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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

ESCOLA DE AGRONOMIA E ENGENHARIA DE ALIMENTOS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA

CULTURA DO CAJU
(Anacardium occidentale L.)

Apostila elaborada sob coordenação do


professor Dr. Ronaldo Veloso Naves, como
exigência da Disciplina Fruticultura, do
Programa de Pós-graduação em Agronomia,
da Escola de Agronomia e Engenharia de
Alimentos da Universidade Federal de Goiás.

GOIÂNIA, GO
Janeiro/2004
ii

SUMÁRIO
iii

1 ORIGEM, DISPERSÃO E CLASSIFICAÇÃO BOTÂNICA 5


1.1 REFERÊNCIAS 7
2 ASPECTOS ECONÔMICOS 8
2.1 REFERÊNCIAS 12
3 MELHORAMENTO 13
3.1 REFERÊNCIAS 17
4 CULTIVARES 19
4.1 REFERÊNCIAS 21
5 CONDIÇÕES EDAFOCLIMÁTICAS 22
5.1 CONDIÇOES EDÁFICAS 22
5.1.1 Solos 22
5.2 CONDIÇOES CLIMÁTICAS 23
5.2.1 Temperatura 24
5.2.2 Precipitação pluviométrica 24
5.2.3 Umidade relativa 25
5.2.4 Altitude 25
5.2.5 Latitude 25
5.2.6 Ventos 26
5.3 REFERÊNCIAS 26
6 PROPAGAÇÃO 28
6.1 REFERÊNCIAS 32
7 IMPLANTAÇÃO DO POMAR E TRATOS CULTURAIS 33
7.1 IMPLANTAÇÃO 33
7.1.1 Escolha da área 33
7.1.2 Preparo do solo 33
7.1.3 Plantio 34
7.1.4 Espaçamento 34
7.2 TRATOS CULTURAIS 35
7.2.1 Controle de plantas invasoras 35
7.2.2 Consorciação 36
7.2.3 Desbrota 36
7.2.4 Retirada de panículas 36
7.2.5 Podas 36
7.2.5.1 Poda de formação 37
7.2.5.2 Podas de manutenção e limpeza 37
7.2.5.3 Poda em período de frutificação 37
7.2.6 Irrigação 38
7.3. REFERÊNCIAS 39
8 NUTRIÇÃO MINERAL E ADUBAÇÃO 40
8.1 INTRODUÇÃO 40
8.2 ABSORÇÃO E EXTRAÇÃO DE NUTRIENTES 40
8.3 NUTRIENTES E SINTOMAS DE DEFICIENCIA MINERAL 41
8.3.1 Nitrogênio 41
8.3.2 Fósforo 41
8.3.3 Potássio 41
8.3.4 Cálcio 42
8.3.5 Magnésio 42
8.3.6 Enxofre 43
8.3.7 Boro 43
8.3.8 Ferro 43
iv

8.3.9 Manganês 44
8.4 CALAGEM E ADUBAÇÃO 44
8.4.1 Calagem 44
8.4.2 Adubação 44
8.5 REFERÊNCIAS 45
9 PRAGAS 46
9.1 INTRODUÇÃO 46
9.2 BROCA-DAS-PONTAS (Anthistarcha binoculares) 46
9.3 TRAÇA DAS CASTANHAS (Anacampsis sp.) 47
9.4 PULGÃO-DAS-INFLORESCÊNCIAS (Aphis gossypii) 47
9.5 TRIPES (Selenotrips rubrocinctus) 47
9.6 VÉU-DE-NOIVA (Thagona sp.) 48
9.7 BROCA DO CAULE (Marshallius sp.) 48
9.8 LAGARTA-SAIA-JUSTA (Cicinnus callipius) 49
9.9 LAGARTA VERDE (Eacles imperialis magnífica) 49
9.10 MOSCA BRANCA (Aleurodiclis cocois) 50
9.11 BESOURO VERMELHO (Crimissa cruralis) 50
9.12 DÍPTERO DAS FOLHAS (Contarinia sp.) 50
9.13 REFERÊNCIAS 51
10 DOENÇAS 52
10.1 DOENÇAS FÚNGICAS 52
10.1.1 Antracnose (Glomerella cingulata; Colletotrichum gloeosporioides) 52
10.1.2 Oídio ou Cinza do cajueiro (Erysiphe polygoni; Oidium anacardii) 53
10.1.3 Mancha de pestalotia ou Pestalosiose (Pestalotiopsis guepinii) 54
10.1.4 Mancha de phopmopsis (Phomopsis anacardii) 55
10.1.5 Mofo preto (Perisporiopsella anacardii) 55
10.1.6 Fumagina (Capnodium spp.) 56
10.2 DOENÇAS BACTERIANAS 56
10.2.1 Murcha bacteriana ( Ralstonia solanacearum = P. solanacearum) 56
10.3 DOENÇAS VIRÓTICAS 56
10.4 NEMATÓIDES 57
10.4.1 Xiphinematose das raízes (Xiphinema sp.) 57
10.5 REFERÊNCIAS 57
11 COLHEITA E PÓS-COLHEITA 59
11.1 TRANSPORTE 60
11.2 SELEÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E BENEFICIAMENTO 61
11.3 ACONDICIONAMENTO E ARMAZENAMENTO 62
11.4 REFERÊNCIAS 63
12 PROCESSAMENTO 64
12.1 PRODUTOS OBTIDOS DO PEDÚNCULO 64
12.1.1 Suco integral 64
12.1.2 Suco clarificado – cajuína 67
12.1.3 Resíduo da extração do suco 68
12.1.4 Outros produtos do pedúnculo 68
12.2 CASTANHA DE CAJU 68
12.3 REFERÊNCIAS 70
5

1 ORIGEM, DISPERSÃO E CLASSIFICAÇÃO BOTÂNICA

Tarciso Albuquerque de Farias

Nativo do nordeste brasileiro, o cajueiro (Anacardium occidentale L.) foi


introduzido em países da África Centro-Oriental e, posteriormente, na Índia, pelos colonizadores
portugueses.
Segundo Lima (1988), a origem brasileira do cajueiro é aceita por quase todos os
autores modernos que se dedicaram ao seu estudo. Também parece inquestionável que, dentro do
território pátrio, tem como centro de origem e de dispersão o litoral nordestino. Essa quase
unanimidade de opinião se justifica pois:
- Não se conhece em qualquer parte ou em algum idioma, crônica ou relato anterior ao
descobrimento do Brasil que faça qualquer referência ao cajueiro.
- Quando os colonizadores aqui chegaram já encontraram o cajueiro amplamente
disseminado no litoral brasileiro, mais precisamente no nordestino.
- Praticamente todas as espécies descritas do gênero Anacardium são originárias do
continente americano e apenas quatro delas, A. caracolli, A. encardium, A. excelsum e A.
rhinocarpus não são encontradas no Brasil. Os botânicos e geneticistas pressupõem que a
presença de grande número de espécies silvestres ou um elevado grau de diversidade,
dentro de uma espécie em determinada região, seja forte indicativo de que tal área
caracterize-se como “centro de origem” desses indivíduos. Apesar do Nordeste não ser a
região que apresente o maior número de espécies do gênero, é nesta região onde o A.
occidentale apresenta maior diversidade e adaptação, com uma variação enorme de tipos
dentro da espécie no que concerne ao porte, hábito de crescimento, coloração e tamanho
das folhas, frutos e pseudofrutos (pedúnculos).
- A distribuição das espécies de Anacardium no Brasil, embora não possa ser considerada
em parâmetro conclusivo oferece um argumento lógico para a origem nordestina de A.
occidentale.
No Brasil, a agroindústria do caju, que teve início na década de 1960, exerce
importante papel econômico e social nos Estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí, pelo
significativo número de oportunidades de empregos e expressiva participação na geração de
divisas externas. As exportações anuais têm variado de 140 a 160 milhões de dólares por ano
(BARROS, 2002).
6

O cajueiro é encontrado em quase todos os Estados da Federação, sendo que a


Região Nordeste foi responsável por 99,7% da produção nacional, no ano de 1984. Assim,
a expressão econômica da cultura restringe-se somente ao Nordeste, destacando-se os
Estados do Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte, responsáveis por 93% da produção, sendo
o Ceará o maior produtor. Nas exportações, a castanha desponta como um dos principais
produtos.
Em todo o mundo, a comercialização de cerca de 125.000t de ACC (amêndoa
de castanha de caju) gera em torno de 2,4 bilhões de dólares, por ano, no mercado
varejista. Este é o valor do agronegócio do caju, estimado com base apenas nas
exportações, ao qual devem ser acrescidos cerca de 25%, quando incluído o consumo
interno dos principais exportadores (BARROS, 2002).
Segundo BARROS (2002), no Brasil existe ainda uma característica
diferenciada dos demais países produtores que é o aproveitamento industrial do falso-
fruto (o pedúnculo floral, também conhecido como caju ou maçã do caju), cujo potencial
econômico é dos mais surpreendentes, pelo leque de opções que possibilita. O principal
produto desta indústria é o suco concentrado, o mais vendido no país, seguido de
diferentes variedades de doces e bebidas refrigerantes.
A cultura do caju vem sendo apontada por alguns especialistas como umas
das alternativas rentáveis para a dinamização do potencial econômico na região do Semi-
árido. A cultura é de relevante importância social e econômica, gerando renda e
propiciando a permanência do homem no campo.
Por meio do melhoramento genético foram desenvolvidos clones com
características de nanismo, precocidade e alta produtividade, tentando garantir produção
durante o ano inteiro.
O cajueiro é uma planta perene de produção de sequeiro, que possui a
capacidade de sobreviver aos anos de seca. Assim, a cultura pode perder uma safra num
período de seca e ter uma recuperação da produção no ano seguinte, sem que se precise
fazer novos plantios.
É indiscutível a importância que o caju representa para o Nordeste
brasileiro, como uma atividade econômica e social de grande expressão, garantindo
renda para mais de 300 mil pessoas e gerando divisas superiores a 100 milhões de
dólares anuais.
Existem, no entanto, muitos problemas na cajucultura. As baixas
produtividades, o ataque de pragas e doenças, a irregularidade nas precipitações
7

pluviométricas, além da falta de uniformidade de plantio, têm reflexos negativos sobre a


qualidade do produto (amêndoa e pseudofruto).

1.1 REFERÊNCIAS

BARROS, L. M. Introdução. In: Caju, produção – aspectos técnicos. Brasília. Embrapa


Agroindústria Tropical. Fortaleza, 2002, 148p.

LIMA, V. P. M. S. Origem e distribuição geográfica. In: Cultura do cajueiro no Nordeste do


Brasil. Fortaleza. Banco do Nordeste do Brasil. 1988. p.1-13.
8

2 ASPECTOS ECONOMICOS

Rogério de Araújo Almeida


Tatiana Vieira Ramos

O cajueiro é originário do litoral nordestino, embora muitos o considerem


como o mais brasileiro dos frutos. No Brasil a cajucultura concentra-se na região
Nordeste, sendo os estados do Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte os maiores
produtores (EMBRAPA, 1995). A cultura do caju ocupa lugar de destaque entre as
plantas frutíferas tropicais, em face da crescente comercialização de seus produtos
principais: a amêndoa (castanha de caju) e o líquido contido no mesocarpo da castanha
(MEDINA, 1978 e FRANÇA, 1988). Embora o pseudofruto seja utilizado na produção
da pasta ou massa de caju, do caju cristalizado, da polpa de caju e da calda ou compota
de caju, dentre outros, esses produtos têm pequeno destaque comercial, pelo menos no
mercado internacional. Assim, informações sobre a produção de caju e dos produtos
industrializados a partir do pseudofruto são escassas e restritas (RENESTO & VIEIRA,
1978). No agronegócio do caju estão inseridas várias atividades econômicas que vão
desde a produção agrícola, passam pelo processamento do pedúnculo e da castanha,
pelo segmento de embalagens, transportes e armazenamento, movimentando grande
volume de recursos nos mercados externo e interno.
Hoje, segundo FAO (2002), o Brasil é o terceiro maior produtor mundial de
castanha de caju, responsável por 12,26% da produção no ano de 2001, com pouco mais
de 180.000 toneladas. Em primeiro lugar encontra-se a Índia (34%), seguida pela
Nigéria (12,51%). Os principais produtores mundiais de castanha de caju encontram-se
listados na Tabela 1. Ainda, segundo a FAO (2002), o Brasil é o maior produtor mundial
de caju (pseudo-fruto), tendo produzido 1.550.000 toneladas de pseudofruto no ano de
2001. Em segundo lugar aparece Madagascar, com 68.000 toneladas. Estes dois países
são os únicos presentes na relação da FAO.
No período de 1973-1978, o maior produtor mundial de castanha de caju foi
Moçambique com 34% do total, seguido da Índia com 26% e Tanzânia com 23%, ficando
o Brasil em quarto lugar, com 13%.
9

Tabela 2.1. Produção mundial de castanha de caju (t) - Principais países produtores.

Ano
Produção de castanha (t)
1999 2000 2001
Mundo 1.278.239 1.350.229 1.418.724
Índia 450.000 450.000 450.000
Nigéria 176.000 184.000 184.000
Brasil 130.841 114.467 180.229
Tanzania. United Rep of 106.500 121.200 121.900
Indonésia 75.000 78.000 80.000
Guinea-Bissau 73.156 80.000 80.000
Côte d'Ivoire 40.795 69.689 69.689
Viet Nam 35.600 67.600 68.000
Mozambique 58.720 57.894 57.894
Benin 26.000 26.000 26.000
Thailand 22.000 22.000 22.000
Senegal 15.000 15.000 15.000
Sri Lanka 15.000 15.000 15.000
Malaysia 13.000 13.000 13.000
Ghana 7.500 7.500 7.500
Philippines 7.000 7.000 7.000
Madagascar 7.000 6.500 6.500
El Salvador 4.000 4.000 4.000
Kenya 7.000 4.000 4.000
Peru 3.265 2.717 2.350
Burkina Faso 1.000 1.000 1.000
China 1.200 1.000 1.000
Dominican Republic 950 950 950
Angola 800 800 800
Honduras 450 450 450
México 300 300 300
Togo 152 152 152
Bangladesh 10 10 10

Fonte: FAO (2002)

Segundo SOARES (1986), até 1955, a Índia supria quase 100% das
amêndoas de caju comercializadas no mercado mundial.
A produção brasileira de castanha de caju está quase exclusivamente concentrada
na região Nordeste do país, onde se encontram as indústrias, que são responsáveis por cerca de
90% da produção (Tabela 2). O Estado do Ceará é o principal produtor, sendo responsável por
mais de um terço da produção total do ano de 2000, seguido pelo Piauí (24,09%) e Rio Grande
do Norte (22,04%).

Tabela 2.2. Produção de castanha de caju/principais Estados produtores nacionais, 2002.


10

Período Brasil e Unidade da Federação Valores

Brasil 157.721

Maranhão 4.057

Piauí 16.814
Produção
(Toneladas) Ceará 102.431
2002
Rio Grande do Norte 26.285

Paraíba 2.794

Bahia 5.340

Brasil 655.951

Maranhão 13.121

Piauí 141.691
Área
(Hectares) Ceará 362.226
2002
Rio Grande do Norte 112.304

Paraíba 7.516

Bahia 19.095

Brasil 297

Maranhão 371

Piauí 283
Rendimento (kg/ha)
Ceará 293
2002
Rio Grande do Norte 321

Paraíba 389

Bahia 265

Fonte: IBGE - Levantamento Sistemático da Produção Agrícola. Disponível em www.cajucultura.cjb.net

A comercialização de caju (pseudofruto) em Goiás concentra-se na CEASA-


GO, que é o grande mercado terminal do Estado, centralizando a produção dos mais
diversos produtos agrícolas e, posteriormente, a distribui para a grande Goiânia e os
11

municípios do interior. Analisando-se os Boletins Mensais de Procedência de


Mercadorias e Produtos da CEASA-GO, do período de outubro de 2001 a setembro de
2002, percebe-se que foram comercializadas naquela localidade um total de 65,92
toneladas de caju, a um preço médio de R$ 6.785,71 a tonelada. Do total
comercializado, 7,43% foram produzidos em Goiás, 12,78% vieram de São Paulo,
7,58% do Rio Grande do Sul e 72,21% do Piauí, que se constituiu no principal
exportador da fruta para Goiás naquele período (Tabela 3).
A produção de caju em Goiás é bastante pequena e o Estado não possui
indústria processadora, seja do pseudofruto ou da castanha. Todavia, embora a cultura
ainda não tenha expressão comercial no Estado, esta se constitui numa opção
interessante, principalmente aos pequenos e médios agricultores, que poderiam ter bons
resultados financeiros caso produzissem e agregassem valor ao produto, beneficiando
tanto o fruto quanto o pseudofruto.

Tabela 2.3. Volumes negociados, preços praticados e origem do caju (pseudofruto)


comercializado na CEASA-GO no período de outubro de 2001 a setembro
de 2002.
Período
out/01 nov/01 dez/01 jan/02 fev/02 mar/02
Preço (R$/tonelada) 7.000,00 - - 9.000,00 - -
Volume (toneladas) 0,12 0,00 0,00 0,15 0,00 0,00
GO (%) 0,00 - - 53,33 - -
SP (%) 100,00 - - 46,67 - -
PI (%) - - - - - -
RS (%) - - - - - -
abr/02 mai/02 jun/02 jul/02 ago/02 set/02
Preço (R$/tonelada) 8.000,00 7.500,00 6.000,00 5.000,00 5.000,00 -
Volume (toneladas) 10,70 3,31 5,00 18,64 28,00 -
GO (%) 0,00 0,48 0,00 0,00 17,14 -
SP (%) 6,54 8,94 0,00 1,29 25,00 -
PI (%) 93,45 90,58 100,00 71,89 57,86 -
RS (%) - - - 26,82 - -

Fonte: Boletins mensais da CEASA-GO – Quadros 12 (analíticos)

2.1 REFERÊNCIAS

CEASA - Centrais de Abastecimento de Goiás S/A. Boletins mensais de procedência de


mercadorias e produtos. Goiânia: CEASA-GO. Outubro de 2001 a setembro de 2002. Quadro
12 (analítico).
12

FAO. FAOSTAT Agriculture data. Agricultural production. Crops primary.


Disponível em: http://apps.fao.org/page/collections Acesso em: 16 de novembro de 2003.

FRANÇA, F. M. C. Produção, comercialização e mercado. In: LIMA, V. de P. M. S.- org. Cultura do


cajueiro no nordeste do Brasil. Fortaleza, Banco do Nordeste do Brasil. Escritório Técnico de
Estudos Econômicos do Nordeste, 1988. p. 405-453 (Estudos Econômicos e Sociais, 35).

EMBRAPA/CNPAT. Cajucultura: modernas técnicas de produção. Fortaleza, 1995. 292p.

IBGE. Produção agrícola municipal: culturas temporárias e permanentes. Rio de Janeiro:


IBGE. Vol.27. 2000. p. 54.

IBGE. Levantamento sistemático da agricultura. Disponível em:


http://www.cajucultura.cjb.net Acesso em: 16 de novembro de 2003.

MEDINA, J. C. Caju: cultura. In: MEDINA, J. C.; BLEINROTH, E. W.; BERNHARDT, L. W.


HASHIZUME, T.; RENESTO, O. V & VIEIRA, L. F. Caju: da cultura ao processamento e
comercialização. Campinas: ITAL. 1978. p. 5. (Série Frutas Tropicais, 4)

RENESTO, O. V. & VIEIRA, L. F. Aspectos econômicos da produção e mercado. In: MEDINA, J. C.;
BLEINROTH, E. W.; BERNHARDT, L. W. HASHIZUME, T.; RENESTO, O. V & VIEIRA, L. F. Caju: da
cultura ao processamento e comercialização. Campinas: ITAL. 1978. p. 5. (Série Frutas Tropicais, 4)

SOARES, J. B. O caju: aspectos tecnológicos. Fortaleza, BNB, 1986. p. 191-200.


13

3 MELHORAMENTO
Saulo Araújo de Oliveira

O cajueiro (Anacardium occidentale L.) é considerado uma das fruteiras


mais importantes e de ampla distribuição nos trópicos. Já sua origem é bastante
discutida, apesar de algumas evidências indicarem o Brasil ou todo o Norte da América
do Sul e ainda parte da América Central como centros de origem dessa espécie
(BARROS, 1995). BARROS & CRISÓSTOMO (1995) no entanto, afirmam que o
cajueiro é uma planta de origem brasileira e encontra-se hoje disseminada em quase
todos os países do mundo tropical. Para BARROS (1991) o nordeste brasileiro é o
maior centro de diversidade da espécie no país. Esta cultura é responsável por gerar
empregos através da mão-de-obra ocupada no beneficiamento da castanha (LEITE &
PESSOA, 2002). Por isso a preocupação do melhoramento com esta frutífera.
Os plantios em sequeiro em todo Brasil e principalmente em Pernambuco
caracterizam-se por serem de elevada variabilidade genética e ausência de
melhoramento. Conseqüentemente, a produção é desuniforme e de baixa produtividade.
Objetivando aumentar a produtividade da cultura e melhorar a qualidade de castanhas e
aproveitamento de pedúnculos de caju, de forma a tornar a atividade mais competitiva, a
Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (EMPARN) vem
desenvolvendo atividades de pesquisas nas áreas de fertilidade dos solos, melhoramento
genético, manejo cultural, propagação vegetativa e aproveitamento do resíduo da
indústria de sucos na alimentação animal.
Com a descoberta do cajueiro como opção econômica, iniciaram-se as
atividades de pesquisa, obedecendo a diferentes estratégias, de acordo com a época e da
orientação seguida pelas instituições de pesquisa no país. Assim, as atividades de
melhoramento genético do cajueiro no Brasil se organiza cronologicamente, em cinco
fases distintas (PAIVA et al., 1998).
Primeiramente a descoberta, pelos nativos, de plantas com pedúnculos
apropriados à sua alimentação, tanto no consumo in natura como na elaboração de
bebidas, seguindo-se o uso da própria castanha para consumo da amêndoa. A segunda
fase, situada nas décadas de 40 e 50, foi marcada pela importância do líquido da casca
da castanha (LCC) como produto principal e pela transformação do pedúnculo em
produtos diversos. Iniciaram-se, neste período, as primeiras introduções de plantas no
Campo Experimental de Pacajus (EEP), CE, através de atividades de pesquisa com o
14

cajueiro no Brasil (ALMEIDA et al., 1993). A formação de uma coleção base foi, no
entanto, muito importante nos anos seguintes, com contribuições marcantes até os dias
atuais.
A terceira fase, entre as décadas de 60 e 70, caracterizou-se pelos plantios
comerciais. Neste período as atividades de pesquisas convergiram-se para identificação
e controle da produção de castanha de plantas individuais, selecionadas a partir de
informações, em propriedades particulares da região de Pacajus. Após a identificação
das plantas que se destacavam em produção, seguiu-se a formação de novos plantios
com sementes colhidas destas plantas.
Na quarta fase, foram obtidos e avaliados clones do tipo comum e anão
precoce, o que culminou com a recomendação de alguns clones do tipo anão precoce
para o plantio comercial (BARROS et al, 1984, ALMEIDA et al., 1993; BARROS &
CRISÓSTOMO, 1995). A partir dessa época vem sendo priorizada, nas ações de
pesquisa realizadas na EEP, a seleção de plantas dentro do tipo anão precoce, devido
suas características. Constatou-se, no entanto, a estreita base genética deste material.
Para ampliá-la, principalmente os caracteres de interesse agroindustrial, novos
genótipos têm sido introduzidos e selecionados através de plantios feitos por sementes,
além da seleção de plantas em populações segregantes, seguida da formação de novas
populações, com a recombinação genética pelo método do policruzamento. O método
da hibridação artificial também tem sido utilizado entre plantas superiores do tipo anão
precoce e entre cruzamentos dos tipos anão e comum (BARROS & CRISÓSTOMO,
1995).
A quinta fase, ainda em andamento, prioriza as pesquisas para atender às
demandas atuais da cajuicultura, com enfoque na fruticultura irrigada e no
aproveitamento do pedúnculo para o consumo in natura. Desta maneira, a seleção está
orientada para a obtenção de plantas com porte baixo, pedúnculo com coloração, sabor,
textura, consistência e teor de tanino que satisfaçam às preferências do consumidor e
que possuam maior período de conservação. Castanhas de tamanho e peso superiores a
10g, facilidade de destaque do pedúnculo, rendimento superior a 28% e amêndoas
resistentes são também objetivos da pesquisa. Na fase de avaliação dos clones estes
devem ser testados tanto em condições de irrigação como de sequeiro e em diferentes
ecossistemas (CRISÒSTOMO et al., 1999).
Os procedimentos mais adotados no melhoramento de plantas de reprodução
assexuada são a introdução de germoplasma, seleção clonal e hibridação. Além destes,
15

alguns métodos não convencionais como a indução de mutações, indução de poliploidia


e cultura de tecidos têm sido utilizados (BRUCKNER, 2002).
Para os programas de melhoramento, são utilizados acessos da coleção de
germoplasma (Banco Ativo de Germoplasma) de caju, que conta, atualmente, com 496
acessos. Destes, 440 são da espécie cultivada Anacardium occidentale L. e 56 de outras
espécies do gênero, originados da região dos cerrados. Além dos acessos catalogados no
BAG, existe, na EEP, a coleção de trabalho, cerca de 6000 plantas, em uso nos
programas de melhoramento. Estão em avaliação 241 clones de cajueiro anão precoce e
13 de cajueiro do tipo comum, em diferentes agroecossistemas, alguns dos quais por
apresentarem características particulares, integrarão a coleção de base (BARROS et al.
1999).
Objetiva-se, principalmente, nos programas de melhoramento do cajueiro a
resistência às doenças, como a antracnose, principal moléstia da planta no Brasil.
BARROS et al. (1999) afirmam que foram obtidos, também, híbridos interespecíficos
de A. occidentale x A. othonianum e A. occidentale x A. microcarpum, com objetivos de
inserir alelos de resistência à antracnose e qualidades desejáveis para caju de mesa, os
quais se encontram em fase de avaliação.
O melhoramento preconiza a geração de clones que possibilitem
produtividades que remunerem adequadamente o setor produtivo e frutos com qualidade
para atender às exigências do setor industrial que, por sua vez, se adaptam às exigências
do mercado consumidor. O cultivo do cajueiro tem apresentado bons resultados nos
diferentes ecossistemas em que tem sido introduzido. Isso se deve aos sistemas de
produção que incluem genótipos adaptados às condições de clima e solo locais, tendo o
melhoramento genético importante papel na viabilização econômica dessa cultura
(CRISÒSTOMO et al., 1999).
Como a maioria e os mais antigos plantios comerciais são basicamente de
cultivares do tipo comum, surgiu a necessidade de substituição da copa para o aumento
da produtividade. Porém, segundo BARROS et al. (1984), observou-se que, com a
substituição da copa, nenhum dos clones utilizados reuniu qualidade suficiente para ser
indicado como clone superior. Mas, com a implantação do Centro Nacional de Pesquisa
de Caju (CNPCa) da EMBRAPA, em 1988, reiniciou-se as atividades de seleção com o
cajueiro comum e anão em decorrência da variabilidade genética ainda não explorada
(ALMEIDA et al, 1992).
16

Como resultado do programa de melhoramento em andamento na EEP,


novos clones de cajueiro do tipo anão precoce encontram-se em via de recomendação
para o plantio comercial. A parceria com a iniciativa privada também tem ampliado o
número de clones em processo de avaliação, reduzindo o tempo necessário à sua
recomendação final. Existe também a expectativa de se obter clones de cajueiro comum
com potencial produtivo superior a 1.700 kg/ha de castanha em regime de sequeiro
(CRISÒSTOMO et al., 1999). BARROS et al. (2000), verificaram que os clones CAP
26 e CAP 06 se destacam em relação aos demais, por associarem alta produtividade de
castanhas, porte baixo da planta, e caracteres tecnológicos da amêndoa desejáveis para a
cultura.
O melhoramento genético das plantas envolve um conjunto de
procedimentos com fundamentação cientifica, cujo objetivo, é a alteração de
características dos cultivares, de modo que os novos materiais obtidos possibilitem
aumento na produtividade e qualidade do produto final. Para tanto, o trabalho pode ser
dirigido para caracteres como tolerância ao estresse hídrico, adaptação a elevados teores
de elementos tóxicos do solo, resistência a doenças e tolerância a pragas, redução do
porte das plantas, precocidade, mudanças no comprimento do ciclo de frutificação,
alterações na constituição física e química dos frutos e pseudofrutos, de modo que o
resultado final seja a maior lucratividade do investidor e maior satisfação do
consumidor (CRISÒSTOMO et al., 1999).
CRISÒSTOMO et al. (2002), avaliaram o tanino, a acidez total, os sólidos
solúveis totais, a relação SST/ATT, o pH e a textura de pedúnculos dos genitores
empregados nos retrocruzamentos e seus respectivos híbridos. Nesta investigação
comprovaram que o A. microcarpum, em relação aos clones de A. occidentale,
demonstrou sua adequação em programas de melhoramento genético visando a
qualidade do pedúnculo. Com exceção do tanino, não se verificou efeito dos
cruzamentos recíprocos entre A. microcarpum e os clones anão-precoce de A.
occidentale para acidez total, sólidos solúveis totais, pH e textura dos pedúnculos.
Em síntese, o melhoramento genético atual tem como meta alcançar os
seguintes objetivos: obter plantas com tolerância ou resistência as principais pragas e
doenças, adaptabilidade a diferentes ambientes, porte adequado à colheita, com
produtividade de castanha elevada e castanhas com peso médio superior a 10g, sendo
estas resistentes à formação de “bandas”, com facilidades na despeliculagem da
amêndoa e coloração dentro dos padrões internacionais (CRISÒSTOMO et al., 1999).
17

Sendo a diversidade genética o seguro da vida na natureza e a matéria-prima do


melhoramento, o conhecimento e a disponibilidade de genótipos caracterizados e
avaliados passa a ser o alvo principal para atingir-se o objetivo básico das instituições
com responsabilidade de gerar conhecimentos, produtos e serviços para a manutenção
do equilíbrio da biodiversidade e para a viabilização da autosustentabilidade dos
negócios agrícolas BARROS et al., 1999).

3.1 REFERÊNCIAS

ALMEIDA, J. I. L.; ARAÚJO, F.E.; LOPES, J.G.V. Evolução do cajueiro anão precoce na
Estação Experimental de Pacajus, Ceará. Fortaleza, EPACE, 1993. 17p. EPACE, Documentos,
6.

BARROS, L. M. Caracterização morfologica e isoenzimatica do cajueiro (Anacardium


occidentale L.) tipos comum e anão-precoce, por meio de técnicas multivariadas. Piracicaba,
ESALQ, 1991. 256p. Tese de Doutorado.

BARROS, L. M. Botânica, Origem e Distribuição Geográfica. In: ARAÚJO, J. P. P.; SILVA,


V.V. Cajucultura: Modernas Técnicas de Produção. EMBRAPA\CNPAT, Fortaleza, 1995.
p.53-69.

BARROS, L. M.; ARAÚJO, F.E.; ALMEIDA, J.I.L.; TEIXEIRA, L.M.S. A cultura do Cajueiro
Anão. Fortaleza, EPACE. 1984. 67p. EPACE, Documentos, 3.

BARROS, L. de M.; CAVALCANTI, J. J. V.; PAIVA, J. R. de; CRISÓSTOMO, J. R.;


CORRÊA, M. P. F.; LIMA, A. C. Seleção de clones de cajueiro-anão para o plantio comercial
no estado do Ceará. Pesq. agropec. bras., nov. 2000, v.35, n.11, p.2197-2204. ISSN 0100-
204X.

BARROS, L. M.; CRISÓSTOMO, J.R. Melhoramento Genético do Cajueiro. In: ARAÚJO,


J. P. P.; SILVA, V.V. Cajucultura: Modernas Técnicas de Produção. EMBRAPA\CNPAT,
Fortaleza, 1995. p.73-96.

BARROS, L. M.; PAIVA, J. R.; CAVALCANTI, J. J. V. Recursos genéticos de cajueiro:


situação atual e estratégias para o futuro. In: QUEIRÓZ,M. A. de; GOEDERT, C. O.; RAMOS,
S.R.R. Recursos Genéticos e Melhoramento de Plantas para o Nordeste brasileiro. ( on
line). Versão 1.0. Petrolina-PE: Embrapa Semi-Árido / Brasília-DF: Embrapa Recursos
Genéticos e Biotecnologia, nov. 1999.

BRUCKNER, C. H. Melhoramento de fruteiras tropicais. Universidade Federal de Viçosa.


2002, 422p.

CRISÓSTOMO, J. R.; BARROS, L. de M.; PAIVA J. R. de; CAVALCANTI, J. J. V.


Melhoramento genético do cajueiro. In: QUEIRÓZ,M. A. de; GOEDERT, C. O.; RAMOS,
S.R.R. Recursos Genéticos e Melhoramento de Plantas para o Nordeste brasileiro. ( on
line). Versão 1.0. Petrolina-PE: Embrapa Semi-Árido / Brasília-DF: Embrapa Recursos
Genéticos e Biotecnologia, nov. 1999.
18

CRISOSTOMO, J. R.; CAVALCANTI, J. J. V.; BARROS, L. de M.; ALVES, R. E.; FREITAS,


J. G.; OLIVEIRA, J. N. Melhoramento do cajueiro-anão-precoce: avaliação da qualidade do
pedúnculo e a heterose dos seus híbridos. Rev. Bras. Frutic., ago. 2002, v.24, n.2, p.477-480.
ISSN 0100-2945.

LEITE, L. A. S.; PESSOA, P. F. A. P. Aspectos econômicos. In: Caju.Produção: aspectos


técnicos. Fortaleza. Embrapa agroindústria tropical. 2002. 148p.

PAIVA, J.R.; BARROS, L.M.; CRISÓSTOMO, J.R.; ARAÚJO, J.P.P.; ROSSETTI, A.G.;
CAVALCANTE, J.J.V.; FELIPE, E.M. Depressão por endogamia em progênies de cajueiro anão
precoce (Anacardium occidentale L.) var. nanum. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.33, n.4,
p.425-431. 1998.
19

4 CULTIVARES

Rosângela Vera
Tarciso Albuquerque de Farias

O cajueiro é uma planta brasileira, amplamente distribuída pelo litoral nordestino


onde seu cultivo representa uma atividade de expressão econômica e social (TAVARES,
1992).
Nas três últimas décadas, a agroindústria do caju passou por grandes mudanças
com relação a área cultivada, produção, capacidade industrial instalada para processamento de
castanha e exportações, resultando em expressivos números econômicos e sociais nos
principais estados produtores da quase totalidade das castanhas produzidas no país.
Destacam-se neste caso os estados do Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte. Com a instalação
de agroindústrias na região Nordeste do País, a demanda por castanha aumentou, se tornando
um incentivo para que se avançasse no cultivo do cajueiro nos diferentes ecossistemas,
notadamente no Cerrado e transições do Semi-árido com as Matas de Restinga (PAIVA et al.,
2002).
Paralelo a esta demanda, a tecnologia deixava sempre a desejar, principalmente
em relação a variedades melhoradas, inexistentes até o início da década de 1980. Apesar da
importância socioeconômica e da expansão da área cultivada, a produtividade foi reduzida de
635 kg/ha, no início da década de 1970, para cerca de 230 kg/há de castanha no início do
novo milênio (PAIVA et al., 2002).
Segundo BARROS & CRISÓSTOMO (1955), não existem até o momento,
clones selecionados de cajueiro do tipo comum em cultivo. Os plantios no Brasil ocorreram
através de sementes (via assexuada). A demanda por clones surgiu em função das baixas
produtividades de castanha, heterogeneidade das plantas nos pomares e da heterogeneidade
da castanha e do pedúnculo produzidos nessas áreas cultivadas por sementes.
O trabalho inicial de melhoramento do cajueiro anão precoce no Brasil se
efetivou através da seleção fenotípica individual, pelo controle anual da produção, iniciado
em 1965 na Estação Experimental de Pacajus, CE. Esta metodologia, permitiu o lançamento
comercial de dois clones no ano de 1983 (o CCP 06 e o CCP 76) e dois no ano de 1987
(o CCP 09 e o CCP 1001), sendo os principais clones disponíveis (BARROS et al., 1984;
ALMEIDA et al., 1993; citados por BARROS & CRISÓSTOMO, 1995).
20

Segundo BARROS & CRISÓSTOMO (1995), a origem e principais


características dos clones citados são as seguintes:
- Clone CCP 06 => Selecionado em 1979, a partir da matriz CP 06, avaliada durante 15
anos em Pacajus, CE. A maior produção registrada para a matriz foi de 25 kg de
castanha, em solo arenoso de baixa fertilidade, sem correção ou fertilização, nem
controle de pragas. Apresentou peso médio de pedúnculo de 122g, cor amarela e
castanha com peso em torno de 6,5g.
- Clone CCP 76 => Selecionado em 1979, a partir da matriz CP 76, avaliada por 15
anos em Pacajus, CE. A maior produção da matriz foi de 22 kg de castanhas sob as
mesmas condições do CP 06. O peso médio da castanha é de 9,5g, pedúnculo de cor
vermelha, peso médio de 139g.
- Clone CCP 09 => Originário da matriz CP 09, em Pacajus, onde a maior produção de
castanhas foi de 25 kg, com peso médio de 9,0g. O pedúnculo tem cor alaranjada e
peso médio de 105g.
- Clone CCP 1001 => Originário da matriz CP 1001, em Pacajus, pedúnculo vermelho,
peso médio de 96g e castanhas com 7,2g. A principal característica deste clone é a
grande variação do peso do fruto dentro de cada planta. Isto se deve provavelmente à
grande capacidade produtiva do clone, cuja maior produção registrada para a matriz
foi de 65kg de castanhas.
Segundo TAVARES (1992), não existem variedades definidas de cajueiro, mas
sim, tipos locais identificados por algumas características relacionadas ao pedúnculo
(tamanho, forma, cor, consistência e sabor) (Tabela 4). Estes caracteres em comum
possibilitam agrupar a grande variabilidade genética em dois grandes grupos: caju comum e
caju anão precoce.

Tabela 4. Principais características dos cajueiros comum e anão precoce.


CARACTERES CAJU COMUM CAJU ANÃO PRECOCE
Início de florescimento 3º ao 5º ano 6-18 meses
Época de produção Setembro a janeiro (Ceará) Julho a fevereiro (Ceará)
Peso do fruto 3-32 g 3-10 g
Peso do pedúnculo 20-500g 20-160 g
Cor do pedúnculo Variável Variável
Copa Compacta e homogênea
Fonte: TAVARES (1992) e CAVALCANTI et al.(2000)

CAVALCANTI et al. (2000) avaliaram 30 clones de cajueiro anão durante 5


anos com relação a repetibilidade de caracteres de produção e porte da planta. Concluíram
21

que é viável o emprego da seleção precoce em programas de melhoramento do cajueiro


anão precoce.
BARROS et al. (2000) avaliaram 30 clones de cajueiro anão precoce no
Estado do Ceará, com o objetivo de selecionar aqueles que apresentassem melhores
características. Concluíram que os clones CAP 26 e CAP 06 se destacaram em relação
aos demais avaliados, por aliarem alta produtividade de castanhas, porte baixo de
plantas e caracteres tecnológicos da amêndoa desejáveis para a indústria.

4.1 REFERÊNCIAS

BARROS, L. de M.; CAVALCANTI, J. J. V.; PAIVA, J. R. de; CRISÓSTOMO, J. R.; CORRÊA,


M. P. F. & LIMA, A. C. Seleção de clones de cajueiro anão para o plantio comercial no estado do
Ceará. Pesquisa Agropecuária Brasileira. Brasília, v.35, n.11, p. 2197-2204, nov. 2000.

BARROS, L. M.; CRISÓSTOMO, J. R. Melhoramento genético do cajueiro. In: Cajucultura-


Modernas técnicas de produção. Fortaleza: EMBRAPA/CNPAT. 1995. 292p.

CAVALCANTI, J. J. V.; PAIVA, J. R. de; BARROS, L. de M.; CRISÓSTOMO, J. R. & CORRÊA,


M. P. F. Repetibilidade de caracteres de produção e porte da planta em clones de cajueiro anão precoce.
Pesquisa Agropecuária Brasileira. Brasília, v.35, n.4, p. 773-774, abr. 2000.

PAIVA, J. R.; CAVALCANTI, J. J. V.; BARROS, L. M.; CRISÓSTOMO, J. R. Clones. Introdução. In:
Caju, produção – aspectos técnicos. Brasília. Embrapa Agroindústria Tropical. Fortaleza.

TAVARES, J. C. Cultura do Cajueiro (Anacardium occidentale L.) In: Fruticultura Tropical.


São Paulo: FUNEP/FCAV/UNESP. 1992, p. 101-105.

5 CONDIÇÕES EDAFOCLIMÁTICAS
22

Patrícia Pinheiro da Cunha


Tarciso Albuquerque de Farias

O cajueiro é explorado comercialmente em várias regiões do mundo, onde ocorrem


diversificados tipos climáticos, de acordo com a classificação de Köppen,
destacando-se os tipos: Am, Aw, Bsh e Bwh, basicamente climas tropicais
chuvosos. Esses tipos de clima caracterizam-se por temperatura mínima, superior a
18ºC e um período de seca. Além dessas características, alguns desses tipos
climáticos apresentam evapotranspiração potencial superior à precipitação
(Johnson, 1974; citado por AGUIAR et al., 2002). Em termos comparativos, todos
os tipos de clima A encontram-se no Brasil, na região da qual o caju é nativo. Os
climas Aw, caracterizados por uma estação seca definida, predominam nas áreas
mais vastas, tanto no Brasil como em outros países produtores (FROTA &
PARENTE, 1995).
Sendo o cajueiro originário, provavelmente do Nordeste do Brasil, possui
capacidade adaptativa às condições de clima e solo da região (BARROS et al.,
1984).
A exploração econômica do cajueiro é influenciada por diversos fatores climáticos.
Dentre esses fatores, os principais são a precipitação, temperatura do ar, umidade
relativa do ar e altitude e, em menor grau de importância a latitude e o vento
(AGUIAR & COSTA, 2002).

5.1 CONDIÇOES EDÁFICAS

5.1.1 Solos

No que se concerne aos solos onde a cultura do cajueiro se estabelece,


existem poucas informações disponíveis (RAMOS, 1988). A textura do solo pode ser
arenosa em todo o perfil ou arenosa superficialmente e média ou arenosa nos horizontes
subsuperficiais. São geralmente profundos e bem drenados os solos. Completam o
quadro natural característico do litoral cearense (SUDEC, 1976; citado por RAMOS,
1988).
Segundo LIMA et al. (2002), apesar do cajueiro ser encontrado em vários
tipos de solos, a cultura desenvolve-se melhor em solos profundos, areno-argilosos, bem
drenados, com boa fertilidade natural e baixos teores de alumínio trocável e sais
23

solúveis. Há maior facilidade de manejo do pomar quando o relevo é plano a suave-


ondulado. Os solos rasos, compactados e mal drenados devem ser evitados, pois afetam
o crescimento das raízes e a produção. A cultura do cajueiro é pouco tolerante ao
excesso de água no solo, comportando-se bem onde este é permeável e sem problema de
lençol freático (RAMOS, 1988).
O sistema radicular do cajueiro é formado por uma raiz pivotante bem
desenvolvida, normalmente bifurcada, que pode passar de 10m de profundidade, e de
uma malha subsuperficial (91% encontram-se de 15cm a 32cm de profundidade),
bastante importante para a planta, pois cerca de 82% das raízes efetivas na absorção de
nutrientes encontram-se até 30cm de profundidade (FROTA et al., 1995).
No Brasil, principalmente na região Nordeste onde se encontra o cultivo, o
cajueiro é encontrado na faixa litorânea e nas zonas de transição com outros
ecossistemas, sobretudo na caatinga, cujos solos são arenosos, de baixa fertilidade
natural, e pH variando entre 4,5 e 6,5. Esta faixa de reação tem sido considerada
adequada para o desenvolvimento da planta. O cultivo do cajueiro tem se expandido
para a região dos Cerrados, onde predominam os Latossolos, todos com altos teores de
alumínio tóxico e lençol freático profundo. Neste caso, torna-se necessário a correção
do solo e manejo do solo para que a planta possa se desenvolver e produzir de forma
adequada.
Os solos considerados sem limitações significativas à cultura do cajueiro
são aqueles que apresentam mais de 250 cm de profundidade, declividade entre 0 a 8%,
textura média com teor de argila entre 15 a 35%, boa drenagem, elevadas reservas de
nutrientes, ausência de problemas de toxidez por sais solúveis ou sódio trocável e
ausência de impedimentos à mecanização (Ramos, 1988; citado por DONADIO et al.,
1992).

5.2 CONDIÇOES CLIMÁTICAS

O cajueiro apresenta hábitos vegetativos característicos das plantas de clima


tropical. Embora seja encontrado em regiões de clima subtropical, a cultura se
demonstra seu potencial onde existem condições climáticas que possibilitem um bom
desenvolvimento, associado às condições edáficas desejáveis, e quando as plantas têm
os caracteres genéticos de boa produtividade e recebem os tratos culturais adequados
(Frota et al., 1985; citados por FROTA, 1988).
24

5.2.1 Temperatura

O cajueiro apresenta hábitos vegetativos característicos de plantas de clima


tropical, exigindo para seu desenvolvimento, regime de altas temperaturas, sendo
bastante sensível ao frio e às geadas (BARROS et al., 1984).
Segundo FROTA et al. (1985), 27ºC é a temperatura média ideal indicada para
o desenvolvimento e frutificação normais do cajueiro, no entanto, suporta temperaturas
acima de 30ºC, sendo sensível, porém, a temperaturas abaixo de 22ºC, uma vez que as
plantas jovens são fortemente afetadas pelo frio. As plantas adultas suportam curtos
períodos de temperaturas baixas. Todavia, quando esses ocorrem no período de floração ou
frutificação, comprometem a produção.
As plantas jovens, principalmente no primeiro ano, sofrem muito com a
exposição prolongada ao frio intenso. Apesar dessa limitações, a cultura tem sido
introduzida, com êxito, em regiões onde as temperaturas, em alguns períodos do ano, estão
fora da faixa considerada mais adequada, o que mostra a ampla capacidade adaptativa da
espécie e o potencial para cultivo fora das áreas consideradas mais aptas, no que se refere à
temperatura (AGUIAR et al., 2002).

5.2.2 Precipitação pluviométrica

O cajueiro necessita de uma estação seca para frutificar normalmente, pois a


diferenciação floral ocorre quase sempre no final da estação chuvosa e o florescimento
se processa durante os meses secos (BARROS et al., 1984).
Para a exploração econômica do cajueiro, considera-se a faixa de
precipitação ideal entre 800 e 1500 mm/ano, bem distribuída em 6 a 7 meses, com um
período seco de 5 a 6 meses, nas fases de floração e frutificação. Entretanto, foi
registrado a existência de cultivos em regiões com precipitação entre 500 e 4.000
mm/ano, nem sempre bem distribuída, com um período seco de 4 a 7 meses (FROTA et
al., 1985a; citados por AGUIAR et al., 2002).
Quando as chuvas são intensas e com uma alta freqüência durante todo o
ano, existe uma tendência das plantas apresentarem crescimento vegetativo além do
normal, prejudicando o florescimento e a frutificação e, conseqüentemente,
comprometendo a produção e a qualidade do fruto (tanto da castanha como do
25

pedúnculo), em função da alta incidência de doenças fúngicas, como antracnose, oídio e


mofo preto.

5.2.3 Umidade relativa

O cajueiro comporta-se melhor quando a umidade relativa do ar apresenta


uma média anual entre 70 a 80%, característica da faixa litorânea brasileira onde há
maior ocorrência desta frutífera. Nas principais regiões produtoras do Brasil, quando a
umidade relativa é superior a 80% por ocasião do período de florescimento, torna-se
bastante prejudicial, por favorecer as doenças fúngicas, especialmente a antracnose,
principal moléstia da cultura no país (BARROS et al., 1984).

5.2.4 Altitude

A influência da altitude no desenvolvimento econômico do cajueiro é


inversamente proporcional à latitude. Sob baixas latitudes, próximo à linha do Equador,
onde as temperaturas são mais elevadas, o cajueiro tem sido cultivado em áreas de até
1.000 m de altitude, como em Songea, Tanzânia. Já nas altas latitudes, com em Assan,
Índia (25ºN), em que a produção do cajueiro em altitudes superiores a 170 m é baixa, os
menores rendimentos dos cultivos têm sido atribuídos ao efeito da altitude (OTHER,
1979; citado por AGUIAR et al., 2002).
Segundo BARROS et al. (1984), a maior concentração de cajueiros no
Brasil encontra-se nas faixas costeiras, cuja altitude não ultrapassa 600 m, a qual pode
ser considerada como limite máximo para explorações econômicas da cultura.
A decisão de se cultivar o cajueiro fora da faixa considerada mais apropriada
depende de outros fatores, principalmente mercado, pois o custo de produção aumenta
com o uso dos defensivos agrícolas (AGUIAR et al., 2002).

5.2.5 Latitude

Como o cajueiro é uma planta originária da região tropical, a latitude mais


adequada para a exploração econômica está na faixa de 15ºN a 15ºS, nas proximidades
do Equador. Pode-se entretanto, encontrar pequenos plantios de cajueiro, nos extremos
26

entre 27ºN, no sul da Flórida, a 28ºS na África do Sul (JOUBERT & THOMAS, 1965;
citados por AGUIAR et al., 2002).

5.2.6 Ventos

O vento funciona como agente polinizador do cajueiro, uma vez que a


cultura apresenta alta taxa de polinização cruzada. Embora os limites de tolerância não
estejam bem estudados, ventos demasiadamente fortes são prejudiciais à cultura
provocando queda das flores e até tombamento das plantas jovens (AGNOLONI &
GIULIANI, 1977). Os reflexos de velocidades do vento superiores a 7 m/s são mais
prejudiciais na fase de florescimento, pois ocasionam queda de flores e frutos em
formação, o que diminui a produção.
Segundo AGUIAR et al. (2002), a importância dos ventos é devida mais a
efeitos negativos do que propriamente a efeitos positivos sobra a planta, já que a
polinização do cajueiro é essencialmente cruzada e realizada por insetos.

5.3 REFERÊNCIAS

AGNOLONI, M. & GIULIANI, F. Cashew cultivation. New Delhi, Ist. Agronomico per
L’Oltremare, 1977, 168p.

AGUIAR, M. J. N.; COSTA, C. A. R. Exigências climáticas. In: Caju, produção – aspectos


técnicos. Brasília. Embrapa Agroindústria Tropical. Fortaleza, 2002, 148p.

BARROS, L. de M.; ARAÚJO, F. E.; ALMEIDA, J. I. L. de & TEIXEIRA, L. M. S. A cultura


do cajueiro anão. Fortaleza, 1984, 67p. (EPACE – Documento 3).

DONADIO, L. C.; MARTINS, A. B. G. & VALENTE, J. P. Fruticultura Tropical. São Paulo.


1992, p.105-106.

FROTA, P. C. E. Clima e fenologia. In: LIMA, V. de P. M. S. Cultura do cajueiro no Nordeste


do Brasil. Fortaleza, 1988, 486p.

FROTA, P. C. E.; PARENTE, J. I. G. Clima e Fenologia. In: Cajucultura-modernas técnicas de


produção. Fortaleza: EMBRAPA/CNPAT, 1995, 292p.

FROTA, P. C. E.; SILVA, Z. R.; MELO, V. & RODRIGUES, R. F. G. Distribuição geográfica da


aptidão ecológica da cultura do caju no estado do Ceará - Brasil. In: Encontro nacional da
agroindústria do caju, 1 & Semana cearense do caju, 2. Anais... Fortaleza, 1985.

LIMA, A. A. C. Solos. In: Caju, produção – aspectos técnicos. Brasília. Embrapa


Agroindústria Tropical. Fortaleza, 2002, 148p.
27

RAMOS, A. D. Solos. In: LIMA, V. de P. M. S. Cultura do cajueiro no Nordeste do Brasil.


Fortaleza, 1988, 486p.
28

6 PROPAGAÇÃO
Luciene Teixeira Mazon
Tadeu Cavalcante

O cajueiro pode ser propagado, sexuadamente ou assexuadamente. Na


reprodução sexuada, são utilizadas sementes de matrizes cuja produção e qualidade da
castanha tenham sido testadas por vários anos. É conveniente utilizar sementes retiradas
de plantas sadias, vigorosas, altamente produtivas e com pseudofrutos grandes. As
sementes devem ser densas, bem conformadas e de tamanho dentro dos padrões ideais
para cada tipo, ou seja: de 9 a 12 gramas para o cajueiro do tipo comum e 7 a 10 gramas
para o tipo anão (LIMA, 1988).
Segundo Argles (1976); citado por LIMA (1988), os cajueiros originados de
sementes dificilmente reproduzem as características das árvores que produziram essas
sementes, sendo grande a heterogeneidade nestas populações. Menos de 1,0% das
árvores originadas de sementes poderão ser consideradas aptas de seleção para altas
produções, tamanho e qualidade da castanha.
As sementes de caju não apresentam problemas relacionados com dormência
e, quando armazenadas por um período máximo de cinco meses, não mostraram grande
perda do poder germinativo.
O melhor método de plantio para o estabelecimento de novos cajueiros é
aquele em que se utilizam mudas de um mês de idade, formadas em sacos plásticos de
cor preta com 19 cm de largura por 25 cm de profundidades. Assim, as castanhas são
semeadas com antecedência de um mês à data do plantio no local definitivo. Quando as
mudas são levadas ao campo e aproveitam integralmente a estação chuvosa, isso lhes
aumenta as chances de resistirem melhor ao período seco subseqüente, favorecendo um
índice maior de sobrevivência no campo. O sistema apresenta ainda outras vantagens,
tais como: permitir a seleção do material de plantio, conferir maior uniformidade ao
pomar, diminuir o índice de replantio e tornar os cajueiros novos menos sujeitos aos
ataques de predadores.
Os viveiros deverão estar situados em locais onde haja disponibilidade de
água para rega, de preferência distantes das plantações e nunca localizados debaixo de
cajueiros, pois isso pode ocasionar a perda de grande número de plantas por infecção de
Antracnose (Colletotrichum gloeosporioides Penz.).
29

A composição do substrato é variável com as disponibilidades existentes em


cada propriedade. As plantas novas de cajueiro são pouco exigentes quanto a esta
composição. No entanto, uma mistura homogênea, isenta de torrões e restos de raízes,
preparada uma semana antes do enchimento dos sacos, contribui para o melhor
desenvolvimento das mudas. Usa-se terra superficial arenosa, Latossolo Amarelo e
esterco de curral em pó, nas proporções volumétricas de 5:4:1, enriquecida em cada
metro cúbico com 2,5 kg de superfosfato triplo e 1,0 kg de cloreto de potássio (LIMA,
1988).
A germinação da castanha é o resultado da interação entre a vitalidade do
embrião, a resistência mecânica do tegumento e a presença de líquido em quantidade e
em diferente estado físico e químico (Agnoloni & Giuliani, 1977; citados por LIMA,
1988).
Segundo os mesmos autores, o tempo de germinação depende da
temperatura, da umidade, e principalmente do estado da castanha. Sementes novas do
tipo médio gastam de 12 a 15 dias para germinar, dando índices de 98 a 100% de
germinação.
A propagação de plantas por via assexuada é uma técnica empregada na
fruticultura pelo grande número de vantagens que oferece. No caso da cultura do
cajueiro destaca-se a indução de precocidade, a diminuição do porte das plantas, a
prevenção ao aparecimento de plantas improdutivas e a melhoria da qualidade da
castanha e do pedúnculo, adaptando-os às necessidades do parque industrial.
As mudas enxertadas exigem cuidados especiais para a sua produção e,
durante o primeiro ano após o plantio, encarecem os custos de implantação e
manutenção dos pomares, motivando, dessa forma, a relutância dos produtores em
adotá-las.
Em um trabalho de LIMA (1988), o cajueiro do tipo anão precoce, quando
propagado vegetativamente, apresentou 85% das plantas em florescimento logo no
primeiro ano e produção de 2,5 a 3,0kg de castanha/pé no 3º ano. Comportamento
produtivo que demonstra a vantagem das mudas enxertadas sobre o material
multiplicado via sementes.
O processo de multiplicação por estaquia tem sido pouco estudado na cultura do
cajueiro e os resultados experimentais obtidos são por demais contraditórios (ALMEIDA et al.,
1979a).
30

Nas regiões litorâneas, onde o solo é pobre em nutrientes, induzindo o


desenvolvimento de plantas de pequeno porte e ventos dominantes causando
deslocamento de areias, é comum cajueiros nativos mergulharem seus ramos
sucessivamente no solo, formando verdadeiras mergulhias naturais.
Todos os porta-enxertos utilizados na multiplicação do cajueiro, são
provenientes de sementes, não existindo tipos específicos. Nenhum efeito adverso tem
sido encontrado nas plantas enxertadas, que possa ser atribuído ao cavalo, como
variações de crescimento ou incompatibilidade entre porta-enxerto e copa (Argles,
1976; citado por LIMA, 1988). ALBERGARIA (1967) recomenda que a enxertia seja
efetuada um mês após o inicio da floração.
Uma das características importantes da espécie botânica A. microcarpum
Ducke, utilizada como porta-enxerto, é a de ser bastante precoce, produzir mudas vigorosas,
resistência à seca além de copas homogêneas.
Há preferência pelo método de garfagem por permitir maior facilidade de
justaposição das áreas cambiais, possibilitando maior contato dessas superfícies e por
ter o garfo mais de uma gema para se desenvolver. Os garfos utilizados para a
propagação vegetativa são retirados da parte terminal dos crescimentos vegetativos.
Devem possuir de 8 a 10 cm de comprimento, apresentar consistência semilenhosa e
gemas quase a brotar.
É importante que os garfos coletados possuam diâmetro compatível com o
dos porta-enxertos, apresentando uma espessura média igual ou ligeiramente inferior.
Isto facilita a enxertia, a qual deve ser feita, preferencialmente, logo após a coleta dos
garfos.
ALMEIDA et al. (1979b) obtiveram melhores resultados na utilização
da técnica da garfagem nos meses de março e abril, quando observaram médias de
pegamento de 56,5% e 50% respectivamente, utilizando cavalos de 3 a 5 meses.
De acordo com Souza & Araújo (2001), mudas enxertadas eram
produzidas em sacos plásticos de 7.760 cm 3, depois em sacos de 2.990 cm 3.
Atualmente podem, também, ser produzidas em tubetes de 288 cm 3. Vantagens
inerentes desta redução do recipiente onde as mudas são produzidas, são notórias.
Menor peso, facilidade para transportar as mudas e recipiente reciclável, são
algumas delas.
31

Fonte: SOUZA & ARAÚJO, 2001


Figuras 6.1. Detalhe da enxertia do cajueiro anão precoce: (A) por garfagem em fenda lateral
em porta-enxertos com 35 dias de idade e, (B) mudas aptas para plantio, com 60 dias depois de
enxertadas. Pacajus, CE. 1999.

Dados do trabalho de SOUZA & ARAÚJO (2001), demonstram que a percentagem de


pegamento de enxertia utilizando-se o tubete como recipiente e porta-enxertos com
idade variando entre 25 a 40 dias, não diferem estatisticamente. Esses dados podem ser
visualizados na tabela 1 abaixo.

Tabela 1. Percentagem média de enxertos pegos, dormentes*, mortos, de mudas aptas


para plantio e média de folhas por muda de cajueiro anão precoce em tubetes. Pacajus,
CE, 1999.

Idade dos Mudas aptas para


Percentagem de enxertos
Porta-enxertos plantio (%)
Pegos Dormentes Mortos
25 dias 77,2 a 1,1 a 21,7 a 92,9 a
30 dias 76,7 a 0,5 a 22,8 a 93,8 a
35 dias 76,7 a 0,0 a 23,3 a 93,3 a
40 dias 83,3 a 0,0 a 16,7 a 99,4 a
Fonte: SOUZA & ARAÚJO, 2001
* garfo que mantinha-se verde e com gemas não brotadas.
médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey a
5%.
32

6.1 REFERÊNCIAS

ALBERGARIA, M. S. de. Enxertia do cajueiro. Revista Agrícola de Moçambique, 9 (84): 14-6, 1967.

ALMEIDA, J. I. L. de; BARROS, L. de M.& LIMA, V. de P.M.S. Estaquia como método de


propagação vegetativa para o cajueiro. In: EMPRESA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA DO
CEARÁ. Relatório anual de pesquisa 1978; Fitotecnia, Fortaleza, 1979a. p.199-204.

ALMEIDA, J. I. L. de; BARROS, L. de M. MELO, F.I.O.& LIMA, V. de P. M. S. Propagação


vegetativa do cajueiro pelo processo de garfagem. In: EMPRESA DE PESQUISA
AGROPECUÁRIA DO CEARÁ. Relatório anual de pesquisa 1978; Fitotecnia, Fortaleza,
1979b. p. 182-191.

LIMA, V. de P. M. S. A Cultura do cajueiro no Nordeste do Brasil. Fortaleza, Banco do


Nordeste do Brasil. Escritório técnico de estudos econômicos do Nordeste, 1988. 486 p.
(Estudos econômicos e sociais, 35)

SOUZA, F.X. de; ARAÚJO, C.A.T. de Recomendações para a produção de mudas de


cajueiro em tubetes. Fortaleza, CE. Dezembro de 2001 (Embrapa - Comunicado técnico
68).
33

7 IMPLANTAÇÃO DO POMAR E TRATOS CULTURAIS

Ricardo Pereira da Silva


Gustavo Gondin Dantas
Sandra Máscimo da C. e Silva

7.1 IMPLANTAÇÃO

A exploração da cajuicultura tem merecido destaque no cenário da


fruticultura tropical, sendo indiscutível sua importância para a região Nordeste, onde se
apresenta como uma atividade de expressão econômica e social.
A grande variabilidade genética do cajueiro vem sendo estudada em dois grupos,
comum e anão, definidos, basicamente, em função do porte das plantas. Para o cajueiro
anão precoce, os plantios são organizados com tratos culturais mais intensivos, desde o
preparo do terreno.
Nos projetos maiores instalados em grandes áreas com cajueiro, há
necessidade de se estabelecer um rigoroso cronograma de execução para as operações
de manutenção da cultura, ajustando às necessidades em mão-de-obra, máquinas,
épocas e prazos dos serviços, consórcios compatíveis com as características do solo e do
empreendimento.

7.1.1 Escolha da área

Na escolha do terreno para plantio, deve-se dar preferência àqueles de


relevo plano a suave-ondulado, favoráveis aos tratos culturais e ao manejo do pomar.

7.1.2 Preparo do solo

Ainda que o cajueiro seja uma planta de reconhecida rusticidade, torna-se


necessário executar bom preparo do terreno, através de uma aração profunda e gradagens
repetidas e cruzadas. Nesta ocasião deverá ser realizada a calagem objetivando elevar a
saturação por bases a 60%. Com um riscador marcam-se, em seguida, as linhas de
separação das plantas, paralelas às curvas de nível.
34

Longe de ser uma tecnologia simples, o preparo do solo compreende um


conjunto de práticas que podem manter por longo tempo altas produtividades da cultura
quando este é usado racionalmente. Entretanto, o uso do solo de maneira incorreta
ocasiona rapidamente a sua degradação, diminuindo rapidamente o seu potencial
produtivo.

7.1.3 Plantio

Em razão da forma como o cajueiro vem sendo cultivado em grandes áreas,


o plantio tem sido feito por meio de semeadura direta no local definitivo ou por meio de
mudas de pé-franco ou ainda numa forma mista, com o plantio direto e o replantio por
meio de mudas. Evidentemente que nenhuma destas formas seria utilizada, nem
recomendável se o cajueiro fosse explorado como uma planta frutífera. Neste caso, o
sistema seria o plantio de mudas enxertadas de clones selecionados (LIMA, 1988).
O plantio por mudas é o método mais recomendado para a instalação da
cultura. Além de menor percentual de replantio, este sistema apresenta vantagens em
relação ao plantio direto, como: melhor controle em campo, maior percentual de
sobrevivência das plantas no primeiro ano e maior uniformidade do pomar, decorrente
da seleção prévia da muda no viveiro (ARAÚJO & SILVA, 1995).
Planta-se mais de uma muda por cova, fazendo-se o desbaste 60 a 90 dias
após o plantio, deixando a muda mais sadia e vigorosa. Quando necessário, o replantio é
feito por meio de mudas preparadas em sacos plásticos e de mesma idade das plantas do
campo.

7.1.4 Espaçamento

O espaçamento a ser adotado no plantio do cajueiro depende de vários


fatores e da finalidade da plantação. Assim, as condições climáticas de uma região, a
fertilidade do solo, os tratos culturais mecanizados, o aproveitamento das entre linhas
com culturas intercalares econômicas, dentre outros fatores, devem ser considerados na
definição do espaçamento da cultura.
O sistema radicular e o balanço hídrico do cajueiro também são aspectos
importantes para se estabelecer o espaçamento, tendo em vista a competição por água e
nutrientes, quando plantado adensado.
35

CRISÓSTOMO et al. (2001), recomendam o espaçamento de 7 x 7 m para


cultivos de sequeiro (204 plantas/hectare) ou 7 x 8 m para cultivos irrigados (178
plantas/hectare). Porém, quando se empregam altas densidades de plantio, recomenda-se
efetuar o desbaste do cajueiral à medida que as árvores se tornam adultas.
Os produtores de caju, utilizando os atuais sistemas de cultivos, necessitam
de um período relativamente longo para recuperar parte do capital empregado na
instalação e manutenção do pomar. Uma alternativa para se reduzir este prazo seria a
utilização do cultivo adensado, técnica que proporciona rendimentos iniciais elevados,
possibilitando uma recuperação mais rápida dos investimentos com o pomar
(DAMASCENO JÚNIOR, 2002). Segundo este autor, os sistemas de cultivo adensado,
levando-se em conta o aspecto de qualidade, podem ser empregados também na
produção de pedúnculos para o consumo in natura.
Na verdade, faltam resultados experimentais sobre espaçamentos,
particularmente para diferentes condições de solo e precipitação pluviométrica das
diversas regiões brasileiras.

7.2 TRATOS CULTURAIS

Os principais tratos culturais recomendados para o cajueiro anão são:


desbrota, retirada de panículas, podas, controle de plantas daninhas e coroamento. Essas
operações são fundamentais para que a planta expresse todo o seu potencial produtivo,
assegurando o retorno econômico do investimento.

7.2.1 Controle de plantas invasoras

Manter as plantas livres da concorrência de ervas daninhas, com capinas em


"coroamento" em 2 a 3 operações/ano. Nas entrelinhas, realizar roçagem no período de
chuvas e gradagem superficial na estação seca, para minimizar a concorrência com
plantas daninhas. Essa prática reduz substancialmente os efeitos nocivos das erosões
hídrica e eólica. Caso necessário, efetua-se mais de uma roçagem mecânica no período
chuvoso (OLIVEIRA & BANDEIRA, 2001). O número de capinas por ano varia de
acordo com a região e o regime hídrico.
36

7.2.2 Consorciação

Com a finalidade de baratear o custo de formação do cajueiral e manutenção


do terreno limpo, recomenda-se associar, nos primeiros anos, uma cultura intercalar.
Pode-se utilizar algodão herbáceo, mandioca, girassol, mamona, sorgo, gergelim, dentre
outras. Todavia, recomenda-se dar preferência para leguminosas como feijão, soja ou
amendoim (MEDINA, 1978).
SEAGRI (2002) afirma que os consórcios são viáveis até o 5º ano de vida da
cultura do cajueiro e recomenda manter a cultura consorciada a uma distância de 1,0 a
1,5m da linha de plantio do cajueiro.

7.2.3 Desbrota

BARROS (1988) relata que a desbrota é a eliminação de ramos laterais


baixos, nascidos abaixo das folhas cotiledonares quando a muda for de pé franco ou
abaixo do ponto de enxertia, quando a muda for enxertada.
As principais vantagens da utilização da desbrota são: menor desgaste da
planta no período seco pela redução da área foliar, equilíbrio entre o sistema radicular e
a parte a aérea e redução dos custos da poda nos anos subseqüentes (PARENTE &
OLIVEIRA, 1995).

7.2.4 Retirada de panículas

Em função de sua precocidade, o cajueiro anão pode emitir panículas


imediatamente após o plantio. Estas devem ser removidas até o oitavo mês de idade da
planta, já que antes disso constituem-se numa fonte de desvio de energia, que deve estar
direcionada ao crescimento vegetativo. Essa operação deve ser feita com o emprego de
um canivete ou tesoura de poda, tendo-se o cuidado de evitar danos às plantas
(OLIVEIRA & BANDEIRA, 2001).

7.2.5 Podas

O correto uso dessa operação depende de diversos fatores, como hábito de


crescimento do clone, o porte da planta, o sistema de plantio empregado e a forma de
37

colheita, de modo que um máximo de rendimento econômico seja atingido com a menor
interferência possível no comportamento da planta.

7.2.5.1 Poda de formação

Os pomares jovens devem ser conduzidos de modo a formar uma copa


compacta, com ampla superfície produtiva, livre de entrelaçamento e da concorrência de
plantas daninhas e, ainda, que facilite a mecanização dos cultivos, as operações de
adubação de manutenção e calagem, roçagem (manual e mecânica), além da inspeção
do sistema de irrigação, quando for o caso (OLIVEIRA & BANDEIRA, 2001).
Nos pomares sob sequeiro, deve-se realizar a poda de formação à partir do
segundo ano, eliminando-se ramos emitidos próximos ao solo ou no porta-enxerto e,
anualmente, aqueles com crescimento lateral anormal. Isso possibilitará maior eficiência
aos tratos culturais e posterior colheita, evitando problemas de entrelaçamento de galhos
e dificuldade de mecanização. Neste particular, deve-se manter a primeira ramificação,
na fase produtiva, próxima a 0,5 m da superfície do solo, no tipo anão precoce e a 1,0
m, no comum.

7.2.5.2 Podas de manutenção e limpeza

A poda de manutenção visa preservar o maior número possível de ramos


produtivos favoráveis aos tratos e colheita. Ramos "ladrões", ramos que crescem para
baixo, ramos que crescem sem produzir flores são eliminados; a planta deve ter, pelo
menos, 60% de ramos que emitam flores e que dão à copa da planta formato de meia
lua.
A poda de limpeza é feita anualmente com eliminação de ramos e folhas
doentes (atacados principalmente por Antracnose) ou secos. As podas devem ser feitas
após a colheita, no fim do período chuvoso e antes do início de produção de folhas.

7.2.5.3 Poda em período de frutificação

Em pomares adultos, deve-se efetuar um adequado balanço entre o


crescimento vegetativo e a frutificação. Como a produção do cajueiro é periférica e
concentrada nos 2/3 inferiores da copa, há necessidade de se manter a planta livre e com
38

adequada iluminação, principalmente nas laterais, onde ocorre a quase totalidade da


floração e frutificação (PARENTE & OLIVEIRA, 1995).
A época de poda nas plantas adultas está relacionada ao comportamento
fenológico do cajueiro, recomendando-se sua realização após a colheita e antes do início
do fluxo foliar, quando as plantas encontram-se, aparentemente, em repouso vegetativo.

7.2.6 Irrigação

O cajueiro é uma planta tipicamente tropical. Prefere regiões favorecidas


por precipitações anuais de 800 mm a 1.500 mm, distribuídas de 5 a 7 meses, mais uma
estação seca para o florescimento.
O cajueiro é cultivado, via de regra, em solos de textura arenosa, profundos
e com baixa capacidade de retenção de umidade, sob regimes hídricos normalmente
deficitários.
O desenvolvimento da irrigação na cultura do cajueiro está assentado no
emprego de clones melhorados de cajueiro anão precoce, em sistemas de cultivos
adensados, no controle fitossanitário eficiente e na utilização de fertilizantes de forma
equilibrada.
O cajueiro responde significativamente à irrigação sendo que a
produtividade do cajueiro anão precoce irrigado pode alcançar até 4.600 kg de castanhas
por hectare, no quarto ano de produção, com um incremento de 1.153% em relação ao
cajueiro comum sob sequeiro e ter o período de colheita ampliado para dez meses
(CRISÓSTOMO et al., 2001).
Dentre os métodos de irrigação atualmente em uso, a irrigação localizada é
o mais recomendável para o cajueiro anão, em função das seguintes vantagens:
- economia de água (maior eficiência de irrigação e redução de perdas de água por
evaporação);
- economia de energia (trabalha com vazões e pressões menores);
- possibilidade de aplicação de fertilizantes via água de irrigação (fertirrigação);
- redução da ocorrência de plantas daninhas e doenças foliares;
- pouca interferência nas pulverizações, capinas e colheitas.
Apresenta como desvantagens a necessidade de filtragem da água para evitar o
entupimento dos emissores, sendo o custo inicial mais elevado que de outros sistemas. Este
39

custo inicial maior é, porém, recuperado em poucos anos em função da menor demanda por
mão-de-obra e energia.
Na irrigação localizada podem ser usados como emissores microaspersores,
gotejadores e orifícios (xiquexique). O mais comum para o cajueiro anão tem sido o uso
de microaspersores, principalmente em solos arenosos.
Considerando o porte do cajueiro anão, devem ser utilizados
microaspersores com vazão de 30 a 100 litros por hora, que apresentem um diâmetro
molhado de 4 a 6 m.
Se o microaspersor permitir, é recomendável a redução do diâmetro molhado para 1 a 2
m durante o primeiro ano de cultivo.

7.3 REFERÊNCIAS

BARROS, L. de M. Aspectos técnicos do plantio e condução do cajueiral. In: LIMA, V. de P. M.


S. A Cultura do cajueiro no Nordeste do Brasil. Fortaleza, Banco do Nordeste do Brasil.
Escritório técnico de estudos econômicos do Nordeste, 1988. p. 159-193. (Estudos econômicos
e sociais, 35)

CRISÓSTOMO, L. A.; SEIXAS SANTOS, F. J.; OLIVEIRA, V. H.; RAIJ, B.; BERNARDI,A.
C. C.; SILVA, C. A.; SOARES, I. Cultivo do cajueiro anão precoce: aspectos fitotécnicos com
ênfase na adubação e na irrigação. Circular Técnica 10. Fortaleza, CE. Outubro, 2001. 8 p.

MEDINA, J. C. Cultura. In: MEDINA, J. C.; BLEINROTH, E. W.; BERNHARDT, L. W.;


HASHIZIME, T. Caju: da cultura ao processamento e comercialização. ITAL: Série frutas
tropicais-4. Campinas. 1978. p. 5-64.

OLIVEIRA, V. H. & BANDEIRA, C.T. Tratos culturais. In: BARROS, L. de M. (Org.).


Manual do caju. Brasília: EMBRAPA-SPI, 2001. n.p.

PARENTE, J. I. G. & OLIVEIRA, V. H. Manejo da cultura do cajueiro. In: ARAÚJO, J. P. P. &


SILVA, V. V. (Org.) Cajuicultura: modernas técnicas de produção. Fortaleza: EMBRAPA-
CNPAT, 1995. p. 203-247.

SEAGRI. Tratos culturais do cajueiro.


Disponível no site: <http://www.seagri.ba.gov.br/Caju.Tratos.culturais/htm>. Acesso em: 20 de
outubro de 2002.
40

8 NUTRIÇÃO MINERAL E ADUBAÇÃO

Reider Benevides Ferreira

8.1 INTRODUÇÃO

A cultura do caju destaca-se como uma das mais tradicionais, em termos


culturais, do Brasil. Por ser uma planta “símbolo” do nordeste brasileiro esta cultura
figura como uma das mais reconhecidas e mais apreciadas por toda a população.
Infelizmente, ao cajueiro tem sido destinados os piores solos, onde a maioria
das outras culturas teriam poucas chances de obter sucesso (BARROS, 1988).
Juntamente com a questão edáfica entra também a questão de conscientização do
potencial produtivo desta cultura, que por ser subjugada, lhe são subtraídos diversos
cuidados culturais que reduzem as chances da cultura demonstrar todo o seu potencial.
Neste aspecto entra a questão da fertilidade, mas necessariamente a adubação.
Uma adubação bem balanceada pode trazer incrementos significativos a
qualquer cultura, inclusive para a do caju. Assim sendo, toda informação pertinente a
este assunto é de grande importância para pessoas que pretendem trabalhar com esta
cultura.

8.2 ABSORÇÃO E EXTRAÇÃO DE NUTRIENTES

Haag et al. (1975); citados por BARROS (1988), estimaram a quantidade de


nutrientes absorvidos pelo cajueiro. Os resultados obtidos demonstraram que o
comportamento do cajueiro, com relação à absorção do nitrogênio, fósforo, potássio,
cálcio e magnésio são caracterizados por duas fases diferenciadas quanto à intensidade:
uma que vai até o oitavo ano e uma do oitavo até o décimo ano. A partir daí verifica-se
uma redução no ritmo de absorção e uma provável perda de nutrientes.
Em relação às quantidades absorvidas dos principais nutrientes observa-se a
seguinte seqüência:
N > K > Ca > Mg > S > P

No caso dos micronutrientes a seqüência em ordem decrescente de absorção


é: Fe, Mn, B, Zn e Cu.
41

8.3 NUTRIENTES E SINTOMAS DE DEFICIÊNCIA MINERAL

8.3.1 Nitrogênio

O nitrogênio é essencial na constituição e formação das proteínas, ácidos


nucléicos e aminoácidos dos vegetais. É o nutriente com maior resposta em relação ao
desenvolvimento vegetativo da planta sendo o nutriente mais absorvido pelo cajueiro
durante todo o seu ciclo de vida.
Os sintomas visuais de deficiência de nitrogênio começam com a
descoloração das folhas que passam, gradualmente, para um tom verde-claro e,
posteriormente, tornam-se amareladas. Os sintomas começam nas folhas mais velhas,
ou seja, as mais baixas, que se tornam cloróticas no ápice, secam e caem. Os sintomas
aparecem primeiro na região apical da folha, progredindo para a região central da folha
(BARROS, 1988).

8.3.2 Fósforo

O fósforo é um nutriente que, apesar de ser um dos menos absorvidos pelo


cajueiro, é um dos mais importantes. Participa da constituição de óleos e gorduras
vegetais e da síntese e transferência de energia na planta (ADP e ATP), além de ser um
dos que mais restringem as produções em regiões de solos tropicais, como no cerrado
brasileiro (PRIMAVESI, 1984).
Na ausência de fósforo a coloração das folhas varia, inicialmente, do verde
normal para um verde mais escuro, sendo mais intenso nas folhas superiores.
Posteriormente, as folhas podem assumir uma coloração verde-bronze. Neste estágio
mais avançado de carência as folhas velhas tornam-se verde-opacas e caem com muita
facilidade. As folhas mais jovens, em razão de terem o desenvolvimento afetado pela
carência do elemento, apresentam-se bem menores que as de plantas normais
(BARROS, 1988).

8.3.3 Potássio

Este elemento é um dos mais absorvidos pelas plantas, porém, ainda não foi
determinado nenhum composto na planta em que o potássio esteja fazendo parte de sua
42

composição. Apesar disto, este elemento é muito importante, pois participa da ativação
de muitas enzimas, participa do processo fotossintético, abertura e fechamento
estomático e regulação osmótica das células das plantas (BRADY, 1989).
Os sintomas de deficiência de potássio começam pelas folhas mais velhas,
que se tornam amareladas no ápice e ao longo das bordas, até próximo ao pecíolo.
Posteriormente a clorose avança para o limbo das folhas, permanecendo a coloração
verde apenas na base e até próximo ao centro. As margens e o ápice necrosam no
estágio mais avançado e os sintomas passam para as folhas superiores. As plantas não
desenvolvem ramos laterais e, na ausência total do elemento, morrem aos quatro meses
de idade (BARROS, 1988).

8.3.4 Cálcio

O cálcio é um elemento cuja função na planta é participar na estrutura


celular. É um dos principais componentes da lamela média das células, sendo, portanto,
o elemento mais importante na sustentação da planta. Ajuda na divisão celular, atua
como ativador enzimático e na resistência a doenças (POTAFOS, 1996).
Com relação aos sintomas de deficiência de cálcio, as folhas mais jovens
apresentam sintomas caracterizados por uma clorose e um menor desenvolvimento, com
ondulações resultantes de um maior crescimento do limbo em relação às nervuras
(BARROS, 1988).

8.3.5 Magnésio

O magnésio é absorvido na forma de Mg 2+. É um dos componentes da


clorofila. Uma vez que este elemento é móvel na planta, ele é facilmente translocado do
tecido mais velho para um tecido mais novo (POTAFOS, 1996).
Os sintomas se iniciam nas folhas inferiores e caracterizam-se por um
amarelecimento internerval que começa na nervura principal e caminha para os bordos.
As margens e o ápice, no entanto, permanecem verdes. Numa fase mais avançada, as
manchas cloróticas tornam-se mais escuras e surgem alguns pontos de necrose. Os
sintomas avançam rapidamente das folhas inferiores para as superiores. Uma
característica curiosa da carência de magnésio é que as plantas não sofrem paralisação
43

do seu crescimento, pelo contrário, crescem mais que as plantas sem carência deste
nutriente (BARROS, 1988).

8.3.6 Enxofre

O enxofre é reconhecido, junto com nitrogênio, o fósforo e o potássio, como


um nutriente-chave, necessário ao desenvolvimento da cultura. O enxofre é exigido para
a formação de aminoácidos e de proteínas, para a fotossíntese e para a resistência ao frio
(POTAFOS, 1996).
Os sintomas de deficiência aparecem logo nas folhas terminais que se
tornam cloróticas, a partir do ápice e das bordas. Posteriormente, as folhas tornam-se
mais rígidas com as partes afetadas tomando uma coloração avermelhada antes de se
necrosarem e encurvarem-se. Algumas folhas inferiores podem apresentar, também,
manchas avermelhadas entre as nervuras. Na ausência total deste nutriente o
crescimento é afetado, a planta não desenvolve ramos laterais e o número de folhas
terminais reduz-se a duas ou três (BARROS, 1988).

8.3.7 Boro

Os sintomas de deficiência são os de diminuição do ritmo de crescimento e


que, no início, ocorre um intumescimento do caule na região apical e axial das folhas.
Concomitantemente, ocorre a morte das células da região apical (BARROS, 1988).
O boro está intimamente ligado ao crescimento, divisão e formação celular,
desta forma, seus sintomas são mais característicos em situações onde se deveria
verificar crescimento da planta.

8.3.8 Ferro

A ausência de ferro paralisa completamente o crescimento das plantas e,


após sete semanas de carência, as plantas morrem. Os sintomas de carência começam
por uma severa clorose das folhas jovens as quais tornam-se estreitas e delicadas ao
tato. Somente as nervuras não sofrem alteração inicial de coloração (BARROS, 1988).
44

8.3.9 Manganês

Após seis semanas de idade as folhas mais novas apresentam coloração


verde pálida que, posteriormente, tornam-se verde-amareladas, com partes próximas das
nervuras permanecendo verdes. As plantas produzem pequeno número de folhas e o
crescimento torna-se bastante lento, embora desenvolvam um grande número de ramos
laterais. É comum o surgimento de pequenas folhas como num buquê, bem como, o
secamento e a queda prematura de folhas (BARROS, 1988).

8.4 CALAGEM E ADUBAÇÃO

8.4.1 Calagem

Além de constituir a forma mais barata de fornecimento de cálcio e


magnésio às plantas, a calagem promove uma melhoria generalizada nos aspectos
físicos e químicos do solo, tornando o ambiente favorável à absorção de alguns
nutrientes e diminuindo os efeitos maléficos de outros.
Na cultura do cajueiro admite-se que a calagem deve ser realizada de forma
a se obter uma saturação por bases ao redor de 60%. Para isso, utiliza-se o método de
Saturação por Bases, que leva em consideração da capacidade de troca de cátions dos
colóides do solo.

8.4.2 Adubação
As informações, da experimentação, no Brasil, não são suficientemente
consistentes para a elaboração de uma recomendação de adubação para o cajueiro.
Foram encontradas recomendações para os Estados do Maranhão e Ceará (Malavolta
1981; citado por BARROS, 1988) (Tabela 5).
Tabela 5. Recomendação de adubação para o cajueiro nos Estados do Maranhão e Ceará.

Estágio N P2O5 K2O


Plantio 30 40-120 10-30
1º ano 40 20-60 -
2º ano 50 30-70 30-90
3º ano 60 30-70 90-120
4º ano 100 30-90 50-150
5º ano em diante 120 30-90 50-150

Fonte: Malavolta (1981), citado por BARROS (1988)


45

A adubação deve ser realizada sempre em virtude do regime pluviométrico


de cada região, privilegiando as épocas em que haja ocorrência das chuvas.
Ao se proceder a adubação de cobertura ter sempre em mente que o cajueiro
tem o seu sistema radicular bastante desenvolvido, por este motivo, deve-se realizar a
adubação de cobertura ao redor da planta um pouco além da projeção da copa
(BARROS, 1988).
Adubações via foliar podem ser utilizadas, porém, adubações via solo são
preferíveis em função de custos de execução (BARROS, 1988).

8.5 REFERÊNCIAS

BARROS, L. M. Nutrição mineral e adubação. In: LIMA, V. P. S. (org.). Cultura do cajueiro no


nordeste do Brasil Fortaleza, Banco do Nordeste do Brasil. Escritório técnico de estudos
econômicos do Nordeste, 1988. p. 197-227.

BRADY, N. C. Natureza e propriedades dos solos. (trad. Antônio B. Neiva Figueiredo Filho) 7
ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1989. 898 p.

POTAFOS. Nutri-fatos: informação agronômica sobre nutrientes para as culturas. 1996.


Arquivo do Agrônomo nº 10. Piracicaba-SP. (Encontrado no site: http://potafos.org.br; acesso
em outubro de 2002.)

PRIMAVESI, A. Manejo ecológico do solo: a agricultura em regiões tropicais. 6ed. São Paulo:
Nobel, 1984. 549 p.
46

9 PRAGAS
Aline Cavalcante Rodrigues de Oliveira
Rosana Gonçalves Barros
Osvaldo Antunes de Souza

9.1 INTRODUÇÃO

O cajueiro (Anacardium occidentale L.) apresenta problemas de ordem


fitossanitária que crescem a cada ano nas diferentes áreas produtoras. Os levantamentos
sistemáticos de praga e inspeções realizadas periodicamente vêm mostrando um
aumento sensível da ocorrência de insetos e ácaros nessa cultura, alguns dos quais
apresentando alta potencialidade como praga (LIMA, 1988).
Até o momento não foi estabelecido o nível de dano econômico das pragas
do cajueiro, em razão das características da cultura e da difícil avaliação da produção.
Contudo, pode-se adimitir que os insetos considerados como mais importantes podem
ser responsabilizados por elevadas perdas (LIMA, 1988).
Segundo MELO & BLEICKER (1998) as pragas que prejudicam o cajueiro
podem ser reunidas em cinco grupos distintos: 1. Pragas desfolhadoras; 2. Pragas DA
época da floração e frutificação; 3. Pragas que atacam mudas; 4. Pragas de castanhas e
frutos armazenados e 5. Ácaros.
Dentre as pragas existentes na cultura do cajueiro, as mais importantes são:

9.2 BROCA-DAS-PONTAS (Anthistarcha binoculares)

O adulto é uma pequena mariposa, de coloração cinza e com as asas


esbranquiçadas salpicadas de preto. O inseto faz postura na ponta dos galhos. Após a
eclosão, as lagartas penetram no tecido tenro e movem-se em direção ao centro do galho
abrindo galerias.
É fácil verificar a presença da praga, pois os cajueiros atacados apresentam
folhas e inflorescências murchas ou secas, havendo ou não acúmulo de goma próximo
do orifício lateral. As lagartas expelem excrementos que ficam, às vezes, denunciando a
presença da praga. Afeta diretamente a produção, pois, abre galerias nas pontas dos
ramos e nas inflorescências, provocando sua murcha e secamento (LIMA, 1988).
O ataque da broca se caracteriza por haver exsudação de resina pelo local de
penetração das lagartas, o que permite que se diferencie dos sintomas de antracnose
47

(GALLO, 1988).
O controle pode ser realizado por meio de pulverizações a serem iniciadas
no começo da floração e frutificação. Entre os inseticidas indicados estão produtos à
base de fenitrotiom CE 50, malatiom 50 CE, carbaryl 80 PM.

9.3 TRAÇA DAS CASTANHAS (Anacampsis sp.)

Causa graves danos econômicos, visto que sua ação resulta na destruição da
amêndoa. O inseto adulto é um microlepdóptero com cerca de 2 cm de comprimento,
coloração escura com pequenas áreas claras nas asas. Na fase de lagarta ataca
internamente a castanha; destruindo toda a amêndoa e tornando-a imprestável para a
comercialização. Próximo a atingir a fase pupal e após destruir toda a amêndoa, a larva
faz um orifício na parte apical da castanha por onde deverá sair o adulto. O controle
pode ser feito com a pulverização dos frutos ainda novos com produtos à base de
fenitrotion CE 50 ou malathion 50 CE.

9.4 PULGÃO-DAS-INFLORESCÊNCIAS (Aphis gossypii)

Os pulgões, ao sugar intensamente as inflorescências, causam a seca e,


consequentemente, diminuem a quantidade destas por planta, com reflexos diretos na
produção. É um inseto de tamanho pequeno, áptero ou alado, de cor variável do
amarelo-claro ao verde-escuro. Vive em colônias numerosas nas inflorescências e frutos
jovens onde suga a seiva. Os indivíduos alados são responsáveis pela disseminação
desta praga pela cultura (LIMA, 1988).
As inflorescências atacadas ficam murchas ou secas, como se fossem
prejudicadas pela antracnose; os maturis ficam deformados; há o aparecimento da
"mela", substância excretada pelo inseto e que serve de substrato para o aparecimento
do fungo (fumagina), que recobre as folhas e as inflorescências.

9.5 TRIPES (Selenotrips rubrocinctus)

Os adultos, de coloração geral preta ou marrom escuro medem cerca de 1mm


de cumprimento. As fêmeas introduzem os ovos sob a epiderme das folhas e cobre-os
com uma secreção que se torna escura ao secar. As formas jovens são em geral
48

amareladas e com os dois primeiros segmentos abdominais vermelhos. Carregam entre


os pelos terminais do abdômen, uma pequena bola de excremento líquido. O ciclo
evolutivo completo leva cerca de 30 dias (GALLO, 1988).
Este mesmo autor cita, que plantas novas são mais sensíveis e podem morrer
quando o ataque é muito intenso. O ataque de tripes pode ocorrer em qualquer época do
ano, mas é maior nos períodos de estiagem e dão preferência às folhas de meia idade,
onde formam colônias numerosas.
Para este mesmo autor o método de controle mais recomendado é através do
uso de inseticidas clorofosforados de contato e outros sistêmicos, como dimetoato,
ometoato, monocrotofos etc..

9.6 VÉU-DE-NOIVA (Thagona sp.)

A lagarta véu-de-noiva é de ocorrência esporádica, limitada a pequenos


focos, sem expressão econômica. Onde ataca com intensidade, causa desfolha total ou
parcial das folhas.
A mariposa é branca, com 12 mm de envergadura e corpo recoberto de
escamas que se desprendem facilmente (CAVALCANTE, 1974).

9.7 BROCA DO CAULE (Marshallius sp.)

A larva é curculioniforme, de coloração branca com cabeça escura,


guarnecida de fortes mandíbulas, bem desenvolvidas, medindo cerca de 15,5 mm de
comprimento. O inseto adulto atinge 10,0 mm de comprimento, apresentando desenhos
característicos desde o tórax até os élitros. A coloração é marron-escura, com pequenas
manchas claras e pretas. Os élitros apresentam cerdas e linhas puntiformes com uma
cerda esbranquiçada no centro de cada punctura. No início do ciclo evolutivo, as larvas
são encontradas em galerias na superfície do caule, logo abaixo da casca. À medida que
vão se desenvolvendo, aprofundam-se cada vez mais em seu interior. Quando
completamente desenvolvidas, penetram no lenho (CAVALCANTE, 1974).
Os adultos têm hábito noturno. Durante o dia são encontrados por baixo da
casca do caule das plantas atacadas. Os insetos, ao abandonarem a planta, deixam a
marca de sua presença através de vários furos visíveis ao longo do caule seco. O inseto
ataca de cima para baixo, iniciando o ataque nas pontas dos galhos, descendo à medida
49

que estes vão secando. Para o controle dessa praga é recomendável o corte e queima de
galhos das plantas atacadas, evitando a sua disseminação (CAVALCANTE, 1974).

9.8 LAGARTA-SAIA-JUSTA (Cicinnus callipius)

Seu ataque acontece em época de início de floração, podendo prejudicar a


produção pela diminuição da área foliar das plantas, como também a destruição parcial
ou total das inflorescências e brotações novas. Geralmente tecem teias, prejudicando o
desenvolvimento normal dos cajueiros. As lagartas nos primeiros estágios ficam
agrupadas nas folhas do cajueiro, passando os últimos ínstares separadas, envolvidas em
uma folha, que lhe serve de abrigo. Esse invólucro apresenta na parte central um
diâmetro maior, semelhante a uma saia justa, daí seu nome vulgar, sendo também
conhecida como minissaia. Ao se locomover, a lagarta transporta o abrigo por ela
construído (BASTOS, 1975).
A lagarta apresenta um comprimento aproximado de 60 mm. Cabeça preta,
o protórax preto com duas manchas brancas, localizadas na área subespiracular. Área
dorsal supraespiracular, preta com manchas brancas. Área subdorsal preta. Pernas
verdadeiras pretas. As partes dorsal e lateral do abdômen são negras ou marrons com
numerosas granulações brancas. O oitavo, nono e décimo segmentos abdominais são
mais escuros (BASTOS, 1975).

9.9 LAGARTA VERDE (Eacles imperialis magnífica)

Estas lagartas atacam o limbo foliar, podendo desfolhar completamente as


plantas (LIMA, 1988). São mariposas amarelas com numerosos pontos escuros nas asas,
cortadas por duas faixas de cor violácea escura, apresentando ainda duas manchas
circulares da mesma cor. Apresentam dimorfismo sexual. As fêmeas são maiores que os
machos e mostram suas asas menos manchadas. Fazem postura em grupos sobre as
folhas. Os ovos são de coloração amarela, o período de incubação é de 6 a 12 dias. As
lagartas chegam a atingir de 80 a 100 mm de comprimento; são de coloração variável de
verde alaranjado, amarelo e marrom. A transformação em crisálida ocorre no solo.
50

9.10 MOSCA BRANCA (Aleurodiclis cocois)

A forma adulta assemelha-se a uma pequena mosca, de cor branca, daí seu
nome vulgar. São insetos alados, com 4 asas membranosas cobertas por uma secreção
pulverulenta, com 2 mm de comprimento e 4 mm de envergadura. Suas ninfas são
achatadas, elípticas, presas às folhas, medindo 1 mm de comprimento, de coloração
amarelada, mas que ficam envolvidas e rodeadas por uma cerosidade branca que pode
recobrir toda a folha atacada.
Localizam-se na face inferior das folhas, agrupadas em colônias numerosas,
protegidas por secreção pulverulenta branca. Na face dorsal desenvolvem-se colônias de
fungos, exibindo um contraste de coloração negra, opaca, dando à planta um aspecto
característico do ataque (LIMA, 1988).

9.11 BESOURO VERMELHO (Crimissa cruralis)

O besouro vermelho do cajueiro é de ocorrência comum, principalmente no


Estado do Ceará, onde causa desfolhamento intenso nas plantas. Tanto as larvas como
os adultos são fitófagos, destroem o limbo foliar causando sérios prejuízos. As larvas
são mais vorazes que os adultos, provocando maiores danos. A época do ataque é,
geralmente, após o período de produção, o que diminui seu valor como praga. Pode
ocorrer esporadicamente em épocas de pleno florescimento e frutificação, devendo
concorrer, sem dúvida, para uma menor produção (MELO et al., 1979).
Os adultos deste besouro são de coloração vermelha, de formato elíptico,
medindo cerca de 10 mm de comprimento e as pernas são negras. A larva mede cerca de
20 mm de comprimento, de coloração verde-lodo, de movimentos lentos, porém
bastante voraz. A ocorrência dessa praga dá-se nos messes de janeiro a abril, com
aparecimento esporádico em outubro e novembro (MELO et al., 1979).
O controle natural deste inseto pelo fungo Beauveria bassiana (Balls.)
Vuillermin é bastante intenso, atingindo larvas e adultos (MESQUITA & MELO,
1991).
9.12 DÍPTERO DAS FOLHAS (Contarinia sp.)

Na época do lançamento das folhas novas, o cajueiro é atacado intensamente


por esse díptero. A fêmea faz a postura internamente no tecido vegetal. Como reação da
51

planta, há formação de galhas, onde vivem as larvas, podendo causar deformação e


redução da área foliar. Há uma nítida preferência pelas folhas arroxeadas, ricas em
antocianina. Folhas severamente atacadas chegam a secar e cair provocando
desfolhamento das plantas. Em plantas novas, o ataque dessa praga pode constituir
problema, por prejudicar o seu desenvolvimento (LIMA, 1988).

9.13 REFERÊNCIAS

BASTOS, J.A.M. Caracterização de algumas lagartas-pragas do estado do Ceará, Brasil.


Fitossanidade. 1975. Fortaleza, 1(2):35-37.

CAVALCANTE, R.D. Cultura do caju. In: Curso de especialização em fruticultura. Recife,


1974. p. 20-22.

GALLO, DOMINGOS et al. Manual de Entomologia agrícola São Paulo, Ed. Agronômica
Ceres, 2a edição, 1988, 649p.

LIMA, V. de P. M. S. A Cultura do cajueiro no Nordeste do Brasil. Fortaleza, Banco do


Nordeste do Brasil. Escritório técnico de estudos econômicos do Nordeste, 1988. p. 72.
(Estudos econômicos e sociais, 35)

MELO, Q.M.S.; CAVALCANTE, M.S.L.; MELO, F.I.O. & CAVALCANTE, R.D. Incidência
de pragas nos cajueiros do Ceará. 1979. 1.ed. 13p. (Com. Téc.).

MELO, Q.M.S.; BLEICHER, E. Pragas do cajuzeiro. In: SOBRINHO, R.B.;CARDOSO, J.E.;


FREIRE, F. das C.O. Pragas de frutíferas tropicais de importância agroindústrial Brasília:
EMBRAPA-SPI; Fortaleza: CNPAT, p. 54 - 79, 1998.

MESQUITA, AL.M.; MELO, Q.M.S. Inimigos naturais de desfolhadores do cajueiro: I.


Primeira lista. Fortaleza: Embrapa-CNPCa, 1991. 4p. (Embrapa-CNPCa Comunicado técnico
1)
52

10. DOENÇAS
Iron Daniel da Silva
Cecília Peixoto do Nascimento
Jair Inácio de Oliveira Júnior

10.1 DOENÇAS FÚNGICAS

10.1.1 Antracnose (Glomerella cingulata; C. gloeosporioides)

Dentre as doenças que afetam o cajueiro, é a mais amplamente disseminada,


tendo sido constatada praticamente em todos os países onde se cultiva o cajueiro
(TEIXEIRA, 1988).
É a enfermidade mais importante da cultura, podendo ocorrer em qualquer
fase de desenvolvimento da planta (MENEZES, 1997; UCHOA & CARDOSO, 2002).
No Nordeste brasileiro encontra-se disseminada em todas as áreas de cultivo do
cajueiro, sendo bastante severa em épocas mais úmidas e temperaturas menores. O
fungo, agente causal da doença, sobrevive como saprófita no tecido morto, podendo ser
disseminado através de insetos, respingos de chuva e mudas infectadas (MENEZES,
1997).
Os sintomas da antracnose aparecem nos tecidos jovens da planta. Nas
folhas, as manchas necróticas apresentam coloração pardo-avermelhada, formato
irregular e de tamanho variável de acordo com o local de penetração do patógeno.
Quando as manchas necróticas aparecem na margem de um dos lados da folha, esta se
apresenta distorcida, com curvatura pronunciada, devido ao crescimento desigual do
tecido sadio em relação ao tecido afetado. Na inflorescência, os sintomas se manifestam
causando queima e queda de flores. É comum a formação de lesões necróticas escuras
na haste floral, de formatos alongados, que evoluem de modo a atingir toda a
inflorescência que seca completamente. Nos ramos, são formadas lesões necróticas,
deprimidas escuras, podendo apresentar fendilhamento do tecido afetado. Nos frutos, a
doença pode ocorrer em todas as fases de seu desenvolvimento. Os frutos novos tornam-
se escuros, deformados e atrofiados, enquanto os maduros apresentam lesões necróticas,
escuras, deprimidas, atingindo boa extensão da sua superfície e, freqüentemente,
exibindo fendilhamento da área necrosada (TEIXEIRA, 1988; MENEZES, 1997).
53

O emprego de medidas culturais como poda de limpeza e queima do material


doente, antes do início da brotação, representa medida auxiliar de controle, por reduzir o
potencial de inóculo presente na área. A doença pode também ser controlada através do
uso de produtos químicos recomendados para a cultura, aplicados em pulverizações
iniciadas quando da emissão das folhas novas, logo após as primeiras chuvas e também
durante a floração, em intervalos quinzenais. Em geral, três a quatro aplicações são
suficientes para obtenção de um bom controle (MENEZES, 1997).
No entanto, TEIXEIRA (1988), ressalta problemas de ordem técnica e
econômica na realização do controle químico da doença, em virtude da extensão dos
pomares comerciais, do porte alto das plantas, da desuniformidade de suas copas e da
falta de equipamento adequado disponível ao produtor, além do desconhecimento da
relação custo/benefício do tratamento químico na cultura.
Conforme MENEZES (1997), o uso de variedades resistentes constitui uma
boa perspectiva para o controle da antracnose do cajueiro.

10.1.2 Oídio ou Cinza do cajueiro (Erysiphe polygoni; O. anacardii)

É uma doença importante, principalmente quando incide sobre a inflorescência,


impedindo a formação dos frutos. A doença torna-se mais severa logo após o período
chuvoso, quando a umidade relativa e temperatura são elevadas. O patógeno causador da
doença, pode ser facilmente disseminado pelo vento e pelos insetos e como o seu crescimento
é superficial, chuvas pesadas removem o micélio do limbo foliar ou de qualquer outro órgão
afetado (MENEZES, 1997).
É de ocorrência generalizada nos cajueirais do Nordeste brasileiro,
principalmente naqueles localizados em áreas de alta umidade, próximos à costa, porém,
não possui a mesma importância da antracnose pelo fato do seu ataque, na maioria das
vezes, se restringir às folhas mais novas (TEIXEIRA 1988).
Em trabalhos realizados por SHOMARI & KENNEDY (1998) e SHOMARI
(1999), foi constatado que o patógeno sobrevive de uma estação a outra, em brotos
imaturos e flores dos ramos principais, localizados no interior da copa das plantas do
cajueiro. Estes brotos constituem a principal fonte de inóculo em todas as localidades
pesquisadas, contribuindo para a perenização da doença no campo.
Os sintomas são caracterizados por um delicado crescimento branco-
acinzentado, na superfície das folhas e inflorescências, constituídos por micélio,
54

conidióforos e conídios do patógeno. O fungo emite, para o interior do tecido


hospedeiro, órgãos especiais denominados haustórios, que absorvem os nutrientes
diretamente das células epidérmicas. Em decorrência disto, o tecido afetado exibe
pontos necróticos, escuros, mais pronunciados na face inferior da folha. Com a evolução
dos sintomas, pode ocorrer a queda prematura de folhas e flores. O patógeno pode
penetrar no tecido da planta em qualquer fase de seu desenvolvimento (TEIXEIRA
1988; MENEZES, 1997). NATHANIELS (1996) descreveu uma metodologia para
acompanhamento da severidade da doença no campo, com base em diagramas padrões
da doença nas inflorescências, folhagens, pseudofrutos e frutos.
O controle pode ser feito com aplicações de fungicidas recomendados e
registrados para a cultura. Fungicidas a base de enxofre são eficientes no controle da
doença, tendo-se o cuidado de evitar as horas quentes do dia devido a problema de
fitotoxidez (MENEZES, 1997). Vários trabalhos realizados na Tanzânia demonstram o uso
do enxofre no controle do oídio (SMITH et al., 1995; NATHANIELS & KENNEDY, 1996;
SMITH et al., 1998). No entanto, SMITH et al. (1998) e MAJULE et al. (1997), chamam a
atenção para o efeito da acidificação do solo, causada pelo uso do enxofre, não sendo,
portanto, ambientalmente sustentável, e propõem métodos alternativos para o controle
da doença.
MASAWE et al. (1997), ao estudarem o ataque e desenvolvimento da doença
sobre as panículas em floração de cajueiros como uma medida da resistência, encontraram
indicação de um ataque mais lento sobre as panículas de clones resistentes, durante os
estádios iniciais da enfermidade. Os autores também observaram que o triadimenol
(Bayfidan) usado na dosagem de 20 ml/litro mostrou controle satisfatório. Da mesma
forma, SIJAONA & MANSFIELD (1998 e 1999) e SIJAONA et al. (2001) observaram que
a infecção em folhas e flores possui uma alta significância na correlação positiva da
resistência ao oídio, levando-se a concluir que estudos realizados em laboratório com
estes órgãos poderão apresentar uma rápida indicação do potencial de resistência de
genótipos.

10.1.3 Mancha de pestalotia ou Pestalosiose (Pestalotiopsis guepinii)

É uma doença de ocorrência comum e geralmente associada à antracnose. A


importância da mancha de pestalotia é secundária, embora ocorra praticamente durante
o ano todo mascarada pela antracnose. Condições de alta temperatura e umidade
55

favorecem o desenvolvimento dos sintomas e os conídios do fungo podem ser


disseminados pelo vento, insetos e respingos de chuva (MENEZES, 1997). Foi
constatada pela primeira vez no Nordeste em 1970, em condições de viveiro, no Estado
do Ceará e em plantas adultas no Estado do Maranhão (Ponte, 1971; citado por
TEIXEIRA 1988).
Os sintomas são manchas necróticas pequenas, aproximadamente circulares
quando distribuídas no limbo foliar, e maiores, quando localizadas no ápice ou bordo da
folha. As manchas são pardo-acinzentadas, com bordos mais escuros em relação à parte
central. Em condições favoráveis ao desenvolvimento, ocorre coalescência de lesões.
Na área foliar afetada, em condições mais úmidas, são observadas pontuações escuras
representadas pelos acérvulos do fungo. Os frutos também podem ser afetados,
apresentando lesões necróticas escuras e deprimidas (MENEZES, 1997).
Como a pestalosiose, na maioria das vezes, está associada à antracnose, podem ser
empregadas as mesmas medidas e produtos utilizados no controle da antracnose (MENEZES,
1997).

10.1.4 Mancha de phopmopsis (Phomopsis anacardii)

O agente causal da doença é relatado como uma nova espécie atacando


folhas de cajueiro no Kênia, Nigéria, Guiné e Cuba. No Brasil, mais precisamente no
Nordeste, foi detectado no Ceará, Paraíba e Pernambuco (MENEZES, 1997).
Os sintomas podem ser observados nas folhas e inflorescências do cajueiro,
sendo nas folhas pequenas lesões necróticas, circulares, de aproximadamente 3 mm de
diâmetro, coloração pardo-escura com halo amarelo, distribuídas na superfície do limbo.
Na inflorescência, ocorre a queima e queda de flores, podendo ser estes sintomas
confundidos com os da antracnose. Na haste floral morta, pode ser visualizada, com
auxílio de lupa, a presença dos sinais do patógeno. A doença vem sendo observada após
o período das chuvas, quando a umidade do ar e a temperatura são elevadas
(MENEZES, 1997).

10.1.5 Mofo preto (Perisporiopsella anacardii)

Este fungo cresce na superfície inferior da folha, onde forma uma massa
escura, constituída pelas estruturas do patógeno. Emite haustórios para dentro do tecido
56

foliar, absorvendo os nutrientes necessários ao seu crescimento. Em conseqüência, o


tecido afetado apresenta manchas cloróticas, tornando-se posteriormente necrosadas.
Embora de ocorrência freqüente, principalmente em períodos úmidos e quentes, há
escassez de estudos sobre a doença (MENEZES, 1997).
Conforme PONTE (1984), deve se proceder como medidas de controle para
esta doença, uma poda de limpeza e arejamento do pomar; e posteriormente a esta
operação, fazer pulverizações usando produtos a base de cobre, com intervalos de 15 a
30 dias dependendo da maior ou menor prevalência das condições favoráveis ao
patógeno.

10.1.6 Fumagina (Capnodium spp.)

A fumagina é caracterizada por um revestimento preto, de aspecto


fuliginoso, que cobre a superfície da folha. Sua freqüência está associada à presença de
coccídeos que secretam substâncias açucaradas nas folhas, das quais o fungo se nutre.
Esta fuligem pode ser facilmente removida da folha. As espécies de Capnodium
interferem no processo fotossintético, prejudicando o metabolismo normal da planta. A
doença pode ser controlada, indiretamente, pelo controle das cochonilhas (MENEZES,
1997).

10.2 DOENÇAS BACTERIANAS

10.2.1 Murcha bacteriana ( Ralstonia solanacearum = P. solanacearum)

Há relato dessa doença na Indonésia, causando podridão de raízes, murcha e


eventualmente morte de árvores afetadas. As bactérias isoladas das raízes infectadas
foram identificadas como Biovar III de R. solanacearum, raça 1. Esta identificação
sugeriu o nome da doença como murcha bacteriana do cajueiro (SHIOMI et al., 1991).

10.3 DOENÇAS VIRÓTICAS

Até o momento não foi comprovada nenhuma enfermidade provocada por


vírus na cultura do cajueiro.
57

10.4NEMATÓIDES

10.4.1 Xiphinematose das raízes (Xiphinema sp.)

Segundo Lima et al. (1975), citados por TEIXEIRA (1988) foram


encontradas altas populações das espécies de nematóides Xiphinema sp., Criconemoides
sp. e Scutellonema sp. na cultura do cajueiro. De um modo geral, considera-se que o
parasitismo desses vermes seja mais expressivo apenas em plantas novas de cajueiro,
principalmente em viveiros.
Este nematóide parasita as raízes finas, provocando o aparecimento de
pequenas lesões necróticas (Fonte, 1971; citado por TEIXEIRA, 1988). Devido os
danos causados por esses vermes ainda serem pequenos, não foi estudado um método
específico de controle.

10.5 REFERÊNCIAS

MAJULE, A. E.; TOPPER, C. P. & NORTCLIFF, S. The environmental effects of dusting cashew
(Anacardium occidentale L.) trees with sulphur in Southern Tanzania. Tropical Agriculture, v. 74, n.
1, p. 25-33, 1997. (Abs.)

MASAWE, P.A.L.; CUNDAL, E. P. & CALIGARI, P.D.S. Powdery mildew (Oidium anacardii) onset
and development on flowering panicles of cashew clones (Anacardium occidentale L.) as a measure of
clone resistance. Tropical Agriculture, v. 74, n. 3, p. 229-233, 1997. (Abs.)

MENEZES, M. Doenças do cajueiro (Anacardium occidentale L.). In: KIMATI, H.; AMORIM, L.
BERGAMIN FILHO, .A.; CAMARGO, L.E.A.; REZENDE, J.A.M. Manual de Fitopatologia:
Doenças das plantas cultivadas. v.2. São Paulo: Editora Agronômica Ceres, 1997, p. 201-206.

NATHANIELS, N.Q.R. Methods, including visual keys for the assessment of cashew powdery
mildew (Oidium anacardii Noack) severity. International Journal of Pest Management, v. 42, n. 3,
p. 199-205, 1996. (Abs.)

NATHANIELS, N.Q.R. & KENNEDY, R. Variation in severity of cashew powdery mildew (Oidium
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59

11 COLHEITA E PÓS-COLHEITA
Ana Flávia Costa Lima Felipe
Arcângela C. da C. Pedreira Pereira

O principal produto da cajucultura é amêndoa de castanha, o pedúnculo é


pouco aproveitado, chegando a sofrer perdas bastante elevadas, possuindo vida útil pós-
colheita curta devido a sua alta atividade metabólica (PRAÇA et al., 2002). Porém,
segundo MOURA et al. (2001), o crescimento do consumo de pedúnculo como fruta de
mesa vem aumentando consideravelmente a cada safra, tanto pela abertura de novos
mercados como pela consolidação dos mercados tradicionais. Isto ocorreu devido
principalmente aos novos plantios feitos com cajueiro-anão precoce que, por apresentar
porte baixo, permite a colheita manual com maior aproveitamento e redução das perdas.
MENEZES & ALVES (1995), acreditam que a comercialização do pedúnculo in natura
só terá expressão, se houver o desenvolvimento de técnicas de pós-colheita adequadas,
que permitam estender a vida útil desse produto. Caso contrário, continuarão ocorrendo
perdas pós-colheita, que apenas no campo chegam a quase 90%.
O período de safra do caju no Nordeste brasileiro tem início em fins de
setembro, prolongando-se até dezembro, sendo que só no mês de novembro são
colhidos mais de 50% da produção anual. A castanha, pelo fato de ser pouco perecível,
pode permanecer por mais tempo no campo à espera da apanha (FRANÇA, 1988).
A maioria dos produtores e apanhadores vende de imediato sua produção,
porque são, geralmente, obrigados a fazê-lo por estarem amarrados a contratos de
financiamento oficiais ou não, bem como em virtude da necessidade de recursos para
preparar o terreno para o plantio de outras culturas. Somente um pequeno número de
grandes e médios produtores possuem poder de barganha para aguardar melhores preços
após o período de colheita.
Já a colheita do pedúnculo é bastante complexa em função de seu alto grau
de perecibilidade, visto que, após 48 horas de colhido fica imprestável para a
industrialização (SOARES, 1986). Portanto, o manuseio cuidadoso é necessário para
preservar a qualidade subsequente dos pedúnculos. Isto se faz necessário devido ao alto
teor de umidade e à fragilidade do epicarpo ( MENEZES, 1994).
O pedúnculo de caju não amadurece fora do pé, por ser um fruto não-
climatério, razão pela qual só pode ser colhido quando estiver completamente maduro.
A colheita tem que ser criteriosa visando prolongar o tempo de preservação do fruto. A
60

maneira mais adequada para a colheita do caju é através do emprego de varas, tendo na
extremidade um aro de ferro fino (3/16”) de aproximadamente 20 cm de diâmetro e, preso a
este uma sacola, suficiente para colher de 5 a 8 cajus. Com o emprego deste método evita-se
machucaduras, ou cortes prejudiciais à estrutura do vegetal, que constituem portas abertas à
penetração e crescimento de microorganismos indesejáveis (SOARES, 1986).
Os pedúnculos devem estar no estágio adequado de maturação, isentos de
pragas e doenças e apresentarem uma boa conformação e aparência. Na prática,
observou-se que os cajus de coloração vermelha são de constituição mais firme, e,
portanto, apresentam maior potencial de conservação do que os de película amarela,
assim como uma maior aceitação no mercado (SOARES, 1986).
Os cajus colhidos são colocados em baldes de plástico de 15 a 20 litros de
capacidade, contendo cerca de 1/3 de água fria. Esse procedimento impede que os cajus
fiquem machucados e que a temperatura se eleve demasiadamente. Outra opção,
recomendada pelo Centro de Informações Tecnologicas e Comerciais para Fruticultura
Tropical (2003), é colher os frutos e colocá-los em caixas de plástico com aberturas nas
laterais e no fundo, com aproximadamente 15 cm de profundidade e forradas com
espuma (aproximadamente 1cm de espessura). Ainda no campo, pode ser feita uma pré-
seleção, desde que se observe o cuidado de manter os frutos à sombra e pelo menor
tempo possível.

11.1 TRANSPORTE

O transporte da castanha crua é feito em caminhões, que recolhem o produto


na fonte produtora, indo vender ou entregar aos agentes compradores, quando são feitas
a pesagem e classificação para efeito de pagamento (FRANÇA, 1988).
Já o transporte do pedúnculo é mais especializado, tendo em vista seu alto grau
de perecibilidade e sua pouca resistência. Desse modo, a colheita é feita por pessoas
previamente credenciadas pelos fabricantes de sucos e doces, os quais já conhecem todo o
processo de colheita.
Para a conservação do caju é fundamental que a colheita seja iniciada de
manhã cedo e, que o calor do fruto seja removido o mais rapidamente possível, logo
depois de colhido (SOARES, 1986).
61

11.2 SELEÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E BENEFICIAMENTO

O beneficiamento da castanha é simples e de custo reduzido em razão do


seu alto poder de conservação, podendo chegar a dois anos sem perdas significativas
(FRANÇA, 1988). Inicialmente, faz-se a classificação de acordo com o teor de umidade
(não pode ultrapassar 9%) e os percentuais de castanhas estragadas e de castanhas
pequenas (cajuí). Toda essa castanha é guardada em grandes depósitos, onde é posta a
granel ou ensacada. Na segunda fase são feitas a pré-lavagem, para retirar a terra
misturada à castanha, e a classificação por tamanho. Daí em diante, a castanha já está
pronta para ser industrializada. Nesta fase, são eliminadas as castanhas chochas e
estragadas.
O beneficiamento do pedúnculo inicia-se com uma primeira classificação
no campo, seguida da retirada da castanha (quando for para a indústria), sendo, no
entanto, o material que chega à fábrica ainda sujeito a uma segunda classificação
para entrar no processo produtivo.
Ao chegar ao packing-house os pseudofrutos são pesados e lavados em água
fria para retirar a terra que estiver aderida. Numa segunda lavagem os frutos são
transportados em bandejas teladas para outro tanque contendo água clorada (20 ppm) à
baixa temperatura, por um período não superior a 10 minutos, para controlar
microorganismos e dar continuidade ao pré-resfriamento inicial. Uma terceira lavagem
poderá ser feita para efetuar um tratamento com substância preservativa antifúngica,
evitando-se posterior contaminação. Em seguida os frutos serão transportados em
bandejas para mesas adequadas onde se processará a seleção final dos cajus tipo
exportação ou encaminhados para o processamento nas indústrias de sucos e doces.
Tendo em vista que o pedúnculo só mantém suas propriedades
organolépticas à temperatura ambiente, até 48 horas após ser colhido, todo o processo
anteriormente descrito tem que ser feito imediatamente após a chegada do pedúnculo do
campo, visto que o período de armazenagem possível gira em torno de 12 horas
(FRANÇA, 1988).
Segundo MENEZES & ALVES (1995), apesar de o pedúnculo do caju
apresentar um conteúdo elevado de taninos, e assim, conter uma barreira química contra
a infecção de microrganismos, ele não apresenta resistência física quanto à penetração,
por possuir um conteúdo elevado de umidade e uma película de revestimento bastante
62

fina. Os principais fungos de pós-colheita que atacam o pedúnculo do caju são:


Colletotrichum, Rhizopus, Arpergillus, Penicillium e Botrytis.
Os cajus selecionados deverão ter boa aparência e conformação e peso não
inferior a 90 gramas. A seguir serão classificados por tamanho, coloração e conformação
(SOARES, 1986). Os cajus devem ser dispostos em bandejas de 21cm x 14cm,
envolvidas com filme plástico flexível e autoaderente de PVC. As bandejas devidamente
etiquetadas, em número de três ou quatro, variando de acordo com a exigência do
mercado consumidor, devem ser acondicionadas em caixa de papelão tipo peça única,
sem tampa, que favoreçam o encaixe e a paletização. Cada bandeja deve conter entre
550 a 800g (Embrapa Agroindústria Tropical, 2003).

11.3 ACONDICIONAMENTO E ARMAZENAMENTO

As castanhas são acondicionadas em latas de folha de flandre e em


seguida é feito o vácuo (retirando-se o ar do interior da lata) e, imediatamente, faz-
se uma aplicação de CO 2, e rapidamente recrava-se a lata. Nestas condições, com a
lata evacuada, e com a presença de CO 2, que é um gás inerte, e o baixo teor de
umidade das amêndoas, há uma adequada conservação do produto, pois não há
condições para o desenvolvimento de insetos, germes ou microorganismos
deteriorantes (SOARES, 1986). A armazenagem é feita à temperatura ambiente em
caixas de papelão.
Para os cajus in natura, após serem colocados em caixas, são mantidos
em câmara de refrigeração com temperatura de zero a 1ºC e umidade relativa de
85% a 90%. As caixas deverão permanecer em armazenagem por um período não
superior a dez dias.
MORAIS et al. (2002) estudando o efeito do armazenamento refrigerado de
pedúnculos de cajueiro-anão precoce, verificaram que o uso da refrigeração (5ºC e 85%
U.R), associada a atmosfera modificada, proporcionou uma vida útil pós-colheita de
até 10 dias para o clone END 189, 15 dias para o clone END 157 e de até 25 dias
para os clones CCP 76 e END 183.
HAFLE et al. (1999), analisando o efeito da aplicação de cloreto de
cálcio na vida útil de pedúnculos de cajueiro, concluíram que a aplicação de cloreto
de cálcio de 0,5% em pré-colheita em pedúnculos de cajueiro, armazenados em
atmosfera modificada tiveram menor incidência de podridões.
63

11.4 REFERÊNCIAS

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//www.ceinfo.cnpat.embrapa.br/index2html>. Acesso em: 7 de novembro de 2003.

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Cultura do Cajueiro no Nordeste do Brasil. Fortaleza, CE, 1988. Banco do Nordeste do
Brasil. Cap. 14, p. 425-427.

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MENEZES, J. B. Pós-colheita do pedúnculo do caju. Informe Agropecuário, Belo Horizonte,


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Fortaleza: EMBRAPA- CNPAT, 1995. 20P.

MORAIS, A. de S.; MAIA, G. A.; FIGUEIREDO, R. W. de; ALVES, R. E.; FILGUEIRAS, H.


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de cajueiro-anão-precoce dos clones CCP-76, END-157, END-183 e END-189. Revista
Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v. 24, n. 3, p. 647-650, 2002.

MOURA, C. F. H.; ALVES, R. E.; INNECCO, R.; FILGUEIRAS, H. A. C.; MOSCA, J. L.;
PINTO, S. A. A. Características físicas de pedúnculo de cajueiro para comercialização in
natura. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v. 23, n. 3, p. 537-540, 2001.

PRAÇA, E. F.; GUIMARÃES, A. A.; MEDEIROS, D. C. de; ROCHA, R. H. C.;


GUIMARÃES, A. A.; CUNHA, E. M. da. Qualidade pós-colheita de pedúnculos de cajueiro
'CCP-76' embalados com filmes plásticos- ensaios preliminares. In: XVII CONCRESSO
BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 2002, Belém. Anais....Belém: Sociedade Brasileira de
Fruticultura, 2002. CD-Rom.

SOARES, J. B. O Caju: Aspectos Tecnológicos. Fortaleza, CE, 1986. Banco do Nordeste do


Brasil. Cap. 3, p. 134-136.
64

12 PROCESSAMENTO

Nilson Gomes Jaime


Simone Silva Machado

As opções tecnológicas de maior importância econômica existentes


atualmente no aproveitamento do caju no Brasil, se restringem ao processamento da
castanha, além da produção além do suco turvo integral e, secundariamente, à
elaboração de suco clarificado ou cajuína, (SOARES, 1986).

12.1 PRODUTOS OBTIDOS DO PEDÚNCULO

O pedúnculo ou pseudofruto do caju, tem constituição delicada e é


extremamente perecível. Atualmente, ao lado do seu crescente consumo in natura, tem
grande aceitação na indústria de alimentos, constituindo matéria-prima abundante e de
baixo custo, para elaboração de sorvetes, sucos, compotas, geléias e doces. A
conservação em temperatura ambiente, após a colheita, não ultrapassa 48 horas. O suco
tem pH ácido situado na faixa de 3,8 a 4,4 e apresenta um certo grau de adstringência e
sabor picante, devido, principalmente, ao teor médio de 0,35% de taninos (SOARES,
1986).

12.1.1 Suco integral


As operações tecnológicas, visando à elaboração de suco, utilizam, até certo
ponto, um tipo de equipamento comum a despeito da grande diversidade de frutos.
Diferenças existem, principalmente nas etapas iniciais de preparo, lavagem, seleção e
obtenção de suco bruto ou do fruto triturado ou despolpado. Após a extração do suco, as
operações unitárias que se seguem são praticamente as mesmas: formulação e
pasteurização; desaeração; homogeneização e embalagem.
A diferença encontrada no inicio do processo, é função principalmente do
tipo de fruto, compreendendo peculiaridade referentes à forma, estrutura, teor de
umidade, existência ou não de casca ou proteção resistente (SOARES, 1986). A figura 1
apresenta o fluxograma de fabricação do suco integral de caju.
O primeiro passo para a extração do suco turvo é a passagem do caju num
triturador, onde o pedúnculo é dilacerado sem o corte transversal de suas fibras. Em
seguida este material é enviado para uma despolpadeira, onde o fruto desintegrado é
65

despolpado, através de palhetas de aço inoxidável que prensam a polpa do caju contra
telas também de aço inoxidável com furos de 0,6 mm a 0,8 mm. As fibras e resíduos
destas operações são enviados a um conjunto extrator expeller tipo prensa de parafuso,
onde o material fibroso é prensado contra uma tela de aço inoxidável para remoção do
suco residual que o bagaço contenha. O rendimento na extração do suco em relação ao
peso do pedúnculo é em torno de 65 a 70% (SOARES, 1986).

Colheita

Transporte

Recepção da fruta

Seleção inicial

Lavagem

Descastanhagem

Lavagem

Despelagem

Extração do suco

Formulação

Desaeração

Pasteurização

Embalagem

Armazenamento

Fonte: (Bernhardt & Hashizume, 1978) - adaptado


Figura 12.1. Fluxograma de processamento de suco integral de caju.

A formulação em sucos ocorre mediante a incorporação de acidulante e de


conservantes químicos para ajustar certas características físico-químicas (pH, teor de polpa,
etc.). MAIA et al. (2001) estudaram a estabilidade físico-química e química do suco de
caju com alto teor de polpa, verificando a influência do uso de baixo teor de
metabissulfito de sódio, combinado com o tratamento térmico, na conservação do suco.
Os mesmos autores utilizaram vários teores de metabissulfito de sódio e nitrogênio,
estudando a estabilidade dos produtos obtidos. Verificaram que o suco tratado com
66

nitrogênio e 300 ppm de metabissulfito de sódio apresentou melhor qualidade no que se


refere principalmente à cor, quando comparado àquele tratado somente com nitrogênio.
Em seguida à formulação, o suco recebe um pré-aquecimento a
aproximadamente 50ºC para uma desaeração, que visa reduzir ao mínimo o teor de
oxigênio dissolvido no suco. O desaerador realiza esta operação para também promover
bloqueios nas reações químicas de oxidação da vitamina C no produto (SOARES,
1986).
O tratamento térmico e o tempo de exposição do suco de caju a altas
temperaturas deverão ser bem dosados, a fim de evitar mudanças, para pior, nas
características organolépticas do produto. As alterações indesejáveis que se processam
são, principalmente, a perda de sabor e aroma da fruta, aliada a uma caramelização, que
acarretará um escurecimento progressivo do suco durante a estocagem prolongada
(SOARES, 1986).
SOUZA FILHO et al. (1999) verificaram o efeito do branqueamento,
desidratação por processo osmótico, tratamento térmico e armazenamento, na
estabilidade da vitamina C de pedúnculos de caju. As principais mudanças verificadas
nas características físico-químicas do pedúnculo de caju conservado por métodos
combinados foram à redução do pH e o aumento no teor de sólidos solúveis e de
açúcares redutores.
Estes resultados indicam um elevado grau de hidrólise (inversão da
sacarose) durante a desidratação osmótica e o armazenamento do produto,
paralelamente ao decréscimo do pH. Os açúcares redutores, no final do período de
armazenamento, representaram 83,1% dos sólidos solúveis presentes no produto.
OLIVEIRA et al. (2002) visando contribuir para o conhecimento dos
aminoácidos livres majoritários presentes no suco de caju estudaram o comportamento de
frutos ao longo da safra de 1995, no Estado do Piauí. É de grande importância o perfil dos
aminoácidos livres para avaliar a autenticidade de sucos de frutas e como ferramenta
poderosa para detectar adulteração ou fraude em produtos industrializados comercializados.
Os aminoácidos majoritários encontrados, na ordem decrescente, foram:
alanina, serina, fenilalanina, leucina, ácido glutâmico, ácido aspártico, prolina e tirosina.
Houve variações dos parâmetros estudados ao longo da safra, que são explicadas em função
da disponibilidade nutrientes do solo no período e, também, do número de frutos por planta,
condições climáticas e, sobretudo, por fatores genéticos.
67

12.1.2 Suco clarificado ou cajuína


A cajuína é uma bebida elaborada a partir do suco clarificado. Este suco
límpido é esterilizado no interior de garrafas de vidro, apresentando uma cor amarelo-
âmbar, resultante do processo de caramelização dos açúcares do próprio suco. É uma
bebida extremamente saudável e pura, elaborada e conservada sem conservantes
químicos. A sua preservação é feita através da esterilização pelo calor. Além da sua
comprovada riqueza em vitamina e sais minerais apresenta um bom sabor e tem
excelentes propriedades refrescantes, quando consumida gelada (SOARES, 1986).
A elaboração da cajuína é quase restrita ao Estado do Ceará, através de
pequenas empresas que trabalham em base artesanal (SOARES, 1986).
Conforme SOARES (1986) na elaboração da cajuína um dos pontos mais
importantes que deveria ser modificado é quanto à natureza do agente clarificante. Utiliza-
se uma cola que é uma substância impura, fabricada sob condições diversas e que empresta
à bebida um gosto característico. A gelatina (proteína encontrada nos ossos e tecidos
fibrosos animais) tem as mesmas propriedades da cola na remoção de parte do tanino,
elimina a adstringência e precipita toda polpa em suspensão no suco. Trata-se de substância
que forma com a água, géis mais ou menos consistentes. È preparada em condições de um
controle de qualidade mais rigoroso do que a cola artesanal e, além disso, não deixa gosto
residual no produto.
SOUZA FILHO et al. (1992) avaliaram a estabilidade do suco clarificado com
500 ppm de gelatina e adicionado de sacarose. O produto foi analisado sensorialmente,
recém-processado e após 120 dias de armazenagem não apresentou diferenças
significativas. O produto apresentou também boa estabilidade quanto às características
químicas e físico-químicas.
A clarificação do suco de caju é uma etapa importante, não só para a
elaboração da cajuína, mas, também, para a produção de suco de caju concentrado até
80ºBrix, de consistência xaroposa (SOARES, 1986).
SOARES et al. (2001) desenvolveram uma bebida formulada com suco de caju
clarificado e concentrado e extrato de guaraná com o objetivo de atender às exigências do
mercado consumidor, diversificando suas opções alimentares e contribuir para a melhoria
do nível de saúde da população. A bebida formulada a partir de suco de caju e extrato de
guaraná, teve boa aceitabilidade pelos provadores, tornando-se uma importante opção para
o consumidor.
68

12.1.3 Resíduo da extração do suco


A extração do suco de caju deixa um bagaço úmido que representa cerca de 25
a 30% do peso do pedúnculo processado. Após a secagem ao sol, o peso final deste material
reduz-se a aproximadamente 5 a 7% do peso do pedúnculo do caju que entrou na linha da
operação de desintegração. Esse subproduto da indústria é destinado à alimentação animal
(SOARES, 1986).

12.1.4 Outros produtos do pedúnculo


Além da sua utilização na produção de suco turvo e cajuína, o caju tem uma razoável
participação na indústria de alimentos, servindo como matéria-prima para a elaboração de compotas,
geléias, doces e sorvetes, além, ainda, de ser empregado na fabricação de vinho e vinagre
(SOARES, 1986).
Tem-se notado também a comercialização de polpa congelada de caju. A
indústria de polpas congeladas de frutas tem se expandido bastante nos últimos anos,
notadamente no Nordeste brasileiro. As unidades fabris se compõem, em sua maioria, de
pequenos produtores, onde grande parte deles utilizam processos artesanais, sem a devida
observância das técnicas adequadas de processamento. A polpa congelada, por apresentar
características de praticidade, vem ganhando grande popularidade, não só entre as donas de
casa, mas também em restaurantes, hotéis, lanchonetes, hospitais, etc., onde é utilizada,
principalmente, na elaboração de sucos.
OLIVEIRA et al. (1999) avaliaram a qualidade das polpas congeladas de caju,
produzidas e comercializadas por empresas paraibanas e pernambucanas, através de parâmetros
físico-químicos, com a finalidade de verificar a sua adequação às normas e padrões vigentes no
país. Os resultados indicaram que 59,1% das amostras de polpa de caju não se
enquadraram nos padrões para o suco.

12.2 CASTANHA DE CAJU


A castanha ao chegar na indústria é amostrada para determinação de seu teor
de umidade. Desse modo, se a umidade for igual ou maior do que 8%, a castanha é
descarregada no secador até que esteja em condições de armazenagem sem perigo de
sofrer deterioração. A seguir são realizadas as etapas de pré-limpeza, classificação
(calibragem de acordo com o tamanho), lavagem e umidificação (SOARES, 1986).
A umidificação é feita com a finalidade de elevar o teor de umidade da
castanha, com o objetivo de facilitar a remoção do LCC durante a fritura. As castanhas
69

são imersas em água por 2 a 5 minutos, seguindo-se um período de repouso de até dois
dias para permitir absorção de água até atingir 11 a 12% de umidade (SOARES, 1986).
Para a extração do LCC as castanhas são imersas num tanque de ferro
contendo LCC quente (200 a 220ºC), por um tempo médio de retenção de 2 minutos,
conseguindo-se extrair de 30 a 40% do LCC contido na casca da castanha. Este método
de extração de baseia no principio de que matérias que contenham óleo, quando
aquecidas por esse mesmo óleo ou similar, liberam uma proporção de óleo contido em
suas estruturas. A água absorvida durante a umidificação e repouso, quando em contato
com o LCC aquecido, é removida da castanha e arrasta o LCC. Ao término do
cozimento as castanhas são transportadas para uma centrífuga, onde a força centrífuga
lhes remove o LCC aderido (SOARES, 1986).
Após a centrifugação, as castanhas são resfriadas em peneira vibratória e a
seguir, é realizada a decorticagem. A operação de decorticagem, ou quebra das
castanhas, é feita por centrifugação, mediante o arremesso das mesmas contra superfície
metálica. As amêndoas são separadas das cascas por sistema pneumático e peneiras
vibratórias (SOARES, 1986).
Em seguida à quebra da castanha, as amêndoas apresentam teor de umidade
entre 6 e 9% com a película firmemente aderida à amêndoa, dificultando a sua
despeliculagem. Para facilitar a retirada da película, as amêndoas são secas em estufa a
cerca de 80ºC até que atinjam em torno de 3% de umidade. Elas são transportadas até as
estufas em carrinhos com bandejas superpostas. Após a secagem as amêndoas passam por
um período de repouso (SOARES, 1986).
A despeliculagem, processo seguinte, consiste na remoção da película que envolve
a amêndoa, mediante injeção de ar comprimido que atritando as amêndoas, faz com que haja o
desprendimento ou quebra da película. O material segue então para as ventiladoras, que
separam os pedaços pequenos e películas das amêndoas dos pedaços maiores, por aspiração
(SOARES, 1986).
Após a tostagem da amêndoa, ocorre, conforme verificado por MELO et al.
(1998), alteração nos teores de acidez titulável total, possivelmente em conseqüência do
processo de tostagem em óleo.
As amêndoas são classificadas em inteiras e partidas e em brancas e
escurecidas ou chamuscadas. Cada uma destas classificações comporta “tipos”, com
denominações próprias e baseadas no número de amêndoas por libra-peso (453,59g)
(SOARES, 1986).
70

LIMA et al. (1999) observaram que os fatores mais diretamente responsáveis


pela perda de qualidade sensorial das amêndoas de castanha-de-caju são desenvolvimento
de aroma e sabor de velho e de ranço, perda de sabor e aroma de castanha torrada e perda
de crocância.

12.3 REFERÊNCIAS

BERNHARDT, L.W. & HASHIZUME, T. Processamento: produtos, caracterização e utilização.


In: MEDINA, J.C.; BLEINROTH, E.W.; BERNHARDT, L.W.; HASHIZUME, T.; RENESTO,
O.V.; VIEIRA L.F. Caju: da cultura ao processamento e comercialização. Campinas: ITAL,
1978. p.89-148. (Série frutas tropicais, 4).

LIMA, J.R.; SILVA, M.A.A.P.; GONÇALVES, L.A.G. Caracterização sensorial de amêndoas de


castanha-de-caju fritas e salgadas. Revista Ciência e Tecnologia de Alimentos, v.19 n.1,
Campinas, jan./abril, 1999. p. 48-54.

MAIA, G.A.; MONTEIRO, J.C.S.; GUIMARÃES, A.C.L. Estudo da estabilidade físico-


química e química do suco de caju com alto teor de polpa. Revista Ciência e Tecnologia de
Alimentos, v.21 n.1, Campinas, jan./abril, 2001, p. 43-46.

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Caracterização físico-química da amêndoa da castanha de caju (Anacardium occidentale L.) crua e
tostada. Revista Ciência e Tecnologia de Alimentos, v.18 n.2, Campinas, maio/jul., 1998. p. 50-56.

OLIVEIRA, M.E.B. de; DE OLIVEIRA, G.S.F.; MAIA, G.A.; MOREIRA, R.A.; MONTEIRO,
A.C.O. Aminoácidos livres majoritários no suco de caju: variação ao longo da safra. Revista
Brasileira de Fruticultura, v.24 n.1, Jaboticabal, abril, 2002, p. 133-137.

OLIVEIRA, M.E.B.; BASTOS, M.S.R.; FEITOSA, T.; BRANCO, M.A.A.C.; SILVA, M.G.G.
Avaliação de parâmetros de qualidade físico-químicos de polpas congeladas de acerola, cajá e
caju. Revista Ciência e Tecnologia de Alimentos, v.19 n.3, Campinas, set./dez, 1999. p. 42-50.

SOARES, J.B. O Caju: aspectos tecnológicos. Fortaleza, BNB, 1986, 256 p.

SOARES, L.C.; OLIVEIRA, G.S.F.; MAIA, G.A.; MONTEIRO, J.C.S.; SILVA JR., A.
Obtenção de bebida a partir de suco de caju (Anacardium occidentale, L.) e extrato de guaraná
(Paullinia cupana sorbilis Mart. Ducke). Revista Brasileira de Fruticultura, v.23 n.2,
Jaboticabal, ago., 2001. p. 120-127.

SOUZA FILHO, M.S.M.; FONSECA, J.L.F.; SARMENTO, S.G.R. Processamento e


estabilidade do xarope de caju (Anacardium occidentale, L.). B. CEPPA, v.10 n.1, Curitiba,
jan./jun. 1992, p. 53-58.

SOUZA FILHO, M.S.M.; LIMA, J.R.; SOUZA, A.C.R.; SOUZA NETO, M.A.; COSTA, M.C.
Efeito do branqueamento, processo osmótico, tratamento térmico e armazenamento na
estabilidade da vitamina C de pedúnculos de caju processados por métodos combinados.
Revista Ciência e Tecnologia de Alimentos, v.19 n.2, Campinas, maio/ago., 1999. p. 61-69.

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