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Helen E. Longino
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Publicado orginalmente em The Challenge of Social and the Pressure of Practice, editado por Don
Howard, Jenet Kourany e Martin Carrier (University of Pittsburgh Press, 2008).
como suspeita ou como passível de rejeição. Abordarei inicialmente um conjunto de tais
virtudes, explicando o que elas recomendam e como elas diferem das virtudes ortodoxas
ou mainstream. Então, quero levantar a questão: o que há nessas virtudes que as
qualificariam como específicas da investigação feminista? Surpreendentemente, é a
resposta a essa questão que fornece o material para reflexões mais gerais. Alcançarei
tais reflexões pela integração da resposta sobre a investigação feminista com a minha
própria perspectiva sobre o conhecimento e a investigação. Isso comporá o pano de
fundo para algumas reflexões finais sobre a política do conhecimento.
As virtudes que encontrei endossadas ou advogadas nos estudos feministas da
ciência incluem a adequação empírica, a novidade, a heterogeneidade ontológica, a
complexidade ou a mutualidade da interação, a aplicabilidade às necessidades humanas,
e a descentralização do poder ou o empoderamento universal. Enquanto a adequação
empírica é defendida em comum por pesquisadores feministas e não feministas, as cinco
restantes contrastam de modo intrigante com os valores mais comumente agenciados da
consistência das teorias com outros domínios, da simplicidade, do poder explicativo e
da generalidade, da fecundidade ou da refutabilidade. Muitos filósofos da ciência
invocaram essas virtudes mais tradicionais ou ortodoxas, apesar de suas invocações
serem acompanhadas dos críticos correntes.2 Antes de prosseguir, abordarei brevemente
cada um das virtudes feministas.
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Os parágrafos a seguir foram extraídos de materiais previamente publicados (Longino, 1996).
Kuhn (1977) ou suas variantes, como o conservacionismo proposto por Quine e Ullian
(1978), isto é, maior preservação possível do conjunto de crenças anteriores.
A novidade e a adequação empírica são, de certa forma, requisitos formais. Os
dois seguintes concernem aspectos substantivos das teorias ou dos modelos, e diferentes
aspectos do tema antirreducionista. Toda teoria estipula uma ontologia, isto é, ela
especifica o que conta como entidade causal efetiva no seu domínio. Um domínio que é
ontologicamente heterogêneo é aquele com diferentes tipos de entidades, enquanto um
domínio ontologicamente homogêneo contém apenas um tipo de entidade. Tal domínio
é mais simples que um domínio heterogêneo, no sentido de que apenas as propriedades
e o comportamento de um tipo precisam ser abarcados nos modelos do domínio.
Qualquer membro pode representar qualquer outro (ao menos em aspectos essenciais).
As feministas que endossam heterogeneidade como virtude, indicam a preferência por
teorias e por modelos que preservam a heterogeneidade no domínio sob investigação, ou
que, ao menos, não a eliminam em princípio. Uma abordagem de investigação que
requer espécimes uniformes, isto é, a homogeneidade ontológica, pode facilitar a
generalização, mas ela corre o risco de perder diferenças importantes; e, então, o macho
da espécie vem a ser considerado como paradigmático para a espécie (como em
“Gorilas são animais solitários; um indivíduo típico viaja apenas com a fêmea e sua
prole”). Ou, por meio do conceito de dominação masculina, os machos são tratados
como os únicos agentes causalmente efetivos em dada população. As acadêmicas
feministas, ao contrário, insistiram na observação, no registro e na preservação analítica
das diferenças nas populações sob seu estudo (Altmann, 1974). No entanto, sua adoção
da heterogeneidade se estende para além do comportamento humano e animal, sendo
também é invocado no contexto de processos genéticos e bioquímicos. As pesquisadoras
feministas resistem às abordagens de causalidade unidirecionais do desenvolvimento,
em favor de abordagens nas quais fatores bem diversos representam papéis causais.
Elas, desse modo, enfatizam a multiplicidade de tipos de fatores em todos os níveis de
desenvolvimento, desde internos às células até o organismo como um todo (Keller,
1983, 1995). A heterogeneidade, em sua oposição à homogeneidade ou uniformidade, é
então oposta à simplicidade ontológica e à virtude explicativa associada de unificação.
Sob o direcionamento dessas últimas virtudes, as similaridades entre os fenômenos, ao
invés das diferenças entre eles, são ressaltadas.
A mutualidade e a reciprocidade da interação, e por vezes, de modo mais geral, a
complexidade da interação, é algo como a companhia processual da virtude da
heterogeneidade ontológica. Enquanto a heterogeneidade da ontologia diz respeito à
existência de diferentes tipos de coisas, a complexidade, a mutualidade e a
reciprocidade caracterizam as suas interações. As feministas que endossam essa virtude
expressam a preferência por teorias que representam interações complexas e envolvendo
não apenas relações simultâneas, mas também relações mútuas e recíprocas entre os
fatores em dado processo. Elas explicitamente rejeitam as teorias ou os modelos
explicativos que tentam identificar um fator causal em determinado processo, quer ele
seja um animal dominante ou a “molécula mestre”, como o DNA. O trabalho da
geneticista Barbara McClintock, como popularizado por Evelyn Keller (1983), é
frequentemente referido como modelo pelas feministas que advogam em favor da
heterogeneidade e da complexidade. Atenta às diferenças individuais das amostras de
milho por ela estudadas, ela representou as relações causais como envolvendo
interações complexas. Diversas feministas são levadas para a Teoria dos Sistemas em
Desenvolvimento [Developmental Systems Theory] (Oyama, 2000), por suas virtudes
similares.
Finalmente, várias feministas endossam também a ideia de que a ciência deveria
ser “para as pessoas”, que a pesquisa que promete aliviar as necessidades humanas,
especialmente aquelas tradicionalmente atendidas pelas mulheres, tais como, os
cuidados dos mais jovens, com os fracos, ou com os enfermos ou de alimentar os
famintos, deveriam ser preferidas em relação à pesquisa para propósitos militares, ou
em prol do conhecimento. Embora não rejeitem a completamente a curiosidade como
um motivo apropriado para a pesquisa, tais feministas colocam mais ênfase na dimensão
pragmática do conhecimento, mas apenas em conexão com a virtude final desse
conjunto: a descentralização do poder.
Assim, as formas de conhecimento e as suas aplicações em tecnologias que
empoderam os seus beneficiários são preferidas em relação àquelas que produzem ou
reproduzem relações de dependência. Então, a pesquisa médica direcionada para
medidas preventivas, ou de baixo custo, os medicamentos facilmente (ou auto-)
administrados são preferidos em relação aos de tecnologia avançada, às medidas de alta
manutenção. E, a pesquisa em agricultura, que assiste e empodera os pequenos
agricultores, é preferida em relação àquelas que assistem ao agronegócio de capital
intensivo (Sen & Grown, 1987). Ambas as virtudes feministas pragmáticas, e as suas
contrárias tracionais, ou seja, a fecundidade e a refutabilidade, estão relacionadas à
expansão da abordagem teórica na direção empírica. Mas, a relevância do empírico na
visão tradicional pertence ao contexto da pesquisa isolada em si mesma. A
aplicabilidade e o empoderamento, por contraste, são direcionados para o meio social e
prático, externos ao contexto de pesquisa.
5
Agradeço aos participantes do Nodre Dame Bielefeld Conference on Science and Values, por
pressionarem esse ponto.
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Sua expressão mais recente encontra-se em Longino (2002).
com o mundo material sob investigação como componentes da metodologia. A partir de
uma perspectiva normativa isso significa a articulação de condições para a crítica
efetiva, tipicamente especificando as características estruturais da comunidade
discursiva, que garante a efetividade da crítica discursiva que ocorre dentro dela. Eu
sugeri quatro dessas condições: a) o provimento do foro para a articulação da crítica; b)
a compreensão (ao invés de mera tolerância) da crítica; c) os padrões públicos de nos
quais as interações discursivas são referenciadas; d) a igualdade (ou igualdade
moderada) de autoridade intelectual para todos os membros da comunidade.
Os padrões públicos que regulam as interações discursivas e materiais da
comunidade são tanto provisionais quanto subordinadas ao objetivo geral da
investigação para a comunidade. A verdade simpliciter não pode ser esse objetivo, uma
vez que ele não é suficiente para direcionar a investigação. Ao contrário, as
comunidades buscam tipos particulares de verdades. Elas buscam representações,
explicações, métodos tecnológicos etc. Os investigadores nas comunidades de biólogos
buscam a verdade sobre o desenvolvimento de organismos individuais, sobre a história
das linhagens, sobre o funcionamento fisiológico dos organismos, sobre o mecanismo
das partes dos organismos, sobre interações moleculares etc. A pesquisa em outras áreas
são organizadas de modo semelhante em torno de questões específicas. Quais tipos de
verdades serão buscados no projeto de pesquisa particular é determinado pelos tipos de
questões que os pesquisadores estão fazendo e os propósitos para os quais eles as estão
fazendo, isto é, os usos para os quais as respostas serão colocadas. Conjuntos diferentes
de heurísticas (consistindo em regras para a coleta de dados – inclusive os padrões de
relevância e de precisão –, os princípios de inferência e os valores epistêmicos ou
cognitivos) satisfazem diferentes objetivos cognitivos. A verdade não está em oposição
em relação aos valores sociais, de fato a verdade é um valor social, no sentido de que
ela é uma demanda social da investigação científica, que fornece verdades ao invés de
falsidades, mas a sua função regulatória é dirigida/mediada por outros valores sociais
operativos no contexto de investigação.7
Uma consequência de assumir a perspectiva epistemológica é o pluralismo.
Outros filósofos desenvolveram o pluralismo como uma visão sobre o mundo, isto é,
como a consequência da complexidade natural tão profunda que nenhuma teoria
particular ou modelo pode capturar plenamente todas as interações causais envolvidas
7
Para uma discussão mais extensa sobre a verdade (ou sucesso semântico) de afirmações teóricas, ver
Longino (2002).
em qualquer processo dado. Na medida em que esse pode ser o caso, a posição
epistemológica que estou advogando é meramente aberta ao pluralismo, no sentido de
que não pressupõe o monismo. Pode ser apropriado falar sobre o conhecimento mesmo
quando existem formas de conhecer o fenômeno que não pode ser simultaneamente
assumidas. Se isso é ou não apropriado em todos os casos depende da satisfação de
condições sociais do conhecimento acima mencionados. Quando essas condições são
satisfeitas, a confiança em qualquer conjunto particular de pressuposições deve ser
defendida em relação aos objetivos cognitivos da pesquisa. Essas não são apenas
questões das motivações individuais dos pesquisadores, mas dos objetivos e dos
interesses das comunidades que apoiam e sustentam a pesquisa. Da perspectiva social
todos eles devem ser publicamente sustentados através da sobrevivência ao escrutínio
crítico. Assim, os valores sociais exercem um papel imprescindível em certos contextos
de julgamento científico.
Eu já indiquei porque as feministas, ou qualquer conjunto alternativo de virtudes
teóricas, não poderiam ser suprimidos pelas virtudes tradicionais. Duas objeções a mais
precisam ser tratadas. Pode-se questionar se não existe conjunto de valores cognitivos
diferentes da heurística identificada como tradicional e das alternativas, que poderiam
constituir normas universais. Talvez os vereditos de provisoriedade e de parcialidade
sejam consequência de observar os valores errados. Mas, essa objeção deve prover
exemplos de valores que poderiam ser universalmente obrigatórios. As únicas
características das teorias ou das hipóteses que poderiam estar qualificadas são a
verdade ou a adequação empírica. Mas, a verdade no contexto da adjudicação de uma
teoria reduz-se à adequação empírica, a verdade de declarações observacionais de uma
teoria. E a adequação empírica não é suficiente para eliminar todas, mas apenas um
conjunto de teorias em competição. Esse é o porquê de o puramente epistêmico não ser
rico o suficiente para guiar a investigação e a avaliação da teoria que a heurística
discutida mais cedo entra em jogo (para argumentos sobre a insuficiência da verdade
simpliciter, ver Anderson, 1995 e Grandy, 1987). Pode-se, alternativamente, especificar
as qualidades das investigações que contam como virtudes, por exemplo, a abertura da
mente e a perspicácia sensorial e lógica, mas essas virtudes não são teóricas, mas apenas
virtudes pessoais, não são padrões públicos de discurso crítico, mas qualidades
requeridas para participar construtivamente de tal discurso.
Em segundo lugar, pode-se resistir à identificação de conjuntos conflitantes de
virtudes e sugerir a integração desses dois conjuntos de virtudes. Existem duas
dificuldades com essa sugestão. Em contextos particulares de investigação, as virtudes
de dois conjuntos recomendam teorias irreconciliáveis (Longino, 1996). Além disso, a
integração pode ser compreendida ao menos duas maneiras, cada qual envolvendo
pressuposições bem distintas. Por um lado, poder-se-ia pressupor como satisfatório um
comprometimento de unificação da ciência, mas tal comprometimento precisa ser
sustentado. Por outro lado, poder-se-ia propor a integração como modo de realização do
pluralismo teórico em dada comunidade particular. Isso pressupõe o valor da
diversidade (particular) de modelos que a inclusão de ambos os conjuntos nos padrões
de uma comunidade pode produzir. Se for assim, o que é necessário nesse caso não é a
integração de virtudes por uma comunidade de pesquisa, mas a tolerância e a interação
com a pesquisa guiada por diferentes virtudes teóricas, a construção de comunidades
mais amplas ou meta-comunidades caracterizadas pelo respeito mútuo por pontos de
vista divergentes, isto é, pelo pluralismo.8
V. A política do conhecimento
Nesse esquema, então, a heurística/virtude tradicional e a alternativa constituem
conjuntos parcialmente sobrepostos, mas conjuntos característicos de padrões públicos
comunitários. Ou seja, eles servem tanto para guiar o desenvolvimento dos modelos e
das hipóteses relevantes para a situação empírica sob investigação quanto, quando
geralmente aceitos, para regular o discurso em suas respectivas comunidades. Eles não
são fixos, mas podem ser criticados ou modificados relativamente aos objetivos
cognitivos para os quais são escolhidos para desenvolver, ou em relação a outros valores
designados de alta prioridade, e eles podem, ao contrário, servir como base para a
crítica. Tampouco essa crítica é limitada ao discurso interno à comunidade. As áreas de
sobreposição ou de interseção tornam possível a interação crítica entre as comunidades,
assim como dentro das mesmas. Generalizando a partir daquilo que argumentei antes, os
padrões públicos que discuto devem ser traços componentes aos quais a comunidade
científica objetiva, ou confiável, deve estar ligada apenas àqueles que compartilham o
objetivo cognitivo geral que baseia esses padrões, e que concordam com o padrão de
realmente fazer avançar aquele objetivo cognitivo. Tal acordo deve ser em si mesmo o
resultado das interações discursivas críticas no contexto de satisfação das condições de
8
Claro que, pode-se objetar que o que resulta não é em absoluto ciência, propriamente compreendida,
mas uma tentativa frustrada de ciência. Mas se por “ciência” designa-se uma prática racional idealizada,
talvez sim. Porém, se por “ciência” designa-se a tentativa de descrever e compreender os mundos naturais
e sociais através do tipo limitado que são os agentes cognitivos humanos, então o pluralismo é inevitável.
crítica efetiva. Como as virtudes são entendidas como padrões públicos, elas estão
subordinadas ao avanço de um objetivo cognitivo específico que pode mudar, devendo
ser entendidas como provisórias. Como elas estão ligadas apenas àqueles que
compartilham aquele objetivo, elas devem ser entendidas como parciais.
Esse modo de pensar sobre o conhecimento e a investigação envolve uma
mudança na atenção para além dos resultados ou produtos da investigação, sejam eles
teorias ou crenças, para os processos ou a dinâmica na produção de conhecimento. O
estado ideal de um ponto de vista epistemológico não é o de ter a melhor abordagem
particular, mas a existência de uma pluralidade de orientações teóricas, que possam
tornar possível a elaboração de modelos particulares do mundo fenomênico e servir
como fonte para a crítica recíproca. Pragmaticamente, é claro, a seleção deve ser feita
de um modelo que guie a ação, mas se nós arbitrariamente limitamos aqueles em
disputa, pela exclusão arbitrária de heurísticas alternativas, corremos o risco de ação ou
de política sub ou mal informada.
Por outro lado, desenvolver suficientemente o modelo ou a hipótese, de modo a
que ele possa contribuir para a interação crítica e possa ser aplicado para os problemas
empíricos requer recursos: tempo, espaço intelectual, fontes materiais.
Aqui é onde entra a política. Para propor que os modelos de processos naturais
desenvolvidos segundo certa abordagem que assume um dado conjunto de virtudes
superiores são parte de uma pluralidade de representações adequadas que respondem a
diferentes objetivos cognitivos, desobrigam as feministas, de fato qualquer cientista, do
fardo de completude ou de finalização. Isso requer ver o conhecimento como
simultaneamente dinâmico e parcial. Essa pluralidade não é meramente a existência de
modelos alternativos e de comunidades científicas constituídas diferentemente. Quando
as minorias religiosas lutam pelo pluralismo, elas lutam pela tolerância. O pluralismo
que eu advogo para a filosofia da ciência, e por extensão para a ciência, não requer a
mera tolerância. O pluralismo científico envolve a interação entre diferentes
abordagens: um mútuo considerar seriamente, isto é, entendimento. Nem toda ideia
excêntrica precisa estar de acordo com a mesma seriedade, mas o reconhecimento da
pluralidade requer cuidado ainda maior na dispensa de perspectivas alternativas. A
condição de igualdade de autoridade intelectual chama a atenção para a presente
distribuição desigual da autoridade intelectual. Igualdade de autoridade intelectual não
vem a ser por causa do conteúdo do argumento filosófico, é uma condição necessária da
produção de conhecimento genuína e plenamente confiável. Deve-se lutar por ela:
- Pela contestação de práticas de marginalização que tornam membros de certas
categorias sociais, mulheres ou membros de minorias étnicas, invisíveis, mesmo quando
as suas contribuições para um dado empreendimento é igual ou maior do que aquelas
dos seus colegas masculinos ou brancos. Para aqueles que pensam que essa
marginalidade não é mais um problema, deve-se notar os padrões de citação nas
publicações, para quem as ideias divulgadas em um encontro tendem a ser atribuídas,
etc (Fricker, 2003).
- Pelo acompanhamento das condições materiais que dão a algumas vozes e
perspectivas mais autoridade do que para outras, e trabalhar para modificá-los.
- Pelo acompanhamento das consequências materiais e sociais de adoção de um
modelo particular ou representação de um dado processo, e ativamente buscar
alternativas (e investigar as ferramentas requeridas para a sua produção), quando
necessário.
- Por ser vigilante em relação às possibilidades de cooptação. Por exemplo, as
virtudes da heterogeneidade e da complexidade, quando desconectadas do interesse
cognitivo nas relações de dominação, podem ser usadas de modo a reforçar a
desigualdade.
Esses diferentes caminhos para a ação são individualmente importantes. Os
críticos das ciências devem estar certos sobre o conteúdo e os métodos das ciências
atuais, mas estar certo não é suficiente. Para desafiar efetivamente as pressuposições
correntes e hostis, as investigadoras feministas devem se unir a outros marginalizados
pelas estruturas atuais de poder e interessadas em reivindicar e criar seus próprios
espaços para a produção de conhecimento científico; conhecimento que não neutraliza
as relações de dominação, mas oferece outros caminhos de interação com o mundo
natural pela extensão do outro. Eles e nós devemos também encontrar modos de
comunicar essas visões alternativas para fazê-los serem tomados seriamente pelo
público científico, bem como pela “ciência estabelecida”. Conhecimento melhor, por si
mesmo, não vai mudar o mundo social, parcialmente porque o mundo social deve
mudar para que outro conhecimento emerja. No entanto, no mundo social tão
dependente do conhecimento, da ciência, nós não podemos proporcionar mudanças em
um deles apenas, mas devemos continuamente trabalhar para a mudança dos dois.