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Mario Pedrosa inúmeras são as expressões que o definem e que fizeram dele
uma figura singular e marcante entre os intelectuais brasileiros: espírito engajado e
atento às conjunturas de sua época, marxista, trotskista, revolucionário, crítico de arte
aparentemente contraditório. Não são apenas categóricos soltos, essas expressões
demonstram uma personagem cheia de profundidade ao qual muitos estudiosos
brasileiros têm recentemente procurado desvendar, pois que sua trajetória se vincula de
modo intrínseco à conjunturas importantes no âmbito nacional e internacional.
Vinculado, na juventude, ao Partido Comunista – com o qual rompe em virtude de
divergências ideológicas – e durante toda a sua vida ao pensamento marxista, Pedrosa
nunca perdeu de vista a via revolucionária, de viés heterodoxo, a partir do qual viveu e
buscou compreender o contexto político nacional e internacional. Neste esforço, duas
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obras de capital importância foram concebidas por ele por ocasião do Golpe Militar de
1964 no Brasil, e ao qual ele busca compreender as causas e desdobramentos para além
do contexto nacional e nos quais se pode verificar, o que buscaremos em certa medida
nesta análise, a expressão de seu pensamento, são elas A Opção Imperialista e A opção
Brasileira.
1
Sendo o principal amigo e companheiro de militância: o escritor Lívio Barreto Xavier.
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1984:14) Este autor afirma, ainda, que a organização trotskista no Brasil, representou
uma das mais fortes e coerentes da América Latina, especialmente pela qualidade
intelectual dos dirigentes da LCI2 que através de jornais e livros promovem uma
“difusão ideológica sem paralelos, na época, em nosso continente, e que a coloca
inclusive muito acima do PCB”. Não obstante o valor desta representatividade, Pedrosa
acabaria por se envolver numa discussão, “Ao lado de Max Schactman, dirigente
trotskista norte-americano com o qual redige um documento em que faz restrições à
linha de Trotski, obtendo grande repercussão no interior do partido americano” (NETO,
1993: 26), fato que o levaria à expulsão pelo próprio Trotski do Secretariado da IV
Internacional em 1940.
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Pedrosa, Lívio Xavier, Rodolfo Coutinho, entre outros; todos dissidentes do PCB.
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Em 1946, período inicial do PSB, sua atividade política é mais intensa.
Paulatinamente, até 1966, dedica-se com maior empenho a viagens
internacionais, organizando museus e exposições artísticas. Nesse período
também leciona na Faculdade de arquitetura e no Colégio Pedro II no Rio de
Janeiro, além de trabalhar como jornalista no Correio da Manhã, no Jornal
do Brasil e em outros periódicos. Em 1964, inicia o trabalho sobre dois livros
de política, A Opção Imperialista e A Opção Brasileira, publicados em 1966,
quando se candidata a deputado federal pelo Movimento Democrático
Brasileiro (MDB) no Rio de Janeiro. (NETO, 1993: 27)
É possível perceber, então, que autor não abandona a tese de que a revolução
socialista deve ser uma tarefa buscada por cada nação. Rejeita qualquer forma de
doutrinarismo que viesse contra as concepções políticas que professava, de luta,
mentalidade e revolução, nesse sentido, Mario Pedrosa, que sempre acreditou numa
revolução para o Brasil 4, aproximou-se cada vez mais das ideias marxistas de Rosa
Luxemburgo pelas quais acreditava que “a emancipação dos trabalhadores será obra dos
próprios trabalhadores.” Para Pedrosa - luxemburguista - esta emancipação dos
trabalhadores somente seria possível tomando por premissa a organização autônoma das
massas que levaria a uma autogestão da sociedade em todos os níveis, e
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PEDROSA, Mario. A Opção Brasileira, 1966, 1.
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“Ser revolucionário é a profissão natural de um intelectual [...] Sempre achei que a revolução é a
atividade mais profunda de todas. [...] Sempre sonhei uma revolução para o Brasil.” (Pedrosa numa
entrevista ao Pasquim publicada em 18 de novembro de 1981 apud LOUREIRO In: Mario Pedrosa e o
Brasil: SP: Fundação Perseu Abramo, 2001.
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A partir dessas suas obras, Pedrosa busca apontar uma direção para a revolução
na periferia, ou seja, nacional; afirma ele, ainda, que “não faz sentido que os países
periféricos imitem o caminho da metrópole”. A partir dessa ideia, Mário constata duas
opções possíveis para o Brasil: “um futuro aberto ou a miséria eterna”. Há um projeto
revolucionário no pensamento deste intelectual militante: “existe “em andamento, um
pouco por toda a parte, um projeto a realizar, condição sine qua non para conceber o
futuro, ou seja, manter aberta para todos uma perspectiva desimpedida de
desenvolvimento histórico. O que é isto senão uma revolução? Sim, uma revolução. A
única suscetível de mobilizar os povos da maioria da humanidade. A única
positivamente concebível como a tarefa histórica do vigésimo primeiro século”.”5
5
Ibid.
6
PEDROSA, A Opção Imperialista, 1966. p.1.
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Aliança para o Progresso – “um mito furado”. Entretanto, para o autor não é
apenas a impossibilidade de realização desse mito que impedem o esforço de
desenvolvimento econômico, político e social dos países latino-americanos; é, ainda,
9
12
Ibidem.
13
Ver p.2-4.
14
Aqui Pedrosa cita Dr.Gudin – p.4.
15
PEDROSA, 1966, p.55.
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Dessa nova luta pela terra e suas particularidades, surpreendeu aos latifundiários
a iniciativa, por parte destes trabalhadores a formação da Liga Camponesa a partir da
ideia de se fazer representar por um advogado. Os proprietários de terra não se
16
Ibidem, p.56.
17
Ibidem, p.57.
18
Ibidem, p.59.
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conformavam em “assistir nascer naquela gente do eito e do cambão, até aqui submissa
e acostumada a obedecer, a um comportamento surpreendente, uma audácia
desconhecida, uma inteligência, em suma, nova de seus próprios problemas.” O pontapé
da defesa advocatícia obrigou o latifundiário a ouvir o “camponês”; e este, por sua vez,
que nem sempre, ou quase sempre, não encontrou ressonância no que diziam, deu início
ao movimento camponês, uma “revolução camponesa”.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
19
Ibidem, p.60.
12
LOUREIRO, Isabel Maria. Mario Pedrosa e o socialismo democrático. In: NETO, José
Castilho Marques (Organizador). Mário Pedrosa e o Brasil. 1ª ed. São Paulo: Editora
MARI, Marcelo. Tese: Estética e Política em Mario Pedrosa (1930-1950). São Paulo:
USP, 2006.
PEDROSA, Mário. A Opção Brasileira. RJ: Editora Civilização Brasileira, 1996.