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LIÇÃO 9

A Arca da Aliança
Dc. Edson Amorim
Introdução
Ao longo desse trimestre temos estudado a figura do Tabernáculo que, aliás
podemos dizer que foi o primeiro centro de adoração dos hebreus bem como cada um de
seus móveis que tinham uma função específica no contexto religioso daquela época, a fim
de traçarmos os paralelos com a figura e obra de Cristo Jesus. Tais paralelos encontram
base bíblica a partir da declaração contida em Hebreus 8.5 que declara; “Eles servem num
santuário que é cópia e sombra daquele que está nos céus, já que Moisés foi avisado
quando estava para construir o tabernáculo: "Tenha o cuidado de fazer tudo segundo o
modelo que lhe foi mostrado no monte". Neste caso o autor demonstra que o tabernáculo
tinha um caráter simbólico que apontava para uma realidade futura e não somente isso,
mas, também, espiritual.
Nesta lição falaremos a respeito da mobília contida no Santo do Santos, a saber, a
Arca da Aliança (Êx. 25.10-16; 37.1-5). E com a descrição e o esquadrinhamento deste
móvel que é, sem sombra de dúvidas, o mais importante do Tabernáculo veremos quais
lições podemos retirar para nossa espiritualidade.

A Descrição da Arca da Aliança (Êx. 25.10)

No hebraico temos a designação ‫‘( אָ רֹון‬ārôn) que a Septuaginta traduziu por


Kibotos e a Vulgata, por arca que designa uma caixa utilizada para diversos propósitos.
Os restos mortais de José foram colocados em um caixão no Egito para o seu futuro
sepultamento na Palestina (Gn 50.26). Muito dinheiro para o reparo do templo foi
recolhido em uma caixa (2 Rs 12.10,11; 2 Cr 24.8, 10, 11).1 Todavia, tal palavra é mais
usada para apresentar a Arca da Aliança e, aliás a Arca de Noé utiliza-se da palavra
hebraica ‫( ִתבה‬tēbâ) ao invés de ‘ārôn. Esta palavra é mencionada aproximadamente 200
vezes no Antigo Testamento sob 22 designações diferentes sendo chamada de Arca do
Senhor (1 Sm 4.6), Arca de Deus (1 Sm 4.18), Arca Aliança (Js 3.6), Arca do Concerto
do Senhor (Dt 10.8) e Arca do Testemunho (Êx 25.22).

O modelo da arca foi dado diretamente por Deus. Nela Todo Poderoso definiu
basicamente duas matérias primas na sua composição, a saber; ouro e madeira de Acácia
(Sita ou Sitim - Cetim). A madeira utilizada é encontrada em todo o deserto do Sinai e
em volta do Mar Morto, ela é cientificamente conhecida como Acácia seyal e tortilis.
Essas árvores espinhosas, com cerca de 6,5 metros de altura, crescem em lugares secos
com extraordinário vigor. Ela é bastante dura, pesada e quase indestrutível pelos insetos.2

1
ARCHER, Gleason L. HARRIS, R. Laird. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo
Testamento. São Paulo: Edições Vida Nova, 1998. p.123
2
PFEIFFER, Charles F. VOS, Howard F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2009.
p.1565
A seiva da Acácia fornece a chamada goma arábica muito utilizada na indústria e
medicina.

A arca tinha um formato retangular com as dimensões de dois côvados e meio de


comprimento, um côvado e meio de largura e um côvado e meio de altura. O côvado é a
medida mais frequentemente utilizada no Antigo Testamento, todavia deve-se notar que
tal medida não é uma medida exata, isso se dá, pois ela se baseava no comprimento do
antebraço até a ponta do dedo médio de um homem, haviam, basicamente, duas medidas
com o mesmo nome, tínhamos o que chamamos de Côvado Comum que possuía o
tamanho aproximado de 45cm e o Côvado Egípcio que possuía o valor aproximado de
52,5cm, logo a arca poderia ter entre as seguintes medidas.

≅0,68 a 0,79m

Conforme a descrição da construção da arca em Êx. 25.10-16 a madeira deveria


ser recoberto de ouro puro (v.11) por dentro e por fora. Além disso deveria conter nos
cantos da arca quatro argolas fundidas de ouro (v.12) e vara também de Acácia recoberta
de ouro para o transporte da mesma (vv.13,14).

O ‫( כָפֹּ ֶרת‬Kapōreth, propiciatório) é uma tampa unicamente usada para a


cobertura da arca. Ela era feita de ouro e decorada com dois querubins. Deus repousava
acima deste propiciatório (Êx. 25.17-22). Somente em ocasiões específicas o sumo
sacerdote podia comparecer diante do propiciatório (Lv 16.2). No Dia da Expiação, o
sumo sacerdote fazia a expiação por si mesmo, pelo Tabernáculo e pelo povo, com uma
oferta pelos pecados, que incluía aspergir o sangue sobre esta tampa (Lv 16.13-15).

A principal função da arca era guardar certos objetos, a saber; 1) um pote de ouro
contendo o maná que fora dado ao povo no deserto, 2) a vara de Arão que floresceu e 3)
as tábuas da Lei que foram dadas por Deus a Moisés. Tais objetos serviam como
memoriais das proezas e provisão de Deus ao longo da existência de seu povo.

O significado espiritual da Arca e do Propiciatório


Segundo Suana (2006) a arca e o propiciatório, como móveis da intimidade do
tabernáculo, representavam a possibilidade de estreita comunhão com Deus.3

Em outros termos temos que a Arca representava a presença de Deus com o seu
povo. Além disso, o formato do propiciatório, em dois querubins, um olhando para o
outro e os elementos existentes dentro dela realçavam a força da aliança de Deus para
com o seu povo.

Para o cristão o significado da Arca e propiciatório tem um caráter cristocêntrico,


isso porque conforme Cristo declarou “As escrituras...testificam de mim.” (Jo 5.39).
Podemos vislumbrar a presença do Ungido de Deus, tanto no simbolismo da arca como
nos elementos presentes nela.

 Cristo nos elementos da Arca.

Maná - Maná foi o pão do céu que Deus forneceu aos hebreus enquanto vagavam
pelo deserto (Êxodo 16). Cristo irá declarar em João 6.32-33 “...não foi Moisés quem vos
deu o pão do céu; o verdadeiro pão do céu é meu Pai quem vos dá. Porque o pão de Deus
é o que desce do céu e dá vida ao mundo”.

A vara de Arão – A vara de Arão representava a confirmação do ministério Sumo


sacerdotal de Arão. Em Hebreus 4.14-15 vemos o escritor declarar: “Visto que temos um
grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que penetrou nos céus, retenhamos
firmemente a nossa confissão. Porque não temos um sumo sacerdote que não possa
compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas
sem pecado.”

Tábuas da Lei – A lei descrita no decálogo tinha 3 objetivos conforme observa


Coelho & Daniel (2013). 1) Providenciar um padrão de justiça que pudesse ser
alcançado; 2) Mostrar o pecado do homem e; 3) Mostrar a santidade de Deus. Em Cristo
vemos o cumprimento da Lei “Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim
abrogar, mas cumprir.” (Mt 5.17) Somente pelas obras de Cristo que cumpriu a lei, somos
absolvidos da maldição da Lei “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se
maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no
madeiro” (Gl 3:13)

 Cristo na Arca

Podemos ainda ver Cristo na constituição da própria Arca. Cabral (2019) disserta
da seguinte forma sobre esse assunto.

“O ouro simboliza a divindade de Jesus e a madeira,


sua humanidade (Hb 1-2). Símbolo da plenitude da
presença da presença de Deus entre o povo judeu, a
arca aponta para uma verdade revelada no Novo

3
SUANA, Samuel. Pentateuco: Os fundamentos éticos e religiosos de Israel no Antigo
Testamento. Pindamonhagaba: IBAD, 2006. p.124
testamento acerca do nosso salvador: ‘porque nele
habita corporalmente toda plenitude da divindade’
(Cl 2.9). Ou seja, Cristo é o Emanuel, isto é, o ‘Deus
Conosco’, o verbo que se fez carne e habitou entre
nós (Mt 1.23; Is 7.14; 9.6; Jo 1.14)”4

Cristo e o propiciatório

A palavra ‫( כָפֹּ ֶרת‬Kapōreth) conforme visto anteriormente significa,


basicamente, cobrir ou tampar. A septuaginta utilizou a palavra grega hilastérion como
tradução do termo hebraico, porém com um sentido superior como meio ou lugar de
expiação ou em outros termos um “lugar de misericórdia”. No Novo Testamento a
palavra só é utilizada duas vezes, uma em Romanos 3.25 e Hebreus 9.5. Nos textos temos
a seguintes afirmações.

“Ao qual Deus propôs para propiciação (hilastérion) pela fé no seu sangue, para
demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência
de Deus;” Rm 3:25

“E sobre a arca os querubins da glória, que faziam sombra no propiciatório


(hilásterion); das quais coisas não falaremos agora particularmente.” Hb 9:5

O propiciatório era o local da expiação, pois ali Deus se encontrava com os


homens para remissão do pecado. De modo idêntico, por meio de Cristo – o grande
Mediador entre Deus e os homens – há uma mediação com Deus. Paulo nos afiança que
é através dEle que temos acesso a Deus (Efésios 2:18). É fato que não há em nossa língua
nenhuma palavra que transmita toda a significação original de hilastérion. E este tem sido
traduzido por: propiciatório, propiciação, expiação, sacrifício propiciador, sacrifício
expiatório. Seja qual for o seu significado, o certo é que a palavra indica algo que expia
pecados. Ela nos revela a “apolitrosis”, ou a redenção do pecador e, com isso, a revelação
da justiça divina e também da misericórdia encontrada em Cristo Jesus.

“Por fim convêm notar...que apenas o sumo sacerdote uma vez por ano, podia
entrar no recinto onde se encontrava o propiciatório, para fazer expiação pelos pecados
do povo. Na ocasião ele não podia se apresentar perante o Senhor sem o sangue a ser
aspergido sobre a tampa. Afinal, era o dia da expiação e, apesar de continuamente estarem
sendo oferecidos e ofertas sobre o altar de bronze no átrio, nesse dia era oferecido o
sacrifício que representava de modo específico a oferta de Cristo que morreu para livrar
a humanidade da pena de morte resultante do pecado original. O Senhor Jesus, nosso
Sumo Sacerdote, entrou na presença de Deus ‘uma única vez’, para satisfazer as
exigências de Deus em relação à natureza pecaminosa do mundo.”5

4
CABRAL, Elienai. Lições Bíblicas: O Tabernáculo – Símbolos da Obra Redentora de Cristo. Rio
de Janeiro: CPAD, 2019. p.64
5
GILBERT, Floyd Lee. A pessoa de Cristo no Tabernáculo. São José dos Campos/SP: Editora FIEL,
2001. pp.146,147
Conclusão

A arca com o propiciatório são a imagem correspondente da presença de Deus no


meio do seu povo, e não somente isso, mas demonstra a misericórdia divina na expiação
dos pecados humanos. A arca demonstra a força da aliança de Deus com o seu povo, já o
propiciatório remonta o valor misericordioso do sangue de da expiação oferecida por
Cristo, conforme Paulo escreveu: “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória
de Deus; Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em
Cristo Jesus. Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para
demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência
de Deus; Para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo
e justificador daquele que tem fé em Jesus.” Rm 3:23-26

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