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ARTE ELETRÔNICA

Cibercultura

A cibercultura é um conceito adotado há cerca de 20 anos para descrever um período da


história marcado pelo contexto tecnológico desenvolvido desde a década de 1970. O
termo é usado como referência para processos e produtos culturais e artísticos que não
só são realizados por meio de novas tecnologias de informação e telecomunicação,
como também refletem e se relacionam com as dinâmicas de transformação da vida e da
sociedade impulsionadas por essas tecnologias (RUDIGER, 2007; Mediateca
CaixaForum, 2004).

O entendimento dos sentidos desta transformação oscila entre a utopia da


transcendência amparada pela máquina e a fobia ante um iminente determinismo
tecnológico totalitário. Com inclinação mais utópica, está a aposta na constituição de
um hipertexto universal, derivado da expansão do ciberespaço orientada por
interconexões, formação de comunidades virtuais e emergência da inteligência coletiva,
conforme Pierre Lévy (1999). Ao contrário da escrita e de forma semelhante à
comunicação oral, esta universalidade não é totalizante, pois permite ligações
indeterminadas entre pontos heterogêneos que compartilham contextos, mas não um
sentido fechado e restritivo.

Neste mesmo sentido, comparecem discursos pós-humanistas que apostam no horizonte


ciborgue da convergência das tecnologias de informação com a engenharia genética. O
resultado seria a consequente hibridação dos organismos biológicos com as máquinas e
sua transformação em organismos cibernéticos, de acordo com Donna Haraway (2000).

A perspectiva contrária, enviesada para a tecnofobia, alerta sobre os efeitos perversos da


transformação que a cibercultura traz para a vida social. A conveniência de seus efeitos
é colocada em questão de diversas formas. Para Paul Virilio, a aceleração tecnológica
torna-se inversamente proporcional à inércia e confinamento da atividade humana,
implicando a perda de contato social. Por sua vez, Jean Baudrillard aponta que a
excessividade da comunicação na cibercultura implode o sentido e o real e impulsiona a
constituição de um universo de simulacros. Por fim, Gianni Vattimo denuncia a
instauração de um ideal oscilante e plural de emancipação das subjetividades, descolado
de um princípio de realidade comum (MATTELART; MATTELART, 1999).

No Brasil, para além dessas oposições teóricas mais radicais, André Lemos (2002,
2003) entende a cibercultura como uma forma sociocultural resultante da simbiose entre
sociedade, cultura e tecnologias de base microeletrônica e de telecomunicações. Em
lugar de ser definida como uma cultura controlada e determinada pela tecnologia
(conforme sugere o prefixo grego kubernetes, do qual deriva a ciência cibernética), a
cibercultura é uma relação recíproca que se estabelece entre a sociabilidade pós-
moderna e os aparatos tecnológicos. Seus aspectos essenciais são a apropriação
astuciosa dos usos, o desvio das regras impostas e o excesso improdutivo de dados.
HARAWAY, Donna. Manifesto ciborgue: ciência, tecnologia e feminismo-socialista no
final do século XX. In: ______; KUNZRU, Hari; SILVA, Tomaz Tadeu da.
Antropologia do ciborgue: as vertigens do pós-humano. Belo Horizonte: Autêntica,
2000.

LEMOS, André. Cibercultura: tecnologia e vida social na cultura contemporânea.


Porto Alegre: Sulina, 2002.

LEMOS, André. CIBERCULTURA: Alguns pontos para compreender a nossa época.


In:______; CUNHA, Paulo (orgs). Olhares sobre a Cibercultura. Porto
Alegre: Sulina, 2003. pp. 11-23. Disponível em:
http://www.facom.ufba.br/ciberpesquisa/andrelemos/cibercultura.pdf. Acesso em 15 de
maio de 2011.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.

MATTELART, Armand; MATTELART, Michèle. História das teorias da


comunicação. São Paulo: Loyola, 1999.

MEDIATECA CAIXAFORUM BARCELONA. Fondo documental. Fundació “la


Caixa”, Barcelona, 2004. Disponible en: http://www.mediatecaonline.net/. Acceso en:
14 de mayo de 2011.
RÜDIGER, Francisco Ricardo. Introdução às Teorias da Cibercultura: Tecnocracia,
Humanismo e Crítica no Pensamento Contemporâneo. 2ª edição revista e ampliada.
Porto Alegre: Sulina, 2007.

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