Terceira Civilização - Edição 444 - 01/08/2005 - pág.
18 - Diálogo Sobre Religião Humanística
Terceira Civilização - Diálogo Sobre Religião Humanística
[21] Nascimento, velhice, doença e morte
Esta é a vigésima primeira parte da série “Diálogo
sobre a religião humanística” publicada na
revista de estudo mensal da Soka Gakkai,
Daibyakurengue, edição de março de 2004.
Neste diálogo, o presidente da Soka Gakkai
Internacional, Daisaku Ikeda, o coordenador e o
vice-coordenador do Departamento de Estudo
de Budismo da Soka Gakkai, Katsuji Saito e
Masaaki Morinaka, enfocam vários fatos da
história do budismo e da vida de Nitiren
Daishonin de forma abrangente e profunda. Com
certeza, este artigo contribuirá para facilitar a
compreensão dos ensinamentos budistas e da
filosofia humanística que cada vez mais atrai a
atenção das pessoas do mundo inteiro.
Katsuji Saito: Neste artigo e no
subseqüente, gostaríamos de enfocar a
conduta de Nitiren Daishonin em seus
últimos anos de vida.
Presidente da SGI, Daisaku Ikeda: Como
devoto do Sutra de Lótus, Daishonin
dedicou toda a sua vida, de coração e sem
restrições, a abrir o caminho da iluminação
para as pessoas dos Últimos Dias da Lei.
Como esse defensor da Lei de infinita
nobreza considerou os quatro sofrimentos
de nascimento, velhice, doença e morte
em sua própria vida? Que tipo de
orientação deu a seus seguidores sobre
este assunto? Como ele enfrentou a
própria morte? Analisemos estas e outras
questões. O nascimento, a velhice, a
doença e a morte representam um tema
de importância fundamental para toda a
humanidade.
Masaaki Morinaka: Conforme descrito na
história dos quatro encontros de
Sakyamuni,1 não seria exagero dizer que o
budismo surgiu desse desejo de explicar
os sofrimentos fundamentais do
nascimento, da velhice, da doença e da
morte.
O nascimento, a velhice, a doença e a
morte
são realidades da vida humana
Presidente Ikeda: Nitiren Daishonin diz:
“Primeiro, aprenda sobre a morte para
então estudar outros assuntos.” (Gosho
Zenshu, pág. 1404.) O principal motivo que
levou Sakyamuni a deixar seu lar e a
ingressar na vida religiosa foi o desejo de
encontrar respostas para as questões
sobre a vida e a morte. Sem uma
explicação para os sofrimentos do
nascimento, da velhice, da doença e da
morte, a prosperidade e a felicidade
humana serão metas eternamente fora de
nosso alcance. Contudo, mesmo sendo
uma questão de importância fundamental,
muitas pessoas evitam encarar essa
realidade da condição humana.
Morinaka: Daishonin diz: “Uma vez que
estamos vivos, é impossível escaparmos
da morte. Embora todos, desde o mais
nobre, o imperador, até o cidadão mais
comum, reconheçam esse fato, nem uma
única pessoa entre mil ou dez mil pondera
Daniel de Aguiar da Cunha (841634-6) / pág. 1.
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seriamente sobre essa questão ou sofre
com isso.” (Os Escritos de Nitiren Daishonin
[END], vol. II, pág. 47.)
Presidente Ikeda: O nascimento, a velhice,
a doença e a morte são realidades da vida
humana. É impossível fugir dessa
realidade. Tentar fazer isso não nos levará
à verdadeira felicidade.
Saito: Em minha opinião, uma das razões
pelas quais as pessoas evitam enfrentar
essa realidade da existência humana é
porque ela as coloca cara a cara com a
impermanência da vida.
Presidente Ikeda: Todos os fenômenos do
Universo são transitórios. Tudo existe em
um estado de fluxo constante. O Universo
inteiro é regido pelo ritmo inexorável do
nascimento, da impermanência, da
mudança e da extinção.2 Do mesmo modo,
o nascimento, a velhice, a doença e a
morte estão entrelaçados na rede de
nossas vidas.
Aqueles que não dão valor à vida, no
fundo, têm medo da morte. Os que não
dão importância à sua juventude temem
envelhecer. Os que negligenciam a saúde
ficam aturdidos quando adoecem. Os
quatro sofrimentos da vida são inevitáveis.
Mas, para um buda — para alguém que
têm consciência da Lei Mística e que
compreende a eternidade da vida —, o
nascimento, a velhice, a doença e a morte
constituem um ritmo fundamental. Eles
exalam a fragrância das quatro nobres
virtudes: eternidade, felicidade, verdadeira
identidade e pureza.3 O ciclo de
nascimento, velhice, doença e morte das
pessoas comuns, que praticam a Lei
fundamental de Nam-myoho-rengue-kyo
e se dedicam totalmente a ela, também
estão imbuídas da fragrância dessas
quatro virtudes. É isso o que Daishonin nos
diz.4
Para compreender melhor este princípio,
analisemos o que Daishonin nos diz
especificamente sobre os quatro
sofrimentos em termos de sua própria vida.
Em “Sobre a construção do templo
Hatiman”, escrita em 1281, um ano antes de
falecer, Daishonin descreve seu estado de
saúde.
Morinaka: Sim. Ele diz: “Durante vinte e
nove anos venho pregando esta doutrina
[da Lei Mística]. Talvez, por esgotamento
físico ou pelo esforço mental devido a dias
e dias de debates, a meses e meses de
perseguições e aos dois exílios, nos
últimos sete ou oito anos [aqui em Minobu]
doenças vinculadas à velhice têm me
afetado a cada ano. Nenhuma delas
resultou em crise, mas desde o primeiro
mês deste ano, meu corpo vem se
debilitando nitidamente, e sinto que minha
vida se aproxima do fim. Além disso, já
completei sessenta anos.5 Mesmo que
consiga passar deste ano, será que
conseguirei viver um ou dois anos mais?”
(Gosho Zenshu, pág. 1105.)
Saito: Ele previu claramente o momento de
sua própria morte.
Presidente Ikeda: O segundo presidente da
Soka Gakkai, Jossei Toda, um ano antes de
falecer, também predisse que sua vida se
encerraria “na época em que as cerejeiras
florescessem”. E, de fato, assim foi. O
Daniel de Aguiar da Cunha (841634-6) / pág. 2.
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presidente Toda não desviava seus olhos
da realidade do nascimento, da velhice, da
doença e da morte em sua própria vida.
Morinaka: É extremamente difícil para as
pessoas refletirem sobre a questão da vida
e da morte. Assim sendo, acredito que
devemos nos esforçar para criar uma
atitude para com a vida que nos permita
examinar profundamente o nascimento, a
velhice, a doença e a morte.
Presidente Ikeda: Durante os 21 anos que
transcorreram desde que estabeleceu seu
budismo, aos 32 anos de idade, até seu
retiro no Monte Minobu, aos 53 anos,
Nitiren Daishonin superou grandes
perseguições, “assim como as montanhas
se acumulam umas sobre as outras e as
ondas se levantam uma após a outra” (cf.
END, pág. 70). É evidente, a partir de seus
escritos, que cada uma dessas
perseguições foi para ele um desafio
enorme, tanto físico como mental.
Em particular, durante o exílio na Ilha de
Sado, aos 50 anos de idade, Daishonin
viu-se obrigado a viver em condições de
extrema severidade. Por esse motivo, sua
saúde estava muito fragilizada quando foi
viver em Minobu, e seu corpo, mais
vulnerável a contrair doenças. Nesse
trecho há pouco mencionado, Daishonin
fala do sofrimento de “doenças vinculadas
à velhice” (Gosho Zenshu, pág. 1105.) Em
um outro trecho, diz que sofria por causa
de uma “doença que o havia feito perder
muito peso” e do “envelhecimento”.6
Saito: Daishonin descreve especificamente
que teve várias diarréias, em 30 de
dezembro de 1277.7 No início de junho do
ano seguinte, em 1278, seus sintomas
pioraram. Felizmente, um tratamento
prescrito por Shijo Kingo o ajudou a se
recuperar.
Três anos depois, no começo de 1281,
quando Daishonin tinha 60 anos, voltou a
adoecer seriamente. Tudo indica que no
final de novembro seu estado era tão
grave que mal conseguia comer.8
Morinaka: Em uma de suas cartas,
Daishonin menciona que em Minobu havia
uma terrível escassez de sal.9 Em vista
disso, é possível que a deficiência de
minerais tenha sido um fator agravante de
sua condição.
Presidente Ikeda: Embora várias menções
indiquem que ele havia se recuperado em
janeiro de 1282 — ano de seu falecimento
—, em fevereiro seu estado voltou a se
agravar, a ponto de ter que ditar até
mesmo cartas breves a seus discípulos,
pois não conseguia escrevê-las a mão.
Assim, em 28 de fevereiro, Nitiren
Daishonin escreveu o Gosho intitulado “A
prova do Sutra de Lótus” (The Writings of
Nichiren Daishonin [WND], págs.
1108–1109), que enviou por intermédio de
Nikko Shonin. Nela, Daishonin oferece
sinceras palavras de orientação a seu
discípulo gravemente enfermo, Nanjo
Tokimitsu, para que ele repelisse as
funções maléficas da doença e da morte,
que o estavam atacando. O fato de ter
reunido suas energias para escrever essa
carta, apesar de sua própria debilidade
física, demonstra o poder ilimitado de sua
benevolência.
Daniel de Aguiar da Cunha (841634-6) / pág. 3.
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Ao que tudo indica, a saúde de Daishonin
continuou a oscilar até os últimos dias de
sua vida, quando partiu de Minobu, em
setembro.10 Pelo fato de poucas cartas
suas, escritas de próprio punho aos
seguidores durante 1282, terem sido
conservadas, restando nos dias de hoje
algumas breves mensagens de Ano-Novo
e outras cartas como “A prova do Sutra de
Lótus” —, podemos deduzir que Daishonin
encontrava-se extremamente debilitado e
que seu estado de saúde era muito
precário.
“O Nam-myoho-rengue-kyo é como o
rugido de um leão”
Saito: Peço a permisão para deixarmos
uma análise mais detalhada dos últimos
dias de vida de Nitiren Daishonin para a
segunda parte deste diálogo. Por ora,
gostaríamos de comentar que, a julgar por
seus escritos, é claramente visível que a
postura de Daishonin em relação à velhice,
à doença e à morte não tinha nada a ver
com a atitude melancólica ou resignada
que as pessoas costumam ter quando se
aproximam do fim da vida. Suas palavras,
francas e sem quaisquer artifícios, também
transmitem a dor e o sofrimento reais que
ele estava experimentando. Mas a
impressão predominante que temos é a de
seu estado de vida sereno, imperturbável,
livre do desespero e da sensação de
impotência.
Morinaka: Observando sua fortaleza
espiritual, podemos concluir com toda
certeza que Daishonin havia
compreendido e aceitado perfeitamente a
realidade da velhice. Ao mesmo tempo,
seu espírito de luta não enfraqueceu em
momento algum, mesmo quando adoeceu
ou devido à debilidade física ou às
condições ambientais extremas como as
de Minobu.
Presidente Ikeda: O Sutra de Lótus afirma
que o Buda tem “poucas enfermidades e
poucas preocupações” (The Lotus Sutra
[LS], cap. 15, pág. 214). Essa frase quer dizer
que mesmo aqueles que se tornam budas
continuam tendo algumas causas de
sofrimentos e de preocupações e,
naturalmente, estão sujeitos à doença. É
justamente pelo fato de se dedicarem à
verdade e à justiça que, infalivelmente,
enfrentam todos os tipos de obstáculos e
funções maléficas.
Acreditar que a iluminação implica em
atingir um estado eternamente livre de
obstáculos e de funções negativas não é
budismo. Ao contrário, o vasto estado de
vida do Buda nos brinda com a força e o
poder interior para enfrentar sem medo
esses ataques, e nos possibilita extrair a
sabedoria necessária e a agir para triunfar
sobre eles.
Em nossa vida, munimo-nos de forte fé
para lutar contra os obstáculos, como por
exemplo, a maldade da doença, sem
temê-los ou sermos subestimados por
eles. Isso corresponde a manifestar o
estado de Buda.
Morinaka: Reiterando, só porque
praticamos o budismo, não significa que
jamais adoeceremos.
Presidente Ikeda: O presidente Toda
costumava dizer: “A doença é uma função
da natureza. Mas os seres humanos
Daniel de Aguiar da Cunha (841634-6) / pág. 4.
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também possuem em seu interior o poder
de curar seus próprios males. Isso seria
como subir uma ladeira íngreme e voltar
novamente ao chão.”
Daishonin diz: “O verdadeiro aspecto do
mundo tríplice11 é o nascimento, a velhice,
a doença e a morte.” (Gosho Zenshu, pág.
753.) A doença, em si, é apenas um
aspecto da vida humana. Não podemos
concluir que uma pessoa, só pelo fato de
ter adoecido, é alguém derrotado. Chegar
à conclusão de que ela não tem fé só
porque adoeceu seria uma postura
completamente desprovida de
benevolência. Oferecer um caloroso alento
àqueles que travam uma batalha contra a
doença é uma expressão de verdadeiro
afeto. Quando algum de seus seguidores
adoecia, Daishonin imediatamente o
encorajava com todo o seu ser.
O “rugido de leão” do
“Nam-myoho-rengue-kyo é a arma
poderosa para combater a enfermidade.
Jamais devemos nos esquecer da
declaração de Daishonin: “O
Nam-myoho-rengue-kyo é como o rugido
de um leão. Que doença pode, portanto,
ser um obstáculo?” (WND, pág. 412.)
Saito: No diálogo com o senhor, presidente
Ikeda, o bioético canadense e professor da
Universidade de Montreal, Dr. Guy
Bourgeault, observou que saúde não
significa ausência de doença nem
simplesmente uma condição estável. Ele
disse: “Essencialmente, boa saúde está
mais para tensão entre um equilíbrio
precário e a dinâmica constante de seu
restabelecimento do que para ausência de
doença.”12
Morinaka: É verdade. Mesmo quando
estamos sadios, uma batalha incessante se
processa em nosso corpo contra as
bactérias e os vírus causadores de
doenças. Nesse sentido, a ausência de luta
equivale à morte de um organismo.
Presidente Ikeda: Usar a luta contra a
doença para desenvolver-se e
enriquecer-se interiormente é um modo
de vida embasado na criação de valores.
Eis por que é tão importante termos o
“coração de um rei-leão”, ou seja, a
coragem para lutar até o fim contra todos
os obstáculos.Devemos nutrir um espírito
intrépido e indomável. Por essa mesma
razão, precisamos nos dedicar nos dois
caminhos da fé e da prática todos os dias,
recitando Nam-myoho-rengue-kyo tanto
para o nosso bem como para o dos
demais, e fortalecer a determinação de
não retroceder nem esmorecer diante de
nenhum ataque da maldade da doença.
Quando a monja leiga Toki, esposa de Toki
Jonin, adoeceu gravemente, Daishonin
enviou-lhe várias cartas de encorajamento,
com o propósito de transmitir-lhe força e
esperança.
A vontade e a ação de lutar contra a
doença
Morinaka: Durante muitos anos, a monja
leiga Toki cuidou de sua idosa sogra, que
se encontrava doente, e também apoiou
seu marido nos momentos difíceis. É
provável que toda essa tensão e esforços
acabaram debilitando sua saúde. Ela
também carecia de energia para procurar
um tratamento que a curasse. Por essa
Daniel de Aguiar da Cunha (841634-6) / pág. 5.
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razão, Daishonin a encoraja dizendo: “A
senhora também é uma praticante do
Sutra de Lótus e sua fé é como a Lua que
cresce ou a maré que sobe. Assim sendo,
tenha total convicção de que sua doença
não se estenderá e que, infalivelmente, a
senhora prolongará sua vida. Cuide-se e
não encha sua mente de pensamentos
angustiantes.” (WND, pág. 656.)
Presidente Ikeda: “Não sobrecarregue sua
mente de angústia”, ele diz. O importante é
ter o espírito combatente, a postura de um
devoto do Sutra de Lótus. Ele também diz:
“Cuide-se.” É fundamental que tomemos
medidas práticas para recuperar nossa
saúde.
Ninguém deseja ser vencido pela doença.
Mas, se uma moléstia em particular
interfere em nossas atividades diárias ou
em nosso trabalho, ou nos faz perder a
coragem e a confiança em nós mesmos,
gradativamente o desespero vai se
apoderando de nós. No caso da monja
leiga Toki, talvez a resignação que sentia
era devido a sua doença não dar sinais de
melhora durante um longo tempo.
Daishonin a encoraja a munir-se de nova
determinação e a decidir viver não
importando as dificuldades.
Morinaka: Em “Sobre o prolongamento da
vida”, Daishonin declara: “A vida é o
tesouro mais precioso de todos. Um dia a
mais de vida vale mais do que dez milhões
de ryo13 de ouro. (...) Portanto, deve
apressar-se em acumular o tesouro da fé e
vencer rapidamente sua doença. (...)
“Um dia de vida é mais valioso do que
todos os tesouros de um grande sistema
de mundos. Assim sendo, antes de mais
nada, a senhora deve munir-se de sincera
fé. (...)
“Além disso,a senhora encontrou o Sutra
de Lótus. Se viver um dia a mais, poderá
acumular muito mais benefícios. Como é,
de fato, valiosa a sua vida!” (WND, pág.
955.)
Presidente Ikeda: Naturalmente, há
pessoas que têm firme fé, mas sua vida é
breve. Há certamente um significado muito
profundo por trás disso. O valor da vida de
uma pessoa não é determinado pelo
número de anos que ela vive. Daishonin
afirma: “É melhor viver um único dia de
forma honrada do que viver 120 anos e
morrer em desonra.” (WND, pág. 851.)
Nas passagens que o senhor acabou de
citar, Daishonin fala do “tesouro da fé”,
enfatizando à monja leiga Toki a
importância de fazer surgir a vontade, ou
seja, ter o desejo sincero ou a aspiração de
continuar vivendo.
Para nós, cada dia de vida é uma
oportunidade que temos de contribuir para
o Kossen-rufu. Cada dia que dedicamos à
promoção das atividades conduz
diretamente à realização do grande desejo
do Kossen-rufu. Portanto, não podemos,
absolutamente, ser vencidos por nenhum
obstáculo ou doença. Somente o rei
Demônio do Sexto Céu e seus
subordinados — as forças da escuridão e
da negatividade inerentes à vida — se
alegrariam de nos ver derrotados e
impossibilitados de cumprir nossa missão
pelo bem e em defesa da Lei Mística.
Daniel de Aguiar da Cunha (841634-6) / pág. 6.
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Morinaka: O drama da doença resume a
luta entre o buda e as funções maléficas,
entre atingir a iluminação e permanecer
nos mundos ou estados inferiores.
Aqueles que se dedicam sinceramente ao
Kossen-rufu adquirem as quatro nobres
virtudes do Buda
Presidente Ikeda: Daishonin diz que a
doença é um “desígnio do Buda” porque
nos incita a firmar “a determinação de
atingir o Caminho” (WND, pág. 937).14 De
fato, a doença nada mais é que uma
batalha entre o Buda e as forças maléficas.
Em “A prova do Sutra de Lótus”,
endereçada a Nanjo Tokimitsu quando ele
se encontrava muito doente, Daishonin fala
sobre a determinação e o espírito
necessários para vencer essas funções
negativas.
Saito: Ele condena os demônios da
enfermidade que atacavam Tokimitsu e
inicia seu ataque direto com as palavras:
“Vocês, malditos demônios...!” (cf. WND,
pág. 1109.)
Morinaka: Daishonin diz a seu discípulo:
“Agora, quando tudo indica que o senhor
atingirá a iluminação, provavelmente os
demônios celestiais e os espíritos
maléficos15 estão se valendo de sua
doença para intimidá-lo. (...) Por um
instante sequer, jamais se deixe vencer
pelo medo.” (WND, pág. 1109.) Em seguida,
ele refuta severamente as funções da
maldade.
Presidente Ikeda: Daishonin diz que, ao
atormentar Tokimitsu, esses demônios
estão ignorando o Sutra de Lótus e
convertendo-se em inimigos de todos os
budas do passado, presente e futuro, e de
todo o Universo. Ele também diz que não
basta que eles mudem sua postura e
curem a enfermidade de Tokimitsu. É
preciso que o protejam ativamente. Nessa
declaração, vemos um princípio vital que
esclarece a essência da boa saúde.
O propósito fundamental de uma vida
longa e saudável é poder beneficiar outras
pessoas na sociedade com nossas ações
benevolentes. Obviamente, é natural que
oremos também por nossa boa saúde e
longevidade. Nem é preciso dizer que
prejudicar nossa saúde com maus hábitos,
com um estilo de vida desordenado, ou
por negligência, contraria totalmente um
modo de vida de criação de valor.
Devemos exercitar a sabedoria em nossa
vida diária — por exemplo, reservando o
tempo necessário para descansar e nos
revigorar quando sentirmos fadiga. Boa
saúde é algo que nós mesmos temos de
assegurar, agindo com prudência e bom
senso. A saúde é a medalha de honra das
pessoas sábias.
Qual é o propósito de nos empenharmos
para ter uma vida longa e saudável? É para
poder usar essa vida ao máximo
trabalhando em prol da Lei, da felicidade e
o bem-estar de nossa família, de nossos
amigos e semelhantes, para cumprir nossa
missão individual e concretizar o grande
desejo do Kossen-rufu.
Portanto, é fundamental que enfrentemos
ativamente o desafio do nascimento, da
velhice, da doença e da morte em meio a
Daniel de Aguiar da Cunha (841634-6) / pág. 7.
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ou quarto dia do sexto mês deste ano, tornando-se mais freqüente a cada dia e mais
nossa luta pelo Kossen-rufu. Agir dessa
severa a cada mês.” (WND, pág. 920.) Em um outro escrito, ele diz: “Venho sofrendo de
forma é uma prova concreta de que em diarréia desde o trigésimo dia do décimo segundo mês do ano passado [1277], e esta não

nossa vida existem as quatro nobres melhorou mesmo nos meses de primavera ou verão deste ano. Passou o outono, e

virtudes do Buda: eternidade, felicidade, quando chegou o décimo mês só piorou. Depois disso, tive uma leve melhora, mas

parece que está para começar outra vez a qualquer momento.” (Gosho Zenshu, pág.
verdadeira identidade e pureza.
1099.)

8. Daishonin diz: “A cada dia me debilito mais, e a cada noite meu estado parece se

O nascimento, a velhice, a doença e a agravar. Nos últimos dez dias ou mais, quase não tenho me alimentado.” (Gosho Zenshu,

morte não são causas ou motivos de pág. 1583.)

aflição nem de lamentação. Ao contrário, 9. Em uma carta a Nanjo Tokimitsu, datada de setembro de 1278, Daishonin diz: “No

sétimo mês, um sho de sal nos custou cem moedas, também trocamos um to de trigo
constituem um brilhante palco para por cinco go de sal. Mas agora já não se consegue sal em nenhum lugar. O que podemos

representarmos o drama da vida que usar para comprá-lo? Nosso miso [pasta de soja fermentada] também acabou.” (Gosho

ressoe com os acordes triunfantes da Zenshu, pág. 1551.) Nota: To, sho e go (jap.) são unidades de volume. Um to equivale a

eternidade, da felicidade, da verdadeira aproximadamente 18 litros; um sho corresponde a cerca de 1,8 litros, e um go, a 0,18

litros.
identidade e pureza. Mediante a epopéia 10. Nitiren Daishonin deixou Minobu em 8 de setembro. Na carta “A chegada a Ikegami”, é

do nascimento, da velhice, da doença e da mencionado que o propósito formal de sua viagem era visitar as termas de Hitachi para

morte criamos uma existência de júbilo e recuperar-se (Gosho Zenshu, pág. 1376).[Acredita-se que a localidade de Hitachi,

vitória. mencionada nesse trecho, corresponda a atual Hitachi, na Província de Ibaraki, ou a

atual Hitachi, na província de Fukushima.] Ao longo do caminho, entretanto, Daishonin

parou em Ikegami [atual bairro de Ota, em Tóquio], na província de Musashi, onde deu
Notas
instruções a seus disípulos pela última vez. Daishonin faleceu em Ikegami, em 13 de
1. Quatro encontros: Relato que consta em vários sutras sobre o motivo que levou
outubro.
Sakyamuni a renunciar ao mundo secular e a seguir a vida religiosa. De acordo com o
11. O verdadeiro aspecto do mundo tríplice: A realidade do mundo tríplice (o mundo dos
relato, o jovem Sakyamuni que, como príncipe recebia total proteção dentro do palácio
desejos, da forma e da ausência de forma), tal como é percebida pela sabedoria do
real, lançou-se a uma série de passeios, saindo cada vez por um dos quatro portões. Em
Buda eterno. No 16o capítulo do Sutra de Lótus, “Revelação da Vida Eterna do Buda”,
cada incursão, encontrou uma pessoa idosa, um homem enfermo, um cadáver e um
lemos: “O Buda vê a essência real do mundo tríplice exatamente como ela é. Não há
asceta religioso. Mediante esses encontros, pela primeira vez, tomou consciência dos
fluxo nem refluxo de nascimento e morte, nem existência neste mundo e extinção depois.”
sofrimentos do nascimento, da velhice, da doença e da morte. Inspirado pela serena
(LS16, pág. 226.) Daishonin indica que quando percebemos a verdade mediante a
dignidade do asceta, no último encontro, decidiu renunciar ao mundo secular e buscar o
sabedoria do Buda eterno, compreendemos que o nascimento, a velhice, a doença e a
caminho da iluminação.
morte são inerentes à vida e que, em vez de tentar evitá-los, a forma iluminada de viver é
2. Nascimento, impermanência, mudança e extinção: São conhecidos como os quatro
aceitá-los e experimentá-los plenamente alicerçados na fé na Lei Mística.
aspectos mutantes dos fenômenos. Também são traduzidos como “vir a existir,
12. René Simard, Guy Bourgeault e Daisaku Ikeda, On Being Human (Sobre o Ser
permanecer, mudar e perecer”.
Humano). Santa Mônica, Califórnia, Middleway Press, 2003, pág. 52.
3. Quatro virtudes: Quatro nobres qualidades da vida do Buda, também conhecidas
13. Ryo (jap.): Unidade de peso equivalente a 37,5 gramas.
como paramitas das quatro virtudes: eternidade, felicidade, verdadeira identidade e
14. Daishonin diz: “Será que a doença de seu marido não se trata de um desígnio do
pureza.
Buda, pois os sutras Vimalakirti e Nirvana ensinam que as pessoas doentes sem falta
4. Em “Registro dos Ensinos Orais”, Daishonin diz: “Quando recitamos
atingirão o estado de Buda. A doença faz surgir a decisão de atingir o Caminho.” (WND,
Nam-myoho-rengue-kyo durante o nascimento, a velhice, a doença e a morte, fazemos
pág. 937.)
com que a fragrância das quatro virtudes emane [de nossa vida]. Nam refere-se ao
15. Na passagem original em japonês, a palavra usada para expressar espírito maléfico é
paramita da felicidade; myoho, ao da verdadeira identidade; rengue, ao da pureza; e kyo,
guedo, cujo significado literal é “fora do caminho” e que usualmente indica os hereges e
ao paramita da eternidade.” (Gosho Zenshu, pág. 740.)
não-budistas. Nesse trecho, guedo é empregado para aludir a algo ou a alguém que
5. De acordo com a forma tradicional japonesa de contar.
produz desastres. Daí a razão da expressão “epíritos maléficos”.
6. Nitiren Daishonin diz: “Nestes últimos oito anos, devido à doença — que me fez perder

muito peso — e à idade avançada, com o passar do tempo meu corpo vem se

debilitando e minhas faculdades mentais também têm enfraquecido.” (Gosho Zenshu,

pág. 1583.) Ele ainda declara: “Também tenho recebido muitas outras cartas suas, mas

devido às debilitações da velhice e ao meu pouco apetite, ainda não pude respondê-las.

Peço-lhe minhas humildes desculpas.” (Gosho Zenshu, pág. 993.)

7. Daishonin descreve sua própria condição dizendo: “No trigésimo dia do décimo

segundo mês do ano passado [1277], começou uma diarréia que persistiu até o terceiro

Daniel de Aguiar da Cunha (841634-6) / pág. 8.