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ELIZABETH SCHMITT FREIRE

A IMPLEMENTAÇÃO DAS ATITUDES FACILITADORAS


NA RELAÇÃO TERAPÊUTICA CENTRADA NO CLIENTE

Dissertação apresentada ao Departamento de Pós


Graduação em psicologia do Instituto de Psicologia da
PUC Campinas como parte dos requisitos para a
obtenção do título de Mestre em Psicologia Clínica

Orientador: Dr. Mauro Martins Amatuzzi

Campinas
2000
Dedico esta dissertação a
Newton Tambara
que não teve medo do meu medo
que confiou na minha luz
e foi parteiro do meu Ser...

e que também me ensinou a ser terapeuta centrada no cliente...

2
AGRADECIMENTOS

À Mauro Amatuzzi, que orientou-me com sabedoria,


tolerância, paciência e amor. Que foi compreensivo
para com os meus erros, me ajudando também nos
momentos mais difíceis desta trajetória.

À John K. Wood, que me inspirou e me estimulou a


dar os meus primeiros passos no mundo
acadêmico...

Aos amigos da Delphos, minha família espiritual...

Aos meus clientes, que me deram muito mais do que


eles pensam que eu dei a eles...

À Jerold Bozarth...

3
RESUMO

As atitudes de congruência, consideração positiva incondicional e compreensão


empática foram apresentadas por Rogers, em 1957, na sua hipótese sobre as condições
necessárias e suficientes para a mudança terapêutica da personalidade. Apesar da clareza
teórica da formulação das atitudes facilitadoras, sua implementação na prática clínica tem
gerado profundas controvérsias entre teóricos da abordagem centrada na pessoa. Estas
controvérsias apontam para a questão da identidade da terapia centrada no cliente. Neste
sentido, esta dissertação tem como objetivo investigar as formas de implementação das
atitudes facilitadoras que identificam a terapia centrada no cliente. Esta investigação é
realizada através de uma perspectiva clínica. A experiência clínica da autora e relatos
clínicos da literatura são discutidos e analisados a partir de considerações teóricas que,
por sua vez, também são expandidas e clarificadas por estas experiências. Concluiu-se
que a atitude empática apresenta três facetas: a experiência empática, a compreensão
empática e o reflexo de sentimentos. Estas três facetas da empatia são independentes, isto
é, elas podem ocorrer numa relação interpessoal separadamente. A experiência empática
e a experiência de consideração positiva incondicional são uma mesma e única
experiência, sendo esta a atitude do terapeuta primordialmente facilitadora da mudança
terapêutica. A não-diretividade do terapeuta é uma conseqüência inevitável desta
experiência. A congruência foi compreendida como uma preparação do terapeuta para a
experiência empática. As três atitudes postuladas por Rogers são, na realidade da relação
terapêutica, uma única atitude, e esta representa a essência da terapia centrada na cliente.
Esta única atitude pode ser descrita como a dedicação do terapeuta para estar com o
cliente, acompanhando-o em seu mundo, no seu próprio ritmo e direção, e de acordo
com o seu jeito único de ser.

PALAVRAS-CHAVE: Terapia Centrada no Cliente, relação terapêutica, empatia.

4
ABSTRACT

The attitudes of congruence, unconditional positive regard and empathic


understanding were presented by Rogers, in 1957, in his hypothesis of the necessary and
sufficient conditions for therapeutic personality change. Yet the theoretical clarity of the
statement of the facilitative attitudes, their implementation in the clinical practice has
deep controversies among theoreticians of the person-centered approach. These
controversies point to the issue of the identity of client-centered therapy. Therefore, this
dissertation aims to investigate the ways for implementation of the facilitative attitudes
which identify client-centered therapy. This investigation is taken through a clinical
perspective. The author’s clinical experience and clinical vignettes from the literature are
discussed and analyzed through theoretical considerations which are also furthered and
clarified by theses experiences. The conclusions are that the empathic attitude presents
three facets: empathic experience, empathic understanding and empathic understanding
responses. These three facets of empathy are independent, that is, they can occur
separately in interpersonal relationship. The empathic experience and the experience of
unconditional positive regard are the same and only one experience and this is the
therapist’s attitude primarily facilitative of therapeutic change. The therapist’s non-
directivity is the inevitable consequence of this experience. Congruence was understood
as a therapist’s preparation to the empathic experience. The three attitudes postulated by
Rogers are, within the reality of the therapeutic relationship, only one attitude, and it
represents the essence of client-centered therapy. This unique attitude can be described
as the therapist’s dedication to being with the client in her world, going with her in her
own pace and direction, in accordance with her unique way of being.

KEY-WORDS: Client-centered therapy; therapeutic relationship, empathy.

5
INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 7
1) AS PESQUISAS SOBRE AS CONDIÇÕES NECESSÁRIAS E SUFICIENTES
PARA A MUDANÇA TERAPÊUTICA DA PERSONALIDADE:.............................. 10
2) UMA PREMISSA FUNDAMENTAL: A TENDÊNCIA ATUALIZANTE: ........... 12
3) “ NENHUMA OUTRA CONDIÇÃO É NECESSÁRIA”:....................................... 13
4) EMPATIA .................................................................................................................. 15
4.1. REFLEXO DE SENTIMENTOS .................................................................................. 17
4.2. A EXPERIÊNCIA EMPÁTICA................................................................................... 23
4.2.1. A experiência empática e a aceitação incondicional do terapeuta são, em essência, a mesma
experiência: ........................................................................................................................................ 25
4.3. REFLEXO DE SENTIMENTOS SEM EXPERIÊNCIA EMPÁTICA ..................... 25
4.4. EXPERIÊNCIA EMPÁTICA SEM REFLEXO DE SENTIMENTOS ..................... 28
4.4.1. Experiência empática na busca por uma melhor qualidade de vida .......................................... 28
4.4.2. Experiência empática no silêncio do terapeuta ........................................................................ 30
4.5. COMPREENSÃO EMPÁTICA ................................................................................... 31
4.6. COMPREENSÃO EMPÁTICA SEM EXPERIÊNCIA EMPÁTICA ...................... 32
4.7. A NÃO-DIRETIVIDADE .............................................................................................. 34
4.8. EXPERIÊNCIA EMPÁTICA SEM COMPREENSÃO EMPÁTICA ...................... 38
4. 8.1. Experiência empática no silêncio do cliente ............................................................................ 39
4.8.2. As ‘falhas’ na compreensão empática ..................................................................................... 42
4.8.3. Ludoterapia ......................................................................................................................... 43
5) CONSIDERAÇÃO POSITIVA INCONDICIONAL ................................................ 46
6) CONGRUÊNCIA .................................................................................................... 48
6.1. GENUINIDADE E TRANSPARÊNCIA ..................................................................... 49
6.2. CONGRUÊNCIA EM RELAÇÃO À EMPATIA E CONSIDERAÇÃO POSITIVA
INCONDICIONAL ............................................................................................................... 52
7) A ESSÊNCIA DA TERAPIA CENTRADA NO CLIENTE .................................... 54
REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 59
ANEXO I ........................................................................................................................ 68
ANEXO II ...................................................................................................................... 69

6
INTRODUÇÃO

A teoria da psicoterapia e das relações humanas desenvolvida por Carl Rogers,


com sua ênfase na importância da relação terapêutica, deixou uma marca indelével na
psicoterapia (Bozarth, 1998). Numa pesquisa realizada com psicólogos americanos,
Rogers foi avaliado pela maioria dos entrevistados como o psicólogo mais influente,
antes mesmo de Freud e Skinner (Smith, 1982). Em 1985, na Phoenix Conference on the
Evolution of Psychotherapy, que foi comparada a uma “babel de vozes em conflito” por
reunir experts de diversas abordagens em psicoterapia (Wolpe, 1987), Carl Rogers foi o
único palestrante a ser longamente ovacionado pela audiência (Zeig, 1987).
As seis condições necessárias e suficientes para a mudança terapêutica da
personalidade postuladas por Rogers em 1957 impulsionaram a pesquisa em psicoterapia
por mais de três décadas e continuam sendo um tópico relevante e discutido no âmbito da
psicoterapia (Stubbs & Bozarth, 1996; Norcross, 1992). Estas condições tornaram-se um
marco de referência não somente para a terapia centrada no cliente como para a
psicoterapia e para as relações de ajuda em geral (Bozarth et al., 2000). As condições
descritas por Rogers são as seguintes:

1. Que duas pessoas estejam em contato psicológico;


2. Que a primeira, a quem chamaremos cliente, esteja
num estado de incongruência, estando vulnerável ou ansiosa;
3. Que a segunda pessoa, a quem chamaremos de
terapeuta esteja congruente ou integrada na relação;
4. Que o terapeuta experiencie uma consideração positiva
incondicional pelo cliente;
5. Que o terapeuta experiencie uma compreensão
empática do quadro interno de referência do cliente e se esforce por
comunicar esta experiência ao cliente;
6. Que a comunicação ao cliente da compreensão
empática do terapeuta e da consideração positiva incondicional
seja efetivada, pelo menos num grau mínimo. (Rogers, 1957, p.96)

A congruência é o estado do terapeuta, no interior da relação, no qual ele “é livre


e profundamente ele mesmo, com sua experiência real precisamente representada na sua
consciência de si mesmo”. Consideração positiva incondicional é “a medida em que o
terapeuta se encontra experienciando uma calorosa aceitação de cada aspecto da
experiência do cliente como sendo parte do cliente”. E compreensão empática é “sentir

7
o mundo privado do cliente como se fosse o seu, mas sem perder a qualidade de ‘como
se’” (Rogers, 1957, pp.97-99).
A hipótese de Rogers é de que essas condições são necessárias e suficientes para
promover o processo de mudança construtiva da personalidade. Apesar dessas condições
terem se tornado as atitudes fundamentais para o terapeuta centrada no cliente (Rogers,
1959), a hipótese de Rogers postula que estas condições são essenciais para todas as
terapias e para todas as relações de ajuda que tenham a mudança terapêutica da
personalidade como objetivo.

Entretanto, apesar da clareza teórica e da aparente simplicidade da formulação de


Rogers das condições básicas, a implementação das atitudes de consideração positiva
incondicional, compreensão empática e congruência na relação terapêutica representa um
grande desafio para o terapeuta. Em um artigo que escrevi com Tambara (Freire &
Tambara, 2000), afirmamos que existe um grande abismo separando a teoria da terapia
centrada no cliente de sua prática clínica. Ademais, diversas concepções distintas a
respeito da implementação das atitudes facilitadoras se desenvolveram partir da década
de 60, gerando profundas divergências entre teóricos da abordagem centrada na pessoa.
Segundo Bozarth (1998), não existe um comportamento específico que possa
descrever a terapia centrada no cliente ou comunicar as condições necessárias e
suficientes, na medida em que estas condições são atitudes, isto é, experiências internas
e subjetivas do terapeuta:

Nem a teoria de Rogers da mudança terapêutica, nem a


hipótese das condições necessárias e suficientes são expressas em
termos de comportamento. (...) Todo comportamento que tenha a
aparência de uma atitude terapêutica pode ou não implementar a
atitude (Bozarth, 1998, p.55 e p.61)1

A implementação das atitudes terapêuticas, segundo Bozarth (1998), é variável,


dentro de limites, dependendo das características pessoais tanto do cliente quanto do
terapeuta. Este é um ponto vital para a terapia centrada no cliente. Não havendo um
comportamento definido, ou uma técnica estabelecida que garanta a implementação das
atitudes facilitadoras, como podemos reconhecer, dentro desta ampla variabilidade de

1
“Neither Rogers’ theory of therapeutic change nor the hypothesis of the necessary and sufficient
conditions are expressed in terms of behavior. (...) Any behavior that has the appearance of a therapeutic
attitude may or may not implement the attitude”.

8
expressões idiossincrásicas, quais os limites a que Bozarth se refere? Apesar de não
existirem comportamentos ou técnicas que estabeleçam a priori a presença das condições
básicas, como reconhecer e identificar estes limites que definem a relação terapêutica
como sendo “centrada no cliente”?

Estas indagações tornaram-se o foco central de minha atividade como pesquisadora.


Neste sentido, realizei uma investigação exploratória a respeito das atitudes facilitadoras
norteada pela seguinte pergunta:

- Como as atitudes facilitadoras podem ser implementadas na relação terapêutica


centrada no cliente?

Implementar significa “dar execução a” ou “levar à prática por meio de providências


concretas” (Ferreira, 1988). Meu objetivo com esta pesquisa foi investigar a maneira
como as atitudes facilitadoras postuladas por Rogers podem ser postas em prática, de
forma concreta, na relação terapêutica centrada no cliente.

Esta investigação foi realizada a partir de uma perspectiva clinica. Minha própria
experiência clínica e relatos clínicos da literatura foram discutidos e analisados a partir
de considerações teóricas que, por sua vez, foram expandidas e clarificadas por estas
experiências. Em certa etapa desta investigação, decidi gravar uma de minha sessões
terapêuticas a fim de obter novos dados de pesquisa. A análise desta sessão foi
apresentada no 15º encontro anual da ADPCA1 (Association for the Development of the
Person-Centered Approach), num pequeno grupo de discussão que me ajudou no
aprimoramento de minhas conclusões. Posteriormente, algumas destas conclusões foram
apresentadas e discutidas na rede da Internet do Person-Centered International
proporcionando um significativo aprofundamento e clarificação da minha perspectiva2.
Participaram desta discussão Jerold Bozarth, Ph.D., Barbara Brodley, Ph.D, Godfrey
Barrett-Lennard, Ph.D., Marvin Frankel, Ph.D., e Lisbeth Sommerbeck. Ao longo de

1
Realizado na Universidade da California, em San Diego, de 9 a 13 de agosto de 2000.
2
A Internet tornou-se um instrumento valioso para a minha investigação também por me proporcionar um
contato direto com muitos autores e pesquisadores que me enviaram, através de e-mail, seus trabalhos
teóricos mais recentes. Desta forma, algumas das citações apresentadas ao longo desta dissertação não
contém o número da página pelo fato de terem sido obtidas através deste meio eletrônico.

9
toda esta investigação, Jerold Bozarth foi uma constante fonte de inspiração, tanto através
de seus artigos e discussões na rede do Person-Centered International, como através de
comunicações pessoais por e-mail.

A trajetória e o resultado desta investigação são apresentados e discutidos nesta


dissertação.

1) AS PESQUISAS SOBRE AS CONDIÇÕES NECESSÁRIAS E


SUFICIENTES PARA A MUDANÇA TERAPÊUTICA DA
PERSONALIDADE:

Durante os quinze anos seguintes à publicação do artigo de Rogers, as pesquisas


sobre as condições necessárias e suficientes para a mudança terapêutica (conhecidas na
literatura como “condições básicas”) tornaram-se a força dominante do campo da
pesquisa em psicoterapia e permaneceram como uma parte importante da investigação
científica por mais de três décadas (Bozarth et al., 2000). Segundo Patterson (1984), as
pesquisas sobre as condições básicas são volumosas e constituem um corpo de pesquisa
que está entre os maiores no campo da psicologia. As décadas de 60 e 70 foram
caracterizadas por pesquisas que buscavam comprovar que as condições básicas eram
necessárias e suficientes para a mudança terapêutica da personalidade. A hipótese de
Rogers foi consistentemente apoiada pelas pesquisas deste período (Truax and Mitchell,
1971; Patterson, 1984; Bozarth & Stubbs, 1994).
Barret-Lennard (1962; 1998) desenvolveu o Relationship Inventory como um
instrumento de pesquisa para avaliar as percepções dos clientes das condições
facilitadoras. O Relationship Inventory tornou-se, posteriormente, o instrumento mais
extensivamente utilizado nas pesquisas sobre a relação terapêutica e as condições
facilitadoras (Hill et al, 1994). A conclusão da pesquisa de Barret-Lennard (1962) foi que
os clientes melhoravam na medida em que percebiam seus terapeutas como
compreensivos, congruentes, positivos e incondicionais em consideração a eles,
confirmando, portanto, as hipóteses de Rogers.

10
Truax & Mitchell (1971), numa revisão das pesquisas sobre as condições básicas
concluíram que:

Terapeutas e conselheiros que são acuradamente empáticos,


não-possessivamente calorosos na atitude e genuínos são
realmente eficazes. Ademais, estes resultados parecem se aplicar
a uma ampla variedade de terapeutas e conselheiros,
independentemente de seu treinamento ou orientação teórica e
com uma ampla variedade de clientes ou pacientes, incluindo
estudantes universitários com baixo aproveitamento escolar,
delinqüentes juvenis, esquizofrênicos hospitalizados, (...),
pacientes neuróticos severos ou brandos não hospitalizados e uma
variedade mista de pacientes hospitalizados. Além disso, a
evidência sugere que estes resultados se aplicam a uma variedade
de contextos terapêuticos e a psicoterapia e aconselhamento tanto
individual quanto grupal (Truax & Mitchell, 1971, p.310)1.

Rudolph, Langer & Tausch (1980), realizaram uma pesquisa quasi-experimental com
149 clientes e 80 terapeutas centrados no cliente e obtiveram como principal resultado
que os terapeutas que exibiam altos níveis de duas das três condições de empatia, calor e
genuinidade tinham clientes com mudanças positivas. Outras conclusões deste estudo
foram: (1) as mudanças nos clientes não dependiam do tipo de distúrbio; (2) os clientes
que abandonavam a terapia o faziam em grande parte por causa das condições
desfavoráveis dos seus terapeutas; (3) a mudança no cliente podia ser prevista após a
quarta sessão por declarações de suas percepções do terapeuta e dos seus sentimentos
sobre as sessões.

Após a metade da década de 80, as hipóteses de Rogers foram investigadas por onze
estudos (sendo que três destes investigaram somente a empatia) e todos tiveram resultados
positivos (Sexton & Whiston, 1994).
Lambert, Shapiro e Bergin (1986), numa revisão de pesquisas sobre psicoterapia
concluíram que as qualidades atitudinais do terapeuta constituem uma porção
significativa dos ingredientes eficazes da psicoterapia. Orlinsky e Howard (1986)

1
“Therapists and counselor who are accurately empathic, nonpossessively warm in attitude and genuine
are indeed effective. Also, these findings seem to hold with a wide variety of therapists and counselors,
regardless of their training or theoretic orientation, and with a wide variety of clients or patients, including
college underachievers, juvenile delinquents, hospitalized schizophrenics, college counselees, mild or
severe outpatient neurotics, and a mixed variety of hospitalized patients. Further, the evidence suggests that
these findings hold in a variety of therapeutic contexts and in both individual and group psychotherapy or
counseling”

11
concluíram sua revisão de pesquisas sobre as condições atitudinais afirmando que de 50
a 80% dos estudos nesta área eram significativamente positivos, indicando que estas
dimensões estavam relacionadas de maneira muito consistente ao resultado positivo da
terapia. As hipóteses de Rogers foram apoiadas, de forma independente, por Duncan e
Moynihan (1994), que concluíram que a variável operacional mais importante para o
resultado bem-sucedido da terapia é a utilização intencional do marco de referência do
cliente. Esta conclusão ressoa com a concepção rogeriana da empatia (Bozarth et al.,
2000).
Stubbs & Bozarth (1994) concluíram em sua revisão de pesquisas sobre resultado de
psicoterapia que as únicas variáveis do relacionamento terapêutico consistentemente
relacionadas à eficácia são as condições de empatia, genuinidade e consideração positiva
incondicional.

2) UMA PREMISSA FUNDAMENTAL: A TENDÊNCIA


ATUALIZANTE:

O conceito de tendência atualizante é a pedra fundamental da terapia centrada no


cliente (Bozarth & Brodley, 1991; Brodley, 1999):

Prática, teoria e pesquisa deixam claro que a abordagem


centrada na pessoa está construída sobre uma confiança básica na
pessoa ... (Ela) confia na tendência atualizante presente na
tendência de todo organismo vivo para crescer, se desenvolver e
realizar todo seu potencial. Este jeito de ser confia no fluxo
direcional construtivo do ser humano em direção a um
desenvolvimento mais complexo e completo. O nosso propósito é
liberar este fluxo direcional (Rogers, 1986, p.198).1

1
“Practice, theory and research make it clear that the person-centered approach is built on a basic trust in
the person... (It) depends on the actualizing tendency present in every living organism’s tendency to grow,
to develop, to realize its full potential. This way of being trusts the constructive directional flow of the
human being toward a more complex and complete development. It is this directional flow that we aim to
release”.

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A teoria de Rogers da tendência atualizante é uma teoria organísmica onde as
qualidades fundamentais da natureza humana são as de crescimento, processo e mudança.
Rogers (1980) afirma que toda motivação e a fonte central de energia do organismo está
na tendência organísmica em direção à auto-atualização. O processo de atualização é
dirigido ao crescimento e inclui o movimento em direção à realização, desenvolvimento
e aperfeiçoamento das capacidades e potencialidades inerentes do indivíduo (Rogers,
1963). A tendência atualizante, segundo Rogers (1980), não pode ser destruída sem que
se destrua também o organismo.
De acordo com Bozarth (1998), a posição básica da terapia centrada no cliente é de
que o terapeuta confia na tendência atualizante do cliente e acredita verdadeiramente que
o cliente que experiencia a liberdade de uma clima psicológico que promova a liberação
da sua tendência atualizante será capaz de resolver, de forma autônoma, seus próprios
problemas. O terapeuta confia na autoridade do cliente sobre si mesmo e se relaciona com
ele como um igual, respeitando as suas percepções. O terapeuta não intervêm e não tem
a intenção de interferir pois o papel do terapeuta é somente o de criar um clima
interpessoal que promova a liberação da tendência atualizante do cliente. Para Bozarth,
este é o aspecto mais revolucionário da teoria de Rogers.

3) “ NENHUMA OUTRA CONDIÇÃO É NECESSÁRIA”:

Entre o final dos anos 70 e o início dos anos 80 surgiram diversas revisões de
pesquisas que tentaram provar que as condições formuladas por Rogers eram necessárias
mas não suficientes para a mudança terapêutica da personalidade (Stubbs & Bozarth,
1994). Entretanto, Stubbs e Bozarth (1994) não encontraram nenhum estudo que apoiasse
diretamente a afirmação de que as condições de Rogers são insuficientes em si mesmas.
Segundo Patterson (1984), as conclusões destas revisões estão completamente
equivocadas devido à tendenciosidade e aos preconceitos destes pesquisadores. Apesar
da direção das evidências, as conclusões destas revisões não reflete acurada ou
adequamente o próprio parecer dos revisores em relação às pesquisas analisadas:

13
Os revisores são mais do que cautelosos em suas conclusões –
eles são freqüentemente inconsistentes, ambivalentes e incapazes
de aceitar os resultados de suas próprias revisões (Patterson,
1984).1

Bozarth (1993) considera que esta equivocada conclusão de que as condições básicas
não são suficientes baseia-se numa incompreensão e não-aceitação da suposição básica
da teoria da terapia centrada no cliente de que o cliente conhece melhor sobre sua vida e
progride quando certa atmosfera é proporcionada por um terapeuta que opera nessa
premissa. Segundo Bozarth, estes autores são incapazes de descartar a noção que o
terapeuta tem que intervir de alguma maneira, em algum ponto, para colocar o cliente na
direção apropriada. Ou seja, a conclusão de que as condições básicas não são suficientes
é uma visão oriunda de outros marcos de referência (comportamental ou psicanalítico)
que não se baseiam na pressuposição da tendência atualizante. O modelo operacional
nestas abordagens predispõe o terapeuta a agir ou intervir para influenciar o cliente, na
medida em que considera que a responsabilidade do terapeuta é saber o que está
acontecendo com o cliente e o que necessita ser feito em relação a isto (Schaff, 1992). Na
perspectiva da abordagem centrada no cliente, ao contrário, o terapeuta recorre e confia
na tendência atualizante, que permeia toda a vida organizada (Rogers, 1980). Só que isto
não é reconhecido por estes outros paradigmas em psicologia. Assim, devido a esta falha
na compreensão da posição de Rogers, diversos autores se referem às condições básicas
como sendo apenas as condições preparatórias para as ‘intervenções’ do terapeuta
(Lazarus, 1993; Norcross, 1992; Quinn, 1993). Bozarth (1998) conclui que a postura
revolucionária de Rogers, que identifica o cliente como o melhor expert sobre sua vida,
não tem sido bem compreendida ou assimilada nem pelos mais brilhantes scholars no
campo da psicoterapia.

1
“The reviewers are more than cautious in their conclusions - they are often inconsistent, ambivalent, and
unable to accept the results of their own reviews”.

14
4) EMPATIA

Em 1975, Rogers escreveu um artigo entitulado “Uma maneira negligenciada de ser:


a maneira empática” no qual ele revisita o conceito de empatia e propõe uma nova
definição para o termo. Empatia, então, é definida como sendo um processo, uma
maneira de ser numa relação com outra pessoa que apresenta várias facetas:

Significa penetrar no mundo perceptual do outro e sentir-se


totalmente à vontade dentro dele. Requer sensibilidade constante
para com as mudanças que se verificam nesta pessoa em relação
aos significados que ela percebe, ao medo, à raiva, à ternura, à
confusão ou ao que quer que ele esteja vivenciando. Significa
viver temporariamente sua vida, mover-se delicadamente dentro
dela sem julgar, perceber os significados que ele quase não
percebe, tudo isto sem tentar revelar sentimentos dos quais a
pessoa não tem consciência, pois isto poderia ser muito
ameaçador. Implica em transmitir a maneira como você sente o
mundo dele à medida que examina sem viés e sem medo os
aspectos que a pessoa teme. Significa, freqüentemente, avaliar
com ele a precisão do que sentimos e nos guiarmos pelas respostas
obtidas. Passamos a ser um companheiro confiante dessa pessoa
em seu mundo interior. Mostrando os possíveis significados
presentes no fluxo de suas vivências, ajudamos a pessoa a
focalizar esta modalidade útil de ponto de referência, a vivenciar
os significados de forma mais plena e a progredir nesta vivência.
Estar com o outro desta maneira significa deixar de lado, neste
momento, nossos próprios pontos de vista e valores, para entrar no
mundo do outro sem preconceitos; num certo sentido, significa pôr
de lado nosso próprio eu... (Rogers & Rosenberg, 1977, p.73)

Analisando esta definição apresentada por Rogers, percebemos que ela engloba ao
mesmo tempo três facetas distintas do modo de ser empático, que chamaremos de
‘experiência empática’, ‘compreensão empática’ e ‘reflexo de sentimentos’:

(1) experiência empática:


É uma maneira de estar na relação com o outro que, na definição acima, Rogers
descreve como:

- penetrar no mundo perceptual do outro e sentir-se totalmente à vontade dentro dele;


- viver temporariamente sua vida, mover-se delicadamente dentro dela sem julgar;
- passamos a ser um companheiro confiante dessa pessoa em seu mundo interior;

15
- deixar de lado, neste momento, nossos próprios pontos de vista e valores, para entrar
no mundo do outro sem preconceitos;
- num certo sentido, significa pôr de lado nosso próprio eu.

(2) Compreensão empática:


É um conhecimento dos significados e sentimentos que estão sendo
experienciados pelo outro na relação. Rogers se refere à esta faceta quando afirma que a
empatia:

- significa perceber os significados que ele quase não percebe;


- requer sensibilidade constante para com as mudanças que se verificam nesta pessoa
em relação aos significados que ela percebe, ao medo, à raiva, à ternura, à confusão
ou ao que quer que ele esteja vivenciando;

(3) Reflexo de sentimentos:


É um método ou um modo de comunicação na relação com o cliente. Rogers se
refere ao reflexo de sentimentos quando afirma que a empatia implica em:

- transmitir a maneira como você sente o mundo dele à medida que examina sem viés e
sem medo os aspectos que a pessoa teme;
- freqüentemente, avaliar com ele a precisão do que sentimos e nos guiarmos pelas
respostas obtidas;
- sem tentar revelar sentimentos dos quais a pessoa não tem consciência, pois isto
poderia ser muito ameaçador;
- mostrando os possíveis significados presentes no fluxo de suas vivências.

Ao longo de todo o artigo, Rogers se refere indistintamente a estas três facetas como
sendo sinônimos de empatia, como sendo diferentes aspectos de um fenômeno único.
Sendo assim, na concepção de Rogers, estas facetas não existiriam independentemente.
A experiência empática, a compreensão empática e o reflexo de sentimento seriam
fenômenos interdependentes, isto é, a presença de um implicaria necessariamente na
presença dos outros.

16
Entretanto, alguns relatos clínicos e discussões na literatura apontam para a
possibilidade de que os fenômenos da experiência empática, compreensão empática e
reflexo de sentimentos sejam independentes. A fim de investigar esta hipótese, discutirei,
inicialmente, os conceitos de reflexo de sentimentos e o de experiência empática. A
seguir, apresentarei relatos clínicos que apontam para a possibilidade destes dois
fenômenos ocorrerem independentemente. Posteriormente, discutirei o conceito de
compreensão empática e, da mesma forma, apresentarei relatos clínicos que apontam
para a possibilidade da compreensão empática e a experiência empática ocorrerem
independentemente.

4.1. REFLEXO DE SENTIMENTOS

A imagem da terapia centrada no cliente tornou-se associada ao método focalizado


por Rogers durante os seus anos na Universidade de Chicago, conhecido como “reflexo”
ou “reflexo de sentimentos”. Exemplos de Rogers e outros terapeutas demonstrando a
terapia centrada no cliente freqüentemente ilustram este método e estão largamente
disponíveis na literatura (e.g. Bozarth, 1990; Bozarth & Brodley, 1991; Brodley, 1993;
Ellis and Zimring, 1994; Merry, 1996; Raskin and Rogers, 1989; Rogers, 1965; Rogers
and Segal, 1955; Rogers, 1986a). Shlien (apud Rogers, 1986b), considera que a terapia
centrada no cliente jamais teria progredido sem o desenvolvimento da técnica do reflexo
de sentimentos.

Ao final da década de 70, Brodley (1977) desenvolveu uma conceitualização mais


elaborada do método do reflexo, que ela denominou de “processo de resposta de
compreensão empática”1. Segundo Brodley (1986), este processo é a forma que
caracteriza e distingue a terapia centrada no cliente. Ele ocorre na medida em que o
terapeuta experencia, com consistência e constância, as atitudes terapêuticas e as
expressa para o cliente através de ‘respostas de compreensão empática’2. Brodley define
as respostas de compreensão empática como sendo:

1
“Empathic understanding response process".
2
“Empathic understanding responses”.

17
As respostas de compreensão empática se referem a uma
ampla categoria de respostas, todas estas são uma tentativa de
articular acuradamente a experiência que o cliente expressou ou
está se esforçando para expressar. As respostas de compreensão
empática variam de reiterações bastante literais, resumos do que
o cliente expressou, respostas mais fragmentadas a formas de
respostas que envolvem maior inferência ou suposição em relação
ao que o cliente vem expressando. Mas em todas as instâncias de
respostas de compreensão empática elas representam a tentativa
do terapeuta de articular o ponto de vista do cliente e são uma
tentativa de acompanhar o cliente de uma maneira empática. Elas
não são baseadas numa tentativa de interpretar o cliente ou de ficar
à frente da consciência do cliente de suas experiências” (Brodley,
1998, p. 27)1

As respostas empáticas explícitas ocorrem no contexto de um “processo de respostas


de compreensão empática” no interior da relação centrada no cliente. Neste processo,
segundo Bozarth (1998), o terapeuta não tem objetivos para o cliente, sendo, portanto,
um processo inerentemente não-diretivo. Os eventos típicos do ‘processo de respostas de
compreensão empática’, também denominado de ‘interação empática’ por Brodley
(1998), são:

(1) o cliente fala ao terapeuta e expressa ou descreve alguns de seus sentimentos,


preocupações, pensamentos ou eventos da sua vida. O cliente articula algo de sua
experiência pessoal e de sua própria perspectiva que ele deseja comunicar naquele
momento ao terapeuta (ou que deseja dizer em voz alta para escutar a si mesmo);
(2) Enquanto o cliente está expressando sua experiência, o terapeuta está prestando
atenção total ao cliente. O terapeuta está tentando receber, absorver e compreender
os significados e sentimentos que o cliente está dizendo ou tentando dizer a partir
de sua própria perspectiva [do cliente]. O terapeuta se apropria da perspectiva do
cliente até sentir que o entende em certa medida (ou que não tem este sentimento
de compreensão e reconhece este fato);

1
“Empathic understanding responses (EURs) refer to a broad category of responses all of which are an
attempt to accurately articulate the experience the client has expressed or has been striving to express. EURs
range from very literal restatements or summaries of what the client has expressed, to more fragmental
responses, to forms of response which involves more inference or guessing about what the client has been
expressing. But in all instances of EURs, they represent the therapist’s attempt to articulate the client’s
point of view and are an attempt at an empathic following of the client. They are not based on an attempt
to interpret the client or get ahead of the client’s awareness of his or her experiences”.

18
(3) A seguir, o terapeuta pode ou não fazer uma resposta explícita que comunique sua
compreensão interna (ou que reconheça a falta de compreensão) do cliente. Se o
terapeuta não faz uma resposta verbal-oral explícita, ele pode fazer um movimento
afirmativo com a cabeça, um gesto vocal tal como “Uhm-hm”, ou simplesmente
permanecer atento e silencioso de uma maneira que implica uma compreensão do
cliente.
(4) Finalmente, neste “ciclo empático”1, em resposta à presença, à atenção, ou às
respostas explícitas do terapeuta, o cliente pode ter o sentimento de ser
compreendido ou aceito. Estas experiências tendem a estimular o cliente a avançar
na sua auto-reflexão e expressão (Brodley, 1998).

Segundo Bozarth (1997), qualquer que seja o meio de expressão ou forma das
respostas empáticas, elas são do tipo “seguir-tão-perto-quanto-possível”2 o cliente
enquanto ele narra e expressa a si mesmo. Ademais, todas as respostas empáticas são
inerentemente “tentativas”, implicando a pergunta do terapeuta para o cliente: “Isto está
correto?”3.

Analisando este processo de respostas de compreensão empática, Barrett-Lennard


(1993) formulou três “fases” para a empatia:

(1) Na primeira fase uma pessoa (A) está atendendo ativamente com uma atitude
empática à outra pessoa (B) que de alguma maneira está expressando seu próprio
experienciar. Esta postura empática inclui uma abertura ativa para conhecer a
outra pessoa em seu próprio interior, no experienciar imediato do seu mundo e
engajamento do eu4. Esta é uma pré-condição para empatia, e o começo da escuta
empática. Cedo ou tarde, à medida em que este processo continua, A ressoa
experiencialmente com B num imediato reconhecimento da experiência e
significado sentido que foi compartilhado por B. A principal característica da
experiência de B, algumas vezes toda a sua qualidade e substância tal como foi
expressa e subentendida5, está agora também viva e em movimento na consciência

1
termo formulado por Barrett-Lennard (1981)
2
“as-close-as-possible-following”.
3
“Is this accurate?”
4
“active openness to knowing the other person in their own inside, immediate experiencing of their world
and engagement of self”
5
“implied”

19
de A. Este processo interno e esta qualidade de compreensão experiencial é a
primeira essencial fase da empatia. Nesta Fase 1 o reconhecimento e compreensão
interna não é ainda conhecida por B.

(2) O próximo passo (que pode se seguir imediatamente) é a expressão comunicativa


de resposta empática interna de A. Esta comunicação de empatia, intencional ou
involuntária, verbal ou não-verbal, é identificada como Fase 2 da empatia. Se A
meramente observou as palavras do outro, e tecnicamente espelhou de volta sua
substância apenas na forma de uma compreensão experiencial, esta resposta não
está emergindo de um processo empática interno e, portanto, não é Fase 2 da
empatia.

(3) A expressão de uma resposta empática real (de A) potencia a etapa culminante de
consciência (de B) de ser empaticamente compreendido. Esta crucial terceira fase
é a de empatia recebida ou apreendida. A consciência de ser literalmente escutado
e profundamente compreendido, em alguma esfera pessoal vital, tem seu impacto
direto próprio, seja de alívio, de algo finalmente fazendo sentido, um sentimento
de uma conexão interna e de estar menos sozinho, e uma maior abertura para
compartilhar sua expressão ou exploração.

A experiência de ser escutado através da técnica de ‘reflexo de sentimentos’ é


comparada por Barrett-Lennard (1993) à experiência de ser assistido no nascimento por
uma parteira habilidosa:

Escutar de um outro a essência de nosso sentimento e


significado pessoal que estávamos lutando por articular e
expressar, que talvez seja como um camaleão que se oculta
mudando e desaparecendo enquanto o perseguimos, e que pode
evocar nauseante ansiedade em nós, escutar neste contexto um
ouvinte, que está devotando sua total atenção para o que nós
estamos passando, falar-nos de volta o que nós mesmos estamos
mal e dificilmente compreendendo, pode ter o impacto de uma
parteira habilidosa assistindo a um nascimento literal (Barrett-
Lennard, 1993)1.

1
“Hearing from another the essence of our personal feeling and meaning which we have been struggling
to articulate and express, which perhaps is like a chameleon that keeps changing and disappearing as we
pursue it, and which may evoke sickening anxiety in us, to hear in this context a listener who is devoting
his/her whole attention to what we are going through speak back to us that which we ourselves are
strenuously and barely grasping can have the impact of a skilful midwife assisting in a literal birth”.

20
A formalização do “reflexo de sentimentos” e da “regra da reiteração” provê o
terapeuta com uma ferramenta poderosa para obter uma compreensão empática do cliente
(Rogers, 1980; Teich, 1992) Segundo Bozarth (1997), o processo de resposta de
compreensão empática pode ser considerado como uma provável implementação da
atitude empática aceitadora do terapeuta centrado no cliente1, na medida que, para alguns
terapeutas, este processo é a melhor maneira de manter uma postura empática e de
aprender a confiar no cliente. Para Rogers (1986b), o reflexo de sentimentos é uma forma
de checar com o cliente se ele o está compreendendo e de comunicar sua compreensão
ao cliente. Brodley (1986) salienta que o reflexo de sentimentos funciona como
expressão da compreensão empática quando a intenção do terapeuta é perguntar ao
cliente: ‘é isto o que você está me dizendo? Ou ‘é isto o que você quer dizer?’ ou ‘é isto
o que você está sentindo?’.
Em Kirschenbaum (1979), Rogers afirma que o reflexo de sentimentos comunica
não apenas a compreensão empática, mas também a aceitação incondicional do terapeuta:

O reflexo de sentimentos comunica ao cliente que qualquer


que sejam ou tenha sido seus sentimentos e comportamentos, não
importa quão problemáticos, assustadores ou socialmente
desaprovados, ele ainda é aceito como um valioso ser humano pelo
terapeuta (Rogers em Kirschenbaum, 1979, p.120)2

Entretanto, como enfatiza Brodley (1986), a terapia centrada no cliente não é a técnica
de ‘reflexo de sentimento’ ou de ‘respostas de compreensão empática’. O processo de
respostas de compreensão empática, segundo Bozarth (1997), precisa ser compreendido
como uma expressão das atitudes do terapeuta e não como uma técnica ou estratégia.
Neste sentido, afirma Brodley (1986):

Somente se as respostas de compreensão empática (ou


qualquer outro tipo de resposta utilizada no contexto da terapia
centrada no cliente) forem utilizadas como expressão das atitudes
genuínas do terapeuta de congruência, aceitação e compreensão
empática, elas são uma expressão da terapia centrada no cliente
(Brodley, 1986).3

1
“client-centered therapist’s acceptant empathic attitude”
2
“Reflection of feelings communicates to the client that whatever his feelings and behavior are or have
been, no matter how troubling or frightening or socially disapproved of, he is still accepted as a worthy
human being by the therapist”.
3
“Only if empathic understanding responses (or any other types of response used in the context of client-
centered therapy) are used as expression of the therapist’s genuine attitudes of congruence, acceptance
and empathic understanding are they an expression of client-centered therapy”.

21
Existe muita confusão em relação ao papel da técnica na terapia centrada no
cliente. Técnicas de ‘reiteração’1 ou de ‘escuta ativa’2 (Gordon, 1970) são freqüentemente
empregadas como sendo representativas da concepção de Rogers da compreensão
empática. Estas técnicas podem, de fato, ajudar os clientes e produzir um processo de
mudança terapêutica, mas elas não representam a terapia centrada no cliente. A teoria de
Rogers enfatiza claramente as atitudes e sentimentos do terapeuta na relação terapêutica
e não as técnicas (Brodley, 1998).
Segundo Bozarth (1998), esta confusão entre atitude e técnica se originou do contexto
de pesquisa e da metodologia científica na qual Rogers desenvolveu sua teoria da terapia.
A maior parte do trabalho de Rogers na Universidade de Chicago, apesar de ter se
baseado nos princípios atitudinais, foi focalizado nas respostas do terapeuta, examinando
os efeitos de respostas específicas do terapeuta em comportamentos específicos do
cliente. Este foco comportamental surgiu em função do método quantitativo utilizado
nas pesquisas. Rogers e seus colegas se perguntavam: “O que o cliente faz quando o
terapeuta responde de uma certa maneira? E como o terapeuta deveria responder?”.
Rogers declara (in Kirschenbaum, 1979) que quando ele percebeu as interpretações
tecnológicas dadas ao seu trabalho, ele passou a usar uma referência mais ampla do que
‘reflexo de sentimentos’ e passou a se referir à “adoção do quadro de referência do
cliente”. Somente nesta época é que Rogers começou a utilizar o termo empatia:

Foi somente quando Rogers ficou preocupado com os mal-


entendidos em relação ao ‘reflexo’ e ao uso das técnicas de reflexo
que ele começou a falar do quadro de referência do cliente e,
assim, começou a usar o termo ‘empatia’. Empatia proveu Rogers
com um significado mais compreensivo, que enfatizava a atitude
em vez do repertório de respostas (Bozarth, 1998, p.54).3

Assim, em 1957, ao formular a hipótese das condições necessárias e suficientes para


a mudança terapêutica, Rogers salientava que a técnica de reflexo de sentimentos não é
uma condição essencial para a terapia centrada no cliente. A técnica pode servir como

1
restatement
2
active listening
3
“It was not until Rogers became concerned about the misunderstandings of ‘reflection’ and use of
reflection techniques that he talked about the client’s frame of reference and, then, began to use the term,
‘empathy’. Empathy provided Rogers with a more comprehensive meaning that emphasized attitude
rather than a response repertoire”

22
uma canal através do qual o terapeuta comunica empatia e consideração positiva
incondicional, mas não é uma garantia da presença das atitudes facilitadoras, já que um
sentimento também pode ser refletido de uma maneira que comunica uma falta de empatia
do terapeuta.
Segundo Bozarth (1998), o freqüente foco na técnica e nas estratégias
comportamentais do terapeuta tem sido responsável pelas distorções e pela trivialização
da terapia centrada no cliente e do seu conceito de empatia. Bozarth critica os modelos
de Carkhuff (1971), Cormier e Cormier (1991) Corey (1982) e Egan (1975) que
desenvolveram o conceito de empatia num quadro de referência comportamental.

Segundo Barrett-Lennard (1993), a ênfase no reflexo e clarificação dos sentimentos e


significados do cliente que tem caracterizado a terapia centrada no cliente traz o risco de
tornar este método um fim em si mesmo e de negligenciar o processo interno crucial da
atitude empática:

É o meu ponto de vista de que esta qualidade de reiteração é


uma modalidade poderosa quando ela reflete a ressonância
empática genuína do outro. Dito de outra forma, reflexos podem
ser um excelente canal para o fluxo da empatia, que é o
ingrediente ativo (Barret-Lennard, 1993) (grifo do autor)1.

4.2. A EXPERIÊNCIA EMPÁTICA

Denominamos de experiência empática à faceta da empatia que diz respeito à atitude


do terapeuta de “entrar no mundo do cliente”. Retomando a definição de empatia proposta
por Rogers em 19752, vemos que a experiência empática implicaria em:

- penetrar no mundo perceptual do outro e sentir-se totalmente à vontade dentro dele;


- viver temporariamente sua vida, mover-se delicadamente dentro dela sem julgar;

1
“It is my view that this quality of restatement is a powerful modality when it does reflect the other's
genuine empathic resonation. Put another way, reflections can be an excellent channel for the flow of
empathy, which is the active ingredient”.
2
cf. item (4).

23
- ser um companheiro confiante dessa pessoa em seu mundo interior;
- deixar de lado, neste momento, nossos próprios pontos de vista e valores, para
entrar no mundo do outro sem preconceitos;
- pôr de lado nosso próprio eu (Rogers & Rosenberg, 1977, p73).

Bozarth (1998) caracteriza esta experiência como:

... o mesclar-se pessoa-a-pessoa do terapeuta, emanharado no


mundo do cliente, com reações empáticas e ‘total’ sintonia com o
outro (Bozarth, 1998, p.67)1.

A experiência empática se distingue do reflexo de sentimentos por ser muito mais


do que uma técnica, fórmula, forma ou esquema cognitivo. Ela envolve uma completa
dedicação e compromisso do terapeuta em experienciar, com aceitação, o mundo interno
do cliente (Bozarth, 1998).
Bozarth (2000) descreve a experiência empática comparando-a com a experiência
de um antropólogo que tenta viver em uma outra cultura tendo o compromisso e o cuidado
de não modificá-la:

[experiência empática] é o caminhar do terapeuta no mundo do


cliente... estar no mundo do cliente e então responder/reagir com
maneiras que são um mesclar-se com este mundo, sem ou
minimamente o violar... como um antropólogo vivendo em outra
cultura, se adaptando a outra cultura e se acomodando à cultura...
não tanto em termos de conversação mas de apenas estar.2

A experiência empática envolve, portanto, uma presença aceitadora do terapeuta


enquanto experencia o mundo interno do cliente. Neste sentido, empatia e consideração
positiva incondicional são completamente inseparáveis (Bozarth, 1997).

1
“... the person-to-person blending of the therapist enmeshed in the world of the client with empathic
reactions and ‘total’ attunement to the other”.
2
“ [empathic experience is] the therapist walking in the world of the client... being in the world of the
client and so responding/ reacting in ways that are blending with that world without or by minimally
violating it....sort of like an anthropologist living in another culture, adapting to the other culture and
accommodating to the culture... not in terms of conversation so much as just being”.

24
4.2.1. A experiência empática e a aceitação incondicional do terapeuta são,
em essência, a mesma experiência1:

Rogers (1980) afirma que a empatia ajuda o indivíduo a se sentir valorizado, cuidado
e aceito como a pessoa que ele é, e que a empatia é sempre livre de qualquer qualidade
avaliativa ou diagnóstica. Consideramos que Rogers, neste momento, se referia
especificamente à experiência empática e não à empatia em seu sentido genérico2.
Para Bozarth (1998), esta qualidade não avaliadora e aceitadora que Rogers atribui à
empatia corresponde à própria definição de consideração positiva incondicional. Bozarth
conclui, portanto, que a empatia Rogeriana é a manifestação e o veículo de comunicação
da consideração positiva incondicional:

A empatia Rogeriana3 é primariamente a maneira mais pura de


comunicar consideração positiva incondicional. A empatia
Rogeriana é, de fato, inseparável da consideração positiva
incondicional e eu sugiro que elas são, em última instância, uma
mesma condição (Bozarth, 1998, pp.51-52).4

4.3. REFLEXO DE SENTIMENTOS SEM EXPERIÊNCIA EMPÁTICA

É possível o terapeuta utilizar o método do reflexo de sentimentos sem ter uma


experiência empática do cliente na relação?

Brodley (1986) afirma que o reflexo de sentimentos é um canal para a expressão da


empatia apenas na medida em que o cliente está procurando ser compreendido e comunica
isto ao terapeuta:

1
O conceito de consideração positiva incondicional será discutido no item 5, onde sua relação com a
experiência empática será mais uma vez investigada
2
A possibilidade da compreensão empática e do reflexo de sentimentos apresentarem uma qualidade
avaliativa e diagnóstica será discutida nos próximos tópicos.
3
Bozarth se refere à empatia “rogeriana” em contraposição a outros conceitos de empatia, principalmente
à concepção de Kohut, que não subentendem a dimensão da ‘experiência empática’.
4
“Rogerian empathy is primarily the purest way to communicate unconditional positive regard. Rogerian
empathy is, in fact, inseparable from unconditional positive regard and, ultimately, I suggest that they are
the same condition”.

25
[o terapeuta] está tentando compreender empaticamente o
cliente de acordo com a intenção do cliente de ser compreendido
naquele momento (Brodley, 2000)1.

Em artigo recentemente publicado (Freire, 2000) eu considero que as respostas de


compreensão empática são a melhor maneira de implementar a atitude empática quando
o cliente está em busca de auto-conhecimento:

Parece que a intenção do terapeuta com a resposta de


compreensão empática não é somente a de “checar” a precisão da
compreensão do terapeuta mas existe também uma intenção de
“oferecer” esta compreensão ao cliente. Como se o terapeuta
estivesse dizendo: “É isso o que você está procurando?”... Desta
forma, o terapeuta está sendo empático com a necessidade do
cliente de auto-conhecimento (Freire, 2000, p.9)2

Mas existem situações nas quais o cliente não tem a intenção de se conhecer ou de
empreender uma exploração do eu. Por exemplo, quando o auto-conhecimento implica
em reconhecer sentimentos ou significados que são experienciados pelo cliente como
extremamente ameaçadores. Segundo Prouty (1999), experienciar estes sentimentos
diretamente pode ser desintegrador para o eu. Somente uma lenta entrega ao processo de
experienciação e integração natural do cliente seria um caminho seguro. Nestes casos, o
reflexo de sentimentos expressaria uma total falta de empatia do terapeuta em relação
ao cliente.
Indivíduos extremamente deprimidos ou cuja noção de eu está extremamente
debilitada também podem não estar dispostos a empreender uma exploração do eu. Esta
foi uma das conclusões do projeto de pesquisa de Wiscosin, empreendido por Rogers,
Gendlin, Truax e Kiesler, no início da década de 60, com o objetivo de examinar os
resultados terapêuticos das atitudes facilitadoras em indivíduos diagnosticados como
‘esquizofrênicos’ e cronicamente hospitalizados (Rogers et. al., 1976). Foi encontrada
uma diferença de ‘foco’, na psicoterapia, entre os clientes denominados ‘neuróticos’ e os
denominados ‘esquizofrênicos’. O foco central dos clientes ‘neuróticos’, segundo Rogers,

1
“[the therapists] are trying to empathically understand the client in accord with the client's intentions to
be understood at that moment”.
2
“It seems that the therapist's intention with the empathic understanding responses is not solely to
"check" the accuracy of the therapist's understanding but there is also an intention to "offer" such
understanding to the client. As if the therapist were saying: "Is that what you are looking for?”... So, the
therapist is being empathic with the client's need for self-understanding.”

26
seria a exploração do eu ao passo que o foco dos clientes ‘esquizofrênicos’ seria a
formação de um relacionamento:

Nossos terapeutas estiveram algumas vezes frustrados pela


falta de exploração do eu entre nossos clientes esquizofrênicos,
pois eles haviam chegado a pensar na exploração do eu como
característica da maioria das psicoterapias. O indivíduo
esquizofrênico parece estar procurando um relacionamento em
que ele possa confiar, e é o potencial do terapeuta como uma
pessoa de confiança e protetora que parecer ser crucial para ele.
Portanto, (...) sua percepção da congruência e consideração
positiva do terapeuta é central. Somente mais tarde a compreensão
empática se torna mais importante, e perceptível num grau mais
alto (Rogers et al., !976, p.76).1

Sommerbeck (2000), por exemplo, ao descrever a sua experiência com pacientes


em hospitais psiquiátricos, avalia que o método do reflexo de sentimentos é, geralmente,
inadequado para comunicar a experiência empática do terapeuta:

Eles não se sentem compreendidos e não experienciam


consideração positiva incondicional pela exclusiva aderência do
terapeuta ao reflexo empático. Ao invés disso, quando “seguimos
a pista” deles com reflexos empáticos, eles podem se sentir
perseguidos, invadidos, dominados, oprimidos, e coagidos. A
questão para eles não é primariamente a de liberdade, mas a de
segurança. Não é primariamente a de se sentir compreendido, mas
a de se sentir cuidado. Eu sinto isto como o choro de uma criança:
você não reflete empaticamente, você demonstra compreensão
empática trocando suas fraldas (Sommerbeck, 2000)2

Na medida em que indivíduos internados em hospitais psiquiátricos buscam,


primariamente, um relacionamento em que possam se sentir cuidados e seguros, a

1
“Our therapists were sometimes baffled by the lack of self-exploration among our schizophrenic clients,
since they had come to think of self-exploration as characteristics of most psychotherapy. The
schizophrenic individual seems to be seeking a relationship he can trust, and it is the therapist’s potential
as a trustworthy, caring person which appears crucial to him. Hence, in terms of our measures, his
perception of the congruence and positive regard of the therapist are central. Only later does empathic
understanding become more important, and perceptible to a higher degree”.
2
“They do not feel understood and they do not experience unconditional positive regard by the therapist's
exclusive adherence to empathic reflection. When "tracking" them with empathic reflections, they may
rather feel persecuted, intruded upon, overwhelmed, oppressed, and coerced. The issue for them is not
primarily one of freedom, it is one of safety. Not primarily one of feeling understood, but one of feeling
cared for. To me it feels like the crying of the infant: you don't empathically reflect, you demonstrate
empathic understanding by changing his diapers”.

27
experiência empática do terapeuta deve, necessariamente, ir ao encontro desta
necessidade. Os resultados de Wiscosin, portanto, evidenciam que o reflexo de
sentimentos nem sempre é um veículo para a implementação da atitude empática na
relação terapêutica.

4.4. EXPERIÊNCIA EMPÁTICA SEM REFLEXO DE SENTIMENTOS

É possível ao terapeuta ter uma experiência empática do cliente na relação sem,


todavia, utilizar o método do reflexo de sentimentos?

Bozarth (1997) afirma que empatia não é reflexo de sentimentos. Empatia, segundo o
autor, é um processo em que o terapeuta entra no mundo do cliente como se fosse o
cliente. O reflexo é somente uma das maneiras de se entrar no mundo do cliente, ou uma
técnica que pode ajudar neste processo. O que é facilitador para o cliente não é o reflexo
em si, mas o ‘caminhar no mundo do cliente’. Outras formas de respostas empáticas,
verbais ou não-verbais, que tentam representar o quadro de referência interno do cliente
na interação imediata também são possíveis. Bozarth, portanto, sugere que outros
‘modos’ de empatia também sejam observados e analisados.

4.4.1. Experiência empática na busca por uma melhor qualidade de vida

Bozarth (1999) apresenta alguns relatos de sua experiência clínica com indivíduos
internados num hospital psiquiátrico público no final da década de 50. Este relatos
demonstram que o compromisso do terapeuta com o quadro de referência do cliente não
envolve necessariamente o repertório usual de respostas de compreensão empática. O
terapeuta, Bozarth, fora contratado pelo hospital como um Psychiatric Rehabilitation
Counselor, com a função de ajudar os pacientes, internados há muitos anos no hospital, a
realizar um treinamento profissionalizante, conseguir um emprego e sair do hospital.

28
Bozarth era recém-formado e esta era a sua primeira experiência profissional. Diz Bozarth
(1999):

Sabendo pouco o que fazer, eu dependia dos indivíduos com


quem eu trabalhava. Eu escutava, cuidava e confiava neles
(Bozarth, 1999)1.

Confiando na auto-direção e nos recursos dos clientes, Bozarth (1999) se entregou


à experiência de estar com eles, aceitando-os incondicionalmente e acompanhando-os na
sua busca por uma melhor qualidade de vida. Segundo Bozarth (1999) raramente havia
um foco na profundidade da exploração do eu ou experienciação ou qualquer outro
processo particular. (...) Não havia uma maneira sistemática na qual eu lidava com os
indivíduos; eles ditavam os meios, o modo e as direções do contato2. Os seus clientes,
que estavam em média há mais de vinte anos hospitalizados, encontraram maneiras de
melhorar sua vida significativamente. Uma pesquisa realizada com estes indivíduos
demonstrou uma grande redução da taxa de re-internação, um aumento significativo nas
taxas de colocação profissional, independência e melhoria da qualidade de vida. Os
relatos a seguir são exemplos deste seu trabalho no hospital3:

Howard havia sido hospitalizado vinte anos antes de eu conhecê-lo, diagnosticado como
Esquizofrênico, tipo Paranóide. Ele apunhalara vários indivíduos anteriormente à sua
admissão. (...) Ele ouviu falar de mim através de outro residente e pediu ao seu médico
para encaminhá-lo a mim. Nós conversamos duas vezes a respeito de seus pensamentos
de sair do hospital. Ele decidiu que isto não era a coisa para ele fazer, era ameaçador
demais! Eu principalmente o escutei, e falei a ele sobre algumas das possibilidades
educacionais e de treinamento com as quais eu poderia ajudá-lo se ele decidisse
desenvolver planos fora do hospital. Aproximadamente um ano depois, ele retornou para
retomar aonde tinha deixado. Ele me perguntou sobre a possibilidade da “Escola de
Barbeiros”. Nós conversamos semanalmente durante vários meses com ele assumindo o
comando. Ele falava sobre sua filha, seus relacionamentos no hospital e coisas que a
maioria de nós falaria em conversas normais. Sua consistência na procura de
treinamento resultou em ele ser aceito num financiamento para ingressar nessa escola.
Havia um período de espera antes de ir para a escola e ele decidiu procurar emprego
na comunidade. Embora houvesse o peso de uma recessão na comunidade industrial, eu
apoiei seu desejo de procurar emprego. Nós conversávamos antes e depois de viagens
para a cidade. A maioria da equipe estava bastante céptica dele encontrar emprego
quando indivíduos “normais” não conseguiam encontrar nem mesmo trabalho de turno
1
“Knowing little about what to do, I depended upon the individuals with whom I worked. I listened,
cared for and trusted them”.
2
“there was seldom focus on depth of self exploration or experiencing or any other particular process. (...)
There was no systematic way that I dealt with individuals; they dictated the means, the mode and directions
of contact”.
3
Ver no Anexo I o texto original em inglês.

29
parcial. Uma semana depois, Howard tinha três ofertas de trabalho. Ele aceitou um
trabalho para depilar indivíduos antes de irem para cirurgia. Mais tarde, ele foi para a
escola e trabalhou como barbeiro até sua aposentadoria. Eu sempre pensei que estes
seriam empregos interessantes para ele já que ele foi originalmente admitido no hospital
por um ato de violência com uma faca que resultou em ferimentos em algumas pessoas
(Bozarth, 1999).

Eleanor foi encaminhada a mim por um atendente da enfermaria. Ela tinha sido
diagnosticada vinte e um anos atrás como Esquizofrênica, tipo Indiferenciado. Ela estava
numa enfermaria fechada do hospital. O atendente disse que ela tinha expressado um
interesse em sair da enfermaria e ele se perguntava se eu poderia ajudá-la de alguma
maneira. Quando eu cheguei, Eleanor estava sentada no chão brincando com suas fezes.
Eu não tinha idéia do que fazer ou dizer. Eu me apresentei e disse a ela um pouquinho
sobre o meu papel no hospital. Ela não foi responsiva exceto por um arrebatado sorriso
de dentes pretos enquanto continuava a brincar com suas fezes. Eu continuei sem saber
o que dizer ou fazer. De vez em quando eu fazia uma pergunta ou dizia alguma coisa. Eu
tentava experienciá-la da melhor maneira que eu podia me perguntando o que eu
poderia fazer para estar mais certo do meu contato com ela. Em desespero, eu finalmente
deixei escapar alguma coisa como: “Você acha que você poderia gostar de ir para uma
escola de beleza?” Talvez eu tivesse lembrado de sua criatividade e destreza manual
enquanto brincava com suas fezes. Surpreendentemente, ela descartou sua atividade com
as fezes e sentou-se na cadeira ao meu lado. Eu lhe falei que poderia voltar na próxima
semana para checar com ela de novo. Pouco tempo depois, ela começou a parar com
alguns de seus comportamentos bizarros. Ela se asseou durante os meses seguintes e
mudou para uma enfermaria aberta. Ela finalmente trabalhou um pouco no comissariado
do hospital. Eu não creio que ela tenha alguma vez saído do hospital mas a qualidade de
sua vida melhorou significativamente (Bozarth, 1999).

4.4.2. Experiência empática no silêncio do terapeuta

O silêncio do terapeuta também pode ser uma expressão da experiência empática. Um


exemplo proveniente da minha experiência clínica pode contribuir para a compreensão
desta forma de experiência empática:

Teresa iniciou a psicoterapia afirmando que o seu problema era que o seu marido
bebia. Ela se sentia extremamente deprimida, tensa e ansiosa. Ela utilizava os cinqüenta
minutos da sessão para se queixar do marido e para relatar, em minuciosos detalhes, os
fatos acontecidos na sua vida ao longo da semana anterior. Havia momentos em que ela
entrava em contato com seus sentimentos de desespero, mágoa e raiva, como também
havia momentos em que ela simplesmente descrevia fatos e diálogos, com extremo
preciosismo. Teresa falava de forma ininterrupta, não me deixando ‘espaço’ para dizer
nada. Quando eu falava algo na sessão, era no máximo duas frases que pareciam sequer
não serem ouvidas por ela. Ela continuava a seu fluxo verbal como se eu não tivesse lhe
dito nada. Percebi, assim, que ela queria ‘apenas’ ser escutada, ou, talvez, se escutar.
Percebi que não havia necessidade de eu me expressar verbalmente para expressar a
minha empatia e aceitação incondicional. Confesso que eu mesma me surpreendi com o

30
seu progresso ao longo do processo terapêutico. Dois meses após o primeiro
atendimento, Teresa mudou radicalmente sua atitude em relação a si mesma, ao marido
e à própria vida. Reconheceu que o seu problema não era o seu marido porque era ela
que devia ir atrás da sua felicidade. Ela passou a se valorizar, a ‘cuidar’ de si mesma e
a sofrer menos com as atitudes do marido. Sua qualidade de vida mudou
significativamente. E a única coisa que eu ‘fiz’ para ajudá-la foi permanecer em silêncio.

No livro que escrevi com Tambara (Tambara & Freire,1999), apresentamos o


depoimento de uma cliente sobre uma sessão em que o seu terapeuta permaneceu todo o
tempo em silêncio enquanto ela expressava suas emoções e sentimentos de forma
bastante intensa:

O silêncio dele fazia eu me sentir profundamente aceita. Eu não precisava me


explicar para ele, não precisava falar de mim, bastava eu ser, eu estar ali. Naquela hora
eu percebi que não precisava ficar me justificando, eu não precisava ficar falando sobre
mim. Eu poderia tanto falar como não falar: eu não “tinha que” fazer nada para ser
aceita. O silêncio dele me permitiu mergulhar muito fundo em mim mesma, nos meus
sentimentos. Eu sentia seu silêncio como uma forma de respeito e como uma confiança
muito profunda em mim, no que eu sou. Ali, junto dele, eu não senti medo de mergulhar
fundo em mim e perceber certas coisas que eu jamais havia me permitido perceber antes.
Ele estava ali, comigo, sem me julgar, sem me avaliar. Sem que ele falasse uma só
palavra, eu me senti acolhida, protegida e segura como nunca havia me sentido antes,
em toda a minha vida. A sua presença me acolhia e me dava segurança para eu
prosseguir no meu mergulho interior. Esta sessão transformou profundamente minha
vida, pois ali eu consegui perceber que posso ser eu mesma. Que não preciso “fazer
força” para ser aceita e amada. Basta eu ser!! (p. 169)

Este parece ser um exemplo de experiência empática no silêncio do terapeuta.

4.5. COMPREENSÃO EMPÁTICA

Estamos denominando de compreensão empática àquela faceta da definição de


empatia de Rogers1 relacionada à compreensão, por parte do terapeuta, dos significados
presentes na experiência do cliente. Nesta definição, a ‘compreensão empática’ se
apresenta nos seguintes termos:

- perceber os significados que ele quase não percebe;

1
cf. item (4)

31
- sensibilidade constante para com as mudanças que se verificam nesta pessoa em
relação aos significados que ela percebe, ao medo, à raiva, à ternura, à confusão ou
ao que quer que ele esteja vivenciando;

Para Rogers, a compreensão empática não se distingue da experiência empática.


Ambas são usadas indistintamente em seu artigo sobre empatia, como se fossem um único
fenômeno. No entanto, se a compreensão empática e a experiência empática são o
mesmo fenômeno (visto a partir de diferentes perspectivas), isto implica,
necessariamente, que estas não podem ocorrer separadamente. Isto é, sempre que o
terapeuta tiver uma experiência empática do cliente, ele obterá uma compreensão dos
significados presentes na sua experiência e isto também vale para a recíproca. Entretanto,
minha experiência clínica e relatos clínicos da literatura parecem apontar para a
possibilidade da compreensão empática e a experiência empática serem fenômenos
independentes. Nos tópicos seguintes, investigaremos esta relação entre experiência
empática e compreensão empática.

4.6. COMPREENSÃO EMPÁTICA SEM EXPERIÊNCIA EMPÁTICA

É possível o terapeuta obter uma compreensão dos significados vividos pelo cliente
sem ter uma experiência empática do cliente na relação?

A experiência empática, como vimos, envolve necessariamente a experiência de


aceitação ou consideração positiva incondicional. A compreensão empática, entretanto,
nem sempre é obtida neste contexto de aceitação e valorização do outro (Shlien, 1997).
A compreensão empática também é utilizada por outras abordagens terapêuticas,
enquanto uma compreensão dos significados presentes na experiência do cliente, mas
num contexto de avaliação e diagnóstico ( cf. Kohut, 1959).

Na minha experiência clínica como terapeuta centrada no cliente, uma sessão em


particular foi especialmente importante para a minha compreensão de que a técnica de
reflexo de sentimentos, apesar de me possibilitar uma acurada compreensão empática dos

32
significados vividos pelo cliente, nem sempre me propicia uma experiência empática do
seu mundo:

A cliente começou a sessão dizendo que não tinha nada para falar. Então, eu utilizei
a técnica de reflexo de sentimentos e após alguns minutos ela disse que não sabia quem
ela era realmente. Ela não expressou nenhuma emoção ao dizer isto, parecia, naquele
instante, ser uma “casca” morta sem vida interior. A seguir, ela começou a falar sobre
todas as coisas que ela “tinha que ser”. Ela disse que tinha que ser forte, organizada,
responsável, competente, ativa, esperta, etc... Mas eu não consegui aceitar que ela se
impusesse tantas “condições de valor” para si mesma e quis “convencê-la” que ela
deveria se libertar destas auto-imposições. No entanto, eu não tentei convencê-la através
de afirmações diretas, mas fiz isto sutilmente, através da técnica de reflexo de
sentimentos, dizendo-lhe: “Parece que tem sido muito pesado para você ter que carregar
todos esses ‘tenho que’...”. Esta afirmação expressou uma compreensão empática
acurada do seu mundo. Ela estava realmente se sentindo sobrecarregada e cansada por
tantas auto-exigências; ela concordou com minha percepção/compreensão, mas de
alguma maneira ela se sentiu ameaçada por esta percepção. Então recuou e se fechou
ainda mais na sua “casca morta”. E eu me senti irritada e frustrada porque ela
continuou defendendo o seu ponto-de-vista de que ela tinha que ser isto e aquilo... Neste
momento eu percebi que não estava experienciando consideração positiva incondicional
e empatia em relação a ela apesar de eu ter obtido uma compreensão empática do seu
mundo e ter feito um acurado reflexo de sentimento. Eu teria tido uma experiência
empática se tivesse percebido/aceito que ela não queria olhar para o seu ser real naquele
exato momento.

Após o término da sessão, eu fiquei me perguntando porquê eu não tinha conseguido


experienciar empatia e consideração positiva incondicional pela cliente, apesar de ter
alcançado uma compreensão do significado vivido de sua experiência. A resposta, então,
surgiu rápida e claramente à minha mente. Eu não consegui aceitar e ser empática com a
experiência da cliente de se impor rígidas condições de valor porque as minhas
expectativas em relação ao seu processo terapêutico eram que ela se tornasse uma pessoa
aberta à experiência e que conseguisse experienciar auto-consideração positiva
incondicional. Estas expectativas me levaram a assumir uma posição de expert na relação,
tentando guiá-la e conduzi-la na direção de uma maior abertura ao seu fluxo experiencial.
A minha necessidade de me mostrar “competente” profissionalmente, de fazer com que
o seu processo terapêutico fosse ‘bem-sucedido’, não me permitiu aceitar a sua
experiência e respeitar a sua direção e o seu ritmo. Eu tentei conduzi-la em direção a um
maior contato com o seu fluxo experiencial, por ser este o meu “objetivo” para o seu
processo terapêutico e a minha expectativa em relação a um processo terapêutico bem-
sucedido. Percebi, portanto, que ter este objetivo impediu-me de estar aberta a receber o
seu mundo de forma incondicional.

33
Desta forma, minha experiência nesta sessão sugeriu-me uma investigação a respeito
dos objetivos na relação terapêutica centrada no cliente, o que acabou por me conduzir
à discussão da não-diretividade no contexto da teoria de Rogers.

4.7. A NÃO-DIRETIVIDADE

A teoria da terapia de Rogers (1959) postula que, se a experiência do terapeuta


das atitudes facilitadoras for percebida pelo cliente, o processo de auto-atualização do
cliente será promovido. Nesta perspectiva, Patterson (2000) considera como objetivo
último da terapia a liberação e promoção da auto-atualização do cliente. No entanto, ele
ressalva que este não é um objetivo escolhido nem pelo terapeuta nem pelo cliente, mas
que é dado pela natureza do indivíduo como um organismo vivo:

É a natureza do organismo, uma característica da tendência


atualizante, crescer, se desenvolver, se esforçar para atualizar seus
potenciais, se tornar aquilo que é capaz de se tornar – ser mais
auto-atualizante. (...) A três condições oferecidas pelo terapeuta
liberta a operação desta tendência no cliente (Patterson, 2000,
p128 e p. 183)1.

A confiança do terapeuta na direção natural do cliente para o crescimento e a vivência


das atitudes de empatia, consideração positiva incondicional e congruência criam um
clima de liberdade na relação terapeuta/cliente através do qual emergem os recursos do
cliente para a mudança e cura (Bozarth, 1999). Pelo fato da atualização ser um processo
natural do organismo, Bozarth conclui que é equivocado considerar este processo como
sendo o objetivo do terapeuta. Ademais, objetivos normalmente são definidos em termos
de comportamentos, enquanto que a auto-atualização não pode ser definida em termos
de comportamentos específicos. A auto-atualização é sempre única para cada indivíduo
e a cada momento da sua vida. Como Maslow (1962) observa, a auto-atualização é a
atualização de um ‘eu’ e não existem dois eus totalmente iguais.

1
“It is the nature of the organism, a characteristic of the actualizing tendency, to grow, to develop, to strive
to actualize its potentials, to become what it is capable of becoming – to be more self-actualizing. (...) The
three conditions offered by the therapist frees the operation of this drive in the client”

34
Ao considerar o hipotético ponto final máximo do processo terapêutico, Rogers
(1958, 1961, 1963b) formulou o conceito da ‘pessoa em funcionamento pleno’. Uma das
características desta pessoa em funcionamento pleno é que ela estaria mais aberta ao seu
fluxo experiencial. Segundo Bozarth (1998b) estas considerações de Rogers levaram
muitos teóricos da abordagem centrada no cliente a interpretar a abertura ao fluxo
experiencial como objetivo ou ‘instrução’ para o terapeuta centrado no cliente. A
‘experienciação’, que na teoria de Rogers era um resultado provável do processo
terapêutico, passou a ser perseguida como objetivo por estes terapeutas.
Neste sentido, a abordagem centrada no cliente se diferencia das abordagens
experienciais. O papel do terapeuta nas abordagens experienciais é o de um expert em
‘processo’, que tem o objetivo de ‘guiar’ o cliente na direção do seu processo de
experienciação (Lietaer, 1998). Segundo Prouty (1999), na terapia centrada no cliente, ao
contrário, a intenção do terapeuta é de se ‘entregar’ à auto-direção do cliente1. Prouty
(1999) observa que o conceito de experienciação está presente na teoria de Rogers como
um resultado da vivência das atitudes facilitadoras, não como uma causa da mudança
terapêutica.
Brodley (1998) afirma que o terapeuta centrado no cliente “por princípio, e no seu
íntimo, não tem a intenção de produzir efeitos no cliente”2 (p.26). Brodley (2000)
também observa que as respostas de compreensão empática do terapeuta centrado no
cliente, têm como efeito, muitas vezes, com alguns clientes, de promover uma maior
relação da sua expressão comunicativa com seus sentimentos e reações internas. Mas ela
salienta que esta não é a intenção imediata do terapeuta centrado no cliente:

Nós fazemos respostas do tipo de compreensão empática para


procurar uma verificação ou modificação de nossa compreensão
empática interna do quadro de referência imediato do cliente. Não
é nossa intenção promover um atividade mais experiencialmente
focalizada no cliente (Brodley, 2000)3.

Rogers (in Baldwin, 1987) é bastante explícito ao afirmar que o seu único objetivo
como terapeuta diz respeito a ele mesmo, ao seu jeito de estar4 na relação com o cliente.

1
“surrender to client self-direction”
2
“in principle and in the heart, not intending to produce effects on or in the client when doing therapy”
3
“We make empathic understanding type responses primarily to seek verification or modification of our
inner empathic understandings of the client's immediate internal frame of reference. We are not intending
to promote more experientially focused activity in the client”.
4
way of being

35
Para Rogers, o único objetivo apropriado para o terapeuta é o de estar realmente presente
com o cliente naquele momento1. Para Bozarth (1999) isto se justifica teoricamente na
medida em que o fundamento da teoria da terapia centrada no cliente é a existência de um
processo construtivo natural em cada indivíduo. Este processo natural é promovido
quando o indivíduo percebe a experiência de consideração positiva incondicional em
relação a ele. O objetivo de Rogers era estar de uma certa maneira na relação com o cliente
porque ele confiava que este jeito de estar promoveria a liberação da tendência de
crescimento do indivíduo. Bozarth, portanto, conclui:

Não existem objetivos do terapeuta centrado na pessoa para o


cliente. O único objetivo do terapeuta é estar de uma certa
maneira. Não existe um objetivo de experienciação ou de
profundidade de auto-exploração ou de auto-atualização. Não
existe um processo particular, comportamentos ou direção que se
espera que toda pessoa particular deva seguir (Bozarth, 1999).
(grifo do autor)2

Quando o terapeuta tem objetivos para o cliente, ele se coloca numa posição de
autoridade na relação terapêutica. Ao invés de confiar no processo de auto-atualização,
na direção e auto-determinação do cliente, o terapeuta passa a confiar na suas técnicas e
expertise. Esta falta de confiança impossibilita o terapeuta de experienciar uma aceitação
incondicional do quadro de referência do cliente. Bozarth (1998), ao considerar a
dificuldade que alguns terapeutas enfrentam em implementar a atitude de consideração
positiva incondicional (cf. Lieater, 1984), conclui que esta dificuldade surge quando o
terapeuta assume um papel de expert clínico que pretende influenciar o cliente a ser de
uma certa maneira. A confiança no quadro de referência do cliente e na tendência
atualizante é “contaminada” pela dedicação do terapeuta a influenciar o cliente numa pré-
determinada direção:

Existe uma sutil mas crucial diferença entre a visão de que


existe um processo natural no interior do cliente que o terapeuta
promove e a visão de que o terapeuta tem que apressar este
processo. Não é de se admirar que o terapeuta comece a ter
dificuldades com sua capacidade de sustentar a

1
“Am I really with this person in this moment?” (p.48)
2
“There are no goals of the person-centered therapist for the client. The only goal of the therapist is to be
a certain way. There is not a goal of experiencing, or of depth of self-exploration or of self-actualization.
There is no particular process or behaviors or direction that any particular person is expected to follow”.

36
‘incondicionalidade’... Sua confiança na auto-determinação e
autoridade do cliente está diminuída (Bozarth, 1998, p.85)1.

Assim, Bozarth (2000b) conclui que a não-diretividade é um corolário necessário


da teoria da terapia centrada no cliente, pois é o resultado comportamental da aderência
do terapeuta à condições de empatia, consideração positiva incondicional e congruência.
O terapeuta que opera na premissa de que as condições básicas são necessárias e
suficientes é inerentemente não-diretivo:

Para aqueles que acreditam no fundamento crucial da teoria


centrada no cliente, i.e., que o cliente é o melhor expert sobre sua
própria vida, a não-diretividade é uma postura natural que emerge
a partir da teoria (Bozarth, 2000b)2.

A relação entre experiência empática, compreensão empática e reflexos de


sentimentos pode ser clarificada através da discussão do conceito da não-diretividade. A
experiência empática, como vimos na definição de Rogers3, significa deixar de lado
nossos próprios pontos de vista e valores, para entrar no mundo do outro sem
preconceitos; significa pôr de lado nosso próprio eu. Esta é uma experiência de entrega
e de aceitação do outro que só é possível na relação terapeuta/cliente se houver uma
confiança do terapeuta na auto-direção e auto-determinação do cliente. É portanto, uma
experiência sem objetivos do terapeuta para o cliente, ou seja, é uma experiência
inerentemente não-diretiva.
A compreensão empática e o reflexo de sentimentos, portanto, se forem utilizados
como meios para a obtenção dos objetivos do terapeuta para o cliente, então estarão
dissociados da experiência empática propriamente dita.

1
“There is a subtle but critical difference between the view that there is a natural process within the client
that the therapist fosters and the view that the therapist must urge this process. No wonder the therapist
begin to have difficulties with their capacity to hold ‘unconditionality’... Their trust in the client’s self-
determination and self-authority is diminished”.
2
“For those who believe the critical foundation of client-centered theory, i. e., that the client is his or her
own best expert about his or her life, non-directivity is a natural stance that emerges from the theory”.
3
cf. item (4)

37
4.8. EXPERIÊNCIA EMPÁTICA SEM COMPREENSÃO EMPÁTICA

É possível ao terapeuta ter uma experiência empática do cliente na relação sem


contudo compreender os significados presentes na experiência do cliente?

Podemos considerar que toda compreensão envolve a apropriação de um fenômeno


através de alguma linguagem. Desta forma, a experiência empática precisaria ser
‘traduzida’ na linguagem do terapeuta para que pudesse ser compreendida por ele.
Entretanto, existem contextos nas quais esta ‘tradução’ da experiência empática em
compreensão empática não ocorre.

Os grandes grupos de comunidade da abordagem centrada na pessoa é um destes


contextos em que tipicamente não ocorre uma ‘compreensão’ empática em
correspondência à experiência empática. Apesar de Rogers reconhecer que a sua maneira
de estar nos grandes grupos é igual à sua maneira de estar numa relação terapêutica, isto
é, que em ambos contextos, ele experencia as mesmas atitudes de empatia, consideração
positiva incondicional e congruência (Rogers, 1987), Rogers afirma que, nos grandes
grupos “não existe sequer esperança de compreender o que está acontecendo...”1 e que
“através da entrega de si mesmo ao processo, certas coisas acontecem”2 (in Baldwin,
1987, p.50). Ou seja, a experiência empática vivida nos grandes grupos não dá origem a
nenhuma forma de ‘compreensão’ empática. Podemos afirmar que a implementação ou
manifestação da experiência empática nos grandes grupos centrados na pessoa se dá
através da ‘entrega’ ao processo e não através da compreensão empática ou das respostas
de compreensão empática.

Outro contexto no qual a experiência empática não consegue ser ‘traduzida’ em


compreensão empática é quando o quadro de referência do cliente é diferente ‘demais’
do quadro de referência do terapeuta. O terapeuta não consegue encontrar em sua
linguagem uma maneira de ‘traduzir’ ou de se ‘apropriar’ da sua experiência empática
do quadro de referência do cliente. A experiência empática, nessa situação, é pura

1
“there is not even hope of understanding what is going on...”
2
“by surrendering yourself to the process, certain things happen”.

38
‘entrega’, é um ‘estar junto’ com o outro mesmo sem a possibilidade de ‘compreensão’
do outro. Se utilizarmos a metáfora do antropólogo sugerida por Bozarth1 para descrever
a experiência empática, poderíamos dizer que esta seria a situação na qual a cultura
‘visitada’ pelo antropólogo é tão ‘estranha’ a ele que, apesar de participar dos rituais
desta cultura, os significados destes rituais lhe escapam à compreensão. Esta situação foi
vivida por Bozarth (2000) em seu trabalho como ‘rehabilitation counselor’ de pacientes
de um hospital psiquiátrico:

Eu estava interessado apenas em seus mundos... como era para


eles a partir de suas perspectivas... eu não podia ter clareza na
minha experiência dos seus mundos na maior parte do tempo e
quando eu tinha, eu não compreendia... eu não podia relacioná-la
a minhas próprias experiências... ser abduzido por discos
voadores... mas, por outro lado, eles falavam de coisas que eu
compreendia... eles queriam sair do hospital, trabalhar... eles
podiam falar de suas frustrações no hospital... Eu podia responder
a isto com compreensão empática, de modo que eu usava as
respostas de compreensão empática em certa medida, mas ao
mesmo tempo eu estava experienciando seus mundos perceptuais
de outra maneira... (Bozarth, 2000)2

4. 8.1. Experiência empática no silêncio do cliente

A experiência empática pode ocorrer na relação terapêutica mesmo quando o cliente


permanece em completo silêncio durante toda a sessão. Sem a expressão verbal do
cliente, o terapeuta fica impossibilitado de obter uma compreensão empática dos
significados daquela experiência, mas isto não o impede de ter uma experiência empática
do cliente. Apresentaremos dois relatos clínicos que ilustram esta situação de experiência
empática mesmo no silêncio do cliente.

1
“like an anthropologist living in another culture, adapting to the other culture and accommodating to the
culture... not in terms of conversation so much as just being”
2
“I was only interested in their world... what it was like for them from their perspective... I could not be
clear on my experience of their worlds most of the time and when I did I did not understand... I could not
relate it to experiences of my own....being abducted by flying saucers... but on the other hand they did talk
about things I understood...they wanted to get out of the hospital, work...could talk about the frustrations
in the hospital... I could respond to this with empathic understanding so then I would use empathic
understanding responses to some extent but at the same time I was experiencing their perceptual world in
another way...”

39
O primeiro relato é apresentado em Calia & Corsini (1973). A terapeuta era
counselor numa escola secundária1. Uma aluna a procurou dizendo que tinha
“problemas”. Como a terapeuta não tinha tempo para conversar com ela naquele
momento, combinaram um atendimento para o dia seguinte num horário conveniente para
ambas2:

[Jill] não disse nada quando chegou. Eu digo isto literalmente. Ela bateu na
porta, eu fui abri-la e a cumprimentei agradavelmente. A meu convite, ela se sentou, e
olhamos uma para a outra. Eu esperei ela dizer alguma coisa, se explicar, se queixar, ou
fazer perguntas. Eu olhei para ela tentando ser tão agradável e aceitadora quanto eu
podia. Seus olhos se encheram de lágrimas e as lágrimas rolaram por suas faces, mas
ela não disse nada. Eu me perguntei o que eu deveria fazer. A coisa mais simples e mais
natural poderia ter sido dizer: “O que está lhe aborrecendo?” Mas há que ser lembrar
que eu tinha sido treinada precisamente a não fazer perguntas ou dar conselhos, e então,
me sentindo bastante tola, eu simplesmente me mantive olhando para a garota. Durante
meia hora, nada aconteceu. Eu então lhe disse: “Está na hora de terminar nossa sessão.
Você gostaria de me ver novamente?” Um tanto para minha surpresa e alívio, ela
concordou com um movimento de cabeça, e quando eu sugeri outro encontro na mesma
hora na próxima semana, ela novamente concordou com a cabeça e saiu sem ter dito
uma única palavra.
A sessão seguinte foi uma repetição da primeira. Nós nos olhamos, ela chorou
silenciosamente, eu esperei, e então ela uma vez mais aceitou meu convite para outra
sessão sem nenhuma palavra ser dita. Para não fatigar o leitor, nós tivemos mais duas
sessões e todas elas foram duplicatas exatas das duas primeiras, apesar de que diversas
vezes eu pensei que a estudante estivesse a ponto de falar. Ao final da quarta sessão,
quando eu lhe perguntei novamente se ela queria ter outra sessão, ela sacudiu sua cabeça
[significando ‘não’], e saiu caminhando. Na última semana do semestre, eu recebi outra
solicitação de Jill e a vi imediatamente. Sua declaração foi um incidente crucial para
mim. “Eu quero lhe agradecer muitíssimo pelo que você fez por mim, Mrs. - ” “Mas eu
não fiz nada!” eu impulsivamente protestei. “Eu queria tanto ajudá-la, mas eu não fiz
nada a não ser olhar para você.”
“Você fez muitíssimo. Você mudou toda a minha personalidade. Porque você teve
a generosidade e o amor para me esperar para falar, para apenas estar ali e não me
fazer perguntas ou tentar me fazer falar, porque você esteve disponível para apenas
estar ali e não ser crítica, e não se queixar que eu estava desperdiçando seu tempo, foi
a coisa melhor e a mais maravilhosa. Enquanto nós estávamos olhando uma para a outra,
eu estava pensando como o silêncio é maravilhoso, como era bom para você me
compreender e fazer eu me sentir boa e importante; você foi amorosa e confortadora.
Eu simplesmente não consegui falar e se eu tivesse teriam sido banalidades. Porque você
me valorizou tanto, porque você estava simplesmente disponível para estar comigo, eu
me dei conta que meus pensamentos loucos de que ninguém me amava ou se importava
comigo estavam todos errados. Você me amou e cuidou de mim, você foi paciente,
bondosa, compreensiva e calorosa, você não colocava nenhuma pressão em mim ou
tentava me fazer falar ou me manipular. Eu me senti tão confortável com você e o
relacionamento foi tão real. Não, você fez muitíssimo por mim e, como resultado, eu

1
high school
2
Ver no Anexo II o texto original em inglês.

40
decidi que eu tinha valor, que eu era uma pessoa boa, que eu era alguém para ser
respeitada, que eu era capaz de resolver os meus problemas que eu tinha dolorosamente
exagerado”
Depois dessa longa declaração, nós conversamos um pouco e ela realmente
pareceu ter se transformado da garota que ela me disse que tinha sido antes da terapia
para a garota que ela era agora. Ela insistiu que as quatro sessões comigo tinham
representado um ponto de mutação na sua vida.

Patterson (in Calia & Corsini, 1973) comenta que, apesar do desconforto da terapeuta
na primeira sessão, ela comunicou à cliente seu interesse, atenção e respeito simplesmente
por estar ali, lhe oferecendo o seu ‘tempo’. Apesar da terapeuta não ter compreendido o
significado da sua experiência e ter se sentido inicialmente insegura em relação à
validade da sua atitude de permanecer em silêncio, podemos considerar que esta foi uma
experiência empática, na medida em que a terapeuta aceitou a necessidade da cliente de
ficar em silêncio e esteve presente com ela, acompanhando-a em seu silêncio.

Outro relato de experiência empática no silêncio do cliente é apresentado no meu livro


(Tambara & Freire, 1999):

O cliente solicita ao terapeuta uma sessão extra. É a primeira vez que ele faz esta
solicitação. Ele entra no consultório, se senta e fica 50 minutos em silêncio. Ele chora,
ri, se mexe na poltrona, mas não verbaliza nada. Ao final dos 50 minutos, o terapeuta lhe
diz que o tempo da sessão terminou. O cliente, então, diz: “Só para te acalmar, foi a
melhor coisa que eu fiz na minha vida, pedir esse horário, é a primeira vez que eu consigo
pedir algo, eu estou cansado de falar, falar, e quero me escutar, me ouvir mais...”
(Tambara & Freire, 1999, p.168)

Ao analisarmos o significado do silêncio na relação terapêutica, nós consideramos


que os momentos de silêncio podem ser oportunidades muito valiosas para o cliente se
aproximar mais de si mesmo, entrando em contato mais profundo com a sua experiência
organísmica. Salientamos que é a “presença calorosa do terapeuta”, compartilhando
deste silêncio, que facilita ao cliente este “mergulho interior” (Tambara & Freire, 1999).
Esta “presença calorosa” do terapeuta corresponde ao conceito de “experiência
empática”, conforme apresentado no item (4.2).

41
4.8.2. As ‘falhas’ na compreensão empática

A fim de obter novos dados para esta investigação da relação entre compreensão
empática e experiência empática, analisei a gravação de uma de minhas sessões
terapêuticas1. Esta análise revelou que ao longo de quase toda a sessão eu utilizei a
técnica do reflexo de sentimentos. Eu tive 129 falas no total da sessão, sendo que 13
delas ficaram inaudíveis na gravação. Das minhas 116 falas analisadas, apenas 9 não
eram reflexos de sentimentos, pois eram inferências feitas a partir do meu quadro de
referência. Deste total de 107 respostas-reflexo, 15 foram respostas não acuradas.
Um exemplo de reflexo de sentimento ‘não acurado’:

Cliente: (...) porque eu acho que a minha mãe, ela parou


também no tempo, sabe, ela não teve uma vida fácil, foi muito
difícil a vida dela... mas eu acho que não justifica, sabe, Beth... eu
também não tenho uma vida assim, de dizer que tudo cai do céu
pra mim, não cai...

Terapeuta: Não sei se o seu medo é de que: será que ela vai
mudar agora, depois de tanto tempo?

O reflexo foi equivocado porque a cliente estava começando a expressar a sua


não-aceitação, o seu sentimento de revolta diante da atitude da sua mãe, e eu não
‘compreendi’ este significado na sua fala.

Analisando o movimento da cliente ao longo da sessão, contudo, percebe-se que


os sentimentos que não foram refletidos, ou que não foram acuradamente refletidos,
voltaram a ser expressos pela cliente em outros momentos da sessão, de maneira que,
posteriormente, eles acabaram sendo compreendidos por mim. O fato de eu não ter
compreendido a revolta da cliente em relação a sua mãe naquele momento da sessão não
a impediu de prosseguir na exploração dos seus sentimentos e da sua experiência. Este
sentimento de revolta assustava-a muito. Apesar de ser muito difícil e ‘ameaçador’2
experienciar esta revolta, ela continuou explorando este sentimento no decorrer da sessão,

1
ver Anexo III
2
ameaçador para o seu auto-conceito

42
com intensidade crescente, até poder expressar com clareza que “eu não aceito toda essa
omissão da minha mãe.... Hoje”. Os meus erros na compreensão empática e as minhas
inferências pessoais pareceram não ter afetado o movimento autônomo da cliente de
‘enfrentar-se’ com este sentimento e de integrá-lo ao seu auto-conceito.

Podemos concluir que a cliente experienciou, na relação terapêutica, um clima de


liberdade e aceitação que lhe facilitou simbolizar e integrar esta experiência ameaçadora
ao seu auto-conceito. A simbolização e integração desta experiência não ocorreu devido
à ‘precisão’ dos meus reflexos de sentimentos, mas devido ao clima de aceitação e
liberdade existente na relação.

Bozarth (2000c) clarifica esta situação ao afirmar que:

Eu penso que existe uma confusão de que o progresso depende


da clarificação/re-organização do eu do cliente... não que isto não
ocorra, mas que não é a clarificação e a compreensão emocional
ou cognitiva que é curadora na teoria... é o desenvolvimento da
auto-consideração positiva incondicional1... isto freqüentemente
leva à re-estruturação do eu... possivelmente sempre mas este
desenvolvimento ocorre por causa da auto-consideração positiva
incondicional que é desenvolvida a partir do recebimento da
consideração positiva incondicional... (Bozarth, 2000c)2.

A análise desta sessão, portanto, sugere que a experiência empática, enquanto


uma experiência de profunda aceitação e confiança na autoridade e auto-determinação do
cliente, é uma experiência distinta da compreensão empática.

4.8.3. Ludoterapia

1
o papel da auto-consideração positiva incondicional na teoria da terapia centrada no cliente será discutida
no item (5).
2
“I think that there is confusion that progress is dependent upon the client’s clarification/re-organization of
self... not that this doesn’t happen but that it is not the cognitive or emotional clarification and understanding
that is curative in the theory... it is the development of unconditional positive self regard.... this often leads
to there-structuring of self... possibly always but this development is because of the upsr that is developed
from receiving upr...”

43
A minha experiência clínica com ludoterapia centrada na pessoa também me
proporcionou algumas reflexões sobre a relação entre experiência empática e
compreensão empática.

A implementação da empatia e da consideração positiva incondicional na relação com


a criança ocorre de uma maneira bastante diferenciada da relação terapêutica 'típica’ com
adultos. A criança usualmente não se utiliza da relação terapêutica para fazer uma
‘exploração do eu’, pois ela se expressa, primordialmente, através do brincar (Axline,
1964; 1947). A experiência empática do mundo da criança, portanto, implica em brincar
junto com a criança ou estar presente junto com ela em sua brincadeira. Moon (2000)
considera a experiência empática na ludoterapia como uma forma de empatia “relacional”
ou “empatia interativa” (cf. Shlien, 1997):

Esta é uma forma de empatia que um terapeuta e cliente podem


experienciar juntos à medida em que seu relacionamento se
desenvolve na ausência de nosso mais rotineiramente esperado
diálogo terapêutico de declaração do cliente seguida por uma
resposta de compreensão empática do terapeuta. Parece-me que as
crianças incorporam seus sentimentos e que se nós pudermos
atentivamente e respeitosamente estar com a criança nós já
estaremos em certa medida estando com e aceitando os
sentimentos da criança (Moon, 2000)1.

Algumas de minhas sessões de ludoterapia com um garoto de 10 anos de idade me


forneceram um material significativo para esta reflexão:

Durante quatro sessões consecutivas, Rodrigo me pediu para jogar bola com ele.
Começamos a jogar sentados no chão, lançando uma pequena bola de plástico de um
para o outro. Rodrigo logo começou a contar ‘pontos’. Quando um de nós não conseguia
pegar a bola, o outro marcava um ponto. Rodrigo começou jogando a bola na minha
direção, mas depois de algum tempo passou a jogar a bola com força e em direções que
era impossível para mim pegá-la. À medida em que jogávamos, Rodrigo ia modificando
as regras do jogo. Ele decidia quais eram as regras e quando elas valiam ou deixavam
de valer. Por exemplo, se a bola batia na cadeira, não era ponto, ou então ele jogava
três bolas ao mesmo tempo e se eu não pegasse todas eu não fazia nenhum ponto. Do
chão, passamos a jogar em pé. Primeiro, só ‘valia’ usar a mão, depois só ‘valia’ usar o

1
“This is a form of empathy a therapist and client might experience together as their relationship
develops in the absence of our more routinely expected therapeutic dialog of client statement followed by
an empathic understanding response by the therapist. It seems to me that children embody their feelings
and that if we can attentively and respectfully be with the child we are to some extent already being with
and accepting the child's feelings”.

44
pé, depois ‘valia’ qualquer coisa. Todas as regras eram decididas por Rodrigo e aceitas
incondicionalmente por mim. A contagem dos pontos era feita por Rodrigo e ele sempre
modificava as regras em seu próprio benefício. Rodrigo, manipulando as regras,
conseguia ficar muitos pontos de vantagem à minha frente. Quando a diferença entre
nossos pontos ficava muito grande, ele dizia que me ia me dar uma ‘chance’ e me dava
muitos pontos de presente a fim de que nossa diferença ficasse pequena. Todas as
decisões de Rodrigo eram aceitas por mim sem questionar. Eu aceitava ser ‘roubada’
por ele, sem reclamar, como também aceitava os seus pontos ‘de presente’. Durante as
sessões eu não tentava ‘compreender’ o significado do seu jogo ou os sentimentos que
ele estava expressando através da brincadeira. Meu único propósito era estar com ele,
aceitando-o incondicionalmente. Para estar com ele desta maneira, eu precisava deixar
de lado o meu próprio quadro de referência, ou como diria Rogers, pôr de lado o meu
próprio eu, com todas as minhas expectativas, necessidades e valores. Eu odeio jogar
bola. No entanto, deixei de lado o meu eu, que não gosta de jogar bola, e ofereci a minha
presença para jogar bola com ele. Eu não concordo que as regras de um jogo possam
ser modificadas arbitrariamente mas eu deixei de lado a minha posição pessoal para
estar incondicionalmente com ele, aceitando a sua decisão de alterar as regras do jogo.
Eu gostaria que Rodrigo tivesse ficado sentado, bem quietinho, simbolizando seus
conflitos emocionais com os bonecos da família de pano, mas eu deixei de lado as minhas
expectativas e necessidades e o aceitei da maneira como ele queria estar e se relacionar
comigo. Após estas sessões, fui informada de que o comportamento de Rodrigo na família
e na escola se modificou significativamente. De uma criança tímida e insegura ele se
tornou uma criança extrovertida e auto-afirmativa.

Este relato clínico de ludoterapia sugere mais uma vez a independência da


experiência empática em relação à compreensão empática. Parafraseando Rogers, pode-
se afirmar que eu penetrei no mundo do Rodrigo; eu vivi temporariamente sua vida, sem
julgar; eu passei a ser um companheiro confiante do Rodrigo em seu mundo, deixando
de lado, neste momento, meus próprios pontos de vista e valores para entrar no mundo
dele sem preconceitos. Isto é, a minha experiência na relação com Rodrigo foi uma
experiência empática. Entretanto, esta experiência não me proporcionou uma
compreensão empática do seu mundo, pois os significados desta experiência para o
Rodrigo não foram compreendidos por mim. Desta forma, o processo terapêutico de
Rodrigo ilustra a posição de Bozarth (1998) de que o mais importante para a mudança
terapêutica não é o cliente se sentir ‘compreendido’, mas se sentir plenamente aceito
naquilo ele está sendo no momento:

Se o indivíduo pode ser afirmado sendo quem ele ou ela é no


momento, então isto é bom o bastante (Bozarth, 1998, p.49)1

1
“If the individual can be affirmed in being who he or she is at the moment, then that is good enough”.

45
5) CONSIDERAÇÃO POSITIVA INCONDICIONAL

Rogers (1957) define a atitude de consideração positiva incondicional do terapeuta


como “uma aceitação calorosa de cada aspecto da experiência do cliente como sendo uma
parte daquele cliente”. Mas o termo ‘consideração positiva incondicional’ foi introduzido
por Rogers em sua teoria da terapia e da personalidade somente a partir de 1954. Este
conceito foi desenvolvido inicialmente por um de seus alunos, Stanley Standal, em sua
tese de doutorado na Universidade de Chicago1. Standal (1954) definiu a necessidade de
consideração positiva como sendo uma necessidade básica de todo indivíduo de que suas
experiências relativas a si mesmo afetem o campo experiencial dos outros de uma maneira
positiva. Esta consideração positiva envolveria os sentimentos e atitudes de calor,
acolhida, respeito e aceitação.
Na teoria da terapia centrada no cliente, a origem da disfunção psicológica está na
incongruência entre o auto-conceito e a experiência organísmica (Rogers, 1951, 1959).
Esta incongruência surge, inicialmente, na formação do auto-conceito, quando certas
experiências organísmicas não são simbolizadas ou integradas no auto-conceito devido
às condições de valor impostas por pessoas significativas na vida do indivíduo. A
consideração positiva ‘condicional’ ou ‘seletiva’ é, portanto, o fator crucial na causa do
desajustamento psicológico. Desta forma, a ‘restauração da aceitação’ é o fator crucial
no reajustamento psicológico (Standal, 1954). Na relação terapêutica, a vivência da
consideração positiva incondicional do terapeuta em relação ao cliente possibilita a
experiência de auto-consideração positiva incondicional pelo cliente. Esta experiência
possibilita a integração das experiências organísmicas anteriormente negadas ou
distorcidas no seu auto-conceito. Rogers (1951) descreve esse processo da seguinte
maneira:

... No conforto emocional da relação com o terapeuta, o cliente


começa a experimentar um sentimento de segurança ao descobrir
que qualquer atitude que expresse é compreendida quase do
mesmo modo como ele a percebe, e é aceita. (...) O terapeuta
percebe o eu do cliente da forma como o cliente o percebe, e o
aceita; percebe os aspectos contraditórios que foram negados à
consciência e os aceita também como parte do cliente; e ambas as
aceitações trazem em si o mesmo calor e respeito. É assim que o
cliente, experimentando em outra pessoa a aceitação de aspectos

1
The need for positive regard: a contribution to client-centered theory

46
que são dele, pode assumir em relação a si próprio a mesma
atitude. Descobre que também pode aceitar-se mesmo com os
acréscimos e as alterações que se tornam inevitáveis depois das
novas percepções de si mesmo (...) Ele pôde fazer isso porque uma
outra pessoa foi capaz de adotar sua estrutura de referência e de
perceber junto com ele – perceber com aceitação e respeito
(Rogers, 1992, p. 52)

Standal (1954), portanto, conclui que a função primária do terapeuta é a de comunicar


aceitação e não a de facilitar a simbolização acurada, na medida em que é a percepção do
cliente dessa aceitação que é crucial para a mudança terapêutica. Bozarth (1998), da
mesma forma, afirma que a consideração positiva incondicional é o agente primário de
mudança na terapia centrada no cliente. Bozarth, todavia, salienta que o fator curativo
básico da psicoterapia está na tendência atualizante natural que existe dentro de cada
indivíduo. Mas se a tendência atualizante estiver sendo impedida ou frustrada, ela pode
ser liberada através da experiência de auto-consideração positiva incondicional.

Patterson & Hidore (1997) descrevem a consideração positiva incondicional como


um tipo de cuidado não-possessivo. O cliente é considerado como uma pessoa de valor
exatamente pelo que ele é, simplesmente por ser. Não há condições para a aceitação. O
cliente não precisa mudar ou ser diferente para ser aceito pelo terapeuta. O cliente pode
ter seus próprios sentimentos e experiências e dar a estes sentimentos e experiências o seu
próprio significado.
Num artigo publicado recentemente, (Freire, 2000), eu assinalo que para o terapeuta
conseguir aceitar incondicionalmente o quadro de referência do cliente, ele tem que,
necessariamente, abandonar o seu próprio quadro de referência (com todas as suas
condições de valor)1. O terapeuta tem que tirar do caminho do cliente os seus próprios
valores, expectativas, preconceitos e tudo o mais que compõe o seu quadro de referência.
Isto significa tirar o seu ‘eu’ do caminho do cliente. Rogers (1951) descreveu o terapeuta
como um alter ego acolhedor do cliente, como “um eu que se despiu temporariamente
(tanto quanto possível) de sua própria vestimenta de eu” (Rogers, 1992, p.51). Neste meu
artigo (Freire, 2000) eu assinalo, entretanto, que quando o terapeuta retira o seu eu do

1
Pode-se objetar que a confiança na tendência atualizante é uma crença que pertence ao quadro de
referência do terapeuta e que, portanto, o terapeuta não abandona totalmente o seu quadro de referência
na relação com o cliente. Esta constatação, entretanto, não altera o sentido fundamental de ‘entrega’ do
terapeuta ao ‘ser’ do cliente. Neste caso, é uma ‘entrega confiante’.

47
caminho do cliente, ele pode se transformar simplesmente numa ‘casca morta’ ou numa
‘marionete sem vida’. Mas a consideração positiva incondicional significa, na definição
de Rogers, a experiência de uma aceitação calorosa de cada aspecto da experiência do
cliente. O que torna esta aceitação calorosa, não fria, é que ela é ativa. De outro modo,
seria apenas indiferença. A aceitação é calorosa e ativa porque o terapeuta, ao retirar o
seu eu do caminho do cliente, oferece o seu ser, oferece a sua presença para estar com o
cliente no mundo do cliente:

Oferecer nosso ser faz a diferença entre aceitação calorosa e


apenas indiferença. É a disponibilidade do terapeuta para entrar no
mundo do cliente, ou a disponibilidade do terapeuta para estar com
o cliente de qualquer maneira que o cliente deseja que ele esteja
(Freire, 2000, p.8)1.

Esta disponibilidade do terapeuta para entrar no mundo do cliente e para estar com ele
é a mesma disponibilidade que caracteriza a experiência empática (cf. item 3). Aqui
retomamos a conclusão de Bozarth (1998) de que a consideração positiva incondicional
e a experiência empática são, em última instância, a mesma experiência.

6) CONGRUÊNCIA

Brodley (1998b) considera que o significado de congruência é ambíguo porque


Rogers foi modificando sua definição ao longo dos anos e suas diferentes versões
tornaram-se a base para diferentes interpretações e aplicações do conceito. Um dos
primeiros comentários de Rogers em relação à congruência alternava as palavras
congruência, genuinidade e inteireza como tendo o mesmo significado (Rogers, 1951).
Segundo Bozarth (1998), Rogers continuou usando os conceitos de congruência,
genuinidade e inteireza como sinônimos ao longo de toda sua carreira. Haugh (1998)
considera que a ausência de distinção entre estes conceitos tem gerado interpretações

1
“Offering our being makes the difference between warm acceptance and just indifference. That is the
therapist’s willingness to enter into the client’s world, or the therapist’s willingness to be with the client
in whatever way the client wishes her to be”.

48
equivocadas da teoria da terapia de Rogers. Segundo a autora, a teoria da terapia centrada
na pessoa sugere que genuinidade, autenticidade e transparência são muito mais
resultados da congruência do que congruência per se. Ela conclui que quanto mais
plenamente o terapeuta estiver consciente de sua experiência, mais provavelmente ele
será experienciado como genuíno, autêntico e real.
Congruência, segundo Brodley (1998b), é a capacidade para, ou a atividade de
simbolização precisa das experiências na consciência. Congruência é, portanto,
teoricamente definida em termos da relação entre eu e experiência, não em termos do
comportamento do terapeuta. Brodley (id.), todavia, aponta que a teoria da terapia e a
teoria das relações interpessoais de Rogers apresentam diferentes funções para a
congruência. Na teoria das relações interpessoais, Rogers confere um papel central à
comunicação da experiência congruente, mas, na terapia, a congruência é vista como um
estado interno, subjetivo do terapeuta enquanto ele provê uma compreensão empática
aceitadora do cliente. Em nenhuma das formulações teóricas da terapia centrada no
cliente, Rogers afirma que o cliente tem que perceber a congruência do terapeuta. Desta
forma Brodley (id.) conclui que, na terapia, a congruência não precisa ser comunicada,
apesar de ser uma das condições necessárias para a mudança terapêutica. O estado de
congruência se refere a uma condição subjetiva do terapeuta: Congruência é um estado
integrado no qual [o indivíduo] se sente total e transparente1. (Brodley, 1998c).

6.1. GENUINIDADE E TRANSPARÊNCIA

Lietaer (1993) relaciona congruência e transparência como sendo os ‘lados’ internos


e externos, respectivamente, da genuinidade:

O lado interno se refere ao grau em que o terapeuta tem acesso


consciente, ou é receptivo, a todos os aspectos de seu fluxo de
experienciação. Este lado do processo será chamado
‘congruência’; a consistência a que esta se refere é a unidade da
experiência e consciência total. O lado externo, por sua vez, se
refere à comunicação explícita do terapeuta de suas percepções,
atitudes e sentimentos conscientes. Este aspecto é chamado

1
“Congruence is an integrated state in which one feels whole and transparent”.

49
‘transparência’: tornar-se transparente para o cliente através da
comunicação de experiências e impressões pessoais (Lietaer,
1993, p.18)1.

Haugh (1998) critica esta definição de transparência como ‘comunicação do terapeuta


de suas impressões e experiências’. Ela aponta que, para Rogers, ser transparente significa
estar disposto a ser visto pelo cliente 'através’ das aparências. Rogers (1986c) afirma que
o terapeuta é transparente quando:

O cliente pode ver claramente o que o terapeuta é no


relacionamento; o cliente não percebe nenhum bloqueio por parte
do terapeuta (Rogers, 1986c, p.18).

Haugh (id.) considera que esta sutil mudança de significado proposta por Lietaer
(1993) é “perigosa” pois o terapeuta pode ser encorajado a fazer afirmações a partir do
seu quadro de referência com a intenção de ser experienciado pelo cliente como
transparente ou autêntico. Para Brodley (1998b), esta perspectiva identifica erroneamente
congruência com franqueza e conduz a distorções não apenas na terapia centrada no
cliente como também em situações de grupos centrados na pessoa. Na terapia centrada
no cliente, a distorção se apresenta quando o terapeuta sistematicamente declara suas
próprias reações ou pensamentos em relação ao cliente e justifica esta prática como sendo
uma forma de vivenciar a atitude terapêutica de congruência. Nos grupos, a distorção
aparece quando interpretações, acusações e insultos são justificados como sendo uma
forma de comunicação “congruente”. Brodley (1998c) salienta que a honestidade pode
existir num contexto de incongruência:

Uma pessoa pode estar incongruente – não simbolizando


acuradamente na consciência algum aspecto de sua experiência,
mas estar sendo honesta – isto é, falando uma representação
acurada de suas simbolizações internas. Honesta mas não
congruente (Brodely, 1998c)2.

1
“The inner side refers to the degree to which the therapist has conscious access to, or is receptive to, all
aspects of his flow of experiencing. This side of the process will be called ‘congruence’; the consistency
to which it refers is the unity of total experience and awareness. The outer side, on the other hand, refers
to the explicit communication by the therapist of his conscious perceptions, attitudes and feelings. This
aspect is called ‘transparency’: becoming transparent to the client through communication of personal
impressions and experiences.”
2
“A person may be incongruent – not accurately symbolizing in awareness some aspect of his experience,
but is being honest – that is, speaking an accurate representation of his inner symbolizations. Honest but
not congruent”.

50
Patterson & Hidore (1997) consideram que o terapeuta é genuíno na relação com o
cliente quando ele é verdadeiro, real, e não uma fachada. Ser genuíno significa estar
envolvido no relacionamento e não ser um simples espelho ou tela em branco:

As sessões são encontros reais. O terapeuta é livre e


profundamente ele mesmo, sem fachada, sem impostura. Ele não
está sentindo e pensando uma coisa e dizendo outra diferente
(Patterson & Hidore, 1997, p.84)1.

No entanto, os autores apontam que existe um perigo real envolvendo a interpretação


equivocada da genuinidade como justificativa para uma política de “qualquer coisa vale”
na relação terapêutica. Patterson & Hidore (id.) enfatizam que nem toda genuinidade é
terapêutica. A genuinidade terapêutica não requer que o terapeuta sempre expresse todos
os seus sentimentos, mas somente requer que o que quer que seja expresso seja real e
genuíno e não incongruente no contexto do ambiente terapêutico. Wyatt (2000) observa
que, sob o pretexto da genuinidade, o terapeuta pode facilmente projetar suas
incongruências no cliente e sutilmente controlar o processo terapêutico a fim de satisfazer
suas próprias necessidades ou até, em casos extremos, se tornar abusivo.
Carkhuff e Berenson (1967) sugerem que o conceito de genuinidade deva ser
diferenciado do conceito de genuinidade facilitadora:

Genuinidade não deve ser confundida, como tão


freqüentemente o é, com livre concessão para o terapeuta fazer o
que quiser na terapia, especialmente para expressar hostilidade. A
terapia não é para o terapeuta (Carhuff e Berenson, 1967, p.86)2.

Patterson (1974), da mesma forma, propõe o termo ‘genuinidade terapêutica’.


Segundo Patterson (id.), o terapeuta deve considerar as conseqüências da sua auto-
expressão, perguntando-se se será terapêutica ou não para o cliente. O terapeuta precisa
considerar a origem do sentimento que ele pretende expressar ao cliente. Ele não pode
‘deixar escapar’, sem pensar, afirmações como “você me aborrece”. Ao invés disso, se o
terapeuta se sente aborrecido, ele deve olhar para si mesmo e para o relacionamento e ver
se ele não está contribuindo para este sentimento.

1
“The sessions are real encounters. Therapists are freely and deeply themselves, without facades, not
phony. They are not feeling and thinking one thing and saying something different”.
2
“genuineness must not be confused, as is so often done, with free license for the therapist to do what he
will in therapy, especially to express hostility. Therapy is not for the therapist”.

51
Carkhuff and Berenson (1967) apresentam resultados de pesquisa que evidenciam que
um baixo nível de genuinidade é um impedimento para o progresso do cliente em terapia,
mas que, acima de um certo nível mínimo, níveis muito altos de genuinidade não se
relacionam com um aumento adicional no sucesso terapêutico. Os autores concluem que,
apesar de ser de uma importância fundamental que o terapeuta evite ser uma fachada ou
“representar o papel terapêutico”, as pesquisas não apoiam a necessidade do terapeuta de
se expressar plenamente todo o tempo.
A revisão de pesquisas de Truax e Mitchell (1971), da mesma forma, aponta que o
que é eficaz na terapia é a ausência de defensividade do terapeuta. Não é o nível máximo
da escala de genuinidade que contribui para o resultado terapêutico. Ao invés disso, é a
falta de genuinidade que pesa contra mudanças positivas no cliente. Os autores, portanto,
sugerem que o termo genuinidade seja abandonado e que ao invés dele seja utilizado um
termo negativo que inclua a noção de defensividade e ‘fachada’.

Brodley (1998b) conclui que toda a comunicação do terapeuta deve ser moldada pela
presença da aceitação, compreensão empática e da atitude não-diretiva. Estas atitudes
influenciam a forma da resposta do terapeuta que procura se comunicar congruentemente.
O terapeuta deve se expressar de uma maneira que também transmita consideração
incondicional e compreensão empática.

6.2. CONGRUÊNCIA EM RELAÇÃO À EMPATIA E CONSIDERAÇÃO


POSITIVA INCONDICIONAL

Rogers (in Rogers & Wood, 1978) ao “especular” sobre a ordem de importância da
três atitudes do terapeuta (consideração positiva incondicional, congruência e empatia)
considerou que a congruência é a “mais básica” de todas:

Nenhuma dessas condições [empatia e consideração positiva


incondicional] podem ter significado a não ser que sejam reais, de

52
forma que, em primeiro lugar, devo estar integrado e ser genuíno
no encontro terapêutico (Rogers & Wood, 1978, p. 213)

Em 1984, Rogers reafirma que a “genuinidade parece ser a mais básica: as outras
duas são importantes, mas provavelmente menos”1 (Rogers & Sanford, 1984, p.1378).
Bozarth (1998), entretanto, assinala que a natureza da congruência é diferente da natureza
das outras duas condições básicas. A congruência é primariamente um estado do
terapeuta. O terapeuta ‘está’ congruente. Ela é, portanto, uma característica contextual do
terapeuta. A compreensão empática e a consideração positiva incondicional são
condições para serem experienciadas pelo terapeuta em relação ao cliente e, de acordo
com a teoria de Rogers (Rogers, 1957, 1959) somente estas tem que ser percebidas pelo
cliente.

Para Lietaer (1984), as atitudes de congruência e consideração positiva


incondicional estão tão intimamente relacionadas que podem ser consideradas como
partes de uma atitude mais básica de “abertura”. Abertura em relação a si mesmo
(congruência) e abertura em relação ao outro (consideração positiva incondicional):

Quanto mais eu me aceito e sou capaz de estar presente de uma


maneira confortável com tudo o que emerge em mim, sem medo
ou defesa, mais eu posso estar receptivo para tudo o que o meu
cliente vivencia (Lietaer, 1984, p.44)2.

Bozarth (2000d) considera que a congruência não está separada mas integralmente
relacionada às condições de consideração positiva incondicional e compreensão empática
do quadro de referência do cliente. Existe um loop3 entre genuinidade e empatia, de
maneira que estas são, funcionalmente e em última instância, uma única condição. A
capacidade do terapeuta de estar consciente de sua própria experiência (genuinidade) lhe
permite estar mais consciente da experiência do cliente. À medida em que o terapeuta está
mais consciente da experiência do cliente, ele também se torna mais consciente da sua
própria experiência no relacionamento. Assim, a congruência é uma forma de preparação

1
“genuineness appears to be the most basic: the other two are important but probably less so”.
2
“The more I accept myself and am able to be present in a comfortable way with everything that bubbles
up in me, without fear or defense, the more I can be receptive to everything that lives in my client”.
3
Expressão de difícil tradução para o português. Literalmente significa laço. Neste contexto, significa
um circuito completo, que se retro-alimenta.

53
do terapeuta para ser maximamente receptivo. Isto é, a congruência é um
desenvolvimento atitudinal que habilita o terapeuta a ser mais capaz de experienciar
compreensão empática e consideração positiva incondicional em relação ao cliente. Estas
considerações de Bozarth clarificam a posição de Rogers (id.) de que a genuinidade do
terapeuta é mais importante das condições, na medida em que é a genuinidade que
propicia ao terapeuta a capacidade de experienciar empatia e consideração positiva
incondicional em relação ao cliente.
Por fim, Bozarth (2000d) conclui que é a auto-consideração positiva incondicional
do terapeuta que dá origem a este loop entre as três condições:

A relação entre as condições resulta num “loop” entre elas que


é criado pela auto-consideração positiva incondicional do
terapeuta. É a auto-consideração positiva incondicional que
promove a congruência, a consideração positiva incondicional e a
compreensão empática do quadro de referência do cliente
(Bozarth, 2000d)1.

7) A ESSÊNCIA DA TERAPIA CENTRADA NO CLIENTE

Nossa investigação a respeito da implementação das atitudes facilitadoras, norteada


pela pergunta - Como as atitudes facilitadoras podem ser implementadas na relação
terapêutica centrada no cliente?- nos conduziu às seguintes considerações:

- Não existem comportamentos ou técnicas específicas que garantam a


implementação das atitudes facilitadoras.
- O método do reflexo de sentimentos parece ser o veículo que comunica de forma
mais eficaz as atitudes de empatia e consideração positiva incondicional quando
o cliente está em busca de auto-conhecimento, ou num processo de exploração
do eu. Mas em outros contextos, o reflexo de sentimentos pode comunicar uma
falta de empatia do terapeuta em relação ao cliente. Ademais, a empatia e a

1
“The relationship among the conditions results in a “conditions loop” that is begotten by the unconditional
positive self-regard of the therapist. It is the unconditional positive self-regard that fosters congruency,
unconditional positive regard and empathic understanding of the client’s frame of reference”.

54
consideração positiva incondicional podem ser experienciadas pelo terapeuta sem
a utilização do reflexo de sentimentos.
- Percebemos que a empatia, tal como definida por Rogers, apresenta três facetas
distintas: a experiência empática, a compreensão empática e o reflexo de
sentimentos.
- Consideramos que estas três facetas são independentes.
- Consideramos que a experiência empática e a consideração positiva incondicional
são uma mesma e única experiência.
- Consideramos que esta única experiência (empatia/consideração positva
incondicional) é o elemento primariamente terapêutico na relação terapêutica
centrada no cliente.
- Consideramos que a não-diretividade é uma conseqüência inevitável da
experiência de empatia/consideração positiva incondicional.
- Consideramos que a congruência é uma forma de preparação do terapeuta para a
vivência da empatia/consideração positiva incondicional.

Esta investigação nos conduziu, finalmente, à discussão da essência da terapia


centrada no cliente. Essência, aqui, se refere à “significação especial” ou “espírito” da
terapia centrada no cliente (Ferreira, 1988). Aquilo que a identifica e a distingue. A
natureza essencial da terapia centrada no cliente se revela e se manifesta na
implementação das atitudes facilitadoras. Os conceitos de empatia, respeito, calor e
autenticidade foram sendo gradativamente incorporados e assimilados por todas as
abordagens terapêuticas, em maior ou menor intensidade. Entretanto, a implementação
destas atitudes na terapia centrada no cliente se dá de forma única.
Na terapia centrada no cliente estas três atitudes se entrelaçam de tal forma que se
tornam uma só atitude (Bozarth, 1998). Neste alto nível de integração, as atitudes de
empatia, consideração positiva incondicional e congruência se constituem como uma
única condição, que se refere ao efeito da presença do terapeuta. Rogers (in Baldwin,
1987) também reconhece que a essência da terapia centrada no cliente está relacionada
com a presença do terapeuta:

Estou inclinado a pensar que em meus escritos eu talvez tenha


enfatizado demais as três condições básicas. Talvez seja algo ao
redor do limite daquelas condições que é realmente o elemento

55
mais importante da terapia – quando eu estou muito claramente,
obviamente presente (Rogers in Baldwin, 1987, p.45)1.

Mas a presença do terapeuta não é imposta. Não é o ‘eu’ do terapeuta que se impõe
na relação; não é o poder, os valores, as expectativas e a expertise do terapeuta que se
fazem presentes. A presença do terapeuta se faz na entrega, na dedicação do terapeuta ao
ser único do cliente. Esta entrega se baseia na confiança do terapeuta na sabedoria
organísmica do indivíduo. Bower & Bozarth (1988), numa pesquisa qualitativa com seis
notáveis terapeutas centrados na pessoa, concluíram que estes terapeutas, ao
reconhecerem a autoridade do cliente sobre sua própria vida, entraram no mundo do
cliente de forma a ‘desaparecer’ no interior do seu processo de crescimento. Desta forma,
podemos concluir que o terapeuta centrado no cliente, ao implementar as atitudes
facilitadoras na relação terapêutica, retira o seu ‘eu’ do caminho do cliente, com todas
os seus valores e expectativas e oferece a sua presença, o seu ‘ser’, para entrar no mundo
do cliente. A implementação das atitudes facilitadoras que caracteriza a essência da
terapia centrada no cliente, portanto, pode ser definida como sendo:

... a dedicação do terapeuta para ir com o cliente, na direção do


cliente, no ritmo do cliente, e de acordo com o jeito de ser único
do cliente (Bozarth, 1998, pp.8-9)2.

Bozarth também traduz esta essência na forma de um poema entitulado “A


validade do momento”:

Eu não sei o que você vai fazer ou se tornar


neste momento ou depois;
Eu não sei o que eu farei exceto ficar com você
neste momento
E ser mãe, pai, irmã, irmão, amigo, criança e amante
neste momento;
Eu existo para você e com você

1
“I am inclined to think that in my writing perhaps I have stressed too much the three basic conditions.
Perhaps it is something around the edges of those conditions that is really the most important element of
therapy – when myself is very clearly, obviously present”.
2
“the therapist’s dedication to going with the client's direction, at the client's pace, and in accordance
with the client's unique way of being”.

56
neste momento;
Eu te dou tudo de mim
neste momento;
Eu sou você
neste momento;
Leve-me e use-me
neste momento
para ser o que você puder tornar-se
neste momento e depois.

THE VALIDITY OF THE MOMENT

Jerold D. Bozarth

I know not what you will do or become


at this moment or beyond
I know not what I will do except stay with you
at this moment
And be mother, father, sister, brother, friend, child, and lover
at this moment;
I exist for you and with you
at this moment;
I give you all of me
at this moment;
I am you
at this moment;
Take me and use me
at this moment
to be whatever you can become
at this moment and beyond.

57
58
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67
ANEXO I
Original em inglês dos casos Howard e Eleanor1

Howard had been hospitalized twenty years before I saw him, diagnosed as,
Schizophrenic, Paranoid type. He had stabbed several individuals prior to his admittance.
He had a grounds pass at the hospital and worked at a paper route in the hospital. He
heard about me from other residents and asked his doctor to refer him to me. We talked
twice about his thoughts of getting out of the hospital. He decided that this was not the
thing for him to do, too threatening! I mostly listened, told him about some of the training
and educational possibilities that I could help him with if he did decide to develop out
hospital plans. Nearly a year later, he returned to pick up where he left off. He inquired
about the possibility of “Barbers School”. We talked weekly for several months with him
taking the lead. He talked about his daughter, his relationships at the hospital and things
most of us might talk about in normal conversations. His consistency with seeking
training resulted in him being accepted for funding to attend such a school. There was a
wait period before going to school and he decided to seek employment in the community.
Although, it was the height of a recession in an industrial community, I supported his
wish to seek employment. We talked before and after trips to the city. Most of the staff
were quite skeptical about him finding employment when “normal” individuals could not
find even part time work. One week later, Howard had three job offers. He accepted one
job as a “prep” person shaving individuals before they went to surgery. Later, he went to
the school and worked as a barber until his retirement. I always thought that these were
interesting jobs for him since he was originally admitted to the hospital for a rampage
with a knife that resulted in injuries to a number of people (Bozarth, 1999).

Eleanor was referred to me by a ward attendant. She had been diagnosed twenty one
years before as, Schizophrenic, Undifferentiated Type. She was on a locked ward in the
hospital. The attendant said that she had expressed an interest in getting out of the ward,
and he wondered if I could help her in any way. When I arrived, Eleanor was sitting on
the floor playing with her feces. I had no idea what to do or say. I introduced myself and
told her a little bit about my role in the hospital. She was not responsive except for a wild
black toothed smile as she continued to play with her feces. I stayed not knowing what to
say or do. Now and then I asked a question or made a statement of some kind. I tried to
experience her as best as I could wondering what I could do to be more sure of my contact
with her. In desperation, I finally blurted out something like, "Do you think that you might
like to go to beauty school?” Maybe I was reminded of her creativity and manual dexterity
as she played with her feces. Amazingly, she discarded her activity with the feces and sat
in the chair next to me. I told her I would come back next week to check with her again.
A short time later, she began to discontinue some of her bizarre behavior. She cleaned
herself up over the next months and moved to an open ward. She eventually worked some
in the hospital commissary. I do not think that she ever got out of the hospital but the
quality of her life increased significantly (Bozarth, 1999).

1
Bozarth, J.D. (1999) Forty years of dialogue with the Rogerian hypothesis. Trabalho apresentado no 14º
Encontro Anual da Association for the Development of The Person-Centered Approach, Ruston,
Louisiana

68
ANEXO II
Original em inglês do caso Jill1

[Jill] said nothing when she came in. I mean this literally. She knocked on the door,
and I went to open it, and greeted he pleasantly. At my invitation she sat down, and we
looked at each other. I waited for her to say something, to explain, complain, or ask
questions. I looked at her trying to be as pleasant and as accepting as I could. Her eyes
filled with tears and the tears rolled down her face, but she said nothing. I wondered what
I should do. The simplest and most natural thing might have been to say, "What is
bothering you?" But it must be remembered that I had been trained precisely not to ask
questions or to give advice, and so, feeling quite foolish, I just kept looking at the girl.
For half an hour, nothing happened. I then said to her, "It is time to end our session. Would
you like to see me again?" Somewhat to my surprise and relief, she nodded, and when I
suggested another appointment at the same time next week, she nodded again, and went
out without having said a single word.
The following session was a repeat of the first one. We looked at each other, she cried
silently, I waited, and then she once again accepted my invitation for another session
without a word being said. Not to weary the reader, we had two more sessions and they
were all exact duplicates of the first two, though several times I thought that the student
was about to talk. At the end of the fourth session, when I again asked if she wanted to
have another session, she shook her head, and walked out. During the last week of the
semester I got another request from Jill, and I saw her immediately. Her statement was a
critical incident for me. "I want to thank you very much for what you did for me, Mrs.-"
"But I did nothing!" I impulsively cried out. "I wanted to so much help you, but I just did
nothing but look at you."
"You did a great deal. You changed my whole personality. That you had the kindness
and love to wait for me to talk, to just be there, and not to ask me questions, or try to make
me talk, that you were willing to just be there, and not be critical, and not complain that I
was wasting your time was the best and most wonderful thing. While we were looking at
each other I was thinking how wonderful the silence was, how good it was for you to
understand me, and make me feel good and important; you were loving and comforting.
I just couldn't talk, and if I had it would have been banalities. Because you valued me so
much, that you just were willing to be with me, I realized that my crazy thoughts that no
one loved me or cared for me, were all wrong. You loved me and you cared for me and
you were patient and kind and understanding and warm, and you couldn't put any pressure
on me or try to get me to talk or to manipulate me. I felt so comfortable with you, and the
relationship was so real. No. you did a great deal for me, and as a result I decided I was
worthwhile and I was a good person and I was one to be respected, and I was able to solve
my problems which I had sorely exaggerated."
After this long statement, we talked a bit and indeed she seemed to have really
changed from the girl she told me she had been prior to the counseling to the girl she was
now. She insisted that the four sessions with me had represented a turning point in her
life (apud Calia & Corsini, 1973).

1
Calia, V. & Corsini, R. (1973) Critical Incidents in School Counseling. Englewood Cliffs, NJ: Prentice
Hall.

69
70

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