0 0-2856
Cyperus ferax 68 136 0-204 0-408
Leuca martinicenses 408 408 0-612 204-816
Mollugo verticillata 68 0 0-204 0

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


392

Portulaca oleraceae 1700 2652 0-1700 1836-3876


Portulaca halimoides 136 136 0-136 0-408
Raphiodon echinus 1632 1088 0-2448 0-3264
Zornia latifolia 136 272 0-204 0-612
Trat.11-metalachlor+diuron+pendimethalin+oxadiazon (1,44 + 1,14 + 0,66 + 0,33 kg do i. a. /ha)
Leuca martinicenses 884 748 0-1020 0-748
Mimosa quadrivalvis 68 0 0-68 0
Moutabea sp 0 68 0 0-68
Portulaca oleraceae 1632 1428 1224-2448 0-3876
Portulaca halimoides 0 68 0 0-204
Raphiodon echinus 884 0 0-1428 0
Solanum ambrosiacum 68 0 0-68 0
Trat. 12 - Testemunha Capinada
Cyperus ferax 68 0 0-204 0
Leuca martinicenses 884 748 0-1020 0-748
Mimosa pudica 0 68 0 0-204
Portulaca oleraceae 4216 1768 4080-4216 0-2652
Portulaca halimoides 0 68 0 0-204
Raphiodon echinus 1768 1632 0-4080 1224-2448
Trat. 13 - Testemunha não Capinada
Boehavia diffusa 1224 408 0-2448 0-1224
Cyperus distans 68 136 0-204 0-408
Cyperus ferax 68 204 0-204 0-612
Crotalaria retusa 0 68 0 0-204
Helianthus annus 0 68 0 0-204
Leuca martinicenses 204 340 204-204 204-612
Moutabea sp. 340 68 0-1020 0-204
Mollugo verticillata 68 0 0-204 0
Panicum máximum 68 0 0-204 0
Portulaca oleraceae 2652 3536 1020-3468 2244-4692
Portulaca halimoides 0 68 0 0-204
Raphiodon echinus 1224 408 0-2448 0-1224
Sebastiania corniculata 476 272 0-1224 0-612
Setaria geniculata 0 68 0 0-204
Solanum ambrosiacum 68 68 0-204 0-204
Turnera indica 68 0 0-204 0
Zornia latifolia 68 0 0-204 0

Antes da aplicação dos tratamentos, o número de espécies daninhas identificadas variou de 6 a 10,
por tratamento. Na maioria das amostras, a maior média e amplitude de variação do número de sementes
viáveis identificadas/m2 foi da espécie Raphiodon echinus Nees & Mart (vulgarmente conhecida como
menta rasteira) (Tabela 1). Após aplicação dos tratamentos, variou de 3 a 17. A espécie Portulaca oleraceae

João Pessoa, outubro de 2011


393

L. conhecida popularmente como beldroega, destacou-se com maiores valores médios por tratamento
(Tabela 2).
Observou-se predominância do número médio de sementes viáveis/m2 de espécies de plantas
daninhas pertencentes à classe das dicotiledôneas nas duas profundidades e épocas de avaliação. Isto
indica a maior adaptabilidade destas espécies a uma gama mais ampla de condições ambientais, mesmo
nas áreas perturbadas, visto que o uso de misturas herbicídicas visa principalmente aumentar o espectro
de ação contra plantas daninhas, envolvendo a combinação de herbicidas para controle de espécies
invasoras de folhas estreitas (classe monocotiledônea) e de folhas largas (classe dicotiledônea),
simultaneamente. O número médio de sementes viáveis/m2 foi maior aos 70 dias após aplicação dos
tratamentos para ambas as classes taxonômicas e profundidades consideradas no estudo (Tabela 1 e 2).
Segundo Macedo et al. (2003) os herbicidas controlam as plantas daninhas por um período
(período de eficiência), mas não evitam a emergência tardia de muitas delas. Rahman et al. (2001) afirmam
que diferentes práticas de cultivos influenciam diferentemente na distribuição de sementes no perfil do
solo. Lacerda (2003) e Lacerda et al. (2005) complementam a afirmação, dizendo que em área de pousio as
sementes de plantas daninhas se concentram nas camadas superficiais, enquanto que em área com cultivo
convencional, as mesmas estão dispersas no perfil do solo.

CONCLUSÕES
1. Não houve variação do número de espécies botânicas identificadas nos bancos de sementes de
plantas daninhas no solo da área de cultivo, antes e após a aplicação dos tratamentos herbicidicos; 2. Aos
70 dias depois da aplicação dos tratamentos herbicídicos (Banco Final) foi quantificado o maior número de
sementes viáveis/m2 de espécies de plantas daninhas; e, 3. O maior número de sementes viáveis/m 2
quantificadas foram da classe dicotiledônea, concentradas na camada superficial do solo da área.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CRISTOFFOLETI, P. J. Aspectos de resistência de plantas daninhas a herbicidas. 2.ed. Campinas:
HRAC-BR, 2004. 100p.
FUNDAÇÃO CEARENSE DE METEOROLOGIA - FUNCEME. Download de séries históricas. Disponível
em: <http://www.funceme.br/DEPAM/download/postos/20.txt.>. Acesso em: 10 mar. 2005.
LACERDA, A. L. S. Fluxos de emergência e banco de sementes de plantas daninhas em sistemas de
semeaduras direta e convencional e curvas dose-resposta ao gliphosate. Piracicaba: ESALQ/USP, 2003.
141p. (ESALQ/USP. Tese de doutorado).
LACERDA, A. L. S.; VICTORIA FILHO, R.; MENDONÇA, G. G. Levantamento do banco de sementes em
dois sistemas de manejo de solo irrigados por pivô central. Revista Planta Daninha, Viçosa, v.23, n.1, p.1-7,
2005.
LORENZI, H. Plantas daninhas do Brasil. Terrestres, aquáticas, parasitas e tóxicas. 3.ed. Nova
Odessa: 2000. 608p.
MACEDO, J. F.; BRANDÃO, M.; LARA, J. F. R. Plantas daninhas na pós colheita de milho nas várzeas
do rio São Francisco, em Minas Gerais. Revista Planta Daninha, Viçosa, v.21, n.2, 2003.
MARTIM, A. C.; BARKLEY, W. D. Seed identification manual. London: University of
Califórnia/Cambridge University Press, 1961. 221p.
MONQUERO, P. A.; CHRISTOFOLLETI, P. J. Dinâmica do banco de sementes em áreas com aplicação
freqüente do herbicida glyphosate. Revista Planta Daninha, Viçosa, v.21, n.1, p.63-69. 2003.
RAHMAN, A.; JAMES, T. K.; GRBAVAC, N. Potential of weed seedbanks for managing weeds: a
review of recent New Zealand research. Weed Biology and Management, 1, 80-95, 2001.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


394

BIODIVERSIDADE VEGETAL DO PARQUE ESTADUAL DO BACANGA,


MUNICÍPIO DE SÃO LUÍS – MA
Keciane Mesquita das CHAGAS
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão – Campus Caxias. Professora do Curso de Meio Ambiente.
Epecialista em Educação Ambiental e Gestão e Recursos Hidrícos. kecianemesquita@ifma.edu.br
Maria Verônica Meira de ANDRADE
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão – Campus Caxias. Professora do Curso de Agropecuária.
Doutora em Zootecnia. veronicameira@ifma.edu.br
Fabiane Pereira CORREIA
Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Maranhão

RESUMO
Diante do atual quadro de degradação ambiental, cujas causas primordiais recaem sobre a
responsabilidade da humanidade, que ao longo da história tem imprimido marcas significativas de sua
intervenção desastrosa sobre a dinâmica natural do planeta, o ser humano tem buscado soluções para
remediar os impactos já causados e tentar reduzir possíveis efeitos danosos ao ambiente. Culturalmente foi
difundida nas diferentes sociedades a errônea idéia de que os recursos ambientais poderiam ser
explorados ao máximo e utilizados sem qualquer tipo de precaução, pois seriam inesgotáveis, regenerando-
se fácil e rapidamente na natureza. Pelo fato de haver clara influência cultural nos modos de agir e pensar
sobre o ambiente, resultantes de um processo de aprendizagem, evidencia-se a necessidade de mudança
de paradigmas e atitudes do homem em relação à natureza a partir do mesmo processo, porém, de forma
reversa. A educação tem sido vista com bons olhos pela parcela social preocupada com o futuro da Terra e
sua biodiversidade, pelo fato dela ser a base para o desenvolvimento humano em todos os seus aspectos.
Perpassa pela educação o respeito por aquilo que o homem tem de mais precioso, sua casa comum, cujo
equilíbrio proporciona melhor qualidade de vida. Através da integração dos métodos científicos dedutivo,
indutivo e dialético é feita uma breve abordagem sobre a educação ambiental para conservação do Parque
Estadual do Bacanga, localizado no município de São Luís – MA, com o objetivo de diagnosticar a situação
atual e lançar propostas para aperfeiçoar a efetividade das ações educativas voltadas para a conservação e
preservação do espaço protegido estudado.
PALAVRAS-CHAVE: flora, responsabilidade social, unidades de conservação.

ABSTRACT
In face of the current situation of environmental degradation, whose principal causes fall on the
responsibility of humanity, who throughout history have left significant marks of its disastrous intervention
of the planet’s natural dynamics, mankind has searched for solutions to heal the impacts that have already
been caused and try to reduce possible harmful effects to the environment. The erroneous idea that
environmental resources could be exploited to the maximum and used without any type of precaution,
because they were inexhaustible, and would regenerate easily and quickly in nature, was spread
throughout the culture. Due to the fact that there is clear cultural influence on the manner of acting and
thinking about the environment, resulting from a learning process, the necessity for a paradigm change is
evidenced and man’s attitudes in relation to nature beginning with this process, however, reversed.
Education has been seen positively by the social segment worried about the Earth’s future in the diversity
due to the fact that it is the base for human development in all aspects. A brief mentioning is made of the
environmental education for conservation of the Bacanga State Park, located in the municipal of São Luís –
MA, through the integration of scientific, deductive, inductive and dialectic methods, with the objective of
diagnosing the current management system and make proposals to improve the effectiveness of educative
actions directed at the conservation and preservation of the studied protected space.
KEY WORDS: flower, social responsibility, units of conservation.

INTRODUÇÃO

João Pessoa, outubro de 2011


395

Todo processo de desenvolvimento de uma região tem como ponto inicial o conhecimento de seus
recursos naturais e do inter-relacionamento com o meio. A análise de vegetação e de grande importância
para o conhecimento de causas e efeitos ecológicos em uma determinada área, já que a vegetação e o
resultado da ação dos fatores ambientais sobre as espécies que coabitam uma determinada área,
refletindo o clima, as propriedades do solo, a disponibilidade de água, os fatores bióticos e os fatores
antrópicos (CHESSON, 2003).
Estudos da vegetação geralmente requerem consideração a respeito da composição de espécies de
uma área, o que e feito através de levantamentos, assim como de sua organização e distribuição no espaço.
A vegetação pode ser classificada em pelo menos cinco níveis: fisionomia, biomassa, formas de
vida, florística, e estrutura da comunidade em si. Bonan (2002) considerou a vegetação como um conjunto
de plantas ocupando uma determinada área e, por isso, sua simples descrição fisionômica com uma lista de
espécies encontradas, bem como a apresentação de perfis-diagrama indica apenas uma aparência, sendo
necessário, para descrevê-la, incluir medidas de densidade, freqüência e dominância.
Neste estudo, fez-se levantamento da flora do Parque Estadual do Bacanga situado em São Luís –
MA, o qual se apresenta como um banco genético único, abrigando uma biodiversidade não mais
encontrada na região. Desta forma, tal ecossistema tem todas as condições de funcionar como um estoque
de espécies para recompor ecossistemas degradados circunvizinhos, o que ressalta a sua importância como
Unidade de Conservação de Proteção Integral.
Por integrar o espaço urbano, esse parque é alvo de intensa pressão socioambiental,
principalmente por estar situado entre bairros economicamente desfavorecidos, marcados pelas péssimas
condições de infra-estrutura da rede urbana. Em geral, as populações residentes no entorno possuem baixa
ou baixíssima renda per capita, o que reflete seu baixo nível de escolarização e qualificação profissional.
Portanto, este trabalho teve como objetivo conhecer a composição florística da vegetação presente
no Parque Estadual do Bacanga localizado em São Luís do Maranhão.

MATERIAL E MÉTODOS
Localizado na porção norte do Estado e noroeste da Ilha do Maranhão (Mapa 01), o Parque
Estadual do Bacanga faz parte da bacia hidrográfica do rio Bacanga. Sua área ocupa o topo de pequena
extensão da bacia sedimentar costeira de São Luís. (MARANHÃO, 1992, p. 15).

Figura 01. Mapa de Localização da área de estudo

Situado no centro urbano do município de São Luís, essa Unidade de Conservação apresenta-se
muitas vezes como entrave a reprodução espacial da condição urbana ludovicense. Isso é constatado

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


396

quando se atenta para o fato do Parque estar rodeado por aglomerados habitacionais, que tem se
expandido consideravelmente a partir do incremento populacional do município, causado principalmente
pela instalação de grandes empreendimentos industriais na capital maranhense na segunda metade do
século XX.
Essa área está confinada entre zonas de forte tendência a urbanização e o Distrito Industrial de São
Luís, limitando-se: ao Norte: Bairro Parque Pindorama, Parque Timbira, Coroadinho e Sacavém; ao Sul:
Distrito Industrial de São Luís; a Leste: Bairro Santo Antônio e Tirirical; a Oeste: Bairro Vila Maranhão e área
da empresa Vale do Rio Doce.
O Parque Estadual do Bacanga, por estar assentado sobre ambiente insular sedimentar, merece ter
suas características observadas segundo a organização dos fatores regidos pela interação terra-ar-mar. Ele
apresenta em sua conformação complexa herança morfogenética da Ilha do Maranhão. É uma área que
resguarda os últimos remanescentes de Floresta Amazônica que ora cobrira toda a cidade de São Luís e boa
parte do Maranhão. Sua vegetação característica é a Floresta Equatorial Perenifólia de Terra Firme,
pertencente ao domínio de natureza Amazônico, permitindo ainda, a presença de outras unidades de
paisagem, tais como os manguezais, matas de galeria e capoeiras ao longo de toda sua extensão (Costa,
2007).
Tendo em vista a execução da pesquisa lançou-se mão de algumas técnicas científicas, o que
potencializou a possibilidade de obtenção dos resultados esperado. Nessa perspectiva, foram adotados
procedimentos adequados aos métodos abordados pela presente análise. Seguindo uma linha de raciocínio
lógico e sistemático voltado ao trabalho, foram utilizados os procedimentos metodológicos, distribuídos em
etapas, conforme abaixo especificados:
I. Consulta a acervos bibliográficos específicos sobre a temática trabalhada: etapa inicial, na qual
foram levantados os dados bibliográficos de extrema relevância para o desenvolvimento do tema.
II. Levantamento e trabalho cartográfico: como parte importante da pesquisa tem-se o trabalho
cartográfico, o que funciona como subsídio a espacialização dos dados apreendidos. As principais bases
foram as cartas da Diretoria de Serviço Geográfico, Folhas 22, 23, 30 e 31, na escala de 1: 10.000. Para a
confecção do Mapa de pontos observados foram utilizadas as seguintes bases cartográficas: Folhas 22, 23,
30 e 31 da Diretoria de Serviço Geográfico – DSG (1980) na escala 1:10.000 na qual foram extraídos dados
referentes à drenagem, linhas de transmissão, estradas e reservatório Batatã. Além desses dados, foram
utilizados também o limite do Parque Estadual do Bacanga proposto por Maranhão (2002) e levantamentos
de campos referentes aos pontos de observação (Figura 2). Posteriormente foi feita a manipulação e
tratamento destas informações novamente através do aplicativo CAD MicroStation V8.

João Pessoa, outubro de 2011


397

Figura 2. Pontos de observação para análise da situação atual do PEB.

III. Levantamento da flora do Parque Bacanga através de caminhadas na área. A identificação do


material botânico foi realizada por comparação com exsicatas e consulta a materiais bibliográficos. Os
nomes científicos, bem como sua autoria, foram confirmados de acordo com o International Plant Names
Index (IPNI, 2006).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Apesar de muito expressiva, a biodiversidade maranhense ainda é pouco conhecida, devido


principalmente, a carência de estudos científicos relacionados a fauna e flora local, apresentando ainda,
sobre esta, uma degradação ambiental elevada, ocasionada pela exploração irregular da madeira, pela
instalação de grandes indústrias poluidoras (ferro-gusa e siderúrgicas) e pela enorme expansão da fronteira
agrícola, o que acaba alterando a composição da biota original, antes mesmo desta ser conhecida
(OLIVEIRA, 2007).
Vale ressaltar que, o Parque Ecológico da Lagoa da Jansen e a Reserva de Recursos Naturais das
Nascentes do rio Balsas, mesmo sendo espaços destinados à preservação e conservação da natureza, não
correspondem a UC’s, pois as mesmas não se enquadram tipologicamente nas categorias previstas no
SNUC. Várias áreas se encontram na mesma situação, “como os parques ambientais associados a empresas
ou a comunidades específicas, além de Reservas Particulares de Patrimônio Natural (RPPN’s), diplomadas
ou não (DIAS, 2009).
A mais recente Unidade de Conservação do Estado é a Área de Proteção Ambiental dos Morros
Garapenses, criada pelo decreto nº 25. 087, de 31 de dezembro de 2008, como uma conquista social, cuja
proposta partiu da comunidade, por esse motivo, tendo essa APA grande possibilidade de se desenvolver
adequadamente, o que poderá torná-la, conforme destaca o líder comunitário Francisco Carlos, de Duque
Bacelar, um dos mentores do processo, “uma APA exemplar para o Estado do Maranhão”.
Maranhão (1992) subdividiu a UC em dois setores, baseados na conservação, continuidade e
homogeneidade da vegetação. O setor I apresenta relevante grau de preservação e formação florestal
contínua e o setor II, total descaracterização em relação vegetação primitiva.
O setor I é composto por uma vegetação contínua de mata amazônica, predominantemente
arbórea, porém com estágios diferenciados de preservação. Há trechos em que as árvores atingem até 30m
de altura, com mais de 100 cm de diâmetro, formando um sub-bosque esparso e úmido (MARANHÃO,

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


398

1992). Outros, com árvores baixas de 6m a 10m de altura e 5cm a 15cm de diâmetro, como área em
regeneração. Existem ainda, áreas muito perturbadas, com predominância de arbustos de 2m a 4m de
altura. Este setor divide-se ainda em dois conjuntos florestais: uma área periodicamente alagada
(semelhante à vegetação de várzea), e mata de terra firme (no geral, sem a ocorrência de espécies
alagadas).
No conjunto florestal alagado encontram-se espécies características como, Symphonia globulifea
(anani), Carapa guianensis (andiroba), palmeiras como Euterpe oleracea (juçara), Mauritia flexuosa (buriti),
Orbignia phalerata (babaçu), entre outros espécimes, como as Musáceas e Aráceas.
Na Mata de Terra Firme, as maiores ocorrências são: Parkia pendula (faveiro), Dipterix lacunifera
(cumaru), Hymenaea courbaril (jatobá), Himathanthus articulatus (janaúba), Platonia insignis (bacuri), além
de espécimes como Pilocarpus microphyllus (jaborandi), citada em lista do IBAMA como ameaçada de
extinção.
Na área conhecida como Reserva Florestal do Sacavém, encontram-se outras famílias e espécies.
O segundo setor é a área mais antropizada do Parque, onde ocorrem os maiores problemas e onde
a vegetação se apresenta mais descaracterizada. Essa área corresponde à estrada principal que liga a
“cancela” da CAEMA ao reservatório Batatã. Segundo Silva (2007), os principais conflitos encontrados nesta
região, são carvoaria e desmatamento (Figura 3) áreas destinadas a plantações, estradas vicinais, criação de
gado, clareiras com tubulações, emissão de esgotos in natura nos corpos hídricos, erosões, caçadores
armados de facões, foices e espingardas, pessoas com gaiolas e linhões de eletricidade.

Figura 3. Setor mais atingido por alterações ambientais.

As margens do rio Bacanga, verifica-se uma estreita faixa de manguezal, com pequenas manchas de
mata ciliar preservada próximas a alguns sítios particulares, devido a presença de buritizais e juçarais nos
trechos mais alagados, e árvores frutíferas em sítios antigos.
No Parque Estadual do Bacanga as espécies mais comuns na área de manguezal, são Avicennia
germinans (mangue-preto) e Laguncularia racemosa (manguebranco). Segundo Costa (2007), nesse
ecossistema são numerosos os impactos visíveis, gerados pela pressão humana no entorno dessa região,
tais como a presença de raízes secundárias para a espécie Avicennia germinans. Setor mais atingido por
alterações ambientais estresse hidrológico, áreas desmatadas com finalidade de plantio de pasto para
gado, presença de espécies vegetais invasoras, presença abundante de lixo in natura e ocorrência de
cupinzeiros em árvores de Avicennia germinans. Atentando para a má utilização da comporta da Barragem
do rio Bacanga, que interfere no regime de variação de marés algumas áreas apresentam problemas, não
permitindo o desenvolvimento saudável das árvores de mangue (Figura 4a e b).

João Pessoa, outubro de 2011


399

a b

Figura 4. Manguezal alagado, estresse hidrológico (a), Manguezal ressecado, estresse hidrológico
causado pelo uso inadequado das comportas da Barragem do Bacanga (b).

A Mata Ciliar, vegetação às margens dos cursos d’água, ocorre em alguns pontos, como nas
imediações do Sítio do Físico, apresentando muitas espécies comuns ao setor II, o que reforça a suspeita de
que a área do Parque teria sido coberta pela mesma formação florestal, concluindo que as diferenças
observadas resultam das intensas perturbações em determinados locais.
A altura das árvores está em torno de 4m a 5m, com um diâmetro bastante delgado (variando de
4cm a 7cm). Dentre as espécies ocorrentes neste setor destacam se: Anona densicoma,Tabebuia
serratifolia, Erytheca SP., Estercúlia estriata, Vismia guianensis, Bauhinia aff.viridiflora,Abarema
jupumba,Andira SP., Byrsonima SP.,Byrsonima SP.,Tococa guianensis, Ouratea nítida,Euterpe oleracea,
Cocooloba SP., Chomelia SP.,Cupania diphyila,Apeiba tibourbou, Qualea SP.

Tabela 1. Lista de espécies da flora do Parque Estadual do Bacanga, São Luís-MA.


FAMÍLIA ESPÉCIE
ANNONACEAE Annona densiooma Mart.
Duguetia surinamensis R.E.Fries
Bocageopsis sp.
APOCYNACEAE Himathanthus aff. articulata
BIGNONIACEAE Tabebuia serratifolia (Vahl) Nich
BORAGINACEAE Cordia bicolor D.C.
BURSERACEAE Protium heptaphyllum (Aulbl) March
CHRYSOBALANACEAE Hyrtella racemosa Lam
Licania humilis Cham. & Schlet
Licania sp.
EUPHORBIACEAE Mabea angustifólia Spruce ex Benth
Pogonophora schomburgkiana Miers. ex Benth
FLACOURTIACEAE Caseria javitensis H.B.K.
Caseria sp.
GUTTIFERAE Platonia insignis Mart.
HYPERICACEAE Vismia guianensis
HIPPOCRATEACEAE Cheiloclinium cognatum (Miers)
LECYTHIDACEAE Esxhweilera aff. apiculata (Miers)
A.C. Smith
Gustavia augusta L.
CAESALPINIOIDEAE Bauhinia aff. Viridiflora Ducke
Hymenaea courbvaril L.
MIMOSOIDEAE Ingra fascislipula Ducke
PAPILIONOIDEAE Dipterix lacunifera
Ormosia paraensis Ducke

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


400

MELASTOMATACEAE Leandra sp.


MORACEAE Cecropia sp.
MYRTACEAE Campomanesia lineatifolia R. & P.
Eugenia cf. patrisii Vahl
Marlierea sp.
Myrcia cuprea
NYCTAGINACEAE Neea sp.
OCHNACEAE Ouratea nítida (SW.) Engl
Ouratea sp.
OLACACEAE Dulacia inopiflora (Miers.) D. kuntze
PALMAE Astrocarium sp.
Orbignya pharelata Mart.
Cocos coronata
RUBIACEAE Alibertia aff. edulis (L.Rich.) A. Rich
Duroia duckei Huber
Ixora martinsii Stand
Posoqueria latifólia (Rudge.) Roem. et Schl
Randia calicina (SW.) D.C.
Rudgea aff. lansiflora (H.B.K.) Steyern
SAPINDACEAE Cupania diphylla Vahl
Pseudima frutescens Aubl
SAPOTACEAE Micropholis aff. Gardneriana (D.C.) Pierre

Além da importância ecológica, muitas espécies ocorrentes nesta área, apresentam um bom
potencial econômico, sendo utilizadas na alimentação, como o palmito (Euterpe oleracea), bacuri
(Plantonia insignis) e siriguela (Spondias sp.); na medicina alternativa, como a janaúba (Himathanthus aff.
Articulatus) e a copaíba (Copaifera langsdorffit); ou ornamentação, como os ipês (Tabebuia serratifolia) e
cássias (Cassia sp.).
Destacando, no entanto, o potencial madereiro, utilizado nas mais diversas aplicações comerciais,
como marcenaria e construção civil: caso da andiroba (Carapa guianensis), jatobá ( Hymenaea courbaril),
faveira ou visgueiro (Parkia pendula), anani (Symphonia globulifera) , copaíba (Copaifera langsdroffil)
Dentre os estágios de capoeira encontrados no Parque, detectaram-se dois tipos: - Capoeira alta,
caracterizada por uma vegetação em que as espécies são mais altas, com substrato bastante significativo e
desenvolvimento intricado. Sua cobertura vegetal representa uma área devastada em estado de repouso,
que pode vir a se recuperar, adquirindo aspecto de mata, caso não se processem sucessivos
desmatamentos. Ela sempre conservará espécies vegetais próprias, de revestimento secundário, como a
embaúba e o bacuri.

CONCLUSÃO
O Parque Estadual do Bacanga apresenta uma flora bastante diversificada, com espécies de
pequeno, médio e grande porte com vegetação característica da Amazônia.
Dentre as espécies levantadas verificou-se que algumas apresentam potencial madeireiro.
Segundo a vegetação estudada, verificou-se áreas antropizadas, principalmente próxima a represa
do Batatã.
A área de manguezal apresenta-se com grandes alterações caracterizada pelo estresse hídrico
devido o uso inadequado da barragem do Bacanga.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BONAN, GORDAN. B. 2002. Ecological Climatology: Concepts and applications. Cambridge
University Press. p. 210.
COSTA, Clarissa Moreira Coelho. Diagnóstico ambiental de áreas de manguezal: análise das
perturbações ambientais presentes. In: Elaboração de estudos sobre a situação fundiária, revisão dos

João Pessoa, outubro de 2011


401

instrumentos de gestão, proposição de alternativas de gestão e montagem do conselho da Unidade de


Conservação do Parque Estadual do Bacanga - Relatório. São Luís: AMAVIDA, 2007.
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SHER, A.; NOVOPLANSKY, A. AND WELTZIN, J. F. Resource pulses, species interactions, and diversity
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DIAS, Luiz Jorge Bezerra da Silva. Cenário atual das Unidades de Conservação Estaduais
Maranhenses. São Luís: SEMA, 2009. 16p. (inédito)
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MARANHÃO (Estado). Plano de manejo do Parque Estadual do Bacanga. São Luís: Secretaria de
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Elaboração de estudos sobre a situação fundiária, revisão dos instrumentos de gestão, proposição de
alternativas de gestão e montagem do conselho da Unidade de Conservação do Parque Estadual do
Bacanga - Relatório. São Luís: AMAVIDA, 2007.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


402

UMEDECIMENTO DO SUBSTRATO E TEMPERATURA NA GERMINAÇÃO E


VIGOR DE SEMENTES DE Inga ingoides (RICH.) WILLD
Leandra Matos BARROZO
Universidade Federal da Paraíba – UFPB. Depto. Fitotecnia. Doutoranda em Agronomia
E-mail: leandrabarrozo@yahoo.com.br
Edna Ursulino ALVES
Universidade Federal da Paraíba – UFPB. Prof a. Adjunta do Depto. de Fitotecnia.
E-mail: ednaursulino@cca.ufpb.br
Sueli da Silva Santos MOURA
Universidade Federal Rural de Pernambuco/ Unidade Acadêmica de Garanhuns -(UAG)
Mestrado em Produção Agrícola,
E-mail: sssantosagro@yahoo.com.br

Resumo
Tradicionalmente, as espécies de Inga foram bastante utilizadas no sombreamento no cultivo de
café e cacau, além de manter a fertilidade do solo já que são fixadoras de nitrogênio, desempenhando
ainda papel de destaque na proteção de recursos hídricos, assegurando a manutenção das nascentes, dos
rios e córregos. O presente trabalho foi conduzido com o objetivo de avaliar diferentes volumes de água no
substrato e temperaturas na germinação e vigor de sementes de Inga ingoides (Rich.) Willd. As sementes
foram distribuídass no substrato papel toalha, organizados em rolos e umedecidos com volumes de água
equivalentes a 2,0; 2,5; 3,0; 3,5 e 4,0 vezes o peso do substrato seco, sem adição posterior de água e
mantidas em B.O.D. nas temperaturas constantes de 25, 30 e 35 °C. Foram analisadas as seguintes
variáveis: percentagem de germinação, primeira contagem, índice de velocidade de germinação,
comprimento e massa seca de plântulas. O delineamento experimental foi o inteiramente ao acaso com os
tratamentos distribuídos em esquema fatorial 4 x 2 (quatro volumes de água e duas temperaturas). As
temperaturas de 25 e 30 °C sob volume de duas vezes a massa do substrato seco são recomendados para
testes de germinação e vigor em sementes de Inga ingoides (Rich.) Willd.
Palavras-chave: Ingá. Volumes de água. Qualidade fisiológica.

Introdução
O ingazeiro (Inga ingoides (Rich.) Willd.) é uma frutífera ocasionalmente cultivada para fins
paisagísticos, reflorestamento de áreas degradadas, sombreamento e para alimentação humana; as
inflorescências são em racemos axilares solitários, formadas de agosto a novembro, cujos frutos são
legumes cilíndricos e indeiscentes, densopubescentes, com poucas sementes envoltas por arilo flocoso de
sabor doce (LORENZI, 2006).
As espécies do gênero Inga possuem sementes recalcitrantes, nas quais a atividade metabólica é
intensa, tanto durante sua formação, quanto após a colheita, mantendo elevados teores de água,
frequentemente acima de 35% em relação à sua massa fresca e em ambiente com temperatura reduzida
(ANDRÉO et al., 2006).
Conhecer as condições apropriadas para a condução de testes de germinação em laboratório com
sementes é de suma importância, principalmente pelas diferentes respostas dadas devido a diversos
fatores como volume de água, temperatura, oxigênio e ocorrência de agentes patogênicos associados ao
tipo de substrato para sua germinação (CARVALHO e NAKAGAWA, 2000).
As sementes constituem a via de propagação mais empregada no estabelecimento de
plantios e, a busca de conhecimentos sobre as condições ótimas para os testes de germinação
das sementes, principalmente dando ênfase aos efeitos da temperatura e do substrato,
desempenha papel fundamental dentro da pesquisa científica e fornece informações valiosas
sobre a propagação das espécies (VARELA et al., 2005).
A umidade do substrato constitui um dos fatores essenciais para desencadear o processo
germinativo (CARVALHO e NAKAGAWA, 2000) e este deve permanecer uniformemente úmido nos testes de
germinação conduzidos em laboratório, de modo que garanta a germinação e o desenvolvimento das

João Pessoa, outubro de 2011


403

plântulas. Embora seja preconizada a adição subsequente de água durante o teste de germinação, deve ser
evitada sempre que possível, pois pode provocar um aumento na variabilidade entre as repetições e testes
(COIMBRA et al., 2007).
A padronização do volume de água que favoreça a germinação, conforme a espécie, provavelmente
minimizaria as variações nos resultados dos testes de germinação. Pesquisas sobre as exigências de água e
ainda são escassos em sementes florestais: Dinizia excelsa Ducke (VARELA et al., 2005), Ochroma
pyramidale (Cav. ex Lam.) Urban (RAMOS et al., 2006a), Schizolobium amazonicum Huber ex Ducke
(RAMOS et al., 2006b) e Parkia platycephala Benth. (GONÇALVES et al., 2008). Também são encontradas
algumas pesquisas com espécies agrícolas, como amendoim (TANAKA et al., 1991), algodão (NOVEMBRE e
MARCOS FILHO, 1999) e maxixe (GENTIL e TORRES, 2001).
Além de contribuir na área de tecnologia de sementes, especialmente das fruteiras nativas, nas
análises laboratoriais de rotina, o umedecimento do substrato dará respostas eficazes para o manejo de
espécies, bem como no planejamento para recuperação de áreas degradadas, por considerar os fatores
ecológicos da espécie, indicando em que áreas as mesmas serão implantadas, se em clareiras (com menor
disponibilidade hídrica) ou mais sombreadas (com maior disponibilidade hídrica) (TAVARES et al, 2008)
Os limites da temperatura de germinação de sementes das espécies fornecem subsídios de
interesse biológico e ecológico, auxiliando os estudos ecofisiológicos e de sucessão vegetal (FIGLIOLIA et al.,
1993), uma vez que afeta a porcentagem, velocidade e uniformidade de germinação e está relacionada
com os processos bioquímicos (CARVALHO e NAKAGAWA, 2000).
Diante da importância da temperatura e disponibilidade hídrica no substrato para que ocorra a
germinação das sementes e formação de plântulas, bem como no processo de propagação das espécies de
fruteiras nativas, procurou-se avaliar o efeito de temperaturas e volumes de água para umedecimento do
substrato na germinação e vigor das sementes de Inga ingoides.

MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no Laboratório de Análise de Sementes (LAS), no Centro de Ciências
Agrárias, da Universidade Federal da Paraíba (CCA - UFPB), localizado em Areia - PB, com sementes de I.
ingoides obtidas de frutos maduros colhidos diretamente de árvores localizadas no CCA - UFPB. Após a
colheita os frutos foram acondicionados em sacos plásticos, conduzidos ao LAS, onde foram beneficiados
mediante debulha manual das vagens, retirada das sementes e da sarcotesta.
Depois de beneficiadas, quatro repetições de 25 sementes foram distribuídas em substrato papel
toalha umedecido com volumes de água equivalentes a 2,0; 2,5; 3,0; 3,5 e 4,0 vezes a massa do papel seco,
sem adição posterior de água, cujo papel foi organizado na forma de rolo e acondicionados em sacos
plásticos, transparentes, de 0,04mm de espessura, com a finalidade de evitar a perda de água por
evaporação. O teste de germinação foi conduzido em germinadores tipo B.O.D. regulados para os regimes
de temperaturas constantes de 25, 30 e 35 °C. As avaliações foram efetuadas diariamente, dos sete aos 11
dias após a instalação do teste, considerando-se como germinadas as plântulas normais, ou seja, quando
haviam emitido a raiz e o epicótilo. Após a contagem final do teste de germinação, as plântulas normais de
cada tratamento e repetição foram medidas (raiz e parte aérea), com auxílio de uma régua graduada em
centímetros, sendo os resultados expressos em cm plântula.
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente ao acaso, com os tratamentos
distribuídos em esquema fatorial 5 x 3 (volumes de água e temperaturas), em quatro repetições. Os dados
obtidos foram submetidos à análise de variância e de regressão polinomial.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Quando o substrato foi umedecido com um volume de água equivalente a 2,0 vezes a
massa do papel, constatou-se as maiores porcentagens de germinação, em todas as temperaturas
utilizadas (Figura 1). Avaliando-se o efeito de cada temperatura, verificou-se a 35 °C, os menores
percentuais de germinação, sendo a temperatura de 25 °C obtida uma germinação intermediária. Esses
dados estão de acordo com os mencionados por Borges e Rena (1993), quando relataram que grande
número de sementes de espécies florestais subtropicais e tropicais demonstram seu potencial máximo de
germinação na faixa de temperatura entre 20 e 30 °C. Resultados contraditórios foram obtidos por Ramos
et al. (2006a), cujos diferentes volumes de água (1,5; 2,0; 2,5 e 3,0 vezes o peso do substrato) e

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


404

temperaturas (25, 30 e 35 °C) não influenciaram a germinação de sementes de Ochroma pyramidale (Cav.
ex Lam.) Urban.
O excesso de umidade provoca decréscimos na germinação, visto que dificulta a respiração
e reduz todo o processo metabólico resultante, levando à redução na viabilidade (BORGES e RENA, 1993),
além de contribuir para a proliferação de patógenos (PACHECO et al., 2006), tal fato pode explicar as baixas
porcentagens de germinação nas maiores quantidades de água disponível durante o teste de germinação.

Figura 1: Germinação de sementes de Inga ingoides (Rich.) Willd, submetidas a diferentes


volumes de água e temperaturas.

Os dados referentes ao vigor, determinado pela primeira contagem de germinação estão


apresentados na Figura 2. Verificou-se que o maior percentual de plântulas normais (48%) foi obtido
quando as sementes foram submetidas à temperatura de 30 ºC, no volume de água igual a 3,52 vezes o
peso do papel. Os menores percentuais de primeira contagem (3,92%) foram observados na temperatura
de 25%. Guedes et al., (2010) verificaram o maior percentual de plântulas (59%) foi obtido quando as
sementes foram submetidas à temperatura de 30 ºC, no volume de água igual a 3,08 vezes o peso do papel.

Figura 2: Primeira contagem de plântulas de Inha ingoides (Rich) Willd, oriundas de


sementes submetidas a diferentes volumes e temperaturas.

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Conforme Varela et al. (2005) o índice de velocidade de germinação de sementes de angelim-pedra


(Dinizia excelsa Ducke) não foi influenciado pelo volume nem pelas temperaturas testadas..
Em sementes de Largenaria siceraria (Mol.) Standi. (Bisognin et al., 1991),obtiveram a menor
velocidade de germinação quando se utilizou o volume de água de 3,0 vezes o peso do substrato. Os
resultados de índice de velocidade de germinação não apresentaram diferença significativa para os
volumes de água no substrato, para sementes de Ochroma pyramidale (Cav. ex Lam.) Urban (Ramos et al.,
2006a), bem como para Dinizia excelsa Ducke (Varela et al., 2005). Para Parkia platycephala Benth., houve
um aumento linear da germinação e do índice de velocidade de germinação com o aumento da quantidade
de água no substrato (2,0; 2,5; 3,0 e 3,5 vezes o peso do substrato), quando se utilizou a temperatura de 20
°C (GONÇALVES et al., 2008).

Figura 3: Índice de velocidade de germinação de plântulas de Inga ingoides (Rich) Willd,


oriundas de sementes submetidas a diferentes volumes e temperaturas.

A semelhança do que ocorreu para a germinação, o comprimento das plântulas de I. ingoides


também foi maior quando se utilizou o volume de 2,0 vezes a massa do papel, em todas as temperaturas
testadas, sendo que a partir daí houve redução no comprimento a medida que se aumentou a
disponibilidade de água no substrato. Mais uma vez, na temperatura de 35 °C foram registrados os
menores comprimentos de plântulas (Figura 1B).
Para o desenvolvimento da raiz primária e hipocótilo das plântulas de Ochroma pyramidale (Cav. ex
Lam.) Urban, a temperatura de 30 °C e a quantidade de água de 1,5 vezes o peso do papel, e a temperatura
de 35 °C e a quantidade de água de 3,0 vezes, constituíram os melhores tratamentos (RAMOS et al., 2006a).

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P
ara
os
dad
os
do
con
teú
do
de
mas
sa
sec
a
de
plâ
Figura 4: Comprimento de plântulas de Inga ingoides (Rich) Willd, oriundas de sementes ntul
submetidas a diferentes volumes de água e temperaturas. as
de
I. ingoides (Figura 5) em todas as temperaturas testadas (25, 30 e 35 °C), reduziu linearmente em função do
aumento do volume de água empregado para umedecer o substrato. Pode-se observar que os maiores
valores de massa seca foram obtidos com as temperaturas de 25 e 30 0C (0,709 e 0,888 g respectivamente)
ambos com o volume de duas vezes o peso do substrato seco, enquanto a 35 °C observou-se menor massa
seca das plântulas (0,255g). Pacheco et al. (2006) trabalhando com Apeiba tibourbou Aubl encontraram
maiores valores para a massa seca do hipocótilo das plântulas quando utilizaram-se as temperaturas
constantes de 30 e 35 °C. Guedes et al., 2010, observaram que o maior conteúdo de massa seca de
plântulas (0,067 g) foi obtido na temperatura de 30 °C e na de 35 °C foi registrado conteúdo médio de
massa seca de 0,027 g.

Figura 5: Massa seca de plântulas de Inga ingoides (Rich.) Willd, oriundas de sementes
submetidas a diferentes volumes de água e temperaturas.

CONCLUSÃO
As temperaturas constantes de 25 e 30 °C sob volume de duas vezes a massa do substrato seco, são
recomendadas para testes de germinação e vigor em sementes de Inga ingoides (Rich.) Willd.

João Pessoa, outubro de 2011


407

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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


408

COMPARAÇÃO DO BANCO DE SEMENTES ENTRE ÁREAS PRESERVADA E


ANTROPIZADA DE CAATINGA
Leonardo Brasil MENDES
Laboratório de Ecologia Vegetal e Ecossistemas Nordestinos, Universidade Federal Rural de Pe rnambuco. Rua Dom Manoel
de Medeiros, s/n, Dois Irmãos - CEP: 52171-900 - Recife/PE. lbrasilmendes@yahoo.com.br
Graduando em Tecnologia em Gestão Ambiental pelo IFPE e
Mestrando em Ecologia pela UFRPE
Kleber Andrade da SILVA
Professor Doutor da Universidade Federal de Pernambuco/Centro Acadêmico de Vitória/Núcleo de Biologia
Elcida de Lima ARAÚJO
Professora Doutora do departamento de Biologia da Universidade Federal Rural de Pernambuco

RESUMO
Este estudo objetivou determinar diferenças na riqueza, composição de espécies e densidade do
banco de sementes presente na serrapilheira e no solo entre áreas preservada e antropizada da caatinga,
em Caruaru, Pernambuco. Foram coletadas 210 amostras (105 de serrapilheira e 105 de solo em cada
área). A riqueza, composição e densidade do banco de sementes foi determinada pelo método de
emergência de plântulas. Um total de 54 espécies foi registrado nas duas áreas. Dentre essas espécies,
ocorreram 39 na área preservada e 37 na antropizada. Tanto na serrapilheira quanto no solo, a riqueza
média de espécies foi maior na área preservada. Nas áreas preservada e antropizada a riqueza média de
espécies foi maior no solo. Na área preservada, a densidade foi de 176 sem.m-2, na serrapilheira, e 407
sem.m-2, no solo e, na área antropizada foi de 87 sem.m-2, na serrapilheira e 217 sem.m-2, no solo. A
densidade média de sementes foi maior no solo tanto na área preservada quanto na área antropizada. A
densidade média no solo e total foi significativamente maior na área preservada. Este estudo mostrou que
a composição florística, riqueza média de espécies e densidade média de sementes do banco do solo é
alterada após ações antrópicas.
PALAVRAS-CHAVE: regeneração natural, emergência de plântulas, semi-árido.

INTRODUÇÃO
As florestas tropicais secas, originalmente, ocupavam 42% da vegetação tropical do mundo
(MURPHY e LUGO, 1995), porém, atualmente, correspondem a cerca de 24% dessa vegetação (KHURANA e
SINGH, 2001; VIEIRA e SCARIOT, 2006). Apesar de ser um ecossistema tropical terrestre ameaçado por
ações antrópicas que convertem rapidamente a floresta em áreas agricultáveis (MURPHY e LUGO, 1995), as
florestas secas ainda ocupam grande extensão dos continentes Americano, Africano, Asiático e Oceania
(KHURANA e SINGH, 2001; VIEIRA e SCARIOT, 2006).
No nordeste do Brasil, a fitofisionomia de caatinga é a principal represente das florestas tropicais
secas (SAMPAIO, 1995), apresentando marcada sazonalidade climática, com 6 a 9 meses secos por ano e
totais pluviométricos anuais variando de 380 a 1.100mm (SAMPAIO 1995; ARAÚJO 2005; ARAÚJO et al.
2007); elevada riqueza de espécies (herbáceas e lenhosas), com diversificado potencial econômico
(ARAÚJO et al. 2005; REIS et al. 2006; OLIVEIRA et al. 2007; LUCENA et al. 2007) e marcantes diferenças
sazonais na chuva de semente (LIMA et al. 2008), dinâmica do banco de sementes do solo (COSTA e
ARAÚJO 2003; SILVA 2009); fenologia (MACHADO et al. 1997; GRIZ e MACHADO 2001; LIMA et al. 2007),
comportamento ecofisiológico das plantas (ARAÚJO et al. 2008) e dinâmica das populações (ARAÚJO et al.
2005; SANTOS et al. 2007).
Esse tipo de vegetação seca também vem sendo modificado por ações antrópicas (CASTELLETTI et
al., 2003). Algumas das áreas são abandonadas depois do uso e começam a se recuperar naturalmente,
mas exibem mudanças na composição de espécies e diferenças na estrutura da comunidade que se
estabelece (SAMPAIO et al. 1998; PEREIRA et al. 2003), indicando que os processos ecológicos e os fatores
que influenciam a regeneração são alterados.
Entre os processos, a dinâmica do banco de sementes do solo tem importância vital para
regeneração dessas áreas (LECK et al 1989; GARWOOD, 1989; VIEIRA e SCARIOT, 2006), pois o estoque de

João Pessoa, outubro de 2011


409

sementes para a recuperação das áreas fica armazenado no solo (CSONTOS, 2007), e a composição
florística e a viabilidade dessas sementes são influenciadas por diversos fatores, como sazonalidade
climática, patógenos, predadores, entre outros (GARWOOD, 1989; ODUM, 2004; TOWNSEND et al., 2006;
GARWOOD, 1989; RICKLEFS, 2009).
O número de estudos sobre as características do banco de sementes da caatinga é reduzido e
concentrado em áreas consideradas preservadas (COSTA e ARAÚJO, 2003; PESSOA, 2007; LOBO, 2008;
BARBOSA 2008; SILVA, 2009; SANTOS, 2010). Estes estudos indicam que: a densidade de sementes no solo
diminui com o aumento da profundidade; existe divergência sobre a variabilidade da densidade de
sementes ocorrentes na serrapilheira, pois alguns estudos registraram uma maior densidade de sementes
na serrapilheira do que no solo (COSTA e ARAÚJO, 2003), enquanto outros registraram o contrário
(PESSOA, 2007) e também existem diferenças na composição de espécies e densidade de sementes entre
as estações climáticas, as quais podem variar entre os anos (SILVA, 2009).
Apesar da maioria destes estudos mostrarem que a dinâmica do banco de sementes do solo é um
processo ecológico importante para a regeneração das comunidades vegetais, praticamente nada se sabe
sobre a influência de ações antrópicas sobre a riqueza de espécies e densidade de sementes do banco do
solo. O único estudo sobre banco de sementes em uma área de vegetação caatinga antropizada analisou os
efeitos do corte e da queima, constatando que esse tipo de intervenção humana provoca redução
significativa na densidade de sementes do solo. Na serrapilheira, a ação degradante foi tão intensa que o
material resultante da queima foi totalmente desconsiderado nas análises (MAMEDE e ARAÚJO, 2008). O
corte raso e o cultivo itinerante, juntamente com a queima, fazem parte da prática agrícola tradicional
executada no semi-árido do nordeste brasileiro (KAUFFMAN et al, 1993; SAMPAIO et al, 1993; PEREIRA et
al., 2003), e estas ações antrópicas causam um grande impacto sobre o banco de sementes do solo,
representando uma séria ameaça à conservação de espécies da vegetação da caatinga (MAMEDE e
ARAUJO, 2008).
Baseado na premissa de que as ações antrópicas causam mudanças na composição de espécies e
densidade de sementes do banco do solo das florestas secas, a hipótese deste estudo é que as
características do banco de sementes de uma área de caatinga antropizada e que está em regeneração
natural há 17 anos, seja diferente das características do banco de sementes de uma área de caatinga
preservada. Então, o objetivo deste trabalho é determinar diferenças na riqueza, composição de espécies e
densidade do banco de sementes presente na serrapilheira e no solo entre áreas preservada e antropizada
da caatinga.

MATERIAL E MÉTODOS
Área de Estudo – O estudo foi realizado no Instituto Agronômico de Pernambuco-IPA (Estação
Experimental José Nilson de Melo), em Caruaru (8o 14’ S e 35o 55’ W, 537m de altitude), em uma área de
floresta tropical seca do tipo caatinga hipoxerófila e é drenada pelo Riacho Olaria. O clima local é
estacional, a estação seca geralmente ocorre entre setembro a fevereiro, a precipitação média anual é de
694 mm, a temperatura média anual é de 22,7 oC e o solo é classificado como Podzólico Amarelo Eutrófico
(ALCOFORADO-FILHO et al. 2003; ARAÚJO et al. 2005; SILVA, 2009).
O IPA era composto inicialmente por uma única área de vegetação natural de caatinga ocupando
uma área de 190 hectares, que após a realização de pesquisas voltadas para agricultura e pecuária foi
reduzida a 30 hectares. Há cerca de 40 anos, este fragmento de 30 hectares vem sendo preservado quanto
a ações antrópicas. Com uma distância de aproximadamente cinco metros do fragmento preservado
encontra-se uma área que sofreu corte raso (sem queima) para o plantio de Opuntia fícus-indica (L.) Mill.
(palma gigante). Durante o cultivo, não foi utilizado adubo e nem sistema de irrigação. Há 17 anos o cultivo
de O. fícus-indica foi abandonado e esta área encontra-se em regeneração natural. Atualmente, na área
antropizada, já existe uma vegetação estabelecida, mas em fase inicial de sucessão e com fisionomia
diferente da área preservada (SOUZA, 2010; LIMA 2011; LOPES, 2011)
Amostragem e análise – Nas áreas preservada e antropizada foram instalados cinco transectos
paralelos entre si e inter-espaçados em 3 m. Em cada transecto, foram alocadas 21 parcelas contíguas e
fixas de 10x10 m (totalizando 105 parcelas em cada área) onde, atualmente, vem sendo realizados estudos
sobre a fitossociologia da vegetação arbustivo-arbórea. Em abril de 2010, no centro de cada parcela de
10x10 m, foi coletada uma amostra para o estudo do banco de sementes em uma microparcela de 20x20

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cm, considerando duas camadas: (1) serrapilheira; (2) 0-5 cm da superfície do solo. No total, foram
coletadas 210 amostras (105 de serrapilheira e 105 de solo) em cada área.
As amostras de solo foram acondicionadas em sacos plásticos pretos e etiquetadas por parcela e
por profundidade e posteriormente transportadas para o laboratório. O solo coletado foi colocado em
bandejas de isopor (20 x 20 x 3 cm), mantidas em casa de vegetação. Além das bandejas contendo o solo
coletado, foram colocadas, por bancada, dez bandejas com areia lavada e esterilizada em autoclave, para
controle da possibilidade de contaminação do experimento.
Diariamente, as bandejas foram irrigadas e mantidas à temperatura ambiente, até a emergência
das plântulas (CHRISTOFFOLETI e CAETANO, 1998). A identificação das espécies foi feita através de
comparações com exsicatas acondicionadas nos herbários Prof. Vasconcelos Sobrinho (PEUFR) e Dárdano
de Andrade Lima (IPA), com auxílio de bibliografia especializada e, quando necessário, o material foi
encaminhado para especialistas. A riqueza de espécies e a densidade de sementes (expressa em sementes
por metro quadrado) foram determinadas pelo método de emergência de plântulas (BASKIN e BASKIN,
1989).
Diferenças na riqueza média de espécies e na densidade média de sementes entre o solo e a
serrapilheira e entre as áreas preservada e antropizada foram verificadas com o teste de variância Kruskal-
Wallis (H) (ZAR, 1996). Utilizou-se o programa BioEstat 5.0 nas análises realizadas

RESULTADOS
Um total de 54 espécies (39 na área preservada e 37 na antropizada), distribuídas em 27 famílias foi
registrado no banco de sementes, sendo 16 espécies exclusivas da área preservada e 14 da área
antropizada. Tanto na área preservada como na antropizada, 13 espécies ocorreram apenas no solo. Nas
áreas preservada e antropizada, três e quatro espécies respectivamente, ocorreram apenas na
serrapilheira. A maioria das espécies (83%) registradas neste estudo é herbácea. Das 54 espécies, quatro
foram identificadas apenas como morfoespécies, oito ao nível de família e três ao nível de gênero, devido à
morte prematura das plântulas. Somente uma planta sem semente (a pteridófita Selaginella sucata) foi
registrada neste estudo, nas áreas preservada e antropizada (Tabela 1). Tanto na serrapilheira quanto no
solo, a riqueza média de espécies foi significativamente maior na área preservada. Nas áreas preservada e
antropizada a riqueza média de espécies foi significativamente maior no solo (Tabela 2).
Um total de 1275 (363 na serrapilheira e 912 no solo) e 2448 (738 na serrapilheira e 1710 no solo)
plântulas emergiram do banco de sementes nas áreas antropizada e preservada, respectivamente. Estes
valores permitem estimar a densidade do banco de sementes da área preservada para 583 sem.m -2 (176
sem.m-2, na serrapilheira e 407 sem.m-2, no solo) e da área antropizada para 304 sem.m-2 (87 sem.m-2, na
serrapilheira e 217 sem.m-2, no solo). A densidade média do banco de sementes foi significativamente
maior no solo tanto na área preservada quanto na área antropizada. Na serrapilheira, a densidade média
do banco de sementes foi igual entre as áreas preservada e antropizada. A densidade média no solo e total
foi significativamente maior na área preservada.

Tabela 1. Lista das famílias e espécies registradas no banco de sementes, coletadas no final da
estação seca, em áreas preservada e antropizada da caatinga, em Pernambuco. SR = serrapilheira; SL = solo
(profundidade 0-5 cm); Er = erva; Ar = árvore; Arb = Arbusto; Er/T = erva trepadeira.
Família Espécie Hábito Preservada Antropizada
SR SL SR SL
Acanthaceae Pseuderanthemum detrucatum Er X
Ruelia bahiensis Er X X X X
Amaranthaceae Gomphrena vaga Mart. Er X X
Amaryllidaceae Hypeastrum sp. 1 Er X X
Anacardiaceae Myracrodruon urundeva Allemão Arb X X
Schinopsis brasiliensis Er X
Araceae Alocasia Pumblea Van Houtte Er X X
Asteraceae Bidens bipinnata L. Er X X X

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Blainvilia aquimela Er X
Delilia biflora (L.) Kuntze Er Er X X X X
Tabela 1 continuação
Família Espécie Hábito Preservada Antropizada
SR SL SR SL
Gnaphalium spicatum (Forssk.) M. Vahl Er X X X X
Begoniaceae Begonia reniformis Dryand. Er X X
Boraginaceae Heliotropium angiospermum Murray Er X X X
Cactaceae Cactaceae sp. 1 Ar X X
Cactaceae sp. 2 Ar X
Caparaceae Capparis flexuosa Vell Ar X X
Commelinaceae Callisia Repens (Jacq) L Er X X X X
Commelina obliqua Vahl Er X
Commelina sp. 1 Er X
Convolvulaceae Evolvulus filipes Mart. Er X
Cyperaceae Cyperus uncinulatus Schrad. Ex Nees Er X X X X
Dioscoreaceae Dioscorea coronata Hauman Er X X X X
Dioscorea polygonoides Humb. & Bonpl. Ex
Willd. Er X
Euphorbiaceae Chamaesyce hyssopifolia (L.) Small Er X X X X
Croton blanchetianus Baill Arb X X X
Cnidoscolus urens (L.) Arthur Arb X
Phyllanthus niruri L. Er X
Tragia volubilis (L.) Müll.Arg. Er/T X
Fabaceae Desmodium glabrum (Mill.) DC. Er X X
Phaseolus peduncularis W.P.C. Barton Er X X X X
Vigna sp. 1 Er X
Malvaceae Herissantia crispa (L.) Brizicky Er X
Pseudabutilon spicatum (Kunth) R.E. Fr. Er X X
Malvaceae sp. 1 Er X X X
Mimosaceae Acacia paniculata Willd. Ar X
Mimosaceae sp. 1 Ar X X
Oxalidaceae Oxalis euphorbioides A. St.-Hil. Er X
Molluginaceae Mollugo verticillata L. Er X
Poaceae Panicum maximum Jack. Er X
Panicum trichoides Swart Er X X X X
Panicum venezuelae Hack. Er X X X X
Poaceae sp. 1 Er X X X X
Poaceae sp. 2 Er X X X X
Portulacaceae Portulacaceae sp. 1 Er X X
Tallinum paniculatum Gardner Er X
Tallinum triangulare (Jacq.) Will. Er X X X
Selaginellaceae Selaginella convoluta Spring. Er X X X X
Solanaceae Solanaceae sp. 1 Er X
Urticaceae Pilea hyalina Fenzel Er X X X X

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Tabela 1 continuação
Família Espécie Hábito Preservada Antropizada
S
SR SL SR L
Morfoespécies Morfoespécie 1 Er X
Morfoespécie 2 Er X
Morfoespécie 3 Er X
Morfoespécie 4 - X X X X

Tabela 2. Riqueza média e número médio de plântulas germinadas e desvios padrões, na


serrapilheira e no solo (0-5cm de profundidade) e total em uma área preservada e em uma área
antropizada de caatinga no Nordeste do Brasil. Letras minúsculas iguais na mesma linha e maiúsculas iguais
na mesma coluna denotam ausência de diferenças significativas (P<0,05), utilizando o teste de variância de
Kruskal-Wallis.
Riqueza Densidade
Preservada Antropizada Preservada Antropizada
Serrapilheira 1,94±1,76aB 1,17±1,11bB 7,1±16,8aB 3,4±5,1aB
Solo 0-5 cm 3,45±1,68aA 2,26±1,83bA 16,2±23,6aA 8,6±10bA
Total 5,5±2,6a 3,4±2,2b 23,3±34,1a 12,1±11,9b

DISCUSSÃO
A elevada riqueza média de espécies e densidade média de sementes do banco do solo registradas
na área preservada e a diferença na composição florística entre as áreas preservada e antropizada mostram
que ações antrópicas causam alterações nas características do banco de sementes da caatinga,
corroborando a hipótese deste estudo. Segundo Mamede e Araújo (2008), as características do banco de
sementes coletado imediatamente após o corte e queima da vegetação para o cultivo de monocultura,
mudam fortemente as características do banco de sementes coletado antes desta ação antrópica,
mostrando que de fato, as práticas agrícolas causam reduções na riqueza e densidade do banco de
sementes da caatinga. Neste estudo, a área antropizada sofreu corte raso (sem a prática do fogo) para o
cultivo de Opuntia fícus-indica (palma gigante). Há 17 anos, o cultivo de palma gigante foi abandonado e a
vegetação vem se regenerando naturalmente. Apesar de quase duas décadas, as características do banco
de sementes da área antropizada não são as mesmas da área preservada. Isto mostra que as conseqüências
das ações antrópicas sobre a vegetação da caatinga influenciam por um longo tempo a dinâmica do banco
de sementes, o que pode refletir na regeneração natural da comunidade. No entanto, a caatinga apresenta
uma grande diversidade de habitats, com diferentes históricos de usos e com diferentes tempos de
abandono, tornando-se necessária a realização de outros estudos que possam contribuir com a descrição
de um padrão para a dinâmica do banco de sementes de áreas antropizadas da caatinga.
O elevado percentual de espécies herbáceas encontradas neste estudo é semelhante ao registrado
em outros estudos realizados em áreas consideradas como preservadas (COSTA e ARAÚJO, 2003; PESSOA,
2007; LOBO, 2008; SILVA, 2009; SANTOS, 2010) e antropizada da caatinga (MAMEDE e ARAÚJO, 2008),
confirmando que o banco de sementes da caatinga é rico em espécies herbáceas. Vale salientar que o
número de espécies lenhosas pode estar subestimado, uma vez que estes estudos analisaram o banco de
sementes pelo método de emergência de plântulas, portanto não consideraram as sementes dormentes no
solo.
A riqueza de espécies e a densidade de sementes encontradas neste estudo nas áreas preservada e
antropizada foram inferiores aos valores registrados em áreas consideradas como preservadas (COSTA e
ARAÚJO, 2003; PESSOA, 2007; LOBO, 2008; SILVA, 2009; SANTOS, 2010) e antropizada da caatinga
(MAMEDE e ARAÚJO, 2008). Como todos estes trabalhos utilizaram o mesmo método (emergência de
plântulas) para analisar o banco de sementes, os menores valores de riqueza e densidade registrados neste
estudo podem ser justificados por: (1) diferenças na precipitação média anual de cada área (SILVA, 2009);

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(2) diferenças na precipitação do ano anterior à coleta em cada área, pois chuvas do passado exercem forte
impacto sobre a dinâmica do banco de sementes (SILVA, 2009); (3) pela época de coleta, uma vez que
alguns destes estudos coletaram o banco de sementes em duas estações climáticas (PESSOA, 2007); (4)
sementes dispersas no final da estação chuvosa podem ser perdidas durante a estação seca por predação
(GUO et al, 1998).
A coleta realizada no final da estação seca cumula os efeitos de uma série de processos ecológicos,
que geralmente, ocorrem em ambientes áridos e semi-áridos, conduzindo a uma maior riqueza e densidade
de sementes no solo do que na serrapilheira (VIEIRA e SCARIOT, 2006). Por exemplo: (1) A abertura do
dossel durante a estação seca (caducifólia) permite que rajadas de vento atinjam diretamente a superfície
do solo, remexendo a serrapilheira e dispersando as sementes para o solo (ROBERT e SIMPSON, 1989); (2)
A dispersão secundária pode promover a propagação das sementes da serrapilheira para o solo (ROBERT e
SIMPSON, 1989); (3) a escassez de alimentos durante a estação seca faz com que os animais (formigas, por
exemplo) recorram aos alimentos expostos sobre o solo, o que pode levar a uma redução da riqueza e do
número de sementes na serrapilheira. Por outro lado, as sementes que estão enterradas no solo ficam mais
escondidas e protegidas dos predadores (GUO et al, 1998). Portanto, apesar de não mensurados, estes
processos ecológicos podem justificar a elevada riqueza de espécies e densidade de sementes médias no
solo (0-5 cm de profundidade), registradas neste estudo, nas áreas preservada e antropizada.
A maior riqueza e densidade de sementes no solo do que na serrapilheira é um padrão que vem se
repetindo na área preservada há três anos (LOBO, 2008; SILVA, 2009; SANTOS, 2010), corroborando para a
tendência de que, em ambientes secos, o quantitativo de sementes retidas no banco do solo tende a ser
sempre maior nas camadas mais rasas do solo (CONFFIN e LAUENROTH, 1989; FACELLI et al., 2005;
WILLIAMS et al., 2005) do que na serrapilheira. A área antropizada também acompanhou esta tendência.
Por fim, este estudo conclui que a composição florística do banco de sementes da caatinga é
alterada após ações antrópicas, riqueza média de espécies e densidade média de sementes é maior na área
preservada e o solo abriga um maior número de espécies e sementes do que a serrapilheira, independente
no nível de preservação.

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ZAR, J.H. Bioestatistical analysis. 3º ed. New Jersey: Prentice Hall. 1996.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


416

ANALISE DA DENSIDADE DE VEGETAÇÃO DA BACIA HIDROGRAFICA DO


RIO DOCE/RN.

Lívia Maria Monteiro


Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN
liviamariamonteiro@hotmail.com
Orientador: Sebastião Milton Pinheiro da Silva
Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
smpsilva@cchla.ufrnbr

RESUMO
São apresentados os resultados da aplicação do índice de vegetação normalizada – NDVI, com
vistas à análise da densidade de vegetação da microbacia hidrográfica do Rio Doce, a partir da utilização de
imagem do sensor LANDSAT-5/TM. O processamento e cálculo do índice nessa imagem foi feito no
software ArcGis9.3. O índice foi discretizado em cinco classes, assumindo-se valores entre -1 e 1. Verificou-
se que a distribuição da densidade de vegetação situa-se entre os valores de 0,389 e 0,5 e entre 0,5 e 0,72,
atribuídos às áreas agrícolas e à cobertura vegetal respectivamente.
Palavras-chave: sensoriamento remoto, NDVI, microbacia hidrográfica do Rio Doce.

INTRODUÇÃO
O sensoriamento remoto tem se tornado uma tecnologia cada vez mais aprimorada e
imprescindível às diversas áreas das ciências da terra, uma vez que possibilita a obtenção de imagens para
interpretação e análise do ambiente terrestre. Essas imagens são obtidas por dispositivos sensores que
captam a energia eletromagnética refletida pelos objetos e feições naturais do terreno sem que haja
contato direto com os mesmos. Essas imagens constituem nos dias atuais uma das principais fontes de
alimentação de dados de sistema de informações geográficas.
Velasco (2007), afirma que cada objeto ou feição natural tem um comportamento espectral
diferente ainda que na mesma condição ambiental e cada banda espectral um nível de informação
específico. A Figura 1 ilustra a assinatura espectral dos alvos da água, da vegetação e do solo. A água limpa
em estado líquido apresenta baixa reflectância entre 0,38 μm e 0,70 μm , absorvendo toda a radiação
acima de 0,70 μm. O solo exposto tem sua reflectância afetada pelo teor de umidade, textura, presença de
matéria orgânica e óxido de ferro. Na sua assinatura espectral observa-se um aumento gradual de sua
reflectância ao longo do comprimento de ondas, as depressões nos comprimentos de onda 1,4 μm e 1,9
μm que tendem a repetir ao longo da onda correspondem ao teor de umidade do solo (Souza 1997;
Moreira 2001).

João Pessoa, outubro de 2011


417

Figura 1: Curvas de reflectância espectral da água1, da vegetação2 e dos solos3. Fonte:Souza, 1997.

A vegetação fotossinteticamente ativa apresenta absorção na faixa do visível no intervalo de 0,45


μm a 0,65 μm e baixa reflectância, devido à clorofila presente nas folhas da vegetação. No intervalo de 0,8
a 1,1 μm, infravermelho próximo, a vegetação atinge níveis superiores de reflectância. As depressões da
assinatura espectral, no infravermelho médio, 1,4 μm e 2,5 μm, são decorrentes do conteúdo de água das
folhas, diminuindo assim reflectância e aumentando a absorção (Souza 1997; Moreira 2001).
O comportamento espectral dos objetos inclui a interferência de outros parâmetros como fonte de
radiação, interferência atmosférica, teores de umidade, interferência dos solos. Neste contexto a
vegetação:

[...]sofre modificações ao longo do tempo, em decorrência de alterações sazonais, em decorrência


do seu estágio fenológico etc. Além das alterações naturais da vegetação, há modificações impostas pelo
homem através das práticas culturais. Desta forma, o comportamento espectral da vegetação pode ser
alterado pela presença de pragas na lavoura, pela irrigação, pela adubação, etc, (NOVO, 1998, p. 197).

Para minimizar as variações provocadas por fatores externos, os dados de reflectância dos alvos
são processados a fim de ressaltar o comportamento espectral da planta, gerando índices de vegetação que
é definido por Sartori, 2006, p.22:

Os índices de vegetação foram desenvolvidos como uma tentativa de ressaltar o


comportamento espectral da vegetação em relação ao solo e outros alvos da superfície terrestre.
Um índice de vegetação espectral é um valor resultante da transformação de duas ou mais bandas
espectrais, utilizando-se de operações de soma, diferença, razão ou qualquer outra combinação
entre as bandas. Representam as características biofísicas da vegetação, como: Índice de Área
Foliar (IAF), fitomassa, peso da vegetação úmida, peso da vegetação seca, porcentagem de
cobertura vegetal, produtividade, etc.

Entre outros índices existentes o NDVI vem sendo amplamente utilizados para classificação do uso
da terra, para monitoramento da cobertura vegetal e sua qualidade, para detectar erosão do solo e para
dar suporte à previsão da produção agrícola. Como visto nos trabalhos de GRIGIO (2003); VIEIRA (2005);
VELASCO, et al., (2007); SARTORI (2006); FECHINE, GALVÍNCIO (2005); COSTA et al., (2007).
O NDVI é calculado através do processamento digital de bandas espectrais, sendo indicadas
as faixas do vermelho (0,63 μm - 0,6 µm) e do infravermelho (0,77 μm – 0,90 µm) devido à resposta
eletromagnética da nessas faixas espectrais.
No intervalo do vermelho (0,63 μm - 0,6 µm), a vegetação verde, densa e uniforme, apresenta
grande absorção da clorofila, ficando escura, exibindo bom contraste entre as áreas ocupadas com
vegetação e, permitindo a identificação de áreas agrícolas, de diferentes tipos de cobertura vegetal e áreas
queimadas (Moreira, 2001).
No intervalo do infravermelho (0,77 μm – 0,90 µm), a vegetação verde, densa e uniforme, reflete
muita energia nesta banda, aparecendo bem clara nas imagens. Apresenta sensibilidade à rugosidade da
copa das florestas (dossel florestal) e permite a identificação de áreas agrícolas e delineamento de corpos
d’água define Moreira, 2001.
O presente trabalho objetiva aplicar o NDVI sobre a bacia hidrográfica do rio Doce a fim de analisar
densidade da cobertura da vegetação em conseqüência do uso e ocupação do solo da microbacia do rio
Doce.

ÁREA DE ESTUDO
A microbacia hidrográfica do Rio Doce localiza-se na planície litorânea oriental Rio Grande do Norte
(RN), inserida dentro da unidade geomorfológica das planícies baixas. Seus principais afluentes são o rio
Guajirú, o riacho Mudo, tendo como reservatório a lagoa de Extremoz, além de receber contribuição de
águas subterrâneas do aqüífero dunas/barreira. Conforme SERHID (2000), o rio Doce estende-se por 14

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


418

quilômetros da sua nascente, na lagoa de Extremoz, até a desembocadura no estuário do rio Potengi
(Figura 02).
O clima da região é classificado em tropical chuvoso com verão seco, sendo do tipo As conforme a
classificação de Koppen. O índice pluviométrico é de 1.400mm na foz, e de 700 mm nas cabeceiras.
A cobertura vegetal da microbacia é típica de vegetação de dunas, sendo composta por mata de
restinga, onde predomina vegetação de floresta densa aberta devido à formação arbustiva. Mata atlântica
de tabuleiro litorâneo, com predomínio de formações arbóreas com dossel fechado, integrando a Reserva
da Biosfera da Mata Atlântica, como ecossistema associado e presença da flora aquática, mata ciliar, START
(2008).
O ecossistema da microbacia do rio Doce condiciona essa área a um reservatório natural de água e
locais de alimentação da bacia. A alta permeabilidade do solo (quartzoso) torna-o extremamente frágil para
o adensamento urbano, caracterizando as dunas como importante recurso natural para a disposição de
recursos hídricos, para o equilíbrio do meio natural e demais necessidades da sociedade.
A microbacia do rio Doce, entretanto, está inserida num contexto de intervenções socioeconômicas
representadas por atividades de lazer, recurso pesqueiro, atividades agrícolas, extração de areia e água
para construção civil, criação de gado, dessendentação e banho de animais, além da ocupação pelo
crescimento desordenado da população que termina por se instalar irregularmente em áreas de
preservação permanente, margem do rio e dunas.
Esse tipo de uso e ocupação do solo está gerando uma série de impactos negativos no
ecossistema, a retirada da vegetação para essas atividades favorece os processos erosivos, de ravinamento
e voçorocas, assoreamento do rio, poluição da água etc, comprometendo assim a qualidade ambiental do
mesmo (Azevedo, 2005; Américo, 2006).

Figura 2: Localização da Microbacia do Rio Doce.

MATERIAL E MÉTODOS
Para a realização do estudo foi feita uma revisão bibliográfica sobre sensoriamento remoto e índice
de vegetação por diferença normalizada servindo de norte para metodologia aplicada no trabalho.
A delimitação da área da microbacia hidrográfica foi elaborada através da extração
automática a partir das curvas de nível da área cedidas pelo Instituto de desenvolvimento do meio
ambiente e semi árido - IDEMA, no software ArcGis9.3.

João Pessoa, outubro de 2011


419

O NDVI foi calculado a partir da utilização de imagens do satélite Landsat-5/TM, correspondente à


órbita/ponto 214/064, Datum SAD69, projeção UTM, Fuso 24 S, com data de passagem em 03 de setembro
de 2003, época seca e com baixa nebulosidade. As imagens foram baixadas via protocolo FTP na página do
Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (INPE). Foram selecionadas e utilizadas as bandas espectrais do
vermelho - TM3 (0,63 µm - 0,6 µm) e do infravemelho - TM4 (0,77 µm – 0,90 µm).
O processamento do NDVI foi realizado na extensão Spatial Analyst do software ArcGis 9.3.
Calculou-se a razão simples da diferença das bandas TM3 e TM4 pela soma, conforme a expressão a abaixo
(Fonte: Moreira,2001):

NDVI = (IVP – V) / (IVP +V)


Onde;
IVP é infravermelho próximo (banda TM4) e
V é vermelho (banda TM3).

A equação do NDVI é aplicada diretamente sobre cada par de pixels nas bandas do vermelho e
infravermelho próximo, produzindo um valor pertencente ao intervalo [–1, 1] (Galvíncio; Fechin, 2005). Os
valores mais próximos de 1 indicam maior presença de vegetação sendo expressos por tonalidades de cinza
mais claros, enquanto os níveis de cinza mais escuro representam baixos índices de vegetação.
Após a geração do índice de vegetação foi realizada a equalização do histograma da imagem,
distribuindo-se os valores em intervalos de 05 (cinco) classes que deram subsídio para análise visual e
interpretação dos resultados da área de estudo.

RESULTADO E DISCUSSÃO
O NDVI realçou a vegetação em contraste com o solo, melhorando a distribuição espacial de
informações das imagens, como mostrado na Figura 6. Os valores do índice variam de -0,545 a 0,702, sendo
atribuídos a superfície com solo exposto e asfalto os índices próximos de zero, os valores negativos significa
perturbações de nuvens na atmosfera e solos com maior teor de umidade. Os alvos positivos apresentam
superfícies com maior densidade de vegetação.
A separação dos valores por classe melhorou a aparência da distribuição espacial da informação
contida na imagem, Figura 6, apresentando a variabilidade do índice e facilitando a sua interpretação.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


420

Figura 6: Variabilidade das classes do NDVI da Microbacia do Rio Doce.

Os valores obtidos entre -0,545 e -0,003 são para corpos d´água, como a lagoa de Extremoz,
reservatório da microbacia, e áreas com alto teor de umidade no solo, além de zonas de sombra. A classe -
0,003 a 0,183 apresenta os valores de áreas desmatadas, construídas ou de ocupação urbana. Os valores
entre 0,183 e 0,310 correspondem a áreas de uso agrícola, desmatadas e formações arbustivas da restinga
com predomínio de solo exposto. Segundo Novo (1998), com o decréscimo da cobertura vegetal, o valor da
radiância do solo sobrepõe a radiância da vegetação, sendo assim, o sinal referente ao pixel será dominado
pelo comportamento do solo. O índice de 0,310 a 0,439 corresponde às áreas com densidade vegetal
relativa á mata ciliar e vegetação remanescente. Os valores entre 0,439 e 0,702 são interpretados como
áreas de dossel fechado que corresponde a mata Atlântica de tabuleiro e formações arbóreas da restinga,
onde há cobertura total dos solos pela vegetação.
De acordo com o histograma de freqüência da Figura 7, os valores mínimo, médio e máximo do
NDVI, foram respectivamente: -0,545, 0,311, 0,702. Percebe-se uma baixa freqüência de valores entre -
0,545 e - 0,003, devido a alta absorção da água. O aumento na freqüência de valores em direção à classe
0,183 - 0,31, corresponde a áreas com predomínio de solos expostos e posteriormente um decréscimo de
freqüência de valores (0,439 – 0,702), relativos à cobertura vegetal densa.

Figura 7: Histograma da freqüência da imagem do NDVI.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos dados do trabalho observa-se que o sensoriamento remoto é uma técnica
importante para o estudo do ambiente. Basicamente, permite a obtenção de informações acerca de
grandes áreas em uma única tomada de dados. Outro ponto positivo é o livre acesso as imagens de sensor
disponibilizadas pelo INPE o que facilita a produção de estudos acadêmicos.
O índice de vegetação por diferença normalizada é uma combinação aritmética simples baseada no
contraste da resposta espectral na região do vermelho e infravermelho. Os valores de reflectância dos alvos
(água, solo e vegetação) estão dentro do intervalo padrão das respostas espectrais desses alvos, entre -1 e
1. Os valores mínimo, médio e máximo do NDVI obtidos foram, respectivamente, -0,545, 0,311 e 0,702.
Os maiores índices foram atribuídos à cobertura vegetal de maior densidade, dossel
fechado. Com o decréscimo da cobertura vegetal, o valor do índice diminui, indicando áreas com dossel
aberto, solo exposto e construído. Os valores negativos são derivados de áreas com alto teor de umidade,
corpos d água e sombras de nuvens.

REFERÊNCIAS
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degradação na região do Rio Doce/RN. PRODEMA,2006 (dissertação de mestrado).

João Pessoa, outubro de 2011


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2011.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


422

START. Relatório de avaliação simplificada – RAS: Ampliação do sistema de drenagem e


pavimentação da Av. Moema Tinoco até o prolongamento da BR -101, bairro de Lagoa Azul, Região Norte
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VIEIRA, Fabíola Candido Silva et al. Evolução temporal do uso e ocupação do solo para os anos de
1994 e 2002 no município de Vitória, ES, utilizando imagens orbitais do satélite LANDSAT TM. Anais XII
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Disponível em: <http://marte.dpi.inpe.br/col/ltid.inpe.br/sbsr/2004/11.18.23.07/doc/3943.pdf> Acesso
em: 15 fev. 2011.

João Pessoa, outubro de 2011


423

A BIOGEOGRAFIA E SUA CONTRIBUIÇÃO NOS ESTUDOS DA VEGETAÇÃO:


UMA ANÁLISE TEÓRICA.
Lucidalva Andrade de MENEZES
Doutoranda em Geografia (IGEO/UFBA)
Pós-graduanda em Educação Ambiental (SENAC/BA)
Professora do Ensino Básico (SEC/BA- EMITEC/IAT)
lucidalvamenezes@gmail.com

RESUMO
A Biogeografia é um dos ramos de conhecimento da Geografia, encontrando-se na interface de
diversas disciplinas científicas, entre elas a Biologia, a Zoologia e a Botânica, apresenta um caráter
interdisciplinar, o que permite estudar a relação dos fatores bióticos e abióticos. Este artigo tem como
objetivo apresentar uma discussão teórica a respeito da Biogeografia, no que concerne a sua definição,
importância e aplicação, destacando os inventários fitossociológicos representados pelas fichas
biogeográficas e as pirâmides de vegetação como instrumento de análise de um dos elementos naturais
mais importantes da Geografia: a vegetação. As informações foram obtidas a partir de um levantamento
bibliográfico em várias obras: livros acadêmicos de Geografia, Biogeografia e áreas afins, documentos
oficiais de órgãos públicos, dentre outros. A vegetação é um sensor que, de fato, possibilita diagnosticar a
situação ambiental da paisagem.
Palavras-chaves: Biogeografia; interdisciplinaridade; vegetação; paisagem.

INTRODUÇÃO
O estudo da Biogeografia envolve o conhecimento da distribuição, no passado e no presente, das
plantas e dos animais, pelos variados ambientes da Biosfera, ressaltando os processos de origem,
adaptação, expansão, associação e extinção dos seres vivos.
Dansereau (1949) define a Biogeografia como a “ciência que estuda a distribuição, a adaptação, a
expansão e associação das plantas e dos animais (ou seres vivos)”. Ou ainda como “o revestimento biótico
da Terra de acordo com o clima, as barreiras, as pontes, que condicionam não só a expansão, mas também
o isolamento das espécies”. Entendendo-se barreiras como as formações geográficas que isolam uma
espécie das outras, enquanto pontes as que permitem a expansão de uma dada espécie. Dansereau
estabeleceu oito níveis de integração para os estudos biogeográficos.
Zunino & Zullini (2003, p.1) consideram “El objetivo principal de la biogeografia es la descripción y
el análisis, em términos causales, de la distribución de los seres vivos, tanto em su dimensión actual como
em el transcurso histórico.” O homem no contexto biogeográfico, se constitui num elemento de análise
importante para compreensão das mudanças espaciais. O enfoque espacial dado ao estudo da Biogeografia
é o que o diferencia quando comparado ao da Biologia, Ecologia, Botânica e Zoologia. Troppmair (2008, p.
6) entende que

a Biogeografia pode ser estudada sob duas perspectivas, a vertical, aquela em que as biocenoses são
enfocadas sob o prisma do fluxo de energia e ciclagem de nutrientes, e a horizontal, aquela em que o
enfoque recai sobre a distribuição, a estrutura e a dinâmica da organização espacial. Neste sentido recai à
Geografia este último enfoque, enquanto o primeiro cabe ao ecólogo.

A Fitogeografia e a Zoogeografia são duas das subdivisões da Biogeografia. A Fitogeografia pode ser
definida como a ciência ou área do conhecimento que estuda a distribuição das plantas em uma escala
geográfica na superfície terrestre. A Zoogeografia e a ciência ou área do conhecimento que estuda a
distribuição dos animais também numa escala geográfica.
Helmut Troppmair (2008), considerando a atuacão do homem como integrante da natureza, afirma
a possibilidade de ele ser estudado pela Biogeografia Antrópica ou Biogeografia Social. Para este autor,
essas três subdivisões (Fitogeografia, Zoogeografia e Biogeografia Social) podem ser desdobradas conforme
o interesse do pesquisador, sendo elas: Florístico-Faunística, Histórica, Ecológica, Sociológica, Fisionômica,

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


424

Econômica, Regional, Médica, Insular e Antrópica. O enfoque Ecológico é um campo que vem se
expandindo, abrangendo estudos de cunho ambiental como ressaltam Camargo (1993), Assis (2000), Passos
(2003) e Troppmair (2008).
As primeiras observações sobre as espécies de fauna e flora vêm de longas datas, Troppmair (2008)
e Zunino & Zullini (2003), destacam Wallace com “Distribuição geográfica dos animais” publicado em 1876
e Darwin com “Origem das espécies” de 1859, ambos abriram novas perspectivas para o conhecimento dos
seres vivos. Dentre aquelas relacionadas à vegetação são apontadas às de Alexander Von Humbolt que
publicou em 1806 “Fisionomia dos vegetais”, e em 1845/48 “Cosmos”, um ensaio da descrição do mundo,
possibilitando aos seus contemporâneos novos conhecimentos da Geografia Física e da Botânica (BRASIL,
1991, 1992). Este naturalista em viagem pela América do Sul e outros continentes, explicou os aspectos
fisionômicos da vegetação, contribuindo muito para a Geografia, especialmente para a Fitogeografia.
Romariz (1996, p. 20/22) afirma que Humbolt,

não se limitou ao estudo da distribuição espacial da vegetação, seus tipos e diferentes


relacionamentos, mas ocupou-se também, com todos os demais tópicos que constituem o conjunto dos
estudos da fitogeografia. [...] Não só foi o estruturador da fitogeografia, como também estabeleceu os
métodos de observação de quase todos os ramos da geografia física.

Após Humbolt outros naturalistas se destacaram nos estudos da fitogeografia. O Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística - IBGE, (BRASIL, 1992) e Assis (2000) ressaltam a importância das contribuições de
Grisebach, que em 1872 classificou a vegetação pelos seus traços fisionômicos, atribuindo-lhes o termo
“formação”. O IBGE (BRASIL, 1992) também destaca as pesquisas de Drude, que em 1889 lançou sua obra
tratando da divisão da Terra em zonas, regiões, domínios e setores de acordo com os endemismos vegetais,
estando o Brasil na Zona Neotropical, e Schimper que em 1903 tentou unificar as paisagens mundiais de
acordo com as estruturas fisionômicas da vegetação.
Atualmente entre os trabalhos desenvolvidos na área geográfica destacam-se os direcionados aos
estudos fisionômicos da vegetação, que “além de ser o elemento primário da base vital, é também a
responsável pela regulação, em equilíbrio, do funcionamento de todo o sistema ambiental onde se
encontra.” (ASSIS, 2000, p 13). Nos estudos relacionados à classificação, abordando os aspectos
fisionômicos da vegetação brasileira, ressaltam-se do IBGE: Manual Técnico da Vegetação Brasileira
(BRASIL, 1992) e o Mapa de Vegetação do Brasil (BRASIL, 1993); Rizzini (1963) e Veloso & Rangel Filho
(1991).
Fernandes (2006) discute os parâmetros e as classificações da vegetação do Brasil, iniciando seu
trabalho por Martius, que em 1824 lançou uma classificação onde usou nomes de divindades gregas para
sua divisão botânica. Ferri (1980) apresenta os aspectos fisionômicos, nomes científicos de espécies
vegetais de cada bioma brasileiro retratando, na ocasião de sua pesquisa, a situação ambiental de cada um.
Conti & Furlan (2000), Ab’Saber (2003), Mantovani (2003) dentre outros, retratam a degradação
assustadora que os biomas brasileiros vêm sofrendo ao longo do tempo.
Considerando a situação ambiental dos biomas brasileiros, especialmente daqueles remanescentes
de vegetação, a Constituição Federal (BRASIL, 1988) atribuiu ao Poder Público, em todas as unidades da
federação, a criação de espaços protegidos. A Lei Federal nº 9.985 de 2000, (BRASIL, 2000) que instituiu o
Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza - SNUC, também conhecida como Lei do SNUC,
prevê a criação de Unidades de Conservação em todos os âmbitos (Federal, Estadual e Municipal) em
diferentes categorias, dentre elas os Corredores Ecológicos. O SNUC (BRASIL, 2000) tem dentre outros
objetivos, “proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e nacional e contribuir para a
preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas naturais.”
As Unidades de Conservação (UC) são espaços territoriais compostos por recursos ambientais,
apresentam características naturais relevantes, instituídos pelo Poder Público. Os Corredores Ecológicos
são

porções de ecossistemas naturais ou seminaturais, ligando unidades de conservação, que


possibilitam entre elas o fluxo de genes e o movimento da biota, facilitando a dispersão de espécies e a
recolonização de áreas degradadas, bem como a manutenção de populações que demandam para sua

João Pessoa, outubro de 2011


425

sobrevivência áreas com extensão maior do que aquela das unidades individuais. (Lei nº 9.985 de 2000, art.
2°, XIX).

As formações florísticas refletem de forma expressiva o conjunto de fatores naturais componentes


da paisagem, especialmente o clima e o solo, interagindo com os demais. Estas formações organizam-se em
estratos e estágios de regeneração diferenciados no seu sistema natural, exercendo papel importante e
imprescindível para a conservação dos solos, dos mananciais e principalmente da biodiversidade.
Um dos graves problemas ambientais hoje vivenciados pela humanidade é a perda, em ritmo
alarmante, de espécies tanto da fauna como da flora, no Brasil esta situação não é diferente, isso porque,
como aponta Mantovani (2003, p.370), apesar de a legislação ambiental brasileira ser das mais amplas e
modernas, sua aplicação é ineficiente, permitindo “a continuidade da degradação das áreas dos diversos
biomas brasileiros, alguns dos quais já incapazes de representar toda a heterogeneidade que continham,
principalmente a sua riqueza e diversidade biológica”. Esta situação retrata todos os biomas do território
brasileiro.
Lacoste & Salanon (1981) considera a vegetação “um “sensor” in situ que adverte das mudanças
que experimenta determinado ecossistema.” Os inventários fitossociológicos representados pelas fichas
biogeográficas (Bertrand (1966), e pelas pirâmides de vegetação aplicadas por Bertrand (1966), Braun
Blanquet (1979) e Passos (2003), permitem o estudo vertical da vegetação revelando a dinâmica, os
estratos, a identificação de espécies e outras características biogeográficas. Estas pirâmides podem ser
elaboradas manualmente, assim como a partir do programa Veget, desenvolvido por Ugidos (1996) e
aplicado por Passos (2003) e outros pesquisadores.
A pirâmide de vegetação é uma representação gráfica da estruturação vertical de uma formação
vegetal qualquer, que analisa parâmetros como sociabilidade e abundância-dominância, podendo a partir
daí verificar o número de indivíduos em cada estrato. Estrato diz respeito à situação vertical, como se
dispõem as plantas lenhosas dentro da comunidade, sendo avaliada em metros, classificadas em arbóreo,
arborescente, arbustivo, subarbustivo e herbáceo. Comunidade é um termo empregado para designar um
conjunto populacional com unidade florística de aparência relativamente uniforme. A sociabilidade indica o
modo de agrupamento das plantas e a abundância-dominância equivale à superfície coberta pelas plantas.
A dinâmica dos estratos apresenta os estados de progressão, regressão ou equilíbrio (VELOSO, 1991).
Para Lacoste & Salanon (1981) a dinâmica progressiva “se efetua através de uma série de níveis
sucessivos, que correspondem a outras tantas associações vegetais bem definidas, unidas por estágios de
transição dinâmicos”. A dinâmica regressiva é identificada pelos “transtornos” das condições locais,
provocados pela degradação no solo através dos processos erosivos. Já a dinâmica em equilíbrio seria o
estágio de clímax da vegetação, ou seja, o estágio final da sucessão ecológica que é o processo de mudança
e desenvolvimento no qual estágios serais prévios são substituídos por estágios serais subseqüentes, até
que se estabeleça uma comunidade madura, bem estabelecida (ODUM & BARRETT, 2008, p.535).
A fisionomia bem como as características florísticas retratam a dinâmica da paisagem e podem
revelar aspectos muito interessantes para a compreensão do espaço geográfico, neste sentido Passos
(2003, p. 190) adverte:

[...] a vegetação, ao lado de ser um dos fatores chaves para a definição paisagística, tem a virtude de
ser o refletor visível da paisagem à escala humana. Analisando geograficamente a vegetação, é possível
compreender e medir temporariamente a dinâmica da paisagem.

A paisagem, na Geografia, pode ser considerada dentro de um “viés subjetivo, sentido e vivido” e
ainda “numa perspectiva essencialmente ecológica confluindo a Geografia e a Ecologia” PASSOS (2003),
TROPPMAIR (2008) e MACHADO (1988). Nos estudos geográficos a paisagem emerge como uma das
categorias de análise de grande relevância, sendo definida como “tudo que nós vemos, o que nossa visão
alcança (SANTOS 2008, p.67). Tempo e Espaço são variáveis imprescindíveis para a compreensão da
Biogeografia, especialmente por ela considerar “como objeto o estudo da paisagem” (PASSOS, 2003, p. 78).
Para Bertrand, G. & Bertrand, C. 2007, p. 191) “a paisagem nasce quando um olhar percorre um
território. [...] Ela é, em essência, um produto de interface entre a natureza e a sociedade. Ela é a expressão
do trabalho das sociedades humanas sobre a natureza, ao mesmo tempo com e contra esta última.”

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


426

A observação e a análise da paisagem no viés geográfico possibilitam compreender a dinâmica e a


funcionalidade existentes considerando a interação entre os componentes bióticos e abióticos, incluindo a
atuação humana. Não resta dúvida que a vegetação destaca-se como um dos elementos naturais mais
importantes do ponto de vista ambiental, pesquisas direcionadas a esta permitem diagnósticos
surpreendentes, favorecendo o conhecimento do espaço e possibilitando iniciativas que previnem a
degradação total do ambiente, contribuindo muito para o efetivo planejamento territorial e a gestão
ambiental, neste contexto que se insere a Biogeografia permitindo toda esta abordagem.

REFERENCIAS
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João Pessoa, outubro de 2011


427

UTILIZAÇÃO DE ESPÉCIES CARISMÁTICAS DA MASTOFAUNA COMO


FERRAMENTA PARA A EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Luiz Eduardo Alves Bezerra do NASCIMENTO*
Drª Nicola SCHIEL
* Discente bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET/MEC/SESU) em Ecologia (luiz_eduardo_cnsc@hotmail.com).
Universidade Federal Rural de Pernambuco, Unidade Acadêmica de Recife (SEDE/UFRPE).
Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos – CEP: 52171-900 – Recife – PE

RESUMO
O levantamento de espécies carismáticas em uma dada localidade é de extrema importância para a
elaboração de projetos de conservação, visando a sensibilização da comunidade local, ou da sociedade de
uma forma geral da importância da conservação, não apenas da espécie em si, mas de todo o seu hábitat, o
que remete também à conservação de outras espécies biológicas, sejam elas da: fauna ou da flora, grande
parte destas espécies-bandeira, fazem parte da mastofauna, devido ao seu elevado grau de parentesco
evolutivo com o ser humano, os mamíferos costumam despertar maior interesse entre as pessoas de uma
forma geral, o presente trabalho objetivou avaliar a percepção ambiental que o público visitante do Parque
Estadual de Dois Irmãos (PEDI), representando uma amostra (n=200), apresenta sobre a comunidade de
mamíferos de uma forma geral visando avaliar se o mesmo apresenta elevado potencial carismático com o
proposto por diverso autores em outros trabalhos, através de um questionário aplicado entre os dias 08 e
12 de junho de 2011, nos períodos matutino e vespertino, após a tabulação dos dados coletados, pôde-se
perceber que: a maioria dos entrevistados possuem afeto pelos mamíferos (49%), seguido pelas aves
(23%), peixes e répteis, com 12% cada um e por último o grupo dos anfíbios com 4%, dentre os mamíferos,
os que despertam maior interesse no público em geral através da aquisição de pelúcias, lideram os
mamíferos silvestres terrestres (65%), seguido pelos mamíferos de criação e domésticos (16%), outros
grupos animais não mamíferos (9%), mamíferos aquáticos (6%) e aqueles que não adquiriam pelúcias,
correspondendo a 4%, através destes resultados pôde-se perceber que o grau de afetividade que as
pessoas apresentam com tais grupos é influenciado pelo quanto se passa e pela forma que a mídia e os
livros transmitem a biologia e o comportamento de cada grupo.
PALAVRAS-CHAVE: Espécies Carismáticas, Mastofauna, Educação Ambiental e Sensibilização.

INTRODUÇÃO:
O desafio de superar a crise ecológica a nível global deve ser sem dúvida, uma preocupação
de todas as esferas do poder público e da humanidade como um todo, nessa direção, em termos
constitucionais, na década de 1980, a Educação ambiental (EA) passou a ser um dos instrumentos da
Política Nacional de Meio Ambiente, com a promulgação da Constituição da república federativa do Brasil,
em 1988. No mesmo documento se destaca como função do poder público promover a EA em todos os
níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente (WAINER, 1991).
(JUNIOR et al., 2006) postula que: percebe-se a inclusão da sensibilidade e de valores de
forma priorizada. Não basta saber. É necessário tocar o indivíduo profundamente, desenvolver seu lado
sensível, estimular sua criatividade e oferecer meios para que desenvolva suas habilidades. Dar a cada um,
capacidades de solucionar problemas, de engajar-se em processo de mudanças, é nesta perspectiva em
que surgem os projetos de conservação utilizando espécies carismáticas, visando a sensibilização da
sociedade para uma causa ambiental específica.
O ser humano, sempre mostrou muito interesse pelo comportamento dos animais, seja
através de documentários, ou através de informações em revistas, livros, jornais etc. Segundo Cubas et al.,
(2007) Os animais são referências no mundo e na existência. Presentes no cotidiano, nos sonhos, nas
fantasias, nos mitos, nos contos, no folclore e na arte, os animais são imagens poderosas para o ser
humano. A presença deles se faz desde a infância do indivíduo, seja de maneira direta ou por meio de suas
representações nas canções de ninar e nas histórias infantis.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


428

Do ponto de vista ecológico, todas as espécies sejam elas da fauna ou da flora, são
importantes para o correto funcionamento da dinâmica do ecossistema, o valor que é atribuído a cada uma
não é necessariamente um valor monetário, mas o que se chama em Biologia da Conservação de “valor de
existência”, que é aquela conferida a qualquer espécie biológica, ou unidade ecossistêmica. Para Randall,
(1987) muitas pessoas no mundo se preocupam com a vida selvagem e com as plantas e estão voltadas
para sua conservação, Primack et al., (2001), complementa alegando que esta preocupação pode estar
associada ao desejo de um dia visitar o hábitat de uma espécie rara e ver esta espécie livre, caso contrário
está será vista apenas como identificação abstrata.
A viabilidade e o sucesso de projetos de conservação da natureza estão diretamente ligados
ao impacto e às mudanças que os mesmos podem causar, não apenas na comunidade próxima ao projeto,
mas também de toda a sociedade, uma das principais ferramentas que possibilitam o sucesso em projetos
de conservação, principalmente ligadas a uma espécie biológica é a utilização de espécies carismáticas, ou
espécies-bandeira. A importância destas espécies é explicada por Schlindwein, (2009) relatando que as
espécies-bandeira ou chave, tornam-se elemento fundamental para os profissionais da área de Biologia da
Conservação na elaboração de planos de manejo para Conservação da biodiversidade, enquanto Primack et
al., (2001) afirma que algumas espécies tais como a Baleia (Eubalaena sp.), o Mico Leão Dourado
(Leontopithecus rosalia), o Lobo Guará (Chrysocyon brachyurus), o Boto Rosa (Inia geoffrensis) e muitos
pássaros como a Gralha Azul (Cynocorax caeruleus), causam empatia nas pessoas e por isso são chamadas
de “fauna carismática”.
O Brasil é o país que abriga uma das maiores diversidades biológicas do mundo, com cerca
de 10% de todas as espécies do planeta (MYERS et al., 2000). Atualmente no país há 652 espécies de
mamíferos distribuídas em 11 das 22 ordens reconhecidas (REIS et al., 2006).
Apesar de megadiversidade de mamíferos no país, muitos são os fatores de impacto que
levam a grande maioria de sua diversidade biológica à lista vermelha da extinção. (VILAS et al., 2010)
postulou que, a destruição da biodiversidade por processos variados tem levado a prejuízos incalculáveis,
pois espécies que foram ou correm risco de serem levadas à extinção podem ser fundamentais para
sobrevivência e desenvolvimento de um destino turístico. (PAIVA 1999) afirma que de um modo geral, as
agressões à fauna resultam na redução da abundância das espécies, antes que elas desapareçam de
parte(s) das suas áreas de distribuição ou mesmo venham a ser extintas. Em conseqüência, os ecossistemas
sofrem modificações nas estruturas de suas comunidades, com diminuição das populações e perda da
biodiversidade, alcançando indivíduos e espécies.
Os planos de manejo e as estratégias de proteção das espécies animais, vão desde as
atividades de educação ambiental com crianças e jovens até a criação de leis que tratem desta causa, entre
elas: a lei: 5.197, de 3 de janeiro de 1967 – Dispõe sobre a proteção da fauna e dá outras providências, o
decreto-lei 221, de 28 de fevereiro de 1967 – Dispõe sobre a proteção e estímulos à pesca e dá outras
providências, a lei 7.643, de 18 de dezembro de 1987 – Proíbe a pesca de cetáceos nas águas jurisdicionais
brasileiras, e dá outras providências, a resolução 394, de 6 de novembro de 2007, do Conselho Nacional de
Meio Ambiente – CONAMA – Estabelece os critérios para a determinação de espécies silvestres a serem
criadas como animais de estimação, ente outras. Para (PAIVA, 1999) a principal estratégia de proteção da
fauna brasileira repousa na criação e manutenção de unidades de conservação, que podem ser federais,
estaduais, municipais e mesmo particulares. Cerca de 5% do território continental do Brasil constituem
áreas protegidas, cobertas por unidades de conservação, distribuídas nos diversos biomas do país.
Outra importante ferramenta para a conservação de espécies da fauna se dá através da
conservação ex situ, seja em jardins zoológicos, parques, ou aquários, como retrata Primack et al,. (2001)
no seguinte trecho:
(...) Já para grupos com menos espécies e grandes exigências de espaço, como os grandes
vertebrados é provável que a única maneira de se evitar que as espécies se tornem extintas seja manter os
indivíduos em condições artificiais sob a supervisão humana, como por exemplo em zoológicos.

Para a conservação de uma espécie, uma comunidade biológica ou de todo um


ecossistema, é preciso acima de tudo conhecer a comunidade que vive no entorno, ou que utiliza
diretamente dos mesmos, de forma que qualquer ação desenvolvida evite ao máximo modificar padrões na
cultura e no comportamento da comunidade local, do mesmo modo que é preciso elaborar um projeto que

João Pessoa, outubro de 2011


429

possa ser bem aceito pela sociedade como um todo, para isso diversas técnicas são utilizadas, entre elas a
aplicação de questionários sócio-ambientais pelo qual se visa avaliar a percepção ambiental que uma
amostra (N) apresenta sobre determinado assunto, possibilitando que a equipe responsável pelo projeto
possa apresentar subsídios para um programa de manejo eficiente. (JUNIOR, 2006) relata que os projetos
de pesquisa e de conservação freqüentemente demandam a aplicação de técnicas para elaboração de
questionários, condução de entrevistas, análise e interpretação de dados coletados a partir de relações
interpessoais.

OBJETIVOS:
Avaliar como espécies-bandeira da mastofauna podem influenciar no processo de sensibilização e
educação ambiental da sociedade.

MATERIAL E MÉTODOS:
Área de Estudo:
O presente trabalho foi desenvolvido no Parque Estadual de Dois Irmãos (PEDI), nas coordenadas
8º7’30”S e 34º52’30”W, localizado no bairro de Dois Irmãos, no município de Recife, Pernambuco, sendo
considerada uma Unidade de Conservação, representando um remanescente de Mata Atlântica, possuindo
387,4 ha de área, inserido no meio da região metropolitana do Recife.
Coleta de dados do questionário:
A aplicação dos questionários ocorreu entre os dias 08 e 12 de junho de 2011, com o público
visitante do parque estadual de dois irmãos (PEDI), no turno matutino e vespertino, pelo qual se escolhiam
os entrevistados aleatoriamente de forma que ao final da pesquisa pudesse ser obtida uma amostra de
(n=200), sendo 50% do sexo masculino e 50% do sexo feminino, de forma que pudessem ser realizados
estudos comparativos das questões de acordo com o gênero, era aplicado um questionário contendo sete
perguntas, com duração média da entrevista de 10 minutos de forma que o mesmo não se tornasse
cansativo para o entrevistado, nem para o pesquisador que o estava realizando, a qual o entrevistado
respondia, podendo o mesmo tirar possíveis dúvidas com o pesquisador de forma que o último não
induzisse o entrevistado a possíveis respostas.

Tabulação dos dados:


Após a coleta de dados os mesmos passaram pelo processo de triagem e respectiva tabulação com
a utilização do Programa BioEstat 5.0, pelo qual a tabulação foi dividida em 3 etapas: A primeira etapa que
constava da tabulação de dados dos entrevistados de um modo geral para todas as questões, a segunda
etapa constava de uma tabulação de dados para entrevistados do sexo masculino, enquanto na terceira e
última etapa realizou-se uma tabulação de dados para o público feminino. Tendo este processo durado
duas semanas de forma que todos os dados pudessem ser corretamente traídos e passados de valores
numéricos brutos, para percentuais, sendo criados gráficos para cada pergunta de cada etapa, de forma
que pudessem facilitar a interpretação dos dados.

Análise e interpretação dos dados:


Após a tabulação e a geração dos gráficos realizou-se a interpretação dos gráficos, principalmente
para análise das respostas dadas pelos entrevistados da amostra total, para entrevistados do sexo
masculino e para entrevistados do sexo feminino, sendo por último realizado uma comparação entre as
respostas obtidas pelo sexo masculino e feminino, de forma que os mesmos pudessem levar à avaliação da
percepção ambiental para o público em geral e estimá-lo para os demais.

RESULTADOS E DISCUSSÕES:
Após a tabulação dos dados pôde-se perceber que se obteve uma amostra total (n=200), pelo qual
50% constavam de entrevistados do sexo masculino e 50% do sexo feminino.
Para a primeira pergunta referente ao grupo de animais ao qual o entrevistado tem maior afeto,
foi obtida uma amostra de respostas equivalente a (n=230), onde 23% optaram pelo grupo das aves, 12%
pelos peixes, 12% pelos répteis, 4% pelos anfíbios e 49% pelos mamíferos, (gráfico 1):

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Gráfico 1: Percentuais referentes à 1° questão.

Na segunda questão referente à definição do que o entrevistado entende por um mamífero, as


respostas totalizaram uma amostra, cujo (n=200), onde 7% não sabiam definir o que é um mamífero, 3%
não sabem o que é um mamífero, mas sabiam citar exemplos de animais que fazem parte do grupo, 12%
caracterizaram os mamíferos pelo seu carisma e grau de afetividade com o ser humano e 78%
caracterizaram os mamíferos pelos seus aspectos morfofisiológicos, dentre os quais todos citaram a
presença de glândulas mamárias e a alimentação através da amamentação pelos filhotes, além da presença
de pêlos, (gráfico 2).

Gráfico 2: Percentuais referentes à 2° questão.

Quanto à terceira questão, pediu-se para que os entrevistados citassem cinco exemplos de
mamíferos que eles esperavam encontrar no parque estadual de dois irmãos (PEDI), onde nem todos
deram os 5 exemplos, fazendo com que a amostra correspondente às respostas para esta questão fosse de
(n=871), pelo qual, as respostas variaram entre 81% dos entrevistados que gostariam de ver mamíferos
silvestres terrestres, entre eles: leões, tigres, zebras, girafas, elefantes etc., 8% que gostariam de ver
mamíferos aquáticos, entre eles: golfinhos, baleias e peixes-boi, 7% que gostariam de ver mamíferos
domésticos e de criação, tais como: eqüinos, suínos, bovinos, caprinos, cães, gatos etc. e 4% dos
entrevistados que gostariam de ver animais que não se encaixam no grupo dos mamíferos, tais como:
ararinha-azul, jacarés, iguanas etc. (gráfico 3):

João Pessoa, outubro de 2011


431

Gráfico 3: Percentuais referentes à 3° questão.

A quarta questão refere-se a uma tabela de preenchimento com alguns animais e o que o
entrevistado faria com eles, cada qual com uma amostra de (n=200), para o Tamanduá, 4% levariam para
criar, 2% perturbariam, 1% venderiam, 10% encaminhariam para o zoológico, 63% deixariam na mata e
20% encaminhariam para o órgão ambiental competente, para o veado, 3% levariam para criar, 2%
perturbariam, 1% venderiam, 10% encaminhariam para o zoológico, 64% deixariam na mata e 20%
encaminhariam para o órgão ambiental competente, para a anta, 3% levariam para criar, 2% perturbariam,
2% venderiam, 10% encaminhariam para o zoológico, 64% deixariam na mata e 19% encaminhariam para o
órgão ambiental competente, para a lontra, 9% levariam para criar, 1% perturbariam, 1% venderiam, 7%,
encaminhariam para o zoológico, 62% deixariam na mata e 20% encaminhariam para o órgão ambiental
competente, para o gato do mato, 14% levariam para criar, 1% perturbariam, 1% venderiam, 6%
encaminhariam para o zoológico), 59% deixariam na mata e 19% encaminhariam para o órgão ambiental
competente, para o sagüi, 20% levariam para criar, 1% perturbariam, nenhum entrevistado respondeu que
venderia, 5% encaminhariam para o zoológico, 57% deixariam na mata e 17% encaminhariam para o órgão
ambiental competente, para o tatu, 11% levariam para criar, 15% perturbariam, nenhum entrevistado
venderiam, 9% encaminhariam para o zoológico, 53% deixariam na mata e 12% encaminhariam para o
órgão ambiental competente, (gráfico 4).

Gráfico 4: Percentuais referentes à 4° questão.

Na quinta questão, perguntou-se ao entrevistado se o mesmo compraria um animal que estivesse


em via de extinção, cujo (n=200), dentre os quais 16% responderam que sim, enquanto 84% responderam
que não (gráfico 5).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


432

Gráfico 5: Percentuais referentes à 5° questão.

Na sexta questão, perguntou-se ao entrevistado, caso ele tivesse que adquirir um bichinho de
pelúcia, qual ele optaria em comprar, totalizando uma amostra de (n=263), onde as respostas variaram
entre 65% dos que adquiririam pelúcias de mamíferos silvestres terrestres sendo destaque, onças, tigres de
bengala e principalmente ursos, 6% comprariam pelúcias de mamíferos aquáticos, variando entre:
golfinhos, baleias e peixes-boi, 16% comprariam pelúcias de mamíferos de criação ou domésticos, tendo
como exemplos: gatos, cães, vacas, coelhos, entre outros, 9% dos entrevistados comprariam outros animais
não-mamíferos, tais como: araras, tartarugas, sapos etc. e aqueles que não adquiririam pelúcia,
correspondendo a 4% (gráfico 6).

Gráfico 6: Percentuais referentes à 6° questão.

Por último, questionou-se ao entrevistado, caso o mesmo tivesse que comprar um jogo educativo
ou um livro infantil para uma criança com qual temática ele compraria, totalizando uma amostra cujo
(n=224), as respostas variaram entre 64% dos que comprariam com a temática de animais, 9% compraria
com a temática de brinquedos, 19% com a temática de desenhos animados e 8% dos que comprariam com
outra temática (gráfico 7).

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433

Gráfico 7: Percentuais referentes à 7° questão.

A pesquisa etnozoológica é de extrema importância, não apenas na busca pelo conhecimento que
as comunidades locais e que a própria sociedade apresentam sobre determinado assunto, mas também
para acelerar a descoberta de novas espécies, de produtos provenientes destas ou para identificar possíveis
espécies com elevado potencial carismático para a comunidade em questão, o mesmo pôde ser verificado
por Mendes, 2005, ao verificar como as espécies de mamíferos contribuem não apenas no papel de
conservação, mas também como a informação etnozoológica foi importante para o levantamento da
diversidade mastozoológica do município de Fênix, no Paraná.
Baseado nos resultados obtidos pôde-se verificar que a classe Mamallia é a que apresenta maior
potencial carismático e logicamente a que deve apresentar o maior número de espécies-bandeira para
serem utilizadas em projetos de conservação, sendo o mesmo evidenciado por Morais, 2010, ao realizar
uma verificação da percepção que estudantes do ensino fundamental apresentam sobre os vertebrados,
em seus resultados, o mesmo destacou sobre o elevado potencial carismático apresentado por aves e
mamíferos, no caso dos mamíferos, destacando os felinos, sendo estes mais destacados pelo seu grande
porte, sendo o mesmo verificado no presente trabalho, para as diversas categorias, seja ela: idade,
escolaridade, ou gênero.
Através do questionário pôde-se verificar características que determinam o grupo dos mamíferos
sendo maios utilizadas as características morfofisiológicas, sendo evidenciado o mesmo no trabalho de
Morais, 2010, através do trecho citado abaixo:
(...) O último grupo a ser tratado, ficou responsável pela classe de mamíferos, portanto deu
enfoque às características gerais do grupo, tais como a presença de pêlos e glândulas mamárias.
Ainda com referência ao trabalho de Morais, 2010 no mesmo parágrafo este cita, sobre a
abordagem da diversidade da mastofauna e que os mamíferos mais citados, são justamente os mais
carismáticos, O que é evidente no trecho:
(...) Destacaram o Brasil, como o país megadiverso, com mais de 530 espécies, destacando a
presença dos seguintes animais: tamanduá bandeira (Myrmecophaga tridactyla), mico-leão-dourado
(Leontopithecus rosalia), onça-pintada (Panthera onca), lontra (Lutra longicaudis), e boto cinza (Sotalia
fluviatilis).
Curiosamente, os mamíferos destacados por tais estudantes, são justamente os que estão ligados
diretamente a um projeto de conservação: Tamanduá bandeira (M. tridactyla) está ligado ao Projeto
Tamanduá, cujo objetivo é promover ações que favoreçam a conservação das espécies de Xenarthra no
Brasil e na América latina, mico-leão-dourado (L. rosalia), espécie utilizada pelo projeto Associação Mico-
Leão-Dourado que têm por objetivo a Conservação da biodiversidade da mata atlântica com ênfase na
proteção do mico-leão-dourado em seu hábitat natural, destacando a: meta para o ano 2025, cujo objetivo
é atingir uma PMV (população mínima viável) de 2.000 micos-leões-dourados vivendo livremente em
25.000 hectares de florestas protegidas. A onça-pintada (P. onca) está ligada diretamente ao Instituto Onça
Pintada, cujo objetivo é desenvolver trabalho de pesquisa com ecologia, manejo e conservação de P. onca.
A lontra (L. longicaudis) é utilizada como espécie-bandeira do Instituto Ekko Brasil, que desenvolve o

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


434

Projeto Lontra, voltado para a preservação da espécie e de seu hábitat e o boto cinza (Sotalia fluviatilis),
está ligado ao Instituto Baleia Jubarte que visa a conservação dos cetáceos da costa brasileira.

CONCLUSÕES:
Pôde-se concluir que tanto para o público masculino, quanto para o feminino os mamíferos são os
animais que apresentam maior potencial carismático, independente de faixa etária, ou grau de
escolaridade, sendo extremamente viável a criação de projetos de conservação que tragam como
“espécies-bandeira” animais pertencentes à classe Mamallia, o que evidencia o grande vínculo afetivo
entre o ser humano e os grupos evolutivamente mais próximos, entretanto isto é extremamente relativo de
acordo com o objetivo do projeto e a comunidade com a qual se pretende desenvolver o processo de
educação ambiental, não se deve excluir outros grupos zoológicos em projetos de conservação, tendo em
vista que o animal que será utilizado como “marketing ambiental” é relativo de acordo com o grau de
afetividade que a comunidade em questão apresenta com o mesmo, o objetivo principal é levantar as
espécies que são mais viáveis para um projeto de conservação que possa sensibilizar uma comunidade
específica de forma a estimular o processo de educação ambiental, seja através de atividades educacionais
que enriqueçam culturalmente a comunidade, seja através de crescimento econômico sustentável,
utilizando da(s) espécie(s) em questão para extração dos recursos naturais, através do seu potencial
carismático, entretanto mais estudos devem ser desenvolvidos a fim de confirmar os dados e as suposições
explicitadas no presente trabalho.

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promulgada em 5 de outubro de 1988. Obra coletiva de autoria da Editora Revista dos Tribunais, com a
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Janeiro: Forense, 1991.

João Pessoa, outubro de 2011


435

A BIOGEOGRAFIA COMO ELEMENTO NA CONFIGURAÇÃO DE INICIATIVAS


PLANIFICADORAS INTEGRADAS
Fernando José Pereira da Costa14
Manoel Gonçalves Rodrigues15

RESUMO
A biogeografia, que se encontra intimamente relacionada com a biologia e a ecologia,
configurando-se como o ramo da geografia física que estuda, descreve e explica a repartição das
comunidades de seres vivos, bem como das suas relações com outros meios, busca entender os padrões
desta distribuição/organização espacial, de modo a assumir um carácter efetivamente multidisciplinar e
interdisciplinar. Com isso, a biogeografia constitui-se em base de sustentação à qualificação de qualquer
iniciativa de intervenção a nível da organização, gestão e ordenamento territorial de âmbito local, regional
ou nacional, em muito ultrapassando os limites da mera intervenção de áreas naturais delimitadas, antes
ampliando o seu escopo como instrumento fundamental de iniciativas estratégico-planificatórias em
qualquer nível de intervenção das Políticas Públicas. Portanto, para o trabalho aqui proposto, a
biogeografia vem a se constituir em instrumento de relevo na formulação, delineamento e aplicação de
planos estratégico-interventores de configuração sistêmico-integrado-interativa, ou seja, que
compreendam uma visão efetivamente integrada do planejamento estratégico. Com isto, não se
consideram os vários “planejamentos” como componentes estanques, mas antes como vertentes em
interação intensa, dinâmica e sinérgica de um único planejamento estratégico, integrado e interativo.
Palavras-Chave: Biogeografia, Ecologia; Planejamento Estratégico.

Introdução
A biogeografia, tem uma íntima relação com a biologia e a ecologia e se configura como o
ramo da geografia física que estuda, descreve e explica a repartição das comunidades de seres
vivos, bem como das suas relações com outros meios, procurando entender os padrões desta
distribuição/organização espacial, de modo a assumir um carácter efetivamente
multidisciplinar/interdisciplinar, com o contributo e interação de diversas áreas do saber científico
(geografia, biologia, ecologia, dentre outras).
Conforme é registrado por Júnior e Marson (2009, p. 394), no contexto de uma perspectiva
sistêmica, a biogeografia estuda o mesmo objeto de outros ramos do conhecimento (tais como:
ecologia, botânica e zoologia). Contudo, a biogeografia é detentora de um caráter específico que a
aproxima da geografia, vindo, de fato, a se constituir num sub-ramo desta última. De acordo com
esta concepção, enquanto a ecologia estuda o meio ambiente na perspectiva vertical, procurando
compreender os fluxos de energia e matéria (cadeia alimentar) e tendo por base os ecossistemas,
a biogeografia busca, essencialmente, o entendimento do meio ambiente numa perspectiva
horizontal, isto é, procura compreender as causas que levaram à espacialização atual dos seres
vivos, ou seja, aos padrões de distribuição. Com isto, a biogeografia considera, principalmente, as
unidades espaciais próprias da geografia,

Biogeografia e Abordagem Multidisciplinar


De acordo com o que consta em INPA/UFAM (2009, s/p.), a biogeografia é um ramo da ciência
essencialmente multidisciplinar, que se depara com uma verdadeira revolução metodológica. Esta última,
por sua vez, deve-se, em grande parte, à influência das ferramentas moleculares. Estas, assim como o

14
Professor e doutorando em economia pela Universidade de Santiago de Compostela (e-mail:
fjpcosta@sapo.pt)
15
Professor e pós-doutor em transporte e meio ambiente pela Universidade da California em Davis (e-
mail: manoel.grodrigues@gmail.com)

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


436

conjunto de técnicas a elas afectas, vêm atuando no sentido de reduzir, de forma significativa, o verdadeiro
abismo existente entre os estudos microevolutivos (tamanho/estrutura populacional, expansão/contração
de distribuição geográfica, taxas de migração, dispersão em longa distância, etc.) e os macroevolutivos
(especiação, extinção e composição do conjunto de seres vivos/organismos de um mesmo ecossistema).
Assim sendo, pode-se observar que em termos de contribuições a nível biológico, no que diz respeito aos
estudos/pesquisas que incluem o levar em conta a flora/fauna e outros grupos de seres vivos/organismos.
Uma contribuição peculiar das filogenias moleculares diz respeito à possibilidade de incorporar o tempo
nas análises espaciais, o que permite que se efectue a datação e o teste de hipóteses acerca de eventos
genéticos, climáticos e geológicos.
Conforme é apontado por INPA/UFAM (2009, s/p.), a biogeografia, apesar de ter como
atribuição básica o estudo da distribuição geográfica dos seres vivos, apresenta componentes
distintas, notadamente a biogeografia histórica e a biogeografia ecológica, que acabam por
configurar dois caminhos paralelos. Tanto para uma concepção, quanto para outra, a diversidade
biológica é resultado da história da vida no planeta, a qual, por seu lado, ir-se-á expressar por
intermédio das mudanças de forma no espaço/tempo. Por outro lado, se à biogeografia ecológica
cabe o estudo dos processos ecológicos determinantes dos padrões de distribuição das unidades
de classificação dos seres vivos que sejam objeto de estudo da taxonomia, geralmente em
períodos curtos de tempo, à biogeografia histórica destina-se o estudo dos processos por longos
períodos (milhões de anos, por exemplo).
De fato, têm-se duas tradições de estudo/pesquisa, muito embora, em termos aparentes, a
divisão entre as duas acabe por vir a se constituir em uma limitação de ordem prática. Na verdade,
a distribuição das unidades taxonômicas não resulta da acção isolada de processos ecológicos ou
históricos, o que implica na necessidade de integração dessas duas linhas de estudo/pesquisa,
uma vez que mesmo no interior da biogeografia histórica existe uma diversidade de
métodos/explicações capazes de gerar acesos processos de discussão.
A nível da evolução da biogeografia, como é destacado por INPA/UFAM (2009, s/p.),
caberia registrar que os estudos/pesquisas desenvolvidos nesta área estão a ser verdadeiramente
revolucionados pela perspectiva molecular. Esta, por seu turno, possibilita, com elevado grau de
robustez, a reconstrução da história da diversificação de populações/espécies. É cada vez mais
viável a obtenção de um grande volume de dados moleculares, com a inclusão da dimensão
tempo a possibilitar o desenvolvimento de modelos preditivos. Com isto, por exemplo, poder-se-á
promover o desenvolvimento de modelos de carácter preditivo acerca dos efeitos climáticos do
aquecimento global sobre as populações/espécies de uma dada região (a Amazônia, por exemplo).
Em razão deste aspecto, a concepção molecular da biogeografia parece conduzi-la a um estágio
inovador/integrativo.
Deste modo, a biogeografia assumiria inteiramente o seu papel de ferramenta importante
não apenas no que se refere ao planejamento da conservação de espécies ameaçadas, mas ao
planejamento sistêmico-integrado e interativo-estratégico no seu todo, quer em termos locais,
quer também a níveis regionais ou ainda no âmbito nacional, não se limitando somente à esfera
ambiental ou apenas ao planejamento/ordenamento e gestão do território, mas levando em
consideração, de forma integrada/sistêmica, todas as componentes afetas ao processo sustentável
de desenvolvimento.
Portanto, considerando-se o caso de um país semiperiférico emergente como o Brasil, vale-
se de SILVA e SOUZA (s/data, p. 9), que assinalam que a simples presença de legislação, políticas,
instituições e demais instrumentos não asseguram a efetividade/eficiência das iniciativas voltadas
à preservação ambiental, antes fazendo-se necessária a introdução de mecanismos mais
sólidos/perenes de financiamento e a acção de um planejamento de longo prazo. Com isto,
tornar-se-ia necessário que o estabelecimento das áreas de protecção/intervenção ambiental
fosse feito com maior precisão/ integração com as várias escalas de planejamento e gestão do
João Pessoa, outubro de 2011
437

território, buscando-se promover o alcance de resultados mais efetivos/satisfatórios a nível da


integração/gerenciamento das áreas de proteção/intervenção ambiental.
Para a concretização de uma gestão eficiente e de um gerenciamento efetivo torna-se
necessário definir as estratégias de produção com base na sustentabilidade ambiental, de modo a
promover a valorização econômico-produtivo-sustentável desses espaços e o benefício dos atores
neles envolvidos. Tal alerta para o fato de que as iniciativas ambiental-preservacionistas
necessitam de uma base sistêmico-interativa e estratégico-planificatória que as viabilizem e as
integrem, de forma harmoniosa, no concerto da estratégia de desenvolvimento do município, da
região e do país. Portanto, a questão do meio ambiente e da sustentabilidade só será tratada de
forma minimamente adequada sob a ótica do planejamento estratégico, seja este de alcance
municipal, regional ou nacional.
Por outro lado, VIDAL (2009, p. 1), ao tomar como base a análise da disciplina científica
biogeografia urbana (também tida como linha de pesquisa), caracteriza-a como uma ciência de
carácter tecnológico que se apoia na biologia, geografia, ecologia aplicada e teoria sistêmica. De
certo modo, guardadas as devidas proporções, esta definição pode ser estendida à própria
biogeografia como um todo. Em primeiro lugar, porque a origem metodológica da biogeografia
urbana considera o inter-relacionamento entre o papel da ciência ambiental e o papel decisivo do
homem, como também observa VIDAL (2009, p. 3). Em segundo lugar, consoante é ainda
registrado por VIDAL (2009, pp. 3 e 4), pela necessidade de promover a interação dinâmico-
sistêmica entre as diversas áreas do conhecimento (mormente entre a biologia, ecologia,
geografia, sociologia/ciências sociais), configurando-se, deste modo, a base epistemológica da
área do conhecimento denominada de ciências ambientais a partir da análise filosófico-sociológica
habermesiana (de Jurgen Habermas) e deixando-se transparecer uma falta de diálogo/discussão
de raíz teórico-metodológica a nível de muitos estudiosos/pesquisadores afetos à biogeografia.
Esta concepção aponta para o carácter sistêmico-interativo da biogeografia e das
possibilidades que se abrem no que diz respeito a um conhecimento mais completo/global da
realidade ambiental a ser objeto de estudo, análise e intervenção. Desta maneira, a biogeografia
poderia fornecer dados/informações fundamentais ao delineamento de iniciativas sistêmico-
integradas e estratégico-planificatórias direcionadas ao tratamento da questão ambiental. Este,
por seu lado, deverá ser integrado/global, de modo a considerar, de forma sistêmico-interativa,
outras componentes para além do meio ambiente (energética, tecnológica, produtiva, sociológica,
político-institucional, etc.).
Assim sendo, a biogeografia constitui-se em base de sustentação à qualificação de
qualquer iniciativa de intervenção a nível da organização, gestão e ordenamento territorial de
âmbito local, regional ou nacional, em muito ultrapassando os limites da mera intervenção de
áreas naturais delimitadas, antes ampliando o seu escopo como instrumento fundamental de
iniciativas estratégico-planificatórias em qualquer nível de intervenção a nível das políticas
públicas.
Logo, de acordo com a perspectiva que aqui se apresenta, a biogeografia, de fato, se
constitui em elemento básico para a formulação, delineamento e aplicação de planos estratégico-
interventores de configuração sistêmico-integrado-interativa, ou seja, que compreendam uma
visão efetivamente integrada (a diversos níveis: ambiental, energético, tecnológico, social,
econômico, etc.) do planejamento (planejamento estratégico). Com isto, não se consideram os
vários “planejamentos” como componentes estanques do esforço técnico-político-planificatório,
mas antes como vertentes em interação intensa, dinâmica e sinérgica de um único planejamento,
simultaneamente integrado, interativo e estratégico.

Planejamento Estratégico

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


438

O planejamento estratégico passa a ser o principal instrumento público-interventor e


regulatório-coordenador a nível da esfera estatal, mormente no que diz respeito à sua base
técnico-planificatória. O Estado, portanto, para além de delineador/gestor das políticas públicas,
deve tê-las em consideração no seu processo de planejamento (planejamento estratégico), de
modo a considerá-las como elementos estratégicos na alavancagem do processo de
desenvolvimento. Considerar o Estado como responsável pelo planejamento estratégico não
significa, contudo, que ele abdique de seu papel de interventor (o Estado-empresário, por
exemplo) caso isso se faça necessário, ou seja, se tal for estrategicamente importante (Estado
dirigista/estrategista). Em razão disto, as visões críticas da ação estatal no
delineamento/implementação de políticas públicas, que ocorre e se consubstancia,
fundamentalmente, através da componente técnico-público-planificatória e que variam num
gradiente que vai das posições calcadas na visão neoliberal até concepções afetas ao
fundamentalismo ecológico-participativista, não consideram, a nível do seu horizonte teórico-
conceitual, a hipótese de refundação do Estado em moldes modernos.
Um Estado dotado de eficiência/flexibilidade e constituído por uma técnico-burocracia de
tipo novo (a burocracia neoweberiana), mormente no que diz respeito à componente técnico-
planificatória, que interaja, de forma dinâmica (e sobretudo estratégica) com o mercado, a ele não
se subjugando e a ele não impondo uma prática meramente estatista (mas antes estratégica,
sistêmica e interativa).
De fato, o papel estratégico do Estado é fundamental para que venha a reconhecer a
incapacidade de investimento/financiamento em algumas áreas, para corrigi-las ou para delinear,
junto com segmentos empresariais e demais setores sociais, uma forma de promover os
investimentos sem considerar os recursos estatais alocados na totalidade dos empreendimentos.
Deste modo, o Estado estrategista pode combinar o estatal-dirigismo com políticas econômico-
liberalizadoras, de modo a configurar/implementar a Estratégia Nacional de Desenvolvimento.
Deste modo, entrelaçar-se-iam, de forma dinâmico-interativa, as diversas dimensões estratégicas,
quer a nível do planejamento/ordenamento e gestão do território, quer em termos municipais ou
regionais, quer ainda na esfera nacional (no âmbito da totalidade do país). A esfera público-
planificadora, em interação com os diversos segmentos da sociedade, concebe a estratégia e a
implementa a partir do processo dinâmico-interativo e técnico-governativo do planejamento
estratégico.

Assim sendo, verifica-se que existe uma interação dinâmico-integrada entre as concepções
de estratégia e planejamento estratégico. Em razão disto e tentando descortinar o conceito de
estratégia, observa-se que na concepção de PATEL (2006, pp. 9 – 15), a estratégia seria o nome
que se dá aos planos e ações por intermédio dos quais se impõem certas ações a detreminadas
entidades (organizações, ambientes e povos), podendo ser aplicada a várias esferas (negócios,
política, sociedade, economia, meio ambiente, tecnologia, etc.). Na verdade, conforme é
assinalado por FREIRE (2004, pp. 18 e 19), a palavra estratégia deriva do grego strategos, surgindo
da combinação de stratos (exército) com –ag (liderar), significando, de forma literal, a «função do
general do exército» (a disposição das tropas com o intuito de alcançar a vitória sobre o inimigo).
O conceito de estratégia restrito ao meio empresarial/organizacional conota-se, de forma
frequente, com a formulação de um plano que reúne, de forma integrada, os objetivos, políticas e
ações da empresa/organização com o fito desta atingir o sucesso em sua atividade.
De fato, a finalidade da estratégia é a criação de uma vantagem competitiva sustentável
(FREIRE, 2004, pp. 18 e 19). O primeiro passo na formulação da estratégia consiste no pensamento
estratégico (pensamento estratégico dos membros da empresa/organização). A seguir vem a
formulação do planejamento estratégico, para o qual se elabora o Plano Estratégico, viabilizando-

João Pessoa, outubro de 2011


439

se, portanto, que se vá de um conjunto de visões integradas da empresa/organização (estratégia)


para a sistematização de um conjunto de ações e objetivos a médio e longo prazo: o Plano
Estratégico (FREIRE, 2004, pp. 30 e 31).
Contudo, com o acirrar da concorrência, a necessidade de obter maiores níveis de
competitividade e a mais intensa volatilidade do meio, a partir dos anos 60 e 70, o planejamento
estratégico passa a sofrer inúmeras críticas e se elabora o conceito de gestão estratégica, já que
de acordo com NIOCHE E LAROCHE (2000, p. 239), o processo global de formação da estratégia
implica na pilotagem de um processo estratégico contínuo e interativo, com momentos de
reflexão e definição das orientações pretendidas, mas tendo em mente o elevado nível de
incerteza que permeia as reflexões e os resultados.
Portanto, o conceito de estratégia ultrapassa os limites da área militar, transcende o seio
das empresas/organizações e chega à esfera estatal e público-governativa (aos seus vários níveis),
tendo como base teórico-conceitual-formativa a componente técnico-burocrático-planificatória,
enquanto personificação metodológico-conceitual da atuação de um Estado de tipo novo e de
uma nova modalidade de técnico-estrutura e técnico-burocracia, completamente redefinidas na
sua gênese e evolução e assumindo o papel de mentoras, delineadoras, orientadoras e
coordenadora/reguladoras a nível de metas, objetivos, formas de ação e interação com os
diversos segmentos da sociedade. A estratégia aplica-se a partir da implementação do
planejamento estratégico e são estes os instrumentos básicos a serem adotados/implementados
pela esfera técnico-burocrático-planificatória no contexto de uma estrutura técnico-planificadora
remodelada/atualizada.
Já para JARILLO (1989, pp. 186 – 189), o planejamento estratégico se constitui no conjunto
das atividades formais direcionadas a produzir uma formulação estratégica e aportando uma base
metodológica ao processo de desenho estratégico, uma vez que estabelece uma série de etapas
no sentido de configurar a estratégia, o que conduz ao estabelecimento de um sistema formal de
planejamento estratégico, fato que, por sua vez, faz com que a preocupação estratégica passe a
permear todos os níveis da empresa/organização (o plano estratégico deve ser conhecido de
todos os níveis da empresa/organização), assumindo um papel de grande relevância na
consecução da vantagem competitiva sustentável, surgindo com o último elemento necessário à
elaboração e aplicação da estratégia em termos efetivos. Dando sequência a esta análise, é
observado que um sistema de planejamento estratégico excessivamente complexo pode vir a se
constituir em elemento pernicioso à empresa/organização, uma vez que esta passa a se centrar
nela mesma em vez de estar atenta aos movimentos de seus competidores. Na verdade o grande
paradoxo é de que o planejamento estratégico pode atuar como um mecanismo que deteriora a
capacidade de resposta da empresa/organização a longo prazo conduzindo, para além disso, à
perda de criatividade, fato que ocorreu em algumas empresas/organizações de grande porte
detentoras de sistemas sofisticados de planejamento estratégico, como foi o caso da ITT.

Apesar de reconhecer os aspectos limitativos do planejamento estratégico, considerar


como aceitáveis e realistas muitas das críticas a ele dirigidas e reconhecer que lhe tenha passado,
num período não muito longo de tempo, do triunfo ao ocaso, JARILLO (1989, pp. 185 – 197)
observa que tal não diminui, de forma absoluta, a sua necessidade, realçando que sem um Plano
Estratégico detalhado (englobando toda a empresa/organização) torna-se praticamente
impossível obter uma vantagem competitiva sustentável. Assim sendo, de acordo com esta linha
de raciocínio, na prática, um método formal de planejamento é imprescindível para o desenho e a
configuração do Plano Estratégico. Em outras palavras, por mais flexível que seja o processo de
planejamento estratégico, o Plano Estratégico sempre se revestirá de um significativo nível de
formalidade.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


440

Na verdade, conforme é assinalado por PORTO (1998, pp. 22 – 27), o planejamento


estratégico, tendo como ferramenta central o Plano Estratégico, encontra-se presente nas
modernas metodologias direcionadas a dar suporte à busca e alcance de uma vantagem
competitiva favorável. Esta, por seu lado, irá resultar de um profundo conhecimento dos fatores
internos e externos que atuam sobre a empresa/organização (tendências do ambiente,
atratividade do ambiente, principais competidores, etc.), indicando as ameaças e oportunidades
que devem ser consideradas, bem como as deficiências ou fraquezas que devem ser corrigidas ou
mesmo eliminadas. Desse modo, Plano Estratégico não pode, de modo algum, ser tido como uma
ferramenta passiva ou reativa, mas antes como um instrumento gerencial ativo (ou proativo), que
promova a adaptação contínua e ativa da empresa/organização face a uma envolvente em
constante mutação. Por outro lado, o Plano Estratégico deve reconhecer os diferentes papéis
assumidos pela empresa/organização (nível corporativo, nível de negócios e nível funcional)
integrando, de forma harmoniosa, os esforços resultantes da interação entre os diversos níveis
organizacionais. Assim sendo, o planejamento estratégico, enquanto método de gestão, apresenta
uma agenda de questões ampla e variada, com destaque para as seguintes: lidar com a
complexidade, trabalhar com a incerteza e fazer as escolhas necessárias.

De acordo com FILHO (2002, pp. 8 e 9), o planejamento estratégico pode ser
definido como um processo que possibilita estabelecer um rumo a ser seguido com o
objetivo de alcançar a otimização face a envolvência. Ao planejamento estratégico articula-
se a formulação/fixação de objetivos/desafios e a seleção dos cursos de ação a serem
seguidos para a consecução dos mesmos segundo uma estratégia predeterminada. O
fundamento principal do planejamento estratégico realizado na década de 70 enfatizava a
necessidade de identificar, primeiramente, o nível de turbulência do ambiente, para então
selecionar os modelos e ferramentas de análise a utilizar e definir uma estratégia coerente.
Os recursos, capacidades e competências essenciais tornaram-se a origem das escolhas
estratégias e a tarefa da base estratégico-planificatória passou a ser escolher a arquitetura
estratégica adequada que iria permitir explorar esses recursos como fonte de vantagem
competitiva (para o município, a região e o país).

Segundo é assinalado por FILHO (2002, pp. 8 e 9), o planejamento estratégico,


definido a partir das necessidades mercadológico-competitivas das organizações
empresariais, passa à esfera governamental, mormente no que dis respeito à base público-
planificatória. Por outro lado, o fortalecimento da visão das competências, capacidades e
recursos das organizações como elemento fundamental para a formulação das estratégias,
os organismos/entidades que recorrem ao planejamento estratégico passam a ter uma
posição mais ativa frente ao ambiente, abandonando um pouco a visão contingencial da
adaptação reativa. A convicção de que a relação com o meio envolvente deveria superar a
simples adaptação ao entorno (ótica adaptativa) e assumir um carácter
predominantemente interativo (interação com a ambiência externa), ativa-se com a
entrada em cena dos postulados da teoria avançada de sistemas, viabilizando uma postura
proativa e baseada na experiência, conhecimento e realidade vivida/gerida pelo
promotor/executor da iniciativa de índole estratégico-planificatória.

A vantagem do planejamento estratégico reside na fixação de metas a médio/longo prazo,


no monitoramento da evolução do processo de planejamento e de sua respectiva execução, no
respeito a uma ordem sequencial de etapas e na flexibilidade no que diz respeito a corrigir/alterar
percursos ou trajetórias que se julguem inadequadas. O planejamento estratégico não se constitui

João Pessoa, outubro de 2011


441

em um modelo burocrático de planejamento e muito distante se encontra da rigidez/ineficiência


da planificação centralizada de carácter glospaniano.
Na verdade, conforme alerta FILHO (2002, p. 13), ao se incorporar ao processo de
planejamento estratégico, as concepções da administração estratégica, passou-se a considerar,
como dinâmica intrínseca ao processo, ter em linha de conta a constante reavaliação das
condições que conduziram à estratégia selecionada. De modo a exemplificar ou pelo menos
buscando aclarar esse aspecto, apresenta-se a figura que se segue, que procura mostrar a
dinâmica do processo de planejamento estratégico, especificamente no que diz respeito ao
monitoramento (monitoramento estratégico, à elaboração da estratégia, ao controle/avaliação e à
implementação da estratégia. O que esse esquema procura mostrar é o carácter, integrado,
interativo, dinâmico e mutável do processo.

MONITORAMENTO
PLANEJAMENTO
ESTRATÉGICO

CONTROLE E ELABORAÇÃO DA
AVALIAÇÃO ESTRATÉGIA

IMPLEMENTAÇÃO DA
ESTRATÉGIA

Fonte: FILHO, J. R. F. (2002): Planejamento Estratégico: Evolução e Metodologias.


Setembro, Rio de Janeiro, FGV, FGV Projetos/ FGV Consulting, 65 pp, p. 13.

De acordo com o que registra GODET (1991, pp. 15 – 17), a prospectiva e o planejamento
estratégico, presentes em várias empresas/organizações, passam a estar cada vez mais próximas
em razão da complementaridade entre a análise prospectiva e a análise estratégica. Assim sendo,
cabe assinalar que a reflexão prospectiva tem razão de ser em função dos efeitos conjugados de
vários fatores, a saber: a acelerada mudança tecnológica, a rápida alteração econômica, a veloz
transformação social, os fatores inerciais inerentes às estruturas e aos comportamentos e a
agudização das diversas incertezas (econômicas, politicas, sociais e tecnológicas). Essas mudanças,
cada vez mais frequentes e menos previsíveis, atingem as empresas/organizações e fazem com
que estas tenham que se dotar de uma maior flexibilidade, o que acaba por incrementar os
esforços relacionados à prospectiva e ao planejamento estratégico. Os métodos a estes afetos
desenvolveram-se, de forma significativa, dado à preocupação em se antecipar os fatos e devido à
necessidade de uma maior reflexão que precedesse à ação.
Na verdade, a prospectiva, por integrar em sua análise os riscos quanto a rupturas
tendenciais (econômicas, políticas, sociais e tecnológicas), vai complementar o planejamento
estratégico, cujos métodos tomam como base a análise de um passado quase que extrapolado.
Assim sendo, é profícua a interação entre a prospectiva (o alerta prospectivo) e o planejamento

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


442

estratégico (vontade estratégica), pois enquanto o planejamento estratégico define objetivos e


fixa meios de ação (adaptados em razão de algumas alternativas), a prospectiva realiza uma
reflexão exploratória acerca dos futuros possíveis, prováveis e desejáveis. Dessa forma, o alerta
prospectivo e o planejamento estratégico configuram a cultura estratégica das
empresas/organizações com o objetivo de alcançar maiores níveis de excelência e
competitividade.
Mais uma vez recorre-se a GODET (1977, pp. 13 – 27) para registrar que a prospectiva é
filha do século XX, caracterizado por mudanças profundas e grandes incertezas, propondo-se a
ultrapassar a noção estática de previsão e apresentando a proposta da previsão contingente, que
se mostraria mais próxima do conceito de planificação. O fato é que o termo previsão implica em
descortinar um futuro predeterminado e único, ou seja, que se mostre como prolongamento do
passado. Na realidade, ao se avançar com a proposta teórico-conceitual da prospectiva, procura-
se promover o descortinamento do futuro como algo que não se situe no âmbito do
prolongamento do passado e que se revele qualitativamente distinto do presente.
Portanto, não se trata aqui de desconsiderar completamente a previsão, mas antes, com a
adoção da racionalidade prospectiva, de despojá-la do seu caráter estático, extrapolativo e
determinista incorporando-lhe uma visão mais dinâmica, metodologicamente menos rígida e
qualitativamente mais analítica, de modo a ter em conta a pluralidade no que se refere a futuros
possíveis, buscando a construção do futuro, a partir do presente, por retroação e não mais pela
simples projeção (de caráter extrapolativo). De fato, enquanto a previsão propõe-se a construir
um futuro a partir da imagem do passado (pela simples projeção/extrapolação) a prospectiva
considera as mudanças/alterações ocorridas entre o passado e o presente, levando em conta que
a construção do futuro deve atentar para o fato de ser muito mais importante a resolução dos
problemas da posteridade do que a reprodução de situações passadas.
A prospectiva mostra uma atitude criativa face ao futuro, a qual se apresenta como
radicalmente distinta das atitudes classicamente afetas à previsão, dando destaque à análise
subjetiva e qualitativa (a reabilitação da utopia) e considerando a vontade como força produtiva
do provir (o futuro desejado em detrimento do futuro extrapolado).Portanto, à previsão
meramente especulativa, a prospectiva opõe a previsão global, qualitativa e múltipla num
porvenir dotado de elevados níveis de incerteza.
Cabe aqui o registo de que para RIBEIRO ET AL (1997, pp. 8 – 18), quando se refere à
rapidez da mudança tecnológica, isto implica não apenas em reconhecer que há uma aceleração
do processo propriamente dito, ou seja, não ocorrem somente mudanças tecnológicas, mas
também modificações a nível das idéias e do pensamento. Tal amplia o nível de incerteza quanto
ao futuro e o reconhecimento da incerteza mostra-se como algo essencial para o exercício
prospectivo. Na verdade, é na área de incerteza que se podem multiplicar as interrogações, o que
permite fazer com que outros futuros passem a surgir com implicações sobre o próprio processo
de condução da ação (a aceleração da mudança tecnológica acabe por desencadear outras
transformações que conduzem a novos futuros).
Desse modo, a prospectiva, ao se concentrar nas incertezas, legitima o seu
reconhecimento, parte do que é complexo em direção ao que é simples, faz interagir o qualitativo
com o quantitativo e adota uma abordagem global.É neste ponto que se insere a questão dos
cenários, uma vez que a prospectiva toma a simulação de cenários como seu principal
instrumento, o que possibilita que a empresa/organização passe a compreender o seu
enquadramento num contexto de incerteza quanto ao futuro.De fato, os cenários permitem lidar
com a incerteza, uma vez que ajudam a empresa/organização a compreender melhor o seu
enquadramento, colocam a incerteza na agenda e auxiliam a empresa/organização a se tornar
mais apta à adaptação.

João Pessoa, outubro de 2011


443

Logo, o recurso aos cenários vem a se constituir na base técnico-metodológica que viabiliza
o próprio processo prospectivo, podendo ser também encarados como instrumentos
extremamente úteis de planejamento em contextos em que o processo de planejamento
estratégico venha a se defrontar com incertezas qualitativas e quantitativas. As
imprevisibilidades/incertezas de maior monta conduzem à consideração de vários futuros, levando
à utilização de cenários como ferramentas fundamentais para a prospectiva estratégica.
Por outro lado, é inegável o importante papel desempenhado pela Teoria Geral dos Sistemas (TGS)
no que se refere ao fortalecimento da base teórico-conceitual e metodológica do planejamento
estratégico, que passa a assumir um cariz, para além de integrado, sistêmico/sinérgico. Como é observado
por BERTALANFFY (1976, p. 1), a finalidade da TGS é a identificação das propriedades, princípios e leis
característicos da generalidade dos sistemas (independente do seu tipo, dos elementos que os compõem e
das relações ou forças existentes entre eles), enquanto um sistema é definido como um complexo de
elementos em interação ordenada (não fortuita).
Desse modo, ao tratar das características formais dos sistemas, a TGS é interdisciplinar, podendo,
portanto, ser utilizada para fenómenos que venham a ser pesquisados nos diversos campos tradicionais do
conhecimento, aplicando-se não apenas ao estudo dos sistemas materiais, mas de qualquer todo
constituído por partes que se encontrem em interação.
Já partindo-se da análise desenvolvida por CHIAVENATO (1993, pp. 750 – 762), qualquer unidade
que passe a adotar a metodologia do planejamento estratégico é passível de ser analisada como um
sistema (sistema de sistemas) e, portanto, a abordagem sistêmica pode representar cada uma dessas
unidades de forma objetiva e compreensiva. O sistema total é representado por todas as partes e relações
necessárias à realização de um objetivo, considerando-se um certo tipo de restrições, de modo a definir a
realidade para a qual essas partes e relações foram ordenadas. As restrições do sistema são os seus limites
(fronteiras) e podem tornar explícitas as condições sobre as quais opera. A unidade territorial a sofrer uma
intervenção de carácter estratégico-planificatório, por exemplo, deve ser entendida como um sistema
aberto (em constante interação com o ambiente, com capacidade de crescimento, mudança e adaptação
ao ambiente e em competição com outros sistemas).
Por outro lado, a unidade territorial que implementa o processo estratégico-planificatório pode ser
concebida como um sistema sociotécnico, que se encontra estruturado sobre dois subsistemas, quais
sejam, o subsistema social (indivíduos) e o subsistema técnico (tecnologia) e que se mostra como sistema
aberto. A concepção da empresa/organização ou de uma unidade territorial/institucional como sistema
aberto direciona o caminho para o conceito de sinergia e de efeito sinérgico, pelo qual o produto da
interação entre as partes do sistema é maior do que a simples soma das partes.
De acordo com o que é destacado por FILHO (2002, p. 25), como elemento fundamental à fixação
da estratégia e à implementação do processo de planejamento estratégico tem-se a avaliação do ambiente
externo. Esta, por seu lado, incorpora-se à análise estratégica e ao planejamento estratégico por influência
da TGS, a partir da qual a entidade estratégico-planificatória passa a considerar o seu objeto de ação
planejadora como elemento integrante de um sistema maior, a saber: o ambiente ou meio envolvente.
Assim sendo, o objecto do esforço planificatório interage e interpactua-se com o ambiente externo, que
nada mais é do que a envolvência externa do objeto da ação estratégico-planejadora (no fundo qualquer
território: município, região ou país).
Deste modo, por ambiente, ambiente externo ou meio envolvente compreende-se o conjunto de
fatores, tendências e forças, externas e internas à unidade/área ( de carácter organizativo-empresarial,
público-governativo ou territorial (município, região ou país) que podem impactar a ação gerencial-
estratégico-planificatória. A análise ambiental (análise do meio envolvente ou da envolvência externa) tem
como principal objetivo a compreensão dos principais fatores/aspectos que possam vir a exercer influência
direta/indireta sobre a unidade objeto da implantação/implementação da estratégia e de uma intervenção
de cunho estratégico-planificador, seja a mesma uma empresa/organização, um território ou um espaço de
âmbito nacional.
Portanto, o principal objetivo da análise ambiental não consiste na compreensão do total de fatores
que exerçam influência sobre a unidade objeto da iniciativa estratégico-planificatória. Na verdade, a
abordagem totalizante seria inviável, pois para além de gerar um excesso de informação e custos elevados,

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


444

teria como consequências a paralisia por análise e o distanciamento/retardamento da ação (ação


estratégicca). Logo, o interesse da análise do meio envolvente deve direcionar-se/focar-se na identificação,
acompanhamento e compreensão daquelas tendências/eventos ambientais que possam afetar a
estratégia.
No que se refere ao estudo do macroambiente e de acordo com o que é apontado por FILHO (2002,
p. 26 e 27), devem-se promover a análise das tendências relacionadas a variáveis como as
macroeconômicas, sociais, culturais, demográficas, políticas, tecnológicas, legais, políticas, institucionais,
ecológicas, e outras consideradas como de relevância. Devem ser relacionadas as principais variáveis a
examinar. A seleção das variáveis deve ser cuidadosa/criteriosa em função da unidade objecto da iniciativa
estratégica e da intervenção estratégico-planificatória.
A título de exemplo, pode-se aqui mencionar alguns tipos de variáveis que possam vir a ser
selecionadas/analisadas em razão da proposta estratégica (a estratégia) e da iniciativa estratégico-
planificadora (o planejamento estratégico). Tais variáveis seriam, por exemplo, as seguintes: 1 -
Macroeconômicas: variação do PIB, inflação, câmbio, taxa de juros, distribuição de renda, políticas
tributária e fiscal, etc.; 2 - Estrutura demográfica: densidade populacional, mobilidade, indíces de
natalidade, mortalidade e mortalidade infantil, etnias, expectativa de vida, estrutura familiar, etc.; 3 -
Governo e política: partidos políticos, associações de classe, instituições religiosas, alianças políticas,
mudanças possíveis na legislação, riscos políticos, tensões entre poderes e entes da federação, etc.; 4 -
Cultura: índices de alfabetização, níveis de escolaridade, principais valores, veículos de comunicação, etc.; 5
- Estrutura social: estrutura sócio-econômica, divergência entre os segmentos, estrutura de classes,
estrutura sindical e política, características ideológicas, etc.; 6 - Tecnologia: ritmo de mudança tecnológica,
nível de investimento em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D), estrutura da pesquisa científica, principais
áreas de desenvolvimento, legislação de royalties e patentes, incentivos fiscais, etc.
A análise do meio envolvente e o estudo interno do objeto a intervencionar estrategicamente vêm
a se constituir em elementos de vital importância na identificação dos pontos fracos/pontos fortes e das
oportunidades, possibilitando à análise estratégica um melhor posicionamento e à transformação de
pontos fracos em pontos fortes, bem como à conversão de ameaças em oportunidades. O estudo do
macroambiente, a análise estratégica global (interna/externa) e o planejamento estratégico (processo
viabilizador da transformação estratégica) possibilitam a transformação da realidade em prol do alcance da
realidade desejada.
O processo estratégico-planificador, no que diz respeito à sua implementação, necessita de
políticas/diretrizes. Assim, para FILHO (2002, pp. 42 e 43 ), as políticas nada mais seriam do que guias para
os tomadores de decisão e visam estabelecer um direcionamento, a priori, para a implementação do
planejamento estratégico, constituindo-se, de fato, em direcionamentos específicos, métodos,
procedimentos, regras e práticas administrativas estabelecidas para apoiar e estimular o atingimento dos
objetivos definidos e a adoção das estratégias escolhidas. As políticas, na verdade, constituem-se em
elementos de orientação do processo estratégico-planificador, podendo, a nível da esfera público-
governativo-planificadora, corresponder a componentes das políticas públicas aos mais diversos níveis
(econômica, industrial, tecnológica, científica, energética, ambiental, etc.).

Considerações Finais
A estratégia, principalmente no que diz respeito ao planejamento estratégico, constitui-se
em elemento básico na busca pelo desenvolvimento sistémico-global, ou seja, o Desenvolvimento
Sustentável, uma vez que atua no sentido de suavizar os fortes impactos emanados de um
entorno cada vez mais complexo e com elevados níveis de volatilidade, assegurando-lhe a
necessária orientação no sentido de delinear/promover esse novo estilo de desenvolvimento.
Por sua vez, o planejamento estratégico, longe de ultrapassado, atua como elemento
norteador para que a unidade territorial intervencionada implemente a estratégia, obtenha uma
vantagem competitiva sustentável e alcance o desenvolvimento de tipo novo (de carácter
sustentável-integrado-sistêmico). A estratégia, concretizada através do planejamento estratégico,
necessita, portanto, de uma base ampla de dados/informações sobre os diversos aspectos

João Pessoa, outubro de 2011


445

relacionados à área territorial de intervenção estratégico-planificatória, seja ela um município,


uma região, estado ou um país.
Assim sendo, este trabalho vê a biogeografia como uma importante base de informações a
serem fornecidas à esfera técnico-público-planificadora e, logo, como uma disciplina fundamental
na caracterização da área territorial a passar pela ação do planejamento estratégico. A
necessidade de conviver com um meio envolvente cada vez mais instável/volátil surge em razão
da transição paradigmática, em termos energético-ambientais, pela qual passa o mundo desde a
década de 1970 e que implica na passagem do Paradigma dos Combustíveis Fósseis para o
Paradigma das Fontes Energéticas Renováveis.
A transição implica em indefinições, incertezas e instabilidade. Com isso, o delineamento
da estratégia e a implementação do planejamento estratégico, mostram-se como elementos
fundamentais para o desenvolvimento de unidades territoriais, quer seja na esfera municipal, quer
no âmbito regional/estadual, quer ainda a nível nacional. Deste modo, o planejamento estratégico
viabilizará a adoção de um modelo de desenvolvimento sustentável, que respeite a biodiversidade
e a considere como parâmetro fundamental da estratégia a configurare implementar. Na verdade,
isto só será possível considerando-se a biogeografia como ponto básico de informação e
caracterização para o sistema integrado de planejamento estratégico.

Referências
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V. ET AL (1976): Teoria dos Sistemas. Rio de Janeiro. FGV.
CHIAVENATO, I. (1993): Introdução à Teoria Geral da Administração. São Paulo. Makron Books.
FILHO, J. R. F. (2002): Planejamento Estratégico: Evolução e Metodologias. Setembro, Rio de
Janeiro, FGV, FGV Projetos/ FGV Consulting, 65 pp.
FREIRE, A. (2004): Estratégia. Lisboa/São Paulo. Verbo.
GODET (1977): Crise de la prévision essor de la prospective: exemples et méthodes. Paris. PUF.
GODET, M. (1991): Prospectiva y Planificación Estratégica. Barcelona. S. G. Editores.
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Disponível em « http://biogeoamazonica.blogspot.com/2009/10/biogeografia-integrativa-resolvendo-
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pesquisadores e alunos do INPA e da UFAM sobre biogeografia histórica e ecológica. Quinta-feira, 29 de
Outubro de 2009, s/p.
JARILLO, J. – C. (1989): Dirección Estratégica. Madrid. McGraw-Hill/Interamericana de España.
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do Paraíba do Sul: Recuperação de Áreas Degradadas, Serviços Ambientais e Sustentabilidade, Taubaté,
Brasil, 09-11 dezembro 2009, IPABHi, p. 393-400.
NIOCHE, J. P. E LAROCHE, H. (2000): «A Formação da Estratégia» in DÉTRIE, J. – P. (coord.) (2000):
Strategor: Política Global da Enpresa. Lisboa. Dom Quixote.
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18/07/2009]. II Congresso de Pesquisa e Inovação da Rede Norte Nordeste de Educação Tecnológica
(CONNEPPI 2007). João Pessoa. PB.
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446

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Ministério do Equipamento, do Planeamento e da Administração do Território. Secretaria de Estado do
Desenvolvimento Regional.
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http://www.geo.ufv.br/simposio/simposio/trabalhos/trabalhos_completos/eixo5/016.pdf» [Consultado em
03/04/2011], 20 pp.
VIDAL, J. P. (2009): Biogeografia Urbana e Dialética do “Mundo de Vida”. Paper 231. Maio, Belém,
NAEA/UFPA, 16 pp.

João Pessoa, outubro de 2011


447

A BIODIVERSIDADE NA REGIÃO DO LAGO DA USINA HIDRELÉTRICA DE


TUCURUÍ, UMA VISÃO A PARTIR DO SISTEMA DE INFORMAÇÃO
GEOGRÁFICA
Marcela Alves da SILVA- UFPA/PIBIC/ LSCMAM
marcelaalves2006@hotmail.com
Bianca Caterine Piedade PINHO – UFPA/PAPIM/LSCMAM
biakatpinho@yahoo.com.br
Prof. Dr. Claudio Nahum ALVES = UFPA/LSCMAM
nahum_ufpa@yahoo.com.br

RESUMO
A da Usina Hidrelétrica de Tucuruí - UHT, inaugurada em 22 de novembro de 1984, teve por
objetivo suprir as deficiências na produção de energia no norte e no nordeste do Brasil. É considerada a
quarta maior usina hidrelétrica do mundo em potencia instalada, produziu um lago artificial com 2850 km2,
inundando áreas de floresta densa. Diante disto este artigo tem por objetivo demonstrar a partir do
Sistema de informação Geográfica - SIG, como o enchimento do lago artificial da UHT afetou a
biodiversidade da região. Para isso foi utilizado imagens Landsat 5 orbita 224/63 de julho de 1983 e de
julho de 2011, para efeito de comparação e estudo da biodiversidade. Para manipulação da imagem foi
utilizado o software SPRING 3.2 e TERRAVIEW 4.1.0, assim como base de dados vetoriais do Instituto
Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística – IBGE. Além disso, foi realizado um levantamento bibliográfico e também de dados que foram
coletados a parti do trabalho de campo realizado entre os dias 13 a 15 de julho de 2011. O seguinte artigo
está estruturado da seguinte forma: além desta introdução, a primeira parte que trata dos problemas
causados por um barramento de um rio em especifico do Rio Tocantins, e de se inundar áreas de floresta, a
segunda parte trata da analise a partir do Sistema de Informação geográfica da perda da biodiversidade na
área do reservatório da UHT, e por fim as considerações finais.
Palavras-chave: Usina Hidrelétrica de Tucuruí; Sistema de Informação Geográfica; Biodiversidade;
Fauna; flora.

INTRODUÇÃO
A construção da Usina Hidrelétrica de Tucuruí - UHT, inaugurada em 22 de novembro de 1984, teve
por objetivo suprir as deficiências na produção de energia no norte e no nordeste do Brasil. De acordo com
Abdon (1990) grande parte da energia gerada pela UHT é consumida pelos projetos gerados pelo Programa
Grande Carajás, com para o Projeto Ferro Carajás, a ALBRAS, a ALCOA. É considerada a quarta maior usina
hidrelétrica do mundo em potencia instalada, produziu um lago artificial com 2850 km2, inundando áreas
de floresta densa.
Diante disto este artigo tem por objetivo demonstrar a partir do Sistema de informação Geográfica
- SIG, como o enchimento do lago artificial da UHT afetou a biodiversidade da região. Para isso foi utilizado
imagens Landsat 5 orbita 224/63 e 64 de julho de 1983 e de julho de 2011, para efeito de comparação e
estudo da biodiversidade. Para manipulação da imagem foi utilizado o software SPRING 3.2 e TERRAVIEW
4.1.0, assim como base de dados vetoriais do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais
Renováveis – IBAMA, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Além disso, foi realizado um
levantamento bibliográfico e também de dados que foram coletados a parti do trabalho de campo
realizado entre os dias 13 a 15 de julho de 2011. O mapa 01 abaixo mostra a localização da área de estudo.
A escolha do SIG para esta analise foi feita pelo fato de que ele como destaca Câmara et al (2001)
pode
“inserir e integrar, numa única base de dados, informações espaciais proveniente de dados
cartográficos, dados censitários e cadastro urbano e rural, imagens de satélites, redes e modelos
numéricos do terreno. Oferecer mecanismos para combinar as varias informações, através de

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


448

algarismos de manipulação e analise, bem como para consultar, recuperar. Visualizar e plotar o
conteúdo de base de dados georreferenciados”.

Mapa 01: Localização do lago da UHT. (Área de estudo).


Fonte: SILVA, M. A. PINHO, B.C.P. 2011.

O seguinte artigo está estruturado da seguinte forma: além desta introdução, a primeira parte
intitulada “Os problemas de barrar um rio e inundar floresta densa”, trata dos problemas causados por um
barramento de um rio em especifico do Rio Tocantins, e inundar áreas de floresta, a segunda parte
intitulada “Perda da biodiversidade uma visão pelo SIG”, trata da analise a partir do Sistema de Informação
geográfica da perda da biodiversidade na área do reservatório da UHT, e por fim as considerações finais.
OS PROBLEMAS DE BARRAR UM RIO E INUNDAR UMA FLORESTA DENSA.
A bacia do Rio Tocantins ocupa aproximadamente 9.5% do território nacional tendo como rios
principais o Tocantins e o Araguaia. O rio Tocantins nasce no planalto central brasileiro e tem sua foz no
estuário do rio Amazonas, possuindo aproximadamente 2.500 km de extensão, desenvolvendo-se no
sentido Sul – norte latitudinal. A bacia abrange áreas do estado de Goiás, Mato Grosso, Pará, Maranhão e
também do Distrito Federal, como pode ser observado no mapa 02 abaixo. O rio Tocantins é onde está
instalada a UHT a segunda maior do país, com uma barragem de 11 km de extensão. A Foto 01 abaixo
mostra a dimensão da barragem.

João Pessoa, outubro de 2011


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Mapa 02: Bacias Hidrográficas do Brasil.


Fonte: SILVA, 1996.

Foto 01: Barragem da Usina Hidrelétrica de Tucuruí.


Fonte: SILVA, M. A. 2011.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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A construção do lago causou o represamento de grande parte da carga de sedimentos e matéria


orgânica. A carga solida como destaca Silva (1996) é a pior, pois impedem ou no mínimo dificultam a
penetração da luz na água alterando o processo de fotossíntese da vegetação submersa e interferindo além
de outras coisas na dinâmica térmica do sistema. Nesse sentido o lago de Tucuruí, por ser drenado por uma
extensa bacia de capacitação, mas que converge praticamente apenas para o rio Tocantins, e que possui
formato estrito, alongado e bastante dendrítico, propiciando ao lago, gradientes espaciais no padrão de
concentração dos sedimentos e nutrientes entre outras coisas.
O lago interfere e modifica o meio ambientem causando impactos sobre o ecossistema e
também sobre as atividades humanas, ele provoca alterações no micro clima regional, causa um aumento
da erosão no entorno do lago e a vegetação não retirada das áreas alagadas é responsável pelo aumento
na concentração de nitratos e fosfatos na água, elementos que desencadeiam o processo de eutrofização
(degradação que sofrem os lagos ou reservatórios quando são excessivamente enriquecidos de nutrientes,
e que limita atividade biológica) (Abdon, 1990).
ANALISE DA PERDA DA BIODIVERSIDADE A PARTI DO SIG.
O lago ocupou uma área de 2.850 km2, na cota de 72m, num perímetro de 2.900 km.
Possuindo cerca de 170 km de cumprimento e 40 km de largura máxima. O volume de água colocado sobre
floresta densa causou uma grande perda na fauna e flora da região, de uma hora para outra a floresta virou
lago esse tipo de mudança se não for bem orientado pode acabar não só com a flora, mas também coma a
fauna da região, como mostra o mapa 03, abaixo.

Mapa 03: Área de fauna ameaçada na região do lago da UHT.


Fonte: SILVA, M. A. PINHO, B. C. P. 2011.

O mapa 03 mostra áreas no estado do Pará de fauna ameaçada de extinção, com destaque
para área do lago da UHT, como podemos perceber não só o lago inteiro como seu entorno está sobre área
de fauna ameaçada, com dados obtidos junto ao IBAMA, IBGE e ao estudo das cenas landsat 5 analisadas
foi possível fazemos o estudo da perda de algumas espécies.
È visto que durante o período de enchimento do lago, cerca de dois meses, houve uma
operação de resgate dos animais, que se intitulava “Operação Curupira” que de acordo com a Eletronorte
(1989) foram resgatados e soltos na margem do lago cerca de 300 mil animais, números inimagináveis
como 48.600 jabutis, 20.800 iguanas, 28.700 preguiças comuns,11.900 preguiças reais, 3.600 tamanduás –
mirins, 19.500 guaribas, 2.500 macacos pregos e 14.500 sapos e rãs. A base 4 da Eletronorte, localizada a 2

João Pessoa, outubro de 2011


451

horas de barco da cidade de Tucuruí, foi um dos principais pontos de resgate que em seu auge de
salvamento a relatos de que até tatu que é um animal exclusivamente terrestre foi encontrado em arvores.
A inundação rápida não da nenhuma para a fauna tentar um adaptação gradual em outros
habitas. Sendo que mesmo com esses números grandiosos da Eletronorte relatos como da veterinária da
época Daisy Homrich afirma que apesar da grande quantidade de animais e em especial de filhotes
resgatados poucos tinham chances reais de sobreviver, também devido ao pouco espaço sua maioria foi
rapidamente examinada e solta na margem do lago, o que ocasionou a soltura de animais ainda doentes e
extremamente estressados. (Vasconcelos, 2003).
A fauna da região do baixo Tocantins é considerada uma das mais ricas do mundo, antes do
enchimento do lago foi feito um levantamento que registrou mais de 117 espécies de mamíferos, 294 de
aves e 120 de répteis e anfíbios. Hoje na região encontram-se espécies endêmicas, raras e em extinção
como a ararajuba e o cuxiu. (Sanches et al 2005).
A formação do lago ocasionou transformações não só na fauna terrestre e aviaria da região,
mas também na ictiofauna do rio Tocantins de modo geral, ocorrendo uma diminuição na abundancia e na
diversidade de espécies da foz em direção ao alto curso do rio, também houve o aumento de espécies
carnívoras, como a pescada branca, peixe – cachorro, tucunaré e piranha. Problemas como a interrupção
da rota migratória dos grandes bagres, desaparecimento inicial da curimatã, diminuição no estoque
pesqueiro de mapará no baixo Tocantins e o aumento na quantidade de peixes no médio Tocantins.
(Camargo, 2002).
Deve-se compreender que a fuga em massa de macacos, aves e outras espécies, durante os dois
meses de enchimento do lago, e maneira pela qual o resgate foi realizado repassam para a estimativa de
que apenas 1% das espécies sobreviveu em Tucuruí. (Vasconcelos, 2001).
Analisando um pouco da flora, além do corte das arvores que segundo a Eletronorte (1989) que foi
de apenas 143 Km2, realizada por agricultores e pecuaristas da região, muitas espécies acabaram
submersas e consequentemente morreram, uma perda de área de floresta calculada a partir da
comparação das senas landsat 5 foi de aproximadamente 2.247 km2. Podemos perceber isto no mapa 04,
abaixo.

Mapa 04: Perda da flora na região da UHT.


Fonte: SILVA, M. A. PINHO, B. C. P. 2011.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


452

O mapa 04 mostra o quanto foi perdido da flora regional, pela graduação de cores, podemos
perceber, que muito pouco restou até mesmo nos arredores do lago. A submersão de varias espécies
causando sua morte ocasionou áreas chamadas de paliteiros, como mostra nas fotos 02.

Foto 02: Área de paliteiro no lago da UHT. Direção: Norte Azimute: 360
Fonte: SILVA, M. A. 2011.

Esse tipo de área, demonstrado na figura 02 causa grande concentração de matéria orgânica em
decomposição no lago, aumentando o processo de eutrofização do mesmo. E um desequilíbrio na fauna
aquática.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:
O uso do Sistema de Informação geográfica nos permitiu uma grande integração de dados
que proporcionaram analise sobre a perda da biodiversidade na área do lago da UHT, a utilização das
imagens landsat 5 foi de sum importância para essa Anelise, importante destaca que a data escolhida das
imagens no mês de julho é devido a este ser o período de estiagem, pois no período chuvoso é
praticamente impossível trabalhar com imagens landsat 5 na área devido a grande concentração de
nuvens.
Podemos perceber a grande perda da biodiversidade na regia da área de estudo, apesar da
operação de resgate, não há indícios teóricos ou práticos que mostre que isto tenha tido alguma
efetividade, sendo esta realizada mais para satisfazer pequena parcela pouco informada da sociedade do
propriamente favorecer as espécies de animais envolvidas.

AGRADECIMENTO:
Os autores gostariam de agradecer a Universidade Federal do Pará – UFPA, ao Laboratório de
Simulação Computacional em Meio Ambiente – LSCMAM, ao Conselho Nacional de desenvolvimento
Cientifico e Tecnológico – CNPQ, a Eletronorte pelo fundamental apoio na realização deste trabalho.

REFERENCIAS
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reservatório de Tucuruí através de dados de satélite landsat/tm. 1990, Disponível em:
http://scholar.google.com.br/ maio/2011.

João Pessoa, outubro de 2011


453

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Jaboticabal – Saão Paulo, Brasil, 2002
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segmentação e classificação por regiões em imagens – fração, orbita do sensor TM/Landsat, na região do
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Tucuruí (Pará), utilizando imagens radasat. Disponível em: Ananis XI SBSR, Belo Horizonte, Brasil, 05 – 10
abril 2003, INPE.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


454

BIODIVERSIDADE E INTERFERÊNCIAS ANTRÓPICAS: UM ESTUDO


FITOGEOGRÁFICO DA BACIA DO RIO VAZA BARRIS EM SERGIPE
a. a.
Prof Dr Márcia Eliane Silva CARVALHO
Departamento de Geografia/Campus Prof. Alberto Carvalho
Universidade Federal de Sergipe. E-mail: marciacarvalho@ufs.br

RESUMO
Dentre os elementos que compõe a paisagem, a cobertura vegetal irá refletir, logo em um primeiro
momento, as modificações antrópicas em função da ocupação dos espaços, geralmente sendo suprimida
para antropização das localidades. Considerando as intervenções antrópicas na cobertura vegetal de todo o
estado de Sergipe, poucas são as regiões onde são encontradas florestas preservadas. Neste sentido, este
artigo tem como objetivo identificar as variações fisionômicas da cobertura vegetal atual na bacia do rio
Vaza Barris em Sergipe, bem como os efeitos antrópicos sobre a mesma. Para tal, foram utilizados dados de
fontes primárias e secundárias. As formações florísticas dos municípios integrantes da bacia do Vaza Barris
atualmente incluem em sua maior parte uma vegetação do tipo secundária, com resquícios de Mata
Atlântica em áreas geralmente de difícil acesso em termos de uso do solo, apresentando também
representantes da caatinga, cerrado, restinga e manguezal. É interessante destacar que grande parte da
vegetação do cerrado e das matas foi removida para exploração agropecuária, com pastagens, cultivos
temporários e permanentes. Atualmente os manguezais e restingas também têm sido suprimidos para a
expansão de empreendimentos de aqüicultura, especialmente a carcinicultura. Mesmo estando
antropizada, foi possível identificar a biodiversidade nos geossistemas da bacia, demonstrando a
necessidade de efetivar a gestão ambiental que realmente contemple o uso racional dos recursos naturais
associado a manutenção ecológica com os usos antrópicos do espaço em estudo.
Palavras-chave: Fitogeografia – Ações Antrópicas – Bacia Hidrográfica

BIODIVERSITY AND ANTHROPOGENIC INTERFERENCE: A PHYTOGEOGRAPHIC STUDY IN THE RIVER


BASIN OF VAZA BARRIS IN SERGIPE.
ABSTRACT
Among the elements that make up the landscape, vegetation will reflect, so at first, the human
disturbances due to occupation of spaces, usually being removed for human use of the localities.
Considering the human interventions in the vegetation cover across the state of Sergipe, there are few
regions where forests are found preserved. Therefore, this article aims to identify physiognomic variations
of the vegetation cover in the river basin of Vaza Barris in Sergipe, as well as the effects of human activities
on it. To this end, we used data from primary and secondary sources. The floristic formations of the cities
that are part of the basin of Vaza Barris currently include mostly one type of secondary vegetation, with
remnants of Atlantic Forest in areas generally inaccessible in terms of land use, also with representatives of
the savanna, cerrado, restinga, and mangrove. It is interesting to note that much of the cerrado and forests
were removed for agricultural exploitation, with pasture, temporary and permanent crops. Currently,
mangroves and restinga have also been removed for the expansion of aquaculture enterprises, especially
shrimp. Even if they are disturbed, it was possible to identify the biodiversity in the basin geosystems,
demonstrating the need for effective environmental management that actually contemplates the use of
natural resources associating ecological maintaining with the man use of the space in study.
Keywords: Floristic Biodiversity - Anthropogenic Actions – Drainage basin

Introdução
Em virtude das intervenções humanas serem cada vez mais proeminentes na natureza, a
Biogeografia revela sua importância na medida em que busca, dentre outros aspectos, identificar e
compreender os padrões de distribuição dos seres vivos no espaço.

João Pessoa, outubro de 2011


455

Dada a biodiversidade dos sistemas florísticos, os estudos fitogeográficos podem auxiliar na


identificação, monitoramento e preservação de ambientes naturais e/ou na recuperação de áreas
degradadas.
Dentre os elementos que compõe a paisagem, a cobertura vegetal irá refletir, logo em um primeiro
momento, as modificações antrópicas em função da ocupação dos espaços, geralmente sendo suprimida
para antropização das localidades.
Considerando as intervenções humanas na cobertura vegetal de todo o estado de Sergipe, poucas
são as regiões onde são encontradas florestas preservadas. Especificamente sobre a bacia do rio Vaza
Barris neste estado, atualmente as formações florísticas dos municípios que a integram incluem em sua
maior parte uma vegetação do tipo secundária, com resquícios de Mata Atlântica, além de representantes
da caatinga, cerrado, restinga e manguezal.
Apresentado uma população total em torno de 280mil habitantes e ocupando uma área de
2.559,0km2, abrange 14 municípios localizados desde o litoral úmido, passando pelo agreste até chegar ao
sertão. Apresenta em toda a sua extensão singularidades e vulnerabilidades socioambientais que
repercutem sobre os recursos naturais. Ao mesmo tempo, a ocupação do seu espaço tem se dado de forma
desordenada, com urbanização acelerada e uso do solo cada vez mais voltado para fins agropecuários em
detrimento das áreas de matas e florestas.
Neste sentido, este artigo tem como objetivo identificar as variações fisionômicas da cobertura
vegetal atual na bacia em estudo, bem como os efeitos antrópicos sobre a mesma. Para tal, foi utilizado
como base cartográfica o Mapa de Cobertura Vegetal e Uso do Solo da SRH (2004), associado ao Mapa de
Vegetação e Uso da Terra elaborado pelo Centro de Pesquisas Espaciais de Sergipe/CEPES (CODISE - 1993)
na escala 1:100.000, fazendo correlação com os dados de Franco (1983) sobre Biogeografia de Sergipe,
associando também ao Levantamento da situação florestal do estado de Sergipe de Porto (1999) e ao
Levantamento das potencialidades da porção estuarina do rio Vaza Barris elaborado por Von der Decken
(1988), além dos dados da SEPLANTEC (2002). Toda esta base foi articulada às visitas de campo (2007-2009)
na qual foram avaliadas e identificadas as variações fisionômicas e os efeitos antrópicos, objetos deste
estudo.

Cobertura vegetal e utilização agrícola na bacia sergipana do rio Vaza Barris


A caracterização florística da bacia está fortemente associada à utilização agrícola das terras,
principalmente com a pecuária (Figura 01). Foram identificadas as seguintes feições fisionômicas:
Formações Perenifólias, como resquícios da Mata Atlântica; Associações Subcaducifólias, Associação
Caducifólia e Caatinga, manchas de Cerrado, Áreas Embrejadas e Vegetação Litorânea (restinga e
manguezal), distribuídas associadas às condições climáticas e pedológicas da bacia. No mapa, as feições do
Cerrado, Caatinga e Áreas Embrejadas não foram especificadas, sendo englobadas na categoria Mata
Secundária.
A Mata Atlântica ocorre em áreas da Formação Barreiras, sendo denominada perenifólia em função
das características climáticas úmidas, cuja precipitação é sempre maior que a evaporação. Devido ao fato
da precipitação anual ir diminuindo de leste para oeste, a composição florística vai sendo substituída por
uma vegetação mais subperenifólia e depois caducifólia.
No estado de Sergipe está restrita a pequenas reservas ou localizadas em áreas de difícil aceso. A
Mata Atlântica foi paulatinamente, ao longo do processo histórico de ocupação do espaço da bacia, sendo
antropizada, restando poucas áreas ainda preservadas.
Ela tem sido paulatinamente substituída por espécies da Mata Secundária, caracterizada por uma
vegetação adaptada a se desenvolver em solos anteriormente ocupados pela floresta nativa, a exemplo da
umbaúba (Cecropia pachystachia), predecessora de matas.
No município de Macambira, no entorno da cachoeira de São Francisco, resistem exemplares da
Floresta Atlântica, mesclados com os da Mata Secundária (Figura 2). Foram identificados também diversos
extratos arbóreos, sendo comum a presença de representantes das bromeliáceas.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


456

Figura 2 – Reserva de Mata Atlântica no município de


Macambira/SE.
Foto da autora (2009).

O Cerrado se caracteriza pela escleromorfia foliar, falso xeromorfismo e pela suberificação caulinar,
podendo haver dois tipos de padrões, a depender dos componentes florísticos: o Cerradão, no qual
prevalece o porte arbóreo e o Cerrado, prevalecendo o porte herbáceo e/ou rasteiro, podendo ocorrer
espécies isoladas de porte arbóreo.

37°45'0"W 37°30'0"W 37°15'0"W 37°0'0"W


10°15'0"S

10°15'0"S
FIGURA 1
BACIA DO RIO VAZA BARRIS/SE
COBERTURA VEGETAL ATUAL E UTILIZAÇÃO AGRÍCOLA DA TERRA

¹
2010
CARIRA

NÚCLEO URBANO
10°30'0"S

10°30'0"S
MATA ATLÂNTICA

RESTINGA
BAHIA PINHÃO
FREI PAULO
MANGUEZAL

PEDRA MOLE
MATA SECUNDÁRIA

PASTAGEM < 20%


MACAMBIRA
ITABAIANA
PASTAGEM >20%
10°45'0"S

ÁREA CULTIVADA
10°45'0"S

SIMÃO DIAS
CAMPO DO BRITO
AREIA BRANCA
SOLOS EXPOSTOS
SÃO DOMINGOS
SEM CLASSIFICAÇÃO

LAGARTO ARACAJU
LIMITE DA BACIA

LIMITE ESTADUAL
11°0'0"S

11°0'0"S
11°0'0"S

ITAPORANGA D´AJUDA SÃO CRISTÓVÃO LIMITE MUNICIPAL

HIDROGRAFIA

1:200.000
0 10 20
km
PROJEÇÃO UNIVERSAL TRANSVERSA DE MERCATOR
DATUM SAD 69

FONTE: SERGIPE, ATLAS DIGITAL SOBRE RECURSOS HÍDRICOS, SRH/SEPLAN, 2004.


11°15'0"S

ORGANIZAÇÃO: MÁRCIA CARVALHO E LEANDRO SANTANA, 2010.


37°45'0"W 37°30'0"W 37°15'0"W 37°0'0"W

De acordo com Ab’Sáber (2003), o domínio dos cerrados possui drenagens perenes em cursos
d’água, em função do padrão da tropicalidade regional com alternância de estações chuvosas com secas.
Atualmente a maior parte das áreas de cerrado encontram-se degradadas por diferentes tipos de ações
antrópicas, mas ainda presentes em certos interflúvios e vertentes suaves.

João Pessoa, outubro de 2011


457

O cerrado é considerado uma vegetação intermediária entre a Floresta Atlântica e a Caatinga,


sendo que, em Sergipe, é encontrado na região dos Tabuleiros (FRANCO, 1983). No passado, abrangeu
vários municípios, mas, na atualidade, é difícil sua identificação em função da sua supressão para a
pecuária, restando apenas pequenas manchas esparsas.
Na área em estudo, foram identificadas nas atividades de campo manchas de Cerrado nos
municípios de Itabaiana, Campo do Brito, Areia Branca, São Domingos, Lagarto, São Cristóvão, Aracaju e
Itaporanga.
Esta formação florística, no estado de Sergipe, está associada a precipitações variando entre
1.450,7mm e 771,4mm anuais, ocorrendo em solos do tipo Latossolo e por vezes Argissolo. Vale ressaltar
que espécies do Cerrado também são encontradas na Restinga, na Mata Atlântica e na Catinga (FRANCO,
1983).
O Cerrado recebe várias denominações: tabuleiro, campo de cerrado, agreste, etc. Especificamente
sobre o termo agreste, é importante frisar que o mesmo é uma vegetação de transição entre a Floresta
Atlântica e o Cerrado propriamente dito, apresentando maior representatividades das espécies da mata
Atlântica (op.cit.). Uma vegetação característica do Agreste da bacia é a jurema (Figura 3).

Figura 3 - Vegetação do Agreste de Sergipe - Mimosa


nigra, conhecida popularmente como Jurema.
Foto da autora (2008).

Dentre as formações mistas estacionais citadas por Franco (1983) merece destaque, nos município
de Itabaiana e Lagarto e entorno, as Associações Subcaducifólias. Estas são encontradas a medida que a
Floresta Atlântica vai adentrando para oeste, com composição vegetal com número crescente de plantas
caducifólias. As espécies mais comuns identificadas ao longo das atividades de campo na localidade foram
o Ingá, Sclerolobium sp; Pau-d’arco, Tabebuia sp; Murici da mata, Byrsonima sp; Pau-de-leite, Plumeria sp.
Esta vegetação é típica em clima de transição entre o litoral e o sertão, cuja média de precipitação
encontra-se em torno de 900mm, ocorrendo em solos classificados como Argissolos e Planossolos.
Corroborando com Franco (1983), nos municípios de Simão Dias e Frei Paulo ocorrem as
Associações Caducifólias mistas com a Caatinga (Figura 4), na qual foram encontradas nas atividades de
campo as seguintes espécies: aroeira – Astronium sp, mandacaru – Cereus jamacaru, jurema – Mimosa
nigra, cajazeiras – Spondias sp, alecrim – Lantan sp, dentre outras.
Este tipo de associação ocorre em parte em solos do tipo Litossolo, Cambissolo, Planossolo, dentre
outros, sendo que a precipitação anual encontra-se em torno de 850mm.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


458

Figura 4 - Representante das cactáceas as margens da


Cachoeira de São Francisco no município de Macambira/SE
Foto da autora (2009).

Na Caatinga a evaporação é superior a precipitação, trazendo como conseqüência o


desenvolvimento de uma vegetação xeromorfa, com espécies adaptadas a este tipo climático. As folhas
geralmente são substituídas por espinhos, os caules são verdes, favorecendo a fotossíntese e produção de
substancias nutritivas em toda planta. Caules e raízes apresentam reserva de água, abastecendo o vegetal
mesmo nos períodos prolongados de seca. É denominada de Hipoxerófila quando a vegetação se localiza
em regiões com sete meses secos, e Hiperxerófila quando apresenta oito ou mais meses secos. São
representantes típicos da Caatinga na bacia são o mandacaru, Cereus jamacaru, e o facheiro, Pilosocereus
piauiensis.
A importância da caatinga é ressaltada por Ab’Sáber (2003, p.85), pois para o referido autor a
melhor maneira de delimitar o Nordeste seco encontra-se na própria vegetação da caatinga:

Até onde vão os diferentes fácies de caatingas de modo relativamente contínuo, estaremos na
presença de ambientes semi-áridos. O mapa da vegetação é mais útil para definir os confins do domínio
climático regional do que qualquer outro tipo de abordagem, por mais racional que pareça.

Com pequena abrangência identificam-se as Áreas pantanosas ou embrejadas. Para Franco (1983),
estas áreas são denominadas de Campos de Várzeas, vegetação constituída de gramíneas e ciperáceas que
se encontram em brejos, onde há acúmulo de água das chuvas ou que apresentem drenagem insuficiente
para o seu escoamento. Ocorrem em solos aluviais e em termos climáticos apresentam uma elevada
pluviosidade, tendo sido identificadas plantas herbáceas higrófilas e hidrófitas nas margens do rio Vaza
Barris e afluentes nos municípios de Itaporanga d’Ajuda e São Cristóvão.
A vegetação litorânea apresenta íntima relação com a natureza de seu substrato. Segundo Guerra e
Guerra (2005), o Cordão Litorâneo é constituído de flechas de detritos oriundos do mar e dos rios que se
acumulam na costa. Estas flechas também podem ser denominadas de restinga.
De acordo com Rizzini (1997, p.531), a palavra restinga possui três sentidos:

1. para designar todas as formações vegetais que cobrem as areias holocênicas desde o oceano; 2.
para designar a paisagem formada pelo areal justamarítimo com sua vegetação global; 3. muito
freqüentemente para indicar a vegetação lenhosa e densa da parte interna, plana.

Na restinga da bacia costeira do Vaza Barris destaca-se uma vegetação de porte arbustivo,
herbáceo e rasteiro, adaptada às áreas de sedimentos de praia e aluvião do quaternário, correspondendo à
unidade geomorfológica Planície Litorânea A vegetação herbácea e rasteira é visualizada na região praial
onde estão presentes diversas espécies, tais como a salsa da praia, Ipomoea pescaprae, de flores
arroxeadas; a grama da praia, Sporobulus sp, com folhas pontiagudas; além de outras espécies.

João Pessoa, outubro de 2011


459

As associações florísticas desta localidade estão expostas a uma série de fatores limitantes do meio,
como a influência da brisa marinha, a elevada temperatura e luminosidade, baixa umidade dos solos
Arenoquartzosos que apresentam ainda uma alta porosidade. Desta forma, não há formação de espécies
de porte arbóreo nesta linha do supralitoral.
Vale ressaltar a importância desta área para o lazer dos aracajuanos e turistas, corroborando desta
forma com Moraes (1999) que afirma que áreas litorâneas apresentam múltiplos usos, com destaque para
o lazer e ocupação humana. São vários os bares e restaurantes que ocupam os cordões litorâneos das
praias do Robalo, Aruana e Mosqueiro muitos deles de forma ilegal, em área de preservação e que não
apresentam nenhum tipo de tratamento dos efluentes gerados, que são liberados diretamente no mar
(Figura 5).

Figura 5 - Ocupação dos cordões litorâneos da bacia costeira do


rio Vaza Barris em Sergipe.
Foto: Paulo Heimar Souto (2009).

Com a diminuição da intensidade da brisa marinha a vegetação apresenta outro porte, culminando
na denominada Mata ou Floresta de Restinga, cuja paisagem é formada por um complexo florístico de
espécies da vegetação vizinha – mata, caatinga e cerrado.
As espécies de porte arbustivo da Mata de Restinga é visivelmente encontrada na porção estuarina
do município de Itaporanga d’Ajuda, na área de acesso à praia da Caueira. Dentre as espécies encontradas
nas atividades de campo, destacam-se o cajueiro Anacardium occidentale, o araçazeiro Psidium sp,
coqueiros Cocos nucifera, ouricurizeiro, Syagros coronata, murici, Byrsonima sericea, a mangaba, dentre
outros.
Várias espécies da mata de restinga são utilizadas para alimentação, produção de lenha, uso
medicinal, dentre outros. Certos frutos, como a mangaba e o caju, são comercializadas às margens da
Rodovia SE-100.
Os manguezais desenvolvem-se na planície fluviomarinha, correspondendo a ecossistemas
singulares. Por se situarem na faixa de fluxo e refluxo das marés e em permanente contato com o meio
terrestre, possuem características que lhes são próprias a exemplo da sua adaptação ao tipo de solo,
geralmente encharcado e com baixo teor de oxigênio, como também a sua importância ecológica como
barreira natural contra a erosão marinha, além de ser um grande celeiro e berçário das águas costeiras.
Os manguezais sergipanos possuem uma rica fauna que serve de suporte para a subsistência de
várias comunidades que habitam nas proximidades dos estuários ou no próprio manguezal. As principais
espécies coletadas são moluscos bivalves – como a ostra Crassostrea rhizophorae – e os crustáceos Ucides
cordata (caranguejo), Aratu pisonis (aratu) e várias espécies de siris (PORTO, 1999).
Em inventário realizado por Von der Decken (1988) no estuário do rio Vaza Barris, as árvores de
mangue atingiam uma média de altura de 12 metros, com troncos de Rhizophora mangle apresentando
40cm de diâmetro. Estas áreas eram tradicionalmente exploradas pela pesca de subsistência dos
ribeirinhos, além da exploração da madeira para produção de carvão e lenha para as olarias e padarias da
região, como também para a construção de salinas ou viveiros de piscicultura.
Nas atividades de campo foram identificadas as seguintes espécies: Rhizophora mangle (mangue
vemelho), Laguncularia racemosa (mangue branco) e Avicennia gernimans (siriba) (Figura 6).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


460

Figura 6 - Rhizophora mangle ao longo do rio Paruí na


região estuarina do município de Itaporanga d’Ajuda/SE.
Foto da autora (2009).

Com relação a fauna local, o estuário apresenta elevada diversidade de espécies da fauna
bentônica, nectônica e da ictiofauna. Segundo entrevistas com pescadores amadores no rio Santa Maria,
que deságua no rio Vaza Barris, as principais espécies de peixes capturados são o carapeba, xaréu, barbudo,
tramitara, bagre, baiacu, vermelho, carapicum, pomba-do-rei, pampu, arraia, dentre outros, além da
presença de cavalo-marinho (espécie ameaçada de extinção), moluscos (ostras, maçunim), crustáceos (siri,
caranguejo, aratu), algumas espécies de pássaros e peixe-boi, que provavelmente migrou para a região.
A bacia está inserida, total ou parcialmente, em três Unidades de Conservação Ambiental do
Estado. A primeira, na região estuarina do rio Vaza Barris, considerada Área de Proteção Ambiental da Foz
do Rio Vaza Barris, de acordo com a Lei Estadual no 2.795/1990, abrange parte dos municípios de Aracaju,
Itaporanga d’Ajuda e São Cristóvão. Esta localidade abriga rica fauna e flora, sendo a vegetação de
manguezal protegida por legislação específica, Lei Federal no 4.771/95 e no 6.938/81 e pelo Decreto Federal
no 89.336/84, ressaltada na Resolução CONAMA 312/2002.
A segunda Unidade de Conservação, instituída em 1993, abrange toda a porção sul de Sergipe,
sendo denominada de Área de Proteção Ambiental (APA) do Litoral Sul de Sergipe, pelo Decreto Estadual n.
13.468/1993, alterado pelo Decreto 15.559/1995. Esta APA estende-se desde a margem do rio Vaza Barris
até a margem do rio Real, compreendendo uma faixa de 10-12km de largura a partir da linha de preamar,
compreendendo os municípios de Itaporanga d’Ajuda, Estância, Santa Luzia do Itanhy e Indiaroba. No
entanto, a região vem sendo ocupada sem nenhum tipo de planejamento, comprometendo os
ecossistemas locais.
A terceira Unidade de Conservação localiza-se em uma porção mais interiorana da bacia e integra
parcialmente o Parque Nacional da Serra de Itabaiana - PARNA, uma Unidade de Conservação Federal,
criado em 2005, que abriga espécies representativas da restinga, caatinga, cerrado e mata atlântica. Esta
Unidade abrange os municípios de Areia Branca e Itabaiana, sendo constituído pelas “Serras” de Itabaiana,
Comprida, Capunga e Miaba. No entanto, esta Unidade tem encontrado sérios problemas/ausência de
gestão ambiental.

Considerações finais
É interessante destacar que grande parte da vegetação do cerrado e das matas foi removida para
exploração agropecuária, com pastagens, cultivos temporários e permanentes. Atualmente os manguezais
e restingas também têm sido suprimidos para a expansão de empreendimentos de aqüicultura,
especialmente a carcinicultura, que tem sido grandes tensores antrópicos na bacia.
Mesmo estando antropizada, foi possível identificar a biodiversidade florística na bacia,
demonstrando a necessidade de efetivar a gestão ambiental que realmente contemple o uso racional dos
recursos naturais associado a manutenção ecológica com os usos antrópicos do espaço.

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João Pessoa, outubro de 2011


461

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Sergipe (CODISE). Centro de Pesquisas Espaciais de Sergipe (CEPES). Mapa de Uso do Solo e Vegetação.
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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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RIQUEZA, ABUNDÂNCIA E USO DAS ESPÉCIES VEGETAIS EM UMA


CAATINGA, SANTA QUITÉRIA, CE
LOURENÇO, Maria Alexsandra dos Santos
Graduanda do curso de Ciências Biológicas da Universidade Regional do Cariri – URCA/CE
(leka-eu@hotmail.com)
OLIVEIRA, Samara Feitosa,
Graduanda do curso de Ciências Biológicas da Universidade Regional do Cariri – URCA/CE
(feitosinhajuca@hotmail.com)
SOUSA, Marta Maria De Almeida,
Professora Orientadora Do Laboratório De Botânica Da Universidade Regional Do Cariri – URCA/CE
(martaalmeida10@yahoo.com.br)

RESUMO
O bioma caracterizado como caatinga tem sido foco de muitos estudos recentemente realizados,
devido a sua riqueza, endemismo e heterogeneidade e etnobotânica. Por esta razão é que o presente
trabalho objetiva o levantamento e a análise da riqueza, abundância e uso das espécies vegetais em uma
caatinga no município de Santa Quitéria, Ceará, Brasil. A área de estudo localiza-se na microrregião de
Santa Quitéria, com área de aproximadamente 4.260,68 km², possui clima semi-árido e como característica
vegetacional a caatinga arbóreo-arbustiva. As espécies foram levantadas de acordo com suas categorias de
uso e analisados os parâmetros fitossociológicos como IVI, densidade, freqüência e área basal. Das 20
espécies amostradas a categoria com maior número de representantes foi à medicinal totalizando 14
espécies, em seguida a categoria apresentou uma elevada representação foi a de alimentação animal com
o número de 12 espécies. Goram encontrados 389 indivíduos pertencentes a 8 familias, distribuídos em 20
espécies. As famílias com maior número de espécies foram Leguminosae, Euforbiaceae e Combretaceae.
Entre as espécies destaca-se Croton blanchetianus (Marmeleiro-preto) com maior IVI (62,63) o que se
explica pelo fato de possuir a densidade mais expressiva (675,0), seguida de Croton nepletifolius Baill.
(Marmeleiro-branco) com IVI de (38,74) e densidade de (431,3). Combretum leprosum (Mofumbo) assim
como as espécies mencionadas merece destaque, visto que, possui a maior área basal (0, 2921), além de
possuir IVI (34,78) e densidade (312,5) elevados. As espécies que apresentaram as maiores densidades,
área basal e IVI também apresentaram as maiores freqüências (100%). Amburana cearensis (Imburana-de-
cheiro) foi à espécie que apresentou os menores valores de IVI (4,45), densidade (6,3), freqüência (25%) e
área basal (0, 0415). Amburana cearensis apresentou maior representação entre as categorias de uso.
Entretanto observou-se que seus valores fitossociológicos tenham sido os mais baixos entre as espécies
analisadas. Provavelmente a intensa utilização da espécie na área estudada contribua para os baixos
valores nos parâmetros estruturais.

ABSTRACT
The caatinga biome has been the focus of many recent studies due to its richness, endemism,
diversity and ethnobotany. This paper aims the survey and analysis of wealth, abundance and use of plant
species in a caatinga in Santa Quitéria, Ceara, Brazil. The studied area is located in the microregion of Santa
Quiteria, with an area of approximately 4,260.68 km ², has semi-arid climate and caatinga vegetation, with
characteristic trees and shrubs. The species were surveyed according to their categories and analyzed using
the phytosociological parameters such as IVI, density, frequency and basal area. From the 20 species
sampled, the category with the largest number of representatives was the total of 14 medicinal species,
followed by animal feed with the number of 12 species. It was found 389 individuals belonging to eight
families, distributed in 20 species. The families with the greatest number of species were Leguminosae,
Combretaceae and Euforbiaceae. Among the species stands Croton blanchetianus(Marmeleiro-preto) with
the highest IVI (62.63) which can be explained by the fact that it's density is more pronounced (675.0),
followed by Croton nepletifolius Baill. (Marmeleiro-branco) with the IVI (38.74) and density (431.3).
Combretum leprosum (Mofumbo) as well as the species mentioned is noteworthy, since it has the largest
basal area (0, 2921), besides having IVI (34.78) and density (312.5) high. The species showing the highest

João Pessoa, outubro de 2011


463

density, basal area and IVI also had the highest frequencies (100%). Amburana cearensis (Imburana-de-
cheiro) was the species that presented the lowest values of IVI (4,45), density (6,3), frequency (25%) and
basal area (0, 415). But it was the species with the highest representation among the categories of use.
Probably the intense use of the species in the studied area contributes to the low values in the structural
parameters.
Keywords: Ethnobotany, Caatinga, Use.

INTRODUÇÃO
Exclusivamente brasileiro, a Caatinga ocupa cerca de 11% do país (844.453 Km²), sendo o
principal ecossistema/bioma da região nordeste (MMA, 2011). Estende-se pelos estados do Maranhão,
Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Bahia e norte de Minas Gerais.
A vegetação é composta por espécies xerófilas, plantas com adaptação ao clima semi-árido,
seus hábitos são diversificados com porções arbóreos, arbustivos e herbáceos. A fauna da caatinga também
é bem diversificada especialmente pela quantidade de espécies endêmicas existentes no bioma.
A caatinga possui um patrimônio biológico bastante diversificado, com ocorrência de espécies
endêmicas e uma inestimável riqueza de espécies vegetais e animais, sendo este o único bioma
exclusivamente brasileiro (MMA, 2004). Embora possua características tão marcantes, a caatinga está entre
os biomas que mais sofreram interferência humana (MMA, 2004).
Atualmente ainda existem poucos estudos a cerca dos recursos da caatinga. Apesar de ser o
bioma comparativamente menos conhecido e estudado, o conhecimento da flora e da vegetação da
caatinga tem sido bastante ampliado (CARTAXO, 2009). Segundo registros existem cerca de 1.102 espécies
de arvore e arbustos (GAMARRA-ROJAS & SAMPAIO 2002), dentre elas 318 são endêmicas (GUILIETTI et AL.
2002). Já os poucos trabalhos no componente herbáceo mostram pelo menos 750 espécies de ervas,
embora a estimativa seja que esta diversidade seja ainda maior.
Além da vasta biodiversidade apresentada pela caatinga, o bioma conta com imenso
potencial medicinal, econômico e opção alimentar para animais. Em relação ao conhecimento dos vegetais
medicinais em áreas de caatinga, muitas espécies são usadas como fitoterápicos popularmente, dentre elas
destaca-se Amburana cearensis (Imburana-de-cheiro), Caesalpinia pyramidalis (Catingueira), Croton
blanchetianus (Marmeleiro-preto) e Myracrodruon urundeuva (aroeira).
Com base no exposto, o presente trabalho objetiva levantar a riqueza, abundância e uso
das espécies vegetais em uma caatinga no município de Santa Quitéria, Ceará, Brasil.

MATERIAL E MÉTODOS
Área de Estudo
Município da região Noroeste Cearense, microrregião de Santa Quitéria. Segundo os dados
do IBEGE, o município possui uma área de 4.260,455 Km², latitude 4° 19' 55'' e longitude 40° 09' S 24'' W.
Possui clima tropical quente semi-árido, com precipitação pluviométrica de 7,99mm anualmente. Seu
relevo é formado por depressões sertanejas e maciços residuais, tendo como vegetação a caatinga
arbustiva aberta, Floresta caducifólia espinhosa e Floresta subcaducifólia tropical pluvial.

Amostragem
O levantamento das espécies foi realizado com base em parâmetros fitossociológicos de
estudos feitos na área em questão, calculados pelo FITOPAC, analisando a distribuição dos indivíduos. O
método utilizado foi o de parcelas múltiplas 20x20m², onde foram alocadas quatro parcelas e distribuídas
de modo sistemático. Os dados encontrados foram organizados de acordo com os parâmetros: densidade,
freqüência, IVI (Índice de Valor de Importância) e área basal. As espécies foram também analisadas
baseando-se nas categorias de uso: medicinal, alimentação animal e humana, apícola, indústria madeireira,
ornamental, óleos essenciais dentre outros.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Categorias de usos
Na análise das categorias de uso das 20 espécies amostradas, a categoria com maior
número de representantes foi à medicinal totalizando 14 espécies, em seguida a categoria que apresentou

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


464

uma elevada representação foi a de alimentação animal com o número de 12 espécies. Seguida das
categorias medicinal, madeireira e apícola. A categoria ornamental e alimentação humana foram as que
tiveram os menores valores. Amburana cearensis (Imburana-de-cheiro) foi à espécie de maior destaque
entre as categorias sendo enquadrada em sete das oito categorias analisadas. Seguida de Ziziphus joazeiro
(Juazeiro), Aspidosperma pyrifolium (Pereiro) e Piptadenia moniliformes (Catanduva). Em contrapartida
espécies Cordia insignus (Bacuri) e Casearia sp. (Cipó) foram enquadradas apenas na categoria medicinal.

Abundância e Riqueza
No levantamento a cerca da abundância e riqueza das espécies foram analisados os
parâmetros fitossociológicos de um total de 389 indivíduos pertencentes a 8 famílias em um total de 20
espécies. As famílias com maior número de espécies foram Leguminosae, Euforbiaceae e Combretaceae.
Entre as espécies destaca-se Croton blanchetianus (Marmeleiro-preto) com maior IVI (62,63) o que se
explica pelo fato de possuir a densidade mais expressiva (675,0), seguida de Croton nepletifolius Baill.
(Marmeleiro-branco) com IVI de (38,74) e densidade de (431,3). Combretum leprosum (Mofumbo) assim
como as espécies mencionadas merece destaque, visto que, possui a maior área basal (0, 2921), além de
possuir IVI (34,78) e densidade (312,5) elevados. As espécies em destaque possuem a mesma freqüência
(100%). Amburana cearensis foi à espécie que apresentou os menores valores de IVI (4,45), densidade (6,3),
freqüência (25,00) e área basal (0, 0415).

Abundância das espécies X Uso


As espécies mais utilizadas, ou seja, que apresentaram uma quantidade de uso igual ou
superior a cinco categorias mostraram valores de densidade, freqüência, área basal e IVI altos como Croton
blanchetianus, Piptadenia moniliformes e Mimosa caesalpinifolia, mas também plantas pouco desenvolvida
como Ziziphus joazeiro, Amburana cearensis e Anadenanthera colubrina (Tabela 1).
Das vinte espécies analisadas sete apresentaram apenas uma ou duas indicações de uso
mostrando plantas entre os maiores (Combretum leprosum e Cordia trichotoma) e entre os menores
valores estruturais (Luetzeburgia sp., Cordia insignis e Caseria sp). Não foi constatada a relação entre as
espécies mais utilizadas e os valores estruturais.

Tabela 1. Análise das espécies em relação à abundância e as categorias de uso.

João Pessoa, outubro de 2011


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Legenda das categorias de uso (AA- Alimentação Animal, AH- Alimentação Humana, AP- Apícola, CE- Cera, MA-
Madeireira, ME- Medicinal, OE- Óleos Essenciais, OR- Ornamental).

CONCLUSÃO
Verificou-se com esta análise o levantamento das espécies e seus usos, a sua distribuição na área, a
riqueza e a abundância existentes no semi-árido de Santa Quitéria, Ceará. Observou-se também que
algumas espécies apresentadas na área são comuns as de outros levantamentos realizados com o mesmo
tipo vegetacional. Vale ressaltar também, que em geral as espécies de maior uso foram as que
apresentaram os menores valores estruturais. Por meio dos resultados obtidos torna-se cada vez mais
importante o estudo do bioma e a geração de alternativas para a conservação, regeneração e manejo em
áreas de caatinga.

REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, U. P; ANDRADE, L. H. C. Conhecimento botânico tradicional e conservação em uma
área de caatinga no estado de Pernambuco, Nordeste do Brasil. Acta Botanica Brasílica, v. 16, p.273-285,
2002b.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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ALMEIDA, C. F. B. R., ALBUQUERQUR, U. P. Uso e conservação de plantas e animais medicinais no


estado de Pernambuco (Nordeste do Brasil): um estudo de caso. Interciência, v. 26, p. 276-285.2002.
AVALIAÇÃO E AÇÕES PRIORITÁRIAS PARA A CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE DA CAATINGA.
R.M. Pereira et al. (eds.). Universidade Federal de Pernambuco/Fundação de Apoio ao
Desenvolvimento/Conservation International do Brasil, Fundação Biodiversitas, EMBRAPA/Semi-Árido.
Brasília: Ministério do Meio Ambiente/Secretaria de Biodiversidade e Florestas, 2002.
ALBUQUERQUE, Ulysses Paulino de e ANDRADE, Laise de Holanda Cavalcanti. Conhecimento
botânico tradicional e conservação em uma área de caatinga no estado de Pernambuco, Nordeste do Brasil.
Acta Bot. Bras. [online]. 2002, vol.16, n.3, pp. 273-285. ISSN 0102-3306.
Silva, J. M. C., et al. Biodiversidade da caatinga: áreas e ações prioritárias para a conservação.
Ministério do Meio Ambiente e Universidade Federal do Pernambuco. Brasília, 2003. Disponível em:
http://www.mma.gov.br/ index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=14&idConteudo=2464
CENSO 2010 - CEARÁ. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (29 de novembro de
2010). Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Assu , 15/04/2011, as 15:00h.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Caatinga

João Pessoa, outubro de 2011


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MATA ATLÂNTICA, ANÁLISE BIBLIOGRÁFICA SOBRE O BIOMA


FRAGMENTADO (2000 – 2009)
Mayara da Silva MONTELES
Graduanda do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Maranhão- UFMA/Centro de Ciências Agrárias e
Ambientais – Campus IV
E-mail: mayara-monteles@hotmail.com
Pollyana Viana da SILVA
Graduanda do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Maranhão - UFMA/Centro de Ciências Agrárias e
Ambientais – Campus IV
E-mail: pollyanavianadasilva@yahoo.com.br
Regis Catarino da HORA
Professor titular da Universidade Federal do Maranhão- UFMA/ Centro de Ciências Agrárias e Ambientais- Campus IV.
E-mail: reghora@hotmail.com

RESUMO
A mata atlântica originalmente percorria o litoral brasileiro, estendendo-se do Rio Grande do Norte
ao Rio Grande do Sul, e ocupava uma área de 1,3 milhão km2. Atualmente, abrange 17 estados brasileiros
(RS, SC, PR, SP, GO, MS, RJ, MG, ES, BA, AL, SE, PB, PE, RN, CE, PI). Neste trabalho tem por objetivo realizar
uma análise dos trabalhos científicos correspondente ao período de 2000 à 2009, bem como conhecer a
biodiversidade que compõem este bioma fragmentado. O levantamento deu-se através de pesquisa de
sites de busca da internet. Os 52 artigos encontrados foram classificados por temas onde, 65% dos artigos
corresponderam ao levantamento de composição vegetal, 14% a caracterização do ambiente abiótico, 6%
ao levantamento da composição faunística e 15% conservação e regeneração da Mata Atlântica. Em
relação a artigos encontrados por estados, a Bahia apresentou maior porcentagem (31%), já os estados de
Sergipe, Rio Grande do Sul, Paraíba e Paraná, apresentaram apenas 2%. Concluiu-se que há necessidade de
mais estudos relacionados à fauna da Mata Atlântica, pois se tem um vasto conhecimento sobre a flora
característica desse bioma e faz-se necessário ampliar os estudos nos demais estados que compreendem
tal bioma, pois onde se encontra uma das maiores biodiversidades.
PALAVRAS-CHAVE: Bioma Mata Atlântica, Revisão Científica, Biodiversidade, Classificação Temática.

ABSTRACT
The Atlantic forest originally traveled the Brazilian coast, stretching from Rio Grande do Norte to
Rio Grande do Sul, and occupied an area of 1.3 million km2. Currently covers 17 Brazilian states (RS, SC, PR,
SP, GO, MS, RJ, MG, ES, BA, AL, SE, PB, PE, RN, CE, PI). This work aimed to conduct an analysis of scientific
papers covering the period from 2000 to 2009, as well as determine the biodiversity that make up this
biome fragmented. The survey was made through site search search the Internet. The 52 articles were
classified by subject where 65% of the items corresponded to the survey of vegetation composition, 14% to
characterize the abiotic environment, 6% a survey of faunal composition and 15% conservation and
regeneration of the Atlantic. For articles found by states, Bahia had a higher percentage (31%), since the
states of Sergipe, Rio Grande do Sul, Santa Catarina and Parana, showed only 2%. It was concluded that
there is need for more studies related to the fauna of the Atlantic, because it has a vast knowledge of the
flora characteristic of this biome and it is necessary to expand the studies in other states that comprise this
biome, where it is one of greater biodiversity.
KEYWORDS: Atlantic Forest biome, Scientific Review, Biodiversity, Thematic Classification.

INTRODUÇÃO
A Mata Atlântica é um dos biomas mais importantes do planeta, englobando um diversificado
mosaico de ecossistemas florestais com estruturas e composições bastante variadas, onde abriga um
grande número de espécies, tanto vegetais como animais, outrora já foi considerada a maior floresta
latitudinal do planeta, um tapete verde que corria ao longo da faixa litorânea brasileira (MORALES &
CORTESÃO, 2000). Originalmente percorria o litoral brasileiro de ponta a ponta. Ocupava uma área de 1,3

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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milhão de quilômetros quadrados. Tratava-se da segunda maior floresta tropical úmida do Brasil, só
comparável à Floresta Amazônica (MARTINS et al, 2006) (Figura 1).

Figura 1. Situação original da Mata Atlântica, século XVI.

Atualmente, abrange total ou parcialmente 3.409 municípios em 17 Estados brasileiros (RS, SC, PR,
SP, GO, MS, RJ, MG, ES, BA, AL, SE, PB, PE, RN, CE, PI) (Figura 2).

Figura 2. Situação atual da Mata Atlântica, século XXI.

Dentre as florestas tropicais, a Mata Atlântica brasileira, embora possua alta riqueza e diversidade
biológica, encontra-se totalmente fragmentada, tendo a sua área reduzida em menos de 8% (CÃMARA,
2005). Tornado-se um dos biomas mais ameaçado do planeta.
Estende-se de 4º a 32ºS e cobre um amplo rol de zonas climáticas e formações vegetais, de
tropicais a subtropicais. A elevação vai do nível do mar até 2.900m, com mudanças abruptas no tipo e
profundidade dos solos e na temperatura média do ar (Mantovani, 2003). Variações longitudinais são
igualmente marcantes. Quanto mais interioranas, mais sazonais tornam-se as florestas, com índices de
pluviosidade caindo de 4000 mm a 1000 mm em algumas áreas da Serra do Mar (OLIVEIRA-FILHO &
FONTES, 2000; MANTOVANI, 2003).
A Mata Atlântica é a segunda maior floresta pluvial tropical do continente americano, que
originalmente estendia de forma contínua ao longo da costa brasileira, penetrando até o leste do Paraguai
e nordeste da Argentina em sua porção sul. No passado cobria mais de 1, 5 milhões de km 2 – com 92%
desta área no Brasil (Fundação SOS Mata Atlântica & INPE, 2001; Galindo-Leal & Câmara, 2003). Hoje em

João Pessoa, outubro de 2011


469

dia, onde estavam 134 milhões de hectares de mata costeira, contendo pouco menos de 7% da cobertura
original, há 70 % da população brasileira (INPE SOS Mata Atlântica, 2001). Duas das maiores cidades do
Brasil em termos de população e economia, São Paulo e Rio de Janeiro, pertencem a esse bioma, e a
solução para sustentar essa região é extrair alimentos de maneira desordenada – explicando boa parte da
perda da Mata Atlântica (MEISTER & SALVIATI, 2009).
O planejamento de corredores é feito em escala regional, podendo se estender por centenas de
quilômetros para incluir áreas protegidas, habitats naturais remanescentes e suas comunidades ecológicas.
O Corredor Central compreende cerca de 80% da biorregião “Bahia”, uma das sub-regiões biogeográficas
da Mata Atlântica propostas por Silva & Casteleti (2001).
As fragmentações normalmente estão associadas a uma série de intervenções na floresta, tais
como extração de espécies madeireiras e outras de interesse econômico, caça e queimadas, que têm
efeitos sinergéticos com a fragmentação florestal, contribuindo para a perda de biodiversidade (LAURANCE
et al., 2001; TABARELLI et al., 2004).
A composição da Mata Atlântica é normalmente classificada como ombrófila (úmidas e perenes) e
estacional (em períodos de seca, perde de 20 a 50% das folhas). Dentro da primeira classificação, tem-se
ombrófila densa (ocupa quase toda a extensão litorânea brasileira), mista (ocupa parte dos estados do Rio
Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais) e aberta (com área bem
restrita) – de acordo com a densidade de espécies vegetais, disposição e outros fatores bióticos e abióticos
(JOLY et al., 1991 apud MEISTER et al., 2009). Já a floresta estacional é dividida em semi-decidual (ocorre
em grande parte nas regiões Centro-Oeste e sul da região Norte) e a decidual (Nordeste e no Sul,
principalmente em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul) (INPE SOS Mata Atlântica,
2001) (Figura 3).

Figura 3. Distribuição das composições fitossociológicas da Mata Atlântica (cobertura original) (INPE SOS
Mata Atlântica, 2001)
Com relação aos aspectos pedológicos, a maioria dos solos da Mata Atlântica provém de rochas
ígneas e metamórficas, sendo a primeira de origem vulcânica e a segunda de processos de pressão. Há
também as rochas sedimentárias, que ocorrem mais ao interior, principalmente nos estados da Bahia,
Minas Gerais e Mato Grosso do Sul (Critical Ecosystem Partnership Fund, 2001). Por quase toda a extensão
da Mata Atlântica, os solos dominantes são de latossolos seguidos por cambissolos líticos, estes, são assim
chamados por apresentarem uma camada de rochas sob as camadas de solo (Santos & Santos, 2007). A
diferença principal entre os dois tipos de solo se relaciona com a capacidade de conter água. O latossolo é
profundo e conseqüentemente pode conservar muita água, mas não contém muitos nutrientes disponíveis.
Em contraste, apesar de poder ser profundo, o cambissolo contém um estrato rochoso, o que afeta a
ubicação dos lençóis freáticos, a drenagem e o desenvolvimento do solo. O solo, em geral, é bastante raso,

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


470

com pH ácido, pouco ventilado, sempre úmido e extremamente pobre, recebendo pouca luz, devido à
absorção dos raios solares pelo estrato arbóreo. A umidade e a presença de grande quantidade de matéria
orgânica (serrapilheira) tornam o solo favorável à ação de microorganismos decompositores (fungos e
bactérias) que possibilitam o aproveitamento dos nutrientes e sais minerais pelos vegetais.
O clima, na região compreendida pelas florestas pluviais atlânticas, tem duas estações, definidas
principalmente pelo regime de chuvas, embora seja latitudinalmente bastante variável. Enquanto no
Nordeste brasileiro as temperaturas médias anuais variam em torno de 24ºC, nas regiões Sudeste e Sul as
médias anuais são mais baixas e a temperatura pode ocasionalmente chegar a -6ºC (APREMAVI, 2006).
Em relação a água, a Mata Atlântica apresenta um alto índice pluviométrico e, em média, estes
valores variam entre 1.800 e 3.600 mm/ano, podendo chegar à 4.000 mm/ano, como é o caso de
Paranapiacaba (SP). Por este motivo, está incluída nas florestas pluviais do Planeta (pluvio = chuva). Esta
característica é conseqüência da condensação da brisa oceânica carregada de vapor que é empurrada para
as regiões continentais chegando nas escarpas das serras. Quando estes ventos atingem determinada
altura e grau de condensação, encontram correntes de ar com diferentes temperaturas fazendo com que o
excesso de vapor d´água se precipite em forma de chuva ou nevoeiro (serração), tornando o ambiente
muito úmido.
A fauna da Floresta Atlântica representa uma das mais ricas em diversidade de espécies e está
entre as cinco regiões do mundo que possuem o maior número de espécies endêmicas. Está intimamente
relacionada com a vegetação, tendo uma grande importância na polinização de flores, e dispersão de frutos
e sementes. A precariedade dos levantamentos sobre a fauna da Mata Atlântica torna sua descrição e
análise mais difícil que no caso da vegetação (MMA, 2000).
A Mata Atlântica apresenta uma das mais elevadas riquezas de aves do planeta, com 1020 espécies.
É um importante centro de endemismo, com 188 espécies endêmicas e 104 ameaçadas de extinção.
Marsupiais e pequenos roedores formam o grupo ecológico mais diversificado de mamíferos das florestas
Neotropicais, com mais de 190 espécies atualmente reconhecidas para o Brasil e cerca de 92 espécies na
Mata Atlântica, das quais quase metade (43 espécies) é endêmica deste bioma (FONSECA et al., 1996 apud
PARDINI, & UMETSU, 2006). Estes números devem ser ainda mais altos, e várias espécies foram descritas
nos últimos anos (PATTERSON 2000; GRELLE 2002). Além disso, ainda existem grandes lacunas no
conhecimento atual da distribuição geográfica das espécies e da biogeografia desses grupos na Mata
Atlântica.
A Mata Atlântica é o lar de muitas espécies de plantas nativas úteis (e.g., maracujá, pitanga, erva-
mate, pinhão, diferentes espécies de bromélias, etc.) (SIMÕES & LINO, 2002). Na Bahia há uma palmeira
endêmica que possui vários usos. Trata-se da piaçava, ou Attalea funifera. A piaçava é bem adaptada a
regiões pobres, com solos ácidos e baixa fertilidade e ocorre em bosques secundários, na submata e nas
áreas abertas (SIMÕES & LINO, 2002), destacando-se a possibilidade de seu plantio em muitas áreas como
uma opção à vegetação.
Já em relação à perda de hábitat, a derrubada de florestas foi especialmente severa nas últimas
três décadas; 11.650km2 de florestas foram perdidos nos últimos 15 anos (284km 2 por dia; Fundação SOS
Mata Atlântica & INPE, 2001; HIROTA, 2003). As taxas de desflorestamento desafiam a legislação brasileira
de proteção à Mata Atlântica. O Código Florestal de 1965 requer que 20% da área de qualquer propriedade
rural na região seja manejada como reserva legal e que as matas de galeria (determinada pela largura do
rio) e matas em encostas íngremes (por exemplo) sejam áreas de preservação permanente e preservadas
como tal (SCHAFFER & PROCHNOW, 2002). O Decreto Federal 750 de 1993 delimita a Mata Atlântica
brasileira e seus ecossistemas associados e determina que qualquer exploração madeireira, corte ou
perturbação requer permissão prévia por parte da agência governamental competente (CÂMARA, 2003).
Este trabalho tem por objetivo realizar uma análise dos trabalhos científicos correspondente ao
período de 2000 à 2009, bem como conhecer a biodiversidade que compõem este bioma fragmentado.

MATERIAL E MÉTODOS

Este trabalho teve por abrangência a área que envolve a Mata Atlântica, e é fruto de observações
de campo dos autores. Para este estudo foi realizado um levantamento de publicações científicas entre os
anos de 2000 à 2009. O levantamento deu-se através de pesquisa no site da Coordenação de

João Pessoa, outubro de 2011


471

Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES, http://capes.gov.br/servicos), Scientific


Electronic Library Online (Scielo, http://www.scielo.org.br) no site da Revista Brasileira de Botânica
(www.botanica.org.br) e Acta Botânica Brasilica (http:// www.scielo.br/abb), procurando pelas palavras-
chave “bioma + mata atlântica” e “mata + atlântica”.
Os artigos encontrados foram classificados de acordo com os seguintes tópicos:
Para levantamento de composição vegetal:
Levaram-se em consideração artigos científicos que fizeram estudos relacionados à levantamento
da composição florística, amostrando quantidades taxonômicas de espécies, gêneros e famílias; e a relação
dos resultados com as peculiaridades locais e índices de biodiversidade;
Caracterização do ambiente abiótico:
Estudos relacionados aos diversos meios que os compõem: alterações no solo acarretando
mudanças na vegetação, índices de precipitação pluviométrica, descrição de fatores climáticos, edáficos e
de relevo;
Levantamento da composição faunística
Foram avaliados artigos científicos que fizeram estudos relacionados à levantamento da
composição faunística, amostrando quantidades taxonômicas de espécies, gêneros e famílias; e a relação
dos resultados com as peculiaridades locais e índices de biodiversidade;
Conservação e regeneração;
Trabalhos com temática ligada à análise da vulnerabilidade da fragmentação: identificação das
áreas, descrição da estrutura da vegetação e o histórico de impactos na influência da dinâmica de
comunidades de plantas, assim como perspectivas de regeneração.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram encontrados um total de 52 artigos com publicações que compreende entre os anos de 2000
à 2009, classificados em quatro áreas temáticas, expostas nos materiais e métodos, onde 14% dos artigos
corresponderam a caracterização do ambiente abiótico, 15%, correspondente a conservação e regeneração
da Mata Atlântica, 6% refere-se ao levantamento de composição faunística e 65%, correspondente ao
levantamento da composição vegetal (Figura 4). Percebeu-se que ocorre maior interesse em estudos de
levantamento de composição vegetal, onde a precariedade dos levantamentos sobre a fauna da Mata
Atlântica torna sua descrição e análise mais difícil que no caso da vegetação, mas, apesar da carência de
informações para alguns grupos taxonômicos, estudos comprovam uma diversidade bastante alta. E a
relação entre animais e plantas da Mata Atlântica é bastante harmônica. Conferem-se poucos estudos em
conservação, restauração e caracterização do ambiente abiótico.

Figura 4. Distribuição dos trabalhos científicos de acordo com as áreas temáticas propostas.

Em relação à quantidade de artigos encontrados por estados, o estado da Bahia (31%) apresenta
maior porcentagem em comparação com os demais estados que compreendem o bioma Mata Atlântica.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


472

Em segundo lugar, apresenta-se o estado de Minas Gerais (17%), e em último lugar, encontram-se os
estados de Sergipe, Rio Grande do Sul, Paraíba e Paraná todos com 2% (Figura 5).
A alta porcentagem de estudos sobre o bioma Mata Atlântica no estado da Bahia deve-se, pelo
fato, de que neste estado está concentrado maiores números de projetos de conservação, segundo
Fonseca et al., (2004).

Figura 5. Comparação de trabalhos científicos encontrados por estados brasileiros que compõem o bioma
Mata Atlântica.

CONCLUSÃO
Portanto, concluiu-se que há necessidade de mais estudos relacionados à fauna da Mata Atlântica,
pois já se tem um vasto conhecimento sobre a flora característica desse bioma. Vale ressaltar que a Mata
Atlântica já se encontra muito fragmentada, resultando num possível desconhecimento sobre a fauna que
ocorre nesta área.
Faz-se necessário ampliar os estudos nos demais estados que compreendem tal bioma, pois onde
se encontra uma das maiores biodiversidades.

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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


474

LEVANTAMENTO DE MAMÍFEROS DEPOSITADOS NO CENTRO DE


TRIAGEM DE ANIMAIS SILVESTRES (CETAS) DO IBAMA NA PARAÍBA NOS
ANOS 2009 E 2010
MARQUES, M.F.S.1, RIBEIRO, L.P.S.1, WAGNER, P. G. C.2
1 Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências Agrárias, Departamento de Ciência Veterinária, Areia, PB
michele_flavia4@hotmail.com (Estudante)
2 CETAS/IBAMA/PB – Floresta Nacional da Restinga de Cabedelo, BR 230, km 11, Cabedelo, PB.
paulo.wagner@ibama.gov.br (Profissional-Orientador)

RESUMO
O Brasil é um país de atributos superlativos, notadamente quando se trata de patrimônio biológico
e, junto de Madagascar e Indonésia, é reconhecido como um país megabiodiverso. Os mamíferos são
representados por 500 espécies continentais conhecidas pela ciência sendo descritas 35 novas espécies
entre 1978 e 2003. A exploração dos seres humanos sobre os habitats naturais tem aumentado
grandemente em todo o mundo, resultando na diminuição de espaço de uso para os animais. Esse trabalho
tem como objetivo analisar a entrada de mamíferos silvestres no CETAS/IBAMA/PB, a partir dos registros
lançados nos seus bancos de dados, nos anos de 2009 e 2010. Os mamíferos corresponderam a 6,84% (638
espécimes) dos animais depositados, de um total de 9.316 espécimes, ainda onde 81,24% (7.569
espécimes) corresponderam a aves, 10,93% (1.019 espécimes) aos répteis e 0,96% (90 espécimes) foram
classificados como “outros”, onde foram incluídas nesse grupo espécies exóticas, domésticas, aracnídeos,
anfíbios e aqueles não-identificados por espécie. A ordem Primata obteve destaque entre os mamíferos,
com 45,76% (292 espécimes). Foi observado que a maior parte dos espécimes chegou ao CETAS através de
entregas voluntárias (46,24%) e resgates (39,03%), sendo que 13.8% vieram de apreensões, 0,78% não
tiveram identificadas a forma de entrada e 0,15% (1 espécime) nasceu no próprio CETAS. Ainda alertamos
para o fato de que tráfico não é o único grande problema que afeta diretamente a biodiversidade, atuando
conjuntamente com outros fatores, tais como a diminuição da integridade dos habitats naturais.
Palavras chaves: Habitats, mamíferos silvestres, CETAS/IBAMA/PB.

ABSTRACT
Brazil is a country of superlative attributes, especially when it comes to biological heritage and,
along with Madagascar and Indonesia, is recognized as a country megabiodiverse. Mammals are
represented by 500 species known to science continental 35 new species were described between 1978
and 2003. The exploitation of humans on natural habitats has greatly increased worldwide, resulting in
decreased use of space for the animals. This work aims to analyze the entry of wild mammals in CETAS /
IBAMA / PB, from the records released in their databases, in the years 2009 and 2010. Mammals accounted
for 6.84% (638 specimens) of the animals deposited a total of 9,316 specimens, which has 81.24% (7,569
specimens) corresponded to birds, 10.93% (1,019 specimens) and 0 to reptiles, 96% (90 specimens) were
classified as "other", which were included in that group exotic species, domestic, arachnids, amphibians,
and those not identified by species. The order Primates was highlighted among mammals, with 45.76%
(292 specimens). It was observed that most specimens CETAS arrived at through voluntary deliveries
(46.24%) and withdrawals (39.03%), while 13.8% came from seizures, 0.78% had identified a form of input
and 0.15% (1 specimen) was born on the same CETAS. Although warned of the fact that trafficking is not
the only big problem that directly affects biodiversity, working together with other factors, such as the
reduction of the integrity of natural habitats.
Key words: habitats, wild mammals, CETAS / IBAMA / PB.

INTRODUÇÃO
O Brasil atualmente se encontra entre os países com maior riqueza de fauna do mundo, por isso é
considerado um dos países megabiodiversos (LEWINSOHN & PRADO, 2002). Os mamíferos apresentam 500

João Pessoa, outubro de 2011


475

espécies continentais conhecidas pela ciência e foram descritas 35 novas espécies entre 1978 e 2003
(LEWINSOHN, 2006).
Segundo Hernandez e Carvalho (2006), grande parte da diversidade biológica do Brasil está
ameaçada por várias atividades humanas, como a caça e a pesca excessivas, o comércio ilegal de animais, a
agropecuária, o extrativismo e a urbanização, assim como a introdução de espécies exóticas e a poluição.
Atualmente uma das maiores ameaças às espécies da fauna silvestre brasileira é o tráfico ilegal de
animais, que movimenta bilhões de dólares em todo o mundo (ZAGO, 2008). O tráfico de animais silvestres
aparentemente constitui o terceiro maior comércio ilícito do mundo, e perderia apenas para o tráfico de
narcóticos e armas. Estima-se que essa prática deva girar em torno de US$ 10 a 20 bilhões/ano e a
participação do Brasil seria de aproximadamente 5% a 15% deste total. (RIBEIRO & SILVA, 2007).
Além disso, a exploração dos seres humanos sobre habitats naturais tem aumentado grandemente
em todo o mundo. A Mata atlântica já teve 97% de sua área derrubada, com 70% do cerrado alterado e
aproximadamente 13% da floresta amazônica perdida (DOUROJEANNI E PÁDUA, 2001). Como
consequência, essas ações trazem a poluição das águas, erosão do solo, fragmentação de vegetação,
extinção de espécies selvagens e invasão de espécies exóticas (NEPSTAD ET AL., 1997).
Outro grande problema é o desmatamento em prol da urbanização, onde são geradas verdadeiras
“ilhas de vegetação urbanas”, especialmente em cidades do litoral nordestino, como é o caso de João
Pessoa, capital do estado da Paraíba, tendo como consequência a freqüente saída dos animais destes
espaços em busca de alimento e novas áreas para colonização. Segundo Braga e Carvalho (2003), o fator de
maior impacto ambiental consiste na invasão dos ecossistemas para a construção de áreas de habitação,
determinando assim grande degradação nas áreas utilizadas para a formação de cidades.
Segundo a classificação dos Livros Vermelhos de Espécies Ameaçadas estaduais, nacionais e
internacionais, o número de espécies ameaçadas está significativamente correlacionado ao número de
espécies presentes em cada ordem, ou seja, ordens mais ricas em espécies possuem mais espécies
ameaçadas. Porém, podem haver controvérsias, como no Brasil, onde as ordens mais especiosas são
Rodentia e Chiroptera; entretanto, as que têm maior proporção de espécies ameaçadas são Primatas e
Carnivora. Isso indica que os primatas e os carnívoros estão proporcionalmente mais ameaçados, no caso
dos primatas, provavelmente por possuírem hábito exclusivamente florestal (portanto, baixa tolerância à
destruição das florestas) e os carnívoros por serem predominantemente predadores, apresentando baixas
densidades populacionais e grande necessidade de espaço de vida.

OBJETIVO PRINCIPAL:
Levantamento de todos os animais que entraram no CETAS/IBAMA/PB entre os anos 2009 e 2010,
com enfoque na classe Mammalia.
OBJETIVO SECUNDÁRIO:
Representatividade sobre procedência, estado de saúde na chegada, índice de mortalidade e risco
de extinção.

LOCAL DE ESTUDO
O presente estudo foi realizado com dados do CETAS/IBAMA/PB, o qual está localizado na Floresta
Nacional da Restinga de Cabedelo, cidade de Cabedelo/PB, sendo este Centro o responsável pela recepção,
triagem, tratamento e destinação de animais silvestres resgatados ou apreendidos pelos órgãos de
fiscalização, ou entregues voluntariamente pela população em geral do estado da Paraíba.

METODOLOGIA
O CETAS/IBAMA/PB procede ao registro de entrada dos espécimes silvestres através de
fichas escritas e planilhas eletrônicas, utilizando-se o programa Microsoft Access®, formando um banco de
dados, contendo informações com nome comum e científico, sexo, local de apreensão/captura, estado
físico, entre outros. Para este trabalho foram utilizados os dados referentes às entradas de espécimes entre
os anos de 2009 e 2010, os quais já continham a grande parte das informações necessárias para a
elaboração desse trabalho, sendo acrescentadas as informações sobre o risco de extinção das espécies de
acordo com o Livro Vermelho e Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros, com
enfoque na classe Mammalia, a qual foi isolada para melhor análise.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


476

RESULTADOS
Os mamíferos corresponderam a 6,84% (638 espécimes) dos animais depositados no
CETAS/IBAMA/PB durante o período analisado, quando deram entrada um total de 9.316 espécimes, onde
81,24% (7.569 espécimes) corresponderam a aves, 10,93% (1.019 espécimes) aos répteis e 0,96% (90
espécimes) foram classificados como “outros”, onde foram incluídas nesse grupo espécies exóticas,
domésticas, aracnídeos, anfíbios e os nãos identificados.
Foram registradas 32 espécies, distribuídas em 16 famílias e 7 ordens, onde a ordem Primata
obteve 45,76% ou 292 espécimes, a ordem Pilosa 16,30% ou 104 espécimes, a ordem Didelphimorphia
14,42% ou 92 espécimes, a ordem Rodentia 12,53% ou 80 espécimes, a ordem Carnívora 7,36% ou 47
espécimes, a ordem Cingulata 3,29% ou 21 espécimes e a ordem Cetacea 0,31% ou 2 espécimes, as quais
podem ser observadas na Tabela 1, além da classificação quanto o status de conservação.

Tabela 1: Relação das espécies de mamíferos silvestres que deram entrada no CETAS/IBAMA/PB,
nos anos de 2009 e 2010, com seu referido táxon, nome popular, quantidade de espécimes que entraram
nesse período. Não estão inclusas as espécies exóticas, domésticas, aracnídeos, anfíbios e as espécies não
identificadas. Legenda: SC - status de conservação dos animais; A – ameaçado; N – não ameaçado; CR –
criticamente ameaçado; VU – vulnerável.

Nome do Táxon Nome popular Total SC


Carnívora
Canidae
Lycalopex vetulus Raposa do Campo 11
Cerdocyon thous Raposa – Cachorro do mato 12
Felidae
Leopardus pardalis (mitis) Jaguatirica 4 A
Leopardus tigrinus Gato do mato 5 A
Mustelidae
Eira barbara Irara 1
Galictis vitatta Furão 4
Lontra longicaudis Lontra 1
Procyonidae
Nasua nasua Quati 2
Procyon cancrivorus Guaxinim 7
Cetacea
Delphinidae
Sotalia guianensis Golfinho 1
Grampus cf. griséus Golfinho de risso 1
Cingulata
Dasypodidae
Dasypus septemcinctus Tatu galinha pequeno 1
Dasypus novemcintus Tatu verdadeiro 2
Euphractus sexcintus Tatu peba 18
Didelphimorphia
Didelphidae
Didelphis albiventris Timbú – Gambá 92
Pilosa
Bradypodidae
Bradypus variegatus Bicho preguiça 53
Mymecophagidae
Cyclopes didactylus Tamanduá – í 1
Tamandua tetradactyla Tamanduá mirim 50
Primata
Atelidae

João Pessoa, outubro de 2011


477

Alouatta belzebul Macaco guariba 8 A


Callithricidae
Callithrix jacchus Sagui do tufo branco 119 N
Callithrix penicillata Sagui do tufo preto 2 N
Cebidae
Cebus apela Macaco prego 4 N
Cebus kaapori Macaco caiarara 1 CR
Cebus flavius Macaco prego galego 24
Cebus libidinosus Macaco prego 132 N
Rodentia
Caviidae
Gallia spixii Preá 4
Hidrochoerus hydrochaeris Capivara 16
Kerodon rupestres Mocó 11
Dasyprodidae
Dasyprocta aguti Cutia 39 VU
Erinaceidae
Coendou prehensilis Quandu 10

A quantidade de espécimes depositada varia de mês para mês, por exemplo, um mês apresentou a
entrada de 10 espécimes e outro 69 (Fig.1). Isso não significa necessariamente aumento ou diminuição no
tráfico desses animais, mas sim uma variação na intensidade da fiscalização, a qual depende da
disponibilidade de recursos financeiros e das prioridades que são definidas para as ações de fiscalização (I.
S. A. Pagano et al. 2009).

6
9

4
3 4
2
93 0
6
3 3
0 20 2
2 2 7 2 2 2
7
4 2 5 5 52 52
1 1 1 1 2
1 0
7 1 9 1 8 9
4 1 4
0

Figura 1. Número absoluto de espécimes de mamíferos depositados no CETAS/IBAMA/PB


nos meses de avaliação.

Foi observado que a maior parte dos espécimes deu entrada proveniente de entregas voluntárias,
com 295 espécimes (46,24%), resgates com 249 espécimes (39,03%), e apreensões com 88 espécimes
(13.8%). Ainda, 5 espécimes, ou 0,78%, não tiveram sua origem identificada e 1 espécime (0,15%) nasceu
no próprio CETAS.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


478

A idade com que os animais chegam ao CETAS reforça o que foi dito acima, onde dos 638
espécimes, 469 (73,51%) são classificados como adultos, 61 (9,56%) como jovens, 105 (16,45%) como
filhotes e 3 (0,47) não apresentaram informação de faixa etária.
O aspecto geral que esses animais chegam também foi levado em consideração: 427 (66,92%)
apresentavam-se regular, 141 (22,10%) bom, 60 (9,40%) ruim e 10 (1,57%) não apresentavam informação.
Dessa forma o índice de mortalidade não toma proporções altas, dos 638 espécimes que deram entrada no
CETAS – PB, 122 (19,12%) foram a óbito, levando em consideração a escassez de informações sobre o
período em que estes espécimes estiveram em cativeiro irregular, ou dos agravos sofridos naqueles
provenientes de resgates em vida livre.
A destinação dos animais é cuidadosa, levando-se em consideração o meio natural
pertencente a cada espécie e seu papel no equilíbrio do ecossistema. Alguns táxons, como os psitacídeos
(araras e papagaios) e primatas (macacos-prego e saguis) exigem mais estudo e cuidados para suas
reintroduções. Projetos de reintrodução monitorada estão em execução no CETAS/IBAMA/PB para que
esses e quaisquer outros animais retornem ao meio natural de maneira segura, evitando maiores
desequilíbrios ao meio ambiente.

DISCUSSÃO
A alta taxa de entrada de animais superlota os recintos de manejo. Muitos locais de possível
destinação como zoológicos e criadouros deixam de receber animais devido ao grande número que entram
nos CETAS (IBAMA, 2005). Devido à falta de opção e pressão para a continuidade das apreensões e solturas
dos animais, grande parte dos espécimes é liberada em locais impróprios (fora de sua distribuição
geográfica natural) e sem uma avaliação apropriada de seu estado sanitário, sendo os efeitos dessas
solturas ainda desconhecidos (MARINI & GARCIA, 2005).
A superlotação dos recintos maximiza os efeitos de predadores, parasitas e doenças (RICKLEFS,
2003). O aumento na densidade pode acarretar mudanças hormonais prevalecendo o comportamento anti-
social dos animais previamente estressados pela manipulação e cativeiro (WINGFIELD et al, 1997). As
circunstâncias forçam que espécies de porte diferentes sejam alojadas nos mesmos recintos, afetando as
disputas entre os animais (KREBS, 1996). Possíveis hibridismos ainda podem ocorrer uma vez que o
agrupamento de morfo-espécies é algo comum (IUCN, 2000).
A urbanização desenfreada subsequente ao avanço da fronteira agrícola devasta, degrada e
fragmenta os poucos resquícios florestais (BARCELLOS et al, 2006), podendo representar barreiras que
impeçam o fluxo gênico (EPPS et al, 2005; LESBARRÈRES et al, 2006), estimular o aparecimento de doenças
(ALLAN et al, 2003), potencializar a dispersão e o estabelecimento de espécies exóticas invasoras (ELTON,
2000), diminuir a capacidade de suporte dos habitats (GIMENES & ANJOS et al, 2003), alterar as interações
ecológicas (CORDEIRO & HOWE, 2003) ou levar a perda de indivíduos e animais incapacitados à vida livre
por atropelamentos (ROSA & MAUHS, 2004; SATHLER et al, 2007).
Dados recentes evidenciam que globalmente, quase 20% dos vertebrados podem estar ameaçados
de extinção de alguma maneira por espécies invasoras (NEELY, 2001). Os exemplos nacionais amplamente
conhecidos foram à soltura de espécimes de Callithrix jacchus e o C. penicillata (CUNHA & VIEIRA, 2004;
MORAIS JR, 2004; PASSOS et al, 2006). Originários do cerrado e caatinga, os animais se tornaram uma
verdadeira praga na região sudeste, predando ovos, filhotes e formas adultas de várias espécies de
pássaros nativos.
Esse trabalho demonstrou que apesar de a classe Mammalia representar um pequeno valor em
percentual de depósito, apresenta grande importância no equilíbrio ecológico, já que muitas das espécies
atuam como predadores, situando-se no topo da cadeia trófica. Percebeu-se que no estado da Paraíba o
tráfico ilegal de animais silvestres não atua sozinho como fator de degradação ambiental, tendo a ação
antrópica como processo deletério coadjuvante a acelerar o processo de extinção das espécies, através do
intenso desmatamento para suprir a necessidade de ampliação do espaço urbano e em cidadãos que
entregam seus animais quando estes chegam à idade adulta e começam a expressar características típicas
do habitat selvagem, tais como agressividade e comportamento sexual, tornando-se com isso um
incômodo para a manutenção em cativeiro.

CONCLUSÃO

João Pessoa, outubro de 2011


479

Pode-se concluir com esse trabalho que a entrada de mamíferos no CETAS/IBAMA/PB é


preocupante uma vez que denuncia uma gama de problemas que os afetam diretamente, e que medidas
de fiscalização devem continuar intensificadas para combater o tráfico, porém deve-se aumentar a
conscientização da população já que entregas voluntárias tiveram grande representatividade. Medidas de
proteção e recuperação das áreas florestadas remanescentes também devem ser adotadas urgentemente,
já que essa classe está sofrendo consequências irreversíveis, resultando num dano irreparável aos
ecossistemas da Mata Atlântica e Caatinga paraibana.

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João Pessoa, outubro de 2011


481

RIQUEZA ICTIOFAUNÍSTICA DO AÇUDE BOQUEIRÃO: RELAÇÃO DO


CONHECIMENTO ECOLÓGICO LOCAL COM INFORMAÇÕES CIENTÍFICAS JÁ
EXISTENTES
1
Michelle Albuquerque Feitosa
1
Pc. Osvaldo Pessoa, s/n – Penha, João Pessoa - PB
feitosa.m.a@hotmail.com, profissional docente (ensino básico)

RESUMO
O Brasil possui uma megadiversidade cultural que permite diversos povos tradicionais obterem
acesso direto aos recursos naturais, reproduzindo seus modos de vida com base na cooperação social. O
Conhecimento Ecológico Local (CEL) destes povos proporciona práticas que os conferem papéis-chaves na
conservação ambiental. Na região semi-árida do Nordeste destacam-se povos de práticas baseadas na
pecuária extensiva. A pesca artesanal também é uma atividade usual e importante. Em geral o
conhecimento ecológico sobre os recursos pesqueiros em áreas de Caatinga decorrem de estudos clássicos.
O presente estudo constitui-se em uma das avaliações pioneiras abordando o conhecimento popular de
pescadores que exploram um açude (açude Boqueirão, Paraíba) desta região. Os objetivos deste estudo são
a mensuração, através do CEL, da riqueza de recursos pesqueiros e se o conhecimento dos pescadores
relacionado às ecozonas corresponde a literatura científica já consolidada. Para isto, foram realizadas
entrevistas com os pescadores locais e análises quantitativas de dados. Os peixes coletados foram fixados
em solução de formol, identificados e depositados no LABEA/UFPB. Os pescadores identificaram um total
de 22 “peixes”, correspondendo a 21 espécies da taxonomia científica. Destas, estão o “cágado d’água” (P.
geoffroanus) e “camarão” (M. borellii). Já o “muçum” (Synbranchus marmoratus) não foi incluído entre os
“peixes” e sim, como “cobras”, o que representa uma ambivalência classificatória. Em relação as ecozonas,
foram reconhecidas oito tipos: “flor d’água”, “meio d’água”, “fundo d’água”, “coentro d’água”, “beira
d’água”, “pedras’, “lama” e “qualquer local do açude”. Todo este conhecimento compreende resultados
preliminares, porém demonstram um CEL bem desenvolvido, possibilitando caracterizar aspectos
ecológicos dos recursos pesqueiros locais, a maioria, concordante com a literatura científica. Isto
demonstra a relevância do CEL em planos de manejo para conservação de espécies.
Palavras-chave: Açude Boqueirão; Ictiofauna; Ecozona; CEL.

INTRODUÇÃO
O Brasil é um país megadiverso, possuindo uma ampla gama de povos oriundos de localidades que
permitem acesso direto à natureza, estando associados ao manejo de recursos naturais. Em geral, as
diversas comunidades locais existentes ao longo do território brasileiro, reproduzem seus modos de vida
com base na cooperação social e formas específicas de relações com a natureza, em alguns casos,
caracterizando um manejo sustentável do meio ambiente (Diegues et al., 1999). Portanto, o Conhecimento
Ecológico Local (CEL) em cada uma delas proporciona práticas que lhes conferem importantes papéis na
conservação ambiental (Pedroso-Júnior & Sato, 2005).
Tendo em vista a noção de “sociedades tradicionais locais” como referida a grupos humanos
diferenciados cultural e historicamente, reproduzindo seus modos de vida de forma relativamente isolada
(Diegues et al., 1999), as comunidades caiçaras, sitiantes, roceiros, quilombolas, indígenas, grupos
extrativistas, ribeirinhos e jangadeiros compõem algumas destas ainda existentes atualmente no Brasil.
Entretanto, na região semi-árida do Nordeste brasileiro destacam-se povos de práticas tradicionais
oriundos da ocupação por colonos europeus, como aqueles que se dedicam à pecuária extensiva (Ab'Saber,
2003). Nesta região, a pesca artesanal é uma prática usual e muito importante, pois os corpos d’água
existentes são fonte de água, proteína e recursos escassos em grande parte do semi-árido nordestino
(Alves et al., 2002).
Os saberes empíricos oriundos das atividades pesqueiras artesanais compõem o CEL dos
pescadores, que têm sido úteis na elaboração de estratégias de conservação e manejo de recursos
pesqueiros, além da geração de novas informações ainda não investigadas por métodos científicos

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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convencionais. O CEL têm sido freqüentemente associado a instituições formais de pesquisa (Olsson &
Folke 2001; Drew, 2005; Silvano & Begossi, 2010), sendo isto bastante consolidado entre estudos científicos
(Costa-Neto et al., 2002; Begossi et al., 2011; Lopes et al., 2010).
O conhecimento sobre os diversidade dos recursos pesqueiros encontrados em áreas da Caatinga
decorre essencialmente de estudos científicos clássicos (Rosa, 2003, Marinho et al., 2006; Montenegro,
2007; Chaves et al., 2009). Portanto, o presente trabalho constitui-se em uma das avaliações pioneiras
abordando o conhecimento popular relacionado aos recursos pesqueiros de pescadores que exploram um
açude em uma área de Caatinga no Nordeste do Brasil. O presente trabalho visa relatar, através do CEL dos
pescadores artesanais locais, a riqueza de espécies presentes no açude estudado e se o conhecimento
popular local sobre a distribuição destas ao longo do açude (ecozonas) corresponde ao conhecimento
científico já consolidado.

MATERIAIS E MÉTODOS
ÁREA DE ESTUDO
O presente estudo foi realizado entre comunidades rurais e zona urbana do município de
Boqueirão (Estado da Paraíba), localizado na microrregião do Cariri Oriental, entre as coordenadas 07º
28’4’’ e 07º 33’32’’ S e 36º 08’23’’ e 36º 16’51’’ W (Figura 1), inserido na região do Alto curso do rio
Paraíba, Bacia hidrográfica do rio Paraíba (Arruda 2008). O clima local é predominantemente seco (BSh –
semi-árido quente), com chuvas anuais entre 500 e 700 mm (Franco et al., 2007) distribuídas em 3 meses
(entre Março e Maio). Nesta região, ocorrem os menores índices pluviométricos do Nordeste (MMA, 2002).

Figura 1: Localização da área de estudo (município de Boqueirão, Estado da Paraíba). Autora:


Michelle Feitosa, 2009.

Em relação à ecorregião, o município de Boqueirão encontra-se no Planalto da Borborema,


considerada uma das regiões de maior nível de degradação (90%) no bioma Caatinga, onde restam
pequenas ilhas de vegetação nativa (Velloso et al., 2002), que incluem caatinga hiperxerófila, de porte
variável, caducifólia de caráter xerófilo e com plantas espinhosas, ricas em cactáceas e bromeliáceas
(Marinho et al., 2009).
Existe uma descaracterização eminente da vegetação nativa no município de Boqueirão,
principalmente no entorno do açude Boqueirão. Ela tem sido quase totalmente substituída por culturas
agrícolas e áreas de pastagens. O desmatamento e as culturas irrigadas estão causando a salinização dos

João Pessoa, outubro de 2011


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solos, aumentando a evaporação da água contida neles , contribuindo assim, para o processo de
desertificação, um problema proeminente no bioma Caatinga.
O açude Boqueirão (oficialmente denominado Açude Epitácio Pessoa) foi construído na década de
1950 para resolver um eminente colapso no sistema de abastecimento de água da região da Borborema, da
qual fazem parte nove municípios, dentre eles, Campina Grande e Cabaceiras. Atualmente, este
reservatório vem sofrendo vários tipos de impactos ambientais, tais como assoreamento, uso
indiscriminado da água para irrigação de culturas de subsistência e contaminação por agrotóxicos (Arruda,
2008).
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
As informações relativas ao CEL dos pescadores foram adquiridas por métodos quantitativos de
análise de dados. As coletas ocorreram entre os meses de Julho a Dezembro de 2009, e de Abril a Setembro
de 2010.
Alguns pescadores foram indicados por outros para compor o quadro de informantes, consistindo
em uma amostragem “bola de neve” (Bailey, 1982). Em meses posteriores, foram realizadas as entrevistas.
Foram entrevistados 48 pescadores artesanais. As abordagens foram do tipo sincrônicas e diacrônicas. O
presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal da Paraíba (Protocolo
CEP/HULW nº 4084.0.126.000-10).
Os peixes coletados no açude foram depositados no LABEA (Laboratório de Ecologia
Aquática/Departamento de Sistemática e Ecologia/Universidade Federal da Paraíba), onde foram fixados
em solução de formol (10%) e posteriormente preservados em álcool etílico (70%). A identificação
taxonômica foi realizada com base em bibliografia especializada (Fowler, 1954; Britiski et al., 1972; Vari,
1991). Em campo, a identificação das espécies populares pelos pescadores foram realizados através do uso
de fotografias dos exemplares coletados e dos próprios espécimens, logo após a coleta destes. A
comparação dos enunciados êmico com a literatura científica foi realizada através de tabelas de cognição
comparada (Marques, 1995).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os pescadores do açude Boqueirão identificaram um total de 22 “peixes”, que correspondem a 21
espécies na taxonomia científica, distribuídas em três grupos taxonômicos de animais: crustáceos
malacostracos (uma família e uma espécie), peixes ósseos (nove famílias e 19 espécies) e répteis (uma
família e uma espécie) (Tabela 1).
Percebe-se, entre os peixes citados, a inclusão do “cágado d’água” (P. geoffroanus) e “camarão”
(M. borellii) no grupo “peixes” pelos pescadores entrevistados (Tabela 1). Alguns estudos realizados em
diferentes comunidades de pescadores demonstraram a existência de fenômeno similar, denominado
plasticidade classificatória. Marques (1991, 1995) observou a inclusão de Crocodylia em “peixes”. Alves et
al (2002) relatou que pescadores do açude Bodocongó (Paraíba) consideraram os quelídeos (Phrynops spp.)
como sendo “peixes”.
Contrariamente ao observado para o “cágado d’água” e “camarão”, o “muçum” (Synbranchus
marmoratus), embora registrado no açude Boqueirão, não foi incluído entre os “peixes”, pois os
pescadores locais a consideram como pertencente ao grupo “cobras”. A exclusão de S. marmoratus dentre
os “peixes” parece variar entre comunidades de pescadores artesanais. Por exemplo, Souza & Barrela
(2001) relatam a inclusão de S. marmoratus dentre os peixes. Casos desta natureza representam uma
ambivalência classificatória.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Tabela 1: Lista de peixes registrados no açude Boqueirão (Município de Boqueirão, Paraíba) de


acordo com relatos de pescadores locais. (*) Incluída entre “cobras [serpentes]”.
Espécie Nome vernacular
Malacostraca (crustáceos)
Palaemonidae
Macrobrachium borellii (Nobili, 1896) Camarão
Actinopterygii (peixes com nadadeiras raiadas)
Anostomidae
Leporinus elongatus (Valenciennes, 1850) Piau-dourado
Leporinus piau Fowler, 1941 Piau-preto
Characidae
Astyanax bimaculatus (Linnaeus, 1758) Piaba
Astyanax fasciatus (Cuvier, 1819) Piaba lambari
Colossoma macropomum (Cuvier, 1816) Tambaqui
Triportheus signatus (Garman, 1890) Sardinha
Cichlidae
Astronotus ocellatus (Agassiz, 1831) Punhari
Cichla ocellaris (Bloch & Schneider, 1801) Tucunaré
Cichlasoma orientale Kullander, 1983 Corró-preto,
Crenicichla menezesi (Ploeg, 1991) Bebo
Geophagus brasiliensis (Quoy & Gaimard, 1824) Corró-zebu

Oreochromis niloticus (Linnaeus, 1758) Tilápia


Curimatidae

Psectrogaster rhomboides (Eigenmann & Eigenmann, Branquinha


1889)
Cyprinidae
Cyprinus carpio carpio (Linnaeus, 1758) Carpa
Erythrinidae
Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) Traíra
Loricariidae
Hypostomus pusarum (Starks, 1913) Cascudo (adulto),
chupa-pedras
(jovem)
Prochilodontidae
Prochilodus brevis (Steindachener, 1874) Curimatã
Sciaenidae

Plagioscion squamosissimus (Heckel, 1840) Pescada (adulto)


Synbranchidae
Synbranchus marmoratus (Bloch, 1795)* Muçum
Reptilia (répteis)
Chelidae
Phrynops geoffroanus (Schweigger, 1812) Cágado-d’água

O conhecimento popular dos pescadores do açude Boqueirão possibilitou a identificação de


oito diferentes tipos de ecozonas, utilizadas pelos recursos pesqueiros locais. Segundo Posey (1984),
ecozona é um termo indicativo de uma área ecológica reconhecida em sistemas culturais. As ecozonas
identificadas foram respectivamente: “flor d’água”, “meio d’água”, “fundo d’água”, “coentro d’água”,
“beira d’água”, “pedras’, “lama” e “qualquer local do açude” (tabela 2, figura 2).

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Tabela 2: Cognição comparada sobre ecozonas de recursos pesqueiros com base em relatos de
pescadores do açude Boqueirão e das informações descritas na literatura científica. (*) Informação obtida
do Fishbase (2011).

Espécie científica Ecozona segundo os Hábitat segundo a


pescadores literatura científica
Macrobrachium borellii Coentro d’água, beira Os paleomonídeos vivem
(Nobili, 1896) d’água, pedras abrigados junto às pedras
ou entre a vegetação
Aquática (Carvalho et al.,
1979).
Leporinus elongatus Fundo d’água, pedras Espécie bentopelágica*
(Valenciennes, 1850)
Leporinus piau (Fowler, Fundo, fundo (nas pedras), Pelágico*
194) borda
Astyanax bimaculatus Beira d’água, meio d’água, Bentopelágico*
(Linnaeus, 1758)

Colossoma macropomum Fundo d’água, flor d’água Bentopelágico e


(Cuvier, 1816) potamódromo*
Triportheus signatus Beira d’água, flor d’água Bentopelágico*
(Garman, 1890)
Astronotus ocellatus Meio d’água Bentopelágico*
(Agassiz, 1831)
Cichla ocellaris (Bloch & Fundo do açude, coentro Bentopelágico*
Schneider, 1801) d’água, pedras e lama
Oreochromis niloticus Fundo, meio do açude, lama Bentopelágico*
(Linnaeus, 1758)
Psectrogaster rhomboides Flor d’água Bentopelágico*
(Eigenmann e Eigenmann,
1889)
Cyprinus carpio carpio Lama, lodo, vegetação do Bentopelágico*
(Linnaeus, 1758) entorno
Hoplias malabaricus Coentro d’água, fundo Bentopelágico*
(Bloch, 1794)
Hypostomus pusarum Lodo que fica nas pedras, Demersal*
(Starks, 1913) lama
Prochilodus brevis Flor d’água, pé de madeira, Bentopelágio*
(Steindachener, 1874) beira d’água
Plagioscion Flor d’água, meio do açude Bentopelágico*
squamosissimus (Heckel,
1840)
Fundo d’água

Phrynops geoffroanus Qualquer lugar do açude Segundo Ernest & Barbour


(Schweigger, 1812) (1989), açudes de baixo
fluxo d’água, com
presença de macrófitas
aquáticas.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


486

Figura 2: Algumas ecozonas, segundo os pescadores entrevistados. Fonte: Michelle Feitosa, 2010.

CONCLUSÕES

Existem vinte e uma espécies científicas utilizadas como recursos pesqueiros pelos pescadores
locais;
As espécies científicas identificadas correspondem a vinte e duas espécies nomeadas segundo o
vocabulário local, sendo que uma delas, H. pusarum recebe dois nomes, de acordo com o ciclo de vida em
que o indivíduo capturado se encontra;
Existem oito diferentes tipos de ecozonas de recursos pesqueiros no açude, de acordo com relatos
dos pescadores locais;
Todo o conhecimento investigado no presente estudo é relativo a resultados preliminares, porém
já demonstram que a comunidade local possui um CEL bem desenvolvido, possibilitando caracterizar
aspectos ecológicos dos recursos pesqueiros locais, a maioria, concordante com a literatura científica. Isto
demonstra a relevância do CEL em planos de manejo para conservação de espécies.

AGRADECIMENTOS
A todos os pescadores entrevistados, bem como a equipe do LABEA (DSE/CCEN/UFPB) pelo
auxílio na identificação dos espécimes e apoio logístico. À CAPES pela bolsa concedida à primeira autora,
para realização do presente estudo.

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BIOGEOGRAFIA E POTENCIAL DAS ESPÉCIES FLORÍSTICAS DA BACIA


HIDROGRÁFICA DO CURU - CE
Morgana Pinto Medeiros, graduanda do curso de bacharelado em Geografia -
Universidade Estadual do Ceará – UECE. (morganapitombeira@hotmail.com)
Orientadora: Msc. Patrícia Vasconcelos Frota, doutoranda em Ciências Florestais –
Universidade de Brasília, professora do curso de Geografia
Universidade Estadual do Ceará. (pfrota@unb.br).

RESUMO
A caatinga é caracterizada pela sua biodiversidade e por ser densamente povoada. Nesta região a
convivência do homem com o meio natural é marcada pela total dependência dos recursos naturais, de
uma população que habita o território, onde não seria possível a sobrevivência devido às dificuldades que
são impostas pelas condições climáticas. O objetivo deste trabalho consiste na breve descrição o conceito
de biogeografia associado à apresentação das principais espécies florísticas da bacia hidrográfica do rio
Curu no estado do Ceará. Para a realização deste trabalho foi necessário destacar as principais
características do bioma caatinga, a partir de levantamentos bibliográficos sobre o tema proposto. A
apresentação destas informações, procura viabilizar a difusão do conhecimento sobre as espécies e o uso
de forma mais sustentável da caatinga.
Palavras chaves: Biogeografia, Caatinga, Rio Curu.

INTRODUÇÃO
A vegetação de caatinga é largamente utilizada pela população que a habita, vem sendo
intensamente explorada desde os primórdios da colonização do país e encontra-se atualmente com boa
parte se suas áreas bastantes antropizadas. Apresentando áreas bastante degradadas, sendo bastante
ameaçado e alterado, principalmente devido ao desmatamento e queimadas. Sendo também realizadas
outras atividades econômicas como a pecuária extensiva e o extrativismo vegetal.
A utilização dos recursos da caatinga ainda se fundamenta em princípios puramente extrativistas,
sem a perspectiva de um manejo sustentável, observando-se perdas irrecuperáveis na diversidade florística
e faunística, como conseqüência da simplificação da rede alimentar, redução da resiliência e da
estabilidade do ambiente diante dos fatores do meio (DRUMOND et al., 2000).
Apesar de ser bastante modificada a caatinga possui uma vegetação com elevado número de
espécies com alguns remanescentes preservados que possuem valiosas informações taxonômicas e
ecológicas. O que demonstra a necessidade da elaboração de estratégias de conservação deste bioma,
levando em conta a estrutura da paisagem e o nível de antropização em que se encontra.
A eliminação sistemática da cobertura vegetal e o uso indevido da terra têm acarretado graves
problemas ambientais ao semi-árido nordestino, entre os quais se destacam: a redução da biodiversidade,
a degradação dos solos, o comprometimento dos sistemas produtivos e a desertificação de extensas áreas
na maioria dos estados que compõem a região (PEREIRA et al., 2001). Diante disso o conhecimento do
bioma caatinga é muito relevante para preservação e conservação dos seus recursos naturais de forma
sustentável.

REFERENCIAL TEÓRICO
A Biogeografia possui um conceito muito amplo que abrange diversas definições, mas basicamente
estuda a distribuição dos organismos no espaço. Para Robinson (1972) além de estudar a distribuição
geográfica das plantas e dos animais, também o faz com os solos e aspectos particulares do homem, este
considerado como animal, capaz de desenvolver importante papel na biosfera por meio de suas atividades
que alteram o equilíbrio natural.
O que torna está ciência importante também não só pelo estudo da distribuição das espécies de
animais e plantas já que também pode envolver o homem em seus estudos. Além do estudo da distribuição

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das espécies engloba os padrões de organização e dispersão espacial e os processos que produzem tais
padrões.
Mostra a influência das barreiras na distribuição espacial ou impedimento desta distribuição. O que
afeta diretamente a dispersão de determinada espécies na sua área de origem ou para outras áreas. E esta
dispersão dos seres vivos leva certo tempo para acontecer o que caracteriza a biogeografia como uma
ciência histórica, o que contribui para o entendimento e estudo da dispersão geográfica das espécies.
Tendo a biogeografia histórica como principal objetivo o estudo da distribuição dos táxons relacionando as
áreas onde se encontram as espécies e a sua origem. Além de a biogeografia está estritamente relacionado
com outras ciências, como por exemplo, a climatologia, geologia, paleontologia, etc. Caracterizando como
uma ciência uma interdisciplinar.
A biogeografia é uma ciência, preocupada com a investigação de novos problemas e também com
explicações de fatos antigos. Quatro grandes áreas de conhecimento revigoraram a biogeografia nos
últimos 20 anos: primeiro a aceitação da teoria das placas tectônicas; segundo o desenvolvimento de novos
métodos filogenéticos; terceiro a exploração de novos meios para conduzir pesquisa em biogeografia
ecológica; e por último a investigação de mecanismos que limitam a distribuição de espécies [...] (BROWN E
GIBSON, 1983 apud HILÁRIO, 2005, p.05)
E foi a partir de avanços na ciência como todo que facilitou também o desenvolvimento da
biogeografia, como por exemplo, a teoria da tectônica e placas e da deriva continental que facilitaram o
estudo dos biogeógrafos sobre os padrões da distribuição dos seres vivos.
A tectônica de placas e a deriva continental, primeiramente introduzida por Alfred Wegener em
1912, tornaram-se grandemente aceitas no final da década de 1960 e início de 1970. Isto fez com que
biogeógrafos históricos repensassem muitos padrões de distribuição de seres vivos. Obviamente, o
movimento de grandes massas de terra e oceanos resultou em importantes movimentos de biotas. Um
problema interessante é a disjunção de alguns animais e plantas. Existem grupos filogeneticamente
próximos que habitam áreas totalmente separadas atualmente. (HILÁRIO, 2005, p.05)
Robert E. Ricklefs (2003) afirmam que o processo de Deriva Continental apresentou duas
conseqüências importantes para os sistemas ecológicos, primeiro as posições dos continentes e das
grandes bacias oceânicas tiveram grande influência profunda nos padrões climáticos. E também criou e
quebrou barreiras à dispersão, alternativamente conectando e desconectando biotas em evolução em
diferentes regiões da Terra.
Devido a sua relação com a história, principalmente pelo fato do tempo para que ocorra a
distribuição das biotas no planeta. As escalas temporais são importantes no estudo da biogeografia. Que
conseqüentemente foi dividida em dois domínios o ecológico e o histórico.
Tradicionalmente, a biogeografia é dividida nos domínios ecológico e histórico, o primeiro
relacionado a processos ocorrendo em pequenas escalas temporais (por exemplo, fatores climáticos), e o
último tratando de eventos e mecanismos que ocorrem durante milhões de anos em larga escala. Essa
divisão tem sido questionada, pois padrões não são somente “históricos” ou somente “ecológicos”. Apesar
da visão disseminada de que a biogeografia refere-se à história das entidades biológicas no espaço, é
impossível entendê-la sem considerar as mudanças da forma no tempo. Como a vida e a Terra evoluem em
conjunto, pode-se considerar a biogeografia como a área da biologia que busca estabelecer os padrões de
distribuição biótica e as conexões entre as biotas, ambos resultantes do processo evolutivo. (MORPHY,
2008, p.01)
As duas escalas citadas para a biogeografia são necessárias no estudo desta distribuição para que
ocorra um melhor entendimento em que momento da escala temporal e espacial ocorreu. E são através
das escalas temporal e espacial que são desenvolvidos os estudos da distribuição em biogeografia.
Há processos e modelos que determinam a distribuição e envolve um estudo dentro da escala
temporal e espacial. Na escala temporal existem duas formas: Ecológica, a forma de distribuição,
envolvendo a adaptação ao meio, porém sem envolver modificações genéticas; Evolutiva, a forma de
distribuição envolvendo adaptações ao meio através de modificações genéticas. O estudo da biogeografia
para explicar a distribuição se torna interessante, porque a distribuição dos organismos nunca é ao acaso e
nem uniforme. Cada espécie tem sua região e esta reflete seu nicho corrente e sua história evolutiva. As
espécies que se relacionam entre si, isto é, aquelas que compartilham um ancestral comum, apresentam
semelhanças biológicas e requerem semelhantes aspectos ecológicos. (HILÁRIO, 2005, p.18).

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Tendo a biogeografia como seus principais objetivos a descoberta dos padrões de distribuição da
vida e das causas que levaram a esses padrões tanto em termos de mecanismos quanto de processos. Para
o entendimento desta distribuição dos seres vivos no planeta é necessário a análise das mudanças
ambientais que ocorrerão no passado e que estão acontecendo atualmente também os fatores que
influenciam esta distribuição. Destacam-se como principais espécies fatores desta distribuição os fatores
geográficos, edáficos, climáticos, bióticos, humanos, etc.
De acordo com Martins (1993), a busca da correlação ou associação entre a vegetação e o
ambiente é importante, já que permite empregar a vegetação como indicadora do ambiente. As
diversidades de ambientes encontrados no grande domínio das Caatingas, segundo Ab’Sáber (1984),
provêm de diferentes combinações dos componentes abióticos, entre os quais se salientam as condições
termo-pluviais seguidas de propriedades litoestruturais, posicionamento topográfico e heranças
paleoclimáticas. A integração dessas ações condiciona os microambientes, segundo os quais se organizam
as formas de adaptações da vegetação.
Segundo Fernandes (2003), a separação entre elas se dá mais precisamente pela delimitação do Rio
São Francisco e não por barreiras geográficas como séries de serras. Segundo Carvalho e Júnior (2005), a
província da Borborema é uma área típica deste bioma, com quatro grandes paisagens: Depressão
Sertaneja Setentrional (21% da área da caatinga), Depressão Sertaneja Meridional (44% do bioma),
Paisagem de relevos residuais (0,5%) e Maciços e serras baixas (4%).
Alterações na caatinga tiveram início com o processo de colonização do Brasil, inicialmente como
conseqüência da pecuária bovina, associada às práticas agrícolas rudimentares. Ao longo do tempo, outras
formas de uso da terra foram sendo adotadas, diversificação da agricultura e da pecuária, aumento da
extração de lenha para produção de carvão e caça dentre outras. Para Santana e Souto (2006), não
obstante a imensa falta de conhecimento sobre o bioma, a caatinga vem sendo sistematicamente
devastada por atividades como agropecuária, retirada de lenha e madeira. Devido ao caráter sistemático
dessas atividades, associado ao recrudescimento nas últimas décadas, o bioma caatinga tem sido
seriamente descaracterizado
Essa exploração poderá levar o mesmo a um processo irreversível de degradação, uma vez, que a
falta de planejamento no uso dos recursos oferecidos pelo bioma caatinga tem proporcionado a
fragmentação da cobertura vegetal, restringindo a distribuição de remanescentes que poderão ser
considerados refúgios para diversidade local. Essas alterações na estrutura e funcionamento do
ecossistema poderão refletir nas interações ecológicas, como também na diversidade regional
(KAIMOWITZ, 2002).
Este artigo tem como principal apresentar e descrever as espécies de flora do bioma caatinga do
médio curso da bacia do rio Curu, que se localiza na porção noroeste do estado do Ceará. Sendo a
metodologia para elaboração deste trabalho a revisão de material bibliográfico.
O Estado do Ceará encontra-se inserido no contexto do Nordeste semi-árido, sendo um dos nove
Estados da região situados no Polígono das Secas do Brasil, contando com o maior percentual de semi-
aridez em seu território. Possui uma cobertura vegetal bastante diversificada e complexa, sendo a caatinga,
a unidade fito-ecológica mais representativa espacialmente. Entretanto, pouco se conhece ainda sobre a
fitodiversidade e os padrões de distribuição geográfica das espécies deste tipo vegetacional no Estado.
A área da pesquisa localiza-se na porção noroeste do estado do Ceará, ocupando uma área de
8.605 km2, entre as coordenadas 3°20’ e 4°36’ de latitude Sul e 38°55’ e 39°50’ de longitude Oeste. O rio
principal desta bacia o Curu possui uma extensão de 195 km, corre no sentido sudoeste nordeste e drena
15 municípios.

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Figura 1 - Mapa de localização da Área de Estudo


Fonte: PINHEIRO, 2011.

O rio Curu nasce na região montanhosa que é formada pelas serras do Céu, da Imburana e do
Lucas, localizadas no centro norte do Estado. Em todo o seu conjunto caracteriza-se por um relevo que
varia predominante de moderado a forte, com grande parcela de seu divisor sendo formado por zonas
montanhosas, com destaque para a serra de Baturité, ao leste, e a serra de Uruburetama, ao oeste. Tendo
como principais afluentes os rios: Caxitoré, na margem direita e o Canindé, pela margem esquerda.
(COGERH, 2006)
Apresentando um regime pluviométrico de distribuição irregular, cujas precipitações crescem no
sentido do sertão para o litoral, alcançando valores superiores a 1.000 mm anuais, próximo à foz do rio.
Dentre as bacias estaduais, esta é a que tem maior índice de controle, através de seus reservatórios que
dominam cerca de 80% de sua superfície. (COGERH, 2006)

ASPECTOS FLORÍSTICOS DA CAATINGA DO SEMIÁRIDO CEARENSE


É o único bioma exclusivamente brasileiro, com uma área aproximadamente de 844.453 km 2 (IBGE,
2004). Apresenta uma área de cobertura vegetal nativa da ordem de 518.635 Km2, o que equivale a 62,77%
da área mapeada do bioma (MMA, 2007).
Segundo Ab’Sáber (2003) o domínio das caatingas brasileiras caracteriza-se por ser um domínio de
natureza excepcionalmente marcante no contexto climático e hidrológico, pois está inserido em um
continente predominantemente úmido. E sua originalidade reside num compacto feixe de atributos
climáticos, hidrológico e ecológico. Apresentando as mais bizarras e rústicas paisagens morfológicas e
fitogeográficas do país.
A Caatinga dispõe de abundante intensidade luminosa, em todo seu território, durante todo o ano.
As altitudes são relativamente baixas; exceto uns poucos pontos que ultrapassam os 2000m, na Bahia, os
outros pontos extremos ficam pouco acima dos 1000m. Portanto, as temperaturas são altas e pouco
variáveis, espacial e temporalmente, com médias anuais entre 25º C e 30º C e poucos graus de diferença
entre as médias dos meses mais frios e mais quentes. Assim, luz e temperatura não são limitantes ao
crescimento vegetal e não são causa de maior variabilidade ambiental na área de Caatinga (SAMPAIO,
2003).

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A presença de rios com drenagem exorréica intermitente e dependem totalmente do ritmo


climático sazonal, que apresenta um ritmo desigual, pouco freqüente de precipitações. Sendo estas
precipitações irregulares em seu volume global, com eventuais anos secos. (AB’SABER, 2003).
O período seco estende-se ao longo de 7 a 10 meses, podendo ficar até 12 meses sem chover em
algumas regiões. Este período são mais longo nas planícies do que nas áreas mais elevadas (planálticas),
onde a precipitação costuma variar de 800 mm até 1.200 mm anuais em determinados locais, enquanto
que a precipitação anual nas planícies fica entre 400 e 700 mm. (MMA, 2011)
A disponibilidade hídrica nas áreas de caatinga além de ser limitante é extremamente variável no
tempo e no espaço. E esta variabilidade é originada por diversos fatores como: primeiro por um sistema
muito complexo na formação de chuvas, com frentes que vão perdendo sua força à medida que penetram
no núcleo do Semi-Árido, que resulta em chuvas esporádicas e com concentrações em poucos meses do
ano e em anos chuvosos alternados irregularmente com anos de secas; a presença de serras e chapadas
mais altas interceptando as frentes mais úmidas, que recebem mais chuvas e cria zonas pouco chuvosas a
sotavento; e a variabilidade dos solos, com maior ou menor capacidade de reter as águas das chuvas, por
conta de diferentes profundidades e texturas. (MMA, 2010).
Este bioma possui grande variabilidade dos solos, que é conseqüência do efeito diferencial da
erosão geológica, descobrindo camadas distintas, até o limite da exposição das rochas, formando os
lajedões de muitas áreas e os pavimentos recobertos de rochas, pedras e pedregulhos. Possuindo
diferentes profundidades desde quase nada de superfícies rochosas até camadas mais profundas. Podendo
ser arrumadas em progressão, dos Neossolos Litólicos, que são muito rasos, aos de profundidade
intermediária, como os Neossolos Regolíticos, os Luvissolos e os Planossolos, até Neossolos Quartzarênicos,
que podem ter vários metros de espessura. Tendo também uma variação nas texturas que diferem em
função do material originário e, em menor grau, do processo de formação posterior, podendo ir dos muito
arenosos (Neossolos Quartzarênicos) aos muito argilosos (Vertissolos). (MMA, 2010)
De modo geral, a caatinga estabelece-se em depressões interplanálticas, porém em certas áreas
pode ser encontrada também nos planaltos. Normalmente ocorrendo ao longo de pediplanos ondulados
expostos a partir de sedimentos do cretáceo ou terciário que recobrem o escudo brasileiro datando do pré-
cambriano, a caatinga apresenta solos resultantes da erosão do substrato, por conseguinte pedregosos e
rasos, onde a rocha-mãe aparece escassamente decomposta e freqüentemente aflorando na superfície.
Sendo caracterizada por Ab’saber (2003) como uma região de depressões interplanálticas, oriundas
de fenômenos de pediplanação ocorridos no decorrer do Terciário e do Quaternário. Área com alteração
muito superficial das rochas, afloramento de pequenos cabeços rochosos, campos de inselbergs e
matações freqüentes.
No estado do Ceará, segundo Souza (2000) as caatingas ocorrem no contato geológico entre os
sedimentos da formação e as rochas do embasamento cristalino. Apresentando como características
preponderantes grandes variações em sua litologia datada do pré-cambriano e em seus solos que se
caracterizam por serem rasos e eventualmente pedregosos e com freqüência de afloramentos rochosos.
Trata-se de superfície aplainadas de fraco entalhe pela rede de drenagem ramificada e rios de
intermitência.
A caatinga possui espécies vegetais arbustivas e arbóreas de pequeno porte, que geralmente
apresentam espinhos e sendo caducifólias em sua maioria. Em seu substrato encontram-se cactáceas,
bromeliáceas e também um componente herbáceo. Sendo que as suas características fitossociológicas
como a densidade, freqüência e dominância de espécies determinadas pelas variações topográficas, tipo de
solo, pluviosidade e ação antrópica. (SOBRINHO, 2006)
A vegetação deste bioma pode ser definida principalmente através das seguintes características
básicas (MMA, 2011):
Cobre uma área mais ou menos contínua, submetida a um clima quente e semiárido, bordeado por
áreas de clima mais úmido;
Com plantas que apresentem características relacionadas à deficiência hídrica, tias como:
caducifólias, herbáceas anuais, suculência, acúleos e espinhos, predominância de arbustos e árvores de
pequeno porte e cobertura descontínua de copas;
Constitui-se de uma flora com algumas espécies endêmicas e outras que também ocorrem em
outras áreas secas, mas não nas áreas mais úmidas que fazem limite com o Semiárido.

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A fisionomia da caatinga é muito variada, com um número elevado de comunidades vegetais, é


possível encontrar desde áreas de vegetação arbustiva baixa e rala até florestas impenetráveis atingindo
facilmente 8 m de altura.
Segundo Prado (2003), espécies decíduas comuns amplamente distribuídas na caatinga são:
Amburana cearensis (fr. all.) a. c. Smith (fabaceae, imburana-decheiro), Anadenanthera colubrina (vell.)
brenan var. cebil (griseb.) altschul (fabaceae, angico), Aspidosperma pyrifolium mart. (apocynaceae, pau-
pereiro), Caesalpinia pyramidalis tul. (fabaceae, catingueira), Cnidoscolus phyllacanthus (müll. arg.) pax &
hoffm. (faveleira, euphorbiaceae), Commiphora leptophloeos (mart.) gillet (anacardiaceae, imburana)
Myracrodruon urundeuva fr. all. (anacardiaceae, aroeira), Schinopsis brasiliensis engler (anacardiaceae,
baraúna), várias espécies de Croton spp. (euphorbiaceae, marmeleiros, velames) e Mimosa spp. (fabaceae,
juremas), além de algumas perenifólias como Ziziphus joazeiro mart. (rhamnaceae, joazeiro), Capparis yco
mart. (capparaceae – recentemente transferida para as brassicaceae, icó) e Copernicia prunifera (mill.) h.e.
Moore (arecaceae, carnaúba).
Sobrinho (2006) desataca que na vegetação da caatinga foram identificadas cerca de 8.700
espécies, das quais 596 são arbóreas e arbustivas, onde 180 são endêmicas. Tendo as famílias
Caesalpinaceae, Mimosaceae, Euphorbiaceae, Fabaceae e Cactaceae, sendo os gêneros Senna, Mimosa e
Pithecellobium com o maior número de espécies.
Destacam-se como espécies características da caatinga as seguintes: Angico, Aroeira, Barriguda,
Canafístula, Catingueira, Cedro, Cumaru, Imburana, Juazeiro, Jucá, Jurema-preta e branca, Mofumbo,
Oiticica, Pau-branco, Sabiá, Trapiá, etc.
Este bioma é bastante heterogêneo, apresentando grande diversidade de espécies vegetais,
inclusive endêmicas, o que lhe confere um valor biológico inestimável. Sendo o território marcado por uma
relação de desequilíbrio entre a sociedade e os recursos naturais, é relevante pensar uma maior proteção e
utilização de forma sustentável de seus recursos naturais, pois são fatores necessários para impulsionar o
desenvolvimento desta região e melhoria da qualidade de vida das populações que habitam este bioma.
A partir das informações sobre as principais espécies vegetais do bioma caatinga foram organizadas
algumas informações (quadro 01) com o objetivo de destacar as principais utilidades e importância de
algumas espécies da flora da caatinga na bacia hidrográfica do Curu - CE. Com destaque as principais
espécies encontradas na área de estudo.

Quadro 1- Principais espécies da Bacia Hidrográfica do Curu - CE


Espécies Principais Características Utilização
Aroeira Ocorre tanto em formações abertas e muito secas até A madeira é utilizada na construção civil,
muito úmidas e fechadas. móveis, lenha, carvão, etc;
Está na lista oficial de espécies ameaçadas de extinção, Casca, folhas e raízes são usadas
na categoria vulnerável; tradicionalmente na medicina caseira;
Vegeta bem em solos férteis mais não se limita a eles. Pode ser usada em pastos arbóreos para
caprinos e ovinos;
As cascas são aproveitáveis na indústria de
curtume.
Catingueir Encontrada em áreas de baixa a elevada altitude, A madeira é utilizada na fabricação de lenha,
a recobertos principalmente por luvissolos crômicos carvão, construção de casas, etc;
órticos e argilossolos; As folhas, flores e casca são usadas no
Apresenta uma ampla faixa de tolerância na caatinga e tratamento de infecções catarrais, diarréias e
não tolerante ao fogo; disenterias;
Fonte importante de forragem para bovino,
caprino e ovino.

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Juazeiro Encontradas em áreas de baixa a elevada altitude e A madeira é empregada em construções


principlamente recobertas por argilossolos, luvissolos e rurais, marcenaria, etc;
solos aluvionais; Possui fruto comestível, saboroso, nutritivo,
Possui crescimento lento, raízes profundas e permanece doce e rico em vitamina C;
frondoso ao longo do ano; A raspa da entrecasca serve como sabonete,
sabão, xampu e dentifrício.
Jucá Encontrado ao longo de margens de rios e riachos, em Utilizado na confecção de cabos para
tabuleiros e pés de serra; ferramentas, arcos, estacas, móveis que
Altamente resistente ao fogo e tolerante à sombra; necessitam de dobradura, etc;
Prefere solos argilosos profundos, ou solos de A entrecasca e os frutos são antidiabéticos, o
tabuleiros e coluviões profundos; chá das folhas ou dos frutos e das raízes é
Não suporta terrenos muito úmidos ou alagados. antidiarréico e as raízes antitérmicas;
Possui alto valor forrageiro das folhas verdes
e fenadas, e das vagens, para todos os
rebanhos.
Jurema Caracteriza-se por uma dispersão descontínua e O pó da casca é utilizado em tratamento de
Preta irregular ao longo de sua área de distribuição queimaduras, acne, defeitos de pele, etc;
Encontrada em áreas recobertas por luvissolos, órticos Forrageira e produtora de lenha;
crômicos, argilosssolos e planossolos háplicos; Indicada par a recuperação do solo, combater
Possui raiz pivotante pronunciada. a erosão e para primeira fase de restauração
florestal de áreas degradadas.
Pau- Possui porte alto, crescimento rápido e sistema As folhas verdes são utilizadas como forragem
Branco radicular lateral; (mais tem limites por causa da baixa
Não possui resistência ao fogo; digestibilidade);
Encontrado em áreas de baixa a média altitude e A casca é utilizada para banhos de feridas e
principalmente recobertas por luvissolos, crômicos talhos;
órticos, argilossolos, latossolos e planossolos háplicos. Utilizado no tratamento de ectoparasitas
(carrapatos, piolhos e sarnas) de animais
domésticos;
A madeira tem larga utilização na construção
civil, marcenaria e carpintaria.
Sabiá Também tem ocorrência no carrasco. Cresce em todos Madeira é usada muito em usos externos
os solos, exceto os alagados; como estacas, postes, forquilhas, etc;
Encontrado com predominância nos luvissolos crômicos A casca é usada como cicatrizante e o chá
órticos, latossolos, argissolos e planossolos háplicos; usado para males estomacais;
Possui crescimento rápido, com sistema radicular Produz látex, que flui de lesões dos ramos
lateral; novos e dos folíolos;
Absorve muita umidade do solo. Tanto das folhas como dos frutos servem de
forragem para os animais domésticos.
Fonte: Adaptado de Maia (2004) e Sobrinho (2006)

A partir das informações que foram expostas no quadro nota-se a importância biológica e
econômica das espécies vegetais. Todas apresentam potencial forrageiro, madeireiro e medicinal. Em
termos forrageiros destaca-se a catingueira, sabiá, pau-branco e jurema-preta. Na utilização madeireira
encontra-se aroeira, juazeiro, jucá e pau-branco. Já nas potencialidades medicinais podem ser citadas
aroeira, juazeiro, pau-branco e sabiá.
Além das potencialidades citadas, essas espécies apresentam outras características bem marcadas
em termos de utilização e importância ecológica para o bioma caatinga. Como a utilização de algumas
plantas em sistemas agroflorestais, sendo empregadas na composição de quebra-ventos e faixas arbóreas
entre as áreas de plantio, como por exemplo, a aroeira, catingueira, juazeiro, Jucá, pau-branco e sabiá. E na
restauração florestal no melhoramento de solos compactos, recomposição florestal de áreas degradadas,
enriquecimento de capoeiras e caatinga empobrecidas, recomposição de mata ciliar recuperação do solo,
combate a erosão destacam-se a aroeira, catingueira, juazeiro, jucá e sabiá. Além de outras utilidades como
industrial, apícola e de ornamentação. O que demonstra o potencial da vegetação e a singularidade deste
bioma.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O bioma Caatinga caracteriza-se por ser bastante heterogêneo, com a presença de uma grande
diversidade de espécies vegetais. Com espécies vegetais endêmicas, e por isso possui um valor biológico
inestimável e com um enorme potencial para uso econômico sustentável, principalmente para fins de
alimentação humana, uso medicinal, forragem animal e uso. Assim torna-se necessário um conhecimento
maior de suas espécies vegetais e de sua dinâmica como um todo contribuindo de maneira significativa
para uma maior preservação do mesmo.
Destacam-se como atividades que vem provocando aceleração da degradação ambiental neste
bioma o extrativismo vegetal indiscriminado, pecuária extensiva, as queimadas e o desmatamento
desordenado realizadas principalmente pela prática da agricultura. Todos esses problemas têm uma serie
de conseqüências desastrosas para o mesmo como a degradação dos solos, a perda da produtividade das
lavouras, degradação da biodiversidade, a criação de núcleos de desertificação, extinção de espécies de
flora e fauna e dentre outras impactos causados ao bioma.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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João Pessoa, outubro de 2011


497

ANÁLISE DE PROTEÍNAS DIFERENCIALMENTE EXPRESSAS DE Burkholderia


sp. EXPOSTAS AO FENOL
Nayanne Hardy Lima PONTES(1)
Graduanda em Biologia (UVA). Bolsista de Iniciação Científica – CNPq.
Endereço (1): Avenida da Universidade, 850 – Campus da Betânia CEP. 62.040-370 – Sobral – CE – Brasil- email:
nayannehardy@yahoo.com.br
Gleiciane de Queiroz MARTINS
Estudante de Mestrado em Biotecnologia (UFC). Bolsista CAPES
Rodrigo Maranguape Silva DA CUNHA
Professor titular do Centro de Ciências Agrárias e Biológicas (CCAB/UVA)

RESUMO
O gênero Burkholderia tem grande importância ecológica pois possui grande potencial na
biorremediação. O trabalho tem como objetivo analisar o proteoma do novo isolado da Burkholderia sp.
afim de identificar proteínas diferencialmente expressas no meio contendo o composto. Utilizando o banco
de dados UniProt e a ferramenta TagIdent do Expasy, foi possível identificar algumas proteínas que foram
alteradas em resposta ao fenol como as: D-(-)-3-hydroxybutirato hidrolase, essa proteína participa da
degradação de poli-3-hidroxibutirato (PHB), Rhamnogalacturona liase, degrada rhamnogalacturona, ácido
poligalacturônico, ácido péctico e pectina. Algumas proteínas foram identificadas por espectrometria de
massa, como Proteína ribossomal 30S S17, ATP sintase subunidade alfa, Fator de elongação Tu e Fator de
elongação Tu para a validação do método. A partir desses resultados será possível utilizar a espécie em
questão como uma possível aplicação biotecnológica na biorremediação de ambientes contaminados com
fenol, já que a cepa tem a capacidade de crescer na presença deste poluente recalcitrante.
Palavras –Chave: biorremediação, Burkholderia, proteínas.

INTRODUÇÃO
O gênero Burkholderia, inicialmente descrito por Yabuuchi e colaboradores (1992), chama a
atenção nesse campo por oferecer vários fatores que justificam seu potencial a nível de biorremediação e
consequentemente potencial biotecnológico.
Esse gênero contém cerca de trinta espécies ocupando diversos nichos ecológicos. Pode ser
encontrada no solo, água (incluindo o ambiente marinho), em associações com rizóides de plantas, em
humanos e várias espécies de animais e no ambiente hospitalar (COENYE & VANDAMME, 2003). O largo
espectro ninchos é decorrente por vários motivos, a saber: o primeiro por possuir um metabolismo elevado
com grande capacidade de codificar, por apresentarem largos genomas multireplicons nos quais chegam ao
tamanho de 6 a 9 Mb; por seus genomas conterem arranjos de seqüências de inserção, promovendo a
plasticidade genômica e mais eficiência na adaptação geral (O’SULLIVAN & MAHENTHIRALINGAM, 2003
apud Lessie et al., 1996). Desta forma, configuram-se como espécies de grande potencial na
biorremediação e na biotecnologia, pois possuem genoma com características que propiciam rápida
adequação ao meio na qual estão inseridas.
Pode-se entender por poluição a introdução pelo homem direta ou indiretamente de substâncias
ou energia no ambiente provocando um efeito negativo no seu equilíbrio, causando assim danos na saúde
humana, nos seres vivos e no ecossistema ali presente. As atividades industriais, o uso de fertilizantes e
pesticidas, a deposição atmosférica e disposição de resíduos no meio ambiente sem tratamento prévio são
algumas das numerosas e variadas fontes de contaminação do solo na atualidade. (JACQUES et al., 2010).
O fenol é um composto orgânico presente em efluentes de diversas atividades industriais, entre
elas, na produção de pesticidas (ASSALIN, 2006). Essas intensas e contínuas práticas de contaminação dos
recursos naturais prejudicam a saúde humana e o meio ambiente. Os pesticidas são aplicados sobre as
plantas ou diretamente no solo e mesmo quando direcionados aos vegetais cerca de 50% da dose
utilizada pode ter como destino final o solo. Segundo a Embrapa, a contaminação de rios e lagos
ocorrem, em grande parte, pelo escoamento superficial (água de enxurrada), onde uma única chuva pode
gerar perdas de até 2% da dose de agrotóxicos aplicada.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Além disso, os compostos químicos podem se aderir às plantas e contaminar a alimentação


humana. Existem pessoas que têm maior risco, como por exemplo, a maioria dos trabalhadores rurais não
dispõe dos equipamentos de proteção individual (EPIs) completo, durante o manejo dos agrotóxicos nas
lavouras, intensificando assim o contato com o produto. Os agrotóxicos possuem diferentes graus de
severidade de intoxicação, constituindo-se em um problema de saúde pública. Alguns estudos relacionam a
exposição ocupacional aos pesticidas à prevalência de doenças referentes ao sistema nervoso e
reprodutivo, paralisia, cegueira, câncer e sintomas de depressão e ansiedade. Vale salientar que a
exposição aos agroquímicos, seja através de exposição ambiental ou ocupacional, raramente se limita a
uma única substância. Em consequência, nem sempre é possível determinar um efeito específico e
expressar correlações devido à presença de vários agroquímicos no ambiente (BREUGELMANS et al., 2010
apud BATISSON et al., 2007; CAUX et al., 1998).
A transformação biótica de poluentes químicos tem sido alvo de estudos visando o
desenvolvimento de estratégias biotecnológicas para a descontaminação de ambientes, principalmente
pelo alto custo e baixa adequação das estratégias físico-químicas de descontaminação (JAIN et al., 2005).
Segundo Muller e colaboradores (1996), o sucesso no desenvolvimento e utilização destas ferramentas
biotecnológicas dependerá, em parte, da caracterização da diversidade natural de degradação pelos
microorganismos e do desenvolvimento de ferramentas para a manipulação desta diversidade visando o
incremento da taxa e ampliando os tipos poluentes passíveis de degradação.
A diversidade microbiana constitui o mais extraordinário reservatório da vida na biosfera. Dois
aspectos são importantes nessa diversidade, a quantidade de diferentes organismos e sua relativa
distribuição homogênea (HUSTON, 1994). Ao longo da evolução, essas espécies tem se adaptado a
ambientes extremamente diversos e desenvolvido diferentes vias metabólicas. Essas vias metabólicas têm
sido tradicionalmente exploradas pelo homem, como a fermentação, produção de antibióticos, vitaminas,
enzimas e etc. Mais recentemente, esse inexplorado reservatório de biotecnologias tem sido utilizado com
outros propósitos, como o monitoramento dos níveis de poluição e a biodegradação de poluentes
xenobióticos (HUSTON et al, 1994; JAIN et al., 2005), fato decorrente da observação de que alguns
microorganismos eram capazes de sobreviver a ambientes quimicamente contaminados, e que
surpreendentemente utilizam alguns dos componentes tóxicos presentes no substrato como fonte de
energia e carbono.
Esse processo de metabolização realizada por tais microorganismos recebe o nome de
biorremediação, ou seja, a capacidade de metabolizar componentes tóxicos. A biodegradação de
compostos orgânicos por populações naturais de microorganismos representa um dos mecanismos
primários pela qual, compostos poluentes são eliminados do meio ambiente, pois os microorganismos
autóctones são capazes de sobreviver, crescer e metabolizar em seu habitat e competir com outros
membros da comunidade.
Nos últimos anos, o desenvolvimento na pesquisa envolvendo o estudo de proteínas complementar
ao genoma, o proteoma, tem evoluído significantemente por conta da melhoria de tecnologias como:
eletroforese bidimensional (2-D) e espectrometria de massa (MS/MS).
Esse estudo tem como objetivo analisar a expressão do genoma do novo isolado da Burkholderia
sp. afim de avaliar e identificar proteínas diferencialmente expressas no meio contendo o composto, por
meio da técnica de eletroforese bidimensional e espectrometria de massa.

MATERIAIS E MÉTODOS
As bactérias foram cultivada em 1L de meio TY líquido (Triptone-Yeast Medium) (DÖBEREINER et
al., 1999) a 28°C, 250 rpm (TOLEDO et al. 2009) contendo 1ml de Fenol até atingirem meados da fase log. A
fase log foi determinada pela medição da absorbância a cada hora em um comprimento de onda de 600nm
utilizando espectrofotômetro. Após a bactéria atingir a fase de crescimento, o meio contendo as bactérias
foi centrifugado por 5000rpm; 4°C; 30min, para obtenção do sobrenadante, sendo utilizado para a extração
das proteínas extracelulares.
A extração das proteínas foi feita de acordo com Riedel e colaboradores (2006). Foi adicionado ao
sobrenadante 15% (p/v) de Ácido Tricloroacético (TCA) e armazenado a 4ºC overnight. Após este período o
meio foi centrifugado por 4000 rpm; 4°C; 15min. O sobrenadante foi descartado e o pellet lavado 2 vezes
com 1ml de etanol 100% gelado e 2 vezes com 1ml de acetona 100% gelada. Após as lavagens o pellet final

João Pessoa, outubro de 2011


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foi seco a temperatura ambiente e ressuspenso em uréia7M/tiouréia2M. A concentração de proteínas nas


amostras foi mensurada utilizando o Método de Bradford (1976). Em seguida, uma alíquota foi submetida à
SDS-PAGE de modo a analisar a integridade da amostra pela verificação do padrão de bandas.
Para a segunda dimensão (2-D), 250µg de proteína de cada amostra foi misturada com tampão de
reidratação (uréia7M/tiouréia2M, 1% CHAPS, 1% DTT; 0,5%(v/v), anfólitos (pH de 3-10) e azul de
bromofenol) em um volume final de 250µl por amostra. A mistura de proteína foi então reidratadas em
strip de gradiente de pH imobilizado (IPG) de 13cm de comprimento e pH de 3-10 em temperatura
ambiente por 16 horas. Posteriormente, foi realizada a Primeira Dimensão ou Focalização Isoelétrica - IEF
usando o sistema de focalização EttanIPGphor III. A strip de IPG foi equilibrada com a solução de equilíbrio
I (Uréia 6M, Tris 50mM, Glicerol 30%, SDS 2%, azul de bromofenol, e DDT ) por 15min e em seguida, com a
solução de equilíbrio II (Uréia 6M, Tris 50mM, Glicerol 30%, SDS 2%, azul de bromofenol e iodoacetamida )
por 15min. Subseqüentemente a strip foi colocada em um gel de poliacrilamida a 12%, e a separação na
segunda dimensão foi realizada na unidade de eletroforese vertical Hoefer SE 600 Ruby por
aproximadamente 4:30h. Após a corrida, o gel foi submerso na solução corante com PhastGel Blue R-350 a
0,1% e deixada overnight sob agitação e descorado em solução descorante, que é composto de água,
metanol e ácido acético (6:3:1). O gel foi digitalizado utilizando um scanner do modelo LabScan da GE
Healthcare™, através do ImageScanner III e o ajuste da imagem e a detecção dos spots foram feitas pelo
programa ImageMaster™ também desenvolvida pela GE Healthcare. Foi possível identificar algumas
proteínas com certa precisão utilizando os valores de pI e massa molecular do spot em um banco de dados
de proteínas no Expasy (http://www.expasy.ch/tools/#proteome).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A extração de proteína foi realizada a partir de cultura de células bacterianas crescidas a 28°C e 250
rpm quando atingida a metade da fase log (OD600nm = 0,8). A concentração de proteínas nas amostras foi
mensurada utilizando o Método de Bradford (1976), sendo estas de 2,894 µg/µl e 8,726 µg/µl as
concentrações das proteínas extracelulares da amostra SMF 07 expostas ao Fenol e controle,
respectivamente.
Para cada amostra, foram feitas eletroforese bidimensionais em duplicata (rep 1 e rep 2) a fim de
verificar a reprodutividade do método. Para as proteínas extracelulares de Burkholderia crescidas em fenol,
foram encontrados 420 e 429 spots para as replicatas 1 e 2, respectivamente. O alinhamento dos géis entre
as duplicatas mostrou que eles compartilham 306 spots (72 % de similaridade). Para as proteínas
extracelulares de Burkholderia controle, foram encontrados 740 e 638 spots para as replicatas 1 e 2,
respectivamente. O alinhamento dos géis entre as duplicatas mostrou que eles compartilham 576 spots
(83,6 % de similaridade). Mapas de referência de géis bidimensionais reprodutíveis de proteínas
extracelulares a condições normais e stresse de Burkholderia sp. (SMF07) foram obtidos (Figura 1 e 2).

Figura 1: Eletroforese bidimensional de proteínas extracelulares de Burkholderia crescidos em


fenol. Os géis estão em duplicata (A e B). No gel A (rep 1) foram identificados 420 spots enquanto que no
gel B (rep 2) foram identificados 429 spots. O alinhamento dos géis mostrou que eles compartilham 306
spots (72% de similaridade). As análises foram feitas no ImageMaster Platinum 6.0.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Em ambos os analisados, existe uma maior abundância de proteínas com ponto isoelétrico na faixa
de pH de 5-7 com 74,28% e 67,7 % dos spots identificados em Burkholderia Fenol Extracelular e controle,
respectivamente. Com relação as massas, existe uma maior abundância de proteínas com massas
moleculares entre 20 e 40 KDa com 32,43% no tratado e no controle 38,33%. Comparando o total de
proteínas expressas, houve uma diminuição entre o tratado e o controle, 420 e 740 respectivamente,
representando uma diferença de 43,25%.

Figura 2: Eletroforese bidimensional de proteínas extracelulares de Burkholderia controle. Os géis


estão em duplicata (A e B). No gel A (rep 1) foram identificados 740 spots enquanto que no gel B (rep 2)
foram identificados 638 spots. O alinhamento dos géis mostrou que eles compartilham 573 spots (83,6 %
de similaridade). As análises foram feitas no ImageMaster Platinum 6.0.

Utilizando no Expasy a ferramenta TagIdent, foi possível identificar algumas proteínas (Tabela1)
da cepa SMF07 quando submetida ao Fenol.

Tabela 1. Identificação das proteínas extracelulares em resposta ao fenol em Burkholderia


utilizando o TagIdent.

IDENTIFICAÇÃO DA PROTEÍNA N° DE ACESSO


Nº DO SPOT
102 D-(-)-3-hydroxybutirato hidrolase A0K516
135 Rhamnogalacturona liase O31526
405 Fosfotreonina liase ospF Q31SR9
172 Provável tRNA sulfurtransferase A0AJ41
332 tRNA pseudouridina sintase A A0AZ67
87 1-desoxi-D-xilulose-5-fosfato sintase A0AYZ0

434 Subunidade proteolítica da protease A0A360


Clp ATP-dependente
281 Aminometiltransferase A0AIE9
270 Desidrogenase Glicerol-1-fosfato [NAD(P)+] A0B5P3

Algumas proteínas presentes nos géis (tratado e controle) foram identificadas por
espectrometria de massa. Os spots foram digeridos com tripsina e analisados em MALDI-Q-TOF onde foi
possível adquirir dados de MS e MS/MS. Os espectros foram identificados pelo MASCOT utilizando o banco
de dados do SwissProt levando-se em consideração as modificações de carboximetilação e oxidação da
metionina.
Para as amostras tratadas com fenol, foram escolhidos 96 spots diferencialmente
expressos, entre os quais alguns foram identificados no MS/MS do MASCOT e estão listados na tabela 2 e 3.
A intensidade das proteínas identificadas podem ser vistas na figura 3 e 4.

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Tabela 2. Identificação por MS/MS mostrando algumas proteínas diferencialmente expressas no


tratado e controle de Burkholderia SMF 07.

Nº DO SPOT IDENTIFICAÇÃO DA PROTEÍNA N° DE ACESSO

1 Proteína ribossomal 30S S17 RS17_PARL1


2 ATP sintase subunidade alfa ATPA_BURM1
3 Fator de elongação Tu EFTU_BURCA
4 Fator de elongação Tu EFTU_TREPA

A B
Figura 3. A imagem mostra algumas proteínas diferencialmente expressas identificadas por MS/MS
no tratado e controle de Burkholderia SMF 07. Burkholderia fenol extracelular (A) e Burkholderia controle
extracelular (B), demonstrando possíveis proteínas que mudam sua expressão expostas ao fenol: Proteína
ribossomal 30S S17 (1), ATP sintase subunidade alfa (2), Fator de elongação Tu (3) e Fator de elongação
Tu(4) representadas na tabela 2.

Tabela 3. Identificação por MS/MS mostrando algumas proteínas diferencialmente expressas no


tratado e controle de Burkholderia SMF 07.

Nº DO SPOT NOME DA PROTEÍNA N° DE ACESSO

1 Proteína ribossomal 30 S RS16_FRAT1


2 Poliribonucleotídeo transferase PNP_BURP8
3 Proteina chaperone dnaK DNAK_BURVG
4 Proteína ribossomal 30S S1 RS1_STAHJ
5 ATP sintase subunidade alfa ATPA_STAHJ
6 Fator de elongação EFTU_STAHJ
7 Enolase ENO_BURCA
8 Succinil-CoA ligase SUCC_BURCA

9 Elongation factor EFTS_BURMA

Subunidade alfa da RNA polimerase


10 dirigido por DNA RPOA_BURP8
11 Fator de elongação EFTU_TREPA

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Figura 4. Identificação por MS/MS mostrando algumas proteínas diferencialmente expressas no


tratado e controle de Burkholderia SMF 07 que foram citadas. Burkholderia fenol extracelular.

Discussão
Segundo LI e colaboradores (2009), a exposição de Burkholderia cepacia WZ1 ao quinclorato
interrompe a biosíntese de algumas proteínas e interfere nas atividades metabólicas normais da cepa, logo
o fato do controle ter expressado 740 e o tratado 420, nos dando uma diferença de 320 proteínas não
sendo expressas, nos dá indícios de que o poluente fenol interfere no metabolismo normal da cepa em
questão.
Temos ainda as expressões totais de proteínas, sua distribuição em massa e pI, nos revelando as
características das proteínas que compõe esse organismo. Por meio da ferramenta TagIdent do Expasy foi
possível observar a presença de enzimas relacionadas a resposta ao fenol entre elas temos: D-(-)-3-
hydroxybutirato hidrolase, essa proteína participa da degradação de poli-3-hidroxibutirato (PHB).
Rhamnogalacturona liase, degrada rhamnogalacturona, ácido poligalacturônico, ácido péctico e
pectina, transformando esses produtos em oligossacarídeos.
Fosfotreonina liase ospF, cataliza e remove os grupos fosfatos, essas modificações resultam na
inibição da transcrição de genes proinflamatórios, assim diminuindo a resposta imulógica do organismo
afetado, permitindo o desenvolvimento da bactéria. Provável tRNA sulfurtransferase, que catalisa a
transferência do grupo sulfato do ATP-dependente para o RNAt para produzir 4-tiouridina, esse é um dos
passos para a síntese tiazol, dentro da rota da biosíntese da timina. 1-desoxi-D-xilulose-5-fosfato sintase,
catalisa a condensação de acilol com os átomos de carbono 2 e 3 do piruvato ou gliceroldeído 3-fosfato
para 1-desoxi-D-xilulose-5-fosfato sintase. A subunidade proteolítica da protease Clp ATP-dependente, cliva
várias proteínas em peptídeos em um processo que requer a hidrólise de ATP, trabalha na maioria dos
processos de degradação de proteínas mal enoveladas. Aminometiltransferase catalisa a degradação de
glicina.
Das proteínas identificadas por MS/MS (Tabela 2 e 3), Fator de Elongação foi expressa, essa
proteína pertence a uma família de que esta envolvida na adição de aminoácidos durante a tradução do
RNAm (NOSTRAND et al., 2008 aput LODISH et al., 2000). Proteína ribossomal 30S S1 e a chaperona dnak,
juntamente com outras classes de proteínas, participam dos processos de enovelamento de peptídeos
nascentes, os transporta e os degrada durante o crescimento normal e controla seus mecanismos de
tradução dentro do complexo positivo ou negativo (BREUGELMANS et al., 2010 apud NARBERHAUS., 1999).
ABC tipo A, é uma família de proteínas relacionadas ao transporte moléculas, transportadores ABC. A
desintoxicação microbiana induz ao transporte de pequenas moléculas, logo a um aumento na expressão
de proteínas de transporte (LI et al., 2009 apud Strazielle e Ghersi-Egea, 1999). Segundo LI et al., 2009,
Burkholderia cepacia WZ1 exposta ao quinclorato, podem transportar metabólitos do quinclorato ou outras
citotoxinas. A desintoxicação microbiana induz ao transporte de pequenas moléculas, logo a um aumento

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na expressão de proteínas de transporte (Strazielle e Ghersi-Egea, 1999). Isso implica que essas proteínas
transportadoras ABC podem transportar metabólitos do quinclorato ou outras citotoxinas.

Conclusão
Com base nos resultados obtidos, pode-se concluir que é possível utilizar uma metodologia
reprodutível para eletroforese bidimensional e espectrometria de massa de proteínas extracelulares em
condições normais e crescidas em presença do poluente, como também identificar proteínas
diferencialmente expressas da cepa Burkholderia SMF 07. Utilizando o banco de dados UniProt e a
ferramenta TagIdent do Expasy, foi possível identificar algumas das enzimas que tiveram sua expressão
alterada em resposta ao solvente, como as: D-(-)-3-hydroxybutirato hidrolase, essa proteína participa da
degradação de poli-3-hidroxibutirato (PHB), Rhamnogalacturona liase, degrada rhamnogalacturona, ácido
poligalacturônico, ácido péctico e pectina. Como também identificar algumas proteínas por espectrometria
de massa como a Proteína ribossomal 30S S17(1), ATP sintase subunidade alfa, Fator de elongação Tu e
Fator de elongação Tu. A partir desses resultados será possível utilizar a espécie em questão como uma
ferramenta de aplicação biotecnológica na biorremediação de ambientes contaminados com fenol, já que a
cepa tem a capacidade de crescer na presença deste poluente recalcitrante.

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Neuroscience, v. 19, p. 6275–6289, 1999.
YABUUCHI, E., et al. Proposal of Burkholderia gen nov. and transfer of seven species of the genus
Pseudomonas homology group II to the new genus, with the type species Burkholderia cepacia (Palleroni
and Holmes 1981) comb. nov. Microbiology and Immunology, v.36, p.1251–1275. 1992.

João Pessoa, outubro de 2011


505

CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO DA MAMOMEIRA BRS ENERGIA


SUBMETIDA A DIFERENTES DOSES E FONTES DE MATÉRIA ORGÂNICA E
COBERTURA DO SOLO
Niwton Lima de ARAUJO
Pós-Graduando em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
E- mail: niwton_araujo@hotmail.com
Francisca Magnólia de OLIVEIRA
Pós-Graduado em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)

RESUMO
A cultura da mamoneira tem se destacado em razão das várias aplicações de seu óleo, que se
constitui em uma das melhores matérias-primas para fabricação do biodiesel, além de ser a base para
diversos produtos industriais. O objetivo da pesquisa foi estudar a sensibilidade da mamona (BRS- Energia)
sob diferentes fontes e doses de matéria orgânica, com e sem cobertura do solo, avaliando seus efeitos no
crescimento e desenvolvimento. O experimento foi desenvolvido no período de Maio a Setembro de 2008,
em casa de vegetação do campus Campina Grande na UFCG, Paraíba. O experimento foi conduzido em
delineamento fatorial 2 x 3 x 2 em blocos ao acaso, constituído de duas fontes de matéria orgânica
(esterco e torta de mamona fornecendo) três niveis de nitrogênio (400, 600 e 800 kg há -1) com e sem
cobertura, com 3 repetições. Utilizaram-se vasos plásticos com capacidade para 100 kg de solo, nos quais
se cultivou uma planta por vaso até os 120 dias após a semeadura (DAS).Os resultados foram analisados
através de uma análise de variância e teste de Tukey para comparação de médias. As doses de nitrogênio
aplicado por ambas as fontes de adubo (torta de mamona e esterco bovino) não afetaram
significativamente o crescimento e desenvolvimento da mamona. A adubação do solo com torta de
mamona favoreceu o crescimento e desenvolvimento e da mamona quando comparado com a adubação
usando esterco de gado.
Palavras Chave: Ricinus communis, Adubação Orgânica, Cobertura Morta.

INTRODUÇÃO
O cultivo da mamona (Ricinus communis L.) é praticado há bastante tempo em todo o mundo, mas
nos últimos anos essa atividade passou a ser vista como uma alternativa agrícola bastante promissora
devido à elevada importância econômica desta. Seu principal produto, que é o óleo, possui centenas de
aplicações industriais e hoje se apresenta como grande alternativa na produção do biodiesel, onde dentro
do mesmo processo se obtém como subprodutos, a glicerina, que tem larga utilização na indústria
farmacêutica e química, além da torta que pode ser aproveitada para adubação orgânica ou, após a sua
desintoxicação, como ração animal (BELTRÃO et., 2003).
Vale destacar, que devido a seu crescimento indeterminado, ocorre grande extração de nutrientes
do solo, portanto, é uma espécie muito exigente em fertilidade do solo (HERMELY, 1981). Embora sendo
uma cultura tolerante a seca, a diminuição no conteúdo de água no solo pode provocar alterações
significativas nos processos fisiológicos essenciais ao crescimento e desenvolvimento da planta a falta de
água em qualquer fase de seu crescimento pode comprometer o rendimento da cultura (BARROS JUNIOR,
2007). A incorporação de matéria orgânica, material com alta capacidade de incorporar ao solo nutriente
minerais, reter água no solo, bem como melhorar as propriedades físicas tornando este mais produtivo isso
tem sido uma sugestão apresentada por vários autores. O uso de restos culturais como cobertura vegetal
morta é uma prática simples, eficaz que reduz significativamente as perdas de água por evaporação e evita
o processo de erosão dos solos. Pode ser vista como uma alternativa para tornar o cultivo da mamona uma
atividade economicamente mais lucrativa e minimizar impactos ambientais de natureza erosiva. Esta
eficácia deve-se à proteção que os restos de culturas oferecem contra o impacto direto das gotas de chuva
na superfície do solo reduzindo a velocidade do escoamento superficial, por aumento da rugosidade e
favorecimento no processo de infiltração da água no perfil (CARVALHO et. al., 1990).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


506

Por tratar-se de uma cultura que apresenta relevante importância econômica para o país em geral
para o desenvolvimento tecnológico do mundo atual, se faz necessário o estudo destas tecnologias de
manejo do solo, capazes de preservar o solo como recurso natural aumentando assim a sua capacidade
produtiva.
Antes o exposto objetivou-se, com o presente trabalho, avaliar o crescimento e desenvolvimento e
da mamona quando submetida a diferentes fontes e doses de nitrogênio em condições de cobertura ou
exposição do solo.

MATERIAIS E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em casa de vegetação pertencente ao Departamento de Engenharia
Agrícola do Centro de Tecnologia e Recursos Naturais (CTRN) da Universidade Federal de Campina Grande,
PB, durante o período de maio a setembro de 2008. As coordenadas geográficas são de latitude 7º 15’18”
S, longitude 35º 52’28” W . ( DAMASCENO, 2006).
O solo utilizado no experimento foi proveniente do município de Lagoa Seca - PB, classificado como
Neossolo Regolitico (EMBRAPA), de baixa fertilidade, o qual foi levado ao Laboratório de Irrigação e
Salinidade da UFCG para após de seco ao ar e peneirado em malha de 2 mm de abertura foi quanto aos
aspectos químicos conforme metodologia recomendada pela EMBRAPA (1997).

CARACTERÍSTICA VALOR
Cálcio (cmolc/kg) 1,04
Magnésio (cmolc/kg) 1,67
Sódio (cmolc/kg) 0,08
Potássio (cmolc/kg) 0,09
Soma de bases (cmolc/kg) 2,88
Hidrogênio (cmolc/kg) 0,00
Alumínio (cmolc/kg) 0,00
Matéria orgânica (g/kg) 8,9
Nitrogênio (%) 0,05
Fósforo assimilável (mg/dm3) 2,9
pH 7,02
Condutividade Elétrica (mmhos/cm) 0,12

A cultivar de mamona (Ricinus communis) utilizada foi a BRS Energia, considerada precoce,
com ciclo médio de 120 dias e porte baixo, apresentando altura de 1,4 m (o que facilita a colheita), frutos
semi-deiscentes e. Floresce aos 45dias, com um peso médio de 100 sementes de 71 g, com uma produção
de cerca de 1.500 kg/ha no sequeiro e um potencial produtivo em torno de 3.000 kg/ha. A mamoneira tem
mostrado adaptação a ecossistemas em que ocorram precipitações pluviais pelo menos de 500 mm.
(AZEVEDO, 2001).
o solo foi colocado em recipientes de plástico PVC, de 120 litros com 52 cm de diâmetro na parte
superior, 35 cm na base e 60 cm de altura. Em cada um destes foram colocados 100 kg de solo até a
profundidade de 50 cm. A semeadura foi realizada a uma profundidade de 2,0cm, colocando-se 5
sementes em cada vaso. Após a germinação e completa expansão do primeiro par de folhas (cotilédones)
efetuou-se o desbaste das plantas, deixando-se apenas uma planta por vaso. Todas as plantas receberam
adubação mineral de Fósforo e Potássio aplicados respectivamente 90-60 Kg/ha, em fundação. Aplicaram-
se seguintes fontes minerais: Super fosfato simples (22% P2O5) e Cloreto de potássio (60% K20). Foram
utilizados três tratamentos de nitrogênio em fundacão: 400; 600 e 800 distribuidos homogeniamente em
vasos de pvc de acordo com a quantidade de solo 100kg /vaso na forma de esterco bovino e torta de
mamona. Em seguida foi colocada cobertura morta (maravalha de angico) de acordo também com os
tratamentos utilizados.
Utilizou-se o delineamento experimental inteiramente casualizado, com os tratamentos dispostos
em esquema fatorial 2 x 3 x 2 com 3 repetições, sendo os tratamentos duas fontes de adubos orgânicos
(esterco bovino e torta de mamona na reposição de nitrogênio) e três doses de adubos ( 400, 600 e 800 kg

João Pessoa, outubro de 2011


507

N ha-1), para os tratamentos com e sem cobertura , totalizando desta forma 12 tratamentos e 36 unidades
experimentais (vasos). Os dados foram analisados estatisticamente através da análise de variância
(ANOVA), e do teste de Tukey. Os tratamentos apresentaram as seguintes denominações:
E1C – refere-se a 400kg ha-1 de N na forma de esterco bovino – solo coberto
M1C – refere-se a 400kg ha-1 de N na forma de torta de mamona- solo coberto
E1D – refere-se a 400kg ha-1 de N na forma de esterco bovino – solo descoberto
M1D – refere-se a 400kg ha-1 de N na forma de torta de mamona- solo descoberto
E2C – refere-se a 600kg ha-1 de N na forma de esterco bovino – solo coberto
M2C – refere-se a 600kg ha-1 de N na forma de torta de mamona- solo coberto
E2D – refere-se a 600kg ha-1 de N na forma de esterco bovino – solo descoberto
M2D – refere-se a 600kg ha-1 de N na forma de torta de mamona- solo descoberto
E3C – refere-se a 800kg ha-1 de N na forma de esterco bovino – solo coberto
M3C – refere-se a 800kg ha-1 de N na forma de torta de mamona- solo coberto
E3D – refere-se a 800kg ha-1 de N na forma de esterco bovino – solo descoberto
M3D – refere-se a 800kg ha-1 de N na forma de torta de mamona- solo descoberto
As variáveis estudadas foram medidas a cada 20 dias durante todo o ciclo da mamoneira que foi de
140 dias. A altura da planta foi medida do colo a base da folha mais nova aos 20, 40, 60, 80, 100, 120 e 140
após o desbaste final. A medição foi feita com uma regra graduada desde o colo da planta até o inicio do
broto terminal do ramo principal. As medições realizadas com relação ao diâmetro do caule foram feitas
através de paquímetro analógico, com leituras efetuadas na região do colo de cada planta, nos mesmos
períodos estabelecidos para leituras da altura das plantas.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Altura da Planta
A Tabela 6. apresenta um Resumo da Analises de Variância da altura da planta da Mamona
para cada período estudado, até os 140 dias após a semeadura (DAS). Para realizar a analises de variância,
os dados (x) foram transformados em Raiz de ..

Tabela 6. Resumo da Analises de Variância para altura da planta relativos aos dados obtidos até os
140 dias após a semeadura (DAS) da cultivar BRS-Energia em função das doses, tipos de adubos, com e sem
cobertura do solo.

Quadrado médio
Fonte.V.GL
20 DAS 40 DAS 60 DAS 80 DAS 100 DAS 120 DAS 140 DAS
Dose 2 33,18 ns 220,31* 881,08** 1153,03 ns
940,53 ns 401,08 ns 217,03 ns
Tipo 1 75,83** 144,40 ns 744,69 ns 1521,00 ns 4246,69** 4268,44** 3500,69**
Cobertura 1 0,07 ns 39,90 ns 173,36 ns 1045,44 ns 992,25 ns 1369,00 ns 1534,03 ns
DA x TA 2 11,32 ns 136,15 ns 167,36 ns 534,25 ns 727,03 ns 752,07 ns 680,86 ns
DA x CS 2 25,93 ns 78,28 ns 350,19 ns 180,53 ns 336,58 ns 416,58 ns 499,69 ns
TA x CS 1 27,12 ns 54,51 ns 600,25 ns 1320,11 ns 1190,25 ns 1444,00 ns 1950,69 ns
DAxTA xCS 2 22,57 ns 20,93 ns 85,58 ns 68,86 ns 6,08 ns 56,08 ns 126,86 ns
Bloco 2 18,61 ns 37,08 ns 100,33 ns 138,53 ns 408,03 ns 595,58 ns 1027,44 ns
Resíduo 2 17,41 65,36 224,97 446,92 438,05 427,13 443,17
CV 19,92 20,73 21,61 22,66 19,12 18,10 17,62

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


508

Medias da altura da Planta (cm)


Doses de Adubo (DA)
400 (kgha-1) 22,59 42,63b 77,08b 101,25 114,67 116,50 120,66
-1
600 (kgha ) 20,98 40,08ab 71,00ab 96,25 114,50 118,42 123,00
-1
800( kgha ) 19,27 34,27a 60,17a 82,33 99,25 107,58 114,75

Tipo de Adubo (TA)


Esterco 19,50a 36,99 64,78 86,78 98,61a 103,28a 109,61a
Mamona 22,40b 40,99 74,06 99,78 120,33b 125,06b 129,33b
Sem 20,99 37,94 67,22 87,89 104,22 108,00 112,94
Com 20,90 40,04 71,61 98,67 114,72 120,33 126,00
*, ** significativo a 1 e 5% de probabilidade pelo teste F, respectivamente.
1
Dados transformados em Raiz de .

Com exceção da altura aos 40 e 60 DAS não houve diferença significativa na altura da planta entre
as três doses de adubo nitrogenado testado (400, 600 e 800 Kg/ha). Este resultados estão de acordo com
aqueles encontrados nas Bibliografias como por exemplo no trabalho realizado por Severino et al., (2004)
com a cultivar BRS 149 Nordestina em relação à adubação química, na qual o N é fornecido em quantidades
variáveis, enquanto os outros são mantidos em um nível referencial de 60-40 kg/ha de P e K. Mateus et al.
(2009), trabalhando com híbridos da mamona (Íris; Savana; Guarani) no sistema de semeadura direta, e
quatro doses de nitrogênio em cobertura (0, 50, 100 e 200 kg ha-1 de N), utilizando-se como fonte a uréia,
verificaram diferença significativa de produção entre as cultivares, contudo, a adubação nitrogenada não
influenciou os componentes de produção, bem como, a produtividade de grãos. Pese a isto, as médias
apresentadas na Tabela 6 e na figura 7 parecem indicar que houve sim diferença entre as doses,
observando-se claramente que a altura das plantas aumentou quando a doses de nitrogenio aumentou de
400 para 600 kg/há e sendo menor o crescimento quando aumentou-se a dose para 800 kg/ha-1.
Observa-se também na Figura 7 que as plantas submetidas às doses crescentes de N apresentaram
o mesmo comportamento em relação à altura das plantas ao longo do ciclo da cultura, ou seja, a altura das
plantas aumento com o tempo. A partir dos 60 DAS o período de crescimento ocorreu de forma mais lenta,
tendência corroborada por Ribeiro (2008) trabalhando nas mesmas condições desta pesquisa, porém,
utilizando a cultivar Paraguaçu e Nordestina, respectivamente. No caso da mamona cultivar Energia a
diminuição do crescimento poderia ter acontecido antes (nas cultivares Paraguaçu e Nordestina foi
observado aos 80 dias) devido a que a cultivar Energia é mais precoce. De acordo com a Figura 7 observa-
se a altura da planta- em função do tempo para os diferentes tratamentos estudados.

João Pessoa, outubro de 2011


509

Figura 7. Evolução da altura da planta em função do tempo para os diferentes tratamentos


estudados

Vale salientar que a época em que se inicia a diminuição da taxa de crescimento em altura é
a mesma em que começam aparecer as primeiras inflorescências. A paralisação no crescimento vegetativo,
em função da aceleração do crescimento produtivo, ocorre pelo direcionamento dos fotoassimilados, para
os órgãos produtivos. Os frutos em formação atuam como drenos de fotoassimilados (TAIZ & ZEIGER, 2004).
A diminuição da taxa de crescimento da altura da planta após os 60 dias foi confirmada através da
determinação da taxas de crescimento da altura de planta com o tempo (Tabela 7). A partir de 60-80 (DAS)
as taxas de crescimento diminuíram para todos os tratamentos estudados.
Com respeito a fonte de matéria orgânica, a analises de variância para a altura de plantas (Tabela 6)
quando fertilizadas com diferentes fontes de matéria orgânica permitiu-se concluir que a mamona produziu
em geral maiores alturas de plantas quando fertilizadas com torta de mamona que quando fertilizadas com

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


510

esterco de gado. Assim, no final do experimento a mamona fertilizada com torta de mamona teve uma
altura de
129,33cm, significativamente diferente de aquela obtida quando a mamona foi fertilizada com
esterco de gado (109,61cm). Considerando que o suprimento de nitrogênio para adubação foi unicamente
através de fertilizantes orgânicos, os resultados obtidos parecem indicar que o grau de disponibilidade de
nitrogênio para a mamona é superior com a torta de mamona em comparação com esterco de gado. No
efeito significativo da cobertura do solo foi encontrado para altura das plantas. Tampouco foi encontrada
nenhuma interação entre os três fatores estudados: doses de nitrogênio, fonte de nitrogênio e cobertura
do solo.

Tabela 7. Taxa de crescimento absoluto da altura da planta

Médias

Intervalos de Tempo 20-40 40-60 60-80 80-100 100-120 120-140


------------------------ cm dia-1 -----------------------------

Dose de Adubo (DA)


400 1.39aa 1,63aa 1,45aa 1,27aa 1,05aa 1,09a
a
600 1,38aa 1,57aa 1,48aa 1,33aa 1,09aa 1,10a
a
800 1,31aa 1,49aa 1,42aa 1,35aa 1,18ab 1,15a
a
Tipo de Adubo (TA)
Esterco 1,37aa 1,52aa 1,42aa 1,24aa 1,11aa 1,13a
a
Mamona 1,35aa 1,60aa 1,48aa 1,40ab 1,10aa 1,09a
a
Tipo de Solo (TS)
Sem Cobertura 1,34aa 1,54aa 1,40aa 1,32aa 1,09aa 1,11a
a
Com Coberto 1,38aa 1,58aa 1,50aa 1,32aa 1,12aa 1,12a
a
1
Dados transformados em raiz de √X + 1

Diâmetro do caule
A Tabela 9 apresenta um Resumo da Analises de Variância do diâmetro do caule da
Mamoneira para cada período estudado, até os 140 dias após a semeadura (DAS). Não houve real
diferenças significativas quanto ao diâmetro do caule entre as dosagens de adubo nitrogenado entre fontes
de adubo, e natureza da cobertura do solo, concordando, como no caso da altura da planta, com os
trabalhos de Severino et al., (2004) e Mateus et al. (2009) quem observaram as doses de nitrogênio não
influenciaram as características ligadas ao crescimento da mamona.
A Figura 8. Apresenta o diâmetro do caule das plantas de mamona submetidas a diferentes
tratamentos de dosagens, fontes de N e natureza da cobertura do solo. ou seja, o diâmetro aumentou com
o tempo. A partir dos 60 DAS o crescimento ocorreu de forma mais lenta, corroborando com o observado
por Ribeiro (2008) . A diminuição da taxa de crescimento do diâmetro do caule após os 60 dias pode ser
confirmada através da determinação da taxas de crescimento da altura de planta com o tempo (Tabela 8.).
Observa-se que no intervalo 60-80 (DAS) as taxas de crescimento diminuíram para todos os tratamentos
estudados.

João Pessoa, outubro de 2011


511

Tabela 8. Resumo da Analises de Variância para diâmetro do caule, relativo aos dadas obtidos até
aos 140 dias após a semeadura (DAS), da cultivar BRS-ENERGIA, em função das doses, tipos de adubos, com
e sem cobertura do solo.
Quadrados médio
Fonte de variação GL
DC1 DC2 DC3 DC4 DC5 DC6 DC7
ns ns ns ns ns ns
Dose Adubo (DA) 2 0,95 4,20 19,46 20,24 7,24 7,69 6,45 ns
Tipo Adubo (TA) 1 1,01 ns 1,05 ns 9,40 ns 34,12 ns 84,49** 89,33 ns 103,05ns
ns ns ns ns ns ns
Solo Coberto (SC) 1 0,13 9,05 35,01 44,56 71,54 92,90 92,44 ns
Inter DA x TA 2 0,71 ns 4,20 ns 6,22 ns 6,83 ns 13,90 ns 38,47 ns 33,59 ns
ns ns ns ns ns
Inter DA x CS 2 0,04 2,42 20,01 29,12 35,23 6,91 ns 7,16 ns
ns ns ns ns ns
Inter TA x CS 1 1,19 3,45 19,51 34,32 44,56 76,83 ns 90,85 ns
Inter DA x TA x CS 2 0,39 ns 0,09 ns 1,28 ns 3,83 ns 4,75 ns 1,95 ns 3,36 ns
ns ns ns ns ns ns
Bloco 2 0,66 4,52 8,67 14,57 22,98 42,45 46,67 ns
Resíduo 22 0,48 2,96 10,92 15,80 17,65 27,39 31,22
CV 11,23 17,06 21,26 21,29 20,94 23,84 24,6
Dose de Adubo Média do diamero do caule (mm)
400 6,25 10,73 16,95 20,14 20,91 22,85 23,52
600 6,45 9,94 15,23 18,21 19,87 21,33 22,09
800 5,89 9,57 14,46 17,67 19,39 21,68 22,50
Cobertura do solo
Esterco 6,03 9,90 15,03 17,70 18,53a 20,38 21,01
Mamona 6,36 10,25 16,06 19,64 21,59b 23,53 24,39
Tipo de solo
Sem 6,13 9,58 14,56 17,56 18,65 20,35 21,10
Com 6,26 10,58 16,53 19,78 21,47 23,56 24,30
** significativo a 1 % de probabilidade pelo teste F, respectivamente. Dados transformados em √x.

Na Figura 8. é seqüenciado o desempenho dos tratamentos com relação ao diâmetro do caule e o


tempo.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


512

Figura 8. Diâmetro do caule com relação as dose de adubos, tipo de solo e fonte de adubo

João Pessoa, outubro de 2011


513

Tabela 9. Taxas de crescimento absoluto do diâmetro do caule para a cultivar BRS


ENERGIA.

Médias

Intervalos de Tempo 20-40 40-60 60-80 80-100 100-120 120-140 ------------


----------------------- cm dia-1 -----------------------------

Dose de Adubo (DA)


400 1,11aa 1,14aa 1,08aa 1,02aa 1,05aa 1,02aa
600 1,08aa 1,12aa 1,07aa 1,04aa 1,04aa 1,02aa
800 1,09aa 1,11aa 1,08aa 1,04aa 1,06aa 1,02aa
Tipo de Adubo (TA)
Esterco 1,09aa 1,12aa 1,07aa 1,02aa 1,05aa 1,02aa
Mamona 1,09aa 1,13aa 1,09aa 1,05ab 1,04aa 1,02aa
Tipo de Solo (TS)
Descoberto 1,08aa 1,12aa 1,07aa 1,03aa 1,04aa 1,02aa
Coberto 1,10ab 1,14aa 1,08aa 1,04aa 1,05aa 1,02aa
1
Dados transformados em raiz de X + 1

CONCLUSÕES
As doses de nitrogênio aplicado por ambas as fontes de adubo (torta de mamona e esterco bovino)
não afetaram significativamente o crescimento e desenvolvimento da mamona.
A adubação do solo com torta de mamona favoreceu o crescimento e desenvolvimento e da
mamona quando comparado com a adubação usando esterco de gado.

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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


514

CLADONIA SALZMANNII NYL. (LÍQUEN) NA MODIFICAÇÃO DOS


ATRIBUTOS QUÍMICOS DE UM SOLO ARENOSO DO NORDESTE BRASILEIRO
Patryk MELO1
Helena Paula de Barros SILVA2
Ariosto Teles MARQUES3
1 Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); Centro de Tecnologia e Geociências (CTG); Programa de Tecnologias
Energéticas e Nucleares (PROTEN); Departamento de Energia Nuclear (DEN). (patrykmelo@hotmail.com)
2 Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); Centro de Tecnologia e Geociências (CTG); Programa de Tecnologias
Energéticas e Nucleares (PROTEN); Departamento de Energia Nuclear (DEN). (barrosleny@hotmail.com)
3 Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); Centro de Tecnologia e Geociênc ias (CTG); Programa de Tecnologias
Energéticas e Nucleares (PROTEN); Departamento de Energia Nuclear (DEN). (ariosto_ufpb@hotmail.com)

RESUMO
Os liquens são organismos que degradam rochas pela ação química de suas substâncias e mecânica,
por incrustação no substrato, favorecendo o processo de formação do solo. São considerados
cosmopolitas: distribuídos dos trópicos aos pólos, existindo espécies polares, bipolares e de ampla
distribuição no globo. O presente estudo teve por objetivo avaliar possíveis mudanças nas propriedades
químicas de um solo arenoso após incubação com liquens em condições de casa de vegetação. O
experimento foi conduzido no Departamento de Energia Nuclear da Universidade Federal de Pernambuco.
Utilizou-se um solo arenoso do município de Alhandra-PB, coletado na camada de 0 a 20 cm, em uma área
de remanescente de cerrado. O solo foi seco ao ar, tamisado em peneira de 2mm e amostras de solo foram
coletadas para a caracterização. Os teores de nitrogênio total (NT) foram obtidos pelo método de
MicroKjeldahl (EMBRAPA, 2009) e os de carbono total (CT) pelo método de oxidação via úmida com
dicromato de potássio (OKALEBO et al., 1999). O pH (H2O) foi obtido pelo método da Embrapa (2009). O
delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado com quatro doses (0; 1,5; 2,5 e 4 t/ha)
de liquens, com quatro repetições. Durante o período de incubação dos liquens no solo, avaliou-se os
valores de pH, CT e NT aos 7, 28, 71, 100 e 136 dias, respectivamente. Os resultados demonstraram que
houve aumento do pH, da matéria orgânica do solo e do NT para as doses testadas, evidenciando que os
liquens podem contribuir em possíveis mudanças nos atributos químicos do solo. Quantidades a partir de
1,5 t/ha de liquens proporcionaram aumento nos valores de pH, CT e NT do solo.
PALAVRAS-CHAVE: Liquens, Cladonia salzmannii, pH, matéria orgânica do solo, nitrogênio total.

INTRODUÇÃO
Os liquens são organismos formados por fungos e algas e ocupam diversos substratos com
madeiras, troncos vivos, folhas, muros, telhados, solos, rochas, dentre outros (MELO, 2011). Apesar disso,
muitas espécies têm preferência por substratos específicos. Por serem específicos, obrigatórios ou não,
indicam não só o ambiente em que vivem como também os minerais e rochas que usam como substrato.
Pela fácil adaptabilidade dos liquens a diversos substratos e ambientes, são considerados cosmopolitas,
distribuídos dos trópicos aos pólos, existindo espécies polares, bipolares e de ampla distribuição
(SEAWARD, 1977).
Os liquens possuem grande resistência e esta, é devida à proteção do córtex superior (camada de
hifas), associada à cristalização das suas substâncias no talo, tanto ao nível cortical quanto medular,
funcionando, por vezes, como um filtro, selecionando quantidades e tipos de radiações recebidas, ou
permanecendo em latência durante períodos onde a temperatura e a luminosidade não o permitem
fotossintetizar (HALE, 1983).
Nos processos de formação do solo a degradação química, que é a alteração/transformação de
alguns materiais das rochas se constitui como um dos mais importantes. Os primeiros organismos a se
instalarem sobre as rochas aflorantes da superfície terrestre são os liquens (LEGAZ et al., 2006). À medida
que o líquen decompõe a rocha, prepara um solo desenvolvido o suficiente para o estabelecimento de
outros seres que requerem umidade e nutrientes, como os musgos e vegetais fanerogâmicos (SEDIA e
EHRENFELD, 2005).

João Pessoa, outubro de 2011


515

Evans e Benalp (1999) consideram os liquens organismos que influenciam na fertilidade e


estabilidade do solo em regiões áridas. Especificamente em regiões em que os solos possuem pouca
vegetação (BENALP e LANGE, 2003). Com base nisso, as relações ecológicas entre liquens e suas substâncias
e a microbiota do solo subjacente, necessitam de mais estudos para obtenção de maior conhecimento da
dinâmica dos liquens e sua importância em ecossistemas tropicais. O presente trabalho teve por objetivo
avaliar possíveis mudanças nas propriedades químicas de um solo arenoso após incubação em condições
de casa de vegetação com quantidades crescentes de liquens.

MATERIAL E MÉTODOS
O estudo de incubação de liquens foi conduzido utilizando-se um solo arenoso em condições de
casa de vegetação, no Departamento de Energia Nuclear da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE),
localizada no município de Recife - PE.
Foi utilizado, no ensaio, solo arenoso, coletado no município de Alhandra-PB, na camada de 0 a 20
cm, em uma área de remanescente de cerrado. O solo foi seco ao ar, tamisado em peneira de 2mm e sub-
amostras foram coletadas para a caracterização química pelo método da Embrapa (2009). A caracterização
consistiu em: pH em água (H2O 1:25) CT e NT. Os teores de NT foram obtidos pelo método de MicroKjeldahl
(EMBRAPA, 2009) e os de CT pelo método de oxidação via úmida com dicromato de potássio (OKALEBO et
al., 1999).
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado. Os tratamentos consistiram-
se em quatro doses (0; 1,5; 2,5 e 4 t/ha) de liquens da espécie Cladonia salzmannii Nyl., com quatro
repetições. Foram utilizados vasos plásticos com capacidade de 500cm3 e estes foram preenchidos com
200g de solo em base seca e as quantidades de liquens calculadas em t/ha de acordo com a densidade do
solo. Após o enchimento dos vasos e a aplicação das doses de liquens, o solo foi umedecido com água
destilada para a obtenção da umidade de aproximadamente 60% do volume total de poros. As parcelas
foram borrifadas com 10mL de água destilada, em dias alternados, durante todo o experimento.
O ensaio teve duração de 136 dias para avaliar a possível interferência da composição química dos
liquens nas propriedades químicas do solo. Durante o período de incubação dos liquens no solo, foram
avaliados os valores de pH, CT e NT aos 7, 28, 71, 100 e 136 dias, respectivamente.
Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância, envolvendo as quantidades de liquens
utilizados no tempo e em seguida foi realizada análise de regressão para se estimar a dinâmica do CT, NT e
os valores do pH durante todo o experimento, por meio do software estatístico Sisvar ® (FERREIRA, 2003). A
significância pelo teste F e o valor do coeficiente de determinação (R2).

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Após a caracterização química do solo utilizado no ensaio (tabela 1) e também com base na Figura
1, pode-se observar elevações nos valores de pH, principalmente aos sete dias de experimento, em todos
os tratamentos, onde os valores estão entre 4,88 e 4,73, sendo considerado de acidez forte (BRADY, 1989),
havendo um aumento de aproximadamente 23,2% com relação ao valor inicial. Aos 28 dias é observada
uma queda nos valores, com destaque para o tratamento de 1,5 t/ha, onde apresenta valor de 3,57. Essa
diferença nos valores de acidez pode estar relacionada à lixiviação do ácido barbático (BAR), proveniente
dos talos liquênicos de Cladonia salzmannii nos respectivos tratamentos, ainda não complexados com os
minerais do solo.

Tabela 1. Caracterização química de amostras de solo arenoso da área de ocorrência de Cladonia


salzmannii utilizada no experimento.

pH CT NT
............................g/Kg..............................
3,96 9,8 2,1

De forma geral, os liquens quando em contato com o solo, apresentam capacidade de aumentar o
pH. Ocorreu uma elevação nos valores de pH do solo em todos os tratamentos, não sendo observada
discrepância em relação aos valores de pH entre os diferentes tratamentos.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


516

0 t/ha 1,5 t/ha 2,5 t/ha 4 t/ha


6

4
pH

0
0 7 28 71 100 136
Tempo (dias)

Figura 1. Valores do pH do solo arenoso da área de ocorrência de Cladonia salzmannii durante todo o
experimento.

O aumento nos valores de pH do solo sob influência dos liquens, possivelmente pode ter ocorrido,
através da lixiviação e ação do BAR. Em analogia, pode-se citar o trabalho de Vasconcelos (2009), que em
ensaios com C. verticillaris, observou que os ácidos fumarprotocetrárico e protocetrárico, quando lixiviados
para o solo, exercem influência sob o pH, mantendo-o em uma faixa de acidez próxima a neutralidade.
Outra possibilidade seria modificações nos teores de Ca presentes nos talos liquênicos, favorecendo
condição de alcalinidade do solo durante o período experimental.
Associada a essa questão tem-se a possibilidade da matéria orgânica ter complexado os óxidos de
alumínio na solução do solo, favorecendo o aumento do pH desse solo (STEVENSON, 1994).
Observando os resultados encontrados no presente estudo, verificou-se que houve
aumento crescente quanto aos teores de carbono total no solo após a aplicação de liquens (Figura 2). Este
comportamento já era previsto quando feitas consulta na literatura correlata, em que outras pesquisas
realizadas afirmaram que áreas com presença de liquens apresentam mais carbono e nitrogênio quando
comparada com áreas sem a presença de liquens.
Os resultados indicaram que os diferentes tratamentos causaram aumento nos teores de
carbono total do solo aos 136 dias de experimento, com destaque ao tratamento referente a 4 t/ha, onde
foi percebido um relevante aumento de 443,8% em relação a quantidade inicial de CT (tabela 1) e
acréscimo de 9,8%, quando comparado ao tratamento controle (0 t/ha).
Os valores mencionados para CT, possivelmente estão relacionados com o favorecimento
da microbiota do solo. Legaz et al. (1986) reportam que a presença de substâncias liquênicas no solo e sua
estabilidade com o tempo possibilitam a ocorrência de fenômenos alelopáticos, ou seja, o efeito direto ou
indireto destes compostos, podendo ou não afetar o crescimento e reprodução dos microrganismos do solo
(FAHSELT, 1994; GIORDANO et al., 1999) constituindo também fontes de Carbono (STARK e HYVÄRINEN,
2003). Dessa forma, os liquens podem afetar a microbiota do solo de diferentes maneiras (SEDIA e
EHRENFELD, 2005).

João Pessoa, outubro de 2011


517

11
10,8
10,6
CT (g/Kg)

10,4 0 t/ha
10,2 1,5 t/ha
10 2,5 t/ha
9,8 4 t/ha
9,6
0 50 100 150

Tempo (dias)

Figura 2. Teores de Carbono total (g/Kg), dos solos submetidos ao líquen Cladonia salzmannii, sob diferentes
tratamentos ao longo do experimento.

Liquens com cianobactérias como fotobiontes produzem glutamato e glutamina como


produtos primários de assimilação do nitrogênio. No entanto, os liquens que contêm alga verde acumulam
grandes quantidades de arginina, enquanto que outras espécies acumulam os ácidos glutâmico e aspártico
como os mais abundantes no conjunto de aminoácidos livres. Várias espécies liquênicas têm a capacidade
de reduzir o nitrogênio atmosférico autoabastecendo-se deste elemento, sendo capazes de crescer em
lugares inóspitos e, desta forma, contribuem para a manutenção de um status nitrogenado no meio, que
favoreça a instalação e crescimento de plantas, ao ceder ao meio ambiente parte de seu nitrogênio fixado
(HAWKSWORTH e HILL, 1984; NASH III, 1996; LEGAZ et al., 2006).
Através dos resultados observados (Figura 3), pode-se afirmar que a simples presença dos
liquens sobre o substrato, ou seja, o solo, contribuiu de forma positiva ao acréscimo de nitrogênio em
todos os tratamentos. Tomando-se os dados da tabela 1, pode-se constatar que aos sete dias, o solo sob
amostras liquênicas correspondentes a 4 t/ha, obteve aumento no valor do NT de 23,8%, passando de 2,1
para 2,6 g/Kg. Aos 28 dias, destaque para o tratamento referente a 2,5 t/ha, sendo observado um
incremento de 1,1g de NT num intervalo de 21 dias. No decorrer do experimento, observa-se certa
tendência no comportamento dos tratamentos, mantendo-se as médias dos teores de NT.
Barbosa (2009) afirma que ao se analisar as taxas de fixação de nitrogênio pelo líquen, é
possível levar em consideração não somente o efeito da água, irradiação, pH e temperatura, mas também o
período do dia e a época do ano. Pereira (1998) reporta uma influência sazonal na produção de metabólitos
de espécies de Cladoniaceae, considerando que no verão e, portanto sob menor índice pluviométrico na
costa da Paraíba, ocorre maior produção de fenóis liquênicos.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


518

3,5
3
2,5
NT (g;Kg)

2 0 t/ha
1,5 1,5 t/ha
1 2,5 t/ha
0,5 4 t/ha
0
0 50 100 150
Tempo (dias)

Figura 3. Teores de Nitrogênio total (g/Kg) de amostras de solo arenoso da área de ocorrência de
Cladonia salmannii utilizados durante todo o experimento.

Benalp e Lange (2003) afirmam que áreas com presença de liquens apresentam mais
Carbono e Nitrogênio, umidade e outros nutrientes no solo, quando comparadas com áreas de vegetação
escassa e sem presença de liquens. Assim, fica evidente que os liquens desempenham papel importante
nas propriedades químicas do solo em particular elevando os valores do pH e os teores de carbono e
nitrogênio quando em contato com o solo, sugerindo a conservação destes sobre a superfície do solo por
causarem melhoria nos seus atributos químicos.
É difícil precisar sobre o comportamento dos valores encontrados, tendo em vista o pouco
conhecimento a respeito do tema e a grande dificuldade de literatura correlata. Segundo Vasconcelos
(2007), com base na realização de experimentos, as substâncias liquênicas de C. verticillaris foram efetivas
sobre amostras de migmatito, porém os dados referentes à participação dos liquens enquanto mediador da
ciclagem de nutrientes foi considerado pelo autor ainda insuficientes, destacando a importância da
continuidade e aprofundamento dos estudos, assim como a aplicação de outras técnicas complementares.
Contudo, o presente estudo demonstra que pode haver uma contribuição importante na melhoria
das propriedades químicas do solo com a presença de liquens, principalmente quando a umidade do solo é
constante, o que permite maior desenvolvimento desse organismo e, possivelmente, a passagem de
substâncias que poderão ser benéficas ao solo.

CONCLUSÕES
Houve aumento nos valores de pH, teores de C total e N total, após 136 dias de experimento, sendo
observada importante contribuição na melhoria das propriedades químicas do solo decorrente da presença
dos liquens.
A quantidade de 4 t/ha de liquens proporcionou maior aumento do CT e NT do solo quando
comparada com as outras quantidades testadas no estudo.
Tornam-se recomendáveis estudos mais profundos neste sentido para melhor entendimento da
permanência ou introdução de liquens sobre a superfície do solo, principalmente em solos com baixo teor
de matéria orgânica ou solos em que apresente tendência à salinidade.

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Janeiro: Freitas Bastos, 1989. 898 p.

João Pessoa, outubro de 2011


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Universidade Federal de Pernambuco.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


520

OCORRÊNCIA DE BARATAS (BLATTODEA) DOMÉSTICAS NA CIDADE DE


CHAPADINHA (MA), BRASIL16.
Paulo Siqueira CUNHA
Universidade Federal do Maranhão. Discente do curso de Ciências Biológicas
gcmcunha.2007@hotmail.com
Abnandabis Silva MONTELES
Universidade Federal do Maranhão. Discente do curso de Ciências Biológicas
Erik Costa MACEDO
Universidade Federal do Maranhão. Discente do curso de Ciências Biológicas

RESUMO
O presente trabalho teve como objetivo verificar a ocorrência e a diversidade de espécies de
baratas existentes em bairros da cidade de Chapadinha-MA. O estudo foi realizado em dez bairros da
cidade de Chapadinha-MA e consistiu de 90 pontos amostrais, sendo as coletas realizadas durante o mês de
Abril de 2010. Em cada bairro, foram usados três pontos amostrais (residências) e em cada ponto, foram
instaladas três armadilhas do tipo pitfall sendo as mesmas retiradas no intervalo de 24, 48 e 72 horas.
Foram utilizadas como isca pedaços de pão embebidos em cerveja, sendo que o interior dos recipientes foi
untado com vaselina. Coletou-se um total de 67 espécimes de baratas, todas pertencentes à espécie
Periplaneta americana. Através da análise de variância constatou-se que não houve diferença significativa
entre o tempo de permanência das armadilhas nos locais e a ocorrência das baratas (Fcal = 1,54 < F5%), o
mesmo observado entre os bairros analisados (Fcal = 1,97 < F5%).
Palavras-chave: Insecta, Sinantrópicas, Saúde Pública.

INTRODUÇÃO
As baratas são insetos pertencentes à ordem Blattodea, grupo em que atualmente são conhecidas
cerca de 4 000 espécies ao redor mundo. No Brasil, estima-se a existência de cerca de 640 espécies (RAFAEL
et al., 2008; VIANNA et al., 2001), sendo que apenas Periplaneta americana, Periplaneta australasiae,
Supella longipalpa, Blattella germânica e Blatta orientalis são consideradas domésticas (DUTRA et
al.,2007). Dentre as cinco espécies de baratas que são consideradas domésticas, apenas a Blatta orientalis
não ocorre no Brasil. Entretanto a espécie mais conhecida no Brasil e a Periplaneta americana, também
chamada de barata voadora ou barata-de-esgoto que pode ser encontrada, tanto em residências como em
peridomicílios, vivendo sempre em grandes grupos sobre paredes nuas em busca de alimento, desde que
seu habitat não sofra constantes perturbações, como por exemplo, a ação de predadores naturais ou a
limpeza excessiva (MIRANDA & SILVA, 2008).
Estes insetos podem ser encontrados em locais úmidos entre eles, esgotos e fossas e se alimentam
de restos de comida, fezes e demais materiais orgânicos. Em virtude de seu hábitat, podem causar
problemas de saúde ao homem, pois são vetores de bactérias, vírus, fungos, protozoários e em alguns
casos, podem causar alergias, além de danos materiais. Esses insetos também causam prejuízos à
agricultura, pois podem consumir raízes de plantas, tubérculos de batatinha, raízes de fumo e ainda atacar
produtos alimentícios armazenados, inclusive frutas. (BUZZI, 2002; DUTRA et al., 2007; GALLO, 2002;
MORAES et al., 2001; MIRANDA & SILVA, 2008; LOPES et al., 2006).
Com relação aos problemas causados a saúde humana, as baratas são do ponto de vista
epidemiológico um importante vetor de patógenos, principalmente se estas se encontrarem em ambiente
hospitalar, pois podem agravar o flagelo das infecções intra-hospitalares e ambientais (PARREIRA et al.,
2010; PRADO et al., 2002). Entretanto Miranda & Silva (2008) ao fazerem uma comparação entre baratas e
outros grupos de insetos vetores, dizem que os blatódeos são de pequena importância médica, embora
podendo veicular doenças que são causadas pela disseminação mecânica de patógenos diversos, esses por

16
Orientador, Prof. Dr. Cláudio Gonçalves da Silva, Universidade Federal do Maranhão – Centro de Ciências
Agrárias e Ambientais, Laboratório de Entomologia (Unidade de Estudos Biológicos). BR 222, Km 04, S/N – Boa Vista,
CEP 65500-000 Chapadinha – MA. E-mail: clagsilva@hotmail.com.

João Pessoa, outubro de 2011


521

sua vez se aderem a pernas e ao corpo das baratas quando elas percorrem esgotos, lixeiras e outros locais
contaminados.
Apesar dos transtornos e agravantes que esses insetos podem causar ao ser humano, as baratas
são usadas como fonte alternativa de alimento por alguns grupos de pessoas no mundo, mas estas por sua
vez são criadas em laboratório garantindo a não contaminação do ser humano por patógenos que esses
organismos possam transmitir. Uma das explicações atribuídas ao consumo de baratas por parte das
pessoas seria que esses insetos são considerados fonte de vitaminas A, C e D, no caso especifico da
Periplaneta americana (ALVES & DIAS, 2010; COSTA-NETO, 2003; COSTA-NETO, 2004).
Tendo em vista a importância desse grupo de insetos, este trabalho foi desenvolvido visando
conhecer as espécies de baratas existentes na cidade de Chapadinha-MA, verificando também o nível de
significância de ocorrência desses insetos nos bairros em diferentes períodos de permanência das
armadilhas nos locais.

MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi realizado em Chapadinha, no estado do Maranhão. O município possui as seguintes
coordenadas: 3° 48’ de latitude sul e 45° 18 40’’de longitude e conta com uma população de 73. 350 mil
habitantes, a vegetação do município é constituída de mata de cocais e cerrado, e a cidade localiza-se em
uma área plana há 130 m acima do nível do mar. A cidade não possuiu sistema de esgoto, onde a
população utiliza apenas fossas do tipo negra. A coleta do lixo ocorre de forma inadequada, utilizando
caçambas e caminhões, e não tendo uma destinação final, sendo então depositado em lixões. A cidade de
Chapadinha possuiu 23 bairros, e para a execução do trabalho foi feito um sorteio de dez bairros sendo
eles: Vila Isamara, Recanto dos Pássaros, Caterpilla, Terras Duras, Vila Nota 10, Novo Castelo, Tigela, Boa
Vista, São José e Japão e consistiu em 30 coletas realizadas durante o mês de Abril de 2010.

Figura 1. Localização dos bairros estudados na cidade de


Chapadinha-MA, Brasil. Adaptado do Google Earth, 2011.
Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade
522

Os bairros escolhidos, assim como as casas, foram sorteados e em cada um deles foram colocados 3
pontos amostrais contabilizando assim um total de 30 pontos de coletas durante o mês, sendo que em
cada ponto foram realizadas 3 coletas, uma a 24 horas, outra a 48 horas e a última a 72 horas. Para a coleta
das baratas, foram utilizadas 90 armadilhas do tipo pitfall, confeccionadas a partir de garrafas PET, usando
como isca pedaços de pão de mesmo peso embebidos em quantidades iguais de cerveja (10 ml) e o interior
dos recipientes foram untados com vaselina para dificultar a fuga das baratas. Nos domicílios sorteados,
colocou-se 3 armadilhas próximas a fossas.
Logo após a etapa de coleta, as baratas foram transportadas ao Laboratório de Entomologia da
Universidade Federal do Maranhão, Campus-IV de Chapadinha-MA para serem submetidas ao processo de
identificação. Os dados obtidos foram analisados estatisticamente usando DBC (Delineamento em Blocos
Casualizados).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante o estudo foram realizadas 90 inspeções, onde foram capturadas 67 baratas adultas, todos
os espécimes pertenciam a espécie Periplaneta americana, como observado nos trabalhos de (DUTRA et
al., 2007; THYSSEN et al., 2004) onde constataram um maior numero de baratas pertencentes a essa
espécie. No que diz respeito à relação tempo/quantidade de baratas coletadas, estatisticamente não houve
diferença significativa, pela ANOVA onde Fcal = 1,54 menor que F ao nível de 5% de probabilidade (fig. 1) e
a quantidade de baratas coletadas nos bairros estatisticamente não se diferiu entre os mesmos, onde (Fcal
= 1,97 menor que o F no nível de 5% de probabilidade).

Médias de baratas por horários

Horários Médias

24 horas 3,31a

48 horas 2,29a

72 horas 0,7a

Figura 1. (DMS = 3,87) médias seguidas de letras iguais não se diferem significativamente pelo
teste de Tukey 5%.

O bairro que apresentou um número maior ocorrência de baratas, somando-se todas as armadilhas
mesmo não sendo significante foi o bairro Tigela, apresentando o total de 27 espécimes, e demais bairros
como, Vila Nota 10, Vila Isamara, Terras Duras, Novo Castelo, Boa Vista e São José também apresentaram
positividade para a presença de baratas em quantidades menores se comparadas com o bairro Tigela. Já
bairros como Recanto dos Pássaros, Caterpilla e Japão não apresentaram nenhuma ocorrência de baratas
(fig. 2)

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523

Figura 2: gráfico de médias de baratas encontradas em cada bairro da cidade de Chapadinha-MA.

Alguns trabalhos como (GORAYEB et al., 2006; LANDIM et al., 2000) apontam a falta de
saneamento básico como fator importante no aumento da ocorrência de baratas, porém esse fato não foi
observado neste trabalho, assim como no de (DUTRA et al., 2007), pois nenhum dos bairros apresentaram
valores considerados significantes no numero de baratas coletadas no ponto de vista estatístico. A falta de
saneamento poderia ter influenciado nas coletas, porem alguns bairros apresentavam estruturas com
melhores condições, como ruas asfaltadas, e outros sem nenhum tipo de pavimento nas ruas.
Com relação aos tipos de fossas presentes na cidade, todas são do tipo negra, porem algumas se
diferenciam das outras, dessa forma classificamos em dois tipos: O primeiro consiste em uma escavação no
terreno onde não tem revestimento interno, onde os dejetos estão em contato direto com o solo, havendo
também infiltração. Nestes casos, o morador geralmente faz uma pequena construção de madeira e palha,
onde o piso é feito com uma cobertura de pedaços de madeira que é recoberta por barro, um fato
interessante observado é que a entrada da fossa fica totalmente desprotegida, podendo ocasionar
contaminações.
O segundo tipo é também uma escavação no terreno, mas revestido de tijolos, onde também
ocorrem infiltrações. Geralmente este tipo de fossa está ligada a uma canalização que por sua vez liga-se a
um banheiro com sanitário, contando com mais higiene e não deixando espaço para a entrada de insetos.
De certa forma esse segundo tipo de fossa, apesar de não ser considerada séptica, é menos prejudicial do
que a outra. Para a implantação de fossas realmente sépticas no município de Chapadinha, primeiro a
cidade teria que contar com um sistema de esgoto, realidade essa que não está presente no dia-a-dia da
população.
Para os bairros que não apresentaram nenhuma ocorrência de baratas como Recanto dos Pássaros,
Caterpilla e Japão, pode-se presumir que os fatores que justificam tal evento são respectivamente a
presença significativa de vegetação, visto que a única espécie coletada é doméstica (Periplaneta
americana) e não silvestre, casas mais espaçadas e ausência de lixo nas proximidades das residências,

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


524

valendo ressaltar que nos bairros Caterpilla e Japão a não ocorrência desses insetos talvez se explique pela
melhor estrutura tanto das ruas (pavimentadas ou calçadas) e a coleta regular do lixo.
CONCLUSÃO
A única espécie de barata encontrada nos dez bairros sorteados pertencia à espécie Periplaneta
americana, e estatisticamente os períodos de permanência das armadilhas nos locais (24h, 48h e 72h) não
tiveram interferência na ocorrência desses insetos, pois esses horários não diferiram significativamente,
assim como os bairros que também não apresentaram diferença significativa entre si quanto a ocorrência
das baratas.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos a colaboração dos discentes Lino Augusto Reis e Celso Carneiro pelas suas
contribuições no processo de implantação das armadilhas e coleta dos insetos, e aos moradores da cidade
de Chapadinha-MA que colaboraram dando permissão para implantação das armadilhas em suas
residências e ao professor Ednaldo Silva Filho pela ajuda na analise estatística.

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implicações para conservação. Tropical Conservation Science, v.3, n.2, p.159-174, 2010
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525

A SERRA DE SANTA CATARINA E A TEORIA DOS REDUTOS E REFÚGIOS:


REGISTROS PALEOCLIMÁTICOS NO SERTÃO PARAIBANO
Paulo Victor Paz de SOUSA
Universidade Federal do Ceará – UFC/Aluno do Mestrado em Geografia
Email: paulovictorpaz@hotmail.com
Vládia Pinto Vidal de OLIVEIRA
Universidade Federal do Ceará – UFC/Professora do Departamento de Geografia
Email: vlpinto@ufc.br

Resumo
A análise da cobertura vegetal da Serra de Santa Catarina, localizada no município de São José da
Lagoa Tapada – PB, possibilita a identificação de um gradiente de cobertura vegetal, encontrando-se desde
a ocorrência da caatinga arbustiva, caatinga arbóreo-arbustiva e caatinga arbórea. Em alguns locais
específicos evidenciam-se famílias e espécies vegetais características de mata atlântica. Nesse sentido,
busca-se: contribuir com a análise da distribuição de espécies de mata atlântica em enclaves sub-úmidos
seco, inseridos no sertão paraibano; criar um banco de dados das espécies vegetais existentes da região e
relacioná-las aos processos de degradação vegetal que ocorreram no entorno da área estudada. Para a
execução deste trabalho na área em estudo, fundamenta-se na teoria de sistemas, teoria dos redutos e
refúgios e na fitossociologia. Utilizar-se-á também na interpretação da paisagem, os parâmetros
fitoecológicos, morfopedológicos, e vegetacionais ocorridos durante o Quaternário, em que se verificaram
períodos glaciais e interglaciais.
Palavras-chave: Redutos e Refúgios, Enclaves sub-úmidos secos, Evidências paleoclimáticas

Abstract
The analysis of the vegetable covering of the Mountain range of Santa Catarina, located in the
country district of São José da Lagoa Tapada - PB, makes possible the identification of a gradient of
vegetable covering, meeting from the occurrence of the shrub caatinga, shrub arboreal caatinga and
arboreal caatinga. In that sense, it is looked for: to contribute with the analysis of the distribution of
Atlantic forest species in dry sub-humid enclaves, inserted in the sertão of Paraíba; to create a database of
the vegetable species existent of the area and to related them to the processes of vegetable degradation
that happened in adjacencies of the studied area. For the execution of this work in the area in study, it is
based in the theory of systems, theory of the redoubts and refuges and in the phytosociological. It will also
be used in the interpretation of the landscape, the parameters phyto-ecological, morphopedologic, and
vegetational happened during the Quaternary, in that verified glacial periods and interglacial.
Key words: Redoubts and refuges, Dry sub-humid enclaves, Paleoclimatic evidences

1 Introdução
O semi-árido nordestino é bastante complexo, englobando uma série de elementos peculiares que
o diferenciam de qualquer outra região da Terra. Historicamente, sua divulgação pela mídia tem nos
remetido forçosamente a uma imagem triste, seca, melancólica desse lugar. Porém ao observar
minuciosamente as particularidades da paisagem será possível perceber as complexas interações de uma
região riquíssima em seus diversos aspectos físicos, biológicos e sociais.
A região semiárida brasileira ocupa cerca de 890.000 km², e, em função das suas características
edafo-climáticas, sua cobertura vegetal é a caatinga, cuja formação florestal de baixo porte, nanofoleácea e
coreácea, apresenta a ocorrência de espécies adaptadas à carência de água. Esta vegetação divide-se, de
acordo com a sua composição florística e porte, em: caatinga arbórea, caatinga arbóreo-arbustiva e
caatinga arbustiva.
Os falsos estereótipos levantados em relação a essa região, como sendo apenas uma área onde
imperam a pobreza e a sequidão, mascaram a pluralidade de espaços existentes, evidenciados através de
áreas que se assemelham mesologicamente a espaços com características climáticas e pluviométricas de
maior intensidade como as regiões litorâneas. Essas áreas encravadas em pleno sertão traduzem uma

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


526

paisagem de exceção, sendo refúgio ou reduto para várias espécies naturais que ali sobrevivem há milhares
de anos, mesmo com as contínuas mudanças climáticas que afetam o planeta Terra.
Este é o caso específico da Serra de Santa Catarina, localizada em pleno alto sertão paraibano, onde
as suas características geoambientais se distinguem de seu entorno, e por sua vez essa modificação da
paisagem pode ser atribuída a uma dos mais importantes pensamentos relacionados aos mecanismos
padrões de distribuição da composição faunística e florística na América Tropical, a teoria dos refúgios e
redutos. É esta teoria que pode explicar a ocorrência de uma vegetação de clima úmido em pleno sertão
paraibano.
A área em estudo localiza-se no estado da Paraíba, entre as coordenadas geográficas UTM, 9230
km N a 9220 km N de latitude e 610 km E a 575 km E de longitude. A área está contida nas microrregiões de
Cajazeiras e Sousa, estende-se por aproximadamente 25 km e abrange uma área de aproximadamente
112,1 km2, desde o Olho d’água do Frade (Nazarezinho) até o riacho saco dos Bois (São José da Lagoa
Tapada), conforme mostra a Figura 1.
A produção do espaço se dá através do seu reconhecimento, partindo da análise das características
geoambientais, possibilitando interagir positivamente, atenuando o impacto ambiental produzido pelo
homem, de modo à gerar formas alternativas de ocupação e manejo dessas áreas. A percepção do espaço
ocorre a partir do reconhecimento das suas características naturais, onde os elementos constituintes
atuam de forma sistêmica, formando o ecossistema caatinga. Vivenciando o espaço, o homem age
diretamente sobre o ecossistema, provocando pressão sobre o meio ambiente.
Historicamente, durante o processo de ocupação do espaço semiárido, as atividades produtivas
iniciais não poderiam ter sido percebidas como degradantes do meio ambiente, porque até então se
acreditava que os recursos naturais seriam inesgotáveis. Apenas recentemente, com o advento dos estudos
sistêmicos do meio ambiente e a nova concepção da evolução do paradigma ecológico, é possível perceber
que as atividades culturalmente desenvolvidas ao longo do tempo estavam impregnadas de forte caráter
de degradação ambiental, comprovando que sob o olhar atual, predominava uma forma equivocada de
convivência com o semiárido, o que sobrecarrega o ecossistema, em virtude do mau uso do solo e da água,
do desmatamento, atividades que degradam dia-a-dia a capacidade suporte do ambiente.

Figura 1: Imagem do Satélite CBERS II – Composição142.

A degradação ambiental pode acarretar a diminuição da qualidade de vida de toda uma população,
resultado este que não se percebe de imediato, porém gradativamente. Sutilmente os recursos naturais
escasseiam e projetam seu efeito danoso no agravamento das condições de vida do homem.
O estudo das características geoambientais de uma determinada área tem importância estratégica
para o planejamento regional. Através das informações a respeito dessas características é possível atuar de
forma mais racional sobre o espaço, aumentando assim a sinergia das atividades produtivas. Eis a
importância da ciência: o conhecimento utilizado em função do homem.
As próprias condições mesológicas do nordeste semiárido aliado ao mau uso do solo acarretarão
em uma queda da qualidade de vida da população. Baseado nessas premissas torna-se necessário que

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sejam reconhecidas as potencialidades de cada área específica, para que seja possível elaborar uma forma
de produção do espaço menos danosa ao ambiente.
Especificamente, no caso da Serra da Santa Catarina, é preciso executar um levantamento das
atividades desenvolvidas, e através desta etapa avaliar as relações de conflito, identificando as práticas que
podem provocar degradação ambiental.

2 Referencial Teórico e Metodologia


Dada a complexidade dos ambientes naturais, ocorre uma miríade de inter-relações simultâneas
que provocam um estado de equilíbrio dinâmico. Porém, qualquer interferência que ocorra em um dos
elementos que compõem o quadro natural irá inexoravelmente provocar a ruptura deste equilíbrio.
A produção do espaço requer, necessariamente, a utilização racional dos recursos naturais para
satisfação das necessidades do homem. Por sua vez, a má utilização desses recursos exerce uma forte
pressão sobre esses mesmos recursos, não raramente causando alterações irreversíveis, que podem
comprometer a funcionalidade do sistema.
Não é por acaso que a preocupação com o meio ambiente vem sendo discutida na sociedade
moderna. Recentemente observa-se maior interesse dos cidadãos, acerca das questões relacionadas com o
meio ambiente, onde o cidadão já se sente inserido no contexto ambiental.
Se no passado recente pensava-se estar acima dos elementos que compõem o quadro natural, hoje
se percebe um maior grau de comprometimento para tomada de decisões mais conscientes, relacionadas
às atividades que afetam diretamente o ecossistema. Passamos a nos perceber como agentes ativos na
transformação do meio ambiente e a reconhecer que nossos atos podem influir tanto positiva quanto
negativamente nos ecossistemas.
O caráter multidisciplinar da abordagem do meio ambiente induz ao trabalho interdisciplinar e
multidisciplinar. O objetivo é prever, propor soluções ou apenas contribuir para atenuar os impactos
ambientais que possam ocorrer em uma determinada área.
Os impactos ambientais podem ser de origem natural ou resultantes de ações antrópicas. A
capacidade de prever e atuar na resolução de conflitos ambientais perpassam não apenas pelos aspectos
do quadro natural, mas se estendem aos aspectos econômicos e sócio-políticos, cujas ações necessárias à
tentativa de dirimir estes conflitos são complexas.
A necessidade de uma abordagem geossistêmica nos estudos ambientais remete a uma visão
integrada do ambiente físico e dos processos antrópicos que se desenvolvem na área. Sobre isso,
GRIGORIEV (1968) afirma que o Estrato Geográfico da Terra é composto pela crosta terrestre, hidrosfera,
troposfera, cobertura vegetal e reino animal, que em conjunto, definem os ambientes onde vivem os
homens. Este conjunto de fatores compõe o estrato geográfico e estão intensamente interligados. Sendo
assim, nossa tarefa é estudar os componentes do estrato geográfico como parte de um todo, não
isoladamente.
Segundo a concepção de MONTEIRO (1978), o geossistema é um sistema singular, complexo, onde
interagem elementos humanos, físicos, químicos e biológicos e onde os elementos sócio-econômicos não
constituem um sistema antagônico e oponente, mas sim estão incluídos no funcionamento do próprio
sistema.
De acordo com SPÖRL (2001), as alterações causadas no ambiente pela ação humana afetam cada
vez mais a funcionalidade do sistema causando graves processos degenerativos em primeira instância no
ambiente natural, e depois, a prazos mais longos à própria sociedade.
Para a execução deste trabalho o espaço será observado de uma forma sistêmica, onde os
elementos que o compõem estão interligados, portanto a alteração que seja observada em um destes
elementos, fatalmente provocará a perda do equilíbrio no sistema, em conseqüência será observado um
processo de degradação ambiental.
Além da visão sistêmica será utilizada na interpretação da paisagem a teoria dos redutos e refúgios,
esta por sua vez, está baseada nas variações climáticas ocorridas, principalmente durante o Quaternário,
devido à ocorrência de períodos glaciais e interglaciais, o que pode explicar a ocorrência de uma vegetação
florestal de grande porte em plena caatinga paraibana. AB’SÁBER (2006), afirma que tal como ela foi
elaborada no Brasil, pela contribuição de diferentes pesquisadores, a teoria dos refúgios e redutos diz
respeito, sobretudo, à identificação dos momentos de maior retração das florestas tropicais, por ocasião da

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desintegração de uma tropicalidade relativa preexistente. Nessa contingência, massas de vegetação


outrora contínuas, ou mais ou menos contínuas, ficaram reduzidas a manchas regionais de florestas, em
sítios privilegiados, à moda dos atuais “brejos” que pontilham o domínio das caatingas, nos sertões do
Nordeste Seco.
Além das duas teorias acima mencionadas, utilizar-se-á também análises embasadas em
parâmetros fitoecológicos, morfopedológicos e vegetacionais, correlacionando-se com os eventos
ocorridos durante o Quaternário – períodos glaciais e interglaciais.
As seguintes etapas são necessárias para a realização deste trabalho:

Etapas de Gabinete:

Levantamento cartográfico utilizando-se das cartas plani-altimétricas na escala de 1:100.000, além


do uso de imagens de satélite CBERS-II e QUICKBIRD;
Levantamento bibliográfico sobre a área estudada;
Preparação dos roteiros para trabalho de campo;
Elaboração dos textos referentes aos diferentes aspectos geoambientais observados.

Etapas de campo:

1ª Expedição a Serra da Santa Catarina, subida pela vertente Norte, pelo município de São José da
Lagoa Tapada (PB);
2ª Expedição a Serra da Santa Catarina, subida pela vertente Sul, pelo município do Aguiar (PB);
Análise morfoestrutural do relevo em seu contexto regional;
Observação das ocorrências florísticas, identificando espécies para formação do banco de dados;
Identificação dos processos de degradação ambiental;
Registro fotográfico e filmagens das ocorrências florísticas para elaboração de pôsteres e vídeo
sobre a Serra da Catarina;
Observação das atividades desenvolvidas na área (uso do solo);

3 Resultados
Geologicamente é uma área que se localiza ao longo do Lineamento de Patos, região de intenso
metamorfismo onde predominam os quartzitos e micaxistos. Conforme a classificação climática proposta
por Mendonça e Danni-Oliveira (2007), a área em estudo está submetida ao clima Tropical Equatorial com
sete a oito meses secos, sendo também classificado como semi-árido. Apresenta na maior parte do ano
uma significativa redução dos totais pluviométricos, temperaturas médias elevadas (24 à 27°C) e altas taxas
de evapotranspiração, o que condicionaria a sua cobertura vegetal a presença única de espécies de
caatinga, porém o que se observa localmente é a gradação do porte de sua composição florística da base
ao topo. Desde a caatinga arbustiva (base), arbóreo-arbustiva (meia-encosta) a caatinga arbórea (encosta
superior). No topo foram identificadas algumas espécies que ocorrem também na mata-atlântica, sendo:
Malpighiaceae (murici de praia), Rubiaceae (jenipapo), Bignoniaceae (Ipê-Roxo), Leguminosae (Jatobá),
além de espécies das famílias Celastraceae, Asteraceae, Salicacea e Myrtaceae (Goiabinha da Serra), e uma
formação vegetal denominada de tapete de pteridófitas (típica de ambientes úmidos).
A Serra de Santa Catarina consiste em um subespaço diferenciado de seu entorno, assemelhando-
se à locais reconhecidos popularmente como “serras úmidas”, “brejos”, ou “matas”, conforme SOUZA &
OLIVEIRA (2006). De modo que normalmente são áreas que possuem características edafo-climáticas
diferenciadas. No caso específico da área em estudo o fator altitude aliado ao fator pedológico (presença
de solos bastante desenvolvidos), localizados nas áreas mais altas da serra, conseguem manter a umidade
por um tempo mais prolongado, propiciando o desenvolvimento e a manutenção de uma flora
diferenciada.Todos estes fatores nos levaram a considerar essa área como um espaço de enclave sub-
úmido seco, pois assemelha-se com os “brejos de altitude”, porém possui concomitantemente
características de ambientes tipicamente semiáridos.
De acordo com BEHLING (2000), através de análises palinológicas, a vegetação semiárida de
caatinga ocorreu predominantemente no período de > 42.000 e 8.500 anos A.P. Entre 15.500 e 11.800 anos

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529

A.P. ocorre um expressivo aumento da precipitação, caracterizando um período mais úmido. Isto comprova
a hipótese da ocorrência de rotas migratórias que ligariam o bioma amazônico com o bioma da floresta
atlântica.
Aliando às características geomorfológicas (altitude) da área com a análise da composição florística
(botânica) enquadra-se na teoria dos redutos e refúgios, desenvolvida por Ab’Saber e Vanzoline, que
enfatiza a existência de um clima mais úmido no interior do nordeste semiárido, onde as evidências
encontradas na área de estudo nos comprovam esta teoria. Desta forma, este ambiente diferenciado do
seu entorno pode ser considerado uma área de enclave sub-úmido seco, com isso necessita de toda uma
atenção específica em seu manejo.

4 Conclusões
Em virtude de suas características edafo-climáticas diferenciadas, a área da serra possui uma
grande importância sob o ponto de vista do uso do solo. Nela, já se podem observar processos de
desmatamento e posterior queimada (broca) de grande parte de seu entorno. Até mesmo nas vertentes
mais íngremes, essa prática vem promovendo um intenso desmatamento no sopé da serra, processo este
que já pode ser observado também nas serras vizinhas.
A substancial preservação em que se encontra a serra chama a atenção para a elaboração e prática
de um manejo sustentável para a área. Essas medidas poderão ser colocadas em prática com a parceria
entre o poder público local, a comunidade e meio acadêmico. Com a atual situação de degradação dos
ambientes semiáridos, muitos em avançado processo de desertificação, a criação de um banco de
germoplasma oriundo da serra poderia servir para uma futura revitalização das áreas degradadas citadas
anteriormente.
Em virtude de suas características peculiares, toda a área da Serra de Santa Catarina necessita de
um urgente plano de manejo, tentando promover, de forma sustentável a ocupação e a preservação da
área. É possível vislumbrar um futuro aproveitamento ecoturístico da área, para isso será necessário inserí-
la no contexto turístico da região. Desta forma a própria existência da serra poderia promover a melhoria
da qualidade de vida da população local, porém para que isso ocorra será necessário um plano de gestão
sustentável da área, evitando os processos de degradação que são gerados cotidianamente.

Agradecimentos
FUNCAP – Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico, pela
concessão da bolsa de Mestrado.

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João Pessoa, outubro de 2011


531

DIFERENÇAS NA COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA DE ESPÉCIES HERBÁCEAS EM


TRÊS MICROHABITES DA CAATINGA
Priscila Silva dos SANTOS
Discente de Graduação do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da UFRPE e Bolsista PIBIC/FACEPE. e-
mail:bio.pri2008@hotmail.com
Juliana Ramos de ANDRADE
Discente do Programa de Pós-Graduação em Botânica - Mestrado, UFRPE
Elcida de Lima ARAÚJO
Professora Associada do Departamento de Biologia, Área de Botânica, UFR PE.

RESUMO
Objetivou-se fazer o levantamento florístico das espécies herbáceas existentes em uma área de
caatinga de Caruaru, Pernambuco, Brasil. Para a amostragem das espécies foram estabelecidas 35 parcelas
de 1x1m, em três tipos de microhabitat (plano, rochoso e ciliar) totalizando 105m2. Foram registradas um
total de 29 famílias, 52 gêneros e 59 espécies, onde 19 famílias ocorreram no microhabitat plano, 22 no
rochoso e 20 no ciliar. Os números de espécies observadas nos microhabitates plano, rochoso e ciliar foram
de 35, 42 e 28 respectivamente. Ao analisar a diversidade encontrada nos três microhabitates, não foi
verificada diferença significativa. Foi encontrada diferença significativa na quantidade de espécies apenas
entre os microhabitates plano e ciliar.
PALAVRAS CHAVE: riqueza de espécies, semi-árido, microsítios, erva

INTRODUÇÃO
Em ambientes secos existe uma grande variedade de microhabitates como: áreas de aclives,
declives, áreas inundáveis e afloramentos rochosos (ARAÚJO et al. 2005a; FIGUERÊDO, 2000; FIGUERÊDO e
RODAL, 2002). A variação ambiental que essa heterogeneidade espacial ocasiona faz com que existam
diferentes tipos de distribuição das espécies vegetais, podendo ser: homogênea, agrupada ou randômica
(RICKLEFS, 2003). Fato este já constatado por outros autores, onde algumas espécies apresentaram ampla
distribuição, outras tiveram sua presença inibida e outro grupo demonstrou preferência de alocação em
local específico (REIS et al. 2006; SILVA, 2009).
Fatores como umidade, sombreamento, variações na topografia do solo, temperatura, pluviosidade
e luminosidade atreladas à heterogeneidade espacial poderão influenciar tanto nas condições de
estabelecimento quanto na riqueza e abundância das espécies de uma determinada área (ARAÚJO, 2005;
REIS et al. 2006; ARAÚJO et al. 2007; RODAL, 1992; SAMPAIO e GAMARRA-ROJAS 2003).
Na região nordeste do Brasil está localizada a caatinga, ecossistema caracterizado por florestas
secas que possuem formação edáfica bastante diversificada. Os trabalhos de composição florística
realizados na caatinga vêm apontando a existência de uma grande diversidade de espécies sob os
diferentes microhabitates (ARAÚJO et al. 2007; FIGUERÊDO e RODAL, 2002). A literatura apresenta uma
maior quantidade de trabalhos voltados à diversidade e riqueza de espécies dos estratos arbóreo e
arbustivo da caatinga, deixando uma grande lacuna em relação ao componente herbáceo. Contudo, Araújo
(2003) comprovou que a flora herbácea desse tipo de ecossistema apresenta uma riqueza de espécies
superior e mais diversificada quando comparada com a lenhosa, o que garante ao solo uma maior
cobertura vegetal (ARAÚJO et al. 2005a).

OBJETIVO
Este trabalho teve como objetivo fazer o levantamento florístico das espécies herbáceas existentes
em três tipos de microhabitates (plano, rochoso e ciliar) em uma área de caatinga de Pernambuco e
analisar se existe diferença na diversidade florística entre os três microhabitates.

MATERIAL E MÉTODOS
Caracterização da área de estudo - O estudo foi realizado em uma área de caatinga de agreste,
localizada na Estação Experimental do Instituto Agronômico de Pernambuco – IPA, no município de

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Caruaru-PE, Brasil, durante o ano de 2009. A estação possui cerca de 30 ha e está compreendida em torno
das coordenadas: 8o14’18”S, e 35o55’20”W, a uma altitude de 537 m (ALCOFORADO-FILHO et al. 2003). A
área selecionada para o estudo é drenada pelo riacho Olaria, afluente do rio Ipojuca (ARAÚJO et al. 2005b;
ALCOFORADO-FILHO et al. 2003; ARAÚJO et al. 2005a). O clima é estacional, com precipitação média anual
de 694 mm e temperatura média de 22,7 oC. A estação chuvosa concentra-se de março a agosto, já a
estação seca ocorre de setembro a fevereiro. Todavia, podem ocorrer chuvas eventuais ou erráticas na
estação seca, bem como veranicos na estação chuvosa (ARAÚJO, 2005; ARAÚJO et al. 2005b). Durante o
período estudado a precipitação foi de 714,5 mm. Este tipo de caatinga é considerada mais chuvosa
(hipoxerófila), quando comparada às caatingas de sertão (hiperxerófila). A flora lenhosa da área de estudo
apresenta elevada riqueza de Leguminosae e Euphorbiaceae (ALCOFORADO-FILHO et al. 2003). Já o
componente herbáceo é mais visível na estação chuvosa e, representado, principalmente pelas famílias
Poaceae, Asteraceae, Malvaceae, Convolvulaceae e Euphorbiaceae (ARAÚJO et al. 2005a).
Amostragem das herbáceas - Em 1 ha da Estação Experimental foram selecionados trechos de
microhabitates planos, rochoso e ciliar, visando avaliar a influência das condições de microhabitates sob a
composição florística da área. O microhabitat plano foi constituído pelos terrenos com solos bem formados
sem maiores elevações e que distavam até 150 metros das margens do riacho Olaria. O microhabitat
rochoso correspondeu a locais com afloramentos rochosos que ocorriam como manchas dentro do
microhabitat plano. O microhabitat denominado ciliar correspondeu a uma faixa de terreno com leve
inclinação e uma distância de até 5 metros do curso da água do riacho Olaria. No riacho, o fluxo da água é
mais forte na estação chuvosa, porém, não foi observada a ocorrência de inundações em nenhuma época
do ano, sendo a lâmina de água bastante reduzida na estação seca (ARAÚJO et al. 2005a).
Para a amostragem das populações foram estabelecidas 35 parcelas de 1x1m, em cada
microhabitat, totalizando 105m2. De janeiro a dezembro de 2009 foram feitas visitas mensais às parcelas
amostradas e realizadas caminhadas por toda a área para coleta de material reprodutivo das espécies que
não estavam floridas no início da amostragem, com o intuito de ampliar o esforço de coletas. Foi
considerada como erva toda planta de caule/pseudocaule clorofilado ou com baixo nível de lignificação,
que não fossem plântulas de lenhosas. Foi considerado como indivíduo toda planta que não apresentasse
conexão com outra ao nível do solo.
Análise dos dados - O material botânico foi herborizado segundo as técnicas usuais de preparação,
secagem e montagem de exsicatas (MORI et al. 1989). A identificação foi realizada por comparações com
exsicatas depositadas em herbários e através do auxílio de chaves taxonômicas e descrições da literatura
especializada. Para as espécies com identificação duvidosa, o material foi enviado aos especialistas. A lista
das famílias e espécies foi organizada de acordo com o sistema de Cronquist (1988). A grafia do nome das
espécies foi verificada a partir de consulta ao banco de dados do Missouri Botanical Garden’s VAST –
MOBOT (www.mobot.mobot.org/W3T/Search/vast.html). A abreviação dos nomes de autores das espécies
foi feita por consulta ao Brummit & Powell (1992) e ao MOBOT. Após identificação, as espécies foram
incorporadas ao acervo do Herbário Professor Vasconcelos Sobrinho (PEURF). Foram construídas matrizes
no programa EXCEL com os dados coletados em campo para cada indivíduo (número, nome da espécie e
família pertencente) formando um banco de informações. Diferenças na diversidade florística entre os
microhabitates foram avaliadas pelo teste de Kruskal Wallis.

RESULTADOS
A flora herbácea dos três microhabitates estudados esteve representada por 5.352 indivíduos,
sendo estes classificados em 29 famílias, 52 gêneros e 59 espécies. As famílias que ocorreram com maior
número de espécies foram: Malvaceae (7), Euphorbiaceae (6), Leguminosae (6), Araceae (3),
Commelinaceae (3), Convolvulaceae (3) e Poaceae (3). As demais famílias estiveram representadas na área
por apenas uma ou duas espécies (Tabela 1).
Do total de indivíduos identificados em cada microhabitat, foram encontradas 35 espécies para o
microhabitat plano, 28 espécies para o ciliar e 42 espécies para o rochoso. Dentre as famílias presentes em
cada microhabitat, pode-se verificar que as predominantes no microhabitat plano e rochoso foram:
Malvaceae, Leguminosae e Euphorbiaceae e no microhabiatat ciliar foram: Leguminosae e Convolvulaceae.
As famílias que estiveram presentes nos três microhabitates foram Acanthaceae, Amaranthaceae,
Araceae, Asteraceae, Bignoniaceae, Convolvulaceae, Commelinaceae, Dioscoriaceae, Leguminosae,

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Malvaceae, Oxalidaceae, Poaceae e Sapindaceae. As que ocorreram de forma exclusiva foram:


Amarylidaceae para o microhabitat plano; Tiliaceae, Lythraceae e Rubiaceae para o rochoso e
Bromeliaceae, Curcubitaceae, Moraceae, Orchidaceae e Liliaceae no ciliar.
Em relação ao número de indivíduos por microhabitat, foi registrado um maior quantitativo para o
microhabitat plano com 2.107 indivíduos, sendo seguidos pelos microhabitates rochoso e ciliar com 1.860 e
1.385 indivíduos respectivamente (Tabela 1).
Quando comparada a diversidade existente nos três microhabitates, não foi encontrada diferença
significativa (p = 0,0746). Diferença significativa na quantidade de espécies foi encontrada apenas entre os
microhabitates plano e ciliar (p = 0,0125).

Tabela 1. Famílias e espécies de plantas herbáceas presentes em uma área de caatinga de


Pernambuco, Brasil, sob três microhabitates em 2009.
Famílias/Espécies Ocorrência da espécie Número de indivíduos
Plano Rochoso Ciliar Plano Rochoso Ciliar
Acanthaceae
Pseuderanthemum detruncatum x 704
Ruellia bahiensis x X 1 4

Agavaceae
Agave sp. x 8

Amaranthaceae
Gomphrena vaga x X x 237 172 12

Amarylidaceae
Hippeastrum x 7

Araceae
Alocasia plumbea x 18
Anthurium affine x X x 12 44 100
Zomicarpa cf. pythonium x X 3 3

Asteraceae
Bidens bipinata x X x 79 26 1
Delilia biflora x X 854 319

Bignoniaceae
Begonia reniformis x X x 2 3 1

Boraginaceae
Heliotropium angiospermum x x 2 3

Bromeliaceae
Crypthanthus baihanus x 18

Commelinaceae
Callisia repens x X 4 60

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Commelina obliqua x X 3 30
Tabela 1.
Continuação
Famílias/Espécies Ocorrência da espécie Número de indivíduos
Plano Rochoso Ciliar Plano Rochoso Ciliar
Commelina sp. X x 1 22

Convolvulaceae
Convolvulaceae sp. X x 2 11
Evolvulus filipis x X x 9 22 8
Ipomoea rósea x X x 1 1 1
Cucurbitaceae
Cucurbitaceae sp. x 12

Cyperaceae
Cyperus uncinulatus x X 4 10

Dioscoreaceae
Dioscorea coronata x X x 96 143 53
Dioscorea polygonoides x X x 3 18 150

Euphorbiaceae
Bernardia sidoides X 5
Chamaesice hysopifolia x 1
Dalechampia scandens x X 17 11
Euphorbia insulana X 2
Poinsetia heterophylla x X 29 15
Tragia volubilis X 2

Leguminosae
Centrossema sagitatum X x 2 19
Chaetocalix sp. x X 5 2
Chamaecrista rotundifolia x X x 6 2 1
Desmodium glabrum x X 35 23
Phaseolus peduncularis x X x 101 6 3

Liliaceae
Sansevieria guianensis x 13

Lythraceae
Cuphea prunelifolia X 2

Malvaceae
Herissantia crispa X 10
Malvaceae sp 1 x 4
Malvaceae sp 2 X 10
Physalodes stoloniferum x X 18 5

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Pseudabutilon spicatum x X x 34 44 3
Tabela 1.
Continuação
Famílias/Espécies Ocorrência da espécie Número de indivíduos
Plano Rochoso Ciliar Plano Rochoso Ciliar
Sida glomerata x 15
Sida rhombifolia x X 14 1

Moraceae
Dorstenia asaroides x 228
Orchidaceae
Oeceoclades maculata x 3

Oxalidaceae
Oxalis euphorbioides x X x 8 3 1

Poaceae
Panicum trichoides x x 430 78 10
Panicum venezuelae x x 54 20 19
Urocloa maxima X 2

Portulacaceae
Talinum paniculatum x X 1 76

Rubiaceae
Rubiaceae sp. X 4

Sapindaceae
Sapindaceae sp. x 1
Serjania sp. X x 9 1

Selaginellaceae
Selaginella sp. x 2
Selaginella sulcata X 2

Tiliaceae
Chorcorus hirtus X 3

Urticaceae
Pilea hyalina x X 13 671

DISCUSSÃO
A distribuição das espécies nos microhabitates plano, rochoso e ciliar mostrou-se bastante
diversificada. Essa tendência de distribuição se assemelha ao que vem sendo apontado pela literatura para
outros trabalhos realizados em áreas de caatinga (ARAÚJO et al. 2005a; PEREIRA et al. 2008; LIMA, 2007;
REIS et al. 2006; SANTOS et al. 2010).
A grande quantidade de espécies registradas no microhabitat rochoso se assemelha aos resultados
encontrados por Araújo et. al. (2005a). Porém ao comparar com os obtidos por Pereira et. al. (2008) esse

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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resultado mostra-se inferior. Os supracitados verificaram a existência de uma maior quantidade de


espécies para microhabitate rochoso sendo seguido do ciliar e plano, porém no presente estudo as maiores
quantidades de espécies ocorreram no microhabitate rochoso, seguidos do plano e ciliar. Segundo Araújo
et. al. (2005a) a grande ocorrência de diferentes espécies no microhabitat rochoso se dá pela existência de
fissuras e depressões profundas encontradas nas rochas que abrigam uma fina camada de briófitos e de
liquens o que garante as rochas um pouco de umidade, facilitando assim o desenvolvimento e
estabelecimento das plantas herbáceas.
Segundo Reis et. al. (2006), a existência de diferentes sítios de estabelecimento pode
influenciar tanto a densidade como a freqüência das populações herbáceas, onde o a forma de distribuição
das espécies sob os microhabitates pode ser classificada como generalistas ou exclusivas, sendo esta última
forma considerada como possível indicadora de certas condições ambientais.
As famílias que ocorreram com maior número de espécies (Malvaceae, Euphorbiaceae,
Leguminosae, Araceae, Commelinaceae, Convolvulaceae e Poaceae) foram semelhantes às encontradas por
outros estudos realizados na caatinga (ARAÚJO et al. 2005a; ARAÚJO et al. 2002; SANTOS, 2010; REIS et al.
2006). Assim, os trabalhos vêm indicando que essas famílias apresentam uma grande diversidade dentro do
estrato herbáceo para esse tipo de floresta seca (ARAÚJO et al. 2002; ARAÚJO, 2003; REIS, 2004; ARAÚJO
et. al., 2005b, FEITOZA, 2004).
A existência de famílias exclusivas em cada um dos três microhabitates e a maior quantidade dessas
encontradas para os microhabitates plano e rochoso não se iguala ao visto por Araújo et. al. (2005a), onde
o microhabitat ciliar foi o que apresentou uma maior quantidade de espécies exclusivas totalizando um
quantitativo de dez espécies. Já Santos (2010) em um estudo sobre banco de sementes do solo em uma
área de caatinga verificou que das espécies exclusivas de cada microhabitat, apenas uma espécie (Portulaca
sp1) foi exclusiva do ciliar, ocorrendo durante os três anos de estudo. É provável que a existência de
algumas espécies exclusivas por determinados microhabitates se deva ao fato desses apresentarem
condições ótimas para o estabelecimento e desenvolvimento dessas espécies.

CONCLUSÃO
Este estudo aponta que possivelmente a existência de diferentes condições de estabelecimento
existente na caatinga influi de certa forma, na distribuição de espécies herbáceas, fazendo com que existam
espécies com preferência de alocação à certos microhabitates, tendo como conseqüência a alta
concentração de diferentes espécies nestes locais.

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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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ESTUDO DA COMUNIDADE EPIFÍTICA VASCULAR PRESENTE EM UM


FRAGMENTO DE FLORESTA OMBRÓFILA ABERTA SITUADO NO MUNICÍPIO
DE AREIA, PB
Randolpho Gonçalves DIAS-TERCEIRO1;
Gabriela Marques PEIXOTO2;
Vitor Serrano GOMES3
1Graduado em Ciência Biológicas (Bacharelado) pela Universidade Federal da Paraíba, e -mail:
randolpho.terceiro@hotmail.com; 2Mestranda em Ecologia e Monitoramento Ambiental pela Universiade Federal da
Paraíba; 3Graduando em Ciências Biológicas (Licenciatura) pela Universidade Federal da Paraíba.

RESUMO
O objetivo deste trabalho foi caracterizar a composição estrutural de uma comunidade epifítica
vascular existente em um fragmento de Floresta Ombrófila Aberta situado no Município de Areia, no Brejo
Paraibano. Para tanto, foram demarcados 10 transectos com seis parcelas cada, com dimensões de 10 x 10
m (totalizando 60 parcelas, ou 6.000 m² de área amostral total). Dentro de cada parcela foram analisados
todos os indivíduos arbustivo-arbóreos (forófitos) que apresentaram CAP ≥ 10 cm; sendo estes divididos
em quatro estratos para efeito da análise de distribuição vertical das epífitas. Foi registrada a ocorrência de
197 epífitos, representados por 12 espécies, 12 gêneros e cinco famílias; em um total de 260 estratos e 65
indivíduos forofíticos distribuídos em 25 espécies. O táxon Microgramma vacciniifolia (Langsd. & Fisch.)
Copel., foi o mais abundante (representando 41.76% da Densidade Relativa). O número de espécies foi
maior nos estratos superiores (copa média e copa externa), contudo, a abundância de indivíduos foi maior
no fuste. O teste de Kruskal-Wallis demonstrou haver diferenças estatísticas tanto do número de espécies
como de indivíduos, no fuste com os estratos superiores, sendo a copa interna semelhante com todos os
estratos. A copa média foi o estrato com o maior número de espécies, porém o menor número de
indivíduos. Os resultados sugerem que a diferenciação da riqueza de espécies e do número de indivíduos
nos estratos demonstrados pode ser pelo fato de que grande parte das epífitas busca nos forófitos, locais
favoráveis para obtenção de luz, em contra partida, existem aqueles táxons que apresentam preferência a
regiões mais úmidas, indicando que a preferência das regiões dos forófitos por algumas espécies é causada,
possivelmente, devido a suas necessidades fisiológicas.
Palavras-chaves: Epifitismo; Forófito; Distribuição Espacial; Brejos de Altitude.

INTRODUÇÃO
Considerado um dos mais ricos conjuntos de ecossistemas do planeta em termos de
biodiversidade, a Mata Atlântica é diretamente responsável pela qualidade de vida de milhares de
brasileiros, influenciando na regulação do fluxo de mananciais hídricos, e atuando no controle climático,
porém, estes recursos estão ameaçados pela fragmentação e extração predatória de madeira, plantas
ornamentais e outros produtos florestais (Campanili & Prochnow, 2006).
A fragmentação tem como conseqüência a redução da diversidade, decorrente da perda de
espécies durante o processo que levou a fragmentação ou pelo isolamento do fragmento, também
denominado de efeito da insularização (Paglia et al., 2006). A fragmentação de habitat é o marco inicial de
uma ampla modificação das paisagens naturais causadas pelo homem (Tabarelli & Gascon, 2005),
provocando o isolamento de trechos florestais, e aumentando a exposição da periferia do fragmento à
insolação e a modificação do regime dos ventos.
Com a acelerada degradação das poucas áreas silvestres remanescentes, tornam-se de
suma importância estudos florísticos, fitossociológicos e fitogeográficos com a finalidade de classificar e,
principalmente, compreender os habitats brasileiros, fornecendo subsídios que possibilitem o manejo
adequado de cada vegetação (Strang, 1970).
Pouco se sabe sobre o comportamento ecológico das espécies epifíticas vasculares, que
compõem cerca de 10% de todas as plantas vasculares conhecidas, aproximadamente 29.000 espécies,
dando uma importante contribuição à diversidade biológica das florestas tropicais (Dislich, 1996; Dettke et

João Pessoa, outubro de 2011


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al., 2008). O estudo e avaliação da ecologia destas espécies, consideradas como bioindicadoras das
mudanças climáticas, poluição e danos aos ecossistemas, podem auxiliar na compreensão e no manejo
para conservação da Mata Atlântica, (Dislich, 1996).
As epífitas possuem um importante papel no aporte de nutrientes nos ecossistemas, pelo
fato destas não apresentarem ligação direta com o solo, sendo parte dos nutrientes de origem atmosférica
e não do estoque edáfico, representando, portanto, efetiva entrada para o sistema (Oliveira, 2004),
aumentando os teores de P e Ca, com redução de acidez, sendo verificado um pequeno aumento no
conteúdo de carbono orgânico (Pereira et al., 2005), podendo desta forma, serem utilizadas para
conservação de áreas degradadas.
No Brasil, estudos importantes sobre a composição epifítica têm sido realizados nas
Regiões Sudeste e Sul, enfocando, além da composição específica, diversos aspectos ecológicos, tais como
a distribuição vertical, horizontal e ao longo de gradientes latitudinais, além de síndromes de polinização e
dispersão e aspectos fitossociológicos (Fabricante et al., 2006, 2007; Dettke et al., 2008). A Região Nordeste
é pobre em trabalhos dessa relevância, cujo foco das atenções esta voltado, em sua maioria, à caatinga
limitando-se apenas as espécies lenhosas.
Diante do exposto, o presente estudo teve como objetivo caracterizar a composição
estrutural de uma comunidade epifítica vascular existente em um fragmento de Floresta Ombrófila Aberta
situado no Município de Areia, no Brejo Paraibano.

MATERIAL E MÉTODOS
A área estudada esta localizada no Centro de Ciências Agrárias, Campus II da UFPB,
município de Areia, PB (06°57’46”S e 35°41’31” W) que se encontra na microrregião do Brejo Paraibano. A
altitude local é de aproximadamente 600 m, a temperatura média anual é de 22°C, a umidade relativa do ar
oscila em torno de 85%, a precipitação média anual é de 1.450 mm (Mayo & Fevereiro, 1982), o clima
segundo a classificação de Köppen é do tipo As’(Moreira, 1989), o relevo apresenta-se como ondulado a
forte ondulado e os solos predominantes são os Argissolos (EMBRAPA, 2006).
Devido ao efeito orográfico da frente oriental do Planalto da Borborema há a ocorrência da
Floresta Ombrófila Aberta, também denominada brejos de altitudes (Veloso et al, 1991), influenciado pelas
precipitações elevadas e temperaturas mais amenas para o contexto regional (Oliveira et al., 2006).
O estudo foi conduzido em um fragmento de Floresta Ombrófila Aberta, que possuí uma
área total de 50 ha e altitude média de 573,7 m ± 32,22. Para o levantamento das epífitas foram
demarcados 10 transectos com seis parcelas cada (totalizando 60 parcelas), com dimensões de 10 x 10 m, o
que corresponde a 1,2% da área total do fragmento (6.000 m²). A distância entre os transectos foi de 150 m
uns dos outros (Figura 1).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


540

Figura 12. Foto de satélite demonstrando a disposição das parcelas em transectos no fragmento
estudado, Mata do CCA, Campus II, UFPB, Areia, PB, sendo os pontos as unidades amostrais. Fonte: Google
Earth.
Dentro das unidades amostrais os indivíduos epifíticos foram coletados e identificados,
sendo o material herborizado conforme os procedimentos usuais em trabalhos de levantamento florístico,
posteriormente tombados no Herbário JPB da Universidade Federal da Paraíba, Campus I (João Pessoa) e
Herbário Jaime Coelho de Moraes (EAN) do Centro de Ciências Agrárias da UFPB, Campus II. A identificação
das famílias de angiospermas seguiu o sistema APG II (2003) e para as pteridófitas Smith et al.(2006).
Para o estudo quantitativo, foram analisados todos os indivíduos arbustivo-arbóreo
portadores de epífitas (forófitos) de cada parcela com circunferência à altura do peito (CAP) ≥ 10 cm, que
foram identificados em campo com base em levantamento já realizado no fragmento (Gomes, 2010). Os
indivíduos forofíticos foram divididos em quatro estratos para efeito da análise de distribuição vertical das
epífitas: fuste (do solo até a base da copa), copa interna (da base da copa até a primeira ramificação), copa
média (da primeira ramificação da copa até a segunda) e copa externa (da segunda ramificação em diante),
nas quais foram registradas e coletadas todas as espécies epifíticas ocorrentes.
Os parâmetros quantitativos calculados para a distribuição das epífitas foram densidade
absoluta (DA), densidade relativa (DR), frequência absoluta (Fr) (Kent & Coker 1999) e Índice de Dispersão
de Morisita (Id) (Morisita 1962). Buscou-se também demonstrar a preferência das espécies de epífitas com
maior número de indivíduos por estratos amostrados. Foi comparada a distribuição vertical do número de
indivíduos e riqueza de espécies por estrato amostrado (fuste, copa interna, copa média e copa externa)
aplicando-se o teste de Kruskal-Wallis, com poder de decisão ≤ 5% (Zar, 1999).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
No estudo quantitativo foram amostrados 65 indivíduos forofíticos, totalizando 260
estratos. Foram registradas 197 ocorrências de epífitos vasculares, tendo como representantes 12 espécies,
12 gêneros e cinco famílias.
A densidade total de epífitas no fragmento foi de 328,33 ind.ha-1, e quanto à densidade das
espécies epifíticas no levantamento, Microgramma vacciniifolia (Langsd. & Fisch.) Copel. foi a espécie que
possuiu o maior valor (126,66 ind.ha-1), seguida de Pleopeltis macrocarpa (Bory ex Willd.) Kaulf. (60 ind.ha-
1
) e de Rhipsalis floccosa Salm-Dyck ex Pfeiff. (36,66 ind. ha-1). Os táxons Philodendrum imbe Schott ex Endl.
e Aechmea stelligera L.B. Sm. apresentaram o mesmo valor (23,33 ind.ha-1). As outras espécies
apresentaram valores relativamente baixos se comparados com as demais (Tabela 1).

Tabela 2. Distribuição horizontal das espécies epifíticas da Mata do CCA, Campus II, UFPB, Areia, PB.
Sendo: DA: densidade absoluta; DR: densidade relativa; Fr: freqüência das espécies nas parcelas; Id: índice
de dispersão de Morisita (apresentado apenas para espécies com o número de indivíduos suficiente para a
amostragem).
Família/Espécie DA DR Fr Id
ARACEAE
Philodendrum imbe Schott ex Endl. 23.33 7.69 16.66 10,04
BROMELIACEAE
Aechmea stelligera L.B. Sm. 23.33 7.69 13.33 5,93
Vriesea procera (Mart. ex Schult.f.) Wittm. 11.66 3.84 8.33 8,57
Tillandsia polystachya (L.) L. 3.33 1.09 3.33 -
CACTACEAE
Rhipsalis floccosa Salm-Dyck ex Pfeiff. 36.66 12.08 11.66 13,76
ORCHIDACEAE
Vanilla schwackeana Hoehne 10 3.29 1.66 -
Catasetum macrocarpum Rich. ex Kunth 3.33 1.09 3.33 -
Oncidium barbatum Lindl. 1.66 0.54 1.66 -
Polystachya concreta (Jacq.) Garay & H.R. Sweet 1.66 0.54 1.66 -
Epidendrum difformes Jacq. 1.66 0.54 1.66 -
POLYPODIACEAE

João Pessoa, outubro de 2011


541

Microgramma vacciniifolia(Langsd. & Fisch.) Copel. 126.66 41.76 31.66 5,26


Pleopeltis macrocarpa (Bory ex Willd.) Kaulf. 60 19.78 21.66 4,35
O comportamento apresentado por M. vacciniifolia no fragmento demonstra que a espécie
é bastante abundante e adaptada as condições climáticas da região, uma vez que a mesma possui alta
valência ecológica, podendo adaptar-se a diferentes tipos de intensidade luminosa e umidade (Meffe &
Carroll, 1994), além da capacidade rápida de colonização de forófitos jovens (Condak, 2003; Ribeiro, 2009).
Para Dislich (1996) a DA desta espécie não foi tão elevada (35 ind.ha-1).
Com relação a freqüência das espécies nas parcelas, M. vacciniifolia mostrou-se a mais
frequente, ocorrendo em 31,66% das unidades amostrais. P. macrocarpa ocorreu em 21,66%, seguida de P.
imbe (16,66%), A. stelligera (13,33%), R. floccosa (11,26%) e Vriesea procera (Mart. ex Schult.f.) Wittm.
(8,33%). As demais espécies ocorreram com baixa freqüência nas parcelas instaladas como mostra a Tabela
1.
M. vacciniifolia está bem distribuída no fragmento, ocorrendo em grande parte das
parcelas, este comportamento pode esta relacionado com a grande quantidade de esporos produzidos e a
dispersão destes pelo vento (Tryon, 1970). O fato de R. floccosa apresentar elevado DA e baixo Fr está
associado ao comportamento agrado da espécie, em que a espécie possui um grande número de indivíduos
no mesmo forófito, comportamento semelhante ao da espécie Rhipsalis baccifera (J.S. Muell.) Stearn
observado por Dislich (1996).
O Índice de Dispersão de Morisita (Id) (Tabela 1) revelou uma tendência ao agregamento
para todas as espécies avaliadas: M. vacciniifolia (Id = 5,26), R. floccosa (13,76) e Philodendrun imbe
(10,04), Pleoteltis macrocarpa (4,35), A. stelligera (5,93) e V. procera (8,57). Para as demais espécies não foi
calculado o Id, pois apresentaram número de indivíduos insuficientes.
O fato de M. vacciniifolia possuir um comportamento agregado pode está associado a sua
alta plasticidade, possuindo rizoma longo-reptantes, característica adaptativa morfológica que permite a
espécie gerar novos indivíduos a partir de um único (Kersten & Silva, 2001). A maioria dos estudos com
epífitas sugerem que as mesmas apresentam uma tendência ao agrupamento (Neider et al., 2000; Dias,
2009; Ribeiro, 2009). Este padrão pode ser observado para algumas famílias como é o caso de
Bromeliaceae, devido a grande maioria das espécies apresentarem uma taxa elevada de crescimento
clonal, facilitando a ocupação do ambiente e do substrato (Cogliatti-Carvalho, 2003; Nunes-Freitas, 2004;
Ribeiro 2009).
A baixa ocorrência dos índices (DA, DR, Fr) das espécies de Orchidaceae reflete grau de
perturbação do fragmento, haja vista que no caso de Orchidaceae, a abundância de espécies pode reduzir-
se em até 60% em regiões de florestas secundárias (Barthlott et al., 2001). Também é conhecido o fato de
que muitas espécies de epífitas têm crescimento lento, principalmente, espécies de Orchidaceae, cujo
período pode atingir até 30 anos (Hietz 1997; Zotz 1995), tornando a colonização por estas espécies, um
processo extremamente lento nas áreas perturbadas.
A Figura 2 representa a preferência, das sete espécies com maior DA, por estratos
amostrados (fuste, copa interna, copa média, copa externa). Apenas V. procera não esteve presente em
todos os estratos amostrados, mostrando-se ausente no fuste, o mesmo ocorrido em levantamento
realizado por Gonçalves & Waechter (2002).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


542

Figura 13. Preferência das espécies epifíticas da Mata do CCA, Campus II, UFPB, Areia, PB, por
estratos dos forófitos.

Este comportamento se deve ao fato de V. procera ser bromélia-tanque, com melhores


condições para captação da água de chuva, estratégia que, segundo Benzing (1990), relaciona-se às
adaptações das epífitas ao estresse hídrico ocorrente no ambiente epifítico, e por ser uma espécie
considerada heliófila. O táxon Philodendrun imbe, Pleopeltis macrocarpa e A. stelligera apresentaram
preferência pela região do fuste nos forófitos avaliados. Estas espécies preferem regiões do forófito com
menor incidência de luz e maior umidade e P. imbe, por se tratar de uma espécie de hemiepífita
secundária. As demais espécies não apresentaram diferenças com relação a suas freqüências nos estratos,
mostrando não haver preferência pelos estratos avaliados.
Com relação aos padrões de distribuição vertical das espécies no levantamento, a copa
média apresentou o maior número de espécies (11 espécies), seguida de copa externa (oito). O fuste e
copa interna apresentaram o mesmo valor (sete). O teste de Kruskal-Wallis demonstra haver diferença
estatística do número de espécies (H = 19,4842; GL = 3; p = 0.0002) no fuste com os estratos superiores
(copa média e copa externa), sendo a copa interna semelhante, com todos os estratos no levantamento
O número de indivíduos foi maior no fuste (73 indivíduos epifíticos), seguido de copa
interna (55) e copa externa (38). A copa média apresentou o menor número de indivíduos (31), aplicando-
se o teste de Kruskal-Wallis, o número de indivíduos foi semelhante aos padrões observados da riqueza de
espécies, onde o fuste deferiu da copa média e copa externa, e a copa interna sendo semelhante com
todos os estratos (H = 19,8285; GL = 3; p = 0.0002).
Os estratos superiores apresentaram maior número de espécies, devido a maior frequência
de fótons (Kersten & Silva, 2002), indicando que a passagem do ambiente terrícola para o epifítico foi
realmente uma migração em busca de luz (Benzing, 1990). Nas copas das árvores o maior número de
ramificações aumenta a superfície para a fixação das epífitas, aumentando, consequentemente, a riqueza
(Kersten & Silva, 2002). Em contraste a riqueza, o numero de indivíduos foi maior nos estratos inferiores, o
que demonstra que o fuste proporciona um ambiente favorável para o desenvolvimento de poucas
espécies, onde a incidência de luz é menor, provavelmente a umidade é maior e menor influência dos
ventos (Kersten & Silva, 2001).

CONCLUSÕES
O taxon M. vacciniifolia pode ser considerado dominante e também generalista para
ambiente estudado, por possuir elevada densidade e ser presente em todos os estratos avaliados (não
demonstrando preferência), por outro lado, o comportamento observado das demais espécies pode está
relacionado com as condições biofísicas impostas pelo ambiente (como a luminosidade, umidade, ou até
mesmo o tipo de casca dos forófitos), estas espécies epifíticas acabam se estabelecendo em sítios
favoráveis para sua existência e não colonizando áreas em que superam sua valência ecológica; A baixa

João Pessoa, outubro de 2011


543

incidência de Orchidaceae reflete o grau de perturbação em que o fragmento encontra-se; A diferenciação


da riqueza de espécies e do número de indivíduos nos estratos demonstra que grande parte das epífitas
busca nos forófitos, locais favoráveis para obtenção de luz, em contra partida, existem aqueles táxons que
apresentam preferência a regiões mais úmidas, indicando que a diferenciação das regiões dos forófitos por
algumas espécies é causada, possivelmente, devido a suas necessidades fisiológicas.

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João Pessoa, outubro de 2011


545

EFEITO DA INFLUÊNCIA SAZONAL SOBRE A DINÂMICA POPULACIONAL DE


Poincianella pyramidalis (TUL.) L. P. QUEIROZ EM UMA ÁREA DE
FLORESTA SECA NO BRASIL
(1)
Renata Christina Souza SILVA
Graduanda em Engenharia Florestal (UFRPE). Bolsista Iniciação Científica – PIBIC/CNPq.
Josiene Maria Falcão Fraga dos SANTOS
Programa de Pós-Graduação em Botânica (UFRPE).
Elcida de Lima ARAÚJO
Professora Associada do Departamento de Biologia, Área de Botânica (UFRPE).
(1)
Endereço : Laboratório de Ecologia Vegetal de Ecossistemas Naturais – LEVEN, Universidade Federal Rural de
Pernambuco, Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52171 -900. E-mail:
renatacs.silva@hotmail.com

RESUMO
Este trabalho teve como objetivo descrever as características da dinâmica populacional de
Caesalpinia pyramidalis Tul. em uma área em regeneração natural entre diferentes estações climáticas.
Esta pesquisa foi realizada em uma área de caatinga que sofreu corte raso para o estabelecimento do
cultivo de palma gigante (Opuntia ficus-indica Mill.), o qual foi abandonado em seguida e vem se
regenerando naturalmente há 16 anos. Em 1 ha dessa área foram estabelecidas 105 parcelas de 5x5m para
a amostragem da população. O monitoramento mensal das parcelas ocorreu entre março de 2010 a março
de 2011. No início do estudo C. pyramidalis apresentou uma densidade de 809 ind.2625m-2 no período
chuvoso, já no início do período seco foi observado uma densidade inicial de 842ind.2625m -2. No entanto,
não houve diferença significativa na densidade entre as estações (H = 0,2471; p = 0,6192). Nos meses mais
secos da estação, a espécie apresentou sua taxa de incremento negativa, com exceção para o mês de junho
(estação chuvosa) que teve uma elevada precipitação registrada. A menor e a maior taxa de incremento
foram registradas durante a estação seca. Foi constatado que não houve diferença significativa entre
estações na taxa de incremento (H = 0,0256; P = 0,8728). As taxas de natalidade foram registradas durante
todos os meses monitorados, com exceção para os meses de outubro e novembro, esses meses
apresentaram precipitação baixa o que possivelmente afetou a natalidade da população. Quanto às taxas
de mortalidade de C. pyramidalis, também ocorreram durante todo o estudo, porém com picos nos meses
de setembro e março. Quanto à sobrevivência da população, foi observado que apenas 12% dos indivíduos
conseguiram chegar ao final do monitoramento.
PALAVRAS-CHAVE: dinâmica populacional; caatinga; regeneração natural; sobrevivência.

INTRODUÇÃO
Estudos sobre a dinâmica de populações vegetais oferecem informações sobre a biologia das
espécies, que são essenciais para conhecermos o comportamento das populações em habitat natural. O
termo população se refere aos indivíduos pertencentes à mesma espécie vivendo em conjunto em uma
determinada área. Essas populações estão em constante modificação devido às variações de nascimentos e
mortes (RICKLEFS, 1996). Embora esses estudos sejam importantes para o funcionamento do ecossistema,
o número deles em áreas que estão em processo de regeneração natural ainda não são suficientes para
esclarecer a história de vida das populações envolvidas.
Na região nordeste do Brasil, as florestas secas são bem representadas pela caatinga, pois 70%
dessa região é coberta por esse tipo de vegetação. Esse tipo de vegetação vem sofrido uma ampla
variedade de ameaças, mas a principal delas é provocada por atividades humanas (CASTELLETTI et al, 2003;
MILES et al, 2006). A principal causa responsável por esse cenário fragmentado, entre outras práticas, é a
substituição da vegetação natural por agricultura e posterior abandono (CASTELLETTI et al, 2003; LEAL et al,
2005).
Apesar disso, a caatinga apresenta um grande grau de endemismo tanto na fauna quanto na flora.
Entre as espécies vegetais nativas da caatinga encontra-se a Caesalpinia pyramidalis Tul. conhecida
popularmente como catingueira. Essa espécie tem apresentado valor econômico na extração madeireira,

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


546

potencial de reflorestamento, propriedades medicinais (OLIVEIRA, 1976; FIGUEIRÔA et al, 2005) e


demonstra boa capacidade de rebrota após o corte (SAMPAIO et al, 1998; FIGUEIRÔA et al, 2006). Segundo
Sampaio, (1996), C. pyramidalis foi considerada a espécie mais frequente da caatinga, além disso, sua
densidade tem se mostrado bastante marcante em diferentes tipos de caatinga (FABRICANTE; ANDRADE,
2007, ARAÚJO et al, 1995; FIGUEIREDO et al, 2010; FERRAZ et al, 1998; PEREIRA et al, 2001; PEREIRA et al,
2002; ALCOFORADO-FILHO et al, 2003; AMORIM et al, 2005).
Embora as informações sobre a dinâmica populacional dessa espécie possa auxiliar na
compreensão da dinâmica regenerativa de diversas áreas de caatinga que foram modificadas para
estabelecimento da agricultura e posteriormente abandonadas, elas são escassas na literatura. Neste
contexto, este estudo tem como objetivo identificar as características da dinâmica, tais como taxas de
densidade, incremento, natalidade, mortalidade, e curva de sobrevivência de Caesalpinia pyramidalis Tul.
em uma área em regeneração natural entre diferentes estações climáticas.

METODOLOGIA
Caracterização da área de estudo
O estudo foi realizado em uma área de caatinga localizada na Estação Experimental José Nilson de
Melo – IPA e está compreendida em torno das coordenadas: 8o 14’ S e 35o 55’ W e a 537m de altitude, no
município de Caruaru, agreste de Pernambuco (ALCOFORADO-FILHO et al, 2003). O clima da região é
estacional, com temperatura média anual de 22,5°C, podendo oscilar entre 25 o e 31oC, na estação seca e
entre 16o e 20oC na chuvosa. A precipitação média anual é de 710 mm e geralmente a estação chuvosa
concentra-se de março a agosto, já a estação seca ocorre de setembro a fevereiro. Todavia, podem ocorrer
chuvas eventuais ou erráticas na estação seca, bem como veranicos na estação chuvosa (ARAÚJO 2005;
ARAÚJO et al, 2005a). Durante o período monitorado, a estação chuvosa teve uma precipitação de 646,2
mm e na estação seca foi registrado 380,1 mm (Figura 1).
A estação experimental, na qual está sendo realizado o estudo, possui 190 ha de extensão, sendo a
maior parte ocupada com atividades de pesquisa agropecuária, atualmente o fragmento preservado
encontra-se reduzido a uma área de cerca de 20 ha (ALCOFORADO-FILHO et al, 2003). De acordo com
moradores antigos das proximidades, há 50 anos esse fragmento vem sendo preservado, não sendo
permitido o trânsito de animais domésticos e a retirada da vegetação.
Localizado cerca de três metros de distância do fragmento preservado existe uma área de
aproximadamente 3ha, que sofreu corte raso para o estabelecimento do cultivo de palma gigante (Opuntia
fícus-indica Mill.), o qual foi em seguida abandonado e vem se regenerando naturalmente há 16 anos.
Atualmente, em alguns trechos dessa área antropizada já existem plantas que cresceram e desenvolveram
copas, proporcionando uma condição de sombreamento maior ao solo. No entanto, a maioria dos trechos
não possui vegetação lenhosa bem desenvolvida e recebem grande insolação durante o período seco e
impacto direto das chuvas no período chuvoso. As plantas do estrato lenhoso formam uma copa
descontínua com cerca de cinco metros de altura e o estrato herbáceo é bastante denso, formando um
tapete sobre o solo durante o período chuvoso.

Seleção da espécie e amostragem da população


A espécie selecionada para o estudo foi Caesalpinia pyramidalis (Tul.), pertencente à família
Caesalpiniaceae. Na área selecionada para o estudo, esta espécie faz parte da flora permanente e forma
população abundante, sendo também registrada em elevado número em várias outras áreas de caatinga
(FABRICANTE; ANDRADE, 2007; ARAÚJO et al, 1995; FIGUEIREDO et al, 2010; FERRAZ et al, 1998; PEREIRA
et al, 2001; PEREIRA et al, 2002; ALCOFORADO-FILHO et al, 2003; AMORIM et al, 2005), além disso é uma
espécie de importância econômica e medicinal para comunidades localizadas no entorno de fragmentos de
caatinga (MONTEIRO et al, 2005). Em 1 ha do fragmento antropizado foram estabelecidas um total de 105
parcelas para a amostragem da população, cada parcela de 5x5m totalizando 2625m² amostrados, em sete
transectos, distando uma das outras três metros. O monitoramento mensal das parcelas iniciou em março
de 2010 e continuou até março de 2011 (Fig.1).
Inicialmente todos os indivíduos de C. pyramidalis presentes no interior das parcelas foram
identificados e contados. Mensalmente, as parcelas foram monitoradas para contagem de novos

João Pessoa, outubro de 2011


547

nascimentos e registro do número de mortes. Para os indivíduos que apresentaram ausência de parte
aérea, ou que caíram totalmente secos sobre o solo foram considerados mortos.

Análise dos dados


Foram construídas matrizes no programa EXCEL com informações coletadas de nascimentos e
mortes da espécie selecionada em cada mês e os dados de crescimento em altura e diâmetro coletados
semestralmente, formando um banco de dados para permitir a realização das diferentes análises e
respostas às perguntas estabelecidas neste trabalho. A variação temporal na dinâmica de Caesalpinia
pyramidalis foi avaliada a partir do cálculo de taxas mensais, estacionais e anuais de incremento
populacional (r), natalidade (b) e mortalidade (d). Para tal serão considerados o número de indivíduos no
início da amostragem (N0) e o total de nascimento (B) e mortes (D) no tempo total de duração de cada mês
e estação. As taxas de incremento (r), natalidade (b) e mortalidade (d) da população foram calculadas
através do modelo proposto por Swaine; Lieberman (1987). Comparações entre taxas para avaliar a
influência do regime climático na dinâmica da espécie selecionada foi feita utilizando o teste Kruskal-Wallis.
Diferenças sazonais na sobrevivência das plantas foram avaliadas pelo teste Kaplan-Meier (AYRES et al.,
2005).
350
Dados Pluviométricos
300
Precipitação (mm)

250
200
150
100
50
0
M A M J J A S O N D J F M
Meses
Figura 1. Distribuição da precipitação mensal durante o período de março de 2010 a março de 2011
na estação meteorológica do IPA em Caruaru, Pernambuco.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
No início do estudo, Caesalpinia pyramidalis apresentou uma densidade de 809 ind.2625m-2
(período chuvoso), com uma variação para esse período de 803 a 830 ind.2625m -2. No início do período
seco foi observado uma densidade inicial de 842ind.2625m-2 com uma variação de 825 a 2665 ind.2625m-2
na estação. Foi constatado que não houve diferença significativa na densidade entre as estações (H =
0,2471; p = 0,6192). Durante o período de monitoramento, foi verificado que houve um acréscimo
gradativo de indivíduos em cada mês, podendo ser constatado através do pico de densidade ocorrido no
mês de março/2011 chegando a 2665 indivíduos (Fig. 2A). Devido à antecipação da estação chuvosa, que
no ano considerado começou em janeiro, a densidade de C. pyramidalis foi mais expressiva neste período.
Com a chegada do período seco a população não apresentou um declínio em relação ao quantitativo de
seus indivíduos, no entanto, a maioria apresentou senescência foliar nesta estação. Fato este que já foi
constatado por Araújo et al, 2008, que afirma que durante a estação seca, a maioria dos indivíduos,
independente de estádio, perdem suas folhas, e à medida que o déficit hídrico aumenta, alguns indivíduos
começam a secar do ápice dos ramos em direção a base do caule.
O ambiente estudado é marcado pela sazonalidade climática que é considerada um fator que tem
forte influência sobre a dinâmica dos ecossistemas e das populações vegetais (ARAÚJO et al, 2007). Nos
meses que apresentaram uma maior disponibilidade hídrica (estação chuvosa), a densidade de Caesalpinia
pyramidalis foi numericamente maior quando comparada com a estação seca, no entanto, essa diferença

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


548

não foi significativa, apesar disso é possível que exista uma relação de dependência de água para aumento
de densidade populacional da espécie no ambiente semiárido. A literatura tem apontado com freqüência
que com a diminuição dos índices pluviométricos, há uma tendência de redução não apenas da densidade,
mas também da biomassa e produção de sementes de plantas (ANDRADE et al, 2009; BARBOSA et al, 2002;
BARBOSA 2003; ARAÚJO, 2005; LIMA et al, 2007; PRICE; MORGAN, 2007; FEITOZA et al, 2008; SILVA et al,
2008).
Caesalpinia pyramidalis apresentou taxa de incremento negativa apenas nos meses mais secos do
ano considerado para o estudo (Fig.2B), com exceção para o mês de junho (estação chuvosa) que teve uma
elevada precipitação registrada. A menor taxa de incremento foi de -0,00955 ind.(ind.mês)-1 e a maior foi
de 0,837244 ind.(ind.mês)-1, ambas durante a estação seca. Foi constatado que não houve diferença
significativa entre estações na taxa de incremento (H = 0,0256; P = 0,8728). A taxa de incremento (r)
corresponde ao balanço entre o número de nascimentos e o número de mortos, assim quando a taxa de
mortalidade apresentar-se maior em relação à taxa de natalidade resultará em taxas negativas de
incremento. O mês de junho foi precedido de um mês totalmente atípico dentro da estação chuvosa
(veranico), assim o fato pode ser explicado devido à fragilidade dos indivíduos, principalmente os que
estavam no estádio plântula. Ainda alguns processos, como baixa fecundidade, dificuldade de dispersão,
condições de estabelecimento e predação de sementes, também exercem influência sobre a taxa de
incremento populacional e podem acarretar no recrutamento limitado de determinadas espécies (PINO et
al, 2007).

As taxas de natalidade foram registradas durante todos os meses monitorados, com exceção para
os meses de outubro e novembro, esses meses apresentaram precipitação baixa o que deve ter
desfavorecido nascimentos da população. O maior pico na taxa de natalidade ocorreu dentro da estação
seca (janeiro) (Fig.2C), no entanto, durante esse mês foi registrado uma chuva errática na região
monitorada, assim favorecendo a germinação e consequentemente o recrutamento de plântulas de C.
pyramidalis (ARAÚJO et al, 2005b). Em contrapartida, no mês seguinte da mesma estação, houve uma
redução drástica na taxa de natalidade, o que pode ser justificado pela falta de manutenção das chuvas
(ANDRADE et al, 2009). Não houve diferença significativa entre estações climáticas na taxa de natalidade.
Quanto às taxas de mortalidade de C. pyramidalis, estas ocorreram durante todo o estudo, porém
os maiores picos foram registrados no início da estação seca e no início da estação chuvosa, ou seja, em
setembro e março, respectivamente (Fig.2D). Não houve diferença significativa entre estações na taxa de
mortalidade. A mortalidade registrada com a chegada da estação seca já era um fato esperado, pois
estudos apontam que durante esse período, a morte dos indivíduos pode ser justificada pela deficiência
hídrica que é um dos principais fatores responsável pelo declínio populacional (BOORMAN; FULLER, 1984;
COSTA et al, 1988; BARBOSA; BARBOSA, 1996; ARAÚJO 1998; CASTELLANI et al., 2001). Diante dos
resultados, foi possível verificar que as maiores taxas de mortalidade ocorreram normalmente após alguma
perturbação hídrica, seja um período de precipitação muito baixa ou muito elevada. Já no meio da estação
chuvosa, a mortalidade pode ser justificada pela competição uma vez que a população aumentou seu
número de indivíduos vivos substancialmente.
Quanto a sobrevivência da população de C. pyramidallis, cerca de 51% da primeira coorte
permaneceram vivos até o final da estação chuvosa (agosto), ainda na primeira coorte os indivíduos que
chegaram na estação seca apenas 26% sobreviveram até o final do monitoramento, levando-se em conta
todo o monitoramento foi verificado que a sobrevivência da população no final do estudo foi cerca de 12%
(Fig. 2E). Pode-se observar que com a chegada da estação seca há uma redução na curva de sobrevivência,
sendo esse fato explicado pela diminuição dos totais pluviométricos.

João Pessoa, outubro de 2011


549

A B
3000 Chuva 1 Seca
Seca Chuva
Número de indivíduos

[ind.(ind.mês)-1]
2400 0,75
1800
0,5
1200
0,25
600
0
0 M A M J J A S O N D J F M
M A M J J A S O N D J F M -0,25
Densidade r mensal
C D
1 0,1
Chuva Seca Chuva Seca
[nascimento.(ind.mês)-1]

0,8

[mortes.(ind.mês)-1]
0
0,6 M A M J J A S O N D J F M

0,4 -0,1

0,2
-0,2
0
M A M J J A S O N D J F M -0,3
Natalidade Mortalidade

E
1750 Chuva Seca
N de sobreviventes

1400

1050

700

350

0
M A M J J A S O N D J F M
M A M J J A S
O N D J F M

Figura 2. Variações mensais na dinâmica de população de Delilia biflora em uma área de Caatinga
em Pernambuco. A=densidade da área (ind.105 m-2); B= taxa de incremento populacional (r) [ind.(ind.mês)-
1
]; C= taxa de natalidade [nascimento.(ind.mês)-1]; D= taxa de mortalidade [mortes.(ind.mês)-1]; E= curva de
sobrevivência da área.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


550

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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


552

17
EMERGÊNCIA DE PLÂNTULAS E CRESCIMENTO INICIAL DE PIMENTA
CAYENNE EM MEIO ORGÂNICO E SUBMETIDA A TIPOS E QUANTIDADES
DE ÁGUAS DIFERENTES
Renato lima RAMOS
Graduando em Engenharia Agrícola, Depto. Engenharia Agrícola, UFCG, Campina Grande – PB, Fone: (83) 9945-6153. Email:
rlima15@yahoo.com.br
José Alberto Ferreira CARDOSO
Graduando em Engenharia Agrícola, Depto. Engenharia Agrícola, UFCG, Campina Grande – PB, Fone: (83) 9141-0740. Email:
jalbertofc@hotmail.com
Fernando Antonio Melo da COSTA
Graduando em Agrícola, Depto. Engenharia Agrícola, UFCG, Campina Grande – PB, Fone: (83) 8773-2465. Email:
nando_ufcg@hotmail.com

RESUMO
A deficiência hídrica é o fator limitante de maior significância na sobrevivência e crescimento inicial
de plantas, podendo afetar a germinação, provocando atraso no início do processo ou diminuição na
percentagem de emergência e no desenvolvimento como um todo das plantas. Objetivou-se avaliar a
irrigação com quantidades de qualidades diferenciadas sobre a emergência da pimenta e o seu
crescimento. O experimento foi conduzido em ambiente protegido no CTRN, UFCG, no período de fevereiro
a março de 2010 em esquema fatorial 2x4, referente a dois tipos de água (abastecimento e residuária) e
quatro níveis de reposição de água (70, 80, 90 e 100 %) em triplicata. Foram utilizados vasos com
capacidade de 8 kg, sendo acondicionado com solo e adicionado com 2,4 kg de esterco de frango.
Avaliaram-se o índice de velocidade de emergência, primeira contagem e percentagem de emergência,
também foi avaliado o crescimento da pimenta cayanne com o uso de água de abastecimento urbano e
água residuária. O fornecimento de água residuária proporcionou maior índice de velocidade de
emergência, sendo esse valor atrelado ao nível de reposição de água de 84,87%. A água residuária
apresenta-se como uma alternativa para irrigação na formação de plântulas de pimenta.
PALAVRAS-CHAVE: Capsicum frutescens L., estresse hídrico, água residuária, reuso.

INTRODUÇÃO
A pimenteira, assim como o pimentão, pertence ao gênero Capsicum, família Solaneaceae,
composta de espécies das mais expressivas dentre as espécies olerícolas. Originadas das regiões tropicais
americanas, é uma planta arbustiva, perene, com caule semilenhoso (Filgueira 2003).
Na produção agrícola, o fator água é fundamental para a germinação, pois de sua absorção resulta
a reidratação dos tecidos com conseqüente reativação enzimática, intensificação da respiração e das
demais atividades metabólicas que culminarão no desenvolvimento do eixo embrionário (Dias et al., 2008).
A água é fundamental ao metabolismo celular da germinação, pois interfere na atividade enzimática, na
solubilização e transporte de fotoassimilados, atuando como reagente na digestão das reservas da semente
(Marcos Filho, 2005).
A germinação das sementes envolve uma sequência ordenada de eventos metabólicos que resulta
na formação da plântula. Dentre os fatores ambientais que afetam o processo de germinação destacam-se
a temperatura, a luz, a disponibilidade de oxigênio e de água. Quando estes fatores são otimizados as
sementes expressam o seu potencial máximo de germinação, característica esta importante para se obter
um estabelecimento rápido e uniforme das plântulas em campo (Carvalho e Nakagawa, 2000).
Segundo Marcos Filho (2005), a quantidade e qualidade da água são fundamentais ao metabolismo
celular da germinação, pois interfere na atividade enzimática, na solubilização e transporte de
fotoassimilados, atuando como reagente na digestão das reservas da semente.

Orientador, Professor da UEPB, Campus de Lagoa Seca, Dr. Leandro Oliveira de Andrade. Email:
leandro.ufcg@hotmail.com

João Pessoa, outubro de 2011


553

Como o nordeste brasileiro é uma região de baixo índice pluviométrico sofrendo assim com a
escassez de água e com temperaturas elevadas a agricultura se torna uma prática difícil de ser
desenvolvida, nessa situação as águas de boa qualidade é um bem de consumo destinado ao consumo
humano e dessedentação animal, com isso as águas residuária se torna uma saída para a produção agrícola
desde que esta passe por um tratamento prévio. Desta forma o uso de águas residuárias domésticas
tratadas em irrigação é uma fonte alternativa de água para as culturas irrigadas no Nordeste, como
ressaltam Sousa & Leite (2002). A utilização da água residuária na irrigação além de proporcionar uma
economia de água de boa qualidade ainda economiza com a aplicação de fertilizantes devido à quantidade
de nutriente existente nesse tipo de água.
Em muitos países localizados em regiões áridas e semi-áridas vem sendo incluído a reutilização da
água no planejamento de recursos hídricos, tendo em vista que a escassez de água de boa qualidade tem
limitado o desenvolvimento urbano, industrial e agrícola. Nesse sentido, os efluentes estão constituindo
parte integrante do plano nacional dos recursos hídricos de vários países (TANJI, 1997; BOUWER, 2000). Em
alguns casos, como Jordânia e Arábia Saudita, tem havido uma política nacional para reutilização de todos
os efluentes gerados (PESCOD, 1992). Em determinadas regiões do México e da costa desértica do Peru,
como conseqüência do desequilíbrio dos recursos hídricos, somado ao crescimento acelerado das cidades,
as atividades agrícolas foram seriamente afetadas, tornando obrigatório e urgente o uso das águas
residuárias como única alternativa para sobrevivência, viabilizando a irrigação de mais de 400.000 ha (LÉON
& CAVALLINI, 1996).
No Brasil, quase não existe registros de utilização de água residuária para fins agropecuários,
exceto na produção de cana-de-açúcar, o que não significa que essa prática não ocorra (BASTOS, 2003),
principalmente nas periferias das grandes cidades, onde são cultivadas, geralmente, olerícolas e forrageiras
para alimentação animal (KONIG et al., 1998).
Who (1989) mostra como vantagens no reuso da água residuária, a economia de água, efluentes
com alto teor fertilizante, proporcionando a formação de humos e ajuda a diminuir a poluição ambiental.
Porém, apresentam índices altos de nitrogênio, sais e íons como sódio, boro e cloretos e riscos de
contaminação para o trabalhador e para o consumidor dos produtos irrigados.
A água residuária para poder ser usada na irrigação tem que passar primeiro por um tratamento
eliminando assim o risco de contaminação para quem venha trabalhar e consumir produtos processados
com essa água. Utilizando se possível mais de um nível de tratamento.
O presente trabalho teve como objetivo avaliar o efeito das águas de abastecimento e residuária
em diferentes quantidades na emergência de plântulas de pimenta cayenne.

MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em ambiente protegido no Centro de Tecnologia e Recursos Naturais
da Universidade Federal de Campina Grande, UFCG, no período de fevereiro a março de 2010.
O delineamento experimental usado foi inteiramente em esquema fatorial 2x4, sendo dois tipos de
água (Abastecimento e residuária) e quatro níveis de reposição de água (70, 80, 90 e 100%), com três
repetições, isso para análise da germinação.
O delineamento experimental usado foi inteiramente em esquema fatorial 2 x 3, sendo dois tipos
de água (Abastecimento e residuária) e quatro níveis de reposição de água (70, 80, 90 e 100 %), com três
repetições.
O solo e o adubo foram peneirado em peneira de 4 mm para a retirada de pedras e impurezas,
sendo acondicionado 8 kg de material em cada vaso, além de 2,4 kg de cama de frango. Então os vasos já
com o substrato foram colocados em capacidade de campo com as respectivas águas com as quais seriam
irrigados durante os tratamentos. A água residuária foi previamente tratada pelo reator UASB, são reatores
de manta de lodo no qual o esgoto afluente entra na parte inferior do reator e em seu movimento
ascendente, atravessa uma camada de lodo biológico que se encontra no reator que ira fazer um
tratamento primário na água do esgoto, onde bactérias anaeróbicas se encarregam de se alimentar das
bactérias nocivas, e passa por um separador de fases enquanto escoa em direção à superfície, ao passar
por essa manta de lodo a água esta em níveis aceitáveis de patógenos para a irrigação.
Três sementes de pimenta cayenne foram postas para germinar em cada vaso, acompanhando-se
diariamente a emergência das plântulas. Após essas quantificações, foi analisado o índice de velocidade de

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


554

emergência (IVE) registrando-se diariamente o número de sementes germinadas até o décimo dia e
calculado pela fórmula proposta por Maguire (1962), foram consideradas como emergidas as plântulas que
apresentavam os cotilédones totalmente livres. A primeira contagem consistiu do registro da porcentagem
de plântulas normais obtidas no oitavo dia após a instalação do teste de germinação. A percentagem de
emergência foi realizada no último dia de avaliação da emergência.
Para o controle de pragas e doenças foi realizado a aplicação de óleo de nim (1%) e calda de fumo
na mesma proporção.
As variáveis analisadas no crescimento foram: Altura de plantas, com auxílio de uma trena; número
de folhas pelo método de contagem e o diâmetro caulinar pelo uso do paquímetro, a cada 10 dias após a
semeadura.
Os dados foram submetidos à análise de variância pelo teste F e as médias comparadas pelo teste
de Tukey a 5% de probabilidade, usando o software ASSISTAT.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Pelos resumos das análises de variância (Tabela 1), constata-se que a primeira contagem (PC) e a
percentagem de emergência (PE) não foram interferidas por nenhuma fonte de variação estudada.
Entretanto, o tipo e a quantidade de água, bem como sua interação influenciaram estatisticamente o índice
de velocidade de emergência (IVE). Resultados semelhantes foram registrados por Dias et al. (2008) ao
afirmarem que as lâminas de irrigação interferem significativamente no índice de velocidade de
emergência da pimenta malagueta, sendo também corroborado por Lopes et al. (2010), ao concluírem que
o estresse hídrico intervém o IVE de berinjela.

Tabela 1. Resumo das análises de variância pelo índice de velocidade de emergência (IVE), primeira
contagem (PC) e percentagem de emergência (PE) de plântulas de pimenta caiena submetidas a tipos de
água e necessidade hídrica

Fonte de Variação GL Quadrado médio


IVE PC PE
ns ns
Tipo de água (A) 1 0,126* 0,1667 0,1667
ns ns
Necessidade hídrica (N) 3 0,166** 0,6111 0,1667
ns ns
NxA 3 0,222** 1,5000 0,1667
Resíduo 16 0,0235 0,4583 0,1667
Total 23 - - -
CV (%) - 6,57 32,49 6,99
Tipo de Água IVE PC PE
Abastecimento 2,26 b 2,16 a 2,83 a
Residuária 2,40 a 2,00 a 3,00 a
DMS 0,132 0,586 0,176
Necessidade Hídrica (%) IVE PC PE
100 2,46 a 2,33 a 3,00 a
90 2,10 b 2,00 a 2,66 a
80 2,45 a 2,33 a 3,00 a
70 2,32 ab 1,66 a 3,00 a
DMS 0,253 1,119 0,337

Na Figura 1 são apresentados os valores referentes ao índice de velocidade de emergência de


plântulas de pimenta caiena cultivada em vaso submetida a quatro níveis de reposição da água de
abastecimento público e residuária. Constata-se que a água de abastecimento não se ajustou a nenhum
modelo de regressão, sendo o valor médio de IVE de 2,26 plântulas emergidas. Quando se utilizou água
residuária os dados se ajustaram ao modelo de regressão quadrático, onde o maior valor de IVE foi obtido
no nível de necessidade hídrica de 84,87 %, conferindo um índice de velocidade de emergência máximo de
2,58 plântulas emergidas.

João Pessoa, outubro de 2011


555

Essa tendência foi observada por Dias et al. (2008), avaliando a influência da adubação orgânica e
lâminas de irrigação sobre a germinação de pimenta malagueta, registraram aumento do índice de
velocidade de emergência com aumento das lâminas aplicadas. Ainda concluíram que valores inferiores a
50% do total exigido pela cultura são insuficientes para a ocorrência de germinação. Isto é justificado, pois,
para que a germinação ocorra, é necessário um nível ideal de hidratação dos tecidos que promova a
ativação dos processos metabólicos que culminam no desenvolvimento do eixo embrionário (Tambelini e
Perez, 1998).
Valores mais baixos de IVE no nível de 70% estão associados a déficit hídrico, ou seja, a primeira e
mais sensível resposta ao estresse hídrico é a redução da turgescência celular que leva a diminuição do
crescimento, uma vez que a divisão, alongamento e diferenciação são afetados por ausência de água no
substrato (Larcher, 2000).

3,0

2,5

2,0
IVE

1,5
— y = média = 2,26
1,0
- - - y = -0,0008x 2 + 0,1358x - 3,4485
0,5 R2 = 0,899

0,0
70 80 90 100
Necessidade Hídrica (%)

Figura 1. Índice de velocidade de emergência (IVE) de plântulas de pimenta cayenne em função da reposição
de água de abastecimento público (—) e residuária (- - -).

Com base nos resumos das análises de variância pelo teste F (Tabelas 1, 2 e 3), verifica-se que
apenas o diâmetro do caule aos 100 dias após a semeadura (DC100) foi afetado significativamente pelo tipo
de água de irrigação. A fonte de variação necessidade hídrica interferiu estatisticamente a altura de plantas
aos 30, 40 e 50 dias após a semeadura, diâmetro do caule aos 90 e 100 e número de folhas aos 30 dias após
a semeadura. Tendências divergentes foram observadas por Dias et al. (2008) ao concluírem que a altura
de plantas e diâmetro do coleto da pimenta malagueta são aumentadas com a elevação das lâminas de
irrigação.
A altura de plantas, avaliadas aos 30, 40 e 50 dias, decresceu com o aumento da reposição da água
de irrigação. Em todas as situações observa-se que nos tratamentos de 70% da necessidade hídrica, a
pimenta apresentou maiores valores de altura. Nos outros períodos de avaliação, mesmo sem diferença
estatística, constata-se que no mesmo tratamento, os dados numéricos de altura de plantas foram
superiores. Possivelmente nos tratamentos de maior lâmina, o substrato encontrava-se com maior
umidade, no entanto a quantidade de ar nesses foi menor, comprometendo o crescimento vegetal.
Segundo Flecha (2004), a altura de plantas da alface foi reduzida com o excesso de água no solo (ambiente
anóxico).
O diâmetro do caule aos 100 DAS foi maior nos tratamentos irrigados com água de abastecimento
público (0,609 cm) quando comparado com a água residuária (0,585 cm), sendo essa superioridade de
4,15%. Esses dados são contrários aos obtidos por Souza et al. (2010), ao estudarem o uso de diferentes
águas no crescimento do girassol, afirmaram que o diâmetro caulinar dessa espécie é superior em 35,63%.
Em relação à necessidade hídrica, o diâmetro caulinar se comportou semelhantemente a altura de plantas,
diminuindo com o incremento da quantidade de água fornecida.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


556

O número de folhas apenas aos 30 dias após a semeadura sofreu interferência da necessidade
hídrica. Tal diferença estatística foi semelhante à altura de plantas no mesmo período de avaliação, sendo
os maiores valores dessa variável obtidos nos níveis de 70 a 90% da necessidade hídrica.
Tabela 1. Resumo das análises de variância pela altura de plantas aos 30 (AP30), 40 (AP40), 50
(AP50), 60 (AP60), 70 (AP70), 80 (AP80), 90 (AP90) e 100 (AP100) dias após a semeadura de plantas de
pimenta caiena submetidas a tipos de água e necessidade hídrica

Fonte de Variação GL Quadrado médio


AP30 AP40 AP50 AP60 AP70 AP80 AP90 AP100
ns ns ns ns ns ns ns ns
Tipo de água (A) 1 0,481 0,041 1,01 17,17 0,081 3,010 5,04 8,16
ns ns ns ns ns
Necessidade hídrica (N) 3 6,782** 15,35** 5,16* 40,28 53,99 16,16 0,93 5,40
ns ns ns ns ns ns ns ns
AxN 3 0,171 1,37 5,32 15,63 12,05 9,340 4,15 4,36
Resíduo 16 3,049 1,401 7,41 24,09 19,79 18,040 13,26 14,06
Total 23 - - - - - - - -
CV (%) - 16,71 10,73 14,15 23,26 19,83 16,52 13,38 13,74
Média (cm)
Tipo de Água AP30 AP40 AP50 AP60 AP70 AP80 AP90 AP100
Abastecimento 4,41 a 10,98 a 19,44 a 21,94 a 22,49 a 26,05 a 27,66 a 27,85 a
Residuária 4,70 a 11,06 a 19,03 a 20,25 a 22,37 a 25,34 a 26,75 a 26,71 a
DMS 0,66 1,02 2,35 4,25 3,85 3,67 3,15 3,24
Necessidade Hídrica (%) AP30 AP40 AP50 AP60 AP70 AP80 AP90 AP100
100 2,96 b 8,63 b 15,65 b 18,35 a 19,43 a 24,50 a 26,66 a 27,91 a
90 5,05 a 12,00 a 19,38 ab 19,56 a 20,30 a 24,06 a 27,16 a 26,08 a
80 5,03 a 11,76 a 21,35 a 23,98 a 24,63 a 27,16 a 27,50 a 27,00 a
70 5,18 a 11,70 a 20,56 a 22,48 a 25,36 a 27,05 a 27,50 a 28,16 a
DMS 1,26 1,96 4,50 8,11 7,35 7,02 6,02 6,20

Tabela 2. Resumo das análises de variância pelo diâmetro do caule aos 30 (DC30), 40 (DC40), 50
(DC50), 60 (DC60), 70 (DC70), 80 (DC80), 90 (DC90) e 100 (DC100) dias após a semeadura de plantas de
pimenta caiena submetidas a tipos de água e necessidade hídrica

Fonte de Variação GL Quadrado médio


DC30 DC40 DC50 DC60 DC70 DC80 DC90 DC100
ns ns ns ns ns ns ns
Tipo de água (A) 1 0,001 0,001 0,001 0,0004 0,002 0,0007 0,0013 0,003*
ns ns ns ns ns
Necessidade hídrica (N) 3 0,001 0,003* 0,0007 0,0026 0,002 0,0073 0,012** 0,019**
ns ns ns ns ns ns ns
AxN 3 0,001 0,001 0,004 0,0063 0,003 0,0080 0,002 0,004**
Resíduo 16 0,00034 0,0006 0,0026 0,004 0,0022 0,0049 0,0018 0,0006
Total 23 - - - - - - - -
CV (%) - 16,31 9,43 13,42 14,73 9,76 12,72 7,65 4,18
Média (cm)
Tipo de Água DC30 DC40 DC50 DC60 DC70 DC80 DC90 DC100
Abastecimento 0,11 a 0,25 a 0,390 a 0,44 a 0,501 a 0,556 a 0,575 a 0,609 a
Residuária 0,11 a 0,26 a 0,377 a 0,43 a 0,497 a 0,545 a 0,560 a 0,585 b
DMS 0,01 0,021 0,04 0,05 0,041 0,061 0,03 0,02
Necessidade Hídrica (%) DC30 DC40 DC50 DC60 DC70 DC80 DC90 DC100
100 0,101 a 0,23 b 0,371 a 0,425 a 0,511 a 0,586 a 0,618 a 0,67 a
90 0,116 a 0,28 a 0,380 a 0,428 a 0,488 a 0,541 a 0,565 a 0,57 bc
80 0,125 a 0,27 ab 0,398 a 0,468 a 0,498 a 0,570 a 0,580 a 0,59 b
70 0,115 a 0,26 ab 0,386 a 0,425 a 0,461 a 0,506 a 0,510 a 0,54 c
DMS 0,03 0,04 0,08 0,106 0,079 0,116 0,071 0,04

João Pessoa, outubro de 2011


557

Fonte de Variação GL Quadrado médio


NF30 NF40 NF50 NF60 NF70 NF80 NF90 NF100
ns ns ns ns ns ns ns ns
Tipo de água (A) 1 0,375 0,041 273,37 770,66 100,04 187,04 937,5 322,66
ns ns ns ns ns ns ns
Necessidade hídrica (N) 3 3,486** 30,819 593,93 918,05 1035 852,03 1398,1 2261,4
ns ns ns ns ns ns ns ns
AxN 3 0,708 32,931 359,93 552,55 1149 1005,7 364,44 419,88
Resíduo 16 0,625 12,208 224,12 1022,5 588,6 1547 1538,3 1572,6
Total 23 - - - - - - - -
CV (%) - 14,94 24,73 38,67 42,26 52,13 60,4 38,05 41,8
Média
Tipo de Água NF30 NF40 NF50 NF60 NF70 NF80 NF90 NF100
Abastecimento 5,16 a 14,16 a 42,08 a 49,91 a 44,50 a 67,83 a 110,8 a 98,55 a
Residuária 5,41 a 14,08 a 35,33 a 38,58 a 48,58 a 62,25 a 98,33 a 91,16 a
DMS 0,68 3,03 12,96 27,69 21,01 34,06 34,64 34,34
Necessidade Hídrica (%) NF30 NF40 NF50 NF60 NF70 NF80 NF90 NF100
100 4,166 b 11,00 a 26,66 a 29,66 a 42,00 a 71,83 a 111,0 a 119,5 a
90 5,500 a 15,00 a 35,16 a 38,83 a 30,00 a 56,00 a 105,5 a 82,33 a
80 5,666 a 16,33 a 49,50 a 57,16 a 57,83 a 78,33 a 118,6 a 100,8 a
70 5,833 a 14,16 a 43,50 a 51,33 a 56,33 a 54,00 a 83,16 a 76,66 a
DMS 1,307 5,77 24,75 52,87 40,11 65,03 65,80 65,56
Tabela 3. Resumo das análises de variância pelo número de folhas aos 30 (NF30), 40 (NF40), 50
(NF50), 60 (NF60), 70 (NF70), 80 (NF80), 90 (NF90) e 100 (NF100) dias após a semeadura de plantas de
pimenta caiena submetidas a tipos de água e necessidade hídrica

CONCLUSÕES
A irrigação com água residuária promoveu melhoria no índice de velocidade de emergência da
pimenta caiena;
A quantidade e qualidade da água de irrigação não influenciam a primeira contagem nem a
percentagem de emergência da pimenta caiena;
A água residuária é uma alternativa para irrigação na emergência de plântulas de pimenta;
Exceto para o diâmetro do caule aos 80 dias após a semeadura, o tipo de água de irrigação não
interferiu o crescimento inicial da pimenta caiena;
A reposição de água de 70 % contribui para maior crescimento da pimenta.

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João Pessoa, outubro de 2011


559

PRODUTOS NATURAIS E SEUS EFEITOS SOBRE A MICOFLORA E FISIOLOGIA


EM SEMENTES DE SABIÁ (Mimosa caesalpiniaefolia BENTH)
Rodrigo Pereira LEITE
Aluno do Programa de Pós-Graduação em Agronomia da UFPB
leiterp@hotmail.com
José George Ferreira MEDEIROS
Aluno do Programa de Pós-Graduação em Agronomia da UFPB
Luciana Cordeiro do NASCIMENTO
Professora do Programa de Pós Graduação em Agronomia da UFPB
Universidade Federal da Paraíba - Campus II. Rodovia PB 79 km 12, Areia - PB, CEP: 58397-000

RESUMO
As leguminosas fixadoras de nitrogênio são fundamentais em sistemas de produção de baixa
utilização de insumos. A Mimosa caesalpinieaefolia Benth, conhecida como sabiá, é uma espécie nativa da
caatinga do Nordeste do Brasil. Em virtude das suas características ecofisiológicas. De importância social e
econômica para o Nordeste, o sabiá é fundamental em qualquer programa de reflorestamento na região,
principalmente no semiárido. Objetivou-se nesta pesquisa avaliar a eficiência dos extratos vegetais de
alamanda (Allamanda blancheti L.), melão de são caetano (Momordica charantia L.) e óleo essencial
de erva-doce (Pimpinella anisum L.) sobre a micoflora e fisiologia de sementes de sabiá. O delineamento
experimental utilizado para o teste de sanidade foi o inteiramente casualizado com cinco tratamentos,
distribuídas em dez repetições de vinte sementes. As sementes foram imersas nos tratamentos por cinco
minutos, sendo a testemunha embebida em água destilada estéril (ADE). Posteriormente, as sementes
foram acondicionadas em placas de Petri contendo papel filtro estéril e umedecido com água destilada
esterilizada sendo incubadas por sete dias sob temperatura ambiente de 25°C ± 2°C, sendo então avaliadas
quanto à presença de fungos. Para o teste de germinação, utilizaram-se 200 sementes, distribuídas em
quatro repetições de 50 sementes por tratamento, colocadas em rolos de papel germitest previamente
esterilizados, e colocadas para germinar em câmara de germinação à 27°C ± 2°C. Os testes de vigor
consistiram de primeira contagem e índice de velocidade de germinação. Constatou-se nas sementes não
tratadas a incidência de Aspergillus sp., Cladosporium sp., Fusarium sp., Penicillium sp., e Rhizopus sp.. Os
tratamentos naturais testados foram eficientes no controle de fungos associados a sementes de sabiá,
além de promover maiores médias de germinação. Os extratos de alamanda, melão de são Caetano e o
óleo essencial de erva doce, pode ser considerados alternativas para a substituição de fungicida químico no
tratamento de sementes de sabiá e de outras espécies florestais nativas.
PALAVRAS-CHAVE: Sementes florestais, extratos vegetais, patógenos de sementes.

INTRODUÇÃO
Existe uma crescente demanda pelas sementes das espécies florestais nativas devido a necessidade
da produção de lenha, carvão, celulose, ornamentação e consórcios agrossilviculturais e silvopastoris, por
iniciativa oficial ou privada, o requer a cada dia maior demanda de sementes (MENDES et. al., 2005).
As leguminosas arbóreas podem possuir características particularmente atrativas para serem
usadas em sistemas silvipastoris, sobretudo no que se refere à fixação simbiótica de nitrogênio e deposição
de matéria orgânica com teores elevados de nitrogênio ao solo (SÁ & SÁ, 2006). Por outro lado, o papel de
leguminosas fixadoras de nitrogênio é fundamental em sistemas de produção de baixa utilização de
insumos, notadamente localizados em países em desenvolvimento, nos quais a utilização de adubo
nitrogenado é mais restrita em áreas de pastagem (MENDES et. al., 2005, DUBEUX et al., 2006).
A Mimosa caesalpinieaefolia Benth, conhecida como sabiá ou sansão-do-campo, é uma espécie
nativa da caatinga do Nordeste do Brasil (LACERDA, 2006). Trata-se de uma planta pioneira, decídua,
heliófita, com ocorrência preferencial em solos profundos, tanto em formações primárias como
secundárias (LORENZI, 2000). Ocorre em áreas do Piauí, Pernambuco, Alagoas, Rio Grande do Norte,
Paraíba, Bahia e Ceará (SAMPAIO, 2005).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


560

Esta espécie, além de fornecer madeira para uso como estacas, moirões, lenha e carvão, apresenta
características ornamentais e, por ser uma planta pioneira e de rápido crescimento, é muito usada em
plantios heterogêneos na recuperação de áreas degradadas (LORENZI, 2002). Sua propagação ocorre via
sementes, as quais são desprendidas à medida que os frutos secam (ALVES et. al., 2005).
Para a obtenção de uma boa muda é necessário o controle de sanidade e de qualidade da
semente utilizada, pois, esta poderá servir como veículo de propagação e disseminação de patógenos. Por
isso, a busca pela obtenção por sementes isentas de fitopatógenos é necessária para o estabelecimento de
populações florestais (MENDES et. al., 2005).
De modo geral, vários danos podem ser provocados por patógenos, associados às sementes.
Dentre eles, morte em pré-emergência, podridão radicular, tombamento de mudas, manchas necróticas
em folhas, caules, deformações como hipertrofias e subdesenvolvimento, descoloração de tecidos,
infecções latentes, etc. (NEERGAARD, 1979; MENDES et. al., 2005) assim, a qualidade sanitária das
sementes de espécies florestais é um fator importante na germinação, podendo ocasionar perdas através
da deterioração, anormalidades e lesões em plântulas (LAZAROTTO, 2010).
Tratamentos alternativos visando reduzir o uso de insumos químicos em sementes têm sido
testados, principalmente aqueles a base de extratos vegetais, controle biológico ou tratamento físico. A
utilização de produtos naturais extraídos de vegetais, constituem uma alternativa para o controle de
patógenos associados a sementes, com a vantagem de redução de gastos para o produtor e ausência de
impacto ambiental causado pelos agroquímicos (LAZAROTTO, 2009).
Por ser a qualidade das sementes fator que contribui sobremaneira para o maior rendimento das
plantações e, levando-se em consideração o grande potencial de utilização do sabiá, o presente trabalho
tem por objetivo estudar a ocorrência de patógenos fúngicos associados às suas sementes, assim como,
verificar a eficiência do tratamento alternativo de sementes de sabiá com extratos vegetais e óleo essencial
de erva doce, bem como verificar seus efeitos sobre a germinação.

MATERIAL E MÉTODOS
Os experimentos foram conduzidos no Laboratório de Fitopatologia do Centro de Ciências Agrárias
da Universidade Federal da Paraíba, em Areia. Utilizaram-se neste estudo sementes de sabiá, coletadas de
plantas matrizes localizadas no município de Areia – PB.
Os tratamentos utilizados no experimento foram constituídos de extratos hidroalcoólicos de melão
de são caetano (Momordica charantia L.) e alamanda (Allamanda blancheti L.) ambos na
concentração de 1000ppm (partes por milhão), óleo essencial de erva doce (Pimpinella anisum L.) na
concentração de 2%, o fungicida Captan® que é recomendado para o tratamento de sementes, na
dosagem recomendada pelo fabricante (240 kg.ha.-1) além da testemunha tratada com água destilada
esterilizada (ADE).
Os tratamentos foram distribuídos em testemunha não tratada (T1); fungicida Captan (T2); óleo
essencial de erva-doce (T3); extrato de melão de são Caetano (T4) e extrato de alamanda (T5).
A determinação da incidência de fungos sobre as sementes de sabiá foi realizada a partir do
método de incubação em papel-de-filtro (Blotter Test) conforme a metodologia de ZAUZA et al., (2007).
As sementes foram colocadas em placas de Petri sobre uma camada dupla de papel de filtro
esterilizada e umedecida com ADE. As placas permaneceram em incubação durante sete dias sob
temperatura ambiente de 25°C ± 2°C. A detecção e identificação dos fungos foi realizada com auxílio de
microscópio óptico e estereoscópio, sendo comparadas às descrições constantes na literatura (MATHUR;
KONGSDAL 2003). O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado (DIC), constituído
de cinco tratamentos conforme descrito anteriormente, com dez repetições de vinte sementes.
Para o teste de germinação, utilizaram-se 200 sementes para cada tratamento, distribuídas em
rolos de papel germitest e incubadas em câmara de germinação regulada à temperatura constante de 27°C.
O volume de água destilada utilizado para embebição do papel germitest foi equivalente a 2,5 vezes o peso
do mesmo. As contagens de sementes germinadas e não germinadas foram realizadas no quinto e décimo
quinto dia após a semeadura, e as avaliações efetuadas segundo os critérios estabelecidos pelas Regras
para Análise de Sementes (BRASIL, 2009).
Os testes de vigor consistiram de primeira contagem e índice de velocidade de germinação (IVG). A
primeira contagem foi avaliada através da percentagem de plântulas normais determinadas no quinto dia

João Pessoa, outubro de 2011


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após o início do experimento, originadas das sementes submetidas ao teste de germinação. Para o índice
de velocidade de germinação (IVG) foram realizadas contagens diárias a partir da germinação da primeira
plântula no teste de germinação, até a data em que o estande permaneceu constante. O IVG foi
determinado pelo emprego da fórmula descrita por NAKAGAWA (1994).
Para o teste de germinação e primeira contagem foi utilizado também o delineamento (DIC) com os
mesmos tratamentos do teste de sanidade, distribuídos em quatro repetições de 50 sementes cada. As
médias foram comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5% de significância, usando o programa de
análises estatísticas SAS.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Figura 1, encontram-se os resultados do teste de sanidade em sementes de sabiá tratadas. No
final do experimento foram observados e identificados fungos dos gêneros: Aspergillus sp., Penicillium sp.,
Rhizopus sp., Pestalotia sp., Fusarium sp., e Cladosporium sp. detectando-se um percentual de incidência de
cada fungo nas sementes não tratadas de Aspergillus sp. (7%), Penicillium sp. (1%), Rhizopus sp. (3%),
Pestalotia sp. (5%), e Fusarium sp. (2%).
As sementes que receberam tratamento com Captan (T2) não foram infectadas pela maioria dos
gêneros fúngicos detectados, excetuando-se Fusarium sp., onde 2% das sementes apresentaram incidência.
Resultados semelhantes foram obtidos no tratamento de sementes de outras espécies florestais nativas a
exemplo de caixeta (Tabebuia cassinoides (Lam.) D.C.) e canafístula (Peltophorum dubium (Sprengel)
Taubert) (MACHADO et al., 2004), demonstrando que o tratamento com fungicidas sintéticos constitui-se
em um método comprovadamente eficiente para o controle de patógenos de sementes (MERTZ, et al.,
2009).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Figura 1: Incidência de fungos em sementes de Mimosa caesalpinieaefolia Benth., após a aplicação dos
tratamentos: T1- testemunha não tratada; T2 - fungicida (Captan), na dosagem recomendada pelo fabricante; T3- óleo
essencial de erva doce (2%); T4- extrato de melão de são caetano (1000ppm) e T5- extrato de alamanda (1000ppm).

Na Tabela 1, encontram-se os resultados do teste de sanidade em sementes de sabiá após


tratamentos com extratos, óleo e fungicida. As sementes tratadas com o óleo essencial de erva doce não
foram infectadas por nenhum gênero fúngico. Esses resultados estão de acordo com Mata et al. (2009) que
utilizando o óleo essencial de erva doce no controle alternativo de patógenos em sementes de Cereus
jamacaru, obteve um efeito direto na redução da micoflora.

Tabela 1: Efeito dos tratamentos na micoflora dos fungos em sementes de sabiá


Fungos
Tratamentos Aspergillus sp. Rhizopus sp. Fusarium sp. Cladosporium sp. Penicillium sp

T1 7,00ab* 3,00ab 1,00a 1,00 b 1,00 b


T2 0,00a 0,00a 2,00a 0,00a 0,00a

T3 0,00a 0,00a 0,00a 0,00a 0,00a


T4 3,00ab 3,00a 0,00a 0,00a 0,00a
T5 1,00a 1,00a 0,00a 0,00a 0,00a
CV(%) 3,23 1,17 1,36 1,44 1,71

*Médias seguidas por mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo Teste de Tukey ao nível de 5%
®
probabilidade. Onde: T1- testemunha; T2 – fungicida (Captan ); T3- óleo de erva-doce (2%); T4- extrato de melão de
são caetano (1000ppm) e T5- extrato de alamanda (1000ppm).

O extrato de melão de são Caetano (T4) foi eficiente no controle de todos os gêneros fúngicos
detectados, destacando Fusarium sp., Cladosporium sp., e Penicillium sp., com 100% de eficiência (Tabela
1). Segundo Martins et al. (2009) o extrato de melão de são caetano foi eficiente no controle de fungos em
sementes de Manihot glaziovii, porém apresentando variações entre os diversos gêneros.
Silva et al., (2008) verificaram que o extrato de boldo-brasileiro (Plectranthus barbatus) e de outras
plantas medicinais foram capazes de inibir o crescimento micelial de fungos fitopatogênicos do gênero
Colletotrichum. Diversos autores como Souza et al. (2002), Pereira et al. (2006) e Mata et al. (2009),
comprovam a eficiência de extratos vegetais na redução da micoflora de sementes de espécies florestais
além de promoverem maior capacidade de germinação das mesmas.
Na Tabela 2, encontram-se os resultados do teste de germinação em sementes de sabiá após o uso
de diferentes tratamentos alternativos.
Constatou-se que na germinação os tratamentos testemunha (T1) e Captan (T2), foram os que
obtiveram menores médias, sendo estatisticamente iguais. Já as sementes tratadas com óleo de erva doce
e extratos de alamanda e melão de são Caetano, foram as que tiveram maiores médias de germinação não

João Pessoa, outubro de 2011


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diferindo estatisticamente entre si. Tais resultados evidenciam que a utilização dos tratamentos
alternativos no controle de fungos foi eficiente, produzindo resultados satisfatórios com a redução da
incidência e o aumento do percentual de germinação em sementes de sabiá.

Tabela 2: Valores médios de germinação, primeira contagem e índice de velocidade de germinação


de sementes de sabiá (M. caesalpinieaefolia), previamente tratadas.
Tratamentos Germinação Primeira contagem IVG
T1 45,00 b 5,25 c 6,20 b
T2 44,00 b 9,00 b 6,10 b
T3 51, 00ab 9,25 b 7,00ab
T4 64,00a 10,20ab 8,65a
T5 69,00a 13,50a 8,30a
CV(%) 11,07 17,5 10,02
Médias seguidas por mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo Teste de Tukey ao nível de 5%
®
probabilidade. Onde: T1- testemunha; T2 – fungicida (Captan ); T3- óleo de erva-doce (2%); T4- extrato de melão de
são caetano (1000ppm) e T5- extrato de alamanda (1000ppm).

Mieth (2007) testando diferentes concentrações e formulações de extrato de hortelã (Mentha


piperita) em sementes de cedro, verificou que o uso destes tratamentos não interferiu na germinação desta
espécie, e o extrato em pó, com concentração a 20%, e o extrato destilado, com concentração a 20 e 30%,
reduziram a incidência da maioria dos patógenos associados as sementes.
Analisando a Primeira Contagem de Germinação, verifica-se que os tratamentos com extratos
vegetais (T4) e (T5) foram superiores em relação aos demais. Esta avaliação possibilita determinar o vigor
relativo entre lotes de sementes, permitindo uma certa previsão de como será a germinação e a qualidade
das mudas (NAKAGAWA, 1994).
Os tratamentos com Captan (T2) e óleo essencial de erva-doce (T3), embora tenham apresentado
valores menores do que os extratos (T4 e T5), foram significativamente maiores que a testemunha e iguais
entre si (Tabela 2). A justificativa para o baixo vigor das sementes na testemunha pode estar relacionado
com o alto índice de fungos presentes na mesma, interferindo diretamente na germinação e no vigor das
plântulas.
Com relação ao índice de velocidade de germinação (IVG), os resultados mostram que os
tratamentos com extratos vegetais (T4 e T5), proporcionaram resultados superiores, seguido do óleo
essencial de erva doce não diferindo estatisticamente entre si. Já as sementes tratadas com captan (T2),
apresentaram resultados semelhantes a testemunha (T1), com as menores médias de índice de velocidade
de germinação (Tabela 2).

CONCLUSÃO
Os extratos vegetais de alamanda e melão de são caetano e o óleo essencial de erva doce
reduziram a incidência de fungos associados às sementes de sabiá, além de aumentarem a capacidade de
germinação das mesmas podendo se constituir em uma alternativa para o manejo de patógenos em
sementes.

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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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João Pessoa, outubro de 2011


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ETNOBOTÂNICA DE PLANTAS DE CAATINGA, FAZENDA MOURÕES, ASSU-


RN, BRASIL
OLIVEIRA, Samara Feitosa,
Graduanda do curso de Ciências Biológicas da Universidade Regional do Cariri – URCA/CE
(feitosinhajuca@hotmail.com)
LOURENÇO, Maria Alexsandra dos Santos
Graduanda do curso de Ciências Biológicas da Universidade Regional do Cariri – URCA/CE
(leka-eu@hotmail.com)
SOUSA, Marta Maria De Almeida,
Professora Orientadora Do Laboratório De Botânica Da Universidade Regional Do Cariri – URCA/CE
(martaalmeida10@yahoo.com.br)

RESUMO
O Nordeste brasileiro tem a maior parte de seu território ocupado por uma vegetação adaptada às
condições de aridez, de fisionomia variada, denominada Caatinga. Geograficamente, ela ocupa cerca de
12% do território nacional, abrangendo os estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio
Grande do Norte, Ceará, Piauí e Minas Gerais. O presente trabalho buscou a realização de um
levantamento etnobotânico das especies de caatinga na comunidade da Fazenda Mourões, Assú, Rio
Grande do Norte, no intuito de contribuir com o conhecimento das utilizações dessa vegetação, e
paralelamente construir e ampliar informações sobre as potencialidades de uso das espécies levantadas,
com base no aproveitamento sócio-econômico que apresentam. O trabalho foi baseado em um
levantamento fitossociológico em nove parcelas de 20x20m, onde houve registro de 1012 indivíduos,
divididos em 13 espécies e 11 famílias. Para o estudo etnobotânico foram consultados artigos científicos
publicados em periódicos nacionais. As formas de uso foram categorizadas em cinco classes: (1) Medicinal,
(2) forragem, (3) Madeira, (4) apícola e (5) utensílios. Analisando cada categoria individualmente, o uso das
espécies vegetais para obtenção de forragem, é o mais aplicado e indicado, seguido das demais categorias.
Apesar do forrageio ter sido a de maios número de citações, o maior índice de utilização deu-se com o uso
da madeira na confecção de utensílios e atividades construtoras. Tendo em vista que as espécies deste
banco de dados podem se enquadrar em outras categorias de uso, é valido salientar que algumas
apresentam atividades ligadas à ornamentação de vias publicas, arborização, reflorestamento de áreas
degradadas e recuperação de solos. Nesse contexto é fundamental conhecermos as capacidades de
manutenção natural de cada espécie, para que todas estas formas usuais possam ser mantidas em
usufruto, buscando formas concretas de manejo e uso sustentável desde bioma.
Palavras – chaves: caatinga, uso, etnobotânica.

ABSTRACT
The Brazilian Northeast has the largest part of its territory occupied by a vegetation adapted to arid
conditions, varied physiognomy, called Caatinga. Geographically, it occupies about 12% of the country,
covering the states of Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraiba, Rio Grande do Norte, Ceara, Piaui and
Minas Gerais. This study aimed to carry out an ethnobotanical survey of caatinga species in the community
of Mourões Farm, Assú, Rio Grande do Norte, in order to contribute to the knowledge of the uses of this
vegetation, and in parallel build and expand information on the potential use of the surveyed species,
based on socio-economic advantage that they present. The paper was based on a phytosociological survey
in nine plots of 20x20m, where 1012 individuals were recorded, divided into 13 species and 11 families. For
the ethnobotanical study scientific articles published in national journals were consulted The forms of use
were categorized into five classes: (1) Medical, (2) Forage, (3) Wooden, (4) Apiarian (5) Tools. Analysing
each category individually, the use of plant species to obtain forage, is the most used and recommended,
followed by other categories. Although foraging was the highest number of citations, the highest rate of
use was with the use of wood in the manufacture of utensils and construction activities. Given that the
species of this database can fit into other categories of use, it is worth noting that some have activities for
the embellishment of public roads, afforestation, reforestation and recovery of degraded soils. In this

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


566

context it is crucial to know the natural maintenance capabilities of each species, so that all these normal
forms can be maintained in usufruct, seeking concrete ways to sustainable management and use of this
biome.
Keywords: caatinga, use, ethnobotany.

INTRODUÇÃO
Concentrada na região nordesde do brasil, a caatinga é o unico bioma exclusivamente brasileiro, e
recebe o nome de mata branca ou floresta clara, por apresentar uma paisagem esbranquicenta no período
seco. Ocupa uma área de cerca de 850.000 km², aproximadamente de 12% do território nacional, cobrindo
grandes faixas dos estados do Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe,
Bahia e também um pedaço do norte de Minas Gerais (SILVA, J.M.C. et al (org), 2003). Uma área de
aproximadamente 734.478km² dentro do Nordeste brasileiro e caracteriza-se principalmente por ser
possuidora de uma vegetação heterogênea, que para descrição desta, têm sido utilizados diferentes
modelos classificatórios, onde vários autores baseiam-se nos seus aspectos fisionômicos, ecológicos ou
florísticos (ANDRADE-LIMA, 1981).
Do ponto de vista vegetativo, a paisagem é bastante diversa, com regiões distintas, cujas diferenças
se devem principalmente à pluviometria, tipo de solos e sua fertilidade, e relevo. Composta por uma
vegetação xerófita , de paisagem espinhosa , formada de gramíneas, arbústos, e árvores de médio e baixo
porte, com presença marcante da caducifolia, e entremeada de outras espécies como as bromeliáceas e
cactáceas.
Caracterizada pela condição climática marcadamente azonal, com precipitação média de 250 a
1000mm, e déficit hídrico elevado durante todo o ano, apresentando tempreturas que variam de 24 a 28°C
(DRUMOND, et al. 2000).
Há relatos da utilização das plantas pelos homens desde a pré-história. Infelizmente, a
busca por desenvolvimento econômico fundamentado em práticas sem nenhuma ligação com uma cultura
de uso sistentável, vem acarretando danos irreversíveis ao meio. Um dos biomas que mais tem sofrido com
essa atividade é a Caatinga, que segundo estimativas, cerca de 70% já se encontra alterada pelo homem e
somente 0,28% de sua área encontra-se protegida em unidades de conservação (EMBRAPA/CPATSA,2002) .
Diante desse modelo de predação exploratória, se faz necessario um controle do uso sistêmico
desse vegetais. O meio acadêmico tem esforçado-se para criar, desenvolver e execultar técnicas que levem
a utilização sustentável dos recursos naturais, contando com ajuda do conhecimento vindo da população
local (ALBUQUERQUE, 2005). A par destas informações, e tendo em vista que estudos etnobotânicos levam
como foco principal o conhecimento da relação existente entre o homem e o meio vegetal no quel está
inserido, tornam-se necessário o uso da etnobotânica como ferramenta de conheçimento dos varios
empregos que são dados a cada especie utilizada, para que assim possamos propor estratégias de uso
adequado desses recurssos.
A partir do levantamentos das potencialidades dos recursos vegetais disponíveis a uma
comunidade, pode-se traçar planos de recuperação e de conservação da área estudada, assim como a
melhoria das formas originais de uso atribuídos pelos moradores, complementando a renda da população
ao mesmo tempo em que se amplia as perspectivas das gerações futuras usufruírem destes recursos.
Segundo Diegues (2000), a importância de trabalhos que contemplem o conhecimento
tradicional, se encontra na diferença do termo “biodiversidade” que, na maioria das vezes, é traduzida em
longas listas de espécies de plantas e animais descontextualizados do domínio cultural. Quando se une o
natural e o cultural, obtêm-se espécies de maior valor simbólico, onde fica mais viável lutar pela
conservação.
Deste modo, o presente trabalho é uma iniciativa de construção de um banco de dados a
partir de levantamentos bibliográficos, capaz de fornecer informações sobre o uso de algumas espécies
vegetais na comunidade da Fazenda Mourões, Assú, Rio Grande do Norte, a fim de construir e ampliar o
conhecimento sobre as potencialidades de uso das espécies levantadas, com base no aproveitamento
sócio-econômico que apresentam. Buscou-se a realização de um levantamento etnobotânico das especies
de caatinga, com o intúito de contribuir com o conhecimento das utilizações dessa vegetação e a
identificação de seu uso no âmbito das culturas tradicionais.

João Pessoa, outubro de 2011


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MATERIAIS E MÉTODOS
Área de estudo
A fazenda Mourões, localiza-se no municipio de Assu, no estado do Rio Grande do Norte
(5°40’16,41”S e 43°4’26,08”W). Este municipio encontra-se inserido à microrregião do Vale do Açu,
mesorregião do Oeste Potiguar e no Polo Costa Branca, a 207 km da capital do estado, Natal. Predominam
dois tipos de solo na área do município: litólicos eutróficos e bruno não cálcico. Os dados pluviométricos
são de aproximadamente 600mm anuais, e as temperaturas variam de 22° a 30,9°C. Apresenta com
dominância vegetativa, a caatinga arbórea.
Levantamento Etnobotânico e Bibliográfico
O trabalho foi baseado em um levantamento fitossociológico em nove parcelas de 20x20m, onde
houve registro de 1012 indivíduos, divididos em 13 espécies e 11 famílias. Para o estudo etnobotânico
foram consultados artigos científicos publicados em periódicos nacionáis.
De acordo com a metodologia de Pallini (2007), o estudo baseou-se no levantamento de trabalhos
científicos etnobotânicos, selecionados em diversas áreas de conhecimento. Fez-se o levantamento dos
artigos publicados em periódicos nacionais, e para isso utilizou-se a base de dados Scielo Brasil, a base de
dados Google acadêmico e o Acervo bibliográfico do Laboratório de Botânica da Universidade Regional do
Cariri (URCA). Utilizando como critério de busca, palavras-chaves (etnobotânica, uso e conservação de
plantas de caatinga), foram considerados principalmente os trabalhos que continham informações a cerca
do uso para fins medicinais, apícola, utensílios, forragem ou para madeira. Com os dados obtidos elaborou-
se uma planilha das espécies vegetais, famílias botânicas, nomes populares, e principais formas de uso do
recurso vegetal. A forma de uso foi categorizada em cinco classes sendo elas: (1) Medicinal, grupo formado
por espécies que são utilizadas na medicina popular e veterinária; (2) forragem, constituído por espécies
usadas como ração animal; (3) Madeira, categoria que compreende as espécies utilizadas como lenha, na
confecção de móveis, portas etc; (4) apícola, grupo onde está inserido as espécies usadas para produção
melífera; (5) utensílios, contendo espécies das quais são extraídas matéria-prima para confecção de
utensílios e artesanato. As espécies foram categorizadas considerando todas suas formas de uso citadas nas
publicações.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Dentro das nove parcelas estudadas na Fazenda Mourões, foram registrados 1012
indivíduos, divididos em 16 espécies e 11 famílias. As famílias com maior representatividade quanto ao
número de indivíduos foram Leguminosae (442 ind.), Euforbiaceae (257 ind.), Boraginaceae (113 ind.); e
quanto ao número de espécies, Leguminosae destaca-se por aparecer com 6 spp. Embora não se tenha, até
o momento, muitos registros(s) de trabalho(s) enfocando uso de plantas no Rio Grande do Norte, deve-se
ressaltar que nos levantamentos florísticos no semi-árido potiguar, Fabaceae, Euphorbiaceae e Cactácea
são apontadas como as famílias mais representativas em número de espécies (Camacho, 2001; Queiroz,
2006). Quanto a contribuição do número de indivíduos por espécie, o Croton blanchetinuss (marmeleiro)
teve o maior destaque, apresentando 257ind., seguido da Mimosa tenuiflora (jurema preta) com 160ind.,
Auxemma oncocalyx (Pau branco) com 113ind.,e Piptadenia monoliformis (catanduva) com 106 idn.
Observando-se as categorias de uso e o número de espécies, é perceptível que uma determinada
espécie possa ter mais de uma categoria de uso, assim, a maior parte das espécies do banco de dados
enquadra-se em cerca de oito a nove categorias, onde se destacam as usadas para extração da forragem
para alimentação de animais, seguida das utilizadas para extração de madeira e uso medicinal (tabela 01 e
02).
Analisando cada categoria, o uso das espécies vegetais para obtenção de forragem, é o mais
utilizado, tendo nove espécies citadas a essa prática, principalmente para alimentação de bovinos, ovinos e
caprinos, nos períodos de maior estiagem. Segundo Drummond et al.(2000), espécies com uso forrageiro
podem ser cultivadas de formas sistemáticas, tornando-se uma alternativa alimentar à esse animais. Para
esse fim podemos contar com a Mimosa tenuiflora, Caesalpinia pyramidalis, Auxemma oncocalyx,
Piptadenia monoliformis, Aspidosperma pyrifolium, Combretum leprosum, Commiphora leptophloeos,
Bauhinia cheilantha e Anadenanthera colubrina.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


568

Tabela 01: Relação das espécies e suas principais categorias de uso.

Tabela 02: Principais espécies e seus usos na construção de utensílios e atividades construtoras.

O uso de duas destas espécies como forragem - Caesalpinia pyramidalis e Anadenanthera colubrina
– necessita de um conhecimento prévio de sua atuação no organismo do animal por apresentarem
restrições de uso. Os frutos maduros da Caesalpinia pyramidalis, ao serem ingeridos pelos animais, podem
perfurar partes do trato digestivo dos mesmos, em decorrência de uma protuberância existente no ápice
dos legumes, o que pode levar o animal a óbto. No caso das Anadenanthera colubrina, quando suas folhas
murcham na planta, podem tornar-se tóxicas devido a formação de ácido cianídrico, porém quando secas
constituem boa forragem (Banco de Dados de Plantas do Nordeste – BD/PN, CNiP – Centro Nordestino de

João Pessoa, outubro de 2011


569

Informações sobre Plantas Banco de Dados de Plantas do Nordeste – BD/PN, CNiP – Centro Nordestino de
Informações sobre Plantas).
Quanto ao uso medicinal, oito espécies foram citadas. A respeito do potencial apícola, seis espécies
estiveram entre as mais citadas para esse fim - Croton blanchetianus, Aspidosperma pyrifolium, Combretum
leprosum, Piptadenia stipulacea, Commiphora leptophloeos e Anadenanthera colubrina. Para Maia (2004),
essa e outras espécies são de suma importância para abrigo e alimentação de abelhas nativas, bem como
para outros animais silvestres. Estão diretamente ligadas ao fornecimento de néctar e pólen para espécies
melíferas da região.
As espécies foram mais indicadas para duas categorias de uso: forrageiro e para o uso da madeira
na confecção de utensílios e atividades construtoras. Oito espécies foram indicadas para estas categorias
de uso: Croton sonderianus, Mimosa tenuiflora, Caesalpinia pyramidalis, Auxemma oncocalyx, Piptadenia
monoliformis, Aspidosperma pyrifolium, Commiphora leptophloeos e a Anadenanthera colubrina. Além de
também usadas na alimentação de caprinos, ovinos e bovinos, há o aproveitamento da madeira destas
espécies para os mais diversos fins, podendo ser usado na marcenaria, construção civil, construção rural,
fabricação de utensílios de uso rural, e por fim, na obtenção de lenha e carvão de boa qualidade (tabela
02).
Tendo em vista que as espécies deste banco de dados podem se enquadrar em outras categorias de
uso, é valido salientar que Auxemma oncocalyx, Anadenanthera colubrina e Commiphora leptophloeos,
apresentam atividades ligadas à ornamentação de vias publicas, arborização, reflorestamento de áreas
degradadas e recuperação de solos.
Nesse contexto é fundamental conhecermos as capacidades de manutenção natural de cada
espécie, para que todas estas formas usuais possam ser mantidas em usufruto. Necessitamos assim de
formas concretas de manejo e uso sustentável desde bioma, visto que alguns exemplares sofrem com o
mercado comercial exploratório não organizado (tabela 03). Estas e outras questões colocam em pauta a
efetividade e viabilidade em longo prazo da conservação da biodiversidade destas áreas.

Tabela 03: listagem de espécies exploradas comercialmente de forma não organizada. ( Banco de
Dados de Plantas do Nordeste – BD/PN, CNiP – Centro Nordestino de Informações sobre Plantas).

A busca por sustentabilidade, conservação e combate aos abusos no bioma Caatinga não
passam por uma única ação. Cada problema corresponde a um tratamento específico, afinal, apesar dos
esforços de se compreender a caatinga, ainda não existe um consenso a respeito de quais são seus limites e
totais potencialidades. Portanto a definição de um planejamento estratégico adequado ou de ações
prioritárias para a conservação torna-se necessário, como meio mitigatório para os problemas associados
aos usos dos seus recursos.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


570

CONCLUSÃO
Os dados levantados pela presente pesquisa traçam um perfil dos mais variado usos atribuídos à
diversidade de espécies vegetais da Fazenda Mourões. A forma de uso com maior concordância entre os
trabalhos pesquisados foi à utilização vegetal como forragem para suprimento alimentar de espécies
caprinas, ovinas e bovinas, lebvando em conta que a disponibilidade destes recursos depende diretamente
de fatores temporais e conservacionistas.
A pesquisa mostra a grande disponibilidade de meios usuais permitidos pelas espécies do bioma
caatinga, reforçando a importância exercida pela biodiversidade sobre uma comunidade. Através destes
resultados pode-se traçar metas de conservação, recuperação e manejo destas áreas, viabilizando maiores
perspectivas das gerações futuras usufruírem destes recursos.

BIBLIOGRAFIA
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QUALIDADE FISIOLÓGICA DE SEMENTES DE Cnidoscolus phyllacanthus


PAX & K. HOFFM TRATADAS COM ÓLEO NATURAL
Severino do Ramo Nascimento dos SANTOS
(Doutorando (a) em Agronomia, Universidade Federal da Paraíba-UFPB – DFCA/Sementes, Areia-PB, CEP 58.397-000).
(santosagronomia@bol.com.br) (camfiraze@bol.com.br)
Camila Firmino de AZEVEDO.
(Bióloga, doutoranda do Programa de Pós-graduação em Agronomia, UFPB/CCA/Areia – PB). (camfiraze@bol.com.br)
Katiane da Rosa Gomes da SILVA.
(Bolsista PNPD, Universidade Federal da Paraíba-UFPB – DFCA/Sementes, Areia-PB, CEP 58.397-000). (katrgs@gmail.com)

RESUMO
A faveleira (Cnidoscolus phyllacanthus Pax & K. Hoffm) é uma planta da família Euphorbiacea,
endêmica das caatingas secas hiperxerófilas. Esta se destaca pela rusticidade e rápido crescimento,
podendo ser usada para recomposição de áreas degradadas. A qualidade fisiológica de sementes é avaliada
por meio da germinação e do vigor. O tratamento destas envolve a aplicação de diversos processos e
substâncias, com o objetivo de preservar ou aperfeiçoar seu desempenho. O emprego de produtos de
origem vegetal (extratos e óleos essenciais) pode causar efeito positivo e/ou negativo no desempenho das
mesmas, quanto a sua qualidade fisiológica. O objetivo deste trabalho foi avaliar a qualidade fisiológica das
sementes de faveleira tratadas com óleo de erva-doce, com vistas à obtenção de sementes de melhor
qualidade para produção e reposição de plantas em áreas com problemas de desertificação. O trabalho foi
conduzido no Laboratório de Análise de Sementes, Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal da
Paraíba, Areia-PB. As sementes foram tratadas à base de óleo de erva-doce (Foeniculum vulgare Mill.), nas
concentrações de 0; 0,5; 1,0 e 2,0% (mistura óleo de erva-doce + água destilada, durante 5 minutos). Após
tratadas foram submetidas à determinação do teor de água, teste de germinação, primeira contagem de
germinação, índice de velocidade de germinação, comprimento e massa seca de raízes e parte aérea de
plântulas. O óleo de erva-doce influencia negativamente a germinação, a primeira contagem de
germinação e o índice de velocidade de germinação das sementes. O mesmo na concentração acima de
0,79% afeta o comprimento da raiz principal das plântulas, no entanto, as concentrações não interferem no
comprimento da parte aérea, massa seca de raízes e parte aérea de plântulas de faveleira. O uso do óleo de
erva-doce nas sementes de Cnidoscolus phyllacanthus, nas condições estudadas, não proporciona um
melhor desempenho fisiológico nas mesmas.
PALAVRAS-CHAVE: Alelopatia, Faveleira, Germinação, Óleo de erva-doce, Vigor

INTRODUÇÃO
O Brasil é o país que apresenta a maior biodiversidade do mundo, porém ainda hoje pouco se
conhece dessa amplitude biológica. No que se refere à Caatinga Nordestina, nas últimas três décadas é que
vem sendo mais bem estudada, constatando-se sua relevância a partir do conhecimento da sua alta
diversidade, além de suas potencialidades. Dentre as espécies do semi-árido brasileiro encontra-se a
faveleira (Cnidoscolus phyllacanthus Pax & K. Hoffm), com uso múltiplo. Esta espécie fornece madeira
moderadamente pesada, utilizada na confecção de produtos, com alto poder energético, produtora de óleo
comestível, contudo ainda pouco explorado, bem como de interesse farmacológico e forrageiro (TROVÃO
et al., 2004).
A faveleira é uma planta da família Euphorbiacea, endêmica das caatingas secas hiperxerófilas de
solos rasos do Nordeste brasileiro (MAIA, 2004). Esta se destaca pela rusticidade e rápido crescimento, seu
manejo requer avanços em sua metodologia, os quais somente poderão existir com o conhecimento das
necessidades ecológicas e do comportamento das espécies (DANIEL et al., 1988).
No tocante à obtenção de sementes, a faveleira apresenta alguns problemas devido à deiscência
explosiva dos frutos que lançam as sementes em todas as direções. A alta suscetibilidade a ataques de
insetos e patógenos no período de armazenamento de suas sementes, causa grandes prejuízos (MAIA,
2004).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


572

A qualidade fisiológica de sementes é avaliada por meio da germinação e do vigor. O teste de


germinação é o procedimento oficial para avaliar a capacidade das sementes de produzirem plântulas
normais em condições ideais (CARVALHO e NAKAGAWA, 2000). No entanto, uma alta porcentagem inicial
de germinação em condições de laboratório não implica necessariamente na manutenção da qualidade de
um lote de sementes, nem que suas plântulas irão se desenvolver satisfatoriamente depois de semeadas
no campo (LIMA et al., 2006).
O tratamento de sementes envolve a aplicação de diversos processos e substâncias às mesmas,
com o objetivo de preservar ou aperfeiçoar seu desempenho, aumentando a produtividade das plantas
(MENTEN e PARADELA, 1996). A diversidade de substâncias em plantas e os fatores negativos gerados pelo
uso abusivo de produtos químicos têm motivado pesquisas sobre os efeitos dos extratos vegetais no
controle de fitopatógenos (SCHWAN-ESTRADA et al., 2000).
Stangarlin et al. (2008) afirmaram que as substâncias sintetizadas no metabolismo secundário das
plantas, presentes no extrato bruto ou óleo essencial, podem constituir formas de controle alternativo ou
preventivo de patógenos de plantas. Essas substâncias apresentam ação biológica diretamente contra
patógenos ou na indução de resistência de plantas, devido características elicitoras, presente nos princípios
ativos de plantas da flora brasileira (SCHWAN-ESTRADA et al., 2003).
Os extratos são preparações concentradas, obtidos de vegetais frescos ou secos, que passaram ou
não por um tratamento prévio, como a inativação enzimática e a moagem, entre outros, e preparados com
um solvente, de modo que isolem os princípios ativos neles contidos (SALES, 2004). A coleta e o manuseio
das plantas utilizadas no preparo dos extratos vegetais devem ser realizados com cuidado, para que os
princípios ativos expressem sua ação biológica (CORRÊA et al., 2008). O emprego de produtos de origem
vegetal (extratos e óleos essenciais) no tratamento de sementes pode afetar o desempenho das mesmas,
quanto a sua qualidade fisiológica (FELISMINO, 1999; SOUZA, 2000).
SOUZA (2000), testando o extrato de aroeira (Astronium urundeuva L.), em associação com
fungicidas químicos, verificou redução na capacidade germinativa e no vigor das sementes de algodão
deslintadas. No armazenamento de sementes de feijão-macassar e feijão-carioquinha, os produtos
naturais, óleo de dendê (Elaeis guanensis L.) e extrato de aroeira (Astronium urundeuva Engl.), misturados
ao fungicida químico captan foram eficientes no controle dos fungos presentes nas sementes e na proteção
contra os fungos de armazenamento, propiciando sementes com maior germinação e vigor (FELISMINO et
al., 1999).
Diante do exposto o presente trabalho teve como objetivo avaliar a qualidade fisiológica de
sementes de faveleira (Cnidoscolus phyllacanthus Pax & K. Hoffm) tratadas com o produto natural óleo de
erva-doce, com vistas à obtenção de sementes de melhor qualidade para produção e reposição de plantas
em áreas com problemas de desertificação.

MATERIAL E MÉTODOS
CONDUÇÃO DO TRABALHO
O trabalho foi conduzido nos Laboratórios de Análise de Sementes, Centro de Ciências Agrárias,
Universidade Federal da Paraíba, localizada no município de Areia-PB.

SEMENTES E TRATAMENTOS
As sementes foram coletadas diretamente do chão, em duas micro-regiões: Seridó Ocidental da
Paraíba (nos municípios de Santa Luzia e São Mamede) e Seridó Norte Riograndense (no sítio Zamparelha e
município de Acari). Após a obtenção as mesmas foram homogeneizadas e separadas em subamostras para
representação dos diferentes tratamentos à base de óleo de erva-doce (Foeniculum vulgare Mill.), nas
concentrações de 0; 0,5; 1,0 e 2,0% (mistura óleo de erva-doce + água destilada, durante 5 minutos). Após
tratadas, as sementes foram secas em ambiente laboratório sobre papel jornal, durante 5 dias, no
município de Areia – PB.

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE FISIOLÓGICA DAS SEMENTES


Determinação do teor de água

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573

O teor de água foi determinado pelo método padrão da estufa a 105+3 ºC, no qual se utilizou
quatro subamostras de 10 g por tratamento. A porcentagem de umidade foi calculada com base no peso
úmido, segundo as Regras para Análise de Sementes (BRASIL, 2009).

Teste de germinação
Foram utilizadas quatro repetições de 25 sementes, sendo as mesmas postas para germinar em
rolos de papel do tipo “germitest” umedecidos com água destilada, na proporção de 2,5 vezes o peso seco
do papel e posteriormente acondicionados em germinador do tipo Demanda Biológica de Oxigênio (BOD)
regulada a 20-30 ºC, durante todo o teste. As contagens de plântulas normais germinadas foram realizadas
diariamente até o vigésimo dia após a semeadura, considerando normais aquelas plântulas que
apresentaram características condizentes com as prescritas pelas R.A.S. (BRASIL, 2009).

TESTES DE VIGOR
Primeira contagem de germinação
Para a execução deste teste foi utilizado o mesmo material do teste de germinação, sendo realizada
a leitura da germinação das sementes no 5º dia após a semeadura.

Índice de velocidade de germinação (IVG)


Também se utilizou o mesmo material do teste de germinação, com avaliações diárias das plântulas
normais, obedecendo ao mesmo horário. Foi calculado o índice de velocidade de germinação (IVG) através
da fórmula proposta por Maguire (1962).

Comprimento da raiz principal e parte aérea das plântulas


Ao final do teste de germinação, as plântulas normais de cada repetição foram mensuradas quanto
ao comprimento da raiz principal (coifa até região do colo) e parte aérea, com o auxílio de uma régua
graduada em centímetros, sendo os resultados expressos em centímetros.

Massa seca das raízes e parte aérea das plântulas


As plântulas foram separadas, com o auxílio de tesoura, em raiz e parte aérea, sendo em seguida,
colocadas em sacos de papel do tipo kraft e acondicionadas em estufa com circulação de ar forçada,
regulada a 65 ºC, onde permaneceram até atingir peso constante. A pesagem do material seco foi realizada
em balança com precisão de 0,001 g, e os resultados foram expressos em miligrama por plântula.

ANÁLISE ESTATÍSTICA
Foi utilizado o delineamento inteiramente ao acaso. Os dados obtidos foram submetidos à análise
de variância e regressão polinomial. Nas análises estatísticas foi empregado o programa software WinStat
versão 1.0, UFPel.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Figura 1, pode-se observar que o tratamento com o produto natural composto por óleo de erva-
doce foi significativo, o teor de água das sementes de faveleira cresceu quando tratada com o óleo de erva-
doce até 1,19%, porém com o aumento da concentração do óleo houve decréscimo no teor de água das
sementes.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Figura 1. Teor de água de sementes de C. phyllacanthus submetidas a diferentes concentrações de


óleo de erva-doce.

Nas condições deste estudo, a variável germinação (Figura 2), demonstra um efeito significativo
negativo nos tratamentos utilizados para as sementes de faveleira. Observa-se a diminuição da
porcentagem de germinação das sementes de acordo com o aumento da concentração do óleo de erva-
doce. É possível que estas concentrações de óleo estejam provocando um efeito alelopático inibitório da
germinação.

Figura 2. Porcentagem de germinação de sementes de C. phyllacanthus submetidas a diferentes


concentrações de óleo de erva-doce.

A alelopatia pode ser definida como a interferência positiva ou negativa de compostos do


metabolismo secundário produzidos por uma planta, os aleloquímicos, e lançados ao meio (FERREIRA,
2004). Segundo Reigosa e Sanchez-Moreiras (1999) os efeitos dos aleloquímicos nos diferentes processos

João Pessoa, outubro de 2011


575

fisiológicos são dependentes da concentração, ou ao menos se espera que ocorram estimulações em baixas
e inibições em altas concentrações.
Na Figura 3, temos os resultados referentes a primeira contagem de germinação, onde constata-se
diferença significativa entre os tratamentos com óleo de erva-doce. Verifica-se que as sementes tratadas
com óleo de erva-doce diminuem a porcentagem de primeira contagem de germinação progressivamente
com o aumento das concentrações do óleo de erva-doce.

Figura 3. Primeira contagem de germinação de sementes de C. phyllacanthus submetidas a


diferentes concentrações de óleo de erva-doce.

O emprego de produtos de origem vegetal (extratos e óleos essenciais) no tratamento de sementes


tem afetado o desempenho das mesmas, quanto à qualidade fisiológica (FELISMINO, 1999; SOUZA, 2000),
sendo os efeitos observados variáveis, de acordo com as espécies vegetais que originam os produtos
empregados, ou de acordo com as sementes tratadas.
A Figura 4 representa o índice de velocidade de germinação, onde as sementes tratadas com óleo
de erva-doce reduzem a velocidade de germinação significativamente. Neste caso, também pode estar
ocorrendo interferência de algum aleloquímico significativo nesta concentração, este fato é igualmente
observado na germinação (Figura 2). Segundo Ferreira (2004) muitas vezes o efeito alelopático não se dá
sobre a germinação, mas sobre a velocidade de germinação.

Figura 4. Índice de velocidade de germinação de sementes de C. phyllacanthus submetidas a


diferentes concentrações de óleo de erva-doce.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Na Figura 5, verifica-se que os tratamentos com óleo de erva-doce influenciam significativamente a


variável comprimento de raiz principal das plântulas de faveleira. Nota-se que ocorreu um aumento do
comprimento da raiz principal das plântulas que foram tratadas com o óleo de erva-doce até concentração
de 0,79% e que o posterior aumento desta promoveu a diminuição desse comprimento.

Figura 5. Comprimento de raiz principal de plântulas de C. phyllacanthus oriundas de sementes


submetidas a diferentes concentrações de óleo de erva-doce.

Estudos realizados por Kuo et al. (1982) mostraram que o extrato aquoso das folhas de leucena
(Leucaena leucocephala) inibiu o crescimento da raiz de plantas de alface e de arroz. Alguns autores têm
observado que os extratos afetam mais severamente o crescimento da raiz que o do hipocótilo (CHUNG e
MILLER, 1995; CHON et al., 2002).
Na Figura 6, constatou-se que os tratamentos com óleo de erva-doce não influenciam
significativamente, o comprimento da parte aérea.

Figura 6. Parte aérea de plântulas de C. phyllacanthus oriundas de sementes submetidas a


diferentes concentrações de óleo de erva-doce.

João Pessoa, outubro de 2011


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Geralmente a parte aérea é menos afetada que a raiz das plântulas em testes alelopáticos (CHON;
COUTTS; NELSON, 2000), pois as raízes permanecem em contato mais íntimo e prolongado com a solução
de aleloquímicos (CHUNG; AHN; YUN, 2001) e/ou devido um reflexo da fisiologia distinta entre as
estruturas (AQUILA; UNGARETTI; MICHELIN, 1999).
Em relação à massa seca de raízes (Figura 7) e parte aérea (Figura 8) têm a mesma tendência de
comportamento, os tratamentos utilizados neste estudo não demonstram efeitos significativos às
sementes tratadas com óleo de erva-doce, ou seja, esses tratamentos não beneficiam nem prejudicam a
massa seca de raízes e parte aérea das plântulas de faveleira, pois as mesmas originam plântulas com
acúmulo de massa seca de raízes e parte aérea semelhantes.

Figura 7. Massa seca de raízes de plântulas de C. phyllacanthus oriundas de sementes submetidas a


diferentes concentrações de óleo de erva-doce.

Figura 8. Massa seca de parte aérea de plântulas de C. phyllacanthus oriundas de sementes


submetidas a diferentes concentrações de óleo de erva-doce.

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578

Carmo et al. (2007) observaram que extratos de folhas e cascas de tronco de canela-sassafrás
(Ocotea odorifera) em todas as concentrações testadas afetaram a massa seca tanto das raízes quanto da
parte aérea das plântulas. Para Medeiros e Lucchesi (1993), os extratos de ervilhaca (V. sativa) não
interferiram no peso da matéria seca de plântulas de alface. Por outro lado, os extratos de frutos de erva-
mate reduziram o peso seco da raiz e da parte aérea de plântulas de milho em todas as concentrações
testadas (MIRÓ et al., 1998).

CONCLUSÃO
O uso do óleo de erva-doce em sementes de faveleira (Cnidoscolus phyllacanthus) nas condições
estudadas não proporciona um melhor desempenho fisiológico das mesmas.

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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


580

LEVANTAMENTO FITOGEOGRÁFICO DA MATA ATLÂNTICA, DA RESERVA


LEGAL RIACHO PACARÉ, RIO TINTO /PB
Thalis de Vasconcelos Pontes
Aluno bolsista de Graduação do Curso de Geografia, UEPB-CH
thalispontes@hotmail.com
João Paulo da Silva Cavalcante
Aluno bolsista de Graduação do Curso de Geografia, UEPB-CH
Jpcavalcante20@hotmail.com

RESUMO
A história da destruição da Mata Atlântica se confunde com a história do Brasil, ela é um exemplo
do processo histórico de ocupação humana desordenada, agressiva e devastadora (MMA, 92). A área de
Mata Atlântica da Paraíba corresponde à Mesorregião da Mata Paraibana, que engloba 22 municípios
situados em uma faixa de até 100 km entre a costa litorânea e o interior do estado, corresponde a 5.231
km2 ou 9,3% do território paraibano (SUDEMA, 2004). O presente estudo tem como objetivo realizar uma
análise fitogeográfica da reserva legal Riacho Pacaré, Rio Tinto-PB, pertencente à Miriri alimentos e
bioenergia S/A, em suas características físicas, distribuição biogeográfica, além de conhecer a estrutura,
composição e dinamismo da cobertura vegetal refletindo sobre as diversas atividades antrópicas que
promovem a degradação desse meio. O tipo de amostragem aplicada foi o método dos quadrados
(Mueller-Dombois & Ellenberg 1974); Rodal et al., (1992) e Araújo & Ferraz (2004), realizadas em três
unidades amostrais de 10 x 10 m. Para cada indivíduo foi coletado material botânico para identificação,
medido o DAP (diâmetro a altura do peito), altura média através de uma vara metálica graduada, cobertura
da copa e altura do tronco, constando também o nome popular e a etno-botânica. Foram registrados 177
indivíduos, distribuídos em 31 espécies, pertencentes a 22 famílias identificadas na ordem taxonômica. As
famílias com maior riqueza de espécies foram: Fabaceae com quarto (04); Lecythidaceae com três (03);
Myrtaceae, Anacardiceae, Apocynaceae e Rubiaceae com duas (02) cada, as demais obtiveram uma espécie
cada, que contabilizaram um total de 16 das espécies da flora amostrada. Conclui-se, portanto que a área
carece de estudos mais aprofundados no que diz respeito à sua estrutura, composição e dinamismo, para
tal é preciso educar a sociedade a respeito da sua importância, e dos riscos e custos decorrentes do seu
desaparecimento.
Palavras-chaves: Mata Atlântica, Biodiversidade, Fitossociologia, Fitogeografia.

INTRODUÇÃO
Segundo Dorst (1973), os problemas ambientais ao qual estamos vivenciando remontam, em sua
própria essência, a aparição do homem sobre a terra. Pois desde o inicio, a humanidade exerceu uma
profunda influencia no seu habitat, muito maior do que qualquer espécie animal, e, por vezes, num sentido
desfavorável aos equilíbrios naturais e aos seus próprios interesses, á longo prazo.
Nesse contexto, a necessidade de se buscar a conservação e a preservação da biodiversidade tem
se tornado uma questão prioritária, principalmente em áreas ocupadas desde a colonização brasileira, a
exemplo dos ambientes costeiros, de tabuleiros, historicamente desmatados para extrativismo vegetal e
utilizados com a monocultura da cana-de-açúcar.
A história da destruição da Mata Atlântica se confunde com a história do Brasil, a Mata Atlântica é
um exemplo do processo histórico de ocupação humana desordenada, agressiva e devastadora. Em 1500,
quando os primeiros europeus chegaram ao Brasil, a Mata Atlântica cobria 15% de todo o território
brasileiro. Hoje, com somente 7,84% de sua cobertura vegetal original e cerca de 200 de suas espécies
ameaçadas de extinção, é o segundo ecossistema mais ameaçado do mundo. (MMA/92).

Orientador: Carlos Antônio Belarmino Alves. Professor Mestre do Curso de Geografia, UEPB-CH.
c_belarminoalves@hotmail.com

João Pessoa, outubro de 2011


581

A Mata Atlântica é considerada um dos mais ricos conjuntos de ecossistemas em termos de


diversidade biológica do planeta. Distribuída ao longo de mais de 23 graus de latitude sul, o bioma é
composto por uma série de fitofisionomias (aspecto da vegetação de um lugar) bastante diversificadas, que
proporcionaram uma significativa diversificação ambiental e, consequentemente, a evolução de um
complexo biótico de natureza vegetal e animal altamente rico (FUNDAÇÃO S.O.S MATA ATLÂNTICA, 1992).
Em seu domínio original a Mata Atlântica brasileira englobava uma área de 1.306.000 km²,
equivalente a cerca de 15% do território nacional, onde cobria total ou parcialmente 17 estados brasileiros
e estende-se desde o Ceará até o Rio Grande do Sul (RBMA, 2004), da cobertura original restaram apenas
7,6%, com maior intensidade nas regiões do Sudeste e Sul.
Segundo o Decreto Federal nº 750, de fevereiro de 1993, sua região de ocorrência original abrangia
integralmente ou parcialmente atuais 17 Estados da Federação: Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo,
Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande
do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe e São Paulo.
A área legalmente considerada Nordeste possui 1.561.177,8 km2, correspondente a 18,26% do
território brasileiro (Embrapa, 1993). Engloba um significativo número de biomas e ecossistemas que
envolvem desde resquícios da mata atlântica até os mais variados padrões de caatingas (Souza, 1983). A
área de mata atlântica da Paraíba corresponde à Mesorregião da Mata Paraibana, que engloba 22
municípios situados em uma faixa de até 100 km entre a costa litorânea e o interior do estado, corresponde
a 5.231 km2 ou 9,3% do território paraibano (SUDEMA, 2004).
A área de estudo está inserida no município de Rio Tinto-PB, unidade geoambiental dos tabuleiros
costeiros. Esta unidade acompanha o litoral de todo o nordeste, apresenta altitude média de 50 a 100
metros, compreende platôs de origem sedimentar, que apresentam grau de entalhamento variável, ora
com vales estreitos e encostas abruptas, ora abertas com encostas suaves e fundos com amplas várzeas. Os
solos são profundos e de baixa fertilidade natural, o clima é do tipo tropical chuvoso com verão seco, a
vegetação é predominantemente do tipo floresta subperenifólia, com partes de floresta subcaducifólia e
cerrado/floresta. O município encontra-se inserido nos domínios das bacias hidrográficas dos rios
Mamanguape, Miriri e Camaratuba (CPRM/2005).
O presente estudo tem como objetivo realizar uma análise fitogeográfica da reserva legal Riacho
Pacaré, localizada no município de Rio Tinto-PB, pertencente à Miriri alimentos e bioenergia S/A, em suas
características físicas, distribuição biogeográfica, além de conhecer a estrutura, composição e dinamismo
da cobertura vegetal e refletir sobre as diversas atividades antrópicas que promovem a degradação desse
meio.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa ocorreu na Reserva Legal Riacho Pacaré, pertencente à Destilaria Miriri Alimentos e
Bioenergia S/A, situada no município de Rio Tinto/PB. Trata-se de uma unidade de conservação particular
localizada na Fazenda Santa Emília, no município de Rio Tinto, com 56,06 ha, que busca preservar
resquícios de mata Atlântica (GONÇALVES E SANTOS, 2010).
A pesquisa realizada é de natureza teórica e prática. Inicia-se com a pesquisa de gabinete, através
de leitura e fichamento do material bibliográfico, partiu-se para os trabalhos de campo. Nessa área foram
eleitas três parcelas de acordo com o quadro abaixo:
PARCELA DATA COORDENADAS UTM

01 11/02/2011 02843117 /9239084

02 18/02/2011 0284412 /9238850

03 18/02/2011 0284403 /9238872


Quadro 1: Coordenadas UTM das parcelas levantadas na Serra da Jurema, Guarabira – PB

Nessa área foi realizado o estudo quantitativo da composição florística, fitossociológica, estrutura,
funcionamento, dinâmica, distribuição e relações ambientais das comunidades vegetais existentes, levando

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


582

em consideração as informações já existentes sobre botânica, geologia, clima, solos e acessibilidade ao


local da pesquisa, juntamente com o reconhecimento e descrição das principais associações de plantas.
Segundo MARAGON et al. (2003), estudos fitogeográficos, florísticos e fitossociológicos são de
extrema importância para a compreensão da dinâmica das espécies arbóreas; haja vista que envolvem o
estudo das interrelações de espécies vegetais dentro de uma comunidade vegetal. É útil para diagnosticar
tendências ou processos atuantes na cobertura vegetal e revelar o comportamento da vegetação em
resposta à intervenção brusca ou sistemática.
O tipo de amostragem aplicada foi o método dos quadrados (Mueller-Dombois & Ellenberg 1974);
Rodal et al., (1992) e Araújo & Ferraz (2004), realizadas em 3 (três) unidades amostrais de 10 x 10 m. Para
cada indivíduo foi coletado material botânico para identificação, medido o DAP (diâmetro a altura do
peito), altura média através de uma vara metálica graduada de 5 m, cobertura da copa e altura do tronco,
constando também o nome popular e a etno-botânica.
Para a análise fitogeográfica da vegetação da RLRP, buscou levar em consideração a estrutura,
composição e dinamismo, indicando para cada espécie a altura média, a densidade da cobertura, medido o
DAP (diâmetro na altura do peito), a altura do tronco, levando em consideração a primeira bifurcação, e
calculado a quantidade de indivíduos de cada espécie amostrada.
Foram realizadas algumas observações ecológicas das espécies nos seus microhábitats de
ocorrência, tais como hábitos (Mori et al. 1989), hábitats (Andrade Lima 1972; Salvo & Garcia Verdugo
1990), formas de vida (Raunkiaer apud Chapman 1976), e os ambientes preferenciais (Ambrósio & Barros
1997), com algumas adaptações para o presente estudo.
Constatou-se os nomes científicos de cada espécie, etno-botânica e classificação de cada espécie de
acordo com Kramer & Green (1990), nos tipos de vegetação (floresta subcaducifólia, caducifólia e caatinga
hipoxerófila), para fazer a comparação entre espécies endêmicas e espécies invasoras.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Nos três pontos amostrais da Reserva Legal Riacho Pacaré (RLRP), onde a pesquisa foi realizada,
registraram-se 177 indivíduos, distribuídos em 31 espécies, pertencentes a 22 famílias identificadas na
ordem taxonômica.
As famílias com maior riqueza de espécies foram: Fabaceae com quarto (04); Lecythidaceae com
três (03); Myrtaceae, Anacardiceae, Apocynaceae e Rubiaceae com duas (02) cada, as demais obtiveram
uma espécie cada, que contabilizaram um total de 16 das espécies da flora amostrada.

Gráfico 1: fitossociologia das espécies amostrais da RLRP,


Miriri alimentos e bioenergia S/A. 11/02/2011
Segundo dados da EMBRAPA a Fabaceae possui distribuição cosmopolita, incluindo cerca de 650
gêneros e aproximadamente 18 mil espécies, representando uma das maiores famílias de Angiospermas e
também uma das principais, do ponto de vista econômico. No Brasil, ocorrem cerca de 200 gêneros e 1.500

João Pessoa, outubro de 2011


583

espécies. Tem como característica a presença de frutos em forma de vagem e engloba desde espécies
arbóreas até espécies herbáceas anuais. Foram registrados 04 espécies dessa família, são elas; Inga vera
com 13 indivíduos, Apuleia leiocarpa com 02, Pterodon emarginatus e Samanea tubulosa com um individuo
cada.
Comparando nossos resultados, Thomas et al., (2009), Xavier, (2009), Costa Jr. et al., (2007) e Rodal
et al., (2005), indicaram Fabaceae como a família de maior riqueza para o nordeste do país. Dessa família o
Inga vera foi a espécie mais encontrada da pesquisa registrando 13 indivíduos.
A família Lecythidaceae pode ser encontrada sob a forma de árvores de grande porte ou arbustos,
contém 20 gêneros e aproximadamente 300 espécies, e estão dispersas principalmente nas florestas
pluviais e na África Ocidental. Os maiores são: Eschweleira, Gustavia e Barringtonia com, respectivamente,
90, 40 e 40 espécies. Porém, em solo brasileiro, mais precisamente na região amazônica, também é
possível encontrar cerca de 10 gêneros e 150 espécies (ARAÚJO e FERRAZ, 2004). Na RLRP as espécies
encontradas foram a Eschweleira ovata, a Lecythis pisonis e a Eschweleira ovata cambess, representando
junto um total de 31 indivíduos.
Na RLRP a família Myrtaceae é representada pela Acca sellowiana (goiaba do mato), apresentando
11 indivíduos, seguido pela Campomonesia guaviroba (Guabiraba amarela) com 02 indivíduos. A
Myrtaceae representa uma das maiores famílias da flora brasileira, com 23 gêneros e aproximadamente
1.000 espécies. Muitas espécies possuem propriedades medicinais e apresentam aproveitamento alimentar
(EMBRAPA).

NOMES N° DAP (cm) Altura Cobertura Altura


Indivíduos média (m) da copa (m) Tronco (m)
1. Protium heptaphyllum 33 3.5 4.4 1.9 1.5
2. Eschweleira ovata 27 2.3 3.4 1.6 1.2
3. Inga vera 13 1.8 3.7 1.4 1.1
4. Thyrsodium spruceanum 12 2.2 3.1 1.5 1.3
5. Acca sellowiana 11 2.1 3.1 1.9 1.1
6. Casearia decandra 05 1.4 2.9 1.3 0.9
7. Platycyamus regnelii 05 14.6 8.1 5.2 3.7
8. Manilkara bidentata 02 15.4 13.5 3.5 8.0
9. Echites cururu 04 1.3 2.4 0.7 1.2
10.Campomonesia guaviroba 02 2.9 3.2 2.6 2.1
11. Bactris setosa 02 4.7 5.5 1.2 4.0
12. Apuleia leiocarpa 02 3.7 3.4 2.0 1.4
13. Cupania racemosa 01 1.6 4.0 1.0 1.5
14. Pterodon emarginatus 01 20.5 15.0 6.0 8.0
15. Erythroxylum deciduum 05 2.5 3.3 2.8 1.1
16. Coutarea hexandra 03 1.2 1.8 1.3 1.3
17. Tapirira guianensis 02 17.5 15.0 5.0 7.5
18. Hirtella hebeclada 14 7.8 5.8 2.8 1.5
19. Pterygota brasiliensis 03 30.4 10.7 4.8 2.1
20. Schefflera morototoni 05 14.7 8.1 2.8 3.4
21. Lecythis pisonis 03 7.5 6.5 3.5 1.2
22. Brosimum guianense 08 1.5 3.9 1.5 1.0
23. Apeiba echinata 01 1.0 1.0 0.5 1.0
24. Cordia superba 01 1.3 1.0 0.5 1.0
25. Xylopia brasiliensis 05 6.9 7.4 4.8 1.6
26. Himatanthus sucuuba 02 6.7 4.5 1.8 2.2
27. Samanea tubulosa 01 11.0 10.0 5.0 3.0
28. Byrsonima verbascifolia 01 37.5 30.0 10.0 2.0

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


584

29. Celosia argêntea 01 1.0 1.5 1.0 1.0


30. Handroanthus serratifolius 01 1.0 1.0 1.0 0.5
31. Eschweleira ovata cambess 01 1.8 1.0 1.0 0.5

Quadro 2: Dados biométricos – 1ª, 2ª e 3ª parcela do levantamento florístico e fitossociológico da


Reserva Legal Riacho Pacaré / destilaria Miriri –PB– 11/02/2011
O número de indivíduos mede a participação das diferentes espécies na floresta. O número de
indivíduos (N) é a medida do número total dos indivíduos pertencentes a uma determinada espécie. As
espécies que predominaram na amostra foram a Protium heptaphyllum (Amescla), com 33 indivíduos, a
Eschweleira ovata (Imbiriba) com 27, a Hirtella hebeclada (Pau cinza) com 14, a Inga vera (ingá) com 13, a
Thyrsodium spruceanum (camboatã-de-leite) com 12 e a Acca sellowiana (goiaba do mato) com 11
indivíduos.
O valor de cobertura da copa se caracteriza pelo número de árvores e suas dimensões (abundância
e dominância), determinando seu espaço dentro da biocenose florestal, não levando em consideração se as
árvores apareçam isoladas ou em grupos, indica o valor de avaliação e a potência da espécie dentro da
biocenose florestal. O valor de cobertura mede a potencialidade produtiva da floresta, além de constituir
um parâmetro útil para determinar a qualidade da espécie.
As espécies com os maiores valores de cobertura foram a Byrsonima verbascifolia (Murici Pitanga)
com uma média de 10 metros de copa, a Pterodon emarginatus (Sucupira) com 6 metros, a Platycyamus
regnelii (Pereiro) com 5.2 metros e as espécies Tapirira guianensis (Cupiúba) e Samanea tubulosa (Sete
Cascas) com 5 metros cada.
As espécies que apresentaram os menores valores de cobertura da copa foram a Echites cururu
(Cipó Cururu) Apeiba echinata (Jangada) e Cordia superba (Grão de Galo) registrando 0.7, 0.5 e 0.5 metros
de cobertura de copa respectivamente.
O DAP (diâmetro na altura do peito) é uma medida que, conjuntamente com a densidade e a altura,
serve para estimar o volume de madeira de espécies arbóreas. Por definição, o DPA é a superfície de uma
seção transversal do tronco de uma árvore medida a uma determinada altura do solo.
As espécies que obtiveram os maiores valores de diâmetro na amostra foram; Byrsonima
verbascifolia (Murici Pitanga) com 37.5 cm, Pterygota brasiliensis (Pau Rei) com 30.4 cm, Pterodon
emarginatus (Sucupira) com 20.5 cm, Tapirira guianensis (Cupiúba) com 17.5 cm, Manilkara bidentata
(Maçarandubinha) com 15.4 cm, Schefflera morototoni (Sambacuim) com 14.7 cm e Platycyamus regnelii
(Pereiro) com 14.6 cm.
Já as que obtiveram os maiores valores de altura e altura do tronco, que é medida do tronco desde
o solo até a primeira bifurcação do nele encontrado, foram às espécies; Byrsonima verbascifolia (Murici
Pitanga) com os valores de 30 m de altura e 2 m de altura do tronco, Pterodon emarginatus (Sucupira) com
15 m e 8 m respectivamente, Tapirira guianensis (Cupiúba) com 15 m e 7.5 m e a Manilkara bidentata
(Maçarandubinha) medindo 13.5 m e 8 m de altura de tronco.
A partir dos dados coletados constatou- se que a espécie Protium heptaphyllum (Amescla)
apresentou a maior incidência com 33 indivíduos. Segundo LOZENZI (1949) et. al. GONÇALVES & SANTOS
(2010), a espécie apresenta uma copa simples, de densidade foliar intermediária. Árvore semidecídua,
heliófita da Mata Atlântica pernambucana, presente também nas florestas ombrófilas e estacionais
semidecíduas do Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil. Sendo uma espécie secundária inicial, é encontrada nos
primeiros estágios de sucessão da Mata Atlântica, serve à recuperação de áreas degradadas e é
especialmente recomendada para plantios em áreas de vegetação ciliar e em reflorestamento de áreas de
preservação permanente.
A espécie Escheweilera ovata (Imbiriba) apresentou a segunda maior incidência nos três
levantamentos realizados, apresentado 27 indivíduos registrados, característica e exclusiva das matas
pluvial Amazônica e Atlântica, a Escheweilera ovata é uma planta perenifólia, heliófita, seletiva xerófila e
secundária, ocorrendo em terrenos bem drenados, tanto em florestas primárias, como em formações
abertas e capoeirões (LOZENZI, 1949).

CONCLUSÕES PARCIAIS

João Pessoa, outubro de 2011


585

A partir dos dados coletados nos levantamentos realizados na área da Reserva Legal Riacho Pacaré,
Rio Tinto – PB registraram-se 177 indivíduos, distribuídos em 31 espécies, pertencentes a 22 famílias
identificadas na ordem taxonômica. As famílias com maior riqueza de espécies foram: Fabaceae com
quarto (04); Lecythidaceae com três (03); Myrtaceae, Anacardiceae, Apocynaceae e Rubiaceae com duas
(02) cada, as demais obtiveram uma espécie cada, que contabilizaram um total de 16 das espécies da flora
amostrada.
As espécies que predominaram nos levantamentos na Reserva Legal Riacho Pacaré são
características de áreas em estágio secundário, a redução do numero de espécies ocorreu devido à
atividade antrópica, implicando na interferência do desenvolvimento e diversidade das espécies
amostradas, caracterizando-a como um fragmento de floresta atlântica em regeneração natural, carecendo
de estudos mais aprofundados no que diz respeito à sua estrutura.
Dos cerca de 5 a 12% de área restante de mata atlântica no Brasil a maior parte é composto por
fragmentos florestais relativamente pequenos, inclusive nas áreas legalmente protegidas. Como as áreas de
florestas continuas são cada vez menores, avaliar as consequências da fragmentação e a qualidade
ecológica dos fragmentos deve ser vista como um dos objetivos mais urgentes em conservação. (Lima &
Capobianco, 1997) et al. TONHASCA 2005.
Comparando nossos resultados com Tabarelli et al (1999) relatam o declínio da densidade de
lauráceas, mirtáceas, rubiáceas e sapotáceas. Sendo essas responsáveis por frutos para a alimentação de
diversos animais e aves, podendo caracterizar num risco de extinção local de frutívoros por falta de comida.
As espécies Byrsonima verbascifolia (Murici Pitanga), Pterodon emarginatus (Sucupira), Tapirira
guianensis (Cupiúba), Samanea tubulosa (Sete Cascas) e Platycyamus regnelii (Pereiro) por representarem
os maiores índices de cobertura de copa, altura média e diâmetro, mas que obtiveram os menores índices
de incidência, podem se torna segundo Janzen (1986b), “mortos-vivos”: presentes devido a sua excepcional
longevidade, mas funcionalmente extintas porque o isolamento inviabilizou a sua reprodução.
Por se tratar de um fragmento de Mata Atlântica, a área vem sofrendo com efeitos de borda
(Tonhasca 2005), a excessiva luminosidade lateral na borda favorece a proliferação de vegetação herbácea
invasora, plantas como cipós multiplicam-se e competem com as árvores por luz, água e nutrientes, além
de provocar a quebra de galhos ou até mesmo a queda de árvores.
Parafraseando Willian Foster Lloyd et al. Tonhasca 2005, a Mata Atlântica sempre foi tratada como
um bem de acesso irrestrito cuja exploração excessiva e predatória a levou a beira do colapso, para tal a
área de Mata Atlântica da reserva legal Riacho Pacaré, localizada no município de Rio Tinto-PB, carece de
estudos mais aprofundados no que diz respeito à sua estrutura, composição e dinamismo, fazendo com
que a tragédia desse ecossistema seja evitada, educando a sociedade a respeito da sua importância, dos
riscos e custos decorrentes do seu desaparecimento.

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João Pessoa, outubro de 2011


587

EMERGÊNCIA E CRESCIMENTO INICIAL DE PLÂNTULAS DE Clitoria


fairchildiana EM FUNÇÃO DA PROFUNDIDADE E POSIÇÃO DE SEMEADURA
Vandeilson Lemos ARAUJO
Pós-graduando em Agronomia pala Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
E-mail: vandeilsonlemos@hotmail.com
Francisco Figueiredo de ALEXANDRIA JUNIOR
Pós-graduando em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
Amonikele Gomes LEITE
Graduanda do curso de Ciências Biológicas pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)

RESUMO
A Clitoria fairchildiana Howard é uma árvore nativa muito utilizada no paisagismo urbano devido ao
rápido crescimento e beleza das flores, além disso a árvore fornece excelente sombra e sua madeira é
utilizada para diversas finalidades. Assim, o trabalho foi realizado com o objetivo de verificar o efeito da
posição e profundidade de semeadura na emergência e crescimento inicial de plântulas de Clitoria
fairchildiana Howard. Para tanto, um experimento foi realizado em delineamento inteiramente ao acaso,
com quatro repetições de 25 sementes, dispostos em esquema fatorial 6 x 3 (profundidades e posições de
semeadura). Os tratamentos consistiram em diferentes profundidades (1, 2, 3, 4, 5 e 6 cm) e posições das
sementes no substrato (hilo voltado para cima, formando um ângulo de 0º em relação a um eixo imaginário
perpendicular ao nível do substrato; hilo para o lado, formando um ângulo de 90º em relação ao eixo
imaginário e hilo voltado para baixo, formando um ângulo de 180º em relação ao eixo imaginário).
Determinou-se a porcentagem de emergência, primeira contagem e índice de velocidade de emergência,
bem como o comprimento e a massa seca de plântulas (raiz e parte aérea). A profundidade de semeadura
afeta negativamente a emergência e crescimento inicial das plântulas de C. fairchildiana a partir de 5 cm,
enquanto para a posição da semente no substrato constatou-se pequena variação entre as mesmas. Assim,
a profundidade de semeadura recomendada para Clitoria fairchildiana é de até 2 cm, independentemente
da posição da semente, sendo que as profundidades de 5 e 6 cm não são recomendadas para a semeadura
das sementes de Clitoria fairchildiana.
Palavras-chave: Sombreiro, qualidade de sementes, espécie florestal.

Introdução
A sombreiro (Clitoria fairchildiana Howard), sinonímia Clitoria racemosa Lindl, da família Fabaceae -
Papilionoideae, popularmente conhecida como faveira, sombreiro ou palheteira é uma espécie arbórea de
médio a grande porte, com frondosa copa e flores atrovioláceas em racemos pêndulos, cujo fruto é um
legume deiscente, sendo que a espécie ocorre principalmente na floresta ombrófila densa na Amazônia em
formações secundárias, com preferência por solos férteis e úmidos, podendo também ocorrer em áreas
abertas e alteradas pela ação humana (LORENZI, 2002).
A referida espécie, possui madeira moderadamente pesada e de média resistência, sendo
empregada na construção civil como divisórias de casas, forros, para confecção de brinquedos e caixotaria,
além de proporcionar ótima sombra e ter características ornamentais, tornando-se assim, excelente, para
arborização rural e urbana de parques, jardins, estradas, dentre outros (PAULA, ALVES (1997); GUAJARÁ et
al., 2003). Além disso, por ser uma espécie rústica e de rápido crescimento é extremamente útil nos
reflorestamentos heterogêneos destinados à reconstituição da vegetação e recuperação de áreas
degradadas (LORENZI, 2002; PORTELA et al., 2001). O sombreiro possui também potencial para cobertura
de áreas degradadas, atuando como adubo verde, pois é capaz de nodular e fixar nitrogênio (CARNEIRO et
al., 1998; FORTES, 2000).
A germinação rápida e uniforme das sementes, seguida por imediata emergência das plântulas são
características altamente desejáveis na produção de mudas, pois quanto maior o tempo para a plântula
emergir do solo, bem como a sua permanência nos estádios iniciais de desenvolvimento, mais vulnerável
estará às condições adversas do meio (MARTINS et al., 1999; MARCOS-FILHO, 2005). Dentre os fatores que
influenciam o processo germinativo devem ser considerados, além da boa qualidade da semente, a

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


588

intensidade de dormência, a velocidade de germinação que pode ser influenciada pelo vigor da semente,
pela temperatura e umidade do substrato, posição e profundidade de semeadura, entre outros (URBEN
FILHO, SOUZA, 1993).
A profundidade de 2,2 cm proporcionou às plântulas de Cedrela fissilis L. melhor resposta para a
porcentagem de emergência, quando as sementes foram semeadas com o hilo voltado para baixo, com
67% de emergência, enquanto para as sementes semeadas com o hilo para o lado ocorreu uma emergência
de plântulas de 32%, na profundidade de 2,18 cm. Nos trabalhos de Canossa et al. (2007) as maiores
porcentagens de emergência de plântulas de Alternanthera tenella Moq. ocorreram quando a semeadura
foi realizada nas profundidade de 0 a 3 cm. Em Oenocarpus minor Mart., as maiores porcentagens de
emergência foram observadas em profundidades de 0 e 2 cm, enquanto na profundidade de 4 cm
constatou-se as menores porcentagens de emergência de plântulas (SILVA et al., 2006).
Nesse sentido, o conhecimento da profundidade na qual a plântula é capaz de emergir pode
permitir a adoção de práticas de manejo pertinentes, como por exemplo, o emprego de métodos
mecânicos associados ou não a métodos químicos (TOLEDO et al., 1993; BRIGHENTI et al., 2003), pois a
profundidade no solo em que uma semente é capaz de germinar e produzir plântula é variável entre as
espécies e tem importância ecológica e agronômica (GUIMARÃES et al., 2002).
Portanto, levando-se em consideração sua importância ecológica, bem como sua potencialidade
econômica, o presente trabalho visou avaliar a influência da profundidade e posição de semeadura na
emergência e crescimento inicial de plântulas de Clitoria fairchildiana Howard.

Material e Métodos
O experimento foi realizado no Laboratório de Análise de Sementes (LAS) do Departamento de
Fitotecnia e Ciências Ambientais do CCA/UFPB, Areia - PB. Os frutos de Clitoria fairchildiana Howard foram
colhidos de dez árvores matrizes localizadas no município de Areia - PB. Após a colheita, as sementes foram
beneficiadas no LAS, mediante abertura manual dos frutos para obtenção das sementes, com eliminação
daquelas mal formadas. Os tratamentos consistiram em diferentes profundidades (1, 2, 3, 4, 5 e 6 cm) e
posições de semeadura (sementes com o hilo voltado para cima - HC, formando um ângulo de 0º em
relação a um eixo imaginário da semente perpendicular ao nível do substrato, sementes com o hilo de lado
- HL, formando um ângulo de 90º em relação ao eixo imaginário da semente e, sementes com o hilo
voltado para baixo - HB, formando um ângulo de 180º em relação ao eixo imaginário da semente).
Características avaliadas foram: Teste de emergência: a semeadura de quatro repetições de 25 sementes
foi realizada em bandejas plásticas com dimensões de 0,40 x 0,40 x 0,60 m, contendo como substrato areia
lavada e esterilizada em autoclave. O teste foi conduzido em casa de crescimento, sem controle de
temperatura e umidade, durante 21 dias. As sementes germinadas foram contadas diariamente, no mesmo
horário, quando ocorreu à emissão dos cotilédones acima do substrato. Os resultados foram expressos em
porcentagem de plântulas normais. Primeira contagem de emergência: correspondeu à porcentagem
acumulada de plântulas normais no décimo dia após a semeadura. Índice de velocidade de emergência
(IVE): foi determinado em conjunto com o teste de emergência, constando de contagens diárias do número
de plântulas emergidas, no mesmo horário durante 21 dias e, o índice determinado de acordo com a
E1 E 2 E
fórmula ( IVE    ...  n ) proposta por Maguire (1962); em que: IVE = índice velocidade de
N1 N 2 Nn
emergência; E1, E2,... En = número de plântulas normais emergidas a cada dia; N1, N2, ... Nn = número de
dias decorridos da semeadura da primeira, segunda e última contagem. Comprimento e massa seca de
plântulas: as plântulas normais de cada tratamento e repetição, foram submetidas a medições da parte
aérea (hipocótilo e epicótilo) e raiz primária, resultados expressos em cm/plântula. Em seguida, as plântulas
foram postas em estufa a 65 ºC até atingir peso constante (48 horas), e pesadas, conforme as
recomendações de Nakagawa (1999), expressos em g/plântula. O delineamento experimental utilizado foi
o inteiramente ao acaso, com os tratamentos distribuídos em esquema fatorial 6 x 3 (profundidades e
posições de semeadura). Os dados foram submetidos à análise de variância e de regressão polinomial pelo
programa estatístico SAEG.

João Pessoa, outubro de 2011


589

Resultados e Discussão
A profundidade de 2,59 cm proporcionou as plântulas de Clitoria fairchildiana uma melhor resposta
para a porcentagem de emergência, quando as sementes foram semeadas com o hilo para cima (HC),
verificando-se um porcentual de 100%. Paras as sementes semeadas com o hilo para baixo (HB) e para o
lado (HL) também constatou-se uma emergência de 100% na profundidade de 2,08 e 2,44 cm,
respectivamente (Figura 1). Em todas as posições de semeadura (hilo para baixo, para cima e para o lado)
as profundidades entre 1 e 4 cm não constituíram grande obstáculo para a emergência das plântulas, uma
vez que a mesma foi pouco afetada. No entanto, a partir dessas profundidades, a porcentagem de
emergência das plântulas originadas das sementes com o hilo para cima (HC) reduziu drasticamente,
enquanto nas outras posições houve apenas uma pequena redução. Tais resultados devem-se,
provavelmente, a necessidade do movimento rotatório da raiz primária para se fixar ao substrato, quando a
semeadura foi com o hilo para cima (HC), consumindo assim, uma maior quantidade de energia durante o
processo germinativo.

Figura 1. Emergência de plântulas de Clitoria fairchildiana Howard em função de


posições e profundidades de semeadura.
HB = Hilo para baixo, HC = Hilo para cima, HL = Hilo para o lado.

Dessa maneira verificou-se que as melhores posições de semeadura para Clitoria faichildiana foram
aquelas cujo hilo ficou direcionado para o lado e para baixo, em todas as profundidades, pois proporcionou
uma elevada porcentagem de emergência de plântulas, tendo um pequeno decréscimo nas duas últimas
profundidades (5 e 6 cm).
A porcentagem de emergência de plântulas de Clitoria fairchildiana Howard. oriundas de sementes
na posição de hilo para baixo (HB), por ocasião da primeira contagem foi a máxima (100%) na profundidade
de semeadura de 1cm, na posição com o hilo para cima (HC) a maior porcentagem de emergência (10%) foi
obtida também na profundidade de 1 cm. Quando as sementes foram postas no substrato com o hilo para
o lado (HL) a porcentagem máxima de emergência (45%) ocorreu na mesma profundidade das outras
posições (Figura 2).
A profundidade de 1 cm foi a mais apropriada para a emergência das plântulas de Clitoria
fairchildiana Howard., uma vez que na primeira contagem de emergência, em todas as posições de
semeadura verificou-se o maior número de plântulas emergidas. Isso pode ter ocorrido devido à interação
positiva entre posições e profundidades, o que favoreceu a embebição de água pela semente, o
metabolismo germinativo e uniformidade na emergência das plântulas. Além disso, na referida

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


590

profundidade os obstáculos superados pelas sementes foram menores, de forma que em todas as posições
a porcentagem de emergência foi elevada.

Figura 2. Primeira contagem de emergência de plântulas de Clitoria fairchildiana


Howard em função de posições e profundidades de semeadura.
HB = Hilo para baixo, HC = Hilo para cima, HL = Hilo para o lado.

Estes resultados são semelhantes aos encontrados por Cardoso et al. (2008), na qual a
porcentagem de emergência de plântulas de Erythrina velutina Willd, por ocasião da primeira contagem
decresceu com o aumento da profundidade, independentemente da posição de semeadura. Da mesma
maneira, Alves et al. (2008) verificaram que a emergência de plântulas de Zizyphus joazeiro Mart. na
primeira contagem reduziu (12%) a cada centímetro de aumento na profundidade de semeadura de
semeadura.
Com relação ao índice de velocidade de emergência verificou-se que o mesmo reduziu
conforme as profundidades de semeadura foram aumentando, na profundidade de 1 cm ocorreram os
valores máximos nas sementes com o hilo para baixo (HB; 3,50), para hilo voltado para cima (HC; 3,00) e
para o lado (HL; 3,00) (Figura 3). Salientando que devido às dificuldades impostas pela barreira física que o
solo propiciou com o aumento na profundidade de semeadura torna a emergência de plântulas mais lenta.
Dessa forma, as menores profundidades proporcionaram os maiores índices de velocidade
de emergência para as plântulas por oferecerem menor barreira física, pois com o aumento na
profundidade de semeadura há um aumento no consumo de energia da semente, de forma que o índice de
velocidade de emergência reduziu com a utilização destas profundidades.

Figura 3. Índice de velocidade de emergência de plântulas de Clitoria fairchildiana Howard


em função de posições e profundidades de semeadura.

João Pessoa, outubro de 2011


591

HB = Hilo para baixo, HC = Hilo para cima, HL = Hilo para o lado.

Para o comprimento da raiz primária observou-se que as plântulas de Clitoria fairchildiana


Howard. oriundas de sementes semeadas com o hilo para cima (HC) expressou o comprimento máximo (18
cm) na profundidade de 1 cm, enquanto nas posições com o hilo voltado para baixo (HB) e para o lado (HL)
o comprimento máximo (17,1 e 17,2 cm) ocorreu na profundidade de 1,19 e 1,20 cm, respectivamente
(Figura 4). Tais resultados devem-se a um provável gasto fisiológico de energia durante a fase de
emergência, o que prejudicou o desenvolvimento normal das plântulas oriundas de sementes submetidas
às maiores profundidades.

Figura 4. Comprimento de raiz primária de plântulas de Clitoria fairchildiana Howard em


função de posições e profundidades de semeadura.
HB = Hilo para baixo, HC = Hilo para cima, HL = Hilo para o lado

Com relação aos dados do comprimento da parte aérea (Figura 5) verifica-se que existe
semelhanças com os dados da massa seca da raiz (Figura 4), havendo a mesma tendência de
comportamento, na qual observou-se que nas sementes com o hilo para baixo (HB) os maiores valores (17
cm) ocorreram nas profundidades de 1, 2 e 3 cm. Da mesma forma, o maior comprimento da parte aérea
(16,4 cm) das plântulas oriundas de sementes com o hilo para o lado (HL) foi obtido nas duas
profundidades iniciais de 1 e 2 cm. Na profundidade de 1 cm obteve-se o comprimento máximo de (16 cm)
das plântulas oriundas de sementes com hilo para cima (HC).

Figura 5. Comprimento da parte aérea de plântulas de Clitoria fairchildiana Howard


em
função de posições e profundidades de semeadura.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


592

HB = Hilo para baixo, HC = Hilo para cima, HL = Hilo para o lado.

O maior conteúdo de massa seca das raízes das plântulas de Clitoria fairchildiana Howard (0,064 g)
quando semeadas com o hilo para cima (HC) foi obtido na profundidade de 1 cm. Nas posições com hilo
para cima (HB) e para o lado (HL) constatou-se elevado conteúdo de massa seca das raízes (0,060 g) em
todas as profundidades, exceto de 6 cm, na qual aconteceu um pequeno decréscimo, mas não havendo
diferenças significativas nas profundidades (Figura 6).
Para Citrus limonia Osbeck, as posições de semeadura (semente deitada, com ápice para cima e
ápice para baixo) não influenciaram a massa seca das raízes e parte aérea, uma vez que não houve
diferenças significativas entre os tratamentos utilizados (ROBLES et al., 2000). Enquanto em Inga ingoides
(Rich.) Willd., a massa seca das raízes de plântulas oriundas de sementes semeadas com o hilo para o lado e
para baixo reduziu significativamente à medida que foi aumentando a profundidade da semeadura, mas
quando a semeadura foi com o hilo para cima não houve influência das profundidades de semeadura sobre
a massa seca das raízes das plântulas (LAIME et al., 2010).

Figura 6. Massa seca do sistema radicular de plântulas de Clitoria fairchildiana Howard em


função de posições e profundidades de semeadura.
HB = Hilo para baixo, HC = Hilo para cima, HL = Hilo para o lado.

De acordo com os dados de massa seca da parte aérea das plântulas de Clitoria fairchildiana
constatou-se que as sementes cujo hilo ficou direcionado para baixo (HB), originando plântulas com maior
conteúdo de massa seca da parte aérea (0,220 g) na profundidade inicial de 1 cm. Para as sementes com
hilo para o lado (HL) as plântulas originadas expressaram maior conteúdo de massa seca da parte aérea
(0,210 g) na profundidade 1,4cm, enquanto que nas plântulas originadas de sementes com hilo para cima
(HC) o maior conteúdo de massa seca da parte aérea (0,200 g) ocorreu na profundidade de 1,9 cm. De um
modo geral, houve uma tendência decrescente do conteúdo de massa seca da parte aérea de plântulas de
sombreiro, para todas as profundidades analisadas.

João Pessoa, outubro de 2011


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Figura 7. Massa seca da parte aérea de plântulas de Clitoria fairchildiana Howard em função
de posições e profundidade de semeadura.
HB = Hilo para baixo, HC = Hilo para cima, HL = Hilo para o lado.

Conclusões
A profundidade de semeadura recomendada para Clitoria fairchildiana é de até 2 cm,
independentemente da posição da semente;
As profundidades de 5 e 6 cm não são recomendadas para a semeadura das sementes de Clitoria
fairchildiana.

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MANEJO HÍDRICO DA MAMONEIRA BRS ENERGIA EM DIFERENTES


LÂMINAS.
Whéllyson Pereira ARAÚJO
Mestrando em Engenharia Agrícola, UFCG, Av. Aprígio Veloso, 882 – Bodocongó, CEP 58109-970, Campina Grande – PB. E-
mail: wpacordao@hotmail.com
José Rodrigues PEREIRA
Orientador/Pesquisador da Embrapa Algodão, E-mail: rodrigue@cnpa.embrapa.br
Paulo Frassinete PINTO SOBRINHO
Mestrando em Engenharia Agrícola, UFCG, E-mail: palukapinto@hotmail.com

RESUMO
A mamoneira é uma oleaginosa cultivada em regime de sequeiro em quase todos os municípios do
Sertão Baiano, sendo também uma oleaginosa altamente responsiva a irrigação. Para produzir
satisfatoriamente exige cerca de 600 a 700 mm de chuva para uma produção de 1500 kg.ha -1. Neste
contexto conduziu-se experimento no Campo Experimental da Embrapa Algodão de Barbalha, CE, no
período de 01 de agosto a 07 de dezembro de 2008. Adotou-se delineamento de blocos casualizados com
quatro repetições. Os tratamentos se constituíram de quatro níveis de Evapotranspiração de Referência –
ET0, determinada localmente, calculada através da equação de Penman-Monteith/FAO, correspondentes a
lâminas de irrigação de 607, 678, 750 e 821 mm aplicadas por todo o ciclo. Para o ensaio utilizou-se a
cultivar BRS Energia e, aos 37, 42, 65 e 77 dias após a germinação (DAG) foram feitas avaliações periódicas
(análise de crescimento) da altura de planta, do diâmetro caulinar e da área foliar, sendo que aos 95 DAG,
fez-se a avaliação final (altura de planta, diâmetro caulinar, número de cachos/planta e produtividade).
Concluiu-se que: o crescimento em altura de planta, diâmetro caulinar e área foliar da mamoneira BRS
Energia foram mais expressivos nas condições de fornecimento hídrico proporcionadas pela lamina de 678
mm (75% da ET0); o diâmetro caulinar final não foi, mas a altura de planta, o número de cachos/planta e a
produtividade no final do ciclo da mamoneira BRS Energia foram afetados pelas diferentes lâminas de água
aplicadas, sendo a lâmina de 678 mm de água também a mais satisfatória para desenvolvimento da
mamoneira BRS Energia nas condições edafoclimáticas locais do estudo.
Palavras-chave – Rícinus communis L., necessidades hídricas, crescimento, desenvolvimento.

WATER MANAGEMENT OF CASTOR BEAN BRS ENERGIA IN DIFFERENT DEPTHS.


ABSTRACT
Castor bean is an oilseed crop grown in rainfed conditions in almost all counties of Bahia State,
Brazil, and also a crop highly responsive to irrigation. To produce satisfactorily requires approximately 600
to 700 mm of water depth for a production of 1500 kg.ha-1. In this context it was conducted, in the
Embrapa Cotton Experimental Station of Barbalha, CE, an experiment from August 1 to December 7, 2008.
It was adopted a randomized block design with four replications. The treatments consisted of four levels of
Reference Evapotranspiration - ET0, locally determined, calculated by Penman-Monteith/FAO equation,
corresponding to water depths of 607, 678, 750 and 821 mm applied over the whole cycle. For testing it
was used the BRS Energia cultivar, at 37, 42, 65 and 77 days after germination (DAG), periodic assessments
were (growth analysis) of plant height, stem diameter and leaf area, and that at 95 DAG, it was the final
assessment (plant height, stem diameter, number of racemes / plant and yield). It was concluded that: the
growth in plant height, stem diameter and leaf area of the castor bean cultivar BRS Energia were sharper in
terms of water supply provided by the irrigation level of 678 mm (75% of ET0); the final stem diameter was
not, but the final plant height, number of racemes per plant and yield of castor bean cultivar BRS Energia
were affected by the different depths of water applied, being the depth of 678 mm of water also the more
suitable for development of castor bean cultivar BRS Energia on the local conditions of the study.
Keywords - Ricinus communis L., water requirements, growth, development.

Introdução

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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A mamona (Ricinus communis L.) é uma oleaginosa de relevante importância econômica e social, de
cujas sementes extraem-se o óleo, principal produto, e a torta como produto secundário de excelente
propriedade como insumo industrial (SANTOS et al., 2007). Na safra 2009/2010, o Brasil plantou uma área
de mamona equivalente (157,7 mil hectares), mas com produtividade e produção 8,5% superiores (637
kg.ha-1 e 100,6 mil toneladas, respectivamente) à safra 2008/2009, enquanto que no Nordeste houve queda
de área plantada (em 1%), mas aumento da produtividade e em produção (de 10%, sendo de 24% estes
aumentos para o estado da Bahia) na comparação entre as safras mencionadas (CONAB, 2010).
A cultura da mamona reveste-se de grande importância socioeconômica para o semi-árido
brasileiro, por ser de fácil cultivo, apresentar capacidade de produzir satisfatoriamente sob condições de
baixa precipitação pluvial, e poder gerar ocupação e renda no meio rural para pequenos produtores. A
destacada resistência à seca, característica que tornou a mamoneira uma importante alternativa para
cultivo na região semi-árida do Brasil, contrasta com sua extrema sensibilidade à saturação hídrica do solo,
condição que prejudica sensivelmente seu cultivo e tem reflexos sobre a produtividade da lavoura (DIAS et
al., 2006).
Em regiões que apresentam totais de precipitação inferiores a 500 mm no período chuvoso, a
mamoneira perde grande parte da sua produção econômica, acentuando-se os riscos de perda total de
safras e/ou a obtenção de rendimento muito baixo (BARROS JÚNIOR et al., 2008).
Objetivou-se, neste trabalho, avaliar os efeitos de quatro lâminas de irrigação, determinadas
localmente com base na evapotranspiração de referência calculada pela equação de Penman-
Monteith/FAO, sobre o crescimento em altura, diâmetro caulinar e área foliar e, sobre o desenvolvimento
final em altura, diâmetro, número de cachos e produtividade da mamoneira precoce BRS Energia nas
condições edafoclimáticas de Barbalha, CE.

Metodologia
O experimento foi realizado na Embrapa Algodão, Barbalha, CE, localizada nas coordenadas
geográficas de 7°19' S, 39°18' O e altitude de 409 m (RAMOS et al., 2009), no período de 01 de agosto a 07
de dezembro de 2008. O solo da área experimental é um Neossolo Flúvico e sua caracterização química,
conforme Boletim No. 121/06 do Laboratório de Solos da Embrapa Algodão foi a seguinte: pH de 7,4; 121,7,
74,1, 5,4, 10,8 e 0,0 mmolc dm-3 de cálcio, magnésio, sódio, potássio e alumínio, respectivamente; 17,4 mg
dm-3 de fósforo e 18,3 g kg-1 de matéria orgânica.
O preparo do solo constou de uma aração e três gradagens, tratorizadas. A adubação, conforme
recomendações advindas nos resultados da análise de solo, foi aplicada na seguinte fórmula 55-55-40,
sendo o nitrogênio parcelado em duas vezes (10 % da dose na fundação, 90 % após desbaste definitivo), o
fósforo e o potássio foram aplicados de uma só vez, por ocasião do plantio. Não apareceram pragas ou
doenças. Para controle de plantas daninhas, foram feitas três capinas manuais à enxada.
O delineamento experimental foi o de blocos casualizados, sendo os tratamentos (1. 50 % da
evapotranspiração de referência _ ET0; 2. 75 % da ET0; 3. 100 % da ET0; 4. 125 % da ET0), distribuídos em
quatro repetições, totalizando laminas de 607, 678, 750 e 821 mm de água aplicada por tratamento
estudado em todo o ciclo, respectivamente. A diferenciação dos tratamentos ocorreu somente no período
crítico de necessidade hídrica da mamoneira, aproximadamente dos 65 a 85 DAG. A área total da parcela
media 12 x 20 m (240 m2), com área útil de 40 m2 (4 x 10 m). A cultivar precoce BRS Energia de mamona foi
plantada no espaçamento de 1,20 m entre fileiras, deixando-se cinco plantas por metro de fileira após o
desbaste definitivo. Os tratamentos de irrigação (T1 a T4), localizados entre 2 linhas laterais operadas
simultaneamente, foram separados lateralmente entre si por bordaduras da própria cultura com 12 m de
largura, enquanto que as repetições foram dispostas no sentido transversal ao comprimento das parcelas e
das linhas laterais, em virtude de normalmente haver perdas de carga e pressão e de vazão descendentes
desde o início para o final da linha lateral (linha de aspersores) de irrigação.
Utilizou-se irrigação por aspersão convencional, com linhas de aspersores (bocal de 5,00 x 4,60 mm;
diâmetro molhado de 28 m; pressão de 24,3 mca; precipitação de 15,27 mm/h; eficiência do sistema de
80%) espaçadas 12 m uma da outra, sendo irrigadas duas linhas por vez, estando dentro de cada linha os
aspersores espaçados entre si também por 12 m. Imediatamente antes do plantio foi efetuada uma
irrigação em toda a área de modo a levar o solo à capacidade de campo, e após o plantio, a cada quatro
dias uma irrigação com pequena lâmina, de modo a assegurar a boa germinação das sementes. A partir do

João Pessoa, outubro de 2011


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estabelecimento da cultura, as irrigações foram efetuadas uma vez por semana. A quantidade de reposição
de água (mm) para cada tratamento e evento de irrigação foi determinada de acordo com a
evapotranspiração de referência (ET0) calculada pelo método de Penman-Monteith/FAO (ALLEN et al.,
2006).
Os dados climáticos para uso no cálculo da ET0 foram obtidos, diariamente e de hora em
hora, via internet (www.inmet.gov.br), diretamente da Estação Meteorológica Automática do Instituto
Nacional de Meteorologia - INMET de Barbalha, CE, localizada a 500 metros da área experimental.
Utilizou-se os seguintes coeficientes de cultivo: 0,47 (DOOREMBOS e PRUITT, 1977) para a
fase fenológica I (Estabelecimento - 0 a 45 dias após a germinação – DAG); e, 1,15; 0,55 e 0,30
(ALBUQUERQUE et al., 2001/2002), respectivamente para as fases II, III e IV (Crescimento – 41 a 80 DAG,
Floração – 81 a 100 DAG e Maturação – após 100 DAG) do ciclo da mamoneira.
Foram avaliadas periodicamente (análise de crescimento não destrutiva) aos 37, 42, 65 e 77 DAG, a
altura de planta, o diâmetro caulinar e a área foliar, e aos 95 DAG (avaliação do desenvolvimento), a altura
de planta, o diâmetro caulinar, o número de cachos/planta e a produtividade da mamoneira precoce BRS
Energia, em cinco plantas por parcela. A área foliar foi determinada com base na equação S= 0,1515 x (C +
L)2 (SEVERINO et al., 2005), onde S representa a área foliar (cm2.planta-1), C o comprimento longitudinal da
folha (cm) e L o comprimento em largura da folha (cm).
Os resultados foram submetidos a análise de variância e a métodos numéricos, através do software
TableCurve 2D (JANDEL SCIENTIFIC, 1989) para ajuste dos dados primários a funções não lineares de
crescimento e a modelos polinomiais de regressão (CALBO et al., 1989).
Resultados e discussão
Análise de crescimento não destrutiva
Quanto aos valores dos quadrados médios (teste F), todas as variáveis computadas nas plantas da
mamoneira BRS Energia apresentaram valores significativos a 1% de probabilidade para as épocas de
avaliação do crescimento. Por outro lado, não houve diferenciação estatística para as lâminas de irrigação
testadas, nem para interação lâminas x épocas (Tabela 1).

Tabela 1. Resumo da análise de variância do crescimento em altura, em diametro caulinar e em


area foliar das plantas da mamoneira BRS Energia submetidas a diferentes lâminas de irrigação. Barbalha,
CE, 2008.
FV GL Altura (cm) Diâmetro (mm) Área foliar (cm2)
Blocos 3 110,18ns 4,78ns 14240327,03ns
Lâminas (L) 3 192,43ns 5,91ns 11842395,94ns
Resíduo(a) 9 627,53 23,82 24763983,67
Épocas (E) 3 10923,68** 263,17** 153988189,9**
Resíduo(b) 9 383,83 14,54 18629468,35ns
LxE 9 182,80ns 30,98ns 22797238,59ns
Resíduo(c) 27 255,42 14,49 109232333,97
CV% - 48,22 41,05 126,61
CV% - 37,71 32,08 109,81
CV% - 30,76 32,01 84,09
** Significativo a 1% e * Significativo a 5% de probabilidade (teste F); ns Não significativo (teste F).
Na variável altura de plantas, conforme modelo logístico, a partir de 53 DAG a lâmina de 678 mm,
apresentou os maiores valores (Figura 1). Para diâmetro, também conforme modelo logístico, até os 65
DAG as lâminas de 750 e 821 mm, proporcionaram maiores valores médios, mas a partir daí, quando os
tratamentos foram diferenciados, a lâmina de 678 mm superou todas as demais lâminas estudadas (Figura
2). Utilizando modelo polinomial de regressão, mais adequado para a variável área foliar, a lâmina 678 mm,
proporcionou os maiores valores a partir de 53 DAG (Figura 3).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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100
607
90
678
80
750
Altura (cm)

70 821
60
50
40
30
20
37 42 65 77
Épocas (Dias)
Y(607, mm)= 82,26/(1+EXP(-(x-47, 83)/11,72)) Y(678, mm)= 162,03/(1+EXP(-(x-69, 62)/19,76))
R2=0,97 R2=0,99
Y(750, mm)= 101,31/(1+EXP(-(x-53, 31)/16,49)) Y(821, mm)= 90,28/(1+EXP(-(x-48, 60)/48,60))
R2=0,82 R2=0,89
Figura 1. Curvas, equações e coeficientes de determinação, ajustados pelo modelo logístico, da
altura média de plantas da mamoneira BRS Energia submetidas a diferentes lâminas de irrigação. Barbalha,
CE, 2008.

18.50
607
16.50 678
750
Diâmetro (mm)

14.50
821
12.50

10.50

8.50

6.50
37 42 65 77
Épocas (Dias)
Y(607, mm)= 16,84/(1+EXP(-(x-40,02)/16,76)) Y(678, mm)= 439,83/(1+EXP(-(x-205,61)/40,95))
R2=0,99 R2=0,67
Y(750, mm)= 23,04/(1+EXP(-(x-51, 98)/24,45)) Y(821, mm)=17,80/(1+EXP(-(x-40, 11)/16,50))
R2=0,72 R2=0,67

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Figura 2. Curvas, equações e coeficientes de determinação, ajustados pelo modelo logístico, do


diâmetro caulinar médio de plantas da mamoneira BRS Energia submetidas a diferentes lâminas de
irrigação. Barbalha, CE, 2008.

8600 607
7600 678
Área foliar (cm2)

6600 750
5600 821
4600
3600
2600
1600
600
37 42 65 77
Épocas (Dias)
Y607= -58,90*x + 2,12*x2 Y678= -74,58*x + 2,46*x2
R2= 0,73 R2= 0,70
y750= -30,89*x + 1,61*x2 Y821= -25,97*x + 1,58*x2
R2=0,58 R2=0,61
Figura 3. Curvas, equações e coeficientes de determinação, ajustados pelo modelo polinomial, da
área foliar média de plantas da mamoneira BRS Energia submetidas a diferentes lâminas de irrigação.
Barbalha, CE, 2008.

Siqueira e Silva et al. (2009), estudando lâminas de 294,22; 382,50; 479,75 e 679,75 mm sobre a
BRS Energia, em Barbalha, CE, contrariamente, observaram para as variáveis altura e diâmetro caulinar que
a lâmina de 479,75 mm apresentou os maiores valores em todas as épocas, enquanto que a área foliar
passou a decrescer a partir dos 50 DAG, sendo que a partir dos 62 DAG a lâmina 679,75 superou as demais.
Também, Pinto et al. (2008) estudando, em casa de vegetação o crescimento da parte aérea do amendoim,
gergelim e mamona, sob irrigação diária e ciclos de deficiência hídrica, verificaram que o número de folhas
e a área foliar foram reduzidos nas três espécies em resposta ao déficit hídrico.
Resumindo, a lâmina de 678 mm, correspondente a 75% da ET0, foi a mais satisfatória para o
crescimento em altura, diâmetro e área foliar da cultivar BRS Energia nas condições edafoclimáticas do
estudo, possivelmente por suprir adequadamente, sem provocar déficits nem excessos, as necessidades
hídricas em todo o ciclo de crescimento da cultivar de mamoneira estudada, pois, segundo Taiz e Zeiger
(2004), o fornecimento normal de água às plantas favorece a assimilação do CO2, a abertura dos estômatos,
as atividades fisiológicas, principalmente a divisão e o crescimento celular.
Desenvolvimento final:
Quanto aos valores dos quadrados médios (teste F), somente altura de planta e produtividade
apresentaram valores estatisticamente significativos para as lâminas estudadas (Tabela 2), mas a regressão
polinomial aplicada aos dados foi significativa para as variáveis altura, número de cachos e produtividade
da mamoneira BRS Energia (Tabela 3, Figuras 4 a 6).
Tabela 2. Resumo da análise de variância da altura, do diametro caulinar, do número de cachos e
da produtividade das plantas de mamoneira BRS Energia cultivadas em diferentes lâminas de irrigação,
Barbalha, CE, 2008.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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F. V. G. L. Altura Diâmetro No. cachos Produtividade (kg/ha)


(cm) (mm) / planta
Blocos 3 283,42 ns 998,53 1,07ns 15,93ns
Lâminas 3 2152,08** 1043,56 1,13ns 363420,7**
Resíduo 9 227,92 1072,59 0,56 16,57
CV(%) - 15,83 129,22 32,10 0,66
**
Significativo a 1% e * Significativo a 5% de probabilidade (teste F); ns Não significativo (teste F).
Tabela 3. Resumo da análise de regressão polinomial para a altura, o diametro caulinar, o número
de cachos e aa produtividade das plantas de mamoneira BRS Energia cultivadas em diferentes lâminas de
irrigação, Barbalha, CE, 2008.
F. V. G.L. Altura Diâmetro No. cachos Produtividade
(cm) (mm) / planta (kg/ha)
Linear 1 1308,61* 2208,51ns 0,03ns 661299,11**
Quadrática 1 1296,00* 877,64ns 0,00ns 234783,86**
Cúbica 1 3851,64** 44,52ns 3,36** 194179,14**
Desvios 0 0,00** 0,00** 0,00** 0,00**
**
Significativo a 1% e * Significativo a 5% de probabilidade (teste F); ns Não significativo (teste F).

Figura 4. Regressão da altura média das plantas de mamoneira BRS Energia em diferentes lâminas
de irrigação (P< 0,01). Barbalha, CE, 2008.

João Pessoa, outubro de 2011


601

Figura 5. Regressão do número de cachos por planta das plantas de mamoneira BRS Energia em
diferentes lâminas de irrigação (P< 0,05). Barbalha, CE, 2008.

Figura 6. Regressão da produtividade da mamoneira BRS Energia em diferentes lâminas de irrigação


(P< 0,01). Barbalha, CE, 2008.

Para as variáveis altura e número de cachos por planta (Figuras 4 e 5), a lâmina de 678 mm
(correspondente a uma reposição de água no nível de 75% da ET0), proporcionou maiores valores nas
plantas de mamona BRS Energia, enquanto que a produtividade (Figura 6) foi inversamente proporcional as
lâminas de água aplicadas, com rendimento médio de 960 e 734 kg.ha-1 de grãos nas lâminas de 607 e 678
mm, que ultrapassam e se aproximam, respectivamente, da produtividade média nacional (637 kg.ha-1),
segundo CONAB (2010). No entanto, essa produção é considerada baixa, posicionando-se na metade do
esperado para cultivar BRS Energia em condições de sequeiro, ou seja, de 1.800 kg.ha-1 (EMBRAPA, 2007).
Resumindo, houve tendência, principalmente relacionada à variável altura de plantas e
produtividade, de os maiores níveis de água aplicada, notadamente as lâminas de 750 e 821 mm,
reduzirem os valores médios dessas variáveis. Isso resulta de que, nas condições edafoclimáticas estudadas,
a partir de 678 mm os quantitativos de água aplicados foram excessivos para desenvolvimento da
mamoneira BRS Energia. Segundo Pires et al. (2002) o excesso de água tem, como principal conseqüência, a
diminuição da concentração do oxigênio, o que dificulta a respiração radicular, parada do processo ativo de
absorção de nutrientes e a ocorrência de respiração anaeróbica pelas plantas e microorganismos do solo.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


602

Segundo Embrapa (2007) a mamoneira BRS Energia nos menores espaçamentos produz em média
dois a três cachos, enquanto nos maiores chegam a oito cachos por planta. Contrastando os valores de
produção observados nesse trabalho, Dias et al. (2008), estudando lâminas de 403,19; 512,74; 562,36;
627,59 e 679,94 mm constataram que a melhor lâmina foi a de 679,94 mm de água que proporcionou uma
produção de 3.361,00 kg.ha-1 para cultivar BRS Energia.

Conclusões
O crescimento em altura de planta, diâmetro caulinar e área foliar da mamoneira BRS Energia
foram mais expressivos nas condições de fornecimento hídrico proporcionadas pela lamina de 678 mm
(75% da ET0); O diâmetro caulinar final não foi, mas a altura de planta, o número de cachos/planta e a
produtividade no final do ciclo da mamoneira BRS Energia foram afetados pelas diferentes lâminas de água
aplicadas, sendo a lâmina de 678 mm de água também a mais satisfatória para desenvolvimento da
mamoneira BRS Energia nas condições edafoclimáticas locais do estudo.

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João Pessoa, outubro de 2011


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SIQUEIRA e SILVA, S. M.; GHEYI, H. R.; SANTOS, J. W.; SOARES, F. A. L. Dotações hídricas em
densidades de plantas na cultura da mamoneira cv. BRS Energia. Revista Brasileira de Ciências Agrárias,
Recife, v.4, n.3, p.338-348, 2009.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia Vegetal. Trad. Eliane Romano Santarém... [et al.] – 3.ed. – Porto
Alegre: Artmed, 2004. 719p.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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COMÉRCIO ILEGAL DE ANIMAIS SILVESTRES: UM LEVANTAMENTO DA


PROBLEMÁTICA NO MUNICÍPIO DE MOSSORÓ – RN
Zildenice Matias Guedes MAIA
Mestranda em Meio Ambiente, Tecnologia e Sociedade pela UFERSA
zildenice@hotmail.com
Maria Clara Torquato SALLES
Mestranda em Ciências Naturais pela UERN
mariaclaratorquato@hotmail.com
Emanoella Delfino Figueirêdo REINALDO
Pós-graduanda em Educação Ambiental e Geografia do Semiárido pelo IFRN
emanoelladelfino@hotmail.com

RESUMO
O Brasil é mundialmente conhecido por sua grande riqueza faunística, e é também um dos países
que mais sofre com o comércio ilegal de animais silvestres. Apesar de contar com uma legislação ambiental
considerada como das mais bem elaboradas do mundo, muitos crimes ambientais ainda continuam
ocorrendo. Inúmeros animais são extraídos sem levar em consideração a sua capacidade de reposição
natural, provocando dessa forma prejuízos e impactos ambientais de proporções incalculáveis, que vai
desde a extinção de espécies ao desequilíbrio ecológico. Para concretização dessa pesquisa foi realizada
visitas e observações nos possíveis locais de comercialização dos animais, denominados feiras itinerantes,
e, visita a sede do IBAMA do município, além de entrevista semi-estruturada com o objetivo de destacar as
características da comercialização de aves silvestres nas feiras livres do Município de Mossoró – RN.
Verificou-se que as principais aves silvestres comercializadas são cabeça vermelha, azulão, graúna, canário
de carnaúba e concriz. Algumas aves já se encontram extintas e outras ameaçadas de extinção. Para
realizar a captura dessas aves são utilizadas armadilhas. Para transportá-las e realizar a posterior venda faz-
se o uso de transportes diversos. Apesar do município de Mossoró dispor de uma equipe de Policiamento
Ambiental e a prática predatória do tráfico de aves no Município virem diminuindo com a atuação da
polícia, é inegável que a atividade comercial de aves ainda existe na cidade, mesmo em pequena
proporção. É importante ressaltar que muitos comerciantes e compradores não têm conhecimento sobre a
importância ecológica dessas espécie. Por isso é imprescindível a disseminação dos meios legais de se
realizar a venda e compra de aves silvestres, sendo necessário ainda que o órgão ambiental municipal
desenvolva a conscientização ambiental através da educação ambiental e intensifiquem cada vez mais a
fiscalização ambiental da comercialização das aves silvestres.
Palavras Chaves: Crime Ambiental. Aves. Comércio.

INTRODUÇÃO
O atual quadro do meio ambiente é de crise ambiental, onde tem sido intensificado o uso
insustentável dos recursos disponíveis na natureza, contribuindo para o aumento da sua degradação. Essa
mesma situação ocorre com os animais. Os mesmos desde a era colonial vêm sofrendo com os maus tratos
da comercialização e/ou tráfico ilegal.
O Brasil por ser dono de uma grande riqueza faunística é um dos países que mais sofre com esse
comércio. Apesar de ser um país que em seu bojo institucional conta uma legislação ambiental conhecida
como das mais bem elaboradas do mundo, muitos crimes ambientais continuam ocorrendo.
Conforme os dados extraídos do 1º Relatório Nacional sobre o Tráfico de Fauna Silvestre na Rede
Nacional Contra o Tráfico de Animais Silvestres - RENCTAS (2001) embora exista todo um amparo legislativo
e restrições, o comércio ilegal de fauna silvestre, vêm aumentando continuamente possuindo variadas e
novas técnicas de contrabando. Atualmente, essa atividade ilegal vem crescendo, se especializando e se
tornando um dos principais problemas ambientais e econômicos a ser resolvido no Brasil e no mundo. E
tudo isso em virtude do lucro obtido que é gigantesco.
Em virtude da grande diversidade da biodiversidade brasileira, a sociedade acreditava que os
recursos florestais eram ilimitados. Com isso, iniciou-se a exploração descontrolada. Com os animais essa

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realidade não foi e não é diferente, embora sua exploração comercial seja uma atividade ilegal ainda é
muito fácil encontrar animais da fauna silvestre sendo traficados.
É importante destacar que as inúmeras espécies são extraídas sem levar em consideração a sua
capacidade de reposição natural, provocando dessa forma prejuízos e impactos ambientais de proporções
incalculáveis que vai desde a extinção de espécies ao desequilíbrio ecológico. Como a atividade da
comercialização de animais é uma prática ilegal não se sabe ao certo o número exato de espécies
traficadas.
Das espécies de animais Ribeiro e Silva (2007) afirmam que as aves em função da beleza de suas
cores e canto, sempre despertaram um interesse maior dos homens, sendo criadas como animais de
estimação pelas populações indígenas, mesmo antes da colonização. Estudos realizados sobre o tráfico de
animais silvestres em todo o país revelaram que as aves representam o grupo mais comercializado de todos
os animais. Nessa perspectiva esse trabalho tem como objetivo principal destacar as características da
comercialização de aves silvestres nas feiras livres do Município de Mossoró – RN.

CONTEXTUALIZAÇÃO DO TRÁFICO DE ANIMAIS SILVESTRES


O Brasil é um país de grande biodiversidade reunindo ao menos 70% das espécies vegetais e
animais do planeta. A sua biodiversidade pode ser qualificada pela diversidade em ecossistemas, em
espécies biológicas, em endemismos e em patrimônio genético onde, a biota terrestre possui a flora mais
rica do mundo, com até 56.000 espécies de plantas superiores, já descritas acima de 3.000 espécies de
peixes de água doce, 517 espécies de anfíbios, 1.677 espécies de aves e 518 espécies de mamíferos,
podendo ter até 10 milhões de insetos (IBAMA, 2011).
Os dados do Ambiente Brasil (2011) corroboram que em virtude da sua grande biodiversidade o
Brasil é um dos principais alvos dos traficantes da fauna silvestre. Esses traficantes movimentam cerca de
US$ 10 a 20 bilhões em todo o mundo, pondo o comércio ilegal de animais silvestres na terceira maior
atividade ilícita do mundo, perdendo apenas para o tráfico de drogas e de armas. O Brasil participa com
15% desse valor, aproximadamente US$ 900 milhões.
Dentre os principais tipos de tráfico estão a coleta de animais para colecionadores particulares e
zoológicos, onde este talvez seja o mais cruel, pois, dar prioridade as espécies mais ameaçadas; animais
para fins científicos, que servem como base para pesquisa e produção de medicamentos; animais para pet
shop, e produtos de fauna, como couro, peles, penas, garras, e etc., que são muito utilizados para fabricar
adornos e artesanatos, cujas espécies envolvidas variam de acordo com os costumes e a moda (RENCTAS,
2001).
De acordo com a Portaria/IBAMA nº 118, de 15 de outubro de 1997:

Art. 3° - Considera-se fauna silvestre brasileira todos aqueles animais pertencentes às


espécies nativas, migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, reproduzidos ou não em
cativeiro, que tenham seu ciclo biológico ou parte dele ocorrendo naturalmente dentro dos limites
do Território Brasileiro e suas águas jurisdicionais.

Conforme prevê a Lei Federal nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que dispõe sobre as sanções
penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, considera-se crime
ambiental, matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota
migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente. Podendo o infrator
obter uma pena de detenção de seis meses a um ano, e multa.
Através das referidas ações legais citadas logo acima, pode-se perceber que a caça comercial e/ou
tráfico de animais são práticas claramente proibidas pela lei brasileira. Adicionalmente Schneider (2010)
afirma que a caça de subsistência é uma realidade associada às precárias condições de vida, não havendo
possibilidades de impedi-la perante a lei, no entanto há atos de caça admitidos, sempre a critério do órgão
ambiental federal, que são eles a coleta com fins científicos, caça amadorista e até mesmo comercial.
Viana e Araújo (2010) relatam que a criação amadora de pássaros silvestres com origem legal é
regulada atualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis -
IBAMA, mediante normas infra-legais que não estabelecem cotas, mas sim procedimentos de registro e

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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aquisição. A comercialização de alguns animais silvestres com procedência legal é até estimulada pela
autarquia.
Conforme os dados expressos na organização não-governamental brasileira WWF-Brasil (2011) as
principais rotas do tráfico de animais no Brasil estão nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Mas, a
principal rota de transporte desses animais está no sentido da região Nordeste para a Sudeste. Nessas
áreas há verdadeiras redes organizadas para ludibriar a fiscalização existente nas principais rodovias do
país. Essas redes agem de forma que os animais sejam transportados por até 3.000 quilômetros de
distância sem que os traficantes sejam descobertos. No que se refere a realidade nacional a maior parte do
público consumidor está nos estados Rio de Janeiro e São Paulo.
Ainda de acordo com a referida organização não-governamental os meios de transporte mais
usados pelos traficantes são caminhões, ônibus interestaduais e carros particulares. Os animais são
transportados nas piores condições possíveis. São escondidos em fundos de malas ou caixotes, sem
ventilação, e ficam vários dias sem comer e sem beber. O que significa que de cada 10 animais capturados,
nove morrem no caminho e um chega às mãos dos compradores.
O Tráfico ilegal e a captura de animais silvestres resultam em uma infinidade de impactos
ambientais, dentre eles é oportuno destacar a redução e até mesmo a extinção de algumas espécies em
virtude da caça exagerada e da incapacidade reprodutiva, o desequilíbrio ecológico visto que todo ser vivo
desempenha um papel fundamental para manutenção do equilíbrio da natureza, a perda de suas
habilidades silvestres, a transmissão de doenças para o homem, dentre vários outros efeitos negativos.
Independente de ser legal ou ilegal o comércio de animais silvestres capturados na natureza
sempre foi uma atividade nociva para a fauna. O processo de comercialização, técnicas de captura,
transporte e manejo, de uma maneira geral, são os mesmos desde o início até hoje, com agravantes por ser
atualmente uma atividade ilegal. Os animais sempre foram tratados de uma maneira desrespeitosa, vistos
apenas como simples mercadorias, utilizados como fonte de renda (RENCTAS, 2001, p. 14).
Desse modo é de suma importância a atuação mais incisiva dos órgãos ambientais fiscalizadores no
combate ao tráfico de animais silvestres, no sentido de garantir a conservação, sobrevivência e
perpetuação das populações de espécies animas bem como, a conseqüente qualidade ambiental, sendo
fundamental ainda conscientizar a população dos prejuízos que essa prática provoca e a necessidade de
buscar sempre legalizar criadouros com fim científico, e até mesmo comercial junto ao IBAMA.

METODOLOGIA
Foi realizado um Estudo de Caso que segundo os regulamentos de Yin (2001) esta estratégia de
pesquisa se justifica em situações onde se pretende estudar um fenômeno contemporâneo, no caso a
comercialização de aves silvestres nas feiras livres do Município de Mossoró – RN, que, encontra-se dentro
de um contexto real e investigável.
Esta pesquisa é classificada ainda como exploratória por proporcionar maior familiaridade com o
problema. Por isso, envolve levantamento bibliográfico e entrevista semi-estruturada com pessoas que
tiveram experiências práticas com o problema pesquisado (GIL, 2006).
A entrevista semi-estruturada foi elaborada com o objetivo de destacar as características da
comercialização de aves silvestres nas feiras livres do Município de Mossoró – RN. Para coletar
informações, foi realizado ainda, visitas e observações nos possíveis locais de comercialização dos animais,
denominados como feiras itinerantes, como também, visita na sede do IBAMA do município. Por fim os
dados coletados foram analisados e sistematizados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Através da metodologia utilizada para realização desta pesquisa pode-se verificar que as aves
silvestres mais comercializadas no município são: cabeça vermelha - (Pitangus sulphuratus), azulão -
(Cyanoloxia brissonii), graúna - (Gnorimopsar chopi), canário de carnaúba - (Serinus canária) e concriz - (I. i.
jamacaii). Algumas espécies de aves no município já se encontram ameaçadas de extinção como a
jaguatirica - (Leopardus pardalis ou Felis pardalis), asa-branca - (Dendrocygna autumnalis) e jurite -
(Leptotila verreauxi), e umas já extintas como a ema - (Rhea americana) e o canário de carnaúba - (Serinus
canaria).

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Na captura dessas aves são utilizadas armadilhas (alçapão). A captura ocorre preferencialmente no
período matutino onde é posto comida ou qualquer outro tipo de espécie de aves para atraí-las e apanhá-
las. E para transportá-las e realizar a posterior venda e ou/comercialização faz-se o uso de transportes
diversos como bicicletas e motos. Por meio destes, as aves são transportadas em gaiolas para as feiras,
onde nestas são comercializados também ração, gaiolas, lanches, CD’s e DVD’s.
As pessoas que comercializam as aves possuem pouco conhecimento sobre elas, sabendo apenas
do seu nome vulgar e as espécies que são mais vendidas. Não sabem informar com relação ao gênero, qual
a melhor alimentação, e nem tampouco a sua importância ambiental.
Com base nas entrevistas verificou-se ainda que as feiras na cidade são itinerantes e o local
preferido para realizá-las são em periferias, local próximo a mata e próximo ao rio Apodi/Mossoró que
corta a cidade. Os vendedores mudam sempre os seus pontos de venda para evitar a fiscalização. A mesma
já percorreu os seguintes locais: no bairro centro mais precisamente nas imediações da COBAL (Central de
Abastecimento de Mossoró), praça em frente ao colégio Estadual Jerônimo Rosado, praça da pirâmide no
bairro belo horizonte onde ocorreu uma grande apreensão no ano de 2008 com até 32 detentos. A Figura
01 apresenta um ponto de comercialização de aves no bairro belo horizonte do município de Mossoró.

FIGURA - 01: Comercialização de Aves, Mossoró – RN, 2010.


Fonte: Maria Clara Torquato Salles.

A captura de aves silvestres encontra-se relacionada a questões culturais e de vício, bem como para
fins de criação e ornamentação, não sendo uma atividade lucrativa para esses indivíduos comerciantes.
De acordo com os relatos do Chefe do Escritório Regional – ESREG localizado na Sede do IBAMA do
município, a feira está reduzindo cada vez mais, em virtude da atuação da Polícia Ambiental do município.
A mesma é responsável por fiscalizar e apreender as aves que são comercializadas nestas feiras e atua na
cidade com objetivo principal de coibir os crimes ambientais.
Para alcançar esse objetivo a Policia Ambiental da cidade de Mossoró procura investigar qual o
local que irá ocorrer a feira, para chegar antes, e realizar as apreensões. O trabalho de investigação é
realizado em conjunto com a Polícia Rodoviária Federal e com a Policia Militar. Em função dessas ações o
comércio de aves é realizado agora atendendo através de encomenda.
De acordo com os dados fornecidos pelo ESREG no ano de 2010 foram apreendidos 389 animais
silvestres. O escritório ainda não dispõe de dados quantitativos do ano de 2011.
O resultado da fiscalização ambiental no município de Mossoró conforme as informações
disponibilizadas pelo ESREG geraram a entrega voluntária de animais silvestres mantidos em cativeiros, o
que conforme está prescrito no §5°, do Art. 24, do Decreto n° 6.514/2008, que isenta o cidadão de multa,
quando ele espontaneamente procura o órgão ambiental para entregar o animal que estava em seu poder,
com o reconhecimento da sua culpa e o intuito de corrigir o seu erro. Com isso os dados do ESREG afirmam

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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ainda que a sociedade despertou para esta preposição e se rendeu aos ditames da lei e severidade da sua
aplicação, e passou a fazer a entrega voluntária dos seus animais, para se livrar das multas.
É importante destacar que as pessoas ao fazerem a entrega voluntária de seus animais estavam
preocupadas apenas com as multas, ou seja, com a questão financeira e não com a importância ecológica
que cada espécie animal desempenha em seu habitat. Todavia, é indispensável destacar que grande parte
da população não desperta para a questão ambiental por falta de conhecimento ou até mesmo por
questões culturais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar do município de Mossoró dispor de uma equipe de Policiamento Ambiental e a prática
predatória do tráfico de aves no Município virem diminuindo com a atuação da polícia, não pode-se negar
que a atividade comercial de aves ainda existe na cidade, mesmo em pequena proporção. É importante
ressaltar que muitos comerciantes e compradores não têm conhecimento sobre a importância ecológica
dessas espécies e nem tampouco sobre os prejuízos ambientais que causam ao se capturar em demasia as
espécies de aves nativas da região.
A falta de conhecimento, de consciência e as questões culturais, são as principais causas que
incorrem as pessoas a praticarem crimes ambientais. Muitas vezes ocorre de cidadãos comprarem aves
silvestres e não ter o conhecimento de está cometendo um crime ambiental, bem como estimulando o
tráfico ilegal.
A prática do tráfico de aves tanto no município de Mossoró como em todo Brasil é uma atividade
altamente deletéria ao meio ambiente em particular ao equilíbrio ecológico. Cabendo ao poder público nas
instâncias municipais, estaduais e federais incentivar prática de manejo sustentável de aves, disseminar os
meios legais de se realizar a venda e compra de aves silvestres, estimular a conscientização ambiental
através da educação ambiental e intensificar cada vez mais a fiscalização ambiental da comercialização de
aves.
No caso de Mossoró que é marcada hoje por um pequeno tráfico interno de aves silvestres,
compete a Policia Ambiental não só fiscalizar e apreender aves, mas também, apresentar a população a
importância de se buscar combater com tanta veemência essa atividade nociva, mostrando aos
comerciantes de aves que caso essa atividade predatória continue de forma ilegal as espécies por eles mais
traficadas podem entrar em extinção como já está ocorrendo com algumas espécies e eles terão poucas
diversidades para realizar as suas vendas.
É imprescindível que toda a sociedade tenha consciência da forma correta e legal de se adquirir
uma espécie de animal silvestre bem como da importância da perpetuação de cada uma na natureza. Pois,
dessa forma, a atividade será desenvolvida de modo mais sustentável por pessoas consciente
ambientalmente e assim contribuir para um ambiente mais sustentável e equilibrado. Além de esse alcance
permitir ainda a continuidade da atividade de forma correta, legal e responsável. No entanto se a
fiscalização não atuar de modo a combater o tráfico ilegal e a conscientização ambiental, estaremos
caminhando não só para um desequilíbrio ambiental, mais também para um desequilíbrio econômico e
social.

REFERÊNCIAS
AMBIENTE BRASIL. Portal Ambiental. Tráfico de Animais Silvestres. Disponível em:
<http://ambientes.ambientebrasil.com.br/fauna/trafico_de_animais_silvestres/trafico_de_animais_silvestr
es.html>. Acesso em: Acesso em: 11 jul. 2011
BRASIL. Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas
derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Disponível em:
<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=102488>. Acesso em:
_______. Decreto n° 6.514, de julho de 2008. Dispõe sobre as infrações e sanções administrativas
ao meio ambiente, estabelece o processo administrativo federal para apuração destas infrações, e dá
outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2008/Decreto/D6514.htm>. Acesso em:

João Pessoa, outubro de 2011


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_______. Portaria nº 118, de 15 de outubro de 1997. Dispõe sobre o funcionamento de criadouros


de animais da fauna silvestre brasileira com fins econômicos e industriais. Disponível em:
<http://www.ibama.gov.br/fauna/legislacao/port_118_97.pdf>. Acesso em: 28 fev. 2007
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2006.
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IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Ecossistemas
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RIBEIRO, Leonardo Barros; SILVA, Melissa Gogliath. O comércio ilegal põe em risco a diversidade das
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SCHNEIDER, Maurício. Fauna e recursos pesqueiros na legislação brasileira. In: GANEM, Roseli
Senna (org.). Conservação da biodiversidade: legislação e políticas públicas. Brasília: Câmara dos Deputados
Edições Câmara, 2010.
VIANA, Maurício Boratto; ARAÚJO, Suely Mara Vaz Guimarães de. Conservação da Biodiversidade e
Repartição de Competências Governamentais. In: GANEM, Roseli Senna (org.). Conservação da
biodiversidade: legislação e políticas públicas. Brasília: Câmara dos Deputados Edições Câmara, 2010.
WWF - Brasil. O que é um animal silvestre? Disponível em:
<http://www.wwf.org.br/informacoes/questoes_ambientais/animais_silvestres/>. Acesso em: 11 jul. 2011.
YIN, Robert K. Estudo de Caso: planejamento e método. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


3. Mudanças Climáticas e Sociobiodiversidade
611

IMPACTOS CLIMÁTICOS – A VARIABILIDADE DO BALANÇO HÍDRICO NAS


ÚLTIMAS 04 DÉCADAS – UMA CONTRIBUIÇÃO PARA O
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL PARA A PRODUÇÃO DE GRÃOS EM
GILBUÉS
Alexandre Magno Teodosio de MEDEIROS
Doutorando em Meteorologia / Bacharel em Meteorologia
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) / Programa de Pós-Graduação em Meteorologia
Graduando em Licenciatura Específica em Geografia - Universidade Aberta Vida (UVA/UNAVIDA)
Campina Grande – PB – Email: magnopb@gmail.com
Raimundo Mainar de MEDEIROS
Doutorando em Meteorologia da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
Programa de Pós-Graduação em Meteorologia – Campina Grande – PB
Email: mainarmedeiros@gmail.com
Ricardo da Cunha Correia Lima
Graduação em Engenharia Elétrica – UFCG; MSc. Ciência e Tecnologia Ambiental – UEPB; Tecnologista – INSA – Campina
Grande – PB – Email: rcclima@insa.gov.br

RESUMO
Este trabalho tem como objetivo estudar o quanto os impactos climáticos nos últimos anos
afetaram o comportamento da variabilidade balanço hídrico das últimas quatro décadas: 1962 a 1971;
1972 a 1981: 1982 a 1991 e de 1992 a 2001 no município de Gilbués – Piauí. Foi computado o
comportamento hidroclimatológico do município e de sua demanda hídrica na produção de grãos e da sua
contribuição para o desenvolvimento sustentável nas áreas críticas à desertificação e a seca.
Utilizou-se de dados históricos de precipitação e temperatura média obtidas por retas de
regressões múltiplas. A comparação das décadas estudadas demonstra que a predominância dos índices de
deficiência hídrica ocorre entre os meses de maio a outubro. Os excedentes hídricos ocorrem entre os
meses de novembro a março, exceto para a década de 1962-1971 que apresenta maior variabilidade de
excedentes nos meses de dezembro a fevereiro e na década de 1992-2001 quando o excedente anômalo
ocorreu no mês de fevereiro. Outra exceção foram os valores dos excedentes no mês de abril para as
décadas 1962-1971 e de 1992-2001.
Palavras Chaves: Impactos climáticos, precipitação, temperatura, balanço hídrico.

ABSTRACT
This work aims to study how climate impacts in recent years affected the behavior of water balance
variability of the last four decades: 1962 to 1971, from 1972 to 1981: from 1982 to 1991 and from 1992 to
2001 in the town of Gilbués - Piauí. Computed the behavior of the hydro municipality and its demand for
water in grain production and its contribution to sustainable development in critical areas to desertification
and drought.
We used historical data of precipitation and average temperature obtained by multiple regression
lines. A comparison of the decades studied shows that the prevalence rates of water stress occurs between
the months from May to October. The surplus water occurring between the months November to March,
except for the decade 1962-1971 that have higher variability over the months from December to February
and in the decade of 1992-2001 anomalous excess occurred in the month of February. Another exception
was the values of the surplus in the month of April for the decades 1962-1971 and 1992-2001.
Keywords: climate impacts, precipitation, temperature, water balance.

INTRODUÇÃO
Os impactos climáticos ocorridos nos últimos 50 anos na estrutura agrária do território
brasileiro, provavelmente, trouxeram impactos ambientais que certamente promoveram mudanças de
comportamento da camada inferior da atmosfera, afetando diretamente o regime hídrico das
precipitações pluviais e da disponibilidade de água no solo.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


612

Em nosso país, as maiores dificuldades para a análise das variáveis do clima se referem ao
curto segmento temporal das séries históricas, às falhas e inconsistências dos dados meteorológicos.
Assim, a tarefa de explicação das alterações dos elementos do clima, fica obviamente
prejudicada, pois, a partir da análise de dados das séries temporais, que não são suficientemente
longas, fica muito difícil separar as oscilações climáticas naturais daquelas decorrentes dos processos
antropogênicos (Tarifa, 1994).
Dada a importância de se verificar o comportamento sazonal dos períodos de deficiência,
excedente, retirada e reposição hídrica, esse trabalho desenvolvido para o município de Gilbués - Piauí
tem o intuito de comparar o comportamento do balanço hídrico ao longo das décadas de 1962 a 1971;
1972 a 1981; 1982 a 1991 e de 1992 a 2001 subsidiando o conhecimento sobre o comportamento
hidroclimatológico do município estudado.
O município de Gilbués (Figura 01) está localizado no extremo sul do Estado do Piauí e tem as
seguintes coordenadas geográficas: latitude sul 09º50’ e longitude oeste 45°21’, com uma altitude
média em relação ao nível do mar de 500 metros. É um pólo de desenvolvimento de grãos que se
localiza na parte mais elevada do relevo (milho, soja, mileto, arroz) e seu terreno encontram-se
bastante degradado devido ao mau uso da exploração da mineração e a criação de rebanho de gado.
Gilbués tem clima tropical subúmido, com duração do período seco de 05 meses, segundo a
classificação climática de Thornthwaite (THORNTHWAITE, 1948).
A preferência desse município nesse trabalho deve-se a um subsídio para o desenvolvimento
sustentável nas áreas críticas à desertificação e a seca, além do reforço para a melhoria da produção
de grãos da referida área.

Figura 01 – Vista aérea do município de Gilbués – Piauí.

MATERIAIS E MÉTODOS
Utilizou-se de programa de retas de regressões múltiplas (MEDEIROS, 2011) para gerar os
valores das temperaturas médias do ar e dos valores mensais de precipitação dos anos de 1962 a
2010. Para a elaboração do balanço hídrico da área estudada (Gilbués - Piauí) foi utilizado o método de
Thornthwaite e Mather (1948; 1955), que requer os dados acima mencionados (MEDEIROS, 2000).
Os dados de precipitações foram adquiridos da série histórica da SUDENE e do serviço de
coleta de dados de chuvas da EMATER do estado do Piauí.
Os dados meteorológicos mensais foram agrupados em quatro décadas distintas, quais sejam
1962 a 1971; 1972 a 1981; 1982 a 1991 e de 1992 a 2001, que posteriormente, utilizando-se do
software Excel, extraiu-se os valores médios mensais de temperatura e precipitação, necessários ao
cálculo do balanço hídrico.

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613

ANOS 1962-1971 1972-1981 1982-1991 1992-2001


BALANÇO DEFICIT EXCEDENTE DEFICIT EXCEDENTE DEFICIT EXCEDENTE DEFICIT EXCEDENTE
JAN 0,0 126,2 0,0 70,7 0,0 78,1 0,0 12,0
FEV 0,0 112,9 0,0 83,5 0,0 59,7 0,0 111,1
MAR 0,0 59,3 0,0 33,9 0,0 85,0 0,0 64,2
ABR 0,0 39,0 0,7 0,0 0,1 0,0 0,0 99,3
MAI 12,3 0,0 19,4 0,0 19,8 0,0 21,9 0,0
JUN 33,4 0,0 43,7 0,0 38,7 0,0 44,5 0,0
JUL 46,6 0,0 57,2 0,0 51,6 0,0 56,5 0,0
AGO 53,8 0,0 64,0 0,0 57,8 0,0 62,6 0,0
SET 53,7 0,0 41,5 0,0 56,2 0,0 54,1 0,0
OUT 9,1 0,0 18,0 0,0 19,4 0,0 12,7 0,0
NOV 0,0 21,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,2
DEZ 0,0 104,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 84,4
Tabela 01 – Resultado do balanço hídrico para as quatros décadas no município de Gilbués – Piauí.

ANOS ÍNDICES HÍDRICO ÍNDICES DE ARIDEZ ÍNDICES DE UMIDADE


1962-1971 0,30 0,24 0,11
1972-1981 0,05 0,28 0,11
1982-1991 0,09 0,28 0,11
1992-2001 0,24 0,30 0,11
Tabela 02 – Representações dos Índices hídricos, aridez e de umidade para as quadro décadas
estudadas - Gilbués, Piauí.

A variabilidade das deficiências hídricas para as quatro décadas em estudos demonstrou que
nos meses de maio a outubro os valores são significativos e os seus índices flutuam conforme a
atuação dos fatores meteorológicos que ocorreram na década, como por exemplo, a atuação dos
fenômenos de larga escala El Niño e La Niña, auxiliados pela contribuição local que diretamente
podem fornecer para as reduções ou elevações destes índices.
Nas colunas excedentes hídricos, observa-se que na primeira e quarta década os meses de
novembro a abril ocorreram valores significativos de excedentes, já a segunda e terceira décadas nota-
se que os excedentes hídricos só ocorreram entre os meses de janeiro e março com valores menos
expressivos de excedentes observados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Figura 02, pode-se comparar o balanço hídrico do município de Gilbués, calculado para o
primeiro decêndio entre os anos de 1962 a 1971, que apresentou excedente hídrico nos meses de
novembro a maio, associado aos elevados índices pluviométricos.
Os meses de julho, agosto e setembro foram os meses com maiores índices de deficiência
hídrica, e em maio a início de agosto ocorreram às maiores retiradas de águas, sendo novembro o mês
que foi observado à reposição de água no solo.
A Figura 03 representa o balanço hídrico da década de 1972 a 1981, apresentando excedente
hídrico entre os meses de janeiro a abril. Nos demais meses restantes predominou a deficiência hídrica
com seu pico de máximo ocorrendo no mês de agosto.
Ocorreu reposição de água no solo nos meses de novembro a janeiro, a deficiência hídrica
predominou entre os meses de maio a outubro e a retirada de água do solo ocorreu entre os meses de
abril a agosto.
Na Figura 04, a representação do balanço hídrico da década de 1982 a 1991 mostra o
predomínio da deficiência entre os meses de abril a dezembro, dos excedentes entre os meses janeiro

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


614

a março, da reposição da água do solo entre os meses de novembro a janeiro, enquanto a retirada da
água ocorreu nos meses de abril a agosto.

Figura 02 - Balanço hídrico decêndial do município de Gilbués - PI para o período 1962-1971.

Figura 03 - Balanço hídrico decêndial do município de Gilbués - PI para o período 1972-1981

João Pessoa, outubro de 2011


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Figura 04 - Balanço hídrico decêndial do município de Gilbués - PI para o período 1982-1991.

Figura 05: Balanço hídrico decêndial do município de Gilbués - PI para o período 1992-2001.

A Figura 05 representa o balanço hídrico da década de 1992 a 2001. Nesta Figura, observa-se
que os excedentes ocorreram entre os meses de dezembro a abril enquanto nos meses de maio a
novembro predominaram a deficiência hídrica, com seu pico de máximo ocorrendo nos meses de

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


616

agosto e setembro. A retirada de água ocorreu entre os meses de abril a agosto e no mês de novembro
ocorreu à reposição hídrica.

CONCLUSÕES
Os impactos climáticos têm provocado modificações no balanço hídrico da região nas últimas
décadas. A degradação ambiental, o efeito local da ação do homem tem por si só acelerado o
processo de modificação do clima regional, com isso afetando diretamente as condições do regime de
precipitações pluviais e da disponibilidade de água no solo.
Assim, as análises dos balanços hídricos das quatro décadas para o município de Gilbués - Piauí
mostram que entre os meses de janeiro a março ocorreram excedentes hídricos, com exceção para as
décadas de 1961-1971 e de 1992 – 2001 que foram observados excedentes nos meses de novembro e
dezembro.
Os índices de deficiências hídricas para as quatro décadas estudadas predominam nos meses
de maio a outubro.
O comportamento do balanço hídrico evidencia que em todas as décadas foi percebido um
período chuvoso com pouco ou nenhum excedente hídrico, exceto para a década de 1962-1971, onde
ocorreu excedente acima da normalidade nos meses de dezembro a fevereiro e para a década de 1992
a 2001 o excedente anômalo ocorreu no mês de fevereiro.
Em regras gerais, vê-se nos resultados do balanço hídrico que nos meses de dezembro, janeiro
e fevereiro ocorrem os índices mais elevados de excedentes hídricos.
Observa-se que na Tabela 03, não ocorreu variações nos índices de umidade para as décadas
estudadas; para as décadas de 1972-1981 e de 1982-1991 os índices de aridez foram iguais e os
valores foram diferenciados para os referidos índices nas décadas de 1962-1971 e de 1992-2001.
Nos índices hídricos ocorreram variações numéricas nas quatro décadas estudadas. Estas
variações estão diretamente condicionadas às variabilidades das ocorrências das chuvas durante o
período chuvoso.
Os valores dos balanços hídricos demonstram que para a produtividade de grãos, em média o
balanço geral ainda apresenta-se favorável a manutenção da umidade no solo e que o clima apresenta
respostas de favorecimento às práticas agrícolas na região, apesar de sua característica semiárida.
Adicionalmente, os agropecuaristas estão desenvolvendo suas atividades com maior processo
tecnológico e respeitando as épocas indicadas pelo zoneamento agrícola, o que reduz os riscos de
perdas e a diminuição da produtividade, assim como minimiza os riscos em virtude de flutuações
climáticas desfavoráveis que normalmente ocorrem nestas regiões.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COSTA, M. H. Balanço hídrico segundo Thornthwaite e Mather. Viçosa: Universidade Federal de
Viçosa, Departamento de Engenharia Agrícola. Engenharia na Agricultura, Caderno didático 19. 22 p. 1994.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE, Mapa de climas do Brasil, diretoria de
geociências <disponível em http://www.ibge.gov.br/geociencias/default-prod.shtm#MAPAS. Acesso em
19/12/2010.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE, Censo 2010 - disponível em
http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1>. Acesso em 20/12/2010.
MEDEIROS, R. MAINAR. Estudo agrometeorológico para o Estado do Piauí. Pág.114, 2000.
SANTOS, Alexandre Rosa. Zoneamento agroclimatológico para a cultura do café conilon (Coffea
canephora L.) e arábica (Coffea arabica L.) na Bacia do Rio Itapemirim, ES. Dissertação (Mestrado em
Meteorologia Agrícola) – Programa de Pós Graduação em Engenharia Agrícola, Universidade Federal de
Viçosa, Viçosa–MG, 1999.
TARIFA, J.R. Alterações climáticas resultantes da ocupação agrícola no Brasil. In: Revista do
Departamento de Geografia, n. 8, p. 12-23, São Paulo, 1994.
THORNTHWAITE, C.W. An approach toward a rational classification of climate. Geogr. Rev, v.38,
p.55-94, 1948.

João Pessoa, outubro de 2011


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GEOGRAFIA DOS TRANSPORTES: SISTEMA DE TRANSPORTE COLETIVO E


SUAS IMPLICAÇÕES NO CLIMA URBANO.
CASTRO, Carlos
Graduando em Geografia pela Universidade Federal do Pará (UFPA); Bolsista do Programa Institucional de Bolsa de
Iniciação à Docência (PIBID); Estagiário do Instituto de Terras do Pará (ITERPA) – carlosjorge319@yahoo.com.br
SOMBRA, Daniel
Graduando em Geografia pela Universidade Federal do Pará (UFPA); Bolsista do Programa Institucional de Bolsa de
Iniciação à Docência (PIBID); Estagiário do Instituto de Terras do Pará (ITERPA) – danielsombra9@gmail.com
SOUZA, Danny
Graduado em Geografia pela Universidade Federal do Pará (UFPA); Técnico em Cadastramento e Georrefenciamento de
Imóveis Rurais do Instituto de Terras do Pará (ITERPA) – dannysouza@yahoo.com.br

RESUMO
Este trabalho é resultante de pesquisa desenvolvida nas principais vias da cidade de Belém, as quais
as condições ambientais apresentam-se como uma de suas características basilares o desconforto térmico
existente no ambiente. Analisa-se a influencia climática interagindo no cotidiano da população que transita
por estas vias, principalmente, aos passageiros transportados no Sistema de Transporte Publico de
Passageiros (STPP). Ao fim, contribuições para a elevação das condições ambientais, nas áreas de elevado
fluxo de pessoas, minimizando os impactos do desconforto térmico.
PALAVRAS-CHAVE: Clima, Economia, Circuito Inferior, Paisagem, Espaço Geográfico

INTRODUÇÃO
O município de Belém nos últimos anos tem apresentado um grande aumento no seu já elevado
índice de veículos automotores. Processo este diretamente relacionado ao aumento do índice nacional.
Nos últimos dez anos, conforme nos aponta o DENATRAN, a frota de carros brasileira obteve um aumento
de 119%. Em tempos recentes, no que tange aos dois mandatos do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
houve um incentivo ainda maior à compra de automóveis, por parte das classes médias, e de caminhões e
ônibus por parte de grandes e médias empresas, através, principalmente da redução de impostos cobrados
sobre a produção e circulação destes produtos.
O resultado destas medidas políticas, econômicas e sociais adotadas pelo Governo Brasileiro,
principalmente a partir de 2009, momento em que o mundo atravessava uma das crises econômicas do
sistema capitalista, foi o drástico aumento da frota, que no Estado do Pará, em 2010, ainda segundo o
DENATRAN, possuía uma frota de 969.667 veículos automotivos, emplacou mais 104.241 veículos até junho
de 2011. O município de Belém, por sua vez, contava, até junho de 2011, com uma frota de 305.909
veículos, sendo 180.041 automóveis, 7.738 caminhões, 747 tratores, 20.303 caminhonetes, 12.647
caminhonetas, 331 ciclo-motores, 1.506 micro-ônibus, 61.522 motocicletas, 8.492 motonetas e 3.027
ônibus.
A pesquisa se espacializa em seis estações de análise, conforme a tabela 01, ao longo dos principais
corredores viários, e principalmente dos que servem ao Sistema de Transporte Publico de Passageiros
(STPP), na cidade de Belém. Todavia, admitimos para este trabalho os recortes espaciais da Avenida
Almirante Barroso, área ainda pertencente a primeira légua patrimonial do município de Belém. Assim
como, analise da das atividades econômicas existentes em função da elevação da temperatura,
desconforto térmico e do intenso fluxo viário.

Estação Local Bairro(s) Planta


01 Tv. Padre Eutíquio, com Av. Tamandaré e Rua Gama Abreu.
Batista Campos e 01
Campinas
02 Rua Gama Abreu com Av. Presidente Vargas com Av. Batista Campos, 02
Serzedelo Corrêa. Campina e Nazaré
03 Av. Caldeira Castelo Branco com Av. José Malcher. São Bráz 03
04 Av. Caldeira Castelo Branco com Av. Magalhães Barata. São Bráz 04

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


618

05 Av. Almirante Barroso com Av. Ceará e Av. José Malcher. São Bráz e Canudos 05
06 Av. Almirante Barroso com Tv. Lomas Valentinas. Marco 06

ESTAÇÃO 5: Avenida Almirante Barroso com Av. Ceará e Av. José Malcher
A Avenida Almirante Barroso, nome que faz referência ao notável Almirante brasileiro e
Barão do Amazonas, Francisco Manuel Barroso da Silva; este é o real nome da via, esta se apresenta como
a principal calha viária da cidade de Belém. Esta via possui 8 faixas, quatro no sentido bairro-centro e 4 no
sentido oposto.
Os congestionamentos se intensificam nos horários de 7:05-8:30/11:45-13:45/16:50-19:00.
Com uso do instrumento GPS, modelo eTrex Legend de navegação pessoal, estimou-se atreves de cálculos
a área de congestionamento na Av. Almirante Barroso no horário de 12:30, sentido Bairro-Centro.
De acordo com os dados constatados in loco, mensurou-se o fluxo viário, na confluência da
Av. Almirante Barroso e seu prolongamento, com pouca carga viária, e desta com Av. Ceará descarregando
grande fluxo para Av. José Malcher. Na Av. Alm. Barroso (ver planta Estação 5), a média foi de 1,44 veículos
automotores por segundo, no seu cruzamento com Av. José Malcher, sentido Bairro-Centro.

O semáforo possui a temporalidade de 50 segundos do verde ao vermelho, a média de


veículos automotores que fluem nesta temporalidade é de 72 veículos. Deste atribui-se aos veículos que
atendem ao sistema de transporte coletivo por ônibus urbano a média de 10,72%, enquanto aos micro-
ônibus, uma realidade presente nesta via a média corresponde a 1,03%. Para o Sistema de Transporte
Coletivo por Ônibus e/ou Micro-Ônibus Urbano a média 11,75%, incluso os não regulamentados junto a
Companhia de Transporte de Belém – CTBEL. Apesar do referido volume de veículos, este perímetro
apresenta, elevado congestionamento.
Contudo, esta política de incentivo ao consumo de bens de consumo duráveis tem
provocado significativos impactos socioambientais; as alteridades se expressam pela maior rigidez no fluxo
viário nos grandes centros urbanos, diminuição na qualidade de vida e qualidade ambiental, seguidos pela
elevação da temperatura, aumento da precipitação, da poluição do ar. Em suma, trata-se, a nosso ver, de
uma degradação social. A política Governamental mostra como objetivos claros a produção de automóveis
e a circulação de capital, priorizando objetos em detrimento do cidadão, processo este historicamennte
engendrado e consolidado na América Latina, no Brasil e na Amazônia (Galeano, 1983; Santos, 1979, 2009;
Trindade Jr., 2010), É neste contexto que se insere a problemática climática doravante exposta e analisada.

João Pessoa, outubro de 2011


619

O intenso processo verticalização da cidade de Belém, principalmente na área de


abrangência da primeira légua patrimonial, apontado, dentre outros por Oliveira (2007), tem contribuído
para o aumento da intensidade da ilha de calor, conforme nos aponta Castro (2009). Todavia, não
atribuímos a somente a verticalização, avançamos na discussão da problemática analisando o elevado fluxo
de veículos automotores em vias que apresentam demasiada carga destes, vias que serve a infra- estrutura
viária da cidade.

ESTAÇÃO 6: Av. Almirante Barroso com Tv. Lomas Velentinas


A Avenida Almirante Barroso caracteriza-se nos dias atuais, como importante via na cidade
de Belém. Após a mensuração do volume de veículos fluem nesta via, na estação 5. Avançamos, para a
estação 6, localizando-se na referida avenida com Tv. Lomas Valentinas. O primeiro tempo de semáforo
possui 50 segundos, para o sentido da Av. Almirante Barroso, o volume médio de veículos compreende-se a
1,48 veículos por segundo, no sentido centro, admitindo o tempo de semáforo (50 segundos), a quantidade
total de ônibus urbano que serve ao sistema de transporte coletivo em média de 15 veículos por tempo de
semáforo. No sentido oposto a modifica-se o volume de veículos por segundo que sofre pequena alteração
para 1,45 veículos por segundo, quanto aos ônibus que atendem ao sistema de transporte coletivo urbano
a quantidade mantém certa equidade passando para em média 16 veículos por semáforo.
No centro econômico, a centralidade das atividades, impõe um intenso fluxo de pessoas, a se
deslocarem no sentido bairro-centro, este fluxo nos últimos anos tem apresentados pontos de
viscosidades, como nos apresenta (SANTOS, M, 2008).
Os congestionamentos são comuns na Tv. Lomas Valentinas (ver planta Estação 6),
acredita-se que a característica da via seja o principal fator, vias de mão-dupla com duas faixas em cada
sentido, de acordo com o calcula de área obtido a partir do georreferenciamento da área, obteve-se a
seguinte distancia a contar do semáforo do cruzamento.

É notória, a poluição do ar existente na já citada via apesar de sua localização a margem do Bosque
Rodrigues Alves, o mesmo tem como forma um quarteirão de área verde, floresta densa, um pedaço da
Amazônia. A Travessa Lomas Valentinas apresenta um semáforo com temporalidade reduzida, o tempo do
verde ao vermelho é de 40 segundos. Tendo o volume médio de 0,68 veículos por segundo, para os ônibus
que atendem ao sistema de transporte coletivo urbano a média é de 3 veículos por semáforo.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


620

A pesquisa realizada não se fez em um evento isolado, o monitoramento se materializou


em datas dispares e em horários da manhã, tarde e inicio da noite, acreditamos ter alcançado os dados
aproximados que caracterizam o uso e a ocupação das vias supracitadas. Realizamos a média partindo das
amostragens coletadas nos três horários.
O fluxo viário existente no cruzamento abre precedentes para atividades econômicas de
caráter informal, pertencentes ao circuito inferior da economia, conforme apresenta Milton Santos. Os
ambulantes, como assim são denominados, no cruzamento das vias, a partir do canteiro central e ciclovias,
e somente para as faixas do sentido Centro-bairro, estabelecendo a comercialização de água, refrigerante,
dentro outras mercadorias; no lado oposto inexiste atividade comercial ambulante nas faixas, estima-se
que o sombreamento das copas das arvores do bosque, promovem amenidades na temperatura, não
sendo este o ponto ideal para o desenvolvimento de tal atividade, apesar do constate atrito pneumático
como o asfalto.

Imagem 01. Av. Almirante Barroso, trabalhadores ambulantes atuando próximo aos
semáforo.

Foto: Carlos Castro – 2011.

Os ambulantes garantem suas reproduções, em contribuição da elevada temperatura


existentes na referida via, o constante aquecimento do asfalto provoca a elevação do desconforto térmico,
o que subjetivamente impõem a hidratação do corpo humano, sobre a pena de mal estar do mesmo. Nos
calçamentos, há predomínio da comercialização de mercadorias de pouco potencial de troca comercial, são
os vendedores de bombons, cigarros, saladas-de-frutas, lanches, conhecidos como “Completos”.
Enquadrando-se no circuito inferior da economia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para a questão climática, propomos a prefeitura municipal de Belém, com base no artigo 93
da Lei n° 8.655, de 30 de junho de 2008. Que dispõe sobre a Zona de Ambiente Urbano (ZAU-6). O poder
publico municipal, possui um zoneamento, acredita-se que a dinâmica social impõe ritmos outros. Assim,
torna-se necessário um acompanhamento dos trabalhadores ambulantes ao longo destas vias, não para
retirá-los, mas para organizar sua atividade e dar suporte aos mesmos. Estes são os que mais sofrem com a
exposição da irradiação solar e com o desconforto térmico, oriundo de elevados níveis de temperatura e
poluição do ar constatados, in loco.
Quanto às demais pessoas que fluem por estas vias, o poder público pode intervir nesta
situação minimizando os impactos ambientais e sociais, reduzindo a temperatura média e os níveis de

João Pessoa, outubro de 2011


621

emissão destes gases tóxicos. Em uma via como a Av. Almirante Barroso, há como instalar Estações de
Resfriamento Veicular.
Estações de Resfriamento Veicular, consiste em uma área de 50 metros com depressão de 5
cm na via, contendo água nesta circunscrição, estimando a velocidade máxima de 10 Km/h, para a
passagem dos veículos, contendo ainda uma muro de arrima para evitar que possíveis condutores mal
intencionados, encharque os pedestres ao entorno da EAV, esta temporalidade já apresentaria de
significativa importância, atingindo o objetivo maior, a diminuição da temperatura por estes veículos,
melhorando a sensação de conforto térmico, elevando a qualidade de vida e qualidade ambiental na
avenida e por conseqüência no centro urbano.
Quanto à questão dos poluentes tóxicos deixados no processo de contato com a água
sugere-se que seja tratada e reutilizada para o mesmo fim, os custos com operação do sistema tratamento
hídrico nas Estações de Resfriamento Veicular serão menores que a soma gasta pelo Sistema Único de
Saúde - SUS.
Admitindo que a dinâmica da cidade imponha o ritmo frenético do capitalismo, o poder
público, deve adotar medidas para que de fator a as Estações de Resfriamento veiculas, funcione de acordo
com sua proposta principal, e para que os condutores se sensibilizem, quanto a importância, sugere-se a
implantação de lombadas eletrônicas 5 metros antes do inicio, uma intermediária e a ultima 5 metros
depois, cobrindo a totalidade de 60 metros de monitoramento veicular.

REFERENCIAS
BELÉM, PREFEITURA DE. Lei n} 8.655, de 30 de julho de 2008. Disponível em:
<www.belem.pa.gov.br/app/>
CASTRO, A. R. C. “Aplicação de sensoriamento remoto na análise espaço-temporal das ilhas de calor
e ilhas de frescor urbanas no município de Belém – Pará, nos anos de 1997 e 2008.” UFPA/PPGEO. Belém,
2009. (Dissertação de Mestrado).
CORRÊA, R. L. O espaço urbano. 1ª Ed. São Paulo: Ática, 1989. (Série Princípios).
GALEANO, E. As veias abertas da América Latina. Trad.: G. Freitas. 16ª Ed. Rio de Janeiro: Paz e
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HAESBAERT, R. O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à multiterritorialidade. 4ª Ed.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009.
OLIVEIRA, J. M. G. C. “A verticalização nos limites da produção do espaço: parâmetros comparativos
entre Barcelona e Belém”. Anais do IX Coloquio Internacional de Geocrítica. Porto Alegre: Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, 28 de maio a 1 de junho de 2007.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4ª Ed. São Paulo: Edusp,
2009. (Coleção Milton Santos, 01).
SANTOS, M. Espaço e sociedade: ensaios. 1ª Ed. Petrópolis: Vozes, 1979.
SANTOS, M. Metamorfoses do espaço habitado: fundamentos teóricos e metodológicos da
geografia. 3ª Ed. São Paulo: Hucitec, 1994. (Coleção Geografia: teoria e realidade, 16).
SANTOS, M. Pensando o espaço do homem. 5ª Ed. São Paulo: Edusp, 2009. (Coleção Milton Santos,
05).
SPOSITO, M. E. B. Capitalismo e urbanização. 13ª Ed. São Paulo: Contexto, 2001. (Coleção
Repensando a Geografia).
TRINDADE JR. S-C. C. “Cidades na floresta: os ‘grandes objetos’ como expressões do meio técnico-
científico informacional no espaço amazônico”. Revista IEB, São Paulo, nº 50, setembro/março de 2010, p.
13-138.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


622

A POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL:


EXPERIÊNCIAS E DESAFIOS NO TRABALHO INTERDISCIPLINAR EM UMA
ESCOLA PRIVADA DE CONTAGEM
18
Clayton Ângelo Silva Costa

RESUMO
O artigo que se apresenta teve como objetivo geral levantar, por meio de entrevistas junto aos
docentes envolvidos, quais são os obstáculos da aplicação do projeto interdisciplinar de educação
ambiental com ênfase em poluição atmosférica, num colégio particular de Contagem. O desenvolvimento
foi baseado em procedimentos metodológicos que constatam de uma pesquisa bibliográfica e estudo de
caso, tendo como sujeitos da pesquisa professores e o coordenador pedagógico que atuam no ensino
médio do turno matutino de uma escola situada no bairro centro do município de Contagem. As técnicas
utilizadas para a coleta de dados foram as entrevistas semi-estrutradas e relatórios derivados do
desenvolvimento do projeto interdisciplinar desenvolvido. Os resultados demonstram que o
desenvolvimento de projetos que tenham como meta a interdisciplinaridade, embora seja um tema e
conhecimento geral dos professores ainda enfrenta uma série de desafios que vão desde a ausência de
infra-estrutura das escolas e apoio geral dos diretores, até questões relacionadas a ausência de um projeto
político pedagógico mais completo e que contemple de fato matérias de interesse dos alunos.
Palavras-Chave: Meio ambiente, poluição, interdisciplinaridade, projetos, educação ambiental.

THE ATMOSPHERIC POLLUTION IN THE CONTEXT OF THE ENVIRONMENTAL EDUCATION:


EXPERIENCES AND CHALLENGES IN THE INTERDISCIPLINARY WORK IN A PRIVATE SCHOOL OF COUNTING.

ABSTRACT
The paper that she present had as general objective to get up, through interviews close to the
involved teachers, which are the obstacles of the application of the interdisciplinary project of
environmental education with emphasis in atmospheric pollution, in a school peculiar of Counting. The
development was based on methodological procedures that verify of a bibliographical research and case
study, tends as subject of the research teachers and pedagogic coordinator that you/they act in the
medium teaching of the morning shift of a located school in the neighborhood center of the municipal
district of Contagem. The techniques used for the collection of data were the interviews semi-estructure
and derived reports of the development of the developed interdisciplinary project. The results demonstrate
that the development of projects that have as goal the interdisciplinaridade, although it is a theme and the
teachers' general knowledge still faces a series of challenges that are going from the absence of
infrastructure of the schools and the directors' general support, even related subjects the absence of a
pedagogic political project more complete and that it contemplates matters of the students' interest in
fact.
Key-Word: Environment, pollution, interdisciplinaridade, projects, environmental education.

1 INTRODUÇÃO
Apesar de todo o progresso alcançado na proteção do meio ambiente durante as últimas
décadas, a poluição do ar, da água e da terra ainda representa um dos principais problemas ambientais no
mundo.
Concentrações elevadas de poluentes atmosféricos são um risco para a saúde humana,
danificam flora e fauna e destroem monumentos históricos e construções modernas. Tais efeitos ocorrem
com alta freqüência em aglomerações urbanas, considerando que uma grande quantidade dos mais

18
Clayton Angelo Silva Costa, Professor do Cefet-MG leciona as disciplinas:Análise Ambiental e
Climatologia.Mestre em Ciências Ambientais pela UEMG.

João Pessoa, outubro de 2011


623

diversos poluentes está sendo emitida em área relativamente limitada e muitos indivíduos estão sendo
afetados, devido à alta densidade populacional.
No âmbito escolar, o professor de Geografia juntamente como os de Química, Português e
História do Ensino Médio de uma dada escola da rede particular de Contagem, elaboraram um projeto
interdisciplinar em Educação Ambiental a partir da temática poluição atmosférica, visando desenvolver,
uma prática que vincula o educando com a comunidade, valores e atitudes que promovem um
comportamento dirigido à transformação superadora dessa realidade, tanto em seus aspectos naturais
como sociais, desenvolvendo e verificando no educando as habilidades e atitudes necessárias para dita
transformação.
Contudo, durante a execução do projeto, inúmeros obstáculos e controvérsias surgiram e a
maioria delas em torno da questão conceitual da “interdisciplinaridade”, assunto de grande importância no
meio educacional, mas que tem enfrentado sérios problemas para que de fato seja uma realidade nas
escolas brasileiras.
Diante do contexto apresentado acima, o objetivo geral deste artigo foi levantar, por meio
de entrevistas junto aos docentes envolvidos, quais são os obstáculos da aplicação do projeto
interdisciplinar de educação ambiental com ênfase em poluição atmosférica, num colégio particular de
Contagem.

2 MATERIAIS E METODOS
A técnica metodológica utilizada foi baseada em análises qualitativas, tendo como sujeitos
principais os educadores, professores e coordenador pedagógico que atuam no ensino médio do turno
matutino de uma escola situada no bairro centro do município de Contagem (RMBH) à Av. Prefeito Gil
Diniz.
Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram a observação dos discursos e
ações dos educadores durante o processo de elaboração e execução do projeto interdisciplinar em
educação ambiental a partir da temática poluição ambiental, os registros de observação ampliado durante
o processo de elaboração e execução do projeto, no qual foram anotados os discursos e as ações
relevantes dos educadores, bem como comentários pessoais suscitados pelos mesmos e a aplicação de
entrevistas semi-estruturadas e estruturadas junto aos docentes envolvidos no projeto interdisciplinar.

3 RESULDADOS E DISCUSSÃO
3.1 Considerações sobre a interdisciplinaridade
Entre os muitos estudos sobre o assunto, destacam-se trechos dos textos de Hilton Japiassú
(1976), Fazenda (1979), Santomé (1998). As obras produzidas por esses autores revelam concepções a
respeito da interdisciplinaridade, a começar pela própria definição do termo.
Pode-se considerar que Japiassú (1976), Fazenda (1979) e Santomé (1998) concebem a
origem e configuração da interdisciplinaridade de maneira semelhante, optando pela abordagem dos
estudos interdisciplinares como uma necessidade de combate à fragmentação do saber.
Um dos primeiros estudos brasileiros sobre a temática da interdisciplinaridade, trata-se da
Interdisciplinaridade e patologia do saber e data de 1976.
Nesse texto, parte da tese de doutorado defendida na França por Hilton Japiassú, a
interdisciplinaridade é concebida como uma solução para o esfacelamento do saber instaurado pelo
positivismo. Já no título da obra, o autor destaca o campo semântico de “doença”, a falta de integração dos
saberes é considerada uma patologia, um mal a ser execrado.

O número de especializações exageradas e a rapidez do desenvolvimento de cada uma culminam


numa fragmentação crescente do horizonte epistemológico [...] o saber em migalhas [é] o produto de uma
inteligência esfacelada (JAPIASSU, 1976, p. 30).

Entre os maiores problemas para superar a fragmentação do saber, Japiassú (1976, p. 61)
destaca “a dificuldade de definição de um método adequado e interdisciplinar, já que o método em si
implica certa redução do objeto”.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


624

Quanto às exigências à interdisciplinaridade, Japiassú (1976, p. 113) destaca “o domínio,


por parte dos especialistas, do método da disciplina lecionada, o reconhecimento da parcialidade e
relatividade de sua própria disciplina e certa familiaridade com uma disciplina diferente da sua”. Para o
autor, uma última exigência seria polarizar o trabalho interdisciplinar sobre pesquisas teóricas ou aplicadas.
Dessa forma continua descrevendo que:

O conhecimento humano é sintético e global antes de ser analítico e especializado [...] redescobrir
ou tematizar essa dimensão sintética de nosso saber é uma exigência fundamental, se quisermos descobrir e
desenvolver em nó o sentido da interdisciplinaridade (JAPIASSU, 1976, p. 113).

Na mesma linha teórica de Japiassú, Ivani Fazenda é, desde a década de 70, uma das
pesquisadoras que mais se dedica ao assunto, tendo escrito diversos livros e orientado muitas pesquisas
sobre interdisciplinaridade.
Em seu livro “Integração e Interdisciplinaridade no Ensino Brasileiro: efetividade ou
ideologia” surge o pensamento basilar da autora, exposto em textos posteriores: a interdisciplinaridade é,
acima de tudo, uma prática. Para Fazenda (1979, p. 08) “a interdisciplinaridade não ensina, nem se
aprende, apenas vive-se, exerce-se e, por isso, exige uma nova pedagogia, a da comunicação”.
Da mesma forma que Japiassú (1976), Fazenda (1979) acredita grande poder à
interdisciplinaridade. Ambos, na verdade, estavam impregnados pelas conclusões divulgadas em 1970, no
seminário da OCDE, que estabelecia os seguintes benefícios da interdisciplinaridade:

Meio de conseguir uma melhor formação geral;


Meio para atingir uma formação profissional;
Incentivo à formação de pesquisas;
Condição para uma educação permanente;
Superação da dicotomia ensino-pesquisa;
Forma de compreender e modificar o mundo (FAZENDA, 1979, p. 44-48).

O projeto interdisciplinar é mostrado por Fazenda (1979, p. 43) como uma prática viável,
apesar das dificuldades: mais do que viável, uma prática essencial para a mudança na forma de conceber e
construir o conhecimento. A autora detém-se no ponto de vista pedagógico, não enfatizando fatores
históricos que determinam à configuração disciplinar existente.

3.2 O desenvolvimento do projeto interdisciplinar


O projeto foi idealizado pelo professor de geografia e, em seguida, apresentado aos
educadores que fizeram apenas, algumas considerações a serem introduzidas ao trabalho, como a
utilização e/ou inserção de suas disciplinas no contexto interdisciplinar que o projeto necessitava, para ser
considerado como tal, ou seja, de uma forma holística.
Os objetivos do projeto fundamentaram-se em trabalhar a consciência ecológica dos alunos
a partir da educação ambiental, possibiltando uma reflexão coletiva sobre o assunto. Além disso, visou
potencializar a ação da escola na melhoria das condições de vida da comunidade em que se insere,
contribuindo para a formação de cidadãos críticos e participativos.
Durante o segundo semestre os educadores se reuniram algumas vezes para discutirem o
desenvolvimento do projeto, fazerem considerações, ponderações, introdução, melhorias e intervenções
na medida em que os resultados iam sendo arquitetados.
À medida em que as turmas foram concretizando as etapas ou tarefas juntamente com o
auxilio dos docentes, o pesquisador foi realizando suas observações sobre o trabalho específico do
professorado do projeto em relação as dificuldades ou desafios de se trabalhar o interdisciplinar a partir da
temática da poluição atmosférica na educação ambiental.
Nessa lógica, o professor de geografia juntamente com o de química sugeriram trabalhar
com uma temática que estivesse próxima à realidade da comunidade escolar em que o colégio está
inserido, então, apresentaram aos demais professores coloboradores do projeto a idéia de colocar como
um dos eixos centrais do trabalho o Córrego Ibirapitanga que corre em frente à escola.

João Pessoa, outubro de 2011


625

Os professores optaram em dividir as tarefas entre dois grupos, um para cada uma das
turmas e, cada sala ficaria com a responsabilidade de subdividir outros grupos para executar as tarefas
propostas no projeto.Dessa maneira, os educadores acreditam que a participação dos alunos no projeto
seria mais efetiva.
O 1º grupo foi formado pelos alunos do 2ºM, o qual ficou com a responsabilidade de
pesquisar à respeito das mudanças ao longo da história e a própria história do córrego e, posteriormente,
anexar e confeccionar banner com as informações que o grupo julgar mais importantes.Também, foi de
responsabildade desse grupo; coletar amostras de água do córrego e da chuva, analisar no laborátorio as
amostras coletadas , e ainda, anexar as faixas confeccionadas pelas duas salas no dia da Feira de Ciências e
Tecnologia.
O 2º grupo, ou seja, os alunos da turma do 2ºN, ficarem responsavéis em formar grupos de
estudos com alunos do outro 2ºano para trocarem informações e repassa-las ao restante da turma,
cartografar a área em estudo e redigir frases informativas apresentando propostas de melhoria da
qualidade da água e do ar,para posteriormente, serem anexadas em faixas .
A parte prática foi realizada no laborátorio de Química-Física-Biologia do colégio com o
acompanhamento dos professores de química e o de geografia. Um outro sub-grupo de um dos grupos
formados pelas salas encaminharam-se para o laboratório para realizarem os experimentos práticos e
depois, repassarem os resultados ao restante dos alunos de ambas as salas.

3.3 Análise dos questionários


As análises apresentadas abaixo são resultado dos dados colhidos a partir da aplicação de
questionários aos sujeitos envolvidos na pesquisa e os discursos indicam sobre: as concepções e práticas de
interdisciplinaridade, os conceitos de aprendizagem, o relacionamento entre os professores e alunos e a
importância da leitura como conteúdo e estratégia interdisciplinar e que de certa forma demonstram os
obstáculos de se trabalhar o interdisciplinar.
Pode-se dizer inicialmente que de uma forma geral, o conceito de interdisciplinaridade que
emerge dos discursos dos professores confirmou-se marcado pela polifonia e pelo interdiscurso, pois é
atravessado por outros discursos que refletem a voz do senso comum e da academia.
Na escola pesquisada, o discurso da coordenadora, ao definir o conceito de
interdisciplinaridade, reproduz discurso semelhante ao de Ivani Fazenda (1978), voz que representa a
academia. Embora não faça referências à autora, a utilização de suas palavras sugere que a coordenadora
estabeleceu contato com seus textos.
A esse respeito, Fazenda (1978, p. 26) ensina que “a nível de interdisciplinaridade, ter-se-ia
uma relação de reciprocidade, de mutualidade, ou melhor dizendo, um regime de co-propriedade que iria
possibilitar o diálogo entre os interessados”.
Verificou-se que os discursos dos demais professores estão mais voltados à voz do senso
comum e, embora sejam materialmente diferentes, revelam uma concepção de interdisciplinaridade como
metodologia de trabalho na qual todos os professores trabalham a seu modo um tema ou assunto comum.
Com relação à leitura de textos que tratam dos temas interdisciplinaridade ou projetos de
trabalho e ainda sobre a possibilidade de citar o nome de autores ou texto que tenha lido, os discursos
revelam que não foram discutidas mais intensamente, no ambiente escolar, teorias que pudessem ter
repercussão na prática pedagógica.
Com relação à existência de projetos envolvendo professores de mais de uma disciplina na
escola onde atuam e ainda quais disciplinas geralmente estão mais envolvidas, verificou-se que os
educadores da escola têm clareza sobre a existência dos projetos interdisciplinares, mas também destacam
a importância da afinidade entre os professores para que os projetos aconteçam e a facilidade de
relacionar alguns conteúdos.
Quanto questionados se o Projeto Político Pedagógico da escola contempla, prevê projetos
envolvendo diversas disciplinas, verifica-se que o projeto pedagógico da escola pesquisada estava
disponível e todos os educadores poderiam ter acesso ao mesmo. Mas, a falta de tempo fez com que
nenhum dos educadores envolvidos tivesse contato com o projeto pedagógico e, muito menos discutido
nas reuniões feitas ao longo do trabalho interdisciplinar.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


626

Foi questionado ainda aos entrevistados como e quando os projetos interdisciplinares são
desenvolvidos e aplicados. Importante mencionar que com essa questão, pretendeu-se verificar como e
quando ocorrem as ações interdisciplinares no dia-a-dia escolar. Nesse caso, os discursos dos educadores
indicam que as orientações são diferentes dependendo dos projetos. A maioria dos educadores faz menção
ao processo envolvendo definição de temas fixos e propostos no calendário anual, cronograma e aplicação
ao longo do ano.
Quanto questionados se houve ou ainda há obstáculos para a concretização de projetos
dessa natureza, verificou-se na pesquisa que os dizeres dos educadores apontam uma série de obstáculos
aos projetos interdisciplinares. A coordenadora cita, como principal obstáculo, a falta de envolvimento de
alguns docentes. Seu discurso ignora outros problemas que estariam relacionados a essa falta de
envolvimento. A professora de Português, mesmo sem saber, contra-argumenta, ao explicar o que
considera ser o grande obstáculo? “os projetos são idealizados por ‘alguém’ e alguns professores não se
sentam motivados em participar deles.” Esse discurso denuncia uma insatisfação com o papel de executor
de projetos alheios.
O discurso do professor de História ressalta o fator tempo como dificultador, o pouco
tempo para planejamento, e o longo tempo necessário ao planejamento e desenvolvimento do projeto, o
que de certa forma,desestimula os alunos.

4 CONCLUSÃO
O artigo que se apresenta teve como objetivo geral levantar, por meio de entrevistas junto aos
docentes envolvidos, quais são os obstáculos da aplicação do projeto interdisciplinar de educação
ambiental com ênfase em poluição atmosférica, num colégio particular de Contagem.
Cabe dizer inicialmente que a interdisciplinaridade é um assunto tratado há mais de 30 anos por
educadores e estudiosos e esta é tratada como uma necessidade cada vez mais crescente no meio
educacional para que seja possível evitar a fragmentação do saber.
Através do desenvolvimento de projetos interdisciplinares é possível integrar o conteúdo de
diferentes disciplinas fazendo com que os alunos desenvolvam uma familiaridade com determinados temas
e consigam relaciona-lo com o cotidiano e com a realidade vivida nas diferentes fases do aprendizado, pois
possibilita aliar pesquisas teóricas e aplicadas à pratica necessária para o desenvolvimento da capacidade
de interpretação.
Contudo, verificou-se no desenvolvimento deste trabalho que o desenvolvimento de práticas que
envolvam a interdisciplinaridade ainda enfrenta uma série de desafios no sistema educacional brasileiro e
estes estão relacionados à dificuldades de propor métodos eficazes, falta de conhecimento e domínio dos
professores dos assuntos específicos a serem tratados, falta de incentivo dos gestores escolares e ainda a
resistência dos alunos em participar de projetos dessa natureza.
Visando propor uma análise baseada em resultados práticos para que o tema fosse abordado de
forma completa, foi também proposto realizar uma pesquisa qualitativa junto aos docentes, analisando os
resultados coletados na entrevistas realizadas.
Para que tal processo fosse realizado, tomou-se como base um projeto interdisciplinar
desenvolvido pelos professores em conjunto com o autor e pesquisador dessa dissertação.
O projeto interdisciplinar tinha como tema central a poluição ambiental e foi realizado utilizando
amostras de água colhidas em um córrego denominado Córrego Ibirapitanga. Para que a
interdisciplinaridade fosse a base do trabalho, participaram de seu desenvolvimento os professores de
Português, História, Geografia e Química, além da coordenação geral da escola e os passos de realização do
projeto foram detalhados no desenvolvimento deste trabalho.
Com relação à verificação da opinião dos professores sobre o desenvolvimento do projeto, assim
como os principais obstáculos enfrentados para que a interdisciplinaridade seja uma realidade nas escolas
brasileiras identificou-se, em primeiro lugar que embora os professores e a coordenação, tenham uma
noção baseada no senso comum sobre o que vem a ser o termo, não conhecem detalhadamente os
conceitos de interdisciplinaridade o que por si só já se apresenta como um grande obstáculo ao
desenvolvimento de projetos dessa natureza.
Identificou-se que a falta de conhecimento dos professores sobre o que vem a ser
interdisciplinaridade é decorrente de uma série de fatores. O primeiro deles é a ausência de motivação

João Pessoa, outubro de 2011


627

para a busca externa de conhecimentos, pois a pesquisa realizada demonstra que poucos são os
professores que buscaram leituras sobre o tema com o objetivo de conhecer detalhadamente o assunto e
suas práticas em sala de aula.
Além disso, embora a escola pesquisada já tenha desenvolvido projetos de interdisciplinaridade,
nota-se que os professores pesquisados pouco se envolveram, alguns por não terem sido chamados, outros
por não terem afinidade com os demais professores.
Destaca-se então que a ocorrência de projetos interdisciplinares não está diretamente relacionada
ao projeto pedagógico da escola, mas à maior disponibilidade de alguns professores e à maior facilidade em
relacionar alguns temas e tal situação também se coloca como um grande obstáculo para que de fato
projetos de interdisciplinaridade sejam uma realidade na escola pesquisada.
De maneira geral, verificou-se que a escola se mostra aberta para a realização e desenvolvimento
de projetos de interdisciplinaridade, mas falta motivação, integração e conhecimento por parte dos
professores para que de fato estes sejam desenvolvidos com maior freqüência e que acima de tudo façam
parte do Projeto Político Pedagógico da escola.
Nesse caso, é necessário, prioritariamente, que todos os professores procurem capacitação visando
obter maior conhecimento e consciência sobre a sua responsabilidade no processo ensino / aprendizagem
e sobre sua participação no desenvolvimento de projetos de interdisciplinaridade.
Pode-se concluir que apesar de enfrentar ainda uma série de desafios e dificuldades, o
desenvolvimento de projetos de interdisciplinaridade nas escolas brasileiras é uma prática viável , mas
exige, acima de tudo, uma nova pedagogia que tenha como base o estreitamento da comunicação e dos
laços entre gestores escolares, professores e alunos. É preciso que todos estejam integrados em torno de
objetivos em comuns e acima de tudo é preciso buscar continuadamente conhecimentos para que o
desenvolvimento dos projetos sejam criativos, motivadores e de fato abordem conteúdos de interesse dos
alunos possibilitando um aprendizado dinâmico e eficaz.

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FAZENDA, I. C. A. Integração e interdisciplinaridade: uma analise da legislação do ensino brasileiro
de 1961 a 1977. 1978. 111 f. Dissertação (Mestrado em Educação). Pontifícia Universidade Católica. São
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FAZENDA, I. C. A. Interdisciplinaridade: qual o sentido? São Paulo: Paulus, 2003.
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FREITAS, M. A. de. Interdisciplinaridade e multimeios: um estudo de caso. 1996. 120 f. Dissertação
(Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1996.
GADOTTI, M. Pedagogia da Práxis. 3. ed. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2001.
GARCIA, R. O conhecimento em construção: das formulações de Jean Piaget à teoria de sistemas
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JAPIASSU, H.. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago, 1976.
MORIN, E. O Método I, a natureza da natureza. Portugal: Publicações Europa-América Ltda.,
1997(a).
MORIN, E.. Aqui é onde eu moro, aqui nós vivemos – escritos para conhecer, pensar e praticar o
município educador sustentável.Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2005.
SANTOMÉ, J. T. Globalização e interdisciplinaridade: o currículo integrado. 1º reimpressão revista.
Tradução Cláudia Shilling. Porto Alegre: Artmed, 1998. 275 p.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


628

URBANIZAÇÃO E SISTEMA VIÁRIO: INFLUÊNCIAS DAS ILHAS DE CALOR E


ILHAS DE FRESCOR NA QUALIDADE DE VIDA NA CIDADE DE BELÉM-PA
MACHADO, Danilo
Graduando em Geografia pela Universidade Federal do Pará (UFPA); Bolsista do Laboratório de Análise da Informação
Geográfica (LAIG); Estagiário do Instituto de Terras do Pará (ITERPA) – danilo.machado@ifch.ufpa.br
SOUZA, Danny
Graduado em Geografia pela Universidade Federal do Pará (UFPA); Técnico em Cadastramento e Georrefenciamento de
Imóveis Rurais do Instituto de Terras do Pará (ITERPA) – dannysouza@yahoo.com.br
CASTRO, Carlos
Graduando em Geografia pela Universidade Federal do Pará (UFPA); Bolsista do Programa Institucional de Bols a de
Iniciação à Docência (PIBID); Estagiário do Instituto de Terras do Pará (ITERPA) – carlosjorge319@yahoo.com.br

RESUMO
Este trabalho analisa a questão climática a partir da percepção do elemento clima por parte dos
agentes sociais citadinos de Belém (PA) usuários do sistema de transportes coletivos desta cidade e sua
região metropolitana, organizado pela Companhia de Transportes de Belém (CTBel). Objetiva analisar a
influência do elemento climático no cotidiano dos usuários coletivos, levando a conta a complexa
interrelação entre os elementos naturais e os objetos engendrados no aglomerado urbano. Em último fim,
visa ainda contribuir não somente ao debate acadêmico a respeito do tema, mas também contribuir
também na elucidação de medidas a serem efetivadas por partes do Poder Municipal de Belém.
PALAVRAS-CHAVE: Clima, Economia, Circuito Inferior, Paisagem, Espaço Geográfico

INTRODUÇÃO
O município de Belém nos últimos anos tem apresentado um grande aumento no seu já elevado
índice de veículos automotores. Processo este diretamente relacionado ao aumento do índice nacional.
Nos últimos dez anos, conforme nos aponta o DENATRAN, a frota de carros brasileira obteve um aumento
de 119%.Em tempos recentes, no que tange aos dois mandatos do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
houve um incentivo ainda maior à compra de automóveis, por parte das classes médias, e de caminhões e
ônibus por parte de grandes e médias empresas, através, principalmente da redução de impostos cobrados
sobre a produção e circulação destes produtos.
O resultado destas medidas políticas, econômicas e sociais adotadas pelo Governo Brasileiro,
principalmente a partir de 2009, momento em que o mundo atravessava uma das crises econômicas do
sistema capitalista, foi o drástico aumento da frota, que no Estado do Pará, em 2010, ainda segundo o
DENATRAN, possuía uma frota de 969.667 veículos automotivos, emplacou mais 104.241 veículos até junho
de 2011. O município de Belém, por sua vez, contava, até junho de 2011, com uma frota de 305.909
veículos, sendo 180.041 automóveis, 7.738 caminhões, 747 tratores, 20.303 caminhonetes, 12.647
caminhonetas, 331 ciclo-motores, 1.506 micro-ônibus, 61.522 motocicletas, 8.492 motonetas e 3.027
ônibus.
Contudo, esta política de incentivo ao consumo de bens de consumo duráveis
temprovocadosignificativosimpactos socioambientais; as alteridades se expressam pela maior rigidez no
fluxo viário nos grandes centros urbanos, diminuição na qualidade de vida e qualidade ambiental, seguidos
pela elevação da temperatura, aumento da precipitação, da poluição do ar. Em suma, trata-se, a nosso ver,
de uma degradação social.

ESPAÇO URBANO DO AUTO-PLANEJAMENTO ESPONTÂNEO-SOCIAL


O processo de expansão do sítio urbano de Belém se apresentou a partir da retirada desordenada
da cobertura vegetal, uma vez que o processo de expansão se apresentou por um planejamento não
oficializado pelos gestores do município, sendo promovido inicialmente por pessoas de camadas populares.
A precária assistência por parte do Poder Público com relação ao que chamamos de auto-planejamento
espontâneo-social.

João Pessoa, outubro de 2011


629

Não se trata aqui de afirmar uma “desorganização espacial”, visto que, uma vez entendido o espaço
como instância social, natureza externalizada do homem, ou ainda, a própria sociedade em uma de suas
dimensões, a dimensão dos objetos naturais e artificiais dispostos e organizados em estruturas, visando
uma dada funcionalidade, logo entende que não há desorganização espacial, mas antes, uma outra
organização, talvez precária, com relação às necessidades básicas dos agentes sociais que lhe habitam e co-
existem (Santos, 1994, 2008).
Neste ínterim, Roberto Lobato Corrêa (1989) ao tratar dos distintos processos espaciais de
produção do espaço urbano e suas correspondentes formas, dá especial destaque à questão social. Dos
cinco processos destacados – centralização, descentralização, coesão, inércia, segregação residencial e
invasão-sucessão (dinâmica espacial da segregação) – os dois últimos estão relacionados a esta questão.
Inicialmente relacionado a áreas ditas “naturais”, o processo de segregação
progressivamente passou a ser analisado a partir de áreas sociais, entendidas por Shevky e Bell, segundo a
autoria, como áreas marcadas por forte uniformidade da população em termos de três conjuntos de
características: status socioeconômico, urbanização (questões da divisão territorial do trabalho e etnia).
A tendência marcante deste processo é originar áreas com relativa homogeneidade interna
e forte disparidades entre elas. Este processo, ressalta-nos o autor, caracteriza não apenas a cidade
capitalista, mas a cidade em geral ao longo de seu processo histórico, algo apontado com mais detalhes por
Sposito (2001), mas reconhece, evidentemente, que sob a égide do modo de produção capitalista a
segregação espacial vai assumir novas e complexas dimensões espaciais.
Reconhecidas e identificadas, as classes estruturantes e seus processos produtores, o autor
coloca-nos a necessidade de verificar o rebatimento espacial disto. O diferencial da capacidade de cada
grupo de pagar pela residência que ocupa é o fator principal. Destarte, cada classe social irá resolver ao seu
modo, e de acordo com suas possibilidades os problemas de como e onde morar. E uma vez que nem todas
as classes possuem o poder de selecionar a melhor localização de objetos e amenidades, ou de levar estes
objetos e amenidades ao local escolhido, faz-se necessário compreender o problema da produção do chão,
mas no sentido de produção da habitação.
Ora, indo direto ao ponto, Corrêa (1989, p. 63) diz-nos: “os terrenos de maior preço serão
utilizados para as melhores residências, atendendo à demanda solvável. Os terrenos com menores preços,
pior localização, serão utilizados na construção de residências inferiores, a serem habitadas pelos que
dispõem de menor renda”. Trata-se, neste caso, de uma auto-segregação. E a participação do Estado neste
processo não pode ser olvidado, remetendo ao já analisado acima quanto a esta estrutura classista,
embora não totalmente escrava das classes hegemônicas.
Contrapõe-se a isto a situação das classes hegemonizadas, as quais sofrem uma segregação
imposta, uma vez que não está em suas mãos o poder de escolher a localização e organização dos objetos.
Neste ínterim, faz-se interessante lembrar de Haesbaert (2009), que, ao explanar a tese
sobre os aglomerados de exclusão. Reduzido ou forçado aos limites de determinada extensão geográfica
pela ausência de potência de movimento, um determinado agente se vê desterritorializado no lugar em que
está, ainda que lá já o estivesse. Esta ausência de potência, ou seja, a impossibilidade de mover-se implica
em sujeição a ordens externas, e, logo, sujeição a um espaço e a um território com os quais não se
identificam. As relações persistem a existir, porque não se trata de um isolamento estrito e, como dito,
trata-se sempre de uma inclusão precária e nunca exclusão total.
Entrementes, a lógica prevalecente é a dos atores hegemônicos. Tanto que, quando o
Estado de fato implanta melhorias nos objetos que constituem os aglomerados de exclusão, ou os espaços
urbanos ocupados pelos agentes sociais excluídos, a partir de interesses eleitoreiros, ressalta-nos uma vez
mais o autor, esta ação desencadeia uma valorização urbana que termina por expulsar aqueles agentes e
atrair os agentes produtores hegemônicos.
Analisando, então, os padrões espaciais, ou seja, o padrão de comportamento das classes
sociais no espaço urbano, o autor aborda, rapidamente, os esquemas de Kohl, de Burgess e de Hoyt.
Esquemas teóricos, ressalta o autor, que não pretendem ser modelos absolutos, mas que, por certo nos
ajudam a entender a dinâmica da segregação. Ao abordar, por fim, o processo de invasão-sucessão, Corrêa
(1989) recorda-nos que esta dinâmica é, de fato, própria do modo de produção capitalista, visto que a
cidade pré-capitalista era caracterizada por forte imobilismo sócio-espacial, algo também apontado por
Sposito (2001).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


630

Os transportes tem uma influência significativa na vida das pessoas, principalmente no que diz
respeito ao intenso nível de urbanização que as metrópoles passaram, emergindo interesses por parte da
sociedade, no que tange as necessidades sociais, econômicas, culturais no espaço. Todavia, este sistema é
disponibilizado, na maioria das vezes, de forma precária, prejudicando os seus usuários.
Esta rede é de suma importância, uma vez que, permite o fluxo de pessoas, possibilitando o direito
de ir e vir e a realização do “cotidiano” que vai desde o trabalho e educação ao lazer. Umas das questões
chaves no atual momento (meio técnico – científico – informacional é a rapidez com que as relações entre
empresas, pessoas se dá. A fase atual da história da humanidade é marcada pela multinacionalização das
empresas, pela internacionalização da produção, da intensa modernização das comunicações, ligando
imediatamente lugares tão longínquos, do novo papel do Estado. Isto está relacionado à modernidade no
qual vivemos. Sobre isso, Santos diz que:

“o que existe são modernizações sucessivas, que de um lado nos dão, vistas de fora, gerações de
cidades, de organização espacial, já que cada periodização, trazendo formas próprias de arrumação das
variáveis, permite reconhecer um processo histórico mais geral, não importa onde estivermos.”

Aqui entra o conceito de gestão do território, que varia de acordo com os agentes sociais e suas
práticas espaciais que são distintas, levando em consideração o período “são pedaços de tempo
submetidos à mesma lei histórica, com a manutenção das estruturas”, (SANTOS, 1996, p.67) no qual os
mesmos estão inseridos. Para Santos:
“Assim, as periodizações podem ser
muitas, em virtude das diversas escalas de observação. Mas, qualquer que seja o momento, é indispensável
fazer muitas periodizações. O mundo, como um todo, permite-nos uma periodização; a formação social e
econômica, representada pelo Estado e a Nação, uma outra periodização; e a cidade permitirá uma nova
periodização, em um nível inferior”

Para Corrêa (1992), a gestão territorial constituiu um poderoso meio para, através da organização
do espaço, viabilizar a existência e a reprodução do conjunto da sociedade. A gestão do território está
centralizada no meio urbano.
Como a discussão sobre a questão ambiental tem aumentado com a passar das décadas,
principalmente no final do século XX, a “qualidade de vida” sempre é tema de debates antes da
implementação de determinada ação/decisão, seja ela pública ou privada, levando em consideração a
deterioração ou elevação da qualidade de vida em virtude de situações positivas ou negativas que visam a
melhorar as condições de vida das pessoas, ainda mais quando se considera que o atual modelo de
desenvolvimento não atende em todos os requisitos a proposta ambiental.
Por ser um termo de grande subjetividade, a “qualidade de vida” não possui um conceito definitivo.
Este sempre é confundido com a questão ambiental................ Cabem as autoridades responsáveis por
planos/projetos entrar em um consenso com a população....
É evidente que, quanto mais infraestrutura uma determinada população estiver sujeita, seguindo
os padrões de preservação do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável, maior será a sua
longevidade, consequentemente a sua qualidade de vida. Esta, por sua vez, relaciona-se ao espaço físico
vivido pela população, sendo sujeito às intempéries ambientais, sejam elas de gênese natural ou antrópica.
Ela também pode estar relacionada à qualidade ambiental. Desta forma, é necessário realizar estudos deste
cunho no meio urbano, pois as atividades humanas são mais intensas, proporcionando “ataques” mais
severos ao meio físico em questão.
Por ser um termo de grande subjetividade, a “qualidade de vida” não possui um conceito definitivo.
Cabem as autoridades responsáveis por planos/projetos entrar em um consenso com a população.... Além
do mais, a percepção sobre este conceito varia de acordo com a idade dos indivíduos, com o tempo em
questão, de comunidades para comunidades, dentre outros que atingirão o bem estar/satisfação das
pessoas, seja individualmente ou coletivamente.
E buscar esse conceito nos mais diversos campos é uma tarefa árdua, haja vista a dificuldade de
emprego do termo. Isso não é diferente com a situação dos transportes. A qualidade de vida dos usuários
de transportes e os envolvidos com os mesmos sofrem penalizações. Penalizações que afetam o estado de

João Pessoa, outubro de 2011


631

saúde, como doenças respiratórias, e elevação do nível de estresse, prejudicando outras atividades
posteriores, por exemplo.
O sistema de transportes tem impactos evidentes na atmosfera, como degradação do meio
ambiente, mas sabe-se também que ele afeta através de aborrecimentos, poluição e efeitos que atingem o
psicológico das pessoas, fazendo parte do lado subjetivo das mensurações
A melhoria da logística dos transportes urbanos trará consequências positivas e negativas sobre a
população “beneficiada”. Pode trazer, ao mesmo tempo, benefícios e malefícios. Uma melhor
infraestrutura, realizada para a rápida fluidez do trânsito influenciará na satisfação/bem estar das pessoas.
Porém, o intenso fluxo de automóveis aumentará, proporcionalmente, o índice de poluição através do
dióxido de carbono (co2) lançado na atmosfera, além de outros efeitos negativos como a poluição sonora,
intrusão visual a elevação da temperatura em locais isolados (ilhas de calor). O termo ilha de calor foi
empregado pela primeira vez, de acordo com Costa (1998), por Gordon Manley em um trabalho realizado
em 1958.
As ilhas de calor variam de acordo com a infraestrutura encontrada nas cidades e características da
população residente nas mesmas, isso por que a intensidade e extensão das mesmas modificaram de
acordo com essas variáveis. Esse fenômeno ocorre nas áreas urbanas devido aos materiais utilizados nas
construções de casas, prédios, asfaltamento de ruas, à retirada da cobertura vegetal, devida à expansão
urbana. Todos estes fatores levarão à alteração do microclima local. Além disso, ainda há a poluição que
criará uma “barreira” que impedirá a ascensão do ar quente, elevando a temperatura local.

ILHAS DE CALOR E ILHAS DE FRESCOR E SUAS RELAÇÕES COM OS TRANSPORTES


Esta dinâmica espacial característica das metrópoles, acredita Castro (2009), intensificou o
surgimento de ilha de calor.
Para Castro(2009):
“As ilhas de calor são características das cidades e das grandes metrópoles. Entretanto, as
características, a intensidade e extensão das mesmas vão depender das características da cidadee da
população que nela reside. Entre as diversas causas da formação de ilhas de calor, o processo de
urbanização é considerado o mais relevante, por conter em sua natureza elementos que fazem com que a
temperatura de uma área sofra aumento.”
Esse fenômeno ocorre nas áreas urbanas devido aos materiais utilizados nas construções de casas,
prédios, asfaltamento de ruas, à retirada da cobertura vegetal, devida à expansão urbana. Todos estes
fatores levarão à alteração do microclima local. Além disso, ainda há a poluição que criará uma “barreira”
que impedirá a ascensão do ar quente, elevando a temperatura local. Segundo Ayoade, (2006) “A má
qualidade do ar gera efeitos imediatos na saúde da população. Gera também efeitos globais na dinâmica de
mistura de gases e no efeito estufa da atmosfera”. Segundo Castro (2009) as ilhas de frescor, como as áreas
com predominância de cobertura vegetal, e ou presença de corpos d’água, igarapés, lagos, ou espelhos
d’água, constituem condições sine qua non para o conforto térmico da cidade e ou metrópole, por
apresentarem índices menores de temperatura.
O intenso processo verticalização da cidade de Belém, principalmente na área de
abrangência da primeira légua patrimonial, apontado, dentre outros por Oliveira (2007), tem contribuído
para o aumento da intensidade da ilha de calor, conforme nos aponta Castro (2009). Todavia, não
atribuímos a somente a verticalização, avançamos na discussão da problemática analisando o elevado fluxo
de veículos automotores em vias que apresentam demasiada carga destes, vias que serve a infra- estrutura
viária da cidade.
Os transportes têm uma influência significativa na vida das pessoas, principalmente no que diz
respeito ao intenso nível de urbanização que as metrópoles passaram, emergindo interesses por parte da
sociedade, no que tange as necessidades sociais, econômicas, culturais no espaço. Todavia, este sistema é
disponibilizado, na maioria das vezes, de forma precária, prejudicando os seus usuários e o micro clima
local.
O sistema de transportes tem impactos evidentes na atmosfera, como degradação do meio
ambiente, mas sabe-se também que ele afeta através de aborrecimentos, poluição, ocasionando
empecilhos que afetam a saúde, como doenças respiratórias, elevação do nível de estressee efeitos que

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


632

atingem o psicológico, fazendo parte, também, do lado subjetivo das mensurações, o que é denominado
qualidade de vida.

Elencou-se as seguintes vias, Rua Gama Abreu com Travessa PadreEutíquio, Rua Gama
Abreu com Avenida Presidente Vargas e Av. Serzedelo Correa; Tv. Castelo Branco no encontro com Av. José
Malcher e Tv. Castelo Branco com Av. Magalhães Barata; Av. Almirante Barroso no entrosamento com a Av.
Ceará e Av. José Malcher;Av. Almirante Barroso com Tr. LomasValentinas; Av. Almirante Barroso no limite
com a Rodovia BR-316 e transbordo de 1 km de extensão da mesma, conforme representação cartográfica.
As vias selecionadas apresentam peculiaridades, são vias de intensa descarga de veículos,
apresentaem momentos, de alta radiação solar, elevado índice de calor, por conseqüência elevada
sensação de desconforto térmico tanto aos transeuntes nestas áreas, quanto aos usuários do sistema de
transporte coletivo por ônibus urbanos.
Para efeito de analise, elencaram-se estações de analise e tratamento de dados, dos quais se
estimava a intima relação com a problemática acima apresentada. Em ordem de localização das mesmas se
fazem do centro urbano e econômico para a área de expansão da cidade de Belém, temos: a primeira
localizou-se na confluência da Travessa PadreEutíquio com a Avenida Tamandaré e Rua Gama Abreu, nos
limites dos bairros de Batista Campos e Campina; a estação segunda, localizou-se no encontro da Rua Gama
Abreu com a Av. Presidente Vargas e Av. Serzedelo Corrêa, estando entre os bairros de Batista Campos,
Campina e Nazaré; a terceira, no encontro da Av. Caldeiras Castelo Branco com Av. José Malcher, bairro de
São Bráz; a quarta estação, localizou-se na Av. Caldeiras Castelo Branco com Av. Magalhães Barata, bairro
de São Bráz; a estação quinta, localizou-se na Av. Almirante Barroso com Av. Ceará e Av. José Malcher, nos
bairros de São Bráz e Canudos; a sexta, localiza-se na Av. Almirante Barroso com Av. LomasValentinas, no
bairro do Marco; a ultima estação, abrangeu-se na área que vai do quilometro zero ao quilometro um da
Rodovia BR-316 (Pará - Maranhão).
Nessas vias, vemos o alto fluxo de veículos, além de prédios e outros elementos que propiciam o
surgimento das ilhas de calor, como o asfalto. A temperatura, média, é de aproximadamente 31ºC.
Entretanto, a sensação térmica tem o seu patamar elevado, chegando a temperaturas de 37ºC a 39ºC. Ilhas
de frescor são áreas verdes de parque que amenizam o intenso calor das áreas urbanas. Em Belém,
podemos citar o Bosque Rodrigues Alves, localizado na Avenida Almirante Barroso.

João Pessoa, outubro de 2011


633

Fonte: Machado,2011

Fonte: CASTRO, Carlos, 2011

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


634

Fonte: Castro,2011
Além do Bosque, podemos citar outras vias que são consideradas ilhas de frescor. É o caso da
Avenida Presidente Vargas e Avenida Governador Magalhães Barata, no qual as mesmas estão situadas em
verdadeiros “túneis” formados por mangueiras.

Av.PresidenteVarga
s,Machado2011

João Pessoa, outubro de 2011


635

Av. Gov Magalhães Barata. Machado, 2011

REFERÊNCIAS
AYOADE, J. O. Introdução à climatologia para os trópicos. 11ª Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2006
CASTRO, A. R. C. “Aplicação de sensoriamento remoto na análise espaço-temporal das ilhas de calor
e ilhas de frescor urbanas no município de Belém – Pará, nos anos de 1997 e 2008.” UFPA/PPGEO. Belém,
2009. (Dissertação de Mestrado).
CORRÊA, R. L. O espaço urbano. 1ª Ed. São Paulo: Ática, 1989. (Série Princípios).
_____________. “Corporação, práticas espaciais e gestão do território.” In: Revista Brasileira de
Geografia. Rio de Janeiro, 1992, 53, p. 137-145.
HAESBAERT, R. O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à multiterritorialidade. 4ª Ed.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009.
MONTEIRO, C. A. F. Clima Urbano. São Paulo: Contexto, 2003
OLIVEIRA, J. M. G. C. “A verticalização nos limites da produção do espaço: parâmetros comparativos
entre Barcelona e Belém”. Anais do IX Coloquio Internacional de Geocrítica. Porto Alegre: Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, 28 de maio a 1 de junho de 2007.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4ª Ed. São Paulo: Edusp,
2009. (Coleção Milton Santos, 01).
SANTOS, M. Espaço e sociedade: ensaios. 1ª Ed. Petrópolis: Vozes, 1979.
SANTOS, M. Metamorfoses do espaço habitado: fundamentos teóricos e metodológicos da
geografia. 3ª Ed. São Paulo: Hucitec, 1994. (Coleção Geografia: teoria e realidade, 16).
SANTOS, M. Pensando o espaço do homem. 5ª Ed. São Paulo: Edusp, 2009. (Coleção Milton Santos,
05).
SPOSITO, M. E. B. Capitalismo e urbanização. 13ª Ed. São Paulo: Contexto, 2001. (Coleção
Repensando a Geografia).
Sites consultados:
Ministério das cidades – http://www.cidades.gov.br/

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


636

DIFERENÇAS NA SENSAÇÃO DE CONFORTO TÉRMICO EM DETERMINADOS


PONTOS NA CIDADE DE JOÃO PESSOA-PB
Diandra Soares de ARAÚJO
Universidade Federal da Paraíba – UFPB. Graduanda do curso de Bacharelado em Geografia.
diandra.soares@hotmail.com
Orientador: Marcelo de Oliveira Moura
geommoura@yahoo.com.br

RESUMO
Ao notar as diferenças na temperatura e umidade do ar, existentes entre dois pontos de grande
proximidade dentro da cidade de João Pessoa-PB percebeu-se a necessidade de um trabalho voltado para
essa questão nos dois pontos: o Terminal de Integração e Parque Solon de Lucena. Há grandes diferenças
socioambientais entre os dois pontos onde foram realizadas as coletas de dados (por exemplo, a presença
de recursos hídricos em apenas um deles), são elas as responsáveis pela ocorrência de maiores e menores
temperaturas entre eles. Essa diferença, por vezes acaba acarretando em menor produtividade no dia de
um transeunte que frequenta um local onde a sensação de conforto térmico não é tolerável. Então, foi
realizado um trabalho de campo para tornar possível a análise simultânea do tempo nos dois pontos
durante um dia, para tornar possível determinar os fatores e ter de forma mais concreta a diferença entre
os dois.

1 - Introdução
A população urbana cresceu muito nas últimas décadas. Enquanto em meados do século
XIX a população urbana representava 1,7% da população mundial, nos dias atuais ela ultrapassa o valor de
80%. Esse fenômeno mundial, a urbanização, produz profundas alterações no meio ambiente afetando
diretamente todos que nele estão envolvidos, comprometendo a qualidade ambiental e de vida humana.
No trabalho de campo realizado procurou-se analisar o conforto térmico humano e o microclima urbano
em 2 pontos distintos e de diferentes rugosidades do centro de João Pessoa. O tempo atmosférico pode ser
definido como o estado médio da atmosfera em uma dada porção de tempo em um determinado local.
Para Zavanttini (2008), clima é a sucessão habitual e excepcional dos tipos de tempo em um determinado
lugar. Segundo a Organização Mundial de Meteorologia (1959), clima é considerado o conjunto flutuante
das condições atmosféricas caracterizadas pelos estados e evolução do tempo no curso de um período
longo, para um domínio espacial determinado. Dessa forma, a ONU determinou regras para que se possa
ter o clima de um local, uma delas é que para se determinar o clima de um local, devem ser feitas análises
diárias, durante 25 a 30 anos. O Estado da Paraíba possui quatro estações convencionais em seu território.

2 - Metodologia
2.1 – Aspectos teóricos e conceituais do clima urbano/conforto térmico:
O clima desempenha um papel importante no contexto de qualquer atividade humana. Sua
atuação na saúde humana é muito grande, por isso os estudos relacionados com situações extremas,
fundamentais para a definição e prevenção dos males de origem climática são importantes, pois elas
influem negativamente sobre a saúde e a atividade das pessoas, comprometendo diretamente a qualidade
ambiental e de vida.
Segundo VICENTE (2001) o excesso de calor associado à qualidade do ar nas cidades pode
prejudicar a saúde humana, causando distúrbio do coração, de circulação e de respiração, e que o estudo
relacionado ao conforto térmico nas cidades é um componente básico na climatologia urbana.
No estudo do clima urbano, segundo MONTEIRO, podem ser consideradas três canais de
percepção, que se evidenciam através de três subsistemas (termodinâmico, físico-químico e
hidrometeórico). O conforto térmico esta relacionado ao subsistema termodinâmico e é intimamente
ligado com a questão do balanço energético.
GARCIA (1995) define conforto térmico como “o conjunto de condições em que os mecanismos de
auto-regulação fisiológicas são mínimos”.
João Pessoa, outubro de 2011
637

Já ANDRADE (1998) considera como conforto térmico à condição básica e saúde e bem estar dos
seres humanos atrelados à manutenção de uma temperatura corporal constante, cerca de 37C.
Para o homem, animal homeotérmico a temperatura do corpo deve estar sempre
constante, apresentando apenar variações entre 36,5 e 37°C, este equilíbrio térmico é fundamental para a
saúde e o bem estar das pessoas. As situações atmosféricas que podem causar alteração nessa
temperatura podem provocar a proliferação e difusão de agentes patogênicos desencadeando infecções e
enfermidades.

2.2 – Procedimentos metodológicos


2.2.1- Técnicas utilizadas:
Para a realização dessa pesquisa foi tomada como método a análise, sendo então necessários
instrumentos específicos: psicrômetro e bússola. O psicrômetro (aparelho formado por dois termômetros,
um de bulbo seco e outro de bulbo úmido, quanto menor a diferença dos valores por eles registrados,
maior a umidade do ar) se fez necessário para que pudéssemos coletar dados referentes à umidade e
temperatura do ar. Com os dados coletados através do psicrômetro, foi possível determinar a temperatura
efetiva; ela auxilia na obtenção da sensação térmica e a resposta biológica do corpo humano. Já a bússola
foi indispensável para que se pudesse definir a direção do vento em determinados momentos da pesquisa.
Foram analisados também a nebulosidade, os tipos de nuvem, o fluxo de pessoas e carros, intensidade dos
ventos segundo a Escala de Beaufort (que torna possível a percepção da intensidade e velocidade dos
ventos, observando quais seus efeitos continentais ou marítimos; no caso da presente pesquisa foram
analisados os efeitos continentais); todos esses aspectos foram observados de hora em hora no decorrer de
um dia. As coletas foram realizadas durante um dia, de hora em hora, a partir de 7h00m até 19h00m.
Para uma maior exatidão de conforto térmico, foram aplicados três questionários por hora aos
transeuntes dos dois locais. Tais questionários possuíam questões aplicadas aos transeuntes sobre a
percepção, estimativa, preferência e tolerância térmica; foram levados em conta também sobre a
vestimenta e as características biológicas que influenciam bastante na sensação térmica.
O Diagrama do Conforto Humano também foi utilizado, para que se pudesse aferir o índice do
conforto humano, através da temperatura do ar e da umidade relativa, é possível definir três zonas de
conforto (Necessita de Vento para Conforto, Confortável e Necessita de Sol para Conforto).
Para tornar possível a análise das massas de ar atuantes no dia do estudo, fez-se necessária a
utilização de cartas sinóticas e imagens de satélite, podendo então obter diferenciados dados como
influência da ZCIT, influência de zonas de alta e baixa pressão etc.
Além disso, o levantamento bibliográfico foi de extrema importância para a realização da pesquisa.
Levando-se em conta que o objetivo da pesquisa era analisar o conforto e desconforto ambiental
dentro da cidade de João Pessoa, a escolha das áreas se deu pela proximidade entre as duas (situadas no
centro da cidade) e pelas grandes diferenças entre elas existentes: uma com um grande fluxo de pessoas e
veículos, sem a influência de qualquer corpo de água, bem caracterizada pela presença de urbanização,
impermeabilizado com asfalto (Terminal de Integração); outra com um menor fluxo de pessoas e veículos,
situada a poucos metros de uma lagoa, com presença de plantas (Parque Solon de Lucena). Para que depois
fosse possível analisar as diferenças entre os dois locais, e então entender as causas dos resultados obtidos.

3 – Microclimas urbanos no centro de João Pessoa


3.1 – Caracterização geoecológica e natureza urbana.
3.1.1 – Ponto 1: Lagoa

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


638

Figura:1 parque Solon de Lucena digital Globe - GeoEye

Tipologia da vegetação: Palmeiras, Ipês, Gameleiras; Recursos Hídricos (Espelho d' água): Lacustre;
Rugosidade: baixa; Espaçamento: alto; Alturas relativas: média; Orientação: Noroeste; Porosidade: Muito
alta; Permeabilidade da superfície: Médio; Tipologia das vias: Calçamento para pedestres, asfalto para
veículos; Fluxo de veículos: Baixo; Fluxo de pessoas: Baixo; Função urbana: Paisagística, turística e
comercial; Zona urbana: Centro; Densidade Populacional: Alta.

3.1.2 – Ponto 2: Terminal de integração

Figura:2 Terminal Urbano – JP digital Globe - GeoEye

Recursos Hídricos : ausente; Rugosidade: Média; Espaçamento: pequeno; Altura relativa: 10 a 15


metros; Orientação: Oeste; Porosidade: moderado; Permeabilidade da superfície: muito baixa ; Tipologia
das vias: retas e curvas; Fluxo de veículos: alto; Fluxo de pessoas: alto; Função urbana: serviços; Zona
urbana: centro; Densidade populacional: alta
3.2.2 – Analise Rítmica dos microclimas
Temperatura do Termômetro de Bulbo Seco

João Pessoa, outubro de 2011


639

Figura 3: Temperatura do Bulbo Seco (Lagoa/ Integração)


Umidade Relativa

Figura 4: umidade Relativa (Lagoa/ Integração)

A seguir, os dados meteorológicos da lagoa e do terminal de integração respectivamente:


Horário Direção do vento Tipos de Nuvens Nebulosidade 8/8 Escala de Beafort
07:00 SE Cumulus 3/8 Bafagem
08:00 SE Altocumulos 5/8 Calma
09:00 SE Cumulos 6/8 Bafagem
10:00 SE Cumulos 5/8 Vento Moderado
11:00 SE Cumulos 4/8 Vento Fraco
12:00 SE Cumulos 5/8 Vento Fraco
13:00 SE Cumulos 5/8 Vento Moderado
14:00 SE Cumulos 4/8 Vento Fraco
15:00 SE Cumulos 5/8 Aragem
16:00 SE Cirrucumulus 6/8 Vento Fraco
17:00 SE Cirrucumulus 7/8 Aragem

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


640

18:00 SW - 9 Calma
19:00 SE - 9 Calma

Horário Direção do vento Tipos de Nuvens Nebulosidade 8/8 Escala de Beafort


07:00 SW Altocumulos 3/8 Aragem
08:00 E Cumulus 4/8 Aragem
09:00 N Stratocumulos 6/8 Vento Fraco
10:00 N Cumulos 4/8 Vento Fraco
11:00 N Cumulos 4/8 Vento Fraco
12:00 N Cumulos 4/8 Vento Fraco
13:00 SE Cumulos 3/8 Vento Moderado
14:00 SE Cumulos 3/8 Vento Fraco
15:00 SE Altocumulos 5/8 Vento Fraco
16:00 SW Altocumulos 5/8 Aragem
17:00 SW Altocumulos 6/8 Vento Fraco
18:00 - - 9 Calma
19:00 - - 9 Calma

4 – Conclusões
Através do trabalho realizado, foi possível entender a influência das características socioambientais
nos tipos de tempo em determinados locais. Dessa forma, notou-se a importância de, por exemplo, a
presença de recursos hídricos para a melhoria na sensação de conforto térmico, o que no trabalho
realizado ajudou bastante para que o ponto localizado no Parque Solon de Lucena, possuísse umidade
relativa bem maior do que o ponto localizado no Terminal de Integração, apesar dos dois pontos possuírem
grande proximidade um do outro, verificou-se grandes diferenças entre eles. As diferenças também são
devido ao fluxo de veículos e pessoas circulando pelo local, que no Terminal de Integração é bem maior do
que no Parque Solon de Lucena. Além disso, com os questionários aplicados indagando os transeuntes
sobre a percepção e tolerância térmica, desde 7h00m grande parte deles na integração já se sentia
incomodada com a temperatura, enquanto que no Parque Solon de Lucena, em todos os horários do dia a
maioria estava sentindo, em diferentes níveis, uma sensação perfeitamente tolerante e na maioria dos
casos até mesmo agradável.
Apesar do trabalho de campo realizado ter sido realizado apenas em um dia, e não ter seguido bem
a teoria da análise rítmica, tornou possível ter uma ideia sobre a dinâmica dos tipos de tempo nos dois
pontos onde foi realizado o trabalho de campo.

5 – Bibliografia
AYOADE, J. O. Introdução a climatologia para os trópicos. São Paulo, DIFEL, 1986.
FROTA, Anésia Barros & SCHIFFER, Sueli Ramos. Manual de conforto térmico – 5. ed. – São Paulo:
Studio Nobel, 2001.
MENDONÇA, F.A.; DANNI-OLIVEIRA, I.M. Climatologia - Noções básicas e climas do Brasil. São
Paulo: Oficina de textos, 2007.
SOUZA, L. C. L. ; POSTIGO, Camila Pereira ; NAKATA, Camila Mayumi ; SORANO, Elisangela Cristina.
Ambiente Térmico do Pedestre. Revista Minerva, v. 5, 2008.
SKUBS, Danielle. O Conforto Térmico nos Espaços de Transição e sua Influência como Elemento
Apaziguador do Microclima Local. Dissertação (Mestrado em Concentração de Arquitetura e Construção)
UNICAMP – São Paulo, 2009.

João Pessoa, outubro de 2011


641

SAZONALIDADE NA COMPOSIÇÃO E ABUNDÂNCIA DE FAMÍLIAS DE


MOSCAS (BRACHYCERA E CYCHLORRHAPHA) NO PARQUE ESTADUAL DO
RIO DOCE
19
FONTENELLE, Julio Cesar Rodrigues
20
SILVA, Elis Vanessa Monteiro da
21
DEUS, Natália Cristiane de

RESUMO
A ordem Diptera (moscas e mosquitos) é dividida em três subordens Nematocera, Brachycera e
Cyclorrhapha, constituindo uma das mais abundantes ordens de insetos da Terra, ocorrendo em quase
todos os lugares e desempenhando funções ecológicas bastante relevantes em diversos ecossistemas. As
amostragens de dípteros aqui apresentados são resultados parciais de um subprojeto do Programa de
Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PERD/CNPq). Estudos de longa duração são relevantes já que
possibilitam o acompanhamento de populações e/ou comunidades por um longo período, observando as
variações que ocorrem ao longo do tempo de estudos como a distribuição sazonal dos insetos. Pesquisas
que utilizam dípteros como indicadores das condições ecológicas, de diversos tipos de mata, são raras
devido à complexidade de identificação taxonômica desses insetos, principalmente no que se refere a
espécies. Uma solução seria a utilização de níveis taxonômicos mais altos tais como família, como
substituto de espécies. A utilização de táxons superiores é bastante discutida. Vários pesquisadores relatam
à viabilidade de estudos entomológicos com insetos identificados até o nível de família. Muitas vezes as
bases taxonômicas da dipterofauna, além de serem raras, apresentam divergências, o que inviabiliza a
identificação ao nível de espécies, uma possível solução seria a identificação destes insetos até o nível de
família. O objetivo deste trabalho é utilizar os dípteros como bioindicadores das condições naturais do
Parque Estadual do Rio Doce (PERD), verificando as variações sazonais da riqueza e a abundância de
famílias de dípteros nas estações seca e chuvosa em diferentes tipos vegetação florestal.
PALAVRAS-CHAVE: Diptera – táxons superiores - famílias

1. INTRODUÇÃO
A ordem Diptera (moscas e mosquitos) é dividida em três subordens Nematocera, Brachycera e
Cyclorrhapha, constituindo uma das mais abundantes ordens de insetos da Terra, ocorrendo em quase
todos os lugares e desempenhando funções ecológicas bastante relevantes em diversos ecossistemas
(BORROR & DE LONG, 1969), como por exemplo, a decomposição de detritos vegetais e da ciclagem de
nutrientes (Frouz, 1999). Algumas espécies apresentam grande importância médica, veterinária e agrícola
(BUZZI & MIYAZAKI, 1999).
A importância funcional dos insetos é enorme, devido ao grande número de indivíduos e variedade,
porém a falta de valorização humana em relação aos insetos é um obstáculo enorme para a sua
conservação. No máximo cerca de 10% dos insetos foram descritos cientificamente. É necessário, portanto
encontrar formas de superar a falta de informações taxonômicas e até mesmo as divergências no
posicionamento de cada grupo em diferentes guildas tróficas para o entendimento e conservação da
biodiversidade (SAMWAYS, 1993).
Pesquisas que utilizam dípteros como indicadores das condições ecológicas de diversos tipos de
mata, são raras devido à complexidade de identificação taxonômica desses insetos, principalmente no que

19
Instituto Federal de Minas Gerais - campus Ouro Preto, Laboratório de Pesquisas Ambientais e-mail:
juliofontenelle@gmail.com.
20
Instituto Federal de Minas Gerais – campus Ouro Preto, Laboratório de Pesquisas Ambientais e-mail:
elisvanessa@yahoo.com.br.
21
Instituto Federal de Minas Gerais – campus Ouro Preto, Laboratório de Pesquisas Ambientais e-
mail:natalia_geografia@yahoo.com.br.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


642

se refere a identificação das espécies. Uma solução seria a utilização de níveis taxonômicos mais altos tais
como família, como substituto de espécies, o que é bastante controverso, mas que tornariam viáveis o uso
de estudos entomológicos como indicadores de qualidade ambiental.
Muitas vezes as bases taxonômicas da dipterofauna, além de serem raras, apresentam
divergências, o que inviabiliza a identificação ao nível de espécies (KITCHING et al, 2005). Essa dificuldade
de identificação representa a maior barreira que impede a utilização dos dípteros em diversos estudos.
As amostragens de dípteros aqui apresentados fazem parte de um subprojeto do Programa de
Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PERD/CNPq). Este trabalho é um resultado parcial deste estudo de
longa duração cujas coletas foram realizadas no período de 2000 à 2008. Estudos de longa duração em
unidades de conservação são muito relevantes já que possibilitam o acompanhamento de populações e/ou
comunidades por um longo período, monitorando a biodiversidade que se pretende preservar.
Distribuições de espécies não são fixas e podem mudar sazonalmente. De acordo com Henk (1978)
vários estudos têm comprovado que insetos tropicais sofrem mudanças sazonais em abundância conforme
as estações do ano se sucedem. A compreensão da dinâmica da sazonalidade destes insetos é essencial
para garantir sua preservação.
Segundo Powell (1995) a manutenção de uma sazonalidade de adaptação, é um requisito para
muitos organismos de sangue frio para a sincronização de etapas de desenvolvimento, tais como a postura,
a abertura do casulo e o surgimento de adultos. Diante do exposto, podemos prever que as alterações
climáticas como o aumento da temperatura global podem influenciar no ciclo de vida dos insetos.
O conhecimento da dipterofauna é de grande relevância, já que a destruição de uma determinada
espécie de insetos coloca em risco todo um ecossistema em que estes se encontram .
A gestão ambiental de áreas de preservação utiliza como subsídio principalmente os dados
ambientais disponibilizados pelas pesquisas realizadas em seu interior. Os estudos de biodiversidade estão
entre os mais utilizados neste contexto.
O objetivo deste trabalho é utilizar os dípteros como bioindicadores das condições naturais do
Parque Estadual do Rio Doce (PERD), verificando as variações sazonais da riqueza e a abundância de
famílias de dípteros nas estações seca e chuvosa em diferentes tipos vegetação florestal.
Considerando que as matas secundária baixa, secundária alta e primária representam uma ordem
crescente na quantidade e qualidade de recursos que possuem foi testada a previsão de que a abundancia
de indivíduos dessas famílias diferiria entre esses tipos florestais em resposta a essas diferenças na
disponibilidade de recursos.

2. MATERIAIS E MÉTODOS
O PERD é o maior remanescente da Mata Atlântica do Estado de Minas Gerais com uma área de
aproximadamente 36.000 ha., que abrange parte dos municípios de Timóteo, Marliéria e Dionísio, sendo
limitado ao Leste pelo Rio Doce e ao Norte pelo Rio Piracicaba (IEF, 1994).
O clima da região é tropical úmido mesotérmico de savana (Antunes, 1986). A estação chuvosa
ocorre de outubro a março e a seca de abril a setembro (Gilhuis, 1986).
A vegetação do parque pode ser considerada do tipo Floresta Estacional Semidecídua Submontana
caracterizada por 20% a 50% de árvores caducifólias (Lopes, 1998; Veloso et al., 1991).
No parque podem ser observados cerca de 10 tipos vegetacionais. Embora a vegetação de quase
todo o local do estudo esteja em bom estado de preservação, apenas 8,4% da área é considerada mata
primária alta. A maior parte da vegetação é secundária tendo se estabelecido após a ocorrência de
queimadas que ocorreram principalmente na década de 60 (Gilhuis, 1986).
As localidades amostradas neste estudo foram: Tereza ou Trilha da Lagoa do Meio (TE), Trilha da
Lagoa do Gambá (BG) e Trilha do Vinhático (VI). A área da Tereza é considerada de mata primária,
possuindo um estrato arbóreo bastante descontínuo com árvores muito altas espaçadas e um sub-bosque
desenvolvido com a presença de muitas taquaras. No local de amostragem da pesquisa existem muitos
troncos caídos e clareiras. A área da Lagoa do Gambá está localizada ao sul do parque, onde foram
realizadas coletas em dois locais muito próximos. Ambos são locais de mata secundária baixa, onde há
predominância de bambus. A área do Vinhático é considerada de mata secundária alta e situa-se próximo
às lagoas Dom Helvécio e do Gambá, porém, este local recebe um grande número de visitantes anuais.

João Pessoa, outubro de 2011


643

Neste trabalho foi apresentado apenas um resultado prévio desta pesquisa de longa duração,
referente à triagem realizada no ano de 2007 nas estações seca e chuvosa, onde é possível observar
resultados relativos à abundância e distribuição sazonal de famílias de Dípteros nos diferentes tipos
vegetacionais de mata primária e secundária.
As moscas foram coletadas utilizando-se armadilha do tipo Malaise (Townes, 1962). Foram
estabelecidos três pontos amostrais com suas respectivas armadilhas em cada área de estudo, com
distância de 25 m entre si, em um transecto perpendicular às bordas dos lagos ou das trilhas do PERD. A
distância mínima destas bordas foi de 60 m, com o intuito de minimizar um possível efeito de borda sobre
as amostragens. Em cada ponto amostral foi armada uma Malaise, totalizando três armadilhas em cada
local.
Todas as armadilhas foram instaladas no mesmo dia e mantidas por três semanas consecutivas
sendo esvaziadas semanalmente. Foram realizados dois eventos de coletas anuais: um no meio da estação
seca (entre julho e agosto) e outro no inicio da estação chuvosa (entre outubro e novembro).
Os dípteros foram identificados até família, exceto a subordem Nematocera, a seção Acalyptratae e
a superfamília Muscoidea que apresentam maior dificuldade de identificação.
Foi realizada uma analise de variância (ANOVA) de dois fatores para verificar se houve efeito
significativo do local e da estação na abundância de cada família. Além disso, foi feito um teste a posteriori
de Tukey para verificar as diferenças entre pares de locais e estação.

3. RESULTADOS
Foram encontrados um total de 6678 indivíduos, distribuídos em 18 famílias e mais a seção
Acalyptratae e a superfamília Muscoidea (Tabela 1). A riqueza de famílias foi maior na área de mata
primária (TE) (N= 16, além da seção Acalyptratae e superfamília Muscoidea), seguido pelas áreas de mata
secundária alta (VI) (N=14 famílias, além da seção Acalyptratae e superfamília Muscoidea) e baixa (BG) (N=
14 famílias, além da seção Acalyptratae e superfamília Muscoidea).
As famílias mais abundantes foram Phoridae (N=2678), Stratiomyidae (N=965) Dolichopodidae
(N=260) e a seção Acalyptratae (N=892).
A abundância de moscas encontradas foi maior na área da mata secundária alta (VI) (N=2925) tanto
na estação chuvosa (N=2318) quanto na seca (N= 607), seguido pela mata primária (TE) (N=2521) e mata
secundária baixa (BG) (N= 1232). Foi encontrada uma menor abundância total no período da seca em
qualquer uma das áreas amostradas.
Houve diferença significativa para a interação entre local e estação para as seguintes famílias:
Acalyptratae, Acroceridae, Asilidae, Mydidae, Stratiomyidae, Tachinidae, Therevidae, Xylomyidae (Tabela
2).
As famílias Acroceridae, Tabanidae e Mydidae foram mais abundantes na área do Gambá (BG) na
estação chuvosa. Na área da Tereza (TE) na estação chuvosa as famílias Acalyptratae, Asilidae, Platypezidae,
Stratiomyidae, Tachinidae, Therevidae e Xylomyidae foram as mais abundantes. Enquanto que na área do
Vinhático (VI) na estação chuvosa a maior abundância ocorreu para as famílias Acalyptratae, Asilidae e
Phoridae (Tabela 2).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


644

Tabela 1. Análise de variância (ANOVA)


Gambá Tereza Vinhático
Família Total
Chuvosa Seca Chuvosa Seca Chuvosa Seca
Acalyptratae 119 16 340 55 238 124 892
Acroceridae 2 0 0 0 0 0 2
Asilidae 6 1 47 0 22 4 80
Bombyllidae 6 0 16 0 6 0 28
Calliphoridae 0 0 1 2 2 2 7
Conopidae 0 2 18 1 20 2 43
Dolichopodidae 108 4 110 3 224 11 460
Empididae 5 2 240 0 104 12 363
Muscoidae 6 14 31 29 65 19 164
Mydidae 2 0 0 0 0 0 2
Phoridae 412 157 511 110 1128 340 2658
Pipunculidae 2 0 11 1 4 3 21
Platypezidae 0 0 4 0 3 0 7
Sarcophagidae 174 13 82 4 164 8 445
Stratiomydae 8 6 634 27 260 30 965
Syrphidae 1 0 6 0 7 2 16
Tabanidae 27 0 24 0 11 0 62
Tachinidae 55 84 158 52 60 50 459
Therevidae 0 0 2 0 0 0 2
Xylomyidae 0 0 2 0 0 0 2
Total geral 933 299 2237 284 2318 607 6678

Tabela 2. Análise de Tukey a posteriori


Família F (Interação) p Tukey
Acalyptratae 4,1 0,450 (TC>GC,GS,TS,VS) (VC>GS,TS)
Acroceridae 4,0 0,047 (GC>GS,TC,TS,VC,VS)
Asilidae 12,7 0,001 (TC>GC,GS,TS,VC,VS) (VC>GS,TS)
Bombyliidae 1,3 0,304 -
Calliphoridae 0,1 0,926 -
Conopidae 4,0 0,045 -
Dolichopodidae 1,1 0,354 (VC>GS,TS,VS)
Empididae 3,2 0,076 (TC>GC,GS,TS,VS)
Muscoidea 1,4 0,277 -
Mydidae 4,0 0,047 (GC>GS,TC,TS,VC,VS)
Phoridae 3,0 0,086 (VC>GC,GS,TC,TS,VS)
Pipunculidae 1,8 0,203 -
Platypezidae 3,2 0,074 TC>GC,GS,TS,VS
Sarcophagidae 0,4 0,65 -
Stratiomyidae 9,9 0,002 TC>GC,GS,TS,VC,VS
Syrphidae 1,0 0,396 -
Tabanidae 2,3 0,142 GC>GS,TC,TS,VS
Tachinidae 8,2 0,005 TC>GC,GS,TS,VC,VS
Therevidae 4,0 0,047 TC>GC,GS,TS,VC,VS

João Pessoa, outubro de 2011


645

Xylomyidae 4,0 0,047 TC>GC,GS,TS,VC,VS

4. DISCUSSÃO
Analisando o conjunto de dados notamos que quase todas as famílias tiveram maior abundância de
indivíduos na mata secundária alta , seguida pela mata primária e pela secundária baixa. Boa parte das
famílias tiveram efeitos significativos das interações entre local e estação, demonstrando que a variação
encontrada entre locais depende muito da estação.
É interessante notar que as matas primária e secundária alta apresentaram maior
diversidade de famílias e número de indivíduos, isso se deve possivelmente a abundância de matéria
orgânica presentes nestes locais.Outro aspecto notável é que a distribuição das famílias de dípteros nas
áreas estudadas é bastante sazonal.
Nas áreas do Gambá, (BG) houve uma maior ocorrência de dípteros da família Tabanidae,. Embora
o local possua vegetação do tipo mata secundária baixa, há grande presença de vertebrados como antas,
capivaras e onças que atraem estes dípteros hematófagos.
Com relação a metodologia de identificação dos dípteros, aqui utilizada o nível taxonômico de
família foi suficiente para diferenciar as áreas de estudo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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VELOSO, H.P et al. Classificação da vegetação brasileira, adaptada a um sistema universal. Rio de
Janeiro: IBGE, 1991.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


646

IMPLICAÇÕES DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS E OUTRAS AÇÕES


ANTRÓPICAS PARA O TURISMO NO RIO DAS MORTES, MATO GROSSO
Fátima Cristina Arantes Mobiglia MESQUITA1
Roberto de Barros MESQUITA2
1 Profª. Esp. Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). fatimamesquitanx@gmail.com
2 Prof. MSc. Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). robertomesquita@unemat.br

RESUMO
No Brasil, as tipologias de turismo associadas ao contato com o ambiente natural estão tendo um
acréscimo significativo de demanda, o que gera possibilidade de desenvolvimento econômico em regiões
com belezas cênicas, como as existentes ao longo do rio das Mortes, um importante atrativo turístico da
região do Vale do Araguaia matogrossense. Entretanto, as mudanças climáticas, que estão sendo objeto de
inúmeras pesquisas e tema de discussão em todo o planeta, têm potencial para causar impactos na vida
das populações em qualquer lugar do globo e podem impactar a atividade turística na região.
Paralelamente, a expansão da economia matogrossense, bastante ligada ao agronegócio, também tem
gerado pressões antrópicas sobre ambientes naturais. Assim, este estudo buscou identificar impactos das
mudanças climáticas e de ações antrópicas no rio das Mortes, na perspectiva de pescadores locais. A
investigação teve uma abordagem qualitativa e fez coleta de dados por meio de entrevistas semi-
estruturadas junto a pescadores residentes no município de Nova Xavantina – MT. Os resultados indicam
que os ribeirinhos percebem uma alteração significativa no regime de chuvas na região, redução da mata
ciliar às margens do rio e diminuição da disponibilidade de peixes, o que poderá comprometer a atividade
turística ligada à natureza na região pesquisada.
Palavras-chave: Degradação ambiental. Políticas públicas. Desenvolvimento econômico.

ABSTRACT
In Brazil, the types of tourism associated with the contact with the natural environment are
having a significant increase in demand, which creates opportunities for economic development in areas
with scenic beauty, like those along the Rio das Mortes, a major tourist attraction of the Araguaia Valley in
Mato Grosso. However, climate changes, which are subject of numerous studies and theme of
discussion around the planet, have the potential to impact the lives of people anywhere in the world and
could impact the touristic activity in the region. In parallel, the economic expansion of Mato Grosso, closely
linked to agribusiness, has also caused human pressures on the natural environments. Thus, this
study sought to identify impacts of climate change and human activities in the Rio das Mortes, in the
perspective of local fishermen. The investigation has a qualitative approach and made data
collection through semi-structured interviews with the fishermen living in the city of Nova Xavantina -
MT. The results indicate that the fishermen perceive significant change in rainfall in the region, reduction of
the riparian forest along the river and in the availability of fish, which could jeopardize the tourism linked to
nature in area surveyed.
Keywords: Environmental Degradation. Public policies. Economical development.

Introdução
As mudanças climáticas no nosso planeta não são recentes e nem incomuns. Durante bilhões de
anos a temperatura média da troposfera passou por longos períodos de resfriamento e aquecimento
global. O clima já se modificou por diversas razões: variações na intensidade solar, oscilação dos
continentes em razão do deslocamento das placas tectônicas, choques com grandes meteoros, emissões
vulcânicas, entre outros fatores.
Além disso, o processo natural chamado efeito estufa também promove mudanças climáticas ao
aquecer a baixa troposfera e a superfície terrestre. Os dois principais gases de efeito estufa são o vapor
d’água, controlado pelo ciclo hidrológico, e o dióxido de carbono (CO2), controlado pelo ciclo de carbono
(MILLER JR, 2007). Entretanto, a humanidade tem contribuído para o acirramento dos problemas

João Pessoa, outubro de 2011


647

ambientais advindos desse aquecimento com o uso intensivo dos recursos que utiliza, gerando grandes
concentrações de gases de efeito estufa pela queima de combustíveis fósseis, desmatamentos e incêndios
intensos de florestas e campos, grandes plantações e enorme utilização de fertilizantes inorgânicos, dentre
outros fatores.
Miller Jr (2007) ressalta que meteorologistas alertam que a preocupação não é só com a mudança
de temperatura, mas com a velocidade em que ela ocorre, visto que o rápido aumento da temperatura nos
daria pouco tempo para lidar com seus efeitos nocivos. Essa rápida mudança pode afetar a disponibilidade
de recursos hídricos ao alterar as taxas de evaporação e precipitação, com modificação nas áreas de
produção de alimentos; as correntes marítimas, com aumento dos níveis dos oceanos e rios; e, com
alterações na estrutura e localização de biomas, afetando a estrutura sócio-econômica ao redor do mundo.
Já se vivenciam alguns desses efeitos nocivos, pois as mudanças climáticas têm gerado fenômenos
intensos em várias partes do mundo, desabrigando uma quantidade enorme de famílias, além de matar um
grande número de pessoas e animais. Freqüentemente se vê pela televisão cidades inteiras sendo
devastadas por enormes inundações e lugares se modificando pela atuação do clima. De acordo com o
Relatório de Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil – 2011 da Agência Nacional das Águas (ANA),
aproximadamente 19% dos municípios brasileiros decretaram situação de emergência ou estado de
calamidade pública em função de eventos climáticos durante o ano de 2010.
Essa problemática leva a algumas indagações: Como será o futuro do turismo na região Centro-
Oeste? Visto que esta atividade tem grandes perspectivas de promover desenvolvimento econômico e
social, por meio das modalidades de ecoturismo, turismo de aventura, rural e cultural. Quais as implicações
das mudanças climáticas na atividade turística da região?
Para contribuir com estas reflexões, este artigo objetiva identificar impactos das mudanças
climáticas e de ações antrópicas no rio das Mortes, um importante atrativo turístico da região do Médio
Araguaia matogrossense, na perspectiva de pescadores locais.

Questões ambientais
Mudanças climáticas são entendidas como variações estatisticamente significativas da temperatura
média que persistam por décadas, e que podem ocorrer por causas naturais ou antropogênicas, ou pela
soma das duas (IPCC, 2001).
A discussão das questões ambientais normalmente associa a Revolução Industrial, que teve origem
há aproximadamente 250 anos atrás, ao uso preocupante dos recursos naturais, fazendo com que as ações
humanas sejam consideradas potencializadoras da degradação ambiental do planeta, principalmente no
que diz respeito às emissões de gases de efeito estufa.
Nas últimas décadas, as mudanças no clima têm ocasionado um número expressivo de perda de
vidas e de patrimônio, tanto natural quanto construído. Exemplo recente ocorreu no Rio de Janeiro, onde
no inicio de 2011, na região serrana, em função de chuvas “excessivas”, foi declarado estado de calamidade
pública devido às enchentes.
Novaes (2003) associa o aumento da preocupação com as questões ambientais ao crescimento do
turismo em áreas naturais e considera que isso pode contribuir efetivamente para a manutenção ou
melhoria da qualidade de vida nas comunidades receptoras.

Turismo e meio ambiente


Conforme Ruschmann (2002, p. 19), “a inter-relação entre o turismo e o meio ambiente é
incontestável, uma vez que este último constitui a ‘matéria-prima’ da atividade”. Beni (2006) também
entende que os recursos naturais e culturais se constituem insumos da atividade turística, visto que estes
provocam a afluência de turistas à determinada localidade.
Nesta perspectiva, a conservação do meio ambiente, no sentido amplo do termo, permite a
manutenção da atratividade dos produtos turísticos, garantindo a sustentabilidade econômico-financeira
da estrutura turística, bem como ambiental da comunidade receptiva. Assim, o meio ambiente assume um
lugar central no desenvolvimento turístico e leva os membros do trade a estabelecer limites sustentáveis
de utilização e proteção dos atrativos naturais.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


648

Barbieri (2007) define uso sustentável como exploração do ambiente que garante a perenidade dos
recursos ambientais renováveis e dos processos ecológicos, mantendo a biodiversidade e os demais
atributos ecológicos, de forma socialmente justa e economicamente viável.
Já o conceito de turismo sustentável está vinculado à pretensão de compatibilizar o
desenvolvimento turístico e a conservação dos recursos utilizados nesse processo. “Trata-se de adotar uma
visão da atividade a longo prazo, centrada na preservação dos elementos que tem favorecido o nascimento
de um destino turístico” (OMT, 2001, p. 230). Essa possibilidade está associada à existência de
planejamento participativo da atividade que envolva poder público, iniciativa privada e comunidade local.
Paralelamente, visando o aumento da eficiência no planejamento das atividades turísticas, ocorre a
segmentação do setor, que segundo Beni (2006) é a divisão das modalidades de turismo nas quais se
encaixa um grupo homogêneo de pessoas: descanso ou férias; negócios e compras; desportivo; ecológico;
rural; aventura; religioso; cultural; científico; gastronômico; estudantil; de congressos, convenções,
encontros e similares; familiar e de amigos; de saúde ou médico-terapêutico, são alguns exemplos.
Turismo ecológico foi um termo inicialmente usado por Hector Ceballos-Lascurain, presidente do
Ministério de Desenvolvimento Urbano e Ecologia do México, em 1981, e posteriormente, em 1983, foi
reduzido para ecoturismo, conforme Wearing e Neil (2001). Esta modalidade turística pode proporcionar a
relação harmoniosa do homem com a natureza, e em função disso, tem sido um dos segmentos turísticos
com maior expansão na atualidade.
O Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR) caracteriza ecoturismo como “a atividade turística
que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a
formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-
estar das populações envolvidas” (apud KINKER, 2002, p. 25). Logo, o ecoturismo pode gerar inúmeros
benefícios às comunidades e ao meio ambiente, contribuindo para consciência dos valores naturais e
culturais, proteção ambiental, criação de programas conservacionistas, geração de renda, respeito pelas
diferentes culturas, entre outros.

Turismo no rio das Mortes


A bacia hidrográfica do rio das Mortes situa-se na borda setentrional da bacia do Paraná, no
Planalto dos Guimarães, tendo sua nascente na serra de São Lourenço, município de Campo Verde-MT, e
indo desaguar no rio Araguaia, no município de São Félix do Araguaia, depois de percorrer
aproximadamente 1070 km de extensão. Sua água é potável e consumida pela população ribeirinha de
dezessete municípios do Estado de Mato Grosso, além de ser fonte de sobrevivência para muitos por meio
da pesca.
O rio das Mortes tem grande potencial turístico ao longo do seu curso, na medida em que inúmeras
ilhas e praias se formam no período da seca, atraindo turistas de várias regiões para desfrutar momentos
de descanso e lazer. Além disso, está se tornando alvo de festivais de praia, no mês de julho, e de pesca,
nos meses de maio a outubro.

A investigação
A pesquisa contemplou entrevistas semi-estruturadas com moradores ribeirinhos residentes na
cidade de Nova Xavantina, que exercem ou exerceram atividade ligada à pesca no rio das Mortes, por
ocasião da realização do projeto Rio Limpo, Rio Lindo, um conjunto de ações de pesquisa e extensão
promovidas por membros dos movimentos sociais locais, e professores e egressos da Universidade do
Estado de Mato Grosso (UNEMAT), no período de 2005 a 2011.

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Fonte: Heber Alfarano (2010). Nova Xavantina, Mato Grosso.

Figura 1: Vista panorâmica de Nova Xavantina e do rio das Mortes

Nova Xavantina, localizada no leste do Estado de Mato Grosso, foi fundada em 14 de abril de 1944,
tem população de 19.643 habitantes (IBGE, 2010), formada predominantemente por matogrossenses,
gaúchos, catarinenses, paraenses, goianos e paulistas (D’ERI, 2002). O município localiza-se a 635 km da
capital do Estado de Mato Grosso, Cuiabá, fazendo parte da Amazônia Legal e do Vale do Araguaia.

Depoimentos de ribeirinhos
Antigos moradores de Nova Xavantina descreveram como era a região alguns anos atrás e
relataram as mudanças ocorridas ao longo das últimas décadas. Augustinho Araújo, nascido na beira do rio
das Mortes, na Aldeia de Santa Terezinha, diz:

Era só mato, não tinha sujeira de lixo, não tinha nada. Era só mato, peixe e bicho. Quase não tinha
nem gente, não tinha ninguém, só nas proximidades de onde eu morava e aqui na Xavantina. O resto era só
mato brabo. [...] Aqui era só pescando peixe. A população já poluiu demais da conta, e agora você passa aí, o
mato da beira do rio está desmatado, o barranco caído das árvores, o fogo vem e mata e está tudo destruído.

Seu Joaquim Rodrigues, Joaquim Canoeiro, também conhecido como Velho do Rio, quando
questionado sobre como era o entorno do rio das Mortes, lembrou que:

Quando aqui eu cheguei, no dia 14 de abril de 1968, isso aqui era muito bom, acho muito difícil
voltar a ser como era, os fazendeiros estavam entrando aqui para desmatar. A primeira foi a Tanguro, as
margens do rio eram tudo mato, era mata só, não tinha nada desmatado. Hoje ele é desmatado, naquele
tempo não. Eu vim de Cocalinho pelo rio, emparelhado na serra na época que acharam o garimpo velho, ai eu
vim até ali e voltei. Peixe era demais, era em quantia que até admirava, o que mais pegava era curupeté. Hoje
não tem mais.

Como Seu Joaquim relata, é muito difícil que as margens do rio voltem a ser como eram, mas o
quadro de degradação pode ser alterado, caso os agentes interrompam suas constantes ações destrutivas.
Para isso, a educação ambiental pode contribuir na sensibilização das pessoas, mas é necessário que as
políticas públicas voltadas à conservação dos recursos naturais sejam efetivamente implementadas.
A educação ambiental é mencionada aqui na perspectiva de Quintas (1995), que a vê como prática
dialógica voltada à criação de condições para que haja participação dos diversos segmentos sociais na
concepção, formulação e aplicação de políticas públicas voltadas à qualidade do ambiente natural e
cultural.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


650

Conforme constatado pela própria Secretaria de Planejamento do Estado de Mato Grosso, no


documento denominado MT+20 (2006), a expansão da agropecuária foi responsável pelos graves
problemas de desmatamento, tais como redução dos recursos florestais e da biodiversidade; degradação
de bacias ou sub-bacias hidrográficas, com o assoreamento dos rios e degradação pela carga de
agrotóxicos; além da compactação e erosão do solo. Em função disso, é necessário que esse passivo
ambiental seja mitigado.
O Código Florestal brasileiro estabelece que Área de Preservação Permanente (APP) é área
protegida, que pode ou não estar coberta por vegetação nativa, com função ambiental de preservar os
recursos hídricos, a biodiversidade, a paisagem, a estabilidade geológica, o fluxo gênico da fauna e da flora;
de proteger o solo; e assegurar o bem estar das populações humanas (BRASIL, 1965).
Entretanto, as APPs geralmente não têm valor econômico para os produtores rurais, tornando
qualquer outra forma de uso mais rentável (MATTOS, 2006). Tal como ocorre no Mato Grosso, ao estudar a
aplicabilidade da legislação florestal nas propriedades rurais da região da Zona da Mata mineira, Calabria
(2004) concluiu que os produtores daquela região não a vêm aplicando no tocante às áreas de preservação
permanente.
Outro antigo morador da localidade, Lorival Ferreira de Miranda, Loro Peixe, que fazia a travessia
de pessoas de uma margem para outra numa canoa, seu cochinho, faz o seguinte relato:

Quando eu cheguei aqui, os bairros de Xavantina eram tudo Cerrado. Agora pela água que o rio tem,
nem o cochinho que eu tinha, que eu trabalhava num cochinho, não está andando mais, tem que andar no
canal e cuidar. Os barcos grandes têm lugar que encalha e antes não tinha isso. As matas daqui tinham muito
mato, muito varjão, não tinha fazenda naquela época.

O assoreamento do rio também foi apontado pelos demais pesquisados como conseqüência do
desmatamento das margens do rio das Mortes e da mudança no regime de chuvas. Sérgio Pescador, que
vive a 27 anos na margem do rio, explica que: “O rio está mais raso. Tem época que só quem conhece o rio
pode navegar. Embarcação grande, nesta época que o rio está com a água limpa e boa para o turismo, não
tem como navegar”.
José Gomes de Brito, o Zé Brito, reforça essa informação comentando que o volume de água
diminuiu muito, “está ajuntando praia de areia no meio do rio”. De acordo com Antonio Carlos Lambert,
também conhecido como Nenê Pescador ou Nenê Dedinho, o rio está ficando muito raso e em setembro
“se não conhecer o rio, não anda”, e “onde passava antigamente, hoje não passa, hoje tem que mudar o
“triêro” do rio para conseguir passar”.
Quanto à mudança no regime de chuvas da região, Sérgio Pescador afirma que:

Mudou muito porque tem ano que chove e tem ano que chove pouco. A chuva está descontrolada,
não tem mais chuva de São José, nem chuva do caju em setembro. As mudanças ocorrem por causa do
desmatamento. O homem está acabando com tudo.

A chuva de São José é assim chamada, pois ocorre no dia 19 de março, que é o dia dedicado a este
santo; enquanto, a chuva do caju ocorre em setembro e estimula a floração dos cajueiros garantindo
grande produção da fruta que é muito apreciada pela população local, tanto in natura como em sucos e
sorvetes.
Nenê Pescador confirma que o regime de chuvas está alterado. Ele menciona que em outubro a
chuva era muito boa e “todo mundo plantava”, mas hoje “tem que esperar a chuva para ver se vem mansa
ou brava”. Além disso, o entrevistado explica que: “a chuva muito pesada desbarranca o rio. Dá dó!”.
Ao discutir a relevância do Cerrado, Novaes e Ribas (2001, p. 75) atribuem importância a este
bioma devido ao mesmo representar a “espinha dorsal” do sistema hidrográfico brasileiro, pois “nele
nascem os formadores de nossas três grandes bacias e localizam-se áreas importantes de recarga de
grandes aqüíferos subterrâneos”. Logo, o assoreamento detectado pelos entrevistados pode impactar a
região pesquisada, bem como outras localidades mais distantes, num efeito cascata.

Considerações finais

João Pessoa, outubro de 2011


651

A pesquisa permitiu concluir que as mudanças climáticas e as ações antrópicas,


principalmente de desmatamento das APPs ao longo do rio das Mortes, estão alterando a navegabilidade e
a piscosidade do rio, o que trás conseqüências diretas para o turismo na localidade, visto que os eventos
denominados Festivais de Pesca têm atraído um número significativo de visitantes ao município, bem como
o fato de que os barcos maiores, com capacidade para vinte pessoas ou mais, capazes de viabilizar rotas
turísticas de longa distância, só conseguem navegar por períodos cada vez mais curtos do ano em função
da mudança no regime de chuvas da região.
Com isso, faz-se necessária a fiscalização efetiva do cumprimento da legislação ambiental e
a discussão de políticas públicas especificas voltadas à manutenção da qualidade ambiental da região, o
que permitirá a continuidade do desenvolvimento da atividade turística na localidade.

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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


652

PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE ESTUDANTES MACAENSES SOBRE OS RISCOS


OCASIONADOS PELAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Gabriela dos Santos Maia
Mestranda do PPG Ciências Ambientais e Conservação
NUPEM - UFRJ
eu.gabimaia@gmail.com
José Maria Ribeiro Miro
IFF - Campos dos Goytacazes
j.miro@uol.com.br
Reinaldo Luiz Bozelli
Departamento de Ecologia – UFRJ
bozelli@ufrj.br

RESUMO
As mudanças climáticas globais estão em evidência na comunidade científica, provocam
preocupações na esfera política, além de riscos para as sociedades no mundo todo. A partir da discussão
sobre a complexidade climática e dos inúmeros campos do conhecimento que o fenômeno abrange, o
presente artigo buscou analisar a percepção ambiental relacionada às mudanças climáticas de parcela de
jovens matriculados no segundo segmento do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, da cidade de
Macaé-RJ, durante o ano de 2009. A área de estudo, conhecida como Capital Nacional do Petróleo vem
tendo um acelerado crescimento populacional, devido principalmente ao crescimento das atividades
relacionadas à cadeia produtiva do petróleo, que modifica intensamente o espaço físico da planície
costeira, considerada uma das principais áreas de risco de acordo com os relatórios elaborados pelo IPCC
(Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas- sigla em inglês). A atuação da sociedade na gestão do
espaço pode promover a democratização do uso recursos naturais e o monitoramento do ambiente para a
prevenção e mitigação de riscos locais relacionados às mudanças climáticas. Porém, foi observado nesse
extrato da população um reduzido conhecimento sobre os reais riscos locais e falta de conexão com as
mudanças climáticas globais. Diante dessa lacuna, o trabalho propõe a inserção da educação ambiental na
estrutura escolar como um instrumento auxiliar para a construção de conhecimentos e habilidades
interdisciplinares pelos estudantes, demandadas pela adequada abordagem da complexidade ambiental na
qual estamos inseridos.
Palavras-chave: Mudanças climáticas. Percepção Ambiental. Macaé. Educação Ambiental.

CONSIDERAÇÕES SOBRE A COMPLEXIDADE CLIMÁTICA ATUAL


O aquecimento da superfície da Terra já é considerado um fato comprovado cientificamente, nota-
se que este fenômeno está inserido na dinâmica socioambiental em escala global e traz consequências em
âmbito local. A ocorrência de inúmeros extremos climáticos da atualidade está sendo correlacionada ao
atual Aquecimento Global, o qual se acredita ter sido influenciado e intensificado pela elevação do
consumo de combustíveis fósseis praticado pelas atividades das sociedades industriais. São exemplos das
conseqüências do Aquecimento Global: o derretimento das calotas polares que levam ao aumento do nível
do mar; tempestades mais intensas; noites mais quentes; aumento do número de furacões; perda da
biodiversidade; formação do ciclone Catarina na parte litorânea dos Estados de Santa Catarina e Rio Grande
do Sul no final do mês de março de 2004; entre outros. Este último fenômeno raramente atinge o litoral
brasileiro. As causas do Aquecimento Global não estão ainda esclarecidas apesar dos vários estudos
iniciados e das várias hipóteses anunciadas. Tais incertezas acabam por dificultar a leitura e conclusões
sobre o clima futuro (MENDONÇA & DANNI-OLIVEIRA, 2007).
As mudanças climáticas, tão discutidas pela mídia global, têm sido determinadas pelas distintas
alterações que muitos parâmetros climáticos vêm apresentando em várias partes do mundo. Mas as
mudanças climáticas, de acordo com AYOADE (2001), ocorrem num padrão temporal de referência dado
em termos de alguns milhões de anos. A dificuldade de prever ao longo prazo as alterações climáticas se
deve ao fato do clima sustentar flutuações irregulares.O que se tem feito a respeito é a criação de cenários

João Pessoa, outubro de 2011


653

futuros que promovem um levantamento das possíveis alterações climáticas e seus desdobramentos
socioambientais.
A preocupação com a problemática ambiental advém das consequências para as sociedades
envolvidas nas chamadas catástrofes naturais, que por sua vez atingem e limitam a racionalidade
econômica estabelecida. A partir da década de 70 intensificaram-se os estudos relacionados à dinâmica
ambiental e de acordo com LEFF (2000) “reconhece-se que os problemas ambientais são sistemas
complexos, nos quais intervêm processos de diferentes racionalidades, ordens de materialidade e escalas-
espaço temporais”. A abordagem dessa temática demanda uma análise holística e interdisciplinar que
alcance explicações das inter-relações entre as ciências da sociedade e da natureza.
Os estudos que relacionam a quantidade de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera com variação
anual de temperatura global comprovam a interação entre os dois índices, já que o CO2 é um dos
componentes atmosféricos que possuem boa absorção do calor emitido pelo sol, responsáveis pelo
fenômeno do efeito estufa. A variação desses índices propõe um aumento que vem se mostrando
progressivo se considerada a escala temporal de um século aproximadamente, quando as emissões de CO 2
na atmosfera foram intensificadas pelas atividades humanas a partir da Revolução Industrial (O´NEILL,
2007).
MENDONÇA & DANNI-OLIVEIRA (2007), alertam que em menos de um século, a temperatura do
Planeta aumentou 0,5ºC, sendo que algumas marcas de temperatura recordes foram alcançadas no final do
século XX. E em 1998 foram medidas as temperaturas mais elevadas já registradas na Terra nos últimos 150
mil anos. Embora o aumento de 0,5ºC, pareça numericamente ser um valor irrisório, os autores o
comparam com as diferenças de temperaturas que marcaram os períodos glaciais e interglaciais do
Planeta, quando as temperaturas variaram entre 3ºC e 6ºC da temperatura média anual.
Devido às incertezas quanto a progressão do aumento da temperatura e quanto às emissões de
gases de efeito estufa, somadas às preocupações relacionadas com as consequências de uma possível
mudança climática, foi estabelecido o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas
(Intergovernamental Panel on Climate Change - IPCC), pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) e
pelo Programa das Nação Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) em 1988, que tem como objetivo
“avaliar a informação científica, técnica e socioeconômica relevante para entender os riscos induzidos pela
mudança climática na população humana” (MARENGO, 2008).
As catástrofes ambientais, divulgadas pela mídia global, poderão acontecer caso o fenômeno do
aquecimento global se intensifique e haja o despreparo das sociedades em relação ao mesmo. A
abordagem desses cenários futuros e eventos extremos climáticos que ocorreram recentemente serviu
principalmente para a criação de um alerta na sociedade global. O aumento gradual da população mundial,
associado aos insustentáveis hábitos atuais de consumo acarretarão no aumento da utilização dos recursos
naturais, agravando a escassez e a deterioração deles. Por mais que não esteja comprovada a relação entre
mudança do clima e atividades humanas, é necessário buscar soluções para problemas que já vem se
arrastando ao longo da história da humanidade (pobreza, fome, violência, injustiça social) e tenderiam a se
agravar num contexto de mudanças globais. Além disso, este mesmo contexto explicita mais intensamente
a necessidade buscar um desenvolvimento das atividades humanas que caminhe paralelamente à dinâmica
natural da Terra e não contra ela.

SOBRE OS RISCOS LOCAIS


A intensificação da ação antrópica no ambiente foi estimulada pela expansão capitalista, que
encontrou diversas maneiras de imprimir acumulação de poder na paisagem. A atual forma de
relacionamento da sociedade com a natureza permitiu a evolução do sentido econômico da Terra a partir
da transição da economia natural para a economia capitalista, associada à crescente exploração dos
recursos naturais. Desta forma o trabalho humano que, a priori, é a mediação entre a sociedade e o espaço
passa a ser a mediação entre as necessidades do capital e do espaço para a reprodução de suas relações
(ROSSINI,1983).
O indivíduo se distancia da natureza e a sociedade provoca alterações na dinâmica ambiental que
trazem prejuízos até mesmo para a própria lógica econômica. Isso dificulta a apreensão individual do
espaço global e a percepção coletiva das ações individuais refletindo negativamente na dinâmica global,
pois cria barreiras na busca de soluções para os problemas ambientais atuais (SALGUEIRO, 2001).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


654

Este estudo explora aspectos que relacionam questões globais que interferem diretamente na
dinâmica local. As regiões costeiras estão entre os principais locais de riscos apontados pelo IPCC. As
populações litorâneas, inseridas na dinâmica oceano-continente-atmosfera, estão vulneráveis a possíveis
transgressões marinhas originadas do derretimento de calotas polares. Se o processo de elevação do nível
do mar, que está em torno de 1 cm por ano, tiver continuidade, a situação geral será dramática entre 150 a
200 anos. Prevê-se dois cenários de resposta para as populações costeiras: saída gradual para o interior
(classes altas e médias) ou construção de casas palafíticas nos locais inundados (classes populares). Espera-
se o resgate da consciência do indivíduo sobre o espaço coletivo para que haja uma gestão participativa
com resoluções democráticas para os problemas ambientais que busque, por exemplo, estacionar o
aumento da temperatura e consequentemente quebrar a continuidade da subida do nível do mar
(AB’SABER, 2008).
O município de Macaé localiza-se na baixada litorânea quente e úmida do estado do Rio de Janeiro
que é isolada pela Serra do Mar e fortemente influenciada pelas chuvas orográficas. Caracterizada, assim
como a maior parte da região sudeste, por duas estações climáticas: uma seca e outra chuvosa. Porém a
baixada litorânea fluminense se diferencia quanto a estação seca. A estação chuvosa da região, o verão, é
influenciada pela convecção da massa equatorial continental e pela frente intertropical. E o inverno,
caracterizado como seco, não ocorre com tanto rigor devido à proximidade do oceano que permite a
entrada constante de umidade no litoral e às frentes polares que provocam alguma precipitação tendo em
vista que chegam com a umidade do atlântico sul por onde passaram. A cidade possui precipitação anual
elevada alcançando 1.261,2 mm, mas o verão ainda agrega maior porcentagem da umidade, 75% do total
anual (BERNARDES, 1952).
O litoral do município de Macaé, extremidade sul da planície costeira do rio Paraíba do Sul, é, em
maior parte, ocupado pela área urbana. A lagoa de Cabiúnas, no Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba
(PNRJ) é seu limite a nordeste, o rio Macaé localizado no centro da cidade e considerado o extremo sul da
planície costeira do rio Paraíba do Sul, e a lagoa de Imboassica delimitando a fronteira com o município de
Rio das Ostras ao sul (LAMEGO,1945; BENTES, 1997; AMARAL, 2003).
A parte norte do litoral macaense é caracterizada por um sistema regressivo pleistocênico,
facilmente reconhecido nas lagoas do PNRJ, pois contém “braços” que mostram as antigas linhas de praias.
Esse sistema é precedido por um estreito cordão litorâneo transgressivo holocênico com tendência a
continuidade nesse processo de transgressão. Observa-se a erosão desse fenômeno no topo do cordão
litorâneo da praia do Lagomar localizada à retaguarda do PNRJ. Apesar disso, essa praia apresenta reduzida
variabilidade topográfica que, mesmo sob condições de forte tempestade, não altera substancialmente o
perfil que chega a acumular sedimentos (BENTES, 1997; MUEHE,1998; FERNANDEZ, 2007).
O estuário do rio Macaé caracteriza a morfologia litorânea do centro da cidade, contribui no
estabelecimento do padrão de distribuição dos sedimentos na zona submarina próxima à praia a norte da
desembocadura, através do recobrimento do substrato arenoso com areias muito finas, a ponto de
diminuir significativamente a declividade do perfil de equilíbrio original da antepraia (MUEHE, 2006).
A nascente do rio Macaé localiza-se na reserva ecológica Macaé de Cima, no município de Nova
Friburgo, a 1.350 m de altitude, atravessa o município de Casimiro de Abreu e corre para o município de
Macaé. Seu curso superior e médio é caracterizado por um percurso sinuoso com o leito rochoso e
acidentado, apresentando matas ciliares e remanescentes de Mata Atlântica bem preservada, por causa
das encostas com grande declividade que dificulta a fixação de moradias e agricultura. O baixo curso desse
rio foi retificado através da intervenção do extinto Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS),
que tinha como objetivo diminuir a incidência de malária. Em contrapartida, com o alargamento do rio,
retirada dos seus meandros e o desmatamento da mata ciliar para prática da agricultura e pastagem houve
a diminuição do volume de água e maior deposição de sedimentos no leito do rio. Já nas proximidades com
a foz, o rio Macaé atravessa diversos bairros da cidade: Aroeira, Botafogo, Malvinas, Nova Holanda, Centro
e Barra de Macaé, tendo os mesmos problemas que a maioria dos rios que atravessam centros urbanos,
como o lançamento de esgoto sanitário sem tratamento adequado, ocupação e exploração das margens. O
pontal junto à desembocadura já esteve a 300 m da posição atual por causa de um evento de tempestade
no ano de 1988, quando mostrou a fragilidade desse ambiente costeiro (AMARAL, 2003; MUEHE, 2005;
OLIVEIRA, 2007).

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A linha de costa ao sul do município faz parte do compartimento do rio Macaé ao embaiamento do
rio São João, caracterizado por um sistema de barreiras regressivas pleistocênicas truncadas por uma
barreira holocênica transgressiva, que ao longo de sua costa é interrompido por afloramentos do
embasamento cristalino. As praias de maior expressão são as de Imbetiba, junto ao porto de Macaé,
descaracterizada pela construção de um conjunto de espigões que não conseguiram reter os sedimentos, a
Campista e dos Cavaleiros. Ao lado da última praia citada notam-se características típicas do sistema
barreira-laguna, representada pela Lagoa de Imboassica e alimentada pelo rio de mesmo nome. Esse
ambiente lagunar encontra-se impactado pelo lançamento de efluentes domésticos e cuja renovação das
águas somente tem ocorrido por ocasião da abertura artificial do canal de maré. Tais aberturas são
frequentes em épocas de fortes chuvas, quando o nível da água se encontra elevado, provocando riscos aos
moradores do entorno lagunar e impactando negativamente o funcionamento ecológico da lagoa (MUEHE,
1998; MUEHE, 2005; FERNANDEZ, 2007; SANTOS, 2006).
O crescimento urbano na planície costeira macaense vem ocorrendo de forma rápida e
desordenada desde a fixação da sede logística da Petrobras na cidade, em 1979. O aumento da área
urbana, a impermeabilização do solo, o desmatamento para construção de novos bairros residenciais e
industriais, somado ao fato de que a cidade é uma área de deposição de sedimentos próxima ao mar que
está sujeito à sua dinâmica, facilitam a ocorrência das enchentes durante as chuvas torrenciais do verão.
Essas inundações são apontadas como um dos problemas urbanos que mais preocupam a população de
acordo com a pesquisa de percepção ambiental de SILVA & BRANDÃO (2008) na cidade de Macaé.
A partir dessas descrições pode-se concluir que a cidade é um ambiente propício à inundação
devido à sua morfologia de planície, alto índice pluviométrico e a ação antrópica. Criar mecanismos de
prevenção e monitoramento marítimo já é necessário, ocorrendo ou não o aumento do nível do mar
causado pelo aquecimento global.
A construção coletiva do patrimônio ambiental em detrimento do interesse individual se faz
necessária tendo em vista que as ações individuais desse modelo de sociedade afetam a qualidade
ambiental da coletividade. A liberdade individual foi alimentada pelo sistema capitalista baseado em Adam
Smith e a idéia da mão invisível, a qual determina que o interesse individual sempre seria adequado ao
interesse coletivo, mas de acordo com LAYRARGUES (1998), a crise ambiental do final do século XX e início
do XXI é resultante da invasão do espaço coletivo por interesses privados, do desconhecimento dos efeitos
colaterais danosos de usos abusivos dos recursos naturais, da falta de conhecimento ecológico aplicado na
atividade produtiva do ser humano, da degradação causada pela ganância individual de determinados
agentes sociais a fim de obter ganhos a curto prazo, dentre outros.
PERCEPÇÃO AMBIENTAL LOCAL

A metodologia aplicada nessa pesquisa baseou-se em análise de percepção ambiental feita através
de questionários, considerando a opinião e a experiência do indivíduo em relação ao espaço vivido,
relacionando seus resultados às produções científicas. O objetivo foi analisar o comportamento e o
envolvimento da sociedade macaense em idade escolar em relação ao aquecimento global e as possíveis
mudanças climáticas na escala global e a sua percepção quanto aos riscos locais, principalmente aqueles
referentes às inundações.
Utilizou-se a amostra com base em critérios associados à dimensão populacional macaense em
idade escolar, ao nível de escolaridade (ensino fundamental e médio) e à administração institucional
(municipal, estadual, federal e privada). O extrato da população escolhido exclui todos aqueles não
vinculados a alguma instituição de ensino, tendo em vista que se trata de análise do setor educacional do
sítio urbano do município de Macaé. Foram computados 456 questionários, aproximadamente 2,5% do
total de matrículas do ensino fundamental e médio (20.072 alunos), da área urbana de Macaé de acordo
com dados do Censo Escolar de 200722.
Entre março e abril de 2009 foram visitados 8 estabelecimentos de ensino da cidade de Macaé,
escolhidos de acordo com a localização geográfica, para maior abrangência do território da cidade. Em 76
turmas foram entrevistados 1573 alunos dos quais foram computados aleatoriamente 6 alunos por turma,

22
No ano da pesquisa os dados do Censo Escolar ainda não estavam atualizados, sendo os de 2007 os mais
recentes.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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desconsiderando aqueles que não preencheram corretamente o campo bairro pois pretendeu-se
representar a distribuição espacial dos alunos, de forma a expor na pesquisa o maior número de bairros da
área urbana de Macaé. Das escolas visitadas foram 4 municipais, 2 estaduais e 2 escolas privadas,
representando uma realidade de 66 estabelecimentos de ensino voltados para o segundo segmento do
ensino fundamental e ensino médio.
O questionário foi elaborado com perguntas fechadas e abertas. A partir da tabulação dos dados
referentes à pergunta: “Você já ouviu falar em mudanças climáticas?” concluiu-se que 88% dos alunos
entrevistados já tinham tido o contato com o tema, o que confirma sua ampla divulgação. A parte textual
do questionário solicitou aos alunos uma descrição sobre seus conhecimentos em torno das mudanças
climáticas, da qual se obteve variadas respostas que foram agrupadas em 6 subtemas gerais. O primeiro
subtema, englobou aqueles alunos que escreveram sobre as conseqüências (7,8% das respostas) das
mudanças climáticas que estão acontecendo ou irão acontecer no futuro, o segundo selecionou os que
deram ênfase às causas (7,1%) das mudanças climáticas. Aqueles que propuseram soluções (4,8%) para
evitar ou mitigar os riscos de uma variação climática, formaram o terceiro subtema.
O quarto subtema agrupou todos aqueles alunos que descreveram a escala em que as mudanças
climáticas ocorrem, visualizando a dinâmica global através de modificações locais, ou seja 12,7% dos
alunos. O subtema 5 se referiu àqueles alunos que escreveram que não sabiam nada sobre o assunto,
totalizando 15,7% dos entrevistados e o último subtema agrupou os alunos que simplesmente deixaram em
branco e se abstiveram de opinião, ou seja 13% dos questionários tabulados. Esses dados estão explícitos
no gráfico 1.

Gráfico 1: Sobre as mudanças climáticas, os alunos percebem principalmente:

Gráfico elaborado a partir das respostas da pergunta aberta: “O que você sabe sobre as mudanças
climáticas?”
Ao analisar as respostas direcionadas para as consequências das mudanças climáticas percebidas
por 78% verificou-se que a maioria, ou seja, 81% daqueles que citaram as conseqüências, explicou sobre
uma mudança brusca no tempo, dando exemplos abrangentes de modificações climáticas em âmbito
global.

“E isso tudo envolvendo mudança de tempo: aquecimento global, geleiras descongelando rápido
demais, mares aumentando seu nível de altura, calor abundante e depois muita chuva provocando
alagamentos em cidades, bairros.” 17 anos, 3º ano- Ensino Médio.

Apenas 19% do total dos alunos que perceberam as consequências das mudanças climáticas,
citaram possíveis riscos relacionados aos ambientes costeiros (gráfico 2). As respostas relacionadas aos
riscos locais foram agrupadas em três abordagens: aqueles que deram ênfase ao aumento do nível do mar,
aqueles que perceberam e relacionaram as constantes enchentes e alagamentos como um fator de
vulnerabilidade levando em consideração que a área de estudo é uma planície costeira e aqueles que

João Pessoa, outubro de 2011


657

descreveram sobre as fortes tempestades formadas nos oceanos que estão sendo relacionadas às
modificações da temperatura.

Gráfico 2: São conseqüências das mudanças climáticas:

O gráfico representa as respostas que expuseram as consequências sobre as mudanças climáticas; (2) Os
itens destacados indicam as respostas relacionadas aos riscos de uma planície costeira.

As respostas referentes às causas das mudanças climáticas tenderam em sua maioria a relacioná-las
às atividades antrópicas como, por exemplo, a poluição dos ambientes marinhos, a degradação das áreas
de preservação permanente, a falta de tratamento de lixo nas grandes cidades, o desmatamento de
florestas tropicais, a emissão de gases poluentes na atmosfera, tudo isso devido a utilização intensiva dos
recursos naturais. Apenas 2,1% daqueles que enfatizaram sobre as causas das mudanças climáticas, as
perceberam como um fenômeno natural do curso da Terra.
Ocorre então uma contradição na qual uma expressiva quantidade de alunos se percebe como ator
e modificador do espaço, ao responsabilizar seus próprios atos como contribuintes para o aquecimento
global (68% das respostas da pergunta fechada: “você se sente responsável pelo Aquecimento Global?”),
mas não conseguem visualizar as características e os possíveis riscos do território onde vivem. Este fato
sugere dificuldades para uma futura ação preventiva quanto aos riscos climáticos, pois através da análise
dos jovens estudantes, a próxima geração da população economicamente ativa, pôde-se verificar a falta de
conexão entre as informações da escala global e da escala local na construção do conhecimento.

UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO PELA EDUCAÇÃO AMBIENTAL


Para entender a dinâmica ambiental e interpretar a paisagem é necessário que haja auto-
compreensão humana, pois sem isso, de acordo com TUAN (1980), não podemos esperar por soluções
duradouras para os problemas ambientais que, fundamentalmente, são problemas humanos. A resolução e
o enfrentamento deles dependem do entendimento do centro psicológico da motivação, dos valores e
atitudes que dirigem as energias para os objetivos. Os sentidos corporais (audição, olfato, visão, tato e
paladar) são o impulso fundamental para a relação com o mundo conquistado ou percebido pelo indivíduo,
que mesmo antes de perceber, sente e em último momento pensa. Ele é envolvido, também, por uma
construção histórica e cultural de ordem pessoal, que interage com outras experiências humanas,
possibilitando a compreensão do espaço vivido através de diversos ângulos.
As ações da Educação Ambiental são baseadas nos conceitos de ética e sustentabilidade,
identidade e diversidade cultural, mobilização, participação e práticas interdisciplinares, de forma a criar a
co-responsabilização do indivíduo na sociedade. Os diversos atores sociais agregam significados diferentes
para os mesmo conceitos na EA, pois a construção coletiva desse conhecimento leva em consideração as
peculiaridades de cada grupo social. Considerando todos estes aspectos relevantes, a Educação Ambiental
se revela como um fenômeno complexo e multidimensional que agrega contribuições de diversas
disciplinas e matrizes filosóficas. Esta característica permite encará-la como um instrumento auxiliar de

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


658

construção coletiva na resolução de problemáticas ambientais atuais como as mudanças climáticas, que
dependem justamente dessa inter-relação entre diversos campos do conhecimento para seu entendimento
e atenuação (JACOBI, 2003; QUINTAS, 2008).
Apesar dos objetivos e princípios da Educação Ambiental estarem parcialmente esclarecidos, a sua
aplicabilidade ainda não proporcionou resultados concretos. A “Educação Ambiental” comumente
desenvolvida nas escolas se limita à reprodução de práticas individuais, como os 3R´s, onde o reciclar tem
mais ênfase que o reduzir e o reutilizar, e são enfatizados apenas em datas comemorativas como descreve
SATO (2001).
A dificuldade de inserção da Educação Ambiental na instituição escolar se deve ao fato dela fazer
parte do atual modelo de sociedade que gerou os problemas ambientais atuais. A escola é estruturada em
saberes disciplinares que dificultam ou impedem o debate e a troca de conhecimentos entre as diversas
disciplinas, ou seja, os professores lidam apenas com seu campo do conhecimento desconectado dos
outros saberes. Como bem exemplifica CARVALHO (2004) apud LIMA & FERREIRA(2010):
“(...)o professor de Geografia não toca nos aspectos biológicos da formação de um relevo em estudo;
o historiador não considera a influência dos fatores geográficos na compreensão do declínio de uma
civilização; o professor de Biologia não recupera os processos históricos e sociais que interagem na formação
de um ecossistema natural, e assim por diante.”

Porém, professores são sujeitos capazes de reproduzir novos sentidos, afinal são agentes sociais,
que juntamente com os estudantes podem construir a Educação Ambiental pautada em suas vivências e
suas especificidades ambientais locais. A Educação Ambiental crítica caminha no sentido oposto à educação
que promove práticas similares para diversas situações, que não fomenta a participação ativa do indivíduo
na sociedade e gera a reprodução linear de informações ao invés da construção coletiva do conhecimento.
Esta nova proposta, chamada interdisciplinar, pode buscar soluções para desconfortos e problemas
ambientais nas diversas escalas de atuação social. Desafios socioambientais complexos, tal qual o do
aquecimento global, discutido neste artigo, requerem entendimento da sociedade global sobre as diversas
interações na Terra.
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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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ANÁLISE GEOAMBIENTAL DO NÚCLEO DE DESERTIFICAÇÃO EM GILBUÉS -


PIAUÍ
Ivamauro Ailton de Sousa SILVA
Graduando em Geografia no Instituto de Estudos Sócio Ambientais
Universidade Federal de Goiás
ivamauro@hotmail.com
Maria Cristina Xavier e AZEVEDO
Mestranda em Geografia no Instituto de Estudos Sócio Ambientais
Universidade Federal de Goiás
Euma Campos BARREIRA
Graduanda em Geografia no Instituto de Estudos Sócio Ambientais
Universidade Federal de Goiás

RESUMO
No palco da sociedade contemporânea, a preocupação com o Meio Ambiente constitui um tema de
indiscutível relevância e vêm sendo discutida, adquirindo enfoques e discussões científicas, políticas e
sociais. A desertificação pauta desta pesquisa deve ser compreendida como um fenômeno integrador de
processo naturais, sociais e econômicos que alteram o equilíbrio do solo, da vegetação, do microclima, os
recursos hídricos e a qualidade de vida das populações. O conceito de desertificação é alvo de
controvérsias principalmente no que se refere as causas sejam naturais ou antropogênicas. A área de
estudo localiza-se em Gilbués, município situado no sudoeste do estado do Piauí, onde apresenta intenso
processo de degradação ambiental, considerado o maior núcleo de desertificação do país. Esta pesquisa
almeja analisar de forma integrada os elementos/aspectos geoambientais como as feições do solo,
elementos climáticos, topografia, vegetação, assim relacionando-os com o processo de desertificação.
Palavras-chave: Análise Geoambiental; Desertificação; Gilbués-PI

INTRODUÇÃO
O tema desertificação tem gerado pesquisas relevantes em várias áreas da Geografia,
Biologia, Ecologia, Agronomia, Geologia e Engenharia Ambiental. A desertificação é uma expressão extrema
da degradação ambiental que vem sendo constatada desde 1940 pelo botânico e ecólogo francês
Abreuville. No Brasil, os primeiros estudos foram desenvolvidos por Vasconcelos Sobrinho (1983). Além
deste, vários outros estudiosos se dedicaram ao assunto, sobretudo em relação à desertificação no
Nordeste Brasileiro.
O conceito de desertificação ainda é alvo de controvérsias/paradoxos, em virtude da
complexidade de concepções de diferentes autores/pesquisadores no território brasileiro. As contradições
conceituais estão pautadas, sobretudo no que se referem às causas e os indicadores geoambientais e
socioeconômicos que influenciam o processo de desertificação.
A Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação conceitua a
desertificação como o processo de degradação das terras das regiões áridas, semi-áridas e sub-úmidas
secas, resultantes de fatores diversos tais como as variações climáticas, causas naturais e derivações
antropogênicas. (BRASIL, 1996).
De acordo com Oliveira-Galvão (1994) a ocorrência da desertificação é considerada restrita
aos ambientes áridos, semi-áridos e subúmidos secos, que naturalmente apresentam fragilidade ambiental
e limitadas condições de autocontrole ou autorecuperação, frente à instalação de processos
transformadores.
O processo de desertificação, a erosão, o desmoronamento de encostas, o surgimento e a
movimentação de areais, presença de voçorocas, exposição de solo, perda da biodiversidade, alteração do
microclima, são alguns dos aspectos naturais que evidenciam o processo de remodelamento da paisagem,
produtos resultantes de impactos que vem sendo constatados na área da presente pesquisa.
A área de estudo desta pesquisa localiza-se em Gilbués, município localizado no sudoeste
do estado do Piauí, onde apresenta uma intensa degradação ambiental. Além de Gilbués, este processo

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abrange ainda as áreas rurais dos municípios de Monte Alegre do Piauí, Barreiras do Piauí e São Gonçalo do
Gurguéia com extensão de aproximadamente 6.131 km² (BRASIL, 2004).
A região constitui com outros três municípios do nordeste: Irauçuba no Ceará, Cabrobró em
Pernambuco e Seridó no Rio Grande do Norte, áreas denominadas de Núcleo de Desertificação, sendo o de
Gilbués o maior Núcleo de Desertificação brasileiro SALES (1997); OLIVEIRA-GALVÃO (1994); CARVALHO
(2007).
No tocante ao quadro natural, condicionantes como a alta incidência de raios solares, com
consequentes altas temperaturas, ventos quentes, intensas chuvas, ausência e diminuição da cobertura
vegetal, solos litólicos, arenosos, escoamento superficial, aceleram e agrava o processo de desertificação na
região em Gilbués-PI.
O objetivo do presente trabalho é analisar o processo de desertificação envolvendo os
aspectos geoambientais, visando fornecer subsídios para a avaliação da suscetibilidade, a distribuição
e os indicadores relevantes para o planejamento ambiental. Além disso, objetiva-se nesta pesquisa
elaborar uma caracterização física da área de estudo nos seus aspectos geoambientais (geologia,
geomorfologia, pedologia, vegetação, hidrografia) além das formas de uso e ocupação do solo.
A análise goeambiental integrada pode possibilitar o estudo dos elementos físicos,
destacando as potencialidades e limitações dos recursos naturais considerando as variáveis relativas ao
suporte físico (condições geológicas e geomorfológicas), ao envoltório (condições climáticas e hídricas) e à
cobertura (solos e recobrimento vegetal, associado às formas de uso/ocupação da terra).
Nesse sentido, é necessário tecer algumas considerações sobre a análise geoambiental
integrada, como subsídio aos estudos da desertificação em Gilbués-PI, espera-se que as informações aqui
apresentadas possam subsidiar futuras pesquisas na região.

MATERIAIS E MÉTODOS
Os materiais utilizados no desenvolvimento desta pesquisa foram: relatórios técnicos,
levantamento bibliográfico de textos, artigos científicos e dissertações, visitas campo/técnica, imagens de
satélite, elaboração de mapas temáticos, coleta e tratamento dos dados, registros fotográficos na área de
estudo.
O campo foi realizado em Janeiro de 2011, realizou-se o campo a partir da
necessidade de identificar e compreender a influência dos elementos Geoambientais no processo de
Desertificação em Gilbués. Verificou-se a intensidade da precipitação na época chuvosa, a influência da
erosividade da chuva na erodibilidade dos solos, tipos de relevo, comportamento dos fatores intrínsecos
das vertentes, análise dos solos, as formas de apropriação, esses procedimentos foram adotados com base
na investigação de campo e de literatura.
Na perspectiva da abordagem geográfica dos elementos geoambientais, a utilização do
método sistêmico, expressa uma visão extremamente interativa, relacionando processos e respostas. O
enfoque sistêmico fornece uma nova via de investigação, abrindo novas relações para as interpretações
mais complexas a respeito dos elementos físicos e dos impactos ambientais na natureza.

Localização da área de Estudo


O município de Gilbués se localiza na região Sudoeste do Estado do Piauí, na Microrregião
do Alto Médio Gurguéia, a 797 km de distância da capital do Estado Teresina (Figura 01). Sua área de
unidade Territorial compreende à 3.475,18 km2 e densidade demográfica de 2,94 hab/km2; foi criado em
1938, segundo o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tem uma população de
10.393 habitantes.
Tem como limites municipais, ao norte Baixa Grande do Ribeiro e Santa Filomena, Oeste
estado do Maranhão, Sudoeste Barreiras do Piauí, ao Sul São Gonçalo do Gurguéia, na porção leste Monte
Alegre do Piauí e Riacho Frio. A Principal via de circulação e acesso para outros municípios e estados é
realizado pela rodovia federal BR 135.

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Figura 1. Mapa de Localização da área de estudo.

Caracterização Geológica
No tocante ao quadro natural, a área de estudo está assentada sobre terrenos paleozóicos
da Bacia Sedimentar do Maranhão-Piauí e mesozóicos da Bacia do São Francisco. Destaca-se por apresentar
litologias extremamente vulneráveis a erosão, representadas basicamente por siltitos, arenitos e
conglomerados distintos pertencentes às Formações Poti, Piauí, Areado, Pedra de Fogo, Sambaíba e
Urucuia.
A Bacia Sedimentar do Maranhão-Piauí, também denominada de Bacia do Parnaíba,
caracteriza-se por uma estrutura pouca afetada por eventos tectônicos e está instalada em posição
intracratônica. A seqüência paleozóica datada do Carbonífero inclui a Formação Piauí, compreendendo
arenitos róseos, e em sua parte inferior, folhelhos, argilitos e siltitos, sendo mais severamente afetada pelo
processo de desertificação.
A Formação Areado é constituída por três unidades: a inferior é composta de arenitos
quartzosos contendo conglomerados diamantíferos basais. A unidade intermediária contém siltitos,
folhelhos e arenitos intercalados, enquanto que a unidade superior é composta de arenitos finos calcíferos
com leitos de argilitos avermelhados fossilíferos (CPRM, 1972). A lateritização é um processo frequente nos
solos da região. Tais litologias geológicas sedimentares favorecem processos de erosão acelerando a
desertificação.

Pedologia
A região de Gilbués está inserida sobre três tipos de Solos: Latossolo Vermelho Amarelo,
lúvissolo crômico e o Argissolo. O solo predominante do núcleo de desertificação é o Argissolo, são
provenientes da alteração de arenito, folhelho, calcário, silexito e siltito, é friável com baixa umidade, tem
reduzida capacidade de retenção de água, poroso, jovem, arenoso, pobre em matéria orgânica, associados
com areias quartzosas, com a profundidade variando localmente (CPRM, 2004). Essas litologias são
extremamente vulneráveis à erosão.

Geomorfologia
As áreas sedimentares do nordeste abrangem extensas chapadas tabuliformes e cuestas.
Topograficamente, os planaltos situados no sudoeste do Piauí correspondem às superfícies tabulares de
estrutura horizontal, a área de estudo se encontra inserida na área dos Chapadões do Alto Médio Parnaíba,
que constituem chapadas com altitudes decrescentes de sul para norte, variando cotas de

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aproximadamente 800 e 300 metros, com zonas rebaixadas e dissecadas, afetadas pelo processo de
degradação (FILGUEIRAS,1991).
Estas unidades são intituladas de Chapadas do Meio Norte, depressão do Meio Norte e
chapadas do São Francisco, todas situadas no sudoeste do estado. Ao analisar as unidades Geomorfológicas
da região de Gilbués, pode ser observados o retalhamento desenvolvido nas cuestas, e ainda morros
testemunhos constituídos pela Formação Urucuia, responsável pela formação de mesetas e chapadões.
No tocante ao quadro do processo de desertificação, observaram-se que algumas unidades
geomorfológicas (morros/serras) sendo devastadas pelo processo de degradação ambiental e avanço de
areais para regiões mais baixas. Este problema é decorrente devido à ausência de cobertura vegetal,
intensidade da precipitação, solo arenoso e topografia do terreno.

Figura 2. Falhas e desorganização do relevo ocasionado pela ausência da cobertura vegetal, intensas chuvas
torrenciais, solos rasos e arenosos, fluxo/escoamento superficial acentuado, os areais expande-se para superfícies
adjacentes da área, causando o crescimento de areais/solo.

Recursos Hídricos
A drenagem da área de Estudo está representada pelos altos cursos dos rios Parnaíba,
Uruçuí Vermelho, Uruçuí Preto e Gurguéia com drenagem relativamente densa, além dos riachos São
Miguel, Boqueirão, Santa Maria, Boqueirão, Sucuriu de regime intermitentes. O padrão de drenagem
predominante é o dendrítico, isoladamente tendendo a pinado (CPRM, 1972).

Vegetação
No estado do Piauí, os cerrados ocupam cerca de 46% do território (Figura 13). Na área de
estudo, a vegetação é caracterizada pelo bioma Cerrado Tropical subcaducifólio tipo campo sujo e limpo
(árvores esparsas de pequeno porte e tronco retorcido e com arbustos e subarbustos espaçados entre si
(CPRM, 1972).
Nos vales, ocorrem mata ciliar e vegetação de brejo, com presença de palmeiras como o
buriti e o babaçu, as áreas de solos mais degradados se encontram recobertas por gramíneas e vegetação
herbácea e enclaves/contanto com outras vegetações (FILGUEIRAS, 1991). No que se refere às Unidades de
conservação ambiental o setor Oeste abrange parte do Parque Nacional Nascentes do Rio Parnaíba (IBGE,
2000).

Caracterização Climática
A região de estudo possui clima subúmido seco, com temperaturas mínimas de 25ºC e
máximas de 36ºC. A precipitação pluviométrica média anual é definida no regime equatorial e continental,
com totais anuais variando de 800 a 1200 mm concentrando-se de novembro a maio. (INMET,1992).
A época mais chuvosa está entre novembro e março, ao passo que, o período de seca está
entre junho e outubro (Figura 3) São observadas duas estações bem definidas com relação às chuvas, com
alta variabilidade interanual, que constitui um fato típico de regiões subúmidas e semiáridas. A
sazonalidade climática determina características de intermitência da rede hidrográfica.

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RESULTADO E DISCUSSÕES

Figura 3. Índice Pluviométrico de Gilbués-Piauí

O agravamento dos problemas ambientais enfrentados pela humanidade, acarreta


impactos na redução progressiva da disponibilidade dos recursos naturais e também no comprometimento
da qualidade de vida das populações. Nesse sentido, Peixoto, Silva e Moura (1997) enfatizam que o
aumento da degradação dos recursos naturais tem demandado, na ciência e na sociedade, providências
urgentes quanto a sua recuperação, manejo e conservação.
A desertificação “é um processo de fragilidade dos ecossistemas das terras secas em geral,
que em decorrência da pressão excessiva exercida pelas populações humanas, ou às vezes pela fauna
autóctone, perdem sua produtividade e capacidade de recuperar-se” (VASCONCELOS SOBRINHO, 1978).
Para Nimmer (1988), desertificação “é a crescente degradação ambiental expressa pelo
ressecamento e perda da capacidade de produção dos solos. Esse ressecamento crescente do meio natural
pode ser uma decorrência da mudança do clima regional e ou do uso inadequado dos solos pelo homem ou
ambos simultaneamente”.
Destarte, Ab'Saber (1977) & Conti (1995) evidenciam que a desertificação pode ser
entendida como uma mudança climática desencadeada por causas naturais que estaria incluída numa
escala cronológica muito mais ampla que humana, interessado portanto a estudos geológicos e
paleoclimáticos, vinculados a fenômenos globais.
Bertoni & Lombardi Neto (1985) contemplam que a intensa degradação ambiental em
Gilbués-PI é consequência dos processos de erosão hídrica pela ação das gotas da chuva sobre solos
extremamente friáveis. O processo de degradação do solo na área de estudo afeta uma grande extensão de
solo de cor avermelhada, que domina quase totalmente a região degradada (figura 4).

Figura 4. Processo de Desertificação em Gilbués, nota-se a ausência da cobertura vegetal, solo exposto
ressecado, desestruturado, acarretando uma subtração da biota. Em decorrência da estação chuvosa e do
escoamento superficial, criam-se formas concavizadas e rampas longas. (Foto de Ivamauro A.de S. Silva Janeiro de
2011).

O campo realizado no mês de Janeiro de 2011 observou-se que nos arredores da área de
solo degradado apresentam vegetação de cerrado e caatinga sob stress hídrico, sobre uma camada de areia

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clara que pouco a pouco está sendo erodida, dando lugar a um solo avermelhado, com feições erosivas,
ressecado, desestruturado e desaparecimento/rarefação da biota e falhas no tapete vegetal.
A região localizada em baixa latitude 9º Sul, ocasiona alta insolação intra-anual intensa,
com clima tropical subúmido seco, potencializada e condiciona particularidades em relação aos fatores de
variabilidade climática, oscilações de temperaturas (mínimas e máximas), chuvas intensas como média
anuais variando de 800 a 1200 mm, secas que ocasionam alta erosão eólica, subtração da cobertura vegetal
e de recursos hídricos.
A área de estudo, abrange ecossistemas frágeis, tem feições/litologias de solos
extremamente suscetíveis ao processo de degradação ambiental, em alguns setores a topografia favorece o
avanço de areais para superfícies adjacentes, processo denominado de escoamento superficial é
influenciado, sobretudo pela intensidade da chuva e pela topografia.
Colville (1987) afirma que em regiões onde há carência da cobertura vegetal são
propicias/estão sujeitas a processos erosivos e consequentemente a desertificação, pois sem a vegetação o
solo fica exposto e desprotegido das ações externas. Por sua vez a o solo perde o equilíbrio ocorrendo o
desaparecimento da biota.
Nesse sentido, os ecossistemas perdem sua capacidade de regeneração, verificando-se
rarefação da fauna e redução da superfície coberta por vegetação, seguidas de empobrecimento dos solos
e salinização, com isso ocorre o processo denominado por Conti (1995) de Desertificação Biológica.
Em outras palavras, atribui-se a esse fato a retirada rápida e indiscriminada da cobertura
vegetal nativa que gera um grande desequilíbrio hidrogeológico relacionado com o aumento do
escoamento superficial em detrimento da infiltração, fenômeno capaz de esculpir nos terrenos desde
pequenos sulcos até grandes voçorocas (BERTONI; LOMBARDI NETO, 1985).
O solo exposto influencia na dinâmica atmosférica/climática da região, resulta em
reflectância alta e implica no aumento do Albedo tão nível da superfície. Conti (1995) elucida que o Albedo
em níveis alto, inibe a formação de nuvens e reduzindo a probabilidade de chuvas. Da mesma forma, o solo
desprotegido e exposto diretamente à radiação solar tem sua capacidade de retenção de água muito
diminuída.
Destarte, Charney (1975) afirma que a elevação de 21% no índice de albedo provocaria um
decréscimo de cerca de 50% no volume da precipitação. Em outras palavras as causas da desertificação
foram conceituadas por Rodrigues (1992) e Ferreira (1994) como Indicadores, elementos geoambientais ou
socioeconômicos que contribuem para o aumento/avanço do processo de desertificação.
Em Gilbués-PI os indicadores geoambientais relevantes para a análise da suscetibilidade à
desertificação são:
I. Feições de solo: remoção de partículas de solo com textura média, argiloso, arenoso, pouco
desenvolvido, pobre em matéria orgânica, contribuição do escorrimento das águas precipitadas que
transportam as partículas dos solos.
II. Eventos Climáticos: altas temperaturas, ventos quentes e secos estimuladores da
evapotranspiração, as irregularidades climáticas (intensos períodos de seca, seguidos de intensos de
chuvas), o poder da erosividade das chuvas na erodibilidade dos solos.
III. Relevo: a influência da declividade dos terrenos para a mobilização dos sedimentos
transportados por relações processuais, infiltração, escoamento superficial ou fluxo de terra.
IV. Ausência da cobertura vegetal: com a subtração da vegetação faz com que os solos expostos
fiquem desprotegidos com o impacto das gotas da chuva em terrenos de médio e acentuado declive.
Os resultados indicam que toda a região de estudo se encontra em desequilíbrio e a
degradação do solo pode ser observada em diferentes graus: a) Moderada: grande degradação da
cobertura vegetal e surgimento de areia, nos setores nordeste, sudeste e sudoeste da região; b)
Grave/Severa: ampliação das áreas sujeita a formação de voçorocas e aparecimento de dunas, avanço da
erosão eólica, na porção oeste da região, próximo do Rio Uruçui-vermelho; c) Muito Grave/Muito Severa:
desaparecimento quase completo da biomassa, impermeabilização e salinização dos solos, situados no
setor sul da região, próximo ao núcleo urbano.
A intensidade da precipitação é um dos fatores mais importantes, devido o impacto das
gotas no solo, quanto maior a intensidade, maior é a perda por erosão. A ação erosiva depende do volume
e da velocidade da chuva, declividade do terreno e capacidade de absorção do solo (figura 5).

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Foto 5. Avanço/formação de
areais em regiões mais baixas, em
ocorrência na estação de verão,
quando as chuvas arrastam enorme
quantidade de sedimentos (detríticos)
transportados em suspensão no
escoamento superficial em uma área
rebaixada, dando origem ao terreno
com areais. (Foto: Ivamauro A.Sousa
Silva, Janeiro de 2011).

Neste aspecto, os aspectos morfológicos, bem como as variações climáticas associadas à


forte erosividade das chuvas locais e da erodibilidade de seus solos assumem maior expressividade nos
condicionantes da desertificação, resultando em grave quadro de erosão, como se observa em Gilbués. A
escassez de estudos detalhados nesta área dificultou a compreensão da pesquisa no que se refere às
causas e impossibilita intervenções mais eficientes na região.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Desertificação em Gilbués pode ser compreendida como um fenômeno/processo
integrador de eventos naturais, sociais, econômicos e culturais que induzem e desequilibram do clima, o ar,
a água, o solo, a vegetação, bem como a qualidade de vida humana em áreas susceptíveis a este processo
de degradação ambiental.
Por meio do panorâmico apresentado, cabe ressaltar que o entendimento da
caracterização Geoambiental da área de estudo, exige o conhecimento da dinâmica, dos processos e das
relações existentes entre os elementos físicos e antropogênicos que atuam no meio ambiente, sendo
necessário ter uma visão integrada dos fatores que o compõem e influenciam num determinado fenômeno.
Diante da importância e a complexidade do fenômeno da desertificação destaca-se a
necessidade do desenvolvimento de pesquisa futuras, no sentido de complementar o presente estudo,
considerando variáveis de natureza sócio-econômica, política e numa abordagem interdisciplinar e que
conduzam a um diagnóstico mais preciso da problemática da desertificação.

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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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INFLUÊNCIA DAS CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS AVALIADAS NA


MESOREGIÃO DO AGRESTE PARAIBANO
Napoleão Esberard de Macêdo BELTRÃO, Orientador
Eng. Agro. D.Sc. Pesquisador do CNPA- Embrapa Algodão, Campina Grande-PB.
e-mail: nbeltrao@cnpa.embrapa.br
James Luis da Costa e SILVA,
Universidade Federal da Paraíba (UFPB) – Graduando em Agronomia, estagiário CNPA- Embrapa Algodão, e-mail:
jamescnpa@live.com;
Ricardo Alves da SILVA ,
Universidade Federal da Paraíba (UFPB) – Graduando em Agronomia,
e-mail: ricardoalves297@hotmail.com

RESUMO
A meteorologia agrícola ou agrometeorologia se estabelece em nossos paradigmas para
auxiliarmos e mesmo para garantir que a agricultura atinja com eficiência à máxima produção, com os
mínimos riscos possíveis, e com os menores riscos econômicos de forma sustentável. O clima da Terra tem
variado ao longo das eras, forçado por fenômenos em escalas de tempo em decorrência dos anos, surgiu à
hipótese que a temperatura média global da superfície estaria aumentando devido à influência humana
trazendo com sigo inúmeros impactos diretos e indiretos. Essa hipótese está fundamentada em estudos
climatológicos observados ao decorre dos anos anteriores através das estações meteorológicas. Baseado
em estudos com modelos numéricos de simulações climáticas o aumento da concentração dos gases do
efeito estufa na atmosfera é o responsável pelo atual aquecimento do planeta. O presente trabalho foi
realizado com dados obtidos da estação meteorológica da Embrapa Algodão localizado em Campina
Grande – PB. Neste contexto, o objetivo deste estudo foi avaliar os fatores meteorológicos do agreste
paraibano com alternativa de propiciar aos produtores informações ideais com margens de segurança para
posteriores projeções de produção com bases nos fatores meteorológicos. Entretanto, os estudos neste
sentido devem ser mais aprofundados, com um maior número de informações reunidas para permitir a
identificação e correlação dos diversos fenômenos que influenciam nas mudanças climáticas vivenciadas
nos maiores centros urbanos do Estado da Paraíba.
PALAVRAS CHAVE: agricultura de precisão, clima, meteorologia.

1 – INTRODUÇAO
A meteorologia agrícola ou agrometeorologia se estabelece em nossos paradigmas para auxiliar ou
mesmo para garantir que a agricultura atinja com eficiência à máxima produção, com os mínimos riscos
possíveis, e com os menores riscos econômicos de forma sustentável. A agricultura é a atividade econômica
humana mais dependente das condições climáticas, sendo que 80 % da variabilidade da produção agrícola
mundial devem-se à variabilidade das condições meteorológicas durante o ciclo de cultivo, especialmente
para as culturas de sequeiro (SENTELHAS & MONTEIRO, 2009).
Entende-se como acompanhamento fenológico a abordagem baseada no início e na duração de
alterações visíveis no ciclo de vida das plantas correlacionadas com fatores climáticos (LARCHER, 2006).
Segundo Mellinger e Richers (2005), estes estudos visam fornecer parâmetros para a conservação e
exploração racional, conciliando sustentabilidade com economicidade.
A Terra vem passando por mudanças climáticas decorrentes das altas temperaturas e mesmo do
aumento da concentração de gases que provocam o efeito estufa na atmosfera. As concentrações de
carbono na atmosfera saltaram de 288 partes por milhão (ppm) no período pré-industrial para 378,9 ppm
em 2005, de acordo com o estudo de Schein (SCHEIN, 2006).
Até mesmo cientistas do maior emissor mundial, os Estados Unidos, já se mostram convencidos de
que nós somos responsáveis pelo problema. Estudo apresentado à Academia Americana para o Avanço da
Ciência mostraram de forma irrefutável que o aumento da temperatura dos oceanos deve-se às emissões
provocadas pelas atividades humanas (BARNETT et al., 2001)

João Pessoa, outubro de 2011


669

No entanto a agricultura somente existe onde os ecossistemas são capazes de manter suas funções
básicas de funcionamento (MARTINELLI & FILOSO, 2009). Então, o nível de produtividade potencial ou
rendimento máximo de uma cultura é determinado, principalmente, por suas características genéticas e
grau de adaptação ao ambiente. Porém as exigências de clima, solo e água para um crescimento e
rendimento ótimo diferem de cultura para cultura e entre variedades (PEREIRA et al., 2002).
A agricultura é a atividade econômica humana mais dependente das condições climáticas, sendo
que 80 % da variabilidade da produção agrícola mundial devem-se à variabilidade das condições
meteorológicas durante o ciclo de cultivo, especialmente para as culturas de sequeiro (SENTELHAS &
MONTEIRO, 2009).
Assim, tendo um ecossistema com suas funções básicas é possível cultivar plantas para atender às
necessidades humanas, mas a produção estará dependendo das condições edafoclimáticas, do nível de
conhecimentos técnicos e das condições socioeconômicas.
Conseqüentemente, o conhecimento gerado ao longo do tempo é muito diversificado,
proporcionando técnicas agrícolas diferenciadas para cada região do planeta (PATERNIANI, 2001).
No entanto, o estudo da relação entre as técnicas de cultivo, variedades e as condições
edafoclimáticas com os ecossistemas no qual está inserido irá condicionar valores diretamente significantes
na produção, qualidade e mesmo na sustentabilidade do agronegócio.
Nesse sentido, a agrometeorologia, é considerada uma ciência multidisciplinar por definição, pois
reúne uma série de conhecimentos necessários para análise e entendimento das relações entre o ambiente
físico e as atividades agrícolas, bem como à orientação das ações de manejo. Destacando-se pela sua
contribuição fundamental no enfrentamento de desafios e por permitir conhecer os impactos do tempo e
do clima sobre cada cultura (MONTEIRO, 2009).
Muitas das práticas agrícolas de campo, como o preparo do solo, a semeadura, a adubação, a
irrigação, as pulverizações, a colheita, dentre outras, dependem também de condições específicas de
tempo e de umidade no solo, para que possam ser realizadas de forma eficiente. Além disso, as condições
climáticas afetam a relação das plantas com os microrganismos, insetos, fungos e bactérias, favorecendo
ou não a ocorrência de pragas e doenças (PEREIRA et al., 2002).
Segundo (SENTELHAS & MONTEIRO, 2009), as principais variáveis meteorológicas que interferem
na produção agrícola são: chuva, temperatura do ar, radiação solar, fotoperíodo, umidade do ar e do solo,
velocidade e direção do vento.
Todavia, para esta ampliação na área de cultivo poder apresentar viabilidade econômica, faz-se
necessária à implantação por parte dos agricultores de novas tecnologias de aplicação simples e de baixo
custo, objetivando-se uma maior verticalização de toda cadeia produtiva (BELTRÃO, 2007). No entanto as
práticas de manejo utilizadas, profundidade do lençol freático, permeabilidade do solo, taxa de
evapotranspiração, chuvas, salinidade da água subterrânea e outros fatores hidrogeológicos são os
responsáveis pela variabilidade espacial de propriedades físicas e químicas dos solos (CHAVES et al, 2005).
Afetando substancialmente a fisiologia da planta comprometendo eventualmente sua produtividade, no
entanto de acordo com a classificação de Köppen, no Nordeste predominam os seguintes tipos climáticos:
(As´) Quente e úmido, com chuvas de outono-inverno e ocorre desde o litoral até o Planalto da Borborema.
A época chuvosa tem início em março, e duração até julho e agosto, com período de estiagem de setembro
a fevereiro. A temperatura do ar apresenta valores médios anuais compreendidos entre 22º a 26ºC; (Bsh)
Semi-árido quente, compreende a microrregião do Brejo Paraibano e o Planalto da Borborema. Apresenta
grande irregularidade no regime pluviométrico, e temperatura média superior a 26º C; (Aw´) Quente e
seco, com chuvas desde o município de Patos, na Paraíba, até o Ceará. As maiores precipitações
pluviométricas ocorrem nos meses de fevereiro e março, com médias anuais superiores a 600 mm. A
estação seca corresponde ao período de maio até dezembro (AMARAL et al., 2004). Segundo Costa (2002)
afirma que, estes estudos procuram examinar as relações entre os ciclos das plantas e as flutuações
registradas em certos parâmetros ambientais, em especial na disponibilidade de água no solo (precipitação
pluvial) ou na temperatura do ar. Tais dados quando associadas aos avanços nas áreas da
agrometeorologia, climatologia, meteorologia, sensoriamento remoto, geoprocessamento e informática,
contribuem substancialmente para que os agricultores possam ajustar suas atividades conforme as
variabilidades e mudanças do clima, levando a redução dos riscos na agricultura (SENTELHAS & MONTEIRO,
2009).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


670

Objetivou-se com este trabalho realizar caracterização edafoclimáticas do planalto da Borborema.


Contudo trazer informações meteorológicas tecnificadas com relação a desenvolvimentos das regiões
circunvizinhas para agricultores em contradições as virtualidades climatológicas do agreste paraibano para
assim se possibilitar e planejar com uma mera margem de segurança a agricultura familiar.

2 – METODOLOGIA
O trabalho foi conduzido no Centro Nacional de Pesquisa do Algodão (Embrapa Algodão), na cidade
de Campina Grande - PB, localizada na zona Centro Oriental do Estado da Paraíba, no Planalto da
Borborema do Agreste Paraibano cujas coordenadas geográficas são latitude sul 7°13’11” e longitude oeste
35°53’31”W.Grw, e altitude 547,56m. Foram coletados dados da estação meteorológicos a qual as variáveis
analisadas foram: velocidade do vento através de um anemômetro este mede a velocidade do vento (em
m/s) e, em alguns tipos, também a direção em graus, a temperatura do ar através do termômetro de
máxima e mínima a que indicam as temperaturas máxima e mínima do ar (°C), ocorridas no dia, a
precipitação através do pluviômetro a qual mede a quantidade de precipitação pluvial, ou seja, a chuva em
milímetros (mm), a evapotranspiração através do psicrômetro a qual mede a umidade relativa do ar de
modo indireto em porcentagem (%) que se opõe de dois termômetros idênticos, um denominado
termômetro de bulbo seco, e outro com o bulbo envolvido em gaze ou cadarço de algodão mantido
constantemente molhado, denominado termômetro de bulbo úmido e também através do tanque
evaporimétrico Classe A que também mede a evaporação em milímetros (mm) numa superfície livre de
água, além da insolação através de um heliógrafo que registra a insolação ou a duração do brilho solar, em
horas e décimos. Estes dados foram coletados diariamente nos horários das 09, 15 e 21h no período
compreendido entre janeiro a dezembro de 2010, e submetidas posteriormente a uma melhor avaliação
dos resultados através de análises gráficas.

3 - RESULTADOS E DISCUSÕES
Verifica-se no Grafico1, as médias relacionadas à temperatura, e umidade relativa, ambas máxima e
mínima.

Grafico1. Dados meteorológicos da estação meteorológica do CNPA (Embrapa/Algodão, 2010)

Observa-se que a umidade relativa máxima de janeiro a maio se mantém muito próxima em torno
de 89%, tendo uma pequena elevação a partir de maio se mantendo muito constante de junho a setembro,
tendo uma queda acentuada de setembro a novembro, no entanto a mínima de janeiro a fevereiro tem
uma drástica decaída que varia de 72 a 40% mantendo-se irregular no decore dos meses a qual varia de 67
a 77%. Já para a temperatura ocorre uma oscilação meramente regular com más com variação de 18,2C°
mínima para o mês de agosto e variações de 29,9 a 32,6C° para os meses de janeiro a maio, porém
esfriando-se nos meses de junho a setembro com oscilação de média de 27,3C° esta projeções climáticas
muitas vezes servem como um material inicial para construção de cenários climáticos, o que geralmente
exigem informações adicionais, tais como o clima atual observado. Um cenário de mudança de clima é a

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diferença entre um cenário climático e o clima atual. O IPCC (2001 a-c) estima que próximo ao ano 2100 a
temperatura média global aumentará entre 1,3 ºC e 4,6 ºC, representando taxas de aquecimento de 0,1 ºC
a 0,4 ºC por década. Estes valores são comparáveis à taxa de 0,15 ºC por década observada desde os anos
1970.

No Gráfico 2, estão representadas as médias relacionadas à evapotranpiração e insolação.

Grafico2. Dados meteorológicos da estação meteorológica do CNPA (Embrapa/Algodão, 2010)

Como se observa a insolação mínima se mantém crescente de fevereiro ate aproximadamente a


metade do mês de maio chegando ao topo em média de 3,4h, com uma máxima meramente regular no
decorre do ano variando de 9,9 à 11h. Porém a evapotranspiração mínima e máxima se manteve muito
desuniforme o qual variou muito de 0,2 mínima e 8,5 mm máxima.
No Gráfico 3, estão representadas as médias máxima e mínima relacionadas à velocidade do vento
e precipitação.

Grafico3. Dados meteorológicos da estação meteorológica do CNPA (Embrapa/Algodão, 2010)

Porém a precipitação foi um dos fatores que mais eqüidistantes se observa, principalmente nos
meses de maio a julho a que variou-se de 0,9 a 1,4 mm decrescendo-se a partir de agosto a novembro.
Contudo a velocidade do vento manteve-se com muito pouca oscilação com máxima de 5,1 e mínima de
1,6 m/s para os meses de janeiro a fevereiro tendo uma variação muito pouca significativa nos meses em
diante. Conseqüências da mudança de clima nos sistemas naturais e humanos são dependendo da
consideração de adaptação, pois podem ser distinguido entre os impactos ambientais em potenciais
regiões.
4 – CONCLUSÕES
Conclui-se que o presente trabalho transmite uma breve observação com relação às variáveis
meteorológicas, pois são dados meramente empregados com diferentes aplicabilidades na agricultura, a
qual pode ser utilizada para o planejamento e preparo dos cultivos desde o pequeno ao grande produtor,
ou seja, uma forma de estratégia, tanto na escala microclimática quanto topoclimática, condicionando

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


672

informações empregadas no processo de tomada de decisão, quanto ao melhor momento para execução
de diferentes práticas agrícolas. No entanto estudo de fenômeno que ocorre quando a precipitação fica
abaixo dos níveis normais registrados, causando sérios desequilíbrios que afetam adversamente os
sistemas de produção de recursos da terra.

5 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMARAL, J. A. B. et al. Zoneamento de risco climático para a mamona no Estado do Pernambuco.
Safra 2004/2005. Campina Grande: EMBRAPA-CNPA, 2004. 8p. (EMBRAPA-CNPA. Comunicado técnico,
236).
BELTRÃO, N. E. M; VALE, L S. Planta oleaginosas e suas características. Revista Biodiesel, Monte
Alto, SP, p. 34 - 35, 01 nov. 2007.
BARNETTet alii. ‘Detection of Anthropogenic Climate Change in the World's Oceans’.Science, 5.515,
vol. 292: 270-274, 2001.
CHAVES, L. H. G. et al. Avaliação da salinidade dos neossolos dos perímetros irrigados São Gonçalo e
Engenheiro Arcoverde, PB. Revista Agropecuária Técnica, Areia, v. 26, n. 1, p. 18-26, 2005
COSTA, F. A. P. L. Fenologia de árvores tropicais. La Insignia. 2002. Disponível em:
<http://www.lainsignia.org/2002/diciembre/dial_005.htm> Acesso em 12 ago. 2008
Intergovernmental Panel on Climate Change IPCC:2001: Climate Change 2001: The Scientific Basis-
Contribution of Working Group 1 to the IPCC Third Assessment Report. Cambridge Univ. Press. 2001.
LARCHER, W. Ecologia Vegetal. São Carlos: RiMa, p. 531 2006..
MARTINELLI, L.A.; FILOSO, S. Balance between food production, biodiversity and cosystem services
in Brazil: a challenge and an opportunity. Biota Neotrop, n. 9, p. 021-025, 2009.
MONTEIRO, J. E. B. A. Agrometeorologia dos Cultivos: o fator meteorológico na produção agrícola.
Brasília, DF: INMET, 2009.
MELLINGER, L. L.; RICHERS, B. T. Fenologia de espécies oleaginosas na RDS. Dados parciais. 2005.
Disponívelem: <http://www.mamiraua.org.br/arq/ Mellinger & Richers Fenologia Oleaginosas Amana-
SAPII.pdf > Acesso em 12 jul. 2011
PEREIRA, A. R.; ANGELOCCI, L. R.; SENTELHAS, P. C. Agrometeorologia: fundamentos e aplicações
práticas. Guaíba.: Livraria e Editora Agropecuária, 2002.
PATERNIANI, E. Agricultura sustentável nos trópicos. Estudos Avançados, vol.15 no.43 São Paulo
Sept./Dec. 2001.
SENTELHAS, P. C.; MONTEIRO J. E. B. A. Informações para uma Agricultura Sustentável. In.:
Agrometeorologia dos Cultivos: o fator meteorológico na produção agrícola. Brasília, DF: INMET, 2009.
SHEIN, K.A. Bulletin of the American Meteorological Society, (ed.). ´State of the Climate in 2005’. 87:
S1-S102, 2006.

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FATOS SOBRE O ANTROPISMO NA CAATINGA


Joilson Marques FERREIRA FILHO
Graduando em Gestão Ambiental pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN
Joilson_filho@hotmail.com
Antônio Queiroz ALCÂNTARA NETO
Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA, UERN.
aqan@bol.com.br
Ramiro Gustavo Valera CAMACHO
Prof. Adjunto do Dep. de Ciências Biológicas- DECB, Superintendente do CEMAD/UERN
ramirogustavo@uern.br
(Orientador)

RESUMO
No meio de tantas formas de modificar a natureza, o artigo proposto teve o objetivo precípuo de
realizar um estudo crítico que mostrasse as principais formas que vêm antropizando a caatinga do
Nordeste semiárido, localizadas nas cercanias do Vale do Açu. Mencionou-se, aqui, interferências
proporcionadas pelo homem, principalmente na flora e na fauna terrestres, e constatou-se que, entre as
ações antrópicas, a construção da Barragem Engenheiro Armando Ribeiro Gonçalves – BEARG desmatou e
diminuiu o bioma caatinga no Nordeste, fato que contribuiu para tornar mais raros alguns vegetais
pertencentes à flora nativa e, consequentemente, vários animais. Os efeitos negativos ainda não foram
corrigidos, o que vem provocando a redução, cada vez mais acentuada, da biodiversidade, mostrando que
os princípios do chamado desenvolvimento sustentável não têm sido considerados. Analisando todo o ciclo
histórico envolvendo a construção da BEARG, verificou-se que os aspectos ecológicos foram tratados como
se esses assuntos não fizessem parte da ciência e da tecnologia.
Palavras chaves: Caatinga, antropismo, biodiversidade, flora, fauna.

INTRODUÇÃO
A natureza, ao longo do tempo, tem sido transformada num eficiente mecanismo de lucro e, em
meio a tantas formas de modificá-la, o ser humano vem gradativamente ocupando o meio e, neste cenário,
as florestas vão sendo derrubadas, a biodiversidade vai diminuindo, a produção de alimentos vai exigindo,
cada vez mais, o uso de insumos para atender às demandas; a população aumenta e a qualidade de vida,
principalmente nos países mais pobres, diminui. É fato que a sociedade conseguiu impor limites, não
permitindo a extrapolação de alguns recursos vitais, como é o caso, por exemplo, da qualidade do ar, uma
vez que os problemas decorrentes das alterações climáticas preocupam todos os governos do mundo
porque prejudicam todos os seres vivos existentes. Há alguns anos, imaginava-se que os recursos naturais
tinham estoque infindável, sempre à disposição do homem, mas um processo lento de conscientização
ambiental provocou mudanças no comportamento humano fazendo com que levassem mais em
consideração a existência de limites, “fato externado no relatório do Clube de Roma, publicado em 1972,
com o título Limites do Crescimento” (Brüseke, citado por Cavalcante, 1995). Nesse mesmo ano, aconteceu
também a I Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, realizada na cidade de Estocolmo, onde
se definiu estratégias para sanar problemas ambientais graves até o final do século XX. A chamada
sustentabilidade começou a ser debatida dentro da filosofia: “O desenvolvimento que procura satisfazer as
necessidades do presente sem prejudicar a capacidade de satisfação das gerações futuras”. Dentro desse
conceito mais solidário com a humanidade, segundo Maurice Strong e citado por Negret (1994), o que
realmente está em jogo é a gestão racional dos recursos, com o objetivo de melhorar o habitat global do
homem e garantir uma qualidade de vida melhor para todos os seres humanos.
De acordo com Acot (1990, p.127), sendo o homem “parte integrante da natureza, ele tende, no
entanto, a se emancipar dela, transformando-a”. As mudanças, embora necessárias, acabam afastando o
homem da natureza, e esta, com as interferências sofridas, transforma-se num ambiente artificial, muitas
vezes repleto de desequilíbrios. Por ser composto de muitas variáveis em interação recíproca, o sistema
ecológico é facilmente perturbado, porque “todos esses sistemas naturais são totalidades cujas estruturas
específicas resultam das interações e interdependência de suas partes” (Capra, 1996, p.260). “As

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


674

propriedades sistêmicas são destruídas quando um sistema é dissecado em elementos isolados. (...). A
natureza do todo é sempre diferente da mera soma de suas partes”. (Ibid.). Várias lições que priorizam os
cuidados com o meio ambiente no planeta Terra mostram que as experiências passadas de
desenvolvimento provocaram uma série de mudanças nos fatores ecológicos que regulam toda a espécie
de vida existente na Terra. A lista dos exemplos em que os efeitos nocivos sobre a natureza são sentidos e
visíveis torna-se cada vez mais extensa, à medida que a visão pseudoholística do homem rompe a interação
existente entre as partes que compõem o meio. Tal comportamento, associado ao lucro, tem criado uma
mistura de ambientes irreversivelmente degradados, entre eles, a diminuição progressiva da biodiversidade
nas áreas de caatingas no estado do Rio Grande do Norte.
A destruição ou a modificação de habitats é apenas uma das formas antrópicas que têm
contribuído para o atual declínio da diversidade biológica. Frente ao desenvolvimento que altera e degrada,
as ações no Nordeste semiárido têm sido pouco solidárias com as futuras gerações, no que concerne à
questão de transferir problemas ambientais porque modifica-se o ambiente e, na maioria das vezes, não se
corrige adequadamente os impactos causados por essas mudanças. A ideia de que os recursos naturais são
eternos facilita a introdução de mudanças degradadoras acionadas até ao ponto em que o próprio homem
percebe as influências negativas decorrentes de suas ações, mas nem mesmo sentindo as consequências de
seus atos, ele diminui seu ritmo de destruição. Por um lado vê-se o Estado ocupando grandes áreas e
utilizando métodos pouco convincentes, junto à população, para obter as terras necessárias aos seus
interesses, enquanto que de um outro, tem-se o meio que, mesmo antropizado, ainda fornece caça,
madeiras para lenha, carvão, cercas, caibros, ripas, portas, janelas e mobiliários para os sertanejos. Da
caatinga, retira-se também o alimento para os rebanhos bovinos e caprinos, principalmente, sem esquecer
que o homem ainda tem o hábito de colher, na mata rala, frutos, remédios e outros produtos.
O trabalho proposto teve o objetivo precípuo de realizar um estudo crítico que mostrasse as
principais formas que vêm antropizando a caatinga do Nordeste semiárido, localizada nas cercanias do Vale
do Açu.

METODOLOGIA
Os resultados apresentados no trabalho foram obtidos por meio de pesquisa bibliográfica,
aplicação de 90 questionários dirigidos aos moradores da região que fossem capazes de emitir opiniões
sobre flora e fauna. Nesse contexto, foram envolvidas pessoas de diversos níveis sociais e intelectuais, tais
como, professores, agrônomos, comerciantes, pescadores, caçadores, sacerdote, estudantes, sindicalistas e
políticos. Durante a fase de pesquisa, aplicou-se também, entrevistas previamente estruturadas com o
objetivo de que pessoas influentes na decisão de projetos hídricos respondessem a perguntas relacionadas
à questão construção de barragens x biodiversidade. Para as entrevistas foram selecionados dirigentes dos
órgãos institucionais DNOCS (Fortaleza e Assú), Secretaria de Recursos Hídricos (Fortaleza e Natal),
Assessoria do Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de Assú e Casa Paroquial de Assú. Algumas
entrevistas, conforme autorização, foram gravadas em fitas K7 para análise posterior. Para ilustrar o
trabalho, recorreu-se a fotografias do tipo slide (24 unidades), destacando os principais representantes da
caatinga hiperxerófila do Nordeste semiárido. A área do estudo priorizou as cercanias da Barragem
Engenheiro Armando Ribeiro Gonçalves - BEARG, no município de Assú, e envolveu moradores residentes
em trechos das margens esquerda e direita do rio Açu, especialmente os que vivem mais próximo da zona
urbana da cidade de Assú, delimitados pelos municípios de Carnaubais, Ipanguaçu, Alto do Rodrigues e
Itajá. A seleção desta área foi propositalmente escolhida por coincidir com um dos trechos incluídos no
estudo da HIDROSERVICE (1979) encomendado pelo DNOCS e que foi parte integrante da zona reservada
ao projeto de irrigação planejado para desenvolver a região. Considerou-se como a variável contextual a
Barragem Engenheiro Armado Ribeiro Gonçalves - BEARG, cuja construção alterou e degradou a flora e
fauna terrestres da região. Considerou-se como variável dependente a biodiversidade, aqui nesse trabalho,
delimitada pela fauna terrestre e pela flora componente da caatinga hiperxerófila e mata ciliar de
carnaúba.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
O longo período de ações degradantes no Nordeste semiárido, associado a uma série de atividades
introduzidas pelo homem, contribuíram para a redução da cobertura vegetal e, consequentemente, para a

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quebra natural da cadeia alimentar. Vale salientar que as plantas da caatinga ainda têm muita utilidade
para o sertanejo, pois ele encontra nas mais variadas espécies de cactáceas, bromeliáceas, euforbiáceas e
leguminosas existentes, produtos de grande importância para a sobrevivência das populações,
notadamente as mais pobres, pois são empregadas como medicamentos, alimentos, forragem e matéria-
prima para a indústria.
Dentre as formas antrópicas identificadas, a mais agravante foi o desmatamento. De acordo com
Alcântara Neto (1999), como resultado das ações antrópicas sobre a flora, decorrentes das obras da BEARG,
foram previstos o desaparecimento de 13.350 hectares de caatinga hiperxerófila, presentes na área do
reservatório, acrescidos da erradicação de 5.750 hectares de mata ciliar de carnaúba. Tais procedimentos
favoreceram o aparecimento de processos erosivos junto às margens desnudas e reduziram os recursos
naturais aproveitáveis na carpintaria, carvoaria, construção civil e produção de cera.
Quanto à fauna, não houve operações de resgate, notadamente pela inexistência de áreas de
refúgio, previamente estabelecidas para essa finalidade, pois a relocação faunística exigia estudos
profundos sobre o “novo” habitat a ser ocupado, incluindo, a disponibilidade de áreas protegidas.
De acordo com registros do CIMA (1990), a caatinga local é do tipo hiperxerófila, pouco densa e
composição bastante homogênea.

TABELA 1 – Importantes representantes da Caatinga e seus respectivos usos


Planta Nome Científico Utilização
IN FO FR CA OR MA MD
Algodão mocó Gossypium hirstum X
Ameixa Ximenia americana L. X X
Angelim Andira retusa H.B.K. X X
Angico Anadenanthera macrocarpa X X
Benth.
Aroeira Myracrodruon urundeuva X X
Fr.All.
Cajueiro Anacardium occidentale L. X X X
Canafistula Cássia fistula L X X
Carnaúba Copernicia cerifera X X X
Caroá Neoglaziovia variegata X
Catanduva Piptadenia obliqua X X
Catingueira Caesalpinia bracteosa Tul X X X
Coroa-de-frade Melocactus bahienses X X
Werderm
Cumaru Amburana cearensis X X
Estrepa-cavalo Lippia sidoides X
Imburana Bursera leptophloeos Engl X X
Juazeiro Ziziphus joazeiro Mart. X X X
Jucá Caesalpinia férrea Mart. et Tul. X X X
Jurema-branca Piptadenia stipulacea X X
Jurema-preta Mimosa hostilis Mart. X X X
Macambira Bromélia laciniosa X
Marmeleiro-preto Croton sonderianus Muell. Arg. X
Mandacaru Cereus jamacaru P.D.C. X X X
Maniçoba Manihot glaziovii X
Marizeiro Geoffroea spinosa X
Mororó Bauhinia cheilantha (Bong.) X X X
Steud.
Mulungu Erythrina velutina Willd. X X
Oiticica Licania rígida Benth. X X X

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Pacotê Cochlospermum regium St.Hil. X X


Pau d’arco roxo Tabebuia impetigosa Mart. Et X X X
DC.
Pau-branco Auxemma glazioviana Taub. X X
Pereiro-preto Aspidosperma pyrifolium Mart. X X
Pitomba Eugenia luschnathiana X X
Quipá Opuntia inamoena X
Quixabeira Bumelia sartorum Mart. X X
Sabiá Mimosa caesalpiniaefolia X X
Benth
Trapiá Crataeva tapia L. X X
Turco Parkinsonia aculeta X X
Umbuzeiro Spondias tuberosa X
Ubaia Eugenia uvalha Camb. X X
Xique-xique Pilosocereus gounellei X X
FONTE: Adaptado de Braga (2001); Mendes (1996); Matos (1999).
Legenda: IN – Industriais; FO - Forrageiras; FR – Frutíferas; CA - Cactáceas OR - Ornamentais
MA - Madeireiras ME - Medicinais.

TABELA 2 - Efeitos do antropismo na vegetação nordestina.


Área de Caatinga Até 2002 ( % ) Até 2008 ( % )
Áreas Desmatadas 43,38 45,39
Vegetação Remanescente 55,67 53,62
Fonte MMA (2010)

TABELA 3 - Efeitos do antropismo na Caatinga do RN.


Área original de Caatinga Área desmatada Área desmatada % do bioma
no RN ( Km²) antes de 2002 entre 2002/2008 desmatado
(Km²) (Km²) entre 2002/2008
49.402 21.418 1.142 0,14
Fonte MMA (2010)

A diminuição das áreas de caatinga, conforme constatado nos resultados demonstrados pelo
Ministério do Meio Ambiente – MMA, vem provocando mudanças e diminuição na população de algumas
espécies, fato que se transforma em problema de graves proporções porque altera a cadeia de interações
existentes. Sampaio et al. (1994) estipula em 1.117 o número de espécies arbustivas/arbóreas, em 393 as
herbáceas, 234 as pteridófitas, 140 de briófitas, 21 de mixomicetos, 41 de líquens e 88 de fungos. Se for
levado em consideração o pouco estudo dedicado aos fungos, aos reinos protista e monera, é possível
afirmar que tais dados estão subestimados.
Em relação à fauna, com a redução dos habitats, os animais tendem a se refugiar em outras áreas e,
na busca de alimento e segurança, muitos deles desaparecem e diminuem drasticamente a sua população
tal como os grandes mamíferos que habitavam a caatinga, entre eles, segundo Paiva (1982), o macaco
capelão - Cebus apella versutus, Elliot,1910, a Anta - Tapirus terrestris terrestres, Linnaeus,1758 e o Tatu
Canastra - Priodontes giganteus, Geoffroy,1803. No entanto, Paiva(1995) afirma que as causas mais
evidentes da destruição da fauna nordestina se encontram na crescente pressão demográfica, alarmante
pobreza da maior parte da sua população, acentuada urbanização e exploração de recursos demandados
por mercados internos e principalmente externos.
A diversificação das inúmeras mudanças no meio continua ocasionando o rareamento de várias
espécies componentes da flora e da fauna autóctones, que por serem pouco diversificadas, em comparação
às existentes em outros ecossistemas do país, tornam-se cada vez mais suscetíveis a extinção.
Dos vertebrados endêmicos da caatinga, segundo Vanzolini, citado por Sampaio et al (1994), são
endêmicos apenas 01 espécie de lagarto, 07 espécies de aves e 01 espécie de mamífero. Ainda, de acordo

João Pessoa, outubro de 2011


677

com Sampaio et al. (1994), existem na caatinga, apenas 17 espécies de anfíbios, 44 de répteis, 270 de aves
e 83 de mamíferos.
Teoricamente os organismos vivos estão protegidos da extinção porque há legislação própria
proibindo a caça predatória, porém essa atividade continua sendo praticada, de forma que é comum ver
animais silvestres sendo vendidos nas estradas e nos pequenos vilarejos do Nordeste. Alguns são
comercializados vivos, outros abatidos, outros somente a pele. No quadro 1, destacam-se algumas espécies
de animais que ainda são caçados, mesmo com a existência de leis proibitivas, como é o caso da Lei nº
9.605, de 12 de fevereiro de 1998, conhecida como a Lei de Crimes Ambientais. O IBAMA publicou a lista
oficial das espécies da fauna brasileira ameaçada de extinção na portaria nº 1.522, de 19 de dezembro de
1989 e na portaria nº 45-N, de 27 de abril de 1992 e, entre elas, três merecem destaque por estarem
incluídas entre as caças mais apreciadas pelos sertanejos nordestinos. São elas o Tatu Bola, Tamanduá e
Zabelê.
A Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, conhecida como a Lei de Crimes Ambientais, que adota
medidas punitivas a qualquer um que matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna
silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão da autoridade competente ou ainda,
destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo que em formação ou utilizá-
la com infringência das normas de proteção (MMA,1999).
Uma das verificações constatadas é que nem todos os artigos com referências expressas ao meio
ambiente ou aos recursos naturais, presentes na constituição brasileira, tiveram ainda o poder de impedir
as ações lesivas que alteram, subtraem e degradam a biodiversidade presente nos maltratados
ecossistemas brasileiros, em especial na caatinga.

QUADRO 1 - As caças mais apreciadas pelos sertanejos


Nome popular Nome científico
Preá Galea spixii spixii (Wagler, 1831)
Mocó Kerodon rupestres (Wied, 1920)
Cutia Dasyprocta agouti agouti (Linnaeus, 1766)
Cateto Tayassu tajacu tajacu (Linnaeus, 1758)
Tejo Tupinamba teguixim
Tatu-peba Euphractus sexcinctus setosus (Wied, 1826)
Avoante Zenaida auriculata noronha
Asa branca Columba picazuro
Resultado da pesquisa

QUADRO 2 - Espécies brasileiras ameaçadas de extinção


Nome popular Nome científico
Guariba Alouatta belzebul belzebul (Linnaeus, 1766)
Barbado, guariba Alouatta fusca (E.Geoffroy, 1812)
Mono - carvoeiro, muriqui Brachyteles arachnoides (E.Geoffroy, 1806)
Guigó, saúa Callicebus personatus (E.Geoffroy, 1812)
Macaco-prego-do-peito-amarelo Cebus apela xanthosternos (Wied, 1820)
Cuxiu Chiropotes satanas satanas (Hoffmansegg, 1807)
Mico-leão-de-cara-dourado Leontopithecus chrysomelas (Kuhl, 1820)
Guará, lobo-vermelho Chrysocyon brachyurus (Illiger, 18150
Sussuarana Felis concolar (Linnaeus, 1771)
Jaguatirica Felis pardalis (Linnaeus, 1758)
Gato-do-mato Felis tigrina (Scheber, 1775)
Gato-maracajá Felis wiedii (Schinz, 1821)
Onça-pintada Panthera onça (Linnaeus, 1758)
Preguiça-de-coleira Bradypus torquatus (Desmarest, 1816)
Tatu-canastra Priodontes maximus (Kerr, 1792)

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


678

IBAMA (Portaria nº 1522)

Outras formas antrópicas foram detectadas pela pesquisa, mas aqui são tratadas apenas como
exemplos de ações que contribuem para a diminuição da biodiversidade.
No Vale do Assú, a questão do uso de agrotóxicos se constitui numa outra forma de antropizar o
meio porque, efetivamente, diversos insumos são utilizados nas áreas de fruticultura e seu uso frequente e
inadequado torna-se um grave problema para a flora e a fauna da região. Na opinião Maracajá (1995), é o
uso abusivo e irresponsável dos inseticidas químicos que têm causado danos ambientais, fato corroborado
por Caporal (2009) quando afirma que a contaminação das águas por pesticidas e fertilizantes químicos,
usados de forma abusiva e intensiva(...) ou por agentes biológicos (...), tem crescido a cada dia.
Segundo pesquisa feita por Oliveira (2001), estes são alguns dos principais inseticidas utilizados no
Vale do Assú, com o propósito de combater a mosca-branca nas plantações de melão: thiodan 20p, sulphur,
trigard, derasol, amistar, stroby, score, impact, tilt e lannate.
Chaboussou (1987) afirma que o uso inadequado dos agrotóxicos pode ocasionar
desencadeamento de moléstias viróticas, mesmo havendo controle para impedir o contato de vírus com os
insetos. Os inseticidas químicos de amplo espectro de ação têm sido ferramentas tradicionalmente
utilizadas para o controle de pragas de importância agrícola, florestal e médico-veterinária.
As queimadas, outra variável citada no texto, têm o agravante de empobrecer o solo. Do ponto de
vista faunístico, é no solo que se encontram os fungos, as bactérias, os protozoários, os nematódeos, as
oligoquetas e as larvas de muitos insetos.

Roçando e queimando sem método, (...) o matuto vai criando pouco a pouco, com as práticas
nocivas aplicadas em cada fazenda, um rareamento na flora que resulta no desnudamento. (...) o sertão
está se tornando mais nu, lavado, mais deserto e que isto é suficientemente alarmante para a vida do
homem e para a civilização atual. (Duque, 1980)

As queimadas, realizadas de maneira abusiva devido à chamada agricultura migratória para a


produção de culturas de subsistência, acabam destruindo grande parte da mata nativa e junto com ela a
vida de muitos animais vertebrados e invertebrados. Historicamente sabe-se que os índios brasileiros já
23
utilizavam a coivara para limpar o terreno destinado ao plantio de uma nova safra, prática
posteriormente adotada pelos agropecuaristas, grandes empresas extrativistas e também pelo pequeno
agricultor. As queimadas instalam um processo de acentuada destruição, agravada ao longo do tempo,
devido à modificação imposta ao estrato herbáceo, composto quase que exclusivamente de espécies
efêmeras e ao estrato arbustivo-arbóreo.

CONCLUSÃO
Dentre os motivos que nos levam a admitir que as ações antrópicas, constatadas neste trabalho,
não correspondem às exigências do chamado desenvolvimento sustentável, se encontra, principalmente, a
falta de solidariedade para com as gerações futuras, pois permitiu a diminuição da flora e da fauna no vale
do Açu.
Analisando todo o ciclo histórico envolvendo a construção da BEARG, concluiu-se que os aspectos
ecológicos foram tratados como se esses assuntos não fizessem parte da ciência e da tecnologia.

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Engenheiro Armando Ribeiro Gonçalves. Mossoró, 1999. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e
Meio Ambiente) – PRODEMA, UERN.

23
Há ecossistemas terrestres que o fogo age como um fator ambiental importante. No cerrado brasileiro,
alguns vegetais rebrotam com mais vigor após um incêndio na mata. Segundo Odum (1977) o fogo, como
decompositor, produz a libertação de nutrientes minerais a partir de detritos acumulados e rejeitados por fungos e
bactérias.

João Pessoa, outubro de 2011


679

BRAGA, Renato. Plantas do nordeste, especialmente do Ceará. 5. ed. Mossoró: Fundação Guimarães
Duque/Fundação Vingt-Un-Rosado, 2001. 496p. (Coleção Mossoroense, v. 1204).
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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


680

ANÁLISE METEOROLOGICA DE PRECIPITAÇÃO E TEMPERATURA DO AR EM


CATOLÉ DO ROCHA, ESTADO DA PARAÍBA
GARRIDO, José Wagner Alves (1)
Universidade Federal de Campina Grande. Discente em Engenharia Ambiental. Bolsista de Ini ciação Científica -
PIBIC/CNPq/UFCG.
LINS, Hamurábi Anízio
Universidade Federal de Campina Grande. Discente em Agronomia. Bolsista de Iniciação ao Extensionismo –
IEX/CNPq/UFCG.
Raimundo Andrade
Professor Doutor Titular do Departamento de Agrárias e Exatas - DAE/UEPB.
Endereço (1): Rua Jario Vieira Feitosa, S/N, Pombal – PB – CEP: 58.840-000 – Brasil
Tel.: (83) 3431-2376 – e-mail: garrido_wagner@hotmail.com.

RESUMO
O objetivo foi analisar o comportamento de dados meteorológicos: precipitação acumulada e
temperatura máxima e mínima do ar em Catolé do Rocha, Paraíba, situada na Região Nordeste do Brasil. Os
dados foram coletados pela estação agrometeorológica na Escola Agrotécnica do Cajueiro, Campus IV-
UEPB. Foram avaliados dados de médias mensais de precipitação acumulada e médias mensais de
temperaturas máximas e mínimas. As análises indicam que todas estas variáveis estão relacionadas com as
duas estações climáticas: seca e chuvosa. Diante disto, o mês de novembro foi o que apresentou maior
temperatura máxima, e o que menos choveu; e já o mês de abril foi o que mais houve índice de
precipitações, e foram registradas menores temperaturas mínimas no período chuvoso.
Palavras - chaves: climatologia, temperatura, precipitação, estações climáticas.

INTRODUÇÃO
A precipitação pluvial é um dos elementos meteorológicos que apresenta maior variabilidade tanto
em quantidade quanto em distribuição mensal e anual de uma região para outra (Almeida, 2001). Para
compreender o clima de uma determinada região torna-se necessário considerar fatores fundamentais tais
como a circulação geral da atmosfera, resultado do aquecimento diferencial entre o equador e os pólos,
bem como da distribuição assimétrica dos continentes e oceanos (Molion, 1985).
Dentre os elementos climáticos, a temperatura do ar é o que promove maiores efeitos diretos e
significativos sobre muitos processos fisiológicos que ocorrem em plantas e animais; sendo seu
conhecimento fundamental em estudos de planejamento agrícola. Em zoneamentos de aptidão climática
das culturas, as informações das condições térmicas regionais são elementos imprescindíveis e sua escassez
em grandes áreas limita estudos suficientemente detalhados sobre o planejamento agrícola, como é o caso
da região Nordeste do Brasil (Sediyama e Melo Júnior, 1998). A caracterização de condições térmicas é uma
importante informação no planejamento do uso de recursos naturais, podendo-se destacar, dentre outros,
a aplicação em zoneamentos ecológicos, agroclimáticos e urbanos (Cargnelutti Filho et al., 2006).
A variabilidade espaço-temporal das precipitações pluviométricas constitui uma característica
marcante no clima da Região Nordeste do Brasil em particular sobre a porção semiárida, onde a
irregularidade das chuvas é um fator importante (Lacerda et al., 2009a).
Estudos recentes sobre mudanças climáticas regionais mostram uma variação no padrão total anual
de precipitação sobre o NEB. Segundo Moncunill (2006), em sua pesquisa no Ceará, que utilizou 32
estações pluviométricas, para período de 1974 a 2003, encontrou uma tendência de diminuição na
precipitação total anual em 27 das 32 localidades analisadas. Nessa mesma linha Lacerda et al., (2009b), em
estudo realizado no Estado de Pernambuco para a bacia hidrográfica do Rio Pajeú, identificou tendência de
diminuição das chuvas anuais em todas as localidades estudadas para o período de 1965 a 2004. Por outro
lado, Santos e Brito (2007), em trabalho realizado para os Estados da Paraíba e Rio Grande do Norte, no
período de 1935 a 2000, encontraram tendência de aumento no total anual de precipitação pluviométrica.
A maioria desses estudos utiliza as análises das séries históricas de temperatura e precipitação para
identificar variações temporais para caracterização e identificação da mudança do clima local.

João Pessoa, outubro de 2011


681

Diante deste fato, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) estabelece que para estudos
comparativos de clima, sejam calculadas médias climatológicas para períodos de 30 anos de observação.
No entanto, períodos mais curtos de observação, desde que feitas para anos sucessivos, prestam-se para
avaliar o comportamento do clima.
Portanto, o objetivo do presente trabalho é analisar o comportamento de dados meteorológicos:
precipitação acumulada e temperatura do ar máxima e mínima em Catolé do Rocha, estado da Paraíba
situada na Região Nordeste do Brasil.

METODOLOGIA
O estudo se deu por meio da análise das médias mensais de precipitação acumulada, temperatura
máxima e mínima, no período de janeiro de 2006 a dezembro de 2010. Tais médias são resultantes dos
dados coletados pela estação agrometeorológica na Escola Agrotécnica do Cajueiro, Campus IV-UEPB,
distando 02 km de Catolé do Rocha-Paraíba, nordeste do Brasil, na latitude 6°20’38’’S e longitude
37°44’48’’W a 275 m de altitude.
Trabalhou-se com a precipitação acumulada, temperatura máxima e mínima considerando suas
médias mensais no período citado. Tendo isso em vista, cada media mensal foi trabalhada no programa
Microsoft Excel, com o intuito de construírem-se os gráficos com as médias mensais. Correlacionou-se as
variáveis (cada gráfico referente a uma variável) com as médias de cada mês dos anos de estudo. A partir
disso, resultaram equações da reta, y = a.x + b, e coeficientes de determinação (R²), que provam, através da
estatística descritiva, as tendências resultantes. No caso de R², seus valores variam entre -1, e 1, onde
quanto mais próximo de 1, mais significativo é o valor de correlação e tendência.
Galvani (2005) mostra como trabalhar os princípios básicos da Estatística Descritiva, para uma
melhor análise dos dados obtidos, mencionando, inclusive, a importância da equação da reta y = ax + b e do
coeficiente de determinação R².
É importante ressaltar que se relacionam o comportamento dos três elementos do clima aqui
trabalhados. Assim, foram de suma importância as variáveis de precipitação acumulada na interpretação
dos dados nas mesmas, já que cada uma interfere no comportamento de uma da outra. Folhes e Fisch
(2006) trabalharam com dados de precipitação e temperatura do posto meteorológico do Departamento
de Ciências Agrárias da (UNITAU), da cidade de Taubaté – SP, no foco de tendências estatísticas para as
duas variáveis, no sentido de dispor os resultados obtidos aos agricultores, para o planejamento da
produção agrícola.
Neste presente trabalho, o fato de analisar-se o comportamento das variáveis em questão contribui
para uma melhor gestão da cidade de Catolé do Rocha, no tocante a melhores elaborações de políticas de
qualidade de vida urbana.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Análise das temperaturas máximas e mínimas médias mensais
Analisando os gráficos resultantes dos dados de temperatura máxima e mínima, prevalecer-se-á a
subida e o declínio da linha de tendência nestas variáveis, respectivamente, onde cada gráfico teve uma
representação estatística diferenciada.
As temperaturas máximas médias mensais, entre 2006 e 2010, variaram entre 31,0°C (mês de
junho) e 36,3°C (mês de novembro), devido à região Nordeste estar caracterizada por duas estações, o
período seco que começa em setembro e prolonga-se até fevereiro. Já a estação mais chuvosa começa em
março-abril e termina em agosto (Henrique, 2006).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


682

Gráfico 1: Temperatura máximas média mensal de Catolé do Rocha, período 2006-2010

Com isso as médias de temperatura máxima média mensais apresentam um coeficiente de


determinação R² = 0,152. Ora, um número insignificante, pois, tem-se aí 15,2% em relação a 1 (100%). O
valor a da equação da reta é positivo, logo a reta é crescente.
No tocante às temperaturas mínimas médias mensais, entre o período estudado, teve variação
entre 18,9 ºC (mês de julho) e 22,9 ºC (mês de janeiro), ou seja, por estes valores estarem relacionados
com a estação chuvosa e estação seca, respectivamente.

Gráfico 2: Temperaturas mínimas médias mensais de Catolé do Rocha, período 2006-2010

Assim, percebe-se que a linha de tendência é decrescente, uma vez que, o valor de a na equação da
reta resultante é negativo. As médias mensais de temperatura mínima apresentam uma correlação de R² =
0,0508 (5,08%) em relação a 1 (100%). Um número não significativo, pois está bem distante de 1, se
levando em consideração que, quanto mais próximo de 1, valores entre -1 e 1, mais significativa é a
correlação entre as variáveis.
Portanto, como se percebe, as temperaturas máximas médias mensais e as temperaturas mínimas
médias mensais, estão totalmente correlacionadas com a estação do ano, seja ela chuvosa ou seca.

2. Análise das precipitações acumulada médias mensais

João Pessoa, outubro de 2011


683

De acordo com (Silva et. al, 2008) realizou-se o estudo sobre as precipitações no Nordeste
brasileiro: tendências de variação e possíveis implicações na agricultura, que no semi-árido, dos Sertões,
pode-se prever a redução do déficit hídrico, diminuindo assim as severas limitações agrícolas da sub-região,
especialmente para as lavouras de sequeiro, mas, por outro lado, podendo interferir negativamente nas
lavouras irrigadas.
Com isso avaliando os valores médios mensais das precipitações acumuladas calculadas,
observaram-se os meses mais chuvosos durante o período de tempo estudado, ou seja, o mês de abril foi o
que mais apresentou precipitação acumulada mais alta de 271,5 mm, e a precipitação mais baixa foi
registrada no mês de novembro de 0,7 mm, por ser a região Nordeste estar caracterizada por duas
estações, daí o valor da primeira precipitação (mês de abril), devido estar dentro da estação chuvosa que
vai de março-agosto, e já a segunda precipitação (mês de novembro) por estar no período seco que começa
em setembro e prolonga-se até fevereiro, sendo mais acentuado no trimestre da primavera, salientando-se
o mês de novembro como o mais seco.

Gráfico 3: Precipitações acumuladas médias mensais de Catolé do Rocha, período 2006-2010

Assim, percebe-se que a linha de tendência é decrescente, uma vez que, o valor de a na equação da
reta resultante é negativo. As mensais de precipitação acumulada apresentam uma correlação de R² =
0,3298 (32,98%) em relação a 1 (100%). É um número significativo, comparado com a correlação da
temperatura máxima e mínima, pois está mais próximo de 1.

CONCLUSÕES
Dessas análises pode-se concluir que, foi de fundamental importância estudar o comportamento
das variáveis climáticas regional por exercer grande influência nas atividades humanas e econômicas, onde
a precipitação acumulada e temperatura do ar máxima e mínima são umas das condições climáticas que
afeta a relação homem-meio, por afetar diretamente a produção em todos os setores da sociedade, e
particularmente, naqueles que dependem exclusivamente dos processos naturais (a agricultura, a pesca, a
produção de energia elétrica).
Para os valores médios mensais calculados das variáveis meteorológicas estudadas, foram
observadas que todas estas variáveis estão relacionadas com as duas estações climáticas: seca e chuvosa.
Diante disto, o mês de novembro foi o que apresentou maior temperatura máxima e a que menos choveu
durante o período 2006 - 2010 e já o mês de abril foi o que mais houve índice de precipitações, e que foram
registradas as menores temperaturas mínimas no período chuvoso.
É necessário, pois, mais estudos em relação aos três elementos, os quais foram analisados aqui,
para a cidade de Catolé do Rocha, com dados meteorológicos mais prolongados para a obtenção da
classificação climática, certamente, deu uma abordagem geral de como se comportam os mesmos, mesmo

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


684

que sendo apenas para a região de Catolé do Rocha/Paraíba. O presente trabalho, assim, não perde o seu
valor, uma vez que os dados são pertencentes à principal e única estação meteorológica da cidade.

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João Pessoa, outubro de 2011


685

POTENCIALIDADE DE ESTOQUE DE CARBONO NOS SOLOS SOB


VEGETAÇÃO NATIVA DA BACIA DO RIO ARAGUARI, MG
Jussara dos Santos ROSENDO
Professora Dra. da Universidade Federal de Uberlândia (FACIP -UFU)
jussara@pontal.ufu.br
Roberto ROSA
Professor Dr. da Universidade Federal de Uberlândia (IG-UFU)
rrosa@ufu.br

resumO
O principal objetivo deste trabalho foi avaliar o estoque de carbono (C) nos solos da bacia do Rio
Araguari-MG em dois períodos de análise, 1973 e 2009. Os materiais utilizados para alcançar o objetivo
proposto consistiram de: imagens do satélite MSS/Landsat 2 (1973) e TM/Landsat 5 (2009); base
cartográfica digital e cartas temáticas elaboradas para o projeto Mapeamento da cobertura vegetal do
bioma cerrado (PROBIO). Os procedimentos operacionais englobaram a aquisição e a manipulação das
imagens (georreferenciamento, mosaico, recorte da área de interesse e mapeamento do uso da terra e
cobertura vegetal por visualização em tela). A partir do mapeamento do uso da terra e cobertura vegetal
foi possível a identificação das diferentes classes de uso presentes na bacia para os períodos de análise.
Dessa forma, a cada classe de uso foi atribuído um estoque de C específico, determinado a partir de
análises dos teores de carbono orgânico total. Os resultados alcançados demonstraram que em 1973, o
carbono estocado no solo era oriundo, em sua maior parte, da vegetação natural, um montante de 34,8 Tg
C (quase 50% da estimativa total de C) dos mais de 71,0 Tg C estimados. Em 2009, verifica-se o oposto, a
maior parte do C armazenado se deu pelo uso antrópico (49,57 Tg C), com maior contribuição das culturas
anuais sob sistema de plantio direto, quase 19 Tg C, enquanto o C estocado pela vegetação natural
corresponde a 29,71 Tg C.
Palavras-chave: estoque de carbono; uso da terra.

1. Introdução
O presente artigo é parte dos resultados da Tese de Doutorado em Geografia, defendida por
Rosendo (2010), intitulada ESTOQUE DE CARBONO NOS SOLOS DA BACIA DO RIO ARAGUARI-MG:
ESTIMATIVAS, MODELAGEM E CENÁRIOS, pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade
Federal de Uberlândia (PPGEO/UFU/Brasil).
O objetivo geral deste trabalho foi avaliar o estoque e/ou emissão de carbono nos solos sob
vegetação nativa (C) nos anos de 1973 e 2009 na bacia do Rio Araguari-MG, Brasil.
O conceito que este estudo adota para o termo cobertura vegetal natural são aquelas áreas que
apresentam cobertura vegetal original, independentemente da existência ou não de algum tipo de uso
antrópico (SANO et al. 2009).
A área escolhida para ser objeto de estudo da pesquisa foi bacia do Rio Araguari, localizada na
Mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, na porção oeste do estado de Minas Gerais, Brasil;
compreende a maior parte da região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. Está situada entre as
coordenadas geográficas de 18º 20’ e 20º 10’ de latitude sul e 46º 00’ e 48º 50' de longitude oeste de
Greenwich, ocupando uma área de 20.186 km², abrangendo parte dos seguintes municípios: Araguari,
Araxá, Campos Altos, Ibiá, Indianópolis, Iraí de Minas, Nova Ponte, Patrocínio, Pedrinópolis, Perdizes,
Pratinha, Rio Paranaíba, Sacramento, Santa Juliana, São Roque de Minas, Serra do Salitre, Tapira,
Tupaciguara, Uberaba e Uberlândia (Figura 14). Por não haver necessária concordância entre o limite da
bacia e as áreas (divisões) municipais, parte desses municípios não possui suas áreas totalmente
compreendidas na área da bacia.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


686

Figura 14: Municípios inseridos na bacia do Rio Araguari-MG


Fonte: Rosendo, 2010

O conjunto das geotecnologias (Sensoriamento Remoto, Geoprocessamento e Sistema de


Informação Geográfica) contempla uma variedade de técnicas para tratamento e espacialização de
informações, permitindo a sua visualização na forma de diferentes produtos, tais como mapas, gráficos,
tabelas, etc. Nesta perspectiva, e com intuito de monitorar as áreas ainda cobertas com vegetação natural,
faz-se pertinente o emprego de tecnologias como o Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento, que
possibilitam o monitoramento de extensas áreas com baixo custo.
O quarto relatório do IPCC informou haver 90 % de probabilidade das atividades humanas serem
causa da maior parte do aquecimento nas últimas décadas. Entre as consequências da mudança climática,
estão a alteração nos padrões de chuva, com secas e tempestades violentas, e níveis mais elevados nos
mares.
El calentamiento del sistema climático es inequívoco, como evidencian ya los aumentos observados
del promedio mundial de la temperatura del aire y del océano, El deshielo generalizado de nieves y hielos, y
el aumento del promedio mundial del nivel del mar. (IPCC, 2007, p. 2)

A importância dada às alterações na concentração de dióxido de carbono está no fato deste ser
produzido antropicamente, por intermédio da queima de combustíveis fósseis, das atividades industriais e,
por fim, das queimadas e desmatamentos da cobertura vegetal, ao passo que, dentre as atividades
antrópicas, a agricultura pode ser considerada umas das atividades que mais pode influenciar na
concentração de CO2 atmosférico.
De acordo com IPCC (2007), o sequestro de carbono pelos solos é o mecanismo responsável pelo
maior potencial de mitigação de gases de efeito estufa (GEE), com uma estimativa de contribuição de 89%.
Para Lal (2006), o sequestro de carbono pelos solos pode ser avaliado como:
The process of transferring atmospheric CO2 into a pedologig/soil C pool is called soil C
sequestration. Soil C sequestration is a natural process and involves transfer of atmospheric CO2 into
biomass C via photosynthesis. Transfer of biomass C into SOC occurs through humification of the biomass
returned to the soil. (LAL, 2006, p. 50).

A vegetação nativa tem grande importância na manutenção do estoque de C, sendo fundamental o


monitoramento dessas áreas. Em geral, a conversão de ecossistemas naturais em ecossistemas agrícolas

João Pessoa, outubro de 2011


687

leva à diminuição do estoque de C. Esta diminuição é causada pelo uso inapropriado de práticas de manejo
agrícolas, como aração, retorno do resíduo mínimo e aceleração da erosão (CERRI et al. 2006). Os solos
orgânicos, quando convertidos para agricultura, são normalmente acompanhados por “drenagem artificial,
cultivo e calagem, resultando em rápida oxidação de matéria orgânica e estabilização do solo e
consequente emissão de CO2” (MCT, sd, p.84). Quando a vegetação natural é convertida para áreas de
culturas, ocorre um rápido declínio da matéria orgânica do solo (POST; KWON, 2000).
O solo, além de absorver, pode também perder carbono orgânico, e estas perdas ocorrem em razão
do decréscimo na quantidade de biomassa que retorna para o solo, do aumento na taxa de mineralização
devido à mudança na umidade e temperatura do solo, e da diminuição na quantidade de raízes ou
biomassa subterrânea que retorna ao solo; além da perda do carbono orgânico do solo como consequência
da erosão e da lixiviação em áreas agrícolas comparadas a ecossistemas naturais (LAL, 2006; FOLLETT, 2001;
dentre outros).
2. Metodologia de Trabalho
2.1 Materiais
Para alcançar os resultados desta pesquisa foram necessários os seguintes materiais:
Receptor GPS;
Trado Holandês com caçamba de 20 cm de profundidade e diâmetro de 3" (três polegadas);
Pá-de-corte, anel volumétrico (volume 81,54 cm3) e latas para acomodar as amostras de
densidade;
Câmera fotográfica; régua, faca, baldes, prancheta, caneta para retroprojetor, fita adesiva, sacos
plásticos para acomodar e identificar as amostras após a coleta;
Imagens do satélite Landsat disponibilizadas gratuitamente pelo INPE. As órbitas/pontos, as datas
de passagem, os sensores utilizados e sua resolução espacial são descritos na Tabela 3;
Tabela 3: Imagens do satélite Landsat utilizadas para o mapeamento do uso da terra e cobertura
vegetal da Bacia do Rio Araguari-MG
Datas de Resolução
Sensor/Satélite Órbitas/Pontos (O/P)
passagem/Satélite espacial (m)
237/73 14/07/1973
236/73 13/09/1975*
MSS/Landsat 2 236/74 31/07/1973 80
235/73 30/07/1973
235/74 30/07/1973
221/73 18/07/2009
220/73 27/07/2009
TM/Landsat 5 220/74 27/07/2009 30
219/73 20/07/2009
219/74 20/06/2009
* A imagem do ano 1973 correspondente a O/P 236/73 apresentava falha de
sobreposição a adjacente, por esse motivo foi utilizada a imagem do ano 1975.

Base cartográfica em meio digital, que contemplam o limite da bacia, as drenagens e o


limite político dos municípios, elaborada pelo Laboratório de Geoprocessamento do Instituto de
Geografia (LAGEO/UFU);
Cartas temáticas elaboradas para o projeto Mapeamento da cobertura vegetal do bioma
Cerrado, realizado pelo Ministério do Meio Ambiente, Embrapa Cerrados em parceria com o
Laboratório de Geoprocessamento da UFU, adquiridas no site do Ministério do Meio Ambiente
(MMA, 2008);

2.2 Softwares
ArcView 3.2; Envi 4.0.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


688

2.3 Métodos
2.3.1 Seleção e amostragem do solo
A quantificação do estoque de carbono do solo consiste, essencialmente, em dois passos, o
primeiro, a amostragem de solo no campo para análises químicas e físicas do solo, bem como da
densidade; e o segundo, a determinação dos teores totais de carbono (COT) nos diferentes tipos
de uso amostrados e a sua quantificação em Mg C ha-1.
As áreas selecionadas para a coleta das amostras de solo seguiram alguns critérios
imprescindíveis para garantir, ao máximo, a homogeneidade nas características das áreas de cada
coleta. Sabendo-se que o teor de carbono no solo varia em função da declividade do terreno e do
tipo de solo, foi tomado o cuidado em realizar as coletas em áreas que apresentassem declividade
e tipo de solo similares.
Todas as coletas foram efetuadas em solos do tipo Latossolo. Todavia, os teores de areia,
argila e silte variaram significativamente de acordo com a localização de cada área. Para a
quantificação do estoque de carbono, há necessidade de se estabelecer a profundidade do solo a
que se refere o estoque. Para a presente pesquisa, as amostras de solo foram obtidas nas camadas
0-20 cm de profundidade.
Em seguida foi realizado um trabalho de campo nas áreas previamente identificadas. Com
auxílio da imagem de satélite TM/Landsat5, mapa de solos e receptor GPS, percorreram-se as
áreas selecionadas para coleta das amostras de solo. O trabalho de campo foi efetivado durante os
dias 17 e 18 de junho de 2009.
Para cada área definida foram obtidas amostras de solo das camadas 0-20 cm de
profundidade com trado tipo holandês, em que foram coletadas cinco amostras simples de
maneira aleatória, por profundidade, as quais foram combinadas para formar uma amostra
composta por camada de solo amostrada. Todo o solo coletado na amostra composta foi
embalado e identificado para a determinação do Carbono Orgânico Total (COT), densidade
aparente e granulometria.
A densidade do solo foi obtida por meio do peso seco (g) de amostras retiradas nas
profundidades de 0-20 cm, com o auxílio de um anel volumétrico de metal de volume previamente
conhecido (81,54 cm3). Esse procedimento de coleta das amostras de solo foi efetuado nas
mesmas áreas de onde foram extraídas as amostras para análises do carbono orgânico totoal
(COT) e textura também nas profundidades 0-20 cm.
O COT do solo foi determinado pela oxidação da matéria orgânica com K 2Cr2O7 em meio
ácido, e o excesso de dicromato foi titulado com (NH4)2Fe(SO4)2 (YEOMANS & BREMNER, 1988).
O cálculo do estoque de carbono (Mg C ha-1), para uma determinada profundidade, dá-se
da seguinte maneira:
COtotal * D * e
EstC 
10
Onde:
EstC = estoque de carbono orgânico na camada estudada (Mg ha-1);
COtotal = carbono orgânico total (g kg-1);
D = densidade aparente do solo da camada estudada (g cm-3);
e = espessura da camada estudada (cm).

2.3.2 Imagens de satélite e mapeamento do uso da terra


Para o mapeamento do uso da terra e cobertura vegetal da Bacia do Rio Araguari-MG, o
primeiro passo foi a aquisição das imagens do satélite Landsat no site do INPE
(http://www.dgi.inpe.br/CDSR/). Pela visualização da Tabela 3, verifica-se que não foi possível a

João Pessoa, outubro de 2011


689

aquisição das imagens de satélite com a mesma data de passagem para todas as cenas necessárias
para cobrir a área da pesquisa (cinco imagens/cenas para cada período – 1973/2009). Entretanto,
teve-se o cuidado de selecionar datas do mesmo mês a fim de evitar diferenças nos valores de
reflectância dos alvos. Nos casos em que não foram localizadas imagens do mesmo mês,
buscaram-se meses que fizessem parte do mesmo período sazonal, dada a importância que a
diferença entre esses períodos exerce no comportamento da vegetação. Vale ressaltar que este
fato não alterou o resultado final da pesquisa.
Depois da aquisição de todas as cenas necessárias para mapear a área da bacia,
prosseguiu-se com a etapa de processamento destas, começando pela geração da composição
colorida, realizada no software ENVI 4.0. Das sete bandas espectrais do satélite TM/Landsat5,
utilizou-se a composição colorida 3B4R5G, no caso do MSS/Landsat2 a composição colorida
utilizada foi 4B5G7R.
Depois de definidas as composições coloridas, as imagens foram georreferenciadas no
software ENVI 4.0, mosaicadas, por meio de equalização de histogramas (SANO et al, 2009), e em
seguida, recortadas tomando-se como base o limite da bacia do Rio Araguari.
Realizado o mosaico e o recorte das imagens Landsat, teve início a fase de interpretação
visual. Para isso, foi elaborada uma chave de interpretação das composições coloridas nos
diferentes períodos, com intuito de orientar a análise/interpretação das imagens. Com intuito de
sanar as dúvidas relacionadas a interpretação visual, foi realizado um trabalho de campo na área
da pesquisa, em setembro de 2009.
No software ArcView 3.2 cada polígono foi associado a uma determinada classe de uso. A
legenda do mapeamento foi composta por dois grupos principais, o de cobertura vegetal natural e
o de uso antrópico, para os períodos analisados. A Tabela 4 apresenta as classes que compuseram
o grupo de cobertura vegetal natural e uso antrópico.
A legenda da cobertura vegetal natural teve que ser agrupada em função da dificuldade de
separação de algumas fitofisionomias. Foi o que aconteceu com o Cerradão e a Mata e com o
Campo Sujo e Campo Cerrado. As florestas de galeria, em função de suas pequenas dimensões,
não foram separadas, sendo incluídas na classe Cerradão/Mata.
Tabela 4: Legenda do mapeamento de uso da terra e cobertura vegetal natural utilizada nos
períodos de 2009 e 1973
Legenda (Categorias mapeadas)
Grupos
1973 2009
Cerradão/Mata Cerradão/Mata
Cerrado Cerrado
Vegetação Natural
Campo Sujo Campo Sujo
Campo Limpo Campo Limpo
Reflorestamento Reflorestamento
Pastagem Pastagem
Cultura Anual Cultura Anual
- Cana-de-açúcar
Uso Antrópico - Cultura Anual Irrigada
- Cultura Perene (Café)
- Influência Mineral
Influência Urbana Influência Urbana
Água Água

A identificação das diferentes classes de uso da terra e cobertura vegetal natural, presentes na
bacia, foi realizado pela interpretação visual das imagens digitais diretamente na tela do computador
(classificação visual em tela). O mapeamento das áreas de cana-de-açúcar foi realizado a partir dos dados

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


690

do Mapeamento da cana via imagens de satélite de observação da terra (CANASAT, 2010) disponibilizados
por Rudorff, et al. (2010).

3. Resultados e Discussão
As imagens, de ambos os períodos, apresentaram grau de dificuldade diferenciados para o
mapeamento do uso da terra e cobertura vegetal natural. Na interpretação das imagens que
compreenderam o período de 1973, a resolução espacial, de 80 m, do sensor MSS dificultou o mapeamento
da vegetação natural com pequenas proporções, inclusive àquelas que se localizavam em áreas de relevo
acidentado (como exemplo, as áreas na porção sudeste da bacia do Araguari). Com relação às imagens de
2009, a dificuldade de interpretação esteve associada à elevada fragmentação de usos em virtude da
grande variedade de culturas agrícolas e da conseqüente diversidade de cores, texturas, tamanhos e
formas conferidas nas imagens.
A partir da análise dos mapas elaborados (Figuras 2 e 3) e da quantificação das diferentes
categorias mapeadas (
Tabela 5), foi possível observar que, em 1973, cerca de 85,34% da área era coberta por vegetação
natural, enquanto, apenas 14,66%, estava ocupada pela agricultura e pecuária.

Figura 15: Mapa de vegetação natural e uso antrópico na bacia do Rio Araguari-MG (1973)

João Pessoa, outubro de 2011


691

Figura 16: Mapa de vegetação natural e uso antrópico na bacia do Rio Araguari-MG (2009)

Tabela 5: Área ocupada (ha e %) por cada classe de uso da terra e cobertura vegetal natural - Bacia
do Rio Araguari-MG nos anos 1973 e 2009
1973 2009
Uso
Área (ha) Área (%) Área (ha) Área (%)
Natural 1722599,68 85,33 799296,20 39,60
Antrópico 296000,32 14,67 1219303,80 60,41
Total 2.018.600,00 100,00 2.018.600,00 100,00

Já em 2009 (Figura 3), observamos o oposto, em que 60,41% da área destinava-se à agricultura e
pecuária, enquanto 39,60% da área encontrava-se coberta com vegetação natural.
Os dados mais expressivos da modificação do uso da terra desde 1973 até 2009 fazem referência à
substituição da vegetação natural de Cerrado e Campo Sujo. A pesquisa de Rosendo (2010) apontou que
quase 77% da área total ocupada pelo Cerrado, na bacia do Rio Araguari, foi desmatada, em que do total de
7,26% da área ocupada pelo Cerrado em 1973, restou apenas 1,67% em 2009. Com relação ao Campo Sujo,
observa-se o desmatamento de mais da metade da área ocupada por este tipo de fitofisionomia da área
total presente na bacia, em 1973, permanecendo pouco mais de 19%, em 2009, ou seja, quase 63 % da
área total de Campo Sujo foram desmatadas para dar lugar às áreas agrícolas e pastagens. Estas áreas
sofreram uma maior pressão por parte da agricultura e pecuária em virtude da aptidão agrícola (embora
possuam solos ácidos com elevado teor de alumínio, são facilmente corrigíveis), principalmente por
estarem localizadas sobre terrenos planos (especialmente de chapadas) o que facilita a mecanização.
O que explicaria a maior preservação da Mata/Cerradão e Campo Limpo são as áreas de relevo
mais acidentado que estas ocupam. No caso da Mata/Cerradão o fundo dos vales/encostas e no caso do
Campo Limpo, tais áreas encontra-se em elevadas altitudes, além do relevo ser bastante acidentado,
localizadas principalmente na porção Sudeste da Bacia (Serra da Canastra e arredores).
Para contabilização do estoque de C, na área da bacia do Rio Araguari, foi necessário avaliar a área
(em ha) de todas as categorias de uso da terra presentes e suas respectivas %24. Os resultados da

24
Para maiores informações consultar Rosendo (2010).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


692

determinação de estoque de C (Mg ha-1) para o uso antrópico foram os seguintes: cerrado (38,05 Mg ha-1),
reflorestamento (39,90 Mg ha-1), cultura anual irrigada (49,64 Mg ha-1), plantio direto (48,48 Mg ha-1),
café (44,29 Mg ha-1), cana-de-açúcar (48,73 Mg ha-1), pastagem melhorada (43,92 Mg ha-1) e pastagem
degradada (34,63 Mg ha-1).
Dessa forma, o mapeamento do uso da terra e cobertura vegetal permitiu a contabilização do
impacto no estoque de C, em 1973 e 2009, a partir da multiplicação da área de cada uso por seu estoque
de C correspondente. Sendo assim, verificou-se que em 1973, do total de 71,68 Tg de C estocado nos solos
da bacia do Rio Araguari-MG, a maior parte do carbono estocado era oriundo da vegetação natural, em que
quase 61 Tg estava estocado sob as diferentes fitofisionomias do Cerrado, ao passo que o uso antrópico
correspondia por 10,71 Tg C (Tabela 6).
Tabela 6: Contribuição da vegetação natural e do uso antrópico no estoque de C da bacia do Rio
Araguari-MG (1973 e 2009)

1973 2009
Usos
Área (%) C (Tg) C (%) Área (%) C (Tg) C (%)
Natural 85,33 60,96 85,06 39,60 29,17 37,04
Antrópico 14,67 10,71 14,94 60,41 49,57 62,96
Total 100,00 71,68 100,00 100,00 78,74 100,00

Ficou evidenciado que, em 2009, a maior parte do C armazenado no solo se deu pelas atividades
agropecuárias, uma contribuição de 49,57 Tg de C, representando 62,96 % do C estocado. Em termos
gerais, menos de 40% da área da bacia ainda possui vegetação natural. Esse montante armazena mais de
29 Tg C (cerca de 37 % do estoque de C estimado para toda a bacia). O aumento do estoque de C no
período compreendido entre 1973 e 2009 foi de mais de 7 Tg de C.

Considerações finais
Verificou-se que, em 1973, 85,33% da área apresentavam-se cobertas por vegetação natural,
enquanto apenas 14,67% estavam ocupadas pela agricultura e pecuária. Já em 2009, constatou-se o
oposto, já que 60,41% da área destinavam-se à agricultura e pecuária, enquanto 39,60% da área
encontravam-se cobertas com vegetação natural. A análise dos períodos avaliados mostrou que em 2009 o
C estocado foi significativamente maior que em 1973, sendo assim, pode-se concluir que a modificação do
uso da terra aumentou o C estocado.

Referências
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dados da expansão da cana-de-açúcar em Minas Gerais. Disponível em: <
http://150.163.3.3/canasat/index.php>. Acesso em: 25 mar 2010.
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Sequestration in Soils of Latin America. Haworth Press, 2006, p. 41-48
FOLLETT, R. F. Soil manegement concepts and carbon sequestration zin croplands soils. Soil &
Tillage Research, 61 (2001), 77-92.
INPE. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Aquisição de imagens de satélite MSS/Landsat2 e
TM/Landsat5. Disponível em: < http://www.dgi.inpe.br/CDSR/>. Acesso em: 15 ago 2009.
IPCC. 2007. Cambio Climático 2007: Mitigacíon del Cambio Climático. Contribución del Grupo de
Trabajo III al Cuarto Informe de Evaluación del Grupo Intergubernamental de Expertos sobre Cambio
Climático. Resumén Tecnico. Disponível em: <
http://www.ipcc.ch/publications_and_data/publications_ipcc_fourth_assessment_report_wg3_report_miti
gation_of_climate_change.htm>. Acesso em 8 jul 2008.
LAL, R. Soil Carbon Sequestration in Latin America. In: LAL, R.; CERRI, C. C.; BERNOUX, M.;
ETCHEVERS, J.; CERRI, E. Carbon Sequestration in Soils of Latin America. Haworth Press, 2006, 49-64.

João Pessoa, outubro de 2011


693

MCT. Inventário de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases de Efeito Estufa não controlados
pelo Protocolo de Montreal. Comunicação Inicial do Brasil. p. 81-162, Sem Data (SD). Disponível em:
http://www.mct.gov.br/upd_blob/0004/4199.pdf. Acesso em: 05 ago 2008.
MMA. Ministério do Meio Ambiente. Cartas elaboradas para o projeto Mapeamento da cobertura
vegetal do bioma cerrado. Disponível em:
<http://mapas.mma.gov.br/mapas/aplic/probio/datadownload.htm?/>. Acesso: 05 jun 2009.
POST, W. M.; KWON, K. C. Soil carbon sequestration and land-use change: process and potential.
Global Change Biology (2000) 6, 317-327.
PROBIO. Mapeamento da Cobertura Vegetal do Bioma Cerrado: Relatório Final. Brasília/DF. Junho
2007, 93 p.
ROSENDO, J. S. Estoque de carbono nos solos da bacia do Rio Araguari-MG: estimativas,
modelagem e cenários. 311 p. Tese (Doutorado em Geografia) - Universidade Federal de Uberlândia,
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http://www.ig.ufu.br/sites/ig.ufu.br/files/Anexos/Bookpage/Jussara_Rosendo.pdf>
RUDORFF B. F. T., AGUIAR D. A., SILVA W. F., SUGAWARA L. M., ADAMI M., MOREIRA M. A. Studies
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carbon in soil. Commun. Soil. Sci. Plant Anal., 19: 1467-1476, 1988.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


694

PERCEPÇÃO AMBIENTAL: UMA CONTRIBUIÇÃO NO ESTUDO DO


PROCESSO DE DESERTIFICAÇÃO NO SERIDÓ ORIENTAL NORTE-RIO-
GRANDENSE
Larissa Maia de SOUZA
Núcleo de Pesquisa do Semiárido, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, Natal –
Central, Bolsista PIBITI, graduando em Tecnologia em Gestão Ambiental. E -mail: larissamaiadesouza@bol.com.br
Valdenildo Pedro da SILVA
Núcleo de Estudos do Semiárido, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, Natal –
Central. Professor Orientador. E-mail: valdenildo@cefetrn.br

RESUMO
O ultimo século foi caracterizado por um aumento de situações complexas em relação ao meio
ambiente. Com essa problemática há, portanto, um avanço pela busca de uma sociedade mais justa e
ecologicamente sustentável. Nesse sentido, os estudos de percepção ambiental buscam investigar as
relações que determinada comunidade estabelece com o ambiente em que vive: relações de ordem
cognitiva, afetiva e sócio-cultural. O estudo de como sente, pensa e age uma comunidade, no âmbito da
territorialidade vivida, pode contribuir e colaborar com a proposição de medidas que visem à qualidade
ambiental e a integração de pessoas com o seu meio vivencial. O presente estudo teve como objetivo
analisar a percepção dos seridoenses sobre o processo de desertificação do Seridó Oriental norte-rio-
grandense, almejando levantar estratégias de mitigação desse processo, tendo por base os depoimentos e
opiniões dos sertanejos locais. A consecução dessa pesquisa foi alcançada por meio de: pesquisa
bibliográfica, levantamento documental e pesquisa empírica, através de estudo de caso em municípios do
Seridó Oriental integrantes do Núcleo de Desertificação do Estado do Rio Grande do Norte. Nessas
localidades foram aplicados instrumentos de entrevistas em profundidade (ABRIC, 1994) utilizando o
critério “saturação” (SÁ, 1998), a fim de levantar os dados da percepção ambiental dos sertanejos sobre a
desertificação, objetivando validar a hipótese desse estudo.
PALAVRAS-CHAVE: Desertificação, percepção ambiental, Seridó oriental.

INTRODUÇÃO
Este artigo tem a finalidade principal de explicitar a contribuição científica que o estudo da
percepção ambiental pode dar ao fustigante processo de desertificação que assola o semiárido brasileiro e,
em particular, o Serídó Oriental Potiguar25, o nosso recorte espacial do estudo (Mapa 01).
Inicialmente devemos lembrar que vivemos um momento da história humana, cujas situações
complexas exigem soluções criativas e comprometidas para construção de uma sociedade mais justa e
ecologicamente sustentável, uma vez que a ação humana tem dissociado problemas ambientais que
comprometem a sustentabilidade de sociedades, destacando-se aqui aquelas residentes em áreas em
processo de desertificação.
A desertificação é um processo grave que resulta da ação antrópica sobre ecossistemas de baixa
estabilidade, mediante a exploração irracional dos ambientes, quebrando a harmonia natural deles e
trazendo modificações, muitas vezes irremediáveis.

25
A Microrregião do Seridó Oriental Potiguar está situada na área Centro Sul do Estado do Rio Grande do
Norte fazendo divisa ao sul e ao leste com o estado da Paraíba, ao norte e ao oeste, respectivamente, com as
Microrregiões da Serra de Santana e do Seridó Oriental. Fazem parte dessa microrregião geográfica, os seguintes
municípios: Acari, Carnaúba dos Dantas, Cruzeta, Currais Novos, Equador, Jardim do Seridó, Ouro Branco, Parelhas,
Santana do Seridó e São José do Seridó (Mapa 01).

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695

Fonte: Banco de dados do IBGE.


Elaborado: Larissa Maia de Souza – IFRN/2011.
Mapa 01 – Micro Região do Seridó Oriental

Segundo a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD), o processo de


desertificação deve ser entendido como a degradação da terra nas regiões áridas, semi-áridas e subúmidas
secas, resultante de vários fatores, entre os quais se destacam as variações climáticas e as atividades
humanas (ECO, 1992). Essa evidência de degradação ambiental impulsiona à formação de desertos no
sentido estrito do termo, o que implica em prejuízo, principalmente para a natureza e o homem.
Paralelamente a isso, informações do Ministério do Meio Ambiente dão conta de que pelo menos
30% da superfície total dos continentes, tais como, zonas áridas, semiáridas e subúmidas se encontram em
processos de desertificação. Nessas áreas vivem cerca de 2,6 bilhões de pessoas (42% da população
humana) as quais, nos próximos dez anos, poderão ser consideradas como refugiados da desertificação, ou
seja, terão que abandonar suas próprias terras e migrar para outras regiões, se não houver medidas de
contenção (MMA, 2007).
A microrregião geográfica do Seridó Oriental do Rio Grande do Norte, formada por um total de 10
municípios, constitui-se num dos núcleos mais grave de desertificação, ocupam 3.777,267 km2, equivalendo
7,15% da área territorial do Rio Grande do Norte. Vivem nessa microrregião 118.840 pessoas (IBGE, 2010),
sendo 99.180 na área urbana e 19660 na área rural. Essa área territorial é caracterizada por apresentar
forte insolação (insolação de 2.800 h/ano, apresentando uma temperatura variando entre 23º a 27º C e
uma umidade em torno de 50%), baixa nebolusidade, elevadas taxas de evaporação (em torno de 2.000
mm anuais), temperaturas constantes e normalmente altas e baixo índice pluviométrico (de 350-
800mm/ano), concentrado num curto espaço de tempo de aproximadamente três meses; possui uma
formação geológica rica em minerais e solos que variam entre alta e baixa fertilidade natural, onde a
cobertura vegetal predominante é escassa e rala como a caatinga subdesértica e hiperxerófila.
Porém, observamos que as pesquisas que evidenciam esses processos, como a citada acima, têm se
dado principalmente por investigações que se pautam em dados metereológicos e/ou climatológicos ou
por estudos que têm se apoiado tão somente em observações, experimentações e medições objetivas de
ordem ecológica, tais como, por exemplo, as pesquisas científicas de Conti (1995) e Suertegaray (1994).
Dessa forma, constata-se que os estudos sobre desertificação têm sido desenvolvidos sem contemplar as
experiências vividas e percebidas dos que convivem cotidianamente com esse processo degradador,

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


696

delimitando os resultados em apenas dados quantitativos, deixando à margem o ponto de vista dos atores
componentes desse ambiente.
Nesse contexto, surge a necessidade de uma pesquisa que contemple a experiência cotidiana e as
opiniões do homem sertanejo sobre o seu espaço vivencial. Bem como, levar em consideração suas
emoções, intuições e vivências em suas dimensões ambientais, sociais, culturais, históricas e
paradigmáticas de convivência com a desertificação.
Pois, estudos de como sente, pensa e age uma comunidade, no âmbito da territorialidade vivida,
pode contribuir e colaborar com a proposição de medidas que visem à qualidade ambiental e a integração
de pessoas com o seu meio vivencial.
Dessa forma, o presente estudo tem como objetivo descrever e refletir a respeito da percepção dos
seridoenses sobre o processo de desertificação no Seridó Oriental norte-rio-grandense, objetivando
levantar estratégias de mitigação desse processo, tomando por base a percepção dos sertanejos locais.

METODOLOGIA
O estudo aqui proposto é de natureza qualitativa e apóia-se no enfoque descritivo-reflexivo,
traçando referencial para a análise da percepção que o homem seridoense ou sertanejo tem sobre o
processo de desertificação e, que o constituem como parte e totalidade do mundo que o insere. Guiado
por essa concepção, o estudo descartará qualquer visão simplificadora da realidade social, detendo-se a
uma análise integrada sobre a desertificação.
Para que essa pesquisa tivesse coerência e consistência teórica, foi realizada um levantamento e
uma revisão bibliográfica principalmente sobre os conceitos fundantes desse estudo – Desertificação e
Percepção Ambiental –, contendo os nomes de alguns dos autores clássicos e contemporâneos que mais
tem se discutido sobre esses termos. Destacam-se entre os autores utilizados para essa pesquisa: Conti
(1998), Suertegaray (1994), Del Rio e Oliveira (1996) e Tuan (1980), entre outros autores. A partir dessa
desse levantamento, foi possível construir a fundamentação teórica, tendo como finalidade precípua
apresentar informações relevantes e importantes teoricamente e explicitar um suporte teórico que desse
conta do estudo em questão.
Trata-se de uma pesquisa qualitativa que, segundo Minayo (2002), visa aprofundar-se no mundo
dos significados, das ações e relações humanas, ou seja, um lado não perceptível e não captável por meio
de equações, médias e dados estatísticos. Logo, esse tipo de pesquisa se caracteriza por investigar o
problema no seu espaço natural, constituindo-se o pesquisador no elemento principal de investigação. Ou
melhor dizendo: “as questões a investigar não se estabelecem mediante a operacionalização de variáveis,
sendo, outrossim, com o objetivo de investigar os fenômenos em toda sua complexidade e em seu
contexto natural” (BOAVENTURA, 2007, p. 56-57).
Ainda, de acordo com GIL (1996), a pesquisa exploratória e descritiva objetiva respectivamente,
proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou construir
hipóteses e a descrever as características de determinada população, nesse caso a população do Seridó
Oriental norte-rio-grandense.
Essa pesquisa se caracterizou por estudar a realidade humana a partir do significado dado pelos
sujeitos participantes do estudo. Dessa forma, os dados foram colhidos no próprio cotidiano dos sujeitos, e,
utilizamos para coleta de dados, essencialmente a entrevista semi-estruturada e a observação participante.
Utilizou-se, ainda, como elemento de definição do universo amostral, o “critério de saturação”,
proposto por Sá (1998). Para tanto, foram entrevistados 18 pessoas escolhidas de maneira aleatória, com
faixas etárias variadas, de ambos os sexos, residentes na área do Seridó Oriental, no mês de Abril de 2011.
Esse número foi definido baseando-se nesse critério, pois segundo esse autor, o número de sujeitos da
pesquisa deva ser interrompido quando os discursos passarem a se repetir continuamente, sem que novos
temas fossem observados nas respostas dos indivíduos entrevistados. Além disso, realizou-se a pesquisa de
campo por meio da entrevista em profundidade (ABRIC, 1994) com a intenção de possibilitar uma interação
constante entre o pesquisador e os atores sociais entrevistados.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
O cenário desta pesquisa põe em pauta a visão generalizada da população local, dando destaque,
principalmente, a fatores norteados pela percepção dos entrevistados sobre o processo de desertificação

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26
que inquirimos durante a nossa pesquisa de campo . Dessa forma, fez-se necessário traçar perfis sócio-
econômicos para um direcionamento e maior entendimento dos dados obtidos, caracterizando e
explicitando o contexto em que esses se encontram.

Perfil Sócio-econômico dos Entrevistados


As entrevistas foram aplicadas junto a 18 moradores, com faixa etária compreendida entre 21 e 80
anos, conforme demonstra o Gráfico 01:

Gráfico 01 – Faixa etária da população entrevistada


Verificamos que a maior parcela dos entrevistados encontram-se na faixa correspondente a
população adulta. Levamos em consideração a faixa etária da população, pois, a percepção ambiental de
determinado individuo varia de acordo com sua idade, vivência e a experiência. Acredita-se, ainda, que
percepção e cognição possuam relações recíprocas (PIAGET; INHELDER, 1993) e estão ligadas às vivências
humanas que se externam por meio da cotidianidade (TUAN, 1983).
No que se refere ao local de residência das entrevistadas, 67% residem na Zona Urbana e 33% na
Zona Rural. Quanto ao grau de escolaridade, o Gráfico 02 nos mostra o nível de formação educacional ou
de escolarização dos sujeitos da pesquisa.

Gráfico 02 – Grau de Escolaridade da população entrevistada


Observamos que a maioria dos informantes possui um baixo grau de escolaridade, uma vez que
cerca de 11% são analfabetos e pouco mais de 44% deles têm somente o Ensino fundamental. O que indica,
falta de políticas educacionais nessas regiões nas quais o trabalho muitas vezes sobrepõe a vida escolar,
principalmente, pelo fator de sobrevivência.
Os seridoenses foram, também, questionados quanto ao tempo em que moravam na residência
onde foi realizada a entrevista. Cerca de 11% responderam que residiam a menos de 3 anos, 17% residiam
entre 3 e 10 anos, 50% moravam entre 11 e 25 anos e 22% moravam a mais de 25 anos.
Quanto à renda média familiar observa-se a partir dos dados coletados e dispostos no Gráfico 03,
que os rendimentos são muitos baixos, haja vista 16,67% dos indivíduos viverem com menos de um salário
mínimo mensal e 72,22% receberem de 1 até 2 salários mínimos. O que indica que a escolaridade interfere
diretamente na renda mensal da população, pois esta acaba obtendo empregos de baixa qualificação e
remuneração.

26
Pesquisa realizada no mês de Abril de 2011.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


698

Gráfico 03 – Renda média da população entrevistada


Quanto ao trabalho (emprego) da população entrevistada , o número de agricultores e donas de
casa desponta com quase 17% cada um, possibilitando-nos afirmar que, a agricultura ainda se constitui
como umas das principais fontes de renda no Seridó. Após os agricultores e donas de casa, seguem-se os
aposentados, comerciantes, motoristas e pescadores com 11,11% cada um e por fim, as profissões de
professor, vendedor, operário e costureiro com 5,55%. A partir desses dados podemos observar que por
mais variadas que sejam as ocupações dos entrevistados elas não exigem qualificação profissional,
indicando a influência de baixa escolaridade na ocupação dos sertanejos, além da falta de investimento em
profissionalização agravar essa conjuntura.
O conhecimento histórico que se faz de um objeto de estudo sempre se mostra relevante. No caso
do estudo sobre Percepção Ambiental isso se faz essencial, porque somente ao se conhecer o meio
vivencial em que o sujeito encontra-se inserido, podemos compreender de forma generalizada sua relação
de causa e seu efeito.
Como mencionado anteriormente, é preciso ter ciência do espaço pesquisado para que se haja uma
melhor compreensão a respeito do contexto em que se está vinculando tal observação. Tais fatores esses
como idade, renda, local de moradia, escolaridade e ocupação de trabalho, caracteriza a população nos
indicando os aspectos sócio-econômicos que estas estão inseridas. Dessa forma, tais informações poderão
produzir efeito analítico nos apontamentos de nossa pesquisa que serão abordados a seguir.
A percepção ambiental dos seridoenses a respeito do seu meio vivencial ocorreu por intermédio da
valorização de seus discursos e opiniões e de suas práticas cotidianas, procurando estabelecer, a partir de
suas falas, possíveis maneiras de mitigação para o processo de desertificação que assola os municípios
estudados.
Dessa forma, ao utilizarmos a percepção dos moradores como um meio de elucidação dessa
realidade socioespacial, estaremos valorizando a experiência vivida (FRÉMOND, 1976) de cada um dos que
habitam os municípios do Semi Árido norte-rio-grandense, para externarem suas observações,
sentimentos, utopias e sonhos.
Em se tratando das entrevistas, quando questionados se existia desertificação em seu município,
77% dos entrevistados responderam que sim e 23% responderam que não. Os sertanejos que afirmaram
existir desertificação na área pesquisada fundamentaram suas respostas baseadas em fatores como a falta
de chuvas, na pobreza do solo que dificulta o plantio, nas altas temperaturas, alguns inclusive se mostram
conformados com essa problemática afirmando que o homem sertanejo não tem outra saída a não ser
adaptar-se às condições que o sertão impõe. Assim, para validar essas informações sobre a resposta
afirmativa, podemos observar como os sertanejos se referiram:
Aqui a seca é muito grande porque quando o inverno para, agente fica nessa agonia pedindo a
prefeitura, á vezes eles mandam água, ás vezes não. Mas agente precisa então tem que comprar água.

Existe. O sol é muito quente, o solo é muito pobre... Aqui depois que passa o inverno morre tudo.

Como visto, os entrevistados ressaltaram que dentre os agravantes do processo de desertificação o


que mais incomoda é a falta de água, visto que esse elemento é imprescindível à vida. Muitos deles
queixam-se da falta de compromisso da prefeitura em enviar água aos municípios, deixando a população
desamparada de modo que esta tenha que recorrer à compra de carros pipa a fim de suprir suas
necessidades.

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Nesse contexto levamos em consideração o discurso de Malvezzi (2007, p. 16) quando afirma que
“no Nordeste, os políticos que controlam o poder local tem uma longa experiência no exercício desse
poder. São hábeis na manipulação das necessidades humanas. Os três esteios básicos do controle sobre a
população são a fome, a sede e a saúde.”
Ainda, na análise da percepção ambiental dos sertanejos, questionamos as causas da desertificação
no Seridó Oriental, é importante enfatizar que essa pergunta era aberta, permitindo a livre interpretação
do entrevistado com relação aos causadores da desertificação. Dessa forma, a maioria dos entrevistados
(40%) indica como grandes causadores da desertificação o desmatamento e a ação de devastadora das
cerâmicas (Gráfico 04).

Fonte: Pesquisa de campo (2011).


Gráfico 04 – Percepção da população sobre os causadores da desertificação
Os resultados apresentados no gráfico anterior revelam a gravidade da problemática ambiental,
tornando claro que muitos dos entrevistados acusam o próprio homem como o grande causador do
processo de desertificação, como relatado no seguinte depoimento:
Nós já estamos sofrendo com toda essa destruição que o próprio homem criou por falta de cuidado
com o meio ambiente.
Além disso, eles enfatizaram o papel devastador que as indústrias de cerâmica vermelha possuem
em prejudicar a vegetação característica do Semi Árido. Abaixo seguem alguns relatos da população
entrevistada:
Você vê que aqui é deserto, agente não vê nenhuma árvore, não tem fruteira, não tem nada, essa
vila não tem uma planta, agora é que o pessoal tá começando a plantar umas coisinhas.
O desmatamento é grande de mais, aqui as cerâmicas pegam a vegetação da caatinga, do cerrado...
Muito desmatamento e extinção de animais.
Os homens cortam as plantas, se eles não cortassem tanto e desmatassem... ai chovia mais. Eles
cortam e vendem a lenha para cerâmica, os caminhões passam todos lotados aqui.
Os depoimentos acima demonstram uma preocupação a respeito dos efeitos que as cerâmicas
produzem ao usar a vegetação nativa para alimentar as suas fornalhas, uma vez que estas contribuem
diretamente para intensificação do fenômeno da desertificação. Porém, a controversa nesse contexto é
que, infelizmente, várias dessas famílias são dependentes financeiramente dessas empresas, pois nelas
encontram seu sustento direto ou indireto. O depoimento a seguir demonstra claramente essa
problemática:
O problema aqui em Acari são as cerâmicas, mas se fechar fica todo mundo desempregado. O
emprego que o povo tem aqui é as cerâmicas mesmo.
Os informantes ainda foram indagados sobre o que poderia ser feito para evitar a desertificação,
suas contribuições foram:
Ter mais trabalho, sem ser nas cerâmicas.
Reduzir os desperdícios de água e acabar o desmatamento.
Para mudar essa situação só se mandar fechar as cerâmicas “tudinho” porque elas desmatam tudo
para pegar a lenha.
Por fim, destacamos que as práticas dos seridoenses para evitarem ou diminuírem a desertificação
são ações de cunho individual. Uma vez que não existe uma organização da população para cobrar dos
poderes públicos locais iniciativas e atitudes voltadas para a preservação da vegetação da caatinga e para

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


700

amenização e combate dos efeitos que as indústrias de cerâmica vermelha causam ao meio ambiente e as
populações locais.
Dessa forma, é possível afirmar que os seridoenses estão abandonando o seu dever de atuar,
monitorar, pressionar e cobrar primeiramente deles mesmos e, em seguida, dos poderes públicos ações e
compromissos com o desenvolvimento sustentável e com a qualidade de vida local, quer seja por
descompromisso com o meio que o cerca, quer seja por medo das relações de poder que ainda se mantém
no sertão norte-rio-grandense, como pode ser observado na fala de uns dos nossos entrevistados:
Tentaram montar para queimar “bujão”, queimar o gás nas cerâmicas, mas ai não deu certo, eles
não aprovaram. Eles vivem prometendo que não vão desmatar a caatinga... Promete, mas o homem não
cumpre né?
Eu fico calada, porque tenho medo de falar das cerâmicas e depois eu me prejudicar.
CONCLUSÃO
Diante das discussões e reflexões desenvolvidas ao longo desta pesquisa, embasada pelos
levantamentos teóricos e pela pesquisa de campo (num dialogo entre os atores sociais, os sertanejos), foi
possível investigar o sentido da desertificação para os sujeitos dessa pesquisa, a partir de uma análise da
percepção dos seridoenses envolvidos com essa problemática em seu meio vivencial. Mas, foi possível,
também, desvendar as mitigações para o processo de desertificação local. Para eles a desertificação deve
ser mitigada, principalmente, a partir do reflorestamento da caatinga, pelo aumento na disponibilidade de
água (implantação de cisternas ou poços) e, além disso, pelo aumento de empregos desvinculados a
atividade ceramista.
Os discursos, portanto, demonstram a influencia que a indústria de cerâmica vermelha possui sobre
o Seridó e seus habitantes. A maioria deles faz referência a essa indústria de forma temerosa, como se ela
devolvesse relações de poder, uma vez que esta se configura por ser um dos maiores meios de
empregabilidade dos habitantes e se apropria desse fator para exercer sua cadeia produtiva, muitas vezes,
de maneira irresponsável e prejudicial ao meio ambiente.
Assim sendo, com a posse desses subsídios e do conhecimento levantado, os poderes públicos
locais devem atuar no combate a desertificação pensando em estratégias que visem uma maior fiscalização
junto às indústrias de cerâmicas, bem como, o auxílio de água por meio de poços ou cisternas. Além de
recursos humanos, materiais e financeiros para conduzir a educação de sua população à uma sensibilização
ambiental. que venham amenizar os efeitos e o processo de desertificação.
Ainda, evitando responsabilizar somente os órgãos políticos, torna-se necessário a organização da
população local a fim de cobrar dos poderes públicos uma maior participação nos assuntos referentes às
políticas de mitigação desse processo ambiental. Assim, acreditamos que o trabalho em conjunto do
sertanejo com a esfera política conseguirá alcançar objetivos em comuns.
Em face dessas considerações, podemos afirmar que as reflexões aqui apresentadas podem
conduzir investigações mais profundas, levando em consideração a percepção ambiental e sua contribuição
para a melhoria das condições de vida das populações residentes em áreas fustigadas por secas ou
processos de semiaridez.
Por meio dos resultados da pesquisa, podemos dizer ainda que, o estudo da percepção ambiental
pode contribuir com o entendimento das relações que os sertanejos têm com o seu meio vivencial,
conhecendo e refletindo sobre suas experiências, seus problemas e soluções, e têm a potencialidade de
saná-los por meio de diretrizes e ações de intervenções que envolvem a gestão e o planejamento
ambientais, aplicando-se técnicas e programas de educação ambiental.
Enfatizando nosso discurso, lançamos mão da alocução de Sartori (2000, p. 18), no qual ele diz que
os estudos de percepção adquirem conotação que excede a “simples compreensão dos esquemas de
comportamento”, buscando-se descobrir as ligações entre o homem e a terra e “o que dá densidade
particular à sua vivência”.

REFERÊNCIAS
ABRIC, J-C. Méthodologie de recueil dês representations. Paris, PUF, 1994.
BOAVENTURA, E. M. Metodologia da Pesquisa: monografia, dissertação, tese. 5ª ed. – São Paulo:
Atlas, 2007.

João Pessoa, outubro de 2011


701

CONTI, J. B. Desertificação nos trópicos. Proposta de metodologia de estudo aplicada ao Nordeste


Brasileiro. 1995. Tese (Livre Docência). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, São
Paulo, 1995.
______. O conceito de desertificação. Rio Claro – Vol. 3 – n. 2 – julho/dezembro/2008, p. 39.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 3ª ed. São Paulo: Atlas S.A., 1996.
MALVEZZI, R. Semi-árido: uma visão holística. Brasília: Confea, 2007, p. 16.
MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. Tradução Carlos Alberto Ribeiro de Moura. São
Paulo: Martins Fontes, 1994, p. 3.
MINAYO, M. C. S. (Org.) O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 7ª ed. São
Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Abrasco, 2000, p. 21, p. 69.
PIAGET, J.; INHELDER, B. A representação do espaço na criança. Tradução de Bernardina Machado
de Albuquerque. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.
RIO, V, D.; OLIVEIRA, L. Percepção ambiental: a experiência brasileira. São Paulo: Studio Nobel; São
Carlos, SP: Universidade Federal de São Carlos, 1996.
SÁ, C. P. A construção do objeto de pesquisa em representações Sociais. Rio de Janeiro: UERJ, 1998.
SARTORI, M. G. B. Clima e percepção. 2000. Tese (Doutorado em Geografia) – Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000.
SUERTEGARAY, D. M. A. Integração, desenvolvimento e meio ambiente. In: LEHNEN, Arno Carlos et
al., (Org.) Fronteiras no Mercosul. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS; Prefeitura Municipal de
Uruguaiana. 1994, p.136-140.
TUAN, Y. F. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. São Paulo:
Difel, 1980.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


702

IMPACTOS CLIMÁTICOS NO ESPAÇO GEOGRÁFICO DE CAMPINA GRANDE


– UM ESTUDO DA VARIABILIDADE DA TEMPERATURA DO AR SOBRE A
ÁREA URBANA
Márcia Pontes da Silva
Graduanda em Licenciatura Específica em Geografia - Universidade Aberta Vida (UNAVIDA)
Campina Grande – PB. Email: marci-apontes@hotmail.com
Alexandre Magno Teodosio de Medeiros
Orientador / Doutorando em Meteorologia / Bacharel em Meteorologia / Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
/ Programa de Pós-Graduação em Meteorologia – Campina Grande - PB
Graduando em Licenciatura Específica em Geografia - Universidade Aberta Vida (UNAVIDA)
Campina Grande – PB – Email: magnopb@gmail.com
Raimundo Mainar de Medeiros
Doutorando em Meteorologia da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) / Programa de Pós-Graduação em
Meteorologia – Campina Grande – PB
Email: mainarmedeiros@gmail.com

RESUMO
O objetivo deste trabalho é estudar a variabilidade local da temperatura do ar nos últimos 20 anos
(1990-2010), sobre a área urbana de Campina Grande, em relação às normais climatológicas do Instituto
Nacional de Meteorologia – INMET (1961-1990). Sabemos que o processo de urbanização está
influenciando o microclima em diversas áreas da cidade, e neste caso particular, foi tomado como estudo
de caso à estação meteorológica do INMET, localizada nas dependências da Embrapa Algodão – Campina
Grande. Verificou-se que há uma diferença considerável na temperatura observada pelas normais
climatológicas do INMET e dos dados médios mensais do período de 1990 a 2010. Diante dos resultados
obtidos foram observados que as temperaturas médias, máximas e mínimas ficaram acima da normal
climatológica. Infere-se que as diferenças nos valores de temperatura acontecem devido à urbanização
ocorrida na área de estudo nos últimos 20 anos e que gerou uma ilha de calor no entorno da estação
meteorológica da EMBRAPA, visto que a influência da urbanização favorece o aquecimento daquela região
em estudo.
Palavras-chave: Temperatura, Ilha de calor, Aquecimento das cidades.

ABSTRACT
The objective of this work is to study the local variability of air temperature over the past 20 years
(1990-2010), over the urban area of Campina Grande, in relation to the climatological normal from the
National Institute of Meteorology - INMET (1961-1990). We know that the process of urbanization is
influencing the microclimate in several areas of the city, and in this particular case, was taken as a case
study INMET the weather station, located on the premises of Embrapa Cotton - Campina Grande. It was
found that there is a considerable difference in temperature observed by normal climatic INMET and
monthly average data from 1990 to 2010. Considering the results obtained it was observed that average
temperatures, highs and lows were above the climatological normal. It is inferred that the differences in
temperature occur due to the urbanization that occurred in the study area in the last 20 years and has
generated a heat island in the vicinity of the meteorological station of EMBRAPA, since the influence of
urbanization favors warming in that region study.
Key words: Temperature, Heat island, Heating cities.

INTRODUÇÃO
Com o crescimento das cidades nos últimos anos, o progresso tem trazido a modernização e a
urbanização cada vez maior e que se torna o exemplo mais evidente da modificação do clima local, devido
principalmente a construção de obras, como edificações, impermeabilização dos solos com obras de
asfaltamento e calçamento, desmatamento e concentração de máquinas e pessoas. Tais fatores têm

João Pessoa, outubro de 2011


703

modificado o ambiente urbano que vem apresentando mudanças nas temperaturas diárias, criando um
verdadeiro clima urbano.
No relatório da quarta avaliação do IPCC (2007), há previsões de aquecimento do globo. As
projeções do IPCC indicam um maior número de dias quentes e ondas de calor em todas as regiões
continentais. O mesmo adverte que deverá haver um aumento da temperatura diária, mas não fala sobre
as influências do impacto causado pelo chamado “clima urbano”, o real aquecimento local. Esses impactos
na área urbana induzem principalmente o aumento de temperatura e a diminuição da umidade e tem
como principal causa a carência da cobertura da massa vegetal, aumento da cobertura da superfície urbana
com concreto e asfalto, o aumento da atividade industrial e da poluição produzida na cidade.
Um dos grandes desafios dos estudos climatológicos é diagnosticar a origem deste aquecimento,
sua variabilidade e tendência futura. No nosso país, as estimativas têm sido dificultadas pelo problema no
acesso aos dados, na precariedade da extensão espacial da rede de observação meteorológica e pela curta
duração das séries temporais de dados. Além do mais, procura-se evidenciar muito mais causas globais do
que locais e que demandam a maior verdade das condições de tempo reinantes e que tem induzido o real
aquecimento das cidades e dos impactos locais que tanto assolam e desconfortam a população do planeta.

MATERIAL E MÉTODOS
Área de Estudo
A cidade de Campina Grande está localizada a 7°13’11’’ de latitude Sul e 35°52’31’’ de latitude
Oeste (Figura 1), localizada no estado da Paraíba, na região oriental do Planalto da Borborema. O
município apresenta um relevo variando de 337 m e 665 m acima do nível médio do mar.
O município de Campina Grande situa-se, entre o Litoral e o Sertão, usufruindo assim, de um clima
menos árido. Por estar localizado em uma região alta, beneficia-se de temperaturas menores e de uma
ótima ventilação, o que proporciona um clima ameno e agradável em todos os meses do ano. A
temperatura média anual oscila em torno dos 23,3oC, a máxima em torno dos 30,9°C e a mínima em torno
de 18,4 oC. A umidade relativa do ar, na área urbana, varia entre 75 a 83%.
A cidade situa-se na fronteira entre microrregiões de clima e vegetação diferentes. Ao nordeste, a
paisagem é verde e arborizada, típica do brejo presente nas partes mais altas do planalto. Ao sudeste,
encontra-se uma paisagem típica do agreste, com árvores e pastagens. As regiões oeste e sul do município
predominam clima e vegetação do Cariri, com vastas áreas de vegetação rasteira tipo caatinga e clima seco.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


704

Figura 01. Localização Geográfica do município de Campina Grande – PB. Reproduzido de Araújo et
al (1992).
De acordo com Pereira e Melo (2008), Campina Grande é o segundo município em população do
Estado, possui uma área de 970 km2 e exerce grande influência política e econômica no estado. A
população de Campina Grande, segundo o Censo do IBGE em 2010 ficou estimada em 383.941 habitantes.
A área de estudo localiza-se na Embrapa Algodão que é uma das Unidades descentralizadas da
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, localizada no bairro do Centenário, nas coordenadas
geográficas 07°13’Sul de latitude; 53°31` Oeste de longitude e Altitude de 530 metros.

Figura 02. Visualização espacial de parte da cidade de Campina Grande, onde se localiza a
EMBRAPA-Algodão.

O Clima Urbano
O clima urbano é formado pelas variações locais dos elementos climáticos: radiação solar,
temperatura do ar, umidade, ventos e precipitação, ocasionados pela modificação no meio ambiente,
através da urbanização provocada pelo homem e que cria um clima típico de ambientes artificiais. Specian
(2003) define que o clima urbano pode ser entendido, como o clima das cidades, ou seja, um clima do
ambiente artificialmente construído. Para Oliveira (1988) o clima urbano é o resultado da ação antrópica
conjugado com os aspectos geoambientais urbanos, transformado quanto às dimensões do espaço
geográfico/atmosférico e quanto ao dinamismo das atividades desenvolvidas pelo homem. De acordo com
Lombardo (1985) o clima urbano é a modificação do clima, por sofrer influência das condições climáticas
das áreas circunvizinhas que apresentam maiores quantidades de calor em virtude da modificação na
circulação local dos ventos.

Procedimento metodológico
De acordo com a OMM - Organização Meteorológica Mundial, os dados climáticos são mais úteis
quando comparados com valores normais padronizados, obtidos segundo recomendações técnicas
(documento Técnico WMO-TD, no 341). A partir destas orientações, em 1992, o Instituto Nacional de
Meteorologia - INMET, antigo DNMET – Departamento Nacional de Meteorologia, publicou as normais
climatológicas do período de 1961-1990, reunindo 209 estações meteorológicas em todo o país e 12
variáveis meteorológicas. Assim, os dados das normais serviram de base para o estudo comparativo com a
nova média histórica calculada no trabalho em questão (série 1990 a 2010).

João Pessoa, outubro de 2011


705

Neste estudo utilizaram-se dados diários de temperatura da Estação Climatológica do Instituto


Nacional de Meteorologia - INMET, localizada nas dependências da EMBRAPA, no município de Campina
Grande. Foi utilizada uma série diária de temperatura do período de 1990 a 2010, com dados provenientes
da estação convencional, equipada com termômetros de máximas e mínimas e com leituras da
temperatura nos horários das 12, 18 e 24h (TMG – Tempo Médio de Greenwich).
Os dados selecionados foram organizados em planilha eletrônica no programa aplicativo Microsoft
Office Excel, e foram efetuados cálculos das médias diárias, mensais e anuais de temperatura e com a
confecção dos respectivos gráficos. Para os cálculos das médias de temperatura, foi utilizada a
metodologia segundo normas da OMM (WMO, 2009): Assim, para se determinar a média das
temperaturas máxima e mínima X, para a estação em estudo, computou-se inicialmente o valor Xij
correspondente a cada mês i e cada ano j, para o período em estudo. Em se tratando de variáveis
associadas a valores diários, o valor Xij é computado como Xij = Σk Xkij / N, onde Xkij é o valor observado da
variável temperatura X, no dia k, do mês i, do ano j, e N é o número de dias no mês i, do ano j, para os quais
se dispõe de observações.
Para o caso particular da temperatura média do ar (TM), o calculo efetuado no cômputo dessa
variável média, utilizou-se a norma padronizada pela fórmula TM,kij = (Tmáx,kij + Tmín,kij + T12,kij + 2T24,kij)/5,
onde Tmáx e Tmín e representam as temperaturas máximas e mínimas diárias que são registradas ao longo do
dia por termômetros convencionais e T12 e T24, são respectivamente, as temperaturas observadas para os
horários de 12 TMG e 24 TMG.
Assim, os resultados médios das fórmulas com base em dados de instrumentos convencionais
(período de 1990 a 2010) foram comparados com os valores médios climatológicos obtidos das normais
climatológicas do INMET (1961 a 1990).

RESULTADOS E DISCUSSÕES
A variabilidade da temperatura na estação da EMBRAPA, para o período de 1990 a 2010,
apresentou uma tendência bem definida, marcada pelo aumento das temperaturas médias mensais em
toda a série calculada. Os dados apresentaram tendência de aumento para a temperatura mínima
oscilando entre 0,6 oC e 1,3 oC acima das normais climatológica (Figura 03), entre 0,5 oC e 2,4 oC para a
temperaturas máxima (Figura 04) e entre 0,4 oC e 2,0 oC para a temperatura média (Figura 05). Assim,
temos nos gráficos a seguir, os resultados obtidos onde estão representadas as oscilações das
temperaturas médias calculadas para o período de 1990 a 2010 em comparação com os dados das normais
climatológicas oficiais do INMET (1961 a 1990).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


706

Figura 03 - Variabilidade da temperatura mínima média em Campina Grande (Normais


climatológicas 1961-1990 X Média 1990-2010)

Figura 04 - Variabilidade da temperatura máxima média em Campina Grande (Normais


climatológicas 1961-1990 X Média 1990-2010)

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Figura 05 - Variabilidade da temperatura média em Campina Grande (Normais climatológicas 1961-


1990 X Média 1990-2010)

Uma avaliação do quanto à temperatura vem aumentando nas últimas décadas pode ser observada
nas Figuras 03, 04, 05. Analisando as duas ultimas décadas, a temperatura média se comportou acima das
normais climatológicas, para a localidade estudada. Nestes gráficos, podemos observar uma elevação da
temperatura média máxima, com maior amplitude de desvio em torno de 2,4 oC para o mês de dezembro,
onde representativamente começa o inicio da estação do verão no Hemisfério Sul e onde se caracteriza
pleno período de estiagem no estado da Paraíba, em particular na região do Agreste, onde localiza-se a
área em estudo. Com relação à temperatura média mínima, o menor desvio (anomalia) foi de 0,6 oC
observado no mês de agosto, mês característico do final do Inverno no Hemisfério Sul. Destaca-se que a
EMBRAPA - Campina Grande está situada numa área, dentro dos impactos de ações antropogênicas do
homem, tipo, asfalto, construções civis e falta de arborização, sugerindo diretamente que o aumento
observado nas temperaturas médias pode ser devido a alterações nas condições urbanas da região, o que
criaram uma atmosfera típica local que podemos chamá-la de “ilha de calor”.

CONCLUSÃO
Analisando o tocante as últimas teorias de aquecimento global, de acordo os relatórios da Quarta
Avaliação do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, 2007), o aumento da temperatura
observado está entre 0,4 oC e 0,7 oC no último século, aponta que as mudanças climáticas já estão
acontecendo e que são originadas, em sua maioria, pelas atividades antrópicas, embora exista uma
corrente que associem essas alterações aos ciclos naturais de variação do clima.
Diante do estudo realizado para a cidade de Campina Grande, especificamente para o ponto onde
se localiza a EMBRAPA, nos resultados obtidos na análise do trabalho observou-se variações muito maiores
do que explanadas pelo IPCC e que demonstram que a influência local tem grande contribuição sobre o
aquecimento pontual, o chamado “aquecimento urbano” que se encontra nitidamente na região em
estudo. Os dados observados mostram temperaturas médias mensais que variaram de 0,4 oC a 2,0 oC em
relação as normais climatológicas oficiais e que demonstram uma grande variabilidade da temperatura nos
últimos 20 anos e que podem ser relacionadas diretamente ao processo de urbanização das cidades.
Assim, podemos inferir que o processo de urbanização na localidade em estudo gerou uma ilha de
calor no entorno das dependências Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA, Campina
Grande - PB e a influência dessa urbanização em suas adjacências favoreceu ainda mais o aumento de
temperatura no decorrer dos anos.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


708

Vale salientar que estudos mais aprofundados devem ser realizados neste sentido, buscando avaliar
concretas causas e os impactos das condições climáticas, além de procurar utilizar séries mais longas e
expandir o estudo para diversas áreas, como efeito estatístico e comparativo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, E. L., RUFINO, I. A. A., LUNGUINHO, R. L. Análise da expansão urbana versus o
comportamento da rede de distribuição de água da cidade de Campina Grande – PB através de imagens de
satélite. Anais XV Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, Curitiba, Brasil, INPE. p.0783. 2011.
DNMET., Departamento Nacional de Meteorologia. Normais Climatológicas (1961-1990). Brasília,
DF. 85 p. 1992.
INMET. Normais Climatológicas do Brasil (1961 – 1990). Reeditado e Ampliado, organizadores:
Andrea Malheiros Ramos, Luiz André Rodrigues dos Santos, Lauro Tadeu Guimarães Fortes. Brasília, DF. 465
p. 2009.
IPCC AR4/SPM, 2007. Contribution of Working Group I for the Fourth Assessment Report of the
Intergovernmental Panel on Climate Change, Summary for Policy Makers (SPM), WMO/UNEP, Genebra,
Suiça. 2007.
LOMBARDO, M.A. Ilha de Calor nas Metrópoles: o exemplo de São Paulo. Ed. Hucitec. São Paulo.
244p. 1985.
OLIVEIRA, P.M. DE. Cidade apropriada ao clima: a forma urbana como instrumento de controle do
clima urbano. Brasília: UNB. 134p. 1988.
PEREIRA, S. S.; MELO, J. A. B. Gestão dos resíduos sólidos urbanos em Campina Grande/PB e seus
reflexos socioeconômicos. Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional - G&DR, v. 4, n. 4, p.
193-217. 2008.
SPECIAN, V. Clima e Ambiente Construído Análise da “Predicting Indoor Air Temperature Formula”.
Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Ciências da Engenharia. 2003.
WMO., Organização Meteorológica Mundial. Calculation of monthly and annual 30-year standard
normals. Geneva (WMO. Technical document, n. 341; WCDP, n.10). 1989.
WMO., World Meteorological Organization. Guide to Climatological Practices. Third Edition (draft).
WMO - No 100, Genebra: WMO. 2009.

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709

POLÍTICA DE COMBATE Á SECA E ESTRATÉGIAS DE CONVIVÊNCIA COM O


SEMIÁRIDO: O CONTEXTO DO ESTADO DO CEARÁ
Maria Losângela Martins de SOUSA – Mestranda em Geografia pela Universidade Federal do Ceará –
losangelaufc@gmail.com
Vládia Pinto Vidal de OLIVEIRA – Orientadora e Profª. Dra. da Universidade Federal do Ceará - vladia.ufc@gmail.com

RESUMO
As políticas de combate à seca e as estratégias de convivência com o semiárido historicamente vem
sendo desenvolvidas no Nordeste brasileiro e mais especificamente no Estado do Ceará. Essas políticas são
importantes, mas ainda não conseguem obter os resultados esperados, uma vez que a população continua
a sofrer com as mazelas das grandes secas, em que rebanhos são dizimados e pessoas passam fome. As
estratégias de convivência vêm sendo desenvolvidas lentamente e a população em muitos casos não
respeitam as potencialidades e limitações dos recursos naturais, por diversos motivos, inclusive
contraditórios. Enquanto uns degradam por não ter outra opção de renda familiar, outros degradam na
perspectiva de acumular capital, e ainda recebem incentivos governamentais. O resultado dessas ações é a
intensificação e ampliação da degradação ambiental, principalmente nas áreas susceptíveis a
desertificação. Desta feita, a problemática nordestina não consegue ser resolvida, não só referente à seca,
mas principalmente relacionadas às condições socioeconômicas da população. O presente artigo tem como
objetivo refletir sobre as políticas de combate as secas e as estratégias de convivência com o semiárido e a
sua aplicabilidade especificamente no Estado do Ceará.
Palavras-Chaves: Combate a seca, Convivência com o Semiárido, Nordeste, Ceará.

INTRODUÇÃO
O Nordeste brasileiro não só comporta condições naturais típicas como também condições
socioeconômicas díspares. O Estado do Ceará enfrenta problemas semelhantes em que os seus sistemas
ambientais são fortemente desconfigurados frente às formas de uso e ocupação inadequadas. A pecuária
extensiva e a agricultura de sequeiro pautada em técnicas extremamente rudimentares contribuíram
fortemente para a devastação ambiental nos sertões cearenses.
As políticas de combate as secas, freqüentes no semiárido, vem se mostrando historicamente
ineficazes, pois a cada grande seca a população se apresenta altamente vulnerável à problemática. Já as
estratégias de convivência com o semiárido exigem uma mudança na perspectiva do desenvolvimento
econômico, em que este deve atender aos anseios da população local e não aos mercados estrangeiros.
Tais políticas implementadas nas esferas federal, estadual e municipal, pouco tem mudado a
história de vida das populações sertanejas. Embora estivessem baseadas em programas e projetos bem
elaborados, as transformações são pouco visíveis no cotidiano das populações locais.
1 PECULIARIDADES DO SEMIÁRIDO BRASILEIRO E CEARENSE
O semiárido brasileiro encontra-se inserido no Nordeste brasileiro e abrange uma área de
aproximadamente 800.000 km², ocupando quase metade da região nordestina (Souza e Oliveira, 2002).
No que se refere às condições naturais da região, podem se destacar a estrutura geológica
composta predominantemente de terrenos cristalinos datada do período Pré-Cambriano modelados por
processos de pediplanação datados do Quaternário, os quais condicionam o regime hidrológico composto
por rios intermitentes sazonais de caráter exorréico. Tais condições proporcionam a formação de solos os
mais variados em função da ação dos fatores e dos processos que atuam nessa região. Normalmente, os
solos rasos são recobertos por vegetação rasteira do tipo Caatinga a qual oferece baixa proteção aos solos
contra os processos erosivos. Associados a tais características pode-se ainda mencionar a
evapotranspiração potencial acima de 2000 mm e os freqüentes eventos hidrológicos com extremas secas
e cheias.
Inseridos neste contexto as ações humanas são de fundamental importância para entender a atual
dinâmica dos sistemas ambientais no semiárido brasileiro. Os mesmos vêm apresentando sintomas de

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


710

desequilíbrio ambiental com aumento significativo dos processos erosivos e expansão das áreas
desertificadas.
A razão pela qual se explica a existência do clima semiárido no Nordeste é bastante complexa.
Ferreira e Mello (2005) apontam os principais sistemas atmosféricos que atuam na região. Segundo eles,
esses sistemas são os principais causadores ou inibidores de chuvas nessa área.
Entre os sistemas pode-se destacar a Zona de Convergência Intertropical (ZCTI), a qual se constitui
como um conjunto de nuvem que circundam na faixa equatorial, formada pela confluência de ventos alísios
do Norte e do Sul. Ela é um dos principais fatores que determinam a abundância ou a escassez de chuvas
anuais.
Outro sistema importante citado pelos referidos autores são as frentes frias, constituída de nuvens
que penetram até as latitudes tropicais, se formam da confluência entre massas de ar frio e quente,
responsáveis pelas chuvas que normalmente ocorrem no período de novembro a janeiro.
Juntamente com os sistemas anteriormente mencionados estão os Vórtices Ciclônicos de Altos
Níveis (VCAN). São conjuntos de nuvens que se formam no Oceano Atlântico, especialmente entre os
meses de novembro a março com maior freqüência entre janeiro e fevereiro, se dão no sentido Leste Oeste
e tem duração de 7 a 10 dias em média.
Os autores mencionam ainda a influência das Linhas de Instabilidade (LI). São nuvens organizadas
em linhas que se formam em função da quantidade de radiação solar incidente sobre a região tropical.
Devido à proximidade da ZCTI, as LI, podem influenciar na ocorrência de chuvas, especialmente nos meses
de fevereiro a março.
Os Complexos Convectivos de Mesoescala (CCMs) são outros sistemas apontados por Ferreira e
Mello (op cit.). De acordo com os autores tais complexos se constituem como aglomerados de nuvens que
se formam em determinadas condições de temperatura, relevo, etc, responsáveis por chuvas fortes e de
curta duração, ou seja, as chuvas torrenciais muito comuns no Nordeste.
As ondas de Leste são também fenômenos comuns na região nordestina sob condições de
semiaridez. São ondas que se formam na faixa tropical do globo, na zona de influência dos ventos alísios, se
deslocam de Oeste para Leste e são responsáveis pelas chuvas principalmente na zona da mata, no
recôncavo baiano até o litoral do Rio Grande do Norte.
Ferreira e Mello (op cit) apontam ainda outros sistemas que influem nas condições climáticas
nordestinas. Para eles as brisas marítimas e terrestres influenciam, entretanto, de forma pouco perceptível.
Já os oceanos Atlântico e Pacífico interferem de forma mais direta. Tal influência está relacionada aos
fenômenos El nino, quando ocorre o superaquecimento das águas superficiais do oceano Pacífico da faixa
equatorial, podendo ocorrer secas no Nordeste brasileiro e a La nina, a qual se constitui como o
resfriamento das águas superficiais do oceano Pacífico, podendo ser responsável pela ocorrência de chuvas
normais, anos chuvosos ou muito chuvosos.
A influência do oceano Atlântico também está relacionada com o posicionamento da ZCTI, do
Sistema de Alta Pressão do Atlântico Norte (AAN) e do Sistema de Alta Pressão do Atlântico Sul (AAS).
Quando as águas do Atlântico Norte estão mais frias que o normal, o sistema AAN e os ventos alísios de
nordeste se intensificam. Se ao mesmo tempo as águas do Atlântico Sul estiverem mais quentes, o AAS e os
ventos alísios de sudeste se enfraquecem. Isso faz com que a ZCTI se desloquem um pouco mais para Sul do
Equador e proporcione anos de chuvas abundantes, anos chuvosos e muito chuvosos.
Quando ocorre o contrário, ou seja, quando as águas do Atlântico Sul estão mais frias que o normal,
o sistema AAS e os ventos alísios de sudeste se intensificam. Se neste período as águas do Atlântico Norte
estiverem mais quentes que o normal o AAN e os ventos alísios de nordeste enfraquecem fazendo com que
ocorra um deslocamento da ZCTI para Norte do Equador e provoque chuvas escassas ou secas.
Diante do exposto acima, verifica-se que a ocorrência das condições climáticas semiáridas no
Nordeste se dá em função de um conjunto de fatores. Esses fatores associados aos demais elementos
naturais proporcionam a região características bem distintas do restante do país.
Um exemplo de tais características é a ocorrência de eventos climáticos extremos as cheias e as
secas (VIEIRA e FILHO, 2002). Esses dois eventos podem trazer sérios problemas para as populações
nordestinas. De um lado têm-se os anos chuvosos ou muito chuvosos e do outro, chuvas escassas,
caracterizando as secas. Para uma região marcada pela ocorrência de secas, os anos chuvosos poderiam ser
a solução, desde que a água fosse armazenada e bem distribuída. Entretanto, isso ainda não acontece no

João Pessoa, outubro de 2011


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Nordeste e especialmente no semiárido cearense. Este Estado vem se destacando nas políticas de recursos
hídricos, com grande quantidade de água armazenada nos grandes reservatórios, mas a distribuição ainda
fica aquém. Na realidade o interesse do Estado está voltado ao agronegócio e ao capital internacional.
Contraditoriamente numa região marcada pelas secas, os anos chuvosos causam muitos
problemas. As chuvas torrenciais ao precipitarem em terrenos cristalinos provocam o escoamento
superficial por duas razões principais, as condições geológicas impermeáveis e a concentração espaço-
temporal. Como conseqüência dessa realidade tem-se as enchentes ou as cheias. Estas ocasionam perdas
na produção, destruição de residências, famílias desabrigadas, epidemias, e até mortalidade de animais e
pessoas.
Outro problema sério é a destruição das barragens, ou dos açudes, pois a maioria tem paredes
pouco resistentes e não conseguem suportar o peso da água, que a cada dia aumenta o volume, vindo dos
córregos e riachos. Este problema pode ainda causar o efeito dominó, ou seja, sair rompendo as pequenas
barragens à jusante do açude que se rompeu. Além de perder toda a água acumulada, o que abasteceria
diversas famílias, durante grande parte da estação seca, as estradas e rodagens também são interrompidas
deixando famílias e animais ilhados.
Já as secas, conforme Vieira e Filho (2002) se referem à falta de precipitação, deficiência de
umidade do solo agrícola, quebra da produção agropecuária, causando impactos sociais e econômicos os
mais diversos. Normalmente ocorrem por vários anos seqüenciais, o que agrava ainda mais a situação. A
dizimação dos rebanhos, que sem pastagem abundante perdem peso e valor, a escassez dos produtos
alimentícios armazenados para o consumo humano e a crescente distância das fontes de águas são alguns
dos problemas os quais populações nordestinas enfrentam em anos secos.
Para Souza e Oliveira (2002) a seca não é apenas a questão da falta d’água, é bem mais complexa,
“as secas não resulta de modo simplista de condições pluviométricas adversas. Não é também
oriunda simplesmente da perda da produção agrícola por escassez, ausência ou irregularidade de chuvas.
Fundamentalmente, a seca tem conotação direta com crises periódicas que afetam a economia agro-
pecuária por inadequação das lavouras produzidas às condições de potencialidades e de limitações dos
recursos naturais disponíveis”. pág. 208.
Na realidade o problema não é a seca, e sim, a forma de conviver com ela. Historicamente vem se
produzindo no semiárido a custa das potencialidades dos recursos naturais sem o devido respeito às
limitações de uso dos mesmos, o que desencadeia sérios problemas de degradação ambiental.
Diante de tal contexto é importante analisar e atribuir a seca a sua devida importância, entretanto
não se pode deixar de analisar o fenômeno de modo a entender as suas principais causas e efeitos e de que
forma o problema deve ser solucionado.
Na perspectiva de resolver os vários problemas desencadeados pelas secas foram desenvolvidos
dois tipos de ações principais, uma, voltada ao combate à seca e a outra visando a convivência com o
semiárido. São ações bastante distintas, uma vez que de um lado tem-se a perspectiva de enfrentar a seca,
como se fosse possível acabar, o que é uma inverdade, visto ser um fenômeno natural, e do outro lado,
buscar meios, técnicas, de uma adequada convivência com as peculiaridades do semiárido.
2 AÇÕES DE COMBATE A SECA NO NORDESTE BRASILEIRO
Para efeito de compreensão buscar-se-á neste momento contextualizar de forma breve as
principais ações que marcam a história do semiárido no Nordeste brasileiro no que se refere às ações de
combate as secas.
O fenômeno da seca marca a história do Nordeste, pois ocorrem de forma cíclica,
aproximadamente a cada 12 anos (Nascimento, 2006) e tem conseqüências socioambientais graves.
Vieira e Filho (2002) apresentam uma cronologia das secas desde o século XVI, com base no Projeto
Áridas, conforme o Quadro 1, a seguir.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


712

Quadro 1. Cronologia das secas do Nordeste (Século XVI – XXI)


DÉCADA SÉCULO SÉCULO SÉCULO SÉCULO XIX SÉCULO XX SÉCULO
XVI XVII XVIII XXI
00 1603 1707 1804 1900 2001
1608 1808/1809 1903 2003
10 1614 1710/1711 1814 1915 2010
1919
20 1721/1722 1824/1825
1723/1724 1829
1725/1726
1727
30 1730 1844/1845 1942
1736/1737
40 1645 1744/1745
1746/1747
50 1652 1751 1951/1952
1754 1953
1958
60 1760 1962
1766 1966
70 1771/1772 1870 1970
1777/1778 1877/1878 1976
1879 1979
80 1583 1783/1784 18888/1889 1980/1981
1587 1982/1983
90 1692 1791/1792 1898 1990/1991
1793 1992/1993
1998/1999
FONTE: Projeto Áridas, in: Vieira e Filho (2002), atualizado pelo autor.
Conforme o Quadro 1, verifica-se que as secas são freqüentes, inclusive ocorrendo por vários anos
seguidos, isso gera problemas muito graves, pois a população sertaneja que sobrevive praticamente da
agricultura de sequeiro e da pecuária tem suas principais fontes de renda seriamente afetadas.
Embora as secas não sejam totalmente previsíveis, pois no semiárido a irregularidade e a incerteza
das chuvas são as regras como diz Souza e Oliveira (2002), percebe-se que existe uma freqüência muito
acentuada. No século XVIII, por exemplo, ocorreram 30 anos secos, já no século seguinte foram 16 grandes
secas e no século passado 25 secas. Mesmo sem ter a certeza de qual ano será seco, devido aos vários
fatores que influenciam as chuvas no semiárido, verifica-se que sempre irá acontecer, o que exige a
necessidade de convivência adequada com o fenômeno, na tentativa de minimizar os danos causados.
Na tentativa de amenizar as dificuldades postas em decorrências das secas foram desenvolvidas
diversas estratégias ao seu combate distribuídas em duas linhas de políticas: à curto e à longo prazo.
Enquanto a primeira estava voltada ao atendimento imediato as vítimas das secas, a segunda, se volta à
organização da produção no semiárido, a fim de minimizar os efeitos das estiagens.
De acordo com Pessoa (2002), em 1845 surgem as primeiras iniciativas locais de socorro às vítimas
das secas. De 1845 até 1876 o Nordeste foi agraciado com três décadas sem secas de grande expressão,
isso pode ter favorecido o aumento demográfico na zona semiárida. Ao chegar a seca de 1877, os efeitos
foram superiores às secas passadas, uma vez que maiores contingentes populacionais foram acometidos.
Isso fez com que a esfera federal atentasse para o problema nordestino, colocando em prática políticas de
combate as secas a partir de diversas estratégias.
Tais políticas se deram através de três fases (PESSOA, op cit). A primeira, caracterizada pelas obras
de engenharia e açudagem, a segunda visava o aproveitamento dos recursos hídricos e a terceira tinha
como foco o desenvolvimento do Nordeste.

João Pessoa, outubro de 2011


713

A primeira fase chamada de fase das soluções e obras de engenharia, mais comumente chamada
de fase hidráulica ocorreu entre os anos de 1877 até 1945. Foi marcada pelo desenvolvimento de estudos
básicos sobre a região, construção de açudagem e aberturas de estradas. A construção das barragens era
favorecida pelas condições geológicas e geomorfológicas do semiárido, em que os boqueirões ofereciam
menos gastos com as construções das barragens e asseguraria a abundância de água, devido a
impermeabilidade das áreas cristalinas. Foi uma fase dominada pela engenharia. Antes da criação da
Inspetoria de Obras contra as secas (IOCS), a construção dos açudes se dava com base em conhecimentos
empíricos sem a realização de estudos prévios. Depois da IOCS, os estudos contribuíram para o
fortalecimento das políticas de obras contra as secas sendo que os estudos realizados constituíram um
acervo para que novas políticas fossem implementadas posteriormente. O Estado do Ceará foi
contemplado com esta política tendo em Quixadá a construção do açude do Cedro, o qual representa um
dos três primeiros açudes construídos no Nordeste.
A segunda fase de política anti-seca perdura de 1945 a 1958, entendida como a fase de
aproveitamento dos recursos de água, visava também controlar e gerenciar os recursos hídricos. Constitui-
se na criação de diversas medidas entre elas a criação da Comissão do Vale do São Francisco (CVSF), da
Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF) e da criação do Banco do Nordeste do Brasil (BNB). Nesta
fase foram criados novos organismos. A IOCS foi transformada em IFOCS a qual foi reorganizada passando a
se chamar DNOCS, em 1945, essa mudança implicava na aquisição de novos orçamentos, junto à esfera
federal. Já a criação do BNB visava fornecer financiamento às atividades do setor privado, buscando a
integração das zonas secas na economia moderna. Mesmo com a ação dessas instituições, a seca de 1958
foi devastadora mostrando que as ações eram insuficientes para solucionar o problema. Ou seja, os
recursos financeiros destinados a assistência às vítimas eram mal aplicados fazendo com que a idéia de
pobreza e miséria continuasse na região e assegurasse a garantia da obtenção de novos recursos. Gerando
assim a “indústria da seca”, ou seja, a elite regional aproveitava da imagem de carência da região como
forma de reivindicar mais recursos financeiros.
A seca de 1958 mostrou pouco resultado das ações para socorrer as vítimas, sendo necessário abrir
frentes de trabalho com políticas de emergência como acontecera anteriormente com as outras secas.
Assim sendo, alcança-se a terceira fase, em que se buscava utilizar técnicas modernas de planejamento
regional. Esta fase é caracterizada pelo desenvolvimento programado, iniciada em 1958.
Como forma de se redimir contra as críticas feitas às políticas de combate a seca, as quais não
obtiveram os resultados esperados, o governo instituiu uma comissão de peritos liderados pelo economista
Celso Furtado para elaborar um relatório analisando as dificuldades dessa região em enfrentar as secas, os
fatores que estavam ligados a situação de atraso do Nordeste e ainda realizasse uma proposta de soluções.
Tal relatório, produzido pelo Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN), identificou
questões importantes para o desenvolvimento regional. E propôs a criação da Superintendência de
Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE).
Segundo Pessoa (2002) entre os principais resultados do relatório do GTDN constava a questão da
renda per capita do Nordeste, a qual era muito abaixo da média nacional. Percebeu-se que o
enfraquecimento econômico não estava relacionado à seca, mas ao problema estrutural, em que as
medidas tomadas eram ineficientes, pois estavam preocupadas com as secas em si, em resolver o problema
imediatamente e não em buscar alternativas de soluções definitivas.
Neste contexto o GTDN elaborou uma estratégia de desenvolvimento visando fortalecer a estrutura
de produção diante da problemática da seca. Dentre as principais características desta proposta destacam-
se: a criação de um centro autônomo de expansão manufatureira no Nordeste, através dos investimentos
industriais; transformação da economia agrícola da faixa úmida, para garantir a oferta de alimentos aos
centros urbanos; transformação da economia semiárida, tornando-a resistente a seca; além de propostas
de deslocamento da fronteira agrícola, incorporando terras do Maranhão (PESSOA, op cit).
Para o GTDN a industrialização era o veículo de desenvolvimento regional, entretanto não a
industrialização posta atualmente pautada no capital internacional, e sim através da transformação da
agricultura regional, visando o reordenamento territorial e redimencionamento dos investimentos (SILVA,
2006).
Vale ressaltar a importância das ações de convivência com o semiárido, as quais vêm sendo
desenvolvidas paralelas as ações de combate à seca. Tais estratégias surgiram mais da necessidade e da

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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criatividade do povo sertanejo do que mesmo por parte das políticas públicas que deveriam ter como
objetivo central, a mudança na qualidade de vida da população sertaneja.
3 ESTRATÉGIAS DE CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO CEARENSE
A idéia de convivência é muito antiga. No século XX foi construída a base do discurso da convivência
com o semiárido como uma proposta alternativa de enfrentamento e superação das problemáticas sociais
e econômicas. Essa proposta foi formulada como uma crítica a política de combate à seca e aos seus
efeitos, e ao modelo de modernização conservadora (SILVA, 2006).
É comum ao se tratar de convivência com o semiárido eleger um conjunto de atividades ou
estratégias que possibilitem adaptações as condições do semiárido. Desta feita, as cisternas de placas, a
prática da ovinocaprinocultura, barragens subterrâneas, entre outras ações que se destacam. Embora
sejam ações de extrema importância, ainda não conseguem solucionar de fato a problemática, pois são
desprovidos de incentivos e de recursos financeiros adequados.
Mesmo não resolvendo o problema, tais atividades podem ser capazes de amenizar as dificuldades
enfrentadas pelas populações sertanejas, em curto prazo. Enquanto aguardam as políticas públicas
eficientes que contemplem os seus anseios, os sertanejos devem junto às organizações sociais buscar
alternativas que atenuem a situação ora posta.
Dentre as estratégias de convivência com o semiárido, a população desenvolve tecnologias de
captação e armazenamento de água de chuva para o consumo humano e para produção. As cisternas de
placas, as cisternas de placas calçadão, barragem subterrânea, tanques de pedras, barreiro trincheira, poço
amazonas são algumas das práticas mais utilizadas. (SILVA, 2006).
Inúmeras outras ações são desenvolvidas na tentativa de melhor conviver na região nordestina,
como as práticas agroecológicas, manejo sustentável da caatinga, e criação de pequenos animais. Vale
ressaltar que essas práticas são de fundamental importância, mas não resolvem o problema de forma
satisfatória.
É importante destacar que a concepção de convivência com o semiárido é bastante complexa, pois
vai muito além da implantação de novas atividades ou estratégias como as anteriormente mencionadas. Ela
requer fundamentalmente que a principal transformação ocorrida não seja apenas no campo das
atividades, mas sim no campo das idéias. Precisam-se mudar as formas de pensar, de agir, de sentir, só
assim é possível verdadeiramente acreditar numa convivência adequada. Portanto, a construção do sentido
de convivência propõe um novo modelo de desenvolvimento para o Nordeste. Desenvolvimento este,
voltado para uma postura cultural que busque contextualizar saberes e práticas apropriadas à semiaridez
(SILVA, 2006).
Na concepção de Silva (2006) a convivência com o semiárido:
“... possibilita construir ou resgatar relações de convivência entre os seres humanos e a
natureza, tendo em vista a melhoria da qualidade de vida das famílias sertanejas, por meio do
incentivo às atividades econômicas apropriadas e a sustentabilidade ambiental” (Pág. 225).

Dessa forma, as condições naturais agressivas, típicas desse clima, deixam de ser as grandes vilãs e
o espaço semiárido passa a se apresentar como um espaço dotado de características próprias, com
potencialidades e limitações naturais e possibilidades de vida digna sem a mácula da miséria e da pobreza.
Sob tal perspectiva o semiárido cearense apresenta-se diante de grandes desafios. O Programa
Estadual e Combate a Desertificação (PAE-CE) apresenta algumas estratégias desenvolvidas no Nordeste e
no Ceará na perspectiva de melhoria das condições de vida da população sertaneja. Dentre as estratégias
destacam-se os diversos programas: educação ambiental; gerenciamento e integração dos recursos
hídricos; desenvolvimento hidroambiental; convivência com a seca; prevenção, monitoramento, controle
de queimadas e combate os incêndios florestais. Além destes, vários projetos foram desenvolvidos ou
estão em andamento como os Projetos: Mata Branca, Selo Município Verde, Mandalla Ceará,
Desenvolvimento de Leite Caprino, Produção Orgânica e Agroecológica, Práticas Agrícolas de Convivência
com o Semiárido, entre outros (CEARÁ, 2010).
Alguns projetos foram desenvolvidos, especificamente no Ceará, tais como: macrozoneamento
agroecológico do Ceará; cinturão digital, zoneamento ecológico-econômico das áreas susceptíveis à
desertificação; mapeamento das áreas de entorno dos reservatórios Banabuiú, Araras, Orós, Forquilhas,
Aires de Souza, Edson Queiroz e Castanhão.

João Pessoa, outubro de 2011


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Vale ressaltar que esses programas e projetos são de grande importância não só para o Estado do
Ceará, mas para o semiárido em geral, entretanto, isso não basta. É necessário verificar o que realmente
está sendo feito na prática, de que forma a população local está usufruindo das iniciativas governamentais
e qual a perspectiva dessa população no que se refere à convivência com o semiárido.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, verifica-se que a realidade nordestina é semelhante à cearense. As populações
sertanejas são as mais afetadas, pois ainda não adquiriram condições suficientes para desenvolver ações
que permitam melhorias nas suas condições de vida.
As ações de combate as secas se mostraram insuficientes em resolver a problemática, pois estão
mais voltadas ao “desenvolvimento” de uma minoria, enquanto a maioria da população enfrenta
problemas estruturais, sem perspectivas de grandes alterações da realidade.
As estratégias de convivência com o semiárido ainda estão limitadas às poucas atividades ou
técnicas como de captação de água das chuvas ou manejo da caatinga. São ações locais e paliativas, pois
ainda não são capazes de produzir e reproduzir novas formas de conhecimento e a população continua a
padecer.
A degradação ambiental e a desertificação são realidades que preocupam os sertanejos e em
particular os cearenses, uma vez que a produtividade agrícola dos solos é reduzida, face aos processos
erosivos, podendo aumentar assim a desigualdade social.
A imagem vendida tanto do Nordeste quanto do Ceará esconde marcas profundas. A terra da luz,
do turismo e da fruticultura irrigada é a mesma terra de milhares de sertanejos que apelam “a Deus” para
que o ano seguinte seja de chuva abundante. Famílias estas, que tem nos programas do governo federal
(aposentadorias, pensões e bolsa família) a principal fonte de renda para alimentar a família.

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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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IMPACTOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS GLOBAIS NAS CULTURAS DO


ALGODOEIRO E DA MAMONEIRA
Maria do Socorro ROCHA
Bióloga pela Universidade Estadual da Paraíba e Pós-Doutorado pelo Programa de Fisiologia Vegetal da Universidade
Federal da Paraíba – (UFPB). Email: marialirium@hotmail.com
Rener Luciano de Souza FERRAZ
Cientista Agrário pela Universidade Estadual da Paraíba – (UEPB) e Pós-Graduando pelo Programa de Pós-Graduação em
Ciências Agrárias da UEPB. Email: balbino_ferraz@hotmail.com
Maria Sueli Rocha LIMA
Bióloga pela Universidade Estadual Vale do Acaraú – (UVA) e Pós-Graduanda pelo Programa de Pós-Graduação em
Agronomia da UFPB. Email: mariasuelirocha@hotmail.com
Orientador: Prof. Dr. Napoleão Esberard de Macêdo Beltrão

RESUMO
O aumento da temperatura promove uma maior evaporação e evapotranspiração. A maioria das
plantas responde em um curto prazo às altas concentrações de CO2, causando aumento na fotossíntese
líquida e redução da transpiração. Vários estudos têm sido realizados para avaliar os efeitos de atmosferas
enriquecidas com CO2 no crescimento e metabolismo de plantas, e os resultados obtidos revelam uma
grande diversidade de respostas. Os principais efeitos das alterações de temperatura e CO2 sobre a
agricultura certamente incidiriam sobre a produtividade e no manejo, principalmente de plantas de
metabolismo fotossintético C3, caso do algodão herbáceo (Gossypium hirsutum L. var. latifolium Hutch) e
mamona (Ricinus communis L.), importantes oleaginosas utilizadas como matéria-prima para produção de
biodiesel, bem como estratégia sinérgica de adaptação e mitigação às mudanças climáticas vigentes.
Poucos estudos foram realizados sobre os efeitos de estresses ambientais, bem como temperaturas supra-
ótimas e CO2 para plantas oleaginosas C3, a partir de um limite de tolerância desses componentes na
atmosfera. Os efeitos desses fatores climáticos sobre o crescimento e no desenvolvimento, assim como a
partição de carbono entre os órgãos, são importantes para explicar diferenças nas taxas de crescimento das
culturas, alavancando a hipótese de que os impactos das mudanças climáticas globais podem acarretar
problemas ambientais em virtude das alterações no metabolismo destas culturas, gerando também
reflexos para a humanidade.
Palavras-Chave: Gossypium hirsutum, Ricinus communis, temperatura supra-ótima, concentração
de CO2

1 - INTRODUÇÃO
O clima é uma das variáveis mais importantes na produção agrícola, sendo um dos principais
fatores que determinam a produtividade das culturas agrícolas de interesse econômico. O clima também é
fator determinante na definição das áreas onde se podem explorar as culturas, o que é denominado de
Zoneamento Agrícola pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2011). Nos últimos
anos algumas evidências têm advertido para anomalias na temperatura e nos padrões de precipitação, com
consequências diretas nas atividades humanas e, especialmente, naquelas relacionadas à produção agrícola
(IPCC, 2007a). Pesquisas baseadas nos cenários de mudanças climáticas globais (MCG) mostram que estas
afetam diretamente a agricultura e as áreas florestais brasileiras. Algumas estimativas do IPCC indicam que
a temperatura média do planeta poderá aumentar entre 1,8 ºC e 4,0 ºC nos próximos 100 anos, com
implicações diretas em mudanças nos índices de risco que governam o desempenho das culturas do
algodão e da mamoneira entre os quais se destacam a disponibilidade hídrica, a duração dos períodos de
estiagem e as temperaturas críticas ao desenvolvimento das plantas.
Incertezas sobre a dimensão desse fenômeno implicam, na necessidade de estudos visando à
avaliação dos possíveis impactos das mudanças climáticas sobre atividades humanas, recursos naturais e,
particularmente, sobre a agricultura brasileira. Portanto, estudos dessa natureza, são imprescindíveis para
o aprimoramento dos sistemas produtivos. Estudos mediante o estabelecimento de cenários futuros
devem ser implementados visando disponibilizar as estimativas dos prováveis impactos a que as culturas da

João Pessoa, outubro de 2011


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mamoneira e do algodoeiro poderão ser expostas. Isso fornecerá importantes subsídios para as estratégias
a serem adotas visando o desenvolvimento de cultivares adaptadas a essas novas condições ambientais.
Os principais efeitos das alterações de temperatura e CO2 sobre a agricultura certamente ocorrerão
sobre a produtividade, principalmente de plantas de metabolismo fotossintético C3, caso do algodão
herbáceo e da mamona que são espécies importantes para a produção de fibras e óleos com grande
importância econômica e social no semi-árido do nordeste e na região dos cerrados parte do país.
Assim, o interesse dessa proposta é avaliar e quantificar os impactos provocados pelas mudanças
climáticas globais sobre as culturas do algodoeiro e da mamoneira, considerando as projeções de cenários
agrícolas futuros.
As atividades humanas relacionadas à queima de combustíveis fósseis, particularmente, tem
provocado um aumento da emissão de gases de efeito estufa (GEE), especialmente CO 2 (dióxido de
carbono), contribuindo para o aumento progressivo da temperatura global, resultando em graves
alterações ambientais. Sabe-se que todos os outros fatores climáticos estão direta ou indiretamente
relacionados com a temperatura (MARTINS, 1994; ANDERSON et al.,1995; ASSI et al., 1997; BELTRÃO et al.,
2006).
Desde a Revolução Industrial, a concentração de CO2 na atmosfera aumentou 27%, sendo metade
deste número contabilizado nos últimos 30 anos (HALL, 1989; IPCC, 2007). As alteração na composição
atmosférica, a curto prazo, trazem efeitos benéficos na produtividade, já que ocorre aumento da taxa
fotossintética e queda na transpiração. Entretanto, a longo prazo, a disponibilidade excessiva de CO2
poderá tornar-se tóxica para as plantas, alterando bioquimicamente aquelas de metabolismo fotossintético
C3, de forma irreversível. Além disso, o aumento da concentração de CO2 vem ocasionando aumento da
temperatura do planeta, alterando várias outras características ambientais tais como o aumento da
evaporação, aumento dos períodos de veranicos e a intensidade das chuvas.
Esse cenário evidencia a necessidade do emprego de tecnologias capazes de atenuar os efeitos
danosos das variações abruptas nas condições climáticas sobre os mecanismos fisiológicos das principais
culturas econômicas e de cunho ambiental. Neste contexto a adoção de cultivares adaptadas aos diversos
ecossistemas existentes, constitui uma alternativa sustentável diante das prospecções catastróficas em
relação às mudanças climáticas. Assim, a obtenção destas cultivares constitui um desafio para os
programas de melhoramento genético, sendo atualmente alvo de diversos estudos no âmbito acadêmico a
exemplo do trabalho desenvolvido pela equipe do Laboratório de Fisiologia Vegetal da
EMBRAPA/ALGODÃO, que visa à identificação de linhagens promissoras para produção sob condições
extremas de temperatura e concentração de CO2 sem redução na produtividade.
São poucos os trabalhos realizados no Brasil para avaliar os efeitos prejudiciais da ocorrência de
valores elevados de temperatura do ar e CO2 sobre a cultura do algodoeiro e da mamoneira em ambiente
controlado. Por essa razão, os cultivos realizados em câmaras de crescimento (Fitotron) são mais
apropriados para a avaliação dos danos causados a essas espécies em decorrência de altas temperaturas.
Neste contexto, faremos uma abordagem acerca das culturas do algodoeiro e da mamoneira e os
possíveis efeitos das mudanças climáticas sobre estas culturas em uma câmara controlada (Fitotron) (Figura
1) com temperatura e CO2 diferente e instalada no Laboratório de Fisiologia Vegetal da Embrapa Algodão,
localizada em Campina Grande-PB.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


718

Figura1. Vista externa do fitotron, onde se observa câmaras com temperaturas controladas a 30°C
e concentração de CO2 800 ppm e 37ºC com concentração de CO2 de 400 ppm respectivamente, onde
ambas possuem umidade relativa do ar de 60+10%.

1.1 - CULTURA DO ALGODOEIRO


Para a cultura do algodoeiro, alguns trabalhos têm sido feitos visando identificar os possíveis
efeitos do aumento da temperatura e do CO2, entretanto esses trabalhos foram realizados com genótipos e
condições simuladas diferentes daquelas encontradas no Brasil. Nos Estados Unidos estudos mostraram
que o aumento do CO2 e da temperatura aumentaram o crescimento vegetativo das plantas em
aproximadamente 40%, porém a retenção de capulhos foi drasticamente reduzida pela elevação da
temperatura (REDDY et al., 1997; AZHAR et al., 2009 KATERJL et al., 2000; KLUMPP et al.,2000; KVET et al.,
1971; McCREADY et al., 1950; OSSWALD et al., 1992; PRADO et al., 1997;) relatam que o aumento da
temperatura (35/27 para 40/32 ºC) ocasiona danos a fotossíntese, e mesmo a exposição a altas
temperaturas (>40/32ºC) por um curto período ocasiona grande efeito no crescimento e reduz
drasticamente a produção de algodão em caroço. Simulações utilizando softwares para as condições do
vale do Mississipi nos EUA, verificaram que o aumento do CO2 de 360 para 540 ppm sem alterações nos
demais fatores climáticos aumentaram o rendimento de fibra em aproximadamente 10%. Entretanto,
quando os demais fatores alterados com as mudanças climáticas foram incluídos o rendimento foi reduzido
em 9%. Essas simulações também indicaram aumento da necessidade de irrigação para suprir o aumento
no consumo de água e atenuar o possível aumento na abscisão dos capulhos, principalmente quando a
temperatura média ultrapassar 32ºC (REDDY et al., 2002). Outras simulações realizadas em Israel indicaram
um aumento na necessidade hídrica de aproximadamente 100 mm para a manutenção do rendimento da
cultura, caso contrário ocorrem reduções acentuadas na produção de fibra (HAIM et al., 2008).
O aumento da concentração de CO2 pode aumentar a produtividade de plantas C3 pois aumenta a
fotossíntese e inibe a fotorespiração (SCHOLANDSER et al., 1965; WENDT, 1967; SHARKEY, 1985; WALKER,
1987; LAWLOR e MITCHEL, 2000; SEVERINO et al., 2005 ). No entanto, com o aumento da concentração de
CO2 na atmosfera, as projeções indicam que podem ocorrer modificações em outros fatores como a
temperatura e a intensidade dos veranicos e precipitações pluviométricas. A elevação dos níveis de CO 2 na
atmosfera poderá ocasionar aumento da párea cultivada em áreas onde atualmente o mesmo não pode ser
cultivado devido às baixas temperaturas que ocorrem nessas regiões (YOON et al., 2009). Por outro lado,
temperaturas acima da faixa ótima para a cultura podem causar significativas reduções na produtividade na
Figura 1, (REDDY et al., 1995).
Trabalhos feitos por Reddy et al., (1995) indicaram que o algodoeiro, semelhantemente a outras
culturas C3, apresenta aumento das taxas de fotossíntese de 9 a 22% quando as plantas são submetidas a
concentrações de CO2 com 450 e 700 µl CO2 l-1 quando comparado com 350 µl CO2 l-1 a 26 ºC. Os autores
também verificaram que a resposta do algodoeiro ao CO2 pode ser maior em temperaturas mais altas. Na
concentração de 700 µl CO2 l-1 a fotossíntese do algodoeiro a aumenta 22% a 26 ºC, 22% a 31 ºC e 54% a 36
ºC.
A identificação de genótipos tolerantes a alta temperatura tem sido uma das estratégias utilizadas
em regiões que possuem temperaturas consideradas elevadas para o algodoeiro e que poderão ser
grandemente afetadas por pequenos aumentos da temperatura. No Paquistão, região que produz algodão
irrigado sob condições extremas de alta temperatura verificou-se que existe variabilidade genética no
germoplasma local quanto à tolerância as altas temperaturas (AZHAR et al., 2009). Esses autores fizeram
experimentos em casa de vegetação com temperatura controlada (35/21ºC e 46/30ºC) e em condições de
campo com plantios e em diferentes épocas visando avaliar o efeito do aumento da temperatura
(37,8/26,4ºC e 40,2/28,2ºC), além da correlação entre produtividade em condições de alta temperatura e a
termoestabilidade da membrana celular foliar. Os autores concluíram que genótipos mais produtivos em
condições de alta temperatura podem ser selecionados indiretamente através da termoestabilidade da
membrana celular foliar.

1.2 - CULTURA DA MAMONEIRA


Para a cultura da mamoneira (Ricinus communis L.) há poucos relatos na literatura de estudos com
a finalidade de verificar o efeito das mudanças climáticas globais sobre o crescimento e produção desta

João Pessoa, outubro de 2011


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cultura. Estudos preliminares da Embrapa Algodão (dados não publicados) constataram que a mamoneira
quando submetida à condições de temperatura superiores a 35 ºC durante o dia, tem seu crescimento
reduzido, indicando que esta cultura poderá ser afetada negativamente caso ocorra aumento de
temperatura nas regiões produtoras. A mamoneira é uma planta de origem tropical proveniente da região
Leste da África, com ocorrência natural desde a latitude 40º Norte até 40º Sul, sendo tradicionalmente
cultivada em regiões de clima seco e que apresenta altas temperaturas.
Para a cultura da mamoneira, a temperatura média para o seu bom desenvolvimento é entre 20 e
30°C, sendo que a temperatura ótima para a planta é em torno de 28°C e temperaturas muito elevadas,
superiores a 40°C ou, muito baixas, inferiores a 10°C, provocam a redução substancial do teor de óleo nas
sementes (BELTRAO e SILVA, 1999). O excesso de umidade é prejudicial em qualquer estádio fenológico da
cultura, sendo mais crítico nos estádios de plântula, maturação e colheita. A mamoneira produz com
viabilidade econômica em áreas onde a precipitação e ate de 400-500 mm antes do inicio da floração (ate
50 dias), pois sua demanda hídrica e maior durante a fase vegetativa (WEISS, 1983). A pluviosidade de 600-
700 mm e suficiente para que se obtenham rendimentos em torno de 1.500 kg/ha (BELTRAO e SILVA,
1999). Segundo BELTRÃO et al., (2003) o estresse hídrico, em especial por excesso no inicio do ciclo de vida
das plantas da mamoneira podem reduzir o crescimento das plantas por diminuírem a área foliar e a
fotossíntese líquida, com redução também da respiração oxidativa mitocondrial.
Segundo a FAO (2005), a Índia é o maior produtor mundial de mamona, sendo o Brasil o terceiro
maior produtor mundial, com 176 mil toneladas. No Brasil, o Estado maior produtor é a Bahia, com cerca
de 149,5 mil hectares cultivados e cerca de 90% da produção nacional (CONAB, 2011). Até poucos anos
atrás, as pesquisas sobre a cultura da mamona estavam restritas a poucas instituições no país, com
destaque para a região nordeste. O potencial de uso do óleo da mamoneira como matéria prima para a
fabricação de biodiesel, ampliando sua importância econômica e social em regiões onde são escassas as
oportunidades de trabalho e negócios tornam a cultura uma excelente opção para o Brasil frente aos
cenários de elevação nos preços do petróleo e de mudanças climáticas globais. É necessário, contudo,
estabelecer quais os impactos que a cultura teria caso as previsões de mudanças climáticas se concretizem,
buscando diagnosticar a vulnerabilidade do sistema de produção e quais as melhores alternativas para
adaptação ao problema na Figura 1 e 2.

A B

Figura 1. Algodoeiro cv. 8H (A) e Mamoneira cv. BRS Energia (B) com 100 dias após semeadoras em
temperatura de 30 a 37.

A B

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Figura 2. Algodoeiro cv. 8H (A) e Mamoneira cv. BRS Energia (B), com temperatura de 37° e 800
ppm, com 100 dias após semeaduras.

2 - RESULTADOS ESPERADOS E IMPACTOS PREVISTOS


Com os efeitos dos possíveis aumentos da temperatura e concentração de CO2 nos genótipos de
algodoeiro e mamoneira cultivados no Brasil, espera-se identificar as principais alterações fisiológicas e
bioquímicas que as mudanças climáticas globais causarão nas plantas dessas duas culturas de importância
econômica. Também é esperada a identificação de linhagens avançadas dos programas de melhoramento
conduzidos pela Embrapa Algodão, com tolerância a altas temperaturas que poderão dar suporte à
mitigação dos efeitos das mudanças climáticas globais.
A previsão dos possíveis impactos das mudanças climáticas globais é de extrema importância como
suporte para a elaboração de políticas públicas por parte do Governo Federal, seja na orientação para o
zoneamento das áreas adequadas ao cultivo da mamoneira e do algodoeiro, seja para a orientação dos
investimentos em pesquisa de adaptação para o adequado.

3 - BIBLIOGRAFIA
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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


722

INDICADORES E ÁREAS DE DESERTIFICAÇÃO NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO


Sidran Castro Alves da SILVA
Especialista em Educação Ambiental pelas Faculdades Integradas de Patos – PB.
sidrancastro@hotmail.com
Marcone Alves MONTEIRO
Mestre em Gestão Educacional pela Universidade Internacional de Lisboa e Prof. do curso de Geografia das Faculdades
Integradas de Patos – PB.
marconmonteiro@yahoo.com.br
Haroldo Camilo dos SANTOS
Mestre em Medicina Veterinária de Ruminantes e Equídeos pela Universidade Federal de Campina Grande. Campus de
Patos – PB.
haroldo.camilo@bol.com.br

RESUMO
O termo desertificação descreve processos de degradação resultantes das relações predatórias do
homem para com o meio ambiente em que vive. Esse processo tem sido identificado em várias regiões do
planeta e causado sérios problemas aos ecossistemas e as populações que vivem ao seu entorno. A
desertificação não é um processo isolado. Existem vários fatores socioambientais que devem ser levados
em consideração para a delimitação dessas áreas. O presente trabalho teve o objetivo de fazer uma revisão
da literatura sobre o processo de desertificação a partir do estudo dos seus indicadores históricos. Fontes
da literatura científica como livros, periódicos, sites da internet, artigos científicos, monografias e
dissertações foram utilizadas. O presente estudo apontou que esse problema está cada vez mais
disseminado e que o homem é o único responsável pela ação predatória sobre os ecossistemas naturais, e
ainda, que a cobertura vegetal de determinadas áreas sujeitas a esse processo tem desaparecido de forma
assustadora. Inúmeras questões estão envolvidas com as causas e com os efeitos do processo de
desertificação. Suas consequências ainda são discutíveis e apontam para um ambiente ainda bastante
incerto com relação à preservação e recuperação de áreas degradadas. Os indicadores de desertificação
podem contribuir para um melhor entendimento da dinâmica do fenômeno em áreas de desertificação
local, regional e planetário, porém, ainda não se consolidou por completo entre os pesquisadores.
Notadamente na região semiárida do nordeste do Brasil há uma busca incessante por mais conhecimentos
e alternativas para o convívio racional com esse fenômeno, pois o equilíbrio dos processos envolvidos e a
reversão do atual estágio de desertificação em algumas áreas são imperativos para manutenção das
características locais. Há programas governamentais e não governamentais que apóiam iniciativas de
convivência com a desertificação e manejo correto dos recursos naturais ali presentes.
Palavras-chave: Áreas de Desertificação, Indicadores de Desertificação, Semiárido brasileiro.

1 INTRODUÇÃO
Desertificação apesar de ser um tema muito abordado e intensamente estudado no mundo, por ser
um problema de nível global, ainda fornece espaços para debates, reflexões e discussões em torno de seu
contexto conceitual.
As discussões em torno desse tema não têm dado os frutos desejados e os resultados não
passam de uma nova visão com um novo enfoque regional que não determina uma metodologia
universalmente segura. Quando determinamos que uma área está em processo de desertificação, não
estamos considerando os fatores locais que podem influenciar em nosso diagnóstico. Os fatores
tradicionais como a perda de produtividade do solo e o desmatamento não são suficientes para tirarmos
esse tipo de conclusão. Os indicadores de desertificação, embora não seja um sistema unânime, nos
assegura um norte para identificação de áreas passivas desse processo e servem de alerta para estudos
mais profundos e complexos que viabilizem ações de convívio com o fenômeno e seus efeitos sobre a vida
da população afetada.
O objetivo da presente pesquisa foi revisar a literatura sobre o processo de desertificação
que norteia o problema de degradação ambiental no semiárido brasileiro a partir de estudos dos
indicadores históricos. Numa dimensão específica estudar a origem do termo desertificação e os

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desdobramentos do conceito proposto pela convenção das Organizações das Nações Unidas, como
também, refletir sobre as ações antrópicas e suas consequências para o processo de desertificação e
analisar os indicadores desse processo para se verificar a sua existência.

2 CONCEITOS SOBRE DESERTIFICAÇÃO

O fenômeno da Desertificação é entendido como a "degradação de terras, nas regiões


áridas, semi-áridas e subúmidas secas, por variações climáticas e atividades humanas", e tornou-se um dos
maiores problemas socioeconômicos e ambientais da atualidade.
O termo desertificação foi usado pela primeira vez por Aubraville no ano de 1949 para
descrever: O “processo de regressão da selva equatorial africana pelo corte abusivo, incêndios e roças para
a transformação em campos de cultivo e pastiçais, [...]” (MATALLO JUNIOR, 2001, p.125). Para o autor, os
resultados foram somente a exposição do solo a erosão provocada pelas águas e pelos ventos; tornando
terras biologicamente produtivas em desertos.
Em trabalho escrito por Melo (1998, p. 2, apud TRAVASSOS, 2009, p. 8): Etimologicamente,
desertificação deriva de duas palavras latinas: a) desertus, adjetivo, particípio passado do verbo deserere
(desertar, deixar, abandonar), significando abandonado, desabitado, inculto, selvagem e, desertus,
substantivo que quer dizer, solidão, desolação, área vazia; e fixação sufixo verbal proveniente da forma
passiva do verbo latino ficare (ficeri), ação de fazer, ser feito, ser produzido.
Na prática, o conceito de desertificação aceito nos documentos sistematizados e produzidos pela
ONU, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Desertificação que ocorreu em Nairobi (Quênia,
África) no ano de 1977 e, em especial, durante a Convenção de Combate à Desertificação (1993 - 1994) a
define como “a degradação da terra nas regiões áridas, semiáridas e subúmidas secas, resultante de vários
fatores, entre eles as variações climáticas e as atividades humanas” (MATALLO JUNIOR, 1993. p. 5).

Se não há consenso no conceito, também não se define claramente os sinais da ocorrência do


processo. Em trabalho acadêmico, Travassos (2009, p. 5), afirma que: Segundo alguns pesquisadores, uma
das maneiras mais comuns desse tipo de degradação começar a se manifestar, é devido a retirada
excessiva da vegetação nativa, uma vez que o papel de estabilização originado pela cobertura vegetal nos
ecossistemas atingidos diminui ou mesmo deixa de ser exercido.
Durante a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação, denominada simplesmente
de CCD, ocorrida em Paris, e encerrada no dia 17 de junho de 1994, os participantes preocuparam-se em
elencar uma série de explicações sobre os critérios adotados para caracterizar o processo de desertificação,
considerando o quão importante é analisar as explicações e critérios, no afã de que não venha a ser
interpretada com uma abrangência muito grande ou de forma mais restrita (TRAVASSOS, 2009, p. 3).
Segundo Matallo Junior (2001, p. 24) analisando o conceito proposto pela ONU, a idéia de
degradação da terra precisa ser vista mediante quatro componentes: “a) degradação de solos, b)
degradação da vegetação, c) degradação de recursos hídricos, e d) redução da qualidade de vida da
população”. Cada um desses componentes atua de maneira e intensidade diferentes, mas ao mesmo
tempo se encontram ligados; por vezes um liga-se a outro muito fortemente. Atuam ainda como um
conjunto harmônico indispensável à recuperação e restauração seja pelas vias artificiais e/ou naturais.
De acordo com Travassos (2009, p. 3): A desertificação tem uma definição oficial, ratificada pelo
Governo do Brasil, como signatário da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação. Sendo
assim, a convenção é clara ao estabelecer por degradação da terra entende-se a degradação dos solos e
dos recursos hídricos; a degradação da vegetação e biodiversidade e a redução da qualidade de vida da
população afetada. Portanto, na grande maioria das situações, a degradação da terra é uma consequência
indesejada de seu uso indevido. Ela vem do desconhecimento das consequências negativas, da
inevitabilidade de sua ocorrência e/ou do sacrifício do futuro face às necessidades mais prementes do
presente.
A desertificação não é um problema isolado. Recebe influências de diversos fatores. Caracterizá-la
se faz melhor quando a vemos como resultado, não como problema a ser enfrentado e combatido. É antes
de tudo, resultado gradativo de fenômenos naturais e socioeconômicos. Somente a ausência de chuvas, as
elevadas temperaturas ou a falta de vegetação não são suficientes para determinar a ocorrência da

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desertificação. Faz-se necessário analisar uma série de fatores e confrontá-los cuidadosamente para
afirmar se os fatores conceituais se fazem presentes nas informações obtidas na área em estudo.

3 ÁREAS E NÚCLEOS DE DESERTIFICAÇÃO


Os estudos mais antigos sobre as áreas sujeitas ao processo de desertificação foram realizados por
Sobrinho na década de 70, eles mostraram a existência de áreas onde à degradação da cobertura vegetal e
do solo alcançaram uma condição de irreversibilidade, apresentando-se como pequenos desertos já
definitivamente implantados dentro do ecossistema primitivo (SALES, 2002. p. 4). Essa é a primeira
descrição de áreas em que são visíveis os efeitos da desertificação no Nordeste do Brasil. A essas áreas,
Sobrinho chamou de “núcleos de desertificação” nos quais já se podia verificar a presença de vários
indicadores conceituais do fenômeno da desertificação.
Ainda de acordo com Sobrinho (apud ALVES et al., 2009, p. 144): “o aspecto característico das
Caatingas nordestinas que sofrem com a desertificação apresentam-se com uma fisionomia típica
denunciadora, facilmente percebida. Nas áreas afetadas, a vegetação se apresenta de porte reduzido,
algumas espécies com sintomatologia de nanismo e concentração diluída, ou seja, com maior
permeabilidade do que nas demais áreas, geralmente coincidindo com a presença da caatinga
hiperxerófita. Nesse tipo de caatinga e solo a desertificação pode surgir espontaneamente, havendo, pois, a
possibilidade de sua preexistência no Nordeste, antes do aparecimento do colonizador.”
Alves et al. (2009, p. 3) enfatiza a metodologia utilizada para determinação das áreas susceptíveis
de degradação (ASD), além do critério do Índice de Aridez, as áreas em processo de desertificação são
identificadas também a partir do uso de indicadores relacionados à propriedade e uso dos solos em áreas
com isoietas pluviométricas, situadas no limite de 500 mm.
Inicialmente, as áreas em processo de desertificação foram chamadas de “núcleos de
desertificação” por Sobrinho em seus trabalhos publicados ainda na década de 70. Esse mesmo autor
apontou regiões críticas em relação ao estágio da degradação. Essas áreas já estavam irreversivelmente
comprometidas e os efeitos totalmente visíveis (BARROS, 2010. p. 13).
Os estudos de Sobrinho ainda fazem parte das análises de muitos outros pesquisadores, ora pelo
seu pioneirismo, ora pela ausência de outros conhecimentos sobre o tema. A definição e o mapeamento
dos “núcleos de desertificação” feito por Sobrinho são ainda hoje atuais e de grande relevância para a
região do Nordeste brasileiro. Na época ele apontou 6 áreas piloto que são: 1. Área-Piloto 1: Piauí,
municípios de Gilbués, Simplício Mendes, Cristino Castro, Ribeiro Gonçalves, Corrente e municípios
vizinhos; 2. Área-Piloto 2: Ceará, municípios de Tauá, Arneiroz, Mombaça, Aiuaba, Catarina, Saboeiro,
Irauçuba e municípios vizinhos; 3. Área-Piloto 3: Rio Grande do Norte, municípios de Currais Novos, Acari,
Parelhas, Equador, Cranaúba dos Dantas, Jardim do Seridó e municípios vizinhos; 4. Área-Piloto 4: Paraíba,
municípios de Juazeirinho, São João do Cariri, Serra Branca, Cabaceiras, Camalaú, Piauí e municípios
vizinhos; 5. Área-Piloto 5: Pernambuco, municípios de Salgueiro, Parnamirim, Cabrobó, Itacuruba, Belém do
São Francisco, Petrolina, Afrânio, Ouricuri, Araripina e municípios vizinhos; 6. Área-Piloto 6: Bahia,
municípios de Uauá, Macuré, Chorrochó, Abaré, Rodelas, Curaçá, Glória, Jeremoabo, Juazeiro e municípios
vizinhos (MATALLO JUNIOR, 2001. p. 49).
Essas áreas piloto ou “núcleos de desertificação” como se convencionou chamar, são as localidades
onde a desertificação já está presente e fortemente influenciando as atividades locais e a qualidade de vida
das pessoas que habitam essas regiões. A atuação ocorre linearmente ocasionando modificações nos meios
de produção e nas relações do homem com o ambiente e, deste, com toda a estrutura formadora dos
ecossistemas e dos biomas com prazos distintos, mas igualmente capazes de modificá-los.
Em alguns estudos as áreas-piloto se constituem na primeira metodologia de análise da
desertificação. A grande abrangência do processo caracterizado pelas modificações ambientais, levando à
idéia de deserto, materializa-se nas áreas-piloto como sendo as unidades de estudos experimentais onde a
visualização se completa e se personifica.
O Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca (PAN)
BRASIL (2004, p. 48) caracteriza com muita propriedade as áreas suscetíveis a desertificação da seguinte
forma: “Durante cerca de 6 a 7 meses do ano, o solo da “floresta típica” do semi-árido permanece desnudo
e totalmente exposto à ação esterilizadora da insolação, da queima da matéria orgânica, dos ventos secos e
quentes e das chuvas torrenciais. Mesmo no início da estação chuvosa, observa-se infiltração e retenção no

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solo. Isso provoca forte erosão hídrica, depauperamento do solo, assoreamento dos cursos e corpos
d’água, condições propícias para a ocorrência de grandes cheias. Além disso, também se observa a
ocorrência de erosão eólica, durante a estação estiada, quando é carreada a parte fina do solo – argila e
limo –, como acontece durante as ocasionais tempestades de pó − “as ventanias de poeira” −, comuns no
Sertão do São Francisco em Pernambuco e na Bahia e no topo da Chapada do Araripe, em áreas dos
Estados de Pernambuco, Ceará e Piauí.”
O fenômeno das secas que assola a região deixa mais visível as características próprias da
desertificação e expõe drasticamente a falta de políticas públicas sustentáveis para o convívio do homem
que foi atingido de alguma forma e que precisa de auxílio para sua sobrevivência.
A ação governamental também deve ser direcionada para implantar nas comunidades, meios de
convivência com o fenômeno das secas e que essas ações permaneçam, a longo prazo garantindo a
permanência do homem e sua família nas áreas inóspitas temporariamente. Assim ele não usará outros
meios degradativos do meio ambiente para sobreviver.

Figura 1: Áreas suscetíveis à desertificação no Nordeste brasileiro


Fonte: Lima (2005).

O mapeamento das novas áreas onde possa estar surgindo novos núcleos de desertificação
é importante para monitorar as causas por meio dos dados fornecidos pelos indicadores listados pelos
pesquisadores, para que haja fundamentação nos estudos e nas políticas de combate a esse problema, uma
vez que o processo não ocorre apenas no interior da região Nordeste, mas também nas áreas de entorno e
encostas da região como está definido no PAN-BRASIL 2004 ( BRASIL, 2004, p.30): Áreas Susceptíveis à
Desertificação são descritos a seguir: Núcleos de Desertificação; Áreas Semiáridas e Subúmidas Secas; Áreas
do Entorno das Áreas Semi-áridas e Subúmidas Secas.
Assim a desertificação não está mais restrita somente aos sertões do Nordeste, mas se
admite também que possa atingir áreas contíguas a mesma de forma que essas áreas também sofram com
os efeitos climáticos característicos do clima semiárido. Uma evidência marcante sobre a ocorrência de
processos de desertificação é dada pela forma com que aparecem no semiárido nordestino determinadas
manchas de solo. Ali, essas manchas apresentam-se descarnadas, como espécies de erupções epidérmicas.
São áreas de solos rasos, quase que reduzidas ao afloramento rochoso, sem capacidade de retenção de
água, pois cessadas as chuvas, elas ficam imediatamente desidratadas. Os solos dessas áreas também
apresentam deficiências em matéria de nutrientes, que contribuem para potencializar sua vocação para a
desertificação. Ali o clima é o mesmo das áreas mais próximas, observando-se diferenças específicas em
função do tipo de solo. Significa dizer que ao lado dos fatores gerais que comandam os processos de
desertificação, há fatores locais determinados pelas condições de solo. Daí ser possível encontrar manchas
férteis de solos, ao lado de manchas desertificadas ou em processo de desertificação (BRASIL, 2004, p. 34).

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4 INDICADORES DO PROCESSO DE DESERTIFICAÇÃO


A princípio, os indicadores são as expressões e/ou modificações do meio ambiente capazes de
fornecer informações e pistas em forma de número sobre a real situação dos bens ecológicos de uma
região em estudo. Para o caso da desertificação, os indicadores expressam a ocorrência da degradação e o
seu grau, além de suas prováveis causas.
Os indicadores mais confiáveis iniciam a amostragem figurativa da situação local do material
humano disponível. Esse fato, para a região Nordeste do Brasil é crucial. O êxodo rural das décadas de 70,
80 e 90 retirou o principal objeto de pesquisa, o homem, dessa área. Por outro lado, constitui um indicador
do processo de degradação, mas sem a possibilidade de avanços mais profundos no conhecimento e causas
de não mais morarem na zona rural e se lá estivessem, qual a situação dessas pessoas economicamente.
Barros (2010, p. 16), pondera que: “o que se percebe hoje é uma gama de indicadores e índices de
desertificação propostos e utilizados em diversas pesquisas. De maneira geral, os indicadores ‘são vistos
sob pontos de vista limitados em termos de representação espacial e temporal’. Ressalta-se que para a
identificação do processo de desertificação, deve-se fazer uso de indicadores que permitam não só a
identificação como também o monitoramento ao longo do tempo das áreas onde o processo ocorre.”
O ponto básico dessa metodologia deve abranger uma escala variável pela qual se possa fazer
avaliações sucessivas e constantes com o foco voltado para o monitoramento ao longo de uma série de
anos.
Estranhamente, a metodologia dos indicadores em sua grande maioria é de natureza acadêmica,
sem aplicabilidade na identificação e monitoramento dos processos de degradação ambiental, relacionados
com a desertificação (MATALLO JUNIOR, 2001). Ademais, as metodologias propostas e os seus respectivos
indicadores ainda não foram devidamente testados nos países da América do Sul, principais interessados
em determinar um modelo confiável para identificar e monitorar a degradação na forma de desertificação.
Os indicadores são elementos altamente instáveis. Um mesmo indicador fornece dados confiáveis
em uma região e pode não contribuir com informações quando for aplicado em outra área visando buscar
os mesmos dados.
Outro problema gritante sobre os indicadores de desertificação, segundo Sampaio, et al. (2005, p.
104) é que: “Se os sinais de degradação são evidentes, a sua organização em um sistema de indicadores
quantitativos do avanço do processo são ainda muito incipientes e não fornecem resultados consistentes
com as observações. O único indicador aceito de forma geral é a baixa cobertura vegetal, um sinalizador do
início do processo de degradação. É um indicador de fácil uso, já aplicado em alguns trabalhos no Nordeste,
e que até poderia aproveitar melhor a série de imagens de satélite já disponíveis no país. Até hoje não foi
feito o mapeamento da perda de cobertura vegetal da região como um todo.” (Grifo nosso).
A demanda atual a respeito dos indicadores de desertificação é a aceitação por parte da
comunidade científica de sua viabilidade como sistema capaz de oferecer dados para estudos do problema.
Com um único indicador aceito (baixa cobertura vegetal), os estudos até então divulgados não têm
sustentação suficiente para caracterizar todo o processo e diagnosticar as causas e as possíveis medidas
mitigadoras. O próprio conceito de desertificação abrange outros fatores que precisam ser analisados no
estudo e verificados a existência ou ausência na área atingida e/ou em estudo. O modelo proposto pela
convenção das Nações Unidas enumera 19 itens (indicadores) que utilizados com perícia são capazes de
fornecer dados confiáveis ao pesquisador. Em trabalho publicado em 2001, Matallo Junior lista os
indicadores de desertificação como sendo: erosão (percentual de solos erodidos intensidade e tipo),
salinização (Condutividade elétrica, Sodificação / Alcalinização), Perda de fertilidade (CTC / Ph /
Aluminização), Cobertura vegetal (Percentual de cobertura), Índice de vegetação (Método específico de
sensoriamento remoto), Produtividade agrícola (Kg/há), Produtividade pecuária (Kg/há), Disponibilidade de
água de superfície (vazão), Disponibilidade de água subterrânea (Profundidade dos lençóis), Qualidade da
água (Conteúdo salino), Coeficiente de uso (Demanda atual de mão-de-obra / Demanda potencial de mão-
de-obra), Coeficiente de excesso (Oferta atual de mão-de-obra / Demanda atual de mão-de-obra),
Coeficiente de saturação (Demanda atual de mão-de-obra /Demanda potencial de mão-de-obra), Ingresso
(Renda per capita), Estrutura etária (Distribuição de idades), Migrações (Crescimento líquido da população),
Densidade demográfica (hab / Km2), Nível de educação (Tempo de escolaridade), Dinâmica demográfica
(Série temporal da densidade demográfica e migrações).

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Cada indicador mede a natureza situacional das áreas investigadas e caso se faça a correlação entre
eles tem-se boa oportunidade para se afirmar a existência e o grau de desertificação. Mesmo sendo um
problema aparentemente fora da esfera metodológica e científica, a desertificação tem se mostrado muito
sensível as questões que estão expressas em seu conceito. Neste sentido, os indicadores assumem
relevância nos estudos dada à peculiaridade de cada um.
Barros (2010, p. 19) aponta-nos um caminho a respeito da elaboração dos indicadores quando
considera que: “é crucial a elaboração de indicadores que sejam reconhecidos pela comunidade científica e
que permitam a obtenção de informações sobre a desertificação. Em razão das características regionais,
diferenças entre os componentes dos ‘índices’ adotados deverão ocorrer. Esta ‘padronização’ deve permitir
a análise espacial e temporal deste processo, permitindo a elaboração de políticas públicas que possam
auxiliar na resolução dos problemas gerados e evitar sua ocorrência e ampliação.”
A uniformidade dos indicadores é um passo importante na construção do conhecimento sobre
desertificação e seus efeitos nocivos sobre a vida das pessoas. Considerar as diferenças regionais é
fundamental para que os indicadores assegurem com a máxima exatidão possível as variáveis e
condicionantes do estágio de degradação onde forem aplicados e que os resultados sejam fiéis a realidade
da área em estudo e o levantamento de dados seja condizente o de outras regiões igualmente pesquisadas.
Os esforços mais recentes dos estudiosos sobre desertificação caminham em direção a construir
uma metodologia que possibilite, na prática, conhecer e aprofundar mais de perto as causas, os efeitos e as
medidas de monitoramento em espaço temporal capaz de responder as perguntas mais inquietantes. A
preocupação então é que seja uma metodologia uniforme e que os procedimentos de identificação sejam
aplicáveis e fáceis de manusear durante o processo de operação, como também na pesquisa de campo
(MATALLO JUNIOR, 2001).
Outro problema a se apontar é o vazio ambiental que cada indicador carrega em sua origem. Cada
região apresenta particularidades endêmicas de forma que os indicadores passam a ter uma resistência
natural e muitas vezes são inviabilizados se não houver ajustes para a localidade em estudo.
Segundo Matallo Junior (2001, p. 58): “[...] há muitos problemas a serem resolvidos, que
demandam um esforço maior de pesquisa para que tais indicadores possam ser assumidos como
verdadeiros e aplicáveis à realidade do Nordeste. Mencionamos especialmente os indicadores: Densidade
demográfica, Sistema fundiário, Tempo de ocupação, Estagnação econômica, Pecuarização, Áreas de
preservação em uso, Área agrícola, Bovinocultura, Caprinocultura, Ovinocultura e Evolução demográfica.”
Para o Nordeste brasileiro em particular, os indicativos vão de encontro a formar um entendimento
de que a desertificação é um fenômeno que se processa de fora para dentro da região e que basta
visualizá-lo pela ótica histórica da monocultura, do pastoreio excessivo e das técnicas rudimentares
utilizadas pelo homem nordestino. Em todo caso há indicadores que mais são um desafio para serem
aplicados nas regiões sertanejas em virtude das múltiplas relações que assumem e por serem ainda
questões polêmicas vistos à luz da política e da cultura peculiar caracterizada por um imenso atraso se a
relacionarmos com as leis desenvolvimentistas do país.
Diversos estudos realizados nas últimas duas décadas apontam tentativas de agrupar os
indicadores em categorias tais como: físicos, climáticos, biológicos, agrícolas, sociais e econômicos. Uma
tendência recente é agrupá-los em dois grandes grupos que são eles: indicadores de situação e indicadores
de desertificação.
Mesmo assim, tais esforços ainda não são conclusivos, pois há uma inevitável resistência de vários
organismos nacionais e internacionais. A construção dessa relação / divisão de indicadores vai ainda
demandar muitos estudos e discussões que viabilizem o máximo de uniformidade e harmonia entre todos
os indicadores. Um primeiro passo seria a aceitação de que um mesmo indicador utilizado em uma região
não torna obrigatório seu uso em outra área que esteja em análise o mesmo processo.
Para Matallo Junior (2001), “a presença e/ou ausência de um indicador mediante estudos da área e
metodologia apropriada garante segurança na elaboração sequencial das causas e possíveis efeitos da
desertificação.” Esse mesmo autor ainda cita que “uma classificação de microrregiões, proposta por
Rodrigues em trabalho realizado pelo Instituto Desert em que classifica as microrregiões, segundo a
presença ou ausência dos indicadores. São três categorias: a) muito grave (apresenta pelo menos 15 dos 19
indicadores); b) grave (apresenta entre 11 e 14 indicadores) e moderada (apresenta entre 6 e 10
indicadores).”

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Embora haja dúvidas quanto quais são as melhores metodologias hoje utilizadas, vê-se também o
surgimento de outros meios de captação de dados e o emprego de novas tecnologias para monitorar as
áreas / núcleos de desertificação. Em especial as imagens de satélite são hoje uma ferramenta
indispensável nos estudos da desertificação, uma vez que nos fornece com bastante nitidez o avanço em
campo das áreas afetadas por essa perversa degradação ambiental com reflexos em todo o ecossistema
que atinge.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As evidências históricas da desertificação no Nordeste do Brasil demonstram que o problema tem
se agravado a cada década e que os dados ainda são mínimos para se chegar a conclusões seguras quanto a
real situação do fenômeno. As pesquisas existentes são muito limitadas e não abrangem a região como um
todo, deixando lacunas e até descontinuidades nos estudos apresentados até então.
O (PAN) BRASIL, prevê ações de combate a desertificação e convivência com os efeitos da seca.
Tenta equilibrar as práticas antigas do camponês nordestino com novas possibilidades de obtenção dos
insumos mais essenciais para a sobrevivência deste e sua família no campo, evitando assim, mais agressões
ao meio ambiente e favorecendo a recuperação das terras desnudas da cobertura vegetação que era
presente antes da exploração exacerbada pela monocultura e pastoreio animal.
Por fim, o problema da desertificação só será totalmente revertido, quando aliarmos a educação às
políticas públicas que buscam acabar com seus efeitos nesta região. Educação essa, que signifique
“transformar” um homem velho, de práticas arcaicas, em um homem novo, com perspectivas inovadoras
para ir além do sonho de uma sociedade mais igualitária.

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eixo4/008.pdf> Acessado em: 5 de mar. de 2011.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


730

CONCENTRAÇÃO DE OZÔNIO TROPOSFÉRICO NO MUNICÍPIO DE SERRA


TALHADA-PE
Vanessa Renata de Sousa BARBOZA
Graduanda do Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas - Universidade Federal Rural de Pernambuco - Unidade
Acadêmica de Serra Talhada, (UFRPE /UAST) / Fazenda Saco, s/n,
Caixa Postal 063, Serra Talhada - PE. CEP: 56900-000.
E-mail: nessinha_re@hotmail.com
Aline Cristina Ferreira NUNES
Graduanda Bolsista do Programa de Iniciação Científica (PIBIC/UFRPE /UAST)
Pedro Carvalho de CASTILHO
Professor Adjunto I UFRPE/UAST

RESUMO
Os poluentes encontrados no ar constituem-se sob a forma de gases e vapores ou material
particulado (aerossóis), os quais são emitidos na atmosfera tanto por fontes antropogênicas quanto
naturais. Entre estes gases, o ozônio (O3) destaca-se como sendo um dos poluentes mais críticos. Ele, não é
emitido diretamente das fontes poluidoras, mas é formado por meio de reações que sobrevêm na
atmosfera. Essas reações ocorrem através de substâncias precursoras que absorvem fótons por meio da
radiação solar. Na estratosfera o ozônio forma uma camada protetora contra efeitos danosos da radiação
ultravioleta que são prejudiciais à saúde. Embora este poluente seja benéfico na estratosfera, ele tem
efeitos tóxicos na troposfera. O objetivo deste trabalho foi avaliar determinadas áreas de Serra Talhada –
PE, contribuindo para a caracterização da qualidade do ar. Diante disto, para analisar esse enfoque, foram
selecionados cinco pontos na região, ao qual foi instalado um papel teste sensível ao ozônio e para a
caracterização da qualidade do ar foi considerado um parâmetro, de acordo com a escala de cores
Schonbein. Observou-se que o número de Schonbein observado nos pontos A e B variaram entre 9-10 e 10-
11, respectivamente, o ponto C entre 11-12, o ponto D entre 10-11, e o ponto E variou entre 8-9. No ponto
de amostragem E, os níveis de ozônio tiveram valores mínimos, o que pode estar associado à localidade
(zona rural) da fixação do papel teste. Quanto aos valores médios e máximos de ozônio que se depreendem
nos demais pontos de amostragem, podem estes, ser resultado das frequentes queimadas realizadas
próximas à localidade do monitoramento. Diante deste panorama, torna-se evidente a urgência de
medidas que amenizem a falta de conscientização ambiental da população quanto à ação de queimadas,
pois esse fator poderá contribuir na melhoria da qualidade do ar do município.
PALAVRAS-CHAVE: Ozônio, Troposfera, Schonbein, Papel teste.

INTRODUÇÃO
A poluição atmosférica é um problema ambiental que afeta a humanidade desde seus primórdios.
Com o desenvolvimento tecnológico e o surgimento dos grandes centros urbanos, os problemas de
poluição foram se agravando cada vez mais, culminando em desastres históricos. Os poluentes encontrados
no ar constituem-se sob a forma de gases e vapores ou material particulado (aerossóis), os quais são
emitidos na atmosfera tanto por fontes antropogênicas quanto por fontes naturais. Entre estes gases, o
ozônio (O3) destaca-se como sendo um dos poluentes mais críticos (SEINFELD & PANDIS, 1998).
O ozônio está presente na atmosfera terrestre desde 1,5 bilhões de anos, e a sua descoberta é
atribuída ao químico suíço Christian Friedrich Schonbein que em meados do século XIX, observou que após
descargas elétricas na atmosfera havia um odor ao qual ele acreditou ser de um gás atmosférico peculiar. A
esse gás, ele atribuiu o nome de ozônio, do grego “ozein” que significa cheiro. Ele é um gás triatômico de
oxigênio produzido através de reações do oxigênio (O2) com outros poluentes presentes na atmosfera
(INPE, 2006). Ele, não é emitido diretamente das fontes poluidoras, mas é formado por meio de reações
que sobrevêm na atmosfera. Essas reações ocorrem através de substâncias precursoras que absorvem
fótons por meio da radiação solar. Essa reação fotoquímica, ocorre entre os gases de óxidos de nitrogênio
(NOx) e entre os compostos orgânicos voláteis (COVs), que são difundidos na atmosfera através de

João Pessoa, outubro de 2011


731

processos de combustão veicular e industrial, por processos evaporativos da queima incompleta de


combustível automotivo e de processos industriais, respectivamente (RABI & EYRE 1998).
Segundo Dincer (1998), na estratosfera (camada mais alta da atmosfera), o ozônio ocorre entre as
latitudes de 12 e 25 km e forma uma camada protetora contra efeitos danosos da radiação ultravioleta que
são prejudiciais à saúde humana e ao ecossistema. Embora este poluente seja benéfico na estratosfera, ele
tem efeitos tóxicos na troposfera (camada mais baixa da atmosfera).
Mesmo em baixa concentração, o O3 é prejudicial aos seres vivos e em particular ao homem,
provocando irritações nos olhos, nariz e garganta, pode contribuir causando o envelhecimento precoce da
pele, causa tosse, dor de cabeça, náuseas, cansaço, diminui a resistência a infecções, agrava doenças
respiratórias e pode estar associado ao câncer de pulmão. Além disso, altas concentrações de ozônio
podem também resultar em danos a plantações, à vegetação natural e sistemas aquáticos, possuindo forte
ação corrosiva e reduzindo a vida útil dos materiais. Os efeitos analisados em plantas referem-se à
diminuição na taxa de crescimento, aumento da vulnerabilidade a insetos e problemas de pigmentação,
devido a alterações no processo de fotossíntese (KIRCHHOFF, 1989). O objetivo deste trabalho consiste na
avaliação ambiental de determinadas áreas de Serra Talhada – PE, contribuindo para a caracterização da
qualidade do ar e registrando a concentração de ozônio presente na troposfera, através de um método
simples, porém eficiente.

MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi desenvolvido no município de Serra Talhada – PE, localizada na Mesorregião do Sertão
do Pajeú, situada nas coordenadas geográficas, 38º17’54”W e 07º59’31”S, perfazendo uma distância de
427 km do Recife com altitude de 429 m e abrange uma área territorial de 2.952,8 Km2 (Figura I). Apresenta
clima semi-árido quente, com temperatura média anual em torno de 37 ºC, com vegetação predominante
de Caatinga Hiperxerófila. A população é representada por pouco mais de 78.960 habitantes (IBGE, 2006;
2010).

Figura I. Mapa da localização de Serra Talhada, no estado de Pernambuco - Brasil. Fonte: BELTRÃO
et al. (2005).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


732

O amplo número de fontes emissoras e o consecutivo aumento das mesmas, seja com o
crescimento industrial, ou com o aumento da frota veicular incorporado a alta incidência de radiação solar
durante todo o ano, tornam a região do trabalho propícia à formação deste poluente e, diante disto, para
analisar esse enfoque, faz-se necessário um diagnóstico quanto à concentração do ozônio nesse município.
Vários métodos podem ser utilizados para quantificar o ozônio, eles podem ser classificados em
métodos físicos, químicos e físico-químicos. A avaliação da concentração de ozônio para esse estudo foi
obtida pelo método químico, que compreende a capacidade e a propriedade de mensurar a formação de
produtos quando o ozônio reage com outras substâncias, como por exemplo, o iodeto de potássio (KI)
(CHIATTONE et al. (2008).
Os dados obtidos foram coletados no período de oito e onze de julho de 2011, aos quais foram
selecionados cinco pontos, dois localizados na região central, com maior tráfego de veículos e identificados
como ponto A e ponto B, respectivamente, outro, situado mais afastado do centro, com pouco tráfego de
veículos e identificado como ponto C, um no campus da Universidade Federal Rural de Pernambuco –
Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UFRPE-UAST) classificado como ponto D e o outro estabelecido na
zona rural como ponto E.
Em cada um desses pontos de monitoramento, instalou-se um papel teste que é sensível ao ozônio.
Para a caracterização da qualidade do ar obtida com a respectiva concentração do O3, um parâmetro foi
considerado de acordo com a escala de cores Schonbein.
O procedimento utilizado constou de um papel filtro com raio de 5cm, embebido em uma solução
contendo Iodeto de Potássio (1g), amido de milho (5g) e água destilada (100 ml).
Antes da exposição do papel teste ao ambiente, ele foi mergulhado em água destilada e
então exposto ao ar durante oito horas sem que houvesse a incidência de luz solar direta, para não
danifica-lo, ou vir a alterar na verificação do resultado.
O ozônio troposférico provocará a oxidação do iodeto de potássio e produzirá iodo, que ao
reagir com o amido resultará em uma cor púrpura. As reações envolvidas nesse processo foram:
2KOH 2KI + 03 + H2O + O2 + I
Amido I2 + Azul ou cor roxa
Na leitura final, para determinação da concentração do ozônio o papel teste foi novamente
mergulhado em água destilada para observar a cor e determinar o número usando a escala de cores
Schonbein, conforme mostra a figura II. A umidade relativa referente ao local de coleta de dados foi
determinada mediante aos dados meteorológicos locais. Parte superior do formul

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Figura II. Escala de cores Schonbein, utilizada para verificar os níveis de ozônio na troposfera.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os números de Schonbein observados nos pontos A e B variaram entre 9-10 e 10-11,
respectivamente, no ponto C variou entre 11-12, no ponto D entre 10-11, enquanto que no ponto E variou
entre 8-9 (Figura III ).

João Pessoa, outubro de 2011


733

P P P P P
onto E onto A onto D onto B onto C
Figura III. Resultado do papel teste nos pontos de coleta em ordem crescente de acordo com a escala cores
Schonbein: E (Zona rural), A (Centro da cidade), D (UFRPE-UAST), B (Centro da cidade) e C ( Região mais
afastada do centro da cidade).

A mudança do nível da concentração de ozônio, está associada com os processos meteorológicos,


como radiação solar, direção e velocidade dos ventos e umidade relativa. A umidade relativa do ar
referente ao dia da coleta de dados foi de 80% as 12 horas e a temperatura máxima foi de 25°C (INEPE,
2011).
Os testes de identificação dos níveis de ozônio obtidos neste estudo foram realizados
simultaneamente nos locais identificados, e não foram observados fenômenos de chuva ou de possíveis
alterações nos padrões de umidade relativa entre os locais. Sendo assim, podemos afirmar que não houve
alteração nos padrões de umidade relativa do ar entre as áreas testadas e que os resultados refletem os
níveis de ozônio presentes nestas regiões no momento dos testes. Crutzen et al. (1995), afirmam que os
trópicos têm um papel crucial no processo de formação do ozônio, uma vez que o elevado fluxo de
radiação ultravioleta (UV) aumenta a formação de radical hidroxila (OH), corroborando com Antunes et
al.(2008) que descrevem o ozônio como sendo um poluente típico de cidades de clima seco, quente e
ensolarado.
Verificou-se que no ponto de amostragem E, os níveis de ozônio tiveram valores mínimos, o que
pode estar associado à localidade (zona rural caracterizada por apresentar maior área verde) da fixação do
papel teste. Os locais onde a presença da vegetação (espécies arbóreas, arbustivas e herbáceas) é
registrada, podem ser caracterizados por constituírem um espaço cujas condições ecológicas mais se
aproximam das condições normais da natureza (CARVALHO, 1982), portanto, a manutenção da vegetação
em áreas urbanas torna-se necessária, pois atua reduzindo os índices de poeira, e alguns poluentes em
suspensão retomam o equilíbrio e diminuem a poluição do ar (GOMES & SOARES, 2003).
Quanto à variação do nível das concentrações: médias e máximas de ozônio que se depreende nos
demais pontos de amostragem, estas podem estar associadas às frequentes queimadas realizadas próximas
à localidade do monitoramento ou até mesmo influenciadas pelo vento, visto que se trata de um elemento
importante na dispersão de poluentes na atmosfera.
A direção e velocidade dos ventos proporcionam um transporte e dispersão dos poluentes
atmosféricos. Em ocasiões de calmaria, ocorre a estagnação do ar, resultando em um aumento nas
concentrações de poluentes. Martins (2006), afirma que apesar do ozônio ter característica peculiar de
formação, ele é altamente influenciado pelas condições de vento, temperatura, radiação e concentração de
seus precursores. Porém, Silva et al. (2008), ressaltaram que as maiores fontes para a produção de ozônio
Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade
734

na baixa atmosfera estão associadas ao tráfego de automóveis, a queima de combustíveis fósseis, e a


queima da vegetação.
Altas concentrações de O3 são comumente observadas em centros urbanos, devido às
implicações que podem ser acometidas à saúde humana e ao ambiente, o aumento nos níveis de ozônio é
um dos problemas ambientais cruciais a ser determinado (GUICHERIT & ROEMER, 2000).
Conforme Yamasde et al. (2000), um efeito significativo em termos climáticos que o ozônio poderá
provocar quando em altas concentrações, poderá interferir no procedimento de formação de núcleos de
condensação, alterando os mecanismos de formação de nuvens e, por conseguinte alterando os ciclos
hidrológicos na região.

CONCLUSÕES
Devido à natureza da sua formação, o ozônio é um poluente difícil de ser controlado, sendo
um dos que mais comumente excede as concentrações permitidas em áreas urbanas. O aumento dos níveis
de ozônio na troposfera tem sido objeto de preocupação por parte das instituições ambientais, tanto pelas
concentrações encontradas quanto pela dificuldade de controle dos seus principais precursores.
O monitoramento com o papel teste oferece vantagens, como custos reduzidos e eficiência em
áreas extensas por longos períodos de tempo. A avaliação da qualidade do ar revela-se como
sendo de extrema importância para a região, uma vez que se espera prevenir problemas
relacionados à saúde da população local.
Após as medidas da concentração do nível de ozônio, concluí-se que o índice mais elevado dessa
emissão de ozônio na troposfera em Serra Talhada – PE deve-se principalmente ao aumento do número de
focos de calor, provocado pelas queimadas.
Diante deste panorama, fica evidente a urgência de medidas que amenizem a falta de
conscientização ambiental da população quanto à ação de queimadas, pois esse fator poderá contribuir na
melhoria da qualidade do ar do município.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANTUNES, M. L. P.; AGUILAR, A. F & CAMARGO, S. R. G. Identificação das fontes precursoras de
ozônio na troposfera de Sorocaba (S.P.). REA – Revista de estudos ambientais, v.10, n. 1, p. 33-39, jan./jun,
2008.
BELTRÃO, B. A.; MASCARENHAS, J. C.; MIRANDA J. L. F.; et al. Projeto cadastro de fontes de
abastecimento por água subterrânea. Diagnóstico do município de Serra Talhada, estado de Pernambuco.
Recife: CPRM/PRODEEM, 2005. Disponível em:
http://www.cprm.gov.br/rehi/atlas/pernambuco/relatorios/FLOR060.pdf. Acessado em: 12/07/2011.
CARVALHO, M. E. C. As Áreas Verdes de Piracicaba. Dissertação (Mestrado em Geografia)
Departamento de Geografia, Instituto de Geociências e Ciências Exatas - Rio Claro: UNESP, p. 123, 1982.
CHIATTONE, P. V.; TORRES, L. M & ZAMBIAZI, R. C. Aplicação do ozônio na indústria de alimentos.
Revista Alimento Nutrição Araraquara v.19, n.3, p. 341-349, jul./set, 2008.
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and a look ahead. Faraday Discuss., v.100, p.1-21, 1995.
DINCER, I. Energy and environmental impacts: present and future perspectives. Energy Sources v.20,
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GOMES, M. A. S & SOAES, B. R. Vegetação nos centros urbanos: considerações sobre os espaços
verdes em cidades médias brasileiras. Revista Geográfica da UNESP. Rio Claro, v.1, n.1, p. 19 - 29, junho,
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INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Cidade de Serra Talhada. Disponível
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particles from direct emissions of vegetation fires in the Amazon Basin: water-soluble species and trace
elements. Atmospheric Environment, v.34, p. 1641-1653, 2000.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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DEGRADAÇÃO E DESERTIFICAÇÃO: EVOLUÇÃO DOS ESTUDOS NA PARAÍBA


COM UTILIZAÇÃO DE GEOTECNOLOGIAS
Virginia Mirtes de Alcântara SILVA1
Maria da Conceição Marcelino PATRÍCIO2
Raimundo Mainar de MEDEIROS2
1Universidade Vale do Acaraú – UVA
Av. da Universidade, 850 - Campus da Betânia CEP. 62.040-370 - Sobral - Ceará
2Centro de Tecnologias e Recursos Naturais - CTRN - UFCG-Universidade Federal de Campina Grande.- Avenida Aprígio
Veloso, 882, Bodocongó-PB, Brasil
Caixa Postal 10078 - 58109-970
e-mail:virginia.mirtes@ig.com.br

RESUMO
O presente trabalho consiste em uma abordagem sobre a temática da degradação de terras com
destaque para o processo de desertificação de uma forma global, abordando fatos históricos ocorridos no
mundo até analisar de forma pontual a degradação de terras pelo processo de desertificação no Estado da
Paraíba, onde foi constatado que os fatores antrópicos aceleram progressivamente as áreas atingidas. A
região Nordeste do Brasil devido as suas características naturais possui um ecossistema próprio: um clima
semiárido com evapotranspiração elevada, períodos de secas, solos de pouca profundidade com baixa
capacidade de retenção de água, que associado as ações antropogênicas compromete todo o equilíbrio da
região, reduzindo ou extinguindo a sua biodiversidade. Além disso, a degradação e a desertificação geram
vários problemas sociais, econômicos e ambientais, provocado pela prática inadequada de exploração dos
recursos naturais que ao passar dos anos empobrece todo o ecossistema gerando vários tipos de
conseqüências inclusive sociais e a degradação definitiva da biodiversidade local. Este trabalho baseou-se
numa pesquisa bibliográfica a partir de uma base de dados coletadas da literatura sobre áreas susceptíveis
a desertificação no estado da Paraíba. Verificou-se que atualmente existe um aumento expressivo nas
pesquisas sobre desertificação no semiárido paraibano, na qual o uso de geotecnologias permite
acompanhar e mapear o avanço destas áreas como também identificar novos focos. Na pesquisa foi
constatado que a ação antropogênica é um dos principais fatores para o aumento da desertificação em
todos os municípios, estudados que foram: Itaporanga, Picuí, Cabaceiras, Serra Branca, São João do Cariri,
Olivedos, São João Rio do Peixe, Boa Vista, Juazeirinho.
Palavras-chaves: degradação, desertificação, Paraíba, geotecnologias.

1. INTRODUÇÃO
No decorrer da evolução natural de um ecossistema existem mudanças ocasionadas pela
variabilidade climática e as ocasionadas pela influência humana. O clima é um exemplo típico de
variabilidade climática, muitas civilizações desapareceram por causa do clima, podemos citar que a
instabilidade climática do Deserto do Saara, transformou-o em um imenso deserto que cobre metade da
África com uma área de aproximadamente 9.065000 km². Entretanto, o Saara já fora em vários períodos
de sua pré-história povoado e próspero, mas no decorrer do tempo, mudanças no seu clima com grandes
diferenças de temperaturas diurnas e noturnas (50º C durante o dia e –5º C à noite), tornaram-no cada vez
mais seco e quente provocando a rarefação das precipitações e o esgotamento das fontes e dos rios, tendo
como conseqüência o desaparecimento da cobertura vegetal, aumentando a intensidade dos ventos e a
grande quantidade de areia que comprometeu principalmente sua fauna e a flora.
Outro grande exemplo de variabilidade climática foi a grande seca na região subsaariana do Sahel,
região da África entre o Saara e as terras mais férteis ao Sul, ocorrida em 1968, em decorrência da baixa
precipitação de chuvas, a região havia sofrido cinco anos ininterruptos de seca. Em 1973, o cenário que se
apresentava após a grande seca foi de grandes migrações e campos de refugiados, cerca de 250-500
morreram de fome. A grande Seca do Sahel comprometeu seriamente a base agrícola de Niger, Senegale
Mauritânia, Alto Volta e Mali.

João Pessoa, outubro de 2011


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Do ponto de vista da variabilidade devido a ação do homem, também chamada de antrópica, temos
um dos maiores exemplo o Dust Bowl, ocorrido nos Estados Unidos no início do século XX, fenômeno de
desertificação que durou cerca de 10 anos, onde uma área de aproximadamente 388.500km 2 fora
desertificada. Ocasionada por anos de práticas inadequadas de manejo do solo com o cultivo da
monocultura do trigo, deixando-o susceptível às forças do vento, provocando seca induzida pelo alto nível
de partículas de solo suspensas no ar e a baixa precipitação anual em torno de 380 mm, formando uma
gigantesca cortina de poeira, cerca de aproximadamente 350 milhões de toneladas, o sol ficou totalmente
encoberto durante vários dias e cidades como Washington e Nova Iorque mergulharam na escuridão. Essa
área tornou-se conhecida como a Grande Bacia de Pó ou Dust Bowl.
O processo da desertificação, de uma maneira geral, ocorre em áreas em que a razão entre
precipitação e evapotranspiração potencial anual é inferior a 0,65, isto corresponde a áreas áridas,
semiáridas e subumidas secas, na qual uma combinação dos fatores antrópicos e naturais agem de forma a
acelerar ou não neste processo. Notadamente a ação humana age como um catalisador para o processo de
desertificação, no qual em condições normais e naturais levariam bastante tempo para ocorrer. Desta
forma várias partes do mundo, inclusive no Brasil, a desertificação esta em pleno processo de expansão,
configurando um problema de dimensões globais.
De acordo com o PAN Brasil (2004), a desertificação é o resultado final da exploração inadequada
dos recursos naturais de uma região, caracterizada pela degradação do solo, dos recursos hídricos, pelo
desmatamento e principalmente pela extinção da biodiversidade. Este desequilíbrio atinge diretamente as
relações sociais, econômicos, culturais e rurais de maneira que afeta a capacidade produtiva da terra e a
sustentabilidade das próximas gerações.
Nesse contexto, o Brasil com o Decreto nº 11.701 de 10/03/05, definiu que a região semiárida
brasileira compreende partes dos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco,
Alagoas, Sergipe, Bahia e Minas Gerais, abrangendo uma área de 969.589,4km2 onde vivem cerca de 20,8
milhões de habitantes. (BRASIL, 2005). (ver Figura 1).

1.1 LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA


A Paraíba está situada a leste da região Norte e tem como limites o estado do Rio Grande do Norte
ao norte, o Oceano Atlântico a leste, Pernambuco ao sul e o Ceará a oeste. Ocupando uma área de
56.439km2.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Figura 1.:Região semiárida brasileira com destaque para a Paraíba.


Fonte: www.integracao.gov.br

2. A DESERTIFICAÇÃO NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO


O problema da desertificação no semiárido brasileiro relaciona-se por vários fatores, naturais da
própria região como: ecossistema climaticamente frágil, solo pobre, recursos hídricos escassos,
precipitação pluvial média anual inferior a 800 mm, fatores sociais como o baixo índice de desenvolvimento
humano, fragilidade econômica associada principalmente pelos fatores históricos, relembrando que, a
Paraíba, não diferentemente do resto do Brasil, desde o período de sua ocupação passou por diferentes
ciclos de atividades predatórias de seus recursos naturais, de ordem agrícola, pecuária, industrial ou de
extrativismo, que resultaram em danos irreversíveis aos seus biomas e respectivos ecossistemas, numa
exploração predatória e excessiva, levando inclusive à exaustão de parte dos recursos naturais.
De acordo com a Convenção das Nações Unidas de Combate a Desertificação 1997, a
desertificação é o resultado final de um processo de degradação de terras nas zonas áridas, semiáridas e
subúmidas secas, resultante de diversos fatores naturais e antrópicos, como as variações climáticas e as
atividades humanas extrativistas. A degradação de terras é compreendida como a degradação dos solos,
dos recursos hídricos e da vegetação, com diminuição, redução ou extinção da produtividade biológica ou
econômica, por fim, a degradação se dá por uma combinação de fatores estando relacionado diretamente
ao sistema de utilização de terras.
O termo desertificação pertence a uma área interdisciplinar tendo em vista a grande extensão
envolvendo seus aspectos (sócio, político, econômico e ambiental), e a complexidade com que estes
aspectos se relacionam entre si. A importância do estudo da desertificação esta no fato de que as gerações
futuras se conscientizem que os recursos naturais devem ser explorados de maneira sustentável,
preservando a biodiversidade e contribuindo para geração de renda das famílias localizadas nestas regiões.
Para tanto é necessário ações imediatas de recuperação dos solos, da mata nativa e em paralelas, ações
educacionais de preservação do meio ambiente, associados ao uso de técnicas eficientes de produção, ou
seja, é fornecer condições satisfatórias para os habitantes viverem sem destruírem o ecossistema.
Inúmeros trabalhos foram realizados para caracterizar os processos de desertificação no
Brasil, em 1971 Vasconcelos Sobrinho introduziu o conceito sobre desertificação, sistematizando-o em 36
indicadores divididos em 6 categorias: físicos, biológicos agrícolas, uso da terra, assentamento das
populações, biológicos humanos e de procedimentos sociais. O estudo apresentado pelo autor conclui que
os núcleos de desertificação que já alcançaram a condição de irreversibilidade, apresentam características
de deserto implantadas dentro do ecossistema primitivo. Outra importante contribuição foi realizada por
Heitor Mattalo Junior em 2001, propondo uma nova classificação dos indicadores, definindo-os como
Indicadores de Situação, relativos ao clima, socioeconomia e aos Indicadores de Desertificação referente
aos aspectos físicos do meio ambiente: cobertura vegetal, características físicas, índice de erosão e o uso
do solo agrícola. Os indicadores proposto por Mattalo Junior, a sua forma de abordagem, a metodologia
usada e periodicidade das amostras são sintetizados na Tabela 1 e Tabela 2 (LIMA,2010).

João Pessoa, outubro de 2011


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Tabela 1. Resumo dos Indicadores de Desertificação

Indicadores Definição Unidades de Método Periodicidade


Medida
Clima
Precipitação
Quantidade de chuva que cai
Mm/dia/mês Coleta e estações
numa determinada região num Diário
/ano meteorológicas.
certo período de tempo.
Número de horas diárias Coleta em
Insolação (duração) e intensidade de Horas/ano estações Diário
radiação total. meteorológicas.
Evapotranspiração Coleta em
É a perda de água para a Mm/dia/mês
estações Diário
atmosfera na forma de vapor. /ano
meteorológicas.
Sociais
Estrutura de idades % de
Indicador dos efeitos da homens,
Censo
desertificação sobre a população mulheres, Decenal
demográfico
humana local. crianças e
velhos.
Taxa de Número de mortes de crianças 10 anos (censo)
Censo e pesquisa
mortalidade infantil com menos de 1 ano, para cada Óbitos/1000 e 2 anos (pesq.
hospitalar
mil nascidas vivas. hospitalar).
Nível Educacional Pessoas/núm
ero de anos
Números de anos com educação Pesquisa Decenal ou
de
formal. educacional. quinquenal
freqüência à
escola
Econômico
Renda per capita U$S por
Expressa a média de rendimento Pesquisa amostral
habitantes A cada dois anos
por habitante. domiciliar
por mês/ano
Outro
Uso do solo agrícola Ocupação do solo agrícola por
tipo de cultura (permanente
Área/tipo de Censo
,temporária, pastos Decenal
cultura agropecuário
nativos,pastos plantados, matas
nativas)

Fonte: MATTALO JR. (2001).

Na categoria dos indicadores de desertificação (Tabela 2), foram incluídos os indicadores que
medem os aspectos do meio ambiente, biológicos e físicos, além das características agrícolas da área como
cobertura vegetal, índice de erosão e uso do solo agrícola. Segundo o autor a periodicidade das
observações pode ser alterada de acordo a observação do fenômeno, e ainda bastante dependente das
relações sócio, econômico e ambientais.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Tabela 2. Indicadores de desertificação


Indicadores Definição Unidade de medida Método Periodicidade
Biológicos
Cobertura Vegetal Porcentagem de
Percentagem de uma
cobertura vegetal Imagens
determinada área com A cada 5 anos
nativa em relação à Orbitais
cobertura vegetal nativa.
área total.
Estratificação da Pesquisa
Número de estratos Números
Vegetação amostral de A determinar
existentes numa área. de estratos
campo
Composição Espécies nativas Números Pesquisa
específica existentes na área de espécies amostral de A determinar
campo
Espécies indicadoras Espécies associadas ao Espécies Pesquisa
fenômeno de degradação amostral A determinar
de um ecossistema. de campo
Físicos
Índice de erosão Identifica o processo de Muito grave, grave e
desagregação e Moderada
Imagens
transporte de sedimentos A cada 5 anos
orbitais
pela ação da água ou dos
ventos.
Redução da Redução da
capacidade hídrica disponibilidade efetiva de
Vazão e nível dos Monitorament Anual ou a
recursos hídricos de
lençóis subterrâneos o hídrico determinar
superfície e/ou
subterrâneos.

Agrícolas
Ocupação do solo
agrícola por tipo de
cultura (permanente, Imagens
Uso do solo agrícola Área/tipo de cultura A cada 5 anos
temporária, pastos orbitais
nativos, pastos plantados,
matas nativas)
Quantidade de um
A cada um ou
Rendimentos dos determinado produto Pesquisa
kg/ha dois anos.
cultivos colhido por unidade de agrícola
área.
Quantidade média de Coleta de
produção de carne e informação
Rendimento da A cada um ou
derivados para cada kg/animal sobre a
pecuária dois anos.
animal (por tipo de produção
rebanho). animal.
Outro
Razão do numero de
habitantes por
Densidade quilometro quadrado.
hab/km2 censo decenal
demográfica Pode ser aplicado a um
município, microrregiao
ou Estado.

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Fonte: MATTALO JR. (2001).


O uso de coleta de dados diários meteorológicos (umidade, velocidade do vento, precipitação,
temperatura) como ferramenta de análise e predição do tempo é uma prática antiga e muito comum pelo
centro de pesquisa meteorológico, na qual rodam modelos matemáticos para fornecer uma previsão do
tempo. Entretanto, autores como José Bueno Conti (1995), usando uma série histórica com os índices de
precipitação de 70 anos desenvolveu um modelo matemático baseado em series temporal para avaliar a
ciclicidade e as tendências pluviométricas no Nordeste do Brasil. Segundo o autor a idéia de mudança no
regime de chuvas da região, pelo menos nas últimas décadas, esta descartada, mas por outro lado, não se
pode descartar a possibilidade de alterações microclimáticas no sentido do ressecamento dos
ecossistemas, vinculadas aos impactos ambientais locais que se iniciam com o desmatamento, alteração do
escoamento superficial. Portanto modelos matemáticos de previsão pluviométricos serão tanto mais
eficiente se for feita de forma acoplada com outros indicadores de Desertificação, tais como (cobertura
vegetal, índice de erosão, redução da capacidade hídrica, entre outros) (ver Tabela 2). Para avaliar os itens
da Tabela 2, principalmente no que diz respeito aos fatores biológicos será fundamental o uso de
geotecnologias, fornecendo uma medida precisa e confiável destes itens.
3. GEOPROCESSAMENTO E SIG
O Brasil criou em 2004 o Plano Nacional de Combate a Desertificação-PAN, com o objetivo de
incentivar mudanças no modelo de produção agrícola, aliando a produtividade da terra, também o
mapeamento de novas áreas de desertificação e ainda o acompanhamento das áreas já conhecidas, usando
técnicas de sensoriamento remoto e geoprocessamento. (PAN-BRASIL, 2004). Atualmente os trabalhos
relativos a desertificação na Paraíba são abordados através de indicadores relativos a cobertura vegetal e
ao uso terra, aliado a técnicas de sensoriamento remoto e geoprocessamento.
O geoprocessamento representa a área do conhecimento que utiliza técnicas matemáticas e
computacionais para tratar a informação geográfica. Os Sistemas de Informação Geográfica (SIG) são as
ferramentas computacionais para geoprocessamento, integrando dados de diversas fontes em bancos
de dados geo-referenciados.
O sensoriamento remoto é a técnica de medir grandezas físicas de objetos sem contato direto com
os mesmos nos quais vários sensores são utilizados para captar a energia refletida ou emitida
principalmente do objeto. São vários os satélites que operam em órbita da Terra, coletando imagens em
várias resoluções espaciais e espectrais da superfície do planeta. As imagens disponíveis para o território
brasileiro são aquelas geradas pelos satélites LANDSAT-5, LANDSAT-7, E CBERS, devido ao longo período de
cobertura e a gratuidade aos arquivos digitais. Existem atualmente vários outros satélites: ALOS, ASTER,
CARTOSAT-1, CBERS, FORMOSAT-2, GeoEye-1, GeoEye-2,IKONOS, LANDSAT-7, QuirckBird, SPOT-5 entre
outros (INPE,2001).
Conforme Accioly et al. (2002), para a avaliação dos processos de desertificação o sensoriamento
remoto é uma ferramenta indispensável, principalmente pelo fato da Organização das Nações Unidas
(ONU) recomendar o índice de vegetação derivado de imagens de satélite como um dos quatros principais
indicadores desse processo. O Índice de Vegetação por Diferença Normatizada (IVDN) foi proposto por
Rouse et al (1974, apud Sá et al., 2008), sendo o mais conhecido e utilizado para mapeamento de cobertura
vegetal.

4. METODOLOGIA
A pesquisa consistiu de um estudo bibliográfico e documental elaborada através de um
levantamento sobre a literatura da desertificação, abrangendo livros, teses, artigos de periódicos, trabalhos
apresentados em eventos, documentos eletrônicos. Segundo Lakatos; Marconi (1999), a pesquisa
bibliográfica é aquela que busca o levantamento de todos os livros e revistas de relevante interesse para a
pesquisa que será realizada, objetivando colocar o autor da nova pesquisa diante de informações sobre o
assunto de seu interesse.

5. DESERTIFICAÇÃO NO SEMIÁRIDO PARAIBANO


Conforme o Programa de Ação Nacional de Combate a Desertificação (PAN-2004), a Paraíba é o
segundo estado brasileiro como maior nível de áreas degradadas e que pelo menos, 150 municípios da

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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região semiárida (67, 26%) estão susceptíveis à desertificação. Na qual residem 52% da população
brasileira, cerca de 1,66 milhões de pessoas. (Candido 2002).
Alves et al. (2009), exemplifica que na prática a desertificação se estende lentamente a partir de
pequenos núcleos até atingir grandes superfícies. “Esses núcleos foram denominados de focos de solos
desnudos ou com ulceração acentuada do tecido ecológico”. Esses núcleos têm em comum o
desmatamento indiscriminado, as queimadas e o pastoreio de caprinos e ovinos acima da capacidade de
suporte do ambiente (ACCIOLY, 2002).
O uso exagerado e predatório da população sobre os recursos naturais, que por sua vez já se
encontra fragilizados, leva à deterioração ambiental que terá como conseqüência a diminuição dos
recursos utilizáveis pela população gerando um ciclo de pobreza e miséria, até o limite da escassez
completa desta região. O processo de degradação é o resultado de uma equação complexa que envolve os
fatores ambientais, econômicos e sociais, em um processo dinâmico cujas conseqüências agem
diretamente sobre o sistema em um processo de feedback acentuando a velocidade de degradação.

5.1 EVOLUÇÕES DOS ESTUDOS NA PARAÍBA COM APLICAÇÃO DE TECNOLOGIAS


Atualmente a produção acadêmica compreende os mais variados aspectos da desertificação e da
degradação ambiental analisados sobre diferentes perspectivas inclusive com uso de tecnologias.
Sampaio et al (2006) apresentou uma análise sobre os impactos causados pela agricultura no
processo de desertificação no Nordeste, revisando todo o tema desertificação e incluindo as conseqüências
da degradação feita pela agricultura, enfatizando o desmatamento, a fertilidade dos solos, a erosão,a
salinização, a compactação até as conseqüências ambientais da degradação dos solos, com ênfase na
erosão pois é uma das mais graves causas da degradação dos solos no semiárido pela sua irreversibilidade.

Figura 2. : Mapa da Paraíba destacando os municípios abordados neste artigo.

Sá e Angelotti (2009) desenvolveram mapas temáticos das regiões do Piauí, Ceará, Rio Grande d o
Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia diagnosticando a situação atual do processo de
desertificação que vai desde a ausência do processo até o nível de maior severidade.
Sousa et al (2007) utilizando imagens dos satélites TM/LANDSAT-5 e CCD/CBERS-2, e através de
estudos sobre a dinâmica da cobertura vegetal, evidenciam que no município de Itaporanga, no período de
1987 a 2005, houve uma recuperação da cobertura vegetal em função da interrupção da cotonicultura
arbórea, a partir de 1986, e da conseqüente migração da população rural para o meio urbano.
Ainda Sousa et al (2008), utilizando geotecnologias para evidenciar a degradação de terras em São
João do Cariri, utilizaram o Índice de Vegetação por Diferença Normatizada – IVDN e imagens do satélite

João Pessoa, outubro de 2011


743

TM/Landsat entre 1987 a 2004., definiram seis níveis de degradação de terras naquele município, onde
houve um aumento nas áreas de degradação em 20, 14% e 7,95% .
Andrade et al. (2007), utilizaram o sensoriamento remoto e a avaliação do Índice de Vegetação de
Diferença Normalizada (IVDN) nas áreas em processo de desertificação para o município de Serra Branca, a
conclusão foi que a ação antrópica nas práticas rudimentares de utilização do solo e do combate a erosão,
vem contribuindo para a baixa produtividade agrícola da região ao longo dos anos acarretando solos
expostos, onde esse processo indica um aumento da desertificação naquela região.
Batista et al. (2010) ressaltam que na Microbacia do Riacho Maracajá na região de Olivedos, através
de sensoriamento remoto e geoprocessamento avaliaram que (19,16%) da microbacia já se encontra
intensamente degradada por sua enorme densidade, a presença de solos expostos e áreas destinadas à
agricultura e pastagens; verificando que a algaroba (Prosopis juliflora Sw DC) vem ocupando o lugar das
matas ciliares nas margens do Rio Maracajá.
Brandão (2009) explica a degradação ambiental no município de São João Rio do Peixe através dos
resultados obtidos pela aplicação do índice de degradação ambiental (IDA) e uso de indicadores,
observaram que cerca de 69% da bacia hidrográfica enquadra-se na classe de qualidade ambiental alta e
moderada, e que 31% das áreas já foram identificadas em estágio de qualidade ambiental sub-crítica e
crítica.
Sousa et al (2010) avaliaram o processo de desertificação no município de Cabaceiras,
localizado na microrregião Cariris Velhos, desenvolveram gráficos das vulnerabilidades social, econômica,
tecnológica e principalmente a seca. Desenvolveram também mapas temáticos com uso de
geoprocessamento e imagens Landsat-5. Os resultados obtidos indicaram a existência de níveis de
degradação de muito baixo a muito grave. Ressaltam também que o desmatamento e a pecuária estão
comprometendo as terras agrícolas, responsáveis pelas erosões que evoluem para núcleos de
desertificação.
Saraiva et al (2011) diagnosticaram através de sensoriamento remoto (CCD/CBERS2),
geoprocessamento e indicadores de desertificação para os principais rios do município de Boa Vista, sete
pontos de degradação de terras, sendo que cinco considerados graves e mostram um alto grau de
comprometimento dessas terras através da ação antrópica relacionada com atividade agropecuária
intensa, queimadas, exploração de madeira, a supressão da mata ciliar tem comprometido o assoreamento
dos riachos e açudes.
Lima (2010), através de geotecnologias e a avaliação do Índice de Vegetação de Diferença
Normalizada (IVDN) para o município de Juazeirinho no período de 15 anos, entre 1990 a 2005, avaliou a
evolução do processo de degradação da vegetação através das atividades humanas quantificando as áreas
mapeadas nos dois momentos selecionados, constatando uma redução de 2,4km2 por ano.
Neto et al (2007), através de geotecnologias, desenvolveram mapas temáticos e vários gráficos
para definir os níveis de degradação de terras para o Cariri Ocidental. Analisa por fim que a variabilidade
climática através do ENOS (Efeito El Nino e La Nina) e a interferência humana através do desmatamento e
degradação dos solos, aceleram os processos de desertificação.
Alves et al (2007), avaliaram o processo de desertificação no município de Picuí, com uso de
indicadores de situação, indicadores de desertificação e imagens do satélite CBERS, desenvolveram mapas
temáticos e constataram áreas susceptíveis a desertificação, onde a pressão humana aceleram os
processos de desertificação, através das práticas rudimentares agrícolas, como o desmatamento da
caatinga nativa, queimadas através das técnicas de “coivara”, uso de técnicas rudimentares de extração de
minérios e a retirada de madeira nativa.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo das duas últimas décadas diversos pesquisadores contribuíram na formação de um
importante acervo sobre os processos de desertificação no Nordeste apontando causas, conseqüências,
tanto do ponto de vista social e ambiental e principalmente fornecendo dados relevantes para o uso de
políticas públicas eficazes, para a preservação do ambiente e das pessoas que vivem na região.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


4. Educação Ambiental, Conscientização e Mobilização
Social
747

EDUCADORES AMBIENTAIS NO SERTÃO DAS GERAIS: UMA ABORDAGEM


DAS ESCOLAS ATENDIDAS NO MUNICÍPIO DE VARZELÂNDIA – MG
Adnéya Cristine de Souza FERREIRA
Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES
adneyacristine@yahoo.com.br
Acadêmica do Curso de Geografia
Priscilla Caires Santana AFONSO
Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES
priscillacaires@yahoo.com.br
Mestre em Geografia Profª. do Dpto. de Geociências

RESUMO
O Projeto Educadores Ambientais no Sertão das Gerais visa o aperfeiçoamento de atividades
cotidianas que de forma direta estejam ligadas ao meio ambiente, a partir de intervenções educativas
realizadas nas escolas dos municípios de Varzelândia, Mirabela, Patis e Juramento, todos localizados na
região Norte de Minas Gerais. As ações que contribuam na formação de educadores ambientais em âmbito
local buscam atender às expectativas das escolas e às necessidades da comunidade envolvida. Nesse
sentido, o presente artigo tem como objetivo caracterizar as escolas municipais, bem como as atividades
educativas desenvolvidas nas escolas contempladas de Varzelândia, primeiro município atendido pelo
projeto. Para a realização deste trabalho, utilizamos como procedimentos metodológicos a revisão
bibliográfica, seguido de trabalho de campo nas escolas e aplicação de questionários aos alunos e
professores, o que possibilitou o conhecimento da realidade vivenciada pela comunidade escolar das sete
escolas atendidas pelo projeto. Quanto à sua localização no município, seis estão inseridas na zona rural e
uma se encontra na área urbana. As escolas atendidas apresentam dificuldades como falta de água potável
com qualidade e quantidade suficiente e adequada para o consumo dos alunos, além dos problemas
advindos do destino inadequado dos resíduos sólidos. A partir da situação diagnosticada nas escolas, foram
elaboradas atividades de educação ambiental como trilhas ecológicas, plantio de árvores, gincanas, entre
outros que tem a finalidade de sensibilizar os alunos para mudança de hábitos que acarretem melhoria na
qualidade de vida da população local. Concluímos que a prática da Educação Ambiental nas escolas, ainda
que realizada em escala local, é um instrumento de grande importância social na medida em que essas
pequenas intervenções em atividades cotidianas podem significar um maior engajamento da comunidade
em busca de uma vida melhor.
PALAVRAS-CHAVE: Educação Ambiental. Varzelândia/MG. Escolas Municipais.

INTRODUÇÃO
A realização de ações ligadas à educação ambiental desenvolvida pelo Projeto Educadores
Ambientais no Sertão das Gerais27 vem relacionar a produção de conhecimentos da universidade com as
necessidades apresentadas pela sociedade no que diz respeito ao uso sustentável do meio ambiente da
região. A importância local do projeto se torna ainda mais acentuada devido à ausência no ensino escolar
básico da disciplina de Educação Ambiental, apesar desse ser um tema transversal que deve ser
contemplado por todas as disciplinas. A difusão do conhecimento é defendida por Pedrini (2002, p. 62-63),
que diz:
(...) é fundamental que as experiências do meio universitário sejam detalhadamente mapeadas e
difundidas. A produção de conhecimento é um dos compromissos sociais da comunidade universitária e sua
difusão por meio de trabalhos completos, vídeos, filmes, etc. é de fundamental importância para o
desenvolvimento da EA [Educação Ambiental grifo nosso].

As intervenções do projeto acontecem em quatro municípios da microrregião de Montes


Claros/MG, sendo eles Varzelândia, Mirabela, Patis e Juramento, com intervenções que venham de
encontro às necessidades diagnosticadas nas escolas atendidas.

27
Projeto de extensão do Departamento de Geociências, da Universidade Estadual de Montes Claros –
UNIMONTES.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


748

Os diagnósticos sócio-ambientais começaram a ser realizados no segundo semestre do ano de


2010, com as visitas a campo. Os trabalhos agora estão voltados, primeiramente, para o município de
Varzelândia, com as atividades desenvolvidas em seis escolas municipais e uma estadual28, que se
encontram na zona rural do município, com exceção de uma que fica na zona urbana. A adequação de
atividades para cada lugar possibilita um direcionamento das ações, a fim de adaptarem-se aos problemas
existentes na região e propiciar a formação de educadores ambientais multiplicadores.
Nesse sentido, esse artigo tem o objetivo de relatar o diagnóstico realizado nas escolas de
Varzelândia, que permitiram a elaboração de planos de intervenção com foco na educação ambiental.
Sendo assim, Talamoni e Sampaio (2003, p. 21), destacam:
A educação ambiental é considerada uma prática política, sendo uma de suas características mais
marcantes proporcionar a organização coletiva na busca de soluções para os problemas. Deve-se considerar,
entretanto, que além da dimensão coletiva, a educação ambiental apresenta ainda a dimensão individual.
Assim, ambas sofrem mútuas intervenções: o engajamento do indivíduo na luta por melhores condições de
vida depende de uma tomada de posição pessoal, que por sua vez modifica-se conforme o fazer político. É
um processo de grande abrangência e não se limita aos princípios e às teorias científicas nem pode ser
confinada apenas à sala de aula, mas extrapola estes limites e envolve toda a sociedade.
Entendemos que o Projeto irá possibilitar aos estudantes, pais e professores entender a urgência
de se pensar na utilização correta dos recursos naturais, o que implica numa melhor qualidade de vida.
Apresentemos, então, os aspectos observados nas escolas contempladas.

ANÁLISE DOS ASPECTOS ENCONTRADOS NAS ESCOLAS


Os trabalhos de educação ambiental desenvolvidos nas escolas do município de Varzelândia (MAPA
1) a partir das atividades do Projeto Educadores Ambientais no Sertão das Gerais abordam temas
específicos à necessidade de cada escola, sejam eles pela capacidade do espaço físico disponível ou por
uma maior ou menor ênfase no desenvolvimento de uma ou outra atividade educacional relacionada ao
meio ambiente. Cabe, então, aos envolvidos na realização das intervenções educativas, conhecerem os
aspectos existentes em cada escola, para então tomar a decisão sobre quais ações seriam cabíveis em cada
ambiente pesquisado. Para Guimarães (2004, p. 140), “o educador ambiental deverá ser contextualizado
com a realidade socioambiental em que irá intervir. Destaca-se, portanto, a importância de um diagnóstico
socioambiental da realidade a ser trabalhada”.

MAPA 1: municípios atendidos pelo Projeto Educadores Ambientais no Sertão das Gerais – em
destaque o município de Varzelândia/MG.

28
O projeto visa atender escolas da rede municipal de ensino. Entretanto, devido à demanda do município,
uma escola estadual também foi atendida.

João Pessoa, outubro de 2011


749

Existem potencialidades não aproveitadas nas escolas em questão, como por exemplo, extensas
áreas ociosas. Sendo assim, foram planejados a construção de hortas nesses espaços e seus produtos
podem ser utilizados como reforço da merenda escolar. Essa ação e as demais também aqui apresentadas
seguem ao calendário escolar e, portanto serão executadas a partir do mês de agosto/2011 (dias 22 a 26).
Abrangendo as possibilidades existentes em cada escola pesquisada, destacamos ainda: a
construção ou ampliação de hortas e jardins, a realização de trilhas ecológicas, o plantio de mudas em
áreas degradadas, a aplicação da dinâmica Geografia em Cinema com apresentação de vídeos sobre o
tema, o sarau de poesia, as gincanas educativas, as oficinas de reciclagem, entre outras. Neste sentido,
destacamos o pensamento de Guimarães (2004, p.86)
É preciso ainda e, sobretudo, mobilização, isto é, pôr a ação em movimento; incorporar em nossa
interioridade (razão e emoção) a questão ambiental no cotidiano de nossa ação (exterioridade) como
prioridade. Trata-se de uma mudança de atitude nossa com nós mesmos, em nova visão de mundo; nossa
com os outros e o ambiente que nos envolve, em uma ação solidária.

Com essas atividades, as mudanças no comportamento da sociedade local são enfatizadas e


aumenta a importância de uma cidadania efetiva.
Dentre as escolas observadas para realização do trabalho pretendido pelo projeto no município de
Varzelândia estão a Escola Estadual João Alves dos Santos, presente na área rural; e as que pertencem à
rede municipal de ensino: Escola Maria Geralda Ruas, na área urbana; seguida de outras cinco na área
rural: Escola Luiz Ferreira da Silva, Escola Simão da Costa Campos, Escola Horácio Pereira da Silva, Escola
Melquíades Francisco Borges e Escola Possidônio Marques Lobato. A partir das visitas às escolas,
destacamos alguns pontos que são apresentados na sequência.
A Escola Estadual João Alves dos Santos localiza-se na comunidade rural de Campo Redondo. Assim
como todas as escolas existentes na região, ela apresenta algumas dificuldades, mas que não diminuem sua
importância para a comunidade em questão. Suas instalações estão divididas em três construções, onde há
6 salas de aula, 1 biblioteca, 1 cozinha, sala de professores, banheiros, 1 horta e 2 bebedouros. Conta
também com 1 quadra poliesportiva, de grande importância para as atividades esportivas com os alunos. O
corpo docente é composto por 15 professores, responsáveis pelo ensino a 320 alunos em 12 turmas de
ensino fundamental e médio. O abastecimento de água é realizado pela Companhia de Saneamento de
Minas Gerais - COPASA, porém em determinadas épocas do ano chega a faltar água na escola, que faz uso
de um reservatório (caixa d’água que é abastecida pela chuva).
A pequena quantidade de árvores e a falta de uma coleta seletiva do lixo enfatizam a necessidade
de uma maior atenção ao que diz respeito ao meio ambiente da região. Há uma intensa substituição da
vegetação original por pastagens para criação de gado, presença de monocultura e grandes áreas erodidas
(FIGURA 1). A questão ambiental é trabalhada na escola por meio de aulas expositivas e explicativas, vídeos
e peças teatrais, mas que não atendem ao objetivo da Educação Ambiental - EA, que é a sensibilização dos
alunos de acordo com resultado de nossas pesquisas diretas.

FIGURA 1: Voçoroca na comunidade de Campo Redondo.


Fonte: pesquisa direta, maio/2011. Org.: AFONSO, P.C.S.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


750

A Escola Municipal Maria Geralda Ruas, localizada na área urbana da cidade, possui 300 alunos e 19
professores que lecionam do 1° ao 5° período do ensino infantil nos turnos matutino e vespertino. No
período noturno o ensino é voltado à Educação de Jovens e Adultos – EJA. Os alunos que moram em
regiões mais afastadas, contam com o transporte escolar fornecido pela prefeitura. O espaço físico da
escola é composto por duas alas, sendo uma destinada às salas de aula e de informática, bem equipada
com 15 computadores e acesso à internet (FIGURA 2), mas não possui biblioteca; e a outra ala é reservada
para a sala da diretoria, cantina e despensa de alimentos utilizados na merenda. Há um espaço reservado
para um pequeno jardim que precisa ser melhorado. Existe a distribuição de lixeiras nas salas de aula, de
informática e na diretoria. Isso ajuda a proporcionar um ambiente escolar organizado e limpo, além do
diferencial da escola contar com água encanada e luz elétrica. Mesmo com algumas árvores presentes no
interior da escola, ainda percebemos alguns espaços livres sem vegetação ao fundo da mesma, com poucas
áreas gramadas, mas que são utilizados como áreas recreativas para os alunos no intervalo das aulas
(FIGURA 3).

FIGURA 2: Sala de informática.


Fonte: pesquisa direta, maio/2011. Org.: SOARES, R A. C. M.

FIGURA 3: Área utilizada pelos alunos nos momentos de recreação.


Fonte: pesquisa direta, maio/2011. Org.: SOARES, R A. C. M.

A paisagem do entorno é constituída por área pavimentada e totalmente urbanizada, marcada pela
presença de construções residenciais, pontos comerciais, um pequeno lote vago, posto de saúde e alguns
pontos de comércio. Situa-se a poucos metros da escola um pequeno lago muito próximo às casas, mas de
acesso restrito e que por isso não pode ser utilizado pelos alunos. Apesar do espaço limitado nessa escola,
são bem vindas as atividades de educação ambiental que possam viabilizar um contato das crianças com a
natureza. Elaboramos, então, as seguintes ações: criação de uma horta suspensa, a produção de um teatro
infantil de marionetes sobre o tema e oficinas de brinquedos a partir de materiais recicláveis.

João Pessoa, outubro de 2011


751

Na comunidade rural de Lagoa do Jóia está a Escola Municipal Luiz Ferreira da Silva. Numa área de
transição entre a Caatinga e o Cerrado, há presença de inúmeras espécies vegetais como cactos, umbus e
barrigudas, além vários afloramentos de rochas calcárias, o que implica na necessidade de trabalhos
voltados à preservação dessa área de grande fragilidade ambiental.
Com 163 alunos no turno matutino, 136 no turno vespertino e 12 no noturno, a escola abrange da
educação infantil ao 9° ano do ensino fundamental e a Educação de Jovens e Adultos - EJA, com 8 salas de
aula e 23 professores. A biblioteca da escola com diversos livros, apresenta mobília inadequada, assim
como 6 computadores sem acesso à internet (FIGURA 4). A quadra de esportes, embora seja cercada com
tela, não é coberta; fato que dificulta as aulas de Educação Física nos dias de chuva ou de sol muito forte.
Na cantina são preparadas refeições diariamente, e a horta, apesar de pequena, tem seus produtos
utilizados para enriquecimento na merenda escolar. O jardim do local foi construído com ajuda dos
próprios alunos, demonstrando que as intervenções educativas nesse âmbito são bem aceitas por eles. A
lagoa nos fundos da escola (FIGURA 5) é ampla e serve para a dessedentação do gado. À sua volta, o plantio
de árvores feito pela comunidade escolar, indica a consciência da necessidade de preservação da área por
parte da comunidade escolar. Há ainda uma sala da associação de moradores da comunidade de Lagoa do
Jóia, onde funciona um anexo com 2 turmas e um pátio de bom tamanho para a realização de eventos que
são uma forma de incrementar o ensino básico e desenvolver nos alunos um maior interesse pelos estudos.

FIGURA 4: Biblioteca da escola.


Fonte: pesquisa direta, maio/2011. Org.: FERREIRA, A. C. S. F.

FIGURA 5: Lagoa nos fundos da escola.


Fonte: pesquisa direta, maio/2011. Org.: FERREIRA, A. C. S. F.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


752

Quanto às condições sociais dos alunos, esses pertencem a famílias carentes. A direção não pode
exigir uniforme devido à situação financeira dos mesmos. Há dificuldade no acesso à escola, tanto para os
alunos, quanto para os professores, pois as estradas de terra são bastante empoeiradas e ficam impossíveis
de se trafegar no período das chuvas. Mas, quando esse acesso é possível, a prefeitura disponibiliza um
ônibus para fazer o transporte.
No tocante à saúde, ocorrem casos de doenças como Leishmaniose relacionada à falta de
saneamento e também doenças como Chagas, devido às moradias precárias. Entretanto, essa realidade
tem sido mudada após o projeto do Governo Federal (Minha Casa, Minha Vida, gerido pelo Ministério das
Cidades e operacionalizado pela CAIXA), que visa a construção de moradias para população mais pobre. Há
também o atendimento do Programa Saúde da Família - PSF, que tem o intuito de atender toda a
população, no sentido de prevenir doenças e até mesmo tratar de quadros menos complicados.
Apesar das dificuldades verificadas na escola por meio da visita a campo, podemos notar grande
empenho por parte da comunidade escolar em oferecer aos alunos um ensino de qualidade e buscar
melhorias nas condições do lugar, através de uma biblioteca que vem sendo equipada e de uma merenda
de qualidade servida aos discentes. Percebemos também que a escola juntamente com diretora,
professores e alunos encontram-se abertos a receber e participar ativamente das ações de Educação
Ambiental propostas pelo projeto, como gincanas, plantio de árvores em torno da lagoa, ampliação da
horta e do jardim e oficinas de reciclagem voltadas à construção de lixeiras e brinquedos.
Situada na área rural da cidade, a Escola Municipal Simão da Costa Campos, no Povoado de
Lagoinha I, atende a 166 crianças e adolescentes matriculados regularmente do 1° ao 9° ano do ensino
fundamental, nos turnos matutino e vespertino, com 16 professores. Possui 5 salas de aula, 1 sala de
professores, banheiro, secretaria, cantina e despensa de alimentos. A sala com televisão, 2 DVDs e 6
computadores, sem acesso à internet, ajudam nos recursos áudio visuais para as aulas. Embora com todo
esse aparato, as condições são precárias quanto à biblioteca (não existe), refeitório, hortas e áreas de lazer.
Um dado preocupante relatado tanto pelos professores, como alunos é a escassez de água na região. Isto já
ocasionou problemas como o fechamento da escola, devido à inviabilidade da presença dos alunos nas
aulas. Para tentar amenizar o problema, está sendo construída uma caixa para captar água da chuva com
capacidade de armazenar 3.500 litros de água. Outra questão alarmante é a questão do lixo na escola e nas
residências, que por falta de coleta, é destinado à queima ou jogado diretamente no ambiente. Mesmo que
não haja coleta por parte dos órgãos públicos, é fundamental a conscientização da população local para a
destinação adequada do lixo.
Na comunidade de Santa Rita está a Escola Municipal Horácio Pereira da Silva. Apesar de
relativamente pequena, a escola é bem estruturada (FIGURA 6). Há 5 salas de aula, 1 bebedouro, cantina,
secretaria e banheiros. Encontram-se matriculados atualmente 117 alunos, divididos em 70 no turno
matutino e 47 no turno vespertino. Os 11 professores da instituição lecionam do 1° ao 9° ano do ensino
fundamental, e reclamam da pouca quantidade de livros didáticos. Os alunos que moram mais distante
enfrentam dificuldades de acesso à escola, pois não há transporte escolar. O entorno da escola é bastante
arborizado e o lixo do local é queimado, devido à ausência de coleta. Ao contrário do que acontece em
outras comunidades, nesta não há escassez de água. A captação da água é feita em poço artesiano, esse só
não abastece a comunidade quando apresenta algum problema em seus equipamentos.
As ações relacionadas à Educação Ambiental organizadas pela comunidade escolar antes da
intervenção do projeto objetivavam a implantação de lixeiras de coleta seletiva em alguns pontos da
comunidade. Mas os planos não se concretizaram por falta de verbas e de voluntários para recolher o lixo,
já que não era possível contratar funcionários para a função. Nesse sentido, as práticas repassadas pelo
projeto Educadores Ambientais no Sertão das Gerais minimizam esse problema com a construção de
lixeiras a partir de materiais que anteriormente seriam descartados, como latas de tinta ou vasilhames de
água mineral de 20 litros. Apesar do pouco espaço disponível na escola; que faz fronteira com propriedades
particulares e cujos donos não aceitam ceder uma área para construção de uma horta no local, esse pode
ser aproveitado com a construção de uma horta, que embora pequena, pode auxiliar na merenda dos
alunos (FIGURA 7).

João Pessoa, outubro de 2011


753

FIGURA 6: Prédio da escola.


Fonte: pesquisa direta, maio/2011. Org.: ALVES, M. O.

FIGURA 7: Área para horta.


Fonte: pesquisa direta, maio/2011. Org.: ALVES, M. O.

A Escola Municipal Melquíades Francisco Borges, na comunidade de Boqueirão da Lagoa, possui


quatro professores e atende a 47 alunos que estudam do 1° ao 5° ano do ensino fundamental. A área
construída é pequena (FIGURA 8), com apenas duas salas de aula, 2 banheiros, secretaria e cantina. A água
é proveniente de poço artesiano e o lixo é destinado à queima. Já a área disponível para construção é
ampla, pois não há hortas nem árvores no local, fator que favorece as pretensões do projeto na
comunidade, que realizará o plantio de árvores, a criação da horta e oficinas de reciclagem voltadas para as
crianças.

Ressaltamos aqui a importância da Educação Ambiental nesta escola, já que nunca houve projetos
nesse âmbito. A própria comunidade escolar demonstra interesse em tais atividades e a consciência da
importância da preservação de nascentes de rios da região.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


754

FIGURA 8: Escola Municipal Melquíades Francisco Borges


Fonte: pesquisa direta, maio/2011. Org.: ALVES, M. O.

Na comunidade de Tabocas está a Escola Possidônio Marques Lobato. Com uma boa estrutura
física, ela é dividida em 7 salas de aula, secretaria, cantina, banheiros, quadra de esportes e um pátio.
Atualmente são 111 alunos matriculados desde o pré-escolar ao 9° ano do ensino fundamental e 12
professores. A água e o lixo têm a mesma origem e destino das outras escolas. Com a participação dos
alunos foi desenvolvida uma horta (FIGURA 9) e o plantio de algumas árvores, sendo, até então, a única
atividade de Educação Ambiental realizada com os mesmos.

FIGURA 9: Horta desenvolvida na escola.


Fonte: pesquisa direta, maio/2011. Org.: ALVES, M. O.

A proposta do projeto foi recebida com grande aceitação pelos funcionários e alunos, que
relataram o descaso por parte da sociedade local em relação ao meio ambiente. Nesses relatos expõem
inclusive o intenso desmatamento da área do entorno da comunidade devido à exploração do carvão
vegetal. A comunidade Betânia29, vizinha à escola, é acusada pelo avançado do processo de degradação
ambiental especialmente o desmatamento das áreas de cerrado. Nesta escola o projeto realizará oficinas
de reciclagem com construção de lixeiras e brinquedos, além da ampliação da horta, visando um melhor
aproveitamento do espaço disponível. Apesar das dificuldades observadas como falta de biblioteca e
recursos didáticos, é evidente o empenho dos professores em fornecer uma educação de qualidade aos

29
A comunidade de Betânia é um assentamento da Reforma Agrária instituído pelo Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária – Incra/MG, no município de Varzelândia.

João Pessoa, outubro de 2011


755

alunos, que são de famílias carentes e retiram seu sustento da agricultura de subsistência e de programas
assistenciais do Governo, como o Bolsa Família.
A partir de todos os pontos observados nas sete escolas contempladas pelo projeto, constatamos a
necessidade de se trabalhar com maior afinco os diversos temas abordados na Educação Ambiental.
Cascino (2000, p.56), ressalta que:
Um dos principais objetivos da EA consiste em permitir que o ser humano compreenda a natureza
complexa do meio ambiente, resultante das interações dos seus aspectos biológicos, físicos, sociais e
culturais. Ela deveria facilitar os meios de interpretação da interdependência desses diversos elementos, no
espaço, no tempo, a fim de promover uma utilização mais reflexiva e prudente dos recursos naturais para
satisfazer as necessidades da humanidade.
Com os esclarecimentos sobre as situações encontradas nas escolas, os objetivos do projeto e os
problemas ambientais existentes na região, acreditamos que a formação dos educadores ambientais
multiplicadores poderão diminuir o mau uso do meio ambiente, a partir da maior participação da
comunidade escolar e de toda a sociedade local.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através do exposto, podemos concluir que o município de Varzelândia/ MG necessita de trabalhos
voltados a intervenções educativas no meio ambiente. As observações que abordam desde a estrutura
física até a realidade social dos alunos certificam-nos de que independente da área trabalhada ou da
condição social da comunidade é possível a construção e transmissão de conhecimento relacionada ao uso
correto do ambiente, atrelada a atividades de fácil realização como trilhas ecológicas, oficinas de
reciclagem do lixo, gincanas educativas e arborização de áreas degradadas.
A formação de educadores ambientais multiplicadores pretende trabalhar de forma contínua as
práticas de Educação Ambiental como uma maneira eficaz de informar e levar para prática ações simples
de conservação e utilização mais equilibrada dos recursos naturais à população local.

REFERÊNCIAS
CASCINO, Fabio. Educação ambiental: princípio, história, formação de professores. 2ª ed. São Paulo:
SENAC, 2000.
GUIMARÃES, Mauro. A formação de educadores ambientais. Campinas, SP: Papirus, 2004.
MONTES CLAROS. Projeto Educadores Ambientais no Sertão das Gerais. Montes Claros: Unimontes,
2011.
PEDRINI, Alexandre de Gusmão (org.). Educação ambiental: reflexões e práticas contemporâneas.
5ª ed. Petrópolis: Vozes, 2002.
TALAMONI, Jandira L. B; SAMPAIO, Aloísio Costa. Educação Ambiental: da prática pedagógica à
cidadania. São Paulo: Escrituras Editora, 2003.
VELOSO, Gabriel Alves. Mapa dos Municípios Atendidos pelo Projeto Educadores Ambientais no
Sertão das Gerais. Montes Claros-MG, 2011.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


756

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO MEIO RURAL: UMA EXPERIÊNCIA COM


AGRICULTORAS BENEFICIADORAS DE FRUTAS NATIVAS NO CURIMATAÚ
PARAIBANO30
Adriana Arruda de MENDONÇA
Graduanda em Filosofia pela Universidade Estadual da Paraíba
Adriana.arruda.10@hotmail.com
Regineide CANTALICE
Graduanda em Letras pela Universidade Estadual da Paraíba
Regineide_cantalice@hotmail.com
Claudemir BRITO
britoclaudemir@hotmail.com
Graduando em Letras pela Universidade Estadual da Paraíba

RESUMO
O presente artigo tem como objetivo apresentar ações de educação ambiental no meio rural, sob a
perspectiva de Sustentabilidade, desenvolvidas na comunidade de Lajedo Timbaúba, município de
Soledade – PB. O projeto foi estruturado com a perspectiva de desenvolver junto aos agricultores locais, e
especialmente, com as agricultoras beneficiadoras de frutas nativas, conhecimentos e habilidades que lhes
possibilitem diagnosticar, compreender e utilizar os recursos naturais de modo comprometido com a
preservação ambiental. Nos preocupamos, portanto, em despertar nos agricultores a necessidade de
perceber e entender o meio ambiente e a descobrir as causas e os efeitos dos problemas ambientais locais
viabilizando fundamentos técnico-científicos para o diagnóstico, compreensão e busca de soluções desses
problemas. Assim, através de palestras, mostra de vídeos, oficinas, dinâmicas de grupo, panfletos e cordéis,
procuramos disseminar conceitos de consciência ecológica, orientando os agricultores para o uso racional
dos recursos naturais, conservação e preservação das plantas nativas. Desse modo, tentamos contribuir
para a formação de cidadãos conscientes da necessidade de atuarem na realidade sócio-ambiental de
modo comprometido não somente para uma melhor qualidade de vida como também pela própria
sustentabilidade rural.
Palavras chave: Educação ambiental, Sustentabilidade rural, Frutas nativas, Beneficiamento.

INTRODUÇÃO
Acreditamos que para realizar educação ambiental equivale a viabilizar um processo educativo,
amplo, permanente e contínuo, em que os envolvidos nesse processo sejam sensibilizados e tenham a
oportunidade de refletir sobre suas práticas, modificar comportamentos e atuar de modo integrado,
visando a construção de sociedades sustentáveis, que promovam a proteção, a recuperação e a melhoria
do ambiente e das condições de vida.
Nesta concepção, executamos o projeto atuando no sentido de despertar nos agricultores Lajedo
de Timbaúba, a necessidade de perceber e entender o meio ambiente e a descobrir as causas e os efeitos
dos problemas ambientais locais viabilizando fundamentos técnico-científicos para o diagnóstico,
compreensão e busca de soluções desses problemas.
Nos preocupamos com a perspectiva de desenvolver, junto às integrantes do Projeto de
Beneficiamento de Frutas Nativas do Curimataú Paraibano, conhecimentos e habilidades que lhes
possibilitassem diagnosticar, compreender e utilizar os recursos naturais de modo comprometido com a
preservação ambiental, contribuindo para a formação de cidadãos conscientes da necessidade de atuarem
na sua realidade sócio-ambiental e do seu papel como agentes interventores/transformadores do meio que
os cercam.
Para atingir tais objetivos, dentre outros procedimentos metodológicos que foram utilizados,
podemos destacar: diagnóstico participativo envolvendo a comunidade diretamente na discussão e
reflexão dos problemas ambientais locais; aplicação de um programa de educação ambiental através de

30
Projeto de Extensão coordenado pela Profª Dra Mª da Conceição A. Rodrigues

João Pessoa, outubro de 2011


757

mostra de vídeos, aplicação de questionários, oficinas e palestras abordando aspectos relacionados à


situação ambiental da comunidade; e criação de estratégias de gestão ambiental que direcionassem as
ações dos agricultores e suas possibilidades de conservação/preservação das plantas nativas manejando o
ecossistema local de forma racional e sustentável.

Considerações teóricas acerca de Educação Ambiental


As ações humanas frente à natureza sempre ocorreram de maneira desordenada, onde o homem,
por se considerar superior, utiliza os recursos naturais de forma exploratória a exemplo de matas
devastadas para o plantio de atividades agrícolas, para construção de grandes centros industriais, uso da
água abundantemente, ao mesmo tempo em que acontece a contaminação dessas águas devido aos lixos
jogados ao céu aberto e em rios, etc. O homem considera os recursos naturais como sendo inesgotáveis e é
agindo assim, que o homem provoca o desequilíbrio ambiental.
Segundo Giovanni Seabra (2009), mesmo que as mudanças ambientais e os cataclismos naturais
sejam vistos como sendo responsáveis diretos pela “extinção de parte da vida na terra” a exemplo do
desaparecimento de biomas inteiros, há outros fatores de grande relevância que contribuem para as
mudanças ambientais, tais mudanças decorrem da ação humana. Portanto, a sociedade cumpre papel
fundamental para o surgimento desses problemas, prova disso é que a população tem uma relação de
dominar a natureza, de modo a explorar os recursos naturais, para usufruir deles para a sua sobrevivência,
consumo e lazer.
O autor mostra que com o advento da modernidade e dos meios de produção, o consumismo é
cada vez mais incentivado, deixando completamente de lado a questão da sustentabilidade ambiental,
ocasionando assim, um declínio na qualidade de vida da população mundial. Seabra (2009), faz uma analise
da atual situação em que vivem a população, onde ele fala que o próprio ministro Carlos Minc (Ministro do
Meio Ambiente) em fevereiro de 2009, durante um pronunciamento incentiva as pessoas a consumir mais
para que o governo pudesse arrecadar mais recursos, para licenciar as obras do Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC).
Essa política de auto-consumo vai de contra ao que rege a educação ambiental, tendo em vista, que
para o meio ambiente manter-se equilibrado é preciso consumir menos. Portanto, o que Seabra propõe
não é que as pessoas deixe de consumir, mas sim, que consuma, porém com responsabilidade, pois
Segundo Seabra (2009, p.17) “a educação ambiental é sustentada na aprendizagem permanente, baseada
no respeito a todas as formas de vida e no estimulo às sociedade socialmente justas e ecologicamente
equilibradas, mantendo entre si a relação de interdependência e diversidade. Essa conduta ética e moral é
pautada na responsabilidade individual e coletiva, tanto em nível local, como nacional e global”.
A educação Ambiental surge como uma nova ótica no que consiste a possibilidade de garantir
condições de convivência com o meio ambiente, de modo que possa haver uma relação mais harmoniosa
entre sociedade e natureza, tendo em vista, que de acordo com o chefe indígena norte-americano, Cacique
Seattle em 1854, onde ele expressa a seguinte frase: “tudo está relacionado entre si. Tudo quanto fere a
terra, fere também os filhos da terra”. Essa expressão mostra que toda ação de destruição que o homem
exerce contra a natureza, ele será afetado/prejudicado, pois não diferentes dos demais seres, os humanos
também faz parte da natureza, havendo uma relação de interdependência. Portanto, é necessário que o
homem se conscientize e passe a adotar técnicas de preservação ambiental porque somente assim
garantirá a todos viver de maneira sustentável:
As comunidades urbanas e rurais adotando para si a prática da Educação Ambiental e da
participação, serão por si mesmas, conduzidas a repensar velhas formas e desenvolver ações para
transformar a casa, a rua, a vila, o bairro, o sítio, a fazenda. É necessário que a população se organize e
desenvolva ações contando com a participação de todos. Tal participação pode ser considerada a base de
transformações que poderão reconstruir a convivência dos seres humanos entre si e com o ambiente como
um todo (ANDRADE,T.; JERÔNIMO, V.,2003, 12).

Pensar educação ambiental requer que os indivíduos reflitam sobre suas ações que estão
prejudicando ao meio ambiente, em detrimento de que nos dias atuais a condição a qual a população
enfrenta tem sido alvo de preocupações porque à medida que o homem interfere na natureza a ponto de

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


758

degradar, destruir, etc, estará contribuindo para que a qualidade de vida seja precária e somente a partir
de práticas de educação ambiental é que possamos adotar técnicas que garantam a sustentabilidade com o
ambiente como um todo. Daí se percebe a importância de entidades, sejam elas de ensino ou não e os
demais segmentos da sociedade, está discutindo e levando para toda a população conhecimentos e
mecanismos que os possibilite perceber que é possível viver numa sociedade moderna, a qual a tecnologia
e o capital se fazem presentes, mas com o olhar centrado na preservação e convivência com o meio
ambiente.
Todavia, para Vânia Ferraz e Luiz Lira, o homem é um fator de extrema preocupação no que diz
respeito a sua relação com o ambiente, pois, eles mantêm a inter-relação com o ambiente familiar, escolar,
do trabalho, do social, porém o mesmo não acontece com a mesma intensidade quando este se refere ao
ambiente natural, ecológico. Portanto sob esse aspecto o homem se ver separado do ambiente ecológico,
não percebendo que a ação dos seus atos influência diretamente no meio em que vive. Na ecologia
Profunda, os autores apontam para a “visão antropocêntrica, ou centralizada no ser humano”. O homem é
visto como sendo superior a natureza, é como se os recursos naturais servissem somente como fonte de
recurso para o homem.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NUMA PERSPECTIVA DE SUSTENTABILIDADE RURAL


As atividades aqui apresentadas fazem parte das ações de educação ambiental realizadas na
comunidade rural de Lajedo de Timbaúba onde, num primeiro momento, foram feitas visitas e observações
no intuito de avaliar como os agricultores se organizam, como percebem o meio em que vivem e se
reconheciam problemas ambientais na comunidade. Isto favoreceu construir, junto com os agricultores
locais, ações de educação ambiental numa perspectiva de sustentabilidade rural proporcionando aos
agricultores usufruir dos recursos naturais de maneira racional e sustentável mantendo uma relação de
equilíbrio entre homem e natureza.
Durante algumas visitas na comunidade foi observado como é feito o beneficiamento de frutas
nativas. No decorrer dessa atividade houve momento em que foi aplicada entrevista semiestruturada para
conhecer a historia do grupo de mulheres e de sua formação. De acordo com o depoimento do grupo, no
início do beneficiamento das frutas participavam onze mulheres, e hoje o grupo é formado por nove
mulheres, sendo que, algumas não participaram da formação inicial. Através da entrevista, verificou-se que
as mulheres procuram não desperdiçar todos os resíduos produzidos durante o beneficiamento tendo em
vista que alguns desses resíduos são reaproveitados para alimentar os animais e como adubo para plantio
de mudas.
O grupo é denominado Mulheres Ativas no Desenvolvimento das Frutas Nativas (MADFEN) e surgiu
a partir do ano de 2004. Segundo as agricultoras o interesse por trabalhar com frutas nativas, ocorreu
através de uma visita de intercambio na cidade de Remanso no Estado da Bahia, onde lá, já se fazia o
beneficiamento do umbu. Percebendo que havia um potencial dessa fruta em sua comunidade e sendo
pouco aproveitadas, as mulheres por não possuírem nenhuma renda, se reuniram e formaram o grupo de
mulheres (MADFEN), que apesar de enfrentar muita dificuldade, hoje elas já se encontram mais
organizadas.
São beneficiadas as seguintes frutas: umbu, caju, acerola, goiaba, mamão, melancia, pinha,
graviola, fruta de palma, maracujá, coco e manga, sendo que o umbu e o caju são beneficiados em maior
quantidade. Os produtos fabricados são doces, sucos, compotas, polpa, geléia etc.
O grupo busca atender as normas da vigilância sanitária e se preocupa em fazer uma seleção e
higienização das frutas, incluindo um processo de pesagem do produto bruto e depois do produto já
beneficiado. Observou-se, também, que o grupo registra o controle da quantidade dos produtos fabricados
a cada dia de produção.
No levantamento de dados para saber a quantidade de plantas frutíferas existentes na comunidade
que o grupo utiliza para o beneficiamento, o resultado foi o seguinte: 203 umbuzeiros, 97 cajueiros, 76
goiabeiras, 55 pés de acerolas, 37 pés de graviolas, 75 de pinheiros, 35 coqueiros, 30 mangueiras, 70
mamoeiros, 34 pés de maracujá. No entanto, a grande maioria das plantas frutíferas ainda não produzem
frutos por serem plantas novas e que dos 203 umbuzeiros 150 pertencem a uma mesma família, mas que,

João Pessoa, outubro de 2011


759

de acordo com essa família apenas 30 umbuzeiros têm o seu fruto colhido porque os demais se encontram
em localidades distantes da residência.
De acordo com os/as entrevistados/as a quantidade de frutos colhidos em determinado tempo do
ano são poucos devido à comunidade está localizada em região semi-árida, onde o período de estiagem é
longo favorecendo para que as plantas não produzam a capacidade de frutos equiparados ao período
chuvoso. Sendo assim, o grupo ainda enfrenta problemas para manter a produção, provocando a redução
do armazenamento de algumas frutas, como por exemplo: o umbu e o caju.
Verificou-se também que não existe um incentivo direto para que as crianças e os jovens se
engajem no processo de beneficiamento de frutas, assim como também a participação dos homens
acontece de maneira sucinta, cabendo a alguns, apenas colher as frutas e em outros momentos fazem o
fornecimento, ficando a responsabilidade maior para as mulheres. Segundo as agricultoras, a
comercialização dos produtos é feita pela CONAB, Bodega Agroecológica (ponto comercial na cidade de
Soledade), em reuniões, visitas e encontros de agricultores.
Conforme as repostas obtidas, percebe-se que os agricultores têm conhecimento acerca do que
seja meio ambiente e dos problemas ambientais presentes na comunidade. Os mais citados foram: o lixo
que é jogado ao céu aberto, quando não é queimado, embora eles tenham a consciência de que queimar
não é a melhor solução, mas utilizam dessa pratica por não terem coleta de lixo; outros fazem pequenas
valas para que possam queimá-los sem comprometer tanto o solo; o não reflorestamento; erosão causada
pela aragem de terras e pela falta de adubo; e a insistente presença de insetos nas plantações.
As possíveis soluções seriam: dar outro destino ao lixo e fazer mais barramento nas áreas para
impedir a erosão, técnica já utilizada por alguns moradores usando pedras e macambiras. Outras técnicas
para a preservação ambiental, já presentes na comunidade sob a perspectiva de sustentabilidade rural, é o
biodigestor evitando a queimada de lenha, o uso do bio-fertilizantes (defensivo natural) nas plantações e o
reaproveitamento das águas.

INTERAÇÃO DE SABERES E DE PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL


Varias foram as contribuições que o projeto trouxe para a comunidade, tanto em relação ao
envolvimento e participação dos agricultores e a interação de saberes entre agricultores e extensionistas
como na construção de idéias mais amplas no que diz respeito à educação ambiental. Junto com os
agricultores foi aplicado um programa de educação ambiental através de mostra de vídeos, oficinas e
palestras abordando aspectos relacionados à situação ambiental da comunidade. Os agricultores contaram
também com a presença de professores e alunos do Programa Gestão Ambiental nas Empresas (PGAMEM),
que foram à Lajedo de Timbaúba para conhecer as ações e experiências desenvolvidas na comunidade,
especialmente o beneficiamento de frutas nativas.
Durante a execução das atividades foi realizada uma palestra sobre a Degradação Ambiental da
Caatinga e mostrado vídeos sobre a mesma temática, na tentativa de promover interação de saberes com
os agricultores. A palestra foi ministrada pela equipe do projeto, que distribuiu aos agricultores panfletos e
cordéis que tratavam de degradação ambiental na caatinga e de plantas da caatinga que estão em risco de
extinção(como o umbuzeiro e a umburana). A metodologia aplicada para essa palestra consistiu na
utilização de slides que abordavam assuntos referentes à vegetação da caatinga (mandacaru, xiquexique,
coroa de frade, umburana, aroeira e umbuzeiro) e as causas que acarretam o desmatamento da vegetação
dessa região.
A exploração dessas plantas pela população ocorre através da substituição de plantas nativas por
plantio de pastagens para o alimento animal, para pratica da agricultura, para usar como decoração a
exemplo dos cactos. Após a apresentação, abriu-se espaço para o debate, quando os agricultores falaram
dos problemas ambientais bem como das ações e experiências que vem sendo desenvolvidas na
comunidade sob a perspectiva de convivência com as secas no âmbito da sustentabilidade rural.
Apesar dos agricultores terem alguma noção de problemas ambientais eles não souberam
claramente identificar aspectos sistematizados de educação ambiental, devido provavelmente não terem
tido acesso a essas informações anteriormente. Através das visitas, palestras, mostra de vídeos, conversas,
etc, os agricultores perceberam que suas ações, ecologicamente orientadas, podem favorecer a

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


760

preservação do meio em que vivem amenizar ou até mesmo evitar a degradação ambiental na
comunidade.
Os agricultores se identificam quanto à responsabilidade pelos problemas ambientais na
comunidade, passando a acreditar na possibilidade de encontrar maneiras ecologicamente corretas de se
desfazer do lixo e preservar e conservar a vegetação nativa; a exemplo do umbuzeiro (em risco de extinção)
e de outras plantas frutíferas que garantem um retorno financeiro para as mulheres através do
beneficiamento das frutas que é feito na própria comunidade.
Sabemos que o processo educativo ainda é um pouco complexo, pois não tem um resultado
imediato, necessitando de um processo ainda mais longo para que possam ser desenvolvidas novas
atividades, a saber: implantação de cartilhas informativas sobre os problemas ambientais locais e
armazenamento de sementes de frutas que se encontram ameaçadas de extinção como é o caso do
umbuzeiro. Neste caso já trabalhamos a proposta de criação de um banco de sementes do umbu para a
produção de mudas de umbuzeiro. Proposta a ser trabalhada numa segunda etapa desse projeto.
Na ultima etapa do projeto o grupo participou de uma reunião da Associação dos Agricultores que
ocorre mensalmente. Depois da reunião, o grupo do projeto realizou estratégias de gestão ambiental junto
com os agricultores. Assim, foram realizadas oficinas e dinâmicas de grupo com o propósito de despertar
nas pessoas a reflexão sobre suas ações e responsabilidades com o meio ambiente de modo a garantir a
sustentabilidade local.
Naquela oportunidade também foi apresentado o texto: Percepção Ambiental e Educação
Ambiental (SILVA, 2010. p.65) que trata dos erros e ilusões que são cometidos por algumas pessoas. Por
exemplo: para plantar é necessário que o solo esteja limpo, pois ao contrário, a pessoa se passará por um
ser preguiçoso por deixar a roça com “mato”; outro erro trata-se de considerar a caatinga feia, imprestável
por isso ocorre à substituição das matas ciliares por cultivo agrícola. Através desse texto, os agricultores
dialogaram e disseram que hoje eles já estão tentando mudar essa situação, mas que a bem pouco tempo
atrás, todas essas praticas mencionadas no texto eram por eles praticadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar da conscientização dos agricultores da comunidade de Lajedo de Timbaúba no que diz
respeito à educação ambiental, sabe-se que o processo educativo ainda é um pouco complexo, pois não
tem um resultado imediato, necessitando de um processo ainda mais longo para que as atividades possam
ser desenvolvidas. Contudo, as contribuições que o projeto trouxe para a comunidade foram satisfatórias,
tanto em relação ao envolvimento e participação dos agricultores e a interação de saberes entre
agricultores e extensionistas como na construção de idéias mais amplas no que diz respeito à educação
ambiental.
Discutir educação ambiental objetiva conscientizar as pessoas para que elas reflitam sobre o seu
papel como agente transformador do meio em que vive. No caso dos agricultores, educação ambiental
objetiva desenvolver consciência ambiental e práticas de sustentabilidade rural na atividade agrícola com
ênfase na preservação e conservação dos recursos hídricos e das plantas nativas. Foi o que tentamos
passar para os agricultores de Lajedo de Timbaúba com o propósito de favorecer aos agricultores se
identificarem quanto à sua responsabilidade pelos problemas ambientais e a possibilidade de suas ações
favorecerem a preservação do meio ambiente local.

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Grafset, 2003.
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FREIRE, P. Extensão ou Comunicação? 13 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006.


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O papel do profissional. In: Revista Econômica do Nordeste. Fortaleza-CE: Banco do Nordeste, vol. 26, nº 2,
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TORO A., José Bernardo e WERNECK, Nísia Maria Duarte. Mobilização social: um modo de construir
a democracia e a participação. Brasília: MMA, ABEAS, UNICEF, 1997.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


762

NÍVEL DE CONSCIENTIZAÇÃO E DE AÇÃO DE JOVENS ALUNOS DO ENSINO


MÉDIO DE ESCOLAS PÚBLICAS DO MUNICÍPIO DE CORRENTES/PE EM
RELAÇÃO A PRESERVAÇÃO AMBIENTAL
Amanda Correia Paes Zacarias
Luciano Pires de Andrade
Orientador. Professor Assistente da UFRPE/UAG.

RESUMO
Falar sobre preservação ambiental tem se tornado um assunto cada vez mais recorrente dentro e
fora das instituições de ensino, no Brasil e no mundo, contudo é inegável o papel que estas desenvolvem
como disseminadoras e formadoras de cidadãos devidamente conscientizados e atuantes num aspecto
positivo a conservação dos recursos naturais. Devido ao ímpeto e ao vigor que caracteriza o
posicionamento dos jovens frente a questões polêmicas e de caráter global espera-se de alguma forma que
eles estejam mais convictos de medidas imediatas que deveriam estar sendo tomadas diariamente em seus
próprios lares como alternativas de combate ao desperdício e degradação ambiental; e foi com o objetivo
de constatar em que nível de conscientização e de ação esses jovens se engajam dentro de sua realidade
social que esse estudo foi realizado na escola estadual Augusto Lúcio da Silva, no município de Correntes,
Agreste Meridional de Pernambuco, utilizando como enfoque o método Descritivo qualitativo e
quantitativo para a abordagem das informações recolhidas durante sua construção. Dentro dessa lógica foi
constatado que mesmo havendo em 100% dos entrevistados o discurso base de apelo a necessidade de
preservação da natureza, não existe ainda de forma tão consolidada a perspectiva atuante desses jovens de
agir individualmente para mobilizar e conscientizar o todo; prova disso é o fato de 40% dos entrevistados
citarem “não jogar lixo na rua” como medida de combate a poluição e 42% desses entrevistados
reconhecerem jogar lixo na rua ao não se deparar com um lixeiro próximo. Outro dado alarmante é o fato
de 5% dos entrevistados indicarem o rio como destino do lixo domiciliar em suas residências e apenas
outros 5% citarem a reciclagem como medida adotada em seus lares. Mediante os resultados obtidos fica
clara a dubiedade com que esse assunto tão atual e mais do que nunca tão decisivo a construção do que
será o futuro do planeta, ainda é encarado pela sociedade. Até mesmo os mais jovens e mais atentos as
mudanças pelas quais o mundo tem passado apresentam-se com certa estagnação numa postura de
contínuo consumo dos recursos naturais o que evidencia uma maior necessidade de políticas públicas que
tragam a essas pessoas a visão de atuação imediata que esse tema requer.
Palavras – chave: Educação, postura pró-ambiente, conscientização, ação.

ABSTRACT
Talking about environmental preservation has become an increasingly recurring issue within and
outside of educational institutions in Brazil and the world, yet it is undeniable that they develop the role as
disseminators and forming properly aware and active citizens in a positive conservation natural
resources. Due to the impetus and vigor that characterized the position of young people facing
controversial issues, and overall character is expected in some way that they are more convinced that
immediate action should be taken daily and in their own homes as alternatives to combat waste and
environmental degradation, and was aiming to see at what level of awareness and action to engage these
young people within their social reality that this study was conducted at the state school Lucio Augusto da
Silva, the city of Corrientes, Agreste Meridional in Pernambuco, using the method and approach Descriptive
qualitative and quantitative approach to the information gathered during its construction. Within this logic
it was found that even with 100% of respondents based on the speech to call for the need to preserve
nature, there is still so active consolidated perspective of these young people to act individually to mobilize
and educate the whole, the proof is So 40% of respondents citing "no littering" as a measure to combat
pollution and 42% of those surveyed recognize the littering is not faced with a garbage hand. Another
alarming fact is that 5% of respondents indicated the river as a destination of household waste in their
homes and only 5% cite other recycling as a measure adopted in their homes. From the results obtained it

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is clear the ambiguity with which this issue and more so now than ever so crucial to build what will be the
future of the planet, is still viewed by society. Even the younger and more attentive to changes that the
world has gone present with certain stagnation in a posture of continuous consumption of natural
resources which shows a greater need for public policies that bring these people the view that immediate
action this issue requires.

INTRODUÇÃO
O que nos une? Esta questão pode ser considerada como a essência de qualquer análise sobre a
importância da educação para a re-orientação dos diferentes modos de vida e estilos de desenvolvimento
que nós seres humanos temos vivenciado nas últimas décadas. Assim, a educação enquanto tarefa
socializadora do conhecimento tem papel determinante na “criação de uma sensibilidade social necessária
para reorientar a humanidade” (ASSMANN, 2001, p. 26).
Em todo o mundo a necessidade da participação ativa e sensível da sociedade nas questões
ambientais se evidenciou na Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, em Estocolmo, em
1972. Entretanto, foi no Encontro de Belgrado (Iugoslávia), promovido pela Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) em 1975, que foi instituído o Programa Internacional de
Educação Ambiental visando à construção de uma ética planetária voltada à melhoria da qualidade
ambiental, e conseqüentemente, da vida. Em 1977, na Conferência Intergovernamental sobre Educação
Ambiental, em Tbilisi (antiga União Soviética), foram definidos os princípios, as finalidades e os objetivos da
educação ambiental, que estão em vigor até hoje. Neste documento, a participação constitui um dos
objetivos, visando “proporcionar aos grupos sociais e aos indivíduos a possibilidade de participarem
ativamente nas tarefas que têm por objetivo resolver os problemas ambientais” (DIAS, 1994,p.61).
No Brasil a legislação ambiental é vasta e consistente, visualizando esta legislação de modo amplo,
é possível verificar que temos uma Constituição Federal (1988) que dedica um capítulo em especial ao meio
ambiente – o Capítulo VI -, representado pelo Artigo 225, seus parágrafos e incisos. Por sua vez, o Artigo
205 trata em especial da educação reconhecendo-a como um direito de todos, mas sendo também um
dever do Estado e da família, devendo ser promovida e incentivada pela sociedade; neste Artigo, também
estão explícitos os objetivos de preparação para o exercício da cidadania, o pleno desenvolvimento da
pessoa, bem como sua qualificação para o trabalho. Tal garantia constitucional referente à educação, que é
mantida como um direito público subjetivo; combinada com o Inciso VI do Artigo 225 que reza ser
incumbência do poder público assegurar e “[...] promover a educação ambiental em todos os níveis de
ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente...”traçam os rumos primeiros, ou
seja a principiologia legal sob a qual se assentam as leis educacionais do país (ENCARNAÇÃO, 2008).
Designa-se como um comportamento pró-ambiente (pro-environmental behavior) o conjunto de
valores e ações que tornam os indivíduos conscientizados e os transformam em divulgadores e agentes de
transformação social em busca da sustentabilidade e da melhoria da qualidade de vida, em questionadores
das práticas individualistas e consumistas da sociedade, e em integrantes de uma busca coletiva pelo
equilíbrio do meio ambiente e com o meio ambiente, e eventualmente, em defensores da causa ecológica.
(STAPP et. al., 1969)
Para Corral-Verdugo et. al. (2004, p.43), “competência pró-ambiental” é a “capacidade de
responder efetivamente as exigências de conservação do meio ambiente”. Sendo as “exigências de
conservação” os objetivos a alcançar para preservar o meio ambiente, a posse de habilidades ambientais
permitiria aos indivíduos responder efetivamente sempre que as exigências ambientais correspondentes,
sejam elas advindas da natureza ou dos seres humanos, estivessem presentes.
Para Gadotti, 2005, p.18 o sucesso da luta ecológica hoje depende muito da capacidade dos
ecologistas convencerem a maioria da população, a população mais pobre, de que se trata, não apenas de
limpar os rios, despoluir o ar, reflorestar os campos devastados para vivermos num planeta melhor num
futuro distante. Trata-se de dar uma solução, simultaneamente, aos problemas ambientais e aos problemas
sociais. Os problemas de que trata a ecologia não afetam apenas o meio ambiente. Afetam o ser mais
complexo da natureza que é o ser humano (GADOTTI, 2005, p.18).
É sabido que a escola é uma ferramenta de suma importância na formação de um cidadão
conscientizado e sensibilizado a causa ecológica, por trazer ao aluno o conhecimento complexo,
multidisciplinar e interdisciplinar de como a natureza é determinante sobre quaisquer aspectos que

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


764

envolvam a vida no planeta, a escola traz na teoria o conhecimento que deve ser posto em prática numa
conduta diária a ser adotada individualmente. Mas é necessário refletir sobre como essa intervenção
educacional tem refletido na postura social dos jovens; o discurso de que uma conduta pró-ambiente é
essencial para construção de um futuro sustentável tem se apresentado de forma bastante sólida entre
eles, conscientizados sobretudo pela globalização que evidencia a instabilidade ambiental que move uma
série de eventos catastróficos sucessionais em todas as partes do mundo, os jovens sabem que essa não é
mais uma questão a ser discutida mas sim de caráter imediato e que requer ações; contudo a perspectiva
de quais ações podem ser adotadas e o impacto que essas ações individuais refletem no ambiente social no
qual estão inseridos ainda se apresenta com certa dubiedade para esse público.

MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi desenvolvida no município de Correntes, Agreste Meridional de Pernambuco, como
atividade inserida no projeto “Agricultura Familiar e Sistemas Agroflorestais – Implantação de áreas de
produção em Pequenas Propriedades no Agreste Meridional de Pernambuco”, projeto este fruto de
iniciativa financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico- CNPq; e que teve
um período de vivência de 20 dias (2 a 22 de junho/2011) dividido basicamente em três momentos: I-
Aplicação de questionários, elaborado sob perspectiva investigativa com enfoque no método Descritivo,
onde os alunos de ensino médio da cidade foram entrevistados sob abordagem quantitativa e qualitativa
com o objetivo de constatar de que forma seus valores conceituais sobre preservação ambiental estão
sendo colocados em prática em seu cotidiano; foram aplicados na Escola Augusto Lúcio da Silva, a única na
cidade a oferecer ensino médio na rede pública do município, numa amostra global de 81 alunos que
representam um percentual de 15% dos 540 alunos matriculados na escola, em cada série (1º, 2º e 3º ano)
foram escolhidos aleatoriamente cerca de 27 alunos entre homens e mulheres, distribuídos em turmas e
turnos diferenciados já que a instituição funciona nos 3 turnos (manhã, tarde e noite); II- Organização
sistemática e tabulação do material recolhido em pesquisa de campo; III- Pesquisa de referencias
bibliográficos que descem respaldo as constatações averiguadas na fase precedente e que descem
embasamento teórico a idéia que fora defendida.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Quando indagados sobre a importância que a natureza exerce sobre suas vidas 100% dos
entrevistados reconhecem a mesma como meio que possibilita a vida no planeta, sendo que uma parcela
de 2,5% dá ênfase a natureza como fonte dos recursos que possibilitam o desenvolvimento da agricultura
(principal atividade econômica na cidade). Quando a pergunta feita é sobre quais medidas devem ser
adotadas pra ajudar na preservação ambiental as eleitas são: o fim do desmatamento com 45% das
opiniões, parar de jogar lixo nas ruas com 40%, não jogar lixo no rio (população essencialmente ribeirinha)
com 25%, mobilização e conscientização da sociedade para questão ambiental com 11,25%, reciclagem
com 10%, reflorestamento com 10% (destes 3,7% apela pela recomposição da mata ciliar), evitar o
desperdício de água com 10%, evitar queimadas com 8,75%. Quando questionados sobre o que fazem com
embalagens de alimentos industrializados consumidos na rua, 58% dos entrevistados afirma reserva a
embalagem até o lixeiro mais próximo ou até sua residência, 42% dos entrevistados admitem descartá-las
no chão! Destes 51,51% afirma que só o faz devido a ausência de lixeiras públicas distribuídas pelas ruas da
cidade. Sobre a duração média do banho uma maioria de 41,25% afirma passar no máximo 20 minutos no
banho, 25% afirma tomar banhos de apenas 10 minutos e 21, 25% de até 30 minutos, 8,75% afirma passar
até 50 minutos no banho; uma parcela de 3,75% não possui água encanada em casa. Sobre a separação do
lixo domiciliar 81,25% dos alunos afirmam que nas suas casas não é feita separação do lixo por tipo de
material já que o destino desse lixo seria o lixão municipal, 18,75% afirma que essa separação é feita.
Quanto ao destino do lixo 34,25% dos entrevistados afirma que o lixo de suas casas é destinado ou ao lixão
da cidade ou a terrenos baldios no caso dos que residem na zona rural, 28,25% afirma que nas suas casas o
lixo é queimado, 27,5% se quer conhece o destino do lixo recolhido na cidade, 5% revela que o rio é o
destino do lixo doméstico em sua residência, 5% afirmam que o lixo de sua casa vai para reciclagem. Um
bom aspecto observado foi quanto a reutilização de alguns tipos de embalagens da indústria de alimentos
como de maionese, refrigerante, doces, etc; nesses casos 67,5% dos entrevistados afirmam que essas
embalagens quando não são recicladas ou são reutilizadas para armazenar sucos ou alimentos refrigerados.

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Por fim, quando questionados sobre a parcela de responsabilidade que cada indivíduo tem sobre a
degradação do meio ambiente 96,25% toma pra si parte da responsabilidade por desperdiçar água, jogar
lixo na rua, pela falta de iniciativa frente a medidas simples que poderiam ser tomadas; dentre eles 7,5%
apontam as grandes cidades como foco dessa problemática e 5% afirma que as pessoas não se policiam e
se acomodam em apenas falar sobre preservação sem sair da teoria.

CONCLUSÃO
Se por um lado os preceitos de uma conduta pró-ambiente apresentam-se de forma concisa no
discurso dos jovens entrevistados, ao partir ao lado prático da problemática levantada a mesma coesão
parece não mais existir; por muitas vezes a expressão “as pessoas poluem”, “as pessoas desmatam” ou “as
pessoas desperdiçam” evidenciou a parcialidade utilizada como justificativa a uma postura omissa e
singular que reflete no ambiente social em que vivem. As pessoas parecem estar habituadas a apontar o
foco do problema como algo distante, por isso a tendência a inserir as metrópoles nesse contexto, quando
na verdade elas mesmas fazem vista grossa a gestão dos recursos naturais dentro de suas próprias casas.
Como falar em desperdício depois de um banho que durou de 30 a 50 minutos? Como falar em poluição se
você se quer conhece ou se importa com o destino do seu lixo domiciliar? Como repreender alguém por
jogar lixo na rua, se você mesmo o faz na falta de um lixeiro próximo?
Outro aspecto que merece ressalva nesse estudo é a gestão de políticas públicas que precisam
incentivar a preservação também num contexto local, as pessoas precisam aprender a enxergar o problema
que está sob suas vistas, afinal a depredação do meio ambiente não acontece só em meio a floresta
amazônica ou nos grandes centros urbanos, e se o mínimo não for feito esse ciclo vicioso de procurar o
responsável por uma questão que é de todos nunca se findará; é necessário se trabalhar o local antes do
global. É incabível em pleno século XXI, vivendo tempos de efeito estufa que as pessoas afirmem ainda
jogar lixo no chão por falta de lixeiro público nas ruas!
A razão dessa pesquisa ter sido feita entre alunos de ensino médio está entre outros aspectos
relacionada ao fato destes serem a massa já formadora de opinião e que num futuro bem próximo estará
compondo a força de trabalho que movimenta a economia e política desse país; na teoria são também
esses jovens mais atentos as questões que envolvem atualidade e globalização e uma vez mais conscientes,
dentro do âmbito familiar deveriam ser os mais politizados e atentos as medidas de combate ao
desperdício e degradação do meio ambiente. Mas diante dos resultados antes apresentados, e se esses
agentes se mostram inertes quanto a tomada de atitudes pró-ambientes, quem os fará? Infelizmente, ainda
parece predominante o pensamento de que o esgotamento dos recursos naturais é um futuro distante, e
não uma preocupação atual.
Ainda nesse estudo a escola como disseminadora e defensora de uma sociedade mais consciente se
mostra atrelada a questões que fogem a sua alçada e por isso os resultados também se apresentam de
forma limitada, os alunos sabem que devem preservar, mas fora das escolas não conseguem perceber
como o fazer por falta de bons exemplos, ou exemplos representativos dentro de suas realidades. Para
Leonardo Boff, 2000 a nova consciência ecológica e a noção da Terra como grande mãe e Gaia passa por
um processo pedagógico pelo qual as pessoas se sensibilizam para esta realidade. Não bastam conceitos.
Precisamos de emoções, porque são elas que mobilizam as ações.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSMANN. H. Reencantar a educação: rumo à sociedade aprendente. 5.ed. Petrópolis: Vozes, 1998.
CORRAL-VERDUGO, V. A. Structural Modelo f Proenvironmental Competency. Environment and
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DIAS G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo: Editora Gaia, 400p, 1993
ENCARNAÇÃO, F. L.; Complexidade e educação ambiental Revista Espaço Acadêmico, nº 91,
dezembro de 2008
GADOTTI, Moacir. Perspectivas atuais da Educação, Revista São Paulo em Perspectiva, n.º14. São
Paulo, 2000. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/spp/v14n2/9782.pdf>. Acesso em 09.07.2011.
NEIMAN, Z.; A educação ambiental através do contato dirigido com a natureza/ São Paulo-USP/
Curso de pós graduação em Psicologia/ Área de concentração: Psicologia Experimental, 2007

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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STAPP, W. B.; BENETT, D. Bryan,W.; FULTON, J. McGREGOR, J.; NOWAK, P. Wan, R. E Haclick, S. The
concept of Environmental Education. Journal of Environmental Education, nº1, 30-31, 1969.

João Pessoa, outubro de 2011


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CONSTRUINDO UMA ÉTICA AMBIENTAL: REFLEXÕES SOBRE O POTENCIAL


DA ENERGIA SOLAR NA ATUALIDADE
Ailson Maciel de ALMEIDA
Graduando do Curso de Agronomia, UFRPE- Unidade Acadêmica de Garanhuns
ailson.m.almeida@gmail.com
Amauri dos Santos SILVA
Graduando do Curso de Pedagogia,
UFRPE- Unidade Acadêmica de Garanhuns
amaury_paranatama@hotmail.com
Orientador: Bruno Maia HALLEY
Professor assistente da UFRPE- Unidade Acadêmica de Garanhuns. bhalleype@hotmail.com

RESUMO
O presente artigo versa sobre as possibilidades da energia solar como fonte alternativa de energia.
Trata-se, na verdade, de um resumo expandido que busca realizar uma releitura do tema, elencando as
vantagens da sua utilização no âmbito da preservação ambiental, além de promover a sensibilização da
população no que se refere à produção de energia utilizando recursos renováveis.
PALAVRAS-CHAVE: Energia Solar, Meio Ambiente, Radiação Solar, Preservação e Biodiversidade.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS
No século XVIII com a revolução industrial iniciada na Inglaterra, os recursos naturais passaram a
ser utilizados com mais intensidade, provocando um desenvolvimento econômico para a sociedade,
entretanto, um grande processo de destruição da natureza. Recursos naturais sendo utilizados sem
nenhuma preocupação com a natureza. A energia retirada dos recursos naturais é necessária para fornecer
muitos dos serviços com os quais temos nos beneficiado. A energia está em todos os setores da sociedade:
economia, trabalho, em nossas moradias, alimentação, saúde, transporte, lazer e muito mais. Os
suprimentos de energia são fatores limitantes primordiais do desenvolvimento da sociedade. O mundo em
seu processo de urbanização aumentou seu consumo e assim, o acesso a recursos energéticos adequados e
confiáveis é central para o crescimento da economia. Richard Balzhiser, ex-presidente do Eletric Power
Research Institute afirma: “Energia não é um fim em si mesma. Os objetivos fundamentais que se deve ter
em mente são uma economia e um ambiente saudáveis. Temos que delinear nossa política energética
como um meio para atingir esses objetivos, e não apenas para este país, mas também em termos globais”.
A energia não é criada ou destruída, mas apenas convertida ou redistribuída de uma forma para
outra, como no caso, a energia eólica transformada em energia elétrica. Por esta razão tornam-se
necessários estudos relacionados às fontes energéticas renováveis, que possibilitem não apenas a
ampliação e produção energética, mas vá além, atingido esses objetivos sem, no entanto, prejudicar o meio
ambiente, preservando o planeta para as futuras gerações.
O sol fornece aos seres humanos o calor necessário à vida terrestre, além de ser praticamente
responsável pela geração de outras fontes de energia, como a eólica através da indução da circulação
atmosférica mediante a conversão do ar a ser aquecido, como também a energia hidrelétrica, pois, sem o
sol não haveria o ciclo da água e consequentemente não existiria os rios. O uso da energia limpa é uma
excelente alternativa para a redução da poluição causada. As vantagens da energia solar é que ela não
polui, não gera resíduo a curto e médio prazo e reduz os impactos ambientais.
Portanto, o presente trabalho visa uma reflexão sobre a energia solar vinculado a preservação
ambiental, tendo em vista a necessidade atual da conservação dos recursos naturais, que atualmente estão
seriamente ameaçados pelo crescimento desordenado da população, o processo de industrialização,
urbanização e desmatamento ilegal. Todos esses fatores juntos ameaçam o futuro da vida terrestre.
Surgindo então a necessidade de abordamos temas que busquem reverter esse processo, como a energia
solar a qual se refere o nosso trabalho.
A PRODUÇÃO DE ENERGIA NUMA PERSPECTIVA AMBIENTALISTA E OS PROCESSOS DE CAPTAÇÃO.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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A sociedade utiliza uma grande quantidade de energia proveniente de fontes não renováveis e
poluentes, como os combustíveis fósseis (petróleo, e os seus derivados: gasolina, diesel). Outra fonte de
energia que podemos citar é a gerada pelas usinas hidrelétricas, onde a força das águas represadas nos rios
é convertida em energia elétrica. Esta fonte de energia é a predominante em nossas vidas, basta pararmos
para observarmos o nosso entorno, o computador no qual digito este trabalho, a impressora conectada a
este computador, o estabilizador que uso, a luz que ilumina meu lugar de trabalho, os eletros domésticos
que estão ao meu redor, enfim tudo que esta ao meu redor é movido pela energia produzida nas usinas
hidrelétricas. Porém, muitas pessoas não param e refletem sobre as consequências que são geradas com a
produção deste tipo de energia. O problema na construção de usinas hidrelétricas deve-se a alteração que
ocasionada no curso do rio, atrapalhando assim a fauna e flora do ecossistema que ali esse encontra. Além
de mudar radicalmente a fisionomia da paisagem, a comunidade ali inserida sai perdendo, pois devem sair
do seu lugar de origem, a estes são pagas indenizações, no entanto, não se levam em consideração a vida
que eles tiveram a ali e o significado que tem para cada um daqueles moradores. Segundo SANTOS (2010):
Na construção das usinas, acontece a desapropriação de terras de pequenos produtores. Esses
pequenos agricultores são obrigados a mudar de suas terras. Esse grupo de pessoas forma um movimento
chamado Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) que reivindicam formas alternativas de energia,
terra para viver e proteção ao meio ambiente com preservação na natureza.
Destaca-se a importância do uso das energias renováveis, a exemplo da energia solar, que além de
não deixar resíduos no meio ambiente, não provoca uma grande mudança no ambiente, como a provocada
pela usina hidrelétrica.
O Brasil possui uma matriz energética renovável muito elevada, toda a produção e consumo de
energia de um país é denominada de matriz energética, cerca de 47% de sua matriz é renovável
(MME/BEM 2006), tendo em vista que a matriz energética mundial é cerca de 13,3% renovável, o Brasil
pode ser o pioneiro na produção de energias com o uso de fontes renováveis em longas escalas. Para que
isto se concretize exige-se um alto grau de cooperação por parte dos agentes participativos como empresas
e governos. Para se ter uma idéia do grande porte da matriz energética brasileira, 2007 o Balanço
Energético Nacional (BEN), constatou que a participação de fontes renováveis na produção de energia no
Brasil atingira uma escala de 45,1%. Tomando como base estes dados, podemos dizer que o Brasil está em
vantagem na produção d energia limpa, com relação ao restante do mundo. Podemos dizer então, que o
Brasil está para as fontes renováveis, assim como a Arábia Saudita, por exemplo. Está para o petróleo. A
partir de agora iremos nos aprofundar, no que diz respeito à quantidade de radiação que a terra recebe,
além de compreendermos quais as técnicas utilizadas para a captação de tal energia.

A RADIAÇÃO SOLAR E OS SEUS MODOS DE CAPTAÇÃO.


A Terra recebe anualmente 1,5x1018kWh de energia solar, que corresponde a 10.000 vezes o
consumo mundial de energia nesse período (CRESESB, 2004). É possível determinar a um valor para a
quantidade de radiação que chega a atmosfera terrestre. Os dados do WMO (Word Metheorological
Organizatrion) indicam uma radiação com valor médio de 1367 W/ m2.
Para maior eficácia na utilização da radiação solar, é essencial o conhecimento sobre as suas
componentes, que podem ser direta ou difusa, seja ela Fototérmica ou fotovoltaica.

A componente direta da radiação solar é a que atravessa um céu limpo, sem nuvens e sem poluição
do ar demasiada, atingindo a superfície sofrendo alguns fenômenos previstos de absorção e dispersão
devido à Massa de Ar. Já a radiação difusa é aquela que sofre forte dispersão, absorção e reflexão devido às
nuvens, neblina e poluição demasiada do ar. (CRESESB, 2004).
Esses dois tipos de radiação ao se unirem formam outro tipo de radiação: a global. No
processo de reflexão dessa radiação na terra forma-se uma nova componente: “albedo” que sofre a
influência das condições geográfica de cada região.
Foi pensando nesse potencial energético irradiado pelo sol que surgiram sistemas de coletores
solares, a exemplo o sistema fotovoltaico. A energia solar fotovoltaica é a energia elétrica obtida de forma
direta da radiação solar. A conversão de radiação solar em energia elétrica é chamada efeito fotovoltaico
(CRESESB, 2004). O efeito fotovoltaico foi observado pela primeira vez em 1839 pelo francês Edmond
Becquerel numa estrutura de material semicondutor exposto á luz, trata-se de um fenômeno onde ocorre a

João Pessoa, outubro de 2011


769

liberação de elétrons de estrutura molecular de um material semicondutor que passa a ser condutor devido
aos elétrons libertos.
A energia solar é obtida a partir das propriedades elétricas dos materiais semicondutores
em particular o silício. Existem três formas de apresentação do silício nas células fotovoltaicas: silício mono
cristalino que apresenta uma boa eficiência energética (18%), porém possui custos de produção elevados
devido ao grau de pureza exigido, silício policristalino apresentando eficiência máxima de 12,5 % e possui
um processo de fabricação bastante semelhante ao de silício monocristalinio, porém com um nível de
pureza menor, silício amorfo absorve radiação na faixa do visível e possui processo de fabricação
relativamente simples e barato, com baixo consumo de energia na produção, apresentando eficiência (7%)
e degrada com facilidade (CRESESB, 2006). Cada célula voltaica gera aproximadamente 0,7 V. Para obter
uma corrente mais alta é preciso conectar as células em paralelo. Para obter uma tensão maior utilizam-se
as células em série. Devido a esse elevado custo que se mantém durante os últimos anos estabilizados, a
ampliação desse recurso ocorre de forma lenta, limitando seu uso, incentivando, assim o uso da energia
solar de outras formas, como é o caso da energia Solar Fototérmica.
Dentro da energia solar, além de obter a energia através dos sistemas fotovoltaicos, existem
também os sistema solar Fototérmica. O equipamento mais conhecido para produzir a energia Solar
Fototérmica ocorre através de coletores solar. Os coletores são aquecedores de fluidos que podem ser
classificados como coletores concentrados ou coletores planos, em função da existência ou não de
dispositivos capazes de concentrar a radiação recebida pelo sol. Após o aquecimento nos coletores, o fluxo
fica armazenado num reservatório termicamente isolado até o seu uso final. O sistema de conversão
consiste em um coletor solar plano que transforma a energia solar em térmica, este sistema é comumente
usado para o aquecimento de águas para uso doméstico. No Brasil esse sistema é utilizado na substituição
de chuveiros elétricos convencionais. Nesse sentido, “(...) a conversão heliotermoelétrica utilizando
concentradores cilindro parabólicos tem um excelente potencial técnico-econômico, com boas
possibilidades para sua adoção no Brasil.” (FRAIDENRAICH, s/d).
Com bases nos dados, podemos afirmar que a substituição da fonte convencional de
energia utilizada no chuveiro pelo coletor solar além de preservar o meio ambiente, se mostra
economicamente viável. Dentro as energias citadas acima, encontramos também outro recurso como a
arquitetura bioclimática, que por sua vez propicia um clima agradável ao ambiente em que está inserida.
Chama-se arquitetura bioclimática o estudo que visa harmonizar as construções ao clima e
características locais, pensando no homem que habitará ou trabalhará nelas, e tirando partido da energia
solar através de correntes convectivas naturais e de microclimas criados por vegetação apropriada
(CRESESB, 2006).
Fica claro que o papel da arquitetura bioclimática é proporcionar um ambiente, agradável e
pensando no aproveitamento dos recursos naturais. Fazendo a união entre a paisagem urbana e a
paisagem natural, ou seja, homem e natureza atuando em conjunto para melhorar a qualidade de vida.
Foi pensando nesse potencial energético irradiado pelo sol, que surgem pesquisas e projetos que
viabilizam a implantação de sistemas que utilizam coletores solares. A seguir veremos projetos que levaram
o desenvolvimento para o interior e assim proporcionaram a chegada da energia em locais que não cabia a
implantação de sistemas de energia fornecida pelas usinas hidrelétricas.

PROJETOS QUE IMPLANTARAM O SISTEMA DE ENERGIA SOLAR


Existem muitos projetos de iniciativa pública e privada. Estes projetos englobam o uso da energia
solar para a eletrificação de ares rurais e de difícil acesso, onde o uso da energia elétrica fornecida pelas
usinas hidrelétricas, não é viável. Tendo em vista a necessidade da energia, e sabendo que a mesma é
indispensável para o desenvolvimento de localidades afastadas dos centros urbanos, criam-se programas
como o Programa para o Desenvolvimento de Energia nos Estados e Municípios (PRODEEM), de iniciativa
privada do Departamento Nacional de Desenvolvimento Energético (DNDE), e do Ministério de Minas e
Energia. Que tem por objetivo principal contribuir para o desenvolvimento integrado de comunidades não
atendidas pelos sistemas convencionais de suprimento de energia, utilizando fontes energéticas renováveis
e descentralizadas tecnicamente factíveis, economicamente viáveis e ambientalmente sadias (PRODEEM,
s/d).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


770

Figura 1- Fonte: Arquivo Pessoal do Autor. Desenho: Ailson Maciel de Almeida:Três formas distintas de aproveitamento
da energia solar: “a” energia solar fotovoltaica gerada pela diferença de potencial causada pela incidência de luz solar em um
material semicondutor, que passou a ser condutora, tecnologia mais cara, mas no entanto, vem se barateando devido à pesquisas,
“b”, aquecimento de água, esquema de um sistema coletor plano (a: camada de vidro, que gera um efeito estufa, aquecendo a
superfície absorsora b, constituída de alumínio enegrecido, que se aquece rapidamente, mandando o calor de volta pra cima,
devido à camada de isolante térmico c, sistema que aquece a água que circula na serpentina de dutos de cobre e, o sistema fica
lacrado, para evitar perda de calor pela caixa d.), o sistema de “b” é mais barato, por poder ser construído de materiais
alternativos. “c” arquitetura bioclimática dimensionada para aperfeiçoar a circulação do ar no ambiente, bem como a luz natural do
ambiente, se configurando como forma indireta de aproveitamento da energia solar.

No Ceará foi implantado o sistema de eletrificação residencial, onde o primeiro sistema foi
instalado em dezembro de 1992 no município de Cordeiro (CE). Vilas do interior do estado foram atendidas,
num total de 492 residências (CRESESB, 2006). Levando o desenvolvimento para o interior do estado. Com
a criação desse projeto o Brasil começou a trilhar um importante caminho, a de ampliação de fontes
energéticas em propriedades rurais que não possuía eletrificação. Nesse processo de eletrificação a
PRODEEM utilizou como fonte essencialmente a energia fotovoltaica, possibilitando a instalação em
residências isoladas. Com a aplicação desse projeto a eletrificação rural ocorreu de forma ecológica, sem
maiores danos ao meio ambiente, permitindo assim o desenvolvimento humano utilizando recursos de
forma sustentável como elucida Prescott-Allen (1999) apud Van Bellen (2006):
(...) o desenvolvimento sustentável consiste na combinação entre o bem estar do ecossistema e o
bem estar humano. O bem estar humano é definido pela condição na qual todos os membros da sociedade
são capazes para determinar e alcançar suas necessidades e ter uma ampla possibilidade de alcançar ou
realizar seu potencial. O bem es8tar do ecossistema é definido como a manutenção da condição segundo a
qual o ecossistema mantém sua diversidade e qualidade, juntamente com sua capacidade de suporte para
a vida humana e de outros seres. O sistema também inclui o potencial de adaptar e mudar, fornecendo
uma ampla gama de possibilidades para a dimensão futura.
No estado de Alagoas, foi instalado um sistema de cabine telefônica, financiado pela
Telecomunicação de Alagoas S.A. Mais recentemente foi inaugurada, em junho de 2011, um
empreendimento no município de Tauá, a cerca de 350 quilômetros de Fortaleza no Ceará, com o potencial
inicial de 1 MW. A usina conta com 4.680 painéis fotovoltaicos da empresa japonesa Kyocera. A empresa
Brasileira já possui autorização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), para expandir a capacidade
d a usina até 5 MW. A energia gerada será conectada ao sistema Integrado Nacional e poderá abastecer até
1500 residências da região (ERENO E OLIVEIRA, 2011).
Em fim, muitas são as experiências que utilizam a energia solar, hoje em dia encontramos barcos
movidos a este tipo de energia, avião, ou seja, uma infinidade de criações. Como vimos são muitas as
iniciativas, basta então que o nós e os nossos administradores governamentais sensibilizem-se para
promover um desenvolvimento com idéias ecologicamente corretas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao abordamos a temática, chegamos à conclusão de que a preservação do meio ambiente é
essencial para a manutenção da natureza e da biodiversidade terrestre, por esta razão a produção de
fontes de energias renováveis e limpas deve ser amplamente divulgada, como também experiências
nacionais que possibilitem a baixa dos custos iniciais, para que assim essa tecnologia possa se expandir
dentro do território brasileiro, conservando os seus recursos naturais.
Essa tecnologia se mostra bastante útil por não poluir o meio ambiente, após o
investimento inicial, o custo de manutenção é relativamente baixo, sua fonte é abundante e limpa, outro

João Pessoa, outubro de 2011


771

fator no Brasil que possibilita a implantação dessa tecnologia refere-se à localização do nosso território que
está posicionado entre os dois trópicos e próximos a linha do equador recebendo assim uma grande
incidência de raios solares. Contudo, ressaltamos que apesar dessas vantagens o país ainda não possui
grandes investimentos nessa área, sendo a maioria da produção das placas silício importadas de outros
países.
Como foi descrito, no decorrer do texto, o Brasil vendo dando lugar cada vez mais ao uso
fontes renovável. Parcerias entre empresas e governo devem ser intensificadas cada vez mais para que
possa atender um número maior de pessoas do interior. Na implantação de projetos nas comunidades, vale
ressaltar, que o preparo daquela população é indispensável. Para que os moradores possam fazer a
manutenção dos equipamentos. Ou seja, não somente implantar o projeto e abandoná-lo, mais sim
acompanhá-lo, para que ele tenha realmente o seu papel perante aquela comunidade.
Esperamos que o nosso trabalho venha a contribuir para novas abordagens de caráter
especifico sobre o tema, despertando a curiosidade não apenas de profissionais da área ambiental, mas de
pessoas que assim como nós pensam no futuro do planeta e na conservação da sua biodiversidade.

REFERÊNCIAS
CENTRO DE PESQUISA DE ENERGIA ELÉTRICA. CENTRO DE REFERÊNCIA PARA ENERGIA SOLAR E
EÓLICA SÉRGIO DE SALVO BRITO. Grupo de Trabalho de Energia para Sistemas Fotovoltaicos: Rio de Janeiro,
CRESESB, 1999.
Disponível:<:http://www.cresesb.cepel.br/publicacoes/download/Manual_de_Engenharia_FV_2004.pdf > .
Acesso em: 09 de julho de 2011.
CENTRO DE REFERÊNCIA PARA ENERGIA SOLAR E EÓLICA SERGIO DE SALVO BRITO. Energia Solar
Princípios e Aplicações. Disponível em: < http://paje.fe.usp.br/~mef-
pietro/mef2/app.upload/7/_mefmi_003-05.pdf> . Acesso em: 16 de julho de 2011.
ERENO, Dinorah. OLIVEIRA, Marcos. A eletrificação do Sol: Brasil começa a usar painéis solares de
forma mais abrangente. São Paulo, FAPESP, 2011. Disponível em: <
http://revistapesquisa.fapesp.br/?art=4444&bd=1&pg=1> . Acesso em: 16 de julho de 2011.
ERAIDENRATCH. Naum. Tecnologia Solar no Brasil: Os próximos 20 anos. Disponível em: <
http://cutter.unicamp.br/document/?down=13 - -1k > Acesso em : 30 de Junho de 2011.
SANTOS, Maria Helena Araújo. Caderno de ensino e aprendizagem: ciências 4. 1º Ed. Brasília:
Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2010. 164 p.
VAN BELLEN, Daus Michael. Indicadores de sustentabilidade: uma analise comparativa. 2.ed. Rio de
Janeiro: Editora FGU, 2006. 256 p.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


772

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL MEDIATIZADA PELA ARTE NA FORMAÇÃO


CONTINUADA DE EDUCADORES
Elisa Sampaio de FARIA*
Mari-Stela Lucimar Câmara SANTOS E SOUZA**
Ana Luiza Silva de OLIVEIRA***
*Coordenadora da formação continuada em Ciências do Núcleo Itabirano de Educação Permanente - Secretaria Municipal
de Educação de Itabira e pós-graduanda em Educação Ambiental pela Universidade Federal de Lavras.
**Coordenadora da formação continuada em Arte do Núcleo Itabirano de Educação Permanente - Secretaria Municipal de
Educação de Itabira.
***Bióloga licenciada e bacharela em Educação Ambiental, especialista em Responsabilidade
Social, pós-graduanda em Educação Ambiental pela Universidade Federal de Lavras.
Núcleo Itabirano de Educação Permanente, Secretaria Municipal de Educação de Itabira – R. Jacutinga, nº15, Bairro
Campestre, Itabira – Minas Gerais. CEP 35900-086
elisasfaria@gmail.com

RESUMO
Em condições de trabalho em constante evolução, como no caso do ofício de professor, há
necessidade de uma formação contínua, uma atualização permanente das competências. A Educação
Ambiental, constituindo-se como componente essencial e permanente no ensino do Brasil (TAGLIEBER,
2007), demanda esse tipo de atualização. O município de Itabira, por meio do Núcleo Itabirano de
Educação Permanente – Secretaria Municipal de Educação, ofereceu no segundo semestre de 2010 um
encontro de formação continuada aos educadores da rede municipal, tendo a arte, em sua linguagem
plástica e visual, como mediadora. Os professores que participaram do encontro o avaliaram por meio de
uma questão aberta. Este trabalho relata o encontro e examina as avaliações por meio do estudo das
respostas à questão aberta, utilizando-se da metodologia do Discurso do Sujeito Coletivo (LEFEVRE &
LEFEVRE, 2006), associada ao software Qualiquantisoft (www.spi-net.com.br). ‘
Palavras-chave: formação continuada de professores; Educação Ambiental; arte; Discurso do
Sujeito Coletivo.

Introdução
Se a escola fosse um mundo estável, o exercício do ofício em sala de aula bastaria para manter as
competências do professor, afirma Perrenoud, 2010. Porém, segundo o mesmo autor, os contextos se
transformam, os públicos mudam, inova-se o conhecimento e até mesmo as abordagens. Em condições de
trabalho em constante evolução, há necessidade de uma formação contínua, uma atualização permanente
das competências. A Educação Ambiental, ao se constituir como componente essencial e permanente no
ensino do Brasil (TAGLIEBER, 2007), demanda uma atualização do professor.
Para alguns autores, como Cuba (2010), “a Educação Ambiental constitui-se como uma estratégia
para que se alcance as mudanças desejadas na atual educação”, uma vez que a mesma permite que o
homem interaja melhor consigo mesmo e com o ambiente que o cerca. A Educação Ambiental é uma
educação voltada para valores, respeito à diversidade e a busca de uma sociedade sustentável (CUBA,
2010).
A Educação Ambiental foi recomendada, por exemplo, pela Conferência das Nações Unidas sobre o
Meio Ambiente e o Desenvolvimento, também conhecida por Rio-92. Um documento histórico que
igualmente exerceu influência foi a Carta da Terra, idealizada pela ONU em 1987. Finalmente, em 1999, a
Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) a institui no Brasil como prática educativa integrada,
contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal, de maneira transversal.
Nos anos seguintes à instituição da PNEA, o acesso à Educação Ambiental tem se expandido de
maneira acelerada no Ensino Fundamental brasileiro (MEC e INEP, 2005). Segundo o relatório Um Retrato
da Presença da Educação Ambiental no Ensino Fundamental Brasileiro, organizado pelo MEC e INEP em
2005, no ano de 2001 o número de escolas que ofereciam Educação Ambiental era de aproximadamente
115 mil, e em 2004, 152 mil escolas, apresentando uma taxa de crescimento de 32% no período analisado.
Portanto, no caso das escolas que ainda não oferecem a Educação Ambiental, constitui-se uma demanda

João Pessoa, outubro de 2011


773

de renovação do ofício de professor em direção a essa prática pedagógica. Logo, o município de Itabira,
por meio do Núcleo Itabirano de Educação Permanente – Secretaria Municipal de Educação (NIEP-SME),
ofereceu no segundo semestre de 2010 um encontro de formação continuada aos educadores da rede
municipal, tendo a arte, em sua linguagem plástica e visual, como mediadora.
Para Pires et al (2009), a relação que pode ser estabelecida entre arte e educação permite a criação
de sentidos de aprendizagem que ultrapassam o mecanicismo da técnica. De acordo com os mesmos
autores:
“O desenvolvimento da crítica e da capacidade criativa humana pelo intermeio da arte, ou
pela dimensão estética da aprendizagem, se forja em concepções críticas da educação. Tais
processos educativos se fundam em dinâmicas centradas na capacidade de abstração e de
reconstrução de conceitos, de compreensões, de hábitos, de relações, de intervenções, da cultura e
de valores referentes à vida das pessoas.”

Os professores que participaram do encontro o avaliaram por meio de uma questão aberta.
Para analisar as respostas foi utilizada a técnica do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), associada ao
software Qualiquantisoft (www.spi-net.com.br). Segundo Lefevre & Lefevre, 2006, esta metodologia elenca
e articula uma série de operações sobre depoimentos coletados por meio de questões abertas. Ao final do
processo, obtêm-se depoimentos coletivos confeccionados com extratos de diferentes depoimentos
individuais, cada um veiculando uma determinada e distinta opinião ou posicionamento. Segundo os
mesmos autores a aplicação da técnica do DSC a um grande número de pesquisas empíricas no campo da
saúde e também fora dele tem demonstrado sua eficácia para o processamento e expressão das opiniões
coletivas.

Objetivos
Com os objetivos de refletir e renovar a prática pedagógica, iniciar a construção de novas
competências profissionais e trocar experiências, no segundo semestre de 2010 o NIEP-SME organizou um
encontro de formação continuada em Educação Ambiental intermediado pela Arte aos professores das
séries iniciais do Ensino Fundamental da rede municipal de educação de Itabira. Neste trabalho relatamos
este encontro e examinamos a avaliação do encontro pelos professores participantes.

Relato do Encontro e Metodologia


Com a duração de quatro horas, o encontro foi organizado com a intenção de proporcionar a 29
professores das séries iniciais do Ensino Fundamental da rede municipal de Itabira uma oportunidade de,
intermediados pela arte, refletir e renovar a prática pedagógica, estimular o desenvolvimento de novas
competências profissionais e trocar experiências.
O encontro constituiu-se de sete momentos, sendo eles: recepção, caminhada transversal e coleta
de materiais naturais, exploração do material através dos cinco sentidos, estudo dos pigmentos e cores
obtidos dos materiais, confecção de obra plástico-visual, socialização das obras e discussão, avaliação.
Os 29 educadores foram recebidos na E. M. Cornélio Pena pelas duas professoras responsáveis pelo
encontro, em uma sala com cinco mesas coletivas. Dali, partiram para uma caminhada nos arredores da
Escola, com o objetivo de observar as árvores, arbustos, ervas, frutos, etc. Solicitou-se que coletassem uma
pequena porção desses materiais naturais, e se retornassem para a sala.
Os materiais coletados foram organizados em uma grande mesa, juntamente com os materiais já
preparados pelas formadoras, como beterraba, manga, café e carvão. Ao som de uma agradável música
instrumental, todos os professores foram convidados a explorar os cheiros, cores, texturas e gostos dos
materiais naturais. Assim, exploraram sensações físicas relacionadas à audição, ao tato, ao olfato ao
paladar e à visão.
Em seguida, pediu-se que explorassem os pigmentos desses materiais ao passá-los diretamente no
papel, sem o uso de solventes e pincéis. Desta maneira, realizaram um estudo das cores, nomeando cada
uma delas.
Após o estudo das cores, foi reservado um espaço para a criação artística. Cada um elaborou uma
obra plástico-visual com os materiais naturais, tendo como suporte o papel ofício. Ao final da confecção, as

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


774

obras foram socializadas, compartilhando os sentimentos com relação ao encontro e à produção artística,
reflexões sobre a prática pedagógica, o aprendizado, dentre outros.
Como encerramento, os participantes responderam individualmente à seguinte pergunta aberta:
“Como foi este encontro de formação continuada para você?”. As 29 respostas foram analisadas quali-
quantitativamente por meio da metodologia do DSC, associada ao software Qualiquantisoft (www.spi-
net.com.br). A análise qualitativa consistiu em selecionar de cada resposta individual as Expressões-Chave,
que são os trechos mais significativos destas respostas. As Expressões-Chave remetem as Ideias Centrais,
que revelam de maneira sintética o sentido de cada resposta. Neste trabalho, foram identificadas quatro
tipos de Ideias Centrais (A, B, C e D), nos quais as respostas foram agrupadas. Em cada grupo de Ideias
Centrais, foi construído um discurso na primeira pessoa do singular, a partir das Expressões-Chave. Obteve-
se assim os Discursos dos Sujeitos Coletivos A, B, C e D, por meio do qual o pensamento do grupo é
representado por um discurso individual. Por meio da análise quantitativa obteve-se a proporção de
respostas que pertencem a cada uma das Ideias Centrais.

Resultados Qualitativos
Síntese das Ideias Centrais
Abaixo se apresentam as quatro principais Ideias Centrais, A, B, C e D, nas quais as 29
respostas foram classificadas.
Pergunta: Como foi este encontro de formação continuada para você?
Adquiri novos conhecimentos.
Renovou minha prática pedagógica.
Gostei e espero outros encontros.
Foi uma experiência prazerosa, fui tocada.
Discursos dos Sujeitos Coletivos
A seguir, os quatros Discursos dos Sujeitos Coletivos, construídos a partir das respostas dos
professores.
Adquiri novos conhecimentos.
Foi muito positivo estar aqui esta noite. A oficina foi ótima, bem interessante. Descobri que nunca é
tarde para aprender, pois aqui ampliei meus conhecimentos. A oficina nos ensinou a trabalhar com um tipo
de material que não imaginava que desse um bom trabalho. Nunca imaginei que das plantas, frutas e
flores, eu pudesse retirar tantas cores. Foi ótimo aprender a pesquisar e descobrir novas cores. Ganhei mais
experiência, foi diferente e gratificante. Estou encantada, a natureza nos oferece coisas maravilhosas.
Renovou minha prática pedagógica.
A oficina foi interessantíssima, proveitosa e prazerosa, muito gratificante. Foi uma oportunidade de
reflexão sobre minhas práticas pedagógicas. O trabalho foi criativo e inovador. O resultado, lindo. Extrair
pigmentos dos materiais naturais e usá-los em obras de arte é enriquecedor e de grande utilidade em meu
dia-a-dia. Tenho certeza de que meus alunos também ficarão admirados com essa possibilidade. Foi
importante no sentido de aprender a valorizar os "pequenos" projetos de meus alunos, que para eles são
grandes obras de arte. Além disso, percebi a importância da interdisciplinaridade e da transcendência da
arte envolta pelos elementos da natureza. Inspirei-me a trabalhar a criatividade, a sensibilidade, o
relaxamento e as descobertas das crianças. Como estamos no começo de um semestre, esse processo de
troca de conhecimento me ajudará a dar sequência aos trabalhos com mais entusiasmo. Pretendo levar a
experiência para sala de aula e para as colegas de trabalho.
Gostei e espero outros encontros.
A experiência com o artesanato foi muito proveitosa e gostosa, fez o dia ser mais feliz. Houve
interação entre os participantes. Espero outros encontros, sempre que puder retornarei.
Foi uma experiência prazerosa, fui tocada.
A oficina foi interessante e divertida. Consegui relaxar, é uma ótima terapia. Senti-me como uma
criança ao expressar meus sentimentos por meio do desenho e das cores.

Resultados Quantitativos
O gráfico abaixo apresenta a frequência relativa de cada uma das Ideias Centrais dentre as
respostas dos professores participantes à questão aberta.

João Pessoa, outubro de 2011


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Adquiri novos conhecimentos – 7 respostas.


Renovou minha prática pedagógica – 14 respostas.
Gostei e espero outros encontros – 4 respostas.
Foi uma experiência prazerosa, fui tocada – 4 respostas.

Conclusão
A partir das analises qualitativas e quantitativas, pode-se concluir que a avaliação do encontro
pelos professores participantes foi positiva. Do total, 24,14% ou 7 respostas pertencem ao DSC A. Neste
DSC pode-se perceber que os professores focaram-se no aprendizado obtido no encontro – a técnica
artística e o material utilizado – porém, nota-se também a expressão de encantamento com relação à
natureza. Pode-se concluir que o objetivo de trocar de experiências no encontro foi alcançado. Na frase
“não imaginava que desse um bom trabalho” destaca-se um espanto ou deslumbramento ao utilizar
materiais naturais do cotidiano para a extração de pigmentos obtendo-se um bom resultado. A utilização
desses materiais implica na valorização dos elementos do dia a dia do sujeito. Como no momento da
criação artística não houve interferência das professoras formadoras, permitiu-se o desenvolvimento da
autonomia. Quando o educador estimula seus educandos a serem pessoas autônomas, ele permite que o
aluno seja responsável pelo seu mover no mundo (FREIRE, 2003). A autonomia “vai se construindo na
experiência de várias, inúmeras decisões, que vão sendo tomadas” (FREIRE, 2003). No caso dos professores,
essa autonomia permite que se responsabilizem por administrar sua formação continuada.
Nota-se que quase metade das respostas, no número de 14 ou 48,28%, é parte do DSC B. O
discurso, que contém expressões como: “reflexão”, “inovador”, “aprender”, “interdisciplinaridade”,
“inspirei-me,” “troca”, “entusiasmo”, revela que muitos dos professores alcançaram dois dos objetivos do
encontro, sendo eles: refletir e renovar a prática pedagógica e iniciar a construção de novas competências
profissionais.
No DSC C, onde se encaixam 13,79% das respostas, percebe-se que os professores afirmam ter
gostado do encontro e expressam vontade ou necessidade de retornar. Pode-se inferir que existe a
necessidade de se criar e fomentar momentos dentro do cotidiano de trabalho do professor para
renovação, aprendizagem e trocas de experiências. As reuniões pedagógicas regulares da escola podem se
tornar espaços ideais para isso. Os outros 13,79% correspondem ao DSC D. Ali, afirma-se que a experiência
foi prazerosa, sendo este mais um indicativo de que o encontro foi bem sucedido.
Ao renovar a prática pedagógica inserindo atividades que permitem interação entre os
participantes, uso de emoções e estímulo à criatividade, o ambiente escolar ganha um novo significado
para o educando, assim como a figura do educador. Uma pessoa criativa é capaz de promover mudanças
significativas nos âmbitos social e pessoal (OLIVEIRA E ALENCAR, 2008). De acordo com Maturana (2002):

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


776

“o viver humano se dá num contínuo entrelaçamento de emoções e linguagem como um fluir de


coordenações consensuais de ações e emoções. Eu chamo este entrelaçamento de emoção e linguagem de
conversar. Os seres humanos vivemos em diferentes redes de conversações que se entrecruzam em sua
realização na nossa individualidade corporal.”
A partir das respostas obtidas e das reflexões construídas, nota-se que o encontro de formação em
educação ambiental com arte foi bem sucedido. Além disso, pode-se concluir que a formação continuada
de professores é sempre muito importante, devendo ser fomentada pelos gestores da educação. Além de
permitir a troca de experiências entre os profissionais, possibilitou a descoberta do novo, a melhoria do
exercício do ofício de professor e pode evitar que os professores sofram da Síndrome do Burnout.

Referências
CUBA, Marcos Antônio. Educação Ambiental nas escolas. Revista de Educação, Cultura e
Comunicação do Curso de Comunicação Social das Faculdades Integradas Teresa D'Ávila, v. 1, n. 2, p. 23-31,
jul./dez., 2010. Disponível em: < http://www.fatea.br/seer/index.php/eccom/article/viewFile/403/259>
Acesso em 22 jul 2011.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia :saberes necessários à prática educativa. São Paulo :Paz e
Terra,2003, 27º ed. 165p.
LEFEVRE, Ana Maria Cavalcanti; CRESTANA, Maria Fazanelli; CORNETTA, Vitória Kedy. A utilização
da metodologia do discurso do sujeito coletivo na avaliação qualitativa dos cursos de especialização
“Capacitação e Desenvolvimento de Recursos Humanos em Saúde-CADRHU - São Paulo - 2002”. Revista
Saúde e Sociedade. v.12, n.2, p.68-75, jul-dez 2003. São Paulo.
LEFEVRE, Fernando; LEFEVRE, Ana Maria Cavalcanti. O sujeito coletivo que fala. Interface -
Comunicação, Saúde e Educação, v.10, n.20, p.517-24, jul/dez 2006. Botucatu.
MATURANA R., Humberto Emoções e linguagem na educação e na política. Tradução: José
Fernando Campos Fortes. - Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998, 98 p.
MEC; INEP; VEIGA, Alinne; AMORIM, Érica; BLANCO, Mauricio. Um Retrato da Presença da
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OLIVEIRA, Zélia Maria Freire de; ALENCAR, Eunice Maria Lima Soriano. A criatividade faz diferença
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Disponivel em: < //www6.univali.br/seer/index.php/rc/article/viewFile/954/810 >. Acesso em 22 jul 2011.
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PIRES, Maria Raquel Gomes Maia; SPAGNOL, Carla Aparecida; BRITO, Maria José Menezes;
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Disponível em: <http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT22-3455--Int.pdf> Acesso em 18 jul
2011.

João Pessoa, outubro de 2011


777

EDUCAÇÃO AMBIENTAL FORMAL: UM INSTRUMENTO DE


CONSCIENTIZAÇÃO E MOBILIZAÇÃO SOCIAL31
Ana Paula de Sousa ENÉAS
Graduanda em Gestão Ambiental - Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN
Rua: Prof. Antônio Campos, s/n – Costa e Silva –Mossoró/RN – CEP: 59600-610.
E-mail: yanlapaula@hotmail.com
Venilza Medeiros de SOUZA
Graduanda em Gestão Ambiental – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN
Rua: Prof. Antônio Campos, s/n – Costa e Silva –Mossoró/RN – CEP: 59600-610.
E-mail: venilza_medeiros@hotmail.com

RESUMO
A presente pesquisa buscou identificar as práticas de educação ambiental (EA) de dois grupos de
professores do ensino fundamental, com vista a desenvolver atividades de EA, numa perceptiva de
formação docente. Foi realizado um Diagnóstico Rápido Participativo (DRP), com a intenção de identificar
as atividades de EA que estavam sendo desenvolvidas pelos professores de duas escolas, localizadas no
município de Areia Branca, RN. Tal levantamento foi realizado durante uma reunião com o corpo docente.
Após esta etapa foi apresentada a proposta de realização de oficinas e visitas de campo, com o intuito de
contribuir para a discussão das temáticas ambientais nas escolas. Assim, realizou-se uma visita ao Programa
de Coleta Seletiva e ao aterro controlado do município, além disso, foram realizadas três oficinas e um
mutirão de limpeza nas duas escolas. Verificou-se que os docentes já desenvolviam atividades de EA,
contudo, eram ações pontuais. Observou-se que este estudo contribuiu para aproximar a Universidade, o
poder público municipal, as escolas e a comunidade, numa perspectiva de buscar alternativas à
problemática ambiental por meio da mobilização social. As visitas a campo e as oficinas realizadas
apresentaram elementos novos para serem trabalhados e conduziram a elaboração de projetos de EA que
já estão sendo desenvolvidos nas duas escolas. Ademais, criou-se o Grupo Ambientalista Escolar (GAE), com
a participação dos alunos. Conclui-se, que o trabalho contribuiu para o desenvolvimento de atividades de
EA, na sua dimensão formal, ampliando a experiência docente e a melhoria das suas práticas pedagógicas,
com vista a mudanças de atitudes e valores em relação à questão ambiental, contribuindo assim, para a
conscientização efetivação de práticas ambientais.
Palavras-chave: Educação Ambiental; Práticas docentes; Conscientização; Sustentabilidade;
Mobilização.

INTRODUÇÃO
A formulação da EA como estratégia de mudança de valores em relação ao tratamento com o
ambiente se deu com o movimento ambientalista que começou a se constituir de forma mais efetiva a
partir da década de 1960. Mas, foi somente em 1977, na Conferência de Tbilisi, que a EA foi discutida pela
primeira vez em uma dimensão planetária. Os debates sobre os problemas ambientais globais e os fóruns
de discussões vêm direcionando atenção à importância da EA como um instrumento de conscientização
para o ser humano, no sentido de procurar a resolução dos problemas ambientais que afligem as
sociedades contemporâneas (SILVA; PESSOA, 2009).
A EA adota como referencial a abordagem inter e/ou transdisciplinar, na intenção de buscar uma
compreensão integrada do meio ambiente. Segundo Leff (2001) a adoção da prática inter e/ou
transdisciplinar busca unir os diversos saberes, que foram separados pela proposta disciplinar, deixando de
lado as divisões das fronteiras científicas, para construir um conhecimento unificado.
No âmbito nacional EA esta sendo reforçada por dois pilares: o primeiro trata-se dos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs), que introduziu o meio ambiente como um dos temas transversais nos

31
Este trabalho é fruto do projeto de extensão: Educação Ambiental Saberes e Práticas no Âmbito Escolar:
uma proposta para o município de Areia Branca, RN. Orientado pela Profa Márcia Regina Farias da Silva. Doutora em
Ecologia Aplicada – Ambiente e Sociedade, pela Universidade de São Paulo – USP.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


778

conteúdos curriculares (BRASIL, 1998); o segundo refere-se à Lei 9.795/99, que dispõe sobre as orientações
legais para o desenvolvimento da EA, e sobre a sua introdução no ensino formal. (BRASIL, 1999). Todavia,
ainda, se observa que no âmbito escolar a EA não recebe a ênfase que deveria receber. Sorrentino (1998)
afirma que os educadores no Brasil não têm trabalhado as temáticas ambientais, de forma contínua e
integrada, como propõe os instrumentos legais, tornando o desenvolvimento de projetos de EA, no âmbito
formal, uma problemática a ser transposta.
Nessa direção, é possível destacar que a superação de problemas emergentes, como a questão
ambiental, exige mudanças profundas na concepção de mundo, de natureza, de poder e de bem-estar,
tendo por bases a formação de novos valores e novas atitudes. Faz-se, necessário repensar a importância
de se trabalhar a EA no âmbito escolar, uma vez que o seu caráter de transformar as concepções do ser
humano enxergar a relação de interdependência entre a sociedade e o ambiente, vem a ser fundamental
para a construção de uma sociedade mais mobilizada comprometida com a qualidade ambiental, ou seja,
uma sociedade sustentável.
Não se pode pensar em trabalhar a EA, de uma forma descontextualizada da problemática
ambiental local; e tão pouco as suas práticas podem se resumir as atividades desenvolvidas em sala de
aula. É preciso pensar na ampliação das práticas de EA para outros espaços, além do âmbito escolar,
possibilitando a formação de conhecimento das questões, dos problemas e da busca de soluções nas
esferas social e ambiental. (SOUZA; FREITAS; SILVA, et al. 2009).
A EA pode ser realizada nas escolas, nos parques e reservas ecológicas, nas associações de bairro,
sindicatos, universidades, meios de comunicação de massa etc., como destaca Reigota (2006). A sua
atuação na escola deve ser realizada por meio da articulação das diferentes disciplinas curriculares tais
como, a ciências, a geografia, a história, a matemática entre outras, uma vez que não existe uma disciplina
específica para se trabalhar a EA, e sim, uma vasta dimensão do campo disciplinar.
Os docentes devem construir as suas práticas, considerando que a temática é transversal e
multidimensional, o que conduz a necessidade de construir um conhecimento contextualizado e
integrador. Para tanto é preciso entender e internalizar a importância dos conceitos ambientais na vida dos
alunos, e a partir da realidade dos ecossistemas locais, ampliar a capacidade dos alunos de compreensão da
problemática ambiental global. (SOUZA; FREITAS; SILVA, et al. 2009).
As práticas pedagógicas devem caminhar no sentido de propiciar a formação de cidadãos com
convicções, atitudes éticas e valores de respeito ao ambiente, bem como cidadãos conscientes das suas
responsabilidades individuais, no que se refere ao trato com o meio ambiente. Logo, os conteúdos
curriculares devem ser trabalhados para além do livro didático, buscando estabelecer conexões entre o
local e o global. (SILVA; MARTIM, 2001).
De acordo com Morin (2000) é preciso considerar, que os problemas ambientais colocados num
quadro europeu, asiático ou latino-americano ultrapassam as fronteiras políticas, étnicas e econômicas,
atingindo todos os continentes e nações do planeta. Poderíamos, então, dizer que os problemas ambientais
mundiais agem sobre uma escala local, os quais por sua vez retroagem em escala global. Tratar os
problemas ambientais de modo isolado se constitui um equívoco, pois não podemos esquecer que vivemos
numa época de globalização, em que as aflições das populações humanas são transversais,
multidimensionais e planetárias. Contudo, a ausência de qualificação docente continuada tem se
constituído em problema de grande proporção para de desenvolver as recomendações dos órgãos
educacionais específicos, ou seja, realizar trabalhos de EA com ênfase na sua dimensão transversal.
Pesquisa realizada por Freire (2009) identificou que no município de Areia Branca (RN) as práticas
de EA são desenvolvidas de forma pontual, fragmentada e descontínua. Para a autora, esta constatação, no
caso das escolas públicas municipais, pode está, estreitamente, associada com o índice de rotatividade do
corpo docente e com a ausência de qualificação continuada na rede municipal de ensino. O município de
Areia Branca possui cerca de 30 unidades de ensino, sendo 19 na zona rural e 11 na zona urbana,
atendendo uma clientela que vai do ensino infantil até a educação de jovens e adultos, totalizando
aproximadamente quatro mil alunos atendidos pela rede municipal de ensino.
Nessa direção, a presente pesquisa buscou identificar as práticas de EA de dois grupos de
professores do ensino fundamental da rede pública de ensino do município de Areia Branca/RN, numa
perceptiva de formação docente, como um instrumento de gestão capaz de contribuir para conscientização

João Pessoa, outubro de 2011


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e conseqüente mudança de valores e de atitudes, em relação ao meio ambiente, tanto dos professores,
alunos, funcionários e circunvizinhança como um todo.

METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada em duas escolas da rede municipal de ensino. A escolha das escolas se deu
em virtude serem localizadas em áreas distintas da malha municipal, ou seja, uma na zona urbana e a outra
na zona rural, sendo que na escola da zona urbana se considerou, também, como critério de escolha o seu
tamanho, pois esta é maior escola municipal da cidade. Assim, a escola A, localizada na zona urbana, possui
02 professores do ensino fundamental I e 32 professores do ensino fundamental II. Já a Escola B, localizada
em Redonda, zona rural, possui 09 professores do ensino fundamental II.
Inicialmente, foi feita uma reunião para a realização do DRP, com vista à identificação das práticas
de EA desenvolvidas pelos docentes. Em seguida foi apresentada a proposta de realização de oficinas e
atividades de campo. Foram realizadas três oficinas temáticas para preparação de materiais didáticos: (1)
Oficina de confecção de materiais didáticos, utilizando resíduos sólidos como plástico, metal e papel; (2)
Oficina para elaboração de jogos; (3) Oficina para elaboração de projetos de EA, cada oficina contou com 6
horas/aula. A segunda etapa foi a de reconhecimento da escola e das áreas circunvizinhas; visita de campo
as instalações do Programa de Coleta Seletiva e ao aterro controlado do município. A terceira etapa foi o
acompanhamento e o apoio aos professores na realização das atividades propostas pelas escolas, por meio
de visitas, palestras, exibição de vídeos, entre outras.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
A primeira reunião para a realização do DRP e para apresentar a proposta da ação foi em novembro
de 2009. Essa apresentação teve início na escola B, contou com a presença do corpo docente e da equipe
pedagógica. Identificou-se que ações de EA já tinham sido desenvolvidas na escola, contudo não haviam
dado continuidades aos projetos. Entre as atividades já realizadas verificou-se o projeto de horta, com
ênfase ao cultivo de plantas medicinais, ornamentais e verduras; projeto de arborização na comunidade,
incentivando a comunidade a cuidar de uma árvore; passeio ecológico; projeto arte na cozinha, no qual
ocorre o reaproveitamento de alimentos; desenvolvimento de gincanas com tarefas de arrecadação de
material reciclável; projeto arte com leitura; mutirão de limpeza da sala de leitura; maquetes com material
reciclado; projeto arte musical: instrumentos musicais com material reciclado; projeto emancipação política
(desfile da escola com o tema: Aquecimento global e água); peças teatrais com temas ambientais. Já na
escola A, após a realização do DRP constatou-se que entre as atividades desenvolvidas estavam o projeto
de conscientização ecológica: do local para o global; projeto amigos do mangue; projeto de arborização;
campanhas de reciclagens; gincanas ambientais; projeto “Dengue”; projeto parâmetros em ação: meio
ambiente na escola; mutirão no litoral; projeto resgatando valores e praticando cidadania.
As oficinas propostas pelo estudo tiveram início no segundo semestre de 2010. A primeira oficina
ministrada foi a de fabricação de materiais didáticos e brinquedos, por meio de materiais recicláveis, com o
objetivo de estimular a conscientização ambiental de educadores e alunos para a prática da reutilização e
da reciclagem de materiais. Constatou-se que foi possível fabricar objetos como o “bilboquê” (FIGURA 01),
tendo como matérias-primas garrafas de polímero termoplástico (pet), barbante e tampas das próprias
garrafas.

FIGURA 01 – Sr. Zé Antônio ensinando a fabricação do bilboquê na escola A, Areia Branca/RN, 2010.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


780

Durante a referida oficina foi possível observar interesse e interação do corpo docente na
confecção do referido objeto. De acordo com os educadores, atividades como capazes de contribuir para a
formação de valares e de atitudes em relação a reaproveitamento e a reciclagem dos resíduos sólidos.
A segunda oficina realizada foi a de confecção de jogos, que contou com a participação de
discentes do Departamento de Matemática da UERN. Eles apresentaram jogos matemáticos fabricados a
partir da reutilização de materiais como, madeira, papelão e isopor.
Após a conclusão das referidas atividades, teve início a oficina de elaboração de projetos, na qual
foram propostas atividades de EA para as escolas A e B. Os educadores foram divididos em 2 (dois) grupos
de trabalho (GTs) para traçarem a estrutura dos projetos de educação ambiental de suas respectivas
escolas, FIGURA 2.

FIGURA 2 – Grupo de trabalho constituído por educadores da A, Areia Branca/RN, 2010.

Para tanto, foram abordadas as principais etapas de planejamento para a realização de um projeto.
Tais etapas são: levantamento dos problemas e do potencial local (quais as possibilidades de resolução dos
problemas e das questões levantadas); definição dos objetivos do projeto; identificação do público alvo;
análise dos recursos disponíveis e das possíveis parcerias; escolha e seleção dos instrumentos de avaliação;
seleção do grupo de pesquisadores que fará parte do projeto.
Já as visitas de campo foram desenvolvidas em agosto de 2010. Os educadores das escolas A e B
tiveram a oportunidade de visitar o aterro controlado do município de Areia Branca, no local foi constatado
que pelas características apresentadas, o aterro já pode ser considerado um lixão a céu aberto, uma vez
que a sua capacidade de suporte foi excedida, não havendo por parte do órgão responsável a abertura de
novas células no referido local. Tal visita objetivou apresentar aos educadores a realidade da disposição
final dos resíduos sólidos no município, e suas implicações para a qualidade ambiental.
Logo após, os educadores foram à Associação Social dos Amigos Protetores e Simpatizantes
Ambientais de Areia Branca (ROTATIVA), FIGURA 3. Na ocasião discutiram-se as dificuldades existentes nas
instalações físicas, principalmente, em períodos chuvosos, tendo em vista que o local para o
armazenamento dos materiais não tem proteção para essa ocasião.

FIGURA 3 – Educadores das escolas A e B em visita à ROTATIVA, Areia Branca/RN, 2010.


Os educadores presentes apresentaram interesse em contribuir com a coleta seletiva, separando os
seus resíduos para que a ROTATIVA compareça em suas residências para coletar. Dessa forma, essas

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atividades possibilitaram aos educadores uma melhor compreensão no que diz respeito ao comportamento
da humanidade com relação ao meio ambiente, além de impulsionar a questão do envolvimento dos
discentes nessas temáticas.
Realizou-se ainda, uma eleição entre os discentes para a formação do Grupo Ambientalista Escolar
(GAE), no qual será composto por 60 alunos e 1 suplente no turno matutino, e 45 alunos e 1 suplente no
turno vespertino, sendo 5 integrantes de cada turma, estes multiplicadores de boas práticas ambientais nos
ambientes escolar e familiar.
Para a primeira formação do GAE foi realizada em novembro de 2010 uma reunião, na qual
estavam presentes a coordenadora pedagógica e dois professores responsáveis pelo Grupo. Em seguida,
aconteceu a formação dos alunos. Esta formação foi ministrada por bolsistas e um professor da escola.
Durante a formação foram abordados os motivos da criação do Grupo e o seu objetivo, em um segundo
momento foi apresentada considerações sobre a problemática ambiental, nos âmbitos global e local,
focalizando que tais alunos, serão multiplicadores dessas informações, a fim de contribuir para que outros
por meio deles, adquiram a conscientização ambiental, para finalizar a formação foi discutida a necessidade
de mudanças de hábitos, a exemplo da limpeza no ambiente escolar.

FIGURA 4 – I Formação do GAE realizada na escola A, Areia Branca/RN, 2010.

Como implementação do projeto elaborado durante a terceira oficina, na escola A foi realizado um
Mutirão de Limpeza. Concomitante ao mutirão ocorreu a I Gincana Ecológica Escolar. Cabe esclarecer que o
mutirão foi realizado pelos discentes, com o apoio da comunidade circunvizinha e do corpo discente.

Figura 5 – Discentes do turno matutino na limpeza de mesas e cadeiras da escola A em Areia


Branca/RN, 2010.

Essa atividade proporcionou um novo interesse por parte de alguns discentes no que se refere à
conservação e manutenção da escola. Desse modo, é importante salientar que é preciso adquirir atitudes
que venham a provocar alterações que sustentem a conservação de bens públicos e dos recursos naturais.
O mutirão foi realizado com o objetivo de apresentar aos discentes a importância de construir valores,
atitudes e comportamentos, em consonância com a responsabilidade individual e coletiva.
Ainda como consolidação da oficina de elaboração de projetos ocorre na escola B, o lançamento do
projeto: “Sustentabilidade Ambiental”, contando com a presença do diretor da escola, coordenadora

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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pedagógica, dos professores e alunos dos turnos: matutino e vespertino. O lançamento do projeto ocorreu
por meio de uma gincana ecológica, organizada a partir de provas de perguntas e respostas, apresentação
de paródias sobre meio ambiente, prova de arrecadação do maior volume de garrafas PET e caixas de leite,
que num momento posterior foram utilizadas para a confecção de materiais na disciplina de artes;
elaboração de cartazes que melhor representassem o meio ambiente, apresentação de um objeto
confeccionado a partir de material reciclável, entre outras.
Em síntese, é possível afirmar que as atividades desenvolvidas nas escolas A e B poderão servir de
incentivo para os corpos docentes e discentes das escolas continuarem desenvolvendo atividades no
âmbito escolar de educação ambiental, com vista a contribuir para a sustentabilidade local, cabe ainda
ressaltar que, tais práticas já iniciadas estão colaborando para a mobilização socioambiental não só no
ambiente escolar, como também envolvendo os pais dos alunos e comunidade em geral, visto que, ambas
as escolas vem adquirindo a tema da sustentabilidade em suas festividades, a exemplo dos desfiles
municipais, e entre outras atividades abertas ao público.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da realização das oficinas é possível afirmar que os professores apresentaram interesse
pelos temas tratados e assim, encontram-se mais preparados para trabalhar as temáticas ambientais com
os seus alunos, conforme orienta os PCNs.
As atividades de educação ambiental já eram desenvolvidas nas duas escolas, contudo não havia
continuidades as ações, com a proposta da ação ora apresentada, há um indicativo de resgate de atividades
já desenvolvidas e continuidade das que foram adotadas.
Cabe aqui destacar a importância dos trabalhos de EA coletivos, envolvendo os discentes, os
docentes, o corpo administrativo e a comunidade, com vista à formação de valores e atitudes corretas, em
relação ao trato com o meio ambiente, vindo à melhoria na qualidade socioambiental.
O incentivo às práticas interdisciplinares é fundamental para consolidação das práticas de EA, uma
vez que a temática é transversal, necessitando de um diálogo entre diferentes áreas do conhecimento.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei n0 9.795, de abril de 1999. Dispõe sobre a Educação Ambiental, institui a Política
Nacional de Meio Ambiente e dá outras providencias. Diário Oficial, Brasília, DF, n0 79, 28 de abr. 1999.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos - temas transversais. Brasília:
MEC/SEF, 1998. (Secretaria de Educação Fundamental).
FREIRE, Diura Rodrigues da Silva. Análise das práticas de educação ambiental em escolas de Areia
Branca, RN. Monografia (Gestão Ambiental). Faculdade de Ciência Econômicas. Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte. Areia Branca, 2009.
LEFF, Henrique. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Petrópolis,
RJ: Vozes, 2001.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários a educação do futuro. 2ed. São Paulo: Cortez; Brasília,
DF: UNESCO, 2000.
REIGOTA, Marcos. O que é Educação Ambiental. 4ed. São Paulo: Brasiliense, 2006. (Coleção
primeiros passos, 292).
SILVA, Márcia; PESSOA, Zoraide; Educação como Instrumento de Gestão Ambiental. IN: TORRES,
Betânia; RIBEIRO, Mayra; AGUIAR, Ana Lúcia. Teorias e Práticas em Educação Ambiental. Mossoró: Edições
UERN, 2009.
SORRENTINO, Marcos. Educação Ambiental e Universidade. IN: BARBOSA, Sônia Regina da Cal
Seixas. A temática ambiental e a pluralidade do ciclo de seminários do NEPAM. Campinas. São Paulo: Atlas,
1998.

João Pessoa, outubro de 2011


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CAMPANHAS E EVENTOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL – DA MOBILIZAÇÃO


À EDUCAÇÃO – A EXPERIÊNCIA PROMATA
Antônio Ferreira de Oliveira Neto
Aluno do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal de Pernambuco. E -
mail: aferreira.neto@ibest.com.br
Vanice Santiago Fragoso Selva
Professora do Departamento de Geografia/UFPE e Coordenadora do Prodema/UFPE. E -mail: vanice.selva@gmail.com

RESUMO
Diante do quadro social de falta de oportunidade e grande pobreza da Zona da Mata de
Pernambuco, além da realidade de um degradado ambiente natural, cenário histórico da monocultura
canavieira, a qual apresenta um desordenado uso dos recursos naturais e uma real escassez de ações de
investimentos no que se refere ao desenvolvimento humano, foi criado em 2001, o Programa de Apoio ao
Desenvolvimento Sustentável da Zona da Mata de Pernambuco (Promata), com apoio do Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID), com a proposta de desenvolver ações integradas nas áreas de
saúde, educação, infraestrutura, diversificação econômica, gestão e proteção ambientais nos 43 municípios
da Zona da Mata de Pernambuco, visando promover o desenvolvimento local. O Promata, através do
Consórcio Engeconsult/Colméia, realizou as Campanhas e Eventos de Educação Ambiental (EA) em apenas
trinta dos quarenta e três municípios da Região. Essas Campanhas e Eventos de Educação Ambiental foram
realizadas sob a ótica da comunicação e da sensibilização da população municipal, através de quatro linhas
de ação: EA na Saúde; EA na Escola; EA na Infraestrutura; e Meio Ambiente e Diversificação Econômica. O
presente trabalho analisa as práticas das Campanhas e Eventos da Linha de Ação 2 com o objetivo de
investigar nas referidas campanhas se as ações concretizadas de Educação Ambiental nas Escolas
construíram novas possibilidades de desenvolvimento socioambiental para a população local, levando a
mudanças de comportamento. Uma Linha de Ação que será analisada quanto seu objetivo de estimular a
participação das escolas nas atividades de campanhas e eventos de educação ambiental, verificando suas
atividades na comunidade escolar dos Municípios em questão no que se refere a sensibilização e formação
de cidadãos ambientalmente responsáveis.
Palavras-Chave: sensibilização; educação ambiental, mudança comportamental, desenvolvimento
socioambiental.

INTRODUÇÃO
O presente trabalho de análise das práticas da Linha de Ação 2, Educação Ambiental na
Escola, do Programa de Desenvolvimento Local Sustentável da Zona da Mata do Estado de Pernambuco,
possui a relevância, diante da necessidade de um saber quanto dispositivo facilitador das práticas
pedagógicas de educação ambiental, na ação de construir conhecimento e gerar aprendizagem, de
sensibilizar e desenvolver competências e habilidades socioambientais na comunidade escolar da região, a
fim de evidenciar o cumprimento do papel das campanhas enquanto instrumento de indução de práticas
educativas de mudança de comportamento.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A Lei n 9.795, de 27 de abril de 1999, instituiu no Brasil a Política Nacional de Educação
Ambiental e em seu Capítulo I, Artigos 1°e 2° estabelece que:
Art. 1º - Entende-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e
a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas
para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e
sua sustentabilidade.
Art. 2° - A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação
nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo
educativo, em caráter formal e não-formal. (BRASIL, 1999)

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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A Lei estabelece ainda no seu Artigo 3º, incisos I e II, que todos têm direito à educação
ambiental, estando as Instituições Educativas incumbidas de promovê-las em todos os níveis de ensino,
buscando o engajamento da sociedade na conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente, além
de integrá-la aos programas educacionais desenvolvidos nas Instituições Educacionais do país.
A Educação Ambiental “fomenta sensibilidades afetivas e capacidades cognitivas para uma
leitura do mundo do ponto de vista ambiental (...) como mediadora na construção social de novas
sensibilidades e posturas éticas diante do mundo.” (CARVALHO, 2004).
E a escola é o espaço social ideal para trabalhar estas questões, onde o aluno dará
seqüência ao seu processo de socialização. Comportamentos ambientalmente corretos devem ser
aprendidos na prática, no cotidiano da vida escolar, contribuindo para a formação de cidadãos
responsáveis. E para que isso aconteça é preciso “deixarem a condição de ser seres fora de e assumirem a
de seres dentro de” (FREIRE, 1987, p. 38).
Portanto, à luz da Política Nacional de Educação Ambiental e de autores de relevada
importância dentro do contexto nacional, se faz necessário analisar as ações de educação ambiental do
Promata, dentro do contexto do papel do Estado como promotor e executor de políticas públicas, e do
papel das escolas e professores na construção do saber crítico do aluno.

OBJETIVO
Analisar o processo das ações das Campanhas e Eventos de Educação Ambiental, realizadas
pelo Promata em trinta municípios da Região da Zona da Mata desse Estado, especificamente quanto à
Linha de Ação 2 – Educação Ambiental na Escola na perspectiva de apresentar as ações concretizadas e os
resultados obtidos sob o olhar da educação ambiental como processo transformador.

METODOLOGIA
Como procedimento metodológico, a pesquisa foi desenvolvida sob a ótica da observação
participante e da pesquisa-ação, na qual ao autor teve participação como coordenador e como educador
ambiental nas Campanhas e Eventos de Educação Ambiental do Promata. Segundo Atkinson e Hammersley
(1994), citados por Santos (2010, p. 3), a observação participante “Refere-se à observação procedida
quando o pesquisador está desempenhando um papel participante estabelecido na cena estudada”. Já
Michel Thiollent (1994), um dos grandes nomes do Brasil em pesquisa-ação, define pesquisa ação como
(...) um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita
associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os
participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou
participativo. (SANTOS, 2010, p. 8)

DESCRIÇÃO DAS AÇÕES


As Campanhas e Eventos de Educação Ambiental foram realizadas no período de
17/03/2008 a 09/05/2008, em trinta municípios da Região da Zona da Mata de Pernambuco, sob a ótica da
comunicação e da sensibilização da população municipal, através de quatro linhas de ação: EA na Saúde; EA
na Escola; EA na Infraestrutura; e Meio Ambiente e Diversificação Econômica. Foram envolvidas 842 escolas
estaduais e municipais, urbanas e rurais, contando com o apoio das secretarias de educação municipais
quanto ao planejamento, infraestrutura e logística.
Ao todo, por parte da empresa contratada (CONSÓRCIO ENGECONSULT/COLMÉIA),
participaram quinze técnicos, nas áreas de coordenação, supervisão, educação ambiental, arte-educação e
mobilização.
O processo de articulação e mobilização social foi desenvolvido pelas técnicas sociais, de
forma articulada e integrada com os especialistas em educação ambiental. A metodologia adotada para
articulação nos municípios foi pautada na perspectiva da parceria entre todos os atores envolvidos no
processo, onde foram realizadas visitas aos municípios, reuniões e contatos com prefeitos, secretários de
educação e cultura, diretores e coordenadores de escolas estaduais e municipais, coordenadores dos
Núcleos de Supervisão Local do Promata (NSL) e Comissões Gestoras Locais do Promata (CGL), com a
finalidade de informar sobre a proposta dos Eventos e Campanhas de Educação Ambiental, no sentido de
contar com o apoio e colaboração de todos e construir juntos as estratégias de implementação.

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A Linha de Ação 02 teve como objetivo estimular a participação das escolas nas atividades
de campanhas e eventos, contribuindo para que a comunidade escolar integrante dos Municípios reflita
sobre a importância do seu papel na formação de cidadãos responsáveis. As abordagens temáticas
consideraram os princípios e diretrizes da Política Nacional de Educação Ambiental. Segundo Castrol (2005,
p 405), “A participação da espécie humana como sujeito na sociedade, na cultura e na história se faz à
medida que é educado para conscientizar-se e assumir suas responsabilidades de ser humano.” Portanto, a
participação popular foi um dos fundamentais princípios das Campanha e Eventos de Educação Ambiental,
através da articulação e da mobilização dos atores envolvidos, dando sustentabilidade à estruturação e à
concepção das atividades desenvolvidas. Implementar Educação Ambiental nas escolas mostrou-se uma
tarefa desafiadora. Constituia-se numa quebra de paradigma e mudança cultural que provocariam
mudanças de valores e de ações cotidianas que estavam arraigadas em cada ser humano envolvido. Dessa
forma, as atividades desenvolvidas nesta fase abordaram aspectos pertinentes às questões educativas que
envolveram diversas ações.
Em cada município foi realizada uma oficina com apresentação de vídeos, palestras e
debates, dirigida aos professores e coordenadores das escolas públicas municipais e estaduais (área urbana
e rural), com o objetivo de contribuir para que os educadores refletissem sobre a importância da inserção
de temas ambientais através de abordagens interdisciplinares no cotidiano das escolas. Foram realizadas
também três campanhas educativas, sendo elas, uma Oficina Pedagógica, uma Feira Ambiental e um
Concurso de Literatura de Cordel. Campanhas essas, instrumentalizadas por palestras, debates, gincanas,
arte-educação, exibição de vídeos temáticos, teatro, mamulengos, oficinas de sucata, envolvendo
coordenadores, professores e alunos, visando estimular a reflexão e mudança de atitudes - através de
abordagem lúdica – sobre problemas ambientais, tais como disposição inadequada de resíduos sólidos,
poluição hídrica, desmatamento, uso racional da água, mudança climática e eventos extremos. Todas as
atividades desenvolvidas fizeram parte de um contexto cuja abordagem sistêmica, permitiu que as demais
Linhas de Ação interagissem formando um todo, que possibilitou olhar a realidade ambiental de forma
macro, justificado aqui, através do cruzamento de informações e complementações entre as diferentes
ações propostas, a exemplo da campanha “Saúde na Feira”, realizada com a participação da comunidade
escolar e Agentes de Saúde, e que fazia parte do contexto da temática da Linha de Ação 01, com a
finalidade de sensibilizar a população e os feirantes sobre os cuidados de higiene com os alimentos, a
necessidade do consumo de alimentos livres de agrotóxicos, e por fim o aspecto de limpeza no ambiente da
feira.

ATIVIDADES DA LINHA DE AÇÃO 02


Todas as atividades desenvolvidas nessa linha de ação buscaram uma reflexão sobre a
importância e a responsabilidade dos educadores e educando no que concerne à inserção da discussão
sobre o tema Meio Ambiente nas Escolas.
As ações educativas foram realizadas inicialmente através de oficinas para professores,
onde a participação foi uma constante, a partir de construção coletiva e reflexões que facilitam o trabalho
em grupo. Foram utilizadas dinâmicas de grupo, círculos de debates, exibição de conteúdos em Power-
point, apresentação de vídeos temáticos e leitura de textos com posterior reflexão. Ao final das oficinas,
procedia-se a divisão em grupos, os quais com apoio e orientação dos especialistas elaboravam idéias para
intervenção nas escolas e definiam estratégias para a posterior realização das Campanhas.
A primeira Campanha - Oficinas Pedagógicas Ambientais - foi denominada “Respeito à
Vida”, e foi operacionalizada através da realização de oficinas lúdicas com os educando das escolas
municipais e estaduais de cada Município. Os temas geradores trataram questões ambientais, tais como,
disposição inadequada de resíduos sólidos, poluição hídrica, desmatamento, uso racional da água,
mudança climática, enchentes e outras também importantes para o desenvolvimento do Município. Para
operacionalizar a Campanha foram debatidos e definidos com os educadores os temas das oficinas a fim de
garantir que as especificidades locais (fragilidades e potencialidades) fossem tratadas no espaço das
oficinas. Foram realizadas 30 oficinas, onde foram mobilizadas aproximadamente 800 escolas municipais e
estaduais envolvendo cerca de 12.000 alunos. A Campanha foi divulgada através de visitas da equipe de
mobilização (educadores, CGL, NSL e Equipe Técnica do consórcio) às escolas, como também através de
chamadas em carros-de-som. As oficinas foram facilitadas pela equipe do Projetoc (especialistas em

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


786

educação ambiental, arte-educadores e mobilizadores), e aconteceram em espaço físico de uma escola


coletivamente definida. Cada oficina gerou produtos (temas) que futuramente seriam desenvolvidos com o
apoio dos educadores, e fariam parte da Feira Ambiental Municipal.
A segunda campanha foi o Concurso de Literatura de Cordel, onde os educadores foram os
principais mobilizadores nas escolas. O tema gerador foi Educação Ambiental abrangendo aspectos como,
disposição inadequada de resíduos sólidos, poluição hídrica, desmatamento, uso racional da água,
mudança climática e enchentes. Cada Município teve sua temática especifica, partindo do princípio da
existência de múltiplas realidades e problemas ambientais que perpassam o cotidiano individual e coletivo.
Foi elaborado, ainda pela Equipe Técnica, um edital para definir as regras do Concurso que permitiu e
garantiu a transparência do processo no Concurso de Literatura de Cordel. O Concurso foi lançado e
divulgado com o apoio da Equipe Técnica do Consórcio, em uma pequena cerimônia em cada Município,
com a participação de artistas locais, educadores, educandos, a sociedade civil e o poder público. Durante o
lançamento houve a leitura do edital do concurso de Literatura de Cordel e apresentações de grupos locais
de teatro. A divulgação do Concurso se deu através de cartazes e chamadas na mídia falada e escrita. As
inscrições foram encerradas após quatro dias do lançamento do edital. De acordo com o edital os
educadores deveriam realizar inscrições antes da entrega dos produtos (cordéis), tendo em vista que a
Equipe Técnica ofereceria suporte e também monitoraria as atividades dos educadores nas escolas. O
monitoramento pela Equipe Técnica buscava assegurar a autonomia dos educadores e a transparência no
processo de produção dos cordéis. Dessa forma, durante 5 (cinco) dias os educadores mobilizaram e
estimularam a produção de cordel junto às crianças, adolescentes e jovens das escolas municipais. Todos os
educadores tiveram autonomia no processo de produção. O Concurso teve duração de cinco dias, sendo o
primeiro para o seu lançamento, três dias para produção e por fim, o quinto dia para entrega dos cordéis e
reunião para avaliação da Comissão Julgadora formada pela Equipe Técnica e Artistas Locais de cada
Município. Os vencedores foram anunciados durante a Feira Ambiental do Município, apresentaram os
seus trabalhos e tiveram como premiação, a impressão e distribuição de seus cordéis em um folheto com
oito páginas, com uma tiragem de 500 exemplares.
A terceira campanha Feira Ambiental objetivou a socialização das informações acerca da
Educação Ambiental, através da exposição dos produtos realizados nas oficinas, da divulgação dos
ganhadores do Concurso de Literatura de Cordel e distribuição dos folhetos de cordel. Esta foi a terceira e
última campanha realizada em cada Município e aconteceu em uma escola definida entre Equipe Técnica e
educadores. A Feira proporcionou a democratização das questões discutidas durante as campanhas,
tornando-se um espaço para divulgação de informações importantes na preservação e manutenção de um
meio ambiente saudável.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Linha de Ação II - Educação Ambiental na Escola – propiciou a participação e engajamento
de muitas pessoas residentes na Região da Zona da Mata de Pernambuco e estimulou a participação das
escolas municipais e estaduais nas atividades de campanhas e eventos, contribuindo para que a
comunidade, de maneira geral, refletisse sobre a importância da Educação Ambiental como instrumento
transformador, contribuindo para a formação de indivíduos comprometidos com as questões ambientais e
com a conservação do ambiente do qual fazem parte.
O processo ofereceu subsídios aos professores para atuarem de maneira a envolver toda a
comunidade (alunos e familiares), no sentido de resgatar a história do município, conhecer seu meio e
dirimir os problemas ambientais. Envolvendo diversos atores dos municípios, contribuiu, dessa forma, para
sensibilizá-los à mudança de comportamentos, hábitos e posturas ambientalmente corretas.
No entanto, vale à pena ressaltar, a necessidade de que ações como essas não sejam
apenas pontuais, mas que façam parte das políticas públicas na Região e que sejam implementadas através
de programas e projetos permanentes.

REFERÊNCIAS
ATKINSON, P.; HAMMERSLEY, M. Ethnography and participant observation. In: Handbook of
qualitative research. Londres: Sage, p. 248-261, 1994.

João Pessoa, outubro de 2011


787

CARVALHO, Isabel. C. M. de. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo:
Cortez, 2004.
CASTRO M. L., CANHEDO Jr. S. G. Educação Ambiental com Instrumento de Participação. In:
PELICIONI M. C. S., PHILIPPI Jr. A. Educação ambiental e sustentabilidade. Barueri: Manole, p. 401-420,
2005.
CONSÓRCIO ENGECONSULT/COLMÉIA. Relatório 3 – Campanhas e Eventos de Educação Ambiental -
Linha de Ação 02 – Educação Ambiental na Escola. Recife: Consórcio Engeconsult/Colméia, 2008.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987 [1970].
SANTOS, Marcos Eduardo dos. Da Observação Participante a Pesquisa-Ação: uma comparação
epistemológica para estudos em administração. Disponível em:
<http://www.angelfire.com/ms/tecnologia/pessoal/facef_pesq.pdf>. Acesso em: 28 mai 2011.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


788

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: A PERCEPÇÃO SOBRE MEIO AMBIENTE


ENTENDIDO POR ALUNOS DE ENSINO FUNDAMENTAL NO MUNICÍPIO DE
PARAUAPEBAS-PA
Antonio José da Silva BORGES¹
anthonioj@hotmail.com
Ademir da Silva de PAULA¹
ademirbio@yahoo.com.br
Adeildo Lima da SILVA¹
limajp@bol.com.br
1Graduandos em Ciências Biológicas– Universidade Federal do Pará / Universidade Aberta do Brasil – Pólo
Parauapebas/PA. Rua A, Quadra Especial, Cidade Nova, Parauapebas/PA, 68.515-000

RESUMO
O objetivo desse projeto foi sensibilizar e conscientizar os alunos de 8ª Série da Escola Elisaldo
Ribeiro, visando uma maior compreensão acerca do meio ambiente, bem como, promover à formação de
sujeitos ecológicos. Além disso, promoveu-se uma ampla discussão, entre os alunos, sobre meio ambiente,
biodiversidade, preservação e conservação ambiental e posturas éticas ambientalmente corretas. Para a
execução do projeto utilizou-se uma metodologia baseada na discussão, reflexão, análise e pratica das
ações. Por essas condicionantes, o projeto foi desenvolvido em duas etapas: uma de cunho teórico
promovendo a reflexão e a discussão (debate) através de palestras com temas voltados para as questões
ambientais e a parte prática provocando a análise dos impactos ambientais, preservação e conservação do
meio ambiente por meio de aula de campo promovendo a educação ambiental na Floresta Nacional de
Carajás, bem como, chamar a atenção da comunidade escolar para os impactos ambientais sofridos pela
Floresta e no seu entorno, causados pela extração de minério e pela falta de uma política voltada para o
desenvolvimento sustentável. Também não podemos esquecer-nos dos impactos sociais que estão ao
redor da floresta, fruto de um modelo econômico onde o seu fim último é o lucro, solapando o meio
ambiente e provocando vulnerabilidade social sem precedentes. Esta foi outra realidade bastante
desafiadora de ser mitigada durante a realização desse projeto. Contudo durante o desenvolvimento do
projeto pode-se refletir sobre temas ambientais pressupondo um debate centrado no comportamento do
homem, na tentativa de melhorar a relação homem – natureza. Através das aulas de campo realizadas
pode-se sentir o quanto é necessário esse tipo de atividade, há vista, que um meio didático metodológico é
bastante eficiente que visa na prática, uma mudança de mentalidade.
Palavras chaves: Meio Ambiente, Educação Ambiental, Sustentabilidade, Relação Homem-
Natureza, Biodiversidade

INTRODUÇÃO
Nos últimos três séculos houve um grande crescimento do conhecimento humano, proporcionando
um amplo desenvolvimento das ciências e da tecnologia. Ao mesmo tempo também ocorreram mudanças
nos valores e modos de vida da sociedade, com o surgimento do processo industrial e o crescimento das
cidades, aumentando assim a utilização dos recursos naturais e uma grande produção de resíduos. Enfim,
todos esses fatos geraram profundas mudanças na cultura, afetando principalmente a percepção do
ambiente pelos seres humanos, que passaram a vê-lo como um objeto de uso para atender suas vontades,
sem se preocupar em estabelecer limites e critérios apropriados.
Assim, não demorou muito para surgirem às conseqüências dessa cultura moderna: o surgimento
de problemas ambientais que afetam a qualidade de vida. Em pouco tempo ficou claro que havia uma crise
de relações entre sociedade e meio ambiente.

Orientador: Esp. Sinandra Carvalho dos SANTOS-GOMES. MEC/CAPES – UFPA – Universidade Federal do Pará
– UAB/ Universidade Aberta do Brasil - Pólo Parauapebas/PA. sinandra.bio@gmail.com

João Pessoa, outubro de 2011


789

A preocupação com essa situação fez com que surgisse a mobilização da sociedade, exigindo
soluções e mudanças. Por isso, na década de 60, surgem os primeiros movimentos contraculturais. Em
razão disso, surge o movimento ecológico, que trazia como uma de suas propostas a difusão da educação
ambiental, como ferramenta de mudanças nas relações do homem com o ambiente. Então, a educação
ambiental surge como uma resposta à preocupação da sociedade com o futuro da vida.
Assim a proposta principal da Educação Ambiental é a de superar a dicotomia entre natureza e
sociedade, através da formação de uma atitude ecológica nas pessoas. Por isso, “um dos seus fundamentos
é a visão socioambiental, que afirma que o meio ambiente é um espaço de relações e um campo de
interações culturais, sociais e naturais” (Lopes, 2000). Ressalta-se ainda, que de acordo com essa visão,
nem sempre as interações humanas com a natureza são daninhas, porque existe um co-pertencimento,
uma coevolução entre o homem e o seu meio. “Coevolução é a idéia de que a evolução é fruto das
interações entre a natureza e as diferentes espécies e a humanidade também faz parte desse processo”
(Junges, 2004).
O processo educativo proposto pela educação ambiental objetiva a formação de sujeitos capazes
de compreender o mundo e agir nele de forma crítica - consciente. Sua meta, por assim dizer, é a formação
de sujeitos ecológicos, visando uma leitura holística do mundo e a adotação de posturas éticas com meio
ambiente, como escreve categoricamente Isabel Carvalho:
“A Educação Ambiental fomenta sensibilidades afetivas e capacidades cognitivas para uma leitura
do mundo do ponto de vista ambiental. Dessa forma, estabelece-se como mediação para múltiplas
compreensões da experiência do indivíduo e dos coletivos sociais em suas relações com o ambiente. Esse
processo de aprendizagem, por via dessa perspectiva de leitura, dá-se particularmente pela ação do
educador como intérprete dos nexos entre sociedade e ambiente e da educação ambiental como
mediadora na construção social de novas sensibilidades e posturas éticas diante do mundo” (CARVALHO. p
213, 2000)
Como salienta a autora acima de que a educação ambiental é uma ferramenta que sensibiliza e
conscientiza as pessoas. Esta não pode está desvinculada de um alicerce pedagógico muito bem
fundamentado que leve o sujeito a pensar sobre sua prática e posteriormente a mudar sua atitude.

MATERIAL E MÉTODO
A metodologia envolvida durante a execução do projeto teve por base a discussão, reflexão, análise
e pratica das ações. Por essas condicionantes, o projeto foi desenvolvido em duas etapas: uma de cunho
teórico promovendo a reflexão e a discussão (debate) através de palestras com temas voltados para as
questões ambientais e a parte prática provocando a análise dos impactos ambientais, preservação e
conservação do meio ambiente e a pratica da educação ambiental na Floresta Nacional de Carajás e no seu
entorno. A metodologia também levou em respaldo a vivencia do cotidiano dos alunos, dando impulso a
construção coletiva do conhecimento e interação do grupo.
Assim o projeto foi realizado no período de fevereiro a junho de 2010, na escola municipal de
ensino fundamental Elisaldo Ribeiro, localizada num bairro periférico do município de Parauapebas. O
público alvo deste projeto foram alunos de 8ª série, na faixa etária de 13 a 16 anos. Como procedimento
metodológico para deste estudo quantitativo, do tipo descritivo, realizou-se a aplicação de um questionário
elaborado para o presente levantamento de dados. No questionário foram elencadas 12 perguntas
direcionadas a investigar o nível de informações dos entrevistados sobre questões ambientais e educação
ambiental dentro da escola e fora dela. Elencou-se perguntas do tipo direta e indireta, onde o propósito
das perguntas indiretas foi buscar a analise qualitativa das respostas. Os dados obtidos foram analisados
sob um olhar quantitativo e expresso por meio de gráficos. Diante dos resultados obtidos foi promovido um
ciclo de palestras a partir do diagnóstico prévio das entrevistas semi elaboradas. Os temas abordados nas
palestras foram escolhidos mediante as dificuldades de compreensão apresentadas na quantificação dos
resultados das entrevistas. Depois do ciclo de palestras realizadas na escola, os alunos puderam realizar
durante o segundo semestre de 2010, aulas de campo na Floresta Nacional de Carajás por meio do Centro
de Educação Ambiental de Parauapebas, conciliando teoria e aula prática;

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


790

Ao refletimos sobre o processo de transformação da sociedade nos últimos anos, nos deparamos
com uma questão muito presente no cenário atual: a degradação ambiental e a falta de uma educação
voltada para essa temática. O mito do desenvolvimento social, cultural, econômico, educacional e político
através da exploração da natureza foram fortificados por uma complexa transformação humana. Essa
transformação intensificou as mais diversas formas de produção e exploração por parte do homem no meio
ambiente, gerando efeitos, muitas vezes, irreversíveis à natureza. Tais efeitos atualmente geram
questionamentos quanto ao futuro do planeta e, principalmente, dos humanos, uma vez que tem se
percebido na atualidade grandes alterações climáticas, sendo a maior parte delas decorrentes do descaso
humano ao ambiente (Junges, 2004).
Essa problemática nos alerta para os diversos modos que a sociedade humana tem se relacionado
com o meio construído (humano) e o não-construído (natural). Autores como Ribeiro (1998); Medina
(2001); Guattari (2006) discutem incessantemente sobre formas de alterar a consciência da população e
assim, modificar o olhar da cultura capitalista que permanece ativa em toda sociedade.
Uma forma de transformar a realidade atual é incorporar à educação tradicional sistemas que
permitam trabalhar de forma multidisciplinar o conhecimento. Esse conhecimento propicia a formação de
cidadãos suficientemente informados, conscientes e preparados para modificar o presente, para que as
questões ambientais possam ser não apenas discutidas, mas para que se busquem soluções para as
mesmas (Lucatto e Talamoni, 2007).
Nesse sentido, a educação fornecida no âmbito escolar apresenta-se como uma possibilidade dos
seres humanos de apropriar-se de conhecimentos produzidos ao longo do tempo, buscando assim valores
que possam contribuir para o desenvolvimento e melhoria do modo de viver. Dessa forma, é possível
perceber que a educação ambiental surge como obrigação legal, ética e moral da escola, uma vez que a
atualidade pede mudanças profundas de valores e comportamentos humanos (Leff, 2007). Porém nem
sempre a escola revela este interesse pelas questões ambientais (Figura 1). Na escola onde aplicou-se o
questionário o olhar dos alunos nos revelam uma preocupação:

Figura 1: Análise quantitativa sobre como as questões ambientais é vista no ambiente escolar

Diante desse cenário faz-se necessário buscar alternativas, onde se possa trabalhar dentro do
ambiente escolar alternativas pedagógicas que estimule os alunos a conhecer as questões ambientais por
meio da educação ambiental, bem como salientar por meio das atividades escolares propostas que
despertem os alunos para as temáticas ambientais como: sustentabilidade, relação entre a humanidade e a
natureza, preservação ambiental, cuidados com os resíduos e atitudes ambientalmente corretas. Sabemos
que isto é um desafio diário de todos os seres humanos interessados no meio ambiente (Sato e Santos,
2003).
Com este intuito, a educação ambiental assume cada vez mais uma função transformadora, na qual
a co-responsabilização dos indivíduos torna-se um objetivo essencial para promover um novo modelo de
desenvolvimento, chamado por muitos de desenvolvimento sustentável. Entende-se, portanto, que a
educação ambiental constitui uma das condições necessárias para modificar o quadro de crescente
degradação sócio-ambiental, com ênfase em um modelo educacional que vise equacionar o

João Pessoa, outubro de 2011


791

relacionamento entre homem e natureza (Carvalho, 2000). Dessa forma, a inserção desse tema na escola
representa uma possibilidade de orientar aos alunos em um caminho que venha a transformar as diversas
formas de participação social em possíveis fatores de dinamização que permitam melhor interação entre
escola – comunidade – meio ambiente.
Assim sendo, a educação ambiental, nas suas diversas possibilidades, abre um estimulante espaço
para repensar práticas sociais. É papel dos professores mediar e transmitir um conhecimento suficiente
para que os alunos tenham a possibilidade de adquirir uma base adequada de compreensão do meio
ambiente global e local, impulsionando transformações de um modelo educacional que assuma um
compromisso com a formação de valores visando a sustentabilidade como parte essencial de um processo
coletivo. Tal percepção possibilitaria uma visão mais ampla da interdependência dos problemas e soluções
relacionados ao meio em que vivemos, superando o reducionismo e estimulando o pensamento voltado
para um meio ambiente diretamente vinculado ao diálogo entre saberes (PCN’s – Brasil, 2007).
Entretanto, a implementação da educação ambiental nas escolas tem se deparado com alguns
obstáculos, como a adequação do currículo na preparação dos docentes. A práxis pedagógica demonstra
que ainda há uma hegemonia tradicionalista, cujo pragmatismo geralmente não permite uma
contextualização dos temas e conteúdos. De forma semelhante, geralmente não há incentivo a novas
descobertas, transformando a educação em um mero ato de depositar, no qual os educandos são
depositários e o educador depositante (Cotella, 2004). Em adição, Freire (1987) afirma que essa forma
tradicionalista de pensar e praticar a educação impossibilita a reflexão, geradora de transformação.
Por conseguinte, há ainda a necessidade da implantação de metodologias inovadoras e
abrangentes, que possibilitem a inserção da Educação Ambiental de forma a contemplar o currículo das
escolas de forma pedagógica. Tal assertiva está estabelecida pela Política Nacional de Educação Ambiental,
Lei 9.795/99, em seu artigo 11°, quando afirma que a dimensão ambiental deve constar nos currículos de
formação dos professores, em todos os níveis e todas as disciplinas (Brasil, 1999). Dessa forma, além de
atender as necessidades de novos conhecimentos, valores e competências dos educandos, as escolas
devem colocar em foco, no currículo, a dimensão ambiental de forma articulada e interdisciplinar. Assim, as
escolas de devem se adequar ao novo quadro do ensino, cuja proposta está pautada nos PCN’s, que
objetivam estimular os indivíduos a enfrentar o mundo atual como cidadãos participativos, críticos e
profundos conhecedores de seus direitos e deveres (Brasil, 1997).
Portanto, a Educação Ambiental deve ser encarada como prática cidadã, respaldada pela vivência
do cotidiano dos professores e alunos, dando impulso à construção coletiva do conhecimento, abrangendo
a dimensão a humana no seu meio social:
A Educação Ambiental é uma dimensão da educação, é atividade intencional da prática social, que
imprime ao desenvolvimento individual um caráter social em sua relação com a natureza e com os outros
seres humanos, com o objetivo de potencializar essa atividade humana, tornando-a mais plena de prática
social e de ética ambiental. Essa atividade exige sistematização através de metodologia que organize os
processos de produção, transmissão e apropriação crítica de conhecimentos, atitudes e valores políticos,
sociais e históricos. Assim, se a educação é mediadora na atividade humana, articulando teoria e prática, a
educação ambiental é mediadora da apropriação, pelos sujeitos, das qualidades e capacidades necessárias
à ação transformadora responsável diante do ambiente em que vivem. Podemos dizer que a gênese do
processo educativo ambiental é o movimento de fazer-se plenamente humano pela
apropriação/transmissão crítica e transformadora da totalidade histórica e concreta da vida dos homens no
ambiente. (FREITAS, 2003)
Dessa forma vale salientar que a educação ambiental não diz respeito apenas à questão da
natureza, mas podemos considerá-la como uma prática pedagógica inserida dentro do próprio contexto de
humanização. Como percebemos, o amplo conceito de educação ambiental coloca o homem dento desta
temática ultrapassando a separação homem x natureza.
Neste sentido fazer pesquisa em educação ambiental não significa mais entender apenas as
questões biológicas, mas necessariamente compreender a relação e o tratamento do homem com a
natureza e com o espaço onde está inserido. Implica ainda entender o contexto cultural e social o que
manifesta a dimensão sócio-ambiental. Requer uma prática de ação/intervenção na tentativa de alavancar
uma transformação que de fato seja resultado de uma postura crítica da própria convivência/relação do
homem com a natureza inaugurando uma nova perspectiva de pensamento sobre as questões ambientais.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


792

CONCLUSÃO
Contribuir com a comunidade escolar, visando melhorar a relação entre meio ambiente e a escola a
gerar atitudes ecológicas tais como: não jogar papel no chão, selecionar o lixo, adotar reutilização de
materiais, arborizar a escola e buscar alternativas ambientalmente correta não foi uma tarefa fácil durante
a realização desse trabalho. Além disso, chamar a atenção da comunidade escolar para os impactos
ambientais da Floresta Nacional de Carajás e seu entorno, causados pela extração de minério e pela falta
de uma política voltada para o desenvolvimento sustentável, foi outra realidade bastante desafiadora.
Também não podemos esquecer-nos dos impactos sociais que estão ao redor da floresta, fruto de
um modelo econômico onde o seu fim último é o lucro, solapando o meio ambiente e provocando
vulnerabilidade social sem precedentes.
Contudo durante o desenvolvimento do projeto pode-se refletir sobre temas ambientais
pressupondo um debate centrado no comportamento do homem, na tentativa de melhorar a relação
homem – natureza. Através das aulas de campo realizadas pode-se sentir o quanto é necessário esse tipo
de atividade, há vista, que um meio didático metodológico é bastante eficiente que visa na prática, uma
mudança de mentalidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares: meio ambiente e saúde.
Brasília, 1997.
BRASIL: Ministério do Meio Ambiente Saúde. Brasilia, 2004. Disponível em <http:/ /
www.meioambienteétudo.com.br/importancia_da_ciencia.html>. Acesso em 06 de julho de 2010.
CARVALHO, Izabel C. M. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico, 2000.
DERENGOSKI, Paulo Ramos. Meio Ambiente: Sua História – Como defender a natureza sem ser um
ecochato. Florianópolis: insular, 2001.
JUNGES, Pe. José Roque. Ética Ambiental. São Leopoldo - RS: Unisinos, 2004.
KLOETZEL, Kurt. O que é meio ambiente. Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Brasiliense, 1998.
LEFF, Enrique. Epistemologia ambiental. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2007
MILLER, G. Tyler. Ciência ambiental. 11. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2008.
SANTOS, Aristides Faria Lopes dos. Educação Ambiental: Desenvolvendo o senso crítico.
Florianópolis, outubro de 2000.
TRIGUEIRO, André (org.). Meio ambiente no século 21: 21 especialistas falam da questão ambiental
nas suas áreas de conhecimento. 5. ed. Campinas, São Paulo: Armazém Ipê, 2008.

João Pessoa, outubro de 2011


793

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NOS ENSINOS MÉDIO E FUNDAMENTAL II,


ESTUDO DE CASO NA ESCOLA ESTADUAL SIGISMUNDO GONÇALVES,
OLINDA – PE (BRASIL)32
Fernanda Carneiro de OLIVEIRA
Graduação em Ciências Biológicas, Departamento de Biologia,
Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE
Fernandacarneiro5@hotmail.com
Bruno Marcel Carneval de OLIVEIRA
Discente do curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas
Pesquisador do Grupo Gestão Ambiental em Pernambuco (GAMPE)
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)
brunocarneval@hotmail.com
Arthur Jacob
Estudante de Engenharia Agrícola e Ambiental e Pesquisador do Gampe da UFRPE
arthurljacob@yahoo.com.br

RESUMO
Devido a degradação ambiental ilimitada, que já é um tema mundialmente tratado de forma cada
vez mais incisiva, a Educação Ambiental vem sendo usada como ferramenta de conscientização
populacional. Neste sentido a escola é um dos espaços privilegiados para o desenvolvimento de atividades
de Educação Ambiental Formal. Na busca da garantia que a esta temática seja parte atuante no cotidiano
escolar, o Brasil criou normas legais que tratam sobre essa inserção a nível nacional. O presente trabalho
tem como objetivo analisar as temáticas relativas a Educação Ambiental na Escola Estadual Sigismundo
Gonçalves, particularmente nas séries de Ensino Médio e Fundamental II, por meio de observações de
campo, analise documental e entrevistas com os docentes.
Palavras-chave: Meio ambiente. Educação Ambiental. Escola brasileira.

INTRODUÇÃO
Devido ao fato de a maior parte da população brasileira viver em cidades, observa-se uma
crescente degradação das condições de vida, refletindo uma crise ambiental (JACOB, 2003). Atualmente, é
comum a contaminação dos cursos d’ água, a poluição atmosférica, a devastação das florestas, além de
muitas outras formas de agressão ao meio ambiente.
A existência desses problemas que dizem respeito ao ambiente, se deve em parte ao fato de as
pessoas não serem sensibilizadas para a compreensão do frágil equilíbrio da biosfera e dos problemas da
gestão dos recursos naturais (EFFTING, 2007). E essa realidade reafirma a importância da educação
ambiental como parte atuante na vida do homem. Assim, a dimensão ambiental configura-se
crescentemente como uma questão que envolve um conjunto de atores do universo educativo,
potencializando o engajamento dos diversos sistemas de conhecimento, a capacitação de profissionais e a
comunidade universitária numa perspectiva interdisciplinar (JACOB, 2003).
Nesse momento da história humana é bastante propício para a educação ambiental atuar na
transformação de valores não alinhados na preservação ambiental que contribuem para o uso não
sustentável dos recursos naturais pela humanidade. Para BARBIERI e SILVA (2011) essa concepção de
Educação Ambiental (EA) é um componente essencial do movimento pelo desenvolvimento sustentável
que ganhou popularidade, em escala mundial, desde a última década do século passado e cresce a cada
dia, à medida que as crises sociais e ambientais de dimensão planetária continuam ameaçando o futuro da
humanidade e do próprio planeta. Mas sua influência na formulação das Políticas Públicas relativas as
questões educacionais voltadas para a temática ambiental no Brasil repercutiu num lexus amplo. Por outro
lado houve uma especial atenção aos profissionais cujas atividades e decisões geram repercussões

32
Soraya Giovanetti EL-DEIR, Professora Orientadora, Pesquisadora Líder do Grupo Gestão Ambiental em
Pernambuco (Gampe), Adjunto da Universidade Federal Rural de Pernambuco

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


794

significativas sobre o meio ambiente, como administradores, engenheiros, economistas, desenvolvedores


de produtos, formuladores de políticas públicas, entre outros. Essa concepção de EA apresentou diretrizes
e recomendações de caráter geral, especialmente endereçadas a esses profissionais.uma ação
governamental mais focada na implementação da EA nos espaços escolares foi incipiente.
Precisa ser uma educação permanente, continuada, para todos, ao longo da vida, sendo a escola é
um espaço privilegiado para isso (MEC/MMA, 2007). A Educação Ambiental dentro da escola deve
sensibilizar o aluno a buscar valores que conduzam a uma convivência harmoniosa com o ambiente e as
demais espécies que habitam o planeta, auxiliando-o a analisar criticamente os princípios que tem levado à
destruição inconseqüente dos recursos naturais e de várias espécies. Essa abordagem da Educação
Ambiental, como componente essencial no processo de formação e educação permanente, direcionada
para a resolução de problemas, contribui para o desenvolvimento ativo do público, torna o sistema
educativo mais relevante e mais realista e estabelece uma maior interdependência entre estes sistemas e o
ambiente natural e social (EFFTING, 2007).
Mas para que essas questões possam se tornar reais no cotidiano da sociedade, os professores
devem estar cada vez mais preparados para reelaborar as informações que recebem, e dentre elas, as
ambientais, a fim de poderem transmitir e decodificar para os alunos a expressão dos significados sobre o
meio ambiente e a ecologia nas suas múltiplas determinações e intersecções (JACOB, 2003).
Como existem medidas políticas, jurídicas, institucionais e econômicas voltadas à proteção,
recuperação e melhoria sócio-ambiental, despontam também as atividades no âmbito educativo (PRONEA,
2005). E hoje, no Brasil, existem leis que reafirmam o direito à educação ambiental a todo cidadão
brasileiro comprometendo os sistemas de ensino a provê-lo no âmbito do ensino formal (MEC/MMA,
op.cit). São exemplos, a Lei 6.938/81, que determina a Política Nacional de Meio Ambiente (BRASIL, 1981),
a Lei 7.797/89, que institui o Fundo Nacional de Meio Ambiente (BRASIL, 1989) e a Lei 9.394/96, que
estabelece as diretrizes e bases da educação nacional (BRASIL, 1996). Em todas estas há questões que
direcionam a educação brasileira para a conscientização da importância da preservação ambiental como
tema permanente na escola, porém a existência dessas leis não garante o cumprimento total das suas
exigências legais. Neste sentido o presente trabalho visa fazer uma analise da inserção das temáticas
ambiental na práxis escolar de uma escola de ensino médio e fundamental, buscando compreender os
mecanismos para esta inserção, assim como fatores potenciais para elevar a eficiência das práticas
educativas para a elevação da consciência ambiental através da educação formal.

METODOLOGIA
Foi realizada análise bibliográfica especialmente em artigos científicos e na legislação vigente
relativa a temática foco, para levantamento de dados secundários. Os dados primários foram estruturados
a partir de pesquisa de campo na Escola Estadual Sigismundo Gonçalves. Esta escola fica localizada no
bairro do Carmo no município de Olinda. A escola foi fundada em 1904, e hoje disponibiliza 11 salas de aula
onde se distribuem turmas de Ensino Fundamental II, Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos. Por
meio de aplicação de questionário, a pesquisa foi realizada com o Diretor e a Coordenadora Pedagógica da
escola, sendo realizada analise do discurso e identificado os pontos focais para uma primeira aproximação
ao tema.

RESULTADOS E DISCURSSÃO
Sendo a Lei 9.394/96 (BRASIL, 1996), de acordo com o Artigo 2°, que trata dos “Princípios e Fins da
Educação Ambiental”, classifica a escola como uma das responsáveis pelo preparo do educando para o
exercício da cidadania, critério importante na conscientização ambiental, estabelecendo como temas
transversais a cidadania e o meio ambiente. Sobre a abordagem do tema cidadania na escola em questão,
os alunos têm apenas noções básicas de direitos e deveres passadas durante as aulas da disciplina de
geografia, mas não existe o devido direcionamento dessa temática na grade curricular utilizada pela
coordenação pedagógica. Já inciso VII do 3° artigo (BRASIL, 1996) afirma que a valorização do profissional
da educação escolar é um princípio que serve como base para o ensino. O dirigente da escola afirma que o
professores participam do programa Capacitação Continuada, oferecida pelo governo do estado que
permite que os mesmos cursem em instituições publicas vinculadas ao projeto, cursos de especialização em
suas respectivas áreas de atuação. Nos incisos VIII e X outros princípios são respectivamente a gestão

João Pessoa, outubro de 2011


795

democrática do ensino público e a valorização da experiência extra-escolar. Sobre a gestão democrática na


escola, na escola referência é comum a discussão das decisões tomadas pela equipe de coordenadores com
os demais funcionários, os alunos e a comunidade. A respeito da valorização da experiência extra-escolar, a
coordenadora pedagógica explica que tal ação depende de cada professor e que normalmente esse recurso
é mais utilizado por professores formados recentemente.
Ainda na Lei 9.394/96 (BRASIL, 1996), os incisos VI do Artigo 12 e II do Artigo 13, incentivam
respectivamente a articulação da escola com a família e a comunidade criando processos de integração
social, e a elaboração e cumprimento de plano de trabalho segundo a proposta pedagógica do
estabelecimento de ensino. Segundo o responsável direto pela escola em questão, reuniões entre pais de
alunos e a equipe de professores são regularmente organizadas e existe o Projeto Político Pedagógico e o
Plano Escolar Anual que são devidamente reorganizados quando necessário. Os Artigo 32 no inciso II e 36
no inciso IV tratam respectivamente da importância da compreensão do ambiente social, ambiental, do
sistema político e das artes pelos os alunos do ensino fundamental, e a inclusão da filosofia e sociologia
como disciplina obrigatória em todas as séries do ensino médio. Sobre essas abordagens foi passado que
está sendo incentivada a reorganização do grêmio estudantil e da banda marcial e que sociologia e filosofia
são disciplinas obrigatória para turmas do ensino médio.
Já a Lei 9.795/99 (BRASIL, 1999) o Capítulo I refere-se à Educação Ambiental (EA) como
componente essencial da educação nacional, devendo estar presente em todos os níveis e modalidades do
processo educativo. Neste sentido, a abordagem desses diferentes aspectos não significa minimizar os
conteúdos básicos e fundamentais para a compreensão dos processos relativos a outros disciplinas com os
quais convivemos no nosso dia-a-dia. O que se propõe, e o que se espera é que cada um dos diferentes
aspectos abordados no espaço educativo da escola alimentem-se mutuamente, garantindo em sala de aula
uma visão integrada da realidade. (SILVA & CARVALHO, 2002). A esse respeito a direção da escola assume
que a EA não é devidamente trabalhada em sala de aula, já que só é aplicada superficialmente de forma
interdisciplinar.
O inciso I do parágrafo 2°, o Artigo 10 e 11 dizem respeito respectivamente a importância da
incorporação da dimensão ambiental na formação, especialização e atualização dos educadores de todos
os níveis e modalidades de ensino, ao desenvolvimento da EA como uma prática educativa integrada,
contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal, e à incorporação da dimensão
ambiental nos currículos de formação de professores, em todos os níveis e em todas as disciplinas. Sobre
esses pontos abordados a instituição de ensino analisada, garante aos seus professores a participação nos
programas da Plataforma Freire, desenvolvida pelo Governo Federal, que disponibiliza Curso de
Especialização em EA para qualquer professor da rede pública de ensino. Também foi passado que a EA só
é tratada em sala de aula de maneira teórica, deixando falha a aplicação pratica da mesma, e que a
professora da Disciplina de Geografia tem Especialização na área ambiental. Entretanto observa-se que a
temática ambiental pode e deve ser trabalhada em outras disciplinas, como em Física, podendo abordar a
geração de energia, tendo como principal vantagem desta abordagem múltipla do tema a oportunidade de
reconhecer os inúmeros e complexos condicionantes presentes no setor de geração de energia elétrica e as
oportunidades que existem para o seu desenvolvimento (SILVA & CARVALHO, 2002)
A Lei 6.938/81 (BRASIL, 1981), no inciso X do artigo 2° tem como um dos seus princípios a educação
ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para
participação ativa na defesa do meio ambiente. Na escola referência não há a organização de projetos por
conta da dificuldade de organizar as vinte e duas comunidades que a escola atende e pela falta de interesse
dos próprios moradores em participar. Neste sentido, uma situação ou problema de natureza social e
interdisciplinar pode contribuir para que o professor desenvolva os conteúdos mais técnicos de uma dada
disciplina (SILVA & CARVALHO, 2002). Ressaltam os autores que ao mesmo tempo, a compreensão desses
conteúdos possibilitam ao professor um aprofundamento no conhecimento dos fenômenos naturais,
podendo oferecer aos alunos condições de análise e de interpretação de fenômenos sociais mais
complexos. O importante é que se garanta que, ao final do processo escolar, os alunos tenham entrado em
contato com aspectos básicos de fenômenos naturais e da realidade social.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


796

A Educação deveria estar acompanhando de perto todo esse processo ambiental, deveria estar à
frente das discussões que se desenrolam no mundo, deveria conhecer e entender as causas e, mais que
isso, ser capaz de propor soluções. De fato, a prática educativa voltada à questão ambiental no Brasil
enfrenta graves desafios. Por um lado, tem a responsabilidade de formar quadros aptos a enfrentar a
gestão dos sistemas naturais, visando uma sociedade sustentável e a melhoria da qualidade de vida das
populações; de outro lado, defronta-se com a necessidade de formar cidadãos capazes de compreender e
enfrentar a atual crise ambiental (EFFTING, 2007).
Esse desafio enfrentado pelas instituições de ensino brasileiras também atinge a escola analisada,
tendo sido observados nos dados colhidos o não cumprimento de alguns dos temas apresentados nas leis
supracitadas, sendo a devida aplicação da Educação Ambiental uma das mais gritantes. É fato que a
Educação Ambiental no Brasil não é mais novidade, mas ainda não é um tema devidamente explorado
principalmente no âmbito escolar, o que é preocupante, já que a escola deveria ser uma das responsáveis
por desenvolver nos educandos a noção de preservação dos recursos naturais e das conseqüências que o
seu uso inadequado pode causar à humanidade.

FOMENTO:
CNPq/MCT – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Ministério de
Ciência e Tecnologia;
ProExt/MEC – Programa de Extensão do Ministério de Educação.

REFERÊNCIAS
BARBIERI, J. C.; SILVA, D. da Desenvolvimento sustentável e educação ambiental: uma trajetória
comum com muitos desafios. RAM, Rev. Adm. Mackenzie (Online), Jun 2011, vol.12, no.3, p.51-82.
BRASIL, 1981. Lei 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional de Meio Ambiente. Diário Oficial
de 31 de agosto de 1981.
BRASIL, 1989. Lei 7.797/89, que institui o Fundo Nacional de Meio Ambiente e dá outras
providências. Diário Oficial de 10 de julho de 1989.
BRASIL, 1996. Lei 9.394/96, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário
Oficial de 20 de dezembro de 1996.
EFFTING, T. R. Educação Ambiental nas escolas públicas: realidade e desafios. 2007. 78 f. Trabalho
de Conclusão de Curso (Especialização) – Planejamento para o Desenvolvimento sustentável, Universidade
Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE, Marechal Cândido Rondon, 2007.
JACOB, P. Educação Ambiental, Cidadania e Sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n.
118, 2003.
MEC/MMA. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO / MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Vamos cuidar do Brasil:
conceitos e práticas em educação ambiental na escola. Brasília, 2007. 248 p.
PRONEA. PROGRAMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL/ Ministério do Meio Ambiente;
Ministério da Educação. 3. ed. Brasília : Ministério do Meio Ambiente, 2005. 102p.
SILVA, L. F.; CARVALHO, L. M de A Temática Ambiental e o Ensino de Física na Escola Média:
Algumas Possibilidades de Desenvolver o Tema Produção de Energia Elétrica em Larga Escala em uma
Situação de Ensino. Rev. Bras. Ensino Fís., Set 2002, vol.24, no.3, p.342-352.

João Pessoa, outubro de 2011


797

“CONSTRUÇÃO DE UM BLOG PARA SENSIBILIZAR E MOBILIZAR A


COMUNIDADE ESCOLAR DO CEFET - MG SOBRE COLETA SELETIVA”
33
Beatriz Pinheiro PINTO
34
Rita de Cássia FRENEDOZO

RESUMO
A produção desse artigo tem como objetivo avaliar a importância do uso de um instrumento de
educação digital, como o blog na divulgação do Programa de Coleta Seletiva Solidária implantado no CEFET
– MG desde junho de 2009, para mobilizar e sensibilizar os alunos sobre coleta seletiva. Foi feita uma
pesquisa qualitativa para analisar as concepções dos alunos sobre o Programa de Coleta Seletiva Solidária
ficando claro, que apesar de conhecerem dados importantes como distinguir recicláveis de não – recicláveis
eles preferem utilizar a web para conhecer o programa, despertando em toda a comunidade um interesse
pela coleta seletiva, contribuindo, portanto, no desenvolvimento de uma consciência ambiental nos
indivíduos, levantando questões para um aprendizado mais significativo na construção do conhecimento.
Palavras chave: educação digital, coleta seletiva, consciência ambiental, aprendizado significativo

ABSTRACT
This paper presents and evaluates a specific digital education tool developed in order to improve a
selective waste collection program deployed in CEFET - MG since June 2009 and to raise the environmental
awareness among the students about the waste collection project significance. A qualitative and
quantitative research to analyze students' conceptions about the program was conducted. It’s becoming
apparent that despite knowing how to distinguish important information from non-recyclable to recyclable
concepts, the students were very interested in use the web to learn about the waste management program
possibilities. The educational results were positive rising throughout the community an interest in selective
collection, contributing therefore to develop environmental awareness in individuals, raising questions for
a more meaningful learning and knowledge building.
Keywords: digital education, selective collection, environmental awareness, meaningful learning

INTRODUÇÃO
A inclusão de novas tecnologias constitui um desafio a mais para as pessoas envolvidas com o
ensino, levantando discussões da importância de se construir um ambiente escolar conectado com as
mudanças do mundo contemporâneo, utilizando recursos didáticos digitais e buscando despertar nos
alunos um maior interesse por temas atuais.
A inserção de recursos didáticos digitais no ensino para desenvolver a Educação Ambiental, tem
como finalidade sensibilizar e mobilizar os indivíduos para as questões ambientais, que faz parte dos
conteúdos de Biologia, com o objetivo de contribuir para a formação de um cidadão consciente das
conseqüências que o avanço do progresso mundial pode trazer para a sociedade.
Utilizar a tecnologia da informação como prática didática é fundamental como subsídio para uma
proposta de mudança, contribuindo expressivamente na ação dos professores, fazendo uso de um recurso
ou uma estratégia pedagógica baseados em exemplos concretos.
Espaços como blogs, podem surgir como incentivo à reflexão e as produções escritas sob o
comando e orientação de pessoas devidamente qualificadas para esse fim, facilitando a participação de

33
Mestre em Ensino de Ciências e Matemática, pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais;
Doutorado em Ensino de Ciências e Matemática. Universidade Cruzeiro do Sul. São Paulo/São Paulo.
beatriz@deii.cefetmg.br
34
Professora Titular do Curso de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática. Universidade Cruzeiro
do Sul. São Paulo/São Paulo. Professora do CCBS – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo,
SP.ritafrenenozo@yahoo.com.br

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


798

toda a comunidade envolvida e dos alunos sobre temáticas relevantes, como a coleta seletiva. Esses
ambientes digitais fazem parte do cotidiano dos indivíduos, são espaços que podem ser atualizados
freqüentemente, além de divulgarem conteúdos inseridos em ordem cronológica, permitindo ainda, a
inserção de mensagens, imagens, textos, entre outros. (GOMES, 2005)
Na Educação Ambiental, a utilização de um blog para divulgar questões relativas ao meio ambiente,
como coleta seletiva, seria de grande relevância na transmissão de informações fundamentais para o
sucesso do Programa de Coleta Seletiva Solidária além de promover um intercâmbio entre outras
comunidades facilitando a troca de experiências, a mobilização, à sensibilização, com o objetivo de
encontrar soluções para os problemas comuns (GOMES, 2005).
"[...] é minha convicção que não estamos perante uma “moda” passageira, mas sim, perante um
novo recurso que pode suportar diversas estratégias de ensino e de aprendizagem [...]" (GOMES, 2005)
Ainda podemos considerar que o blog permite debates e troca de idéias entre os indivíduos. Nesse
espaço didático o aluno pode desenvolver sua criatividade, interação, imaginação além do seu senso
crítico. O professor terá a tarefa de incentivar, desafiar, orientar, estimular os alunos com o objetivo de
construir novos conhecimentos (MANTOVANI, 2006).
A inserção da internet, em especial de um blog num processo de aprendizagem, constitui um
desafio ao papel do professor na sala de aula, espaço esse que o professor pode descobrir e aderir
estimulando a criatividade e colaboração na aprendizagem (LOPES, 2009).
A criação de um instrumento de educação digital promoverá uma maior sensibilização e
mobilização da comunidade escolar desenvolvendo nos alunos maior interesse pela temática, utilizando um
meio de comunicação que faz parte do seu cotidiano escolar (GOMES, 2005).
O Programa Coleta Seletiva Solidária implantado no Centro Federal de Educação Tecnológica de
Minas Gerais (CEFET- MG), ainda não alcançou seus objetivos por que não houve uma divulgação ampla
desse programa, num espaço que divulgue as questões que envolvem geração de resíduos, reciclagem,
destino final e normas.
É vital aproveitar a escola como espaço de mobilização de saberes e conhecimentos para mudanças
de olhares e posturas e, é nesse ambiente favorável, que se trabalham os paradigmas sobre os quais se
assentam as concepções de mundo.
É fundamental promover Educação Ambiental que supere as barreiras dos valores sociais, das
conveniências, das resistências, das crenças, que crie estratégias cognitivas necessárias para que os
sujeitos/atores compreendam os verbos escolhidos para mobilizar os indivíduos. O desenvolvimento desse
trabalho solidifica conceitos e pode promover vínculos entre interlocutores da área na comunidade escolar,
facilitando o intercâmbio de informações e experiências proporcionando uma participação ativa dos alunos
no processo ensino-aprendizagem, na construção do conhecimento e conseqüentemente promover um
aprendizado mais significativo.
Ao usarmos como referencial teórico a teoria de Ausubel sobre aprendizado significativo, estamos
buscando a construção de um novo conhecimento que é alcançado, construído, imposto através da
interação com seus conhecimentos prévios para que ocorra o aprendizado significativo (AUSUBEL apud
MOREIRA, 1999).
A internet hoje faz parte do cotidiano escolar. Segundo Gomes (2005), a utilização da Web nas
escolas é cada vez mais transversal aos diferentes níveis de ensino que vão desde a pré-escola até o nível
superior. O ensino - aprendizagem que utilizem as questões do cotidiano, da sociedade e tecnologias é uma
forma de motivar os alunos a vivenciarem o tema abordado e trazer para o seu cotidiano, discutindo com
os outros alunos e tentando resolver problemas propostos, pois com a vivência e experiência, o ensino -
aprendizagem sobre educação ambiental torna-se uma forma inovadora nas aulas de Biologia.
Dessa forma, a aprendizagem deve ocorrer sempre com pensamento crítico, os alunos devem
entender saber dialogar e questionar. Os problemas que envolvem o meio ambiente levam a sociedade
questionar e procurar encontrar um caminho para que ocorra uma maior participação da sociedade na vida
pública e dentro desse contexto é fundamental o papel da escola na construção da cidadania. (SANTOS,
1999)
Quando nos referimos a Educação Ambiental onde a relação homem/ambiente promove
discussões envolvendo questões prévias e futuras acaba fazendo relações sociais, culturais, econômicas e
éticas onde a responsabilidade social é ponto de destaque (SANTOS 1999).

João Pessoa, outubro de 2011


799

Nas últimas décadas, as preocupações referentes à realidade dos resíduos sólidos urbanos e as
questões ambientais vêm se intensificando, e paralelamente a isso setores da sociedade, de modo especial
as escolas e universidades, motivam o desenvolvimento de atividades e projetos que tem por intuito de
educar as comunidades, procurando sensibiliza-las para as questões ambientais, e mobiliza-las para que
modifiquem as atitudes nocivas ao meio.
O Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais implantou a Coleta Seletiva Solidária,
desde junho de 2009 conforme o Decreto nº 5.940/06. Contudo este Programa ainda não está atingindo a
comunidade escolar de forma satisfatória. Para facilitar a divulgação desse programa na comunidade
escolar e despertar o interesse dos alunos pelo tema, será utilizada a tecnologia da informação digital como
instrumento de Educação Ambiental, criando um espaço interativo para reflexão e interlocução dentro da
comunidade escolar que é um espaço privilegiado de pesquisa, ensino e reflexão. Recursos digitais como
blogs e aulas interativas podem ser ferramentas utilizadas para contribuir com o desenvolvimento
estudantil.

METODOLOGIA
Esse trabalho está sendo desenvolvido no CEFET com a criação de um instrumento
interativo digital pelos alunos por meio de plataformas para publicação pessoal, com foco na estética, nos
padrões Web e na usabilidade, utilizando um software livre e gratuito para a divulgação do Programa da
Coleta Seletiva Solidária.
O tema abordado que é a coleta seletiva num ambiente escolar envolve questões e
acontecimentos relevantes, propondo a realização de uma pesquisa qualitativa para o levantamento do
perfil, das concepções, das perspectivas dos indivíduos da comunidade escolar envolvida no processo
(OLIVEIRA, 2007).
Foi feito um diagnóstico com a aplicação de questionário para os alunos do CEFET - MG,
antes da implantação do instrumento interativo digital, fundamental para avaliar o nível de conhecimento
dos pesquisados. Os dados analisados demonstraram o interesse dos alunos na utilização de um
instrumento didático digital para a sensibilização, a mobilização e o seu aprendizado.
No primeiro momento foi feito um levantamento bibliográfico sobre Coleta Seletiva e leituras para
compreender as propostas do Decreto lei 5.940 sobre o Programa de Coleta Seletiva Solidária.
(BRASIL,2006)
Na segunda etapa, foi aplicado um questionário para diagnosticar o conhecimento prévio dos
alunos sobre coleta seletiva, reciclagem e se os meios de divulgação existentes eram eficientes para
promover uma sensibilização e mobilização da comunidade escolar e propor sugestões.
Os questionários foram aplicados em 358 alunos da primeira série do Ensino Técnico Integrado e as
análises demonstraram diversos aspectos, que irão contribuir na elaboração de atividades futuras.

RESULTADOS PARCIAIS
A análise dos resultados demonstrou que 251 alunos se consideram portadores de uma boa
consciência ambiental; 36 com ótima consciência; 57 declararam ter uma consciência ruim; 11 confessaram
ter uma péssima consciência ambiental e três não quiseram responder.
Apesar de estar afixado nos murais do CEFET- MG, tabelas que classificam os resíduos em
recicláveis e não - recicláveis, foi perguntado sobre o conhecimento dessa tabela e se seriam capazes de
distinguir os resíduos. O resultado obtido foi que 158 alunos têm dificuldade em identificar a classificação
dos resíduos; 197 não encontram nenhuma dificuldade e apenas três não responderam. Mesmo a tabela de
classificação de resíduos estando afixada em diversos locais na Instituição, 168 alunos respondeu que
nunca leram a tabela e quatro não quiseram responder.
Foi solicitado ao aluno escolher duas alternativas que ele achasse mais importante para a
divulgação do Programa de Coleta Seletiva Solidária e num total de 562 marcações, 248 escolheram
recursos digitais como fundamental para a divulgação.
Os dados analisados deixam explícitos que os alunos reconhecessem a importância de um
Programa de Coleta Seletiva na escola, têm uma consciência ambiental satisfatória, sabem que existem
tabelas de classificação de resíduos afixadas em vários pontos da Instituição, mas ainda não conseguem
sensibilizar e mobilizar de forma ideal.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


800

Análises feitas em sacos de lixo de todos os pontos da escola, como salas de aula, cantina,
banheiros, biblioteca, corredores demonstram que ainda precisa se fazer muito para que a sensibilização e
a mobilização atinjam níveis satisfatórios.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esses foram os primeiros resultados de uma pesquisa sobre as concepções dos alunos do CEFET -
MG sobre o Programa de Coleta Seletiva Solidária e foi possível constatar que existe um interesse maior
dos alunos na divulgação utilizando um Recurso Digital.
Os resultados deixam claro que os alunos na sua maioria possuem uma consciência ambiental,
conseguem distinguir produtos recicláveis de não - recicláveis, lêem as tabelas de classificação que
diferencia materiais recicláveis de não - recicláveis e reconhecem a importância do Programa de Coleta
Seletiva Solidária, mas os níveis ideais ainda não foram alcançados.
Nas suas escolhas, evidenciam a importância da divulgação do Programa através de recursos
digitais como a internet, vídeos e jogos eletrônicos.
Utilizar a web na divulgação de dados, e, portanto conceitos sobre resíduos e a importância de
desenvolver uma consciência ambiental nos indivíduos levantando questões com o objetivo de construir
um ensino aprendizagem mais significativo, discutindo conhecimentos essenciais de Educação Ambiental,
conceitos relativos ao meio ambiente, reciclagem, disposição final de resíduos, cooperativas de catadores
entre tantas outras abordagens, seria fundamental na construção do conhecimento.
Foi possível concluir que o Programa de Coleta Seletiva Solidária ainda não atingiu seus objetivos
por que ainda não foi utilizado um meio de divulgação que se aproximasse e mobilizasse mais o aluno em
relação a coleta seletiva, deixando evidente que recursos que hoje fazem parte do dia-a-dia da escola,
como o uso de um blog, que é um instrumento de divulgação dinâmico, por permitir uma atualização
freqüente,divulgando dados que são apresentados em uma ordem cronológica, facilitando a inserção de
imagens, mensagens e textos que abordem o tema proposto, despertaria na comunidade um maior
interesse pela coleta seletiva e seria mais eficiente para atingir os objetivos do Programa de Coleta Seletiva
Solidária.
ACESSE: www.tonacoleta.blogspot.com

REFERÊNCIAS
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Decreto nº 5.940, de
25 de outubro de 2006: Institui a separação dos resíduos recicláveis descartados pelos órgãos e entidades
da administração pública federal direta e indireta, na fonte geradora, e a sua destinação às associações e
cooperativas dos catadores de materiais recicláveis, e dá outras providências. Disponivel em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Decreto/D5940.htm> Acesso: 07 jul. 2011.
ELCIE, F. Salzano; MOREIRA, M.A. Aprendizagem Significativa. Vetor Editora, São Paulo, 295p. 2008.
GOMES, Maria João. Blogs: um recurso e uma estratégia pedagógica. VII Simpósio Internacional de
Informação Educativa. Escola Superior de Educação de Leiria, PP.311-315, Portugal, 2005. Disponível em:
<WWW.scribd.com/do/23222649/Blogs-um-recurso-e-uma-estrategia-pedagógica-Maria-João-Gomes>
Acesso em: 12 maio 2011.
LOPES, Antonio Marcelino. Integração curricular da internet na sala de aula o papel das webquests
e dos blogs. Universidade do Minho, Portugal, 2009. Disponível em: <www.uminho.pt/pdf> Acesso em: 18
maio 2011.
MANTOVANI, Ana Margô. Blogs na Educação: construindo novos espaços de autoria na prática
pedagógica. UNILASALLE, Canoas, RS, 2006. Disponível em:
<prisma.cetac.up.pt/artigos/18_ana_margo_montovani_prisma.php.php> Acesso em: 18 maio 2011.
MOREIRA, M. A. Teorias de Aprendizagem Significativa. Editora Pedagógica e Universitária, São
Paulo, 194p. 1999.
MOREIRA, M.A; MASINI, Elcie F.S. Aprendizagem significativa. São Paulo: Ed. Vetor, 2008. 295p.
OLIVEIRA, M.M. Como fazer pesquisa qualitativa. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2007. 182p.
SANTOS, Maria Eduarda Vaz Moniz. Desafios pedagógicos para o século XXI. Lisboa: Livros
Horizontes, LDA, 1999. 275p.

João Pessoa, outubro de 2011


801

A SEMANA DA FLORESTA: EXPERIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL


FORMAL NA ZONA OESTE DO RIO DE JANEIRO.
Carine Fonseca LOPES1
Rodrigo Araujo FONTES2
1 Bacharel e licenciada em Geografia pela UFRJ; Especialista em Gestão Ambiental pelo Programa de Pós Graduação da
Escola Politécnica da UFRJ em parceria com o Comitê Brasileiro do PNUMA; Mestranda pelo Programa de Pós Graduação
em Geografia da UFRJ; e Professora de Geografia da educação básica da rede particular de ensino.
E-mail: carine.fl@hotmail.com
2 Bacharel e licenciado em Geografia pela UFRJ; Especialista em Gestão Ambiental pelo Programa de Pós Graduação da
Escola Politécnica da UFRJ em parceria com o Comitê Brasileiro do PNUMA; Mestrando pelo Programa de Pós Graduação
em Ciência Ambiental da UFF; e servidor público como Professor de Geografia da educação básica do Gover no do estado
do Rio de Janeiro.
E-mail: digoafontes@hotmail.com

RESUMO
Diante da situação de mudanças climáticas do planeta Terra e das responsabilidades antrópicas
nesse processo, como revelou os estudos do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas)
realizados nos últimos anos. Faz-se cada vez mais necessário o debate racional e o uso de instrumentos
como a educação ambiental formal para que se reverta o quadro atual através de sistemas de
conhecimento.
Com isso, o presente trabalho aborda as práticas e experiências metodológicas da educação
ambiental formal na zona oeste do Rio de Janeiro, fazendo uma interlocução com a importância e as
atividades do ano internacional das florestas e a manutenção da diversidade biológica no planeta. Trazendo
como objetivos, gerar o conhecimento da realidade ambiental local; promover a conscientização ambiental
nos estudantes, como forma de propagação a sociedade; valorizar e aprimorar a percepção ambiental dos
adolescentes e jovens envolvidos na Semana da Floresta.
PALAVRAS CHAVES: educação ambiental formal; sociedade; mudanças climáticas

1 – INTRODUÇÃO
Diante da problemática ambiental global que vem sendo discutida ao longo do último século, a
questão mais polêmica e relevante é a influência dos seres humanos na intensificação do processo de
mudanças climáticas. Com isso, ganha força a preocupação e o debate nas formas de se fazer conhecer e
mitigar as causas, assim como buscar alternativas para reverter esse quadro. Uma das maneiras para que
isso ocorra é através do processo educacional, o qual vem sendo discutido e aprimorado ao longo dos anos.
Na Rio 92, o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade
Global coloca princípios e um plano de ação para educadores ambientais, estabelecendo uma relação entre
as políticas públicas de educação ambiental e a sustentabilidade. Enfatizam-se os processos participativos
na promoção do meio ambiente, voltados para a sua recuperação, conservação e melhoria, bem como para
a melhoria da qualidade de vida (JACOBI, 2003).
A partir desta iniciativa foram geradas políticas nacionais para impulsionar a educação ambiental
brasileira como a Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, que institui a Política Nacional de Educação
Ambiental e a inclusão do meio ambiente como tema transversal nos Parâmetros Curriculares Nacionais a
ser trabalhado nas instituições escolares nacionais.
A partir de então neste trabalho debatemos o uso da educação ambiental como forma transversal
do saber na rede formal de ensino. E usamos esta transversalidade como metodologia a fim de gerar
experiências com os indivíduos envolvidos, buscando uma propagação da conscientização ambiental, e
contribuindo da melhor maneira para diminuição das taxas de perda da diversidade biológica, tendo em
vista que este ano é o ano internacional das florestas, e tema da Semana da Floresta em questão.
Assim, refletir sobre a complexidade ambiental abre uma estimulante oportunidade para
compreender a gestação de novos atores sociais que se mobilizam para a apropriação da natureza, para um
processo educativo articulado e compromissado com a sustentabilidade e a participação, apoiado numa
lógica que privilegia o diálogo e a interdependência de diferentes áreas de saber (JACOBI, 2003).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


802

1.1 OBJETIVOS
Sabemos que o estudo atual deste tema no Brasil tem despertado interesse de profissionais das
mais variadas áreas. Entre estes, queremos destacar o papel fundamental que a educação ambiental vem
adquirindo na prática pedagógica. Esta importância é produto da transversalidade que a temática abarca
como contemplada nos Parâmetros Curriculares Nacionais e, mais que isto, sua importância é evidenciada
já que, no momento atual a situação do planeta Terra caminha para uma tendência de mudanças
climáticas.
Com isso, o principal objetivo do trabalho é gerar o conhecimento da realidade ambiental local na
Zona Oeste do Rio de Janeiro; promover a conscientização ambiental nos estudantes, como forma de
propagação a sociedade; valorizar e aprimorar a percepção ambiental dos adolescentes e jovens envolvidos
na Semana da Floresta.

1.2 METODOLOGIA
Para dar conta dessa proposta foi realizada inicialmente uma pesquisa bibliográfica, procurando
estabelecer uma fundamentação teórica, abordando conceitos e categorias para analisar o problema
proposto neste trabalho.
Além disso, foram levantadas políticas governamentais como o Programa Nacional da Diversidade
Biológica – PRONABIO e Parâmetros Curriculares Nacionais em torno do tema. A etapa seguinte para
construção deste trabalho veio a partir do projeto realizado neste ano, intitulado Semana da Floresta com
alunos do segundo segmento do ensino fundamental do Educandário Monteiro Lobato, localizado na zona
oeste da cidade do Rio de Janeiro, com coordenação dos professores de geografia e contribuição de outras
disciplinas, buscando discutir a temática de forma transdisciplinar. No qual foram desenvolvidas atividades
como: palestras de educação ambiental, realizadas por professores convidados; oficinas de agroflorestas e
jardinagem, com a participação direta dos alunos, sendo monitorados pelos professores; trabalhos de
campo com os alunos, realizado no Parque Natural Municipal da Serra do Mendanha, área remanescente
da Floresta Atlântica, que, devido às suas características fitossociológicas, enquadra-se na Floresta
Ombrófila Densa Submontana e Montana, segundo a classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), composta por matas secundárias em avançado estágio de regeneração; realização de
peças teatrais, criadas pelos alunos e orientada pelos professores; e, por fim, exibição do filme “Home”,
seguido de debates. Ao longo de toda a Semana da Floresta foi reservado momentos para avaliação e
apresentação de trabalhos confeccionados pelos alunos, abordando temas diretamente relacionados a
temática em questão.

2 – A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA


Nos presentes dias, a situação climática do planeta Terra caminha para uma tendência de
aquecimento, como nos mostra os estudos do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas)
realizados nos últimos anos. Este relatório revelou que a ação antrópica é a principal responsável pelas
mudanças climáticas. Com a continuidade dos padrões atuais de emissões de gases nocivos ao efeito
estufa, a Terra irá sofrer ainda mais com os diversos impactos em seu meio, como: períodos de secas
prolongadas, ondas de calor intensas e variação do nível dos oceanos, o que afetará os seres vivos como
um todo, sobretudo a espécie humana.
Sendo o homem o principal agente da perda da biodiversidade e concomitantemente o que
mais sofrerá com esta, a educação ambiental adquire um papel fundamental para a transformação desta
realidade, que se dará a partir de uma mudança de pensamento e comportamento da sociedade
contemporânea.
Leff (2001) aborda a impossibilidade de resolver os crescentes e complexos problemas
ambientais e reverter suas causas sem que ocorra uma mudança radical nos sistemas de conhecimento,
dos valores e dos comportamentos gerados pela dinâmica de racionalidade existente, fundada no aspecto
econômico do desenvolvimento.
A partir disso entendemos que a transformação somente poderá se dar através da
educação ambiental, que distingue-se entre formal e informal. Neste caso, utilizamos o conceito de
educação ambiental formal, no qual se entende por um processo institucionalizado que ocorre nas

João Pessoa, outubro de 2011


803

unidades de ensino. Posto em prática na Semana da Floresta com as séries de ensino fundamental, com fim
de exercitar a percepção ambiental dos estudantes.
Assim buscamos o que afirma Pádua e Tabanez (1998), em que a educação ambiental propicia o
aumento de conhecimentos, mudança de valores e aperfeiçoamento de habilidades, condições básicas
para estimular maior integração e harmonia dos indivíduos com o meio ambiente.

3 – A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO TEMA TRANSVERSAL


A partir da Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental realizada em Tsibilisi (EUA),
em 1977, inicia-se um amplo processo em nível global orientado para criar as condições que formem uma
nova consciência sobre o valor da natureza e para reorientar a produção de conhecimento baseada nos
métodos da interdisciplinaridade e nos princípios da complexidade. Esse campo educativo tem sido
fertilizado transversalmente, e isso tem possibilitado a realização de experiências concretas de educação
ambiental de forma criativa e inovadora por diversos segmentos da população e em diversos níveis de
formação (JACOBI, 2003).
Isso se evidencia na educação formal brasileira ora contemplada nos Parâmetros Curriculares
Nacionais, na qual recomenda-se o uso de diferentes temas a serem trabalhados transversalmente, como:
pluralidade cultural, saúde, orientação sexual e meio ambiente, em que este último assume papel
fundamental no presente trabalho.
Ainda segundo Jacobi (2003), o educador, nesse contexto, assume uma função importante como
mediador na construção de referenciais ambientais e deve saber usá-los como instrumentos para o
desenvolvimento de uma prática social centrada no conceito da natureza.
Para Sorrentino (1998), os grandes desafios para os educadores ambientais são, de um lado, o
resgate e o desenvolvimento de valores e comportamentos (confiança, respeito mútuo, responsabilidade,
compromisso, solidariedade e iniciativa) e de outro, o estímulo a uma visão global e crítica das questões
ambientais e a promoção de um enfoque interdisciplinar que resgate e construa saberes.
Assim, a educação ambiental aponta para propostas pedagógicas centradas na conscientização,
mudança de comportamento, desenvolvimento de competências, capacidade de avaliação e participação
dos educandos (REIGOTA, 1998).
Portanto, mesmo com todos os desafios que a temática nos remete a principal função do trabalho
com o tema Meio Ambiente é contribuir para a formação de cidadãos conscientes e aptos a decidir e atuar
na realidade socioambiental em que estão inseridos. Para isso é necessário que, mais do que informações e
conceitos, a escola se proponha a trabalhar com atitudes, com formação de valores, com o ensino e
aprendizagem de procedimentos.

4 – A IMPORTÂNCIA DE 2011 COMO ANO INTERNACIONAL DAS FLORESTAS


Sabemos que as preocupações em torno das questões ambientais têm sensibilizado diferentes
atores da sociedade, sejam eles de esferas públicas e/ou privadas. Em comum estes buscam soluções
emergentes, frente ao acelerado desenvolvimento que outrora não é acompanhado de sustentabilidade.
Com o objetivo de sensibilizar a sociedade sobre a importância da preservação das florestas para uma vida
sustentável no planeta, a Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), declarou 2011,
oficialmente, o Ano Internacional das Florestas. O tema da celebração é "Florestas para o Povo".
De acordo com Lemos (2011), e segundo esta entidade supracitada, a intenção é promover ações
que incentivem a conservação e a gestão sustentável de todos os tipos de floresta do planeta, mostrando à
população mundial que a exploração das matas sem um manejo sustentável pode causar uma série de
prejuízos, como a perda da biodiversidade, o agravamento das mudanças climáticas, migrações
desordenadas para áreas urbanas e o crescimento da caça e do desmatamento ilegal.
Esses prejuízos, no entanto não se limitam apenas as esferas naturais, tendo conseqüências
diretas à esfera econômica do planeta. Isso acontece porque as floretas são a fonte de água potável e
alimentos, sendo responsáveis também pela existência de algumas indústrias como a farmacêutica, na
medida em que se constitui como fonte de matérias primas, e a indústria de construção civil, sendo a que
mais se beneficia desta. E ainda, quando o assunto em pauta é o manejo sustentável das florestas, as áreas
urbanas contribuem com a pressão sobre os recursos naturais, porém, são impactadas em proporções
similares as áreas rurais.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


804

No Brasil, o estudo "Quem se beneficia com a destruição da Amazônia", realizado em 2008, por
iniciativa do Fórum Amazônia Sustentável e do Movimento Nossa São Paulo, mostrou que as populações
urbanas são as que mais se beneficiam dos recursos extraídos da floresta, sendo o estado de São Paulo o
principal comprador de madeira extraída legalmente da Amazônia.
Além disso, no caso brasileiro algumas atividades econômicas praticadas em larga escala no
território nacional têm intensificado os problemas nas florestas, já que a expansão das pastagens é um dos
principais motivos para a derrubada das matas nativas. Além disso, a expansão da lavoura brasileira de
grãos, com destaque para a grande produção de soja, tem intensificado a degradação do bioma amazônico.
Os prejuízos aos rios e transtornos à população indígena são outras conseqüências indesejáveis da
ocupação sojeira na Amazônia.
Diante deste quadro, emerge a importância de conscientizar as novas gerações quanto à
importância da preservação das florestas e de sua diversidade biológica, disseminando esta ideia a fim de
contribuir para a manutenção da vida do planeta.

5 – OS RESULTADOS PROMOVIDOS PELA SEMANA DA FLORESTA


A Semana da Floresta, realizada no Educandário Monteiro Lobato, teve como intuito contribuir
para o aprimoramento da percepção ambiental dos estudantes e a difusão da conscientização e idéias
dentro da mesma perspectiva. As experiências vivenciadas pelos alunos, por meio de atividades de campo,
teatros, danças, oficinas educativas e apresentação de trabalhos, não apenas aguçou o interesse pela
sustentabilidade do planeta, mas, sobretudo, contribuiu para elucidar dúvidas e incertezas a cerca da
temática em questão.
Segundo o PCN (1998), a perspectiva ambiental deve remeter os alunos à reflexão sobre os
problemas que afetam a sua vida, a de sua comunidade, a de seu país e a do planeta. Para que essas
informações os sensibilizem e provoquem o início de um processo de mudança de comportamento, é
preciso que o aprendizado seja significativo, isto é, os alunos possam estabelecer ligações entre o que
aprendem e a sua realidade cotidiana, e o que já conhecem.
No intuito de alcançar esta aprendizagem dotada de significados, muitas medidas foram adotadas,
entre elas as oficinas de agroflorestas e de jardinagem, sendo essencial por possibilitar um resgatar aos
vínculos individuais e coletivos com o espaço em que vivem, em que a mobilização e as iniciativas
promovidas por eles possibilitaram a solução de problemas outrora apresentado nas palestras.
A peça teatral e as danças também promoveram o desenvolvimento da sensibilidade dos
alunos, provocando um pouco o lado da curiosidade que todos têm, observando e valorizando as iniciativas
dos alunos de interagir de modo criativo e construtivo com os elementos do meio ambiente.
É interessante observar que, embora a experiência dos alunos na Semana da Floresta tenha
sido realizada em um universo acessível e familiar, ou seja, em uma escala local de abrangência, um campo
de práticas, na qual o conhecimento adquire significado, as questões ambientais, por mais locais que sejam,
dizem respeito direta ou indiretamente ao interesse de todo o planeta. Por isso, a experiência vivenciada
pelos alunos pode ter reflexos e repercussões muito maiores que a limitada escala do colégio.
Por último, é importante ainda destacar o trabalho de campo, realizado no Parque Natural
Municipal da Serra do Mendanha, que permitiu aos alunos observar que o uso e ocupação do solo
acontecem de maneira diferenciada nas diversas localidades e nos vários períodos da história, influindo
diretamente na dinâmica ambiental.

6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sabemos que uma das principais tarefas da escola é a promoção de um ambiente escolar saudável
e que esteja de acordo com aquilo que ela considera relevante para a aprendizagem de seus alunos,
possibilitando contribuir para a formação da identidade como cidadãos conscientes de suas
responsabilidades com o meio ambiente, e capazes de atitudes de proteção e melhoria em relação a ele.
Por isso, neste trabalho, foi dado um enfoque especial a educação ambiental, partindo de
fundamentações teóricas a uma abordagem prática sobre a temática, envolvendo de forma direta e
indireta a participação de alunos e educadores de diversas áreas, que partiram das experiências locais a
escalas superiores. Diante desta proposta o que se buscou foi o alcance de uma aprendizagem significativa
para o universo dos alunos, em que o conhecimento adquirido em termos de diversidade biológica foi

João Pessoa, outubro de 2011


805

construído com suas experiências individuais e coletivas, sendo apenas mediado pelos educadores
responsáveis.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
JACOBI, P. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, nº 118,
março/2003.
LEFF, E. Epistemologia ambiental. São Paulo: Cortez, 2001.
LEMOS, H. M. 2011 será o Ano Internacional das Florestas. Brasil PNUMA. Rio de Janeiro, 2011.
PÁDUA, S.; TABANEZ, M. (orgs.). Educação ambiental: caminhos trilhados no Brasil. São Paulo: Ipê,
1998.
PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental:
introdução aos parâmetros curriculares nacionais / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília :
MEC/SEF, 1998.
REIGOTA, M. Desafios à educação ambiental escolar. In: JACOBI, P. et al. (orgs.). Educação, meio
ambiente e cidadania: reflexões e experiências. São Paulo: SMA, 1998. p.43-50.
SORRENTINO, M. De Tbilisi a Tessaloniki, a educação ambiental no Brasil. In: JACOBI, P. et al.
(orgs.). Educação, meio ambiente e cidadania: reflexões e experiências. São Paulo: SMA.1998. p.27-32.

Referências Eletrônicas:
Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/>. Acessado em 01 jul. 2011.
Disponível em: <http://ambientes.ambientebrasil.com.br/> Acessado em 01 jul. 2011.
Disponível em: <http://portal.mec.gov.br> Acessado em 05 jul. 2011.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


806

INSTRUMENTO CONSCIENTIZADOR NAS RELAÇÕES HOMEM AMBIENTE:


EDUCAÇÃO E PRÁXIS AMBIENTAL
Carlos André Lucena da CRUZ
Mestre em Geografia pela UFRN
Especializando em Educação Ambiental e Geografia do Semi-Árido IFRN
Coordenador e Educador do Projeto Práxis Ambiental
carlosandregeo@ig.com.br

RESUMO
O presente artigo faz uma breve reflexão acerca da Educação Ambiental na contemporaneidade,
suas relações no que se refere à criação de multiplicadores que tenham possibilidade de intervir de forma
positiva. Traz de forma sucinta o pensamento de alguns autores a exemplo de CARVALHO, FREIRE,
GADOTTI, LOUREIRO e TUAN, na verdade breves citações. Faz uma explanação acerca do Projeto Práxis
Ambiental, seu nascimento e desenvolvimento inicial realizado por docentes e discentes da FATERN.
Elabora considerações sobre um modelo prático e politizador de Educação Ambiental que foi
implementado no município de João Câmara, zona rural do estado do Rio Grande do Norte. Enfatiza sobre
a importância da Educação para uma mudança efetiva no quadro social e ambiental.
Palavras-chave: Meio Ambiente, educação, práxis, sociedade.

INTRODUÇÃO
Podemos observar que as relações que o homem vem tendo com o meio ambiente, muitas
vezes de forma conflituosa, exigem da sociedade como um todo atenção maior e a elaboração de
estratégias mais eficazes. A contribuição na esfera da politização dos indivíduos, como projetos de
Educação Ambiental envolvendo estudantes e professores, podem ser sinalizados como uma das grandes
potencialidades.
A partir de oficinas elaboradas tendo como base as teorias aprendidas em sala de aula, a
realidade vivenciada pelos atores envolvidos e a transformação de indivíduos em multiplicadores
ambientais, se pode contribuir na jornada de conscientização da sociedade civil. Tudo isso pode evidenciar
a identificação de indicadores, dentro dos campos da análise social e ambiental, o que pode ser utilizado
como suporte para os questionamentos.
Observa-se um período de maior reflexão sobre esta temática, estamos diante de vários
desafios que julgávamos enfrentar anos mais tarde, todavia, frente aos resultados da nefasta ação
antrópica sobre o meio ambiente enfatizamos, o quadro ainda não é satisfatório se a humanidade deseja
melhores perspectivas.

Refletindo: meio ambiente e educação


Mencionar perspectivas é também falar, discutir, identificar o “espírito” presente no campo das
idéias, dos valores e das práticas educacionais que perpassa, marcando o passado, caracterizando o
presente e abrindo possibilidades para o futuro (GADOTTI, 2000, p.03).
Atualmente muitos educadores ambientais, em estado de perplexidade diante das últimas
mudanças sociais, tecnológicas e econômicas, se perguntam sobre o futuro desta empreitada, alguns com
receio de não atingir o objetivo e se não atingir, o que devem fazer. Fala-se hoje em cenários e/ou
panoramas possíveis para a Educação Ambiental com o intuito de construir novas perspectivas.

Para se desenhar uma perspectiva é preciso “distanciamento”. É sempre um “ponto de vista”. Todas
essas palavras entre aspas indicam uma certa direção ou, pelo menos, um horizonte em direção ao qual se
caminha ou se pode caminhar. Elas designam “expectativas” e anseios que podem ser captados, capturados,
sistematizados e colocados em evidência (GADOTTI, 2000, p.03).

Passamos há pouco tempo pela virada do novo milênio, momento mais que oportuno para
se fazer um balanço geral das nossas teorias e concomitante a isto das nossas práticas. Discutir as

João Pessoa, outubro de 2011


807

perspectivas contemporâneas para Educação Ambiental é ao mesmo tempo falar sobre o que está presente
no campo dos nossos valores.
Salientamos que certas perspectivas teóricas orientadoras das práticas podem desaparecer
diante das inovações e outras continuarão em sua real essência, afirmamos isto, e ainda ponderamos, para
entendermos o futuro se faz necessário visitar o passado, pois olhar para as “pegadas” deixadas neste
caminho é de grande relevância para nos nortear.
A Educação Ambiental contemporânea se utilizando das principais bases construídas até
então e das novas tecnologias usadas, podem abarcar o seu objetivo com maior eficácia, podemos citar
como exemplo a linguagem da Internet. Uma vez que os educandos estão mais próximos deste mundo
virtual, e isto pode ser usado continuamente na causa ambiental.
Os sistemas educacionais ainda não conseguiram avaliar suficientemente o impacto da
comunicação audiovisual e da informática, seja para informar, seja para bitolar ou controlar as mentes.
Ainda trabalha-se muito com recursos tradicionais [...] (GADOTTI, 2000, p.03).
Por sua vez a Educação Ambiental quando desenvolvida nos moldes tradicionais também se
torna menos atrativa para jovens inseridos nesta “cultura digital”, é preciso se utilizar melhor dessas
ferramentas e mecanismos. Podemos transformar as experiências de campo, por exemplo, em filmes ou
exposições fotográficas, isto aguça o interesse dos indivíduos. Desta forma, afirmamos, é preciso que os
educadores passem a dominar as novas tecnologias inseridas na cultura digital.
As práticas contemporâneas e suas perspectivas constituem mecanismos de
democratização, podem repercutir na formação dos indivíduos no que se diz respeito a sua posição diante
dos problemas que teremos que enfrentar. Esses mecanismos de democratização podem refletir
diretamente em valores como “reciprocidade e solidariedade”.
É fato que as novas expectativas enfrentarão muitos obstáculos antigos, dentre eles
encontramos um sistema educacional que não corresponde a “universalização” da educação e as novas
matrizes teóricas ainda não apresentam uma “consistência global” necessária para indicar caminhos
seguros para a transformação.

Seja qual for a perspectiva que a educação contemporânea tomar, uma educação voltada para o
futuro será sempre uma educação contestadora, superadora dos limites impostos pelo Estado e pelo
mercado, portanto, uma educação muito mais voltada para a transformação social do que para transmissão
cultural. Por isso, acredita-se que a pedagogia da práxis, como uma pedagogia transformadora, em suas
várias manifestações, pode oferecer um referencial geral mais seguro do que as pedagogias centradas na
transmissão cultural, neste momento de perplexidade (GADOTTI, 2000, p.07).

Se utilizando do pensamento de Gadotti podemos afirmar que é de suma importância para as


novas perspectivas esta práxis dentro da Educação Ambiental, para que ela seja efetivamente
transformadora e que realmente consigamos tornar o indivíduo um multiplicador.
Lembramos que através desta práxis poderemos inserir no individuo uma linha de conhecimento
questionadora, uma Educação Ambiental que trabalha inclusive uma revisão e seleção das nossas
informações. Vivendo numa era de constantes acontecimentos precisamos ter discernimento para saber o
que é de grande valia ou o que é mais uma nota sensacionalista. Ter acesso a muitas informações não
significa, ter acesso as mais importantes.
Amar o conhecimento como espaço de realização humana, de alegria e de contentamento cultural;
selecionar e rever criticamente a informação; formular hipóteses (GADOTTI, 2000, p.09), nada disto pode
ficar de fora na construção das nossas perspectivas contemporâneas.
Dentro disso o papel do educador ambiental passa a ser o de viver continuamente e intensamente
o seu tempo, de deixar aflorar a sua sensibilidade humana. A academia pode contribuir como alicerce
teórico e conceitual, entretanto, para as novas perspectivas este ator social deve acima de tudo fazer com
que possa ser construída uma proposta cada vez mais sensível, cada vez mais ligado a Terra, tendo em vista
que esta é a nossa maior questão, uma educação sustentável.

[...] Uma educação sustentável para sobrevivência do planeta. O que seria uma cultura de
sustentabilidade? Esse tema deverá dominar muitos debates educativos das próximas décadas. O que

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


808

estamos estudando nas escolas? Não estaremos construindo uma ciência e uma cultura que servem para a
degradação/deterioração do planeta? (GADOTTI, 2000, p.12).

Como preconiza a Educação Ambiental critica e politizadora, é necessário que em todos os


setores do ensino possamos observar esta prática. Concordamos ainda, e podemos afirmar que no ensino
superior esta temática nunca deverá ficar de fora dos debates.
Mais que isso, necessitamos na verdade que as teorias sejam postas em prática, o que já é
bastante observado. Em diferentes graduações, ou em programas de especialização, docentes e discentes
vem se envolvendo no intuito de dar a sua parcela de contribuição no campo da Educação Ambiental, como
por exemplo, no Projeto Práxis Ambiental.

Projeto Práxis Ambiental como iniciativa posta em prática


O exemplo ao qual nos referimos nasce dentro das disciplinas Sociedade, Meio Ambiente e
Cidadania e Gestão Ambiental, nas respectivas graduações em Serviço Social e Administração. A motivação
maior em colocar o projeto em prática surgiu da possibilidade de contribuir para o desenvolvimento local
integrado e sustentável, da capacitação dos facilitadores pelos docentes e da execução em campo de tudo
aquilo que foi discutido em sala de aula.

Figura 17 Alunos de Serviço Social e Administração (facilitadores nas oficinas de Educação


Ambiental)
Foto: Arquivo do Projeto Práxis Ambiental

A FATERN – Faculdade de Excelência Educacional do Rio Grande do Norte, representada no projeto


pelas duas graduações citadas, coloca como objetivo geral: instigar no público alvo (alunos do ensino médio
da escola pública) a percepção de que a questão ambiental é resultado da forma como a sociedade
interage com o meio, ou seja, do processo de mudança da natureza pelo homem em níveis locais, globais,
individuais e coletivos. Contribuir na formação dos discentes, formando profissionais portadores de valores
éticos, atitudes e comportamento ecologicamente orientados para tornarem-se multiplicadores dessas
virtudes.

Enfatizamos que foi posto como objetivos específicos:


Conhecer as diferentes concepções da educação ambiental na prática;
Demonstrar a dificuldade de diagnosticar e prever os impactos socioambientais;

João Pessoa, outubro de 2011


809

Perceber que a Educação Ambiental constrói um conhecimento dialógico;


Analisar problemas socioambientais;
Contribuir na formação de multiplicadores ambientais nas comunidades;
Tornar-se referência no que concerne esta área de pesquisa e atuação.

A metodologia utilizada foi desenvolvida em formato de oficinas, estas elaboradas e ministradas


pelos discentes de Serviço Social e Administração. Como suporte, dois professores acompanharam todo o
processo, das reuniões de planejamento aos dias de prática em campo.
Salientamos que foi observado grande envolvimento dos alunos neste projeto, podemos afirmar,
que foi de grande valia para o despertar de sujeitos ecológicos que estavam inertes até o momento, através
de uma práxis revolucionária.
O sujeito ecológico, nesse sentido, é um sujeito ideal que sustenta a utopia dos que crêem nos
valores ecológicos, tendo, por isso, valor fundamental para animar a luta por um projeto de sociedade bem
como a difusão desse projeto (CARVALHO, 2008, p.67).
Carvalho (2008, p.69) complementa, a existência de um sujeito ecológico põe em evidência não
apenas um modo individual de ser, mas, sobretudo, a possibilidade de um mundo transformado,
compatível com esse ideal.
Sobre a práxis (revolucionária) é a atividade que pressupõe sujeito livre e consciente e na qual não
ocorre a dicotomia teoria e prática nem a supremacia de um dos pólos sobre o outro (LOUREIRO, 2009,
p.130).
Salientamos que pode ser notada uma mudança significativa dos envolvidos no projeto, alguns,
passaram a demonstram mais interesse na afetividade pelo meio em que vivem. Como o lugar ou meio
ambiente é o veículo de acontecimentos (TUAN, 1980, p.107), observa-se que alguns envolvidos passaram
a pesquisar e escrever monografias sobre o tema.
Cada vez mais, os equilíbrios naturais dependerão das intervenções humanas (GUATTARI, 1990, p.
52) desta forma, a Educação Ambiental ocupa espaço importante nas estratégias de intervenção
visualizadas na contemporaneidade. Em um formato critico e politizado, que possa continuar no educando,
aguçando sua curiosidade e estimulando sua capacidade (FREIRE, 1996, p. 24).
Assim sendo, a Educação proposta no Projeto Práxis Ambiental, tenta internalizar no participante o
que Freire (2005, p.158) chama de desejo de conquista, que constitui em um modelo mais ligado a sua
realidade e atores envolvidos, o faz sentir verdadeiramente como parte de uma comunidade, não só a
local, falamos em uma maior a comunidade global.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tais questões estarão sempre no cerne do nosso debate acerca da Educação Ambiental
contemporânea. Na realidade o referido tema será gerador de outros desta infinita discussão. O desafio
maior de pensar a Educação Ambiental e suas perspectivas contemporâneas é fazer com que ela tome a
sua posição real de agente transformador crítico, que vai se contrapor diretamente aos interesses das
classes dominantes vigentes.
Estamos relatando por último que tal modelo de Educação Ambiental precisa ser onipresente,
atuando em casa, nas escolas, nas empresas, nas repartições públicas, nos templos religiosos, nas
associações, agremiações esportivas e coletivos em geral. Única e exclusivamente em prol da humanidade
e sua grande casa “a Terra”.
Esse tipo de Educação Ambiental pode em um futuro próximo vir a ter desempenho na investigação
e solução de problemas, entretanto, enfatizamos que deve ser um processo constante e duradouro. Esse
conjunto de fatores que comentamos no decorrer do artigo, postos de forma organizada, podem contribuir
eficazmente para melhoria do meio ambiente.

REFERÊNCIAS
CARVALHO, I.C. de M. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. – 4. Ed. – São Paulo:
Cortez, 2008.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e
Terra, 1996.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


810

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.


GADOTTI, M. Perspectivas atuais da educação. Porto Alegre: Ed. Artes Médicas, 2000.
LOUREIRO, C. F. B. Trajetória e fundamentos da educação ambiental. – 3. Ed. – São Paulo: Cortez,
2009.
TUAN, Yi-Fu. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. Tradução de
Lívia de Oliveira. São Paulo/Rio de Janeiro: DIFEL, 1980.

João Pessoa, outubro de 2011


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ANÁLISE DA SUSTENTABILIDADE DO SERIDÓ ORIENTAL NORTE-RIO-


GRANDENSE: SEGUINDO A TRILHA DA PEGADA ECOLÓGICA
Carlos Antonio Lira FELIPE NETO
Núcleo de Estudos do Semiárido - NESA, IFRN, Natal - Central, PIBITI/CNPq, Graduando do curso de Tecnologia em Gestão
Ambiental, calfneto@hotmail.com.
Leci Martins Menezes REIS
Núcleo de Estudos do Semiárido (NESA), IFRN, Campus Natal-central, Graduação em Geografia pela UFRR (1994), Mestrado
em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela UFPB (2001), Doutoranda em Recursos Naturais do DINTER -UFCG/IFRN (2010),
professora orientadora, leci.reis@ifrn.edu.br.
Valdenildo Pedro da SILVA
Núcleo de Estudos do Semiárido - NESA, IFRN, Natal – Central, Graduação em Licenciatura em Geografia pela UFRN (1988),
Mestrado em Geografia pela UFPB (1999), Doutorado em Geografia pela UFRJ (2005), e Pós -doutorando em Recursos
Naturais do DINTER-UFCG/IFRN (2010), professor colaborador, valdenildo@cefetrn.br.

RESUMO
Este artigo teve como tema: indicadores de sustentabilidade ambiental, o qual buscou mensurar a
sustentabilidade mediante a análise da utilização dos recursos naturais frente à capacidade de carga do
ecossistema da Microrregião do Seridó Oriental norte-rio-grandense, sendo essa utilização geradora de
desequilíbrios ambientais. Assim, a necessidade de monitorar as condições ambientais e colocar em termos
de números as conseqüências ecológicas e sanitárias dos males da humanidade são uma das etapas na
busca do desenvolvimento sustentável. Nessa perspectiva, o objetivo geral dessa investigação foi avaliar a
sustentabilidade nessa região do Semiárido por meio do indicador The Ecological Footprint Method – EFM,
Pegada Ecológica (PE). O campo metodológico foi apoiado no método da PE, proposto por Wackernagel e
Rees (1969), o qual sofreu adaptações por Bellen (2008) e Dias (2006), e que foi desenvolvido a partir de
transformações matemáticas para obtenção do resultado final da sustentabilidade através dos dados
secundários referentes às seguintes variáveis: água, área construída, combustíveis fósseis, consumo de
lenha, energia elétrica e resíduos sólidos. Assim sendo, com a pesquisa concretizada afirma-se que o objeto
desse estudo, encontra-se nos padrões de sustentabilidade, uma vez que a área bioprodutiva, equivalente
a 294.281,7 hectares, foi superior a área necessária encontrada, 103.157,5967 hectares, para fornecer o
suporte do consumo dos seridoenses. Para tanto, esse estudo apontou um saldo satisfatório frente ao uso
indiscriminado dos recursos naturais, acometido pelas atividades econômicas locais, a exemplo da cerâmica
vermelha. Embora, apesar de um respaldo positivo não se deve assegurar que as atividades de exploração
natural indevidas continuem a ser praticadas. Portanto, espera-se que essa investigação tenha contribuído
para melhorias no meio ambiente em seu todo, e que os gestores públicos municipais, sociedade e
representantes do terceiro setor possam atuar em consonância com os preceitos da sustentabilidade,
identificando as limitações e possibilidades da capacidade de suporte da MSO.
Palavras-chave: Sustentabilidade. Indicadores de sustentabilidade. Ecological footprint method.
Pegada Ecológica. Microrregião do Seridó Oriental.

1 INTRODUÇÃO
Os limites naturais foram tardiamente percebidos pela humanidade, uma vez que a
exaustão da utilização dos recursos naturais promovida pela intensificação do consumo não era tido como
fator de preocupação, pois se acreditava que o homem por si só era capaz de dar seguimento a ciclagem do
Planeta.
Entretanto, com o curso dos tempos, essa vertente foi, aos poucos, perdendo a sua
veracidade, e deixando o homem isento de tamanha capacidade. Assim, a questão ambiental vem se
consolidando e ocupando um espaço cada vez maior na mente das pessoas, de tal modo que a natureza foi
reconhecida como um elemento fundamental de suporte a vida, haja vista os transtornos ocasionados
fruto do desrespeito com a capacidade de carga dos ecossistemas.
Esse desrespeito é uma realidade que está presente na Microrregião do Seridó Oriental (MSO), a
qual está localizada (ver mapa 1) geograficamente na mesorregião central, na posição sul do Rio Grande do

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


812

Norte (RN) e, é composta por 10 municípios, apresentados a seguir: Acari, Carnaúba dos Dantas, Cruzeta,
Currais Novos, Equador, Jardim do Seridó, Ouro Branco, Parelhas, Santana do Seridó e São José do Seridó.
Mapa 1 – Localização do Seridó Oriental
-38,186453 -37,452882 -36,719311 -35,985740 -35,252169 -36,945322 -36,781616 -36,617910 -36,454204 -36,290498
-4,539100

Oceano A tlântic
o
® ®
-5,111050

CEARÁ

-6,194416
Currais Novos
-5,683000

RIO GRANDE DO NORTE


-6,254950

SERIDO ORIENTAL Cruzeta

-6,385408
-6,826900

Acari
0,4 0,2 0 0,4 Km
PARAÍBA
São José do Seridó
SERIDO ORIENTAL
Legenda Carnaúba dos Dantas

-6,576400
Municípios Jardim do Seridó
Seridó Oriental
AGRESTE POTIGUAR
CENTRAL POTIGUAR
Ouro Branco
Parelhas
LESTE POTIGUAR Santana do Seridó

-6,767392
OESTE POTIGUAR
Limites do Estado

Elaborador: Carlos Antonio Lira Felipe Neto Equador


Sisterma de Informação Geográfica: UTM zona 24 S

-6,958384
Datum: SAD 69
0 0,05 0,1 0,2 0,3 0,4Km
Data: 17/06/2011 Fonte: Banco de dados do IBGE
,945322 ,781616 ,617910 ,454204
-36 -36 -36 -36 -36,290498

Fonte: IBGE, 2006.

O Seridó Oriental, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010) é


uma microrregião que possui uma área equivalente a 3.778 km² e tem uma população de 118.840
habitantes.
Este recorte geográfico constitui uma área semiárida do RN e se caracteriza por forte insolação,
altas temperaturas e pelo regime de chuvas escasso e irregular. Possui precipitações em apenas três meses
ao ano, fazendo-se assim ser conhecida como uma das áreas de maior desertificação do Estado.
Os municípios dessa microrregião estão localizados em áreas de intensas ocorrências de
desertificação e suas economias são marcadas e desenvolvidas basicamente por meio de atividades de
pequenas dimensões socioeconômicas, tais como: pecuária, agricultura de subsistência e mineração, com
destaque para a cerâmica vermelha.
Em função das características físicas e dos desequilíbrios que permeiam o objeto dessa
investigação, os quais são promovidos pelo uso indiscriminado dos recursos naturais, questiona-se, porém:
apropriando-se do método da Pegada Ecológica, qual a sustentabilidade do Seridó Oriental norte-rio-
grandense?
Com o intuito de responder a essa indagação, o presente estudo objetiva analisar a
sustentabilidade do Seridó Oriental norte-rio-grandense, a partir da Pegada Ecológica, para que seja
possível chegar ao nível de sustentabilidade frente ao contexto de depleção dos recursos naturais a que
está submetida à MSO.
Destarte, analisar a sustentabilidade do Seridó faz-se necessário por resgatar parte de um processo
histórico de uso e ocupação dos recursos naturais, sendo este, pioneiramente, sustentado pelo binômio:
agropecuária e algodão, e mais recentemente a produção ceramista, a qual vem trazendo destaque para
economia local, e concomitantemente gerando perdas significativas para o ambiente natural, em função do
aumento da demanda por recursos naturais, especialmente o uso da lenha nativa e o aumento do consumo
do seridoense.
Este estudo está sendo aqui apresentado em 5 seções, além desta parte introdutória. A primeira
abarca o aporte teórico, que conceitua desenvolvimento sustentável, indicadores de sustentabilidade,

João Pessoa, outubro de 2011


813

pegada ecológica e região. A segunda descreve a metodologia necessária para a realização dessa pesquisa.
A terceira apresenta os resultados obtidos. Em conseguinte, a quarta tece as considerações. E por fim, a
quinta seção menciona as referências utilizadas.

2 APORTE TEÓRICO
Esta seção contempla os conceitos de: desenvolvimento sustentável, indicadores de
sustentabilidade, pegada ecológica e região, os quais delimitam os caminhos teóricos necessários para o
enriquecimento do conhecimento descritivo dessa pesquisa. Além do mais, vale destacar a atuação de
grandes autores como: Rees e Wackernagel (1996), Sachs (2000), Dias (2002), Bellen (2006), Amaral (2010)
dentre outros que subsidiaram o diálogo dos termos já mencionados.

2.1 DESENVOLVIMENTO SUSTENTABILIDADE


O conceito de desenvolvimento sustentável tem ganhado destaque na atualidade em decorrência
da superexploração dos recursos naturais e suas conseqüências danosas. Embora esse tenha sido um
conceito que mais possui imprecisões e carências, em detrimento da sua utilização pelos diversos
segmentos da sociedade.
A construção desse conceito foi atingida a partir da dualidade de dois paradigmas. O primeiro
deles, proposto pelos pessimistas, os quais consideravam a natureza de forma intrínseca e independente,
na qual o homem não poderia mais usufruir dos recursos dela, uma vez que o meio natural já se
apresentava com déficit desde décadas atrás. E o segundo, embasado nos preceitos do capitalismo,
apoiara-se na idéia de que uma provável interrupção na utilização dos recursos naturais inibiria o
desenvolvimento de nações e da qualidade de vida da população (SACHS, 2000).
A partir desse confronto, organizações mundiais puderam ponderar princípios antagônicos, visto
que havia uma difícil aceitação de ambos os paradigmas, de modo que tanto valores ambientais quanto
econômicos foram arraigados dando origem a um novo pensamento sobre desenvolvimento na Era do
Meio Ambiente; surge então o desenvolvimento sustentável.
Assim, o desenvolvimento sustentável foi definido, consagradamente, pela Comissão Mundial
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD, 1991, p. 44) como sendo: “aquele que satisfaz as
necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem as suas
próprias necessidades”.
Baseando-se no conceito mais difundido de desenvolvimento sustentável, proposto pela CMMAD
(1991), espera-se que valores de preservação ambiental sejam adquiridos e que medidas preventivas pelo
poder público sejam incentivadas e praticadas para a simbiose entre homem e natureza. Nesse contexto, os
indicadores de sustentabilidade, o qual será trabalhado a seguir, destacam-se por serem ferramentas
importantes para tomada de decisões, capazes de mensurar os limites da natureza, ou sua “capacidade de
carga”.
2.2 INDICADOR DE SUSTENTABILIDADE
Indicador denota inferir, apontar, estimar. Assim, no pleito da sustentabilidade, os indicadores vêm
sendo cada vez mais utilizados com o intuito de aferições referentes ao consumo, em função de suas
principais conseqüências negativas para o meio ambiente, uma vez que o crescimento populacional exige
substancialmente recursos naturais para manutenção da vida, e muitas vezes os mesmos ficam submissos à
utilização indiscriminada e desnecessária, fortes características do sistema vigente: o capitalismo.
Diante disso, mensurar o consumo numa conexão com a natureza, atualmente, torna-se
imprescindível para tomada de decisões cabíveis de evitar transtornos já ocasionados ao funcionamento do
meio ambiente em seu todo, tendo que os indicadores de sustentabilidade surgem como instrumentos de
contabilidade ambiental. A partir deles pode-se saber a “capacidade de carga” de um dado ecossistema,
isto é, o fluxo de matéria e energia que entra e sai da unidade.
Conforme Amaral (2010) os indicadores são tidos como retratos da realidade, os quais não podem
representar fielmente o real. Tal limitação tem se dado por meio da dificuldade em quantificar todos os
sistemas que suportam a vida.
Ainda nessa compreensão, Bellen (2006) afirma que o retrato fornecido pela indicação da
sustentabilidade, apesar de ser otimista porque considera tecnologias avançadas e uma produtividade que

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


814

interfere com intensidade nos recursos naturais, não representa claramente a realidade, tendo em vista a
não consideração de todos os elementos de manutenção da vida.
O crescimento da produtividade no século XX apoiou-se num colapso ecológico continuado, fruto
do consumismo desenfreado. Foi devido à preocupação de quantificar a degradação ambiental e
transformá-la em valores quantitativos que alguns pesquisadores desenvolveram os indicadores de
sustentabilidade. Uma das ferramentas, proposta em meados da década de 60, foi The ecolgical footprint
method, ou também conhecida como a Pegada Ecológica (PE), uma metodologia criada por Rees e
Wackernagel (1996).

2.3 PEGADA ECOLÓGICA


A Pegada Ecológica é a área necessária de terra produtiva e ecossistemas aquáticos capazes de
oferecer o suporte de recursos utilizados bem como da assimilação dos resíduos produzidos por uma dada
população, sob um estilo de vida (WACKERNAGEL E REES, 1996 apud DIAS, 2002).
Assim, a PE baseia-se no conceito de capacidade de carga, na máxima população que pode ser
suportada indefinidamente no sistema, isto é, a carga máxima que pode ser imposta ao meio ambiente
pela sociedade. Avalia-se, portanto, a área de terra necessária para assegurar a sobrevivência de uma
determinada população (Bellen, 2006).
Esse método surge como instrumento de avaliação ambiental de forma clara, integrada e simples,
sendo capaz de diagnosticar os resultados das atividades humanas desenvolvidas no ecossistema e os
custos ocasionados pela apropriação de áreas naturais (DIAS, 2002). Pretende-se a partir desse indicador
estimar o quanto de recursos naturais é requerido para suprir o consumo da população.
Desse modo, essa metodologia não procura definir a população adequada para determinada região
e sim o contrário, calcular a área que determinada população necessita através da contabilidade dos fluxos
de energia e matéria que entram e saem do sistema.
Para tanto, o cálculo da PE identifica que para cada item de matéria ou energia consumida, há certa
área de terra necessária para fornecer tais fluxos, restringindo-se as categorias de consumo mais
específicas assim como itens individuais de cada área.
Não obstante, a PE é um método avaliado como conciso e bem fundamentado, como todos os
outros métodos, porém também está passível às críticas. Elas estão envoltas na relação social ausente na
avaliação dos indicadores. A PE não é fixa, sendo alterada de região a região, entretanto, a ferramenta
aborda apenas os recursos naturais sem se preocupar com a economia e a sociedade (Bossel, 1999 apud
BELLEN, 2006).
Outra limitação proposta por Hardi e Barg (1997 apud BELLEN, 2006), é a de o método ser
sistematizado de forma estática, a ferramenta não pretende fazer extrapolações futuras, utiliza apenas
dados já coletados atualmente. Todavia, existem certas questões que são imprescindíveis que sejam
analisadas de forma quantitativa.
A tentativa é que através dessa ferramenta de forte procedência a nível mundial se mensure a
produção e o consumo dos recursos naturais essenciais à vida, no intuito de minimizar as perdas e
degradações, substituindo as formas de produção por maneiras mais eficazes. Assim, captura-se a
complexidade do desenvolvimento, sem reduzir a significância de cada um dos componentes do
ecossistema, sem atrapalhar economicamente cada região estudada, e sim, torná-la sustentável.

2.4 REGIÃO
Na tentativa de utilizar o método da PE em uma escala menor, visto que os estudos iniciais acerca
desse indicador de sustentabilidade eram de cunho mundial, optou-se, porém, desenvolvê-lo em plena
região do semiárido do RN, visto que os impactos nocivos ao ambiente fruto da ação antrópica têm
contribuído para castigar ainda mais essa região, quer seja em nível social quer seja natural. E porque não
dizer que o parecer obtido por esse método em dimensões espaciais específicas, isto é menores, torna-se
mais fácil reverter uma situação de insustentabilidade, comparando assim, em um contexto planetário.
Desse modo, o conceito de Região deve aqui ser compreendido, haja vista a importância do
conhecimento acerca dos limites geográficos dessa investigação. Para tanto, conforme Magnago (1995) a
questão regional do Brasil começou a ganhar consistência teórica no início do século XX, sendo essa uma

João Pessoa, outubro de 2011


815

tarefa de espécie científica, que tanto tem o interesse da academia, quanto da deficiência de planejamento
e da gestão do território.
Na concepção de Carvalho (1913, apud MAGNAGO, 1995) a primeira divisão regional brasileira, o
qual foi autor, embasou-se apenas sob os elementos físicos, envolvendo então o relevo, o clima e a
vegetação, já os aspectos humanos não foram levados em consideração. Porém, essa divisão passou a
sofrer críticas, uma vez que o homem também é componente do meio em que vive.
Desse modo, a MSO foi dividida em função dos seus aspectos naturais, dentre eles: o clima
semiárido, o bioma caatinga, as elevadas temperaturas e o sistema hidrológico com irregularidade das
chuvas que por sua vez, ocorrem, geralmente, num período de três a quatro meses, e solos visualmente
desgastados.
Com o intuito de representar um espaço por meio das características físicas geográficas e também
das sociais de uma determinada população, surge então um novo conceito de região, a qual conforme
Duarte (1980, apud MAGNAGO, 1995) pode ser entendida como um espaço (não institucionalizado como
Estado-Nação) de identidade ideológica-cultura e representatividade política, articulados em função de
interesses específicos, sendo estes principalmente econômicos, por uma fração ou bloco “regional” de
classe que nele reconhece sua base territorial de reprodução. Este foi um conceito acresceu na divisão
regional os valores humanos, os quais são dotados de importância tão quanto os aspectos físicos da
geografia.
Deste modo, partindo da importância do entendimento de região nesta pesquisa, necessitou-se
destacar também o conceito de microrregiões, uma vez essa pesquisa tem como objeto de investigação a
MSO. Então, microrregiões são consideradas como partes das mesorregiões, as quais foram definidas sob a
ótica de suas especificidades quanto à produção agropecuária, industrial, extrativista mineral e pesqueira.
Para a concepção das especificidades da estrutura produtiva, utilizaram-se, também, informações sobre o
quadro natural, as relações sociais e econômicas particulares, compondo a vida de relações locais
(MAGNAGO, 1995).

3 METODOLOGIA
Para consecução dessa pesquisa necessitou-se de uma revisão bibliográfica, que foi realizada em
diversos artigos, dissertações, teses, livros, dentre outros recursos, como forma de dar suprimento ao
corpo teórico. Além disso, essa pesquisa possui natureza quantitativa, uma vez que se buscou dados
secundários, uma exigência do método utilizado.
Baseando-se no método da PE, elaborado por Wackernagel e Rees (1996), e com contribuições de
Bellen (2006), Dias (2002) e Parente (2007), o presente estudo teve por base as seguintes variáveis: água,
combustíveis fósseis, energia elétrica, resíduos sólidos, uso da lenha e área construída. Por meio dessas
variáveis foi possível se obter informações a respeito do contexto de depleção dos recursos naturais, uma
vez que as mesmas foram consideradas como as responsáveis principais pelos impactos negativos do
espaço geográfico desse estudo.
Os dados coletados sobre essas variáveis contribuíram para que se pudesse fazer transformações,
em que os recursos naturais (matérias-primas) foram traduzidos, matematicamente, em áreas de terra
(áreas bioprodutivas) apropriadas para disposição dos mesmos e assimilação dos dejetos. Portanto, após as
transformações e o somatório chegou-se a mensuração da PE quanto às variáveis aqui estudadas.
Destaca-se, ainda, que foram consultadas as seguintes fontes, que deram embasamento
para a coleta dos dados secundários referentes às variáveis dimensionadas: Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE); Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (CAERN); Companhia
Energética do Rio Grande do Norte (COSERN); Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
(ANP), dentre outras instituições.

4 RESULTADOS
Com o parecer dos resultados (ver tabela 1), infere-se que a Pegada Ecológica total, em hectares da
população residente na MSO referente ao consumo das variáveis descritas na seção anterior, corresponde
a uma área de 184.746,794 hectares. Para tanto, a área bioprodutiva dessa Microrregião compreende uma
área equivalente a 294.281,7 hectares, conforme o monitoramento da caatinga (2008), um estudo

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


816

realizado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) conjuntamente com o Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais (IBAMA).

Tabela 1 – Variáveis, suas respectivas PE (ha) população, percentual (%)


Variáveis PE (ha) População Percentual (%)
Água 1136,25483 1,1
Área Construída 1049,65 1,0
Combustíveis Fósseis 85246,64 82,6
Consumo de Lenha 5620,422265 5,4
Energia Elétrica 3080,1929 3,0
Resíduos Sólidos 7024,43667 6,8
TOTAL 103157,5967 100
Fonte: Dados adaptados da pesquisa (2006, 2007, 2008, 2009, 2010).

Assim, conforme os percentuais obtidos a partir da PE (ha) da população de cada variável, ordenou-
se as mesmas em consonância com a grandeza da área requerida pelo consumo de cada uma delas. Deste
modo, as variáveis apresentam-se na seguinte ordem: combustíveis fósseis, resíduos sólidos, consumo de
lenha, energia elétrica, área construída e água.
O gráfico 1, mostrado a seguir, traz uma melhor explanação dos percentuais frente a participação
de cada variável na contabilização da área requerida para oferta dos recursos e assimilação dos dejetos.
Portanto, com o panorama gerado por esse gráfico, pode-se visualizar melhor a participação das variáveis
no desfecho da PE das MSO.

Gráfico 1 – PE (ha) de cada variável analisada em percentagem

Fonte: Pesquisa direta (2011).

A partir dessa visualização tornou-se notável a liderança dos combustíveis fósseis, uma vez que o
percentual desse consumo atingiu a média de 83, comparando-a com as demais variáveis aqui analisadas.
Entretanto, para o escopo dessa investigação, que é a mensuração da sustentabilidade da MSO, foi
preciso subtrair a PE (ha), total da população, tabela 1, pela área bioprodutiva. Assim sendo, obteve-se o
saldo ecológico (ver a tabela 2), o qual indicou uma reserva superior da área bioprodutiva disponível pela
MSO, comparada a área em hectares de terras requeridas pelos consumos das variáveis.

Tabela 2 – Saldo ecológico


Saldo Ecológico
PE (ha) TOTAL população - Área Bioprodutiva (ha)
103157,5967 - 294.281,7
-191124,1033
Fonte: Adaptado de Andrade (2006, apud PARENTE, 2007).

João Pessoa, outubro de 2011


817

Destarte, com a subtração realizada, percebeu-se que a área bioprodutiva (ha) ultrapassou a PE
(ha) total da população. Podendo assim, dizer que as seis variáveis calculadas não permitiram o consumo
total da reserva natural do objeto desse estudo. Em termos de estatísticas, diz-se ainda, que os
seridoenses, sob a ótica dessas seis variáveis, utilizaram apenas em média 36 % do potencial biológico do
ecossistema em questão.

5 CONSIDERAÇÕES
Diante dos resultados obtidos, conclui-se que os padrões de consumo analisados encontram-se de
maneira equilibrada com a capacidade de suporte da natureza, visto que a área para o requerimento do
consumo das variáveis foi inferior a área bioprodutiva.
Portanto, acredita-se que se chegou a esse resultado em função de que a área construída, ou
urbanizada, foi inferior a área de vegetação que não foi ainda antropizada pelo seridoense. Para tanto, vale
destacar que essa pesquisa está fundamenta basicamente em dados secundários, os quais nem sempre se
mostram plausíveis de confiança.
Ainda na compreensão dessa limitação do método da PE, o retrato da realidade aqui obtido não
pode ser tido com grande fidelidade, pois os dados coletados, e os quais puderam passar por
transformações matemáticas, foram consultados por diversas fontes, as quais os disponibilizaram em
períodos distintos, sendo eles: 2006, 2007, 2008, 2009 e 2010. Havendo assim, uma dificuldade para
melhor demonstrar em um tempo preciso a utilização dos recursos naturais pelo seridoense.
Apesar das carências do próprio método, o mesmo apresenta vantagens, pois possui uma
facilidade no seu entendimento e busca sempre retratar até que ponto o homem vem degradando a
natureza. Ademais, esse método disponibiliza um parecer no qual o poder público, a sociedade e o terceiro
setor, em consenso, podem atuar de maneira sustentável sob a perspectiva das variáveis que apresentarem
maiores impactos.
Desse modo, o estudo em tela revela um resultado positivo, pois aponta um superávit ecológico.
Entretanto, diante dos constantes desequilíbrios naturais que vem ocorrendo, espera-se que os padrões de
consumo sejam mantidos e/ou modificados, com o intuito de conservar, bem mais, a capacidade
bioprodutiva da MSO. Além disso, sugere-se para eventuais pesquisas a ser desenvolvidas que se incorpore
um número maior de variáveis na análise da PE, com o intuito de melhor representar a realidade da relação
homem e natureza.

REFERÊNCIAS
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<http://www.anp.gov.br/>. Acesso em: 12 dez. 2010.
BELLEN, Hans Michael Van. Apresentação dos indicadores dos sistemas de desenvolvimento
sustentável. In:_____. Indicadores de desenvolvimento sustentável: uma análise comparativa. Rio de
Janeiro: Editora FGV, 2006.
COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Nosso futuro comum. Rio de
Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1991.
COMPAINHA DE ÁGUAS E ESGOSTOS DO RIO GRANDE DO NORTE (CAERN). 2009. Disponível em:
<http://www.caern.rn.gov.br/contentproducao/aplicacao/caern/principal/enviados/index.asp >.
Acesso em 20 nov. 2010.
COMPANHIA ENERGÉTICA DO RIO GRANDE DO NORTE (COSERN). 2007. Disponível em:
<http://www.cosern.com.br/>. Acesso em: 6 dez. 2010.
DIAS, G. F. Pegada ecológica e sustentabilidade humana. São Paulo: Gaia, 2002.
EMBRAPA monitoramento por satélite. Mapeamento e Estimativa da Área Urbanizada do Brasil.
2006. Disponível em: <http://www.urbanizacao.cnpm.embrapa.br/conteudo/uf/rn.html>. Acesso em: 18
mai. 2011.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Rio Grande do Norte. Natal, 2009.
Disponível em: < http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1>. Acesso em: 02 Dez. 2010.
MAGNAGO, Angélica Alves. A divisão regional brasileira: uma revisão bibliográfica. Revista
Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v.57,n.4, p.67 – 94, 1995. Disponível em: <

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


818

http://biblioteca.ibge.gov.br/colecao_digital_publicacoes_multiplo.php?link=RBG&titulo=Revista
%20Brasileira%20de%20Geografia%20-%20RBG>. Acesso em: 5 abr. 2011.
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE – MMA; INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA –
IBAMA. Monitoramento do bioma caatinga 2002 a 2008, Brasília, 12 mar. 2010. Disponível em: <
http://siscom.ibama.gov.br/monitorabiomas/caatinga/caatinga.htm>. Acesso em: 28 fev. 2011.
PARENTE, A. Indicadores de sustentabilidade ambiental: um estudo do Ecological Footprint Method
do município de Joinville – SC. 2007. 197 f. Dissertação (Mestrado em Administração)-Universidade do Vale
de Itajaí, Santa Catarina, 2007.
SACHS, Ignacy. Pensando sobre o desenvolvimento na era do meio ambiente. In:_____. Caminhos
para o desenvolvimento sustentável. Rio de janeiro: Garamond, 2000.
WACKERNAGEL, M.; REES, W. Our Ecological Footprint: reducing human impacto on the earth.
Canadá: New Society Publishers, 1962.

João Pessoa, outubro de 2011


819

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO PROCESSO FORMADOR DE POLICIAIS


MILITARES NO MARANHÃO35
36
Carlos Di Stefano Silva SOUSA
Centro Universitário do Maranhão - CEUMA
E-mail: stefanosousa@hotmail.com

RESUMO
Este artigo, resultado de uma pesquisa monográfica, traz uma análise sobre a formação oferecida
aos soldados do Batalhão de Policiamento Ambiental da Polícia Militar do Maranhão e propõe ações
institucionais que podem contribuir para a melhoria dessa formação. O diagnóstico aponta para a
insuficiência das ferramentas adotadas pela PMMA para a formação mais adequada dos policiais que terão
como responsabilidade não apenas coibir delitos ambientais, mas principalmente promover a consciência
das comunidades com relação a temas como preservação e sustentabilidade. O artigo desenvolve ainda o
argumento de que ações como aumento de carga-horária do curso de formação ambiental, atualização do
conteúdo, melhoramento do sistema de recrutamento de instrutores e a oferta de minicursos, palestras e
oficinas são fundamentais para que o Batalhão mostre-se mais eficiente e mais engajado para alcançar os
objetivos para os quais foi criado. Aponta-se, ao longo do trabalho, que critérios informais prevalecem
sobre critérios formais na escolha do efetivo que compõe a unidade policial, apesar de haver normas
específicas que deveriam ser seguidas como forma de garantir o melhor aproveitamento dos recursos
humanos disponíveis. Discute-se também a introdução da problemática ambiental nos programas de
governo e nos regimentos normativos em nível nacional e regional como uma demanda do cenário
internacional, que desloca o foco da repressão para a conscientização ambiental.
Palavras-chave: Educação Ambiental – Polícia Militar – Sustentabilidade – Legislação Ambiental –
Cidadania

ABSTRACT
This article is a result of a graduation research that brings an analysis on training offered to the
police officers of the Environmental Policing Battalion of Maranhão Military Police (PMMA). In this work,
we propose institutional actions that can contribute to the improvement of this training. The diagnosis
leads to the failure of tools adopted by PMMA in order to provide the most suitable training to the police
officers who will have as responsibility not only to fight against environmental crimes but also, and mostly,
to promote the conscience of the communities toward issues like preservation and sustainability. The
paper also develops the argument that little actions like rising the hourly charge of the environmental
training course, improvement of the instructors recruitment system and offering of short courses and
speeches are very important for the battalion shows itself more efficient and more engaged toward
achieving its goals. Along the work we point out what informal criteria prevail on formal ones in the chosing
of the men who will compose the police unity, despite there are specific rules that must be followed as a
way to guarantee the best use for disposable human resources. We also discuss the introduction of
environmental issue at government programs and in the normative guides in national and regional levels as
a demand of international scenario, which turn the focus of repression to environmental awareness.
Key-words: environmental education – military police – sustainability – environmental rules –
citizenship

1 Introdução

35
Este artigo é resultado de uma pesquisa monográfica intitulada “Polícia Militar e Meio Ambiente: a
educação ambiental no curso de formação de soldados da Polícia Militar do Maranhão” apresentada em 2010 ao
Curso de Geografia da Universidade Federal do Maranhão e orientada pela Profª. Dra. Maria da Glória Rocha Ferreira.
36
Estudante do Curso de Especialização em Engenharia Ambiental do Centro Universitário do Maranhão.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


820

A incorporação da temática ambiental na legislação brasileira é recente. Os debates travados na


Primeira Conferência Mundial da Organização das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, Estocolmo –
1972, só começaram a ser aceitos pelo Brasil passados quase dez anos. Imerso no regime ditatorial, o Brasil
rejeitou as recomendações desta Conferência por acreditar que constituíam uma barreira ao seu
crescimento econômico (DIAS, 2004).
A aprovação da Lei Federal 6.938/81 (Política Nacional do Meio Ambiente) é conquista importante:
inseriu o Brasil no conjunto dos países defensores do meio ambiente e estabeleceu o Sistema Nacional do
Meio Ambiente (Sisnama). Esta é a chave para a compreensão da responsabilidade sócio-ambiental que
têm as instituições públicas brasileiras. Em seu artigo sexto, referida Lei estabelece que:
Os órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios,
bem como as fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade
ambiental, constituirão o Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA (BRASIL, 1981, p. 03).

Entre esses órgãos destacam-se o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), o Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), as Secretarias de Meio
Ambiente e as Polícias Militares que atuam na preservação da ordem pública e do meio ambiente de
acordo com os artigos 144 e 225 da Constituição Federal de 1988.
Como complemento deste dispositivo e da Lei Federal 6.938/81, há a Lei Federal 9.795/99 - Política
Nacional da Educação Ambiental. Esta estabelece que a Educação Ambiental deve ser trabalhada em todas
as instituições do País, para todos os níveis, modalidades de ensino e educação (Brasil, 1999, p. 01). Assim,
a Educação Ambiental deve abranger os cursos institucionais que formam ou capacitam profissionais,
incluindo os destinados a policiais militares.
Neste contexto está a Polícia Militar do Maranhão (PMMA) que possui o Curso de Formação de
Soldados (CFSd). Este é o maior processo formador de policiais militares que atuam junto à sociedade e na
defesa do meio ambiente, através do Batalhão de Polícia Ambiental (BPA), no Maranhão. Por isso, no
currículo do CFSd/PMMA devem estar contidos conteúdos relativos à Educação Ambiental para melhorar a
formação institucional desses policiais quanto à temática ambiental.
Estudar como é trabalhada a Educação Ambiental no Curso de Formação de Soldados da Polícia
Militar do Maranhão e suas repercussões entre os policiais do Batalhão de Polícia Ambiental são os
objetivos deste trabalho, porque é necessário conhecer parte da realidade das instituições públicas no que
se refere ao meio ambiente. Para isso, foi adotado o método qualitativo por facilitar a aproximação com o
objeto estudado (MINAYO, 2004). E como procedimentos metodológicos o levantamento e análise
bibliográfica, e a pesquisa com questionários semi-estruturados. Estes perfizeram o total de 20 (vinte)
aplicações entre um universo de 120 (cento e vinte) policiais do Batalhão de Polícia Ambiental/PMMA.
Além destes, foi aplicado um questionário individual junto aos dois instrutores da disciplina que trata da
Educação Ambiental no CFSd/PMMA.

2 A Educação Ambiental no Curso de Formação de Soldados da Polícia Militar do Maranhão


O Curso de Formação de Soldados da Polícia Militar do Maranhão (CFSd/PMMA) é um dos
processos formadores de seus profissionais e tem seu funcionamento no Centro de Formação e
Aperfeiçoamento de Praças (CFAP). Esta é uma das unidades de ensino da Instituição que já capacitou
dezesseis turmas e um total de 5.107 soldados de 1978 a 2011 (MARANHÃO, 2011).
O CFSd/PMMA é realizado quando novos profissionais ingressam na Instituição através de
concursos públicos estaduais que visem o provimento de vagas ao cargo de soldado/PM e tem duração
estabelecida de acordo com as suas necessidades. Os principais objetivos do curso são
ministrar aos incorporados na PMMA os ensinamentos imprescindíveis ao desempenho da função
policial militar, despertando e firmando mentalidade de amor e ordem, organização, disciplina, austeridade e
seriedade ao trabalho, dando a precisa idéia do caráter finalístico da Corporação (MARANHÃO, 2001).

Entre os ensinamentos indispensáveis ao policial militar estão os conteúdos que tratam da


Educação Ambiental (Lei Federal 9.795/99). É importante destacar que embora a Polícia Militar do
Maranhão tenha formado quatro turmas de soldados de 1999 a 2011 (2001, 2002, 2007 e 2010), a

João Pessoa, outubro de 2011


821

introdução destes conteúdos na grade curricular do curso só foi efetivada a partir do ano de 2007 com a
disciplina Policiamento Ostensivo Ambiental (MARANHÃO, 2009).
Uma das principais dificuldades mencionadas pelos instrutores para trabalhar esta disciplina é a
carga horária de 20h em um curso que possui o total de 840 horas-aula. Com isso, os responsáveis por esta
disciplina têm que equacionar o tempo de aula entre conteúdos relativos à Educação Ambiental e as
técnicas de policiamento ambiental utilizadas pela Polícia Militar do Maranhão.
A análise dos conteúdos ministrados na disciplina Policiamento Ostensivo Ambiental (processos,
modalidades, circunstâncias, lugar e missões, procedimentos, patrulhamento, técnicas particulares,
vistorias, acampamentos, serrarias e depósitos de lenha e carvão e legislação ambiental) também mostra
que há um distanciamento com aquilo que representa a Educação Ambiental.
Se excluirmos o último conteúdo (legislação ambiental), todos são técnicas policiais utilizadas no
enfrentamento ao crime e modificadas para o trabalho no Batalhão de Polícia Ambiental. E a Educação
Ambiental é aqui entendida como uma educação política. Ou seja, é uma conscientização que ajuda o
indivíduo a adquirir conhecimentos, sentimentos, habilidades e valores que auxiliam na tomada de atitudes
que beneficiem o meio ambiente e a coletividade (REIGOTA, 2009).
No que se refere ao desenvolvimento destes conteúdos, os instrutores da disciplina mencionaram
que a articulação entre as questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais é parcial e não há
interdisciplinaridade. Mas mesmo que não exista um modelo universal para trabalhar a Educação
Ambiental, esta deve ser embasada nas questões ambientais que se apresentam como realidades locais,
mas com causas ou efeitos globais (DIAS, 2004).
Os critérios de seleção para os instrutores da disciplina Policiamento Ostensivo Ambiental também
são fatores que contribuem para esta realidade. Neste aspecto, a Diretoria de Ensino da PMMA apontou
que a formação superior ou técnica na área ambiental e a seleção interna por meio de provas de
conhecimento têm maior importância. Mas de acordo com as informações obtidas através dos
questionários aplicados junto aos dois instrutores do Curso de Formação de Soldados, foi a indicação de
superior hierárquico que prevaleceu como critério principal.
Essas informações evidenciam que embora a Polícia Militar do Maranhão possua profissionais com
formação na área ambiental, a Instituição ainda não está aproveitando esses recursos para trabalharem
junto ao CFSd. E isso se dá em virtude da recente incorporação da temática no currículo do curso. Porém,
entende-se que a participação desses profissionais possa melhorar a formação dos policiais maranhenses
no que se refere à Educação Ambiental considerando-se os seus níveis de aprofundamento no tema
(MARANHÃO, 2009).

3 A Educação Ambiental do CFSd entre os policiais do Batalhão de Polícia Ambiental


O Batalhão de Polícia Ambiental (BPA) foi criado por meio do Decreto Estadual n° 11.810 de
9/04/1991 com o objetivo de executar ações de salvaguarda dos recursos ambientais do Estado do
Maranhão. Inicialmente foi denominado Batalhão de Polícia Florestal (BPFLo) mas passou à nomenclatura
atual por meio do Decreto Estadual n° 20.375 de 29/03/2004. Com competências para atuar em todo o
Maranhão, sua sede está localizada no Parque Estadual do Bacanga, em São Luís, desde 1993 (MARANHÃO,
2006).
Entre as atividades atribuídas ao Batalhão de Polícia Ambiental está a capacitação de recursos
humanos (artigo 8º da Lei Federal 9.795/99). Para realizar este trabalho os profissionais do BPA precisam
estar capacitados. E sua capacitação principal se dá por meio da disciplina Policiamento Ostensivo
Ambiental, do Curso de Formação de Soldados, no momento em que o policial ingressa na Instituição.
Após a realização do curso, a Diretoria de Pessoal da PMMA adota os seguintes critérios, em ordem
de importância, para lotar os policiais no BPA: possuir formação (superior ou técnica) na área ambiental ou
afim, ter experiências na área ambiental, seleção interna por meio de provas de conhecimento (após o
curso), a média final na disciplina Policiamento Ostensivo Ambiental, indicação de superior hierárquico ou a
manifestação voluntária do policial (MARANHÃO, 2009).
Entre os critérios apontados pelos policiais do Batalhão de Polícia Ambiental, porém, prevaleceram
os observados no gráfico 01. Tal realidade denota que ainda não é preocupação da Polícia Militar do
Maranhão aproximar o trabalho realizado por seus profissionais às suas formações extra-institucionais, o

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


822

que contribui para a demora na melhoria dos serviços prestados pela Instituição através do BPA, pois é
sabido que os policiais deste Batalhão devem possuir formação mais aprofundada na área ambiental.

Gráfico 01. Critérios utilizados pela PMMA para lotação dos


policiais no BPA.
Fonte: Sousa, 2009.

No que se refere aos conteúdos da disciplina Policiamento Ostensivo Ambiental, os gráficos 02 e 03


mostram que estes ainda não alcançaram seus objetivos, de promoção da Educação Ambiental no Curso de
Formação de Soldados. Neste aspecto, a legislação ambiental (conteúdo principal da disciplina) ainda não é
do conhecimento de todos os policiais do Batalhão. Mas é importante ressaltar que este é um dos
principais instrumentos para o trabalho por eles realizado, que é executar ações de salvaguarda ambiental
através de práticas preventivas (educativas) e punitivas (aplicação dos dispositivos legais).

Gráfico 02. Formas de conhecimento da Lei Gráfico 03. Formas de conhecimento da Lei
Federal 6.938/81 pelos policiais do BPA. Federal 9.795/99 pelos policiais do BPA.
Fonte: Sousa, 2009. Fonte: Sousa, 2009.

O pouco conhecimento proporcionado pelo CFSd sobre a legislação ambiental se reflete também
no preparo destes policiais. Considerando-se a disciplina Policiamento Ostensivo Ambiental (conteúdo e
carga horária), 30% (trinta por cento) não se sentem preparados para trabalhar de acordo com as
propostas do BPA. Este preparo perfaz somente 70% (setenta por cento) do contingente do Batalhão.
Entre os que se sentem preparados para atuar no BPA, destaca-se que essa capacitação não foi
proporcionada somente através do CFSd/PMMA. Esse preparo foi proporcionado também “em decorrência
de muitos já terem feito vários cursos extra-quartel”37. Isso indica que a Polícia Militar do Maranhão deve
dar mais atenção à temática ambiental no currículo do Curso de Formação de Soldados porque este é um
debate que está ganhando espaço em todos os setores sociais.

37
Resposta fornecida por um policial do Batalhão de Polícia Ambiental em 06/10/2009.

João Pessoa, outubro de 2011


823

Como um projeto, a Educação Ambiental possui seis objetivos que são a conscientização, o
conhecimento, o comportamento, as habilidades ou competências, a capacidade de avaliação e a
participação, e como proposta global a proteção do meio ambiente através de práticas educativas
(CARVALHO, 2008). A avaliação dos policiais do Batalhão de Polícia Ambiental quanto a essa proposta
global de Educação Ambiental é ilustrada no gráfico 04.

Gráfico 04. Avaliação dos policiais do BPA em


relação à proposta global de EA.
Fonte: Sousa, 2009.

Pelos resultados, observa-se que muitos já possuem conhecimentos suficientes acerca dos
objetivos da Educação Ambiental. Suas preocupações residem na maneira como deve ser trabalhada essa
proposta. Conforme destacou um dos policiais entrevistados, “só conseguiremos mudar os hábitos de uma
sociedade começando desde cedo. Mexendo na educação não só ambiental, mas de forma geral”38.
Outra preocupação está no empenho do Governo na promoção desta modalidade de educação,
pois de acordo com a visão de outro policial, “falta mais incentivo do próprio Governo e dos órgãos aos
profissionais que levam a educação ambiental a quem precisa”39. E para aqueles que consideram a
Educação Ambiental como uma proposta ruim, destaca-se que essa observação não está diretamente
ligada aos seus objetivos. Uma das justificativas dos policiais é a “falta de informação sobre o tema”40.
Mesmo que esta seja uma justificativa apontada, destaca-se que os diálogos sobre a Educação
Ambiental começaram a ser travados a partir da década de 1970 (Conferência de Estocolmo – 1972, Tbilisi -
1977 e Rio 92 -1992). E é através desse diálogo que a expansão da Educação Ambiental deve ser pensada: a
todos os setores da sociedade e de modo que cada cidadão construa uma visão crítica sobre os problemas
ambientais (CARVALHO, 2008). Nessa perspectiva, é importante levar ao conhecimento desses profissionais
as propostas globais da Educação Ambiental, uma vez que a conscientização é o primeiro passo para
alcançar seus objetivos.

4 Propostas para a Educação Ambiental do CFSd/PMMA


Durante a pesquisa, constatou-se que a Educação Ambiental trabalhada no Curso de Formação de
Soldados da Polícia Militar do Maranhão pode ser repensada para que haja melhor aproveitamento dos
conteúdos pelos alunos. Coletadas junto aos policiais do Batalhão de Polícia Ambiental, são propostas para
esta Educação Ambiental:
Aumento da carga horária: para os policiais do BPA 20 horas-aula são insuficientes para englobar a
questão ambiental e conscientizar os alunos sobre a necessidade de proteger o meio ambiente;
Reelaboração do conteúdo: a disciplina que trata da temática ambiental no CFSd (Policiamento
Ostensivo Ambiental) deve aproximar mais o conteúdo à Educação Ambiental como forma preventiva e
eficaz de proteção ambiental;

38
Resposta fornecida por um policial do Batalhão de Polícia Ambiental em 06/10/2009.
39
Ibidi
40
Ibidi.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


824

Otimização na seleção de instrutores/professores: esta é uma das principais propostas apontadas


pelos policiais do BPA. Para eles, a disciplina deve ser trabalhada por profissionais mais qualificados. Assim,
a Polícia Militar do Maranhão deve adotar critérios que visem o aproveitamento de profissionais com
formação na área ambiental para trabalhar a temática junto ao CFSd;
Oferta de minicursos e oficinas: também é sentida a necessidade de a Polícia Militar do Maranhão
promover cursos de capacitação e qualificação de profissionais na área ambiental. E é importante que este
trabalho, conforme apontaram os policiais do BPA, seja realizado em parcerias com instituições públicas e
privadas que possuem cursos e profissionais qualificados na área, tais como Instituições de Ensino Superior,
o IBAMA, as Secretarias Estadual e Municipais de Meio Ambiente, Organizações Não - Governamentais
assim como diversas empresas que trabalham com atividades relacionadas ao meio ambiente.
São essas as pequenas ações que podem melhorar os trabalhos em Educação Ambiental no Curso
de Formação de Soldados/PMMA, pois conforme assinala Tozoni-Reis (2008), a forma e os recursos são
questões primordiais para que se inicie qualquer trabalho de conscientização que tenha como sustentáculo
a Educação Ambiental.

5 Considerações finais
Ao longo da pesquisa, verificou-se que a proposta de Educação Ambiental do Curso de Formação de
Soldados da Polícia Militar do Maranhão carece de uma revisão integrada sobre a forma como está sendo
trabalhada. Essa necessidade é justificada por diversas razões, dentre as quais é destacada a visão holística
que deve nortear todo o trabalho relacionado a esta modalidade de educação.
A falta desse imperativo no processo de ensino-aprendizagem do Curso de Formação de Soldados
pode distanciar as práticas em Educação Ambiental do seu principal objetivo: conscientizar as pessoas
sobre a necessidade de proteção do meio ambiente. Por isso, os trabalhos sobre Educação Ambiental no
CFSd devem ser repensados para que haja melhor qualificação dos profissionais responsáveis pelo trato da
questão ambiental na PMMA.
É relevante estudar como as instituições brasileiras estão se desdobrando para cumprir as leis
ambientais. Esta é uma das formas de entender as dificuldades enfrentadas pelos setores públicos quando
se fala em promover Educação Ambiental, e propor soluções que ajudem na melhoria da qualidade desta
educação que os órgãos públicos oferecem aos seus profissionais.
Acredita-se que a presente pesquisa tenha contribuído para uma reflexão sobre a forma como a
temática ambiental é trabalhada junto aos soldados da PMMA, e como ela pode ser melhorada para
atender às exigências sociais na atualidade. Destaca-se também que os trabalhos científicos estão
relacionados ao potencial investigativo do pesquisador e possuem a peculiaridade de serem atuais em
relação ao tempo social em que são produzidos. Desta maneira, o tema abordado está aberto para novos
estudos e considerações.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. São Paulo: Edições Vértice, 2005.
(Série Legislação Acadêmico-forense)
————. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei Federal 6.938
de 31 de agosto de 1981. Brasília, 1981.
————. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei Federal 9.795
de 27 de abril de 1999. Brasília, 1999.
CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. 4. ed.
São Paulo: Cortez, 2008.
DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: princípios e práticas. 9. ed. São Paulo: Gala, 2004.
MARANHÃO. Diretoria de Ensino da Polícia Militar do Maranhão. São Luís, 2011. Mimeografado.
——————. Diretoria de Ensino da Polícia Militar do Maranhão. São Luís, 2009. Mimeografado.
——————. Regimento Interno do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças. São Luís,
2001.
___________. Diretoria de Pessoal da Polícia Militar do Maranhão. São Luís, 2009. Mimeografado.
___________. Polícia Militar do Maranhão: apontamentos para sua história. São Luís: PMMA, 2006.

João Pessoa, outubro de 2011


825

MINAYO, Maria Cecília. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 8. ed. São
Paulo: Hucitec-Abrasco, 2004.
REIGOTA, Marcos. O que é educação ambiental. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Brasiliense, 2009.
TOZONI-REIS, Marília Freitas de Campos. Educação Ambiental: natureza, razão e história. 2. ed. rev.
Campinas: Autores Associados, 2008. (Coleção educação contemporânea).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


826

O DISCURSO AMBIENTALISTA NA MÍDIA (RE) SIGNIFICADO POR


ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO
CORREIA, Carlos Jorge da Silva.
Licenciado em Ciências Biológicas, cursa especialização em Educação em Direitos Humanos e Diversidade pela Universidade
Federal de Alagoas - UFAL. Email: correiacjs@gmail.com.
SAMPAIO, Shaula Maíra Vicentini (Orientadora).
Doutoranda em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. Professora do curso de Licenciatura em
Ciências Biológicas da Universidade Federal de Alagoas – UFAL. Email: shaula.maira@gmail.com.

RESUMO
Este artigo pondera sobre processos de significação que artefatos como vídeos e fotografias
produzidos por Organizações Não-Governamentais (ONGs) ambientalistas suscitam entre estudantes do
ensino médio. Para pensar a esse respeito, criou-se um ciclo de oficinas sobre meio ambiente na mídia
direcionado a estudantes da Escola Estadual Rocha Cavalcanti, em União dos Palmares, AL. Nestes
encontros, os participantes foram convidados a analisar fotografias e vídeos produzidos por ONGs
ambientalistas para veiculação na mídia, bem como discutir questões ambientais que estes materiais
suscitavam. Discutem-se ao longo do trabalho temas recorrentes durante os encontros, tais como a
centralidade das árvores nos discursos ambientais e a visão catastrófica de meio ambiente. Por fim,
percebe-se que as campanhas ambientalistas das ONGs tiveram os seus discursos veiculados facilmente
“reconhecidos” pelos participantes das oficinas; contudo, em alguns casos, houve um refletir mais apurado
sobre o que se estava vendo e ouvindo.
Palavras-chave: Campanhas ambientalistas; Estudantes do Ensino Médio; Narrativas.

ABSTRACT
This article ponders about the meaning-making processes which artifacts, such as videos and
photos produced by environmentalists Non-Governmental Organizations (NGOs), raise amongst high school
students. To think about this, it was created a cycle of workshops on environment in the media aimed at
students from the State School Rocha Cavalcanti, in União dos Palmares, AL. In these meetings, participants
were asked to examine photographs and videos produced by environmentalists NGOs to media coverage,
and discuss environmental issues raised by these materials. It is discussed along this paper recurring
themes during the meetings, such as the centrality of trees in environmental discourses and the
catastrophic view of the environment. Finally, we find that the campaigns of environmental NGOs had its
conveyed speeches easily "recognized" by workshop participants; however, in some cases, there was a
more accurate reflection about what they were seeing and hearing.
Keywords: Environmentalist Campaigns, High School Students; Narratives.

O discurso ambientalista no Brasil: breves considerações introdutórias


Jacobi (2003) sustenta que, no Brasil, o ambientalismo passou a ter maior expressão na sociedade a
partir da década de 1970, não somente por conta dos movimentos internacionais, mas também devido ao
aumento da devastação da floresta amazônica neste período. Além disso, acrescenta o autor, o cenário
social passava por transformações com o surgimento de uma nova classe média interessada em temas
como a qualidade de vida. Segundo Alonso et al. (2007), é nessa época que organizações ambientalistas
internacionais e partidos verdes nacionais são formados, passando a oferecer aos movimentos
ambientalistas estratégias de ação e modelos organizacionais.
Sendo o ambientalismo um campo social41 muito diversificado, onde sujeitos com os mais
diferentes interesses atuam procurando fazer valer o seu ponto de vista sobre o que deve ou não ser
priorizado no cenário das discussões ambientais, é compreensível que organizações coletivas sejam uma
estratégia eficiente, na maioria das vezes, no que se refere a dar repercussão às vozes de um determinado

41
Utilizamos esse conceito inspirado na teorização que Carvalho (2001) desenvolve a partir da obra de Pierre
Bourdieau.

João Pessoa, outubro de 2011


827

grupo de pessoas sobre algum tema ambiental. E, nesse sentido, a defesa da floresta amazônica foi um dos
primeiros temas que conseguiu mobilizar os ativistas das organizações ambientalistas já na década de 1980.
Para Zhouri (2006), os impactos socioambientais decorrentes dos projetos de desenvolvimento da região
amazônica motivaram a origem das campanhas transnacionais de proteção da floresta, onde
ambientalistas locais e de outros países articularam conjuntamente as primeiras ações contra instituições
que promoviam projetos na região.
Na década seguinte, ocorre uma mudança de estratégia adotada pelas Organizações Não
Governamentais – ONGs, não mais pautada no conflito direto com os bancos, agora o foco passa a ser a
extração irregular de madeira. Com essa preocupação, as campanhas de sensibilização promovidas pelas
ONGs transnacionais procuram evidenciar as relações existentes entre os países ricos e a devastação da
Amazônia, já que o comércio madeireiro era especialmente estimulado por consumidores daqueles países.
Ao mesmo tempo em que relatam esse problema, as ONGs apresentam o manejo florestal como uma boa
solução para o caso; contudo, tal enfoque, parece ser “inspirado por princípios norteadores da noção
hegemônica de ‘desenvolvimento sustentável’, com destaque para o papel do conhecimento técnico, para
a ideia de eficiência na produção e para o apelo à cooperação entre os diversos segmentos da sociedade”
(ZHOURI, 2006, p. 140).
É nesse contexto que surgem os sistemas de certificação florestal, fruto da associação entre
ambientalistas e empresários do setor madeireiro. Ao refletir sobre essas mudanças observadas no foco de
atuação das ONGs entre as décadas de 1980 e 1990, Zhouri (2006) aponta-nos para uma guinada de
perspectiva no movimento ambiental ativista, onde abandona-se a “ecologia política” e adota-se uma
postura de “ambientalismo de resultados”42.
Reconhecemos que poderíamos seguir tecendo considerações variadas a respeito das novas
relações que emergem entre as ONGs ambientalistas e a sociedade em geral a partir desta nova
perspectiva de priorização dos “resultados” que se adota no ambientalismo. Contudo, desejamos chamar
atenção para uma necessidade decorrente desta postura: a comunicação dos resultados obtidos ao grande
público.

A inserção das campanhas ambientalistas na mídia


É este viés da comunicação dos resultados obtidos ao grande público que nos interessa neste
estudo, pois, de acordo com Marzochi (2003), as ONGs já nascem com uma necessidade de serem vistas,
alie-se a isso aquela outra necessidade, a de comunicar resultados, e poderemos entender um pouco
melhor as razões pelas quais vemos espaços comunicacionais serem ocupados intensivamente por essas
organizações.
Mais que voltadas para a ação prática ou intervenção diferenciada na sociedade, estas
organizações se inserem em disputas no campo da linguagem, da publicidade. (...) A publicidade
não governamental é elementar para a aquisição de recursos, para a demonstração de
competência e confiabilidade (MARZOCHI, 2003, p. 131).

Dessa forma, as campanhas ambientalistas ocupam cada vez mais as manchetes na televisão, nos
jornais e nas revistas, tornando-se o assunto do dia entre muitas pessoas. Neste projeto, não se nega o
papel “educador” que tais campanhas têm, pelo contrário, reivindicamos para elas exatamente isto, pois
consideramos a centralidade da cultura atualmente na vida das pessoas. Cultura é aqui entendida de uma
maneira muito mais ampla que o seu uso comum, abarcando as diferentes instâncias que atribuem
significado às nossas experiências, tais como o cinema, a música, o jornal, a televisão, entre outros (HALL,
1997).
Ciente disto, Reigota (2002) aponta-nos a relevância de se refletir sobre certos discursos que
circulam na mídia a respeito de temas ambientais, devido, entre outras coisas, ao fato de que, em nossos
dias, a difusão de imagens e textos está fortemente presente no cotidiano das pessoas. Tais artefatos

42
Sobre essa mudança de perspectiva, Zhouri (2006) escreve o seguinte: “Essa virada ocorreu, portanto, num
clima de ‘construção de consenso’ em torno de uma determinada noção de desenvolvimento sustentável,
frouxamente entendida [pelos ambientalistas de resultados] como a conciliação entre crescimento econômico e
proteção ambiental” (p. 141).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


828

constituem-se, em última instância, em verdadeiras estratégias de inserção social e de promoção da


legitimidade que as ONGs ambientalistas defendem para si:

(...) as ONGs internacionais exercem um papel inovador na medida em que através de sua
capacidade de exercer pressão política, amplificar a escala de denúncias, captar recursos, mobilizar
e sensibilizar setores da mídia internacional , e acima de tudo da sua capacidade de produzir e
disseminar informações se convertem em atores relevantes que potencializam a capacidade de
influenciar e pressionar comportamentos de governos nacionais, organismos internacionais e
demais agências bilaterais e multilaterais. A sua atuação é pautada pela sua legitimidade e
transparência (JACOBI, 2000, p. 134, grifos nossos).

Nesse texto, Jacobi (2000) sintetiza os fatores que explicam em certa medida o poder de influência
que as ONGs, especialmente as internacionais, adquiriram atualmente. Dentre tais fatores, o autor destaca
a capacidade dessas organizações de produzirem e disseminarem informações como sendo intensamente
relevante no exercício de indução de comportamentos por parte do governo e instituições sociais.
Como estamos argumentando, acredita-se que foi através da midiatização do discurso ambiental
que as ONGs ambientalistas passaram a exercer um papel determinante nas tomadas de decisão referentes
ao meio ambiente. Para isso, tais organizações lançam mão de campanhas publicitárias veiculadas em
jornais, sites na Internet, boletins informativos institucionais e campanhas na televisão, por exemplo, como
recursos para legitimar as suas atividades, demonstrando transparência e “exigindo” para si, de certo
modo, confiabilidade.
Tendo isso em mente, gostaríamos de direcionar essa discussão sobre o discurso ambiental
veiculado na mídia pelas ONGs ambientalistas para um tipo de artefato cultural que “educa” a respeito do
meio ambiente e que tem, aparentemente, grande poder de sensibilização, circulando de forma massiva
nos meios de comunicação. Estamos falando das fotografias e vídeos produzidos por tais organizações de
cunho ambientalista como, por exemplo, Fundação SOS Mata Atlântica, Greenpeace e Worldwide Fund For
Nature (WWF) que tratam de meio ambiente e que são veiculados em forma de campanhas publicitárias
em jornais, revistas, internet e na televisão.
Com base nestes aspectos, as questões que nos propomos a discutir por meio desse artigo são:
De que forma fotografias e vídeos utilizados em campanhas ambientalistas influenciam a leitura de
jovens estudantes sobre o meio ambiente?
Que temas ambientais são suscitados por estes materiais quando os mesmos são discutidos com
alunos do ensino médio?
Que negociações são realizadas entre os significados de meio ambiente veiculados por essas
campanhas e os que cada um dos estudantes carrega consigo a partir de sua experiência de vida?

As oficinas sobre meio ambiente na mídia: aspectos metodológicos da pesquisa


Para a realização desta pesquisa, construímos um acervo com fotografias e vídeos produzidos por
ONGs ambientalistas e que foram veiculados por algum tempo em meios de comunicações de grande
poder de penetração na sociedade: televisão, revistas e internet. A partir destes critérios, escolhemos
trabalhar com os materiais educativos produzidos por: Fundação SOS Mata Atlântica, Greenpeace – Brasil e
WWF – Brasil43. Inicialmente, entramos em contato por meio de correspondência virtual com cada uma
dessas ONGs, para informar-lhes sobre a pesquisa em andamento e também para solicitar apoio ao seu
desenvolvimento, no que se referia à disponibilização dos materiais de campanhas veiculadas na televisão
e revistas nos últimos anos. Como não obtivemos respostas das ONGs, buscamos construir o banco de
imagens e vídeos que seriam utilizados nas oficinas a partir de pesquisas direcionadas na Internet em sites
de buscas largamente conhecidos, tais como o Google (www.google.com.br) e o YouTube
(www.youtube.com.br).
Uma vez montado o acervo de produções audiovisuais veiculadas em campanhas publicitárias pelas
ONGs consideradas nesse estudo, levamos tal acervo ao grupo de pesquisa, onde discutimos quais desses

43
Ressaltamos que essas três ONGs foram escolhidas por terem uma ampla atuação no território nacional,
bem como terem uma forte preocupação em divulgar suas ações a partir da mídia.

João Pessoa, outubro de 2011


829

materiais deveriam ser usados nas oficinas. Em outras palavras, recortamos coletivamente o que já havia
sido recortado do conjunto de campanhas anteriormente pinçadas da internet.
Finalmente, com o objetivo de refletirmos sobre os processos de significação que artefatos como
vídeos e fotografias produzidos e postos em circulação na mídia por ONGs ambientalistas suscitam em
estudantes do ensino médio, criamos um ciclo de oficinas sobre meio ambiente na mídia dentro de um dos
estágios supervisionados do Curso de Ciências Biológicas. Foram três oficinas desenvolvidas na Escola
Estadual Rocha Cavalcanti, localizada em União dos Palmares. Tais encontros ocorreram em sábados do
segundo semestre de 2009 e tinham o intuito de propiciar um espaço adequado para fazer surgir
elementos que nos auxiliassem a pensar sobre a seguinte questão: Como estudantes do ensino médio
recebem o discurso ambiental veiculado por ONGs na mídia brasileira?
Em termos metodológicos poderíamos dizer, então, que estamos diante de uma pesquisa de cunho
qualitativo que se vale de estratégias como a escuta coletiva, a elaboração de diários de campo e a
produção de discursos para lançar reflexões sobre como o meio ambiente apresentado em campanhas
ambientalistas é recebido por estudantes do ensino médio quando da recepção de vídeos e fotografias
elaborados por ONGs sobre o tema.

O meio ambiente “produzido” pelas ONGs: algumas narrativas suscitadas pelas campanhas
ambientalistas

A árvore no discurso ambientalista


De acordo com Zhouri (2001), a importância atribuída à proteção florestal nas campanhas
ambientalistas da WWF e do Greenpeace, especialmente, guarda estreita afinidade com a ascensão da
Amazônia como símbolo do ambientalismo ocidental. Nesse sentido, argumenta a autora, observa-se nas
campanhas do ativismo transnacional uma espécie de “consciência global”, onde se “articulam as questões
florestais nos horizontes dos impactos das práticas econômicas e estruturas políticas globalizadas sobre as
áreas florestais” (p.20).
A fim de ilustrar esse argumento, trazemos para a discussão uma campanha publicitária do
Greenpeace onde vemos árvores dispostas em uma configuração espacial que nos faz lembrar o jogo
infanto-juvenil “Resta 1” (Figura 1), no qual vence o jogador que deixar apenas um pino no tabuleiro.
Nesse caso, os pinos encontram-se substituídos por árvores, de maneira que ser inteligente, aqui,
evidenciaria a “burrice” de não manejar adequadamente esse recurso natural. Dessa forma, o humor da
peça publicitária surge ao contrapor esses elementos discursivos antagônicos, expressos pelo enunciado de
que “quanto mais inteligente o homem é, mais burro ele pode ser”. Evidentemente, essa mensagem nos
ajuda a pensar em vários outros temas para além da importância do manejo florestal, tais como o uso
indiscriminado da tecnologia criada pela inventividade humana contra os recursos naturais.
Por outro lado, poderíamos afirmar que essa preocupação com o manejo florestal não está
presente nas campanhas que utilizei da Fundação SOS Mata Atlântica. O que vemos, nos materiais
analisados nessa pesquisa, é a aparição da árvore como ser vivo que merece respeito pela sua importante
função ecológica. Quer dizer, o que orienta essas outras campanhas são argumentos muito mais baseados
na ética ambiental do que na visão de resultados em torno das questões ambientais.
Na figura 2, por exemplo, observamos uma dessas campanhas da Fundação SOS Mata Atlântica, na
qual vemos o tronco de uma árvore em destaque, imerso em um cenário praticamente descampado, onde
somente algumas poucas árvores parecem ter resistido ao desmatamento do lugar. O humor rege a cena,
na qual vemos um cachorro urinando no chão, e não no tronco da árvore, como seria o esperado; de modo
que se articula o raciocínio de que, se até os cachorros estão respeitando as árvores os receptores da
publicidade também deviam fazê-lo.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


830

Figura 1 - “Quanto mais inteligente o Figura 2 - “Semana da Árvore. Respeite você


homem é, mais burro ele consegue ser”, diz a também”, diz a campanha. Fonte: Fundação SOS
campanha. Fonte: Greenpeace. Mata Atlântica.

Já durante as oficinas, a árvore despontou na conversa em meio a declarações de admiração e


apego a sua grandiosidade:

Di44: Pense numa coisa bonita que eu acho, são aquelas árvores enormes, tipo uma mangueira,
nossa como elas ficam grossas, isso representa quantos anos elas já viveram, tantas gerações já passaram e
as árvores continuam... Agora, uma coisa que me entristece é o que estão fazendo com a Serra dos Frios, só
vocês vendo a quantidade de carro que desce daquela serra com madeira, uma tristeza ver aquilo, passa
bem pertinho da minha casa. Se bem que recentemente o IBAMA tem ido lá, o que tem diminuído o
desmatamento (CORREIA, 2010, p. 44).

Na continuidade desse comentário feito por Di, perguntamos sobre quem seriam os responsáveis
pelo desmatamento da Serra dos Frios, resquício de Mata Atlântica em União dos Palmares. Para surpresa
do grupo, ela nos informa que os próprios moradores do lugar retiram lenha para utilizar em suas casas, ou
seja, uma prática de subsistência. Não satisfeitos com a resposta, fomos um pouco além, já que não havia
ficado clara a questão sobre estes carros que descem a serra com madeira: Teriam os moradores tal
infraestrutura para desmatar? Na verdade, os moradores locais não têm mesmo esse tipo de recurso para
desmatar. Nesse sentido, Di e Ce nos relatam o fato de que a maioria das panificadoras da cidade extrai
madeira daquele lugar.
Em outros momentos das oficinas, foi possível constatar como a importância que se atribui às
árvores justifica o poder simbólico delas no contexto dos discursos ambientalistas:

Ed: Eu ouvi os biólogos falarem que realmente as árvores protegem o rio.


Di: É, elas protegem.
Ed: Por exemplo, quando a gente anda de carro que passa por um lugar com árvores a gente sente
logo a diferença no clima. Era importante que as pessoas preservassem a natureza (CORREIA, 2010, p. 45).

O meio ambiente visto como problema


Parece ser uma tarefa impossível falar de meio ambiente sem cairmos na tentação pessimista de
elencarmos um a um os problemas que julgamos ser dignos da atenção dos habitantes desse planeta.
Poluição de todo tipo, dos rios, das águas, do ar, do solo, nada escapa à confecção de um cenário
aterrorizante idealizado por alguns ambientalistas, aparentemente, na tentativa de mobilizar nossas
consciências em favor da manutenção da vida humana e de todos os outros seres.

44
Tendo em mente o compromisso de preservar a identidade das estudantes que participaram das oficinas,
optamos em mencioná-las ao longo deste trabalho por um nome fictício composto por duas letras.

João Pessoa, outubro de 2011


831

Segundo Sauvé (2005a), essa visão do meio ambiente como um conjunto de problemas começa a
ganhar força por volta da década de 1970, quando os desafios ambientais passaram a revelar a sua
amplitude, gravidade e aceleração crescentes. Ainda de acordo com a autora, as práticas de educação
ambiental que incorporam essas preocupações poderiam ser agrupadas em torno da categoria “corrente
resolutiva”, que influencia em boa parte as proposições de atividades educativas sugeridas pela
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) em seu programa
internacional de educação ambiental.
No que diz respeito às atividades desenvolvidas ao longo dessa pesquisa, foi observado que, diante
de materiais publicitários carregados pela visão catastrófica de meio ambiente, diversos enunciados das
participantes reforçavam essa tendência. Nesse sentido, alguns desenhos elaborados no decorrer das
oficinas trazem em si rastros da visão pessimista de que estamos falando:

Figura 3 - Desenhos de Pa e Ed, respectivamente.

Nos desenhos acima, o viés de denúncia e de apelo por mudanças é central. Em ambos, temos
processos de humanização de seres inanimados, no desenho elaborado por Pa, trata-se do planeta Terra –
triste, solicitando ajuda -; já no desenho de Ed, é o Sol quem clama por socorro, aos prantos, como se pode
ver. O motivo para este cenário de lamúrias é a famigerada “poluição em ação” denunciada no desenho de
Ed. Dessa forma, não é de se estranhar que, diante de tanta informação negativa sobre o meio ambiente, o
comentário transcrito abaixo, feito por uma jovem mãe se torne cada vez mais comum:

Na: Eu já me peguei pensando assim: Meu Deus, logo agora que eu tive um filho, o mundo
vai acabar (risos das participantes) e o meu filho vai morrer (risos das participantes): Meu Deus do
céu, o meu filhinho tão pequeno! (CORREIA, 2010, p. 48).

Na fez esse comentário durante as oficinas quase como uma confidência, expondo o seu
receio diante de visões alarmistas sobre o futuro do planeta. Realmente, ela poderia alegar que
suas preocupações encontram fundamento nos materiais produzidos pelas ONGs utilizados nas
oficinas, pois eles expressam em sua maioria, como já foi dito, um entendimento de meio ambiente
como problema: a ser diagnosticado e resolvido (SAUVÉ, 2005b).

Sendo assim, como “a caracterização de uma atividade fundada sobre a noção de problema não
pode ser completa sem a presença do conceito de solução” (ANDLER, 1987 apud FREITAS, 2003, p. 138), é
compreensível que essa seja a tônica preferida pelas ONGs ambientalistas para falar dos desafios atuais em
relação ao meio ambiente; afinal de contas, interessa a essas organizações sinalizar para a sociedade em
geral o quanto são capazes de apontar soluções para esses problemas. Nesse sentido,

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


832

(...) é importante sublinhar que a escolha de um problema é, irredutivelmente, uma escolha. Então,
se consideramos que não existe um único ambiente, o ambiente construído e descrito pelas ciências
naturais e engenharias, mas sim uma variedade de ambientes constituídos histórica, geográfica, social e
culturalmente, surge então a necessidade de se considerar que um problema ambiental corresponde a uma
multiplicidade de problemas ambientais simultâneos, que envolvem diferentes e conflituosas noções de
sociedade. Problemas que necessariamente envolvem processos sociais, políticos, econômicos e culturais,
bem como uma multiplicidade de atores sociais com diferentes noções e interesses acerca dos mesmos e
das formas de resolução que poderão ser encaminhadas (FREITAS, 2003, p. 138, grifos do autor).

Consciência ambiental: possibilidades e contradições


Muito se fala hoje em dia sobre a necessidade de transformarmos, enquanto sujeitos sociais e
individuais, as nossas relações com a natureza. Com esse ideal em vista, muitas das práticas de educação
ambiental se vêem enredadas em percursos que privilegiam a chamada “consciência ambiental” – algo
como um imperativo ético que nos tornaria ecologicamente corretos. Nesse cenário, o que vemos é, em
termos metodológicos, a recorrente utilização de um viés informativo nas campanhas de conscientização,
inclusive naquelas analisadas por este trabalho.
Por outro lado, há quem formule críticas e problematizações a essa dimensão mais
comportamental da educação ambiental, onde se subtende que quanto mais informadas as pessoas
estiverem mais conscientes serão. O argumento contrário a esse entendimento supõe que “se assim fosse
já estaríamos próximos de uma sociedade sustentável, pois hoje a grande maioria da população do planeta
já sabe sinceramente que é importante a preservação da natureza e, no entanto, a natureza nunca foi tão
degradada como nos dias de hoje” (GUIMARÃES, 2005, p.192-193). Quem nos dá exemplo perfeito dessa
contradição é Na, quando nos fala que gosta do meio ambiente, mas que tem consciência de que alguns de
seus hábitos de vida são prejudiciais ao mesmo.
Na: Eu vim aqui porque gosto do meio ambiente, mas a verdade é que, quando eu viajo,
adoro jogar papelzinho pela janela do carro... Eu faço isso sempre, mas eu quero mudar, eu quero
ensinar ao meu filho como cuidar desse planeta (CORREIA, 2010, p. 53).

O que vemos aqui são negociações entre os valores que temos e os valores que são promovidos por
atividades de educação ambiental como corretos em relação ao meio ambiente. De acordo com Thompson
(1998 apud CIMADEVILLA, 2005) as pessoas, em sua grande maioria, quando sensibilizadas por experiências
midiáticas que tratam do meio ambiente, procuram equilibrar as responsabilidades exigidas por essas
experiências com as que de fato serão exercidas por elas na vida cotidiana. Isso nos faz lembrar Larrosa
(2002) e sua compreensão sobre experiência como sendo aquilo que nos toca, aquilo que nos passa e deixa
marcas. Quer dizer, experiência como o que nos ocorre e promove transformações e não simplesmente
como aquilo que acontece e ponto.
Nesse sentido, Carvalho (2004, p.163) entende que toda atividade de educação ambiental deve
“fornecer os elementos para a formação de um sujeito capaz tanto de identificar a dimensão conflituosa
das relações sociais que se expressam em torno da questão ambiental quanto posicionar-se diante desta”.
É também Carvalho (2007, p. 136) que nos pergunta o quanto “ecológico” podemos ser a fim de nos ajudar
a pensar sobre os vários obstáculos impostos aos sujeitos que desejam de alguma forma praticar a
subjetividade ecológica que acreditam possuir.

Como ocorre com outros ideais que os indivíduos tomam como modelo para si, nem sempre é
possível realizá-los cem por cento na vida diária. Mas o fundamental é observar que, à medida que
instituições e pessoas tentam viver de acordo com preocupações ecológicas, aí se encontra vigente, em
alguma medida, o sujeito ecológico como modelo de identificação pessoal e reconhecimento social. Este
tentar ser, certamente esbarra em vários obstáculos. Alguns provenientes do fato de que os princípios
ecológicos não são hegemônicos na sociedade em que vivemos e que, portanto, nem sempre favorece,
através de políticas públicas e outras iniciativas, um estilo de vida ecológico (veja a ausência de coleta
seletiva, poucas alternativas de transporte público ou transportes não-poluentes como ciclovias, poucas
redes de alimentação orgânica, pequena produção agroecológica etc.). Outros obstáculos são derivados das
contradições dos ideais das pessoas e das instituições. Faz-se necessário destacar que, mesmo para quem

João Pessoa, outubro de 2011


833

se identifica com a proposta ecológica, há uma permanente negociação intrapessoal, interpessoal e política
em torno das decisões do dia-a-dia. Nesse sentido, a busca por ter sua vida guiada pelos ideais de um
sujeito ecológico não isenta as pessoas das contradições, conflitos e negociações que sempre acontecem
entre nossa realidade imperfeita e os nossos melhores ideais (CARVALHO, 2007, p. 137).

Não obstante, no que se refere à consciência ambiental, não podemos deixar de considerar nesse
tipo de atividade de educação ambiental as negociações que inevitavelmente se operam entre nossos
valores e as atitudes ecologicamente corretas repercutidas por grande parte das campanhas de ONGs
ambientalistas; de maneira que se faz conveniente, na medida do possível, problematizarmos tais
negociações, expondo as possibilidades e as contradições do ecologicamente correto.

Considerações finais
Obviamente, estamos cientes de que não esgotamos, com essas breves considerações, todas as
possibilidades de releitura do que se passou nas oficinas. De qualquer forma, percebemos que as
fotografias e vídeos utilizados nas oficinas tiveram os discursos ambientalistas que veiculam facilmente
“reconhecidos” pelas participantes das oficinas. Por outro lado, vimos que alguns discursos produzidos e
veiculados pelas ONGs suscitaram nos participantes contradições entre os valores promovidos pelas
campanhas e os hábitos que alguns deles possuem, circunstância esta que causou instantes de reflexão
sobre o que era dito e ouvido sobre meio ambiente.
Em outras palavras, notamos também que essas campanhas possuem um grande poder persuasivo,
uma vez que repercutem temas já consolidados como importantes no contexto da crise ambiental,
instituindo, assim, entre os receptores, o entendimento dessas ONGs como organizações sensíveis ao
contexto ambiental em que vivemos, bem como detentoras de um “saber fazer” adequado e indispensável
diante dos problemas ambientais que exigem solução atualmente.
Por fim, consideramos oportuno ressaltar aqui a articulação dos estudos de recepção com a
educação ambiental realizada em nosso estudo45, pois a entendemos como uma possibilidade
metodológica que poderia ser mais desenvolvida; especialmente quando temos em mente a necessária
reflexão sobre como são recebidos os discursos ambientais produzidos e/ou veiculados pelos meios
comunicacionais.

Referências
ALONSO, Ângela; COSTA, Valeriano; MACIEL, Débora Alves. O Processo de Formação da Rede de
Ativismo Ambientalista no Brasil. In: XIII Congresso Brasileiro de Sociologia. Anais. Recife, 29 de maio/6 de
junho de 2007.
CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. A invenção ecológica: narrativas e trajetórias da educação
ambiental no Brasil. Porto Alegre: Editora da Universidade, 2001.
__________. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo: Cortez, 2004.
__________. O sujeito ecológico: a formação de novas identidades culturais e a escola. In: MELLO,
Soraia Silva de; TRAJBER, Rachel (Orgs.). Vamos cuidar do Brasil: conceitos e práticas em educação
ambiental na escola. Brasília: Ministério da Educação, Coordenação Geral de Educação Ambiental:
Ministério do Meio Ambiente, Departamento de Educação Ambiental: UNESCO, 2007. p. 135-142.
CIMADEVILLA, Gustavo. Información ambiental, espectacularización y desconexión. In: MATO,
Daniel (Org.). Políticas de economía, ambiente y sociedad en tiempos de globalización. Caracas: Faculdade
de Ciências Econômicas e Sociais, Universidade Central da Venezuela, 2005. p. 111-130.

45
Os estudos sobre recepção constituem um campo de pesquisa importante entre investigadores latino-
americanos, tendo alcançado recentemente um grande desenvolvimento teórico-metodológico. Promovidos pela
noção de “visão cultural dos meios de comunicação” (JACKS, 1996) tais estudos contam com várias linhas de
pesquisas, dentre as quais, destacamos a perspectiva do “Uso Social dos Meios”, concebida por Martín-Barbero. Neste
cenário teórico, o receptor é melhor compreendido quando tomado como um interlocutor, ou seja, um sujeito que
“formula um enunciado outro, no qual articula referenciais anteriores que possibilitaram a formação daquela resposta
específica e própria a partir do mesmo que havia sido lido/visto/ouvido/recebido” (FERREIRA, 2006, p. 28), e é desta
maneira que pensamos o receptor neste estudo.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


834

CORREIA, Carlos Jorge da Silva. Reflexões sobre a recepção de campanhas ambientalistas por
estudantes do Ensino Médio. 84f. Monografia (Graduação em Ciências Biológicas), Universidade Federal de
Alagoas, 2010.
FERREIRA, Taís. A escola no teatro e o teatro na escola. Porto Alegre: Mediação, 2006.
FREITAS, Carlos Machado. Problemas ambientais, saúde coletiva e ciências sociais. Ciência & Saúde
Coletiva, vol. 8, n. 1. 2003. p. 137-150.
GUIMARÃES, Mauro. Intervenção educacional: do “de grão em grão a galinha enche o papo” ao
“tudo junto ao mesmo tempo agora”. In: FERRARO JÚNIOR, Luiz Antonio (Org.). Encontros e caminhos:
formação de educadoras(es) ambientais e coletivos educadores. Brasília: MMA, Diretoria de Educação
Ambiental, 2005. p. 191-199.
HALL, Stuart. A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções culturais do nosso tempo.
Educação e Realidade, v. 2, n. 22, jul./dez., 1997, p. 15-46.
JACKS, Nilda. Tendências latino-americanas nos estudos da recepção. Revista Famecos, Porto
Alegre, v.5, 1996. p. 44-49.
JACOBI, Pedro. Meio ambiente e redes sociais: dimensões intersetoriais e complexidade na
articulação das práticas coletivas. Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio
Vargas, v. 34, n. 6, 2000. p. 131-158.
__________. Movimento ambientalista no Brasil: representação social e complexidade da
articulação de práticas coletivas. In: RIBEIRO, W. (Org.). Patrimônio Ambiental Brasileiro. São Paulo: Edição
da Universidade de São Paulo, 2003. p. 519-543.
MARZOCHI, Samira Feldman. Os sistemas mundiais e a produção do ‘desenvolvimento sustentável’.
Comunicação & Política, [online], v. X, n. 3, set./dez., 2003. p. 125-141.
LARROSA, Jorge. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de Educação,
n. 19, jan./fev./mar./abr. 2002, p. 20-28.
REIGOTA, Marcos. A floresta e a escola: por uma educação ambiental pós-moderna. São Paulo:
Cortez, 2002.
SAUVÉ, Lucie. Uma cartografia das correntes em educação ambiental. In: SATO, Michèle;
CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Educação ambiental: pesquisa e desafios. Porto Alegre: Artmed,
2005a. p. 17-44.
__________. Educação ambiental: possibilidades e limitações. Educ. Pesqui., [online], vol.31, n. 2,
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ZHOURI, Andréa. Árvores e gente no ativismo transnacional: As dimensões social e ambiental na
perspectiva dos campaigners britânicos pela Floresta Amazônica. Rev. Antropol. [online], vol. 44, n. 1, 2001.
p. 09-52.
__________. O ativismo transnacional pela Amazônia: entre a ecologia política e o ambientalismo
de resultados. Horiz. antropol. [online], vol. 12, n. 25, 2006. p. 139-169.

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835

UNIVERSIDADE E ESCOLA: CONSTRUINDO SABERES E PRÁTICAS EM


EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL
Cláudia Patrícia Adolpho de ARAÚJO1
Genilda Batista SILVA1
Betania Cristina GUILHERME2
1. Discente do curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom
Manoel de Medeiros s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900. E-mail: claudinha_p18@hotmail.com
2. Professor Adjunto I do Departamento de Biologia, Área de Ensino das Ciências Biológicas, Universidade Federal Rural de
Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52171 -900. E-mail:
betaguilherme@yahoo.com.br

RESUMO
Os impactos ambientais no cotidiano do planeta têm sido imensuráveis, afetando a qualidade de
vida das sociedades, provocando insegurança, questionamentos e críticas aos modelos de desenvolvimento
socioeconômicos dominantes, onde a educação ambiental é ao mesmo tempo agente e efeito da
ambientalização das práticas sociais. Neste contexto o presente estudo tem como objetivo construir um
conjunto de saberes, valores e práticas educativas em educação ambiental que contribua para a
ambientalização curricular das escolas públicas envolvidas, promovendo hábitos e atitudes orientados para
um relacionamento social e ambientalmente sustentável entre pessoas, outras espécies, o meio ambiente e
o planeta como um todo. Este trabalho foi realizado entre os meses de março e julho de 2011, na Escola
Estadual Lions de Parnamirim e na Municipal Sociólogo Gilberto Freyre, localizadas no bairro de Dois
Irmãos – PE, com alunos do Ensino Fundamental II perfazendo um total de aproximadamente 250 alunos.
Os temas expostos foram selecionados de acordo com a realidade local e com a dificuldade dos alunos
acerca dos mesmos, em consonância com a exposição dos conteúdos foram realizadas reflexões, debates e
atividades. Essas dinâmicas possibilitaram a compreensão das inter-relações entre os seres humanos e seu
meio biofísico e cultural, assim como seus problemas, contribuindo para a formação de cidadãos
conscientes e atuantes. Desta forma a proposta de educação ambiental possibilitou a adoção pelos alunos
de uma postura sustentável para interação homem/natureza.
Palavras chave: Educação ambiental, meio ambiente, sociedade.

INTRODUÇÃO
O Século XX assistiu ao mais vigoroso avanço tecnológico de todos os tempos e, também, às mais
graves agressões ao meio ambiente. Os impactos ambientais no cotidiano do planeta têm sido
imensuráveis, afetando a qualidade de vida das sociedades, provocando insegurança, questionamentos e
críticas aos modelos de desenvolvimento socioeconômicos dominantes. O planeta hoje testemunha
significativas mudanças climáticas, hidrográficas e biológicas, em função de sua própria evolução, mas
também das sérias investidas humanas no meio. Por outro lado, acompanha-se a um processo crescente de
ambientalização das práticas sociais. Esses processos podem ser identificados tanto na emergência de
questões e práticas ambientais como um fenômeno novo na esfera social, quanto na reconfiguração de
questões, práticas e lutas tradicionais que se transformam ao incorporar aspectos da temática ambiental.
Com efeito, a ambientalização diz respeito ao processo de internalização da questão ambiental nas esferas
sociais e nas consciências dos indivíduos. É movida pelo crescente reconhecimento da legitimidade de um
campo de preocupações socioambientais na esfera pública e sofre a influência de um habitus ecológico que
emerge deste campo e tende a se generalizar em diferentes medidas e variações, afetando outros campos
sociais.
A educação ambiental (EA) tem sido amplamente discutida e valorizada, sendo apontada como
elemento integrador dos sistemas educativos de que dispõe a sociedade para fazer com que a comunidade
tome consciência do fenômeno do desenvolvimento de habilidades e atitudes que garantam a manutenção
do equilíbrio ambiental e da qualidade de vida condizente com as necessidades e aspirações da
comunidade (Krasilchick, 2004). No presente projeto, consideramos a EA ao mesmo tempo agente e efeito
da ambientalização das práticas sociais. Orienta-se no espaço educativo por valores e práticas que

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


836

instituem e valorizam o ambiente como um bem, ao passo que também atua como fator de
ambientalização de outras esferas sociais. Por isso ser uma prática de grande relevância na transformação
das formas de pensamento e de agência sociais.
Reigota (1994) ajuda-nos a entender a escola como um local privilegiado para a realização da EA,
desde que se dê oportunidade à criatividade. Ou seja, embora o ensino-aprendizagem possam acontecer
em parques, reservas ecológicas, associações de bairros, universidades, sindicatos, meios de comunicação
de massa, nenhum espaço, na visão do autor, substitui o contexto proporcionado pela escola. Contudo,
constata-se que a EA nos contextos escolares, de todos os níveis de ensino, ainda constitui um verdadeiro
desafio para a escola e para a maioria dos agentes educacionais e comunitários, requerendo atenção
especial nos processos de formação docente inicial e continuada, bem como no repensar de suas práticas
educativas.
Para Bettencourt (2000) e outros autores ligados a pesquisas no campo do ensino de ciências,
como Dillon (2002), os temas e problemas relativos ao ambiente oferecem um riquíssimo suporte
conceitual e experiencial que desafia o ensino de ciências e as ortodoxias existentes na área. Para isso,
vimos nas abordagens educativas da EA, assim como nas do enfoque nas relações Ciência, Tecnologia,
Sociedade e Ambiente (CTSA), caminhos produtivos que permitem criar oportunidades de aprendizados de
conteúdos científicos com a necessária reflexão sobre aspectos éticos, morais, políticos e sociais das
problemáticas socioambientais, assim como sobre a produção da ciência e seus impactos profundos na vida
e no cotidiano de todos nós. Ademais, criam-se por meio delas condições para o exercício de habilidades
argumentativas, consideradas fundamentais para a democratização dos debates ambientais instaurados na
nossa sociedade.
Nesse sentido, o presente estudo visou contribuir no atendimento à missão universitária de
integrar ensino, pesquisa e extensão com uma proposta de, juntamente com o público de duas escolas
públicas do entorno do campus da UFRPE – Sede – Bairro Dois Irmãos, desenvolver ações práticas e
reflexivas sobre questões socioambientais que diretamente afetam nossas comunidades, além de construir
um conjunto de saberes, valores e práticas educativas em educação ambiental que contribua para a
ambientalização curricular das escolas públicas envolvidas.

METODOLOGIA
Este trabalho faz parte da pesquisa de extensão desenvolvida por alunos do curso de Licenciatura
Plena em Ciências Biológicas da UFRPE, foi realizado entre os meses de março e julho de 2011, na Escola
Estadual Lions de Parnamirim e na Municipal Sociólogo Gilberto Freyre, localizadas no bairro de Dois
Irmãos – PE, com alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, perfazendo um total de
aproximadamente 250 alunos. Os temas expostos foram selecionados de acordo com a realidade local,
bem como, as dificuldades encontradas pelos alunos acerca dos assuntos, para tal, foram realizadas
reflexões, debates e atividades em consonância com a exposição dos conteúdos. Nos meses de Março e
Abril foi efetuada a diagnose escolar, com a observação in loco, elaboração, aplicação e analise de
questionários diagnósticos. Após a análise dos questionários foram escolhidos os temas a serem
trabalhados, sendo abordada uma temática por mês (Maio e Junho) e esta desenvolvida com todas as
séries de ambas as instituições de ensino.

Desenvolvimento das atividades


Diagnose escolar
Para a realização da diagnose primeiramente foram observadas as características do ambientes
natural e construído nas proximidades da escola, para então ser feito o levantamento dos principais
problemas encontrados, bem como, a observação das ações e hábitos dos alunos dentro do próprio
ambiente escolar. Com base nesse levantamento e nas observações foi elaborado um questionário
diagnóstico semi-estruturado. O questionário foi aplicado em sala de aula nas duas escolas com,
aproximadamente, 53 alunos dos 6º anos, 61 alunos dos 7º anos, 74 alunos dos 8º anos, 65 alunos dos 9º
anos. Posteriormente, baseada nas problemáticas observadas no espaço escolar e em seu entorno, deu-se
a escolha dos primeiros temas a serem trabalhados.
Atividades de intervenção

João Pessoa, outubro de 2011


837

Durante a execução do projeto foram realizadas algumas oficinas pedagógicas que foram realizadas
no âmbito escolar, utilizando-se como forma de comunicação entre os alunos às artes visuais (fotografias,
vídeos, desenhos), as quais foram desenvolvidas em momentos, turmas e temas diferentes. Dentre os
temas correlacionados ao meio ambiente até o momento foram abordados os seguintes:
1) O que é meio ambiente?
Após a explanação do tema foram realizadas intervenções utilizando-se atividades
interdisciplinares e oficinas, as quais variaram de acordo com as séries investigadas.
Utilizando charges: Esta atividade foi realizada com todas as turmas como forma de iniciar os
debates em sala de aula. Neste momento os alunos foram aguçados a interpretar e dar as suas opiniões
sobre os diferentes conteúdos abordados nas charges. Após este momento iniciou-se efetivamente a
explanação do tema.
Produção de cartões e cartazes: Com a aproximação do dia do Meio Ambiente foi solicitado aos
alunos dos 6º anos que elaborassem cartões destinados ao meio ambiente, com uma mensagem que eles
gostariam de dizer a este. Nos 7º anos do Ensino Fundamental os alunos reunidos em grupos
confeccionaram cartazes com figuras cortadas de revistas e jornais retratando de um lado os aspectos
negativos observados por eles e do outro como gostariam que fosse o meio ambiente. Logo após, cada
grupo apresentou seu cartaz para o restante da turma e foram indagados a respeito de suas produções.
Teatro de fantoches: Nos 8º e 9º anos após a abordagem do tema os alunos foram divididos em
grupos, construíram breves histórias (conversas e narrativas) relacionadas às temáticas que foram expostas
sobre meio ambiente, para posteriormente montarem um teatro de fantoches.

Água: poluição e desperdício


Para explicar o tema foram utilizados cartazes ilustrando o ciclo da água, as principais fontes de
poluição, as conseqüências (doenças, degradação da paisagem, prejuízo aos organismos vivos que habitam
esses ambientes). Durante a explanação também foram figuras que retratavam diferentes tipos de
materiais que podem ser reaproveitados, e comumente são lançados em cursos de água doce, mares etc.,
bem como, o tempo de decomposição de cada um. Após a exposição do conteúdo foram realizadas
diferentes atividades de acordo com as séries, tais como:
Exibição de vídeos: Utilizaram-se imagens e vídeos-reportagem para enfatizar a poluição do rio
Capibaribe e suas consequências tanto para as pessoas quanto para as espécies vegetais e animais que nele
vivem, bem como sua interferência em atividades esportivas.
Palestras: Apresentação de fotografias que ilustravam o açude do Prata, localizado no bairro de
Dois Irmãos.
Oficina de papel: durante esta atividade realizada com os alunos dos 6º e 7º anos, os mesmos
recortaram a cartolina em formato de camisa e nela escreveram uma mensagem que eles gostariam
informar para as pessoas a respeito da água. As mensagens abordavam desde a poluição das águas até o
seu desperdício. Em seguida, as camisas foram penduradas em barbantes pelos próprios alunos e expostas
na escola.
Com a aproximação das festas juninas desenvolveu-se com os 8º e 9º anos, uma oficina onde os
alunos confeccionaram bandeirinhas e nelas escreveram como eles poderiam contribuir para evitar a
poluição e o desperdício da água, posteriormente foram penduradas em barbantes para decorar a escola.
Como estávamos perto da comemoração do São João conversamos um pouco com eles acerca dos
aspectos negativos dessa festa para com o meio ambiente.

RESULTADOS E DISCUSSAO
Diagnose escolar
A degradação que ocorre na comunidade causa modificações no meio ecológico, trazendo consigo
impactos sociais e econômicos. Durante a observação das problemáticas existentes no entorno da escola
identificamos a destinação inadequada do lixo, a falta de rede esgoto e a poluição do rio Capibaribe. No
ambiente escolar, observamos alunos desperdiçando água e alimento com brincadeiras, jogando
constantemente lixo no chão, pichando as paredes e carteiras, saindo das salas e deixando luzes e
ventiladores ligados, mostrando com isso o descaso com o ambiente e a falta de ciência das consequências
que isso pode trazer. Esse estudo preliminar foi importante para a elaboração do questionário diagnóstico

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


838

e para a promoção da educação ambiental, pois houve maior aproximação com a realidade em que os
alunos estão inseridos. Segundo Almeida (2007) educar para a cidadania envolve favorecer ao aluno, de
forma adequada, a compreensão da sua realidade, evidenciando valores essenciais para o bem viver na
sociedade, possibilitando-o agir no cotidiano escolar e fora dele.
Análise do Questionário
Em relação aos resultados da análise dos questionários podem-se observar as seguintes respostas:
Para as perguntas: “Sua rua é limpa?” e “Há esgoto correndo a céu aberto próximo a sua casa?”,
mais da metade dos alunos de todas as séries responderam: que a rua não é limpa e que há esgoto
correndo a céu aberto. Mostrando assim sua percepção acerca dos problemas ambientais existentes em
seu bairro. Ao perguntarmos: “Você joga lixo na rua?” apesar de mais da metade dos alunos terem dito não
jogar, foi considerável o número de alunos que confessaram jogar lixo no chão, e isso pode ser constatado
na própria escola onde constantemente os alunos jogavam lixo no chão das salas e do pátio.
Mostrou-se relevante a quantidade de respostas negativas à pergunta: “Você acredita que o lixo da
sua casa interfere no meio ambiente?” quase 40% dos alunos disseram não acreditar. Verificando-se que
estes alunos não conseguem relacionar o lixo produzido pela população com o meio ambiente. A respeito
da pergunta: “Você conhece o Rio Capibaribe?” dentre as respostas pôde-se observar que a maioria dos
alunos o conhece. Porém, é importante destacar que um número significativo de alunos não o conhece,
tendo em vista a importância histórica, econômica e ecológica, e consequentemente não sabem dos
impactos que esse rio sofre. “Você conhece o açude do Prata?” Apesar do açude do Prata, localiza-se no
bairro onde ficam as escolas, o mesmo é desconhecido pela maioria dos alunos, desta forma eles não
reconhecem a importância de preservar esse ecossistema nem sabem os principais impactos causados no
mesmo.
Com o intuito de contextualizar as temáticas com o cotidiano deles perguntou-se: “Quando você
está tomando banho e vai se ensaboar você desliga o chuveiro?” e “Quando você está em casa e sai de um
cômodo para outro você lembra-se de apagar a luz do cômodo onde você estava?” pudemos observas que
as concepções dos alunos foram relativamente negativas mostrando que ainda existe uma necessidade de
desenvolver hábitos consciente em relação ao desperdício de água e energia elétrica, e isso pode ser
notado nas atitudes dos alunos para com as próprias instituições de ensino.
No tocante as perguntas discursivas, as percepções dos alunos do 6° ano quando se referia a sua
concepção sobre o meio ambiente registrou-se um resultado preocupante. A partir da análise dos
resultados observamos que das 35% das respostas obtidas, os alunos não tem ideia do que seja o meio
ambiente, apresentando respostas sem nexo e sem relevância. Apenas 10% dos alunos conseguiram se
aproximar do que é o meio ambiente e 55% das respostas relacionam-no com a poluição e/ou falam sobre
a preservação do mesmo.
Analisando os resultados dos alunos do 7º ano, pôde-se observar que os mesmos mostraram-se
mais esclarecidos quando tratava-se sobre os componentes do meio ambiente e a sua importância, no qual
foi registrado mais de 48% de respostas positivas. Porém, os outros alunos (25% das respostas) confundem
o meio ambiente com poluição e preservação, não sabendo discernir poluição de meio ambiente, deixando
as respostas soltas, sem concisão. E os restantes dos alunos (25%) não responderam a pergunta ou não
sabiam ao certo o que estavam escrevendo.
Dentre os alunos dos 8º e 9º anos observou-se que 9% nem responderam a pergunta e mais de
52% não responderam de maneira adequada ou falam sobre esta temática se referindo à poluição, não
deixando clara a resposta. Apenas 38% dos alunos entrevistados apresentaram respostas adequadas,
deixando claro que a maioria não sabe ao certo o que é o meio ambiente. Neste contexto torna-se mais
preocupante das concepções apresentadas pelos alunos dos 9º anos, pois estão concluindo o Ensino
Fundamental e ainda não possuem uma base sólida acerca desta temática. Segue algumas respostas a esta
questão:
“Pra mim o meio ambiente é tudo por tanto não jogue lixo na rua pra mim esta tudo bem” (Aluno
do 6º ano).
“O meio ambiente é uma coisa muito importante pois sem ele nós não vivemos” (Aluno do 7º ano).
“O meio ambiente são flores, arvores, matos, plantas, animais” (Aluno do 8º ano).
“O meio ambiente é um lugar que devemos preservar. Por que nós humanos vivemos nele” (Aluno
do 9º ano).

João Pessoa, outubro de 2011


839

Diante do exposto acima, pode-se registrar um grande déficit de conhecimento sobre esta temática
nas séries iniciais, ficando clara a necessidade de maior atenção no que se refere aos conceitos básicos para
adquirir a consciência ambiental. De acordo com Amaral (2004) uma forte evidência das dificuldades
apontadas de se levar à prática uma educação ambiental e suas problemáticas, referem-se principalmente
devido ao fato que os professores tendem a praticar a mesma de forma fragmentada e
compartimentalizada, em que os conteúdos convencionais permanecem desarticulados com os conteúdos
ambientais, sendo tratados apenas em momentos estanques. Sendo assim, ficam claras as ideias de
Carvalho (1998) quando enfatiza que para a compreensão do meio ambiente é necessário que o indivíduo
desenvolva a capacidade de “ler” suas transformações e o que passa em seu entrono. Logo, para isto é
necessário sua participação de forma ativa no processo, buscando diferentes pontos de vista, formulando
hipóteses e lendo as relações naturais e sociais que constituem os fatos ambientais.
Quanto à pergunta sobre a poluição do rio Capibaribe e os prejuízos trazidos por ela, mais de 70%
de todos os alunos responderam que os principais fatores que prejudicam são: o lixo, o esgoto e a poluição,
ou seja, falaram sobre a causa do problema e não sobre as consequências. Sendo assim, verificou-se que os
alunos apresentam dificuldades de interpretação juntamente com o desconhecimento do tema. Poucas
respostas apresentadas foram coerentes com a pergunta, estas falavam sobre doenças e prejuízos sociais e
econômicos ocasionados pela poluição do rio e pouco mais de 5% dos alunos sequer responderam a
pergunta. Seguem algumas respostas:
“O ar fica poluído, os peixes não podem viver ali por causa dessa poluição e os pescadores que
sobrevivem da pesca não tem como pescar” (Aluno do 9º ano).
“Muitos peixes morrem e as pessoas que tomam banho morrem” (Aluno do 8º ano).
Com relação a estas concepções apresentadas pelos alunos, é notória a necessidade de uma
conscientização ambiental, pois, a investigação feita através do questionário mostra a deficiência de
informação sobre os conceitos básicos para a formação de um cidadão consciente, crítico e participativo na
sociedade, sendo necessárias intervenções mais efetivas na proposta pedagógica da escola articulando-se
entre as diferentes disciplinas e componentes curriculares. Desta forma, a EA deve ser incorporada ao
projeto pedagógico que viabilize as dimensões socioeconômicas, políticas, culturais e históricas, devendo
ser considerada as condições de cada país, região e comunidade, envolvendo sua história, através da
cidadania, devendo incluir o conceito abrangente/globalizante permitindo a superação dos obstáculos à
utilização do meio e sua preservação (Camargo, 2008).

Atividades de intervenção
A partir da explanação da temática meio ambiente os alunos puderam compreender o seu
significado, reconhecendo os principais problemas causados pela interferência do homem no ambiente,
bem como, conheceram os princípios da sustentabilidade e relacionaram-no com a preservação e/ou
conservação do meio ambiente. Para o desenvolvimento do processo de intervenção tivemos as seguintes
ações:
Utilizando charges: neste momento os alunos participaram dando sua opinião em várias situações
de aprendizagem. Todos queriam participar e expor suas historias cotidianas sobre problemáticas
ambientais. O uso das charges faz com que a aula se torne mais agradável e atrativa, aumentando o
interesse por parte dos estudantes e consequentemente a participação, internalização de conteúdos
explorados e reflexão sobre a realidade vivenciada (Andrade, 2010).
Produção de cartões e cartazes: Os cartões produzidos pelos alunos eram criativos e continham
promessas de compromisso para a proteção do meio ambiente (Figura 1A). Na análise dos cartazes (Figura
1B) observamos que para representar o meio ambiente e os pontos negativos, os alunos colocaram figuras
que ilustravam: o lixo na rua, alagamento, queimadas em florestas, animais ameaçados de extinção e etc.,
colocando sempre o homem como parte integrante do meio ambiente e responsável pelos danos que o
mesmo vem sofrendo, reconhecendo-o como agente atuante. Durante a confecção de cartazes para
representação do ambiente como eles gostariam que fosse era comum observar a presença de figuras que
ilustravam paisagens, muitas árvores, água limpa e pessoas felizes. O cartaz produzido com recortes é um
instrumento capaz de expressar o conhecimento do qual os alunos se apropriaram de forma criativa e
dinâmica. Os cartazes produzidos pelos alunos foram apresentados no Dia do Meio ambiente na Escola
Estadual Lions de Parnamirim, realizada pela professora de ciências com o apoio dos participantes do

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


840

projeto de extensão. Neste evento, os alunos interagiram as atividades realizadas durante o processo de
intervenção pedagógica e apresentaram suas produções para toda a comunidade escolar.
Teatro de fantoches: Nesta modalidade, os alunos mostraram-se bastante motivados a elaborarem
historias e apresentarem de forma lúdica as suas produções, criando um clima de conversações, narrativas
e musicas (Figura 1C). No decorrer das apresentações os grupos ajudavam uns aos outros no tocante a
organização e apresentações, deixando assim, uma sintonia agradável em sala de aula, mobilizando-os às
diferentes interações entre os grupos e conteúdos de forma critica além de desenvolverem habilidades
escrita, como motora e oral. Posteriormente, na Escola Estadual Lions de Parnamirim, os próprios alunos
elegeram os dois melhores grupos para que estes fizessem a apresentação para toda a escola na
comemoração do Dia do Meio Ambiente (Figura 1D).
No processo educacional o teatro de fantoches é de grande importância pedagógica, pois
proporciona o desenvolvimento de habilidades, principalmente as que estão relacionados à comunicação e
a expressão sensorial e motora, além de permitir a construção do conhecimento pelos próprios alunos
onde cada um teve a oportunidade de aprender e ensinar aos demais. A introdução da prática do teatro de
bonecos na escola, como proposta de arte-educação, nas séries iniciais, amplia as possibilidades para o
aprendizado, pois alia o ato de criar ao processo de assimilação dos saberes (Silveira, 1997).
Palestras: Durante a abordagem dos conteúdos relacionados à água os alunos (Figura 2A) puderam
conhecer, através de fotografias, o açude do Prata, desconhecido até então pela maioria. Neste momento
ficaram muito surpresos e curiosos quando souberam que este açude está localizado no bairro de Dois
Irmãos, tão próximo a eles e perceberam a importância de preservá-lo.
Exibição de vídeos: Durante a exibição da primeira reportagem: Poluição do Rio Capibaribe afeta a
pesca de sururu (Exibido pelo NETV). Após a exibição do vídeo (Figura 2B) que mostrava a interferência da
poluição do rio Capibaribe no desenvolvimento do sururu, e os impactos ecológicos e econômicos que isso
traz, os alunos puderam ver como um simples saquinho jogado na rua pode trazer consequências maiores,
uma vez que podem ser levados para cursos d’agua. Também, mostraram-se impressionados quando
descobriram todo o percurso que o rio Capibaribe faz, no estado de Pernambuco, passando bem próximo a
escola, e as diversas fontes de poluição a qual o rio está sujeito.
A segunda reportagem intitulada Poluição do rio Capibaribe prejudica treino de atletas do remo
(Exibido pelo NETV), mostrava a interferência da poluição do rio e os impactos causados para a realização
de atividades esportivas. Esta reportagem fez com que os alunos percebem como o homem influencia de
forma negativa através de ações estressoras o meio ambiente, e quais os impactos são gerados
prejudicando assim as atividades de lazer no rio. Além disso, a apresentação do vídeo despertou a
curiosidade e conhecimentos dos alunos, principalmente no que tange a utilização dos recursos naturais. A
linguagem do vídeo responde à sensibilidade dos jovens, cuja comunicação resulta do encontro entre
palavras, gestos e movimentos, distanciando-se do gênero do livro didático, da linearidade das atividades
da sala de aula e da rotina escolar (Dallacosta, 2007). Dentre as diferentes modalidades de ensino, a
utilização de novas tecnologias, como o vídeo, torna-se um instrumento de aprendizado e reflexão diante
de questões ambientais, que através da exibição de filmes em sala de aula está conscientizando e
despertando o aluno para a preservação da natureza (Silva, 2010).
Oficina de papel: a temática sobre o desperdício da água foi bastante discutido e cada aluno propôs
uma ideia para evitar este problema para o ambiente, melhorando assim a qualidade de vida. No decorrer
da oficina na produção de camisas de papel (Figura 2C) e as bandeiras juninas (Figura 2D) os alunos
interagiram uns com os outros e mostraram-se entusiasmados em expor suas idéias para o restante da
escola.
Ao final da intervenção pedagógica, os alunos foram capazes de desenvolver as principais
competências referentes às seguintes ações: identificar a importância da água para a manutenção da vida
na terra; descrever as diferentes etapas e processos que constituem o ciclo da água na natureza; e
identificar que tipo de poluição pode atingir a água em cada etapa do ciclo; analisar e debater todos os
aspectos relacionados à poluição e desperdício da água, como os impactos sociais e econômicos.
A adoção de estratégias lúdicas, como atividades artísticas associadas a outras áreas do saber por
meio de uma prática interdisciplinar, desenvolve sensibilidade e percepção, permitindo que vejamos o que
nos rodeia de outra forma, seja ativa ou crítica. Segundo Silveira (2008) além de estar presente nos
materiais impressos, a arte é valorizada em muitos processos de formação em Educação Ambiental como

João Pessoa, outubro de 2011


841

um modo de ver e estar no mundo e de produzir leituras diversificadas e singulares sobre a existência, a
partir do desenho, da pintura, do vídeo, da fotografia, entre outros. Enfim, todas essas modalidades
artísticas propiciam/estimulam a integração dos sujeitos com o meio ambiente de forma lúdica, criativa,
crítica e atraente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Educação Ambiental realizada no ambiente escolar possui grande potencial uma vez que a escola
é um espaço excepcional para promover esse tipo de prática pedagógica. Até o presente momento a
proposta de EA alcançou os objetivos, uma vez que possibilitou a adoção pelos alunos de uma postura
ambiental sustentável para interação homem/natureza. As palestras, atividades e debates possibilitaram a
compreensão das inter-relações entre os seres humanos e seu meio biofísico e cultural, assim como seus
problemas, contribuindo para a formação de cidadãos conscientes e atuantes. Pela participação, empenho
e qualidade das atividades, notamos que os alunos ficaram sensibilizados principalmente no que concerne
as temáticas socioambientais relacionadas à realidade local. As atividades de EA devem ser bem planejadas
e embasadas conceitualmente, nesse sentido é necessário repensar diversas atitudes com relação à sua
prática para que os objetivos desta sejam sempre alcançados de forma eficiente.

A B C
D

Figura 1. A. Cartões com mensagens para o meio ambiente. B. Alunos confeccionando cartazes. C.
teatro de fantoches. D. Apresentação dos alunos na comemoração do Dia do Meio Ambiente.

A B C D

Figura 2. A. Alunos interagindo durante intervenção. B. Exibição do vídeo sobre o rio Capibaribe. C.
Exposição das camisas de papel. D. Alunos confeccionando as bandeirinhas juninas.

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
ALMEIDA, M.P.Q.; OLIVEIRA, C.I. Educação ambiental: importância da atuação efetiva da escola e
do desenvolvimento de programas nesta área. Revista eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental,
v.18, janeiro a junho de 2007.
ANDRADE, B.A.A.; et al. A charge como alternativa para o ensino de geografia. IV Fórum de ensino,
pesquisa, extensão e gestão, Brasília, 2010.
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E SILVEIRA, A. F.: Pesquisa em educação Ambeintal – pensamentos e reflexões de pesquisadores em
educação ambiental. I CPEASUL, Itajaí-SC, UFPEL, pp. 145-167, 2004.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


842

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practice. New York: Kluwer Academic/Plenum Publishers, p. 141-165.
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DALLACOSTA, A.; et al. Vídeos indexados: que benefícios trazem para o professor e para os alunos.
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DILLON, J. (2002). Editorial – perspectives on environmental education related search in science
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KRASILCHIK, M. (2004). Prática de ensino em Biologia. 4. ed. São Paulo: Edusp, 200 p.
REIGOTA, M. O que é educação ambiental. São Paulo: Brasiliense, 1994.
SILVA, A.P.A.; CHAVES, J.M. Questões ambientais através do cinema em escolas de feira de Santana
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2010.
SILVEIRA, S.M.. Teatro de bonecos na educação. Florianópolis, v. 15, n. 27, p. 135 -145, janeiro a
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SILVEIRA, L.S.; ALVES, J. V. O Uso da Fotografia na Educação Ambiental: Tecendo Considerações
Pesquisa em Educação Ambiental, vol. 3, n. 2 – pp. 125-146, 2008.

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843

CAMINHANDO PELAS TRILHAS DO BACANGA, EM SÃO LUÍS DO


MARANHÃO: CONSTRUINDO A HISTÓRIA E CONSCIÊNCIA AMBIENTAL
COM AS COMUNIDADES LOCAIS.
CASTRO, Cláudio Eduardo de
UEMA
clanaros@yahoo.com.br
MONTEIRO, Adriana Marques
UEMA
adrianamm19@hotmail.com
MOREIRA, Thayanne D´Angelis Rocha
UEMA
tdr.moreira@gmail.com

RESUMO
As trilhas são a maneira mais comum de realizarem-se visitas em ambientes urbanos, rurais e
naturais preservados, seja com o intuito de contemplação, educação formal ou não, experiência inovadora,
observação, análise de assuntos ligados ao roteiro da trilha e muitos outros. No Parque Estadual do
Bacanga, em São Luís do Maranhão não há trilhas de uso sistemático para qualquer finalidade, senão os
que servem às atividades voluntárias das comunidades do entorno, estas que causam a degradação dos
recursos naturais, já que são voltadas ao extrativismo ilegal de areia, solo, madeira, folha de palmeiras,
disposição de resíduo sólido, carvão, caça e laterita. A porção nordeste do Parque é uma das que mais
sofreu ocupações irregulares nas últimas décadas, e a que vem recebendo maiores impactos desses usos e
conta com remanescentes arqueológicos em Sambaquis e ruínas de atividades fabris do século XIX
conhecidas como Sítio do Físico, além de porções de floresta em estágio bastante avançado de
recuperação. Elaborou-se, nessa área focal do Sítio, uma trilha com vistas à educação dos alunos das
escolas locais, que se executou após diagnóstico participativo preliminar, visando educar para consciência
do papel do Parque na manutenção dos aquíferos da ilha do Maranhão, dos tempos superpostos das
comunidades humanas sobre o espaço e de ações ambientais adequadas. As visitas foram monitoradas e
posteriormente trabalhou-se em sala, resultando em uma avaliação do grau de efetividade dos objetivos
propostos, que foram construídos depois do diagnóstico preliminar e a execução do projeto de educação
ambiental com o uso da trilha. A avaliação indicou grande parcela de construção do conhecimento dos
tempos históricos, da importância de manutenção do território protegido e ambiente natural e grau
satisfatório de construção da consciência ambiental e elaboração de ações propositivas na comunidade
quanto à relação com o contexto local.
PALAVRAS CHAVE: Educação Ambiental; Trilhas; Parque Estadual do Bacanga

ABSTRACT
The trails are the most common way to conduct visits were in urban, rural and natural preserved
areas, to be contemplation, education or not, innovative experience, observation, analysis of issues related
to route of the trail and many others. In Bacanga Park, in São Luis of Maranhão no have systematic use of
trails for any purpose, but the volunteer activities that serve the surrounding communities, those that
cause degradation of natural resources, since they are directed to illegal extraction sand, soil, wood, palm
leaf, disposal of solid waste, coal, hunting and laterite. The area northeast of the Park is one of the most
experienced irregular occupations in recent decades and that has received major impacts of these uses and
has archaeological remains and ruins of Sambaquis manufacturing activities of the nineteenth century
known as Sítio do Físico, as well as parts of forest in an advanced stage of recovery. Was elaborated for this
focal area, a trail for environmental education with students from local schools. The activity took place
after preliminary participatory diagnosis, aiming to raise awareness of the role of the maintenance of
aquifers on the island of Maranhão, the overlap of human ages on space and appropriate environmental
actions. The visits were monitored and later worked in the class room, resulting in an assessment of the
effectiveness of the proposed objectives, which were built after the preliminary diagnosis and project

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


844

execution. The evaluation indicated parcentual high building knowledge of historical times, the importance
of maintaining the protected territory and natural environment and good level of building environmental
awareness and development of purposeful actions in the community concerning the relationship with the
local context
KEYWORD: Environmetal Education, Track, Departmental Bacanga Park

Introdução
O Parque Estadual do Bacanga na área urbana da cidade de São Luís do Maranhão tem como uma
de suas funções formadoras garantir a perpetuidade de área de recarga de águas pluviais aos mananciais
de abastecimento por água tratada da população residente na ilha do Maranhão, que hoje soma mais de
um milhão e duzentas mil pessoas, além de minimizar a pressão sobre a água advinda do sistema de
aqueduto Ita-Luís obtida a quilômetros de distância no rio Itapecuru.
A área de entorno do parque vem sofrendo pressão pela ocupação irregular de moradias, um
problema constante nas grandes cidades em nossos dias, além de outras pressões socioambientais, como
corte seletivo de espécies vegetais, caça, desmatamento, erosão em trilhas usadas indevidamente, retirada
de solo e laterita para uso em aterros e alicerces. As causas destas pressões só poderiam diminuir se a
problemática global que alimenta estas questões fosse resolvida, o que certamente demorará. Coube-nos
elaborar ações que viessem minimizar estas relações socioambientais degradativas, buscando minorar os
efeitos de uma educação descontextualizada sobre os recursos tão necessários à comunidade direta e
indiretamente ligada ao Parque.
Tendo realizado trabalho de levantamento para planejamento de trilhas na porção Nordeste do
Parque, coube-nos neste momento, retornar à comunidade os resultados destes esforços, visando usar as
trilhas do parque, especificamente a do Sítio do Físico, para a construção de uma Educação Ambiental (EA)
focada na manutenção da área tão necessária ao abastecimento de água, dos recursos florestais do bioma
Amazônico e dos remanescentes arqueológicos da humanidade e da história do Maranhão. Esta foi uma
tentativa de caminhar para diminuir os usos irresponsáveis do Parque através da EA, bem como valorizar
estas áreas como forma de lazer, educação e preservação. O principal objetivo foi minimizar os impactos
socioambientais causados na porção sudeste do Parque Estadual do Bacanga com atividades com alunos e
comunidade organizada. Secundariamente se quis desenvolver aprendizagem de tempos e conhecimentos
arqueológicos e históricos; valorizar a preservação do Parque no âmago de valores coletivos dos envolvidos
visando minimizar as ações predatórias que degradam o ambiente natural; despertar a percepção de uma
convivência sustentável da comunidade com o Parque; usar da Educação Ambiental em trilhas na
construção de novos valores; contribuir na construção conjunta com educadores locais para ações em
Educação Ambiental.

Ocupação histórica e arqueológica de São Luís e as pressões antrópicas sobre o Parque do Bacanga.
A Ilha do Maranhão possui um total de 1.410 Km2, onde, sob a ótica política, quatro
municípios exercem sua territorialidade, são eles: Paço do Lumiar, com 132,41 km 2, Raposa com 64,18 km2,
São José de Ribamar com 386,28 km2 e a capital, São Luís com 827,14 km2 (IMESC, 2007). A construção
desse território moderno iniciou-se no embate entre franceses e portugueses, no início do século XVII e
que ganha destaque no século XIX graças à proximidade marítima dos mercados consumidores de algodão
e açúcar exportados pela capital. Ao final desse século iniciam-se as atividades industriais do algodão,
empreendendo enorme dinamismo a São Luís, expandindo a cidade e o número de habitantes e exigindo
materiais para a construção das edificações necessárias à demanda criada por essa atividade, que são a cal
de exoesqueleto de crustáceos a areia e as rochas que eram usadas na construção das paredes.
Esse ciclo se finda e somente na década de 1970 volta a ascender um dinamismo maior, motivado
pela exportação do minério de ferro de Carajás e da alumina e alumínio de bauxita, que para tanto, teve
um porto construído na cidade. Esse novo ciclo econômico acabou desenvolvendo setores da economia
antes precários, exigindo ainda a implantação de novos serviços, uma vez que a mão-de-obra especializada
é uma necessidade dos novos empreendimentos (DINIZ, 2004. p.14-16; 1993; NUNES, 2006). A população
aumenta e o município atrai a atenção dos migrantes que, em busca de oportunidades de emprego,
mudam-se para a capital. Esse incremento populacional exige áreas urbanizadas, infraestrutura e serviços
que não acompanham a demanda, levando à concentração do incremento populacional a fixar-se próximo

João Pessoa, outubro de 2011


845

ou nas áreas centrais, onde a população “invade áreas públicas, terrenos sem construção e, sobretudo,
manguezais” (CASTRO; MORAES, 2007, p.3).
Estes dois ciclos deixam marcas na cidade, o primeiro bordou nas margens dos rios da ilha fábricas
de cal de exoesqueletos já que não se fazia uso de calcário, e que hoje estão em ruínas recobertas por
floresta ou removidas para dar lugar ao novo e o moderno. Nesse período as condicionantes do transporte
são definitivas para a locação dos empreendimentos, dessa forma o vale do rio Bacanga que oferece ventos
favoráveis e navegabilidade durante a maré cheia foi pródigo para essas instalações. Nesse contexto o sítio
Santo Antonio da Alegria, à margem direita do rio Bacanga, hoje conhecido como Sitio do Físico, teve
significativa importância, como bem relatou Mello & Mello (1976, p. 43), que fez estudos aprofundados
sobre esse Sítio, ele afirma que os rios, “como linhas de movimento, são o itinerário entre o campo e a
cidade”.
A possibilidade de produção da cal de exoesqueletos dependia da existência desses animais, mais
ainda das facilidades em se os conseguir em grande quantidade para a queima nas caieiras. Essa facilidade
foi encontrada pelo considerável número de sambaquis nessa bacia hidrográfica (MACHADO et al., 1991;
BANDEIRA, 2007). Esta é uma fase anterior ‘a ocupação moderna de São Luís, iniciada no século XVII, onde
um “grande contingente de sociedades que viviam nos ambientes costeiros abundantes em alimentos para
a simples coleta, não exigindo técnica de obtenção de pescados, caça aprimorada e cultivo agrícola”
(CASTRO, et al., 2009). Bandeira (2007, p. 434-5) descreveu alguns sambaquis nos quais se realizou trabalho
de levantamento arqueológico datando-os de pouco mais de 6.000 anos e vem ressaltar que eles são
amontoados de exoesqueletos e diversos objetos de uso cotidiano encontrados em vários pontos da costa
mas imprescindivelmente onde ocorre riqueza e diversidade de vida em enseadas, ilhas próximas da costa
e grandes lagunas.
O que conjuga para a importância desta área do Sítio do Físico é a envergadura do
empreendimento feito por Antônio José da Silva Pereira nomeado pelo rei de Portugal em 5 de dezembro
de 1798 para ocupar o cargo de médico, ou como designado à época Físico-Mor do Maranhão. Tal sítio fica
à foz do riacho Realengo do Carvalho, e que ainda hoje tem suas estruturas preservadas. A obra possui
laboratório, jardim, rampas largas de acesso do curtume, escadarias em ‘pedras de cantaria’46, o próprio
forno para cal, curtume com inúmeros tanques, armazém, um cais, poços, arrimos com até 12 metros,
“tudo elaborado sob uma engenharia exemplar, que garantiu a permanência de boa parte das construções
até nossos dias, ao passo que outras vivem na ruína de seus alicerces” (CASTRO, et al, 2009). O Físico é
tombado pelo patrimônio histórico nacional e está dentro de uma área do parque Estadual do Bacanga.
O parque foi criado em 02 de março de 1980 pelo Decreto Estadual nº 7545 com 3.065 ha,
com a finalidade de protegerem-se áreas de recalque de águas subterrâneas, superficiais e sub-superficiais,
também para proteger-se o último remanescente da província Amazônica na ilha do Maranhão, depois de
recuos em sua área ocasionados pela ocupação por moradias, o parque conta com 2.634 ha. A vegetação
predominante originalmente era a Mata Pluvial Tropical Hileiana, denominada localmente de Pré-
amazônica (CERQUEIRA & MARQUES, 1995), talvez hoje seja um dos poucos locais com disponibilidade
dessa formação que possa funcionar como um estoque de espécies para recompor as paisagens
degradadas da circunvizinhança. O Parque abriga ainda um lago artificial para controle da entrada das
águas das marés altas, o lago chega a apresentar nível dois metros abaixo da maré alta.
O aterro que represa o rio Bacanga facilitou a ligação da cidade com o porto do Itaqui que escoa a
produção de minérios em grande quantidade. Estes fatos foram responsáveis pela expressiva expansão
urbana vivida depois dos empreendimentos da década de 1970. O entrono do Parque que contava com
uma população de 18.200, em 1991, passou para 60.564, em 2001, no ano de 2007 esse número passou
para 67.200 (SÃO LUÍS, 2007) aumentando sensivelmente a pressão sobre a área, consequência do
acréscimo de áreas urbanas advindas basicamente de invasões de terrenos públicos e privados
indistintamente e de palafitas sobre as áreas inundáveis recobertas por manguezais, tanto no parque
quanto em seu entorno (CASTRO, et al., 2009). Podemos perceber a pressão urbana sobre a área do parque

46
Pedras com as faces devidamente aparelhadas (cantaria), geralmente de grandes dimensões e com formas
geométricas definidas, assentes com argamassa ou apenas sobrepostas e justapostas in: ROQUE, João Carlos
Almendra. Reabilitação estrutural de paredes antigas de alvenaria. Dissertação de mestrado, Departamento de
Engenharia Civil, Universidade do Minho. Minho: Unimi, 2002.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


846

na figura 1. Somente no perímetro protegido, os moradores eram em número de 747 pessoas no primeiro
ano deste século, população que utiliza da queimada, uso da terra sem qualquer cuidado, realizando as
queimada para roçado de coivara, ou mesmo para manter a posse da terra. Esse contingente populacional
caracteriza-se basicamente por baixíssima renda.

Figura 1 – Mapa dos bairros e limite do Parque Estadual do Bacanga no setor nordeste. As áreas ocupadas
irregularmente, Coroadinho 2 e 3, ainda não foram mapeadas pela prefeitura.
Fonte: SÃO LUÌS, 2007.

Essa ocupação e as atividades advindas dela, acarretou uma perda de mangues, entre os anos de
1995 e 2004, da ordem de 37% de sua cobertura; as áreas já degradadas recobertas por capoeira alta
diminuíram 27% possivelmente dando lugar às capoeiras baixas, que aumentaram 37% . A agricultura que
ocupava 18,44ha passou a 85,68ha e as áreas construídas que não ultrapassavam os 85ha chegaram a
208,96ha (PINHEIRO JÚNIOR, et al., p.1028). O quadro de riscos locais é bem ilustrado por levantamento
feito em workshop promovido pela prefeitura de São Luís e Banco Mundial (SÂO LUÍS, 2007, p.18). Os
resultados indicaram que na área a concentração de pobreza tem renda abaixo de 2 salários mínimos;
sérias ameaças à saúde publica; deficiência da drenagem; alta insalubridade; menos de 30 % da população
atendida com rede de coleta de esgotamento sanitário; inexistência de tratamento de esgotos sanitários;
fornecimento de menos de 40% per capita diário de água tratada; graves problemas de gestão de resíduos
sólidos; 500 famílias vivendo em áreas de risco à montante da Barragem do Bacanga o que contribui para
deterioração da qualidade da água do lago.

João Pessoa, outubro de 2011


847

EA como caminho à mitigação das pressões ao patrimônio arqueológico-histórico e à natureza no


Parque Estadual do Bacanga.

A E.A. tem um papel fundamental na busca da superação das desigualdades sociais e das relações
predadoras com a natureza. Nos segmentos sociais excluídos, onde as condições impõem enormes desafios
socioambientais, ela vem “fomentar processos que impliquem o aumento do poder [dessas] maiorias hoje
submetidas [à exclusão], de sua capacidade de autogestão e o fortalecimento de sua resistência à
dominação capitalista de sua vida (trabalho) e de seus espaços (ambiente)”. Ela trata pois, de uma
mudança de paradigma político e científico, superando o antigo que não serve mais, conforme o que diz
Sorrentino (2005, p.287). Nesse sentido e desejando dar vazão ao que define a Política Nacional de
Educação Ambiental (PLANALTO, 1999), que enseja uma E.A47 como uma forma abrangente com objetivos
de promoção de novas condutas através de maior conhecimento do meio ambiente, adquirindo capacidade
de agir voluntariamente na busca de soluções aos problemas socioambientais.
Com este intuito elaborou-se um projeto de E.A. para as escolas do entorno nordeste do
Parque, executado em parceria dos Cursos de Geografia e Agronomia da Universidade Estadual do
Maranhão, da Polícia Ambiental, da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e da Secretaria Estadual de
Educação. Um aspecto fundamental foi desenvolver a percepção do Parque entre os envolvidos, que é não
só desejável, sendo também necessária uma abordagem quanto aos impactos, essas percepções são uma
ferramenta para a mudança necessária da imagem do parque entre os indivíduos que têm nele diferentes
usos e percepções e diferentemente de muitos cidadãos que já têm uma certa formação que lhes permita
perceber essa importância, para muitos faz-se necessário ações que lhes permita avançar nesse caminho,
focados na concepção de finalidade, valor e uso adequado de cada grupo (STANKEY E LUCAS, 2006, p.4-7).
.
Método
A busca por este caminhar na construção de novos valores foi norteado pela construção
participativa da sociedade organizada e as escolas locais. Buscou-se primeiramente as melhores práticas
educativas, nesta fase ocorreu paralelamente, o contato com os envolvidos para construção de diagnóstico
que balizou as pesquisas e construção de etapas das ações seguintes. Posteriormente a fase diagnóstica,
executou-se um plano de ação com participação coletiva, no qual todos puderam opinar na elaboração,
aplicação, análise e conclusão do diagnóstico visando um prognóstico focado nos problemas e contexto.
Elaboraram-se as ações conjuntamente, após o que se definiu o calendário de execução das ações na trilha,
segundo os prognósticos.
A avaliação do processo se deu através de entrevistas e questionários prévios com os diversos
segmentos, divididos por categorias. Estas entrevistas ajudaram na construção da percepção do Parque no
âmbito social, valores ambientais, culturais, ético-ambientais, servindo para demonstrar a evolução do
processo que, ao final foi comparado com novas entrevistas-questionários.
As etapas de execução seguiram o seguinte encadeamento: contato com escolas, comunidade
organizada, pais de alunos, moradores; desenvolvimento de diagnóstico e aprendizagem das etapas do
planejamento; pesquisa e aprimoramento das ações; apresentação aos envolvidos, discussão e formulação
de ações; aplicação com turma piloto; avaliação com a participação coletiva da fase de execução piloto e
reformulação; visita sistemática com os alunos e professores; retomada da visita em sala de aula; avaliação.
As questões tratadas pelas avaliações preliminar e posterior às atividades versaram sobre
os temas: quais os conhecimentos sobre o Parque e seu papel; ocupação passadas do espaço vivido pelos
alunos – arqueologia dos sambaquis e sítio do Físico -; ações de impactos negativos à manutenção do
equilíbrio ecológico da área; função do lago criado pela barragem do rio Bacanga; se há alguma atividade
relacionada aos temas que sejam tratadas em sala de aula e atitudes ambientais praticadas de forma
consciente.
O projeto envolveu em sua fase diagnóstica e propositiva a escola estadual Benedito Leite (anexo
Frei Osvaldo), escola municipal Coração de Jesus e Fundação Bradesco com acompanhamento do

47
(art. 1º) [...] processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso
comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


848

representante do Conselho Tutelar e da Polícia Ambiental. Somente duas escolas puderam realizar as
visitas, a Fundação Bradesco e a Benedito Leite, com um total de 235 alunos das 7ªs e 8ªs séries do ensino
fundamental e 1º ano do ensino médio. As visitas se realizaram no período de agosto de 2009 a junho de
2010.

Resultados
O que pode ser revelado foi que o a área do parque é entendida como ‘mato’ onde a cidade não
pode se expandir, e que alguns acabam ocupando para construir moradias de baixíssima qualidade, onde já
ocorreram ocupações que acabaram edificando desordenadamente a maioria dos bairros. Do ‘mato’ do
Bacanga há a retirada de materiais para construção de madeiramento de telhados, cercas, esteios,
cobertura e carvão, em alguns casos a madeira e o solo são removidos para construção de paredes de taipa
de mão de algumas moradias, a caça foi relatada por apenas um aluno, ao passo que o uso recreativo é
uma prática comum por brincadeiras diversas como recreação aquática quando do enchimento do lago da
barragem, jogo de futebol, passeios a cavalo e bicicleta. Nenhuma das respostas indicou o papel essencial
de manutenção da recarga do aquífero ou de outras funções.
Somente duas ações negativas à manutenção da ecologia e função do parque foram relatadas: a
disposição de resíduo sólido em algumas áreas, justificada pela ausência de coleta pelo poder público que
não consegue deslocar veículos em algumas localidades e a caça, mesmo havendo sido citado apenas uma
vez, indicando que essa prática pode ser mais comum que o que se constatou pela pré-avaliação. As
ocupações arqueológicas e históricas não foram relatadas, bem como se há alguma atividade, ação ou
abordagem quanto a ações ambientais em sala de aula, senão as que estão nos livros didáticos.
As atividades de visitação à trilha foram orientadas por monitores-alunos do curso de geografia em
número de um monitor para cada grupo de 8 alunos. A visita propôs 10 pontos de observação (figura 2),
onde se faziam discussões a cerca do assunto necessário ao desenvolvimento de aprendizagem e ao
despertar da consciência e sensibilização socioambiental.
Para prática do projeto de E.A. na trilha duas dificuldades foram decisivas no que tange à
disseminação para outras escolas: a dificuldade de deslocamento e a segurança. A primeira se relaciona às
escolas públicas, onde dificilmente se consegue transporte em ônibus uma vez que as secretarias estadual
e municipal não dispõem desse recurso, e a escola não possui parcerias que possam disponibilizar trabalhos
fora de seus muros. A escola pública participante só pode fazê-lo por haver-se conseguido o transporte com
empresa privada gratuitamente graças aos esforços dos alunos em experienciar a atividade com essa
clientela, já que era o foco principal do projeto, mas se conseguiu somente uma viagem com 42 alunos. A
Fundação Bradesco pode realizar mais visitas por destinar subsídios monetários aos alunos que pagam
pelas atividades.

João Pessoa, outubro de 2011


849

PONTOS para EA na Trilha


1 - Início da trilha da ruína do Sítio
do Físico
2 - Riacho do Coelho. Mangue
3 - Camboa Tupinambá
4 - Palmeira Anajá
5 - Tanques nas minas d´água
6 - Juçaral (açaizal) e buritizal
7 - Sambaqui
8 - Limite da propriedade – Pedra de
Cantaria
9 - Clube náutico - Lago do Bacanga
10- Bacuri

Figura 2 – Mapa da trilha e pontos para E.A.


Fonte: CASTRO, C. E. construído sobre foto aérea SL-04-12 – Parque do Bacanga e Sítio do Físico, disponível
em: http://www.zee.ma.gov.br/html/mostra_fotos.php?img=ma_sl_04_12&pag=1

Considerações
A trilha utilizada como instrumento de E.A. é um instrumento positivo na construção de
aprendizagem e construção da consciência e sensibilização para melhorar as relações socioambientais em
situação de contato entre áreas de preservação de ambientes naturais e comunidades sob situação
excludente dos benefícios sociais, infraestruturais e econômicos que por sua situação peculiar, oferecem
riscos de degradação dos ambientes natural e social. As avaliações conseguiram explicitar os resultados
positivos de uma educação focada na realidade local que desejou ir além de desenvolver aprendizagens de
práticas ambientais adequadas, relacionando temporalidades e escalas espaço-temporal distintas e
sobrepostas. As avaliações foram imprescindíveis na reflexão a cerca da proposta de E.A. efetivada.
A experiência de visita aos espaços arqueológico e histórico somados à paisagem natural
puderam ser enriquecedores para o crescimento da consciência dos alunos. Um fato relevante foi o

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


850

acompanhamento de monitores que demonstrou ser uma necessidade nesse tipo de atividade, uma vez
que foi relatada a presença do ‘professor’ nas entrevistas posteriores.
As dificuldades encontradas foram da ordem da disponibilidade de transporte pelas
unidades escolares e de apoio de professores que demonstraram pouquíssimo preparo para atividades
extraclasse, interesse em novos instrumentos educacionais e conhecimento do espaço local onde lecionam.
Outra preocupação é a continuidade das ações, uma vez que findado o projeto, o desenvolvimento da E.A.
sofre ruptura, especialmente pelo relatado nas entrevistas sobre o cotidiano empobrecedor da sala de aula.

Referências Bibliográficas
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pré-colonial na ilha de São Luís do Maranhão a partir de campanhas arqueológicas de Mário Ferreira
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pendulares e manutenção dos vínculos identitários de São José de Ribamar. In: II Seminário Nacional Sobre
Regeneração Ambiental das Cidades, CCE, Deptº de Arquitetura e Urbanismo, CT, da Universidade Estadual
de Londrina, de 05 a 07 de dezembro de 2007. Londrina: UEL, 2007
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território de São Luís – MA. In: Anais do I Colóquio Internacional sobre desenvolvimento local e
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DINIZ, J. S. As Condições e Contradições do Espaço Urbano de são Luís (MA): traços periféricos.
Conferência apresentada no III ciclo de estudos de História e Geografia do Maranhão. Instituto Histórico e
Geográfico do Maranhão. São Luís, Nov/2004IMESC. Maranhão em Dados 2005 . São Luís: IMESC, 2007
MACHADO et al., 1991. Os Sambaquis da ilha de São Luís do Maranhão. In: anais do I Simpósio de
pré-história do Nordeste brasileiro. Recife: Clio-série arqueológica, n.4 edição extra, 1991.
MELLO, U. P. de; MELLO, V. P. de. Relatório de Pesquisa de Arqueologia histórica e História sobre o
sítio Santo Antonio da Alegria (Sítio do Físico). Sem referência à instituição. Recife, 1976.
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PINHEIRO JÚNIOR, J. de R.; COSTA, L. A. da; SANTOS, M. C. F. V. dos; GOMES, L. N. Análise temporal
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9795.htm. Acesso, 01 de set. 2009.
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Unpublished Manuscript. Missouri: USDA Forest Service. Disponível em:
http://leopold.wilderness.net/pubs/157.pdf. Acesso em: 15 de jan. 2006.

João Pessoa, outubro de 2011


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CONCEPÇÃO SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DOS ALUNOS DO CENTRO DE


CIÊNCIAS AGRÁRIAS E AMBIENTAIS – UNIVERSIDADE FEDERAL DO
MARANHÃO – UFMA.
Cleydlenne Costa VASCONCELOS
Graduanda do curso de Bacharelado e Licenciatura em Ciências Biológicas pelo Centro de Ciências Agrárias e Ambientais -
Universidade Federal do Maranhão - (UFMA)
e-mail: cleydlenne@yahoo.com.br
Aldilenne da Silva LIMA
Graduanda do curso de Bacharelado e Licenciatura em Ciências Biológicas pelo Centro de Ciências Agrárias e Ambientais -
Universidade Federal do Maranhão - (UFMA)
e-mail: aldileney@hotmail.com
Regis Catarino da HORA
Professor Adjunto do curso de Ciências Biológicas do Centro de Ciências Agrárias e Ambientais Universidade Federal do
Maranhão-(UFMA)
email: reghora@yahoo.com.br

RESUMO
A Educação Ambiental (E.A.) procura estabelecer uma relação sustentável entre
sociedade/natureza a partir da inclusão de valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente. Neste contexto, a Educação Ambiental vem
assumindo um papel importante, principalmente pela urgência de reversão do quadro de deterioração
ambiental em que vivemos, onde o homem é o principal ator causador dessas alterações. Considerando
assim o papel da E.A. este trabalho analisou a inserção do conhecimento sobre Educação Ambiental e sua
prática nos cursos de Ciências Biológicas, Agronomia e Zootecnia do Centro de Ciências Agrárias e
Ambientais – Universidade Federal do Maranhão. A pesquisa foi realizada através da aplicação de
questionários e contou com a participação de 120 discentes, com idade entre 18 e 41 anos, que cursam
disciplinas do 2º ao 9º semestre desses três cursos. Constatamos que os alunos possuem uma boa
concepção de E.A., isto é compreendem o papel da E.A. e sua importância para preservação do meio
ambiente, e consideram- se bem preparados para discutirem sobre este tema. Os estudantes também
consideram a temática importante no âmbito de sua formação para que possam ter atitudes participativas
e conscientes em defesa do meio ambiente, principalmente por que acreditam que sua área de formação
está estreitamente ligada ao tema e é responsável por ensinar e/ou praticar a E.A.
Palavras chaves: Educação Ambiental, conscientização, preservação, ciência agrárias e ambientais.

ABSTRACT
The Environmental Education (EE) seeks to establish a sustainable relationship between society /
nature from the inclusion of social values, knowledge, skills and attitudes for the conservation of the
environment. In this context, environmental education is assuming an important role, especially by the
urgency of reversal of environmental degradation in which we live, where man is the main actor causing
such changes. Considering the importance of EE, this study examined the integration of knowledge on
environmental education and practice courses in Biological Sciences, Agronomy and Animal Science at the
Center for Agricultural and Environmental Sciences - Federal University of Maranhão. The research was
conducted through questionnaires and included the participation of 120 students, aged between 18 and 41
years, who attend courses in the 2nd to 9th semester of three courses. We found that the students have a
good conception of E.E, and understand the role of E.E., and its importance to preserving the environment,
and consider themselves well prepared to discuss on this topic. Students also consider the issue important
in the context of their training so they can be aware and participatory attitudes in defense of the
environment, mainly because they believe that their area of training is closely linked to the subject and is
responsible for teaching and / or practice E.E.
Key words: Environmental education, awareness, preservation, agricultural and environmental
science.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


852

INTRODUÇÃO
A Educação Ambiental (E.A.) surge em virtude da preocupação humana com a qualidade de vida,
pois em decorrência da ideologia capitalista, o meio ambiente tem passado por intensas transformações,
que culminaram para uma grande crise ambiental, induzida pelo próprio homem. Diante desta situação os
debates mundiais acerca das questões ambientais têm sido muito freqüentes (SILVA, 2009).
A Educação Ambiental constitui-se como uma ferramenta imprescindível para defesa do meio
ambiente, pois a Educação Ambiental se propõem a transformar a relação homem e natureza, incentivando
atitudes não apenas conscientes em cada indivíduo, mas também participativas. Conscientizar o homem
em relação ao seu modo de ser, ver, viver e relacionar-se com o ambiente do qual faz parte é fundamental
para melhorar as condições de vida das presentes e futuras gerações (BAPTISTA 2011).
Entretanto, para construir uma sociedade responsável com o meio ambiente é necessário fazer
com que ela perceba os problemas ambientais que lhes rodeia e relacione- os com suas atitudes.
Reconhecendo a responsabilidade individual poderá conciliar com a vida em sociedade e refletir sobre a
importância de suas ações sob múltiplos enfoques: social, econômico, político, cultural, artístico
etc.(SÉGUIN, 2006).
Considerando o aspecto econômico, atualmente já não se faz necessário abrir mão da preservação
do meio ambiente para promover o desenvolvimento, o pensamento ambientalista leva em conta as
necessidades de - crescer e conservar – e propõem um desenvolvimento de forma sustentável, que torna
compatível a melhoria nos níveis e qualidade de vida com a preservação ambiental. Num sentido mais
abrangente, a noção de desenvolvimento sustentável refere-se à necessária reformulação das relações
entre sociedade humana e natureza, e, portanto, a uma mudança concreta do próprio processo
civilizatório, introduzindo o desafio de por em prática os conceitos (JACOBI, 2003; COSTA e SCHWANKE,
2010).
Nesse sentido, a produção de conhecimento deve necessariamente focar as inter-relações do meio
natural com o social, incluindo a análise dos determinantes do processo, o papel dos diversos indivíduos
envolvidos e as formas de organização social que aumentam o poder das ações alternativas de um novo
desenvolvimento, numa perspectiva que priorize novo perfil de desenvolvimento, com ênfase na
sustentabilidade socioambiental (JACOBI, 2003).
O processo de ensino-aprendizagem tem forte influência sobre a formação de indivíduos
consciente de sua responsabilidade sobre o ambiente e de seu papel na preservação da natureza. Analisar
se a E.A. vem sendo aplicada de forma correta e com a profundidade necessária para a formação dos
acadêmicos nos cursos de ensino superior do Centro de Ciências Agrárias e Ambientais, significa contribuir
para a formação no ensino superior. Segundo ARAGÃO NETO (2010) nossos educadores precisam estar
preparados para formar uma nova geração consciente, crítica e capaz de compreender e gerenciar os
problemas ambientais.
Conhecer a realidade da compreensão dos alunos a respeito do tema Educação Ambiental em um
momento, onde o processo de degradação do meio ambiente ameaça à obtenção de recursos naturais,
tanto para atividades comerciais quanto para a sobrevivência diária humana é de extrema importância.
Dessa forma, o presente estudo teve como objetivo analisar quais as concepções de educação ambiental
dos alunos dos cursos de Ciências Biológicas, Agronomia e Zootecnia do Centro de Ciências Agrárias e
Ambientais – UFMA
METODOLOGIA
Este trabalho foi realizado no município de Chapadinha – MA, localizado entre 03° 44’ 31” S e 43°
21’ 36” O, pertencente à mesorregião do Leste Maranhense, microrregião de Chapadinha. Participaram da
pesquisa alunos dos cursos de Ciências Biológicas, Agronomia e Zootecnia do Centro de Ciências Agrárias e
Ambientais- Campus IV, da Universidade Federal do Maranhão com idade entre 18 e 41 anos, cursando
disciplinas do 2º ao 9º semestre de seus respectivos cursos. A coleta de dados foi executada através de
entrevistas padronizadas. A entrevista padronizada ou estruturada é aquela em que o entrevistador segue
um roteiro previamente estabelecido, ou seja, as perguntas feitas ao indivíduo são predeterminadas.
Foram entrevistados 120 alunos, sendo 40 de cada curso.
O questionário continha 10 questões, sendo uma discursiva e nove objetivas, as questões
buscavam compreender a relação dos alunos destes três cursos com a temática da educação ambiental,

João Pessoa, outubro de 2011


853

assim buscou-se verificar a inserção da Educação Ambiental no programa das diferentes disciplinas e na
abordagem em eventos realizados pelo curso; identificar as concepções de educação ambiental dos
participantes e avaliar a importância atribuída pelos estudantes à inserção da educação ambiental no
ensino superior, especialmente na sua área de formação.
Os dados foram analisados segundo a concepção de Educação Ambiental expressa pelos alunos,
considerando sua visão socioambiental, sendo a análise quantitativa e qualitativa. Foi observada também a
relação que os alunos fazem de seu curso com o grau de responsabilidade com o ambiente e a importância
das atividades acadêmicas para a educação ambiental.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise dos questionários permitiu identificar as concepções sobre Educação Ambiental dos
alunos do Centro de Ciências Agrárias e Ambientais, que foram expressas da seguinte forma: 27,5%, 22,2%
e 17,5% dos estudantes do curso de Ciências Biológicas, Agronomia e Zootecnia respectivamente
compreendem a educação ambiental como estudo direcionado a conservação da natureza. Já 7,5%, 7,5% e
12,5% e dos estudantes do curso de Ciências Biológicas, Agronomia e Zootecnia respectivamente
compreendem a E.A. como responsável por estabelecer uma relação harmônica entre seres vivos e seu
ambiente. E a maioria 65%, 70% e 67,5% dos alunos dos cursos de Ciências Biológicas, Agronomia e
Zootecnia respectivamente entendem a E.A. como um conjunto de práticas e atitudes que visam à
participação equitativa e convivência em um ambiente sustentavelmente equilibrado.
O princípio básico da Educação Ambiental estabelecido em Belgrado no Seminário Internacional
sobre Educação Ambiental (como um desdobramento da Conferência de Estocolmo) definiu a Educação
Ambiental como meta prioritária a formação nos indivíduos de uma consciência coletiva, capaz de discernir
a importância ambiental na preservação da espécie humana e, sobretudo, estimular um comportamento
cooperativo nas diferentes relações inter e intranações (BALDIN, 2004). Considerando este conceito a
maioria dos alunos do Centro de Ciências Agrárias e Ambientais demonstrou ter consciência da meta
prioritária E.A. e de sua importância para manter um ambiente sustentavelmente equilibrado.
Este conceito estabelece a importância da formação de cidadãos críticos, aptos a construírem
conhecimento por meio de mudança de valores e exemplos de uma postura ética diante das questões
ambientais.
Diferente do que foi observado nesta pesquisa ARAGÃO NETO (2010) em seu estudo observou que
grande parte dos acadêmicos dos cursos de ensino superior do UniFOA continuam presos à armadilha
paradigmática, ou seja, ainda associam a E.A. a um desvio de comportamento, estando a mesma ligada tão
simplesmente a atos individuais de agressão ao meio ambiente. BOER & SCRIOT (2011) afirma que:
“um dos principais desafios da Educação Ambiental é ir além da aprendizagem comportamental,
engajando-se na construção de uma cultura cidadã e na formação de atitudes ecológicas, compreendendo
as relações entre sociedade e natureza e intervindo quando necessário. A educação ambiental é uma
prática educativa que está ativamente implicada no fazer histórico-social. Produz saberes, valores, atitudes,
sensibilidades e, principalmente, pretende transformar a realidade.”(p.49)
BOER & SCRIOT (2011) também analisou a concepções de Educação Ambiental dos alunos do curso
de pedagogia Centro Universitário Franciscano, em Santa Maria/RS e observou que 72% dos alunos
entrevistados por ele relacionam a E.A. a preservação ambiental, revelando a predominância de
concepções de educação ambiental voltada aos aspectos físicos do meio ambiente. Para este estudo 27,5%,
17,5% e 22,2% dos estudantes do curso de Ciências Biológicas, Agronomia e Zootecnia também revelaram
ter a mesma concepção. Contudo, faz se necessário romper com a abordagem de educação ambiental
estritamente preservacionista, uma vez que o ambiente é um campo de interação entre cultura, sociedade
e natureza.
Os alunos entrevistados também foram questionados quanto à relação da escolha de seu curso e o
interesse pelas questões ambientais. Dos alunos do curso de Zootecnia 30% optaram por este curso por
estarem preocupados com o meio ambiente, 50% dos alunos de Agronomia e 67,5% dos alunos do curso de
Ciências Biológicas, também optaram por seus cursos considerando a mesma preocupação (Figura 1).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


854

Figura 1. Gráfico indicativo do percentual de alunos dos cursos de Agronomia, Ciências Biológicas e
Zootecnia que optaram por um curso da área de Ciências Agrárias e Ambientais por estarem preocupados
com as questões ambientais.

A maioria dos alunos dos cursos de Ciências Biológicas e Agronomia revelam que escolheram estes
cursos, por estarem preocupados com os problemas ambientais, isso revela que este alunos já possuíam
uma visão crítica das questões ambientais e compreendia a importância de sua ação e dos demais
indivíduos da sociedade sobre o meio ambiente, exercendo a cidadania ambiental.
Os discentes dos três cursos demonstraram ter consciência de seu papel socioambiental, pois a
maioria dos alunos entrevistados considera que seu curso é responsável por ensinar e/ou praticar Educação
Ambiental. Neste sentido o grupo com mais respostas afirmativas foi o do curso de Ciências Biológicas
(Figura 2).
A formação de educadores e formadores de opinião com consciência de seu papel social facilita a
construção do conhecimento e saber ambiental, levando a todos os setores informações, tecnologias e
práticas sustentáveis que possam agir de forma interdisciplinar e integrada entre todos os setores e
indivíduos da sociedade (CAVALHEIRO, 2008).

Figura 2. Gráfico indicativo do percentual de alunos dos cursos de Agronomia, Ciências Biológicas e
Zootecnia que consideram que seu curso é responsável por ensinar e/ou praticar Educação Ambiental.
A maioria dos graduandos dos três cursos declarou que consideram satisfatórias as orientações que
recebem em seu curso sobre educação ambiental (figura 3).
Segundo ARAGÃO NETO (2010) o papel da universidade na trajetória socioambiental é indiscutível.
Ela acumula funções de pesquisa, ensino e extensão, sendo responsável pela formação do cidadão-
profissional que vai atuar em vários setores da sociedade.

João Pessoa, outubro de 2011


855

Figura 3. Gráfico indicativo do percentual de alunos dos cursos de Agronomia, Ciências Biológicas e
Zootecnia que consideram satisfatórias as orientações que recebem em seu curso sobre educação
ambiental.

Quando questionados sobre se contribui de alguma forma para introduzir uma prática de educação
ambiental em sua comunidade 15%, 16% e 32% dos entrevistados do curso de Agronomia, Zootecnia e
Ciências Biológicas respectivamente afirmaram que desenvolvem trabalhos de extensão em escolas locais.
Já 20%, 18% e 21,4% dos estudantes do curso de Agronomia, Zootecnia e Ciências Biológicas
respectivamente somente discutem com amigos e parentes sobre a importância da conservação do meio
ambiente. A maioria, cerca de 50%, 41% e 43% dos estudantes do curso de Agronomia, Zootecnia e
Ciências Biológicas respectivamente afirmaram que são responsáveis diariamente com o cuidado com o
ambiente, como forma de incentivar a participação de outras pessoas neste trabalho. E 15%, 25% e 3,6%
respectivamente disseram que não realizam nenhuma atividade com essa finalidade.
A Educação Ambiental deve ultrapassar os muros da universidade, deve ser posta em prática. A
melhor forma é sendo um cidadão não apenas consciente de seu papel socioambiental, mas também
desenvolvendo todos os dias ações valorizando o ambiente. A maioria dos alunos do Centro de Ciências
Agrárias e Ambientais compartilha dessa idéia agindo dessa forma.
A maioria dos graduandos afirmou que ao observar alguém realizando alguma agressão ao meio
ambiente tentam inibir explicando sobre os daquela ação para a sociedade e para o meio ambiente (Figura
4). No total menos de 16% não se importam por acreditar que não é de sua responsabilidade a atitude de
outras pessoas. Existe ainda um pequeno grupo que acredita não haver outra forma de realizar
determinadas ações sem causar o dano ambiental, e desta maneira não é possível preveni-lo.
Considerando que a principal função do trabalho com o tema meio ambiente nos temas
transversais é contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos para decidirem e atuarem na
realidade sócio-ambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da
sociedade, local e global (CAVALHEIRO, 2008), torna-se importante que cada indivíduo seja capaz de
intervir em seu meio social, com objetivo de mudar não só suas as práticas nocivas ao ambiente, mas
também a de outras pessoas.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


856

Figura 4. Gráfico indicativo do percentual de alunos dos cursos de Agronomia, Ciências Biológicas e
Zootecnia que procuram participar na sociedade em que vivem conduzindo posturas defensivas e de
esclarecimento ao observarem algum tipo de agressão ao meio ambiente.

Os alunos também foram questionados quanto à necessidade de estarem preparados para tratar
das questões ambientais. A maioria dos acadêmicos dos cursos de Ciências Biológicas e Agronomia
declararam que precisam estar muito bem preparados para atuarem em projetos relacionados com a
conservação da natureza. Já entre os alunos de Zootecnia menos de 45% afirmaram que precisam estar
bem preparados (Figura 5).
O profissional formado pela Universidade vai desempenhar seu papel específico, e exercer seu
papel de cidadão. Não há dúvidas de que o aprofundamento e a preparação do aluno para o tema trará
uma visão maior na reflexão da Educação Ambiental a ser exercida na vida social e profissional de cada ser
humano (ARAGÃO NETO, 2010). Dessa forma, é de fundamental importância que os discentes estejam bem
preparados para lidarem com os problemas ambientais, principalmente por que seus cursos têm
envolvimento direto com o meio ambiente.
Aproximadamente 25% dos alunos dos três cursos disseram que para estar bem preparados
precisam de um curso complementar, ou uma disciplina especifica dentro de seus cursos. A educação
ambiental esta entre os temas transversais, que deve ser incorporados de maneira interdisciplinar, sendo
discutidos em várias disciplinas. Contudo isso não impede que a E.A. seja trabalhada em uma disciplina
especifica, pois não significa extinguir a transversalidade ou a interdisciplinaridade, mas sim aprimorar os
conhecimentos.

Figura 5. Gráfico indicativo do percentual de alunos dos cursos de Agronomia, Ciências Biológicas e
Zootecnia que afirmaram estar preparados para tratar das questões ambientais.

João Pessoa, outubro de 2011


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Entre os acadêmicos do curso de Ciências Biológicas, que foram entrevistados, 52,5 % consideram
que a E.A. contribui para formação de um ambiente melhor das seguintes formas: formando uma
consciência ecológica, recuperando e formando valores de respeito ao ambiente e a vida; fazendo com que
as pessoas deixem de poluir e assim mantenham o ambiente conservado; desenvolve uma consciência
ambiental mais sustentável que pode ser passada para gerações futuras. 15% dos alunos de Zootecnia e
12,5% dos alunos de Agronomia concordam com essa visão. E a maioria dos alunos de Agronomia (60%) e
Zootecnia (57,5%) considera que a E.A. contribui para formação de um ambiente somente desenvolvendo
uma consciência ambiental mais sustentável que pode ser passada para gerações futuras.
CAVALHEIRO (2008) relata que a Educação Ambiental contempla a dimensão ambiental, mas
também estimula a construção de uma nova ética e comprometimento do cidadão com seu espaço de vida.
Desde modo podemos considerar que os entrevistados possuem um breve conhecimento sobre a
contribuição da E.A. para a formação de um ambiente melhor, pois, sendo o homem parte do ambiente, é
também responsável pelos problemas ambientais. Considerando ainda que a Educação Ambiental é acima
de tudo uma educação política, que prepara o cidadão para a autogestão e para a reivindicação de justiça
social e de ética nas relações humanas e com a natureza (REIGOTA, 1994).
Considerando a rotina acadêmica dos discentes, os mesmos foram questionados se existem
obstáculos a serem superados na sua universidade para melhor utilização da Educação Ambiental. A
maioria dos entrevistados revelou que a falta de participação dos discentes é o principal problema de sua
instituição (Figura 6). O quê revela que muitos têm a consciência, mas não põem em prática, ou seja, não
há uma mudança comportamental, dessa forma não atingem um dos principais objetivos da E.A.

Figura 6. Gráfico indicativo do percentual de alunos dos cursos de Agronomia, Ciências Biológicas e
Zootecnia que consideram que a falta participação e conscientização dos discentes é o principal problema
de sua instituição.

Os alunos do Centro de Ciência Agrárias e Ambientais propuseram algumas alternativas para


melhorar a Educação Ambiental na sua instituição. A maioria acha necessário o desenvolvimento de
atividades como: palestras de conscientização, maior participação dos professores, criação de disciplinas
especificas para tratar do assunto e realização de práticas que envolvam o tema educação ambiental, entre
outras atividades. Revelando que apesar de se considerarem bem preparados acreditam que novas práticas
e aprimoramento de algumas já existentes podem aprofundar o conhecimento sobre o tema.

CONCLUSÃO
Constatamos que os alunos possuem uma boa concepção de E.A. e estão bem preparados para
discutirem sobre este tema. Os estudantes consideram a temática importante no âmbito de sua formação
para que possam ter atitudes participativas e conscientes em defesa do meio ambiente, principalmente por
que consideram que sua área de formação é responsável seja por ensinar e/ou praticar a E.A. Contudo, os
discentes revelaram a necessidade de algumas mudanças em sua instituição com forma de elevar o grau de
conscientização e participação dos discentes na construção de um ambiente mais saudável.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


858

REFERÊNCIAS
ARAGÃO NETO, D. A educação ambiental nas universidades: reflexões sobre o processo ensino-
aprendizagem da educação. Dissertação (Mestrado), UniFOA, Volta Redonda – RJ, 2010, 55p.
BAPTISTA, V. F. A Educação Ambiental e a Interação Meio Ambiente-Ser Humano. Revista Educação
Ambiental em Ação. n. 35, 2011.
BOER, N; SCRIOT, I. Educação Ambiental e Formação Inicial de Professores: Ensino e Concepções de
Estudantes de Pedagogia. Revista Eletrônica do Mestrado de Educação Ambiental. v. 26, 2011.
CAVALHEIRO, J. S. Consciência Ambiental entre Professores e Alunos da Escola Estadual Básica
Dr.Paulo Devanier Lauda. Monografia (Especialização) UFSM, Santa Maria – RS, 2008, 62 p.
COSTA, R. & SCHWANKE, C. Atitudes Relacionadas ao Meio Ambiente: Uma Responsabilidade da
Educação Ambiental. Revista Educação Ambiental em Ação. n. 34, 2010.
JACOBI , P. Educação Ambiental, Cidadania e Sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, n. 118, 2003.
REIGOTA, M. O que é educação ambiental. São Paulo; Brasiliense. Coleção Primeiros Passos; n.1,
1994.
SÉGUIN, E. O direito ambiental: nossa casa planetária. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006.
SILVA, A. G. da. Educação Ambiental: Por Quê? Para Quê? Para Quem? Revista Educação Ambiental
em Ação. n. 29, 2009.

João Pessoa, outubro de 2011


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EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA A FORMAÇÃO DO CIDADÃO


SOCIOAMBIENTALMENTE CRÍTICO
Cristiane Ribeiro do NASCIMENTO
Graduanda em Ecologia – UFPB
cristianeribeiro.ufpb@gmail.com
Anderson Alves dos SANTOS
andergrafia@yahoo.com.br
Professor Mestre em Geografia – UFPB

RESUMO
A sociedade contemporânea vem sendo marcada pela crise socioambiental. Crise esta que provoca
transformações nas relações sociais do homem e deste com o seu meio ambiente, o que exige mudanças
na postura do cidadão frente aos problemas que o afeta cotidianamente. Além do mais, sabe-se que a
educação representa um fator significante na postura do homem. Com isso, essas transformações têm
levado estudiosos a refletirem sobre a responsabilidade e as contribuições da educação para a formação do
cidadão em direção a uma nova postura nesse contexto de crise. Diante disso, este artigo tem por objetivo
central analisar e discutir a cerca do que vem sendo exposto na literatura sobre a contribuição da Educação
Ambiental para a formação do cidadão socioambientalmente crítico. Assim, embora apresente uma revisão
bibliográfica sobre a temática “educação ambiental”, o artigo propõe como referências uma literatura que
defende a educação para o fortalecimento da cidadania socioambiental como caminho para o resgate da
relação entre homem e natureza por meio da formação crítica.
Palavras-chave: Educação. Educação Ambiental Crítica. Cidadania socioambiental.

INTRODUÇÃO
A sociedade contemporânea vem sendo marcada pela crise socioambiental. Crise esta que provoca
transformações nas relações sociais do homem e deste com o seu meio ambiente, o que exige mudanças
na postura do cidadão frente aos problemas que o afeta cotidianamente. Sabe-se que, a educação
representa um fator significante na postura do homem. Com isso, essas transformações têm levado
estudiosos a refletirem sobre a responsabilidade e as contribuições da educação para a formação do
cidadão em direção a uma nova postura nesse contexto de crise. É importante perceber como a educação
em suas principais vertentes, informal, formal e não-formal, interpenetram-se no sentido de, embora suas
estratégias sejam diferentes, complementarem-se para a construção – formação do homem no sentido de
desenvolver uma consciência crítica para as questões sociais e ambientais.
Acerca das questões ambientais, Jardim (2009, p.122) afirma que:
“começaram a surgir devido a um conjunto de mudanças ocorridas pelo mundo. Principalmente,
sob o argumento da industrialização acelerada que teve como consequência, a necessidade de apropriação
cada vez maior e mais rápida dos recursos naturais e humanos, determinando amplas e profundas
mudanças nas relações sociais e econômicas.”
Com efeito, sabendo-se que o homem interage em diferentes espaços sociais e culturais, a
construção da consciência crítica para as questões socioambientais se dá no desenvolvimento de práticas
de educação ambiental não apenas nas esferas especializadas na questão ambiental, mas, principalmente,
nos âmbitos políticos, sociais e culturais.
Assim sendo, as práticas de educação ambiental devem influenciar novas posturas ambientais,
podendo ter suas perspectivas de futuro influenciadas pela Educação Ambiental Crítica, que procura
libertar e sensibilizar o indivíduo sem deixar de considerar a sociedade em que está incluído. Esta Educação
Ambiental Crítica, em sua proposta de ação pedagógica, compreende diferentes atores sociais na
construção de um conhecimento crítico que seja fundamentado na troca dialógica de cada cidadão como
ator socioambiental.
Estas considerações são a motivação para o estudo “Educação Ambiental para formação do cidadão
socioambientalmente crítico”, cujo objetivo principal é analisar e discutir a cerca do que vem sendo
exposto na literatura sobre as contribuições que a Educação Ambiental pode oferecer para a formação

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


860

socioambiental e crítica do homem. Assim, além de apresentar uma revisão bibliográfica sobre a temática
“educação ambiental”, o artigo propõe como referências uma literatura que defende a educação para o
fortalecimento da cidadania socioambiental como caminho para o resgate da relação entre homem e
natureza por meio da formação crítica.

EDUCAÇÃO: INFORMAL, FORMAL OU NÃO-FORMAL?


A educação é uma ação social em constante construção. Na espécie humana, educar se configura
como um longo e complexo processo, pois, este se efetua do envolvimento do indivíduo em uma sociedade
e dos comportamentos exigidos no seu cotidiano. Sendo assim, a educação quando pensada dessa maneira
constitui um fenômeno natural resultante das relações sociais que podem ser construídas no convívio
familiar, nas relações de amizade, no trabalho, entre outros. Segundo Libâneo (2005), esse fenômeno
caracteriza-se como um processo de educação informal que, diferentemente da educação formal e da
educação não-formal, não se constitui necessariamente por meio de um procedimento metodológico,
organizado, e planejado intencionalmente, com objetivos claros e específicos.
Sobre educação formal e educação não-formal, Libâneo (2005) afirma que a educação formal está
apoiada em uma metodologia organizada, sistematizada e planejada intencionalmente, que ultrapassa o
espaço escolar, ao mesmo tempo em que afirma a possibilidade da realização da educação formal em
espaços não escolares, a exemplo do espaço sindical e da educação profissional, desde que nestas estejam
incluídas a intencionalidade, a sistematicidade e a pré-estruturação, atributos que caracterizam um
trabalho pedagógico didático. Sendo assim, a educação não-formal se diferencia daquela pelo baixo grau de
estruturação e sistematização. Embora a educação não-formal tenha suas intencionalidades, as relações
pedagógicas não são formalizadas.
Ainda segundo Libâneo (2005, p. 87), a educação intencional surgiu no decorrer da história devido a
“complexificação da vida social e cultural, da modernização das instituições, do progresso científico, de
cada vez mais, maior número de pessoas participarem das decisões que envolvem a coletividade.”
UNIVERSO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
No Brasil a educação com o seu adjetivo ambiental ganhou dimensões públicas a partir da década
de 1980, mais especificamente, com a Constituição Federal de 1988, baseando-se nos parâmetros
conservadores de uma educação que via na mudança de comportamentos individuais a solução para os
problemas ambientais, sem que houvesse a reflexão a respeito dos parâmetros sociais da crise ambiental.
Estes parâmetros sociais também são levados em consideração, em outro momento, com o surgimento da
Educação Ambiental Crítica. Segundo (JARDIM, 2009, p. 125)
“é possível que o surgimento desse modelo de educação ambiental, que faz uma reflexão sobre o
funcionamento dos sistemas sociais, deva-se à reflexão das ciências humanas e sociais em relação à
importância da educação ambiental”.
Atualmente, os projetos pedagógicos que objetivam a sensibilização, mobilização e pesquisa para
resolver as questões ambientais trabalham a educação ambiental por meio de diferentes fundamentos e
práticas, estas, sendo influenciadas por diferentes correntes pedagógicas que constituem a história da
educação.
No Brasil a tendência pedagógica liberal tradicional tem influenciado a cultura escolar ao longo dos
anos. Libâneo, (1993, apud TESSORI; SANTANA, 2010, p. 343). Segundo essa tendência ou corrente
pedagógica, cabe à escola preparar o aluno para assumir uma posição na sociedade. Nesse processo, as
diferenças culturais e sociais não são consideradas e os métodos educativos são homogeneizados. Logo, a
educação ambiental se assemelha a essa corrente ideológica, quando adota em suas práticas métodos que
visam apenas à transmissão do conhecimento do educador para o educando sem a reflexão do contexto
social ao qual o educando está inserido.
A educação ambiental pode ser submetida a métodos tradicionais, quando propõe metodologias
que levam a reprodução do paradigma vigente nas sociedades de consumo, onde o cidadão crítico é
confundido com o “consumidor mais-que-perfeito” Santos (1987), que adota hábitos como o de “consumo
ecologicamente correto”, posto como medida de mitigação das questões ambientais, mesmo que esta seja
inacessível financeiramente a grande parte da população. Dando continuidade ao quadro de desigualdade
social e a problemática ambiental presentes no mundo. Pois, segundo Portilho (2005, p. 117), a longo

João Pessoa, outubro de 2011


861

prazo, os efeitos dos níveis de consumo cada vez mais altos neutralizam as vitórias obtidas com a adoção
de tecnologias mais eficientes e produtos verdes.
Entretanto, não se pretende aqui defender um único tipo de educação ambiental, mas, o que se
acredita como prática de uma educação ambiental consciente que possibilita ao educando e ao educador o
diálogo construtor do conhecimento crítico no universo das educações ambientais.
As diferentes adjetivações que são dadas à educação ambiental na literatura científica, como
Educação Ambiental para o desenvolvimento sustentável, Educação Ambiental para cidadania, Educação
Ambiental transformadora, Educação Ambiental para preservação, entre outras, trazem consigo diferentes
fundamentações, resultando dessa forma em propostas com características próprias, que na maioria das
vezes irão se caracterizar como tendências pedagógicas que influenciarão as práticas em Educação
Ambiental.
Nessa perspectiva, a própria educação ambiental pode ser influenciada por marcos teóricos muito
bem delimitados e, nesse contexto, atividades de educação ambiental, que são desenvolvidas com o
objetivo de promover a reaproximação do homem com a natureza por meio da sensibilização sem a
reflexão social e política de seus condicionantes históricos, poderão absorver a influência de tendências
pedagógicas que visam à reprodução das condições reais que condiciona a sociedade capitalista. Assim,
podendo as propostas de sensibilização por meio do contato do homem com a natureza serem
insuficientes para que se assuma uma visão crítica em relação a uma posição dentro do contexto social que
fundamenta a percepção da relação homem e natureza.
A construção do conhecimento crítico só pode ser considerada quando as diferentes educações
ambientais atenderem a realidade social a qual o individuo está envolvido, isso faz sentido a partir da
consideração do sistema capitalista como fenômeno capaz de modificar a diversidade cultural existente no
mundo. Desse modo, segundo Guimarães (2004, p. 32) a proposta de uma Educação Ambiental Crítica
voltada para um público específico, como exemplo os projetos voltados para a sensibilização de crianças,
apostando dessa forma na construção de uma sociedade mais consciente no futuro não traz a
transformação desejada.
Porém a proposta de uma ação pedagógica em Educação Ambiental Crítica para dialogar com os
atores sociais na perspectiva de criar um novo paradigma que oriente relações sociais baseadas na
solidariedade, sendo nesse âmbito, metodologicamente viável o desenvolvimento de projetos pedagógicos
que se voltem para além das salas de aula, “desde que os educadores que o realizam, conquistem em seu
cotidiano à práxis de um ambiente educativo de caráter crítico” Guimarães (2004, p. 32). Desde que a
história e as experiências de vida dos cidadãos sejam consideradas como fator fundamental para a
elaboração da prática pedagógica, sem que essa seja realizada apenas através da participação direta na
vida social, o que segundo Libâneo (2005), se constitui como processo natural, sem que haja aí um processo
educacional com intencionalidades.
CIDADANIA PELA LENTE DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA
A Educação Ambiental Crítica dialoga com a vida como possibilidade. Logo, viver a vida
como possibilidade, segundo SANTOS (1987) exige do cidadão saber que sua cidadania pode ser ampliada
através da luta por justiça social. “Portanto, ao se realizar práticas educacionais nesse âmbito, o educador
deve refletir se as atividades que propõe, levará á reprodução ou à transformação das condições atuais”
Layrargues (2006, apud TESSORI; SANTANA, 2010, p. 350). Tendo em vista que, diante da problemática
ambiental, o educador tem o papel de mediador na construção de espaços participativos por meio da
motivação e da consciência socioambiental para o envolvimento dos cidadãos na co-participação da gestão
ambiental.
Conforme (SANTOS, 1987, p.79), “sozinhos ficamos livres, mas não podemos exercitar a nossa
liberdade”. Dessa forma, a Educação Ambiental Crítica tem como um de seus desafios a orientação de um
novo modelo cívico baseado na solidariedade.
Levando-se em consideração que o homem se encontra envolvido em diferentes contextos
culturais e sociais, por vezes intermediado por valores regidos pela lógica da produção e do consumo, ao
falarmos em Educação Ambiental Crítica, não defendemos aqui a criação de uma única forma de educação
ambiental, mas pretendemos contribuir para o debate socioambiental procurando aguçar a criticidade no
desenvolver de práticas de educação ambiental, envolvendo a sensibilização e o diálogo não só no âmbito
ecológico, mas também político, social e cultural. Pois, Segundo Carvalho (2004, p. 19), o projeto político-

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


862

pedagógico de uma Educação Ambiental Crítica seria o de transformação social baseada na mudança de
valores e atitudes, contribuindo para a formação de um cidadão ecológico orientado pelas sensibilidades
solidárias com o meio social e ambiental.
Logo, as práticas de educação ambiental desde suas matrizes políticas e pedagógicas devem
influenciar novas posturas ambientais e, sendo o homem um ser que historicamente se constitui, pode ter
suas perspectivas de futuro influenciadas pela Educação Ambiental Crítica, que procura libertar o indivíduo
sem deixar de considerar a sociedade em que está incluído. Procurando mostrar ao indivíduo os limites de
sua coexistência com a natureza, tornado mais visível a influência de sua atuação individual e de sua
postura enquanto atua como sociedade.
Ao falarmos em solidariedade ou criação de um novo modelo cívico, devemos atentar para a
cultura onde o indivíduo encontra-se envolvido. Que muitas vezes está submergida na hegemonia de uma
informação manipulada. Onde a banalização das relações humanas se constitui como regra, em uma
competição por status no quadro de uma sociedade desigual.
Diante das inovações tecnológicas os meios de comunicação em destaque, os audiovisuais,
deveriam propiciar o conhecimento do mundo, das partes que o formam e dos homens que o habitam com
suas características intrínsecas.
No entanto, o que testemunhamos na maioria das vezes, é a divulgação de informações
sistematizadas por uma publicidade que utiliza o próprio homem como matéria-prima de forma
insustentável, subestimando as diversidades culturais a fim de garantir a homogeneização de atitudes que
garantam a permanência das raízes capitalistas.
Por esses e outros motivos é de fato necessário que o educador ambiental esteja convencido da
importância de uma prática de educação ambiental não só envolvida com o caráter conservacionista, mas
principalmente com o homem como ser político, cultural e socioambiental, que se encontra envolvido pela
“cultura do capitalismo” que rege a forma de organização da própria sociedade. Devendo este ter suas
percepções de relação homem natureza influenciadas por uma leitura crítica de situações vividas no seu
próprio cotidiano, como por exemplo, a percepção de que o homem também é constituinte da natureza,
no entanto esse se distancia da mesma quando é acometido pelas interações sociais que segundo Portilho
(2005) “são mediadas pelo ato de consumir”, levando a perda da dignidade nas relações humanas por meio
de uma competitividade alienante onde a própria qualidade de vida passa a ser medida entre outros
aspectos do valor atribuído ao poder de compra.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Levando-se em consideração que as experiências vividas pelas pessoas constituem uma das fontes
mais significantes na produção do saber. Pode-se concluir que a Educação Ambiental Crítica deve
considerar dentro de suas práticas pedagógicas a realidade vivida por cada indivíduo, propondo a
construção de um conhecimento crítico que seja fundamentado na troca dialógica de cada cidadão como
ator socioambiental. Nesse aspecto é que a Educação Ambiental Crítica se diferencia da educação
ambiental conservadora, em que muitas vezes essa vai se constituir naquilo que Paulo Freire (1996)
denomina como “educação bancária”, onde o indivíduo só recebe o conhecimento sem que seja dada a ele
a oportunidade de participação no processo de construção do mesmo.
A Educação Ambiental Crítica tem o papel de desmistificar a idéia de que a crise que vivenciamos
hoje é de caráter apenas ambiental mostrando que não basta apenas adaptar o sistema de produção a
métodos tecnológicos mais eficazes que agridam menos o meio ambiente, mas do que isso, a educação
ambiental tem como papel discutir a necessidade de dialogar sobre a crise que vivenciamos, incluindo o
homem não só como um espectador de um discurso moralista e disciplinador.
Por esse aspecto o homem deve ser considerado na construção de um diálogo que busca entre
outras coisas a recuperação da alta estima e o cuidado pela sua própria vida e pela vida do seu semelhante,
cuidados esses que muitas vezes estão sendo dizimados pelas artimanhas do sistema capitalista.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Carvalho, Isabel Cristina de Moura. Educação Ambiental Crítica: nomes e endereçamentos da
educação. IN: LAYRARGUES, P.P (coord.) Identidades da Educação Ambiental Brasileira, Diretoria de

João Pessoa, outubro de 2011


863

educação Ambiental; Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2004. Disponível em: <
<http://scholar.google.com.br/> Acesso em: 10/12/2010ogia
FREIRE, P.; Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo,
Paz e Terra, 1996.
GUIMARÃES, M. Educação Ambiental Crítica. IN: LAYRARGUES, P.P (coord.) Identidades da
Educação Ambiental Brasileira, Diretoria de educação Ambiental; Brasília: Ministério do Meio
Ambiente, 2004. Disponível em: < <http://scholar.google.com.br/> Acesso em: 10/12/2010
JARIM, Daniele Barros. Educação Ambiental: Trajetórias, Fundamentos e Identidades. Revista
Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, Rio Grande do Sul, 2009. Disponível em:
http://www.remea.furg.br/. Acessado em: 20/02/2011.
LIBÂNEO, J.C.; As modalidades de educação: informal, não-formal, formal. In: Pedagogia e
Pedagogos, para quê? São Paulo, Cortez, 2005. P. 86-92
PORTILHO, Fátima. Promessas e armadilhas das propostas do Consumo Verde. In: Sustentabilidade
ambiental, consumo e Cidadania. São Paulo, Cortez, 2005. P.110-132
SANTOS, Milton. Do Homem Solitário ao Homem solidário. In: O espaço do cidadão. São Paulo.
Nobel, 1987.p.77-78
TOROSSI, J.M; SANTANA, C. L. Educação Ambiental no Brasil: Fontes Epistemológicas e tendências
pedagógicas. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, Rio Grande do Sul, 2009. Disponível
em: http://www.remea.furg.br/. Acessado em: 16/01/2011.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


864

DIAGNÓSTICO DO PROJETO SALA VERDE EM INSTITUIÇÕES PÚBLICAS NO


RIO GRANDE DO NORTE - RN
Cristina de Souza BISPO - Campus Universitário, 1524, Lagoa Nova, CEP 59072-970, Natal-RN. E-mail:
cristinasouzabispo@yahoo.com.br. Estudante.
Kelly Stefanny Diniz de Lima - Rua Tenente Aurélio, 318, Centro, CEP 59140-260, Parnamirim-RN. Email:
stefannydiniz@yahoo.com.br. Profissional.

RESUMO
O presente artigo consiste em um diagnóstico acerca do Projeto Sala Verde, do Ministério do Meio
Ambiente – MMA, desenvolvido no Estado do Rio Grande do Norte, entre os anos de 2008 e 2009, com a
finalidade de apresentar a situação do projeto no estado, assim como discutir a importância da prática da
educação ambiental como ferramenta para promover a sustentabilidade na plenitude de suas dimensões.
O objetivo central do projeto é desenvolver um espaço na comunidade, em instituições públicas, para
discussões acerca das temáticas socioambientais, servindo como canal de conhecimento para a população,
contribuindo, consequentemente, para o processo de sensibilização e formação de cidadãos
ambientalmente conscientes; bem como fortalecer Programas e/ou Projetos já existentes. A metodologia
utilizada para a realização do referido diagnóstico baseou-se principalmente no contato com os
responsáveis pelas Salas Verdes, reconhecimento da infra-estrutura dos locais de desenvolvimento do
projeto por meio de visitas, elaboração e aplicação de questionários direcionados aos coordenadores do
projeto; e análise gráfica dos dados coletados. A partir da tabulação dos dados foi possível observar que,
apesar das dificuldades relatadas, a maior parte das instituições declarou que as atividades desenvolvidas
contribuíram para a aprendizagem dos atores sociais envolvidos; expressando assim, um profundo
interesse na continuidade do Projeto.
Palavras-chave: Sala Verde. Educação ambiental. Sensibilização.

1. INTRODUÇÃO
Desde os primórdios da civilização, o Homem faz uso dos recursos disponibilizados pela natureza de
maneira indiscriminada, sem refletir acerca das consequências que esse comportamento pode
proporcionar (BISPO, 2009). “A noção de que a natureza é um recurso explorável e consumível está tão
profundamente enraizada na cultura industrial moderna que talvez seja difícil imaginar uma relação
alternativa entre os seres humanos e o equilíbrio da comunidade da Terra” (HUTCHISON, 2000, p. 32).
No entanto, nas três últimas décadas, a sociedade passou a questionar esse “tipo de
desenvolvimento econômico que a espécie humana adotou como verdade absoluta, inquestionável,
imutável e de prevalência sobre as demais formas de vida e o conjunto do planeta Terra” (DINIZ, 2006, p.
19); surgindo assim, a necessidade de “um saber que leve em consideração as diferenças, principalmente
culturais, econômicas e ideológicas, no sentido de se produzir novas significações sociais, novas formas de
subjetividade e de posicionamento diante do mundo” (MORAES; SHUVARTZ; PARANHOS, 2008, p. 66);
saber esse que para Lopes; Pederneiras (2005) é veiculado por uma poderosa ferramenta chamada de
educação ambiental.
Segundo Brugger (2004) a educação ambiental no Brasil ainda é um tema bastante novo, não tendo
uma adesão desejável pela sociedade, já que muitos cidadãos não foram sensibilizados nesse sentido. Mas,
é na educação ambiental que encontramos,
uma possibilidade de motivar as pessoas a transformar a realidade ambiental na defesa da qualidade
de vida, onde relacionamos cidadania e educação ambiental como nova forma do homem relacionar-se com
o mundo, com a natureza e com o próprio homem, possibilitando a participação para a construção de uma
sociedade sustentável (LOPES; PEDERNEIRAS, 2005, p. 5295).

Todas as ações que busquem equilibrar o bem-estar da humanidade com a conservação e a


preservação dos recursos naturais, aliados a técnicas e tecnologias que permitam o desenvolvimento social
e econômico, e garantam condições favoráveis às gerações futuras, estão intimamente ligadas a programas
e projetos de educação ambiental (TEIXEIRA, 2008). Estes são de imprescindível implantação desde os

João Pessoa, outubro de 2011


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níveis escolares mais elementares; fazendo com que os estudantes, valorizem o ambiente no qual vivem,
extrapolando para toda a comunidade, pois para Sato (2004, p. 58) “as questões ambientais são tratadas de
forma mais adequada quando envolvem a participação de todos os cidadãos”.
Nesse contexto, é importante utilizarmos de forma intencional e consciente os espaços e estruturas
existentes em nossa sociedade, como as instituições de ensino, com potencial para a formação de
educadores ambientais capazes de irradiar pró-atividade e comprometimento (LEMOS; MARANHÃO, 2008).
Para que a realidade de degradação do meio ambiente vista atualmente seja modificada, são
necessárias ações advindas do poder público, a exemplo disso pode-se citar o Projeto Sala Verde, uma
iniciativa do governo federal, que funciona como instrumento para a promoção da educação ambiental em
instituições públicas e/ou privadas por meio da sensibilização dos atores sociais da comunidade.
Diante disso, o presente trabalho tem como objetivos apresentar um diagnóstico do Projeto Sala
Verde desenvolvido em instituições públicas, municipais e estaduais, localizadas no Estado do Rio Grande
do Norte - RN, entre os anos de 2008 e 2009; além de discorrer acerca da importância de projetos dessa
vertente como ferramenta da educação ambiental, com vistas à sustentabilidade.

2. EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Desde as primeiras civilizações o Homem vem degradando, ou seja, utilizando-se de forma
insustentável dos recursos naturais disponíveis, sempre na busca do acúmulo de riquezas e obtenção do
poder (BISPO, 2007). A educação ambiental surgiu para responder aos sinais de falência de todo o modo de
produção capitalista, “o qual já não sustenta a promessa de felicidade, afluência, progresso e
desenvolvimento” (CARVALHO, 2004, p. 154).
É nessa conjuntura que a educação ambiental, a qual segundo Loureiro, Layrargues e Castro (2006,
p. 88) “está completando duas décadas de existência, chegando, portanto, à sua maioridade”, passou a ter
uma enorme importância, sendo tema de inúmeros eventos de projeção internacional.
O conceito de educação ambiental varia de interpretações, de acordo com cada contexto,
conforme a influência e vivência de cada um. Para muitos, a educação ambiental restringe-se em trabalhar
assuntos relacionados à natureza como lixo, preservação, paisagens naturais, animais, entre outros. Dentro
deste enfoque, a educação ambiental assume um caráter basicamente naturalista. Atualmente, ela tornou-
se mais realista, embasada na busca de um equilíbrio entre o homem e o ambiente, não só na preservação
dos recursos naturais da Terra, mas também na formação de uma sociedade ambientalmente sustentável
(BISPO, 2007).
De acordo com lei 9.795/99, que instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental - PNEA, a
educação ambiental corresponde aos
processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,
habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do
povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999, p.01).

Ainda segundo a referida lei, os objetivos mais importantes da educação ambiental são a garantia
de democratização das informações ambientais, já que a sociedade muitas vezes erra pela falta de
conhecimento sobre determinado assunto; o incentivo à participação individual e coletiva na preservação
do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor
inseparável do exercício da cidadania; e a tentativa de sensibilização da sociedade no que diz respeito ao
modo de utilização dos recursos oferecidos pela natureza, criando assim um novo modelo de
comportamento.
Além disso, a PNEA distingue ainda duas formas de atuação da educação ambiental: a Formal, com
o objetivo de estimular a abordagem interdisciplinar dos conteúdos socioambientais, trabalhando os
mesmos de forma transversal ao currículo básico das instituições de ensino públicas e privadas; e a Não-
Formal, direcionada à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e
participação na defesa da qualidade do meio ambiente, por intermédio dos meios de comunicação de
massa, em espaços nobres, de programas e campanhas educativas, e a participação de empresas públicas e
privadas no desenvolvimento de programas de educação ambiental em parceria com a escola, a
universidade e as organizações não-governamentais.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


866

Outros conceitos foram estabelecidos, dentre os mais conhecidos estão o da Conferência Sub-
regional de Educação Ambiental para a Educação Secundária (1976); o da Conferência Intergovernamental
de Tbilisi (1977); e o do Tratado de Educação Ambiental para as Sociedades Sustentáveis e
Responsabilidade Global (1992). Entretanto, apesar das diversas definições existentes, é possível observar
de uma forma geral,
essa educação ambiental vincula-se à prática social, se contextualiza na realidade socioambiental,
não podendo ficar restrita a mera transmissão de conhecimento ou voltada simplesmente para a mudança de
comportamentos individuais, esperando que a soma de mudanças individuais resulte na transformação
“automática” da sociedade (SATO; SANTOS, 2006, p. 192).

Assim, a educação ambiental deve ser um processo de aprendizagem crítico, criativo e político, com
a preocupação de transmitir conhecimentos a partir da discussão e avaliação crítica dos problemas
enfrentados pela sociedade, buscando-se sempre alternativas que visem à sustentabilidade em suas mais
variadas dimensões, como preconizado por Sachs (1998).

2.1 Projeto Sala Verde


O projeto Sala Verde é uma iniciativa do Ministério do Meio Ambiente - MMA desenvolvida desde
2000, passando por uma reformulação em 2004, quando incluiu o caráter Político Pedagógico. As salas
verdes são espaços interativos de informação, educação, formação e ação socioambiental, situados em
instituições públicas ou privadas, e dedicados ao delineamento e desenvolvimento de atividades de caráter
educacional voltadas às temáticas socioambientais, e que tem como ferramenta a divulgação e a difusão de
publicações sobre temas ambientais, culturais, sociais, informacionais, pesquisa, comunicação e articulação
(MMA, 2009).
Os principais objetivos do Projeto, segundo o MMA (2009), são: constituir uma sala com material
didático para subsidiar ações de interesse social e ambiental; auxiliar a formação de uma consciência
ambiental coletiva, através de encontros para a discussão de temas relativos ao meio ambiente; atuar na
consolidação e fortalecimento de programas ambientais e iniciativas já implantadas; e valorizar o exercício
da cidadania em relação ao meio ambiente, colaborando para assegurar o direito a uma melhoria na
qualidade de vida da comunidade.
A Sala Verde deve ainda, conforme o MMA (2009), cumprir um papel dinamizador, numa
perspectiva articuladora e integradora, viabilizando iniciativas que propiciem uma efetiva participação dos
diversos segmentos da sociedade na gestão ambiental, com atuação permeada por ações que caminhem
em direção à sustentabilidade.
Atualmente a Rede das Salas Verdes conta com 390 espaços, em todas as regiões do país, e a
integração entre elas colabora para gerar uma identidade que possibilita uma troca de saberes,
conhecimentos e informações, além das inúmeras possibilidades de articulação, que constituem uma
experiência emancipatória, que além de contribuir para democratizar o acesso à informação
socioambiental, dialoga com outras ações e públicos, favorecendo a formação continuada e a participação
voltada à gestão ambiental (MMA, 2009).
Outros benefícios de participar da Rede das salas verdes, de acordo com o Ministério do Meio
Ambiente (2009), é a chancela institucional que possibilita que cada sala e toda a Rede possam ser
reconhecidos como parceiros no desenvolvimento e implementação das políticas públicas do MMA para a
educação ambiental, pautadas nos princípios da PNEA e do ProNEA. Além disso, as salas recebem materiais
pedagógicos produzidos pelo Ministério e suas vinculadas, ou cedidos por parceiros que colaboram com o
Projeto, numa dinâmica contínua de captação e distribuição orientada, que pode envolver toda a Rede ou
ser direcionada a determinado recorte territorial, tema ou público; e contam ainda com o apoio técnico
oferecido pelo Departamento de Educação Ambiental do Ministério ou articulado por este.
Em 2009 e 2010 a proposta do MMA em parceria com a Rede de Salas Verdes foi o fortalecimento
do Projeto a partir da celebração de parcerias que contemplem entre seus objetivos, não apenas a
ampliação da Rede, mas principalmente seu fortalecimento e sua formação continuada em diversos
contextos de atuação. Além da conexão com outras ações do Departamento de Educação Ambiental, da
Secretaria de Articulação Institucional – SAIC e de outras Secretarias do Ministério, visando a consolidação
desses espaços (MMA, 2009).

João Pessoa, outubro de 2011


867

3. METODOLOGIA
A pesquisa foco do estudo em questão caracteriza-se como descritiva/exploratória (VERGARA,
2006; GIL, 1991), na qual buscou-se discutir a importância da educação ambiental, descrever de maneira
geral o Projeto Sala Verde, bem como investigar a realidade das Salas Verdes do Rio Grande do Norte, para
a obtenção de um diagnóstico. Os procedimentos metodológicos utilizados para atingir os objetivos
traçados foram: um levantamento bibliográfico junto à literatura (livros, periódicos, bases de dados on-line,
entre outras) relacionada ao tema em discussão, como subsídios para a elaboração do referencial teórico;
aplicação de questionários junto às Salas Verdes do RN, como instrumento de coleta de dados devido
principalmente ao seu baixo custo de aplicação e caráter anônimo (MALUFE E GATTI, 2005), composto por
perguntas abertas e fechadas (RICHARDSON, 2008); tabulação e análise dos dados obtidos durante a
realização dessa pesquisa, os quais serão apresentados e disutidos no item seguinte.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Com base nas informações disponibilizadas pelo Ministério do Meio Ambiente (2009), existem 390
Salas Verdes distribuídas pelas cinco regiões do país. Cerca de 10% encontram-se na região norte, 12% no
centro-oeste, 16% na região sul, estando em maior número nas regiões sudeste (36%) e nordeste (26%).
Nesta, a maior parte (35%) das Salas Verdes está localizada na Bahia, estando o Rio Grande do Norte,
estado foco do estudo em questão, em quarto lugar, com pouco mais de 10% das Salas Verdes do nordeste.
No Rio Grande do Norte existem 9 (nove) Salas Verdes, coordenadas por instituições públicas, das
quais 5 (cinco) localizam-se na capital e 4 (quatro) no interior do estado. Entre as localizadas na capital
Natal estão as Salas Verdes “Móvel” sob a responsabilidade do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e
Meio Ambiente do Rio Grande do Norte - IDEMA; a “Natal” coordenada pela Secretaria de Meio Ambiente
e Urbanismo de Natal - SEMURB; a “UFRN” dirigida pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte -
UFRN; a “Aprendendo a preservar” de responsabilidade do Centro de Apoio Operacional do Ministério
Público do RN; e a “Chico Mendes” coordenada pela Agência Reguladora dos Serviços de Saneamento
Básico do Município do Natal - ARSBAN.
As outras 4 (quatro), situadas no interior do estado, são as Sala Verdes “Barriguda” sob a
coordenação da Secretaria Municipal de Cultura, Meio Ambiente e Cidadania do município de Alexandria; a
“Prefeito José Dantas de Araújo” dirigida pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Agricultura e
Abastecimento da cidade de Currais Novos; a “Verde que te quero verde” coordenada pelo Centro de
Estudos e Pesquisa de Educação Ambiental Marília - CEPEAM, no município de Pau dos Ferros; e a “Meio
ambiente por inteiro” implantada pela Gerência Executiva da Gestão Ambiental da cidade de Mossoró.
Com base na metodologia descrita no presente artigo foi possível realizar um diagnóstico das Salas
Verdes do RN. A coleta de dados baseou-se principalmente em visitas aos locais de implantação do Projeto
para reconhecimento da infra-estrutura, seguidas da aplicação de questionários que possibilitaram maior
aprofundamento das informações quanto às atividades desenvolvidas, público atendido, dificuldades
enfrentadas e principais resultados alcançados. No entanto, é importante ressaltar que das nove Salas
Verdes existentes no estado, apenas sete (“Móvel”; “Natal”; “UFRN”; “Aprendendo a preservar”; “Chico
Mendes; “Barriguda”; e “Prefeito José Dantas de Araújo”) se disponibilizaram a repassar as informações
solicitadas.
Para uma melhor visualização do contexto das Salas Verdes, os dados coletados a partir da
aplicação dos questionários foram tabulados no formato de gráficos, os quais serão analisados a seguir. Ao
observar o gráfico 1, percebe-se que das sete Salas Verdes investigadas, cinco localizam-se na capital
(Natal) do Estado e duas em cidades do interior. A maior parte delas foi implantada entre os anos de 2005 e
2007, com exceção de uma delas iniciada em 2008. Além disso, cinco apresentam-se no formato “fixo”, a
qual possui atuação restrita à comunidade do entorno de seu espaço físico; uma caracteriza-se como
“móvel” ou “itinerante”, aquela que ultrapassa os limites de seu espaço físico, desenvolvendo atividades
em outros municípios do estado; e uma apresenta-se em dois formatos (móvel/fixa).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


868

Gráfico 1 - Distribuição das Salas Verdes no Rio Grande do Norte.

No que diz respeito aos objetivos das Salas Verdes do Rio Grande do Norte (gráfico 2), percebe-se
que a maioria delas visa oferecer para a população um espaço de reflexão e discussão das questões
socioambientais, bem como promover uma mudança de postura da sociedade para com o meio ambiente,
por meio da sensibilização; enquanto as outras objetivam apenas disponibilizar à população informações
referentes às temáticas socioambientais. A partir desses dados pode-se constatar que a maior parte visa ser
mais do que um meio difusor de informações, mas sim assumir o papel de instrumento para a prática da
educação ambiental, promovendo a sensibilização, formando multiplicadores que possam expandir o
conhecimento adquirido para além das fronteiras fisicas das salas verdes; contribuindo assim, para o
processo de consientização e consequentemente de mudança do modelo de desenvolvimento vigente na
sociedade.

Gráfico 2 - Objetivos das Salas Verdes do Rio Grande do Norte.

Quanto ao público atendido, a maior parte trabalha com a população do entorno, instituições
municipais, estaduais, federais, particulares, sejam elas escolas ou órgãos públicos. Com relação às ações
de sensibilização socioambiental desenvolvidas pelas Salas Verdes do Rio Grande do Norte (gráfico 3), a
maioria realiza oficinas de reutilização de materiais, palestras, aulas de campo e passeios, sempre
direcionados as reflexões a cerca do contexto da sociedade; e apresentam como principais parceiros as
instituições municipais, já que geralmente funcionam em escolas ou secretarias municipais de educação ou

João Pessoa, outubro de 2011


869

meio ambiente, concluindo-se que as instituições que buscam o Projeto junto ao Ministério do Meio
Ambiente estão inseridas no âmbito educacional, fato bastante importante pois a educação é a responsável
pela formação dos futuros cidadãos, os quais são capazes de contribuir para a mudança do paradigma da
sociedade atual.

Gráfico 3 - Atividades desenvolvidas pelas Salas Verdes do Rio Grande do Norte.

No tocante às dificuldades enfrentadas antes, durante e após a implantação das Salas Verdes
(gráfico 4) foram elencadas pelos responsáveis principalmente as questões acerca da infra-estrutura e
recursos humanos, como a falta de equipamentos, material didático e funcionários dispostos à desenvolver
as atividades planejadas; outro problema bastante citada foi o desinteresse por parte dos professores em
trabalhar as temáticas socioambientais de forma transdisciplinar, o que segundo os responsáveis pelas
Salas Verdes, dificultou sobremaneira o êxito do Projeto; bem como questões de ordem financeira (falta de
recursos) para a execução das atividades a contento.
Como resultados mais expressivos alcançados ao longo da execução do Projeto (gráfico 5), foram
destacados uma leve mudança de postura dos atores sociais envolvidos; interesse dos alunos pelas
temáticas trabalhadas, observando-se que as ações de sensibilização foram significativas; as parcerias
estabelecidas também destacaram-se como aspecto positivo; e a sensibilização da comunidade do entorno
atendida ao longo do desenvolvimento do Projeto. Além disso, é importante explicitar que todos os
responsáveis pelas Salas Verdes expressaram o desejo de dar continuidade ao Projeto, buscando o
aprimoramento das atividades, consolidação/ampliação das parcerias e consequentemente do processo de
sensibilização iniciado.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


870

Gráfico 4 - Dificuldades enfrentadas pelas Salas Verdes do Rio Grande do Norte.

A partir da análise dos dados apresentados até o presente momento, pode-se inferir que o trabalho
desenvolvido pelas Salas Verdes do RN foi bastante significativo, mesmo que na maioria das vezes pautado
em ações pontuais, como datas comemorativas; mas sempre no sentido de promover a sensibilização
socioambiental e contribuir para uma possível transformação da visão dos alunos, professores,
funcionários, comunidade do entorno, ou seja, de todos os atores sociais envolvidos nesse processo. No
entanto, tais ações devem ser aprimoradas, de modo a se tornarem mais efetivas, pois de acordo com
Genebaldo Freire Dias trabalhos pontuais são “um grande desvio da educação ambiental, pois se
implantarmos só a coleta seletiva, a despoluição e hortas no mundo, nada mudará. Temos de fazer muito
mais” (CZAPSKI, 2009)48.
Atualmente o Ministério do Meio Ambiente está iniciando um trabalho de reformulação do Projeto,
o qual inclui o recadastramento de todas as Salas Verdes do Brasil, para fins de controle, e análise criteriosa
do processo de renovação da parceria entre o MMA e instituições proponentes, pois a vigência do Projeto é
de 3 (três) anos para cada instituição; além do estudo das solicitações de implantação de futuras salas
(MMA, 2011).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A questão ambiental deixou de ser uma preocupação restrita a profissionais envolvidos com
problemas dessa ordem. A referida temática transcende o envolvimento apenas de biólogos, geógrafos ou
ecologistas, mas estende-se a todos os cidadãos, ou ainda, a todos os atores sociais, (LOUREIRO;
LAYRARGUES; CASTRO, 2008). Faz-se necessária a atuação dos governos estaduais, municipais e federais;
indústrias; comércio; meios de comunicação e principalmente das escolas em projetos socioambientais.
Pode-se inferir, a partir do diagnóstico das Salas Verdes do Rio Grande do Norte, que o processo de
sensibilização ambiental realizado, apesar de embrionário/pontual e das inúmeras dificuldades enfrentadas
foi, segundo relato dos coordenadores do Projeto, uma experiência enriquecedora e de grande importância
para o crescimento profissional e pessoal dos atores sociais envolvidos, sejam eles alunos, professores,
funcionários ou a equipe responsável pelo desenvolvimento das ações de sensibilização, cumprindo assim
seu papel de instrumento para a prática da educação ambiental.
Além disso, foi possível dar o primeiro passo para a formação de cidadãos conscientes de seu papel
para com o ambiente, visando à sustentabilidade da sociedade. Mas para que os resultados obtidos sejam
aprimorados faz-se necessário que o trabalho iniciado tenha continuidade, tornando-se efetivamente parte
do contexto das pessoas, sempre buscando a prática de transdisciplinaridade para evitar o desinteresse das
partes envolvidas, fazendo com que todo o processo iniciado seja interrompido.
Os Projetos devem inserir em seus planejamentos a sensibilização da comunidade, partindo-se da
discussão dos problemas socioambientais enfrentados por ela; realizar pesquisas acerca da percepção da
comunidade em relação às temáticas de interesse para a elaboração de um plano de ação; formar grupos
gestores, ou seja, grupos de multiplicadores em educação ambiental, integrados por professores,
coordenadores, funcionários em geral, comunidade, para que estes possam colaborar diretamente com o
Projeto Sala Verde, tornado seus resultados cada vez mais concretos.

REFERÊNCIAS
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pública do município do Natal: uma experiência em educação ambiental. In: Congresso Nacional de
Educação Ambiental e III Encontro Nordestino de Biogeografia, 1., 2009, João Pessoa. Anais... João Pessoa:
UFPB, 2009, p. 733-738.
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Integrado de Coleta Seletiva em Escolas Municipais e Estaduais do Município do Natal RN. 2007. 77 f.
Monografia (Tecnoloia em Meio Ambiente) – Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do
Norte, Natal, 2007.

48
Entrevista concedida a Silvia Czapski pelo autor Genebaldo Freire Dias em 28/11/2006, publicada no
volume 6 do Coleciona: fichário do educadr ambiental, pg 19-22.

João Pessoa, outubro de 2011


871

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BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania
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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


872

HISTÓRIA AMBIENTAL: NOTAS SOBRE O CULTIVO DE TOMATE EM


PESQUEIRA
Daniel MAX
Bacharel Ciências Sociais/UFRPE; maxsociologo@gmail.com;
Professor do ensino básico

RESUMO
A experiência do cultivo de tomate na cidade de Pesqueira, no Agreste central de Pernambuco,
tornou-se o tema de alguns trabalhos acadêmicos em diferentes áreas do conhecimento. A localização
favoreceu a vocação comercial do município desde o período colonial, como rota alternativa do litoral para
o Sertão, o que contribuiu para a acumulação de riquezas que ulteriormente serviu de capital para
alavancar o processo fabril. A abundância de frutas foi o ponto de partida para o fabrico artesanal de doces,
que rapidamente se converteu numa oportunidade para o surgimento de uma produção industrial no
município. À medida que a iniciativa prosperava, o cultivo de algumas espécies era introduzido e
incrementado, como é o caso do tomate, que deu origem a uma pujante e exaltada indústria de derivados
desse fruto: a Fábrica Peixe. O histórico de desenvolvimento produtivo aponta para possibilidades variadas
sobre o desfecho lacônico da atividade fabril naquela cidade, entretanto, não registram com precisão as
consequências ambientais do cultivo da solanaceae. Mesmo assinalando que as condições naturais
beneficiaram a trajetória do município e suas desenvolturas comerciais e fabris, os estudos acadêmicos e as
fontes impressas não explicitam como se deu o uso dos recursos naturais, tampouco tratam de aspectos
ligados a preservação ou destruição ambiental. A atividade fabril, assim como a agricultura em larga escala,
causa impacto no Ambiente. Os relatos de utilização de defensivos químicos nas plantações se limitam a
uma abordagem de implicações meramente econômicas. Discutir as relações e repercussões ambientais
advindas dos manejos empregados e da produção agroindustrial em si, naquela região, se constitui num
campo de pesquisa pouco explorado.
Palavras-chaves: História ambiental, Pesqueira, Tomate.

As características geográficas do Agreste, particularmente de Pesqueira, favoreceram o


desenvolvimento de espécies e atividades produtivas variadas. Tais peculiaridades foram descritas por
Edson Silva:
O Agreste é uma região intermediária entre o litoral úmido e o sertão seco. A sobrevivência
humana nessa região está intimamente relacionada e alguns poucos rios perenes que nascem nas
serras e correm em direção ao litoral, e aos chamados “brejos de altitude”, espaços de clima
ameno, onde uma elevada densidade populacional coexiste com as atividades agrícolas e a
pecuária. A região montanhosa favoreceu a formação desses brejos que se constituem em espaços
sub-úmidos, como manchas ou bolsões diante da aridez acentuada do clima predominante (SILVA,
2008, p.115).

Desde o período colonial o revezamento entre o plantio e a criação, em especial do gado, mostrou-
se uma prática comum na região, favorecida pelas características descritas acima. Os fazendeiros
disputaram o espaço com os indígenas que habitavam a área, o povo Xukuru, que desenvolviam culturas de
subsistência. O domínio dos não-índios acabou por estabelecer a prevalência de novas espécies, voltadas
ao atendimento do mercado, como é o caso da cotonicultura. Produto que teve sua produção intensificada
no Nordeste, a partir da demanda industrial européia. No dizer de Manuel Correia de Andrade, “desde
1750 o algodão foi um dos principais produtos nordestinos e o único que enfrentou a cana-de-açúcar com
algum êxito na disputa às terras a aos braços” (ANDRADE apud CAVALCANTI, 1979, p. 16).
A ocupação territorial, que seguia a lógica produtiva baseada na agropecuária criou as bases
econômicas do município e favoreceu o surgimento da atividade industrial. Cabe aqui registrar, que
durante as estiagens, a criação acontecia nas áreas dos denominados brejos de altitude. “A pecuária

João Pessoa, outubro de 2011


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procura, agora, quase que naturalmente a pastagem dos brejos úmidos, especialmente quando atingida
pela seca” (ANDRADE apud CAVALCANTI, 1979:18).
A acumulação de capital possibilitou o investimento em uma nova atividade: o plantio do tomate.
Fez florescer a propalada indústria local, erigindo a imagem de seus empreendedores e da cidade.
“A produção natural de goiaba naquela região e uma atividade econômica, a priori, caseira foram o
ponto de partida do que, rapidamente, se transformaria numa grande indústria e atrairia outras fábricas
alimentícias” (MAX, 2010:4). Os relatos e a exaltação aos feitos do fundador da Fábrica Peixe, Carlos
Frederico Xavier de Britto, podem ser observados em diferentes momentos e impressos, como nas
comemorações do centenário de nascimento do mesmo. Tanto o jornal Folha de Pesqueira, quanto A voz
de Pesqueira dedicavam espaço para falar sobre a trajetória e o pioneirismo do “bandeirante da goiaba”.
Além da Fábrica Peixe constituída e dirigida pela família Britto, merece destaque a empresa doceira da
família Didier, a Fábrica Rosa.
As visitas feitas, por técnicos e autoridades públicas, em virtude da pujança fabril são sempre
lembradas pelos órgãos de imprensa, especialmente os de Pesqueira. Visitas as plantações de tomate e
apresentação do processo de beneficiamento da mesma, eram corriqueiras. Personalidades de fora do
estado e até de outros países se deslocavam para o Agreste pernambucano para conhecer a “cidade das
chaminés”. Tudo, sempre bem noticiado.
Devido a importância adquirida, vários investimentos eram reivindicados e alcançados para a
cidade. O transporte ferroviário se tornar diário, foi uma solicitação não alcançada até 1952, ano em que se
instalou a sede do Fomento Agrícola do Estado (departamento destinado ao fornecimento de empréstimo
para aquisição de máquinas, ferramentas e praguicidas, entre outros). A força econômica advinda da
produção tomateira trouxe inúmeros benefícios para a cidade, que chegou a ter, inclusive, um aeroporto
nacional. Mas essa força beneficiou, sobretudo, a elite política e econômica local.
O grupo empresarial dos Britto se transformou num dos maiores do setor e expandiu seu negócio
para além dos doces e do tomate beneficiado, como os derivados de leite e o setor sucroalcooleiro em
Pernambuco e em outros estados brasileiros.
O domínio da família Britto e de seus aliados políticos, iniciado em 1910 e que teve seu auge nas
décadas de 1930 e 1940, perdurou até o final da década de 1950, quando suas fábricas foram superadas
por outras empresas nacionais e internacionais do setor alimentício.
As questões socioambientais que são encontradas nos periódicos locais, não recebem tanta ênfase.
As condições de vida da maioria da população, a ocupação do solo, a utilização dos recursos hídricos, as
relações produtivas no campo e nas indústrias, as técnicas, o uso de agrotóxicos e as conseqüências desse
uso, são ofuscadas pela grandeza industrial do município.
A história tradicional se debruçava sobre fatos em si, localizados no passado, sem relacionar a
construção presente dos sujeitos ou observar a interação natural do ser humano e o ambiente. Já a História
Ambiental representa um campo de investigação desafiador e repleto de possibilidades.
Dentre os níveis ou conjunto de questões a serem enfrentados por essa abordagem, segundo o
historiador Donald Worster, destacamos as interações do ser humano como parte do Ambiente por meio
das atividades socioeconômicas. Estudaremos a lavoura do tomate que durante décadas foi central na
economia agroindustrial de Pesqueira. Pretendemos a partir de um conjunto de trabalhos acadêmicos,
documentos e reportagens em jornais, discutirmos preliminarmente as relações entre aquela atividade
agrícola e a história ambiental naquele município do Agreste pernambucano.
Buscar nas fontes, informações que estabeleçam um elo entre os fatos e a teoria, segundo a qual a
relação do homem com o ambiente é o ponto de partida para discussão da nova história. Discutir os
impactos causados pela ação humana no município em questão, a luz da história ambiental, observando
que: nem sempre são tratados como danos, por vezes “o historiador ecológico acaba preferindo dizer que
os homens provocam ‘mudanças’ no ambiente – pois ‘mudanças’ é um termo neutro e incontroverso – e
não ‘danos’, um conceito muito mais problemático” (WORSTER, 1991:205).
As características naturais locais, tais como o relevo e o clima propiciaram dificuldades à
habitabilidade e à sobrevivência na localidade. Betânia Flavia Cavalcanti Galindo constata que “95% do solo
são de encostas, pouco fértil e que apenas 5% são de baixadas, mais propícios ao plantio” (GALINDO,
2007:121). Entre os índios, primeiros habitantes da região, prevaleciam as culturas de subsistência. Porém,
pouco a pouco a paisagem foi sendo mudada a partir do estabelecimento definitivo dos grandes

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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proprietários descendentes dos colonizadores e, posteriormente, com a agroindústria. Com o surgimento


dessa última, as próprias técnicas, manejos e relações trabalhistas e de produção foram sendo modificadas
para acompanhar o crescimento do setor. A pequena produção deu lugar ao plantation do tomate e das
frutas destinadas à indústria doceira. Ocupando quase que a totalidade das terras agricultáveis da cidade e
se expandindo para municípios vizinhos.
Os pequenos produtores que não abandonaram suas terras em busca de emprego no centro-sul do
país, sucumbiram às indústrias que se instalaram em Pesqueira. Muitos trabalhadores ingressaram como
operários, enquanto outros se viram obrigados a laborar nas terras de propriedade da Rosa e/ou da Peixe.
Uma vez constatada a existência longínqua do povo Xucuru na Serra do Oruruba, incluam-se esses como
mão-de-obra utilizada tanto nas plantações, quanto na atividade fabril.
Para aumentar a produtividade e diminuir custos, a Fábrica Peixe adotou o sistema de parcerias, no
qual os pequenos produtores se comprometiam em produzir exclusivamente pra ela e em troca recebiam
assistência técnica e insumos agrícolas. Entretanto, ao firmar as parcerias, a fábrica além de garantir seus
interesses econômicos, repassava os gastos, com a compra de fungicidas, inseticidas e fertilizantes para os
parceiros.
O uso de agrotóxicos está associado ao crescimento da demanda produtiva, para atendimento de
um mercado consumidor, que está ligada ao modo de vida e produtivo de cada sociedade ou comunidade,
historicamente localizada. O evento pesqueirense configura um exemplo dessa afirmação, no momento em
que verificamos que toda a capacidade produtiva do município se volta para o cultivo do tomate e para
tanto a aquisição desses produtos chegam a representar 28% dos custos de produção.
Indiscutivelmente, a água é fundamental à vida e à atividade produtiva no campo, sendo também
motivador de conflitos e disputas na sua aquisição e emprego.
O uso da água, figura como uma preocupação da sociedade pesqueirense, ora pela escassez, ora
sobre os riscos de contaminação. Uma resolução da Câmara Municipal é emblemática nesse sentido.
Presidente Lourenço da Silva Cavalcanti. Compareceram os vereadores José Claudino Leite,
João Florentino e Padre Manuel Henrique. Aberta a sessão o presidente designou os trabalhos do
dia: ofício do juiz de Paz da freguesia do Brejo. Entrou em discussão o cuidado que deveria ter a
Câmara de alguns objetos tendentes de limpeza desta vila e pureza das águas do tanque da mesma
sobre o que assentou publicar por edital e postura seguinte, vedando toda lavagem de roupas,
fatos, cavalo, couros curtidos ou deitar de molho em cabelo, e tudo quanto for imundo dentro do
açude desta vila, com multa de 200 réis pela primeira vez e daí a dobrar segundo as reincidências, e
aos indigentes 24 horas de prisão na forma sobredita... (GALINDO, 2007:46).

Entretanto, as resoluções e decisões municipais que lidavam com a produção industrial não eram
demasiadas no rigor, sobremaneira, na fase de hegemonia dos Britto. Havendo, inclusive, suspeitas e
acusações de favorecimento ao grupo econômico dominante. Uma dessas acusações “é a denúncia de que
a Fábrica Peixe usava toda a água da cidade em sua atividade fabril, causando sérios problemas de
abastecimento à população e de que era a prefeitura que arcava mensalmente com a conta de água da
referida fábrica” (GALINDO, 2007:68). Ou seja, o poder econômico se sobrepõe e choca-se com os
interesses coletivos.
Há registros, ainda, de problemas relacionados a outras atividades humanas, como é o caso citado
pelo jornal A voz de Pesqueira de 1959, onde se lê a manchete: “Problema da Água Potável”. A matéria faz
um apelo e uma denúncia às autoridades sanitárias, no sentido de atender as reclamações da população
sobre o mau cheiro exalado da água que abastece a cidade. As reclamações recaem sobre as “casas que são
construídas desprovidas de fossas. Valas e esgotos vivem por aí descobertos proliferando mosquitos.
Centenas de chiqueiros de porcos enxameiam as zonas urbana e suburbana da cidade...” (A VOZ DE
PESQUEIRA, 1959:1).
Portanto, as atividades socioeconômicas de maior ou de menor escala geram danos ou impactos no
ambiente, sendo proporcionais às peculiaridades e intensidade de cada uma delas.
Outro registro que localizamos acerca do assunto vem, também, de um jornal local, que expõe o
resultado de uma análise solicitada ao Dr. A. B. G. Ferreira, sobre a qualidade da água da cidade.

Análise das águas de Pesqueira

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875

(amostras colhidas em 3 de fevereiro de 1932).


Cor Amarela
Aspecto Límpida
Cheiro Inodora
Sabor Insípida
Deposito Ligeiro
Reação Acida
Grau hidrotimetrico 3,0
Temperatura 23º
Matéria orgânica avaliada em oxigênio 0,0069%
Amoníaco livre Ausência
Cloro 0,017%
Arotados e arotitos Ausencia
Bacillo Coll 1 por cc
As fortes taxas de matéria orgânica e cloro, e mais ainda, a presença do b. Coll, nas analises acima,
estão a dizer de sua contaminação (JORNAL DE PESQUEIRA, 1932:1)

Rediscutindo a história da humanidade observamos que ela está intimamente ligada ao


aproveitamento dos recursos naturais e à sua transformação em recursos econômicos. A relação do
homem com o ambiente é o ponto de partida para discussão da nova história. Todavia, cabe aqui registrar
que os impactos causados pela ação humana nem sempre são tratados como danos, por vezes “o
historiador ecológico acaba preferindo dizer que os homens provocam ‘mudanças’ no ambiente – pois
‘mudanças’ é um termo neutro e incontroverso – e não ‘danos’, um conceito muito mais problemático”
(WORSTER, 1991:205). Se dentre os que estudam a questão nos deparamos com uma disposição em
amenizar os problemas, haveremos de entender os relatos feitos a partir de interesses políticos e
econômicos em última instância.
A investigação sobre a cultura do tomate trouxe elementos que coadunam com o pensamento de
Donald Worster, no que concerne a existência de níveis de análise da história ambiental, particularmente
na questão do “domínio sócio-econômico na medida em que interage com o ambiente” (WORSTER,
1991:202). À medida que observamos as mudanças voltadas às novas exigências da agroindústria, podemos
perceber alterações no ambiente na tentativa de manter o ritmo e as condições ideais para uma sempre
crescente produtividade do fruto em questão.
O cultivo do tomate do tipo rasteiro, próprio para produção industrial, exigiu o avanço das
fronteiras agrícolas.

A antiga floresta, devido à ocupação humana não só no alto da “serra”


como na cidade lá em baixo, foi e continua a ser lenta e incessantemente
substituída por sítios de cafeeiros, goiabeiras, bananeiras, verduras
e hortaliças, por “mangas” para “refrigério” da pecuária, quando não
apenas derrubada para abastecer de lenha às locomotivas da Great
Western (atual rede ferroviária de nordeste... Há ainda a considerar o
fenômeno “plantation” do tomate, a solanácea que ali se viu introduzida
com êxito como matéria prima industrial e hoje, enxotando cada vez mais
para longe os roçados de subsistência ou mesmo reduzindo as áreas de
criação, vê-se cultivado em escala crescente, por processos técnicos os
mais adiantados, prova evidente da capacidade dos filhos da terra e do
que se pode conseguir dos solos e clima do agreste. (SETTE apud ALVES, 2010:24).

Esse tipo de ação não é desprovido de conseqüências, embora nem sempre essas consequências
sejam tão evidentes para todos. Podemos, ainda, estabelecer relação com a idéia de que “a tecnologia é a
aplicação de habilidades e conhecimentos à exploração do ambiente” (WORSTER, 1991:206). Obviamente,
que essa intervenção do homem trouxe outros resultados além dos esperados, como o desequilíbrio da
vida vegetal e animal do ecossistema. A saída comumente usada para reduzir as perdas provocadas pelo

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


876

aumento das populações de insetos e outras espécies resultante desse impacto, é o emprego de
agrotóxicos.
Procurar informações sobre a situação ecológica encontrada e a deixada não se constitui no centro
de todos os documentos estudados, porém, as condições de mananciais hídricos, do solo e da fauna e flora
local, são consideradas e descritas em alguns.
Na década de 1950, o gado dividia o espaço com lavouras e plantações
de tomate, cuja produção era destinada às fábricas de doces e conservas
em Pesqueira. As matas foram derrubadas também para abastecer de
lenha as locomotivas do trem que ligava Pesqueira ao Recife, as fornalhas
das fábricas de doces, os fornos de padaria e fogões domésticos na área
urbana em Pesqueira. Foram restringidas as lavouras de subsistência.
Ocorreu, portanto, a destruição do patrimônio natural da Serra, para
atender as exigências da lógica econômica em vigor. A partir dessa lógica,
a Serra fora toda ocupada. A grande produção de tomate nas margens
do Rio Ipojuca, era colhida com o uso de agrotóxicos para combater o
aparecimento crescente de pragas. (SILVA apud ALVES, 2010:30).

Discutir os perigos do manejo do agrotóxico, que vai desde o contato direto do produtor ou
trabalhador sem equipamento adequado para lidar com essas substâncias, até a destinação final das
embalagens, passando pela contaminação do próprio alimento, poderia ser um caminho para analisar as
conseqüências dessa interferência humana, entretanto, são parcas ou inexistentes as informações sobre
alguma preocupação com a orientação para o correto manuseio desse tipo de produto.

Considerações Finais
Os documentos pesquisados apontam para a necessidade de nos debruçarmos sobre a história de
Pesqueira, em busca de novas informações que levem a uma melhor compreensão e apreensão sobre o
desenvolvimento humano em seus múltiplos aspectos, naquela região. Entender as teias que revestem as
relações do homem como parte do ambiente e como sendo capaz de interferir em parte de seu curso,
como também, descobrir que as vontades humanas estão limitadas ao conjunto de possibilidades
apresentadas em um dado espaço geográfico e determinado tempo, revela-se uma de nossas tarefas.
Torna-se uma empreitada cada vez mais desafiadora, uma análise dos fatos, que traga uma reflexão
sobre os processos históricos a partir de um olhar interdisciplinar. Para tanto, será necessário perceber a
mudança de pensamento das ciências, que passaram a discutir sob nova ótica o que antes não passava de
episódios naturais isolados.
A biologia, a sociologia, a história, a antropologia, assim como as demais ciências, podem e devem
atuar conjuntamente na busca por explicações que levem a uma interpretação mais aproximada possível
sobre o objeto comum.
Os interesses econômicos inibem, quando não restringem o estudo sobre a utilização de produtos
nocivos aos homens e mulheres do mundo. Produtos, muitas vezes, proibidos continuam sendo
comercializados, sem que haja uma ação mais enérgica contra os que praticam esses abusos criminosos. As
pessoas continuam sem informação, consumindo “veneno” em seus lares e milhares de trabalhadores e
trabalhadoras continuam lidando com esses produtos sem saberem o risco a que estão expostos. O mito do
desenvolvimento econômico a todo custo tem transformado, para pior, a vida de famílias e de
comunidades inteiras, para satisfazer as vontades de um seleto grupo de pessoas detentoras de enormes
fortunas. A natureza transformada em bens, aos poucos diminui as chances de sobrevivência, para um
número crescente de seres no planeta.
Captar o que está acontecendo, resgatando o que historicamente foi se perdendo e estabelecer
novas bases de informações para nós e para outros é a contribuição que pode ser dada, quando nos
propomos a investigar a historia ambiental, ainda que seja apenas de uma localidade.

Referências Bibliográficas
ALVES, Irene dos Santos. índios xukuru: saúde, saneamento e condições de vida. aspectos de uma
história socioambiental em pesqueira, 1950. Recife: UFPE, 2007.

João Pessoa, outubro de 2011


877

ANÁLISES das águas de Pesqueira. A voz de Pesqueira. 04 mar. 1932. p.1.


CAVALCANTI, Célia Maria de Lira. Acumulação de capital e a industrialização em Pesqueira. Recife:
UFPE, 1979.
GALINDO, Betânia Flávia Cavalcanti. A cidade das chaminés: história da industrialização de
Pesqueira. Recife: UFPE, 2007.
PROBLEMA da água potável. A voz de Pesqueira. Pesqueira, 27 set. 1959. p.1.
SILVA, Edson. Os povos indígenas do agreste: os Xucuru de Ororubá. Versão da exposição
apresentada na Mesa-Redonda Povos tradicionais, violência e conquista dos direitos étnicos na História, por
ocasião do VIII Encontro Estadual de História, “Cultura, Cidadania e Violência”, promovido pela ANPUH-PE,
no Campus da UFPE/Recife de 1 a 5/12/2008.
___________. Xukuru: memórias e história da Serra do Ororubá (Pesqueira/PE), 1959-1988.
Campinas, SP: [s.n.], 2008.
WORSTER, Donald. Transformações da terra: para uma perspectiva agroecológica na história. In:
Journal of American History, Kansas, março, 1990. Tradução do Inglês para o Português de Maria Clara
Abalo Ferraz de Andrade, com apoio financeiro da Clacso.
_________. Para fazer história ambiental. Estudos históricos, Rio de Janeiro. Vol.4. n. 8. 1991,
p.202.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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O COLETIVO, O SOCIAL E O SOCIOAMBIENTAL NAS REPRESENTAÇÕES


ATRAVÉS DO DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO EM PESQUISA
QUALITATIVA
Daniela da Silva Pieper49
Mestranda PPGEA/ FURG
E-mail: danypieper@gmail.com

RESUMO
O artigo intenta discutir a Teoria das Representações Sociais e o emprego da Metodologia do
Discurso do Sujeito Coletivo num contexto socioambiental. As reflexões contidas no presente texto fazem
parte das perspectivas teóricas e metodológicas que embasam a investigação em um contexto que servirá
como realidade empírica para a dissertação de mestrado acadêmico desta autora. Para tanto,
apresentamos o conceito das Representações, a partir de sua origem, através das interpretações e do
estudo em reconhecidos autores desde a sua criação, bem como a adjetivação socioambiental aplicada ao
nosso estudo específico. Em seguida, abordamos a aplicabilidade das Representações ao Discurso do
Sujeito Coletivo no âmbito da Pesquisa Qualitativa, como técnica que busca revelar o pensamento de um
grupo e seus componentes, sobre assuntos que estão imersos na coletividade. Finalmente, apresentamos a
proposta de abordagem socioambiental das Representações, pela interpretação do caráter dinâmico da
relação entre natureza, indivíduo e seu grupo de trabalho em suas atividades laborais a partir de uma
investigação em andamento numa Instituição de Ensino Superior.
Palavras – Chave: Representações Socioambientais; Discurso do Sujeito Coletivo; Pesquisa
Qualitativa; Educação Ambiental

Representações Coletivas e Representações Sociais


As primeiras referências acerca da teoria das Representações Sociais remontam ao século XIX, com
Émile Durkheim (2003), considerado um dos precursores da Sociologia e criador da Teoria das
Representações Coletivas (TRC). Em seus estudos pioneiros sobre os fatos sociais ele identificou o
fenômeno, a partir do contexto da sociedade francesa, em oposição à sociologia cientificista de Auguste
Comte. A perspectiva de Durkheim, referia à importância das representações dentro de uma coletividade e
como elas influem nas decisões que os seres humanos tomam individualmente. Pela definição de RC de
acordo com Sales et. al, (2007), os indivíduos edificam e manifestam um conhecimento comum que preside
e orienta as suas existências como um corpo/contingente humano situado no tempo e espaço. Esse
conhecimento é “comum”, porque reúne o que vem dos indivíduos dando sentido próprio a uma forma
coletiva de linguagem e saber. Nesse sentido e expressando a prevalência do social sobre o individual a
sociedade teria um poder coercitivo sobre as consciências dos sujeitos. Esse conceito evidentemente sofreu
as influências das grandes modificações socioculturais, científicas, econômicas e políticas ao longo do
tempo. Assim que, sobretudo a partir dos anos 1960, surge uma nova abordagem, mais ampla,
correspondente à dinâmica do “pós-guerra” a nível mundial, das crescentes renovações tecnológicas
industriais, etc. Tal conceito associou os campos intelectuais da Sociologia e da Psicologia gerando uma
nova abordagem da sociedade e resultou na Teoria das Representações Sociais (TRS).
Serge Moscovici, em 1961, publicou um trabalho sobre a Representação Social da Psicanálise50 a
partir de uma perspectiva que buscava compreender o processo de construção de teorias do senso comum.
Nesse sentido, ele começou a estudar a constituição e a função das representações sociais, não mais as
adjetivando como coletivas - como as definiu Durkheim anteriormente. Inova Moscovici (1978), ao

49
Mestranda em Educação Ambiental no Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental da
Universidade Federal de Rio Grande/PPGEA- FURG, orientanda do Prof. Dr. Daniel da Porciuncula Prado. Mestre e
Doutor em Educação Ambiental do PPGEA-FURG e professor do Instituto de História da mesma Universidade.
50
La Psychanalise: Son image et son publique.1961.France.Publicado no Brasil em 1978, com o título A
representação social da psicanálise. Ed Zahar.

João Pessoa, outubro de 2011


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prescrever que as Representações Sociais constituem um campo de conhecimento específico que tem por
função a construção de condutas comportamentais, estabelecidas pela comunicação entre sujeitos em um
grupo social produtor de interações interpessoais. Tais formas de conhecimento são elaboradas e
compartilhadas socialmente e favorecem a produção de uma realidade comum, viabilizando a
compreensão e a comunicação dos indivíduos com o mundo. Sendo assim, o caráter social das
representações se mostra na sua contribuição para os processos de formação de condutas e de orientação
das comunicações sociais. Em Reigota, encontramos que as Representações “equivalem a um conjunto de
princípios construídos interativamente e compartilhados por diferentes grupos, que através delas
compreendem e transformam a realidade” (2007: 69,70). Ainda, ilustra Cabecinhas (2004), que a obra de
Moscovici, lançou uma problemática específica: como é que o conhecimento científico é consumido,
transformado e utilizado pelo homem comum (leigo); e uma problemática mais geral: como constrói o
homem a realidade (grifo nosso).
Na perspectiva da Teoria da Representação Social, os sujeitos vivem num grupo social ou
comunidade compartilhando pensamentos baseados em uma reunião de representações, mas não deixam
de interagir com conteúdos e opiniões distintas. Nesse sentido, sugere Cabecinhas (2004) que as
representações coletivas cedem o lugar às representações sociais porque as primeiras, não têm em conta a
sua diversidade de origem e a sua transformação, entendendo como Moscovici (1989), que a visão clássica
das representações peca por considerá-las como pré-estabelecidas e estáticas.
Dentre as várias correntes teóricas no interior das Ciências Sociais, há o entendimento de que as
51
Representações Sociais, enquanto senso comum são indispensáveis para compreender a dinâmica das
interações sociais e ainda para buscar determinantes das práticas sociais. Elas se manifestam em condutas
e práticas que chegam a ser institucionalizadas, portanto, podem e devem ser analisadas a partir da
compreensão das estruturas e dos comportamentos sociais. (MINAYO, 1992).
Nessa mesma linha de pensamento, Jodelet (1989) acrescenta que, pelas relações que estabelece
entre fenômenos individuais e coletivos, articulando elementos mentais, sociais e afetivos e vinculando a
cognição, a comunicação e a linguagem com as relações sociais em que intervêm, as Representações
Sociais demonstram vocação para ser um campo de interesse de todas as ciências humanas, para além das
áreas da sociologia e da psicologia.
Assim, na medida em que se amplia a apropriação do estudo das representações como base para
se compreender os discursos firmados na construção do senso comum, da mesma forma que na
transformação do discurso científico em conhecimento geral, avoluma-se a produção de literatura que
torna a essa Teoria instrumento tanto para interpretar a ancoragem52 dos mesmos quanto para
compreender a objetivação com que eles se apresentam (SÁ; ARRUDA, 2000). Em sua evolução, a TRS vem
produzindo desdobramentos como vias de tratamento dos pensamentos construídos socialmente. De
acordo com (SALLES; SOUZA; JOHN; 2007:7) trazer as RS como uma teoria e metodologia para o exame de
fenômenos educacionais (GILLY, 2001), de gênero (ARRUDA, 2002), de comunicação (GUARESHI, 2000), de
profissionalização (PALMONARI; ZANI, 2001), da esfera pública (JOVCHELOVITCH), tem ocupado os
interesses de pesquisadores que buscam compreender as diferentes formas e expressões de interação na
sociedade.

O Socioambiental adjetivando as Representações em estudo específico


Seguindo os ensinamentos de Moscovici53, as representações sociais em nossa sociedade, podem
ser equiparadas aos mitos e sistemas de crença das sociedades tradicionais assim como, a versão
contemporânea do senso comum, ou seja, um conhecimento genuíno que tem o poder de levar a cabo as

51
Idéias, imagens, concepções, percepções e visões de mundo que os atores sociais possuem sobre a
realidade.
52
Na TRS, ancoragem tem relação com os conhecimentos que dão sustentação científica, filosófica, etc. a um
dado discurso e objetivação é a própria expressão de um conteúdo ou conhecimento em dado discurso que
representa o pensamento de determinado grupo social (SÁ; ARRUDA, 2000).
53
MOSCOVICI, 1981, apud OLIVEIRA, 2007, p.387.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


880

mudanças sociais. Da mesma forma, nos ensina Jovchelivitch, que elas possuem grande potencial para criar
e transformar a realidade social em que estão inseridas através de seu caráter dinâmico, geradas pelas
mediações sociais como estratégias desenvolvidas por seus atores para enfrentar a diversidade e a
mobilidade de um mundo que, embora pertença a todos, transforma cada um individualmente. (1995:81
apud ALVÂNTARA & VESCE, 2008).
A degradação permanente do meio ambiente e de seus ecossistemas nos remete a necessária
reflexão sobre o desafio que se constitui a transformação nas formas de pensar e agir em torno da questão
ambiental numa perspectiva contemporânea. A dimensão ambiental, por sua vez, demanda
crescentemente a articulação entre os diversos sistemas de conhecimento, a capacitação de profissionais e
a comunidade universitária numa perspectiva interdisciplinar, posto envolver o universo educativo. Para
tanto, a construção desse novo conhecimento deverá necessariamente contemplar as inter-relações do
meio natural com o social, onde se inclui o papel dos diversos atores envolvidos e suas formas de
organização social, numa perspectiva que priorize novo perfil de desenvolvimento, com ênfase na
sustentabilidade socioambiental. Leff (2001) considera sobre a impossibilidade de resolver os crescentes e
complexos problemas ambientais e reverter suas causas sem que ocorra uma mudança radical nos sistemas
de conhecimento, dos valores e dos comportamentos gerados pela dinâmica de racionalidade existente,
fundada no aspecto econômico do desenvolvimento. Nesse sentido, a preocupação com o
desenvolvimento sustentável deve representar a possibilidade de garantir mudanças sociopolíticas que não
comprometam os sistemas ecológicos e sociais que sustentam as comunidades.
Dentro desse contexto relevo as reflexões de Gonçalves (2006:24), no que concerne ao que se
entende por natural, cultural e a constituição do movimento ecológico em nossa sociedade:
É fundamental que reflitamos e analisemos como foi e como é concebida a natureza em nossa
sociedade, o que tem servido como um dos suportes para o modo como produzimos e vivemos o qual
tantos problemas nos têm causado e contra o que constituímos o movimento ecológico. Toda a sociedade,
toda a cultura cria, inventa, institui uma determinada idéia do que seja a natureza. Nesse sentido, o
conceito de natureza não é natural, sendo na verdade criado e instituído pelos homens e constitui um dos
pilares através do qual os homens erguem as suas relações sociais, sua produção material e espiritual,
enfim, a sua cultura.

Em nosso estudo, temos como objetivo o desvelamento das relações entre as pessoas, o grupo e o
meio ambiente no qual se desenvolvem atividades laborais em uma Instituição de Ensino Superior. Tais
relações geram questões ambientais que demandam o entendimento do pensamento do coletivo como
referencia para a interpretação da realidade da Instituição, da mesma forma que possíveis sugestões de
soluções para estas problemáticas socioambientais por eles vividas em seu meio ambiente de trabalho.
É nesse sentido que nos apropriamos e propomos a expressão "socioambiental", para qualificar
metodologicamente as representações em nosso estudo acerca dos modos de pensar e agir do servidor
técnico administrativo. Cada vez mais utilizada em diversos setores, a expressão “socioambiental” remete a
um verdadeiro movimento político, que discute o social e o ambiental em uma só palavra para manifestar o
surgimento de uma nova relação entre natureza e cultura, onde a consciência ambiental se manifesta por
uma angustia de separação e uma necessidade de reintegração entre o homem e a natureza. A formação
do mundo moderno e a tradição das ciências sociais, da filosofia e da economia tiveram como uma de suas
marcantes características a oposição entre a natureza e a cultura. O “socioambiental” vem indicar as
tendências de reconciliação dessas noções que foram separadas artificialmente. Dentro da visão
contemporânea da ciência onde já se entende que não é possível estabelecer separação absoluta entre as
ciências da vida, a natureza e a cultura seguem pelo mesmo caminho, culminando com a unificação do
social e do ambiental.

As Representações Sociais e o Discurso do Sujeito Coletivo


Segundo Alvântara & Vesce (2008) a Metodologia do Discurso Coletivo (DSC) possui seus
fundamentos teóricos nas Representações Sociais, permitindo acesso direto e indireto a estas podendo
assim, com significativa qualidade e eficiência revelar em detalhes as representações, as crenças, os valores
e as opiniões a respeito de um tema específico. Da mesma forma, a metodologia respeita o comum e o

João Pessoa, outubro de 2011


881

diferente, ou seja, compreende posicionamentos emitidos de maneira diversa, mas que podem ser
complementares.
Conforme concebido por seus autores o DSC consiste em uma modalidade de análise de discursos
obtidos em depoimentos verbais ou obtidos em qualquer manifestação discursiva que se possa encontrar
em textos e documentos escritos. Nesse sentido, as pesquisas utilizam entrevistas individuais com
questões abertas, resgatando o pensamento, enquanto comportamento discursivo e fato social
internalizado individualmente, podendo ser divulgado, preservando a sua característica qualitativa
(LEFEVRE, 2005).
Por outro lado, também pode utilizar um aspecto quantitativo nesta metodologia, uma vez que
cada depoimento origina-se de um determinado sujeito. Para exploração desta faceta foram desenvolvidas
técnicas específicas e até mesmo ferramentas computacionais de tabulação, que quantificam os dados e
segmentam resultados, mesmo em amostras grandes (LEFEVRE, 2006). Embora não se pretenda aprofundar
as questões relacionadas com a investigação quantitativa, é importante ressaltar a possibilidade de
abordagem do aspecto que as mesmas não se excluem ou se contrapõe, mas que são complementares.
Os operadores na produção do Discurso do Sujeito Coletivo são as: Expressões Chave; Idéias
Centrais; Ancoragens e o Discurso do Sujeito Coletivo em si. As Expressões Chave são os trechos do
discurso que devem ser destacados pelo pesquisador em cada depoimento e que revelam a essência do
conteúdo do discurso. As Idéias Centrais descrevem de maneira mais sintética e precisa os sentidos
presentes nas Expressões Chave, assim como no conjunto de discursos de diferentes sujeitos que possuem
semelhança de sentido. As expressões Chave, possuem uma função discriminadora e classificatória que
permitem identificar e distinguir os vários sentidos ou posicionamentos contidos nos depoimentos. Por fim,
as Ancoragens são expressões sintéticas que descrevem as ideologias, os valores e as crenças presentes nos
depoimentos individuais ou agrupados, configurados como afirmações genéricas enquadradas em
circunstâncias particulares. As Ancoragens, entretanto, são consideradas apenas quando existem marcas
explícitas das afirmações genéricas nos depoimentos.
Os depoimentos no DSC são sintetizados e analisados, redigidos na primeira pessoa do singular,
expressando o pensamento coletivo por meio do discurso dos sujeitos. Nos vários depoimentos colhidos,
percebem-se elementos comuns que delineiam o discurso coletivo e que são as Representações Sociais de
um determinado grupo. Tais discursos contêm o conjunto das Expressões Chave dos depoimentos, que
possuem Idéias Centrais e/ou Ancoragens com características semelhantes. Dessa forma, a técnica
considera o sociocultural de um determinado grupo, para desvelar/interpretar uma determinada opinião
ou posicionamento sobre um tema.
Quando se deseja ter como resultado final as Representações Sociais ou opiniões de grupos sociais,
tendo como coleta de informações, questões abertas, é necessário fazer a soma desses depoimentos
obtendo desta soma o pensamento generalizado. A chamada “categorização de respostas”, que tem o
papel de analisar as respostas dadas e atribuir um sentido a elas, reunindo as respostas de mesmo sentido.
A soma dos depoimentos, que são incluídos na categoria semelhante em relação ao conteúdo. Os Discursos
de Sujeitos Coletivos não anulam os conteúdos dos depoimentos, já que o objetivo não é somente
desenvolver uma soma matemática, mas fazer aflorar um posicionamento, um sentido onde a opinião
individual de cada depoimento esteja garantida e preservada. Estes distintos conteúdos e argumentos
podem ser mantidos em conjunto num discurso porque este remete a praticamente uma única idéia ou
opinião. Indo de encontro com a Teoria da Representação Social, os sujeitos vivem num grupo social ou
comunidade compartilhando pensamentos baseados em uma reunião de Representações Sociais, mas não
deixam de interagir com conteúdos e opiniões distintas. Dessa forma, o Discurso do Sujeito Coletivo
respeita o comum e o diferente, ou seja, compreende posicionamentos emitidos de maneira diferente, e
que podem ser complementares (ALVÂNTARA & VESCE, 2008).

Alguns aspectos da pesquisa qualitativa


Considerando que o contexto social é permeado pela subjetividade e pelo simbolismo, a
abordagem qualitativa em pesquisas que propõem um caráter interpretativo, deve ser realizada por uma
análise cuidadosa daqueles fatores, com vistas a uma melhor compreensão dos motivos e intenções que
geram as ações dos sujeitos. Em linhas gerais, na abordagem qualitativa se procura compreender um
determinado fenômeno em profundidade através descrições, análises e interpretações de caráter subjetivo

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


882

não trabalhando com estatísticas e regras rígidas. Dessa forma, é mais participativa e menos controlável,
posto que as interações entre os elementos participantes, o pesquisador e os pesquisados, podem orientar
os caminhos da pesquisa.
A prática na Pesquisa Qualitativa envolve o pesquisador profundamente com a vida cotidiana dos
sujeitos de pesquisa, compreendendo um problema a partir da visão, vivências, aflições, desejos, anseios e
sentimentos destes sujeitos. Símbolos lingüísticos, com destaque para as metáforas, conceitos e descrições
são utilizados. Por isso, é importante manter-se uma postura receptiva e flexível frente a possíveis e
inesperadas descobertas que podem surgir durante investigações mais profundas sobre temas específicos.
Deve-se considerar o contexto social no qual a pesquisa ocorre, delimitando-se o problema e havendo
liberdade para mudar a hipótese da pesquisa e a linha de interpretação a qualquer momento, conforme os
indicadores que a realidade pesquisada revelar.
Encontramos na pesquisa qualitativa, de acordo com Minayo (2007), uma possibilidade de
respostas a questões muito particulares que se referem a realidades que não podem ser quantificadas. Não
busca a generalização dos resultados, mas tem como preocupação a compreensão de um grupo social, de
uma organização, de uma instituição, de uma política ou de uma representação, direcionando para um
universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço
mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à
operacionalização de variáveis.
Por outro lado, também pode utilizar um aspecto quantitativo nesta metodologia, uma vez que
cada depoimento origina-se de um determinado sujeito. Para exploração desta faceta foram desenvolvidas
técnicas específicas e até mesmo ferramentas computacionais de tabulação, que quantificam os dados e
segmentam resultados, mesmo em amostras grandes (LEFEVRE, 2006). Embora não se pretenda aprofundar
as questões relacionadas com a investigação quantitativa, é importante ressaltar na possibilidade de
abordagem desse aspecto que as mesmas não se excluem ou se contrapõe, mas que são complementares.

Discursos comuns representados num contexto socioambiental


A formação de recursos humanos tem merecido dimensão significativa pelo reconhecimento da sua
importância em qualquer ramo das atividades profissionais. Nesse sentido, uma nova visão em gestão de
pessoas dentro das instituições, tem despendido esforços importantes na busca de alternativas à sua ação
educativa, que se refletem no plano do ensino, na produção do conhecimento e também na ação política
dos quadros técnicos, políticos e dirigentes. Tal movimento tem proporcionado a formulação de programas
de formação que influenciam e são influenciados pela própria história da construção de cada setor.
Espelhadas pelas práticas de seus agentes, definem referências e saberes fundamentais para os processos
de capacitação e desenvolvimento de seus quadros.
No âmbito da administração pública brasileira um dos grandes desafios se refere à qualidade que,
neste momento, tem como foco de sua atuação elevar o padrão dos serviços prestados, bem como, tornar
o cidadão54 mais exigente em relação aos serviços públicos a que tem direito. Nesse sentido, desde 1991,
o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade – PBQP - vem desenvolvendo ações cujo propósito é
transformar as organizações públicas voltando-as prioritariamente ao atendimento das necessidades do
público alvo e não apenas preocupadas os seus processos burocráticos internos. Acompanhando as
tendências globais de defesa do meio ambiente, em 2001 o Ministério do Meio Ambiente (MMA) lançou
um Programa55, que visa à sensibilização dos gestores públicos para as questões ambientais e onde a
Educação Ambiental atua como ferramenta estratégica investindo, também, internamente na formação de
recursos humanos visando a melhoria da qualidade do ambiente de trabalho. No contexto das Instituições
Federais de Nível Superior (IFES), a implantação do Plano de Carreira dos Cargos Técnico-Administrativos
em Educação56 (PCCTAE), abriu melhores perspectivas de qualificação (ensino formal) e de capacitação
(educação não formal) dos servidores. Em âmbito local, na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a
implementação o programa de capacitação e avaliação de desempenho pelo setor de desenvolvimento de

54
De acordo com o Dicionário Aurélio nas suas linhas mais gerais, Cidadão é o indivíduo que está no gozo dos
direitos civis e políticos de um Estado. Como conseqüência, cidadania é a qualidade ou estado de cidadão.
55 55
Agenda Ambiental na Administração Pública - A3P - (AGENDA A3P , 2007:20)
56
Plano de Carreira dos Cargos Técnico-Administrativos em Educação, (PCCTAE), Lei nº. 11.091/2005

João Pessoa, outubro de 2011


883

pessoal, vem se constituindo como um processo que busca elevar os padrões de qualidade de todas as
atividades pertinentes a uma Instituição de Ensino Superior. Concomitantemente, desde 2005, a
Universidade Federal de Pelotas (UFPel), através da Coordenadoria de Gestão Ambiental57 (CGA), vem
construindo e implementando ações com o enfoque sustentável nas atividades administrativas, ensino,
pesquisa, extensão e prestação de serviços.
Nesse espaço tempo em que a Instituição, se direciona para a (re) configuração sustentável de suas
atividades em seu meio ambiente, se proporciona a oportunidade para um estudo acerca das
representações socioambientais de um segmento significativo da comunidade universitária envolvida – o
servidor técnico-administrativo. A pesquisa pretende contribuir para o processo de gestão/educação
ambiental, que se instaurou na Instituição de forma criativa, democrática e fundamentado no diálogo entre
a comunidade universitária.
Apoiamo-nos na experiência pioneira de Marcos Reigota que desenvolveu pioneiramente pesquisas
com base nas representações sociais de meio ambiente de professores, em 1991, na Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras de Guarapuava, objetivando capacitar teoricamente professores para atividades de
educação ambiental dentro da problemática regional (REIGOTA, 2007:71).
Os dados para a presente pesquisa foram coletados nas atividades desenvolvidas em um curso de
capacitação em Educação Ambiental oferecido para os servidores técnico – administrativos da UFPel, de
agosto a novembro de 2010. De natureza qualitativa de caráter descritivo e interpretativo da realidade
observada se utilizará da metodologia do Discurso do Sujeito Coletivo58. Nesse contexto as manifestações
dos sujeitos serão analisadas, como material empírico, buscando o entendimento do pensamento do
coletivo tendo, o referido grupo de servidores como referencia para a interpretação da realidade da
Instituição.

Considerações Finais
O presente estudo envolve fatores subjetivos e objetivos que visam conhecer e compreender as
representações do servidor público técnico administrativo sobre as questões socioambientais que se
estabelecem durante as suas atividades laborais, a partir de um processo de construção de políticas de
gestão e educação ambiental da Instituição. Nesse sentido a pesquisa qualitativa será utilizada como
conduta metodológica para análise e a compilação dos vários discursos proferidos pelos integrantes do
grupo de servidores escolhido para amostragem.
O Método do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) será utilizado como técnica de análise dos dados,
proposto por Lefèvre e Lefèvre (2003), com vistas a elaboração de um discurso do coletivo dos grupos
estudados. Durante o curso de Educação Ambiental para servidores que se realizou de agosto a novembro
de 2010, foram realizadas diversas atividades como aulas expositivas, palestras, saídas de campo, trabalhos
em grupo, questionários e finalmente a proposição de projetos de educação ambiental para ser
59
desenvolvido nas unidades de origem dos alunos/servidores . Considerando a diversidade de atividades,
optamos por escolher algumas questões dos questionários que foram aplicados no início de cada um dos
três módulos do curso. Composto por questões semi-estruturadas das quais foram selecionadas aquelas
consideradas pontuais dentro da temática socioambiental da pesquisa tais questões estão sendo analisadas
de acordo com a Metodologia do Sujeito Coletivo (DSC). Permitir-se-á dessa forma, o diálogo do momento
descrito com o momento interpretativo, certamente apontando para o incerto e o inesperado,
contribuindo para o desvelamento das representações sociais, através da interpretação do pensamento do
grupo que configurará uma realidade empírica.
O estudo em questão está se desenvolvendo como tema para apresentação da Dissertação de
mestrado desta autora. O interesse em compreender as representações socioambientais de um segmento
da comunidade universitária, se coaduna com as atividades que atualmente desenvolvo na Instituição
como integrante da Coordenadoria de Gestão Ambiental (CGA). Conhecer os modos de pensar do servidor

57
Criado em 2005, o Núcleo de Gestão Ambiental da UFPel, transformado em Coordenadoria em 2009.
58
DSC LEFEVRE, Fernando; LEFEVRE, Ana Maria C.
59
Diferentes unidades administrativas e acadêmicas da UFPel estavam representadas no curso, o que tornou
possível a proposição de três(3) projetos de Educação Ambiental como atividade final.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


884

público administrativo poderá fornecer subsídios teóricos e metodológicos para o processo de


Gestão/Educação Ambiental recentemente instaurado na Universidade Federal de Pelotas.
Nesse contexto o artigo ora apresentado configura-se a partir dos estudos e reflexões que buscam
embasar teórica e metodologicamente nossa investigação.

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João Pessoa, outubro de 2011


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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


886

A CONTRIBUIÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL QUANTO A INFLUÊNCIA DA


MÍDIA PARA O CONSUMO
Daniela Pedrosa BARRETO
Bacharel em Turismo e Estudante de Pós-graduação em Educação Ambiental da FAFIRE – danielabarreto_br@yahoo.com.br
Stefania Patrícia Silva de SOUZA
Mestre em Gestão Pública e Professora de Graduação e Pós-graduação em Comunicação e Publicidade da FAFIRE –
stefaniapatricia@yahoo.com.br

RESUMO
Este trabalho tem por objetivo apresentar de forma sucinta a relação entre a mídia e a sociedade,
quanto ao consumo a partir de valor simbólico, e em que medida a educação ambiental pode contribuir
para conscientização dos indivíduos, mediante analise reflexiva acerca dos valores humanos e sua interação
com o processo midiático e mercantil; assim como os efeitos de suas ações no meio natural.
Palavras-chave: Mídia; Consumo; Educação Ambiental; Meio Ambiente.

ABSTRACT
This study intends to present briefly the relationship between media and society, about from the
consumption of symbolic value, and the extent to which environmental education can contribute to
awareness of individuals, through reflective analysis on human values and their interaction with the media
process and commerce, as well as the effects of their actions on the natural environment.
Keywords: Mass Media; Consumption; Environmental Education; Environment.

INTRODUÇÃO
A realidade e as características socioambientais observadas nas grandes cidades do país
apresentam significativas semelhanças entre si no que se refere aos efeitos gerados pelo consumo
excessivo. O comportamento dos indivíduos de acordo com a percepção que estes têm diante do mercado
e do status adquirido através da obtenção de bens ou fruição de serviços, em detrimento de valores
humanos subjetivos e das relações sociais, exerce grande influência sobre o meio natural, apresentando
inúmeros problemas ambientais quanto ao descarte excessivo de materiais consumidos em curto espaço
de tempo, afetando direta ou indiretamente a qualidade de vida das pessoas.
Produtos e serviços não possuem mais um valor em si mesmo capazes de atender às necessidades
básicas do ser humano, mas uma dimensão de espetáculo, magia e encantamento que despertam desejos
para satisfação de vontades artificialmente criadas a partir de um valor simbólico instituído conjuntamente
por empresas e consumidores em busca de diferenciação social, garantida pelo poder de compra e fruição
de serviços.
Entendendo que não são as necessidades básicas que verdadeiramente impulsiona o consumo, mas
a busca por diferenciação social, não será o bem em si que o consumidor estará interessado em adquirir,
mas o valor simbólico contido nos produtos. Se tais produtos passam a ser adquirido por um grupo social
considerado inferior que se deseja obter um poder social simbólico superior através de um distanciamento
econômico mediante poder de compra, novos valores são estabelecidos diante do signo intrínseco ao
produto para garantir a hierarquia simbólica humana estabelecida pelos valores do mercado e não pelos
valores humanos.
A partir do momento em que tais valores encontram-se em um processo de instabilidade e
relativismo em meio às relações humanas torna-se mais fácil a generalização da efemeridade nas mesmas,
assim como a “coisificação” de tais relações, cada vez mais fragmentadas, flúidas e superficiais (BAUMAM,
2008).
Tendo em vista a importância de uma maior atenção ao contexto descrito ressaltamos a
necessidade de uma análise mais acurada no que se refere aos mecanismos midiáticos e a possível
contribuição da educação ambiental diante do consumo, para a conscientização dos indivíduos, mediante
reflexão acerca de suas ações, sobre a natureza e sobre si mesmos.

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887

O artigo tem por base análise bibliográfica e justifica-se, do ponto de vista teórico, em virtude de
ressentir-se de trabalhos na perspectiva que levantamos, pelo menos no que pudemos averiguar, e, do
pondo de vista prático, pensamos que a importância de um estudo como este se faz necessária pela
possibilidade de fornecer elementos que permitam àqueles envolvidos e preocupados com o futuro em
nosso país, inserir no debate um fenômeno localizado na interseção entre Sociedade, Educação e Natureza.

1. MÍDIA E SEDUÇÃO
Em termos didáticos, pode-se afirmar que a publicidade é “educativa”. Seu papel é educar os
indivíduos para o consumo massivo, o que faz por meio do arranjo eficaz de palavras, imagens, sons e
cores, destinado a tornar um produto conhecido e desejado. A publicidade, porém, não é um discurso
persuasivo construído no vácuo, mas antes um fato social que oculta e revela várias das formas de
representação da sociedade (NERY, 2005).
A publicidade em si não faz um produto significar nem uma coisa nem outra, pois a significação
processa-se “por uma aceitação tácita ou ativa do receptor [...] construída no imaginário social, ou seja,
dentro de um universo de significados socialmente compartilhados” (NERY, 2005, p. 11). Tal entendimento
amplia a compreensão do papel da publicidade no consumo, quando a situa como forma discursiva apoiada
em elementos presentes no espaço social do público pretendido. Em outras palavras, a publicidade remete
à sociedade e trabalha com suas características.
Trata-se aqui da sociedade de consumo, estabelecida a partir das mudanças econômicas ocorridas
na passagem do capitalismo de produção (final do século XIX e início do século XX) ao capitalismo
monopolista (SILVA, 2007). As empresas, então, perceberam que não era suficiente “apenas levar os
indivíduos a reverem suas necessidades, aumentar-lhes o poder de consumo e investir na estética das
mercadorias.” (SILVA, 2007, p. 10). O consumo precisava ser estimulado de maneira intensa e constante.
Passou-se, então, a investir na valoração simbólica dos produtos, visando transformá-los em mercadorias-
signo capazes de conferir às pessoas status de bom gosto, sucesso e sofisticação somente alcançáveis por
meio do consumo. A mercadoria torna-se signo de e para quem a consome. Dessa forma, tomou corpo uma
das principais características dessa sociedade: a reiteração do consumo produzida pela publicidade, como
forma de ampliar o mercado, evitar problemas de subdemanda e gerar mais lucros para as empresas.
Por essa razão, a publicidade apresenta função econômica e social ao mediar a relação
empresa/consumidor. Seu papel econômico é impulsionar o consumo dos bens produzidos, promovendo
sustentação do mercado. O papel social é reforçar “os padrões de comportamento estabelecidos pela
sociedade, refletindo a realidade e refratando-a de forma idealizada a fim de que seja atraente e venda o
produto anunciado” (GARBOGGINI, 2005, p. 98).
Para entender melhor esse processo, deve-se recorrer a Marx e sua concepção de mercadoria.
Nessa visão, a concretude da mercadoria física apresenta seu primeiro valor: o de uso para satisfação de
necessidades humanas, que é acompanhado pelo valor de troca, de natureza social: quantidade de
trabalho gasto para produzir a mercadoria (BUCCI, 2002, p. 56).
É sobre tal dimensão física que a publicidade estabelece características como a marca e suas
associações para surgimento de mercadorias não corpóreas (NERY, 2005; SILVA, 2007). Como afirma Bucci
(2002), estas estão na dimensão do espetáculo, da magia e do encantamento. Embora sem valor de uso na
sua dimensão física, persistem como signo na relação imaginária entre o sujeito e a completude que ele
espera obter pelo consumo dessa mesma mercadoria. É o valor simbólico, agora descolado do objeto físico,
que passa a ser a mercadoria consumida: signos independentes dos objetos, disponibilizados para uso em
várias relações associativas. “Este é o ponto central da sociedade capitalista: o signo e a mercadoria
juntam-se para produzir a mercadoria-signo” (NERY, 2005, p. 15).
Por essa razão, a publicidade constitui um fenômeno de sentido. Em sua face visível, mercadorias
deslizam pelo imaginário como objetos sempre portadores de apelos mais intensos. Contudo, mas que um
caráter “natural” de persuasão que leva ao consumo, deve-se entender que é o consumo que leva à
persuasão na publicidade. Ao pensamento tradicional de que as necessidades do consumidor ditam as
ações de marketing e de publicidade contrapõe-se a idéia de que o processo criativo está invertido: “criam-
se os produtos e eles mesmos criam a necessidade de tê-los” (PIRES, 2010, p. 81).
No aceleramento contínuo do consumo de bens e da necessidade de trocá-los, o comportamento
tem de ser a busca pela novidade. De maneira irônica, o consumismo gera uma postura de desprendimento

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


888

como forma de manutenção de seu caráter reiterativo. Pires (2010, p. 77-78) ressalta essa característica e
aponta que “a atitude consumista depende de um desapego ao bem presente em função do próximo bem a
ser consumido.” A satisfação proporcionada pelo consumo deve ser efêmera e nunca alcançada em sua
plenitude para que o ciclo permaneça ativo.
É da insatisfação do consumidor, sempre mais estimulado, que surge a possibilidade de
apresentação de novos produtos, que por sua vez devem criar novos “desejos, que geram outros produtos,
dando vida à cultura do excesso e do desperdício.” (PIRES, 2010, p. 78.) Como coloca Bauman (2008, p. 64):
“A sociedade de consumo prospera enquanto consegue tornar perpétua a não-satisfação de seus membros
(e assim, em seus próprios termos, a infelicidade deles)”. Modas, modismos e tendências, apresentados
como valores absolutos pela publicidade, são relativos à construção do ambiente propício ao consumo.

A curta expectativa de vida de um produto na prática e na utilidade proclamada está incluída na


estratégia de marketing e no cálculo de lucros: tende a ser preconcebida, prescrita e instilada nas práticas dos
consumidores mediante a apoteose das novas ofertas (de hoje) e a difamação das antigas (de ontem)”
(Bauman, 2008, p. 31).

Três pontos devem ser ressaltados nesse processo. Primeiro, caráter de fetiche dos bens e
produtos para os quais é criada uma aura na qual são localizados acima das pessoas. Segundo, a
intensificação dos estímulos recebidos gerando uma incapacidade de reagir a novas sensações. A atenção
do consumidor torna-se cada vez mais escassa. Terceiro, a combinação de obsolescência planejada dos
produtos, por parte das empresas, com obsolescência embutida no plano simbólico de valores desses
produtos: “o que compro hoje não me satisfaz mais amanhã” (PIRES, 2010, p. 77). Ambas colaborando para
promover a reiteração do consumo.
Desse modo, aceleram-se o ciclo do consumo e a curta duração do desejo que um indivíduo deve
ter por um produto. O consumo moderno torna-se de forte aspecto sentimental e de ânsia pelos produtos,
e sempre se oferece diversidade de mercadorias com base na aparência e no design, mas que em
características funcionais ou qualidades.
Consumo e publicidade, na sociedade atual, constituem um ciclo de desejo jamais satisfeito,
garantido por uma estrutura aperfeiçoada de oferta de crédito e financiamentos e facilidades de aquisição
por meio de compras eletrônicas. Não por outra razão, Pires (2010) ressalta que a relação mais desejável
entre consumidores e produtos é a de vício assumido e fidelidade incondicional.
Eis as bases da contribuição da publicidade para a questão ambiental. Não somente o evidente
problema dos rejeitos pós-consumo, mas o ainda mais grave problema da necessidade escalante de
recursos para maior produção. Não por outra razão, o mesmo Bauman (2008) observa que as facilidades de
entrega são maiores e bem divulgadas, enquanto a remoção dos produtos é um dos grandes problemas
atuais. O valor de troca anteriormente baseado no trabalho social incorporado à coisa produzida, é
substituído pelo valor de troca baseado no valor simbólico da fantasia, como elemento dos produtos.

3. CRISE DE VALORES E A SOCIEDADE DE CONSUMO


Embora possa haver no ser humano uma propensão natural para consumir, historicamente a
aquisição de bens tem como base apenas a satisfação das necessidades de subsistência familiar; sendo a
insaciabilidade individual um sentimento estimulado com força máxima a partir da revolução industrial.
Desde então o consumo não encontra fronteiras, desenvolvendo-se em todas as classes sociais, fazendo
parte da vida dos sujeitos e muitas vezes extrapolando os limites de suas condições econômicas. A partir de
uma personalidade metamórfica, a mídia se utiliza de inúmeros disfarces para seduzir o consumidor,
desenhando “ricas estratégias e novas modalizações discursivas” (SANTOS, 2010, p. 1), capazes de
manipular objetos da cultura, com o intuito de criar artificialmente no indivíduo a necessidade de
satisfação pessoal e diferenciação por meio da atribuição de status, com base na quantidade e no tipo de
produto ou serviço que são consumidos.
Falar em consumo remete inicialmente às questões monetárias, em que se aplicam valores a
determinados produtos ou serviços, como alimentação, saúde, educação, moradia e lazer, comprados e
vendidos para atender às importantes necessidades do ser humano, possibilitando o desenvolvimento e a
ampliação socioeconômica. Contudo, de algum modo, em toda a sua existência, o consumo esteve

João Pessoa, outubro de 2011


889

associado à determinação de classes sociais estabelecidas pelo status simbólico intrínseco à forma, ao
conteúdo e a intensidade do que é ou não consumido pelas pessoas. E esse movimento alimenta
constantemente o sistema capitalista fazendo com que o consumidor adquira mercadorias
constantemente, afim de que a indústria do comércio não pare; exercendo a mídia e a euforia publicitária
um poder de persuasão decisivo sobre os sujeitos, tornando-os compulsivos pela busca de novidades
(COLOMBO, 2008, p. 146).
De acordo com Barbosa a moda possui como princípio regulador e constante o gosto pela novidade
e não a promoção de mudanças fundamentais (2004, p. 24). Assim, no intuito desesperado de enquadra-se
no atual contexto socioeconômico, que determina uma nova ordem a partir da criação de novas
percepções sob o império da civilização industrial, os indivíduos constroem uma personalidade tão efêmera
quanto às tendências do mercado.
Considerada a velocidade do fluxo com que se consome um indicativo de que o mercado anda a
pleno vapor, os produtos são idealizados para sobrevier o tempo necessário apenas para que a mídia e o
consumidor estabeleçam, juntos, uma nova necessidade que tais produto já não mais atendam às funções
para as quais foram criados, tornando-se obsoleto, material e subjetivamente; sendo assim programado
para o descarte precoce. “A lei é inexorável: uma firma que não cria regularmente novos modelos perde
em força de penetração no mercado e enfraquece sua marca de qualidade numa sociedade em que a
opinião espontânea dos consumidores é a de que, por natureza, o novo é superior ao antigo” (LIPOVETSKY,
1989, p. 160).

“A indústria cultural atribui-se, no entanto, a tarefa de ser a nova força civilizadora do homem e
passa a controlar a sua vida íntima, através da propaganda de noções vulgares e da venda de imagens. A
propaganda, parte orgânica desse processo, visa orientar o consumidor na sua pseudoliberdade de escolha e
mais que determinadas mercadorias, vende estilos de vida, narcotiza as consciências, iludindo os homens
pelos excessos de imagens. (...) para Marcuse, o consumismo encobre o conflito entre as necessidade dadas e
as necessidades possíveis, criando a falsa noção de igualitarismo através do consumo. (...) a grande
necessidade do consumo pode até gerar uma euforia, no entanto, esse ânimo é passageiro, restando no final
a infelicidade, – nascida de um vazio, construído dentro dele, através da própria lógica industrial, que o
impele a consumir mais, formando um ciclo vicioso e gerador das crises existenciais do homem moderno”
(MANCEBO, 2002, p. 327).

Deste modo, enquanto a mídia opera diligentemente para a sedução ao consumo, os consumidores
confessam os desejos que lhes são mais atrativos e ambos definem valores e conveniências que permeiam
tal relação, estabelecendo uma troca interdependente de poderes; onde todos estão subjugados aos
resultados advindos deste jogo de interesses, cujos objetivos principais são a satisfação de necessidades
pessoais, acúmulo de riquezas e status. Apesar de prometerem uma experiência de “totalidade”, as
imagens midiáticas seriam vestígios efêmeros, pertencentes a um tempo presente, que passa, sempre
evanescente, onde importa menos o que se comunica e mais como se comunica (ATEM, 2008).
Segundo Giacomini Filho, “o consumismo é o consumo extravagante ou espúrio de bens e serviços,
que tem origem nas próprias pessoas, mas extremamente influenciável por empresas, grupos e políticas
públicas diversas”. Entretanto, quando se fala em “consumismo” ou “consumo supérfluo” entra-se em um
campo de discussão e interesse da atual economia social o qual merece atenção e uma análise mais
detalhada, uma vez que a indústria do mercado está imersa e se desenvolve em um complexo
interdependente, no qual todos os envolvidos são afetados por seus efeitos, mesmo os que deste processo
não se beneficiam e acolhem apenas os seus rejeitos.
Não há como tratar acerca do consumismo e seus efeitos sem compreender claramente de que
modo as relações estão sendo estabelecidas atualmente; uma vez que assim como outros processos
humanos, o consumo é antes orientado pelos valores e necessidades preexistentes nas sociedades
humanas. A partir do momento em que tais valores encontram-se em um processo de instabilidade e
relativismo em meio às relações humanas torna-se mais fácil a generalização da efemeridade nas mesmas,
assim como a “coisificação” de tais relações, cada vez mais fragmentadas, fluídas e superficiais (BAUMAM,
2008).
As pessoas estão procurando encontrar substitutos para os valores tradicionais por meio do
consumo (ROSA, 2004) e, quando o consumo está associado à tentativa de redução do sentimento de

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


890

frustração que permeia as relações humanas aquele pode facilmente tornar-se uma patologia desenvolvida
através de atitudes inconscientes, alienadas e destrutivas estimuladas pelo consumo veloz de coisas e
sensações que em nada preenchem esses indivíduos carentes de subjetividades psicossociais como o afeto.

“Os ritmos do mercado atenuam arrebatamentos, absorvem e neutralizam as depressões,


impedindo crises mais definitivas. Morim e Kern deixam bem claro que isso não é mais que falseamento da
realidade (...) os movimentos de mercado que ignorem aspectos antropológicos, de psicologia social e política
não são apenas dinâmicas cegas, mas assassinas e suicidas” (MORAIS, 2004, p. 46)

Nas capitais brasileiras, em um simples percurso de casa para a universidade, um jovem estudante
pode observar dezenas, senão centenas, de outodors; propagandas de supermercados com nomes e
valores de produtos – antes dentro dos estabelecimentos, hoje em suas fachadas com banners nas
calçadas; muros repletos de papéis colados, convidando para os mais diversos tipos de shows e
apresentações; placas de aproximadamente 50cm² em quase todas as esquinas, que direcionam o
consumidor com setas para lugares onde se pode comprar qualquer coisa e fica “logo ali”. Coloridas, muito
bem localizadas e iluminadas, essas mídias podem exercer forte influência em torno do consumo gerando
ações compulsivas e alienadas, não apenas sobre os jovens, mas em toda uma sociedade não educada e
consciente dos efeitos nocivos que o consumismo pode gerar nos âmbitos político, econômico, social,
cultural, psicológico e natural.

4. A CONTRIBUIÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL


No intuito de nos ater ao aspecto natural gostaríamos de suscitar até que ponto a educação
ambiental, em seu contexto formal, ou não, através das mais diversas metodologias e abordagens podem,
estrategicamente, trazer contribuições para a compreensão sistêmica da realidade e para a importância do
desenvolvimento sustentável no processo de produção, consumo e descarte; assim como alertar para a
percepção da co-responsabilidade dos indivíduos em torno de suas ações diante do consumo e seus efeitos
no meio natural. Se, como afirma Capra (1996, p. 24), uma sociedade sustentável é aquela que satisfaz suas
necessidades sem diminuir as perspectivas das gerações futuras – entendendo que tais necessidades
variam de acordo com os valores dos indivíduos – é preciso haver uma mudança radical de paradigmas
quanto ao pensamento e as atitudes diante do consumo, de modo que a finitude dos bens naturais seja
levada em consideração.
Problemáticas como o depósito em céu aberto de 76% do lixo encontrado nas ruas das grandes
cidades brasileiras e a produção diária de cerca de 3 mil toneladas de lixo ou 2 quilos de resíduos por
habitante numa cidade como Recife (FARINHA, 2005, p. 1) tem como sujeitos os próprios seres humanos,
sendo portanto cada indivíduo responsável por suas ações. Neste contexto, soluções e alternativas
poderiam ser pensadas e desenvolvidas coletivamente através de medidas preventivas e corretivas
propostas pela educação ambiental em contextos formais e não-formais, mediante o apoio de políticas
públicas, empresas e instituições de ensino, assim como a participação da sociedade civil.
A temática do consumo nunca foi tão discutida como tem sido no início deste século, entretanto a
relevância de sua abordagem e complexa essência vinculada às múltiplas instâncias – política, econômica,
social, cultural, psicológico e natural – deve ser levada em consideração afim de que o tratar dessas
questões seja coerente com o desenvolvimento do processo, desde a criação de uma necessidade humana
até elaboração de um produto ou serviço, sua comercialização, descarte e acúmulo ou reutilização dos
rejeitos.
A educação ambiental pode trazer a clara percepção de que os indivíduos não são meros
expectadores desse complexo interdependente, mas agentes determinantes, ativos e responsáveis pela
dinâmica não-linear da indústria do consumo, que interliga muitos, favorecem poucos e pode trazer
grandes malefícios ao meio natural. De modo que o consumidor não deve ignorar tais processos vivendo
condutas consumistas como sendo distintivas ou um sinal de liberdade, pois tal “condicionamento de
diferenciação e obediência a um código” (BAUDRILLARD, 1995, p. 60) indicam sim uma pseudo-alienação
diante de um contexto no qual são co-responsáveis pelos efeitos maléficos do consumo desordenado,
tanto mídia quanto sociedade.

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Giacomini afirma que necessidade de convívio com familiares, amigos e outras pessoas impulsiona
o consumo e o consumismo; ou seja, quando tais necessidades não são naturalmente satisfeitas o ser
humano vive constantemente carente de relações afetivas, em todas as suas formas e intensidades, e a
todo o momento desejoso não mais de estabelecer e cultivar tais relações, mas de vivenciar as sensações
que essas relações promovem; ainda que de maneira artificial. Neste sentido, a educação ambiental pode
exercer um papel fundamental para o resgate dos valores humanos – sua solidez e durabilidade – através
da elaboração de atividades voltadas para os sujeitos e suas ações diante das problemáticas ambientais,
assim como atividades que proponham uma reflexão acurada acerca da qualidade das relações dos sujeitos
entre si e com o todo a sua volta.
Para Dias, a educação ambiental “deve promover, simultaneamente, o desenvolvimento de
conhecimento, de atividades e habilidades necessárias à preservação e melhoria da qualidade ambiental”
(2004, p. 216) e deste modo ser capaz de transformar comportamentos, despertando para a importância
do envolvimento da sociedade na identificação e solução dos problemas ambientais advindos do consumo
supérfluo, cujas raízes encontram-se na ausência de ética e valores inerentes às relações humanas e cujas
causas, dentre muitas outras é – além da superficialidade nas relações – a degradação ambiental.

5. REFERÊNCIAS
ATEM, Guilherme N. Semiocapitalismo e Mídia na Modulação das Afecções: de McLuhan a Todd
Gitlin. In: Rumores. Revista de Comunicação, Linguagem e Mídias, São Paulo, v. 1, n. 2, 2008
BARBOSA, Lívia. Sociedade de Consumo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2004.
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CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida. São Paulo: Editora Cultrix, 1996.
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GIACOMINI FILHO, Gino. Meio ambiente e consumismo. São Paulo: Editora Sanac São Paulo, 2008.
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http://www.revistas.ufg.br/index.php/Opsis/article/view/9276/6372 Acessado em: 3 maio 2011.
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e Epistemologia da Universidade Católica de Brasília, Brasília, v. 1, n. 6, p.69-82, 2010. Quadrimestral.
Disponível em: http://portalrevistas.ucb.br/index.php/comunicologia/article/view/1717/1149 Acessado
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Disponível em: http://www.sinpro-rs.org.br/extraclasse/dez04/comportamento.asp Acesso 03 jun. 2011.
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merchandising de TV. In: Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Caxias dos Sul, UCS, set., 2010.
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de consumo e da estilização da vida. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO DA

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


892

REGIÃO NORDESTE, 9., 2007, Salvador. Anais eletrônicos ... Salvador: Intercom, 2007. Disponível em:
http://www.intercom.org.br/papers/regionais/nordeste2007/resumos/R0658-1.pdf Acesso: 3 maio 2011.

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O PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS


ESCOLAS
Débora Evangelista Reis Oliveira
Doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA – UFS – deboraereis@yahoo.com.br
Viviane Almeida Rezende
Mestre em Educação – NPGED – UFS – viviane_biologia@yahoo.com.br
Aline Lima de Oliveira
Mestranda em Educação Educação, Contextos Contemporâneos e Demandas Populares – PPGDUC – UFRRJ –
linezinha_blue@hotmail.com

RESUMO
A Educação Ambiental no contexto escolar objetiva abrir espaços para a construção de
conhecimentos e para a articulação de saberes, possibilitando a formação de indivíduos que sejam
partícipes na construção de uma sociedade sustentável, socialmente justa e ecologicamente equilibrada.
Apesar da relevância da Educação Ambiental no contexto da educação formal, ela ainda se apresenta
fragilizada nas práticas pedagógicas das escolas. Analisando as dificuldades enfrentadas pelas escolas na
inclusão da Educação Ambiental, pode-se destacar a forma como vem sendo executado o planejamento
pedagógico, desvinculado da realidade e da discussão coletiva, o que dificulta as práticas de caráter
interdisciplinar, tal como primam os pressupostos da Educação Ambiental. Este trabalho é resultado de
uma pesquisa bibliográfica que teve como objetivo refletir sobre a relação entre o planejamento
participativo e as práticas da Educação Ambiental na escola. As reflexões feitas neste estudo apontam para
a necessidade de se (re)pensar a forma como a escola planeja suas ações, inserindo no contexto escolar
metodologias de trabalho coletivas, a exemplo do planejamento participativo, uma importante ferramenta
de intervenção na realidade, buscando a superação da fragmentação e da individualidade do planejamento
pedagógico, apontando para mudanças significativas num processo de ação-reflexão-ação.
Palavras-chave: Educação Ambiental, Ensino Formal, Planejamento Participativo.

INTRODUÇÃO
É inegável que a Educação Ambiental (EA) é fundamental na formação de valores e atitudes que
possibilitem a compreensão da complexidade do mundo e a atuação responsável dos atores sociais
(individuais e coletivos) no ambiente, visando à transformação da atual crise ambiental do planeta. Sendo
assim, inserir a dimensão ambiental nos processos educativos torna-se extremamente essencial, pois
educar ambientalmente é oportunizar aos sujeitos a formação de uma consciência crítica capaz de
mobilizá-los para a intervenção na realidade.
É interessante observar uma forte tendência em reconhecer o processo educativo como uma
possibilidade de provocar mudanças significativas que podem alterar o atual quadro de degradação do
ambiente. Nesse sentido, o ambiente escolar oferece um espaço essencial para o desenvolvimento da
Educação Ambiental, transformando hábitos, atitudes e comportamentos, o que propicia a formação de
indivíduos críticos e conscientes do seu papel na defesa de um meio ambiente saudável.
A Educação Ambiental vem se disseminando no ambiente escolar brasileiro. É uma
crescente inserção em resposta às expectativas que a sociedade projeta sobre a escola. “A
institucionalização da EA que vem se processando reflete a demanda da sociedade e, reciprocamente,
pressiona as escolas a desenvolver ações que denominam de Educação Ambiental.” (GUIMARÃES, 2004,
p.119).
Apesar da difusão crescente da Educação Ambiental pelo processo educacional, essa ação
educativa se apresenta ainda fragilizada em sua prática pedagógica. O que se percebe na maior parte das
escolas é que a EA geralmente é trabalhada de forma fragmentada e/ou descontextualizada. Muitas vezes
o que se vê são projetos extracurriculares com atuação pontual e transitória e que têm sido relegados à
iniciativa de cada escola ou até mesmo inexistindo na maioria das instituições de ensino.
Fazendo uma análise dos desafios enfrentados pelas escolas na implementação da EA, pode-se
destacar a forma como vem sendo executado o planejamento escolar, pois ele tem se configurado como

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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uma prática desvinculada da realidade do processo educativo e da discussão coletiva, sendo realizado de
forma individualizada, o que dificulta as práticas de caráter interdisciplinar, tal como primam os
pressupostos da EA. Dessa forma, para se trabalhar a Educação Ambiental, torna-se necessário repensar a
forma como a escola planeja as suas ações, inserindo no contexto escolar metodologias de trabalho
coletivas, a exemplo do Planejamento Participativo (PP), uma importante ferramenta de intervenção na
realidade.
Este trabalho procurou discutir sobre a relação entre o processo de Planejamento Participativo (PP)
e as práticas de Educação Ambiental nas escolas, refletindo como o PP pode contribuir para a inclusão e
para o fortalecimento das práticas de EA, no sentido de buscar a superação da fragmentação e da
individualidade do planejamento pedagógico, entendo a Educação Ambiental como um processo
participativo de formação.

O PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA


Segundo Guimarães (2007, p. 21-22), na década de 1970, a Educação Ambiental não se encontrava
fortalecida no Brasil, haja vista que se vivenciava no país um período político de regime autoritário.
Somente na década de 1980 foi que os trabalhos acadêmicos abordavam com mais intensidade a temática,
pois o Brasil se encontrava em transição para um regime mais democrático.
Em nível de legislação, a Educação Ambiental foi enfatizada na Lei n° 6.938, de 1981, que institui a
Política Nacional do Meio Ambiente, tendo como um dos objetivos a formação de uma consciência pública
sobre a necessidade preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico (BRASIL, 1981). Em 1988,
a Constituição Brasileira enfatizou a obrigatoriedade da Educação Ambiental em todos os níveis de ensino,
em que o lugar e a relevância da EA foram garantidos no capítulo que trata do meio ambiente (Art. 225, §
1º,VI).
Na década de 1990, surgiu no Brasil a Política Nacional de Educação Ambiental (lei 9.795/99) que
rege todas as práticas educativas relacionadas ao Meio Ambiente. De acordo com Dias (2004) esta lei foi de
grande relevância, pois o Brasil é o único país da América Latina que tem uma política nacional específica
para a Educação Ambiental. Sem dúvida, essa foi uma grande conquista política que refletiu positivamente
na implementação da EA nos processos educativos.
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), a principal função do trabalho com o tema Meio
Ambiente na escola é contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos para decidirem e aturem
na realidade sócio-ambiental de um modo comprometido com a vida, como o bem-estar de cada um e da
sociedade, local e global. Para isso, mais do que informações e conceitos, a escola deve se propor a
trabalhar com a formação de novos valores e com a formação crítica dos indivíduos.
Para que a escola forme indivíduos com capacidade de intervenção na realidade global e complexa,
faz-se necessário que se avance no sentido de buscar a construção do conhecimento interdisciplinar, que
problematize as questões ambientais e que as reflitam em sua complexidade, vislumbrando a formação de
sujeitos que se posicionem criticamente diante da realidade. É nessa perspectiva que a Educação Ambiental
deve ser enfocada. Para isso, é imprescindível repensar a maneira como as escolas vêm planejando e
executando as suas ações, orientando-as para uma participação ativa dos sujeitos que planejam,
possibilitando uma visão mais integrada do processo para se alcançar a interdisciplinaridade, princípio
básico da Educação Ambiental, pois “quando se evoca a participação ativa de todos os envolvidos no
processo, a questão da interdisciplinaridade se destaca” (GUIMARÃES, 2007, p. 44). Dessa forma, o
Planejamento Participativo torna-se um instrumento que possibilita o exercício da interdisciplinaridade
pelo incentivo à postura integrativa.
Para Guimarães (2007), o planejamento tem sido na atual prática pedagógica um
procedimento desgastado, desvinculado da realidade do processo pedagógico. No entanto, para realizar
uma educação comprometida com a transformação da sociedade para um mundo mais equilibrado no que
diz respeito às questões sócio-ambientais, faz-se necessário resgatar o planejamento como uma
importante ação pedagógica.
Conforme os princípios básicos da Educação Ambiental, o planejamento das ações em EA deve ser
realizado de forma integrada e interdisciplinar. Como assevera Loureiro (2006), construir a
interdisciplinaridade passa pela

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[...] aceitação de que a realidade é ontologicamente múltipla, pelo conhecimento da


história das ciências, da base paradigmática que conformam as diferentes teorias e visões de
mundo, pelo diálogo transparente e objetivo entre disciplinas, métodos e suas bases
epistemológicas, redefinindo-os. Mais do que isso, passa pela mudança estrutural e institucional no
campo da educação, envolvendo temas os quais os educadores ambientais não podem se furtar ao
debate e ao conhecimento e nem deixar de se posicionarem a respeito: financiamento público em
educação, expansão e universalização do ensino, reforma universitária, currículos, projetos político-
pedagógicos, etc. (p. 129).

Entende-se a partir disso que a abordagem interdisciplinar tem como objetivo a superação da
fragmentação do conhecimento, avançando para uma noção de complexidade, fundamental para a
compreensão e para a ação equilibrada no ambiente, que é inteiro e não fragmentado (GUIMARÃES, 2007).
É claro que superar a fragmentação não é tarefa fácil, pois requer a construção de um novo
currículo e de novas práticas educativas, expondo a importância tanto da intenção de sua elaboração como
do nível de interpretação dos docentes e da procura de novos significados por parte dos alunos, que
garanta a concretização de uma prática educativa interdisciplinar que aponte para a compreensão
complexa da realidae. Para isso, os objetivos gerais que permeiam o planejamento para o trabalho com a
Educação Ambiental devem estar relacionados com as diretrizes de um Planejamento Participativo,
entendo que o desenvolvimento de um processo participativo permite uma interação interdisciplinar e
multissetorial, facilitando o surgimento de soluções mais criativas e ajustadas à realidade vivenciada pelos
sujeitos (CORDIOLI, 2001).
Nos últimos anos o debate sobre o processo de Planejamento Participativo da unidade escolar
ganhou importância entre os teóricos que postulam a descentralização do sistema educacional como um
caminho para a democratização da gestão da educação e a conseqüente melhoria da qualidade do ensino.
Entender o significado da escola e suas relações no sistema educacional, bem como com a sociedade,
tornou-se uma exigência imprescindível para garantir um planejamento realmente participativo.
A prática do planejamento participativo pressupõe a participação, que de acordo com Demo (1988,
p.67), “deve levar ao fenômeno da autopromoção, entendida como uma política social centrada nos
próprios interessados que passam a autogerir ou pelo menos co-gerir a satisfação de suas necessidades”.
Entretanto, torna-se importante identificar que a participação necessita ser incentivada, de modo que
todos os esforços sejam canalizados para desenvolver as potencialidades e criatividades, coletivas e
individuais.
Segundo Vianna (1986, p.18), o Planejamento Participativo constitui uma “estratégia de trabalho
que propõe uma nova forma de ação cuja força caracteriza-se na interação e participação de muitas
pessoas, politicamente agindo em função de necessidades, interesses e objetivos comuns”. Cordioli (2001)
acrescenta que a participação não é somente um instrumento para a solução dos problemas, mas também
um caminho para aumentar a motivação e o entusiamo das pessoas. Nesse sentido, um processo
participativo visa não somente à elaboração de propostas mais ajustadas à realidade, mas implica também
em uma aprendizagem mútua, envolvendo todos os que possam contribuir, seja conceitualmente, seja pela
sua experiência. Ele é a base para a interação e confiança entre as pessoas e, assim, a sua autogestão.
Tal estratégia tem afinidade com a prática metodológica da Construção Compartilhada do
Conhecimento conceituada como
[...] interação comunicacional, em que os sujeitos com saberes diferentes, porém não
hierarquizados, se relacionam a partir de interesses comuns. Nessa perspectiva todos somos
educadores e fazemos circular saberes diversos e de diferentes ordens, construídas no
enfrentamento coletivo ou individual de problemas concretos (ACIOLI et. al., 2001, p.102-103).

Trata-se, portanto, de um trabalho que valoriza a contribuição pessoal e o trabalho em grupo, onde
cada sujeito propõe sugestões e sistematiza os princípios de suas ações com o objetivo de construir um
bem coletivo para o grupo social envolvido. No entanto. para que esta proposta seja concretizada, faz-se
necessário realizar reflexões críticas entre os vários sujeitos envolvidos, além do engajamento político e
consciente de todos.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


896

Nesta perspectiva, uma proposta de Planejamento Participativo para as ações em


Educação Ambiental se constitui em lócus para o exercício de uma práxis comunicativa por parte dos
docentes e equipe técnico-pedagógica e destes para com os demais membros da escola. O Planejamento
Participativo se configura como um agir baseado no diálogo que buscaria romper fronteiras entre os
diferentes saberes e práticas pedagógicas. Esse tipo de prática teórico-metodológica é inspirada na
pedagogia crítica da Educação que tem como eixo a problematização. Nesse sentido, a educação deve
voltar-se para uma ação reflexiva de intervenção na realidade complexa, associando a atitude reflexiva com
a ação (práxis).
O entendimento do verdadeiro sentido do Planejamento Participativo está em concebê-lo como
um processo político, num contínuo propósito coletivo. Suas estratégias são o diálogo e contribuição
pessoal de todos os envolvidos no processo. Sendo assim, o planejamento de ensino não poderá ser visto
de forma mecânica, mas como uma ação resultante de um processo que integre escola e contexto social,
consistida de forma crítica e transformadora. Para Demo (1988), produzir e participar é uma fórmula
democrática que, em toda a sua simplificação, traduz a potencialidade real da educação.
Quando a participação ativa de todos os envolvidos no processo educativo é enfatizada, a trabalho
interdisciplinar encontra possibilidade de concretização. Sendo assim, é fundamental o resgate da noção de
complexidade, pois a fragmentação do saber é um dos pressupostos da crise ambiental das sociedades
modernas. O Planejamento Participativo torna-se, então, um valioso instrumento para se alcançar a
interdisciplinaridade, através do incentivo de uma postura integrativa, construindo assim uma visão
integrada e não fragmentada do conhecimento.
De acordo com Lopes (1990), citado por Guimarães (2007), o Planejamento Participativo é uma
forma de trabalho comunitário que se caracteriza pela integração de todos os setores da atividade humana,
numa ação globalizante, com vista à solução de problemas comuns. O autor acrescenta ainda que essa
forma de ação implica uma vivência de pessoas que discutem, decidem, executam e avaliam atividades
propostas coletivamente” (LOPES, 1990, apud GUIMARÃES, 2007).
Segundo Guimarães (2007), para melhor sistematização, o Planejamento Participativo é subdividido
em três etapas, a saber: a) levantamento e diagnóstico, onde será diagnosticado o problema que será
trabalhado pelo processo educativo, tendo como ponto de referência a realidade local; b) plano de ação,
que inclui a criação de procedimentos que possibilitarão uma práxis, em uma intervenção crítica na
realidade; c) execução, que envolve a aplicação dos procedimentos elaborados, possibilitando a criação de
novos valores e atitudes na relação ser humano/ambiente. A intervenção crítica na realidade se dá a práxis
em Educação Ambiental, em que o educando e o educador exercitam a reflexão/ação, caracterizando uma
educação ativa, participativa e permanente.
Diante disso, concebe-se que a ação de planejar não pode ser encarada como uma atividade
neutra. Por outro lado, a opção por um ensino crítico e transformador só se concretizará através de uma
sistemática de planejar de forma participativa e problematizadora. Portanto, a escola deve utilizar o
planejamento como uma ação pedagógica consciente e comprometida com a complexidade do
conhecimento e com um processo educativo transformador, o qual, emergido do social, a ele retorna numa
ação dialética. É nesse momento que a Educação Ambiental encontra na escola o espaço para se
concretizar. É justamente na concretização desse processo que se dá a práxis em que os educandos e os
educadores exercitam a reflexão e a ação na construção de novos valores e atitudes que integrem ser o ser
humano e a natureza.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Educação Ambiental apresenta uma nova dimensão a ser incorporada ao processo educacional,
visando transformação de conhecimentos, valores e atitudes diante de uma nova realidade a ser
construída. Por este motivo, a EA deve ser participativa, comunitária, criativa e deve valorizar a ação.
Justamente por essas características, o planejamento das ações em Educação Ambiental deve ser
essencialmente participativo.
O Planejamento Participativo é um instrumento pedagógico e político de mudança, o seu propósito
é a coletividade e aponta para uma ação prático-reflexiva. Sendo assim, os objetivos gerais que permeiam o
planejamento para uma Educação Ambiental se relacionam com as diretrizes de um Planejamento

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Participativo, que inclui a participação ativa dos envolvidos no processo de ensino, buscando a unidade
entre teoria e a prática, partindo da realidade concreta, que é complexa.
Diante disso, para se trabalhar a Educação Ambiental na escola, buscando a superação da
fragmentação do saber, é fundamental resgatar o planejamento como uma ação pedagógica essencial
(GUIMARÃES, 2007). Nesse sentido, faz-se necessário (re)pensar a maneira como as escolas vêm
planejando e executando as suas ações, orientando-as para uma participação ativa dos elementos que
planejam, possibilitando uma visão mais integrada do processo para se alcançar a interdisciplinaridade,
princípio básico da Educação Ambiental.
As discussões apresentadas neste artigo permitiram algumas reflexões que podem contribuir
significativamente para a discussão de novas práticas pedagógicas que priorizem a Educação Ambiental,
fortalecendo a atuação dos membros da escola, mais precisamente dos professores, dando-os condições
de formação e de trabalho, pois serão eles que, pela práxis, poderão levar a teoria construída criticamente
a uma prática transformada e transformadora (GUIMARÃES, 2004).

REFERÊNCIAS
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investigação científica do ponto de vista popular. In: VASCONCELOS, E.M. (org.). A Saúde nas palavras e nos
gestos: reflexões da rede educação popular e saúde. São Paulo: Hucitec, 2001.
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CORDIOLI, Sérgio. Enfoque participativo no trabalho com grupos. In: BROSE, Markus (Org.).
Metodologia Participativa: uma introdução a 29 instrumentos. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2001.
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Autores Associados, 1988.
DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo:Gaia, 2004.
GUIMARÃES, Mauro. A dimensão ambiental na educação. Campinas, SP: Papirus, 2007.
______. Problematizando conceitos: contribuição à práxis em educação ambiental. In: CASTRO, R.
S. et al. (Orgs.). Pensamento complexo, dialética e educação ambiental. São Paulo: Cortez, 2006.
________. A formação de educadores ambientais. Campinas, SP: Papirus, 2004.
VIANNA, Ilca Oliveira de Almeida. Planejamento Participativo na escola: um desafio ao educador.
São Paulo: EPU, 1986.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE AS QUESTÕES AMBIENTAIS


EM ALUNOS DO ENSINO MÉDIO DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE SANTANA
DO IPANEMA/AL
Dênis Vinícius Farias PALMEIRA
Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL). Campus II: BR 316, KM 87,5 – Bebedouro, CEP 57.500-000 – Santana do
Ipanema/AL. Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Ambiental (GEPEA). E-mail: denis.farias1@yahoo.com.br.
Graduando do Curso Licenciatura em Ciências Biológicas.
Wellyngton Chaves Monteiro da SILVA
Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL). Campus II: BR 316, KM 87,5 – Bebedouro, CEP 57.500-000 – Santana do
Ipanema/AL. Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Ambiental (GEPEA). E -mail: wcmsprof@gmail.com. Professor
assistente. Orientador. Mestre em Agronomia.

RESUMO
O presente estudo visa analisar como os alunos do Ensino Médio de uma escola da rede pública de
ensino de Santana do Ipanema/AL constroem conhecimento sobre as questões ambientais. O conceito de
construção do conhecimento é referenciado na epistemologia genética de Jean Piaget. O público alvo da
pesquisa consistiu em 60 alunos do primeiro e terceiro anos do Ensino Médio, com idade entre 14 e 20
anos. O instrumento de investigação utilizado foi um questionário contendo questões abertas sobre as
questões ambientais. Os resultados demonstraram que há desenvolvimento significativo do conhecimento
com o decorrer da idade. Concluímos que os alunos podem ser classificados em: 1) alunos com 14 e 15
anos de idade: possuem concepção natural do meio ambiente, percepção local e atual das questões
ambientais e realizam conexões bilaterais do sistema ambiental. A principal dificuldade dessa faixa etária é
entenderem a relação homem-meio ambiente, que para eles é excludente; 2) alunos com 16 a 18 anos:
possuem concepção cognoscente do meio ambiente, percepção global e histórica e continuam realizando
conexões bilaterais. Nessa fase entendem que os recursos naturais (bióticos e abióticos) estão em função
apenas do ser humano, como se essa fosse a espécie dominante do planeta; e, 3) com mais de 18 anos,
concepção histórica do meio ambiente, percepção global e futura e visão sistêmica. É marcante, nessa faixa
etária, a capacidade de perceber-se enquanto ser ativo no sistema ambiental. E também de entender sua
relação com o outro (homem-homem e homem-natureza).
PALAVRAS-CHAVES: educação ambiental, educação formal, construtivismo, Jean Piaget.

INTRODUÇÃO
Em fins do século XX e nos primeiros anos deste século, os problemas ambientais tornaram-se cada
vez mais significativos. Acidentes ecológicos, perda exacerbada de biodiversidade, superpopulação humana
são alguns dos fatos mais preponderantes. Por isso, diversos eventos de âmbito internacional ocorreram,
desde então, com vistas a debater a temática ambiental.
Em 1968, por exemplo, realizou-se uma reunião de cientistas. Essa reunião ficou conhecida como o
Clube de Roma. “Um dos méritos dos debates das conclusões do Clube de Roma foi colocar o problema
ambiental em nível planetário, e como conseqüência disso, a Organização das Nações Unidas realizou em
1972, em Estocolmo, Suécia, a Primeira Conferência Mundial de Meio Ambiente Humano.” (REIGOTA, 2009,
p. 23) Após isso, outras conferências da ONU ocorreram como o Rio-92 e a realizada em Johannesburgo,
em 2002. Além disso, outros muitos eventos de âmbitos nacional e regional também visaram debater a
crise ambiental. As diversas discussões conduziram a importantes conclusões.
Uma das conclusões é que a questão ambiental é complexa e envolve dois âmbitos interligados: o
biológico (ecológico) e o social. Visto que o “ambiente não é [apenas] a ecologia, mas a complexidade do
mundo; é um saber sobre as formas de apropriação do mundo e da natureza através das relações de poder
que se inscreveram” (LEFF, 2002, p. 17) Ou seja, é necessário entender que o homem enquanto ser social
interfere o sistema natural. Ao mesmo tempo em que ele próprio (o ser humano) é interferido, já que ele
mesmo também é um ser biológico. Assim, temas econômicos, políticos e sociais vêm sendo debatidos em
integração com temáticas ecológicas na busca por soluções para os problemas ambientais.

João Pessoa, outubro de 2011


899

Outro ponto colocado foi a necessidade de “‘formação’ do cidadão e da cidadã para atuar diante
dos problemas e desafios ambientais” (REIGOTA, 2009, p. 25). Então, intensifica-se e dissemina-se a
educação ambiental. Em consonância com a visão de existência de uma complexidade ambiental, “a
educação ambiental não deve estar relacionada apenas com os aspectos biológicos da vida”, mas também
com os aspectos sociais.
No Brasil, desde a década de 90, foi implantado o Projeto Parâmetros Curriculares Nacionais. “A
inclusão do tema Meio Ambiente nos PCN possibilitou uma fecunda discussão entre os educadores e as
educadoras ambientais no Brasil.” (REIGOTA, 2009, p. 43) Este documento enfatiza que todas as áreas do
conhecimento humano são “fundamentais, não só por se constituírem em instrumentos básicos para os
alunos poderem conduzir o seu processo de construção do conhecimento sobre meio ambiente, mas
também como formas de manifestação de pensamento e sensações.” (PCN, p. 194)
Portanto, o aluno do ensino básico é induzido a um estudo aprofundado do meio ambiente. No
entanto, o “conhecimento ambiental das crianças e dos adolescentes, de modo geral, é preliminar e
intermediário, ou seja, eles não possuem entendimentos sistematizados das inter-relações entre os
elementos do sistema ambiental [...]” (VESTENA, 2010, p. XV). Uma das possíveis causas desse fato,
segundo Seber (1997, p. 20), é o “descompasso entre as situações propostas em sala de aula e as
características dos processos de desenvolvimento [dos alunos], [que] mais dia menos dia, pode minar o
prazer da busca de conhecimentos novos.”
Para Vestena (2010, p. 8) o conhecimento das temáticas ambientais está diretamente relacionado
com “[...] a forma do homem se relacionar com o meio ambiente [...], assim como também as concepções
construídas a partir dessas relações”. Segundo Tozoni-Reis (apud Conrado; Silva, 2007, p. 623), as principais
concepções de meio ambiente são:
[...] a concepção natural associa-se ao vínculo harmônico e idílico do ser humano com a natureza. A
partir da visualização da espécie humana como dominadora e destruidora do meio natural, busca-se a
reintegração da sociedade à natureza primitiva. Considera-se tal concepção uma representação
romantizada, saudosista, e relacionada a uma imagem mágica, antropomorfizada e orgânica da natureza.
Já a concepção cognoscente – influenciada pela visão mecanicista do mundo, pela objetividade da
ciência e, consequentemente, pelo utilitarismo e antropocentrismo – busca, com a tecnologia e a
acumulação de conhecimentos, a solução para os impasses ao meio natural. Nessa concepção, o ser
humano precisa conhecer e dominar a natureza, utilizando os “recursos naturais” de modo controlado e de
forma a garanti-los para a próxima geração.
Na concepção histórica, o ser humano é visto como parte da natureza: nela interfere, com ela
interage e a transforma – a ela e a si próprio. Entende-se o vínculo humano com a natureza como uma
relação entre a sociedade e o meio natural, isto é, inserindo-se nesta relação as dimensões históricas,
políticas, sociais, econômicas e culturais. A história e a cultura são condicionantes e mediadoras desta
relação que está associada a uma concepção filosófica do ser humano, na qual suas necessidades são
mutáveis por meio das relações sociais que, por sua vez, determinam transformações na natureza e na
sociedade (TOZONI-REIS apud CONRADO; SILVA, 2007, p. 623)
Essa visão interacionista da relação homem (enquanto ser pensante) e meio ambiente é
corroborada pela teoria da epistemologia genética de Jean Piaget. Para ele, o processo de construção do
conhecimento se dá pelas “[...] ações, pois são o produto de uma abstração procedente da coordenação
das ações, e não dos objetos” (PIAGET, 1976, p. 77). Assim, quando o indivíduo entra em contato com um
objeto de estudo ainda não conhecido, ele pode ficar cognitivamente desequilibrado. Para construir seu
conhecimento, o indivíduo tem que organizar-se cognitivamente para dar conta de entender as
particularidades do novo objeto. Portanto, a construção do conhecimento não se dá somente por acúmulo
de informações, mas também pela organização da estrutura cognitiva com a finalidade de adaptar-se ao
meio.
Dessa forma, a teoria piagetiana centra-se em dois significados de inteligência: de estrutura e
função. Sendo estrutura, a inteligência é uma organização; enquanto função, ela é uma adaptação. Em
outras palavras, organização e adaptação “[...] são os dois processos complementares de um mecanismo
único [a construção do conhecimento], sendo o primeiro o aspecto interno do ciclo do qual a adaptação
constitui o aspecto exterior” (PIAGET, 1970, p. 18). Por seu turno, a adaptação é um processo em que há
assimilação e acomodação. “Se denominarmos acomodação esse resultado das pressões exercidas pelo

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


900

meio [...] Com efeito, a inteligência é assimilação na medida em que incorpora nos seus quadros todo e
qualquer dado da experiência” (PIAGET, 1970, p. 17).
[Assim,] o desenvolvimento do conhecimento do ambiente, é complexo e dinâmico, além de estar
em constante construção, o que exige avaliações periódicas do conhecimento em que os alunos se
encontram, para subsidiar e fundamentar ações pedagógicas que visem ampliar o nível de esquemas sobre
as questões ambientais. (VESTENA, 2010, p. 123)
Dessa forma, o presente estudo busca entender como os alunos do Ensino Médio de uma escola
pública de Santana do Ipanema/AL constroem conhecimento sobre as questões ambientais. Isso implica: 1)
identificar estágios de desenvolvimento do conhecimento sobre as questões ambientais; 2) verificar as
facilidades e limitações de aprendizagem dos alunos de cada ano de ensino sobre as questões ambientais;
3) identificar a relação evolutiva do conhecimento sobre as questões ambientais entre os alunos dos anos
do Ensino Médio de acordo com a faixa etária.

METODOLOGIA
O público da pesquisa foi constituído por 2 turmas do Ensino Médio de uma escola pública
de Santana do Ipanema-AL. A amostra foi constituída por 1 turma do 1º ano e 1 turma do 3º ano. Ao total,
60 alunos participaram da pesquisa. Os alunos responderam individualmente a um questionário com
questões abertas sobre as questões ambientais. O questionário foi aplicado em sala de aula, em momentos
diferentes para os alunos do 1º e 3º anos.
Os textos produzidos pelos alunos foram analisados segundo 4 aspectos:
1. Como o aluno concebe o meio ambiente: a) concepção natural – com uma visão idílica do
meio ambiente; b) concepção cognoscente – com uma visão mecanicista do meio ambiente; c) concepção
histórica – com uma visão que agrupa todos os aspectos do sistema ambiental.
2. O nível de conhecimento em relação ao espaço: a) percepção local/regional – limitada,
neste caso, à região nordeste do Brasil; b) percepção nacional – limitada ao espaço territorial do Brasil; c)
percepção global – abrangendo todos os biomas do mundo.
3. O nível de conhecimento em relação ao tempo: a) percepção atual – quando o aluno
consegue apenas pensar no presente e nas causas ambientais a curtíssimo prazo; b) percepção histórica –
quando o aluno consegue realizar uma retrospectiva e então entender o momento atual das questões
ambientais; c) percepção futura – é aquele aluno que além de pensar no passado e presente, antever os
fatos ambientais em longo prazo.
4. Como o aluno relaciona os aspectos ambientais: a) visão unilateral – concebe as questões
ambientais como unicamente de ordem ecológica; b) visão bilateral – quando o aluno consegue realizar
relações ambientais entre dois aspectos somente; c) visão sistêmica – quando o aluno consegue pensar
holisticamente sobre as questões ambientais, no qual há um sistema ambiental em que os fatores são
mutuamente influenciados.
Por fim, foram verificadas as facilidades e limitações de aprendizagem dos alunos de cada
aluno por faixa etária. Assim, ao final da análise de cada aluno, foram identificados pontos em comum dos
alunos da mesma faixa etária.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao analisarmos o gráfico 1, com relação ao aspecto 1 (concepção de meio ambiente), percebe-se
que os alunos com idades de 14 e 15 anos possuem uma concepção natural do ambiente. Ao longo do
Ensino Médio, a concepção natural do meio ambiente sofre um declínio significativo. Gradativamente essa
fase é superada por uma concepção cognoscente do ambiente. A concepção cognoscente apresenta maior
frequência e se estende até geralmente os 17-18 anos de idade. De modo moderado, a concepção histórica
do meio ambiente aumenta somente em uma faixa etária na qual o aluno está terminando o Ensino Médio.

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Gráfico 5. Concepção de meio ambiente de alunos do Ensino Médio de uma escola pública de
Santana do Ipanema/AL.

Ainda com relação ao aspecto 1 (concepção de meio ambiente), na fase inicial, portanto, esses
alunos têm dificuldades de entender o ser humano enquanto ente integrante do meio ambiente. Para esta
faixa etária de 14 e 15 anos de idade, o meio ambiente é um local habitado por animais e plantas, sendo
que há para eles uma nítida distinção entre meio antrópico e natural. Percebe-se que o ser humano é
considerado, por esses alunos com essa idade, como um agressor do meio ambiente. Infere-se com esse
modo de pensar que o ambiente é um organismo auto-restaurador, ou seja, sem a presença humana
ambiente seria perfeito. Poder-se-ia dizer que é uma fase idílica do conhecimento sobre as questões
ambientais.
Somente a partir dos 16 anos de idade, em média, paulatinamente a concepção cognoscente do
meio ambiente começa a ser presente nos discursos dos alunos. Nesta etapa, o aluno considera o ser
humano como participante do meio ambiente, mas ainda como um ser superior que tem o dever de cuidar
dos recursos naturais para que no futuro o planeta ainda tenha condições de abrigar a espécie humana.
Para esses alunos, o conhecimento humano traduzido na ciência e na tecnologia é capaz de resolver os
problemas ambientais, desde que haja uma exploração planejada dos recursos naturais. Esta fase é
marcada pelo pragmatismo científico, ou seja, o conhecimento em prol do bem-estar humano, ou ainda, a
natureza sendo explorada racionalmente em função das necessidades humanas.
A fase em que a concepção cognoscente do meio ambiente predomina estende-se praticamente
até o final do Ensino Médio. Quando, então, timidamente a concepção histórica do meio ambiente supera a
concepção cognoscente. Nessa última fase aqui elencada, há um discurso mais elaborado, em que o
indivíduo percebe-se enquanto ser ator/receptor dos processos ambientais. Pensa também no outro, e nas
inter-relações entre ele e o outro, e ele enquanto parte do ambiente. De maneira preliminar, o aluno já
consegue entender as inter-relações que vão além do pragmatismo de dominar a natureza com
responsabilidade. Enquanto que essa característica é inexistente na fase da concepção cognoscente. A
visão holística do meio ambiente é o ponto alto dessa última fase.
No que diz respeito ao aspecto 2 (percepção espacial das questões ambientais), os resultados
apresentaram uma oscilação (gráfico 2). Essas variações do gráfico 2 nos indicam, portanto, que alguns
poucos desses alunos demonstraram limitações para entender o ambiente global, mas
predominantemente a partir dos 15 anos de idade os alunos conseguem propor situações que envolvam
espaços de todo o planeta.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Gráfico 6. Percepção espacial sobre as questões ambientais de alunos do Ensino Médio de uma
escola pública de Santana do Ipanema/AL.

Com relação à percepção temporal sobre as questões ambientais (aspecto 3), pode-se dizer que
esses alunos do Ensino Médio são capazes de pensar as questões ambientais de maneira atual e/ou
histórica (gráfico 3).

Gráfico 7. Percepção temporal sobre as questões ambientais de alunos do Ensino Médio de uma
escola pública de Santana do Ipanema/AL.

Ainda com relação à percepção temporal sobre as questões ambientais, infere-se que a perspectiva
atual é moldada no que os alunos presenciam ou no que lêem ou em informações veiculadas pelos meios
de comunicação. A percepção histórica é disposta de maneira preliminar. São conjeturas baseadas no que
sabem sobre a história da humanidade. Percebe-se que a argumentação torna-se mais elaborada de acordo
com o decorrer dos anos de idade. Quanto maior a idade, maiores são os elementos inclusos nas questões
históricas expostas, tais como pontos sócio-econômicos e políticos. A percepção futura é limitada e
resume-se a uma perspectiva apocalíptica.

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Com relação à capacidade de relacionar pontos do sistema ambiental (aspecto 4), houve maior
predominância do aspecto bilateral (gráfico 4).

Gráfico 8. Capacidade de inter-relacionamento das questões ambientais de alunos do Ensino Médio


de uma escola pública de Santana do Ipanema/AL.

Ainda no que concerne ao aspecto 4 (inter-relacionamento das questões do sistema ambiental), a


análise das respostas dos alunos às perguntas do questionário demonstra que a ligação entre questões do
sistema ambiental se dá com maior ênfase de maneira bilateral com temas econômicos, sociais e políticos.
Outros âmbitos da sociedade (tais como o jurídico, cultural, ético e religioso) pouco ou nada foram citados.
Portanto, esses alunos não entendem o sistema ambiental de forma sistematizada e holística.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Podemos indicar três fases no desenvolvimento cognitivo dos alunos do Ensino Médio dessa escola
pública com relação às questões ambientais:
1) Os alunos com 14-15 anos de idade – possuem uma concepção natural do meio ambiente, têm
uma percepção local e atual das questões ambientais. Conseguem realizar conexões bilaterais das questões
ambientais. A principal dificuldade dessa faixa etária é entenderem a relação homem-meio ambiente, que
para eles é excludente. Isto é, ou se pensa em meio natural ou em espaço antrópico, como se esses
estivessem em locais distintos.
2) Os alunos com 16-18 anos de idade – desenvolvem uma concepção cognoscente do meio
ambiente, uma percepção até global e histórica das questões ambientais. Continuam realizando relações
bilaterais das questões ambientais. Nessa fase entendem que os recursos naturais (bióticos e abióticos)
estão em função apenas do ser humano, como se essa fosse a espécie dominante do planeta. Portanto,
devem ser geridos de forma racional, para que as próximas gerações devam usufruir também desses
recursos.
3) Os alunos com mais de 18 anos de idade – têm uma concepção histórica do meio ambiente.
Conseguem perceber assim como no estágio anterior de maneira global. Diferentemente do estágio
anterior já pensam com relação ao futuro. Timidamente, se desenvolve uma visão sistêmica das questões
ambientais. É marcante a capacidade de perceber-se enquanto ser ativo no sistema ambiental. E também
de entender sua relação com o outro (homem-homem e homem-natureza).
Os três últimos aspectos aqui estudados (percepções espacial e temporal e capacidade de inter-
relacionamento das questões ambientais) apresentaram uma oscilação nas suas categorias. Esse
comportamento pode ser explicado pelo fato de que cada aluno possui um tempo de desenvolvimento
cognitivo influenciado por diversos fatores, tais como, de ordem afetiva e social. Além disso, de maneira
geral os alunos não entendem o sistema ambiental de forma sistematizada e holística.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


904

Os estudos posteriores serão necessários e buscarão abordar os seguintes pontos: a construção do


conhecimento sobre o meio ambiente desde o começo da vida escolar; a recíproca interferência de fatores
internos e externos (tais como afetividade, juízo moral, condições sociais, ecológicas e fenomenológicas) no
processo de desenvolvimento da cognição ambiental.

REFERÊNCIAS
BRASIL. PCN MEIO AMBIENTE. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/meioambiente.pdf> Acesso em: 13 set. 2010.
CONRADO, Dália Melissa; SILVA, Sueli Almuiña. Caracterização da Escola Municipal Presidente
Castelo Branco, Salvador-BA: subsídios para a educação ambiental na prática pedagógica do ensino
fundamental. RBEP, Brasília. v. 88, n. 220, p. 621-640, dez., 2007. Disponível em:
<http://www.smec.salvador.ba.gov.br/site/documentos/espaco-virtual/espaco-
leituras/REVISTECA/revista%20brasileira%20de%20estudos%20pedagogicos.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2010.
LEFF, Enrique. Epistemologia ambiental. Tradução Sandra Valenzuela. 3. ed. São Paulo: Cortez,
2002.
PIAGET, Jean. Seis estudos de psicologia. Tradução Maria Alice Magalhães D’amorim; Paulo Sérgio
Lima Silva. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1976.
_____. O nascimento da inteligência na criança. Tradução Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1970.
REIGOTA, Marcos. O que é educação ambiental. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 2009.
SEBER, Maria da Glória. Piaget: o diálogo com a criança e o desenvolvimento do raciocínio. São
Paulo: Scipione, 1997.
VESTENA, Carla Luciane Blum. Conhecimentos e juízos morais de crianças e de adolescentes sobre o
meio ambiente: considerações acerca da educação ambiental. Disponível em:
<http://www.marilia.unesp.br/Home/Pos-Graduacao/Educacao/Dissertacoes/vestena_clb_do_mar.pdf>.
Acesso em: 13 ago. 2010.

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OS INDIOS XUKURU E OS CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS NO AGRESTE


PERNAMBUCANO
Edson SILVA
Prof. Dr. UFPE
edson.edsilva1@gmail.com

RESUMO
O povo indígena Xukuru, atualmente com uma população indígena contabilizada em mais
de 10.000 indivíduos, habita em terras demarcadas que abrange uma área nos municípios de
Pesqueira e Poção, na região do Agreste pernambucano. Nas terras habitadas por esse povo
indígena a sobrevivência humana depende dos poucos rios perenes nascidos nas serras, em
chamados brejos de altitudes, espaços de clima ameno, com uma elevada densidade populacional
que coexistiu com atividades agrícolas e a pecuária. Espaços de disputas historicamente intensas
pelas áreas úmidas e pelas fontes de água, com vários conflitos entre fazendeiros invasores nas
terras do antigo Aldeamento de Cimbres e seus primeiros moradores, os índios Xukuru, ocorrendo
uma pressão crescente sobre os índios agricultores. Em diversas fontes documentais oficiais, como
também em crônicas e reportagens publicadas em jornais do município de Pesqueira, aparecem
referências à situação ambiental bem como aos conflitos e as mudanças nas condições de vida dos
índios provocadas pelas invasões em suas terras. Em suas memórias orais, os Xukuru mais idosos
moradores em diversas localidades na Serra do Ororubá e adjacências, relataram que as matas
foram derrubadas para o plantio de capim destinado ao gado, para abastecer de lenha as
fornalhas das fábricas em Pesqueira as locomotivas do trem que ligava aquela cidade ao Recife,
além dos fornos das padarias e fogões domésticos na área urbana do município. Ocorreram
expulsões de famílias de Xukuru e muitos indígenas se dispersaram, outros foram trabalhar
alugados em suas próprias terras em mãos de invasores ou ainda como operários nas fábricas em
Pesqueira, passando a residir nas periferias da cidade. A pesquisa procurou discutir os impactos, as
mudanças e os conflitos nas relações socioambientais ocorridas ao longo dos anos pelas diferentes
formas de ocupação das terras indígenas por fazendeiros, senhores de engenhos e
empreendimentos agroindustriais nessa região do Agreste.
Palavras-chave: índios Xukuru; História; conflitos de terras; Ambiente.

Um “Abaixo-assinado dos Índios da extinta Aldeia de Cimbres”, contendo 192 assinaturas


foi enviado, em 1885, ao Presidente da Província de Pernambuco. No longo texto que antecede os
nomes dos signatários, eles apelam para o senso de justiça da autoridade provincial, pedindo
providências para “fazer cessar as perseguições de que são vítimas”. . Informavam os índios que as
terras públicas, onde eles se encontravam, estavam sendo invadidas por “verdadeiros intrusos”.
Os índios se ocupavam “exclusivamente do trabalho da agricultura” para se manter e
denunciavam as invasões das terras, por fazendeiros. A exemplo de um fazendeiro que fugindo da
seca na Paraíba, ocupara uma das áreas mais férteis na Serra do Ororubá, com seu gado
destruindo as roças dos indígenas que, por serem pobres, estavam sendo explorados e não eram
ouvidos em suas queixas, pelas autoridades policiais,
Indivíduos sem título algum, entre eles, José Alexandre Correa de Mello, que vindo dos lados do
cariri pela seca, apossou-se de um dos melhores sítios do extinto aldeamento, e ali tem fundado, por assim
dizer, uma fazenda de gado, que cotidianamente destrói as lavouras dos suplicantes, que recorrendo à
proteção legal, recorrendo as autoridades policiais não são atendidos, porque são desvalidos, são índios
miseráveis, e como tais sujeitos a trabalharem como escravos para os ricos e poderosos!

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


906

Além da “linguagem” da exploração do trabalho indígena, os fazendeiros perseguiam os


queixosos, que eram presos e processados. Como acontecera com Manoel Felix Santiago, o índio que
encabeçava o abaixo-assinado: “por não ter cedido do seu direito” fora preso, mas absolvido:
Essa é a linguagem dos tais criadores da serra, que entendem levar os suplicantes a ferro e fogo,
sendo que o primeiro dos abaixo assinados, por não ter cedido do seu direito, reclamando-o
constantemente, foi preso, processado, e pronunciado como estelionatário, mas, felizmente absolvido pelo
Juiz, que dá prova mais significativa da indignação da opinião pública, manifestada em seu favor.
Os índios afirmavam que, com a extinção do aldeamento, o Governo Imperial determinara
“a demarcação dos terrenos que lhe eram pertencentes". Mas, embora tendo sido publicados os editais,
pela Tesouraria da Fazenda, para propostas de agrimensores executores da medição, até aquela data ela
não fora reconhecida, sendo as terras invadidas por “intrusos”, fazendeiros criadores de gado, destruidores
das lavouras dos índios, “para que assim os suplicantes perseguidos abandonem as suas antigas e legítimas
posses!”.
No documento, lembravam ainda os índios que Manoel Felix Santiago, superando “sérias
dificuldades”, fora “pessoalmente” procurar o Imperador, tendo sido orientado para se dirigir ao Ministro
da Fazenda e este recomendara ao Presidente da Província tomar as providências necessárias para retirar
os “intrusos” que invadiram as terras do antigo aldeamento. Afirmavam os signatários que cabia à
autoridade provincial determinar ao Juiz Comissário da Comarca cumprir a “bem clara e terminante a
disposição do Artigo 2o da Lei número 601 de 18 de setembro de 50, que manda retirar os intrusos
perdendo as benfeitorias etc.”. A referência se relacionava ao que previa o citado artigo da Lei de Terras de
1850, para ocupações posteriores em terras demarcadas oficialmente. Embora esse não fosse como
afirmaram os índios no seu documento, o caso das terras do ex-aldeamento de Cimbres. Eles encerravam o
abaixo-assinado afirmando sua condição de “sempre prudentes, e respeitadores da lei”; demonstravam,
assim, além do conhecimento da legislação em vigor, uma interpretação a favor deles, que garantisse a
reivindicação de seus direitos.
A pesquisa documental demonstrou que a extinção oficial, em 1879, do antigo Aldeamento de
Cimbres, consolidou o domínio dos fazendeiros, de longa data invasores nas terras férteis da Serra do
Ororubá. Uma ou outra família indígena ficou com a propriedade de pequenos pedaços de terras,
insuficientes para a sobrevivência. Os conflitos que se acentuaram após meados do Século XIX mesmo
depois da extinção do aldeamento e se prolongaram por todo o século XX.
No Agreste, um ambiente de clima predominante seco e com falta de chuvas, as disputas
pelas regiões úmidas e pelas fontes de água eram intensas. Daí os conflitos envolvendo os
fazendeiros invasores nas terras do antigo aldeamento de Cimbres e seus primeiros moradores, os
índios, uma vez que:
Todos esses extensos espaços variavelmente semiáridos condicionam, como forma de uso da terra,
a existência de uma pecuária dominante leiteira e, ao lado da mesma, a existência de atividades de lavoura
dominantemente de curto ciclo vegetativo, bem adaptado, portanto, a um regime pluviométrico de chuvas
concentradas e longo período seco (MELO, 1980: 182).
A expansão pastoril foi cada vez mais acentuada, restringindo assim as lavouras de
subsistência. E os brejos das serras foram sendo usados como refrigério para o gado, em períodos
de longas estiagens:
As serras, muito úmidas no inverno, não se prestam à pecuária e são aproveitadas por agricultores
que cultivam cereais, plantas do ciclo vegetativo curto. Na estação seca, após a colheita do feijão, do milho
e do algodão, o gado é levado para a serra, para o brejo, onde se mantém com este alimento suplementar à
espera de que, com as primeiras chuvas, a caatinga reverdeça. São famosas por servirem de refrigério ao
gado certas serras, como as de Jacarará, da Moça e de Ororobá, em Pernambuco. (ANDRADE, 1998: 157).
Por outro lado, o plantio do capim para a pecuária, em áreas de caatinga ou nas cercanias
das matas de serra, provoca a erosão do solo já tão pobre. A apropriação das terras, pelos
fazendeiros criadores de gado, e o cultivo de pastagens representaram um novo ciclo de relações
sociais na região. Ao índio pequeno agricultor cabia utilizar as terras agora consideradas alheias,
porque em mãos dos fazendeiros, em regime de cessão de glebas para cultivo e moradia. Em

João Pessoa, outubro de 2011


907

troca, o agricultor plantava o capim destinado ao gado, que era alimentado também de restolhos
da lavoura do morador.
Com a lucrativa expansão da pecuária, mesmo as fazendas de algodão e os cafezais
erradicaram seus plantios:
Para o proprietário, a partir de quando se tornou desinteressante ceder terras em parceria ou em
arrendamento para pequenas lavouras, o que passou a interessar foi, sobretudo, o retorno das glebas
cedidas cobertas com restos de culturas, para seus animais, ou com pastos plantados. (ANDRADE, 1998:
214).
Restava ao pequeno agricultor na Serra do Ororubá pequenas parcelas de terras, os
chamados “sítios”, insuficientes para a sua subsistência e da sua família.
Em uma crônica intitulada “Serra do Ororubá”, publicada em 1953, o autor expressava sua
alegria pelas chuvas do inverno que, regando a terra, enfeitava a Serra de folhas e flores,
deixando-a semelhante a uma “rainha” e “mãe” que sempre fora. O cronista, ao longo do seu
texto, retomou saudosamente o passado da produção, das relações sociais e condições de vida na
Serra. Para o autor, não fazia muito anos, “a Serra do Ororubá era ainda um celeiro” com muitos
plantios de café. A Serra era um pomar: produzia café, mandioca, frutas e tanta cana, motivando
até a inveja dos engenhos do litoral!
Porém, tudo isso mudara no transcorrer de poucos anos. Caminhava-se “léguas para se ver
alguns pés de café ou uma tarefa de roça. Em vez dos engenhos, taperas. Em vez do canavial,
vazantes de capim. Em vez de milhares de habitantes de barriga cheia, milhares de bois, de barriga
cheia”. Com as invasões violentas, qual “vândalos”, dos bois, foi destruídos os sítios e pomares,
colocando em fuga seus habitantes. Segundo o cronista a era humana foi substituída pela bovina:
tudo se tornara um imenso curral no final imperava o “invencível, senhor absoluto, Sua Majestade
– o Boi”.
Diante da conhecida situação, o autor comparava Pesqueira ao município de Triunfo, que,
diferentemente, era “um oásis de fartura no Sertão”. Também situado em uma região
montanhosa, Triunfo, bem menor que Pesqueira, era um município rico, isso porque cada família
tinha um pedaço de terra, com centenas de engenhos, casas de farinha e considerável produção
agrícola, significando fartura. Em Pesqueira, existia uma lógica inversa, a da era do boi, que
provocaria, em breve, a falta de alimentos, “Os agricultores são empurrados para a ribeira estéril,
se não querem ser operários na cidade. E o município, que outrora se bastava a si mesmo e ainda
abastecia outros mercados, hoje é quase faminto e dentro pouco tempo estará importando até
maxixe”.
A “ribeira” referida pelo cronista situava-se ao longo das margens do Rio Ipojuca que, em
épocas de secas, tornava-se um filete de água, sem garantia para a sobrevivência dos moradores
próximos. Aos expulsos de suas terras restava então serem operários nas fábricas de doces em
Pesqueira. As terras férteis da Serra do Ororubá foram ocupadas pelas fazendas de gado ou pelo
plantio de frutas destinada às indústrias doceira municipal.
Na semana seguinte, o mesmo autor, Pe. Olímpio Torres um sacerdote católico romano,
publicou no mesmo jornal local, mais um artigo sobre a Serra do Ororubá. Depois de discorrer
sobre o texto bíblico que trata das origens humanas, ele invocou a necessidade da solidariedade
humana frente a uma situação de crescente miséria para muitos e riqueza de poucos, escrevendo:
“O problema da Serra do Ororubá entregue aos bois, para riqueza de meia dúzia, enquanto os
seus antigos agricultores definham numa miséria sempre crescente – é uma pedra de toque por
onde se pode auferir do bom senso e do espírito de humanidade daqueles que falam do assunto”.
O religioso, citando o município de Floresta, onde na Serra do Umã era proibida a criação de gado,
para não prejudicar a agricultura, cobrou do poder legislativo de Pesqueira uma medida igual para
a Serra do Ororubá.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Os artigos de religioso provocaram um inquietante debate em Pesqueira, como se observa


na crônica publicada por Aloísio Falcão. Jornalista no Recife, ele mantinha uma coluna no Diário de
Pernambuco, o maior jornal da capital. Escreveu Falcão que visitara Pesqueira em dias passados e
testemunhara uma “agitação” provocada pelas discussões a respeito do “problema” da agricultura
na Serra do Ororubá, estando próxima à vitória daqueles que advogavam “uma fixação de limites”
entre as áreas destinadas às lavouras e às atividades pastoris. Reconhecendo a importância
econômica municipal da pecuária, defendia o jornalista uma firme campanha nos jornais e rádios
locais, para esclarecer a opinião pública sobre os prejuízos aos interesses coletivos pela falta dos
tais limites.
Para Falcão, a ausência de demarcação de áreas reservadas e a apropriação e emprego
“abusivo” das terras agricultáveis, para criação de gado, provocava a elevação do custo de vida,
em razão da diminuição da produção de alimentos. Para o jornalista, possuíam uma atitude
“reacionária” os criadores que resistiam a uma razoável demarcação dos limites. Lembrava ele
ainda que os responsáveis por determinar tais limites estavam sujeitos a uma “quarentena”, pelo
julgamento popular, devido à inércia para tomar a necessária decisão.
Ora, tal decisão acerca dos limites não interessava aos políticos e administradores de
Pesqueira, pois os cargos públicos municipais, em sua grande maioria, eram ocupados por
fazendeiros criadores de gado na Serra do Ororubá. A elite econômica e a oligarquia local eram
formadas por indivíduos pertencentes a famílias que secularmente tinham se apropriado das
terras do extinto aldeamento de Cimbres, expulsando seus antigos moradores.
O estudo de um geógrafo em 1956, ainda que não faça nenhuma referência aos índios
habitantes na Serra do Ororubá e circunvizinhança, descrevia a localidade como uma região de
solo arenoso e pedras com clima semiárido e também semiúmido, onde, durante boa parte do
ano, predominava a seca. O gado dividia o espaço com lavouras e plantações de tomate:
O pardo triste da vegetação então despida de folhas e o aspecto agoniado das cetáceas põem em
destaque o viço lustroso das cercas vivas dos aveloses que cumprem, entre outras utilidades, a função de
separar as áreas do criatório extensivo, em campo aberto, dos tratos de terras culturáveis, enquanto que
apenas aqui e ali, em locais aparentemente escolhidos a dedo, algumas raras unidades arbóreas, também
sempre verdes, espalmam suas frondes proporcionando o bem-estar de uma sombra. Paisagem esta ainda
mais desoladora posta em comparação com a outra, a da época das chuvas miúdas, quando as caatingas
reverdecem e florescem em todo “Seu” esplendor, permitindo a colheita de frutos silvestres, a engorda do
gado e o trabalho agrícola nos roçados e nas plantações de tomate (SETTE, 1956: 8)
Os citados roçados eram os sítios, pequenas glebas de terras espremidas entre as áreas de
criação das fazendas, que permaneciam nas mãos de umas poucas famílias indígenas.
O mesmo estudo apontava o desmatamento recente das matas existentes nos brejos
úmidos característicos da Serra. Restavam insignificantes “retalhos de matas testemunhos”, pois
as matas de outrora continuavam a serem substituídas por cafezais, plantações de goiabeiras,
bananeiras e outras frutas. (SETTE, 1956: 12). Produção essa destinada às fábricas de doces em
Pesqueira. As matas eram derrubadas também para abastecer de lenha as locomotivas do trem
que ligava Pesqueira ao Recife, “as fornalhas das fábricas de doces, os fornos de padaria e fogões
domésticos” (SETTE, 1956: 8). Ocorria, portanto, a destruição do patrimônio natural da Serra, para
atender as exigências da lógica econômica em vigor.
A partir dessa lógica, a Serra estava sendo toda ocupada. Nas localidades mais úmidas
predominava a criação do gado de corte e o destinado à produção de leite. Nos sopés da Serra,
mais próximos da cidade, constatava-se a “plantation” do tomate destinado à indústria,
“enxotando cada vez mais para longe os roçados de subsistência ou mesmo reduzindo as áreas de
criação” (SETTE, 1956: 14).
A Serra do Ororubá foi, e continua sendo a fornecedora de gêneros alimentícios para
Pesqueira. Na lógica econômica em vigor nos anos de 1950 era trazida do Ororubá a matéria-

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prima para as indústrias de doces existentes na cidade, como registrou o estudioso sobre uma
possível primeira impressão do visitante recém-chegado,
Durante os meses de safra, os caminhões abarrotados de caixotes de frutas e tomates fazem filas
diante dos portões dos estabelecimentos fabris enquanto paira no ar cheiro de goiaba em processo de
cosinhamento ou o odor acre dos tomates fermentados atraindo enxames de impertinentes moscas.
(SETTE, 1956: 78).
O combustível para as fábricas era trazido da Serra. A madeira utilizada na indústria
provocava a destruição das matas: “Essa dependência ao combustível lenha tem custado à
destruição do revestimento vegetal primitivo. As matas do Ororubá e as caatingas altas dentro de
uma área de enorme raio acham-se praticamente desaparecidas” (SETTE, 1956: 89). O
desmatamento acelerado, além de influir nas condições do solo na região, prejudicar desde os
pequenos agricultores aos fazendeiros, comprometia a própria indústria:
Também a devastação das matas para exploração da lenha, como já ficou assinalado, não só
modifica a paisagem física, mas igualmente altera e dificulta as possibilidades agropecuárias dos
fazendeiros e pequenos plantadores, devido ao aceleramento dos processos de erosão dos solos no alto da
Serra e ao rápido escoamento e evaporação das águas no pediplano. (SETTE, 1956: 92)
Para o geógrafo, a criação de gado também era a grande responsável pela degradação na
Serra, pois existia “o costume, aliás, já antigo de alguns criadores em soltar os seus gados dentro
das ‘mangas’ de ‘refrigérios’ nos brejos úmidos da Ororubá” (SETTE, 1956: 93). Esses espaços
citados pelo estudioso eram locais de clima ameno e irrigados por riachos e fontes de água, onde
se concentravam as roças dos pequenos agricultores, os índios cujas terras eram invadidas pelo
gado, principalmente nas épocas de longas estiagens.
Também a água para as fábricas e para o consumo dos moradores em Pesqueira provinha
da Serra. A fábrica “Peixe” possuía açudes que abasteciam suas unidades fabris. Todavia, já era
vivenciado o “cruciante problema da água”, agravado principalmente na época das secas: “A
Prefeitura possui dois acides no alto da Serra que abastecem mal a cidade sob o regime de
racionamento, principalmente durante os meses de estiagem e pior ainda por ocasião das secas”
(SETTE, 1956: 94).
Nas conclusões de seu estudo o mencionado geógrafo constatava a decadência das
atividades comerciais em Pesqueira, que foi perdendo sua posição de centro produtor e
distribuidor regional agrícola, semelhante ao que assinalara Pe. Olímpio Torres, em sua citada
crônica “Serra do Ororubá”. Para o geógrafo, a criação de gado e o fornecimento de matéria-prima
destinada à indústria provocavam a destruição ambiental e findaram as caravanas de animais de
outrora, que partiam de Pesqueira, em direção aos municípios vizinhos, com grandes
carregamentos de frutas e cereais, farinha de mandioca, raízes, queijos e rapaduras.
Como escrevera o religioso e aparece registrado em artigos no jornal local, ocorria à alta do
custo de vida, a fome e a miséria generalizada em Pesqueira. Uma lógica econômica baseada na
criação de gado ou na agroindústria substituíra a produção de alimentos, expulsara a maioria e
confinara alguns de seus produtores, os pequenos agricultores, os índios moradores na Serra do
Ororubá. Um número considerável deles foi forçado a abandonar seus antigos locais de moradia e
se concentrar na periferia da cidade. Outros passaram à condição de mão-de-obra para as
fábricas, como fornecedores de matéria-prima, ou como operários.
Em suas memórias, os índios Xukuru do Ororubá falam do Ambiente na Serra do Ororubá no
período anterior as invasões dos fazendeiros. “Dona” Lica, moradora na Aldeia Cana Brava lembrou ter
ouvido sua mãe falar que o local onde nasceu, sem a presença ostensiva de fazendeiros, possuía muita
água e matas, proporcionando fartura de fruteiras. Ela e mais ainda seus antepassados viviam do que
coletavam da Natureza: “Quando eu tinha oito anos eu ouvia minha mãe falar, que há 50 anos atrás era um
tempo bom. Não era um tempo difícil. Tinha muita mangueira, muita bananeira, tinha muita caça, tinha
muita água, tinha muitas matas. Não tinha essa história de capim. Não tinha essa história de fazendeiro”.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Outros índios entrevistados recordaram dos plantios existentes na Serra do Ororubá


destinados à indústria de doces e conservas, as fábricas em Pesqueira. O Pajé Xukuru, “Seu”
Zequinha, falou da grande dimensão de terras ocupadas pela Família Brito, com plantios de
tomate: “tinham terra que nem o diabo! Aqui logo, começa logo aqui do Papa, vai a Alagoas tudo
ali em Santana, por ali a fora tudo era deles, né. Sítio do Meio, eles tinham o que. Umas
quinhentas quadras. Dava uns quinhentos quadra lá em Sitio do Meio. Esse Sítio do Meio foi
grilado. Foi tomado”.
A conhecida família latifundiária ocupava terras em vários lugares na Serra do Ororubá e
também em áreas de municípios vizinhos, “aqui eles tinha plantação pra todo canto, né! Eles tinha
aqui em Lagoa do Meio. Eles tinha aqui em Capim Planta. Tinha em Batalha. Tinha em Roçadinho.
Tinha em Caberão. Tinha em muitos cantos por aqui. Tinha aqui em, aqui num lugarzinho que tem
aqui. Tem um lugarzinho que chama-se Xukurus”. O povoado “Xukurus” está situado na zona rural
do vizinho município de Belo Jardim e consta existir naquele local várias famílias indígenas. O
lugarejo ficou fora da demarcação da terra indígena Xukuru do Ororubá, homologada em 2001.
Os plantios de goiaba se espalhavam por toda a Serra, em terras ocupadas por outros
fazendeiros. A colheita era grande, nas safras da fruta, como afirmou o Pajé Xukuru:
Era muita goiaba! Tinha muita goiaba. Saía dez, doze caminhões de goiabas daqui de cima dessa
Serra. Da terra da gente, mas nas mãos dos fazendeiros: São José, Cana Brava ela toda, ali em Caetano, por
ali afora, por essa região quase toda. Em Vila de Cimbres, também tinha muita goiaba. Quando era a
goiaba, era goiaba em todo o canto. Porque tinha muita goiabeira.
Era grande também a produção de tomate colhida nas margens do Rio Ipojuca e povoados
adjacentes, inicialmente sem o uso de agrotóxicos, pois, só mais tarde apareceram as pragas:
Plantava aqui nessa ribeira: Pão de Açúcar e nessa região para sair para Arcoverde, Alagoinha,
Papagaio, Mutuca, em todo o canto eles plantavam. Era muito tomate também! Não existia essa doença de
tomate. Não existia não. Plantavam a granel. Ela dava a torto e a direito. Não usava veneno. Não sei que
praga foi que deu...dava a granel.
Outro entrevistado conhecido como Zé Cioba, lembrou ainda que a fábrica Peixe
possuía muitos plantios de tomates em várias localidades próximas de Pesqueira e a colheita de
frutas se concentrava na Serra do Ororubá, em terras invadidas pelos fazendeiros e nas pequenas
glebas indígenas:
Tinha mais de 200 plantios. Daqui, Lagoa Grande, Tiogó, Pau Ferro, Lagoa do Félix, Pintada, Milho
Grande, Mirassol, Cachoeira Grande. Era fora da Serra. Porque a Serra era fria, o tomate não. As frutas era
da Serra. Bananas, abacate, jaca, manga, era de Trincheira, Jitó, Sítio do Meio, Santana, Cana Brava,
Mascarenhas. Era terra dos fazendeiros e dos índios também.
Diversos índios entrevistados relataram que a expansão das lavouras de tomates ou
frutas, principalmente o plantio da goiaba, ocorreu como desmatamento, fosse das matas nas
áreas mais altas da Serra do Ororubá, seja da caatinga nos sopés da Serra. Sendo as madeiras,
algumas delas consideradas nobres, resultantes do desmatamento generalizado destinadas as
fornalhas das fábricas na área urbana em Pesqueira.
As memórias sobre o Ambiente na Serra do Ororubá aparecem no livro Caminhos do Sertão:
crônicas, publicado em 1970, onde o autor fez descrições das lembranças de caçadas realizadas com seu
pai: “E continuou caçando, já agora por tudo que fosse sítio dos caboclos xucurus, que plantavam roças nas
quebradas da Serra do Ororubá e bebiam aguardente, depois das novenas de maio e da Senhora
Sant’Águeda, rezadas na capelinha de ‘Pai Simplício”. (SANTOS, 1970: 47).
Na crônica “O sabiá da Serra”, ainda no mesmo livro,
Defronte, se levantava a majestade verde da Ororubá, cuja lombada era cortada pelo sinuoso
caminho, antiga vereda dos xucurus, que levava a gente para o açude da ‘Pedra d’Água’, para a engenhoca
de Seu ‘Mingo’, também para as laranjeiras dos ‘Afetos’ de Seu Veríssimo, ou para o sitio ‘São José’ do
caboclo Arcelino, e, cujo riacho havia um poço azulado onde eu mergulhava, pulando dos galhos de uma
ingazeira. (SANTOS, 1970: 67).

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A citada “capelinha” é a dedicada a São José e está localizada na atual Aldeia São José, habitada
pela antiga Família Simplício. O autor recordou o Ambiente em outros lugares na Serra do Ororubá.
Muitos avisos mensais do “Posto Xucuru” elaborados pelo Chefe do Posto Indígena Xukuru
no final da Década de 1950, listaram a produção agrícola em grandes quantidades de farinha de
mandioca, feijão e frutas: caju, mangas, goiaba e bananas. Essas informações revelam a fertilidade
e a diversidade de culturas, no espaço tão pequeno de 6ha de terras, correspondente ao
patrimônio do Posto. Chama a atenção que, no início de 1959, apenas a farinha e o feijão foram
integralmente destinados ao consumo. Dos 15.198 cajus colhidos, 10.000 foram vendidos. E ainda,
das 10.897 mangas, apenas 2.000 foram consumidas. Das 5.170 caixas de goiabas, 5.000 foram
vendidas, e as demais destinadas ao consumo. Todas as 167 caixas de tomates e os 897 litros de
mamona foram vendidos. Como foi visto, nesse período estavam em pleno funcionamento às
indústrias de doces e conservas em Pesqueira. Considerável parte da produção agrícola do Posto
foi destinada às indústrias na cidade, como confirmaria posteriormente Ney Land, membro do
Conselho Nacional dos Povos Indígenas/CNPI, na sua descrição sobre o Posto Xucuru.
Em outro Aviso Mensal seguinte foi citado o plantio de uma grande quantidade de
árvores frutíferas e pés de café. Em 3ha estavam plantadas 210.255 árvores. Foram colhidas e
vendidas 18.117 caixas de goiabas e 414 de tomates. A população indígena era contabilizada em
1469 indivíduos, em sua maioria mulheres. Após meados do mesmo ano, o Aviso Mensal, registrou
um maior volume da produção e o cultivo de outros produtos, como pitomba, macaxeira, milho,
verduras e legumes, bem como a venda de boa parte da produção colhida. Informava também o
aumento das vendas, inclusive de itens anteriormente destinados exclusivamente ao consumo.
Assim, foram vendidos 4.600 dos 10.600 litros de farinha, 9.000 dos 10.300 milhos colhidos, 5.000
kg dos 6.4000 kg de macaxeira, 10.000 das 15.000 bananas. Foram vendidas ainda 1.200 caixas de
pitomba, 4.500 caixas de tomates e 700 kg de verduras e legumes. Foi adquirido material de
construção para conclusão da escola Marechal Rondon. A referida unidade escolar era localizada
em Brejinho.
Constata-se, pela leitura dos Avisos Mensais expedidos dos anos seguintes, um
significativo aumento da produção agrícola destinada à venda, em oposição à diminuição da
quantidade para consumo. Os encarregados do Posto por diversas vezes solicitaram ou
reclamaram à Inspetoria Regional do SPI no Recife a ausência e/ou atraso dos repasses de
recursos, bem como a falta de sementes e ferramentas para os índios, sempre citados como
desamparados. Tratava-se dos índios espalhados na Serra do Ororubá, enquanto era vendida
quase toda a produção do Posto.
A descrição do Ambiente na Serra do Ororubá elaborada por Ney Land em 1965 é
por demais pessimistas. A estrada do Posto Xukuru até Brejinho estava péssimas condições, com
grandes buracos e desfiladeiros, por onde escoavam as águas das chuvas. Para Land, não existiam
comunicações entre as várias localidades, na Serra do Ororubá. A seca era favorecida pelo clima
quente, e a impermeabilidade do solo provocava o rápido escoamento das chuvas, em uma região
com duas estações bem definidas: inverno e verão.
A geografia local era de terras altas, com secas, erosões e um pequeno riacho. Ao
enfatizar as “reduzidíssimas lavouras”, o plantio dos cajueiros, mangueiras e o cafezal, Ney Land
evidenciava outra situação, muito diferente de anos passados recentes, em que os avisos mensais
do Posto traziam contínuas informações sobre a considerável produção agrícola, principalmente
de frutas. O membro do CNPI afirmou a inexistência de fauna local, apenas de “pássaros para
gaiolas” e declarou que no riacho que não havia peixes. A região de Brejinho era a mais habitada.
Informava ainda Land que, além de um hectare cultivado com milho, o Posto tinha vinte pés de
abacate, trinta de bananeiras, quatro laranjeiras e trinta mangueiras. No ano anterior, a produção
de vinte caixas de goiabas fora vendida à fábrica Peixe.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Outro retrato do Posto e dos Xukuru, com uma detalhada riqueza de informações, é
encontrado em um Relatório de Estágio de William Ribeiro, em 1971. As observações resultaram
do acompanhamento da rotina do Posto e da convivência muito próxima com os Xukuru. Ribeiro
começou afirmando a grande dimensão da área habitada pelos “remanescentes” Xukuru,
existindo aldeia distante 20 km da sede do Posto. Toda a área foi percorrida a cavalo por William,
que esteve, dentre outros locais, em Cana Brava, Brejinho, Vila de Cimbres.
Nas terras de propriedade do Posto havia além de fruteiras, muitos pés de café, mas
descuidados e prejudicados pelo mato daninho. Após a colheita, o terreno seria preparado para o
plantio do café e da mandioca. Na estação chuvosa seriam plantados milho, feijão, maracujá e
quiabo, afora goiaba, manga, abacate e jaca, culturas cuja produção encontrava facilmente
mercado. Convicto de que, com isso, seriam mudadas as precárias condições de vida dos Xukuru,
William afirmava que assim alcançariam o progresso como meta desejada.
A situação de penúria em razão das invasões das terras indígenas na Serra do Ororubá
perdurou por muitos anos. Índios arrendavam suas próprias terras, em mãos dos fazendeiros, para
trabalharem. A grande maioria, porém, recebiam míseros pagamentos como trabalhadores para
os invasores. Tal situação mudou a partir de fins dos anos 1980, quando liderados pelo Cacique
“Xicão” (Francisco de Assis Araújo), os Xukuru estimulados pela participação nas mobilizações da
Assembleia Nacional Constituinte que reconheceu e fixou os direitos indígenas na Constituição
aprovada em 1988, iniciaram a retomada dos seus territórios. A área da Mata da Pedra d’Água foi
a primeira a ser retomada pelos Xukuru. A retomada dessa área foi justificada pelos índios em
razão de estar sendo desmatado o local onde eram realizados rituais indígenas.
Para impedir a organização e mobilização indígena os fazendeiros planejaram o brutal
assassinato do Cacique “Xicão” ocorrido em 1998. Mas, a despeito dos assassinatos posteriores de
outras lideranças como “Xico Quelé”, das perseguições e ameaças, os Xukuru tiveram suas terras
homologadas pelo Governo Federal, em 2001.
Apesar da degradação ambiental com o mau uso dos recursos naturais pelos invasores ao
longo de anos, e a continuidade na região da Ribeira do Rio Ipojuca do plantio por índios de
legumes com o uso de agrotóxicos, uma herança de práticas dos fazendeiros, em larga escala para
comercialização, a demarcação do território Xukuru em 2001 foi à concretização do sonho tão
esperado, que vem possibilitando a fartura, o vicejar da vida, a dignidade. Pois também produtos
agrícolas orgânicos, trazidos por índios de algumas aldeias na Serra do Ororubá e que são vendidos
em uma feira semanal no centro de Pesqueira, são representativos de uma nova etapa na história
do povo Xukuru.

Referências bibliográficas
ANDRADE, Manoel Correia de. A terra e o homem no Nordeste. 6ª ed. Recife: Editora
Universitária da UFPE, 1998.
CAVALCANTI, Célia Maria de Lira. Acumulação de capital e a industrialização em Pesqueira
(Pernambuco). Recife: UFPE, 1979. (Dissertação Mestrado em Economia – PIMES)
FEITOSA, Raymundo Juliano Rego. Capitalismo e camponeses no Agreste pernambucano:
relações entre indústria e agricultura na produção de tomate me Pesqueira – PE. Recife: UFPE,
1985. (Dissertação Mestrado em Sociologia – PIMES).
MELO, Mário Lacerda de. (1980). Os Agrestes. Recife: SUDENE, 1980.
MELLO, José A. G. de. Três roteiros de penetração no território pernambucano (1738 e
1802). In: Da Inquisição ao Império. Recife: Editora Universitária da UFPE, 2004, pp. 87-113.
SANTOS, Luiz Cristóvão dos. Caminhos do Sertão: crônicas. Recife: UFPE, 1970.
SOBRINHO, Vasconcelos. As regiões naturais do Nordeste, o meio e a civilização. Recife,
Condepe, 2005.

João Pessoa, outubro de 2011


913

SILVA, Edson. 2008. Xukuru: memórias e história dos índios da Serra do Ororubá
(Pesqueira/PE), 1950-1988. 2008. Campinas: UNICAMP. (Tese Doutorado História Social)

Fontes impressas
Abaixo-assinado de índios da extinta Aldeia de Cimbres, em Pesqueira 25/02/1885,
destinado ao Presidente da Província de Pernambuco. Arquivo Púbico Estadual/APE, Códice
Petições, folhas 18-23v.
“Serra do Ororubá”. Jornal A voz de Pesqueira, Pesqueira, 14/06/1953, p.1.
“Ainda a Serra”. A voz de Pesqueira, Pesqueira, 21/06/1953, p.1.
“Agricultura versus pecuária”. A voz de Pesqueira, Pesqueira, 5/7/1953, p.1.
“Notas soltas”. A voz de Pesqueira, Pesqueira, 21/06/1953, p.1.
Aviso Mensal do Posto Xucuru em 28/02/1959 para a IR4 (4ª Inspetoria Regional do SPI).
Museu do Índio-RJ/Sedoc, microfilme 179, fotograma166.
Aviso Mensal do Posto Xucuru em 31/03/1959 para a IR4. Museu do Índio-RJ/Sedoc, mic.
179, fot.168.
Aviso Mensal do Posto Xucuru em 31/07/1959 para a IR4. Museu do Índio-RJ/Sedoc, mic.
179, fot.174-175.
Relatório de Estágio. Mês: agosto/set/outubro. De William Ribeiro Ormundo, no Posto
Indígena Xucuru 27/10/1971. Museu do Índio-RJ/Sedoc, mic. 301, fot. 1167.

Entrevistas
José Gonçalves da Silva, “Zé Cioba”, 82 anos (falecido). Bairro Portal, Pesqueira/PE, em
18/12/2005.
Maria Alves Feitosa de Araújo, “Dona Lica”, 52 anos. Aldeia Cana Brava, Serra do Ororubá,
Pesqueira/PE, em 15/12/05.
Pedro Rodrigues Bispo, “Seu” Zequinha, Pajé Xukuru, 72 anos. Bairro Baixa Grande,
Pesqueira/PE, em 29/03/2002.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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NOVOS RUMOS PARA A EUCAÇÃO NO CAMPO ATRAVÉS DA PERSPECTIVA


DA EDUCAÇÃO POPULAR E DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Elenilda Silva Barros de Andrade
Mestre em Geografia - UFPE
Professora de Educação Básica – SEDUC – PE
Formadora em Ciências Humanas - ProJovem Campo –Saberes da Terra- PE / UFPE/CAA
elenildasba@hotmail.com

RESUMO
O presente trabalho se pauta na necessidade de uma educação de qualidade para o nosso país, e
em especial na perspectiva de uma educação diferenciada para os povos do campo. Nesse sentido,
apresenta a proposta do MEC/SECAD de Educação do ProJovem Campo – Saberes da Terra, na modalidade
Educação de Jovens e Adultos, por meio de calendário escolar e grade curricular próprios, visando conceder
oportunidade de formação na escolarização básica, aos jovens que integram os povos do Campos e em
especial, os Agricultores Familiares. Nesse sentido, apresenta como alternativa a Metodologia da
Alternância que contempla o Tempo Escola e o Tempo Comunidade; contempla a Pesquisa como princípio
básico da educação; e valoriza a Cultura a Integração e Socialização dos Saberes e a Educação Ambiental
para a Sustentabilidade como processos educativos.
Palavras-Chaves: Educação – do Campo, Popular e Ambiental; ProJovem Campo; Agricultura
Familiar Sustentável; Metodologia da Alternância e Integração de Saberes.

O planeta Terra é dinâmico e como não poderia deixar de ser, passa por mudanças
constantes em função do seu dinamismo interno e externo, passa por mudanças geológicas que alteram a
sua aparência física; mudanças políticas e sociais as quais, deslocam constantemente as fronteiras, as
formas de governos, a organização das relações sociais entre as partes que compõem este vasto mosaico
que compõem o ecúmeno terrestre.
Olhando para o Brasil vemos que estas mudanças influenciam direta e indiretamente a
forma como o país tem enfrentado as dificuldades resultantes dessas mudanças. Sofrendo as
conseqüências. Interferindo e sofrendo interferência do meio em que se encontra inserido. O universo de
problemas é complexo e de difícil compreensão e tem de ser analisado pontualmente, considerando os
diversos aspectos que os criam.
Historicamente falando o momento atual é conseqüência do acúmulo de conhecimentos e
vivência por que passamos como país. Diante desse contexto, o Brasil se encontra inserido em um seleto
grupo de países – BRICS: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul -, os quais, em um passado recente,
recorriam às Instituições financeiras internacionais, no sentido de pedirem apoio, para dinamizar suas
Economias e, por conseguinte, suas Políticas Sociais, no intuito de melhor atenderem as necessidades de
suas respectivas populações.
No entanto, novos ventos têm soprado também para tais países, os quais, em sua maioria
se inserem segundo as análises econômicas, no grupo dos subdesenvolvidos. Contudo, perante essa nova
realidade, estes têm conseguido mais sabiamente, conduzir suas economias e de modo geral, também suas
políticas internas. Assim sendo, mesmo num contexto de crise global, percebe-se maior desenvolvimento
econômico e social, gerando como conseqüência, uma sensível melhora na distribuição de renda e na
qualidade de vida para os seus habitantes.
Nesse sentido, pode-se afirmar que o Brasil se insere no contexto mencionado, e que, no
momento histórico também se destaca no panorama internacional como condutor de negociações
delicadas e de interesse mundial – como na ajuda humanitária prestada ao Haití; no posicionamento em
relação ao Oriente Médio, no tocante ao direito de formação de um Estado Palestino; e recentemente
defendendo o diálogo em relação á questão nuclear que envolve o Irã e as outras grandes potências
mundiais.

João Pessoa, outubro de 2011


915

É notório, portanto, que vivenciamos um momento de credibilidade internacional impar, fato que
tem favorecido ao nosso país a ousadia de preitear uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da
ONU (organização das Nações Unidas). Entretanto, se faz necessário falar também, sobre os aspectos
internos e suas muitas questões de ordem econômica, política, administrativa e social que tanto interessam
a nós, o povo brasileiro.
Contrastando com todo o destaque da projeção de sua imagem internacional, no nosso país as
Instituições Públicas não têm despertado, na maioria da população brasileira, a credibilidade a que se
propõem. Nem tão pouco, a implementação das Políticas Públicas tem atendido as necessidades básicas
dessa população - saúde, trabalho, habitação, cultura, lazer, nem tão pouco a educação.
Educação que, como Direito Constitucional básico, cujo valor é inestimável para p
desenvolvimento da pessoa, deve (ou deveria) ser prioridade, em nossa sociedade:
“A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a
colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho”.
BRASIL. CONSTINUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Obra de autoria coletiva da Editora
Revista dos Tribunais. 8ª. Ed. – EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DO DESPORTO, Art. 205, Cap. III, seção I. – São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003. p. 122.
Nesse sentido, diante da realidade que se apresenta, vemos que esse direito essencial
básico, dever do Estado, mencionado na nossa Constituição, não tem tido o destaque merecido nos dias
atuais. Além do mais, ao longo dos períodos de formação econômico-político-social da sociedade brasileira,
ou foi esquecido por muitos governos, ou pouco investido e/ou desenvolvido em outros.
Entretanto, ao que parece, “andamos na contra mão da história” visto que, um país que
deseja se estabelecer com credibilidade internacional, desenvolvimento econômico, científico e
tecnológico; justiça e equilíbrio social; além de população sadia e intelectualmente ativa, deveria ser o
setor primordial de qualquer Política de Governo, para o bem estar de sua sociedade.
Contudo, mesmo diante de tal quadro, se faz necessário registrar que, alguns avanços
significativos tem sido registrado recentemente, apontado para um caminho que propõe mudanças
qualitativas na educação brasileira. Quando percebemos grandes investimentos em Escolas Técnicas e
Universidades, que visam qualificar profissionalmente os egressos do Ensino Médio, bem como graduar os
alunos interessados em cursar uma universidade e/ou seguir carreira acadêmica.
Porém, deve ser mencionado que tais investimentos, em sua maioria, se destinam a
atender as demandas dos fadados ambientes urbanos, os quais, em sua maioria também requerem maior
atenção e zelo pelo poder público. Além do mais, se nas cidades de modo geral, a situação educacional é
difícil, nos ambientes rurais, com raríssimas exceções, a realidade é calamitosa.
Na grande maioria dos municípios brasileiros, o número de escolas é insuficiente para
atender a população em idade escolar. E quando essas escolas existem, suas instalações são precárias, com
infraestrutura inadequada a uma educação qualitativa aos alunos. Além do mais, contarem com
professores e outros profissionais da educação pouco preparados ou desmotivados pelas condições
salariais oferecidas.
Tais fatos são percebidos quando os alunos que querem continuar seus estudos, são impelidos a se
deslocarem para as cidades, visto que o município (que recebe verbas federais para cuidar a educação
básica) oferece transporte escolar, também nem sempre apropriado a conduzir com segurança tais alunos.
Assim sendo, esses jovens chegam a um ambiente distinto do seu lugar de origem, que muitas vezes não os
recebe bem, visto que os seus costumes, vestuário e jeito de falar não se assemelham ao tido como
habitual do mundo urbano.
Então, o aluno da zona rural, muitas vezes se isola e torna-se arisco ou alheio ao que é oferecido no
contexto educacional; em outros casos alia-se aos grupos urbanos, mudando de imediato os seus hábitos,
vestuário e vocabulário, renegando seus costumes e sua cultura. Nesse sentido, durante os muitos anos de
nossa prática educativa, percebemos que reduz a ano após ano, o número de jovens que resistem aos fatos
acima mencionados e permanecem autênticos às suas origens, e ainda se tornam estudantes participativos
e com bom rendimento escolar.
“Atualmente, notamos, em nosso cotidiano, o papel exercido [pelas escolas] e pelos meios de
comunicação de massa (rádio, TV, imprensa escrita), que são utilizados de maneira bastante marcante, na

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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construção e reprodução de idéias e valores. Isso pode ser verificado nas formas e conteúdos das
mensagens veiculadas.
“Através de um discurso que incorpora as diversidades culturais, promove-se uma padronização
crescente de visões de mundo que neutralizam os conflitos e naturalizam as leis de mercado. Leis que são
estendidas a toda e qualquer atividade humana, incluindo a área de educação e as atividades culturais de
modo geral”.
FAHL, Rosana Miyashiro. Comunicação. cultura e Sociedade – Módulo 11. Ficha 7. Programa
Integração – Ensino Médio 1/2. In.: BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização. Cadernos Pedagógicos do ProJovem Campo – Saberes da Terra. - Eixo Temático 1,
Agricultura Familiar: Cultura, identidade, etnia e gênero. Brasília: MEC/SECAD, 2008. p. 46.
Além do mais, essa escola urbana, inserida em um meio que mercantiliza inclusive a educação e a
cultura, educa com defasagem o seu público alvo no meio urbano, também não oferece grade curricular
nem calendário diferenciado que possa atender e/ou incentivar a continuidade da educação e das
atividades no meio rural. Assim sendo, muitos jovens que vão estudar nas cidades, na época de colheita,
quando precisam ajudar suas respectivas famílias, precisam se ausentar da escola, fato que, na volta às
aulas, dificulta mais a compreensão dos assuntos trabalhados nas disciplinas escolares, bem como, sua
reinserção no ambiente escolar, visto que muitas vezes têm perdido também, atividades didático-
pedagógicas, em sala de aula, dessa maneira, diante a realidade que se apresenta, há um favorecimento
lamentável, a um grande número de desistências e/ou reprovações.
Compreendendo essa realidade, e visando atender a demanda, apontada pela mobilização social
dos povos do campo, que integram: agricultores/as familiares, assalariados, assentados ou em processo de
assentamento, ribeirinhos, caiçaras, extrativistas, pescadores, indígenas, remanescentes de quilombos
entre outros povos que lutam pela afirmação dos seus direitos no campo.
“A Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD) com a intenção de
respeitar o direito dos povos do campo à Educação, bem como suas características, necessidades e
pluralidade (de gênero, étnico-racial, cultural, geracional, política, econômica, territorial entre outras),
implementou o Programa Saberes da Terra – Programam Nacional de Educação de Jovens e Adultos,
Integrado com a Qualificação Social e Profissional para Agricultores/as Familiares”.
BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização. Cadernos
Pedagógicos do ProJovem Campo – Saberes da Terra. - Projeto Político Pedagógico. Brasília: MEC/SECAD,
2008. p. 14.
O mencionado projeto foi implantado com a denominação de Projeto Piloto Saberes da Terra, para
o biênio 2005-2006 e contou com a participação de 12 estados brasileiros (BA, PB, PE, MA, PI, RO, MG, MS,
PR e SC), participaram também as Secretarias Estaduais de Educação, representantes estaduais da União
Nacional dos Dirigentes Municipais em Educação – UNDIME, entidades e movimentos sociais do campo
integrantes dos comitês e fóruns estaduais de Educação do Campo.
No ano de 2007, o MEC por meio da SECAD, apoiou a construção de um novo projeto, conduzido
pela Secretaria Nacional de Juventude e pela Presidência da República, visando integrar a nova proposta de
programa voltado para a educação, outros programas de governo já existentes, instituído pela:
“Medida Provisória no. 411/07 cujo Programam Nacional de Inclusão de Jovens – PROJOVEM, que
objetiva promover a reintegração de jovens ao processo educacional, sua qualificação profissional e seu
desenvolvimento humano e cidadão. O PROJOVEM esta organizado em quatro modalidades: I) ProJovem
Adolescente; II) ProJovem Urbano; III) ProJovem Trabalhador; e IV) ProJovem Campo – Saberes da Terra.”
In.: BRASIL, 2008, p.15.
Dos Programas mencionados, o que mais nos interessa particularmente, neste momento, é o
ProJovem Campo – Saberes da Terra, visto que, no Estado de Pernambuco, coube a Universidade Federal
de Pernambuco (UFPE), por meio do Campos Avançado do Agreste (CAA), a sua implementação didático-
pedagógica, por meio de Formações oferecidas aos Professores/Educadores, os quais, foram contratados
pela Secretaria de Educação de Pernambuco (SEDUC), a quem coube selecionar e matricular os educandos
e oferecer condições para que o curso fosse ministrado aos jovens e adultos (de 18 a 29 anos) que integram
o mencionado programa.
Diante do exposto, vale salientar que o objetivo desse programa se pauta na concessão de
oportunidade a jovens agricultores(as) familiares excluídos do sistema formal de ensino, a partir da

João Pessoa, outubro de 2011


917

escolarização em Ensino Fundamental na modalidade de Educação de Jovens e Adultos, integrado à


qualificação social e profissional.
Amparando-se na legislação brasileira em vigor, o ProJovem Campo - Saberes da Terra, trás em seu
bojo, um Projeto Político Pedagógico que oferece aos seus educandos, um calendário escolar que respeite
as condições climáticas e ao ciclo agrícola, além de organização curricular e metodologias de ensino
apropriadas às realidades dos povos do campo, conforme as determinações da LDB:
“(...) Na oferta da educação básica para a população rural, os sistemas de ensino promoverão as
adaptações necessárias a sua adequação às peculiaridades da vida rural e de cada região.
(...) A educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais, ciclos,
alternância regular de períodos de estudo, grupos não seriados, com base da idade, na competência e em
outros critérios ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem
assim o recomendar.” Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96 (LDBEN). Trechos dos artigos
23 e 28.
Portanto, a partir das bases legais, e dos Cadernos Pedagógicos enviados pelo MEC/SECAD, a
UFPE/CAA através do Núcleo de Formação Docente (NFD), selecionou um grupo de professores
(Coordenadores e Formadores), além de bolsistas, para trabalharem a partir das áreas de estudo - Ciências
Humanas, Ciências Naturais, Linguagens, Ciências Agrárias e suas Tecnologias -, por meio de atividades
integradas, e adaptarem, acrescentarem e/ou inserissem modificações, se necessárias, para bem atender
as necessidades das distintas realidades dos povos do campo em Pernambuco.
Desse modo, foi estabelecido um calendário de reuniões, estudo, atividades e formações, a partir
dos Eixos Temáticos propostos, onde os formadores passavam para os educados a proposta de trabalho e
esses, tanto se inseriam na proposta desse programa, quanto vivenciavam as orientações metodológicas
apropriadas a Educação Popular, e em um segundo momento, implantavam junto a seus educandos, em
suas respectivas escolas no meio rural.
Nesse sentido, vale mencionar os estudos de Souza 2007, que apresenta a proposta de Educação
Popular, não como solução para todos os gargalos da educação, mas como hipótese e caminho saudável
que:
“(...) pode contribuir para a educação do ser humano, especificamente se garantir condições
(subjetivas, mas também umas tantas objetivas) para a sua humanização.
(...) [Assim sendo], os adolescentes, adultos, crianças e jovens aprendem com os conflitos
sociocognitivos gerados entre os saberes que cada um já possui e as informações recebidas não só em sala
de aula, mas também em todos os ambientes sociais e educativos.(...)
Nesses processos educativos, novos saberes deveram ser produzidos. Pois, um novo saber é
sempre construído a partir do confronto entre os saberes que uma pessoa já possui e outras informações,
concepções e pensamentos aos quais tem acesso por diferentes e diversos meios. Esse confronto provoca
conflitos sociocognitivos que podem possibilitar a desconstrução das ideias anteriores e a construção de
uma outra compreensão do assunto em foco ou do problema em estudo. Esse confronto só pode se dá no
interior de Processos de Ressocialização promovidos por uma autêntica PRÁXIS PEDAGÓGICA.”
SOUZA, João Francisco. E a Educação popular quê?? Uma pedagogia para fundamentar a educação;
inclusive a escolar, necessária ao povo brasileiro. Tema 1. Recife: Bagaço, 2007. P. 26-43.
Então, com base na perspectiva da Educação Popular, e pautados na proposta metodológica do
ProJovem Campo, em todas as formações que a Equipe UFPE ministrou junto aos mais de 900 (novecentos)
professores e técnicos agrícolas, que integram esse projeto em Pernambuco. Foram trabalhados os (Eixos
Temáticos propostos pelo programa), valorizando-se a proposta da Educação Ambiental, como caminho
seguro para reverter os danos causados pelos seres humanos e para melhor cuidar do nosso planeta.
Ainda de acordo com os pressupostos teórico-metodológicos desse programa, o tempo educativo é
caracterizado pela Metodologia da Alternância, onde as atividades são intercaladas através do Tempo
Escola e do Tempo Comunidade. Nesse último tempo educativo, o educando é incentivado a conhecer as
necessidades de sua comunidade a partir da pesquisa como “estratégia pedagógica para o estudo e
conhecimento da realidade, para auxiliar os processos de transformação social, cultural, político e
econômico”.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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E a partir do levantamento dos dados sobre a realidade, esses passam a ser fontes valiosas de
informação, tanto para as atividades desenvolvidas em sala de aula, quanto para ações que possam ser
desenvolvidas, sempre visando os paradigmas da sustentabilidade, os quais propõem:
“(...) novas relações entre as pessoas e a natureza, entre os homens e os demais seres dos
ecossistemas. [onde] A educação para o desenvolvimento leva em conta a sustentabilidade ambiental,
agrícola, agrária, econômica, social, política, cultural, a equidade de gênero, racial, étnica e integeracional”.
BRASIL, 2008, p. 47.
Outro prisma do programa é o trabalho, visto como princípio educativo, o qual pode resgatar
valores, apontar caminhos para a autonomia dos jovens agricultores. Nesse sentido, vale ressaltar o
incentivo da importância da prática agrícola a partir da perspectiva agroecológica.
Deve ser mencionado, que no parâmetro qualificação social e profissional, o programa conta com
professores e técnicos das Ciências Agrárias, que priorizam as práticas agropecuárias que visam preservar
o meio ambiente, evitando a utilização de pesticidas e agrotóxicos nas lavouras; a prática da agricultura
orgânica; o uso e disseminação de sementes nativas (sementes crioulas) para reflorestamento; a prática da
criação e atividades agrícolas consorciadas; um melhor aproveitamento das águas para irrigação do solo; e
ainda prática da agrofloresta.
“A agrofloresta é um sistema de produção que imita o que a natureza faz normalmente. Deixa o
solo coberto pela vegetação e muitos tipos de plantas juntas, umas ajudando as outras, sem problemas
com pragas nem doenças, sem causar erosão e dispensa o uso de venenos”. (...) A agrofloresta permite o
envolvimento de toda a família na realização do trabalho, com atividades para o agricultor, a agricultora, os
jovens e também envolve [até] as crianças”. SOUSA, Joseilton Evangelista de. Agricultura agroflorestal ou
agrofloresta. Joseiton Evangelista, Adeildo Fernandes da Silva. Recife: Centro Sabiá, 2007.
É interessante frisar que o Programa ProJovem Campo – Saberes da Terra realmente envolve todos
os que faz parte de sua implantação, visto que, nós da Equipe da UFPE/CAA (Coordenadores, Formadores e
Bolsistas), de todas as áreas do conhecimento, tivemos momentos de formações práticas, com os
agricultores, em atividades de campo, sobre como cuidar melhor do meio ambiente e sobre práticas
agrícolas sustentáveis.
Outro aspecto relevante empregado na metodologia desse programa foi a aula-passeio que
tivemos na zona rural do município de Cumaru – PE (Sítio Queimadas) em abril de 2010, quando passamos
o dia na propriedade de uma Família de Agricultores Familiares. Naquele sítio, nos foram repassados
conhecimentos sobre agricultura familiar sustentável e sobre a prática da agrofloresta. Dessa forma, houve
uma grande troca de informações, proporcionando a ampliação do saber, e valorização mútua entre o
saber prático do dia-a-dia do agricultor e o saber científico ou sistematizado.
Vale ressaltar ainda, que a Cultura e os conhecimentos que são passados de geração para
geração também imprimem sua marca no bojo do ProJovem. Dessa maneira as distintas manifestações
culturais se tornam também partes integrantes do processo educativo. Sendo mais um motivo de
fortalecer os vínculos identitários entre os povos do campo, sejam eles indígenas, remanescentes de
quilombos, pescadores ou caiçaras.
Em suma, discorremos sobre esse projeto, cujos objetivos dos envolvidos é que se torne
uma Política Pública de Governo voltada para esses povos já mencionados, visto que contribuirá tanto para
uma melhor qualidade de vida do homem do campo, que não necessitará trilhar os caminhos do êxodo
rural para garantir sua sobrevivência, podendo prover-lhe o seu próprio sustento, preservando sua
dignidade humana, necessária a todo e qualquer cidadão.
Percebemos como parte integrante desse projeto, que os frutos de uma educação
diferenciada são realmente palpáveis. Pois, integrando a Equipe UFPE/CAA/NFD de Formadores (grupo de
Ciências Humanas e suas Tecnologias) encarregada de implantar o Projovem Campo - Saberes da Terra em
Pernambuco.
Constatamos através dos Relatos de Experiência, entregues pelos educadores ao termino de cada
Eixo Temático, contendo as atividades desenvolvidas nas Escolas e Comunidades, uma sensível mudança
nos padrões e concepções de educação, na prática da agricultura familiar sustentável, no resgate histórico
–cultural de suas respectivas comunidades e na colheita dos frutos de uma educação diferenciada, que os
insere como cidadãos, no país de todo os brasileiros.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. CONSTINUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Obra de autoria coletiva da Editora
Revista dos Tribunais. 8ª. Ed. – EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DO DESPORTO, Art. 205, Cap. III, seção I. – São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003. p. 122.
BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização. Cadernos
Pedagógicos do ProJovem Campo – Saberes da Terra. - Percurso Formativo. Brasília: MEC/SECAD, 2008.
__________, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização. Cadernos
Pedagógicos do ProJovem Campo – Saberes da Terra. - Projeto Político Pedagógico. Brasília: MEC/SECAD,
2008.
_________, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização. Cadernos
Pedagógicos do ProJovem Campo – Saberes da Terra. - Eixo Temático 1, Agricultura Familiar: Cultura,
identidade, etnia e gênero. Brasília: MEC/SECAD, 2008.

LDB
SOUSA, Joseilton Evangelista de. Agricultura agroflorestal ou agrofloresta. Joseiton Evangelista,
Adeildo Fernandes da Silva. Recife: Centro Sabiá, 2007.
SOUZA, João Francisco. E a Educação popular quê?? Uma pedagogia para fundamentar a educação;
inclusive a escolar, necessária ao povo brasileiro. Tema 1. Recife: Bagaço, 2007. P. 26-43.
UFPE/ CAA/ NFD. Agricultura Familiar: Identidade, cultura, Gênero e Etnia – Coletânea de Textos e
Propostas de Atividades. Organizada pela Equipe de Coordenadores e Formadores do ProJovem Campo –
Saberes da Terra / PE e AL. Caruaru: CAA/NFD. 2011.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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CONSUMO CONSCIENTE: UMA PROPOSTA SUSTENTÁVEL NO AMBIENTE


ESCOLAR
Elisangela Xavier da ROCHA
Bióloga, Instituto de Defesa e Estudos dos Remanescentes da Mata Atlântica -IDERMA elisangelarocha.xavier@gmail.com
Evandro Ribeiro CHAGAS
Biólogo, Instituto de Defesa e Estudos dos Remanescentes da Mata Atlântica -IDERMA ercbio@yahoo.com.br
Talita Araujo NOGUEIRA
Aluna do curso de mestrado em Biodiversidade tropical - UFES
Talitah_bb@yahoo.com.br

RESUMO
O consumo é um instrumento importante do bem estar da sociedade, porem devemos modificar a
forma como utilizamos os recursos naturais na produção daquilo que necessitamos e consumimos, visto
que o modelo atual intensifica cada vez mais a desigualdade social e o desequilíbrio ecológico. Esta
temática tem determinado a tendência mundial em estimular uma percepção sócio-ambiental voltada ao
consumo sustentável, ou seja, promover a idéia de minimização na geração de resíduos, e potencializar os
conceitos de reutilização e reciclagem dos resíduos. Neste sentido, o estudo teve como objetivo promover
a conscientização em jovens de uma escola de ensino fundamental II, sobre a questão do consumo
insustentável e suas conseqüências para o ambiente e sociedade. O projeto foi desenvolvido durante o ano
letivo de 2010, numa escola de ensino fundamental de 5ª a 8ª séries, da cidade de Cariacica-ES, por meio
de palestras e oficinas de construção do conhecimento sobre embalagens plásticas, resíduos de alimentos,
óleo de cozinha e os impactos ambientais gerado pelos despejos destes na natureza, também foi
confeccionada uma horta na escola, com o apoio do corpo docente, alunos e a sociedade. Os resultados
mostraram a motivação dos alunos com a temática envolvida, indicando que as ferramentas utilizadas no
projeto são um caminho para a transformação de hábito e atitudes em jovens, além de servir como
exemplo para futuros trabalhos.
PALAVRAS CHAVES: consumo consciente, educação ambiental, desenvolvimento sustentável,
escola.

1. INTRODUÇÃO
Para a humanidade o consumo é um instrumento importante do bem estar social, porém o hábito
de extrair da natureza a matéria prima e depois de utilizada, descartá-la em lixões, intensifica cada vez mais
a desigualdade social e o desequilíbrio ecológico (RÉGNIER,1996) pois, grande quantidade dos produtos
recicláveis, que poderiam ser reaproveitados, são inutilizados na sua forma de destino final, isso implica
numa grande perda ambiental, devido ao potencial totalmente poluidor e do mau gerenciamento dos
resíduos gerados, comprometendo a qualidade do ar, solo e, principalmente das águas superficiais e
subterrâneas ( AZEVEDO, 1996).
Diante deste sistema em crise, onde por todo seu percurso estamos batendo em limites do clima e
mudanças ambientais ao aumento na desigualdade social, se faz necessária uma nova atitude na sociedade
vigente.
Para DIAS (1994) a melhor maneira de modificarmos a presente situação em que nos encontramos
em relação ao meio ambiente, é mudar o modo de agir, mais isso só conseguiremos se mudarmos nosso
pensamento, que nos levará a uma mudança de paradigmas, passará do paradigma econômico para o
paradigma ambiental, buscando um presente e um futuro mais promissor. O principal objetivo desse novo
paradigma é a sustentabilidade do planeta terra (ROHDE, 1996), sendo que sua construção se dá a partir de
novas relações entre o homem, a natureza e a sociedade.
Neste contexto, a utilização da Educação Ambiental para atingir um modelo de sociedade
sustentável é cada vez mais evidente. De acordo com Dias, a Educação Ambiental teria como finalidade
promover à a compreensão da existência e da importância da interdependência econômica, política, social
e ecológica da sociedade,proporcionar todas as pessoas a possibilidade de adquirir conhecimentos, o
sentido dos valores, o interesse ativo e as atitudes necessárias para proteger e melhorar a qualidade

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ambiental; induzir novas formas de condutas nos indivíduos, nos grupos sociais e na sociedade em seu
conjunto, tornando-a apta a agir em busca de alternativas de soluções para os seus problemas ambientais,
como forma de elevação da sua qualidade de vida (DIAS, 2007 ).
O processo educacional é, sem duvidas, um dos mais urgentes e necessários meios para reverter à
problemática do desperdício (FREITAS, 2002). Através da escola os conhecimentos são sistematizados pela
humanidade ao longo do tempo, ou seja, por meio das instituições de ensino, poderemos mudar hábitos e
atitudes dos seres humanos, formando sujeitos cada vez mais ecológicos (EFFTING, 2007). Segundo
GARDNER (1994) trabalhar projetos na escola fornece ao aluno a oportunidade de dispor de conceitos e
habilidades, despertando o sentimento do poder de cada para modificar o meio em que vive.
Este estudo teve como propósito promover a conscientização em jovens de uma escola municipal,
de ensino fundamental (EMEF), sobre o manejo dos resíduos escolares e domiciliares, esclarecendo as
conseqüências do consumo insustentável ao meio ambiente e a saúde publica e, principalmente promover
atitudes mais conscientes para melhoria da qualidade de vida.

2. OBJETIVO
2.1 Geral:
Visando a melhoria na qualidade ambiental e social, as atividades propostas no projeto têm por
objetivos estabelecer e reforçar atitudes sustentáveis no que diz respeito à produção e ao destino de
resíduos e estimular a reeducação alimentar.
2.2 Específicos:
Sensibilização da comunidade escolar e seu entorno em relação à importância de adotar atitudes
sustentáveis;
Compreensão da importância do consumo consciente, da reutilização e da reciclagem de resíduos;
Incentivar a separação na destinação final dos resíduos orgânicos dos inorgânicos;
Desenvolver praticas educativas que demonstrem a aplicabilidade do conceito do consumo
consciente e dos 4 R’s (Repensar, Reduzir, Reutilizar e Reciclar) ;
Estimular o reaproveitamento de resíduos orgânicos seja na produção de adubo como na
alimentação;
Implantar uma horta escolar ecologicamente correta;

3. MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi desenvolvido na escola de ensino fundamental Almerinda Portela Colodette,
um estabelecimento de ensino mantido pela prefeitura municipal de Cariacica- ES. . A escola fica situada
em uma área de difícil acesso em decorrência da ausência de transporte permanente e ruas asfaltadas,
dificultando principalmente em dias de chuva o percurso á escola.
Foram contempladas neste trabalho, ações sistematizadas e voltadas para construção do
conhecimento de alunos sobre os impactos ambientais causada pelo consumo inconsciente e, ações que
podem minimizar esse problema. A natureza da ação do projeto foi por meio de palestras e oficinas, no
total foi atendido o quantitativo de 410 alunos de 5ª a 8ª séries, sendo 220 no turno matutino e 190 no
vespertino, assim como a comunidade local.

3.1 DESENVOLVIMENTO
Este trabalho foi desenvolvido ao longo do ano letivo de 2010, seguindo as recomendações
oriundas dos Parâmetros Curriculares Nacionais Temas Transversais – Meio Ambiente na Escola que tratam
de Educação Ambiental.
Inicialmente foi realizada uma reunião com os funcionários da instituição de ensino para
esclarecer e debater a metodologia empregada no projeto. Alem da reunião, ocorreu uma palestra de
apresentação para toda a comunidade escolar para apresentar os objetivos, metodologia de trabalho e
fortalecer a importância na participação de todos durante o desenvolvimento do mesmo.
Sendo assim, este trabalho seguiu como procedimentos metodológicos, as seguintes etapas.
1º Realização de palestras, focadas nas áreas de consumo consciente, importância e
aplicabilidade do conceito dos 4 R’s (Reduzir, Repensar, Reutilizar e Reciclar), vetores de doenças

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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provenientes pelo acumulo de lixo e alimentação saudável, com a participação da nutricionista da rede
municipal de Cariacica.
2º Desenvolvimento de oficinas com as temáticas de reutilização e reciclagem na produção de
brinquedos, utensílios domésticos, na construção da horta escolar com a utilização de garrafas pets e do
reaproveitamento de resíduos orgânicos, com receitas que foram ensinadas aos alunos e a produção de
adubo orgânico.
3º Como parte do processo de sensibilização além das praticas citadas acima foram feitas
visitas na empresa Marca ambiental, empresa de especializada em multitecnologias para o gerenciamento
integrado de resíduos, localizada também no Município de Cariacica/ES, para que os envolvidos
visualizassem como os conceitos passados podem ser aplicados na pratica. Após a visita, foi realizada uma
gincana de coleta seletiva, onde os alunos separaram em suas residências resíduos com potencial de
reaproveitamento, que foram utilizados nas oficinas e na construção da estrutura da “horta ecológica”
(Figura 3.). Além desta atividade, a gincana teve como objetivo realizar por parte dos discentes e docentes
o monitoramento do uso dos coletores e a mudança nas atitudes no ambiente escolar.
4º Foi criada com apoio da comunidade e dos alunos, uma horta com canteiro de garrafas pets
doadas pela comunidade.
5° Como meio de avaliação das atividades desenvolvidas foi criado um livro (Livro:
“Descrevendo momentos especiais”) onde alguns dos participantes relataram suas experiências e suas
aspirações sobre o desenvolvimento do projeto, expostos na Mostra cultural.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
1º Palestras de sensibilização
Como etapa inicial do projeto foi realizada as seguintes palestras;
Apresentação metodológica do projeto: realizada pelo professor de ciência;
Palestra sobre Consumo Sustentável: ministrada por especialistas na área de Educação
Ambiental do IDERMA- Instituto de Defesa e Estudos dos Remanescentes da Mata Atlântica;
Palestra sobre reciclagem: Ministradas pelo professor de ciência da instituição e especialista da
ONG ;
Palestra sobre alimentação saudável: ministrada pela nutricionista da rede municipal de
Cariacica;
Palestra sobre vetores de doenças provenientes do acumulo de lixo: ministrada por um
profissional da área de vigilância sanitária do município de Cariacica.
Notou-se durante as palestras realizadas, motivação dos alunos da EMEF, onde muitos
preocupados com a questão do consumo insustentável no ambiente local e global fizeram bastantes
questionamentos aos palestrantes. Entretanto, alem das dúvidas, os alunos e funcionários colaboraram
com relatos de experiências individuais fazendo das longas palestras uma prazerosa conversa.

2 º Oficinas de Reaproveitamento e reciclagem de resíduos


Foram realizadas cinco oficinas, com o objetivo de potencializar a aplicação pratica dos temas
abordados durante as palestras. Nas oficinas de reutilização e reciclagem de resíduos inorgânicos (Figura
1.), os envolvidos tiveram a oportunidade de produzir através de materiais antes considerado por eles
descartável, produtos como papel reciclado, brinquedos diversos, utensílios domésticos e a construção dos
canteiros para o plantio na horta. Na reutilização de resíduos orgânicos os participantes aprenderam
através de receitas culinárias oferecidas pela nutricionista da rede municipal de Cariacica como
reaproveitar restos de vegetais consumidos, como cascas e talos e o óleo usado nas frituras (Figura 2.).
Como etapa final desta oficina foi produzida um informativo contendo as receitas
desenvolvidas nesta prática.
Além das oficinas realizadas com os alunos alguns professores participaram de uma de uma
capacitação para confecção de materiais reciclados. Para que posteriormente o aprendizado seja passado
para os alunos. Oficinas Realizadas:
Oficina de papel reciclado: realizada por uma profissional na área de reciclagem de papel da
secretaria de educação do município de Cariacica;

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Oficina de reutilização de resíduos orgânicos: realizada pela nutricionista da rede municipal de


Cariacica;
Oficina para Capacitação dos professores: realizada por uma profissional na área de
reutilização e reciclagem de garrafas PT pelo Instituto Marca Ambiental
Oficina com garrafas PT: realizada pelos professores participantes da capacitação

Figura 1. Oficina de reutilização e reciclagem de resíduos inorgânicos

Figura 2. Barra s de sabão- reaproveitamento do óleo de cozinha

3° Visitas a empresa Marca Ambiental


Com o objetivo de fortalecer a aplicação prática já desenvolvida nas oficinas, as visitas a empresa
Maca Ambiental, foram importantes para que os envolvidos visualizassem como o reaproveitamento e a
reciclagem de resíduos pode servir como fonte de renda e observar os métodos que envolvem a destinação
final de resíduos em aterros sanitários. Com a parceria com da empresa marca ambiental a unidade de
ensino recebeu uma doação de cinco coletores seletivos de tamanho médio para as áreas interna e externa
da instituição e sete coletores de tamanho pequeno para as salas de aula.
Dessa forma, através das palestras e de oficinas praticas a comunidade escolar foi orientada
sobre utilização e a importância de manter a pratica de uso dos coletores.
Junto à implementação dos coletores foi promovida uma gincana de coleta seletiva, onde os
alunos separaram em suas residências resíduos com potencial de reaproveitamento, que foram utilizados
nas oficinas e na construção da estrutura da “horta ecológica” (Figura 3.). Apesar de ser uma atividade
simples, SILVINO E SENA (2004) mencionam que atividades como a gincana busca resgatar a percepção e a
concepção do contato dos indivíduos com meio ambiente, favorecendo ações que melhorem a qualidade
de vida, como reforça

4º Instalação da “Horta Ecológica”


Com o objetivo de estimular a alimentação saudável e a reutilização de resíduos orgânicos e
inorgânicos, foi construída com a participação dos alunos e funcionários da escola uma “horta ecológica”
(Fig. 3) a partir da utilização de garrafas pets enchidas com areia, com 10 canteiros.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


924

Fig.3 Local escolhido para elaboração da horta Fig. 4 Aceso a horta escolar

5º Livro: “Descrevendo momentos especiais”


Foi confeccionado um diário de campo, onde através de fotos das atividades os envolvidos
relataram suas experiências e aspirações. Alem de promover entre os envolvidos a motivação pela leitura e
escrita este trabalho serve como um registro com fotos e depoimentos de todas as atividades
desenvolvidas. No final do ano letivo foi organizada uma mostra cultural (Fig. 4) para exposição dos
trabalhos realizados pelos alunos durante as atividades do projeto para toda a comunidade escolar. A
mostra aconteceu durante dois dias da semana onde os pais e todos os funcionários da instituição poderão
observar os resultados do projeto durante seu período de desenvolvimento, alem de proporcionar um
momento de interação das famílias dos alunos com os trabalhos desenvolvidos na escola.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
No projeto realizado, um dos primeiros obstáculos e o mais problemático foi à resistência
encontrada por parte dos professores em participar e desenvolver algumas das atividades propostas dentro
do projeto.
As condições de trabalho e o arrocho salarial são os que mais interferem na desmotivação
destes profissionais em desenvolverem uma metodologia de ensino não fragmentada e voltada à realidade
do aluno, fugindo da educação tradicional.
Porém a realidade encontrada na instituição corresponde a um quadro geral do ensino público
brasileiro, entretanto, este não é um fato que deve ser motivo de desmotivação. Já que o compromisso
como educadores é com os alunos e com a melhoria do processo educativo.
As atividades realizadas proporcionaram alternativas metodológicas que fugiram do processo
tradicional de ensino possibilitando uma mudança nas praticas educativas dentro da escola, com o
entusiasmo dos alunos em participarem das atividades, incluindo aquelas desenvolvidas em horário extra-
aula. Os alunos considerados indisciplinados foram uma grande surpresa, pelo grau de comprometimento
nas atividades.
Trabalhar com projetos voltados a temas transversais como os problemas ambientais, neste
caso a questão do consumismo e a geração e destinação final inadequada de resíduos, assunto tão
presente na vida desta comunidade faz com que os alunos se envolvam e se sintam motivados a
melhorarem o ambiente escolar e da sua comunidade. Fazendo com que seja praticada uma educação
voltada aos valores humanos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZEVEDO, C. J. C. Concepção e prática da população em relação ao lixo domiciliar na área central da
cidade de Uruguaiana- RS. Uruguaiana, PUCRS- Campus I. Monografia de pós-graduação. Educação
ambiental. 68p.1996.

João Pessoa, outubro de 2011


925

BROWN, L. Eco-Economia: Construindo uma economia para a terra. Salvador : UMA, 2003.
Disponível em http://www.wwiuma.org.br, acesso em 14/10/2010.
DIAS, G.F. Educação ambiental: princípios e praticas. Ed. Thex SP 2007
DIAS, G.F. Educação Ambiental: princípios e práticas. 3.ed. Revista e ampliada . Editora Gaia. São
Paulo. 1994.
EFFTING, T. R. Educação Ambiental nas Escolas Públicas: Realidade e Desafios. Monografia. Curso
de Especialização: Planejamento para o Desenvolvimento Sustentável. Universidade Estadual do Oeste do
Paraná, Paraná. 2007
FREITAS , V.P. A constituição federal e a efetividade das normas ambientais. 2.ed. rev. São Paulo:
Revista dos tribunais, 2002.
GARDNER, H. Estruturas da Mente: A Teoria das Inteligências Múltiplas. Porto Alegre: Artes
Médicas Sul. 1994.
RÉGNIER, E.M. Educação Ambiental: Ponte para o amanha. Boletim técnico do SENAC. V.22,Nº3,
set/dez.1996
RHODE, M. Epistemologia ambiental: uma abordagem filosófico-científica sobra a efetuação
humana alopoiética. Por Alegre: EDUPICRS, 1996
SILVINO, R,F. SENA ,L,C. O Sal da terra: Pratica de conscientização Ambiental. In: Congresso
Brasileiro Extensão Universitária, 2. Belo Horizonte, 2004. Disponível em:
HTTP://www.ufmg.br/congrext/meio/meio24.htm. Acesso em 15/06/2008.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS PÚBLICAS: O CASO DO PROJETO


SOCIEDADE E NATUREZA60
Emerson Luiz Leal SEABRA
Graduando do curso de Geografia e Cartografia da Universidade Federal do Pará
Email: emersonluiz88@gmail.com
Ana Luiza de Araujo e SILVA
Graduanda do curso de Geografia e Cartografia da Universidade Federal do Pará
Email: ana_luiza_16@hotmail.com

RESUMO
O Presente artigo é resultado do projeto sobre Educação Ambiental intitulado Sociedade e
Natureza: Fortalecendo as relações através da Educação Ambiental, no qual trabalhou no com os alunos da
Escola de Ensino Fundamental e Médio Deodoro de Mendonça. Este projeto surgiu da necessidade de se
trabalhar a Educação Ambiental nas escolas, pois a crescente discussão sobre este tema trás com sigo uma
gama de questões sobre a relação sociedade/natureza, de tal forma que é imprescindível que o sistema de
ensino, incluindo as escolas e universidades, tome a dianteira sobre este debate. Desta forma elaborou-se
um projeto que pudesse abranger algumas necessidades dos estudantes. No primeiro momento tecemos
algumas palavras sobre a Educação Ambiental e a sua importância na escola e finalizamos com a descrição
do projeto.
Palavras-chave: Educação Ambiental. Projeto Educacional. Conscientização Ambiental.

Introdução
Os problemas ambientais atingiram hoje tal proporção que representam um verdadeiro desafio à
sobrevivência da humanidade. Dessa forma é dever de todo cidadão cuidar do espaço habitado e de seu
entorno, ambientalmente, entretanto é nítida a falta de formação e informação da população sobre o
funcionamento e dinâmica do ambiente. Nas escolas, assim como outras instituições, locais onde este tema
deveria fazer parte do cotidiano percebemos certo descaso com esta problemática.
A crescente discussão sobre a educação ambiental trás com sigo uma gama de questões sobre a
relação sociedade/natureza, de tal forma que é imprescindível que o sistema de ensino, incluindo as
escolas e universidades, tome a dianteira sobre este debate. É necessário se trabalhar uma abordagem
interdisciplinar, assim “a educação ambiental, como perspectiva educativa, pode estar presente em todas
as disciplinas, quando analisa temas que permitem enfocar as relações entre a humanidade e o meio
natural e as relações sociais” (REIGOTA, 2001, p. 25).

A Educação Ambiental
Os crescentes eventos ambientais e a construção de uma consciência fizeram com que o homem
começa-se a ser preocupar com os problemas ambientais, principalmente a partir da década de 1960,
quando se passou a ter a compreensão da irracionalidade do sistema econômico adotado. A partir disso
passou-se a ser realizadas conferências e encontros sobre o tema, uma das primeiras ocorreu no ano de
1972, na Suécia, a “Conferência da ONU sobre o Ambiente Humano”, (ou Conferência de Estocolmo)
organizada pela Organização das Nações Unidas. Ela pode ser “considerada um marco histórico-político
internacional a Conferência estabeleceu um ‘Plano de Ação Mundial’ e, em particular, recomendou que
devesse ser estabelecido um Programa Internacional de Educação Ambiental” (EFFTING, 2007, p. 5).
Outra importante reunião ocorreu em aconteceu em Belgrado em 1975, organizada pela
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), na qual se
deliberaram os objetivos da Educação Ambiental, expressados na “A Carta de Belgrado”, na qual a

60
Artigo oriundo do projeto Sociedade e Natureza: Fortalecendo as relações através da Educação Ambiental,
sobre a coordenação da Prof.ª Drª. Márcia Aparecida da Silva Pimentel curso de Geografia e Cartografia da
Universidade Federal do Pará.

João Pessoa, outubro de 2011


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Educação Ambiental deve ajudar a descobrir os sintomas e as causas reais dos problemas
ambientais, deve desenvolver o senso crítico e as habilidades necessárias para resolver os
problemas, utilizar diversos ambientes educativos e uma ampla gama de métodos para a aquisição
de conhecimentos, sem esquecer da necessidade de realização de atividades práticas e de
experiências pessoais, reconhecendo o valor do saber prévio dos estudantes (EFFTING, 2007, p. 6).

Dois anos depois se realizou em Tibillissi o Primeiro Congresso Mundial de Educação Ambiental e
dez anos depois se promoveu o Congresso Internacional sobre a Educação e Formação Relativas ao Meio
Ambiente, em 1987, na cidade de Moscou. Outro evento de extrema importância foi a Conferência das
Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (RIO-92), na qual, a partir dessa conferência e de
outros eventos paralelos surgiram três documentos essenciais para o exercício da Educação Ambiental, são
eles: A Agenda 21, A Carta Brasileira para a Educação Ambiental e o Tratado de Educação Ambiental para
Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global.
Pensar a educação pública no Brasil se apresenta como um grande desafio para aqueles que estão
preocupados com o ensino de qualidade. Em todos os níveis em que ela se estende, seja fundamental,
básico ou superior, são encontradas evidências de que existem problemas de ordem infra-estrutural, de
formação profissional e de valorização salarial. Assim, entende-se que é importante a execução de projetos
que visam os anseios de professores da universidade e de seus alunos somados àqueles dos professores
das escolas públicas, muitas vezes egressos da mesma universidade.
O esforço conjunto reduz também a distância entre universidade e sociedade, principalmente
quando observamos o seu entorno, separadas por um muro que parece intransponível, assim todas as
ciências que abordam o tema tem um papel fundamental nesse processo. A Geografia embora coadjuvante
neste contexto, porque entende que outras áreas estudam também a sociedade ou o meio ambiente, tem
o mérito de promover a integração. É a concepção do seu objeto de estudo. Assim sendo, é importante
qualquer projeto de educação ambiental tenha em seu corpo de trabalho professores e estudantes,
dispostos a contribuir para a mudança da difícil realidade da escola pública, com isso conseguiu-se uma
importante ferramenta para o trabalho de um importante tema, a interdisciplinaridade, que
não pretende a unificação dos saberes, mas deseja a abertura de um espaço de mediação
entre conhecimentos e articulação de saberes, no qual as disciplinas estejam em situação de mútua
coordenação e cooperação, construindo um marco conceitual e metodológico comum para a
compreensão de realidades complexas. (CARVALHO, 2006, p. 121)

Assim nos questionamos, por que educação ambiental? Pelo seu caráter interdisciplinar, em
princípio. E por ser dever de todo o cidadão cuidar do espaço habitado e de seu entorno ambientalmente.
Entretanto a nítida falta de conscientização da população com o meio ambiente e até mesmo nas escolas e
lares, locais onde este tema deveria fazer parte do cotidiano, percebe-se, geralmente, descaso com essa
problemática. Nas escolas, geralmente o tema ambiental fica renegado a um segundo plano, e
principalmente aquelas públicas localizadas na periferia, que são as que possuem o alunado mais
impactado pela gradação ambiental mostram pouca disposição em trabalhar com seriedade este desafio,
talvez por este problema parecer pequeno diante do sucateamento, falta de estrutura e violência presente
em muitas dessas escolas. É importante pensarmos que muitos desses problemas seriam amenizados se os
alunos recebessem de forma séria noções de ética e cidadania, elementos indispensáveis na construção de
uma visão ambientalmente correta de mundo.

O Projeto
Tendo inicio no segundo semestre do ano de 2009, com a duração de um ano, o projeto Sociedade
e Natureza: Fortalecendo as relações através da Educação Ambiental, surgiu com a finalidade de suprir
algumas das lacunas existentes no sistema educacional, principalmente a do ensino público, no que se
refere à educação ambiental. O projeto fez parte do Programa Fortalecer que surgiu da parceria entre a
Universidade Federal do Pará (UFPa) e a Secretaria de Estado de Educação do Pará (SEDUC-PA) com o
objetivo de também visar à integração universidade/escola pública e à formação/iniciação pedagógica dos
estudantes da UFPa. Este projeto teve seu trabalho voltado para a Escola Estadual de Ensino Fundamental e

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


928

Médio Deodoro de Mendonça, localizada no centro de Belém, bairro de Nazaré, contando com cerca de
três mil alunos. A escola é uma das mais antigas de Belém e através de pesquisa realizada na mesma
constatou-se que grande parte de seus alunos são oriundos de áreas periféricas do municipio, sendo
possível encontrar alguns alunos que habitam municípios da Região Metropolitana de Belém, como é
possível ver no mapa 01.

Mapa 01: origem dos alunos da escola

Na formulação do projeto atentou-se para alguns pontos chaves essenciais para o entendimento da
questão ambiental por parte dos alunos da escola pública, assim no que tange aos objetivos do projeto é
importante destacar alguns pontos, tais como:
Contribuir para o avanço educacional da Rede Pública do Estado do Pará;
Tornar as aulas das disciplinas envolvidas mais significativas e despertar no aluno o espírito
investigativo;
Direcionar de forma teórica e prática, a introdução de atividades de Educação Ambiental inseridas
no conteúdo escolar;
Divulgar estratégias de proteção do meio ambiente;
Criar nova mentalidade em relação à Educação Ambiental, articulando-a a construção da
cidadania;
Ajudar a escola e o aluno a perceber a correlação dos fatos e a ter uma visão holística, ou seja,
integral do mundo em que vive;
Incentivar os alunos a terem um raciocínio crítico acerca dos problemas ambientais e questões
culturais amazônicas;
Mostrar na prática (in loco) os problemas ambientais;
Chamar a atenção daqueles que fazem a escola e suas famílias sobre a importância da Educação
Ambiental, de modo que estes entendam que seus espaços de convivência são construídos por suas
próprias ações;
Evidenciar a necessidade de preservação dos espaços de vivência e patrimônios públicos;
Mostrar perspectivas de obtenção de renda através da redução, reutilização e reciclagem do lixo;
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929

Proporcionar a integração entre a Universidade, Escola e Comunidade por intermédio de práticas


sociais e ambientalmente justas.

A metodologia utilizada no projeto seguiu as linhas traçadas por Reigota (2001), o método ativo, no
qual “o aluno participa das atividades, desenvolve progressivamente o seu conhecimento e
comportamento em relação ao tema, de acordo com a sua idade e capacidade” (REIGOTA, 2001, p. 38),
pois é importante a participação ativa dos alunos, até porque a proposta das atividades vem quebrar com a
relação do ensino tradicional que em muita das vezes ainda é praticado nas escolas, fazendo com que em
muitas das vezes os alunos não se interessem pelo tema, com isso “além de uma compreensão mais global
sobre o tema, esse método pode proporcionar o intercâmbio de experiências entre professores e alunos e
envolver toda a comunidade escolar e extra-escolar” (REIGOTA, 2001, p. 40). Assim optou-se um trabalho
que tivesse como base a execução de palestras de caráter temático dirigidas aos alunos, funcionários e
comunidade do entorno, cujo objetivo é a formação e informação deste público alvo, assim como de
trabalhos de campo que visavam organizar visitas periódicas aos locais públicos e no campus da
Universidade Federal do Pará, onde o objetivo é conhecer o espaço e suas relações e por fim as oficinas,
que eram organizadas de acordo com o calendário de tarefas estipulado cujo objetivo é colocar em prática
as ações referentes aos temas desenvolvidos nas palestras.
Para a formulação de todas essas atividades foi necessário a escolha de alguns eixos temáticos que
iriam servir de pontos norteadores para a execução das atividades descritas acima, tais como:
A escola e seu entorno: a produção do espaço urbano;
A paisagem urbana e a qualidade de vida dos cidadãos;
Degradação ambiental: a produção de resíduos sólidos na cidade e nas ilhas e as alternativas de
reaproveitamento;
A água como recurso natural: a qualidade da água na cidade e nas ilhas;
O ambiente da floresta, os usos e os impactos provocados pela exploração;
Áreas verdes e espaços livres na cidade incentivos à qualidade de vida;
Relações humanas e meio ambiente: o direito ao meio ambiente saudável.

Entretanto antes da realização de qualquer uma das atividades descritas anteriormente foi
necessário se pensar em algumas estratégias importantes para o seu desenvolvimento, tais como:
O levantamento do perfil ambiental das escolas (se possui área verde, horta, separação de lixo,
etc.);
O acompanhamento de projetos específicos nas escolas que serão desenvolvidos pelos professores
(horta comunitária, reciclagem de lixo, bacia hidrográfica como unidade de estudo, trilhas ecológicas,
plantio de árvores, recuperação de nascentes, etc.);
A mobilização de toda a comunidade escolar para o desenvolvimento de atividades com a
finalidade de conscientizar a população sobre as questões ambientais;
A realização de campanhas educativas que incluíam a distribuição de panfletos, folder, cartaz, a fim
de informar e incentivar a população em relação à problemática ambiental.

Antes da realização do projeto na escola pretendia-se atingir alguns resultados, tais como:
Despertar no público alvo o interesse pelas questões ambientais e de cidadania, mostrando o
quanto é importante sua ação para sua melhoria de qualidade de vida;
Criação de agentes multiplicadores das idéias de cidadania e preservação ambiental;
Fazer a aproximação entre a universidade e as comunidades que se encontram ao seu entorno e
vice-versa;
Fomentar experiências de ensino-aprendizagem dos acadêmicos envolvidos no projeto;
Incentivar a implementação de políticas afirmativas dentro da universidade que possam dar
suporte para que alunos oriundos de camadas populares possam chegar e se manter na universidade;
Disponibilidade (a favor da sociedade brasileira e/ou da humanidade) de pessoas respeitosas de
princípios básicos de uma vida saudável e capaz de criticar e transformar beneficamente realidades
relativas ao meio ambiente;
Fortalecimento do processo educativo interdisciplinar que associa a escola à realidade cotidiana.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Uma das primeiras atividades realizadas com os alunos da escola foi uma oficina denominada
de “Exercitando a observação e a representação da paisagem urbana”. A construção desta oficina se
baseou nos seguintes eixos temáticos: A escola e seu entorno: a produção do espaço urbano e A paisagem
urbana e a qualidade de vida dos cidadãos. O principal objetivo desta oficina foi o de discutir os variados
conceitos de Paisagem com os alunos e difundir a idéia que eles também são responsáveis pela produção e
reprodução da paisagem cotidianamente, além disso, esse conceito pode ser utilizado como uma
ferramenta importante para analise do espaço geográfico, bem como uma forma de pensamento sobre o
real. A oficina foi realizada nos dias 30/10/09, 03/11 e 10/11/09, tendo como publico alvo os alunos da
aceleração (alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem), sendo dividida em três momentos.
No primeiro momento foi feita a leitura e discussão dos textos de apoio e produção orientada de
um mapa mental (foto 01), na qual os alunos representaram o entorno da escola Deodoro de Mendonça.

Foto 01: mapa mental produzido durante a oficina

Foto 02: alunos durante a oficina produzindo os mapas mentais

A partir da análise desses mapas mentais foi possível obter a compreensão dos alunos acerca do
espaço que estes habitam no ambiente escolar e no entorno deste, destacando assim a compreensão da
paisagem que alunos detêm, ficando evidente a singularidade da compreensão de cada aluno.
No segundo momento foi realizada uma atividade de campo orientada no entorno do colégio, onde
os alunos puderam fotografar a paisagem a partir das suas diferentes concepções e por fim foi realizado um
painel com as fotografias resultantes do trabalho de campo.
A oficina proporcionou o desenvolvimento da percepção dos diferentes “tipos” de paisagem pelos
alunos, bem como, trabalhou a capacidade destes de se localizar no meio em que estão inseridos. Desta
forma, foram observados os contrastes, tanto sociais quanto econômicos do entorno do colégio, como por
exemplo: as formas antigas (prédios, casarões, etc.) que hoje possuem funcionalidades distintas dos
tempos em que foram construídas, novas estruturas comerciais, hospitais e/ou colégios públicos e

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privados, grandes supermercados, universidades. Com isso, trabalhamos a paisagem não como algo
apenas natural, mas como parte das diversas atividades desenvolvidas num determinado lugar por sua
sociedade. Portanto, a oficina em geral e o trabalho de campo, foram enriquecedores para a percepção das
formas de apreensão, representação e analise da paisagem.
Entretanto devido a alguns problemas de ordem burocráticas a execução do projeto na escola
tornou-se bem dificultosa, sobretudo devido ao não repasse dos materiais por parte da SEDUC a
Universidade necessária para a realização das atividades na escola, este fato aconteceu com todos os
projetos do programa. Mas apesar de todas as dificuldades o projeto conseguiu alcançar alguns dos
resultados pretendidos.

Conclusão
É evidente que a Educação Ambiental é um tema que teve ser tratado, sobretudo nas escolas, com
uma primazia impecável, pois o projeto tinha sua justificativa fundamentada na necessidade de recuperar,
preservar e conservar o meio ambiente, contribuindo para a formação efetiva de cidadãos conscientes de
suas responsabilidades ambientais através de estratégias teóricas práticas de Educação Ambiental. Assim
se torna necessário a aplicabilidade dos conceitos e teorias, sejam através de projetos, programas etc., pois
somente dessa forma é que poderemos alcançar uma verdadeira transformação social.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARVALHO, I. C. de M. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. 2a ed. São Paulo:
Cortez, 2006.
EFFTING, Tânia Regina. Educação Ambiental nas Escolas Públicas: Realidade e Desafios. Marechal
Cândido Rondon, 2007. Monografia (Pós Graduação em “Latu Sensu” Planejamento Para o
Desenvolvimento Sustentável) – Centro de Ciências Agrárias, Universidade Estadual do Oeste do Paraná –
Campus de Marechal Cândido Rondon, 2007.
REIGOTA, Marcos. O que é educação ambiental. São Paulo: Brasiliense, 2001.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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EDUCAÇÃO AMBIENTAL: FATORES QUE INFLUENCIAM A PERCEPÇÃO DOS


ALUNOS E PROFESSORES RELACIONADA ÀS QUESTÕES AMBIENTAIS
Eriberto Moreira de OLIVEIRA
Especialização em Educação Ambiental pelo Instituto de Educação Superior Presidente Kennedy, Natal -Rio Grande do
Norte.
eribertomoreira@bol.com.br

RESUMO
A Percepção ambiental de professores e alunos do ensino fundamental relacionada às questões
ambientais é um estudo que procura avaliar o comportamento, a contribuição e a participação de
professores e alunos inseridos como sujeito do processo de transformação social, identificando fatores que
desencadearão uma maior interação com a práxis ambiental. A pesquisa desenvolveu-se baseada nos
fundamentos de uma abordagem fenomenológica preconizada por Edgar Morin, referenciada por outros
autores que discutem a importância de se trabalhar Educação Ambiental de forma sistêmica. Os resultados
da pesquisa revelam que os professores em sua maioria ainda trabalham de forma fragmentada, disjunta.
O aluno tem o olhar do professor dirigido para ele. Diante disso a determinação de uma abordagem
educacional ecossistêmica pode num contexto de complexidade facilitar a compreensão das questões
ambientais. A vivência e o exercício da participação é que determinarão uma percepção abrangente das
questões ambientais por parte dos alunos.
Palavras-chave: Percepção Ambiental. Educação Ambiental. Ensino Fundamental.

ABSTRACT
The environmental Perception of teacher and pupils of basic education related to the
environmental questions is a study that it looks to evaluate the behavior, the contribution and the
participation of teacher and inserted pupils as subject of the process of social transformation, identifying
factors that will unchain bigger interaction praxis environmental. The research was developed established
in the beddings of a phenomenological boarding praised by Edgar Morin, referenced for other authors who
argue the importance of if working environmental Education of systemic form. The results of the research
disclose that the teacher in its majority still work of broken up form, disjoin. The pupil has the look of the
professor directed for it. Ahead of this the determination of an ecosystemic educational boarding can in a
complexity context facilitate the understanding of the ambient questions. The experience and the exercise
of the participation are that they will determine an including perception of the environmental questions on
the part of the pupils.
Keys Word: Environmental Perception. Environmental Education. Basic Education.

1. DESAFIO DAS QUESTÕES AMBIENTAIS


Esta pesquisa analisa a percepção ambiental de professores e alunos do 80 ao 9º anos do ensino
fundamental em quatro escolas públicas e duas privadas do Município de Ceará- Mirim-RN. Oportuniza
uma discussão quanto ao entendimento das questões ambientais, favorecendo assim maiores
contribuições a respeito dessa temática. Procuramos identificar quais os fatores que facilitam perceber
numa visão sistêmica, como professores e alunos concebem as questões ambientais. Desde que
começamos a trabalhar com educação ambiental, em 1988, motivado por uma preocupação com o
comportamento dos alunos em relação ao Meio Ambiente, assim como também influenciado por nossa
atuação no serviço público como fiscal de vigilância sanitária, sentimos curiosidade em investigar qual a
percepção que os alunos têm frente às questões ambientais.
Empiricamente, até percebíamos que boa parte dos alunos se sentia afetada por algumas
alterações ambientais, mas não conseguia identificar a origem do problema, ou mesmo perceber que tal
situação era um problema. Exemplo disso eram as frequentes reclamações de moscas e mosquitos, do lixo
na rua. Entretanto, os alunos não se preocupavam em usar as lixeiras para descartar o lixo. Esta proposta

João Pessoa, outubro de 2011


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de estudo se desenvolve a partir de referências que sinalizam para a melhoria da educação ambiental no
Brasil, considerando a importância de contextualizar uma abordagem complexa que poderá contribuir para
uma melhor percepção do aluno frente às questões ambientais.
Guimarães (2004, p. 27) aponta em sua pesquisa que a visão fragmentária,
compartimentada relacionada a um modelo cartesiano, mecanicista imposto pela modernidade tem
dificultado a percepção holística das questões ambientais por parte dos educadores cuja armadilha
paradigmática os torna reféns, levando-os a agir inconscientemente influenciado pelos paradigmas.
Conforme (MELO, 2007, p. 99) “É notória a necessidade de uma transformação radical da
percepção e práxis professada pela atual organização antropossocial.” A importância da necessidade de
transformação da percepção e práxis imposta por um modelo antropossocial baseado na obsessão por
crescimento, desenvolvimento é imprescindível.
É preocupante quando alguém fala insistentemente em crescimento, pois sinaliza que alguém sairá
perdendo com esta ideia que acaba legitimando interesses inescrupulosos de uma elite perversa. O meio
ambiente não pode ser confundido com mercado. O ser humano não é um robô, a concepção ambiental
não pode ser mecânica, a Terra não é como o maquinário de um relógio.

2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA


A pesquisa realizada tem o objetivo de identificar como se desenvolve o trabalho de educação
ambiental e como são tratadas as questões ambientais pelos professores, de seis escolas de Ensino
Fundamental em Ceará-Mirim e, também, se os alunos dessas escolas conseguem perceber os problemas
ambientais da escola, comunidade e município, no seu cotidiano.
A Educação Ambiental é um tema importante em todas as séries de ensino, entretanto, a opção de
trabalhar com alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental se deu pelo fato de concordar com Pompéia
(2008) quando mostra que é nessa faixa etária que o aluno inicia o processo de reflexão sobre as questões
relacionadas à humanidade o qual indaga o papel das pessoas para melhorar ou piorar a problemática
ambiental. Dessa forma, o aluno começa a se posicionar como agente transformador podendo contribuir
inclusive com pequenas ações que serão de fundamental importância para a sua formação e os caminhos
que trilharão na educação.

2.1. DA POPULAÇÃO POR AMOSTRAGEM COM PROFESSORES


A pesquisa realizada teve como procedimento a aplicação de um questionário com vinte e
duas questões respondidas por educadores do Ensino Fundamental de seis escolas das quais duas
particulares, duas estaduais e duas municipais.
As escolas escolhidas são todas da zona urbana de Ceará-Mirim, sendo que quanto à
localização, as duas escolas do município se situam em região periférica, enquanto as duas escolas do
estado e as duas escolas particulares são mais centrais. A opção por essas escolas se deu pela possibilidade
de se confrontar as características inerentes a cada uma delas quanto ao aspecto social, econômico,
educacional e humano.
Em seguida, foram realizadas entrevistas por meio de grupo focais com alunos do oitavo e
nono ano das seis escolas escolhidas.
Durante a aplicação dos questionários seguiu-se um roteiro de observação sobre o comportamento
do respondente, o ambiente interno da escola, o ambiente externo e conversas com pessoas que fazem
parte da escola e familiares, de acordo com as observações de Morin (1998), quando sinaliza que:
A observação deve tentar ser panorâmica (por analogia com termo cinematográfico, em
que uma câmara rodando sobre si mesma capta o conjunto do campo perceptivo). Os sentidos
perceptivos estão tão atrofiados nos sociólogos que se fiam no questionário, no gravador ou, pelo
contrário, na simples especulação, que é preciso aprender a ver os rostos, os gestos, as roupas, os
objetos, as paisagens, as casas, os caminhos... acreditamos na necessidade de um balzacismo e de
um sthendalismo sociológicos Balzacismo seria o sentido da descrição enciclopédica, o
Sthendalismo seria o sentido do pormenor significativo. A isto deve acrescentar-se o sentido do
instantâneo ou flash (MORIN, 1998, p.172).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


934

Diante disso, para uma percepção panorâmica é importante além dos tradicionais
instrumentos de pesquisa utilizar a observação fenomenográfica buscando uma abrangência maior do foco
estudado, em que o próprio pesquisador deve estar incluído.

2.2. DA POPULAÇÃO POR AMOSTRAGEM COM ALUNOS


Com os alunos desenvolveu-se um trabalho em que foi utilizada a técnica de Grupo Focal. Esta
metodologia baseia-se na interação que acontece entre os componentes de um grupo ao serem convidados
a debater um tema fornecido pelo pesquisador, que normalmente tem o papel de mediador do debate. Os
dados fundamentais utilizados na análise dessa interação são falas das discussões do grupo.

Tabela 1 - Distribuição dos alunos correspondentes às escolas e às turmas que compuseram os


grupos focais.

Escolas Número de Número de alunos do Número de alunos por


escolas Oitavo e nono ano Cada turma
Particulares 2 16 8
Municipais 2 16 8
Estaduais 2 16 8
Total 6 48 16
Fonte: Arquivo pessoal

3. ANÁLISE DOS RESULTADOS COM PROFESSORES


3.1. FATORES QUE INFLUENCIAM A PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES

A tabela 2 trata das disciplinas lecionadas de acordo com os professores pesquisados. Nela se
percebe que a maioria da formação dos docentes é ciências e geografia, disciplinas as quais acreditamos
que são recomendadas de forma incoerente e compartimentadas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais
como principais parceiras da Educação Ambiental, embora nós não tivéssemos pedido prioridade na opção
dos professores das disciplinas envolvidas na pesquisa.

Tabela 2 - Distribuição das disciplinas lecionadas de acordo com cada professor


Cargo do respondente Disciplina que leciona
Professor Ciências Geografia Inglês
Total 3 4 1
Fonte: Arquivo pessoal

Analisando as respostas dos professores no questionário foi possível identificar uma relação
existente entre o que diziam e os Parâmetros Curriculares Nacionais, e mediante este fato constatamos que
uma das diretrizes dos Parâmetros Curriculares do Meio Ambiente norteia de forma incoerente os
professores quando apenas uma das escolas diz que todas as disciplinas trabalham Educação ambiental na
sua escola. Em sua maioria quando perguntados quais das disciplinas específicas trabalha mais Educação
Ambiental na escola, a resposta é frequentemente Ciências e Geografia conforme se encontra
demonstrado no Gráfico 1.

João Pessoa, outubro de 2011


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Gráf
ico 1- Distribuição correspondente às disciplinas que trabalham Educação Ambiental
Fonte: Arquivo Pessoal

Os PCNs, na parte que contempla o Meio Ambiente, são incoerentes quando pregam uma visão
holística e diz que os conteúdos do Meio Ambiente serão integrados ao currículo através da
transversalidade ao mesmo tempo em que preconizam que as áreas de Ciências Naturais, História e
Geografia serão as principais parceiras para o desenvolvimento dos conteúdos relacionados pela natureza
de seus objetos de estudo. Esta recomendação fragmenta, isola, quando considera as outras disciplinas
como parcos contribuintes que darão suporte à Educação Ambiental e isto tem se refletido na prática do
professor, em sua percepção e também de instituições formadoras de ensino que se norteiam por essa
diretriz contraditória.

3.2. FATORES QUE INFLUENCIAM A PERCEPÇÃO DOS ALUNOS


Nos trabalhos com os grupos focais teve um fato importante para destacar na análise das narrativas
dos alunos, ao comparar alunos das escolas particulares com os da pública com relação à escola que
sonhavam, alguns das particulares diziam sonhar com um sucesso mais no campo material mesmo sem
enfatizar o sucesso financeiro. Enquanto os das escolas públicas tinham um discurso mais para o campo da
condição humana, da cidadania, da qualidade de vida, da solidariedade. Algo atrelado a história de vida, do
contexto social de cada um deles, argumentos em sua maioria em consonância com o colega do lado por
dividirem as mesmas angústias, as mesmas necessidades que a vida proporciona.
Alguns timidamente responsabilizaram o governo e a educação pelos problemas que enfrentavam
no dia a dia, na vida e na escola, no entanto, a grande maioria dizia que o caminho para o sucesso dependia
deles mesmos.
Um fato também importante de destacar foi quando perguntados se eram felizes. Todos de um
universo de quarenta e oito alunos de todas as escolas pesquisadas foram unânimes em afirmar que apesar
dos problemas da educação e da sociedade se consideravam pessoas felizes.
É perceptível pelas falas que a felicidade deles está mais ligada à esperança de concretizar os
sonhos, o espírito de acreditar que um dia concretizarão seus objetivos parece ser o motor que os
conduzem a serem felizes. Em nenhuma das falas preponderou o sonho de consumo, e sim o da
humanescência que ocorre quando o ser humano se permite fluir a sua essência, percebendo a sua luz
interior desapegado de coisas materiais, valorizando a sua vivência, a entrega do corpo à vida.
Concordamos com AMORIM (2008) Quando aponta:
A importância de uma pedagogia vivencial humanescente que invista na formação, partindo
do próprio sujeito e de sua vivência; que se sustente nos estudos dos fenômenos humanos da
criatividade, da sensibilidade e da ludicidade.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


936

Os laços afetivos estreitados entre os alunos e a natureza num contexto vivencial podem contribuir
para uma melhor relação com o meio ambiente facilitando a sua compreensão. Ao perguntar a um dos
alunos o motivo pelo qual era feliz, apesar de morar numa rua que tem problemas ambientais como
esgoto, lixo, sem calçamento e dos problemas financeiros que a família tinha. Ele respondeu: “A esperança
é a última que morre”.
Outro fato é que se percebe que sofrem e sentem com o que impede que seus sonhos se realizem,
mas boa parte não parece perceber quem contribui para que seus sonhos se realizem.
De acordo com Gibson (2009), para boa parte dos profissionais de psicologia, a percepção é um
processo por meio do qual os objetos, pessoas, situações ou acontecimentos se tornam conscientes. É
através da percepção que o ser humano conhece a complexidade do mundo em sua totalidade. As pessoas
percebem as situações de acordo com os aspectos que têm especial importância para si.
Diante disso, é relevante que a escola discuta a abordagem pedagógica que proporcione melhorias
na percepção dos alunos, incentivando sua participação e criatividade, contribuindo para a construção do
conhecimento.
Exemplo disso, é um projeto pedagógico ousado e criativo que conduziu a confecção do globo
terrestre feito inteiramente com material reciclável por estudantes de uma das duas escolas estaduais
pesquisadas, localizada no centro de Ceará-Mirim. O projeto foi elaborado norteado por uma abordagem
Pedagógica Ecossistêmica, em que o aluno participa de forma globalizante das questões ambientais, em
que o meio ambiente se encontra interligado com a humanidade e o cosmo. Este trabalho é exemplo para a
educação ceará-mirinense, principalmente por ter sido elaborado por jovens estudantes.
Durante a confecção sistematizada dos trabalhos observados desde o início, foi possível perceber o
encanto dos alunos pelo trabalho que estavam realizando, além de ser uma aula diferente das que
tradicionalmente estavam acostumados tinham entusiasmo em contar toda a história do trabalho em
consonância com uma abordagem educacional ecossistêmica, em que o conteúdo se encontra conectado
com todos os conhecimentos trabalhados numa visão sistêmica. Isto que está ocorrendo é muito
importante, surpreendente, pois boa parte das escolas ainda trabalha de forma fragmentada induzida
historicamente pelo paradigma cartesiano atrelado a nossa cultura em que conforme Capra (2005):
Ser-nos-á útil recapitular a história e as principais características da metáfora da máquina.
Ela é uma parte do paradigma mecanicista mais amplo que foi formulado por Descartes e Newton
no século XVII e dominou nossa cultura por vários séculos, no decorrer dos quais moldou a
sociedade ocidental e influenciou significativamente o resto do mundo. A visão do universo como
um sistema mecânico composto de peças elementares determinou e moldou a nossa percepção da
natureza, do organismo humano, da sociedade [...] (CAPRA, 2005, p.114).

O trabalho realizado pela escola estadual já descrito demonstra que aos poucos a
abordagem educacional ecossistêmica inicia um processo de introdução em algumas escolas, ainda que de
forma tímida, mas que é perceptível o desejo de realizar, e esta vontade de fazer parece contribuir
gradativamente para ruptura do paradigma cartesiano.

Diante disso, parece necessário um grande esforço nas abordagens educacionais escolares para que
as mudanças se realizem.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Percebe-se, de acordo com o exposto neste trabalho que o estudo da percepção das
questões ambientais por parte dos educadores e alunos da comunidade escolar é de fundamental
importância para uma reflexão da situação da Educação Ambiental do Município de Ceará-Mirim.
Nele foram constatados vários fatores que podem influenciar a percepção relacionada aos
problemas ambientais, dentre os quais podemos destacar que os professores em sua maioria ainda
trabalha de forma fragmentada, embora alguns trabalhos interdisciplinares tenham começado a surgir.
Os alunos percebem as questões ambientais com o olhar do professor dirigido para ele, e
ao analisar os Parâmetros Curriculares Nacionais, constatamos que existe uma incoerência quando
preconiza a transversalidade ao mesmo tempo em que recomenda especificando Ciências e Geografia

João Pessoa, outubro de 2011


937

como principais parceiras para o desenvolvimento dos conteúdos do Meio Ambiente. Os alunos até sentem
e sofrem com os problemas, mas tem dificuldade na percepção sistêmica das questões.
É de fundamental importância que o conceito de desenvolvimento seja discutido e estudado nas
escolas como forma de que se possa evitar a banalização e apropriação do conceito por parte de interesses
escusos de instituições ou pessoas que ideologicamente pretendam manipular a sociedade.
A maioria dos professores aponta a sociedade como principal causadora dos danos ao meio
ambiente e a maioria dos alunos dizem que as mudanças só dependem deles próprios.
Os argumentos parecem ser muito direcionados e compartimentados o que pode
escamotear a realidade da percepção das questões ambientais.
Ocorre também uma tendência por parte dos educadores que para enfrentar os danos
ambientais sofridos dizem recorrer somente ao trabalho de conscientização não incluindo a atitude
participativa do exercício da cidadania, ou seja, afirmam que os principais problemas de agravo ao Meio
Ambiente em Ceará-Mirim, são: deficiência do saneamento, lixo, poluição do ar provocada pela queima da
cana-de-açúcar, fedentina proveniente do chorume do aterro sanitário em dias de chuva, mas dizem não
ter tido nenhuma atitude prática para resolver concretamente os problemas causados pelos danos ao Meio
Ambiente.
Foi possível também identificar nos trabalhos com os grupos focais a diferença dos sonhos
dos alunos da escola pública para os das particulares, como também a incoerência de alguns professores
das escolas particulares em confronto com o que dizem e de como realmente se encontra a escola no
aspecto ambiental.
Portanto, a motivação, o estímulo à participação, o conhecimento da ética ambiental
podem influenciar os alunos a perceberem melhor e com mais plenitude as questões ambientais.
A vivência com trabalhos interdisciplinares parece favorecer o estímulo do aluno ampliando sua
percepção. Através da percepção ambiental pode ser possível atribuir valores humanos e sociais que
contribuirão para compreensão das questões ambientais e promover tanto a conscientização como a
participação ativa do cidadão.

REFERÊNCIAS
AMORIM, Elen Dóris. Corporeidade e ludicidade: O fluir humanescente na formação de professores.
2008. 196p. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN.
Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Programa de Pós Graduação.
CAPRA, Fritjof. As conexões ocultas: Ciência para uma vida sustentável. Tradução Marcelo Brandão
Cipolla. 4. ed, São Paulo: Cultrix, 2005.
GIBSON, J. James. Fatores que influenciam a percepção. In: ENCICLOPÉDIA Wikipédia. Disponível
em: <http:/www.wikipédia.org/wiki/percepção>. Acesso em: 18 jul. 2009.
GUIMARÃES, Mauro. A formação de educadores ambientais. Campinas, SP: Papirus, 2004. Coleção
Papirus Educação.
MELO, Reynaldo F. L. Sociologia ambiental: A breve história da concepção da sociedade
sustentável. São Paulo: LCTE, 2007.
MORIN, Edgar. O Método “in vivo”. In: Sociologia: a Sociologia do microssocial ao macroplanetário.
Tradução de Maria Gabriela de Bragança e Maria da Conceição Coelho. Portugal: Europa-América, 1998. p.
163-199.
POMPÉIA, Sílvia. Educação Ambiental na Escola: Ensino Fundamental, Belo Horizonte:Cedic, 2008.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


938

A TEMÁTICA AMBIENTAL: UMA APRECIAÇÃO HISTÓRICA


Frank Antonio MEZZOMO
Professor do Curso de História da Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão – FECILCAM,
frankmezzomo@gmail.com
Maristela Moresco MEZZOMO
Professora do Curso de Engenharia Ambiental da Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Campus Campo Mourão,
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Geografia da UFPR, mezzomo@utfpr.edu.br

Resumo
O presente trabalho tem por objetivo fazer uma apreciação histórica das diferentes manifestações
que ocorreram em torno da temática ambiental, em especial em relação à conservação da natureza. Tendo
como base principal a obra de Bursztyn e Persegona (2008), o histórico destaca autores e obras, eventos,
criação de organizações e órgãos, questões legais e criação de parques, que ocorreram em nível nacional e
mundial do final do século XIX até a primeira década do século XXI. O intuito é demonstrar que a temática
ambiental não é um assunto recente, estando presente na conjuntura social desde séculos passados,
embora com perspectiva diferente porque está relacionada a contextos políticos, socioeconômicos e, em
especial, ideológicos distintos. Não obstante o debate ambiental tem se consolidado, uma vez que na
atualidade a preocupação com a conservação da natureza ainda não é consenso, necessitando ser
constantemente debatida, relembrada e, até mesmo, ‘recriada’ por diferentes agentes sociais.
Palavras-chave: Temática Ambiental, Conservação da Natureza, Histórico.

Influências Ideológicas
Os problemas ambientais contemporâneos teriam iniciado, segundo Moran (2008), a partir da
primeira Revolução Industrial (século XVIII), se intensificando com o desencadeamento da segunda
Revolução Industrial no século XIX. Os problemas destes períodos estavam relacionados com as mudanças
nos padrões de produção e modos de vida que ocorreram. As técnicas passaram a fazer parte da relação
sociedade-natureza, se caracterizando como uma ferramenta para a exploração de matéria-prima. Com
isso, porém não somente, o homem passou a ter interpretações mais exploratórias da natureza, o que,
consequentemente, levou ao desencadeamento de problemas ambientais, que motivaram a organização
de órgãos governamentais, entidades e fundações nacionais e internacionais, além de grupos civis, que
passaram a atuar em prol da conservação da natureza de diversas formas e utilizando diferentes
mecanismos.
Mas será que todos têm o mesmo objetivo em conservar a natureza? A concepção do que é
conservação da natureza é a mesma entre os agentes sociais envolvidos no debate ambiental? As
evidencias indicam que não, pois assim como o conceito de natureza apresenta variação, pois está
relacionada a aspectos histórico-culturais, a conservação se constitui como uma derivação do seu conceito
e logo, apresenta também muitas concepções. Aliado a isso, está à influência ideológica sobre o sentido de
conservação, que levou a constituição de diferentes correntes de pensamento nos séculos XIX e XX, como
os movimentos preservacionista e conservacionista.
Conforme descrito por Diegues (2000), o preservacionismo surge nos Estados Unidos no século XIX
e, mais tarde (século XX) ganha uma espécie de êmulo, o conservacionismo. O preservacionismo tinha
como intuito preservar as áreas ditas ‘virgens’ dos usos que não fossem de ordem recreativa, enquanto que
o conservacionismo já visava explorar os recursos naturais, porém de forma racional.
O preservacionismo, segundo Dourojeanni e Pádua (2001, p. 168), apresenta uma visão ética e
estética da Natureza, dando lugar, ao que também se chamou de protecionismo contemplativo. Os
protecionistas foram “os criadores dos primeiros parques nacionais e reservas equivalentes no mundo
todo. Foi o movimento protecionista que iniciou a preocupação com a extinção de espécies de fauna e da
flora e foi, também, o protecionismo que criou as primeiras instituições nacionais e internacionais que
defenderam a natureza”. Entre os pressupostos teóricos deste movimento, Fávero (2007, p. 77; 78) destaca
que está à idéia de “proteger o mundo natural da humanidade destruidora, sem admitir qualquer
possibilidade de relação harmônica entre ser humano e natureza”. Esta visão do movimento

João Pessoa, outubro de 2011


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preservacionista, tinha como base a Ecologia profunda e a Biologia da conservação, as quais apresentavam
uma visão mais radical do preservacionismo, considerando o homem como destruidor. A partir do século
XX, com a consolidação da Ecologia enquanto ciência, esta visão cênica e monumental da natureza ganha
um caráter mais objetivo e científico.
O conservacionismo teve como base inicial os trabalhos de Gifford Pinchot, que apresentava três
princípios para a conservação: o uso dos recursos naturais pela geração presente; a prevenção de
desperdício; e uso dos recursos naturais para benefício da maioria dos cidadãos. Estes princípios
influenciaram, ao longo do tempo, para o debate envolvendo desenvolvimentistas e conservacionistas,
tendo enfoques posteriores nas grandes conferências sobre meio ambiente e na criação do conceito de
desenvolvimento sustentável. Os argumentos do conservacionismo envolviam a transformação da natureza
e a escassez de recursos naturais, juntamente com os ideais de progresso relacionados a crescente
industrialização do século XX (DIEGUES, 2000, p. 29).
Sob influência das ideologias preservacionistas e, principalmente, conservacionistas, surge, a partir
da década de 1970, um novo movimento ambientalista, que se ramifica em várias vertentes, como o
socioambientalismo, por exemplo. O contexto político-econômico dos anos de 1960 e 1970 fez com que
emergisse um debate controverso sobre crescimento econômico e exploração dos elementos naturais,
pautando-se no processo de mudança social e política, aliado aos problemas ambientais, encaminhando-se
então para o chamado desenvolvimento sustentável. Segundo Diegues (2000, p. 38; 39) este movimento foi
composto por “ativistas que partem da crítica da sociedade tencológica-industrial, cerceadora de
liberdades individuais e destruidora da natureza”. Fazem parte deste grupo, vários movimentos sociais
(camponeses, pescadores, ribeirinhos, povos da floresta e ambientalistas) que acreditam que a crise
ambiental esteja associada ao modelo de desenvolvimento, que gera miséria e degradação ambiental. As
bandeiras de luta, portanto, envolviam as questões ecológicas ao lado do antimilitarismo e pacifismo,
direitos das minorias, entre outros. Este ecologismo, segundo Diegues (2000, p. 40) “foi profundamente
marcado pela ‘futurologia’, pelo profetismo alarmista: o futuro incorreto do planeta; o esgotamento dos
recursos naturais; a superpopulação humana; a poluição ecocida; as tecnologias opressivas; a guerra
nuclear; a ciência dominada pela tecnocracia”.
Tanto o preservacionismo, como o conservacionismo e o novo movimento ambientalista, tiveram e
tem influências nas diferentes ações em prol da conservação da natureza, a começar pelo aspecto
conceitual, que varia conforme os atores envolvidos (Órgãos Públicos, Entidades, ONGs, Universidades), o
período histórico e seus contextos político, econômico e social. Devido a isso, há uma variação de como a
temática ambiental foi tratada ao longo do tempo, e em especial, a conservação da natureza. Os registros
históricos permitem verificar que diferentes manifestações em relação à conservação da natureza
ocorreram ao longo da história, indo até mesmo ao século V a.C. conforme destaca Dorst (1973). Cada
manifestação está vinculada e atende a períodos em que os sistemas de exploração dos elementos naturais
e relações sociais, têm contextos culturais e econômicos diferentes. Logo, se atualmente a compreensão
sobre a conservação da natureza está vinculada a uma idéia criada, chamada de desenvolvimento
sustentável, as interpretações históricas também devem ser compreendidas sob esta perspectiva, ou seja,
as ações foram e são executadas seguindo preceitos ideológicos de um contexto histórico específico. Seria
um engano, portanto, considerar que a conservação da natureza do século XXI tem o mesmo sentido que
em décadas ou séculos passados. Neste sentido, este breve histórico não quer tentar construir uma
imagem de que ‘sempre ouve preocupação ambiental’, mas demonstrar que a temática ambiental está
presente nas pautas da sociedade há bastante tempo e que, portanto, já deveria estar consolidada no
cotidiano social e não ainda estar sendo discutida como um tema novo que precisa ser criado.

Autores e Obras
Alguns autores se constituíram, ao longo do tempo, como importantes referências para o debate
ambiental por promoverem diferentes reações na sociedade. Conforme Bursztyn e Persegona (2008), uma
das primeiras obras a tratar sobre conservação e influência humana no ambiente foi Man and Nature, or
Physical Geography as Modified by Human Action do americano George Perkins Marsh, publicada em 1864
em Londres. Na opinião de Dorst (1973, p. 91), é um clássico no que se refere ao problema da influência do
homem no mundo e na harmonia que deve existir entre ele e seu habitat natural. A obra tornou-se

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


940

referência por influenciar outras discussões modernas sobre os problemas ambientais, enfatizando a
erosão do solo e a poluição das águas.
Durante século XX, vários autores e obras se destacaram entre os quais está o estadunidense Aldo
Leopold com a obra Game Management de 1933. Suas pesquisas o levaram a ser considerado como o pai
do estudo da ecologia da vida selvagem. Décadas seguintes, são destacadas as obras dos também
estadunidenses, William Vogt, autor de Road to Survival de 1948, e Henry Fairfield Osborn Jr, autor do livro
The Limits of the Earth de 1953. Embora seus livros sejam considerados uma espécie de revival
malthusiano, influenciando outros trabalhos com a obra de 1968 The Population Bomb de Paul Ralph
Ehrlich e Anne H. Ehrlich, seus estudos são considerados importantes, pois relacionavam à destruição
ambiental com o crescimento populacional, o desenvolvimento econômico e as mudanças tecnológicas.
Estes argumentos teriam tido influências importantes no desenvolvimento do pensamento ambiental
posteriror, sendo até mesmo considerados, como os primeiros ambientalista por influenciar a criação de
outras obras que vieram a desencadear o movimento ambientalista da década de 1970.
Anteriores a estes autores, estão outros nomes importantes, como os estadunidenses Ralph Waldo
Emerson, Henry David Thoreau, George Perkins Marsh, Gifford Pinchot e o escocês naturalizado norte-
americano John Muir.
Na década de 1960, uma autora que se destacou e teve influência significativa no debate
ambiental mundial foi a norte-americana Rachel Carson, com a obra Silent Spring de 1962. Nesta obra, a
autora demonstra o risco para a saúde humana do uso de inseticidas, principalmente o pesticida DDT
(Dicloro-Difenil-Tricloroetano) e demais organocloradosos, os quais penetravam na cadeia alimentar
acumulando-se em tecidos e apresentando alto risco de causar câncer e danos genéticos. Segundo Bursztyn
e Persegona (2008, p. 122), a “grande polêmica movida pelo instigante e provocativo livro é que não só ele
expunha os perigos do DDT, mas questionava de forma eloqüente a confiança cega da humanidade no
progresso tecnológico”. Conforme Moura (2008-2009, p. 47), o livro apresenta quatro grandes
contribuições: denuncia o perigo de vida que a população estava passando devido ao uso abusivo dos
agrotóxicos; revela a destruição da fauna, principalmente de aves e peixes e outros animais silvestres;
pressiona as autoridades para criação de leis especiais e mais severas que os pesticidas; apela para a
formação de uma consciência nacional sobre a necessidade de proteção do meio ambiente.
As idéias de Carson contribuíram para ativação de movimentos ambientalistas dos anos seguintes e
sua obra se transformou em um marco histórico, pois “seu alerta era assustador demais para ser ignorado:
contaminação de alimentos, riscos de câncer, de alteração genética, morte de espécies inteiras. Pela
primeira vez, a necessidade de regulamentar a produção industrial para proteger o meio ambiente foi
aceita” (BURSZTYN e PERSEGONA, 2008, p. 122). Além disso, a obra envolve um contexto científico
interessante, pois ainda em 1939, o suíço Paul Muller descobre as propriedades químicas do DDT e em
1948 ganha o Prêmio Nobel da Medicina pela sua descoberta. Devido, principalmente, a isso, a denúncia de
Carson causou muita polêmica e gerou muitas discussões, sendo que somente em 1972, a Agência de
Proteção Ambiental dos EUA, impede o registro e a venda de DDT (BURSZTYN e PERSEGONA, 2008, p. 148).
Outras obras também na década de 1960, se destacaram como Scarcity and Growth de
Harold Barnett e Chandler Morse e o livro Before Nature Dies do francês Jean Dorst. Já na década de 1980,
destaca-se o polonês naturalizado francês Ignacy Sachs com o livro The strategies of ecodevelopment,
enquanto que na década de 1990, Bursztyn e Persegona (2008) destacam a obra de Michel Serres The
natural contract.
Muitas outras obras que tratam a temática ambiental voltada para a conservação da
natureza podem ser encontradas além destas citadas, principalmente após a década de 1970, quando a
demanda pelo debate ambiental tomou rumos cada vez mais políticos.

Os Eventos
Ao longo do século XX e início do século XXI, ocorreram muitos congressos e conferências
que tinham por objetivo, mesmo que muitas vezes com um caráter político, trazer à pauta do discurso a
temática ambiental. Isso fez com que também se estendessem os acessos da sociedade ao tema, incluindo-
o em pautas de reuniões e debates, criando mecanismos de discussão que depois vieram a se consolidar
em leis e ampliando o acesso a informação para níveis sociais diferenciados.

João Pessoa, outubro de 2011


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Entre estes eventos destacam-se os ocorridos no início do século XX, como o primeiro acordo
ambiental do mundo assinado em 1900 pela Inglaterra, França, Alemanha, Itália, Portugal e República
Democrática do Congo na Convenção para a Preservação de Animais, Pássaros e Peixes da África, ocorrida
em Londres, e o primeiro Congresso Internacional para Proteção da Natureza ocorrido em 1909 (BURSZTYN
e PERSEGONA, 2008, p. 71; 75). Outros eventos ocorreram nas primeiras décadas do século XX envolvendo,
principalmente, convenções para proteção da fauna.
No Brasil, um momento importante ocorreu na década de 1930 com a realização da Primeira
Conferência Brasileira de Proteção à Natureza ocorrida em abril de 1934 no Rio de Janeiro. Conforme
Franco (2002, p. 81), a noção de proteção à natureza presente nos debates da conferência envolvia duas
idéias: uma em que o mundo natural era valorizado como recurso econômico a ser usufruído
racionalmente, e outra em que a natureza era objeto de culto e fruição estética. As duas idéias foram
sendo debatidas de forma a convergir para a elaboração de um projeto comum de feição nacionalista e
cientificista. Havia “um vínculo entre propostas específicas relacionadas à questão da proteção da natureza
e uma idéia mais ampla de construção da nacionalidade, da mesma maneira que a crença na ciência como
guia para as políticas a serem adotadas para a conservação do patrimônio natural brasileiro e na
necessidade de um Estado forte como seu executor” (FRANCO, 2002, p. 77). Como resultados dos debates
da conferência estão a maior mobilização de grupos e associações cívicas, garantia de espaço junto às
instâncias deliberativas do governo, garantia de aprovação de leis, decretos e regulamentos e criação dos
primeiros parques nacionais.
Na década de 1960 destacam-se dois eventos importantes: a I Conferência Mundial sobre os
Parques Nacionais ocorrida em 1962 e a I Conferencia Internacional sobre a utilização racional e a
conservação dos recursos da biosfera, promovido pela UNESCO em 1968. A década seguinte (1970) pode
ser considerada de grande importância para o debate ambiental mundial, pois concentrou um grande
número de ações e eventos relacionados à temática ambiental. Uma das manifestações civis muito
lembradas na história ambiental se refere ao ‘Dia da Terra’ ocorrido em 22 de Abril de 1970 em
Washington. Segundo Bursztyn e Persegona (2008), este dia foi considerado como o ápice do novo
ambientalismo mundial, por promover a maior manifestação ambientalista da história, reunindo cerca de
20 milhões de pessoas.
Em relação aos eventos, a década de 1970 começa com a já conhecida e muito citada Conferência
das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, ocorrida em Estocolmo na Suécia em 1972. O evento
apresentou muitas questões importantes que vieram a ter vários desdobramentos nos anos e décadas
seguintes, se constituindo como um marco histórico para a questão ambiental.
A conferência foi marcada, conforme descrito em Bursztyn e Persegona (2008, p. 145; 150; 151),
pelo confronto entre as perspectivas dos países desenvolvidos e dos países em desenvolvimento os quais
apresentaram interesses diferentes diante do tema ambiental, uma vez que, também estavam relacionadas
questões sobre desenvolvimento econômico. Aspectos do relatório The Limits of Growth elaborado pelo
Clube de Roma e publicado em 1971, serviram de base para alguns debates da conferência, já que o
mesmo expôs pela primeira vez o conceito de limites e a idéia de que o desenvolvimento pode ser limitado
pelo tamanho finito de recursos da Terra. Polêmicas também surgiram como a partilha das
responsabilidades e a necessidade de frear o crescimento econômico, uma vez que, isso iria promover
menor degradação ambiental. Esta questão gerou discussões que se prolongam por décadas, uma vez que
o tema passou a ser visto, por muitos, como uma forma de condenar os países pobres à pobreza. Como
resultado das discussões, a Assembléia Geral da ONU cria o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente).
A partir da Conferência de Estocolmo, outros olhares se estabelecem no mundo em relação às
questões ambientais, que passou a ganhar corpo institucional em vários países, fazendo parte, inclusive, de
áreas específicas dos governos, como secretarias e ministérios. Conforme Bursztyn e Persegona (2008, p.
144; 156), entre os anos de 1971 e 1975 foram criadas 31 leis ambientais nos países da Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Entre 1966 a 1970 tinham sido criadas 18 leis,
enquanto que entre 1961 e 1965 haviam criado 10 leis e entre 1956 e 1960 tinham sido criadas apenas 4
leis ambientais.
Eventos de importância mundial seguiram ocorrendo na década de 1970, como a
Convenção Internacional de 1975, que criou a Carta de Belgrado visando uma estruturação para a educação

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


942

ambiental, e na seqüência a Conferência de Tbilisi em 1977, que definiu os objetivos para a educação
ambiental. No Brasil, a década de 1970 contou com o I Simpósio sobre Poluição Ambiental do país.
No ano de 1980 foi organizado pela IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza e
dos Recursos Naturais) em parceria com a UNEP (Programa Ambiental das Nações Unidas) e a WWF (World
Wildlife Fund) o documento Estratégia Mundial para a Conservação, o qual apresentou o termo
desenvolvimento sustentado que se caracterizou como um extrato marcante para redefinição do
ambientalismo após a Conferência de Estocolmo. Este documento apresenta os objetivos da conservação e
esboça as principais ameaças a sobrevivência humana. Também define os requisitos prioritários para a
consecução dos objetivos e apresenta um marco de referência para a estratégia, descrevendo os principais
obstáculos à conservação juntamente com recomendações.
Em 1982 ocorreu a Convenção de Bruxelas para Conservação da Natureza e Proteção das
Paisagens. No ano de 1987, foi firmado o Protocolo de Montreal que tem como metas a redução da
produção de gases CFC (clorofluorocarbono), halons e brometo de metilo, cuja presença na atmosfera é
considerada a principal causa da destruição da camada de ozônio. Neste mesmo ano, foi apresentado à
Assembléia Geral da ONU o relatório denominado ‘Nosso Futuro Comum’, também conhecido como
Relatório Brundtland, elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento sob
coordenação da então primeira-ministra da Noruega Gro Harlem Brundtland. O relatório identificou os
principais problemas ambientais que travavam o desenvolvimento de países mais pobres e adota o coneito
de desenvolvimento sustentável como aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a
possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades.
Como desencadeamento do relatório, a ONU determina a realização de uma conferêcia dedicada as
questões ambientais, a qual ocorre em 1992 no Brasil. A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente e o Desenvolvimento, também chamada de Rio 92 e Cúpula da Terra, buscou, entre outros
objetivos, examinar a situação ambiental desde a década de 1970, estabelecer mecanismos de
transferência de tecnologias não-poluentes aos países subdesenvolvidos e criar um sistema de cooperação
internacional para prever ameaças ambientais. Muitos protocolos foram negociados durante o evento,
entre os quais a Agenda 21, que apresentou diretrizes para o desenvolvimento sustentável de longo prazo,
sendo resultado do estudo de outros relatórios e documentos elaborados ao longo dos vinte anos de
debate ambiental (BURSZTYN e PERSEGONA, 2008, p. 208; 248; 249).
Também em decorrência de acordos foi criada a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre
Mudança Climáticas, a qual promove debates anuais entre os países signatários nas Conferências das
Partes (COPs). A primeira COP ocorreu em 1995 na Alemanha, seguida por Genebra na Suíça (1996), Quioto
no Japão (1997 e 1998) e Bonn na Alemnha (1999). Os eventos continuaram correndo anualmente na
primeira década de 2000, tendo como tema central a relação das mudanças climáticas com a
sustentabilidade e preservação do meio ambiente. Entre as 16 COPs já realizadas, destaque se dá para a de
1997, quando foi assinado o Protocolo de Quioto, o qual previa a diminuição da emissão dos gazes
causadores da aceleração do efeito estufa pelos países ricos. A média estabelecida seria 5% para o período
de 2008-2012.
Um dos aspectos verificados ao longo destes anos de conferências é um avanço lento de ações
práticas e imediatas e uma séria de discussões e desacordos, principalmente entre países pobres e ricos.
Um dos denominadores comuns entre os mais de 190 países é o reconhecimento de que a mudança
climática é um dos maiores desafios do mundo atual e que a necessidade de fazer cortes na emissão dos
gazes causadores do efeito estufa é real.
A década de 2000 passa a ser um período de grandes cobranças por parte da sociedade e de
instituições ambientais devido aos acordos já assinados e debates desenvolvidos. Eventos continuam
ocorrendo como o Congresso da União Internacional para a Conservação da Natureza em 2000 na Jordânia,
tendo como uma das principais conclusões a afirmação sobre a necessidade de aumentar as verbas para
proteção do ambiente. Também no ano de 2000 ocorreu a Cúpula do Milênio da ONU, realizada nos EUA. O
evento estabeleceu um conjunto de objetivos para o desenvolvimento e erradicação da pobreza no mundo,
sendo denominado de Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM). Conforme Bursztyn e Persegona
(2008, p. 310; 322), a iniciativa ocorreu como uma forma de reação ao esquecimento que ficou relegado o
desenvolvimento dos países pobres nos anos de 1990, década marcada pela omissão em relação à
dimensão social. Dessa forma, as Metas do Milênio seriam a tentativa de recolocar no plano político

João Pessoa, outubro de 2011


943

internacional, questões e soluções que ainda faziam parte do século anterior, já que, até o início de 2000, a
maioria das nações ricas não havia cumprido com a meta de contribuir com 0,7% do PIB em ajuda do
desenvolvimento dos países pobres.
Sendo assim, os avanços sobre as questões relacionadas ao meio ambiente sofreram uma frenagem
considerável no início dos anos 2000, pois o foco das discussões havia voltado a ser o enfrentamento da
pobreza no mundo, como o que aconteceu em Joanesburgo em 2002, na Cúpula Mundial sobre
Desenvolvimento Sustentável organizado pela ONU e também conhecida como Rio+10 ou Cúpula da Terra
II. Um dos pontos principais foi discutir os avanços alcançados pela Agenda 21 e outros acordos do evento
de 1992. Como resultados deste evento, surgiram dois documentos: a Declaração de Joanesburgo e o Plano
de Implementação.
As últimas décadas do século XX e a primeira do século XXI tiveram uma grande agenda de
encontros e discussões tanto em escala mundial como nas esferas nacionais e locais. O debate ainda
continua, porém o que se verifica, é que as ações concretas ainda são lentas.

Órgãos e Aspectos Legais


A cronologia sobre a criação de órgãos se foca no Brasil e começa em 1925 com a criação do
Departamento de Recursos Naturais Renováveis. Décadas seguintes, em 1967, é criado o Instituto Brasileiro
de Desenvolvimento Florestal (IBDF) e em 1973 é criada a SEMA (Secretaria Especial do Meio Ambiente).
Em 1980, surgem os primeiros Conselhos Municipais de Defesa do Meio Ambiente (CONDEMAS) e em 1989
é criado o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), pela fusão
de outros órgãos já existentes como a SEMA e o IBDF. Na década de 1990, destaque é dado a criação do
Ministério do Meio Ambiente, em 1992.
Em nível mundial, a ONU cria no ano de 1992 a Comissão de Desenvolvimento Sustentável e em
1998 institui o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), influenciando para a criação
do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas em 2000 e da Agenda 21 Brasileira em 2002 (BURSZTYN e
PERSEGONA, 2008).
Para dar um foco mais específico à conservação na gestão ambiental brasileira, foi criado o Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) pela lei 11.516 de 28 de agosto de 2007. Com a
atribuição de realizar a gestão das Unidades de Conservação, propor a criação de novas áreas protegidas e
apoiar aproximadamente 500 Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN), a instituição ainda é
responsável por definir e aplicar estratégias para recuperar o estado de conservação das espécies
ameaçadas por meio dos Centros Especializados de Pesquisa e Conservação. O ICMBio é uma autarquia
vinculada ao Ministério do Meio Ambiente e integra o Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama).
Segundo Bursztyn e Persegona (2008, p. 144; 156), 10 anos após Estocolmo cerca de 110 países
contavam com ministérios e departamentos de meio ambiente, enquanto que antes da Conferência,
existiam apenas cerca de 10 países com órgãos específicos.
Além dos órgãos públicos, é importante destacar a existência desde o século XIX, de uma grande
quantidade de Fundações e ONGs (Organizações Não Governamentais) que, mesmo com militâncias
diferenciadas, atuaram e atuam pelas questões ambientais. Entre tantas, destaca-se as seguintes:
Sociedade Nacional de Proteção da Natureza da França, criada em 1854; Ligas Suíça e Sueca para a
Proteção da Natureza de 1909; Royal Society for Nature Conservation, criada em 1912 na Inglaterra; Liga
para a Proteção da Natureza de Portugal, de 1948; Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza
criada em 1948; União Internacional para Proteção da Natureza de 1948, que passa em 1956, a se chamar
União Internacional para a Conservação da Natureza; ONG Suíça World Wide Fund for Nature criada em
1960; Greenpeace, criado em 1971 no Canadá; a Fundação SOS Mata Atlântica de 1986 e Fundação Grupo
Boticário de Proteção à Natureza criada em 1990.
A criação das ONGs, fundações e órgãos governamentais voltados a trabalhar com as questões do
meio ambiente, foram de grande importância para a institucionalização da temática ambiental em vários
países. Consequentemente, a institucionalização contribuiu para o estabelecimento de um arcabouço legal
importante para a manutenção e expansão de áreas para conservação da natureza.
Conforme descrito por Bursztyn e Persegona (2008), o tema água foi um dos primeiros elementos
naturais a gerar institucionalização legal na Idade Contemporânea. A primeira lei antipoluição das águas foi
formulada em 1879 na Inglaterra e tinha como motivações as conseqüências oriundas da Revolução

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


944

Industrial, com o uso indiscriminado dos cursos de água pelas indústrias e população. No Brasil, em 1906 foi
apresentado o projeto de lei do Primeiro Código de Águas do Brasil, que veio a ser aprovado somente em
1934, ano em que a Constituição Brasileira passa a conter dispositivos sobre aspectos ambientais. Anos
seguintes, em 1965, é criada a Lei sobre o Código Florestal Brasileiro, que “caracteriza as florestas e a
vegetação como bens de interesse comum e estabelece os critérios para a delimitação das áreas de
preservação permanente de vegetação, a criação de parques e reservas biológicas, a exploração de
florestas e o desmatamento” (BURSZTYN e PERSEGONA, 2008, p. 128).
Na década de 1970, destacam-se as Recomendações sobre os princípios diretores relativos aos
aspectos das políticas ambientais no plano internacional, aprovado pelos países da OCDE (Organização para
a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Este documento deu origem ao Princípio Poluidor-Pagador
que foi aprovado na conferência da ONU de 1992. No ano de 1979 no Brasil, o Código de Manejo dos
Parques Nacionais é regulamentado por meio de um decreto.
A década de 1980 apresenta vários registros em termos de leis no país, a começar pela criação da
Lei de Política Nacional e Meio Ambiente em 1981, que levou a criação dos órgãos SISNAMA (Sistema
Nacional de Meio Ambiente) e CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente). Com a Política Nacional,
vários desdobramentos ocorreram como a Lei 6.902/81, que dispõe sobre a criação de estações ecológicas
e áreas de proteção ambiental, sendo considerada a primeira lei ambiental destinada à proteção da
natureza do Brasil. No ano de 1986, é instituída a Resolução 001 do CONAMA, a qual tornou obrigatório o
estudo sobre impactos ambientais para licenciamentos de qualquer tipo de atividade que pode transformar
o ambiente. Em 1988, é editada a nova Constituição da República Federativa do Brasil a qual apresenta um
capítulo todo voltado às questões do meio ambiente, certificando a importância da preocupação ambiental
em nível nacional.
No decorrer da década de 1990, várias leis e decretos foram criados, com destaque para a Política
Nacional de Recursos Hídricos de 1997. No ano de 2000, é criada a Agência Nacional de Águas e publicada a
lei que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) que foi regulamentada
em 2001.

Os Parques
Outro aspecto que merece destaque sobre as ações históricas voltadas para a conservação da
natureza se refere a criação de parques. A criação do Parque Nacional de Yellowstone nos EUA em 1872 é
considerada um marco histórico em prol da conservação da natureza no mundo e motivador para a criação
de outros parques pelo mundo, como os criados no Canadá, Nova Zelândia, Austrália e África do Sul nas
décadas seguintes a 1870. No final do século XIX e início do século XX, o modelo de parques sem população
foi implantado na América Latina, começando pelo México em 1894 e Argentina em 1903 (DIEGUES, 2000,
p. 99).
No primeiro quartel do século XX vários parques foram criados, com destaque para o Parque
Nacional do Gran Canyon de 1919, Parque Nacional do Equador (Ilhas Galápagos) em 1934, Parque
Nacional da Índia – Nacional Hailey de 1936. Conforme Diegues (2000, p. 99-103), não havia um consenso
mundial sobre os objetivos de criação de parques nacionais, o que só começou a acontecer com a
Convenção para a Preservação da Flora e Fauna em 1933 em Londres. A partir deste período, instituições
foram criadas, como a já citada IUCN em 1948, e ações e eventos começaram a ocorrer de forma mais
representativa. Em 1959, o Conselho Econômico e Social das Nações Unidas organiza a primeira lista de
Parques Nacionais e Reservas Equivalentes. Em 1960, a UICN cria a Comissão de Parques Nacionais e Áreas
Protegidas e em 1962 ocorre a Primeira Conferência Mundial sobre Parques Nacionais. Estes eventos
representaram avanços na discussão sobre parques nacionais e instituíram recomendações sobre a
aplicação do conceito de parque, entre outras definições que nos anos seguintes outros encontros
propuseram reformulações.
No Brasil, o primeiro Parque Nacional (PN) criado foi o PN de Itatiaia em 1937, seguido pelo PN do
Iguaçu e PN da Serra dos Órgãos, ambos em 1939. O propósito era incentivar a pesquisa científica e
oferecer lazer às populações urbanas. Daí em diante, vários parques foram criados já seguindo as
recomendações da UICN, como o PN dos Aparados da Serra, PN do Araguaia e PN de Ubajara, ambos de
1959. No ano de 1961, um grande número de parques nacionais foi criado com destaque para o PN de
Brasília e o PN da Tijuca. A década de 1970 registrou também vários parques, em especial o PN da

João Pessoa, outubro de 2011


945

Amazônia (1974) e o PN do Pico da Neblina. Na década seguinte, vários parques foram criados como o PN
do Pantanal Matogrossense (1981) e PN Superagui (1989). Na década de 1990 destaca-se entre tantos a
criação do PN Serra Geral (1992) e PN de Ilha Grande (1997). Na década de 2000 destaca-se a criação da
Reserva da Biosfera da Amazônia Central, da Reserva da Biosfera da Caatinga e dos Parques Nacionais Serra
da Cutia e de Saint-Hilaire/Lange (2001), PN Nascentes do Rio Parnaíba (2002), PN das Araucárias e a
Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço (2005) e em 2006 o PN dos Campos Gerais e PN dos Campos
Amazônicos (BURSZTYN e PERSEGONA, 2008). Muitos outros parques foram criados nos últimos anos, tanto
em nível federal como estadual e municipal, apresentando, portanto, certa dificuldade de se citar todos,
porém, é reconhecível a importância destes para a manutenção e ampliação de áreas de conservação da
natureza.

Considerações Finais
Várias manifestações e eventos pautaram o debate acerca da questão ambiental desde o século
XIX. À medida que avançam as décadas em direção ao século XXI, os registros ampliam-se entre os quais
pode-se destacar a ocorrência dos eventos e a criação de leis. Todas as manifestações, realizadas por meio
de reuniões, conferências e fóruns, extrapolaram o âmbito das discussões acadêmicas e ganharam espaço
na sociedade. A inclusão da temática ambiental em pautas mais amplas e de ordem política, fizeram com
que fossem criados mecanismos de discussão que depois vieram a se consolidar na criação de órgãos e leis
públicas. Além do mais, convêm destacar, possibilitaram uma abertura ao debate ambiental para níveis
sociais diferenciados.
Em relação à conservação da natureza, entende-se que para ela ocorrer de forma mais efetiva
alguns desafios precisam ser superados, como: nos encaminhamentos políticos em relação à fiscalização
das leis já existentes; na abordagem de novas leis que deveriam considerar as reivindicações da população;
na efetivação de obras que garantam a conservação da natureza em diferentes escalas; na abordagem
integrada da paisagem; e na execução de ações concretas diante do debate já existente.

Referências
BURSZTYN, M.; PERSEGONA, M. A grande transformação ambiental: uma cronologia da dialética do
homem-natureza. Rio de Janeiro: Garamond, 2008. 412p.
DIEGUES, A. C. O mito moderno da natureza intocada. 3. ed. São Paulo: Hucitec, 2000. 169p.
DORST, J. Antes que a Natureza Morra: por uma ecologia política. Tradução: Rita Bongermino.
Coordenação: Mario Guimarães Ferri. São Paulo: Edgard Blücher, 1973. 394p.
DOUROJEANNI, M. J.; PÁDUA, M. T. J. Biodiversidade: a hora decisiva. Curitiba: UFPR, 2001.
FÁVERO, O. A. Paisagem e sustentabilidade na bacia hidrográfica do rio Sorocaba – SP. 2007, 312p.
Tese (Doutorado em Geografia Humana) – FFLCH/Departamento de Geografia. São Paulo.
FRANCO, J. L. de A. A Primeira Conferência Brasileira de Proteção à Natureza e a questão da
Identidade Nacional. Varia História, n. 26, Jan., 2002. p. 77-96. Disponível em
<http://www.fafich.ufmg.br/varia/admin/pdfs/26p77.pdf>. Acesso em: 10 de janeiro de 2011.
MORAN, E. F. Nós e a Natureza: uma introdução às relações homem-ambiente. Tradução de Carlos
Szlak. São Paulo: Senac São Paulo, 2008.302p.
MOURA, R. M. Rachel Carson e os agrotóxicos 45 anos após Primavera Silenciosa. Anais da
Academia Pernambucana de Ciência Agronômica, Recife, vols. 5 e 6, 2008-2009, p. 44-52.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


946

PERCEPÇÃO DOS MORADORES SOBRE POTENCIAL TURÍSTICO DO


DISTRITO DE MIRAPORANGA, UBERLÂNDIA, MG: UMA PROPOSTA DE
VALORIZAÇÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DO TURISMO
61
Gastão Viegas de Pinho Junior
62
Mônica Arruda Zuffi

RESUMO
O turismo sustentável durante muito tempo foi pauta de reuniões importantes para o rumo dos
projetos de leis ambientais, no entanto, ainda falta muito a se fazer, pois apesar das reuniões e dos
projetos implantados, muitas áreas de preservação ambiental estão desprotegidas e sujeitas a perderem
suas riquezas. Tal fato ocorre, pelo motivo do turismo ser uma atividade voltada para gerar renda de um
modo em que na maioria das vezes, explora áreas de belezas naturais e que acabam por serem atrativos,
como praias, cachoeiras, rios, montanhas, etc., o que leva a exploração indevida desses lugares. A atividade
turística por ter essa característica econômica, pode ser aplicada em áreas naturais, desde que não as
descaracterizem ou as agridem, de forma a manter suas características naturais, e ainda ser uma fonte de
renda para o lugar receptor. Este estudo foi realizado através de pesquisas em livros, artigos e ainda por
entrevistas realizadas no local, comprovando a receptividade da população em relação ao turismo e do
mesmo e sua viabilidade para o local, em suma, analisando todas as bem feitorias que o turismo pode
trazer para a sociedade receptora, no caso Miraporanga.
Palavras-chaves: Turismo Sustentável, Miraporanga, Ecoturismo e Valorização Ambiental.

INTRODUÇÃO
Em algumas regiões do Brasil podemos observar vários tipos de segmentos turísticos. Na região
sudeste, por exemplo, que é uma das regiões mais ocupadas pelos centros urbanos, ainda há lugares nos
quais muito se tem a respeito da cultura, tradições e parte da fauna e da flora característica. Em Minas
Gerais, como por exemplo, no Triângulo Mineiro, temos a cidade de Uberlândia, que possui quatro
distritos, que até hoje, preservam boa parte de sua cultura, crenças e vegetação. São eles Tapuirama,
Cruzeiro dos Peixotos, Martinésia e Miraporanga, todos dependentes do distrito sede, Uberlândia.
Alguns deles como foi o caso de Tapuirama, por exemplo, acabaram desenvolvendo produtos
turísticos que antes não existiam, pois com a construção da usina hidrelétrica na região, alguns lugares se
tornaram centros de práticas esportivas náuticas, mas em alguns deles a presença de cachoeiras, trilhas,
rios e outros atrativos naturais, sempre chamou a atenção dos adeptos do turismo ecológico ou
ecoturismo.
Tais atrativos naturais nessa região vêm do bioma Cerrado, que possui uma vasta vegetação, rica
em diversidade tanto de fauna como flora. Ele ainda é característico por possuir campos com gramíneas
propícias para pastoreio, e ainda por ser cheio de savanas, favorável para a prática de agricultura.
(MIRANDA, 2002)
Nos lugares em que predominam o bioma cerrado, há lugares deslumbrantes. O uso do turismo de
forma adequada e consciente pode ser um elemento a favor da população. Em algumas cidades do interior
do Brasil, o turismo pode vir a ser um fator gerador de renda e qualificação profissional da população,
desde que usado adequadamente, respeitando o meio ambiente.
Em Miraporanga, por exemplo, há uma série de atrativos que podem vir a ser utilizados na
atividade turística, como fazendas, rios, cachoeiras, e ainda os patrimônios culturais como a igreja da Nossa
Senhora do Rosário que atualmente é tombada como patrimônio históricocultural, dentre outros recursos

61
Graduado em Biologia pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU; Mestrando em Ecologia e
Conservação de Recursos Naturais pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU. E-mail: depinhoj@gmail.com
62
Graduada em Turismo e Hotelaria pela Universidade do Triângulo – UNITRI; Graduanda em Geografia pela
Universidade Federal de Uberlândia - UFU. E-mail: monicazuffi@hotmail.com

João Pessoa, outubro de 2011


947

que podem vir a serem futuros potenciais turísticos. O distrito possui aproximadamente três cachoeiras, a
do Panga, que se situa dentro da reserva ecológica da UFU, com uma queda d’água bem pequena, a
cachoeira do Cabaçal que fica na fazenda Cabaçal e a da Estiva que fica no rio Estiva, que é grande tanto em
queda quanto em largura e volume de água, e fica a aproximadamente 17 km da área urbana de
Miraporanga, além do Rio Tijuco que tem sua bacia estendida em alguns municípios do Triângulo Mineiro, e
que se situa a quase 14 km do distrito.
O distrito de Miraporanga foi formado no século XIX, na época em que alguns desbravadores
descobriram as terras da região, pois, estavam a caminho de Goiás e Mato Grosso, com o intuito de usar
dos benefícios oferecidos nas beiras dos Rios Paranaíba e Rio Grande, deixando ao longo de suas
passagens, colônias de povoamento, e dentre uma delas, foi construída Santa Maria, que mais à frente teve
um notório desenvolvimento populacional e monetário. Tal desenvolvimento obteve destaque pelo fato de
Santa Maria estar localizada no centro do Sertão da Farinha Podre (atual Triângulo Mineiro) que era
passagem para todos que estavam de viagem para o centro-oeste (UBERLÂNDIA, 2007).
No dia 09 de agosto de 1864 foi criado pelo vice-presidente Bacharel Fidelis de Andrade Botelho o
Distrito de Paz de Santa Maria, pela lei nº 1198. Ele pertencia à antiga Freguesia de Monte Alegre.
A partir de 1880 o comércio de Santa Maria passou a ser considerado o mais importante da região.
Várias casas comerciais se destacavam como estabelecimentos de primeira classe, entre eles, as firmas
Ângelo Zócoli; José Ribeiro Guimarães; Onofre Ferreira e João Rodrigues da Silva. Nessa época a sede do
Distrito já dispunha de três igrejas, nas quais eram realizadas festas religiosas assistidas por romarias de
devotos, vindos de todos os lados. Santa Maria foi desmembrada de Monte Alegre e Prata, ao mesmo tempo
em que São Pedro de Uberabinha foi desmembrado do termo de Uberaba, pelo decreto nº 51, de 07 de
junho de 1888, chegando à Vila e Freguesia de Uberabinha, anexada à Santa Maria. O antigo Distrito de Santa
Maria, atual Miraporanga, faz divisa com os atuais municípios de Uberaba, Prata, Monte Alegre e Uberlândia,
obedecendo ainda, à antiga divisão. É região principalmente constituída por fazendas, entre elas a do
Cabaçal, Capão da Caça, Estiva, Douradinho, Tijuco, Água Limpa, Barra, Harmonia, Panga, Cocal e muitas
outras que com o tempo foram subdidividas. (UBERLÂNDIA, 2007, p. 12)

No caso de Miraporanga, existe uma história diferente e não menos interessante. O distrito que
antes era mais importante que Uberlândia, hoje não tem mais a mesma importância econômica, mas tem
chamado a atenção pelo fato da região ser propícia para o plantio de milho e soja, que hoje, em 2008, tem
atraído trabalhadores da área rural que vão para lá em busca de emprego e melhores condições de vida.
Miraporanga é rodeada de fazendas, rios, lagoas, e cachoeiras, além dos casarões antigos que são
um verdadeiro patrimônio histórico do distrito. Dos rios temos o rio Tijuco, que fica cerca de 15km do
distrito, as cachoeiras do Panga, do Cabaçal e da Estiva. Esta que é uma das maiores e mais conhecidas da
população e fica a 17 km aproximadamente de Miraporanga, além é claro, de riachos, corredeiras e outros
atrativos naturais que não coube aqui analisar.
Como citado anteriormente, o turismo além de ajudar a movimentar a economia dos receptores,
também ajuda na qualificação da mão-de-obra trabalhadora, e como Miraporanga tem certo potencial
turístico com os seus atrativos naturais, porque não usá-los como meio de renda e de lazer para não só os
moradores do distrito, mas para toda a sua região. Dessa forma, há em Miraporanga um meio de gerar
renda para a população e ao mesmo tempo usar de seus atrativos como elos beneficentes para
qualificação profissional, cultural e econômica, uma vez que o distrito tem em seu entorno fazendas,
trilhas, lagoas, rios e cachoeiras.
Voltando um pouco na história, podemos observar que Santa Maria (atual distrito de Miraporanga)
tinha tudo para crescer, uma vez que sua posição geográfica o coloca ao centro do Triângulo Mineiro, mas
por uma estratégia de transferência da Estrada Alta Mogiana (que deveria passar por Santa Maria), para
Uberlândia, deu-se o início ao crescimento econômico de Uberlândia e a estagnação de Miraporanga
(MONTES, 2006).
Durante muito tempo, Santa Maria teve a mesma importância econômica que Uberlândia, e talvez
se não fosse por essa transferência, hoje Miraporanga seria mais desenvolvida economicamente que São
Pedro do Uberabinha e quem sabe não seria a vez de Uberlândia enxergar um pouco mais a fundo sua
história e começar a valorizar àqueles que ontem foram parte do presente.
Este trabalho tem como principais conceitos a prática de turismo responsável e também do
ecoturismo, e como objetivos verificar se há possibilidade de utilizar os recursos naturais existentes em

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


948

Miraporanga como atrativos turísticos, se os moradores aceitam a implantação dessa atividade no lugar e
ainda propor, com o turismo sustentável, práticas de preservação e valorização dos recursos naturais no
distrito.
De acordo com alguns autores, o turismo se tornou um elemento de extrema importância nas
práticas de desenvolvimento em vários lugares, pois “atrai a atenção dos governos ao oferecer alternativas
para geração de empregos e desenvolvimento econômico”. (NEIL; WEARING, 2001, p. 33).
Nesta pesquisa, foi feito um formulário contendo 3 questões, sendo uma aberta e duas fechadas,
aplicadas à comunidade local, no intuito de se conhecer a visão dos moradores sobre o potencial turístico
do distrito, assim como quais seriam os principais atrativos turísticos da região na visão de seus moradores.

MATERIAIS E MÉTODOS
Para a realização da pesquisa foram aplicados 53 questionários aos moradores do distrito. Os
moradores entrevistados foram selecionados aleatoriamente. Para a aplicação dos questionários visitamos
o distrito entre outubro e novembro de 2008. As visitas também foram realizadas a fim de se averiguar
possíveis atrativos em Miraporanga e averiguar quais as possibilidades de aproveitamento deles a fim de
beneficiar Miraporanga e seus moradores.
Os questionários aplicados constavam das seguintes perguntas:

1. Em sua opinião, o que poderia ser feito para Miraporanga receber mais visitantes? Por quê?

2. Na sua opinião, além de cachoeiras, existe algum outro lugar no distrito que poderia vir a ser um
atrativo turístico?
( ) Sim ( ) Não
No caso de existir, qual ou quais:

3.Para você, o que mais atrairia turistas em Miraporanga:


( ) Um hotel fazenda
( ) Um restaurante que serve comidas típicas de Minas
( ) Um aras
( ) Um SPA
( ) outros

RESULTADOS E DISCUSSÃO
No que diz respeito ao entendimento da população, quando questionados sobre melhorias ou
mesmo novos meios de atrair visitantes, 38% afirmaram a necessidade de asfaltar a estrada, e 25%
disseram haver a necessidade de construir um hotel no distrito, pois com o aumento da produção agrícola
na região, há muita procura e só se encontra esse tipo de estabelecimento em Uberlândia. Já 19% disseram
ter a necessidade de um restaurante, pois também não há nenhum nas imediações Entretanto, quando
perguntamos sobre mais algum lugar que poderia vir a ser um atrativo para os visitantes, além dos
mencionados nos formulários, 68% afirmaram não existir, e 32% disseram haver, como os casarões antigos,
a igreja Nossa Senhora do Carmo e o Rio Tijuco Outra questão a analisar é quanto à avaliação da condição
do distrito referente as atividades turísticas que o mesmo comportaria, como Ecoturismo, no qual o mesmo
comportaria de acordo com a opinião dos moradores, pois quando questionados sobre o que eles acham
sobre certos tipos de estabelecimentos, que se encaixariam dentro das condições sócio-culturais que o
distrito se encontra, as respostas foram às seguintes:
Respondendo a terceira pergunta, 32% dos moradores entrevistados afirmaram que um
restaurante seria uma opção para o lugar, pelo fato de não existir um e pela grande procura do mesmo, já
36% asseguraram ser um hotel fazendo, provavelmente pelo fato do Distrito ser rodeado por fazendas, e
pelo contato que os moradores já possuem com o meio rural, entretanto, dos 25% que disseram que um
aras seria um empreendimento viável, também devido ao contato com que eles já possuem com o campo,
o que nos faz confirmar a idéia de que o turismo em áreas verdes seria uma boa opção no Distrito.
Quanto à questão da viabilidade da implantação do turismo em Miraporanga, seria necessário fazer
uma suposição sobre os tipos de gastos, retornos para os investimentos feitos, e outros aspectos como

João Pessoa, outubro de 2011


949

divulgação e mão-de-obra qualificada na área de turismo que partiriam de parcerias entre instituições
privadas e empresas voltadas para o segmento. Quanto aos investimentos em meios de hospedagem,
alimentação e capacitação de possíveis profissionais do turismo, esses partiriam da iniciativa de parte da
população em deseja contribuir financeiramente ou com a mão-deobra.
Entretanto, é importante entender que os investimentos que podem ser feitos pelo governo nos
itens anteriormente citados, são de grande importância não só para a atividade turística, mas para a
comunidade também, pois são meios de subsistências necessários para melhoria da qualidade de vida.
Todavia, esses são investimentos altos, que cabem somente ao poder público. Para a implantação dos
cursos profissionalizantes, o espaço que a escola disponibiliza poderia ser usado, mas com as devidas
reformas, como aumento de salas de aula, sanitários e instalação de computadores com acesso à Internet e
bibliotecas para consulta das pesquisas.
Diferentemente, o marketing derivaria de parcerias com empresas privadas, que poderiam
contratar serviços como de empresas de publicidade que entrariam com o por meio de patrocínios e
contribuiriam não só com o distrito, mas também com interesses próprios em participar de projetos
públicos e acrescer suas marcas em planos que lhes proporcionariam a constante exposição de nome, e por
investimentos pequenos, pois forneceriam panfletos, folders, cartazes e pequenas propagandas áudios-
visuais nos show cases apresentados pelo Convention. Isso lhes traria retornos rápidos e gastos pequenos.
Já a respeito da disponibilização de profissionais do segmento turístico, seria necessária a iniciativa de
instituições como o SESC e a UNITRI, que colocariam seus alunos e professores para criarem projetos
voltados para o ecoturismo, turismo de aventura e a qualificação de guias de turismo para acompanharem
as atividades mais minuciosas como trilhas, mountain bike e caiaquismo. Tais capacitadores são de baixo
custo e os alunos e professores estariam agregando aprendizados a eles próprios enquanto pesquisadores
e aprendizes. As agências de viagens também seriam de grande importância para a montagem de pacotes
turísticos voltados para as atividades e realização das mesmas, que igualmente serão de baixos
investimentos e mais um serviço oferecido aos seus clientes.
Quanto às construções e criações de meios de hospedagem, restaurantes, bares e outros afins, isso
seria feito por parte da população de Miraporanga que tenham condições para tais investimentos, pois não
são necessários grandes empreendimentos, uma vez que o objetivo é não descaracterizar o clima “rural”
que o distrito tem. Assim, para poder segmentar a atividade para o ecoturismo, seria necessária a criação
de áreas de campings, pensão, restaurantes e de lojas para venda e aluguel de bicicletas, equipamento de
segurança, caiaque, bóia e artigos de pesca, como iscas, varas, anzol, etc.
O tempo de retorno do investimento está diretamente relacionado à divulgação dos atrativos, e da
procura pelos mesmos. Observa-se que há demanda para o turismo, pois como foi constatado, existe uma
procura para fazer algo proveitoso com o tempo de lazer entre um trabalho e outro.
Essa procura pode ser comprovada com a criação dos trilheiros, que são um grupo de pessoas que
se reúnem para explorarem de bicicletas as trilhas encontradas nos distritos de Uberlândia e que têm como
um de seus objetivos a complementação do grupo e a colaboração com a comunidade na ação de
conscientizar a necessidade de se preservar o meio ambiente.

Para poder criar práticas de utilização de qualquer recurso natural deve-se primeiramente pensar
na questão da sustentabilidade, pois não se deve fazer algo em que prejudicará o meio ambiente.
Todavia, existe um leque de atividades que podem ser usadas para a prática de ecoturismo por
meio da preservação e valorização ambiental dos recursos naturais de Miraporanga, que podem ser
atrativos se devidamente utilizados como opções de atividades turísticas, como no caso das cachoeiras e
rios.
Com as conclusões obtidas com o formulário e a análise dos dados, é confirmada a idéia de que o
turismo está no pensamento da comunidade. Eles têm interesse em atuar na área e com certeza
abraçariam a idéia de utilizar por meio dele atividades voltadas para aumentar a renda dos moradores de
Miraporanga.
Todavia, para o emprego da atividade turística em Miraporanga, serão necessários investimentos
em infra-estrutura como, postos de atendimento médicohospitalar em período integral e não apenas
durante a semana como é feito atualmente, postos policiais permanentes ao invés de patrulha rural,
criação de linhas de crédito imobiliário especial para aquisições comerciais, melhoria no transporte público,

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


950

instalação de telefonia fixa, implantação de cursinhos profissionalizantes como de informática entre outros
cursos técnicos e o mais importante, a construção do asfalto na estrada que dá passagem ao distrito.
Há muito tempo tem havido discussões sobre meio ambiente, e não é de hoje que especialistas de
todo o mundo se preocupam em fazer algo para frear o aquecimento global e os constantes
desmatamentos em áreas de preservação e proteção ambiental. No entanto, mesmo com a criação de
órgãos engajados neste setor, até a atualidade não houve nenhuma redução significativa referente à
emissão de gás carbônico, por exemplo, e uso indevido dos solos. Assim, tais observações induzem à
sugestão de alternativas de uso dos recursos naturais em parceria com as comunidades para tentar atender
suas necessidades e conseqüentemente, buscar soluções para os problemas da população, visando à
sustentabilidade
No período em que foi feita esta pesquisa, pode-se confirmar sua relevância, pois, como foram
observados ao longo desta análise, os itens postos em evidência são de grande importância na vida do ser
humano, como meio ambiente e alguns fatores de necessidades básicas como casa, comida, roupa,
atendimento médico, entre outros.
Todavia, algumas questões apontadas, mostraram as transformações que a urbanização causou no
distrito de Miraporanga, como a transferência da estrada de ferro Alta Mogiana, que acabou levando toda
a renda do distrito para Uberlândia, e que fez com que o primeiro “parasse no tempo” e o segundo se
desenvolvesse e conquistasse o espaço que, hoje, talvez fosse de Miraporanga.
Nada obstante, existe a necessidade de elaborar um programa que venha colocar Miraporanga em
evidência novamente, e porque não utilizar de sua posição geográfica e de seus atrativos naturais para
atingir um equilíbrio entre práticas de turismo responsável e valorização ambiental dentro do que ela já foi
e o que representa nos dias de hoje, de modo a beneficiar a sociedade receptora e seus visitantes? No
entanto, ao propor a utilização de tais recursos para a atividade turística, a fim de aumentar a renda do
distrito, há a necessidade da conscientização em não prejudicá-los para que eles possam ser vistos e
aproveitados pelas gerações futuras. Como o objetivo deste estudo foi a preservação e valorização
ambiental desses atrativos, existe a necessidade de que parcerias sejam criadas com o governo,
empresários, centros educacionais e os próprios moradores do distrito, para que possam ser vigorados os
objetivos propostos.
Para tal, são necessários investimentos na infra-estrutura, criação de programas voltados para o
ecoturismo, apoio de entidades públicas e privadas e ainda de melhoria nas instalações de saúde,
saneamento, policiamento e educacional que atualmente se encontram mal estruturadas e administradas,
pois esses fatores são de grande importância para o desenvolvimento local e, obrigatoriamente, devem
partir do governo de Uberlândia. Após as melhorias, devem-se criar parcerias com instituições que têm
características voltadas para o meio ambiente, a fim de que atividades turísticas sejam desenvolvidas para
valorizar os patrimônios ambientais existentes em Miraporanga, o que poderá inserir a comunidade nos
programas desenvolvidos.
Como citado anteriormente, o turismo é uma área que está em constante crescimento, e que
agrega valores a espaços de todos os tipos, tanto no meio urbano, como no rural, pois onde ele atua, gera
renda e aumenta a economia do lugar e da comunidade receptora. No caso de Miraporanga o ecoturismo
ou turismo ecológico, estaria beneficiando em vários fatores, pois quando foi feita a pesquisa com os
formulários, vimos que não só Uberlândia desvaloriza o distrito, mas os próprios moradores, que mesmo
morando por lá, não conhecem os atrativos que têm. Grande parte dos entrevistados nunca havia
freqüentado a cachoeira da Estiva, por exemplo, o que nos mostrou a falta de valorização. Isso pode ser
mudado com o ecoturismo, pois a partir do momento em que tais lugares forem valorizados, não só a
população ganha, mas os atrativos também, uma vez que correm risco de acabarem por conta do aumento
na produção agrícola que está norteando Miraporanga. Com a aplicação do turismo, esses lugares podem
ser valorizados, e constantemente vigiados, o que pode pelo menos, adiar o desmatamento. Outro
arremate a partir da pesquisa foi a viabilidade do projeto em implantar esse turismo no distrito, pois como
demandaria uma quantidade relativamente alta de investimento por parte da população, os resultados
mostram que ela não possui capital para tais empreendimentos, uma vez que o salário mensal da
população está entre 1 a 4 salários mínimos, o que torna o projeto inviável.
Contudo, sabemos que este estudo não se encerra com esta pesquisa, pois há muito ainda a se
estudar a respeito, e muito a aprender sobre como podemos ajudar as comunidades que sofrem com

João Pessoa, outubro de 2011


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problemas semelhantes aos que Miraporanga passa. Dessa maneira, são necessárias iniciativas não só dos
políticos, mas de toda a população ao exigir seus diretos e cumprir com seus deveres. Que futuramente as
novas gerações possam usufruir com dignidade e respeito de todos os atrativos turísticos naturais que o
distrito tem, e não apenas das fotografias e lembranças de seus pais como acontece com muitos outros
lugares.

REFERÊNCIAS
GRUPO TRILHEIRO, Disponível em: http://www.grupotrilheiro.cjb.net/. Acesso em: 13 set. 2008.
MIRANDA, Heloisa S., BUSTAMANTE, Mercedes M. C., and MIRANDA, Antônio C. Miranda. The fire
Factor. KLINK, A. C; MOREIRA, G. A. in The cerrados of Brazil: ecology and natural history of a neotropical
savanna. Paulo S. Oliveira and Robert J. Marquis (orgs.) New york: Columbia University Press, p 69-88, 2002.
MONTES, Silma Rabelo; Os Distritos do Município de Uberlândia – MG:Dinâmica Histórica,
Territorial e Econômica e sua Relação com a Cidade Sede. Uberlândia; 2008.
NEIL, John; WEARING, Stephen; Ecoturismo Impactos Potencialidades e Possibilidades. Barueri :
Manole, 2001.
UBERLÂNDIA. Prefeitura, Secretaria Municipal de Cultura. Dossiê de Tombamento Uberlândia.
Dossiê de Tombamento e Laudo do Estado de Conservação. Uberlândia, 2007.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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EDUCAÇÃO AMBIENTAL E MOVIMENTOS SOCIAIS: O QUE NOS ENSINA O


MOVIMENTO “TERMOELÉTRICAS, JAMAIS!”
1
TEIXEIRA, Marcos Cunha
2
SANTANA, Geisa Nascimento
3
FERRREIRA, Jacqueline A. Borges
Professor Adjunto do Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológica s, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.
Tutor do Programa de Educação Tutorial Conexões de saberes socioambientais.
marcosteixeiraufrb@gmail.ccom
Graduanda do curso de Engenharia Florestal da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Bolsista do P rograma de
Educação Tutorial Conexões de saberes socioambientais.
Graduanda do curso de Agronomia da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Bolsista do Programa de Educação
Tutorial Conexões de saberes socioambientais.

RESUMO
Diante das diferentes abordagens identificadas na práxis da pedagogia ambiental, uma questão que
surge na instalação de uma nova racionalidade que leve a sustentabilidade é: Qual o sentido educativo
inerente ás práticas das mobilizações sociais? Neste estudo, procuramos contribuir com este debate a
partir do acompanhamento das atividades do movimento “Termoelétricas, jamais!” (MTJ) protagonizado
pela comunidade do município de Sapeaçú, localizado há 160 Km de Salvador-BA. Em decisão recente, o
Instituto de Meio Ambiente da Bahia concedeu parecer contrário á instalação de duas termoelétricas na
região do Recôncavo da Bahia, vitória comumente atribuída ao MTJ pela maioria das pessoas da Região.
Nossas reflexões, frutos da convivência e acompanhamento do movimento, nos levaram a identificar três
princípios básicos da educação ambiental popular na práxis do MTJ que julgamos crucial para consecução
dos objetivos da mobilização: (1) discursos e práticas educativas amparadas pelo conhecimento técnico-
científico; (2) ações compromissadas com a manutenção dos valores coletivos e com a explicitação das
assimetrias sociais e (3) pautas marcadas por questões que vão além da dimensão ambiental biológica do
ambiente. A partir dessas categorias consideramos importante que a educação ambiental acadêmica lance
olhares mais interessados para os movimentos e mobilizações sociais e verifiquem o que eles têm nos
ensinado em termos de consolidação do paradigma da racionalidade ambiental que nos move.
Palavras-chave: educação, meio ambiente, movimentos sociais, conflitos socioambientais.

INTRODUÇÃO
Leff (2006) entende que o movimento ambientalista na América Latina se inscreve em um processo
de ressignificação do mundo atual e, nesse sentido propõe um novo projeto de civilização que implica a
construção de uma nova racionalidade produtiva e uma nova cultura. Entre as atividades humanas
inerentes à construção dessa nova racionalidade a educação ambiental figura como um dos elementos de
grande importância.
A educação ambiental, embora figure entre as políticas governamentais da atualidade,
originalmente surgiu no bojo dos movimentos sociais das décadas de 1960 e 1970, quando diversos grupos
(feministas, hippies, pacifistas, antinucleares, ecologistas, etc...) iniciaram o processo de tentativas de
conscientização da sociedade para suas causas. Especificamente em relação á proteção da natureza, o
movimento ecologista ganhou força com o desenvolvimento dos conhecimentos científicos da Ecologia.
Porém, desde essa época, os movimentos sociais tem se modificado em função das novas necessidades e
dos novos valores sociais. Da mesma forma, também as percepções de educação ambiental tem sofrido
modificações.
Na Conferência de Tbilisi (1977), a Educação Ambiental foi definida como “uma dimensão dada ao
conteúdo e à prática da educação, orientada para a resolução dos problemas concretos do meio ambiente,
através de enfoques multidisciplinares e de uma participação ativa e responsável de cada indivíduo e da
coletividade”. No entanto, atualmente, os conceitos, práticas e metodologias que se intitulam como
pertencentes ao campo da Educação ambiental, ora se subdividem, ora se antagonizam, ora se mesclam e
suas práticas têm sido categorizadas de muitas maneiras: Educação Ambiental popular, crítica, política,

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comunitária, formal, não formal, para o desenvolvimento sustentável, para a sustentabilidade,


conservacionista, socioambiental, ao ar livre, entre tantas outras.
Diante das diferentes abordagens identificadas na práxis da pedagogia ambiental, uma questão que
surge na busca de compreendermos a importância dos movimentos sociais da atualidade na construção de
uma nova racionalidade é: Qual o sentido educativo inerente ás suas práticas? Neste sentido, o movimento
ambientalista defronta-se com as diretrizes de uma prática pedagógica que dê conta de costurar a
diversidade de óticas que se firmam a partir do enfrentamento dos problemas ambientais (RUCHEISNK,
2002, p. 81).
Uma análise das contribuições do movimento social para o campo da educação parece evidenciar
que, á luz das abordagens pedagógicas classificadas como críticas, transformadoras e emancipatórias
(SAVIANI, 2003), os movimentos sociais são sujeitos protagonistas do processo educativo ambiental. Aqui,
ao trazermos o foco do debate para a educação ambiental, tomamos emprestadas algumas questões
levantadas por Loureiro (2008, p.6) que, após analisar os debates ocorridos durante a realização do Grupo
de Discussão “Pesquisa em Educação Ambiental e Movimentos Sociais”, indaga o seguinte: como os
movimentos sociais promovem a educação, particularmente a educação ambiental? Esta aparece em suas
finalidades? Quais são os movimentos sociais mais permeáveis ao tratamento da educação ambiental, em
particular, e da questão ambiental, em geral?
Neste estudo, procuramos contribuir com este debate apresentando nossas reflexões sobre o
sentido educativo das atividades do movimento “Termoelétricas jamais!” (MTJ) que se originou no
município de Sapeaçú, distante 160 Km de Salvador-BA, e deflagrou suas atividades pela Região do
Recôncavo da Bahia. Há, no imaginário coletivo regional, uma certeza de que a recusa da licença ambiental
pelo Instituto de Meio Ambiente da Bahia para implantação de duas termoelétricas na Região foi
protagonizada pelo MTJ.

CARACTERIZAÇÃO DO MTJ
O MTJ surgiu no dia 26 de junho de 2009 encabeçado por um professor universitário, um professor
do ensino básico e um artista plástico em reação à implantação de duas termoelétricas movidas a óleo
residual das atividades da Petrobrás, o qual é imensamente poluidor. “Este é o primeiro movimento
genuinamente popular da cidade de Sapeaçú, uma vez que os três idealizadores não são partidários de
qualquer grupo político” (www.movimentotermoeletricasjamais.blogspot.com). Segundo um dos lideres do
movimento, seriam queimados mais de 600 toneladas de óleo pesado por dia em troca de 22 postos de
trabalho e R$ 30.000,00 de ISS mensal. Na tentativa de impedir a implantação da usina, o movimento
impetrou um processo de intervenção junto ao Instituto do Meio Ambiente da Bahia (processo 055225-
V60/2009), no Ministério Público Federal do Estado da Bahia – Procuradoria Geral de Justiça (processo
003.0.95438/2009) e outro na Procuradoria Federal de Justiça do Estado do Bahia (processo 001262/2009)
(www.ufrb.edu.br/linkreconcavo). O empreendimento contava com o apoio declarado do executivo e
legislativo local.
Em pouco tempo o movimento ganhou adeptos entre os estudantes da Universidade Federal do
Recôncavo da Bahia e da educação Básica. Entre as ações do movimento citam-se as carreatas e passeatas,
manifestações em praça pública com discursos de diversos atores sociais, campanhas com carros de som.
Essas atividades foram realizadas inicialmente em Sapeaçú e logo se alastrou pelos municípios do
Recôncavo da Bahia. Além disso, líderes do movimento se utilizaram de entrevistas ás rádios, jornais, blogs,
e veiculação de mensagens em listas de endereço eletrônico.

O QUE VIMOS, OUVIMOS E VIVEMOS


Nossa estratégia para reunir elementos que nos auxiliassem a analisar o sentido educativo do MTJ
foi vivenciar todas as etapas possíveis do movimento. Para isso, durante as manifestações, percorremos as
ruas do município em busca de conversas informais com alguns segmentos da comunidade sapeaçuense.
Iniciamos nossas buscas pelos comerciantes, pois entendemos que esses seriam os primeiros interessados
na implantação de empreendimentos na cidade em função da ampliação do comércio. Foram entrevistados
20 comerciantes dos segmentos diversos. Também dialogamos com 10 produtores rurais da agricultura
familiar, para os quais os discursos do movimento estavam sendo diretamente dirigidos em função do risco
de chuvas ácidas decorrentes da emissão de gases poluentes da atmosfera.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


954

Outro grupo focal do estudo foi a comunidade escolar. Visitamos as 5 principais escolas do
município de Sapeaçú onde dialogamos com 23 professores, 4 diretores, 5 coordenadores e diversos
estudantes, sempre procurando apreender suas percepções, argumentações e posicionamentos acerca do
processo de implantação das termoelétricas e do movimento. Optamos pela entrevista aberta, individual
ou em pequenos grupos. Neste último caso optamos por deixar o debate fluir livremente no grupo. Sempre
que autorizado os encontros foram gravados. Além disso, analisamos documentos oficiais do processo de
licenciamento ambiental das termoelétricas junto ao Instituto Estadual de Meio Ambiente da Bahia.
Durante as manifestações, registramos os discursos das lideranças do MTJ bem como dos
simpatizantes e apoiadores. Também acompanhamos os debates sobre o tema na internet, nas audiências
públicas e nas manifestações culturais. Sendo assim, assumo aqui o risco de fazer uma reflexão sobre suas
ações e dos discursos de seus integrantes. No entanto, qualquer crítica tecida neste manuscrito de longe
tem a intenção de desmerecer qualquer ação ou discurso do movimento. Sobre isso, compartilho da
opinião de que, apenas pelo fato de ser movimento social, já tem sua legitimidade garantida, posto que no
estado democrático de direito brasileiro, é direito de qualquer cidadão a manifestação de suas opiniões.
Direito esse que exerço ao escrever e divulgar este texto.

O QUE VIMOS, OUVIMOS E VIVENCIAMOS


A principal bandeira do movimento foi representada pelos impactos ambientais que o
empreendimento causaria no meio ambiente, em especial para a saúde da população e para a agricultura
familiar. Apoiando-se na autoridade científica do Professor Chico, os militantes procuravam esclarecer á
comunidade sobre os riscos de aumento de casos de câncer, alergias e má formação de fetos. No campo do
meio físico, os discursos se direcionaram para as possibilidades de chuva ácida e seus impactos para a
agricultura familiar e para o cultivo do tabaco, principais atividades econômicas da região. Esses discursos
são relacionados ainda á má gestão dos serviços de saúde pública, os quais, nas palavras do militantes “se
já é o caos hoje, imagine com o aumento dos casos de doenças provocadas pela poluição das
termoelétricas”. Esses discursos foram veiculados em praças, cartazes, rádios, televisão, internet, reuniões
com diferentes segmentos sociais e em praças públicas.
Para além do debate sobre os impactos ambientais do empreendimento, as ações do MTJ também
esquentaram o cenário político partidário do município.
- Quase todo mundo na cidade é contra essa empresa vir pra cá. Só que muita gente tem medo de
sair na rua para protestar porque depende da prefeitura e de algum vereador. Quem vai querer perder o
emprego? (Lider A, lamentando o esvaziamento da praça durante ato público).

Essa possibilidade de coação foi apontada por duas diretoras, diversos professores e estudantes,
que afirmaram receber ordens de representantes da Secretaria de Educação para que não apoiassem o
movimento e que o tema não fosse abordado nas aulas. No entanto, diversos entrevistados afirmaram que
os partidos de oposição se aproveitaram do movimento para reforçarem seus ataques ao executivo.
Partindo da questão em foco, as termoelétricas, em diversos discursos os militantes promoveram
elos de ligações das questões sociais com as questões de degradação dos recursos naturais, como no
exemplo abaixo;
- (...) É claro que queremos mais empregos. Mas não queremos empregos de empresas que
vão matar a gente pouco-a-pouco. Políticas afirmativas pode ser interessante, mas não disfarçadas
de assistencialismo. Estão sempre dando o pão, o peixe, mas nunca ensinam a pescar. Não sou
contra ajudar as pessoas que precisam, mas é preciso ensinar a pescar. Veja o Bolsa família... tem
que profissionalizar as pessoas, mas isso não está sendo feito (liderança do movimento em discurso
público).

Ao contrário do que esperávamos apurar, nossa pesquisa abordou 20 comerciantes dos quais
apenas um taxista se mostrou favorável á implantação das termoelétricas. Nos argumentos de quase todos
os comerciantes para serem contrários ao empreendimento pudemos notar exatamente as ideias
veiculadas pelo professor considerado como líder do movimento:
- Sou contra essa empresa aqui em Sapeaçú. O crescimento do meu comércio não justifica
que o povo de nossa cidade viva cheio de doenças” (Comerciante A).

João Pessoa, outubro de 2011


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- Sou contra. Totalmente contra a termelétrica. (...) Não tem esse negócio de que tá
faltando emprego aqui não. Esses políticos nunca se preocuparam em trazer empregos e ninguém
morreu de fome aqui. Agora querem trazer uma mixaria de empregos a troco de poluição pesada
(comerciante B).

Quando perguntado sobre quais os conhecimentos que a pessoa possui para tomar a posição
contra a instalação da termoelétrica há quase uma unanimidade na expressão de total confiança no
Professor Universitário que, segundo eles, encabeça o movimento, aparece em praticamente todas as
declarações dos comerciantes locais e de pequenos produtores rurais, como este:
- Eu não entendo nada desse negócio da termelétrica... que vai ter poluição, doenças... Deixo isso
para quem entende (produtor rural de Sapeaçú).

Notamos, portanto, que a decisão de ser contra ou a favor não era uma opinião pessoal da maioria
dos entrevistados, tomada de forma consciente, mas, tomada de forma ingênua. Nota-se, nesses discursos,
que as opiniões emitidas têm como suporte os aspectos puramente emocionais. Nesse tipo de
comportamento residem duas situações antagônicas, pois, se por um lado esse tipo de concepção
proporciona a manutenção dos valores há tempos cultivados pela comunidade, por outro constitui um
campo fértil para manipuladores de opiniões e de manobradores de massas. Mas, talvez ainda mais
preocupante seja o fato de essa característica de tomar como verdade o discurso de alguém “em quem se
pode confiar” em substituição a uma opinião conscientemente embasada também apareceu nos discursos
de agentes públicos, como nos depoimentos abaixo em que o professor que lidera o movimento é exaltado
em praça pública por pessoas que representam diferentes segmentos sociais:
- Quero parabenizar aqui, em público, o Chico, pela coragem em encampar uma luta que
poucos de seus colegas professores, cientistas têm. Esse menino foi chamado de mentiroso porque
disse que o empreendimento que querem trazer pra cá era muito mais poluente do que estavam
afirmando. Agora, estamos vendo quem são os mentirosos, pois o laudo técnico do instituto de
Meio Ambiente do Estado da Bahia deu parecer contrário à implantação do empreendimento
(advogado da união).

Em outra ocasião, uma freira, ao demonstrar apoio ao movimento, utiliza-se da história de Moisés
para, em público, dizer que “Deus escolhe líderes para guiar seu povo diante das dificuldades. Assim como
escolheu Moises para guiar seu povo aqui ele escolheu o professor Chico para nos guiar nessa caminhada
contra o mal que é essa termoelétrica.”
Em uma situação em que um de nós conversava com o Professor “Chico”, na rua, em uma cidade
vizinha a Sapeaçu, um transeunte parou para dizer que apóia a luta contra as termoelétricas na região e
que viu um filme em que uma mulher travava uma luta contra uma empresa que poluía. Terminou dizendo:
“Chico, você é o Herin Brockovit63 de Sapeaçú”.
Assim, fica evidente que o conhecimento técnico científico foi definitivo para a qualificação do
professor Chico como liderança do MTJ. No entanto, soma-se a esse, outro aspecto importante, bastante
evidenciado nas falas dos entrevistados:
- O Chico, esse nós vimos crescer. Esse menino que nós vimos crescer sabe o que está
falando; ele é doutor nesse assunto (diretora de escola).
- Na nossa cidade, temos um menino que eu vi crescer, que estudou sobre essas coisas aí e
hoje é doutor nesse negócio de poluição Então você acha que eu vou acreditar nele (no Chico) ou
nesse pessoal dessa empresa aí. Ele sabe o que está dizendo (produtor rural).

No Blog criado para que os internautas deixassem seu recado se manifestando sobre o
empreendimento foram registradas 83 manifestações, sendo 56% contra sua implantação, 26,5% a favor e
16,86% postou comentários neutros. No entanto, é importante deixar registrado que um mesmo

63
Referindo-se ao filme “Erin Brockovitch: uma mulher de talento”, estrelado por Julia Roberts. A atriz
representa o papel de uma advogada que se envolve em uma luta judicial para provar que as doenças sofridas por
pessoas de uma comunidade eram consequência das atividades poluidoras de uma indústria.

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956

internauta postou vários comentários. Esses resultados demonstram o potencial pedagógico dessa
ferramenta que permite alcançar uma parcela específica de pessoas e ao mesmo tempo ampliar o
contingente de ativistas.

AFINAL, QUAL O SENTIDO EDUCATIVO DO MTJ?


Quando se entende que a educação se refere aos múltiplos processos sociais pelos quais nos
constituímos como humanos, particularmente à condição de ser social (NETTO; BRAZ, 2007), a partir dos
quais diferentes saberes são criados e recriados sob condições específicas, gerando cultura (LOUREIRO,
2006b), a questão começa a ser compreendida. Mas, evitando nos precipitar nas conclusões, iniciaremos
nossas reflexões pelas mãos de Saviani (2009) que, ao refletir sobre o caminho da educação, desde o senso
comum á consciência filosófica, nos propõe uma reflexão sobre os valores e objetivos na educação e ensina
que educar “significa tornar o homem cada vez mais capaz de conhecer os elementos de sua situação para
intervir nela transformando-a no sentido de uma ampliação da liberdade, da comunicação e da colaboração
entre os homens (p. 46)”.
Partindo dessa contribuição de Saviani, nosso primeiro olhar é para os atores envolvidos na
situação, pois este aspecto nos será útil nas análises seguintes. Um olhar mais atento nos revela que a
incorporação dos discursos do MTJ pela comunidade é fruto de uma liderança carismática legitimada pela
união de dois aspectos fundamentais: (1) seu reconhecimento pela comunidade como autoridade científica
e (2) seu carisma pessoal em função de sua vida pregressa atestada pelos valores morais da comunidade
alvo:
- (...) Mas, dessa vez eles erraram o alvo, porque aqui nessa cidadezinha perdida no
Recôncavo da Bahia temos um Pós-doutor em Química (professora de uma escola municipal,
durante uma passeata).
- Então você acha que eu vou acreditar nele ou nesse pessoal dessa empresa aí. Ele sabe o
que está dizendo (produtor rural de Sapeaçú).

Assim, a questão que abre essa discussão não pode ser analisada sem considerar os efeitos dessa
liderança reconhecida por sua formação científica. As relações entre o conhecimento técnico-científico, as
propostas educacionais e as decisões morais sobre o ambiente são identificadas por Veiga-Neto (1994)
como diretrizes para a educação ambiental. Todas essas situações nos confirmam o aspecto weberiano de
que a fé na pessoa do carismaticamente qualificada transforma-se em fé na técnica em causa.
Compreendemos que essa dimensão educativa está presente no arcabouço das ações e discursos do
movimento bem como na defesa da comunidade pela manutenção de seus valores, como relatamos acima.
Em uma segunda análise partimos da avaliação feita por Saviani (2009, p. 3) de que “toda
relação de hegemonia é necessariamente uma relação pedagógica” entendemos que o MTJ utiliza-se,
implicitamente, da educação com instrumento de luta. Para Freire (1987) é a problemática comum que
representa o momento essencial para a emancipação do indivíduo num processo coletivo gerador de
consciência. Além de Freire, Saviani (2003) também contribui para a legitimação de um projeto educativo
nesse tipo de movimento afirmando que
esse tipo de posicionamento se pauta no pressuposto de que, se os indivíduos se definem
enquanto tal por meio das relações sociais, educar é uma prática social dialógica intencional que
está para além da sensibilização ou da acumulação de conhecimentos (componentes necessários ao
processo, mas não suficientes), encontrando-se também na consciência acerca da realidade ao
agirmos nesta pela práxis (SAVIANI, 2003).

Arriscamos afirmar que foi a partir dessa mesma concepção que Brandão (2004) se utilizou da carta
dos chefes índios para evidenciar que “não há uma forma única nem um único modelo de educação e que a
escola não é o único lugar onde ela acontece e talvez nem seja o melhor”. Então, seguindo na trilha do
pensamento de Brandão, podemos afirmar que a educação, em diferentes sociedades e épocas tem se
ocupado da transmissão de conhecimentos e valores de geração para geração. Ela ajuda a pensar o tipo de
indivíduo e, mais ainda, ela ajuda a criar os indivíduos por meio do passar de uns para os outros os saberes
que constitui e legitima a cultura de uma sociedade. Assim, se não posso, ainda, dar um conceito universal

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957

para educação, posso pelo menos afirmar que ela “se manifesta em sua finalidade, que é a formação do
indivíduo e do coletivo em interação permanente” (SANTOS, 2007, p. 75).
Desse ponto em diante, seguiremos aceitando como legítimo o “projeto educativo” do MTJ e na
nossa terceira análise refletiremos sobre os aspectos legais que envolvem a educação ambiental. Para isso,
recorreremos ás ponderações feitas por Saito (2002) sobre os desafios básicos da educação ambiental
tomando por base a Política Nacional de Educação Ambiental. O autor defende a ideia de que para uma
educação ambiental transformadora é preciso ultrapassar a perspectiva da simples denúncia ou
constatação dos fatos, pois, do contrário, permaneceremos em posicionamento meramente contemplativo,
ainda que crítico. Nesse contexto, o uso de instrumentos jurídicos, as passeatas, carreatas, reuniões,
participações nas audiências públicas, veiculação de textos na internet, palestras em escolas, vendas de
camisetas, entrevistas no rádio e panfletagem evidenciam uma ação pedagógica recheada da “vivência
efetiva de ações transformadoras”, como recomenda Saito (2002). Com isso o MTJ contribui para o
combate à visão unilateral e unidisciplinar do ambiente. Esse é um dos avanços alcançados ao longo das
últimas décadas no Brasil, tendo sido inscrito como um dos objetivos da educação ambiental na Lei
9.795/99: “buscar o desenvolvimento de uma compreensão integrada do ambiente em suas múltiplas e
complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos,
científicos, culturais e éticos”.

PARA NÃO ESGOTAR O DEBATE


Loureiro (2008) defende a ideia de nem sempre a relação entre a educação ambiental e os
movimentos sociais foi de colaboração, ocorrendo desconfianças e críticas mútuas e pressupõe que há
concordância entre os educadores e educadoras ambientais que atuam junto a movimentos sociais de que
estes possuem intrinsecamente um sentido educativo. A esse respeito, Rucheinsk (2002) entende que no
setor ambientalista o intuito da educação ambiental torna-se manifesto no significado atribuído à
solidariedade em meio ao confronto com o poder político e econômico. No entanto, nesse confronto, os
movimentos sociais não têm sido os maiores vencedores, o que torna o MTJ um laboratório interessante
como ponto de referência para refletirmos sobre a importância dos movimentos sociais no processo de
educação ambiental.
É importante relatar que não registramos, em nenhuma das reuniões do grupo, momentos de
análise teórica sobre o tema educação, dos princípios teóricos e metodológicos da educação ambiental, ou
ainda de qual concepção de educação ambiental o movimento adotaria. Assim, Parafraseando Loureiro
(2008, p. 8), “foram as condições objetivas” que propiciaram que o “ambiental” fosse incorporado pelo MTJ
como “elemento central nas lutas populares e como um componente estratégico para a explicitação dos
conflitos socioambientais subjacentes às relações sociais sob o domínio do capital”. Por isso,
compartilhamos que está explícito na práxis do MTJ a orientação para a resolução dos problemas concretos
do meio ambiente, através de enfoques multidisciplinares e de uma participação ativa e responsável de
cada indivíduo e da coletividade, como preconiza a educação ambiental proposta em Tbilizi.
Diante dessas reflexões aqui expostas e da complexidade do tema, não ousamos finalizar com
respostas e certezas, mas com uma nova interrogação que contribua para o debate do Grupo de Discussão
“Pesquisa em Educação Ambiental e Movimentos Sociais” fomentado por Loureiro (2008): Estaria a
essência da educação ambiental na práxis das mobilizações sociais ao se (re)inventarem para o
enfrentamento das armadilhas dos modos de produção do cotidiano que ameaçam a manutenção dos
valores sociais?

REFERÊNCIAS
BERNARDO, José. Movimento Social e o Processo de Construção da Cidadania Ambiental em
Angola, 1980/2009. Universidade Federal de Pernambuco Centro de Artes e Comunicação Departamento
de Arquitetura e Urbanismo Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano. 2009. Disponível
em http://www.didinho.org. Acessado em 20 de junho de 2011.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. São Paulo: Brasiliense, 1985.
DAGNÍNO, Evelina, ALVAREZ, Sonia., ESCOBAR, Arturo. Cultura e prática nos movimentos sociais na
América Latina. Belo Horizonte. UFMG, 2000.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


958

LAYRARGUES, Philippe P. Educação ambiental com compromisso social: o desafio da superação das
desigualdades. In: Loureiro C. F.B; Layrargues, P.P; Castro, R.S. (Orgs.). Repensar a educação ambiental: um
olhar crítico. Cortez. São Paulo. 2009.
LEFF, Henrique. Racionalidade ambiental: reapropriação da natureza. Civilização Brasileira. Rio de
Janeiro. 2006.
LOUREIRO, Carlos Frederico B. O movimento ambientalista e o pensamento crítico: uma
abordagem política. 2ª edição. Rio de Janeiro: Quartet, 2006b.
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Pesquisa em Educação Ambiental, vol. 3, n. 1 – pp. 187-201, 2008.
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2007.
RUSCHEINSKY, Aloísio. Educação Ambiental. Abordagens múltiplas. Artmed. Porto Alegre. 2002.
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Rucheinsky (org). Educação ambiental: abordagens múltiplas. Porto Alegre. Artmed. 2002. pp. 47-60.
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V. 18. p. 72-99. FURG. 2007.
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Autores Associados, 2003.
_________________ Educação: do senso comum á consciência filosófica. 18 ed. Campinas-SP.
Autores Associados. 2009.
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associados. 2004.
VEIGA-NETO, A.J. Ciência, ética, e educação ambiental em um cenário pós-moderno. Educação e
Realidade. v.19, p.141-169, 1994.

João Pessoa, outubro de 2011


959

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: ABORDANDO TEMAS QUE CONTRIBUEM PARA A


MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA DA POPULAÇÃO
Glenia Maria Ramos Silva(1)
Acadêmica em Ciências Biológicas (UNEAL)
Camilla Christine Santos Silva
Acadêmica em Ciências Biológicas (UNEAL)
Solma Lúcia Souto Maior Araújo Baltar
Doutoranda do PPGIT – UFPE; Professora do curso de Ciências Biológicas (UNEAL)
(1) BR 316, KM 87,5 – Bebedouro, Santana do Ipanema – AL, 57.500-000.
E-mail: gleninharamos@gmail.com

RESUMO
No século XXI as questões relacionadas ao meio ambiente continuam evidentes, pela necessidade
de discutir medidas, buscando providências para minimizar a degradação ambiental decorrente da falta de
informação e do descaso da população sobre as questões ambientais. Presente no cotidiano de todas as
classes sociais, os problemas que contribuem para a degradação dos recursos naturais são agravados pela
dificuldade que a população tem de por em prática ações que possibilitem a preservação do meio
ambiente. Assim, é de suma importância a abordagem de temas ambientais, colaborando na melhoria da
qualidade de vida da sociedade e preservação dos recursos naturais. A pesquisa teve o objetivo de
investigar o comportamento, conhecimento e interesse dos alunos sobre a temática ambiental,
apresentando ações que reduzam os impactos ambientais e, concomitantemente, contribuam para
qualidade de vida. Trata-se de um estudo descritivo, quantitativo, realizado com alunos do 6º ano do
Ensino Fundamental da rede municipal de ensino, da zona rural, de Santana de Ipanema (AL). Para coleta
dos dados, foi aplicado questionário estruturado. Posteriormente, foram realizadas diversas atividades
teóricas e práticas (aulas, oficinas de reciclagem, apresentações, confecção de cartazes) com a participação
ativa da turma. Os dados foram apurados manualmente. Após análise e tabulação dos resultados,
confeccionaram-se gráficos e tabelas utilizando o software Microsoft Office Excel. Analisando os dados
verificou-se o desinteresse, o desconhecimento e a falta de consciência dos escolares com as questões
ambientais e sua relação com a qualidade de vida. A problemática ambiental continua a merecer atenção
dos educadores, no sentido de conscientizar os educandos sobre a importância da preservação, tornando-
se uma temática bastante discutida e presente na sociedade. Cabe aos educadores desenvolver atividades
que incentivem, conscientizem e sensibilizem, permitindo a transformação da escola e a promoção da
Educação Ambiental.
Palavras- chave: Ambiente escolar, ensino fundamental, degradação, solução,

INTRODUÇÃO
A presente pesquisa expõe uma análise da importância da abordagem de temas ambientais no
espaço educacional, mostrando a colaboração dos recursos naturais na melhoria da qualidade de vida da
sociedade, destacando o quanto é importante preservar os recursos naturais, respeitando sua
característica finita e seu período de recuperação.
O ser humano contribui diretamente com a atual crise ecológica, sendo responsável pela
devastação ambiental, pois os impactos ambientais provocados pelas ações humanas são constantes,
levando à necessidade de efetivar a prática da Educação Ambiental nas instituições educacionais,
conscientizando a população e educando-a para o desenvolvimento de ações ambientalmente
responsáveis.
A Educação Ambiental vem ocupando dimensões cada vez maiores, devido ao atual quadro de
degradação e a urgência em reverter tal situação, efetivando práticas sustentáveis que contribuam para a
preservação do meio ambiente.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: DEFINIÇÃO E HISTÓRICO

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


960

O termo Educação Ambiental, nos dias atuais, vem destacando-se, sendo constantemente
debatido, principalmente pelos ambientalistas e pelas mídias em geral, no entanto o termo não é tão
recente como se imagina. Antes de fazer um retrospecto pela história da educação ambiental é importante
defini-la.
A Agenda 21, importante documento internacional que contem os princípios que guiam a educação
ambiental nos dias atuais, em seu capítulo 36, define Educação Ambiental como o processo que procura:
[...] desenvolver uma população que seja consciente e preocupada com o meio ambiente e com os
problemas que lhes são associados. Uma população que tenha conhecimentos, habilidades, atitudes,
motivações e compromissos para trabalhar, individual e coletivamente, na busca de soluções para os
problemas existentes e para a prevenção dos novos.
Entende-se que a educação ambiental tem o objetivo de promover a conscientização, através da
construção de valores sociais e éticos, com relação aos impactos ambientais, buscando um engajamento e
a participação ativa da sociedade na redução desses impactos e na utilização controlada dos recursos
naturais.

1.1 – HISTÓRICO INTERNACIONAL DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL


Desde a década de 60 alguns escritores já debatiam a Educação Ambiental em suas obras, com o
objetivo de defender o meio ambiente, alertando para os futuros danos. O livro “Primavera Silenciosa” da
autora americana Rachel Carson, publicado em 1962 já trazia um alerta sobre os efeitos prejudiciais das
ações humanas sobre o ambiente.
Durante a década de 70 muitos eventos, voltados à prática da Educação Ambiental, ocorreram, de
acordo com BEZERRA (2003), QUINTINO (2006) e ABREU (2008), em 1972, em Estocolmo, na Suécia,
ocorreu a Conferência das Nações Unidas Sobre Meio Ambiente, este evento é considerado o marco inicial
de interesse da Educação Ambiental. GOTTARDO (2003) QUINTINO (2006) ainda relatam que no ano de
1977 ocorreu a 1ª Conferência Intergovernamental Sobre Educação Ambiental, na Geórgia, neste evento
foram definidos as características, os princípios e objetivos da educação ambiental.
Na década de 80 os eventos continuaram sendo marcantes, destacando-se entre eles a Terceira
Conferência Internacional sobre Educação Ambiental realizada no ano de 1987, em Moscou, na Rússia,
onde reforçou-se que: a “educação ambiental deveria formar os indivíduos, desenvolver habilidades e
disseminar valores e princípios que permitissem à sociedade elaborar propostas para a solução dos
problemas ambientais”. (BEZERRA, 2003, p. 3; QUINTINO, 2006).
O ano de 1990 foi declarado pela Organização das Nações Unidas como o ano Internacional do
Meio Ambiente. De acordo com MEDINA (2008), o marco da década de 90 foi a Conferência Internacional
sobre Meio Ambiente e Sociedade: Educação e Conscientização Pública para a Sustentabilidade, realizada
no ano de 1997, na Grécia.

1.2 – HISTÓRICO NACIONAL DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL


No Brasil a situação também não é diferente, assim como em outros países, desde os anos 70, mais
especificamente desde o ano de 1971, o Brasil luta para conscientizar e sensibilizar a sociedade da
importância de preservar e reduzir os danos causados ao meio ambiente.
Segundo MEDINA (2008), em 1973 foi criada a Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), com a
função se tratar de assuntos relacionados ao meio ambiente, entre eles a educação ambiental, nos anos
que se seguiram muitas universidades criaram cursos e disciplinas com os estudos voltados às questões
ambientais, no ano de 1987 o Ministério da Educação aprovou o Parecer n.º 226/87, que determinava a
inclusão da Educação Ambiental nos currículos escolares de 1º e 2º graus, em 1988 com a criação da
Constituição Federal, esta em seu art. 225 no capítulo VI, denominado Do Meio Ambiente, inciso VI,
destaca a necessidade de promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização
pública para a preservação do meio ambiente, no ano de 1989 foi criado o Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), no mesmo ano foi criado o Fundo Nacional do
Meio Ambiente (FNMA) no Ministério do Meio Ambiente, com o objetivo de apoiar projetos na área
ambiental, dentre eles a educação ambiental.
De acordo com o relatado por GOTTARDO (2003), BEZERRA (2003), QUINTINO (2006), SILVA (2007),
ABREU (2008) e MEDINA (2008), os acontecimentos marcantes, relacionados a Educação Ambiental,

João Pessoa, outubro de 2011


961

continuaram ocorrendo, nos anos 90 o marco foi a Conferência sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento,
conhecida como ECO-92 e/ou Rio-92, onde foram aprovados cinco acordos de grande importância para o
mundo: Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento; Agenda 21 e suas formas
de implementação; Convenção Sobre Mudanças Climáticas; Convenção sobre Diversidade Biológica e a
Declaração de Florestas; Ainda criou-se: a Portaria n.º 678, de 14 de maio de 1991, instituindo que todos os
currículos nos diversos níveis de ensino deverão contemplar conteúdos de Educação Ambiental, Centros de
Educação Ambiental com a intenção de criar e difundir metodologias em Educação Ambiental e aprovação
do Programa Nacional de Educação Ambiental (PRONEA).

EDUCAÇÃO AMBIENTAL – LEGISLAÇÃO BRASILEIRA


A Constituição Federal do Brasil, de 1988, estabelece em seu art. 225, que: “Todos têm direito ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de
vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações”.
Deixando ainda claro que está incumbido o Poder Público de “promover a Educação Ambiental em
todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente”.
No entanto, um pouco antes, a Educação Ambiental foi estabelecida no Brasil, pela Lei Federal
6938, de 31 de agosto de 1981, lei que criou a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA).
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei Nº 9.394, de dezembro de 1996, reafirma os princípios
definidos na Constituição com relação à Educação Ambiental: “A Educação Ambiental será considerada na
concepção dos conteúdos curriculares de todos os níveis de ensino, sem constituir disciplina específica,
implicando desenvolvimento de hábitos e atitudes sadias de conservação ambiental e respeito à natureza,
a partir do cotidiano da vida, da escola e da sociedade”.
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN, divulgados em 1997, o tema meio ambiente é
definido como um tema transversal, que deve ser discutido pelo conjunto das disciplinas da escola, não se
constituindo de disciplina especifica.
Mas, é na Lei 9.795, sancionada em 27 de abril de 1999 que a Educação Ambiental recebe um
“tratamento exclusivo”, a Lei institui a Política Nacional de Educação Ambiental, define esta educação,
apresenta seu objetivo, colocando-a como “[...] componente essencial e permanente da educação nacional,
devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo
[...]”.

METODOLOGIA
A pesquisa foi desenvolvida em uma escola da rede municipal localizada na zona rural do município
de Santana do Ipanema (AL), onde funciona nos turnos matutino, vespertino e noturno, atendendo um
público diversificado de alunos desde a Educação infantil até o Ensino Fundamental. O município situa-se
entre as coordenadas geográficas (09° 22' 25'') de latitude e (37° 14' 43'') de longitude, e está a uma
distância de 207,3 km da capital do estado de Maceió. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), em 2010, a população do município era 44.932 habitantes.
Trata-se de um estudo descritivo, quantitativo, realizado com alunos do 6º ano do Ensino
Fundamental. Para coleta dos dados, houve a aplicação de questionário estruturado. Posteriormente,
foram disponibilizadas apostilas com assuntos relacionados a Educação Ambiental, realizadas diversas
atividades teóricas e práticas (aulas, oficinas de reciclagem, apresentações, confecção de cartazes) com a
participação ativa da turma. Reaplicou-se o questionário com o intuito de verificar o comportamento,
conhecimento e interesse dos alunos sobre a temática ambiental.
Os dados foram apurados manualmente. Após análise e tabulação dos resultados, confeccionaram-
se gráficos e tabelas utilizando o software Microsoft Office Excel.

RESULTADOS
A turma do 6° ano do Ensino Fundamental, em sua totalidade, foi composta de 41 alunos. No
momento da aplicação do primeiro questionário, 37 alunos estavam presentes, dos quais, 57% eram do
sexo masculino e 43% do sexo feminino. A turma era bastante heterogênea. No segundo momento das

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


962

atividades, a turma era composta por 39 alunos. Destes, 50% eram do sexo masculino, 50% do sexo
feminino.
Conforme é verifica-se na figura 1 um número grande de alunos não possuía nenhum
conhecimento a respeito do que é educação ambiental, atingindo 47%, verifica-se também que após a
prática aula esse número foi reduzido para 13%, como mostra a figura 2.

Figura 1 – Distribuição percentual do nível de conhecimento dos alunos sobre a educação


ambiental, antes da prática.

Figura 2 – Distribuição percentual do nível de conhecimento dos alunos sobre a educação


ambiental, após a prática

Observa-se nas figuras 3 e 4 o interesse dos discentes em estudar assuntos relacionados a


Educação Ambiental, antes e depois da prática, respectivamente, onde há uma mudança significativa nos
percentuais, antes da prática apenas 41% mostrava-se interessada, após o desenvolvimento das atividades
87% apresentou interesse pelo assunto. Em estudo realizado por ARAÚJO et al (2011), com escolares do
sertão alagoano, verificou-se que o corpo discente das escolas quando entrevistado, afirma que a maioria
não tem engajamento em projetos desse tipo (Educação Ambiental), mas demonstra interesse em

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963

participar de projetos com temas ambientais, tendo um interesse mais significativo por questões relativas
ao combate a poluição de uma maneira geral.

Figura 1 – Distribuição percentual do nível de interesse dos alunos em estudar a educação


ambiental, antes da prática.

Figura 2 – Distribuição percentual do nível de interesse dos alunos em estudar a educação


ambiental, após a prática.

REFERÊNCIAS
ABREU, Angélica Alves de. Educação Ambiental Informal: Um estudo de caso. 2008. 43 f. Trabalho
de Conclusão de Curso (TCC) – Faculdade de Educação. Universidade Federal de Minas Gerais. Belo
Horizonte, 2008.
ARAÚJO, Valéria da Silva et al. Educação Ambiental no Ensino Fundamental: Perfil e Diagnóstico em
Escolas do Semi-Árido Alagoano – Um Estudo de Caso. 3º Congresso Internacional de Educação. 2011.
BEZERRA, Aldenice Alves. Fragmentos da história da educação ambiental (EA). Amazonas:
Faculdade de Educação da Universidade Federal do Amazonas, 2003.
Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB, de dezembro de 1996. Diário Oficial da
República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, dezembro de 1996.
BRASIL. Lei Federal 9.795, de 27 de abril de 1999. Diário Oficial da República Federativa do Brasil,
Poder Executivo, Brasília, DF, 27 abril 1999.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


964

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Saúde / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEC, 1997.
GOTTARDO, Rose. Antecedentes históricos da Educação Ambiental. 2003. Tese (Mestrado) 2003.
MEDINA, Naná Mininni. Breve histórico da Educação Ambiental. Educação ambiental: caminhos
trilhados no Brasil. Brasília: Instituto de Pesquisas Ecológicas, 1997.
QUINTINO, Carlos Alberto Alves. Um histórico sobre a educação ambiental no Brasil e no mundo.
2006. Disponível em: <http://www.unifai.edu.br/internet_noticia.asp?cod_conteudo=2806&area=1627>.
Acesso em: 04 fev. 2011
SILVA, Viviane Aparecida. A relação entre a educação ambiental formal e não-formal: um estudo de
caso no parque natural municipal da Taquara e as escolas do entorno. 2007. 74 f. Trabalho de Conclusão de
Curso (TCC) – Faculdade de Educação da Baixada Fluminense. Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Duque de Caxias, 2007.

João Pessoa, outubro de 2011


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OS CONCEITOS DE NATUREZA, MEIO AMBIENTE E LUGAR E SUA RELAÇÃO


COM A EDUCAÇÃO AMBIENTAL ESCOLAR
Gustavo Pereira Pessoa
Professor do Instituto Federal de Minas Gerais - Campus Congonhas
gustavo.pessoa@ifmg.edu.br

RESUMO
Este artigo discute qual a influência dos conceitos de natureza, meio ambiente e lugar na prática da
Educação Ambiental nas escolas. Partindo do suposto que os humanos se apropriam do espaço de acordo
com a concepção que tem do mesmo, entendemos que estas definições são fundamentais no
direcionamento de práticas de Educação Ambiental nas escolas. Existem desafios que devem ser superados
para que os melhores resultados sejam atingidos, sendo que o principal deles se relaciona a formação
inicial dos docentes. Na última seção do artigo se procede uma discussão da relação entre os conceitos
apresentados e a Educação Ambiental, bem como ponderações e sugestões para superar as dificuldades
apontadas ao longo do texto.
PALAVRAS-CHAVE: Educação Ambiental, Meio Ambiente, Natureza, Lugar

INTRODUÇÃO
As transformações ambientais provocadas pela grande intervenção antropica no planeta
tem demonstrado que as conseqüências da manutenção destes meios de produção podem significar o fim
da existência de nossa espécie no planeta. A fim de evitar este destino trágico, ações tem sido deflagradas,
sendo que, as intervenções que tem como pano de fundo a educação, são as ações de maior efetividade na
transformação de nossa sociedade atual em um modelo social mais sustentável. Isto se deve ao potencial
que a Educação Ambiental possui de trabalhar a percepção da população, formando uma sociedade mais
consciente de sua influência na dinâmica ambiental e da sua capacidade de intervenção para a reversão e
minimização de algumas situações. Para que isto ocorra de maneira satisfatória é primordial que o trabalho
envolvendo a Educação Ambiental (EA) seja direcionado para estes resultados, trabalhando com uma
perspectiva que seja capaz de abarcar toda a complexidade que é inerente às discussões ambientais.
Este artigo tem foco central na discussão da influência do conceito de meio ambiente e de
outros conceitos nas práticas de Educação Ambiental na escola. O foco na Educação Ambiental se dá por
dois motivos. O primeiro é o fato de a escola ser o centro de uma cadeia de produção e reprodução de
conhecimento em uma sociedade, desta forma ela é responsável por trabalhar concepções e definições que
serão transmitidas através das gerações. Trabalhar para se ter uma Educação Ambiental escolar mais
alinhada com os conceitos de meio ambiente embasados em uma linha ligada ao paradigma da
complexidade é fundamental no processo de transformação referido anteriormente. O segundo fato se
deve as descrições de pesquisas onde professores possuem uma representação do meio ambiente ainda
ligada à perspectiva naturalista, onde são destaques fatores relacionados a natureza “in natura” e ficam de
fora outros importantes elementos constitutivos do meio. O resultado disto pode ser a realização de
atividades de EA que irão gerar nos estudantes uma percepção limitada de seu meio, o que irá contribuir
pouco na formação de uma sociedade com maior potencial para transformar seu atual modelo em algo
mais sustentável.
Desta forma, se mostra muito importante tecer uma discussão sobre a relação que existe
entre o conceito de meio ambiente e outras definições similares a percepção ambiental e a forma de se
praticar a EA nas escolas. Na última seção deste artigo é feita uma analise desta relação e são apontadas
algumas ações para equacionar os desafios descritos no texto.

Educação Ambiental nas escolas: algumas considerações


A discussão de questões ligadas ao meio ambiente e a qualidade de vida vem, progressivamente, se
tornando mais relevantes ao longo dos tempos. O agravamento das condições socioambientais gerado por
modelos de desenvolvimento não sustentáveis, foi o fator desencadeador destas preocupações.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


966

Principalmente a partir da Revolução Industrial, houve uma construção de métodos produtivos muito
lesivos a qualidade ambiental e que agravaram ainda mais as desigualdades sociais. Este modelo colocou
em risco várias espécies importantes na dinâmica do ecossistema, promoveu a escassez de recursos
naturais que outrora foram abundantes, provocou a ocupação desordenada dos espaços, a intensificação
da poluição, deterioração de lugares e do patrimônio em suas diversas formas. Todos estes efeitos tinham
como justificativa o progresso de nossa espécie, que ocorreu em áreas como a mineração, indústria de
automóvel, construção civil, transportes, medicina entre outros. Mas apesar destes grandes avanços ainda
ficam dúvidas se este modelo é o mais adequado para nos mantermos com qualidade de vida neste
planeta.
A partir da década de sessenta este modelo começou a sofrer as primeiras críticas mais
contundentes. O marco deste momento, sem dúvida, foi a publicação do livro da bióloga Rachel Carson
(1962), intitulado “Primavera silenciosa”. Neste livro, Carson faz uma descrição sistematizada dos efeitos do
uso de agrotóxicos para aumentar a produtividade das lavouras. Este trabalho gerou uma enorme
repercussão, principalmente porque foi um dos primeiros a questionar os modos de produção e suas
conseqüências ao meio e a qualidade de vida. Estava inaugurado o movimento ambientalista no mundo.
A partir deste momento começaram a brotar rodas de discussão e encontros tratando da
temática e buscando soluções para a situação que se apresentava. Nestes encontros as pessoas e suas
organizações foram responsabilizadas pela situação ambiental encontrada até então. Constatado este fato,
as discussões sobre a temática ambiental sempre vinham acompanhadas de debates sobre processos
educacionais capazes de dar suporte à transformação necessária na sociedade.
Em 1965, portanto, foi utilizado pela primeira vez o termo Environmental Education (Educação
Ambiental) durante a Conferência em Educação, na Universidade de Keele, Grã-Bretanha. No evento ficou
convencionado que a Educação Ambiental era parte fundamental da educação de toda população mundial
e seria entendida com uma visão relacionada à conservação ou ecologia aplicada (DIAS, 2003).
Desde então, a Educação Ambiental vem sendo discutida em vários eventos de grande importância,
dos quais podemos citar a “Conferência de Estocolmo” em 1972, Encontro Internacional sobre Educação
Ambienta,l na cidade de Belgrado em 1975, a conferência intergovernamental de Tbilisi no ano de 1977 e a
ECO-92 entre outros. Nestes encontros a noção do que seria Educação Ambiental foi aproximada das
necessidades ambientais que iam surgindo com o passar dos anos.
Os conceitos de Educação Ambiental sempre foram muito ligados a forma com se percebe o meio
ambiente. No inicio se tinha uma definição de Educação Ambiental ligada a uma idéia de preservar a
natureza “in natura”. Esta definição foi sendo mais bem elaborada e passou a agregar elementos sociais em
seu contexto. A definição que se tem como referência até hoje é a definição de Tbilisi, tendo seus princípios
organizados em torno das interações dos seres humanos entre si e como o meio, e da responsabilidade de
participação de cada um nas decisões e posturas em relação ao meio. Na definição de Tbilisi a Educação
Ambiental é encarada como processo educacional politizador e estimulador de atitudes que possam
melhorar a qualidade de vida dos ambientes. Portanto, seguindo os princípios propostos por Tbilisi, é difícil
conceber uma EA desconectada de sua dimensão política, pois, como afirma Paulo Freire, “a educação não
vira política por causa da decisão deste ou daquele educador. Ela é política.” (Freire, 2005, p.110). É claro
que a educação não é a única atividade politizadora e sensibilizadora para uma maior participação social,
mas, como nos fala Loureiro (2004, p. 58): “a educação não é o único meio para a transformação, mas um
dos meios sem o qual não há mudança” (Loureiro, 2004, p. 58). Para que a Educação Ambiental seja este
veículo condutor de transformações é fundamental repensar como estamos percebendo o meio ambiente.
Uma visão reducionista relacionada a este conceito pode interferir de forma decisiva nos resultados do
processo educativo (DIAS, 2003).
De forma geral as pessoas que conduzem o processo de Educação Ambiental deveriam ter,
nos seus objetivos, a meta de estimular o seu público alvo na percepção dos elementos descritos acima e
das articulações existentes entre eles. Por isso podemos caracterizar a Educação Ambiental como um
processo contínuo, politizador e, acima de tudo, interdisciplinar.
Uma questão que pode ser levantada se refere ao local de prática da Educação Ambiental.
Na verdade a Educação Ambiental em seu inicio foi praticada quase que fundamentalmente em ambientes
informais. Com o passar dos anos a visibilidade da questão ambiental aumentou, e esta foi sendo
incorporada pelo ambiente formal de educação, porém isto não se deu e não se dá de forma harmônica. A

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967

estrutura escolar impõe uma série de desafios à prática da Educação Ambiental. Estes entraves ocorrem
desde a formação dos docentes até a prática pedagógica nas escolas. Muito disto se deve a estrutura
disciplinar de nossas escolas e a formação disciplinar de nossos professores, o que dificulta muitos
processos pedagógicos direcionados a trabalhar a temática ambiental. Um dos exemplos deste conflito foi à
tentativa de transformar a Educação Ambiental nas escolas em uma nova disciplina, o que acabaria com
seu potencial interdisciplinar, politizador e questionador (REIGOTA, 1999).
A tendência da educação ambiental escolar é tornar-se não só uma prática educativa... mas
sim consolidar-se como uma filosofia de educação, presente em todas as disciplinas existentes e
possibilitar uma concepção mais ampla do papel da escola no contexto ecológico local e
planetário... (REIGOTA, 1999, p. 79-80).

Esta perspectiva deve ser adotada tanto na formação dos docentes quanto em sua prática na sala
de aula. Uma pesquisa da UNESCO (2006) sobre a educação ambiental no Brasil, revela que os objetivos
principais da Educação Ambiental nas escolas eram conscientizar alunos e a comunidade para a plena
cidadania e sensibilizar para o convívio com a natureza. Esses dois objetivos somados estavam presentes na
metade (50%) das escolas que participaram da pesquisa. Percebe-se por esse dado, que a Educação
Ambiental como estimuladora de participação nos processos sócio-políticos fica em segundo plano,
deixando mais evidente a idéia de cuidado com a “natureza”. A Educação Ambiental não pode se limitar a
esta dimensão de cuidado e convivência com o meio “natural”, pois como já foi dito, a realidade é muito
mais complexa que isso.
As orientações para a prática da Educação Ambiental existem já há um bom tempo, estando
presentes em muitos documentos64 e nos planos político pedagógicos das escolas. Porém, na maioria das
atividades em Educação Ambiental, os docentes não utilizam métodos atrativos e trabalham com uma
perspectiva de meio ambiente muito ligada à noção de natureza, quando o assunto requer uma abordagem
mais profunda. Sabemos que a temática é trabalhada nos cursos de formação inicial, principalmente os de
Biologia e Geografia (UNESCO, 2006), mas ainda assim os resultados deste processo se mostram a margem
do desejado. Esta é uma discussão da qual não poderemos fugir se o desejo é ter uma Educação Ambiental
escolar capaz de influenciar a transformação da realidade.

Natureza, Meio ambiente e Lugar: conceitos importantes


Quando pensamos na temática ambiental é fundamental problematizar as concepções de natureza,
ambiente e lugar que estão sendo empregadas. Pensar sobre os conceitos aventados constitui fator
definidor quando o foco é a questão ambiental, pois toda discussão gira em torno de como o espaço é
interpretado e utilizado pela sociedade humana.
Em um primeiro momento a natureza e os homens parecem se entender, viver em
harmonia. O homem percebe a natureza como parte de seu quadro vital, seu sistema de garantia de vida.
Essa interpretação da natureza faz com que o homem seja um “amigo” da natureza Porém as relações
homem-natureza foram sendo alteradas à medida que o homem se descobriu com individualidade e
desenvolveu os diversos processos de mecanização nas relações de apropriação da natureza do planeta.
Devido a esses processos houve uma ruptura progressiva do homem em relação ao seu entorno (SANTOS,
2007).
Como consequência deste processo de distanciamento, a conceituação de natureza se
consolidou em torno da noção de natureza exterior ao homem. Outra definição muito difundida é a que a
natureza é o meio que escapa à intervenção humana, o que não depende do homem. Dessa maneira tudo
que o homem não consegue controlar é tido como natural (SUETERGARAY, 2002). Podemos entender,
portanto, que, quando há esse distanciamento/isolamento do homem em relação à natureza, há também a
criação de uma visão utilitarista do mundo natural. A natureza passa a ser apenas a fonte de matéria prima

64
Parâmetro curricular nacional específico sobre a temática de Meio Ambiente inserido nos temas
transversais, Parâmetros curriculares nacionais do ensino médio, Política Nacional de Educação ambiental e Programa
Nacional de Educação Ambiental (lei 9795/99). Os Parâmetros Curriculares Nacionais são voltados a orientar as
práticas da educação executada nas escolas, já os outros documentos versam sobre a implementação e execução d
Educação Ambiental em todas as modalidades possíveis, sejam estas formais ou não.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


968

que o homem transforma, a fim de fomentar as relações comerciais para adequar o espaço aos seus
interesses.
Suetergaray e Nunes (2001, p.16) trabalham a relação de disciplinas como a geografia em
relação a definição de natureza. Os autores afirmam que as transformações do conceito de natureza se
devem principalmente ao
...ao contexto econômico e social contemporâneo, em que o desenvolvimento da ciência e
sua relação direta com a tecnologia permitem perceber que, no estágio atual, a apropriação da
natureza se produz, não só em escala macro. Também em escala micro esta recria a natureza,
transfigura a natureza e sua dinâmica, exigindo não só novos métodos de trabalhar natureza e
sociedade, mas também novas formas de conceber o que é natureza e o que é sociedade.
(Suetergaray; Nunes, 2001, p.16)

Quando analisamos a natureza à luz das proposições colocadas acima percebemos que o
homem “transfigura” a natureza, não existindo nos termos atuais muitos espaços onde se encontram a
natureza “in natura”. Neste processo de transfiguração deve ser considerada a estrutura e os interesses
dos grupos sociais envolvidos, pois a natureza é normalmente pensada através das relações sociais
(DULLEY, 2004). Logo, fica claro que mudanças na estrutura da sociedade normalmente geram mudanças
na forma de ver e pensar a natureza.
Um exemplo de como a forma de interpretar a paisagem influi na utilização desta é o fato
de que ao passar das décadas o termo paisagem associou-se cada vez mais a sua vertente biológica,
encontrando grande suporte na ecologia, apoiado no conceito de ecossistema. A definição de ecossistema
trata os ambientes como um somatório dos fatores vivos e não vivos de um dado espaço. Esta percepção
da paisagem por meio das relações dos ecossistemas ajudou, em muito, durante os anos 80, a incorporar as
idéias de desenvolvimento sustentável e do ecocentrismo. Nesta abordagem, a paisagem volta a tomar
corpo tanto como objeto de exploração por grupos econômicos como objeto de interesse de proteção de
uma coletividade com certa “consciência ambiental”. (Schier, 2003).
Tal forma de interpretar a paisagem contribuiu para a construção de uma visão deste
conceito ligado à idéia de natureza “in natura”. A concepção assinalada serviu como bandeira a
praticamente todos os movimentos ambientalistas que se iniciaram nos anos oitenta, contribuindo para
reforçar a concepção de natureza e paisagem como fatores externos ao ser humano.
As situações que observamos ao discutir algumas definições de natureza e paisagem também
aparecem quando se pretende discutir o que seria meio ambiente. Como ocorreu nos conceitos anteriores,
ocorreu e ocorrem mudanças na maneira de definir o que seria meio ambiente. Em grande parte estas
mudanças estão relacionadas à necessidade de se interpretar o meio ambiente levando-se em conta a
dimensão antrópica da construção desta definição.
As representações que normalmente são encontradas quando falamos a respeito de meio
ambiente giram em torno de um pensamento que podemos denominar de “naturalista”, sendo que nesta
vertente o meio ambiente tende a ser conceituado como sinônimo de natureza “in natura” Em uma
pesquisa sobre a concepção de meio ambiente de professores de Ensino Médio de escolas públicas, Marcos
Reigota observa que em poucas oportunidades aparece referenciado o ser humano e suas práticas sociais
como constituinte do meio ambiente. Reigota afirma que o homem aparece como “nota dissonante” do
meio ambiente, frequentemente representado como um depredador do meio (REIGOTA, 2007).
Travassos (2004), que realizou um estudo sobre as práticas de Educação Ambiental nas escolas,
relata conclusões parecidas em sua pesquisa. Suas pesquisas foram realizadas com alunos e professores
que, na maioria dos resultados, explicitavam uma visão naturalista de meio ambiente. Travassos relata que
o conceito de meio ambiente é muito influenciado pela Biologia e pela Geografia física, fugindo da noção
que meio ambiente engloba várias outras dimensões como a cultural, temporal, política e social.
Assumindo que o meio ambiente se constitui de muito mais que apenas paisagens naturais, pode-
se defini-lo de várias maneiras, sendo que esta multiplicidade de conceitos e definições se deve a
complexidade inerente ao assunto. Marcos Reigota define meio ambiente como
O lugar determinado ou percebido, onde os elementos naturais e sociais estão em relações
dinâmicas e em interação. Essas relações implicam processos de criação cultural e tecnológica e
processos históricos e sociais de transformação do meio natural e construído (Reigota, 2007, p.14).

João Pessoa, outubro de 2011


969

Nesta definição percebemos claramente que a dimensão humana é parte integrante e


transformadora do meio ambiente. Além disso, a definição tenta, mesmo que seja difícil, contemplar todos
os fatores que fazem parte da complexidade que constitui o meio ambiente. Reigota (2007) frisa que o
meio ambiente também é percebido, já que cada indivíduo o interpreta de acordo com seus
conhecimentos, vivências, cultura e experiências.
Reforçando estas idéias, Soares afirma que:
Meio ambiente torna-se, assim, um conceito abrangente e produto da ação e da
organização humana. Sob este aspecto, diferente do que muita gente apregoa, meio ambiente não
se reduz apenas a recursos naturais. Meio ambiente diz respeito ao receptáculo de toda atividade
humana: do labor, por estar ligado às condições de vida de cada povo em cada sociedade
historicamente desenvolvida; do trabalho, por produzir o bem-estar humano à medida em que
produz artefatos; da ação, pelo fato da esfera pública proporcionar a liberdade, a responsabilidade,
a eticidade consigo, para com o outro, para com a sociedade na qual se acha inserido e para com a
humanidade em geral. (Soares, 2008, p. 34)

O texto dos PCN trata o meio ambiente como um tema transversal e também trabalha com
a idéia de subjetividade contida no bojo da definição de meio ambiente, condicionada a percepção da
pessoa que o vislumbra. Segundo o documento, o meio ambiente:
Não configura um conceito que possa ou que interesse ser estabelecido de modo rígido e
definitivo. É mais relevante estabelecê-lo como uma “representação social”, isto é, uma visão que
evolui no tempo e que depende do grupo social em que é utilizada. São essas representações, bem
como suas modificações ao longo do tempo, que importam: é nelas que se busca intervir quando se
trabalha com o tema Meio Ambiente. (BRASIL, 1996, p. 14)

Outro fator importante é o dinamismo do meio ambiente, visto que o mesmo se encontra em
constantes mutações, originadas principalmente das relações entre os grupos sociais e o meio natural e
construído. Esses sinais estão presentes na natureza, na arquitetura, nas artes, na tecnologia e em muitas
outras situações (REIGOTA, 2007). Pode-se dizer que o homem influencia o meio ambiente e é altamente
influenciado por ele em diversas áreas da cultura e da ciência humana. Há uma relação dialética insolúvel
entre os dois fatores.
A definição do que seria meio ambiente também pode ser encontrada em algumas legislações. A
constituição federal não trata de forma direta o conceito de meio ambiente, sendo que alguma referência
se encontra no capítulo VI da mesma. Segundo o artigo n.225 da constituição
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever
de defendê-lo e preservá-lo para os presentes e futuras gerações (BRASIL, 1988,)

Nesse pequeno trecho não se percebe qual é a concepção de meio ambiente utilizada na
formatação da lei, embora haja uma aproximação maior de uma perspectiva naturalista. Entretanto, o
mesmo aponta o meio ambiente relacionado aos conceitos de sustentabilidade ao de patrimônio cultural.
A lei 6938/81 que dispõe sobre a Política Nacional de Meio Ambiente estabelece em seu artigo 3º que “..
Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis,
influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida, em todas as
suas formas. Na lei 6938, observamos que há uma conceituação de meio ambiente que também nos
remete a idéia naturalista, visto que não há uma clara referência à influência cultural e social no âmbito da
definição de meio ambiente, limitando-se a destacar os fatores físicos, químicos e biológicos.
Como vimos anteriormente, atualmente não se concebe meio ambiente sem que se leve
em conta a sua dimensão humana, visto que grande parte do que é o meio ambiente se relaciona à
interpretação e à intervenção humana neste meio. Por esses motivos são absolutamente necessárias que
as abordagens na EA levem em conta essas diversas dimensões.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


970

Outro conceito que se assemelha à definição de meio ambiente é o conceito de lugar.


Assim como o meio ambiente, lugar é uma definição que sofreu várias transições, mudanças estas muito
parecidas com as que ocorreram na concepção de meio ambiente e de natureza.
O conceito de lugar, em uma de suas primeiras interpretações, realizada por Aristóteles, foi
definido como limite que circunda o corpo. Nesta definição, observa-se que o fator antrópico não é levado
em conta, parecendo o lugar como algo externo ao homem. Na década de 70 esse conceito é consolidado
em uma linha de pensamento caracterizada pela valorização da afetividade e dos significados dos
indivíduos em relação ao seu ambiente (LEITE, 1998).
Dessa maneira podemos perceber que lugar é fruto da consolidação das experiências
humanas em relação a um determinado ambiente, extrapolando a sua dimensão normalmente ligada a
espaço geográfico. Nesta dimensão o lugar só existe quando significado por sentimentos ou experiências
humanas que proporcionarão a formação de uma percepção deste lugar. Trata-se, na verdade, de
referências afetivas que vão sendo construídas pelos sujeitos ao longo de suas vidas nas experiências que
temos em um lugar ou outro. Os lugares normalmente transmitem a sensação de segurança e proteção
sendo considerado, portanto, como a somatória das dimensões simbólicas, culturais, políticas e biológicas
(LEITE, 1998).
Vale ressaltar que esta relação que é estabelecida com o lugar é canalizada por um
interesse específico de cada indivíduo que o percebe. Portanto é cabível dizer que a percepção que temos
de um determinado lugar é dotada de uma intencionalidade, e por isso é possível que existam percepções
muito distintas formuladas sobre um mesmo espaço geográfico. Logo, é fundamental conhecer a esta
intencionalidade, a fim de se interpretar o que seria lugar para cada pessoa ou grupo social que nele
convive (LEITE, 1998).
O que ocorre, portanto, é uma relação muito próxima do homem com seu meio, seu lugar.
Quando se trata de lugares normalmente não há necessariamente limites físicos perceptíveis no mundo
concreto. Isso ocorre, pois a construção do lugar é muito subjetiva, variando, mesmo que sensivelmente,
sua concepção de pessoa para pessoa (LEITE, 1998).
O lugar funcionaria, então, como um subsistema da identidade do eu, cuja construção
consiste na descrição e socialização da pessoa no ambiente. Fica claro que os efeitos dos ambientes têm
preponderante papel na constituição da identidade de uma pessoa por se configurarem em mais um
elemento para definir o indivíduo na sociedade. Este papel definidor de identidades do lugar é tão forte
que para se identificarem, primeiramente as pessoas usam seus nomes, mas, em segundo plano, utilizam
seu lugar de origem. Dessa forma, o lugar se configura como forte traço de identidade do sujeito,
permitindo-nos afirmar que, em maior ou menor grau, todos os aspectos da identidade possuem
implicações relacionadas ao lugar de origem de um indivíduo (Günther et. al., 2003).
Refletindo sobre as definições de natureza, paisagem, meio ambiente e lugar percebe-se
que é próprio dessas definições terem uma grande dimensão relacionada à percepção humana. Entende-se
que a forma de apropriação do espaço é relacionada à percepção que se possui do mesmo. Portanto é
muito importante que existam iniciativas que levem em conta toda a complexidade e toda a influência da
sociedade humana na construção da paisagem, meio ambiente ou lugar. Da mesma forma, práticas
voltadas para a EA escolar partem das percepções dos sujeitos sobre o meio ambiente, para que a partir
dos significados já existentes sejam abertas possibilidades para uma resignificação do ambiente na
perspectiva das mudanças necessárias para a sustentabilidade e para a qualidade de vida para todos.

Os conceitos de Natureza, Meio Ambiente, Lugar e a Educação Ambiental nas Escolas: certezas e
desafios
Como foi apresentado até aqui, se percebe a grande relação entre a EA nas escolas e o
Meio Ambiente, sendo que esta influi diretamente nos resultados das atividades pedagógicas. Como já foi
dito neste texto, um dos objetivos da EA deve ser ampliar a percepção dos seus sujeitos, para que estes
passem a entender melhor o meio e se tornem agentes de sua construção e transformação. Para que este
objetivo seja alcançado é necessário trabalhar com uma idéia de meio ambiente complexo e repleto de
relações, permitindo que os estudantes possam desenvolver esta percepção.
O desenvolvimento desta percepção do meio como algo complexo e formado por
interrelações de seus elementos, deve tomar destaque nas atividades envolvendo EA, já que o homem se

João Pessoa, outubro de 2011


971

apropria do meio conforme sua percepção, logo, quando há uma percepção ambiental que vai além da
visão do mesmo como apenas uma fonte de recursos, possivelmente ele será apropriado de uma forma
mais sustentáve,l de forma a manter sua cadeia de relações o mais inalterada possível. Este raciocínio se
aplica também a reversão de situações desfavoráveis do ponto de vista ambiental, onde os problemas
existentes, antes não percebidos, podem passar a ser notados através de um plano bem orientado de
atividades de EA. Com a ampliação da percepção ambiental dos representantes da comunidade, podem se
iniciar ações que tenham o objetivo de correção destes problemas e de construção de uma comunidade
mais sustentável com melhores índices de qualidade de vida.
Esta transformação é possível, desde que a EA seja trabalhada tendo como perspectiva as
definições de meio ambiente e lugar que abarcam o maior número de elementos constitutivos do meio e, o
mais importante, suas relações. Um exemplo se encontra no trabalho realizado por Pessoa e Braga (2010),
onde os autores utilizam o trabalho de campo como ferramenta para ampliação da percepção ambiental de
estudantes, tendo como norte a definição de meio ambiente proposta por Reigota (2007). O trabalho
alcançou bons resultados em ganho de percepção ambiental dos alunos, demonstrando que trabalhar com
definições mais complexas de meio ambiente pode produzir bons resultados.
Quando se trata de Educação Ambiental nas escolas ainda existem vários problemas, um
deles se relaciona de forma muito forte a esta discussão: a formação dos professores. Nas escolas, cabe aos
docentes conduzir e orientar os processos de aprendizado, inclusive os ligados a EA. Desta forma percebe-
se que a atuação do professor pode ser um dos pontos chave na construção de uma EA mais adequada a
formação de pessoas com capacidade de intervenção em sua realidade. Para que isto ocorra é necessário
que os professores tenham uma formação direcionada a prática da EA dentro do pensamento de que o
meio é complexo. Esta preparação parece estar aquém da real necessidade, como nos indicam as pesquisas
realizadas por Reigota (2007) e pela UNESCO (2006), onde predomina nos docentes um pensamento
reducionista sobre o conceito de meio ambiente.
Desta forma parece razoável que se construam propostas para uma intervenção mais ativa
na formação destes docentes, já que a EA faz parte de todos os currículos, por se tratar de um tema
transversal. Existem relatos de criação de disciplinas para tratar da temática nos cursos de formação de
docentes, o que não garantiu a boa abordagem da mesma e nem resultados ideais, como nos relatam
Cunha e Tavares Jr. (2010). Na verdade a EA deve “mexer” no contexto escolar, não como um conteúdo
disciplinar, mas como uma filosofia de ensino voltada para as questões ambientais nas quais estamos
envolvidos. A relação da escola, alunos e professores com o conhecimento é canalizada para o uso que
fazemos dele e sua importância para nossa participação política cotidiana (REIGOTA, 1999). Pensando
assim, é necessário mais do que criar uma disciplina para tratar eficientemente da questão e formar
docentes habilitados a trabalhar o tema com propriedade. O ideal é a realização de uma reestruturação nos
cursos de formação inicial para estimular melhor a percepção ambiental do futuro docente e, a partir daí,
possibilitar aos mesmos, conhecimentos e instrumentos para realizar práticas de EA nas escolas, norteados
pelos princípios básicos da EA e por concepções de meio ambiente que sejam capazes de formar
interventores sociais ativos.

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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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2004.
UNESCO. O que fazem as escolas que dizem que fazem Educação Ambiental? Brasília: Secretária de
Educação Continuada, 2006.

João Pessoa, outubro de 2011


973

FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA


SUSTENTABILIDADE
Heleriany de Medeiros Madeiros65
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN); E -mail:
helerianymadeiros@hotmail.com; Graduanda em Licenciatura em Geografia
Mizziara Marlen Matias de Paiva
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN); E -mail: mizziara_marlen@hotmail.com.
Graduanda em Tecnologia em Gestão Ambiental

RESUMO
A partir da segunda metade do século XX, os problemas ambientais começaram a ganhar destaque
em todo o mundo através dos veículos de comunicação e esta importância dada ao meio ambiente pela
mídia ocorreu em razão da iminência do esgotamento dos recursos naturais indispensáveis a sobrevivência
humana. A crise ambiental está associada a muitas outras crises, e tem um significado especial porque da
sua solução depende a sustentabilidade do planeta e a vida das gerações futuras. É nesse sentido que a
educação ambiental está conseguindo conquistar espaço nas mais diversas instituições governamentais e
não-governamentais. O artigo foi desenvolvido com base em referenciais bibliográficos, objetivando a
reflexão acerca da importância da educação ambiental para a formação de professores das escolas do
ensino fundamental em educação ambiental para sustentabilidade.
Palavras-chave: Educação Ambiental. Sustentabilidade

INTRODUÇÃO
Desde a segunda metade do século XX que os problemas ambientais começaram a ganhar
relevância no âmbito das instituições públicas e privadas. A sociedade passou a se preocupar com os
acidentes ambientais e problemas de poluição gerados pelas indústrias e empresas. A mídia teve um papel
importante e ainda tem hoje, na divulgação dos acidentes que impactam o meio ambiente e na veiculação
de projetos e ações de preservação ambiental. O acelerado crescimento exponencial da população urbana,
devido à migração do homem do campo para as cidades, também tem contribuído para os problemas
ambientais urbanos, além de outros fatores complementares que tem ajudado o despertar de uma
preocupação com o meio ambiente.
Esta importância dada ao meio ambiente pela mídia ocorreu em razão da iminência do
esgotamento dos recursos naturais indispensáveis a sobrevivência humana. Este novo cenário fez despertar
a necessidade de uma nova postura do homem com relação ao meio ambiente, algo que até então parecia
irrelevante.
Mesmo reconhecendo que foi a partir deste último século que as atitudes relacionadas ao meio
ambiente mudaram de caráter e tiveram suas conseqüências maiores difundidas por todo o planeta, o
modo como o ser humano vem percebendo seu mundo e agindo com relação ao meio ambiente, sempre
esteve de acordo com os valores e as expectativas de cada época.
O despertar desta consciência, a partir das últimas décadas do século passado, é a de que estamos
todos juntos e que habitamos uma mesma morada no cosmos, que possui fortalezas e fragilidades e que é
vulnerável as nossas agressões. Isso permitiu compreender que somos cidadãos plenos da comunidade
biótica. Essa consciência exige de nós que estejamos mais atentos a nossa relação com a natureza,
primeiramente, compreendendo que somos natureza e que natureza é tudo que está a nossa volta. Assim,
devemos refinar a nossa percepção para as condições e pré-requisitos ecológicos que sustentam as mais
diversas formas de vida.
Para termos uma esperança verdadeira é necessário partir da extensão e profundidade dos nossos
afetos que direcionam as possibilidades que nós temos de cuidar ou agredir o meio ambiente. Assim,

65
Trabalho orientado pelo Professor Doutor Samir Cristino de Souza, do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN). E-mail: samir.souza@ifrn.edu.br

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


974

investir na nossa capacidade afetiva para nos afeiçoarmos a todos os seres existentes, ao nosso lugar, à
nossa descendência e contribuir para que a nossa herança evolutiva seja resguardada é o imperativo que se
apresenta a nós nesse início de século.
Nesse sentido, a educação ambiental está conseguindo conquistar espaço nas mais diversas
instituições governamentais e não-governamentais. Mas, é preciso discutir agora, que tipo de educação
ambiental contribuirá efetivamente para uma transformação da percepção ambiental, significativa para o
nosso tempo. Tendo em vista que no Brasil, os problemas sociais dificultam que a maioria da população
possa atribuir importância às temáticas ambientais. Contudo, esta realidade pode ser modificada por meio
do que Fritjof Capra denomina de “Alfabetização Ecológica”.
O nosso objetivo é refletir acerca da importância da educação ambiental para a formação de
professores das escolas do ensino fundamental em educação ambiental para sustentabilidade.

1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE


Compreende-se uma sociedade sustentável como aquela que considera a diversidade
ecológica, cultural e social de uma comunidade e que as opções econômicas e tecnológicas estão
direcionadas para o desenvolvimento harmonioso entre as pessoas e o meio natural.
A educação para a vida em uma sociedade sustentável pressupõe a compreensão da essência e da
importância da vida de todas as criaturas existentes. Pressupõe, também, assumirmos a responsabilidade
pela vida e pelos seres da natureza, isso significa saber agir com respeito e sabedoria. Para a realização
dessa educação é preciso religar desde já as práticas de amor à vida e de sabedoria para se construir um
futuro sustentável.
Ao pesquisar as práticas e saberes das tradições antigas, percebemos que para elas a
natureza é generosa e nos devolve em abundante proporção todo ato de amor praticado sabiamente. Nas
tradições filosóficas da antiga Grécia, o respeito pelos quatro elementos (ar, água, fogo, terra) e o
reconhecimento de sua integração é uma receita possível para a saúde corporal e mental.
Sabemos que a humanidade não está dedicando a Terra o cuidado necessário a proteção de seus
recursos e riquezas, que se fossem bem cuidados poderiam satisfazer as necessidades de todos os seus
habitantes, mas ao mesmo tempo em que nós usamos mal os recursos naturais, suas necessidades básicas
continuam não satisfeitas. As perdas econômicas e o empobrecimento ambiental são o resultado de uma
administração mal orientada. A crise ambiental está associada a muitas outras crises, e tem um significado
especial porque da sua solução depende a sustentabilidade do planeta e a vida das gerações futuras. Pode-
se afirmar que nos encontramos em uma encruzilhada histórica. É preciso conservar as condições
necessárias de vida no planeta para sobrevivermos, do contrário, continuaremos a destruir o equilíbrio
dinâmico das forças da natureza. Felizmente, em vários pontos do planeta, pessoas, comunidades, escolas,
associações, entre outras, estão trabalhando para preservar e aumentar os recursos naturais com a
finalidade de usá-los de forma produtiva, com menos desperdício e em prol do bem-estar social.
Se observarmos os ecossistemas e o funcionamento biológico e físico-químico do mundo e
a própria sociedade, veremos que apresentam um padrão de funcionamento em rede de interações
interdependentes; e isso configura novas compreensões e demandas educacionais e sociais, valores que
requerem mudanças no modelo educativo atual, e respostas mais comprometidas dos educadores e das
instituições formadoras para o desenvolvimento sustentável e integral do cidadão. Tais aspectos alertam
para o fato de que educar para uma vida sustentável acontece a partir das relações humanas e não só a
partir das ideias. Isso pressupõe desde a adoção de um enfoque ecossistêmico e interativo até a
incorporação de valores e estratégias globais colaborativas, baseadas na criação de circunstâncias em
ambientes de aprendizagem, com a valorização de processos, momentos e climas que naturalmente
emergem em ambientes educativos.
Em outras palavras, a educação ambiental para sustentabilidade, baseada em projetos
transdisciplinares, que integrem conhecimentos cognitivos, emoção, ação, convivência que facilitem a
formação de redes de intercâmbios e interações é o caminho mais fácil para construção de uma sociedade
melhor. Assim, a educação ambiental para a sustentabilidade que defendemos está fundamentada na
cidadania, cooperação, solidariedade, responsabilidade e ética, estes são os fundamentos de uma
sociedade que almeja a sustentabilidade ambiental e contribui para a construção de uma cultura de paz
voltada para o desenvolvimento humano em uma sociedade planetária. Isso pressupõe a ampliação de

João Pessoa, outubro de 2011


975

oportunidades para uma vida longa, saudável e digna, acesso às informações que circulam no mundo, bem-
estar espiritual e material associado à participação ativa e consciente com ações coletivas.
A educação ambiental é uma necessidade que se justifica enquanto realça um conjunto de
aspectos da realidade que foi marginalizada pela própria educação. A formação de cidadãos conscientes
sobre a sustentabilidade ocorrerá na medida em que a escola se comprometer a discutir e colocar em
prática ações para a conscientização de problemas sociais e ambientais, dentro de uma visão sistêmica sem
desprezar os conflitos do homem com a natureza, procurando simultaneamente uma solução para o
conflito homem-natureza nos projetos de educação.
Sabe-se que a educação não significa a solução para todos os problemas sociais, mas uma
maneira para minimizá-los dentro de cada sociedade. A educação ambiental para a sustentabilidade se
constitui um grande movimento ético de transformação do pensamento e das atitudes dos ser humano
contemporâneo, diante da ameaça de destruição global, e em busca de um desenvolvimento sustentável
que satisfaça as demandas do presente sem comprometer os recursos naturais das gerações futuras. A
educação passa a ser um processo permanente e participativo que deve envolver toda a sociedade com a
recuperação de valores, a aquisição de conhecimento e a compreensão da relação dinâmica que existe
entre o home e a natureza e o mundo. A educação ambiental para a sustentabilidade pode propiciar meios
para a evolução pessoal e coletiva, desenvolvendo valores que permitam o ser humano manifestar suas
capacidades, sentimentos e, principalmente, amor a si, ao próximo e ao mundo.
2 A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO ENSINO REGULAR
A educação ambiental na perspectiva da alfabetização ecológica, ajuda o individuo a se reconhecer
como parte integrante do meio ambiente. Com isso, este instrumento leva a uma percepção ampla do
ambiente, pois este deixa de ser um sistema isolado e passa a ser notado como a moradia da humanidade,
necessitando assim ser cuidada e preservada. Por apresentar tamanha importância, tem-se que: “A
Educação Ambiental deve chegar a todas as pessoas, onde elas estiverem – dentro e fora das escolas, nas
associações comunitárias, religiosas, culturais, esportivas, profissionais, etc. – ela deve ir aonde estão as
pessoas” (DIAS, 2003 p. 110).
Assim sendo, a escola passa a exercer papel preponderante na implantação das técnicas
preconizadas pela educação ambiental. Neste sentido, “a escola, na medida em que possibilita a realização
de um trabalho de intervenção sistemático, planejado e controlado, constitui um espaço privilegiado para o
desenvolvimento da Educação Ambiental” Pelicioni (1998).
No entanto, faz-se mister que o educador tenha uma formação adequada para inserir esta
educação ambiental dentro do contexto das disciplinas. Isso porque não adianta simplesmente inserir mais
uma matéria na grade curricular dos alunos, a temática ambiental deve ser trabalhada de forma
transdisciplinar atravessando os conhecimentos de cada disciplina de forma global, visando à integração
literal entre o aluno o conhecimento disciplinar e o meio que o circunda.
O conhecimento, da maneira que é abordado nas escolas, apresenta-se fragmentado e, em
conseqüência, exageradamente especializado. Fragmentado, pois – independentemente do nível escolar
em que um indivíduo se encontre – existe uma tendência de compartimentar o saber de forma a romper os
importantes laços que une cada uma das informações que assimilamos. Por estar tão delimitada, cada
disciplina, cada área de atuação passa a não permitir uma visão mais ampla do saber, levando a uma
verticalização que compromete a real capacidade de perceber as relações vitais que nos cercam.
As instituições de ensino apresentam-se como grandes incentivadoras deste modelo linear de
conceber os sistemas vivos. O mais preocupante neste contexto é que tais instituições não parecem estar
dispostas a mudar sua didática de ensino e, maciçamente, passar a adotar o pensamento sistêmico e
transdisciplinar para integrar o saber transmitido para seus alunos. Segundo Capra (2006, p.49), “(...) todo
pensamento sistêmico é um pensamento ambiental”, então a adoção desta nova forma de visualizar o
ambiente circundante, ou seja, conceber o meio onde vivemos como um conjunto de sistemas que se
mostram intrinsecamente relacionados e dependentes entre si, pode trazer grandes benefícios para a
sociedade.
Já a Transdisciplinaridade engloba e transcende as disciplinas, sem anulá-las, mantendo a
complexidade da realidade. Sobre este aspecto, acredito que as escolas são uma das mais conservadoras
instituições democráticas da nossa sociedade e, portanto, as que têm processos de mudança mais
demorados. Apesar de demorado, tal processo deve ser incentivado para que no futuro próximo possam

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


976

ser visualizados resultados concretos. As mudanças podem começar a nível local, com ações
aparentemente inexpressivas, mas que, no entanto, alteram os sistemas, que se organizam em teias e, aos
poucos, passam a se difundir por todo o resto, ocasionando um efeito mais consistente e transformador.
A Transdisciplinaridade tem características que a diferencia do pensamento linear justamente
porque não é possível vivenciar a Transdisciplinaridade mantendo uma percepção do tempo de forma
tradicional, como no modelo matemático newtoniano em que as coisas fluem sem relação com qualquer
coisa externa. Embora os físicos trabalhem com os aspectos mensuráveis e objetivos da realidade, não há
nada de objetivo no tempo. Tudo que temos dele são idéias, certos eventos que se repetem a intervalos
semelhantes, as mudanças que observamos, e alguma intuição.
Assim, a percepção Transdisciplinar da realidade, necessária para que um educador possa agir
transdisciplinarmente, implica na consideração de que as ciências não podem responder as perguntas mais
fundamentais relacionadas à existência, e que é conveniente que cada um construa sua própria
interpretação temporária, abrindo-se às novidades que podem surgir com o avanço do conhecimento. Por
isso, o desenvolvimento de uma atitude Transdisciplinar implica a construção simultânea de uma
percepção atemporal, pois é necessário ultrapassar a temporalidade para vislumbrar a integralidade do ser.
Hoje as escolas em geral baseiam-se na competição sem solidariedade. O que leva ao
individualismo e ao imediatismo, ancorado na idéia do tempo presente e na velocidade de conquista de
espaço e poder. O sistema de notas de uma escola como prêmio representa bem a concepção de uma
educação baseada na lógica da competitividade e não da solidariedade simbiótica dos seres humanos com
os outros seres da natureza.
Assim, pensar uma educação sensível e solidária necessita de criatividade dos professores religando
saberes de forma Transdisciplinar mediando conhecimentos teóricos e práticos. Um exemplo prático de
alfabetização ecológica na escola e que surte efeitos grandiosos é incentivar a plantação de hortas. O
contato das crianças e adolescentes com a terra, desperta a curiosidade, promove a integração com a
natureza, desenvolve o espírito de cooperação solidária e produz alimentos saudáveis para o uso na
merenda escolar. Além de oferecer uma alimentação mais saudável, tal iniciativa faz com que os alunos se
sintam ligados àquela porção do seu ambiente. Outras medidas muito difundidas, mas, infelizmente pouco
adotadas nas escolas – principalmente nas públicas – são os programas de coleta seletiva, conscientização
da necessidade do uso racional da água e a utilização das artes (teatro, pintura, cinema e a literatura) como
instrumentos para a construção de um “pensar e perceber ecológico” Transdisciplinar.
Mas isso só poderá ser concretizado quando àqueles responsáveis por conduzir esta cadeia de
mudanças – os professores – passarem a incorporar de forma Transdisciplinar a educação ambiental como
parte de seu conteúdo disciplinar; quando a comunidade estiver plenamente integrada à escola,
visualizando a necessidade de contribuir para a formação de um planeta mais humano para seus
moradores. A partir disso, percebe-se que a mudança precisa ultrapassar o campo educacional e se
estender por outros sistemas, levando a uma transformação em cadeia.
Nesse sentido, é fundamental a adoção de uma visão Transdisciplinar do ambiente, que leve o
aluno a derrubar os muros que separam a natureza do restante de seu ambiente; que possibilite uma
vivência prática do conhecimento, fazendo com que crianças e jovens passem a admirar e criar laços com a
bioregião onde vive e, conseqüentemente, preocupem-se mais com a preservação deste espaço; que leve
aos estudantes a consciência de que os mesmos são cidadãos planetários e que, por este motivo, são
responsáveis pela manutenção de um ambiente saudável para todos.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A transformação da educação para atender as demandas da sociedade do conhecimento
nesse período crítico da história da humanidade que solicita novas maneiras de pensar, sentir e querer para
se garantir a sobrevivência do planeta e o mínimo de dignidade para a vida humana no presente e futuro,
nos faz pensar sobre as dificuldades de se colocar novas ideias mais saudáveis e inteligentes em andamento
para efetivação de programas educativos que proporcionem a integração dos saberes disciplinares e da
cultura tradicional local.
Assim, a educação ambiental para a sustentabilidade tem como maior finalidade despertar
na criança, no adolescente e nos adultos, a consciência de que devemos preservar o meio ambiente, pois
estaremos fazendo um bem para nós mesmos. A educação ambiental para a sustentabilidade deve

João Pessoa, outubro de 2011


977

trabalhar com valores para desenvolver a consciência, e mudar os padrões de conduta do indivíduo e da
sociedade na sua relação com a natureza e o mundo. A finalidade específica de educar para a
sustentabilidade é desenvolver: conhecimento, atitude, competência, participação, e consequentemente,
consciência. A tarefa fundamental da educação é desenvolver compreensão, difundir a informação,
instrumentos e técnicas de preservação da vida, inspirando o engajamento, na escola e fora dela,
envolvendo a sociedade em um processo educacional permanente de ensino e aprendizagem voltados para
o futuro.
O exercício da cidadania e da ética e o desenvolvimento de um cidadão consciente, preocupado
com os seus problemas, tendo conhecimento, atitudes e motivações em busca de soluções propiciam o
equilíbrio das relações entre o homem e o meio, de modo que as gerações futuras não sejam vítimas das
ações devastadoras geradas pelo homem, que colocaram em risco nosso futuro comum. A prática de uma
educação ambiental para a sustentabilidades nas escolas pode ser o elo entre os limites do uso adequado e
o uso excessivo do meio ambiente. Evidentemente que a educação sozinha não é suficiente para mudar os
rumos do planeta, mas certamente é uma condição necessária para tanto.
Claro que o papel da comunidade é de grande importância porque a educação não
acontece apenas de cima para baixo. O que se requer não é apenas um consentimento passivo, mas a
participação ativa das pessoas. Deve-se instruir a população e mostrar seu papel na sociedade, seus direitos
de vida digna e saudável, e seus deveres para que seus direitos prevaleçam, informar sobre diferentes
assuntos e seu caráter complexo, que é resultado da inter-relação de aspectos biológicos, físicos, sociais,
econômicos e culturais. A conscientização da opinião pública e a educação e formação de crianças e jovens
conscientes são o melhor caminho para a recuperação da vida no planeta.

REFERÊNCIAS
CAPRA, Fritjof. et al. Alfabetização ecológica: a educação das crianças para um mundo sustentável.
São Paulo: CULTRIX, 2006.
DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: princípios e práticas. 8. ed. São Paulo: Gaia, 2003.
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problemas ambientais e saúde. 1998, p. 1-8. Disponível em:
<http://www.bvsde.paho.org/bvsaidis/eduamb/peru/braesp278.pdf>. Acesso em: 21 de set. 2007.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


978

GESTÃO AMBIENTAL PARTICIPATIVA ALIADA À EDUCAÇÃO AMBIENTAL


CAMINHOS PARA A SUSTENTABILIDADE, UMA EXPERIÊNCIA NO PARANÁ
DO ARANAPÚ NA RDSM/AM.
Hilkia Alves da Silva1
Mestranda em Geografia pela Universidade Federal do Amazonas
hilkiageo@gmail.com
Elizabeth da Conceição Santos2
Professora Dra. do PPGEOG da Universidade Federal do Amazonas
draelizabethsantos@gmail.com
Ana Claudeíse S. Nascimento
Pesquisadora do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá3
claudeise@mamiraua.org.br

RESUMO
Este estudo faz uma abordagem acerca da gestão ambiental participativa de uma área protegida o
Paraná do Aranapú na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, ecossistema de várzea no
estado do Amazonas, numa visão da Educação Ambiental como processo instituinte de novas relações
entre a sociedade local entre si e delas com a natureza. A pesquisa tem enfoque qualitativo. A investigação
teórica conceitual se baseia em documentos acadêmicos e artigos produzidos por pesquisadores do
Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM, além ainda de bibliografias relacionadas ao
tema de Gestão Ambiental, Unidades de Conservação e Educação Ambiental, contém ainda entrevistas
semiestruturadas, realizadas em campo. O Paraná do Aranapú é um Rio onde localizam-se oito
comunidades seis na margem direita e duas na margem esquerda. Localizado em uma RDS a população
desse lugar trabalha junto ao seu co-gestor IDSM no que se refere a gestão dos recursos naturais. Neste
sentido é preciso construir um claro papel dos participantes, num processo de gestão e algum poder de
autoridade deve ser confiado aos atores sociais locais. A Educação Ambiental é um processo indispensável,
quando se deseja mobilizar pessoas para ações relacionadas à ética e a cidadania ambiental.
Palavras chaves: Educação Ambiental, Gestão Ambiental, participação

INTRODUÇÃO
Conservar o ambiente é a palavra de ordem no momento em que, o mundo vive, uma crise
ambiental. O homem desde sua existência mantem relação com o meio, no entanto, nos últimos séculos
essa relação sofreu algumas rupturas, provocando muitos desequilíbrios ambientais, e em alguns casos
causando danos irreversíveis.
É perceptível a ausência de equilíbrio entre o homem e a natureza. O homem ao organizar-se em
sociedade ganhou força sobre o meio, foi desenvolvendo habilidades o que de certa forma o deu
autonomia sobre os recursos da natureza, e por agir de forma impulsiva e dominadora a sociedade
conduziu o planeta ao caos, pois durante muito tempo se pensou que os recursos fossem infinitos, que a
natureza se renovaria constantemente, no entanto ao se agravar a situação de desequilíbrio percebeu-se
que a crise ambiental aponta para um limite do real. Dessa forma a crise ambiental despertou, nos mais
preocupados com o Ambiente a urgência em criar políticas voltadas à proteção ambiental (LEFF, 2003).
Nesse sentido, uma forma de frear tais problemas, seria inserir uma política de conservação da
natureza, foi então que surgiram as áreas especialmente protegidas, a primeira foi implantada nos Estados
Unidos o Parque Nacional de Yellowstone, em 1872. Surgiu a princípio com objetivo de preservar a beleza
cênica do lugar e para atividades de recreação e educação da população.
Segundo Diegues (1994) só por volta de 1980 à preservação da biodiversidade tornou-se
preocupação da humanidade. E as áreas protegidas, mas tarde denominadas de Unidades de Conservação
foram tidas como uma importante medida de proteção e conservação da biodiversidade em tempos de
grande ameaça.
As Unidades de Conservação são espaços territoriais legalmente instituídos pelo poder público, que
possuem características naturais relevantes, com objetivos de conservação e com limites bem definidos,

João Pessoa, outubro de 2011


979

operando sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção e
diferentes categorias de manejo (MEDEIROS, 2007)
O Sistema Nacional de Unidade de Conservação – SNUC - categorizou diferentes modalidades de
unidades de conservação. Nesse contexto existem dois grupos principais que são: as unidades de proteção
integral e as de uso sustentável.
Segundo Kitamura (2001) as unidades de conservação, especialmente as de uso sustentado, têm
assumido um papel fundamental na conservação da biodiversidade na Amazônia. A proteção do meio
ambiente na Amazônia é dada pelas unidades de conservação que se dividem em Proteção Integral e Uso
Sustentável.
A figura 1 identifica as unidades de conservação do estado do Amazonas

Figura 1: Unidades de Conservação localizadas no estado do Amazonas

O primeiro modelo não é o mais viável para a região amazônica, pois por mais necessário que seja
não é a melhor estratégia para proteger a biodiversidade que se encontra em áreas com ocupação de
comunidades tradicionais, áreas de grande contingente populacional humana, pois não é permitida a
presenças humana (moradores) como também a retirada de quaisquer tipos de recurso natural.
O segundo modelo é apresentado como alternativa a resolver tal dilema, pois nas unidades de
conservação de uso sustentável a proteção da biodiversidade não afasta o homem desse processo, ao
contrário ele é inserido num processo de gestão do meio.
Foi nessa perspectiva que a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá – RDSM foi criada
com objetivo de integrar o conhecimento tradicional ao saber científico, através do envolvimento das
comunidades nas diversas atividades. Este envolvimento também é observado por meio do poder de
decisão que as comunidades possuem sobre a gestão dos seus recursos.
Este estudo buscou fazer uma reflexão acerca da gestão ambiental participativa de uma área
protegida o Paraná do Aranapú na RDSM, numa visão da Educação Ambiental como processo instituinte de
novas relações entre a sociedade local entre si e delas com a natureza. A pesquisa tem enfoque qualitativo.
A investigação teórica conceitual se baseia em documentos acadêmicos e relatórios técnicos do Instituto de
Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, além ainda de bibliografias relacionadas ao tema de Gestão
Ambiental, Unidades de Conservação e Educação Ambiental, entrevistas semiestruturadas, realizadas em
campo. Realização de uma oficina sobre Educação ambiental para Gestão Participativa Local com
representantes das comunidades onde foi aplicada a adaptação do Método MEGAP, uma experiência para
a América Latina.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


980

A Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá – Uma Experiência de Gestão Participativa.


Conciliar a proteção ambiental com a presença humana e sua necessidade de desenvolvimento
econômico, social e cultural é o objetivo de algumas categorias de Unidades de Conservação, como por
exemplo, as Reservas de Desenvolvimento Sustentável.
A Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá foi à primeira unidade de conservação desta
categoria implementada no Brasil. A RDSM está situada na confluência dos rios Solimões, Japurá e Auti-
Paraná (localizada no Médio Solimões – grande área alagada de Várzea), com extensão territorial de
1.124.000 ha, (figura 2) faz fronteira com os municípios de Tefé, Maraã, Alvarães, Uarini, Juruá e Fonte Boa
no estado do Amazonas.

Figura 2 Localização da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá no Estado do


Amazonas
Em termos legais é duplamente protegida: pela categoria Reserva de Desenvolvimento Sustentável
(RDS) e pelo Corredor Central da Amazônia, componente do Projeto dos Corredores Ecológicos que conecta
áreas de importância ambiental. Juntamente com outras duas unidades de conservação - Parque Nacional do
Jaú e RDS Amanã, perfazem juntas uma área contígua de mais de cinco milhões e meio de ha de florestas
tropicais. (REIS, 2003, p.16).

Os trabalhos de extensão na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá estão sendo


realizados desde o ano de 1990, experiência pioneira que une a conservação da biodiversidade à melhoria
da qualidade de vida da população das comunidades por meio de manejo sustentável e participativo dos
recursos naturais.
A implantação desta Unidade de Conservação com a participação efetiva das populações tradicional
usuárias, colocada como condição necessária e essencial do processo que se desenvolve, contribui para
esta discussão, dando-lhe novo espírito, mostrando de forma prática a importância da inclusão das
populações locais, da integração dos saberes, acadêmicos e populares do papel conjunto do diálogo, da
ciência e da cultura. (REIS, 2003).
Segundo Queiroz (2003), a RDS Mamirauá fundamenta-se como “modelo de RDS” por priorizar a
permanência e participação da população local bem como, assegurar a formação e manutenção de uma
forte base científica para subsídio do manejo e conservação da biodiversidade. Assim “estes dois suportes
da proposição, quando atuam concomitantemente, criam as condições necessárias para a consolidação de
normas de manejo política e socialmente aceitas, baseadas nas premissas de conservação da
biodiversidade” (QUEIROZ, 2003, p.9).
A gestão participativa da RDS é exercida principalmente através de fóruns de comunitários e suas
lideranças, onde são tomadas as principais decisões referentes ao manejo dos recursos naturais. Até o

João Pessoa, outubro de 2011


981

momento, o fórum máximo para tomada de decisão na RDSM é a Assembleias, Geral de Usuários da
Reserva Mamirauá, que acontece uma vez ao ano (QUEIROZ, 2003).

Gestão Participativa aliada a Educação Ambiental - caminhos para a sustentabilidade

Santos (2000) discute que a gestão ambiental incidindo sobre as unidades de conservação implica
que seus objetivos estarão ligados à conservação dos recursos naturais e que as palavras “recurso” e
“conservação” apontam para o entendimento de que os elementos naturais e ecossistemas podem e
devem ser usados pelo homem e para o homem.
Vários discursos são apontados num enfoque “preservacionista” no qual a conservação da natureza
é o objetivo maior e nesse sentido o meio ambiente deve ser intocável. Percebe-se que a dimensão aqui é
exclusivamente biológica e há, portanto uma dissociação entre Natureza e Sociedade. A gestão é concebida
aqui como espaço técnico e necessariamente centralizada; neste sentido os modelos de conservação
criados com enfoques denominados de “ecologia profunda” e “biologia da conservação” podem ser falhos
em decorrência da ausência de recursos, de fiscalização, de punição, etc. compartilha dessa abordagem o
autor Quintas, (2002).
Segundo Diegues (2007) para o naturalismo da proteção da natureza do século passado, a única
forma de proteger a natureza era afastá-la do homem, através de ilhas onde este pudesse admirá-la e
reverenciá-la. A existência de um mundo natural selvagem, intocado e intocável faz parte, portanto, dos
neo-mitos. Entretanto, a natureza em estado puro não existe, e as regiões naturais apontadas pelos
biogeógrafos usualmente correspondem a áreas já extensivamente manipuladas pelos homens, seja
material seja simbolicamente.
Assim considerar e respeitar a relação das populações tradicionais na gestão de suas áreas é um
caminho para o desenvolvimento sustentável, uma vez que o processo de gestão ambiental surgiu como
alternativa para buscar a sustentabilidade dos ecossistemas antrópicos, harmonizando suas interações com
os ecossistemas naturais. (SEIFFERT, 2007 p.43)
De acordo com Loureiro (2003) para se compreender o contexto em que se insere a gestão
participativa e os processos educativos é importante entender a problemática do desenvolvimento social,
uma vez que na sociedade atual, a apropriação dos recursos é muito desigual e, desse modo, a distribuição
dos efeitos decorrentes dos problemas ambientais também o é. Neste sentido, o esforço da Educação
Ambiental deve-se direcionar para a compreensão e busca das causas estruturais dos problemas
ambientais através de ações coletivas e organizadas.
Para Debetir e Orth (2007), não há como imaginar uma gestão eficaz para os territórios, incluindo
as áreas naturais protegidas se não houver parceria entre as populações e as autoridades locais. Estratégias
de gestão nestes moldes fortaleceram a manutenção da biodiversidade em conjunto com as atividades
antrópicas, assim todos poderão se beneficiar. Neste sentido, um modelo de gestão participativa traduz as
preocupações dos atores sociais interessados nas unidades de conservação, procurando soluções por meio
da negociação, do envolvimento da divisão de responsabilidades e do estabelecimento de parcerias.
Uma proteção sustentável e efetiva depende em grande medida de um envolvimento da
comunidade, que deve começar muito cedo no processo de planejamento. Nos estágios iniciais desse
processo, devem ser realizadas campanhas para informar os interessados sobre a forma de participar. [...] a
participação local deve ser um elemento contínuo no regime de manejo. Isto significa que cada
programa/projeto proposto deve ser trabalhado como passível de modificações e não como algo escrito que
deve ser inscrito no futuro. (BRITO, 2003, p. 80-81).

Neste sentido é preciso construir um claro papel dos participantes, num processo de gestão e
algum poder de autoridade deve ser confiado aos atores sociais locais.
Formalmente a gestão participativa foi garantida nas Unidades de Conservação pela Lei 9.985, de
julho de 2000, com a instituição do Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC. Embora este
tema seja de grande importância estratégica para a conservação, são ainda reduzidas as experiências
desenvolvidas no país. Da mesma forma, não há ainda iniciativas suficientes que avaliem e caracterizem as
possíveis potencialidades e conflitos vinculados à gestão destas áreas no Brasil, no sentido de influenciar
políticas públicas de inclusão social e desenvolvimento regional. (BRITO, 2003).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


982

As definições correntes acerca da gestão ambiental exprimem as visões de mundo de quem as


estabelece. Aqui filiar-se ao conceito de que gestão ambiental é um processo de mediação de interesses e
conflitos entre atores sociais que agem sobre os meios físico, natural e construído. Esse processo de
mediação define e redefine, continuamente, o modo como os diferentes atores sociais, através de suas
práticas, alteram a qualidade do meio ambiente e, também, como se distribuem na sociedade os custos e os
benefícios decorrentes da ação destes agentes. (GOMES, 2000 p. 131).

Assim, ao considerar essa reflexão é percebida a necessidade de se promover a Educação


Ambiental, quando se deseja mobilizar pessoas para ações relacionadas à ética e a cidadania ambiental.
Neste sentido a realização de uma oficina sobre Educação Ambiental para a Gestão Ambiental Participativa
com os ribeirinhos das comunidades do Paraná do Aranapú se constituiu em um reforço do caminho já
trilhado por essa população a partir da criação da reserva, onde estes foram inseridos num processo de
gestão participativa do ambiente, uma vez que a Educação Ambiental é entendida como conjunto de
ensinamentos teóricos e práticos, que objetivam a compreensão e o desperta no ser humano de atitudes
de conservação do meio ambiente.
A criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá veio mudar um cenário de
“escassez”. A região do Paraná do Aranapú é conhecida pela fartura de recursos pesqueiros, no entanto,
nos anos 70 e 80 houve uma intensa degradação desse recurso. Hoje as comunidades se recuperam a
passos ainda lentos desse período de desperdício, não por seus moradores, mas por pessoas vindas de
outros lugares. No entanto, essa mudança só está sendo possível porque os moradores das comunidades
assumiram a responsabilidade de cuidar de seus recursos naturais, num processo denominado de gestão
participativa.
Como enfoca a entrevistada P1 ...
“proteger o ambiente que nós mora é uma atividade contínua, a gente faz isso para que a gente
possa ter também uma melhor qualidade de vida, e garantir o sustento dos nossos filhos e netos pro futuro,
hoje a gente sabe que é errado pegar os peixes no período de desova, os que são pequenos, desmatar a
floresta, jogar o lixo no rio, evitando fazer essas coisas ajuda a manter o nosso lugar limpo e também a
manter os recursos do ambiente” (moradora da Comunidade Maguari, maio de 2011).

Teixeira (2007) enfatiza que educar ambientalmente passa pela sensibilização a respeito da
importância de ações ligadas à preservação e conservação do ambiente em que se vive e do uso correto
dos recursos naturais.
Essas discussões também nos fazem lembrar que a questão cultural atua como mediadora entre
sociedade e natureza. Conforme abordado por Seiffert (2007) cultura é um conjunto de valores, dos usos e
das instituições, profundamente ligados a postulados éticos. Por outro lado, também está articulado com
uma outra variável extremamente importante neste jogo de harmonização do social, do ecológico e do
econômico, que é o estilo de vida, o qual reflete um padrão de consumo.
No que se refere à cultura e atividades econômicas das comunidades do Aranapú estão fortemente
relacionado a dinâmica natural do ambiente de várzea. A relação das pessoas segundo Moura (2007) se
constitui socialmente em uma cultura da várzea, pois é cheia de referências simbólicas que são produzidas
nas intensas relações com a água e com o ambiente transformado por ela.
Segundo Arruda (1999) as populações classificadas como “tradicionais”, apresentam um modelo de
ocupação do território e uso dos recursos naturais voltados principalmente para a subsistência, com fraca
articulação com o mercado, baseado em uso intensivo de mão de obra familiar, tecnologias de baixo
impacto, derivadas de conhecimentos patrimoniais e, normalmente de base sustentável.
Vários instrumentos de gestão ambiental foram sendo desenvolvidos desde que a temática da
problemática ambiental tornou-se tema gerador de debates, buscando conciliar o desenvolvimento
econômico com a proteção ambiental. Cada um desenvolvido em consequência de um contexto social. Em
diferentes contextos a Educação Ambiental é tida como um importante processo para se incutir a
responsabilidade ambiental. Para a população ribeirinha do Aranapú o uso racional dos recursos presentes
na área é a principal forma de garantir a sustentabilidade de tais recursos para o presente e para as futuras
gerações.

REFERÊNCIAS

João Pessoa, outubro de 2011


983

ARRUDA, Rinaldo. “Populações Tradicionais” e a proteção dos recursos naturais em unidades de


conservação. Primeiro Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação. v. 1 Curitiba, 1999
BRASILIA, DF / SBF. Sistema Nacional de Unidade de Conservação da Natureza – SNUC: Lei no.
9.985, de 18 de julho de 2000; decreto no. 4.340, de 22 de agosto de 2002.
BRITO, Maria Cecília. Unidades de Conservação: Intenções e resultados. São Paulo. Annablume:
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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


984

EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA A SUSTENTABILIDADE NA LAGOA DO


PIATÓ, RIO GRANDE DO NORTE.
Isabelle Freire LIMA66
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN).
E-mail: isabellefreire3@hotmail.com.br; Graduanda de Tecnologia em Gestão Ambiental e bolsista do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPq.

RESUMO
A região da lagoa do Piató está localizada no município de Assú/RN e é um importante ecossistema
do estado. A necessidade de preservar a diversidade natural existente nesse local é primordial para
garantia da sustentabilidade da lagoa e de seus dependentes. A pesquisa foi desenvolvida com base em
referenciais bibliográficos, visitas à comunidade, além de fazer uso dos conhecimentos regionais. A
proposta desse trabalho é apresentar os saberes tradicionais como uma prática de educação ambiental
exercida na comunidade de Areia Branca Piató no município de Assu no Rio Grande do Norte pelo morador
Francisco Lucas da Silva que, por meio de seus ensinamentos, transmites os saberes adquiridos com a
observação da natureza visando à preservação desse ecossistema de caatinga tão essencial para a região
do Piató.
PALAVRAS-CHAVE: Saberes tradicionais. Educação Ambiental. Sustentabilidade. Lagoa do Piató.

1. INTRODUÇÃO
A Lagoa do Piató está localizada na comunidade de Areia Branca, município de Assú, Rio grande do
norte. É um reservatório natural que possui capacidade de acumulação de cerca de 96 milhões de metros
cúbicos de água, sendo por isso considerada uma das maiores lagoas do estado. Esta localizada em um
clima semiárido e possui a pesca como atividade de grande importância para a geração de renda.
Observando a dinâmica existente entre os habitantes da região da Lagoa do Piató e o modo que ocorrem as
relações com o meio natural, é possível perceber que as bases socioeconômicas e culturais são
determinadas pela lagoa, bem como as raízes culturais da comunidade. A forma como a sociedade se
relaciona com o meio natural é imprescindível para determinar as relações que serão estabelecidas nessa
localidade.
E dentro dessa perspectiva, a Educação Ambiental ganha destaque no Piató por meio dos
ensinamentos de Francisco Lucas da Silva, morador da região há sessenta e nove anos e conhecedor
profundo do ecossistema local, que através da observação e da experiência, aprendeu a “ler” os sinais
natureza, assim como a entendê-la. Nas palavras de Souza (2009, p. 59) em Chico Lucas:
“havia uma bondade original e no seu coração havia sempre espaço para tudo o que é divino,
humano e mundano. (...) A partir de sua aguda sensibilidade, acolhe a todos e a tudo, e não despreza nada
e ninguém; não foge de nada e de ninguém nem se aparta ou pensa mal, pois ama todos os seres para com
sempre disponível alegria e lágrimas”.
Segundo Moraes e Tabosa (2007, p. 19):
Todo conhecimento tem a sua importância, nasce e se mantém em determinadas condições e
contextos. Convivendo lado a lado com a ciência, outras sabedorias como a filosofia, a arte e os saberes
tradicionais dão sentido ao mundo e à vida. Há várias formas, portanto de compreender porque as coisas
são como são. Grande parte da população do planeta orienta suas práticas de vida por explicações que têm
por base o contato íntimo com a natureza. Compreender a importância dos conhecimentos tradicionais no
mundo contemporâneo é celebrar o respeito à diversidade dos saberes. É se posicionar contra a pilhagem
de sabedorias centenárias.
Os “conhecimentos tradicionais são valiosa herança para as comunidades e culturas que os
desenvolvem e os mantêm, além de, potencialmente, representar fonte significativa de informações para

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Trabalho orientado pelo Professor Doutor Samir Cristino de Souza, do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN). E-mail: samir.souza@ifrn.edu.br

João Pessoa, outubro de 2011


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as sociedades de todo o mundo”, (DIEGUES; ARRUDA 2001, p. 7). Tem-se, portanto a necessidade de que
haja a preservação desse tipo de Educação baseada em conhecimentos populares para a garantia da
sustentabilidade da localidade, uma vez que à medida que os cientistas evoluem e fazem novas
descobertas, perde-se a noção do significado dos Saberes Tradicionais e a importância que esses
conhecimentos possuem para a compreensão da dinâmica de muitas regiões.
Tomando como base acontecimentos históricos é possível observar que “o homem do
neolítico ou da pré-história foi, portanto o herdeiro de uma longa tradição cientifica”, (LEVI-STRAUSS, 1989,
p. 30). Porém, se os pensamentos que moviam esses ancestrais fossem trazidos para os dias atuais
estaríamos nos deparando com um completo paradoxo: o mesmo homem que conseguiu sobreviver por
meio da observação contínua das modificações da natureza, hoje procura distanciar-se cada vez mais dela,
desprezando assim, os mesmos conhecimentos que possibilitaram a evolução da ciência. Portanto,
pretende-se com esse trabalho apresentar o conhecimento tradicional como uma forma de Educação
Ambiental desenvolvida na Lagoa do Piató por meio dos saberes tradicionais.

2. SABERES TRADICIONAIS E EDUCAÇÃO AMBIENTAL


Para Diegues e Arruda (2001, p.31) o “conhecimento tradicional é definido como o conjunto de
saberes e saber-fazer a respeito do mundo natural e sobrenatural, transmitido oralmente, de geração em
geração”. O conceito de Educação Ambiental consiste em um procedimento político, ideológico, cultural,
biológico e social, por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores, atitudes e
competências que visem à conservação do meio ambiente. Dessa forma, Chico Lucas, como é mais
conhecido no Piató, apresenta-se como um agente ativo dessa educação na região por promover os
saberes tradicionais como uma forma de manutenção da sustentabilidade na comunidade de Areia Branca.
De acordo com Almeida (2007, p.10):
Intelectual não é sinônimo de cientista ou acadêmico. Intelectual é, mais propriamente, aquele que
faz da tarefa de transformar informações em conhecimento uma prática sistemática, permanente
cotidiana. É aquele que se esmera em manter viva a curiosidade sobre o mundo à sua volta; aquele que
observa as várias faces de um mesmo fenômeno, as informações novas, contraditórias e complementares;
aquele que apura o olhar; aquele que não se contenta com uma só interpretação, nem se limita a repetir o
que já disseram.
Logo, Chico Lucas pode ser considerado um intelectual uma vez que manipula incessantemente a
mesma interpretação como forma de compreender a natureza através de uma observação constante de
seu comportamento, inserindo-a em vários contextos. Colocando-se como parte dela e ao mesmo tempo
distanciando-se para uma interação completa que proporcione meios que promovam a manutenção de
forma sustentável. “Por isso, podemos falar em intelectuais da tradição. Eles são artistas do pensamento
que, distantes dos bancos escolares e universidades, desenvolvem a arte de ouvir e ler a natureza à sua
volta”, (ALMEIDA 2007, p. 10).

2.1. OS SABERES TRADICIONAIS NA LAGOA DO PIATÓ


Na frase dita no livro “A natureza me disse”, “a lagoa do Piató é o melhor lugar do mundo”, Silva
(apud ALMEIDA 2007, p.15) fica evidente a relação de afeto criada entre Francisco Lucas da Silva, conhecido
como Chico Lucas, e a região do Piató. Essa relação teve inicio ainda quando ele era criança e acompanhava
o pai no trabalho do campo. Em suas longas jornadas diárias na agricultura, ele ouvia atentamente todos os
ensinamentos de seu pai que “era agricultor e sempre prestava atenção na natureza”, (SILVA 2007, p. 30).
Todos os dias, Chico aprendia uma nova lição e passava ele próprio a formular novas hipóteses baseado
sempre em sua curiosidade de aprender mais sobre o oficio do campo, e também sobre a fonte desse
trabalho. Nas palavras de Almeida (2007, p. 15):
Portador de uma inteligência e curiosidade de fazer inveja a qualquer cientista, (...) ele constrói
argumentos e interpretações que expressam a beleza de um pensamento cuidadoso, desafiador, atento e
muito vivo. Para Chico, tudo o que ele sabe se deve aos ensinamentos de seu pai, à sua curiosidade e,
sobretudo, à escuta atenta da natureza.
Ao caminhar por entre os pés de carnaúba, vegetação típica da localidade, é possível observar a
forma como ele interage com o meio, tecendo comentários sobre cada espécie vegetal, sobre cada espécie
animal, sobre cada pedaço daquele lugar, demonstrando ser de fato uma fonte de conhecimento viva.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Possuidor de uma ciência profunda sobre determinados fatos, “ele mostra que pelas frestas dos troncos
podemos identificar quando uma carnaúba é fêmea e quando é macho”, (MARTON, 2008). É assim, através
de grandes odisseias pelo Piató que Chico extraí todo conhecimento que possui da natureza. Como afirma
Tabosa (2007, p. 17):
Para Chico Lucas, o ecossistema não se limita ao espelho d’água e às margens da lagoa, mas inclui
serrotes, tabuleiros, o arisco, a várzea e a própria lagoa (...) eles apresentam cheiros, cores, temperaturas e
luminosidades que os distinguem, mas os isolam, não os separam. Ao contrário, quanto mais distintos são,
maior a conectividade entre eles, uma vez que as distinções e as especialidades operam a complexidade e a
riqueza da relação que constitui a diversidade dos sistemas complexos.’
Para Chico Lucas, todos os elementos que compõem o ecossistema estão interligados de forma
complexa cumprindo todos os quais seus papeis no meio natural, não havendo nenhum que mereça mais
destaque que o outro, mas possuindo todos, funções essenciais para a sobrevivência desse ecossistema.
Nas palavras de Souza (2009, p. 122):
“Chico Lucas é capaz de entender a linguagem das coisas e decifrar o grande discurso do universo,
ao viver e experienciar intensamente a natureza (...) também desempenha com maestria a arte de dar
forma a um pensamento abstrato e teórico de fazer inveja, por vezes, a muitos cientistas”.
Segundo o próprio Chico Lucas, “tudo quanto a ciência descobre, a natureza já ensinou há muito
tempo” (SILVA 2007, p. 21). E baseado nessa crença, ele extraí seu conhecimento por meio da observação
de fenômenos da natureza.
Chico Lucas conhece muito bem a farmácia da natureza. Ele conta que seu aprendizado se deu por
meio dos ensinamentos materno. Um dos primeiros medicamentos caseiros aprendidos com a mãe, a
batata de purga, segundo Silva (2007), é “um remédio que serve para tudo”. Cientificamente é
comprovada a importância dessa planta para o tratamento, por exemplo, de “disenteria, afecções do
sistema digestório, diarreia, erupções cutâneas, irregularidades menstruais” conforme Rocha (2009 apud
MATOS, 1987; BRAGA, 1988 p. 52), além de servir como “laxante e purgativo”, Rocha (2009 apud MATOS
1988, p. 52). E é nesse pensamento que a “farmácia da natureza” (ALMEIDA, 2007), assume um papel
essencial na região, principalmente devido à carência em relação à saúde que a comunidade apresenta – a
região do Piató fica localizada a 15 km do centro do Assú. Antes de haver todo conhecimento desenvolvido
sobre medicamentos, o homem já se utilizava de ensinamentos aprendidos através da observação para
fabricar seus próprios medicamentos. No inicio “não tinha farmácia, a farmácia deles eram esses
arrelíqueos de plantas que eram feitos mesmo em casa”, (SILVA 2007, p. 44). Chico Lucas não frequentou
escolas devido à necessidade de ajudar nos trabalhos cotidianos. Toda sua sabedoria deve-se a esses dois
fatos: conhecimentos transmitidos pelos pais e observação constante nas modificações do meio ambiente.
É a partir desse pensamento que a disseminação do conhecimento tradicional torna-se uma
estratégia pela qual a Educação Ambiental pode ser disseminada na região do Piató, pois ao ensinar sobre a
fauna e a flora da região, Francisco Lucas não só perpetua conhecimento, como desperta o sentimento de
que esse verdadeiro santuário que é a lagoa, torne-se alvo de preservação, não só dos moradores locais,
mas de pesquisadores, cientistas entre outros. “Percebe-se nitidamente que foi a partir das suas
experiências do cotidiano, na sua relação muito próxima da natureza, que ele foi construindo o
conhecimento e desenvolvendo uma pedagogia que se manifesta nas suas lições de fraternidade junto a
natureza” (SOUZA 2009, p. 125). A importância em expandir o conhecimento desse homem, que aos olhos
acadêmicos de alguns cientistas pode parecer um simples pescador, consiste em uma nova forma de
implantar a Educação Ambiental no Piató através de um dialogo com a natureza.

3. EDUCAÇÃO AMBIENTAL
A forma como Chico Lucas transmite seus ensinamentos não se restringe somente a compartilhar
conhecimentos com moradores locais. Muitos pesquisadores utilizam-se dos saberes disseminados por ele
para construir teses que servirão de base para trabalhos acadêmicos. A lagoa foi, e ainda é, alvo de muitos
estudos desenvolvidos por educadores, e todos aqueles que tiveram a oportunidade de aprender por meio
de uma percepção diferente, através dos conhecimentos de Chico Lucas, sobre o ecossistema do Piató
desenvolvem um afeto para com a região. Fazendo uso das palavras de Marton (2008, p. 6), “partilhar de
sua sabedoria e percorrer suas paisagens geográficas e afetivas me trouxe lições a serem cultivadas por
toda minha vida”.

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987

Partindo do principio que “a Educação Ambiental deve ter como base o pensamento crítico e
inovador, em qualquer tempo ou lugar, em seus modos formal, não-formal, e informal, promovendo a
transformação e construção da sociedade”, (SATO, 2002), na lagoa do Piató os ensinamentos transmitidos
por meio do diálogo apresentam-se como uma forma de disseminação da Educação Ambiental na região. É
possível perceber que “o uso da linguagem oral é a estratégia de consolidação e transmissão do
conhecimento construído por estas populações” (TABOSA 2007, p.93) antigas. Porém, é preciso ressaltar
que tal ciência não possui como meta principal explicar o plano prático, mas satisfazer, sobretudo, as
necessidades intelectuais (LEVI-STRAUSS, 1989), compreendendo de forma complexa e visando a
preservação do ambiente.
A transmissão dos conhecimentos de Chico Lucas acontece basicamente dessa forma: através de
longas conversas sobre suas andanças por entre a região e tudo aquilo foi possível aprender com ela.
Assim, ele compartilha sua sabedoria e ao mesmo tempo desenvolve naqueles que escutam o senso de
preservação dos valores existentes no Piató, podendo ser considerado, de fato, um exemplo vivo de
educador ambiental na região.

4. CONHECIMENTOS CIENTIFICOS E SABERES TRADICIONAIS


Visando a consolidação das teorias expostas nesse artigo, Carvalho e Amorim (2007, p. 11)
afirmam que os saberes tradicionais podem ser vistos como “uma forma de compartilhar a memória entre
as pessoas, um movimento de procurar o passado para repensar o presente e pensar o futuro, de pensar
em ações futuras olhando para os aspectos do passado vistos com olhos do presente”, além de ser uma
forma de transmitir valores educacionais. Mantendo esse pensamento como foco, Almeida (2007, p. 14)
aponta que, esses dois posicionamentos, saberes tradicionais e conhecimentos científicos, apesar de
distantes, “demonstram igualmente a universalidade do pensamento humano” e resultam sempre nos
mesmos resultados obtidos ao longo da história da humanidade. Ainda tomando Almeida (2007, p. 14)
como base, afirmamos que:
Fazer dialogar essas duas estratégias de pensar a natureza (...) reduz a escala de distanciamento da
ciência em relação aos fenômenos; permite exercitar uma escuta mais apurada de outras linguagens que
não se reduzem à linguagem das palavras; ajuda a reorganizar em patamares mais complexos os
conhecimentos que dispomos para pensar melhor sobre o novo século e seus desafios.
Os saberes tradicionais e culturais podem ser entendidos como “o resultado de uma co-evolução
entre as sociedades e seus ambientes naturais, o que permitiu um equilíbrio entre ambos”, (DIEGUES;
ARRUDA 2007, p.22). Ainda seguindo esse pensamento, Diegues e Arruda (2001, p. 32), reforçam a
importância em aliar essas duas estratégias de conhecimento ao compara-as da seguinte forma:
Para a ciência moderna, a biodiversidade significa a variabilidade de organismos vivos de todas as
origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas
aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo ainda a diversidade dentro de
espécies. [...] As populações tradicionais não só convivem com a biodiversidade, mas nomeiam e classificam
as espécies vivas segundo suas próprias categorias e nomes. Uma particularidade, no entanto, é que essa
natureza diversa não é vista pelas comunidades tradicionais como selvagem em sua totalidade; foi e é
domesticada, manipulada.
Observando tais afirmações, fica evidente a necessidade de que os conhecimentos desenvolvidos
pela ciência moderna sejam interligados aos saberes tradicionais objetivando “estratégias articuladas de
observação, reflexão, análise e síntese fazem uma ciência que amplia a compreensão de mundo por uma
ótica complexa que concebe as multiconexões entre os fenômenos”, (DIEGUES; ARRUDA 2001, p.22). Ainda
reforçando essas ideias, Almeida (2007, p. 14) alerta que “mesmo que pensemos por estratégias distintas,
mesmo que compreendamos um mesmo fenômeno de forma diferente e, por isso mesmo, precisamos
dialogar e procurar os campos de vizinhança entre esses modos de conhecer”. Por fim, entende-se que a
partir dessa necessidade de conectar saberes tradicionais e conhecimentos científicos seja criada uma nova
ciência, mas “para tanto, é preciso antes de tudo reconhecer a existência, nas sociedades tradicionais,
de outras formas igualmente racionais de se perceber a biodiversidade, além daquelas oferecidas pela
ciência moderna”, (DIEGUES; ARRUDA 2001, p. 35). Em outras palavras, é preciso que haja o
reconhecimento de que quando se trata de pensar em disseminação da educação ambiental, para

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


988

promover a sustentabilidade, todo conhecimento que venha propor métodos eficazes de conservação deve
ser considerado válido.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo do desenvolvimento desse trabalho foram analisados vários aspectos que destacam a
importância dos conhecimentos tradicionais como proposta para a implantação de uma Educação
Ambiental através da divulgação das crenças e práticas existentes na comunidade do Piató. O fundamento
principal aqui levantado é que haja um resgate as antigas tradições para facilitar a difusão do pensamento
sustentável. De acordo com Harding (2008, p.27):
Para tais culturas, a natureza está verdadeiramente viva e cada entidade dentro dela está provida
de iniciativa, inteligência e sabedoria; atributos que, no Ocidente, quando de fato reconhecidos, têm sido
comumente mencionados como “alma”.
Num momento atual, em que os conhecimentos tradicionais apresentam-se tão desvalorizados,
Chico Lucas com seu papel de grande importância que exerce na lagoa, como conhecedor das causas
ambientais do local torna-se aqui, um exemplo vivo da necessidade de uma maior interação entre os
saberes tradicionais e a ciência moderna. A conclusão obtida por meio desse conhecimento prático e
teórico busca mostrar que não é possível utilizar a ciência de maneira absoluta como forma de manutenção
dos recursos naturais, uma vez que a natureza é um sistema aberto que interage com outras formas de vida
e permite reorganizações ao longo de sua evolução.
Dessa forma, fica ainda mais evidente a necessidade de engajar um dialogo entre os conhecimentos
tradicionais e os métodos científicos, para que as lacunas que o homem não consegue explicar de forma
metódica, se transformem em aperfeiçoamento de práticas como, por exemplo, a aplicação da Educação
Ambiental para a promoção da sustentabilidade, ao mesmo tempo em que resgate os antigos elos culturais
que foram esquecidos na medida em que acontecia o avanço cientifico.

REFERÊNCIAS
ALMEIDA, M. da C.; PEREIRA, W. F. Lagoa do Piató: fragmentos de uma história. 2. ed. rev. e ampl.
Natal: EDUFRN, 2006.
DIEGUES, Antonio Carlos; ARRUDA, Rinaldo S. V. Saberes tradicionais e biodiversidade no Brasil.
Brasília: Ministério do Meio Ambiente; São Paulo: USP, 2001. 177p.
HARDING, Stephan. Terra viva ciência, intuição e evolução de Gaia: para uma nova compreensão da
vida em nosso planeta. Tradução: Mário Molina. São Paulo: Cultrix, 2008. 310p.
LEVI-STRAUSS, Claude. O pensamento selvagem. Tradução: Tânia Pellegrini. Campinas, SP: Papirus,
1989. 323p.
MARTON, Silmara Lídia. Paisagens sonoras, tempos e autoformação. UFRN, 2008.
ROCHA, Francisco Ângelo Gurgel da. Plantas Medicinais: um perfil etnofarmacológico. Natal: IFRN,
2009. 247p.
SATO, Michèle. Educação ambiental. São Carlos: Rima, 2002. 66p.
SILVA, Francisco Lucas da. A natureza me disse. Organização: Maria da Conceição Almeida e Paula
Vanina Cencig. Natal: Flecha do tempo, 2007. 65p.
SOUZA, Samir Cristino de. Pedagogia da fraternidade ecológica e formação transdisciplinar para um
ensino efetivo. Natal, RN, 2009. 244p.
TABOSA, Wyllys Abel Farkatt. Uma ecologia de base complexa. Natal: IFRN Editora, 2009 p.190

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CONCEPÇÃO AMBIENTAL DOS EDUCANDOS DA EJA SOBRE OS RESÍDUOS


SÓLIDOS
Isis Fernanda Silva MEDEIROS
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais, UFCG/CSTR, Patos-PB
E-mail: isisfernanda.sm@hotmail.com
Alexandre Flávio ANSELMO
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais, UFCG/CSTR, Patos-PB
E-mail: alehfa07@gmail.com
Jailma Ribeiro de ANDRADE
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola: Irrigação e Drenagem, UFCG/COPEAG/CTRN, Campina
Grande-PB
E-mail: jailma_asf@hotmail.com

RESUMO
A concepção predominante de resíduos sólidos é que estes não têm mais utilidade, e, portanto
devem ser descartados, não importando as conseqüências. No entanto, sabemos que os resíduos sólidos
quando não recebem acondicionamento e destinos adequados ocasionam vários impactos ambientais,
sociais, ecológicos, econômicos e éticos. Diante do exposto, o presente trabalho teve como objetivo
analisar a concepção dos educandos da EJA sobre os resíduos sólidos na escola Estadual Dom Expedito
Eduardo de Oliveira, no município de Patos – PB. O trabalho representa uma pesquisa participante,
realizada no período de maio a junho de 2010, utilizando-se como instrumento de coleta de dados um
questionário sociocultural e ambiental, cujos dados foram analisados de forma quanti-qualitativa,
utilizando-se da Triangulação. A conclusão do trabalho foi que um número representativo dos educandos
não apresenta uma visão crítica acerca dos problemas ambientais causados pelos resíduos sólidos,
intensificando a necessidade de se trabalhar a Educação Ambiental na escola de forma permanente.
Palavras-chave: educação, concepção ambiental, resíduos sólidos

INTRODUÇÃO
O modelo de desenvolvimento atual nos direciona ao distanciamento da natureza provocando
rupturas ecológicas e acelerando a degradação ambiental. Entretanto, a sociedade humana não poderia
existir sem os sistemas naturais.
Mediante a esta problemática, é necessário otimizar a politização do debate que envolve a
interação do ser humano com a natureza, ou mais precisamente, a transformação da natureza pela ação
antrópica, constituindo um dos pilares para a formação e consolidação dos espaços democráticos, de
ampliação da cidadania, e por conseqüência, do rumo a uma sociedade sustentável.
Segundo Reigota (1994) a Educação Ambiental (EA) deve estabelecer uma nova aliança entre a
humanidade e a natureza, desenvolver uma nova razão que não seja sinônimo de autodestruição, exigindo
o componente ético nas relações econômicas, políticas e sociais.
O ser humano transforma cada vez mais a matéria-prima, gerando maiores quantidades de
resíduos sólidos, popularmente conhecidos como lixo. Essa produção, por sua vez, deriva do consumismo
exagerado, do desenvolvimento industrial, do crescimento populacional, da falta de educação voltada para
o meio ambiente e da sua destinação incorreta.
A concepção predominante de resíduos sólidos é que estes não têm mais utilidade, e, portanto
devem ser descartados, não importando as conseqüências. Inclusive não é feita relação entre os resíduos
sólidos gerados e os recursos naturais. No entanto, sabemos que os resíduos sólidos quando não recebem
acondicionamento e destinos adequados ocasionam vários impactos ambientais, sociais, ecológicos,
econômicos e éticos.
Desta forma, o tratamento dado ao lixo e/ou resíduos sólidos vai além de um problema de
ambiental, afetando diretamente a dignidade humana, uma vez que transformou-se em um meio de
sobrevivência para um grande número de cidadãos excluídos pelo mercado de trabalho formal.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


990

Diante do exposto o presente trabalho tem como objetivo analisar a concepção dos educandos da
EJA sobre os resíduos sólidos na Escola Estadual Dom Expedito Eduardo de Oliveira, no município de Patos
– PB.

MATERIAL E MÉTODOS
O presente trabalho trata de uma pesquisa participante de acordo com Pedrini (1997), Thiollent
(1998) e Haguete (2001) realizada na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Dom Expedito
Eduardo de Oliveira, na modalidade EJA (Educação de Jovens e Adultos).
A mesma está situada no município de Patos – PB, sob as coordenadas 07° 01’ 28’’ de latitude sul e
37° 16’ 48’’ de longitude oeste, com altitude de 242 metros, e conta com uma estrutura composta por 15
salas de aulas, sala de professores, duas salas de informática, secretaria, direção, biblioteca, seis banheiros,
laboratório de Ciências, cantina e refeitório para merenda escolar. O quadro profissional é composto de 20
professores, 13 funcionários e 423 alunos matriculados na EJA.
A pesquisa foi realizada no período de maio a junho de 2010, utilizando-se como instrumento de
coleta de dados um questionário sociocultural e ambiental.
O universo amostral foi constituído por 225 questionários sociocultural e ambiental aplicados aos
educandos, ao qual foi quantificado e analisado de forma quanti-qualitativa, utilizando-se da Triangulação,
que segundo Sato (1997) e Thiollent (1998) trata-se de uma aproximação entre a análise qualitativa e
quantitativa, na qual os dados coletados poderão ser apresentados de forma estatística e discutidos através
da descrição.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A produção de resíduos é um fenômeno inevitável que ocorre diariamente em quantidades
e composições diferenciadas que dependem ainda do tamanho da população e do seu desenvolvimento
econômico (FERREIRA, 2003). A disposição inadequada dos resíduos sólidos traz conseqüências ecológicas,
sociais, financeiras e éticas.

A ação dos educandos frente aos resíduos sólidos produzidos na escola


Os dados analisados revelam que 38,67% dos educandos jogam o lixo na lixeira; 36% não
responderam; 14,67% fazem a reciclagem e 10,66% não fazem nada com o lixo produzido na escola (Figura
1).

Figura 1 – A ação dos educandos frente aos resíduos sólidos produzidos na Escola Dom Expedito
Eduardo de Oliveira, Patos – PB.

João Pessoa, outubro de 2011


991

Observamos que os educandos não apresentam uma visão crítica acerca da problemática dos
resíduos sólidos produzidos na escola, não percebem que o mesmo pode ser reutilizado, reaproveitado e
reciclado.
A ação de jogar o lixo na lixeira assume o caráter de que é algo que não presta, sem utilidade e que
deve ser jogado fora, não concebem que o mesmo pode ser fonte de matéria-prima.
Para Silva (2000) a maioria das escolas toma pouca ou quase nenhuma providência com relação às
toneladas de resíduos gerados diariamente nas mais diversas atividades desenvolvidas dentro da própria
escola. Desta forma, se limitam a encaminhar a totalidade do seu lixo para sistemas de coletas dos
Departamentos de Limpeza Municipal, quando existentes, ou lançam diretamente em lixões.
O Quadro 01 ilustra os resultados obtidos em relação à ação dos educandos.

A ação do educando quanto aos resíduos Concepções


sólidos produzidos na escola
Nada “eu não faço nada”
“com o lixo da escola eu não faço nada”
“nada, deixo os funcionários fazer”
Jogo na lixeira “coloco no lixo”
“coloco sempre em cesto de lixo”
“jogamos na lixeira da escola”
Reciclagem “jogo na coleta pra ser reciclado”
“reaproveitamos pra fazer coisas”
“fazemos reciclagem”
Quadro 01 – Concepções dos educandos sobre sua ação quanto aos resíduos sólidos produzidos na
Escola Dom Expedito Eduardo de Oliveira, Patos – PB.
Fonte: Dados da pesquisa.

Para amenizar a problemática dos resíduos sólidos é preciso sensibilizar os seres humanos
no sentido de reduzir o consumo, reutilizar e reciclar os resíduos gerados e repensar as atitudes que
degradam o meio ambiente, principalmente no que se refere ao destino e acondicionamento, o que não
pode acontecer distante de um amplo e contínuo processo de sensibilização (SILVA, 2004b).
Assim, Ribeiro et al., (2009) destacam que a geração de problemas ambientais em detrimento da
falta de manejo adequado dos resíduos sólidos faz o homem refletir sobre a importância de se conhecer o
que deve ser feito em relação à gestão dos mesmos.

Resultados obtidos com a diminuição da quantidade de resíduos na escola


A disposição inadequada dos resíduos sólidos traz sérias conseqüências para o meio ambiente uma
vez que a sociedade de consumo vem crescendo e a cada dia aumenta a quantidade de resíduos
descartados no meio ambiente.
Nesta perspectiva, 45,33% dos educandos não responderam sobre os resultados obtidos com a
diminuição de resíduos produzidos na escola, enquanto que 13,33% destacam que consiste numa forma de
cuidar do meio ambiente e 12,89% acreditam que evitam a poluição (Figura 2).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Figura 2 – Resultados obtidos com a diminuição da quantidade de resíduos sólidos produzidos na


Escola Dom Expedito Eduardo de Oliveira, Patos – PB.

Os dados revelam que um número representativo de educandos não sabe atribuir um


resultado obtido com a redução da quantidade de resíduos produzidos na escola, portanto, é gritante a
necessidade de se trabalhar a educação ambiental na escola de forma permanente.
De acordo com Guerra e Abílio (2006) em estudo com alunos de escolas públicas do município de
Cabedelo – PB, constataram a facilidade dos alunos em dar exemplos de problemas ambientais a definí-los;
mencionaram o lixo e esgotos nas ruas, as queimadas, a poluição e tudo o que prejudica o meio ambiente
referindo-se a problema ambiental do município.
As concepções dos educandos presentes no Quadro 02 ilustram os resultados obtidos.

Resultados obtidos com a diminuição da


quantidade de resíduos sólidos produzidos Concepções
na escola
Evita a poluição “porque polui menos o meio ambiente”
“precisamos deixar de poluir o meio ambiente”
Evitar o acúmulo de resíduos “para não gerar acúmulo de lixo”
“diminuir o acúmulo de lixo”
Cuidar do meio ambiente “para ter um ambiente limpo”
“para preservar a natureza”
Ter um futuro melhor “para um futuro melhor da humanidade”
“não prejudicar o planeta Terra e melhorar nossa vida”
Demora a se decompor “porque alguns lixos demoram a se decompor”
Evita doenças “para prevenir doenças”
“porque vamos ficar livres de germes”
Evita enchentes “para evitar enchentes”
“aumenta as preocupações com enchentes”
Evita o aquecimento global “para evitar o aquecimento global”
“causa o aquecimento global”
Quadro 02 – Resultados obtidos com a diminuição da quantidade de resíduos sólidos produzidos na
Escola Dom Expedito Eduardo de Oliveira, Patos – PB.
Fonte: Dados da pesquisa

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Problemas ambientais provocados pelos resíduos sólidos na escola


Para Silva (2004a) o acúmulo inadequado dos resíduos pode provocar problemas de ordem
ambiental, sanitária, econômica e social. Do ponto de vista ambiental, os resíduos podem trazer
conseqüências desastrosas ao meio ambiente como, por exemplo, o esgotamento de recursos naturais
renováveis e não renováveis. Do ponto de vista sanitário, os resíduos além de poluidores, causa
diretamente doenças à comunidade, através dos seus vetores e roedores.
Por outro lado, ao serem questionados sobre os problemas ambientais que envolvem a escola com
a produção dos resíduos sólidos, constatamos que 42,97% não responderam; 9,76% atribuíram ao mau
cheiro e 8,99% dos educandos acreditam que não existem problemas na escola (Figura 3).

Figura 3 – Problemas ambientais provocados pelos resíduos sólidos na concepção dos educandos
na Escola Dom Expedito Eduardo de Oliveira, Patos – PB.

Os dados oferecidos denotam que a maior parcela dos educandos desconhece os prejuízos
que os resíduos sólidos podem acarretar à escola. Muitos destes estão associados aos problemas
veiculados nos meios de comunicação. Desta forma, é preciso destacar que informação sem o exercício
crítico dos fatos gera alienação, não promovendo transformação da realidade vivida.
Alguns problemas elencados corroboram com Araújo (2000) que afirma que um dos
principais problemas ambientais está relacionado com os resíduos sólidos, tais como: escassez dos recursos
naturais, poluição do solo, do ar, das águas, inundações, proliferação de insetos e mamíferos transmissores
de doenças e diminui a qualidade de vida. De acordo com Ferreira (2003), ainda pode acarretar vários tipos
de doenças como diarréias, intoxicações e verminoses, doenças transmitidas por vetores (moscas,
mosquitos, baratas, ratos, porcos, urubus) e carrega sujeiras para os córregos.
Os problemas existentes ocasionados pela disposição inadequada dos resíduos sólidos são
numerosos, se não houver mudanças urgentes, eles se intensificarão. Desse modo, Coutinho (2003) faz
uma alerta requerendo de cada ser humano maior reflexão para construir determinadas soluções e
modificar certas posturas e comportamentos.
Por outro lado, vivemos em uma sociedade em que o consumismo exacerbado prevalece.
As propagandas veiculadas nos meios de comunicação em toda a parte do mundo incentiva a população a

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


994

adquirir vários produtos e a substituir os mais antigos pelos mais modernos, e estes ficam fora de moda e
se transformam em “lixo”.
Uma das formas de se reduzir a quantidade de resíduos gerados é através do combate ao
consumismo demasiado, que acarreta em desperdícios, reutilizando e reciclando certos produtos após o
uso original.
Entretanto, a reciclagem e a reutilização não podem ser pensadas como a única solução para
problemática que envolve o lixo, mas deve ser vista como uma parte de um conjunto de soluções
integradas para o seu gerenciamento (FERREIRA, 2003).

CONCLUSÃO
O presente trabalho conclui que a problemática dos resíduos sólidos precisa ser amenizada, e para
isso é necessário a conscientização dos seres humanos no sentido de reduzir o consumo, reutilizar e reciclar
os resíduos gerados, uma vez que a quantidade desses resíduos descartados no meio ambiente vem
aumentando devido ao crescimento da sociedade de consumo.
Os resultados analisados nos mostram que um número representativo dos educandos não
apresenta uma concepção crítica a respeito dos impactos que os resíduos sólidos podem causar na
natureza e os prejuízos que os mesmos podem acarretar à escola.
Esses resultados intensificam a necessidade de se trabalhar a Educação Ambiental na escola de
forma permanente.

REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Edna Gomes. Alternativas para a problemática dos resíduos sólidos na escola. 2000. 62f.
Monografia. (conclusão de curso) – Universidade Estadual da Paraíba. Campina Grande.
COUTINHO, Juliana dos Anjos. Identificação da percepção dos educadores e educandos referente às
potencialidades e problemas que envolvem o Rio Manganguape e Lagoa em Alagoa Grande – PB. 2003. 63f.
Monografia (conclusão de curso) – Universidade Estadual da Paraíba. Campina Grande.
FERREIRA, Sânzia Viviane de Farias. Composto orgânico: alternativa para a horta escolar. 2003. 66f.
Monografia (conclusão do curso) – Universidade Estadual da Paraíba. Campina Grande.
GUERRA, Rafael Angel Torquemada; ABÍLIO, Francisco José Pegado. Educação ambiental na Escola
Pública. João Pessoa: Fox. 2006. 234p.
HAGUETE, T. M. F. Metodologias qualitativas na Sociologia. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2001.
PEDRINI, A. G. Educação ambiental: reflexões e práticas contemporâneas. Rio de Janeiro: Vozes,
1997.
REIGOTA, Marcos. O que é Educação Ambiental? São Paulo: Brasiliense, p. 58, 1994. (Coleção
Primeiros Passos).
RIBEIRO, Eveline B. Vilela et al. Uma abordagem normativa dos resíduos sólidos de saúde e a
questão ambiental. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, Rio Grande do Sul, v. 22, p.
168-176, jan-jul, 2009.
SATO, Michele. Educação para o ambiente amazônico. 1997. 216f. Tese (Doutorado em Ecologia e
Recursos naturais) – Universidade de São Carlos. São Paulo.
SILVA, I. M. Ou trabalha e come ou fica com fome e estuda: o trabalho e a não permanência de
adolescentes, jovens e adultos na escola em Goiânia. 2004a. Dissertação (Mestrado em Educação
Brasileira). Faculdade de Educação.
SILVA, Mônica Maria Pereira da Silva. Valoração econômica do processo de gestão de resíduos
sólidos na escola municipal Lafayete Cavalcanti, em Campina Grande – PB. Relatório de Disciplina.
Economia e Meio Ambiente (Programa de Pós-graduação Em Recursos Naturais). Campina Grande: UFCG,
2004b.
SILVA, Monica Maria Pereira. Estratégias em Educação Ambiental. 2000. 247f. Dissertação
(Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) – UFPB/UEPB. Campina Grande.
THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa ação. 8 ed. São Paulo: Cortez, 1998.

João Pessoa, outubro de 2011


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A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO FERRAMENTA DE CONSCIENTIZAÇÃO


NA IMPLEMENTAÇÃO DA NBR ISO 14.001:2004 – ESTUDO DE CASO.
67
Isis Alexandra Pincella TINOCO
UNIFOR - Universidade de Fortaleza, Núcleo de Educação a Distância - NEAD. Av. Washington Soares, 1321, bl. N, térreo,
Edson Queiroz. Fortaleza, CE - Brasil
E-mail: isis.pincella@gmail.com
68
Magda Marinho BRAGA
SEMACE - Superintendência Estadual do Meio Ambiente. Rua Jaime Benévolo, 1400, Bairro de Fátima. Fortaleza, CE - Brasil
E-mail: eusoumagda@yahoo.com.br

RESUMO
Visando o Desenvolvimento Sustentável, diversas ferramentas foram criadas e formuladas, dentre
elas, as Normas da série ISO 14000, especialmente a ISO 14001, a qual descreve os requisitos básicos de um
Sistema de Gestão Ambiental (SGA). Um dos instrumentos utilizados para a criação e/ou fortalecimento
dessa cultura ambiental dentro da empresa é a Educação Ambiental (EA) voltada para seus colaboradores,
a qual se apresenta como um instrumento de maximização de resultados positivos dentro do SGA. Este
trabalho tem como objetivo verificar a eficácia da educação ambiental como ferramenta de conscientização
na implementação da NBR ISO 14.001:2004, analisando ainda as atividades e metodologias de EA adotadas
na organização objeto deste estudo, bem como os temas abordados, as mudanças de comportamento dos
colaboradores ocorridas a partir da EA e a percepção ambiental destes colaboradores. Elaborou-se uma
pesquisa empírica de natureza quantitativa e qualitativa, mediante questionário com questões objetivas de
múltipla escolha, cujo trabalho de campo foi composto por uma amostra de cinquenta e sete
colaboradores (64,7% do total de colaboradores) de uma empresa prestadora de serviços de saúde e
segurança no trabalho localizada em Fortaleza, estado do Ceará, certificada em 2010 na ABNT NBR ISO
14.001:2004. Verificou-se que a EA é trabalhada principalmente através das atividades desenvolvidas pelos
comitês ambientais da organização, cuja atuação foi considerada adequada pela maioria dos colaboradores
pesquisados. A grande maioria dos colaboradores pesquisados afirmou conhecer a política ambiental da
empresa, contribuir com atitudes para o bom funcionamento do SGA da mesma e que mudaram suas
atitudes quanto às questões ambientais também fora do ambiente de trabalho. Concluiu-se que a EA têm
se mostrado eficaz na conscientização e sensibilização dos colaboradores, dentro e fora do ambiente
laboral, contribuindo positivamente também para a certificação na ISO 14001 da organização objeto deste
estudo.
Palavras-chave: educação ambiental. ISO 14001. Sistema de gestão ambiental.

1 INTRODUÇÃO
Dado o grave cenário sócio-ambiental no qual o mundo se insere nos dias atuais, exige-se
novos estudos em busca de respostas para reverter o quadro de ameaça à sobrevivência da vida no
planeta. Vários teóricos e organismos internacionais reafirmam a importância estratégica da educação
ambiental para garantir a qualidade de vida e preservação do meio ambiente. O mercado está atento a
estas mudanças e têm-se verificado uma crescente tendência empresarial em busca da sustentabilidade,
inclusive como forma de manterem-se competitivas. A certificação ambiental surge como uma das
respostas à busca pelo desenvolvimento sustentável e também como diferencial competitivo,
especialmente no mercado internacional. Contudo, para que um sistema de gestão ambiental seja eficiente

67
Graduação em Direito - UNIFOR – Universidade de Fortaleza; Especialista em Direito Ambiental - UNIFOR;
Pós-graduanda em Educação Ambiental - UECE – Universidade Estadual do Ceará; Técnica em Meio Ambiente - SENAI
- Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial; Professora tutora de Direito Ambiental- UNIFOR.
68
Graduação em Ciências Biológicas - UECE – Universidade Estadual do Ceará; Pós-graduanda em Educação
Ambiental – UECE; Técnica em Meio Ambiente - SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial; Gestora
Ambiental – SEMACE - Superintendência Estadual do Meio Ambiente.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


996

e consequentemente obtenha a certificação na NBR ISO 14001, faz-se mister a participação ativa de seus
colaboradores, os quais para tanto, devem passar por um processo contínuo de educação ambiental.
Neste sentido, este trabalho tem como o objetivo principal verificar a eficácia da educação
ambiental como ferramenta de conscientização na implementação da NBR ISO 14001:2004 através de um
estudo de caso. Como objetivos específicos buscar-se-á apresentar as atividades e metodologias de
educação ambiental adotadas na empresa em estudo; verificar os temas abordados; analisar se houve
mudanças de comportamento dos colaboradores a partir das atividades de educação ambiental
desenvolvidas e a percepção ambiental destes colaboradores.
Para tanto foi realizada uma pesquisa empírica de natureza quantitativa e qualitativa.
Aplicou-se um questionário com questões objetivas de múltipla escolha, aos colaboradores de uma
empresa prestadora de serviços de saúde e segurança no trabalho localizada em Fortaleza, estado do
Ceará, certificada em 2010 na ABNT NBR ISO 14.001:2004. A pesquisa contou com a participação de
cinquenta e sete colaboradores (correspondendo a 64,7% do total de colaboradores) da empresa em
questão. A pesquisa tem ainda um caráter qualitativo, mediante observações in loco realizadas por ambas
as autoras durante o período de estágio supervisionado realizado na referida empresa, durante o período
de novembro de 2009 a outubro de 2010.

2 ASPECTOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL


A expressão Educação Ambiental foi utilizada pela primeira vez em 1965 em uma Conferência de
Educação realizada na Inglaterra após um grave acidente ambiental causado pela poluição atmosférica
industrial. Esse evento foi um marco, pois desencadeou uma série de questionamentos no que diz respeito
ao meio ambiente e a maneira como as empresas, indústrias e a própria sociedade lidava com ele (BACHA,
2009).
Entretanto, foi somente sete anos depois desse acidente, em 1972 durante a Conferência de
Estocolmo que o termo “Educação Ambiental” tornou-se ação através do Programa Internacional de
Educação Ambiental - PIEA que reconhecia a Educação Ambiental como elemento fundamental para o
combate à crise ambiental (DIAS, 1999). Dela participaram 113 países e 150 organizações não
governamentais que discutiram a repercussão do atual modelo econômico na sustentabilidade do planeta,
as mudanças climáticas e suas consequências, além da produção de inúmeros documentos com o objetivo
de orientar o uso racional dos recursos naturais (SEIFFERT, 2007).
Em outubro de 1977 na cidade de Tbilisi ocorreu a I Conferência Internacional em Educação
Ambiental organizada pela UNESCO com a colaboração do Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente - PNUMA (SEIFFERT, 2007). Nela foram postulados os princípios, estratégias e objetivos da
Educação Ambiental que passaram a ser seguidos por diversas nações e instituições na elaboração de seus
programas e projetos na área (MAIA, 2000). No Brasil, apenas em 1999 onze anos depois da nova
constituição ter entrado em vigor, é que foi criada a Lei 9795 que dispõe sobre a Educação Ambiental e cria
a Política Nacional de Educação Ambiental - PNEA. A lei estabelece que todos têm direito à Educação
Ambiental e a coloca como um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar
presente em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal
(MARCATTO, 2002).
A Educação Ambiental por sua própria concepção é, e sempre foi, um grande instrumento para a
promoção da consciência ambiental (DIAS, 1999). E mais do que isso, como afirma Michèle Sato (2001) ela
proporciona meios para uma mudança de paradigma que é fundamental para sobrevivência do homem e
do planeta. Entretanto, para cumprir seu papel transformador, a Educação Ambiental precisa ser constante
e estar presente não apenas nos locais de ensino, mas também na família, nas comunidades e nos locais de
trabalho (OLIVEIRA; BAKONYI, 2010). O planejamento para a introdução da Educação Ambiental em uma
empresa deve ser contínuo e permanente, constituído de várias etapas que podem evoluir com o tempo
em conteúdo e abordagem (MELGAR; BELLEN; LUNKES, 2006).

2.1 As empresas e a educação ambiental


Atualmente, as questões ambientais interessam a todos e, conforme o conceito de
desenvolvimento sustentável, “todos” significa os que vivem agora e os que ainda irão nascer (CAJAZEIRA;

João Pessoa, outubro de 2011


997

BARBIERI, 2005). As empresas hoje têm um papel fundamental na garantia da preservação do meio
ambiente e na manutenção da qualidade de vida das comunidades e seus funcionários (KRAEMER, 2002).
As pressões públicas locais, nacionais e internacionais exigem constantemente que as empresas
sejam ambientalmente responsáveis e as mudanças de hábito do consumidor deram um incentivo extra
para essa preocupação ambiental vir à tona (FILHO; WATZLAWICK, 2008). No Brasil, por exemplo, o número
de empresas que vem utilizando medidas de gestão ambiental em suas atividades tem aumentado nos
últimos anos visando justamente, esse novo mercado consumidor (FILHO, 2004). Nesse ponto surge o
conceito de excelência ambiental que avalia a indústria não somente por seu desempenho produtivo ou
econômico, mas também por sua performance em relação ao meio ambiente (DONAIRE, 2006). Segundo
Maria Elisabeth Kraemer (2002) as organizações se quiserem continuar competitivas deverão incorporar a
variável ambiental nas suas ações e tomadas de decisões, mantendo com isso uma postura responsável e
de respeito à questão ambiental.
A partir do surgimento do conceito de Desenvolvimento Sustentável iniciou-se a busca de um novo
modelo que aliasse crescimento econômico com conservação do meio ambiente (SEIFFERT, 2007). Para tal,
diversas ferramentas foram desenvolvidas e formuladas ao longo dos vários encontros, congressos e
eventos sobre meio ambiente que ocorreram entre os anos 70 e o fim do século XX (DIAS, 2006). Um bom
exemplo dessas ferramentas são as Normas da série ISO 14000, em particular a ISO 14001, desenvolvidas
durante a ECO 92 elas estabeleceram uma base comum para a gestão ambiental no mundo inteiro, pois
além de práticas podem ser aplicadas nas mais diversas organizações (SEIFFERT, 2007). Esta norma é de
caráter voluntário e propõe um Sistema de Gestão Ambiental - SGA que procura não só ordenar e integrar
os procedimentos existentes na empresa, mas também permitir que esta seja passível de certificação
(ABNT, 1995).
O objetivo maior de um sistema de gestão ambiental é proteger o meio ambiente e a saúde
humana dos impactos que são gerados pelas atividades, produtos ou serviços de uma organização
(WIDMER, 1997). Porém, para que um sistema de gestão ambiental seja bem sucedido a empresa deve
levar em consideração os aspectos ambientais relacionados aos processos de produção, aos produtos e aos
serviços que oferece. A adesão a ISO 14001 proporciona a empresa além de uma maior inserção no
mercado internacional, vantagens competitivas, organizacionais, redução de custos e minimização de
acidentes (FILHO; WATZLAWICK, 2008). O sistema de gestão ambiental que pode ser implantado em uma
empresa com base nas normas ISO 14000 torna-se o elemento responsável pela adequação dos interesses
empresariais às necessidades ambientais, conciliando desenvolvimento econômico com qualidade
ambiental (LAYRARGUES, 2000).
A Gestão Ambiental, juntamente, com o Desenvolvimento Sustentável são a resposta das empresas
aos novos clientes ecologicamente corretos (FILHO, 2004). Contudo, a implementação do sistema de gestão
ambiental depende inicialmente de uma mudança no paradigma da empresa e na maneira como ela vê o
meio ambiente (BOGO, 1998). E para que essa mudança aconteça, ela deve estar baseada em programas
capazes de promover a importância da sustentabilidade para qualquer empresa, seja ela de pequeno,
médio ou grande porte (ABREU, 2008).
É nesse contexto que entra a Educação Ambiental, como uma importante ferramenta para
qualquer empresa que queira continuar crescendo em um mundo que a cada dia valoriza mais o meio
ambiente e o respeito a ele (BARBIERI, 2007).

3 MATERIAIS E MÉTODOS
O presente trabalho buscou verificar a eficácia da educação ambiental como ferramenta de
conscientização na implementação da NBR ISO 14.001:2004, tanto do ponto de vista teórico interdisciplinar
quanto aspecto prático.
Para a análise teórica se utilizou de revisão de literatura com o fito de apresentar os aspectos
históricos da educação ambiental, a inserção da educação ambiental no âmbito empresarial e a NBR ISO
14.001:2004 e seus requisitos como ferramenta de colaboração para o desenvolvimento sustentável, sendo
consultadas bibliografias concernentes às áreas de educação e gestão ambiental e bancos de dados
relativos ao padrão normativo em estudo.
Quanto à análise empírica optou-se por realizar um estudo de caso, mediante aplicação de
questionário objetivo de múltipla escolha, o qual foi realizado em uma empresa prestadora de serviços de

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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saúde e segurança no trabalho, localizada em Fortaleza, estado do Ceará, certificada na NBR ISO
14.001:2004 no ano de 2010. A escolha desta empresa para abordagem empírica do trabalho surgiu a partir
da realização de um estágio supervisionado na empresa objeto deste estudo, necessário para a conclusão
do curso de Técnico em Meio Ambiente do SENAI/CETAE. As duas autoras deste trabalho realizaram estágio
na referida empresa, mas em momentos diferentes, tendo cada uma vivenciado diferentes etapas na
implantação do SGA da empresa, culminando com a certificação da mesma na NBR ISO 14.001:2004 no ano
de 2010.
Na época da realização da presente pesquisa, em dezembro de 2010, a referida empresa dispunha
de 124 colaboradores, sendo 88 cooperados e 11 terceirizados. Este estudo foi direcionado apenas aos
colaboradores cooperados, sendo aplicado questionário composto por questões objetivas de múltipla
escolha, tendo o mesmo sido respondido por 57 colaboradores (64,7%). Para realização da presente
pesquisa foi ainda necessário o acesso a documentos e procedimentos internos da empresa relacionados
ao sistema de gestão ambiental e feita observação in loco durante o período do estágio supervisionado
realizado pelas autoras entre novembro de 2009 a outubro de 2010.
Para a presente pesquisa foram selecionadas oito perguntas, sendo as duas primeiras voltadas para
caracterização do perfil dos colaboradores, com relação ao tempo de serviço e nível de escolaridade. O
tempo de serviço na empresa foi dividido em seis grupos: ≤ 6 meses; > 6 meses ≤ 1 ano; > 1 ano ≤ 2 anos; >
2 anos < 5 anos; ≥ 5 anos ≤ 10 anos; e > 10 anos. O nível de escolaridade foi dividido em oito grupos, quais
sejam: fundamental completo; médio completo; superior completo; pós-graduação completa; fundamental
incompleto; médio incompleto; superior incompleto; e pós-graduação incompleta.
As demais questões tiveram por objetivo avaliar a percepção dos colaboradores quanto às questões
ambientais. As seis questões tinham três opções de resposta: sim; não; e parcialmente. As referidas
perguntas efetuadas foram: Você conhece a Política Ambiental da Empresa?; Você contribui com atitudes
para o bom funcionamento da gestão ambiental da Empresa?; A política ambiental da empresa mudou suas
atitudes ambientais fora da empresa?; A certificação ambiental (ISO 14.001) de uma empresa influencia
você na aquisição de um algum produto ou serviço no seu dia a dia?; Você tem conhecimento da existência
de comitês ambientais nesta empresa?; e Você considera adequada a atuação e participação dos comitês
ambientais?
As duas últimas questões dizem respeito aos comitês ambientais, os quais são grupos de trabalhos,
que contam com a participação voluntária dos colaboradores da empresa, e realizam atividades referentes
à educação ambiental (tanto para público interno como externo) e manutenção dos indicadores ambientais
da empresa, juntamente com o setor de qualidade e meio ambiente.

4 CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO


O empreendimento objeto de estudo é uma empresa prestadora de serviços de saúde e segurança
no trabalho, localizada em Fortaleza, estado do Ceará, instalada em uma área de 2.574 m² e com uma área
coberta de 1.385m², a qual iniciou suas atividades no ano de 1983. A empresa tem certificação na NBR ISO
9001:2008 (re-certificada) e obteve certificação na NBR ISO 14001:2008 no ano de 2010. Conforme consta
no Manual do Sistema de Gestão Integrada – MSGI, a referida empresa presta serviços nas áreas de saúde
assistencial, ocupacional e segurança do Trabalho, prevenindo a poluição, contribuindo para o
fortalecimento da indústria com ênfase no aumento da produtividade da empresa industrial por meio de
ações que promovam a qualidade de vida do trabalhador, apoio a gestão socialmente responsável, a
promoção da segurança e saúde do trabalhador, a adoção de um estilo de vida saudável, bem como, a
redução de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho.
Na área da Saúde Assistencial, atua nos seguintes segmentos: Imagem (Radiologia e Ultra-
sonografia), Espirometria, Teste de Acuidade Visual, Clínica Médica, Cardiologia, Pediatria, Imagem,
Otorrinolaringologia, Dermatologia, Oftalmologia, Odontologia, Fonoaudiologia (audiologia), Ortopedia,
Mastologia, Urologia, Pneumologia, Ginecologia e Atendimento nas empresas do estado do Ceará, através
das unidades e equipamentos móveis, realizando 53.000 consultas e 177.000 exames por ano nas clínicas
médicas e 60.700 consultas odontológicas e 133.400 procedimentos odontológicos. Na área da saúde
ocupacional e segurança do Trabalho, presta serviços às empresas, através do desenvolvimento de diversos
programas tais como: PCMSO (Programa e Controle Médico da Saúde Ocupacional), PPRA (Programa de
Prevenção de Riscos Ambientais), LTCAT (Laudo Técnico de Condições Ambientais de Trabalho), etc, e

João Pessoa, outubro de 2011


999

atividades de Educação Continuada em Saúde utilizando metodologias como oficinas, teatro de bonecos,
etc. No âmbito da saúde e Segurança no Trabalho são atendidos por ano 21.000 trabalhadores, realizadas
18.000 consultas ocupacionais e nas atividades de Educação Continuada são realizados 930 eventos com a
participação de 94.000 trabalhadores anualmente.
As atividades de educação ambiental são desenvolvidas pelos comitês ambientais, que são grupos
compostos por colaboradores da empresa, os quais participam voluntariamente dos mesmos. A referida
empresa dispõe de cinco comitês ambientais, quais sejam: comitê de água; comitê de energia; comitê de
resíduos; comitê de prevenção à poluição; e comitê de eventos ambientais. Estes comitês realizam
encontros mensais, nos quais planejam ações a serem desenvolvidas no âmbito da educação ambiental,
seja para o público interno ou externo, visando também manter os indicadores (metas) referentes aos
diversos aspectos ambientais como consumo de água e energia, emissão de gases pelos veículos das
unidades móveis, poluição visual, geração de resíduos sólidos, etc.

5 DISCUSSÃO E RESULTADOS
Inicialmente será apresentado um perfil dos colaboradores da empresa em estudo, com
relação ao tempo de serviço e grau de instrução. Em seguida será avaliada a percepção dos colaboradores
com relação às questões ambientais e as atividades de educação ambiental desenvolvidas na referida
empresa.

5.1 Perfil dos colaboradores


Conforme explicado anteriormente, esta pesquisa foi direcionada aos colaboradores
cooperados da empresa, tendo contato com a participação de 57 colaboradores, correspondendo a 64,7%
do número total de colaboradores cooperados (88 colaboradores).
Dados referentes ao tempo de serviço na empresa e escolaridade serão analisados para
avaliar se eles interferem na capacidade de compreensão da importância do sistema de gestão ambiental
implantado, bem como, de entendimento da política ambiental, considerando-se que, quanto maior a
escolaridade do indivíduo, maior a capacidade de discernimento da importância da gestão ambiental.
Através do questionário verificou-se que na época da realização da pesquisa, havia um número
considerável de colaboradores contratados recentemente, enquadrados na faixa de menos de seis meses
de serviço na empresa (15 colaboradores). O segundo grupo com maior número de colaboradores
encontrava-se na faixa de mais de dois anos e menos de cinco anos de serviço (12 colaboradores).
Verificou-se quanto à escolaridade, que todos os colaboradores possuem, no mínimo, ensino médio
completo, sendo esta faixa de escolaridade da maioria dos colaboradores participantes da pesquisa (20
colaboradores) seguido dos colaboradores com escolaridade superior incompleta (16 colaboradores).

5.2 Análise da Percepção Ambiental dos colaboradores a partir do Estudo de Caso


Foi avaliado o nível de compreensão e relevância quanto ao fator ambiental pelos colaboradores da
empresa após a certificação ambiental. Neste contexto, valorizaram-se aspectos como percepção e atitude
relacionadas ao empreendimento e ao Sistema de Gestão Ambiental – SGA, e conhecimento da Política
Ambiental formulada pela empresa. Salienta-se que em um SGA, no modelo da NBR ISO 14.001, a política
ambiental tem grande relevância uma vez que a partir da elaboração desta, é que serão estabelecidos
metas e objetivos que farão parte de toda a metodologia operacional do sistema. A norma recomenda
ainda que a política ambiental seja comunicada a todas as pessoas que trabalham para a organização ou
que atuem em seu nome.
A empresa estudada tem a seguinte política ambiental: “Prestar Serviços na área de Saúde
e Segurança no trabalho, com qualidade, prevenindo a poluição, atendendo à legislação aplicável, visando à
melhoria contínua, à satisfação dos clientes e o uso racional dos recursos naturais.”. A referida política,
além de estar disponível fisicamente em diversos setores da empresa, inclusive para conhecimento do
público externo, é apresentada aos novos colaboradores tão logo obtenham treinamento denominado
“Sensibilização SGA” realizado pelo setor de qualidade e meio ambiente. No referido treinamento além da
política, são apresentados aspectos gerais do SGA, os comitês ambientais existentes, etc. Conforme
questionário aplicado aos colaboradores, a grande maioria deles (87,7%) afirmou ter conhecimento da
política ambiental da empresa, 10,5% afirmaram ter conhecimento parcial da mesma e apenas um

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1000

colaborador disse desconhecer a política ambiental. Dentre os colaboradores que afirmaram conhecer
parcialmente a política, verificou que metade deles tinha menos de seis meses de serviço na empresa. Por
outro lado, o único colaborador que disse desconhecer a política ambiental tem de dois a cinco anos de
serviço na empresa e pós graduação completa, indicando uma exceção quanto ao tempo de serviço e
escolaridade como influenciadores da percepção ambiental.
Os colaboradores foram questionados também quanto à sua contribuição para o bom
funcionamento do SGA e a grande maioria dos colaboradores (53 colaboradores) correspondendo a 92,9%,
afirmaram contribuir com atitudes para o bom funcionamento do SGA da empresa. Apenas três
colaboradores (5,2%) afirmaram contribuir parcialmente, dentre eles dois colaboradores tinham menos de
seis meses de serviço na empresa e um tinha de seis meses a um ano de serviço. Apenas um colaborador
disse não contribuir com atitudes para o bom funcionamento do SGA, o qual embora detivesse boa
escolaridade (ensino superior completo), tinha menos de seis meses de serviço na empresa. Desta forma,
entende-se que o pouco tempo de serviço na empresa, faz com que alguns dos novos colaboradores ainda
não participem ativamente (ou não compreendam sua participação) para o bom funcionamento do SGA da
empresa.
A seguir os colaboradores foram questionados quanto às suas mudanças de hábitos fora da
empresa, visando averiguar se a política ambiental da empresa gerou alguma mudança quanto às questões
ambientais fora do ambiente laboral. A maioria dos colaboradores respondeu positivamente (44
colaboradores), correspondendo a 77,1%, e 13 colaboradores (22,8%) informaram serem influenciados
parcialmente. Não houve resposta negativa a esta questão, indicando que, seja em maior ou menor grau,
todos os colaboradores afirmaram que a política ambiental da empresa gerou mudanças quanto às
questões ambientais fora do ambiente de trabalho. Ainda envolvendo o dia a dia dos colaboradores fora do
ambiente laboral e sua percepção ambiental, buscou-se verificar se a certificação de uma empresa na NBR
ISO 14001 influencia na opção de aquisição de produtos ou serviços, ou seja, se os colaboradores,
enquanto consumidores optam por empresas que tenham um sistema de gestão ambiental certificado, ou
se isto é indiferente para os mesmos. Quanto a esta questão houve uma queda no número de
colaboradores os quais afirmaram que a certificação de uma empresa na NBR ISO 14001 os influencia na
escolha de produtos e serviços (35 colaboradores), 17 colaboradores afirmaram haver uma influência
parcial e cinco colaboradores responderam que tal certificação não os influencia enquanto consumidores.
Curiosamente dentre estes cinco colaboradores, quatro tinham, pelo menos ensino superior, trazendo o
questionamento se a escolaridade realmente influencia na percepção ambiental dos indivíduos e, neste
caso, no seu papel enquanto consumidores conscientes.
Por fim os colaboradores foram questionados a respeito dos comitês ambientais. Conforme
já colocado neste trabalho, através da atuação dos referidos comitês é trabalhada a educação ambiental
dos colaboradores e do público externo. Deve-se ainda salientar a importância dos referidos comitês para
uma gestão participativa, onde os colaboradores efetivamente envolvem-se e colaboram diretamente para
o bom funcionamento do sistema de gestão ambiental, não ficando a cargo apenas do setor de qualidade e
meio ambiente da empresa. Buscou-se verificar se os colaboradores tinham ciência da existência dos
comitês e ainda, se consideravam sua atuação adequada. A grande maioria dos colaboradores (50),
correspondendo a 87,7%, afirmaram ter conhecimento da existência dos comitês ambientais, seis
afirmaram ter conhecimento parcial e apenas um colaborador desconhece a existência dos mesmos
(colaborador com tempo de serviço de seis meses a um ano na empresa). Destes 50 colaboradores que
afirmaram conhecer os comitês, 40 deles consideraram adequada a atuação dos mesmos, 10 consideraram
a atuação parcialmente adequada e nenhum colaborador considerou inadequada a atuação dos referidos
comitês ambientais.
Os comitês ambientais atuam com os temas: água; energia; resíduos; e prevenção à
poluição. Alguns comitês mantêm contato mais frequente com os colaboradores, enviando para seus e-
mails quase diariamente informativos com dicas de economia de água e energia; o comitê de prevenção a
poluição, além de monitorar a densidade colorimétrica da fumaça de veículos a diesel (unidades móveis) -
garantindo que estejam dentro dos parâmetros legais - se encarrega ainda de prevenir a poluição visual,
mantendo os flanelógrafos (locais onde são fixados informativos aos colaboradores) arrumados e
atualizados; O comitê de resíduos, juntamente com o comitê de eventos ambientais, trabalham na
conscientização dos colaboradores fazendo campanhas contra o desperdício de alimentos no refeitório,

João Pessoa, outubro de 2011


1001

correto descarte e coleta seletiva, o setor de almoxarifado auxilia também no consumo consciente dos
materiais de escritório, além deste comitê ser responsável pelo monitoramento da geração de resíduos
(tanto comuns como de serviços de saúde) garantindo seu correto gerenciamento e manutenção das
metas. O comitê de eventos ambientais tem como meta a realização de três eventos anuais de
conscientização, os quais são realizados com a colaboração do setor de qualidade e meio ambiente,
atingindo não apenas os colaboradores mas também o público externo e clientes.
Em 2010 foram realizados quatro eventos, superando a meta estabelecida de três eventos
anuais: no primeiro semestre foi realizado o evento inicial, consistindo numa visita a uma comunidade do
entorno para sensibilização em relação aos resíduos gerados pela própria comunidade, onde foram
abordadas noções de higiene e visou-se a implantação da coleta seletiva no local. O segundo foi a semana
do meio ambiente, a qual ocorreu de 31 maio a 7 de junho, sendo realizadas diversas palestras (por
convidados externos e também por colaboradores da empresa), algumas voltadas aos clientes e outras
restritas aos colaboradores. Na ocasião ainda houve apresentações de esquetes teatrais com temáticas
ambientais, realizadas pelos colaboradores. O terceiro foi um evento de sensibilização ambiental realizado
em um colégio público estadual localizado nas proximidades da empresa, nos dias 04 e 06 de outubro,
voltado para os alunos e professores do referido colégio, ocasião em que foram abordados os temas
consumo consciente e desenvolvimento sustentável, através de exibição de documentários, realização de
palestras e teatro de bonecos; o quarto e último evento foi realizado em dezembro de 2010, voltado para o
público interno, com objetivo de sensibilizar os colaboradores quanto aos cuidados com o meio ambiente,
através de atividades lúdicas utilizando teatro de fantoches abordando educação ambiental e coleta
seletiva. Percebe-se que em tais eventos utilizam-se diferentes metodologias, a depender do público-alvo e
da temática a ser apresentada, buscando-se assim utilizar tanto a linguagem formal (palestras) como o
lúdico (teatro), para educar ambientalmente colaboradores e clientes de forma mais eficaz.

6 CONCLUSÃO
A partir da breve retrospectiva histórica apresentada, verifica-se que a Educação Ambiental
é um elemento fundamental para o combate à crise ambiental da atualidade, tendo sido reconhecida sua
importância mundialmente, através das diversas conferências internacionais ocorridas a partir da década
de 60, e dos documentos e tratados advindos destas. As empresas, atentas às novas necessidades de
mercado que emergem a partir desta crise ambiental, buscam alternativas para alcançar a sustentabilidade,
implantando sistemas de gestão ambiental Contudo, a eficácia deste SGA depende inicialmente de uma
mudança no paradigma da empresa e de seus colaboradores com relação à questão ambiental, e para
tanto, deve-se valer de programas que promovam a importância da sustentabilidade. Ou seja, necessita-se
da educação ambiental para que o SGA seja eficiente e atinja seus objetivos.
Nesta pesquisa constatou-se através do estudo de caso, que a educação ambiental
promovida através dos treinamentos e atividades desenvolvidas pelos comitês ambientais foi eficaz no
sentido de conscientizar os colaboradores da empresa, contribuindo para o sucesso da implementação do
SGA e conseqüente certificação na NBR ISO 14001:2004. Verificou-se que a maioria dos colaboradores tem
conhecimento da política ambiental da empresa; contribuem com atitudes para o bom funcionamento do
SGA; apresentaram mudanças de comportamento com relação à questão ambiental fora do ambiente
laboral; e que têm conhecimento da existência e consideram eficaz a atuação dos comitês ambientais.
Salienta-se a importância dos referidos comitês para uma gestão participativa, pois através destes os
colaboradores dos mais diversos setores efetivamente se envolvem e colaboram diretamente para o bom
funcionamento do SGA.

7 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ABREU, C. Sustentabilidade? O que é sustentabilidade. Atitudes Sustentáveis, 2008. Disponível em:
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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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João Pessoa, outubro de 2011


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A CONSCIÊNCIA E O SUJEITO/ASSUJEITADO
João Francisco Fernandes POUEY
Mestrando em Educação Ambiental, PPGEA/FURG
Professor do Curso Técnico em Edificações, IFSul, Pelotas/RS
jfpouey@gmail.com
Luciana Roso de ARRIAL
Mestre em Educação Ambiental, PPGEA/FURG
Professora do Curso Técnico em Edificações, IFSul, Pelotas/RS
luarrial@ig.com.br

RESUMO
No processo de formação de cada ser humano está presente, desde a genética, passando por seu
processo evolutivo prático e social, até a consciência, que este sujeito terá em um determinado tempo de
sua existência, mas que estará em constante evolução, considerando que tudo está em contínuo
movimento e em relação. Na constituição do sujeito está presente a educação como fator preponderante e
decisivo para que suas atitudes sejam coerentes com suas práticas. Nesta prerrogativa este artigo versa
refletir sobre a educação de forma libertadora no processo do sujeito de vir a ser, conforme o pensamento
de Paulo Freire. Neste sentido, a educação ambiental participa na formação da consciência de
educadores/educandos na construção do conhecimento/aprendizagem para uma educação questionadora,
problematizadora e emancipatória.
Palavras-chave: educação ambiental, liberdade, pedagogia, consciência.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Nós, seres humanos, somos capazes de identificar problemas, criar situações diversas e buscar
soluções, temos a possibilidade de fazer história e novas formas de conviver, participando dos destinos de
cada ser vivo. Pensamos em educação e a praticamos e, a partir do ensino/aprendizagem, influenciamos no
destino do mundo que temos em comum.
A educação ambiental oportuniza problematizar os diferentes interesses sociais, conduzindo a uma
prática educativa reflexiva e questionadora de emergentes possibilidades de compreensão, incluindo,
nesta, as possibilidades de liberdade do ser humano a partir da sua consciência.
A educação ambiental não deve ser vista como uma educação com objetivos de solucionar
problemas imediatistas ou pontuais, mas sim para parti-la de nossas práticas, nossos métodos e nossas
atitudes, nos valores do viver/conviver, aprender a ser interrogativo, participativo, e consciente. Enquanto
educadores, somente a partir da multiplicação desta forma de entender/viver com o outro e com o
planeta, conseguiremos que a educação ambiental alcance seu verdadeiro objetivo: o de uma educação
libertadora, emancipadora e multiplicadora. A partir da conscientização dos outros que interagem conosco,
conseguimos nos realizar como educadores, mesmo sendo inconclusos e em constante aprendizado, mas
vendo resultados nas nossas interações. “Neste tipo de conhecimento todo ato de conhecer é também um
ato de reconhecer, no sentido de que o outro não mais é visto, tomado apenas como um objeto, mas sim,
como sujeito do conhecimento” (Barcelos: 2009, 65). E mais:
Quando tratamos de educação ambiental, uma das questões que não podemos esquecer é
que as mesmas não estão fora da história, da cultura, da política, das crenças, mitos e ritos de cada
sociedade. Ao contrário, estão dentro dela. Fazem parte de sua construção ao mesmo tempo em
que são construídas por ela. (Ibidem: 88)

As questões ambientais estão permeadas pelo modo que vivemos a modernidade, neste sentido, a
educação ambiental é, está e se vale da educação para permear valores e atitudes perante o mundo. Da
mesma forma o processo de conscientização é um dos constituintes para repensarmos nossas práticas e
metodologias em educação e educação ambiental para a constituição de um sujeito autônomo e liberto.

AS POSSIBLIDADES DE LIBERDADE ATRAVÉS DA EDUCAÇÃO

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1004

Sabemos que o presente de um indivíduo como o futuro é sempre composto de uma construção
social e coletiva, que refletirá na sociedade e no planeta em geral. O que realizarmos ou deixarmos de
realizar no dia de hoje, nos será ofertado ou cobrado no dia de amanhã, pelas pessoas e pelo planeta. Em
princípio, parece evidente que em condições favoráveis um ser humano dispõe de possibilidades de
liberdade, de escolha, mas estas condições favoráveis estão intimamente ligadas com o conhecimento
deste indivíduo.
A primeira vez em que foram definidos a liberdade e os direitos fundamentais do Homem foi por
meio da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, aprovada pela Assembleia Nacional Constituinte
da França em 26/08/1789 e também foi base da Declaração Universal dos Direitos Humanos, promulgada
pela ONU em 10/12/1948. Nela são enumerados os direitos que todos os seres humanos possuem.
Sendo:
“Todo homem tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito
inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou
crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em
público ou em particular”.

E,
“Todo homem tem direito à liberdade de opinião e expressão, este direito inclui a liberdade
de, sem interferências, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por
quaisquer meios e independentemente de fronteiras”.

Possuímos a liberdade de pensamento e de expressão, afinal a liberdade é prerrogativa natural do


ser humano. Experimentamos subjetivamente nossa liberdade todas as vezes que nos é dado escolher
entre alternativas e decidir. Por outro lado, sofremos as restrições do meio ao qual procuramos nos
adaptar; estamos assujeitados, por exemplo, pela cultura, que inscreve em nossa mente, desde o
nascimento, normas, tabus, mitos, ideias, crenças; estamos submetidos à sociedade, que nos impõe leis e
proibições; somos até mesmo possuídos por nossas ideias, que tomam posse de nós quando achamos que
as temos à nossa disposição (imprinting).
Estamos assujeitados nas relações sociais que diariamente vivenciamos, nas situações de ensino
formal ou mesmo na educação não formal, na qual ideias nem sempre podem ser livres, porque estamos
acorrentados às condições do poder dos opressores. Nem sempre há a liberdade de pensamento e de
expressão, e não há as condições necessárias para que possamos ter uma consciência livre, à medida que
nos fornecem uma educação que não nos deixa questionar, de legislação, de normalização, de
padronização de nós mesmos, seres inconclusos, esperando para que nos formatem. Umberto Eco (2005)
exemplifica esta questão, sobre a pesquisa e a formalidade; os núcleos de investigação e o título, ou seja, o
descompasso que existe entre descobrir uma tese e fazê-la e os complexos processos de liberdade, de
criação ou alienação.
O termo assujeitado significa o indivíduo que se torna inconsciente de sua fala e seu discurso, que
se utiliza de meras reproduções de formações discursivas ideológicas. Contudo, todos nós somos
assujeitados a alguma concepção ideológica, porque todos nós vivemos em um mundo imerso em
ideologias. Podemos ter consciência da nossa realidade, podemos sair do nível ingênuo, ou nos
perpetuarmos no assujeitamento ideológico. No entanto, para termos esta consciência da nossa realidade,
para deixarmos de ser ingênuos, para deixarmos de ser ignorantes em determinados assuntos, precisamos
nos fortalecer com conhecimentos, mas não dentro de uma educação tradicional, mas sim através de uma
educação emancipatória, questionadora. Dessa maneira, somos ecologicamente dependentes e, do
mesmo modo, assujeitados social, cultural e intelectualmente, na medida em que queremos ou deixamos.
Freire (1987) nos diz que quanto mais passividade, mais ingenuamente, em lugar de transformar,
os homens tendem a adaptar-se ao mundo, à realidade parcializada nos depósitos recebidos. Ou, em um
processo de consciência crítica, permanecemos fiéis à nossa questão inquietadora ou nos submetemos às
regras implícitas, pois elas nos ofertam segurança no processo avaliativo. Portanto, omitir-se parece ser
mais seguro e vantajoso de que expor-se e correr o risco de outros apontarem ou censurarem as ideias ou
as nossas práticas, mas esta omissão é justamente o ato covarde do sujeito que não tem uma real
consciência, pois qualquer indivíduo que tem conhecimento crítico, questionador jamais ficará num estado

João Pessoa, outubro de 2011


1005

de omissão. Mudanças só podem ocorrer com as práticas sociais, sendo elas expostas ao risco de chacotas
de outros ou reconhecidas como libertadoras.
Retomemos de outra forma. A constituição do sujeito é dialógica, pois comporta simultaneamente
um princípio de exclusão visto que nada pode estar no lugar dele e um princípio de inclusão (inclusão num
"nós", a família, a espécie, a sociedade, e de exclusão desse "nós" em si próprio), nos quais estão as
atividades reprodutoras, a inscrição hereditária, a formação deste sujeito enquanto inserido na sociedade,
seja ela a própria família a princípio e depois o acréscimo com as amizades, a escola, a religião e todas as
outras comunidades que farão parte da constituição interna deste individuo.
Ao mesmo tempo, durante essa inclusão na formatação deste sujeito, o processo de exclusão
também ocorre, na medida em que o ego tem que começar a dar espaço para a inclusão destes novos
valores, nesta consciência em formação.
Toda a existência humana é, ao mesmo tempo, atuante e atuada; todo indivíduo é, ao mesmo
tempo, um ser que se autoafirma em sua própria qualidade de sujeito ou de assujeitado. O limite humano
é que oferece as condições para vir a ser mais.
Evidentemente, é por meio da consciência que o ser humano pode, em certas condições e ocasiões
às vezes decisivas, manifestar sua liberdade, seja individual ou coletiva, para estar no mundo ocupando
espaço e estar com o mundo. E o bem-estar do ser humano, depende da coragem de quebrar a rotina e
tentar caminhos não experimentados. Depende da capacidade humana de viver com riscos e aceitar a
responsabilidade pelas consequências de vir a ser mais.
Com consciência reflexiva, a capacidade cerebral de autocomportar-se é integrada, prolongada e
ultrapassada pela capacidade que tem a mente de se autoexaminar e, no caso do indivíduo, a capacidade
de se autoconhecer, autopensar-se, autojulgar-se; conscientizar-se, libertar-se.
A mente é mantida e fortalecida por curiosidades e aberturas rumo ao que está além do dito, do
conhecido, do ensinado, do recebido; capacidade de aprender por si mesmo; aptidão para problematizar;
prática de estratégias cognitivas; invenção e criação, que revelam o caráter não trivial da mente humana.
Possibilidade de verificar o erro, de ver as contradições implícitas em determinados fatos e através da
superação conseguir eliminar o erro e crescer com os conhecimentos adquiridos, levando daquele erro o
que ele tivesse de bom, de proveitoso que anexado aos novos conhecimentos nos possibilitarão este
crescimento, esta evolução da consciência, num processo espiral e contínuo.
A pedagogia não deve ser elaborada para o sujeito, e sim, a partir dele, pois a prática da liberdade
está inserida em um modo de comunhão de conhecimentos, pela qual o indivíduo possa refletir, para
tornar-se sujeito de sua própria história.
Nesta condição está a grande tarefa humanista e histórica dos oprimidos – libertar-se a si e aos
opressores, visto que a liberdade é uma conquista, e não uma doação e só existe no ato responsável de
quem a faz.
E esta é a grande contradição dos opressores e oprimidos: sua superação. A debilidade dos
oprimidos será o que dará força à libertação de ambos, o que acaba causando uma falsa generosidade
pelos opressores, na tentativa de manter os oprimidos dependentes de sua generosidade e assim manter-
se a permanência da injustiça. Reflita: um servente da construção civil que reside na periferia colabora na
edificação de uma mansão, contudo quem disse que ele não compreende a realidade? Ele pode ser sempre
o servente, operário da construção civil, pode ser/estar oprimido ou procurar alternativas através da
criatividade e da busca por aperfeiçoamento, decodificando as oportunidades e vislumbrando pela prática
ações que o tornem um ser mais.
A prática que possibilita o crescimento do sujeito esta intimamente ligada aos seus conhecimentos;
portanto, para que exista o entendimento de que ele possa crescer é imprescindível que ele tenha
consciência de sua realidade, de suas possibilidades e da forma que ele possa vir a ser mais respeitando o
outro, e isto só vai acontecer com a educação.
Não uma educação tradicional, como diz Freire, mas com uma educação de questionamentos,
emancipatória.
O medo da liberdade pode impulsioná-los a serem opressores ou mantê-los aprisionados ao
“status” de oprimidos. É relevante entender que o comportamento dos oprimidos pode ser qualificado por
prescrito, pois um dos elementos básicos no intermédio de opressores-oprimidos é a prescrição.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1006

A alienação se dá no sentido da consciência recebedora possuir o hóspede da consciência


opressora. Os oprimidos que seguem à sombra dos opressores temem a liberdade, pois a liberdade exigirá
a expressão dessa sombra e o preenchimento do vazio deixado por ela, porque eles não foram educados a
serem sujeitos próprios, com conhecimentos próprios, com vontades próprias, eles foram, se podemos
dizer assim, ensinados a fazerem o que os opressores precisam deles, como força de trabalho, sem a
possibilidade real de serem educados, de serem sujeitos ativos e participantes.
Para superar essa situação opressora, se torna necessário o reconhecimento crítico da mesma
situação e, assim, outra situação que possibilite a busca do ser mais se instaura através de uma ação
transformadora. Para tanto, é preciso reconhecer-se oprimidos e engajarem-se na luta por sua libertação.
Dessa forma, esta superação exige a inserção crítica dos oprimidos nessa pedagogia, que, para ser
realmente libertadora, deve ficar próxima dos oprimidos, pois estes serão exemplos para si mesmos.
É necessário uma descoberta baseada na práxis, por meio de um diálogo crítico e libertador que
suponha a ação, nunca um diálogo que provoque fúria ou repressão maior do opressor. Assim, conforme
Freire (1987):
“ a realidade social, objetiva, que não existe por acaso, mas como produto da ação dos
homens, também não se transforma por acaso. Se os homens são os produtores desta realidade e
esta, na invasão da práxis, se volta sobre eles e os condiciona, transformar a realidade opressora é
tarefa histórica, é tarefa dos homens.”

A consciência opressora coisifica os oprimidos, acabando com as finalidades senão as prescritas


pelos opressores. Embora isso, cabe aos oprimidos o papel de libertar-se e libertar os opressores,
assumindo uma forma nova de “estar sendo”, pois já não podem atuar como antes, nem permanecer como
“estavam sendo”.
Para um trabalho de libertação, o caminho não é o ato de depositar crédito, e sim o resultado da
conscientização dos oprimidos de que devem lutar por sua libertação.

O CONHECIMENTO ATRAVÉS DO DIÁLOGO


A nossa percepção de incompletude, de inconclusão do ser, que sabe do seu inacabamento, que
está sempre num processo de vir a ser, é o que alicerça a nossa missão docente. Segundo Freire a
inconclusão é um saber fundante de nossa prática educativa e de nossa formação docente, inacabada e, a
cada momento, renovada.
Aprender a pensar, aprender a ensinar, aprender a aprender é o que nos conduz ao processo
educacional.
A criatividade emana da espontaneidade, na gestação de algo novo em um contexto novo com
novos atores que trazem cada um deles, dentro de si, conhecimentos, práticas que nos mostram o quanto
temos que aprender enquanto educadores.
E dialogar é uma arte. O diálogo autêntico implica na aceitação e respeito ao outro e a capacidade
de aprender com o outro sujeito em toda sua legitimidade de ser humano. Da mesma forma, o
conhecimento humano depende, além de suas relações sociais, da relação do sujeito com o mundo, da
relação ativa com o meio que o cerca, das práticas que este sujeito desenvolveu e desenvolve, das
atividades e das inserções que ele possui com o mundo.
O conhecimento humano deve buscar a totalidade, embora reconhecemos a impossibilidade de
alcançá-la, já que trabalhamos apenas com algumas conexões e não com todas as possibilidades existentes
(Moraes: 2008). Para que as relações humanas se desenvolvam e evoluam de forma continua, há
necessidade de diálogo, de cooperação, de solidariedade, de responsabilidade nos relacionamentos de uns
com os outros, sem estas condições fica difícil a evolução dos seres vivos.
O viver, o conhecer, o aprender, o ensinar, acontecem a partir das relações humanas e nesta
interação o que acontece com um sujeito retroage sobre o outro, indicando assim um entrelaçamento
entre o ser, o fazer, o agir. Dessa forma, toda ação ou omissão recaem sobre a educação, portanto,
conforme Morin há a necessidade de reforma do pensamento, para que possamos compreender a vida,
como um todo, na sociedade e no planeta.
Podemos e devemos transformar nossas práticas, construindo novas composições didáticas,
pedagógicos e epistemológicos, revigorando os ambientes escolares, quebrando paradigmas, cultivando a

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vida com criatividade, formando desde crianças até adultos felizes, livres e seres pensantes em sua
humanidade. Seres humanos capazes de serem, estarem, atuarem integrados e perfeitamente enredados
na totalidade que nos constitui.
A construção do conhecimento e aprendizagem desenvolve relações de dependência/autonomia
entre sujeitos e a realidade, enquanto se autotransformam a partir do diálogo, das relações, das interações
e da organização.
A educação formal, e até mesmo a não formal, configura-se em espaços de convivências no mínimo
desejáveis para as atividades e propostas a que estejam designadas. Estes espaços de convivência devem
ser salutares para todos que de uma forma ou de outra convivem, por conseguinte, esta convivência deve
ser harmônica e não competitiva. O espaço físico educacional é um meio simbólico de organização de
ideias, da construção de sonhos e onde as possibilidades de trocas de diálogo interferem na capacidade de
realização do sujeito como ser humano em todas as suas possibilidades de vir a ser mais.
O viver/conviver se constitui em fundamento para tudo aquilo que realizamos, inclusive o pensar e
o sentir (Moraes: 2008), assim como o agir.
“os ambientes educacionais são também espaços de ações, de reflexões e de convivências
fundadas nas emoções e nos sentimentos que circulam. São espaços para sentipensar, para a integração do
sentir, do pensar e do agir visando à restauração da inteireza humana. Nesses ambientes, nos
transformamos de acordo com o fluir de nossas emoções e dos conteúdos de nossos pensamentos, de
nossas ações e dos conteúdos de nossas conversas” (Moraes: 2008, 299)

Nosso desafio é aprender a utilizar melhor os espaços educacionais, oportunizando, além do


conhecimento, o desenvolvimento da criatividade e do convívio com solidariedade emergindo valores de
paz e de justiça neste momento de transformações em que o planeta encontra-se. Transformações do meio
ambiente natural e das perspectivas de vida do ser humano, evidenciando sempre que possível o
encantamento pelas belezas do viver/conviver.
Cabe a cada um de nós, investir na educação, nos espaços de convivência, nos ambientes de
aprendizagem, (re)conhecendo o quanto é importante uma educação renovada, libertadora, criativa, que
possa manifestar novas possibilidades de construção e religação com a vida.

À GUISA DA CONCLUSÃO
Não se trata de desejar uma educação perfeita, harmônica, ideal, pois cada sociedade abraça uma
complexidade de diversidade, contendo antagonismos e complementaridades, dificuldades de viver, mas
que a educação comportasse maior compreensão, consciência, solidariedade, responsabilidade, uma
educação para a religação entre os seres humanos.
Consciência como elemento norteador na descoberta do mundo, para a realização do ser humano
como protagonista dos diálogos, e nos processos de vir a ser. A vida humana compondo uma história que
possa ser contada no hoje e agora, aos que estão presentes e escrita e narrada no amanhã. Mesmo com
toda insegurança que o ser humano vivencia atualmente e que afeta nossas relações de convívio, nosso
modo de ser, de fazer e de agir. Que possamos traduzir um mundo liberto para as demais gerações.
Vale lembrar que a qualidade e a preservação da vida no planeta envolvem a todos e a
aprendizagem surge no processo de caminhada de cada sujeito em seu meio ambiente, numa reinvenção
permanente do processo de vir a ser (Freire) que os homens fazem com o mundo e com os outros, entre
sujeitos conscientes que não esperam depósitos de conhecimentos, mas sim, descobertas e deslumbres
nos questionamentos, indicando que o diálogo é necessário para o desenvolvimento do pensamento e da
aprendizagem.

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FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17ª ed. Rio de janeiro. Paz e Terra, 1987.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1008

MORAES, Maria Cândida. Pensamento eco-sistêmico: educação, aprendizagem e cidadania no


século XXI. 2.Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

João Pessoa, outubro de 2011


1009

GESTÃO AMBIENTAL E ESCOLA: ANÁLISES EM PROL DA CONSTRUÇÃO DE


UMA ATITUDE AMBIENTAL
João Paulo Gomes de Vasconcelos ARAGÃO
Mestrando em Gestão e Políticas Ambientais pelo Programa de Desenvolvimento e Ambiente – PRODEMA/UFPE;
Licenciado em Geografia pela FFPNM/UPE; bolsista da Fundação de Amparo a Ciência e Tecnologia do estado de
Pernambuco. E-mail: jp-aragao@bol.com.br
Karolina Maria Bezerra SANTOS
Graduanda em Pedagogia pela Universidade de Pernambuco, campus Nazaré da Mata. E -mail:
Karolina_m16@yahoo.com.br
Marlene Maria da SILVA
Professora do programa de pós graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA – Universidade Federal de
Pernambuco

RESUMO
O trabalho expressa a importância da gestão ambiental nas escolas. Analisar em que medida sua
implantação pode contribuir ao desenvolvimento organizacional e educacional, é tarefa de suma
importância diante a permanente necessidade de a escola contribuir à formação de cidadãos com atitudes
conscientes e críticas. Considerando a escola em seu papel revolucionário na sociedade, tomou-se como
eixo a experiência docente dos autores e a discussão reflexiva sobre as diferentes visões, contradições e
debates que permeiam o meio educacional quando a temática é a gestão ambiental e sua inserção no
contexto escolar. Essa temática, de ampla abrangência, apresenta-se à luz da contemporaneidade, holística
e transversalmente, entre todas as áreas do saber, sendo passível de apreciação ao público em geral, quer
acredite ou se contraponha a uma excelência da prática ambiental no espaço escolar.
PALAVRAS CHAVE: gestão ambiental; escolas; atitude ambiental

ABSTRACT
The work expresses the importance of environmental managementin schools. Analyze the extent to
which their implementation can contribute to organizational development and education is a taskof
paramount importance on the continuing need for the school contribute to the formation of citizens with a
conscious and critical. Considering the school in its revolutionary role in society, has become the
cornerstone of teaching experience of the authors and reflective discussion on the different views, debates
and contradictions that permeate the educational landscape when the theme is environmental
management and its place in the school context. This theme of broad scope, we presentthe light of
contemporary, holistic and across, among all areas of knowledge, which might be considered the general
public, whether you believe or not contradict an excellent environmental practice at school.
KEY WORDS: environmental management, schools, environmental attitude

INTRODUÇÃO
A gestão ambiental “consiste em um conjunto de medidas e procedimentos que permite identificar
problemas ambientais gerados pelas atividades da instituição, como a poluição e o desperdício, e rever
critérios de atuação (normas e diretrizes), incorporando novas práticas capazes de reduzir ou eliminar
danos ao meio ambiente” (DIAS, 2006, p. 28). Para D’avingnon apud Souza (2010), a gestão ambiental seria
“a função gerencial de tratar, determinar e implementar políticas ambientais”, seja na esfera empresarial
pública ou privada”.
Acreditamos, contudo, que o atual momento da humanidade, que é de crise, indica a gestão
ambiental como um processo mais que meramente optativo e sim, como expõe Dias (2006), um processo
indutório da transformação evolucionária da sociedade.
O contexto que certifica a importância desta nova indução como um processo, não só adequado,
mas sim urgente , é expressado por realidades como a da falta de água e da existência de conflitos no
mundo atual em virtude da escassez deste recurso. Dias (2006, p. 16) alerta que “hoje somos a espécie

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1010

dominante na Terra e temos nos transformado em uma praga, devido ao nosso comportamento
predatório, egoísta, imediatista, de querer tudo, sempre mais e agora.”
Além disso, sabe-se de outras mazelas como as alterações climáticas, perda de solos férteis,
desaparecimento de florestas e animais, surgimento de novas doenças, perda de qualidade de vida e
encolhimento dos tempos que, conforme Dias (2006), antes do progresso humano, estaria a sociedade
promovendo um suicídio coletivo da sua própria espécie.
Bigotto (2008, p. 29) afirma que
Uma das principais causas da problemática ambiental foi atribuída a ciência moderna e a revolução
industrial, que fizeram a distinção das ciências, o fracionamento do conhecimento e a compartimetalização
da realidade em campos disciplinares confinados. Assim, iniciou-se uma busca por um método que fosse
capaz de reintegrar estes conhecimentos dispersos num campo unificador do saber; um projeto para
pensar as condições teóricas e para estabelecer práticas de interdisciplinaridade.

As bases desta alienação mostram-se, contudo, muito lúcidas a medida que identificamos no
discurso dos atores hegemônicos as justificativas que alimentam o atual modelo de produção e consumo.
Este padrão de crescimento apóia-se ainda na manipulação das mentes realizando um modelo social que
antes do desenvolvimento, gera em mão única e perversa, a exclusão e o opacamento das percepções de
mundo.
Esta incapacidade dos atores sociais controlada pelos atores econômicos hegemônicos resulta na
legitimação dos processos de degradação ambiental. Isto é constatado pela grande pressão que sofrem os
recursos naturais ao terem sua capacidade de suporte suprimida pelas imposições do capital. Tem-se na
verdade uma relação “bancária” na qual os depósitos humanos a sua base natural são extraordinariamente
inferiores as retiradas de recursos do meio. Nesta perspectiva, para Dias (2006, p. 17),

A perda da qualidade de vida ocorre de uma forma generalizada, em todo o mundo. Essa perda se
traduz de forma diferenciada entre os diversos povos, grupos sociais e pessoas: vai desde a perda de uma
cachoeira de água potável a um riacho que sumiu; de um recanto destruído à violência dos assaltos e do
desemprego; do empobrecimento estético à erosão cultural; da insensatez das guerras à arrogância e
ganância que as geram.
É neste contexto que a gestão ambiental surge como um processo de gerenciamento ou de revisão
dos moldes de produção, do reconhecimento do Homem enquanto parte de um todo, do reencontro dos
saberes e do comportamento humano frente à realidade.
Fio indutor para esta nova realidade, a gestão deve incorporar esta missão como parte de seu fazer,
concebendo as necessidades internas e externas em todos aqueles meios onde se faça sua prática. Não
alheia a esta “nova” condição, a escola surge como um destes contextos. Em sua função de realizar, em
padrões formais, a educação e contribuir para a formação de cidadãos, constitui-se em um espaço chave
para o desafio da gestão ambiental de contribuir para a mudança de comportamentos frente à vida.
Nesta perspectiva, estaria a escola cumprindo o seu papel frente às novas demandas sociais e,
principalmente, ambientais? Com base em nossas experiências dentro do ensino privado e, especialmente,
público, acreditamos que a escola enquanto instituição social permanece presa a problemas de ordem
estrutural e legitimados pela ineficiência das leis vigentes.
Este trabalho é fruto de nossas preocupações enquanto profissionais do ensino e reflexo de leituras
dirigidas a autores da gestão, da educação, mas, especialmente, de questões imbricadas e inter
relacionadas no mesmo ambiente. Este é um esforço que visa atender uma demanda crescente por
trabalhos reflexivos analíticos sobre o dia a dia escolar e sua inserção dentro da temática ambiental e sua
incorporação teórica e prática na gestão educacional.

A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS


Optamos em iniciar esta análise com a pergunta: quem deve fazer gestão ambiental? Indústrias,
prefeituras, instituições governamentais, instituições não governamentais, empresas privadas, organismos
internacionais... Na maioria das vezes, estas são as respostas mais apresentadas. Poderíamos então nos
questionar sobre de quem foi a idéia ou a causa para limitar a tão poucas atividades ou contextos das
relações humanas esta importante missão.

João Pessoa, outubro de 2011


1011

A gestão ambiental não possui remetente nem destinatário. Ela surge como fruto de um processo
histórico que indica para o ser humano em sua essência uma necessidade que não é nova. Durante muito
tempo foram preocupações do ser humano o “quanto produzir” e o “para quem produzir”. Surge como
nova necessidade então o “como produzir”, mas que na realidade pode ser traduzido como “até onde
produzir”. Este redirecionamento já constitui-se como um rearranjo das posturas frente ao quadro de
degradação ambiental.
A crise de percepção causada pela imposição das prioridades econômicas contribuiu para a
analfabetização ambiental do ser humano. Este parecia ter ganhado uma autonomia frente à natureza,
suficiente para se tornar dono de si e do mundo. A realidade, porém, começou a aparecer em feridas cruas
e visíveis, inclusive, para a própria ciência que se viu sem forças para combater os novos problemas.
Nesta perspectiva, a gestão ambiental exige também uma reflexão sobre os moldes científicos do
ensino e da educação, uma vez que as mesmas devem contribuir, conforme Morin (2004), para articulação
dos saberes, e não para sua fragmentação. Morin (2004, p. 16) destaca
Devemos, pois, pensar o problema do ensino, considerando, por um lado, os efeitos cada vez mais
graves da compartimentação dos saberes e da incapacidade de articulá-los, uns aos outros; por outro lado,
considerando que a aptidão para contextualizar e integrar é uma qualidade fundamental da mente
humana, que precisa ser desenvolvida, e não atrofiada.
Nesta ótica, a gestão ambiental na escola deve, assim como nas demais esferas organizacionais da
vida humana, buscar novos valores culturais traduzidos em ferramentas teóricas e ações práticas que, além
de garantirem a eficiência econômica da gestão dos recursos financeiros, por exemplo, garanta uma
integração das áreas do conhecimento possibilitando aos atores escolares uma nova atitude frente ao
mundo.

A GESTÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS: DO CAMPO DAS CONTRADIÇÕES AO DESENVOLVIMENTO


EDUCACIONAL E ORGANIZACIONAL
Apesar dos esforços vigentes a prática da gestão ambiental nas escolas tem se mostrado um campo
de conflitos configurado por contradições. Em 25 de junho de 2002, o decreto Nº 4.281, regulamentou a Lei
nº 9.795 de 27 de abril de 1999, que instituia a Política Nacional de Educação Ambiental.
Ferramenta fundamental para o desenvolvimento de uma gestão educacional atrelada aos valores
ambientais, a PNEA apresenta diretrizes ao desenvolvimento da educação ambiental. O Art. 5º da PNEA
traz o texto
Na inclusão da Educação Ambiental em todos os níveis e modalidades de ensino, recomenda-se
como referência os Parâmetros e as Diretrizes Curriculares Nacionais, observando-se: I – a transversalidade,
continuidade e a permanência II – A adequação dos programas vigentes de formação continuada de
professores.
Na Política Nacional de Meio Ambiente, Lei Nº 6.938 de 31 de agosto de 1981, tem-se que
conforme o art. 2º inciso X, a educação ambiental deve ser desenvolvida “a todos os níveis de ensino”.
Carvalho (2006) apresenta a Educação Ambiental como ação educativa, bem dizer ramo da Educação ,
responsável pela formação de atitudes e sensibilidades ambientais. A autora indica ainda que, de acordo
com a legislação, são aspectos fundamentais a transversalidade, a continuidade e permanência, a
interdisciplinaridade, a obrigatoriedade em todos os níveis de ensino e a composição em caráter de
urgência e essencial ao ensino fundamental.
A práxis das normas da educação ambiental nas escolas, porém, revela contradições em sua
aplicabilidade. Mais que indicar uma perda nas exigências das leis federais e estaduais que a instituíram, as
práticas no espaço escolar evidenciam um quadro de descomprometimento e incoerência das várias
esferas do poder público e de despreparo organizacional das unidades escolares em transformar o ensino.
Nossas experiências na Escola Municipal Manoel Joaquim de Sousa, em Limoeiro-PE, tiveram
grande importância para esta argumentação (Figuras 01 e 02).

Os esforços em levar para as aulas de Arte e EDHC reflexões e práticas que guiassem os atores
escolares em uma reconstrução de saberes, foram consideráveis. Porém, a busca pela sensibilização aos

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1012

problemas ambientais enfrentados pela comunidade e para conservação e melhoria do espaço físico da
escola, com uma proposta interdisciplinar, foi preenchida por significativos empecilhos.
A não existência de uma prática constante voltada ao diálogo entre as disciplinas, nos diferentes
níveis de ensino, evidencia um impasse à prática da transversalidade encontrado nesta escola. Contraria-se,
portanto, o Art. 5º da PNEA que observa “a transversalidade, continuidade e a permanência” como
aspectos importantes.
Os professores, por sua vez, não dispunham de ferramentas e, conforme o que eles apontavam
sobre as exigências advindas da Secretaria Municipal de Educação, de “tempo para este tipo de trabalho”.
Aranha (2006, p. 47) frisa que, “nesse sentido, espera-se que o profissional da educação seja um sujeito
crítico, reflexivo, um intelectual transformador, capaz de compreender o contexto social-econômico-
político em que vive”, não se corrompendo frente às contradições e não se deixando levar pelo vício do “é
assim mesmo”.
A classificação “tipo de trabalho” dada para a nossa proposta de interdisciplinaridade, já se mostra
um tanto quanto indicativa da falta de conhecimentos críticos e/ou de tempo profissional dos que estavam
envolvidos no contexto de docência desta escola. Tal como indica Morin (2006), a qualificação do
profissional do ensino é necessária à superação das seqüelas deixadas pelo crescimento ininterrupto do
conhecimento, expressadas dentre outras marcas pela fragmentação do saber. É mais um ponto de
incoerência entre a PNEA e a realidade de muitas escolas.
A carência de conhecimento de trabalhos e ações mais atuais de gestão pela esfera administrativa e
organizacional surgiu como outro problema dentro da escola do interior limoeirense. Os projetos
vivenciados na escola ganhavam caráter muito mais temporal e de “atividade para nota”, do que
propriamente de formação cidadã. O aspecto pontual e descontínuo destes projetos era evidente, fato
mais que confirmado pela ausência de propostas antes de nossa chegada, e presente durante as barreiras
enfrentadas quando em nossa permanência e hoje, após nossa saída da escola.
As dificuldades encontradas na escola que integramos, contudo, não se restringiam ao
campo de atuação dos professores ou dos gestores escolares. As barreiras surgiam em virtude de
problemas estruturais do sistema de gestão das escolas municipais. Este sistema de gestão por sua vez é
parte componente de uma rede mais ampla de falsas propostas de integração da escola com a sociedade e
que incorpora outros municípios, outros estados e até outros países, com diferentes dosagens de
dominação e descaso social. É na sociedade onde pensamos existir o maior de todos os estorvos: o
desnivelamento social. Este fator ainda é responsável pela saída prematura de muitos estudantes pobres
da escola, sem contar que contribui negativamente para o processo de formação cidadã que inclui o aluno
na participação em atividades interdisciplinares, contínuas e com significativa ligação ao seu mundo
externo, possibilitando novas leituras e trazendo para própria escola as leituras que os alunos fazem do
mundo. Todavia, este diálogo não aconteceu como devia. A articulação deteve-se de forma dificultosa, com
escassa juntura entre a escola e a secretaria municipal, e de maneira descontínua no que tange ao
encerramento do projeto e na mudança da equipe de docentes que trabalhava ao fim do ano corrente.
Dias (2006, p. 38) estabelece relações com o ensino universitário e aponta a contrária contribuição
que os meios de nível superior têm oferecido para a perpetuação deste panorama
“as universidades, catalisadoras do metabolismo intelectual, imersas em suas preocupações
acadêmicas, focadas na produção científica para fins autopromocionais, ainda reage de forma tímida, como
se nada tivesse mudado. As suas práticas, em sua maioria, ainda revelam uma visão auto-centrada,
fragmentada e desconectada dos reais desafios socioambientais da sociedade.”
Por outro lado, Carvalho (2006, p. 24) salienta que nas universidades
“tem sido expresso o crescimento dos cursos de formação de especialistas ambientais, tais como
gestor, educador, analista, auditor, etc. Na pós-graduação stricto sensu, ou seja em nível de mestrado e
doutorado, vêm-se estruturando os programas de pós-graduação, os quais, com diferentes ênfases
ambientais, formando um conjunto multidisciplinar.”
Diante deste quadro que ainda permeia parcela significativa do ensino formal brasileiro, haveria a
possibilidade de se criar estratégias efetivas para uma gestão ambiental nas escolas? Como mecanismos,
tais qual a Educação Ambiental, poderiam se constituir em início, meio e fim deste processo?

João Pessoa, outubro de 2011


1013

Para Genebaldo Freire Dias (2006), é objetivo afirmar que todas as instituições de educação e
ensino já deveriam abrigar, em sua estrutura e função, uma política ambiental definida, com programas de
educação ambiental como instrumento de gestão.
Bigotto (2008, p. 38), em trabalho de dissertação que analisou o desenvolvimento de práticas de
Educação Ambiental, destaca que a
Educação Ambiental está longe de ser uma atividade tranquilamente aceita e desenvolvida, pois ela
implica em mudanças profundas, principalmente nos modos de pensar e agir já consolidados pela
modernidade, mas que quando é bem realizada, ela pode levar a mudanças de comportamento, atitudes e
principalmente valores de cidadania que podem ter fortes influências sociais.
Nesta perspectiva, Dias (2006) sugere algumas etapas que poderiam ser pensadas em
conformidade às necessidades da escola, para criação de uma tipologia alternativa de sistema simplificado
de gestão ambiental, sendo estas:
►Caracterização do perfil ambiental da instituição (materiais, valores, costumes, estrutura, função,
dinâmica);
►Diagnóstico socioambiental (indicar prioridades quando no momento do estabelecimento dos
objetivos);
►Elaboração do projeto e estratégias (dispondo ainda os recursos técnicos e institucionais);
►Seleção dos indicadores para Avaliação e estabelecimento de metas.
Esta proposta reforça a educação ambiental como importante luz articuladora entre a esfera
educacional/organizacional e o campo ambiental que lhe é próprio, pois dialoga a crise ecológica com
novas reflexões e concepções. A base desta proposta está na construção de novos valores nos atores
escolares a partir de sua vivência com o espaço escolar. Logo, criam-se possibilidades para construção de
um terreno mais firme e com horizontes a formação de novos sujeitos... sujeitos ecológicos (CARVALHO,
2006).

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO CAMINHO DA CONSTRUÇÃO DE “ESPAÇOS” PARA UMA NOVA


ATITUDE AMBIENTAL E PARA UMA NOVA GESTÃO ORGANIZACIONAL E EDUCACIONAL NAS ESCOLAS
A educação ambiental em sua matriz jurídica pode ser considerada como coerente às demandas
contemporâneas para a formação de um homem ecológico. Sua prática, no entanto, encontra-se lotada a
um espaço utópico e ambíguo.
Acreditamos que a educação ambiental pode começar nas escolas uma ação de dentro para fora
em todos os sentidos. Primeiramente, por seus atores, esta educação precisa dar sentido às coisas, fazê-las
perceptíveis aos olhos daqueles que as enxergam todos os dias e não daqueles que querem continuar a
dominar. Conforme Libâneo et al (2005. p. 53), a escola contribui para o desenvolvimento de
“conhecimentos, capacidades e qualidades para o exercício autônomo, consciente e crítico da cidadania.”
Propomos então o trabalho com o que chamaremos aqui de espaço da intelectualidade, que procura
desconstruir verdades e repensar valores a partir da visão daqueles que vivem o lugar.
Este espaço da intelectualidade configura o imaginário abstrato construído com o desenvolvimento
transversal e contínuo da Educação Ambiental por meio de vivências de todos os atores escolares com a
realidade circundante da própria escola, sendo necessária a interdisciplinaridade, debates com a
comunidade, palestras, entre outras ações.
Secundariamente, o outro espaço é o da praticidade, expressado pela vivência e que faz da escola
uma instituição que se expande além dos muros e cercas para a sociedade que integra. No âmbito das
coisas materiais, este é o espaço do concreto construído por meio da prática advinda do espaço da
intelectualidade com oficinas de arte, exposição, manutenção e conservação dos equipamentos físicos da
escola por alunos, professores, gestores e funcionários da escola.
Acreditamos que fazendo a ligação entre estes espaços, o do intelecto, expressado pelos
sentimentos, pela percepção de mundo dos atores escolares, pela intelectualidade dos mesmos, com sua
exteriorização feita de modo direto no espaço físico da escola e indireto na sociedade circundante, a escola
muda seu modo de ser e agir. Além disso, deixa de ser fragmentada e inicia uma nova organização
enquanto instituição ou empresa (pública ou privada) que também é.
Como aponta Leff (2009, p. 235) cabe na investidura desta proposta promover um saber ambiental

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1014

O saber ambiental constitui novas identidades e interesses, onde surgem os atores sociais que
mobilizam a construção de uma racionalidade ambiental. Neste sentido, o saber ambiental se produz numa
relação entre teoria e práxis. O conhecer não se fecha em sua relação objetiva com o mundo, mas se abre à
criação de sentidos civilizatórios. A qualidade de vida, como finalidade última da realização do ser humano,
implica um savoir vivre, no qual os valores e os sentidos da existência definem as necessidades vitais, as
preferências culturais e a qualidade de vida do povo.
Esta mudança, que não pode ser superficial, pois é na essência estrutural, ambiental, traz para a
escola contribuições a sua gestão. No âmbito interno têm-se como possibilidades o desenvolvimento da
estrutura organizacional, a interatividade entre escola e comunidade e a eficiência e responsabilidade
socioambiental.
No plano externo da gestão, as ações escolares entram em comum acordo com as funções sociais
da escola e, em diálogo com a vida, é estabelecida uma convergência com os espíritos da realidade do
mundo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A gestão ambiental enquanto indutora da transformação social não pode ser colocada à margem da
função social da escola de formar indivíduos conscientes de sua realidade. A Gestão Ambiental pode
contribuir para o conhecimento desta realidade e para instituição de novas posturas frente ao ambiente, a
começar pelo próprio espaço escolar.
Os pontos positivos desta que, cedo ou tarde, tenderá a não ser mais uma opção de escolha, são
inúmeros, dentre os quais podemos ainda acrescentar: boas relações escola – comunidade; fortalecimento
da imagem e da participação no mercado; aprimoramento do controle de custos; redução dos incidentes
que impliquem em responsabilidade civil; demonstração de atuação cuidadosa; conservação de matéria-
prima e energia; estimulo ao desenvolvimento e compartilhamento de soluções ambientalmente corretas;
redução de gastos (energia elétrica, água, combustível, equipamentos, compras e outros); melhoria da
imagem institucional; conservação dos espaços físicos da escola, e; comprometimento com uma gestão
ambiental demonstrável.
Os inúmeros desafios, reflexos das contradições políticas que retiram a vida prática de nossas leis,
são barreiras imponentes ao caminho aqui traçado. Apesar disto, acreditamos que, quando a continuidade
destes aspectos, no dia a dia escolar, e a socialização de experiências tais começarem a fazer parte de
nossos comportamentos e constituírem-se em ações articuladas em todo ensino, transbordando para as
micro e macro relações sociais, estarão os homens mais próximos de seu verdadeiro patamar no orbe
terrestre: o de integrantes naturais e racionais do ambiente.
REFERÊNCIAS
ARANHA, M. L. de A. Filosofia da Educação. São Paulo: moderna, 2006
BIGOTTO, A. C. Educação Ambiental e o desenvolvimento de atividades de ensino na escola pública.
Dissertação de Mestrado. São Paulo: USP, 2008.
CARVALHO, I. C. de M. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo: Editora
Cortez, 2006.
D'AVIGNON, A. L. A. Sistemas de gestão ambiental e normalização ambiental. Segmento da apostila
utilizada no curso sobre Auditorias Ambientais da Universidade Livre do Meio Ambiente. Curitiba: ULMA,
1996. In: ALPERST, G. D; QUINTELLA, R. H; SOUZA, L. R. Estratégias de gestão ambiental e seus fatores
determinantes: uma análise institucional. Rev. adm. empres. vol.50 no.2 São Paulo Apr./June 2010.
DIAS, G. F. Educação e Gestão Ambiental. São Paulo: Gaia, 2006.
GOVERNO FEDERAL. Política Nacional de Educação Ambiental. Lei nº 9.795 de 27 de abril de 1999,
que dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras
providências. In: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9795.htm. acesso em 15 de maio de 2011.
____________. Política Nacional de Meio Ambiente, Lei Nº 6.938 de 31 de agosto de 1981, dispõe
sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras
providências. In: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm. acesso em 15 de maio de 2011.
LEFF, E. Saber Ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Rio de Janeiro:
Vozes, 2009.

João Pessoa, outubro de 2011


1015

LIBÂNEO, J. C; OLIVEIRA, J. F; TOSCHI, M. S. Educação Escolar: políticas, estrutura e organização. São


Paulo: Cortez, 2005.
MORIN, E. A cabeça bem feita: repensar a reforma e reformar o pensamento. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2004.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1016

O DESAFIO DA INTERDISCIPLINARIDADE NA CONSTRUÇÃO DO


CONHECIMENTO MEDIADO PELA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
José Deomar de Souza Barros
Licenciado em Ciências com Habilitação em Biologia e em Química; Universidade Federal de Campina Grande – UFCG.
Especialista em Agroecologia; Universidade Federal da Paraíba – UFPB. Especialista em Ensino de Química; Universidade
Regional do Cariri – URCA. Mestre e Doutorando em Recursos Naturais; Universidade Federal de Campina Grande - UFCG.
E-mail: deomarbarros@gmail.com
Maria de Fátima Pereira da Silva
Licenciada em Letras com habilitação em língua inglesa e vernácula; Universidade Federal de Campina Grande - UFCG. Pós-
graduanda em Gestão Publica Municipal. Universidade Federal da Paraíba– UFPB. E-mail: maryfatimapereira@gmail.com
Damião Carlos Freires de AZEVEDO
Licenciado em Geografia; Universidade Estadual da Paraíba – UEPB. Especialista em Educação; Universidade Estadual da
Paraíba – UEPB. Mestre e Doutorando em Recursos Naturais; Universidade Federal de Campina Grande – UFCG. E-mail:
olscargeo@yahoo.com.br

RESUMO
Chegamos a um ponto de nossa trajetória de ocupação e de exploração da Terra em que sua
capacidade de suporte dá mostras inequívocas de esgotamento. É urgente a necessidade de revermos as
premissas do crescimento econômico, caso contrário estará comprometendo índices satisfatórios de
desenvolvimento humano e de conservação ambiental. Tem-se intensificado nos últimos anos uma
preocupação crescente da sociedade com os problemas ambientais, diante desse fato tem tomado corpo a
tendência de educação ambiental. Essa problemática é um tema desafiador na transposição didática dos
conteúdos, nas últimas décadas vários documentos oficiais no Brasil ressaltando a relevância do emprego
de temas ambientais como facilitadores da aprendizagem e dessa tomada de consciência pelos atores
sociais.
Palavras-chave: crescimento econômico, conservação ambiental, educação ambiental.

THE CHALLENGE OF INTERDISCIPLINARITY IN KNOWLEDGE CONSTRUCTION MEDIATED BY


ENVIRONMENTAL EDUCATION

ABSTRACT
We reached a point in our history of occupation and exploitation of the Earth in its ability to
support that shows signs of exhaustion unambiguous. There is an urgent need to review the assumptions of
economic growth, otherwise it will be undertaking satisfactory index of human development and
environmental conservation. Has intensified in recent years a growing societal concern with environmental
problems facing this fact has taken shape the trend of environmental education. This problem is a
challenging subject in didactic transposition of content in the last decades several official documents in
Brazil, emphasizing the importance of employing environmental issues as facilitators of learning and this
recognition by social actors.
Key-words: economic growth, environmental conservation, environmental education.

INTRODUÇÃO
Educar é uma atividade complexa caracteriza-se pela dedicação na busca de criação de projetos de
ação, levando em consideração conceitos teorias, construção e reconstrução do conhecimento através da
reflexão critica de sua própria prática docente e dos currículos escolares (TRAVASSOS, 2001). Para Teixeira
(2007) a educação ambiental compõe-se de conhecimentos teóricos e práticos com o objetivo de
proporcionar à compreensão e o despertar da reflexão sobre as práticas dos indivíduos voltadas para a
conservação e preservação do meio ambiente em benefício da coletividade.
A educação ambiental, a partir da conferência Intergovernamental sobre Educação
Ambiental realizada em Tsibilisi (EUA), em 1977, inicia um relevante processo em nível global
proporcionando reflexões no sentido de tomar consciência sobre o valor dos bens naturais e reorientar a
produção de conhecimento baseada nos métodos de interdisciplinaridade e nos princípios da

João Pessoa, outubro de 2011


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complexidade (JACOBI, 2003). O documento produzido a partir da Conferência Internacional sobre Meio
Ambiente e Sociedade, Educação e Consciência Pública para a Sustentabilidade, realizada em Tessalônica
(Grécia), destacou a necessidade de implementar ações de educação ambiental fundamentada nos
preceitos de ética e sustentabilidade, identidade cultural e diversidade, mobilização e participação e
práticas interdisciplinares (JACOBI, 1998). No Brasil a Educação Ambiental vem conquistando espaço
crescente devido às necessidades urgentes de conservar os recursos naturais, tendo em vista as
necessidades de reverter o quadro de degradação ambiental que ora vivenciamos, através da efetivação de
práticas socialmente justa, ecologicamente correta e economicamente viável, colocando em prática os
preceitos do desenvolvimento sustentável, através da compreensão e da busca de novos padrões de
desenvolvimento, procurando suprir as necessidades da atual geração sem comprometer as gerações
futuras. As propostas de educação ambiental estão contidas principalmente nos Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) como tema transversal, contemplando todas as disciplinas do currículo.
Essa modalidade de educação procura implantar novos modelos de valores e práticas,
fundamentada em uma postura crítica e democrática, contribuindo para a construção da cidadania,
buscando contribuir assim com a sensibilização para as questões ambientais. Essa educação influência
diretamente o modo de viver da sociedade, desenvolvendo os hábitos de responsabilidade, de respeito
com os homens e com os outros componentes da natureza, preservando de forma consciente os recursos
naturais e respeitando os ciclos de renovação e reciclagem natural (FUNICELLI e STORI, 2008).
A educação sozinha não muda o mundo, mas pode influenciar na mudança de hábitos das
pessoas. Esse tipo de educação ocupa um espaço relevante de construção social e ambiental, contribuindo
na construção de sociedades sustentáveis que congregue a preservação ambiental com a justiça social
(SATO, 2004). Como processo possibilita reflexões por parte dos educandos, permite assim que os mesmos
desenvolvam hábitos saudáveis de convivência social e ambiental, tomando responsabilidade pelas suas
ações (SATO e MEDEIROS, 2004).
A educação ambiental articulada com as práticas sociais, no contexto atual de degradação
crescente dos ecossistemas envolve uma necessária produção de conhecimentos por parte dos
educadores, envolvendo um conjunto crescente destes atores sociais, potencializando o engajamento e a
aplicação da interdisciplinaridade. Visando interpretar as inter-relações do meio social e do meio natural,
no intuito de buscar alternativas sustentáveis para o desenvolvimento socioambiental (JACOBI, 2003). De
acordo com Leff (2001) não é possível resolver os problemas sociais e ambientais da humanidade ou
mitigar os efeitos dessa degradação gerados pelo sistema de racionalidade existente, baseada no modelo
econômico de desenvolvimento vigente.
O processo de construção do conhecimento tendo por base a educação ambiental possibilita
reflexões relevantes, proporcionando a cada sujeito a tomada de decisão tornando-se responsável pelas
mesmas e ao mesmo tempo refletindo sobre seus atos. Nessa construção cidadã o conhecimento
produzido nas escolas necessita esta interligado com a ação prática, nas virtudes de uma ação ética. Toda
essa mobilização a cerca da necessidade de conservação dos recursos naturais, tem aumentado a
consciência das populações sobre a importância desses recursos para a continuação da vida no planeta.
Neste sentido, objetivar a sustentabilidade ambiental pressupõe ações práticas e teóricas de educação
ambiental. Educar para a sustentabilidade antecede toda a mobilização política e econômica no intuito de
atingirmos o equilíbrio entre o desejável e o inevitável, assim para atingir a sustentabilidade um dos
caminhos é investirmos em educação ambiental e a escola é um espaço público em que ocorre o
desenvolvimento da socialização e sistematização do conhecimento. Os problemas ambientais ganharam
mais notoriedade e passaram a ser interpretados de forma global e não apenas isolados ou dicotomizados,
um exemplo dessa tendência é a preocupação mundial com os efeitos do aquecimento global. Os desafios
impostos por esse fenômeno são enormes e requer atitudes inovadoras para um problema global.

Fundamentos da Interdisciplinaridade
A ciência moderna e os seus métodos já não são suficientes para explicar e solucionar os
fenômenos que ocorreram e ocorrem nesta época chamada moderna. Sem dúvidas a ciência contribuiu de
forma determinante para os vários campos da atuação humana. Mas, também nos trouxe problemas
ambientais irreversíveis, tendo em vista suas características da racionalidade do método e o reducionismo,
impregnada do pensamento positivista. Esta forma de construir conhecimento vem sendo questionada nas

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1018

últimas décadas especialmente devido aos efeitos negativos dos impactos ambientais e sociais. Haja vista
que a tecnociência não é capaz de resolver estes problemas complexos. Diante disso, surge a idéia da
interdisciplinaridade, na tentativa de (re)ligar os conhecimentos disciplinares para que os problemas
complexos sejam refletidos de forma ampla (ALVARENGA, et al. , 2011).
Antes do surgimento da ciência moderna o homem conseguia sobreviver com condições
básicas de vida, sem interferir de forma determinante na natureza. Após o surgimento da ciência moderna
e consolidação do capitalismo a busca pelo poder e dominação pela burguesia conduziu ao aprimoramento
cada vez mais acelerado do desenvolvimento tecnológico. Através do método cientifico este
desenvolvimento tornou (e até hoje vigora) o meio estratégico para a solução de todos os problemas da
humanidade, isto é, a crença (endeusamento) que a tecnologia é capaz de trazer respostas a todas as
inquietações humanas. No caso dos problemas ambientais por estes serem complexos, a tecnociência não
é capaz, de isoladamente, resolver problemas tão desafiadores. Quando alguns setores da sociedade e da
ciência passou a compreender tal evidencia passou a buscar um novo caminho, ou seja, passou-se a encarar
os problemas na ótica da interdisciplinaridade. Quer dizer, problemas simples ou complexos precisam ser
solucionados de forma integrada entre os vários campos do conhecimento disciplinar, na busca constante
entre os pontos de contato entre as diversas disciplinas. Por isso, a disciplinaridade precisa evoluir nesta
chamada para a complexidade e de internalização das externalidades (Cândido, 2011).
Sem dúvidas, temos evoluído na concretização desta busca, mas ainda temos um longo
percurso a ser seguido neste caminho de desafios de quebra de paradigmas de nossas concepções
disciplinares.

Interdisciplinaridade e Saber Ambiental


A humanidade vive atualmente uma realidade de crises em todos os setores, enfatizo a crise do
saber e a crise ambiental. Neste sentido, a civilização humana com o seu desenvolvimento técnico e
científico contribuiu para o “progresso” da sociedade moderna, com isso houve modificações relevantes
em relação aos valores sociais, ou seja, passou-se a predominar os interesses pessoais em detrimento dos
valores coletivos. Além disso, a ciência e a tecnologia têm se colocado a serviço do valor econômico da
classe dominante, reforçando o ideal utilitarista da sociedade capitalista. Quer dizer, o ideal de levar
vantagem em todas as situações sem considerar as necessidades futuras das gerações. Tudo isso tem
levado a crise da civilização humana, considerando que a sociedade não consegue solucionar problemas
complexos com o seu conhecimento simplificador construído nos moldes da ciência moderna. Assim, faz-se
necessário um resgate de valores e diálogo dos saberes, necessidade de relacionar o tradicional e o
moderno, promovendo assim um diálogo de saberes entre o conhecimento científico e o conhecimento
social (LEFF, 2000).
A humanidade tem evoluído (a passos lentos) neste resgate de valores, um exemplo disso é a
incipiente construção de uma nova consciência ecológica. Isso tem gerado oportunidades para ser discutido
e questionado temas relacionados à racionalidade cientifica e tecnológica, assim como problemáticas
socioeconômicas e ambientais. Com esse processo de evolução histórica, tornou-se evidente a necessidade
de mudanças significativas na sistematização e construção do conhecimento, isto é, uma nova realidade
que tem por escopo a interdisciplinaridade. Nesta acepção, a educação ambiental pode contribuir de forma
determinante para o diálogo dos saberes e na quebra de paradigmas tendo em vista seu caráter holístico
(FLORIANE, 2000).

Interdisciplinaridade e Saber Ambiental


Pode-se identificar a relevância da interdisciplinaridade no enfrentamento dos problemas atuais da
humanidade, problemas complexos que não podem ser resolvidos pela abordagem disciplinar, devido suas
características reducionistas.
O paradigma dominante atualmente é o conhecimento disciplinar, para esse paradigma a
especialização é a solução para todos os problemas, já que para as pessoas que o legitima o profissional
especializado pode abordar um determinado tema de forma eficaz, com conhecimento de causa
aprofundado. Mas, a tendência atual de (re)ligação do conhecimento nos faz refletir sobre questões
essenciais a serem abordadas em toda atividade humana que são os fatores sociais, econômicos e

João Pessoa, outubro de 2011


1019

ambientais. Sem abranger estes três fatores certamente as soluções produzidas não terão efeitos positivos
duradouros (ASSIS, 2000).
Assim, pode-se notar a importância dos projetos integrados no inicio das discussões
interdisciplinares. Como tudo não nasce pronto o processo interdisciplinar está em plena construção. Neste
sentido, podemos notar um pensamento positivo das autoras em abordar o fato de que a convivência entre
os profissionais de diferentes formações nos projetos integrados favoreceu uma aproximação entre estes
profissionais, culminando assim com o desenvolvimento de pesquisas ambientais interdisciplinares. Estas
experiências vivenciadas nestes grupos de discussão, nas universidades, tornam-se essenciais para o
aprimoramento desta prática inovadora. Outro fator relevante é a atuação das ONGs na mediação do
conhecimento técnco-científico interdisciplinar e o conhecimento da coletividade (COSTA, 2000).
Esta atuação interdisciplinar nas universidades e nas ONGs é essencial visto que a produção
interdisciplinar e transdisciplinar, requer a atenção do planejamento, na sua aplicação e do
desenvolvimento esperado por estas ações no meio sócio-ambiental, estes novos conhecimentos gerados,
cada vez mais especializados, esbarram em barreiras de outras varias disciplinas gerando dificuldades no
entendimento científico, mas estas dificuldades podem ser quebradas quando se deixa o diálogo disciplinar
fluir entre elas, buscando a formalização de uma só linguagem entre as várias ciências e uma só
comunicação, afim de definir os objetivos e necessidades de um projeto seguindo uma integralização
disciplinar que por sua vez, tendem a se transpor a interdisciplinaridade nas suas metodologias, princípios,
análises, soluções e em sua transformação histórica entre o tempo real, concreto e eficiente da natureza
(ASSIS, 2000).
Para que ocorra a implantação de um pensamento ambientalista de qualidade, embasada
de aspectos sociais, aqueles de pensamento de um todo, terá que ocorrer uma reforma ampla do
conhecimento sobre natureza e as preocupações ambientais de todos os níveis sociais. (FERREIRA, 2000).

Problemas e Estratégias da Relação Interdisciplinar


Vários pesquisadores relatam e alertam as preocupações com a pesquisa cientifica, voltada ao meio
ambiente, promovendo reflexões sobre uma nova estruturação do pensamento de montagens de projetos
ambientais, questões que hora se colocam de forma disciplinar e com alguns ajustes de ordem
organizacional, percebem que a interdisciplinaridade torna-se aparente na discussão, sabe-se também que
o debate e a formulação deste entendimento é muito complexo e reflexivo, pois tenta trazer a importância
não só dos conhecimentos de mudanças físicos-químicos-ambientais, mas propriamente da evolução do
homem na perspectiva do uso e ocupação histórica, sociológica e antropológica territorial (WEBER, 2002).
A maioria dos projetos e programas ambientais, muitas vezes resume a uma justaposição
de trabalhos monodisciplinares, de temas ordenados e não formando um conjunto interdisciplinar
construído e coerente. Sendo assim faz-se necessário elaborar novas técnicas e aprofundar os aspectos
metodológicos, da construção teórica no contexto interdisciplinar. Os projetos o programas de pesquisa do
meio ambiente deverão traçar a definição de espaços de manobra para a pesquisa, os problemas teóricos,
metodológicos e tecnológicos, os diferentes níveis organizacionais e a análise entre os diferentes níveis de
integração espacial e temporal (GODARD, 2002).
O conhecimento interdisciplinar ao diálogo dos saberes enfatiza a questão de novos conceitos do
conhecimento, do ambiente e a complexidade que há entre estes campos. A questão ambiental e o
desenvolvimento do conhecimento trazem uma nova contextualização com relação às mudanças globais
introduzidas de complexidades que ultrapassam a capacidade de compreensão e explicação através dos
paradigmas estabelecidos. Uma visão sistêmica e o pensamento global para a reconstituição de uma
“realidade total” a partir de práticas interdisciplinares e a desconstrução da racionalidade econômica e a
formação e utilização da racionalidade ambiental, poderá ajudar na quebra de paradigmas sócio-
ambientais (WEBER, 2002).
Formalizar estratégias epistemológicas para a construção de uma racionalidade ambiental passa
por um questionamento ambiental que não se comporta de maneira ideologicamente neutra nem alheia
aos interesses econômicos e sociais. Desta forma torna-se necessário e urgente, acabar com a discussão de
uma ecologia moldada nos fins racionais econômicos, com isso, generalizada e de sua funcionalização
perante uma sociedade capitalista, cabe pensar em condições que norteiem novas práticas teóricas e
metodológicas para uma pratica interdisciplinar.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1020

O ambiente é um objeto científico interdisciplinar, assim faz-se necessário integrar diferentes


ramos do conhecimento científico em torno de um objetivo comum, que decai sobre a demanda de
produção de uma saber interdisciplinar proposto nas questões ambientais. Saber estes que cabe a própria
sociedade construir novos objetos científicos relacionados à problemática ambiental embasados nas
práticas interdisciplinares e fortemente empenhado na construção de um saber ambiental de acordo com
as complexidades das relações sócio-naturais (JOLLIVET & PAVÊ, 2002).
Dessa maneira, construir novos objetos científicos cabe também, a construção de novos conceitos
de meio e uma melhor articulação das ciências em torno de fenômenos e externalidades que ultrapassam o
conhecimento das disciplinas tradicionais e assim passar a constituir um conceito de meio ambiente real e
concretamente visível, buscando os princípios da sustentabilidade ecológica e equidade social, através da
articulação cientifica.
Essa articulação das ciências e gestão ambiental do desenvolvimento decai sobre um planejamento
das políticas ambientais, voltada para o desenvolvimento sustentável, que possivelmente implicaria na
compreensão dos processos históricos, econômicos, ecológicos e culturais da sociedade. Formalizar uma
racionalidade produtiva, orientada no pensamento das relações da cultura e ambiente, entre economia e
ecologia como também entre as diferentes ações disciplinares antropológicas durante a história social.
Essa transdisciplinaridade e articulação dos variados processos de produção do saber ambiental,
traz a necessidade de integrar conhecimentos, aproximações sistêmicas, holísticas e interdisciplinares. Para
minimizar os efeitos negativos das práticas Transdisciplinares e potencializar seus efeitos positivos.
Tais produções do saber ambiental estão na capacidade da produção de conceitos práticos
interdisciplinares, focados em processos ecológicos e nos fenômenos naturais emergentes como forças
produtivas. Cabe ao pesquisador ambiental, transformar e enriquecer conceitos teóricos provenientes de
diversos campos científicos com objetivo de produzir conceitos práticos interdisciplinares e indicadores
processuais. Para isso torna-se necessário, a construção e entendimento dos processos interdisciplinares e
unificação terminológica, em função da diversidade e complexidade das questões ambientais que
demandam de trabalhos com equipes multidisciplinares. Superar as dificuldades do diálogo e da
comunicação intersubjetiva de especialistas, que, por vezes, gera mais caos que ordem nas discussões
interdisciplinares (JOLLIVET & PAVÊ, 2002).

O Movimento Ambientalista e o Verdejar do Ser na Sociedade Moderna


A preocupação humana com a qualidade ambiental não é recente. Por exemplo, desde a idade
antiga Platão já demonstrava preocupação com o processo de erosão do solo devido à derrubada das
florestas. Estas preocupações se intensificaram com o passar do tempo devido à intensificação da ação
antrópica sobre o meio ambiente. Após a segunda guerra mundial o ambientalismo ganhou apoio popular,
isso se deu especialmente devido as melhorias significativas no processo de comunicação. As pessoas
passaram a ter acesso as informações relativas a problemática ambiental e a compreender que o processo
de degradação ambiental era global e estava relacionado diretamente ao desenvolvimento cientifico e
tecnológico. Além disso, acaba-se a segunda guerra mundial de forma trágica com a explosão das duas
bombas atômicas no Japão, além disso, a chamada guerra fria instalou uma instabilidade global, assim a
população passou a se preocupar com a manutenção da vida no planeta (EGRI & PINFIELD, 1998).
Até os anos cinqüentas desenvolveu-se um ambientalismo chamado dos cientistas, este movimento
estava relacionado especialmente a divulgação de relatórios científicos não acessíveis à população ficando
restrito assim a um grupo seleto. Após 1962 esta realidade passou por significativas alterações, com a
publicação do livro Primavera Silenciosa, as informações cientificas a cerca das conseqüências da utilização
de pesticidas ficou muito claro para a maioria da população, esse fato deu inicio a uma tendência mundial
pela sistematização de grupos específicos que discutia e sugeria mudanças para a problemática ambiental,
ocorrendo assim a explosão dos movimentos ambientalistas. Após a década de setenta observa-se um
ambientalismo dos atores políticos e estatais, caracterizado especialmente pela realização de grandes
encontros internacionais para se discutir a problemática ambiental (LEIS & D`Amato, 2003).
A filosofia ambientalista pode ser dividida em três categorias: paradigma social dominante,
perspectiva do ambientalismo radical e perspectiva do ambientalismo renovado. Apesar do paradigma
social dominante não ser considerado uma perspectiva ambiental, ele serve de referencial para se
comparar as tendências ambientais tendo em vista que este é o modelo dominante na sociedade

João Pessoa, outubro de 2011


1021

capitalista. O paradigma social dominante recebe críticas devido ao fato que ele está posto para manter a
sociedade de classe atual, ou seja, ele serve para manter o sistema capitalista que visa a obtenção máxima
do lucro através da exploração indiscriminada os recursos naturais. Já o ambientalismo radical defende o
igualitarismo das espécies, ele recebe críticas especialmente por esta filosofia acreditar que existe apenas
um caminho, ou seja, a mudança radical no sistema social, político e econômico da sociedade moderna.
Neste sentido, outra crítica que faço a esta perspectiva é o fato de que não podemos esperar uma mudança
radical na sociedade para implementarmos práticas sustentáveis para a manutenção da vida no planeta. Já
a proposta mais coerente com a realidade na qual hoje estamos inseridos é a perspectiva do ambientalismo
renovado e sem sombra de dúvidas é o modelo de ambientalismo que vai predominar nos anos que estão
por vir. Esta perspectiva recebe duras críticas especialmente dos ambientalistas radicais, segundo estes o
ambientalismo renovado propõe apenas ajustes na atual política capitalista, ou seja, para eles a perspectiva
renovada não propõe mudanças estruturais no atual modelo social, político e econômico (EGRI & PINFIELD,
1998).
A atuação dos movimentos ambientalistas mudou significativamente a percepção ambiental da
população mundial. Com isso, vários setores passaram a adotar o viés ambiental em suas práticas ou
produtos para tornar-se assim um diferencial diante da opinião pública. Nesta acepção, podem-se destacar
os partidos políticos verdes que apresentaram crescimentos em muitos países. Outro ponto importante
deste esverdear na política é o próprio fato de que a maioria dos políticos no Brasil possui um discurso
ambientalista, justamente para atrair positivamente a atenção da população. O setor de produção
econômica no Brasil seja ele agrícola, industrial ou de serviços; vem mudando suas práticas para esverdear-
se diante da opinião pública (CASTELS, 2001).
No mercado existem diversos selos verdes que muitas vezes a população não sabe nem o seu
significado, mas isso gera um diferencial na compra deste produtor por apresentar um valor agregado.
Portanto, faz-se necessário um programa de educação ambiental eficiente para que a população possa
consumir produtos de forma consciente, ou seja, precisamos de um olhar crítico a cerca do processo global
do verdejar na sociedade para não cairmos nas armadilhas da alienação ambiental e nem no conto da eco-
enganação (LEIS & D`Amato, 2003).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Portanto, as fundamentais diretrizes da educação ambiental assinalam a precisão urgente de que
sejam adotadas políticas educacionais abrangentes, através de ações que ampliem valores, habilidades,
aptidões; fomentem a capacitação técnica e moral que possibilite a preparação de um código
comportamental de acordo com as leis da natureza. E com isso consigam solucionar problemas ambientais
e melhorar a qualidade de vida. Independentemente das políticas educacionais, o intuito da educação
ambiental é laborar com que os cidadãos apresentem consciência do meio ambiente e se preocupem por
ele porque se sentem parte dele.

Agradecimentos
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela concessão de
bolsa de estudo.

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João Pessoa, outubro de 2011


1023

SOBRE O EMPODERAMENTO DE ESTUDOS DIVULGADOS EM PERIÓDICOS


DIVERSOS: A EMERGÊNCIA DO ENFOQUE COMUNITÁRIO
José Emerson Fernandes OLIVEIRA1
Roberto Lima SANTOS2
Elineí de Almeida ARAÚJO3
1Aluno da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN. e-mail: emerson_jefo@hotmail.com;
2Biólogo – Departamento Botânica, Ecologia e Zoologia/ UFRN. e-mail: robertolsantos@yahoo.com.br;
3Professora do Programa de Desenvolvimento e meio Ambiente – PRODEMA-UFRN. e-mail: elineiaraujo@yahoo.com.br
1-3Campus Universitário, Lagoa Nova, CEP: 59072-970, Natal/RN – Brasil

RESUMO
Estudos prévios sobre empoderamento enfocam principalmente as questões conceituais e os
modos de capacitar melhor uma determinada população. Dentre esses conceitos destacam-se: o aumento
do poder, da autonomia pessoal e coletiva de indivíduos e grupos sociais nas relações interpessoais e
institucionais, principalmente daqueles submetidos à relações de opressão, discriminação e dominação
social, porém há outras concepções do que venha a ser empoderamento. Objetiva-se nesse estudo analisar
as diferentes concepções sobre empoderamento, bem como sistematizar pontos significativos sobre este
conteúdo. Foi desenvolvida uma pesquisa de análise bibliográfica em artigos publicados em periódicos
idexados em sites de expressiva cientificidade. Os artigos foram analisados de acordo com os critérios da
análise de conteúdo. Foi selecionada uma amostra de 38 artigos. Foram avaliadas determinadas
caracteristicas pré-estabelecidas no intuito de melhor compreender a aplicabilidade desse tema, bem como
a área temática em quee se concentra desenvolvido o maior número trabalhos e o resultados das
intervenções no processo de empoderamento. Dentre as categorias abordadas destacam-se a área da
saúde, concentrando a maioria dos estudos referentes ao empoderamento. Portanto, espera-se que este
presente estudo possa colaborar com outras pesquisas referente ao tema abordado, e que o mesmo possa
instigar outros pesquisadores para a prática do empoderamento comunitário em áreas de poucas atuações.
Palavras-chave: Empoderamento, Apoderamento, Análise de Conteúdo.

INTRODUÇÃO
Estudos prévios de empoderamento concentraram-se principalmente na definição de
empoderamento e as maneiras de trazer capacitação para uma determinada população (LAWSON, 2001).
Ainda segundo a autora o processo de empoderamento diz respeito ao modo como as pessoas,
organizações e comunidades tornam-se empoderadas, enquanto os resultados deste empoderamento
lidam com as consequencias desse processo. Empoderar-se para Bustamente-Gavino et al. (2011), inclui
elementos como estabilidade social, aceitabilidade social, conquista educacional e harmonia familiar. Em
contrapartida, esses autores reconheceram fatores que capacitam o processo de empoderamento, tais
como: convicção pessoal e a capacidade de aceitação de novos conceitos. Como fatores que não
contribuem para o empoderamento estão: influências socio-culturais e religiosas (influencia entre
gerações, interpretações equivocadas de preceitos religiosos) bem como a própria ideologia dominante.
No inicio da década de 1990, Lord e Huthinson (1993) já relatavam que, as pessoas que
responderam mais positivamente às transições de crise ou de vida foram aqueles que acreditaram em si
mesmos e suas próprias habilidades (auto-eficácias) e pessoas que receberam o apoio de outros para
expandir sua consciência e as ações (apoio social). Neste sentido, estes autores informam que o
empoderamento é um processo pelo qual os indivíduos atingem crescente controle sobre vários aspectos
de suas vidas e participam da comunidade com dignidade.
No Brasil, o termo empoderamento tem apresentado uma variedade de definições, não possuindo
um caráter universal (BAQUERO, 2007). Nesta perspectiva, há distinções entre as diferentes concepções de
empoderamento (BAQUERO, no prelo), dentre as quais destacam-se: o empoderamento psicológico,
organizacional e comunitário. Ao nível psicológico encontram-se às variáveis intrafísicas e
comportamentais; em nível organizacional, quando se refere à mobilização participativa de recursos e

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1024

oportunidades em determinada organização; e em nível comunitário, quando a estrutura das mudanças


sociais e a estrutura sociopolítica estão em foco.
O empoderamento é conceituado pelo dicionário Michaelis como sinônimo de apoderar, partindo
desse mesmo dicionário a palavra apoderar é conceituada como deixar-se possuir, exemplificado por: Ele
apoderou-se de uma grande admiração por Euclides. Outro conceito de empoderamento, dado por Campos
e Wendhausen (2007) corresponde ao aumento do poder, da autonomia pessoal e coletiva de indivíduos e
grupos sociais nas relações interpessoais e institucionais, principalmente daqueles submetidos à relações
de opressão, discriminação e dominação social.
Baquero e Baquero (2007) informam ainda outro conceito de empoderamento derivado da palavra
empowerment. Na concepção freireana, denomina-se “empoderamento de classe-social”. Tal
denominação para Paulo Freire tem o intuito de eliminar a possibilidade de um processo de natureza
individual, salientando assim a descrença na autolibertação. Pode-se observar esta idéia Freire e Ira Shor
(1986), no livro intitulado - Medo e Ousadia:
...mesmo quando você se sente, individualmente, mais livre, se esse sentimento não é um
sentimento social, se você não é capaz de usar sua liberdade recente para ajudar os outros a se libertarem
através da transformação da sociedade, então você só está exercitando uma atitude individualista no
sentido do empowerment ou da liberdade. (p. 71)

Freire ainda aprofunda tal conceito para melhor compreensão:


“deixe-me aprofundar um pouco mais nesta questão do empowerment. Vamos tomar, novamente,
o exemplo dos alunos que trabalham com meu amigo físico. Apesar de se sentirem e se perceberem, no
final do semestre, como alunos de primeira qualidade, alunos mais críticos, cientistas e pessoas melhores,
esta sensação de liberdade ainda não é suficiente para a transformação da sociedade. [...] o
desenvolvimento crítico desses alunos é fundamental para a transformação radical da sociedade. Sua
curiosidade, sua percepção crítica da realidade são fundamentais para a transformação social, mas não são,
por si sós, suficientes.” (Freire e Shor, 1986, pg.71)

Num contexto geral desse corpo introdutório, pode-se observar diferentes conceitos de
empoderamento que oscila desde o ganho de poder (saber) individual, isto é, de um processo de natureza
pessoal, até o empoderar no qual ocorre interação entre os indivíduos detentores do saber, evitando a
posse individual do conhecimento, instaurando-se assim um processo de ação coletiva.
De acordo com Lawson (2001) a maioria das literaturas existentes, revelam a construção do
empoderamento em diversos campos de estudos, tais como: capacitação no local de trabalho, capacitação
de pessoas portadoras de deficiência, bem como empoderamento das mulheres e de comunidades.
O objetivo deste artigo foi analisar as diferentes concepções propostas de empoderamento por
autores que divulgaram suas ideias em artigos na revista eletrônica Scielo, bem como colaborar para uma
melhor sistematização desse conteúdo.

METODOLOGIA
A pesquisa bibliográfica em questão foi desenvolvida por meio de um levantamento de material
informativo, neste caso, publicações de artigos contidos em periódicos indexados por meio da Biblioteca
Eletrônica Scielo. Os artigos foram submetidos à análise de acordo com critérios abordados pela análise de
conteúdo sistematizada por Bardin (2010), na qual foi selecionada uma amostra de 38 artigos, quantidade
esta suficiente para responder questionamentos sobre o tema do estudo.
Os documentos foram encontrados por meio das palavras chaves “empoderamento comunitário” e
“conservação ambiental”. No decurso da avaliação dos trabalhos foram avaliadas algumas categorias, tais
como: a) definição do termo “empoderamento”; b) contexto no qual este tema está inserido, em relação
aos enfoques direcionados ao termo empoderamento, neste caso atribuirá ao contexto a concepção
freireana de empoderamento de classe social (E.C.S) ou empoderamento de natureza individual (E.N.I),
bem como atribuições diversas ao conceito dado ao termo empoderamento; c) áreas de maior
aplicabilidade desta temática; d) resultado do processo de empoderamento. Os referidos artigos que foram
submetidos a análise foram salvos em pdf como documento prova da amostra analisada.

João Pessoa, outubro de 2011


1025

Durante a análise dos artigos uma importante ferramenta de localização de palavras foi utilizada,
este aplicativo está presente no programa responsável pela leitura dos pdf’s, o Adobe Reader.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
No decurso da análise dos 37 artigos, foi constatado que 62,2 % dos artigos, trataram a temática
em questão, dando enfoque ao empoderamento de classe social (E. C. S), neste sentido, foram extraídos
textos de alguns desses conteúdos para melhor exemplificar o resultado em questão. Dentre os artigos em
questão, encontra-se o de Cortez e Souza (2008) que trata do E.C.S no seguinte enunciado:
“empoderamento relacionado ao aumento da auto-estima e autonomia deve ser integrado a um processo
comunitário de cooperação e solidariedade ou poderá não passar de uma situação ilusória”.
Ampliando, o contexto de exemplificação desta categoria de empoderamento apreende-se de
Queiros et al. (2010) , o seguinte texto:
“Considera-se que a metodologia avaliativa utilizada oportunizou um processo pedagógico
participativo que favoreceu o empoderamento e desenvolvimento de capacidades de reflexão e ação da
equipe avaliadora. Um movimento em que pessoas avaliam as próprias ações e tentam transformar o seu
cotidiano de maneira mais confiante nas habilidades e capacidades desenvolvidas ao longo do processo
coletivo”.
Fortalecendo esta idéia de empoderamento de classes sociais, observa-se no trecho
extraído de Fadigas e Garcia (2010) a importância de se empoderar de forma coletiva, para a promoção do
bem estar, que nesta situação apresenta-se como o bem estar sócio-ambiental:
“ Cabe concluir que as marisqueiras conquistaram, com a criação desta área protegida, um
importante instrumento de empoderamento e um espaço que fortalece o debate, dando voz as ações
ambientais rotineiramento desempenhadas por estas gestoras do meio ambiente”
Outro dado obtido neste estudo faz referencia ao empoderamento de natureza individual
(E.N.I), no qual 13,5% dos artigos estudados fizeram referência a essa categoria, dentre os trabalhos em
questão encontra-se o de Brites, Souza e Lessa (2008), concluindo em sua pesquisa que:
“A intervenção educativa realizada com base em uma nova concepção de educação em saúde
demonstrou-se eficiente para a abordagem dos assuntos propostos pelo grupo, embora tenha iniciado
reproduzindo o modelo tradicional. O empoderamento se deu no âmbito individual dos ACS e dos
pesquisadores”.
Outro dado que chamou atenção no decurso do estudo, foi o número de publicações sobre
conceitos de empoderamento, observando e comprovando assim o que foi discutido a respeito da
diversidade de conceitos referentes ao termo empoderamento, dessa forma, constatou-se que 16,2 % dos
trabalhos analisados pertenciam a essa categoria de análise. Outras categorias foram identificadas na
leitura dos artigos, mas que representaram uma baixa expressividade. A tabela com os dados apresentados
neste primeiro momento encontra-se abaixo.

Gráfico 1. Representação estatística da classificação do conceito de empoderamento

Outra temática que foi observada neste estudo, fez referência à área de atuação dos pesquisadores
em questão (figura 02), em qual área de estudo concentra-se a maioria das pesquisas realizadas. Verificou-

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1026

se que 48,6 % dos artigos foram desenvolvidos na área da saúde, 10,8 % em comunidades (urbanas),
espaço escolar, em ambientes com estratégia de conservação ambiental, 5,4% referentes a valoração da
mulher, 2,7% em Ong´s. Observa-se no gráfico a seguir o percentual de 10,8% com relação a não
especificidade da área, está porcentagem é referente aos artigos que propuseram apenas um estudo
conceitual do empoderamento, sendo assim não há aplicabilidade em áreas especificas, enquadrando-se
em uma categoria definida por “inespecífico”

Gráfico 2. Representação estatística da aplicabilidade da prática de empoderamento por área de


pesquisa

Na análise dos dados, pode-se observar um acentuado estudo na área da saúde, muito desses
estudos faz referência a promoção à saúde, dessa forma essa área vem crescendo nos ultimos anos e
empoderando um numero maior de grupos e indivíduos, pois de acordo com Heidmann et al. (2006), a
promoção à saúde tem exercido uma crescente influência na organização do sistema de saúde de diversos
países e regiões do mundo, Na realidade é importante compreender que a promoção à saúde constitui-se
num modo de ver a saúde e a doença, e sua abordagem pode trazer contribuições relevantes que ajudam a
romper com a hegemonia do modelo biomédico, dessa forma se faz necessário intensificar as ações das
estratégias de promoção no cotidiano dos serviços de saúde, promover a autonomia das pessoas,
indivíduos e profissionais, para que em conjunto possam compreender a saúde como resultante das
condições de vida e propiciar um desenvolvimento social mais equitativo.
Com esta grande expressividade da área da saúde em relação as práticas de
empoderamento, foi analisado o contexto no qual estava pautado os artigos referentes apenas a este
segmento (figura 03), com base nesta informação o gráfico a seguir mostra que 88,9% do total de artigos da
saúde determinam prática de E.C.S, apenas 11,1% referem-se ao E.N.I, dessa forma constata-se os
importantes avanços desta área no que se refere ao empoderamento dos individuos vivendo em sociedade.

Gráfico 3. Representação estatística da aplicabilidade da prática de empoderamento,


especificamente na área da saúde.

João Pessoa, outubro de 2011


1027

Outro dado de grande relevância é o relacionado a conservação ambiental. As questões


ambientais e, em particular, as relacionadas à conservação da natureza estão entre as mais críticas para a
Humanidade nesse inicio de milênio, pois afetam as condições de sobrevivência da vida sobre a terra e as
relações entre grupos sociais e sociedades Diegues (2000). Neste sentido é válida a tomada de reflexões
sobre as práticas sociais, em um contexto marcado pela degradação permanente do meio ambiente e do
seu ecossistema, necessitando de uma articulação com a produção de sentido sobre a educação ambiental
(JACOBI, 2003).
De acordo com Tozoni-Reis (2006), a Educação Ambiental vem se consolidando como prática
educativa na educação escolar e na educação que acontece fora da escola, em qualquer espaço educativo
que o processo educativo ambiental aconteça, é importante que os educadores reflitam sobre seus
fundamentos teóricos, isto é, que busquem empreender uma reflexão conceitual a cerca da Educação
Ambiental.
Ao analisar os artigos em questão, é notória a quantidade mínima de publicações na área
ambiental, neste sentido, pode-se constatar que, pouco está se fazendo para empoderar conselhos
gestores e comunidades em prol de um ambiente ecologicamente equilibrado.
A valoração da mulher é outro segmento que se constatou nesta perspectiva, apresentando
um baixo resultado em relação às demais áreas, mesmo sendo o movimento feminista um dos precursores
das práticas de empoderamento, pois este conceito teve um significado ímpar para o ganho de poder das
mulheres em relação aos seus direitos civis. Neste sentido, de acordo com Meirelles e Ingrassia (2006),
somente na segunda metade do século XX, é que o conceito de empowerment passará a expressar a luta
por direitos civis, sobretudo, no que se refere aos movimentos emancipatórios, de uma maneira geral,
esses movimentos que ocorreram principalmente nos Estados Unidos (EUA) tinham como objetivo a luta
pelo reconhecimento dos direitos civis e de livre expressão de negros, das mulheres e dos homossexuais.
Dessa forma, os autores concluem que esses movimentos emancipatórios atuavam em nome da pretensa
cidadania pautada no aumento da auto-estima, sobretudo, no que se refere à dimensão individual e
psicológica.
O recorte de um dos textos que denota a idéia de valoração da mulher foi extraído de
Wendhousen, Barbosa e Borba (2006), relatando que:
“A predominância do gênero feminino entre os conselheiros é um dado que merece destaque, pois
o espaço político, até bem pouco tempo, era constituído basicamente de homens. Considerando que sua
presença deve-se ao histórico envolvimento das mulheres no cuidado à saúde e à assistência das pessoas,
mas também ao movimento feminista, este nos parece um fator positivo, pois por dentro destes
movimentos forja-se uma nova identidade da mulher, através de processos de empoderamento que vêm
influenciando todos os demais movimentos sociais.” (p. 141)
Por fim, foram analisados nesta pesquisa, quais os resultados do processo de
empoderamento. Neste aspecto,os resultados obtidos apontaram que, na prática do empoderamento,
deverá existir ações continuadas para que possa fortalecer esse poder de ação. Com isso, apreende-se de
Cortez e Souza (2008) a conclusão de que o empoderamento feminino tratado em seu artigo compreende
as atitudes reativas das mulheres como expressão de um processo de empoderamento. E, por não ser uma
situação acabada, reflete a busca por serem reconhecidas como mulheres de direito, que merecem ser
ouvidas e respeitadas em suas escolhas.
Com base no gráfico abaixo (figura 04) observa-se entao que, 62,2% dos resultados deste processo
requer uma ação continuada por parte dos pesquisadores, 29,7% não referencia o resultado da prática do
empoderamento, este dado refere-se aos artigos que tinha como objetivo buscar raízes históricas da noção
de empoderamento. Apenas 8,1% refrenciaram em seus trabalho a consolidação do empoderamento por
parte dos participantes das pesquisas.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1028

Gráfico 4. Representação estatística dos resultados das práticas do empoderamento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A prática de empoderamento deve ser analisada de forma sutil e cotínua para que possamos
aumentar o ganho de conhecimento das pessoas e comunidades menos favorecidas, bem como dar sentido
as pesquisas no que se refere à aplicabilidade e resultado do estudo, tornando-se cada vez, sejam cientistas
ou não, mais atuantes em nossa sociedade.
Portanto, espera-se que este estudo possa colaborar com outras pesquisas referentes ao tema
abordado, e que o mesmo possa instigar outros pesquisadores para a prática de ações de empoderamento
que emancipe comunidades inteiras em suas diversas situações como cidadão.

REFERÊNCIAS
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BIRDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Ed. 70, 2010.
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and Enabling and Disenabling Factors: Journal of transcultural nursing, v. 22, n. 2, p. 174-181, 2011.
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Repercussões nas Ocorrências de Violência Conjugal. Psicologia, teoria e pesquisa, v. 24, n. 2, p. 171-180,
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ambiente na criação da Reserva Extrativista Acaú-Goiana. Sociedade & Natureza, v. 22, n 03, p.561-576,
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FREIRE, P.; SHOR, I. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.
HEIDMANN, I. T. S. B; ALMEIDA, M. C. P; BOEHS, B. E; WOSNY, A. M; MONTICELLI, M. Promoção à
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LORD, J., HUTCHISON, P. The process of empowerment: implications for theory and practice.
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promoção da saúde bucal: a capacitação de líderes na Pastoral da Criança da Igreja Católica no Brasil.
Interface Comunicação, Saúde e Educação, v 14, n 34, p.619-632, 2010.

João Pessoa, outubro de 2011


1029

TOZONI-REIS, M. F. C. Compartilhando saberes: pesquisa e ação educativa ambiental. In: FERRARO-


JR, L. A (org.). Encontros e Caminhos: formação de educadoras(es) ambientais e coletivos educadores.
Brasília: MMA, Diretoria de Educação Ambiental, 2005
WENDHAUSEN, A. L. P; BARBOSA, T. M; BORBA, M. C. Empoderamento e Recursos para a
participação em Conselhos Gestores. Saúde e Sociedade, v.15, n.3, p.131-144, São Paulo, 2006.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1030

FONTES DE INFORMAÇÕES E PROBLEMAS AMBIENTAIS LOCAIS: UM


ESTUDO EM ESCOLAS PÚBLICAS DE JOÃO PESSOA-PB
José Nildo Frutuoso de Arruda*
*(Universidade Federal da Paraíba-UFPB
nildografia@gmail.com/ Estudante de Pós-Graduação em Geografia da UFPB)

Resumo
O presente trabalho faz parte da monografia de conclusão do curso em Geografia. Nessa pesquisa,
buscou-se diagnosticar a percepção dos alunos do ensino fundamental II a respeito do tema Meio
Ambiente e Educação Ambiental. O método usado na pesquisa foi o Fenomenológico que se trata da
captação das experiências, memórias e significações das pessoas. Compreendendo que existe uma relação
entre fonte de informação e problemas ambientais, o presente artigo tem como objetivo mostrar o perfil
dos alunos, frente às fontes de obtenção de informação a respeito do meio ambiente. Além disso, buscou-
se saber quais as alternativas eles apresentam para que possamos melhorar o ambiente em que vivemos.
Neste trabalho em pauta, utilizou-se apenas dois questionamentos, que foram: 1) os tipos de fontes de
informações usadas pelos estudantes e 2) quais as alternativas que eles apresentam para que possamos
conservar o ambiente em que vivemos. O questionário foi aplicado com 183 alunos da Escola Estadual de
Ensino Fundamental e Médio Presidente Médici, a qual fica localizada no bairro do Castelo Branco III
município de João Pessoa. Também aplicou-se 196 questionários com os estudantes da Escola Municipal de
Ensino Fundamental Aruanda, esta por sua vez localiza-se no bairro dos Bancários desse mesmo município
supracitado. Após os questionários serem respondidos, realizou-se a tabulação dos dados que por sua vez
foram organizados em gráficos e tabelas. A respeito do primeiro questionamento, detectou-se que a
televisão foi o recurso que apresentou o maior percentual das respostas. Já em relação ao segundo
questionamento, verificou-se que a problemática lixo teve um maior destaque. Com base nos resultados
obtidos, verificou-se que as fontes de informações seja ela em áudio, impressa ou em meio digital, podem
ser oportunas para a facilitação do processo de ensino aprendizagem dos alunos.
Palavras-chaves: Alunos, Problemas Ambientais, Fonte de informação.

Introdução
O homem ao longo do seu processo civilizatório sempre esteve bastante dependente do
“meio” que o cercava, ou seja, o mesmo até um certo tempo na história conseguia viver em “harmonia”
com o Meio Ambiente, onde retirava dele apenas os recursos necessários para o seu sustento. Lima (1984,
p. 32) expressa que:
O homem primitivo não provocava desequilíbrio apreciável sobre os processos metabólicos e
reprodutivos que regulavam o sistema de suporte da vida na Biosfera, uma vez que as alterações
provocadas eram numa escala que permitia a manutenção dos limites e estabilidades da natureza.

As interferências do Homem sobre o Meio Ambiente tiveram uma maior intensificação a partir do
aperfeiçoamento dos instrumentos de trabalhos. Com estas novas ferramentas, o homem conseguia ter
uma maior à apropriação dos espaços e dos recursos existentes neles. Em consonância com a afirmação
acima Drew (2005, p. 1), mostra que: “o homem não só pode transforma e expandir o seu nicho, mas
também afetar os mecanismos do Sistema da Terra em maior ou menor grau, em maior ou menor escala”.
Dentro deste contexto, pode-se perceber que devido à forma como a sociedade atual tem
agido frente ao meio ambiente, onde o desejo incontrolável que visa à dominação de novos locais, as
ambições pelos lucros, dentre outras ações, tem contribuído para que haja uma “desconfiguração” nos
padrões normais do fluxo de energia nos sistemas naturais.
A interferência do homem no ambiente é mais perceptível sobre aqueles elementos que possuem
um papel de suporte para os demais. O solo pode ser mencionado como um destes elementos que recebe
fortes impactos causados pelo ser humano.

João Pessoa, outubro de 2011


1031

Com o avanço das tecnologias, pode-se notar também as suas influências no âmbito educacional.
Scaramello (2002), mostra que a disserminação do uso de novas tecnologias tem permitido agilizar os
serviços administrativos e elaborar materiais didáticos.
A respeito dos novos instrumentos tecnológicos Julião (1999), relata que na sociedade atual um dos
aspectos enfatizados tem sido o do desenvolvimento e aperfeiçoamento das tecnologias de informação e
comunicação. Além disso, ele ainda acrescenta que na era da globalização, uma sociedade moderna e
desenvolvida caracteriza-se pela sua capacidade de integrar e dinamizar circuitos de informação.
Castells (2001) reforça essa discussão anterior mostrando que no estudo do espaço
geográfico como hoje é entendido, requer a apropriação de métodos diversos de leituras da paisagem,
descrição, observação, explicação, interação, análise, síntese, dentre outros. A aplicação desses métodos
exige o auxílio de técnicas ou recursos tecnológicos que possibilitem a aproximação do educando com seu
objeto de investigação.
As fontes de informações como livro didático, revistas, rádio, televisão, internet dentre outros,
fazem parte de um conjunto de elementos que poderão ser fundamentais para o auxílio no processo de
ensino aprendizagem dos alunos. O uso destes instrumentos na escola pode ser relevante para que se
tenha uma maior “dinamização” do processo de ensino aprendizagem dos alunos.
Durante a implementação de determinados instrumentos nas aulas, o professor deve ficar bastante
atento quanto ao “nível” da turma e o procedimento metodológicos que se pretende usar. Estes cuidados
iniciais são necessários para que se tenha uma aproximação satisfatória dos alunos com os meios de
informação.
Compreendendo que existe uma relação entre fonte de informação e problemas ambientais, o
presente trabalho tem como objetivo mostrar o perfil dos alunos, frente às fontes de obtenção de
informação a respeito do meio ambiente. Além disso, buscou-se saber quais alternativas eles apresentam
para que possamos melhorar o ambiente em que vivemos.

Procedimentos Metodológicos
Neste trabalho utilizou-se o Método Fenomenológico. Sato (2001) mostra que este tipo de
pesquisa busca investigar as coisas a partir das experiências de vida, a memória e significações. Quanto às
técnicas usadas para a realização da pesquisa, realizou-se num primeiro momento uma pesquisa
bibliográfica a respeito da temática em pauta.
Em se tratando da relação do sujeito com o objeto da pesquisa, adotou-se a observação não
participante. Lakatos (2008) expressa que a observação não participante, o pesquisador toma contato com
a comunidade, grupo ou realidade estudada, mas sem integrar-se a ela. Presencia o fato, mas não participa
dele.
Como mecanismo para a obtenção de dados para essa pesquisa, utilizou-se um questionário
contendo perguntas abertas e fechadas. O mesmo foi aplicado com 183 alunos da Escola Estadual de
Ensino Fundamental e Médio Presidente Médici, a qual fica localizada no bairro do Castelo Branco III
município de João Pessoa. Também aplicou-se 196 questionários com os estudantes da Escola Municipal de
Ensino Fundamental Aruanda, esta por sua vez fica localiza-se no bairro dos Bancários desse mesmo
município supracitado.
Para a elaboração desse artigo adotou-se apenas dois questionamentos trabalhado na
monografia, são eles: 1) Você costuma obter informações a respeito do meio ambiente através: a) ( ) do
livro didático b) ( ) de revistas c) ( ) da televisão d) ( ) do rádio e) ( ) da sala de aula g) ( ) Não
me interesso pelo assunto h) ( ) outras fontes, quais? 2) Como você acha que podemos colaborar para
melhorar e/ou conservar o ambiente que vivemos?
Após esta fase de coleta de dados, partiu-se para a tabulação das respostas. Num primeiro
momento, os dados de cada escola foram trabalhados de forma individual, no entanto, adotou-se os
mesmos procedimentos de análises para uma delas. Para que tivéssemos um maior controle durante essa
fase da pesquisa, organizou-se todas as informações em tabelas e gráficos.

Resultados e Discussão

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1032

O Gráfico 01 a seguir visa mostrar os percentuais referentes às fontes de informações usadas pelos
estudantes.

Gráfico 01. Fontes de informações usadas pelos estudantes para conhecerem o meio ambiente.
Fonte: Pesquisa de campo, 2010

O Gráfico 01, foi elaborado com o objetivo de mostrar o perfil dos estudantes frente aos recursos
informativos. A primeira categoria, refere-se ao “livro didático”, onde concentram valores semelhantes nas
duas escolas envolvidas na pesquisa. São eles: 29,5% na escola Presidente Médici e 30,1% na escola
Aruanda. Em pesquisas realizadas por Arruda & Guerra (2004), com estudantes de escolas públicas de João
Pessoa-PB, constataram também que o livro didático foi um dos recursos com grande destaque nas
respostas dos estudantes. Na escola Estadual de Ensino Fundamental CEPES Gonçalves Dias (GD) no bairro
do Cristo Redentor, por exemplo, 68,2% deles deram ênfase ao livro didático.
Quanto ao segundo recurso informativo, mostrado no Gráfico 01, tem-se “as revistas”, elas
foram mais priorizadas pelos estudantes da escola Aruanda, onde atingiram um percentual de 26,0%. Na
escola Presidente Médici, constatou-se uma expressividade menor deste recurso informativo.
Conforme os dados expostos no Gráfico 01 verifica-se que o recurso informativo com maior
destaque foi “a televisão”. Este em ambas escolas apresentaram percentuais próximos de 80,0%. Segundo
os autores supracitados, revelaram que este veículo informativo teve também um destaque significativo
nas respostas dos estudantes das escolas trabalhadas por eles. Em todas elas quantificaram um percentual
maior que 60,0%.
Outra fonte de informação usada pelos estudantes é o “rádio”. Este tanto para a escola
Presidente Médici quanto para a escola Aruanda apresentaram percentuais um pouco maior que 20,0%.
Fazendo uma comparação destes valores com os citados anteriormente, observa-se que existe uma
diferença expressiva entre eles. Isso pode ser justificado pela priorização que eles dão aos recursos
audiovisuais.
Além destas fontes já mencionadas, quantificou-se que muitos estudantes adquirem
informações a respeito do meio ambiente através da sala de aula. Com base no Gráfico 01, percebe-se que
na escola Presidente Médici houve uma maior quantidade de estudantes que mencionaram este tipo de
recurso informativo. De acordo com os trabalhos de Arruda e Guerra (2004), também constataram nas

João Pessoa, outubro de 2011


1033

pesquisas desenvolvidas por deles que a sala de aula foi um dos recursos bastante destacado nas respostas
dos estudantes.
Dando continuidade a verificação destes percentuais correspondentes a estas fontes de
informações, notou-se que mais de 6,0% dos estudantes de ambas escolas expressaram que “não se
interessavam pelo assunto”. Este desinteresse pode ser resultante do “modelo” pedagógico de ensino
adotado pela escola. Isto é, muita das vezes os professores transmitem o conteúdo para os seus alunos,
mas não mostram nenhuma aplicabilidade. Agindo desta maneira, os estudantes não se veem motivados
para aprenderem determinados conteúdos, que na verdade é de suma importância para eles. Como é o
caso dos temas: Lixo, Biodiversidade a Flora dentre outros.
Em relação à quantidade de estudantes que usam a “Internet” para este fim educativo,
observa-se que a escola Aruanda agrega um percentual maior dos que utilizam este recurso didático. De
acordo com o Gráfico 01, pode-se verificar que este valor foi 14,3%.
Embora, não haja um uso intenso deste instrumento nestas escolas trabalhadas, entende-
se que dependendo dos procedimentos adotados pelos professores, este recurso poderá ser valioso para o
processo de transmissão e aquisição de informações a respeito do meio ambiente.
Para alguns estudantes arguidos nestas escolas responderam que obtinham informações a
respeito do meio ambiente a partir das “conversas informais”, ou seja, por meio dos diálogos que são
realizados no dia- a- dia com os seus pais, amigos dentre outros. Na escola Presidente Médici este
percentual foi de 2,2% e na escola Aruanda 2,6%. Ao verificar estes valores em ambas escolas, detecta-se
que os estudantes de certo modo não costumam dialogar a “temática ambiental” com as demais pessoas
do convívio delas.
No Gráfico 01, tem-se ainda os percentuais referentes aos estudantes que utilizam os
“jornais” como fonte de informação. De acordo com o resultado da tabulação, nota-se que este recurso é
usado apenas pelos estudantes da escola Aruanda onde concentram 2,0% de toda a escola. Quando os
estudantes que não leem este tipo de material estão deixando de conhecerem muitos aspectos da temática
ambiental em níveis locais e mundiais.
Enquanto nesse primeiro questionamento acima, buscou-se saber os tipos de informações
que estudantes tinham acesso para obterem conhecimento do meio ambiente, nessa pergunta a seguir,
pretende-se mostrar os percentuais referente às alternativas propostas por eles para que possamos
melhorar ou conservar o ambiente em que vivemos.

Tabela 01. Alternativas apontadas pelos estudantes para que possamos colaborar para melhorar e/
ou conservar o ambiente em que vivemos.
Como colaborar para E.E.E. F.M.Presidente Médici % E.M.E.F. Aruanda %
conservar ou melhorar o
6ª 7ª 8ª 9ª x 6ª 7ª 8ª 9ª x
Meio Ambiente?
Não jogar lixo no chão, 45,1 52,8 47,5 33,3 44,3 54,5 33,9 40,0 52,9 43,4
ruas, avenidas e escolas

Não jogar lixo nos rios, 39,2 33,9 22,5 25,6 32,2 39,4 22,0 32,1 19,6 24,1
mares e lagos
Evitar o desmatamento e 23,5 22,6 35,0 48,7 27,9 21,2 37,3 35,8 33,3 33,2
queimadas
Não desperdiçar água 1,9 1,9 - 2,6 1,6 3,0 6,8 13,2 3,9 7,1
Ser mais consciente 13,7 13,2 17,5 28,2 17,5 30,3 15,3 33,9 35,3 28,1
Evitar a caça e extinção de 9,8 13,2 15,0 5,1 10,9 6,1 3,4 5,7 2,0 4,1
animais
Evitar a poluição do ar 11,8 5,7 10,0 2,6 7,7 6,1 3,4 - - 2,0

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1034

Fazendo projetos de 1,9 - - - 0,5 3,0 1,7 1,9 3,9 2,6


Educação Ambiental
Respostas desconexas - 9,4 2,5 7,7 6,6 - 10,2 11,3 3,9 7,1
Não respondeu - 1,9 - - 0,5 - - - 9,8 2,6
Fonte: Pesquisa de campo, 2010

Quando se questionou os estudantes a respeito de como poderíamos colaborar para melhorar e/


ou conservar o ambiente em que vivemos, percebeu-se que a grande maioria deles disseram: “não jogar
lixo no chão, nas ruas e avenidas”. As turmas que mais fizeram menção a este tipo de alternativa foram o
sexto e o nono ano da escola Aruanda; onde tiveram 54,5% e 52,9% respectivamente. Outras turmas que
obtiveram percentuais bastante elevados foram o sétimo e oitavo ano da escola Presidente Médici. Em
pesquisas realizadas por Arruda & Guerra (2004), também constataram que a maioria dos estudantes
citaram como alternativa para que se tenha um ambiente mais saudável, o não jogar lixo no chão.
Outra medida citada pelos estudantes com o mesmo objetivo do item anterior foi o de “não
jogar lixo nos rios, mares e lagos”. De acordo com os dados da Tabela 01, nota-se que nas turmas do sexto
ano destas duas escolas apresentaram valores semelhantes. Já em relação aos estudantes do sétimo ao
nono ano nestas duas escolas, detecta-se uma discrepância maior a respeito destes percentuais.
O fato desta alternativa ser mais destacada nas respostas dos estudantes, poderá ter uma
influência das condições ambientais do rio Jaguaribe, pois, o mesmo contorna boa parte dos bairros
pertencentes as escolas envolvidas nesta pesquisa. Este rio também é receptor de vários canais de esgotos
oriundos das comunidades circunvizinhas a ele.
Dando continuidade a observação destas propostas sugeridas pelos estudantes, nota-se
que “evitar o desmatamento e queimadas” constituiu-se um tipo de alternativa muito expressiva na
maioria das turmas. As que tiveram os maiores valores a respeito destas sugestões foram o nono ano da
escola Presidente Médici com 48,7% seguido do sétimo ano da escola Aruanda contendo 37,3%. Já em
relação aos menores percentuais ficaram contidos nas turmas que compõem o sexto ano da escola
Aruanda e no sétimo ano da escola Presidente Médici.
Além destas alternativas indicadas acima, observa-se que no entendimento dos estudantes,
“não desperdiçar água” também se trata de um procedimento que poderá ser adotado no intuito de
promover a conservação do ambiente. As turmas que mais priorizaram este item foram o sétimo e o oitavo
ano da escola Aruanda.
De acordo com a Tabela 01, pode-se verificar que os estudantes também descrevem que
“ser mais consciente” como sendo um dos mecanismos que poderá contribuir para que tenhamos um
ambiente mais saudável. Os estudantes que mais indicaram esta alternativa foram os do oitavo e nono ano
da escola Aruanda.
Com base nesta mesma Tabela 01, verifica-se que outra alternativa indicada pelos
estudantes para que tenhamos um ambiente mais equilibrado foi “evitando a caça e a extinção de
animais”. As turmas que tiveram as maiores divergências a respeito destas medidas foi os que compõem o
sétimo ano nestas duas escolas. Enquanto na escola Presidente Médici esta turma atingiu um percentual de
13,2% na escola Aruanda este valor foi de apenas 3,4%. Outras turmas que apresentaram algumas
discrepâncias em relação a estes percentuais se deu no oitavo ano da escola Presidente Médici.
Para os estudantes das turmas do sexto e do oitavo ano da escola Presidente Médici,
indicaram que poderiam colaborar com o meio ambiente, evitando a poluição do ar. Outras turmas que
tiveram um percentual um pouco menor a respeito desta alternativa foi o sétimo ano da escola Aruanda e
o nono ano da escola Presidente Médici.
Nas respostas fornecidas pelos estudantes, foi possível ainda perceber que alguns deles apontaram
os “projetos de educação ambiental” como sendo um mecanismo para que se possa conservar o ambiente.
De acordo com a Tabela 01, percebe-se que este tipo de alternativa foi mais sugerido pelos estudantes da
escola Aruanda. A única turma da escola Presidente Médici que citou este item foi o sexto ano.

João Pessoa, outubro de 2011


1035

Em se tratando dos estudantes que apresentaram “respostas desconexas” observa-se que a


turma que mais obteve este tipo de resposta foi o oitavo ano da escola Aruanda; outras que também se
enquadraram neste grupo foram às turmas do sétimo ano em ambas escolas.
Em relação aos estudantes que “não responderam” a pergunta solicitada, nota-se que isto
ocorreu somente nas turmas do sétimo ano da escola Presidente Médici e no nono ano da escola Aruanda.

Considerações finais
De acordo com os resultados analisados, pôde-se perceber a expressiva influência da mídia
no processo de transmissão de informações a respeito do meio ambiente. Atualmente, as escolas poderão
usar tais recursos no intuito de facilitar o processo de ensino aprendizagem dos alunos como também,
proporcionar uma dinâmica maior entre conteúdo e prática docente.
Na disciplina de Geografia, os trabalhos envolvendo essa temática podem ser realizadas,
por exemplo, com o auxílio da televisão, usando filmes ou documentários que abordem reflexões acerca da
compreensão e conservação do meio ambiente. Também é possível usar outros recursos como a música, a
literatura, teatro dentre outros recursos educativos.
Com base nas respostas analisadas, constatou que o “lixo” foi um tema bastante expressivo nas
respostas dos alunos. Por esse motivo, nota-se a necessidade da realização de trabalhos que envolvam
essa temática na escola. Seja na disciplina de Geografia, Ciências, Matemática, História dentre outras,
pode-se desenvolver atividades que contemplem esse tema, como também outros já mencionados durante
esse trabalho.
Nas atividades que integrem “Fontes de Informações e Problemas Ambientais” não se deve
considerar que o recurso de obtenção de informação é o elemento principal durante esses trabalhos. Para
cada “nível” escolar devem ser refletidos os mecanismos de utilização. Dependendo das especificidades da
turma, o professor poderá adequar às técnicas para que assim obtenha êxitos melhores no trabalho.

Referências
ARRUDA, F. N. F. de.; GUERRA, R. A. T. O lixo e outras Problemáticas Ambientais Locais na visão de
Estudantes do Ensino Médio de uma escola pública de João Pessoa / Paraíba. In: Congresso Nacional de
Meio Ambiente, II., Salvador. 2004.
DREW, D. Processos Interativos Homem – Meio Ambiente. 4ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2005.
JULIÃO, R.P. Geografia, Informação e Sociedade. GEOINOVA - Revista do Departamento de
Geografia e Planeamento Regional, nº 0, 1999.
LAKATOS, E. M. Técnicas de pesquisas: Planejamento e Execução de pesquisas, amostragens e
técnicas de pesquisas, elaboração análise e interpretação de dados. 7ª ed. São Paulo: Atlas, 2008.
LIMA, M. J. A . Ecologia humana: realidade e pesquisa. Petrópolis: Vozes, 1984.
SATO, M. Apaixonadamente pesquisadora em Educação Ambiental. Educação, Teoria e Prática,
9(16/17): 24-35, 2001.
SCARAMELLO, J. M. Atlas digitais escolares: proposta de avaliação e estudos de caso. I
SIMPOSIO IBERO AMERICANO DE CARTOGRAFIA PARA CRIANÇA, 2002, Rio de Janeiro. Anais do I
Simpósio Ibero Americano de Cartografia para Criança: Pesquisa e perspectiva em Cartografia para
escolares.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1036

O LUGAR DA MEMÓRIA NOS PROJETOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL: O


CASO DA INTERVENÇÃO SOCIAL “EM PASSAGEM PELO AMBIENTE”-
ANDARAÍ (BA)
Juliana de Souza ROCHA
Licenciada e Bacharela em Geografia e Assistente Social. Estudante do curso de Especialização em Educação Ambiental
para Sustentabilidade - Universidade Estadual de Feira de Santana (Ba)
julianandarai@yahoo.com.br

RESUMO
O objetivo desse artigo é apresentar uma intervenção social na área de educação ambiental
enquanto processo que valoriza a memória e a identidade coletiva registrada nos lugares e, portanto capaz
de contemplar o ambiente com múltiplas interações. O tema norteador versa na valorização da identidade
e memória nos lugares para construção da educação ambiental em um projeto de intervenção comunitária.
Uma intervenção é pré-requisito para conclusão do curso de especialização em educação ambiental para a
sustentabilidade na Universidade Estadual de Feira de Santana (BA) e aconteceu no povoado “Passagem”,
município de Andaraí (BA) com 10 famílias nos meses de abril a julho de 2011, cujo percurso metodológico
foi a pesquisa-ação participante apoiada na construção coletiva das atividades planejadas e executadas
pelo grupo. Como resultado identificou-se que as bases para o processo de educação ambiental aconteceu
através das referências do lugar pelos registros nas memórias individuais e coletivas do povoado. Conclui-
se que os projetos de educação ambiental podem propiciar novas reflexões sobre o sentido do lugar para
grupos sociais, relacionando a memória e os aspectos culturais dos sujeitos capaz de tornar o convívio em
suas múltiplas interações responsável e ambientalmente justo.
PALAVRAS-CHAVES lugar, memória, identidade cultural, intervenção, educação ambiental.

1 INTRODUÇÃO
A sociedade capitalista caracterizada pelas relações de trabalho e acumulo de capital, perpassa
questões centrais referentes às disparidades socioeconômicas, enquanto marcas de nossa sociedade.
Refletir possibilidades de valorização do ambiente e as relações sociais construídas culturalmente, faz da
educação ambiental uma prática que vai se pautar na relação com variados elementos do espaço, na
perspectiva de utilizá-los com equidade social, cultural, econômica e ambiental.
O objetivo desse artigo é apresentar uma intervenção educacional na perspectiva de valorizar a
memória e a identidade coletiva registrada nos lugares e, portanto capaz de apresentar o ambiente com
múltiplas interações. Assim, compreender o conceito de lugar para ações nos projetos de intervenção social
poderá propiciar novas reflexões sobre o sentido da identidade dos sujeitos sociais, o fortalecimento da
memória coletiva, além de relacionar tais referências a educação ambiental, demonstrando diferentes
maneiras de investigação.
Nessa perspectiva como pré-requisito para inserção e conclusão do curso de pós-graduação em
Educação Ambiental para Sustentabilidade pela Universidade Estadual de Feira de Santana, o estudante faz
uma intervenção social em educação ambiental. Assim a intervenção aqui apresentada aconteceu no
povoado da Passagem, pequena comunidade rural composta por 10 famílias localizada no entorno do
Parque Nacional da Chapada Diamantina a 4 Km da sede municipal de Andaraí (Ba) que dista 414 km da
capital Salvador. Esta comunidade se constituiu como o primeiro núcleo populacional do município e em
tempos de outrora foi muito conhecida por suas jazidas de diamantes descoberta no século XVIII,
entroncamento de comerciantes das cidades lavristas.
Na atualidade, o povoado da Passagem caracterizado por suas belezas naturais apresenta
vulnerabilidade socioambiental, pois diante das dinâmicas territoriais que aconteceram também em outros
vilarejos da Chapada Diamantina com a decadência do garimpo, houve o processo de emigração
populacional e nas últimas décadas o início do processo turístico, loteamento de áreas, descaracterização
do patrimônio cultural e restrito acesso dos moradores às políticas públicas. No povoado da Passagem um
agravante é que a fragilização territorial fez com que parte da história local não fosse registrada

João Pessoa, outubro de 2011


1037

oficialmente, ficando uma lacuna sobre a memória, a fragilização da identidade cultural, necessário a
principio para o fortalecimento social e comunitário.
A questão norteadora deste artigo versa sobre: como a educação ambiental pode se tornar uma
prática coletiva quando há valorização da identidade e memória de um grupo nos lugares? O pressuposto
ressaltado é a possibilidade da valorização da identidade cultural como ferramenta nos processos de
intervenção em educação ambiental.
A educação ambiental é um dos elementos fundamentais nessa (re) significação dos lugares,
legitimado também pela Constituição Federal (BRASIL, 1988) em seu art. 216 ao qual constitui o meio
ambiente natural e cultural que se traduz na história de um povo, como elementos identificadores da
cidadania. Com esse pressuposto a concepção de educação ambiental, enquanto “cuidado” com os espaços
de vivência culturalmente construídos, podem legitimar a definição presente, por exemplo, na Política
Estadual de Educação Ambiental da Bahia – Lei nº 12.056, de 07 de janeiro de 2011,
Educação Ambiental o conjunto de processos permanentes e continuados de formação individual e
coletiva para a sensibilização, reflexão e construção de valores, saberes, conhecimentos, atitudes e hábitos,
visando uma relação sustentável da sociedade humana com o ambiente que integra (BAHIA, 2011)

O processo de intervenção em educação ambiental, apoiada no contexto da memória e valorização


dos lugares, pode se tornar uma das possibilidades de relacionamento sustentável nos ambientes, pois os
sujeitos utilizam dos seus lugares para o convívio social, para o trabalho, para exercitar a convivência social
no ambiente.
Apesar do avanço de leis, políticas públicas e estratégias em defesa do ambiente e da vida são
muitos casos em que a participação da sociedade nas questões ambientais não se consolida, tornando
essencial a mediação do processo político em grupos sociais para o controle no manejo do ambiente de
forma sustentável.

2 OS CAMINHOS TRILHADOS
Momentos de convivência com oportunidade de interação social em uma comunidade faz da
intervenção em educação ambiental uma ferramenta importante no trabalho coletivo na perspectiva de
agir junto em uma realidade social.
Tem-se como finalidade nas intervenções “atender as demandas que lhes são interpostas [...] volta-
se para o desenvolvimento de uma ação vivenciada, reflexiva e crítica e, por isso deve ser planejada
gradativamente e sistematicamente” (BURIOLLA, 1999 p. 13). Antes de qualquer intervenção seja
necessário um estudo da realidade, ou seja, o profissional deve conhecer minuciosamente o ambiente em
seus mais variados aspectos, analisando as relações sociais, suas deficiências, recursos com um olhar
crítico/ reflexivo sobre a realidade a ser analisada. E melhor esse processo pode ser construído
coletivamente, diagnosticado ou ainda vivenciado pelos sujeitos em uma intervenção, desde o seu
planejamento à avaliação.
Dessa forma, a intervenção em educação ambiental está pautada nas ciências sociais cujo “objeto é
histórico e possui uma consciência histórico-social, tanto do pesquisador como dos sujeitos participantes
dos grupos sociais e da sociedade, mantendo relações sociais entre si” (BARROS, 1996 p.33). Diante dessas
observações a intervenção abrange em geral atividade empírica, remontam a inserção do pesquisador
como agente participante das interações sociais, utilizando a pesquisa-ação, com o propósito de dialogar
com diversos saberes sobre a historicidade local, na capacidade de olhar criticamente a realidade, o
ambiente vivenciado e suscita o processo de transformação social em prol do bem coletivo.
Para cumprir com os objetivos do estudo social no processo de intervenção é a utilização da técnica
de História de Vida, baseada nas conceituações da História Ambiental. A História de vida refere-se a um
seqüência temporal com “à linha histórica da vida de pessoas envolvidas em situações e fenômenos
pesquisados [...] procura-se levantar as opiniões e reações dos entrevistados acerca da história das suas
vidas” (BARROS, 2004 p. 83). Abrangendo uma esfera mais ampla a história ambiental trata do papel e do
lugar da natureza na vida humana ou ainda das marcas humanas na natureza, refletindo a sua cultura
(WORSTER, 1991). Para o autor refere-se ao entendimento da natureza e sua organização; o domínio
socioeconômico e sua interação o ambiente através do trabalho, bem como a subjetividade, as percepções,
a ética de um individuo ou grupo social.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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O alicerce para um trabalho com intervenção é a concepção de se caminhar com o grupo em torno
da mobilização social, elencar limites e desafios para que a discussão educacional se faça ambiental e
politicamente consistente. Momentos de convivência em que se ampliará a socialização comunitária e
fortalecimento do sentido da valorização do ambiente em suas múltiplas interações. A opção para o
desenvolvimento da proposta aqui esboçada se baseou na formação de um grupo, composto pelas 10
famílias com variada faixa etárias, com a realização de encontros quinzenais durante 04 meses, culminando
em 10 encontros. O planejamento com os moradores se consolidou da seguinte forma:
TEMA ESTRATÉGIAS AÇÃO

Em passagem pela minha Convite as famílias, reunião Apresentação do projeto de intervenção com
casa comunitária o filme “Narradores de Javé”

Diagnóstico e planejamento das ações Execução do diagnóstico participativo/


socioambiental;

Árvore familiar Construção genealógica da origem da família/


histórias de família e antigos moradores
Em passagem pela Casos, histórias e memórias do Gravação de vídeo coletivo – narrativas
comunidade (memória e povoado
identidade)
Pistas da história socioambiental da Passeio pelo povoado, relembrando a historia
comunidade ambiental
Registro de mapas mentais através da
cartografia social (relação espaço-tempo)
Em passagem pelo poder Fotografando realidades Registro fotográfico pelas famílias/ reflexão
público (cidadania) sobre o ambiente e eventos – trabalho com
imagem
Mural temático/ elaboração da carta de
Tenho direitos? Tenho deveres?
intenções sobre os impactos socioambientais

Em passagem pelo turismo Conhecendo o turismo de base local Reflexão com o grupo sobre o turismo com
(turismo de base local) base local

Cidadania nos pequenos gestos Encontro dialogado: O que vale e o que não
(mobilização social) vale na organização comunitária

Encerramento do projeto de Formação de um grupo permanente para


intervenção - confraternização discussão sobre questões socioambientais.

Quadro 1: Ações norteadores da pesquisa-ação na intervenção em educação ambiental. Rocha, 2011.

A dimensão qualitativa do projeto de intervenção se estendeu em todo o processo desencadeador


das atividades. Com a função de diagnosticar coletivamente e acompanhar o desenvolvimento dos
procedimentos elencados, os projetos de intervenção visam principalmente desenvolver a autonomia, o
protagonismo, o estimulo em participar mais ativamente de trabalhos coletivos.
Para Loureiro (2005) uma estratégia pela ação pedagógica na educação ambiental de forma crítica
deve relacionar os elementos sociohistóricos e políticos aos conceitos construídos entre o educador e o
educando, de modo a evitar um trabalho educativo abstrato e pouco relacionado com o cotidiano dos
sujeitos sociais e com a prática cidadã. A educação ambiental em seu sentido mais desafiador é capaz de
gerar intencionalidades e comungar objetivos comuns em um grupo social. A mediação torna-se um
instrumento nesse sentido, pela construção das ações com maior interação entre o “educador” e o grupo
para realização dos processos socioeducativos.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 RELAÇÃO ENTRE GRUPO SOCIAL E A MEMÓRIA COLETIVA

João Pessoa, outubro de 2011


1039

Inicia-se esta seção com a idéia de que lugar tem significados para os sujeitos, exerce relevância,
muitas vezes revisitada com a memória dos lugares, os sentimentos coletivos e o pertencimento mútuos. É
na comunidade que também referencia outro aspecto do grupo e das relações sociais, enquanto o lugar
onde as pessoas mostram suas diferenças, onde as relações de pertencimento estão presentes e
perpassam as decisões cotidianas. Remete, portanto a valores, a cultura de um grupo na sociedade.
Para os moradores da Passagem, os dois primeiros temas: a passagem pela casa e pela
comunidade, excederam o numero de encontros, pois a cada “roda de conversa”, informal as historias e as
memórias eram revisitadas. Nesse ínterim, os casos eram contados fluíam com a observação atenta dos
jovens. Com as dinâmicas de grupo a sensibilização para o trabalho coletivo fortaleceu a participação nas
atividades cujos encontros eram realizados na capelinha da comunidade e na praça do povoado (figura 1),
locais que tinham um grande significado para os moradores.

(A) praça do povoado(B) interior da capela de Santo Antonio(C) nincho representando o sincretismo
religioso
Figura 18- Alguns lugares de apropriação simbólica.

Com o primeiro bloco temático, através do diagnóstico e planejamento das ações na intervenção e
a construção da árvore familiar, foi um exercício para fortalecessem os laços familiares e
comunitários.Quando questionados sobre o local onde cada bloco temático poderia acontecer elegeram a
praça principal enquanto lugar de festejos comunitários, a capela de Santo Antonio, reformada no ano de
2010 pelos próprios moradores, o “nicho” religioso enquanto expressão dos ritos africanos comungados.
Na primeira imagem aconteceu a exibição do filme “Narradores de Chave”; na segunda imagem o
diagnóstico participativo sobre questões socioambientais através do tempo, e na terceira imagem local
onde relembraram as rezas dos finais de semana. Em dois encontros sugeriram também caminhadas pelo
vilarejo onde lembraram do cotidiano local em tempos de outrora.
Ligado a apropriação simbólica do espaço acumulado de sentimentos e pertinência (TUAN, 1983) o
trabalho com a memória dos lugares, retrata as impressões deixadas pela sociedade e a identidade de um
grupo social. Em um dos passeios visitamos um grande hotel localizado nas margens do rio Paraguaçu, que
manteve erguida algumas construções antigas, onde os garimpeiros se alojavam. As moradoras que
trabalharam nos alojamentos naquele contexto, se emocionaram ao verem que os imóveis ainda estavam
erguidos, mesmo inseridos em um complexo hoteleiro. Para FREIXO (2010),
tanto a memória quanto a narrativa, [...] passam por um contínuo processo de seleção e
reelaboração, intrinsecamente relacionado às representações de si e do outro, representações
estas, a meu ver, inseparáveis das relações que se estabelecem entre um “eu” e o “outro”
(humano ou não-humano) (p. 43)

Ao pesquisar sobre a memória dos velhos agricultores da região silaleira da Bahia, FREIXO (2010)
considera salutar a relação espaço-tempo e principalmente a relação familiar, e “passa necessariamente
pela compreensão de suas representações de si e em relação ao outro, como subsídio à
interpretação de suas relações no ambiente” (p. 44). A autora destaca nesse contexto as concepções de
Lefebvre (2006 apude FREIXO, 2010), em que no trabalho com memória retoma as mediações das relações
sociais de forma inseparável.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1040

Assim sendo, para FREIXO (2010) a construção de narrativas sobre o passado, são de fato
arcabouços para a análise da dinâmica das relações sociais que se desenvolveram ao longo do tempo neste
lugar. Nesta abordagem o passado revisitado com as memórias dá ao grupo o sentido aos diversos
elementos do ambiente, desde “o trabalho com a terra”, as relações familiares e o apego aos elementos
variáveis do ambiente cotidiano. A memória coletiva torna-se um aspecto fundamental no fortalecimento
dos vínculos sociais de um grupo, demonstrado na intervenção em visita aos lugares que os moradores
mais gostavam no Povoado (figura 2)

A B C

(A) vilarejo Passagem (B) percurso entre o povoado e a cidade de Andaraí (C) cartografia social
Figura 2- Lugares comuns que representam a memória coletiva.

Quando as reflexões convergiram no registro dos lugares que mais gostavam e a representavam do
povoado na infância dos mais velhos, lembranças dos antigos moradores, retratam o cotidiano,o trabalho
coletivo na roça, as caminhadas para coleta de água, ou as utilização do rio que ainda serve para o banho,
lavagem de roupas e utensílios domésticos. Sendo assim,

As memórias são importantes registros vividos que partem das lembranças e eternizam lugares
como referências e cenários para uma constante visita ao passado, trazendo em si, os mais diversos
sentimentos documentados e aflorados em narrativas, sonhos e percepções (ANDRADE, 2005)

Em Freire (1980) reforça a idéia de que a memória se elabora a partir da ausência, e com pé fincado
no presente, assim nesse terreno, há um valor demasiado as lembranças e mesmo que aparentemente
insignificantes são artigos de valor, considerado como o nosso mais valioso e invisível patrimônio.

3.2 NARRATIVAS QUE REPRESENTAM O LUGAR


No segundo bloco temático começaram a ser “esboçados” a historia socioambiental da
comunidade, reformando a cultura local e principalmente as narrativas, as cantigas e os casos contados
durante as caminhadas. Como nas falas seguintes:
“Naquela época existia a feira livre nesta praça, a igreja da padroeira do Rosário e São José,
atraindo pessoas de Igatu, Andaraí. Tinha lavoura, o donos da pecuária, inclusive Antonio Pereira,
Izaulino, Sr Baio e outros...O garimpo era o recurso principal daquela época, existia os capangueiros
e os garimpeiros...como se vê ate hoje o garimpeiro é aquele que menos tem... muitos moradores
muitas ruas e o Paraguaçu. Que hoje vive depredado, muito bonito com praias limpas e vários
peixes... E se for falar de Passagem... naquela época não tinha conforto nem desenvolvimento mas
o povo era mais unido” (V.P.S 68 anos)
“Olha a gruta da soledade a nossa aldeia favoreceu, com alegria, felicidade, os orixás que há
de nos valer (bis)” (ladainha cantada pelos moradores, 20.05.11)
“Minava dessa pedra e tinha uma gia que fazia glui,glui ... essa água vinha la de cima da
Dona Tutinha... e então descia daqui. Essa água daqui secou, ninguém sabe pra onde ela foi e essa
gia sumiu e até hoje nem nova e nem mandada” (J.S 71 anos)

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As falas demonstram a interação dos variados elementos constituintes do ambiente, narrados ora
sobre o cotidiano, a cultura, os moradores, os recursos ambientais da natureza. Nesse sentido Relph (1976
apud FONSECA, 2001 p. 98) define que o lugar pressupõe familiaridade, envolvimento e experiências
diretas [...] o restabelecimento e permanência dos lugares são reforçados por rituais e tradições. Para
compreender a dimensão e sentido do lugar é pertinente o entendimento de forma interpretativa das
realidades vividas e as representações simbólicas no espaço em que se
valoriza o caráter intencional, experiencial e afetivo, pelo qual o indivíduo ou grupo de indivíduos
estabelece laços de identidade com uma porção do espaço. O lugar é entendido como expressão de
vivencia (FONSECA, 2001 p.96).

Segundo Tuan (1983) ao distinguir o conceito de lugar e o de espaço diz que quanto mais
conhecemos os espaços, mais o diferenciado se mostra e assim o sentido do lugar se torna perceptível. Os
caminhos familiarizados são apropriados pelo sentido do lugar “o que começa como espaço indiferenciado
transforma-se em lugar a medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor” (TUAN, 1983 p.6).
Durante a intervenção alguns momentos foram representados pelos moradores nos rituais e nos
eventos. A autonomia se mostrou fortalecida, pois mesmo quando não tinham atividades da intervenção
agendadas, passaram a registrar o cotidiano através da fotografia. Assim representaram a reza de Santo
Antonio (tradição local); o terno das almas na Semana Santa (há 30 anos não comemorado) e os
aniversários comunitários. Dessa forma a memória expressada pela vivência cotidiana, com as lembranças
vividas, cuja cultura relaciona às tradições, dá sentido à valorização dos lugares
Para Fonseca (2001) a identidade do lugar é constituída por três elementos: o cenário, as atividades
e os significados. Ou seja, o cenário enquanto espaço vivido, as atividades como ações registradas no
ambiente e os significados destes presentes no lugar. A memória é de extrema relevância para o estudo
dos ambientes, pois alcança a construção de identidades, considerando que o homem culturalmente
exerce grandes transformações nos seus espaços de vivências, ou seja, em seus lugares. Identifica-se mais
uma vez a problemática ambiental quando há o descontrole ou não cuidado com o ambiente e suas
interações.
A compreensão do conceito de lugar para intervenção social pauta-se na busca, na troca, na
interação, na apropriação, na aprendizagem. Esta interação denominada por “educação” por Almeida
(2000), pois para o autor, a educação não existe por si, é uma ação conjunta entre as pessoas que
cooperam, comunicam-se e comungam do mesmo saber e garante,
Por isso, educar não é um ato ingênuo, indefinido, imprevisível, mas um ato histórico
(tempo), cultural (valores), social (relação), psicológico [...], afetivo , existencial (concreto) e, acima
de tudo, político, pois, numa sociedade de classes, nenhuma ação é simplesmente neutra, sem
consciência de seus propósitos (ALMEIDA, 2000 p. 12)

Alguns estudiosos reforçam a importância da educação na perpetuação da sociedade de maneira


mais consciente e socialmente justa. Na perspectiva a consciência implica um movimento dialógico entre o
desvelamento crítico da realidade e a ação social transformadora, em uma educação recíproca (LOUREIRO,
2005) que ira condicionar não a uma ação pontual, mas processual, de forma continua. Nesse sentido,
agirmos como agente transformador, ou ainda construtor de novas sociabilidades, e da compreensão do
ambiente enquanto espaço de vivências coletivas materializadas subjetivamente nos lugares, denotam a
importância da educação ambiental dos mais variados ambientes aos sujeitos sociais.

3.3 MOBILIZAÇÃO SOCIAL NO AMBIENTE PARA VALORIZAÇÃO DO LUGAR


Partindo do principio de que o fortalecimento de grupos sociais e sua autonomia a partir dos
vínculos culturais estão integrados, a questão ambiental surge na construção de uma sociedade mais justa.
Na obra de Santos (1994) define que o lugar é onde ocorre união dos homens pela diferença, cooperação e
existência cotidiana, e salienta,
O lugar é onde são tecidas relações primárias, identitárias e cotidianas, pois pressupõe
proximidade e contigüidade que favorecem o fortalecimento de laços de solidariedade, capazes de
gerar resistências contra a ordem determinista global (SANTOS, 1996)

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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A ação pedagógica no ato de educar, nesse sentido, rompe as barreiras da educação formal, em
uma noção comungada por Freire (1980), ao qual considera o ato de educar como processo libertário cuja
relação pedagógica é uma construção recíproca, acontece nos mais diversos ambientes, e com os mais
variados sujeitos do processo. Poder olhar a realidade de forma crítica, e pensando em alternativas
coletivas para o bem comum é positivo na intervenção. Dessa forma o papel das lideranças, e do grupo
caminhar junto é essencial na mobilização social que comungam com a valorização do lugar e de fato com a
valorização do ambiente, definidos nas falas seguintes:
A gente os mais velhos, é que tem de retribuir... eles tem de falar e unir com a gente os
mais velhos... e quem chega puxar camaradagem com quem mora e trazer a união (J.S 71 anos)
Estão construindo casas, comprando loteamento... e nos moradores do povoado de
Passagem não pode s aproximar deles...quando eles resolverem chegar ao povoado dar a sua
identidade pra gente também da a nossa e fazer um povoado só, um único povoado... nos aqui
contamos com 9 famílias, por que quem chega não quer aproximar.outro dia chegou uma pessoa
aqui dizendo que ia fazer um abaixo assinado e eu disse não, não é assim...não é chegando de fora
e falar e ditar ordem e a gente perceber que aquela ordem esta errada e nos seguirmos, não.
Vamos ver primeiro, analisar a situação pra ver se vai seguir direitinho.Falei e torno repetir, quem
chega é que tem de fazer amizade com nós moradores mais velhos do povoado (J.P.S 53 anos)

As falas relatam um olhar critico sobre a realidade latente no povoado com o turismo, especulação
imobiliária. Assim avançam quando falam da união e não na exclusão entre moradores mais velhos e os
visitantes que passam a residir no lugar. Essa relação social refere-se também aos princípios de convivência,
ao fortalecimento dos laços de identidade
Os processos que guiam a sociedade e o território são compreendidos a luz de Santos (1994; 1996),
como a capacidade de agir das pessoas e instituições, em sua relação com o ambiente, os modos de
organização da sociedade em variados momentos históricos. Nesse contexto outras falas registram a
mobilização social,
A Passagem tava ‘caida’...todo mês agora em missa aqui na capela de Santo Antonio...por
nos aqui tinha ‘caido’. Como aquela de D. que só anda trancada, tudo de baixo de chave e aqui
não...por muito pequena que fosse... nos não conhecemos outra igreja não, igreja que nos
conhece é essa (J.S 71 anos)
Aqui tava um paradeiro, Santo Antonio tava abandonado, ninguém cuidava dele. E E eu dzia
oh meu Deus aparece alguém aqui. Sempre eu varria, abria a igreja, e não tinha ninguém pra
resolver os problemas pra gente (M.R.B.S 70 anos)
Eu comecei juntar o povoado da Passagem fazendo partilha...passava um final de semana,
outro. E eu gente vamos fazer partilha?Depois da celebração, ou do terço, ou do ofício, vamos fazer
partilha em frente a capelinha de Santo Antonio. Ai vamos, vamos, vamos juntei todo
mundo...talvez muitos nem perceberam o que eu tava fazendo naquele momento, era uma união...
E daí por diante tem as confraternizações, de festa, de aniversario, de casamento, batizados,
Partilha de alegria de recebimento (J.P.S 53 anos)

Para alguns moradores a possibilidade de melhoria das condições sociais, econômicas, da ntureza
ou seja, ambientais dependem “dos de fora”, mas com o tempo e chegada de uma antiga morada nativa,
com o poder da partilha como assim dizem, a mobilização social foi capaz de transformar essa realidade. É
o cuidado com o semelhante, com o lugar, com o ambiente de forma ética, com respeito mutuo. A
Educação Ambiental nesse contexto é definida ressaltando aspectos políticos e sociais, com a possibilidade
de construção de valores, habilidades e atitudes responsáveis na relação sociedade e natureza e para
possibilitar uma sociedade mais justa socioambientalmente, concebendo nesse ínterim o papel
fundamental do lugar, registrado nas memórias individuais, grupais e de fato coletivas.
Como processo de mobilização social iniciante antes da intervenção, por mérito da comunidade
local da Passagem, reflexões sobre o ambiente projetaram propostas de trabalho, tais como tardes
literárias, registro documental e vídeo das histórias e memórias dos moradores; criação de um grupo de
teatro popular PASSARTE; carta de intenções ao poder público sobre a problemática ambiental, produção

João Pessoa, outubro de 2011


1043

de áudio com as cantigas e ladainhas e fortalecer os avanços com os festejos religiosos e demais
confraternizações.
Ao final de cada encontro a auto-avaliação realizada através dos “fatos para reflexão” como
estratégia para trocar informações, impressões e sentimentos, sobre as experiências adquiridas através das
atividades, (re)planejando as ações futuras.
Sem identidade cultural não há propriamente comunidade, porque seria tão – somente um
bando de gente. A razão histórica e concreta da coesão do grupo é o baú de onde se retira a fé em
suas potencialidades, o horizonte de onde provem a envolvência solidária, o fruto da comprovação
da capacidade histórica de sobreviver e criar. (DEMO, 1995, p.18)

Dessa forma valorizar a identidade local que também se transforma, é pensar na relação espaço-
tempo, na relação identidade-memória, na relação educação e sustentabilidade, no embate contraditório
da sociedade capitalista. E educação ambiental, construída coletivamente, é um processo social em que se
transformam reciprocamente os sujeitos agentes dos trabalhos, bem como os agentes multiplicadores das
ações coletivas e sustentáveis no ambiente.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
No trabalho de intervenção social ou até mesmo de extensão, não há receitas prontas, mas uma
base teórica e metodológica associadas as especificidades locais e colaboração mutua (pesquisador/
pesquisados). A educação ambiental é desafiadora e desveladora de múltiplas possibilidades como a
mobilização social e o empoderamento coletivo. Não se dita regras, nem normas em uma intervenção,
apenas o foco no objetivo projetado, organização nas atividades.
Torna-se imprescindível, portanto, a valorização do contexto sócio-espacial, histórico-cultural no
desempenho de ações estratégias de educação ambiental. Uma intervenção educacional se traduz em
novas conjunturas, outras relações entre variados elementos que compõe o ambiente. Relaciona-se,
portanto, a relações de pertencimento, identidade, valorização dos ambientes e promoção de coletivos
educadores.
A relação sociedade e natureza, os abusos e excessos da sociedade capitalista, e a busca pela
autonomia de um grupo social faz a diferença nos projetos de intervenção. Esse é o propósito da educação
ambiental, demonstrando o quão é educacional uma proposta de intervenção, para somar, agregar,
valorizar e tornar as pessoas mais críticas diante da problemática ambiental. O lugar, relacionando a
memória dos construtores do ambiente na intervenção social se faz necessária para dar suporte aos
processos de luta por direitos sociais, ambientais, culturais. Ao sentirem-se como membros atuantes em
um Estado de direito, nos aspectos sociais, políticos e econômicos há possibilidade de exercício da
sustentabilidade com enfoque na educação ambiental.
Para concluir, comungo com as concepções de Martinelli (2006), em que temos a necessidade de
assumir realmente a coragem de transformar o nosso conhecimento silencioso em conhecimento
partilhado, de todos os conhecimentos teórico-metodológicos, na realidade que atuamos. Compreender
coletivamente os nossos espaços de vivência, com criticidade em busca de novas possibilidades, já faz da
intervenção um ato educacional ambientalmente possível.

REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Paulo Nunes. Educação Lúdica. Técnicas e jogos pedagógicos. 10ª edição. São Paulo:
Edições Loyola, 2000.
ANDRADE, Manuel Correia de; Fundação Joaquim Nabuco. Poder político e produção do espaço.
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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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FONSECA, Antonio Ângelo M. A emergência do lugar no contexto da globalização. In: Revista de


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TUAN, Yi-Fu. Espaço & Lugar. São Paulo: difel, 1983

João Pessoa, outubro de 2011


1045

ECO-PERCEPÇÃO E CULTURA RELIGIOSA: O CASO DE ESTUDANTES DE


ENSINO FUNDAMENTAL, ILHÉUS, BAHIA.
Fábio dos Santos MASSENA
UESB / fabiomassena@gmail.com / Professor.
Juliana Gomes PIMENTEL
UESB; juliana_cte5@hotmail.com; Graduanda de Eng.Ambiental.
Lucas Farias de SOUSA
UESB; lfs_36@hotmail.com; Graduando de Eng. Ambiental.

RESUMO
São poucos os trabalhos abordados sobre a temática Educação ambiental e religião, qual elo esses
dois termos possui, e principalmente o poder que a religião tem de persuadir e de trazer bons
ensinamentos para a vida aqui na Terra. Portanto, esse artigo pretende discutir esse tema, a partir de
análises e conceitos do assunto em questão. Desse modo, a elaboração deste trabalho se deu através de
coleta de informações dos alunos de ensino fundamental de escolas públicas do município de Ilhéus, Bahia,
baseados em questionários e entrevistas de curta duração. Todos os resultados obtidos foram
apresentados por meio de gráficos. A metodologia de avaliação utilizada foi de fácil aplicação obtendo
diferentes níveis de resposta para cada idade dos alunos entrevistados. Ao observar todos os dados,
conclui-se que a percepção daqueles que participam de algum movimento religioso é melhor concebida
quando se fala sobre questões socioambientais, porém ainda há um longo caminho a ser percorrido para
que essa mudança de consciência seja efetiva e resulte em mudanças concretas. Espera-se que este
trabalho, ainda embrionário, possa estimular novos debates e estudos que integrem crenças religiosas,
meio ambiente e sua manutenção.
Palavras Chave: Educação Ambiental; Religião, Percepção Ambiental.

1. INTRODUÇÃO
Estamos vivendo em um século em que é quase impossível não nos preocuparmos com as questões
ambientais, pois foram grandes as áreas exploradas pelo homem, resultando em inovações, avanços
tecnológicos e científicos, colaborando para o desenvolvimento e bem estar de todos nós, assim como
grandes impactos ambientais negativos.
Uma das grandes responsáveis por estes impactos foi à percepção equivocada sobre o que é meio
ambiente. Há várias definições de meio ambiente, dentre elas podemos destacar cinco: meio ambiente
como sinônimo de natureza, local a ser apreciado, respeitado e preservado. No qual é preciso um ponto de
vista mais amplo no termo e fazer com que o ser humano entenda que ele próprio faz parte do meio
ambiente, apesar de ser o animal mais disperso da natureza; Meio ambiente como recursos, gerador de
matéria-prima e energia. Nesta, a educação ambiental trabalha a noção de consumo responsável e
solidário, na defesa de acessos à matéria-prima de forma comum e sustentável; Meio ambiente no sentido
de ecossistema, ou seja, um conjunto de realidades ambientais considerando a diversidade do lugar e a sua
complexidade, como casas, escolas, trabalho, etc.; Meio ambiente como biosfera que surge para explicar a
interdependência das realidades sócio-ambientais em todo mundo, tomando como base que a Terra é o
“berço” da vida; Meio ambiente como território de uso humano e de outras espécies de animais. Deste
modo, devem-se considerar todos os significados sobre o termo “meio ambiente” tanto para educação
ambiental quanto para percepção ambiental.
Segundo Faggionato (2007), percepção ambiental pode ser definida como sendo uma tomada de
consciência do ambiente pelo homem, ou seja, o ato de perceber o ambiente que se está inserido,
aprendendo a interagir com o mesmo de forma sustentável aprendendo a proteger e a cuidar do mesmo.
Cada pessoa reage e responde de um jeito diferente quando se trata de ações sobre o ambiente inserido.
Estas atitudes, sejam elas individuais ou coletivas, são resultantes dos processos de percepção, julgamentos
e expectativas de cada pessoa.
Compreender as questões relacionadas ao meio ambiente de forma sistêmica depende das
sensações que são estimuladas através dos cinco sentidos humanos; e só a partir de então, da expressão

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1046

desses estímulos, que ocorre a formação das idéias e da compreensão do mundo que está em sua volta.
Dessa maneira, segue o pensamento de cada indivíduo, como também de seus valores éticos, morais,
culturais, etc.; tornando assim o ser humano capaz de ter suas próprias atitudes e agir conforme sua
própria realidade.
Nesse cenário, é indispensável que os conceitos aqui mencionados andem juntos e tornem menos
impactantes a relação homem x meio ambiente, possibilitando a emancipação cognitiva das populações e
fazendo com que estas entendam a necessidade de cuidar e andar em equilíbrio com a natureza.
Dentre as formas de sensibilização, visando essas mudanças, entende-se que a religião poderia
e/ou deveria ser uma excelente ferramenta de persuasão, um instrumento de conscientização
socioambiental. Segundo Boff (2001, p.88), “a religião é concreta. Possui credo, moral, teologia, santos e
santas, hierarquia, templos, festas, ritos e celebrações”. Assim, os seres humanos buscam através da fé
mergulhar em si próprio e encontrar a paz interior. Ainda segundo Boff (2004), a religião não busca
somente o estudo das escrituras e a busca pela paz interior do homem, mas também, um discurso sobre a
natureza nas suas mais variadas formas. Desta forma podemos supor que os preceitos cristãos estão de
acordo com as premissas da Educação Ambiental na busca de novas relações de respeito à vida.
Entendendo a importância da junção destes dois temas para a sustentabilidade da vida na terra,
detectou-se um número muito reduzido de trabalhos que relacionassem religião e a questão ambiental,
sendo assim, questiona-se: de que forma a questão ambiental é percebida por alunos de escolas públicas
do município de Ilhéus, de acordo com a sua crença religiosa?
Partindo-se desta premissa, o presente estudo buscou identificar o nível de percepção ambiental
de cada aluno de acordo à sua respectiva religião; identificando de que forma entendem o conceito de
meio ambiente; que tipo de problemas observam no local onde vivem; como se relacionam com o meio
ambiente e relacionar esses índices com a sua participação em atividades relacionadas à temática aqui
discutida.
Para responder a esses objetivos, foram selecionadas alunos de ensino fundamental de escolas
públicas do município de Ilhéus, Bahia, que participavam de um programa de Educação Ambiental, há dois
anos totalizando 20 escolas.
Os gestores das unidades escolares foram consultados sobre sua participação voluntária na
pesquisa, assinando um termo de autorização para levantamento dos dados, sendo uma cópia arquivada
na escola.
Na coleta de dados utilizou-se como metodologia a aplicação de questionários com perguntas
abertas e fechadas. O questionário foi composto por perguntas envolvendo, como principais aspectos,
conhecimentos sobre o meio ambiente em geral, percepção sobre a realidade local bem como participação
na transformação dessa realidade, além de sua opção quanto ao tipo de crença religiosa adotada.

2. PERCEPÇÃO SOBRE O NATURAL E O ARTIFICIAL


No capítulo a seguir, será discutida a forma que os entrevistados entendem meio ambiente, bem
como os tipos de problemas que observam no entorno onde vivem, além de sua relação com o meio,
agrupados todos de acordo com sua concepção religiosa. Para melhor apresentação das figuras, adotou-se
a seguinte codificação: (C) para alunos que declararam serem católicos, (P) para aqueles que se
identificaram como protestante e (O) para os discentes que apenas afirmaram acreditar em Deus.
De acordo com estudos da área ambiental, muitos pesquisadores consideram que a concepção de
meio ambiente não pode ser definida apenas em um único conceito rígido e definitivo. Sendo mais
relevante estabelecer o mesmo como uma “representação social”, ou seja, uma visão que constantemente
sofra mudanças ao longo do tempo e depende do grupo social em que é utilizada.
Essas variações de concepções, que são influenciadas pelos valores socioculturais, éticos e morais
de cada um, irão se refletir em práticas que poderão ser danosas ou positivas aos recursos naturais. Neste
sentido identificou-se que a concepção de meio ambiente defendida pelos entrevistados é variada e ainda
muito fragmentada, não havendo uma diferença significativa entre o tipo de ideologia religiosa, ou seja,
tanto o grupo de católicos quanto os demais grupos, em sua maioria, concebem o ambiente como algo
composto por elementos unicamente naturais, excluindo ainda o ser humano desse sistema (Figura 1). Algo
muito grave quando se entende que o homem, parte integrante do meio ambiente, é o agente que mais
causa danos ao equilíbrio dos ecossistemas do planeta.

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Figura 1: Concepção dos entrevistados sobre meio ambiente

Mesmo a definição de meio ambiente da maioria dos entrevistados não incluir o ser humano de
forma efetiva, quando argüidos sobre os principais problemas observados no lugar onde vivem, pode-se
perceber que 100% dos problemas observados por eles, são causados pelo homem, o que leva-nos a
verificar a necessidade de um trabalho mais efetivo de Educação Ambiental, coordenado principalmente
pelas lideranças religiosas, neste caso.

Figura 2: Percepção sobre os principais problemas observados no lugar onde vivem

Apesar dos alunos possuírem religiões diferentes, grande parte dos entrevistados tiveram a mesma
percepção com relação homem x natureza. Denominou-se que esta relação era ruim e cerca de 41% dos
católicos, 35% dos protestantes, 33% dos que dizem somente acreditar em Deus afirmam que o principal
problema de seu bairro ocorre, intrinsecamente, devido a relação ruim entre o homem e o meio ambiente,

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1048

problema no qual é chamado lixo - comum não só em periferias, mas também em pequenos e grandes
centros urbanos brasileiros.
É sabido que a relação do ser humano para com a natureza não vai bem há séculos. A idéia de que
a natureza existe somente para satisfazer as vontades e as necessidades do homem perdurou durante
muito tempo, sem que houvesse algum questionamento amplo e pautado em pesquisas bem embasadas.
Porém essa concepção e esse hábito já estão sendo mudados.
Há alguns anos o assunto meio ambiente vem sendo discutido com mais freqüência pelas escolas e
pela mídia, assim educando e conscientizando pessoas no maior âmbito possível. Ainda é pouco para o que
precisa, mas já mostra mudanças na relação homem e natureza, como demonstra a figura (3). Cerca de
51% a 58% dos entrevistados de ambas as religiões afirmam ter uma boa relação com a natureza.

Figura 3: Definição de como definem sua relação com o meio ambiente.

Claro que este tipo de dado, para ser confirmado com maior segurança, necessitaria de um estudo
mais aprofundado, onde pesquisas de campo devem ser realizadas com um maior detalhamento e tempo.
No entanto, como este estudo fez parte de um amplo programa de extensão em Educação Ambiental no
município, pode-se afirmar que as atitudes observadas, ao menos no ambiente escolar expressam uma
considerável mudança de atitudes em relação à conservação do ambiente local, logicamente seria muito
frágil afirmar que este comportamento está se refletindo fora desde ambiente.

3. PARTICIPAÇÃO COMO FERRAMENTA DE MUDANÇAS DE COMPORTAMENTO


Atualmente é possível perceber que a Educação Ambiental tem recebido maior atenção por
parte dos meios de comunicação, dos responsáveis pela elaboração das políticas públicas, das autoridades
religiosas entre outras, porém, infelizmente, isso não se reflete necessariamente em práticas na maioria
dos casos, principalmente por entendermos que ações de sensibilização ambiental devem ser muito mais
complexas e profundas do que apenas a elaboração de cartazes, breves chamadas na mídia, palestras etc.
Sua utilização de forma tecnicamente planejada é fundamental, uma vez que é reconhecidamente
indispensável quando se pretende alcançar mudanças de valores e atitudes frente às questões
socioambientais.
Contudo, para que isso ocorra efetivamente, todos devem entender o ambiente, segundo Boff
explica: como uma “Mãe”. Pois uma mãe, ao menos na maioria dos casos, não se explora, não se maltrata,
sempre se espera que viva por muito tempo e com boa saúde.

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Esse pensamento não pode ser banalizado e sim utilizado de tal forma que faça parte do dia-a-dia
de todos os seres humanos e para isso, é necessário que haja a participação efetiva de todos, seja em
projetos, programas e quaisquer ações voltadas para esse assunto.
As religiões por trazerem ensinamentos de fé, envolvendo um grande número de pessoas,
tornam-se importantes agentes de efetivação dessa prática, através da mudança de consciência. Nessa
premissa da fé, está inserido o cuidado com o meio ambiente, conforme está descrito no livro de Genesis
2:15 da Bíblia Sagrada: “Tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o
cultivar e o guardar”.
Algumas igrejas realizam atividades voltadas para este fim, a igreja Católica, por exemplo, realiza
anualmente no período da Quaresma a chamada Campanha da Fraternidade, lançando temas de tamanha
importância e que tenham grande repercussão entre os povos que acreditam poder fazer mais e melhor
para o ambiente que nele habita.
E visando contribuir para que a natureza se recupere dos maus tratos ocasionados pela ação
humana, através da instrução das pessoas sobre a preservação e uso dos recursos naturais de maneira
sustentável e consciente, que temas relacionados sobre meio ambiente foram difundidos ao longo das
Campanhas, podendo citar alguns: Preserve o que é de todos (1979), sendo este o primeiro tema na
história do Brasil a se discutir o cuidado com o planeta; Fraternidade e Água (2004); Fraternidade e
Amazônia (2007); e o mais recente, Fraternidade e a Vida no Planeta, lançado em 2011.
O que pode ser questionado é a eficiência dessas campanhas, em nível macro e mais localizadas,
também realizadas por algumas outras denominações. Pois no estudo realizado, conforme figura 4, é
possível perceber que, ao menos no grupo estudado, não há participação dos agentes em atividades que
tratem sobre questões ambientais nas igrejas em que frequentam.
Isto pode estar acontecendo devido à carência de agentes para a disseminação das campanhas
e/ou atividades em um nível local, seja por falta de planejamento ou competência de quem está à frente
das mesmas.

Figura 4: Participação em projetos e/ou atividades sobre questão ambiental

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao se trabalhar com o tema em questão, como também nas pesquisas realizadas para se
poder apresentar esse novo conteúdo para todas as categorias interessadas em obter mais conhecimento
sobre o relatado em conjunto religião e Educação Ambiental, pode ser verificado o déficit que ainda ocorre
entre o ato das religiões, aqui mencionadas, estarem passando para a sociedade assuntos de grande

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1050

preocupação sobre o meio ambiente e a prática desses seguimentos sociais com relação à preservação e
utilização adequada dos recursos naturais no ambiente habitado; tornando-se necessário uma maior
conscientização da população, seja por meio das religiões como nos próprios ambientes educacionais
freqüentados.
No entanto, este artigo teve como objetivo demonstrar uma possível discussão abordando
questões religiosas nos diálogos pertinentes para a Educação Ambiental dentro do espaço onde se realizou
a coleta dos dados, estabelecendo aqui que este não é um tema a ser discutido de interesse apenas das
religiões, sendo que cada percepção dos indivíduos ou interpretação pode colaborar para o embasamento
do aprendizado da relação entre ser humano e natureza.

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2010
JACOBI, P. Cidade e meio ambiente. São Paulo: Annablume, 1999.

João Pessoa, outubro de 2011


1051

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO ESTRATÉGIA DE CONSCIENTIZAÇÃO E


MOBILIZAÇÃO SOCIAL AOS FREQUENTADORES E COMERCIANTES DA
PRAÇA DA PAZ, LOCALIZADA EM JOÃO PESSOA - PB
Juliana Innocêncio Fernandes
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba, Av. 1 de Maio, 720 - Jaguaribe – João Pessoa – PB – CEP:
58015-430, juh.innocencio@hotmail.com, Estudante do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental
Vivanny Carmem Fernandes de Azevedo
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba, Av. 1 de Maio, 720 - Jaguaribe – João Pessoa – PB – CEP:
58015-430, vivannyazevedo@hotmail.com, Estudante do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental
Claudiana Maria da Silva Leal
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba, Av. 1 de Maio, 720 - Jaguaribe – João Pessoa – PB – CEP:
58015-430, claudiana.leal@gmail.com,
Doutoranda e Professora do IFPB – Campus João Pessoa

RESUMO
A Educação Ambiental é uma ferramenta interdisciplinar que proporciona uma inter-relação entre
o homem e o meio ambiente, propiciando melhoria na qualidade de vida, constituindo-se em uma
importante estratégia nas questões ambientais, principalmente no que se referente aos resíduos sólidos.
Os programas de Educação Ambiental se mostram fundamentais para a conscientização sobre temas como
a coleta seletiva e a reciclagem. Levar essas propostas a espaços públicos, como praças, é uma estratégia
interessante pelo grande número de pessoas que freqüentam, das mais variadas faixas etárias, pois a
Educação Ambiental é instrumento importante de mobilização social para mudança de atitudes e
comportamentos, especialmente em projetos relacionados à coleta seletiva. A Praça da Paz no bairro dos
Bancários, na cidade de João Pessoa – PB foi construída e revitalizada a fim de proporcionar melhoria na
qualidade de vida dos moradores da comunidade. Estando esta localizada em uma área com altas taxas de
crescimento econômico e populacional, o descarte dos resíduos sólidos acompanha esse ritmo. Diante
disso o presente trabalho busca tratar da problemática dos resíduos sólidos gerados na Praça da Paz,
analisando a concepção ambiental dos usuários e comerciantes do local, tendo a Educação Ambiental como
estratégia de Conscientização e Mobilização Social. Para se obter resultados sobre o conhecimento dos
comerciantes e usuários acerca da temática Educação Ambiental e Coleta Seletiva foi realizada pesquisa de
campo seguindo técnicas de observação direta intensiva, aplicando-se questionários com os gestores dos
estabelecimentos comerciais localizados no interior e em volta da praça e com as pessoas que ela
frequentam; e ainda a observação extensiva dos locais de descarte de resíduos (caracterização qualitativa e
quantitativa). Os dados recolhidos apontam a importância de se promover um Programa de Gestão
Ambiental permanente com ênfase na Educação Ambiental, ressaltando a importância da Coleta Seletiva
na Praça da Paz.
Palavras-chave: Educação Ambiental; conscientização; resíduos sólidos; coleta seletiva; Praça da
Paz

1. INTRODUÇÃO
A crescente e desordenada ocupação das terras, motivada, em geral, pela urbanização e
pelo constante crescimento populacional, acarretam em impactos ambientais, impondo danos não só ao
meio ambiente como também promovendo a perda da qualidade de vida das populações residentes, além
do que, via de regra, imputa em prejuízos à economia da região. Como impactos negativos desta situação
destacam-se, por exemplo, o aumento da geração de resíduos, da paisagem artificial e de um ineficiente
monitoramento das áreas urbanas.
Nota-se que inúmeros são os problemas causados pela má ou insuficiente gestão dos
resíduos sólidos. Fatores como mau cheiro, poluição visual, aparecimento de roedores e insetos e a
destinação final dos resíduos sólidos tornam-se cada vez mais preocupantes por propiciarem a incidência
de vetores, comprometendo a saúde e qualidade de vida da população que ali habitam.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1052

Outro fator decorrente do aumento populacional refere-se à expansão da paisagem


artificial em detrimento das áreas verdes, acarretando em efeitos negativos tanto ao meio natural quanto à
população humana. Observa-se a diminuição da biodiversidade da fauna e flora local, assim como a
crescente interferência nos processos climáticos e hídricos, podendo afetar a qualidade e quantidade da
água superficial e subterrânea. A eliminação de áreas vegetadas ainda contribui para alterações no
microclima, com surgimento de ilhas de calor e variações na umidade do ar, afetando os seres humanos.
A fim de amenizar estes problemas e proporcionar a população um espaço destinado para
recreação e contato com a natureza, as praças, por exemplo, proporcionam qualidade de vida através da
manutenção de áreas verdes, contribuindo para a minimização das consequências advindas pela
urbanização.
Para tanto, é fundamental a existência de um eficiente monitoramento das áreas urbanas,
capaz de assegurar o que é determinado nos instrumentos normativos destinados à preservação do meio
ambiente, garantindo o que é proposto pela Constituição Federal em seu artigo 225 que diz que “todos têm
direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso do povo e essencial à sadia qualidade de
vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações”.
Mediante o exposto, o objetivo desta pesquisa é abordar questões da problemática dos
resíduos sólidos existentes na Praça da Paz, no bairro dos Bancários em João Pessoa – PB, fazendo o uso da
Educação Ambiental como estratégia de Conscientização e Mobilização Social aos seus frequentadores e
comerciantes.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A gestão e a disposição inadequada dos resíduos sólidos causam impactos socioambientais,
resultando em riscos à saúde pública, provocando degradação ambiental, além dos aspectos sociais,
econômicos e administrativos envolvidos na questão. Desse modo além de uma gestão eficiente é
necessário trabalhar a conscientização da população, para que os esforços em conjunto tragam resultados
satisfatórios.
Nesse sentido, a Educação Ambiental surge como uma ferramenta interdisciplinar que
proporciona uma inter-relação entre o homem e o meio ambiente, propiciando melhoria na qualidade de
vida abrangendo as áreas não só ambiental, mas também, cultural, social, econômica, etc. Sendo uma
importante estratégia nas questões ambientais, principalmente no que se referente aos resíduos sólidos.
Segundo Silva e Martim (2001) a Educação Ambiental é um instrumento poderoso de que a
sociedade dispõe no momento para resgatar valores capazes de induzir crianças e jovens a perceberem a
natureza como um bem comum, a ser compartilhado com base no sentimento de solidariedade e
responsabilidade. De acordo com a Lei nº 9.795/99:
“Entende-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade
constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competência voltadas para a
conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua
sustentabilidade” (BRASIL, 1999).
Assim, a Educação Ambiental é um instrumento fundamental para a gestão dos resíduos
sólidos, pois é um processo que integra valores, conhecimentos e a participação social, objetivando
promover a conscientização da população sobre o seu papel de co-responsável pelos problemas
ambientais, despertando nos cidadãos o compromisso de cuidar do meio ambiente para as presentes e
futuras gerações.
Segundo Bredariol (1998), uma das ações que visam à educação, consciência e treinamento
do público para com o meio ambiente é incentivar escolas a planejar programas de educação ambiental.
Esses programas se mostram fundamentais para a conscientização sobre temas como a coleta seletiva e a
reciclagem. Ampliar esses programas a espaços públicos, como praças, também é uma estratégia
interessante pelo grande número de pessoas que freqüentam, das mais variadas faixas etárias, pois a
Educação Ambiental é instrumento importante de mobilização social para mudança de atitudes e
comportamentos, especialmente em projetos relacionados à coleta seletiva.

João Pessoa, outubro de 2011


1053

O trabalho de Educação Ambiental é complexo, pois envolve mudança de comportamento


e de atitudes, sendo mais complicado de trabalhar com pessoas que já têm esses conceitos formados. Para
Ab’Saber (1991), a Educação Ambiental constitui:
“um processo que envolve um vigoroso esforço de recuperação de realidades, nada simples. Uma
ação, entre missionária e utópica, destinada a reformular comportamentos humanos e recriar valores
perdidos ou jamais alcançados. Um esforço permanente na reflexão sobre o destino do homem – de todos
os homens – face à harmonia das condições naturais e o futuro do planeta ‘vivente’, por excelência. Um
processo de Educação que garante um compromisso com o futuro. Envolvendo uma nova filosofia de vida.
E, um novo ideário comportamental, tanto em âmbito individual, quanto na escala coletiva” (AB’SABER,
1991),
No contexto da Educação Ambiental, as campanhas educativas têm um papel fundamental
na implantação de programas de gestão ambiental e de coleta seletiva, pois elas contribuem para mobilizar
a comunidade, propiciando uma participação efetiva. Assim, trabalhar a Educação Ambiental como um
processo permanente e contínuo, colabora para a conscientização da população acerca do seu ambiente,
contribuindo ainda para a construção de valores e hábitos sustentáveis.
Desse modo, a Educação Ambiental forma agentes multiplicadores para a constituição do
desenvolvimento sustentável. Reigota (1997) defende que “a educação, seja formal, informal, familiar ou
ambiental só é completa quando a pessoa pode chegar nos principais momentos de sua vida a pensar por si
próprio, agir conforme os seus princípios, viver segundo seus critérios”. Assim, tendo essa premissa básica
como referência, propõe-se que a Educação Ambiental seja um processo de formação dinâmico,
permanente e participativo, no qual as pessoas envolvidas passam a ser agentes transformadores,
participando ativamente da busca de alternativas para a redução de impactos ambientais e para o controle
social do uso dos recursos naturais.

3. METODOLOGIA
3.1 Área de estudo
A Praça da Paz localiza-se entre as coordenadas 7°8'50"S de latitude Sul e 34°50'36"W de
longitude, na avenida principal do bairro dos Bancários na zona sul do município de João Pessoa – PB,
abrangendo uma área de 20.159,20 m², sendo composta por diversas opções de esporte e lazer, como
vôlei, futebol, área para caminhada, anfiteatro para apresentações e palestras, biblioteca, equipamentos de
exercícios físicos, ponto de ônibus, pista de skate e parque (Figura 1). Em seu envolto está localizada a
Universidade Federal da Paraíba – UFPB, Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ, o bairro mais
populoso de João Pessoa (Mangabeira), escolas públicas e privadas, e, em frente à praça, localiza-se um
supermercado, um hipermercado, um shopping e outros estabelecimentos comerciais.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Figura 1 – Localização da Praça da Paz em João Pessoa/PB

A área pública foi revitalizada em 2005 dentro do Programa de Recuperação de Praças,


Parques, Passeios e Jardins da Prefeitura Municipal de João Pessoa, com o intuito de melhorar a qualidade
de vida e a auto-estima da população que se beneficia daquele espaço. A recuperação da Praça da Paz
trouxe inúmeros benefícios para a população do bairro e de bairros vizinhos, tornando-se um ponto de
encontro e contribuindo a ser um dos locais mais visitados da cidade por ser um espaço destinado à prática
de esportes e a apresentação de atividades culturais.

3.2 Procedimentos metodológicos


O estudo possui um caráter estatístico descritivo, fundamentando-se na idéia da utilização
de dados para obter generalizações. A pesquisa foi desenvolvida com os usuários e comerciantes da Praça
da Paz, em dois momentos. Primeiro, utilizaram-se técnicas de documentação indireta (análise de
documentos, sendo os principais arquivos públicos e privados e fontes estatísticas, além do calendário
cultural da Praça da Paz junto à prefeitura) e posteriormente técnicas de observação extensiva, com a
observação da praça, dos locais de concentração de descarte de resíduos e pontos de coleta. Feito isso,
partiu-se para o diagnóstico dos resíduos gerados na praça, onde foram quantificados e qualificados
durante uma semana a fim de se obter uma média de produção de resíduos. Foram utilizadas técnicas de
diagnóstico, através da aplicação de questionários envolvendo os usuários e comerciantes da praça, com o
objetivo de analisar a concepção dos mesmos sobre Educação Ambiental, a coleta seletiva e o destino que
dão aos resíduos que geram no local, para se obter um primeiro diagnóstico. No segundo momento, esta
etapa foi repetida a fim de se analisar a evolução da concepção ambiental dos envolvidos. Nos dois
momentos, a amostra de usuários foi de 100 (cem) pessoas que foram abordadas na praça, onde se
explicou a pesquisa em questão junto com um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, assegurando a
proteção da imagem dos participantes, respeitando valores morais, culturais, religiosos, sociais e éticos.
Como condição da participação na pesquisa o entrevistado permitiu aos pesquisadores a coleta de dados
necessários para o estudo. O mesmo foi feito na primeira vez com 14 (quatorze) e da segunda vez com 10
(dez) donos de estabelecimentos da Praça da Paz.

4. RESULTADOS
No primeiro momento da pesquisa em 2009, através dos levantamentos e observações
acerca dos resíduos, pode-se constatar que na Praça da Paz, há vinte e um coletores de lixo, sendo os
mesmos não apropriados para a coleta seletiva e alguns estão deteriorados não estando distribuídos de
forma a atingir os locais onde há uma maior concentração de pessoas, ou seja, onde existe um maior
descarte de lixo. O caminhão responsável pela coleta do lixo, passa fazendo a coleta nas segunda, quartas,
sextas e sábados, no período da noite (entre 16h e 23h) em três pontos da praça (Figura 2).

João Pessoa, outubro de 2011


1055

Figura 2 – Pontos de depósito de lixo na Praça da Paz – João Pessoa/PB

A caracterização foi aplicada nestes três pontos de depósito de lixo que se localizam
próximos aos pontos comerciais. Verificou-se durante uma semana a quantidade de lixo produzido pela
praça nos três pontos e, em média, são produzidos mais de 586 kg de lixo por dia (Tabela 1).

Tabela 1 - Quantificação do lixo gerado na Praça da Paz, no período de uma semana.

No ponto 1, obtive-se um total 102,600 Kg de lixo, sendo que, 69,600 Kg foi classificado
como lixo molhado e 28 Kg como lixo seco, sabendo que há perdas nesse tipo de processo. No ponto 2,
obtive-se um total de 61,800 Kg, sabendo que 55,600 Kg foi de lixo seco e 6,200 Kg foi de lixo molhado. Por
sua vez, no ponto 3, não pode-se realizar a caracterização devido haver lixo de estabelecimentos que não
pertenciam à área delimitada da praça.
A fim de se obter resultados sobre o conhecimento dos frequentadores e comerciantes da
Praça da Paz acerca da temática Educação Ambiental como estratégia de conscientização e mobilização
social, realizou-se pesquisa de campo seguindo as técnicas de observação direta intensiva, através da
aplicação de questionários com os freqüentadores e os gestores dos estabelecimentos comerciais
localizados no interior e em volta da Praça, nos anos de 2009 e 2011 com o objetivo de obter um
comparativo sobre a evolução da concepção ambiental do público-alvo em questão, obtendo os seguintes
resultados:
No ano de 2009, 80% dos frequentadores afirmaram saber o que é coleta seletiva, 16% assumiram
que desconhecem e 4% confirmaram saber apenas em parte. Em 2011, 78% disseram conhecer o que seria
coleta seletiva, 8% não sabem e 14% confirmaram saber apenas parcialmente (Gráfico 1);

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1056

Gráfico 1 – Conhecimento dos frequentadores da Praça da Paz a respeito da Coleta Seletiva

Na maioria das vezes, os frequentadores da Praça da Paz costumam gerar resíduos. Diante disto,
constatou-se que, em 2009, 81% dos usuários depositavam o lixo gerado por eles mesmos nos coletores
situados na Praça, 12% guardavam e descartavam no lixo da sua casa, 5% deixavam no local para ser
recolhido pelo agente de limpeza e 2% tomavam outras medidas. Felizmente, em 2011, estes dados
mudaram, passando para 84% os que depositavam nos coletores, 10% guardavam para um posterior
descarte, 4% deixava no local para ser recolhido pelo agente de limpeza e, ainda, 2% tomavam outras
medidas (Gráfico 2);

Gráfico 2 - Descarte dos resíduos sólidos gerados pelos frequentadores da Praça da Paz

Partindo a aplicação destes questionários aos comerciantes da Praça da Paz e aqueles localizados
ao seu redor, constatou-se que, em 2009, 71,4% afirmaram saber o que seria coleta seletiva, 21,4%
disseram que não sabiam e 7,2% afirmaram saber apenas parcialmente. Porém, no ano de 2011, 100% dos
entrevistados afirmaram saber o que seria coleta seletiva. Vale salientar que estes dados foram
respondidos pelos próprios entrevistados, podendo alguns deles ter emitido realmente a resposta (Gráfico
3);

João Pessoa, outubro de 2011


1057

Gráfico 3 – Conhecimento dos comerciantes da Praça da Paz a respeito da Coleta Seletiva

Um problema bastante notório na Praça da Paz é o fato dos comerciantes não praticarem aquilo
que é proposto pela Coleta Seletiva. Diante disto, em 2009, constatou-se que 92% não separam os resíduos
que são gerados no seu estabelecimento, enquanto que, apenas 7,2% separam os resíduos. Já em 2011,
70% afirmaram que depositam os seus resíduos sem separar o material reciclável do não-reciclável em
sacos plásticos para posterior recolhimento pela empresa de limpeza urbana, 10% faz a separação algumas
vezes e apenas 20% dos donos dos estabelecimentos fazem a coleta seletiva, separando o que é reciclável,
porém o mesmo acaba sendo misturado com o lixo orgânico, devido não haver um recolhimento seletivo
destes resíduos (Gráfico 4);

Gráfico 4 – Descarte dos resíduos gerados nos estabelecimentos dos comerciantes da Praça da Paz

Por fim, perguntou-se a aos comerciantes da Praça da Paz e daqueles localizados ao seu redor o
que eles achavam a respeito da Proposta de Implantação de um Programa de Coleta Seletiva e Educação
Ambiental permanente na Praça da Paz. Em 2009, 78,6% acharam a ideia ótima, enquanto que, 21,4% não
se mostraram tão esperançosos quantos aos resultados deste Programa, mesmo acreditando que possa ser
satisfatório. Em 2011, obteve-se que, 30% acharam ótimo, 60% acreditaram que poderia dar certo e, ainda,
10% afirmaram que não iria adiantar (Gráfico 5).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1058

Gráfico 5 – Opinião dos comerciantes da Praça da Paz sobre a Proposta de Implantação de Coleta
Seletiva e Educação Ambiental

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, constata-se que a Praça da Paz recebe uma grande e diversificada
quantidade de usuários diariamente, contribuindo para uma maior geração de resíduos, que muitas vezes
não recebem o destino correto. É por esta razão que se torna imprescindível um gerenciamento eficiente
dos resíduos sólidos na Praça da Paz, resultantes da produção em grande escala, pelo elevado número de
pessoas que transitam naquele espaço físico, a fim de reduzir os transtornos à saúde da população e ao
meio ambiente em geral, pelo volume de resíduos não gerenciados, de forma sustentável em uma área
pública que tem a finalidade de ser utilizada para lazer, qualidade de vida, descontração, encontros,
atividades físicas, eventos públicos, dentre outros. Portanto, percebe-se a importância de promover a
Educação Ambiental como Estratégia de Conscientização e Mobilização Social aos freqüentadores e
comerciantes da Praça da Paz. Para tanto, sugere-se a um Programa de Implantação de Coleta Seletiva e
Educação Ambiental, onde será abordada a temática ambiental através de palestras, oficinas, eventos,
teatros, entre outros, atingindo as mais diferentes faixas etárias que lá se encontram para, posteriormente,
inserir coletores seletivos e criar PEV’s em pontos estratégicos na Praça a fim de firmar que todo o
conhecimento seja revertido em segurança, saúde e bem-estar para toda a população freqüentadora do
local.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AB’SABER, A. N. (Re) conceituando Educação Ambiental. RJ: CNPq, MAST, 1991.
BRASIL. Constituição da República Federativa ao Brasil, 1998.
BRASIL. Política Nacional do Meio Ambiente. Lei nº 6938, de 31 de Agosto de 1981
BREDARIOL, C.; VIEIRA, L. Cidadania Ambiental. Rio de Janeiro: Editora Record, 1998.
MARCATTO, C. Educação ambiental: conceitos e princípios. Belo Horizonte: FEAM, 2002. 64 p.
MATOS, K.S. A. L. (Org.) Educação Ambiental e Sustentabilidade II. Fortaleza: Edições UFC, 2010.
241p.
REIGOTA, M. Educação Ambiental: autonomia, cidadania e justiça social. In: Debates Sócio
Ambientais. N.° 7, ano II, ago/set. CEDEC, 1997.
SILVA, M. R.; MARTIM, M. S. C. Educação ambiental e formação docente. In: Congresso Nordestino
De Ecologia, 8. Natal, 2001. Anais... Natal: SNE, 2001. 1cd.

João Pessoa, outubro de 2011


1059

CORREDOR AMBIENTAL: UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO PEDAGOGICA


Karina do Valle MARQUES
Mestre Ciências pela Universidade de São Paulo e Docente do Curso de Medicina da Universidade Federal do Tocantins –
TO
karinadovalle@uft.edu.br
Endereço Institucional: Campus de Palmas, Curso de Medicina da Universidade Federal do Tocantins. Av: NS 15 ALC NO 14,
109 Norte; CEP: 77001-090; Palmas-TO
Layanna Giordana Bernardo LIMA
Mestre em Ciência do Ambiente pela Universidade Federal do Amazonas e Docente da Universidade Federal do Tocantins –
TO.
layanna@uft.edu.br
Endereço Institucional: Campus de Miracema, Curso de Pedagogia da Universidade Federal do Tocantins. Nº 41, nº 348,
Bairro Universitário; CEP: 77650-000

RESUMO
O projeto “Corredor Ambiental” é uma proposta de intervenção pedagógica com os acadêmicos da
Universidade Federal do Tocantins dos curso de Educação Física, Pedagogia e Historia. A nomeação de
“Corredor Ambiental” segue a lógica do conceito original dos corredores ecológico ou corredor de
biodiversidade. A idéia foi de ligar as questões ambientais intengradas problemas socioambientais da
população, sendo eles de saúde, moradia, estilo de vida e desigualdade social. O Corredor Ambiental se
constitui metodologicamente através de atividades de sensibilização, informação, de mobilização social, e
de metodologias participativas com os acadêmicos nos espaços da universidade. Nessa perspectiva
utilizamos o recurso de vídeos educativos para o estimulo da conscientização do aluno sobre problemas
atuais em relação ao aquecimento global, meio ambiente e saúde.
Palavras – Chaves: Educação; Ambiente; Mobilização Social.

Introdução
A principal tarefa da educação é de intervir de maneira positiva na sociedade, com o intuito de
proporcionar as pessoas uma formação coerente e integral, que possibilite a transformação do ser. Todavia
a formação, e a mudança de atitude, segundo Freire (1997)69, apenas são possíveis quando os formadores
sociais tiverem a concepção de que “só o ser que tornou, através de sua longa experiência no mundo,
capaz de significar o mundo é capaz de mudar o mundo e é incapaz de não mudar”. Freire (2000, p.31)
A problematização das relações entre a sociedade e o ambiente e a nova consciência planetária,
resultante de uma urgência mundial de cuidado com o planeta terra, nossa morada no universo, cria um
novo significado e estatuto ao meio ambiente, uma nova concepção de convivência entre o homem -
natureza. O mundo torna – se um “todo”, por meio das inovações tecnológicas e globalização. De uma
maneira simplificada podemos dizer que o meio ambiente tornou-se problemático porque se intensificaram
e ampliaram os impactos e o mal-estar, individuais e sociais, provenientes da relação entre a sociedade e o
ambiente, porque se acirraram os conflitos pela posse e uso dos bens ambientais, porque se tornou mais
visível o potencial predatório do estilo de vida e desenvolvimento ocidental e também porque se
aprofundaram a observação, a reflexão, a pesquisa e a divulgação dos problemas sócio-ambientais
presentes e futuros. Numerosos exemplos concretos ilustram a constituição de uma questão ambiental na
sociedade contemporânea.
Assim o conhecimento das dinâmicas sociais, econômicas e culturais dos atores envolvidos no
processo de apropriação do espaço é importante para entendermos a complexidade do ambiente, não
apenas na concepção de natureza, ecossistema, mas nas relações de espaços organizados por ações
antrópica. Em consonância Loureiro (2000), acredita que a educação ambiental:
“ (...) é uma práxis educativa e social que tem por finalidade a construção de valores,
conceitos habilidades e atitudes que possibilitem o entendimento da realidade de vida e atuação

69
Conferência proferida em fevereiro de 1997, em Recife (PE), em evento promovido pelo Serviço
Social da Indústria (SESI).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1060

lúdica e responsável de atores sociais individuais e coletivos no ambiente.Nesse sentido, contribui


para a tentativa de implementação de um padrão civilizacional e societário distinto do vigente,
pautado numa nova ética da relação sociedade – natureza.” ( LOUREIRO, 2000, p.69.)70

Atualmente somos personagens de um cenário composto de realidades diferentes. Estamos


inseridos numa rede de informações esparsas, possibilitadas pelo advento da revolução tecnológica e
informacional. Desse modo os conhecimentos das informações não podem ser fragmentados, e nem
descontextualizados. Segundo Carvalho (2008, p.76):
A interação com o ambiente ganha o caráter de inter – relação, na qual aquele se oferece
como um contexto do qual fazemos parte, envolvidos que somos pelas condições ambientais
circundantes, ao mesmo tempo em que nós, como seres simbólicos e portadores de linguagem,
produzimos nossa visão e nossos recortes dessa realidade, construindo percepções, leituras e
interpretações do ambiente que nos cerca.

As práticas de educação ambiental têm, permanentemente, que estabelecer um diálogo com estas
redes de conhecimento e informações, buscando estabelecer novas formas de inter-relações com o
conhecimento historicamente construído. A prática pedagógica nos processos de educação ambiental
precisa ser baseada em uma pedagogia dialógica e de construção social para a transformação da sociedade

1.2. Educação Ambiental e Mobilização Social.


A educação ambiental é um dos fatores importante para a concretude da mobilização social das
pessoas para uma nova ética planetária, voltada para o cuidado com o planeta e as relações sociais,
levando em conta que a educação não acontece apenas nos muros das escolas, pois ela esta presente na
vida cotidiana das pessoas, nas relações sociais com o mundo.
Criar espaços de discussão, onde os problemas sociais e ambientais são debatidos, com objetivo de
promover ao educando a prática da cidadania, para o conhecimento dos seus direitos e deveres perante a
sociedade é, portanto, tarefa da educação. Ela deve possibilitar, antes de tudo, que o educando possa
fazer a leitura dos acontecimentos que o rodeia como forma de auxiliar na construção dos conhecimentos
que o interliga ao mundo. A reflexão dos educandos sobre seu próprio mundo é uma ponte que os leva ao
conhecimento sistematizado, que permitirá inter-relacionar os conteúdos apreendidos com sua vida. Em
síntese, apoiando nos pressupostos da pedagogia de Paulo Freire, podemos verificar que a educação
ambiental assim como outras áreas de conhecimentos deve ter como eixo norteador a dialogicidade.
A educação para a liberdade tem que ser baseada no diálogo, na ação e na reflexão das ações, do
educando e do educador, colocando-se como no centro da discussão a relação homem, ambiente e
sociedade, afim de que possam refletir e decidir em comunhão como os homens no mundo. “Ninguém
educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”
(Freire,1987. p. 34).
Segundo Araújo (2004) a concretização de uma educação superior que contemple uma dimensão
ambiental é preciso que se tenha como propósito pedagógico, a elaboração do saber pedagógico
interdisciplinar entre o conhecimento específico disciplinar, o pedagógico e o saber ambiental,
problematizando o conhecimento fragmentado em disciplinas articulado com a administração setorial do
desenvolvimento, com a possibilidade de construção de um campo de conhecimentos teóricos e práticos
orientado para a rearticulação das relações sociedade/natureza resultando em novas posturas
educacionais. Araujo ( p. 2004, p.74) ratifica que :
(...) “a universidade, ao propor estratégia para a inserção da dimensão ambiental nos
currículos de formação de professores de ensino formal, deve iniciar e incentivar os licenciados a
investir no desenvolvimento profissional, com especial atenção para a autoformação, mediante
estratégias de investigação na ação e de investigação avaliativa.

70
LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo. Educação Ambiental: Repensando o espaço da cidadania. 3
ed. São Paulo :Cortez, 2005.

João Pessoa, outubro de 2011


1061

As questões ambientais na formação do acadêmico devem sinalizar para uma reflexão crítica dos
pressupostos e dos conhecimentos disciplinares, que fazem parte da sua formação em conjunto com a
reflexão de suas experiências pedagógicas e de vida. O projeto “Corredor Ambiental” com a proposta de
intervenção pedagógica com os acadêmicos da Universidade Federal do Tocantins teve o objetivo de
proporcionar informação e formação aos acadêmicos acerca das dinâmicas socioambientais,
compreendendo a relação homem/natureza e o mundo dos significados no processo de educativo.

2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A nomeação de “Corredor Ambiental” segue a lógica do conceito original dos corredores ecológico
ou corredor de biodiversidade. A idéia é de ligar as questões ambientais intengradas problemas
socioambientais da população, sendo eles de saúde, moradia, estilo de vida e desigualdade social. O
Corredor Ambiental se constitui metodologicamente através de atividades de sensibilização, informação, e
de mobilização social, e metodologias participativas com os acadêmicos nos espaços da universidade.
Nessa perspectiva utilizamos o recurso de vídeos educativos para o estimulo da conscientização do aluno
sobre problemas atuais em relação ao aquecimento global, meio ambiente e saúde. O vídeo é utilizado em
sala de aula quando os educadores desejam transportar a realidade social e científica para a sala de aula,
pois, conforme Pablo Del Rio (1992), apud Serna (1998), as linguagens audiovisuais podem contextualizar o
conhecimento acadêmico. Dessa forma, são muito utilizados quando se deseja inserir a problemática
ambiental na sala de aula. Assim, foi realizado através de vídeos educativos no corredor do Prédio Central
do Campus de Miracema da Universidade Federal do Tocantins durante o mês de Julho de 2011. Os alunos
dos cursos de Educação Física, Pedagogia e História foram convidados a participar da exposição de vídeos
durante sessão de 30 minutos com os temas de: poluição do ar e aquecimento global (Fig 1 e 2). Além dos
vídeos educativos, também utilizamos para identificarmos os problemas e implementação de ações de
cuidado com o meio ambiente na vida pessoal, em casa, na escola e na comunidade um mural em formato
de árvore no qual o aluno indicava um ou vários problemas relacionados ao meio ambiente em sua região
de moradia. A finalidade desse mural foi a autoconscientização do aluno sobre problemas atuais
relacionados ao meio ambiente na área em que ele reside. Essa metodologia tem como forma a valorização
das palavras, ou seja, contribuir com o exercício de percepção do espaço e da interpretação da realidade
social dos alunos.

3. RESULTADOS E CONCLUSÕES
O estimulo da conscientização do aluno sobre problemas atuais em relação ao meio ambiente, faz
com que ele passe a ser o sujeito responsável por uma mudança efetiva da situação que estamos
enfrentando. A identificação dos problemas e implementação de ações de cuidado com o meio ambiente
na vida pessoal, em casa, na escola e na comunidade é de suma importância para o desenvolvimento de
sua consciência crítica e para uma vida sustentável. Assim, nas figuras 1 e 2 é possível observar a
participação dos alunos no corredor ambiental que participaram do evento assistindo os vídeos educativos.
Os alunos tiveram a oportunidade de assistirem vídeos educativos na área de meio ambiente (poluição do
ar e aquecimento global), bem como puderam opinar e tecer considerações a respeito dos temas.
Depois de realizada a atividade de vídeos foi organizado um mural ecológico em formato de árvore,
no qual o aluno pode colocar os problemas ambientais relacionados à área em que reside. O gráfico 1 está
relacionado a quantidade de vezes que o problema foi citado no mural ecológico o qual nomeamos de
“Incidência de problemas ambientais relacionados com a área de moradia representados no mural
ecológico”.
Com base nos dados coletados foi possível verificar que os alunos tem uma concepção dos
problemas ambientais que existem em seus locais de moradia, sendo que o tema mais citado no mural
ecológico são as queimadas, que atingem o estado do Tocantins. Diante do exposto, verificamos que o
projeto foi importante para a conscientização dos acadêmicos com o tema meio ambiente, bem como fica
evidente que são necessárias novas ações para tentarmos resolvermos os problema das queimadas, fator
mais citado pelos acadêmicos.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1062

Figura 1 – Corredor ambiental, demonstração da exposição de vídeos educativos relacionados a


poluição ambiental

Figura 2- Corredor ambiental momento de interação e discussão do projeto

João Pessoa, outubro de 2011


1063

Gráfico 1 – Incidência de problemas ambientais relacionados com a área de moradia representados


no mural ecológico.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAUJO, Maria Inês de Oliveira. Universidade e a formação de professores para a educação
ambiental. In: Revista brasileira de educação ambiental. n. 0 nov. Brasília: Rede Brasileira de Educação
Ambiental, 2004.p.71 a 79.
BARBOSA, Raquel Lazzari Leite (org.). Formação de Educadores: artes e técnicas – ciências e
políticas. São Paulo: UNESP, 2006.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues (editor). O que é método Paulo Freire. São Paulo, Brasiliense, 1981.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: texto constitucional promulgado em 05 de
outubro 1988. Senado Federal. 2006.
________, Secretaria de Educação Fundamental. Panorama da educação ambiental no ensino
fundamental. Brasília: DF: MEC; SEF, 2001.
________, Secretária de Educação Fundamental. Programa Nacional de Educação Ambiental.
Brasília: DF: MEC, 2003.
________. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: meio ambiente
Saúde.. Brasília: DF: MEC, 1997.
________, Ministério do Meio Ambiente. Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania
Ambiental. Departamento de Educação Ambiental. Os diferentes matizes da educação ambiental no Brasil:
1997 – 2007. Brasília, DF: MMA, 2008. ( Série Desafios da Educação Ambiental).
CARVALHO, Isabel Cristina Moura. Biografia e formação na educação ambiental: um ambiente de
sentidos para viver. In: Revista brasileira de educação ambiental. n. 0 nov. Brasília: Rede Brasileira de
Educação Ambiental, 2004.p.21 a 27.
___________, Isabel Cristina Moura. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. 4. São
Paulo: Cortez, 2008.
FREIRE, Ana Maria Araújo (Org). A pedagogia da Libertação em Paulo Freire. São Paulo: UNESP,
2001.
_______, O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 10 ed. São Paulo: Hucitec,
2007.
___________. Por um pensamento ecologizado. In: CASTRO, Edna e PINTON, Florence (orgs). Faces
do Trópico Úmido: conceito e questões sobre desenvolvimento e meio ambiente. Cejup. Belém: PA, 1997.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1064

_____________.Pedagogia da Autonomia. 28 ed. São Paulo, Paz e Terra, 1996. LOUREIRO,


Frederico B. Carlos. Educar, participar e transformar em educação ambiental. In: Revista brasileira de
educação ambiental. nº0.nov. Brasilia – 2004. pags. 13 a 20.
_____________.Pedagogia do Oprimido. 17 ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.
__________________________. Paulo Freire : Pedagogia dos Sonhos Possíveis . São Paulo: UNESP,
2001.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: UNESP,
2000.
MINAYO, Maria Cecília de Souza; MIRANDA, Ary Carvalho de.(orgs). Saúde e Ambiente Sustentável:
Estreitando Nós. Rio de Janeiro: FIOCRUZ,2002.
MORIN, Edgar. Os saberes necessários à Educação do Futuro.6 ed.São Paulo: Cortez, 2002.
REIGOTA, Marcos. Meio Ambiente e representação social. 5 ed.São Paulo:Cortez ,2002.(Questões
da nossa época;v. 41).
SERNA, Manuel Cebrián de la. "Los videos didácticos: claves para su producción y evalucion".
Revista Digital Pixel Bit, nº 01, 1998. Disponível em:
TRISTÃO, Martha. Tecendo os fios da educação ambiental: o subjetivo e o coletivo, o pensado e o
vivido. In: Educação e Pesquisa, São Paulo,v.31,n.2,p.251 – 264,maio/ago.2005.

João Pessoa, outubro de 2011


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EDUCAÇÃO AMBIENTAL, CULTURA DE PAZ E JUVENTUDES EM TEMPOS DE


CONSUMO EXCESSIVO
Kelma Socorro Alves Lopes de MATOS
Miguel Angel Garcia BORDAS
Professora Dra da Universidade Federal do Ceará - kelmatos@uol.com.br
Professor Dr. da Universidade Federal da Bahia - magbordas@gmail.com

RESUMO
O estudo discute a importância da educação ambiental e construção de uma cultura de paz em
tempos de consumo excessivo, especificando a relação das juventudes com essas questões.
Compreendemos que a que a paz na sociedade liga-se a vivência de “padrões éticos e à ação com
responsabilidade”, ou seja, tanto a educação ambiental quanto a cultura de paz nos alertam para o
cuidado e a gentileza que precisamos desenvolver conosco, com as pessoas em geral, com as demais
espécies, e com o nosso entorno. Os jovens, independentemente dos grupos sociais a que pertencem,
impulsionados pelos meios de comunicação, buscam consumir para serem reconhecidos como pessoas de
bom gosto e sucesso, e até mesmo para experimentarem a sensação de não-exclusão em uma sociedade
que exclui a grande maioria das pessoas o tempo todo, no entanto também demonstram preocupação com
a sustentabilidade do planeta em que vivemos. Sabendo que ainda é forte uma visão que prioriza
relacionar as juventudes a uma imagem de “imobilidade”, “causadores de problemas”, “desajustes e
violências”, é essencial tornar mais visíveis ações juvenis promotoras da paz e da educação ambiental

Educação ambiental cultura de paz juventudes consumo excessivo

Você tem quase tudo


quase tudo que lhe basta
e eu carrego em meu nome
a fome que me devasta
(Tacape - Zeca Baleiro)

Você tem quase tudo, quase tudo que o sacia... 71

Nos tempos atuais, em que a crise de valores é mais evidente, torna-se essencial educar
para a paz e o convívio social, ou seja: “È preciso também educar o coração”, através de sentimentos,
crenças, vivências, ações cotidianas que, de fato, nos humanizem.
É fundamental, portanto, cuidarmos das nossas relações sócio-ambientais, pois os sinais e
conseqüências do consumo excessivo estão cada vez mais visíveis, como a obesidade, as dívidas pessoais, o
desgaste ostensivo dos recursos naturais, a doença compulsiva do consumismo (oneomania), o raro tempo
livre (TRIGUEIRO, 2005). Esse mesmo autor adverte sobre o lado perverso da “farra consumista”, exercida
por uma minoria de pessoas com alto poder aquisitivo, enquanto todas as outras são excluídas,
consideradas incapazes para o consumo, e, ao mesmo tempo, estimuladas a consumir exaustivamente.
Apenas 1,7 bilhões, dos atuais 6,3 bilhões de pessoas que habitam o planeta têm hoje
condições de consumir além das necessidades básicas. Ainda assim a demanda por matéria-prima
energia cresce, precipitando o mundo na direção de um impasse civilizatório: ou a sociedade de
consumo enfrenta o desafio da sustentabilidade ou teremos cada vez menos água doce e limpa,
menos florestas, menos solos férteis, menos espaço para a monumental produção de lixo e outros
efeitos colaterais desse modelo suicida de desenvolvimento (TRIGUEIRO, 2005, p.22).

71
Esse título é uma citação da música Tacape, de autoria do cantor e compositor Zeca Baleiro.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1066

A mídia estimula e banaliza o consumo desenfreado, sem preocupar-se como isso é prejudicial à
vida das gerações atuais e futuras, à sustentabilidade do planeta. A vigência do consumo, tornando tudo o
que é consumido rapidamente obsoleto, através de uma intervenção planejada (JAMESON, 1998), abre
passagem para modas e estilos que se sucedem num ritmo alucinado, desqualificando os que não seguem o
padrão estabelecido.
Consumir é necessário à nossa sobrevivência, quando isso é feito de forma consciente, equilibrada
e sustentável. O contrário disso é a agressividade que se faz presente na ostentação, na injustiça social que
cria e fortalece conflitos. Essas agressões externas repercutem em nossos corpos, nas nossas vidas, e
também socialmente, pois somos parte do meio ambiente.
O meio ambiente está dentro de nossos corpos e a saúde ambiental influencia a nossa
saúde física, sensorial, emocional e mental. A poluição externa da água dos rios corresponde à
poluição que corre no sangue de nosso sistema circulatório. (...). Da mesma forma, a qualidade do
conhecimento e da formação que recebemos impregna nossa mente, nossas sensações e emoções,
fazendo com que tenhamos comportamentos que, em maior ou menor grau, podem ser agressivos
em relação à vida e ao ambiente (RIBEIRO, 2006, p.62).

Assim, concordamos com este autor quando indica que a paz na sociedade liga-se a vivência de
“padrões éticos e à ação com responsabilidade”. Ou seja, tanto a educação ambiental, quanto a cultura de
paz nos alertam para o cuidado e a gentileza que precisamos desenvolver conosco, com as pessoas em
geral, com as demais espécies, e com o nosso entorno. A paz é, portanto, “um valor que está relacionado a
todas as dimensões da vida” (JAREZ, 2002, p.131). Este autor registra que herdamos o conceito de pax
romana, traduzido, de forma indevida, como “tranqüilidade”, mas a paz não é o contrário de guerra
(apenas um dos tipos de violência), é a sua antítese.
Tomando por referência o conceito de paz positiva, ligado à justiça e ao crescimento com
sustentabilidade, sabemos que a paz é uma construção social, e enquanto tal pode ser ensinada e
apreendida (JAREZ, 2002). A Educação para a paz baseia-se, portanto, na concepção de paz positiva e na
perspectiva criativa do conflito, que problematiza ocorrências, auxiliando-nos quanto ao entendimento
crítico da realidade. Através da reflexão diante comportamentos inadequados é possível a formação em
valores humanos que priorizem a diversidade, o respeito à vida, a democracia e a tolerância.
A discussão sobre o consumo indiscriminado, a educação ambiental e a construção de uma cultura
de paz, nos leva, nesse trabalho a discutir como jovens tem-se relacionado com essas questões, assim,
trabalharemos nessa direção a seguir.

Jovens na construção de cultura de paz e educação ambiental


Os jovens, independentemente dos grupos sociais em que estão situados, impulsionados
pelos meios de comunicação, buscam consumir para serem reconhecidos como pessoas de bom gosto e
sucesso, e até mesmo para experimentarem a sensação de não-exclusão em uma sociedade que exclui a
grande maioria das pessoas o tempo todo. É importante salientar que apesar da idade contribuir para a
apresentação desses sujeitos, não é apenas a idade que define a juventude (MELUCCI, 1997; MATOS, 2003,
2006 a, 2006b), pois “a juventude é apenas uma palavra” e podemos sempre ser “o velho ou o jovem de
alguém” (BOURDIEU, 1983). Assim, as marcas, as grifes, passam a simbolizar o que é ser jovem, e põem em
evidência o desejo de possuir (ABRAMO, 1994).
No entanto, apesar desse estímulo ao consumo, Fernandes (2004, p.1) advoga que há uma aliança
sustentável entre jovens e meio ambiente. Defende a capacidade desses sujeitos sociais atuarem na
preservação ambiental, e conseqüentemente na construção da paz, através de ações e eventos, como por
exemplo, a Conferência Nacional de Meio Ambiente Infanto-Juvenil, que aconteceu em Brasília, em
novembro de 2003, organizada pelo Ministério do Meio Ambiente, na gestão da Ministra Marina Silva. A
partir desse evento aconteceram outras conferências e foi criada a Rede de Juventude e Meio ambiente –
REJUMA, que passou a “ligar” os jovens de todo o Brasil para discutirem sobre temas sócio-ambientais, a
favor da vida e do respeito à diversidade.
Fernandes cita ainda que jovens brasileiros como Poema Muhlemberg, em 2001, foram eleitos para
compor o Conselho Juvenil do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Esse grupo,
formado por 12 jovens visou “incentivar a participação da juventude nas temáticas ambientais”. Além

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1067

desse evento, o autor aponta a participação de jovens brasileiros em outros fóruns de discussão e ação
internacionais: o projeto GEO Juvenil, que buscou sensibilizar os jovens para os problemas ambientais,
além de chamar a atenção para a importância da sustentabilidade; o Congresso Mundial da Juventude,
organizado pela Peace Child International e o Forum des Jeunes Marrocains, em que participaram nove
jovens brasileiros que desenvolveram atividades, com outros 1000 delegados, de 148 países. Com estas
indicações o autor registra a participação da juventude na promoção de uma sociedade sustentável.
Deboni (2004) discute a relação dos jovens, de forma positiva, quanto à questão ambiental, e
também aponta como fato importante a formação da Rede de Juventude pela Sustentabilidade, organizada
a partir da Conferência Nacional Infanto Juvenil - Brasília 2003. O autor também alerta para a necessidade
da juventude incorporar mais princípios, valores e atitudes das idéias ambientalistas em seu cotidiano.
Novaes (2003, p.3) aponta que determinadas práticas ambientais são por demais significativas para
jovens do meio rural através da sua participação em situações concretas de aprendizado quando percebem
nesses valores uma clara conexão consigo, com suas famílias e com o local em que moram.
Em Tauá, no Ceará, são os jovens do sindicato local que levam adiante uma rica experiência de
desenvolvimento sustentável. Na região de Limoeiro, em Pernambuco, são os jovens que aprendem,
ensinam e executam projetos de “roçados orgânicos”, conectando quatro municípios. Também na
Amazônia, (...) os jovens usam termos vindos do vocabulário ambiental para falar de coisas da vida
cotidiana deles. Por exemplo, enquanto a idéia de que exista uma “lei” nas reservas extrativistas que exige
a preservação de uma parte da mata se articula com mais dificuldade no discurso dos pais e avós (...).
Também no sul do país pesquisas demonstram que são os jovens que mostram mais disposição nos
acampamentos, nos eventos de sensibilização da opinião pública, tais como marchas pela reforma agrária,
nos mutirões da cidadania, fazendo a ligação entre os seus interesses específicos do presente e a
necessidade de pensar na sustentabilidade que garantirá futuro.
Essas informações fornecem pistas sobre a urgência da implementação de políticas públicas
inclusivas, sob todos os aspectos, que tornem mais visível a juventude rural, no sentido de que sejam
ultrapassadas a discriminação geracional e social a que normalmente é submetida.
A autora assinala, nesse mesmo texto “Os Jovens e o Meio Ambiente”, a não existência de uma
bibliografia mais específica sobre juventude e meio ambiente, e acrescenta que algumas discussões sobre
essa temática começam a aparecer mais nos anos 90 (MATOS, 2004). Para ela a geração de pós-ecologistas
- os que vivem a juventude após a disseminação das idéias de preservação ambiental, nascidos nos anos 70
e 80 - aparece quando são reconhecidos os graves problemas do meio ambiente no mundo todo.
Acrescenta ainda que ao final dos anos 60, alguns jovens que participaram do movimento
estudantil, relataram a pouca facilidade que tinham em colocar a questão ambiental como pauta para
discussão, pois era vista como uma temática de menor relevância. Uma publicação considerada marco de
alerta em favor da educação ambiental, nesse período, foi o livro “Primavera Silenciosa”, publicado em
1962, por Rachel Carson sobre a necessidade de conservar os recursos do nosso planeta (BARBOSA, 2004,
p.1).
Ainda seguindo o pensamento de Novaes, ela esclarece que após a Eco-92 um novo vocabulário
apareceu e passou a ser utilizado pelos média, e por instituições como a escola: “poluição, camada de
ozônio,destruição ambiental, busca da preservação ambiental, segurança ambiental”. Além disso, as
inovações tecnológicas possibilitaram que as informações circulassem de forma veloz e em “grandes
doses”. Assim, os valores ecológicos foram sendo disseminados com rapidez e certa facilidade, mesmo
considerando a desigualdade ao acesso às informações, entre jovens ricos e probres.
O desvendamento da real situação do meio ambiente certamente contribuiu com a preocupação
maior, por parte dos jovens, no sentido de buscar proteger o meio em que vivem. A análise de Amstalden e
Ribeboim (1998, p.153) sobre o resultado da pesquisa “O que pensa o brasileiro sobre o meio ambiente,
desenvolvimento e sustentabilidade”, apontou características que ainda podem ser ressaltadas:
a) preocupam-se mais com as temáticas não-urbanas; b)ainda refutam ajuda internacional
na questão do meio ambiente, embora isto esteja dividido em opiniões; c)acreditam que a natureza
é sagrada; d)aparentemente não trocam a preservação do meio ambiente por desenvolvimento e
mais emprego; e )estão dispostos à participação mais ampla na solução dos problemas, inclusive
atuando pessoalmente;f)são bastante severos em relação aos crimes ambientais; e g) acreditam na
necessidade de controle populacional.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1068

A postura explicitada nas respostas é “ambientalmente correta”, mas os autores questionam se os


jovens manteriam, no cotidiano, a opção por menos poluição, caso diminuísse o número de empregos. A
compreensão restrita sobre o que é ambiente acrescida ao atual contexto social e econômico, estabelece
certa distância entre pensamento e ação (MOREIRA, 2003). É essencial que a forma de agir com o meio
ambiente e as pessoas seja respeitosa, garantindo a gentileza e a sobrevivência digna das gerações futuras
(AMSTALDEN; RIBEMBOIM, 1998; MATOS, 2006b).
Reconhecer e acolher a espiritualidade dos jovens, e das pessoas em geral, é ter a
oportunidade de educar o sujeito integral, acolhendo seus diversos potenciais, evitando a separação entre:
eu e mundo; mente e corpo, espírito e vida cotidiana (YUS, 2002). Os sistemas educacionais, por sua vez,
necessitam colocar foco na dimensão afetiva (TILLMAN; COLOMINA, 2004), para que possamos construir
“um sistema educativo que supere a contraposição entre razão e emoção”.
É preciso equilibrar idéias e práticas, e acharmos formas concretas de “transformar o conhecimento
em fazeres” (SILVA, 2003), ou seja, avançarmos para além do discurso, unindo intenções e gestos. Essa é
uma responsabilidade de todos nós. E, sabendo que ainda é forte uma visão que prioriza relacionar as
juventudes a uma imagem de “imobilidade”, “causadores de problemas”, “desajustes e violências”, é
essencial tornar mais visíveis ações juvenis, que demonstrem preocupação dos jovens com o mundo em
que vivemos.

REFERÊNCIAS
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YUS, Rafael. Educação Integral: uma educação holística para o século XXI. Porto Alegre: Artmed,
2002.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1070

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL ENQUANTO ESTRATÉGIA DE CONSCIENTIZAÇÃO


PARA O ENFRENTAMENTO DA CRISE SOCIOAMBIENTAL
Letícia Soares NUNES.
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
leticia_snunes@hotmail.com

RESUMO
Este artigo tem por objetivo discutir acerca da possibilidade da educação ambiental enquanto uma
estratégia de conscientização para o enfretamento da crise socioambiental. Inicialmente apresentar-se-á
que o modo de produção capitalista está gerando um conjunto de contradições ecológicas que, em escala
planetária, põe em perigo a biosfera em sua totalidade, ou seja, apresentar-se-á que o capitalismo vem,
cada vez mais, acirrando o esgotamento dos recursos naturais e as desigualdades sociais. Em seguida
discutir-se-á acerca das duas vertentes de educação ambiental, quais sejam: educação ambiental
conservadora e educação ambiental crítica, transformadora e/ou emancipatória, argumentando-se em
favor da segunda perspectiva de educação ambiental como alternativa mais afinada para se alcançar a
conscientização, sensibilização e mobilização social na busca pela transformação da sociedade.
Palavras-chaves: Educação Ambiental; Conscientização da população; Sociedade capitalista; Crise
socioambiental.

INTRODUÇÃO
O presente artigo se insere no conjunto das produções teóricas interdisciplinares que procuram
contribuir, positivamente, para o avanço do conhecimento no campo da pesquisa em Educação Ambiental
(EA). Expressa os resultados parciais da pesquisa sobre EA que vem sendo realizada por meio do Programa
de Pós-Graduação em Serviço Social (PPGSS) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com o
apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina (FAPESC). Este
artigo parte da idéia de que a EA se constitui em um novo campo de saber que objetiva formular respostas
teóricas e práticas aos desafios colocados pela crise “socioambiental72 global” que suscita o
aprofundamento do debate sobre educação, sociedade e meio ambiente.
Para isso, a partir de uma perspectiva marxista – por considerar esta interlocução a mais frutífera
para uma leitura radical das manifestações da destrutividade socioambiental, que é inscrita como parte
dinâmica da sociedade do lucro –, buscar-se-á apresentar, com base em Marx (1996), Chesnais e Serfati
(2003) e Foster e Clark (2006), alguns elementos do debate em torno crise socioambiental, destacando sua
origem que é inerente à forma histórica de como o capital subordinou a natureza aos imperativos da sua
(re) produção e, posteriormente, apresentam-se a existência de duas vertentes de EA (GUIMARÃES, 2004,
CARVALHO, 2004; LOUREIRO, 2004, 2008, 2009): EA conservadora e EA crítica, transformadora e/ou
emancipatória acerca da temática EA que conduziram as práticas e reflexões políticas e pedagógicas
disseminadas no Brasil, argumentando-se em favor da segunda vertente.

1 MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA E A DESTRUTIVIDADE SOCIOAMBIENTAL


No modo de produção capitalista há duas classes diametralmente opostas: a burguesia e o
proletariado, uma parcela detentora da riqueza em forma monetária e dos meios de produção e outra,
majoritariamente, empobrecida, “livre” e ao mesmo tempo obrigada, pela necessidade, a vender a única
mercadoria que possui: sua força de trabalho em troca de salários. Assim sendo, trabalhando sob o
controle do capitalista a quem pertence seu trabalho, a produção social é cada vez mais coletiva, e a
apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma pequena parcela da sociedade.
Enfim, essa divisão permite o alto nível de acumulação e de concentração de capital, realizado a partir da

72
Utiliza-se a expressão socioambiental como opção política para reforçar uma demarcação discursiva do
componente crítico do ambientalismo.

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1071

apropriação do tempo de trabalho excedente (mais-valia) produzido pelo operário e não pago pela classe
capitalista, o que leva à exploração de uma classe sobre a outra.
As mudanças ocorridas principalmente do decorrer do século XVIII, quando se consolidava o modo
de produção capitalista, acarretaram profundas alterações na relação do homem com a natureza.
Referindo-se aos desdobramentos que a grande indústria provoca na esfera da agricultura, bem como
destacando que o desenvolvimento das forças produtivas no sistema capitalista conduzia ao esgotamento
de duas fontes: a terra e o trabalhador, Marx (1996, p. 133) afirma que:
Com a preponderância sempre crescente da população urbana que amontoa em grandes centros, a
produção capitalista acumula, por um lado, a força motriz histórica da sociedade, mas perturba, por outro
lado, o metabolismo entre homem e terra, isto é, o retorno dos componentes da terra consumidos pelo
homem, sob forma de alimentos e vestuário, à terra, portanto, a eterna condição natural de fertilidade
permanente do solo. Com isso, ela destrói simultaneamente a saúde física dos trabalhadores urbanos e a vida
espiritual dos trabalhadores rurais. [...] A dispersão dos trabalhadores rurais em áreas cada vez maiores
quebra, ao mesmo tempo, sua capacidade de resistência, enquanto a concentração aumenta a dos
trabalhadores urbanos. E cada progresso da agricultura capitalista não é só um progresso na arte de saquear
o trabalhador, mas ao mesmo tempo na arte de saquear o solo, pois cada progresso no aumento da
fertilidade por certo período é simultaneamente um progresso na ruína das fontes permanentes dessa
fertilidade.

Marx (1996) analisando o que ele denominava de “acumulação primitiva”, sintetizou que a origem
do capitalismo estava ligada a um processo violento de expropriação da produção familiar, artesanal,
camponesa, separando o produtor direto dos seus meios de produção e, fazendo emergir uma reserva de
força de trabalho: o proletariado. E, ainda, sinaliza que a descoberta e a exploração dos recursos naturais
das colônias propiciaram o enriquecimento de uma parcela da burguesia, bem como contribuiram para a
destruição destes recursos sobretudo nos países do hemisfério Sul.
Identificando que todo o processo de acumulação primitiva teve profundas implicações ecológicas,
Chesnais e Serfati (2003) mencionam que além da guerra travada pelo capital para arrancar o campesinato
da terra e para submeter a atividade agrícola à lógica mercantil, dois mecanismos complementares de
predação capitalista remontam à primeira fase do capitalismo: um deles tem por fundamento na
propriedade privada da terra e dos recursos do subsolo permitindo a apropriação das rendas, e o outro
mecanismo é a gratuidade dos demais recursos naturais.
Foster (2005) retomando o conceito marxiano de metabolismo homem-natureza, salienta que
mediado pelo trabalho, o homem transforma a natureza e, neste movimento, também se transforma.
Porém, ao mesmo tempo em que o homem se diferencia da natureza pelo trabalho, este, ao invés de
realizá-lo, o escraviza, ou seja, o trabalhador tornou-se alienado frente ao trabalho e em relação à
natureza, como já apresentara Marx (1844, p. 1) ao enfatizar que em relação ao trabalhador, que apropria
a natureza por intermédio de seu trabalho, “[...] a apropriação se afigura uma alienação, a atividade própria
como atividade para outrem e de outrem, a vida como sacrifício da vida, e a produção do objeto como
perda deste para uma força estranha, um homem estranho”.
Com base no exposto até então, embora se compreenda que a degradação do meio
ambiente, a ocorrência de desastres, sempre existiu na história da humanidade com efeitos destrutivos
localizados, pode-se constatar, com base nas referências à Marx e aos autores marxistas73, que no modo de
produção capitalista acirraram-se os problemas causados ao meio ambiente, demonstrando que a natureza
apresenta sinais de esgotamento. Conforme Silva (2010, p. 67) diferentemente de momentos pretéritos,
em que os efeitos destrutivos da produção industrial sobre a natureza se fizeram localizados (poluição de
mares, devastação de florestas, extinção de algumas espécies), no período atual pesquisas promovidas
pelas mais diversas instituições científicas e agências multilaterais demonstram que a natureza evidencia
sinais de esgotamento de suas potencialidades, “[...] obstaculizando a expansão incessante da produção

73
Há autores, como Chesnais e Serfati (2003), que afirmam que as formulações dos pensadores clássicos da
área social, oriundos dos séculos XVII, XVIII e XIX, dentre eles Marx, não podem ser definidas como ecológicas. E,
também autores como Löwy (2005), Burkett (1999), Foster (2005, p. 38) que postulam que a obra de Marx está
“inextricavelmente atrelado a uma visão de mundo ecológica” e Loureiro (2009) que salienta que a EA só poderá
frutificar à medida que entregar o método dialético marxista em sua lógica de ação e reflexão.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1072

mercantil, seja pela via da escassez de matérias-primas, seja pela dimensão dos danos sociais, políticos e
econômicos causados pela depredação ambiental e pela poluição”.
Enquanto Burkett (1999) e Foster e Clark (2006) apreendem que a crise ecológica poderia levar a
uma crise do próprio sistema capitalista, Chesnais e Serfati (2003) rejeitam a ideia de que pelo viés da
destruição ou de danos graves ao ambiente natural, o capitalismo estaria em perigo, e até destruiria, suas
próprias condições de reprodução e de funcionamento. Nesse sentido, compactuando com os primeiros
autores, entende-se, nos termos de Foster e Clark (2006) que só uma “solução social revolucionária”
resolverá a fissura entre as relações ecológicas e a sua relação com as estruturas globais do imperialismo e
a desigualdade, oferecendo alguma esperança genuína de transcender essas contradições.
Nesse ínterim, parte-se do entendimento que a crise socioambiental é “muito mais a crise de uma
sociedade do que uma crise de gerenciamento da natureza, tout court” (BRÜGGER, 1994, p. 27). Ou seja, a
crise socioambiental não é resultado, sobretudo da exaustão dos recursos naturais, poluição, etc., mas
resultado do esgotamento de um projeto civilizatório contraditório, desigual que demonstra sua
irracionalidade e incapacidade de associar desenvolvimento e igualdade.

2 AS DIFERENTES VERTENTES DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL


Foi em meados da década de 1980, com a realização dos primeiros encontros nacionais, a atuação
crescente das organizações ambientalistas, a incorporação da temática ambiental por movimentos sociais e
educadores e o aumento da produção acadêmica (LOUREIRO, 2008), que a contribuição do processo
educativo na preservação e conservação do meio ambiente e na aquisição de novos conhecimentos e
habilidades referentes à natureza ganhou mais notoriedade. Assim, o debate em torno das problemáticas
socioambientais deixou de ser utopia dos movimentos ambientalistas passando a tornar-se alvo de
preocupações de muitos governos.
Com relação ao conceito, para Layrargues (2004, p. 7) a EA é o termo que se convencionou dar às
práticas educativas relacionadas à questão ambiental, segundo o autor a EA define “[...] uma classe de
características que juntas, permitem o reconhecimento de sua identidade, diante de uma Educação que
antes não era ambiental”. Nesse sentido, parte-se do princípio que a EA é uma dimensão do processo
educativo, portanto, a adjetivação “ambiental” se justifica à medida que serve para destacar dimensões
“esquecidas” historicamente pelo fazer educativo.
Os autores Pedrini e De-Paula (1997) indicam, analisando estudos de diferentes autores, que a EA
brasileira transitou sem objetivos e métodos de ação e avaliação claramente definidos, transparecendo
uma confusão conceitual acerca da EA que permeava o meio dos ambientalistas, mas, também, dos
docentes e dos empresários. Na mesma direção, Grün (1996) destaca que o debate epistemológico sobre
EA no Brasil ainda é incipiente. Para o referido autor ao longo dos últimos dez anos (década de 1980 a
1990) duas tendências têm se destacado: “1) Propostas de criação de uma disciplina de educação
ambiental [...]; 2) Inserção da educação ambiental como uma unidade de estudo da disciplina de biologia
ou, ainda, sua inclusão aleatória na área de ciências físicas e biológicas” (GRÜN, 1996, p. 106).
Saito (2002, p. 50) prevê quatro desafios a serem enfrentados pela EA: 1) busca por uma sociedade
democrática e socialmente justa; 2) compreensão da interdependência entre ambiente e sociedade para o
desvelamento das condições de dominação e opressão social; 3) prática de uma ação transformadora
intencional; 4) necessidade de uma constante busca de conhecimento, uma vez que a realidade é dinâmica,
devendo estar sempre atento aos impactos ambientais e sociais.
Em meio a uma variedade de vertentes, Loureiro (2009, p. 11) identifica que existem propostas
educativas voltadas à questão ambiental que se inserem num gradiente que enseja a mudança ambiental
conquistada por intermédio de três possibilidades: “[...] a mudança cultural associada à estabilidade social;
a mudança social associada à estabilidade cultural; e, finalmente, a mudança cultural concomitante à
mudança social”. O autor firma:
Apesar de a complexidade ambiental envolver múltiplas dimensões, verifica-se, atualmente, que
muitos modos de se fazer e pensar a Educação Ambiental enfatizam ou absolutizam a dimensão ecológica da
crise ambiental, como se os problemas ambientais fossem originados independentemente das práticas
sociais. Insatisfeitos com esse tipo de reducionismo que ainda conquista muitos adeptos, cientes do risco que
a Educação Ambiental apresenta – se a sua vertente que enfatiza a mudança cultural associada à estabilidade
social for a hegemônica – e representando uma nova tendência que busca efetuar um olhar ponderado entre

João Pessoa, outubro de 2011


1073

as múltiplas dimensões da complexidade ambiental, alguns autores brasileiros criaram novas denominações
para renomear a educação que já é adjetivada de “ambiental”, para que a Educação Ambiental seja
compreendida não apenas como um instrumento de mudança cultural ou comportamental, mas também
como um instrumento de transformação social para se atingir a mudança ambiental.

Assim, diante dessas questões, evidenciam-se diversas vertentes presentes em torno do conceito
de EA que conduzem as práticas e reflexões políticas e pedagógicas disseminadas no país que, de certa
forma, indicam a hegemonia de um discurso que objetiva difundir e cristalizar a ideologia hegemônica,
“impedindo” ao mesmo tempo, qualquer manifestação que objetive subverter a relação sociedade,
natureza, desenvolvimento na atualidade brasileira. Assim, inserida num cenário tensionado por projetos
sociais antagônicos, mediante levantamento bibliográfico realizado foi possível identificar pelo menos duas
grandes vertentes de EA (GUIMARÃES, 2004, CARVALHO, 2004; LOUREIRO, 2004, 2008, 2009;): uma
denominada, por um lado, conservadora ou conservacionista, e, por outro lado, uma denominada como
crítica, transformadora e/ou emancipatória.
Na primeira vertente está implícita a ideia de que a solução dos problemas socioambientais
dependeria, basicamente, da transformação individual dos sujeitos, ou seja, a transformação da sociedade
seria alcançada no momento em que “cada um fizesse a sua parte”. Nesse ínterim, empresas de diversos
setores passaram, a partir de uma chamada “responsabilidade ambiental”, a explorar o marketing dos seus
produtos aderindo a um slogan ecológico, “selos verdes”, promovendo a lucratividade das mesmas pela
imagem, uma vez que a sociedade tenderia a consumir esses “produtos ecologicamente corretos”.
Assim, cria-se a falácia de um “capitalismo verde”, de um “capitalismo humanizado” (naturalizando-
o como único sistema econômico possível) onde centrado numa educação individualista, os adeptos dessa
vertente entendem a problemática socioambiental como fruto de um desconhecimento dos princípios
ecológicos que gera “maus comportamentos”, ou seja, buscam mudanças comportamentais, objetivando a
formação de novos hábitos “ambientalmente sustentáveis”, predominando uma visão naturalista
(positivista, cartesiana).
Na segunda vertente a pedagogia crítica, origem da EA crítica, transformadora e
emancipatória é “[...] uma síntese das propostas pedagógicas que têm como fundamento a crítica da
sociedade capitalista e da educação como reprodutora das relações sociais injustas e desiguais” (LOUREIRO
et al., 2009, p. 1). Essa vertente é crítica na medida em que discute e explicita as contradições do atual
modelo de civilização, da relação sociedade-natureza e das relações sociais que ele institui;
transformadora, pois ao discutir o processo civilizatório em curso, acredita na capacidade da humanidade
construir outro projeto de sociedade e, assim, instituir novas relações dos seres humanos entre si e com a
natureza; emancipatória, por ter como valor fundamental da prática educativa a produção da autonomia
dos grupos subalternos e excluídos (QUINTAS, 2008).
A EA, nesse contexto, é direcionada para a compreensão de que as problemáticas socioambientais
têm uma causa estrutural, fruto do modo de produção desigual capitalista, ou seja, uma crise estrutural
com implicações ambientais e não apenas uma crise ambiental decorrente de uma crise de valores éticos e
morais. Nessa perspectiva a EA, além de sua função social, emerge com um caráter também político
enquanto instrumento que potencializa a crítica, que imprime nos indivíduos um caráter reivindicatório na
busca por uma transformação da sociedade, permitindo a compreensão da mesma em todas as suas
dimensões.
Porém, situando a educação como produto e produtora das relações sociais, entende-se que não se
pode creditar à mesma a “salvação do planeta”, ou seja, ela não é neutra, pode ser reprodutora da
ideologia dominante ou questionadora desta ideologia. Paulo Freire (1987) já sinalizava a impossibilidade
de superação das contradições nas relações sociais vigentes por meio da “educação bancária”, a qual ele
denominava a educação reprodutora da sociedade capitalista que mantém e estimula a contradição. Assim,
entende-se que a educação possui limites, ou seja, “[...] não é suficiente em si realizar uma práxis educativa
cidadã e participativa, se isso não se relacionar diretamente com outras esferas da vida (família, trabalho,
instituições políticas, modo de produção, interações ecossistêmicas etc.)” (LOUREIRO, 2009, p. 96).
Nessa direção, se a EA e a Educação por si só não alcançam a mudança societária, “tampouco
podemos imaginar transformações societárias sem que esta se realize” (LOUREIRO, 2009, p. 32). Logo, em
EA, segundo a perspectiva marxiana, pensar em mudar comportamentos, significa pensar em transformar o

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1074

conjunto das relações sociais nas quais estamos inseridos, “[...] o que exige, dentre outros, ação política
coletiva, intervindo na esfera pública, e conhecimento das dinâmicas social e ecológica” (LOUREIRO, 2006,
p. 122).
A busca por uma EA crítica, transformadora e/ou emancipatória reflete, portanto, as contradições e
desafios postos nas lutas sociais das classes subalternas. Assim, a superação desses desafios implicará em
ações que rompam com as práticas autoritárias, com o viés psicologizante e moralista, bem como que
tenham como direção a EA crítica, transformadora e/ou emancipatória, rompendo com perspectivas que
ao mesmo tempo em que “responsabilizam” os sujeitos, principalmente a camada subalterna, pelas
mazelas da questão socioambiental, também os consideram “vítimas” dessas problemáticas e, com isso,
ensejam unicamente mudanças comportamentais com vistas à manutenção do status quo. Defende-se,
portanto, que as ações profissionais que atuam nos processos de EA sejam direcionadas para a
transformação do conjunto das relações sociais nas quais estamos inseridos, possibilitando, assim, instituir
novas relações dos seres humanos entre si e com a natureza, mediante a construção de outro projeto de
sociedade.
Embora não se tenham “fórmulas”, “manuais” nesse caminho, salienta-se a necessidade dos
profissionais que atuam no âmbito da EA serem propositivos e críticos. Algumas estratégias adotadas para
caminhar nessa direção passam pela abertura do diálogo interdisciplinar, pela mobilização e organização
das comunidades, da sociedade civil organizada, identificando as articulações políticas em torno dos
serviços socioambientais (sejam eles de moradia, educação, trabalho, lazer, dentre outros aspectos que
possuem conexão com a questão socioambiental), a fim de que estes intervenham nos espaços
institucionais, nas instâncias de controle social, tendo como horizonte universalizar os serviços, programas
e políticas sociais, bem como fomentar seu protagonismo, sua participação efetiva na tomada das decisões
que são fundamentais para a compreensão e minimização do contingente dos problemas socioambientais
das comunidades, uma vez que a qualidade do ambiente influi consideravelmente na qualidade de vida dos
seus moradores.
Nessa direção, considerando o meio ambiente na perspectiva de direitos, a proteção ao mesmo
pode ser considerada como um meio para se conseguir o cumprimento de outros direitos humanos, já que
ao garantir um ambiente sadio e equilibrado, consequentemente, possibilitará, também, a garantia de
outros relativos ao bem estar, a saúde e a própria vida. Assim, a EA é uma estratégia fundamental para
potencializar as práticas sociais – atreladas a processo dialético da comunicação e apropriação do
conhecimento – no sentido de contribuir para a transformação social e para a consolidação do exercício da
cidadania.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Expressando um conjunto de contradições entre o modelo dominante de desenvolvimento
econômico-industrial e a realidade socioambiental, a degradação do meio ambiente além de afetar massas
populacionais de todas as classes sociais – embora atinjam de forma desigual a sociedade –, evidencia a
limitação de trabalhos de resposta com a falta de preparação, legislação precária ou inexistente,
sinalizando, portanto, a necessidade de realizar ações conjuntas para prevenir e minimizar os efeitos das
mudanças climáticas, numa perspectiva inter e multidisciplinar e, mais que isso, há a necessidade da
revisão da relação entre sociedade e natureza (NUNES; FREITAS, 2011).
Assim, não sendo matéria exclusiva de uma área do conhecimento, a questão socioambiental não
pode ser entendida em sua complexidade sem a participação e integração dos diversos campos de saber.
Leff (2006) sinaliza que o saber ambiental impulsionou a busca de métodos interdisciplinares capazes de
integrar a percepção fragmentada da realidade que nos foi legada pelo desenvolvimento das ciências
modernas. Nessa direção, o conjunto de atores envolvidos nesse universo educativo que integra a EA
possibilita contribuir para o enfrentamento da crise socioambiental, desvelando sua origem que é inerente
à forma histórica de como o capital subordinou a natureza aos imperativos da sua (re) produção, e deste
modo, não se restringe às descrições informativas das consequências da degradação, apontando soluções
pela vida tecnológica ou unicamente de mudanças comportamentais.
Assim, na vertente defendida no decorrer deste artigo, entende-se que a EA pode ser uma
estratégia de conscientização para o enfrentamento da crise socioambiental, uma vez que – como práxis e
processo dialógico, crítico, problematizador – busca uma transformação das condições objetivas e

João Pessoa, outubro de 2011


1075

subjetivas que forma a realidade, bem como engloba indivíduos, grupos e classes sociais, culturas,
estruturas como base para a construção democrática de “sociedades sustentáveis” – aqui refere-se à
sustentabilidade como expressão da efetiva construção de uma relação racional entre sociedade e
natureza, assim como entre o próprio gênero humano – novos modos de se viver na natureza (LOUREIRO,
2008).

REFERÊNCIAS
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1994.
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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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João Pessoa, outubro de 2011


1077

PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS MORADORES DE SERRA TALHADA – PE


SOBRE ARBORIZAÇÃO URBANA
1
Louyse Reis do NASCIMENTO
2
Luciana de Matos Andrade BATISTA-LEITE
1
Graduanda do Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas da Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UAST/UFRPE).
Estrada do saco s/n, caixa postal 63, CEP-56900-00, e-mail: louyseufrpe@gmail.com
2
Professor Adjunto I da (UAST/UFRPE) Estrada do saco s/n, caixa postal 63, CEP-56900-00,
e-mail: luciana_matos1@hotmail.com

RESUMO
A arborização urbana é de grande valia para a população, pois proporciona melhor qualidade de ar,
sombra, queda de temperatura, absorção parcial dos raios solares, diminuição da poluição sonora e
redução na velocidade do vento. Para o êxito da arborização urbana é necessário que ela seja bem
fundamentada e planejada, respeitando os princípios ambientais do desenvolvimento sustentável. O
presente trabalho teve como objetivo analisar a percepção ambiental dos moradores da cidade de Serra
Talhada– PE. Foi realizada aplicação de questionários a cento e vinte moradores de seis bairros da cidade:
Alto do Bom Jesus, AABB, IPSEP, São Cristóvão, Alto da Conceição e Nossa Senhora da Penha, que avaliaram
o conhecimento da comunidade sobre a arborização urbana. No questionário constava o local da árvore,
qual o seu nome popular; quais os cuidados para com ela; os motivos da prática da poda e quais as
vantagens e desvantagens de ter uma árvore em casa. Foram realizados 120 entrevistas, a maioria era do
sexo feminino com 67% e foi constatado que 79% das árvores nas calçadas correspondiam a 38% da
espécie Ficus benjamina. Quanto as podas 43% por causa da fiação elétrica, 29% embelezamento, 23%
evitar o crescimento e 6% por outros motivos. Foi possível perceber que existe interesse em preservar as
árvores, devido o seu grande benefício, porém é necessário que haja melhor interação entre a população e
a prefeitura para promover equilíbrio entre ambos.
Palavras chaves: Árvores urbanas, consciência ambiental, caatinga

ENVIRONMENTAL AWARENESS OF RESIDENTS OF SERRA TALHADA - PE AFFORESTATION ON URBAN

ABSTRACT
The urban forestry is of great value for the population as it provides better air quality, shade,
temperature drop, the partial absorption of sunlight, reducing noise pollution and reduction in wind
speed. For the success of urban trees is necessary that it is well reasoned and planned, while respecting
environmental principles of sustainable development. This study aimed to analyze the environmental
perception of the residents of the city of Serra Talhada-PE. Questionnaires was performed one hundred
and twenty residents of six neighborhoods in the city: Alto do Bom Jesus, AABB, IPSEP, São Cristóvão, Alto
da Conceição and Nossa Senhora da Penha, which assessed the knowledge of the community on urban
areas. The questionnaire included the location of the tree, what your name is popular, which care for her,
the reasons for the practice of pruning and the advantages and disadvantages of having a tree house. 120
interviews were conducted, most were female with 67% and it was found that 79% of trees on sidewalks
accounted for 38% of the species Ficus benjamina. The pruning 43% because of the electrical wiring, 29%
beautification, to avoid the 23% growth and 6% for other reasons. It was possible to see that there is
interest in preserving the trees, due to its great benefit, but there must be better interaction between the
population and the municipality to promote balance between them.
Keywords: Urban forestry, environmental perception, residents

Orientadora: Luzia Ferreira da SILVA. Professor Adjunto I da (UAST/UFRPE) Estrada do saco s/n, caixa postal
63, CEP-56900-00, e-mail: lfsilva68@hotmail.com

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1078

INTRODUÇÃO
O ser humano tem a capacidade de perceber, reagir e responder as mais variadas questões
relacionadas ao ambiente em que está inserido, por isso está apto a cuidar e proteger o meio. O estudo da
percepção ambiental é fundamental para melhor compreensão das relações existentes entre o homem e o
ambiente em que vive, com o intuito de conhecer os seus anseios, julgamentos e expectativas acerca do
assunto. A percepção ambiental, juntamente com a educação, atua na defesa do meio natural e ajuda o
homem a chegar mais perto da natureza, que lhe garante um futuro com mais qualidade de vida para
todos, além de despertar maior responsabilidade e respeito dos indivíduos em relação ao ambiente em que
vivem (FERNANDES; PELISSARI 2003).
A arborização urbana proporciona vários benefícios para as cidades, tais como: purificação do ar,
sombreamento, melhoria do microclima, proteção contra ventos impetuosos, diminuição da poluição
sonora, retenção de poeira, redução da amplitude térmica, ambientação a pássaros e insetos e absorção
parcial da poluição atmosférica (FARIA et al., 2007).
Na elaboração do projeto de arborização se faz necessário o conhecimento de alguns aspectos
como: localização, disposição, distância entre as árvores e técnicas de poda, a fim de conciliar projetos com
a infraestrutura urbana (SEITZ, 2003). Nesse sentido, vários estudos foram realizados nos últimos anos, que
demonstram vários problemas como, por exemplo espécies inadequadas, manejo impróprio e falta de
conhecimento da população referente aos benefícios propiciados pelas árvores (SILVA, 2005). Ainda, para
melhor êxito do projeto de arborização se faz necessário estabelecer parceria entre arquitetos,
engenheiros, botânicos e ambientalistas (PEDROSA, 1983).
Atualmente, percebe-se melhoria significativa quanto à conscientização ambiental da população
urbana e aos projetos de arborização das cidades, que são valorizados devido aos comprovados benefícios
fornecidos. No entanto, existe um paradoxo: há um crescimento tecnológico sem precedentes e nunca
fomos tão hábeis para atuar coletivamente na preservação ambiental, como pressuposto básico do
desenvolvimento sustentável.
A avaliação da percepção ambiental apresenta viés relativo aos aspectos educacionais, culturais e
ideológicos de cada indivíduo. Além disso, fatores socioeconômicos podem também atuar como fator de
interferência na cultura e ações sociais de cada um, o que limita suas visões sobre a importância em
preservar o ambiente. Contudo, em meio a esses fatores foi possível constatar a ausência de estudos sobre
o assunto na cidade de Serra Talhada – PE, e que existe grande necessidade de conscientização da
população em relação à existência das árvores e seus cuidados.
O presente trabalho objetivou demonstrar a percepção ambiental da arborização urbana dos
moradores de seis bairros da cidade de Serra Talhada - PE. Também tratou de investigar os motivos que os
levaram a desenvolver determinado cuidado com sua árvore, a execução de podas excessivas e as suas
vantagens e desvantagens.

MATERIAL E MÉTODOS
A cidade de Serra Talhada está localizada a latitude 7º 58’ S e longitude 38º 8’ O (SUDENE, 1990),
na Mesorregião do Sertão Pernambucano, na região do Vale do Pajeú, com altitude de 429 metros. A
paisagem é caracterizada pelo Bioma Caatinga, com clima semiárido. Segundo o IBGE (2011) a população
estimada foi de 80.294 habitantes. A cidade é um centro urbano de médio porte, considerada pólo
econômico e educacional da região.
Os trabalhos foram realizados entre os meses de maio/2009 a julho/2009 e a metodologia utilizada
foi entrevista e aplicação de questionários estruturados (Percepção ambiental – minha árvore) em 20
residências, escolhidos aleatoriamente em duas ruas por bairro, dentre aquelas que mantinham uma
árvore na calçada. Os bairros pesquisados foram: Alto do Bom Jesus, AABB, IPSEP, São Cristóvão, Alto da
Conceição e Nossa Senhora da Penha no total de 120 residências. O questionário continha nove
alternativas, com perguntas objetivas e discursivas (Tabela 1).

João Pessoa, outubro de 2011


1079

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO


UNIDADE ACADÊMICA DE SERRA TALHADA
CURSO DE BACHARELADO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

Sexo: ( ) Masculino ( )Feminino


Endereço: ____________________________________________________________
N°:___________ Bairro: ____________ Idade:____________ data: / / 2009

1ª Na sua casa tem uma árvore?


( ) Sim ( )Não

2ª Onde localiza a árvore?


( ) Quintal ( ) Calçada ( )Jardim ( ) Outro ________

3ª O Sr.(a) sabe dizer o nome (tipo) da árvore? Qual é?


____________________________________________________________________________

4ª Vocês cortam os galhos da árvore?


( ) Sim ( )Não

5ª Quais os cuidados que você tem com sua árvore?


( ) coloca água ( ) Coloca esterco ( ) não coloca água ( ) não coloca esterco ( ) outro
_______________________________________________________________________________

6ª Porque vocês cortam os galhos da árvore?


_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________

7ª Quais as vantagens e desvantagens de ter árvores na sua casa?


_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________
OBS. Importante:

Tabela 1 – Questionário de apresentação aos moradores dos bairros Alto do Bom Jesus, AABB,
IPSEP, São Cristóvão, Alto da Conceição e Nossa Senhora da Penha da cidade de Serra Talhada, PE.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dos 120 entrevistados, 67% eram do sexo feminino e 33% masculino, pelo fato dos homens
estarem em horário de trabalho no período da entrevista.
As árvores encontradas nas residências não variaram, consideravelmente, não apresentaram
grande diversidade, mas significativa riqueza de espécies, onde dos 79% das árvores plantadas nas calçadas
38% eram ficos (Ficus benjamina L.), que predominavam as ruas da cidade. Atualmente, as cidades não
oferecem boa infraestrutura como o ambiente urbano, local disponível para plantio e características das
espécies arbóreas e para se ter um planejamento com sucesso, é necessário medir, avaliar, monitorar e

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1080

caracterizar os benefícios e objetivos estabelecidos na arborização (CAVALCANTE; SANTOS, 2007). É


possível verificar o predomínio de árvores exóticas nas calçadas, quintais e jardins, porém podemos
observar a presença duas espécies nativas em quintais: a goiabeira e o mamoeiro.

Localização Espécies Porcentagem

Calçada Ficus (Ficus Acácia Ním Castanhola 79%


benjamina (Senna siamea (Azadirachta (Terminalia
var Boni) (Lam.) Irwin & indica A. catappa L.)
Barneby) Juss)

Quintal Mangueira Coqueiro Goiabeira Laranjeira Mamoeiro 20%


(Mangifera (Cocos (Psidium (Citrus (Carica
indica L.) nucifera L.) guajava L.) sinensis papaya L.)
(L.)
Osbeck.
Jardins Mangueira 1%
(Mangifera
indica L.)
Total 100%

Tabela 2 - Localização das árvores nas residências dos entrevistados em Serra Talhada - PE

Os entrevistados foram questionados quanto ao hábito de podar suas árvores, constatou-se que o
percentual de 97,5% dos entrevistados podam e 2,5% não, em virtude da árvore ser jovem ou estar
residindo em casa de aluguel há pouco tempo. Esses conjuntos de fatores foram verificados,
frequentemente, nos bairros do município. Contudo, determinadas podas são extremamente drásticas,
pois deixam as árvores apenas com os galhos desprovidos de folhas. Dentre as justificativas apontadas
destacam-se a seguinte:
“[...]... elas gostam... é bom pra planta.[...]”
Em seguida, foram indagados sobre os motivos da poda e responderam o seguinte: evitar o alcance
da copa na fiação elétrica (43%), embelezar a árvore (29%), evitar o crescimento (23%) e outros (6%). A
fiação elétrica foi o problema mais apontado e é um dos itens mais polêmicos no planejamento da
arborização urbana, principalmente, porque, na maioria das cidades do País, não existe um planejamento
da infraestrutura eletrotécnica adequada ao binômio: crescimento das árvores/ ausência de limitações
superiores significativas. Em alguns países desenvolvidos e na cidade de Belo Horizonte as fiações elétricas
são subterrâneas (VELASCO et al, 2006).
Os moradores foram argüidos quanto aos cuidados que exercem na planta: 97% dos entrevistados
alegaram regar seu vegetal e desse percentual 11 % usam esterco para adubar o solo.
Durante a pesquisa os moradores foram questionados quanto às vantagens e desvantagens de se
ter uma árvore em casa, conforme Tabela 3.

Vantagens Porcentagem Desvantagens Porcentagem


Sombreamento 73% Nenhuma 63%
Redução do calor 12% Sujeira 17%
Embelezamento 10% Danos à calçada 13%
Purificação do ar 5% Atração de insetos 4%
Outros 3%
TOTAL 100% 100%
Tabela 3 - Vantagens e desvantagens de ter uma árvore nas residências dos moradores de Serra
Talhada – PE

João Pessoa, outubro de 2011


1081

O município de Serra Talhada está inserido no sertão pernambucano, com temperatura média
anual de 30°C. De acordo com os resultados obtidos, 73% dos moradores relataram a importância do
sombreamento exercido pelas árvores para amenizar o calor, porém há grande realização de podas
topiarias, onde se tornou atividade excessiva durante todo ano, independentemente das estações.

CONCLUSÃO

Por meio desse trabalho foi possível perceber que os moradores se mostraram
preocupados com a presença de árvores na cidade, principalmente devido aos benefícios gerados como
sombreamento, embelezamento, redução do calor e purificação do ar.
Os moradores não apresentaram queixas em relação à poda, pelo contrário, é prática
comum e acreditam que sem ela ocorrerão diversos problemas como sujeira, danos nas calçadas e atração
de insetos. Contudo, para que não ocorresse poda excessiva haveria que ter bom espaço aéreo, de modo
que as árvores cresçam normalmente. Não foi encontrada boa infraestrutura urbana como fiação elétrica,
tamanho de calçadas e bom planejamento da arborização, o que representa fator limitante para o
crescimento da árvore e não auxilia a frear essa prática coletiva na grande maioria das cidades brasileiras.

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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1082

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA NA UFCG: PRÁTICA


DE CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL NA CIDADE DE SOUSA-PB
Lucas Andrade de MORAIS (CCJS/UFCG) 74
Monnizia Pereira NÓBREGA (CCJS/UFCG) 75

RESUMO
A Constituição Federal de 1988 (CF/88) dispõe que as universidades brasileiras deverão obedecer
ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão (art. 207, CF/88). Com base nessa
premissa, o Centro de Ciências Jurídicas e Sociais (CCJS) da Universidade Federal de Campina Grande
(UFCG), está consolidando através da extensão universitária, em particular por meio do projeto de
extensão “Aplicação dos Direitos e Garantias Fundamentais”, a relação universidade-comunidade, em que é
oferecida a sociedade sousense informação e educação acerca dos direitos e deveres fundamentais
presentes CF/88. Atualmente, o citado projeto focaliza suas atividades na discussão do tema “Meio
Ambiente”, e através da Educação Ambiental (EA) nas escolas públicas e privadas da cidade de Sousa-PB,
buscando promover o conhecimento jurídico a respeito do direito a um meio ambiente equilibrado,
conforme garantido na Lei Magna, e que, segundo a mesma, consiste em um dever do poder público e da
comunidade, estando o primeiro obrigado a promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino.
Nessa vertente, o presente trabalho, tem por objetivo demonstrar como a extensão universitária do
CCJS/UFCG tem contribuído através da EA, na prática de conscientização para a sensibilização da
comunidade sousense. Para tanto, se utiliza do método dedutivo, como método de abordagem; e o
bibliográfico, o histórico-evolutivo e exegético-jurídico, como métodos de procedimento, além da
realização e análise das atividades desenvolvidas pelo projeto, principalmente as oficinas pedagógicas junto
ao público alvo. Observa-se que a EA encontra-se em um estágio embrionário no Brasil, e assim tem-se a
concepção de que a mesma está sendo postulada como um agente fortalecedor e catalisador dos processos
da transformação social, assim o Projeto de Extensão busca levar o conhecimento produzido na academia
para a comunidade estudantil sousense, com o fim proporcionar uma aquisição de novos conhecimentos e
experiências que influenciará no exercício de sua cidadania, e aos extensionistas uma melhor articulação
entre os conhecimentos teóricos e práticos.
Palavras-Chave: Educação Ambiental. Extensão Universitária. Cidadania.

Introdução
A preocupação com as questões meio ambiente nos últimos anos tem despertado em
algumas das diversas civilizações do mundo uma conscientização voltada à práticas e ações que afetam
direta ou indiretamente o meio ambiente, em todas as suas vertentes, ambiente natural, artificial, cultural
e laboral. É com essa preocupação que a Constituição Federal do Brasil de 1988, disciplinou pela primeira
vez, acerca das questões relativas ao meio ambiente, dedicando um capítulo específico “Cap. VI – Do
Ambiente”, inserido no Título VII (da ordem social), onde é disciplinada a questão da Educação Ambiental
(EA), consistindo um dever do poder público, a promoção da educação ambiental em todos os níveis de
ensino.
Desta forma, a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), respeitando a
indissociabilidade entre o ensino-pesquei-extensão, tem através da extensão a busca pela relação com a
comunidade, desenvolvendo atividades que buscam a troca de conhecimento com estas. Nesse sentido, o

74
Graduando em Direito pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), e em Administração Pública
pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Extensionista do Projeto “Aplicação dos Direitos e
Garantias Fundamentais” – CCJS/UFCG (2011), com a temática Educação Ambiental, Direito Ambiental e Meio
Ambiente. Sob orientação da Prof.ª. Esp. Monnizia. PIVIC/UFCG – Educação Patrimonial e Sustentabilidade no Vale
dos Dinossauros (Sousa-PB). E-mail: lucasmorais_7@hotmail.com.
75
Especialista em Direito Processual Civil pelo CCJS/UFCG; Professora de Direito Empresarial no CCJS/UFCG;
Coordenadora do Projeto de Extensão: “Aplicação dos Direitos e Garantias Fundamentais” (2011) – e-mail:
monnizia@gmail.com.

João Pessoa, outubro de 2011


1083

Centro de Ciências Jurídicas e Sociais (CCJS), Campus de Sousa-PB, desenvolve por meio do Projeto de
Extensão “Aplicação dos Direito e Garantias Fundamentais” a educação sociojurídica da comunidade
sousense, onde atualmente, o citado projeto focaliza suas atividades na discussão do tema “Meio
Ambiente”, realizada através da EA nas escolas públicas e privadas da cidade de Sousa-PB, tendo como
intuito, a tentativa da conscientização dessa comunidade sobre as questões ambientais, e assim buscando
fazê-los (re)pensarem acerca de suas práticas em relação ao ambiente onde vivem, sempre divulgando os
conteúdos dos direitos fundamentais ao meio ambiente.
Dessa forma, o presente trabalho, tem por objetivo demonstrar como a extensão
universitária do CCJS/UFCG tem contribuído através da EA, na prática de conscientização para a
sensibilização da comunidade sousense. Para tanto, será dividido em três etapas: na primeira, se buscará
desenvolver uma descrição histórico-legal sobre a Extensão Universitária, conceituando-a e descrevendo
um breve histórico da mesma em diferentes épocas no Brasil; na segunda etapa, se fará um aparato sobre a
EA, descrevendo um pouco de sua história e sua conceituação. Por fim, demonstrar-se-á como a EA é
utilizada na Extensão Universitária do CCJS/UFCG, e como essa prática tem contribuído para a promoção
dos direitos fundamentais e conscientização ambiental na cidade de Sousa-PB.

1 Extensão Universitária: breves considerações


Os primeiros movimentos de uma extensão universitária no mundo surgiram segundo
Rocha (2001) nas primeiras escolas gregas, que tinham suas aulas abertas ao público. No Brasil, legalmente,
surgiu no ano de 1931, tendo por base o modelo europeu, assim como também o norte-americano, na qual
as Universidades realizavam cursos para o público em geral, com objetivo de difundir os seus
conhecimentos. Neste caso, havia uma transmissão vertical do conhecimento, ou seja, de “mão única”, em
que somente a universidade transmitia seus conhecimentos, desconhecendo a cultura e o saber popular e
assim, firmando-a como a detentora de um saber absoluto.
Posteriormente, entre os anos de 1960 e 1964, a extensão volta suas atividades para outro
publico, pois jovens da União Nacional dos Estudantes (UNE), passaram a difundir seus conhecimentos e
ideias de que as universidades deveriam focar suas atividades em prol dos problemas das comunidades,
Saviani (1984) articula que através da extensão seria uma forma da Universidade se responsabilizar por
uma elevação no nível sociocultural das comunidades que não detém acesso ao conhecimento.
No ano de 1968, houve uma Reforma Universitária no Brasil, através da Lei nº 5.540 de
28/11/68, onde assegurou uma maior autonomia das universidades brasileiras, e a Extensão foi incumbida
à pesquisa e ao ensino, conforme consta no art. 20, da citada lri segundo o qual, “[...] as universidades e as
instituições de ensino superior estenderão à comunidade, sob forma de cursos e serviços, as atividades de
ensino e os resultados da pesquisa que lhe são inerentes”. Portanto, com essa reforma a extensão seria
utilizada como instrumento para melhoria das condições de vida da comunidade, além de atuar no
processo de desenvolvimento da mesma. Com o período a Ditadura Militar no Brasil, os debates e atuações
da extensão é prejudicado, somente ganhando força no período pós-ditadura, cuja Constituição Federal de
1988, confirma algumas características da Reforma Universitária de 1968, conforme disposto no art. 207,
CF/88, para o qual: “as universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão
financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e
extensão”.
Assim, a Constituição vigente adotou a triple ensino-pesquisa-extensão, como uma de suas
maiores qualidades e expressão com o compromisso social, tendo no ensino o conhecimento transmitido
pela universidade, à pesquisa através do aprimoramento e produção dos conhecimentos adquiridos no
ensino, a na extensão concretizada através da difusão, socialização, democratização ou materialização do
conhecimento adquirido no ensino e na pesquisa.
O princípio da indissociabilidade entre o ensino, pesquisa e extensão reflete um conceito de
qualidade do trabalho acadêmico que favorece a aproximação entre universidade e sociedade, a auto-
reflexão crítica, a emancipação teórica e prática dos estudantes e o significado social do trabalho acadêmico.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1084

A concretização desse princípio supõe a realização de projetos coletivos de trabalho que se referenciam na
76
avaliação institucional.

Vê-se, portanto, que a extensão universitária é uma forma de interação entre a


universidade e a comunidade, além de constituir um dos instrumentos para a formação do profissional,
pois volta-se para produção do conhecimento científico. Desta forma, Silva (1996, online) afirma que a
extensão universitária:
É uma forma de interação que deve existir entre a universidade e a comunidade na qual está
inserida. É uma espécie de ponte permanente entre a universidade e os diversos setores da sociedade.
Funciona como uma via de duas mãos, em que a Universidade leva conhecimentos e/ou assistência à
comunidade, e recebe dela influxos positivos como retroalimentação tais como suas reais necessidades, seus
anseios, aspirações e também aprendendo com o saber dessas comunidades. Ocorre, na realidade uma troca
de conhecimentos, em que a universidade também aprende com a própria comunidade sobre os valores e a
cultura dessa comunidade. Assim, a universidade pode planejar e executar as atividades de extensão
respeitando e não violando esses valores e cultura. A universidade, através da Extensão, influencia e também
é influenciada pela comunidade, ou seja, possibilita uma troca de valores entre a universidade e o meio.

Portanto, é na Extensão Universitária que existe uma melhor forma de agir junto às
comunidades na busca pela transformação da realidade da mesma, intervindo em suas deficiências, para
que possa haver uma superação das desigualdades sociais existente, haja vista que são poucos os que
possuem acesso direto aos conhecimentos gerados na universidade pública, e tem-se na extensão a
democratização do acesso a esses conhecimentos, e assim contribui para soluções dos diversos problemas
existentes nas sociedades.

2 Da Educação Ambiental
O termo “Educação Ambiental” foi utilizado pela primeira vez por volta do ano de 1948, em
Paris, no encontro da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), porém a EA só teve seus
rumos definidos em 1972, a partir da Conferência de Estocolmo, cuja temática foi inserida na agenda
internacional. Após cinco anos da Conferência de Estocolmo, em Tbilisi (Geórgia), ocorre a Conferência
Intergovernamental sobre Educação Ambiental, e foi desse encontro que surgiram as definições, objetivos,
princípios e as estratégias para a EA, que são utilizadas até hoje.77 Nos anos seguintes o tema Educação
Ambiental entrou na pauta dos diversos congressos, debates, conferências e discussões no mundo, dentre
estas se podem destacar o Rio-92, em que foram estabelecidos princípios fundamentais da educação para
as sociedades sustentáveis.
No Brasil, a Educação Ambiental surgiu muito antes de serem institucionalizadas pelo
Governo Federal, através de ações isoladas de professores, estudantes, escolas, organizações sociais,
prefeituras, militantes, dentre outros atores que tinham atividades educacionais voltadas para a
recuperação, preservação e conservação do meio ambiente em suas diversas formas. Entretanto, é
somente no inicio de 1973, que se inicia o processo de institucionalização da Educação Ambiental no Brasil,
com a criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), vinculada à Presidência da República.
No ano de 1981, fora dado outro passo importante na institucionalização da EA, a criação
da Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA - Lei nº. 6.938/81), que estabeleceu a necessidade de
inclusão da EA em todos os níveis de ensino, capacitando os cidadãos para participação ativa na defesa do
meio ambiente. O que foi reforçado pela Constituição Federal de 1988, que em seu art. 225, inciso VI,
determina a necessidade de “promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente”.

76
Cadernos ANDES, nº 2. Edição especial, atualizada e revisada Proposta da ANDES/SN para a Universidade
Brasileira, 1996, p. 17. A primeira versão da proposta da ANDES data de 1982. Em julho de 1986, foi aprovada outra
no Conselho Nacional das Associações de Docentes – CONAD, A Proposta das ADs (Associações de Docentes) e da
ANDES (Associação Nacional de Docentes do Ensino Superior) para a Universidade Brasileira. A atual Proposta é uma
versão atualizada desta última.
77
Baseado no Texto Antecedentes, ProNEA, 2005.

João Pessoa, outubro de 2011


1085

Posteriormente, foram criados diversos órgãos, entidades e políticas públicas que contribuíram na
articulação das ações de EA no país, dentre estes destaque-se o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), o Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), o Ministério do
Meio Ambiente (MMA), o Programa Nacional de Educação Ambiental (PRONEA-1994 e ProNEA-1999), o
Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), dentre outros.
Porém, vale destacar que à inserção legal da Educação Ambiental no Brasil é recente, visto que nos
últimos anos houve um aumento nas preocupações com o meio ambiente e com a sustentabilidade da vida
das presentes e futuras gerações, passando a ser a EA regulamentada e instituída no Brasil em alguns
documentos como na Política Nacional de Meio Ambiente (Lei nº. 6.938/81), na CF/88, nas Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (Lei nº. 9.394/96), na Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA - Lei nº.
9.795/99) e o Decreto nº 4.281/02 que regulamentou o PNEA, o Plano Nacional de Educação (PNE – Lei nº.
10.172/01).
Partindo para o conceito de Educação Ambiental, este passou por diversas denominações,
sendo, portanto um conceito que tem causado equívocos e desentendimentos, segundo Medina (1998, p.
69), a EA seria um:
Processo que consiste em propiciar às pessoas uma compreensão crítica e global do Ambiente, para
elucidar valores e desenvolver atitudes que lhes permitam adotar uma posição consciente e participativa a
respeito das questões relacionadas com a conservação e adequada utilização dos recursos naturais, para a
melhoria da qualidade de vida e eliminação da pobreza e do consumo desenfreado.

A PNEA (Política Nacional de Educação Ambiental), por sua vez, tem entendido a EA como
“os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,
habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum
do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade” (art. 1º, Lei. 9.795/99), tendo dessa
forma a intenção de educar a população para questões locais, regionais e globais de problemas ambientais,
sendo, portanto um componente essencial e permanente da educação nacional, e conforme o PNEA
devendo esta articulada em todas as formas de ensino do país seja na educação básica, média, superior e
até nas pós-graduações, quer seja em caráter formal ou não.
Ressalta-se que, cabe ao Poder Público e a coletividade a promoção da EA, conforme os
arts. 205 e 225 da CF/88, outras entidades e órgãos que devem desenvolver essa educação são as
instituições educativas, os órgãos que integra o SISNAMA, os meios de comunicação em massa, às
empresas públicas ou privadas, além da sociedade civil em seu todo. Desta forma, as ações de EA têm por
objetivos a busca pelo desenvolvimento de uma compreensão que integra o meio ambiente (natural,
cultural, laboral, e o artificial) com as diversas relações que envolvem os aspectos ecológicos, psicológicos,
legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos, democratizando as informações, e assim
estimulando e fortalecendo a consciência sobre a problemática ambiental e social, instigando os diversos
atores ambientais a (ré) pensarem em suas práticas e ações diárias, buscando por uma sociedade
sustentável.

3 A Educação Ambiental e Extensão Universitária na UFCG: promoção dos direitos fundamentais e


conscientização ambiental na cidade de Sousa-PB

A cidade de Sousa fica localizada no sertão do Estado da Paraíba, a 429 km da capital,


possui uma população de 65.80578 mil habitantes, e possui um Campus universitário, o Centro de Ciências
Jurídicas e Sociais (CCJS), da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), que possui os cursos de
Direito, Serviço Social, Ciências Contábeis e Administração, que atuam ativamente junto à sociedade civil,
através do ensino-pesquisa-extensão.
Desta maneira, através da extensão universitária do curso de Direito, em particular por
meio do Projeto de Extensão “Aplicação dos Direitos e Garantias Fundamentais”, consolida-se no
CCJS/UFCG, a relação universidade-comunidade, em que é oferecida a sociedade sousense informação e
educação acerca dos direitos e deveres fundamentais presentes CF/88 e legislações correlatas.

78
Segundo o censo IBGE 2010.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1086

O referido projeto vem atuando desde 1997, e funciona como um instrumento


fundamental para a formação jurídica e social dos discentes do CCJS/UFCG, que por sua vez contribui para
transmissão de conhecimentos jurídicos e sociais fundamentais. E a cada ano aborda uma temática
relacionada aos direitos fundamentais, atualmente, o citado projeto focaliza suas atividades na discussão
do tema “Meio Ambiente”, através da Educação Ambiental. Vê-se portanto, que se apresenta como uma
verdadeira ferramenta voltada a ação social, atendendo o que dispõe Strauch e Albuquerque (2008, apud
MOREIRA, et al. 2004, p. 2979) para os quais:
A extensão universitária é uma ferramenta que pode ser usada na educação ambiental uma
vez que o processo de educação ambiental desperta na população, senso crítico sobre as relações
de coexistência do homem e do meio. O plano de ação socioambiental é, certamente, uma das
formas mais eficientes de preparar o indivíduo para promover a sustentabilidade dos recursos em
sua volta. Pensar o meio ambiente não é inocente ou ingênuo, tem um intencionalidade.

Sendo assim, por meio da EA nas escolas públicas e privadas da cidade de Sousa-PB, que o referido
projeto do CCJS/UFCG vem cumprindo um papel educativo perante a sociedade, cujo foco é a infância e
adolescência. Buscando promover o conhecimento jurídico e social a respeito do direito fundamental a um
meio ambiente equilibrado, conforme garantido na Lei Magna, e que, segundo a mesma, consiste em um
dever do poder público e da comunidade, estando o primeiro obrigado a promover a educação ambiental
em todos os níveis de ensino.
O Projeto de Extensão “Aplicação dos Direitos e Garantias Fundamentais” tem contribuindo de
forma significativa no processo de educação jurídica ao seu público alvo, através das atividades que estão
sendo desenvolvidas pelo projeto, onde a partir da capacitação dos extensionistas é construído o
embasamento teórico dos mesmos, por meio de oficinas ministradas pelos colaboradores, com temas que
estão relacionados aos direitos fundamentais e ao meio ambiente, com ênfase na Educação Ambiental.
Desta forma, os conhecimentos teóricos adquiridos pelas oficinas são repassados, por meio de
atividades, dramatização, palestras e oficinas pedagógicas realizadas nas escolas públicas e privadas
supramencionadas, através de vídeos, jogos, palestras, debates e mobilização social com ênfase no meio
ambiente, sendo o foco principal as questões ambientais relativas ao semiárido nordestinos e aos aspectos
jurídicos do meio ambiente, onde é proporcionado ao público alvo a construção de uma prática de
conscientização, ou na conscientização para a sensibilização, instigando-os ao compromisso com as causas
ambientais, onde “a conscientização implica, pois, que ultrapassemos a esfera espontânea da realidade,
para chegarmos a uma esfera crítica na qual a realidade se dá como objeto cognoscível e na qual o homem
assume uma posição epistemológica” (FREIRE, 1980, p. 26), desta forma é construído um diálogo entre os
extensionistas e os públicos alvos, reconhecendo a capacidade deste em construir relações e troca de
informações com outros e com o mundo. Portanto, a extensão tem como princípio o diálogo e a construção
conjunta do conhecimento, e conforme Freire (1980) defende que deve haver a quebra dos paradigmas do
ensino “coisificado”, na qual um ator seria o sujeito e o outro o objeto. Assim, o projeto foca seus trabalhos
em atividades onde todos possam ser sujeitos ativos, que pensem, agem e critiquem.
Quando a contribuição da conscientização ambiental aos discentes, docentes e sociedade sousense
é realizada por meio de campanhas educativas de preservação ambiental e destinação adequada aos
resíduos sólidos, e ainda a realização do 2º Ciclo de Palestras em Direito Constitucional, com a temática
Meio Ambiente, realizadas nos meses de Junho/2011 e Novembro/2011, na Universidade Federal de
Campina Grande (UFCG), no Centro de Ciências Jurídicas e Sociais (CCJS), Campus de Sousa-PB. E assim,
após as realizações das atividades do projeto, haverá uma coleta dos dados, por meio de opiniões dos
extensionistas, coordenadores e orientadores, público alvo, e os responsáveis pelas escolas onde as
atividades foram realizadas, com o fim de registrar as modificações advindas após as atividades do projeto.
Destarte, vê-se a importância da Extensão Universitária da UFCG, em especial o Projeto “Aplicação
dos Direitos e Garantias Fundamentais” posto que promove a Educação Ambiental através de atividades
pedagógicas, que possibilitam ao público alvo o conhecimento acerca dos direitos fundamentais a um meio
ambiente equilibrado, além da ênfase formação de um sujeito ambiental, e acima de tudo de um cidadão
conhecedor dos seus direitos e deveres.

Conclusão

João Pessoa, outubro de 2011


1087

A extensão Universitária é uma ferramenta que possibilita a conexão da Universidade com


a sociedade, buscando a troca de informações, um preceito constitucional que fortalece e consolida a nova
tipologia do ensino superior. E diante dos problemas ambientais e discussões em torno do meio ambiente,
a UFCG buscou através da extensão e da EA, difundir os conceitos e teorias do curso de Direito para a
comunidade sousense, levando questões para serem debatidas nos diversos meios sociais. E sendo a escola
um campo para a formação do cidadão em todas as suas esferas, o projeto encontrou um campo fértil para
a disseminação do conhecimento e do debate sobre o meio ambiente.
A Educação Ambiental encontra-se em um estágio embrionário no Brasil, e assim tem-se a
concepção de que está sendo postulada como um agente fortalecedor e catalisador dos processos da
transformação social. Dessa forma, o Projeto de Extensão “Aplicação dos Direitos e Garantias
Fundamentais” busca levar o conhecimento produzido na academia para a comunidade estudantil
sousense, com o fim proporcionar uma aquisição de novos conhecimentos e experiências que influenciará
na construção do exercício de sua cidadania.
Haja vista que, por tratarem de indivíduos em desenvolvimento, e mais suscetíveis à mudança, seus
hábitos ainda estão em construção pelo meio social, o que facilitará o processo de conscientização com
sensibilização socioambiental dos mesmos. E em contrapartida promoverá aos extensionistas do projeto
uma melhor articulação entre os conhecimentos teóricos e práticos, contribuindo assim para a formação
profissional dos mesmos, além de fortalecer o comprometido com as causas ambientais.

Referências Bibliográficas
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17/08/2005. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/constituicao.asp>. Acesso em 25 de
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FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação. São Paulo: Moraes, 1980.
GERAIS (Estado). Secretaria Estadual de Educação. Educação Ambiental : ação e conscientização
http://www.ecientificocultural.com/ECC2/artigos/oberdan9.html >. Acesso em 15 de junho de
2011.
MEDINA, Nana N. O desafio da formação de professores para a Educação Ambiental. In: MINAS
para um mundo melhor. Belo Horizonte, 2002. (Lições de Minas, 17).
ROCHA, R. M. Gurgel. A construção do Conceito de Extensão universitária na America Latina. In:
FARIA, Doris Santos de (org). Construção da Extensão na America Latina. Brasília: UNB. 2001.
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Público e algumas falas sobre Universidade, Campinas/SP: Ed. Cortez/Autores Associados, 1984.
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STRAUCH, M.; ALBUQUERQUE, P. P. Resíduos: como lidar com recursos naturais. São Leopoldo:
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Rev. Bras. De Agroecologia/nov. 2009. Vol. 4 No. 2. Disponível em: <www.aba-
agroecologia.org.br/ojs2/index.php/rbagroecologia/.../6224>. Acesso em 15 de junho de 2011.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1088

EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA O USO SUSTENTÁVEL DO LITORAL


PERNAMBUCANO: O PROJETO VERÃO AMBIENTAL: ESSA É A NOSSA PRAIA
Lúcia Maria ALVES E SILVA.
Gerente da Unidade de Educação Ambiental (UEAM/CPRH); Rua Santana, 367, Casa Forte, Recife/PE;
luciamaria@cprh.pe.gov.br
Breno Augustus SAVATIN.
Analista Ambiental (UEAM/CPRH); Rua Santana, 367, Casa Forte, Recife/PE; breno.augustus@cprh.pe.gov.br
Itamar Dias e CORDEIRO.
Analista em Desenvolvimento Organizacional (UEAM/CPRH). Rua Santana, 367, Casa Forte, Recife/PE;
itamar.cordeiro@cprh.pe.gov.br

RESUMO
Ainda que o aumento de turistas e veranistas durante os períodos de alta estação contribuam para
a dinamização econômica de Pernambuco, é forçoso reconhecer que também facilitam o aparecimento de
diversos problemas ambientais. Diante disto, o Governo de Pernambuco através do Núcleo de
Comunicação Social e Educação Ambiental - NCSEA da Agência Estadual de Meio Ambiente – CPRH
concebeu e pôs em marcha o projeto “Verão Ambiental essa é a nossa praia”. Com o foco na
conscientização e mobilização dos atores e setores sociais que interagem nas faixas de praias dos
municípios litorâneos do Estado (turistas, veranistas, moradores, trabalhadores, professores, sociedade
organizada e gestores municipais), o projeto buscou por meio de ações como teatro de rua, circuito
ambiental, contação de histórias, oficinas de brinquedo e vídeo debate, chamar a atenção dos usuários das
praias para a importância de se mudar comportamentos ambientalmente inadequados. Todas as ações
realizadas foram bem aceitas e avaliadas positivamente pelos públicos envolvidos. A repercussão do
projeto tem sido positiva, como atesta os depoimentos tomados nas caminhadas por ocasião da realização
do teatro de rua.
Palavras-chave: educação ambiental, Projeto Verão Ambiental: essa é a nossa praia, estratégias de
educação ambiental, desenvolvimento sustentável.

INTRODUÇÃO
Conhecido por suas belezas naturais e por suas praias de águas quentes e cristalinas distribuídas ao
longo de 187 Km de litoral, Pernambuco é muito procurado por turistas e veranistas, especialmente no
verão. Embora represente um aumento do ingresso de divisas decorrentes do turismo, a afluência de
turistas e veranistas79 nestes períodos acaba por favorecer o surgimento de problemas como: poluição
sonora; descarte de resíduos sólidos na faixa de praia e nos corpos hídricos; risco de acidente decorrente
da circulação de veículos na faixa de praia e da circulação de embarcações próximas a banhistas; pisoteio
de corais; pesca predatória; ligações clandestinas de esgoto direto nos corpos hídricos; entre outros.
Ainda que estes problemas estejam vistos como estando majoritariamente associados ao aumento
da população flutuante, não se deve perder de vista que fatores como déficits da infra-estrutura das
cidades litorâneas e o comportamento inadequado das pessoas que freqüentam estes balneários também
são determinantes.
Em setembro de 2010 um acidente envolvendo um buggy que trafegava na faixa de areia vitimou
três jovens – sendo uma vítima fatal – que estavam sentados a beira mar na praia de Maracaípe, litoral Sul
de Pernambuco. Este fato somado aos demais problemas que se agudizam a cada nova estação de veraneio
levou o Governo de Pernambuco através do Núcleo de Comunicação Social e Educação Ambiental - NCSEA
da Agência Estadual de Meio Ambiente – CPRH a desenvolver o projeto: “Verão Ambiental essa é a nossa
praia”. A idéia é integrar os setores sociais, as pessoas que interagem nestes municípios, nestas praias –
turistas, veranistas, moradores, trabalhadores, professores, sociedade organizada e gestores municipais –
numa ação educativa ambiental. O pressuposto central que subsidiou a realização desta ação foi a crença

79
A população dos municípios litorâneo chegam as vezes a quadruplicar na alta estação de veraneio
(fonte???)

João Pessoa, outubro de 2011


1089

no potencial que o enfoque educativo tem para a disseminação de informações, sensibilização e


mobilização dos mais diversos atores sociais em prol de melhores condições ambientais. Considera-se que
sem isso, é impossível seguir rumo a uma sociedade sustentável.
O universo de atuação do projeto foram os municípios do litoral do estado de Pernambuco,
definindo-se alguns desses como centrais para o desenvolvimento das principais ações. Os municípios
escolhidos como centrais sediaram as oficinas para diagnóstico da situação e para a ação de educação
ambiental, bem como as ações de campo de educação ambiental da CPRH, no período da alta estação de
veraneio. Estes municípios foram definidos em função de serem os que sofrem maior pressão nestas
temporadas, apresentando como conseqüência uma maior intensidade de seus problemas ambientais. As
ações voltaram-se para a sensibilização e mobilização da sociedade quanto à necessidade de uma interação
sustentável com os ecossistemas locais.
O projeto foi concebido em cinco etapas, a saber:
Realização de oficinas de educação ambiental voltadas para capacitação dos participantes em
educação ambiental. Além disso, estas oficinas buscaram identificar os comportamentos ambientais
inadequados praticados nas praias na alta estação de veraneio.
Realização de uma campanha de educação ambiental (durante os meses de alta estação) nos
municípios de Olinda, Recife, Tamandaré, Ipojuca, Cabo de Santo Agostinho, Itamaracá e Goiana. Esta
campanha contou com atividades de campo como teatro de rua, circuito ambiental, contação de histórias,
oficinas de brinquedo e vídeo debate;
Paralelamente à segunda fase, procedeu-se à confecção de material didático educativo
contextualizado. A referida confecção considerou as informações geradas nas oficinas de educação
ambiental, ocorridas na primeira fase do projeto;
Realização de oficinas de educação ambiental com o objetivo de definir público e metodologia para
ações educativas ambientais a serem realizadas pelos diversos setores municipais, em seus municípios
(professores, alunos, gestores públicos, empresários do turismo, barraqueiros, veranistas, turistas, etc.),
considerando os materiais didáticos contextualizados, produzidos pelo projeto;
Realização do monitoramento das ações, considerando os diferentes setores envolvidos, as ações
realizadas pelo projeto, o material didático produzido; o número de pessoas envolvidas e as ações de
educação ambiental realizadas pelos diferentes setores sociais que integram o projeto.
O objetivo final do projeto foi o de contribuir para que os municípios tenham condições de,
paulatinamente, desenvolver com competência e responsabilidade uma efetiva ação educativa ambiental
em prol da sustentabilidade dos ecossistemas costeiros e de melhores condições de uso das praias
pernambucanas.
Neste artigo três subtítulos apresentarão na sequência o desenvolvimento desta ação educativa
ambiental. O primeiro subtítulo – EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA CPRH: Uma ação em construção – apresenta
uma breve contextualização da atual ação de educação ambientas da CPRH, destacando o contexto de
proposição desta ação educativa. No segundo – FUNDAMENTOS DO FAZER EDUCATIVO AMBIENTAL – se
destaca as diretivas pedagógicas que nortearão esta ação educativa, enquanto fundamentos da educação
ambiental. O terceiro – EDUCAÇÃO AMBIENTAL: essa é a nossa praia – traz uma exposição dos objetivos,
área de influência, concepção metodológica e etapas de realização do projeto. Finalmente o último título –
BUSCANDO CONCLUIR: é preciso agir para fazer acontecer – considera alguns resultados alcançados, os
materiais didáticos produzidos e a perspectiva de continuidade das ações educativas. Destacam-se neste
sentido, os elementos considerados relevantes para o fortalecimento das ações de educação ambiental nos
municípios do litoral pernambucano.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA CPRH – Uma ação em construção


Segundo o inc. VII, do Art. 2° da Lei.14.249 de 17/12/2010, a Educação Ambiental está proposta
como um dos instrumentos de política ambiental em Pernambuco. Sendo assim a Educação Ambiental é
parte integrante da ação institucional da CPRH, órgão responsável pela execução da política estadual de
meio ambiente. Num percurso histórico de se fazer e refazer uma ação educativa ambiental, a CPRH vem se
renovando no contexto das condições socioambientais de cada momento e de cada lugar deste Estado.
Como novo marco de ação, a educação ambiental está proposta na CPRH a partir das suas
atribuições e das atuais condições socioambientais de Pernambuco. Estes foram os pontos de referência

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1090

para a elaboração do Programa de Educação Ambiental da CPRH, o qual apresenta sete linhas de ação: i)
Educação Ambiental como Instrumento de Gestão; ii) Educação Ambiental: publicações técnicas; iii)
Educação Ambiental: fazendo arte; iv) CPRH interiorizando as ações de educação ambiental; v) Educação
Ambiental: atuando em unidades de conservação; vi) Educação Ambiental na CPRH e; vii) Educação
Ambiental: dialogando com a sociedade.
O estabelecimento destas linhas de ação tem como referências algumas diretrizes que orientam a
ação educativa da CPRH para o fortalecimento da ação social e da sustentabilidade ambiental. São elas: o
fortalecimento da gestão ambiental estadual; a multiplicação das ações de educação ambiental em
Pernambuco; o fortalecimento das gestões ambientais municipais, da ação de educação ambiental em
diversos setores sociais e do diálogo entre diferentes disciplinas e saberes e; a participação social. A partir
destas diretrizes as linhas de ação foram definidas para orientar o desenvolvimento de projetos de
educação ambiental voltados não só para setores sociais diversos, como também para a promoção da
sustentabilidade a partir do diálogo com os diversos setores sociais sobre os problemas ambientais do
Estado. O universo de atuação do Programa de Educação Ambiental da CPRH é, pois, o estado de
Pernambuco.
No contexto de uma ação educativa desenvolvida em consonância com as diretrizes expostas e com
as atribuições da CPRH, busca-se contribuir com os processos de licenciamento e fiscalização dos
empreendimentos e com a gestão das Unidades Estaduais de Conservação da Natureza, enquanto um
instrumento para o fortalecimento da gestão ambiental estadual.
As ações educativas da CPRH estão também em consonância com a Política Nacional de Meio
Ambiente e a Política Nacional de Educação Ambiental. Volta-se para o compromisso com a
descentralização das ações da CPRH. Busca-se a realização de uma ação educativa para instrumentalizar
pessoas dos mais diversos setores sociais, que integram as municipalidades pernambucanas, contribuindo
para o fortalecimento das ações de educação ambiental destes setores e, portanto, para o fortalecimento
das gestões ambientais municipais.
Os fundamentos utilizados como referências para a realização da educação ambiental na CPRH
consideram as principais orientações historicamente definidas para educação ambiental e serão dispostas
no próximo subtítulo. Eles estão comprometidos com o fortalecimento do diálogo entre diferentes
disciplinas e saberes, e com a realização de ações integradas dos diversos setores sociais envolvidos. A idéia
é estimular e apoiar a participação social com vistas à sustentabilidade ambiental em Pernambuco.
O presente projeto se define como componente da linha de ação Educação Ambiental: dialogando
com a comunidade, considerando as referências expostas. Ele surge a partir da articulação da CPRH com
algumas municipalidades, no contexto da preocupação com os problemas ambientais que se multiplicam
no verão. Em especial, aqueles relacionados aos comportamentos ambientalmente inadequados de
diferentes atores e setores sociais que interagem nas faixas de praias dos municípios litorâneos.
FUNDAMENTOS DESTE FAZER EDUCATIVO AMBIENTAL
A concepção e execução deste projeto – Verão Ambiental: essa é a nossa praia – consideram como
fundamentos as orientações e princípios construídos no País e em Pernambuco nestes últimos trinta anos
para a ação educativa ambiental. Fundamentos que foram sendo redefinidos na relação com as
características ambientais locais (ecológicas, econômicas, sociais e políticas) de cada país a partir dos
grandes eventos internacionais sobre educação ambiental.
Os resultados destas adequações são traduzidos em documentos que vão norteando a ação da
educação ambiental em cada recanto do Brasil. Na CPRH, toma-se como referência para ação educativa
ambiental, o Programa de Educação Ambiental da CPRH, consolidado a partir das orientações da Política
Nacional de Educação Ambiental (Lei nº 9.795/1999 e Decreto nº 4.281/2002), do Programa Nacional de
Educação Ambiental – ProNEA e da Resolução CONAMA Nº 422/2010, em nível federal; e do Programa
Estadual de Educação Ambiental. Estes documentos promovem um enfoque educativo comprometido com
a construção de novas relações entre a sociedade e a natureza. Busca-se, como afirma Dias (1992),
contribuir com processos participativos na direção de um projeto de melhoria das condições ambientais e
de vida das comunidades.
Nestes termos, a Educação Ambiental dentro do Programa de Educação Ambiental da CPRH é
compreendida enquanto um processo que integra idéias e ações de dimensões internacional, federal,
estadual e local articulando, numa perspectiva ampla e plural, uma diversidade de comunidades,

João Pessoa, outubro de 2011


1091

referências teóricas e concepções filosóficas. A partir desta ótica construtivista, buscando adequação à
realidade pernambucana e em consonância com esta ampla e dinâmica discussão, é que se destacam a
seguir os princípios norteadores da ação educativa ambiental na CPRH:
Partir da concepção de ambiente enquanto uma totalidade que integra uma rede de inter-relações
e interdependência entre aspectos ecológicos, socioeconômicos, culturais, políticos, espirituais;
Reconhecer a Educação Ambiental como um ato político e como instrumento de um processo
crítico, de criação e recriação da realidade, que busca a transformação das relações entre a sociedade e a
natureza;
Ser instrumento para a sustentabilidade ambiental, considerando a necessidade da justiça social e
de proteção da natureza como importantes elementos para o desenvolvimento econômico;
Considerar as orientações humanística, holística, democrática e participativa no contexto do
pluralismo de idéias e de diferentes concepções pedagógicas;
Garantir uma orientação democrática que assegure o diálogo interdisciplinar e participativo na
ação social e nas decisões sobre as políticas setoriais de meio ambiente;
Respeitar a diversidade cultural, considerando o dinâmico processo de interação multicultural,
atualmente em curso nas sociedades modernas e em desenvolvimento.
O compromisso da ação educativa ambiental na CPRH é contribuir com o desenvolvimento de um
processo de compreensão e inserção social crítico dos diversos setores sociais pernambucanos. Para tanto,
a leitura historicamente contextualizada da realidade ambiental é considerada como principal caminho
para a construção de uma sociedade democrática, socialmente justa e ecologicamente sustentável. É com a
finalidade de cumprir com esse compromisso que surge o projeto Verão Ambiental: essa é a nossa praia.
VERÃO AMBIENTAL: essa é a nossa praia
O projeto Verão Ambiental: essa é a nossa praia é um projeto em construção, concebido a partir
dos problemas ambientais que se verificam nas praias do litoral pernambucano no período da alta estação
de veraneio. A primeira decisão veio no sentido de que não seria apenas uma campanha, como proposto
inicialmente, mas uma ação de educação ambiental comprometida com a perspectiva da formação de
representantes de diversos setores sociais e, portanto, com a perspectiva de continuidade. Seria necessário
o envolvimento dos diversos setores sociais que interagem nos municípios de maneira a se preservar as
principais diretivas pedagógicas do fazer educativo ambiental: diálogo entre as diferentes disciplinas,
saberes e setores sociais envolvidos, adequação a realidade e perspectiva de continuidade das ações.
Como objetivo geral buscava-se realizar ações de educação ambiental envolvendo representantes
dos diversos setores sociais que interagem em municípios litorâneos de Pernambuco, incluindo o público
em geral, com vista a minimizar os impactos provocados por comportamentos ambientais inadequados.
Nesta direção foram definidos os objetivos específicos que se destacam a seguir:
Realizar um diagnóstico rápido participativo para identificar os comportamentos ambientais
inadequados à sustentabilidade dos ambientes costeiros, com vista a elaboração de uma agenda de
Educação Ambiental para os municípios;
Capacitar representantes municipais para o desenvolvimento de ações em educação ambiental nos
municípios costeiros, contribuindo assim para a diminuição dos impactos ambientais gerados no litoral
pernambucano durante o verão;
Sensibilizar, através de ações de arte-educação ambiental (teatro de rua, contação de história,
jogos de conhecimento e oficinas de brinquedos), a sociedade para a importância do seu envolvimento na
proteção do meio ambiente;
Produzir materiais didáticos pedagógicos (vídeo, cartilha, história e caderno de atividade), com foco
nos problemas ambientais vividos pelos municípios costeiros, os quais se agravam no período de veraneio.
Definir estratégias metodológicas para multiplicação das ações de educação ambiental a serem
realizadas por atores e setores sociais dos municípios considerando os materiais didáticos produzidos.
Em tese o projeto deveria envolver todos os 21 municípios que integram o litoral pernambucano,
uma vez que todos possuem problemas ambientais. Como não havia disponibilidade de técnicos e recursos
para o desenvolvimento das ações em todos eles, o litoral foi considerado a partir dos municípios centrais,
dos municípios do litoral Sul e dos municípios do litoral Norte. A opção foi, no entanto, de centralizar as
ações nos municípios que nestas áreas apresentassem uma situação mais crítica com relação aos
problemas ambientais, gerados pela pressão a qual são submetidos quando freqüentados por veranistas e

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1092

turistas na alta estação. Outro critério foi o interesse e a disponibilidade dos municípios no
estabelecimento de parcerias para realização das atividades.
Demarcou-se então, como área de influência do projeto na região central do litoral os municípios
de Recife, Jaboatão dos Guararapes, Olinda e Paulista; no litoral Sul Tamandaré, São José da Coroa Grande,
Barreiros, Rio Formoso, Sirinhaém, Ipojuca, Cabo de Santo Agostinho; no litoral Norte Itamaracá,
Itapissuma, Igarassu, e Goiana. Sendo que, os municípios sublinhados foram sede do projeto enquanto
município que sediaram as atividades de capacitação e a campanha das praias no período da alta estação,
os que estão na sequência dos sublinhados participaram das atividades realizadas nos primeiros. Do total
dos quinze municípios convidados, três não participaram do projeto (Ipojuca, Cabo de Santo Agostinho e
Sirinhaém), alegando dificuldades financeiras para arcar com as despesas com alimentação e hospedagem
dos participantes quando necessário, em função da distância para os municípios que sediaram as ações.
Nas ações realizadas adotou-se uma metodologia participativa, orientada por uma perspectiva
construtivista e lúdica de ação. Por um lado, o construtivismo como espaço para consolidar durante as
atividades, em especial nas oficinas de trabalho, a compreensão de que o conhecimento é um processo
contínuo de construção (Piaget e Garcia, 1984) que precisa articular na perspectiva da complexidade as
construções individuais e sociais, os conhecimentos científicos e os do senso comum (LEFF, 2006). Neste
sentido, buscou-se a cada momento romper com as dicotomias entre individual e social, entre racional e
irracional, entre ciência e senso comum, que historicamente demarcaram a construção das ciências, a
partir de orientações empiristas, cartesianas, positivistas (PELIZZOLI, 2007).
O lúdico foi o enfoque utilizado nas ações com o público em geral, especialmente para as atividades
nas praias e nas praças. Esta opção se justifica por esta linguagem ser considerada mais apropriada a
abordagens para públicos que se encontram em situação de dispersão, formado por pessoas com
diferentes perfis e idades e com interesse voltado para o descanso, para o lazer, para o entretenimento
(LUZZI, 2005). Foram utilizados jogos de conhecimento (circuito ambiental), teatro de rua, contação de
história como espaço de desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da socialização; como atividades
que enriquecem e dinamizam a aprendizagem e a construção de conhecimentos.
Na sequência serão apresentadas as metas desenvolvidas/proposta para execução do projeto
Verão Ambiental: essa é a nossa praia80.
META 1: Realizadas três Oficinas de Arte-Educação Ambiental.
Nesta meta foram trabalhados temas ambientais contextualizados na relação com conteúdos de
educação ambiental com vista a capacitação dos envolvidos e a elaboração de uma agenda de ação em
educação ambiental, considerando os comportamentos ambientais inadequados de atores sociais diversos
que ocorrem nos municípios envolvidos, também identificados na oficina. Ela foi desenvolvida com dois
objetivos: i) capacitação em arte-educação ambiental e ii) diagnóstico dos comportamentos inadequados
na relação com a elaboração do plano de ação em educação ambiental de cada município. Estas
informações também serão utilizadas para subsidiar a elaboração dos materiais didáticos a serem
produzidos na terceira etapa do projeto.
META 2: Realizadas cinco campanhas de Educação Ambiental.
Esta meta levou a cinco municípios uma campanha de educação ambiental que contou com
atividades realizadas pela equipe de educação ambiental da CPRH e por representantes dos municípios. As
ações foram realizadas de forma integradas potencializando os resultados de trabalho das duas equipes. Os
municípios melhoraram a infra-estrutura com relação à coleta dos resíduos sólidos, distribuindo lixeiras em
toda a orla e capacitando barraqueiros e ambulantes para destinação adequada dos resíduos produzidos
em suas atividades. Também confeccionaram faixas e fizeram caminhadas para recolher lixo na praia.
Apoiaram e participaram das atividades desenvolvidas pela equipe técnica da CPRH: teatro de rua, circuito
ambiental, contação de história, vídeos debates e oficinas de brinquedos. Todas vivenciadas com

80
Fala-se em desenvolvidas/proposta porque – nesta data em que se escreve este projeto para submeter à
participação do II Congresso Nacional de Educação Ambiental – a quarta etapa do projeto ainda não havia sido
realizada e a terceira estava em fase final de conclusão. Esta, faltando apenas os serviços de gráfica, no caso das
publicações e a edição final, no caso do vídeo. As três primeiras metas serão apresentadas enquanto resultados, pois
expõe as ações executadas no contexto da realização de cada uma das metas propostas.

João Pessoa, outubro de 2011


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participação e simpatia pelas pessoas que circulavam nas praias e praças dos balneários onde as atividades
foram desenvolvidas (Recife, Olinda, Tamandaré, Itamaracá e Goiana).
META 3: Elaboração de material didático (1 cartilha, 1 vídeo, 1história e 1 caderno de atividades.
A terceira meta do projeto trabalhou na produção de material didático pedagógico. Os conteúdos
foram trabalhados pelos técnicos da UEAM, considerando as informações geradas nas oficinas de educação
ambiental, ocorridas na primeira etapa do projeto. Nesta terceira etapa foram elaborados termos de
referência e realizadas as licitações para contratação dos serviços para ilustração, diagramação e
editoração dos conteúdos sistematizados, que resultaram na cartilha “Verão Ambiental: essa é a nossa
praia”; no vídeo “Verão Ambiental: essa é a nossa praia”; no caderno de atividades “Conhecendo o
Manguezal” e; na história “A tartaruga Sophia”. Esta meta está na fase final de execução dependendo
apenas dos serviços gráficos e da última edição do vídeo.
META 4: Realização de cinco Oficinas de Educação Ambiental.
O objetivo desta meta foi a definição de estratégia metodológica e a construção de agenda para o
desenvolvimento das ações educativas a serem realizadas pelos diversos setores sociais que integram os
municípios participantes, considerando os materiais didáticos produzidos. Para tanto, foram realizadas
reuniões para o planejamento desta atividade com a participação de representantes dos setores
estratégicos dos municípios envolvidos a participar de cada Oficina de Trabalho.
META 5: Elaborar relatório final do projeto.
Esta última meta do projeto tem como objetivo a elaboração do relatório final do projeto,
considerando todas as ações desenvolvidas, bem como os dados referentes ao monitoramento destas. Os
resultados serão trabalhados em termos dos materiais educativos produzidos, do número de pessoas
envolvidas, das ações realizadas pelo projeto e das ações de educação ambiental propostas e realizadas
pelos diferentes setores sociais que integraram as ações do projeto em cada município participante.
BUSCANDO CONCLUIR: é preciso agir para fazer acontecer
É difícil falar em conclusão de um projeto que ainda está em andamento e especialmente,
de um projeto que tem o construtivismo como condição indispensável à organização e orientação de suas
atividades. No entanto, busca-se neste item falar um pouco dos resultados já alcançados com as ações
desenvolvidas até a presente data.
Em termos de adesão, no total dos 13 municípios convidados 11 participaram das ações do projeto.
Estima-se que até o presente momento as atividades realizadas atingiram um público de 250 pessoas em
ambientes fechados, ficando difícil dimensionar o público que participou nas atividades de rua, a partir das
encenações teatrais realizadas num percurso a beira mar nos cinco municípios sedes.
Todas as ações realizadas foram bem aceitas e avaliadas positivamente pelos públicos envolvidos.
Tanto as oficinas de trabalho, o circuito ambiental, a contação de história como as atividades educativas de
campo, entre as quais destacam-se o teatro de rua. Os municípios também desenvolveram atividades de
apoio e infra-estrutura, colocando faixas educativas em pontos estratégicos, veiculando vinhetas
educativas, em rádios locais e fixando lixeiras nas faixas de praias e em locais públicos procurados pela
população e visitantes. Sempre aproveitando para veicular mensagens educativas. A repercussão do
projeto tem sido positiva, como atesta os depoimentos tomados nas caminhadas por ocasião da realização
do teatro de rua. Alguns destes registrados no vídeo educativo Verão Ambiental:essa é a nossa praia (Em
fase final de edição).
Das ações realizadas considera-se que os materiais didáticos produzidos, a partir do diagnóstico dos
problemas ambientais realizados nas primeiras oficinas do projeto, têm grande potencial de multiplicação
da ação educativa ambiental, em cada município. Isto porque, se constituem como instrumento de uma
ação educativa ambiental contextualizada, que pode considerar os mais diferentes setores sociais (escola,
barraqueiros, empresários do turismo, ambulantes, gestores públicos, imprensa, turistas, veranista,
moradores).
Com relação a uma abordagem mais precisa sobre esse desdobramento pouco ou nada se pode
dizer, neste momento, além da expectativa acima exposta. Isto porque a continuidade das ações locais de
educação ambiental requer uma avaliação que, por seu turno, depende do retorno aos municípios para
avaliação das primeiras etapas do projeto, planejamento da quarta (atividades de educação ambiental a
serem desenvolvidas por e para os diferentes setores sociais estratégicos municipais) e inclusão de outros

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1094

municípios que queiram participar da ampliação desta ação educativa ambiental para todo litoral
pernambucano.
Neste retorno aos municípios espera-se consolidar além de um planejamento para a continuidade
das ações educativas, um plano de monitoramento das atividades, definindo com estes municípios alguns
indicadores de avaliação que possam consubstanciar-se em instrumento que gere informações capazes de
contribuir para melhorar a atividade educativa ambiental nestes. Afinal, é preciso agir para fazer acontecer
pois, como lembram Pelicioni & Philippi Jr. (2005), educação ambiental sem prática transformadora ajuda a
deixar a sociedade tal e qual ela se encontra.
Quando se apresenta esta ação educativa ambiental neste Congresso – enquanto lugar de
troca de experiências e construção de conhecimentos – se tem também uma expectativa de estabelecer
com os participantes deste evento, um espaço de reflexões e de análise crítica que possa contribuir com
novas idéias e possibilidades, tanto para o projeto Verão Ambiental: essa é a nossa praia, como para toda a
ação educativa ambiental. Busca-se sempre avançar considerando a leitura da realidade e a interação
dialógica e dialética como pilares da consolidação da ação educativa ambiental. A idéia é de contribuir para
uma ação cada vez mais comprometida com o fortalecimento da organização social, com o envolvimento e
a interação dos diversos atores e setores que integram as municipalidades, na direção do compromisso e
da responsabilidade com uma sociedade sustentável, na medida da preservação da natureza e da
distribuição dos seus frutos, enquanto um modelo socialmente justo.

Referências
BRASIL. Programa nacional de educação ambiental – ProNEA. 2. Ed. Brasília: Diretoria de Educação
Ambiental/MMA, 2004.
DIAS, Genebaldo Freire. Educação ambiental: princípios e prática. São Paulo: Gaia, 1992.
LEFF, Enrique. Racionalidade ambiental: a reapropriação social da natureza. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2006
LUZZI, Daniel. Educação ambiental: pedagogia, política e sociedade. In: PHILIPPI JR, Arlindo;
PELICIONI, Maria Cecília (Eds.). Educação ambiental e sustentabilidade. Barueri: Manole, pp.381-400, 2005.
PELICIONI, Maria Cecília; PHILIPPI JR., Arlindo. Bases políticas, conceituais, filosóficas e ideológicas
da educação ambiental. In: PHILIPPI JR., Arlindo; PELICIONI, Maria Cecília (eds). Educação ambiental e
sustentabilidade. Barueri: Manole, pp.03-12, 2005.
PELIZZOLI, Marcelo. Correntes da ética ambiental. 3.ed. Petrópolis: Vozes, 2007.
PERNAMBUCO. Lei 14.249 de 17 de dezembro de 2010.
PIAGET, Jean & GARCIA, Rolando. Psicogenesis e História de La Ciência. 2. Ed. México: Siglo
Veintiuno Editores sa, 1984.

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NAS TRILHAS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DA AUTOÉTICA: UM


OLHAR SOB A LUZ DA COMPLEXIDADE
Luciana Roso de ARRIAL
Mestre em Educação Ambiental, PPGEA/FURG. Professora do Curso Técnico em Edificações, IFSul, Pelotas/RS
luarrial@ig.com.br
João Francisco Fernandes POUEY
Mestrando em Educação Ambiental, PPGEA/FURG. Professor do Curso Técnico em Edificações, IFSul, Pelotas/RS
jfpouey@gmail.com

RESUMO
Este artigo versa refletir sobre o conceito que Edgar Morin atribui para a autoética como
imperativo que se origina na fonte interior ao indivíduo, mas que também provém de uma fonte exterior a
ele, como as culturas, os mitos, a comunidade, contribuindo para a educação ambiental. Neste sentido,
como aporte conceitual, destaca-se o livro O Método 6: ética, no qual as certezas e incertezas, se
estabelecem na contradição, nos paradoxos, como experiência imprescindível aos seres sociais que somos.
E o pensamento ético, por meio de regras, valores, moralidade, delineia formas de ser e agir dos seres
humanos.
Palavras-chave: educação ambiental, autoética, consciência, complexidade.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O ser humano vive de muitos jeitos e é ao mesmo tempo multiplicidade, singularidade,
incompatibilidade, complementaridade, enfim, é homo complexus. O ser humano é um ser afetivo, ansioso,
apaixonado, exaltado, que se descobre entre o afeto e a antipatia, o abstrato e o concreto. Alimenta-se do
evidenciado, mas também de ilusões e memórias.
Viver demanda ao ser humano compreender a vida em todas as suas possibilidades e
restrições; mas, a partir da consciência da sua existência, o ser humano analisa suas posturas e suas
convicções diariamente e, então, para que possa atingir a verdade e o conhecimento, a plenitude de sua
consciência, se faz necessário permanecer ou mesmo alterar a sua relação com os outros e com o mundo.
A partir desta consciência de si, dos seus erros e acertos, podemos compreender os outros seres
humanos. A consciência de si, de seus atos e de suas convicções, conduz a uma autoanálise, cuja prática
direciona a alteridade. É através desta autoanálise que nos dirigimos aos princípios necessários para uma
vida em sociedade, nos tornando, formal ou informalmente, educadores ambientais.
Na construção de sua teoria sobre a autoética através da complexidade, Morin entrelaça a
consciência do sujeito, as representações guiadas pela cultura, pelas crenças e pelas normas pré-
estabelecidas na comunidade e através da própria organização dos seres vivos e do transmitido
geneticamente.
Cabe lembrar que ser sujeito não quer dizer necessariamente ser consciente, tampouco
quer dizer, ter afetividade. Ser sujeito “é colocar-se no centro de seu próprio mundo, é ocupar o lugar do
“eu” (Morin: 2006, 64). E mais: “Ser sujeito é ser autônomo, sendo ao mesmo tempo dependente. É ser
alguém provisório, vacilante, incerto, é ser quase tudo para ser quase nada para o universo”.
Edgar Morin nasceu em Paris, 8 de Julho 1921, é um antropólogo, sociólogo e filósofo francês e
pesquisador emérito do CNRS (Centre National de La Recherche Scientifique). Morin propõe, em seus
estudos, o desenvolvimento do pensamento complexo, uma reforma do pensamento por meio do ensino
transdisciplinar, capaz de formar cidadãos planetários, solidários e aptos a enfrentar os desafios dos
tempos atuais.
Morin entende o ser humano como um ser complexo, capaz de se auto-organizar e de estabelecer
relações com o outro, e é nessa relação de alteridade que o sujeito encontra a autotranscendência,
superando-se, interferindo e modificando o seu meio num processo de auto-eco-organização a partir de
sua dimensão ética que reflete seus valores, escolhas e percepções do mundo.

AUTOÉTICA PARA E NO DESENVOLVIMENTO HUMANO

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1096

O sujeito, em sua autonomia, é um ser que carrega a herança genética, e a norma de uma cultura
conforme a comunidade em que está inserido e enraizado. O indivíduo é como um holograma que contém
o todo de sua espécie e da sociedade. O indivíduo autoafirma-se no centro do seu mundo, comportando no
seu egocentrismo os princípios de inclusão e exclusão.
O princípio de exclusão é antagônico à alteridade e é o responsável pela identidade singular de
cada sujeito. Este princípio se expressa como egocentrismo, o qual pode vir a se tornar egoísmo. Imbuir-se
de ética significa não manter o outro ser humano fora da humanidade.
O princípio de inclusão rivaliza com o de exclusão e é ele que faz o indivíduo sentir-se parte de uma
coletividade. Ele transforma o eu em nós e pode se expressar na forma de altruísmo, favorecendo atos
eticamente desejáveis. A inclusão responde-se pela consciência de um nós coletivo. O altruísmo mantém a
abertura ao outro, salvaguardando o sentimento de identidade comum, consolidador e tonificador na
compreensão para com o outro ser humano.
Desta forma, toda existência humana é ao mesmo tempo atuante e atuada; todo individuo é, ao
mesmo tempo, um ser que se autoafirma em sua própria qualidade de ser sujeito ou de assujeitado.
Evidentemente, é por meio da consciência que o ser humano pode, em certas ocasiões, às vezes
decisivas, manifestar sua liberdade, seja individual ou coletiva. Esta manifestação também traz a liberdade
para o outro ser humano.
É obvio que o sujeito contém em si a plenitude da realidade viva: a existência, o ser, os fazeres, os
saberes. Assim, ele contém a totalidade da vida e, ao mesmo tempo, é uma unidade elementar dessa
mesma vida. “A vida caracteriza-se pela extrema unidade e pela extrema falta de unidade”. (Morin: 2002,
402). Na vida do sujeito há, simultaneamente, a plenitude da realidade humana, a consciência, o
pensamento, o amor, a amizade e a própria realidade da humanidade, tudo isso sem deixar de ser a
unidade elementar da mesma.
Em outras palavras, o sujeito moral vive, então, oscilando entre o caráter vital do
egocentrismo e o potencial existente em cada sujeito para a prática do altruísmo.
A autoética remete a consciência de que não somos o centro do universo, mas sujeitos ligados a
sujeitos, percebendo uma religação com o outro, religação com uma comunidade, religação com a espécie
humana. O sujeito e a autoética configuram um paradigma de distinguir, mas não de isolar, tecendo um
frágil e incerto horizonte.
O nosso mundo aparece com forças de separação, dispersão e aniquilação que continuam a se
desencadear, ao mesmo tempo em que surgem as forças de religação.
As forças de religação são minoritárias em relação às forças de dispersão, de separação e
aniquilação, as barbáries e crueldades. Mas, são as forças de religação que criam a diversidade da vida,
vivendo uma dialógica de criação-destruição. A resistência à crueldade do mundo é, por assim dizer, a
autoética de aceitação do mundo.
“O mesmo vale para as nossas sociedades que se regeneram educando as novas gerações enquanto
morrem as antigas.” (Morin, 2005: 34) Lembrando o exposto por Heráclito: “viver de morte, morrer de
vida”. Resultando na trajetória frágil da religação do universo.
Embora esse pensamento aponte para contradições internas, ele se coloca como um
pensamento complexo que procura estabelecer uma relação universal viva, dentro de um todo. Neste
sentido, o pensamento complexo compreende a incerteza como uma característica forte. Ao mesmo
tempo, exige do indivíduo uma capacidade de autorregulação e autonomia.
A autocrítica surge da disposição de abertura para ouvir o outro e a si mesmo. Para que isso seja
possível é necessário que o sujeito seja capaz de pensar dialogicamente. Assim, o método dialógico já se
apresenta como uma postura ética na construção da autoética, o que representa uma luta dialógica contra
os preconceitos, a egocentricidade e o autoengano. “Um diálogo autêntico implica aceitação do outro, a
capacidade de aprender o outro em sua legitimidade” (Moraes: 2008, 217). O diálogo se nutre da teoria e
da prática, de forma recursiva no processo de construção do conhecimento e da aprendizagem.
Obviamente, a autoética não ocorre de uma hora para outra, ela é decorrente de uma prática que
deve acontecer desde os primeiros anos de vida, não somente com as palavras, mas sim com as práticas
vivenciadas e observadas. A autoética nos ajuda na redução dos preconceitos e estabelece vínculos nas
relações entre partes/todo e vice-versa. Ela não ocorre de uma hora para a outra, pois está vinculada à
formação da consciência que vem desde o gen do indivíduo, ao desenvolvimento de todas as etapas de seu

João Pessoa, outubro de 2011


1097

crescimento, de todos os conhecimentos, das descobertas do reconhecimento e do respeito com o outro,


das práticas sociais e de todos os fatores que contribuíram para a afirmação desta autoética.
Nós, seres humanos, necessitamos da energia exterior para nos regenerarmos e de informações
externas para sobrevivermos; assim, podemos a conceber como auto-eco-organização vital para uma
religação com o nosso meio, e é neste meio que se faz a vida. Portanto, quando abordamos as questões da
educação ambiental, necessitamos inserí-la no contexto histórico, cultural, político, social, entre as crenças
e entre os mitos de cada sociedade (Barcelos:2009).
Segundo Morin (2005: 138) “A arte da vida não pode obedecer a uma regra estabelecida de uma
vez por todas. Enfrentou a lei suprema da vida: tudo que não se regenera, degenera. Necessita de uma
polirregeneração permanente”.
Nos indivíduos, as religações acontecem a partir da responsabilidade, da iniciativa, da solidariedade
e do amor. A ética é a expressão da religação com o outro, com a comunidade, com a humanidade.
Edgar Morin não vislumbra a santificação através da ética, nem a demonização, mas uma
ética que comporta a incerteza, os antagonismos e as pluralidades existentes em cada ser individual.
O bem universal é utopia, visto que somos seres biológicos e culturais e, nesse momento, existe a
marca da diferença entre os povos, as nações, os grupos sociais. E, se possuímos tantas culturas, tantos
mitos, tantas crenças, dessa forma, a nossa definição de bem ou mal depende das lentes que utilizamos
desde que nascemos compondo-nos até a nossa morte, percorrendo todos os caminhos imbuídos de
sujeitos que cruzam, permanecem, afastam-se de nossa vida, na sociedade onde vivemos, por onde nos
deslocamos e no local que mais permanecemos.
Por mais difícil que seja romper com uma racionalidade imposta, esboça-se a possibilidade de fuga
à barbárie a partir de um homem mais humano, menos corruptível e selvagem, com uma sociedade com
menos injustiças e desigualdades sociais. A resistência à barbárie do mundo e a resistência à barbárie
humana são faces da ética e ela nos remete para a tolerância e a compaixão .
Edgar Morin preconiza uma autoética, que permita o diálogo, senão por todos, ao menos pela
maioria, a partir de um contexto que tece éticas particulares ou coletivas, assim apropriando-se de valores
da humanidade.
Os valores do mundo dependem do nosso sentimento para com ele, por isso Morin indica
que “a ética não tem as mãos sujas, mas não tem tampouco as mãos limpas”.
A revisão das práticas e dos princípios a partir do entrelaçamento dos valores propostos conduz ao
que chamamos de responsabilidade social. A responsabilidade social inicia com a mudança da pessoa em
relação às suas atitudes que se dá a partir da interatividade com o outro. Mudanças representam
condições de renúncias, que normalmente levam à estranheza.
No cenário atual, os valores humanos são cada vez mais colocados em segunda instância,
dominados pelos bens descartáveis de consumo imediato, através da mercantilização e do lucro rápido, o
primado econômico sobre a cultura e a subjetividade. A sociedade contemporânea precisa aprender a
transmitir os aprendizados de uma geração para outra, pois a construção de uma identidade de sujeito
acontece ao se fazerem concessões no cotidiano, se autorregulando de conformidade com o meio, mas
mantendo sua integridade, sua atitude de auto-organização, a qual depende de suas próprias teorias para
dar sentido à vida, que estão sempre se renovando por meio das relações sociais.
Há em nós a necessidade de reconstruirmos a história em busca de nossa própria constituição.
Portanto, a carência de uma autoética leva a uma negligência em relação à importância da experiência
vivida. Os que esquecem as causas dos erros estão fadados a cometê-los novamente.
O sujeito que possui autoética age conscientemente com capacidade para gerenciar suas
vontades e com liberdade de ação, ou seja, ele é responsável pelos seus atos. Embora essa justificativa
pareça singela e até mesmo reducionista, o apelo para que o sujeito seja dependente é sempre maior do
que para a liberdade, seja de pensamento ou de ação. Assumir a liberdade é assumir o risco da incerteza
quanto aos resultados de nossas ações.
A avaliação ética que fizemos, denominamos de consciência, isto é, a capacidade natural de
perceber em cada caso concreto qual o dever e qual o bem a que é necessário atender em primeiro lugar. A
consciência é uma função natural e espontânea do conhecimento. Quando se começa a conhecer o mundo
com a inteligência, começa-se a perceber os deveres e começam as avaliações sobre o modo de agir.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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A consciência depende de decisões pessoais, pois é uma relação com a realidade, que pode,
portanto, ser racionalizada e pode-se explicar abstratamente o que está certo ou errado, ainda que
respeitando o modo como cada um pensa. O que é difícil é julgar as ações que, pela sua complexidade, nem
sempre são avaliáveis ou mesmo confiáveis à nossa percepção.
O ser humano é um sujeito consciente, capaz de autoafirmação. É por isso que é também
máquina não-trivial. “Os seres máquinas terrestres constituem a sua autonomia na e pela dependência
relativamente ao meio de que, ao mesmo tempo, fazem parte” (Morin, 2002: 168). Assim, a consciência é a
emergência de dependências produtoras de autonomia, é também a condição da liberdade humana.
A vida humana, assim como o conhecimento, é uma aventura; uma viagem rumo ao incerto. Por
isso, é importante que a reflexão esteja sempre ao lado da autorreflexão, e a crítica, ao lado da autocrítica,
para que os indivíduos se percebam também como sujeitos. Todos somos construtores do futuro que é
incerto. (Petraglia, 2008: 8)

A construção de uma autoética acontece em conformidade com o meio, mas mantendo a


integridade individual; a atitude de auto-organização depende de suas próprias teorias para dar sentido à
vida, que estão sempre se renovando por meio das relações sociais.
“Em múltiplos campos e casos não podemos superar a aporia ética; devemos viver com ela e saber
estabelecer normas transitórias ou decidir, ou seja, apostar”. (Ibidem: 53)
O ser humano é aquele capaz de se auto-organizar e de estabelecer relações com o outro,
transcendendo-se e superando-se, alterando o seu meio numa auto-eco-organização a partir de sua
dimensão ética através das reflexões das suas escolhas, valores e ideais, através de ideias guias prioritárias
de ética, conforme Morin:
a ética da religação que entrelaça todas as formas de fraternidade e solidariedade, para a
reconstrução individual e coletiva, na qual a simpatia, a afeição, a amizade intensificam o sentimento de
identidade comum;
a ética do debate, que se comunica e que rejeita o desprezo;
a ética da compreensão, que permite que as relações humanas se tornem menos abomináveis.
Compreender admite uma parcela inexplicável, não é compreender tudo, mas reconhecer que há algo
incompreensível;
a ética da magnanimidade, que se contrapõe à barbárie e ao preconceito, que inclui o perdão.
Perdoar é um ato limite que comporta o bem no lugar do mal, trata-se de um ato individual, enquanto
clemência, é um ato político;
a ética da boa vontade, para assumirmos a condição humana com a sabedoria que integra a
racionalidade e a loucura da vida, com incitação às boas vontades.
a ética da resistência; para combater as barbáries que se desenvolvem no mundo para termos
futuro.
As ideias guias de ética conduzem a uma autoética de si para si que naturalmente flui para o outro,
que comporta a lealdade, a honra e a responsabilidade. Contudo, a autoética exige compreender-se e
corrigir-se, fazendo com que o sujeito experimente as angústias das incertezas éticas conduzidas à
plenitude da responsabilidade.
A consciência de responsabilidade, segundo Morin (2005) é característica de um indivíduo-sujeito
dotado de autonomia. A responsabilidade, contudo, necessita ser irrigada pelo sentimento de
pertencimento a uma comunidade.
Importa estar permanentemente em auto-observação suscitando uma nova consciência de si,
reconhecendo o egocentrismo, avaliando as nossas deficiências e carências. A partir das auto-análises e
autocríticas, praticadas continuamente, o sujeito abre-se em direção ao outro, melhorando a ilusão
egocêntrica, pois não é possível viver totalmente alheio ao outro ser humano e é contra esta alienação que
o espírito deve lutar e resistir.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na autoética não basta ao sujeito a vontade da boa ação, mas de analisar se corresponde ao que
queria para ele, para a sociedade e para o planeta. Isso implica em conhecer a humanidade como uma
comunidade planetária composta de sujeitos que vivem em democracia com consciência de uma
comunidade de destino que pode então, nos conduzir a uma comunidade de vida.

João Pessoa, outubro de 2011


1099

Não se trata de estabelecer novos princípios autoéticos, mas de regeneração para que se adapte ao
nosso tempo, devido à carência de ética na contemporaneidade.
Não há um sentido autoético único, verdadeiro, imutável. A autoética transita pela diversidade,
sendo entendida como produto da consciência humana (inteligível/sensivel). Orienta-se pelo jogo lúdico e
conciliador da formalidade e da sensibilidade.
A autoética é a prática que se dá num trabalho constante de autoconhecimento, quando se
coloca como espaço de discussão dos valores pessoais se pautando pela construção de uma consciência
dos valores universais; quando deixa de ser unilateral e passa a respeitar a todos com equidade. O respeito
às opiniões de cada um se expande para o respeito pela humanidade, sem separar o indivíduo da espécie e
os dois dentro de um contexto mais amplo que é o planeta. O autoconhecimento só ocorre em um diálogo
aberto e respeitoso. É nesta perspectiva que a auto-elucidação e a autocrítica se construirão.
A autoética é entendida na sua necessidade relacional, de interdependência e liberdade,
influenciando e sendo influenciada, superando limites revela os sentimentos e a racionalidade, o
comportamento numa coletividade, e materializa-se no homem, e que, por isso mesmo, está em todos os
seus campos de atuação (educacional, religioso, cotidiano, entre outros).
Quando nos posicionamos crítica e criativamente no espaço que vivenciamos e quando
escolhemos pensar e fazer o bem, percebemos o outro na sua dimensão humana compartilhada conosco,
em uma comunidade de destino. Mas, tudo isso não é suficiente se existe a incompreensão e a cegueira
quanto ao outro, no egocentrismo, na autojustificação, no self deception (no auto-enganar-se).
Precisamos aprender a viver, a partilhar, a comungar e a comunicar enquanto humanos no planeta
Terra. Somos peças de um quebra-cabeças que na sua montagem atinge sua completude, pois
compartilhamos de uma paisagem comum, a vida. Mas todos estamos ameaçados pela morte dos valores
de comum-unidade. Há necessidade de reforma de vida, de privilegiar as qualidades, de retomar e rever as
nossas relações uns com os outros, estando em comunidades sem perder a nossa autonomia.
As mais variadas formas de viver e da aspiração a viver bem começam a ser incitados na prática do
convívio que, por vezes, econtram-se mal articulados, mas com propostas regeneradoras de atualização de
valores, tornam-se os prelúdios de uma reforma de vida, por conseguinte, reforma da autoética.
Hoje, mais que ontem, sabemos que o futuro é sempre uma construção social e coletiva. O que
realizarmos, ou deixarmos de realizar no dia de hoje, afetará o nosso futuro, a saúde das pessoas e do
planeta e, possivelmente, nos será cobrado no dia de amanhã. É preciso estarmos mais consciente das
implicações de nossos atos, como também de nossas próprias omissões, de nossa ignorância e porque não
dizer, do nosso silêncio.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BARCELOS, Valdo. Educação ambiental: sobre princípios, metodologias e atitudes. 2. ed. Petrópolis,
RJ: Vozes, 2009.
MORAES, Maria Cândida. Pensamento eco-sistêmico: educação, aprendizagem e cidadania no
século XXI. 2. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. 2. ed. Trad. Eliane Lisboa. Porto Alegre:
Sulina, 2006.
MORIN, Edgar. O método 2: a vida da vida. 2. ed. Trad. Marina Lobo. Porto Alegre: Sulina, 2002.
MORIN, Edgar. O método 6: ética. 2. ed. Trad. Juremir Machado da Silva. Porto Alegre: Sulina, 2005.
PETRAGLIA, Izabel C. Edgar Morin: a educação e a complexidade do ser e do saber. Petrópolis,
Vozes, 1995.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1100

CICLO DE PALESTRA: MEIO AMBIENTE E EDUCAÇÃO AMBIENTAL.


1 2
ALVARENGA,Verônica Ortiz , RONQUI, Ludimilla
1
Departamento de Engenharia de Alimentos, Fundação Universidade Federal de Rondônia
2
Departamento Interdisciplinar de Ciência e Tecnologia, Fundação Universidade Federal de Rondônia
e-mail: ludmilla@unir.br

RESUMO
Este projeto faz parte de um programa interdisciplinar “Meio Ambiente: Educação e
Sustentabilidade” onde se encontra cinco projetos relacionados. Ao se denominar um modelo de
desenvolvimento pelo adjetivo “econômico” e, ao se conotar uma sociedade como de “consumo” se está
também aferindo suas formas condicionadas de interagir no meio circundante. Muito embora a sociedade
industrial tenha proporcionado uma forma de agir, divisões em classes sociais e contribuído, por suas
especializações, para a melhoria da condição de vida humana aumentando sua longevidade, hoje, na
sociedade pós-industrial cujas formas de distribuir emprego e salário não encontram na indústria suas
principais fontes, o homem que nela vive também se ressente da necessidade de mudar. Entendendo as
responsabilidades da sociedade atual, o que se propõe é uma sólida reflexão sobre as demandas oriundas
da depredação da natureza derivadas da ganância econômica, e que hoje, são mais perceptíveis pelo
organismo social e mais tangíveis pelos tradicionais critérios de avaliação das ações governamentais.
Despertar o interesse e mudar os comportamentos sociais, através da integração da Educação Ambiental,
buscando consolidar um futuro sustentável onde as novas gerações sejam os propulsores de mudanças. Os
temas abordados nas palestras foram associados ao meio ambiente e educação ambiental foram realizadas
nas escolas do município de Ariquemes pelos acadêmicos dos cursos de graduação da UNIR – Universidade
Federal de Rondônia Campus Ariquemes. O município de Ariquemes possui 20 Escolas municipais, e 7
pólos. Foram realizadas apresentações em 13 escolas. Os temas relacionados ao meio ambiente são:
Reciclagem de papel; Redução do consumo de água; Coleta seletiva; Utilização do lixo orgânico; O lixo e o
artesanato. A meta foi alcançada pelo projeto que era de cinco mil alunos. Assistiram a apresentação cinco
mil quinhentos e cinqüenta e sete alunos. A participação e entendimento dos alunos foram satisfatórios.
Palavras-chave: palestra, meio ambiente, educação ambiental.

INTRODUÇÃO
As questões ambientais ganharam forte importância no fim dos anos 80, quando as pessoas
começaram a perceber com mais criticidade o quanto nosso planeta estava (e ainda está) sendo
maltratado. A poluição, a devastação e má conservação do meio ambiente contribuíram para a ocorrência
de enchentes, invernos cada vez mais rigorosos, verões tórridos e diversos outros problemas de relevância
cada vez maiores, é como se a natureza fosse um espelho que refletisse os nossos atos. Foi por essa razão
que se tornou cada vez mais importante a realização de trabalhos em prol do meio ambiente.
O Meio ambiente pode ser definido como todo espaço onde se desenvolve a vida, incluindo todas
as atividades do homem, dos animais e vegetais. Portanto, a água, o ar, o solo, as florestas, os sertões, os
animais, os rios, as montanhas, as pedras, as cavernas, o vento, a areia e também o homem com suas
casas, estradas e cidades compõem o meio ambiente.
Como percebemos, o Meio Ambiente refere-se a todos os fatores que exerce influência sobre os
indivíduos, seria impossível a vida na Terra se não dispuséssemos desses elementos. Foi pensando nessa
possibilidade, após sentirem as conseqüências da degradação do Meio Ambiente, que os homens
reconheceram a necessidade de implantar uma educação voltada para a conservação do Meio Ambiente, a
qual foi denominada Educação Ambiental.
A Educação Ambiental visa o desenvolvimento sustentável, ou seja, busca mudar hábitos
enraizados na sociedade para possibilitar que as gerações futuras também possam fazer uso dos recursos
naturais disponíveis atualmente. Os exemplos mais comuns sobre as degradações que o meio ambiente
está sofrendo são a poluição e o desperdício dos recursos hídricos e a produção exagerada de resíduos
sólidos, bem como a destinação incorreta que é dada aos mesmos.

João Pessoa, outubro de 2011


1101

Esse tema está muito na mídia devido a sua importância nos últimos anos, porque sempre estamos
falando do aquecimento global, e o meio ambiente está nele por inteiro, nas suas causas e conseqüências.
As questões ambientais são tratadas de forma alienada do dia-a-dia dos indivíduos, no entanto é
necessário atingir os problemas ecológicos isolados e locais, construindo uma forma de organização onde a
educação ambiental contemple a formação de uma consciência ecológica.
Este projeto faz parte de um PROGRAMA INTERDISCIPLINAR “Meio Ambiente: Educação e
Sustentabilidade” onde se encontra cinco projetos relacionados com a área. Assim o “Teatro e a Educação
Ambiental” e um deles.
As questões ambientais hoje são amplamente discutidas. Sabe-se que através do ensino
em todos os níveis, utilizando a Educação Ambiental (EA) de forma multidisciplinar podemos alcançar os
objetivos da EA e assim contribuir não só com o meio ambiente, mas melhorar a qualidade de vida da
população local onde a atividade foram desenvolvidas. As palestras relacionadas ao meio ambiente e
educação ambiental foram realizadas nas escolas do município de Ariquemes pelos acadêmicos dos cursos
de graduação da UNIR – Universidade Federal de Rondônia Campus Ariquemes abrangendo diversos temas
relacionados ao meio ambiente como: Reciclagem de papel; Redução do consumo de água; Coleta seletiva;
Utilização do lixo orgânico; O lixo e o artesanato.

MATERIAIS E MÉTODOS
Os acadêmicos bolsistas selecionados no projeto “Palestra: Meio Ambiente e Educação Ambiental”
participaram de diversas atividades que corresponderam a 20 horas semanais. Inicialmente os acadêmicos
realizaram um levantamento junto a secretaria municipal de educação e selecionaram as escolas onde
foram realizadas as apresentações das palestras e também a elaboração do material que foi utilizado. A
segunda etapa foi desenvolvida as atividades nas escolas.
As atividades foram semanais através de palestras nas escolas municipais na cidade de Ariquemes.
Para atrair a atenção das crianças, os palestrantes se caracterizaram com roupas e acessórios coloridos.
Para abordagem do temas foram utilizaram slides, vídeos, fotos, documentários, filmes, artesanatos, e
caixas exemplificando a compostagem orgânica.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram realizadas visitas em 13 escolas do município de Ariquemes. Todas as instituições são
municipais, os alunos com faixa etária de 5 a 15 anos. As escolas e o número referente de alunos podem ser
observados na tabela1. O número de alunos que participaram das palestras nas escolas foram 4757 (quatro
mil setecentos e cinquenta e sete).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1102

Tabela 1 – Nome das escolas, endereço e número de alunos


Escolas Municipais Endereço No de
alunos
Escola Municipal Ensino Fundamental Rua Raquel de Queiroz, nº 4825 – Setor 427
Ireno Antônio Berticelli. Colonial.

Creche Renascer. Av. Perimetral Leste nº. 3382 - Setor 88


Colonial.
Escola Municipal Ensino Fundamental Rua Albina Sordi, S/N – Setor 11. 591
Venâncio Kottwitz.
Escola Municipal Ensino Fundamental Rua Umuarama, S/N – Jardim Nova 583
e Médio Magdalena Tagliaferro. República, Setor 9.
Escola Municipal Educação Infantil Rua Umuarama, S/N – Jardim Nova 526
Ensino Fundamental Sonho Meu. República, Setor 9.
Escola Municipal Educação Infantil 9º rua, S/N – Setor 3. 489
Ensino Fundamental Chapéuzinho
Vermelho.
Centro Municipal de Educação Infantil Av. Capitão Sílvio, S/N - Setor Áreas 165
Madre Tereza de Calcutá. Especiais.
Escola Municipal Ensino Fundamental Rua Monteiro Lobato, S/N – Setor 4. 419
Dr. Dirceu de Almeida.
Creche Moranguinho. Rua Aquariana, nº 3683 – Setor 85
institucional.
Escola Municipal Educação Infantil Rua México, nº 932 – Setor 10. 474
Ensino Fundamental Roberto Turbay.
Centro Municipal de Educação Infantil Setor – 09. 250
Sonho de Criança.
Creche Cartorzinho. Rua Goiás, nº 3791 – Setor 5. 82
Escola Municipal Educação Infantil Av. Jamari, S/N – Setor 1. 578
Ensino fundamental Eva dos Santos de
Oliveira.
4757

O projeto tinha como objetivo ministrar palestras para cinco mil alunos além dos números
expressivos observados na tabela vale ressaltar que as ações em parcerias não estão representadas nesses
dados onde o público alvo alcançado foi de aproximadamente 800 pessoas entre crianças, adolescentes e
adultos presentes nos eventos. Totalizando um publico de 5557 pessoas.
A partir dos métodos utilizados neste projeto foram obtidos resultados positivos, pois os alunos
demonstraram interesse no assunto e participaram das atividades. Após cada palestra esses esclareceram
suas dúvidas e reconhecem a importância do meio ambiente.
No início das atividades as palestras seriam em escolas estaduais, e depois de algumas ações
resolvemos trocar o publico alvo para escolas municipais, essa alteração ocorreu devido a faixa etária e a
forma como os alunos participam e se interessam pelo tema, a faixa etária dos alunos das escolas estaduais
é maior do que a faixa etária dos alunos das escolas municipais e as crianças quanto mais jovens maior o
interesse e o encanto pelas músicas, vídeos e objetos apresentados nas atividades (figura I).

João Pessoa, outubro de 2011


1103

Figura I – Apresentação de músicas voltadas para educação ambiental.

Esse projeto realizou a confecção de diversos objetos a partir de materiais reciclados além da
criação de vídeos visando a sensibilização dos participantes. O programa Interdisciplinar “meio ambiente
educação e sustentabilidade” também participou de outras ações municipais como feiras de meio
ambiente, e até mesmo através de parcerias com emissoras de televisão para arrecadação de alimentos
(figura II).
Foram diversas atividades realizadas entre essas ações municipais em parcerias com diversas
instituições como as escolas, rede de televisão, através das palestras e divulgação das ações, também foi
realizado campanha para arrecadação de alimentos para doação a entidades carentes.

Figura II – parcerias com emissoras de televisão para arrecadação de alimentos.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais, nos temas Transversais diz que a principal função do
trabalho com o tema Meio Ambiente é contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos para
decidir e atuar na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida. Para isso é necessários
que, mais do que informações e conceitos, a escola se proponha a trabalhar com atitudes, com formação
de valores, com o ensino e aprendizagem de procedimentos (BRASIL, 1998, p.187).
Porém só o trabalho de Educação Ambiental na educação formal, mesmo que sem fragmentação,
ou seja, interdisciplinarmente pode não ser suficiente para atingir o objetivo de mudar posturas ou
desenvolver novas ecologicamente corretas. É necessária a união entre o poder público e a comunidade
escolar em prol do meio ambiente, tanto na educação formal e quanto não formal. A lei nº 9795/99 no
capítulo II diz que a Educação Ambiental no Ensino Formal é entendida por Educação escolar desenvolvida
no âmbito dos currículos das instituições de ensino pública e privada. E a Educação Ambiental não formal

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1104

está inserida nas ações e práticas educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões
ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente.
Entende-se por Educação Ambiental, os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade
constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a
conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vi da e sua
sustentabilidade (Lei 9795/99, Art. 1º).
Indivíduos educados com uma mentalidade de preservação ambiental têm mais consciência em
relação ao consumismo e os danos ao meio ambiente. Segundo Panarotto (2008) o consumo excessivo gera
grande quantidade de resíduos sólidos, que não possuem destino definido dando origem a lixões e aterros
que não portam sei armazenamento.
Sabendo que, a problemática ambiental tem se inserido na atualidade como um tema que afeta
todos os aspectos da vida humana, sendo necessário, mais subsídios que auxiliem a conscientização dos
indivíduos para a mudança de seu comportamento, o que pode se dar por meio de uma Educação
Ambiental voltada não somente para a preservação ambiental, mas sim para o entendimento de nosso
papel na sociedade e, conseqüentemente, no mundo. (Souza, Sé e Zancul, 2007, p.9). A Educação
Ambiental precisa ser tratada com mais foco social, pois assim, as metodológicas com respeito à sua
orientação formaram uma sociedade sustentável.

CONCLUSÃO
Todos os objetivos só tiveram êxito, através do empenho dos palestrantes e o esforço dos alunos
para aprender. A participação dos professores e diretores das escolas uniu forças para que os temas
abordados sejam praticados no dia-a-dia dos alunos e seus familiares. O intuito do nosso projeto era
conscientizar cada um a fazer a sua parte para preservar a natureza, informando porque é importante
evitar o desperdício de água, energia, combustível, papel, alimentos e outros recursos; além de incentivar a
redução do lixo, o reaproveitamento, a coleta seletiva e o consumo responsável. Tudo isso foi passado aos
alunos de um modo fácil, dinâmico e atrativo. Os resultados podem ser conferidos com uma conversa com
os alunos após as palestras, e no dia-a-dia.
O trabalho educacional é, sem dúvida, um instrumento que pode produzir resultados expressivos
no que tange a mudança de hábitos e atitudes dos seres humanos, contribuindo para a formação de
sujeitos ecológicos. Percebemos a preocupação com o meio ambiente e a necessidade de formar cidadãos
conscientes, assim acreditamos na necessidade de continuar com as ações do projeto para continuar
trabalhando a conscientização através da educação ambiental.

AGRADECIMENTOS:
A Secretaria Municipal de Educação, Escolas Municipais de Ariquemes, Kalykim, dentista Dr. Edgar
Dipas, PROCEA – pró-Reitoria de Cultura, Extensão e Assuntos Estudantis, PIBEX – Programa Institucional de
Bolsas de extensão universitária, UNIR – Fundação Universidade Federal de Rondônia.
A Rede Globo de televisão em especial ao programa Jornal de Rondônia e ao repórter Luiz Martins
pela divulgação das ações realizadas pelo PROGRAMA INTERDISCIPLINAR “Meio Ambiente: Educação e
Sustentabilidade”.

BIBLIOGRAFIA
BRASIL. Secretaria de educação fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Apresentação dos
temas transversais, ética / secretaria de educação fundamental. Brasília : mec/sef, 1997. disponível em:
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro081.pdf , acessado em março de 2011.
_______. lei 9795 que dispõe sobre a educação ambiental . Brasília-df: DOU, 27/04/1999.
PANAROTTO, C. O meio ambiente e o consumo sustentável: Alguns hábitos que podem fazer a
diferença. Revista das relações de consumo, 2008. disponível em:
http://www.caxias.rs.gov.br/procon/site/_uploads/publicacoes/publicacao_5.pdf. acessado em março de
2011.
SOUZA, R. M.; SÉ, J. A. da S.; ZANCUL, M. C. de S. Vislumbrando possibilidades de ação em educação
ambiental nas escolas de séries iniciais do ensino fundamental municipal de Araraquara-SP, 2008.

João Pessoa, outubro de 2011


1105

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UM CAMINHO PARA A FORMAÇÃO INTEGRAL


DO SER HUMANO
Luiz Henrique Caixeta GATTO
Especialista em Gestão de Bem Estar Social – Universidade de Alcalá de Henares /OISS
Analista de Atividades do Meio Ambiente – Educador Ambiental – IBRAM/DF
luizgatto@gmail.com

RESUMO
O presente artigo analisa e apresenta alternativas para dar maior efetividade aos esforços de
Educação Ambiental nos sistemas formais de ensino. Para tanto, busca-se em primeiro lugar demonstrar a
incompatibilidade dos modelos pedagógicos convencionais com a complexidade das demandas educativas
exigidas para fazer frente aos desafios que a atual situação planetária apresenta aos educandos. Após
evidenciar a necessidade de mudanças, para as quais se apresenta como caminho uma pedagogia voltada
para a formação integral do ser, introduz-se a proposta de que a Educação Ambiental pode e deve assumir
um papel que vai muito além da disseminação de conteúdos ambientais, agindo como catalisadora da
transformação da escola como um todo e de sua adequação às novas realidades do mundo. Para expor as
possibilidades concretas de aplicação das idéias que propõe, o artigo traz como exemplo a experiência da
Escola da Ponte, valendo-se, para isso, de relatos de José Pacheco, seu fundador.
PALAVRAS-CHAVE: Educação Ambiental; Formação Integral; Escola da Ponte.

INTRODUÇÃO
Há 40 anos a temática da Educação Ambiental (EA) foi inserida na agenda ambiental, na ocasião da
Conferência de Estocolmo (1972). Desde então, suas diretrizes vêm sendo amplamente discutidas e
disseminadas (PRONEA, 2005). Levando em conta a enorme quantidade de estudos, publicações,
congressos e conferências internacionais que se seguiram, pode-se dizer que “a EA teve um
desenvolvimento extraordinário nos últimos anos” (GADOTTI, 2000: 97) – ao menos no campo da formação
de massa crítica, sensibilização social e inserção midiática do tema –, que permitiu a consolidação e
internacionalização de seus princípios norteadores. No campo da prática social e educativa, no entanto,
mesmo as diretrizes mais básicas, estampadas nas políticas e programas nacionais e estaduais de EA, como
a transversalidade e a interdisciplinaridade, ainda encontram todo tipo de resistência e sua concretização
parece uma realidade distante.
Neste trabalho estas duas categorias – transversalidade e interdisciplinaridade – centrais tanto no
discurso ambiental quanto no pedagógico, foram abordadas para colocar em questão a habilidade (ou
inabilidade) do sistema educativo formal convencional em dar respostas às demandas educativas do nosso
tempo, principalmente no que diz respeito às relações entre sociedade e meio ambiente. Se, de um lado,
abundam instrumentos legais, políticos e sociais definindo os “o quês” da EA, seus valores e atitudes
associadas, na outra ponta encontram-se professores ainda perplexos diante do desafio de “como” abordar
e introduzir esses conteúdos em sua prática cotidiana, em um contexto pedagógico que parece não ter sido
moldado para tanto.
Para Maria Emília Santos, a escola, na condição de organização centenária, teria dificuldades em
dar essas respostas e preparar o futuro. “Parece haver um consenso internacional, quer entre decisores
políticos, quer entre estudiosos e investigadores, quanto à necessidade de busca de novas formas de
escolarização e de organização escolar, de novos paradigmas de mudança e de novos modelos de formação
de professores” (SANTOS, 2004: 19).
Moacir Gadotti é ainda mais categórico, ao afirmar que “a pedagogia tradicional, centrada
sobretudo na escola e no professor, não consegue dar conta de uma realidade dominada pela globalização
das comunicações, da cultura e da própria educação. Novos meios e uma nova linguagem devem ser
criados. (GADOTTI, 2000: 97).
Neste contexto, a EA apresenta-se como locus privilegiado para a criação desses meios e
linguagens. O meio ambiente é um tema transversal e interdisciplinar por excelência. Mais que isso, é uma

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1106

porta para a transdisciplinaridade, que, como explica Gadotti, seria uma evolução, uma etapa não apenas
de interação entre as disciplinas, mas de “superação das fronteiras entre as ciências”, sem opor uma à
outra (GADOTTI, 2000: 37).
Como eixo condutor, a EA poderia cumprir o papel de vetor de transformação da escola,
pavimentando -com ladrilhos ecológicos- as trilhas abertas desde a década de 60 pelas tendências
desenvolvimentistas da educação, que levam hoje às vertentes pedagógicas voltadas para a formação
integral do ser. Aqui elas serão sintetizadas no conceito de Educação Integral (EI), ainda que não exista um
consenso teórico sólido sobre o que esse conceito venha a ser. Para ilustrá-las, tomou-se como exemplo a
experiência da Escola da Ponte, em Vila das Aves, Portugal, que há mais de 30 anos vem agregando o
conhecimento de diversas linhas pedagógicas dentro de uma proposta didática única e inovadora, que
transformou não só a escola, mas toda sua comunidade, e vem influenciando outras escolas em Portugal e
pelo mundo. Esta iniciativa serviu de inspiração particularmente para a elaboração deste artigo, a partir da
resposta dada pelo seu idealizador, o professor José Pacheco, no 1º Seminário de Educação de Cavalcante –
GO, quando questionado sobre como a Educação Ambiental se inseriria no cotidiano da Escola da Ponte.
Para Pacheco, “a educação não carece de adjetivos”.
No âmbito da Educação Integral, a distinção dos conteúdos em ambientais e não ambientais não
faria sentido, pois todas as atividades curriculares são pensadas sistemicamente a partir dos contextos
individuais e coletivos dos alunos. “Como explicar as coisas em termos de seus contextos significa explicá-
las em termos dos ambientes que as circundam, todo pensamento sistêmico é um pensamento ambiental”
(CAPRA, 2006: 49). Tudo que leva o indivíduo a uma maior e melhor compreensão da realidade que o cerca
é ambiental.
Nesse sentido, as correntes integralistas da educação parecem ir ao encontro do que determina a
Política Nacional de Educação Ambiental, quando afirma o caráter transversal e interdisciplinar da EA.
Metodologias educativas consideradas inovadoras têm se mostrado uma solução concreta para que a
escola dê conta da complexidade dos processos que envolvem o ensino/aprendizagem de competências e
conhecimentos essenciais para uma experiência social saudável, profícua e feliz.
Para melhor apoiar as idéias aqui sugeridas, o presente artigo foi dividido em três partes. Na
primeira parte, busca-se investigar, com base na literatura específica, características do sistema de ensino
convencional e sua dificuldade em atuar nos novos cenários globais. A segunda parte analisa os principais
obstáculos, mas também os caminhos e possibilidades para a transformação da escola rumo à Educação
Integral, demonstrando o protagonismo que a Educação Ambiental pode assumir em todo este processo.
Por fim, na terceira parte, é apresentado um exemplo concreto da grande intimidade existente entre estes
dois conceitos.

A ESCOLA EM DESCOMPASSO COM A REALIDADE


Dizer que o mundo muda cada vez mais rápido tornou-se um lugar comum, quase um mantra,
repetido tão exaustivamente em diversas instâncias da vida cotidiana, que a mudança chega a perder o
sentido de urgência que lhe é atribuído. O fato é que, independente do ritmo em que isso ocorra, o mundo
e a sociedade estão em constante evolução. Os indivíduos e as instituições que não acompanham essa
transformação correm o risco de entrar em descompasso com a realidade. Esse parece ser o caso da escola,
freqüentemente citada como uma instituição retrógrada, detentora de esquemas arcaicos de organização
do trabalho, sistemas de ensino centralizados e estruturas físicas e curriculares rígidas. Hoje sabe-se que
este modelo está fatalmente condenado (NÓVOA, 2004: 44).
Seria de se esperar que a escola assumisse o papel diametralmente oposto, não só de seguidora,
mas de promotora da transformação social e planetária, que estivesse na vanguarda da ciência e do
conhecimento, oferecendo caminhos e soluções para os problemas da atualidade. Em vez disso, acabou
incorporando caráter perpetuador do status quo e muitas vezes reprodutor das dificuldades às quais
deveria fazer frente. Os problemas atuais, inclusive os ecológicos, são provocados pela nossa maneira de
viver, que por sua vez é “inculcada pela escola, pelo que ela seleciona ou não, pelos valores que transmite,
pelos currículos, pelos livros didáticos” (GADOTTI, 2000: 42).
Apesar disso (ou talvez justamente por isso), a escola representou nos últimos dois séculos um
incontestável triunfo da modernidade, o que “desvalorizou todas as modalidades educativas não escolares
e empobreceu nosso patrimônio educativo, tornando a educação refém do escolar” (CANÁRIO, 2004: 24).

João Pessoa, outubro de 2011


1107

Os modos locais, familiares e tradicionais de promover a educação foram sendo dissolvidos por estruturas
burocráticas, corporativas e disciplinares historicamente organizadas a partir do topo (NÓVOA, 2004). Isso
conduziu a um modo linear de pensar que “reduz a complexidade do real, produzindo receitas, fórmulas
feitas e preconcebidas” (GADOTTI, 2000: 39) e ajudou a enraizar em nossa cultura uma tradição de
pensamento que “molda os espíritos desde a escola elementar e nos ensina a conhecer o mundo pelas
idéias claras e distintas (MORIN, 1999, in GADOTTI, 2000: 39). Ela também “estimula-nos a reduzir o
complexo ao simples, a separar o que está ligado, a unificar o que é múltiplo, a eliminar tudo que traz
desordens ou contradições em nosso entendimento”. (id. ibid.)
A pedagogia clássica construiu seus “parâmetros curriculares” baseada na memorização de
conteúdos (GADOTTI, 2000: 93). Num tal paradigma escolar, notoriamente marcado pela repetição
mecânica das matérias, não existe obviamente muito espaço para mudança. Não se espera de seus
partícipes discutam ou questionem, e sim que aceitem como verdade o que lhes é oferecido. São escolas
baseadas em padrões tão rígidos que, como observou Holt, podem ser comparadas a lanchonetes. “Ambas
oferecem produtos padronizados: o que está sendo oferecido não é uma boa fonte de nutrição e tanto a
escola quanto a lanchonete funcionam melhor com empregados submissos que não desafiam o sistema”.
(HOLT, 2006: 87)
Em que se pese a atualidade do tema, o afastamento entre a escola e a vida das pessoas não é fato
recente. Hoje, a questão ambiental, por sua transversalidade global, apenas está tornando patente uma
realidade que remonta ao próprio nascimento da educação clássica, na Grécia antiga. O currículo clássico
partia das preocupações dos filósofos, dos homens livres e desconsiderava temas relacionados às mulheres
ou às crianças. “Os conteúdos das disciplinas do saber escolar atual refletem ainda o currículo clássico. A
vida cotidiana, a violência, a sensibilidade, a subjetividade não são levadas em conta” (GADOTTI, 2000: 42).
No caso específico das crianças, antes fossem elas apenas “desconsideradas”. O que parece mais
comum é serem tratadas como seres de segunda categoria, sobre os quais o adulto educador exerce um
poder disciplinar legítimo. A escola moderna de massas constituiu o aluno através da morte simbólica da
criança que nele habita (SARMENTO, 2004: 48) A criação e a expansão dessa escola edificaram dispositivos
simbólicos através dos quais as gerações mais jovens seriam moldadas para a aquisição do estatuto social
que, antes de mais nada, as define pela incompetência. “Aluno é, etimologicamente, aquele que não tem
luz e, dela carecendo, a vai buscar à escola” (id. ibid.: 49).
Nas últimas décadas, com a ascendência da temática ambiental e sua intensa inserção na pauta dos
meios de comunicação de massa, o meio ambiente começou a conquistar algum espaço nos sistemas
formais de educação. No entanto, sua incorporação aos currículos e atividades escolares se limitou, na
maioria dos casos, a internalizar valores de conservação da natureza. “Os princípios do ambientalismo se
incorporaram por uma visão das inter-relações dos sistemas ecológicos e sociais para destacar alguns
problemas mais visíveis da degradação ambiental, tais como a contaminação dos recursos naturais e
serviços ecológicos, o tratamento do lixo e a localização dos dejetos industriais. (GADOTTI, 2000: 88)
Isso seria o início de uma pedagogia ambiental, expressa no contato dos alunos com seu entorno
natural e social, o que é pertinente, mas que pode acabar mascarando a real necessidade, como
reconheceu Leff de uma educação ambiental que não se reduza ao ambientalismo (2000, in GADOTTI,
2000: 88). Para Leff, seria preciso promover uma fusão da vertente crítica da pedagogia com o pensamento
complexo, o que levaria a uma noção de ambiente que vai muito além do que se chama de meio ambiente:
“ambiente não é o mundo ‘de fora’ nem a pura subjetividade e inferioridade do ser. É um objeto complexo
que implica a desconstrução do pensamento disciplinário e simplificador”. (GADOTTI, 2000: 88)
Essa forma “complexa” de pensar, estudar e interpretar o mundo inclusive já começou a ser
introduzida no sistema de ensino brasileiro, por meio das políticas e programas nacionais e estaduais de
Educação Ambiental. O imperativo ambiental, porém, cria um clima de urgência que pode fazer com que,
como observou Nóvoa, as escolas e os professores tendam a esconder suas práticas e a preocupar-se mais
com a produção de discursos pedagogicamente corretos. Para ele, o período recente tem sido “marcado
pelo excesso de discursos e pela pobreza de práticas e por um pensamento que se projeta num excesso de
futuro como forma de justificar um déficit de presente” (FERREIRA, 2004: 32).
O desafio, portanto, continua sendo traduzir o enorme avanço no campo das diretrizes e
determinações legais em práticas escolares cotidianas, pois é no dia a dia das escolas e sua interação com a
comunidade que reside o maior potencial de transformação da realidade, a possibilidade de mudar atitudes

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1108

indesejadas e ultrapassadas, comportamentos arraigados e paradigmas obsoletos. Seguindo esse caminho


a Educação Ambiental cumpriria uma função social muito mais ampla que a simples conscientização para a
necessidade de preservar a natureza. Ela pode servir como motor da melhoria da educação como um todo.
Tentativas foram feitas, como se verá no capítulo seguinte, de reformar os sistemas educativos,
mas o crescimento extraordinário dos mesmos nos últimos séculos tornou sua organização cada vez mais
complicada, dificultando sua adaptação às necessidades do mundo atual e às vezes inviabilizando sua
renovação (BARROSO, 2004: 9). As mudanças que parecem ter surtido algum efeito vieram muito mais de
iniciativas locais, com forte identificação entre a escola, a comunidade e seu entorno, incluindo aí o meio
ambiente, urbano e natural.

SINCRONIZANDO OS PASSOS
Quando se fala em mudanças no sistema escolar logo se pensa em mudanças macro, que
envolvam grandes reformas curriculares a serem pensadas por intelectuais e impostas de forma
homogênea a alunos de professores ‘comuns’. Os processos de reforma costumam ser, de fato,
centralizados, descendentes, lineares. Este é um modelo, porém, que vem sendo fortemente questionado,
principalmente porque não tem sido capaz de promover a transformação que propõe. Isso tem sido
alcançado, na maioria das vezes, “com mudanças mais limitadas, partindo de iniciativas locais,
fundamentalmente na escola, que se expandem horizontalmente através de redes mais ou menos
informais de professores” (SANTOS, 2004: 20).
Rubem Alves, um literário e pensador da educação, escreveu em uma série de crônicas (ALVES,
2001) que as escolas modernas são construídas segundo o modelo das linhas de montagem, e funcionam
como fábricas organizadas para a produção indivíduos portadores de conhecimentos e habilidades
homogêneos, definidos exteriormente por agências governamentais a que se conferiu autoridade para isso.
Para Canário, a produção de mudanças na escola tem importado para o campo educativo essa mesma
lógica dos processos industriais, “estabelecendo uma relação de conflito entre os processos de mudança
instituídos – do centro para a periferia – e os processos de mudança instituintes – construídos a partir de
baixo” (2004: 22). Em vez de resolver a crise da educação, isso tem contribuído para acentuá-la fazendo
com que as escolas e professores venham, “de forma metódica, regular e persistente, a ser vacinados
contra mudanças”. (id. ibid.).
Torna-se, por isso, necessário, criar novos contextos para determinar mudanças curriculares e
institucionais que estejam a serviço da sociedade em seu conjunto. “O desafio reside em saber como sair
de um processo de decisão atomizado, para assumir uma responsabilidade coletiva em educação, mas sem
recriar um sistema de planificação supercentralizado” (WHITTY in BARROSO, 2004: 12).
Ao analisarem um século de reformas nos EUA, Tyack e Cuban observaram que foram
completamente negligenciadas as escolhas coletivas voltadas para o futuro comum, feitas através de
processos democráticos, sobre valores e conhecimentos que os cidadãos querem passar para as próximas
gerações. Como conseqüência, em vez de as reformas modificarem as escolas, acabaram sendo mudadas
por elas (BARROSO, 2004:11). Canário também ressaltou essa resistência causada pelos mecanismos de
tutela externa sobre os professores e escolas. “A obrigação imposta às escolas de serem inovadoras
colocou estas numa situação penosa, de permanente duplo constrangimento, ou seja, na impossibilidade
de corresponder a esta exigência: não é possível ser criativo por imposição externa (CANÁRIO, 2004: 22).
Por outro lado, no âmbito dos ‘processos instituintes’ de reforma – de baixo para cima – pequenas
iniciativas locais têm encontrado grande sucesso, e muitas até mesmo já influenciam processos mais
amplos, até mesmo internacionais de mudança. A experiência da Escola da Ponte, depois de causar grande
estardalhaço e desafiar o sistema de ensino português, já rompeu as fronteiras do além-mar e hoje
influencia mais de mil escolas pelo mundo, muitas delas no Brasil. Movimentos como o Instituto das
Comunidades Educativas ou a Escola Moderna fazem a diferença, pela “maneira inovadora como
desenvolvem as aprendizagens dos alunos, estabelecem parcerias com a comunidade e adéquam as suas
obrigações de serviço público aos valores da justiça social, da igualdade de oportunidades e da construção
da cidadania” (BARROSO, 2004: 8).
Os temas transversais assumem uma importância fundamental nestes processos horizontais de
inovação e, entre eles, o meio ambiente desponta como protagonista, possibilitando abordagens
interdisciplinares do micro ao macrocosmo, do local ao planetário. Reformas educacionais, como as de

João Pessoa, outubro de 2011


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Toronto, no Canadá, inclusive já introduzem mudanças na concepção dos conteúdos curriculares, buscando
novos elementos para uma alfabetização ambiental na formação de cidadãos que precisam ser mais
cooperativos e ativos. Uma nova formação dos docentes e apoio técnico, pedagógico e instrumental às
escolas são oferecidos para fazer frente às práticas tradicionais, fundadas no princípio da competitividade,
da seleção e da classificação (GADOTTI, 2000: 87).
Em muitas escolas, a Educação Ambiental “tem sido o ponto de partida dessa conscientização,
embora se saiba que a educação para um futuro sustentável é mais ampla do que uma educação ambiental
ou escolar”. (id. ibid.) Processos formais e informais de intervenção na educação já mostram seu potencial
na conscientização para os problemas, por exemplo, da degradação ambiental ou do desmatamento, às
vezes mobilizando, outras despertando a atenção e até mesmo apresentando soluções.
A Educação Ambiental, dessa forma, atuaria na escola não como um fim em si mesma, mas como o
arauto de uma transformação maior, rumo a uma pedagogia que “não aspira apenas formar um ser
racional, mas também um ser razoável, responsável e sensível. E este projeto só pode ser levado a cabo
com a participação de cada um no seu processo de formação” (NÓVOA 2004: 43). Além disso, como
ensinou Piaget, os currículos devem contemplar o que é significativo para o aluno, e só o serão
completamente se seus conteúdos forem significativos também para a saúde do planeta, para o contexto
mais amplo (GADOTTI, 2000:92).
No momento em que alcançasse tal objetivo, esse tipo de educação até mesmo deixaria de ser
‘ambiental’, pois, como disse Pacheco, “a educação não carece de adjetivos”. De momento, no entanto, ela
parece precisar sim, e muito, de adjetivos que a qualifiquem de uma forma mais positiva e que indiquem
uma tendência de melhoria, uma intenção de readequação dos sistemas educativos às necessidades do
mundo atual e de sociedades em mutação. E felizmente existem, não só adjetivos, mas propostas concretas
para a escola e a pedagogia da transição. A ecopedagogia proposta por Gadotti, por exemplo, preocupada
com a ‘promoção da vida’, reconhece que as formas (vínculos, relações) são também conteúdos, e assim os
conteúdos relacionais, as vivências, as atitudes e os valores, adquirem expressiva relevância (id. ibid.: 93)
O relato de José Pacheco no Seminário de Educação de Cavalcante, que deu continuidade à
afirmação citada, explicando como um importante conteúdo ambiental foi tratado e introduzido no
currículo escolar é outro exemplo prático e concreto, que será analisado no capítulo seguinte. É importante
destacar que este trabalho optou por não adentrar nas minúcias e terminologias das diversas correntes e
vertentes da nova educação, por entender que o que as diferencia não é tão importante quanto o que as
reúne. Aproximou-se, assim da perspectiva de David Hutchison, quando ele recupera, no campo
educacional, o conceito de Educação Integral, atualizando-o com as contribuições da ecologia para propor
uma pedagogia fortemente centrada na consciência ambiental (id. ibid.: 78).

A ESCOLA NO COMPASSO DA FORMAÇÃO INTEGRAL


Um aluno da Escola da Ponte se propôs, em um de seus projetos, a pesquisar mais sobre a história
de sua cidade e o porquê de ser chamada de “Vila das Aves”. Até então pensava-se que o nome tinha a ver
com os pássaros da região. Antes de seguir com a história, vale ressaltar que o desenvolvimento de
projetos interdisciplinares é uma das principais ferramentas da pedagogia da Escola da Ponte. Os temas dos
projetos são propostos pelos próprios alunos, individualmente, e geridos de forma autônoma, mas coletiva,
por grupos heterogêneos, de diferentes faixas etárias ou níveis de desenvolvimento escolar.
Assim, o grupo formado para investigar o passado da cidade descobriu, em suas pesquisas (em
livros, periódicos, entrevistas ou consultas na internet), que as Aves do nome da vila não eram uma alusão
à exuberância da fauna aérea do local. Na verdade, seu primeiro nome tinha sido "S. Miguel de entre
ambos os Aves", por estar no encontro do rio Ave com o rio Vizela (uma espécie de diminutivo antigo para
Ave), seu principal afluente. A correta interpretação do nome, que teria origens romanas, classificaria a
região mais para “Vila da Águas” do que Vila dos Pássaros. Essa descoberta levou ao conhecimento do
grande potencial hídrico da região, tanto que, em 1995, motivou até a mudança do brasão oficial da cidade,
que hoje ostenta o desenho de dois rios entre seus símbolos.
O sucesso do projeto desencadeou outros projetos, como é esperado que se ocorra neste tipo de
didática. Ao colocar as águas da região em evidência, a iniciativa despertou em outros estudantes do grupo
a curiosidade de saber por que o rio da cidade estava tão poluído, já que ele era tão importante. Nascia

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1110

assim um novo projeto, que, ao revelar a contaminação da água, causada pelas indústrias da região, iniciou
um movimento que culminou com um projeto público de despoluição do rio.
Além de permitir a abordagem interdisciplinar de conteúdos diversos, como história, por meio de
pesquisas relacionadas que, nesse caso, remontavam à ocupação Romana no continente Europeu,
geografia, por motivos óbvios, científicos, como a química da poluição ou a biologia da fauna local ou da
perda de biodiversidade no rio, e outros (virtualmente todas as disciplinas podem ser contempladas num
tal projeto), o processo educativo, nesse caso, não para na absorção de conhecimentos; ele serve como
gatilho para outros processos sócio-políticos e para o exercício da cidadania.
Num contexto como esse, a educação de fato não carece de adjetivos. A Educação Ambiental ali
não se destaca do resto, ela é parte integrante e indissociável. Quando um aluno tem que propor seus
projetos, provavelmente vai buscar inspiração em seu próprio cotidiano, nos problemas que vive, quase
sempre com alguma dinâmica ambiental envolvida, como o animal de estimação que ficou doente, a árvore
centenária de sua rua que foi cortada, o barulho na vizinhança que não o deixou dormir, a violência ou o
lixo no pátio da escola.
Na experiência da Ponte, o traço mais distintivo, importante e original da transição para a formação
integral foi a ruptura com a organização em classe, levando em conta que a organização em turmas
homogêneas, objeto de um ensino simultâneo por parte de um professor, é o cerne estruturante da escola
convencional (CANÁRIO, 2004: 25). Na Escola da Ponte não há classes; os grupos de estudos são
heterogêneos, formados preferencialmente por alunos de idades diferentes que aprendem e ensinam uns
aos outros, solidariamente.
Segundo Pacheco, a disposição espacial encontra a sua maior expressão num conceito de escola
aberta, que se revê como uma oficina de trabalho ou uma escola laboratorial e permite o desenvolvimento
de uma pedagogia orientada para uma praxis social de integração do meio na escola e da escola na vida,
aliando o saber ao saber fazer (PACHECO, 2004: 65). Com inserção do pensamento ambiental nesse
contexto, talvez se possa acrescentar a esses saberes também uma práxis de preservação, um saber cuidar.
Dezenas de outros dispositivos pedagógicos são desenvolvidos ali para promover o que se
considera uma formação integral. Não há espaço, entretanto, neste trabalho, para apresentar as minúcias
dessa linha pedagógica. O que se pretendeu foi destacar sua vocação para o trato dos conteúdos que
seriam atribuídos à Educação Ambiental, uma vez que põe em evidência a capacidade de articulação do
raciocínio e de explicitação de métodos de resolução dos problemas – competências essenciais num mundo
em desequilíbrio, em que à educação já não compete apenas “uma resposta puramente quantitativa”
(MENEZES, 2004: 37).

CONCLUSÃO
Como o cenário dominante nos sistemas educativos ainda é o convencional e fragmentário, como
foi demonstrado anteriormente, a Educação Ambiental, enquanto política pública, pode atuar na promoção
da transição rumo à formação integral, a começar por sua vocação mais óbvia, de organização do “meio
ambiente escolar”. O ambiente educativo deve ser repensado para potenciar a aprendizagem, a
participação intencional, competências individuais e coletivas de resolução de problemas, reflexão,
autonomia, promoção da solidariedade, da inclusão e de uma cultura que valorize o aprender (MENEZES,
2004: 39)
Dessa forma, a EA se uniria à Educação Integral na promoção e resgate da criança em cada um,
através de uma “reinvenção do ofício do aluno” (SARMENTO, 2004: 49), o que passaria, em primeiro lugar,
pela “consideração da criança como sujeito competente” (id. ibid.: 52) para compreensão e solução de seus
problemas, neste caso especialmente os ambientais. Para dar conta do exercício da competência infantil,
entretanto, a EA precisa ajudar a escola a romper com os processos tradicionais e individualistas das tarefas
de aprendizagem, promovendo processos conjuntos de construção do conhecimento, que favoreçam e
promovam a edificação de uma racionalidade comunicativa, (inter)mediada e coletivamente ponderada .
Canário conceitua a escola ideal como um espaço que se define em função dos pressupostos de
uma sociedade democrática e que, a seu modo, pode contribuir para que esta sociedade também se
construa como tal, a partir do conjunto de realizações que ali têm lugar (2004: 60). Para atualizar o
conceito em face da situação global presente, podem ser incluídos aí também os pressupostos ecológicos,
sem os quais mesmo uma sociedade democrática teria sua existência e perpetuação comprometidas.

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Da perspectiva educacional proposta neste trabalho, voltada para uma formação integral que
contemple a demandas geradas pelo imperativo ambiental de um mundo em intensa transição, o ideal de
escola vai mais além desse “espaço cívico” de construção social. Ele adentra nos recantos da
individualidade do educando para promover o despertar da consciência, do sentimento de pertencimento
ao meio ambiente e ao universo. Isso não acontece por um ato de razão, não se aprende “a amar a terra
lendo livros sobre isso, nem livros de ecologia integral” (GADOTTI, 2000: 86). Para desenvolver esse amor, o
indivíduo “precisa vivenciar experiências positivas com o mundo natural” (DIAS, 2003: 259). Mas a
educação pode ter um papel nesse processo se colocar questões filosóficas fundamentais, e também “se
souber trabalhar ao lado do conhecimento em nossa capacidade de nos encantar com o universo”. (id. ibid:
77)

BIBLIOGRAFIA
ALVES, Rubem. A escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir . Campinas:
Papirus, 2001.
BARROSO, João. Escola da Ponte: defender, debater e promover a escola pública. In: CANÁRIO, Rui,
MATOS, Filomena e TRINDADE, Rui, org. Escola da Ponte. Defender a Escola Pública. Porto: Profediçoes,
2004
CANÁRIO, Rui. Uma inovação apesar das reformas. In: CANÁRIO, Rui, MATOS, Filomena e
TRINDADE, Rui, org. Escola da Ponte. Defender a Escola Pública. Porto: Profediçoes, 2004
CAPRA, Fritjof. Falando a linguagem da natureza: Princípios da sustentabilidade. In: STONE, Michael
K. e BARLOW, Zenobia, org. Alfabetização Ecológica: a educação das crianças para um mundo sustentável.
São Paulo: Cultrix, 2006
DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental – Princípios e Práticas. 8ª Ed. São Paulo:Gaia, 2003
GADOTTI, Moacir. Pedagogia da terra. 3. ed. São Paulo: Petrópolis, 2000
HOLT, Maurice. A idéia da slow school: É hora de desacelerar a educação? In: STONE, Michael K. e
BARLOW, Zenobia, org. Alfabetização Ecológica: a educação das crianças para um mundo sustentável. São
Paulo: Cultrix, 2006
MENEZES, Isabel. Memórias de um projecto em forma de ponte. In: CANÁRIO, Rui, MATOS,
Filomena e TRINDADE, Rui, org. Escola da Ponte. Defender a Escola Pública. Porto: Profediçoes, 2004
NÓVOA, António. A educação cívica de António Sérgio vista a partir da Escola da Ponte (ou vice-
versa). In: CANÁRIO, Rui, MATOS, Filomena e TRINDADE, Rui, org. Escola da Ponte. Defender a Escola
Pública. Porto: Profediçoes, 2004
PACHECO, José. Uma escola sem muros. In: CANÁRIO, Rui, MATOS, Filomena e TRINDADE, Rui, org.
Escola da Ponte. Defender a Escola Pública. Porto: Profediçoes, 2004
PRONEA - Programa nacional de educação ambiental / Ministério do Meio Ambiente, Diretoria de
Educação Ambiental; Ministério da Educação. Coordenação Geral de Educação Ambiental. - 3. ed - Brasília :
Ministério do Meio Ambiente, 2005.
SANTOS, Maria Emília Brederode. A escola do futuro. In: CANÁRIO, Rui, MATOS, Filomena e
TRINDADE, Rui, org. Escola da Ponte. Defender a Escola Pública. Porto: Profediçoes, 2004
SARMENTO, Manuel. Reinvenção do ofício de aluno. In: CANÁRIO, Rui, MATOS, Filomena e
TRINDADE, Rui, org. Escola da Ponte. Defender a Escola Pública. Porto: Profediçoes, 2004

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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24 ANOS DE CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL: EXPERIÊNCIA EM


EDUCAÇÃO AMBIENTAL DA ESCOLA SANTA CECÍLIA, ÁGUAS BELAS-PE
Marcela Lúcia BARBOSA
Estudante do Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Unidade
Acadêmica de Serra Talhada – E-mail: marcelalucia.ufrpe@gmail.com
Jadson Diogo Pereira BEZERRA
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Biologia de Fungos, Universidade Federal de Pernambuco – E-mail:
jadsondpb@hotmail.com
Maria Eugênia Jerônimo SILVA
Professora de Geografia do Ensino Fundamental, Instituto Educacional Santa Cecília, Águas Belas-PE – E-mail:
silvajeugenia@hotmail.com

RESUMO
“Não posso respirar... cadê a flor que estava aqui... poluição comeu... nem Chico Mendes
sobreviveu”, canta o saudoso Luiz Gonzaga no Xote Ecológico. Essa canção ajudou a inspirar a História
Ecológica de valorização e preservação ambiental do Instituto Educacional Santa Cecília, nesses quase 25
anos de luta pela conscientização da comunidade externa e interna, promoção de intervenções e respeito
“sagrado” ao meio ambiente. “Ninguém vive sozinho...” é o conhecido verso que norteia a nossa luta
ecológica e que contribuiu para a criação de diversas parcerias em favor da causa ambiental. A
conscientização ecológica dos nossos estudantes, professores, visitantes é acompanhada e cresce com a
história ambiental mundial, pois, “a gente faz do mundo um mundo diferente”. O presente trabalho tem
como objetivo demostrar que a conscientização ambiental de estudantes, professores, comunidade escolar
externa e autoridades competentes é possível e que muito ainda precisa ser feito em favor do Meio
Ambiente. Inserir esse tema na vida Escolar é a melhor opção.
Palavras-chaves: Meio Ambiente, Educação Ambiental Continuada, Interdisciplinaridade.

Introdução
A evolução dos conceitos de Educação Ambiental esteve diretamente relacionada à evolução do
conceito de meio ambiente e ao modo como este era percebido. A escola participa diretamente dessa
ascensão conceitual e mostra que a Educação Ambiental deve sensibilizar o aluno a buscar valores que
conduzam a uma convivência harmoniosa com o ambiente e as demais espécies que habitam o planeta,
auxiliando-o a analisar criticamente os princípios que tem levado à destruição inconsequente dos recursos
naturais e de várias espécies (Dias, 2004; Saueressig-Souza, 2010).
A Educação Ambiental auxilia na percepção de que a natureza não é fonte inesgotável de recursos,
suas reservas são finitas e devem ser utilizadas de maneira racional, evitando o desperdício e considerando
a reciclagem como processo vital. Que as demais espécies que existem no planeta merecem nosso respeito.
Além disso, a manutenção da biodiversidade é fundamental para a nossa sobrevivência. E, principalmente,
que é necessário planejar o uso e ocupação do solo nas áreas urbanas e rurais, considerando que é
necessário ter condições dignas de moradia, trabalho, transporte e lazer, áreas destinadas à produção de
alimentos e proteção dos recursos naturais (Saueressig-Souza, 2010).
De acordo com Carvalho (2001), definir Educação Ambiental é falar sobre Educação dando-lhe nova
dimensão ambiental, contextualizada e adaptada à realidade interdisciplinar, vinculada aos temas
ambientais locais e globais. Segundo os objetivos fundamentais da Educação Ambiental, lei nº 9795 (1999,
art. 5º), atualmente a Educação Ambiental é considerada como um artifício de que se dispõe para tentar
minimizar os problemas ambientais. Estabelecendo e firmando a consciência crítica sobre a problemática
ambiental e social (Reghin, 2002).
A História Ambiental do Instituto Educacional Santa Cecília (Águas Belas-PE) teve início há 24 anos
quando surgiu a necessidade de cuidar do ambiente escolar visando à melhoria da qualidade de vida da
comunidade local. Tudo começou quando decidimos inserir na nossa proposta curricular a Educação
Ambiental. Nas aulas de Geografia criou-se um espaço para discutir e investigar as questões ambientais
locais. Durante a Semana de comemoração do Dia Internacional do Meio Ambiente é vivenciado o Projeto

João Pessoa, outubro de 2011


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de forma interdisciplinar onde várias ações são desenvolvidas: pesquisas, estudo in loco, palestras,
passeatas, seminários, mesa-redonda, entrevistas, gincanas, oficinas, panfletagens... tudo para valorização
e preservação do Meio Ambiente.
O objetivo deste trabalho é demostrar que a conscientização ambiental de estudantes, professores,
comunidade escolar externa e autoridades competentes é possível e que muito ainda precisa ser feito em
favor do Meio Ambiente. Inserir esse tema na vida Escolar é a melhor opção e garantirá o envolvimento,
participação e conscientização de todos.

Conhecendo a nossa história


A história do Instituto Educacional Santa Cecília confunde-se com a história Ecológica, pois
em 2011 a nossa Escola completa 24 anos, é uma escola pequena que atende em média 350 alunos do
Maternal ao 9º Ano, faz parte da rede privada de ensino do Município de Águas Belas no Agreste de
Pernambuco.
Águas Belas é uma cidade do interior pernambucano com aproximadamente 40 mil
habitantes sendo, por volta de 5 mil, indígenas - os Fulni-ô. Está inserida numa região que apresenta baixo
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), mas atualmente tem sido desenvolvidas politicas públicas para
mudar este quadro e melhorar a qualidade de vida de todos. Em relação ao aspecto econômico há o
predomínio da agricultura de subsistência (feijão, milho), latifúndios agropecuários e merece destaque a
produção de leite do Município; tendo uma cultura diversificada da miscigenação dos três grupos étnicos,
já que na região há remanescentes dos Quilombolas, indígenas Fulni-ô e a descendência branca do
colonizador que chegou por estas terras por volta de 1700.
A localização geográfica do município favorece uma fauna e flora de transição, nas serras
encontramos desde restos de mata a cactáceas. O relevo é formado de serras, de onde provém a água que
abastece a população urbana e rural, com seus mais de 250 olhos d’água. Através de pesquisas de
investigação é perceptível que a fauna e flora local é bastante agredida, pois há um comércio semanal de
aves (“galo de campina”, “pinta silva”...) e epífitas (orquídeas, bromélias...).

Retalhos da nossa história ambiental


Unindo os nossos Retalhos, percebemos que a nossa história está dividida em três grandes
fases: na primeira destaca-se a necessidade de despertar uma conscientização de respeito ao meio
ambiente da comunidade interna e externa; a segunda é marcada por várias intervenções realizadas na
comunidade, e, a terceira desenvolve com o corpo docente e discente atitudes de respeito ao ambiente.
A fase inicial, que tinha como objetivo principal a conscientização, foi marcada por várias
mudanças, principalmente de posturas, e pela evolução da visão ecológica que a escola possuía. As
passeatas da ecologia, como nós chamamos, denunciavam a necessidade de um crescimento dentro da
ótica ambiental, pois esse momento foi marcado pela presença de animais, carros a tração animal, pássaros
em gaiolas, uso de material não degradável como plásticos e isopor... nessas passeatas soava a canção
interpretada pelo saudoso Luiz Gonzaga que dizia “Não posso respirar... nem Chico Mendes sobreviveu...”,
a partir daí, o pensamento ecológico dentro da nossa Instituição amadureceu, cresceu e hoje temos apenas
como uma lembrança desse momento inicial que foi muito importante e despertou a nossa Escola e a
comunidade local para uma conscientização de valorização do espaço ambiental.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Figura 1: Primeira “Passeata da Ecologia” do Instituto Educacional Santa Cecília, Águas Belas-PE.

A fase intermediária do Projeto refletiu o amadurecimento adquirido durante o processo de


conscientização, possibilitando várias intervenções de conhecimento e preservação do ambiente local. As
ações desenvolvidas nessa fase foram várias, desde palestras de conscientização até intervenções in loco.
Identificação e manutenção de alguns dos vários olhos d’água; replantio de árvores nas áreas das nascentes
de água; panfletagem estimulando a coleta do lixo pelo serviço público; visitas técnicas as áreas de mata;
visitas às pinturas rupestres existentes no Município; exposições temáticas onde a cada ano trabalhávamos
um tema e discutíamos questões globais e locais em relação ao meio ambiente, todas as Escolas do nosso
Município e familiares dos estudantes são convidados. Convite aceito, todos presentes, vamos fazer algo
pelo meio ambiente!

João Pessoa, outubro de 2011


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Figura 2: Visita in loco - Estudantes “abraçam árvore”. Refúgio de Mata Atlântica na Serra das
Antas, Município de Águas Belas-PE

A fase atual é a que apresenta um maior crescimento do pensamento ecológico dentro da nossa
Escola, pois temos alunos que participaram 12 anos seguidos do Projeto. As ações vivenciadas atualmente
resultam da conscientização e da intervenção do Projeto em diversos momentos da nossa História
Ecológica. Nessa fase, o principal aliado é a tecnologia, as exposições temáticas de hoje foram substituídas
por apresentações digitais, seminários, palestras, mesa-redonda, oficinas, concurso de redação, estudo in
loco nesse processo de conhecimento e investigação do ambiente local, essas ações resultaram em
cobranças ao poder público local para criação e execução de políticas públicas de investimento e
preservação do meio ambiente. Durante esta fase, várias parcerias foram estabelecidas com Instituições
como o Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Poder
Judiciário, Serviço de Tecnologia Alternativa (Serta) e Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Águas Belas
que desenvolveram conosco momentos de reflexão e de atitudes em favor do meio ambiente.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Figura 3: (1) – “Passeata da Ecologia” pelas ruas da cidade, busca da conscientização ambiental de
todos; (2, 4 e 9) Criação da horta ecológica no Projeto em 2009 com a presença de Professores e
Estudantes da UFPE; (3) Oficinas Ecológicas promovidas pelos Professores e Estudantes da UFPE; (5)
Estudantes, desde pequenos, e a comunidade externa marcam presença em mais uma “Passeata da
Ecologia”; (6) Secretaria de Cultura, Turismo e Meio Ambiente do Município parabeniza a ação da Escola e
participa conosco da “Passeata da Ecologia”; (7) Crianças conscientizam sobre “ações para evitar o
aquecimento global”, Projeto 2011; (8) Estudantes apresentam nossa experiência em Educação Ambiental
na Semana do Meio Ambiente da UFPE em 2010.

Importante é continuar: exemplos de incentivo


Como resultado das várias ações desenvolvidas ao longo de 24 anos, é perceptível a
conscientização e a mudança de atitude do estudante em relação ao meio em que vive:
“Sinto-me bem por está ajudando o planeta, motivando e incentivando as pessoas a fazerem o
mesmo” contou o estudante do 9º Ano, Raul César Araújo.
“Eu tenho a preocupação em reduzir o consumo de água durante a minha higiene pessoal e fico
angustiada porque o meu pai e a minha irmã não fazem o mesmo, todos os dias eu fico cobrando deles
uma atitude mais responsável” relatou a estudante do 8º Ano, Rúbia Damasceno.
“A importância de trabalhar ecologia todos os anos é que hoje eu sei o que posso e devo fazer”
respondeu a estudante do 7º Ano, Júlia Póvoas.
“Me sinto bem em participar do Projeto porque estou ajudando o meio ambiente” disse a
estudante do 5º Ano, Maria Clara Carvalho.
“A escolha do meu curso, Ciências Ambientais na UFPE, foi estimulada pelos diversos trabalhos em
defesa do meio ambiente que desenvolvi como aluno da Escola Santa Cecília”, diz o ex-aluno, Jadson
Bezerra.
“É uma necessidade deixar para as próximas gerações um planeta onde todos possam viver
harmoniosamente, podendo acontecer o sonhado desenvolvimento sustentável. Criar uma consciência

João Pessoa, outubro de 2011


1117

ecológica nos estudantes. Uma consciência crítica é necessária para que todos possam ajudar na
preservação ambiental, fazendo assim, teremos uma geração que saberá respeitar o nosso Planeta”, conta
a Gestora do Instituto, Ana Esmeralda.
A conscientização do aluno sempre foi o objetivo principal do Projeto e hoje percebemos
que já começa a desenvolver-se dentro da Escola um envolvimento cada vez maior de todos os
participantes da comunidade externa e interna.
Entre tantas ações desenvolvidas ao longo de todo o processo podemos destacar a nossa
participação na Semana do Meio Ambiente – Sua Escolha. Nosso Futuro., do Centro de Ciências Biológicas
da UFPE em junho de 2010 onde apresentamos a nossa experiência em educação ambiental ao longo da
nossa história. Quando recebemos o convite para participarmos deste importante evento ficamos com
receio em aceita-lo, devido o tamanho de responsabilidade: uma Escola de ensino fundamental falar para
uma Universidade diante da importância do momento por qual passa o Planeta Terra? Mesmo pensando
assim, aceitamos o convite e confirmamos o nosso pensamento, percebemos que todo este tempo de
trabalho em favor do meio ambiente na escola consequentemente na cidade contribuiu para a
conscientização ambiental de todos os que conosco “levantaram essa bandeira” e que essa experiência
precisava ser levada para o “centro do saber”, a Universidade e motivar os pesquisadores para que
continuem a desenvolver estratégias de preservação e conscientização ambiental, pois o “futuro a gente
faz agora”.

Considerações finais
Como “o único tempo que temos é o agora” (Daniel Munduruku) é neste agora que não só as
nossas crianças, mas também os nossos adolescentes, professores e funcionários participam e se dedicam
ativamente no desenvolvimento das ações conscientizadoras, gerando a interdisciplinaridade do nosso
Projeto. É nesse momento que o diálogo, a atenção, o olhar crítico, as “histórias do fundo do baú” reforçam
a discussão e criam ações concretas para reflexão e desenvolvimento de atitudes de preservação
ambiental.
Na intenção de criarmos a sensibilização ecológica em todos, é que as paródias, redações, gritos de
preservação, desenhos... exposições, passeatas, discussões, mesa-redonda, plantio de mudas... geram uma
interrogação e disposição nos visitantes: o que tenho feito e devo fazer para preservar o meio ambiente?
Unir os retalhos, unir as forças é a nossa opção, nossa caminhada ecológica é um processo de
construção permanente onde aprendemos muito e nos conscientizamos do muito que ainda temos a
aprender.

Referências bibliográficas
Dias, G. F. Educação ambiental: princípios e prática. São Paulo: Gaia, 2004.
Carvalho, G. A. Desenvolvimento, implementação e avaliação de um programa de Educação
Ambiental a campo para escolas de 1º e 2º graus. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Santa
Catarina. Florianópolis, p. 131, 2001.
Reghin, J. R. B. A Avaliação da percepção sobre Educação Ambiental entre os acadêmicos de um
curso de nível superior. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, p.
106, 2002.
Saueressig-Souza, I.K. Um estudo diagnóstico da Educação Ambiental em escolas do ensino
fundamental da rede pública e privada do Município de Recife/PE. Trabalho de Conclusão de Curso, p. 60,
2010.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1118

DIREITO A QUALIDADE DE VIDA E ANÁLISE DE INDICADORES APOIADA


PELA TECNOLOGIA DO GEOPROCESSAMENTO
Julie Eugenio da Silva FRANCISCO
Tecnóloga em Geoprocessamento - IFPB
julieugenio84@gmail.com
Marcelo dos Santos CAVALCANTE
Geógrafo e Licenciado em Geografia - UFPB
geografo_marcelo@hotmail.com
Anderson Maciel de Lima MEDEIROS
Tecnólogo em Geoprocessamento - IFPB
andersonmedeiros01@gmail.com

RESUMO
A Constituição reconhece que toda a população tem direito de viver em um ambiente sadio,
ecologicamente harmônico. Contudo, a descontrolada exploração dos recursos naturais sem a
consideração dos impactos ambientais tem ocasionado alterações das condições climáticas e grandes
catástrofes naturais, degenerando o meio ambiente. Desta forma, torna-se fundamental o estabelecimento
de deveres da sociedade e das entidades governamentais de preservar e proteger o ambiente para garantia
de uma vida sadia agora e no futuro. Atualmente são muitas as tecnologias que podem contribuir para a
tomada de decisões que originem políticas sócio-ambientais visando atingir a economia ecológica. Neste
artigo consideraremos o uso do Geoprocessamento em união aos indicadores de qualidade de vida em seu
papel chave para administração municipal em plena harmonia entre os interesses da sociedade e do
ecossistema como um todo.
Palavras-chaves: direito ambiental, qualidade de vida, economia ecológica, geoprocessamento.

Introdução
Fatores como a alteração das condições climáticas e grandes catástrofes naturais, possuem forte
relação com a degeneração do meio ambiente. Percebe-se isso na forma de transformações das paisagens
como as ilustradas pela industrialização e pela descontrolada exploração dos recursos naturais sem a
consideração dos impactos ambientais que tais ações acarretam.
Nos últimos anos a chamada economia ecológica tem recebido destaque como meio de promover
para todos um modo de vida sadio garantindo também a preservação dos ecossistemas. Um marco neste
sentido foi no ano de 1968 quando diversos profissionais, de diferentes áreas de atuação, começaram a se
reunir no conhecido Clube de Roma, buscando por alternativas para as grandes questões ambientais que já
passavam a estar em foco naquela época. Desde então, outras iniciativas, até de âmbito internacional
passaram a se desenvolver.
De acordo com publicação de Paulo Souza (2010), um ponto luminoso entre iniciativas de proteção
ao meio ambiente se dá quando em 1970 entra em vigor, nos EUA, a legislação The National Environmental
Policy Act, a qual foi utilizada como base para outros países.
Em sequência, em vista do fato da proteção ao meio ambiente ser essencial e as legislações
servirem de alicerce para essa proteção, entidades públicas aperceberam-se de que para alcançar um
padrão de vida saudável é necessário bem mais do que sólidos investimentos financeiros em tecnologia. Os
diferentes níveis de organização das nações (países, estados, municípios, entre outros) têm se empenhado
cada vez mais em firmar em suas políticas, regimentos e legislações que considerem fatores como a saúde
do indivíduo, do coletivo e do meio ambiente, sempre indo além da definição de regras a ser seguidas. Tais
entidades precisam monitorar, gerando informações precisas e identificar de modo consistente e também
pontual as carências sociais e o nível de impacto que o meio ambiente está sofrendo.
Atualmente são muitas as tecnologias que podem contribuir para a tomada de decisões que
originem políticas sócio-ambientais visando atingir a economia ecológica. O Geoprocessamento e suas
ferramentas destacam-se neste sentido, em especial com os Sistemas de Informações Geográficas (SIG),
que permitem a integração dos dados de natureza social com sua componente espacial.

João Pessoa, outubro de 2011


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Neste artigo consideraremos o uso do Geoprocessamento em união aos indicadores de qualidade


de vida em seu papel chave para administração municipal em plena harmonia entre os interesses da
sociedade e do ecossistema como um todo.

Promovendo a qualidade de vida com base Direito Ambiental – O caso do Brasil


É indiscutível que os meios utilizados para harmonizar o homem com a natureza se tornam cada
vez mais um desafio mundial que precisa ser enfrentado, visando os interesses da geração atual e das
futuras.
Diferente do que muitos acreditaram por séculos os recursos naturais não são infinitos,
inesgotáveis, e em alguns casos nem mesmo renováveis mesmo em longo prazo. Por isso, os ecossistemas
sofreram significativas mudanças que estão se refletindo na qualidade de vida de todos.
As consequências mesmo de uma mínima alteração do ambiente onde um indivíduo habita irá
repercutir de forma incalculável sobre o inteiro ecossistema. Diante desta realidade, as instituições
governamentais têm direcionado suas preocupações aos cuidados e proteção com o meio ambiente.
Todos os países apresentam algum aspecto negativo que afeta a qualidade de vida, crescimento do
índice da pobreza, analfabetismo, degradação do meio ambiente, redução dos recursos hídricos,
habitações em áreas de risco, são apenas alguns dos problemas mais comuns neste sentido e isso faz com
que as nações se vejam incapazes de suprimir essas dificuldades sozinhas, pois para sanar problemas
globais serão exigidas soluções globais. Entretanto, segundo Durand, et al (2009, p.110.) “diante de tais
problemas, globais por sua própria natureza, uma resposta política global é de difícil construção”.
Nesta realidade, torna-se desafiador obter de maneira sustentável o bem estar de toda fauna, flora
e da sociedade.
Então, em meio da evolução tecnológica, da já desde outrora frenética busca pelo desenvolvimento
econômico, a Terra se deparou com as amargas consequências desta agressão a natureza. Há apenas
algumas décadas o homem passou a sentir a necessidade de mudanças para salvarem suas próprias vidas e
das gerações futuras. Os países começaram várias discussões que ampliaram a visão das mesmas em
relação ao meio ambiente, pois este passou a ser visto como um bem de todos, onde todos têm de a
responsabilidade de colaborar com sua preservação, não apenas de modo coletivo, mas também individual.
A questão não se resume a não usar os recursos oferecidos pela natureza, mas antes usá-los com bom
critério e quando e quanto necessários.
Depois de uma série de reuniões e relatórios, um dos produtos de destaque originados das
conferências mundiais é a Agenda 21, uma coleção de ações a serem aplicadas mundialmente. De acordo
com Malheiros, Philippi e Coutinho (2008) a Agenda 21 é um comprometimento das nações em relação ao
desenvolvimento sustentável aliado ao meio ambiente (...). A repercussão da criação da Agenda mobilizou
governos e sociedade a recriarem a mesma a nível nacional, regional e local. No Brasil várias
administrações tiveram essa iniciativa.
Muitas entidades governamentais sentiram então a necessidade de estabelecer em seus territórios
legislações, que passassem a focar os cuidados com a natureza, não enaltecendo a visão antropocêntrica,
mas antes a holística, tornando pública a imagem do ambiente como um bem difuso. Pois como Paulo
Souza (2010) menciona, em todo o mundo a situação ambiental esta caótica, todo o tipo de vida tem sido
afetado, a sociedade, a fauna e a flora, vivendo em conflitos, sobreviventes das ações do homem em busca
de um modo de vida melhor de modo racional.
Em meio de tantos planos e ações das entidades públicas referentes ao meio ambiente e ao bem
estar da população em geral, o Brasil se destacou com sua Constituição Federal de 1988, no artigo 225º que
trata o meio ambiente como bem difuso, torna claro a responsabilidade dos órgãos públicos de manter e
defender o equilíbrio ambiental e a qualidade de vida.
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-
lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações. § 1º - Para assegurar a efetividade desse direito,
incumbe ao Poder Público: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo
ecológico das espécies e ecossistemas; (...) VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as
práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os
animais a crueldade. (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1120

Cavalcanti (2004) considera a Constituição Federal de 1988, junto de seu artigo 225 como uma
alavanca à reforma tributária de incentivo às gestões locais, lhes conferindo novos poderes. A Constituição
reconhece que toda a população tem direito de viver em um ambiente sadio, ecologicamente harmônico. O
estabelecimento de deveres da sociedade e das entidades governamentais de preservar e proteger o
ambiente para garantia de uma vida sadia agora e no futuro. Por isso a população precisa se conscientizar
do ambientalismo político.
O uso comum do povo a esse rico meio ao qual habitamos exige cuidados destes, mas as
instituições sempre têm de se colocar a dianteira, pois cabe a estas, proporcionarem a cada indivíduo
condições básicas para tal colaboração, a democratização dos recursos e das informações ambientais
devem ser monitoradas e ajustadas de acordo com o surgimento das necessidades, sejam elas de cunho
imediato da sociedade ou da natureza.
Segundo Suchodolak, Feitosa e Westphal (2010), no artigo 1º da Constituição Federal as questões
sócio-ambientais estão estreitamente relacionadas, pois a garantia de ter uma vida com dignidade, com
educação pública de qualidade, formando cidadãos com discernimento do que lhes é direito e do que lhes
é dever, estabelece um alicerce ao construir sua identidade em valores sociais, morais, com atributos de
saúde pública de qualidade e habitação digna, de modo coletivo, individual e solidário.
As urbes são os principais centros de degradação ambiental e insalubridade, ilustrando claramente
a falta de harmonia entre ambos e as conseqüências reluzentes dessa falta de simbiose.
Um dos eventos históricos de grande impacto ambiental foi a revolução industrial no século XVIII,
que pode ser considerado o estopim do adensamento populacional nas cidades, pois muitas pessoas foram
em busca não apenas de melhores condições econômicas, mas também sociais. Entretanto, as cidades não
estavam preparadas para receber de modo brusco o crescimento populacional e industrial, como também
pouco se pensava nos efeitos colaterais dessa inclusão. Em meio a esta situação desordenada, as cidades
passaram a sofrer várias alterações e adaptações para comportar a nova sociedade com o seu novo modo
de vida (PINA, ALMEIDA e PINA, 2010).
O reflexo resultou em várias dificuldades sociais nos espaços urbanos, entre esses cenários pode-se
destacar a fome, a falta de saneamento, das enfermidades, da falta de segurança, da difícil circulação, (...)
do desemprego e trabalho informal, dos migrantes em busca da vida melhor, da poluição de todos os
níveis, (...) da falta de moradia, da segregação, da falta de cidadania (PINTAUDI, 2001).
A cada problema social que ocorre nas urbes é possível identificar um impacto ambiental. Logo fica
evidente que para se viver bem é preciso cuidar do meio ambiente, subtende-se que para se cuidar do
mesmo é imprescindível que a comunidade esteja envolvida no contexto, e que a mesma tenha o desejo de
se engajar.
A Política Nacional da Educação Ambiental Capitulo I da Educação Ambiental Art. 3º VI à sociedade
como um todo, manter atenção permanente à formação de valores, atitudes e habilidades que propiciem a
atuação individual e coletiva voltada para a prevenção, a identificação e a solução de problemas ambientais
(...) Art. 4º I o enfoque humanista, holístico, democrático e participativo. (...) Art. 5º IV o incentivo à
participação individual e coletiva, permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente,
entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania.
(Cardoso, Souza e Filho, 1999)

Mas fazendo uma ressalva sobre o apoio coletivo aos cuidados ao meio ambiente, essa
democratização dos cuidados ao recinto no qual a população habita, só é possível se caso a mesma tiver no
mínimo suas necessidades básicas supridas, como já citadas no Art. 225º, promover a população de vida
sadia, em especial nos grandes centros urbanos.
O fato é que a melhoria da qualidade de vida da população deve ser o alicerce, para que a
comunidade se sinta induzida a participar como agente transformador da natureza, mantendo equilíbrio, o
homem numa verdadeira relação sustentável com a natureza. É importante ressaltar que a população é
influenciada pelo meio, ela reflete as qualidades de vida do local que está inserida, logo cuidar do meio, é
proporcionar vida saudável.
Analisando o caminho que as cidades estão seguindo, torna-se preocupante e cada vez mais
distante a desejada qualidade de vida, logo se o foco é atenuar as disparidades sociais e proporcionar a

João Pessoa, outubro de 2011


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todo indivíduo integrante da sociedade uma vida com qualidade, é necessário realizar a mensuração do
que se tem oferecido para população como um todo, variando de acordo com cada território, e identificar a
vulnerabilidade do sistema.
Os gestores públicos têm a responsabilidade de criar programas, que dêem estrutura a sua
população, medidas mitigadoras que forneçam de modo imediato um estilo de vida digno, com habitação
adequada; segurança; educação de qualidade com nível de profissionalização, servindo de alicerce para o
futuro da nação; saneamento básico; acesso água; a energia; a saúde; coleta de lixo; emprego com salários
íntegros; lazer; etc. De fato é um desafio administrativo de cunho público, diminuir as desigualdades
sociais, e promover a equidade.
Diante dos aspectos legais também é importante destacar que o mesmo delega aos órgãos,
entidades e instituição governamentais, não governamentais, privados e públicos a promoção,
financiamento, criação de meios e oportunidades de estudos, projetos e pesquisas que possam auxiliar nas
tomadas de decisões, referente a essas questões sócio-ambientais, a economia ecológica, ao
desenvolvimento sustentável, etc.
Para auxílio da constituição o investimento e desenvolvimento de tecnologias tem sido de grande
utilidade visando buscar ainda mais alternativas para problemas sócio-ambientais. Estas têm o papel
fundamental de monitorar, analisar e até mesmo de prever possíveis situações de risco traçando planos de
contingência. Por isso é de fundamental importância que a Política Nacional da Educação Ambiental esteja
presente em toda gestão territorial, exercendo atividades de conscientização referentes aos impactos
ambientais e o bem estar da população em geral.
A tecnologia como ferramenta de aplicação da legislação ambiental em face da qualidade de vida
Vamos enfatizar dentro da Geomática, a tecnologia do Geoprocessamento que pode ser
compreendida, como um conjunto de técnicas que tratam da coleção de informações alocados na
superfície terrestre. Estas são processadas de acordo com sua finalidade, sempre com o intuito de se
aproximar cada vez mais da realidade da área em pesquisa.
Câmara e Davis (2004) falam do Geoprocessamento como sendo uma ciência que faz uso de
técnicas matemáticas e computacionais que através de suas ferramentas e metodologias tratam
informações geográficas, com potencialidade em diversas aplicações sejam elas nas áreas de cartografia,
análise de recursos naturais, transporte, comunicação, energia, planejamento urbano e regional, entre
outras.
De acordo com Assad (1998, p.8), o Geoprocessamento tem como objetivo principal “fornecer
ferramentas computacionais para que os diferentes analistas determinem as evoluções espacial e temporal
de um fenômeno geográfico e as inter-relações entre diferentes fenômenos”.
Uma das ferramentas do Geoprocessamento que mais tem sido utilizada no auxílio de
monitoramento e análise ambiental é o SIG, que tem como um de seus diferenciais a capacidade de
integração entre os dados geográficos, sejam eles coletados por GPS (Sistema de Posicionamento Global),
Imagens de Satélites, Radares, entre outras técnicas utilizadas para a coleta de dados referentes à
superfície terrestre, com as informações sociais, dados alfanuméricos que geram produtos que se
aproximam da realidade do local, seja ele de fácil ou difícil acesso.
Kalyankar, et al (2009 apud Bonhan-Carter G.F, 1994 pág. 398) define o SIG como sendo um
sistema computacional de aquisição, armazenamento, análise e exposição dos dados espaciais e ainda
explica cada termo da sigla SIG. Sistema indica que o SIG tem a capacidade de atuar em diversos ramos,
atuando com outras ciências e unindo componentes de funções variadas. Informação se refere ao
processamento dos dados no SIG organizados com o intuito de reproduzir conhecimento de utilidade por
sua vez o termo Geográfica se refere aos dados referentes a superfície terrestre expresso através de
coordenadas.
As informações nos bancos de dados permitem a realização de consultas que se adequem de
acordo com a finalidade, e à medida que essa informação é representada graficamente pode-se ter uma
visão da distribuição espacial da realidade, do problema e da dimensão deste, bem como programar
perspectivas futuras auxiliando na tomada de decisão.
Assim como ocorre com softwares utilizados em outras áreas, muitos dos programas
computacionais para SIG podem ser obtidos e utilizados sem a necessidade de compra de custosas licenças.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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A aplicação da tecnologia do Geoprocessamento pode atuar informando pontualmente onde estão


localizados os maiores problemas ambientais de cada região, abalizado pela política ambiental local
estabelecida, é um modo de ver em prática a aplicação da legislação, com os seus resultados.
Levando em consideração as condições de vida da sociedade e a política adotada em determinado
local, uma metodologia que tem demonstrado diversos resultados são os índices de qualidade de vida
urbana, pois através da análise de alguns indicadores se avalia as condições atuais do indivíduo em meio da
sociedade, como também os aspectos do ambiente onde a mesma esta inserida.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como “um estado de completo bem estar
físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade.” Logo para se ter uma vida
saudável é imprescindível levar em consideração os elementos que estão relacionados de modo direto ou
indireto ao bem estar, seja ele físico, mental e social, pois a partir desses três fatores é possível abrir um
leque de necessidades de cunho individual e coletivo.
Domingues e Françoso (2008) consideram um diferencial irrefutável para a gestão municipal
adquirir informações variadas que permita a análise, a avaliação e a correlação diversificada entre elas, de
determinada região. Além disso, confirmam que o Geoprocessamento permite uma aquisição de elementos
espaciais que através do uso de suas ferramentas podem orientar de modo diligente os recursos públicos.

Índice de Qualidade de Vida Urbana (IQVU)


O conforto ambiental faz parte do bem estar social da população, por isso a busca pelo equilíbrio,
viver de modo que os impactos causados ao meio ambiente sejam apenas os necessários e menores
possíveis.
Nahas (2002) Comentou que embora a Constituição Federal de 1998 tenha fortalecido a política
dos municípios, estes ainda estavam sem condições financeiras e institucionais de fazer frente aos
imensuráveis problemas socioeconômico do país. A política local dos municípios teriam a tarefa de
contornar os problemas da sociedade, onde os governos já estavam com suas economias comprometidas
com grande capital.
E como relata Filgueiras (2005) a Constituição Federal comissionou aos municípios responderem a
problemas no âmbito da saúde, educação, habitação, etc. Em suma do dever de organizar os serviços
sociais e garantir a toda população de sua jurisdição, os direitos dos cidadãos, lhes garantindo o bem estar.
Entretanto, as políticas públicas locais ainda encontram grandes dificuldades em suprir as carências sociais
da população de seus municípios.
Afinal, todo indivíduo tem o desejo e necessidade, de adquirir a estabilidade social, ambiental e
econômica, proporcionando a ele a vida saudável definida pela OMS, como já considerado. O homem
precisa estar equipado para enfrentar desafios econômicos atuais e futuros sem maiores desníveis.
Os indicadores são utilizados para avaliar a equidade e as disparidades sociais. Seu estudo
proporciona construir um histórico das condições encontradas no território, no passado, no presente e
fornecer subsídios para o futuro, auxiliando na adequação do espaço, com o intuito de proporcionar o bem
estar da sociedade e do recinto o qual a mesma está inserida. Através deste estudo as tomadas de decisões
balizadas nas legislações e deveres, podem ser adotadas de modo mais preciso e em curto prazo,
integrando as necessidades básicas da sociedade e os cuidados com o meio ambiente, de acordo com a
legislação local.
Os indicadores auxiliam na avaliação da qualidade de vida. Isso é apoiado por considerações tais
como as de Cedano e Martinez (2010) os quais enfatizam que várias organizações internacionais têm se
empenhado em realizar estudos com indicadores e índices em diversas cidades, visto que as necessidades
básicas da população em geral são comuns, e promovem uma comparação entre os espaços urbanos e sua
qualidade interferindo no meio ambiente.
Os índices são formados por valores de mensuração quantitativos e qualitativo de limpeza urbana;
saneamento; conforto acústico; equipamentos de assistência social, cultural, artístico, saúde, segurança;
cesta básica, etc. Esses valores também são equivalentes a distribuição espacial, ou seja, está diretamente
ligado a acessibilidade que se tem dos mesmos.
Caracterizar as regiões com suas potencialidades, a distribuição dos equipamentos indispensáveis,
a sociedade inserida em determinada área, bem como sua classificação social, ambiental, econômica, enfim
que determinem o que cada setor oferece, e como a oferta é disseminada.

João Pessoa, outubro de 2011


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Herculano (1998) comenta que os indicadores assumem o papel de exemplificar que quando se
trata de questões coletivas os profissionais fazem papel de narradores, de expor de modo contundente aos
envolvidos a real situação que se encontra, produzem, interpretam e divulgam os índices qualitativos,
essenciais para o meio de vida. Assim a exposição dos indicadores pode ter a capacidade de provocar na
população envolvida a ação imediata, ou pelo menos que a mesma venha a cobrar dos órgãos
competentes.
A exemplo dos índices o IQVU contém indicadores georreferenciados. Este índice esta sendo
aplicado em Belo Horizonte, MG desde 1994 como uma experiência que já demonstra resultados positivos,
posteriormente sofreu alterações no ano de 1996 e depois em 2000 para atender de modo ainda mais
preciso as deficiências do espaço, ele considera não apenas os equipamentos básicos como os de saúde,
educação, como também a distância que os mesmos se encontram da comunidade e a viabilidade de se
chegar a eles, por isso se dá o enfoque a componente espacial. Foram definidas as seguintes variáveis:
abastecimento; assistência social; educação; esporte; cultura; habitação; infraestrutura urbana; meio
ambiente; saúde; serviços urbanos; segurança urbana. Observe na figura 03, na página posterior, a série de
mapas consequentes dos estudos em cada período, no tocante do espalhamento populacional.
Conforme Patrus Souza (1996) “o IQVU foi calculado para cada uma das 81 unidades espaciais de
Belo Horizonte, denominadas Unidade de Planejamento (UP)”. O uso da ferramenta SIG proporciona de
modo ágil e prático a localização cartográfica dessas UP com os respectivos atributos.
Nahas (2000) destaca que no IQVU a equidade é um parâmetro imprescindível, por isso o mesmo
sofreu alterações em meados de 2000, com o intuito de atender de melhor forma esse enfoque. A
potencialidade do IQVU é de ordem municipal, aplicando-o fica evidente para a gestão do município onde
os recursos devem ser direcionados para suprir uma necessidade específica.
Embora esteja sendo destacada a experiência de Belo Horizonte também existem várias outras
capitais que têm desenvolvido projetos semelhantes, com o uso de indicadores para poderem minimizar os
problemas socioeconômicos dos municípios, entre elas podemos citar: Curitiba-PR; São Paulo-SP; Rio de
Janeiro-RJ; etc.
As análises demonstram o nível da qualidade de vida encontrada em cada UP, bem como informa
pontualmente quais delas estão desprovidas, e qual indicador específico. Essas ferramentas são de grande
utilidade para gestão pública do município se tornando um grande diferencial na tomada de decisão.
Davis e Fonseca (1994) afirmam que as aplicações do Geoprocessamento no projeto do IQVU é
ampla, pois compreende desde a educação ao controle ambiental, auxilia em traçar a rota da coleta de lixo,
como também na cobrança de impostos. A gama de produtos proporcionada pelo Geoprocessamento é
exposta especialmente por relatórios e mapas (...). A implantação do IQVU assessorado pela tecnologia do
Geoprocessamento trouxe vários avanços tecnológicos à cidade. A experiência do IQVU junto à tecnologia
do Geoprocessamento tem ajudado a identificar as necessidades da população, e em até certo ponto
facilitar a vida das mesmas, propondo soluções que beneficiam a sociedade e ao meio ambiente, tornando
mais eficiente os investimentos da gestão municipal.
Segundo Braga (2001) a Legislação Ambiental do município de Belo Horizonte agregada a qualidade
de vida urbana e ambiental urbana, pois procura se integrar com as políticas sociais e econômicas. A Lei
4253/85 em seu artigo 2º determina:
Meio Ambiente - o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química,
biológica, social, cultural e política, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas; II - degradação
da qualidade ambiental - a alteração adversa das características do meio ambiente; III - poluição - a
degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que, direta ou indiretamente: a) prejudique a
saúde, o sossego, a segurança ou o bem estar da população; b) crie condições adversas às atividades sociais e
econômicas; e) afete desfavoravelmente a fauna, a flora ou qualquer recurso ambiental;

Os estudos do IQVU permitem que as autoridades competentes tomem no mínimo medidas


mitigadoras para atenuar o mal de séculos que é disparidade social, pois o reflexo da mesma tem tomado
proporções cada vez mais de soluções complexas, logo quanto mais breve se agir, mais rápido os resultados
virão.

Considerações finais

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1124

As transformações desordenadas que a natureza tem sofrido tem acarretado a sociedade diversas
dificuldades, pois as principais fontes de vida se encontram em estágios preocupantes de poluição e
escassez, as interferências humanas irracionais também repercutem em catástrofes naturais ameaçando e
ceifando muitas vidas humanas e animal.
Com a desenfreada degradação ambiental vieram as consequências, e através delas o homem
conseguiu entender que a qualidade de vida buscada por meios econômicos e tecnológicos fortemente
agressivos ao ecossistema tem resultado no processo inverso.
Em busca de solucionar os problemas oriundos da agressão ambiental as nações passaram a
realizar conferências e reuniões para discutir possíveis soluções. A partir desses eventos vários documentos
foram produzidos, legislações e diretrizes a nível internacional e nacional.
Desde o nível Internacional a nacional as políticas ficaram estabelecidas sobre cada órgão
governamental, pois cada um teria que delegar uma economia-ambiental. No Brasil a Constituição Federal
foi a lei determinante para qualidade de vida e a preservação do ambiente prezando pela harmonia do
homem com a natureza, entendendo o ambiente como um bem difuso, e promovendo estudos que
contribuam para o bem estar social e consequentemente o ambiental.
Logo as gestões públicas estaduais e municipais se viram atribuídas de resolver pesados problemas,
estabelecendo projetos, parcerias, programas e legislações locais para contribuir com o equilíbrio entre a
sociedade e o meio ambiente. Os estudos do IQVU agregado com a tecnologia do Geoprocessamento foi
um facilitador na análise e no monitoramento das diretrizes, auxiliando na tomada de decisão. Um exemplo
da aplicação desses recursos é a prefeitura de Belo Horizonte que iniciou o projeto em 1994 desde então
vem sendo aprimorado e o mesmo tem trazido a comunidade do município inovações tecnológicas
contribuintes para qualidade de vida e uma economia ecológica, servindo de exemplo para outras gestões.

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ampliada. Embrapa-SP/ Embrapa-Cpac. Brasília. 1998, 6p
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em: 04/01/2011.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1126

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: A


SUSTENTABILIDADE A PARTIR DAS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Márcia Egina Câmara Dantas¹
Edna Guilherme dos Santos²
Suzaneide Ferreira da Silva Menezes³

RESUMO
O principal objetivo deste artigo é explorar a produção bibliográfica e sua contribuição a cerca da
terminologia sustentabilidade, cujas reflexões se assentam no estudo do processo de dinamização do
termo desenvolvimento sustentável e a sua aplicabilidade a partir de práticas de educação ambiental.
Dessa forma os desafios ambientais não estão somente na perspectiva do meio ambiente em si, mas
também para que se tenha um novo modelo de desenvolvimento que proponha uma equidade social
planetária. Como procedimento metodológico foram realizadas pesquisas bibliográficas que contribuíram
para elaboração da fundamentação teórica do estudo classificando-se como qualitativa de caráter
exploratório e descritivo. Percebe-se que o conceito sustentabilidade vem sofrendo inúmeras influencias
conforme a sua utilização e isto vem causado um a certa desconfiança quanto a sua aplicabilidade, por
outro lado em detrimento a isto temos a educação ambiental que tem a finalidade de unir o teórico e
prático no cotidiano da sociedade, fazendo como eu experiências nesta perspectivas sejam exemplos de
desenvolvimento sustentável. Para que tudo isso seja possível, temos que proporcionar incentivos fiscais e
sanções econômicas aos empreendimentos que contribuem para a diminuição dos impactos negativos no
meio ambiente e fomentar a educação formal e não formal nas escolas e comunidades, para desta forma
possamos desencorajar formas nocivas e não sustentáveis de crescimento econômico ligado ao meio
ambiente.
Palavras-chave: sustentabilidade, educação, equidade social.

INTRODUÇÃO
A questão ambiental resgata a essência das relações sociedade/natureza, a crise ambiental foi o
grande desmancha-prazeres na comemoração do triunfo do desenvolvimento, expressando uma das falhas
mais profundas do modelo civilizatório da modernidade.
A preocupação com os problemas ambientais, segundo Barbieri (1997), decorrentes dos processos
de crescimento e desenvolvimento, foram percebidos gradativamente. A princípio houve-se a percepção
dos problemas ambientais, logo após percebe-se que a utilização dos recursos naturais gerava degradação
do meio ambiente, neste período formulo-se instrumentos preventivos e corretivos para substituir os
processos mais degradantes por outros mais eficazes e limpos, e por fim detectou-se que os problemas
ambientais eram de maiores dimensões, alcançavam escalas mundiais, já neste período passou-se a
questionar as ações preventivas e corretivas utilizadas na época e o que o desenvolvimento estava
proporcionado, pois o caráter expansivo e acumulativo dos processos econômicos suplantou o principio de
escassez traduzindo-se em um processo de degradação global dos recursos naturais e serviços ambientais.

¹Bacharel em Gestão Ambiental – Universidade Do Estado do Rio Grande do Norte – UERN. Mestranda em
Ambiente, Tecnologia e Sociedade - Universidade Federal Rural do Semiárido – UFERSA. E-mail:
marciaegina@hotmail.com.
² Graduanda em Gestão Ambiental - Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN. E-mail:
edna-gui@hotmail.com.
³ Doutora em Ciência Sociais – Universidade Federal do Estado do Rio Grande do Norte - UFRN
Orientadora: Profª Drª Pró-Reitora Adjunta de Extensão da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte –
UERN. E-mail: suzaneidemenezes@uern.br.

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1127

Para Foladori (2001) “o desenvolvimento é o nome-síntese da idéia de dominação da natureza”.


Tratando a extração de recursos naturais como uma forma exploratória, tão quanto à velocidade que a
natureza consegue produzir e reciclar essas necessidades, ele defende que é necessário colocar limite ao
crescimento, pois não era contra a natureza que se deveria lutar, mas, sim, contra os efeitos da intervenção
que o próprio homem provoca no meio ambiente.
Nesta perspectiva, fica a indagação: até que ponto ações voltadas para o desenvolvimento
sustentável podem sustentar a sociedade para a sua sobrevivência no planeta e como reconhecê-lo, como
alternativa para uma sociedade, mais justa e menos prejudicial ao meio ambiente?
Nas ultimas décadas, a comunidade cientifica vem tentando alertar sobre as conseqüências do uso
indiscriminado dos recursos naturais do planeta e, mesmo o homem sabendo da finitude e insuficiência dos
recursos naturais, o processo de destruição ambiental sofreu poucas alterações e muitas vezes até
acelerou.
Sabe-se que é necessário realizar mudanças rápidas e abrangentes de tal forma que elas
conscientizem toda a humanidade para preservação do meio ambiente objetivando uma mudança de
valores no ser humano para garantirmos a preservação dos recursos naturais do planeta e em
conseqüência à saúde humana, visando também a resoluções de questões sociais, políticas e culturais
como a pobreza e exclusão social, praticando o então desenvolvimento sustentável.
Para tanto, o principal objetivo desta pesquisa é explorar a produção bibliográfica e sua
contribuição a cerca da terminologia sustentabilidade, cujas reflexões se assentam no estudo do processo
de dinamização do termo desenvolvimento sustentável e a sua aplicabilidade a partir de práticas de
educação ambiental.

METODOLOGIA
Partindo de uma abordagem metodológica de pesquisa qualitativa nos interessam métodos e
procedimentos que contemplem uma discussão a respeito da evolução da conceituação do
desenvolvimento sustentável na perspectiva das práticas de educação ambiental a fim de que se alcance o
mesmo. Para tal, diferentes materiais e dados fazem parte do inventário da pesquisa e foram coletados a
partir de pesquisas bibliográficas a fim de contribuir para a fundamentação teórica.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
O canadense Maurice Strong em 1973 foi o primeiro que usou o conceito de ecodesenvolvimento
para caracterizar uma concepção alternativa de política de desenvolvimento. Nesta perspectiva, Ignacy
Sachs formulou os princípios básicos desta nova visão de desenvolvimento. Sachs integrou basicamente
seis aspectos, que deveriam guiar os caminhos do desenvolvimento: a) satisfação das necessidades básicas;
b) a solidariedade com as gerações futuras; c) a participação da população envolvida; d) a preservação dos
recursos naturais e do meio ambiente em geral; e) a elaboração de um sistema social garantindo em prego,
segurança social e respeito a outras culturas, e f) programas de educação. Esta teoria do
ecodesenvolvimento ganhou cada vez mais uma visão das inter-relações globais entre subdesenvolvimento
e desenvolvimento.
No Pós-Guerra o surto de desenvolvimento foi cada vez mais acelerado, conseqüentemente os
problemas ambientais foram se agravando fazendo com que novos instrumentos de intervenção fossem
adotados. Em 1969 o Governo da Suécia propôs à Organização das Nações Unidas(ONU) a realização de
uma conferencia internacional para tratar desses problemas, aceita a proposta, em 1972 foi realizada em
Estocolmo a conferencia das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Homem(BARBIERE, 1997). Nesta
conferencia, consagrou-se o termo ecodesenvolvimento, que declarava a preocupação com a degradação
ambiental, com as condições dos desprivilegiados, com o consumo indiscriminado e com a poluição
ambiental, esclareceu-se a necessidade de se estabelecer critérios e princípios que sejam comuns e ofereça
aos povos do mundo inspiração e guia para preservar e melhorar o ambiente humano, como um dos
resultados desta conferencia muitos países criaram agências responsáveis pela administração da questão
ambiental e implementação restritivas legais e normativas. A conferencia de Estocolmo incluiu em seu
extenso temário a necessidade de crescimento econômico, principalmente das nações em
desenvolvimento, a conservação do meio ambiente, tratando da percepção sobre os recursos naturais e
principalmente o crescimento populacional.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1128

Em 1987, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento criada pela Assembléia
Geral das Nações Unidas finalizou o documento Nosso Futuro Comum, também conhecido como relatório
Brundtland, que introduziu o conceito de desenvolvimento sustentável, definindo como aquele que atende
as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem as suas
próprias necessidades.
No relatório “Nosso Futuro Comum” também denominado Relatório Brundtland, aborda o conceito
de ecodesenvolvimento com uma nova roupagem e abordado de forma mais sistêmica. O relatório
descreveu sobre a valoração econômica dos recursos naturais, perda da biodiversidade, diminuição da
camada de ozônio, índices de poluição e seus impactos além das fronteiras nacionais e sobre a
contaminação do meio ambiente, desde então da publicação dos relatórios desta conferencia e após
principalmente da divulgação do relatório Brundtland, foram assinados cinco documentos, direta ou
indiretamente ligados com a proteção e conservação da biodiversidade em nível global, a saber: Convenção
sobre Biodiversidade; Convenção sobre mudanças do Clima; Agenda 21; Princípios para administração
Sustentável das Florestas; Declaração do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, esta
realizada no Rio de Janeiro em 1992 com o objetivo de discutir as conclusões e propostas daquele relatório.
Participaram cerca de 180 países e organizações não governamentais de todo o planeta. O documento
resultante desse encontro estabeleceu vinte e sete princípios básicos, cujo o objetivo foi o estabelecimento
de uma nova e justa parceria global, por meio da criação de novos níveis de cooperação entre os Estados,
os setores mais representativos da sociedade e a população. A agenda 21, um programa de ação com a
finalidade de executar os princípios aprovados na Declaração do Rio, trouxe um roteiro detalhado de ações
concretas a serem adotados pelos governos, instituições das Nações Unidas, agências de desenvolvimento
e setores independentes, para iniciar o processo de transição em direção ao desenvolvimento sustentável.
Neste sentido para que se tenha uma mínima noção de sustentabilidade estabeleceu-se o termo
desenvolvimento para um melhor conceito político, este tipo de desenvolvimento é caracterizado como o
desafio do século XXI. Em contrapartida esse desenvolvimento proposto, muitas vezes é tido como utópico
e inalcançável, no qual gera expectativas e não ações práticas.
Veiga (2006, p. 23) ressalta que o “desenvolvimento deveria ser capaz de permitir que cada
individuo revele suas capacidades, seus talentos e busquem a auto-realização e a felicidade, mediante
esforço coletivo e individuais”. No entanto, como teríamos uma sociedade ambientalmente sustentável, se,
consideramos o desenvolvimento econômico primordial para que se haja crescimento, crescimento este
que consome cada vez mais recursos naturais para que assim possa-se oferecer supostamente qualidade
de vida. No entanto o crescimento, segundo Veiga (2006), acontece:
Em detrimento da conservação da natureza, e que para alcançá-lo será preciso assimilar o real
significado do substantivo desenvolvimento e do adjetivo sustentável, pois o crescimento econômico não
será pra sempre o principal meio de atingir o desenvolvimento Veiga (2006, p.24).

Foladori (2001) defende a idéia de limites para o crescimento, onde para se ter um crescimento, é
necessário que se haja um controle, buscando principalmente corrigir os efeitos da produção capitalista por
vias técnicas, estabelecendo normas, cotas ou impostos de maneira que não se discuta a eficiência de tais
medidas técnicas, evidentemente que nenhuma delas comprometeria a forma social capitalista de
produção. Neste sentido para Miller(2007, p. 12), “o desafio é utilizar de forma criativa os sistemas
econômicos e políticos para implementar tais soluções”.
Viola (2001), defende o surgimento de um novo inter-relacionamento entre os sistemas
sociocultural e o movimento através de estratégias de planejamento do desenvolvimento.
Em Barbieri (1997), uma nova ordem econômica era necessária para melhoria da qualidade de vida.
Sendo que essa nova ordem econômica mundial estaria baseada na equidade, autodeterminação,
interdependência e interesse entre todos os estados membros. Tendo em vista o que corrobora Miller
(2007) ressaltando que os problemas ambientais são provenientes das ações humanas sobre o meio
ambiente. Ele aborda que a super-população é um exemplo das causas de degradação ambiental devido a
super-utilização dos recursos naturais, recursos estes necessário para a vida das pessoas. Miller, explicita,
que uma sociedade sustentável do ponto de vista ambiental deve atender as necessidades atuais de sua
população em relação a alimentos, água e ar limpo e outros recursos básicos sem comprometer a
capacidade das futuras gerações atenderem as suas necessidades e que a apropriação da natureza pelo

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individuo esta sempre inserida numa determinada forma social, onde a produção é como um processo pelo
qual se altera a forma da natureza através do trabalho e das atividades humanas.
Se traçarmos um roteiro histórico percebemos que o homem se fez apropriador da natureza,
explorando de forma severa os recursos naturais sem levar em consideração a capacidade de resiliência do
meio ambiente, segundo Foladori (2001), isso de deu a partir principalmente da Revolução Industrial,
quando se explorava os recursos naturais e primordialmente o trabalho humano assalariado. Ainda assim a
preocupação que se tinha neste período, referia-se aos interesses ao modo capitalista de produção, em
aumentar mais o capital econômico, não se preocupando em causar prejuízos ambientais ou sociais.
Desta forma Gonçalves (2006) critica o estilo do desenvolvimento que tem caráter necessariamente
desigual, a desigualdade proporcionada pelo desenvolvimento e não o desenvolvimento enquanto tal.
Os riscos que a humanidade e o planeta passaram a correr em função de um modelo de
desenvolvimento que não os considerava devidamente, onde se acreditava que não existia limites para a
intervenção humana na natureza, coloca em debate questões referente aos recursos não-renováveis, isso
porque a forma e utilização desses recursos geralmente são impróprias. Para Miller (2007), em muitos
processos de produção os recursos naturais são extraídos da natureza e depois não são utilizados nos
processos de produção, esses recursos se tornam, consequentemente, em resíduos poluentes no meio
ambiente. Viola defende, portanto a utilização dos recursos naturais de forma há regulamentar a extração
para que não haja desperdício, e para que os padrões de consumo e de vida promovam uma inovação
tecnológica, e essas tecnologias proporcionem produtos de uso com melhores condições referentes à
gestão de recursos naturais.
Desde então, o que mais se vê são tentativas de evitar o aprofundamento do debate sobre a utopia
do desenvolvimento mediante ao conceito de sustentabilidade. Resumindo o que Veiga aborda, é deixar
claro que o desenvolvimento não se confunda com crescimento econômico, e sim que constitui apenas a
uma condição necessária, porém, não suficiente.
Segundo Miller (2007) há uma diferença entre o desenvolvimento econômico e o crescimento
econômico e elas são expressos quando verificamos o aumento da capacidade de um país em fornecer
bens e serviços às pessoas onde para adquiri-lo requer um crescimento populacional e consequentemente
maior produção e consumo das pessoas. Já o desenvolvimento econômico seria a melhoria dos padrões de
vida dos seres humanos proporcionados pelo crescimento econômico. Onde os países do mundo estão
classificados em desenvolvidos ou em desenvolvimento.
Por desenvolvimento, Sen (2000) define-o como sendo as avaliações das liberdades reais
desfrutadas pelas pessoas inter-relacionadas a necessidade de desenvolver e sustentar inúmeras
instituições democráticas, estruturas de mercado e serviços de educação e saúde. É nesta perspectiva de
liberdade que me refiro ao papel da educação ambiental, como sendo um dos passos para alcançar este
desenvolvimento, no qual abordarei logo em seguida. O argumento de liberdade não deve ser apenas o
objetivo primordial do desenvolvimento, mas também seu principal meio. E que essas liberdades
(liberdades política, facilidade econômica, oportunidades sociais, garantias de transparências e segurança
protetora) tende a contribuir para capacidade geral de as pessoas viverem livremente, mas também tem
efeito de complementar umas as outras.
Ao falar do desenvolvimento, Gonçalves (2006) diz que todos parecem ter direito ao
desenvolvimento, que assim, de uma opção, torna-se uma imposição, mas esse direito estaria condicionado
à idéia de que a desigualdade parece só ser contemplada com o desenvolvimento, onde todos teriam
direito a igualdade sem que nós nos questionemos a respeito dos diferentes modos de sermos iguais. Assim
a superação da desigualdade se transforma, na verdade, numa busca para que todos sejam iguais aos
padrões culturais já pré-estabelecidos.
Sendo assim, percebe-se que o conceito sustentabilidade vem sofrendo inúmeras influencias
conforme a sua utilização e isto vêm causado um a certa desconfiança quanto a sua aplicabilidade, por
outro lado em detrimento a isto temos a educação ambiental que tem a finalidade de unir o teórico e
prático no cotidiano da sociedade, fazendo como eu experiências nesta perspectivas sejam exemplos de
desenvolvimento sustentável.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1130

A educação ambiental partindo da perspectiva sustentável surge como uma das possíveis
estratégias para o enfrentamento da crise civilizatória que se defronta nas ordens, sociais, econômicas,
culturais. Sua perspectiva crítica e emancipatória visam à deflagração de processos nos quais a busca
individual e coletiva por mudanças culturais e sociais estão dialeticamente indissociadas (SORRENTINO et.
al., 2005).
Leff (2001) fala sobre a impossibilidade de resolver os crescentes e complexos problemas
ambientais e reverter suas causas sem que ocorra uma mudança radical nos sistemas de conhecimento,
dos valores e dos comportamentos gerados pela dinâmica de racionalidade existente, fundada no aspecto
econômico do desenvolvimento.
Para Pádua e Tabanez (1998), a educação ambiental propicia o aumento de conhecimentos,
mudança de valores e aperfeiçoamento de habilidades, condições básicas para estimular maior integração
e harmonia dos indivíduos com o meio ambiente. Nesse contexto, segundo Reigota (1998), a educação
ambiental aponta para propostas pedagógicas centradas na conscientização, mudança de comportamento,
desenvolvimento de competências, capacidade de avaliação e participação dos educandos. Atualmente, o
avanço para uma sociedade sustentável é permeado de obstáculos, na medida em que existe uma restrita
consciência na sociedade a respeito das implicações do modelo de desenvolvimento em curso (MORAES,
2010).
Gadotti (2006) enfatiza a necessidade de uma nova mentalidade, de uma percepção holística, de
uma mudança radical nas atitudes, valores e ações, construindo um novo paradigma. A Educação
Ambiental neste sentido tem uma missão que vai além da educação e do conhecimento do meio ambiente
em que vivemos. Ela precisa buscar um novo ideário comportamental, construir um novo conceito de
mundo permeado pela coerência nas atitudes com uma postura ética e uma consciência política, que
permitem um bem estar coletivo (MORAES, 2010) tendo que ser alcançada a partir de uma educação
política (REIGOTA, 1994), resgatando a dignidade do ser humano, vinculando as questões ambientais com
as sociais.
A urgente transformação social de que trata a educação ambiental visa à superação das injustiças
ambientais, da desigualdade social, da apropriação capitalista e funcionalista da natureza e da própria
humanidade onde vivemos processos de exclusão nos quais há uma ampla degradação ambiental
socializada (SORRENTINO et. al., 2005).
A produção de conhecimento deve, portanto, necessariamente contemplar as inter-relações do
meio natural com o social, incluindo a análise dos determinantes do processo, o papel dos diversos atores
envolvidos e as formas de organização social que aumentam o poder das ações alternativas de um novo
desenvolvimento, numa perspectiva que priorize um novo perfil de desenvolvimento, com ênfase na
sustentabilidade socioambiental (JACOBI, 2004) até que se consiga a tão esperada sustentabilidade.
A preocupação com o desenvolvimento sustentável representa a possibilidade de garantir
mudanças sociopolíticas que não comprometam os sistemas ecológicos e sociais que sustentam as
comunidades. A educação ambiental vem para demonstrar ao ser humano a importância de uma
participação ativa no ambiente comunitário para solucionar problemas que afligem a vida e a tomar
decisões para a cooperação de uma sociedade ambiental sustentável (MORAES, 2010), tendo como meta,
promover o crescimento da consciência ambiental, expandindo a possibilidade de a população participar
em um nível mais alto no processo decisório, como uma forma de fortalecer sua co-responsabilidade na
fiscalização e no controle dos agentes de degradação ambiental (JACOBI, 2003).
Neste sentido, devemos levar em consideração o que define Jacobi (2003) quando destaca que a
educação ambiental assume cada vez mais uma função transformadora, na qual a co-responsabilização dos
indivíduos torna-se um objetivo essencial para promover um novo tipo de desenvolvimento – o
desenvolvimento sustentável. Fazendo-se entender que o educador tem a função de mediador na
construção de referenciais ambientais e deve saber usá-los como instrumentos para o desenvolvimento de
uma prática social centrada no conceito da natureza. (JACOBI, 2003) e não depositar nele a
responsabilidade de promover a sustentabilidade das ações humanas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na realidade, o desenvolvimento sustentável para muitos é uma promessa que as gerações atuais
fazem as gerações futuras e cabe avaliar o que será efetivamente possível cumprir. A sustentabilidade, no

João Pessoa, outubro de 2011


1131

entanto seria a capacidade dos diversos sistemas da Terra, incluindo as economias os sistemas culturais
humanos, de sobreviverem e se adaptarem as condições ambientais em mudanças. Decorrem desta
afirmação a noção de desenvolvimento sustentável que implica ao mesmo tempo em sustentabilidade
ecológica, viabilidade econômica e equidade social.
O caminho para a sustentabilidade é conservar os recursos e serviços naturais, que mantém a nossa
e outras espécies vivas e dão suporte a nossa economia e uma das maneiras de se conquistá-lo é a partir de
praticas de educação ambiental que nos fazem entender que os recursos naturais são fundamentais para a
nossa vida em sociedade. Reconhecer que muitas atividades humanas degradam o capital natural, ao usar
recursos normalmente renováveis mais rápido do que a natureza consegue renová-los é fundamental para
que se crie uma nova consciência a respeito do nosso planeta. Distinguirmos que o crescimento econômico
não será para sempre o meio de atingi-lo desenvolvimento, é também de fundamental importância para
que este desenvolvimento possa ser baseado na sustentabilidade e na responsabilidade ambiental, a fim de
resolver ou amenizar os impactos já causados no meio ambiente. O problema talvez não esteja somente
nos limites físicos, mas como afetaria a sociedade a nova maneira de alcançar uma melhor utilização dos
recursos disponíveis. Sem dúvida a consciência social referente ao que seja o desenvolvimento sustentável,
demonstra necessidade de superar os problemas devido ao crescimento e desenvolvimento, isto é, crescer
sem destruir.
Como forma de implementar de certa forma o desenvolvimento sustentável as nossas praticas
diárias, pode-se sugerir: incentivos fiscais, prêmios econômicos, sanções econômicas, fomentar a educação
formal e não formal nas escolas e comunidades, para desta forma possamos desencorajar formas nocivas e
não sustentáveis de crescimento econômico ligado ao meio ambiente.

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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1132

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA FORMAÇÃO DOS ALUNOS DA REDE


MUNICIPAL DE ENSINO DE CAMPINAS, SP
ADAMI, Maria José
Professora Coordenadora do Programa de Educação Ambiental. Secretaria Municipal de Educação de Campinas. Centro de
Formação, Tecnologia e Pesquisa Educacional – CEFORTEPE. Rua Dr. João Alves dos Santos, 866 – Jardim das Paineiras
13092.331- Campinas, São Paulo
cefortepe.ambiental@campinas.sp.gov.br
zezeadami@uol.com.br

RESUMO
Este trabalho trata da criação do Programa de Educação Ambiental pela Secretaria Municipal de
Educação de Campinas, São Paulo em 2011 e as formações em curso por ele propostas visando
proporcionar ao alunado das escolas municipais de educação infantil e de Ensino Fundamental a
(re)construção de uma identidade campineira cidadã, participativa e emancipadora.
Palavras-chaves: formação continuada, educação ambiental, projetos temáticos.

O município de Campinas, com mais de duzentos anos de fundação, localiza-se a cem quilômetros
da capital paulista e é a cidade sede da Região Metropolitana de Campinas (RMC) criada em 2000,
composta por dezenove municípios com quase três milhões de habitantes, dos quais um milhão e cem mil
residentes nela. Campinas é mundialmente conhecida pelo polo tecnológico constituído por renomadas
universidades – a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) é um excelente exemplo – e por
inúmeras instituições de pesquisa, desde o centenário Instituto Agronômico de Campinas (IAC)81 até o
jovem Laboratório Nacional de Luz Sincroton (LNLS)82, único na América Latina.
A partir destas informações preliminares, pode-se perceber que Campinas aproxima-se
rapidamente da capital paulista e de tantas outras metrópoles nas características marcadamente urbanas –
moradores com múltiplas origens e diversos interesses, diferenças sociais alarmantes, mobilidade
83
comprometida pelo trânsito intenso e pelas distâncias entre as regiões , periferia estendida com várias
áreas de ocupação e, ao mesmo tempo, com uma característica curiosa: a área rural é maior que a
urbanizada. De tão inserida e mesclada na região urbana, torna-se surpresa quando a área rural assim é
apresentada aos cidadãos campineiros, a ponto das pessoas nascidas no município duvidarem da
informação.
O crescimento acentuado a partir de 1970 da cidade coincide de certa forma com os encontros
internacionais sobre Educação Ambiental na época ocorridos84, embora os mesmos não tenham tido a
merecida repercussão no Brasil, notadamente voltada para o ensino a ser praticado em todos os níveis e
modalidades nas escolas do país.
O primeiro documento publicado pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC)85 a respeito do
estudo do meio ambiente apresentava a Educação Ambiental a ser desenvolvida nas escolas como uma
intensificação dos estudos relacionados à flora e à fauna brasileiras. As promulgações da Constituição da
República Federativa do Brasil e da Constituição do Estado de São Paulo, respectivamente em 1988 e 1989,
e a publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)86 em 1997 podem ser consideradas como
propulsoras para que novas abordagens fossem dadas aos estudos do meio ambiente, com destaque para

81
O IAC foi fundado em 1887 pelo Imperador D. Pedro II com o intuito de alavancar a pesquisa na agricultura
brasileira.
82
Embora projetado em 1983, o LNLS só entrou em operação em 1997 com o objetivo de realizar pesquisa
avançada nas áreas da física, da química, da engenharia de materiais e da nanotecnologia.
83
A cidade se divide em cinco regiões: norte, leste, noroeste, sudoeste e sul, além de possuir quatro distritos.
84
São eles: Conferência de Estocolmo (1972), Encontro Internacional sobre Educação Ambiental em
Belgrado (1975) e Conferência de Tbilisi (1977).
85
Documento denominado Ecologia – uma proposta para o ensino de 1º e 2º graus (1979).
86
Documento elaborado pelo MEC.

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1133

os PCNs que recomendavam a inclusão do mesmo como tema transversal, ou seja, deveria ser abordado de
forma articulada por todos os componentes curriculares, o que perdura até hoje. Estudar o meio ambiente,
portanto, faz parte do currículo da escola básica há menos de 20 anos.
Embora conhecedores da nova forma de trabalho sinalizada pelos PCNs, as equipes pedagógicas
das escolas básicas continuaram a tratar de maneira acentuada os ecossistemas e as consequências das
alterações neles provocadas pela ação humana (efeito estufa, aquecimento global, desflorestamento),
reforçados pelos livros didáticos e pelos documentários e outros programas veiculados na mídia. Ainda são
frequentes também ações pontuais como a coleta seletiva de lixo e o plantio de mudas em determinada
área da escola ou do seu entorno como estratégias de conscientização da importância do meio ambiente.
Não se pretende aqui descaracterizar todas estas atividades como importantes, porém entende-se que se
deve ampliá-las a partir de situações mais próximas e imediatas do alunado, problematizando-as inclusive.
É por aí que começa o que de fato este texto quer trazer aos leitores: como a Secretaria Municipal
de Educação de Campinas (SME) visualizou o panorama trazido atualmente pela literatura densamente
publicada sobre as questões ambientais e pelas práticas pedagógicas persistentes na sua Rede de Ensino a
fim de agrupá-las numa aprendizagem prazerosa e significativa? Criando um Programa de Educação
87
Ambiental em 2011 o que, com certeza, não é inédito tampouco garantidor de sucesso quanto aos seus
objetivos.
A inovação deveria se revelar na forma a ser tratada a Educação Ambiental nas escolas municipais.
Para tanto, partiu-se de três pressupostos: a) considerar Campinas como o município referência de estudos
do meio88; b) considerar que deve ser estimulada ou criada a identidade campineira no aluno na Educação
Infantil e reforçá-la ao longo do ensino fundamental; c) da mesma forma, deve ser estimulada ou criada tal
identidade no professor, muitas vezes com data marcada para findar89. Embora sejam somente três
objetivos a serem perseguidos, cada um deles revela uma amplitude simultaneamente tentadora e
assustadora. Tratar de cada um deles pode demonstrar tais amplitudes:
Estudos do meio na cidade de Campinas: as áreas verdes, os parques públicos e até a APA90 são
considerados por muitos munícipes, incluindo os professores, como ambientes de risco à segurança e
associados à violência e ao uso de drogas ilícitas. Daí a sequer conhecê-los é um passo. Para os alunos
(adolescentes, principalmente), estudo do meio tem que envolver uma visita ao shopping, seja para ir ao
cinema ou para comer lanche, correndo o risco da proposta não ter adesão se tais itens não estiverem
incluídos.
b) Criação da identidade campineira: antes de se dizer qual a identidade pretendida, deve-se
apresentar a identidade revelada pelos alunos da Rede Municipal de Ensino. As crianças da Educação
91
Infantil são facilmente estimuladas a explorar o ambiente e sempre se envolvem emocionalmente com o
que a professora faz ou propõe. Nas formações continuadas com este segmento, a maioria dos professores
apresenta uma flexibilidade para extrair dos acontecimentos cotidianos temas a serem explorados em
forma de projetos, como por exemplo, um animal que surge na escola, um ninho de passarinho descoberto
ou o galho de árvore que quebrou por causa da chuva. Para as crianças, as saídas para os Parques da cidade
significam mistérios a serem desvendados: tem bruxa dentro da mata? E leão? E dinossauro? Quanta
riqueza a ser explorada no momento da visita e por muitos outros na sala de aula.

87
Cabem os seguintes esclarecimentos: anteriormente, outras equipes atuaram como Programa, como
Projeto ou ainda como Grupo de Estudos sobre Educação Ambiental na SME, porém não há registros sistematizados
sobre as suas trajetórias. O atual Programa de Educação Ambiental caracterizou-se a partir de uma equipe de
formadoras e de estudos inseridos na formação continuada ministrada pela autora no componente curricular Ciências
a partir de 2009.
88
É comum as escolas organizarem visitas a espaços extraescolares e denominá-las de estudo do meio, como
também se dirigirem para zoológicos bem estruturados nas cidades circundantes.
89
Muitos professores são oriundos de outras regiões e para lá pretendem voltar ao encerrarem a carreira
docente.
90
Área de Proteção Ambiental que abrange dois distritos da cidade além de extensa área rural.
91
A Educação Infantil atende às crianças de zero a cinco anos.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1134

92
As crianças dos anos iniciais do Ensino Fundamental , notadamente as do ciclo I, pertencem a uma
etapa de extrema importância por ser de transição de uma modalidade escolar para outra, pois deixaram a
Educação Infantil e são ingressantes no Ensino Fundamental. Isso quer dizer que elas passam a conhecer
uma escola “de verdade”, ou seja, começam a conhecer uma nova organização escolar: as salas de aula são
diferentes, há alunos bem maiores circulando pelos corredores, há três professores (um professor titular da
sala, um de Educação Física e um de Artes), há um sinal sonoro que indica o momento de intervalo, além
das “novidades”: tem leitura, tem que escrever, tem que ficar sentado para escutar os professores, tem
que fazer lição. Os do ciclo II, embora acostumados a este ambiente escolar, estranham bastante a
dinâmica curricular quando passam para os anos finais do ensino fundamental93. Nos anos finais, cada
componente curricular representa um professor diferente, uma prática pedagógica diferente, uma
avaliação diferente, uma rigidez disciplinar diferente.
Em nome do planejamento entregue no início do ano letivo e dos conteúdos neles constantes a
serem trabalhados, os professores dos anos iniciais não priorizam trabalhar com temas disparadores tão
comuns na Educação Infantil. Esta rotina provoca nas crianças um distanciamento crescente das emoções
que as envolviam nas questões ambientais, passando a incorporá-las como um texto ou uma figura do livro
explicados pela professora titular. À medida que estes alunos avançam no ensino fundamental, a tendência
é que eles reforcem esta visão: as transformações do ambiente são conteúdos a serem estudados e
aprendidos para as avaliações vindouras.
Nas formações oferecidas aos professores do ensino fundamental é comum ouvirmos que, embora
conheçam os PCNs ou alguns autores que tratam do meio ambiente, consideram complicada a articulação
transversal dos temas ambientais por eles não serem coincidentes nos conteúdos programáticos já
elencados por componente curricular no início do ano letivo. Desta forma, atêm-se a ações ligadas a datas
comemorativas (como o Dia da Água ou a Semana do Meio Ambiente) ou ainda a propostas feitas pelas
equipes gestoras ou pelos pares.
Felizmente, no ano de 2010, a Secretaria de Educação deu início à reorganização curricular no
ensino fundamental da Rede Municipal de Campinas94, entendido como momento único para o Programa
de Educação Ambiental manifestar os objetivos pretendidos e colocá-los para a validação dos docentes.
Dessa forma, foi produzido neste documento uma orientação sobre a Educação Ambiental a ser praticada
para os anos finais; em breve será apresentada a orientação para os anos iniciais.
Cabe aqui expor a estrutura da Rede Municipal de Educação de Campinas: são mais de duzentas
escolas de Educação Infantil e quarenta e quatro unidades de ensino fundamental distribuídas por um
território de 45.000 hectares e para atender, como já registrado, a uma população de 1,1 milhão de
habitantes. Por estes dados aproximados, já se pode vislumbrar a dimensão e a diversidade do alunado. O
que há de comum entre eles? Serem moradores da mesma cidade. Serem campineiros ou terem vindo para
cá numa tenra idade.
Quanto à identidade campineira dos professores da Rede, considera-se ser esse o ponto medular
da proposta. A formação inicial que tiveram muito provavelmente não contemplou (e talvez ainda não
contemple) a Educação Ambiental no seu currículo. Os livros didáticos trazem as questões ambientais
amplas, globalizadas e com certo tom de irreversibilidade, a ponto de gerar uma sensação de impotência
ou de alienação nos alunos. O cotidiano escolar impele a cada um deles trabalhar o seu conteúdo no
tempo e da forma programados. As equipes gestoras e os pais entendem, muitas vezes, que uma aula se dá
efetivamente na sala de aula (daí o nome), desarticulando, não possibilitando ou não incentivando projetos
que possam comprometer a organização escolar dominada. Justo é dizer que há unidades escolares que já
superaram esse modelo e que se envolvem em muitas (se não em todas!) propostas de formação, ações ou
projetos que a Secretaria Municipal lança à Rede. É visível para a Coordenadoria Setorial de Formação95,

92
As escolas municipais de ensino fundamental são cicladas, sendo que os anos inicias correspondem ao ciclo
I ( seis a oito anos de idade) e ao Ciclo II (nove e dez anos de idade).
93
Compostos pelos Ciclo III (onze e doze anos de idade) e Ciclo IV (treze e quatorze anos).
94
Foram publicadas as Diretrizes Curriculares do Ensino Fundamental – anos finais, das quais a autora fez
parte da equipe elaboradora no componente curricular Ciências e no Tema Transversal Meio Ambiente.
95
Subordinada ao Departamento Pedagógico da Secretaria Municipal de Educação, é ela a responsável pelo
oferecimento de cursos que abrangem temas, metodologias e demais demandas dos componentes curriculares ou das

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quais são as escolas que avançam na sua proposta pedagógica, pois sempre estão presentes nas formações
propostas e aquelas que agem no sentido contrário. Um professor não estimulado no seu ambiente de
trabalho a rever a sua formação, a compartilhar os seus sucessos e dissabores pedagógicos e a instigar nos
formadores maneiras de se superar as dificuldades cotidianas, é improvável que ele se abra para a
(re)construção de uma nova identidade para além dos muros escolares.
Neste contexto, o Programa de Educação Ambiental se propõe a estudar as questões ambientais
locais gritantes, aparentes ou veladas que se fazem presentes no cotidiano escolar como (re)conhecimento
do lugar onde as crianças e os jovens estão inseridos como moradores e/ou como alunos. De acordo com
Carvalho, a “nossa identidade social existe em função do espaço no qual nascemos e vivemos”.
O que se orienta, então, é que sejam estudados os ecossistemas rurais e urbanos, até por ser uma
característica do município de Campinas apresentar áreas urbanas inseridas em áreas rurais e áreas rurais
nas urbanas, com destaque para a capacidade de adaptação destes ambientes às alterações produzidas
pelo homem ao ajustar os espaços às suas necessidades, considerando as possibilidades e limites dos
mesmos. Está aí a oportunidade de se tratar da identidade campineira, rompendo com a individualidade,
com a autodefesa e com a indiferença com o outro impostas pelo anonimato das cidades grandes.
De acordo com Dias (2004) diversas atividades podem ser desenvolvidas de forma a conduzir o
aluno a se (des)envolver neste ecossistema urbano. Destacam-se algumas: conhecer a fauna e a flora
urbanas; compreender como funcionam os serviços públicos – a captação, o tratamento, o abastecimento e
a distribuição da água; o fornecimento e a distribuição da energia elétrica; a coleta e o destino do lixo da
cidade; o que se consome, quanto se produz, o que sobra, de onde vem e para onde vai, assim como os
contrastes entre o hábito fast-food e o movimento slow-food; a qualidade ambiental quanto aos níveis de
ruído, à qualidade do ar, à qualidade estética da cidade; conhecer as áreas verdes e rurais do município e
da região; conhecer o planejamento da cidade quanto à mobilidade e transporte urbanos.
A fim de dar efetividade aos pressupostos do Programa, estão em curso quatro formações, assim
denominadas: a) Contando e Fazendo Arte (criação de histórias e de personagens com temáticas
ambientais surgidas nas unidades da Educação Infantil; b) As Hortas Pedagógicas no Cotidiano Escolar
(implantação de hortas nas unidades escolares para a exploração pedagógica que elas possibilitam); c)
Projetos Temáticos em Educação Ambiental na Educação Infantil (temas cotidianos trabalhados como
projetos). d) Conceitos e Práticas em Educação Ambiental. Esta última merece um registro mais detalhado
por ter sido elaborada para o ensino fundamental como público-alvo, ou seja, voltada para profissionais
que possuem práticas pontuais e fragmentadas.
Ao iniciar este curso pretendia-se encontrar educadores que trilhassem os primeiros passos da
Educação Ambiental na Rede Municipal de Campinas, embora isto não signifique que não se soubesse o
que se deveria ou se poderia tratar, mas era preciso (e continua a ser) perceber que este longo e vagaroso
percurso deveria se configurar aos atuais e aos futuros cursistas como atraente e desafiador. Atraente
como toda nova estrada é e desafiador ao se pensar qual sujeito/cidadão está a se formar nas unidades
escolares.
Considerou-se que trabalhar alguns conceitos elaborados por estudiosos seria uma possibilidade
dialógica entre o Programa de Educação Ambiental e os cursistas. Dessa maneira, foram escolhidos os
seguintes conceitos: sustentabilidade, desenvolvimento sustentável, urbanismo, pegada ecológica,
consumo, consumismo, biorregionalismo, sujeito ecológico.
A ideia que sempre embasou foi a de problematizar a prática já feita nas escolas, porém com a
constante cautela de não rotulá-la de equivocada ou ineficaz. Optou-se pela apresentação dos conceitos
de maneira a atrelá-los entre si e com o estilo de vida de homens e mulheres, de cidadãos e de cidadãs e de
educadores e educadoras principalmente. Buscaram-se em imagens e dinâmicas outras vozes e
possibilidades para provocar uma reflexão sobre muitas ações e hábitos tidos como naturais e que, na
verdade, não o são.

equipes pedagógicas que atuam nos cinco núcleos descentralizados da Secretaria correspondentes às cinco regiões
da cidade .

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Algumas dinâmicas possibilitaram a visualização de tais hábitos, com destaque para os testes da
pegada ecológica96 e o da idade interior97. Tais provocações tiveram um efeito positivo, pois as pessoas se
“autoestranharam”, ou melhor, se surpreenderam com os resultados encontrados.
Após tais constatações, escolheu-se mostrar o quanto este ritmo (ou estilo?) de vida foi planejado e
o que se faz de fato é corresponder ao modelo de “pessoas” proposto (ou imposto).
Aqui cabem duas citações de Leonardo Boff (2010, p.203), quando ele analisa o conceito de
desenvolvimento sustentável e reforça que se deve distinguir os termos crescimento e desenvolvimento,
comumente tidos como sinônimos. Para ele:
Crescimento obedece à estratégia das células cancerígenas que, desligadas do sistema global do
organismo, vão conquistando autonomia, crescendo de forma descontrolada até predominar e, assim, levar o
paciente à morte.

e
Desenvolvimento obedece à estratégia do embrião: ele também cresce mas dentro do todo,
colocando cada órgão em seu lugar, na devida quantidade de energia e hormônios e no seu devido tempo.
Por exemplo, depois da oitava semana de concepção, tudo para ou fica mais lento no embrião. É o momento
em que vai se formar o cérebro. Mas logo em seguida tudo segue num crescimento simultâneo e harmônico.
Esse desenvolvimento é naturalmente sustentável, porque acontece em equilíbrio com todos os fatores.

Como já discutido em aula, o desenvolvimento sustentável pretendido é diretamente ligado ao


consumo de bens ou, para muitos, ao consumismo98, como é ilustrado no vídeo História das Coisas99. Logo,
o que se deve colocar na pauta das reinvenções pessoais e coletivas é o consumo solidário e responsável,
apontado por Leonardo Boff (2010, p.198): como consumo solidário, deve-se entendê-lo como aquele que
“supera o individualismo e se autolimita por causa do amor e da compaixão com aqueles que não podem
consumir o necessário”.
Como consumo responsável, o autor apresenta que:
É responsável o consumidor que se dá conta das consequências do padrão de consumo que
pratica, se suficiente e decente ou sofisticado e suntuoso. Consome o que precisa ou desperdiça aquilo que
vai faltar na mesa dos outros. A responsabilidade se traduz por um estilo sóbrio, capaz de renunciar não por
ascetismo, mas por amor e em solidariedade com os que sofrem necessidades. Trata-se de uma opção pela
simplicidade voluntária e por um padrão conscientemente contido, que não se submeta aos reclamos do
desejo nem às solicitações da propaganda. Mesmo que não tenha consequências imediatas e visíveis, essa
atitude vale por ela mesma. Mostra uma convicção que não se mede pelos efeitos esperados, mas pelo amor
que essa atitude humana possui em si mesma.

Para o segundo semestre, serão tratados dois conceitos importantíssimos: a) o


biorregionalismo, acompanhado das seguintes perguntas: quando e o que se olha com frequência, enxerga-
se o que se vê? Quando se estuda/ensina os problemas ambientais, fala-se dos “megaproblemas” como o
aquecimento global, o desflorestamento da Amazônia, o degelo do Alasca ou se fala da água que se dispõe
de forma abundante e ao mesmo tempo “invisível” da torneira, pensa-se na flora e fauna nativas e
introduzidas, pensa-se na cidade/região metropolitana em que se vive? b) sujeito ecológico, acompanhado
de algumas questões: Isso é possível? Quais as contradições que emergem ao se querer ser um sujeito
ecológico? Como formar sujeitos ecológicos? Como tornar os alunos sujeitos ecológicos a partir das
características infantojuvenis que possuem? É modismo? É utópico?
As demais formações também terão continuidade, porém como já apontado anteriormente, são
cursos que fluem pelos temas agradáveis que abordam: histórias infantis, acontecimentos cotidianos e o
crescer harmonioso dos vegetais das hortas.

96
Disponível no site www.wwf.org.br/pegadaecologica
97
Disponível no site www.idadeinterior.com.br
98
No dicionário Houaiss, duas definições chamam a atenção para o termo: 1. consumo ilimitado de bens
duráveis; 2. doutrina de que um consumo crescente e ininterrupto é vantajoso para a economia.
99
Disponível no endereço http://www.youtube.com/watch?v=lgmTfPzLl4E.

João Pessoa, outubro de 2011


1137

O Programa recém-criado acredita que a Educação Ambiental praticada de forma a extrapolar as


paredes das salas de aula ou os muros da escola tem o poder de mobilizar a coletividade local a propor ou
buscar soluções para problemas socioambientais que os atinjam ou que possam vir a afetá-los. Todos
sabem o quanto as crianças e os jovens são capazes de sensibilizar os seus familiares quando dizem o que
aprenderam de maneira significativa. É por aí que se pode estender este trabalho aos pais ou responsáveis
pelos alunos. Pode-se, a partir dos anseios e demandas apresentados por eles, envolvê-los nas questões
ambientais que os cercam, desde levando às comunidades profissionais ou especialistas em questões
ambientais para dar palestras ou promover discussões, até a elaboração de estudos do meio ou qualquer
outra atividade considerada pertinente.
Este trabalho pode representar um marco na educação pública municipal, seja para os professores
que se verão recompondo os conteúdos trabalhados em sala de uma forma dinâmica e significativa, para as
comunidades que se enxergarão como construtores de novas realidades e principalmente para os alunos,
que se verão de fato como autores da sua história, como questionadores do que está posto, como
protagonistas de um processo que poderá levá-los a uma nova concepção do que é necessário para se
viver, do que seja qualidade de vida, do que seja morar num centro urbano e, finalmente, para ter uma
identidade campineira da qual se orgulhar.

Referências bibliográficas:
Boff, Leonardo. Cuidar da Terra, Proteger a Vida: como evitar o fim do mundo. Rio de janeiro:
Record, 2010.
Carvalho, Isabel Cristina de Moura. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. 4ª Ed.
São Paulo: Cortez, 2008.
Dias, Genebaldo. Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo: Gaia, 2004

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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CONSCIÊNCIA AMBIENTAL – REFORMULANDO A AÇÃO


NASCIMENTO, M. S.¹ & CARRARA, J. A.²
Faculdade Anhanguera Educacional. Graduada em Ciências Biológicas - marianasn@msn.com¹
Professor orientador²

RESUMO
Projeto realizado em uma Escola da cidade de Bauru e teve como público alvo os alunos do 3º e 4º
ano. A escolha do tema surgiu com o intuito de diferenciar o descarte do lixo escolar, promover um
pensamento crítico e conscientizar sobre a diminuição de desperdício. As crianças montaram uma
composteira utilizando-se de restos vegetais provenientes do refeitório local. Durante os meses de
acompanhamento eles preparam a terra e colocaram sombrite no local. O adubo proveniente da
compostagem foi colocado na horta e assim plantado as hortaliças. As crianças acompanharam o
crescimento destas e também pesquisaram os aspectos biológicos, viabilidade de plantio e o uso na
culinária. Todas as etapas realizadas foram expostas na escola, convidando outros alunos a participarem e
conhecerem o projeto. Ao fim uma salada preparada por eles foi servida durante o almoço.
Palavras-chave: Educação Ambiental, Compostagem, Horta.

INTRODUÇÃO
A prática vem com o auxílio da teoria e com ela constrói perspectivas de atuação e entendimento
do indivíduo como ser social e biológico. O atual problema se concentra no esquecimento da função
humana e no automatismo das ações, o qual é visível nos danos causados ao meio ambiente e pela falta de
respeito para com esse. Em vista disso o Projeto Consciência Ambiental visa interar a criança de sua
realidade e torná-la ativa quanto as possibilidades de atuação.

OBJETIVO
Trabalhar a interdisciplinaridade, entendimento do homem como agente ambiental e promoção do
pensamento crítico.

METODOLOGIA
O projeto foi realizado em uma Escola particular de Educação Infantil e Fundamental I e II da cidade
de Bauru, interior do Estado de São Paulo, nos meses de maio a dezembro de 2009 e teve como público
alvo os alunos do 3º e 4º ano, idades de 9 a 10 anos. O tempo de cada encontro foi combinado com os
professores da sala, a partir da necessidade das atividades proposta pelo projeto e dos horários de aula.
A escolha do tema surgiu com o intuito de diferenciar o descarte do lixo do ambiente escolar,
promover um pensamento crítico e diferenciado quanto às possibilidades de encaminhamento do lixo e
conscientizar sobre a diminuição de desperdício e consumo. Além do que, a ideia era trabalhar uma
realidade não tanto vivenciada pela maioria dos alunos e através dela inovar e provocar uma nova visão,
assim apontado por GADOTTI (2000) como o novo papel dos projetos na escola.
A escola que recebeu o projeto tinha como foco a prática, pesquisa e o desenvolvimento das
atividades por parte dos alunos, sendo que estes deveriam ser participantes ativos para uma melhor
compreensão dos temas.
Ao estudarmos a relação do ser humano com o Meio Ambiente vemos que MILLER & MENDONÇA
(2006) relacionaram os dizeres de Vigotski, quanto à perspectiva de formação do homem. Se educarmos
baseando-se somente na formação humana histórico-cultural esqueceremos sua origem como ser
biológico. Sendo este esquecimento reflexo atual do desequilíbrio natureza-sociedade, visível nos
problemas ambientais e de reconhecimento do indivíduo como organismo do planeta.
MILLER & MENDONÇA (2006) escreveram que a relação do homem com a natureza ocorre pelo
mutualismo, apropriação e entendimento do corpo e consciência dos atos provocados pelas ações
antrópicas.

João Pessoa, outubro de 2011


1139

Desta maneira, o educador ambiental surge para mediar uma interação mais amigável entre
homem social e biológico. E pela prática possibilitar um entendimento da necessidade de preservação e
conservação do ciclo de vida do planeta.
Freire e Freinet são defensores do ensino via realidade social do aluno, uma eficiente prática que
promove uma relação entre situações vivenciadas dentro e fora do ambiente escolar e proporcionar uma
rica interdisciplinaridade de experiências e ações, escrito por FLEURI (1998) e elucidado no trecho abaixo.

“Tanto Freinet quanto Freire defendem o diálogo e a cooperação entre sujeitos na busca de
problematizar, compreender e transformar a realidade. E se Paulo Freire focaliza prioritáriamente o trabalho
educativo ligado à ação e a organização sócio-política do mundo adulto, Freinet enfatiza a transformação do ambiente
escolar mediante o desenvolvimento dos métodos ativos, da organização cooperativa e dos canais de comunicação
com o meio natural e social.”

Desta maneira, a primeira semana do Projeto começou com uma breve explicação das futuras
ações e a divisão da turma, de 36 alunos, em três grupos. Cada grupo foi numerado e recebeu a seguinte
missão, em sua respectiva semana:

PRIMEIRO ENCONTRO
Encontro de 40 minutos, estipulado para a realização das propostas do dia. Os alunos deveriam
discutir entre si e responder as perguntas:
“Grupo 1 – Qual a diferença entre um lixão e um aterro sanitário?
Grupo 2 – Qual a composição do lixo de nossa escola e casa? O que é lixo orgânico?
Grupo 3 – Como diminuir a quantidade de lixo que produzimos e quais as vantagens desta ação?”
As respostas deveriam ser escritas e apresentadas oralmente para a classe. Uma apresentação com
imagens de lixão e aterro sanitário foi preparada e projetada para auxiliar no entendimento e
compreensão. Com o debate dos alunos, as correções partiram deles próprios e as perguntas foram muito
mais ricas e cheias de conteúdo.

SEGUNDO ENCONTRO
Mantendo a mesma composição dos grupos e o tempo de realização, um sorteio dividiu as
atividades, nomeadas de ‘Desafios’:
“Grupo 1 - Desafio 1: Montar um ‘caixa’ protetora para o composto. Ela deve possuir aberturas
laterais para que o ar circule em seu interior. Devem ser usados os bambus que se encontram no piso
Térreo, ao lado da Sala do Infantil.
Grupo 2 - Desafio 2: Pesar o composto seco, na balança digital e analógica e anotar os dados, Foto
1. (Material coletado em um condomínio da região que separava os restos foliares para descarte.)
Grupo 3 - Desafio 3: Montar um painel sobre o Projeto Consciência Ambiental que deverá ser
exposto no mural de atividades da sala, Foto 2. Ele deve conter:
os objetivos do projeto e da prática de Educação Ambiental.
Os benefícios para o ambiente escolar e para a sociedade.
E o passo-a-passo de como fazer uma compostagem.”

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1140

Foto 1: à esquerda, alunos pesando composto na balança analógica; Foto 2: à direita parte do
painel explicativo

SEGUNDA SEMANA DE ATIVIDADES


As atividades tiveram duração de 40 minutos e deram continuidade as já realizadas,
alternando-se os grupos, para que todos pudessem ter contato à todas as propostas expostas à baixo:
“Grupo 1 - Desafio 3: Terminar a montagem do painel sobre o Projeto Consciência
Ambiental.
Grupo 2 - Desafio 2 - Pesar o material orgânico e anotar os dados.
Grupo 3 - Desafio 1 – Os alunos devem apresentar o projeto às outras salas, reforçando a
importância da separação do lixo e os seus pontos positivos.”

TERCEIRA E QUARTA SEMANA


Nesta etapa ocorreram duas atividades por semana com 40 minutos cada e iniciou-se a
preparação da compostagem. Ao pegarem e abrirem o saco de material orgânico à maioria dos alunos
enojaram-se, acharam que estariam lidando com restos de almoços, mas não. O lixo era composto de
castas e partes não utilizáveis de vegetais. Essa é a recomendação, para se evitar mau cheiro, não usar
comidas temperadas, usar apenas frutas, legumes e vegetais em geral. Além do que o material era fresco,
não estava ensacado há mais de um dia.
Os alunos utilizaram luvas e instrumentos de jardim para acomodar a matéria orgânica
dentro da área feita de bambu. A montagem ocorreu pela intercalação de matéria orgânica com as folhas
secas (Foto 3 e 4). Ao término da montagem eles quiseram colocar mais matéria orgânica, então os
procedimentos se repetiram. Os alunos foram até a cozinha da escola e combinaram com a responsável de
recolher o lixo orgânico que seria descartado. Ao pegar o material eles o conduziram sobre um carrinho de
transporte de mercadorias até o local da compostagem, lá eles pesaram o material e colocaram em cima da
camada já realizada.

Foto 3 e 4: Alunos colocando o composto orgânico e o seco dentro da “caixa” de bambus.

A PARTIR DA QUINTA SEMANA


Os encontros foram realizados de acordo com as necessidades do projeto levando-se em
consideração os horários de aula. Em média cada grupo ficou responsável por um dia da semana, durante
15 minutos.
Nesta parte os alunos tiveram que trabalhar suas habilidades em relação à observação e
análise. Cada aluno recebeu uma folha com uma tabela e com os seguintes itens a serem analisados: dia e
hora de análise, temperatura ambiente, temperatura do composto, coloração, umidade, odor, ocorrência
de chuvas nas últimas 24 horas e observações gerais. Para medir a temperatura foi usado um termômetro
graduado de até 110º; primeiramente media-se a temperatura ambiente e posteriormente a temperatura
interna do composto em dois locais diferentes. Após estes procedimentos eles reviravam a matéria e
havendo necessidade eles a molhavam com um regador.

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1141

Em julho, período de férias, os procedimentos de observação foram feitos por mim, a fim
de apenas manter o local em ordem e sem possíveis problemas ao local. Ao retornarem, em agosto, eles
continuaram as observações.
Nesta etapa era visível a diferença de cor e textura do material em comparação ao seu
início. Então, os alunos organizaram o preparo da área e colocaram um sombrite preso a um bambu, em
cima do canteiro, Foto 5 e 6. Assim que a terra recebeu o adubo e permaneceu em repouso por duas
semanas eles puderam plantar sementes de alface, rúcula e espinafre, disponibilizadas pela escola.

Foto 5: à esquerda, alunos preparando a terra. Foto 6: à direita, canteiro com o sombrite preso aos
bambus.

Em uma conversa com as crianças, eles fizeram a proposta de plantar outros vegetais por
meio de sementes ou caules com raízes, a fim de testar a possibilidade de se desenvolverem. A ideia foi
posta em prática e os alunos dividiram-se em turmas de acordo com o interesse, porém deveria ter máximo
cinco integrantes, Foto 7.

Foto 7: alunos plantando sementes de pimenta.

Eles registraram todas as tarefas anotando o dia que plantaram, acompanhando o


crescimento. Paralelamente, eles pesquisaram a parte nutricional do vegetal, os benefícios para a saúde e
ilustraram o fruto/raiz nomeando as partes com termos da biologia, além de procurarem uma receita
culinária de fácil preparo. Os alunos divulgaram seus trabalhos e pesquisas no mural externo da sala.
Caminhando para a finalização e avaliação do projeto montamos um “álbum de figurinhas”
onde as imagens eram as fotos em tamanho reduzido e o texto era feito individualmente pelo aluno por
meio de explicações das ações ocorridas em cada ilustração. O álbum teve quatro páginas e cada folha
comportava três fotos, sendo que a primeira tratava dos objetivos do projeto e os pontos positivos de se

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1142

realizar uma compostagem e a última trazia informações técnicas como a média da temperatura medida e
calculada por eles, Foto 8.

Foto 8: representação de uma folha do “Álbum”.

E para concluir as atividades, no mês de dezembro contamos com o auxílio da nutricionista


da escola e fizemos uma grande salada com folhas, raízes, frutos e frutas escolhidos por eles. Entretanto,
como a maioria dos vegetais não chegou a atingir um tamanho ideal para consumo, pedimos alguns
alimentos para o refeitório local.
Conceitos de higiene e limpeza foram dados antes do manuseio com os alimentos e deste
modo as crianças usaram luvas e touca de cabelo e começaram pelo processo de limpeza das bancadas e
dos vegetais. Utilizamos facas de mesa, para evitar possíveis problemas de cortes, e tábuas cedidas pela
cozinha, Foto 9.

Foto 9: alunos cortando cenoura e tomate.

Durante o almoço todos puderam experimentar a salada e quem degustasse poderia opinar
em uma caixinha feita por eles. Um pequeno informativo também foi colocado em local visível, junto à
caixinha, Foto 10, 11 e 12.

João Pessoa, outubro de 2011


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Foto 10: à esquerda, cartaz feito pelos alunos. Foto 11: à direita, caixinha de opinião.

Foto12: cartaz de divulgação da salada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os alunos se mostraram envolvidos e participativos em todas as etapas do projeto. Fato
comprovado durante as práticas desenvolvidas e pelas ideias formuladas e realizadas no: cultivo e pesquisa
de outros vegetais, interesses em conhecer outros alimentos e no comportamento pró-ativo em toda a
realização do Projeto Consciência Ambiental. Tivemos um ambiente favorável para o sucesso das
atividades, devido ao planejamento e apoio da coordenação e dos professores, sendo que estes últimos
propiciaram, também, atividades que fossem relacionadas ao projeto, como estudo dos vegetais,
alimentação saudável e história agrícola do país, entre outros temas.
Nos trabalhos escritos e nas conversas tidas com eles foi notável o conhecimento
aprendido e posto em prática, não somente no local de ensino, mas em suas casas. Indo mais além, alguns
relataram a prática da compostagem em chácaras e em suas residências.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FLEURI, Reinaldo Matias. Educação Popular no Brasil: significados contemporâneos das propostas
de Freire e Freinet. Disponível em:
<http://www.mover.ufsc.br/pdfs/FLEURI_1998_Educa%E7%E3o_Popular_Brasil.pdf>. Acesso dia 03 de abril
de 2011.
GADOTTI, Moacir. Perspectivas atuais da educação. São Paulo Perspec. vol.14 no.2 São
Paulo Apr./June 2000. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-88392000000200002>. Acesso dia
03 de abril de 2011.
MILLER, Stela; MENDONÇA, Sueli. G. de L. Vigotski e a escola atual: fundamentos teóricos e
implicações pedagógicas. Araraquara, SP. Ed. Junqueira&Marin, 2006.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1144

HÁBITOS DE CONSUMO E PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE ADOLESCENTES.


Mariane Nardi SANTOS
Mestranda do curso de pós-graduação em Biodiversidade Tropical – Universidade Federal do Amapá
(marnardi@hotmail.com)

RESUMO
O quadro de crise socioambiental presente nesta sociedade, resultado dos padrões de produção e
consumo insustentáveis, vem possibilitando o surgimento de uma nova visão de mundo, uma vez que o ser
humano é capaz de se reconstruir através da educação. O objetivo deste trabalho é verificar como
adolescentes percebem os impactos socioambientais gerados pelos seus hábitos de consumo. Para a
compreensão do tema, recorreu-se a uma revisão da literatura e a pesquisa de campo foi qualitativa, a
coleta de dados ocorreu através de grupo focal e entrevista semi-estruturada, com 11 adolescentes
selecionados de forma voluntária. Esse estudo evidenciou a falta de percepção da relação entre consumo e
meio ambiente desses adolescentes, o que reflete a sociedade em que vivem, mas também que demonstra
que algumas atitudes e pensamentos, desses adolescentes, já são expressões da nova visão de mundo que
emerge. E traz a reflexão a respeito da importância da Educação Ambiental na formação de cidadãos
reflexivos, atuantes e conscientes da complexidade ambiental.
PALAVRAS - CHAVE: Educação Ambiental, consumismo, meio ambiente, Comércio justo.

INTRODUÇÃO
O mundo está vivendo um momento de crise, uma crise que afeta tanto os países desenvolvidos,
como os países em desenvolvimento, porém de distintas maneiras. Os países em desenvolvimento não
conseguem garantir as necessidades básicas a toda a sua população, verificam-se aí pessoas vivendo em
condições subumanas. Além disso, buscam se desenvolver dentro do modelo capitalista, mas se vêem
pressionados pelos países desenvolvidos a não degradar e destruir suas riquezas naturais, pois estas ainda
dão sustentação a todo planeta, dificultando assim seu crescimento, nesse contexto. Os países
desenvolvidos, por sua vez, não conseguem se livrar do fluxo de imigrantes provenientes de países menos
desenvolvidos e que procuram, além de sobreviver, ter direito ao mesmo padrão de vida da população
daqueles países.
Uma vez que 80% dos recursos da Terra são utilizados por aproximadamente 20% da população
mundial (CONSUMERS INTERNATIONAL et al., 2005), torna-se inviável estabelecer equidade a partir do
padrão de consumo desta parte privilegiada da população, porém não é mais possível negligenciar o direito
a uma vida digna para todos.
Porém o modelo econômico e social adotado pela sociedade contemporânea que valoriza mais o
ter do que o ser (MEDINA, 1999), consequentemente aumentando o consumo para poder manter seus
padrões de desenvolvimento, permitindo, assim, o acúmulo do capital nas mãos de poucos.
Esse desenvolvimento, no entanto, vem se tornando insustentável pelo esgotamento de recursos
naturais necessários como matéria-prima para produção industrial.
Ao mesmo tempo, a população mundial vem percebendo a insustentabilidade social gerada pelas
desigualdades e começa a se questionar sobre seus valores e atitudes, deparando-se com o desafio de
modificar-se para tornar sustentável a vida neste planeta, para esta e às futuras gerações.
O presente trabalho busca conhecer melhor a relação entre sociedade e meio ambiente levando
em conta a forma que adolescentes consomem, permitindo assim uma reflexão sobre as atitudes e valores,
oportunizando subsídios para mudanças individuais e sociais.

2. COMÉRCIO JUSTO E CONSUMO SUSTENTÁVEL


Em um sentido mais amplo, o consumo é caracterizado pela quantidade total de recursos extraídos
do meio ambiente, que são usados na produção de bens e serviços; grande parte desses, entretanto, é
imediatamente disposta como resíduo sólido ou esgoto, entrando no fluxo dos resíduos. Assim, produção é

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o processo de transformar os recursos em bens e serviços úteis, além de resíduos - visto por essa ótica, os
problemas ambientais passam a ser questões de produção e consumo (CHARTER e TISCHNER, 2001 apud
AZEVEDO, 2004).
Visto que o consumismo tem promovido escassez dos recursos naturais, assim como as
desigualdades sociais e a visualização de um quadro de crise mundial têm provocado mudanças de
comportamento em pessoas que já perceberam esse risco provocado pelo modo de vida da sociedade
atual. São pessoas que acreditam que sua postura, enquanto consumidor, pode pressionar empresas a se
preocuparem com os impactos ambientais gerados pelo processo de industrialização e comercialização de
seus produtos e serviços.
Nesse sentido existem hoje entidades que trabalham com a idéia de comércio justo (Fair Trade),
definido como sendo uma parceria comercial baseada em diálogo, transparência e respeito, que busca
maior eqüidade no comércio internacional, contribui para o desenvolvimento sustentável por meio de
melhores condições de troca e da garantia dos direitos para produtores e trabalhadores marginalizados -
principalmente do Sul (CONFERÊNCIA ANUAL DA INTERNATIONAL FEDERATION OF ALTERNATIVE TRADE,
2001 apud SEBRAE, 2004).
No Brasil o comércio justo é conhecido também como comércio ético e solidário. Essa idéia tem
sido construída coletivamente por várias instituições da sociedade buscando nessa prática a presença dos
seguintes valores: participação democrática; liberdade sindical; eliminação do trabalho forçado;
erradicação da exploração do trabalho infantil; responsabilidade e transparência nos processos
administrativos, coletivos e públicos; erradicação da pobreza; promoção do desenvolvimento humano;
valorização de identidades locais; acesso universal à educação, à cultura, ao lazer, ao cuidado com a saúde
e às oportunidades econômicas; educação para um modo de vida sustentável; tratamento aos seres vivos
com respeito e dignidade; cultura de tolerância, de não-violência e de paz; proteção dos sistemas
ecológicos da Terra (FACES DO BRASIL, 2005)
Para viabilizar a prática deste tipo de comércio, é necessário um trabalho efetivo com todo
processo de produção. Segundo a Faces do Brasil (2005) para fazer a ligação entre os valores e a prática há
princípios do comércio ético e solidário e critérios para os produtores ou executores de serviços e critérios
aos comerciantes (atacadistas ou varejistas) ou transformadores de produtos.
Além disso, se faz necessário um consumidor consciente de seu papel cidadão e de seu poder na
mudança social através de suas escolhas, buscando estabelecer conexões mais diretas em suas relações de
comércio.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL
A educação surge junto com a agricultura possibilitando a forma de vida urbana e o aparecimento
das regras sociais. A investigação da natureza tem início com a história da humanidade devido à
curiosidade inerente ao ser humano e à sua interação constante com o meio natural através do trabalho e
de garantias de sobrevivência, o ser humano vai, assim formando a consciência de si mesmo e descobrindo
as leis da natureza (FLORIANI; KNECHTEL, 2003).
Essa íntima interação do ser humano com a natureza possibilitou o desenvolvimento da vida em
sociedade e do conhecimento humano. Porém com o passar do tempo e com a estruturação do
conhecimento humano a relação homem – natureza foi se modificando: passando de uma visão
cosmocêntrica na antiguidade para uma perspectiva teocêntrica no período medieval e se pautando na
racionalidade humana na modernidade (FLORIANI; KNECHTEL, 2003). Foi em nome dessa racionalidade
humana, que acreditava que a natureza era objeto a ser explorado e dominado, que surgiu a crise sócio-
ambiental vigente (CAPRA, 1986). O final do século XX traz novas perspectivas, o mundo oscila entre
modernidade e pós-modernidade, gerando perplexidades e incertezas, desconstruindo conhecimentos,
bem como, reconstruindo-os em busca novos caminhos objetivando uma relação “eco-sócio-político
sustentável” (FLORIANI; KNECHTEL, 2003).
A Educação Ambiental surge no contexto de crise da modernidade, no qual as poluições e o
esgotamento de certos recursos naturais apresentavam evidências da insustentabilidade de vida
ocasionada pelo modo de produção e consumo, bem como pelo modo de vida da sociedade humana.
Assim, foi reconhecida internacionalmente em 1972 com a Declaração de Estocolmo e foi foco de discussão
em várias Conferências da ONU, porém somente na Conferência das Nações Unidas “Rio-92”, através do

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1146

capítulo 36 da Agenda XXI, que trata da promoção do ensino, da conscientização e do treinamento, e


segundo Floriani e Knechtel, (2003) ela foi redefinida à luz da complexidade dos problemas ambientais e
dos paradigmas emergentes.
Em uma sociedade complexa, que Jacobi (2005) denominou de sociedade de risco, que busca
soluções emergentes para os problemas gerados por ela mesma, a educação chega como uma necessidade
para reverter este quadro de crise, uma vez que para resolvê-lo necessita mais que tecnologia, exige
reflexão crítica, mudança de comportamento, autonomia, liberdade, respeito à diversidade e ao
multiculturalismo, além da valorização dos diversos tipos de conhecimento, entre outros.
“Isto implica a necessidade de se multiplicarem as práticas sociais baseadas no fortalecimento do
direito ao acesso à informação e à educação em uma perspectiva integradora” (JACOBI, 2003, 2005). Trata-
se de promover a consciência ambiental, expandindo a participação da população em um nível mais alto no
processo decisório, de maneira a fortalecer sua co-responsabilidade na fiscalização e no controle dos
agentes de degradação ambiental (JACOBI, 2003). E se a educação não dá conta de toda essa
transformação social esperada é porque tem que ser entendida como processo e “se a educação não pode
tudo, alguma coisa fundamental a educação pode.” (FREIRE, 1996).
Freire (1996) acredita que “Ensinar exige compreender que a educação é uma forma de
intervenção no mundo”. Partindo deste principio a educação é um ato político (JACOBI, 2003) e tem que
possibilitar uma reflexão sobre como cada pessoa, enquanto sujeito e cidadão está intervindo no mundo,
verificando continuamente qual tem sido seu papel na sociedade.
A sensibilização da sociedade e a incorporação do “saber ambiental” no sistema educacional, bem
como a formação de recursos humanos de alto nível foram considerados como fundamentais para orientar
e instrumentar as políticas ambientais. (LEFF, 2001). Porém esse autor ressalta os obstáculos da formação
de profissionais comprometidos com esta nova visão uma vez que as universidades e as instituições
educacionais estão submetidas às mesmas políticas econômicas que alimenta a crise sócio-ambiental.
Apesar disso, as transformações sociais estão ocorrendo através da educação, que, como Freire (1996)
acreditava, não é simplesmente a reprodução da ideologia dominante, por isso possibilita a quebra de
paradigmas e estabelecendo um novo pensar.
Mudança paradigmática que para Sorrentino et al (2005) implica tanto em uma revolução científica
quanto política e que Jacobi (2005) baseado em Morin (2001); Capra (2003) e Leff (2003), demonstra
implicar em uma mudança de percepção e de valores, e deve orientar de maneira decisiva para formar as
gerações atuais para aceitar a incerteza e o futuro e mais importante para gerar um pensamento complexo
e aberto às indeterminações, às mudanças, à diversidade, à possibilidade de construir e reconstruir num
processo contínuo de novas leituras e interpretações, configurando novas possibilidades de ação.
Se aprender é, antes de qualquer coisa, a possibilidade de reavaliar constantemente o conjunto de
informações e estas são passíveis de reformulações no contexto de sua produção e por isso são objetos
permanentes de modificações como escrevem Floriani e Knechtel, (2003) e se ensinar é também saber
escutar (FREIRE, 1996), o presente trabalho vem ao encontro dessas premissas uma vez que tem como
objetivo entender a percepção de jovens sobre consumo e meio ambiente para poder atuar com práticas
educativas possibilitando a reformulação das informações através de reflexões críticas constantes e que
resultem em ações em direção da sustentabilidade, ou seja, promovendo educação ambiental.

METODOLOGIA
A presente pesquisa caracteriza-se como pesquisa qualitativa de campo, pois responde ao
problema através de dados descritivos mediante análise de conteúdo da fala dos sujeitos e contato direto e
interativo do pesquisador com a situação objeto de estudo (NEVES, 1996).
Para tanto foi realizada análise de conteúdo com os dados obtidos através de grupo focal, uma
técnica qualitativa, não-diretiva, cujo resultado visa ao controle da discussão de um grupo de pessoas
(TANAKA, 2001) e entrevista semi-estruturada.
Foram selecionados 11 estudantes de curso profissionalizante da primeira, segunda e terceira série
do nível médio integrado de escola estadual de Curitiba, com idade entre 14 e 18 anos, em um universo de
aproximadamente 435 estudantes, através de convite voluntário e foi realizada em 2006.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO
Necessidades Básicas versus Supérfluos.
O ideal do homem consumidor emergiu a partir da superprodução de bens, em grande parte
supérfluos, principalmente dentro da ótica das necessidades básicas ainda não resolvidas. Foi preciso,
então, que se disseminasse a idéia de que o indivíduo se torna cidadão na medida em que pode comprar. O
consumo e o desejo de consumo dos bens disponíveis, o sonho de novas possibilidades de objetos
passaram a ter uma força ideológica própria, constituindo-se como objetivos de vida: consumir e mostrar o
quanto se pode consumir (JORGE, 1998). Assim como a sociedade atual, os adolescentes aqui pesquisados
vivem neste contexto e por isso dificilmente escapam das armadilhas do consumo.
Na entrevista semi-estruturada todos os adolescentes assinalaram alimentação, moradia,
assistência à saúde, e o acesso à educação e 3 assinalaram também o lazer como necessidade básica.
Apenas um assinalou 8 itens dos 12 que existiam, outros seis assinalaram 5 itens e nenhum deles assinalou
carro e celular como necessidade básica.
Oralmente, os adolescentes citaram como necessidade básica o dinheiro, alimentação, água, luz,
moradia, a higiene pessoal e um emprego. No entanto o primeiro comentário no grupo foi sobre a
necessidade de manter um bom relacionamento com as pessoas respeitando as diferenças. Isso demonstra
uma valorização do ser humano, que tem como prioridade as relações humanas, deixando de lado as
necessidades materiais, pelo menos em nível de pensamento. Isso fica claro na seguinte fala, quando
questionados sobre o que era necessidade básica para eles:
“Aprender a conviver com vários tipos de pessoas, nem sempre todo mundo gosta de você, tipo ter
uma convivência por mais que eu não goste de uma pessoa... mas aprender a conviver, respeitar. Nem todo
mundo é igual, gosta das mesmas coisas que a gente gosta.”
O dinheiro aparece como necessidade básica no discurso deles, mas nota-se certa dificuldade para
justificá-lo como tal:
“Para pagar a água”
“Dinheiro é importante para essas coisas comprar sapato, roupa porque, tipo, ninguém vai querer
andar mulambento na rua.”
“Para suprir nossas necessidades capitalistas”
Mas exemplificaram essas “necessidades capitalista”, na realidade como o consumo de maneira
supérflua:
“Você vê uma roupa acha bonita porque a pessoa está usando e tem que comprar uma igual,
porque está todo mundo na moda.”
Definição de supérfluo que surgiu no grupo foi a seguinte:
“Tudo aquilo que você pode viver sem. Celular há dez anos atrás ninguém tinha, então...”
O celular foi apontado por todos como supérfluo. O computador veio em seguida acompanhado da
televisão, porém não houve unanimidade. Enquanto alguns alegavam serem esses itens supérfluos, outros
reforçavam a importância da informação trazida por eles. Isso demonstra que os conceitos de necessidades
básicas e de supérfluos não estavam internalizados para todos.
O vestuário é outro item importante para os adolescentes, apesar de não ter sido apontado como
necessidade básica, porém foi usado em diversos exemplos. A maneira de se vestir demonstra, na maioria
das vezes, a identidade do grupo ao qual pertencem. Nesta questão aparece diferença de comportamento
entre os sexos. Os rapazes afirmam ter a quantidade de roupa necessária, já as moças confessam que não
resistem na hora das compras, sempre querem mais e algumas têm peças no guarda-roupa que nunca
usaram.
Mesmo tendo noção do que é necessário e o que é supérfluo, a maioria admitiu ter dificuldade de
deixar de ter ou fazer alguma coisa que não é uma necessidade básica, mas que faz parte do cotidiano
deles. Isto se explicita nesta fala:
“Eu não abriria mão de nada... Abriria mão do computador, celular, ... só. Depende muito do que eu
tenho, eu deixo de ter.”
Para Azevedo (2004) o crescimento do consumo têm também penetrado nas normas e valores
culturais, já que, para muitas pessoas, o senso de bem-estar está relacionado em grande parte com seus

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1148

ganhos e posses e da percepção de como os outros são influenciados por suas posses materiais. Isso
explicaria a dificuldade desses adolescentes deixarem de consumir o supérfluo.

Poder de Escolha e Critérios Utilizados


Os adolescentes são consumidores, uma vez que são eles que escolhem ou têm participação efetiva
na escolha do que se consome no ambiente familiar. Apenas um deles afirmou na entrevista que não tem
participação alguma nessas escolhas. O seguinte discurso representa o que acontece com a maioria desses
adolescentes:
“Na minha casa, quando é coisa para a casa todos tem que concordar e quando eu vou
comprar algo para mim a minha mãe tem que concordar ou o meu irmão tem que dar palpite. Todo
mundo se envolve.”
A decisão de um cidadão na hora de consumir é um processo complexo afetado por diferentes
fatores, que incluem desde motivos de interesse próprio (preço, qualidade, gosto individual) até motivos
socioculturais (contexto social, cultura, preocupações social e ambiental). Há influência nos padrões de
consumo e no comportamento dos consumidores o aumento na renda per capita, a evolução demográfica
e as mudanças decorrentes do estilo de vida, a tecnologia, as instituições e a infra-estrutura (AZEVEDO,
2004). Os critérios usados pelos adolescentes nas compras são principalmente de interesse pessoal. No
presente trabalho eles citaram preço, beleza, qualidade, marca como sendo os fatores decisivos no
consumo. Também apresentaram uma noção da relação custo versus benefício, evidenciada na seguinte
fala:
“Eu escolho pela qualidade também, às vezes eu compro alguma coisa mais cara, mas de
uma qualidade melhor. Tipo se eu comprar aquele mais barato não dura um mês para mim. Uma
vez eu fui nessa de comprar um tênis de uma marca mais barata e durou três meses. Agora eu
prefiro comprar um tênis um pouquinho mais caro, mas que eu sei que pra mim dura um, dois, três
anos. (...). Às vezes o barato sai caro e o caro sai barato (...). As calças que eu compro são baratas,
mas o material é bom. Eu sempre pesquiso para achar o mais barato, mas com boa qualidade. Tem
coisas que você pode comprar barato, mas tem outras que se você comprar barato acaba
perdendo”.

Eles afirmam, também, que a marca não é fator determinante apesar de influenciar. Algumas
meninas afirmaram ser o gosto delas o mais importante:
“Se a gente leva uma coisa que a gente não gosta a gente usa uma vez, duas e não usa mais. Eu
pelo menos sou assim. Se eu levo o que eu não gosto, esqueça.”
A questão ambiental não foi citada como critério nem na entrevista semi-estruturada, que
perguntava diretamente sobre a existência de alguma preocupação em consumir produtos menos
prejudiciais ao meio ambiente. Nessa, nenhum adolescente afirmou que sim, cinco adolescentes
assinalaram nunca ter pensado nisso e quatro marcaram que nem sempre, pois os preços dos produtos
ambientalmente corretos são mais altos. Demonstrando que essa preocupação para consumidores desta
faixa etária, fica em último plano.

O Desafio da Educação Ambiental


Os resultados deste trabalho demonstram a necessidade de estabelecer práticas educativas que
sejam mais efetivas e contínuas objetivando a formação de cidadãos mais conscientes do seu poder na
transformação da sociedade em direção à sustentabilidade.
A Educação Ambiental deve trabalhar a valorização do saber aprender, do aprender com o outro,
não só nos livros, mas na convivência (FLORIANI; KNECHTEL, 2003). Deve trabalhar de forma interdisciplinar
(FLORIANI; KNECHTEL, 2003; LEFF, 2001), possibilitando o conhecimento através de várias óticas,
possibilitando um entendimento da complexidade ambiental.
Isso permitiria que o processo educativo uma vez desencadeado fosse contínuo, pois dependeria
mais de fatores internos, uma vez que o indivíduo estaria mais atento para o coletivo, fazendo suas
observações, reflexões, atuações e avaliações, não demandando de grandes investimentos financeiros,
para a manutenção do processo. Os grandes investimentos, não só financeiro, como de tempo e estrutura,

João Pessoa, outubro de 2011


1149

devem se concentrar na formação de profissionais que vão trabalhar para desencadear esse processo, e
que pode acontecer em qualquer fase da vida.
Uma última reflexão pertinente diz respeito à necessidade da incorporação da visão de consumo
como uma ação que influencia diretamente o meio ambiente e por isso deve ser trabalhada em Educação
Ambiental, objetivando atingir práticas de prevenção ao invés de concentrar os esforços na remediação dos
problemas causados pela prática de um consumo insustentável.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A falta de percepção da relação entre consumo e meio ambiente, evidenciada na presente
pesquisa, fragiliza essa transformação social, uma vez que o indivíduo, nesse caso, o adolescente, abre mão
do poder, enquanto consumidor de pressionar as instituições a se transformarem em direção à
sustentabilidade socioambiental.
A Educação Ambiental desempenha um papel fundamental nesse processo, devendo estar
presente de maneira atuante e atrativa em todas as fases da vida, sensibilizando, refletindo, possibilitando,
assim, a transformação do indivíduo e da sociedade, trazendo esperança de uma vida mais digna e mais
justa.

REFERÊNCIAS
AZEVEDO, G. O. D. Por menos lixo: a minimização dos resíduos sólidos urbanos na cidade do
Salvador/Bahia. 2004. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal da Bahia, Escola Politécnica,
Salvador, 2004. Disponível em
<http://www.teclim.ufba.br/curso/monografias/novas/dissertacao_meau_gardenia.pdf>. Acesso em: 04
jun.2006.
CAPRA, F. O Ponto de Mutação. São Paulo : Cultrix, 1986.
______, F. A Teia da Vida – Uma Nova Compreensão dos Sistemas Vivos. 6ª ed. São Paulo : Cultrix,
2001.
CONSUMERS INTERNATIONAL/ MMA/ MEC/ IDEC CONSUMO SUSTENTÁVEL: Manual de Educação.
Brasília: Consumers International/ MMA/ MEC/ IDEC, 2005. 160p.
FACES DO BRASIL, Princípios e critérios do comércio ético e solidário. 2005 . Disponível em
<http://www.facesdobrasil.org.br/fb/publicacoes/Cartilha%20PC.pdf> Acesso em 30 mai. 2006
FLORIANI, D.; KNECHTEL, M. do R. Educação ambiental, epistemologia e metodologias. Curitiba:
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FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 11ª ed. São Paulo: Paz
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JACOBI, P. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cad. Pesqui. [online]. mar. 2003,
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______. Educação ambiental: o desafio da construção de um pensamento crítico, complexo e
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JORGE, M. T. S. Será o ensino escolar supérfluo no mundo das novas tecnologias? Educ. Soc.
[online]. Dez. 1998, vol.19, no.65, p.163-178.
LEFF, H. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. 3ª ed. Petrópolis,
RJ: Vozes, 2001.
MEDINA, N. M; SANTOS, E. da C. Educação ambiental: uma metodologia participativa de formação.
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NEVES, J. L. Pesquisa qualitativa – características usos e possibilidades. Cadernos de pesquisas em
administração, São Paulo, v.1, n°3, 2°sem./1996. Disponível em <http://www.ead.fea.usp.br/cad-
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SEBRAE. Comércio Justo, pesquisa mundial. Relatório. Brasília: 2004. Disponível em
<http://www.sebrae.com.br/br/download/comerciojusto_relatorio.pdf> Acesso 26 mai. 2006.
SORRENTINO, M., TRAJBER, R., MENDONCA, P. et al. Educação ambiental como política pública.
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TANAKA, Oswaldo Y.; MELO, Cristina. Avaliação de Programas de Saúde do Adolescente- um modo
de fazer. São Paulo : Edusp, 2001.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1150

OFICINA SOBRE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: UMA ABORDAGEM PARA


FORMAÇÃO DE PROFESSORES
Mariella BUTTI
Rod. JK, km 2 – UNIFAP – Bloco de Ciências Ambientais, sala 4. Macapá/AP. 68903 -758
mariella.butti@icmbio.gov.br - Analista Ambiental, Floresta Nacional do Amapá, ICMBio/AP
Ivan Machado de VASCONCELOS
Av. Coaracy Nunes, 840, Planalto. Oiapoque/AP. 68980-000
ivan.vasconcelos@icmbio.gov.br - Analista Ambiental, Parque Nacional do Cabo Orange, ICMBio/AP

RESUMO
A Oficina foi criada para compor o Curso de Pedagogia de Projetos em temas Ambientais, e foi
aplicada em dois municípios do Estado do Amapá. Buscando uma forma alternativa de apresentação do
tema Unidade de Conservação (UC), a oficina propõe duas atividades trabalhadas sobre uma área fictícia
representada em um mapa quadriculado e uma maquete feita com materiais de fácil acesso. Na primeira
atividade, os participantes definem uma área do mapa como unidade de conservação. Com essa atividade
os participantes definem estratégias de conservação relacionadas à categoria dada e percebem a
importância de se proteger determinadas áreas. Na segunda atividade os cursistas elaboram uma proposta
de zoneamento da UC e se aproximam da gestão da unidade de conservação desafiados pelo surgimento
de problemas que aparecem com o tempo. Com as atividades propomos uma reflexão sobre a paisagem
onde estão as áreas protegidas e a percepção de suas representações além de buscarmos o envolvimento
afetivo dos participantes com a função de gestor de UC. A metodologia foi criada para o público de
professores, mas também foi aplicada em turmas universitárias, sem o uso da maquete e esperamos que
no futuro para públicos mais diversos.
Palavras Chave: Unidade de Conservação, Educação Ambiental, Paisagem, Professores, Gestão.

Este trabalho surgiu como uma oficina para professores nas atividades do Curso de Pedagogia de
Projetos em Temas Ambientais (CPPTA). O CPPTA é um curso voltado a professores da rede pública que visa
a contribuir para o aperfeiçoamento dos professores na construção de projetos interdisciplinares, além de
sensibilizar para o tratamento dos problemas ambientais dos municípios, utilizando unidade de
conservação como um Centro de Referência em Educação Ambiental para a comunidade. Essa capacitação
foi realizada em três municípios do estado do Amapá: Serra do Navio, Oiapoque e Porto Grande, nos anos
de 2010 e 2011, mas a oficina foi aplicada apenas nas duas últimas, além de uma aplicação piloto com os
instrutores do Curso.
Ao se propor o tema “Unidades de Conservação” (UC), buscamos uma forma alternativa à rotineira
abordagem do assunto – explanação sobre os aspectos legais – ressaltando a importância das áreas
protegidas numa visão regional e aproximando os participantes do funcionamento da gestão de UC e do
trabalho de seus gestores. E assim propomos uma metodologia em que o aprendizado ocorra de maneira
participativa, incentivando a discussão e que os participantes compartilhem essa construção entre si.
(Honsberger e George, 2004)
No estado do Amapá, a discussão sobre Áreas Protegidas se mostra cada dia mais importante. Com
uma área de 10,4 milhões de hectares, 74% do território estadual, protegido como UC, Terras Indígenas e
áreas de população quilombola (IBAMA, SEMA/AP e MPEA, 2008), toda a população convive com elas e
permeia seu imaginário, normalmente de forma negativa e com ressentimento por suas criações.
Foi construída uma oficina com duração de 4 horas, tendo como público-alvo professores de
escolas públicas de todos os níveis de ensino e de todas as disciplinas.
Nessa oficina, utilizamos apresentação de slides, mapas coloridos impressos, maquete de uma
região imaginária e retroprojetor. Ela pode ser dividida em duas partes.
A primeira parte começa trazendo uma imagem familiar e reconhecida por todos os presentes, o
Cristo Redentor. Com imagens tiradas do Google Earth, em diferentes escalas de visão, é mostrado o que
há em volta: a Floresta da Tijuca, a cidade do Rio de Janeiro, o mar e, ao final, os limites do Parque Nacional

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da Tijuca - a unidade de conservação em que o Cristo está. A intenção dessa viagem é mudar a percepção,
tentando sair do espacialmente individualizado para o mais geral, mostrando um ponto e suas relações
com o entorno. Esse primeiro momento é uma sensibilização para a análise que iremos convidar os
participantes a fazer durante as atividades práticas da oficina, saindo da imagem comum e buscando novas
descobertas.
No segundo momento, buscamos nivelar o conhecimento sobre Áreas Protegidas e Unidades de
Conservação. Essa abordagem remete-se ao que chamamos de rotineira, ao trazer históricos, mapas do
estado do Amapá e suas Áreas Protegidas, pequena linha do tempo com momentos de criação de Unidades
de Conservação, conceitos legais e leis nacionais e internacionais. Abordamos o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação – SNUC (2000), principalmente as diferenças entre UC de Proteção Integral e Uso
Sustentável. Mas sempre buscamos um diálogo com os participantes, tentando trazer o próprio
entendimento deles, as dúvidas e as discussões necessárias.
A oficina é flexível quanto ao tipo de UC que se irá trabalhar, para isso fazemos uma pequena
explicação sobre o tipo de unidade que será trabalhada. Quando aplicamos, durante as duas capacitações
do CPPTA, escolhemos a Unidade que estava promovendo o evento. Em Oiapoque, o Parque Nacional do
Cabo Orange e o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque eram os promotores e em Porto Grande, a
Floresta Nacional (Flona) do Amapá realizava o curso.
Após esse nivelamento, começamos os trabalhos práticos. Desde o começo da oficina há uma
maquete (Fig.1) de uma área fictícia montada no local. Nesse momento convidamos os participantes a
olharem para ela e interpretá-la. Perguntamos qual o entendimento deles quanto aos materiais utilizados e
o que eles representam. Tentamos utilizar materiais de fácil identificação e acesso. Para a área
representada como desmatamento usamos pequenos pedaços de galhos secos, para agricultura bolinhas
de papel crepom verde (ficam bem parecidos com alfaces!), para a barragem hidroelétrica usamos uma
extensão de energia que serve tanto como barragem como linha de transmissão... Nesse momento, os
participantes têm o primeiro olhar sobre a região que irão trabalhar, e já começam a interpretar as várias
relações que existem. Os moderadores indicam algumas características, explicando que foram baseadas em
situações reais.

Fig.1 – Primeira parte da Oficina sobre Unidades de Conservação aplicada no Curso de Pedagogia
de Projetos em Temas Ambientais, no município de Porto Grande/AP. Pode-se visualizar a maquete da

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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região fictícia construído no chão e o mapa projetado na parede. Foto tirada em 15/05/2011. Acervo
CPPTA.
Formaram-se grupos de até 6 pessoas, que permanecem por todo o trabalho, e lhes entregamos
um mapa referente à região da maquete. Pretendemos que a maquete, mesmo sendo uma representação,
proporcione melhor visualização das feições geográficas existentes e seja considerada a realidade a qual o
mapa se refere, e assim, fica bem definido que o mapa é uma representação e por isso uma forma de olhar
para aquela região. Buscamos trabalhar a questão das ferramentas (mapa e maquete) como
interpretações, pois um dos objetivos da oficina é discutir as diferentes percepções, suas limitações e seus
usos.
O mapa é quadriculado com cores representando cada aspecto da ocupação da terra na região
(fig.2), por exemplo, floresta, agricultura, cidade, aldeia indígena e etc. Também é mostrada a hidrografia
da região, com representação dos rios e mar. E então, os grupos são convidados a definir dez por cento do
mapa como a unidade de conservação trabalhada. Nesse momento fazemos o convite da forma mais
genérica possível para não influenciar os participantes. O quadriculado se mostra útil, nesse momento, para
facilitar a delimitação da área.

Fig. 2 – Mapa representando a região fictícia trabalhada e legenda associada utilizados durante a
primeira parte da Oficina sobre Unidade de Conservação. Percebe-se a grade quadriculada e as diferentes
cores representando os usos do solo.

Entregamos o mapa e transparências aos grupos. Durante a atividade as últimas são colocadas
sobre o mapa e o desenho da unidade é feito nelas. Nesse método a apresentação das criações é facilitada:
em um retroprojetor sobrepomos às transparências desenhadas a outra com um mapa idêntico ao
entregue. Durante o trabalho dos grupos os moderadores ajudam os participantes e também vão
percebendo as discussões realizadas por eles. No final, cada grupo apresenta sua unidade e conversamos
sobre cada escolha, mostrando, do ponto de vista ecológico e social as implicações de cada criação.
Também realizamos uma discussão geral do processo de se escolher o local de uma unidade de
conservação e pedimos um retorno sobre as sensações dos participantes ao fazerem a atividade.
É nesse processo, que se encontra a construção das importâncias das áreas protegidas. Os próprios
participantes indicam os motivos que utilizaram para a escolha, eles verão as várias razões e características
para um local se tornar um Parque ou uma Flona. E ao trazermos esse olhar regional, indicamos que essa
importância não pode ser vista apenas na própria unidade, sem pensar em suas relações regionais e mais
amplas.

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Para finalizar essa primeira parte, trazemos o conceito de paisagem. Primeiro com uma tempestade
de idéias sobre a palavra seguida pela a leitura e comentário de uma passagem de Matiazzi e Poubel (2009)
ao relembrar Milton Santos (200 ):

“Numa primeira perspectiva, a paisagem, como uma parte delimitada e visível do espaço geográfico
num determinado momento de observação, acumulante/acumuladora de tempos diferentes que foram se
materializando em sua composição, sobrepondo elementos (naturais/culturais) e processos
(técnicas/relações dialéticas sociais/naturais) que nela mantém certa ordem e relação constituintes...”

A primeira parte está mais empenhada em construir a importância das Unidades de Conservação,
trazendo os conceitos iniciais e o tipo de análise que gostaríamos que os participantes fizessem quando
pensassem sobre o assunto. São convidados a pensarem em escala regional, nas várias relações que estão
presentes na definição de políticas públicas ambientais e mais especificamente, criação de UC.
Na segunda parte, os participantes terão oportunidade de entrar em contato com o trabalho dos
gestores de Unidades de Conservação. Com as definições e ações que tem que ser implementadas após a
criação dessas áreas protegidas. Se no primeiro momento, focalizamos o espaço, nesse momento daremos
relevância ao tempo na determinação das relações regionais. O começo dessa nova perspectiva começa na
definição de paisagem de Milton Santos, onde esse fator já é indicado.
A segunda parte começa com definições rápidas de Plano de Manejo e Zoneamento. Indicando-os
como documentos e ferramentas norteadoras da gestão de UC. Um trabalho de diagnóstico, análise,
planejamento e previsão sobre o contexto e futuro da área protegida gerida.
Para exemplificar melhor o que é Zoneamento para os participantes, é apresentado um exercício de
zoneamento de uma casa. Através da apresentação de slide é mostrada a planta de uma casa e uma a uma
zonas demarcadas, como cozinha, quartos, salas etc. Para algumas zonas, pede-se aos participantes para
indicarem coisas proibidas e permitidas. Essa atividade é análoga ao zoneamento de uma UC e ajudará os
participantes a executarem a segunda atividade prática. Ao final mostramos dois zoneamentos reais de
unidades, inclusive o do Parque Nacional da Tijuca.
Apresentamos, em seguida, as zonas possíveis na categoria de unidade de conservação trabalhada
na Oficina. Para cada categoria, haverá zonas diferentes segundo o objetivo da unidade e o grupo a que ela
pertence. Essas zonas são simplificadas a partir de roteiros metodológicos do ICMBio (2009) e IBAMA
(2002). Para melhor entendimento foram agrupadas em três tipos: Zonas de baixa, média ou alta
intervenção.
Cada zona é apresentada para os participantes mostrando seu objetivo, principais características,
permissões e proibições. Não pretendemos que os participantes decorem-nas, é apenas uma apresentação
preliminar para irem se familiarizando com os nomes e atividades que podem ser executadas naquela
categoria de unidade. Para a atividade prática são entregues esses slides impressos.
Após esse momento, eles são convidados a voltarem sua atenção de novo para a maquete. E são
perguntados sobre que tipo de modificação aquela paisagem sofreria se tivesse passado 10 anos. Conforme
suas respostas, os moderadores vão modificando a paisagem. Essa mudança é pré-definida e apenas tenta
acompanhar as indicações dos participantes. Como exemplo dessas, citamos aumento do desmatamento,
aumento da área da cidade e agricultura, criação de uma hidrelétrica e porto, desaparecimento de
comunidades tradicionais etc. Nesse momento, se entra em contato mais explicitamente com o fator
tempo no cenário. Os participantes vão assistindo as modificações na paisagem e claro que já vão
relacionando-as às unidades que haviam criado.
Assim, explicamos que as unidades por eles criadas, ficaram sem gestores por muitos anos, situação
comum, por exemplo, no estado do Amapá. E que agora eles são convidados a gerir a área, fazendo o
zoneamento das unidades.
De novo, em grupo, lhes é dado um mapa quadriculado com o novo cenário (Fig. 3), a transparência
com o contorno da unidade por eles criada e canetas coloridas. Também pedimos uma justificativa para
cada zona criada. Como já dito, também recebem os slides impressos sobre as zonas possíveis. Não se
espera que eles utilizem todas as zonas em cada unidade. Isso irá depender da UC criada e do
planejamento da gestão.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1154

No final os participantes irão apresentar seus trabalhos e com a ajuda da moderação irão discutir os
resultados. Por último, é feita uma pequena avaliação, conversando com os participantes, pedindo relatos
e opiniões sobre as sensações e aprendizados vividos e sobre a própria metodologia.

F
ig. 3 – Mapa representando a região fictícia trabalhada e legenda associada utilizados durante a segunda
parte da Oficina sobre Unidade de Conservação. Usos do solos alterados, mostrando um momento futuro
da região.

Acreditamos que a Educação Ambiental mais do que trabalhar a instrução, o conhecimento, deve
trabalhar as atitudes. Sendo assim é a afetividade o principal ingrediente para uma efetiva conservação dos
espaços naturais (Mendonça, 2000). E nesse sentido tentamos trazer os participantes para o trabalho de
criar e gerir uma UC, tentando criar uma empatia por essa missão e para aqueles que nela trabalham.
Numa tentativa de fazer com os professores, aquilo que aconteceu com Andy no artigo de Fernandez,
2008, viver o trabalho para começar a entender e gostar dele e das pessoas que o fazem.
Mas não nos restringimos apenas àqueles momentos mais visíveis do trabalho de um gestor de UC,
geralmente em contato direto com o público, por exemplo, a fiscalização e a própria Educação Ambiental.
Trouxemos as Áreas Protegidas como um componente da Paisagem, já que essas são testemunhas das
dinâmicas advindas das relações sociais de apropriação, ocupação, utilização e transformação do espaço
geográfico (Matiazzi e Poubel, 2009). E assim, trabalhando numa escala regional, com a gestão ambiental
de uma área, pensando a importância da UC dentro de um contexto mais amplo e para fora de seus limites.
Fazendo-os perceber as limitações e possibilidades da função de gestor de UC. Além de perceber a
historicidade da implementação de uma área protegida, que o momento de criação e de gestão são
diferentes e que a região muda ao longo do tempo trazendo novos desafios para a administração. Nesse
sentido, acreditamos que nossa proposta está na esfera da Educação Ambiental na Gestão do Meio
Ambiental, tal como colocado por Quintas, 2004:
“[...] em uma outra concepção de educação que toma o espaço da gestão ambiental como
elemento estruturante na organização do processo de ensino-aprendizagem, construído com os
sujeitos nele envolvidos, para que haja de fato controle social sobre decisões, que via de regra,
afetam o destino de muitos, senão de todos, destas e de futuras gerações.” (grifo do original)

No momento em que criam as suas propostas de unidade de conservação os professores-cursistas


escolhem estratégias de conservação. Em todas as aplicações percebemos que as opções foram feitas com
justificativas de proteger recursos hídricos, patrimônio cultural e/ou populações tradicionais, como
exemplo, várias propostas incluíam a preservação de cabeceiras de rios, um dos objetivos de criação do
Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque.
A escolha da categoria a ser trabalhada não foi ao acaso, os municípios são próximos a essas
unidades e por isso algumas peculiaridades surgiram: na aplicação em Oipoque houve uma proposta de

João Pessoa, outubro de 2011


1155

unidade que preservasse os berçários de peixes, região próxima à costa e fozes de rios – o principal
objetivo de criação do PARNA do Cabo Orange. E devido à categoria, as Flonas criadas sempre tinham áreas
de floresta, nenhuma delas incluindo a costa.
Outras estratégias condizentes com a realidade também foram apresentadas, algumas propostas
pretendiam frear avanços de desmatamento ou de fronteira agrícola - situação comum no estado do Pará,
onde várias unidades foram criadas para reduzir o avanço da extração ilegal de madeira. Neste estado,
várias dessas unidades permitem o uso sustentável dos recursos naturais, propondo um ordenamento da
exploração de recursos naturais.
Com essa apresentação do SNUC desejamos demonstrar que as categorias são diversas e que têm
funções diferentes, indo contra a tradicional visão de que unidades de conservação são áreas isoladas onde
não se pode exercer nenhuma atividade. Com essa atividade os professores se aproximam das unidades
que realizam a capacitação e percebem a importância dessas áreas.
Dessa forma, também tocamos nos motivos da conservação, do “Por que conservar?” e as UC como
estratégias para esse fim. O surgimento moderno de Parques trouxe o que Diegues chama de “proteção do
mundo selvagem”, e muitas das unidades, mesmo no Brasil, foram criadas com esse viés. Mas estamos
propondo uma visão trazida com a criação do SNUC, as UC como ferramenta de gestão ambiental de
paisagens e espaços. Ao longo do tempo, a percepção e uso das UC foram alterados, isso pode ser
exemplificado pelo apelo turístico que os Parques hoje possuem, trazendo outra perspectiva inclusive para
a Educação Ambiental. O surgimento de novos objetivos para a criação de uma UC foi construindo um novo
leque de categorias que culminou com a inclusão do Uso Sustentável no SNUC. A categoria Flona é um
exemplo disso, pois apesar de sua motivação maior ser o manejo sustentável de floresta, traz muito mais
possibilidades para a gestão, com inclusão de extrativistas, áreas para turismo, áreas intangíveis e
experimentações científicas. Outro exemplo são as reservas extrativistas que agora são utilizadas para
promover o uso sustentável de recursos naturais, terrestres e marinhos em todo o país (Rylands e Katrina,
2005), tendo sua criação vinculada a uma manifestação pelas populações tradicionais.
As Unidades de Conservação só podem ser consideradas ilhas num mar de destruição, se forem
pensados e geridos para dentro, para si mesmo, hipótese inviável, pois teriam que considerá-los como
sistemas fechados, não tendo troca nem relação com seu entorno. Quando pensado em escala regional, a
UC corresponde a uma forma de uso e ocupação do solo, só fazendo sentido e tendo importância quando
analisado em todas suas relações regionais ou mais amplas.
Na metodologia, sentimos falta de consolidarmos mais visualmente as colaborações dadas, o que
acreditamos que pode ser contornado com uma listagem dos objetivos de criação de cada unidade
proposta.
O zoneamento da UC é o momento onde os participantes lidam com a gestão da unidade.
Convidados a resolver problemas como lidar com uma barragem hidroelétrica, obra de interesse público
que pode abalar processos ecológicos, mas também pode se tornar área de lazer e visitação. Tais desafios
não existiam no momento em que definiram os limites de suas unidades. Tratamos aqui do tempo como
agente de alteração da paisagem. A gestão deve lidar com essas mudanças considerando os vários fatores
históricos e espaciais que determinaram a região onde se atua, buscando nesses as soluções para os
problemas e os direcionamentos para o futuro. Os participantes se colocam em nossos lugares de gestores
de unidades de conservação e assim nos ligamos pessoalmente. São esses laços que dissolvem a visão de
que somos fiscais sem coração e que impedimos o desenvolvimento ou funcionários públicos
desestimulados e distantes, vendo então a importância da nossa atividade.
Pela avaliação dos participantes, a maquete não foi tão primordial para a atividade e tivemos
relatos de outros parceiros que aplicaram a metodologia com alunos universitários sem o uso da maquete,
com pouca perda para a vivência. Nesse público familiarizado com mapas e abstrações, ela é dispensável,
mas acreditamos que é de grande ajuda para outros públicos. Essa oficina foi pensada para o público de
professores, mas achamos ser possível e temos o desejo de aplicá-la com outros grupos, como estudantes,
crianças, conselheiros, comunitários e populações tradicionais, feitas as devidas alterações.
Outra consideração feita pelos participantes foi o tempo disponível para a atividade, considerado
pequeno. Alterações na metodologia podem ser feitas para encurtar a discussão e nivelamento inicial, ou a
divisão da atividade em dois momentos diferentes podem contornar essa dificuldade.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Os professores também avaliaram que seria viável eles próprios aplicarem as atividades com seus
alunos, feitas as devidas alterações, a isso ajudando os materiais serem de fácil acesso, principalmente no
meio escolar. Acreditamos que nas séries finais, essa atividade necessitaria de menores alterações, mas
temos uma grande expectativa de aplicá-la com crianças do ensino fundamental.
Após as aplicações, consideramos a atividade satisfatória em atingir seus objetivos. Acreditamos
que ela necessita de vários melhoramentos ao longo do tempo. Como metodologia pode ser aproveitada
pelos educadores ambientais para os mais diversos públicos inclusive propondo alterações para que atinja
outros objetivos. Pensamos que sua principal característica é trabalhar a gestão ambiental e territorial em
escala regional com a possibilidade de aproximar os participantes à missão de gerir uma unidade de
conservação .

BIBLIOGRAFIA
DIEGUES, A.C. A educação ambiental e a questão das áreas protegidas. São Paulo: Núcleo de apoio à
pesquisa sobre populações humanas e áreas úmidas brasileiras – NUPAUB, 1998. Disponível em:
<www.usp.br/nupaub/educamb.pdf> acesso em 30 jul. 2011.
FERNANDEZ, F. Andy. Set, 2008. Disponível em <http://www.oeco.com.br/fernando-fernandez>.
Acesso em 30 jul 2011.
HONSBERGER, J.; GEORGE, L. Facilitando oficinas:da teoria à prática. Grupo de estudos do terceiro
setor. United Way of Canada-Centraide Canada. São Paulo, dez. 2004
IBAMA – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Roteiro de
planejamento: Parques Nacionais, Reservas Biológicas e Estações Ecológicas. Brasília, 2002.
_______, Secretária de Meio Ambiente do Estado do Amapá e Ministério Público do Estado do
Amapá. Atlas das Unidades de Conservação do Estado do Amapá. Macapá, 2008
ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Roteiro Metodológico de Plano
de Manejo de Florestas Nacionais. Brasília, 2009.
MATIAZZI, L.; POUBEL, I. S. Educação Ambiental a partir da paisagem: contribuições da geografia. 10°
encontro nacional de pratica de ensino em geografia. Porto alegre, ago/set. 2009
MENDONÇA. R. A experiência na natureza segundo Joseph Cornell. In: A educação pelas pedras:
ecoturismo e educação ambiental. São Paulo. Editora Chronos, 2000
QUINTAS , J. S. – Educação no processo de gestão ambiental: uma proposta de educação ambiental
transformadora e emancipatória. In: Identidades da Educação Ambiental. Ministério do Meio Ambiente.
Brasília, 2004.
RYLANDS, A.B; KATRINA, B. Unidades de conservação brasileiras. Megadiversidade. Vol 1, n° 1, jul.
2005.
SANTOS, M. Da sociedade à paisagem: o significado do espaço do homem. In: Pensando o espaço do
homem. 5. ed São Paulo. EDUSP, 2004.

João Pessoa, outubro de 2011


1157

POR ENTRE CONCEPÇÕES E PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO E


SUSTENTABILIDADE: EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS COMUNIDADES AO
LONGO DA BR-230 (TRANSAMAZÔNICA).
100
Marilena LOUREIRO DA SILVA . marilenals@ufpa.br. Profissional.
101
Ana Lídia Cardoso do NASCIMENTO . ana.cardoso@ufra.edu.br. Profissional.

RESUMO
O presente artigo se relaciona com a problematização de uma experiência de educação ambiental
realizada no âmbito do Programa de Educação Ambiental da BR-230 (Transamazônica) coordenado pelo
Grupo de Estudos em Educação, Cultura e Meio Ambiente (GEAM do Instituto de Ciências da Educação
(ICED) da Universidade Federal do Pará (UFPA). Parte-se da problematização acerca de como as indicações
teóricas e metodológicas da educação Ambiental em contextos comunitários podem ser apreendidas por
sujeitos da realidade amazônica em sua singularidade, e como essas práticas se relacionam com a
percepção dos problemas socioambientais da região e a articulação de possíveis soluções com base na
busca do desenvolvimento local. A opção metodológica envolveu a realização de estudos bibliográficos e a
experimentação de pesquisa-ação, cujos resultados indicaram a percepção de problemas como vinculados
a uma política de desenvolvimento que historicamente vem negando às populações locais o direito à
formulação de intervenções na condução de seus destinos. A educação Ambiental Comunitária é vista,
então, como potencializadora das condições de organização e articulação de ações coletivas para a busca
da sustentabilidade do desenvolvimento local.
Palavras-Chaves: Educação Ambiental, Comunidades, Desenvolvimento Local.

Introdução:
A região amazônica ao longo dos últimos anos vem constituindo novas formas de
interação social entre os diferentes atores que compõem o grande mosaico amazônico. Ao longo desses
anos vem se estabelecendo a compreensão de que é necessário pensar nas perspectivas futuras para a
região e sua ampla diversidade de recursos naturais em associação às singularidades e potencialidades do
conhecimento das populações amazônicas.
Muitos estudos vêm sendo desenvolvidos em torno dos problemas regionais e suas
perspectivas de solução. A ênfase em torno da participação das populações locais nos processos decisórios
da vida regional vem se constituindo um lugar comum em todos esses estudos, o que significa dizer que
não é mais possível pensar a definição do futuro da região amazônica sem considerar as populações
amazônicas e seus modus vivendis.
Nessa perspectiva, o presente artigo se organiza de modo a demonstrar como as
propostas formativas na área de educação ambiental conseguiram se inserir nas práticas cotidianas das
comunidades participantes desses processos formativos. Para tanto, se apresentam os resultados do
trabalho desenvolvido junto a uma comunidade de agricultores rurais habitante do entorno da rodovia
transamazônica, no âmbito do Programa de Educação Ambiental integrante dos Programas Ambientais
para o asfaltamento da rodovia BR 230 (trecho Altamira-Medicilândia) desenvolvido com o objetivo de
estabelecer canais de aproximação entre os interesses das populações locais e o empreendimento
econômico em processo de implantação, minimizando os impactos socioambientais e potencializando os
saberes e experiências das populações locais, compondo assim um dialogo critico e propositivo entre as

100
Drª. em Desenvolvimento Socioambiental/PDTU/NAEA/UFPA. Profª. do Programa de Pós-
graduação em Educação/PPGED/UFPA e do Programa de Pós-graduação em Gestão dos Recursos
Naturais e Desenvolvimento Local na Amazônia/PPGEDAM. Coordenadora do Grupo de Estudos em
Educação, Cultura e Meio Ambiente/GEAM/ICED/UFPA
101
MSc. Em Planejamento do Desenvolvimento/PLADES/NAEA/UFPA. Profª do Instituto
Socioambiental e de recursos Hídricos/ISSAH, da Universidade federal Rural da Amazônia/UFRA.
Pesquisadora Colaboradora do Grupo de Estudos em Educação, Cultura e Meio
Ambiente/GEAM/ICED/UFPA.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1158

perspectivas de desenvolvimento econômico e social advindas com o processo de asfaltamento de uma


rodovia com a importância da rodovia transamazônica e a qualidade de vida das populações habitantes de
seu entorno, na expectativa de contribuir para a construção de ações de conservação ambiental sob os
pressupostos da sustentabilidade em sua multidimensionalidade.
A opção teórico-metodológica para a realização do trabalho fundamentou-se na
pesquisa-ação, envolvendo os procedimentos consoantes com os fundamentos da Educação Ambiental em
perspectiva crítica, envolvendo a análise da realidade onde as ações de formação foram propostas,
buscando suas especificidades no tocante as ações educativas e suas necessidades em termos de formação
para a ampliação e requalificação dessas ações.
Os resultados da pesquisa realizada, que no presente artigo se restringirá ao trabalho com
as comunidades do município de Medicilândia indicaram o grande potencial de trabalho educativo da
região, conseguindo instaurar uma relação de proximidade entre os objetivos do Programa e da
comunidade atendida num processo de valorização da riqueza do contato com os sujeitos da vida regional,
aqueles que por vezes se encontram em completa situação de exclusão de bens e serviços sociais, mas que
permanecem acreditando nas possibilidades de melhoria de suas vidas através de processos educativos
capazes de ampliarem sua intervenção crítica na realidade social da qual fazem parte.

Pontos de partida para a Educação Ambiental na comunidade estudada:


As atividades de Educação Ambiental projetadas para serem trabalhadas com as comunidades se
fundamentaram no objetivo de atender a especificidade dos sujeitos comunitários independente de seu
nível de escolaridade. E no caso do público trabalhado no curso objeto de análise, os produtores rurais,
este se compunha de participantes alfabetizados, semi-alfabetizados e não-alfabetizados.
A opção pelo trabalho com os produtores rurais se deveu a sua predominância na região. As
estatísticas oficiais indicam que a agricultura familiar corresponde a 70% da economia da política agrícola.
Há que se destacar ainda que os movimentos sociais existentes na Transamazônica são muito fortes e
consolidados no que se refere a esta categoria profissional, organizada nos Sindicatos dos Trabalhadores
Rurais (STR) e nas Associações de Produtores Rurais que atuam em defesa dos interesses comunitários.
O trabalho do produtor rural se assenta numa compreensão determinada de meio ambiente, de
natureza, de recursos naturais. O seu trabalho diário requer conhecimentos e habilidades no trato com o
solo, a terra, as matas, as florestas, a água, as mudanças climáticas, e tantos outros. E dessa maneira as
potencialidades com o trabalho sobre Educação Ambiental se ampliam e com possibilidades de resultar em
respostas rápidas e significativas quanto à constatação da necessidade de mudanças na relação sociedade e
natureza no micro espaço da comunidade em análise.

Importância da Educação Ambiental na comunidade rural


A educação ambiental, entendida como educação para a geração de novos valores e atitudes
humanas dirigidas à manutenção da vida e conservação do meio ambiente, passa gradativamente a
constituir-se como uma exigência em se tratando de implementação de tentativas de construção de uma
outra lógica para as relações entre a sociedade e a natureza. Trata-se, portanto, de uma prática educativa
vai ao encontro da vida presente nas práticas sociais, nos movimentos organizados em torno das
necessidades de melhoria de qualidade de vida das populações humanas aliadas à conservação dos
recursos naturais.
As cidades neste início de século são reflexos de grandes problemas criados na relação
desastrosa do homem com o meio ambiente, gerados pelo aumento de número da população que resultam
no inchaço nas cidades centrais com a propagação de áreas de ocupação, favelas. Esta população que
evade para a cidade, e busca sobreviver em geral é oriundas da área rural. São pessoas que ao não
encontraram respostas aos problemas vividos naquela realidade devido à ausência de políticas públicas e
condições para viver, são obrigadas a irem buscar aquilo que chamam de “melhorias para sua vida”.
[...] faço derrubada porque sou obrigado a derrubar, porque senão do que vou viver.
Financiamento de máquinas já ajudaria muito. O Cadastro Ambiental Rural é uma maneira de controlar os
desmatamentos, de saber o que estamos fazendo com a nossa terra, de nos fiscalizar, mas não apresentam
alternativas para melhorar a nossa vida. O INCRA levou os títulos definitivos das propriedades. Já ouvi falar
nessa historia de manejo, mas se o produtor faz um projeto não é aprovado. No km 160 os moradores

João Pessoa, outubro de 2011


1159

estão sendo retirados porque foi constatado que as terras são dos índios, e lá tem terra muito produtiva, e
como fica estas famílias? Os agricultores estão deixando sua propriedade para irem para a cidade. A
questão chave é dar condições de trabalho para os produtores. (Cursista, produtor rural km 135).
[...] é preciso financiamento para o agricultor para manter seu lote, porque senão ele vai embora
sofrer na cidade, com toda a sua família, as vezes perguntam porque o produtor sai da terra, mas esquecem
de dizer que não há financiamento. (Cursista, produtor rural km 125).

A crise socioambiental é percebida como generalizada, os problemas urbanos estão presentes


em toda a cidade e principalmente nas áreas consideradas periféricas e suas conseqüências ameaçam o
conjunto da espécie humana. O modelo produtivo que as sociedades vivenciam se baseia no consumo de
energia e materiais renováveis e não renováveis, o que gera consequências prejudiciais para a estabilidade
dos ecossistemas e da vida.
A lógica da utilização não sustentável dos recursos naturais transforma os recursos de baixa
entropia em produtos de utilidade temporal, que logo são eliminados e devolvidos ao ciclo ecológico em
forma de resíduos de alta entropia. Como conseqüência tem-se desenvolvidas formas perigosas de
contaminação. Desse modo, a maior parte das cidades, bem como as comunidades rurais sofre dos
problemas ambientais que comprometem a qualidade de vida das pessoas, e do planeta, enfim da
manutenção da vida.
O trabalho de educação ambiental junto a comunidade rural é percebida como de grande
importância uma vez que todos os participantes dos cursos e demais atividades realizadas possuem
profundas vivências e experiências com e na natureza. Nesse sentido, estas comunidades identificam os
problemas ambientais, têm conhecimento das responsabilidades, inclusive as suas, e apresentam interesse
em construir condições de dar respostas indicadas como ‘positivas” no sentido da conservação ambiental.
Isto pode ser ilustrado nas falas dos participantes:
Sou colono, mas falo a favor da floresta do jeito que o rico acaba com a floresta, o pobre também.
(Cursista, produtor rural km 125).

Estes depoimentos demonstram a força e o nível de inserção nas discussões ambientais pelas
pessoas envolvidas nos processo de formação em educação ambiental empreendidos. Independente de seu
nível de escolaridade, essas pessoas estão vivendo, sofrendo, discutindo, sentindo os problemas ambientais
porque eles não são próprios de um local, eles se alastram com uma rapidez assustadora, e estas mesmas
pessoas estão articulando políticas, se organizando de uma maneira ou de outra na tentativa de buscar
saídas para tais problemas. E é exatamente nessa compreensão da necessidade de buscas de saídas que
reside a percepção da importância da educação ambiental nesses contextos.
Torna-se, portanto, necessária a construção e implementação da educação ambiental
comprometida com a complexidade das relações, uma vez que a problemática ambiental não se refere
somente aos problemas ecológicos em si, mas principalmente na sua inter-relação social, econômica,
política e até mesmo religiosa.
Todo grupo social apresenta suas representações de meio ambiente, que são culturais, políticas,
sociais, religiosas. Os cursos de educação ambiental realizados junto a essas comunidades rurais se
relacionaram com a necessidade de construir processos reflexivos em torno de seus próprios problemas, no
sentido de se transpor de uma consciência ingênua para uma consciência critica, com possibilidades de
buscar soluções, maior participação e intervenção qualificada na realidade, com base no acesso ao
conhecimento de seus direitos à cidadania e a melhor qualidade de vida.
Os diálogos entre os participantes do curso: produtores rurais, alunos e professores do Ensino
Fundamental e Médio do município de Medicilândia
Os produtores rurais participantes do curso são pequenos proprietários de terra, plantadores de
cacau, feijão, arroz, pimenta-do-reino, tomate, banana, essenciais florestais; criadores de algumas cabeças
de gados e pequenos animais (porco, galinha, etc) envolvendo os residentes no km 125, 135, 85.
O interesse pelas discussões tratadas relacionadas com as possibilidades de conservação ambiental
desfez bloqueios iniciais, e indicou a percepção da importância de estarem participando de processos
formativos realizados na própria comunidade.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1160

“Em geral ninguém vem até onde a gente mora, eles deveriam fazer como vocês para conhecerem
a nossa realidade, eles exigem muita coisa da gente, mas não sabem o que a gente passa”. (Cursista,
produtor rural km 125)

O conteúdo do curso
O curso apresentou a discussão sobre Educação Ambiental e Manejo Ambiental Comunitário,
informações sobre o Cadastro Ambiental Rural (CAR), que inclusive foi uma solicitação resultante de uma
das reuniões anteriores com os produtores rurais, lideranças políticas e representante do governo
municipal, Secretário de Agricultura, e foram apresentadas as orientações para elaboração de projetos
pelos participantes de acordo com a identificação da problemática da região/localidade.
O curso obedeceu a seguinte organização: no inicio de cada sessão de trabalho realizava-se uma
atividade de sensibilização por meio de uma dinâmica integradora. Na apresentação os participantes
indicaram suas percepções sobre a relação homem e natureza e os problemas gerados para a humanidade
devido a não consideração a práticas sustentáveis e de respeito ao meio ambiente;

Figura 1 e 2: Atividades de sensibilização e integração desenvolvidas.

Fonte: Arquivos do Programa de Educação Ambiental da BR-230, (PEA, 2010).

Os participantes foram convidados a compor um breve diagnóstico da realidade da


comunidade – definição de principais problemas ambientais detectados nas propriedades rurais. Relato de
experiências dos produtores sobre como trabalham o cultivo e o tratamento quanto a questão ambiental..
Foram realizadas sessões dialogadas em torno de temas como: Educação Ambiental e
Manejo Florestal Sustentável/Manejo Comunitário: concepções, perspectivas e possibilidades; Cadastro
AmbientaI Rural (CAR): objetivos e importância para o conhecimento da realidade ambiental.

Figuras 3 e 4: Participantes do curso.

Fonte: Arquivos do Programa de Educação Ambiental da BR-230, (PEA, 2010).

João Pessoa, outubro de 2011


1161

O caráter teórico-metodológico fundamentado na participação autônoma dos sujeitos


envolvidos foi demonstrado nos procedimentos e orientações acerca da perspectiva projetual para a
prática da educação ambiental, o que possibilitou aos participantes a construção de alternativas
coletivamente planejadas para o enfrentamento dos problemas identificados na comunidade

As Críticas à Política de Desenvolvimento Regional:


Para os participantes do curso ainda se apresentam muito distantes os interesses do
desenvolvimento econômico presentes nas políticas e os interesses de desenvolvimento local das
comunidades, como se evidencia nos depoimentos a seguir:
Pra preservar o meio ambiente é preciso que o governo apóie o trabalho do pequeno produtor.
(Cursista, produtor rural km 125).

Uma das questões muito debatidas e alvo de discussão referiu-se a percepção da ausência do
poder público no sentido de dar apoio e assistência técnica aos produtores rurais.
Um dos problemas também é que o produtor faz os projetos em cima daquilo que o governo tem
para financiar, e não em cima da necessidade e realidade da região. Deveria ser considerado o que é
produtivo na região e não apenas no que tá na moda, porque senão o produtor tem o financiamento e
depois fica tudo na mesma para um determinado período, tem que ser constante, permanente. (Cursista,
professor do Ensino Médio, cursando Engenharia Florestal na UFPA/Altamira).

Parece-nos evidente que os esforços empreendidos em torno da mudança conceptual e


pragmática da lógica do desenvolvimento, traduzidos em novos instrumentos econômicos, ainda não
lograram os efeitos desejados, que imporiam uma política ambiental que soubesse se relacionar com os
interesses dessas populações locais, vistas como potencialmente capazes de realização do uso sustentável
dos recursos naturais.

CONCLUSÕES:
Pensar um novo modelo de desenvolvimento para a região amazônica implica pensar em
uma nova forma de se relacionar com os recursos naturais disponíveis em grande escala na região, e
implica fundamentalmente, pensar em novas formas de se relacionar com os saberes das populações
amazônicas, sejam elas habitantes das metrópoles amazônicas, sejam elas habitantes de núcleos urbanos
ou das zonas rurais dos municípios situados ao longo de uma rodovia de singular importância para a região
como é o caso da Transamazônica.
Saber se relacionar com os saberes e práticas dos sujeitos amazônicos é uma tarefa
elementar para contribuição ao processo de construção de novas políticas de desenvolvimento para a
região.
Os resultados da pesquisa acerca da geração de novas compreensões da relação sociedade-
natureza a partir dos cursos ofertados pelo Programa de educação Ambiental da BR-230 (Transamazônica)
indicam que os processos formativos realizados se situam num cenário de tentativas de compor respostas
aos problemas regionais a partir dos interesses e necessidades dos sujeitos regionais.
“Podemos sonhar coisas melhores para nós e para a nossa comunidade” (...) “É necessário trabalhar
a questão da conscientização de nossos problemas, para só então procurar reunir forças e lutar para vencê-
lo”. (...) “Despertou em nos agricultores a vontade e o compromisso de plantar. Queremos muita semente”.
(...) “Precisamos de mais oficinas que ajudem o agricultor a cuidar melhor de nossa terra”. (Cursista KM 125).
“nos ajuda a entender melhor quem somos, o espaço em que vivemos, e se estamos sendo
educados com o meio ambiente, se nós nos preocupamos com o nosso meio social se estamos preocupados
com gerações futuras se as atitudes que tomamos é agressiva ou não ao nosso meio ambiente” (Cursista KM
125).

Nesse sentido, o trabalho realizado propiciou ao grupo de pesquisadores as condições


necessárias à compreensão das similaridades e convergência de interesses temáticos ao longo da realização
dos cursos, o que deverá resultar na ampliação da capacidade de execução de próximas ofertas de

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1162

processos desta natureza, que precisam estar de fato melhor relacionados com a minimização dos
problemas socioambientais da região em questão.
A partir dos resultados apresentados pode-se verificar que a realização de Programas
Ambientais precisa considerar como ponto de partida para sua realização, as dinâmicas locais, a trajetória e
experiências desenvolvidas pelas comunidades da região, num diálogo crítico e propositivo.

Bibliografia
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internacionais. In: Armando Dias Mendes. (Org.). Amazônia, terra & civilização: uma trajetória de 60 anos. 2
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João Pessoa, outubro de 2011


1163

PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UM INSTRUMENTO DE


CONSCIENTIZAÇÃO E MOBILIZAÇÃO SOCIAL.
CAMPOS, Priscilla Teixeira
Oceonografa pela Fundação Universidade Federal do Rio Grande.
priscaoceano@gmail.com)
DAMASCENO, Marília de Fátima Barros
Graduando em Geografia pela Universidade Federal do Ceará (mariliafbd@gmail.com)
GORAYBE, Adryane
Orientadora: Prof.ª Dra. do Departamento de Geografia (adryanegoraybe@yahoo.com.br)

RESUMO
Este presente artigo relata a experiência de ações na perspectiva da Educação Ambiental ocorrida
na comunidade Coqueiro do Alagamar, localizada no Estado do Ceará. O projeto de extensão realizado pela
UFC está vinculado ao CNPq, suas ações foram baseadas nas demandas sociais da comunidade. Dentre as
atividades do projeto encontram-se oficinas de longa duração como horta e teatro; e oficinas de curta
duração como pinturas naturais, artesanato, brinquedos reciclados, arte em retalhos, fogão solar, culinária,
água, além de um curso de formação de professores em educação ambiental para professores da escola
local. Foi utilizada uma metodologia de caráter interdisciplinar, aliada a arte, que integra diferentes ações
de conhecimento científico, unindo-os aos saberes tradicionais da comunidade. Essas ações auxiliaram nos
resultados obtidos como a conscientização ambiental e mobilização social, tendo uma melhoria na
qualidade de vida dos moradores da localidade, num contexto de sustentabilidade planetária.
Palavras-chaves: Educação Ambiental, Conscientização, Mobilização Social e Sustentabilidade
Planetária.

INTRODUÇÃO
A educação ambiental como uma prática social vem sendo uma necessidade da sociedade
atual, não limitando assim a temática ambiental somente ao campo teórico. Assim, as ações educativas se
fazem cada vez mais presentes junto à comunidade.
Com o uso da noção de sustentabilidade planetária é possível conscientizar a sociedade como um
todo para a realização de atitudes sustentáveis que não ocasione grandes impactos ao meio ambiente.
Dentro desse contexto, o projeto se realizou na comunidade Coqueiro do Alagamar, localizada no
município de Pindoretama, envolvendo temáticas como a educação ambiental, arte, permacultura e
agroecologia.
A implementação das atividades foi realizada de forma orientada e educativa, baseando-se numa
perspectiva de ‘tomada de consciência’ para a fundamentação de uma ação crítica, reflexiva e solidária. A
educação ambiental foi utilizada como instrumento sensibilizador e atrativo para as vivências práticas
realizadas através de cursos e oficinas, com o intuito de incorporar a população da comunidade as
atividades pedagógicas e ações práticas sugeridas.
As atividades realizadas na comunidade tiveram ações em conjunto com
professores/pesquisadores, alunos de graduação em Geografia, técnico em agronomia e a comunidade.
Sendo realizadas atividades que relacionem o conhecimento cientifico e os saberes tradicionais da
comunidade. E com isso, permitiu a valorização da potencialidade natural e a cultura local.

Localização e Caracterização da Localidade


Pindoretama é um município localizado no setor nordeste do estado do Ceará, dista cerca de 45 km
da capital cearense e, recentemente, foi incorporado a Região Metropolitana de Fortaleza. Está localizado
nas coordenadas geográficas 4º 01' 37"S e 38º 18' 18"W, limitando-se com os municípios de Aquiraz,
Cascavel e Horizonte (Ver figura I). Possui uma área de 72,85 km² e em 2007 a população total era de
18.683 habitantes (IBGE, 2010), Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0, 657 (IPECE/PNUD, 2005) e
Taxa de Escolarização no Ensino Fundamental de 100%, porém com Taxa de Escolarização no Ensino Médio
de apenas 50,9% (SEDUC, 2005).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1164

Figura I – Município de Pindoretama.


Fonte: IBGE, 2010.
A localidade de Coqueiro do Alagamar insere-se em um território que fica entre duas Unidades de
Conservação, localizadas nos municípios limítrofes à Pindoretama: Área de Proteção Ambiental de Balbino,
município de Cascavel, 250 ha, Lei Municipal n. 479 de 21 de setembro de 1988 e Reserva Extrativista do
Batoque, município de Aquiraz, 617 ha, Decreto Federal de 5 de junho de 2003.
Em termos ambientais, o município de Pindoretama localiza-se em região de Tabuleiro Costeiro
com interflúvios tabulares, planícies fluviais e flúvio-lacustres, em altitude média de 40m (IPECE; SEPLAG,
2007). O clima é caracterizado pelo Tropical Quente Sub-úmido, com média anual de pluviosidade de 930,7
mm, concentrada predominantemente no primeiro semestre do ano (janeiro a maio) e médias de
temperatura mínima e máxima entorno de 26° a 28°C (IPECE; SEPLAG, 2007).
Possui complexos de solos da região costeira do Ceará, apresentando Areias Quartzosas distróficas
e Argissolos Vermelho-Amarelo, sob mata original do Complexo Vegetacional da Zona Costeira (SILVA,
1993). Todavia, a vegetação nativa encontra-se extremamente degradada, devido ao uso agropecuário
intenso, em especial a monocultura da cana-de-açúcar.
Possui extensas áreas de canaviais e inúmeros engenhos de cana-de-açúcar. Sua população
sobrevive, predominantemente, da cana-de-açúcar e seus subprodutos, da agricultura de subsistência e da
fruticultura, com plantações de manga, caju e coco-da-baía, além da pecuária e do comércio. Podem-se
relacionar ainda atividades extrativistas, como a extração de areia dos leitos dos rios para a construção civil
e de madeira para servir como lenha, cerca e carvão. Em relação aos impactos ambientais causados pelos
cultivos, pode-se destacar a monocultura da cana-de-açúcar que degrada o solo e polui o ar, devido às
constantes queimadas, além de serem utilizadas técnicas tradicionais de limpeza do terreno com a
derrubada e a queima da mata original.

Fundamentação Teórica
Ao se tratar de Sustentabilidade Planetária, vemos a Permacultura como a mais completa tradutora
desse processo. Segundo Mollisson (1991), Permacultura é o desenho de comunidades humanas
sustentáveis, ou seja, uma filosofia de uso da terra que inclui estudos de microclimas, plantas anuais e
perenes, animais, solos, manejo da água e necessidades humanas, em uma teia organizada de
comunidades produtivas. Trata do cuidado com a terra, com as pessoas e a partilha dos excedentes e os
seus pilares éticos estão relacionados com sete mudanças de perspectivas de vida: ao encontrar soluções,
não problemas; cooperação, não competição; fazer atitudes sustentáveis; utilizar o máximo da
potencialidade; trazer a produção de alimentos de volta para as cidades e plantar seus próprios alimentos;
ajudar a tornar as pessoas independentes, e minimizar a manutenção e gastos com energia para atingir
uma produção máxima.

João Pessoa, outubro de 2011


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Para tratar dos pilares éticos da Permacultura, quer dizer, dos cuidados com as pessoas e com o
planeta, utilizamos os fundamentos da Educação Ambiental, considerando-a como uma ferramenta de ação
e mudança de comportamento.
Assim, sendo a Permacultura uma visão ampla e prática da sustentabilidade, a Educação Ambiental
converte-se num projeto estratégico com o propósito de formar valores, habilidades e capacidades para
orientar a transição para a sustentabilidade (LEFF, 2001).
Portanto, os princípios e os valores ambientais promovidos por uma pedagogia do ambiente devem
enriquecer-se com uma pedagogia da complexidade, que induza nos educandos uma visão de
multicausalidade, gerando um pensamento crítico e criativo baseado em novas capacidades cognitivas
(LEFF, 2001).
A união entre os conceitos de Permacultura e Educação Ambiental, aliada a sensibilização da arte,
torna-se uma forte ferramenta para a conquista de melhorias na qualidade de vida das populações
humanas, em especial a comunidade do Coqueiro do Alagamar, uma vez que a verdadeira Educação
Ambiental só acontece na vivência prática com o ambiente.
Utilizamos a Flor da Permacultura (Legan,2004) como um norte para adaptar as atividades
requeridas pela comunidade. Essa flor engloba os seguintes temas: o cuidado com a Terra e as pessoas, a
partilha dos excedentes, e a integração dos temas água, energia e tecnologia, interação humana, espécies e
ecossistemas, economia local e segurança alimentar.
Considerando-se o exposto, o eixo metodológico integrador das ações aplicadas foi fundamentado
na Educação Ambiental voltada para o desenvolvimento sustentável, conforme explicita os autores
Rodriguez; Silva (2009). Esta concepção foi baseada nas orientações da Resolução n. 254 de 2002 da
UNESCO, que instituiu a década das Nações Unidas da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (2005
a 2014), em que acredita-se que o saber ambiental no processo educacional deve partir de uma visão
sistêmica e dialética, considerando-se o ambiente como a conjunção de sistemas ambientais complexos e
inter-relacionados.
Nesse sentido, a Educação Ambiental assume um papel fundamental na mudança das mentalidades
e na incorporação dos fundamentos do pensamento ambientalista, que considera a integração dos
sistemas ambientais e socioeconômico culturais. Então com isso, pode-se afimar sobre o papel da educação
ambiental que “[...] deverá formar valores ambientais, ou valores verdes, que deverão ser muito diferentes
dos chamados valores da modernidade.” (RODRIGUES; SILVA, 2010, p. 176)
A Pedagogia Ambiental ou a Ecopedagogia proposta por Capra (1994), Gonzalez Gaudiano (2005,
2000) e Leff (1995, 1998, 2006), orienta o estabelecimento de práticas pedagógicas, por meio da
implementação de ações de percepção e cognição ambiental, orientando o relacionamento entre a
comunidade e o seu meio, no que concerne a uma busca de interações sustentáveis.
A capacidade de mobilização social depende de que os que levem e desfrutem dessa informação
(comunidade do Coqueiro do Alagamar), conheçam e assimilem as propriedades do ambiente e se
conscientizem do seu processo, se apoderando do mesmo para poder transformar sua realidade.
Assim, poderíamos falar da Educação Ambiental como uma regência múltipla, em que
ambos, comunidade e educadores são co-criadores do processo educativo. Uma Educação Ambiental
participativa na qual a própria comunidade, conhecedora de seu ambiente e sua cultura, de forma
organizada, aponta suas necessidades orientando o processo educativo no conhecimento ambiental
necessário do local em que vivem para melhor conhecendo-o poderem melhor transformá-lo. Na
perspectiva de possibilitar um desenvolvimento sustentável na comunidade que a educação ambiental foi
utilizada. Há articulação entre o desenvolvimento e educação ambiental, quando “[…] parte aqui, de uma
concepção que procura de forma articulada integrar ambos enfoques, assumindo uma pedagogia
sistêmica.” (RODRIGUES e SILVA, 2010)

Mobilização Comunitária do Coqueiro do Alagamar


Em 2007 iniciaram-se as atividades do Grupo de Vivências Coqueiro do Alagamar, de forma
voluntária e descontínua. Realizavam–se atividades de educação não-formal aliada à arte, como
artesanato, musica, yoga, reunindo a comunidade em torno da atividade proposta cuja temática era a
sustentabilidade planetária. Paralelo a isso se iniciou a bio-construção de uma casa ecológica pelos

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1166

membros da comunidade, que foram capacitados para tal fim. Com isso, a comunidade tomou mais
consciência de suas potencialidades e decidiu apropriar melhor seu espaço.
Em 2009, aconteceu um Curso de Permacultura de 80h na comunidade com 10 bolsas para
membros da mesma e outros 20 participantes. Após esse curso, a comunidade se organizou na Associação
dos Amigos do Coqueiro do Alagamar (AACA), com 30 sócios.
A AACA com ações conjuntas com o departamento de Geografia da UFC realiza atividades com o
projeto intitulado “Agroecologia e Educação Ambiental para o Desenvolvimento Sustentável: Estratégias
para a Melhoria da Qualidade de Vida e Conservação Ambiental, Coqueiro do Alagamar, Pindoretama –
Ceará”. Financiado pelo CNPq com vigência de janeiro de 2010 a dezembro de 2011. Esse projeto foi um
resultado das assembléias da associação e se originou das necessidades da comunidade.

Metodologia das Atividades


Diversas atividades foram desenvolvidas na comunidade, a começar pelo curso de nivelamento da
equipe proponente, em forma de imersão, para 25 participantes do projeto dentre os quais são
professores/pesquisadores, alunos de graduação e profissionais. O curso foi realizado na comunidade, teve
como carga horária 40 h na comunidade e tratou de temas como a Permacultura e Ecoalfabetização.
As atividades ao longo do projeto dividiram-se em oficinas de caráter contínuo, como horta e teatro
e oficinas curtas como reciclagem, pintura, brinquedos com reciclados, arte em retalhos, adornos, fogão
solar e culinária local; além do curso de formação de professores em educação ambiental de 40h na escola
de Ensino Fundamental Nair de Vasconcelos, localizado na comunidade Coqueiro do Alagamar.
A divulgação de cada atividade na comunidade foi realizada através de reuniões para a
apresentação do projeto na comunidade, visitas às casas para cadastrar as pessoas nas atividades,
divulgação das atividades nas igrejas da comunidade e nas assembléias da AACA (Associação dos Amigos do
Coqueiro do Alagamar), por cartazes colocados no posto de saúde e na escola e convites enviados ao poder
público via Prefeitura e Secretarias Municipais de município de Pindoretama.
As atividades foram descritas quanto à data, local, número de participantes, material e método de
trabalho segundo cada atividade, oficina e oficineiro/ facilitador. Foram priorizados materiais recicláveis
para o desenvolvimento das atividades. Todas as ações, mesmo as oficinas de arte tinham uma
fundamentação teórica inserida nas temáticas da Flor da Permacultura (2004).
Atualmente, estar sendo desenvolvida a última etapa do projeto com a realização do diagnostico
socioambiental do Município e da comunidade, com a finalidade de aprofundar o conhecimento sobre a
localidade e dar subsídios ao município para realização de um futuro plano gestor.
Resultados de Práticas Educativas na Comunidade
As práticas da oficina de horta proporcionaram a realização de uma horta comunitária
agroecológica (Ver Figura III), o consumo da produção da horta orgânica para a própria comunidade e a
venda dos excedentes para a prefeitura no abastecimento da merenda escolar.
Com a oficina de Teatro (Ver Figura II) foram realizadas duas exposições de quadros, máscaras e
esculturas, duas saídas para Fortaleza para assistir um grupo de dança e um grupo de teatro profissional,
quatro apresentações de peças teatrais, com a temática ambiental, realizado uma na escola, duas aberto
para toda a comunidade, um na abertura do evento cultural do município de Pindoretama.

João Pessoa, outubro de 2011


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Figura II: Oficina de Teatro. Figura III: Oficina de Horta.


Fonte: Campos, 2010. Fonte: Damasceno, 2010.
Nas oficinas de curta duração, a oficina de Reciclagem utilizou sacolas plásticas para confecção de
produtos de crochê e teve a participação de 15 pessoas. Na oficina de pinturas naturais participaram 12
pessoas para a prática da pintura foram utilizados produtos naturais como a goma de tapioca, barro e areia
para pintar muros de casas da comunidade. A oficina de Brinquedos com Reciclados participaram 15
crianças, transformando o lixo limpo em bonecos, aviões, carrinhos e vai-vens. Na oficina de Arte em
Retalhos, participaram 12 pessoas para a criação de paisagens em tecido bordados (Ver Figura V). Na
oficina de Adornos, com 10 participantes foram confeccionados produtos como brincos, colares e pulseiras,
com a finalidade de incentivar a geração de renda da comunidade. Na oficina de Fogão Solar (Ver Figura IV)
participaram 20 membros da escola, dentro os quais eram professores, alunos e moradores da
comunidade. Com esta oficina foi construídos cinco fogões solares. Os objetivos foram de oferecer uma
solução para diminuir o consumo de carvão e estimular a utilização de energia solar como uma fonte de
renovável de calor. Na oficina de Alimentos realizada na escola, foi direcionada as merendeiras da escola e
comunidade. Foram preparadas receitas saudáveis com alimentos locais, a fim de estimular e valorizar a
utilização de alimentos típicos da localidade.

Figura IV: Oficina de Fogão Solar. Figura V: Tela confeccionada na oficina de


Fonte: Damasceno, 2010. retalhos. Fonte: Albano, 2010.
Com continuação do incentivo aos alimentos locais foi realizado um documentário sobre uma casa
de farinha ativa na região e projetado no muro da casa de um morador da comunidade, o qual foi
denominado de “Farinhada” e contou com 20 membros da comunidade que participaram do
beneficiamento da mandioca para a produção de farinha e da tapioca.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1168

O curso de capacitação de educadores ambientais contemplou 14 professores e uma diretora da


escola de fundamental da comunidade, formando assim o primeiro grupo de educadores ambientais da
localidade. Os professores e diretora participantes confeccionaram uma maquete de uma escola
sustentável.
O desenvolvimento das ações educacionais favoreceu o crescimento de aptidões, o
desenvolvimento de habilidades e a criação de possibilidades que transformem a realidade e melhorarem a
qualidade de vida da comunidade em harmonia com o meio ambiente.
Com isso, pode-se apontar como resultado da ação incipiente de Educação Ambiental na
comunidade com a mobilização da comunidade e as práticas ambientais. A organização proveniente de
ações contínuas ao longo do projeto na comunidade teve como consequência o estabelecimento de
confiança para a tomada de consciência, a ponto de se organizar para trazer melhorias para sua realidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As oficinas de Longa Duração, como Teatro e Horta propiciaram uma importante função no
decorrer do projeto de extensão, levando assim uma melhor compreensão das atitudes de sustentabilidade
dentro da comunidade. As oficinas de horta permitiram o contato direto com práticas agroecologicas,
tendo para isso uma horta orgânica na comunidade, que a horta tem como objetivo abastecer futuramente
a alimentação escolar dentro da comunidade. Com as oficinas de teatro ambiental, foi percebida uma
melhoria na auto-estima dos jovens e também em atitudes educacionais ambientais, pois as temáticas de
artes teatrais foram temas que envolvam a temática ambiental. Em relação às oficinas de curta duração,
houve uma troca muito boa de saberes, em que se aplicavam técnicas, como a arte em retalhos, mas no
contexto local, criando imagens que somente existiam ali para aquelas pessoas, daquele modo e fazendo-as
perceber melhor o seu entorno e a importância de cuidar dele.
As práticas de Educação Ambiental estimulam a conscientização ambiental na comunidade do
Coqueiro do Alagamar. Ofereceram vivências que incentivaram a curiosidade pela natureza e as
problemáticas ambientais, promoveram a integração, a imaginação criadora, à expressão corporal, a
percepção sensorial, a elevação da auto-estima e com isso a possibilidade de auto-descobrir a sua forma de
ver o mundo. Partindo de uma educação ambiental inovadora, que desperta a curiosidade e acentua o
interesse do público alvo pelas questões abordadas, leva a uma tomada de consciência, uma criação
espontânea de uma visão de mundo crítica e emancipatória. Atualmente, com a realização do projeto
várias ações foram realizadas na comunidade fortalecendo e gerando maior mobilização para outras
mudanças de melhoria no meio socioambiental.

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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1170

GEOGRAFIA: TOMADORES DE DECISÃO E DESENVOLVIMENTO


SUSTENTÁVEL
Prof. Dr. José Paulo Marsola Garcia
Universidade Federal da Paraíba

INTRODUÇÃO
Nosso modelo atual de desenvolvimento não é sustentável. O ritmo e o tipo atuais de crescimento
estão levando à polarização econômica e à degradação ambiental. O paradoxo do crescimento industrial
está em que, no afã de criar riqueza bastante para eliminar a pobreza, ele tem aumentado as iniqüidades.
O crescimento voraz no uso dos recursos naturais está destruindo o ecossistema em que se baseia. Os
objetivos de crescimento industrial continuado são incompatíveis com os limites do sistema natural do
planeta. Nosso planeta já é muito pequeno para prover os padrões materiais do mundo industrializado
para 6 bilhões de pessoas. O uso de recursos em ritmo de crescimento acelerado, as tensões sociais, a
iniqüidade crescente, a migração econômica e o terrorismo infligem uma crescente carga econômica e
ambiental à sociedade mundial. Os 20% mais ricos da população mundial consomem 86% dos recursos
naturais, enquanto metade de toda a população vive na pobreza. Somado a isso, a perda da diversidade
cultural está aumentando a instabilidade política e econômica. (Clube de Roma 2002)
Ao abordar a temática do desenvolvimento sustentável, é necessário repensar paradigmas para a
reformulação de princípios e metas do crescimento econômico compatibilizando estes princípios e metas
com as potencialidades e dinâmica dos sistemas ambientais.
O conceito o desenvolvimento sustentável, geralmente é abordado de forma abrangente e
genérica. Deve-se salientar que os sistemas ambientais possuem elevada complexidade. Entretanto, o
gerenciamento dos programas e projetos em sustentabilidade-ambiental tem necessidade de ser especifico
na escolha de limites da atividade econômica. O conhecimento da resiliência à manutenção da
sustentabilidade- ambiental deveria ser o guia para os tomadores de decisão, visando à identificação e
previsão de momentos críticos.
A perspectiva da análise geográfica - por força de sua própria natureza, é abrangente. Assim, na
abordagem geográfica, pesquisa-se bibliografia ampla e diversa, desde teorias da biodiversidade até dados
sobre datação de carvão, métodos de fitosociologia, técnicas de sensoriamento remoto, mapeamentos de
detalhes, botânica, pedologia, mineralogia, climatologia etc. Portanto, no método geográfico, o principal
objetivo, é agregar e decodificar o conhecimento diverso e complexo, organizá-lo de forma que possa ser
utilizado pôr outros a fim de encontrar outras correlações entre a evolução do meio físico e meio biótico.
Na Geografia, a construção de conhecimento apresenta-se em grande intensidade, visto a atual
dinâmica das transformações pelas quais o mundo passa, com as novas tecnólogias, com os novos recortes
de espaço e tempo, com a predominância do instantâneo e do simultâneo, com as complexas interações
entre as esferas do local e global - afetando profundamente o quotidiano das pessoas, exigindo caminhos
teóricos e metodológicos capazes de interpretar e explicar essa realidade extremamente dinâmica.
Este artigo visa de que modo a Geografia pode contribuir no processo de educação no sentido
amplo da palavra, na construção de novos paradigmas para que tomadores de decisão, modifiquem as
formas de intervenção no meio natural . É notório a falta de parâmetros em estabelecer a amplitude da
resiliência e avaliar a sua estabilidade, considerando a sustentabilidade ambiental necessária ao
desenvolvimento social e econômico e à qualidade de vida dos diversos grupamentos humanos.
Os conhecimentos ambientais são complexos, requerem a abordagens tanto multidisciplinar como
interdisciplinar. A complexidade exigida em modelos de desenvolvimento sustentável não está apenas na
produção do conhecimento, mas acreditamos estar principalmente, na disseminação e aplicação deste
saber.
Com objetivo de disseminação e aplicação de diretrizes ambientais em modelos de
desenvolvimento, o foco estaria nos atores sociais : públicos e privados que, vão do meio acadêmico aos
órgãos de mídia, perpassando por gestores públicos ao cidadão comum, interessado no tema
ambiental.Trabalhar estes objetivos , não deixa de ser, ainda hoje um novo paradigma.

João Pessoa, outubro de 2011


1171

A proposta de atuação seria a contribuição na formação de novas visões de mundo , que são a
base das tomadas de decisão que, muitas vezes, é entendido também como “mentalidade” desses atores
sociais - que possuem o poder real de decisão na sociedade brasileira.
No meio acadêmico sempre será um desafio a produção de conhecimento técnico - cientifico, que
não seja hermético e enclausurado, focar na disseminação do conhecimento, popularizar este saber
hermético e fechado é o entrave, buscar a mudança de mentalidade é a meta. Apenas formar indivíduos
capazes de dominar informações e o instrumental necessário para o desempenho de suas funções nas
áreas ambientais não é suficiente, o que é necessário neste momento, o individuo - tomador de decisão - ,
ter a capacidade de refletir sobre a sociedade em que vive, de forma coletiva e em longo prazo e incutir o
valor do comprometimento com o bem comum.
Acreditamos que o conhecimento da ciência geográfica tem histórico e métodos de abordagens
que, possam contribuir na criação de novos paradigmas ao desenvolvimento sustentável.

HISTÓRICO DA ABORDAGEM AMBIENTAL EM GEOGRAFIA


Ao longo de sua história, o conhecimento geográfico sempre demonstrou preocupação com a
diversidade dos elementos componentes da superfície terrestre, procurando descrevê-los e explicá-los. A
concepção de se utilizar unidades complexas, como um todo de natureza integrada representando
unidades interativas de lugares e regiões não é nova em Geografia. A antiga civilização grega já apresentava
conceitos para explicar a sua visão de mundo considerando as relações consistentes e explicativas entre
clima e sociedade, ou entre solos e tipos de comportamento. O uso do termo paisagem foi amplamente
captado, desde a Idade Média, como expressando, na língua germânica, "uma região de dimensão média, o
território onde se desenvolve a vida de pequenas comunidades humanas" (Rougerie e
Beroutchachvili,1999).
Sob a perspectiva científica dos naturalistas, como na obra de Alexandre Von Humboldt, o conceito
de paisagem ganha explicitação e surge como entidade específica de estudo. No final do século XIX
praticamente encontram-se estabelecidas às bases da Landschaftskunde, da ciência da paisagem,
considerada principalmente sob uma perspectiva territorial, como expressões espaciais das estruturas
realizadas na natureza e pelo jogo de leis cientificamente analisáveis. Os escritos de Humbolt revelaram as
relações de coerência entre fenômenos biólogos e físicos da superfície da Terra, onde a palavra chave que
recorre de ambos é ZUSAMMENHANG, que literalmente significa "condições de estarem as coisas ligadas
entre si; o que pode-ser traduzido pôr contexto. O propósito de Ritter e Humbolt era ver os fenômenos
naturais em seus agrupamentos ou contextos, com o objetivo de per ceber as relações de causalidade entre
eles existentes. Na identificação do ZUSAMMENHANG, assenta indubitavelmente, o princípio fundamental
da Geografia (WOOLDRIDGE & GORDONEAST, 1967)
O propósito do método geográfico consiste em ver os fenômenos naturais em seus agrupamentos
ou contextos com o objetivo de perceber as relações de causalidade existentes entre eles, que nesta tese
se traduz em identificar a “zusammenhang” entre o meio físico e o biótico. A interdisciplinaridade de
metodologia no tratamento dos dados é básica no desenvolvimento da pesquisa. Além de utilizar a análise
geomorfológica como instrumento de delimitação do meio físico para posteriormente testar a real
representatividade na identificação de padrões de distribuição de indicadores de unidades ambientais.
Na França embora não se utilizando explicitamente do termo paisagem; as características
expressivas dos pays e regiões, nos componentes da natureza e nos oriundos das atividades humanas,
tornam-se elementos básicos na organização e desenvolvimento dos estudos geográficos, tendo como
referencial a obra La Blache (1904) e as inúmeras análises regionais.
A complexidade das paisagens foi apresentada como indicadora da unicidade da Geografia, numa
perspectiva coerente integradora para as tendências que procuravam valorizar separadamente as
paisagens naturais e as paisagens culturais. A fim de evitar maiores rupturas e contrabalançar esse
contexto, surgiram proposições para que a Geografia considerasse e estudasse o fenômeno global da
paisagem como um todo.
Entre elas destacou-se a proposta elaborada por Carl Sauer (1925), no trabalho The Morphology of
Landscape. Nessa contribuição, o termo paisagem é utilizado para estabelecer o conceito unitário da
Geografia, porque a finalidade do trabalho era encontrar para essa disciplina um lugar específico no campo
do conhecimento.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1172

Sauer (1925) definiu a paisagem como um organismo complexo, feito pela associação específica
de formas e apreendida pela análise morfológica. O conteúdo da paisagem é constituído pela "combinação
de elementos materiais e de recursos naturais, disponíveis em um lugar, com as obras humanas
correspondendo ao uso que deles fizeram os grupos culturais que viveram nesse lugar". Sauer (1925)
salientou que se trata de uma interdependência entre esses diversos constituintes, e não de uma simples
adição, e que se torna conveniente considerar o papel do tempo, explicitando que "afirmamos que a área
(da paisagem) tem uma forma, uma estrutura, um funcionamento e uma posição no sistema, e que ela está
sujeita ao desenvolvimento, mudanças, aperfeiçoamento". Dessa maneira, Sauer (1925) considerava a
Geografia como sendo uma "fenomenologia das paisagens".
O termo “Ecologia da Paisagem” foi introduzido, pela primeira vez, em 1939 pelo geógrafo alemão
Carl Troll (TROLL, 1939). Na década de 30 Troll utilizou fotos aéreas (uma inovação para época) em seus
trabalhos, o que ampliou muito suas observações, possibilitando a identificação em diversas partes do
mundo a estreita relação entre componentes físicos e o meio biótico. Tansley, em 1939, criou o termo
ecossistema, entretanto Troll afirmava que ecossistema não associa este termo à espacialidade (visão
horizontal) e à possibilidade de representação cartográfica e, em contrapartida, atribuiu a esta palavra um
sentido "econômico através do balanço do fluxo de energia e matéria”. TROPPMAIR (2000) A partir dessa
época, várias escolas da Geografia e Ecociências desenvolveram novos conceitos sobre o termo Paisagem,
como nos exemplos de Bertrand (1968). Turner & Gardner (1979) e Zonneveld (1991).
A questão da definição e objeto da Geografia foi apresentada em diversas oportunidades por
Christofoletti (1983; 1986-1987; 1990; 1993) que teceu considerações salientando que a proposta
trabalhada em torno do conceito de organização espacial, como sistema funcional e estruturado
espacialmente, tornava-se potencialmente a mais adequada, incorporando o conteúdo inserido em todos
os demais enunciados, e possibilitando a absorção da abordagem holística e da análise da complexidade
emergentes no cenário científico atual, para desenvolver a compreensão da categoria de fenômenos que a
individualiza e a diferencia das demais disciplinas.

ORGANIZAÇÃO ESPACIAL E ESCALAS DE ABORDAGENS


Deve-se inicialmente lembrar que o termo organização expressa a existência de ordem e
entrosamento entre as partes ou elementos componentes de um conjunto. O funcionamento e a interação
entre tais elementos são resultantes da ação dos processos, que mantêm a dinâmica e as relações entre
eles. Essa integração resulta num sistema organizado, cujo arranjo e forma são expressos pela estrutura. Se
há possibilidade para se distinguir diversa tipos de organização, as de interesse geográfico são as
possuidoras da característica espacial.
Para a Geografia, a noção de espaço envolve a presença de extensão, área ou território,
usualmente expresso em termos da superfície terrestre. A característica espacial, que se torna a mais
relevante para a Geografia, indica que o objeto dessa disciplina deve ter expressão areal, territorial,
materializar-se visualmente em panoramas paisagísticos perceptíveis na superfície terrestre. Constitui a sua
fisionomia, a sua paisagem, a sua aparência.
A Geografia é a disciplina que estuda as organizações espaciais. Englobando a estruturação, o
funcionamento e a dinâmica dos elementos físicos, biogeográficos, sociais e econômicos constituem os
sistemas espaciais da mais alta complexidade. Sob a perspectiva sistêmica, dois componentes básicos
entram em sua estruturação e funcionamento, representados pelas características do sistema ambiental
físico e pelas do sistema sócio-econômico. O primeiro constitui o campo de ação da Geografia Física
enquanto o segundo corresponde ao da Geografia Humana.

E O QUE O CONHECIMENTO GEOGRÁFICO PODERIA CONTRIBUIR A DIFUSÃO DE CONHECIMENTO A


TOMADORES DE DECISÃO ?
A Geografia, em seu processo de desenvolvimento histórico como área de conhecimento, veio
consolidando teoricamente sua posição como uma ciência que busca conhecer e explicar as múltiplas
interações entre o natural e o construído. Isso significa dizer que possui um conjunto de interfaces, que se
mostra como uma totalidade dinâmica.
Desde inicio da geografia como ciência a cartografia é utilizada tanto na construção como analise
das questões complexas, método este que trabalha com a complexidade tão necessária ao

João Pessoa, outubro de 2011


1173

desenvolvimento sustentável. A boa compreensão das relações espaciais é um requisito fundamental ao


estudo do meio ambiente. A imagem como recurso de investigação científica tem ganhado dimensões
globais na era da informação e internet. A imagem não só como análise de espaços e interação sócio-
ambientais. A Imagem como forma de comunicação e linguagem seria o foco, procurando teorizar e aplicar
e difundir o seu entendimento como parte essencial do método geográfico, assim o MAPA como imagem é
instrumento fundamental da pesquisa geográfica, como difusão básica, no processo de educação da
sustentabilidade pelo olhar geográfico
A proposta seria criar espaços de ensino e divulgação, do conhecimento geográfico, através da
utilização da FERRAMENTA IMAGEM no SENTIDO AMPLO, sendo a imagem entendida como: Mapas
Temáticos, Cartas Topográficas, Marítimas, Imagens de Radar, Imagens Aerotransportados Termais a Laser,
Imagens Orbitais, Fotos aéreas Convencionais e Digitais, Imagens de Alta resolução entre outros.
Procurando desenvolver a percepção dos inter-relacionamentos e conexões sensíveis entre processos
naturais e intervenção econômica.
Na apresentação dos dados, buscar-se-á simplificar o uso de expressões inerentes à cada disciplina
científica e códigos cartográficos. Quando tais expressões forem imprescindíveis, virão acompanhadas de
explicação para facilitar o entendimento do público não habituado a esses termos. Acredita-se que esta
atitude seja um dos principais caminhos para a aplicabilidade dos conhecimentos produzidos nas
sustentabilidade ambiental, com uma certa popularização da linguagem e da informação técnica-científica.
Essa posição é apoiada na citação de PENTEADO ORELLANA (1981) no que diz respeito à
aplicabilidade do conhecimento geomorfológico a problemas práticos do meio ambiente como : " É preciso
saber apresentar os dados geomorfológicos de forma a poderem ser facilmente compreendidos pôr outros
especialistas e até pelo público; também é imprescindível o uso de uma linguagem compreensível a todos.“
A preocupação com a apresentação dos dados gráficos e dos dados cartográficos em serem
acessíveis ao maior número de pessoas dirigiu a pesquisa no sentido de utilizar a semiologia gráfica.
O que está acontecendo atualmente no mundo nas questões da representação e apresentação da
informação cartográfica é uma grande reformulação. No Brasil, sente-se ainda a cartografia com regras e
normas como se fossem ” leis científicas”. O Congressos de Cartografia já demonstra uma revisão de
conceitos, apoiando-se nas novas tecnologias que, funcionam como a máquina propulsora. A cartografia
não deve estar indiferente a estas mudanças. A proposta final deste artigo é não utilizar certas
convenções da cartografia, e sim preocupar-se em passar a informação mais acessível possível ao usuário e
portanto, atingir seu objetivo principal, tornar-se aplicável.

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1175

EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO ESTRATÉGIA PARA PREVENÇÃO DE


ACIDENTES OFÍDICOS NA CAATINGA POTIGUAR
Mikaelle Kaline Bezerra da COSTA
Mestranda do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte-PRODEMA/UFRN. mikaellecb@gmail.com
Richelly da Costa DANTAS
Mestranda do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte- PRODEMA/UFRN. richelly@gmail.com
Juliana Martins de Mesquita MATOS
Mestre em Ciências Florestais pela Universidade de Brasília-UNB julianamartins.posead@gmail.com

RESUMO
O desenvolvimento deste trabalho tem como base os acidentes ofídicos envolvendo espécies
peçonhentas de importância médica, ocorridos no Grande do Norte entre 2007 e 2010, registrados no
Sistema de Informações de Agravos de Notificação-SINAN. Objetivando incentivar o uso da Educação
Ambiental nas comunidades do Semi-árido do Rio Grande do Norte, inseridas no bioma Caatinga Potiguar,
região que apresenta altos índices de acidentes ofídicos envolvendo espécies venenosas. Como estratégia
para envolver educadores das mais diversas áreas na da disseminação de informações, apresentamos
algumas metodologias atrativas que podem ser utilizadas para deter a atenção de jovens e adultos
independentemente do sexo, para que evite o aumento de casos de acidentes ofídicos no semi-árido, como
também contribuir para a conservação das espécies de serpentes existentes nessa região, além disso, são
apresentadas algumas medidas de tratamento e prevenção de acidentes envolvendo serpentes. Após
estudos em literaturas e análise dos dados é possível observar que são altos os números de acidentes
ofídicos no Rio Grande do Norte, e levando em consideração o gênero Bothrops, esse tem o maior numero
de registros e o município de Mossoró que se inseri no semi-árido do estado, se destaque em todos os
quatro anos de estudo por apresentar um alto índice de acidentes Concluímos que o apoio da comunidade
escolar e de seus professores podem ser fundamentais para a conscientização da população quanto a
importância da herpetofauna, e de medidas de prevenção e primeiros-socorros para acidentes ofídicos a
fim de garantir a segurança e bem- estar de todos os seres.
PALAVRAS-CHAVE: Acidentes, incentivar, comunidades, semi-árido, conscientização

1.INTRODUÇÃO
A Caatinga é um dos maiores biomas brasileiros, ocupando grande parte do Nordeste Brasileiro,
incluindo o estado do Rio Grande do Norte. De acordo com uma avaliação realizada por Sampaio e Rodal
citado por Maia (2004), sua área estende-se aproximadamente 935 mil km2. Esse bioma conta com uma
grande diversidade biológica, apesar dessa região o clima ser semi-árido, quente, com baixa pluviosidade.
Segundo, Maia (2004), a fauna e a flora da caatinga, apresentam propriedades que lhes
possibilitam a viver em condições desfavoráveis, e suas interações são adaptáveis de tal maneira que torna
a caatinga um bioma especial e único.
Apesar de a caatinga ser considerado um bioma especial, é possível perceber que existe reflexos
negativos em seus ecossistemas, provocados por ações antrópicas, que na busca de um maior
desenvolvimento urbano e econômico o homem vem contribuindo para a degradação do meio ambiente,
deixando a população humana cada vez mais próxima dos animais silvestres, que pode proporcionar o
surto de doenças epizooticas como também acidentes ofídicos.
Os animais silvestres têm fundamental importância na manutenção da diversidade biológica, entre
eles encontramos as serpentes que atuam no controle de diversos roedores, pragas que ameaçam a
agricultura, alem de sua importância médica na produção de soros antiofídicos.
No Brasil existem aproximadamente 360 espécies de serpentes destas apenas 54 são peçonhentas,
que segundo Cardoso et al (2003) são aquelas que produzem substância toxica e apresentam um aparelho
especializado para inoculação desta, onde passam ativamente através de glândulas, que se comunicam

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1176

com dentes ocos ou ferrão. “Sendo os gêneros de importância médica: Bothrops, Crotalus, Lachesis,
Micrurus, Bothriopsis e Bothrocophias’’ Bérnils (2008).
O Ministério da Saúde do Brasil registra anualmente entre 19 e 22mil acidentes ofídicos, sendo o
gênero Bothrops responsável por 90,5% dos acidentes ofídicos (Ribeiro & Jorge 1997; Araújo et al. 2003;
França & Málaque 2003). Sendo assim nos perguntamos se o número de acidentes ofídicos envolvendo
serpentes peçonhentas no Rio grande do Norte é elevado? Será gênero Bothrops apresenta o maior
numero de acidentes notificados? Tudo isso com o objetivo de propor estratégias de Educação ambiental
que colaborem para a prevenção desses acidentes e que consequentemente ajudem na conservação das
espécies de serpentes.

Educação Ambiental e estratégias de ensino


Desde a década de 80, a Educação ambiental vem sendo trabalhada nos mais diversos âmbitos a
fim de inserir, informações importantes para a população, e garantir a sobrevivência dos seres viventes,
preservação e conservação do meio ambiente no geral mostrando a responsabilidade humana na geração
desses impactos.
Com isso julgamos muito importante a prática da EA principalmente no ambiente escolar já que é
neste ambiente que os alunos passam o maior tempo do seu dia, e também é a esse que muitos familiares
vêem como um ambiente de aprendizagem. Essa aplicabilidade no semi-árido pode contribuir
significativamente para conservação da diversidade biológica como também no controle de acidentes
ofídicos, fator crescente nessa região.
É imprescindível trabalhar os temas ambientais de uma forma interessante e descontraída, pois
dessa forma pode-se obter uma maior fixação dos temas trabalhados. Para isso que se pode contar com a
ajuda de alguns recursos como mini teatro, palestras, vídeos, gincanas, entre muitas outras estratégias, que
colaboram para disseminação da responsabilidade ambiental.
O uso de metodologias dinâmicas é uma estratégia na busca da facilitação do ensino, e para serem
aplicadas as metodologias da EA, o planejamento é essencial, com disse Maia (2005) para que estes
objetivos sejam alcançados, é necessário que a relação pedagógica seja elaborada com base metodológica
e planejamento adequado. Por tanto é preciso adaptar o tema ao público a ser atingido, trabalhando
sempre de forma interdisciplinar tentando atingir e despertar os valores de conscientização e respeito ao
meio ambiente e seus recursos.
Para obter um maior envolvimento das comunidades no processo de educação, tornando a
discussão de temas como a responsabilidade do homem nos acidentes ofídicos, mais lucrativos, estratégias
educacionais como: O uso de vídeos, palestras jogos, gincanas ecológicas e debates ambientais,
relacionando sempre as modificações ocorridas no meio, e a importância de cada um na conservação e
preservação da fauna e da flora, podem facilitar o aprendizado e refletir positivamente no meio ambiente.
O estudo de QUIRINO et al (2009), que utilizou palestras e cartazes para conscientizar a
comunidade acadêmica da Unidade acadêmica de Serra Talhada-PE, mostrou que atividades como
palestras e cartazes despertou a curiosidade da comunidade sobre os tipos de serpentes mais encontrados
no campus, e o trabalho permitiu uma mudança nas atitudes de alguns alunos e de funcionários que
tinham uma visão equivoca sobre as serpentes.

1.2 Equilíbrio ecológico


Apesar de se conhecer a importância do semi–árido e a diversidade presente no bioma caatinga, o
homem continua utilizando os recursos que a natureza oferece de maneira desordenada, estabelecendo
uma relação direta com as espécies que habitam essas áreas, o que pode está acarretando no aumento de
acidentes ofídicos principalmente envolvendo serpentes peçonhentas.
Um estudo etnobiológico busca conhecer a interação humana em uma determinada comunidade
em relação ao seres vivos existentes nessa região o que é culturalmente passado de geração á geração.
Essa avaliação nos possibilita um amplo conhecimento das atividades econômicas, sociais e culturais que
influenciam direto ou indiretamente no equilíbrio ecológico.
Em virtude do crescente desenvolvimento urbano e rural a invasão do habitat natural dos animais é
intensificada, promovendo alterações na cadeia alimentar, e até mesmo a extinção de espécies, incluindo
de serpentes, onde essas podem não se adaptar as modificações geradas, ou por meio de defesa acabam

João Pessoa, outubro de 2011


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atacando o invasor de seu ambiente e são mortas em resposta a esse ataque, atitudes como essa pode
trazer prejuízos para diversidade biológica como ao próprio homem.
Está sendo cada vez mais valorizado o uso da educação ambiental para melhorar a percepção da
sociedade quanto o valor da biodiversidade. “As atividades relacionadas à educação para prevenção de
acidentes, condicionada com o cotidiano do ser humano, pode ser uma estratégia viável na promoção da
sustentabilidade ambiental e melhor convivência entre homens e animais.” (QUIRINO et al, 2009).
A utilização de métodos dinâmicos, criativos e interdisciplinar condiciona a população à
compreensão da preservação das espécies, facilitando a compreensão de informações importantes como:
hábitos, e características morfológicas das serpentes. “Identificar o animal causador do acidente é
procedimento importante, para a aplicação do antiveneno com precisão” (FUNASA, 2001), possibilitando
uma evolução positiva nos casos de acidentes ofídicos, garantindo a segurança e bem-estar de todos.
Ofídios X Semi-árido

As serpentes peçonhentas apresentam como característica principal a sua capacidade de


inoculação de veneno, promovido por uma glândula acima da cabeça e a presença da fosseta loreal, órgão
termorregulador localizado entre o olho e a narina, essa ajuda identificar quase todas as cobras
peçonhentas exceto a Coral verdadeira que não apresenta esse órgão. As cobras peçonhentas têm dentes
especiais que são ligados a glândula, quando a cobra vai atacar, flexiona seus músculos e o veneno vai para
a ponta dos dentes, ao morder a cobra libera o veneno que entra em contato com a corrente sanguínea de
sua vítima.
No Brasil, os gêneros de serpentes peçonhentas de importância médica são destacados o Bothrops
(jararaca, jararacuçu, urutu, caiçaca), Crotalus (cascavel), Lachesis (surucucu, pico-de-jaca); e o gênero
Micrurus (coral verdadeira). O gênero Bothrops representa o grupo mais importante de serpentes
peçonhentas, com mais de 60 espécies encontradas em todo território brasileiro, na região semi-árida do
RN há um aumento no caso de acidentes envolvendo essas serpentes são capazes de se adaptar aos
ambientes modificados, com comportamento agressivo e porte avantajado. No semi-árido também cresce
as ações antrópicas que modificam consideravelmente o meio ambiente, o que normalmente altera a
cadeia alimentar de muitos animais, de acordo com Silva (2008).

Prevenção de acidentes ofídicos e primeiros socorros


Tratando-se de acidentes ofídicos, alguns fatores são indispensáveis para reduzir o número de
acidentes assim como a evolução do agravo. Dessa forma é impreterível o desenvolvimento de atividades
educativas com intuito de prevenir, é adquirir conhecimentos que corroborem para a eficácia dos primeiros
socorros, Bernardes (2009), cita que:.
“Sempre que for andar nas florestas, andar calçado. Devido cerca de 80% das picadas acontecem
do joelho para o pé, É preciso evitar acúmulo de lenhas, entulhos e lixos próximos a moradias humanas.
Usar luvas de couro ao remover lenhas e não colocar as mãos dentro de buracos do solo ou de árvores.”
Como medidas de primeiros socorros o mesmo autor fala que é necessário manter a vítima calma,
evitar esforços físicos, procurar um hospital o mais rápido possível que disponibilize de soros antiofídicos.
Se possível, levar a serpente causadora do acidente pra facilitar o diagnóstico. Lavar o local da picada, não
fazer torniquete ou garrote no membro picado, não fazer perfurações ou cortes no local da picada, porque
pode aumentar a chance de haver hemorragia ou infecção por bactérias.
Para deter o efeito do veneno ofídico são utilizados soros específicos para cada tipo de situação,
um dos maiores órgãos produtores de soro é o Instituto Butantan localizado no estado de São Paulo. Para a
obtenção do soro antiveneno são utilizados concentrados de imunoglobulinas produzidos através da
sensibilização de animais, como exemplo: Os cavalos.
Para cada tipo de acidente ofídico, é utilizado um tipo de soro específico, que são administrados de
acordo com o gênero da serpente, estão divididos em: Soro antibotrópico, soro antibotrópico-laquético ou
Soro antibotrópico-crotálico.para o gênero Bothrops (jararaca), os soro anticrótalico ou soro antibotrópico-
crotálico para o gênero Crotalus (cascavel), o soro antielapídico para Micrurus (coral), e os soro
antibotrópico-laquético ou soro antilaquético para Lachesis. Estando disponíveis na rede pública de saúde.

2. METODOLOGIA

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1178

O objeto de estudo foram os dados disponíveis no Sistema de Informações e Notificações de


Agravos, mas especificamente os do Rio Grande do Norte, juntamente com um levantamento bibliográfico
que tragam informações sobre acidentes ofídicos envolvendo serpentes peçonhentas dentro desse estado.
Será feito um levantamento de dados nos 168 municípios do Rio Grande do Norte, mas enfatizando a
região de Caatinga que apresentam clima semi-árido, onde algumas áreas que estão passando por um
processo de interferência humana no ecossistema bastante considerável, fatores que podem esta
ocasionando o aumento de acidentes envolvendo serpentes peçonhentas nos municípios que se inserem
nessa região.
Com o apoio de funcionários da Secretaria Estadual de Saúde Pública do Rio Grande do Norte, foi
possível resgatar os dados necessários para essa pesquisa, e feito um comparativo das informações
registradas ao longo dos anos de 2007, 2008, 2009 e 2010. Estas informações são apresentadas e discutidas
a seguir (Figura 1) levamos em consideração os 168 municípios do RN e os quatro principais gêneros de
serpentes peçonhentas (Botrópico, crotálico, elapídico, laquético).

Figura 1: Acidentes ofídicos por gênero de serpentes notificado entre 2007 e 2010

Como pode ser notado em uma rápida análise do gráfico acima é a comprovação do alto índice de
acidentes ofídicos envolvendo serpentes venenosas entre 2007 e 2010 no Rio Grande do Norte, e que o
gênero Bothrops se destaca em todos esses anos com um maior numero de agravos registrados pelo
SINAN, órgão que registra esses agravos, o que enfatiza a importância de se trabalhar na conscientização da
população na tentativa de diminuir esses números, independentemente dos gêneros de serpentes
envolvidos nos acidentes.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com o SINAN- RN, a faixa etária com maior registro de acidentes envolvendo serpentes
peçonhentas está entre 20 e 34 anos (Figura 2), essa deve ser abordada e trabalhada com maior
intensidade, porém o trabalho pode ser realizado nas escolas e para atingir essa faixa etária também em
projetos sociais de forma que se procure atingir um maior numero de pessoas e consequentemente
evitarem mais acidentes.

João Pessoa, outubro de 2011


1179

Figura 2: Acidentes ofídicos por faixa etária entre 2007 e 2010 no RN.

É perceptível com a leitura dos dados do gráfico (Figura2) apresentado a cima que a diferença do
número de casos registrados é irrelevante para o fator de sexo, o que fortalece a necessidade de se
trabalhar com o máximo de pessoas possíveis homens e mulheres para garantir uma diminuição do numero
de caos e consequentemente o a preservação das espécies de serpentes envolvidas.

Figura 3: Número de acidentes ofídicos entre 2007 e 2010 por tipo de sexo no RN

Nessa figura 3, percebemos que há pouca diferença entre os sexos o que deixa claro que
independentemente do mesmo, todos estão predisposto ao envolvimento com acidentes ofídicos
peçonhentos, porém o numero de mulheres envolvidas nesses acidentes ainda seja maior do que homens o
que podemos justificar pelo fato de mulheres ainda procurar mais facilmente ajuda médica sendo possíveis
os registros.
O número de acidentes ofídicos no Rio Grande do Norte envolvendo serpentes peçonhentas é
consideravelmente elevado, fortalecendo e a necessidade de trabalhar na prevenção, mas percebemos que
o gênero Bothrops ao longo dos anos de 2007 a 2010 merece um olhar de destaque em nosso estudo, por
isso são apresentados alguns dados que enfatizam essa necessidade.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1180

Figura 4: Municípios do RN, que apresentaram um número de acidentes ofídicos do gênero Bothrops superior a 5

Levando em consideração que o gênero de serpentes peçonhentas que tem um maior índice de
casos notificados é o Bothrops, é possível perceber por meio da análise da figura 4, como ocorre essa
distribuição dentro do estado. O gráfico foi feito com base nos dados registrados em cada um dos 168
municípios do RN, mas considerando apenas os que apresentaram no decorrer dos anos de 2007, 2008,
2009 e 2010 um número superior a cinco casos. Com base nesses dados foram identificados 15 municípios
que se enquadram nessa realidade e percebe-se também como o município de Mossoró se destaca quanto
ao número elevado de casos e por ter registros em todos os quatro anos em estudo.

Figura 5: Número de óbitos por gênero de serpente entre 2007 e 2010 no RN

João Pessoa, outubro de 2011


1181

Figura 6: Número de curas por gênero de serpente entre 2007 e 2010

Na figura 5 é possível fazer um comparativo entre os números de óbitos registrados ao longo de


2007 a 2010 envolvendo os gêneros peçonhentos existentes no estado, novamente o gênero Bothrops
recebe destaque sendo responsável por 146 casos que evoluirão e levaram as vitimas a óbitos, porem o
gênero Lachesis, se destaca com a inexistência de número de óbitos, mas isso não dispensa estudos e
trabalhos para evitar acidentes com todos os animais.
Na figura 6 o gráfico é bem parecido com a figura 5 porem o número de casos que obtiveram cura é
bastante elevado cerca de 600, podemos concluir com essa análise que o uso de conhecimento de
primeiros socorros e um atendimento eficaz com o uso adequado do soro antiofídico pode ser
indispensável para esses resultados.

Figura 7: Número de curas X óbitos nos 168 municípios do RN

A figura 7 mostra através dos números um comparativo dos casos de acidentes ofídicos no RN ao
longo de cada ano em estudo (2007, 2008, 2009, 2010) sendo possível assim, notar que o número de cura é
bastante elevado se comparado aos de óbito, e que no ano de 2009 a cura foi ainda mais satisfatória, com
isso levantamos a hipótese do uso correto das medidas de tratamento, sabendo identificar o soro ao tipo
de serpente, mas não podemos não descarta a necessidade de se defundir cada vez mais informações de
prevenção e tratamento para que se atinga um maior numero possível de pessoas.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1182

É evidente a necessidade de se trabalhar junto às comunidades, principalmente as mais expostas á


acidentes ofídicos como exemplo, a do semi-árido do RN, medidas educativas que venham conscientizar a
comunidade da importância da biodiversidade, e assim informar medidas de prevenção e primeiros
socorros. São muitos os dados que nos alertam a essa realidade, e a necessidade de agir com segurança
garantindo o bem- estar de todos.

REFERÊNCIAS
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sob enfoque histórico filosófico. Rio de Janeiro: [s.n]. 4f, 2002.
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MAIA, G.N. Caatinga : Árvores e arbustos e suas utilidades. 1ªed. SP. D e Z compilações gráfica e
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acidentes ofídicos na unidade acadêmica de Serra Talhada, 2009
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SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE PÚBLICA DO RIO GRANDE DO NORTE. Sistema de informação de
agravos e notificações (SINAN), 2010.

João Pessoa, outubro de 2011


1183

A CONTRIBUIÇÃO DA EDUCAÇÃO E PERCEPÇÃO AMBIENTAL PARA O


DESENVOLVIMENTO LOCAL SUTENTÁVEL
Mónica João IMBANA102
(monicajoao_imbana1@hotmail.com)
Joabson Araujo RIBEIRO103
(joabson@msn.com)

RESUMO
Este artigo tem o objetivo de analisar as contribuições da educação e percepção ambiental para o
desenvolvimento local sustentável. Diante do cenário atual do planeta que já tem manifestado suas
reações diante as ações antrópicas desde os primórdios dos tempos. Para atingir o escopo deste trabalho,
realizou-se uma pesquisa exploratória de natureza qualitativa e método de abordagem dedutiva, através de
revisão bibliográfica e pesquisa documental. Concluí-se que a educação ambiental é uma ferramenta
imprescindível para o embate do desenvolvimento sustentável, com o engajamento dos indivíduos
inseridos, que por sua vez, tem a capacidade de transformar suas realidades num contexto de
desenvolvimento local.
Palavras-chave: Desenvolvimento local, Educação e Percepção Ambiental

INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, a sociedade tem sentido as respostas da natureza em decorrência das ações
antrópicas no meio ambiente. Vítima do consumo inconsciente e do capitalismo imediatista, o meio
ambiente tem demonstrado as relações de causa e efeito em forma de catástrofes. Neste sentido a
população precisa se conscientizar em relação a suas atitudes frente ao meio ambiente. Por meio da
educação ambiental a sociedade pode sim mudar este quadro.
Os debates sobre meio ambiente tem surtido efeito, pois busca-se, cada vez mais, alternativas
sustentáveis em qualquer âmbito da atividade humana, como: fontes de recursos renováveis, redução de
emissão de poluição, conscientização ambiental entre outras. Portanto destaca-se a necessidade da
educação para formar opiniões conscientes.
Neste propósito este artigo traz a relação entre a educação e percepção ambiental na construção e
colaboração do uso sustentável dos recursos para sua continuidade de forma a contribuir ainda mais para o
desenvolvimento local, trazendo crescimento econômico e qualidade de vida preservando o meio
ambiente, garantindo assim, a sustentabilidade das atividades para os envolvidos nestes processos e
também para as gerações futuras.

EDUCAÇÃO E PERCEPÇÃO AMBIENTAL


Observa-se desde a existência humana a relação do homem com a natureza. Essa relação se
dá através da exploração e o consumo de recursos naturais para sua sobrevivência. Nos últimos anos essa
exploração e o consumo desses recursos se intensificaram, causando os problemas ambientais e
começaram a ganhar visibilidade no cenário local e global.
Assim, a discussão em torno das questões ambientais começou principalmente a partir da
década de 1960, com destaque para as ações dos movimentos sociais que se direcionavam para uma
divergência em relação ao cenário econômico/produtivo, político e social da época.

102
Graduada em Serviço Social (UFRN) e Mestranda em Administração e Desenvolvimento Rural (UFRPE).
Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE, Programa de Pós Graduação em Administração e
Desenvolvimento Rural – PADR – Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos. CEP: 52171-900 - Recife/PE Tel.:(81)
3320-6460.
103
Graduado em Economia (UFRPE), Pós graduado em Gestão, Educação e Políticas Ambientais (UFRPE) e
Consultoria Empresarial (FAFIRE) e Mestrando em Administração e Desenvolvimento Rural (UFRPE). Universidade
Federal Rural de Pernambuco – UFRPE, Programa de Pós Graduação em Administração e Desenvolvimento Rural –
PADR – Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos. CEP: 52171-900 - Recife/PE Tel.:(81) 3320-6460.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1184

Com isso, percebe-se a preocupação da comunidade internacional e do Brasil em relação às


questões ambientais, em especial à exploração e o consumo crescente dos recursos naturais. Ocorreram, a
partir destas preocupações, diversas conferências internacionais e vários encontros realizados no Brasil.
Percebe-se ainda nas últimas décadas, as realizações de várias pesquisas, conferências,
encontros e entre outras ações para solucionar as questões ambientas. Destaca-se a “educação ambiental”,
como um dos instrumentos para solucionar as questões ambientais relacionado à exploração e ao consumo
desenfreado dos recursos naturais, que possibilita ao indivíduo acesso à informação e conhecimento, valor
e atitude para se relacionar melhor com o meio ambiente.
Segundo Souza (2004, p. 35) a educação ambiental é “uma das formas de construção de indivíduos
ecologicamente conscientes e ambientalmente responsáveis, além de contribuir para a construção de
processo de restauração do equilíbrio ecológico e de desenvolvimento socialmente justo”.
Assim, para Dias (2004, p.100), a educação ambiental seria um processo por meio dos quais as
pessoas desenvolvem o conhecimento, a compreensão, as habilidades e motivação para adquirir valores,
mentalidades e atitudes necessários para lidar com as questões ambientais e encontrar soluções
sustentáveis.
Dessa forma, a educação ambiental é um ato político, baseado em valor para transformação social,
segundo o principio nº 4 do Tratado de Educação Ambiental para as Sociedades Sustentáveis e
Responsabilidade Social, como afirma Henriques et al (2007, p.18).
Para Marcatto (2002, p.14), a educação ambiental é um processo de formação dinâmica,
permanente e participativo, no qual as pessoas envolvidas passam a ser agentes transformadores,
participando ativamente da busca de alternativas para a redução de impactos ambientais e para controle
social do uso dos recursos naturais.
A educação ambiental pode orientar o individuo para o entendimento, ou seja, a compreensão das
questões ambientais, de modo a não promover a degradação dos recursos naturais, contribuindo para
melhoria das relações entre os homens e o meio ambiente.
Nesse sentido, a educação ambiental “orientar-se para a comunidade e deve procurar incentivar o
indivíduo a participar ativamente da resolução dos problemas no seu contexto de realidades específicas”
conforme Reigota (1994 p.12).
Observa-se a contribuição da comunidade internacional no surgimento e na definição do
conceito da educação ambiental, através das conferências, encontros, entre outros eventos realizados para
minimizar os problemas ambientais causados pelos homens, possibilitar a informação e o conhecimento do
meio ambiente.
Esses encontros começaram a ganhar destaque no cenário mundial na década de 1960,
especificamente em 1968, na reunião realizada por vários cientistas dos países desenvolvidos em Roma
para se discutir o consumo e as reservas de recursos naturais entre outros. Esse encontro ficou conhecido
como “Clube de Roma” como afirma Reigota (1994, p. 13).
O encontro de Roma traz a relevância e a necessidade de resolver o problema ambiental
global. Quatro anos mais tarde, em 1972, a organização das Nações Unidas realizou a conferência em
Estocolmo, na Suécia, a conferência denominada “primeira Conferência Mundial de Meio Ambiente
Humano”, cujo tema foi a poluição ocasionada principalmente pelas indústrias. (REIGOTA, 1994, p. 14).
A conferência de Estocolmo ficou registrada no histórico da abordagem ambiental no
mundo, impulsionada pela repercussão internacional. Participaram da reunião 113 representantes de
vários países. Esse encontro teve como objetivo, estabelecer uma visão global e princípios comuns que
orientassem a humanidade para a preservação e melhoria do ambiente humano, como afirma Dias (2004,
p. 79).
O termo “educação ambiental” começou a ganhar destaque no cenário mundial com a sua
definição na conferência de Estocolmo no início da década de 1970. Para Henriques et al(2007, p.12), os
rumos da educação ambiental começam a ser realmente definidos a partir desse encontro, onde se atribui
à inserção da temática da “educação ambiental” na agenda internacional.
Essa conferência culminou numa recomendação de que se deve educar o cidadão para a
solução dos problemas ambientais. Pode-se então considerar que aí surgiu o conceito de “Educação
Ambiental”, conforme Reigota (1994, p.15).

João Pessoa, outubro de 2011


1185

Três anos depois foi realizado outro encontro. Segundo Reigota (1994, p. 16), em
Belgrado, na então Iugoslávia, em 1975, foi realizada a reunião de especialistas em educação, biologia,
geografia e história, entre outros, e foram definidos os objetivos da “educação ambiental”, publicados no
que se convencionou chamar “A Carta de Belgrado”.
Assim, percebe-se que um dos objetivos da educação ambiental definido nesse encontro orienta os
indivíduos para se relacionarem melhor com o meio ambiente. Como afirma Reigota (1994, p.34), ela leva
os indivíduos e grupos a perceberem suas responsabilidades e necessidades de ação imediata para a
solução dos problemas ambientais.
Segundo Dias (2004, p. 101), o encontro de Belgrado foi promovido pela UNESCO. No
encontro foram formulados os princípios e orientações para o Programa Internacional de Educação
Ambiental – PIEA (IEEP).
Depois de dois anos depois, foi realizado o Primeiro Congresso Mundial de Educação
Ambiental, em Tbilisi, na Geórgia (ex-URSS), em 1977, onde foram apresentados os primeiros trabalhos que
estavam sendo desenvolvidos em vários países sobre a educação ambiental, como aborda Reigota (1994,
p.16).
Ainda, no encontro de Tbilisi, foram estabelecidos os documentos que orientaram a
implementação da educação ambiental em nível mundial. Para Henriques et al (2007, p.12), saíram nessa
reunião, as definições, os objetivos, os princípios e as estratégias para a educação ambiental que até hoje
são adotados em todo o mundo.
Assim, dez anos depois, a comunidade internacional realizou outro encontro denominado
“Congresso de Moscou”. Segundo Dias (2004, p.140), em 1987, reuniram-se em Moscou, 300 especialistas
de 100 países para o “Congresso Internacional em Educação e Formação Ambientais”, promovido pela
Unesco.
O congresso de Moscou teve como objetivo discutir as dificuldades encontradas e os
progressos alcançados pelas nações, no campo da educação ambiental, e a determinação de necessidades
em relação ao seu desenvolvimento, desde Tbilisi. (DIAS, 2004, p.140).
Uma das recomendações do congresso de Moscou, considerou que a educação ambiental
deve promover os meios de percepção e compreensão dos vários fatores que interagem no tempo e no
espaço, para moldar o meio ambiente. Tais conhecimentos, sempre que possível, deverão ser adquiridos
por meio da observação, de acordo com Dias (2004, p.142).
Passados cinco anos depois, as “Organizações das Nações Unidas” realizou a conferência
sobre o meio ambiente e desenvolvimento sustentável em 1992, no Rio de Janeiro.
Segundo Henriques et al (2007, p.12), na conferência do Rio, foi elaborado o documento de
grande relevância relacionada à área da educação ambiental, denominada “o Tratado de Educação
Ambiental para as Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global”.
Nesse sentido, a conferência do Rio traz a nova abordagem da educação ambiental que
passou a ser denominada “a educação para desenvolvimento sustentável e educação ambiental para
sustentabilidade”. Essas novas abordagens trazem à tona a nova preocupação com os recursos naturais.
O tratado de educação ambiental estabeleceu ainda os princípios fundamentais para as
sociedades sustentáveis, destacando a necessidade de formação de um pensamento crítico, coletivo e
solidário, como aborda Henriques et al (2007).
Ainda para Henriques et al (2007), esse tratado estabelece também uma relação entre as
políticas públicas de educação ambiental e a sustentabilidade. Enfatizam os processos participativos
voltados para a recuperação, conservação e melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida.
Nesse sentido, duas das recomendações relevantes também da conferência do Rio de
Janeiro, conhecida como “Rio – 92”, relacionam-se à “Agenda 21”, que trata da reorientação da educação
para o desenvolvimento sustentável, assim como, o aumento dos esforços para proporcionar informações
sobre o meio ambiente, que possam promover a conscientização popular. (DIAS, 2004, p.171).
Passados cinco anos e para cumprir uma das recomendações propostas na “Agenda 21”
ligada à educação ambiental e Desenvolvimento de forma sustentável, a Organização das Nações Unidas
realizou o encontro na Grécia, relacionada à educação ambiental que ficou conhecido como a “Educação
Ambiental para o Desenvolvimento Sustentável”.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1186

Essa nova abordagem da educação ambiental ganhou destaque na discussão no cenário global e
local, orientar os indivíduos para utilizar os recursos naturais de forma responsável e sustentável.
Assim, para orientar e incentivar a população para o desenvolvimento sustentável, a
educação ambiental serve como um dos instrumentos para direcionar os indivíduos a ter as informações,
os conhecimentos, os valores, as atitudes e os comportamentos para desenvolver uma determinada
realidade, possibilitar a melhoria da qualidade de vida e do meio ambiente.
A educação ambiental no Brasil como a política ambiental direcionada para solucionar as
questões ambientais. Assim, no início dos anos de 1970, foi criada a legislação ambiental para garantir
direito e proteção do meio ambiente, através das políticas ambientais.
A educação ambiental começou a ganhar visibilidade no cenário brasileiro no início dessa década,
com a criação de Lei ambiental e da instituição para executar a política ambiental. Nesse sentido, Para
Carvalho (2008, p.52), a educação ambiental aparece na legislação desde 1973, como atribuição da
primeira Secretária Especial do Meio Ambiente (SEMA), a educação ambiental passou a integrar as ações
de governo.
Outro avanço importante na área da educação ambiental ocorreu em 1981, com a Política Nacional
de Meio Ambiente (PNMA), que estabeleceu, no âmbito legislativo, a necessidade de inclusão da educação
ambiental em todo nível de ensino, incluindo a educação da comunidade, objetivando, capacitá-la para a
participação ativa na defesa do meio ambiente, como diz Henriques (2007).
Também, a Constituição Federal de 1988, traz a tona, o reconhecimento do direito de todos os
cidadãos brasileiros à educação ambiental e atribui ao Estado o dever de “promover a Educação Ambiental
em todos os níveis de ensino e a conscientização para conservação do meio ambiente”, segundo Henriques
et al (2007, p.19).
Assim, a educação ambiental ganhou destaque na época, mas se tornou mais conhecida,
com o avanço da consciência ambiental, principalmente nas décadas de 1990. A repercussão da
conferência do Rio de Janeiro na década de 1992, sobre o desenvolvimento e o meio ambiente contribuiu
para o desenvolvimento da educação ambiental no Brasil e resultou na realização dos vários encontros no
país.
Assim, resultou na criação de Ministério do Meio Ambiente em 1992, com o objetivo,
promover a adoção dos princípios e estratégias para o conhecimento, a proteção e a recuperação do meio
ambiente, o uso sustentável dos recursos naturais, a valorização dos serviços ambientais e a inserção do
desenvolvimento sustentável na formulação e na implementação de políticas públicas, de forma
transversal, participativa, democrática em todos os níveis e instâncias do governo e sociedade, conforme o
Ministério do Meio Ambiente – MMA (2011).
Além disso, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA)
instituiu os núcleos de educação ambiental em todas as suas superintendências estaduais, visando
operacionalizar as ações educativas no processo de gestão ambiental na esfera estatal, como afirma
Henriques et al (2007, p.14).
Nesse sentido, em 1994, foi criado o Programa Nacional de Educação Ambiental (PRONEA)
pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo ministério do Meio Ambiente (MMA). É de salientar que esse
programa teve a sua terceira versão, em 2004, resultante de um processo de consulta pública, como trata
Henriques et al (2007).
Depois de cinco anos, especificamente em 1997, foi realizada a conferência Nacional de
Educação Ambiental em Brasília, conhecida como “Declaração de Brasília para Educação Ambiental”. Um
dos temas debatidos trata da educação ambiental e as políticas publicas, conforme Dias (2004, p. 188).
Além disso, foi aprovada a Lei nº 9.795, em 1999, que dispõe sobre a Política Nacional de
Educação Ambiental e a criação da Coordenação Geral da Educação Ambiental (CGEA) no MEC e da
Diretoria da Educação Ambiental (DEA) no MMA. Ainda, em 2000, a educação ambiental integra, pela
segunda vez, o Plano Plurianual (2000 – 2003) e vinculava ao Ministério do Meio Ambiente, de acordo com
Henriques et al (2007, p.15).
Segundo Henriques et al (2007), a Política Nacional de Educação Ambiental foi
regulamentada em 2002, pelo Decreto nº 4.281, para sua execução e também para a realização das ações
em educação ambiental no governo federal.

João Pessoa, outubro de 2011


1187

Ainda, para Henriques et al (2007), a mudança do ministério, em 2004, resultou na criação


da Secretaria da Educação Continuada, Alfabetização e Diversidades (SECAD). Além disso, a transferência
da Coordenação Geral da Educação Ambiental (CGEA) para esta secretaria.
Essa transferência da CGEA, permitiu-se maior enraizamento da educação ambiental no MEC e
junto às redes estaduais e municipais do ensino, passando a atuar de forma integrada às áreas de
diversidade, destaca a educação escolar indígena, educação no campo, conferindo assim maior visibilidade
da educação ambiental, de acordo com Henriques et al (2007).
O Plano Plurianual da Educação Ambiental - PPEA (2004 – 2007) baseou-se nas reformulações das
diretrizes ligadas ao Programa Nacional da Educação Ambiental, e passou a ser denominado “Educação
Ambiental para Sociedades Sustentáveis”, conforme aborda Henriques et al (2007).
Em função dessas considerações, a educação ambiental tem importante papel na
construção da percepção de indivíduos para relacionar melhor com o meio ambiente. Possibilitando as
informações, os conhecimentos, os valores e as atitudes a fim de utilizar corretamente os recursos naturais.
Nessa perspectiva, entende-se, que a educação ambiental não é o único instrumento capaz de
solucionar as questões ambientais, mas existe um conjunto de fatores/elementos que contribui para
proteção e conservação do meio ambiente. Ela é um dos instrumentos da percepção em relação à
importância do meio ambiente na promoção da qualidade de vida.
Assim, a educação ambiental pode contribuir para fortalecimento da percepção de indivíduos.
Nesse sentido, é necessário que se leve em conta um conjunto de práticas e vivências relacionadas à sua
atividade produtiva e ao uso sustentável de recursos naturais.
Nesse sentido, percebe-se a relevância do papel da educação ambiental no fomento da percepção
de indivíduos com o meio ambiente. Uma relação harmoniosa consciente do equilíbrio da natureza,
possibilitando por meio de novos conhecimentos, valores, e atitudes, inserindo como cidadão no processo
de transformação no quadro ambiental do nosso planeta, como aborda Guimarães (1995, p.15).
A percepção ambiental orienta o indivíduo na tomada de consciência e compreensão da sua
relação com o meio ambiente, apreendendo a cuidar e conservar os recursos naturais.
Assim, a percepção ambiental se constrói, através do entendimento e da compreensão de
indivíduos da sua realidade, pelo qual busca soluções das questões ambientais e alternativas melhores para
desenvolver sua qualidade de vida e do meio ambiente de forma sustentável.
No entanto, o indivíduo, através da educação e percepção ambiental compreende melhor a
situação problema da sua realidade, baseada nas experiências vivenciadas, e orienta a tomada da
consciência e atitude para solucionar o problema em questão.
Assim, entende-se que a educação ambiental é um dos instrumentos da percepção que orienta o
indivíduo para entender e compreender melhor o seu meio, cuidando e conservando para a geração futura.
A educação ambiental como elemento relevante para percepção de indivíduos, possibilita a
informação e o conhecimento que valoriza os recursos naturais, utilizando de forma sustentável.
Assim, a percepção ambiental tem grande importância na construção da consciência crítica e
responsável, através da informação, do conhecimento, do valor, da experiência e da vivência. O indivíduo
compreende melhor sua relação com o meio ambiente e reconhece a importância dos recursos naturais ao
usá-los com responsabilidade de forma sustentável.

DESENVOLVIMENTO LOCAL
O Desenvolvimento Local é o processo que mobiliza pessoas e instituições buscando a
transformação da economia e da sociedade locais, criando oportunidades de trabalho e de renda,
superando dificuldades para favorecer a melhoria das condições de vida da população local pode ser
entendido por desenvolvimento local, Jesus (2003). Assim se trata de um esforço localizado e concentrado,
isto é, são lideranças, instituições, empresas e habitantes de um determinado lugar que se articulam com
vistas a encontrar atividades que favoreçam mudanças nas condições de produção e comercialização de
bens e serviços de forma a proporcionar melhores condições de vida aos cidadãos, partindo da valorização
e ativação das potencialidades e efetivos recursos locais.
O desenvolvimento local tenta resolver os problemas imediatos – como a criação de riqueza ao
nível de recursos endógenos, a melhoria da qualidade de vida das populações de um dado território, a
manutenção do equilíbrio dos ecossistemas, etc., alargando as fronteiras do possível e apontando para

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1188

formas de estar e viver em sociedade, que se baseiam em valores como solidariedade e escolha de formas
de produzir riqueza em cooperação, ao invés de desperdício, competição desenfreada e lucro a qual quer
preço.
Segundo Oliveira (2001), o conceito de desenvolvimento local vai além dos paradigmas
convencionais, além do simples sentido de cidadania, se trata de criar alternativas reais, não apenas como
uma simples tentativa de inserir a população local: “O desenvolvimento local tende a substituir a cidadania,
tende a ser utilizado como sinônimo de cooperação, de negociação, de completa convergência de
interesses, de apaziguamento do conflito.” É um novo nome do público não-estatal.
O desenvolvimento local tem estas características e este é um processo autônomo e forte. Buarque
apresenta com conceito mais completo:
“Desenvolvimento local é um processo endógeno registrado em pequenas unidades territoriais e
agrupamentos humanos capaz de promover o dinamismo econômico e a melhoria da qualidade de vida da
população. Representa uma singular transformação nas bases econômicas e na organização social em nível
local, resultante da mobilização das energias da sociedade, explorando as suas capacidades e potencialidades
específicas. Para ser um processo consistente e sustentável, o desenvolvimento deve elevar as oportunidades
sociais e a viabilidade e competitividade da economia local, aumentando a renda e as formas de riqueza, ao
mesmo tempo em que assegura a conservação dos recursos naturais (BUARQUE, 1999 p. 9).”

Geralmente o desenvolvimento local está aliado a iniciativas inovadoras que mobilizam a


coletividade ou são por ela mobilizadas, articulando as potencialidades locais nas condições dadas pelo
contexto. Segundo Haveri, (1996), apud BUARQUE, (1999), “as comunidades procuram utilizar suas
características específicas e suas qualidades superiores e se especializar nos campos em que têm uma
vantagem comparativa com relação às outras regiões” Vale salientar que num mundo globalizado não
podemos desassociar a importância do local, pois como cada local tem sua peculiaridade ou vantagens
comparativas em relação ao geral, torna-se necessário tal desenvolvimento. “O global se alimenta do local,
se nutre do específico” (CHESNAIS, 1996 apud BUARQUE, 1999), de modo que “a globalização opera num
universo de diversidades, desigualdades, tensões e antagonismos, simultaneamente às articulações globais.
Ela integra, subsume e recria singularidades” (IANNI,1996 apud BUARQUE, 1999).
Portanto, o desenvolvimento local ocorre de forma endógena, com envolvimento da comunidade
utilizando-se das potencialidades locais ou vantagens comparativas de forma sustentável, promovendo um
aumento na renda e na qualidade de vida das pessoas por gerações.
Sendo assim, o desenvolvimento local sustentável resulta da interação entre a qualidade de vida da
população local (distribuição de renda, geração de riqueza e redução da pobreza), a eficiência econômica
(agregação de valor na cadeia produtiva) e a gestão pública eficiente conforme esquema abaixo (BUARQUE,
2002).

FIGURA 5. TRIPÉ DO DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL

Fonte: Buarque (2002)

Para que haja desenvolvimento local sustentável são imprescindíveis tais elementos. A
gestão pública eficiente no sentido de proporcionar o bem estar da coletividade, ou seja, a qualidade de
vida, contanto que seja viável economicamente, Assim temos governança, organização da sociedade e
distribuição de ativos sociais.

João Pessoa, outubro de 2011


1189

Assim, o desenvolvimento local sustentável possibilita a qualidade social, econômica e ambiental


de uma realidade. Dessa forma, incentivando o indivíduo a participar em todo processo de decisão e de
transformação da sua comunidade, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida e do meio ambiente.

CONCLUSÃO
Concluí-se que a educação ambiental tem muito a contribuir com a sustentabilidade, inclusive no
tocante ao desenvolvimento local sustentável, assim como para o desenvolvimento local é pré requisito o
envolvimento da comunidade local, para o desenvolvimento sustentável também é importante que haja o
envolvimento das pessoas. Daí a importância de uma sociedade consciente e ambientalmente educada.
Com a educação e percepção ambiental o indivíduo se torna mais consciente em relação, não só
aos seus direitos, mais também quanto aos seus deveres frente ao Meio Ambiente. Mudando seus hábitos
e atitudes, desenvolvendo o senso de pertencimento na luta pela preservação. O papel da educação
ambiental é justamente transformar cidadãos conscientes despertando sua sensibilidade diante dos
problemas atuais que já são consequências do mau uso dos recursos naturais pelo homem. Onde o
homem, antes pensava dominar a natureza, sem medir as consequências de seus atos.
Para que haja um desenvolvimento local, é necessário o envolvimento da comunidade inserida
neste contexto. E não se pode deixar de levar em conta, a preocupação com a continuidade das atividades
desenvolvidas por determinada comunidade para que as futuras gerações desfrutem também de tais
benefícios. Ou seja, o conceito de desenvolvimento sustentável há décadas debatido, o que é
perfeitamente possível.

REFERÊNCIAS
BUARQUE, S. C. Construindo o desenvolvimento sustentável. Recife – PE, 2002.
BUARQUE, S. C. Metodologia de Planejamento do Desenvolvimento Local e Municipal Sustentável -
Material para orientação técnica e treinamento de multiplicadores e técnicos em planejamento local e
municipal. Projeto de Cooperação Técnica INCRA/IICA PCT – INCRA/IICA. Brasília, 1999.
CARVALHO, I. C. de M. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. - 3.ed. – São Paulo:
Cortez, 2008.
DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: princípio e práticas, 9 ed. São Paulo: Gaia, 2004.
GUIMARÃES, M. A dimensão ambiental na educação. Campinas, SP: Papirus, 1995.
HENRIQUES, R.; TRAJBER, R.; MELLO, S.; LIPAI, E. M.; CHAMUSCA, A. (org). Educação ambiental:
aprendizes de sustentabilidade. Caderno Secad/MEC, Brasília – DF. 2007.
JESUS, P. de. A outra economia. Porto Alegre: Veraz Editores. 2003. p.72.
MARCATTO, C. Educação ambiental: conceitos e princípios. Belo Horizonte: FEAM, 2002.
MINSTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, Atlas das Áreas Susceptíveis à Desertificação do Brasil. 2007.
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE – MMA. O ministério. Disponível em: . Acesso em: 14 jun 2011.
OLIVEIRA, F. de. Aproximações ao enigma: o que quer dizer desenvolvimento local? São Paulo, Pólis;
Programa Gestão Pública e Cidadania/EAESP/FGV, 2001. 40p.
REIGOTA, M. O que é Educação Ambiental. Editora Brasiliense, São Paulo - SP. 1994.
SOUZA, N. de J. de. Desenvolvimento econômico. São Paulo: 5ª edição, editora Atlas S.A, 2009.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1190

ESTRATÉGIAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESPAÇOS CORPORATIVOS:


1ª SEMANA DO MEIO AMBIENTE EM EMPRESA DO SETOR DE
TRANSPORTES104
Natália de Souza Cavalcanti
Estudante de Engenharia Agrícola e Ambiental (UFRPE)
Pesquisadora do Gampe/UFRPE
nscavalcanti@gmail.com
João Victor de Moraes Pinto
Estudante de Engenharia Agrícola e Ambiental (UFRPE
Pesquisador do Gampe/UFRPE
joao.moraes89@hotmail.com
Wilian Keiji Okasaki
Pesquisador do Gampe/UFRPE
wokasaki@gmail.com

RESUMO
Em um contexto caracterizado pela degradação constante no meio ambiente, a reflexão
sobre as práticas sociais, necessita de uma forte articulação com sensibilização sobre a Educação
Ambiental. A dimensão ambiental se apresenta de forma crescente como um tema que envolve um
conjunto de atores do universo educativo, maximizando o engajamento dos diversos sistemas de
conhecimento, e a captação de profissionais numa perspectiva interdisciplinar. Com este olhar, a empresa
em tela, em parceria com o Gampe/UFRPE, vem desenvolvendo atividades de EA, que ora é o objeto de
análise deste trabalho. O presente trabalho teve como metodologia ações modulares e seqüenciais, que
são descritas, face a multiplicidade de ações para se estabelecer os paradigmas para uma ação de EA
abrangendo os diversos saberes presentes num ambiente corporativo: pesquisa de percepção ambiental
corporativa, reuniões de planejamento, estruturação de ferramentas de Educação ambiental, com a
realização da “1ª. Semana de Meio Ambiente” na empresa. Observou-se que estratégias para elevação da
consciência ambiental dentro de espaços corporativos são fundamentais para se alcançar a
sustentabilidade. A Educação Ambiental deve ser um instrumento utilizado de forma contínua e inovadora
para despertar nos funcionários a sensibilidade com a temática e incentivá-los a pró-atividade. Eventos
itinerantes de Educação ambiental têm importância para renovar idéias, unir forças e alavancar atitudes em
prol de um bem individual e um bem maior que é a sociedade atual e futura. Com a ocorrência da “1ª.
Semana do Meio Ambiente” da empresa, pode-se notar por parte dos funcionários o surgimento de
novidades ecológicas para a empresa e um aumento da consciência de todos comprovada com discussões
entre departamentos e gerências acerca de desperdícios anteriormente imperceptíveis.
Palavras-Chave: Gestão Ambiental Corporativo. Sustentabilidade Empresarial. Alfabetização
Ecológica.

1. INTRODUÇÃO
Em um contexto caracterizado pela degradação constante no meio ambiente, a reflexão sobre as
práticas sociais, necessita de uma forte articulação com sensibilização sobre a Educação Ambiental (EA). A
dimensão ambiental se apresenta de forma crescente como um tema que envolve um conjunto de atores
do universo educativo, maximizando o engajamento dos diversos sistemas de conhecimento, e a captação
de profissionais numa perspectiva interdisciplinar (TRISTÃO, 2004).
Segundo Rodrigues (2009) através do entendimento do ambiente, a EA pode ser compreendida
como um sistema que responde positivamente ou negativamente às ações humanas e modificações
naturais que permite a sensibilização das pessoas para as questões ambientais. A EA, para cumprir a seu
intuito legalmente definido pela Lei 9.795/99 (BRASIL, 1999), que institui a Política Nacional de Educação

104
Soraya Giovanetti EL-DEIR, Professora Orientadora, Pesquisadora Líder do Grupo Gestão Ambiental em
Pernambuco (Gampe), Adjunto da Universidade Federal Rural de Pernambuco

João Pessoa, outubro de 2011


1191

Ambiental (PNEA) e o Decreto 4.281/02 (BRASIL, 2002) que a regulamenta, deve proporcionar as condições
para o desenvolvimento das capacidades necessárias; para que grupos sociais, em diferentes contextos
socioambientais do país, exerçam o controle igualitário da gestão ambiental pública. Sendo assim, se torna
necessário esclarecer o caráter de uma EA com este propósito e seus pressupostos (QUINTAS, 2004).
“A Educação Ambiental vem sendo incorporada como uma prática inovadora em diferentes
âmbitos. Destaca-se tanto sua internalização como objeto de políticas públicas de educação e de meio
ambiente em âmbito nacional, quanto sua incorporação num âmbito mais capilarizado, como mediação
educativa, por um amplo conjunto de práticas de desenvolvimento social” (CARVALHO, 2001). Comumente,
se persiste na teoria segundo a qual a EA constitui uma transversalidade, no sentido exato em que esta não
se detém em uma mera abordagem disciplinar e desta maneira, além de requerer uma convergência de
disciplinas e saberes, sejam esses científicos e não científicos, também demanda atitudes éticas com
relação a nossa inserção no mundo em que vivemos. A crítica ao modelo desenvolvimentista embasado na
modernidade ocidental e as conseqüências de práticas econômicas prejudiciais ao meio ambiente estão
sendo foco em diversos discursos ambientalistas que fundamentam a EA (AYRES & BASTOS FILHO, 2007).
Com este olhar, a empresa em tela, em parceria com o Gampe/UFRPE, vem desenvolvendo atividades de
EA, que ora é o objeto de análise deste trabalho.

2. MATERIAL E MÉTODOS
O presente trabalho teve como metodologia ações modulares e seqüenciais, que são descritas, face
a multiplicidade de ações para se estabelecer os paradigmas para uma ação de EA abrangendo os diversos
saberes presentes num ambiente corporativo.

2.1. PESQUISA DE PERCEPÇÃO AMBIENTAL CORPORATIVA


A fim de conhecer o modo de pensar e agir dos funcionários da empresa fez-se uma pesquisa por
amostragem e se analisou a percepção ambiental desses através da aplicação de 100 (cem) questionários,
de um universo de 459 funcionários. Esta amostragem tomou o cuidado de abranger todos os
departamentos e coordenações, sendo pois representativo do pensar corporativo. Os questionários
consistiram de perguntas abertas e fechadas, objetivas e subjetivas, assim como tendo áreas para registro
de falas, visando a analise do discurso quanto pertinente.

2.2. REUNIÕES DE PLANEJAMENTO COM OS SHAREHOLDERS E EQUIPE ENVOLVIDA


Foi definida a equipe gestora e iniciado os ajustes institucionais, através de contato constante com
a alta direção da empresa, onde foram delineadas as temporalidades de cada ação, para que fossem
otimizados os recursos e tempo nesta ação. Iniciaram-se os contatos com patrocinadores e empresas
parceiras a fim de firmar compromissos com o cronograma da semana e buscar recursos de diversos fins
para viabilizar as ações planejadas.

2.3. ESTRUTURAÇÃO DE FERRAMENTAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL


As ferramentas foram discutidas junto ao setor de Marketing, Recursos Humanos e Meio Ambiente,
foram elencados temas para se trabalhar junto aos stakeholders ou colaboradores corporativos e formas de
abordagem com os funcionários nos seus diferentes níveis. Todo o planejamento foi realizado de maneira
dialógica, com os diversos setores interessados nas atividades, buscando internalizar as expectativas de
todos. O Grupo Gestão Ambiental em Pernambuco (Gampe), da Universidade Federal Rural de Pernambuco
(UFRPE) deu suporte expondo experiências acadêmicas que foram atreladas à diagnósticos de Percepção
ambiental aplicados na empresa.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A empresa já havia desenhado campanha ambiental para ser deflagrada durante a Semana de Meio
Ambiente de 2011, intitulada “Juntos por uma Empresa Sustentável”. Esta tem como proposta motivar os
seus empregados à melhoria socioambiental da empresa e de sua atuação enquanto profissional, por meio
de peças informativas sobre reciclagem, poluição, desperdício e os demais temas que envolvem a
preservação do meio ambiente, buscando sensibilizar estes para uma atuação profissional mais

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1192

sustentável. A campanha iniciou-se com a “1ª Semana do Meio Ambiente”, que ocorreu no período de
junho de 2011.
O principal objetivo da realização da “1ª Semana do Meio Ambiente” foi de sensibilizar
socioambientalmente os colaboradores da empresa para refletirem a respeito de temáticas como a
preservação do meio ambiente, as práticas sustentáveis num ambiente corporativo, introduzindo a cultura
dos 4 R’s (reduzir, reutilizar, repensar e reciclar), visando uma mudança de atitude com relação aos
insumos consumidos e aos resíduos sólidos produzido diariamente.

3.1. PESQUISA DE PERCEPÇÃO AMBIENTAL CORPORATIVA


“As diferentes visões e posturas frente à problemática ambiental decorrem das diferentes
maneiras de se compreender a questão ambiental” (OLIVEIRA & CORONA, 2008). Antes de se inserir a
temática ambiental na empresa, foi-se necessário compreender a percepção dos funcionários. Quanto ao
desperdício pode-se constatar que a maioria dos entrevistados jogam fora o copo descartável após seu uso
(51%) e que os demais guardam para o uso durante o dia (49%). Quando interrogados quanto ao número
de copos utilizados por dia, poucos afirmaram não utilizar copo (5%), alguns fazem uso de apenas um por
dia (20%) e outros chegam a fazer uso de 5 ou mais copos diariamente (16%), havendo casos de uso de
mais de 10 copos por dia.
Referente à destinação dada aos papéis utilizados na empresa, muitos dos colaboradores jogam o
papel no lixo comum (36%), mas para a maioria o papel é separado para a reciclagem (41%), enquanto
outros utilizam o papel usado apenas uma vez como rascunho no seu verso (38%) e apenas poucos enviam
os papeis para serem transformados em blocos pela gráfica da própria empresa (9%). Na questão referente
à Coleta Seletiva, observa-se que os entrevistados apresentam noções básicas sobre o tema. Os dados
revelam que a maioria considera que a coleta seletiva consiste na separação do lixo (66%), ao passo que
outros entendem como o processo de sepação, acondicionamento e encaminhamento para reciclagem
(20%), sendo que os demais forneceram respostas diversas (16%). Todos os colaboradores entrevistados
acreditam que é importante a coleta seletiva ser implantada na empresa.
Quanto ao conhecimento específico relativo a termos técnicos, poucos entrevistados souberam
responder sobre o significado dos 4R´s (26%), que são fundamentais quando se almeja alcançar a
sustentabilidade. Quanto aos questionados sobre as ações de rotina para proteger o meio ambiente,
muitos dos entrevistados afirmou não jogar lixo na rua ou no chão (39%), outros separam o lixo (27%),
alguns economizam energia (24%), poucos separam o papel para a reciclagem (13%). Os entrevistados em
sua maioria acreditam que a responsabilidade por cuidar do meio ambiente é de toda a sociedade (73%),
poucos afirmam que é apenas dos governos (13%) e os demais responsabilizam que esta responsabilidade é
compartilhada entre a sociedade e o governo (15%). Apesar da maioria dos entrevistados terem
consciência que a responsabilidade de cuidar do meio ambiente é da sociedade (88%), não se pôde
constatar hábitos sustentáveis em todos estes, nem de forma consolidada.

3.2. FERRAMENTAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL


A questão ecológica está cada vez mais presente no dia-a-dia da sociedade, seja pela divulgação da
mídia ou a nítidas mudanças da paisagem e do clima nos diversos ambientes. Com isso a EA subsidia o
debate ecológico e dilata o número de pessoas que estão direta ou indiretamente envolvidas na prática da
conservação e da conscientização ambiental, essencial para a desenvolvimento de cidadãos plenos (JACOBI
et al., 2004). “Vários são os meios que os especialistas lançam mão para sensibilizar a população dos
problemas ambientais. Através de seminários, congressos e conferências sobre meio ambiente e
desenvolvimento sustentável, procura-se comprovar que os recursos naturais são finitos e que a
exploração excessiva desses recursos coloca em risco o futuro das novas gerações” (OLIVEIRA & CORONA,
2008). Mas para a estruturação de eventos na área ambiental, se faz mister o desenvolvimento de uma
identidade visual, para que todas as ações tenham conexão visual. Neste sentido, passos operacionais
tiveram lugar para a estruturação das ferramentas de EA:

Criação de identidade visual para as iniciativas de EA:


Para estabelecer uma ligação direta com os funcionários, o projeto da semana necessitou ter uma
identidade. A formação disso foi através de discussões com toda a equipe gestora do projeto, para que as

João Pessoa, outubro de 2011


1193

necessidades fossem atendidas e para que essa repassasse à todos a essência da proposta. O slogan
utilizado foi “Juntos por uma empresa Sustentável”, a marca remetia a união e a idéia central da proposta,
que era trabalhar para que a empresa passasse a seguir parâmetros de sustentabilidade com a contribuição
de todos. Além da busca pela aceitação, objetivou-se com isso que todos participassem ativamente
desenvolvendo novas ideias, tornado-se pró-ativo e colocando em ação novos hábitos

Material instrucional e Peças gráficas:


Na divulgação do evento foi utilizado diversos meios de comunicação, tais como cartilha sobre o
princípio dos 4R’s e a Coleta Seletiva, que foi distribuída para cada chefe de gerencia com o objetivo de que
esse repassasse e discutisse as informações acerca do tema para seus subordinados. Visando fixar a idéia
dos 4R’s e as cores da coleta seletiva, antes do início da semana do meio ambiente, foram colocados
teasers, ferramenta utilizada pelo marketing para provocar a curiosidade das pessoas, na forma de adesivos
no piso dos corredores da empresa com a intenção das pessoas procurarem saber o que ia acontecer e/ou
buscarem mais informações acerca dos 4R’s. Foram alocados em locais estratégicos da empresa dois
conjuntos de quatro banners, cada um com informações referentes à cor da Coleta Seletiva e a tipologia de
cada um dos materiais a serem separados. Esses foram colocados individualmente em cada local,
vislumbrando-se a individualização da cor, visto que grande parte da população não sabe o que cada cor
significa.

Figura 1: Teasers fixados no chão da empresa

Figura 2: Banner fixado em diversos pontos da empresa

Palestras:
Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade
1194

Visando discutir temáticas ambientais com os colaboradores da empresa, a abertura da 1ª Semana


do Meio Ambiente, foi focada no cotidiano da sociedade, sendo realizada palestra sobre coleta seletiva
(Figura 1 e 2), ministrada por técnico responsável pela Gerência da Coleta Seletiva da Prefeitura da Cidade
do Recife. Durante a apresentação foram abordados temas como os desafios para gestão dos resíduos
sólidos urbanos, a Legislação Federal, Estadual e Municipal vigente sobre coleta seletiva e resíduos sólidos,
histórico da coleta seletiva, tipos de coleta, organizações de catadores e capacitação. Após a palestra, os
estagiários de gestão ambiental da empresa apresentaram diagnóstico de resíduos sólidos obtido em
estudo prévio feito pelos mesmos na empresa, nesta foram expostos os resultados com informações sobre
análises quali-quantitativas dos resíduos produzidos na empresa, rotinas de coleta e armazenamento dos
resíduos sólidos e os resultados da pesquisa de percepção ambiental realizada com os funcionários. Tendo
como objetivo refletir junto com os funcionários a respeito dos números da pesquisa e a realidade da
empresa, assim como discutir possíveis desperdícios gerados e formas mais eficientes de uso dos recursos
pela empresa, os stakeholders se mostraram muito interessados na questão e sensíveis a um repensar do
seu cotidiano sobre a temática.
A palestra também teve caráter instrucional, pois visou dar início a coleta seletiva dentro da
empresa. Com isso a empresa adotou uma nova rotina mais eficiente, seguindo a lógica de recolhimento de
elevação da eficiência dos colaboradores responsáveis pela limpeza e a possibilidade destes terem tempo
livre para tarefas novas ou para o aperfeiçoamento de tarefas antigas, na área de serviços gerais na
empresa. Ao final, foi realizado um quiz com os funcionários presentes sobre os assuntos explanados
durante as apresentações, pôde-se observar um maior interesse por parte desses acerca do tema coleta
seletiva, visto que os mesmos se mostraram bastante interessados interagindo com os palestrantes ao
responderem e realizarem perguntas. Em outro momento da semana, foi realizada uma palestra sobre
sustentabilidade econômica, visando-se dessa forma apresentar a sustentabilidade em outros sentidos,
para que o seu significado fosse bem compreendido. O tripé sobre sustentabilidade ambiental, social e
econômica foi bem enfatizado.

Figura 3 - Palestra sobre coleta seletiva na empresa.

João Pessoa, outubro de 2011


1195

Figura 4 – Colaboradores da empresa presentes na palestra sobre coleta seletiva.

Gerenciador e intranet:
A ferramenta de contato contínuo utilizada foi o gerenciador e intranet. Através deles
continuamente foram enviadas mensagens de incentivo, com instruções e informações para que toda a
empresa tivesse o sentimento de estar presente num movimento. Através desses meios os funcionários
eram convocados à “momentos surpresas”, onde eram explanadas informações e atividades que não foram
expostos anteriormente no cronograma. Curiosidades sobre meio ambiente eram divulgadas
constantemente de forma concisa e atrativa.

Obras Artísticas:
Foram expostos quadros ecológicos feitos com cimento reutilizado, pintados com a temática
ambiental, desde desmatamento à energias renováveis. A intenção foi ainda a de inserir a acessibilidade na
semana do meio ambiente, pois todas as obras de arte expostas eram táteis. Estas ficaram expostas
durante toda a semana e discussões acerca dos temas dos quadros eram realizadas com os estagiários de
meio ambiente, que usaram do mecanismo da arte para disseminar informações. Os funcionários se
mostraram satisfeitos e interagiram, realizando a troca do conhecimento empírico pelo acadêmico em
vários momentos.

Exposição de trabalhos científicos do Gampe/UFRPE


Durante a “1ª. Semana do Meio Ambiente” foram expostos trabalhos científicos publicados em
congressos e eventos, cuja temática central era Meio Ambiente e Gestão Ambiental. Os trabalhos foram
apresentados por estudantes da UFRPE no pátio principal da empresa para esclarecimento de dúvidas e
curiosidades dos funcionários.

Esquete Teatral
Foram contratados dois arte educadores que interpretaram de forma descontraída e divertida
diversas situações corriqueiras da empresa, expondo alguns hábitos de desperdício e falta de
comprometimento, incentivando as pessoas a agirem ecologicamente apresentando os benefícios tanto
para a empresa quanto para as pessoas. O principal intuito desta ação foi mostrar o impacto ambiental
gerado por tais hábitos tanto para o meio ambiente como também para a própria empresa.

Caneca Ecológica
No último dia da campanha, após a apresentação da esquete teatral, foram entregues aos
colaboradores da empresa canecas térmicas fornecidas por um parceiro da empresa, com o objetivo de
incentivar a não utilização de copos descartáveis para água por parte dos funcionários, o que refletirá numa
diminuição substancial do número de copos utilizados para este fim, visto que diariamente são utilizados
cerca de 1700 copos pela empresa segundo dados quantitativos dos resíduos. Além da distribuição das

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1196

canecas, foram estruturadas metas para cada gerência com relação á demanda de pedidos desse material
ao almoxarifado.

3.3. IMPLANTAÇÃO DA COLETA SELETIVA


Na oportunidade da “1ª. Semana do Meio Ambiente”, visando dar uma destinação correta aos
resíduos produzidos pela empresa, foi implantada a coleta seletiva. As ferramentas de EA deram suporte
para a implementação desta ação, através do repensar destes a respeito da proposta da coleta seletiva.
Visando adesão à causa através de reportagens com associações de catadores, buscou-se sensibilizar os
funcionários quanto ao valor agregado do resíduo para determinada parcela da população. A aquisição de
coletores seletivos distribuídos pela empresa também é uma forma de fixar as cores e incentivar a
contribuição de todos e o compromisso com a questão ambiental não apenas na empresa. Para os
corredores foram alocados os conjuntos adquiridos, contudo para os ambientes internos os coletores
usados anteriormente foram Reutilizados através da adesivação. O número de coletores nos ambientes foi
reduzido visando-se aumento da eficiência na coleta dos resíduos, prezando-se a qualidade do ambiente de
trabalho a estratégia foi de nas salas serem colocados apenas o resíduo de papel, para os demais resíduos
os coletores encontram-se dispostos no corredor.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estratégias para elevação da consciência ambiental dentro de espaços corporativos são
fundamentais para se alcançar a sustentabilidade. A Educação Ambiental deve ser um instrumento
utilizado de forma contínua e inovadora para despertar nos funcionários a sensibilidade com a temática e
incentivá-los a pró-atividade. Eventos itinerantes de Educação ambiental têm importância para renovar
idéias, unir forças e alavancar atitudes em prol de um bem individual e um bem maior que é a sociedade
atual e futura. Com a ocorrência da “1ª. Semana do Meio Ambiente” da empresa, pode-se notar por parte
dos funcionários o surgimento de novidades ecológicas para a empresa e um aumento da consciência de
todos comprovada com discussões entre departamentos e gerências acerca de desperdícios anteriormente
imperceptíveis.

REFERÊNCIAS
AYRES, F. G. S. & BASTOS FILHO, J. B. O exercício das liberdades, o combate à pleonexia e a
educação ambiental no processo do desenvolvimento. Revista Brasileira de Ciências Ambientais, n. 7, agosto
de 2007.
BRASIL. Lei 9.795/99, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) e dá outras
resoluções. Diário Oficial da União, 25 de abril de 1999.
BRASIL. Decreto 4.281/02, que Regulamenta a Lei no 9.795, de 27 de abril de 1999, que institui a
Política Nacional de Educação Ambiental, e dá outras providências. Diário Oficial da União, 25 de julho de
2002.
CARVALHO, I. C. M. Qual educação ambiental? Elementos para um debate sobre educação
ambiental e extensão rural. Agroecol. e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.2, n.2, abr./jun.2001
OLIVEIRA, K. A. & CORONA, H. M. P. A percepção ambiental como ferramenta de propostas
educativas e de políticas ambientais. Revista ANAP Brasil, n.1, ano 1, jul. 2008.
RODRIGUES, B. R. L., A evolução da Educação Ambiental na sociedade. Livro Educação Ambiental
para a sociedade sustentável e saúde global, 3ª edição, v.4, 2009.
TRISTÃO, M. A Educação Ambiental na formação de professores: redes de saberes. Annablume São
Paulo. Vitória: Facitec, 2004.
QUINTAS, J. S. Educação no processo de gestão ambiental: uma proposta de educação ambiental
transformadora e emancipatória. Identidades da educação ambiental brasileira/ Ministério do Meio
Ambiente. Diretoria de Educação Ambiental; Brasília, 2004.

João Pessoa, outubro de 2011


1197

LIXO UM PROBLEMA DE TODOS: COOPERATIVA “ACORDO VERDE”


FRENTE SUA PERSPECTIVA SOCIAL E AMBIENTAL
NATALINA DANTAS ¹ (dantasnat@hotmail.com)
JANDER CAINÃ DA SILVA SANTOS ² (janderkainan@hotmail.com)
ORIENTADOR: Dr. VANCARDER BRITO SOUSA ³ (vancarder@hotmail.com )
1. Discente do curso de Ciências Biológicas, Universidade Estadual da Paraíba, CEP - 58020-540, João Pessoa- PB, Brasil
2. Discente do curso de Ciências Biológicas, Universidade Estadual da Paraíba, UEPB
3. Professor da Universidade Estadual da Paraíba

RESUMO
O aumento do lixo urbano tornou-se um desafio para os gestores públicos e para a sociedade,
vendo na coleta seletiva um instrumento de inclusão social e defesa ambiental. O programa “Acordo
Verde”,criado em João Pessoa é uma política sócio ambiental, onde antigos catadores de lixo agora
chamados agentes ambientais trabalham em parceria com a população. Com isso o objetivo deste trabalho
é mostrar a importância da coleta seletiva realizadas pela a cooperativa “Acordo Verde” , os problemas
enfrentados por parte dos agentes ambientais e a participação da comunidade do ponto de vista dos
mesmos. A análise dos resultados foi obtida através de um questionário aplicado aos agentes em um dos
núcleos de coleta seletiva localizado em mangabeira quatro, onde se pôde perceber muitos problemas no
que se refere a falta de conscientização e de uma política de educação ambiental por parte da população,
assim como também a falta de condições adequadas de trabalho, ficando muito claro que a seguridade da
qualidade ambiental por parte do programa obtêm de maior interesse que a seguridade social.
Palavra chave: Coleta seletiva, lixo urbano, agentes ambientais

INTRODUÇÃO
Considerado uma questão de ordem pública, e ambiental, o lixo urbano torna-se um
problema de responsabilidade do Estado e de todos os cidadãos. No entanto, nas grandes cidades do Brasil,
um dos maiores desafios para os gestores públicos têm sido fazer com que os órgãos e empresas de
limpeza urbana operem no mesmo ritmo em que os resíduos sólidos são produzidos ( SOARES, 2010).
O Brasil gera diariamente cerca de 149 mil toneladas de resíduos sólidos, mas apenas 13,4
mil, ou 9%, são recicladas, segundo o Informe Analítico da Situação da Gestão Municipal de Resíduos
Sólidos no país, do Ministério das Cidades. O restante, 135,6 mil toneladas, é destinado a aterros sanitários
(32%), aterros clandestinos (59%) ou lançados diretamente nas ruas e terrenos baldios, causando
problemas ao meio ambiente e gerando sérios riscos à saúde pública (DIAS & TEODÓSIO, 2006 , apud
ALMEIDA et al, 2010 ). Esses dados confirmam a grande quantidade de materiais que são descartados e
podem ser coletados e repassados às indústrias que lidam com a reciclagem, sendo esta uma alternativa
sustentável para propiciar a preservação de recursos naturais, a economia de energia, a redução de área
que demanda o aterro sanitário, a geração de emprego e renda, assim como a conscientização da
população para questões ambientais (O´LEARY et al., 1999).
Com o aumento da população urbana e o crescimento econômico do país ocorreu
proporcionalmente um aumento na quantidade de resíduos sólidos. Tendo em vista esta evolução na
produção de lixo do Brasil , foi determinado pelo Ministério das Cidades, que toda cidade com população
acima de 6.000 habitantes deveria realizar a coleta seletiva (SOARES, 2010). Em face dessa prerrogativa, e
contando com uma população de aproximadamente 674.762 habitantes ( IBGE, 2000), a prefeitura de João
Pessoa no ano 2000 passou a investir na coleta de materiais potencialmente recicláveis na cidade. Com a
extinção do lixão do Róger, em agosto de 2003, a gestão pública, incrementou o sistema de coleta seletiva
porta-a-porta, contando principalmente com os antigos catadores de lixo do Róger, divididos pelos três
primeiros núcleos montados, localizados nos bairros do Bessa, Cabo Branco e Bairro dos Estados.
Quatro anos depois nasce o programa “Acordo Verde”, uma política sócio ambiental,
implementada em 2007, pela Prefeitura Municipal de João Pessoa/PB, que tem como base um acordo
simbólico firmado entre os “agentes ambientais”, antes nomeados catadores de lixo, e a população
residente dos bairros de Bancários, Jardim Cidade Universitária, Anatólia, Jardim São Paulo, Mangabeira, e

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1198

Água fria. Neste acordo, a população se compromete em separar o lixo doméstico orgânico, do lixo com
destinação à reciclagem, e os agentes se comprometem em realizar a coleta do lixo reciclável
semanalmente, fazer a triagem para posterior venda. Os gestores públicos envolvidos no programa e que
coordenam todas as atividades é composto pela empresa EMLUR. Atualmente, o trabalho porta a
porta feito por agentes ambientais (catadores) ocorrem em apenas 22 localidades, como nos bairros de
Tambaú, Cabo Branco e Manaíra, Altiplano, Bessa, Miramar, Mandacaru, Bairro dos Estados, Bairro dos
Ipês, Jardim 13 de Maio, Mangabeira I a VIII, bancários além dos conjuntos Pedro Gondim, e Verde Mar,
Condomínio dos Ipês I e II e Av. Epitácio Pessoa.
João Pessoa tradicionalmente é considerada uma das capitais mais verdes do Brasil. Por
outro lado, segundo o Sistema Nacional de informações sobre saneamento do Ministério das Cidades, o
paraibano é o segundo maior produtor de lixo do Brasil, produzindo diariamente, 1,56 kg de lixo, perdendo
apenas para os brasilienses, que produz 2,4 kg/dia (SOARES, 2010) .
Diante desta problemática o objetivo deste trabalho é mostrar a importância da reciclagem
realizadas pela a cooperativa “Acordo Verde” para a cidade de João Pessoa, assim como mostrar também
os problemas enfrentados por parte dos agentes ambientais e a participação da comunidade do ponto de
vista dos mesmos frente a esta iniciativa sustentável que trabalha para manter o equilíbrio ambiental
através da coleta seletiva do lixo de modo a dar-lhe um destino adequado.

METODOLOGIA
Foi realizada uma pesquisa exploratória sobre a cooperativa “Acordo Verde”, com visitação
de um dos galpões (núcleo de coleta seletiva) do programa, onde ocorre a separação de todos os materiais
recolhidos da rota que vai de mangabeira quatro até a ladeira da penha. Neste local foi aplicado um
questionário com 15 questões aos 20 agentes ambientais que estavam presentes. Isso corresponde a
aproximadamente 91% pois o galpão detém um total de 22 agentes.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Atualmente verifica-se que o impacto causado no meio ambiente pela produção
desenfreada de resíduos sólidos, tem levado governo e sociedade a buscar alternativas para minimizar a
degradação da natureza e aumentar o bem estar da sociedade como um todo. Devido a isso em João
Pessoa foi implantado o programa ”Acordo verde” que além do caráter ambiental, o programa promove a
inclusão social e a geração de renda dos catadores de lixo, que ao se transformarem em agentes ambientais
passaram a levar uma mensagem de conscientização à população e incentivar a sua participação na coleta
seletiva do lixo. Segundo uma pesquisa desenvolvida pelo Compromisso empresarial para a reciclagem (
CEMPRE, 2002), no país tem-se apenas 3,5% dos 5.561 municípios operando programas de coleta seletiva,
o que corresponde em 192 experiências implantadas e em funcionamento.
Em João Pessoa mais de 600 toneladas de lixo são produzidos por mês desse total, 3%
poderia passar por um processo de reciclagem, só que apenas 1% consegue ser reaproveitado pelos
catadores de coleta seletiva na Capital (NUNES, 2011) . Mais de 3,5 mil toneladas de material reciclável
foram separadas nos centros de triagem em 2010, aproximadamente 3% do total dos resíduos sólidos
produzidos na Capital e nos quatro primeiros meses de 2011, já foram coletados 925,9 toneladas nos
núcleos de João Pessoa, 37 toneladas apenas na região do Cabo Branco no mês de janeiro (JORNAL O
NORTE, 2011). Segundo o coordenador da Coleta Seletiva da Empresa Municipal de Limpeza Urbana
(Emlur), Edilberto Barbosa, esses números poderiam ser maiores se a população contribuísse separando o
lixo orgânico do lixo que pode ser reciclado ( NUNES,2011).
Segundo BRINGHENTI, (2004 ) a falta de participação da população brasileira é atribuída as
falhas de um melhor planejamento por parte dos programas de coleta seletiva. Tomando por base seus
estudos feitos em São Paulo este tipo de ação requer uma maior disponibilidade da população que deverá
se deslocar até um posto de entrega, dificultando desta forma a participação da comunidade que não
dispõe deste tempo devido a correria do cotidiano nos centros urbanos. Isso aqui em João Pessoa não é o
problema, já que a coleta ocorre na própria residência, o que demonstra que o que falta é informação por
parte da sociedade.
De acordo com VILLELA, (2001), não se pode desenvolver qualquer programa vinculado a
sustentabilidade e proteção ambiental sem o envolvimento dos cidadãos, caso os conceitos por trás dos

João Pessoa, outubro de 2011


1199

programas não sejam devidamente assimilados, por mais bem intencionados e por melhor elaborados que
sejam, não estarão inseridos nas atividades do dia-a-dia da população resultando em baixa eficácia.
Segundo Maria José da silva , coordenadora dos coletores do núcleo de coleta seletiva de
mangabeira quatro, local de estudo, também relata a falta de participação por maior parte da comunidade
que não optaram por separar o lixo e aderir ao acordo verde, entretanto do material que chegam ao núcleo
de coleta seletiva ou galpão aproximadamente 95 % é aproveitado para a reciclagem. Este galpão já chegou
a coletar 9 toneladas por quinzena, e isso ocorreu no mês de fevereiro deste ano. Dentre os matérias que
não são aproveitados estão os isopôs, embalagem de produtos como treloso, vitamilho , sabão em pó entre
outros .
Todos os tipos de materiais são recebidos, plásticos, vidro, papelão, papel, eletrônicos
,(figura.1) este último são utilizados apenas as placas de computadores.

Figura 1. Materiais recebidos no núcleo de coleta seletiva

Todo o material reciclável é separado de acordo com seu valor comercial, os quais são
divididos em doze categoria.
1. Catemba (R$ 0,90 centavos) : plástico duro (potes de margarinas, shampoo, água sanitária)
2. Pet refrigerante, de água mineral ( R$ 0,60 centavos Kg .
3. Borréia ( R$ 0,60 centavos Kg ): Plástico transparente (pet vinagre, óleo)
4. Papel branco (R$ 0,90 centavos Kg)
5. Papel misto (R$ 0,80 centavos Kg )
6. Papelão (R$ 0,80 centavos Kg)
7. Sucata : Ferro (R$ 0,18 centavos Kg ) e metal em cobre (R$ 10,00 reais Kg )
8. Alumínio grosso (R$ 1,80 Kg ): Panela por exemplo
9. Vidro avulso (R$ 008 centavos Kg)
10. Sacolas plásticas (R$ 0,25 centavos Kg)
11. Latinha (R$ 2,00 reais Kg)
12. material eletrônico; não informou o valor

Após serem triados e prensados (Figura 2) tudo é vendidos através da EMLUR para
“atravessadores” que chegam a vendê-los em Recife pelo o dobro do valor para empresas como a
copoplástica. Este é um dos problemas enfrentados pelos os agentes, que reclamam por não ter acesso a
qualquer tipo de negociação e se sentem enganados como fala o segurança Laécio Fernandes. Eles
reclamam dos baixos valores que são pagos, tendo recebido no máximo 150, 00 R$ por quinzena.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1200

Figura 2. Material reciclável prensado

Com a aplicação do questionário foi constatado também que 93% dos agentes não
concluíram o ensino fundamental e os 7% restantes não continuaram seus estudos ou por que já tinham
filhos e tinham que trabalhar ou porque buscaram outras alternativas como por exemplo uso de drogas
chegando até ficar presos por tráfico ou por roubo. VIANA, (2000), atribui esta baixa escolaridade a fatores
como a utilização de trabalho precoce, isto é, da força de trabalho de menores de dezoito anos, pelas
famílias de catadores de lixo, sendo este serviço fundamental para o complemento da renda familiar, a
grande jornada de trabalho e conseqüentemente o cansaço o que dificulta a vontade de freqüentar a
escola, assim como também o analfabetismo dos pais. As profissões citadas pelas as mulheres foram de
domésticas, as quais tiveram que parar de realizar este trabalho por causa dos filhos que não poderiam
ficar sozinhos, tendo desta forma que optar por catar lixo na rua e continuar com os filhos, isso demonstra
que a realidade de João Pessoa não é diferente da realidade nacional, onde os seus protagonistas passam
por muitos problemas tanto sociais como econômicos.
Todos os agentes comentaram que sofrem preconceitos por uma parte da sociedade
principalmente daquelas que não estão engajadas com o programa, isso ocorre através de piadas, olhares
e gestos como tamparem os narizes expressando desta forma a presença do mau cheiro. Fernando Costa
de 21 anos diz, ”que se sente muito humilhado e que as pessoas não pensam que ele está ali porque tem
que alimentar seus filhos, e diz também que talvez fosse melhor está roubando, assim no lugar de receber
olhares de nojo receberia olhares de medo”. Isso tudo demonstra que a sociedade é analfabeta tanto no
requisito ambiental como social. De acordo com SOBRAL, et al ( 2009 ), uma categoria em que se vê
contundentemente perpassada pelo processo de invisibilização social são os/as catadores/as de materiais
recicláveis. Este segmento social, possui um histórico de grave exclusão social, encontrando na atividade
de coleta de materiais a única alternativa para sua sobrevivência e de suas famílias. Sua atividade, no
entanto, não tem o reconhecimento social, e isso contribui para que estes trabalhadores se tornem
socialmente invisíveis, e sejam desagregados da sua condição de gente, pessoa humana, e projetados
unicamente em função do trabalho que realizam. Não ser visível gera sentimentos de desprezo e
humilhação para aqueles que convivem co esse tipo de execração.
Os agentes ambientais também reivindicam melhores condições de trabalho, pois faltam
paramentos como luvas, sapatos, e uniformes o qual possuem apenas um para trabalharem todos os dias.
Reclamam da comida que é de péssima qualidade, e pouco nutritiva para quem caminham em média 15 a
20 quilômetros arrastando muito peso e ainda enfrentando as condições climáticas como altas
temperaturas durante o verão ou as chuvas no inverno.
Outra observação evidenciada é sua obrigação como qualquer trabalhador, quando faltam
é descontado o dia, no entanto não tem nenhum direito trabalhista, como por exemplo assistência médica,
pois não há vínculo empregatício com o programa. “Em caso de acidente de trabalho pedir a Deus que nada
aconteça se não eu morrerei de fome fala dona Maria José”. Isso torna evidente que a seguridade da
qualidade ambiental por parte do programa obtêm de maior interesse que a seguridade social. Os
acidentes nesse tipo de trabalho geralmente acontecem em decorrência da precarização e falta de

João Pessoa, outubro de 2011


1201

condições adequadas de trabalho, traduzidos em ferimentos e perdas de membros por atropelamentos,


inalação de gases tóxicos, manejo de materiais perfuro cortantes, prensagem em equipamentos de
compactação e veículos automotores, além de mordidas de animais (cães, ratos) e picadas de insetos,
(FERREIRA & ANJOS 2001).
É verdade que no projeto” acordo verde” existe muitos problemas no entanto, não
podemos deixar de lado sua contribuição para com a natureza pois evitam que milhões de toneladas
sobrecarreguem o meio ambiente, já que a sua destinação inadequada são grandes responsáveis pela
poluição no solo, dos meios aquíferos e do ar. Para tentar reduzir essa quantidade de malefícios gerados do
lixo, a coleta seletiva é apontada como uma boa solução, cujas vantagens representam economia de
matéria-prima e de energia obtidas do meio ambiente, redução da saturação dos aterros sanitários,
ganhos com a venda dos produtos recicláveis e geração de “empregos”.Evita também transtornos vividos
nos centros urbanos como entupimento de bueiros, alagamentos e ainda mantém a cidade mais limpa.
Neste ano o projeto já conseguira a adesão de empresas privadas como o boticário, a rede de
supermercado Bem Mais e da UFPB cuja parceria nasceu da campanha de coleta seletiva solidária, criada
para conscientizar a comunidade universitária sobre a necessidade de reaproveitamento dos resíduos
sólidos.
Segundo levantamento realizado pela comissão de gerenciamento de resíduos sólidos da
prefeitura universitária da UFPB, somente no campus I, em joão pessoa, são produzidos, diariamente, 1,7
tonelada de resíduo sólido por mês, a instituição produz 35 toneladas de lixo, ou 385 toneladas ano.
Destes, 28% são recicláveis (papel, papelão, plástico, vidro e metal), estimando-se uma reciclagem anual de
107,8 toneladas (NUNES, 2011). A meta é que no máximo em seis meses os campi II (areia), III (bananeiras)
e IV (manmanguape e rio tinto) também participem do projeto.
Esta iniciativa sustentável sacramentada no “Acordo verde” é extremamente importante
para a cidade de João Pessoa que como qualquer outro centro urbano vem crescendo muito rapidamente e
onde já se possui uma política de cuidado com meio ambiente mesmo que com muitas falhas e que
caminha a paços curtos.

CONCLUSÃO
O programa Acordo Verde surgiu com a intenção de incrementar o processo de reciclagem
na cidade de João Pessoa, representando um avanço significativo de política sócio-ambiental, pois contribui
para que as bases sociais sejam transformadas, no sentido de uma maior integração social. No entanto,
quanto às condições de vida dos agentes ambientais, outros aspectos precisam ser observados
principalmente relacionado as condições em que estes trabalham, pois estas pessoas viram no programa
“Acordo Verde” uma pequena chance de mudar um pouco suas condições de vida. Quanto a
participação da população necessita-se de ações sócio-educativas e ambientais qualificadas de modo a
melhorar a conscientização das pessoas vindo a contribuir desta maneira para com a construção da
cidadania e justiça social.

AGRADECIMENTOS
Agradeço com todo carinho, a atenção e a disponibilidade de todas as pessoas que contribuíram
com este trabalho em especial os agentes ambientais e ao senhor Reginaldo Severino dos Santos,
coordenador dos fiscais, Eliosmar Wagner Costa Silva e Maria José da Silva , coordenadores dos grupos dos
agentes ambientais.

REFERÊNCIAS
ALMEIDA, G. A.; VIEIRA, S. B.; MARTINS, D. V. A coleta de resíduos sólidos urbanos e a
sustentabilidade no município de João Pessoa: Programa Acordo Verde. In: 3º Simposio Iberoamericano de
Ingeniería de Residuos 2º Seminário da Região Nordeste sobre Resíduos Sólidos Red de Ingeniería de
Saneamiento Ambienta (REDISA). Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES). 2010
BRINGHNTI, J. Coleta seletiva de resíduos sólidos urbanos: aspectos operacionais e da participação
da população. Tese de doutorado. São Paulo. 2004.
CEMPRE. Pesquisa CICLOSOFT. [ on line]. Brasil. CEMPRE; 2002. Disponível < URL:http//
www.cempre.com.br > .

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1202

JORNAL O NORTE. Coluna dia-a-dia. Disponível em:


<http://www.jornalonorte.com.br/2011/04/01/diaadia1_0.php>. Acesso em: 12 de julho de 2011.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Demográfico 2000. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/Censo2000/migração/Brasil_mig_censo2000.d >.
FERREIRA, J. A.; ANJOS, L. A. Aspectos de saúde coletiva e ocupacional associados à gestão dos
resíduos sólidos municipais. Cadernos de Saúde Pública. 2001
NUNES, A. Reaproveitamento do lixo. Disponível em:
<http://www.espacoecologiconoar.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=17061&Itemid
=1>. Acesso em: Em 1/04/ 2011.
O’LEARY, P. R. et al. Decision Maker’s Guide to Solid Waste Management. U.S. Environmental
Protection Agency,Washington, 1999.
SOARES, C. L. R. Riscos modernos, políticas reflexivas. A experiência da política sócio-ambiental,
Acordo Verde, do município de João Pessoa/PB. Revista Eletrônica de Ciências Sociais, No.15. pag 73-88.
2010.
SOBRAL, N.G.; SANTIAGO, I.M.F.L.; COSTA, J.C. Gênero e invisibilidade social entre catadores de
materiais recicláveis de Campina Grande/ PB. II Seminário Nacional: Gênero e práticas culturais. Culturas,
leituras e representações. João Pessoa. 2009.
VIANA, N. Catadores de lixo: Renda familiar, consumo e trabalho precoce. Revista Estudos
(Goiânia). Goiânia, vol. 27. N. 3. Pag. 1-20. 2000
VILLELA, S.H. ET AL. Validação social de políticas de resíduos sólidos urbanos. In: 21º concresso
Brasileiro de engenharia Sanitária e Ambiental; 2001. set 16-21; João Pessoa/ PB. s.1.; ABES; 2001.

João Pessoa, outubro de 2011


1203

INSERÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA PÚBLICA: MEIO DE


CONSCIENTIZAÇÃO PARA A CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO ESCOLAR
Natércia de Andrade LOPES-NETA
Mestranda em Educação Matemática e Tecnológica. Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Avenida Acadêmico
Hélio Ramos, S/N, Cidade Universitária. Recife, Pernambuco, CEP 50740-530.
E-mail: natercia.lopes@ufpe.br

RESUMO
Este artigo apresenta um relato de experiência numa Escola da Rede Estadual de Educação de
Alagoas, com histórico de violência ao patrimônio público protagonizada pelos próprios alunos. Através das
palestras sobre Educação Ambiental realizadas pela Comissão de Qualidade de Vida do Núcleo de Educação
Ambiental da Universidade Federal de Alagoas (COMVIDA/NEA/CEDU/ UFAL) em nossa Escola, entendemos
que podemos promover o diálogo entre as disciplinas escolares com a Educação Ambiental. Com
esta prática a educação ambiental assume caráter permanente no currículo escolar,
contribuindo na produção do conhecimento e na formação de posturas éticas em favor do meio
ambiente e da qualidade de vida. Buscamos discutir a importância da conservação do patrimônio
escolar partindo dos conceitos de Educação Ambiental de Dias (1992), Grün (1996) e Reigota (1998),
articulados com as tendências para o ensino de Estatística de Monteiro e Selva (2001) dentro da Educação
Matemática. Objetivamos identificar as palavras que representavam para os alunos a importância da escola
na vida deles através de uma pesquisa na disciplina de Matemática com os alunos do 1º ano do Ensino
Médio, o conteúdo a ser abordado era a Construção de Gráficos. Participaram das aulas cerca de 130
alunos das três turmas do 1º ano e eles construíram gráficos no software Excel com o resultado da pesquisa
entre aproximadamente 2000 alunos da Escola. Percebemos que para alguns alunos a Escola tem
importância, pois é através dela que eles constroem o conhecimento, visualizam a perspectiva de futuro e
se relacionam com os outros. Discutimos estes resultados dentro da perspectiva da Educação Ambiental
visando a conservação do patrimônio escolar a partir das importâncias elencadas pelos alunos pesquisados.
Palavras-chave: Educação Ambiental. Educação Matemática. Violência na escola.

INTRODUÇÃO
A educação ambiental agrega, à realidade contemporânea, um caráter inovador dos problemas
socioambientais além de alertar para a necessidade de promover mudanças efetivas que garantam a
continuidade e a qualidade da vida no Planeta. Por sua capacidade de relacionar realidades, até então,
aparentemente desligadas, revela a universalidade da questão ambiental, embora com variações regionais.
A humanidade, nos últimos anos, tem testemunhado o caráter problemático que reveste a relação
sociedade e meio ambiente, e que reflete aspectos culturais dos sujeitos. A falta de educação ambiental
revela justamente, o conjunto de contradições resultantes das interações internas do sistema social e deste
com o meio ambiente natural.
No campo da educação matemática a tendência para se aproximar de um enfoque sociocultural
tem se firmado como um dos seus pontos básicos. Neste sentido, segundo a Educação Matemática, os
educadores matemáticos buscam a construção de conceitos matemáticos pelo educando partindo de
situações que proponham a análise de problemas reais.
A crescente violência que insiste em adentrar os portões da nossa Escola e se manifestar de
diversas formas, como ofensa verbal, agressão física e destruição do patrimônio público dentre outras,
revela uma necessidade emergente em apresentar novos modelos de comportamentos que privilegiem o
exercício da ética e da cidadania.
Neste trabalho, o nosso foco foi utilizar a educação ambiental dentro da disciplina de matemática
através do tratamento das informações em gráficos, como meio de superar os altos índices de violência
contra o bem público, mais especificamente, a escola enquanto bem público, através da conscientização
dos alunos sobre a importância da conservação do patrimônio escolar.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1204

CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL


A educação ambiental enquanto processo pedagógico abrange uma diversidade de enfoques,
abordagens e metodologias e, na trajetória acadêmica e profissional de vários autores, verificamos, em
algumas instituições, que os conceitos são trabalhados de forma a articulá-los ao público alvo e à realidade
local. Os Parâmetros Curriculares Nacionais no que concerne ao tema transversal meio ambiente norteia o
trabalho docente,
Como esse campo temático é relativamente novo na cultura escolar, o professor pode priorizar sua
própria formação/informação à medida que as necessidades se configurem. Ter como meta aprofundar seu
conhecimento com relação à temática ambiental será necessário ao professor. (BRASIL, 1997, p.76).
No processo de construção e evolução de conceitos em torno da educação ambiental, algumas
definições foram consideradas, na articulação entre as formulações teóricas e as definições legais para a
questão.
Na I Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental – Tbilisi, Geórgia, ex-URSS (1977),
em sua Recomendação nº 1, que “a educação ambiental é o resultado de uma orientação e articulação de
diversas disciplinas e experiências educativas que facilitam a percepção integrada do meio ambiente,
tornando possível uma ação mais racional e capaz de responder às necessidades sociais”. Percebemos aí, a
evolução para o tratamento pedagógico-escolar da educação ambiental. Nesse momento, também,
aparece o caráter multidisciplinar e interdisciplinar da educação que vai assumindo, na escola, a sua
dimensão ambiental.
Nesse percurso conceitual, Dias (1992, p.31) nos traz a posição do Conselho Nacional do Meio
Ambiente – CONAMA que define educação ambiental como “um processo de formação e informação,
orientado para o desenvolvimento da consciência crítica sobre as questões ambientais, e de atividades que
levem à participação das comunidades na preservação do equilíbrio ambiental”. Trata-se, portanto de
processos educativos a serem desenvolvidos na escola e na comunidade.
A educação ambiental constitui-se numa forma abrangente de educação, que se propõe atingir
todos os cidadãos, através de um processo pedagógico participativo e permanente que procura incutir no
educando uma consciência crítica sobre a problemática ambiental, compreendendo-se como crítica a
capacidade de captar a gênese e a evolução de problemas ambientais.
Nesse sentido, o desenvolvimento deste trabalho, trazendo a melhor compreensão sobre a
problemática ambiental, possibilitou o conhecimento de estratégias políticas utilizadas em nível
governamental pelo Ministério do Meio Ambiente (2004), a exemplo do trabalho com a Juventude de Meio
Ambiente e da construção das Comissões de Qualidade de Vida – COMVIDA dentro da nossa Escola.
Descobrimos o potencial de articulação escola-comunidade, professor-aluno, contido na proposta que
torna a juventude protagonista da construção de um futuro ambiental que envolve a condição do Planeta
Terra e da qualidade de vida da comunidade onde o jovem se insere.
Encontramos um reforço dessa visão de vivência da cidadania e de qualidade de vida na educação
ambiental, indicando a participação nos processos de vivência escolar e comunitária, buscando os meios de
utilização dos recursos naturais sem a visão consumista e predatória. Para Reigota (1998, p. 10),
a educação ambiental se torna um exercício para a cidadania. Ela tem como objetivo a
conscientização das pessoas em relação ao mundo em que vivem para que possam Ter cada vez mais
qualidade de vida sem desrespeitar o meio ambiente natural que a cercam. Essa conscientização se dá a
partir do conhecimento dos seus recursos, os aspectos da fauna e da flora gerais e, específicos de cada
região; e, os problemas ambientais causados pela exploração do homem, assim como Os aspectos culturais
que vão se modificando com o passar do tempo e da mudança dos recursos naturais, como a extinção de
algumas espécies por exemplo. O maior objetivo é tentar criar uma nova mentalidade com relação a como
usufruir dos recursos oferecidos pela natureza, criando assim um novo modelo de comportamento. A
educação ambiental é um exercício para a participação comunitária e não individualista.

De acordo com Grün (1996, p. 25) a formulação de que “toda educação pressupõe o envolvimento
com o meio ambiente”. Para ele, portanto, não há uma educação que não seja ambiental. Se assim não for,
não é educação de modo algum.

João Pessoa, outubro de 2011


1205

EDUCAÇÃO MATEMÁTICA: CONTEXTUALIZAÇÃO DO ENSINO DE ESTATÍSTICA E USO DOS GRÁFICOS


Os professores de Matemática na atualidade vivem em busca de despertar e estimular nos alunos o
prazer de aprender esta disciplina. A experiência profissional faz perceber que articular o saber vivido,
experienciado, e o saber abstrato torna-se a função mediadora primordial do educador. Esta prática
encontra-se explícita na Filosofia da Educação Matemática e “caracteriza-se por um pensar reflexivo,
sistemático e crítico sobre a prática pedagógica da matemática e sobre o contexto sociocultural onde
ocorrem situações de ensino e de aprendizagem de Matemática.” (BICUDO, 2002, p. 77).
Para Fonseca, contextualizar não é abolir a técnica e a compreensão, mas ultrapassar esses
aspectos e entender fatores externos aos que normalmente são explicitados na escola de modo a que os
conteúdos matemáticos possam ser compreendidos dentro do panorama histórico, social e cultural que o
constituíram. Ainda segundo a autora,
As linhas de frente da Educação Matemática têm hoje um cuidado crescente com o aspecto
sociocultural da abordagem Matemática. Defendem a necessidade de contextualizar o conhecimento
matemático a ser transmitido, buscar suas origens, acompanhar sua evolução, explicitar sua finalidade ou seu
papel na interpretação e na transformação da realidade do aluno. É claro que não se quer negar a
importância da compreensão, nem tampouco desprezar a aquisição de técnicas, mas busca-se ampliar a
repercussão que o aprendizado daquele conhecimento possa ter na vida social, nas opções, na produção e
nos projetos de quem aprende. (FONSECA, 1995, p. 53)

Vê-se, portanto a necessidade de um currículo que foque a contextualização no processo de ensino


e de aprendizagem da disciplina de Matemática. Para D´Ambrósio (1997, p. 51),
Contextualizar a Matemática é essencial para todos. Afinal, como deixar de relacionar os Elementos de
Euclides com o panorama cultural da Grécia Antiga? Ou a adoção da numeração indo-arábica na Europa como
florescimento do mercantilismo nos séculos XIV e XV? E não se pode entender Newton descontextualizado.
Sabemos que uma compreensão maior do uso de gráficos pode acontecer no momento que o
aluno, como protagonista em sua escola, percebe-se como ator do processo de construção do
conhecimento,
Assim, por exemplo, para uma utilização satisfatória dos gráficos, não bastaria apenas a exposição; é
preciso que se proponha uma incursão aos mesmos. Ou seja, a organização das situações de ensino devem
possibilitar a interação dos leitores com os gráficos, com vistas a mobilizar os conhecimentos/experiências
prévias e a negociar os diversos significados que emergem na situação interpretativa. (MONTEIRO; SELVA,
2001, p.4).

Seguindo estas concepções para a Educação Matemática, levamos o Ensino de Estatística para o
dia-a-dia deles, através de uma pesquisa que reflete a importância da escola para seus colegas e os
pais/responsáveis.

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS AULAS DE MATEMÁTICA: REFLEXÕES SOBRE A VIOLÊNCIA ESCOLAR


O quadro atual da Escola apresenta algumas preocupações que articulam os motivos de sua criação
e à elaboração deste trabalho. Trata-se de um quadro contraditório entre a necessidade de educação
escolar no Residencial, onde se situa a Escola, reivindicado pelas representações sociais do ambiente sócio-
educacional do bairro e as ações predatórias contra a escola, patrimônio e bem público.
Desde que a escola foi inaugurada, em maio de 2003, sofremos com a depredação do patrimônio
público, podemos citar como exemplo, as carteiras escolares que ano após ano tem que ser trocadas
devido às constantes quebras por alunos.
É diante desse quadro contraditório em que uma comunidade reivindica o direito à educação e se
vê impedida, nela mesma, de ver realizado este direito, que busquei desenvolver, no campo
interdisciplinar, um conteúdo matemático com a Educação Ambiental, procurando contribuir com novas
concepções e novos métodos diante de um quadro de degradação social por sujeitos que deveriam ser os
protagonistas de sua história educativa.

OBJETIVOS

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1206

Desenvolver a consciência de pertencimento à Escola em todos os alunos a partir da interação


entre os conceitos de Educação Ambiental e da Educação Matemática;
Contextualizar o ensino de Estatística;
Utilizar as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC’s) como recurso de pesquisa, meio de
comunicação e registros das ações desenvolvidas;
Colaborar com a reflexão quanto a importância da conservação do patrimônio escolar.

METODOLOGIA
Este trabalho foi desenvolvido em 16 (dezesseis) aulas de matemática com alunos do 1º ano do
ensino médio numa Escola pública da Rede Estadual de Maceió, no início do ano letivo de 2011. Escolhi as
turmas do 1º ano porque eram as que eu lecionava. Inspirei-me na missão da escola, de acordo com seu
Projeto Político Pedagógico, de “promover a qualidade do ensino e conceber ao educando uma visão
crítico-social no processo de humanização dos homens, inseridos no contexto de suas relações sociais”.
Busquei articular o conceito de Educação Ambiental com o conteúdo de Estatística, observando os
problemas ocasionados pela violência protagonizada pelos próprios alunos contra o patrimônio escolar.
Temos o livro didático como recurso nas aulas de matemática e um de seus conteúdos iniciais para
o 1º ano do ensino médio é a construção e interpretação de gráficos estatísticos. As etapas da sequência
didática foram:
a) Introduzir o conteúdo estatístico sobre tratamento de informações através do uso de gráficos
(cerca de quatro aulas);
b) Realizar pesquisa sobre A Importância da Escola em Minha Vida (cerca de 4 aulas). Para isso os
alunos de três turmas do 1º ano do ensino médio, deveriam se organizar em trios (fizemos em trio porque
no Laboratório de Informática existem 15 computadores em funcionamento e nossas turmas têm em
média 45 alunos) e perguntarem a 50 alunos: Responda em uma palavra, qual a importância da escola para
você, conforme Esquema 1.

DISCIPLINA: MATEMÁTICA – TURMA: 1º ANO ___


PROFESSORA: NATÉRCIA LOPES
ALUNOS: ____________________ Nº ___; ______________________ Nº ___; _________________________ Nº ___

Pesquisa Escolar: A IMPORTÂNCIA DA ESCOLA EM MINHA VIDA

Pergunta: Responda em uma palavra, qual a importância da Escola para você?


TURMA RESPOSTA TURMA RESPOSTA TURMA RESPOSTA TURMA RESPOSTA TURMA RESPOSTA

Esq em
a 1 – Modelo de entrevista para facilitar a coleta de dados

c) Explicar o uso do software Excel para a produção de gráficos (2 aulas);


d) Construir gráficos no Excel de acordo com os dados coletados (2 aulas);
e) Discutir as produções num grande grupo por sala e suas relações com a educação ambiental
dentro da escola através do conceito de Educação Ambiental pelo CONAMA (2 aulas);
f) Confeccionar cartazes sobre as relações entre os resultados da pesquisa e porque eles achavam
que se deve conservar o patrimônio escolar (2 aulas).

RESULTADOS
Expliquei para os alunos como trabalharíamos o conteúdo de Estatística, particularmente a
construção e interpretação de gráficos, vinculando à educação ambiental, e eles ficaram entusiasmados. Os

João Pessoa, outubro de 2011


1207

alunos já tinham entrado em contato com a temática sobre Educação Ambiental durante a Semana do
Meio Ambiente, quando se deu a visita da Comissão de Qualidade de Vida do Núcleo de Educação
Ambiental da Universidade Federal de Alagoas (COMVIDA/NEA/CEDU/UFAL) à Escola em agosto de 2010.
No primeiro momento da explicação sobre os gráficos e seus usos no dia-a-dia os alunos entraram
em contato com os tipos de gráficos e, através de exercícios do livro começaram a construir gráficos em
barras, circulares e em linhas no próprio caderno (Foto 1).

Fot 1- Exemplos de gráficos construídos durante as aulas

Pedi para que os alunos fizessem trios para iniciarem as pesquisas sobre A Importância da Escola
em Minha Vida, dei o prazo de uma semana para a coleta das respostas, o que foi possível para todos, pois
eles só iriam coletar uma palavra por aluno. Entreguei a cada grupo o quadro para orientá-los na coleta, a
maioria colou o quadro no caderno e outros xerocaram estes quadros para se dividirem. Por conta disso,
alguns trios pesquisaram com mais de 50 alunos, pois ao se dividirem, perguntaram para mais de 30 alunos
cada um e ao juntarem as coletas encontraram quase 100 respostas. Eu admiti tais pesquisas porque não
maculava o objetivo da aula.
Para construir os gráficos pedi para que eles selecionassem as cinco palavras que mais apareceram
e contasse a quantidade da frequência, as outras palavras apareceriam como OUTRAS no gráfico.
Aconteceu na maioria dos gráficos desta entrada ser maior do que as outras palavras, o que já era
esperado, já que trabalhamos com a espontaneidade do entrevistado e não com uma estruturação prévia.
Assim como o fato de que em alguns gráficos as palavras com maior frequência serem as mesmas. Ressaltei
quando isso aconteceu da importância de se refletir sobre o significado daquela palavra para a comunidade
escolar.
Logo após, nos dirigimos para o Laboratório de Informática para construirmos o gráfico (Foto 2)
resultante da pesquisa sobre A Importância da Escola em Minha Vida, a pergunta norteadora da entrevista
foi “Por que a Escola é importante para você?”

Fot 2- Alunos no Laboratório de Informática no momento da


construção dos gráficos

Após a construção, discutimos durante duas aulas, num grande círculo (Foto 3), as palavras
colocadas pelos sujeitos da pesquisa e o que eles acharam disso. Foi interessante notar quando uma das
alunas analisou a quantidade de respostas “namorar” e “obrigação”. Sob o prisma desta aluna, alguns de
seus colegas não compreenderam os “vários aspectos que norteiam a escola” e sugeriu um Projeto para

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1208

toda a escola intitulado o “Meu Futuro” visando promover uma reflexão entre os alunos sobre a função da
escola.

Fot 3 - Discussão sobre os resultados da


pesquisa
Diante destas discussões, convidei os alunos, com base nos resultados de suas pesquisas, a fazerem
cartazes explicando porque devemos cuidar de nossa escola e se possível colocando o gráfico que eles
construíram no software.
Expomos esses cartazes em várias partes da escola e acredito que a leitura que se faz deles serve de
reflexão para outros alunos, já que estes também foram protagonistas do processo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho perseguiu muito mais a problematização e o debate sobre a relação
educação/meio ambiente do que esgotar o assunto ou produzir conclusões acabadas sobre o tema,
considerando-se a sua natureza vasta e polêmica.
Ressaltamos a multiplicidade de concepções sobre educação ambiental e a importância de se
trabalhar esse enfoque nas escolas, principalmente naquelas em que a conscientização sobre ética e
preservação é muito incipiente.
Acreditamos que a escola é uma instituição que produz conhecimento e, nesse caso, um
conhecimento relacionado às suas práticas, opondo-se, portanto, a uma escola constatadora da realidade,
a uma escola passiva.
Quando a escola se assume como capaz de fazer intervenção na comunidade e inserir a
importância da conservação ambiental, ela confere a seus educandos a capacidade de pensar de forma
autônoma frente aos problemas e de criar a sua forma de resolvê-los, sem precisar e nem permitir a
depredação do que é deles, porque trabalhará necessariamente a noção de pertencimento na formação de
direitos e deveres da cidadania em relação ao meio ambiente como bem comum de todos.
Para isso é necessário que, mais do que informações e conceitos, a escola se proponha a trabalhar
com atitudes, com formação de valores, com o ensino e aprendizagem de procedimentos e de atitudes.
Esse é um grande desafio para a educação.
A contextualização do conteúdo sobre Gráficos por meio de pesquisas e da articulação com a
Educação Ambiental facilitou, de acordo com os próprios alunos, na compreensão dos conceitos, inclusive
alguns alunos ao se depararem com tabelas procuravam de imediato visualizar os possíveis gráficos
correspondentes. Além de se apresentar como um registro de representação para o tratamento da
informação, o uso dos Gráficos e a análise dos dados pelos alunos dentro deste contexto, os levou a uma
reflexão sobre a importância de se preservar o que é deles.
Destarte, a escola poderá contribuir de fato para a formação da identidade dos alunos como
cidadãos conscientes de suas responsabilidades tornando-se capazes de adotar atitudes de proteção e
melhoria do meio ambiente.
Trata-se, enfim, de construir uma escola capaz de formar protagonistas de sua história, resgatando
a auto-estima de cidadãos, cuja condição de vida, por vezes, impede uma visão de construção de sua vida e
de seu ambiente escolar e comunitário.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BICUDO, M. A. V.; GARNICA, A. V. M. Filosofia da Educação Matemática. 2ª. Ed. Belo Horizonte,
MG: Autêntica, 2002.

João Pessoa, outubro de 2011


1209

BRASIL, Ministério do Meio Ambiente/Ministério da Educação. Formando COMVIDA: Comissão de


Meio Ambiente e Qualidade de vida na Escola. Construindo Agenda 21 na Escola. Brasília, 2004
BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Meio Ambiente e
Saúde / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília, 1997.
D’AMBROSIO, U. Educação Matemática: da teoria à prática. 2ª. Ed. Campinas, SP: Papirus, 1997
(Coleção Perspectiva em Educação Matemática).
DIAS, G. F. Educação Ambiental: Princípios e Práticas, São Paulo, Gaia, 1992.
FONSECA, Maria C. F. R. Por que ensinar Matemática. Presença Pedagógica, Belo Horizonte. Vol.1,
nº 6, mar/abril, 1995.
GRÜN, M. Ética e educação ambiental: a conexão necessária. São Paulo, SP: Papirus, 1996.
MONTEIRO, C. E. F.; SELVA, A. C. V. Investigando a Atividade de Interpretação de Gráficos entre
Professores do Ensino Fundamental. 24ª Reunião Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e
Pesquisa em Educação – Anped. Caxambu/MG, 2001.
RECOMENDAÇÕES TBILISI. I Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, Geórgia,
ex-URSS, de 14 a 26 de out. de 1977. Disponível em: <www.verdescola.org/downloads/tratado_tbilisi.pdf>.
Acesso em: 18 de abr. de 2011.
REIGOTA, M. O que é Educação Ambiental? São Paulo: Brasiliense, 1998.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1210

ATITUDES AMBIENTAIS ENTRE ALUNOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E


ADULTOS EM ESCOLA DO MUNICÍPIO DE MACEIÓ, ALAGOAS
Neirevane Nunes Ferreira de SOUZA
Universidade Federal de Alagoas – UFAL. Professora da rede municipal de ensino de Maceió – AL e Mestranda do Programa
de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática - PPGECIM/UFAL
E-mail: neiresouza@yahoo.com.br
Monica Dorigo CORREIA
Universidade Federal de Alagoas – UFAL. Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática -
PPGECIM/UFAL. Profª. Drª.
E-mail: monicadorigocorreia@gmail.com
Hilda Helena SOVIERZOSKI
Universidade Federal de Alagoas – UFAL. Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática -
PPGECIM/UFAL. Vice-Coordenadora Profª. Drª.
E-mail: hsovierzoski@gmail.com

RESUMO
A apropriação dos recursos naturais e a transformação do ambiente tem repercutido
negativamente, comprometendo a sustentabilidade dos referidos recursos e a biodiversidade. Tais fatos
tem sido motivo de inúmeras discussões na sociedade, inclusive no contexto escolar do ensino de Jovens e
Adultos. Este trabalho teve como objetivo estudar os hábitos de consumo e as atitudes ambientais de
alunos em uma escola municipal de Maceió, em novembro de 2010. A metodologia adotada foi a pesquisa
participativa, os dados foram obtidos através de um questionário contendo perguntas objetivas. Os
resultados foram representados em tabelas e demonstra uma realidade preocupante: o baixo interesse e
consequentemente pouco compromisso com as questões ambientais. Constatou-se, assim, a necessidade
de se desenvolver um número maior de projetos de educação ambiental no ensino de jovens e adultos.
Palavras-chave: Educação Ambiental; Educação de Jovens e Adultos; Hábitos de consumo.

INTRODUÇÃO
Ao longo da história o homem tem se apropriado de materiais e de recursos do ambiente natural, a
fim de suprir suas necessidades. Esse processo de uso traz graves consequências, como a crescente perda
da biodiversidade de diversos ecossistemas e a escassez dos recursos naturais. As ações do homem no
planeta vêm esgotando a capacidade de suporte do planeta, comprometendo a qualidade de vida do globo,
de todos os seus habitantes e das futuras gerações (BRASIL, 1997).
O reconhecimento de que os modos de produção e de padrões de consumo atuais são
insustentáveis, tem levado a sociedade a uma ampla discussão sobre os problemas ambientais. A Educação
ambiental seja ela formal ou informal é a forma mais eficaz de sensibilizar as comunidades sobre as suas
práticas em relação ao ambiente com o qual interagem (MARIGA, 2006).
A discussão dos problemas ambientais pela sociedade apresenta representativo crescimento,
intrinsecamente relacionado com o reconhecimento de que os modos de produção e de padrões de
consumo atuais são insustentáveis. MARIGUA (2006) discute que a Educação Ambiental, formal ou
informal, trata-se de uma forma eficaz para sensibilizar as comunidades sobre as suas práticas em relação
ao ambiente com o qual interagem.
Entende-se por educação ambiental formal, na conceituação da legislação aprovada sobre o
assunto ao nível nacional, a educação que é desenvolvida no âmbito dos currículos das instituições de
ensino, sejam estas públicas ou privadas, envolvendo: educação básica, educação superior, educação
especial, educação profissional e educação de jovens e adultos. Já a educação ambiental não formal consta
de um conjunto de ações e práticas educativas que visam a sensibilização da sociedade e a sua mobilização
em defesa do meio ambiente (BRASIL, 1999).
A educação ambiental passou a incorporar a Política Nacional de Meio Ambiente a partir da
promulgação da Constituição Federal em 1988, que em seu art. 225 estabelece: “todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo, e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao poder público e a coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e

João Pessoa, outubro de 2011


1211

futuras gerações; cabendo ao poder público promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino
e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente” (BRASIL, 1988).
Segundo a Lei nº 9796/99, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental, as instituições
educativas são incumbidas de promover a educação ambiental de maneira integrada aos programas que já
desenvolvem (BRASIL, 1999). Porém, as iniciativas das instituições de ensino públicas e privadas em relação
à educação ambiental estão muito aquém do que deveria ser feito. Além disso, o trabalho realizado com o
tema Meio Ambiente, de forma transversal como é indicado pelos Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs), ainda não é efetivo, pois muitos docentes ainda precisam ser preparados para trabalhar com a
interdisciplinaridade, formando um novo esquema cognitivo a partir das rupturas entre as fronteiras
disciplinares (MORIN, 2000).
A educação de Jovens e Adultos é uma modalidade do ensino fundamental e do ensino médio, que
garante o acesso de jovens e adultos a educação, que não o tiveram em idade própria. A educação de
jovens e adultos fundamenta-se no processo de aprendizagem significativa, que parte das experiências e de
saberes construídos anteriormente por esses alunos (OEI-MEC, 2003).
Na perspectiva freireana a educação deve tornar a formação ética e a conquista da cidadania, de
modo a construir valores e ações transformadoras. É pela educação que homens e mulheres passam a
intervir de maneira crítica e decisiva no seu meio, transformando a realidade: “Se a educação sozinha não
transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda” (FREIRE, 1981).
Este trabalho teve como objetivo investigar os hábitos de consumo dos alunos, verificando se
as suas atitudes diárias demonstram cuidado com o Meio Ambiente e, desta forma, sensibilizar os
alunos sobre as consequências de suas atitudes em relação ao ambiente.

METODOLOGIA
A pesquisa teve como público alvo alunos do Ensino Fundamental, da modalidade Jovens e
Adultos, no bairro do Trapiche, município de Maceió, Alagoas. Participaram da pesquisa 36 alunos das
turmas de 5ª Fase.
A coleta de dados foi realizada por meio da aplicação de um questionário, composto por 10
questões objetivas, extraídas do teste da Pegada Ambiental, disponibilizado pela Universidade Federal da
Bahia (UFBA, 2010). O referido questionário foi aplicado no mês de novembro de 2010, durante aula de
Ciências Naturais, sob a orientação da Professora da disciplina, responsável pela pesquisa. As perguntas
que compõem o questionário abordam o consumo de água, energia e alimentos, o tipo de resíduo sólido
gerado, bem como seu tratamento e a aquisição de bens de uso pessoal. Este tipo de pesquisa reflete o uso
sustentável dos recursos naturais de que a sociedade alagoana dispõe no seu cotidiano.
A pesquisa participativa, para conhecer a prática ambiental de cada indivíduo em suas experiências
de vida, aplicou-se com os alunos da educação de Jovens e Adultos, buscando-se maior interação entre os
conhecimentos adquiridos e o dia-a-dia dos alunos (BRANDÃO, 2005).

RESULTADOS
O questionário inicialmente apresentou a pretensão de um diagnóstico ambiental no que se refere
as atitudes cotidianas dos alunos, buscando conhecer seus hábitos de consumo, escolhas e posturas em
relação ao meio ambiente, partindo da sua experiência no ambiente doméstico. De acordo com as
respostas às questões objetivas foram elaboradas tabelas, apresentando-se as porcentagens das diferentes
respostas obtidas, após a aplicação dos questionários.

Tabela 01 - Resposta dos alunos para a questão: “Ao sair dos cômodos de sua residência você
costuma apagar as luzes?”
Respostas N° de respostas Porcentagem
Sempre 18 50,00
Algumas vezes 15 41,66
Quase nunca lembro 0 0,00
Nunca 3 08,33

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1212

O cuidado em apagar as luzes ao sair dos cômodos da residência foi significativo, apresentando
50%, enquanto uma parcela significativa declarou ter essa atitude por algumas vezes. A minoria das
respostas foi para nunca lembrar-se de apagar as luzes. Alguns relataram durante a aplicação do
questionário preocupar-se diretamente com a economia de energia elétrica, devido ao custo das tarifas
cobradas pelo órgão responsável pela sua distribuição, mas não por perceber a ligação com a origem dessa
energia, do recurso natural utilizado, a água.

Tabela 02 - Resposta dos alunos à questão: “Em média, quanto tempo você gasta para tomar
banho?”
Respostas N° de respostas Porcentagem
Menos de 5 minutos 3 08,33
Entre 5 a 10 minutos 15 41,66
Entre 10 a 15 minutos 3 08,33
Mais de 15 minutos 15 04,60

Grande parte dos alunos gasta em média, no banho, 5 minutos ou mais de 15 minutos, com
reduzida quantidade de respostas para tempos de menos de 5 minutos e aqueles variando entre 10 e 15
minutos, mostrando significativa parcela com uso equilibrado da água para essa atividade, enquanto outra
quantidade semelhante nem demonstrou esta preocupação.

Tabela 03 - Resposta dos alunos à questão: “Em média, por dia a TV fica ligada na sua casa?
Respostas N° de respostas Porcentagem
Menos que 30 minutos 6 16,66
30 minutos 3 08,33
Entre 1 e 2 horas 18 50,00
Mais que 2 horas 9 25,00

O tempo de uso da TV oscilou de 1 a 2 horas, mas em 25% dos casos informou-se a utilização por
mais de 2 horas diariamente. As respostas mostraram um considerável consumo de energia nas residências
dos alunos em relação a esse tipo de eletrodoméstico.

Tabela 04 - Resposta dos alunos à questão: “Sobre a compra de roupas e sapatos”


Respostas N° de respostas Porcentagem
Compro novos para repor os que estão imprestáveis e 0 00,00
priorizo a reciclagem
Compro de vez em quando para repor e para ter mais 24 66,66
opções
Compro frequentemente 15 41,66
Renovo o guarda roupa para manter-me na moda 3 08,33

A maioria mostrou uma postura consciente no consumo de roupas e calçados, representando


66,66%, mas uma importante parcela ainda apresentou postura oposta, consumindo esses bens com
grande frequência.

Tabela 05 - Resposta dos alunos à questão: “Você costuma ficar muito tempo com a geladeira
aberta?”
Respostas N° de respostas Porcentagem
Não demoro muito, penso sempre antes no que vou pegar 24 66,66
Raras vezes demoro um pouco para achar o que quero 6 16,66
Muitas vezes me demoro 3 08,33
Nem presto atenção 0 00,00

João Pessoa, outubro de 2011


1213

Novamente constatou-se uma grande preocupação dos alunos na economia de energia elétrica,
como foi observado na primeira questão. A maior parte possui o cuidado em não demorar com a parta da
geladeira aberta, pensando antes de abri-la no que irá retirar da mesma.

Tabela 06 - Resposta dos alunos à questão: “Você costuma separar o lixo de acordo com os
materiais?”
Respostas N° de respostas Porcentagem
Sim, em minha casa há recipientes apropriados para
9 25,00
cada material
Separo o lixo orgânico do reciclável 3 08,33
Separo as vezes papel ou garrafas 12 33,33
Não, nunca me importei com isso 12 33,33

As respostas em relação ao cuidado com o lixo retratam a postura tomada pela sociedade, já
observada nas grandes cidades. A parcela dos que nunca se importou em separar o lixo de acordo com os
materiais representa 33,33% , que é equivalente ao número de alunos que por algumas vezes separam
papel ou garrafas. Nota-se também a falta do mesmo cuidado com o lixo orgânico, o que corresponde a um
desconhecimento da importância desse material para a natureza e as formas de tratamento do mesmo,
através da compostagem. Mas, um grupo significativo, com 25%, costuma selecionar o lixo em suas
residências, demonstrando um relativo nível de conscientização.

Tabela 07 - Resposta dos alunos à questão: “Em média como é o lixo que você produz?”
Respostas N° de respostas Porcentagem
Produzo lixo principalmente orgânico e em pouca
3 08,33
quantidade (pois evito produtos embalados) e reciclo
Produzo muito, mas encaminho para reciclagem 0 00,00
Produzo muito e não reciclo 24 66,66
Não sei 9 25,00

Há uma estreita relação com as respostas desta questão com as da questão anterior, sendo que a
maioria (66,66%) não se preocupa com a reutilização ou reciclagem dos materiais, além de produzir uma
grande quantidade de lixo. A alta produção de lixo é um indicador de um consumo elevado, isso atrelado ao
não aproveitamento dos materiais promove um uso excessivo de matéria-prima, extraída do ambiente.

Tabela 08 - Resposta dos alunos à questão: “Qual meio de transporte você utiliza para se
locomover?”
Respostas N° de respostas Porcentagem
Ando a pé 15 41,66
Transporte coletivo 6 16,66
Bicicleta ou Motocicleta 12 33,33
Carro individual 3 08,33

As respostas correspondem ao nível econômico desse universo de alunos, que vai de médio à baixo,
representando 41,66%. Esse resultado deve-se em segundo lugar ao fato da maioria dos alunos residirem
no mesmo bairro em que estudam. O uso de bicicleta e motocicleta também é significativo, representando
33,33% .

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1214

Tabela 09 - Resposta dos alunos à questão: “Sobre as preferências alimentares”


Respostas N° de respostas Porcentagem
Consumo apenas alimentação natural e orgânica 15 41,66
Priorizo alimentação natural 9 25,00
Uso indistintamente produtos naturais ou
15 41,66
industrializados
O corre-corre do dia-a-dia exige a praticidade dos
3 08,33
industrializados

O número de alunos que utilizam uma alimentação natural e orgânica


tem o mesmo percentual daqueles que se alimentam tanto de produtos naturais como também de
produtos industrializados (15%), com as demais categorias respondendo em menores porcentagens.

Tabela 10 - Resposta dos alunos à questão: “Para transportar suas compras você”
Respostas N° de respostas Porcentagem
Leva sua própria sacola reutilizável 0 00,00
Quando lembra, leva a sacola 0 00,00
Trás em sacos plásticos, mas evita usá-los muito 9 25,00
Aceito o modo como é feito normalmente pelos 75,00
27
embaladores nas lojas

O uso de sacolas plásticas no transporte de compras ainda é um grande desafio para sociedade,
pois uma grande parcela se apresenta resistente a redução de sacolas plásticas como podemos observar
através da representação da tabela, correspondente a 75% dos alunos.
Com o uso deste questionário pode-se conhecer quais os hábitos de consumo de alunos de EJA,
podendo-se então sensibilizá-los quanto as formas adequadas e ambientalmente corretas de uso dos
recursos naturais. Desta forma observa-se que a Educação Ambiental deve estar presente no dia-a-dia das
pessoas, facilitando a compreensão de que determinadas atitudes compensam sua incorporação como
hábito, seja para diminuir custos e/ou diminuir o uso de matérias-primas e energia para transformação em
bens de consumo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho mostra a partir dos dados obtidos que apesar dos alunos apresentarem um
razoável nível de conscientização, ainda há uma grande distância entre as suas práticas cotidianas e a
preocupação com o meio ambiente. Então podemos fazer o seguinte questionamento: como despertar
nestes alunos da educação de jovens e adultos o interesse pelos problemas ambientais? E ainda como levar
esse interesse se transformar em compromisso, em mudança de atitude? Como promover uma educação
ambiental neste contexto escolar que seja capaz de levar os sujeitos a desenvolver habilidades que os
possibilitem atuar de maneira mais significativa no seu ambiente? Essas indagações podem ser respondidas
através do desenvolvimento de trabalhos de pesquisa posteriores.
Fica evidente, também, diante do diagnóstico ambiental obtido, a necessidade de se produzir
sequências didáticas e projetos dentro da própria disciplina de Ciências ou em diálogo com as demais
disciplinas. É preciso que as discussões partam da realidade desses alunos, que seja despertado neste, o
sentimento do reconhecimento do peso de suas ações no ambiente. A educação ambiental no ensino de
jovens e adultos é o caminho para o processo de tomada de consciência e a adoção de posturas
sustentáveis.

REFERÊNCIAS

João Pessoa, outubro de 2011


1215

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Pesquisa Participante. Encontros e caminhos: formação de


educadoras (es) ambientais e coletivos educadores. Luiz Antônio Ferraro Júnior, organizador. - Brasília:
MMA, Diretoria de Educação Ambiental, 2005.
BRASIL. Constituição Federal. Art. 225. Capítulo IV do Meio Ambiente. Art. 225. Brasília: 1988.
BRASIL. Lei n° 9.795, de 27 de Abril de 1999. Institui a Política Nacional de Educação Ambiental.
Brasília: 1999.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: meio ambiente e
saúde. Brasília: 1997.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto
ciclos: apresentação dos temas transversais/ meio ambiente. Brasília: 1998.
FREIRE, Paulo. Educação e mudança. 4 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.
MARIGA, Jandira Turatto. Educação e Meio Ambiente. Ciências Sociais em Perspectiva (5) 8. 139-
145 1º sem. 2006.
MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento . Rio de Janeiro,
Bertrand Brasil, 2000.
OEI-MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO DO BRASIL. Sistema Educativo Nacional do Brasil. Organização dos
Estados Iberoamericanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI). Madrid, 2003. Disponível em
http://www.oei.es/quipu/brasil/index.html#sis. Acesso em 10 de outubro de 2010.
UFBA. Questionário para Estimativa de Pegada Ambiental. Disponível em
http://www.ufbaecologica.ufba.br/arquivos/questionario_pegada_ambiental_Final.pdf. Acesso em 12 de
outubro de 2010.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1216

CONSCIÊNCIA AMBIENTAL: CONHECIMENTO DOS ALUNOS DO ENSINO


FUNDAMENTAL DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE DOIS RIACHOS-AL SOBRE O
DESTINO E A APLICAÇÃO DO LIXO105
Niely Monteiro MELO
Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL). Campus II: BR 316, KM 87,5 – Bebedouro, CEP 57.500-000 – Santana do
Ipanema/AL. Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Ambiental (GEPEA). E -mail: nielymmelo@gmail.com. Graduanda
do Curso Licenciatura em Ciências Biológicas.
Brigitte Stephannye de Melo T. RIBEIRO
Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL). Campus II: BR 316, KM 87,5 – Bebedouro, CEP 57.500-000 – Santana do
Ipanema/AL. E-mail: brigitte_stephannye@hotmail.com. Graduanda do Curso Licenciatura em Ciências Biológicas.
Lucianny Raihanny Alves C. da SILVA
Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL). Campus II: BR 316, KM 87,5 – Bebedouro, CEP 57.500-000 – Santana do
Ipanema/AL. E-mail: lucianny.raihanny@gmail.com. Graduanda do Curso Licenciatura em Ciências Biológicas.

RESUMO
A questão ambiental é sem dúvida algo que vem ganhando espaço no cenário mundial,
principalmente quando se trata dos problemas ambientais, que a cada dia atingem patamares mais altos.
Tendo em vista que a produção e o destino inadequado do lixo são problemas que afetam diretamente
questões ambientais e, portanto também sociais e sabendo que a importância do reaproveitamento de
materiais resultantes do consumo e que a carência em se trabalhar a temática ambiental na escola, são
tópicos de extrema relevância, foi realizada uma análise do conhecimento de alunos do 6º ao 9º ano de
uma escola pública do município de Dois Riachos- AL, sobre o destino e a aplicação do lixo, por meio de um
questionário com questões abertas e fechadas. Os resultados evidenciaram a necessidade em se trabalhar
a questão ambiental na escola de forma integrada a realidade dos alunos, dando significado à
aprendizagem dos mesmos ao tempo em que estende às ações realizadas no ambiente escolar à
comunidade, servindo então, de base para a construção de uma sociedade preocupada e disposta a
contribuir positivamente com as questões ambientais.
Palavras-Chaves: Lixo; Reciclagem; Percepção Ambiental; Sensibilização.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Os problemas causados pela produção e o destino inadequado dado ao lixo é um fator que
interfere diretamente na qualidade de vida das pessoas e de muitos outros seres vivos que expostos a
poluição sofrem danos muitas vezes irreparáveis. Sabe-se que homem produz lixo há muito tempo, porém
os materiais que eram descartados antigamente tais como restos de alimentos, ossos, cinzas, metais,
papéis e outros, podiam ser assimilados mais facilmente pela natureza do que aqueles que hoje, tais como
couro, panos e plástico, são produzidos e descartados em larga escala. (ALENCAR, 2005)
A partir daí, e segundo Felix (2007, p. 58), nota-se que
o trabalho educacional é, sem dúvida, um dos mais urgentes e necessários meios para reverter essa
situação, pois atualmente, grande parte dos desequilíbrios está relacionada às condutas humanas geradas
pelos apelos consumistas que geram desperdícios e pelo uso inadequado dos bens da natureza e, é através
das instituições de ensino, que poderemos mudar hábitos e atitudes do ser humano, formando sujeitos
ecológicos.

Portanto, a presente pesquisa foi desenvolvida em uma unidade escolar da rede pública de ensino
na área urbana da cidade de Dois Riachos, localizada no sertão do estado de Alagoas, a aproximadamente
196 km da capital Maceió, e traz uma análise do conhecimento dos alunos do 6º ao 9º ano do Ensino

105
Artigo desenvolvido sob orientação do professor Wellyngton Chaves Monteiro da Silva. Universidade
Estadual de Alagoas (UNEAL). Campus II. Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Ambiental (GEPEA). Professor
assistente. Orientador de Estatística Aplicada à Educação. Mestre em Agronomia.

João Pessoa, outubro de 2011


1217

Fundamental, com relação ao destino e aplicação do lixo, ressaltando o papel da escola na sensibilização
para com as questões ambientais.
Para isso, foram estabelecidos como objetivos específicos: analisar as concepções dos alunos
acerca do tema - aquilo que conhecem e o que praticam, bem como o interesse dos mesmos pelas
questões ambientais, no sentido de que quando o aluno gosta de determinado assunto, isso motiva a sua
atitude; identificar que tipo de estímulo e/ou interação a escola vem demonstrando para com temas que
abordem os problemas ambientais relacionados ao lixo; intervir junto à comunidade escolar através da
realização de um momento de exposição do trabalho realizado e obter dados que subsidiem a elaboração
de outros projetos em educação ambiental na comunidade para continuidade da pesquisa.
Buscou-se então, com a realização de um projeto em parceria com a escola, fazer com que as ações
de preservação ambiental fossem primeiramente efetivadas no ambiente escolar para que em seguida, os
alunos como agentes ativos, pudessem repassar seu aprendizado para a comunidade, estimulando atitudes
individuais e coletivas, propondo soluções viáveis e contribuindo com a sensibilização de todos sobre a
responsabilidade que têm em relação à melhoria do meio ambiente.

METODOLOGIA
A pesquisa teve como métodos a observação e a aplicação de questionários que
apresentavam questões de múltipla escolha, bem como questões que requeriam a produção de respostas
abertas, visando à obtenção dos dados referentes ao conhecimento dos alunos sobre as questões
ambientais relacionadas ao destino e à aplicação do lixo. Pois como destaca Camargo e Umetso
[...] concebe-se e compreende-se a percepção ambiental como uma tomada de consciência do
ambiente pelo ser humano, ou seja, o ato de perceber o ambiente que se está inserido, aprendendo a
proteger e a cuidar do mesmo. [...] Dessa forma o estudo da percepção ambiental é de fundamental
importância para que possamos compreender melhor as inter-relações entre o homem e o ambiente, suas
expectativas, anseios, satisfações e insatisfações, julgamentos e condutas. (CAMARGO; UMETSU, 2009,
p.194)

Para isso, foi contabilizado o número de alunos que cursavam do 6º ao 9º ano do Ensino
Fundamental e a partir desses dados, trabalhados 75% do total destes.
Além da coleta e análise de dados e da reflexão acerca do conhecimento dos alunos sobre o
assunto abordado, foi possível realizar como proposta de intervenção e em parceria com a escola, uma
palestra que teve como tema Consciência Ambiental, abordando tópicos como: definição e classificação do
lixo, tempo de degradação, danos causados pelo lixo, reaproveitamento e reciclagem e participação social.
A partir dos dados coletados, foi realizada uma distribuição de frequência representando a
percentagem das opções que refletem o conhecimento dos alunos a respeito do respectivo assunto. Alguns
dos dados obtidos foram utilizados na palestra que ocorreu no auditório da própria escola, como uma
forma de incentivo a adoção de hábitos simples e ecologicamente corretos no combate aos danos sofridos
pela natureza e pelos próprios seres humanos em função do destino e aplicação impróprios do lixo.

CONHECIMENTO DOS ESTUDANTES DO ENSINO FUNDAMENTAL SOBRE O LIXO


Algo que é importante destacar com relação a palavra conhecimento que se busca compreender e
analisar no presente artigo é que
[...]Não se limitando apenas a designar os objetos[...]que nos rodeia, o conhecimento[...] tem a
função de organizar, estruturar e explicar a partir do vivido (do experienciado). Sendo assim, conhecer não é
apenas explicar, não é somente viver: conhecer é algo que se dá a partir da vivência (ou seja, da ação sobre o
objeto do conhecimento) para que este objeto seja imerso em um sistema de relações (RAMOZZI-
CHIAROTTINO, 1988 apud VESTENA, 2010, p.39).

Portanto, a formação de uma consciência ambiental pode ser influenciada por diversos fatores
como, por exemplo, o comportamento da família, já que várias informações e valores são apreendidos pelo
convívio em casa e em sociedade. Da mesma forma, a escola pode fazer parte da construção dessa
consciência sem, no entanto, deixar de levar em consideração o cotidiano e a experiência de vida do aluno,
como enfatiza Paulo Freire:

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1218

[...] Pensar certo coloca ao professor ou, mais amplamente, à escola, o dever de não só respeitar os
saberes com que os educandos, sobretudo os da classes populares, chegam a ela - saberes socialmente
construídos na prática comunitária - mas também,[...]discutir com os alunos a razão de ser de alguns desses
saberes em relação com o ensino dos conteúdos. Porque não aproveitar a experiência que tem os alunos
de viver em áreas da cidade descuidadas pelo poder público para discutir, por exemplo, a poluição dos
riachos e dos córregos e os baixos níveis de bem estar das populações, os lixões e os riscos que oferecem à
saúde das gentes. (FREIRE, 1996, p. 15)

Dessa forma, para que se pudesse caracterizar as concepções dos alunos acerca das questões
abordadas, foi importante levar em consideração não simplesmente a aprendizagem de conteúdos
específicos, que poderiam ou não ter sido passados em alguma disciplina da grade curricular, mas
principalmente, observar a descrição daquilo que fazia parte do cotidiano deles, as concepções que
estavam influenciando suas práticas, o comportamento que eles apresentavam diante daquilo que estava
sendo exposto. Proposta esta, defendida pela educação ambiental política, como descreve Reigota (2009,
p.74):
Na perspectiva da educação ambiental como educação política a avaliação dos alunos e das alunas
não é realizada para medir incapacidades ou incompetências, mas sim para permitir-lhes identificar o que
precisam (ou não) explorar, conhecer, analisar e escolher para a busca de alternativas e interações que
possibilitem a solução dos problemas ambientais que identificam e que querem superar.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Primeira questão
A primeira questão se refere a caracterização que os alunos atribuíram a palavra lixo. Para a análise
dessa questão as turmas foram divididas em dois grupos: um contendo alunos do 6º e 7º ano e outro
contendo os alunos do 8º e 9º ano. Algo que facilitou essa divisão em grupos foi o fato da quantidade de
alunos que ficou em cada grupo ter sido justamente 50% do total abordado na pesquisa, ou seja, cada
grupo formado ficou com a mesma quantidade de alunos.
Os resultados da primeira questão, como se pode visualizar no gráfico 1, mostram que 35% dos
alunos que compuseram o primeiro grupo, caracterizaram lixo como sendo algo ruim, que só traz prejuízos
e portanto dispensável de qualquer utilidade, enquanto 27% caracterizaram como sendo algo bom desde
que bem manuseado, demonstrando que o lixo pode ainda ser aproveitado pelo processo de reciclagem,
tornando-se algo ainda útil para muitas pessoas, em especial para aquelas que trabalham com o
reaproveitamento de materiais presentes no lixo, outros 19% caracterizaram como sendo qualquer coisa
jogada fora, no sentido de que ao se jogar algo fora aquilo perde totalmente a sua utilidade, enquanto que
19% disseram não saber caracterizar a palavra lixo. Em contrapartida, no segundo grupo 41%
caracterizaram como sendo algo ruim, 27% semelhante ao primeiro grupo, caracterizaram como sendo algo
bom desde que bem manuseado, 24% caracterizaram como sendo qualquer coisa jogada fora e apenas 8%
disseram não saber caracterizar a palavra lixo.

Gráfico1. Caracterização da

João Pessoa, outubro de 2011


1219

palavra lixo para alunos do 6º e 7º ano (grupo1), e para alunos do 8º e 9º ano (grupo 2), do Ensino
Fundamental de uma escola pública de Dois Riachos, Alagoas. Fevereiro de 2011.

Em suma, nota-se que grande parte dos alunos, não leva o fator reciclagem em consideração ao
caracterizar a palavra lixo. Tanto no primeiro quanto no segundo grupo a maioria têm a visão de que após
ser considerado lixo, o material descartado perde totalmente sua utilidade afinal, apenas 27% nos dois
grupos considerou o fator reciclagem como algo importante na caracterização da palavra lixo.
No geral, para a maioria dos alunos o lixo é concebido como algo prejudicial e sem proveito, e
ainda, analisando os grupos separadamente nota-se que os alunos do grupo 2 (8º e 9º ano), obtiveram
maior percentagem que o grupo 1 (6º e 7º ano) em duas respostas: a que considerava o lixo como sendo
algo ruim e a que caracterizava o lixo como sendo qualquer coisa jogada fora, ou seja, no grupo 2 mais
alunos desconsideram o fator reciclagem quando caracterizam a palavra lixo. Enquanto que o grupo 1 só
obteve maior percentagem que o grupo 2 na opção daqueles que dizem não saber caracterizar a palavra
lixo.

Segunda questão
Os resultados do gráfico 2, cuja questão pergunta se os alunos já viram algum trabalho em sala de
aula que tratasse do tema reciclagem, mostram no primeiro grupo 49% dos alunos afirmando que o tema
já foi abordado em sala de aula, 30% dizendo que não houve nenhum trabalho em sala sobre o referido
tema e 21% afirmando não se lembrar se houve a realização de algum trabalho na sala que envolvesse o
tema reciclagem. Já no segundo grupo, 76% dos alunos disseram já ter visto o tema ser tratado nas aulas,
13% disse que não viu nenhum trabalho e 11% que não se lembrava.

Gráfico2. Abordagem
do tema reciclagem em sala de aula
segundo os alunos do 6º e 7º ano
(grupo1), e os alunos do 8º e 9º ano (grupo
2), do Ensino Fundamental de uma escola
pública de Dois Riachos, Alagoas. Fevereiro de 2011.

Nesse gráfico podemos ver que quase metade dos alunos do grupo 1 (49%) já viram o tema
reciclagem ser tratado na sala de aula e no grupo 2, mais alunos ainda (76%), viram o tema ser abordado
nas aulas. O que é interessante observar é que os alunos do segundo grupo obtiveram no gráfico 2, uma
percentagem muito expressiva no que se refere aqueles que já viram o tema ser tratado em sala de aula,
por isso, em tese a maioria poderia caracterizar o lixo levando em consideração o fator reciclagem, mesmo
assim, no primeiro gráfico esses mesmos alunos que viram o tema, obtiveram em relação ao grupo 1,
maiores percentagens nas questões onde o tema reciclagem não é levado em consideração, ou seja quando
definem como sendo algo ruim ou como qualquer coisa jogada fora e portanto sem utilidade alguma.

Terceira questão
A terceira questão pergunta aos alunos se a escola já havia feito algum evento que trabalhasse os
problemas ambientais causados pelo lixo, fazendo também uma comparação entre grupos. No primeiro

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1220

grupo o resultado mostra 70% dos alunos entrevistados afirmando ter visto a escola fazer um evento que
envolvesse o tema em questão, enquanto 30% negaram ter visto um evento que abordasse o referido
tema. Já no segundo grupo, 81% afirmaram e 19% negaram, como podemos ver nos gráficos 2 e 3
respectivamente.

Gráfico 3. Relato dos alunos do 6º e 7º ano


(grupo 1) sobre a realização de eventos que
trabalhassem os problemas ambientais
causados pelo lixo em uma escola pública de Dois
Riachos, Alagoas. Fevereiro de 2011.

Gráfico 4. Relato dos alunos do 8º e 9º ano


(grupo 2) sobre a realização de eventos que
trabalhassem os problemas ambientais causados
pelo lixo em escola pública de Dois Riachos,
Alagoas. Fevereiro de 2011.

Ao se observar os gráficos acima, fica claro que a maioria dos alunos já viu temas relacionados aos
problemas causados pelo lixo, ser abordado pela escola. Mas, na comparação entre os grupos, vemos que
mais alunos do grupo 2 (81% contra 70% do grupo 1) viram a escola realizar tais projetos. Diante disso, algo
que chama atenção e que pode ser comparado com os resultados dos dois primeiros gráficos, é que o
grupo 2 mesmo tendo mais alunos que viram o tema ser trabalhado tanto em sala de aula (76% no gráfico
2) quanto através dos projetos realizados pela escola (81% no gráfico 4), esse grupo obteve no gráfico 1
maiores percentagens no que diz respeito as opções onde a questão reciclagem é não é levada em
consideração no que se refere a caracterização da palavra lixo. A maioria lembra ter visto temas
relacionados a problemática ambiental serem trabalhados na escola mas no entanto aquilo que é visto em
sala parece estar longe de sua realidade. Portanto, e segundo Alencar (2005, p.10)
Esse processo de sensibilização da comunidade escolar pode fomentar iniciativas que transcendam
o ambiente escolar, atingindo tanto o bairro no qual a escola está inserida, quanto comunidades mais
afastadas, nas quais residam alunos, professores e funcionários, potenciais multiplicadores de atividades
relacionadas à Educação Ambiental implementadas na escola.

Quarta questão

João Pessoa, outubro de 2011


1221

A próxima questão como podemos observar no gráfico abaixo, se refere de forma geral, sem
divisão entre grupos, ao destino do lixo na casa de todos os alunos entrevistados. No geral 69% disseram
que o lixo produzido é coletado pelo serviço público, 24% disseram que em suas casas o lixo é queimado,
4% disseram que o lixo produzido em parte é reciclado e a outra parte é coletada pelo serviço público e 3%
afirmaram que o lixo produzido em sua casa tem como destino terrenos baldios.

Gráfico 5. Destino do lixo


produzido na casa dos alunos de
6º ao 9º ano do Ensino Fundamental
de uma escola pública de Dois
Riachos, Alagoas. Fevereiro
de 2011.

Com esses dados, nota-se que a maioria dos alunos tem o lixo de casa sendo coletado pelo serviço
público da cidade, porem um dado que chama atenção é o alto índice de alunos que disseram queimar o
lixo em suas casas, opção essa, que obteve a segunda maior percentagem da análise. Essa percentagem
pode ser justificada pelo fato dos alunos julgarem não ter outra opção para o destino desses resíduos, haja
vista que na maioria dos casos isso se justifica pela ausência da coleta pública do lixo, para os alunos da
zona rural, ou mesmo pelo fato desses alunos bem como suas famílias, desconhecerem os danos causados
pela queima do lixo ao ambiente natural e social, ou pela ausência ou ineficácia de informações sobre os
benefícios que a reutilização de materiais pode proporcionar, como por exemplo, a redução da quantidade
de resíduos e a geração de renda em virtude dos trabalhos com reciclagem, como descreve Alencar (2005,
p.7)
[...] A coleta seletiva pode ser utilizada na geração de postos de trabalho, absorvendo os “catadores
de lixo” dentro de uma atividade mais rentável e com condições de salubridade controlada.

Outro fator que chama atenção nos resultados do gráfico 5, é que mesmo tendo os temas
reciclagem e problemas ambientais causados pela produção e destino inadequado do lixo, sendo
trabalhados em sala de aula ou por meio de projetos, com a maioria dos alunos entrevistados, apenas 4%
destes, disse que parte do lixo produzido em casa é reciclado, além do fato da segunda maior percentagem
ter sido a queima do lixo. Diante disso, cabe destacar que não há como um trabalho escolar buscar a
atitude do aluno quando esse mesmo trabalho é realizado longe de sua realidade, pois como destaca
Vestena (2010, p.5)
[...] as ações de crianças, adolescentes e adultos estão condicionadas à forma com que eles pensam
as questões ambientais locais. Assim, entender como o sujeito reflete as questões ambientais, emite valor
e julga as ações no meio ambiente, é fundamental para a compreensão das suas próprias ações no meio
ambiente.
Quinta questão
A questão seguinte, como podemos observar no gráfico 6, também sem a divisão em grupos,
pergunta aos alunos se eles se interessam pelo tema reciclagem. Os resultados mostram que 46% dizem

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1222

que se interessa pelo assunto, 34% alega que já fez algo a respeito, 12% dos alunos dizem não se interessar
pelo assunto e 8% diz não saber do que se trata.

Gráfico 6. Interesse dos alunos de 6º


ao 9º ano do Ensino Fundamental sobre
o tema reciclagem em uma escola
pública de Dois Riachos, Alagoas.
Fevereiro de 2011.

Com base nesses dados, podemos ver que uma boa parte dos alunos, ou se interessa pelo assunto
(46%) ou já fez algo a respeito (34%), porém se associarmos esses resultados com a percentagem daqueles
que no gráfico anterior disseram que reciclam o lixo de casa (apenas 4%), obteremos um resultado
praticamente insignificante diante do interesse e do que já foi praticado por eles, ou seja, mesmo se
interessando ou já tendo feito algo, a reciclagem não faz parte do dia a dia da maioria deles.

Sexta e última questão


A última questão, que também traz uma percentagem geral, aborda os alunos sobre o
reaproveitamento de materiais como vidros de maionese ou café, sacolas de supermercado, latas de leite
ou garrafas pet em suas casas, tendo como resultado geral 54% afirmando utilizar tais materiais em casa e
46% dizendo que não os utiliza, como podemos ver no gráfico 7.

Gráfico 7. Resposta a reutilização de


certos materiais de acordo com as turmas de 6º ao
9º ano do Ensino Fundamental de uma escola
pública de Dois Riachos, Alagoas. Fevereiro de
2011.

João Pessoa, outubro de 2011


1223

Apesar de 54% dos alunos alegarem que reutilizam esses materiais em casa quando perguntados se
tinham interesse por reciclagem (gráfico 6), apenas 33% disseram ter feito algo a respeito, levando a
conclusão de que mesmo reutilizando, eles não conseguiram associar o uso desses materiais como sendo
um ato de reciclagem. E como destacam os Parâmetros Curriculares Nacionais sobre meio ambiente
A perspectiva ambiental deve remeter os alunos à reflexão sobre os problemas que afetam a sua
vida, a de sua comunidade, a de seu país e a do planeta. Para que essas informações os sensibilizem e
provoquem o início de um processo de mudança de comportamento, é preciso que o aprendizado seja
significativo, isto é, os alunos possam estabelecer ligações entre o que aprendem e a sua realidade
cotidiana, e o que já conhecem. (PCN, 1997, p. 189,190).

Nesse aspecto a realização da palestra foi de grande importância, já que ao abrir espaço para que
todos pudessem questionar, debater e contribuir com suas experiências acerca do que estava sendo
exposto, colocou em prática o que se pode chamar de metodologia participativa que “pressupõe que o
processo pedagógico seja aberto, democrático e dialógico entre os próprios alunos e alunas e entre os
alunos e as alunas e os professores e as professoras e a administração da escola com a comunidade em que
vivem, com a família e com a sociedade em geral". (REIGOTA, 2009, p 67)

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise dos resultados de cada gráfico mostra que a maioria dos alunos caracteriza o lixo apenas
pelos fatores negativos, sem levar em consideração a questão da reciclagem, e que apesar de terem visto o
tema ser tratado tanto em sala de aula quanto pela escola em forma de projetos, nota-se que para eles,
isso não faz parte de seu cotidiano, tanto que apenas 4% dos alunos dizem que reciclam parte do lixo
produzido em casa. Outro fator, é que apesar de uma boa percentagem de alunos ter dito que se interessa
pelo tema ou que já fez algo a respeito, o resultado trazido no último gráfico é que mesmo a maioria dos
alunos dizendo que reaproveita certos materiais em casa, eles não conseguiram ver essa atitude como
sendo um ato de reciclagem, levando ao fato de que não conseguiram associar o que viram na escola com o
seu cotidiano.
O fator associação entre teoria e prática, no sentido da realização de um trabalho voltado primeiro
para a realidade local, buscando ligações entre o que os alunos veem na escola e o seu cotidiano, e em
seguida mostrando os fatores globais, que não deixam de refletir atitudes locais, foi a necessidade sentida
pelos resultados da pesquisa, e que se buscou suprir inicialmente com a realização de uma palestra que
viesse despertar não só o interesse, mas principalmente a atitude, a vontade de agir diante daquilo que
estava sendo proposto.
A palestra, como colocado anteriormente, foi apenas a atitude inicial, e como citado nos objetivos
específicos, a pesquisa também visou obter dados que subsidiassem a elaboração de outros projetos em
educação ambiental na comunidade, pois a partir dos resultados obtidos pretende-se dar continuidade ao
trabalho realizando junto com toda a comunidade escolar uma reavaliação do que vem sendo feito em sala
de aula e pela escola como um todo, para com isso se buscar as melhorias necessárias e a continuidade do
trabalho iniciado pela pesquisa.

REFERÊNCIAS
ALENCAR, Mariléia Muniz Mendes. Reciclagem de lixo numa escola pública do município de
salvador. Disponível em: <www.fja.edu.br/candomba/2005.../MarileiaAlencar2005v1n2.pdf>. Acesso em:
05 jan. 2011.
BRASIL. PCN MEIO AMBIENTE. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/meioambiente.pdf>. Acesso em 05 jan. 2011.
CAMARGO, Mairo Fabio; UMETSU, Ricardo Keichi. A contribuição da universidade para as ciências
ambientais. Revista brasileira de educação ambiental. Cuiabá. n. 4, Jul. 2009. Disponível em: <
http://pt.scribd.com/doc/44034106/REVBEA-Revista-Brasileira-de-Educacao-Ambiental-no-04>. Acesso em:
05 jan. 2011.
FELIX, Rozeli Aparecida Zanon. Coleta Seletiva em Ambiente Escolar. 2007. Disponível em:
<www.remea.furg.br/edicoes/vol18/art42v18a6.pdf>. Acesso em: 30 dez. 2010.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1224

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25 ed. São Paulo:
Paz e Terra, 1996.
REIGOTA, Marcos. O que é educação ambiental. 2. ed. São Paulo: Brasiliensi, 2009.
VESTENA, Carla Luciane Blum. Conhecimentos e juízos morais de crianças e de adolescentes sobre o
meio ambiente: considerações acerca da educação ambiental. 2010. 362 f. Tese (Doutorado em Educação) -
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Marília, 2010. Disponível em:
<http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cp124239.pdf>. Acesso em: 10 mai. 2011.

João Pessoa, outubro de 2011


1225

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA EEB JOSÉ GONÇALVES DA SILVA –


SÃO DANIEL - ITAPIPOCA, CE: RELATO DE EXPERIÊNCIAS
Norma Oliveira de ALMEIDA
Graduada em Ciências Biológicas (UFC). Mestre em Enga. de Pesca – Aquicultura (UFC) . Coordenadora do Reflorestamento
da Região Serrana de Itapipoca (FACEDI/UECE)
Professora Assistente
email: noalmeida@gmail.com

RESUMO
O presente trabalho foi desenvolvido na localidade São Daniel a 14km da sede do município de
Itapipoca – CE. São Daniel ainda apresenta uma considerável área de mata nativa na região, por isso ainda
se destaca por apresentar um clima ameno em relação a outras áreas dentro do próprio município. No
entanto, esta se encontra ameaçada pelo alto índice de desmatamento ocorrente, praticado pelos próprios
agricultores locais, a fim de praticar o cultivo da banana. Em virtude disso, o presente trabalho propõe um
trabalho de sensibilização dos alunos da EEB José Gonçalves da Silva, em relação às questões ambientais,
visando à reflexão a cerca da realidade local. Para isso, 15 discentes do Curso de Licenciatura em Ciências
Biológicas da Faculdade de Educação de Itapipoca da Universidade Estadual do Ceará (FACEDI/UECE),
receberam uma formação para trabalharem como facilitadores das atividades propostas. A referida escola
tem cerca de 70 alunos matriculados no ensino fundamental no turno da tarde, compreendendo turmas do
6º. ao 9º. ano. As atividades foram escolhidas de acordo com o nível de compreensão dos alunos em suas
respectivas turmas. Sendo elas: 6º. ano – teatro de fantoches; 7º. ano – jogos didáticos; 8º. ano – jornal
ecológico – temática: mudanças climáticas e 9º. ano – teatro com a temática: “desmatamento e poluição
das águas”. Percebeu-se uma grande disponibilidade dos alunos da escola em participar deste momento,
bem como, uma boa integração no momento das realizações das atividades. Pôde-se observar também,
entre a maioria dos professores que se encontravam na escola, não demonstraram muito interesse em
participar, chegando alguns a se ausentar da sala de aula. No momento de socialização final, os alunos
consideraram o momento como bastante positivo, e alguns professores chegaram a sugerir que fosse
ministrada a eles uma formação para aprenderem como trabalhar de forma dinâmica e simples as questões
ambientais.
PALAVRAS-CHAVES: EDUCAÇÃO AMBIENTAL; SENSIBILIZAÇÃO; ESCOLA.

INTRODUÇÃO
As questões ambientais hoje, fazem parte do cotidiano de todos, diante da crescente realidade de
desrespeito e consequente degradação que atinge o planeta terra. Faz-se então necessário, a reflexão
sobre esta temática a fim de se sensibilizar as pessoas em busca da tomada de novas atitudes e
consequentes mudanças de comportamentos e valores.
De acordo com Segura (2001):
“A escola representa um espaço de trabalho fundamental para iluminar o sentido da luta ambiental
e fortalecer as bases da formação para a cidadania, apesar de carregar consigo o peso de uma estrutura
desgastada e pouco aberta às reflexões relativas à dinâmica socioambiental. Isto não significa que a EA
limita-se ao cotidiano escolar. Cada vez mais se expande para os diversos setores sociais envolvidos na luta
pela qualidade de vida. E não poderia ser diferente, já que toda a sociedade tem responsabilidade sobre os
impactos da ação humana no ambiente”.
A escola é um espaço de formação de pensamento, sendo assim um ambiente propício a essas
reflexões, a fim de formar cidadãos críticos e conscientes do papel que devem desempenhar na sociedade
e no ambiente do qual fazem parte. Nessa perspectiva, a Lei Federal nº 9.795/99 – institui a Política
Nacional de Educação Ambiental, que em seu artigo segundo, afirma que:
“A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo
estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter
formal e não-formal.”

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1226

A educação ambiental ainda na Lei Federal nº 9.795/99, é definida como processos onde
cada indivíduo de forma particular ou coletiva constrói seus valores, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências em busca do bem comum, da qualidade de vida e da sustentabilidade.
Segundo Dias (1992), a Educação Ambiental é um conjunto de conteúdos e práticas
ambientais que visam solucionar os problemas ambientais, a partir da interdisciplinaridade e da
participação efetiva e coletiva e da responsabilidade de cada indivíduo da comunidade.
Nessa perspectiva a educação ambiental se torna uma importante ferramenta rumo a esse
processo de mudança de valores e atitudes, tendo a escola como uma importante porta de acesso à
conscientização de crianças e jovens. Segundo os PCN´s (1997), os trabalhos com educação ambiental,
visam “formar cidadãos conscientes, aptos para atuarem na realidade socioambiental, de um modo
comprometido com a vida, com o bem estar de cada um e da sociedade local e global.” Acreditando que os
comportamentos “ambientalmente corretos” devem ser aprendidos nas vivências diárias dos alunos.
Para Dewes (2006) “Cabe, também, ao particular e a todos defender o meio ambiente e
desenvolver ações em prol da conscientização, preservação, conservação e recuperação ecológicas.”
A educação ambiental deve neste sentido, ser trabalhada de forma a despertar nessas pessoas um
sentimento de relação harmônica com o ambiente ao qual pertencem, no sentido de abrir os olhos para a
realidade que as cerca que retrata a relação homem–ambiente naquele local. Deve também ser pensada
como forma de mostrar as responsabilidades que se tem sobre a degradação ambiental.
Nesse contexto, o Projeto de Reflorestamento da Região Serrana de Itapipoca, criado em
junho de 2007, visa dentre outros objetivos desenvolver junto às escolas do município de Itapipoca, Ceará,
atividades de educação ambiental, a fim de sensibilizar os alunos, professores e comunidade escolar em
relação às questões ambientais. Algumas destas atividades também são direcionadas à comunidade local,
indiretamente, através da escola, envolvendo pais e moradores das vizinhanças.
A localidade São Daniel, no distrito de Arapari, Itapipoca-Ce, ainda apresenta uma pequena área de
mata nativa, destacando-se por um clima ameno em relação a outras áreas do município. No entanto, vem
sofrendo com um considerável índice de desmatamento, pelos agricultores locais, que visam o cultivo da
bananeira. Observou-se então, por consequência a morte de alguns olhos d´água na região. Estas são
práticas desenvolvidas ao longo dos anos que se estabelecem de forma cultural. Para Morin (2010), “a
cultura acumula em si o que é conservado, transmitido, aprendido, e comporta normas e princípios de
aquisição”.
Segundo Carvalho (2011):
“...um bom exercício para renovar nossa visão do mundo é, às vezes, trocar as lentes, para ver as
mesmas paisagens com olhos diferentes. Isso significa “desnaturalizar” os modos de ver que tínhamos como
óbvios. Podemos fazer isso questionando conceitos já estabilizados em muitos campos da experiência
humana, criando, dessa maneira, espaços para novos aprendizados e para a renovação de alguns de nossos
pressupostos de vida.”
A educação ambiental visa essa nova visão de mundo, na busca da formação emancipatória de
cidadãos mais críticos que busquem suas escolhas de forma consciente. Nesse sentido, é importante se
trabalhar a educação ambiental de forma que o educando possa se perceber como parte integrante do
contexto socioambiental. Conscientizar não é apenas transmitir valores e conceitos, mas é propiciar ao
educando uma reflexão em busca da formação de suas próprias idéias e conceitos de valores, que os torne
aptos a criticar tais valores baseados em sua própria realidade.
Faz-se urgente a reflexão sobre a educação ambiental que vem sendo trabalhada nas escolas, uma
vez que esta ainda parece estar sendo desenvolvida apenas sob encargo dos professores de ciências e
biologia. No entanto, se precisa que a educação ambiental se torne responsabilidade de todos os docentes
em todas as disciplinas, que deixe de ser tratada de forma “naturalista” e seja levada para um contexto
socioambiental.
De acordo com CENED (2010):
“É papel do professor possibilitar aos educandos do ensino fundamental uma apropriação ampla do
conceito de ‘meio ambiente’, estabelecendo condições didáticas para que os mesmos entendam que o meio
ambiente não é só a árvore, a grama. É preciso, como já discutimos no decorrer do curso, educar para uma
compreensão socioambiental: natureza e sociedade e suas interações.”

João Pessoa, outubro de 2011


1227

As atividades lúdicas, os trabalhos de equipe, bem como outros recursos didáticos


são ferramentas importantes para se trabalhar a educação ambiental, no sentido de estimular a
sensibilidade do aluno para uma visão mais voltada à sua própria realidade.
Diante do exposto, se percebeu como necessário um trabalho de sensibilização junto à escola local,
abrangendo também a comunidade através dos alunos, a fim de contribuir para uma mudança de atitude
da comunidade em relação às questões ambientais locais. Como ferramenta de apoio às atividades
desenvolvidas em educação ambiental, neste trabalho foram utilizadas diferentes propostas pedagógicas
que pudessem levar os alunos em questão à reflexão sobre suas realidades.
As atividades escolhidas tinham um caráter lúdico e pretendiam despertar nos alunos e nos
professores presentes o sentido da interdisciplinaridade. Fazer perceber que as questões ambientais
podem ser discutidas e questionadas em qualquer disciplina do ensino fundamental. Para Carvalho (2011)
“Essa tarefa é bastante ousada. Trata-se de convidar a escola para a aventura de transitar entre saberes e
áreas disciplinares, deslocando-a de seu território já consolidado rumo a novos modos de compreender,
ensinar e aprender.”
As turmas desenvolveram suas atividades sob a orientação dos licenciandos em Ciências Biológicas
da Faculdade de Educação de Itapipoca da Universidade Estadual do Ceará (FACEDI/UECE). Para este
momento um grupo de 15 universitários passou por uma capacitação teórica de 10h, que tinha por
objetivos gerais discutir sobre as questões teóricas e práticas da educação ambiental.
Para cada turma, foi pensada uma atividade que pudesse contemplar o assunto proposto, bem
como seu nível de compreensão e discernimento. Propôs-se ainda que cada turma pudesse refletir as
questões ambientais de forma dinâmica e participativa, sempre buscando estimular o pensamento crítico.
Pensando em como estimular os professores a fim de sensibilizá-los a trabalhar as questões
ambientais dentro de suas respectivas disciplinas, se propôs que estes fizessem momentos de reflexão e
discussão sobre as temáticas abordadas.
Considerou-se enfim, que o trabalho realizado foi de suma importância para os alunos daquela
escola, uma vez que estes pareceram estimulados com as atividades propostas. Considera-se também que
os professores parecem ainda não saber lidar com a proposta da contextualização da educação ambiental
em suas disciplinas regulares. Levando a questionar se os mesmos receberam algum tipo de formação para
esta nova proposta pedagógica.

MÉTODOS
O trabalho foi realizado na Escola de Educação Básica José Gonçalves da Silva, da localidade São
Daniel, no distrito de Arapari, localizado a cerca de 14 km da sede do município de Itapipoca, Ce. No turno
da tarde a escola conta com 70 alunos matriculados no Ensino Fundamental II, do 6º. ao 9º. ano, que
constitui o público-alvo desta atividade. Este trabalho faz parte das ações de Educação Ambiental nas
escolas desenvolvido pelo Projeto de Reflorestamento da Região Serrana de Itapipoca.
O processo para realização destas atividades foi dividido em duas etapas. A primeira etapa
compreendeu uma formação com os alunos do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Faculdade
de Educação de Itapipoca da Universidade Estadual do Ceará FACEDI/UECE. Quinze alunos de diferentes
semestre participaram desta capacitação que tinha como objetivos: Refletir sobre práticas de Educação
Ambiental, na melhoria da qualidade de vida; Conhecer e discutir técnicas e recursos pedagógicos que
podem ser utilizados em ações de Educação Ambiental; Contribuir para a formação de educadores
ambientais dentro do Projeto de Reflorestamento.
No momento da capacitação, os graduandos em Ciências Biológicas da FACEDI, tiveram uma
explanação teórica a respeito da Educação Ambiental (EA) nas escolas, bem como, preparam atividades que
seriam empregadas com os alunos da escola em questão. Estas atividades além de serem propostas foram
discutidas entre os grupos, a fim de se concretizar a possibilidade de execução destas nas turmas. Puderam
ainda, vivenciar dinâmicas de Educação Ambiental, como um momento de sensibilização. Cientes das
turmas que cada equipe iria trabalhar, posteriormente, os grupos prepararam as atividades definitivas a
serem aplicadas. A capacitação constou de 10 horas teóricas, contando com mais 10 h de preparação e
realização das atividades na escola.
Após a conclusão da capacitação, seguindo os trâmites de comunicação e aceite da escola, os
licenciandos em Ciências Biológicas da FACEDI/UECE, se deslocaram até a localidade de São Daniel.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1228

Chegando à escola, a direção reuniu todos os alunos, quando foi feito um momento de sensibilização com
toda a comunidade escolar. Ainda neste encontro, disponibilizou-se a programação proposta para aquela
tarde, que compreendia: 6º. ano – teatro de fantoches; 7º. ano – jogos didáticos; 8º. ano – jornal ecológico
– temática: mudanças climáticas e 9º. ano – teatro com a temática: “desmatamento e poluição das
águas”.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
É importante ressaltar que em outras oportunidades, já foram realizadas ações de educação
ambiental nesta escola, e que esta sempre demonstrou uma grande receptividade por parte dos
professores, alunos e direção. As atividades foram trabalhadas individualmente por turmas, respeitando o
nível de compreensão dos alunos e se obteve os seguintes resultados:

6º. ano – teatro de fantoches


Ao iniciar este momento, os alunos da FACEDI tiveram uma breve conversa com grupo de alunos
daquela, onde foi apresentada a proposta de trabalho e ainda abordaram sobre a importância daquele
momento. Em seguida, apresentaram uma história em teatro de fantoches, a qual tinha no roteiro a
história de dois amigos que frequentemente conversavam entre si sobre as questões ambientais. Como o
próprio título sugere: “O Perguntador e o Rimadinha”, no diálogo, um amigo sempre tinha dúvidas durante
a conversa e fazia muitas perguntas, o outro amigo, mais inteirado dos assuntos respondia a todas as
questões em forma de versos.
Nesta turma pode-se perceber o grande interesse dos alunos pela atividade que estava sendo
realizada, o que os deixou bastante à vontade para interagirem com os personagens da história. Supõe-se
que o interesse demonstrado seja pelo fato das questões ambientais abordadas fazerem parte do cotidiano
destes alunos, como o desmatamento e as queimadas, e o cuidado com a água. Pode-se referir também, à
forma lúdica com que o teatro de fantoches pode retratar alguns assuntos, com uma linguagem bem
acessível à faixa etária encontrada nesta turma. Esta atividade pretende ainda, despertar o interesse dos
alunos para a interpretação de fatos e idéias, bem como sua contribuir para a expressão oral, a partir da
interação com os personagens como mencionado anteriormente.
O professor presente nesta turma foi bastante participativo no momento da interação dos alunos
com os personagens da história.

7º. ano – jogos didáticos


Nesta turma, os jogos aplicados foram confeccionados pelos próprios estudantes de Licenciatura
em Ciências Biológicas da FACEDI e para esta atividade foram utilizados JOGO DE TRILHA - TEMÁTICA:
AMIGOS DA NATUREZA e JOGO DA MEMÓRIA – TEMÁTICA: ANIMAIS EM EXTINÇÃO.
Iniciando o trabalho com a turma do 7º. ano, foi feita uma sondagem sobre o conhecimento prévio
dos alunos a respeito dos assuntos, a serem abordados bem como, foi realizada uma breve discussão sobre
os mesmos. Em seguida, a turma foi dividida em duas equipes e se deu a aplicação dos jogos. Os próprios
alunos sugeriram a divisão deles em meninos e meninas. As duas equipes realizaram os dois jogos,
alternadamente. Ao final, foi levantado um questionamento, a fim de relacionar a teoria discutida
inicialmente com a prática vista nos jogos. Em seguida, foi feita uma breve avaliação da aplicação da
atividade pelos próprios alunos, os quais consideraram o momento bastante interessante e satisfatório,
pois segundo eles, era uma “coisa diferente”.
É importante lembrar que a questão da abordagem da Educação Ambiental na escola não se
restrinja apenas a momentos específicos como semanas comemorativas ou feiras de ciências, mas que
possa ser trabalhada de forma dinâmica e atrativa, contextualizada no cotidiano escolar. Nesta atividade se
propõe ainda ressaltar a aprendizagem de forma lúdica.
A professora que deveria estar em sala de aula neste momento, pareceu não dar muito importância
àquele momento e se ausentou da sala de aula, permanecendo conversando no corredor da escola durante
todo o tempo de realização da atividade. Este fato leva a questionar o nível de sensibilização deste
professor em relação às questões ambientais, bem como se o mesmo está preparado para abordar esta
temática em suas aulas.

João Pessoa, outubro de 2011


1229

8º. ano – jornal ecológico – temática: mudanças climáticas


A fim de agilizar o andamento da atividade, o material requerido para a confecção dos jornais, foi
disponibilizados pelos facilitadores. Para tanto, foram utilizados, recortes de jornais e revistas, com textos e
fotos, bem como figuras que representavam o tema a ser trabalhado. Cartolina, pincéis, lápis preto, de cor
e canetas hidrográficas foram cedidos pela direção. Como citado anteriormente, esta sempre se
demonstrou receptiva a este tipo de trabalho.
Ao iniciar esta atividade, foi levantada uma breve discussão com os alunos sobre o tema a ser
abordado – Mudanças Climáticas. O objetivo neste momento era perceber o conhecimento prévio dos
alunos, bem como fazê-los identificar em suas realidades, fatos que possam reportar a esse tema. Em
seguida foram lançadas 2 propostas: um jornal escrito e um jornal falado.
Para o jornal escrito, os alunos puderam contar apenas com fotos e figuras disponíveis. Os textos
em relação às imagens escolhidas deveriam ser produzidos por eles. Propôs-se dentro desta atividade, além
do conhecimento em relação às questões ambientais, a produção textual e oralidade, uma vez que os
alunos teriam que fazer as explanações dos jornais. Em seguida, os alunos montaram um painel e
expuseram suas notícias. Percebeu-se a facilidade com que este grupo desenvolveu suas atividades e
montou um “jornal escrito”. Ao final do tempo concebido, apresentaram para o restante da turma. Nesta
etapa pôde-se observar como os alunos ainda tem dificuldade de interpretar ideias e formar opiniões
próprias, assim, se ressalta a importância da educação ambiental como proposta de pensamento crítico.
A segunda proposta de atividade, ainda nesta turma, era de um jornal falado. Diante dos textos
previamente apresentados, o grupo deveria reescrevê-los em forma de “reportagens” e apresentar um
“Jornal Falado”, simulando uma dupla de apresentadores, chamadas ao vivo, etc. Inicialmente, houve uma
resistência do grupo a realizar esta atividade. Parecia um desafio muito grande para eles. Mas, a
colaboração dos facilitadores da atividade, parece ter transformado o grande desafio em um desafio menor
e divertido. Ao final, mesmo tímidos, eles apresentaram seu telejornal. Foi um momento de superação que
foi qualificado pelos alunos como “muito interessante!” Segundo eles, nunca pensaram que fossem capazes
de realizar aquela atividade. Para o grupo de facilitadores, este foi um momento de grande desafio que
terminou como gratificante.
A professora presente nesta sala de aula, permaneceu indiferente ao trabalho que estava sendo
realizado, se detendo apenas a conter os alunos de forma a manter o comportamento. Em nenhum
momento entrou nas discussões levantadas, parecendo mera expectadora.

9º. ano – teatro com a temática: “desmatamento e poluição das águas”.


Para esta atividade, não foram necessários muitos recursos, apenas papel e lápis para suas
composições textuais. Em virtude de o tempo ser relativamente curto, cerca de uma hora para a realização
da atividade, o que interessava neste momento, era o conteúdo trabalhado, e não uma produção de
cenários, roupas, etc.
Diante da proposta de trabalho, os alunos se dividiram em 2 grupos na sala, para escolher suas
temática. Os temas disponibilizados foram ”Desmatamento” e “Poluição das águas”. Em seguida à escolha,
os facilitadores fizeram uma breve abordagem sobre o tema de cada grupo. Logo após, os alunos partiram
para a etapa da produção textual, o “roteiro da peça”. Um fato que se percebe é que sempre que se
desenvolve atividades deste tipo, os alunos retratam suas realidades. Talvez este seja um modo de
protestarem sobre as questões ambientais que os rodeiam, que fazem parte das suas realidades. Após o
tempo concedido, cerca de 1h, os alunos fizeram suas apresentações teatrais. As apresentações foram
consideradas boas, apesar da timidez ao se expressar. Vale considerar que à medida que as turmas vão
avançando, parece que os alunos sentem mais dificuldade de se expor. Mesmo assim, na turma do 9º. ano,
os mesmos avaliaram o momento como “muito bom”, por ser “uma aula diferente”. Reporta-se novamente
à abordagem da Educação Ambiental na escola, que possa ser trabalhada de forma dinâmica e atrativa,
contextualizada no cotidiano escolar.
A professora desta turma, assim como a do 7º. ano, permaneceu por todo o tempo da realização
das atividades conversando no corredor da escola. Um fato interessante, é que mesmo a direção se pondo
como receptiva a esta proposta de trabalho, em momento algum estimulou os professores a participarem
de forma mais efetiva daquele momento.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1230

Em todas as turmas, depois da abordagem inicial e execução das atividades, foram realizadas
breves avaliações, nas quais se questionou a importância do momento, o conteúdo refletido e o interesse
em participar. É relevante esta participação, a discussão, porém, como requer a Educação Ambiental se
tem que trabalhar de forma bastante efetiva em busca de mudanças de comportamento, de novas
atitudes. Daí, se considerar este tipo de trabalho, muito insistente e paciente.
Ao final das atividades propostas, as quais ocorreram simultaneamente em todas as salas, os alunos
novamente foram reunidos. Foram escolhidos dois representantes de cada turma, que expuseram o que
tinha ocorrido em suas salas, as temáticas abordadas e como haviam sido trabalhadas. Nesta etapa do
trabalho, pode-se observar que os alunos estão sempre citando como exemplos da falta de cuidado com as
questões ambientais problemas vivenciados por eles, a maioria das vezes nos arredores de casa ou o que
percebem no percurso até a escola. Em seguida, fizeram suas avaliações e muitos deles sempre colocavam
que “era muito bom porque era diferente”.
Refletindo um pouco sobre isso, pensa-se na interdisciplinaridade que parece não estar sendo
trabalhada dentro desta escola. Em atividades simples como estas, várias disciplinas podem ser envolvidas,
muitos conteúdos podem ser trabalhados, de forma significativamente compreensível, ressaltando assim a
proposta de formação de sujeitos críticos, que cientes de seu papel no ambiente, possa gerar novas e
transformadoras atitudes. Questiona-se também a formação dos professores, a fim de trabalhar a
educação ambiental na escola.
As escolas, de forma geral, alegam que estão lotadas de projetos de educação ambiental a serem
desenvolvidas durante o ano. Isso leva a questionar como estes projetos estão sendo trabalhados? Será
que é apenas convidando um palestrante, fazendo mutirão para juntar garrafas pet e fazendo uma feira de
ciências? Será que todos os professores das escolas em suas respectivas disciplinas tomam conhecimento
destes momentos? Ou apenas o professor de Ciências, que termina sobrecarregado por ter que se
responsabilizar por todos os projetos desse tipo?
Percebeu-se também, que durante o momento de realização das atividades, a maioria dos
professores pareciam ter tirado uma folga, não se envolvendo diretamente no processo. Diante disso, ao
final de todas as colocações dos alunos, fez-se referência aos professores presentes na escola naquela
tarde, a fim de estimulá-los a trabalharem aquelas temáticas dentro de suas disciplinas propondo-lhes fazer
durante a semana que se iniciava, pelo menos uma atividade em suas aulas que pudesse ser reportada
aquele momento. Alguns professores, então, nos convidaram a ensiná-los a trabalhar de forma simples e
contextualizada todas aquelas questões em suas disciplinas. O que nos leva mais uma vez a questionar
sobre que tipo de educação ambiental vem sendo trabalhada nas escolas, bem como, que tipo de formação
os professores vem recebendo para isto.
Como essas ações fazem parte do Projeto de Reflorestamento da Região Serrana de Itapipoca, os
alunos da EEB José Gonçalves da Silva foram então convidados para participar do Plantio de Mudas que
estava programado para o domingo seguinte, na mesma localidade. O Plantio foi realizado com sucesso, e
envolveu cerca de 40 alunos da escola, destacando-se que é uma escola pequena, com um total de 70
alunos no Ensino Fundamental, do 6º. ao 9º. ano.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pôde-se perceber neste trabalho a contribuição que se dá aos graduandos de licenciatura ao
realizar atividades deste tipo, pois se deparam com situações que fogem à rotina da escola, mostrando
diferentes possibilidades de estimular o processo de aprendizagem.
Observou-se na escola que os alunos se sentiram estimulados a participar desta ação e que
momentos como os vivenciados nas atividades propostas, parecem não ser comuns dentro desta escola.
Isto parece contradizer as práticas pedagógicas sugeridas pelos PCN´s, onde se propõe estabelecer relações
entre os conteúdos estudados e a realidade dos alunos.
Os professores da escola parecem não saber lidar com a proposta da contextualização dos assuntos
relacionados às questões ambientais em suas disciplinas. Assim como, parece não haver uma proposta de
interdisciplinaridade, nesta escola, levando a crer que os projetos de educação ambiental ainda ficam
muito ao encargo do professor de ciências.

João Pessoa, outubro de 2011


1231

Considera-se então que a Universidade tem muito a contribuir com as escolas em momentos
dinâmicos e reflexivos, que possam fazer com que alunos e professores percebem a importância da
contextualização e interdisciplinaridade.

REFERÊNCIAS
BRASIL. s/d. Pronea1 – Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/estruturas/educamb/_arquivos/pronea1.pdf >. Acesso em 29/01/2009.
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2011.
Curso Educação Ambiental: Abordagem Teórico-Prática. CENED, 2010.
Curso Práticas de Educação Ambiental nas Escolas. CENED, 2010.
DEWES, Daniela. Educação ambiental para a sustentabilidade: história, conceitos e caminhos.
Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus Santo Ângelo/RS. 2006.
Disponível em:
http:<http://www.urisan.tche.br/~forumcidadania/pdf/EDUCACAO_AMBIENTAL_PARA_A_SUSTENTABILID
ADE.pdf. Acesso em: 28/07/2011
DIAS, G.F. Dinâmicas e instrumentação para educação ambiental. 1.ed. São Paulo: Gaia, 2010.
DIAS, G.F. Educação ambiental, princípios e prática. São Paulo: Gaia, 1992.
EFFTING, T. R. Educação Ambiental Nas Escolas Públicas: Realidade e Desafios. Monografia
(Especialização em Planejamento para o Desenvolvimento Sustentável) – Universidade Estadual do Oeste
do Paraná – Campus de Marechal Cândido Rondon. 2007.
PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: Ciências Naturais. Secretaria de Educação Fundamental.
Vol. 4. Brasília: MEC/SEF, 1997. 136p.
PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: Meio Ambiente e Saúde. Secretaria de Educação
Fundamental. Vol. 9. Brasília: MEC/SEF, 1997. 136p.
RÔÇAS, G.; DOS ANJOS M. B. A importância de jogos pedagógicos em aulas de biologia.1º.
Congresso Científico da UniverCidade – Rio de Janeiro, 16 de outubro de 2006.
SEGURA, D. de S. B. Educação Ambiental na Escola Pública: da curiosidade ingênua à consciência
crítica. São Paulo, Annablume: Fapesp, 2001. 214p. 11,5X20cm.
Vamos cuidar do Brasil : conceitos e práticas em educação ambiental na escola /[Coordenação:
Soraia Silva de Mello, Rachel Trajber]. – Brasília: Ministério da Educação, Coordenação Geral de Educação
Ambiental: Ministério do Meio Ambiente, Departamento de Educação Ambiental : UNESCO, 2007.248 p. : il.
; 23 x 26 cm.Vários colaboradores.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1232

CONSELHOS CONSULTIVOS E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: CONCIENTIZAÇÃO


E PARTICIPAÇÃO COLETIVA EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
Paloma de Sousa REGALA,
Graduanda em Turismo, paloma.tur@hotmail.com,
Francisco Willian Brito BEZERRA II,
Advogado, willianii@uol.com.br,
Maria Cristina CRISPIM,
Biologa, professora doutora no PRODEMA UFPB/UEPB e orientadora, ccrispim@hotmail.com

RESUMO
Este trabalho aborda uma revisão jurídica de artigos e leis relacionada a unidades de conservação, a
possível participação social através de conselhos consultivos e o envolvimento de ambos com a educação
ambiental, objectivando contribuir com o avanço de debates nesta área, e mostrando que a integração
entre unidades de conservação, gestão participativa e educação ambiental pode ser benéfico para a
sociedade e o meio ambiente.
Palavras-chave: conselhos consultivos, unidades de conservação, educação ambiental.

Introdução
Todos os dias a mídia tem noticiado catástrofes ambientais, fato que tem demonstrado a
seriedade da crise ambiental da atualidade. A preocupação crescente dentro das sociedades humanas não
diz respeito apenas à sobrevivência da espécie, mas também em assegurar uma qualidade de vida digna.
Nesse sentido, é cada vez mais comum ouvirm-se expressões como “bem estar”, “vida saudável” e
“sustentabilidade”.
Contudo, a popularização destas expressões e da preocupação com o futuro da vida no
planeta Terra, não têm sido suficientes para conter o agravamento da crise ambiental. Assim algumas
perguntas como “por que interferir?”, “o que fazer?”, “quem tem competência?”, “como agir?”, “quando
começar?” “onde merece mais atenção?”, apesar de terem respostas aparentemente fáceis, ainda carecem
de uma resposta definitiva, e diariamente desafiam estudiosos e profissionais da área ambiental.
Este pequeno estudo de revisão bibliográfica não tem intenção de responder
definitivamente a qualquer destas perguntas. Propõe-se apenas a contribuir, com o avanço nos debates,
levantando algumas possibilidades que apenas o futuro poderá confirmá-las ou não. Os autores buscaram
com o estudo levantar argumentos que mostrem como uma integração entre educação ambiental (EA),
unidades de conservação (UCs) e gestão participativa (principalmente no que toca aos conselhos
consultivos) pode fortalecer um ciclo virtuoso no qual sociedade e natureza têm muito a ganhar e nada a
perder.

Argumentos jurídicos
Não se pretende aqui debater o histórico da evolução do pensamento jurídico sobre meio
ambiente no Brasil, ou debater sobre a qualidade das normas hoje em vigência no Brasil. Pretende-se aqui
demonstrar, a partir de um panorama legislativo, como os temas centrais deste artigo, apesar de ainda não
gozarem de plena implementação prática, já contam há algum tempo com proteção e incentivos jurídicos.
Já em 1981, o Brasil presenciou, em plena ditadura militar, grande avanço, não só para a
proteção da natureza, mas também um avanço histórico em prol da democratização do país. Naquele ano,
a Lei nº 6.9381 foi publicada, instituindo o Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA). Entre tantas
outras contribuições em prol da defesa ambiental, esta lei foi revolucionária por criar um modelo de gestão
participativa, instituindo o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), órgão consultivo e
deliberativo, formado tanto por representantes do poder público quanto por membros da sociedade civil
organizada.
A mesma lei, tratou como princípios da Política Nacional de Meio Ambiente a “proteção dos
ecossistemas, com a preservação de áreas representativas”, bem como a “ educação ambiental a todos os
níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para a participação
João Pessoa, outubro de 2011
1233

ativa na defesa do meio ambiente”. Vale ressaltar, portanto que a gestão participativa do meio ambiente,
as UCs e a EA são tratadas nos Brasil há três décadas sob o mesmo diploma legal, e com o mesmo objetivo
de preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental brasileira.
A legislação ambiental brasileira continuou fortalecendo-se até que em 1988, o tema alçou
nível constitucional, tendo o legislador constituinte dedicado todo um capítulo ao meio ambiente. No texto
da Constituição Federal2, merecem destaque deste estudo dois artigos. Já no art. 1º o texto reconhece que
todo o poder emana do povo, e deve ser exercido por ele direta ou indiretamente, de acordo com as
demais normas constitucionais.
O caput do art. 225 constitucional afirma que o meio ambiente ecologicamente equilibrado
é bem de uso comum de todos e essencial à sadia qualidade de vida. Todavia, o meio ambiente equilibrado
não é apenas um direito de todos, pois o mesmo dispositivo impõe o dever, ao poder público e à
coletividade de proteger o equilíbrio ambiental para as gerações presentes e futuras. A preocupação e
cuidado com o meio ambiente não podem estar sujeitos à moda, pois é uma obrigação criada pelo
documento legal máximo do ordenamento jurídico. Além de que não adianta reclamar de ações
governamentais ineficientes, já que a coletividade tem o poder/dever de agir ativamente.
O parágrafo primeiro do art. 225 determina que incumbe ao poder público, em prol da
defesa da qualidade ambiental algumas atividades, entre estas, o inciso III trata da criação de UCs,
enquanto o inciso VI inclui neste rol a EA. Não cabe criticar ou teorizar a redação do caput do parágrafo
primeiro, mas incluir tais obrigações apenas ao poder público, justifica-se pela maior capacidade técnica e
econômica do Estado ante o cidadão de classe média do país, contudo, resta evidente pela regulamentação
infraconstitucional que a coletividade também deve ser incluída nestes processos.
Em 1999 entrou em vigor a Lei nº. 9.7953, que regulamenta a política nacional de EA. Seu
art. 1º define o que é EA e merece ser transcrito: “Entendem-se por educação ambiental os processos por
meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes
e competências voltadas para a conservação do meio ambiente”.
Vale a pena explorar bem este conceito. Em primeiro lugar a EA não é uma disciplina
fechada e isolada, é um conjunto de processos. Segundo, a EA envolve toda a coletividade, um processo
cíclico que trata das influências recíprocas de indivíduos e sociedade. Ressalte-se também que não é o
poder público quem está em destaque no conceito de EA, mas sim a própria coletividade. A EA é ainda
um meio para a construção de valores sustentáveis, que para isso depende de todo um desencadeamento
lógico, pelo qual o conhecimento ambiental teórico auxilie na capacitação e aperfeiçoamento de
habilidades necessárias para atitudes práticas sustentáveis essenciais para uma distribuição eficiente de
competências. Em um exemplo bastante simples desta cadeia, cita-se a coleta seletiva de resíduos sólidos.
Ainda hoje muitas pessoas não dão a destinação correta para o seu lixo, alguns por desinformação, outros
porque apesar de conhecerem na teoria as consequências do mau condicionamento dos resíduos não
fazem nada pra mudar a situação porque não querem ou porque não sabem fazer. Alguns, quando
informados ainda aprendem a separar corretamente o lixo, mas por qualquer motivo não o fazem, estes
têm conhecimentos e habilidades, porém falta atitude. Alguns ainda chegam a separar o lixo seco dos
resíduos orgânicos, todavia, quando o poder público faz a coleta, mistura tudo novamente. Porém, a
coletividade poderia exigir dos seus representantes uma coleta seletiva eficiente, ou mesmo montar
cooperativas de reciclagem. Assim, se todo o lixo reciclável retorna a ser matéria prima, o lixo orgânico é
transformado em “adubo”, e apenas uma pequena quantidade de lixo é destinada aos aterros sanitários,
pode-se dizer que aquela sociedade conseguiu alcançar um valor social sustentável.
O art. 13 da Lei de EA trata ainda que cabe ao poder público, a sensibilização da
coletividade, inclusive das populações tradicionais, sobre a importância das UCs. Na Lei nº 9.9854 de 2000,
que regulamenta o Sistema nacional de Unidades de Conservação (SNUC), inclui a EA como objetivo e
diretriz das UCs. Assim, mais uma vez, resta clara a mútua dependência da EA, UCs em prol de um meio
ambiente equilibrado. BRITO e CÂMARA5 (1998) explicam em poucas linhas a importância dada pelo
legislador ao relacionar de forma íntima UCs e EA:
Com a educação ambiental dirigida para as regiões que contemplam áreas protegidas é possível se
aumentar a consciência ecológica regional e local, seja quanto à importância daquela área protegida para a
manutenção da diversidade de ambientes das espécies biótica e abióticas, ou para melhorar a qualidade de
vida, entre outras.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1234

Quanto à participação da coletividade na gestão das unidades de conservação, a Lei 9.985,


repete a tendência inaugurada em 1981 pela Lei nº 6.938, assegurando à coletividade a participação na
gestão ambiental. São três modalidades de integração coletividade e gestão das UCs, como resume SILVA6
(2009):
As unidades de Conservação são geridas por um órgão responsável e um Conselho Consultivo (salvo
Reserva de Desenvolvimento Sustentável, que terá Conselho Deliberativo) por ele presidido, mas também
podem ser geridas por organizações da sociedade civil de interesse público com objetivos afins aos da
unidade, mediante instrumento firmado com órgão responsável por sua gestão.
Em outras palavras, respeitadas as peculiaridades de cada espécie de Unidade de
Conservação e de suas características regionais, a coletividade poderá integrar-se à gestão desta UC por
meio de Conselhos Consultivos, Conselhos Deliberativos, ou mesmo assumindo a gestão executiva da
Unidade, mediante a adequação às exigências legais. Neste estudo, contudo, os autores se restringiram
aos Conselhos Consultivos.

O que são conselhos consultivos?


Como já foi abordado, os Conselhos Consultivos de Unidade de Conservação foram
instituídos no ordenamento jurídico brasileiro pela Lei 9.985, especificamente no que trata de: a) Área de
Proteção Ambiental (APA), no art. 15, §5º; b) Floresta Nacional, art. 17 §5º; e c) Unidades de Conservação
de Proteção Integral (incluídas aqui as Estações Ecológicas, Reservas Biológicas, Parques Nacionais,
Monumentos Naturais e Refúgios da Vida Silvestre).
Vale lembrar ainda que o SNUC, a pesar de ter sido instituído por lei federal, é constituído
por unidades federais, estaduais e municipais, e caso os estados e municípios tenham outras unidades que
não estejam incluídas no rol trazido pela Lei nº. 9.985, ainda assim estão sujeitas às regras gerais
mencionadas, de modo que outras espécies de unidades também poderão contar com um conselho
consultivo.
Embora a Lei do SNUC não conceitue os conselhos consultivos, pode-se, a partir da leitura
do instrumento normativo extrair algumas características, são elas: a) serão sempre presididos pelo órgão
responsável pela administração; b) será composto por membros de órgãos públicos e da sociedade civil
organizada, além de pessoas representantes das populações locais que habitem dentro ou no entorno das
UCs, sejam elas tradicionais ou não.
A Instrução Normativa nº11/20107 do Instituto Chico Mendes de Conservação da Bio
Diversidade (ICMBio), da subsídios ao presente estudo, ao passo que traz em seu art. 2º o seguinte
conceito jurídico dos conselhos consultivos:
Entende-se por Conselho Consultivo de unidade de conservação federal o órgão colegiado legalmente
constituído e vinculado ao ICMBio, cuja função é ser um fórum democrático de valorização, controle social,
discussão, negociação e gestão da unidade de conservação, incluída a sua zona de amortecimento ou área
circundante, para tratar de questões sociais, econômicas, culturais e ambientais que tenham relação com a
unidade de conservação
Vale ressaltar, que pelo ICMBio ser uma autarquia federal, tendo como uma de suas
atribuições a gestão das unidades de conservação federais, tal instrução normativa não poderia
regulamentar os conselhos das unidades estaduais ou municipais, mas em uma interpretação menos literal,
pode-se compreender que as regras gerais são as mesmas independentemente da entidade da federação à
qual esteja vinculada a UC.
Assim, Conselho Consultivo é órgão: a) colegiado, ou seja, exige sempre a presença de um
conjunto de mais de um conselheiro; b) legalmente constituído, sua criação/extinção não podem estar
sujeitos a uma vontade individual ou autoritária, mas sim de um ato normativo legal; c) vinculado a
autarquia ou órgão estatal responsável pela administração da UC (ICMBio, no caso de UCs federais); d) cuja
função primordial é ser um espaço democrático para tratar de questões do interesse da Unidade de
Conservação e das populações que residam nesta ou em seu entorno, de modo a contribuir com a gestão
da UC. Ressalte-se que o conselho consultivo não está preso apenas às questões relativas unicamente aos
aspectos naturais da UC, mas também com questões sociais, econômicas, culturais e ambientais, no intuito
primordial de defender o meio ambiente ecologicamente equilibrado, essencial à sadia qualidade de vida.
Diga-se ainda, que o Conselho Consultivo não está restrito ao debate de questões
relevantes, tendo o art. 3º da IN nº. 11 conferido diversas atribuições ao órgão. Entre estas atribuições,
João Pessoa, outubro de 2011
1235

cabe destacar neste estudo aquela albergada no inciso V: “demandar e propor ações ou políticas públicas
de conservação, proteção, controle, educação ambiental, monitoramento e manejo da unidade de
conservação e da zona de amortecimento ou área circundante”. E é justamente ao estudo da relação entre
Conselhos Consultivos e a Educação Ambiental que tratam os tópicos a seguir.

Educação ambiental das comunidades próximas às UCs


A Educação ambiental como dita anteriormente é uma ferramenta de conscientização entre
sociedade e natureza, e as Unidades de conservação, prevêm a preservação de ecossistemas inseridos
nelas. Mais recentemente considerou-se a presença humana em algumas categorias de unidades de
conservação, o que vem facilitando o diálogo com populações locais e seus visitantes, assim facilitando a
maior interação e melhor conhecimento do espaço onde se encontram estas áreas naturais. Mas é
necessario algumas ações para que não haja um grande impacto, com a utilização do espaço pelas pessoas.
Afim de minimizar o impacto, devem haver ações relacionadas com a educação ambiental, pois através da
educação ambiental há um aumento da conscientização, inicialmente, com as comunidades inseridas ou
próximas a unidades de conservação, para que parta delas o maior interesse na preservação do espaço, e
assim podendo essas repassar as informações a quem mais queira conhecer a área. Segundo o IBAMA “A
educação ambiental, por sua vez, é indispensável para os trabalhos de conservação da biodiversidade e a
utilização sustentável dos recursos naturais, uma vez que possibilita informar o público sobre a sua
importância.” As áreas de UC´s são espaços que tendem a continuar preservando áreas que ainda possuem
o ecossitema pouco impactado e que correm riscos de degradação.
Segundo Mergulhão e Vasaki:
O primeiro passo para implementar um programa de educação ambiental é conhecer as
caracteristicas do público com o qual tende trabalhar, o público alvo. Só assim será possível concentrar
esforços com obetividade, evitando desperdício de tempo, energia e dinheiro em atividades que surtirão
pouco ou nenhum efeito.

O público alvo inicial deve ser a comunidade do entorno, pois eles sim estarão no espaço todo o
tempo, e se o valor dado à área natural pelos locais, for positiva e preservacionsta, além de cuidar do
espaço, passarão aos que o visitarem o seu “apego” ao lugar, algumas vezes influenciando a quem procura
conhecer o espaço, sentir vontade de também cuidar. Com isso, a gestão participativa, junto com a
educação ambiental, torna-se uma importante ferramenta para a proteção das UC´s. Biderman diz que
“apesar da cultura Brasileira ser marcada por tradições centralizadoras e relação clientelista, tais
condicionantes não impediram a emergênca de uma diversidade de formas de participação de segmentos
da sociedade civil na gestão de seus interesses.”
A forma com que vai ser trabalhada a educação ambiental com comunidades deve ser feita de
acordo com suas características e também através do contato humano com o ambiente natural (unidade de
conservação) na área que vai-se trabalhar. “A atuação de forma democrática e participativa é um desafio,
pois pressupõe abrir mão de convicções individuais, de conhecimentos compartimentados e se dispor a
resolver conflitos de maneira a obter resultados favoráveis e conquistas em grupo”(COELHO; MELO), por
isso, é importante que o conselho consultivo no qual representantes da comunidade também fazem parte,
e conhecem suas necessidades, seus interesses etc (sendo importante elaborar e implementar capacitações
de forma a gerar subsidios a estes, nas tomadas de decisões, na formulação das ações, e na mobilização e
articulação da comunidade)- produzam ou se empenhem na aplicação da educação ambiental, sendo
possível também, agregar alguns fatores ao conhecimento do conselho, através da aplicação de alguns
questionários, análise documental, percepção do ambiente, observação, etc, para criar algo compatível
com o grupo social e interessante com o espaço onde vai ser aplicada a ação de educação ambiental,
podendo ser desenvolvida de diversas maneiras.
Entre as diversas formas que podem ser trabalhadas a educação ambiental, na
comunidade, é importante que a comunidade (re)conheça a Unidade de Conservação em que vive, ou que
estão próximas, para assim perceber a importância do espaço e o porque é importante a proteção tanto
local, com a preservação da biodiversidade, quanto no global, com diversos aspectos positivos, como todos
os serviços ecossistêmicos, entre eles o auxílio no equilibrio da temperatura, a manutenção da umidade do
ar, etc., e desta forma tornar-se possivel a mobilização da comunidade em prol da unidade de conservação.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1236

Isso pode ser feito através de palestras, divulgação (em diversas formas), passeios, fotografias, a própria
escola deve estar envolvida no (re)conhecimento deste espaço pelos estudantes e moradores, entre outros
diversos trabalhos que envolvam a comunidade e a unidade. Para os visitantes, existem também diversos
trabalhos que podem ser feitos, podendo os próprios atores locais fazerem parte desta ação, após terem
sido orientados e capacitados, e conhecerem o espaço em que vivem, repassando o seu conhecimento e
percepção do ambiente.
Desta forma, ao abrigo de instrumentos normativos e legislativos já existentes há vários anos, as
UCs e comunidades locais poderão ter uma parceria, benéfica para ambos, se for incentivado a gestão
participativa e a inserção da EA nestes espaços. Com o envolvimento das comunidades locais, que muitas
vezes detêm um maior conhecimento sobre estas áreas, pode-se inclusive, melhorar a sua qualidade de
vida, se houve um trabalho bem organizado e direcionado para a sua inserção. Assim será possível
melhorar a gestão de muitas das UCs que existem no país, mas sempre dependem de órgãos
governamentais para a sua gestão, o que em muitas UCs não tem dado certo e muitas outras, nem corpo
gestor possuem.

Referências Bibliográficas
BIDERMAN, Rachel. Democracia, Cidadania e Proteção do Meio Ambiente, Editora Annablume com
apoio FAPESP, Março de 2002.
BRASIL. Lei nº. 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente,
seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm>. Acesso em 05 jul. 2011.
_____. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado,
1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui% C3%A7ao.htm>.
Acesso em 05 jul. 2011.
_____. Lei nº. 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política
Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9795.htm>. Acesso em: 06 jul. 2011.
_____. Lei. nº. 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VII da
Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras
providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9985.htm>. Acesso em: 06 jul.
2011.
BRITO, Francisco A., CÂMARA, João B. D. Democratização e gestão ambiental: em busca do
desenvolvimento sustentável. Petrópolis: Vozes, 1998. (p. 299)
COELHO, Carla Jeane Helfemsteller; MELO, Maria das Dores de Vasconcelos Cavalcanti
organizadoras / [autores] Adriana Paese... [et al..]. Saberes e fazeres da Mata Atlântica do Nordeste: lições
para uma gestão participativa. Recife : [Associação para Proteção da Mata Atlântica do Nordeste – AMANE]
, 2010.ICMBio. Ato Instrução Normativa nº. 11, de 08 de junho de 2010. Disciplina as diretrizes, normas e
procedimentos para a formação e funcionamento de Conselhos Consultivos em unidades de conservação
federais. Disponível em: <http://www.icmbio.gov.br/images/stories/o-que-somos/in112010.pdf >. Acesso
em: 07 jul. 2011.
FURRIELA, Rachel Biderman. Democracia, cidadania e proteção do meio ambiente. São Paulo:
Annablume: fapesp, 2002.
MERGULHÃO, M. C.; VASAKI, B. N. G. Educando para a conservação da natureza: sugestões de
atividades em educação ambiental. São Paulo: EDUC, 1998.
SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. 7. ed. São Paulo: Malheiros, 2009.

João Pessoa, outubro de 2011


1237

EDUCAÇÃO AMBIENTAL INTEGRADA: MEIO AMBIENTE, SAÚDE E


CIDADANIA NA PERSPECTIVA SERTANEJA
Paula Alves TOMAZ
Graduanda em Geografia - Universidade Federal do Ceará - UFC
E-mail: paula_t24@hotmail.com
Caroline de Almeida PAIVA
Graduanda em Geografia - Universidade Federal do Ceará - UFC
E-mail: carolinealmeida100@gmail.com

RESUMO
O presente trabalho surgiu a partir do desenvolvimento das atividades do projeto de extensão
“Ações Integradas de Extensão Rural em Comunidade Tradicionais do Semi-árido e da Amazônia Oriental:
Medidas de Planejamento e Gestão Socioambiental para o Fortalecimento da Agricultura Familiar”. O
projeto é realizado em conjunto com a Universidade Federal do Ceará - UFC e com a Universidade Federal
do Pará – UFC, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq
desde janeiro de 2010, onde são desenvolvidas ações extencionistas em quatro comunidades diferentes.
No estado do Pará são realizadas atividades na comunidade litorânea do Algodoal (município de Maracanã)
e ribeirinha Arimbú (município de Bragança). No estado do Ceará são efetivadas ações nas comunidades
litorânea de Mundaú (Trairí) e na sede do município de Forquilha (Forquilha). Este artigo pretende enfatizar
as atividades realizadas no sertão cearense, onde foram realizados os cursos de Saúde da Família, Educação
Ambiental e Agroecologia, sendo estes voltados para o treinamento e capacitação de agentes
multiplicadores. O trabalho busca relatar a importância do desenvolvimento da Educação Ambiental nas
comunidades ribeirinhas do açude de Forquilha, tendo em vista que uma parcela dos habitantes destas
comunidades subsiste, praticamente, dos recursos naturais lá existentes e que estes encontram-se
comprometidos devido a degradação e à poluição. Desse modo, a realização dessas atividades de Educação
Ambiental aliado aos saberes científicos e aos saberes tradicionais das comunidades beneficiadas, permite
um maior e melhor conhecimento do meio, sendo sugeridas medidas de manejo condizentes à realidade
local, possibilitando um desenvolvimento sustentável e uma melhor qualidade de vida.
Palavras-chaves: Educação Ambiental, Desenvolvimento Sustentável, Qualidade de Vida.

INTRODUÇÃO
O projeto “Ações Integradas de Extensão Rural em Comunidades Tradicionais do Semi-árido e da
Amazônia Oriental: Medidas de Planejamento e Gestão Socioambiental para o Fortalecimento da
Agricultura Familiar” desenvolve atividades de extensão nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, onde
foram selecionados três ecossistemas, localizadas no litoral, no rio e no sertão.
O relato de experiência aqui apresentado tem como objetivo divulgar as atividades desenvolvidas
na região semi-árida e ressaltar a importância do desenvolvimento da Educação Ambiental no sertão
cearense, haja vista que a maior parte das comunidades subsiste praticamente dos recursos naturais
existentes na região. Em Forquilha, a atividade predominante é a agricultura familiar e a pesca artesanal. A
população dessas comunidades durante muito tempo utilizou os recursos naturais de forma inconsciente
impactando diretamente na qualidade ambiental atual, limitando os usos, estando esses ambientes em
estágio de degradação progressiva. Desse modo, a realização dessas atividades extensionistas de Educação
Ambiental aliando os saberes científicos aos saberes empíricos da comunidade local, permite um maior
conhecimento do meio e assim surgem medidas de manejo condizentes a realidade local, possibilitando um
desenvolvimento sustentável e uma melhor qualidade de vida.

Orientadores: Edson Vicente da SILVA. Doutor em Geografia - Professor da Universidade Federal do Ceará –
UFC. E-mail: cacau@ufc.br
Adryane GORAYEB. Doutora em Geografia - Professora da Universidade Federal do Ceará – UFC. E-mail:
adryanegorayeb@yahoo.com.br

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1238

Pretende-se também sensibilizar pessoas a cerca dos problemas ambientais e da descaracterização


das paisagens, de melhorar a qualidade de vida da população através de práticas educativas, que se
concretizaram nas ações de intervenção.
Um ponto relevante a destacar é o fato da integração universidade/comunidade que se ocorre na
realização dessas atividades, que permite o fluxo de conhecimentos e vivências, interagindo com os
conhecimentos tradicionais para ir à busca de uma melhor qualidade de vida, no qual não se considera
apenas a qualidade ambiental, mas o respeito às diferenças sociais e culturais.

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ATUAÇÃO DAS ATIVIDADES EXTENSIONISTAS


O município de Forquilha está localizado há 208 km de Fortaleza (Figura 01), capital do estado do
Ceará, sendo este caracterizado por temperaturas altas e intensa insolação. As precipitações pluviométricas
são irregulares concentrando-se em um pequeno espaço de tempo, a taxa pluviométrica em relação a alta
taxa de evaporação causa um déficit no balanço hídrico que impactam diretamente na carência de água
para as atividades agro-pecuárias. Essa região apresenta estrutura geológica predominantemente com
rochas cristalinas, dificultando a infiltração da água e, consequentemente, a constituição de recursos
hídricos superficiais e subterrâneos, apresentando solos rasos e pedregosos. Entretanto, apesar da
pequena espessura do solo este apresenta boas condições, a exemplo da fertilidade devido à variada
composição química e mineralógica do material originário cristalino e as condições paleoclimáticas úmidas
que precederam o quadro atual semiárido (OLIVEIRA, 2006).

Fiura 1: Mapa de localização das escolas do município de Forquilha – CE, onde foram desenvolvidas
as ações de Educação Ambiental.

Em Forquilha, a solução encontrada para a carência de água foi à construção do açude que leva o
mesmo nome da cidade construído com o objetivo de subsidiar a agricultura e a atividade pesqueira. Este
açude está inserido na bacia do rio Acaraú que, por sua vez, é muito importante para a região por abastecer
a maior parte dessa área.

REFERENCIAL TEÓRICO E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS


As atividades foram realizadas através da integração de saberes por meio da Educação
Ambiental e da pesquisa participativa unindo os conhecimentos técnico-científicos aos adquiridos
empiricamente pela população.

João Pessoa, outubro de 2011


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“A educação ambiental deveria partir do saber ambiental, tanto o cientifico, como o popular;
deveria incorporar nova epistemologia e ser um processo criativo cujos sentido, conteúdo e efetividade
dependeriam da produção ativa de conhecimento ambiental” (RODRIGUEZ, SILVA, 2009)

Contamos ainda com uma interdisciplinaridade unindo os saberes da agronomia a da área da saúde
e tantas outras, pois consideramos a interdisciplinaridade como fundamental para a formação de
habilidades e para conhecermos a realidade, contribui ainda para a formação de novos saberes e de novas
técnicas tanto por parte da comunidade como para a formação dos próprios universitários.
Inicialmente foi realizado o levantamento de informações de ambas as regiões através dos dados
obtidos em campo com o reconhecimento das características físicas e sócio-culturais. Em seguida foi feito o
diagnóstico sócio ambiental com professores, alunos e membros da comunidade para o conhecimento a
forma e os meios de sobrevivência das famílias e para um melhor conhecimento do meio.
As oficinas foram desenvolvidas em várias comunidades próximas ao açude de Forquilha devido
serem essas comunidades as que mais se beneficiam deste recurso e que encontra-se atualmente limitado
ao uso, foram desenvolvidas várias ações dentre elas a de Educação Ambiental, Saúde da Família e de
Agroecologia a que este artigo esta se propondo a falar com uma carga horário de no mínimo 5h variando
até 12h, tendo como objetivo a conscientização e sensibilização dos participantes para com os problemas
da comunidade. Foram ministradas palestras com recursos audiovisuais, seguidas de atividades práticas
para a melhor compreensão e assimilação por parte dos participantes possibilitando a capacitação de
agentes multiplicadores.

AÇÕES DE INTERVENÇÕES EM COMUNIDADES SERTANEJAS: PRIMEIROS PASSOS PARA A


SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL
Foram realizados três cursos nas comunidades, sendo o primeiro curso com a temática relacionada
à Educação Ambiental, que foi ministrado para crianças, adolescentes e adultos, contou-se com
aproximadamente 20 participantes cada curso e carga horária de 12h, realizadas em quatro comunidades
de Forquilha (Campo Novo, Cacimbinha, São Lourenço, Ingá e Rasteira). Realizou-se atividades práticas
como a oficina de brinquedos a partir de materiais reciclados como PET, papelão, objetos de plásticos
reutilizáveis e etc., (figura 2).
A noite sempre havia palestra com os pais das crianças e adolescentes e ainda a participação de um
representante do DNOCS e da Secretaria de Agricultura, a palestra girava em torno da educação ambiental
com ênfase na poluição do açude de Forquilha com imagens do açude e com vídeos educativos
relacionados à Educação Ambiental como a “Carta de 2070” que se trata de um vídeo que fala das
conseqüências da escassez da água, nesses momentos as participações eram intensas por parte das
pessoas da comunidade, pois tocamos em um assunto que é muito importante para ele que é o açude de
Forquilha, todas aquelas pessoas fazem uso daquele recurso direta ou indiretamente e todos estavam
conscientes quanto ao seu limite de uso devido a poluição, mas as pessoa também estavam conscientes
quanto ao dever dos órgãos públicos para com o açude e elas criticaram tanto o uso feito pela comunidade
como também as atividades que não são realizadas pelo poder público para a revitalização do açude. Nesse
momento houve uma grande interação entre todos. Em seguida fazíamos a apresentação e a divulgação do
projeto com o cronograma das atividades e convidamos toda a comunidade para participar de todas as
atividades, no dia seguinte fazíamos um mutirão de limpeza pela comunidade, mas antes de iniciar a nossa
atividade fazíamos um café da manhã coletivo com produtos feitos pela própria população, em seguida
fizemos uma coleta simbólica de parte do lixo que estava solto nas ruas e terrenos baldios com o objetivo
de mostrar a importância de manter a comunidade limpa, e frizamos o quanto é prejudicial deixar o lixo
solto incentivamos as pessoas a coletarem o lixo e colocá-lo em um local destinado para ele.

“De acordo com essas estratégias o desenvolvimento sustentável deveria ser guiado para a
melhoria a melhoria da qualidade de vida humana, dentro dos limites da capacidade de carga dos
ecossistemas. De acordo com essa estratégia os objetivos que contem a melhoria da qualidade de vida são:
vida longa e saudável; educação; acesso aos recursos necessários para um padrão compatível com a
dignidade humana; políticas de liberdade; garantia de direitos humanos e proteção contra a violência.”
(RODRIGUEZ e SILVA, 2009)

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1240

Realizamos ainda cursos de adornos com o objetivo de proporcionar o desenvolvimento de


atividade econômica alternativa para a população local em busca da sustentabilidade. Aproveitamos o
momento para enfatizar sobre as consciências ambientais no processo de uso dos recursos naturais e,
sobretudo destacar as respostas negativas no ambiente quando medidas de gestão sustentável não são
aplicadas no aproveitamento desses recursos.
Neste curso, contou com a presença de 40 adolescentes, falou-se dos objetivos do curso e da
importância para eles quanto à fabricação desses produtos para a geração de renda. No decorrer da
prática, utilizamos materiais como o alicate, miçangas, fio nylon, fio de arame e etc. Depois, ensinamos a
fazer vários modelos de bijuterias e incentivamo-los a fazerem suas próprias peças. Acompanhamos a
atividade de cada um, auxiliando no que era preciso, e no final da oficina, todos conseguiram fazer suas
bijuterias. Demos também uma oficina de confecção de máscaras com materiais recicláveis, com o objetivo
de reaproveitar os resíduos descartados e incentivar a criatividade de alunos e professores.
O curso Saúde da Família realizado na sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, foi voltado para
os agentes de saúde do município e contou com a presença de 17 pessoas e carga horária de 8h.
Foi utilizado o recurso do projetor de slides, vídeos dinâmicos e informativos, dinâmicas em grupo e
músicas.
O curso foi segmentado em três partes, sendo a primeira relacionado às Questães do “Gênero”,
que refere-se à de diferença entre homem e mulher, não só a diferença de sexo, mas também as diferenças
sociais, as diferenças construídas no decorrer dos tempos na sociedade. Durante a realização do curso, foi
debatido o papel da mulher na sociedade, seguido de uma contextualização de como a mulher era vista no
passado e como é vista atualmente.
No desenvolvimento da oficina, percebemos ainda certo preconceito contra a mulher. Ainda há
resquícios do pensamento patriarcal construído no passado. Foi debatido, ainda, sobre a violência contra a
mulher que ainda é muito presente na nossa sociedade, não só a violência física, mas também a verbal,
além de outras práticas como quando uma pessoa é privada da educação ou atendimento médico, que
pode ser considerado um tipo de violência. Debateu-se também sobre o mercado de trabalho e a educação
diferenciada que é passado para o sexo masculino e feminino.
Na segunda parte, foi trabalhou-se a temática da criança e do adolescente e dos problemas que
ocorrem nessas fases da vida, tendo em vista que o que se observa na atualidade é um quadro catastrófico
em que se figuram péssimas condições de saúde, analfabetismo infantil, violência física, moral e sexual
contra a criança e o adolescente, trabalho infantil (inclusive sem remuneração), prostituição, uso de drogas
etc. (Lima; Matão,2006).
Enfatizou-se os direitos da criança e do adolescente, como o direito à educação, ao lazer e à
família, sendo contextualizado o comportamento deste na sociedade ao longo dos tempos e qual o papel
da família no desenvolvimento da criança e do adolescente.
Logo em seguida, na terceira parte do curso, foi discutido o tema Planejamento Familiar. Foram
abordados os seguintes temas:
Anatomia do sistema reprodutor (feminino e masculino)
Métodos contraceptíveis (reversíveis e irreversíveis)
Câncer de mama
DST’S (Doenças Sexualmente Transmissíveis)
Higiene corporal (masculina e feminina)

Todo o curso foi acompanhado com o auxilio do projetor de slides devido, à importância das
imagens para a melhor compreensão do tema. Iniciamos com a anatomia do sistema reprodutor feminino e
masculino, devido à relevância do conhecimento do seu próprio corpo, depois seguimos para os métodos
contraceptivos onde falamos dos reversíveis como ao métodos naturais, hormonais, de barreira, mecânicos
e químicos, e irreversíveis como a vasectomia e a laqueadura ou ligamento de trompas. Utilizamos ainda
amostras de alguns contraceptíveis, como o preservativo masculino, o DIU (dispositivo intra-uterino), o
diafragma, a pílula e o injetável. Fizemos demonstrações de como utilizá-los contando com a participação
dos Agentes de Saúde e tirando suas dúvidas. Foi realizada uma prática de como colocar de maneira

João Pessoa, outubro de 2011


1241

correta o preservativo masculino, onde podemos observar que alguns deles não sabem utilizar
corretamente.
Foram feitas dinâmicas para descontrair, já que estávamos falando de um tema delicado que ainda
é considerado como tabu para muitos. Falamos finalmente de DST’s, abordando algumas principais
doenças como a AIDS, hepatite B, sífilis, HPV, gonorréia, herpes genital, e vaginose bacteriana. Por fim,
falamos da higiene corporal masculina e feminina da forma correta de fazer a assepsia íntima (figura 2).
A oficina de Aagroecologia ocorreu na sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município de
Forquilha.
Contou-se com a participação um público misto, podendo-se citar agricultores familiares,
pescadores artesanais e funcionários das secretarias municipais de Agricultura, Recursos Hídricos e Meio
Ambiente, além de representantes do DNOCS (Departamento Nacional de Obras contra a Seca).
Os procedimentos de efetivação oficina foram iniciados, primeiramente, com uma apresentação
dos monitores e dos participantes. Em seguida, foi utilizado um data-show e a exposição oral por parte do
facilitador sobre os assuntos abordados. Isso facilitou para que ao longo da oficina ocorresse um diálogo
com os participantes sobre a realidade local, as condições ambientais do meio e a relação de cada pessoa e
propriedade com o cultivo agrícola.
Os assuntos abordados ao decorrer da oficina foram: i) riscos do uso de produtos químicos, ii)
alternativas sustentáveis de utilização de produtos naturais para o manejo do solo; iii) produção e consumo
de alimentos locais, para que haja o estímulo à produção; iv) circulação dos produtos locais e os alimentos
característicos da localidade que são mais adaptáveis às condições naturais da área; v) o problema de
assoreamento do açude Forquilha, pela existência de desmatamento nas suas proximidades; e vi) técnicas
agroecológicas para uma agricultura sustentável para que não ocorra a contaminação do solo, dos lençóis
freáticos e das águas superficiais. Portanto, o foco principal da atividade educativa foi demonstrar
alternativas de manejo de recursos naturais, de modo que os habitantes contribuindo com a agricultura de
subsistência e a pesca artesanal desenvolvida no local, de modo que esta envolva toda a comunidade na
sensibilização dos problemas ambientais.
As técnicas propostas foram o mantimento da cobertura vegetação ao redor da plantação,
utilização de micta (urina) bovina, compostagem para a fertilização natural, a utilização de mudas e
sementes sem agrotóxico para o plantio. E como alternativa para o assoreamento do açude da localidade
foi sugerido a plantação de arvores frutíferas e nativas (como o caju) e a garantia da permanecia da
vegetação nativa, pois com esse plantio auxiliaria o problema ambiental e atribuía uma utilidade como a
alimentação dos moradores. (Figura 2)

Figra 2: curso de Educação Ambiental (Oficina de brinquedo com sucata), curso de Saúde da
Família; e curso de Agroecologia, respectivamente
Foto: Paula Alves Tomaz, 2010/2011.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As atividades que foram aplicadas envolveram a comunidade no tratamento de suas questões
ambientais e os direcionou a caminhos que os levaram a ações concretas como alternativas de gestão
ambiental, através da Educação Ambiental integrada, dos princípios agroecológicos e da Saúde da Família,
tem estimulado também o conhecimento e o entendimento das relações ambientais.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1242

Os resultados obtidos foram observados no decorrer de cada curso. Percebemos que as pessoas
estavam realmente assimilando o que estava sendo passado, pois elas participavam através de perguntas
que faziam relacionadas ao assunto que estava sendo tratado e ficavam atentas as explanações facilitando
assim o processo de ensino-aprendizagem.
Os Agentes de Saúde das comunidades tornaram-se agentes multiplicadores fazendo uso
dos conhecimentos obtidos no curso de Saúde da Família no qual participaram que também possibilitou o
aperfeiçoamento das técnicas que eles já possuíam.
No curso de Agroecologia os agricultores tiveram a oportunidade de conhecer e aprender novas
práticas em agricultura que causam menos impactos ao meio ambiente bem como formas de controle de
pragas feitas à base de produtos naturais e formas de produzir alimentos orgânicos melhorando a
qualidade de vida das pessoas e às condições ambientais da comunidade. No curso de Educação
Ambiental as comunidades reconheceram ser agentes ativos e integrantes da natureza havendo uma
conscientização por parte das mesmas em relação aos cuidados que devem ser tomados para preservar os
recursos naturais de sua região.
As atividades foram de grande relevância para os palestrantes e para os moradores das
comunidades, pois possibilitou momentos de grande aprendizagem mutua fazendo a junção dos
conhecimentos científicos e tradicionais de cada morador que teve a possibilidade de nos falar com
propriedade de suas experiências vivenciadas.
Portanto, pode-se concluir que as atividades realizadas foram bastante relevantes para a
comunidade, pois as ações de extensão estão auxiliando na resolução dos problemas relacionadas à
degradação dos recursos naturais, como a poluição do açude de Forquilha por conta dos rejeitos lançados
nesses locais, o desmatamento das matas ciliares e perda da identidade local. Houve também uma
sensibilização por parte da comunidade relacionada aos problemas ambientais e da caracterização das
paisagens de melhorar a qualidade de vida da população através de práticas educativas, que se
concretizaram nas oficinas, além de ser uma opção para colaborar no gerenciamento das águas. As
atividades contribuíram também para uma maior afirmação e inclusão social, uma maior qualidade de vida
e para a formação de agentes multiplicadores.
Agradecemos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq e
a Pró-reitoria de Extensão - PREX UFC, pelo financiamento e a concessão de bolsas para realização do
projeto, ao DNOCs e à Prefeitura Municipal de Forquilha, pelo apoio local e a hospedagem, fato importante
para a concretização das nossas atividades.

REFERÊNCIAS
LIMA, Idelmina Lopes de. Matão, Maria Eliane Liégio (Org.). Manual do Técnico e Auxiliar de
Enfermagem. Goiânia: AB, 2006.
OLIVEIRA, Vládia Pinto Vidal de. Problemática da degradação dos recursos naturais no domínio dos
sertões secos do estado do Ceará - Brasil. In: SILVA, José Borzacchiello da. DANTAS, Eustógio Warderley
Correia. ZANELLA, Maria Eliza. MEIRELES, Antônio Jeovah de Andrade. (Org.). Litoral e Sertão: natureza e
sociedade no nordeste brasileiro. Fortaleza: Expressão Gráfica, 2006. Pag. 209 e 222.
PEREIRA, Raimundo Castelo Melo. SILVA, Edson Vicente da. Solos e vegetação do Ceará:
características gerais. In: BORZACCHIELLO, José. CAVALCANTE, Tércio. DANTAS, Eustógio Warderley Correia
(Org). Ceará: Um novo olhar geográfico. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2005. Pag. 189 e 210.
RODRIGUEZ, José Manuel Mateo. SILVA, Edson Vicente da. Educação Ambiental e Desenvolvimento
Sustentável: problemática, tendências e desafios. Fortaleza: Edições UFC, 2009.
SOUZA, Marcos José Nogueira. Compartimento Geoambiental do Ceará. In: BORZACCHIELLO, José.
CAVALCANTE, Tércio. DANTAS, Eustógio Warderley Correia (Org). Ceará: Um novo olhar geográfico.
Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2005. Pag. 127 e 140.

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PARA ALÉM DA SALA DE AULAS: TROCANDO SABERES AMBIENTAIS COM


ESTUDANTES DAS SÉRIES INICIAIS
1
Rafael de Souza PINHEIRO
1
Emílio MARQUES NETO
Estudante do Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.
marques_boni@hotmail.com
Orientador: TEIXEIRA, Marcos Cunha. Professor Adjunto do Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas,
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Tutor do Programa de Educação Tutorial Conexões de Saberes
Socioambientais.

RESUMO
Objetivamos fortalecer, em nós e nas crianças da Escola Municipal Joaquim de Medeiros, em Cruz
das Almas - BA, os princípios da educação ambiental a partir da troca de saberes cotidianos, num processo
participativo com os professores, funcionários, pais e a comunidade. As atividades práticas basearam-se em
técnicas e procedimentos que agregaram conhecimentos científicos, arte, cultura, reciclagem, educação,
agroecologia e permacultura. Procuramos valorizar o espaço interno e externo da escola e as relações
pessoais. Na área interna (sala de aula, pátio, biblioteca e brinquedoteca) concentramos as ações mais
pontuais, que dependiam de materiais da escola, onde realizamos a exposição permanente dos principais
produtos construídos coletivamente. Além disso, trabalhamos com a exibição de filmes, a partir dos quais o
grupo construiu um painel informativo sobre o tempo de decomposição de alguns resíduos sólidos na
natureza, e realizou a confecção das caixas de coleta seletiva. Com uso de discos de Vinil, fitas cassete e
CDs, organizamos discussões sobre os gostos musicais e a importância da música na aprendizagem e no
cotidiano das pessoas. Ainda na área interna, realizamos pesquisas que culminaram com uma mostra de
plantas medicinais. No espaço externo, exploramos a área verde do entorno da escola e diversas atividades
ao ar livre como: ciranda; dinâmicas de grupo; construção de sementeiras, utilizando matérias reutilizáveis
para produção de mudas; compostagem, utilizando matéria orgânica coletada nos arredores, esterco
bovino e sobras da merenda escolar, para adubação da horta e como ferramenta didática no estudo dos
ciclos biogeoquímicos; plantio de leguminosas e, discussão sobre suas importâncias na relação com as
bactérias para a fixação de nitrogênio no solo, e a adubação verde. Valorizou-se o futebol do recreio para
trabalhar a organização de grupo, o espírito de equipe e o respeito ao próximo. Acreditamos que as
atividades desenvolvidas contribuíram para troca de conhecimentos e o fortalecimento, em todos nós, dos
objetivos da educação ambiental apoiados na consciência, conhecimento, comportamento, habilidades e
participação.
Palavras-chave: atividades práticas, educação ambiental, estudantes, séries iniciais, horta escolar.

Tenho pena e, às vezes, medo, do cientista demasiado seguro da segurança, senhor da


verdade e que não suspeita sequer da historicidade do próprio ser.
Paulo Freire - Pedagogia da Autonomia.

INTRODUÇÃO
O que há de comum entre o pensamento de autores como Vygotsky e Paulo Freire e os princípios,
finalidades e objetivos de educação ambiental? Uma das respostas seria que, assim como essas tendências,
as correntes ambientalistas críticas compreendem a educação como um processo de formação crítica do
cidadão para tornar suas ações plenas de prática social (FREIRE, 2002). Sendo assim, arriscamos afirmar que
toda educação, para se firmar como tal, deve ser ambiental, ou, como afirma Tozzoni-Reis,
A Educação Ambiental é uma dimensão da educação, é atividade intencional da prática social, que
imprime ao desenvolvimento individual um caráter social em sua relação com a natureza e com os outros
seres humanos, com o objetivo de potencializar essa atividade humana, tornando-a mais plena de prática
social e de ética ambiental (2001, p. 42).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Do ponto de vista da operacionalização, as ações de educação Ambiental exigem sistematização


por meio de metodologia que organize os processos de construção/transmissão/apropriação crítica de
conhecimentos, atitudes e valores políticos, sociais e históricos. Nesse contexto, duas dimensões devem ser
analisadas: a dimensão epistemológica e a dimensão pedagógica, ou seja, exige reflexões acerca da
problemática ambiental e da Educação (TOZZONI-REIS, 2001, p. 36).
Sendo a educação ambiental uma dimensão da educação é preciso alertar para o fato de que é
preciso percebê-la como um direito à cidadania e que ela pode contribuir para a conquista desse princípio
ao incentivar discussões, participação, reivindicações, assim como ações concretas e engajamento
responsável e ético de cada um, enquanto sujeito e enquanto coletividade. Para cumprir este papel, a
educação ambiental deve envolver como objeto próprio, o confronto com as estratégias de
desenvolvimento e do processo de globalização, bem como comportar, nesta missão, a dimensão da
cidadania, da ética e da justiça. Portanto, a educação ambiental se torna uma proposta pedagógica porque
torna possível a vivência e o diálogo na busca de compreender como ocorrem as interações nos diversos
ambientes com que temos contato. Nessa perspectiva, que se apresenta com um viés socioambiental, fazer
educação ambiental não se traduz apenas em repassar conhecimentos técnicos e científicos, mas participar
e buscar, juntos, formas de transformação da vida cotidiana dos sujeitos.
Os seis pontos principais relevantes para uma educação de uma cultura sustentável são: segurança
e soberania alimentar, economia local, espécies e ecossistemas, interação humana, energia, tecnologia e
água como nos afirma Legan (2004). Defendemos que essas temáticas sejam trabalhadas na prática dentro
das escolas das séries iniciais, dentro de uma proposta carregada de significado para as crianças, pois
O sentido inerente ao processo não apenas é dado pelas “verdades” transmitidas e os discursos
proferidos, mas primordialmente pela vivência sentida pelos participantes. Quando os participantes de um
grupo encontram sentido para o seu agir, para o seu caminhar, o processo tem sua meta assegurada. Ou o
processo tem sentido para os participantes ou não é processo (CRUZ-PRADO, 2002, p. 53).

Assim, o desafio da educação ambiental junto á realidade rural é buscar estratégias que dê sentido
ás atividades que tenham como foco a utilização racional da terra para produção de alimentos limpos,
consumo de produtos da localidade, provindo da agricultura familiar, respeito a todas as formas de vida e
manutenção da biodiversidade, preservação da água e de todas as vidas que com ela se relacionam são
essenciais na formação de uma educação interdisciplinar. Nesse processo, defendemos a utilização da arte
e da cultura como elementos mediadores do encontro entre os objetivos da educação ambiental e das
expectativas das crianças que vivem a realidade da vida no campo. Ao trazermos o foco das atividades para
estudantes das séries iniciais, ressaltamos a preocupação de Arruda (2007, p. 223) ao afirmar que “ainda
são poucos os trabalhos relativos á educação ambiental que mencionam a importância das emoções no
processo educativo”. Sobre a importância desse aspecto, a autora afirma que
A possibilidade de trabalhar aspectos intelectuais junto com emocionais tornou-se realidade a partir
da educação ambiental infantil, sobretudo porque as crianças expressam mais facilmente suas emoções e
constroem conhecimentos em brincadeiras e atividades artísticas. As brincadeiras, além de serem uma
linguagem da criança e uma forma de conhecimento do mundo físico e social, permitem a ela interagir com
outros, viver emoções e aprender a lidar melhor com seus sentimentos (p. 224).

Neste artigo relatamos uma experiência de extensão mediada pelos princípios da educação
ambiental vivenciada junto aos estudantes das séries iniciais em uma escola do município de Cruz das
Almas-BA, cujos valores da vida no campo já se vêem ás voltas com os “flertes” e “encantamentos” de uma
nova realidade: a expansão do espaço urbano.

A ESCOLA E O AMBIENTE DO TRABALHO


Se por um lado a criação da UFRB vem impulsionando o desenvolvimento econômico de Cruz das
Almas, por outro revelou uma grave situação socioambiental: a presença de aproximadamente 600 famílias
vivendo, sem o reconhecimento que legitime a posse, nos limites do campus da UFRB de Cruz das Almas-
BA. A maioria dessas famílias se encontra em três comunidades: Comunidade de Baixa da Linha
(reconhecida como quilombola), Comunidade de Sapucaia e Comunidade do projeto “Volta à terra”. Outras
famílias estão espalhadas pelos 1.300 ha do campus em meio aos campos de experimentação animal e
vegetal, além de algumas áreas ociosas. De acordo com um levantamento da Administração Central da
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UFRB, juntas, essas comunidades somam pelo menos 600 residências dentro dos limites da UFRB. Essa
situação levou, inclusive, a administração da universidade a se defrontar com representantes do
Movimento Sem Terra, que ocuparam temporariamente uma área do campus.
As comunidades que vivem dentro do campus da UFRB possuem características rurais, e a maior
parte das pessoas é de origem afrodescendente e ainda conservam varias características culturais de seus
antepassados. O histórico de muitos desses moradores se confunde com a lida na agricultura, cuja parte da
produção é oriunda das terras da universidade. Por isso, ao instalar o processo de retomada de seu espaço,
a UFRB está desenvolvendo ações de remanejamento de algumas famílias de forma a constituírem suas
comunidades em outras áreas. Ainda na atualidade, a administração central vem se deparando com
inúmeras dificuldades para negociação com os moradores e pessoas que criam animais, cultivam, extraem
lenha e produzem carvão dentro do campus. Toda essa conjuntura pode vir a possibilitar um trabalho em
conjunto com essas comunidades, a partir da valorização dos espaços de troca de conhecimentos já
existentes; realização de parceria entre a Universidade, as comunidades e a Escola; através da criação de
um assentamento modelo, por exemplo; além do enorme potencial presente nessas relações Sociedade-
universidade para a construção da indissociabilidade entre extensão, ensino e pesquisa.
A escola Municipal de Ensino Fundamental “Joaquim de Medeiros” está localizada dentro
do Campus da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB e atende ás crianças das três
comunidades existentes dentro da área da UFRB (Sapucaia, Baixa da Linha e algumas do Projeto Volta á
Terra) além das comunidades do entorno (Tabela, Tesoura e Estrada de ferro).
A Escola surgiu para possibilitar o processo educacional dos filhos de funcionários e
professores da antiga Escola de Agronomia e funcionou, inicialmente, em uma das casas onde hoje se
encontra a pequena comunidade conhecida como “cinco casas”. Com o passar do tempo e o aumento do
número de crianças, a escola passou a funcionar onde hoje existe o Posto de Saúde da Família. Por esse
mesmo motivo e com a demanda das comunidades do entorno que já vinham se formando, foi criada a
unidade escolar, no local onde ela existe hoje, sendo a princípio, de gestão estadual e recentemente
passando a ser Municipal.

ATIVIDADES DESENVOLVIDAS COM A ESCOLA


Tomando-se como referência a Conferência de Tbilizi (1977), uma das finalidades da
Educação ambiental é proporcionar a todas as pessoas a possibilidade de adquirir os conhecimentos dos
valores, o interesse ativo e as atitudes necessárias para proteger e melhorar o meio ambiente. Os objetivos
da Educação ambiental definidos na Conferência estão apoiados em 5 pilares: Consciência, Conhecimento,
Comportamento, habilidades e participação. Diante disso, entendemos que a sensibilização para o exercício
cotidiano da educação ambiental deve buscar um equilíbrio dinâmico entre a teoria, a prática e a realidade
local, demonstrando a importância dos recursos naturais e seu contexto para vida no planeta terra.
Orientados pelas finalidades e objetivos da Educação ambiental, neste trabalho, partimos da
valorização dos saberes e consciências ambientais trazidas pelas crianças, pela valorização do espaço
escolar e das relações pessoais estabelecidas entre todos os atores (crianças, professores, funcionários e
pais). Assim, no aspecto metodológico utilizamos desde dinâmicas e brincadeiras de roda, músicas em
discos de vinil, leituras coletivas e até mesmo aos contos e recontos de estórias e histórias vivenciadas
pelos participantes do projeto. O principal enfoque da metodologia foi “conhecer a terra sentindo a terra”;
“conhecer as plantas tocando as folhas, sentindo seu cheiro e sabor”, ou seja, experimentar e vivenciar os
elementos que constituem o ethos onde vivem para aprender fazendo e, tornando-se autor-ator-sujeito
das suas próprias histórias. As dinâmicas de grupo, brincadeiras de roda (cirandas, músicas) e as formas de
participação coletiva ajudaram na construção dos conhecimentos e desenvolvimento das práticas. Na área
interna da escola (sala de aula, biblioteca e brincedoteca) concentraram-se as ações mais pontuais, que
dependiam de materiais da escola, e que tinham por finalidade a exposição permanente dos principais
produtos construídos coletivamente.
Na área externa exploramos o espaço verde do entorno e desenvolvemos diversas atividades ao ar
livre. Procuramos desenvolver as atividades de forma a garantir o desenvolvimento da consciência, a
elaboração e compartilhamento de novos conhecimentos entre os participantes, a valorização das
habilidades de cada indivíduo e desenvolvimento de novas, a reflexão sobre os comportamentos
individuais e seus reflexos para a vida em grupo e enfatizando a importância da participação coletiva. As

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atividades foram desenvolvidas semanalmente, de julho a dezembro de 2009 com crianças do 5 o ano do
ensino fundamental, principalmente. A seguir, descrevemos algumas das atividades desenvolvidas.
- Pesquisa e mostra de plantas medicinais: essa atividade teve como objetivo principal levar as
crianças a refletirem sobre a importância do conhecimento popular e das plantas medicinais para nossas
vidas. Do ponto de vista da prática, a atividade trabalhou ainda com o estímulo à aprendizagem a partir dos
sentidos, por meio do olhar, pegar, sentir e cheirar. A atividade foi desenvolvida na sala de aula, onde as
amostras de plantas ficaram centralizadas em um semicírculo composto pelos estudantes. Foram utilizados
alguns frutos (tomate cereja, pimenta) e algumas folhas (capim-santo, erva-cidreira, boldo, hortelã,
manjericão). Esses vegetais eram identificados pelos estudantes e em seguida algumas propriedades
medicinais e suas aplicações eram destacadas tanto pelas crianças quanto por nós. Os produtos naturais
foram passados também na mão de todos os estudantes para que os mesmos pudessem cheirar, sentir,
pegar e perceber aquilo que estamos aprendendo. Foi abordado nessa atividade o conceito do que é
um alimento natural, como e porque esse alimento é importante na vida das pessoas, a identificação das
plantas, formas de uso e utilidade medicinal e sobre a importância delas na vida das pessoas mais idosas.
Além de auxiliar na conexão com os saberes antigos das comunidades e todo o conhecimento popular das
gerações passadas.
- Produção de sementeiras: Além de trabalhar a importância da reutilização de materiais, essa
atividade teve como objetivo despertar o interesse para a observação do crescimento dos vegetais e dos
fatores envolvidos no processo, como a importância da luz e o “milagre” da germinação. Dias anteriores a
essa atividade solicitamos aos estudantes que trouxessem de casa alguns materiais (garrafas pet, caixas de
leite, potes de margarinas, etc.) que poderíamos reutilizar ao invés de jogar fora. A oficina aconteceu ao ar
livre, na grama em frente à escola onde todos nós sentamos em forma de círculo. Inicialmente, realizamos
uma dinâmica de grupo que trazia a importância do plantio diversificado, discutimos a importância da
sementeira no cultivo das hortaliças, e em seguida mostramos modelos práticos de confecção de
sementeiras através da reutilização com os materiais trazidos por eles a partir dos quais realizamos o
procedimento de plantio.
- Oficina de Compostagem: Nessa atividade o objetivo foi refletir sobre os ciclos de materiais na
natureza e possibilitar às crianças algumas prátricas relacionados à adubação orgânica. Discutimos sobre a
ação dos microorganismos e os ciclos que ocorrem na natureza. As crianças acompanharam todas as etapas
da compostagem e o composto final foi utilizado na construcão da horta escolar. Foi feita a coleta de uma
parte dos restos de poda de árvores encontrada no entorno da escola, solicitamos certa quantidade de
esterco no estábulo da UFRB e o restante dos materias foram obtidos de capinas no próprio local. Pegou-se
água na escola e as sobras de alimentos (cascas de frutas) depois de um lanche feito no meio da atividade.
Foi feita a escolha do local, nos atentando para a questão da proximidade da escola, de água, local
sombreado e de fácil acesso. A área escolhida foi capinada para que pudesse ser adicionada uma camada
de folhas secas para formar a base da composteira, com cerca de 1m de largura, 2m de comprimento e 20
cm de altura; por cima dessa camada, adicionou-se uma camada semelhante de matéria verde; depois uma
fina camada (3 a 5 cm) de esterco fresco e molhou-se; repetiu-se essas 3 camadas adicionando as sobras
das frutas após o lanche. Foram repetidas as outras camadas até atingir a altura aproximada de 1,2 m.

O QUE APRENDEMOS COM AS CRIANÇAS


Em diversos momentos, a professora demonstrou não acreditar muito nas dinâmicas, nas
práticas e brincadeiras como atividade importante para a aprendizagem. Essa percepção foi reforçada com
um pedido da professora para que aplicássemos uma prova ao final dos trabalhos para avaliar o quanto as
crianças aprenderam. Vale ressaltar que foi de fundamental importância o processo de ensino-
aprendizagem e de troca de conhecimentos, e a professora nos ajudou muitas vezes a mediar e entender
nossas relações com os estudantes e com o ambiente escolar. Essas e outras situações vividas nos levam a
concordar com Molon (2009, p. 158) de que “a escola ficou conhecida como um espaço privilegiado de
disciplinarização dos corpos e da ordem de obsessão pela ordem, compostura e pontualidade, fazeres e
dizeres regulados no espaço e no tempo”. Por isso, para inibir, desde já, nosso vício cartesiano de busca
pelo prazer imediato pelos resultados obtidos, iniciamos essa reflexão com o alerta de Cruz-Prado (2002):

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Os sistemas educativos tradicionais privilegiam a dimensão racional como a forma mais importante
de conhecimento. A nova educação deve apoiar-se também em outras formas de percepção e
conhecimento, não menos válidas e produtivas (p. 68).
Se quisermos comprovar se estamos aprendendo, a forma mais fácil é observar o que produzimos.
Esse fazer se abre a múltiplas possibilidades, que, embora qualitativo, lançam sempre produtos que o
sistema tradicional não é capaz de gerar (p. 69).
Uma das aprendizagens que colhemos com os trabalhos foi sobre as potencialidades das atividades
ligadas a permacultura como ferramenta de fortalecimento dos princípios, valores e atitudes da educação
ambiental nas escolas. Atividades como horta mandala, espiral de ervas, canteiros de vasos, secador solar
exigem um comprometimento de grupo para viabilização dos desejos individuais e coletivos de “ver a coisa
pronta”. Nessas atividades, a participação, o envolvimento e a empolgação das crianças eram contagiantes,
a sensação de “dever cumprido” transcendia a obrigatoriedade pelo fato de todos participarem ativamente
e se enxergarem enquanto um coletivo que conseguiu criar algo importante juntos. Essas atividades nos
colocaram diante da complexidade das questões ambientais e nos exigiu atitude de investigação atenta,
curiosa, aberta a observações das múltiplas inter-relações e dimensões da realidade, muita disponibilidade
e capacidade para o trabalho em equipe, características necessárias ao educador ambiental, como nos
lembra Carvalho (2008, p. 130).
Nesse contexto, nosso trabalho possibilitou o desenvolvimento de técnicas de aproximação e
trabalho em comunidade, como também propiciou o desenvolvimento de uma metodologia focada nas
experiências pessoais aliadas às vivências das crianças e dos professores da escola. Dentre as atividades
desenvolvidas muitas delas envolveram, além dos estudantes, os pais e comunidade. Durante a realização
das atividades, em alguns momentos, a professora trazia uma contribuição importante com a observação
de que o projeto colaborou com o andamento das atividades da escola, ressaltando que os estudantes
passaram a se concentrar, organizar e participar mais das aulas, além de conseguirem enxergar e
compreender melhor o funcionamento da Universidade, que já fazia parte de seus cotidianos, olhando pra
esta como uma possibilidade e oportunidade de continuação do processo de formação cidadã e
profissional. E, neste sentido, as ações empreendidas desdobram-se na necessidade de constituição de um
ambiente comunitário de convivência para o deslanchar das ações propositivas encaminhadas pelos jovens
e pais e, consequentemente, para estreitar o relacionamento entre a comunidade, a escola, e a
universidade, através da possibilidade de constante troca de saberes e experiências entre estas.
A relação próxima com os recursos naturais também ajudou no aprendizado das crianças, dos
professores e de nós mesmos, pois nos possibilitou conhecer os diferentes olhares dos outros. Esse olhar
do outro nos fez perceber que nos deixamos absorver pelo paradigma racionalista que tem governado os
cursos de Bacharelado, que toma por verdade os modelos científicos, desprezando saberes populares que
há muito tem contribuído para a vida das pessoas. Aqui, buscando refletir sobre nossos encontros com as
crianças e seus saberes, encontramo-nos com as palavras de Paulo Freire (1992), que nos convida a pensar
sobre os saberes do educando:
O que tenho dito sem cansar, e redito, é que não podemos deixar de lado, desprezado como algo
imprestável, o que educandos, sejam crianças chegando á escola ou jovens e adultos em centros de educação
popular, trazem consigo de compreensão do mundo, nas mais variadas dimensões de sua prática na prática
social de que fazem parte. Sua fala, sua forma de contar, de calcular, seus saberes em torno do chamado
outro mundo, sua religiosidade, seus saberes em torno da saúde, do corpo, da sexualidade, da vida, da
morte, da força dos santos, dos conjuros (p. 96).

Essa lição nos foi aprendida, sobretudo com os relatos das crianças sobre os conhecimentos
aprendidos com os pais, avós e demais pessoas de seus círculos de vivência sobre temas como plantas
medicinais, compostagem, uso da água, produção de hortaliças entre outros. Percebemos que as crianças
traziam consigo conhecimentos sobre a terra os quais foram aprendidos em interação direta com ela, que
conheciam as plantas relacionando-se com elas e que, muitas vezes, percebiam-se sujeito-autor-ator do
fazer contínuo e cotidiano do saber que demanda da experiência empírica e dos saberes compartilhados
em seus meio de vivência.
Diante de nosso desejo de nos constituirmos educadores ambientais, o aprendizado vivido exige
que nos desviemos do pedestal que os ensinamentos científicos do curso de bacharelado insiste em nos

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1248

apontar e nos coloquemos, humildemente, no caminho que Paulo Freire insistia em nos oferecer em sua
pedagogia da autonomia: o da certeza do inacabamento do ser.

REFERÊNCIAS
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perspectivas em política e educação. Preve, A.M.; Correa, G.(org.). Editora UFSM. Santa Maria-RS, 2007.
CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. Cortez.
São Paulo. 2008, 256pp.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. Paz e Terra. São Paulo. 2002.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. Paz e Terra.
Rio de Janeiro. 1992.
LEGAN, Lucia. A escola sustentável: eco-alfabetizando pelo ambiente. São Paulo: IPEC 2004.
MOLON, Suzana Inêz. As contribuições de Vygotsky na formação de educadores ambientais. In:
Repensar a educação ambiental: um olhar crítico. Loureiro, C.F.B;Layrargues, F.P.; Castro, R.S. (org.). Cortez,
São Paulo, 2009. p. 141-172.
PRADO-CRUZ, Franciso Gutiérrez. Ecopedagogia e cidadania planetária. Cortez. São Paulo. 2002,
128pp.
TOZZONI-REIS, Marilia Freitas de Campos. Educação ambiental: natureza, razão e história. Autores
associados. Campinas. 2004, 171pp.
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Plano de desenvolvimento institucional. 2008.

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AS CONTRIBUIÇÕES DA MEMÓRIA E DA EXPERIÊNCIA DO SUJEITO IDOSO


NAS PRÁTICAS DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Ivalina PORTO – FURG – ivalina@terra.com.br – Doutora em Psicologia
Rafael de Souza DIAS – FURG – geo.rafael@gmail.com – Mestrando em Educação Ambiental

RESUMO
Um dos grandes desafios da Educação Ambiental é buscar a sensibilização dos sujeitos e o seu
envolvimento com o meio através do sentimento de pertencimento. Este artigo apresenta uma reflexão
sobre as contribuições da memória e experiência dos idosos para a Educação Ambiental e como as
narrativas destes sujeitos, que possuem uma experiência de vida singular, ilustram e elucidam a nossa
relação com o meio ambiente, entendendo a questão ambiental como uma reflexão também sobre o
tempo. A memória é uma conservação de si. Ao rememorar, o sujeito evoca e transmite o conteúdo de
suas vivências, enquanto vive com vigor a experiência, crescendo e fazendo crescer a sociedade na qual
está inserida. Contar e recontar nunca são em vão: a repetição atualiza e ressignifica o tempo passado,
onde nenhuma experiência é insignificante. Ao resgatarmos a memória dos idosos, ampliamos seu campo
de participação na constituição de novas percepções sobre o mundo em que vivemos.
Palavras-chave: Educação ambiental, memória, idoso

O processo de envelhecimento demográfico da população mundial é um fato notório. Segundo a


Organização das Nações Unidas (ONU), o período de 1975 a 2025 pode ser considerado como a Era do
Envelhecimento. Nos países em desenvolvimento esse envelhecimento é ainda mais acelerado e a previsão
é de que em 2050 o número de idosos ultrapasse o número de jovens em todo o planeta. No Brasil, esse
aumento tem sido acompanhado por um acréscimo nos anos de vida da população. Em meados do século
XX a expectativa de vida era de 40 anos. Em 2000, subiu para 67 e em 2020, deverá alcançar os 77 anos.
Esse processo pode ser indicado como fruto de melhorias nas condições socioeconômicas, principalmente
na área da saúde. Novas tecnologias trouxeram informações de prevenção e tratamentos para doenças,
melhorando a qualidade de vida dos brasileiros. Além disso, a inserção cada vez maior da mulher no
mercado de trabalho, fez com que as brasileiras saíssem da condição de dona-de-casa para a posição de
responsáveis por também sustentar financeiramente a família. Essa mudança associa-se à difusão dos
métodos contraceptivos como fator fundamental na redução dos índices de natalidade e de filhos por
casal.
No Brasil, na década de 1970, os idosos representavam cerca de 5% da população brasileira,
segundo dados do IBGE. Em 2010, já representam o dobro deste número.
O envelhecimento é um processo natural, visto que enfrentamos nosso próprio envelhecer desde o
dia do nascimento até o dia da morte. Assim, a menos que o sujeito venha a falecer mais cedo, não se
atravessará a fase da velhice.
Embora esse assunto nos pareça familiar, há aqui a necessidade de se diferenciar os termos. O
envelhecimento é o caminho seguido pelas nossas células que estão em constante desgaste, assim como o
nosso corpo. Já a velhice é uma fase, assim como a infância e a vida adulta.
Mesmo sendo um processo heterogêneo e natural dos seres vivos, o envelhecimento ainda é visto
como um estigma. A velhice é vista como uma fase difícil, talvez por ainda não sermos capazes de enxergar
além das mudanças físicas e estéticas que ocorrem e por não a valorizarmos a partir das experiências
vividas e realizações pessoais. O problema da velhice não é a velhice em si, mas como a sociedade se coloca
diante dela. Não compreendemos a velhice em sua totalidade, pois nos falta conhecer o valor de toda uma
existência (GUIMARÃES, 2007).
Para autores como Zimerman (2000), Neri & Yassuda (2004) a substituição do termo velho por
idoso leva a um deslocamento da discussão sobre a velhice, colocando a longevidade em foco e deixando
de discutir a questão da função social do velho. Ou seja, diante da preocupação em se estabelecer se o
termo adequado é idoso, velho, terceira idade, melhor idade e afins, deixa-se de lado a importante
discussão sobre a condição destes sujeitos diante das políticas públicas e concepções sociais.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Segundo Neri (2008) o termo idoso designa as pessoas idosas. Em países desenvolvidos, são
considerados aqueles sujeitos com mais de 60 anos de idade; em países em desenvolvimento a partir dos
65 anos. Ou seja, ser idoso é uma fase definida a partir da faixa etária do sujeito. O termo “terceira-idade” é
hoje muito difundido e utilizado para se referir a esta fase.
A velhice é a última etapa do ciclo vital e o envelhecimento é o processo natural de perda de
plasticidade comportamental, vulnerabilidade e aumento da probabilidade de morte, variando a cada
indivíduo, de acordo com aspectos genéticos, sociais e psicológicos. Isto significa que um idoso não é,
necessariamente, um velho. No entanto, é preciso atentar para um aspecto muito importante: o
envelhecimento não é uma doença. Envelhecer não significa adoecer, embora haja o agravamento de
patologias que podem levar à incapacidade física e funcional. As doenças, afirma Blessmann (2004) são
marcas ou estigmas do envelhecimento. Mas há uma reciprocidade, ainda segundo o autor, entre velhice e
doença tão enraizada em nossa cultura que fica difícil lembrar que doença é acidente e pode acontecer
com qualquer pessoa, enquanto a velhice compreende somente mais uma etapa da vida.

MEMÓRIA E O SUJEITO IDOSO: CONTRIBUIÇÕES A EDUCAÇÃO AMBIENTAL


Confiando à memória o destino das coisas futuras, pode-se incluir memória e espera num presente
ampliado e dialetizado. Para Ricouer (1994), há três tempos: o presente do passado (a memória), o
presente do presente (a visão) e o presente do futuro (a espera). O presente é o tempo da preocupação e é
por intermédio da relação entre a situação e a necessidade de resolução que repensamos o presente de
modo existencial. É preciso falar de presente no sentido de tornar presente. Ricouer (idem) ainda levanta
alguns questionamentos que nos levam a uma reflexão profunda no que se refere à memória, ao ato de
lembrar e as emergências que surgem disto: cem anos podem estar presentes ao mesmo tempo? Como o
tempo pode ser, se o passado não é mais, se o futuro não é ainda e se o presente nem sempre é?
Essa ressignificação das memórias está presente na obra de Halbwachs, quando esse autor diz que
relembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar com imagens de hoje, as experiências do
passado (HALBWACHS, 1990).
Assim, segundo Antunes (2008), este processo pode também proporcionar reflexões e metas a
cerca dos enfrentamentos, na medida em que estabelece pontes entre o que foi rememorado e o que está
por vir, podendo muitas vezes servir como revisão de vida e contribuir com os impulsos para o agir.
A idéia de valorização da memória é defendida também por Walter Benjamin (1985) em outro
texto de sua autoria, intitulado “O Narrador”, para quem é fundamental preservar a memória daqueles que
não tem lugar nos manuais de historia, salvaguardar os seus testemunhos e depoimentos.
Segundo Bobbio (1997), “se o mundo do futuro se abre para a imaginação, o mundo do passado é
aquele no qual, recorrendo às lembranças, podemos buscar refúgio, debruçar-nos dentro de nós mesmos e
nele reconstruir a nossa identidade”.
O idoso é depositário de um experiência e saber único e exclusivo dado pelos anos vividos. A
memória é um bem valioso que, assim como a história, deve ser transmitida às gerações mais jovens. Sendo
portador dessa memória, cada idoso deve ter sua respeitabilidade recuperada e garantida diante dos mais
jovens. (DEBERT, 1999, pp 101)

A nossa história é contada e interpretada através dos tempos, incorporando-se à nossa memória
coletiva e à história social, mas podendo ser ressignificada por cada sujeito sempre que for recontada por
este. E essa ressignificação será sempre de grande valor para a história e para o próprio sujeito.
A memória dos idosos pode revelar um mundo com riquezas e diversidades que não chegamos a
conhecer. Por seu intermédio, podemos compreender as perdas e, talvez, tornar mais humano nosso
presente. Quando escutamos as lembranças de um idoso, presenciamos sempre uma experiência profunda,
impregnada de resignação, melancolia e indignação pela modificação das paisagens, pelo desaparecimento
de entes e locais amados. Saber escutar e valorizar essas lembranças é uma maneira de transformar
melancolia, indignação e resignação em sabedoria, história e prazer. É dar ouvidos a um grupo que, poucas
vezes, tem oportunidade para expressar-se (Almeida, 2001, pp.43).
Um dos grandes desafios da Educação Ambiental é buscar a sensibilização dos sujeitos e o seu
envolvimento com o meio através do sentimento de pertencimento. Dependendo da forma como a
realidade local é pesquisada, os resultados poderão servir de base para ações educativas conservadoras
para a valorização de determinados ambientes (ALEXANDRE & OLIVEIRA, 2008). Neste caso, escutar os

João Pessoa, outubro de 2011


1251

antigos moradores e apreciar a sua experiência enquanto sujeitos participantes e atingidos por processos
de degradação ambiental pode ser revertido em planos e estratégias no manejo de recursos hídricos e
cultivo adequado, quando se pesquisa, por exemplo, um área rural. Escutar os idosos que presenciaram o
acelerado processo de degradação ambiental desta localidade permite não somente compreender e
entender o processo através da experiência destes sujeitos como também refletir sobre o comportamento
humano diante de crises ambientais.
O pertencimento ao lugar funciona como um mapa cognitivo que orienta as relações entre as
pessoas e entre essas e o ambiente. A antropóloga Edna Alencar (2007) defende que as narrativas
tornaram-se as principais fontes de informações para se conhecer o modo como as pessoas percebem e se
situam no ambiente, e as estratégias utilizadas para lidar com as contínuas transformações da paisagem.
Muitos idosos tem dificuldade em se desvincular de um local (seja a cidade, o bairro ou a casa) onde viveu
durante muito tempo. Esta persistência é uma característica dos grupos sociais que possuem fortes
vínculos com um lugar mesmo diante da transformação que ocorre no ambiente. Esta permanência é
também uma forma de resistência e as áreas onde desenvolvem ou desenvolviam sua suas atividades
(trabalho, lazer) são também significativas paisagens da memória (HALBWACHS, 1990), âncoras da história
do grupo social.
A memória é uma conservação de si. Ao rememorar, o sujeito evoca e transmite o conteúdo de
suas vivências, enquanto vive com vigor a experiência, crescendo e fazendo crescer a sociedade na qual
está inserida (BOSI, 2003). Contar e recontar nunca são em vão: a repetição atualiza e ressignifica o tempo
passado, onde nenhuma experiência é insignificante.
A memória, para Halbwachs, por mais particular que possa parecer sempre remeterá a um grupo. O
indivíduo carrega as lembranças em si. No entanto, ele está sempre interagindo com a sociedade e as
instituições. No âmago destas relações as nossas lembranças se constroem. Para o filósofo, por sermos
sujeitos coletivos, nossa memória está impregnada das memórias do nosso grupo. Assim, em 1925,
Halbwachs desenvolveu o conceito de “memória coletiva”, aplicando-o aos seus estudos sobre como o
passado é recordado por famílias, grupos religiosos e classes sociais. Seu argumento é que qualquer análise
sobre as recordações pessoais devem levar em consideração a influência exercida pelas instituições sociais
como o parentesco, a comunidade e a religião.
A memória coletiva contribui significativamente na produção do sentimento de pertencimento,
garantindo a identidade individual a partir da memória compartilhada no campo real, histórico e simbólico
(HALBWACHS,1990).
A memória, para Halbwachs, por mais particular que possa parecer, sempre remeterá a um grupo.
O indivíduo carrega as lembranças em si. No entanto, ele está sempre interagindo com a sociedade e as
instituições. No âmago destas relações, as nossas lembranças se constroem. Para o filósofo, por sermos
sujeitos coletivos, nossa memória está impregnada das memórias do nosso grupo.
A memória coletiva contribui significativamente na produção do sentimento de pertencimento,
garantindo a identidade individual a partir da memória compartilhada no campo real, histórico e simbólico
(HALBWACHS,1990).
As imagens habituais do mundo exterior são inseparáveis do nosso eu como testemunha Maurice
Halbwachs:
Nosso entorno material leva ao mesmo tempo nossa marca e a dos outros. Nossa casa, nossos
móveis e a maneira segundo a qual estão dispostos, o arranjo dos cômodos onde vivemos, lembram- nos
nossa família e os amigos que víamos geralmente nesse quadro. [...] Não é tão fácil modifica as relações que
são estabelecidas entre as pedras e os homens. Quando um grupo humano vive muito tempo em lugar
adaptado a seus hábitos, não somente os seus movimentos, mas também seus pensamentos se regulam pela
sucessão das imagens que lhe representam os objetos exteriores. [...] Nossas impressões se sucedem, uma à
outra, nada permanece em nosso espírito, e não seria possível compreender que pudéssemos recuperar o
passado, se ele não se conservasse, com efeito, no meio material que nos cerca. É sobre o espaço, sobre o
nosso espaço — aquele que ocupamos, por onde passamos, ao qual sempre temos acesso, e que em todo o
caso, nossa imaginação ou nosso pensamento é a cada momento capaz de reconstruir — que devemos voltar
nossa atenção; é sobre ele que nosso pensamento deve se fixar, para que reapareça esta ou aquela categoria
de lembranças (HALBWACHS, 1990, p.131-143).

Talvez o melhor e mais claro exemplo deste tipo de memória tenha sido definido por Saramago:

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1252

Às vezes pergunto-me se certas recordações são realmente minhas, se não serão mais do que
lembranças alheias de episódio que eu tivesse ator inconsciente e dos quais só mais tarde vim a ter
conhecimento por me terem sido narrados por pessoas que neles houvessem estado presentes, se é que não
falariam também elas por terem ouvido contar a outras pessoas. (SARAMAGO, 2006, p. 58)

Assim, segundo Antunes (2008), este processo pode também proporcionar reflexões e metas a
cerca dos enfrentamentos, na medida em que estabelece pontes entre o que foi rememorado e o que está
por vir, podendo muitas vezes servir como revisão de vida e contribuir com os impulsos para o agir.
A idéia de valorização da memória é defendida também pelo filósofo Walter Benjamin:
É fundamental preservar a memória daqueles que não tem lugar nos manuais de historia,
salvaguardar os seus testemunhos e depoimentos (BENJAMIN, apud BENCINI 2003)

O aspecto transformador da história oral sobre a história da família é um traço marcante, pois sem
a evidência oral pouca coisa sobre as relações internas e cotidianas comuns da família é exposta, como por
exemplo, a divisão do trabalho doméstico, a educação das crianças, relações entre vizinhos, etc.
Através da história, as pessoas comuns procuram compreender as revoluções e mudanças por que
passam em suas próprias vidas: guerras, transformações sociais como as mudanças de atitude da juventude,
mudanças tecnológicas (...) ou migração pessoal para uma nova comunidade. De modo especial, a história da
família pode dar ao indivíduo um forte sentimento de uma duração muito maior de vida pessoal, que pode
até mesmo ir além de sua própria morte. (THOMPSON, 1992, p. 21)

Para Thompson (1992) a história oral com idosos promove novos contatos sociais e cria condições
de vivenciar a dignidade e o sentimento de finalidade106 da vida. A importância de recordar a própria vida
está no fortalecimento da identidade e da autoconfiança. A memória é uma conservação de si. Ao
rememorar, o sujeito evoca e transmite o conteúdo de suas vivências, enquanto vive com vigor
experiência. O sujeito cresce e faz crescer o pesquisador e a sociedade na qual está inserida. Contar e
recontar nunca são em vão: a repetição atualiza e ressignifica o tempo passado, onde nenhuma experiência
é insignificante.
As imagens habituais do mundo exterior são inseparáveis do nosso eu como testemunha Maurice
Halbwachs:
Nosso entorno material leva ao mesmo tempo nossa marca e a dos outros. Nossa casa, nossos
móveis e a maneira segundo a qual estão dispostos, o arranjo dos cômodos onde vivemos, lembram- nos
nossa família e os amigos que víamos geralmente nesse quadro (...) não é tão fácil modifica as relações que
são estabelecidas entre as pedras e os homens. Quando um grupo humano vive muito tempo em lugar
adaptado a seus hábitos, não somente os seus movimentos, mas também seus pensamentos se regulam pela
sucessão das imagens que lhe representam os objetos exteriores (...) Nossas impressões se sucedem, uma à
outra, nada permanece em nosso espírito, e não seria possível compreender que pudéssemos recuperar o
passado, se ele não se conservasse, com efeito, no meio material que nos cerca. É sobre o espaço, sobre o
nosso espaço — aquele que ocupamos, por onde passamos, ao qual sempre temos acesso, e que em todo o
caso, nossa imaginação ou nosso pensamento é a cada momento capaz de reconstruir — que devemos voltar
nossa atenção; é sobre ele que nosso pensamento deve se fixar, para que reapareça esta ou aquela categoria
de lembranças (HALBWACHS, 1990, pp. 131-143).

CONSIDERAÇÕES
A frase “só pode ser medido aquilo que, de algum modo, é” poderia soar como positivista, mas
Ricouer (1994) apresenta alguns questionamentos que nos levam a uma reflexão profunda no que se refere
à memória, ao ato de lembrar e as emergências que surgem disto: cem anos podem estar presentes ao
mesmo tempo? Como o tempo pode ser, se o passado não é mais, se o futuro não é ainda e se o presente
nem sempre é?
Confiando à memória o destino das coisas futuras, pode-se incluir memória e espera num presente
ampliado e dialetizado. Para Ricouer, há três tempos: o presente do passado (a memória), o presente do
presente (a visão) e o presente do futuro (a espera).

106
Finalidade como desígnio, função - e não como término ou encerramento.

João Pessoa, outubro de 2011


1253

O presente é o tempo da preocupação e é por intermédio da relação entre a situação e a


necessidade de resolução que repensamos o presente de modo existencial. É preciso falar de presente no
sentido de tornar presente (RICOUER, 1997). É possível afirmarmos que as identidades utilizam a memória
como suporte para sua legitimação. Que a memória interfere na identidade. Entretanto, Blondel (Apud
Tedesco, 2004) traz para o centro desse debate outra discussão de grande valia que complexibiliza, ainda
mais, essa dimensão fenomenológica da memória. O autor afirma que, embora a memória fundamente a
identidade, no fundo, é a identidade que está na origem da memória.
Nós não somos a soma de nossas recordações, mas aquilo que somos determina o
conjunto de nossas recordações”. Cada cultura desenvolve seus métodos próprios de lembrar e
esquecer. Possui seus pressupostos repressivos e enaltecedores.
Em estudos sobre meio ambiente, com recortes espaciais e temporais delimitados, os antigos
moradores tornam-se fundamentais no processo investigativo, por seres estes os personagens que viveram
e acompanharam os processos tendo, portanto, competência para portar um registro cientificamente
válido para a detecção de impactos ambientais decorrentes do mesmo. Por meio da memória a narrativa
do evento pesquisado passa a conter a fala de um sujeito que o vivenciou. Essa fala carrega experiências e
transformações, pessoais e de seu grupo social, de uma forma que é impossível para outros métodos de
pesquisa e, por isso, pode subsidiar uma reflexão em outro patamar, sobre as mudanças ocorridas na
sociedade.
Segundo Bobbio (1997), “se o mundo do futuro se abre para a imaginação, o mundo do passado é
aquele no qual, recorrendo às lembranças, podemos buscar refúgio, debruçar-nos dentro de nós mesmos e
nele reconstruir a nossa identidade”.
Na memória, a paisagem é marcada por tensões, sucessos e fracassos da história de uma
sociedade. Nela podemos encontrar as marcas significativas do desenvolvimento histórico, social e
econômico de um povo, reconstruindo o espaço nos fixos e nos fluxos que já se foram.
Nos últimos tempos assistimos à imposição de um modelo de desenvolvimento calcado na
industrialização e mecanização, decorrentes de um modelo de vida urbano. A memória do idoso, na
perspectiva da memória coletiva, pode trazer á tona o quanto o desenvolvimento urbano acelerado
impactou a paisagem, pois a memória, como afirmam Halbwachs (1990) e Bosi (1994), é desenvolvida e
ligada por fortes vínculos com as pedras antigas da cidade.

REFERÊNCIAS
ALEXANDRE, F., OLIVEIRA, S. F. Fenomenologia e memória: novos aportes para a práxis em EA.
Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental PPGEA/FURG v.22, Rio Grande, janeiro-julho/2009.
ANTUNES, D. C. Memórias das transformações de grupos comunitários como forma de
favorecimento do envelhecimento bem-sucedido. 2006, 188p. Tese de doutorado defendida na UNICAMP
BENCINI, Roberta. O passado que não esta nos livros de História. Revista Nova escola, São Paulo, n.
167, nov. p. 42-47, 2003.
BLESSMAN, E.J. Corporeidade de envelhecimento. Revista Estudos Interdisciplinares em
Envelhecimento. Porto Alegre, v. 6, p. 21-39, 2004.
BOBBIO, N. O tempo da memória: De senectute e outros escritos autobiográficos. Rio de Janeiro:
Campus, 1997.
BOSI, E. Memória e sociedade: Lembranças de velhos. 3°ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
______. O tempo vivo da memória: ensaios de psicologia social. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.
DEBERT, G. A reinvenção da velhice. São Paulo: Edusp, 1999.
GUIMARÃES, E. Reflexão sobre a velhice. Disponível em:
http://web2.cesjf.br/sites/cesjf/revistas/cesrevista/edicoes/2007/reflexao_sobre_a_velhice.pdf Acesso em:
09/02/2011
HALBWACHS, M. A memória coletiva. São Paulo: Vértice, 1990.
NERI, A L. Palavras-chave em Gerontologia. Campinas SP: Ed. Alínea, 2008.
NERI, A.L; YASSUDA, M. Velhice bem sucedida. Campinas SP: Papirus, 2004.
RICOUER, P. Tempo e narrativa: tomo I. Campinas: Papirus, 1994.
SARAMAGO, J. As pequenas memórias. São Paulo: Companhias das Letras, 2006.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1254

TEDESCO, J. C. Nas Cercanias da Memória: temporalidade, experiência e narração. Passo Fundo, RS:
UPF; Caxias do Sul, RS: EDUCS, 2004.
ZIMERMAN, G. I. Velhice: aspectos biopsicossociais. Porto Alegre: artes Médicas, 2001.

João Pessoa, outubro de 2011


1255

CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL COMO FORMA DE PRESERVAÇÃO DOS


ANIMAIS SILVESTRES DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL BOMFIN-
GUARAÍRA/RN
Rafael Turíbio Moraes de SOUSA*
Licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade Potiguar - UnP
Estudante de Pós Graduação em Comportamento Animal e Ecologia - FATERN
rafael.tmoraes@hotmail.com
Izabela Costa LAURENTINO**
Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Potiguar - UnP
Estudante de Pós Graduação em Comportamento Animal e Ecologia - FATERN***
blynha@hotmail.com
* Biólogo e autor do artigo; ** Bióloga e co-autora do artigo. *** Estácio FATERN - Faculdade de Excelência Educacional do
Rio Grande do Norte

RESUMO
A Mata Atlântica é considerada um dos biomas com o maior número de endemismos do planeta.
Esse ecossistema apresenta muitas espécies endêmicas de vegetais, insetos, anfíbios, aves e mamíferos.
Porém, muitos desses organismos endêmicos se encontram em extinção, pois este bioma é considerado
um dos mais fragmentados e ameaçados do globo. Mesmo diante desse quadro devastador, pouco se
conhece sobre a fauna remanescente nos fragmentos criados e estabelecidos nestes últimos anos. O
primeiro passo para que o processo de extinção e colonização seja melhor entendido, é o levantamento de
espécies nestes fragmentos. Foi conduzido um levantamento referente ao conhecimento das espécies da
fauna local de um fragmento florestal na APA Bonfim-Guaraíra, na Escola Estadual Professor Apolinário
Barbosa, Parnamirim/RN. A região está inserida numa das áreas prioritárias para conservação da
biodiversidade do Rio Grande do Norte, Brasil, a Mata Atlântica. O método utilizado foi o de aplicação de
um questionário como também a observação direta ao longo da área em questão. A Área de Proteção
Ambiental Bonfim-Guaraira abriga uma porção significativa de animais silvestres da Mata Atlântica, onde
com o monitoramento de longo prazo irá revelar cada vez mais aspectos importantes para compreensão do
mecanismo de extinção e colonização da Mata Atlântica.
PALAVRAS CHAVES
Conscientização, Preservação, Animais silvestres, Educação ambiental e Área de Proteção
Ambiental

INTRODUÇÃO
As florestas tropicais são conhecidas por sua alta biodiversidade, são os biomas mais ricos e
diversos, apresentando uma complexidade estrutural que favorece a existência de muitos nichos
ecológicos, porém, é sujeitas a várias ações naturais e não naturais. No Brasil, a devastação vem atingindo
proporções bastante significativas. Na Mata Atlântica, a maior parte dos remanescentes florestais
encontra-se na forma de pequenos fragmentos. Devido ao seu nível de ameaça, a taxa de endemismo e
diversidade da fauna e flora, é um dos maiores desafios para a conservação biológica, pois ao se diminuir
uma área florestal, pode-se reduzir significativamente o número de espécies, afetarem a dinâmica das
populações de animais e vegetais, além de comprometer a regeneração natural das florestas, tornando-as
mais susceptíveis a modificações ambientais ou a variações demográficas.
A APA Bonfim/Guaraíra envolve um conjunto de ambientes, ecossistemas e vegetação natural
bastantes frágeis e vulneráveis à ocupação humana. Dunas, florestas e ecossistemas associados da Mata
Atlântica, manguezais, corpos d’água e sua vegetação ribeirinha; todos são elementos que apresentam
relevante importância e são protegidos pela legislação federal e estadual. A fauna local, apesar de ser um
grupo muito estudado são considerados de grande importância ecológica. Compreendem uma porção
bastante significativa da diversidade de animais constituindo um dos grupos mais diversos e abundantes,
com várias espécies descritas até o momento.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1256

Com o conhecimento da importância de cada organismo vivo, é fundamental para preservação da


natureza e dos animais nela existentes, conscientizar cada um a fazer a sua parte no dia-a-dia para
preservar a natureza, informando porque é importante para todos os seres vivos e o planeta, evitar o
desperdício de água, energia, combustível, papel, alimentos e outros recursos; além de incentivar a
redução do lixo, o reaproveitamento, a coleta seletiva, o consumo responsável e fontes renováveis de
energia. Conhecer razões para não desperdiçar e informações de economia e preservação para usar no
trabalho, em casa, na escola e no lazer.
A mata atlântica originalmente percorria o litoral brasileiro de norte a sul. Estendia-se do Rio
Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, e ocupava uma área de 1,3 milhões de quilômetros quadrados.
Tratava-se da segunda maior floresta tropical úmida do Brasil, só comparável à Floresta Amazônica.
Atualmente da segunda maior floresta brasileira restam apenas cerca de 5 %, aproximadamente 52.000
km² de sua extensão original. Hoje a maioria da área litorânea que era coberta pela Mata Atlântica é
ocupada por grandes cidades, pastos e agricultura. Porém, ainda restam manchas da floresta na Serra do
Mar e na Serra da Mantiqueira, no sudeste do Brasil. (SNE, 2002).
Este trabalho tem como objetivo utilizar os animais silvestres no processo de conscientização
ecológica e preservação da APA. Sem dúvida, os animais exercem maior atração sobre as pessoas, dessa
forma, podemos usá-las em atividades teórico/práticas nas escolas, sem exigir o uso de materiais e
equipamentos caros, usando-as na educação ambiental, com os alunos de diversos níveis.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Nós, seres humanos, atravessamos um longo caminho para ganhar nossa independência dos
caprichos da Mãe Natureza. Aprendemos como construir abrigos e como nos vestir. Através da agricultura
e da irrigação, podemos controlar nosso próprio suprimento de alimentos. Construímos escolas, hospitais,
computadores, automóveis, aviões e ônibus espaciais. Então, qual o grande problema se algumas plantas,
animais e organismos simples deixarem de existir?
Eis o problema com a perda da biodiversidade: a Terra funciona como uma máquina incrivelmente
complexa e não parece haver partes desnecessárias. Cada espécie - do mais simples micróbio aos seres
humanos - desempenha uma parte fundamental para manter o planeta funcionando normalmente. Neste
sentido, cada parte está relacionada. Se muitas destas partes, de repente, desaparecerem, então, a
máquina - que é a Terra - não conseguirá funcionar da maneira devida.
Até mesmo alguns de nossos avanços modernos, em termos de tecnologia dependem da natureza.
A medicina moderna deve muito às propriedades encontradas naturalmente em plantas e bactérias.
Medicamentos como os analgésicos, a penicilina e as inoculações têm como base os organismos naturais. A
estrutura destes seres vivos foi analisada e sintetizada para produzir alguns medicamentos, entretanto,
outros - como os antibióticos - ainda utilizam os organismos de verdade.
A fauna e a flora, assim como os demais recursos ambientais, exercem uma função no ecossistema
e são indispensáveis para o seu equilíbrio. É dizer que cada um dos elementos do ecossistema tem uma
missão a cumprir para mantê-lo estruturado e em harmonia. Nesse sentido, se todas as espécies são
insubstituíveis nesse complexo, a ausência de qualquer uma delas, altera toda a dinâmica do sistema.
Sendo assim, a fauna e flora são fundamentais para a biodiversidade brasileira.
O homem, apesar de ser racional, age de uma forma bem diferente do animal, destacando a sua
inteligência e a forma do seu comportamento. O homem tem inteligência, consciência e capacidade para
analisar seus atos, executar suas tarefas, planejar suas atividades e colocá-las em prática. Através de sua
inteligência e capacitação, chega a atingir as coisas sensíveis e corporais e também as realidades imateriais
e incorporais. Como por exemplo: a verdade, o tempo, o espaço, o bem, a virtude etc. O homem, através
das suas diferenças defronta-se com seu comportamento, pois o homem é um ser surpreendente; sua
mudança é constante, seus hábitos, costumes, crenças e culturas.
A palavra “razão” é o que predomina em seu vocabulário. Hoje é lamentável a forma em que o
homem vive, ele se destrói a cada minuto, tanto de uma forma carnal, como espiritual. Hoje, nós podemos
dizer que o homem luta contra si mesmo. Ele mesmo fabrica armas contra si, bombas atômicas, não
respeita nem seu corpo, nem sua própria vida, ele, tão ganancioso, que pode um dia chegar ao ponto de se
destruir totalmente, como já fez com várias espécies animais, com as florestas, e como ela, a fauna. Ele, na
realidade, é o maior inimigo da natureza.

João Pessoa, outubro de 2011


1257

Os animais, considerados como um ser irracional, por mais que possamos pensar que ele é um ser
livre, realiza seus atos impelido pelas suas sensações, pelos apetites e pelo instinto natural, para um fim de
que ele mesmo ignora e cujas conseqüências não consegue nunca prever. (ANTAS, 1987, p. 45).

Os animais irracionais também são seres inteligentes, mas sempre se reduz à sensibilidade, é um
ser que age de acordo com seu instinto, porém seus sentimentos são fortes e puros em relação ao homem.
Os animais não visam um conhecimento para o futuro, mas vivem a realidade do momento, se expressam
de uma maneira natural para a vida. Eles são na verdade seres organizados, dotados de um sentimento
profundo e expressam essa forma de vida aos olhos dos homens que não entendem, nem compreendem e
nem respeitam um ser dotado de uma beleza exuberante e natural, independente de sua espécie.
Portanto, o homem domina todo espaço que encontra, ele infelizmente interfere até no espaço
animal. O homem sempre visa o seu objetivo, sem se importar se irá destruir outras vidas, o homem ao
mesmo tempo que constrói, destrói tudo mais rápido.
A Área de Proteção Ambiental (APA) é uma categoria de Unidade de Conservação, voltada para a
proteção de riquezas naturais que estejam inseridas dentro de um contexto de ocupação humana. O
principal objetivo é a conservação de sítios de beleza cênica e a utilização racional dos recursos naturais,
colocando em segundo plano, a manutenção da diversidade biológica e a preservação dos ecossistemas em
seu estado original.
No Brasil, uma área de proteção ambiental (APA) é uma área em geral extensa, com um certo grau
de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente
importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos
básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade
do uso dos recursos naturais. Pode ser estabelecida em área de domínio público e/ou privado, pela União,
estados ou municípios, não sendo necessária a desapropriação das terras. No entanto, as atividades e usos
desenvolvidos estão sujeitos a um disciplinamento específico. Pode ter em seu interior outras unidades de
conservação, bem como ecossistemas urbanos, permitindo a experimentação de técnicas e atitudes que
conciliem o uso da terra e o desenvolvimento regional com a manutenção dos processos ecológicos
essenciais. Toda APA deve ter zona de conservação de vida silvestre
As APAs são áreas submetidas ao planejamento e à gestão ambiental e destinam-se à
compatibilização de atividades humanas com a preservação da vida silvestre, a proteção dos recursos
naturais e a melhoria da qualidade de vida da população local. Elas podem compreender uma ampla
variedade de paisagens naturais, semi-naturais ou alteradas, com características bióticas, abióticas,
estéticas ou culturais notáveis que exijam proteção para assegurar as condições ecológicas locais. Podem
conter ecossistemas urbanos ou outras Unidades de Conservação mais restritivas em termos de utilização,
e permitem a experimentação de novas técnicas e atitudes que possibilitem conciliar o uso da terra e o
desenvolvimento regional com a manutenção dos processos ecológicos essenciais.
Assim, as APAs, que prescindem de desapropriação, não propriamente resolvem a questão, que é
crônica, mas dão abertura a uma forma alternativa e complementar de proteção da natureza, servindo
perfeitamente para serem usadas em diversas situações de grande importância. Por exemplo, como zona
tampão de um parque ou de uma reserva biológica. Servem, também, para uma área que, por estar em
fase de estudos, não tem definição quanto a ser mais apropriado declará-la como Estação Ecológica ou
outra categoria de unidade de conservação. Nesse sentido, as APAs funcionam como uma primeira
proteção, até que se tenham maiores informações sobre o zoneamento necessário e o grau de proteção
que se deve aplicar (MMA, 1999).
Respeitados os limites constitucionais, podem ser estabelecidas normas e restrições para a
utilização de uma propriedade privada localizada em uma Área de Proteção Ambiental. As condições para a
realização de pesquisa científica e visitação pública nas áreas sob domínio público serão estabelecidas pelo
órgão gestor da unidade. Nas áreas sob propriedade privada, cabe ao proprietário estabelecer as
condições para pesquisa e visitação pelo público, observadas as exigências e restrições legais. A Área de
Proteção Ambiental disporá de um Conselho presidido pelo órgão responsável por sua administração e
constituído por representantes dos órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e da população
residente, conforme se dispuser no regulamento da Lei.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1258

Nesse sentido, as APAs definem espaços onde a alteração de ecossistemas, por ação antrópica,
limita-se a um patamar compatível com a sobrevivência permanente de comunidades vegetais e animais,
além disso, também podem prestar-se à experimentação de novas técnicas e atitudes, que permitam
conciliar o uso da terra com a manutenção dos processos ecológicos essenciais. Assim, são admitidas
atividades turísticas, recreativas, agrícolas e industriais, usos residenciais e comerciais, bem como outras
formas de ocupação e uso da área, desde que se harmonize com os objetivos específicos de APAs, que são:
“Contribuir para a preservação da diversidade biológica e dos ecossistemas naturais; propiciar o
manejo adequado dos recursos da fauna e flora; incentivar a pesquisa científica e estudos compatíveis com as
características da área; propiciar educação ambiental; e garantir o monitoramento ambiental.” (MMA, 2002)

Como subsídio ao planejamento territorial das APAs é de suma importância uma análise das
normas jurídicas vigentes que estabelecem as restrições legais aos diferentes tipos de ecossistemas
existentes na região e às formas de uso e ocupação do território.

METODOLOGIA
A Área de Proteção Ambiental Bonfim-Guaraíra foi criada em 22 de março de 1999 sob Decreto
Estadual nº 14.369. A criação da Área de Proteção Ambiental (APA) Estadual Bonfim-Guaraíra teve como
objetivo propiciar o desenvolvimento sustentável da região. A execução do seu Plano de Manejo influirá de
forma marcante nos usos do solo, uma vez que grande parte do território de Nísia Floresta está incluída nos
limites da referida APA, inclusive a Sede Municipal. (IDEMA, 2005). Está localizada no litoral oriental do
Estado do Rio Grande do Norte, ao sul de Natal, compreendendo uma área total de aproximadamente 43
mil hectares e seu perímetro aproximadamente 136 km, possui um clima tropical chuvoso com verão seco
e estação chuvosa que se adianta para o outono, abrangendo os municípios de Nísia Floresta, São José do
Mipibú, Senador Georgino Avelino, Goianinha, Arês e Tibau do Sul.
A elaboração da etapa da pesquisa discutida neste artigo foi dividida em fases. Primeiramente, foi
considerado o estudo da temática dos animais silvestres, a partir de pesquisa bibliográfica e documental,
bem como a partir de estudos de campo, os quais foram essenciais na definição das fases seguintes.
Posteriormente, a partir da análise do real, foi definida a técnica de sondagem que seria usada para obter a
percepção ambiental do público-alvo, alunos do ensino médio. Essa sondagem foi feita por meio de
questionários com alunos da Escola Estadual Professor Apolinário Barbosa, Parnamirim/RN. Foram
escolhidas alunos dos primeiros, segundos e terceiros anos do ensino médio. Para a tabulação dos dados
obtidos se fez o uso do software Microsoft Excel e de técnicas de tabulação baseadas em RAMPAZZO
(2002). Os dados foram transformados em gráficos e, em seguida, selecionados e analisados de maneira
crítica. Após os resultados, foram realizadas palestras na escola como também realizada uma aula de
campo na área em questão.

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS


A região está inserida numa das áreas prioritárias para conservação da biodiversidade do Rio
Grande do Norte, Brasil, a Mata Atlântica. A APA Bonfim/Guaraira abriga uma porção significativa de
avifauna da Mata Atlântica, e monitoramento de longo prazo irá revelar aspectos importantes para
compreensão do mecanismo de extinção e colonização da Mata Atlântica.
De acordo com o trabalho foram disponibilizados vários horários para a aplicação do questionário
em sala de aula do ensino médio, pela manhã e noite. Sendo assim, os resultados obtidos foram bastante
significativos, mostrando que os alunos conhecem um pouco da APA por meio de placas, internet e até
mesmo pela escola, mas o conhecimento da Avifauna é bem maior, referente à Área de Proteção
Ambiental devido à sua beleza cênica e vocalização.
De acordo com a distribuição de moradia do quadro abaixo, referente à demanda dos alunos em
seus devidos níveis de escolaridade onde, portanto demonstra de maior potencialidade nas turmas dos
primeiros anos, possuindo uma maior quantidade de alunos por obter mais de uma turma, sendo assim,
turma A, B e C no turno matutino e turma A e B no turno noturno, já o segundo ano é único no turno da
manhã e a noite possui duas turmas A e B, já o terceiro ano existe apenas no horário noturno, tornando-se
também uma turma única. (Quadro 1).

João Pessoa, outubro de 2011


1259

Quadro 1 total de alunos que responderam o questionário.


DISTRIBUIÇÃO DOS QUESTIONÁRIOS APLICADOS
TURMAS
Distrito Alunos 1º ANO 2º ANO 3º ANO Porcentagem
Alcaçuz 01 01 0 0 0,01%
Búzios 16 11 02 03 8%
Cotovelo 04 03 0 01 2%
Nísia Floresta 51 27 17 07 24%
Pirangi 111 58 29 24 52%
Pium 28 19 09 0 14%
Tabatinga 01 0 01 0 0,01%
Total 212 120 60 35 100%

De acordo com a figura 1, demonstra o resultado de conhecimento da APA das turmas do turno
matutino com 113 alunos, apresentaram resultados iguais referente à APA onde, 50% dos alunos conhecem
como também 50% desconhecem. (Figura 1). Já a figura 2, das turmas do turno noturno com 99 alunos,
apresentaram resultados de 56% dos alunos não conhecem e 44% conhecem. (Figura 2).

NÃO SIM

50% 50%

Figura 1 Referente à APA, alunos do turno matutino.

N SIM
ÃO
56% 44%

Figura 2 Referente à APA, alunos do turno noturno.

Referente ao conhecimento da Avifauna das turmas do turno matutino com 113 alunos,
apresentaram resultados de 64% dos alunos conhecem e 36% desconhecem. (Figura 3). Se tratando do
conhecimento dos alunos do turno noturno com 99 alunos, referente à avifauna foi constatado que 39%
dos alunos não conhecem enquanto que 61% conhecem. (Figura 4).

NÃO SIM

36%
64%

Figura 3 Referente à AVIFAUNA, alunos do turno matutino.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1260

Fig ra 4 Referente à AVIFAUNA, alunos do turno


noturno.

A observação da avifauna para os alunos foi um marco promissor, onde eles encontraram espécies
que ocorrem nesta região, sendo assim o guia, foi elaborado apenas com as aves que só ocorrem nessas 3
(três) lagoas da APA. Sem dúvida a participação foi muito positiva para o aprendizado de todos os alunos
em aula de campo na APA.
De acordo com o resultado, partimos para a montagem do Guia, onde foram delimitadas áreas ao
longo de três lagoas, Arroz, Junco e Azul. Com base nas identificações das respectivas aves, foi feito um
levantamento das características das aves, período de nidificação, alimentação, distribuição geográfica,
importância para o meio e curiosidades, onde o mesmo foi submetido à avaliação dos alunos. (Figura 5).

5% APROVAÇÃO

DESAPROVAÇÃO
95%

Figura 5 - Referente à aprovação do Guia Didático de aves dos alunos da Escola Estadual Apolinário
Barbosa.

Com base no resultado obtido com relação ao Guia Didático de Aves, conclui-se que a
confecção do mesmo, proporcionou aos alunos uma nova fonte como ferramenta de auxílio para seus
estudos acadêmicos.
A produção do Guia Didático de Aves, foi uma forma educativa de demonstrar que deve ser
melhor expandi-lo como nova fonte nas disciplinas, para que as áreas de proteção ambiental como a APA
Bonfim-Guaraíra, possa ser cada dia mais reconhecida como patrimônio nosso e para que a população que
reside próximo à essa área participe nos processos de preservação a qual esse necessita.
Foram assim, dispostos, para que com o uso das ilustrações e informações divididos em
pequenas etapas funcionem de forma a chamar a atenção dos educandos, e assim o conhecimento ser
repassado de forma clara e objetiva.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O simples fato de observar esses animais, as aves, em atividade na rua, em jardins ou no pátio da
própria escola, rende muita discussão e aprendizado aos participantes dessa atividade. E o mais
importante, desperta nas pessoas uma vontade de proteger e preservar o que ainda nos que resta de áreas
verdes, fundamental para a manutenção da vida animal. Um educador, mesmo sem muita prática com
aves, pode e deve trabalhar com as aves urbanas na escola.
Com certeza, se o professor tiver conhecimentos práticos sobre o assunto, à atividade ficará muito
mais rica. Tais conhecimentos provavelmente serão indispensáveis para o trabalho com crianças mais
velhas e adolescentes. Para isso, criamos um guia didático de observação de aves para ser utilizada nas
escolas, como complemento às aulas Ciências e Biologia.

João Pessoa, outubro de 2011


1261

REFERÊNCIAS
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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1262

ALTERAÇÕES SOCIOAMBIENTAIS DE ACORDO COM A PERCEPÇÃO DOS


IDOSOS DO MUNICÍPIO DE PARAUAPEBAS, PARÁ.
Ana Claudia Quinto FIGUEIREDO1
cacau_90@yahoo.com.br
Antônio de Oliveira MARQUES1
antoniooliveiramarques@yahoo.com.br
Raquel do Carmo BOTELHO1
amore_onlyyou@hotmail.com
1Graduandos em Ciências Biológicas– Universidade Federal do Pará / Universidade Aberta do Brasil – Pólo
Parauapebas/PA. Rua A, Quadra Especial, Cidade Nova, Parauapebas/PA, 68.515 -000
*Orientador: M.Sc. Josemar de Carvalho RAMOS– marbyo@yahoo.com.br –MEC/CAPES Universidade Aberta do Brasil –
PoloParauapebas/PA.Rua A, Quadra Especial, Cidade Nova, Parauapebas/PA, 68.515 -000.

RESUMO
Esse artigo teve como objetivo estudar alterações socioambientais da Colônia Paulo Fonteles,
localizada no Município de Parauapebas, Pará por meio da percepção dos idosos. O estudo visou mostrar
como os antigos moradores dessa colônia percebem e acompanham as mudanças decorrentes da ação
humana sobre o meio ambiente. Constatou-se que devido à migração humana para o local houve uma
evasão de animais para outras áreas e que as consequências da ocupação e interferência humana no meio
ambiente são sentidas atualmente pelos moradores do local.
Palavras-chave: paisagem, percepção socioambiental, idoso.

ABSTRACT
The aim of this paper was to study the social and environmental change in the Paulo Fonteles
Colony, located in the municipality of Parauapebas, in Brazilian State of Pará, through the perception of the
elderly. The study aimed to show how the ancient inhabitants of this village perceive and follow the
changes due to human action on the environment. It was found that due to human migration to the site
there was an escape of animals to other areas and that the consequences of human occupation and
interference in the environment are currently experienced by local residents.
Keywords: landscape, social and environmental awareness, elderly.

INTRODUÇÃO
De uma histórica relação de preservação do local em que vive, o ser humano evoluiu para práticas
predadoras em muitas regiões do mundo (CZAPSKI e VICENTINI, 2008). A interdependência da relação do
homem com o meio ambiente se intensificou a partir do surgimento da Revolução Industrial,
consequentemente desenvolveu-se empreendimentos em espaços urbanos e rurais, provocando pressões
nos ambientes naturais. Mais recentemente, ante a evidência das mudanças ambientais globais, e suas
fortes consequências, ampliou-se a busca por um modo de vida mais sustentável, a partir dos pontos de
vista social, ambiental e econômico (CZAPSKI e VICENTINI, 2008).
No final da década de 60, pesquisadores descobriram a maior reserva mineral do mundo, no
Sudeste do Estado do Pará. Anos depois o Governo Estatal concedeu à Companhia Vale do Rio Doce (VALE)
o direito de explorar minério de ferro, ouro e manganês no local antes habitado por índios Xikrins do
Catetté e remanescentes do Ciclo da Castanha. Em 1981, deu-se início a implantação do Projeto “Ferro
Carajás”. No vale do Rio Parauapebas, às margens da rodovia PA 275, começou a ser construída a Vila de
Parauapebas. A notícia da construção do núcleo de Parauapebas provocou uma intensa migração de
pessoas de todo o país, atraídas pela grande oferta de trabalho e esperança de riqueza fácil. Chegaram
fazendeiros, madeireiros, garimpeiros e pessoas recrutadas para trabalhar no Projeto Ferro Carajás. (ISA,
2010).
Em 1983 o Grupo Executivo das Terras do Araguaia – Tocantins (GETAT) distribuiu lotes agrícolas
para a população. Um ano depois, garimpeiros de Serra Pelada invadiram o povoado para obrigar o
Governo a lhes dar direito de explorar ouro. Em 1988, o presidente José Sarney inaugurou a Estrada de

João Pessoa, outubro de 2011


1263

Ferro Carajás e, a partir de então, o trem passou a trazer pessoas de outros Estados para a região, que se
tornou o Município de Parauapebas. (ISA, 2010).
Essa região do Sudeste do Pará conta com uma Área de Preservação Ambiental (APA) a qual
interliga a Floresta Nacional de Carajás com grandes fazendas. No local, podem-se experimentar práticas
sustentáveis para agricultura familiar, além de compatibilizar presença humana com proteção ambiental.
Nessa APA, de extensão territorial de 21 mil hectares, ocorre confluência do Igarapé Gelado com o Rio
Itacaiúnas e atualmente é local de residência de cerca de 130 famílias. Em 2008, a APA concluiu o Projeto
de Alternativa ao Desmatamento e às Queimadas que oferece às famílias de agricultores, residentes na
unidade de conservação, noções de educação ambiental incentivando a produção de sistemas agro-
florestais e mecanização agrícola para produção sem desmate e queima. (ISA, 2010).
A percepção socioambiental pode ser compreendida como um instrumento para compreender
melhor as expectativas, satisfações, insatisfações, julgamentos e condutas que se tem a respeito do meio
social e ambiental. O resgate da memória de pessoas idosas, por narrativas orais, tem sido utilizado em
diversas pesquisas sociais ou socioambientais (BOSI, 1987; HALBWACHS, 1990; ALCÀZAR i GARRIDO, 1993
ALMEIDA, 2003; OLIVEIRA et al, 2004;CLAUDINO, 2009).
Essas pesquisas realçam a importância da percepção e participação dos idosos no entendimento
das transformações sociais e da paisagem. Embora, na maioria das vezes, os registros sejam feitos apenas
na memória, os idosos podem ser vistos, neste sentido, como pessoas bastante privilegiadas que carregam
consigo fortes lembranças de um passado do qual fizeram parte e mantém, com o mesmo, um vínculo
direto no seu cotidiano pela saudade dos amigos ou familiares que se mudaram ou faleceram, por
experiências vividas ou, ainda, na forma de satisfação ou insatisfação diante das transformações que
ocorreram ao longo do tempo. Segundo OLIVEIRA et al (2004), as lembranças apresentam significações que
merecem ser desvendadas, pois envolvem um processo de construção e reconstrução de experiências
vividas, que podem contribuir para melhor entender a interação do homem com seu meio biofísico e social.
No presente estudo foram analisadas percepções, de idosos da Colônia Paulo Fonteles no
Município de Parauapebas, referente às transformações sociais e paisagísticas ocorridas, bem como
consequências destas para o ambiente local como um todo, buscando identificar os principais fatores que
podem ter contribuído tanto para pequenas como grandes modificações socioambientais. Objetivou-se
também, mostrar como os antigos moradores dessa colônia percebem e acompanham as mudanças
decorrentes da ação humana sobre o meio ambiente.

METODOLOGIA
A colônia de moradores Paulo Fonteles (antiga Jader Barbalho), localizada a aproximadamente 55
km da cidade de Parauapebas, possui área de relevo acidentado cujas terras não são consideradas férteis
para todo tipo de agricultura, sendo perceptível apenas o cultivo de arroz, milho, feijão e horticultura. A
colônia é composta por moradores que distam um do outro aproximadamente entre 1 e 1,5 Km.
Atualmente é possível observar que grandes proprietários de terra começaram investir no local com
perspectivas de que no futuro haverá grande lucratividade com foco direcionado para silviculturas como
plantações de castanheiras, açaizeiros e exploração de plantas medicinais como o jaborandi.
O fato de não ter sido encontrado nenhuma informação, dados ou qualquer trabalho de pesquisa
publicado a respeito da região da Colônia Paulo Fonteles de Lima foi motivador para obter resultados tão
relevantes a respeito. A princípio foram coletadas algumas informações com moradores da colônia que
estavam na cidade resolvendo algumas pendências.
Objetivando conhecer aspectos econômicos, sociais e ambientais da colônia foi dado
prosseguimento à pesquisa. Para tanto, foi preciso ir ao local, conhecer os moradores mais antigos e
coletar depoimentos. Tais moradores são hospedeiros, possuem poucos recursos, são atenciosos e alguns
são dotados de alto senso crítico, já outros são opiniosos, mas um tanto contidos.
Segundo QUEIROZ (1988), diferente da história de vida, no depoimento é coletado informações que
só interessam ao pesquisador, ou seja, aqueles conhecimentos que estejam diretamente inseridos nos
objetivos do trabalho. Embora a história de vida encerre um conjunto de depoimentos, há grande diferença
entre ambos.
Assim, para realização desse estudo, no ano de 2010 foram coletados, durante dois dias,
depoimentos de antigos moradores e pioneiros do processo de colonização. A percepção ambiental foi

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1264

diagnosticada através de um questionário aberto semiestruturado (QUEIROZ, 1988; BONI e QUARESMA,


2005). Foram entrevistadas pessoas de dez famílias compreendendo uma faixa etária de 52 a 69 anos.
Baseado em roteiro predefinido, entrevistas semidiretas foram realizadas na residência dos moradores do
povoado, com aplicação do questionário semiestruturado para cada família separadamente. Os
depoimentos foram registrados em câmera fotográfica, posteriormente transcritos e arquivados. No
Apêndice I está descrito o roteiro das questões que possibilitaram a realização do processo.
As perguntas serviram para direcionar as entrevistas. Em cada entrevista apenas membros de uma
mesma família participaram. A razão dessa coletividade familiar em cada entrevista é justificada pela
tentativa de colher maior número possível de informações de maneira homogênea.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise dos depoimentos evidenciou que os moradores da colônia Paulo Fonteles vieram de
outras regiões, principalmente do centro-oeste e nordeste brasileiro, em busca de um lugar melhor, de
terras para subsistência sem depender de emprego assalariado. Essa busca se deu entre os anos de 1980 a
1990. Alguns tiveram conhecimento prévio, outros vieram em busca de terra sem conhecimento algum da
região.
Chegaram à região e se depararam com uma realidade e ambiente totalmente diferente do que
eles viviam até então. Os depoimentos são repletos de lembranças de uma época muito difícil devido à
inacessibilidade para chegarem até ao povoado, a mata era extremamente fechada, uma floresta nativa
que eles nunca tinham visto antes. A região se caracterizava por um clima bem mais “frio” que o atual e por
uma paisagem natural e exuberante que tanto encantava aos novos moradores.
A lembrança da derrubada da mata para construir suas casas e cultivar seus plantios foi
recorrente em todos depoimentos, assim como lembrança de algumas espécies de plantas e animais que
antes existiam em grande quantidade e hoje raramente podem ser vistas. O caititu (Tayassutajacu sp.), por
exemplo, é um dos bichos, citados nos depoimentos, que já não se encontra como antigamente. Essas
questões podem ser verificadas na narrativa abaixo:
(...) “Tem muitos bichos que tinham e hoje em dia inclusive acabou, desapareceu, porque a mata
acabou também... e eram os que mais gostavam da mata, como exemplo o caititu. Eram muitos e hoje nem
se vê mais” (...) (Proprietário de terra 56 anos).
Nas lembranças narradas são citados animais como a anta (Tapirusterrestris sp.) e o “porcão”
(caititu) que na época eram vistos com muita frequência e apreciado por aqueles moradores, pois nunca
haviam convivido com tais espécies, enquanto que hoje em dia é muito raro encontrá-los pelas
proximidades do povoado. Mas ocorre também o contrário, animais que antes eram raros de serem vistos,
após mudanças socioambientais passaram a ser observados com maior frequência. Espécies que antes
eram raras de se encontrar, como a capivara (Hydrochoerus hydrochaeris), por exemplo, hoje dominam
espécies da região em relação à abundância.
Um estudo realizado por GUMIER-COSTA e SPERBER (2009), em uma estrada no interior da
Floresta Nacional de Carajás, evidenciou um número alto de atropelamentos de animais. Além da caça e
desmatamento, os atropelamentos podem ter contribuído para a redução da abundância de algumas
espécies na Colônia Paulo Fonteles.
Nas entrevistas realizadas, 70% dos entrevistados disseram que perceberam a ausência de algumas
espécies que antes eram observadas na região e que hoje não são mais vistas, 20% ressaltaram que houve
a imigração de outras espécies que antigamente não existiam na região e hoje em dia é perceptível e, 10%
não perceberam qualquer alteração alegando que, os animais bem como sua abundância permanecem
inalterados (GRÁFICO 1). Contudo, das dez famílias entrevistadas, 70% relataram melhora na região, mas
não em relação ao ambiente e paisagem em si, mas sim por não terem mais a dificuldade que antes tinham
em relação ao acesso a região. Hoje em dia existem estradas e energia elétrica. Os outros 30% afirmaram
que a situação da região piorou devido à falta de incentivo agrícola. Quando foram perguntados se a região
melhorou ou piorou em relação ao ambiente em si, todos foram convictos em dizer que piorou. Com o
desmatamento o clima ficou mais quente. Como disse um dos entrevistados: “... Já sinto saudade do
aspecto anterior, pois sei que meus netos e bisnetos poderão não conhecer a natureza com todo seu
esplendor de antigamente.” (Proprietário de terra, 68 anos).

João Pessoa, outubro de 2011


1265

GRÁ IC
O 1: Percepção dos moradores quanto às alterações ambientais observadas.

Ao longo das conversas, a maioria relatou que o motivo que os levou a ir morar na colônia foi o fato
de não “ter estudo”, outros afirmaram que procuravam tranquilidade. Segundo os moradores, com a
ocupação da região percebeu-se que os animais silvestres desapareceram quase em sua totalidade, o
desmatamento em excesso provocou o aquecimento, bem como, a desfiguração do aspecto visual.
Pela análise dos dados obtidos com essa pesquisa pôde-se verificar que os programas de incentivo
agrícola ofertados pelo Governo ainda são obscuros e não abrangem a comunidade como um todo.
Percebe-se que poucos são privilegiados. Segundo alguns moradores há pessoas que deturpam o processo
e tentam se aproveitar do pouco conhecimento dessas famílias para literalmente, “arrancar” seus poucos
bens. Percebeu-se ainda que, há muitos proprietários que não podem, de maneira alguma, desmatar mais
nem um metro quadrado da área de sua terra para plantar seu próprio alimento, isto porque já
ultrapassaram a cota de área desmatada instituída pela Lei 4.771/1965 (Código Florestal). No entanto, o
contraste é notório, pois há grandes proprietários que têm vasta área desmatada sem qualquer iniciativa
para cultivá-la.
Apesar da exposição sobre o objetivo desta pesquisa, ao findar da mesma alguns ainda pensavam
que os resultados seriam encaminhados para os governantes com o propósito de que os mesmos
atentassem para suas necessidades. A maioria desses moradores é esperançosa, otimista e acredita na
bondade e sinceridade das pessoas.

CONCLUSÃO
Constatou-se que alterações sociais conjugadas com alterações ambientais é ponto comum na
maioria dos relatos. Embora sendo pessoas de idade avançada e de baixo grau de instrução, foi possível
perceber, nas falas e gestos, que existe uma conscientização da nocividade do homem para com a flora e
fauna da região. Ainda se pôde notar que alguns destes colonos sentem-se arrependidos de terem
suprimido a vegetação.
Foi possível observar que dentre os principais fatores que podem ter contribuído para modificações
socioambientais no local estão imigração, desmatamento, queimadas, crescimento da colônia. Esses
fatores associados ocasionaram, assim, mudanças na paisagem e consequentes alterações na fauna, flora e
clima.
Durante muitos dos relatos, vários deles emotivos, pôde-se verificar como as lembranças do
passado se mantêm vivas na memória das pessoas idosas. Nota-se que muitos destes camponeses até
gostam de narrar suas próprias histórias. Outros narram suas angústias pela falta de apoio do poder

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1266

público, principalmente no que tange ao apoio técnico e assistencial às formas de cultivo de produtos
agrícolas. Foi muito mencionada ainda, a falta de infraestrutura, assistência médica e educação. Deixam
claro que as coisas estariam melhores se tivessem uma assistência mais efetiva por parte dos Governos.
Assim, apesar de serem providos de conhecimentos empíricos, muitas vezes, agem de acordo com suas
intuições, não deixam de estarem atentos às alterações sobre as quais a natureza vem passando ao longo
dos anos. E o que mais chama a atenção é que, eles têm consciência de que o homem tem sido o maior
protagonista destas alterações. Com base em todos os relatados, é inadmissível não sentir que: Convivência
e experiência fazem desses homens e mulheres pessoas sensíveis e amorosas com o mundo que os cercam.
Características, como as citadas nesse estudo fazem dos idosos indivíduos consideravelmente
capazes de descrever alterações sofridas em um determinado lugar, bem como na fauna. Mesmo que as
alterações ocorram de forma espontânea e sutil não estarão completamente isentas da aguçada percepção
dos idosos, que de forma natural e serena conseguem fazer relatos importantíssimos, do espaço e tempo,
para uma melhor compreensão de como um dia foram determinadas paisagens.
É importante que pesquisas na área biológica sejam realizadas para compreender melhor a
dinâmica populacional de espécies da região a fim de entender como se deu a dispersão de espécies que
habitavam e de espécies que habitam a região atualmente. No campo social é necessário criar e/ou efetivar
políticas públicas para o desenvolvimento sustentável da região empregando, principalmente sistemas
agrosilvopastoris ou sistemas de exploração de recursos florestais como a castanha-do-pará, açaí e
jaborandi.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem aos moradores da Colônia Paulo Fonteles pela atenção dispensada, pela
sinceridade e franqueza com a qual responderam às perguntas e pelo exemplo de vida que nos deram ao
relatar suas trajetórias.

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Thadeu Lira MENDONÇA (organizadores). Educação Ambiental para a Sociedade Sustentável e Saúde
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ano XVIII, v. 14,2008.
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João Pessoa, outubro de 2011


1267

PARAUAPEBAS, Prefeitura Municipal. História de Parauapebas. Disponível


em:<http:w
www.parauapebas.pa.gov.br/index.php>. Acesso em: 13 mar. 2011.

APÊNDICE I
1 – Quando e por que vocês mudaram para a Colônia?
Objetivo da questão: Identificar o período de chegada à região e conhecer o motivo que
determinou a vinda do entrevistado ao povoado.
2 – Como era chamada e por que teve seu nome alterado?
Objetivo da questão: Saber se os moradores têm noção da mudança de nome o povoado, assim
como das questões políticas.
3 – Descrevam os aspectos físicos e ambientais desta Colônia quando vocês começaram habitá-la?
Objetivo da questão: Resgatar informações dos componentes da fauna e flora, que ficaram
registrados na memória dos moradores.
4 – Quais fontes de alimentação eram utilizadas para sobrevivência?
Objetivo da questão: Identificar se havia prática de caça na época.
5 – Vocês fazem algum tipo de cultivo? Quais? São os mesmos desde a chegada ao local?Objetivo
da questão: Identificar se houve mudança no cultivo.
6 – Quais os animais mais comuns?
Objetivo da questão: Analisar se os animais de antes são os mesmos vistos hoje.
7 – Dentre estes animais quais os mais caçados?
Objetivo da questão: Identificar se a ausência de certos bichos foi devido à caça.
8 – Quais técnicas eram utilizadas para caçá-los?
Objetivo da questão: Identificar o tipo de caça.
9 – Vocês observaram a ausência de alguma espécie devido a chegada de mais moradores ou pela
caça - predatória?
Objetivo da questão: Verificar se a ausência de certas espécies foi devido à caça predatória.
10 – Em um contexto geral hoje a situação está melhor ou pior se comparado ao início da
migração?
Objetivo da questão: Resgatar informações e verificar se a situação do ambiente está melhor hoje
em dia.
11 – Em linhas gerais o que vocês têm a dizer a respeito da região?
Objetivo da questão: Resgatar informações sobre a fauna e flora local, que ficaram registrados na
memória dos moradores.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1268

EDUCAÇÃO E SENSIBILIZAÇÃO AMBIENTAL ENTRE PROFESSORES


INDÍGENAS DE RONDÔNIA E NOROESTE DE MATO GROSSO
Reginaldo de Oliveira NUNES
reginald_ufv@hotmail.com
Professor Assistente, Departamento de Educação Básica Intercultural
Universidade Federal de Rondônia (UNIR), Campus de Ji-Paraná

RESUMO
A sociedade atual exige um cidadão consciente, responsável e participativo na sua maneira de
viver, uma vez que seu modo de vida irresponsável e o consumo desenfreado têm causado a
insustentabilidade do planeta. Cabe ao educador criar condições para que a educação ambiental seja
incorporada como filosofia de vida e se expresse por meio de uma ação transformadora. Não existe
educação ambiental apenas na teoria, o processo de ensino-aprendizagem na área ambiental implica
exercício de cidadania pró-ativa. A Educação Ambiental nada mais é do que a própria educação, com sua
base teórica determinada historicamente e que tem como objetivo final melhorar a qualidade de vida e
ambiental da coletividade e garantir a sua sustentabilidade. Baseado nisso, o objetivo do presente trabalho
foi corroborar com o ensino da Educação Ambiental nas aldeias indígenas, verificando o nível de
sensibilização ambiental entre professores indígenas do estado de Rondônia e noroeste de Mato Grosso,
do curso de Licenciatura em Educação Básica Intercultural, da Universidade Federal de Rondônia, campus
de Ji-Paraná. A pesquisa foi realizada com vinte e sete alunos ingressantes da terceira turma do curso
(turma 2011/02), através de questionário aplicados aos professores com a finalidade de investigar o
interesse em trabalhar e avaliar os conhecimentos em Educação Ambiental. Estabelecer parâmetros de
avaliação da conscientização ambiental é muito difícil, porém com a aplicação dos questionários percebe-se
que há uma grande diversidade de idéias dos professores em formação do curso, mas em geral, é dada uma
grande relevância aos temas ambientais. Uma visão da educação para o meio ambiente mais ampla deve
envolver as pessoas da comunidade, os currículos escolares e a preparação dos professores em geral, não
apenas aqueles que estão ligados as áreas de ciências biológicas ou geografia. Observa-se que os conceitos
cultura e meio ambiente se superpõem da mesma forma que os conceitos homem e natureza, e que a
sensibilização em relação ao meio é de fundamental importância para a sustentabilidade das comunidades
indígenas.
Palavras-chave: Educação Ambiental; Sensibilização; Populações Indígenas.

INTRODUÇÃO
Educação, do vocabulário latino educere, significa conduzir, liderar, puxar para fora. Baseia-se na
idéia de que todos os seres humanos nascem com o mesmo potencial, que deve ser desenvolvido no
decorrer da vida. O papel do educador é, portanto, criar condições para que isso ocorra, criar situações que
levem ao desenvolvimento desse potencial, que estimulem as pessoas a crescerem cada vez mais.
Esse desenvolvimento é contínuo, no entanto, ele é mais intenso na infância. Isso não significa que
os adultos não possam se educar nas diferentes fases da vida, pois a curiosidade leva o ser humano a
conhecer sempre. Todas as pessoas têm a capacidade de incorporar novas idéias e agir em função daquilo
em que acreditam durante a vida toda.
Segundo Paulo Freire, “ninguém educa ninguém, ninguém conscientiza ninguém, ninguém se educa
sozinho” (apud GADOTTI, 2000). Isso significa que a educação, dependendo de adesão voluntária, depende
de quem a incorpora e não de quem a propõe.
Com o desenvolvimento da sociedade da informação, a educação deve possibilitar a todos o acesso
a diferentes dados, permitindo recolher, selecionar, ordenar, gerir e utilizá-los bem como atualizar os
conhecimentos sempre que necessário. Essas idéias foram consideradas como utopia necessária, capaz de
fazer surgir uma nova forma de pensar a sociedade, um novo projeto de vida para a coletividade.
Como já foi dito, portanto, cabe ao educador criar condições para que a educação ambiental seja
incorporada como filosofia de vida e se expresse por meio de uma ação transformadora. Não existe

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educação ambiental apenas na teoria, o processo de ensino-aprendizagem na área ambiental implica


exercício de cidadania pró-ativa.
A Educação Ambiental nada mais é do que a própria educação, com sua base teórica determinada
historicamente e que tem como objetivo final melhorar a qualidade de vida e ambiental da coletividade e
garantir a sua sustentabilidade. Isso significa que é obrigatório que o educador ambiental conheça e
compreenda a história da educação, e os pensamentos pedagógicos aí gerados. Seja capaz de escolher as
melhores estratégias educativas para atuar sobre os problemas socioambientais e, com a participação
popular, tente resolvê-los.
Sua ação transformadora deve estar apoiada na ética, na justiça social e na equidade. Os
conhecimentos das outras ciências (como filosofia, psicologia, sociologia e, principalmente, as ciências
ambientais) incorporadas à educação vão contribuir com importantes subsídios para a consolidação de um
novo projeto civilizatório, de uma nova visão do ser humano em suas relações com a natureza (PHILIPPI JR
e PELICIONI, 2000).
A educação ambiental, segundo Luzzi (2005), está muito além de um tema transversal a mais,
emergindo da comunidade educativa. Para o autor, a educação ambiental é o produto, em construção, da
complexa história dinâmica da educação, um campo que tem evoluído de aprendizagens por imitação, e ao
mesmo tempo, das perspectivas de aprendizagem construtiva, crítica, significativa, meta cognitiva e
ambiental. Ao citar Bianchini, Luzzi (2005) afirma que “a educação é ambiental ou não é, no sentido de
permitir conduzir-nos para uma nova sociedade sustentável e na medida humana”.
A educação, na perspectiva da totalidade, procura superar a fragmentação do conhecimento,
podendo recuperar o sentido deste na escola, não se limitando à transmissão de determinados conteúdos
culturais. O conhecimento, na perspectiva da totalidade, não significa conhecer todos os objetos, mas
conhecer qualquer objeto. O desafio é conhecer a essência de determinados objetos considerados mais
significativos, pois, como dizia Tolstói, “conhecer bem minha aldeia é conhecer o mundo”. A perspectiva da
totalidade repercute também na metodologia de trabalho em sala de aula, ou seja, na união entre
conteúdo e metodologia.
No ensino tradicional, é comum a visão de que se deve ir “da parte para o todo”, logo, o objeto
retirado de seu contexto perde o sentido. Sem uma perspectiva de totalidade o conhecimento carece de
sentido para o educando.
Na educação brasileira, alguns autores vêm discutindo essa relação. Gadotti (1992) afirma que o
homem desenvolve suas próprias forças quando se opõe à natureza; produz a cultura e humaniza a
natureza e, quando nega a natureza, vai ao encontro do pensamento de Lefèbvre (1974), que traduz a idéia
de que o homem só pode desenvolver-se através das contradições; logo, o humano só pode constitutir-se
através do inumano de início a ele misturado, para, em seguida, se distinguir por meio de um conflito, e
dominá-lo pela resolução deste conflito.
Essa posição que o homem assume, aumenta e acelera seu domínio sobre a natureza.
Assim é que temos assistido constantemente a respostas práticas e inusitadas do ambiente construído pela
sociedade que o transforma na “humanização da natureza”.
Visando corroborar com o ensino da Educação Ambiental nas aldeias indígenas, o presente
trabalho tem como objetivo verificar o nível de sensibilização ambiental entre professores indígenas do
estado de Rondônia e noroeste de Mato Grosso.

METODOLOGIA
A presente pesquisa foi realizada com professores indígenas em formação no curso de
Licenciatura em Educação Básica Intercultural, Campus de Ji-Paraná, Rondônia, da Universidade Federal de
Rondônia (UNIR).
O curso de Licenciatura em Educação Básica Intercultural vem de encontro com a necessidade de a
Universidade contemplar na sua pauta formativa, cursos que tenham perfis e características próximas às
demandas das populações tradicionais da Amazônia: os povos indígenas, extrativistas, ribeirinhos e
quilombolas. O curso tem como objetivo formar e habilitar professores indígenas em Licenciatura
Intercultural para lecionar nas escolas de Ensino Fundamental e Médio, com vistas a atender a demanda
das comunidades indígenas.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1270

O curso faz parte do programa REUNI da Universidade Federal de Rondônia, teve seu
primeiro vestibular para entrada no ano de 2009, oferecendo 50 vagas anuais a professores indígenas que
atuam nas suas comunidades, no entanto sem formação superior. Atualmente conta com três turmas em
andamento, totalizando 139 alunos. A organização curricular está dividida em eixos integradores que
contemplam a dupla formação: básica e específica, fundamentada na articulação entre os quatro temas
referencias do curso: a autonomia, a interculturalidade, a sustentabilidade e a diversidade.
A pesquisa foi realizada com os alunos ingressantes da terceira turma do curso (turma
2011/02), através de questionário aplicados aos professores com a finalidade de investigar o interesse em
trabalhar e avaliar os conhecimentos em Educação Ambiental. A turma é composta por professores das
aldeias de nove povos indígenas, sendo eles: 07 representantes do povo Zoró (Noroeste de Mato Grosso),
06 do povo Oro Nao’ (Guajará-Mirim), 04 do povo Sabanê (Vilhena), 03 do povo Karitiana (Porto Velho), 02
do povo Gavião (Ji-Paraná), 02 do povo Suruí (Cacoal) e, um representante do povo Tupari (Alta Floresta),
Kanoé (Guajará-Mirim) e Arara (Ji-Paraná), totalizando os 27 professores entrevistados.
Segundo dados da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental (SEDAM, 2002), o
estado de Rondônia abriga 54 sociedades indígenas, o que lhe confere características de um estado
pluricultural e multilinguistico. Esses povos indígenas estão concentrados em 19 Terras Indígenas (TI) que
perfazem um total de 20,15% da área do estado (4.807.290,42 ha).
A amostragem se deu, com a distribuição de questionários aos 27 professores presentes em
sala no dia da aplicação do questionário. Os dados foram analisados de forma manual. Para
perguntas fechadas usou de um padrão de contagem e aplicação de estatística básica. Para perguntas
abertas e semi-abertas foram utilizadas planilhas, onde os conceitos-chaves foram analisados conforme sua
incidência. Já para as perguntas fechadas com mais de uma resposta, fora utilizado o método de
contagem/pontuação por incidência onde tabelas aparecem o número de quantas vezes foram assinaladas
a mesma alternativa.
O objetivo de aplicação dos questionários aos professores foi de verificar o conhecimento e o grau
de atualização sobre Educação Ambiental. Buscou-se verificar como eles definem meio ambiente, educação
ambiental, a visão acerca dos problemas que causam impactos ambientais. O questionário aplicado foi
composto de perguntas fechadas e abertas, visando analisar os conhecimentos em relação à Educação
Ambiental e também avaliar as dificuldades, que estes sentem em desenvolver uma educação interessante
para o meio ambiente na escola.

RESULTADOS
Estabelecer parâmetros de avaliação da conscientização ambiental é muito difícil, porém
com a aplicação dos questionários percebe-se que há uma grande diversidade de idéias dos professores em
formação do curso, mas em geral, é dada uma grande relevância aos temas ambientais.
Na primeira questão, denominada questão fechada, tinha-se a finalidade de avaliar se a
Educação Ambiental é um processo que objetiva o ensino de preservar a natureza. Observa-se com as
respostas que 100% dos entrevistados (n=27), admitem que sim.
No segundo questionário, procurou-se saber o conceito de Educação Ambiental, o
entendimento dos mesmos sobre o tema. Nota-se que há uma compreensão de que a Educação Ambiental
deve desenvolver a conscientização nas pessoas para que o meio ambiente seja preservado e mantido em
equilíbrio. Abaixo, algumas respostas para compreendermos melhor a esse conceito:
“Está voltado ao ensino de como preservar o meio ambiente e entender o que causa
prejuízo ao meio ambiente e a partir daí elaborar soluções que possam diminuir os problemas ambientais”
(U.A. Suruí).

“Eu entendo que a Educação Ambiental tem por objetivo ensinar a preservar o ambiente
natural e estudar sobre a importância dele, incentivando crianças desde infância para ter melhor
entendimento sobre o mesmo” (G. Tupari).

“A Educação Ambiental é desenvolver o trabalho de como preservar o meio ambiente e


como cuidar da aldeia onde moramos” (A. Sabanê).

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1271

“A Educação Ambiental para mim eu entendo tudo que envolve a natureza” (M.P. Arara).

“Seria uma forma de educar as pessoas para poder ter mais conhecimentos de como
preservar a natureza para que o nosso ambiente possa estar sempre disposto a cada tipo de atividade
desde que preservado” (A.R. Kanoé)

A questão três aborda se a Educação Ambiental está inserida no currículo da escola, 21


professores responderam que sim (77,78%) e 06 que não (22,22%). Aos que disseram que não, justificam
que a Educação Ambiental não está inserida diretamente como disciplina, mas os professores procuram
trabalhar temas em suas disciplinas voltados às questões ambientais.
Uma visão da educação para o meio ambiente mais ampla deve envolver as pessoas da
comunidade, os currículos escolares e a preparação dos professores em geral, não apenas aqueles que
estão ligados as áreas de ciências biológicas ou geografia. Para Tuan (1980), “os conceitos cultura e meio
ambiente se superpõem da mesma forma que os conceitos homem e natureza”.
Segundo Reigota (1998), a Educação Ambiental correu o risco de se tornar, por decreto
uma disciplina obrigatória no currículo nacional; mas como que os burocratas e oportunistas de plantão
não contavam, era encontrar a resistência de profissionais mais conhecedores da área, o que evitou que a
mesma se tornasse mais uma banalidade pedagógica, perdendo todo o seu potencial crítico e questionador
a respeito das nossas relações cotidianas com a natureza, artes, conhecimento, ciência, instituições,
trabalho e com as pessoas que nos rodeiam.
Quando abordado os assuntos que gostariam de trabalhar a Educação Ambiental na escola,
os mais citados para serem trabalhados foram: reflorestamento, reciclagem, lixo, sustentabilidade, matas
ciliares, água e solo. Nota-se a preocupação com a conscientização e sensibilização para os problemas
ambientais, como destacado nas citações a seguir:
“Gostaria de trabalhar como ensinar a realidade e mostrar como é certo para ambiente” (E.
Sabanê).

“Eu gostaria de conscientizar os meus alunos a preservar mais a natureza, a não desmatar as
margens dos rios” (M.P. Arara).

A quinta questão mostrou oito problemas ambientais, todos estes fazem com que ocorra
impactos sobre o meio ambiente. Os professores deveriam assinalar os problemas que consideravam como
ambientais. Assim, notou-se, que em relação aos problemas ambientais:
queimadas (21%), seguido pelo aumento do consumo de água (19%), o aumento da população
(17%), o aquecimento global (16%), a extinção da Arara Azul (13%), a pobreza e o volume do som alto (7%
cada), e a guerra do Líbano (2%).
A questão seis procurou verificar o entendimento dos professores em relação ao uso dos
recursos naturais renováveis e não-renováveis. Para tanto, perguntou se a água é um recurso inesgotável.
Na maioria das questões respondidas verificou-se que os professores têm a noção que a água é um recurso
esgotável.
A questão sete foi apresentada da seguinte forma: Com relação à extinção dos animais você
assinalaria a (s) alternativa (s):
Opções Quantidade
Marcada
Você e seus familiares não contribuem para isso, pois moram na cidade. 0
Você gostaria de fazer alguma coisa, mas acha que não entende nada de natureza.
0
Há bastante sensacionalismo nisso, pois o ambiente muda sempre, podendo
desfavorecer algumas espécies. 10
Espécies de animais e plantas são tanto extintos quanto provavelmente surgem
novas espécies, não alardeados pela mídia. 17
É um assunto que faz você pensar na própria sobrevivência. 23

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1272

Quadro 01 – Extinção dos Animais

Os professores encontraram como melhor resposta àquela que afirma ser um assunto que
faz pensar na própria sobrevivência, fator esse, deve-se ao fato de haver uma grande preocupação em
discutir as questões ambientais e também a sobrevivência da humanidade, estabelecendo com isso uma
relação entre a sobrevivência do homem intimamente ligada a da natureza representada na questão pelos
animais.
A questão oito apresenta um questionamento sobre o que os entrevistados pensam sobre
biodiversidade.
Opções Quantidade
Marcada
Ela é grande responsável no processo do equilíbrio ambiental. 22
É interessante principalmente para quem gosta do campo e de remédios naturais.
04
É importante para pesquisadores e biólogos. 01
Traz mais cor e variedade ao nosso dia-a-dia. 0
Florestas e campos são tão diversos biologicamente quanto lavouras e parques 0
urbanos
Quadro 02 - Biodiversidade

A opção mais assinalada é a que mostra que a biodiversidade “é grande responsável no processo do
equilíbrio ambiental, demonstrando assim, que os professores entrevistados sabem da grande importância
da biodiversidade como responsável pelo equilíbrio ambiental do nosso Planeta.
Na nona questão, foi questionado qual seria a melhor opção que definiria meio ambiente,
conforme quadro a seguir:

Opções Quantidade
Marcada
A inter-relação entre a flora, fauna e o clima. 03
As paisagens naturais e urbanas. 02
Tudo o que se relaciona a paisagem natural: florestas, rios e seus habitats. 07
O lugar onde o homem e a natureza estão em constante interação. 15

O lugar onde o homem e a natureza estão em constante interação foi a opção mais
assinalada pelos professores, nesta razão, observa-se um entendimento pelos educadores que o homem
faz parte do meio ambiente e não como um ser isolado e, que depende desse meio ambiente para sua
sobrevivência.
De acordo com Reigota (1994), o ambiente é um lugar determinado ou percebido, onde os
elementos naturais e sociais estão em relações dinâmicas e em interação.
Ao décimo questionamento, que abordava se eles faziam parte do Meio Ambiente, 77,78%
responderam que sim, com uma explicação embasada, 14,81% disseram sim, com suscinta e abstrata
explicação, 7,41% responderam somente sim, e nenhum dos informantes respondeu não. É notório o grau
de relação e interligação existente entre o homem e o meio ambiente, conforme nota-se nas citações a
seguir:
*“sou um ser vivente nele e é dele que tiramos os nossos sustentos e por isso tenho a função de
educar os alunos para que também façam parte da preservação do meio ambiente” ( A.R. Kanoé).

*“nós indígenas vive da natureza e por isso indígena faz parte da natureza, sem natureza não há
vida” (N. Karitiana)

João Pessoa, outubro de 2011


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*“dama garbawabe dana iwe mãguy e, garah dana ximãguy e, garah ka paje baga eka yakade aih
ani e, ete palade paih xitxa iweka ani e – (nossa vida é muito importante, o planeta é muito importante, se
destruirmos o planeta ela morre, se ela morre, morreremos também)” (U.A. Suruí).

Observa-se que, diferente das sociedades dos “brancos”, os indígenas assumem que fazem parte
do meio ambiente e que dependem dele para sua sobrevivência e, em nenhum momento se sentem
superior a natureza, diferente do pensamento de outros seres humanos, que colocam o homem no centro
de tudo, esquecendo que dependem e fazem parte do meio ambiente.
Em se tratando de Cidadania Ambiental a escola desempenha um papel fundamental.
Especialmente se esta educação para o meio ambiente começa cedo e faz a criança refletir sobre as coisas,
sobre o seu meio, ter a noção de que a sua atitude faz a diferença, não só para ela, mas para sua família,
seus amigos, a comunidade. Esse fator é de importância incalculável e deve ser foco no ensino de Educação
Ambiental nos currículos escolares, onde o educador deve mostrar aos seus alunos a importância da
interação entre homem e natureza para sobrevivência do mesmo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nos dias atuais, a preocupação é grande em relação às questões ambientais, preocupações
estas que no contexto indígena são advindas da interferência do homem “branco” em seus territórios. O
processo educacional indígena em seus currículos aborda a preservação da cultura, o meio ambiente, a
cidadania, a preservação da língua materna, dos costumes, entre outras coisas que são de relevante
importância para os povos indígenas.
Nota-se com as questões abordadas no trabalho, que o cuidado com o meio ambiente é
ensinado desde cedo, e que há uma enorme interação com o meio ambiente, pois dele os povos indígenas
retiram sua sobrevivência. Os rios, matas, peixes, animais de caça, produtos naturais, produtos vegetais
extraídos para confecção de artesanatos, tem um valor imensurável na cultura desses povos, e se isso for
destruído, seu valor cultural também vai sendo destruído aos poucos.
Cabe aos professores indígenas e não-indígenas, independente da disciplina, um olhar
diferenciado as questões ambientais dentro dos currículos de suas disciplinas, pois ensinando se as crianças
de hoje, podemos ter um meio ambiente conservado para as crianças do amanhã.

REFERÊNCIAS
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1992.
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C.F.(editors). Educação Ambiental e Sustentabilidade. São Paulo: Manole, (Coleção Ambiental), 2005
PHILIPPI JR., Arlindo; PELICIONI, M. Cecília. (org.). Educação ambiental. Desenvolvimento de cursos
e projetos. São Paulo: Signus, 2000.
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ambiente e cidadania: reflexões e experiências. São Paulo: SMA, 1998. p. 27-32.
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TUAN, Y. F. Topofilia.São Paulo: Difel ,1980.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1274

PARADOXOS E CONTRADIÇÕES DE UM PROCESSO PARTICIPATIVO: O


CASO DE MARAGOJIPE E SEU DESTINO
Jesus M. DELGADO-MENDEZ e Renato de ALMEIDA
Docentes da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB/CCAAB. Rua Rui Barbosa, 710, Campus Universitário.
CEP44380-000, Cruz das Almas-BA
jesus@ufrb.edu.br; renato.almeida.ufrb@gmail.com

RESUMO
Os processos participativos enquanto estratégias de gestão das unidades de conservação
representam um importante marco de democracia e fortalecimento da cidadania. O presente estudo
baseou-se na análise das atas de reuniões do Conselho Gestor da RESEX Marinha Baía do Iguape (Bahia),
bem como nas reuniões do próprio Conselho; do GT para Elaboração do Plano de Manejo; e nos
documentos técnicos relacionados aos licenciamentos de empreendimentos na região. Análise crítica dos
processos de licenciamento ambiental de empreendimentos e consulta aos Conselhos Gestores
demonstram contradições que apontam, entre outros, para o fato de que o próprio Conselho deve
demonstrar a inviabilidade do que julgam, enquanto o empreendedor articula-se nas diferentes esferas de
Governo visando aprovação do empreendimento. O licenciamento ambiental de um Estaleiro Naval no
Baixo Curso do Rio Paraguaçu vem desgastando a possiblidade de um processo participativo em torno da
elaboração do Plano de Manejo, tornando nebuloso o destino da RESEX Marinha Baía do Iguape.
Palavras Chave: Processo Participativo, Unidades de Conservação, Conselho Gestor, Planejamento.

REFERENCIAL TEÓRICO
Este trabalho parte do conceito central de que os processos participativos podem ser considerados
como uma estratégia político-administrativa. Tal estratégia não apenas garante a capacidade efetiva de
uma entidade que tem como responsabilidade o gerenciamento físico de uma região, mas também
conquista a participação dos habitantes de uma determinada localidade, além de proteger os ambientes
naturais, ou culturais, onde esses habitantes se encontram e sobrevivem (DELGADO-MENDEZ, 2005).
A afirmação de REBOUÇAS (1999) reforça o propósito aqui estabelecido, pois a abordagem
participativa é um processo gerencial estratégico que possibilita estabelecer o rumo a ser seguido por uma
ou mais instituições, sempre visando obter um nível máximo de otimização dessas com o seu ambiente.
Além disso, a participação ativa e informada dos atores de uma localidade também permite ganho de
respeito e confiança daqueles que serão afetados, positiva ou negativamente, pelo seu gerenciamento. Os
elementos assim elencados podem ser aqui denominados como princípios do processo.
Em outro termo, quando o processo participativo envolve a existência de uma Unidade de
Conservação (UC), tal como a RESEX – Reserva Extrativista Marinha da Baia do Iguape (Bahia), poder-se-ia
dizer que esse processo exige ou possibilita uma abordagem integrada frente à exploração direta dos
recursos naturais, onde possam ser respeitadas e manejadas as potencialidades das comunidades humanas
e da biodiversidade em geral.
Segundo BORRINI-FEYERANBEND (2002; 1997), “o manejo participativo é usado para descrever
uma situação na qual, alguns ou todos os interessados pertinentes a uma unidade de conservação estão
envolvidos de forma substancial com as atividades de manejo”. Isso é possível e mais provável em UCs
como a RESEX da Baía do Iguape, pois segundo a Lei do SNUC – Sistema Nacional de Unidades de
Conservação, é uma área protegida cujo gerenciamento depende da colaboração de um Conselho Gestor
Deliberativo, formado por representantes da maior quantidade possível de entidades (públicas e privadas)
qualificadas como atores, direta e indiretamente, beneficiados e afetados pela existência e manejo da
unidade (BRASIL, 2000).
Durante o estudo aqui apresentado, alguns elementos puderam ser identificados como
componentes do processo. Tais elementos são julgados pelos autores como essenciais para caracterizar o
processo participativo, iniciado no momento da criação do Conselho Gestor Deliberativo da Reserva
Extrativista Marinha Baía do Iguape.

João Pessoa, outubro de 2011


1275

O CONTEXTO
Nos últimos anos, uma premissa que parece ter sido aceita como parte do processo de qualquer
planejamento é a da participação daqueles que vão ser afetados, ou beneficiados por algum projeto,
sempre que se deseja alterar as realidades comunitárias. É como se o “povo” pudesse constituir-se em uma
espécie de “juiz” do próprio projeto.
O poder público, especificamente, converteu essa premissa em paradigma e insiste para que as
comunidades se “apropriem” do seu próprio destino, antes e depois das futuras intervenções. O setor
público ou privado, seja na construção de um estaleiro naval, ou na elaboração de um plano de uso dos
recursos naturais pesqueiros de um complexo estuarino, exige um processo participativo para garantir
democracia, apoio popular e representatividade. E é essa a realidade da RESEX Marinha Baía do Iguape.
Para escapar das generalidades e manter um ponto de referência como base do que se pretende
discutir, aqui estamos analisando o Baixo Curso do Rio Paraguaçu (Bahia) e o complexo marinho-costeiro
que compõe a Baía de Todos os Santos. Trata-se do caso daqueles que hoje moram dentro e nas
proximidades de Maragogipe, região denominada de agora em diante de Baia do Iguape.
Ali, a mariscagem e a pesca artesanal representam as atividades mais importantes na região.
Somente a Colônia de Pesca aponta 3500 pescadore(a)s associado(a)s, embora esse universo possa ser
superior a 10 mil pessoas. Em 2009, a RESEX operou a pífia quantia de R$1.700/ano, o que demonstra o
total descaso por parte do órgão oficial para com a conservação ambiental e para com o papel estratégico
da RESEX na região. Ressalta-se que a RESEX Baía do Iguape está completando 11 anos de existência. Trata-
se da primeira Reserva Extrativista Marinha da Bahia e possui pouco mais de 8000 ha.
Destacamos também o Distrito de São Roque, onde já se deram os primeiros passos para debater
as compensações e condicionantes a serem cumpridas durante a execução da construção de um estaleiro
naval, que pretende ocupar área aproximada de 150 ha. Embora o licenciamento da obra já tenha sido
oficializado (Licença prévia e Licença de Instalação), nem toda a população parece estar convencida de que
será um projeto viável e ambientalmente recomendável.
Assim, o objetivo central deste trabalho é expor quais podem ser as características de um processo
participativo que visa o debate das consequências potenciais de uma proposta de desenvolvimento já
aprovada pelo setor oficial. Está em discussão se um processo de participação pode evitar que um projeto
afete inevitavelmente a estabilidade de um sistema de ambientes naturais, uma vez que nem saído da
prancheta, ele, o projeto, começa a exercer pressões e anseios na vida dos habitantes na região.

METODOLOGIA
A metodologia utilizada neste trabalho resume-se à análise de evidências documentais (Bell, 2008)
produzidas ou analisadas pelo Conselho Gestor da RESEX (especialmente as atas de reuniões ordinárias ou
extraordinárias) entre o ano de 2010 e 2011, bem como a participação presencial nas reuniões. Até o
momento foram vivenciadas oito reuniões do Conselho Gestor da Reserva Extrativista Marinha da Baía do
Iguape (RESEX), nos seguintes dias: em 2010 (17/08, 21/09, 23/11) e 2011 (15/03, 17/05, 26/07, 07/07 e
26/07). Tais reuniões tiveram duração de 4-5 horas. Também foram acompanhadas algumas reuniões do
GT para Elaboração do Plano de Manejo da RESEX. Igualmente importante foi a análise dos registros dos
depoimentos de alguns dos membros do Conselho durante os intervalos entre reuniões e o contato que os
autores tiveram com documentos importantes, tais como: o EIA/RIMA do Estaleiro Enseada do Paraguaçu;
EIA/RIMA do Gasoduto Cacimbas-Catu; e Programa Ambiental da UHE Pedra do Cavalo; além do “contra-
rima” Estaleiro Enseada do Paraguaçu elaborado pela Comissão Pró-Iguape.

A ANÁLISE
Antes de citar os elementos relevantes de caracterização de um processo participativo, vale
explicar que, adicionando ao imperativo trabalho de decidir sobre o manejo da UC, o mencionado Conselho
Gestor da RESEX Marinha Baía do Iguape envolveu-se em duas tarefas diferentes e complementares: a
discussão sobre a viabilidade do projeto “Estaleiro Naval” e o Plano de Manejo da RESEX. Destaque-se que
durante os últimos 10 anos a unidade foi utilizada pelos pescadores e comunidades usuárias e administrada
pelo IBAMA, e atualmente pelo ICMBio – Instituto Chico Mendes para a Biodiversidade e a Conservação. Só

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1276

recentemente, nos últimos 2 anos, o debate participativo sobre os dois assuntos em destaque começaram.
É esse período que estamos analisando.
Voltando aos elementos que foram identificados como relevantes para caracterizar o processo
participativo com sede a cidade de Maragogipe, envolvendo mais de 40 comunidades de pescadores,
marisqueiros e beneficiados pelos recursos naturais da Baía do Iguape, podem citar-se as seguintes
vertentes de análise:

EM MATÉRIA DE PLANO DE MANEJO:


O Conselho Gestor atuou, atua e atuará de duas formas, ou em dois momentos diferentes. O
primeiro convalidando a elaboração do Plano de Manejo através da constituição de um GT – Grupo de
Trabalho, onde atuam alguns Conselheiros ao lado de técnicos especialistas e, eventualmente, alguns
líderes comunitários que não necessariamente fazem parte do Conselho. Até o momento, Até o momento,
foram elaboradas as minutas de dois Termos de Referência para suporte ao Plano de Manejo (TdR de apoio
logístico e Tdr de Diagnóstico socioeconômico e censitário das comunidades extrativistas). Em um segundo
momento, o próprio Conselho deverá convalidar o resultado dos estudos e dos programas de ação que
venham a ser desenhados pelo GT e as consultorias contratadas para realizar os vários estudos que
fundamentam o Plano de Manejo. A participação do Conselho deverá ser fundamental para identificar os
atores que se beneficiarão diretamente do manejo da reserva, a sua condição socioeconômica, sua
percepção da UC e as necessidades que exigirão ações dentro dos programas de manejo.
Nesta etapa, a maior dificuldade do processo participativo de planejamento é a falta de uma base
homogênea de conhecimentos técnicos, e isso obriga a busca de uma linguagem de empatia entre as
partes, de modo que se possa manter atrativo o trabalho participativo. Os embates observados no âmbito
do Conselho Gestor não são acompanhados pela presença dos representantes do empreendimento. Assim,
constata-se enorme desgaste por parte das lideranças comunitárias.
Por último, o processo estabelecido parte da premissa de que o Plano de Manejo, conforme
concebido pelos técnicos e nos moldes convencionais de elaboração, é essencial para iniciar a organizada e
multilateral abordagem dos problemas inerentes à exploração e sustentabilidade dos recursos naturais,
especialmente os pesqueiros. Essa premissa poderá colidir, como se espera aconteça em futuro próximo,
com aquela parte do processo que discute o projeto oficial para a região, pois parece não considerar que
deveria esperar o desenvolvimento do projeto que se discute na outra arena, o da Consulta Pública sobre o
estaleiro naval já licenciado. Diga-se de passagem, algumas das consultas e audiências públicas em relação
ao Estaleiro feriram a legislação, pois em algumas comunidades as audiências tiveram início por volta de
19h e encerraram-se às 2h, já no dia seguinte.

EM MATÉRIA DE CONDICIONANTES DO PROJETO OFICIAL


Uma vez aprovado o licenciamento de um projeto que afetará irremediavelmente a vida de todos
na região, o debate sobre as condicionantes assume que o processo participativo passou pela primeira fase
de analise dos impactos.
O processo participativo não avança quando é a empresa empreiteira (Odebrecht/OAS/UTC) a que
representa o organismo oficial empreendedor. Os interlocutores podem perder igualdade de condições
para a discussão e tomada de decisões. Essa sobreposição de funções e responsabilidades entre a
empreiteira e o empreendedor causou desconforto junto ao Conselho, pois quem deveria responder pelo
empreendimento era o empreendedor (Governo do Estado).
Por muito que se debata com os representantes locais, a opinião dos especialistas neutros é
importante no processo para evitar a destruição dos princípios acima mencionados. A Comissão Pró-
Iguape, formada principalmente por técnicos da academia elaborou um “contra-rima” para tentar apoiar as
decisões do Conselho Gestor e o Ministério Público Federal. Destaca-se o equívoco quanto ao estudo
locacional do Estaleiro. O próprio EIA/RIMA afirma que o Baixo Paraguaçu, área escolhida pelos
empreendedores, representa aquela com maior chance de impactos no ambiente terrestre e o máximo de
impactos no ambiente marinho. Além disso, desqualifica a expressividade histórica da pesca artesanal na
região, pois afirma ser ausente a atividade pesqueira na Ponta do Corujão (local de instalação do
empreendimento), além de reconhecer apenas três estratégias de pesca na região. Destarte que o ICMBIO
já registrou mais de 41 atividades de pesca na Baía do Iguape.

João Pessoa, outubro de 2011


1277

Não parece ser conveniente apoiar a discussão sobre condicionantes ambientais, sociais e
econômicas de um projeto que, na medida em que se analisam as mesmas, vão mostrando a possível
inviabilidade do empreendimento, nas mesmas áreas em que se condicionam. Nesse momento o processo
participativo começa a desviar-se do seu propósito original.
CONCLUSÕES
No estudo de caso que envolveu o processo participativo que ora se desenvolve ao redor da RESEX
da Baia do Iguape, em Maragogipe, pode-se concluir que entre os paradoxos e contradições identificadas
se encontram:
A participação não acelera, nem altera modelos, per se. A única característica que se assinala como
paradoxal, em relação ao processo que envolve o Plano de Manejo, é que mesmo que exista um
exacerbado interesse por parte dos gestores em realizar um planejamento sem depender de agentes
externos à administração, como é o caso das empresas de consultoria, continuam a se utilizar os mesmos
esquemas de elaboração de planos de manejo, onde um documento reitor central definirá todas as coisas a
fazer, de maneira simultânea, forçado pela existência de verbas provenientes de compensações ambientais
e por velhos paradigmas de gerenciamento de UCs. O fim justificando os meios, desperdiçando uma
oportunidade de sair do papel para a prática e transformar modelos.
Em relação ao caso específico de Maragogipe e o projeto do estaleiro naval, a participação é um
mero acidente. O processo participativo parte da premissa que ele deve ocorrer independente da não
existência de consenso sobre o projeto, seja ele um consenso de índole econômica, social ou ambiental
(este último em menor proporção). Ainda, parece ser obrigatório a se encaixar dentro dos moldes do atual
modelo de desenvolvimento no Brasil, onde os danos e impactos dos projetos justificam-se sob a conhecida
frase de ser “o preço a pagar” por buscar o progresso.
Frente a um caso que põe em perigo a segurança biológica de toda uma região, o processo
participativo está a serviço do empreendimento. Ele não encontra forças nos seus argumentos em defesa
das propostas dos seus membros participantes. Estes últimos parecem estar obrigados a demonstrar a
inviabilidade do que julgam, em lugar de esperar que se lhes demonstre a viabilidade do mesmo. Esse
simples fato altera o sentido do processo: de consultor para vítima.
Da mesma maneira, o processo participativo é ocupado, em vez de preocupado. A discussão das
condicionantes e compensações ambientais antes de ter-se provado a viabilidade do projeto, não somente
compromete a integridade da UC, mas coloca em xeque o papel da participação comunitária, dando a
impressão aos que participam do processo, que estão sendo “distraídos” com assuntos periféricos,
enquanto o projeto avança nos seus rígidos propósitos.
Uma situação de dualismo de posições. A dificuldade dos servidores à frente da RESEX de integrar
os protestos dos seus Conselheiros quando aparecem manifestações sobre seus superiores em Brasília,
parece demonstrar a dualidade do processo participativo, o qual está coordenado pelo representante local
da instituição que exige a participação. Essa dupla função de Coordenação promove fortes dúvidas de
neutralidade no processo, uma vez que interesses pessoais e institucionais e a viabilidade administrativa se
interpõem, em alguns momentos, com os interesses, ou consensos coletivos.
Um dos paradoxos mais interessantes é o efeito moral do processo. Sabe-se que, até aparecer o
projeto, a comunidade não tinha se organizado efetivamente para proteger o seu local de sobrevivência,
mesmo sabendo que dentro das comunidades existem muitos outros fatores que apelam para o desgaste e
desequilíbrio ambiental, tal o caso do uso inadequado e proibido de algumas artes de pesca, sobrepesca,
especulação de terras, urbanismo sem planejamento, crescimento demográfico, desmatamento de
nascentes, erosão de encostas, represamento de água doce, entre outros. O processo participativo deverá
servir para a autocrítica e desenho de novas estratégias de proteger suas fontes de riquezas.
Mesmo e apesar de todos os paradoxos e contradições apresentadas, a participação das
comunidades deve ser vista como um processo perfectível, que deve crescer como exemplo de democracia,
inclusão social e fortalecimento de cidadania. Falta apenas despojar-se dos medos que envolvem a tomada
de decisões coletivas.

REFERÊNCIAS
BELL, J. 2008. Projeto de Pesquisa – Guia para pesquisadores iniciantes em educação, saúde e
ciências sociais. 4ª ed. Artmed/Bookman. 224p.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1278

BORRINI-FEYERANBEND, G. 1997. Manejo Participativo de áreas protegidas: adaptando o método


ao contexto. Temas de Política Social. UICN SUR. Quito (Equador).
BORRINI-FEYERANBEND, G. 2002. Indigenous and local communities and protected areas:
rethinking the relationship. Parks, Gland, v.12, n.2, p.5-15, 2002
BRASIL. Lei n. 9985, 18 de julho. 2000. Dispõe sobre o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação da Natureza. Diário Oficial, Brasília, 19 jul. 2000.
DELGADO-MENDEZ, J.M. 2006. Programa de educação ambiental para as comunidades da reserva
biológica do Lago Piratuba: relatório técnico. Rio de Janeiro: FUNBIO.
REBOUÇAS, D.P.O. 1999. Planejamento Estratégico: conceitos, metodologia e práticas. Ed. Atlas.
São Paulo. 303p.

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EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM GARGAÚ: A PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA


NO PROJETO MANGUE SUSTENTÁVEL
ABREU, Gleison de Chagas¹
COELHO, Vinícius Corrêa¹
TERRA, Ricardo Pacheco²
¹ IFF Campos – Licenciando em Geografia/Bolsista PIBIC
² IFF Campos – Professor do curso de Educação Ambiental /Orientador
e-mail: gleisonchagasabreu@gmail.com

RESUMO
O presente artigo traz uma retrospectiva histórica do Projeto Mangue Sustentável, utilizado como
instrumento de Educação Ambiental e tendo como ponto de partida a visão de alguns atores sociais que
estiveram envolvidos com o mesmo. O trabalho foi desenvolvido na comunidade de Gargaú, no município
de São Francisco de Itabapoana, norte do Estado do Rio de Janeiro. Esse povoado tem na pesca e na
extração do caranguejo uma das principais fontes de renda. A preservação do manguezal tem uma
importância não somente ecológica, mas também econômica para a comunidade. Dessa forma, usando da
perspectiva de quem vivenciou o projeto ou desenvolve trabalhos de preservação ambiental em Gargaú,
apresentamos os relatos que apontam ainda para a necessidade de um maior envolvimento dos diversos
setores da comunidade. Enumerado a persistência de alguns problemas, vislumbra-se o desenvolvimento
de projetos e programas de cunho holístico e continuado.
Palavra-Chave: Projeto Mangue Sustentável; Gargaú; Educação Ambiental.

INTRODUÇÃO
O projeto Mangue Sustentável tem origem em um conjunto de ações desenvolvido em parceria
com o IBAMA a aproximadamente 10 anos atrás. Neste período foram desenvolvidas uma serie de
atividades envolvendo professores e alunos do antigo Cefet, com profissionais do IBAMA no caso, com a
bióloga Rosa Maria Wekid Castelo Branco e socióloga Maria de Lourdes Anunciação. Essas atividades a
principio foram realizadas na localidade de Gargaú envolvendo também membros da comunidade, poder
publico e escolas da região.
Com base nesta experiência foi elaborado o projeto intitulado mangue sustentável, que tinha como
objetivo principal realizar um diagnostico das comunidades pesqueiras do manguezal de Gargaú. Foram
trabalhadas questões ligadas a saúde ambiental, cadeia produtiva do pescado, ocupação espontânea e
mapeados os principais impactos ambientais.
No ano de 2006 já com uma base consistente de dados, monografias e artigos produzidos, foi
aprovado em um edital do PROEXT Cidades o projeto Cefet Sócio Ambiental. Este projeto desenvolvido ao
longo do ano de 2006 produziu alem de monografias e artigos científicos uma cartilha sobre saúde
ambiental e um curso pré-vestibular na localidade de Gargaú que funcionou por um período de dois anos.
Já no ano de 2007 o projeto Mangue Sustentável cria a Sala Verde Cefet, aprovada em um
edital do ministério do meio ambiente.
Em 2008 o trabalho desenvolvido em Gargaú atingiu outros municípios, foi realizado um convênio
entre a Sala Verde Cefet e o projeto Mosaico Petrobras para trabalhar com comunidades pesqueiras em
Cabo Frio, Macaé e São Francisco de Itabapoana. Como o deslocamento para essas regiões era constante,
passamos a envolver alunos da graduação do IFF na coleta de dados e material áudio visual. Um trabalho
de pesquisa paralelo ao projeto Sala verde Mosaico foi desenvolvido, possibilitando a aquisição de uma
base de dados consistente.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1280

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· Santa Lu zia
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· Aleg ria dos An jos · ·
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· Valã o Se co #
Atalho Amon toa do
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·
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P.Im acula da ·
· Buen a
v Lo ca lidad es Ponto de Cacim bas
Maceió ·
·
Ping o D'Águ a · Ping o D'Águ a
Convenções ·
Benta · Man guinho s
· Esp iad or
· Co nceição
·
D ivisã o D itrita l Morro Ale gre · · Gu axind iba
#

· Sosseg o
Santa Rita · Faze ndinha
·
Banco s d e Areia · Imb uri Macuco
· Pedre ira
· Flor esta · Santa Cla ra Oceano Atlântico
· Taqu aruçu
-4 1
· Valã o d a Floresta · Estr eito
· Valã o

Banco s d e Areia
Man gue ira · · Santa Cruz
·
Funil
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São Francisco do Itabapoana


G argaú ·

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Campos dos G oytacazes

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São João da Barra
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-41 -4 1

Fon e:
projeto “Mangue Sustentável”.
Figura 1. Mapa de localização de Gargaú

A comunidade de Gargaú está localizada no município de São Francisco de Itabapoana, norte do


Estado do Rio de Janeiro. Assim como muitas comunidades litorâneas brasileiras, tem na pesca uma de suas
principais atividades econômicas e abriga um importante ecossistema de manguezal. No entanto, a
comunidade enfrenta um forte processo de ocupação espontânea, além de haver uma pressão da
agropecuária, devastando parte do mangue para fazer pastagem para o gado. Logo, torna-se claro a
necessidade de se desenvolver projetos de educação ambiental, visando à sensibilização/mobilização da
comunidade para preservar aquele ecossistema, que segundo Soffiati:
Talvez o maior problema a afligir o manguezal do delta do Rio Paraíba do Sul seja a urbanização,
principalmente nas localidades de Gargaú e Atafona. A primeira avança com voracidade sobre a parte maior
do manguezal, que ficou no município de São Francisco do Itabapoana. Singrando o Canal de Gargaú, um dos
braços do delta, pode-se verificar a precipitação das casas dentro do que deveria ser a área de preservação
permanente dos cursos d’água e além da própria margem, verdadeiras palafitas. Há, ademais, pequenos
abatedouros clandestinos e frigoríficos que lançam seus efluentes no canal. (...) Sejam registradas,
igualmente, as obras de dragagem efetuadas no canal principal e a abertura de novos canais. Esta operação
acumula nas margens os sedimentos removidos do leito, o que interfere significativamente no regime hídrico
do manguezal, afetando flora e fauna. (SOFFIATI, 2009, p. 77).

No que diz respeito à Educação Ambiental, entendemos que a mobilização da comunidade na


preservação do manguezal pode garantir a sustentabilidade de uma atividade tradicional como é a pesca. A
respeito disso, a proposta de Educação Ambiental para Gestão formulada por educadores do IBAMA afirma
que o processo de gestão do meio ambiente não deveria ocorrer pelo alto, onde só o Estado e os demais
órgãos fiscalizadores tomariam as devidas decisões, e sim que a coletividade também participasse desse
processo (QUINTAS, 2004).
A nova proposta de Educação Ambiental, portanto, pode contribuir para que os atores sociais que
vivem ou se beneficiam desse ambiente também contribuam no processo de gestão ambiental pública. De
forma geral, encontra-se de acordo com a Lei nº 9.795/99, que afirma entender a por educação ambiental:
os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem
de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. (BRASIL, 2011).

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Por sua vez, o projeto Mangue Sustentável tem origem em um conjunto de ações desenvolvido em
parceria com o IBAMA, iniciado em 2003. Neste período foram realizadas uma série de atividades
envolvendo professores e alunos do antigo CEFET, com profissionais do IBAMA no caso, com a bióloga Rosa
Maria Wekid Castelo Branco e a socióloga Maria de Lourdes Anunciação.
Com base nesta experiência foi elaborado o projeto intitulado Mangue Sustentável, que possuía
também a perspectiva de realizar um diagnóstico da comunidade pesqueira do manguezal de Gargaú,
incluindo como atividade de cunho de iniciação científica questões ligadas à saúde ambiental, cadeia
produtiva do pescado, ocupação espontânea e mapeamento dos principais impactos ambientais.
Desenvolvido ao longo de 2003, o projeto incluiu a elaboração de cartilhas de educação ambiental, além da
realização de trabalhos de campo, teatro, curso pré-vestibular social e atividades que mobilizaram a
comunidade em torno do manguezal.
Partindo dessa perspectiva de Educação Ambiental para Gestão, este artigo procura entender a
participação da comunidade de Gargaú no desenvolvimento do Projeto Mangue Sustentável, levando em
consideração a fala dos atores locais para a construção de novos sentidos para esta prática educativa.

METODOLOGIA
Para este artigo em particular, utilizou-se como método a História Oral, em sua vertente trajetórias
de vida, que aproveita o relato oral de pessoas que testemunharam fatos ou acontecimentos, onde por
meio de entrevista conseguirá obter informações necessárias para aproximação com o objeto de estudo
(GONÇALVES & LISBOA, 2007).
Neste sentido, foi realizada uma série de entrevistas com pessoas que participaram do Projeto
Mangue Sustentável, desenvolvido na comunidade de Gargaú e no Ibama em campos dos Goytacazes.
Dentre essas pessoas destacou-se Herval, que é comerciante de peixe e dono de estabelecimento de apoio
à atividade pesqueira, além disso, ele já foi pescador/catador de caranguejo. Ele participou do projeto com
a limpeza do manguezal, atividade esta que é desenvolvida até os dias atuais. Outra pessoa foi a ex-diretora
da escola municipal de Gargaú, onde o projeto foi executado; Erosita que é uma catadora de caranguejo,
que teve participação no teatro que retratava a dinâmica da comunidade; e por fim, Rosa Maria que é a
Superintendente do Ibama da Região. Cabe ressaltar, que estes não estavam expressando suas experiências
individuais, mas sim representando um grupo social.
Para realização das entrevistas, foi feito um trabalho de campo no dia 09/06/2011, na coleta dos
dados foi utilizado gravador de voz, que em uma entrevista qualitativa se torna algo indispensável para que
nenhuma informação fosse perdida. O próximo passo foi transcrever toda entrevista, respeitando todos os
pontos levantados pelos entrevistados e por fim, depois da transcrição das entrevistas, retornou-se ao
campo no dia 19/06//2011 para que os entrevistados conferissem todas as informações transcritas. Com
relação aos dados secundários, pode-se obter através de livros, artigos, periódicos e outros referentes a
tema.

ATORES SOCIAIS, CENÁRIOS ECOLÓGICOS E MOBILIZAÇÃO SOCIAL


Nesta parte do artigo, iremos transcrever, com base na trajetória de vida de quatro entrevistados, a
importância do manguezal para Gargaú e o trabalho desenvolvido pelo Projeto Mangue Sustentável.
Selecionados por atuarem ao longo do projeto, estes atores sociais possuem certa representatividade pela
experiência de vida desenvolvida na comunidade.
O depoimento obtido junto a Herval, um comerciante de peixes e de estabelecimento de apoio à
pesca, natural de Gargaú, foi realizado no seu próprio comércio. Possuindo toda sua trajetória de vida
ligada à comunidade, o ex-pescador, catador de caranguejo e comerciante acompanhou todo o processo de
dinamização das atividades extrativistas desenvolvidas na localidade (figura 1 e 2).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1282

com base na sua experiência de vida que


Herval nos conta a importância do ecossistema manguezal para a vida de Gargaú. Como é necessário no
método de História Oral realizar uma ligação entre a vida do entrevistado e os processos sociais (como a
caracterização econômica da comunidade), partimos sempre do relato das atividades desempenhadas pelo
comerciante para caracterizar a comunidade e a relação estabelecida pelos seus moradores com o
ecossistema manguezal.
Desta maneira, embora a economia de Gargaú hoje seja dinamizada pelo turismo e outros tipos de
serviços, quando os meios de transporte ainda eram escassos, a atividade extrativista era indiscutivelmente
central para a comunidade. A importância do Rio Paraíba do Sul no transporte de mercadorias e
consequente circulação monetária era notável pela utilização das pranchas, por exemplo, típica
embarcação da região, que permitia a navegação em águas interiores rasas, escoando a produção do sertão
para a cidade de Campos dos Goytacazes.
A dependência desenvolvida pela comunidade com o centro regional, Campos dos Goytacazes é
perceptível na fala do entrevistado, assim como a Atafona, comunidade vizinha a Gargaú, separada pela foz
do rio Paraíba do Sul, e hoje distrito do município de São João da Barra, mesmo anteriormente ao advento
da luz elétrica na comunidade (1972) e a entrada dos motores a combustão nos barcos de pesca (1960),
que dinamizaram a economia da pesca na comunidade ao introduzir, por exemplo, a refrigeração do
pescado.
Embora Herval afirme a importância da visão social, ele demonstra certa relativização no que
concerne a exploração de lenhas, muitas vezes desenvolvida para o cercamento das fazendas, que ao longo
dos anos, foram estendendo-se sobre antigas áreas de manguezal já devastado. É a partir desta perspectiva
que Herval elabora um trabalho de conservação dos mangues e de limpeza do canal de Gargaú, ponto de
ancoragem das embarcações pesqueiras, insistentemente poluído pelos próprios pescadores e frigoríficos
da comunidade, como alerta sempre o entrevistado.
Por outro lado, o depoimento obtido a Lidiane, ex-diretora da Escola Municipal de Gargaú, que a
época do projeto esteve envolvida nas atividades, contribui para entendermos as dinâmicas realizadas ao
longo do projeto. Desta maneira, a entrevistada nos relatou que o trabalho fora inicialmente realizado

João Pessoa, outubro de 2011


1283

junto aos professores, com consequente instrumentalização pedagógica sobre o trabalho de campo, ainda
mais quando desenvolvido dentro da comunidade. Embora o caso de alunos que desconheciam o
manguezal não fosse raro, a sensibilização por parte destes futuros cidadãos foi também destacada por
Lidiane.
Este tipo de dinâmica se deve, em primeiro lugar, também pelo efeito multiplicador que a
capacitação dos professores possui ante ao desenvolvimento do projeto somente pelos alunos do IFF,
permitindo, ainda, a extensão e continuidade do trabalho mesmo quando ao término do envolvimento dos
programas de extensão universitária.
A elaboração de uma cartilha contribuiu ainda mais para a sensibilização por parte das crianças (o
Colégio Municipal que Lidiane era diretora a época atende até hoje somente alunos do Ensino
Fundamental), aproximando o fator lúdico na Educação Ambiental, que segundo Lidiane, além de envolver
uma linguagem mais adequada, que pela utilização de recursos visuais, desperta o interesse pelas
atividades. Em concomitância a essas ações, trabalhos como a confecção de cartazes foram realizados no
Colégio Municipal.

Figura 3. Manguezal do estuário do rio Paraíba Figura 4. Formação de diques dentro do


do Sul. Fonte: própria. mangue. Fonte: própria.

s atividades como o teatro e o abraço na lagoa do


comércio, bem como sua limpeza, segundo a entrevistada, contribui ainda para uma mobilização que
desperta valores positivos para aquele espaço local, à medida que a questão ambiental integra a
comunidade.
Por sua vez, a entrevista com a Superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) Rosa Maria Wekid Castelo Branco incluiu o relato de sua
participação e da (falecida) socióloga Maria de Lourdes em projetos de Educação Ambiental na região. A
participação de Lourdes reveste-se ainda de uma importância maior por ser moradora de Atafona e o seu
envolvimento com a pesca.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1284

Nesse sentido, cabe ressaltar o trabalho que a Maria de Lourdes já desenvolvia na EMATER com os
catadores de caranguejo da região, onde a maioria destes é do sexo feminino, no projeto era feito a
confecção de artesanato, para complementação da renda no período do Defeso (que é a paralisação
temporária da atividade pesqueira, para reprodução das espécies). Neste contexto, com a vinda da Rosa
Maria e a Maria de Lourdes para o IBAMA, intensificaram o desenvolvimento destes projetos de educação
ambiental nas comunidades pesqueiras de Atafona e Gargaú, para preservação do manguezal.
Desta forma, entre os anos de 1985/86, houve a apresentação de um seminário para explicar para
as comunidades do estuário do Rio Paraíba do Sul a importância do manguezal para a região, o evento
aconteceu na colônia de pescadores de Atafona.
No que se refere à necessidade de se desenvolver projetos de educação ambiental na região está
relacionada com o processo de ocupação espontânea e desmatamento de grande parte do manguezal da
região. Com isso, em 2003, teve-se a iniciativa de cercar uma área dentro do manguezal para plantio de
mudas de mangue. No entanto, o IBAMA se opôs a esse projeto, pois seria um ato seria inconstitucional.
Com isso, o antigo Centro Federal de Educação Tecnológica de Campos (CEFET-Campos) – atual Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense (IFF-Campos) – começa a desenvolver um projeto de
educação ambiental na comunidade de Gargaú visando sensibilizar os moradores a preservar o manguezal,
este foi intitulado de Mangue Sustentável.
Outra pessoa entrevistada foi Erosita, uma catadora de caranguejo de Gargaú, que atua nessa
atividade desde os oito anos de idade e participou do Projeto Mangue Sustentável, e os seus relatos foram
de extrema importância para entendermos o que aconteceu nesta comunidade. Pode-se entender que o
manguezal de Gargaú serve para o sustento e alimento de muitas famílias, além de sua importância
ecológica, pois este também serve como berçário natural de muitas espécies, principalmente a fauna
pesqueira. No entanto, Erosita relata que no “tempo dos antigos” não havia uma preocupação por parte
dos moradores da comunidade em relação à preservação desse ecossistema. Contudo, ainda existia a
pressão da atividade agropecuária que estava se expandindo cada vez mais, extraindo madeira das árvores
de mangue para construção de cercas para criação de gado nesse ambiente costeiro. Pode-se perceber que
essa atividade continua a se desenvolver nesta área.
Como já foi mencionado, no “tempo dos antigos” não havia uma preocupação em preservar esse
ecossistema, com a extração madeira do mangue e a sobrepesca. Neste último caso pescava-se sem levar
em consideração o período de reprodução das espécies, onde se desconsiderava que os recursos
pesqueiros seriam finitos e que posteriormente poderiam fazer falta, colocando em xeque o futuro desta
atividade.
Erosita ainda relata a importância da atividade pesqueira para Gargaú, por mais que existam
atividades paralelas, como o comércio local e o crescimento da atividade turística. No entanto, o que move
a economia da comunidade é a pesca, por isso a relevância de se ter um projeto de educação ambiental
neste local, para mobilizar os moradores para preservar o manguezal, que é um ecossistema de extremo
valor tanto econômico quanto ecológico para a comunidade.
Nesse sentido, o Projeto Mangue Sustentável serviu para movimentar grande parte da comunidade
de Gargaú, que participaram das atividades desenvolvidas, principalmente do teatro elaborado pelos
alunos do antigo Centro Federal de Educação Tecnológica de Campos (Cefet-campos), além de um filme
que foi mostrado comparando manguezais de outras cidades com o de Gargaú. Neste momento, Erosita
expõe como foi marcante, pois começa-se a entender a importância daquele ecossistema para a
comunidade.
Com isso, pode-se entender a relevância de se desenvolver projetos de Educação Ambiental nesta
comunidade, e Erosita relata como foi prosaica essa mobilização da comunidade para preservar o
manguezal, já este serve de sustento e alimento para muitas famílias, levando em consideração ainda sua
importância para reprodução de diversas espécies, principalmente, da fauna pesqueira.

CONCLUSÃO
Ao longo do texto, procuramos levantar não somente o trabalho desenvolvido pelo Projeto Mangue
Sustentável, mas também, para afirmarmos através da fala de quem vivencia o espaço, a necessidade de se
desenvolver trabalhos de Educação Ambiental. A continuidade de práticas nocivas à própria economia
daquele território, como descrito pelos entrevistados, justifica a importância do trabalho, visto que a

João Pessoa, outubro de 2011


1285

Educação Ambiental manteria sua validade na promulgação de novas formas do homem se relacionar com
um determinado ecossistema.
Mesmo que não exista uma única maneira de se construir uma nova mentalidade ambiental –
como, por exemplo, aquelas desenvolvidas através da educação informal – partindo das considerações
elaboradas pelos entrevistados, nota-se que a inserção através das escolas possui uma validade na
promoção de relações mais sustentáveis do homem com a natureza, visto que leva em consideração o
preceito básico da Educação Ambiental para Gestão, que parte de uma perspectiva comunitária.

REFRÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Casa Civil. Lei nº 9795/99. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm>. Acesso em: 28/06/11.
GONÇALVES, Rita de Cássia; LISBOA, Teresa Kleba. Sobre o método da história oral em sua
modalidade trajetórias de vida. Rev. Katál. Florianópolis, v. 10, n. esp,. pp. 83-92, 2007.
QUINTAS, José Silva. Educação no processo de gestão ambiental: uma proposta de educação
ambiental transformadora e emancipatória. In: LAYRARGUES, Philippe Pomier (org). Identidades da
educação ambiental brasileira. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2004.
SOFFIATI, Arthur. Os manguezais do sul do Espírito Santo e do norte do Rio de Janeiro: com alguns
apontamentos sobre o norte do sul e o sul do norte. Campos dos Goytacazes, RJ: Essentia, 2009.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1286

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA SOCIEDADE CIVIL ORGANIZADA: O CASO DO


GRUPO DE INTERESSE AMBIENTAL – GIA, FORTALEZA/CE.
Autora: Rinara Maia LIMA.
Universidade Estadual do Ceará . Graduanda do curso de Bacharelado em Geografia.
E-mail: rinaramaia@gmail.com
Co-autora:Yvina da Silva NOGUEIRA.
Universidade Estadual do Ceará . Graduanda do curso de Bacharelado em Geografia.
E-mail: yvinanogueira@hotmail.com
Orientador: Ms. Francisco Gleison de Souza RODRIGUES.
Universidade Estadual do Ceará. Professor do curso de Geografia.
gleisongeo@yahoo.com.br

RESUMO
A Educação ambiental representa um instrumento de notável importância na luta contra a
crescente degradação do planeta. Nesse contexto, as entidades que compõem a Sociedade Civil Organizada
possuem papel fundamental para a preservação do meio ambiente, visto suas ações serem destinadas a
promover nos seres humanos, uma sensibilização para alcance da consciência ambiental. Este artigo tem
por finalidade compreender a atuação da Educação Ambiental na Sociedade Civil Organizada, ressaltando
sua contribuição para sensibilização e mobilização no âmbito da preservação ambiental, no caso específico
do Grupo de Interesse Ambiental - GIA. Visa conhecer os projetos e programas da instituição, além de
analisar a contribuição de tais atividades para preservação do ambiente. Esse trabalho for realizado através
de levantamento bibliográfico, pesquisa documental sobre a instituição, e observação “in loco”.
PALAVRAS-CHAVE: Educação Ambiental; Sociedade Civil Organizada; Grupo de Interesse Ambiental
– GIA.

1- EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A SOCIEDADE CIVIL ORGANIZADA


Na década de 1960 a Educação Ambiental foi discutida pela primeira vez na obra de Rachel
Carson, intitulada Silent Spring (A Primavera Silenciosa). Esta obra alertava sobre os efeitos danosos de
inúmeras ações humanas sobre o ambiente, e contribuiu para abrir espaço ao movimento ambientalista.
De acordo com SANTOS (2005, p.75) “A educação ambiental é um importante instrumento
de sensibilização em busca da consciência ambiental da população, podendo levar a mudanças de atitude e
à realização de ações em prol do ambiente, visando à preservação ou a conservação e buscando a melhoria
da qualidade ambiental”.
É essencialmente:
(…) interdisciplinar, orientada para a resolução de problemas locais. É participativa, comunitária,
criativa e valoriza a ação. É uma educação crítica da realidade vivenciada, formadora da cidadania. É
transformadora de valores e atitudes por meio da construção de novos hábitos e conhecimento. Criadora de
uma nova ética, sensibilizadora e conscientizadora para as relações integradas ser
humano/sociedade/natureza, objetivando o equilíbrio local e global, como forma de obtenção da melhoria da
qualidade de todos os níveis de vida. (GUIMARÃES, 1995)
Na Constituição Federal brasileira, a educação ambiental pode ser entendida como:
os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem
de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. (Lei nº 9.795/99, cap.1,
art. 1º).
Essa lei institui os objetivos da educação ambiental, sendo eles:
O desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e
complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos,
científicos, culturais e éticos; a garantia de democratização das informações ambientais; o estímulo e o
fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática ambiental e social; o incentivo à participação
individual e coletiva, permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente,
entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania; o

João Pessoa, outubro de 2011


1287

estímulo à cooperação entre as diversas regiões do País, em níveis micro e macrorregionais, com vistas à
construção de uma sociedade ambientalmente equilibrada, fundada nos princípios da liberdade, igualdade,
solidariedade, democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade; o fomento e o fortalecimento
da integração com a ciência e a tecnologia; o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e
solidariedade como fundamentos para o futuro da humanidade. (Lei nº 9.795/99, cap. 1, art.5º)
No entanto, a realização desses objetivos não depende apenas de ações governamentais,
bem como afirma MAIA et al. (2010, p. 361), que “a Educação Ambiental não se resume em
implantações de políticas públicas pelo Estado, mas também da responsabilidade ambiental de cada
membro da sociedade”.
Nesse contexto, a Sociedade Civil Organizada, se faz importante visto seu caráter
mobilizador, desenvolvendo papel fundamental na disseminação das questões ambientais no país.
O termo Sociedade Civil Organizada está relacionado ao conjunto de organizações formais
ou informais, que lutam pelas questões sociais e/ou ambientais, sendo considerada sinônimo de Terceiro
Setor.
Este último é composto por organizações que “visam a benefícios coletivos (embora não
sejam integrantes do governo) e de natureza privada (embora não objetivem auferir lucros)”. (BARBOSA,
2006 apud AGUIAR & SILVA, 2003). “Sendo representado por associações, organizações filantrópicas
beneficentes e de caridade, Organizações Não-Governamentais (ONGs), fundações privadas e Organizações
da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs)”. (LANDIM apud MENEGASSO, 1999).
No geral,
(…) As Associações são organizações baseadas em contratos estabelecidos livremente entre os
indivíduos para exercerem atividades comuns ou defenderem interesses comuns ou mútuos. As
Organizações filantrópicas, beneficentes e de caridades são organizações voltadas para seus clientes na
promoção de assistência social (abrigos, orfanatos, centros para indigentes, distribuição de roupa e comida
etc.) e de serviços sociais nas áreas de saúde e educação (colégios religiosos, universidades e hospitais
religiosos). As Organizações Não-governamentais (ONGs), são organizações comprometidas com a
sociedade civil, movimentos sociais e transformação social. As Fundações privadas são uma categoria de
conotação essencialmente jurídica. As Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs),
denominação instituída a partir da Lei n. 9.970/99, trata-se de um modelo de organização pública não
estatal destinado a absorver atividades publicizáveis (área de educação, saúde, cultura, meio ambiente e
pesquisa científica) mediante qualificação específica. É uma forma de propriedade pública não-estatal,
constituída pelas associações civis sem fins lucrativos orientadas para o atendimento do interesse público.
(LANDIM apud MENEGASSO, 1999).
Tratando especificamente de Organização Não-Governamental - ONG, pode-se dizer que
este termo foi primeiramente utilizado em 1950 pela Organização das Nações Unidas – ONU, com o intuito
de designar instituições da sociedade civil não vinculadas a um governo.
No Brasil, as ONGs tiveram surgimento na década de 60, no período do regime militar, e
fizeram parte da luta pela redemocratização do país. Na área ambiental, mais especificamente, as ONGs
começaram a ganhar maior visibilidade a partir da década de 90, devido a realização da Conferência das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento - CNUMAD, também conhecida como Rio-92,
onde se massificou as expressões “educação ambiental” e “desenvolvimento sustentável”.
Durante este evento várias organizações não-governamentais se reuniam em um Fórum
Paralelo de ONGs ou Fórum Global, que aprovou a Declaração do Rio (ou Carta da Terra), bastante
conhecida entre o movimento ambientalista.
Como principal resultado da CNUMAD tem-se a Agenda 21, que é um programa de ações
que é o documento mais abrangente no que se refere às questões ambientais, na tentativa de alcançar um
novo padrão de desenvolvimento, conciliando métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência
econômica.
O Capítulo 27 deste documento dedica-se ao “Fortalecimento do papel das organizações
não-governamentais: parceiros para um desenvolvimento sustentável”, ressaltando a importância do
trabalho das ONGs, dizendo que:
As organizações não-governamentais desempenham um papel fundamental na modelagem e
implementação da democracia participativa. A credibilidade delas repousa sobre o papel responsável e

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1288

construtivo que desempenham na sociedade. (...) possuem uma variedade de experiência, conhecimento
especializado e capacidade firmemente estabelecidos nos campos que serão de particular importância para a
implementação e o exame de um desenvolvimento sustentável, ambientalmente saudável e socialmente
responsável. (Capítulo 27 - Agenda 21, 2011)
A partir disso as ONGs ganharam força desempenhando um papel fiscalizador,
pressionando os governos de todo o mundo a cumprir as determinações da Agenda 21, além do seu papel
de informar, sensibilizar e mobilizar a sociedade na luta pela preservação do meio ambiente.
Nesse contexto o Grupo de Interesse Ambiental – GIA, vem atuando como Sociedade Civil
Organizada envolvida com a luta pelo meio ambiente.
2- O CASO DO GRUPO DE INTERESSE AMBIENTAL – GIA
O Grupo de Interesse Ambiental – GIA é uma ONG ambientalista, localizada no Centro da
cidade de Fortaleza/CE, informalmente criada em 1998 e registrada no ano de 2001, pela geógrafa Cláudia
Bezerra, tendo sido qualificada como OSCIP em novembro de 2010, pelo Ministério da Justiça Nº
08071.019053/2010-52.
A entidade tem como missão contribuir para o desenvolvimento ambiental, social, cultural,
educacional, turístico e esportivo de forma sustentável, buscando provocar uma reflexão sobre as ações e o
papel de cada um na construção de uma sociedade mais justa e na defesa do meio ambiente, através do
fortalecimento da sociedade civil.
Seus objetivos são informar e sensibilizar a população para o uso racional dos recursos
naturais, estimulando o intercâmbio de conhecimentos e experiências, por meio de ações e projetos
científico-educacionais; aplicar e divulgar metodologias e práticas sustentáveis em educação ambiental
para crianças, jovens, adultos, moradores de rua, comunidades com baixo Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) e educadores; contribuir para geração de pesquisas, através do acervo bibliográfico da
instituição; produzir documentos, estudos, projetos, programas e pesquisas.
O grupo é composto por educadores, pesquisadores, estudantes universitários e
voluntários, e mantem suas ações de maneira sistematizada, executando projetos e programas junto a
sociedade.
Estes possuem caráter diversificado, abrangendo desde a informação, sensibilização e
mobilização social, até atividades artísticas e de formação profissional, sempre voltados para a educação
ambiental.
Além disso, participa de vários Colegiados de Políticas Públicas do Estado do Ceará, sendo
alguns deles: a Comissão Interinstitucional de Educação Ambiental do Estado do Ceará – CIEA, desde 2002;
Comitê da Bacia Hidrográfica Metropolitana de Fortaleza/ Câmara Técnica de Meio Ambiente, desde 2003;
Comitê Estadual da Reserva da Biosfera da Caatinga – CERBC, desde 2004; Fórum da Agenda 21 de
Fortaleza, desde 2006. Além de ser membro julgador do Prêmio por Desempenho Ambiental da FIEC, desde
2008; e Prêmio Cearense de Melhoria da Qualidade do Ar – EconomizAR, pela Federações das Empresas
de Transporte Rodoviário do Ceará, Piauí e Maranhão – CEPIMAR, desde 2006.
Em relação aos Projetos e Programas que o GIA vem desenvolvendo podem ser destacados
o Projeto Vivência Ambiental, Projeto Da Rua Pra Cidadania, Projeto Cinema Socioambiental, Projeto
Cultura Ambiental na Empresa, Projeto Preserve Uruaú, Projeto Energia Empreendedora Pode Crer,
Programa Eco-Voluntários, Programa Treinamento e Desenvolvimento – T&D, Programa de Promoção e
Organização de Eventos.

2.1- PROJETOS
2.1.1- Vivência Ambiental
O Projeto Vivência Ambiental, antes intitulado como Projeto Girino, nasceu no Centro
Educacional Luzardo Viana – CNEC no município de Caucaia em 1999 a 2000 atendendo 2.000 (dois)
participante, mas desenvolvidos com alunos da CNEC e sem envolvimento com a comunidade.
Desde 2004 implantou-se o Projeto Girino em Fortaleza inicialmente na Escola Espaço Vivência no
bairro do Henrique Jorge, periferia de Fortaleza, e depois na Escola de Ensino Fundamental Airton Sena,
com 50(cinquenta) crianças e adolescentes dos bairros de Henrique Jorge, Genibaú e Autran Nunes, todos
situados na periferia de Fortaleza. Realizava atividades aos sábados á tarde, desenvolvendo ações de

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1289

recreação, aula de campo e lazer, as quais envolviam a comunidade escolar e seu entorno. Em 2007, passou
a ser chamado Projeto Vivência Ambiental.
Em junho de 2010 foi implantado na Escola de Ensino Fundamental e Médio Luiza Távora –
Promorar, no bairro Tancredo Neves, localizado na periferia de Fortaleza. Atendendo 75(setenta e cinco)
crianças e adolescentes, aos sábados pela manhã. Acrescentou ainda oficinas ecopedagógicas de artes
plásticas; Eco-conversas com os temas: Lixo, Água, Consumo Consciente e biodiversidade (bioma Caatinga);
campanhas educativas nas ruas, residências e escola; aulas de campo envolvendo Unidade de Conservação
(APA e Parque de Fortaleza), zoológicos e visitas a espaço cultural. Agregou, em suas ações, o Projeto
Cinema Socioambiental ou Cine Club – CineGIA para formação de platéia critica, debatendo os problemas
socioambientais e culturais locais no intuito de provocar mudança da postura e hábitos ambientais

2.1.2- Da Rua Pra Cidadania


O Projeto Da Rua Pra Cidadania é desenvolvido, desde 2007, com moradores de rua e catadores de
material reciclável no centro de Fortaleza. È uma proposta que visa resgatar a auto-estima dessas pessoas,
por meio do diálogo, da espiritualidade, educação, esporte, lazer e da alimentação saudável.
Os encontros são realizados às quartas-feiras, no período noturno, atendendo uma média
de 20 (vinte) pessoas a cada encontro. Quinzenalmente, há exibição de filmes de auto-estima, religioso,
comédia e documentários, através do Projeto Cinema Socioambiental / CineGIA. A cada ultimo sábado do
mês, durante a manhã, são realizadas atividades de esporte e lazer, sendo servido café da manhã e almoço,
além de serem disponibilizados banheiros para banhos.
É importante salientar que em 2010 esse projeto contou com parceria do Programa Brasil
Alfabetizado, do Governo Federal, onde foram alfabetizados (quinze) alunos.

2.1.3- Cinema Socioambiental / Cine GIA


Este projeto realiza mostras de filmes (curta, média e longa metragem) e documentários
voltados para as temáticas ambientais, objetivando estimular atividades em educação ambiental, por meio
da linguagem audiovisual numa prática construtiva do processo de gestão participativa, levando o
desenvolvimento da sustentabilidade do território. O projeto atende crianças, jovens e adultos, atuando
também, em outros projetos da instituição.
Foi implantado em 2007, contemplado com o edital da seleção pública do Ministério da
Cultura - MinC do Ponto Difusão Digital – PDD em 2006, renomeado em 2009 de Cine Mais Cultura. Em
2009 o projeto participou da 1ª mostra do Circuito Tela Verde do Ministério de Meio Ambiente - MMA em
parceria com o Ministério da Cultura – MinC.
Em 2010, o Cine GIA iniciou na produção de documentário, com o curta-metragem “Icaraí em
Ruínas”, produzido em parceria com a produtora independente Anabola Filmes, fazendo parte da 2ª mostra
do Circuito Tela Verde do Ministério do Meio Ambiente - MMA.
No inicio deste ano foi inserido o personagem “Palhaço Limpinho”, no intuito de promover debates
mais descontraídos, e chamar ainda mais a atenção dos participantes.

2.1.4- Cultura Ambiental na Empresa


O projeto teve atuação apenas no ano de 2010, na Empresa Moda Conjugal, a qual esta localizada
na cidade de Fortaleza e atua no setor têxtil. As ações pretendiam desenvolver a Gestão Ambiental, a
Educação Ambiental, Segurança de Trabalho, Quadro do Bem Estar, no intuito de reduzir o desperdício na
empresa, levando os funcionários a assumirem a responsabilidade socioambiental, além de contribuir para
a melhoria do ambiente de trabalho.
As ações realizadas foram Levantamento de Aspectos e Impactos Ambientais- LAIA, Ginástica
Laboral / Biodança, Oficinas de artes plásticas, Cinema Socioambiental e Teatro de Bonecos.

2.1.5- Preserve Uruaú.


Este projeto desenvolve ações de Educação Social e Ambiental na Praia do Uruaú, a qual faz parte
da APA da Lagoa do Uruaú, localizada no município de Beberibe, litoral leste do Estado do Ceará, visando à
conscientização da população local e freqüentadores da área em uma prática preservacionista do
ecossistema, na perspectiva da melhoria da qualidade de vida e do equilíbrio ambiental.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1290

Está em atuação desde o início de 2011, realizando ações com caráter de informação, sensibilização
e mobilização da sociedade, como Mutirão de Limpeza da Praia, Blitz Ambiental, Cine GIA itinerante, Curso
de Multiplicadores Ambientais, Oficinas de Reciclagem, Feira Ecológica e Palestras Socioambientais.

2.1.6- Pode Crer.


O projeto nasceu da idéia de reduzir os resíduos sólidos existentes na Região Metropolitana de
Fortaleza (RMF) advindos de descarte de lona de banner e comunicação visual de outdoor, lonas de malote,
embalagens tetra pack, garrafas PET, Papel Jornal e sobra de tecido.
Com este projeto objetiva-se promover a ampliação das oportunidades de trabalho e
geração de renda para jovens, homens e mulheres carentes do Estado do Ceará, através da produção de
eco-artesanto, utilizando a Política dos 3 R’s (Reciclar, Reutilizar e Reduzir).

2.2- PROGRAMAS:
2.2.1- Programa Eco-voluntários
Este programa funciona desde a criação do GIA e está pautado na Lei nº. 9.608 de 18 de Fevereiro
de 1998, conhecida informalmente como lei do trabalho voluntário. Sendo importante ressaltar que o
voluntariado traduz a essência da instituição.
O projeto visa desenvolver as habilidades dos voluntários, através da ética profissional e ambiental,
colocando em prática os conhecimentos adquiridos nas instituições de ensino superior. Dessa maneira
promove a cidadania e estimula o desenvolvimento de uma sociedade participativa e a prática de valores
humanos.
No início de 2010, a instituição tinha 41 (quarenta e um) voluntários de várias faculdades,
universidades e cursos técnicos da cidade de Fortaleza e região metropolitana.

2.2.2- Treinamento e Desenvolvimento – T&D


Desde 2002, este programa desenvolve cursos que visam a formação profissional ambiental, como
os cursos de Pedagogia Ambiental, Metodologia e Praticas em Educação Ambiental, Condutor de Trilhas
Ecológicas, Organização de Eventos, e Oficinas de Reciclagem. Além de palestras e Fóruns voltados para a
sensibilização da sociedade em prol da causa ambiental.

3- CONCLUSÃO
Desde a década de 90, com o fortalecimento do Terceiro Setor e das causas ambientais, a
Sociedade Civil Organizada tem contribuído significativamente na luta socioambiental, tanto pelo seu papel
de informar, sensibilizar e mobilizar a sociedade, quanto por pressionar os governos a atuarem pela
preservação do ambiente, como por exemplo, através da participação efetiva em Colegiados de Políticas
Públicas.
Sendo assim, o Grupo de Interesse Ambiental – GIA faz parte de Comissões, Comitês,
Fóruns e outros, engajados na luta social e ambiental em Fortaleza – CE, sensibilizando a população para o
uso racional dos recursos naturais, estimulando o intercâmbio de conhecimentos e experiências, por meio
de ações e projetos científico-educacionais e da aplicação e divulgação de metodologias e práticas
sustentáveis em educação ambiental para crianças, jovens, adultos, moradores de rua, comunidades com
baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e educadores. Contribui também, para a geração de
pesquisas, documentos, estudos, projetos e programas.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Agenda 21 (2011) [on-line]. Disponível em: http://www.ambiente.sp.gov.br/agenda21.php.
Acesso em 18/07/2011.
BARBOSA, G. G. O terceiro setor e a defesa do meio ambiente: possibilidades de atuação
jurisdicional. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, 35, 01/12/2006 [on-line]. Disponível em
http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=1552. Acesso
em 18/07/2011.
BRASIL, Lei nº 9.790, de 23 de março de 1999. Dispõe sobre a qualificação de pessoas jurídicas de
direito privado, sem fins lucrativos, como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, institui e

João Pessoa, outubro de 2011


1291

disciplina o Termo de Parceria, e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil,
Poder Executivo, Brasília, DF, 24.3.1999.
GUIMARÃES, M. A dimensão ambiental na educação. Campinas: Papirus Editora,1995.
LANDIM, L. Para Além do Mercado e do Estado? Filantropia e Cidadania no Brasil, série TEXTOS DE
PESQUISA, Rio de janeiro: ISER, junho de 1993.
LEI nº 9608, de 18 de Fevereiro de 1998. Dispõe sobre serviço voluntário e dá outras providências.
[online]. Disponível em: www.jusbrasil.com.br/legislacao/109379/lei-9608-98. Acesso em: 28 de julho de
2011.
LEI nº 9795, de 27 de Abril de 1999. Dispõe sobre Educação Ambiental,institui a Política Nacional de
Educação Ambiental e dá outras providÊncias. [online]. Disponível em:www. leidireto.com.br/lei-9795.html.
Acesso em: 28 de julho de 2011.
MAIA, J. A.; BEZERRA, C. M. S.; SOARES, R. C.; ROCHA, G. M.; OLIVEIRA, M. M. N. Da teoria à praxis
da educação ambiental: estudo de caso da comunidade do parque Genibaú - Fortaleza/Ceará. In:
Anais... I Congresso Brasileiro de Educação Ambiental Aplicada e Gestão Territorial, 2010. Disponível em
http://www.4shared.com/dir/aBEqbG5_/I_CONGRESSO_BRASILEIRO_DE_EDUC.html. Acesso
em 18/07/2011.
SANTOS, M. T. Consciência Ambiental e Mudança de atitude. 2005.Dissertação (Mestrado em
Engenharia de Produção) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. UFSC, Florianópolis.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM DUAS COMUNIDADES DA ZONA SUL DE


PORTO ALEGRE – RS.
Rita Paradeda MUHLE
Orion Ambiental Ltda. Bacharel e Licenciada em Ciências Biológicas pela PUCRS. Pós -Graduanda em Biodiversidade e
Conservação da Fauna pela UFRGS.
rpmbio@hotmail.com
Marta Machado KRAEMER
Orion Ambiental Ltda. Bacharel e Licenciada em Ciências Biológicas pela PUCRS.
martykbio@yahoo.com.br

RESUMO
Projeto de Educação Ambiental com abordagem visando sensibilização e re-conexão
homem/natureza dos moradores de duas comunidades vulneráveis de Porto Alegre. O público alvo desta
parte do projeto, que terá duração de um ano, são educandos de duas escolas de educação infantil uma
escola de ensino fundamental, dois postos de saúde e a população do local. As atividades descritas foram
realizadas entre janeiro e julho de 2011. O projeto é executado pela empresa Orion Ambiental Ltda e
financiado pelo Empreendimento Alphaville como condicionante de licenciamento exigida para novos
empreendimentos em Porto Alegre pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente. As atividades e oficinas
são benefícios que as comunidades do entorno podem absorver. Os encontros com as escolas foram
semanais e tiveram faixa etária variada de acordo com a atividade. As visitas para a aplicação do
questionário sócioambiental também foram realizadas semanalmente. Os encontros ainda ocorrerão até
início de 2012. Foram criados vínculos que são fortalecidos a cada novo encontro.
PALAVRAS-CHAVES: Comunidades, Educação Ambiental, Oficinas, Sensibilização.

INTRODUÇÃO
A cidade de Porto Alegre, através de seus governantes e da própria comunidade, sempre se
preocupou com as questões ambientais e durante muito tempo foi pioneira em ações a respeito do meio
ambiente e Educação Ambiental. Exemplos disso são a Fundação da Associação Gaúcha de Proteção ao
Ambiente Natural (AGAPAN), declarada de Utilidade Pública Municipal e Estadual, com caráter de uma
Associação Civil de Defesa do Meio Ambiente; e da criação da Secretaria Municipal do Meio Ambiente
(SMAM), que é o órgão executivo responsável pela proteção do sistema natural e pelo controle da
qualidade ambiental no município.
Visando criar medidas de proteção ao meio ambiente, a Prefeitura de Porto Alegre
implementou medidas para controlar as atividades que cercam uma grande cidade e estão intimamente
ligadas aos processos de desenvolvimento. Uma destas medidas é a solicitação da Condicionante Ambiental
exigida aos empreendimentos de investirem em ações de Educação Ambiental.
Dentro deste contexto, comunidades existentes no entorno de grandes empreendimentos
podem ser beneficiaadas com projetos de Educação Ambiental e outras melhorias locais. Quando estas
comunidades apresentam um perfil sócioambiental vulnerável, este benefício pode ser ainda maior, pois o
projeto visará atender as realidades locais e compartilhar conhecimentos que permitam uma melhoria na
qualidade de vida.
Retratado aqui neste artigo estão os relatos de um projeto desta categoria realizado em
duas comunidades de situações vulneráveis na zona sul de Porto Alegre: Campos do Cristal e Campo Novo.
Estas duas comunidades apresentam realidades muitas vezes divergentes, pois a zona que se encontram
ostenta grandes empreendimentos, moradias e assentamentos, de programas da Prefeitura Municipal de
Porto Alegre.
Essas comunidades foram mapeadas para desenvolvimento do projeto por já serem atendidas
através da Fundação AlphaVille, que trabalha o desenvolvimento sócio-ambiental das comunidades
próximas ao empreendimento através de Projetos de Geração de renda, que buscam qualificar os saberes
populares (neste caso específico, confecção de massas artesanais), na lógica da economia solidária e
empreendedorismo popular, capacitando 20 mulheres com todas as normativas para o preparo e

João Pessoa, outubro de 2011


1293

comercialização de alimentos, dentro da legislação vigente. Essa qualificação busca integrar a produção
local de forma competitiva no mercado, sem perder a tradição construída localmente.
A Educação Ambiental deve ser utilizada como uma ferramenta que trabalhe de acordo com
situações reais e faça os moradores percebrem suas responsabilidades ambientais.
Paulo Freire confirma dizendo,
“A grande generosidade está em lutar para que, cada vez mais, essas mãos, sejam de homens ou de
povos, se estendam menos, em gestos de súplica. Súplica de humildes a poderosos. E se vão fazendo, cada
vez mais, mãos humanas, que trabalhem e transformem o mundo. Lutando pela restauração de sua
humanidade estarão, sejam homens ou povos, tentando a restauração da generosidade verdadeira (1987).”
Genebaldo Dias (2003, p. 523) diz, “Educação Ambiental é um processo permanente no
qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem conhecimentos,
valores, habilidades, experiências e determinação que os tornem aptos a agir e resolver problemas
ambientais, presentes e futuros”.
A comunidade do entorno do Campos do Cristal foi construída com o intuito de abrigar, pelo
processo de reassentamento, moradores vindos de diversos locais inapropriados de Porto Alegre. Os
loteamentos foram sendo ocupados em diversas fases diferentes, sendo que as primeiras ocupações
possuem mais de dez anos e o último lote possui apenas três.
A comunidade Campo Novo apresenta um perfil bem heterogênio, com moradias de estruturas do
mais alto padrão até pobreza extrema. O local possui diversos pontos de comércio e uma alta circulação da
população e tráfego de veículos.

METODOLOGIA :
O projeto, realizado em duas comunidade em situação vulnerável da zona sul de Porto Alegre (RS),
é financiado pelo Empreendimento Alphaville, mediante a Condicionante Ambiental exigida pela Prefeitura
do Município para desenvolvimento de ações em Educação Ambiental para a autorização da construção de
um empreendimento no entorno. A execução do projeto é realizada pela empresa Orion Ambiental Ltda,
através de uma equipe de biólogas.
Com duração de um ano (janeiro de 2011 a janeiro de 2012), participam três instituições de ensino,
sendo duas escolas de educação infantil e uma de ensino fundamental, além de dois postos de saúde
destas comunidades.
As atividades aqui relatadas foram executadas no período de janeiro a julho de 2011 nas escolas de
educação infantil, ensino fundamental e comunidade.
Em acordo com as equipes diretivas destas escolas, o público de educandos foi escolhido de acordo
com a disponiblidade para a realização das oficinas (visando não atrapalhar a grade horária curricular), e a
faixa etária compatível com as atividades.
Concomitantemente as oficinas e encontros, é realizada a aplicação do questionário sócioambiental
com visitas as residências das comunidades. Também contamos com a parceria do Centro de Educação e
Informação Ambiental da Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Porto Alegre com a apresentação de
teatro que aborda temas da Educação Ambiental.
Abaixo estão detalhadas as atividades que já foram realizadas:
1) Jardim das Dobraduras: Origamis feitos com jornal para elaboração de painel representativo
sobre o meio ambiente. Inserção do homem como parte integrante da natureza. Construção de elementos
naturais (sol, nuvens) e construídos (barcos), bem como diferentes grupos animais e vegetais (pássaros,
flores). Pode ser trabalhada com os educandos da Educação Infantil, pois já possuem a psicomotricidade
necessária para a realização das dobraduras e com auxílio dos educadores finalizam com sucesso a
atividade. Ainda se pode trabalhar o conceito de reaproveitamento de materiais recicláveis, pois neste caso
se utiliza o jornal ai invés de papel para dobraduras.
2) Quadro de Mandalas: A confecção do quadro de mandalas proporciona uma prática onde
crianças, jovens e adultos podem expressar suas concepções de beleza ao escolherem as cores com que
irão pintar os desenhos e ao pintarem devem concentrar pensamentos em coisas boas, como se seu
desenho fosse um talismã. A natureza apresenta lindas paisagens e os mais diferentes tipos de beleza.
Viver em um ambiente harmonioso e belo proporciona as pessoas uma melhor qualidade de vida e como

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1294

consequência seus cuidados ambientais aumentam. A beleza das mandalas coloridas conduz a uma
sensiblização que visa tentar promover a reconexão homem/natureza.
3) Bebedouros e Comedouros: Confecção de bebedouros e comedouros para pássaros com caixas
de leite vazias tem como objetivo principal propiciar a construção de um vínculo dos educandos com os
animais na medida em que podem observar seu comportamento e fornecer alimento e água para os
pássaros. Aqui pode ser trabalhada a questão da reciclagem, pois as embalagens de leite ganham outra
função depois de recortadas e decoradas pelas crianças. Atividade adaptada de Dohme e Dohme (2002, p.
33 e 37).
4) Biodança: A oficina de Biodança consiste em uma dança circular com as crianças e educadoras e
visa proporcionar atividades de alongamente e aquecimento, além de um momento afetuoso.
5) Sementeira: A confecção de semeteiras com copos de iogurtes também pode ser vista como uma
prática de reciclagem, pois os copos viram pequenos vasos. Aqui também as crianças trabalham o ciclo de
vida da planta, pois irão acompanhar seu desenvolvimento. Atividade adaptada de Legan (2009, p. 104).
6) Alimentação Orgânica: A importância e os benefícios do consumo de alimentos livres de insumos
agrículas como inseticidas e agrotóxicos pode ser trabalhado já na Educação Infantil com atividades mais
lúdicas, como por exemplo a brincadeira de adivinhar qual o legume que está escondido dentro de caixas
apenas através do toque. No Ensino Fundamental já podemos trabalhar um filmes educativos sobre o tema
e em todos os níveis podemos elaborar receitas de alimentos com cascas de frutas, como por exemplo o
bolo com cascas de bananas. Atividade adaptada de Legan (2009, p. 60).
7) Palestras sobre a problemática dos resíduos: Atividade ressaltando a necessidade da destinação
correta dos resíduos gerados por nós e os problemas que a destinação inadequada pode trazer para as
comunidades. A temática ainda conta com o auxílio de uma brincadeira de separação dos resíduos em
secos, orgânicos e especiais.
8) Formação para educadores da escola de ensino fundamental sobre Ecologia Humana e Educação
Ambiental: Atividade de fundamentação teórica e dinâmicas de sensibilização para auxiliar os educadores
nos trabalhos escolares.
RESULTADOS PRELIMINARES
Através de pesquisas sócioambientais pudemos perceber diferentes perfis desta comunidade, onde
sentimentos de pertencimento, cuidados e apego foram melhores identificados nos locais onde os
moradores estão há mais tempo e vieram acompanhados dos antigos vizinhos (fortalecimento grupal).
Jardins bem cuidados, vasos com flores, pintura das casas em dia, e pátio e ruas limpos são bons indicativos
disso. Naqueles lotes onde as comunidades foram transplantadas de maneira desmembrada, o descuido
com o ambiente, através do descarte inapropriado de resíduos e a falta de manutenção e limpeza das casas
foi mais evidenciado.
Resultado das oficinas e palestras:
1) Jardim das Dobraduras: Esta atividade foi realizada nas duas escolas de educação infantil, aqui
representadas por Escola “A” e Escola “R”. Os educandos eram integrantes do Jardim A e B. A oficina teve a
duração de 50 minutos.

Fig ra 1: Jardim das Dobraduras na Escola “A”.


Fonte: Marta Machado Kraemer.

João Pessoa, outubro de 2011


1295

Fi ura 2: Jardim das Dobraduras na Escola “R”.


Fonte: Marta Machado Kraemer.

2) Quadro das Mandalas: O quadro foi contruído por educandos do escola de ensino fundamental.
Os adolescentes tinham entre onze e quatorze anos. A atividade teve duração de 1 hora e 30 minutos.

Fig ra 3: Quadro das Mandalas – Escola de ensino


funadamental.
Fonte: Marta Machado Kraemer.

Fig ra 4: Quadro das Mandalas – Escola de


ensino fundamental.
Fonte: Rita Paradeda Muhle.
3) Bebedouros e Comedouros: Oficinas realizadas nas duas escolas de educação infantil com os
educandos dos Jardins A e B. Esta atividade foi realizada em dois dias, sendo que o primeiro encontro foi

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1296

dedicado para a decoração das caixas de leite (devidamente limpas e recortadas), com duração de 50
minutos; e no segundo encontro colocamos a comida para passarinhos e a água, e fixamos no pátio os
comedouros e bebedouros.

Fig ra 5: Primeiro encontro para a decoração das


caixas de leite – Escola “A”.
Fonte: Marta Machado Kraemer.

Fig ra 6: Segundo encontro para a finalização dos


comedouros e bebedouros – Escola “A”.
Fonte: Marta Machado Kraemer.

João Pessoa, outubro de 2011


1297

Fig ra 7: Segundo encontro para a finalização dos comedouros e


bebedouros – Escola “R”.
Fonte: Marta Machado Kraemer.
4) Biodança: As oficinas de biodança foram realizadas nas duas escolas de educação infantil com os
educandos dos Jardins A e B. Sua duração foi de 1 hora, sendo finalizada com um desenho criado pelas
crianças do momento mais interessante do encontro para elas.

Fig ra 8: Biodança na Escola “A”.


Fonte: Marta Machado Kraemer.

Fig ra 9: Biodança na Escola “R”.


Fonte: Marta Machado Kraemer.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1298

5) Sementeiras: As oficinas foram realizadas nas duas escolas de educação infantil com educandos
dos Jardins A e B. Cada criança fez sua própria sementeira, podendo ter contato com a terra e plantando
uma semente. Também confeccionaram uma pequena placa com seus nomes. A atividade durou cerca de
50 minutos.

Fig ra 10: Sementeira na Escola “A”.


Fonte: Rita Paradeda Muhle.

Fig ra 11: Sementeira na Escola “R”.


Fonte: Rita Paradeda Muhle.

6) Alimentação Orgânica: A oficina realizada chama-se “Alimento no Escuro” e consistia em


adivinhar qual o alimento escondido nos potes através do toque. A atividade foi realizada nas duas escolas
de educação infantil com os Jardins A e B. Foram utilizados dois legumes (chuchu e berinjela) e uma fruta
(coco). A duração das oficinas foi de 50 minutos.

João Pessoa, outubro de 2011


1299

Fig ra 12: Alimento no Escuro na Escola “A”.


Fonte: Rita Paradeda Muhle.

Fig ra 13: Alimento no Escuro na Escola “R”.


Fonte: Marta Machado Kraemer.

7) Palestras sobre a problemática dos resíduos sólidos Realizada para alunos do ensino
fundamental, a atividade ainda contou com uma brincadeira sobre a separação correta dos resíduos secos,
orgânicos e especiais. A duração da atividade foi em torno de 1 hora e 30 minutos.

Fig ra 14: Palestra sobre problemática dos


resíduos para educandos do ensino fundamental.
Fonte: Marta Machado Kraemer.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1300

Fig ra 15: Brincadeira de separação dos resíduos


com educandos do ensino fundamental.
Fonte: Marta Machado Kraemer.

8) Palestra sobre Ecologia Humana e Educação Ambiental: Atividade realizada para formação de
educadores da escola de ensino fundamental sobre Ecologia Humana e Educação Ambiental. A oficina teve
duração de 3 horas.

Fig ra 16: Formação dos esducadores da escola de


ensino fundamental.
Fonte: Marta Machado Kraemer.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os encontros nos permitiram a criação de vínculos com as duas comunidades e neste contexto,
especialmente com as crianças e adolescentes. Ainda serão realizadas atividades específicas para os
moradores das comunidades como palestras sobre qualidade de vida, a importância do descarte correto
dos resíduos e outros assuntos referentes a Educação Ambiental. Também serão realizadas oficinas de
fabricação de xaropes caseiros naturais e xampús contra piolhos. Para o sucesso destas ações contaremos
com o apoio dos postos de saúde.
O projeto pode ser enquadrado como a oportunidade de comunidades do entorno de grandes
empreendimentos se beneficiarem com ações de Educação Ambiental em diversas esferas. A Educação
Ambiental eficaz em comunidades que vivenciam situações vulneráveis, sejam ambientais e/ou sociais deve
levar em conta a necessidade de facilitar o proceso de aquisição e pertencimento do territorio. Para que
surjam as primeiras preocupações com as questões ambientais, os moradores devem desenvolver
sentimentos de apego e pertencimento ao lugar.
Pretendemos que ao final deste ano de trabalho, as comunidades se sintam fortalecidas de
maneira intra e interpessoal, assim os cuidados com o ambiente em que habitam serão parte de um
proceso natural.
Genebaldo Dias sintetiza nossas ambições:

João Pessoa, outubro de 2011


1301

“A Educação Ambiental deve promover a percepção das pessoas. Já passamos do período da coleta
seletiva, da horta, das semanas da água. Tudo isso são apenas elementos de gestão. A Educação Ambiental
precisa trabalhar na área da emoção, das reconexões com a Terra, com a vida. Perceber-se que se vive na
superfície de uma esfera com recursos limitados e captar a magnificência dos processos que permitem que
a vida se manifeste [...] Precisamos compreender as bases de sustentação da vida, a aventura de se estar
vivo, compreender suas entranhas, seus processos, o acoplamento dos sistemas, as interdependências [...]
Descobrir que somos parte de um todo. Viver valores, fomentar a ética, a contemplação, a calma, a alegria.
Restaurar as forças da vida. Viver de forma a voltar a ter vida. Isso é evolutivo, é desafiador, é utópico, mas
desejável (2008).”

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DOHME, Vania; DOHME, Walter. Ensinando a criança a amar a natureza. São Paulo: Informal
editora, 2002.
DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: princípios e práticas. 8.ed. São Paulo: Gaia, 2003.
DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: uma escolha de vida. Disponível em :
http://www.revistaea.org/artigo.php?class=08&idartigo=581 Acesso em: 05 de junho de 2011.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 9 ed., Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1981,
LEGAN, Lucia. A escola sustentável : ecoalfabetizando pelo ambiente. 2. ed. Pirenópolis : Ecocentro
IPEC, 2009.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1302

A VISITA A UM LIXÃO PARA DESPERTAR A CIDADANIA


Roberta Carneiro de Albuquerque VEIGA
FAP – PI. rcaveiga@hotmail.com (discente)
Maria de Lourdes Rocha Lima NUNES
DMTE/CCE/UFPI. lurdinhanunesufpi@yahoo.com.br (docente)
Micaías Andrade RODRIGUES
DMTE/CCE/UFPI. micaias@ufpi.edu.br (docente)

RESUMO
Produzidos em todos os estágios da vida humana, desde o nascimento até a melhor idade, os
resíduos, em termos tanto de composição como de volume, variam em função das práticas de consumo e
dos métodos de produção. Sendo assim, a realização do presente trabalho teve como objetivos principais
trabalhar conceitos de Meio Ambiente na formação do técnico de enfermagem, através de uma estação de
tratamento de resíduos sólidos, focando a importância do indivíduo para a prevenção de doenças e
conscientizar que a preservação do Meio Ambiente é essencial para a qualidade de vida e manutenção da
saúde das pessoas. A presente pesquisa foi realizada com estudantes do curso técnico de enfermagem no
município de Recife – PE, em uma aula prática no Aterro Sanitário da Muribeca, a 25 km de Recife. Através
dessa prática pedagógica os alunos puderam aprender sobre a importância da coleta e do tratamento do
lixo, tanto para evitar a proliferação de doenças, como para manter a saúde do meio ambiente e, como
consequência, manter também a sua própria saúde, tornando-se profissionais mais qualificados,
conscientes e responsáveis. É de grande importância a realização de práticas sociais e culturais que
diminuam o impacto causado ao meio ambiente. Por isso, iniciativas na área da educação ambiental são
necessárias e o grande desafio que se coloca para os cidadãos, as empresas e os governos é buscar
implementar um conjunto de medidas, diretrizes, propostas, projetos e ações no sentido de promover a
utilização do lixo como uma prática sócio-econômica sustentável.
Palavras-chave: Resíduos sólidos. Técnicos de Enfermagem. Cidadania.

ABSTRACT
Produced in all stages of human life from birth to better age, the waste, both in terms of
composition and volume vary depending on the practices of consumption and production methods.
Therefore, the realization of this work had as main objectives to work on concepts for the Environment in
the training of nursing technicians through a treatment plant, focusing on the importance of the individual
for the prevention of diseases, and aware that the preservation Environment is essential to the quality of
life and maintaining health. This research was conducted with students of the technical course of nurse in
the city of Recife - PE, in a practical class in the Muribeca Landfill, 25 km from Recife. Through this teaching
practice students could learn about the importance of collection and waste treatment, both to prevent the
spread of diseases, such as to maintain the health of the environment and, consequently, also maintain
their own health, becoming most qualified, conscientious and responsible. Great is the importance of the
realization of social and cultural practices that minimize the impact to the environment. Therefore,
initiatives in the area of environmental education are necessary and the great challenge posed to citizens,
companies and governments is to seek to implement a set of measures, policies, proposals, projects and
actions to promote the use of waste as a practical socio-economic development.
Keywords: Solid waste. Nurse technicians. Citizenship.

INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas a sociedade tem estabelecido uma relação com a natureza de vários
questionamentos da parte de ecologistas, pesquisadores, ONGs e órgãos públicos, que tenta a todo
instante alertar sobre os vários impactos ambientais causados pelas diversas atividades econômicas e
estilos de vida da população, que por conta da exploração intensiva dos recursos naturais, colocam em
risco a própria existência humana (HESS, 2002b).

João Pessoa, outubro de 2011


1303

O acúmulo de lixo é um fenômeno exclusivo das sociedades humanas. Em um sistema natural não
há lixo: o que não serve mais para um ser vivo é absorvido por outros, de maneira contínua. No entanto,
nosso modo de vida produz, diariamente, uma quantidade e variedade de lixo muito grande, ocasionando a
poluição do solo, das águas e do ar com resíduos tóxicos, além de propiciar a proliferação de vetores de
doenças (HESS, 2002a; SILVA, 2006).
A composição do lixo urbano depende do porte do município e dos hábitos da população, entre
outros fatores, sendo que as proporções encontradas na literatura giram em torno de 65% de matéria
orgânica, 15% de papel e papelão, 7% de plásticos, 2% de vidros, 3% de metais - materiais com alta
reciclabilidade - e o restante se divide entre outros materiais, como trapos, madeira, borracha, terra, couro,
louça - com baixo potencial para a reciclagem - e materiais com potencial poluidor, como pilhas, baterias e
lâmpadas fluorescentes (BOFF, 2004; CAPRA, 2002).
A questão agora é agir, iniciar uma ação na raiz do problema, tirar do papel e colocar em prática o
que se é proposto e ecologicamente correto. O ser humano não pode viver individualmente. Ele precisa e
necessita dos recursos à sua volta. A tendência é um dia tudo acabar e o que estamos fazendo é acelerando
esse fim (NOVAES, 2009).
Wallace (1978) explica que o lixo acumula-se porque é, momentaneamente, mais barato jogar fora
garrafas, carros usados e velhos refrigeradores do que restituí-los ao uso. O estrume acumula-se nas
fazendas, porque o fertilizante artificial é mais barato de comprar e usar; transportar o estrume para os
campos e espalhá-lo exige um trabalho custoso. Os resíduos industriais são lançados nos rios ou no ar
porque são subprodutos indesejáveis de um empreendimento comercial que, como visa o lucro, busca
minimizar custos (BARBIERE, 1997).
Os números impressionam: a produção de lixo doméstico no Brasil passou de 200 kg por
habitante/ano em 1960 para 540 kg em 2000, o que representa 1,5 kg por dia, quantidade modesta se
comparada aos 5 kg diários produzido pelos norte-americanos: campeões mundiais de consumismo.
Quando multiplicadas pelo número de habitantes, tais quantidades se tornam assustadoras (EQUIPE
PLANETA, 2006).
O mais impressionante é o ritmo acelerado com que a população mundial está crescendo. Os quase
sete bilhões de indivíduos produzem 30 bilhões de toneladas de lixo por ano, os 300 milhões de americanos
são os que mais consomem e mais poluem. Como se livrar de todo esse lixo? A Educação Ambiental seria
uma solução, pois a mesma é capaz de transformar, moldar e influenciara a sociedade a ponto de assumir
um novo comportamento diante do meio ambiente (ALMEIDA; MAIA, 2002; BRASIL, 2006; MASCARENHAS,
2008).
O Aterro Sanitário da Muribeca conhecido popularmente por Lixão da Muribeca é um dos locais do
mundo que recebem esses resíduos produzidos diariamente pela população. O Lixão da Muribeca começou
as suas atividades em 1985. O mesmo recebe diariamente 1.900 toneladas diárias de lixo apenas do Recife,
dentre eles estão os resíduos sólidos, lixo doméstico e comercial como pode ser verificado na figura 1.

Figura 1. Lixo
recebido no Aterro da Muribeca.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1304

Em sua estrutura física possui tratamento de chorume, não possui central de triagem e é
responsável pelo sustento total ou parcial de quase 3.000 catadores. Na figura 2 podemos ver o panorama
geral do Aterro Sanitário e na figura 3 a presença dos catadores no mesmo.

igura 2: Panorama geral do Aterro.

Figura 3. Catadores
no Aterro da Muribeca

Sendo assim, a realização do presente trabalho teve como objetivos principais trabalhar conceitos
de Meio Ambiente na formação do técnico de enfermagem, através de uma estação de tratamento de
resíduos sólidos, focando a importância do indivíduo para a prevenção de doenças; e conscientizar que a
preservação do Meio Ambiente é essencial para a qualidade de vida e manutenção da saúde das pessoas.

METODOLOGIA
O presente trabalho foi realizado durante a disciplina de Higiene e Profilaxia, que faz parte da
matriz curricular do curso técnico em enfermagem, de uma escola localizada em Recife-PE. Durante o
decorrer dessa disciplina trabalhou-se diversos conceitos de higiene e um dos vários conceitos abordados
foi o de higiene ambiental, ministrado através de uma aula prática no Aterro Sanitário da Muribeca,
localizado na Estrada da Muribeca, em Jaboatão dos Guararapes a 25 km do município de Recife – PE, como
mostra a figura 4.

João Pessoa, outubro de 2011


1305

Figura 4: Localização do
Aterro Sanitário da Muribeca.

RESULTADOS
Nessa aula de campo os alunos conheceram a estação de tratamento de lixo e tiveram a
oportunidade de refletir sobre a importância da coleta e do tratamento do mesmo, tanto para evitar a
proliferação de doenças, como para manter a saúde do meio ambiente e como consequência manter
também a sua própria saúde. Com isso, os técnicos adquiriram conceitos que ajudaram na sua formação
profissional, além de se tornarem melhores cidadãos, entendendo a relevância do Meio Ambiente para a
saúde e sobrevivência humana.
A visita ao Aterro Sanitário mostrou-se impactante e a exposição em que os catadores convivem
trouxe reflexões para os futuros técnicos em enfermagem para tomarem maior cuidado com os materiais
aos quais serão expostos, visando, com isto, minimizar contato com materiais com resíduos biológicos ou
simplesmente com objetos perfuro-cortantes.

CONCLUSÃO
Os conceitos adquiridos durante essa prática pedagógica foi de grande importância para a
formação profissional dos técnicos de enfermagem, pois foi possível conhecer, na prática, algumas razões
das causas de muitas doenças que os mesmos irão se deparar na sua futura jornada de trabalho, bem como
no seu dia a dia, e que estão presentes nos seus livros de estudos. Puderam conhecer também uma das
causas que estão levando a degradação do Meio Ambiente e tiveram o conhecimento que essa degradação
está influenciando na sua qualidade de vida e da humanidade, além de proporcionar-lhes uma experiência
impactante e marcante, contribuindo para o aumento dos seus conhecimentos e tornando-os profissionais
mais qualificados, conscientes e responsáveis.

REFERÊNCIAS
ALMEIDA, R. C.; MAIA, S. M. C. B. Lixo: a poluição nossa de cada dia. Monografia (licenciatura em
ciências) – Departamento de Ciências, Universidade Estadual do Ceará, 2002.
BARBIERI, J. C. Desenvolvimento e meio ambiente: as estratégias de mudança da Agenda 21.
Petrópolis: Vozes, 1997.
BRASIL. Atlas da Economia Solidária no Brasil 2005. MTE/SENAES: Brasília, 2006.
BOFF, L. Ecologia: grito da terra grito dos pobres. Rio de Janeiro: Sextante, 2004.
CAPRA, F. As conexões ocultas: Ciência para uma vida sustentável. Tradução Marcelo Brandão
Cipolla, 2ª ed. São Paulo: Ed. Cultrix, 2002.
EQUIPE PLANETA. 5 ameaças à vida na Terra: aquecimento global, biodiversidade, água, petróleo,
lixo. Revista Planeta, set. 2006, p. 42 – 53.
HESS, S. Educação Ambiental. 2ª ed. Campo Grande: Ed. UFMS, 2002a.
HESS, A. Exploração e produção. Nova Iorque: 2002b. Disponível em:
<http://www.hess.com/downloads/reports/annual/2002/exp_production.html>. Acesso em: 26 jul. 2011.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1306

MASCARENHAS, A. D. Importância da Educação Ambiental para uma sociedade sustentável. Rio de


Janeiro: 2008. Disponível em: <http://www.artigonal.com/ciencia-artigos/importancia-da-educacao-
ambiental-para-a-sociedade-sustentavel-629825.html>. Acesso em: 10 out. 2010.
NOVAES, M. O que é gestão de resíduos sólidos e qual a relação com o técnico em segurança do
trabalho? São João del-Rey: 2009. Disponível em: <http://mauriciosnovaes.blogspot.com/2009/08/o-que-e-
gestao-de-residuos-solidos-e.html>. Acesso em: 26 jul. 2011.
SILVA, M. Z. O meio ambiente e o lixo da comunidade de Maria Dias no município de Limoeiro do
Norte. Monografia (Especialização em Meio Ambiente) – Centro de Ciências da Saúde, Universidade
Estadual do Ceará, 2006.
WALLACE, B. Biologia Social – a humanidade: suas necessidades, ambiente, ecologia. Tradução de:
Luiz Roberto Tommasi, Lídia Aratangy. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1978.

João Pessoa, outubro de 2011


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O QUE A CIÊNCIA DIZ SOBRE OS ANIMAIS


Robson Antônio Garrido MACHADO
Faculdade Frassinetti do Recife (FAFIRE)
robson-garrido@ig.com.br Biólogo/Aluno do Curso de Especialização em Educação Ambiental

RESUMO
O presente artigo trata a questão da valorização e respeito à vida, tendo como base a filosofia dos
Direitos dos Animais. Busca esclarecer e orientar as atuais e futuras gerações quanto à responsabilidade
social de cada um, pois ao ensinarmos uma pessoa a não maltratar um animal e sim, respeitá-lo,
provavelmente ela entenderá que não temos o direito de fazer outros seres vivos, humanos ou não,
sofrerem para satisfazer nossos desejos, prazeres, luxo ou conveniência. As diversas formas de cultura e a
senciência animal, vêm aproximando ainda mais os animais humanos dos não-humanos. Sendo assim, uma
criança que aprende a respeitar e valorizar o bem-estar de um animal, crescerá com menos preconceitos e
um maior entendimento sobre o valor da vida, qualquer ela que seja.
Palavras chave: Animais. Senciência animal. Bem-estar animal.

ABSTRACT
The present article deals with the appreciation and respect for life, based on the philosophy
of Animal rights. Seeks to clarify and guide the current and future generations about the social
responsibility of each one, because if one is taught to respect an animal instead of mistreat it, she
probably understand that we don’t have the right to make other living beings, human or not, suffer to
satisfy our desires, pleasures, luxury or convenience. The various forms of culture and the animal sentience
have been approaching even more the human and not-human animals. This way, a child that learns how to
respect and valorize the animal welfare will become a less discriminating adult and will have a better
understanding of the value of life, whatever it be.
Keywords: Animals. Animal sentience. Animal welfare.

1. Introdução
Na visão de Chuahy (2009), muitos filósofos, historiadores e ativistas atribuem às religiões
ocidentais pelo menos parte da tradição de explorar os animais em favor do homem. O judaísmo e o
cristianismo, principais religiões do Ocidente, justificam a subjugação dos animais.
Segundo a Bíblia, a primeira parte do Gênesis descreve como Deus, depois de criar as outras
espécies, fez o homem à sua imagem e semelhança para “dominar os peixes do mar, as aves do céu, os
animais domésticos e todo réptil que se arraste sobre a Terra” (GÊNESIS, 1:28).
A humanidade vem interpretando essa passagem da Bíblia de forma equivocada, como se Deus
permitisse que o homem explorasse o mundo natural de qualquer maneira, passando assim uma imagem
de superioridade. É evidente que somos a espécie mais inteligente, consequentemente adiquirimos direitos
e deveres, mas isso não nos dá a condição de usarmos outras espécies como se fossem nossas
propriedades, fazendo delas o que bem entendermos, encaradas como seres desprovidos de razão,
emoção e alma. (BROWNE, 2010)
Aristóteles, Santo Agostinho e São Tomás de Aquino acreditavam que os animais não tinham alma e
portanto, seria impossível para os humanos cometer qualquer pecado contra eles. Para Aristóteles, os
animais desfrutavam da função sensitiva, mas não da racionalidade, sendo inferiores aos humanos na
hierarquia natural.
O islanismo (a terceira religião baseada na ideia de Abraão) também acredita que o homem é
especial e que os animais foram criados para servi-lo; apesar de algumas interpretações do Alcorão
afirmarem que os homens não devem maltratar animais e que estes possuem um certo nível de
racionalidade. Na Idade Antiga e na Idade das Trevas a Igreja também condenava a dissecação de
cadáveres humanos, por isso estudos anatômicos eram feitos em animais.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1308

Mais tarde, no século XVIII, iluministas como Descartes concluíram que os animais não tinham
consciência e assim eram incapazes de sentir dor ou de pensar, reforçando a idéia cristã de que animais são
mental e espiritualmente vazios.
Outro filósofo que levava em consideração o bem-estar do animal, Voltaire (1764), ratificou com
grande eloqüência à conclusão de Descartes de que os animais eram apenas máquinas.

2. Nascimento do Movimento pelos Direitos dos Animais


Segundo Chuahy (2009), o movimento moderno para a defesa dos animais se originou em
1824 com a criação da Society for the Prevention of Cruelty to Animals (Sociedade para Prevenção da
Crueldade com Animais), na Inglaterra, mas só começou a ganhar força em 1970 quando um grupo de
filósofos da Universidade de Oxford decidiu investigar por que o status moral dos animais não-humanos era
necessariamente inferior ao dos seres humanos. Por que é errado matar animais humanos, mas não
animais não-humanos? Em 1972, um dos participantes do grupo, Richard D. Ryder, contribui para o livro
Animals, Men and Morals: An Inquiry into Maltheatment of Non-humans (Animais, homens e moral: uma
investigação sobre o maltrato de não-humanos). Logo depois, em 1975, o filósofo australiano Peter Singer,
hoje considerado um dos pais do movimento, publicou o livro Liberação Animal, que teve impacto
internacional e inspirou debates e inúmeras publicações sobre o assunto.
Na visão de Maraschim (2009), em relação aos direitos animais, parece ocorrer no Brasil um
fenômeno no mínimo curioso: a partir do surgimento de importante aparato legislativo protetivo dos
animais, especialmente a partir de 1988, ocorre um processo tardio de conscientização social sobre os
direitos dos mesmos. É a típica situação da lei tentando modificar comportamentos profundamente
enraizados.

2.1 Animais na indústria do entretenimento


De acordo com Chuahy (2009), não há problema em jogar bola no parque com um cachorro,
ensiná-lo a fazer truques para ganhar uma comidinha especial ou brincar de puxar uma meia velha com um
gatinho. A conexão entre homens e animais é enorme, e eles podem ser companheiros divertidos, desde
que a diversão seja para ambos. Animais só devem participar das brincadeiras que possam se divertir. Mas
esta regra moral está sendo violentada ao extremo, ora por ignorância do público, que não sabe realmente
o que se passa, ora pelo sadismo do homem, que gosta de ver de perto o sofrimento do animal.

2.2 Zoológicos, circos e aquários são prisões para animais


Zoológicos, circos e aquários são prisões para animais e, portanto, não deveriam existir. Os
animais podem ser observados em seu hábitat de forma controlada e sem interferência humana,
conservando-os por meio da criação de reservas e esforços para a proteção ambiental. Só devem ser
mantidos em cativeiro quando for para seu próprio bem, e não para o bem-estar e interesse dos homens.
Hoje, a existência desses estabelecimentos é justificada para: (1) entretenimento, (2) educação, (3)
pesquisa científica e (4) preservação de espécies.
2.3 Animais em zoológicos

“Muitos zoológicos são vistos como instituições científicas de estudo e preservação. Não se
pode negar que grandes conquistas se devem a esforços feitos por essas instituições.” (CHUAHY, 2009, p.
88).
Para Chuahy (2009), a idéia do zoológico moderno como modelo para a preservação de
espécies e educação não é ruim, mas a maioria das instituições atuais está longe disso. Mas, na realidade,
aprende-se muito mais assistindo ao National Geographic e a programas de televisão sobre a vida animal
do que indo ao zoológico. Existem várias maneiras de educar, muito mais interessantes e interativas para
adultos e crianças do que visitar um macaco entediado sentado numa jaula.

2.4 A vida de animais de circo


O circo nasceu em 1770 na Inglaterra, e era especializado em cavalos. Em 1831 introduziram-se
animais africanos no Cirque Olimpique de Paris. Mais tarde, o americano Isaac Van Amburgh inventou o estilo

João Pessoa, outubro de 2011


1309

do circo moderno, com apresentações como aquela em que o domador coloca a cabeça dentro da boca do
leão. O “treinamento” dos animais era simples e pode ser comparado ao tratamento dado aos escravos:
espancá-los até que ficassem totalmente submissos diante de um chicote (CHUAHY, 2009, p.77).

A situação dos circos continua muito parecida. Os animais são forçados a andar de bicicleta,
atravessar círculos de fogo e ficar de cabeça para baixo durante espetáculos. Para treinar piruetas, eles
passam a vida inteira presos em jaulas sujas e apertadas, sendo maltratados. Levam uma vida miserável.
São constantemente espancados, chicoteados, eletrocutados, e sofrem também abusos psicológicos.
Somente em 1980, organizações de proteção ao animal começaram a documentar os maus-tratos, torturas,
fome e negligência no tratamento de animais em circos. No Canadá, em 1982, surgiu o primeiro circo sem
eles, o Cirque Du Soleil, famoso no mundo inteiro. No Brasil, nas cidades de Atibaia, Alvaré, Campinas,
Cotia, Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Leopoldo, Sorocaba e Ubatuba, não se encontram animais em
circos. Além do Cirque Du Soleil, há mais circos no mundo que não trabalham mais com animais; no Brasil,
o ator Marcos Frota criou o Marcos Frota Circo Show: Grande Circo Popular do Brasil. Em vez de animais,
apresenta números com trapézio, evoluções acrobáticas em cordas e tecidos, malabaristas, cama elástica,
contorcionismo, rituais de fogo, saltos, cômicos, ilusionismo e outros (CHUAHY, 2009).

2.5 Os objetivos dos aquários


Para Chuahy (2009), em teoria, aquários devem funcionar como centros de pesquisa,
educação e conservação. Infelizmente, vários são utilizados para fins lucrativos e entretenimento. O
transporte desses animais e os métodos usados para capturá-los, muitas vezes lhes causam sofrimento e
morte. É cruel e condenável tirar animais de seu hábitat, prendê-los e subjugá-los ao confinamento,
desconforto e isolamento para exibi-los em aquários. A intenção é o simples entretenimento do público,
não atende a nenhum programa da preservação da espécie.

2.6 O entretenimento por meio de touradas e vaquejada


As touradas espanholas, conhecidas no mundo inteiro como um “esporte” que mostra a
bravura e coragem do homem, causam a morte de 30 mil touros todos os anos. Na verdade, as touradas
não deveriam sequer ser consideradas esporte ou competição. Qualquer esporte pressupõe que seus
competidores tenham a chance de ganhar honestamente. Um esporte em que um lado, o touro, sempre
perde não pode ser considerado como tal. Touradas são proibidas no Canadá, Estados Unidos e Grã-
Bretanha, mas ainda são populares em Portugal, França e parte da América Latina (CHUAHY, 2009).
A vaquejada é um esporte surgido no Brasil que consiste em dois vaqueiros montados em
cavalos perseguindo um boi para derrubá-lo. A vitória dos vaqueiros acontece quando o boi está no chão,
com as quatro patas para cima, sendo arrastado brutalmente. Durante a “brincadeira”, de extrema
crueldade, os bois sofrem luxações e hemorragias internas (CHUAHY, 2009).

3. Senciência animal
Conta nosso conhecimento atual que, em algum momento há cerca de quatro bilhões de
anos , certas moléculas adquiriram a capacidade de se multiplicar e, a partir destas moléculas, começou a
história da vida no planeta Terra. Também sabemos, a partir de nossa experiência pessoal, que o ser
humano tem sentimentos: é capaz de sentir raiva, compaixão, medo e felicidade. Assim, em algum
momento na evolução das espécies, surge a capacidade de sentir. Talvez somente os animais de alta
complexidade biológica, como ser humano, tenham adquirido esta capacidade; entretanto, a senciência
pode ter evoluído há muito tempo e estar distribuída de maneira mais ampla através das espécies animais
(DARWIN, 2009).
Na opinião de Bekoff (2010), muitos animais demonstram os seus sentimentos
abertamente, em público, para quem quiser ver. E, quando prestamos atenção, o que vemos externamente
revela muito a respeito do que acontece dentro da cabeça e do coração de um indivíduo. Pesquisas
científicas meticulosas estão confirmando o que já sabemos intuitivamente: os animais sentem, e as
emoções são tão importantes para eles quanto as nossas o são para nós.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1310

Os animais podem ser sensíveis e afinados conosco, e como essa sensibilidade incita gestos
cujo propósito é nos confortar. A questão é: “O que faz com que os animais sejam tão perceptivos a
respeito da nossa situação e das nossas necessidades?”
Na opinião de Kreisler (2005), em primeiro lugar, os animais têm emoções – profundas e
intensas emoções que são grandes aglomerados de sentimentos. Os animais não sentem as coisas apenas
ocasionalmente; a maior parte do tempo, eles se comportam num forte nível emocional. Durante um lapso
de tempo de apenas dez minutos, um cão pode ir de uma alegria extrema – você está em casa! – para uma
tristeza extrema – hoje não tem passeio? – e daí para uma nova alegria extrema – comida! Os sentimentos
dos animais regem as suas vidas – e têm tudo a ver com a escolha deles de fazer o bem.
Por que estudar a senciência animal? Porque sem uma convicção da senciência, não podemos
estudar bem-estar animal. Sendo um estado mental, bem-estar somente pode existir em seres sencientes.
Então, por que não deixamos todas essas difíceis questões de lado? Porque as respostas são importantes se
quisermos evoluir na forma como tratamos os animais, de modo a causar menos sofrimento. Qual a
importância de não causar o sofrimento alheio? Qual a importância, para qualquer indivíduo, de não
sofrer?
Para Bekoff (2010), às vezes é mais fácil ver e entender emoções em animais do que em seres
humanos porque não filtram as suas emoções. O que eles sentem fica estampado na cara deles, torna-se
público por meio do rabo, das orelhas e dos odores, e é demonstrado pelas suas ações. As emoções dos
animais são cruas e exibidas para quem quiser ver, ouvir, cheirar e sentir. Qualquer um pode percebê-las.
Para alguns, como o carteiro, isso é uma necessidade profissional.

3.1 Quais animais são sencientes?


Molento (2009), alega que em face da recente reorganização da classificação do reino
animal, torna-se relevante refletir em primeiro lugar sobre o que é um animal. Existe evidência que a vida
na Terra já existia 3,5 bilhões de anos atrás. Nossos ancestrais tornaram-se pluricelulares há cerca de 900
milhões de anos. Nós humanos temos uma multidão de parentes mais distantes fora do reino animal, os
quais são similares aos animais em alguns aspectos, tais como a capacidade de se mover no meio ambiente
e o fato de se alimentarem de outros organismos. Estes parentes distantes eram classificados como animais
até muito recentemente. Entretanto, as novas evidências genéticas sugerem uma nova taxonomia.
Organismos unicelulares tais como amebas, flagelados e ciliares deixam de ser considerados animais.

4 O bem-estar dos animais


Na opinião de Molento (2006), algumas vezes, ao falar sobre bem-estar animal, vem à tona a
pergunta: e o bem-estar dos pernilongos e das baratas? Deixada de lado a pitada de provocação
intencional, ao buscar respostas para a dúvida legítima que temos sobre quais animais devem receber
proteção de sofrimento, a distribuição da senciência no reino animal torna-se assunto importante. Será que
estamos certos ao matar as pulgas do nosso cachorro? Será que estamos certos ao matar ratos
sistematicamente? Será que a forma como matamos esses animais importa?
Existe um consenso na literatura científica de que há três esferas que compõem o bem-
estar animal: bem-estar físico, bem-estar comportamental e bem-estar psicológico. “O bem-estar físico
está baseado na saúde física e na boa alimentação. O bem-estar comportamental refere-se à possibilidade
de um animal exercer os comportamentos naturais de sua espécie: um pássaro ter motivação para voar,
um porco para fuçar e assim por diante. O bem-estar psicológico relaciona-se com as situações de
predominância de sentimentos positivos. Estas três esferas do bem-estar estão intimamente relacionadas.
Para diagnosticar bem-estar animal, existem diferentes possibilidades, todas baseadas em parâmetros
fisiológicos e indicadores comportamentais.” (MOLENTO, 2011).

4.1 Estresse
De acordo com Bekoff (2010), grande parte das pesquisas sobre animais é conduzida em
cativeiro, onde os animais muitas vezes vivem estressados. Os animais estressados não se comportam
como indivíduos não estressados e, principalmente, quando se trata de emoções e comportamento animal,
as informações coletadas a partir de animais ansiosos ou entediados não têm muito a dizer sobre o
comportamento normal de indivíduos da mesma espécie. A cientista Françoise Welmelsfelder observou

João Pessoa, outubro de 2011


1311

que o termo “tédio” é muitas vezes usado para interpretar o comportamento anormal de animais que
vivem permanentemente em pequenas gaiolas enfadonhas.
A palavra estresse deve ser utilizada para descrever aquela porção do bem-estar pobre que
se refere à falência nas tentativas de enfrentar as dificuldades. Se os sistemas de controle que regulam a
homeostasia corporal e as respostas aos perigos não conseguem prevenir uma alteração de estado, além
dos níveis toleráveis, atingi-se uma situação de importância biológica diferente.
As pesquisas que estressam e machucam os animais muitas vezes produzem dados incorretos, que
dificultam a descoberta de respostas para muitas questões nas quais estamos interessados. Mas podemos
aprender muito examinando os cérebros em funcionamento por meio de métodos que minimizam o stress
nos animais ou seres humanos estudados (BEKOFF, 2010, p.161).

De acordo com Kreisler (2005), também é lógico concluir que os animais têm sentimentos
parecidos com os nossos, porque eles respondem de modo muito semelhante ao nosso às drogas que
ingerimos para lidar com problemas emocionais. Cães estressados deixam se sentir palpitações, de ganir e
de caminhar compassadamente quando tomam a droga BuSpar, que combate a ansiedade nos seres
humanos. Cavalos nervosos confinados em estrebarias param de se morder quando tomam Naltrexone,
uma droga receitada para fazer as crianças pararem de machucar a si mesmas. Pássaros que ficam tão
agitados que arrancam as próprias penas – do mesmo modo que certas pessoas arrancam seus cabelos
devido a uma enfermidade chamada tricotilomania – deixam de ter esse comportamento obssessivo-
compulsivo quando tomam Prozac; aumentando o nível de serotonina no cérebro, traz calma e sensação de
bem-estar nos seres humanos.

5. A cultura dos animais


Para o senso comum, cultura possui um sentido de erudição, uma instrução vasta e variada
adquirida por meio de diversos mecanismos, principalmente o estudo. Não podemos dizer que um índio
que não tem contato com livros, nem com música clássica, por exemplo, não possui cultura. Onde ficam
seus costumes, tradições, sua língua?
Há quase 50 anos, na pequena ilha de Koshima, no Japão, Imo, um jovem macaco que gostava de
batata- doce, teve um insight que mudaria para sempre o hábito alimentar da sua espécie. Num dia de
setembro de 1953, ele não levou a batata diretamente à boca, como faziam todos os outros animais.
Ninguém sabe ao certo se ele percebeu que a terra suja desgastava seus dentes. Ou se ele achou mais
saboroso comer ela limpa. O fato é que Imo começou a lavar a batata antes de comer, como faria qualquer
dona-de-casa. No começo, ele apenas mergulhou a batata num pequeno braço d’água que corria em
direção ao mar. Depois, aperfeiçoou a técnica: enquanto afundava a batata na água com uma das mãos,
aproveitava a outra para retirar a lama mais aderente. Três meses depois, dois amigos dele começaram a
fazer o mesmo e o hábito se espalhou pelos irmãos mais velhos, foi repetido pelas mães, numa espécie de
reação em cadeia. Em anos, mais de três quartos dos jovens da espécie lavavam as batatas exatamente
como Imo (CAVALCANTE; MAROJA, 2002).
Para Cavalcante e Maroja (2002), a descoberta de Imo pode parecer banal, mas obrigou os
cientistas a reverem para sempre a forma como viam os animais e a espécie humana. Para os
pesquisadores, a capacidade de Imo transmitir uma nova técnica para outras gerações é uma das provas de
que alguns animais também têm um dom que era considerado exclusivo do homem: a cultura. Nesse caso,
cultura não significa a capacidade para escrever obras literárias ou pinturas cubistas. Cultura é um
comportamento transmitido socialmente, que não é adquirido individualmente nem geneticamente, é algo
que se aprende com os outros, como a técnica de lavar batata dos macacos japoneses.

6. Conclusão
A ética do respeito pela vida reconhece que, atualmente, o ser humano se encontra na
impossibilidade de evitar o sacrifício de outras vidas para sua própria sobrevivência. Sendo a vida moderna
e a pós-moderna o que são, estamos todos, até mesmo os mais inocentes dentre nós, implicados, direta ou
indiretamente, pelos produtos que compramos, pela alimentação, pelos impostos e taxas que pagamos,
pelos políticos - homens e mulheres - em que votamos e aos quais damos o poder de agir e de decidir em
nosso nome. Certamente, compramos tais produtos inocentemente. Mas mesmo se fazemos tudo isso,

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1312

colaboramos forçosamente com o sistema, cujos meios de acesso que conduzem à exploração intensiva
dos animais, ou que vêm desta última, são múltiplos e, às vezes, desconhecidos.

7. Bibliografia
ALCOCK, John. Comportamento animal: uma abordagem evolutiva. Coordenação da tradução:
Eduardo Bessa Pereira da Silva; revisão técnica: Regina Helena Ferraz Macedo. 9. Ed. – Porto Alegre:
Artmed, 2011.
BEKOFF, Marc. A vida emocional dos animais: alegria, tristeza e empatia nos animais: um estudo
científico capaz de transformar a maneira como os vemos e os transformamos. Tradução Denise de C. R.
Delela. – São Paulo: Cultrix, 2010.
BROWNE, Sylvia. O céu dos bichos: a vida espiritual dos animais que amamos / Sylvia Browne;
(tradução Daniela P. B. Dias). São Paulo:Ideia e Ação, 2010.
CAVALCANTE, Rodrigo e MAROJA, Rodrigo. Animais, eles também têm cultura. Revista Super
Interessante. São Paulo, nº 179, 2002.
CHUAHY, Rafaella. Manifestos pelos direitos dos animais. Rio de Janeiro: Record, 2009.
DARWIN, Charles. A Origem das Espécies. Tradução John Green. São Paulo: Martin Claret, 1ª
Reimpressão 2009.
GIRARDI, Giovana. Inteligência Animal. Revista Super Interessante. São Paulo, nº 209, 2005.
KREISLER, Kristin Von. A bondade nos animais: histórias verdadeiras de animais que preferem fazer
o bem. Tradução Newton Roberval Eichemberg. São Paulo: Cultrix, 2005.
MARASCHIM, Cláudio. O Direito dos Animais e o Judiciário. Disponível em:
http://submissoes.al.rs.gov.br/index.php/estudos_legislativos/article/viewFile/20/33. Acesso em: 30
outubro 2010.
MARQUEZI, Dagomir. Instinto Animal. Revista Super Interessante. São Paulo, nº 180a, set. 2002.
MOLENTO, Carla Forte Maiolino. Animais, Doutrina e Espirtualidade. Revista Espiritismo & Ciência.
São Paulo, nº 01, 2011.

João Pessoa, outubro de 2011


1313

RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL UNIVERSITÁRIA EM


COMUNIDADES RURAIS DO MUNICÍPIO DE IBIMIRIM, PERNAMBUCO107
Rodrigo Cândido Passos da Silva
Estudante de Engenharia Agrícola e Ambiental
Pesquisador do Grupo Gestão Ambiental em Pernambuco (Gampe)
Universidade Federal Rural de Pernambuco
rodrigo.candido.passos@hotmail.com
Lucas Chagas
Engenheira Agrícola e Ambiental e Pesquisadora Gampe/UFRPE
lucaschagas@ambiente.eng.br
Soraya Giovanetti El-Deir
Profª. da UFRPE e Pesquisadora Líder do Gampe
sorayaeldeir@pq.cnpq.br

RESUMO
Responsabilidade Socioambiental Universitária é a maneira como as Universidades relacionam-se
com o meio ambiente e os "stakeholders". Suas atividades estão sustentadas na promoção socioambiental
com princípios éticos e no desenvolvimento social, equitativo e sustentável, para a produção e transmissão
de saberes a fim da formação de cidadãos igualmente responsáveis. As comunidades rurais do semi-árido
apresentam graves problemas no campo da produção e do abastecimento, no paradigma ecológico e na
conservação dos recursos naturais, além de distorções no plano sócio-econômico. O município de Ibimirim,
em Pernambuco, configura-se nesse perfil e encontra-se na área onde o Índice de Desenvolvimento
Humano é o menor registrado em todo o país. Nesta perspectiva, o Grupo de Gestão Ambiental em
Pernambuco vem desenvolvendo três ações denominadas de Páscoa Solidária, Leitura Solidária e o Natal
Solidário na Comunidade de Poço da Cruz, situada no município de Ibimirim, com a finalidade de elevar a
consciência ambiental da população e o grau de articulação entre a comunidade acadêmica e a população
em geral, por meio de ações integradas de ensino/aprendizagem e extensão rural. O presente artigo visa
retratar estas ações a luz da educação ambiental em comunidades rurais de Pernambuco.
Palavras-Chave: Educação Ambiental. Semiárido. Ruralidade.

INTRODUÇÃO
A contemporaneidade tem-se voltado para uma reavaliação de valores humanos, fazendo-se uma
revisão das ações humanas (ROKEACH, 1973) na atualidade. Para Gouveia et al. (2003) há uma tendência
cooperativa, definida pelo coletivismo, que mostra que o grupo onde a pessoa se encontra inserida é de
maior importância do que a própria pessoa em si. “Esse tipo de orientação ressalta principalmente o
cumprimento das obrigações com os demais, no sentido de seguir a orientação do grupo de pertença”,
sendo o modo de viver mais direcionado à sociedade (GOUVEIA & VIDAL, 1998).
O termo “Social” é assim entendido como o que pertence a sociedade ou têm em vista as suas
estruturas ou condições (SOCIAL, 1998). Quem opta por se direcionar aos demais, assume padrões de
valores sociais onde é indispensável manter um nível de harmonia entre os diversos atores da sociedade de
um contexto específico (GOUVEIA et al., 2003). O termo “Responsabilidade Social” (RS) aprensenta-se
conceitualmente de diversas formas; para alguns é apenas uma obrigação legal, para outros é uma
contribuição beneficente ou possui um sentido social consciente (DUARTE & DIAS, 1986).
O conceito de RS mais difundido atualmente está relacionado ao setor empresarial. De acordo com
Toldo (2002), a RS é "o comprometimento permanente dos empresários de adotar um comportamento
ético e contribuir para o desenvolvimento econômico, melhorando simultaneamente a qualidade de vida
de seus empregados e de suas famílias, da comunidade local e da sociedade como um todo". Para Gouveia
e Alves (1993) a RS significa "atuar sem buscar benefícios para si ou para as pessoas do seu grupo de

107
Soraya Giovanetti EL-DEIR, Professora Orientadora, Pesquisadora Líder do Grupo Gestão Ambiental em
Pernambuco (Gampe), Adjunto da Universidade Federal Rural de Pernambuco

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1314

convivência”. Entretanto, já há vinculação direta entre a imagem corporativa e ações de RS, como assinala
Bragato et al, (2008).
A Responsabilidade não é definida por ações realizadas apenas pelo setor empresarial. O termo
atualmente ganhou identidade acadêmica, permeando outros segmentos da sociedade para a própria
sociedade como, por exemplo, a Responsabilidade Social Universitária (RSU) que se caracteriza como sendo
a capacidade que a Universidade tem de propagar e colocar em prática os conhecimentos da academia, por
meio de processos como gestão, docência, pesquisa e extensão universitária, dando respostas à
comunidade universitária e ao próprio país (JIMENEZ et al., 2006).
Segundo Vallaeys (2006) a RSU “exige, numa visão holística, articular as diversas partes da
instituição em um projeto de promoção social com princípios éticos e de desenvolvimento social, eqüitativo
e sustentável, para a produção e transmissão de saberes responsáveis e pela formação de cidadãos
igualmente responsáveis”. De acordo com Jimenez de La Jara (2006) o trabalho da Universidade se dirige à
formação de pessoas competentes a construir relações de solidariedade com a sociedade, fortalecendo
assim seu desenvolvimento individual para que se desenvolvam e tenham autonomia, razão e consciência
solidárias na sociedade à qual pertence. A justificativa das atividades universitárias vai de encontro com a
promoção da dignidade do ser humano. A RSU representa a ligação entre dois mundos, a academia e a
realidade do país, este com sua pobreza e seus antagonismos e a RSU estabelecendo a ordem e o equilíbrio
entre eles (WAGENBERG, 2006).
Nos tempos atuais as universidades têm se dedicado mais à questão ambiental, sobretudo a partir
do advento da globalização, que acelerou os processos de troca e interconexão de mercados, e dos
constantes noticiários que engloba a sustentabilidade como o caminho mais equilibrado para o uso
consciente dos recursos naturais. Desse modo, as universidades têm buscado novas estratégias para
inserção de preceitos ambientais no cotidiano do corpo acadêmico. Essa busca por um diferencial inovador
e abrangente promove o valor de um processo de transbordamento de idéias sustentáveis a fim de
proporcionar uma íntima relação do estudante universitário com o ambiente que o cerca.
Esta discussão no tocante da educação ambiental, como processo onde o indivíduo e a coletividade
constroem valores sociais, conhecimentos, atitudes e competências voltadas para conservação do meio
ambiente, reforça as ações de RSU e integra conceitos importantes na formulação de atitudes sustentáveis
e de elevação da consciência ambiental. Neste paradigma, as ações de RSU aprensenta-se como um
elemento central e imprescindível ao desenvolvimento sustentável. Desta forma, o presente artigo visa
apresentar as ações de RSU realizadas pelo Grupo de Gestão Ambiental em Pernambuco (Gampe) em
comunidades rurais do Município de Ibimirim – PE, como ferramenta efetiva de Educação Ambiental. O
Gampe realiza três ações de RSU anuais, a Páscoa Solidária, o Leitura Solidária e o Natal Solidário, as quais
serão avaliadas sob a luz da Educação Ambiental.

MATERIAL E MÉTODO
O presente artigo está fundamentado na metodologia da pesquisa-ação. Através da aplicação e
análise de questionários na comunidade de Poço da Cruz no município de Ibimirim, pôde-se perceber a
falta de infra-estrutura, ausência do poder público e de iniciativas para reverter o quadro existente. Neste
sentido, as ações de RSU foram realizadas com o propósito de elevar a consciência e realidade
socioambiental vivenciada pelos moradores da região.
De acordo com Anjos e Santana (2003) e Sauve (2005), o processo de construção coletiva na
pesquisa-ação e a educação ambiental como elemento educativo e dinamizador promove co-
responsabilização dos diversos atores sociais envolvidos nos processos de recondução dessa problemática,
estimulando-se a formação da cidadania ativa. As técnicas utilizadas para a pesquisa foram à observação
direta e participante, informação documental, levantamento da percepção dos partícipes por meio de
entrevistas individuais com pessoas-chave e descritivo quali-quantitativo dos resultados das ações de RSU
nas comunidades durante o ano de 2010, integrando o processo de construção do conhecimento com as
ações coletivas realizadas in loco.

2.1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

João Pessoa, outubro de 2011


1315

O Município de Ibimirim (Figura 1) está localizado na mesorregião do Sertão Pernambucano e


microrregião do Sertão do Moxotó. Limita-se a norte com os municípios de Sertânea e Custódia, a oeste
com Inajá e a sul com Manari.

Fig

r
a 1 – Representação geográfica do município de Ibimirim – PE.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), Ibimirim possui
uma área de aproximadamente 1.955 km2, população de 26.954 habitantes, densidade demográfica de
13,79 hab/km2 e apresenta um dos menores Índices de Desenvolvimento Humano do país (0,566). O
município possui dois distritos: Ibimirim (sede) e Moxotó, além dos povoados de Jeritacó, Agrovilas,
Campos, Lagoa da Areia, Puiú e Poço da Cruz.
Segundo El-Deir et al. (2010) a comunidade de Poço da Cruz é composta de 3 vilas: Mecânica, do
Hospital e do Comércio. A vila Mecânica apresenta-se como um arruado, com casas de adobe, desprovidas
de banheiro, ruas sem calçamento, ausência de esgotamento sanitário, sem água encanada ou coleta de
lixo. A vila do Comércio, que apresenta feições similares a Mecânica, possui casas de taipa e outras de
adobe. Já a Vila do Hospital apresenta um leve grau de organização, pois possui água encanada e coleta de
lixo, igreja, posto de saúde e escola, mas desprovida de calçamento e esgotamento sanitário. Em todas elas
há presença de animais domésticos soltos, esgoto a céu aberto, onde crianças brincam descalças, fato que
gera um potencial de contaminação. É neste cenário característico de comunidades do semiárido
nordestino que as ações de RSU aqui descritas ocorrem, prioritariamente.

2.2. GRUPO DE GESTÃO AMBIENTAL EM PERNAMBUCO (GAMPE)


O Grupo Gestão Ambiental em Pernambuco (Gampe) é um grupo de pesquisa cadastrado na
Capes/MCT e certificado pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), voltado para o estudo e
desenvolvimento de propostas para a gestão ambiental no Estado de Pernambuco. Em sua filosofia, o
Gampe entende que é possível contribuir para o desenvolvimento sustentável em Pernambuco através de
iniciativas de gestão ambiental voltadas para os diversos setores da sociedade, como: micro e pequenas
empresas, comunidades tradicionais (pescadores artesanais, trabalhadores rurais e índios, não trabalhando
ainda com grupos de quilombolas), escolas e setor público e privado, de uma maneira geral.
Surgiu em junho de 2009, tendo sido agraciado no mesmo ano com o Prêmio Von Martius de
Sustentabilidade 2009, na categoria Humanidade, como Honra ao Mérito, da Câmara de Comércio
Brasil/Alemanha, pelo conjunto de projetos em desenvolvimento e pela sua forma de atuação. Faz parte do
Departamento de Tecnologia Rural (DTR) da UFRPE, sendo formada por uma equipe multidisciplinar de
aluno, professores e profissionais autônomos, em associação com colaboradores externos e parceiros
institucionais, de diversas áreas do conhecimento como: Biologia, Design, Economia, Engenharia Agrícola e
Ambiental, Engenharia Química, Gastronomia, Gestão Ambiental, Turismo.

3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. MACROLÓGICA OPERACIONAL DAS AÇÕES DE RSU
As ações de RSU realizadas pelo Gampe tratam de questões que perpassam o empoderamento das
comunidades rurais, o processo de construção da ecocidadania do alunato e a essência da educação

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1316

ambiental nas atividades realizadas. Neste sentido, reflexões teóricas basearam na praxis acadêmica no
desenvolvimento dos trabalhos na comunidade rural do Município de Ibimirim, em Pernambuco.
As atividades de RSU realizadas na UFRPE foram estruturadas, em ordem cronológica de execução,
em três ações específicas (Páscoa Solidária, a Leitura Solidária e o Natal Solidário). As ações possuem
características e propósitos peculiares, pautados na educação ambiental, e foram desenvolvidas por uma
lógica temporal que envolveu sete etapas, como: Liderança, Planejamento, Implantação, Arrecadação,
Execução, Resultados Obtidos e Publicação das Informações (tabela 1).

Etapas das ações


Ações Liderança Planejamento Implantação Arrecadação Execução Avaliação Publicação
Páscoa março/ A partir de
fevereiro fevereiro março abril abril
Solidária abril maio
Leitura junho/ A partir de
maio maio junho setembro setembro
Solidária setembro setembro
Natal outubro/ A partir de
setembro setembro outubro janeiro janeiro
Solidário dezembro fevereiro
Tabela 1: Lógica temporal das etapas das ações de responsabilidade socioambiental universitário

A escolha da liderança é o passo inicial para a estruturação de cada ação. Nesta fase, através de
conversas dialógicas, éi identificado um líder para gerenciar todas as atividades desencadeadas. O segundo
passo é o planejamento, o líder juntamente com sua equipe, traça estratégias para que a idéia do projeto
assumissa forma e proporção entre os alunos da universidade, ou de outras instituições e empresas. A
partir de um planejamento sólido, a equipe segue para a etapa de Implantação.
Nesta etapa, as idéias saem de uma realidade logística e estrutural para uma efetiva realização. A
metodologia de implantação e os meios para tal divulgação são decorrentes da equipe do projeto, bem
como os locais, além da universidade, que participam como parceiros da ação. Na etapa de arrecadação, os
objetos de solidariedade definidos na etapa de planejamento são arrecadados no hall da universidade e
instituições participantes até o final da ação. Estes são destinados para a comunidade de Poço da Cruz e de
forma integrada, são realizadas palestras, oficinas com os moradores à respeito de temáticas como:
segurança alimentar, qualidade de vida, meio ambiente, uso sustentável dos recursos naturais e a
importância da educação ambiental e da leitura no âmbito interno, relacionado ao seu crescimento
pessoal, e externo voltado para o crescimento econômico e proteção ambiental. Caracterizando assim a
fase de execução do projeto.
A penúltima etapa da ação consiste na contabilização e avaliação dos resultados obtidos. Os pontos
analisados são: número de participantes envolvidos, repercussão positiva ou negativa no âmbito interno e
externo da universidade e da comunidade, qualidade da ação, contribuição na elevação socioambiental dos
partícipes e percepção da eficiência dos instrumentos de educação ambiental utilizados. Além dos citados,
os demais tipos de informações de relevância para o projeto, no segmento social, econômico e ambiental,
são analisados.
Por fim, os dados obtidos antes, durante e após a ação são consubstanciados em relatórios técnicos
e publicados como artigos científicos (resumo, resumo expandido, artigo simples, artigo completo e artigo
para revistas científicas). Desse modo, o estudante versa por vários caminhos de tamanha importância para
sua vida, como: preparação de líderes para o presente e o futuro, aprendizagem constante de relação
dialógica em trabalhos com equipe, cientistas comprometidos com a pesquisa e um melhoramento da
qualidade de vida das comunidades atendidas, além de seres humanos mais comprometidos com a vida e
com um ambiente equilibrado.

3.2. AÇÕES DE RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL UNIVERSITÁRIA


3.2.1. PÁSCOA SOLIDÁRIA
A Páscoa Solidária é uma ação voltada para crianças e adolescentes de comunidades rurais do semi-
árido pernambucano e alunos da rede pública do município. Dentre as atividades realizadas, destacam-se
as oficinas sobre higiene pessoal e a distribuição de Kits de escovação dentária para o público participante,

João Pessoa, outubro de 2011


1317

além de todo um trabalho cultural em prol da data comemorativa como: pintura dos rostos em forma de
coelho e utilização de orelhas de coelho confeccionadas com materiais reciclados. Em 2010 foram 100
crianças envolvidas em duas escolas, já em 2011, foram atendidas 130 crianças em uma escola de Ibimirim,
na Comunidade de Poço da Cruz. Abaixo (tabela 2) estão representados os meses de sua execução.

Meses de realização do projeto


Ação Fevereiro Março Abril Maio
Páscoa Solidária Implantação Arrecadação Execução Avaliação
Tabela 2: Representação dos meses de realização do Projeto Páscoa Solidária

3.2.2. LEITURA SOLIDÁRIA


A Leitura Solidária visa estruturar e/ou enriquecer as bibliotecas das escolas públicas em
comunidades rurais carentes, com a doação de livros didáticos e paradidáticos, além de estimular o hábito
da leitura em crianças que muitas vezes vivem em situação de miséria através de oficinas de interpretação,
expressão e leitura. O Projeto propende discutir os temas ambientais relacionados à realidade vivenciada
pelas crianças e elevar o grau de articulação entre a comunidade acadêmica e a população em geral, por
meio de ações integradas de ensino/aprendizagem e extensão rural. Os resultados dessa mobilização, em
2010, foram à arrecadação de 3.000 livros, compondo as bibliotecas de 13 escolas públicas rurais de
Ibimirim. Esta ação também tem uma temporalidade fixa (tabela 3), visto a necessidade de se retomar as
atividades do Natal Solidário.
Meses de realização do projeto
Ação Junho Julho Agosto Setembro
Leitura Solidária Implantação Arrecadação Execução Avaliação
Tabela 3: Representação dos meses de realização do Projeto Leitura Solidária

3.2.3. NATAL SOLIDÁRIO


O Natal Solidário engloba oficinas para os adultos sobre temas relativos a gênero, geração e ética,
além de oficinas sobre segurança alimentar, hídrica, qualidade de vida, agricultura orgânica e uso
sustentável dos recursos naturais através de oficinas de coité, além de atividade lúdica com as crianças,
explorando as habilidades motoras e artísticas através de atividades utilizando a técnica do origami,
desenhos e jogos, e distribuição de sacolas com roupas, sapatos e cestas básicas alimentícias. Em 2010
foram distribuídos 150 sacos com cerca de 5 peças de roupas cada, assim como foram atendidas 50 mães
que fizeram uma oficina de segurança alimentar e mais de 100 crianças numa oficina lúdica de origame e
café da manhã servido para todos. Em 2011 foram distribuídos 350 sacos com cerca de 8 peças de roupa
cada, 100 mães foram atendidas, oficinas de brincadeiras com as crianças e café da manha para todos. Os
meses de realização estão representados na (tabela 4) abaixo.

Meses de realização do projeto


Ação Outubro Novembro Dezembro Janeiro
Natal Solidário Implantação Arrecadação Execução Avaliação
Tabela 4: Representação dos meses de realização do Projeto Natal Solidário

CONCLUSÃO
As ações de RSU desenvolvidas pelo Gampe conferem uma importante ferramenta de educação
ambiental para os dois setores de articulação envolvidos: o corpo acadêmico (representados por alunos e
professores) e a comunidade rural. No tocante ao corpo acadêmico, são realizados diagnósticos das
condições socioambiental da comunidade participante da ação, estudos dirigidos, troca de saberes e o
desenvolvimento de atividades a fim de solucionar problemáticas ambientais emergentes. Quanto à
comunidade rural, a sensibilização para construção de uma “ecoconsciência”, participação de oficinas que
estimulem a responsabilidade socioambiental e qualidade de vida da população, além do despertar para

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1318

preservação e conservação do ambiente que o cerca. Desta forma, a grande façanha das ações de RSU é a
possibilidade de uma constante mudança de paradigma socioambiental através do processo ensino-
aprendizagem.

REFERÊNCIAS
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responsabilidade social corporativa: as ações desenvolvidas pelas usinas de cana-de-açúcar frente às
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científicos, 1986.
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João Pessoa, outubro de 2011


1319

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS DE ENSINO FUNDAMENTAL E


MÉDIO DO MUNICÍPIO DE JUAZEIRO DO NORTE / CEARÁ: UMA
CONTRIBUIÇÃO À CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL – RELATO DE
EXPERIÊNCIAS
Saionara Figueiredo SANTOS
Esp. em Saúde Coletiva (FIP). Tecnóloga em Saneamento Ambiental ( FATEC Cariri), Juazeiro do Norte /CE
saiow@hotmail.com
Sávilla Roberta de Morais ALVES
Tecnóloga em Saneamento Ambiental (FATEC Cariri), Juazeiro do Norte/CE.
savillaroberta@hotmail.com
Roselene de Lucena ALCÂNTARA
Profª Adjunto II. Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), Campus Angicos/RN. Orientadora.
roselene@ufersa.edu.br

RESUMO
É objeto do presente artigo proporcionar, por intermédio da prática da educação ambiental, meios
para a sensibilização e conscientização dos estudantes de escolas de ensino fundamental e médio do
município de Juazeiro do Norte, Ceará, sobre a importância e a necessidade da preservação e conservação
dos recursos hídricos e dos recursos naturais, objetivando desencadear um amplo processo de
alfabetização ecológica junto aos educandos atendidos pela pesquisa. Principia abordando a importância da
educação ambiental enquanto formadora e preparadora de cidadãos para a reflexão crítica e para uma
ação social transformadora, para, logo após, adentrar no relato da experiência. A pesquisa torna-se,
portanto, relevante por inserir essa discussão nas escolas e mostrar que, a busca de diretrizes para uma
política de desenvolvimento e conservação dos recursos naturais deve pautar-se pelo estabelecimento de
uma nova ética, que exige novas reflexões e ações sobre a dignidade e as desigualdades, onde a qualidade
de vida seja elemento mediador na relação sociedade-natureza.
Palavras-chave: qualidade ambiental, cuidado ambiental, equilíbrio ecológico, sustentabilidade

INTRODUÇAO
As constantes e aceleradas transformações por que passa o planeta Terra têm afetado
significativamente o meio em todos os seus aspectos trazendo comprometimentos à qualidade ambiental e
de vida. O que exige, cada vez mais, o desenvolvimento de ações efetivas e articuladas sobre as causas dos
problemas e as transformações ocorridas, provocadas, sobretudo, por um modelo de desenvolvimento
econômico de caráter predatório e que vêm despertando a consciência de um número cada vez maior de
pessoas quanto à urgência de alterar o rumo desse processo (PELICIONI et al., 2005).
Neste cenário, o ser humano está situado no mundo e com o mundo. Dispõe de inteligência e
capacidade de refletir sobre ele, com o objetivo de transformá-lo por meio do trabalho e das ações
políticas. A participação do homem como sujeito na sociedade, na cultura e na história se faz à medida que
é educado para conscientizar-se e assumir suas responsabilidades de ser humano. Segundo Freire (1975),
“o homem é o objeto e o sujeito da educação, a qual é sempre um ato político transformador” (CASTRO &
CANHEDO Jr, 2005).
Assim sendo, entende-se a Educação Ambiental, como o processo mediante o qual o ser humano
constrói os conhecimentos, atitudes éticas, habilidades e comportamentos, que lhe permitem realizar uma
análise crítica da realidade socioambiental na qual se encontra inserido, e lhe permita atuar de forma
transformadora nela, de acordo com a análise efetuada. Trata-se de um processo que afeta a totalidade da
pessoa, na etapa da educação formal, e que deveria continuar-se na educação permanente. Sustenta-se em
uma relação do sujeito da educação com a complexidade de seu meio ambiente bio–físico, sociocultural e
econômico. Implica compreender as complexas relações entre a sociedade e a natureza, e os processos
históricos que condicionam os modelos de desenvolvimento adotados pelos diferentes grupos sociais e
suas representações sobre a qualidade de vida e sobre o acesso diferenciado aos recursos.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1320

Desta forma, o espaço que a educação ambiental ocupa neste início de século é de extrema
relevância, pois lança luz às incertezas que a crise ambiental impôs aos seres humanos, propiciando uma
mentalidade baseada em fundamentos sócio-ambientais, nutrindo em cada pessoa o respeito pela
natureza, percebendo-se como parte indissociável do meio ambiente (PEREIRA & SAUMA FILHO, 2005).
Interessa, pois, destacar que a educação ambiental apresenta-se como uma dimensão dada
ao processo educativo, voltada á participação de seus atores, educandos e educadores, na construção de
um novo paradigma que contemple as aspirações sociais de melhor qualidade de vida e um mundo
ambientalmente sadio (DIAS, 1994).

JUSTIFICATIVA
De acordo com o Programa Curricular Nacional um dos pontos de partida a ser seguido nos
modelos educacionais atuais é abordar como conteúdo de aprendizado elementos do domínio vivencial dos
estudantes, da escola e de sua comunidade. Desta forma, a questão ambiental deve ser considerada como
um modo de ver o mundo onde se vivenciam as inter-relações e a interdependência dos diversos
elementos na constituição e preservação da vida. Machado (1996) reportou que a escola é uma instituição
designada pela sociedade para promover o acesso de jovens ao conhecimento construído ao longo da
história, contribuindo desta maneira para o crescimento pessoal e social dos educandos.
O relacionamento da humanidade com a natureza, que teve início com um mínimo de
interferência nos ecossistemas, tem hoje culminado numa forte pressão exercida sobre os recursos
naturais. Atualmente, são comuns a contaminação dos cursos de água, a poluição atmosférica, a
devastação das florestas, a caça indiscriminada e a redução ou mesmo destruição dos habitats faunísticos,
além de muitas outras formas de agressão ao meio ambiente.
Dentro deste contexto, é clara a necessidade de mudar o comportamento do homem em relação à
natureza, no sentido de promover, sob um modelo de desenvolvimento sustentável (processo que assegura
uma gestão responsável dos recursos do planeta de forma a preservar os interesses das gerações futuras e,
ao mesmo tempo atender as necessidades das gerações atuais), a compatibilização de práticas econômicas
e conservacionistas, com reflexos positivos evidentes junto à qualidade de vida de todos.
Um programa de educação ambiental para ser efetivo deve promover simultaneamente, o
desenvolvimento de conhecimento, de atitudes e de habilidades necessárias à preservação e melhoria da
qualidade ambiental. Utiliza-se como laboratório, o metabolismo urbano e seus recursos naturais e físicos,
iniciando pela escola, expandindo-se pela circunvizinhança e sucessivamente até a cidade, a região, o país,
o continente e o planeta. A aprendizagem será mais efetiva se a atividade estiver adaptada às situações da
vida real da cidade, ou do meio em que vivem aluno e professor.
Nesse contexto, dia a dia, os problemas ambientais de Juazeiro do Norte vêm crescendo. O
município enfrenta problemas ambientais, seja pela poluição sonora, visual, dos rios ou a cobertura
arbórea que já foi devastada, entre outros. Por isso, precisa-se de pessoas conscientes, que tenham
sensibilidade suficiente para tomar decisões urgentes, para garantir o resgate da qualidade de vida da
população. É a isso que essa pesquisa se propõe – conscientizar/sensibilizar os estudantes de ensino
fundamental e médio de Juazeiro do Norte de seus problemas ambientais e por intermédio de parcerias
com outras instituições buscar que cada indivíduo se responsabilize por si, pelo social e pelo meio
ambiente.
No tocante à escassez de água, o município vem enfrentando sérios problemas provocados pelo
desperdício de água. Os impactos ambientais provocados pelo homem vêm comprometendo suas reservas
hídricas. O parque Ecológico das Timbaúbas que contém o mais importante manancial hídrico é
considerado a maior área verde do município constituindo a parte mais baixa da cidade para onde correm
as águas pluviais dos bairros João Cabral, José Geraldo da Cruz, Parte da Lagoa Seca e Pio XII. As águas
quando escoam trazem lixo e dejetos sanitários contaminando assim o seu lençol freático (IPECE, 2006).
Nesse sentido, é urgente a necessidade de implantar uma política de educação ambiental voltada
para gestão hídrica de seus mananciais. Ressalte-se que o parque contribui com todos os poços semi-
artesianos explorados pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará (CAGECE) para o abastecimento de água
do município, que com o crescimento da população tem aumentado a sua exploração ocasionando o
rebaixamento da linha freática.

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1321

Com relação aos recursos hídricos de superfície, estes estão representados pelo Rio Salgado,
afluente do Jaguaribe, tem quatorze açudes de pequeno e médio portes, além de freqüentes riachos
alimentados por fontes situadas na chapada do Araripe. As reservas subterrâneas são da ordem de
25.000.000 m3, dos quais estão disponíveis 16.600 m3/ano. Atualmente estão cadastrados 137 poços, com
profundidade entre 77 e 86m. A vazão varia de 19,9 m3/hora a 32,9 m3/hora (JUAZEIRO..., 2007).
Com relação aos problemas sócio-ambientais, somente 52,2 % dos domicílios juazeirenses possuem
esgotamento sanitário e o abastecimento de água no município atinge 97,6 % das residências e é garantido
por poços profundos localizados no Parque Ecológico e pelo açude dos Carneiros.
Interessa destacar que Juazeiro do Norte é a segunda cidade mais importante do Ceará e uma das
principais cidades da região Nordeste, exercendo influência sobre todo o Cariri cearense e algumas cidades
do Piauí, Pernambuco e Paraíba. A lembrança do Padre Cícero está presente em todo o município desde
escolas, estabelecimentos comerciais, ruas, praças, museus até no nome de muitos juazeirenses batizados
de Cícero, Cícera, Romão, Romana, Batista etc. Todos os anos, milhões de romeiros vão a Juazeiro orar ao
Padre Cícero e à Nossa Senhora das Dores (padroeira do município) (JUAZEIRO..., 2007).

OBJETIVO GERAL
Proporcionar, por intermédio da prática da educação ambiental, meios para a sensibilização
e conscientização dos estudantes de escolas de ensino fundamental e médio do município de Juazeiro do
Norte, Ceará, sobre a importância e a necessidade da preservação e conservação dos recursos hídricos e
dos recursos naturais, objetivando desencadear um amplo processo de alfabetização ecológica junto aos
educandos atendidos pela pesquisa.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O homem e o meio ambiente – uma questão econômica, política e social
Morosine (2005) reportou que a capacidade que os seres humanos têm de interferir na
natureza para dela retirar o seu sustento e sobrevivência, permitiu a exploração e consumo de recursos por
muito tempo sem que se pensasse em sua conservação. Somente há poucas décadas, em decorrência de
catástrofes ambientais, dos índices alarmantes de poluição e da constatação de que os limites da natureza
estavam sendo superados é que se iniciou um movimento em favor da utilização racional destes recursos.
A preocupação com os problemas ambientais decorrentes dos processos de crescimento e
desenvolvimento deu-se lentamente e de modo muito diferenciado entre os diversos agentes, indivíduos,
governos, organizações internacionais, entidades da sociedade civil, etc. Em uma retrospectiva histórica
pode-se dizer que, de acordo com Santos (2002), os recursos naturais há muito são impactados pelas
atividades humanas, mas foi somente no século XX que as questões ambientais contribuíram para redefinir
a economia, a sociedade e a política. Gonçalves (2008) citou que a complexidade da questão ambiental
decorre do fato dela se inscrever na interface da sociedade com o seu-outro, a natureza. E que:
A questão ambiental é mais que um campo interdisciplinar, considerando que nela se entrecruzam o
conhecimento técnico-científico; as normas e valores; o estético-cultural, regidos por razões diferenciadas,
porém não dicotômicas. Ela requer um campo de comunicação intersubjetiva não viciado e não manipulado
para que a região comunicativa possa se dar efetivamente. Enfim, requer, fundamentalmente, democracia.
Vemo-nos, assim, lançados no terreno da pólis, da política, ou seja, dos limites que os homens livre e
autonomamente se auto-impõem. Qual o uso (correto ou incorreto) que se há de fazer de um determinado
ecossistema, por exemplo?O que é o verdadeiro ou o falso? Essas questões, que aparentemente são
abstratas, apresentam-se concretamente no dia-a-dia de cada um de nós e foi em torno desses temas da lei e
da justiça que emergiu o logos grego – idéia de um conhecimento racional – a filosofia.

Por essa ótica, a educação ambiental se constitui em uma forma abrangente de educação,
que se propõe atingir todos os cidadãos, por intermédio de um processo pedagógico participativo
permanente que procura incutir no educando uma consciência crítica sobre a problemática ambiental,
compreendendo-se como crítica a capacidade de captar a gênese e a evolução de problemas ambientais
(EDUCACAO..., 2007). Ou seja, é um processo participativo, onde o educando assume o papel de elemento
central do processo ensino/aprendizagem pretendido, participando ativamente no diagnóstico dos
problemas ambientais e busca de soluções, sendo preparado como agente transformador, por intermédio

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1322

do desenvolvimento de habilidades e formação de atitudes, por meio de uma conduta ética, condizente ao
exercício da cidadania.
A educação ambiental deve buscar valores que conduzam a uma convivência harmoniosa
com o ambiente e as demais espécies que habitam o planeta, auxiliando o aluno a analisar criticamente o
principio antropocêntrico, que tem levado à destruição inconseqüente dos recursos naturais e de várias
espécies. É preciso considerar que a natureza não é fonte inesgotável de recursos, suas reservas são finitas
e devem ser utilizadas de maneira racional, evitando o desperdício e considerando a reciclagem como
processo vital (PROJETO..., 2007).

Educação ambiental na escola


Entende-se que a escola é um espaço publico e local onde a criança dará seqüência ao seu
processo de socialização, portanto, é fundamental o papel da educação ambiental na formação de uma
cidadania responsável. O que nela se faz, se diz e se valoriza, representa para a criança um exemplo daquilo
que a sociedade quer e aprova, comportamentos ambientalmente corretos devem ser aprendidos na
prática, no dia-a-dia da escola, desde as primeiras séries, considerando que a escola é um dos agentes
fundamentais para a divulgação dos princípios da educação ambiental (MINNINI, 1996).
Ressalte-se que, a educação ambiental deve ser abordada de forma sistemática e
transversal, em todos os níveis de ensino, assegurando a presença da dimensão ambiental de forma
interdisciplinar nos currículos das diversas disciplinas e das atividades escolares. Com os conteúdos
ambientais permeando todas as disciplinas do currículo e contextualizados com a realidade da comunidade,
a escola ajudará o aluno a perceber a correlação dos fatos e a ter uma visão integral do mundo em que
vive. Para que isso aconteça é importante que o professor trabalhe no sentido de desenvolver com os
alunos uma postura crítica frente à realidade, às informações e aos valores veiculados pelos meios de
comunicação, além daqueles trazidos pelos próprios alunos. Neste sentido, é necessário criar condições
para o desenvolvimento de uma nova mentalidade entre esses profissionais, instrumentado-os para a
prática da educação ambiental (MINNINI,1997).
Considerando a importância da temática ambiental e a visão integrada do mundo, a escola
deverá oferecer meios efetivos para que cada aluno compreenda os fenômenos naturais e humanos,
desenvolva suas potencialidades e adote posturas pessoais e comportamentos sociais construídos para
consigo mesmo e para com seu meio, colaborando para que a sociedade seja ambientalmente sustentável
e socialmente justa.
A Carta Brasileira para a Educação Ambiental (CARTA..., 1992) formalizada por ocasião da
Conferencia de Tbilisi, dentre as suas recomendações destacou:
A necessidade de um compromisso real do poder público federal, do estadual e do municipal no
cumprimento e complementação da legislação e das políticas para a educação ambiental, que sejam
cumpridos os marcos internacionais acordados em relação a educação ambiental com dimensão multi, inter e
transdisciplinar em todos os níveis de ensino, que em todas as instâncias, o processo acerca das políticas para
a educação ambiental conte com a participação das comunidades direta ou indiretamente envolvidas na
problemática em questão.

Por intermédio do processo educativo é possível buscar a conscientização para a preservação dos
ecossistemas, tendo como base a utilização racional dos recursos naturais e a sustentabilidade da
biodiversidade. Nesta questão um dos pontos importantes a ser considerado é com relação á água,
enquanto fonte e recurso para a manutenção da vida.

Educação ambiental e a água nossa de cada dia


Considera-se, atualmente, que a quantidade total de água no planeta Terra seja de 1.386
milhões de km3, dos quais 97,5% do volume total formam os oceanos e os mares e somente 2,5%
constituem-se de água doce, dos quais, conta-se com menos de 0,01% disponível para todos os seres vivos.
Alem de a água ter distribuição heterogênea pelo planeta, seu mau uso, principalmente para a agricultura,
que se utiliza de quase 80%, diversos países enfrentam guerras para ter acesso a água, como é o caso
daqueles do Oriente Médio. Por outro lado, o desmedido crescimento populacional e o desenvolvimento

João Pessoa, outubro de 2011


1323

das atividades humanas têm feito com que o consumo global de água aumente de 1.000 Km 3 para 4.000
Km3 anuais em apenas cinqüenta anos (TELLES & GUIMARÃES, 2007; SIMONS, 2005).
Simons (2005) continua reportando que:
De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Água Subterrânea, 15% da água, superficial
e subterrânea, estão no Brasil. Apesar de se contar com uma Política Nacional de Recursos Hídricos e um
sólido corpo de leis, 46% da água tratada ainda está sendo desperdiçada. O que fazer, então, diante de uma
população de 6,5 bilhões de habitantes em 2005, que poderá alcançar 12 bilhões em 2050, em um cenário de
3 3
escassez crescente, em que o ritmo de consumo foi de 331 Km /ano em 1900, para 3.973 Km /ano em 2000,
3
prevendo-se que chegue a 5.235 Km /ano em 2025?!

É nesse contexto que a educação ambiental se encaixa, como uma das possíveis
ferramentas para tentar sensibilizar e conscientizar as pessoas com relação à urgência de cuidar desse
recurso natural finito, se não na quantidade, pelo menos na qualidade.
Nesse sentido, Dowbor & Tagnin, (2005) relataram experiências que deram certo:
Ecoeficiência no Grande Hotel Campos do Jordão – Hotel Escola Senac
Esse caso consiste na implantação de um sistema de gestão ambiental privilegiando a estratégia de
ecoeficiência, que implicou a participação dos funcionários, que foram devidamente sensibilizados e
capacitados por meio da educação ambiental, para mudar suas rotinas de trabalho. Isso, somado a
equipamentos mais ecoeficientes como os registros reguladoras de vazão (RRVs), propiciou ate 20% de
redução no consumo de água nos chuveiros e ate 80% nas torneiras! Por outro lado, foi utilizada também
outra forma de sensibilização e educação ambiental, por meio da colocação de displays específicos nos
quartos, com o intuito de estimular a participação dos hóspedes na redução do consumo de água, pelo
reaproveitamento das toalhas, antes de encaminhá-las para a lavanderia. Isso foi feito uma vez constatado
que o gasto de água nas máquinas de lavar utilizadas era o mesmo, tanto para lavar 5kg, quanto para lavar
30kg de roupa.
Programa de Educação em Saneamento Ambiental e Programa de Despoluição dos Ecossistemas
Litorâneos do Estado do Espírito Santo
Desde 1995 a Companhia Espírito Santese de Saneamento (Cesan), em parceira com diversas
secretarias municipais e estaduais, escolas e outros segmentos da comunidade por meio de uma equipe
multidisciplinar composta de técnicos, professores, arte-educadores, comunicadores sociais, entre outros,
vem desenvolvendo um programa integrado para um melhor gerenciamento dos recursos hídricos. Esse
programa, no qual a educação ambiental é a ferramenta principal, tem se tornado referência internacional
por intermédio do banco Mundial (o seu financiador principal), que o vem divulgando como uma
possibilidade de precendente aplicável em outros países com sérios problemas de gerenciamento de recursos
hídricos, como e o caso da Cidade do México, que por estar utilizando seus recursos subterrâneos desde a
colonização, sem nenhum tipo de gerenciamento, enfrenta hoje o risco de escassez absoluta, além do
enorme desafio de encontrar, em caráter de absoluta urgência, alguma solução para evitar que a cidade
continue afundando 1cm ao ano, pela falta de sustentação no solo, que a retirada das águas doces desse
enorme lençol freático vem provocando.
Por meio de palestras, cursos, gincanas, produção e distribuição de material educativo e informativo
e visitas domiciliares, o programa envolveu 64 bairros e, aproximadamente, 127 mil pessoas as margens dos
cursos de água e, por meio da campanha "Se ligue nesta estação", um aumento do numero de ligações
domiciliares a rede coletora de esgotos de 30% para 85% em alguns bairros.
Programa de Educação Ambiental: Guarulhos – Saneamento Ambiental e Qualidade de Vida, do
Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) da Prefeitura de Guarulhos
No seu terceiro ano de desenvolvimento, em 2003, com o eixo temático "Na água, o futuro de
Guarulhos", esse programa provocou um intenso movimento de reflexão nos participantes das diversas
comunidades escolares para a questão da conservação dos recursos hídricos desse município. Contou com
a parceria de diversas secretarias municipais, da Diretoria Regional de Ensino Norte e também com a
Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero), tendo envolvido, ate o ano de 2004, um
total de 48 escolas e cerca de 30mil alunos. Para sua execução, houve a preocupação de investir, em
primeiro lugar, na educação ambiental dos professores, a fim de iniciar um trabalho de avaliação
diagnostica, feita pelos próprios alunos, que, saindo a campo, levantaram a realidade ambiental dos
córregos próximos ás suas respectivas unidades escolares. Com os resultados dessas pesquisas e
observações, foram elaborados documentos, apresentados em seminários públicos e entregues às
autoridades, no sentido de comprometer as diferentes secretarias em relação ás medidas corretivas

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1324

necessárias. Um dos resultados mais marcantes foi a formação dos Núcleos de Cidadania, fóruns
permanentes de discussão integrados pela comunidade, com a participação dos alunos e do poder público,
com o objetivo de buscar soluções sociambientais para as condições e o destino dos cursos de água da
região. Esse programa, de fato, segue o modelo de implantação de uma Agenda 21 Local, constituindo
importante contribuição na consolidação da Agenda 21 Nacional, a partir da educação ambiental.

METODOLOGIA
A pesquisa foi desenvolvida nas Escolas de Ensino Fundamental e Médio do município de
Juazeiro do Norte / CE, durante os meses de Março de 2008 – Fevereiro 2009.
Para tanto, foram desenvolvidas atividades com a participação de dois discentes do curso
de Saneamento Ambiental da Faculdade de Tecnologia FATEC Cariri, sob a coordenação da professora
orientadora. As atividades abordaram a temática água e outras pertinentes aos recursos naturais,
direcionando para a discussão das questões que envolvem a preservação e conservação dos recursos
hídricos do município.
Por intermédio da Educação Ambiental os discentes das escolas de Ensino Fundamental e Médio do
município de Juazeiro do Norte/CE participaram das atividades conscientizadoras/sensibilizadoras no
contexto da preservação e conservação dos recursos hídricos; bem como, foram mostradas, também,
situações problemáticas existentes e, na seqüência, as medidas mitigadoras.
As atividades foram participativas e incentivadoras, proporcionando aos discentes uma
compreensão crítica e global do ambiente, possibilitando o desenvolvimento de atitudes que lhes
permitam adotar uma posição consciente em relação às questões ambientais.
Para o desenvolvimento das atividades foram utilizadas exposição interativa e atividades lúdicas
utilizando os recursos didáticos, confeccionados com a temática em questão. É nesse contexto que a
Educação Ambiental se encaixa, como uma das possíveis ferramentas para tentar sensibilizar e
conscientizar as pessoas em relação à urgência de se cuidar desse recurso natural finito – a água, se não na
quantidade, pelo menos na qualidade.
Assim sendo, a Educação Ambiental deve adotar procedimentos metodológicos diferenciados para
cada publico (comunidade, ensino formal, empresas, etc.), considerando a cultura local e os valores
vigentes em cada coletivo, a fim de facilitar a construção conjunta de novas percepções para o exercício da
cidadania. No âmbito do ensino formal, tem-se a preocupação de entender a abordagem do tema água
como questão ambiental, um tema transversal às diferentes disciplinas, implicando a adoção da
interdisciplinaridade, propiciando aos discentes desenvolver uma visão sistêmica, que envolva seu
cotidiano fora da escola e, até mesmo, transformá-los em multiplicadores de atitudes ecoeficientes, em
meio às comunidades das quais estejam inseridos.
Cabe ressaltar que, em qualquer um dos recursos em que o tema água for trabalhado, e
independente dos recursos pedagógicos a serem utilizados, deve-se evitar ficar restrito a conteúdos
informativos, sendo vital que aspectos de sensibilização façam parte do trabalho. Deve-se lembrar,
também, que a conscientização/sensibilização e a mudança de hábitos não se processa por meio de
eventos pontuais, mas dentro de uma continuidade de trabalho que vai requerer dos responsáveis, além de
uma sólida base conceitual, flexibilidade, aceitação do diferente, convivência, paciência, persistência e,
portanto, tempo.

RESULTADOS OBTIDOS
Inicialmente as atividades desenvolvidas foram direcionadas ao levantamento bibliográfico dos
temas direcionados a Educação Ambiental objetivando a elaboração de palestras e material didático. Bem
como, ao levantamento de todas as escolas municipais e estaduais do município de Juazeiro do Norte,
listando os endereços, gestores e séries contempladas. Após esse levantamento prévio deu-se início ao
contato com as escolas, apresentando a proposta das atividades e confirmando a parceria alunos/escola,
para o êxito da pesquisa.
Nos meses de março a junho, realizaram-se visitas à Secretaria de Meio Ambiente e Controle
Urbano no Município do Crato, que desenvolve atividades que englobam palestras de educação ambiental
e oficinas, para alunos de escolas de ensino fundamental e comunidades carentes. Foi uma experiência
interativa bem significativa. Nesse período, realizou-se, também, uma semana de interação com os alunos

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1325

da Escola de Ensino Fundamental Amália Xavier, que ocorreu de modo participativo durante condução das
palestras pertinentes aos diversos temas voltados à realidade local e com capacidade de compreensão
obedecendo à faixa etária de cada série. Ao todo, foram trabalhadas dez (10) salas de aula de 5° ano ao 9°
ano. Os professores acompanhavam as turmas, que participaram ativamente por meios de intervenções
que possibilitaram a construção dos conhecimentos transmitidos.
Interessante mencionar que as palestras tiveram excelente receptividade por parte dos alunos e
dos professores, considerando que os assuntos discutidos eram de interesse mútuo e muitas informações
eram novidades e buscou-se relacioná-las com o cotidiano escolar e pessoal dos alunos, consolidando,
desta forma, a parceria alunos/escola, tão importante para o êxito da pesquisa e, principalmente, para o
meio ambiente, no que tange à preservação e conservação dos recursos naturais.
No mês de Julho as escolas estavam em recesso escolar (cumprindo o calendário escolar). Portanto,
deu-se continuidade a revisão bibliográfica objetivando programar outras atividades e novos temas a serem
abordados nas palestras seguintes, sem perder o foco o público alvo - jovens que estão no ensino
fundamental e médio.
Na seqüência (meses de agosto e setembro), realizou-se uma semana de interação com os
alunos da Escola de Ensino Fundamental Mozart Cardoso, que ocorreu de modo participativo, de acordo
com a metodologia adotada nas palestras, que versaram sobre diversos temas voltados à realidade local e à
capacidade de compreensão de cada série. Ao todo, foram trabalhadas dez (10) salas de aula, do 6° ao
9°anos. Com a parceria dos gestores, foi possível trabalhar com turmas diferentes que estudam no período
matutino e uma turma especial voltada para a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Os professores
acompanharam e participaram com interesse, sempre observando a desenvoltura das turmas, que faziam
suas intervenções, sempre atentas e observando o que era exposto. De maneira geral, percebe-se que os
alunos passaram a ter um novo olhar para a questão ambiental, se propondo a inserir assuntos
relacionados ao meio ambiente na matriz curricular pertinente. Bem como, construíram os seus
conhecimentos paulatinamente.
Na escola supracitada, incentivou-se inserir e começar um projeto de coleta seletiva nas
suas dependências. Para tanto, foram mostrados os benefícios e a maneira de como deve ser realizada, o
qual teve ampla aceitação, tanto por parte dos alunos como professores e pela comunidade que trabalha
na escola. Além do benefício ambiental, é importante destacar que, no tocante aos benefícios lucrativos, as
turmas do 9° ano, ficaram empolgadas em utilizar os recursos arrecadados dos materiais recicláveis na
celebração de conclusão do ensino médio.
Também foram realizadas visitas a Escola de Ensino Fundamental Lili Neri, onde, em consonância
com a Semana da Árvore, foram ministradas palestras que diziam respeito à fauna e flora, além da
problemática ambiental envolvida no desmatamento. Desta forma, foi possível trabalhar a formação
ecológica dos alunos em onze (11) salas de aula, do 5º ao 9 º anos.
Em outubro, foram realizadas atividades lúdicas com os alunos da Escola de Ensino Fundamental
Pelúsio Correia, abrangendo do 6º ano ao 9º ano. Os professores foram mobilizados e partilhando
juntamente com seus alunos das informações, uma vez que as palestras foram realizadas em consonância
com os eventos II Conferência Nacional do Meio Ambiente.
Em continuidade às comemorações da Conferência supracitada, a Escola de Ensino
Fundamental Moreira de Sousa agendou espaço para uma mesa - redonda e apresentação dos trabalhos
realizados pelos alunos, envolvendo os seguintes temas: água, ar, fogo, terra e energia.
Outras escolas participantes da Conferência solicitaram apoio aos seus alunos para auxiliá-
los na confecção do material que foi enviado para o evento.
Como as palestras respeitam o cronograma oficial das escolas, algumas atividades internas
destas impossibilitaram a realização de palestras no decorrer do mês de novembro.
No mês de Dezembro foram realizadas palestras na Escola de Ensino Fundamental Dona Clotide
Saraiva Correia (Bairro do Limoeiro), para os alunos do 6° ao 9°ano, totalizando doze (12) salas de aula.
Dentre os temas inseridos nas palestras o que causou mais interesse foi o relacionado aos resíduos sólidos
e efluentes, uma vez que a mesma se localiza próximo à área do Parque das Timbaúbas, e é notória a
grande quantidade de resíduos sólidos e de efluentes no entorno da escola.

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1326

Portanto, a pesquisa cumpriu com êxito o que foi proposto no cronograma inicial e, o mais
importante, conseguiu sensibilizar e alfabetizar ecologicamente um número considerável de alunos e de
discentes nos ambientes trabalhados.
É importante ressalvar que os gestores das escolas contempladas pela pesquisa aclamaram
e enalteceram a execução desta. Visto que, é uma contribuição a mais na transmissão dos conteúdos e, o
mais importante, partindo de pessoas que possuem a formação necessária para tal função e com total
credibilidade no que concerne a consistência/coerência dos conhecimentos adquiridos ao longo de sua
formação científico-tecnológica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por intermédio da execução da pesquisa, foi fornecida a oportunidade de continuar contribuindo
para a transmissão dos conhecimentos técnico-científicos gerados no curso Superior de Tecnologia em
Saneamento Ambiental da Faculdade de Tecnologia FATEC Cariri, no que concerne às questões ambientais
com ênfase à preservação e conservação dos recursos hídricos, para a sociedade extramurros,
contribuindo, desta maneira, com os três pilares da educação - ensino, pesquisa e extensão. Além de
contribuir para a sensibilização dos estudantes de ensino fundamental e médio do município de Juazeiro do
Norte - Ceará, da possibilidade da prática do desenvolvimento sustentável, visto que é por intermédio do
trabalho educacional que se investe na responsabilidade social em relação ao meio ambiente, objetivando
reforçar atitudes, valores e medidas compatíveis com o desenvolvimento sustentável.
Durante a pesquisa percebeu-se que é necessário um acompanhamento mais ativo nas escolas para
a contextualização do aprendizado no âmbito ambiental, visto que este implica mudanças de hábitos e
ideias. Portanto, pretende-se dar continuidade com essas atividades nas escolas contempladas
inicialmente, bem como, atender outras escolas, ampliando, desta maneira, o público alvo.

AGRADECIMENTOS
Á Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento e Científico pelas bolsas de iniciação
científica.

REFERÊNCIAS
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Ambiente e Desenvolvimento – Rio/92, Rio de Janeiro, 1992.
CASTRO, M. L.; CANHEDO Jr, S. G. Educação ambiental como instrumento de participação, In:
PHILIPPI Jr, A; PELICIONI, M. C. F. Educação Ambiental e Sustentabilidade, Coleção Ambiental, 3; Barueri,
SP: Manole, 2005.
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DOWBOR, L.; TAGNIN, R. A. (organizadores), Administrando a água como se fosse importante:
gestão ambiental e sustentabilidade. São Paulo: Senac São Paulo, 2005.
EDUCACAO ambiental, - do que se trata? Programa de Educação Ambiental – A Última Arca de Noé.
2007. Disponível em: http://www.meioambiente.com.br. Acesso: 14/11/2008.
GONÇALVES, C. W. P. Os (des)caminhos do ambiente, 14ªed., 1ª reimpressão, São Paulo: Contexto,
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MOROSINE, F.; Curso: Gestão e Controle Ambiental, João Pessoa: ABES, 2005. 84p.

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MINNINI, N. M.; Educação ambiental para o século XXI – Encontro dos Centros de Educação
Ambiental / Ministério da Educação (MEC), Brasília, 1996.
MINNINI, N. M.; A construção do conhecimento – suas implicações na educação ambiental,
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PELICIONI, M. C. F.; CASTRO, M. L.; PHILIPPI Jr, A.; A universidade formando especialistas em
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PROJETO de educação ambiental: parque cinturão verde de CIANORTE, 2007. Disponível em:
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Renato Arnaldo (organizadores), Administrando a água como se fosse importante: gestão ambiental e
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práticas, 1ª ed., São Paulo: Blucher, 2007.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1328

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: RESPONSABILIDADE DE TODOS.


Rosemary Maria de ANDRADE
Graduando em Ciências Biológicas –UFRPE
Rosemarymaria94@yahoo.com.br
Michelle Andrea de SANTANA
Graduando em Ciências Biológicas –UFRPE
Mixelle_andrea@hotmail.com
Carmen Roselaine de Oliveira FARIAS
Profª. Drª adjunta da universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE. Departamento de Biologia /Área de Ecologia
crofarias@gmail.com

RESUMO
O presente artigo apresenta um relato das discussões feitas durante o I Seminário sobre o
Modelo de Desenvolvimento Brasileiro e os Impactos no Meio Ambiente realizada pela FIJ-Federação Ibura
Jordão na Escola Estadual Jordão Emerenciano, situada em UR-2 Ibura-Recife, com descrição da
metodologia utilizada. A discussão expõe sobre o meio ambiente, o modelo de desenvolvimento
econômico e a importância da mobilização social na construção de uma educação ambiental comprometida
com os seus princípios humanístico, ético e democrático
Palavra-Chave: Cidadania, Educação ambiental, Mobilidade social

1. PROBLEMATIZAÇÃO
A educação ambiental de acordo com os seus princípios legais é entendida como
responsabilidade de todos cabendo ao Estado, o Distrito Federal e Municípios definirem sua diretrizes e
normas, considerando os princípios estabelecidos em sua normas, o que incluem a participação coletiva nas
tomadas de decisões relacionadas às questões ambientais e a democratização das informações. Ela é
regulada pela Lei nº. 9.795, de 1999, que institui as Políticas públicas Nacional para Educação Ambiental. Na
referida lei, em seu Art.1° entende-se por “educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo
e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas
para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e
sua sustentabilidade.”
A mobilização social é uma boa aliada para o fortalecimento de lutas em prol da defesa dos
recursos naturais e na criação de políticas públicas nacionais que levem em consideração a construção de
uma sociedade sustentável. Esses grupos sociais têm como objetivo promover a conscientização e a luta
por uma sociedade igualitária, sobretudo em prol das necessidades das camadas populares, possibilitando
a realização de debates, fórum, buscando sensibilizar a sociedade e autoridades governamentais aos temas
de interesses sociais como, o debate em torno das questões ambientais e da necessidade de formar
cidadãos críticos e atuantes no mundo moderno que por sua complexidade está em constante
transformação de ordem sócio-político, econômico e ambiental. Assim, podemos nos remeter a CUNHA
(2008, p. 108), ―”de forma contrária a Educação tradicional, a Educação Ambiental Crítica volta-se para
uma ação reflexiva (teoria e prática-praxis) de intervenção em uma realidade complexa, é coletiva, seu
conteúdo está para além dos livros, está na realidade sócio ambiental derrubando os muros das escolas. É
uma educação política voltada para a transformação da sociedade em busca da sustentabilidade”

2. INTRODUÇÃO
2.1 Grupo comunitário FIJ
A FIJ – Federação Ibura e Jordão é uma associação democrática, civil e sem fins econômicos,
independente e apartidária que congrega entidades de base com o objetivo de fortalecer a organização
comunitária dos moradores, na defesa de seus direitos. Criada em 1990, a Federação vem coordenando
ações pela melhoria da qualidade de vida da população moradora dos bairros Ibura e Jordão, além de
participar e fortalecer lutas comuns aos movimentos populares e sociais de Pernambuco que buscam a
justiça e a inclusão social a partir do acesso às políticas públicas, a exemplo da Reforma Urbana.
Atualmente, a FIJ é composta por 38 entidades filiadas e possui uma Diretoria Executiva e um Conselho de

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Representantes com caráter deliberativo, formado por um integrante de cada entidade afiliada. Eixos de
atuação: educação, cultura e lazer; reforma urbana; saúde; transporte, trânsito e mobilidade; mulher;
trabalho e renda; desenvolvimento institucional das entidades filiadas. A FIJ passou a integrar a rede
FADOC – Brasil (Fundo de Apoio para Dinamização das Organizações de Base). O programa envolve
também organizações não-governamentais e comunitárias do Ceará, a exemplo do MST e do Instituto
Florestal Fernandes, além de outras que trabalham com o tema da Economia Solidária, Soberania
Alimentar, Reforma Agrária e Reforma Urbana. Em 2008, a FIJ participou de três encontros (Fortaleza,
Natal e Recife) com o objetivo de discutir sobre as temáticas da Economia Solidária e da Reforma Urbana e
também, socializar experiências. A Federação Ibura Jordão conta com parceiros como a Action Aid, ONG
que existe há mais de 34 anos e está presente em 47 países,trabalhando na luta para conquistar
direitos.Em Recife, a organização apóia a atuação da Federação,em parcerias com a ETAPAS-Equipe Técnica
de Assessoria,Pesquisa e ação Social através da doação de recursos a partir do envolvimento das
comunidades,especialmente das crianças,na formação de um Sistema de Vínculo Solidário,que articula e
fortalece a rede de parceiros envolvidos com o Projeto. O Sistema de Vínculo Solidário possui cerca de
1.500 crianças (FIGURA I) cadastradas, moradoras das comunidades do Ibura e Jordão. Essas crianças se
correspondem com família da Grécia que apóiam a realização das atividades da FIJ. A coleta das mensagens
e a recreação com crianças acontecem duas vezes ao ano, e conta com uma rede de voluntários.

2.2 A importância da FIJ na conscientização ambiental


Atualmente, considera-se que as discussões sobre o meio ambiente é uma necessidade urgente
numa sociedade em constante transformação como a nossa. Em pleno século XXI, a terra está sendo alvo
de diversos problemas ambientais, o que tem gerado muitos debates por diferentes grupos sociais e,
sobretudo do poder público em suas instancias. A FIJ através da sua atuação em fóruns, redes e conselhos
institucionais tem contribuído no controle social das políticas públicas dentre elas, o que se refere ao meio
ambiente, já que participa da Coordenação, GT’S de Meio Ambiente e do Movimento Nacional de Luta pela
Moradia. Por meio de palestras em escolas, a FIJ tem promovido debates significativos em relação às
questões ambientas com os seus filiados e, com a comunidade do Ibura e Jordão. Em maio deste ano a
Federação promoveu, em parceria com a ETAPAS, o I Seminário sobre o Modelo de Desenvolvimento
Brasileiro e os Impactos no Meio Ambiente. O encontro contou também com a participação da Secretária
do Meio Ambiente, a Secretaria de Serviços Públicos, do coordenador geral da ONG Centro Sabiá, dos
representantes e delegados das associações de bairro Ibura e Jordão, de crianças e dos moradores das
localidades mencionadas. Essas ações têm promovido contato de diferentes saberes, contribuindo para
uma maior participação em espaços de discussão, proposição e controle social de políticas públicas como o
Conselho Escolar do Ibura e Jordão, Conselho Distrital de Saúde (distrito sanitário 6), entre outros. Embora
as discussões em torno da problemática ambiental sejam consideradas pela direção da FIJ “como um
trabalho de formiguinha, compreende-se que a Comunidade do Ibura necessita de um olhar voltado para
as questões ambientais, sociais e políticas.” Sendo assim, a educação em qualquer modalidade de ensino
ou conteúdo “é uma prática social em intensa relação com o contexto sócio-político-economico e, somente
a partir desde pode ser compreendida” Veiga (1993, p.18). Nesse sentido, a educação ambiental deve ser
iniciada entre os diferentes espaços sociais a partir do diálogo dos múltiplos conhecimentos, para tanto é
preciso entender que ela se dar além da compreensão ecológica, biológico, geomorfológico dos aspectos
da natureza, perpassando também pelo contexto sócio-cultural, histórico, político e econômico, fatores que
direcionam as ações dos homens ao longo do tempo e do espaço. A Federação tem chamado a atenção do
poder público com relação as questões ambientais e moradia, mobilizando as comunidades em passeatas
em frete a órgãos públicos como, o Palácio do Governo. Fortalecendo os laços entre os movimentos sociais,
em prol de uma vida mais digna e de intensa responsabilidade com o meio ambiente. Em sua atuação, a FIJ
tem lutado em prol de habitação digna para a comunidade do Ibura e essa luta perpassa antes de tudo,
pela compreensão das temáticas ambientais, daí a sua preocupação em participar e promover debates para
as comunidades buscando despertar nos moradores uma consciência crítica sobre o meio ambiente, com
isso tem promovido o contato e a participação social na construção de políticas públicas voltadas para a
promoção de uma educação ambiental nas escolas Sendo a mobilização pública de vital importância para a
proteção ambiental, visto que ela se constitui como um instrumento de conscientização popular o que

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1330

confere a Federação Ibura Jordão ter voz, e assim atuar como educador na busca de uma educação
pautada no respeito do homem com a natureza e com os seus semelhantes.

3. PERGUNTA CONDUTORA
Como a FIJ- Federação Ibura Jordão compreende o meio ambiente e a educação ambiental
em Pernambuco?

4. MATERIAL E MÉTODOS
4. 1 Tipo de estudo
Trata-se de uma pesquisa-ação que é definida como um tipo de pesquisa social com base
empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um
problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do
problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. Como o nome já diz a pesquisa-ação
procura unir a pesquisa á ação ou prática, isto é, desenvolver o conhecimento e a compreensão como parte
da prática. É, portanto, uma maneira de se fazer pesquisa em situações em que também se é uma pessoa
da prática e se deseja melhora a compreensão desta.

4. 2 Local de estudo
A FIJ é um grupo social que está localizado na cidade de Recife/PE, e é formado pelos
representantes comunitários dos bairros do Ibura e Jordão.

4.3 Coleta dos dados


Foi realizada uma visita na FIJ durante a realização do seu I Seminário do Meio Ambiente no dia
04 de junho de 2011, na ocasião foi feito um questionário,no qual encontrava-se a pergunta condutora.

5. OBJETIVO
5.1 Geral
Realizar o diagnóstico da FIJ quanto a sua compreensão sobre a educação ambiental e os impactos
ambientais ocasionado pelo modelo de desenvolvimento brasileiro.
5.2 Específicos
Descrever os principais entraves da FIJ para a realização de uma educação ambiental no Ibura.
Elencar a partir da diagnose realizada durante os debates da FIJ medidas/ações que possam ser
executadas com o intuito de contribuir para melhoria das questões ambientais do bairro.

6. RESULTADOS
A participação no I Seminário sobre o Modelo de Desenvolvimento Brasileiro e Impacto do
Ambiente realizado pela FIJ/PE aconteceu no dia 04 de junho de 2011 na Escola Estadual Jordão
Ernerenciano na UR-2 Ibura-Recife (FIGURA II) e no turno da manhã, das 9 às 12h e teve como palestrantes
o Secretário de Meio Ambiente Roberto Arrais (FIGURA III), o Secretário de Serviços Públicos Eduardo Vital
(por força maior não pode participar do evento, e foi representado por seu enviado Renato), e pela ETAPAS
(FIGURA IV) e por fim, pelo coordenador Geral da ONG Centro Sabiá Alexandre Henrique Pires. Durante o
debate foram abordadas questões acerca da mobilização social em prol do meio ambiente, educação
ambiental, modelo de desenvolvimento brasileiro e os impactos no meio ambiente sobre as discussões
(FIGURA V) percebem-se que os participantes da FIJ, apesar do pouco conhecimento técnico em relação
aos processos do desenvolvimento da educação ambiental no Brasil foram capazes de mencionar em suas
falas os princípios legais estabelecidos no Plano Nacional de Políticas Públicas Para Educação Ambiental no
Brasil, apontado as possíveis soluções coletivas e bases necessárias para a formação de cidadãos
conscientes, participativo e atuante na tomadas de decisões relacionadas com as questões sócio- ambiental
, é o que podemos constatar nos depoimentos a seguir. Nos Depoimentos dos delegados participantes da
FIJ, quando perguntados sobre o que compreendiam sobre o meio ambiente e a educação ambiental? eles
foram bastantes categóricos e responderam:
“Arão representante da associação dos moradores da UR10: Educar para as questões ambientais é
desenvolver um trabalho de conscientização do povo pelo trabalho da educação ambiental. É preciso que o

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governo ofereça as populações de risco (os desabrigados da chuva) algo além de 150,00 reais e lona para
cobrir os morros, se é defender uma educação ambiental por que distribuir as populações sacos plásticos
para preservas as vidas se eles demoram vários anos para se decompor e prejudicam o meio ambiente?
investimento em tratamento de água, cuidado com saneamento básico e educação ambiental é o começo da
preservação do meio ambiente”.
“Cristina associação dos moradores/Jordão: A licenciatura para desmatamento é liberada para os
ricos e a culpa da poluição da natureza é coisa dos pobres, se democracia significa governo do povo, é preciso
que os recursos naturais sejam fiscalizados pelo governo”

Nesse sentido, a educação ambiental assim, como a preservação dos recursos naturais devem
ser cumpridas pelas três instâncias estadual, municipal e federal na esfera de sua competência e nas áreas
de sua jurisdição. Buscando garantir aos seus cidadãos usufruir da terra e de seus recursos naturais de
maneira sustentável, uma vez que ela se constitui legalmente como um bem comum a todos, devendo ser,
portanto, um direito assegurado pelo Estado sem que haja favoritismo sócio-político. Sendo assim, a
educação ambiental deve fazer cumprir um dos seus princípios que é a ética, a promoção da democracia e
o diálogo entre os órgãos públicos e a sociedade civil na busca de possíveis soluções para a viabilidade de
uma sociedade sustentável. Os delegados da FIJ defendem que o desenvolvimento de uma educação
ambiental deve ser instituída como disciplina nas escolas, para que as crianças aprenda desde cedo a
proteger a natureza,visto que muitas são as agressões ao meio ambiente tendo como agressor o
homem.Os projetos que incentivam a preservação ambiental como a reciclagem e a reutilização não dão
conta da quantidade de materiais, oriundo do lixo produzido pelo homem. Nesse sentido, a educação
ambiental deve ser iniciada entre os diferentes espaços sociais a partir do diálogo dos múltiplos
conhecimentos, para tanto é preciso que as escolas adaptem seus currículos aos novos conhecimentos
visto que os conteúdos teóricos estão ligados as necessidades sócio-ambiental dos alunos. É nesse sentido
que o ambiente escolar pode proporcionar uma educação ambiental democrática e significativa para os
estudantes, pois é esse modelo de educar para a cidadania que a escola brasileira poderá contribuir para
uma educação libertadora capaz de promover a emancipação social (FREIRE, 1997).
A educação ambiental passa também pelo ambiente familiar e pelas questões culturais, visto
que os pais são um exemplo de referencia para os filhos devendo, portanto, incentivar e encorajar os
pequenos, ou seja, é preciso que as crianças aprendam a cuidar do meio ambiente através dos pais. De
acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu Art. 26:
“Aos pais pertence a prioridade do direito de escolher o gênero de educação a dar aos filhos.”
Como tal é dever dos mesmos participar e cooperarem com a escola na criação do Projeto Político
Pedagógico da mesma a fim de contribuir no processo do ensino-aprendizado dos seus filhos numa
proposta que venha atender as questões ambientais. A questão ambiental não é uma questão só da
secretaria, mas sim de todos, da educação das pessoas em não jogar o lixo no chão, coleta seletiva do lixo,
elaboração de um oficio para a arborização da cidade.Depende também da elaboração de políticas Públicas
para a construção de um planejamento que vise trabalhar as potencialidades econômicas da comunidade
do Ibura e Jordão. A questão ambiental nesse sentido se dar a partir da compreensão do homem como
parte integrante da natureza, para tanto é preciso um planejamento das cidades. O teatro seria um
instrumento de grande importância para levar aos jovens uma conscientização ambiental dentro das
comunidades uma vez que permite a socialização do conhecimento ambiental através da cultura,
possibilitando o contato e a sensibilização das pessoas através do lazer
O que nos remete ao Art. 4º do Estatuto da Criança e do adolescente:
“É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com
absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à educação, ao lazer, à cultura.”
A educação ambiental é importante para isso deve haver parceria da secretaria municipal com
a população, promovendo trabalho e renda a través da reciclagem. É importante que haja mais
participação do poder público nas comunidades em torno dessa temática. E essa discussão que se faz em
relação ao meio ambiente deve ser compartilhada com outras pessoas, é papel dos órgãos públicos
oportunizarem esses espaços a partir de parcerias. Como vimos os órgãos públicos nas sua esferas devem
assegurar as diretrizes de um plano nacional de educação ambiental. Para tanto,é preciso investimentos
governamentais. Nesse sentido, a prefeitura do Recife através da Secretaria de Meio Ambiente tem

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1332

promovido encontros com diferentes espaços sociais, como ONGs, universidades e escolas, comunidade
popular para discutir o modelo de desenvolvimento e o impacto do meio ambiente, na tentativa de buscar
soluções coletivas. A secretaria do meio ambiente elaborou em conjunto com o governo de Pernambuco,
um projeto educacional para as escolas visando diminuir os impactos ambientais que acidade vem sofrendo
dessas últimas décadas.
Em convênio com a ONG Escola Mangue, a Secretaria de Educação oferece aulas diárias de
complementação de aprendizagem e danças praieiras, além de discussões sobre questões ambientais a
turmas da Colônia de Pescadores, em Brasília Teimosa. Também são promovidos encontros com
pescadores das comunidades de Ilha de Deus, Coque, Pina e Brasília Teimosa, com a participação do
IBAMA. Os objetivos são gerar Redes Jovens do Mangue e ampliar discussões ecológicas sobre o Parque dos
Manguezais.
O Projeto Sala Verde Fruto de parceira entre o Ministério do Meio Ambiente e a Secretaria de
Educação, Esporte e Lazer do Recife, a Sala Verde Josué de Castro oferece, para consulta, amplo material
relacionado à educação ambiental (livros, fitas cassetes, CD- ROM, DVD). O lugar funciona como espaço
para pesquisa não só aberto a professores (as) e estudantes da Rede Municipal, mas também a toda a
comunidade.A educação ambienta a partir dessas relações se constitui como uma ferramenta poderosa
para que seja estabelecidas relações de paz entre os homens e, sobretudo na utilização consciente das
explorações dos recursos naturais necessários a sobrevivência do planeta. As questões ambientais
dependem de uma política pública voltada para a agricultura e a economia solidária. Dessa forma, a
sustentabilidade é a capacidade dos diversos sistemas da Terra, incluindo as economias e sistemas culturais
humanos, de sobreviverem e se adaptarem as condições ambientais em mudança. ”Viver de forma
sustentável significa sobreviver da renda natural” (MILLER, 2007). O meio ambiente é uma questão que diz
respeito a todos. Conforme discurso expresso no artigo 225, inciso VI, da Constituição Federal Brasileira de
1988, a sociedade deve incorporar o papel de responsabilidade para a manutenção do ambiente
equilibrado junto com o poder público:
“ Cabe ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações".
Diante do exposto faz-se necessário o levantamento de políticas públicas para o
desenvolvimento de questões ambientais. Para tanto, é preciso estabelecer um planejamento sustentável,
que segundo Ruschman, consiste em “ordenar as ações do homem sobre o território”, este processo pode
assegurar uma gestão responsável, preocupada com os interesses das gerações futuras ao mesmo tempo
atender as necessidades das gerações atuais.
A Federação tem enfrentado vários problemas quanto a realização de um debate ambiental
mais conciso que é a falta de uma educação ambiental nas escolas e de uma formação de conscientização
ambiental por parte da Secretaria do Meio Ambiente e da própria Secretaria de Educação aos delegados
das associações. De acordo com a delegada Lubânia:
“Para tratar das questões ambientas é preciso que os líderes comunitários (delegados) possam
receber formação pela secretaria ou nas escolas, e que nela haja também uma preocupação para o ensino
da educação ambiental.”

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As discussões sobre o modelo de desenvolvimento brasileiro e a educação ambiental
realizadas com o grupo comunitário FIJ- Federação Ibura Jordão em parcerias com os órgãos públicos
como, a Prefeitura do Recife/Secretaria de Meio Ambiente e a Secretaria de Serviços públicos se constituiu
como um grande passo para se repensar as questões de habitação nos dois bairros a partir de uma
abordagem ambiental, nesse sentido a educação ambiental é um tema a ser tratado com urgência entre
essas populações tento o espaço escolar e o poder público como fortes aliados na consolidação de
propostas que permitam a participação popular na toma de decisões sócio-ambiental. Nesse sentido, a
escola deve formar cidadãos ativos e atuantes na sociedade (LIBÂNEO, 1994). Para que a educação
ambiental se der de forma eficiente, é necessário o desenvolvimento de novas formas de se educar e de
agir coletivamente em prol de um objetivo, buscando soluções para os problemas da sociedade, sendo a
educação ambiental uma das formas de conscientizar as pessoas da importância de preservar o meio em
que vivem, demonstrando que se não houver mudança de comportamento, o prejuízo pode ser irreversível

João Pessoa, outubro de 2011


1333

para o meio ambiente e ter conseqüências diretamente ligadas a toda humanidade. As discussões foram de
grande proveito para todos, líderes e liderado visto que a Secretaria de Meio Ambiente assumir com a
prefeitura estudar propostas ambientas relacionadas com os problemas específicos da localidade. Quando
se Leva em consideração as condições econômicas, sociais, culturais, ecologias e educacionais de uma
comunidade antes de se pensar em uma política social de habitação para ela, é sem dúvida a atitude mais
sensata para que a mobilização social junto aos órgãos públicos possa pensar na elaboração e
implementação de políticas públicas que de fato atenta as necessidades reais da população. E ter
participado desse debate foi para mim uma experiência enriquecedora.

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CUNHA, S.B & GUERRA, A. J. T. (Org). A questão ambiental: diferentes abordagens. Editora
Bertrand,São Paulo Brasil, 2008.
FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido, 17° Editora paz e terra, Rio de Janeiro, 1987.
LIBÂNEO, José Carlos. Didática. Editora Cortez, São Paulo,1994.
MILLER, G. T. Ciência Ambiental. Editora Thomson Learning, São Paulo 2007. p. 1-17.
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA). Lei n° 9.795 de 27 de abril de 1999. Política Nacional de
Educação Ambiental. 1999.
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA). Lei n° 9.795 de 27 de abril de 1999. Política Nacional de
Educação Ambiental. 1999.
RUSCHMANN, D. Turismo e planejamento sustentável: a proteção do meio ambiente.
Campinas.Editora Papirus,São Paulo,1997.
VEIGA, I.P.A. A construção da Didática numa perspectiva histórica crítica de educação. In OLIVEIRA,
MARIA RITA NETO SALES. Didática: ruptura, compromisso e pesquisa. São Paulo, Papirus, 1993, PP.79-97us.

Site:
http://www.confap.pt/confap.php?pagina=legislação
acesso em: 04/06/2011.
Site:
http://www.camaraanhumas.sp.gov.br/arquivos/eca.pdf
acesso em: 04/06/2011.
Site:
http://www.recife.pe.gov.br/pr/seceducacao/ambiental.php
acesso em: 04/06/2011.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1334

9. ANEXOS

Fotos do Debate

FIGURA I Crianças do Sistema de FIGURA II Portal de acesso a escola


Vínculo onde correu o debate

FIGURA III do lado direito, o FIGURA IV Equipe da ETAPAS


Secretário do Meio Ambiente de PE

João Pessoa, outubro de 2011


1335

FIGURA V Delegados e FIGURA VI Representante da


representantes das associações de bairros Prefeitura//Secretaria de Meio Ambiente
do Ibura e Jordão.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1336

A CONSTRUÇÃO DA HISTÓRIA AMBIENTAL COMO


ESTRATÉGIA DIDÁTICA PARA ABORDAGEM DAS RELAÇÕES SOCIEDADE E
NATUREZA NA ILHA DE MARÉ – SALVADOR - BA
Rosiléia Oliveira de ALMEIDA
roalmeida@ufba.br
Izaura Santiago da Cruz
izaura.cruz@gmail.com
Prudente Pereira de Almeida Neto
prudentyala@yahoo.com.br
Professores da Faculdade de Educação – Universidade Federal da Bahia

RESUMO
A partir da apresentação da história ambiental como campo de pesquisa que põe em relevo a
dimensão ambiental da história humana, apresenta-se a construção da história ambiental, a partir do
diálogo entre conhecimentos acadêmicos, escolares e locais, como estratégia didática que favorece a
contextualização dos conteúdos de ensino, o reconhecimento pessoal e social dos estudantes da Ilha de
Maré, Salvador-BA e a sua transição para estudo em escolas localizadas no continente. A construção da
história ambiental da ilha, sistematizada no Caderno Ambiental da Ilha de Maré, foi orientada pelos
princípios da vertente sócio-ambiental da Educação Ambiental, evidenciando a concepção de ambiente a
partir das dinâmicas das interações sociedade-natureza.
PALAVRAS-CHAVE: História ambiental; Educação Ambiental; sustentabilidade sócio-ambiental;
transição escolar; Ilha de Maré.

A HISTÓRIA AMBIENTAL COMO CAMPO DE PESQUISA


Nos últimos anos têm sido publicados vários trabalhos no campo da história ambiental, que
enfatizam como a interferência humana nos ecossistemas tem gerado a degradação, em muitos casos
irreversível, do rico patrimônio representado pela biodiversidade (DRUMMOND, 1997; DEAN, 1997;
PÁDUA, 2002). A partir de uma abordagem metodológica que coloca em relação as ciências sociais e
naturais, a sociedade e a biologia, o homem e a natureza, a História Ambiental, segundo Drummond (1991,
p. 177) visa "incorporar variáveis ambientais aos seus estudos sobre a sociedade humana", tendo como
principais características metodológicas e analíticas: a) o foco em uma região com alguma identidade
natural (um território árido, uma ilha, etc.), ou seja, um cenário fisicamente circunscrito; b) o diálogo
sistemático com quase todas as ciências naturais - inclusive as aplicadas - pertinentes ao entendimento dos
quadros físicos e ecológicos das regiões estudadas; c) o estudo das interações entre o uso de recursos
naturais e os diferentes estilos civilizatórios; d) a grande variedade de fontes pertinentes ao estudo das
relações entre as sociedades e o seu ambiente; e, e) o trabalho de campo com registros de observações
sobre paisagens naturais, clima, flora, fauna, ecologia e, também, sobre as marcas que a cultura humana
deixa nessas paisagens.
Toda história reflete as relações entre as pessoas, os poderes, os costumes e a organização da
distribuição das riquezas, ma, muitas vezes, esquecemos que “toda a história humana, além de social, é
também história ambiental” (BAHIA, 2007, p. 9). Assim, o esforço da história ambiental está em entender a
influência das características ambientais no fluxo da história humana e as mudanças provocadas pela ação
humana no ambiente. Como toda história, a história ambiental tem natureza contingente, podendo ser

João Pessoa, outubro de 2011


1337

influenciada pelos objetivos da ocupação de uma região, pelas tecnologias, pela distribuição das terras e
pela intensidade de consumo das riquezas naturais e produzidas.
O campo de pesquisa da história ambiental representa uma tentativa recente de incorporar as
temporalidades do mundo biofísico dentro da análise da história humana, sendo uma tentativa de
promover interfaces, conforme propunha Bateson (1986), entre os sistemas naturais e sociais. Segundo
Little (2006), os historiadores, que antes se limitavam a tratar a história social, e os geólogos e biólogos,
que reconstruíam a história natural de um lugar, combinam seus enfoques dentro do paradigma ecológico
na procura de entender as mudanças de longa duração na paisagem com base na análise das distintas
ondas de ocupação humana e seus respectivos impactos sócio-ambientais.
A etnografia dos conflitos sócio-ambientais é uma das vertentes da história ambiental, diferindo da
etnografia tradicional em vários aspectos essenciais: a) o foco da etnografia não é o modo de vida de um
grupo social, mas tem como seu objeto principal a análise dos conflitos sócio-ambientais em si e as
múltiplas interações sociais e naturais que os fundamentam; b) não trata de um único grupo social, mas
tem que lidar simultaneamente com vários grupos sociais; c) o escopo geográfico é raramente limitado ao
âmbito local do grupo, já que incorpora vários níveis de articulação social; e d) enquanto etnografias
tradicionais dedicavam um capítulo ao habitat natural do grupo, na etnografia dos conflitos
socioambientais o ambiente biofísico se torna um elemento central em quase todos os assuntos a serem
tratados (LITTLE, 2006).

A HISTÓRIA AMBIENTAL COMO ESTRATÉGIA DIDÁTICA


A abordagem metodológica proposta nas Diretrizes de Educação Ambiental da Secretaria Municipal
de Educação e Cultura de Salvador (SMEC) para o tratamento das questões ambientais está em
consonância com os fundamentos da História Ambiental, pois busca superar a vertente ecológico-
preservacionista, através da opção pelo enfoque sócio-ambiental, em que há preocupação com os aspectos
sociais, econômicos e culturais relacionados à busca de construção de sociedades sustentáveis, levando em
consideração a possibilidade de sobrevivência das populações tradicionais e os limites dos ecossistemas.
Esse modelo de gestão sócio-ambiental, que se sustenta em princípios ecológicos no uso dos bens
ambientais, busca respeitar e manter a biodiversidade dos ecossistemas. (PMS, 2006a).
Conforme destaca Carvalho (1998, p. 11), “a educação ambiental vem sendo associada a diferentes
matrizes de valores e interesses, gerando um quadro bastante complexo de educações ambientais com
orientações metodológicas e políticas bastante variadas”. Outras publicações destacam e conceituam as
diferentes tendências da educação ambiental (BRASIL. MEC, 2008; LOUREIRO, 2005). A vertente
socioambiental, que orienta nossas ações, concebe o ambiente a partir das dinâmicas das interações
sociedade-natureza, sendo, portanto, construído ao longo do processo histórico, cultural e político de
ocupação e transformação do espaço.
Assim, partimos da compreensão de que a sustentabilidade ambiental é indissociável da
sustentabilidade socioeconômica e de que as conformações sócio-ambientais são complexas, por serem
social e historicamente construídas e permeadas pela dimensão subjetiva, o que demanda o
desenvolvimento de ações educativas que incorporem e ultrapassem as abordagens ecológico-
preservacionista e comportamental.
Como as sociedades encontram-se vinculadas espacial, econômica e culturalmente aos diferentes
ambientes, concebe-se a existência de uma influência recíproca entre a diversidade cultural e a ambiental,
o que requer uma abordagem interdisciplinar na busca de compreensão das dinâmicas e intrincadas
interações que ocorrem nos ecossistemas, em que ganha destaque a análise das inter-relações entre
sociedade e natureza, a partir da discussão dos estilos de desenvolvimento. Nesse sentido, as diretrizes
curriculares da SMEC tomam posição contrária ao modelo econômico dominante, o qual tem gerado o
esgotamento dos recursos naturais e a exploração do ser humano pelo ser humano, preconizando um
modelo de educação crítico, emancipatório e transformador, voltado para a construção de um novo
modelo de desenvolvimento, caracterizado por modalidades sustentáveis de aproveitamento dos bens
ambientais e pelo estabelecimento de novas relações sociais entre os seres humanos. (PMS, 2006a).
A perspectiva metodológica proposta para a abordagem das temáticas ambientais envolve a
recriação do conhecimento historicamente acumulado na interpretação de situações concretas, visando à
ampliação das capacidades cognitivas e das posturas éticas dos estudantes. Assim, uma vez que o ambiente

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1338

é compreendido como processo histórico de relações mútuas entre as sociedades humanas e os


ecossistemas naturais, os processos educativos devem valorizar e buscar compreender a pluralidade
cultural nas sociedades. (PMS, 2006a).
Rompendo com as perspectivas que tratam os problemas ambientais como catástrofes inevitáveis,
que fogem à possibilidade de intervenção humana, a perspectiva sócio-ambiental da educação ambiental,
por considerar as modalidades de organização social produtos dos processos históricos da humanidade na
sua apropriação e transformação da natureza, considera os referidos problemas como desafios à
sobrevivência humana, acreditando na potencialidade das sociedades para construirem coletivamente
soluções criativas para eles. (PMS, 2006a).
Percebe-se que as Diretrizes de Educação Ambiental da SMEC encontram-se sintonizadas com a
tendência defendida por Reis (2006) de se ressaltar a interdependência entre ambiente e cultura, muitas
vezes desconsiderada nas produções teóricas e programas de ação.
O tratamento individual da diversidade cultural e da biodiversidade, tanto em acordos e debates
teóricos quanto em programas práticos, mascara a verdadeira relação de interdependência existente entre
ambas. Essa tendência é agravada pelo fato de o desenvolvimento sustentável ser normalmente associado de
modo exclusivo ao ambiente, desconsiderando-se a sinergia que sua preservação apresenta com a cultura.
(REIS, 2006, p. 2-3)

As diretrizes de educação ambiental da SMEC propõem a busca de compreensão das implicações


das formas de apropriação da natureza através do trabalho, por diversos tipos de sociedade, na dinâmica
dos ecossistemas, a pesquisa de alternativas sustentáveis de utilização dos bens ambientais e de sua
recuperação em áreas degradadas e, ainda, o estudo das atividades extrativistas realizadas pelas
comunidades tradicionais, relacionando-as com a questão ambiental. (PMS, 2006a).
Diante do exposto, concebe-se que a aprendizagem de temas ambientais é favorecida pelo
envolvimento ativo dos alunos na reflexão sobre problemas reais, permitindo que eles elaborem hipóteses
sobre as possíveis causas de modificação dos ecossistemas, pesquisem os fatores determinantes desses
problemas, reflitam sobre as suas consequências ambientais e sociais e proponham possíveis soluções.
Nesse sentido, abordagens metodológicas que contextualizem temáticas ambientais regionais e locais
podem favorecer o exercício dessas competências. (PMS, 2006a; SANTOS; MORTIMER, 2001).
A construção da história ambiental como estratégia didática pode favorecer a superação da
concepção comum na abordagem escolar da cultura em que esta é reduzida a costumes, tradições, práticas
e condutas inventariados e catalogados como modos de ser e de viver acabados, estáveis e até mesmo
atemporais. Para Brandão (1995, p. 85), “a cultura não é um depósito morto de uma história dada, mas sim
o trabalho vivo da experiência social, que precisa ser capaz de produzir significados, provocar sentimentos
individuais e coletivos, criar disposições à ação, e estabelecer formas peculiares de experiência coletiva da
vida e de reflexão sobre o seu valor”.
As escolas, contrapondo-se tanto ao pressuposto de unidade psíquica da humanidade e de
evolução das culturas, quanto ao de diferenciação dos agrupamentos humanos por seu grau de inteligência
ou aptidão, precisam abordar as diferentes formas como diferentes culturas constroem a ciência e a
tecnologia em suas tentativas de compreensão e manejo do ambiente desde tempos remotos, ressaltando
que essas produções humanas apresentam peculiaridades quanto a conceitos, objetivos e métodos
empregados por se ajustarem às particularidades dos diferentes processos históricos e culturais dos grupos
humanos. Nesse sentido, Cunha (2007), busca estimular os profissionais da educação a utilizar as
referências históricas da população africana e afro-brasileira no que se refere às suas conquistas
tecnológicas e científicas na abordagem dos conteúdos escolares, o que é significativo ao se considerar a
ascendência africana da população da Ilha de Maré.
É necessário estabelecer vínculos entre os processos educativos locais e o acontecer dinâmico da
vida cotidiana, sendo que os ambientes de aprendizagem podem ter uma ação dinamizadora dos processos
sociais de mudança ligados à questão ambiental, ajudando a fundamentar científica e tecnicamente as
demandas locais para o desenvolvimento sustentável. Isso porque “a vida cotidiana é o espaço privilegiado
de aprendizagem. Nós nos realizamos como seres humanos na medida em que conseguimos abrir e
trabalhar esses espaços na cotidianidade. De fato, somos essencialmente nossa vida cotidiana”.
(GUTIÉRREZ; PRADO, 2002, p. 94).

João Pessoa, outubro de 2011


1339

CONTANDO A HISTÓRIA DA ILHA DE MARÉ: O CADERNO AMBIENTAL


A participação das comunidades nas questões ambientais dá-se frequentemente por movimentos
reivindicativos, tendo, conforme Rocha (2007), um caráter quase simbólico e ritual, visando ao
atendimento das carências. Considera-se a necessidade de se superar essa perspectiva através da formação
dos estudantes para a participação cidadã, que interfere, interage, influencia nas decisões e na
implementação de medidas relativas ao meio ambiente e ao desenvolvimento. Para que se garanta essa
participação cidadã é necessário romper com o modelo convencional de Educação Ambiental, de natureza
exclusivamente conservacionista/preservacionista, buscando-se atuar na construção de espaços públicos
participativos de negociação da gestão ambiental e na mediação e enfrentamento dos conflitos
socioambientais (BRASIL, 2007b).
Para possibilitar a participação cidadã nas questões ambientais o acesso às informações ambientais
e a aquisição de habilidades e atitudes que permitem o posicionamento crítico diante dos problemas e das
suas possíveis soluções precisam ser efetivados. Nesse sentido, considera-se que a construção coletiva da
história ambiental da Ilha de Maré relativa ao uso dos bens ambientais pode favorecer o reconhecimento
pessoal e social, a aprendizagem de competências cognitivas e de inserção social e, ainda, a transição dos
estudantes para estudo em escolas localizadas no continente, a partir do 6º ano do Ensino Fundamental.
Partindo do pressuposto do protagonismo das formações sócio-culturais locais, a Secretaria
Municipal de Educação e Cultura de Salvador (SMEC) lançou o Atlas Infanto-Juvenil de Salvador, que
objetiva sensibilizar crianças, jovens e educadores para as questões ambientais globais, a partir de sua
realidade imediata e cotidiana, em que os elementos sensíveis do ambiente são considerados poderosos
insumos para a aprendizagem significativa. No atlas há algumas poucas referências à Ilha de Maré: trata-se
de uma reserva ecológica municipal, com remanescentes de Mata Atlântica e histórico de degradação de
seus manguezais devido à poluição (PMS, 2006b).
Embora seja a ilha da Baía de Todos os Santos localizada mais próximo ao continente (Figura 1),
com a travessia diária dos alunos sendo realizada através de barcos (Figura 2), a Ilha de Maré tem práticas
culturais bastante diferenciadas. Como é constituída por várias comunidades tradicionais, que vivem da
pesca, da mariscagem e da agricultura de subsistência, sendo cinco delas certificadas como quilombolas
(FUNDAÇÃO CULTURAL PALMARES, 2010), os habitantes têm uma profunda relação ancestral com a
natureza.

Figura 1. Mapa cartográfico da Ilha de Figura 2. Embarque dos alunos para a


Maré, indicando sua proximidade ao continente. travessia para as escolas do continente no
Fonte: CONDER (2010). primeiro dia de aula (01/03/2009).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1340

O eríodo de transição do 5º para o 6º ano do Ensino


Fundamental significa uma mudança brusca para os alunos da ilha. A partir desse momento deixarão suas
famílias e passarão por uma viagem de pouco mais de trinta minutos de barco para darem início à jornada
de aulas. Se antes havia uma única professora, muitas vezes nascida na ilha, compartilhando com os alunos
costumes e práticas, a partir dessa nova etapa os alunos convivem com vários professores, todos do
continente, que passam a apresentar demandas cognitivas para as quais os alunos não foram
suficientemente preparados. Os alunos também passam a conviver com costumes diferenciados,
enfrentando situações de risco enquanto aguardam o horário de retorno do barco, nos dias em que são
liberados pela escola mais cedo devido à falta de professores.
A transição entre ciclos de estudo é um dos pontos mais críticos das trajetórias escolares dos
alunos, especialmente dos provenientes de meios desfavorecidos, como é o caso da Ilha de Maré, havendo,
porém, uma carência de estudos sobre o tema e de propostas que visem promover articulações
longitudinais e indicar patamares de exigências (LOPES, 2005; ABRANTES, 2005, 2009). Neste trabalho
partimos do pressuposto de que as dificuldades no percurso escolar dos alunos têm relação principalmente
com a natureza e nível de demandas cognitivas, que muitas vezes são afastadas do contexto sociocultural e
desconsideram as aprendizagens escolares prévias. Constatou-se que poucos pesquisadores, a exemplo de
Truzzi (2000), Abrantes (2005, 2009) e Lopes (2005), se dedicam a tentar entender a transição escolar entre
séries e níveis de ensino e como o projeto político-pedagógico das escolas pode favorecer o percurso
escolar dos estudantes.
No processo educativo, a cultura tem importância extrema, pois a aprendizagem se processa em
todo o contexto sociocultural em que aluno está inserido. Assim, conceitos e saberes prévios ligados à
cultura do estudante e a forma como cada aluno se relaciona com a sua cultura devem ser considerados
para melhor aproveitamento didático dos conteúdos.
A mudança de contexto social gera nos atores um sentimento de “começar de novo”, implicando
um processo de ruptura com uma ordem estabelecida, com efeitos de desestruturação identitária e social e
abertura de um campo de possibilidades para o desenvolvimento de novas identidades e relações, pois a
cultura é um processo dinâmico, em que ocorrem redefinições das narrativas de pertencimento. Tendo se
intensificado nas sociedades modernas até um estado quase contínuo, a passagem dos indivíduos entre
contextos tem um significativo potencial emancipatório, mas é também um terreno fértil à criação de
“hiatos sociais”, geradores de conflitos, crises e exclusões (ABRANTES, 2005).
Ao chegaram ao continente os estudantes da ilha deparam-se com práticas culturais diferentes das
que vivenciam e percebem que a maioria de seus professores desconhece seu contexto sociocultural. Dessa
forma, é importante a preparação dos professores para atuarem didaticamente com esses alunos,

João Pessoa, outubro de 2011


1341

acionando em sala de aula os seus saberes como condição para a aprendizagem dos conteúdos
sistematizados.
Conforme Abrantes (2005, p. 32), “o que torna particularmente delicados (e decisivos) estes
processos de transição entre ciclos de ensino é o fato de, não apenas estarem enquadrados, mas
condicionarem significativamente transições mais abrangentes que regulam a vida social”. Em relação à
transição escolar, as motivações, disposições e anseios dos alunos da ilha são diversos, interferindo nesses
sentimentos o fato de que terão que levantar mais cedo e, por isso, se alimentar ainda mais cedo. Em dias
de chuva terão que atravessar de barco, mesmo com as ondas, na linguagem deles, “jogando”, ou faltarem
às aulas. Tendo em vista que a cultura não é uniforme, é importante buscar apreender como os sujeitos
envolvidos no processo educativo se percebem dentro da sua cultura e como analisam as relações
interculturais.
A visão social predominante envolve a concepção do processo de ensino-aprendizagem como algo
homogêneo, sendo considerado importante apenas o que é concreto aos olhos, como a nota do aluno, se é
um “bom” ou “mau” aluno, se é frequente ou não às aulas, se faz ou não as tarefas. O tratamento
uniforme, sem valorizar a diversidade sociocultural e os percursos individuais, representa um obstáculo na
trajetória escolar dos estudantes.
A mudança de ciclo de ensino acarreta [...] alterações não apenas nos níveis de exigência mas na
própria forma de tratar a linguagem. Será importante compreender os modos pelos quais os atores se
autonomizam de anteriores universos linguísticos e se integram em novos, compreendendo as mudanças nas
relações sociais que lhes estão subjacentes e evitando abordagens demasiado estruturalistas, segundo as
quais tais metamorfoses seriam impossíveis (ABRANTES, 2005, p. 29).

A atuação das escolas tem sido pautada por um modelo seletivo, universalista e excludente, que
não valoriza os conhecimentos dos alunos e suas formas peculiares de aprender. A pretensão de “ensinar
tudo a todos” a partir da valorização exclusiva do saber sistematizado é elitista e incompatível com a
perspectiva da “educação para todos” (AIKENHEAD, 2009). A ênfase nos conteúdos, e não na prática social,
faz com que os alunos de contextos desfavorecidos socialmente sejam penalizados na triagem acadêmica
dos “mais capazes”, o que tem consequências trágicas, já que esses alunos não percebem sentido no que
lhes é ensinado e não se preparam para o exercício pleno da cidadania.
Tura (2002) emprega o conceito de circularidade entre as culturas para designar a dinâmica da
interação entre diferentes lógicas culturais no espaço escolar, o que traduz a compreensão de que ele
constitui “um local privilegiado de troca de idéias, de encontros, de legitimação de práticas sociais, de
interação entre gerações, de articulação entre diversos padrões culturais e modelos cognitivos”, devido à
sua “ação sistemática na aprendizagem de conhecimentos, competências e disposições socialmente
reguladas à população de crianças e de jovens de uma específica organização social” (p. 156). Nesse
sentido, é necessário aproximar a educação formal das práticas culturais locais e da produção cultural mais
ampla da sociedade.
Os saberes dos professores do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental são diferentes daqueles dos
professores especialistas que atuam do 6º ao 9º ano, sendo que essas diferenças dificultam a integração
entre esses níveis escolares e promovem rupturas nessa transição (TRUZZI, 2001). No que se refere à Ilha
de Maré esse problema é intensificado pela distância não só epistemológica, mas também física, entre os
professores locais e os do continente, que dificulta as tentativas de diálogo e intercompreensão.
Constatou-se que o principal obstáculo na transição escolar não se refere à necessidade de
travessia todos os dias para estudo no continente e ao cansaço dela decorrente. Concluiu-se que os alunos
têm dificuldade de se ajustar às mudanças de demandas escolares, já que nas escolas da ilha são envolvidas
por relações de proximidade afetiva e sociocultural, com baixo nível de exigências cognitivas, enquanto
que, nas escolas do continente, as demandas são prioritariamente cognitivas, com distanciamento dos
professores em relação ao contexto de vida dos alunos. Esse descompasso faz com que os alunos não
respondam satisfatoriamente às novas solicitações de desempenho cognitivo e tenham baixo interesse pela
escola.
Cconforme propõem Demo (1993) e Gohn (2006) é importante que as escolas se transformem em
centros de referência civilizatória nos bairros onde se localizam, o que demanda a aproximação aos
contextos sociais. Nesse sentido, as diretrizes da SMEC explicitam que a superação da repetência e evasão

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1342

requer a concepção da escola como um "equipamento urbano agregador de uma cultura local que deve se
estender paulatinamente para espaços mais amplos”. (PMS, 2005b).
Moreira (2000) ressalta a importância de estudos da comunidade na definição do eixo do trabalho
pedagógico e dos conceitos das diferentes áreas a serem ensinados, o que permitiria deslocar o foco dos
conteúdos universais para a busca de dar sentido à prática social. A relevância pedagógica dos estudos do
contexto sociocultural é destacada por Dauster (1996), que considera que o olhar antropológico permite
conhecer as especificidades de determinado universo social. Também Auler (2007) considera essencial a
dimensão do local no campo da curiosidade epistemológica dos professores.
A construção da História Ambiental da Ilha de Maré visa, assim, favorecer a transição escolar dos
alunos da ilha para estudo no continente, através da abordagem contextualizada e articulada das questões
ambientais globais e locais. É um texto que traduz o esforço de construção de conhecimentos através da
interação entre a equipe do projeto “Água, fonte de vida: construindo nas escolas a história ambiental da
Ilha de Maré” (financiado pela FAPESB entre ago/2008-jul/2011) e os habitantes da ilha, promovendo o
diálogo entre o conhecimento acadêmico e conhecimento cotidiano. Para isso, partiu-se do diagnóstico de
problemas socioambientais da ilha com o envolvimento dos estudantes, promovendo-se, em seguida, a
discussão em sala de aula das suas causas, consequências e possíveis soluções. A compreensão destes
problemas foi ampliada pela abordagem acadêmica destes problemas pelos pesquisadores da equipe do
projeto, resultando em um texto que promove o diálogo entre os conhecimentos científico, escolar e
cotidiano e busca favorecer a continuidade desse diálogo em espaços de aprendizagem formais e informais.
No que se refere à contextualização da temática ambiental, conclui-se que ela tem gerado interesse
entre os estudantes envolvidos no projeto, por promover, como sugerem Santos e Mortimer (2001), a
aproximação cultural e afetiva com os conteúdos de ensino. Propõe-se, que este enfoque local seja
mantido e articulado à abordagem de questões ambientais mais amplas, a exemplo das mudanças
climáticas globais, que também afetam as condições ambientais da ilha.

Assim, pretende-se que o Caderno Ambiental da Ilha de Maré seja um texto aberto à reconstrução
nos diversos espaços educativos que atendem aos habitantes da ilha. Também pretende-se adotá-lo como
material de suporte pedagógico pelos professores das escolas locais no âmbito do projeto “Relação entre o
uso sustentável de recursos ambientais locais e as mudanças climáticas globais: possibilidades de
abordagem investigativa por estudantes da Ilha de Maré” (financiado pela FAPESB no período de ago/2011
a jul/2013), em que se pretende promover a difusão e a popularização dos conhecimentos científicos sobre
o fenômeno do aquecimento global e o debate sobre as controvérsias existentes sobre o tema e suas
vinculações com problemas ambientais locais, através do diálogo intercultural com as escolas e os campos
sociais mais amplos de convivência dos alunos.

REFERÊNCIAS
ABRANTES, P. As transições entre ciclos de ensino: entre problema social e objecto sociológico.
Interacções, Lisboa, n. 1, p. 25-53, 2005. Disponível em: <http://nonio.eses.pt/interaccoes/artigos/A2.pdf>.
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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1344

MARCO REGULADOR DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL BRASILEIRA E A


QUALIDADE DE VIDA
Sergio Faoro Tieppo
Universidade de Caxias do Sul (WWW.ucs.br)
sftieppo@ucs.br
Professor da Universidade de Caxias do Sul

RESUMO
Este artigo analisa os valores presentes no Marco Regulador da Educação Ambiental Brasileira.
Percebe que a qualidade de vida se apresenta côo um valor no Marco. Porém não considera a
complexidade que o conceito apresenta. Para avançarmos com a educação ambiental no Brasil é necessário
compreendermos que a qualidade de vida depende do meio ambiente adequado às necessidades do ser
humano; depende da possibilidade de participação e influência nos rumos que a sociedade toma, assim
como das condições objetivas de produção e consumo a que as pessoas têm acesso. Mas acima de tudo
depende da orientação para realizar essas metas todas. Acreditamos que essa orientação vem da práxis de
atender as necessidades filogenéticas e ao atendê-las estamos possibilitando maior qualidade de vida e
contribuindo na construção de uma sociedade sustentável.
Palavras-chaves: Educação Ambiental, qualidade de vida, sociedade sustentável, necessidades.

O marco regulador da educação ambiental brasileira é constituído pela Política Nacional de


Educação Ambiental (PNEA) instituída pela Lei nº 9.597 de 27/04/1999 e pelo Programa Nacional de
Educação Ambiental (ProNEA) de 2005. Além desses dois instrumentos, os Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCNs), particularmente o tema transversal sobre o meio ambiente que segundo o Decreto nº
4.281 de 25/06/2002, que regulamente a Lei da PNEA, são uma referencia à educação ambiental, também
constitui o marco regulador.
Nossa análise dos valores da Educação Ambiental brasileira se restringirá aos dois primeiros
documentos. Sabemos que a Educação Ambiental brasileira não se restringe aos documentos oficiais, ao
poder público. Porém o marco regulador estabelece os limites e as possibilidades da Educação Ambiental.
Por exemplo, o veto ao artigo 18 da Lei nº 9.795 de 27/04/1999108 estabeleceu um limite muito grande à
Educação Ambiental, pois a deixou sem fonte específica de financiamento e conseqüentemente sem
autonomia. Diante do cenário de escassez de verbas em geral e do reduzido orçamento público para a área
ambiental, a educação ambiental teria conquistado não apenas o direito de existir, mas, sobretudo,
conquistado os meios de existir. Nesse sentido, o veto ao artigo 18 representa a perda da autonomia - não
apenas financeira, mas também política -, porque está condenada a vincular-se e a subordinar-se a outros
setores e interesses da área ambiental que contemplem a educação ambiental entre suas atribuições, mas
sempre de modo marginal, complementar. A educação ambiental desceu um degrau na hierarquia das
prioridades de enfrentamento da questão ambiental e ficou à mercê de outras políticas públicas ambientais
na disputa pela alocação de verbas. Essa situação condena os educadores ambientais a estarem
constantemente articulados na busca de verbas para execução de seus projetos; e ainda por cima,
condicionados ao critério - sabe-se lá qual - definidor do mérito da concessão de verbas por parte do
agente financiador. Ou seja, qualquer que seja o projeto ou programa de educação ambiental proposto, ele
terá que ser submetido a algum tipo de avaliação para definir a 'pertinência' da concessão da verba
solicitada. No lugar da autonomia para a aplicação dos interesses próprios da educação ambiental, com o
veto presidencial ao artigo 18, fica a submissão da educação ambiental a interesses outros (Layrarques,
2002).
Esta citação remete para a importância do papel desempenhado pelo marco regulador, ele não só
organiza os princípios teóricos e científicos como indica as instituições e fontes de financiamento para que

108
O artigo dizia que, “devem ser destinados a ações em educação ambiental, pelo menos vinte por cento dos
recursos arrecadados em função da aplicação de multas decorrentes do descumprimento da legislação ambiental”.

João Pessoa, outubro de 2011


1345

as políticas possam ser implementadas. No exemplo acima percebemos a dificuldade que foi colocada para
que a educação ambiental pudesse se desenvolver, quando não se permitiu que houvesse recursos pré-
definidos para sua execução. É ingênuo entender que uma organização complexa como a implementação
de uma política e mesmo para aprimoramento da mesma, através de pesquisas como sugere Layrarques,
possa ocorrer sem fontes de financiamento. Quando o marco regulador nasce sem financiamento, ou com
situações difíceis para sua concessão já mostra o quanto ele será valorizado na sociedade. Tomamos como
exemplo à inovação, febre no meio empresarial brasileiro, a política de inovação nasceu e com ela a Lei do
Bem, beneficiando com isenções aqueles que investirem em inovação tecnológica. Este exemplo mostra a
importância que o marco regulador da educação ambiental tem, ou poderia ter se as fontes de recursos
fossem efetivas. Independente dessa situação, de pouca autonomia, vamos analisar os valores presentes
no marco regulador e perceber que qualidade de vida está presente em ambos os documentos que o
compõem.

VALORES PRESENTES NA POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL


A Lei de educação ambiental teve sua primeira formulação em 1993, por meio do Projeto de Lei nº
3.792 apresentados à Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias da Câmara dos
Deputados, pelo então deputado federal Fábio Feldmann.
Esta lei tem um processo de constituição difícil, pois não passa por um processo de ampla discussão
na sociedade. Uma política que se pretenda ser um consenso da maioria deve ser debatida por diferentes
organismos civis e políticos, aos governos cabem propor idéias, mas antes de tudo arbitrar o processo. No
caso da PNEA, houve uma tutela do governo impedindo um amplo diálogo na sociedade. Para Layrargues
(2002) a discussão desse projeto de lei até a sua implementação em 1999, é uma discussão inócua, pois foi
dirigida por quem deveria arbitrar a negociação.
A primeira constatação é que a Lei não define claramente quais são os valores que ela defende, ou
seja, a Lei não diz quais valores segue. Na definição que dá à Educação Ambiental, no artigo 1º, valoriza: a
conservação do meio ambiente, a sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. Segundo a Lei, no artigo
1º, os “valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências” devem ser desenvolvidas
tendo como objetivo a “conservação do meio ambiente”. Meio ambiente “essencial à sadia qualidade de
vida e sua sustentabilidade”. Ficando claro que essa visão de EA valoriza a conservação do meio ambiente,
a sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. Podemos perceber, também, que é a conservação do
meio ambiente que viabiliza os outros dois, por isso a necessidade de conservá-lo.
A Lei não sinaliza para a necessidade de mudança no modelo de desenvolvimento; desconsidera a
necessidade urgente e radical da mudança que se faz necessária na sociedade. Os valores presentes na Lei
sofrem da generalidade e do senso comum. Todos sabem o que significam. Porém, cada um os
compreende de forma diferente. Conservação do meio ambiente pode ser desde cuidar de uma árvore a
transformar o modelo de desenvolvimento. Uma cuida e outra transforma por cuidar. Ambas cuidam, mas
cuidam de forma diferente, exatamente porque não têm a mesma compreensão sobre o que é a
conservação do meio ambiente.
Sadia qualidade de vida sofre do mesmo problema: generalidade e senso comum. Qualidade de
vida é algo complexo e envolve questões individuais, de infra-estrutura espacial, justiça social, lazer.
Concordamos com Minayo (2000) quando aponta que qualidade de vida é uma representação social criada
a partir de parâmetros subjetivos (bem-estar, felicidade, amor, prazer, realização pessoal), e também
objetivos, cujas referências são a satisfação das necessidades básicas e das necessidades criadas pelo grau
de desenvolvimento econômico e social de determinada sociedade. Tanto os parâmetros subjetivos como a
satisfação das necessidades nos remetem para algo de foro íntimo; o que cada um compreende por: bem-
estar, felicidade, amor, prazer, realização pessoal e necessidades saciadas. Todavia, a sadia qualidade de
vida é mais do que isso. É necessário conectar qualidade de vida com meio ambiente, pois não existe
qualidade de vida num meio ambiente degradado.
Diante do exposto verifica-se que a lei inclui qualidade de vida entre seus valores, mas não a
específica, indicando uma econômica importância desse aspecto tão fundamental.
No texto da lei o conceito de sustentabilidade também apresenta o mesmo problema, ou seja, não
está claramente definido. Como está exposto é possível compreender sustentabilidade desde um
empreendimento sustentável financeiramente ou uma sociedade sustentável. Essa possibilidade de vários

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1346

entendimentos sobre sustentabilidade denota uma baixa preocupação com a construção de uma sociedade
sustentável, pois em momento algum relaciona as dificuldades da construção de uma sociedade
sustentável ao modelo de desenvolvimento capitalista.
Após a análise da lei verifica-se uma inconsistência conceitual sobre qualidade de vida e sobre
sustentabilidade. Podemos inferir que os valores que a lei defende não são claros para a própria Lei. Essa
falta de precisão nos sugere à indecisão. A EA orientada por estes valores é ineficaz. Não tem clareza do
que fazer. Conservar o meio ambiente como? Com que ações? O que fazer para ter acesso à sadia
qualidade de vida? Como fazer para implementar a sustentabilidade? Que sustentabilidade? Não
encontramos respostas a essas questões na Lei que institui a PNEA. Uma resposta possível a essa falta de
respostas e de clareza poderia ser a precocidade da institucionalização da política nacional de educação
ambiental, como sugere Layrargues (2002).

VALORES PRESENTES NO PROGRAMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL (PRONEA)


O ProNEA de 2005 tem sua origem no PRONEA109, ele é idealizado para agir como um marco para
construir uma sociedade sustentável. Ele assinala a necessidade de construção de um país socialmente
justo e ambientalmente seguro, refere a necessidade de uma mudança “nos desejos e formas de olhar a
realidade, nas utopias e nas necessidades materiais e simbólicas, nos padrões de produção e consumo,
lazer e religiosidade” (Brasil, 2005b, p. 18). Igualmente, concorda que a maioria dos brasileiros “tem uma
percepção ’naturalizada‘ do meio ambiente, excluindo homens, mulheres, cidades e favelas desse
conceito” (Brasil, 2005b, p. 17). Além disso, discorre sobre a necessidade de “uma articulação coordenada
entre todos os tipos de intervenção ambiental direta, incluindo neste contexto as ações em educação
ambiental” (Brasil, 2005b, p. 17). Por fim, a maior parte das linhas de ações presentes no PRONEA de 1994,
está contempladas, dentro de outra organização, nas linhas de ação do ProNEA de 2005.
O documento de 2005 constata que por um lado, os últimos 40 anos foram pródigos em encontros,
conferências, seminários, tratados e convenções voltados a temática ambiental, por outro lado “nunca se
comprometeu tanto a capacidade de manutenção da vida, o que indica a necessidade de ações
educacionais que contribuam para a construção de sociedades sustentáveis” (Brasil, 2005b, p. 17).
O texto de 1994 e o de 2005 têm vários pontos em comum, principalmente, na avaliação dos
problemas que a questão ambiental enfrenta. Mas podemos dizer que ProNEA de 2005 carrega mais a
questão da exclusão social que no PRONEA de 1994. A grande diferença entre eles é a forma como foram
construídos. O PRONEA é formulado pelo poder público, como consta na introdução do PRONEA.
Já o ProNEA (2005) foi elaborado pelo Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental
(PNEA) em 2003 e submetido a consulta pública como uma estratégia de planejamento incremental e
articulada, permitindo com isso “seu constante aprimoramento por meio dos aprendizados sistematizados
e dos redirecionamentos democraticamente pactuados entre os parceiros envolvidos, e visando a
proporcionar a participação dos educadores ambientais na formulação dos rumos do ProNEA” (Brasil,
2005b, p. 7).
A consulta pública atendia dois objetivos: produzir um documento final e fortalecer as Comissões
Interinstitucionais Estaduais (CIEAs) 110 e as Redes de Educação Ambiental,111 como consta do Relatório,

109
A diferença na grafia dos dois Programas (PRONEA e ProNEA) é a forma encontrada para diferenciá-los. É
o que consta na nota dois, página 25 do ProNEA (2005).
110
Segundo o Relatório, as CIEAs,
São espaços colegiados instituídos pelo poder público estadual que se configuram como a esfera pública da
educação ambiental no âmbito estadual, e devem constituir-se como um amplo e democrático fórum de interlocução
e articulação institucional. São destinadas a constituir-se numa instância de coordenação das atividades de Educação
Ambiental no âmbito do Estado, e são compostas por representantes de instituições governamentais e não-
governamentais, das esferas federal, estaduais e municipais, do setor ambiental e educacional, do setor empresarial e
dos trabalhadores, podendo incluir ainda um grupo de trabalho composto por representantes das Comissões
Organizadoras da Conferência Infanto-juvenil pelo Meio Ambiente e do Conselho Jovem. Elas devem se pautar pela
Política e pelo Programa Nacional de Educação Ambiental, para elaborar em seu respectivo Estado, a Política e o
Programa Estadual de Educação Ambiental, de forma democrática e participativa (Brasil, 2005a, p. 8).
111
Segundo o Relatório, as Redes de Educação Ambiental,

João Pessoa, outubro de 2011


1347

A Consulta Pública do ProNEA foi concebida levando-se em consideração a articulação


entre o produto final da consulta – a visualização das demandas dos educadores ambientais para a
implementação da Política Nacional de Educação Ambiental, com o processo da consulta – o fortalecimento
e democratização das Comissões Interinstitucionais Estaduais (CIEAs) e das Redes de Educação Ambiental
existentes no país. Em outras palavras, a proposta foi de privilegiar não apenas o resultado final das
contribuições dos educadores ambientais ao ProNEA, mas também a forma como elas seriam discutidas e
apresentadas ao Órgão Gestor da PNEA (Brasil, 2005c, p. 8).
Podemos dizer que esse é o principal avanço do ProNEA (2005) atual: desenvolver uma política
pública com a participação da sociedade organizada, utilizando o mecanismo da consulta pública como
forma de possibilitar o fortalecimento da organização popular. A consulta foi nacional, os estados
brasileiros participaram com mais de 800 educadores. Como já havíamos citado e Estado foi um regulador
do processo e não um formulador das idéias. Além do governo federal as secretarias estaduais
participaram. Nesse projeto houve oportunidade para que os saberes locais nos recantos do Brasil
pudessem ser ouvidos. Não há como negar o avanço, criticamos o documento PRONEA, justamente por ser
centralizado na visão do Estado, devemos louvar o ProNEA por buscar sintonia com os saberes dos mais
variados cantos da sociedade brasileira, para que no confronto de posições pudesse se chegar a um
documento que traduzisse as visão do Brasil sobre a questão ambiental.
Assim tendo claro essas aproximações e diferenças entre o PRONEA de 1994 e o ProNEA (2005),
vamos analisar os valores presentes nesse Programa. Buscando relacioná-los com a Lei 9.795.
Analisando o documento percebe-se que da mesma forma que a Lei da PNEA, o ProNEA (2005) não
deixa claro quais são os valores que adota. Nas diretrizes do Programa podemos perceber que quando fala
de suas ações surgem os valores: sustentabilidade ambiental, proteção, recuperação e melhoria das
condições ambientais e de qualidade de vida. Suas ações destinam-se a assegurar, no âmbito educativo, a
interação e a integração equilibradas das múltiplas dimensões da sustentabilidade ambiental – ecológica,
social, ética, cultural, econômica, espacial e política – ao desenvolvimento do país, buscando o
envolvimento e a participação social na proteção, recuperação e melhoria das condições ambientais e de
qualidade de vida. (Brasil, 2005b, p. 33).
Se considerarmos esses valores comparados com os presentes na Lei, percebe-se que aqui há um
avanço significativo, pois a sustentabilidade é mais precisa, ela possui várias dimensões que devem ser
consideradas na EA. A conservação do meio ambiente, presente na Lei, aqui se transformou em: proteção,
recuperação e melhoria das condições ambientais. A sadia qualidade de vida presente na Lei, aqui no
Programa, aparece atrelada à proteção, recuperação e melhoria das condições ambientais e não mais
isolada como na Lei.
Podemos dizer que os valores presentes no ProNEA são praticamente os mesmos da Lei, só que
aqui se sabe do que se está falando. Já não falamos de qualquer sustentabilidade, mas de uma que tem
várias dimensões e que elas todas devem ser consideradas de forma equilibrada. Já não se fala de
conservação do meio ambiente, mas sim proteção, recuperação, melhoria das condições ambientais e da
qualidade de vida e, que isso deve ser feito com a participação social. Porém, tanto a Lei como o Programa
são vagos em relação à ação. Eles trazem recomendações, valores, princípios, objetivos, mas não nos dizem
o que fazer para ter qualidade de vida.
Há necessidade de mudarmos o modelo de desenvolvimento. As mudanças necessárias são muito
maiores do que a Lei e o ProNEA vislumbram. É interessante lembrar que desde a constituição de 1988 a
qualidade de vida faz parte do marco regulador da educação ambiental, porém, em momento algum, é
explicitada a complexidade presente nesse conceito. O marco regulador lança mão do conceito como se ele
tivesse um entendimento unívoco e, não é isso que acontece. O avanço da educação ambiental brasileira

São espaços coletivos dinâmicos e auto-organizados, inspirados no ideário da contracultura, que se


constituem como uma ampla malha de comunicação, onde cada membro da rede possui a responsabilidade na
circulação de informações aos parceiros conectados na rede e para fora dela. Qualquer educador ambiental pode
integrar-se à rede (pessoa física ou jurídica), assumindo o compromisso da multiliderança e participação, uma vez que
a rede tem por missão a criação de uma nova cultura organizacional, horizontal e autônoma, e não hierárquica. Além
da Rede Brasileira de Educação Ambiental (REBEA) existem várias outras redes de educação ambiental, com recorte
geográfico estadual, temático ou institucional (BRASIL, 2005a, p. 8).

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1348

está, também, em esclarecer esse conceito e estabelecer um caminho de sua realização. Para avançarmos
na educação ambiental no Brasil a discussão em torno do que é qualidade de vida? O que a compõe? Quais
são seus pré-requisitos? É fundamental.

QUALIDADE DE VIDA E AS NECESSIDADES


Existem pelo menos duas abordagens básicas à qualidade de vida: uma subjetiva e outra objetiva. A
subjetiva está relacionada com o domínio físico e psicológico, nível de independência, relações sociais,
meio ambiente e aspectos espirituais/religiosidade/crenças pessoais. Nessa abordagem a qualidade de vida
é sentida. Na abordagem objetiva ela é medida e se relaciona com os indicadores de renda, de educação e
de saúde que indicam a qualidade de vida que temos.
Podemos perceber que a objetiva trata com aspectos objetivos e a subjetiva com aspectos
subjetivos. Na primeira interessa saber quantitativamente como está o atendimento das necessidades, é
um conhecimento externo, objetivo, mede números. Na segunda interessa saber se o indivíduo está
satisfeito com sua vida, como ele frente ao ideal que tem de qualidade de vida, avalia sua qualidade de vida
concreta.
Dois índices concretos que têm sido usados para medir a qualidade de vida, o Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) desenvolvido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD) e o outro o instrumento de avaliação de qualidade de vida da Organização Mundial da Saúde
(WHOQOL), o primeiro representa a abordagem objetiva e o segundo a subjetiva.
Os modelos de desenvolvimento capitalista fordista e o liberal-produtivista tem em grande parte
medido a qualidade de vida considerando apenas a questão da renda, educação e longevidade como faz o
IDH das Nações Unidas ou a percepção do indivíduo sobre sua qualidade de vida como faz o WHOQOL–100
da OMS. Esses índices da qualidade de vida não têm um parâmetro, a não ser o da sociedade capitalista
com seu valor dinheiro, que identifica consumo com felicidade.
É necessário superar essas duas abordagens e buscar orientar o atendimento das necessidades
humanas objetivas e subjetivas tendo por base a práxis da busca de atender as necessidades filogenéticas:
respiração, descanso, alimentação e excreção da forma mais adequada possível. Temos que por consciência
no atendimento dessas necessidades. Temos que nos ocupar delas, observar o momento em que estão
sendo atendidas e refletir sobre a forma mais adequada de atendê-las. Atentos ao bem estar do corpo.
Considerando a definição dada à qualidade de vida por Herculano,
Propomos que "qualidade de vida" seja definida como a soma das condições econômicas,
ambientais, científico-culturais e políticas coletivamente construídas e postas à disposição dos indivíduos
para que estes possam realizar suas potencialidades: inclui a acessibilidade à produção e ao consumo, aos
meios para produzir cultura, ciência e arte, bem como pressupõe a existência de mecanismos de
comunicação, de informação, de participação e de influência nos destinos coletivos, através da gestão
territorial que assegure água e ar limpos, higidez ambiental, equipamentos coletivos urbanos, alimentos
saudáveis e a disponibilidade de espaços naturais amenos urbanos, bem como da preservação de
ecossistemas naturais. (1998, p. 92).
Em primeiro lugar, podemos dizer que a definição de qualidade de vida de Herculano
apresenta dois momentos. No primeiro, ela diz que qualidade de vida é uma soma de fatores postos à
disposição dos indivíduos para que estes realizem suas potencialidades; no segundo momento diz o que é
preciso para que isso aconteça: acesso à produção e ao consumo e gestão territorial que assegure “água e
ar limpos, higidez ambiental, equipamentos coletivos urbanos, alimentos saudáveis e a disponibilidade de
espaços naturais amenos urbanos, bem como da preservação de ecossistemas naturais”. Sendo que esses
dois momentos se realizam na participação dos indivíduos na construção dos destinos da sociedade.
Esse conceito contempla as principais questões envolvidas na noção de qualidade de vida. Porém,
falha ao não perceber que no conceito por ele definido, é a gestão territorial que impõe limites à produção
e ao consumo; e também, de certa forma, estabelece a forma como se dá: “assegurar água e ar limpos,
higidez ambiental, alimentos saudáveis”. O que ele não contempla é que a gestão territorial terá que impor
limites às fontes poluidoras: chaminés, automóveis, esgoto, resíduos sólidos e líquidos, ao uso de
herbicidas e pesticidas, etc.
É necessário rever nossos hábitos e costumes e orientá-los pela práxis de atender as necessidades
filogenéticas, pois são essas que podem nos informar a direção que temos que seguir na construção da

João Pessoa, outubro de 2011


1349

sociedade sustentável. Não basta saber que o ar, a água, o alimento saudável merecem nossa atenção. É
necessário pesquisar e descobrir qual é o ar, a água e o alimento mais adequado ao ser humano. Os limites
devem surgir das descobertas feitas por essa pesquisa, empreendida pelos indivíduos e pela ciência.
A qualidade de vida depende do meio ambiente adequado às necessidades do ser humano;
depende da possibilidade de participação e influência nos rumos que a sociedade toma, assim como das
condições objetivas de produção e consumo a que as pessoas têm acesso. Mas acima de tudo depende da
orientação para realizar essas metas todas. É essa orientação que falta na definição de Herculano.
Acreditamos que essa orientação vem da práxis de atender as necessidades filogenéticas e ao atendê-las
estamos possibilitando maior qualidade de vida e contribuindo na construção de uma sociedade
sustentável.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma possível solução está dada. O caminho passa por colocarmos a qualidade de vida como um
objetivo social. O Marco Regulador da Educação Ambiental Brasileiro percebe a importância da qualidade
de vida, o que é importante, mas não suficiente. Cada um de nós é responsável por essa busca. Assim como
a ciência deve se voltar para essa busca, estabelecendo um diálogo com os indivíduos, respeitando sua
autonomia e cultura, no sentido de avançar no atendimento mais adequado das necessidades filogenéticas
e na conquista de qualidade de vida para todos.
Coletivamente temos que nos organizar para possibilitar que essas necessidades sejam atendidas
adequadamente, criando processos produtivos e de consumo orientados a esse atendimento. A qualidade
de vida depende de todos nós, indivíduos e coletividade.
O momento que vivemos exige de nós propostas, o que cabe a cada um de nós é escolher uma que
possa nos tirar do perigo de vida em que nos encontramos e nos conduzir a uma sociedade onde o meio
ambiente esteja integrado de forma sustentável.

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Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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João Pessoa, outubro de 2011


1351

ANÁLISE DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL JUNTO A MORADORES DA COLÔNIA


DE PESCADORES Z3, PELOTAS
Sibeli WRUBEL
Graduanda do curso de Ciências Biológicas Bacharelado da Universidade Federal de Pelotas
si.wrubel@hotmail.com
Robledo Lima GIL
Professor do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Pelotas
Doutorando em Educação Ambiental da Universidade Federal do Rio Grande
robledogil@yahoo.com.br

RESUMO
As alterações ambientais e a natureza, vistas como fonte de recursos inesgotáveis, são questões
atuais e preocupantes. Por isso, compreender a percepção ambiental da comunidade da Colônia de
Pescadores Z3 em Pelotas, RS, se fez necessária, por acreditar que percebendo esta realidade, em conjunto
com os moradores da região, fica mais fácil compreender e tentar solucionar a problemática ambiental.
Assim, a percepção ambiental, é apresentada como um instrumento metodológico para o desenvolvimento
de um trabalho voltado à Educação Ambiental, que busca compreender o ambiente melhorando a relação
do mesmo com o homem. Esta pesquisa é composta por duas etapas, uma de caráter exploratório no local
de estudo, uma destinada às entrevistas e intervenção com os moradores e alunos da escola local. Por fim
os dados foram analisados, buscando verificar possíveis mudanças nas concepções e ações dos sujeitos de
pesquisa frente à problemática ambiental do meio no qual estão inseridos.
Palavras-chave: Percepção ambiental. Educação ambiental. Colônia de pescadores.

INTRODUÇÃO
Perante o aumento populacional e as alterações ambientais, como a variação das
temperaturas, a intensidade das chuvas e os ciclones atípicos, a elevação no nível das águas e as mudanças
climáticas, juntamente com suas respectivas respostas de ameaças a biodiversidade cada vez mais
freqüentes, a questão ambiental passou a ser um assunto no cotidiano da sociedade.
A natureza ainda é vista por muitos como uma fonte de recursos inesgotáveis, capaz de suportar o
desenvolvimento do planeta. A maioria dos problemas ambientais é agravada por ações errôneas do
homem, principalmente pelo uso extremo de recursos naturais, muito superior ao que o meio pode
suportar.
Assim, se faz necessário, que o ser humano encare de uma nova forma seu papel no planeta,
perceba o ambiente ao seu redor, e conheça os problemas e causas do mesmo. Juntamente com as
discussões da ação antrópica sobre o meio ambiente, tanto em escala local, quanto em escala global,
surgem as discussões sobre Educação Ambiental (EA) e o seu uso para sensibilização da sociedade,
considerando que nossas práticas tem reflexos em nossa própria qualidade de vida.
Dentro de uma perspectiva crítica, além de estar relacionada à conservação da biodiversidade, a EA
também está voltada para a formação de valores e atitudes, que são gerados através do conhecimento e
buscam compreender o ambiente melhorando a relação do mesmo com o homem (BRAGA, 2008). Merece
destaque, a definição para EA proferida na Conferência de Tbilisi (1977), que foi um marco para a história
da mesma:
[...] um processo de reconhecimento de valores e clarificação de conceitos, objetivando o
desenvolvimento das habilidades e modificando as atitudes em relação ao meio, para entender e apreciar as
inter-relações entre os seres humanos, suas culturas e seus meios biofísicos. A educação ambiental também
está relacionada com a prática das tomadas de decisões e a ética que conduzem para a melhoria da
qualidade de vida.

Este trabalho, tendo como base os conceitos acima citados, o estudo da literatura de trabalhos já
realizados com foco semelhante a este, e partindo do pressuposto de que a percepção e a EA são

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


1352

importantes meios para a construção de uma nova relação sociedade-natureza, em específico, visa uma
parceria com a Comunidade da Colônia de Pescadores Z3, do município de Pelotas, RS.
A Colônia de Pescadores Z3, localizada a 20 Km da cidade de Pelotas, RS, e as margens da Lagoa dos
Patos, com latitude 31°42”S e longitude 52°9”O, foi fundada em 1923, e desde então, é um tradicional
núcleo de pescadores do município (Fig.1). De acordo com o Censo Demográfico de 2000, a população total
é de 3.221 habitantes. Não existe número exato de pescadores do local, porém, segundo um levantamento
da Prefeitura Municipal de Pelotas e o Sindicado dos Pescadores, este número gira em torno de 1.031
pescadores com carteira de trabalho assinada, contudo supõe-se que o número seja muito superior,
levando em consideração os trabalhadores que não possuem carteira e aqueles que não têm ligação direta
com a captura, mas atuam nas demais atividades do pescado (NIEDERLE, 2006).

ra 1 – Caracterização do local de estudo. Fonte: Google Earth.

Este trabalho justifica-se pelo fato de que perceber o ambiente no qual se está inserido,
compreendendo a relação entre o meio ambiente e o indivíduo, é a forma mais fácil de entender os fatores
que levam a atual problemática ambiental, podendo assim expressar suas opiniões, expectativas e
propondo linhas para futuros procedimentos, pois é preciso primeiro conhecer o problema local, para
depois tentar saná-lo com real intenção de mudar, o que poderá também acarretar resultados em escala
global.

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Em linhas gerais, a EA, promove a ligação entre a comunidade e o pesquisador, e


resgata as virtudes e manifestações com práticas pedagógicas. O encontro da percepção ambiental com a
educação desfaz a idéia de individualismo, e enfatiza a coletividade e a globalidade para uma mudança nas
ações cotidianas.
Esta pesquisa tem por objetivo conhecer quais são os principais problemas
ambientais da Colônia de Pescadores Z3, Pelotas, RS, pesquisar qual a percepção ambiental dos moradores
referente a mesma e investigar de que forma a proposta de intervenção em EA, através de ações
educativas e entrevistas, podem suscitar mudanças na percepção e no desenvolvimento de atitudes frente
à relação do homem com o meio, o que está diretamente relacionado com a melhoria da qualidade de vida
individual e coletiva dos sujeitos da pesquisa. Assim sendo, hipotetiza-se que este possa contribuir para
renovar os valores e a percepção do ambiente na comunidade em questão e assim desenvolver uma
consciência e um compromisso que possibilitem a mudança dos problemas ambientais.

METODOLOGIA
A primeira etapa da pesquisa constituiu-se da observação e descrição do local. Isso foi feito
através de visitas de caráter exploratório na Colônia de Pescadores Z3 e na Escola Municipal de Ensino
Fundamental Almirante Raphael Brusque, avaliando as condições do mesmo para realizar o projeto,
criando um primeiro contato com os moradores através de perguntas abertas e assim alcançar uma
integração com a comunidade e suas vivências. Durante este processo, foi criado um “Diário de Bordo”
onde tudo foi registrado para dar apoio às etapas seguintes. Nesta etapa fez-se necessário também o uso
de máquina fotográfica.
A segunda etapa do trabalho tem como proposta a aplicação de entrevistas e uma fase de
intervenção com os sujeitos da pesquisa. Com o objetivo de conhecer melhor a percepção de meio
ambiente dos moradores locais, além das visitas e conversas informais já feitas na primeira etapa, fez-se a
aplicação de um questionário aos mesmos. As entrevistas tiveram base em Mcmillan, Wright e Beazley
(2004), e foi acrescentado a estas, indagações que surgiram ao longo da primeira etapa (ANEXO 1).
Por fim, os dados serão analisados, com o intuito de verificar possíveis mudanças nas
concepções e ações dos sujeitos envolvidos na pesquisa.

RESULTADOS PRÉVIOS E DISCUSSÕES


Na fase de conhecimento do local (primeira etapa da pesquisa), pode-se notar o descaso com a
problemática ambiental, pois se verificou grande quantidade de lixo nas ruas e valetas e o descarte
inadequado do material de pesca em frente às peixarias ou até mesmo na beira da lagoa. O descarte das
“sobras” da pesca (em específico, restos de peixes) sendo lançados dos trapiches e com os ventos e o
movimento da água rasa voltam para a areia na beira da lagoa, resultando em mau cheiro e podendo ser
vetores de doenças, já que a ocorrência de crianças brincando na água em meio à sujeira e as moscas que
pousavam sobre os peixes também foi registrado (Fig. 2, 3, 4 e 5).
Em um primeiro momento, não foi fácil conseguir qualquer tipo de conversa, mesmo que
informal, com os moradores da comunidade, pois já que os mesmos dependem economicamente da pesca
e de recursos do ambiente, logo surgia um certo receio em falar, só minimizado com uma boa
apresentação da intenção do projeto. Na Escola local não havia no momento nenhum projeto relacionado à
EA, mas houve excelente recepção e aceitação em relação a execução desse trabalho.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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Fig

ra 2 – Lixo e pneus em uma das margens da Lagoa.

Fig

ra 3 – Descarte da pesca atirados do trapiche principal.

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1355

Fig

ra 4 – Beira da Lagoa com lixo, material de pesca e peixes mortos.

Fig

ra 5 – Lixo jogado na Praça da comunidade.

As entrevistas foram baseadas em Mcmillan, Wright e Beazley (2004), como já citado, e


tiveram adaptações para a realidade da comunidade. Na escola local, duas turmas de 5º ano responderam
ao seguinte questionário e participam da intervenção:
1. Há quanto tempo você mora aqui?
2. Seus pais trabalham em que?
3. No que você quer trabalhar quando crescer?
4. O que você mais gosta na comunidade Z3? E menos gosta?
5. O que é meio ambiente?

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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6. Você acha que devemos cuidar do meio ambiente? Por quê?


7. Onde você joga seu lixo em casa? E na rua?
8. Como você vê a beira da Lagoa? Suja ou limpa?
Já para os sujeitos adultos da pesquisa, a entrevista foi feita aleatoriamente dentro da comunidade
conforme disponibilidade dos mesmos, a linguagem do questionário foi adaptada, mas continuou com a
mesma linha de pensamento:
1. Há quanto tempo você mora aqui ?
2. Defina em poucas palavras a Comunidade z3 :
3. O que é meio ambiente para você?
4. Você acha que o meio ambiente deve ser protegido? Explique.
5. O que você diria que são os problemas ambientais da Comunidade?
6. Você sugere alguma solução para eles?
7. Você considera as ruas e a beira da Lagoa limpos ou sujos? Por qual motivo?
8. O que você faz pelo meio ambiente?
9. Como é o descarte do lixo na comunidade?
10. Você já participou de algum trabalho relacionado ao meio ambiente aqui?
11. O que você acha de trabalhos e pesquisas que vem serem feitos aqui na Comunidade?
12. Você teria sugestões de trabalhos que poderiam ser realizados na comunidade? Quais?

Nas respostas obtidas, notou-se nos estudantes da escola, uma noção muito limitada do que é o
meio ambiente. Para a maioria deles são apenas ‘florestas’, porém pode-se perceber uma consciência dos
problemas ambientais da comunidade quando afirmaram ter conhecimento e sentir-se de alguma forma
incomodados com a sujeira nas ruas e na beira da Lagoa.Outro aspecto relevante é que os estudantes
mostraram também vontade de aprender sobre o assunto e gerar mudanças.
Já nas entrevistas feitas com os sujeitos adultos da comunidade, a maioria dos entrevistados que
falou com alguma propriedade sobre o assunto foi do sexo feminino, que em geral poucos da população
mostraram interesse no assunto, e que os moradores que têm algum conhecimento e percepção dos
problemas ambientais da comunidade não têm iniciativa para mudar, mas esperam que isso aconteça por
meio de outras pessoas ou órgãos.
Visto a resistência e a dificuldade em incluir toda a população na proposta de intervenção,
esta é realizada com as turmas do 5º ano da Escola, entendendo os estudantes como disseminadores de
uma consciência ambiental em toda a comunidade. Os primeiros trabalhos de intervenção restringiram-se à
conversas com estes estudantes sobre os principais problemas ambientais locais, como o lixo e o descarte
da pesca, e o entendimento do que é o meio ambiente.
Após esta fase de conhecimento, a caracterização do grupo, com um nome e a confecção de
camisetas, tudo feito com total participação dos estudantes, será de suma importância para chamar a
atenção da comunidade quando houver a realização de um ‘dia de limpeza’ pelas ruas e beira da Lagoa,
além da colocação de algumas latas de lixo no local que tem carência das mesmas. Exposições dos
trabalhos feitos em sala de aula após as conversas (desenhos e frases), de um trabalho fotográfico com a
visão dos estudantes do grupo sobre o assunto, bem como a participação de outros profissionais em
palestras que possam mostrar alternativas para os problemas ambientais locais, encerra este ciclo de
intervenção e participação da comunidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode se considerar trabalhos como este, que buscam a integração e a participação ativa da
comunidade na pesquisa, de suma importância para gerar alguma mudança. Aliar o conhecimento do
popular com o científico, usando para isso a Educação Ambiental pode gerar outra percepção de meio
ambiente e um melhor uso e cuidado do mesmo. A participação da Escola se faz necessária por ser um local
de prestígio na comunidade e bastante visada em suas tarefas, servindo assim como um espelho para o
restante da população.
A Educação Ambiental usada neste trabalho funda-se em ações que proporcionam gestão
participativa e compartilhamento de responsabilidades dentro da realidade local, visando que isto sirva de

João Pessoa, outubro de 2011


1357

alerta e traga posteriores benefícios à comunidade de pescadores que depende do meio ambiente também
para permanência de sua classe social.

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Livro, 2004. 87p.

ANEXOS
Anexo 1. Modelo estrutural da entrevista a ser aplicada nas Etapas II e III da pesquisa.

Educação ambiental: Responsabilidade para a conservação da sociobiodiversidade


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(Mcmillan, Wright e Beazley - 2004)

1. O que é Meio Ambiente?


2. Pensar em Meio Ambiente, lhe faz pensar em...?
3. O Meio Ambiente é algo que devemos proteger?
4. Por que proteger e para quem?
5. O que você diria que são os problemas ambientais na sua comunidade?
6. O que você acha que seriam boas soluções para ele?
7. O que você faz pelo Meio Ambiente?
8. O que influenciou a sua opinião?

João Pessoa, outubro de 2011


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EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS:


CONCEPÇÕES E PRÁTICAS NO MUNICÍPIO DE RIO TINTO – PB
Sidnei Felipe da Silva
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geografia
Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
sidnei_nio@hotmail.com

RESUMO
Nas ultimas décadas, a Educação Ambiental ganhou bastante destaque na comunidade científica,
passando a ser o principal elemento que a sociedade possui, na procura de diminuir os prejuízos causados
ao meio ambiente. Atualmente, existe a necessidade da abordagem desta temática em todos os segmentos
sociais, para que esta torne-se um instrumento que aliado a Educação de Jovens e Adultos (EJA) passe a
promover mudanças de comportamento destes atores na sociedade. Sendo assim, o objetivo principal
deste trabalho é analisar a implementação da Educação Ambiental na EJA em escolas públicas do município
de Rio Tinto / PB. Pois, o equilíbrio é necessário para que seja estabelecida a sustentabilidade, e
consequentemente, a garantia do futuro das próximas gerações. Partindo do local para o geral (ou global),
é extremamente importante, disseminar a Educação Ambiental, com o intuito de despertar o sentimento
de preservação dos recursos naturais do nosso planeta. A conscientização do alunado contribui para a
elevação do nível de conhecimento da população sobre a temática ambiental, devido ao fato dos alunos se
tornarem agentes multiplicadores da consciência ambiental, defendendo o meio natural e colaborando
para uma proteção do meio ambiente local.
PALAVRAS-CHAVE: Educação Ambiental, Educação de Jovens e Adultos, Conscientização.

ABSTRACT
In recent decades, environmental education has gained a lot of prominence in the scientific
community, becoming the main element that society has, in seeking to lessen the damages caused on the
environment. Currently, there is a need for addressing this issue in all segments of society so that it
becomes a tool that together with the Youth and Adults Education (EJA) passes to promote changes in
behavior of these actors in society. Thus, the main objective of this study is to analyze the implementation
of environmental education in EJA in public schools of Rio Tinto / PB. So, the balance is required to
sustainability be established, consequently ensuring the future of next generations. From the local to the
general (or global) is extremely important to disseminate environmental education, aiming to awake the
feeling of preserving natural resources of our planet. The awareness of the students contributes to the
raising of the population knowledge level about the environmental theme, due to the fact that the students
become multipliers of the environmental conscience, defending the environment and contributing to a
local environmental protection.
KEY-WORDS: Environmental Education, Youth and Adult Education, Awareness

INTRODUÇÃO
No decorrer do século

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