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RESUMO
Cada vez mais, as ciências sociais têm presenciado o fortalecimento de reflexões intelectuais
interessadas em compreender as hierarquias de status entre conhecimentos produzidos no Sul
global em relação àqueles do Norte. Neste cenário, emergem correntes críticas ao caráter
eurocêntrico das teorias hegemônicas no interior do campo, como os estudos subalternos, pós-
coloniais e decoloniais. Mesmo autores que não estão situados no Sul global, e que ocupam
posições de destaque na gestão de instituições como a Associação Internacional de Sociologia
(ISA), têm apontado os impasses decorrentes das limitações que as assimetrias entre Sul e Norte
produzem às ciências sociais, dificultando projetos de globalização/internacionalização destas.
Em diálogo com essas contribuições, estruturou-se este artigo, que trata a relação entre a
colonialidade do saber e a produção/distribuição de teoria nas ciências sociais, a partir do caso
latino-americano. Para tal, trabalhou-se com a relação entre a publicação em revistas de alto
impacto em teoria e a geopolítica da produção/distribuição do conhecimento nas ciências sociais.
Fez-se um levantamento quantitativo dos países onde situam-se os intelectuais que publicaram
em periódicos de alto impacto das ciências sociais, detendo-se àqueles que concentram os debates
sobre teoria. Além disso, analisaram-se os resumos e palavras chaves referentes aos artigos
publicados, apreendendo relações entre padrões temáticos e país de publicação. O intervalo
escolhido para a coleta circunscreveu-se entre os anos 2000 e 2017.Foram escolhidos os quatro
periódicos com os maiores índices de impacto internacional, segundo o indicador “Índice SRJ”,
produzido pelo SCImago Journal & amp; Country Rank. São eles os jornais: Theory and Society;
European Journal of Social Theory; Theory Culture and Society; e Sociological Theory. Os
resultados deste levantamento foram teoricamente interpretados a partir das contribuições de
autores do grupo “Modernidade/Colonialidade”, ou corrente “Decolonial”, que têm trabalhado o
fenômeno da colonialidade do saber e eurocentrismo nas ciências sociais. Primeiramente,
percebeu-se que a discussão teórica de alto impacto das ciências sociais permanece concentrada,
majoritariamente, no Norte global. Além disso, encontraram-se consideráveis diferenças nos
padrões temáticos das publicações de autores latino-americanos e aqueles das metrópoles do
Norte. Quando os pesquisadores da américa latina publicam em tais revistas não costumam
discutir teoria de forma “abstrata” ou “generalista” como aqueles situados no Norte, mas se detêm
em tratar temas locais como: América Latina, Terceiro Mundo ou especificidades da
modernidade e capitalismo nos seus países. Defende-se que este cenário expressa e reproduz o
eurocentrismo e a colonialidade no campo do saber das ciências sociais, relegando uma condição
subalterna à produção latino-americana no debate teórico de alto impacto do campo, que se
expressa tanto por uma presença diminuta no sentido quantitativo (número de artigos), quanto
qualitativa (padrões temáticos).
1
O autor agradece o financiamento da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal – FAP DF, a qual
permitiu a apresentação deste paper no XXXI Congresso ALAS.
1
INTRODUÇÃO
A sociologia tem presenciado o fortalecimento de proposições e correntes intelectuais
interessadas em compreender as hierarquias de status entre conhecimentos produzidos no Sul
global em relação àquele de metrópoles do Norte2. Dentre as várias contribuições que
compõem essa gama de empreendimentos, marcadas por um intenso impulso crítico,
despontam discursos e agendas que podem ser chamadas de “alternativas”, as quais apontam
as assimetrias na produção de conhecimento nas ciências sociais a partir de uma perspectiva
geopolítica. Em tais análises, o fenômeno colonial emerge enquanto ponto fundamental ao
entendimento do modo como as desigualdades que dominam o mundo hoje, e que se refletem
na produção das ciências sociais, se fundamentaram e quais os processos que permitem a sua
reprodução.
Podemos destacar, entre essas que chamamos de “estratégias alternativas”, ou
“emergentes” algumas proposições que têm surgido desde os últimos 50 anos, contrapondo-
se à dominação do Norte Global no fazer intelectual das ciências sociais. Entre essas
contribuições pode-se ressaltar: As Sociologias indígenas e Endógenas, Alatas, S. H. (2000);
O Pós-colonialismo, Go (2013); A Decolonialidade, Dussel (2000), Quijano, (2000) e
Mignolo (2003); As discussões sobre as Sociologias do Sul, Santos e Meneses (2007),
Comaroff e Comaroff (2011); Sociologias subalternas, Guha (1982), Chakrabarty (1992) e
Spivak (2010); e Sociologias feministas, Mohanty (2008) e Walsh (2012).
Mesmo autores que não estão situados no Sul Global, e que ocupam posições de
destaque na gestão de instituições como a Associação Internacional de Sociologia (ISA), tem
trabalhado com os problemas decorrentes das limitações que as assimetrias nas produções
entre países do Sul e Norte produzem à sociologia Archer (1991); Burawoy, Chang e Hsieh,
(2010); Stompka (2009). Situados ou não no Sul Global, é torna-se cada vez mais presente
discussões sobre: os impasses à globalização da sociologia; a desigualdade expressa na
produção de teoria sociológica entre Sul e Norte; e o problema da divisão internacional do
trabalho sociológico.
Em diálogo com essas novas agendas de pesquisa, estruturou-se este artigo, que se
detêm em discutir a situação dos sociólogos latino-americanos no interior da divisão mundial
2
A dicotomia Sul-Norte global, têm sido utilizada em trabalhos como os de Santos (2007), Comaroff (2012),
Connel (2006) e Rosa (2014), e mantém sentido paralelo, em alguns casos, ao de classificações como periferia-
centro ou primeiro mundo e terceiro mundo. Tal dicotomia não deve ser entendida ao pé da letra, focando-se
apenas no seu sentido geográfico, mas deve ser entendida enquanto um conceito que associa o contexto
geográfico a cenários geopolíticos e processos históricos dinâmicos.
2
do trabalho sociológico. Este objeto, é explorado a partir do estudo sobre a posição ocupada
pelos sociólogos da américa latina em 4 revistas internacionais de grande impacto no debate
de teoria sociológica: Theory and Society; European Journal of Social Theory; Theory
Culture and Society; e Sociological Theory.
A investida se fez interessada em desvelar o modo como a posição ocupada pelos
sociólogos latino-americanos, nestas revistas, espelha o cenário internacional de divisão do
trabalho sociológico. Para tal, fez-se um levantamento do perfil dos intelectuais que publicam
em tais periódicos, com foco no país onde estão situados, e uma análise de quais seriam as
características dos artigos de pesquisadores que integram países da américa latina que
publicaram nestes jornais.
Acredita-se que, ao dar luz a estes processos, pode-se progredir na produção de
conhecimento sobre os mecanismos que operam na reprodução da divisão internacional do
trabalho sociológico, os quais contribuem para a manutenção dos pesquisadores do
continente latino-americano às margens dos debates sobre teoria. Além disso, esta pesquisa
se define enquanto uma forma de expressar os impasses à produção, legitimação e
distribuição de teoria sociológica a partir do Sul global, destacando a necessidade de
construção de uma sociologia mais plural.
Na primeira parte deste artigo realiza-se uma sumária revisão de literatura, com um
levantamento de algumas contribuições teóricas de autores que tem discutido a divisão
internacional do trabalho sociológico e os impasses que o eurocentrismo e a colonialidade
tem produzido à sociologia. Em um segundo momento, são apresentados e discutidos, à luz
das contribuições teóricas citadas, dados acerca do perfil dos pesquisadores em publicam nas
4 revistas escolhidas e padrões temáticos característicos dos artigos de autores situados em
países da América do Sul, Central e Caribe.
A intelectual australiana Raewyn Connel é uma das principais autoras a se deter sobre
o caráter geopolítico inscrito na produção e circulação de teoria sociológica contemporânea.
A autora discute a relação entre a noção de divisão internacional do trabalho intelectual e
aponta a relação deste fenômeno com o colonialismo e eurocentrismo.
Este quadro de divisão, segundo a autora, espelha a própria história da disciplina, que
se constituiu e fortaleceu em paralelo com o colonialismo, beneficiando-se deste. O processo
colonial permitiu a estruturação do campo sociológico, dando-lhe objetos de estudo nas
colônias, e financiamento para a realização de investigações. Autores situados nas
metrópoles coloniais, produziam teorias mirando experiências universais, a partir de dados
extraídos nas comunidades exploradas por seus países, em áreas como a África, Ásia e
América Latina, Connel (2006). Tal processo estabeleceu a formação de dois polos
interconectados na produção do conhecimento, o primeiro focado na coleta e fornecimento
de dados e um segundo que os processa e sistematizava em forma de teoria. Eis a gênese de
uma estrutura de divisão do trabalho que se manteve no tempo, produzindo as bases onde
assenta-se o cenário atual: O abismo entre a produção de autores do Sul Global e àqueles
pertencentes ao Norte.
Connel deve boa parte de sua análise sobre a relação entre o colonialismo e a divisão
do trabalho intelectual, ao filósofo nigeriano Paulin Hontondji. O intelectual africano têm
sido uma figura proeminente na denúncia dos impasses à produção científica no continente,
e têm uma extensa contribuição sobre os impactos do colonialismo na intelectualidade
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A relação entre trabalho empírico em pesquisadores do Sul não se restringiria apenas a uma preponderância a
produção de estudos de caso ou a trabalhos que aplicassem teorias do Norte em objetos empíricos. Autores
como Alatas apontam para empreendimentos, realizados por pesquisadores na África, Ásia e América-Latina,
de caráter fundamentalmente pautado na coleta de dados para Ongs, ou institutos de financiamento do Norte.
No artigo de Burawoy(2010), é possível perceber a relação entre dependência à financiamentos e resignação à
coleta de dados empíricos no sul do mundo e mesmo entre países na periferia europeia.
4
africana.
Syed Hussein Alatas, sociólogo natural da Malásia, é outra referência no campo dos
estudos que discutem o fenômeno da divisão do trabalho nas ciências sociais. Sua produção,
ao tratar do fenômeno colonial em intercessão com as ciências sociais malaias, dialoga
profundamente com as contribuições de Connel e Hountondji. O autor, o qual realizara
estudos sobre o tema desde os anos 70, discute com profundidade o fenômeno da dependência
intelectual e sua relação com o que chama de “Imperialismo acadêmico”.
Com foco nos países não ocidentais, Alatas (2000) afirma que o colonialismo tivera
um papel extremamente deletério, não só no sentido da exploração econômica e dos impactos
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políticos nas colônias, como na estruturação de uma hierarquia de poder, dominação e
tutelagem intelectual, resultante da dimensão intelectual do imperialismo.
Podem ser citadas 6 características elencadas por Alatas que fundamentam esses
papeis desiguais na produção intelectual entre o Norte e Sul, definindo os impactos do
Imperialismo Intelectual: 1 - A exploração, no sentido da produção de dados empíricos nos
países periféricos para a realização de trabalhos na Europa. 2 – A tutelagem, no sentido de
que os cientistas sociais das ex-colônias não teriam um “know how” suficiente à produção
científica, necessitando a intervenção daqueles dos centros de produção. 3 – A conformidade,
que versa sobre a estruturação de uma mentalidade servil e incapaz de realizar trabalhos
criativos por conta própria nos pesquisadores não ocidentais, expressa na expressão “mente
cativa” cunhada pelo autor. 4 – O papel secundário relegado aos intelectuais das ex-colônias,
que se define pelos lugares invisíveis que tais pesquisadores ocupam na produção
internacional de sociologia. 5 – A racionalização da missão civilizacional, que trata da
justificação da desigualdade, exploração e tutelagem, pela suposta incapacidade das ex-
colônias em produzirem boa ciência e 6 – A fuga de cérebros, causada pela evasão de
intelectuais dos países periféricos às metrópoles globais, produzindo leituras de seus
contextos locais sob os olhos do ocidente.
4
Uma parte do debate interno à Associação Internacional de Sociologia (ISA), pode ser encontrado no livro
editado por Sujata Patel: The ISA Handbook of Diverse Sociological Traditions (2010).
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O modo como Patel discorre acerca do Eurocentrismo têm influência direta das
contribuições dos teóricos do “Grupo Modernidade-Colonialidade”, autores das chamadas
correntes decoloniais. Intelectuais como Enrique Dussel, Walter Mignolo e Aníbal Quijano,
são os principais nomes de tal corrente teórica que, influenciada pelos estudos subalternos de
autores da Índia, têm trabalhado com as formas como a produção de conhecimento estão
mundialmente hierarquizadas. O conceito de colonialidade, é central na obra destes e nos
ajuda a compreender algumas das raízes para a as hierarquias no campo do saber vivenciadas
hoje no interior da sociologia.
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brasileiros que têm discutido a posição do Brasil no interior deste quadro.
5
- A noção de “Euro-América” é utilizada por autores como Law (2004), Comaroff e Comaroff (2011) e
Anzaldúa e Reuman, (2000). Termo circunscreve-se em uma tentativa de situar norte global para além de países
da Europa, agregando os Estados Unidos da América enquanto um novo centro da produção de conhecimento
e da própria geopolítica mundial.
6
- O trabalho de Nyoka (2012) discute diretamente a produção da subalternidade a partir de ementas de cursos
de sociologia na África do Sul.
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descentramento da produção de teoria sociológica. Segundo ele, essas contribuições ao
realizarem críticas diretas ao caráter eurocêntrico presente no saber sociológico, denunciando
os problemas causados por teorias que se pretendem universais, e criticando conceitos e
teorias a partir estudos locais - que não se encaixam nas narrativas das sociologias do Norte
-, tem realizado um papel importante de descentramento da produção sociológica, fazendo
emergir novos locais de enunciação de conhecimento.
Segundo Maia (2011), o pensamento social brasileiro é rico em contribuições que
possuem paralelo com as críticas realizadas por esses discursos alternativos, como ele mesmo
aponta a partir da obra de Guerreiro Ramos. Neste sentido, o autor acredita que esta seria
uma forma de atualizar discussões teóricas a partir do pensamento social brasileiro, as quais
seriam capazes de impactar o debate internacional acerca do status do conhecimento teórico
sociológico. A partir disso, defende que o pensamento social brasileiro ganharia muito em
relevância internacional ao estar se associando a uma história transnacional do pensamento
periférico, trabalho realizado pelas correntes decoloniais e pós-coloniais. Isso permitiria que
a produção teórica do país, se tornasse menos “auto-referida”, para se tornar integrante de
um movimento de ideias global relevante para autores situados nas mais diversas regiões do
Sul do mundo.
METODOLOGIA
Foram escolhidas as edições dos periódicos correspondentes aos anos de 2015 e 2016.
Tomando este marco temporal, levantaram-se dados, como mostra a Tabela 1, de 13 edições
da Theory Culture and Society; 8 edições da European Journal of Social Theory; 12 edições
da Theory and Society; e 8 edições da Sociological Theory, equivalendo a um total de 41
edições, 279 artigos e 362 autores. É importante ressaltar que as diferenças no montante de
artigos e autores entre as revistas possuem relação com a quantidade de artigos por edição e
número de edições por ano. As revistas Theory Culture and Society e Theory and Society são
bimestrais, sendo que a primeira possui uma edição extra para o mês de dezembro. Já a
European Journal of Social Theory e Sociological Theory tem saída trimestral.
DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
O Brasil ocupa a 12ª posição na Theory Culture and Society, com 3 artigos
publicados, o que corresponde a 1,92% da porcentagem total. Já no European Journal of
Social Theory, o pais ocupa a 8ª posição, correspondente a 3,95 do montante geral,
novamente com 3 publicações. Percebe-se então que o país possui um número de publicações
bem menor do que países como Reino-Unido, Estados Unidos, Alemanha e Dinamarca, que
dominam boa parte das publicações nas revistas. Contudo, pode-se identificar que o Brasil,
é país que possui os melhores rankings no que concerne à América Latina e África, sendo
ultrapassado por apenas um país da Ásia, Israel, na primeira revista. Além disso, as
publicações de autores situados no Brasil chegam a ultrapassar alguns países da própria
Europa como Suécia, Suíça, Finlândia e Portugal.
Já ao se analisar os jornais Theory and Society e Sociologial Theory, é possível inferir,
como expresso nas tabelas 4 e 5, que os Estados Unidos dominam um valor extremamente
alto em relação a outras nações. Com 33 artigos na primeira revista o país contra 61,11% dos
artigos publicados, valor que sobe consideravelmente ao considerar-se o Sociological
Theory, onde a porcentagem passa a ser de 84%, com 63 artigos. No caso dessas revistas,
percebe-se a presença, nas primeiras posições, do Reino-Unido e Canadá. Os 3 países
controlam, 77,78% das publicações em Theory and Society e 92% em Sociological Theory.
Além disso, é possível perceber que nos dois periódicos, apenas 3 países situados no Sul
global estão presentes, cada um deles com apenas uma publicação: África do Sul, Singapura
e Austrália. Nenhum país latino americano se faz presente, fazendo com que o continente
permaneça completamente ausente das publicações das duas revistas no intervalo 2016-2015.
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Canadá 3 5,56%
Holanda 2 3,70%
Alemanha 2 3,70%
Espanha 2 3,70%
Noruega 1 1,85%
África do Sul 1 1,85%
Portugal 1 1,85%
Dinamarca 1 1,85%
Austrália 1 1,85%
Hungria 1 1,85%
Total Geral 54 100%
Esse levantamento, ao captar uma das dimensões de perfil dos autores que publicaram
nas 4 revistas, o local onde estão situados, apresenta dados importantes para a compreensão
da composição do debate de alto impacto em teoria sociológica hoje. Esses dados endossam
as contribuições teóricas de autores como Raweyn Connel, Syed Husseim Alatas e Paulin
Hountondji, que apontam, a partir de suas discussões acerca da divisão do trabalho intelectual
no interior das ciências sociais, que a discussão teórica da disciplina se encontra
majoritariamente situada no Norte Global. Percebe-se então que os autores de nações latino-
americanas que sofreram a investida colonial iniciada nos séculos XVI e XVII, entre eles o
Brasil, permanecem às margens dos debates promovidos nas revistas de maior impacto no
interior da sociologia, os quais são dominados por um número parco de nações Euro-
Americanas.
Como mostrado na tabela 6 abaixo, que soma as frequências e porcentagens gerais
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relativas as 4 revistas, percebe-se que 87,81%, da produção de grande impacto teórico, no
interior da sociologia, está situada no Norte Global. Fontes que reforçam o quase monopólio
euro-americano daquilo que é discutido em teoria sociológica nos jornais de grande prestígio
internacional. América Latina e África, que somadas não chegam a 5% do volume de
publicações, apontam a condição marginal do sul global no interior do debate teórico
internacional de grande impacto, informações relevantes para a percepção de como a
colonialidade, o eurocentrismo e a divisão do trabalho intelectual são processos
interconectados na produção de uma estrutura desigual e hierárquica no interior da
sociologia.
Além disso, tais dados ajudam a retratar alguns dos dilemas apresentados por autores
brasileiros, como Sérgio Costa, Marcelo Rosa e João Marcelo Maia. Assim como esses
autores pontuam, a hegemonia euro-americana no debate e produção de teoria da disciplina
é acompanhado por uma participação diminuta de intelectuais de países localizados na
américa-latina no que concerne à teoria. Tais inferências reforçam aquilo afirmado por Costa
(2010), ao apontar a relação distante entre os intelectuais da periferia e a produção teórica,
pois ao se mensurar o baixo número de latino-americanos presentes nas revistas de teoria
internacionais, pode-se inferir que as produções teóricas dos autores do continente estão
longe de dialogarem ou contribuírem com o núcleo da produção mundial.
Buscando o aprofundamento dos elementos que compõem a posição periférica
ocupada pelos intelectuais latino-americanos nos debates internacionais de teoria da
disciplina, trabalhou-se com uma análise qualitativa mais aprofundada do caso brasileiro.
Este aprofundamento permite perceber elementos que podem extrapolar o caso nacional,
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sendo comuns ao contexto do continente latino americano como um todo. Realiza-se então,
no tópico a seguir uma análise do conteúdo dos artigos publicados pelos autores nacionais
nas 4 revistas.
A partir da análise dos resumos, palavras-chave e nomes dos artigos, percebeu-se que
a produção dos autores brasileiros nas 4 revistas reproduz alguns padrões temáticos que
expressam as dicotomias entre Trabalho teórico x Empírico e Universal x Local. Dentre os
19 artigos de autores do país, 12 trabalhavam diretamente com pesquisas de caráter empírico,
por mais que estivessem publicadas em revistas circunscritas ao debate teórico da disciplina.
Além disso, entre os 12 trabalhos fundamentados em estudos empíricos, não estavam
apresentadas propostas ou fundamentações que buscassem modificar pressupostos de teorias
presentes no campo.
Além destas características, que demonstram que mesmo publicando nas revistas de
caráter teórico, os autores nacionais seguiriam fazendo trabalhos de caráter empírico,
percebe-se também uma tendência a fazer referência a temas locais, como a américa latina e
o Brasil, nas questões abordadas em seus trabalhos. Percebe-se, neste caso, uma tendência a
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estudar temas que façam referência ao local onde o pesquisador está situado, em vez de
trabalhos que busquem dialogar com proposições universalistas que marcam a produção
teórica da disciplina. Entre tais temáticas, pode-se encontrar discussões acerca do
desmatamento amazônico; Análises do desenvolvimento do capitalismo ou da modernidade
no Brasil e América Latina; Estudos sobre a influência de Urich Beck na sociologia brasileira
ou representações da américa latina em livros de arte pré-colombiana.
Tal situação expõe assim como apresentado por Alatas (2003), a tendência dos
autores situados fora do eixo euro-americano, a trabalharem com estudos de caráter local, ou
que façam referência a seus países ou regiões, em vez de deterem-se nos temas
“universalistas”, relegados aos pesquisadores do Norte global. Essas características reforçam
as contribuições que versam sobre o modo como se organiza a divisão internacional do
trabalho intelectual sociológico.
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inovadoras à teoria sociológica.
CONCLUSÃO
19
fundamentos da dominação teórica euro-americana.
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