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Universidade Federal de São Carlos

Curso: Licenciatura em Geografia


Disciplina Introdução à Língua Brasileira de Sinas - Libra 1
Docente: Daniele Rocha
Discente: Letícia Ol. Pereira / RA 635120

SÍNTESE
NASCIMENTO, L.C.R; SOFIATO, C.G. A disciplina de língua brasileira de sinais
no ensino superior e a formação de futuros educadores. ETD - Educação
Temática Digital. Capa, v.18, n.2. Campinas, 2016.

Em geral, o artigo desenvolve uma discussão quanto à inserção e o


desdobramento da disciplina de Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), através de
pesquisa empírica entre os 2012-2013, nos cursos de Pedagogia de duas instituições
públicas de ensino superior do estado de São Paulo, frente às demandas sociais e
previstas em legislação desde 2005 e aos desafios que permeiam toda a questão,
construindo-se como uma pesquisa de fundamental importância, visto a escassez de
trabalhos nessa temática na ciência brasileira.
É somente no ano de 2002 que a LIBRAS consolida-se como uma sistema
linguístico com características particulares e independente de qualquer língua outrora,
caracterizada por natureza visual-motora e gramática própria estruturada. Tal
reconhecimento foi institucionalizado pela Lei nº 10.436 de 2002, através de muita
reinvindicação da comunidade surda brasileira, tornando-se, assim, um marco
histórico e social à comunidade.
Além da lei supracitada, o artigo evidencia a homologação do Decreto-Lei nº
5.626 de 2005, que prevê a garantia do direito à educação e à saúde à população
surda do país, inclusive tornando obrigatória a inserção da disciplina de LIBRAS nas
licenciaturas de Pedagogia e bacharéis de Fonoaudiologia e nesse momento grandes
desafios educacionais vem à tona, muitos presentes até os dias atuais.
Diante das novas demandas, os principais desafios que as instituições de
ensino superior (IES) encontraram foram: a reformulação das matrizes curriculares
dos cursos de graduação; aquisição de obras bibliográficas específicas, e; contratação
de docentes (surdos/ouvintes) para ministrar a disciplina. Além do fato da legislação
não estabelecer orientações quanto ao formato em que deve desenvolver a disciplina,
ou seja, os conteúdos a ser abordados e a carga horária adequada.
Como citado anteriormente, a pesquisa teve cunho empírico, ou seja,
qualitativa, através de coleta de dados diretamente na fonte, sendo o pesquisador o
instrumento fundamental. Neste caso, foram aplicados questionários aos alunos de
Pedagogia, de duas universidades públicas, que cursaram a disciplina de LIBRAS,
ofertada em ambas instituições na Faculdade de Educação. Os planos de ensino da
disciplina também foram consultados e considerados.
Os questionários consistiam em cinco questões a respeito do conteúdo
abordado na disciplina, da didática do docente, bem como, sobre as contribuições da
disciplina na formação do aluno. Após a coleta do material, os questionários tiveram
seus conteúdos analisados através de leitura minuciosa, permitindo a elaboração de
categorias por unidades de registro para posterior discussões. Inicialmente foram
apresentados os relatos descritivos de cada uma das universidades, sem a
identificação pessoal e da instituição e, em seguida, foram apresentados os resultados
conforme as cinco categorias definidas, descritas a seguir:

 Contribuição da disciplina para a mudança de concepção a respeito da


surdez: em geral, 90% dos entrevistados consideraram uma mudança na
concepção quanto a surdez através da disciplina, das pessoas surdas e o
seu sistema de comunicação, a LIBRAS, sendo considerado por eles o
contato com a pessoa surda, principalmente do professor surdo, uma
experiência enriquecedora. A divisão da disciplina em teórico e o ensino da
LIBRAS em si, também foi apontada como positiva.

 Contribuição dos conteúdos da disciplina para a prática pedagógica:


90% dos participantes ressaltaram que os conteúdos abordados e o seu
desenvolvimento na disciplina contribuirão com a futura prática pedagógica.
Compreenderam que a língua é imprescindível à formação de conceitos aos
educandos surdos, reconhecendo assim a necessidade da continuidade da
formação em LIBRAS para além da graduação.

 Subsídios para a comunicação com sujeitos surdos: dentre os


participantes, 80% ressaltaram o potencial da disciplina como fornecedora
de subsídio de comunicação com os surdos. Porém, os demais participantes
declaram o sentimento de despreparo em relação a uma comunicação em
LIBRAS, evidenciando a necessidade da instituição de ensino proporcionar
ao aluno a compreensão do funcionamento da língua e suas
particularidades.

 Avaliação da didática e estratégias utilizadas pelos professores da


disciplina de Libras: de forma unânime, a didática dos docentes da
disciplina foi considerada como apropriada, permeando estratégias
diversificadas, inclusive sendo positiva a divisão dos conteúdos entre
teóricos e o ensino da língua, porém, queixaram-se da pequena carga
horária, não possibilitando um aprofundamento durante a graduação.

 Sugestões para o aprimoramento da disciplinas de Libras: todos os


participantes contribuíram com sugestões, dentre elas, a reestruturação da
carga horária como a mais apontada, através do oferecimento de disciplinas
de LIBRAS para além dos créditos obrigatórios, ou seja, de caráter optativo,
permitindo o aprofundamento da língua aos alunos interessados. Em geral,
as sugestões demandaram um desejo de contato maior com a comunidade
surda, por diversos meios - visitas, estágios, redes de comunicação por
internet, entre outros.

É evidente que o reconhecimento por meio de normas e leis caracterizou um


importante avanço à comunidade surda brasileira, porém, o cumprimento dessas leis
não se faz suficiente para atender à demanda da formação docente. Em geral, a
educação dos surdos é somente abordada na disciplina de LIBRAS, que, entre os
resultados na pesquisa foi apontada como insuficiente à eficaz aprendizagem, devido
a reduzida carga horário e pouco contato com surdos.
Diante desse contexto, os autores questionam a inserção desta disciplina na
formação de futuros professores. Será que a disciplina apenas cumpre o previsto em
lei, desconsiderando a verdadeira necessidade de professores bilíngues ao ensino
dos surdos? Além do aumento da carga horária da disciplina de LIBRAS nas
licenciaturas e formação contínua dos professores, a implantação ou manutenção de
escolas bilíngues para surdos constitui uma nova perspectiva na educação dos
surdos, uma demanda que já vem sendo apontada pela comunidade surda.
Em âmbito pessoal, estou vivenciando minha primeira experiência com uma
pessoa surda durante a disciplina de LIBRAS, no caso, com a docente. E, sem dúvidas
posso afirmar que, ao longo dos quatro anos da graduação em geografia, essa
inserção num mundo para além da língua portuguesa vem sendo meu maior desafio.
Pensar que num futuro próximo eu poderei ter entre os meus alunos pessoas surdas
me tirou da denominada “zona de conforto”, pois ensinar a geografia que venho
aprendendo durante a graduação através da língua portuguesa, em forma oral, não
seria nada além do esperado, porém, e se a forma oral não for suficiente para
abranger a todos? E se for necessário a comunicação por LIBRAS? Desejaria
imensamente poder transmitir e construir o conhecimento junto ao aluno surdo, com
participação um intérprete que nos auxiliasse, porém, sem precisar intermediar tudo.
Compartilho de muitos resultados apresentados na pesquisa do artigo,
principalmente quanto à reduzida carga horária e da falta de contato com a
comunidade surda. E se eu pudesse sugerir, o ensino da comunicação aos surdos
(teórico e a LIBRAS) deveria ser oferecido, de forma obrigatória, no decorrer de todos
os semestres. Vivemos em tempos onde políticas públicas de acessibilidade e
inclusão são enaltecidas e documentos e decretos, porém, na prática são
minorizadas. A Geografia escolar tem como preceito incitar ao aluno um olhar
diferenciado quanto ao espaço em que ele vive, nada mais justo que esses “olhares”
contemplem todas as diversidades e necessidades pessoais, como a comunidade
surda.

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