Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo Abstract
Desde as primeiras décadas do século XX, a Since the early decades of the twentieth century,
principal característica das revistas semanais era the main feature of the weekly magazines was to
possibilitar ao leitor o contato com o universo da allow the reader to contact the world of culture
cultura que, por sua vez, era então compreendida
which, in turn, was understood by such vehicles as
por tais veículos da época, fundamentalmente,
como o produto das sete artes, expostas por the product of the seven arts, as stated by Ricciotto
Ricciotto Canudo em seu Manifesto das Sete Artes Straw in his Manifesto of the Seven Arts, 1911.
de 1911. Durante décadas, as revistas ilustradas During decades, the illustrated magazines were
foram se modernizando, na busca por atender, de being upgraded in an effort to meet the more
forma cada vez mais imediata as demandas da immediate demands of urban and industrial society
sociedade urbana e industrial que se configurava that was set up in Brazil. Fighting for space in the
no Brasil. Disputando espaço com os jornais, no
newspaper market in the early twentieth century,
início do século XX, as revistas ilustradas
alcançariam, na metade do século, a posição de the illustrated magazines reached in mid-century,
mídia mais poderosa entre aquelas que são the position of most powerful media between those
formadoras de opinião, principalmente a partir do who are opinion leaders, especially since the
advento da fotorreportagem. Desse período de advent of photojournalism. During this period
auge, destacamos três revistas que marcaram a there were three magazines that marked The
cena cultural brasileira, entre os anos de 1930 a Brazilian cultural scene, between the years 1930 to
1950: a Revista Vamos Lêr!, a Revista O Cruzeiro
1950: Revista Vamos Lêr!, Revista O Cruzeiro e
e a revista Manchete.
Revista Manchete.
Palavras-chave: Revistas Ilustradas. Imprensa.
Keywords: Illustrated Magazines. Press.
Fotojornalismo. História.
Photojournalis. History.
*
Ivete Batista da Silva Almeida é doutoranda no programa de História Social na Universidade de São
Paulo e professora do curso de História da Faculdade Católica de Uberlândia. E-mail:
ivetebsalmeida@usp.br.
Entre o final da década de 1910, os inícios da década de 1920, indo até os anos de
1930, têm-se um período com grandes índices de crescimento do mercado de periódicos,
onde, além do grande número de novos títulos que surgiam constantemente, passariam
também as revistas a diferenciar-se pela escolha de diferentes linhas e ramos temáticos.
Entre 1912 e 1930, o crescimento e a diversificação dos temas seriam visíveis; no campo
dos Noticiosos, cresceria de 882 títulos, para 1.519; os Literários de 118, para 297; os
Científicos de 58, para 212; os Humorísticos de 57, para 99; os Almanaks de 14, para 66;
os Didáticos de 8, para 33; os Históricos de 7, para 14; os Cinematográficos de nenhuma,
para 10 2. Era o início do processo de segmentação do mercado editorial.
1
Conforme Saliba, os humoristas do período da primeira república, encontravam-se comprimidos entre os
modelos da alta cultura, representada, sobretudo, pelos parnasianos e simbolistas e a atuação em outras
tantas atividades como a redação de artigos para jornais e revista, confecção de textos e desenhos para a
crescente demanda por reclames, legendas e cartazes para filmes mudos, produção para teatro de revista,
e uma série de funções específicas nas áreas das artes, destinadas a um público diversificado. SALIBA,
Elias Thomé.Raízes do Riso. São Paulo: Cia das Letras, 2002.
2
A lista é ainda maior, pois na linha da segmentação do mercado de periódicos, há ainda as
revistas especializadas em temas ligados aos assuntos Religiosos, Humorísticos, Comerciais,
Anunciadores, Esportivos, Corporativos, Oficiais, Agronômicos, Estatísticos, Espíritas, Militares,
Industriais, Infantis, Maçônicos, Marítimos, Filosóficos. Conforme Estatística da Imprensa Periódica no
Brasil. Rio de Janeiro: Tipografia do Departamento Nacional de Estatística, 1931.
A linguagem visual das revistas buscava estabelecer uma sintonia com a linguagem
escrita e com a própria identidade do periódico, ratificando-a e complementando-a, por
meio de diferentes recursos gráficos, desde a diagramação, os tipos de letra escolhidos, as
charges, os desenhos, as fotografias e as tirinhas de humor. Isso porque, como produto de
um mercado que se expandia, o objetivo maior de um periódico de grande circulação era
ser reconhecido e satisfazer o seu público alvo. Portanto esse código de linguagem,
formado pelo conjunto, dos elementos verbais e não verbais, é que seria responsável por
apresentar a revista ao leitor. Segundo Lage3, essa correspondência entre assunto e forma
reporta-se à questão do hábito, ao uso e não representando necessariamente uma analogia
do mundo real; dessa maneira, as imagens, os espaços concedidos, a cor, as formas dadas a
uma notícia estariam diretamente associados à representação usual, daquele tema.
A partir do final dos anos de 1920, somado ao crescimento das classes médias e o
conseqüente crescimento da demanda por bens culturais transformados agora em bens de
consumo, temos as editoras, dispondo de melhores recursos técnicos, acarretando em
transformações, tais como o surgimento do mercado do livro, o incremento da propaganda,
a presença do Estado como fomentador de cultura, com um crescente número de literatos
que passariam a exercer funções de articulistas, colaboradores ou mesmo como editores de
revistas e jornais. Com o crescimento do mercado dos livros, os romancistas passavam a
ter mais visibilidade no cenário cultural, as casas editoriais que antes se limitavam a
importar títulos para o Brasil, passaram também a editar títulos nacionais, neste período
temos o surgimento da José Olympio, no Rio de Janeiro; a Companhia Editora Nacional,
de São Paulo, e que depois mudou-se para o Rio de Janeiro; a editora Ariel e a livraria
Globo, do Rio Grande do Sul. Precursor da visão do livro como objeto de consumo,
3
LAGE, Nilson. Linguagem jornalística. São Paulo: Ática, 1998, pp.24 e 38.
4
MARTINS, Revista História, SP, ano 22, número 1, 2003, p.65.
Mas não somente os livros eram o espaço propício para a veiculação dos contos
infantis e de temas de curiosidade científica, as revistas semanais também cumpriam esse
papel. Em entrevista à revista Pesquisa FAPESP, o pioneiro das pesquisas genéticas no
Brasil, o cientista Oswaldo Frota-Pessoa, aos 88 anos, comentava sobre o espaço
concedido às ciências pela imprensa brasileira. O professor destaca que, entre os anos de
1930 e 1950, publicou mais de setecentos artigos; tendo sido colaborador em vários jornais
como A Manhã, Diário Carioca e o Jornal do Brasil, o professor aponta que seu primeiro
artigo, contudo, foi publicado na Revista Vamos Lêr!, veículo que em relação à sua
circulação e seu impacto como formador de opinião, como descreve o cientista, era feito a
Veja, hoje. 5
7
SODRÉ, Muniz, FERRARI, Maria Helena. Técnica de reportagem; notas sobre a narrativa jornalística.
São Paulo: Summus, 1986.
8
BOAS, Sérgio Vilas. O estilo magazine; o texto em revista. São Paulo: Summus, 1996, p. 9.
9
BOAS, Sérgio Vilas. O estilo magazine; o texto em revista. São Paulo: Summus, 1996, p. 34.
Uma das revistas que marcou época consolidando o estilo dos magazines foi a
revista Vamos Lêr! dirigida por Raimundo de Magalhães, do Jornal A Noite, também
responsável pela criação das revistas Noite Ilustrada e Carioca, mas o maior feito da
empresa seria a criação da Rádio Nacional. Em 1940, o governo Vargas encampou o jornal
A Noite, pois queria torná-lo, bem como à Rádio Nacional, veículos de afirmação do
regime. Inicialmente dirigido por Irineu Marinho, no Rio de Janeiro, A Noite iniciou
circulação em 1925 e com o seu sucesso, Irineu logo lançaria um segundo jornal, O Globo,
para concorrer com O Correio da Manhã, A Gazeta de Notícias, o Diário Carioca, entre
outros. Irineu seria sucedido por seu filho, Roberto Marinho, que continuou investindo
ativamente em jornalismo, inaugurando em 1944, a Rádio Globo.
Em uma de suas crônicas para a BBC Brasil, Ivan Lessa, um dos criadores d’O
Pasquim, lembra que, quando criança, tinha sempre em sua casa a revista Vamos Lêr! e
que, embora não se recorde de lê-la, quando criança, lembra-se de seu encantamento pelas
ilustrações, fotografias e quadrinhos que a revista semanal trazia em suas páginas. A
Vamos Lêr!, principalmente nos anos de 1940, teria alcançado grande popularidade – como
destacam as memórias de Lessa e do cientista Oswaldo Frota-Pessoa, como vimos
anteriormente – não somente entre os leitores anônimos, mas também entre a
intelectualidade. Em carta a Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Mello Neto
exprime sua opinião, sobre a Vamos Lêr! , apontando-a como um poderoso veículo
formador de opinião. A carta é interessantíssima, pois nela, João Cabral fala sobre uma
matéria que teria sido publicada na Vamos Lêr! à respeito do Congresso de Poesia do
Recife, do qual João Cabral era um dos organizadores. A matéria trazia entrevistas de
pessoas que viam a idéia de um Congresso de poesia, em plena época de guerra mundial,
como uma inutilidade. Uma opinião como essa, publicada numa revista como aquela,
poderia colocar a perder todo o evento. Na carta, João Cabral pede à Drummond que
A revista teve entre seus colaboradores, nomes como Jorge Amado – que manter-
se-ia como colaborador entre 1939 e 1941 – na época, militante ativo da esquerda
comunista e editor chefe da revista Dom Casmurro; e Graciliano Ramos - igualmente
ligado aos intelectuais da esquerda comunista – trabalhou na revista no ano de 1942. Os
dois literatos viriam a escrever Brandão entre o mar e o amor, em parceria. Colaborara
também com a revista o escritor Fernando Sabino, que além do semanário carioca,
trabalhou como redator n’A Folha de Minas, colaborando ainda no jornal literário Dom
Casmurro e no Anuário Brasileiro de Literatura. Clarice Lispector, também passara pela
Vamos Lêr!, primeiramente, concedendo ao jornalista Tasso da Silveira, uma longa
entrevista, em 19 de outubro de 1940 e depois, concedendo à revista o direito da
publicação do conto Trecho, publicado na edição de 09 de janeiro de 1941.
10
Jornal do Commercio – JC Cultural- Caderno C: Especial Gilberto Freyre II – Recife, quarta-feira, 13
de março de 2000. Versão eletrônica, JC On Line.
Disponível em http://www2.uol.com.br/JC/_2000/2003/cu1503b.htm. Acessado em 05 de maio de 2008.
O humor aparecia na seção Vamos Rir, na forma de piadas enviadas pelos leitores e
selecionadas pela redação da revista. Além de gerar a curiosidade entre os leitores que
desejavam saber se teriam suas piadas publicadas, criava-se a torcida, entorno da disputa
da melhor piada do ano. Todos os tipos de motes eram contemplados: piadas de cunho
político, social, além de todo tipo de deboche ligado aos estereótipos – a mulher bonita, o
mulherengo, a feia, o gordo, o negro, o nordestino. Conforme Saliba, em Raízes do Riso, as
representações humorísticas, desempenharam papel de relevo no processo de invenção das
imaginações nacionais, e se fomentaram estereótipos, também contribuíram para modificá-
los e desmistificá-los.
(...) o recurso cômico era não apenas pouco difundido devido à
inexistência dos próprios meios de difusão, mas também havia um mal
disfarçado desprezo da cultura em geral pela produção humorística, a não
ser quando esta se mostrava suscetível de ser incluída — ou classificada
11
Vamos Lêr!, em 24 de novembro de 1938, p.05.
As seções de humor eram muito populares entre os leitores, não somente a Vamos
Lêr!, mas também a Manchete e as outras concorrentes tinham suas seções de humor,
sendo que algumas tornaram-se célebres, como o Amigo da Onça, de Péricles, para O
Cruzeiro.
Mas, a seção que melhor nos traduz quem eram os leitores de Vamos Lêr! era a de
auxílio emocional, que associava misticismo e pseudo-ciência. Entre os anos de 1936 até
novembro de 1940, publicou-se na revista a seção Retratos Antropológicos: Conheça a si
mesmo revelando o futuro pelos caracteres fisionomicos, que transformava o roteiro de
critérios da Frenologia e da Fisiognomia em oráculo. O consultor recebia as fotos dos
consulentes e, a partir dos traços fisionômicos da face da pessoa, interpretava sua
personalidade, seu caráter e seu futuro.
12
SALIBA, Elias Thomé.Raízes do Riso. São Paulo: Cia das Letras, 2002, p. 43.
n. 778 – Valeria (17 annos, solteira, Recife) – Vejo em sua fronte olhos
de espírito destemido e nos lábios e nariz descaso em assumptos
materiaes. Sua cabeça e cabellos revelam espírito irrequieto e bom. No
queixo noto que é serviçal e nas orelhas senso coorporativista. Sua vida
será muito longa.”
n. 7555 – Marco (22 annos, Rio, solteiro) – São bem claros os indícios de
felicidade por mim encontrados em seus olhos e fronte. Seus cabelos e
cabeça revelam sentimentos nobilitantes . Em seus lábios e nariz noto
firmeza de resoluções. No queixo vejo que é exacto e pontual e nas
orelhas noto calma.
n. 3019 – Filho do Oriente (22 annos, solteiro, Rio de Janeiro) Sua cabeça
e fronte mostram espírito humorístico e os cabellos e a orelhas orgulho.
Os lábios e o nariz denotam franqueza e os olhos e o queixo força de
vontade. Gratíssimo pela sua fotografia.
Curioso notar que, até 1940, ainda era possível observar na revista um grande
destaque aos “avanços sociais” na Alemanha, freqüentemente a revista trazia fotos de
mulheres atletas, mulheres praticando Educação Física, destacando os benefícios dessas
práticas para a formação de uma juventude saudável, contudo, a partir de dezembro de
1940, o discurso muda tanto no corpo da revista quanto em seu oráculo, que na edição de
O CRUZEIRO
13
Vamos Lêr! Edição de 05 de dezembro de 1940, p.56
14
Sobre esse tema veja o livro de Accioly Netto – O Império de Papel: os bastidores de O
Cruzeiro - Editora Sulina, Porto Alegre, 1998.
15
Sobre as características da revista Cruzeiro, ao ser lançada, veja O império de papel: os
bastidores de O Cruzeiro, de Accioly Neto, organizado por Heloísa Seixas. Baseamo-nos ainda nas obras
de Fernando Morais, Chatô o rei do Brasil, e de Luiz Maklouf Carvalho, Cobras criadas, autores que
resgatam historicamente a trajetória da revista, do maior empresário de comunicação no período e de
personagens como David Nasser eJean Manzon, uma dupla de jornalistas muito conhecida do país de
1930-1970.
3) MANCHETE
Com destaque para as belas e chamativas fotos da capa, Manchete, já nos primeiros
anos de circulação colocava-se ao lado de O Cruzeiro, tornavam-se assim as duas grandes
vitrines do que se pensava sobre um Brasil moderno; eram as duas janelas que ao mesmo
tempo mostravam e filtravam o mundo para o leitor, por meio delas, o Brasil discutia
cinema, rádio, política, curiosidades culturais e científicas, povos desconhecidos e
estranhos costumes eram revelados, catástrofes, guerras, mas também o mundo feminino
era valorizado, bem como os esportes – tendo o futebol, mais do que nunca alçado à
categoria de paixão nacional – e o humor.
No que se refere às seções criadas pela revista, damos destaque, inicialmente a uma
publicação semanal que acompanhava a Manchete; trata-se da Manchete Esportiva. Criada
em novembro de 1955, a revista circulou somente até maio de 1959. Seguindo a mesma
fórmula e sua irmã-ilustrada e de variedades, a versão Esportiva, também objetivava
alcançar uma linguagem e um formato moderno, diferenciando-se do que já havia em
matéria de crônica esportiva no país. Dirigida por Augusto Falcão Rodrigues, a revista
teria o irmão do diretor como o principal e mais polêmico cronista esportivo: Nelson
Rodrigues. Seu texto, antes de tudo, provocava o leitor, rompia com a narrativa
cronológica do jogo a ser descrito, descrevendo os acontecimentos como um narrador
onisciente; como podemos ver em crônica da Manchete Esportiva de junho de 1956,
intitulada O Tapa Celestial:
21
Passaram pela redação da Manchete muitos jornalistas, músicos e hoje, famosos homens da
mídia: “Paulo Coelho foi correspondente em Londres; o saxofonista Leo Gandelman foi fotógrafo. Os
escritores Carlinhos de Oliveira, Ruy Castro, José Louzeiro e Flávio Moreira da costa; o dramaturgo
Nelson Rodrigues e o poeta Paulo Leminski (que trabalhava no Departamento de Pesquisa) colaboraram
com textos para a revista. Ronaldo Bôscoli, um dos inventores da bossa nova, era redator, e o dançarino
Carlinhos de Jesus era do Departamento Pessoal. Júlio Barroso, jornalista e roqueiro, foi correspondente
em Nova York, até escolher viver de música e fundar a Gang 90&Absurdetes, banda Cult dos anos de
1980. Gilberto Tumscitz foi repórter de Manchete. Quem é Gilberto Tumscitz? Ele mesmo, o Gilberto
Braga das novelas da Globo. E Rubem Gerchman foi paginador da revista.” Gonçalves, José Esmeraldo e
Muggiatti, Roberto. A Janela do Russell. In Gonçalves, José Esmeraldo e Barros, J.A. Aconteceu na
Manchete: as histórias que ninguém contou. Rio de Janeiro: Desiderata, 2008, p.36.
As 156 crônicas assinadas por Rodrigues primavam por uma linguagem literária
que mesclavam citações de Shakespeare, Dostoievski às expressões típicas da linguagem
popular do futebol, dando ao discurso da revista um caráter de extrema, talvez até
excessiva originalidade, como aponta Ruy Castro: “Talvez fosse uma revista inteligente
demais para o torcedor comum de futebol, cujo QI não era muito mais cintilante do que o
de Tuninho, o anti-herói de A Falecida”23. Na edição número 10, de 28 de janeiro de 1956,
temos um exemplo da tônica eclética da revista; a matéria sobre a história de vida do
jogador Leônidas, que começou como sapateiro e havia chegado no auge de sua carreira
aos dez mil cruzeiros por mês, era publicada sob o título Os Miseráveis, em óbvia alusão à
obra de Vitor Hugo. Na edição número 16, outra era a referência. Numa matéria sobre a
história do jogador Didi, intitulada Rigolletto ou Meu destino é pecar; o título fazia ao
mesmo tempo alusão à obra de Verdi e ao livro de Susana Flag, pseudônimo de Nelson. Os
leitores de Manchete Esportiva eram majoritariamente os torcedores de futebol, uma vez
que este era o esporte que imperava nas páginas da revista. Para Augusto Rodrigues, a
primazia do futebol dava-se
“porque era o esporte que mais tinha público. Era o esporte nacional.
Eram as vitórias brasileiras no futebol que estimulavam o orgulho
nacional, e era praticado de Norte a Sul do país, em todos os estados.”24
22
Manchete Esportiva, Rio de Janeiro, nº 32, 30 de junho de 1956.
23
O depoimento de Ruy Castro encontra-se em VOGEL, Daisi Irmgard. Fábulas do gol. As
crônicas esportivas de Nelson Rodrigues (1956-1958), Santa Catarina: Universidade Federal de Santa
Catarina, UFSC, 1997.
24
VOGEL, D. I. Presença de Nelson Rodrigues no projeto Manchete Esportiva. In: 4º Encontro
Nacional de História da Mídia, 2006, São Luís. 4º Encontro de História da Mídia. São Luís: Rede Alfredo
de Carvalho. v. 1. p. 14. Comunicação disponível em
http://www.redealcar.jornalismo.ufsc.br/cd4/impressa/d_vogel.doc.
A revista era uma verdadeira referência para os torcedores, não somente do eixo
Rio - São Paulo, mas do Nordeste e de todo o Brasil. Em seu depoimento sobre sua
passagem pela Editora Bloch, José Esmeraldo Gonçalves, que lá esteve por vinte anos,
descreve o que fora para ele a Manchete Esportiva quando garoto:
A linguagem rebuscada a qualidade gráfica, serão dois grandes atrativos que farão
da revista um sucesso de vendagem, chegando, durante a copa de 1958, a uma tiragem de
100 mil exemplares semanais. Contudo, a pouca presença de patrocinadores – em 1957,
por exemplo, a revista passa por uma reforma gráfica, moderniza-se e em 64 páginas não
há um único anunciante – e o encarecimento do papel levaram Bloch a decidir pelo
fechamento da revista em 1959.
CONCLUSÃO
Referências