Você está na página 1de 397

P e .

PASCOAL LACROIX
< 0. F. M. BUENO DE SEQUEIRA

O ESPIRITISM O
À LUZ DA RAZÃO

1941
F fli.l: Rua São Jo ié , 38 - T el.fone 4 2 -8 7 8 7
RIO DE JANEIRO
N IH IL O BSXAT.
T a u b a tö , ln festo C o rp o ris C h risti, 1 940.
P . Ferd. Baumhoff S. C. J.
lib r. c en so r a d -h o c.

N IH IL O BSTA T .
Rio, 17 d e J u lh o de 1940.
Padre ] . Bat. da Siqueira.

IM P R IM A T U R
V ig. G eral.
Mons. R. Costa Re go
R io, 2 3-7-1940.

IM P R IM I P O T E S T .
T aubatO , in te sto A ssu m p tio n is B. M. V,
a n n l 1940
P . P . Storms
P ra e p . p ro v . b rasll.
ÍNDICE

Prefácio . . . 9

Introdução — Plano Geral — Cristianismo — M ateria­


lismo — Espiritismo — Noções preliminares . . 18

P R IM E IR A P A R T E : FE N Ô M E N O S O U FA T O S
A L E G A D O S .................................................................31
Cap. 1." — Relatório dos fenômenos supranormais . 33
A ) — Fenômenos experimentais ou provocados 33
1.*) Telccinésia — Levitação —Transporte 33
2.°) T e l e p a tia .................................................... 39
n) As pancadinhas ou tiptologia . . 61
b) Toque com membros invisíveis . . 63
c) Fenômenos telecinéticos . . . . 64
d) Fenômenos lu m in o so s....................... 64
B) — Fenômenos espontâneos.............................76
Série 1.* — Fatos cujos autores preternatu-
rais parecem bem definidos . . . .
1.” — Cenas b a r u lh e n ta s ........................
2.° — Telccinésia — transportes . . 81
3.° — Idem — em Paris, Berlim, na
Bélgica, em Java, etc.....................82
4." — Fenômenos ligados a pessoas . . 87
Série 2.* — Fatos cujos autores preternatu-
rais parecem mal d e fin id o s .....................89
— 6 —

C — O Espiritismo no B r a s i l ........................ ......


Cap. 2° — Realidade dos fenômenos supranormais . 10-11
— Estado da q u e s t ã o .................................... 104
A ) — Critérios g e r a i s .................................... 106
1) Confiança que merecem os observa­
dores de fenômenos ocultos . . . 106
2) Confiança que merecem os médiuns 108
B ) — Verdadeiros fenômenos do último
te m p o ........................................................ 115
C) — A grande objeção contra a realidade . 121
D ) — Resumo das deduções obtidas . . 129
Cap. 3.“ — Causalidade dos fenômenos supranormais
— Estado da q u e s t ã o .............................. 131
A ) 1.* Proposição — Os fenômenos supra­
normais excedem as forças humanas . 133
A rt. I — Fenômenos parapsíquicos do
telccinésia c de lelcplástica 133
A rt. II — Fenômenos paraíísicos . . 152
A rt. I I I — Fenômenos espontâneos 157
B ) 2,a Proposição — Os fenômenos supra­
normais uão são produzidos pelos des­
encarnados ................................................ 163
I : P ela doutrina Católica — Filosofia
— T e o lo g ia .......................................... 164
I I : Pela doutrina dos E spiritas — T eo­
ria do perispírito — Não-idcntifica-
ção dos espíritos — Fatos — Con­
fissão de sábios espiritas e de mé­
diuns — Comunicação na teoria an-
g lo s a x ô n ic a ........................................... 170
C) 3." Proposição — Os fenômenos supra­
normais são produzidos por espíritos e
estes só podem ser os maus espíritos ou
demônios da concepção católica . ■. . 187
Estado da q u e s tã o .................................... 187
I : Fenômenos e s p o n t â n e o s ........................ 188
I I : Fenômenos e x p e r im e n ta is ........................ 190
a ) Fenômenos psíquicos ou parapsíquicos . 190
b) Fenômenos físicos ou parafísicos . 192
C |P . 4.» — Em que sentido entendemos a interven­
ção diabólica no Espiritism o . . . . 198
a) pelo ambiente das sessões . . . 208
b) pelas circunstâncias de lugar e tem­
po que envolvem as sessões . . 208 '
c) pela instituição do médium . . . 208
Conclusão . ........................ 231
Cap. 5.“ — A ) Sinais diabólicos que os fenômenos
trazem c o n s ig o ..................................... 233
B) Ação diabólica através dos tempos —
Relação do Espiritismo com a necro-
inância c a m a g i a ............................... 241
C o n c l n s ã o ............................................. 253

SE G U N D A P A R T E : CO M U N IC A Ç Õ E S OU M E N ­
SA G E N S .......................................................................... 259
Cap. 1.° — H istórico do Espiritismo moderno . . 262
Cap. 2.° — Mensagens de caratcr profano . . . 272
Cap. 3.° — Mensagens de carater religioso —A re­
ligião e s p i r i t a 287
Cap. 4.° — Ainda as mensagens — A rcencarnação 314

T E R C E IR A P A R T E : C O N S E Q U Ê N C IA S LÓ G I­
CA S v í . . . . 335
Cap. 1.° — Superstição c cepticismo . . . 337
Cap. 2° — I m o r a l i d a d e ...................................... 342
Cap. 3.”— I.oucura e suicidio . . 356
Cap. 4.” — Condenação . . . . 379
I : Pela autoridade religiosa . . . . 379
I I : Pela autoridade c i v i l ............................... 383
C o n c lu sõ e s......................................................... 386
E xortação f i n a l ....................................................... 403
PREFÁCIO

O E spiritism o apresenta-se-nos com o um a


congérie d e coisas m isteriosas. E ntre estas p a ­
rece h aver fatos incontestáveis ao lado de
frau des inúm eras e inegáveis. Com o distin ­
gu ir uns dos outros? C om o d iscern ir a reali­
dade da frau de?
O m eio seguro que nos assiste para
conhecerm os a verdade c distin guirm o-la
da frau de, da ilusão e do erro, é a nossa ra­
zão. P ela razão iios distan ciam os dos an i­
m ais. Nós não conhecem os a ve rdade inlul-
tivaniente. In tu itivam en te apenas percebe­
m os os prim eiros princípios u niversais e. d es­
tes nos servim os para chegarm os ao alcance
das verdades m ediatas.
Os nossos sen tidos lam bem são m eios
que nos levam à posse da verdade, m as eles
não nos proporcion am logo plena certeza da
ob jetivid a d e daqu ilo que percebem os por
m eio deles. A preen dem e tran sm item sim ­
plesm en te as prim e ira s im pressões do que
acontece fora e den tro de nós, im pressões es­
sas que devem os su jeitar ao exam e da razão
para apurar-lhes o conteúdo d e verdade, de
falsidade ou d e ilusão.
Seria insu ficiente e su perficial estu dar
o E spiritism o som ente À LUZ DOS FATOS.
O físico que procede cien tificam en te não se
— 10 —
conten ta com os contornos e as aparências
dos fatos. Procura descobrir a causa intim a
e até as leis que dirigem a produ ção dos fe ­
n ôm enos que se lhe oferecem ao exam e. Com
esta análise chega a estabelecer a realidade
dlos fatos físicos.
S em elh an tem en te, tem os de p roceder
com respeito ao E spiritism o. Para não ser­
m os taxados de su perficiais e incienlificos, in­
cu m be-nos indagar qu al a n atu reza intim a dos
fenôm en os espiritas, qual a causa que os p ro ­
duz, e, con sequentem ente, indagar se êles
a creditam ou não as M ENSAGENS que o E s­
piritism o oferece a seus crentes. E’ só pelo
raciocínio que conseguim os apu rar a verda-
(io a esse respeito.
E is ai o terren o firm e, porque neutro,
em o qu al só é p ossível aceitarem -se discu s­
sões sobre o E spiritism o; é o único terreno
em que podem os terçar arm as com espiritas
para apu rarm os a natu reza e a o b jetivid a d e
dos fenôm en os e m ensagens. V erifican do o
absoluto acordo dos fatos espiritas com essas
prim eiras verdades, conseguirem os concluir
para a realidade deles e afirm ar a sua ín ti­
m a natureza.
A p ró p ria ciência exige conhecim ento das
coisas pelas causas. Onde não há conhecim en­
to das causas íntim as, onde só se consideram
os fenôm en os externos, não há ciência.
Q uerendo, pois, tratar do E spiritism o
cientificam en te, escolhem os para este livro
um titu lo que m ais correspondesse à nossa
fin alidade:"O ESPIRITISMO À LUZ DA R A ­
ZÃO," De-fato, preten dem os exam inar, den -
— 11 —
tro d esta oficina das ciências, os dados do
ESPIRITISMO. A tirá-los-em os para den tro
do cadinho da razão e os irem os distribu in ­
do em secções logicam en te concatenadas.
Só assim esperam os restabelecer a verdade.
Só assim esperam os e v ita r a im ensa confusão
a que os espiritas arrastam os seus a d ve r­
sários.
Não será im odéstia nossa se afirm arm os
que o nosso esforço represen ta um progres­
so na literatu ra an ti-espirita em lingua p o r­
tuguesa. Geralm ente, os au tores que nos p re ­
cederam fizera m obra de polêm ica; e é sabi­
do que as polêm icas nunca obedecem a um
plano preestabelecido, -porque, em regra, um
con ten dor atrai o outro para terren o im p re­
visto.
A lem disso, os nossos predecessores tra ­
çaram -se um program a restrito: ou o estu­
do cientifico de um a só parte do problem a
espirita, ou um estudo geral, mas sem feição
cientifica. E assim , no prim eiro caso, estu ­
dam apenas um lado da questão, — ou os
fenôm en os, ou as m ensagens, ou as causas, ou
as consequências, ou a teoria. E, no segundo
caso, escrevem livros despidos de aparato
científico, sem notas, sem citações au toriza­
das, e, não raro, recheados de an edotas inve-
rídicas c de h istórias insulsas.
Procu ran do ev ita r todos os escolhos, to ­
m am os ainda o ensejo de ensinar a doutrina
católica nos pon tos em que ela é negada ou
con trovertida pelos espiritas. A ssim , não nos
conten tam os em refu tar o erro espirita:
forn ecem os arm as para a defesa do catecis­
— 12 —

m o e dem on stração do dogm a católico. De ver


que a S agrada E scritura, neste particular, é
o nosso m aior arsen al de provas.
S obretudo, esten dem o-nos na refutação
dos érros m ais dissem inados e, para serm os
com pletos, nos valem os da B íblia, assim co­
m o da F ilosofia. D este m odo, aí ficam três
categorias de argu m entos: teológicos, filo só ­
ficos e populares, estes tom ados de em p résti­
m o à lógica n atural, ao bom senso. Isto, de
acordo com as várias categorias de leitores
que nos lerem a obra.
Sc tiverm o s conseguido estabelecer a
verdadeira origem dos fenôm en os; se tiver­
m os redu zido a seus ju stos lim ites o valor das
m ensagens; se tiverm os m ostrado os desas­
trados efeitos do E spiritism o, ju lgam os ter al­
cançado o nosso escopo: glória de D eus, ser­
viço do Brasil, p réstim o à sociedade. Tudo
isso pelo êxito, m aior ou m enor, com que ti­
verm os afastado do perigo espirita tantos m i­
lhões de alm as que se acham en redadas cm
suas m alhas constritoras.
E algum êxito esperam os, fiados na p ro­
teção d a Mãe da Graça, MARIA, a quem d e­
dicam os este trabalho. Tudo para m aior gló­
ria de Deus!
Os A utores.
INTRODUÇÃO

Plano Geral

Inegável é a existência de dois mundos


bem distintos c separados, — isto é, dois tea­
tros em que há cenas e personagens de or­
dem com pletam ente diferente: 0 Mundo VI­
SÍVEL e o Mundo INVISÍVEL.
Inegável é tam bém a relação existente
entre esses dois mundos. Seus habitantes po­
dem com unicar-se entre si.
Sobre o m odo, porem , das com unicações,
não estão de acordo os sistem as doutrinários
conhecidos.
Reduzim os a três pontos a questão sobre
as com unicações:
O C ristianism o, — admite com unicações
razoaveis, restritas, espontâneas;
O M aterialism o, — não admite com uni­
cações.
O E spiritism o, — adm ite com unicações
am plas, contínuas e provocadas.
Exam inem os as afirm ações ou ensina­
m entos de cada sistem a.
CRISTIANISMO

Deus, — espírito puro, ato puríssim o, en­


te necessário e eterno, — criou:
a) E spíritos, ou substâncias incorpóreas
intrinsecam ente independentes da matéria,
criados inocentes, dos quais uns perm anece­
ram bons, são os anjos, — e outros se torna­
ram maus, e são os dem ônios. São invisíveis
uns e outros.
b) Corpos, ou substâncias corpóreas, —
uns organizados, ou vivos; outros, inorgâni­
cos ou inanim ados; os prim eiros, sem pre com­
postos, e os segundos ou elem entares ou com­
postos; todos são m udáveis, ponderáveis, es-
tensos, e caem sob a ação de um ou m ais dos
cinco sentidos do homem .
c) O hom em , que participa das duas
substâncias precedentes, por ser com posto de
corpo, — ou substância corpórea, e alm a, —
ou substância incorpórea.
Pela m orte, o corpo se resolve nos seus
elem entos m ateriais prim itivos, e a alm a, que
é espirito, segue um destino definitivo, pas­
sando a fazer parte do Mundo Invisível.
Tudo que Deus criou c contingente c re­
lativo. Só Deus é Ente necessário e absoluto.
E xistem relações ou com unicações entre
o Mundo V isivel, — o homem , e o Mundo In­
visível, — Deus c os anjos.
Mas essas relações, ordinariam ente, são
invisíveis. Só extraordinariam ente, — c por
modo de m ilagre, — c que poderão ser visí­
veis. D este m odo se explica que os espíritos
se tornam visiveis ao homem .
Os ensinam entos do Cristianismo tem por
base a R evelação D ivina e a razão hum ana.
A prim eira é contida na Escritura Sagrada
e na Tradição. A segunda, em uso no homem
são, é dirigida pela Lógica, natural ou cien­
tífica.

MATERIALISMO

“E’ o sistem a filosófico que considera a


m atéria com o a única realidade no m u n do.”
(1) Nega com unicações entre o Mundo V isí­
vel e o Invisível, porque só adm ite o Mundo
Visivel.
Afirm ando que tudo no U niverso é resul­
tado das condições ou da atividade da m até­
ria, o M aterialismo nega a existência de Deus
e da alma.
P ode-se dizer que D em ócrito, o inventor
do atom ism o e que viveu no V século antes
de Cristo, foi o prim eiro escritor m aterialista;
p elo m enos, foi o prim eiro que negou a exis­
tência da alma. T eve por contin uad ores: E pi-
curo, na Grécia, Lucrécio, cm Roma. Para
eles, tudo se resum e nos átom os, c estes são
eternos e cegos.
Nos tem pos m odernos, Jordano Bruno foi
o pioneiro dos m aterialistas. “A matéria, —
disse ele, — é a m ãe de todos os viven tes.”
Mas a idade clássica do M aterialismo co­
m eça com La M eifric (1709-1751) e o barão
H olbach (1723-17S9). Segundo eles, tudo o que

(1) CONSTANTJN OUTBEKLET, In T he CntlioUc E n -


«•yclopeilín, Xe«- York. ai t. Moterialliim. vol. X.
— 16 —
se supõe existir fora da natureza visivel é
criação da im aginação do hom em . Foram se­
guidos por V oltaire e pelos E nciclopedistas.
Mais tarde, B uechner (1824-1895), M oleschott
(1822) e Vogt (1817) tiraram as últim as con­
sequências deste sistem a. “ 0 pensam ento, —
afirm a Vogt, — é m era secreção do cérebro,
com o a b ilis o é do figad o.”
0 p o sitivism o, de A ugusto C om te, que se
abstem de afirm ações sobre o m undo invisi-
vel, e o tran sform ism o ou darw in ism o, de
D arw in, que faz o homem vir do m acaco, são
apenas feições m odernas do m aterialism o,
porque, em últim a análise, negam a ação de
Deus no m undo, e negam a espiritualidade
da alma.
N otem os, por fim , que o Materialismo se
opõe a toda doutrina filosófica espiritualista
ou idealista.

ESPIRITISMO

“É um conjunto de doutrinas e de práti­


cas encam inhadas a obter a com unicação do
hom em com os espíritos do outro m undo.” (2)
0 Espiritism o adm ite os dois m undos, o
visivel, constituído dc hom ens, e o invisivel,
constituído de espíritos. Admite tambem co­
m unicações contínuas c sensíveis entre os ho­
mens e os espíritos. Estes se m anifestam por
fatos ou fenôm enos estraordinários, quase sem ­
pre m ediante um rito especial com que o
hom em provoca a m anifestação. E é justa-
(2) R evista ••Juvcnttid CnUWkn”, PB- 41.
— 17 —
m ente pela existência desses fenôm enos ex­
traordinários ou transcendentais, supostos
reais, que o Espiritism o entende demonstrar
a realidade das com unicações dos espíritos
com os hom ens, com unicações de toda ordem :
pueris ou sérias, individuais ou gerais; sobre
assuntos profanos: receitas m édicas, literatu­
ra, ciência; ou sobre assuntos religiosos; tal
é, por exem plo, a revelação de uma religião
toda nova.
Tais com unicações, que form am quase to­
do o sistem a espirita, são provadas, assim
afirm am , pelos fenôm enos transcendentais que
se verificam nas sessões. Esquecem -se os es­
piritas de p ro v a r que, de fato, as causas desses
fenôm enos são os espíritos ou alm as desen­
carnadas, com quem pretendem com unicar-
se. É o que iremos verificar. Antes, porem, de
chegarm os lá, cumpre exam inem os os m esm os
fenôm enos em si, cumpre indaguem os se, de
tantos fenôm enos estupendos, ao m enos al­
guns são reais, autênticos, provados, inegá­
veis. N
D aí a tríplice divisão desta obra:

I - FENÔMENOS OU FATOS ALEGA­


DOS.
II - COMUNICAÇÕES OU MENSAGENS
III - CONSEQUÊNCIAS LÓGICAS
*

No Prim eiro P on ts porem os os fenôm e­


nos, exam inarem os a sua realidade, indaga­
rem os a causa, procurando saber se esta é
— 18 —

D eus, os anjos, os dem ônios ou as alm as dos


defuntos.
No Segundo, verem os se as com unicações,
com o nova revelação sob o ponto de vista
religioso, m erecem fé.
No Terceiro, verificada a realidade e pro­
cedência dos fenôm enos, assim com o a natu­
reza das com unicações, discorrerem os sobre
as consequências do Espiritism o com o reli­
gião e com o sistem a, isto é, verem os qual o
resultado prático que ele oferece para o in­
divíduo, para a fam ilia, para a sociedade, em
relação a esta e à outra vida.

NOÇÕES PRELIMINARES

ESPIRITISMO E OCULTISMO. Os fen ô­


m enos espiritas, considerados em globo, são
m ultíplices e sum am ente com plexos. Muitos,
é claro, não m erecem a atenção do estudioso,
porque estão ao alcance da habilidade hum a­
na ou explicam -se pelas leis conhecidas da
psicologia. Quanto a outros, nem todos pre­
cisam de exam e porm enorizado, visto como
um exam e genérico explica os casos particu­
lares. E stabelecidos alguns fatos de com uni­
cação com os mortos, fatos certos e provados,
está dem onstrada a possibilidade de outras
com unicações nas m esm as circunstâncias.
Os fenôm enos rasteiros, reais ou im agi­
nários, devidos, m uitas vezes, à fraude, per­
tencem ao B aixo E spiritism o, — o chamado
Espiritism o de Terreiro ou M acum ba, — e já
foram esm iuçados e até ridicularizados por
escritores de toda classe.
— 19 —
Dirigirem os nossa critica para os fenôm e­
nos extraordinários, notórios, relatados por
sábios e pessoas fidedignas.
O Espiritism o vu lgar não passa de uma
explicação pronta e côm oda de fenôm enos
ocultos. Verdade é que tais fenôm enos são,
às vezes, exam inados; com o, porem , nas ses­
sões de baixo espiritism o, falta, por com ple­
to, o rigor da verificação científica, deles não
nos ocuparem os.
Para termos noções claras acerca do Es­
piritism o, — científico ou vulgar, — cumpre
que digam os algo sobre o OCULTISMO que,
através dos tempos, fo i o antecessor e prepara­
dor do atual Espiritism o.
O O cultism o pode ser:
a) Prático, lam bem denom inado CABA­
LA ou MAGIA.
b) Científico.
O prim eiro é péssim o, pernicioso. A m a­
gia negra sem pre se caracterizou pela práti-
tica de todos os m alefícios e pelo com ércio
com os defuntos, com o se pode ver já em H o­
rário (3) e A puleio (4).
O cientifico não trata de práticas religio­
sas. Ocupa-se da in \estigação dos fatos, pro­
cura determ inar as causas dos fenôm enos,
busca a verdade; não invade o terreno da re­
ligião. Seus cultores, m uito num erosos na Ale­
m anha, não adm item reencarnação e abs-
teem-se de evocar os mortos. O Ocultismo
científico assem elha-se m uito ao E spiritism o

(3) HORÁCIO, Sat. c o n tra CnutiUn. Epôdos, V.


(4) M etam orfoses ou Aninus AnrenH, pnsslm .
— 20 —
E xperim en tal. Am bcs fazem sessões, ditas ex­
perim entais; os espiritas procuram , antes de
tudo, satisfazer sua curiosidade, e os ocultis-
tas se em penham em estabelecer a verdade
objetiva do fatos.

SESSÕES ESPIR ITA S, (4-a) — Seus agen­


tes. Tratam os das sessões fam iliares, on de se
po d e su por haver algum a sinceridade e nas
quais, p o r hipótese, falta a razão de fraude e
o desejo de enganar. Sessões espiritas, pois,
são reuniões fam iliares de crentes, que que­
rem entrar em com unicação com os habitan­
tes do Alem , — os espíritos, isto é, com os
desencarnados, com o afirm am eles. São as se­
guintes as figuras principais de uma sessão:
a) M édium , que é o agente principal, é
o elem ento in term ediário entre os crentes e
os espíritos. É o m eio de que se servem os es­
píritos, para se porem cm com unicação com
os vivos. S egundo a afirm ação dos espiritas,
o m édiu m é a pessoa capaz de fornecer ao es­
pírito parte de seu fluido, sem o que o espíri­
to não pode m anifestar-se. “ O espírito, sepa­
rado, pela m orte, da m atéria grosseira, não
pode atuar m ais sobre esta, nem m anifestar-
se com o m eio hum ano, sem o concurso de
um a força ou energia que o organism o de
um ser vivente lhe proporcione. T oda pes­
soa susceptível de subministrar, exteriori­
zando-a, esta força, é m édiu m ”. (5) A Cons-
(4-a) L im itam o-nos a rep ro d u zir o que escrevem os
autores.
(5) AI.LAN KARDEC. In strn etio n s prn«lqncn Hur le
SpIrUIsmc. a rt. íncdium. E Livro dou m édiuns, piiHxlui. —
LÉOX DENIS, Dniw 1’inviaiblc, pg. G2-G3, donde tiram os
a citação supra.
- 21 —
tituição físico-psiquica ou organização espe­
cial, — inata, natural, — pela qual uma pes­
soa tem o privilégio de ser m édium , chama-
se m ediu nidade. A m ediunidade, afirm am
ainda, é susceptível de desen volver-se, d im i­
nuir-se e perder-se. Pode ser dom hereditário.
c) Guia ou operador. É o espírito do
Alem , que se com unica com os presentes por
m eio do m édium . Este, dizem, trabalha sob
o im pério ou inspiração do espirito guia. O'
espirito é a causa prin c ip a l; o m édium , a cau­
sa instru m ental. E’ uso em pregar-se a p ala­
vra In teligência, em vez de espírito guia ou
operador. (6)
TRANSE. — Agindo, geralm ente, sob o
im pério do espírito operador, o m édium passa
para um estado m ental especial, cham ado
transe. De todos os fenôm enos espiríticos, é
o m ais im portante, sem dúvida. E ’ um estado
de arrebatam ento em o qual o m édium pare­
ce não pertencer m ais a si; age com o uma
m áquina, sob a direção do espirito com uni­
cador. O transe resulta num a dupla m od ifi­
cação da pessoa do m édium :
a) Quanto ao corpo, este se torna insen ­
sível, ou quase insensível, devido ao estado
de letargia em que caiu e, sob este aspecto, o
transe é um estado que arremeda o êxtase
dos santos. (D iabolus est D ei sim ius).
b) Quanto à m ente, a im aginação do m é­
dium é superexcitada, e a exaltação, afirm am

(6) O «splrltlam o lnglOs, segundo M alnage, adm ite


um e sp irito cham ado controle, o qual servo de Interm e­
d iário e n tre os esp írito s e os m em bros de um a sessáo. E ’
um a espécie de m édium de lá p a ra cá, um pouco d ifere n ­
te do gnln dos e sp irita s co n tin en tais.
— 22 —
os espiritas, transporta-a para um mundo su-
p ra-sensivel; ao mesm o tempo, a inteligên ­
cia do m édium não funciona e a vontade é
tolhida ou mesm o com pletam ente abolida.
Para operar, o m édium ordinário deve cair
em transe, no qual ou entrará espontanea­
mente, ou hipnotizado pelo experim entador ou
por outro assistente; o médium forte, porem,
pode funcionar m esm o sem estar em tran­
se. O estado de transe m uito se parece com o
sonam bu lism o hipn ótico e tem algum a coi­
sa do sonam bulism o natural. (7) Como o
transe sonam búlico da hipnose, o transe me-
diúnico pode ser p a ssivo ou ativo : no pri­
meiro caso, o m édium está com pletam ente
im ovel; no segundo, m ovim enta-se, em obe­
diência ao guia.
A razão fisiológica do transe explica-se,
segundo Grasset, pela dissociação dos centros
nervosos. O Psiquism o S uperior ou Centro “O ”
dissocia-se do P siquism o In ferior ou Polígo­
no a que M yers chamou Sublim in al, c outros
cham am Subconciente. Pela dissociação, o
centro “ O” paralisa-se. Só o sub-lim inal ou
subconciente é que age. (8)
Os espiritas dão outra explicação da fi­
siologia do transe. O m édium cai ein transe,
dizem, desde que seja obrigado a abandonar
uma parte m aior ou m enor de seu fluido, a
favor de um espirito livre no espaço. (9)

(7) BOIRAC, I,'a v e n ir des .science* pHj-ehologl.nie«,


pg. 261. Cf. tam bem “ O espiritism o, ucls conferen cias", do
Pc. dr. V alérlo A. Cordeiro, pg. 13.
(8) Dr. GRASSET, Idée* m édicales, llbr. Pion. Paris,
pg. 4 e 13.
(9) Dr. POODT. Lo* fenômeno* m isterioso* dcl psl-
uulsm o, pg. 282.
— 23 —
A lgum as condições particulares. — Todo
indivíduo, afirm am os espiritas, pode ter o
dom da m ediunidade; umas pessoas, porem,
são m ais aptas do que outras, visto com o a m e­
diunidade depende da constituição individual.
O m édiu m , em geral, é um indivíduo m uito sen­
sível, — an orm al, nevrosado; p ode-se dizer
que a m ediunidade é sem pre uma m odalida­
de do h isterism o. Se é certo que nem todo
histérico é m édiu m , é certo que todo m édiu m
é histérico. Os m édiu n s m ais célebres foram ,
desde crianças, sujeitos à auto-hipnose; de
uma fantasia excessiva, próxim a da haluci-
nação, bem cedo produziram fenôm enos es­
pontâneos de m ediunidade. (10)
Ligada a uma disposição fisiológica e,
ao mesmo tempo, p sicológico-idiosincrásica,
a m ediu n idade é ainda segredo em p sicolo­
gia. (11) P retende-se até que seja d ote here­
ditário, c, a-propósito, cilam -se casos de crian­
ças de nove dias (V alentina K irkup), de seis
meses (K alie F ox) e de dois anos (Essie
Mott), as quais, sendo filhas de m édiu ns, m a­
nifestaram fenôm enos de m ediunidade pre­
coce. (12)
Os m édiuns distribuem -se em três gru­
pos:
a) Físicos, — os que, de preferência, são
instrum entos para a m anifestação de fen ô­
m enos fisicos: levitação, transportes, etc.
b) Psíquicos, — os que o são de fenôm e-
(10) MAN'S ARNOLD, SeNsOes E sp irita» , Pgr. 23-66,
E d ito ra “O P en sa m en to ”, S. Paulo.
(11) Id, Ibid.. Cap. Sonam bulism o, pg. 34.
(12) Id, Ibid.. SenfiüeH E sp irita s, pg\ 28-39 e p*\ 61.
E ditora "O Pensam ento". S. Paulo.
— 24 —
nos m entais: vista dupla, telescopia, psico-
m ctria, epigaslria, etc.
c) Físico-psíquicos, — os que fazem os
dois grupos de fenôm enos, ou os fenôm enos
de natureza m ista, com o escrita automática,
etc.
A uma destas três classes pertencem
quaisquer dos m édiuns geralm ente citados:
videntes, sensitivos, pneum atógrafos ou es­
creventes, psicógrafos, tiptológicos, audien-
tes, ou ouvintes, psicôm etras, xenoglóticos
(xe n oglossia), etc.

CONDIÇÕES PRÁTICAS D A S SESSÕES ES­


PIR ITAS. — Para a organização de um cír­
culo. afirm am os espiritas, exigem -se condi­
ções quanto a local, pessoas, t e m p o ...
Pessoas, — que sejam sim páticas aos e s ­
píritos. O fluido com um de todos os assisten­
tes aum entará a força do m édium . H á-de ha­
ver a direção do pensam ento de todos para
iun m esm o fim . (13)
N ú m ero de pessoas — D evem ser poucas.
Segundo Gijcr (14), hão-de ser, no m áxim o,
10. T odavia, conform e a força do m édium ,
pode-se aum entar o núm ero dos assistentes
da sessão. (15)
Local, — que seja reservado e silencioso.
H averá um gabinete à parte; é ai que o m é­
dium se isola e se concentra antes das
sessões.

(13) HANS HARNOLD, Senates E sp trlta s, pg. 105-108.


R dltora “O PcnBamento". S. Paulo.
(11) Dr. E. GYEL, EapirltlHmo, pg. 42. L lv ra rla G ar­
nier. Rio.
(15) HANS HARNOLD, SessCes E ap lrltas, pg. 97-98.
— 25 —
T em peratu ra do am biente: fresca. N un­
ca dem asiado quente.
L uz, — fraca. Pod e ser aum entada de
acordo com a força do médium .
F enôm enos à plena luz só se dão em ca­
so de grande força mediúnica.
O Dr. Gatterer cita vários casos de escri­
ta, a lapis, verificados com D. Silbert, sob luz
elétrica intensa e até d e dia. (16)
(C om o j á disse m os, lim ita m o -n o s a q u i a r e la ta r o
qu e escrev e m os a u to re s , som e n tra r m o s em a p re c la -
ç 5es h is tó ric a s e f ilo só fic a s).

DIVISÃO

Deixando de parte o que pode ser exp li­


cado pelo subconciente do m édium e dos as­
sistentes, assim com o tudo o que poderia ser
atribuído a truque ou fraude, conciente ou
inconciente, irem os tratar apenas de fen ô­
m enos certos; e não de quaisquer fenôm enos,
que talvez pudessem ler explicação natural,
m as sim de fenôm enos “m aravilh osos”, — a
que cham am os transcen den tais ou supranor-
m ais, isto é, que parecem exceder todas as
forças hum anas, e devem ser atribuídos a in ­
teligências exíra-terrenas. Verem os:

(16) Pg. 83 do livro citado adiante.


PRIM EIRA PARTE

FENÔMENOS OU FATOS ALEGADOS

Tratando dos fenôm enos transcendentais,


exam in arem os:

A - RELATÓRIO DOS FENÔMENOS SU-


PRANORMAIS.
B - REALIDADE DOS FENÔMENOS SU-
PRANORMAIS.
C - CAUSAS DOS FENÔMENOS SUPRA-
NORMAIS.
NO TA :
H e re d ia (1 7 ) e o u tro s ( 1 8 ) p r e te r e m o n o m e de
F e n ô m e n o s P s íq u ic o s p a ra os F e n ô m e n o s S u p e rio re s
o u s u p ra n o rm a ls . O te rm o p síq u ico n o s p a re ce Im p ró ­
p rio ; p rim e iro p o rq u e n ão d e n o ta , p o r si, o c a r a te r
m a ra v ilh o so e d e p r e te r n a tu r a lld a d e q u e re v e s te ta is
fen ô m e n o s, e, se g u n d o , p o rq u e p o d e r e f e r ir -s e a q u a l­
q u e r fa to re la tiv o & in te lig ê n c ia h u m a n a e é, n e ste se n ­
tid o , qu e se e m p re g a g e ra lm e n te , d a m e sm a fo rm a q u e
o s o u tr o s te rm o s da m e sm a ra iz , com o p siq u ism o , p s i­
c o lo g ia. Se d isse rm o s fo rç a p síq u ica , n in g u é m e n te n ­
d e rá q u e fa la m o s de fo rç a o c u lta o u e x tra - te r r e n a .

(17) O E spiritism o e o Bom Senso.


(18) D. OTÁVIO CHAGAS D E MIRANDA, “ Os fenô­
menos pslquteos e o E sp iritism o ”. E ' o titu lo do livro.
— 28 —
A e x p re ssão F e n ô m e n o s S u p ra -n o rm a is d u sa d a
pelo d r. P o o d t e o u tro s. ( 1 9 ) G ra s s e t e os o c u ltis ta s
em g e ra l p re fe re m d iz e r F a to s o c u lto s. E sta ex p re ssão
ta m b e m n ã o é e x a ta , p o rq u e o s fe n ô m e n o s n ã o são
o c u lto s; a c a u sa d e le s é q u e é o c u lta . R ic h e t c rio u a
ex p re ssã o F a to s M e tap síq u ico s, — isto é, — fenO me-
n o s q u e e3tão a le m d o a lc a n c e d a in te lig ê n c ia h u m a n a .
E sta é q u e se ria a e x p re ssão p re c isa , m a s e v itam o s
em p re g á -la , n ã o 6ó p o rq u e é pou co c o n h ec id a, como
ta m b em p o rq u e se pod e a p lic a r fo ra do te rr e n o do
E sp iritism o . E ’ m u ito g e ra l.
R e fe rin d o -n o s, pois, a F e n ô m e n o s T ra n sc e n d e n ­
ta is , F e n ô m e n o s S u p r a -n c rm a is ou F e n ô m e n o s U ltra-
F fsicos, q u e re m o s f a la r d o s F e n ô m e n o s P s íq u ic o s dos
o u tro s a u to re s , isto é, o s fe n ô m e n o s q u e te m :

* a ) com o in s tru m e n to o m é d iu m ,
b ) com o c a u sa p rin c ip a l, u m e n te in te le c tu a l
oc u lto ,
c) com o fo rg a d e q u e se se rv o o a g e n te in te le c tu a l,
a lg u m a e n e r g ia g e ra lm e n te d e sco n h e cid a .
Os fen ô m e n o s m e ta p s íq u ic o s se d iv id e m e m :
a ) F e n ô m e n o s p a ra p síq u ic o s,
b ) F e n ô m e n o s p a ra ffsic o s.
Os p r im e iro s são os d e o rd e m p u r a m e n te p s íq u i­
ca, com o a te le p a tia , e se d izem a ssim p a ra se d is tin ­
g u ire m do s fen ô m e n o s p síq u ico s c o m u n s. Os se g u n d o s
s ã o os de o rd e m físic a , e s e d izem a ssim p a ra se d is­
tin g u ire m d os fen ô m e n o s físico s n o rm a is o u n a tu ra is ,
com o os d a le i d a g ra v id a d o , etc.
P a r a n o s o rie n ta r m o s n e ste la b ir in to q u e é o E s ­
p iritism o , v a lem o -n o s de u m a c e n te n a d e o b ra s esp e ­
c ia liz a d a s, ta n to a n tig a s com o m o d e rn a s.

(10) Dr. POODT, Loa fenOmenos m isteriosos de] Pal.


qtilNmo, versilo espanhola de Joaq u im F u ster, pp. 222 e
paeslm . Ed. Sucessores Ju a n GUI, B arcelona.
— 29 —
P a r a a v e rific aç ão d o s fe n ô m e n o s u ltra -físic o s, —
q u e é a b a se d e to d o tr a b a lh o do fe itio do n o sso , —
se g u im o s p rin c ip a lm e n te o liv ro a lem ã o W lsse n ch a f-
tlic h e r O cc u ltism u s, — se in V e r h a e ltn is z u r P h ilo so -
plile, do sá b io je s u ita U r. G a tte r e r , 192 7 .
N o B ra sil n ã o e sta m o s em c o n d içõ es d e v e rif ic a r
p e sso a lm e n te o q u e se p a ssa n o E sp iritism o . A s n o ssa s
U n iv e rsid ad e s não se p reo c u p am com e ste s a s su n to s.
P e lo qu e , fom os o b rig a d o s a se rv ir-n o s d e tr a b a lh o s
e s tr a n g e iro s e te re m o s de, rto d e cu rso d e ste tr a b a lh o ,
m e n c io n a r a lg u n s f a to s q u e o d r. G a tte r e r te v e o ca­
siã o d e v e rif ic a r p e sso a lm e n te , em c o m p a n h ia de o u ­
tr o s o b se rv a d o re s fid ed ig n o s e h a b ilita d o s c ie n tific a ­
m e n te p a ra isso.
P R IM E IR A P A R T E

FENÔMENOS OU FA T O S
ALEGADOS
CAPÍTULO I

I - RELATÓRIO DOS FENÔMENOS SU-


PRANORMAIS:
Passarem os em revista dois GÊNEROS
de fenôm enos: EXPERIMENTAIS e ESPO N­
TÂNEOS.

PRIMEIRO GÊNERO: FENÔMENOS EX­


PERIMENTAIS ou PROVOCADOS.

Estes se dividem em duas espécies:


'O bjetivos, ou Parafisicos, e S ubjetivos,
ou Parapsiquicos.

A — FENÔMENOS EXPERIMENTAIS:

1) - TELECINÉSIA, ou m ovim ento à dis­


tância, LEVITAÇÃO, ou suspensão -no ar,
TRANSPORTE, ou adução de objetos.

Aos fenôm enos ordinários das sessões ex­


perim entais pertencem os m ovim entos de
objetos ponderáveis, sem con tad o do m édi­
um ou de qualquer pessoa presente. É o cha­
m ado m ovim en to à distân cia, fenôm eno que
— 34 —
C harles R ichet denom inou com o nome grego
de T ele d n é sia (20). Quando os objetos ou o
próprio m édium não só se levantam no ar,
m as ate perm anecem algum tempo suspen­
sos, com o a pairar, sem apoio, e cm franca
infração da lei da gravidade, o fenôm eno sc
chama, propriam ente, L evitação. Se os obje­
tos não são do recinto, m as procedem de fo­
ra, o fenôm eno se chama transporte, em
francês " a p p o rt”.
Os m ovim entos não se desenvolvem con­
form e as leis físicas ordinárias. Os objetos
fazem percursos com plicados, às vezes vaga­
rosam ente, às vezes rapidam ente, com o trans­
portados por uma força inteligente.
As nossas fon tes dc inform ação, a respei­
to desta espécie de fenôm enos, são os livros
do D r. G atterer, jesuila, de C harles Richet,
fisiólogo francês, e do barão S chrenk-N otzing,
psiquiatra alem ão. As obras deste últim o au­
tor foram acrem ente criticadas por diversos
sábios, m as os fatos por ele narrados foram,
em gran de parte, exam inados e autenticados
p ela S ociety fo r Psychical Research (S. F. P.
R. ou S. P. R .), de Londres. Aceitam o-los com
a reserva que deve fazer quem só quer a ver­
dade.
Por agora, deixando dc parte o exam e
desses fatos, apraz-nos citar os m édiuns que

(20) T elcelnéüla 6 composto de Tcle, de longe, I íi-


neln, mover. Richet, Ignorando as leis da tran sllto racu o .
escreveu T eleltlnesln, com k. Mas 0 sabido que o k grego
se tra n s llte ra p a ra c em latim , r o r exemplo, com , c lro .
cfnemn. clulsm o, cético, etc. que em g rego se escrevem
k ero , k lrlo s, klnem n, klnlsniog, skcptlcox, etc.. Q uanto ít
pronúncia, profer.m os dlzcr telccluéxia, em bora reconhe-
ijainos que lambem telcclnexln ê certo.
— 35 —
m ais se notabilizaram nesta espécie de fenô­
m enos.
E stan islaw a T om czyk, polaca, de Varsó­
via. A sua mediunidndc se m anifestou aos 20
anos de idade, estando ela fraca, doente, em
estado de extrem a nervosia. Quando o m édi­
co lhe fazia um a receita, o tinteiro com eçou
de m over-se com grande espanto dc todos.
D esde então Estanislaw a se deu ao espiritis­
m o, operando sob a direção do Dr. J. Ochoro-
loicz, em Varsóvia, e de Von Schrenk-Notzing,
em Munique.
Durante a elevação dos objetos, veem -se
form ações filam entosas no espaço, o que faz
pensar em frau des. As sessões são realizadas
em am biente claro, à luz branca. O m édiu m
está sem pre cm estado de sonam bulism o, e
diz-se dirigido pelo seu guia in visível Olga,
espírito de uma m enina que falecera aos dez
anos de idade.
Ensúpia Palladin o, italiana, 1854-1918, en­
tregue ao espiritism o desde os 12 anos, atri­
buía os seus fenôm enos telccincticos à m ísti­
ca personalidade de “John K in g ’’. De n e­
nhum a instrução, quase analfabeta, Eusápia,
entretanto, era de grande sagacidade natural.
Muito viva, foi apanhada cm fraude duran­
te as experiências de Gambridge, na Inglater­
ra. Operou, por m uito tempo, sob a direção
dc vários cientistas, com o C ourtier, E. B ran-
ly, P. Curie, 3. Perrin. G. V. S ch iaparelli, Lom -
broso e outros.
D o protocolo das investigações dos exp e­
rim entadores salientam os os seguintes fatos:
D eslocam ento e levitação de objetos pesados.
— 36 —
D iferença de peso do m édium durante as
experiências, diferença para m ais e para m e­
nos, registada autom aticam ente por uma ba­
lança sobre a qual Eusápia se encontrava.
Fenôm enos de natureza não definida. Toques
e apalpadelas denunciados por alguns assis­
tentes. (21)
Tendo sido descobertas algum as frau des
da parte de Eusápia, a S. P. R. suspendeu as
experiências; m as tantos foram os testem u­
nhos posteriores, que a Sociedade resolveu
reassum ir o serviço, chegando, enfim , segun­
do afirm am , a estabelécer a realidade de m u i­
tos fenôm enos ocultos.
E usápia trabalhava quase sem pre em
transe, abrangendo a sua esfera de ação um
raio de um m etro apenas. Luz m uito fraca.
De uma feita, conseguiu levitar uma m áqui-
n a -de-escrever que pesava quinze kilos. Os ob­
jetos em m ovim ento seguiam direção em zi-
zue-zague, cam inhos tortuosos, com o para evi­
tar ferir os assistentes. (22)
K athleen Coligher, americana, num am­
biente fam iliar conhecido com o nom e de Cir­
culo Coligher, operou sob a direção do engen-
lhciro W . J. C raw ford. (23). T endo-se este
suicidado em .30 de julho de 1920, encarregou
previam ente, por carta, o seu am igo F ournier
— 37 —
d ’A lbc, dc continuar as experiências. Four-
n ier descobriu frau des, devidas à cooperação
da fam ília do m édiu m c, em vista disso, não
só concluiu que as suas experiências pessoais
não acharam fenôm enos supranorm ais, como
lam bem que Grawford tinha lido confiança
dem asiada nas pessoas do circulo. (24)
Crawford chama “op eradores” aos espí­
ritos serviçais. O fenôm eno principal foi sem ­
pre a elevação da mesa, sem contacto. Varia­
ção de peso do m édium , com dim inuição até
de vinte kilos. Crawford supôs que os opera­
dores form avam um mem bro m ediím ico, — a
“alavanca p síq u ica ”, — com m atéria tirada
do corpo do m édium , e era essa alavanca que
m ovia a mesa. Pedindo ele, uma vez, aos o pe­
radores que dim inuíssem o m áxim o de peso
do m édium , sem prejudicar-lhe a vida, veri­
ficou que Coligher perdeu, na experiência, 21
kilos, quase a m etade do peso total de seu cor­
po. A perda não foi uniform e. Até 13 kilos
foi vagarosa c ritm ada; daí por diante rápida
e com contrações m usculares.
W illi S ch neider e R u di S chneider, irmãos,
apresentaram as m ais recentes experiências
sobre m ovim ento à distância. Estes m édiuns
eram filhos de um tipógrafo, José Schneider,
de Braunau, Alem anha. (25)
W illi, segundo dizem, m anifestou faculd a­
des m ediúnicas desde 16 anos de idade. De de­
zembro de 1921 até fevereiro de 1922 realizou

(24) PAUI-. HEUSI5, Oíi o» o.xt In M(-tnii.iycIil<iuc, PS-


128-137.
(25) SCHRENK-NOTZ1NÜ. E x p erim en te d e r Fcrnlie-
ívriniiie, Union D eutsche V erlnffsgesellschaft, S tu ttg íirt.
U eilln, 1824. E: M aterlallsu tio n a phuenom ene, pg. 548-601.
— 38 —

104 sessões em Munique sob a direção de Von


Schrenk. Vive ainda.
Interessantes são algum as observações de
Von Schrcnk acerca das qualidades pessoais
deste m édium : “W illi é inclinado à mentira,
ao desperdício, à dissipação, à vida perdulá­
ria, à basófia. Gosta de vestes elegantes, de lu­
xo; frequenta cinem as e teatros. É im oderado
no uso de charutos. Às vezes, m ostra-se ama-
vel e m odesto. Bem que norm al, revela dis­
posições um tanto histéricas.” (26)
Quando em transe, W illi se diz dirigi­
do pelo espírito cham ado “Mina.” Em tran­
se e na vigília, o m édium denuncia duas per­
sonalidades m uito diferentes, em flagrante
contraste uma com a outra.
W illi deu sessões experim entais peran­
te a U niversidade de Munique (A lem anha),
a Universidade de Viena (Áustria) e com is­
sões da S. P. R., de Londres.
R udi, irm ão de W illi, e no qual se incor­
porava o espírito cham ado Olga, realizou
tambem m uitas sessões positivas, das quais
relatarem os algum as daqui a pouco.
Ainda sobre telecinésia e transporte m e­
recem lem bradas as experiências de Zõllner
com o m édium Slade, e as sessões das Senho­
ras V ollh art e M aria S ilbert. (27)

SiSÍ*Si
- 39 —
A-niiutlc, a telecinésia é acom panhada
de fenôm enos lum inosos e auditivos.

2) TELEPLASTIA, ou M aterialização.
O fenôm eno m ais surpreendente e, m es­
mo, o mais discutido e posto cm dúvida, do
hodierno ocultism o, c o cham ado Teleplas-
lia ou e c lo p la s m ia .. . (28). Surgem form as
fantásticas, m em bros, m ãos e até fantasm as
inteiros, vivos e anim ados. Iiá, prim eiro, um
sim ples filam ento, uma form ação esponjosa
e indistinta, que se avolum a e se condensa
até form ar o membro ou o fantasm a. E’ o pe-
riodo de MATERIALIZAÇÃO. Depois, a for­
m a fantástica se dilui, se sutiliza, regride: é
o período de D esm aterialização. Num caso
e noutro, o espectro é ligado ao corpo do m é­
dium, e parece estar em sim biose com ele,
p ercebendo-se a ligação, entre o m édium e o
fantasm a, por m eio de um filam ento a que
chamaram “cordão u m bilical.” A 'desmate­
rialização é, quase sem pre, rápida, e feita
por obscurecim ento dos contornos ou por
reabsorção no corpo do m édium .
N otabilizaram -se nesta espécie de fe n ô ­
m enos os m édiuns seguintes:
F lorence Coolc a qual, em 1873, durante
quatro m eses, trabalhou com o sábio C roo-
kes, em Londres. Em presença do m édium
pbysIkallRchen Phaeuom ene d e r r r o u e n Medlen, pg.
J25-273.
(28) Tclei>liiN«ln, do grego, q u e r dizer form oçao no
longe: _ te lc - longe, plmaso, . fo rm ar. E cto p ln sm la. - fo r-
m aoáo dc dentro pa ra fo ra: e x tes, — fora. Uxtoplnsiun,
como term o de zoologia, já era usado a n tes de IUchot.
S ignifica: zona perifé ric a do p ro to p lasm a da ameba.
— 40 —
aparecia um fantasm a fem inino, m uito pa­
recido com o m édium , e que se dava o nome
de Iialie King. Esse fantasm a-fêm ea ca­
m inhava no recinto, conversava com os as­
sistentes, oferecia presentes. Oito anos mais
tarde, Florence Cook, tendo trocado de nome
e passando a cham ar-se Comer, foi apanhada
em fraude. Ela, e o fantasm a que pretendia
m aterializar, eram uma só pessoa. (29).
Além disso, o m édium Douglas H om e, que,
durante m uitos anos, tinha trabalhado sob
a direção de Crookes em sessões experim en­
tais, afiançou a C am ilo F lam m arion que a en­
cantadora e gentil senhorita Florence Cook
havia ludibriado o bom de Crookes no epi­
sódio de K atie King. (30) Tudo isso fez crer
que as cenas de Katie King não passavam de
uma farça pregada a um velho, dem asiado
crédulo, por uma moça, bastante esperta.
Não obstante, Crookes, que era m íope c que
nunca tocou no fantasm a, eslava convencido
da realidade deste. “Tenho absoluta certeza,
— disse ele, — que K atie K in g e Florence
Cock, são duas individu alid ad es com pleta­
mente d iferentes.”

EVA CARR1ÈRE, francesa, nossa con­


temporânea, e cujo nom e verdadeiro é M arta
B éraud, realizou m em oráveis sessões na Vi­
la C arm en, em Argel (Á frica), em presença
do G eneral N oel e sua esposa, em 1905. O
cientista francês C harles R ichet foi a princi­
pal figura entre os assistentes. Durante as
sessões apareceu o fantasm a de B ien Boa,
antigo grão sacerdote de Golconda, c que era
frequentem ente acom panhado pelo fan tas­
ma de sua irmã B ergolia. Tais sessões foram
em 1905, e já em 190G o c/r. Roubij, após in­
quérito rigoroso, chegou à conclusão de que
a jovem Marta Béraud havia representado,
perante Richet, um a im pagavel com édia. Tu­
do não passara de um grotesco conto-do-vi-
gário. Rouby cita o testem unho dos árabes
Aleski e Mary, criados do General Noel, e
que haviam sido com parsas ou cúm plices da
m istificação. Cita ainda o testem unho de
Mme. Cochet, do sr. e da senhora P ortal,
todos eles presentes às sessões.
A liás, o pai de Marta, e ela própria, de­
clararam a Mme. M ersault que, tanto Bien
B oa com o B ergolia, tinham sido produto de
uma brincadeira. Fora tudo uma m istifica­
ção. Declararam isto a diversas pessoas, em ­
bora a protagonista, Marta Béraud, para não
desconcertar o sábio Richet, sem pre lhe ga-,
rantisse a realidade do fantasm a. (31)
(31) PAUL HEUSÊ, Oú cn eat la M etnp.ychlqne, psr.
115 e seguinte«.
— 42 —
Mais tarde, Marta Bérautl, já então Eva
Carrière, tornou-se m édium de Mme. B isson
e realizou sessões experim entais com Richcl,
em Paris, com Sch ren k-N olzing, em Muni­
que, com G. G eley e perante com issões da
S. P. R., de Londres (1920), e da Sorbona. G.
Geley confessa ter visto m em bros m ateriali­
zados, — dedos, m ãos e cabeças. D iz ele: “Vi
u m crâneo vivo cujos ossos toquei debaixo
do cabelo denso. “ (32) E, com excessivas m i­
núcias, descreve o resultado de todas as ses­
sões, em que apareceram ectoplasm as ou
fantasm as.
Observemos, porem , que o relatório da
Sorbona sobre as experiências com Eva Car-
riere foi “in teiram en te n e g a tivo " e que o da
S. P. R. ficou reservado, por só se terem da­
do fenôm enos sem im portância. (33)
F ranek K luski, polaco, de Varsóvia, p oe­
ta, entregou-se ao espiritism o e trabalhou
junto à S ociedade Polaca para P esquisas Psí­
quicas. O fenôm eno m ais singular que dizem
ter-se dado com Franek foi a m aterialização
de um espírito, em form a de anim al. Trata-
se de um m onstro, — cara de macaco, corpo
de cachorro, — que passeou no recinto, lam ­
bendo e faTejando os assistentes. Chamaram-
lhe an tropopiteco, nome criado pelos trans­
form istas para designar o hipotético inter­
m ediário entre o hom em e o m acaco.
(32) RICH ET, GrnndzueBC (H‘r PHrniiHycholojglc der
PnrapcjoliophjM lk, pg. 315. G. GELEY, D le sog. »uprnnor-
m nle Physlologie tiud dle Phnciiom ene d er Idcoplnatle,
1920.
(33) PAUL HEUSC. obra cilada, pag. 12G e seguintes.
V eja-so no fira o re la tó rio da Sorbona, assinado por Louis
Laplcque, G eorges Dum as, H en rl P lóron e H enrl L auglcr.
— 43 —
Vindo para Paris, em 1920, Franek ta-
balhou no In stituto M etapsiquico, sob a di­
reção de R ichet, A. de G am ont e Geleij. Aí,
alem de provar as m aterializações fotografica­
m ente, Franek obteve dos espíritos que eles
deixassem a im pressão dos mem bros em d e­
pósitos de parafina colocados junto do m é­
dium. Dessas m oldagens tiraram-se reprodu­
ções positivas, em gesso, representando m ãos
e pés dos espíritos. (!) E’ de ver que a novi­
dade fez época; é de ver tambem que a frau ­
de se insinuou facilm en te no novo processo
de provas das m aterializações, e isto não só
nas sessões científicas com o nos centros sus­
peitos. (34)

M aria S ilbert trabalhou com o barão Von


Schrenk, com Oesterreich, H arler e Auer,
(1921-1922.) As sessões de D. Maria Silbert
tem aspecio assom brador e deprim ente, p or­
que são caracterizadas, sobretudo, pela fre­
quente visita de fantasm as m aterializados.
Para com pletar a nossa exposição, e dis­
tinguir o que pode ser real, do que é franca­
m ente produto da fan tasia ou da frau de, tra­
duzim os os relatórios de algum as sessões fis ­
calizados pelo Dr. G atterer, jesuita, e por ou­
tros, reservando para ulterior capítulo o exa­
m e crítico dos fenôm enos alegados.

(34) O. GEL73Y, M nlcrjnllxatloonphuenniiiciie m lt


F rn u c k K lunkl. LelpziK. 1022. G. GKLER, Hc-llcsehen-Te-
Icpustlk, vs. 177. SCHRENK-NOTZING, M aterlnllxatlons
Phucnom cne, vs. 030.
EXPERIÊNCIAS PESSOAIS DO P. DR.
G ATTERER S. J.

As investigações sobre o ocultism o en­


tram pela m aior parte no cam po das ciências
'çxperim entais. Para estas, são indispensá­
veis observações e experiências. Sendo pro­
fissional em ciências naturais, o Dr. G alterer
timbrava em ap roveitai-se de toda ocasião
para fazer indagações, ç estabelecer observa­
ções cientificas acerca dos fenôm enos ocul­
tos. A idéia de que a investigação católica es­
tava, neste terreno, alc hoje, quase abando­
nada às referências alheias, o estim ulava
m uito à experiência própria. Acolheu por
isso, gratam ente, os convites que recebeu de
várias partes, para convencer-se de visa da
realidade dos fenôm enos ocultos. Da bem ri­
ca experiência que adquiriu, escolhem os ape­
nas alguns trechos e resultados m ais notá­
veis; m as, para serm os exatos, referirem os
nesta secção as próprias palavras do relator,
devidam ente traduzidas.
FE N Ô M E N O S COM R C D I SO H N E ID E R
E m 17 (le ja n e ir o de 1925 a n u í ao c o n v ile a m a-
v e l do D r. A. B a rã o (lo S c h rcn k -N o tzin g , p a ra a s s is tir,
no seu la b o ra tó rio , em M un iq u e, a u m a se ssão com
R iid i. A -fim -de d a r id é ia e x a ta do q u e se ja u m a se s­
são, vou r e la tã -la m a is e s te n s a m e n te , de m o d o q u e,
n a s s e g u in te s, possa re s trin g ir- m e ao essen c ia l.
N a ta rd e do d ia m a rc a d o fu i á casa do B a rão
S c h ren k , bem a n te s d a h o r a d a se ssão . D epois de
brev e c o n v ersaç ão 110 e sc ritó rio , fo m o s a o la b o ra tó ­
rio p a ra exam in á -lo m in u c io sa m e n te . E ’ lo c al q u a d ra -
do, de ta m a n h o r e g u la r . C o n fo rm e in d ic a o d esen h o
a nex o, um c a n to d a sa la é s e p a ra d o com o g a b in e te
p o r c o rtin a p r e ta , q u e se p ode a b r ir e fe c h a r. T a m ­
bém a s p a re d e s in te r n a s do g a b in e te são c o b e rta s com
p ano p re to .
P o r e xam e cu id ad o so , c o n v en cí-m c de q u e n ão h a ­
v ia n as p a re d e s acesso se c re to q u e p u d e sse p e rm itir
a e n tr a d a de cúm p lic es. U m a p a re d e do g a b in e te é
e x te r io r ; o fu n d o d a secgão p u d e v e rific árlo do c o r­
re d o r c o n tíg u o . Ao la d o d ir e ito d a c o rtin a , jà fo ra do
lo c al escu ro , e n c o n tra -se u m a p o r ta fe c h a d a , s e la d a

G ráfico n.o 1
— 46 —
com u m a ti r a de pa p el, n a q u a l e s tá le g ív el a in d a o
no m e D in g w al, m e m b ro d a S. P . R ., le m b ra n ç a d e u m a
se ssão a n te r io r . N a f re n te d a c o rtin a , a c h a m -s e d u a s
m e sas com o b je to s, q u e d evem se rv ir p a ra o p e ra çõ e s
de te le c in é sia , m o v im en ta çõ e s à d is tâ n c ia : v io lin o ,
ta m b o ril, b a stõ e s fo sfo re sc e n te s , c a m p a in h a , a rg o la s,
m a rim b a , c o n c e rtin a , etc. T o d o s sã o r e v e stid o s d e m a­
té r i a f o rte m e n te fo sfo re sc e n te , d e m odo q u e p o ssa
s e r n o ta d o , com b a s ta n te se g u ra n ç a , o sitio d e les, m e s­
m o em c o m p leta escuT idão.
E m r e d o r d a s m e sin h a s, p a ra a fre n te , h á u m a
e spécie de b iom bo , f o rra d o de v éu p re to , m a s tr a u s -
p a re n te , o q u a l de v e im p e d ir, n ã o a o b se rv a çã o , m a s
sim , q u a lq u e r in tro m issã o f ra u d u le n ta d o s e sp ec tad o -
d o res. E sse biom bo é, de um la d o , lig a d o com a p a­
red e , de o u tr o fica c e rc a d e 50 c tm s. d is ta n te d ela.
Em r e d o r do biom bo, p o r* fo ra , e stã o os a sse n to s dos
esp ec tad o re s. *
Às o ito d a n o ite , n a h o r a d e te r m in a d a , fu i à a n ­
te -s a la , o n d e v á rio s c o n v id ad o s j á e sta v a m re u n id o s :
o G e n e ra l P e d ro , con h ec id o e s c r ito r e s p ir ita , v á rio s
p ro fe sso re s d a U n iv e rsid a d e d e M u n iq u e, e n fim o ve­
lh o S c h n e id e r com o filh o R u d i, d e 16 a n o s, q u e v ai
f u n c io n a r com o m é d iu m . R u d i d á a im p re ssão de r a ­
p az sa d io , v ig o ro so , e te m a p a r ê n c ia sim p á tic a , m o ­
d e sta . D epois de c u m p rim e n ta r a to d o s oã c o n vid ad o s,
o B a rã o von S c h r e n k c h am a os q u e v ie ra m p e la p ri­
m e ira vez, ju n ta m e n te com o m é d iu m , p a ra se u g a ­
b in e te d e tr a b a lh o , o nd e R u d i, so b c o n tro le m in u c io ­
so, v e s te o tr a j e d e te rm in a d o p a ra a s sessõ es. C o n sis­
te em c a lç a s la rg a s e p a le tó lev e, im p re g n a d o , n as
a rtic u la ç õ e s do s p és o m ão s, de m a té r ia fo sfo re sc e n te ,
p a rn q u e o c o n tro le do m é d iu m p o ssa s e r feito a té no
e scu ro e p o r to d o s os e sp e c ta d o re s. D epois de e sta rm o s
co n v en c id o s de q u e R u d i n ã o te m co n sig o q u a lq u e r
m eio ou a p a r e lh a m e n to m ecâ n ico d e f ra u d e , e n tra
- 47 —
ele, a co m p a n h a d o po r uóa, n a a a la d a se ssão , In sp ec­
c io n ad a pouco a n te s .
Som os em n.° de 12; c ad a u m to m a lu g a r: S c h ren k -
N o tz in g no a sse n to n.° 1 ; n o q u a d ra d o p r e to , o m é ­
d iu m ; em S e 9 os c o n tro la d o re s. A lu z c la r a e b r a n ­
ca é s u b s titu íd a p e la v e rm e lh a , r e d u z id a p o r um reó s-
ta to . D epois dc poucos m in u to s, cai o m é d iu m em
tr a n s e com a lg u n s e stre m e c im e n to s . Os c o n tro la d o re s
se g u ra m a s m ã o s e os pés do m é d iu m . I m e d ia ta m e n ­
te a n u n c ia e ste, co ch ic h an d o , q u e c h eg o u a “ in te li­
g ê n c ia ”, d a q u a l se c rê p o ssu id o e d o m in a d o em tr a n ­
se. " O lg a ” a n u n c ia -s e , p e la voz do m é d iu m , com “ D eus
te s a lv e ” , o q ue é resp o n d id o pelos p re se n te s.
S c h re n k já m e tin h a e x p lica do a n te s q u e, com o
os m é d iu n s são e s p ir ita s , — c o n seq u ê n cia d e s u a e d u ­
cação e rr a d a , — d evem os, b om o u m a u g r a d o , con­
d e sc e n d e r com s u a s id é ias, se q u ise rm o s o b te r r e s u l­
ta d o n a s se ssõ es; q u a n to a ele, e sta v a c o n v en c id o de
q u e niso n ão se tr a t a v a d e in te rv e n ç ã o do v e rd a d e i­
ro s e sp írito s, m a s d e m a n ife sta ç õ e s m ú ltip la s d a p e r ­
so n a lid a d e , pelo im p é rio d a c h a m a d a su b c o n clê n cia.
P o r e sse m o tiv o , o d ir e to r d a s e x p e riê n c ia s d irig e a
“ O lg a ” v e rd a d o iro d isc u rso d e sa u d a ç ã o ; u m a m i­
go tin h a tra z id o a té u m ra m a lh e te d e v io le ta s.
E m se g u id a, são a p re s e n ta d o s os a s s is te n te s , u m
p o r u m , p a ra q u e “ O lg a ” q u e ira m o s tra r os se u s b elo s
fe ito s, s e r g e n til p a ra com o s no v o s h ó sp e d e s e não
n o s d e ix a r e s p e r a r m u ito .
D ep ois de u m a h o r a in te ir a , d u r a n te a q u a l n a d a
se deu d e im p o r ta n te , d e s e ja “ O lg a ” q n e q u a tr o s e n h o ­
re s d e ix em n snln, e n tr e e les ta m b é m o g e n e r a l P e d r o
e S c h n e id c r p a i.
A sse n tam o -n o s, u m p e rto do o u tr o e, a d e sejo
do m é d iu m , fo i-se a lte r n a n d o u m a c o n v ersaç ão a n i­
m a d a a o som do g ram o fo n e . A d v ertid o p elo v iz in h o ,
perc eb o qu e o p a n o p re to q u e c o b ria o s in s tru m e n to s
— 48 —
d a m e sa e s ta v a se n d o tir a d o ; n o to a in d a o m o v im en ­
to d a c o rtin a do g a b in e te , re c o n h ec ív el pelo b a lan ç a-
m e n to d a s tir a s fo sfo re sc e n te s a ta d a s a e la. D u ra n te
a m a rc h a a le g re , m a rc a v a “ O lg a " o c o m p asso com o
b a stã o fo sfo re sc e n te . F in a lm e n te m o v im en ta -se o v io ­
lino, à m in h a f re n te ; v ai su b in d o e d e scen d o p o r ci­
m a d a m e sa e to c an d o a m a rc h a com to q u e s r e tu m ­
b a n te s. Com tu d o isso, n ã o p erco d e v is ta o m é d iu m ;
os b a rb a n te s de m ã o s e pés e sta v a m em seu lu g a r.
D os e sp e c ta d o re s ouv e m -se a c la m aç õ e s se m p re m ais
a n im a d o r a s ; o e x p e r im e n ta d o r e sfo rç a -se p o r te m p e ­
r a r o e fe ito . D ebalde. S e m p re m a is r e tu m b a n te s se
to r n a m a s p a n c a d in h a s. P e rce b e-se, pelo som , q u e o
in s tru m e n to e s tã a c h a ta d o ; c o n tin u a , p o rem , a m a r ­
c a r o c om passo e x a ta m e n te , e m b o ra com ta n ta v io­
lê n c ia q u e , em d a d o m o m e n to , cai em p ed aç o s. O u­
tr o s fe n ô m e n o s p ro d u z id o s sã o ; f o rte m o v im en ta çã o
d a c o rtin a , to q u e fra co d a c o n c e rtin a , to q u e do ta m ­
b o ril, o e rg u e r e p a lra r n o a r, d a c a m p a in h a , q u e é
to c a d a e, em se g u id a , a tir a d a p o r c im a do b io m b o , ao
pé de u m a a s s is te n te . F in a lm e n te o u v e-se g r a n d e b a ­
r u lh o a tr á s do b iom bo, no re c in to de e x p e riê n c ia . T o­
d os os o b je to s d e ita d o s cm c im a d a s d u a s m e sin h a s
6ão la n ç a d o s u n s p o r cim a do s o u tr o s ; a s p ró p ria s
m e sin h a s fin a lm e n te d e rr u b a d a s , a c o rtin a e o b io m ­
bo v io le n ta m e n te p u x a d o s em se n tid o c o n trá r io . E m
luz c la r a v e rific o u -se o h o r r o r d a d e v asta çã o .
D u ra n te um in te r v a lo , d e sen ro lo u -se e n tre o B a­
rã o S c h re n k c m im u m a p e q u e n a c o n v ersa, o u v id a pe­
lo m é d iu m , q ue tin h a v o lta d o ao e sta d o n o rm a l. E m
se g u id a , c o n tin u a m o s a se ssão com lu z v e rm e lh a ; m as,
nã o a p a re c e n d o m a is o u tr o s fen ó m e n o s, fo i te rm in a d a
a sessão.
S e g u e o p ro to co lo ex ato d a se ssão , o q u a l fo i d ita ­
do d u r a n te a m e sm a pelo B a rão S c h re n k a u m a este-
n ó g r a f a , lo c a liz a d a n o fu n d o d a sa la.
SESSÃ O D E 17 D E JA N . D E 1 0 2 5

Com R u d i S c h n c id c r, 110 la b o ra tó r io do D r. B a rã o
Ton S c lire n k -N o tz in g , em M u n iq u e.
P R E S E N T E S : D r. K a e m m e re r, m ed ico , p ro f. n a
U n iv e rsid a d e de M u n iq u e ; D r. K a r l G ru b e r, p ro f. de
z oo lo g ia n a P o lité c n ic a d e M u n iq u e ; D r. K u r t S lerp ,
p ro f. o rd . de b o tâ n ic a n a U n iv e rsid a d e d e M u n iq u e ;
D r. em filo so fia A. G a tte r e r , p ro f. no I n s titu t o d e fi­
lo so fia , le n te a g re g a d o n a U n iv e rsid ad e de In n s b ru c k ;
G e n e ra l P e d ro ; D r. em m e d ic in a e filo so fia K rle g , le n ­
te a g re g a d o ; S tu d ic n r a t L a m b e r t ( S t u t t g a r t ) ; p in to r
E b e r s ; e s c r ito r S c h u lte - S tr a th a u s ; c o n d essa A .; S ch n ei-
d e r, p a i; d ir e to r d a s e x p eriên c ia s.
O sr. P ro f. G a tte r e r , d e I n n s b ru c k , à s 3 e m e la
h o ra s, p ro ce d eu a ex am e m in u c io so do la b o ra tó r io , in ­
c lu siv e d a s p a re d e s, e c o n v en c eu -se de q u e n ã o h a v ia
a ccesso po ssíve l ao g a b in e te , n e m d e fo ra , n em d e
d e n tro , n e m p o r c im a do te lh a d o .
O CO N T RO L E PR É V IO DO M ÉDIUM fo i e fe tu a ­
do no g a b in e te d e tr a b a lh o do d ir e to r d a s e x p e riên c ia s
pe lo Sr. P r o r . S lerp ., P ro f. G a tte r e r e D r. K rie g . O
m é d iu m foi m in u c io sa m e n te e x am in a d o e m to d o o c o r ­
po, a té n a c av id a d e d a bo ca, in c lu siv e n a riz e o u v i­
d os. D a m e sm a f o rm a os v e stid o s do m é d iu m , n a s
d o b ra s e c o stu ra s. R e su lta d o n e g a tiv o . R u d i c alç a b o ­
tin a s com a ta c a d o r e s ; u sa m e las, c am isa, cu eca, co la ­
r in h o e g r a v a ta . P o r c im a d a p r ó p ria c alç a, v e s te a in ­
d a c a lç a e c a s a q u in h o p e rte n c e n te s ao d ir e to r d a s ex­
p e riê n c ia s, a m b o s g u a rn e c id o s com b a rb a n te s fo sfo ­
r e sc e n te s em r e d o r d a s a rtic u la ç õ e s d a s m ã o s e pés.
CO NDIÇOES DAS E X P E R IÊ N C IA S : O b io m b o
q u a d ra n g u la r s e p a r a , com o d e c o stu m e , o re c in to d e
e x p e riê n c ia s do d o s e sp e c ta d o re s. A a b e r tu r a , do la d o
do m é d iu m , e n tr e o b io m b o tr a n s p a r e n te e a c o rtin a
do g a b in e te , é de cinco c e n tím e tro s. D e n tro do c am ­
— 50 —
po de e x p eriên c ia s e n c o n tra m -se d u a s m e sin h a s, colo­
c ad a s n m a ao la d o d a o u tr a . S o b re a p e q u en a m e sa do
f u m a r e s tá o ta m b o r il e u m b a stã o fo sfo re sc e n te . So­
b re a m e sa d e 4 p é s e n c o n tra m -se c o n c e rtin a , v io li­
no, a rg o la s fo sfo re sc e n te s , c a m p a in h a , a lem de u m r a ­
m a lh e te de v io le ta s, tr a z id o pelo sr . S c h u lte - S tr a th a u s
p a ra "O lg a " , e to r n a d o v isiv el p o r um b a rb a n te fo sfo ­
r e sc e n te em re d o r d a s h a ste s . Ao la d o d a m e sin h a h á
u m cesto d e pa p éis.
A d is tâ n c ia do m é d iu m ( o m b ro s) a té a a b e r tu r a
(m eio ) d a c o rtin a é de l,m .2 0 .
A s 8,40 h o ra s, Inicio d a se ssão . A 6 ala d e expe­
riê n c ia s fica f e c h a d a p o r d e n tro , à ch av e. A p ag a -se
a luz b ra n c a .

O R D E M D E A SS E N T O S :

C O N T R O L E DO M áD IU M : P ro f. G ru b e r, no c an ­
to d ire ito , S c h u lte - S tr a th a u s , d ep o is D r. K rie g , E b ers,
C on d e ssa A., P r o f . G a tte r e r , S t u d le n r n t L a m b o rt, P ro f.
Sierp , e x p e rim e n ta d o r.
2.* F IL E IR A — G en e ra l P e d ro , S c h n o id e r, pai.
O p ro f. K a e m m e re r, c h eg a d o com p e q u en o a tra s o , à s
8,44 h o r a s e n tra no circ u lo .
8,4 5 : com eço do tr a n s e , p rim e iro com fra co , dep o is
c&m f o rte e stre m e c im e n to .
S ,4 9: “ O lg a ” a n u n c ia -s e com “ D eu s v o s s a lv e ! ”
8 ,5 0 : “ O lg a " d e s e ja p a u sa de 16 m in u to s, a -fim -
de q u é p o ssa s e r v e n tila d a a sa la , d e m a sia d a m e n te
a q u e n ta d a .
8,6 2 : o m é d iu m a c o rd a.
P a u s a d e 16 m in u to s.
9 ,0 5 : O s a s s is te n te s re to m a m os se u s lu g a re s nos
a s s e n to s a n te s a ssin a la d o s. A lu z b ra n c a é a p a g a d a , a
p o r ta f e c h a d a p o r d e n tro .
9 .0 8 : O m é d iu m cai em tr a n s e com f o rte e stre m e ­
cim en to . E ’ a p a g a d a a lu z v e rm e lh a . T o d o s os p re se n ­
- 51 -
te s c o n tro la m -se m u tu a m e n te , se g u ra n d o -s e p e las m ão s
e fo rm a n d o c o rre n te s. A lem d isso , e stã o a sse n ta d o s
tã o p e rto u n s dos o u tro s, q u e n in g u o m d e fo ra p ode
p a s s a r a c o rre n te .
9.0 9 : “ O lg a ” p e d e c o n v ersaç ão v iv a ,
9 .4 0 : " O lg a ” d e s e ja que o Sr. G e n e ra l P e d ro ,
P ro f. S lerp ., U r. K rlc g e S c h n e id er, p a i, a b a n d o n e m ,
p o r e n q u a n to , a, sa la .
9 .4 2 : T ro c a de c o n tro le . P ro f. J a e m m e r e r su b s-
tlt u e o P ro f. G ru b e r. A c o rr e n te é .r e d u z id a , de m o ­
do qu e o s a s s e n to s do s a u s e n te s fiq u em o c u p a d o s p e ­
lo s p re se n te s.
9 .5 0 : A d e se jo de " O lg a ”, a 6 e c r c tá r la fnz o g r a ­
m o fo n e to c a r v á ria s p e ça s (m a r c h a s e d a n ç a s) com
r itm o m u ito d is tin to .
1 0 .0 5 : N ov a tr o c a d e c o n tro le .
1 0 .2 2 : L ev e s m o v im en to s d a c o rtin a . O p a n o p r e ­
to , com q u e o s o b je to s d e cim a d a s m e sas fo ra m co­
b e rto s , p a ra d im in u ir o s e u e fe ito fo sfo re sce n te, fo i
t ir a d o p o r m ã o Invisível.
1 0 .2 6 : O sr . E b e r s a n u n c ia s e n tir c o rr e n te f ria
d e a r.
1 0 .2 7 : O b a lan c eio d a c o rtin a , m o rm e n te da
m e ta d e do la d o do m é d iu m , é m u lto v iv o ; m a io re s
e x cu rsõ es do s b a rb a n te s fo sfo re sce n tes .
1 0 .2 8 : “ O lg a ” m a rc a , com o b a stã o fo sfo re sc e n ­
te , o com p asso p a ra a m a rc h a to c a d a pelo g ra m o ­
fo n e.
1 0 .3 0 : O v io lin o co m eç a a m o v im e n ta r-se . T o ­
qu e co m p assad o , com c re sc e n te fo rç a. O v io lin o cal
ao chão.
1 0 .3 1 : O P r o f . S ierp r e o c u p a o lu g a r a n te r io r .
1 0 .3 1 : N o v a tr o c a do c o n tro le . E m lu g a r do sr.
E b e rs, a c e ita de novo o c o n tro le o s r. K am m e re r.
“ O lg a ” e s ta b e le c e n o v a o rd e m d e a sse n to s. E n q u a n to
e sse d e se jo é c o m p rid o , o s r . S c h u lte - S tr a th a u s e n tra
— 52 —
no re c in to d e e x p eriên c ia s, p a ra re c o lo c a r o v io lin o so ­
b re a m e sa, de ta l fo rm a q u e o cab o do in s tru m e n to
fica sse v ira d o p a ra a a b e r tu r a d a c o rtin a .
1 1 .0 8 : A s o n d u la sõ e s d a c o rtin a reco m eg am .
1 1 .1 0 : T o q u es c o m p assad o s e c re sc e n te s do v io ­
lino.
1 1 .1 2 : M o vim ento s c o n tin u a d o s d a c o rtin a . O
vio lin o m a rc a c om passo fo rtíssim o .
1 1 .1 3 : V ee m e n tes b a lan c eio s d a c o rtin a .
1 1 .1 4 : O m é d iu m se n te-se a n im a d o a p e d ir m a io ­
re s fe ito s ; dep o is disso , o to q u e c o m p assad o do v io ­
lin o v a i s e m p re cre sce n d o a té d a r g o lp es v io le n to s.
C o n tín u a s su g e stõ e s a o m é d iu m , d a p a rte do s a ssis­
te n te s , faz em c re sc e r a in d a d e v io lê n cia os fen é m en o s.
A fo rç a d e se n c a d e a d a se d e sen v o lv e e d e sp e d a ç a o
in s tru m e n to , a té q u e d ele n ã o r e s ta se n ão o cab o , co­
m o r e s u lta d a v e rific aç ão p o ste rio r.
1 1 .1 6 : T o q u e su a v e do ta m b o ril.
1 1 .1 7 : C om eçam to q u e s m a is su rd o s so b re a pele
do ta m b o ril, com o com u m o b je to m eio d u ro , q u e po­
d e ria s e r um m e m b ro h u m a n o . A a la d a p o rtin h o la
v ir a d a p a ra o m é d iu m m o v e-se p a ra tr á s ; os b a rb a n ­
te s f o sfo re sc e n te s c o m p rid o s são p u x a d o s, fo rte m e n te ,
p a ra o in te r io r do g a b in e te .
1 1 .1 9 : F a z -se e n tã o o u v ir a c a m p a in h a ; e le v a n ­
do-se no a r, é la n ç a d a p o r cim a do b io m b o , e cai ao
pé da c o n d e ssa A.
1 1 .2 0 : A c o n c e rtin a m o v e-se; o u v e m -se a lg u n s
so n s, a ssim com o um g o lp e de in s tru m e n to n a m esa.
O p ro f. S ierp e o d ir e to r d a s e x p eriên c ia s e rg u e m -se
p a ra m e lh o r o b se rv a r os fe n ô m e n o s p o r c im a do
biom bo.
1 1 .2 1 : O ta m b o ril, d e ita d o n a m e sin h a d e p a lh a ,
é to c ad o , d e a c ô rd o co m o ritm o d a m ú sica , e, depois,
a tir a d o ao chão.
— 53 —
1 1 .2 2 : O uve-se, dep o is, u m b a ru lh o e x tra o r d in á -
dio a tr á s do b iom bo, no re c in to d as e x p e riên c ia s. T o ­
do s o s o b je to s d e ita d o s n a s m e sas sáo a tir a d o s , co n ­
f u sa m e n te , u n s em c im a do s o u tro s, e a s m e sas, fin a l­
m e n te, to m b a m no chão.
11 .2 4 : E ’ lig a d a a lu z b r a n c a p a ra se v e rif ic a r
o re s u lta d o d e ssas f o rte s in flu ê n c ia s.
11 .2 5 : k lu z c la r a , v e m o s a s d u a s m e sas v ira d a s
no c h ã o ; por a{, em to d o s o s se n tid o s, os p ed aço s do
v io lin o . A lem d isso, v e rific a m o s q u e o b io m b o , do la ­
do do m é d iu m fo i p u x a d o a té p e rto d a c o rtin a . No
e n ta n to , n ã o p u d e m o s a p u r a r se esse f e c h a m e n to se d e u
a n te s o u a p ó s d o ú ltim o fen ô m e n o .
O d ir e to r p u x a a m esa m a io r p a ra tr á s d a c o r ti­
na, d e n tro do g a b in e te , e, so b re a m e sin h a de f u m a r,
c oloca u m a c a ix in h a de m ú sic a de c ria n ç a , o ta m b o ril,
a c a m p a in h a e u m a a rg o la fo sfo re sce n te.
O e x p e rim e n ta d o r to r n a a f e c h a r o c am p o d e ex­
p e riê n c ia s, de m odo qu e a b e ira do b io m b o 'se u n a à
ti r a fo sfo re sc e n te d a c o rtin a .
1 1 .3 0 : S egue p e q u e n a p a u sa , à s e s c u ra s, d u r a n te
a q u a l o m é d iu m fica so b c o n tro le e p o d e d e sc a n sa r.
O s a s s is te n te s fica m to d o s em se u s lu g a re s.
1 1 .4 2 : Os m o v im en to s d a c o rtin a rec o m eç am .
1 1 .5 0 : “ O lg a ” p e d e u m a p a u s a d e 1 8 m in u to s.
C o n tin u a ra m d e p o is a s e x p e rin c la s n a s m e sm a s c o n ­
dições.
1 1 .5 5 : R u d i a c o rd a .
18 m in u to s d e p a u sa.
D u ra n te e s te rec re io , no lo c al c o n tíg u o , e n tre te m -
se os p re se n te s so b re o r e s u lta d o ; e u m e sp e c ta d o r,
q u e p e la p r im e ira vez em su a v id a a s s is tiu a u m a se s­
sã o , e x te rn o u a p o ssib ilid a d e d e u m do s p r e s e n te s te r-
s e in tro d u z id o no g a b in e te , e te r , fra u d u le n ta m e n te ,
p ro d u z id o to d o s esses fen ô m e n o s. Com e ssa f a l t a d e
c o m p re e n s ã o d o v a lo r c ie n tífic o d o m é to d o , e r a d e ro -
— 54 —
c c a r q u e a c o n v ersa, n m ta n to Im p ru d e n te , p u d e sse
d e p rim ir o to lh e r a s disp o siçõ e s d o m é d iu m .
1 2 .1 2 :R e in fc io d a se ssão , com o d e co stu m e .
1 2 .2 2 : T ra n se . N ão se d a n d o , p o rem , m a is fen ô ­
m eno a lg u m , foi le v a n ta d a a se ssão à 1 h o ra .
A c a u sa do fra c a sso d a ú ltim a p a n o d eve so r
a trib u íd a à p e rd a d e d isp o siçã o d o m é d iu m , p ro v o ç a d a
p e la o b se rv a ç ã o m e n c io n a d a so b re a po ssiv e l fra u d e .
B a se ad o n a su a e x p e riê n c ia de m u ito s a n o s, S c h n e id er,
p a i, p e n sa q u e o m é d iu m e sta v a h o je p a rtic u la rm e n te
fo rte , e q u e te r i a d a d o r e s u lta d o ta m b e m a ú ltim a
p a rte , se tiv e s s e sid o o m itid a n q u e lq c o n v ersa.
1 .0 6 : R u d l a c o rd a .

O B SER V A Ç Õ ES F IN A IS DO D IR E T O R DAS
E X P E R IÊ N C IA S

O d e s e n r o la r d e s ta se ssão fo i s a tis f a tó rio , típ ico e


a n á lo g o ao da s p re c e d e n te s . A d e stru iç ã o d o v io lin o ,
em ta n to s fra g m e n to s, p ro v o u q u e , p o r c o n tin u a s a n i­
m ações, são p ro d u zid o s e fe ito s v io le n to s e a té b r u ­
ta is ; e ste s podem d e g e n e ra r n u m a ta l c o n fu sã o d ç fe ­
n ô m e n o s, q u e to r n a Ilu só ria a so lu ç ão c e r ta d e fe n ô ­
m e n o s p re d e te rm in a d o s . N esse p a r ti c u la r p o d e-se m e ­
lh o r a r a in d a a d isposição d a s e x p eriên c ia s.
N ão s e rá prec iso s a lie n ta r q u e a d isc u ssã o a c a ­
d ê m ica d a q u e stã o so b re se a lg u m do s p re se n te s te n h a
f r a u d u le n ta m e n te c o o p erad o é sem fu n d a m e n to ; p a ­
r ec e a b s o lu ta m e n te excu sa d o q u e u m d o s p re se n te s
te n h a p o did o p a ssa r, d e sp e rc e b id a m e n te , do se u lu g a r
a té a tr á s d a c o rtin a . E x cu sad o , p rim e iro p o rq u e os
a s s is te n te s e ra m to d o s p e sso as s é ria s , e , se g u n d o , p o r ­
q u e to d a tr a n s fe rê n c ia de lu g a r s e ria p e rc eb id a .
A -fin a l é de n o ta r q u e o c irc u lo d e o b se rv a d o re s
m u d a em c a d a se ssão e e m c a d a lu g a r. Com Isso se
liq u id a e ssa o b je çã o te ó ric a .
— 55 —
D epois de exam inado o protocolo, o Dr.
Galterer enviou ao Barão von Sclirenk um su­
plem ento em que fazia várias objeções con­
tra os resultados obtidos, alegando certas p os­
sibilidades de frau des. Posteriorm ente, p o­
rem, em outras experiências, viu que suas
objeções careciam de fundam ento, e aceitou
com o reais os fatos telecinéticos aqui nar­
rados.

SESSÃ O D E 5 D E O U TU B RO D E 1 0 3 5
COM RU D I, N A CASA DOS P A IS , E M BRAU N A U

O s r . J. S c h n e ld e r, p a l do m é d iu m , p a ra tir a r- m e
a s d ú v id a s, te v e a b o n d a d e, d e c o n v ld ar-m e m a is v ezes
p a ra B r a u n a u . D u as sessõ es d lstln g u lra m -se p a rtic u ­
la rm e n te p e la rlq u o za de fe n ô m e n o s d e te le c in é sia e
m a te ria liz a ç ã o . P o r isso p a sso a f a z e r o r e la tó r io
d e las.
A S S IS T E N T E S : M e d lc ln a lra t D r. E . R e h , C a p i­
tã o K o g eln ik , S. R lb el, o sr . e s r a . R a m sb a c h e r, p a i
e m ã e do m é d iu m , a ssim com o o irm ã o m a is v elho,
C a rlo s, com s u a m u lh e r R o sa , e o r e la to r D r. G a tto re r.
A n te s d a se ssão tiv e b a s ta n te o c asiã o p a ra e x a ­
m in a r tu d o , m in u c io sa m e n te , no lo c al, m o rm e n te no
c a n to do q u a rtò q u e d e v ia s e rv ir d e g a b in e te . D e m o ­
do a lg u m p u d e d e sc o b rir alg o d e su sp e ito . E m m in h a
p rese n ça , S c h n e id er, p ai, p r e p a ra o g a b in e te . O so a lh o
do c a n to e sq u e rd o do q u a rto é c o b erto com p an o p r e ­
to, d e K a té K v a i u m a c o rtin a p r e ta p e n d u ra d a , q u e
s e a b re com c o rd a s, a p a r ti r do m eio. J a n e la I ( d e n ­
tr o do g a b in e te ) e ja n e la I I f o ra d ele, (a m b a s dão p a ­
r a a p r a ç a m u n ic ip a l) , sã o ig u a lm e n te c o b e rta s com
p a n o p re to , a -fim -ú e qu e a lu z d a p ra ç a n ão p e n e tre
no lo c al d a sessão . C ad a p a n o é p o r m im m in u c io sa -
— 56 —

m e n te e x am in a d o . A lim p a d a , em f re n te ao g a b in e te ,
e stá se n d o e m b a c ia d a com p ap el v e rm e lh o . De u m la ­
do d a c o rtin a ( K l ) , to r a d e la, o m é d iu m R u d l; à f re n ­
te d ele, o M e d ic in a lra t D r. E . R e h , q u e s e g u ra a s a r ­
tic u la ç õ e s d a s m ã o s d e R u d i e a p o rta a s p e rn a s con­
t r a a s s u a s ; se g u em e n tã o o s d e m ais a s s is te n te s ; q u a n ­
to a m im , floo no so fá ( K ) ,e m f re n te a R u d l. A dls-
— 57 —
tã n c la d e ste à m e ta d e d a c o rtin a é d e l,m .5 0 . D epois
de a c e sa a lu z v e rm e lh a , R u d l c al, p o r sl só, em t r a n ­
se. E m voz c o ch ic h ad a , a n u n c la -s e a " in te lig ê n c ia "
qu e é s a u d a d a p o r to d o s, em c o ro : “ D eu s t e sa lv e,
O lg a ! ” S c h n e ld e r p a i, a e x em p lo do B a rão v o n S c h ren k ,
faz u m d isc u rso d e b oas v in d a s. “ O lg a ” p cd o e n tã o 12
m in u to s do p a u s a . L u z b ra n c a . F a ç o q u e stã o de que
n ln g u e m e n tr e no g a b in e te .
R e com eça a se ssã o ; tr a n s e . N ad a su c ed e . P e r g u n ­
ta d a p elo m o tiv o , r e s p o n d e “ O lg a ” q u e o g a b in e te não
e s tá s u f ic ie n te m e n te e sc u re c id o . E n tr o n o g a b in e te
em c o m p an h ia do sr. C a rlo s S c h n e ld er.
Iso la m o s a lu z b ra n c a e to rn a m o s a s a ir ju n to s .
O lga p e d e m ú sic a e c o n v ersaç ão . C a n ta m -s e d iv e rs a s
c a n tig a s p o p u la re s. A lg u n s do s p r e s e n te s d e c la ra m p e r­
c eb e r f ig u r a b r a n c a ; q u a n to a m im , n a d a en x erg o .
C a rlo s c a l em tr a n s e , com o m é d iu m s e c u n d á rio . “ Ol­
g a " d e s e ja u m a p o ltr o n a ( c a d e ir a sem e s p a ld a r ) com
c a m p a in h a . Coloco a m b o s em f re n te d a c o rtin a . D e-re-
p e n te , p õ e-se e s ta em m o v im en to v iv az, e n q u a n to a
p o ltr o n a e s tá se n d o p u x a d a p a ra to d o s os s e n tid o s ; a
c a m p a in h a m a rc a o cam p a sso p a ra a c an ç ão q u e 6e
v a i e n to a n d o . Os m o v im en to s, a v iv a d o s p e las a c la m a ­
ções d os e sp e c ta d o re s, to r n a m -s e m u lto v e e m e n te s e
desen v o lv e m -se à m in h a f re n te . C o n tin u a a c a m p a i­
n h a a s e r s a c u d id a , com o p o r m ão In v isív el, c o rtin a a
d e n tro . D e -rep e n te é jo g a d a p o r cim a dos m e u s o m ­
bro s, to c an d o -m o ao de lev e. P o r in d ic aç ão do m é d iu m ,
" O lg a ” e n c o n tr a - a logo, a tr á s de m im . “ O lg a ” d e se ja
q u e e u a se g u re em cim a d a p a lm a, p a ra tlr á - la d a í.
S e g u ro , po is, a c am p a in h a em c im a d a p a lm a d a m ão,
deb aix o d a lâ m p a d a . N a p o sição em q u e m e a c h a v a n ão
p o d ia d e ix a r de a v is ta r q u a lq u e r do s p re s e n te s q u e te n ­
ta s s e c h e g a r p a ra p e rto de m im . A p ro x im an d o m in h a
m ã o m a is um p ouco (1 0 cm .) d a c o rtin a , v ejo a p a ­
rec e n d o , d e -c h o fre, em d ire ç ã o à. fle c h a , u m a p e q u en a
— 58 —
m ão. V ejo -a , pelo m ano s, tã o c la ra m e n te com o a m i­
n h a p ró p ria , à lu z v e rm e lh a , m a s m u ito p e q u e n a e de­
lic ad a . P e rce b o q u a tro d ed o s s e p a ra d o s, se m o p o le ­
g a r. A m ão e ra v isív el só a té a a rtic u la ç ã o . U m ta n ­
to tím id a e p rec av id a , fo i a m ão a p a lp a n d o , ao de
le ve, a m in h a , s e n tin d o e u alg o d e frio h ú m id o . D e-re-
p e n te a p a n h a a m ã o zin h a a c am p a in h a e r e tira -a , jo ­
g a n d o -a com ra p id e z. F e ito isso, d e sap a re ce . A m a te ­
ria liz a ç ã o f o ra visiv el p elo e sp aço de 3 a 4 se g u n d o s.
O dr. R e h c ertific o u -m e d e q u e c o n tin u a v a s e g u ra n d o
R u d i. Os d e m a is e sp e c ta d o re s e ra m to d o s te s te m u n h a s
d a a p a riç ã o , e não p o d ia m , n a s c o n d içõ es d á d a s, tô -la
p ro d u zid o p o r f r a u d e ; a m ão sa iu p o r d e trá s d a co r­
t in a e e ra a n o rm a lm e n te p e q u e n a ; a d is tâ n c ia d o s a s ­
s is te n te s e ra m in lm a.
E m s e g u id a , q u e r " O lg a ” to c a r o a la u d e . O in s ­
tr u m e n to e s tá p reso ao pescoço com a caix a d e re sso ­
n â n c ia . Com o a fisc aliz aç ã o se m e a fig u r a in su fic ie n ­
te , to m o e u e se g u ro o in s tru m e n to . A d e s e jo d a “ in te ­
l ig ê n c ia " , a p ro x im o -m e d a c o rtin a , e in c lin o e n tã o o
in s tru m e n to p a ra m e u la d o e sq u erd o , em se n tid o co n ­
tr á r io ao do c írc u lo do s a s siste n te s, d e m odo q u e as
c o rd a s fiq u em bem j u n ta s à c o rtin a . S eg u em -se e n ­
tã o puxões no in s tru m e n to , a o s q u a is re sisto p a ra v e ­
r if ic a r o g r a u de in te n s id a d e . D epois, a rr a n h õ g s n a s
co rd a s, com o se a lg u e m p a ssasse a s u n h a s so b re e las
b r u ta lm e n te . A clam ações a “ O lg a ”.
N a ja n e la II, d e -re p e n te , to q u e s v e em e n tes . D e­
se ja -se c e rto n u m e ro de p a n c a d a s, e isso se faz e x a ta ­
m e n te . E u so lic ito : 2 g o lp e s rá p id o s e 3 v a g aro so s, o
q u e , a p ó s p e q u e n a d e m o ra , se e x e c u ta p ro n ta m e n te .
A o m esm o m odo f u i c o rresp o n d id o q u a n d o p e d i q u e se
b a te ss e n a ja n e la I.
E m se g u id a a ssu m o eu p ró p rio a fisc aliz aç ã o , m as,
te n d o -s e v e rific a d o só m o v im en to s d a c o rtin a , e n c e r ­
r a m o s a se ssão , à s 11 h o r a s d a n o ite .
— 59 —
S e m e lh a n te m ão m a te r ia liz a d a a p a re c e u m a is t a r ­
d e, v á ria s vezes, em o u tr a s o casiõ e s, com o n a se ssão
d e 12 d e a b ril d e 1926. Com o e s ta a p re s e n ta m a is o u ­
tr o s p o rm e n o re s in te r e s a n te s , d e la faço a se g u ir, u m a
de scriç ão , de a c o rd o com o p ro to co lo .

SESSÃ O D E 1 2 D E A B R IL D E 1 0 2 «
COM R U D I S C H N E ID E R , em casa d o s p ais.

M EM BR O S D A SESSÃ O : P r o f . B e u le r ( Z u e r lc h ) ,
Sr. K ., c a p itã o K o g e ln lk e s r a . P o ld i O fe n m u e lle r,
F r a n z C llli, R a n sb a c h e r, R o sa e C a rlo s S c h n e id er, os
p a is do m é d iu m e o r e la to r D r. G a tte re r.
P a r a o b te r c o m p le ta c e rte z a , fo i e x e c u ta d o pelo
ú ltim o , a u x ilia d o pelo sr. K ., e x am e m in u c io so de to ­
dos os o b je to s do lo c al d a s sessõ es e do s q u a rto s co n ­
tíg u o s ; n a d a foi o m itid o , n e n h u m a g a v e ta , o u caixa,
ou c am a , fica n d o de p o is a s p o r ta s f e c h a d a s e la c r a ­
da s. A in d a a ssim c o n tin u a m o s a e x a m in a r c u id a d o sa ­
m e n te , com a lâ m p a d a e lé tric a , to d o s o s d e m a is c a n ­
tin h o s.
I n ício da se ssão à s 8.26 h o r a s . S eg u em 12 m in u ­
to s de p a u sa . R e in ic io à s 8 .3 7 . T ra n se . C o n tro le (p elo
c áp itã o K o g e ln ih ), com o se m p re . " O lg a " * p e d e a p o l­
tr o n a . P u x o u -a em d iv e rs o s se n tid o s, d ep o is fê -la c air.
C olocada n o v a m e n te em pé, foi c o b e rta com b rin q u e d o s
p a ra " O lg a " ( ta m b o ril, c a m p a in h a ) . C a rlo s S c h n e id e r
cai ta m b e m em tr a n s e . “ O lg a ” to c a o ta m b o r il, c o n ti­
n u a a to c a r o ta m b o r n a ja n e la I I e, a p e d id o , ta m b e m
n a ja n e la I. O uvem -se e n tã o p a n c a d in h a s n o e s p a ld a r
do so fá e n a p a re d e , a tr á s do m é d iu m . A s c o rtin a s são
le v a n ta d a s p a ra o a r, a té fic a re m q u a se p a ra le la s ao
chão. A c a m p a in h a é le v a n ta d a e to c a d a . “ O lg a ” p e d e
q u e o g ra m o fo n e s e ja co lo cad o em c im a d a p o ltro n a .
Com o o m a is pró x im o , q u e é o s r . K ., n ã o c o n seg u e
faz ê-lo fu n c io n a r , d e c la ra g I n te lig ê n c ia : “ V ou faz ê-lo
— 60 —
eu p r ó p r i a ” . A p arec e o u tr a vez, b em v isív el, ã lu z v e r­
m e lh a, a m ão m a te r ia liz a d a ; je ito s a m e n te faz o in s­
t r u m e n to to c a r, p e g a do ta m b o ril, e m a rc a com e le o
c om passo. M a n ife sta m e n te m a l s a tis f e ita com a m ú ­
sic a, m a n d a " O lg a ” : “F o r a com a v e lh a p e ç a ! ”
O P ro f. B e u le r, o s r. K . e D r. G a tte r e r e n tre g a m
le nços. P e g a d o s com m u lto je ito p e la m ão d e “ O lg a ”,
d e sa p a re c e m a tr á s d a c o rtin a , e de lá r e a p a re c e m
c heios d e nó s, se ndo r e e n tr e g u e s a se u s p ro p rie tá rio s .
Ao s r. K ., p o ssu id o r de b e la b a rb a c o m p rid a, lh e p e ­
dem se a p ro x im e u m pouco d a c o rtin a . A p en a s feito
Isso, r e a p a re c e , d e t r á s d a c o rtin a , a m ão m a te r ia li­
zad a , e p u x a -lh e v io le n ta m e n te a b a rb a . C o m eça “ Ol­
g a ” e n tã o a o c u p ar-se com o “ a n jo fo s fo re s c e n te ” ( fi­
g u r a d e c a r tã o ) . Com o e ste é fix a d o com a lfin e te de
se g u ra n ç a em cim a d a c o rtin a p r e ta , e sta , d e -c h o fre,
se r a s g a p o d e ro sa m e n te , n o m esm o fio, de b aixo p a ra
cim a, d e m odo q u e o a n jo fica liv re , m o v e n d o -se a le ­
g re m e n te no a r e c ain d o fin a lm e n te no c h ão . O re la ­
to r o rec o lh e , m a s “ O lg a ” lh o t i r a d a m ã o c o m e x tra ­
o r d in á r ia v io lê n cia.
E m to d a s e ssas m a n ip u la ç õ e s, a p e q u e n a m ão
m a te r ia liz a d a e ra m u lta s v ezes b e m v lslv el. A lém d is­
so, a p a r e c e u u m f a n ta s m a in te ir o ; o r e la to r v iu a fi­
g u r a n e b u lo sa , bem c o n fu sa , q u e o r a foi c re sce n do ,
o r a d im in u in d o , ta n to n o ta m a n h o , com o n a clarez a.
A s m ln u d ê n c ia s n ã o s e p o d ia m d is tin g u ir .
No fim d a se ssão " O lg a ” e n sa ia v a a in d a e fe tu a r
u m a le v ita ç ã o do m é d iu m . A fo rç a, p o rem , lh e p a re c ia
e sg o ta d a , d e m odo q u e o r e la to r n ã o p o d e d is tin g u ir
o fen ô m e n o .

FE N Ô M E N O S COM M A R IA SELB ER T
(D o G ra z — Á u stria )

A s m a n ife sta ç õ e s q u e se d e ra m com e s ta s ra .


e ra m de e spécie e sse n c ia lm e n te d if e r e n te d a s q u e se
— 61 —
d e ra m com R u d l S c h n e id er. M m e. S llb e rt, a tu a lm e n te
qu a se de 70 a n o s d e id a d e, ó v iu v a de fu n c io n á rio do
M in istério d a F a z e n d a , fale cid o em 191 4 . Com o e s­
po sa e m ã e de f a m ília n u m e ro s a , te m a tr á s de si u m a
v id a c h e ia de tr a b a lh o e c u id ad o s. A im p re ssão q u e
eu p e sso a lm e n te tiv e d e Mme. S llb e rt, tã o so cial, n a ­
tu r a l e le a l em tu d o , d e v e s e r a p o n ta d a com o a b so lu ­
ta m e n te fa v o ra v e l. O q u e n a s sessõ es com e la é c o n ­
s id e ra d o com o e x tra o r d in á r io e p a rtic u la rm e n te a g rn -
d nv el, é a c irc u n s tâ n c ia d e q u e o “ a p a r a to ” d e le i ( e ti­
q u e ta s ) u sa d o com os d e m a is m é d iu n s, d e sa p a re c e
c o m p le ta m e n te . S o b re tu d o , n ã o e x iste a q u i v e stíg io
d e g a b in e te m is te rio so , q u e , p a r a u m cép tic o , c o n tin u a
a s e r se m p re p e d ra d e tro p eç o . A q u i, a g e n te se a s s e n ta
sim p le sm e n te & m e sa , co m lu z c la r a n a tu r a l, o u a r ­
tif ic ia l, e a s m a n ife sta ç õ e s co m eçam .
A n te s, po rem , de r e f e r ir os p ro to co lo s d a s sessõ es
m a is im p o r ta n te s , dou, b a sea d o n a p r ó p ria e x p e riê n ­
cia, u m a b rev e d e scriç ão do s fe n ô m e n o s m a is co m u n s
q u e se c o stu m a m p ro d u z ir com e la.

a ) A S P A N C A D IN H A S (R a p s ) o u TEPTO LO GIA (8 5 )

A s p a n c a d a s m e d lú n lc a s sã o , de c erto , o fen ô m e ­
no m a is fre q u e n te com d. S ilb e rt. P o d e m s e r v e rif i­
c ad a s em q u a se to d a v isita , e a c a d a h o ra do d ia . A s
i c o n tin u a m e n te , q u a n to ao lu g a r, à
e ritm o . As m a is d a s vezes, pa-
í o o u v id o em c im a
ra p s f o r t e s ) , a v ib ra -
. S ilb e rt se a s s e n ta à
js p a ra a fre n te , v isi-

,'n£ ,0,s To M X , d£ er.rd:


— 62 —
de. O uvem -se no p la n o e no e s p a ld a r d a c a d e ira , em q u e
c a d a q u a l e s tá se n ta d o . As v ezes dão um so m b ran d o ,
com o se g o ta s de a z e ite c aissem d e p o u c a a ltu r a ; o u ­
t r a s vezes, som f o rte , oco e a g u d o , com o d e o b je to
p o n tu d o . N ão ra r o , a s p a n c a d a s são e s tr o n d o s a s e r e ­
tu m b a n te s , com o m a rte la d a s . T am b em v a ria o com ­
passo. O ra é le n to , c a d a se g u n d o u m a p a n c a d a ; o r a
a v iv am -se a s p a n c a d a s, q u e c h eg a m a um c om passo
fu rio so , com o d e u m ra d io te le g ra m a ex p re sso . P e rce -
be-se q u e os rn p s r e p r e s e n ta m o u tr o s ta n to s sin a is ex­
pressiv o s. A p e rg u n ta d e " N e ll” ( a I n te lig ê n c ia ) se q u e r
d ita r , se g u e u m a f o r t e p n n c ad a q u e sig n ific a a fir m a ­
ção, ou d u a s q u e e x p rim em a n e g a tiv a . Um d ita d o in ­
te iro , (e x ig e p ro lo n g a d a p r á tic a ) re a liz a-so , ju n ta n -
d o-se a s le tr a s , c o n fo rm o o n ú m e ro de p a n c a d a s q u e
lh e s c o rre sp o n d e n a se q u ê n c ia n a tu r a l do a lfa b e to :
U m a s ig n ific a a , 2 = b , 3 = c e tc. A recep ção d e co m u ­
nic aç õ es é, p o r isso , m u ito p e n osa e c o m p rid a, com p e ­
rigo de eng an o n a c o n ta , o q u e c a u sa d ú v id a s. Mas
“ N e ll” c o rrig e a d ú v id a e x iste n te , se lh o p e d ire m e s­
p e c ia lm e n te . Q uando h á in c e rte z a se e ra ra o u n , p e r ­
g u n ta -s e pelo m . Se g u e e n tã o sim (u m a p a n c a d a ) ou
n ã o ( d u a s p a n c a d a s) À s v ezes, a b re v ia -se o p enoso
p rocesso, p e la p resu n ç ã o o u p rev e n çã o . C o n je tu ra -se
o qu e liá -d e v ir, o q u e se q u e r, fo rm a n d o -se e n tã o
s íla b a s o u palavT as c o rr e sp o n d e n te s, a s q u a is “ N ell"
a c e ita ou re c u sa s u m a r ia m e n te , p o r u m a o u d u a s p a n ­
c ad a s. A n tig a m e n te , r e fe re d. S llb e rt, u sa v a-se ta m b em
o u tr o m odo m a is c ôm odo d e co m u n ica çã o , a c h a m a d a
e s c r itu r a p o r “ c h a p a s ”, n a q u a l a r e sp o sta e s c r ita e ra
d a d a p r o n tln h a . M uito in te r e s s a n te é o In stin to d e
im itaç ão d a s m is te rio s a s p a n c a d a s. U m r itm o m a rc a ­
do n o ta m b o r é logo im ita d o ; à s vezes, u m ritm o co­
m e ça d o é c o n tin u a d o d lre ltin h o . Isso d á -se a té com
m e lo d ia s pouco c o n h ec id as, com o com m e lo d ia s b r a s i­
le ira s, e tc. Os fen ô m e n o s do s r a p s n ã o d e p en d e m d a
b ) T O Q U E COM M E M B R O S IN V IS ÍV E IS

T cm an d o -se lu g a r ju n to a u m a m e sa, e à lu z de
u m a lâ m p a d a d e 50 ve las, um ou o u tr o a s s is te n te d e ­
c lara-se logo s u r p re s o o u e sp a n ta d o : a lg u e m m e to ­
cou. O rd in a r ia m e n te te m -se a Im p ressã o de um m e m ­
b ro m ole, e m b o tad o . Âs vezes, se n te -se ta m b em , b em
d is tin ta m e n te , um a b ra ç o o u «aperto n a p a rte su p e ­
r io r ou in f e r io r d a coxa, ou do s jo e lh o s. A p e d id o , o
to q u e m u d a de c a r a te r . E ste n d e n d o -se , d e -re p e n te , a
m ào, p o r baixo d a m e sa, e p ed in d o -se a “N e ll” a p e r -
tá -la , c o stu m a s e r e n tã o sa c u d id a fo rto ou le v em e n te .
D á-se ta m b em f re q u e n te m e n te a se g u in te e x p e riê n c ia :
o m é d iu m e a p e sso a f ro n te ir a u n e m u m a d a s m ão s
em cim a d a m e sa, e p ro c u ra m J u n ta r , ig u a lm e n te , as
o u tr a s debaixo d a m esa. No m o m e n to em q u e se to ­
cam , ju n ta -s e -lh e s , não ra r o , so b u m v islu m b re , o u tr o
m e m b ro m is te rio so . E ’ I n te r e s s a n te q u e a té d. S ilb e rt
se s e n te se m p re to c ad a , q u a n d o o u tr o s o são.
N a tu ra lm e n te , com to d a s e ssas e x p eriên c ia s, su s­
p e ita -se d a e x istê n c ia de u m se creto m eca n ism o , do
q u a l o m é d iu m se se rv e h a b ilm e n te . U m ex am e m i­
n uc ioso, po rem , conv en ce lo g o d a c o m p leta in o c ên c ia
do rú stic o e p e sad o m o v ei d e c a rv a lh o . P re su m e -se ,
em se g u id a , q u e d. S ilb e rt te n lia p o d id o , com seu
pé, p ro d u z ir e sses to q u e s fra u d u le n ta m e n te . T am b em
e sta obje çã o se d e sfa z p o r si m e sm a . E m si, Já é im ­
possíve l q u e u m a sra ., id o sa e d o e n tia , fize sse p o r b a i­
xo, com os pés, se m e lh a n te s a rtifíc io s a cro b á tic o s, sem
m o v e ria p a rte s u p e rio r do co rp o . A d em ais, liq u id a -se
a o b je çã o pelos to q u e s de p a rte s s u p e rio re s ; e o m é ­
diu m p e rm ite q u a lq u e r v e rific a ç ã o do s pés com lâ m p a ­
d a e lé tr ic a ; su a s m ã o s fica m , q u a se se m p re, p o r cim a
— 64 —
e bem v isiv eis. O r e la to r , q u e fa z ia m u lto uso d a lâm -
p nd a e lé tric a , e re c e b ia m u ito s to q u e s, n u u c a p o de
p e rc eb e r m otivo p a ra a m ín im a su sp e ita .

c) FE N Ô M E N O S T E L E C IN im C O »

São os se g u in te s q u e so o b se rv a m : le v a n ta m e n to ,
p a rc ia l o u to ta l, d a m e sa p e sad a d e se ssã o ; to q u e b re ­
ve d os In s tru m e n to s q u e se e n c o n tta i$ 110 q u a rto o à
b oa d is tâ n c ia do m é d iu m ( a té 4 m e tr o s ). F r e q u e n te ­
m e n te são m ovidos, te le c in e tlc a m e n te , o b je to s c o lo ca­
dos d ebaixo d a m e sa de se ssão . C a ix in h a s de c ig a rro s,
reló g io s, ta m p a s e fo lh a s , c a m p a in h a s , tu d o isso é c a r ­
reg a d o e a rr a s ta d o pelo ch ão , e n i c irc u ito s c o m p rid o s,
pelo m is te rio so “ a lg u é m ” . N ão ra ro , esses o b je to s s a l­
ta m bem a lto e a té a c im a d a m e sa. Às vezes, d e sa p a ­
rec em d e -sú b ito , e m b o ra o b se rv a d o s com m a io r a te n ­
ção, e v o lta m d e -rc p e n te pelo a r, “ tr a z id o s " p o r in ­
te rm é d io do m é d iu m , a -p e sar-d o e ste se m p re c o n se r­
v a r a s m ãos v isiveis, em cim a da m e sa. A té c h lca ra s
c h e ia s fazem essas v ia g en s m e d iú n ic a s, se m d e ra m n r
u m a g o ta 6 e q u er do c o n teú d o . E m s e m e lh a n te s “ tr a n s ­
p o r te s ” c ai o m é d iu m em tr a n s e ; a luz é d im in u íd a . A
e xp re ssão e o ge sto n o tr a n s e são m is te rio so s e um
ta n to te a tr a is . O e n to a r d o can ç õ es inclodiQ 6as, e a de-
clam a çã o d e poe sias q u e se re f e r e m ao m u n d o d o s e s­
p ír ito s (tó p ic o s de F a u s to , e tc .) , fav o rec em m u ito a
p ro d u çã o de fen ó m e n o s.

d) FE N Ô M E N O S LU M IN O SO S

P o s to q u e e fe ito s lu m in o so s a q u i se r e la te m ( a n ­
te rio re s a 1 9 2 2 ), r e strin g e -se , a m in h a e x p e riê n c ia
pessoa], a fen ô m e n o s m en o s im p o r ta n te s d e 3 t^ g ô n e ro .
N a p ro x im id a d e do m é d iu m a p a re c e m , Içe q u e n te m e n -
te, fa ix a s c la riv e rd e s ou raio s q u e, com o m e te o ro m i­
n úsc ulo, tra ç a m u m a lin h a d e fogo. T am b em dos de-
- 65 -
d os do m é d iu m irro m p e m , à s vozes, no e s t i r o , ra lo s
a u riv e rd e s . * *
Pe lo que m o in fo rm a m ^ o s c o m p a n h e iro s d a se s ­
sã o , ta m b e m d^o corpo do m é d iu m s a S n n e v o eiro s f r a ­
c a m e n te lu z e n te s, fo rm an d o m a te ija liz a ç õ s s m à is d e n ­
sa s. O r e la to r n u iic u c h eg o u a v c rlfia a r, co m c e rte z a ,
e sse (p n ô m en o . »
B e p çis d e s ta «xplic liç ão , p o d e rã o os p ro to co lo s,
e m s u a f e r ^ a b re v e e e s c a ssa , d a r u m a id é ia c la r a e
c o m p re en sív el - d o s fen ô m e n o s. M ais o u tr a s o b se rv a ­
çõ es c rític a s so b re a fisc aliz aç ã o e x ercid a se rã o r e la ­
ta d a s n a II p a rte destar jsecção. D u ra n te a s sessõ es,
ío r a m ^ s e m p r e to m a d o s A p o n ta m en to s, e, lo g o n a se­
g u in te m a n h ã , re d ig id o o p ro to co lo . Só a s se ssõ es m e-
lh o r* su c c d id a s é q u e sertio a q u i m e n cio n a d as .

S E S S â O D E 2 5 DIO G U T üB K O D E 1 0 2 5
c om D .*M nrla S ilb e rt, c m s u a c asa , em tir a z .

A S S IS T E N T E S : P ro f. D r. J o ã o U de e se u p rim o .
D. S ilb e r t o o re la to r . Com eço d a se ssão à s 8 h o r a s d a
n o ite . C om g local s e rv e u m q u a rto a ssaz eepaço so , ro-
ta u g u t . QyaOe no m eio se a c h a u m a mêsa. p e sad a ,
de m a d e ira , c u jo s q u a tro pés se U £am p o r tra v e ssa s
c ru z a d a s; em cim a, a lâ m p a d a e lé tr ic a (5 0 .* e la 6 ) ; m e ­
d ia n te c e rto didfeositivo p ode s e r re d u z id a a luz. C ada
qu a l to m a a sse n to o o u tro lad o efe m esa.
Im e d ia ta m e n te se fazem o u v ir p a n c a d in h a s. Co­
m eça um d ita d o . Sai, com o p rim e ira p a la v r a : “ Coc-
m c te iiu m ” . A d m iram o -u o s do la tim . Seg u e o d ita d o :
“ Si pa cc m d c d e r ltis , lu x o r . . . “ D c d e ritis” fo i p a rc ia l­
m e n te d e cifrad o p o r m im . O a b r ir d a p o r ta in te r ro m ­
pe o d ita d t. E m vez de c o n tin u a r o te x to , b a te-se
“ e jo n y ” e, à p e rg u n ta , so e stã ex ato , re sp o u d e -s e: sim .
Segue d e pois: T u l se m p re lu x , ov io tx m ” . P o r m im ,
o r lc t dcv la se r c o m p letad o pela silab a “ u r ; d o u , po-
— 66 —
rem , d e -p ro p ó slto , a s le tr a s e rr a d a s “x ” e “ m ”. F o -
Tam a fir m a d a s a m b a s. E m se g u id a b a te ••NeU”, em
a le m ã o : “ E u nãó e n g an o , não e n g a n e is ta m b e m v ó s” .
D epois s e g u e “e x tltlt” . " O u v is te -n o s ,' a c r e d ita s te na
n ossa e x is tê n c ia ”. O p rim o do P ro f. U de p e rg u n ta :
"Q ue m a c r e d ita ? Meu t io ? ” “ N ã o ”. " P r o f. G a t te r e r ? ”
“ N ã o ” . “ E u ? ” “ S im .".
A m e sa com eça a m o v o r-se e. a e rg u ê r-se de um
lado. Com m u ita s u r p re s a n o ssa , p a re ce , à s vezes, m o ­
dific a r-s e o seu peso. D estes fen ô m e u o s, p o rcin , n ã o
te n h o c e rte z a a b s o lu ta . T o q u es p o r m e m b ro s in v isí­
veis. B a te -se n a m e sa, e rec eb e -se o m esm o n ú m e ro
do p a n ca d as, com o re sp o sta.
R eco m eça o d ita d o : “ H o je não e sto u so z in h o , in ­
te rro m p e s e m p r e ”. L ig u e i, p rim e iro , sem se n tid o . F u i
co rrig id o . O m é d iu m q u e ix a-se d e q u e tu d o v ai h o je
tã o d e so rd e n a d a m e n te ; p a re c e q u e u m a in te lig ê n c ia
e sto rv a a o u tr a . Às vezes, re sso a d e to d o s os lad o s
v e rd a d e iro c o n ce rto de p a n ca d as. V em e n tã o a co m u ­
nic aç ão : “ b tp tn ro so m n in lo ” , n a q u a l a lg u m a s le tr a s

Sllbeit

G ráfico n .“ 3
— 67 —
fo ra m ta lv ez p o r n ó s m al e n te n d id a s. A -fin a l c h eg a d e
novo um la tim m u tila d o : “ D co s i t le p o e lo m ln e ttc r -
m im ” . T alv ez a te n ta tiv a de p ro d u z ir: D eo s lt ln u s ln
c oelo ln n e te r m u n ” .
F im d a se ssão à s 11 h o ra s.

SESSÃO D E 2 6 D E O U TU B RO D E 1 0 2 5
com D. M a ria S ilb e r t, cin s u a c a sa .

P A R T IC IP A N T E S : Sr. E. J . D in g w all (S .P .R . de
L o n d re s) e su a esp o sa, C a p itã o S c h a rl, P ro f. D. W al-
te r , m é d iu m e re la to r .
Com oço d a sessão à s 9.12 h o ra s d a n o ite . S a u d a ­
da a “ I n te lig ê n c ia " p elo s o u tro s. V em o s e g u in te d i­
ta d o : “ F i r m a i v o ssos se n tid o s, e r r a r e i s se ” — Es-»
tro n d o , com u n ica çã o in te rro m p id a , tr a n s fe rê n c ia n o ­
tá v e l d a m e sa.
9.30 lio ra s. F o rm a ç ã o d a c o rre n te , e sc u rec im e n to
d a luz. D. S ilb e rt p a re ce e s ta r em tr a n s e . D ita d o : “ O
s in a l a p a r e c e r á , q u a n d o a m issão fo r c u m p rid a ”. Os
a s s is te n te s se n te m fo rte s to q u e s.
N a çru z q u e e s tà sob a m e sa, e n c o iitra m -se os
o b je to s em q u e ‘‘N e ll" d ev e a tu a r : 1 c a ix in h a ( p a r a
g r a v a r ) , 2 a rg o la s d e p a p el p a ra se c o m p e n e tra re m ,
c a r ta bem fe c h a d a (com la p isin h o d e n tro p a ra e sc ri­
tu r a d ir e ta , a m b o s m e u s ) , u m a ta m p a em fo lh a, um
violino. ’
D. S ilb e rt descrev e o a p a re c im e n to d e u m f a n ta s ­
m a e s p ir itu a l. D en tro d a m e sa, fo rte s e stro n d o s. V á­
rio s p u xões no v io lin o ; ta m p a , v á ria s vezes a b a tid a no
chão. Às 10,45 resso a m tr ê s sé rie s d if e r e n te s de p a n ­
ca d in h a s. D ita d o s: “ A c re d ita re is, q u a n d o fa la r d e s ( ? )
s in a is e m ila g r e s ” ( o rá c u lo ). M aio r re d u ç ã o da lu z. A
m e sa le v a n ta -se p o r do is la d o s. O s r . D in g w all se n te
f o rte to q u e no braç o su p e rio r; P ro f. W a lte r e M me.
D in g w all ta m b e m rec eb e m to q u e s. A ta m p a é a tir a d a
— 68 —
ao a r. D ita d o : “A c e ita o sin a l, e te r n a é tu a a lm a ” .
O r e la to r s e n te fo rte to q u e n a s p e rn a s.
“ N e ll”, p o r m eio d e tr ê s p a n c a d a s f o rte s, d á si­
n a l de q u e re r te rm in a r a se ssão . M in lia c a r ta (ab s-
tr a in d o -s e de um s in a l de la p is no e n v elo p e ) fico u em
bran c o . M as, com s u r p re s a do to d o s, e n c o n tra m o s, g r a ­
vado n a ta m p a de fo lh a, n u m tr iâ n g u lo : “ X e’.l" . Com o
c u n ã o tiv e sse e x a m in a d o o o b je to a n te s , n a d a p o sso
a flr m n r a c e rc a d a r e a lid a d e d o fe n ô m e n o .

SESSÃO D E 3 D E A B R IL D E 1 9 26
C om a S ia . M . S ilb ev t, c m s n » c asa , e m G raz.

P A R T IC IP A N T E S : P ro f. D r. M lc h elitsc b , M inis-
tc r i a lr a t , D r. M inibeck, D r. H o b e n w a rte r, s r . R h o d e n ,
R . M achado, m é d iu m e re la to r . ( 3 6 ) .

O B JE T O S A PO N TAD O S P A R A E X P E R IÊ N C IA :

I — Um reló g io “ O m e g a", a lem d a m a rc a d a fá ­


b rica , le v a : S. I., g u a rd a d o em e n v elo p e fecliád o .
I I — R elógio “ A ra m is ”, se m g ra v a ç ã o n o tá v el,
fe c h ad o com selos.
I II — D e sp e rta d o r fo sfo re sc e n te , d e aço.
IV — C a ix in h a d e r a p é , n o v a ; d e n tro , p a p el q u a ­
d ra d o com p o n to d e a g u lh a em c a d a c a n to . — L a p ise i­
r a de m e ta l se m g rav a çã o . — E s to jo de c ig a rro s do re ­
la to r , fe c h ad o com b a rb a n te c ru z ad o e c o lad o em p re ­
se n ça do s srs. R h o d e n e M achado.
V — C a rta fe c h a d a e la c r a d a com 3 p e rg u n ta s
c m p o rtu g u ê s , cu jo c o n teú d o só é c o n h ecid o d o s 2 in ­
te rr o g a d o re s . P a p e l p e rf u ra d o com H .R .; n o s c an to s,
com M; in c lu so , la p isin h o .

(36) M achado G o nome de um Ilu stre je su íta portu-


guBs. Uhoden é o nosso p atrício P ad re H u b erto Rhoden,
que hoje reside no Rio de Ja n eiro e que então se achava
na A lem anha aperfeiçoando os seus estudos eclesiásticos.
— 69 —

S ílb e tt M íelUfckcft

Às 9.15, Inicio d a se ssão . E sp e ra m o s a in d a o s e ­


n h o r M in iste rln lrn t. A m e sa p e sa d a de c a rv a lh o p a s­
sou a se r, em se g n id a , e x a m in a d a , se n d o a g a v e ta
tir a d a . C olocam os os o b je to s p re p a ra d o s so b re a s d u a s
tra v e s s a s c ru z a d a s em b aixo d a m e sa: os re ló g io s I -
I I - III , - reló g io de o u ro do sr. M ic h elltsc h , e sto jo s
de c ig a rro s.
Às S.30, c h e g a d a do M in ls te r ia lr a t M ln ib eck . S a u ­
da çã o g e ra l d a I n te lig ê n c ia p o r "D e u s te 6 a lv e ! ” S e ­
guem v á ria s p a n c a d in h a s. O r itm o de can ç õ es a sso b ia ­
d a s (asso b io d e c anções e b a tid a s de ta m b o r ) é im i­
ta d o . O sr. R h o d e n se n te v á rio s to q u e s. E ’ e x ec u tad o
n o ta m b o r il o R ig o le tto , d e Y erd i. “ N e ll” d e se ja d i­
ta d o : T exto do m e sm o : g o ta a lg u m a c ai c m v ão so b ra
a te r r a se d e n ta . Sr. R h o d e n e P ro f. M ic h elitsc h p e rc e ­
bem v á rio s fen ó m e n o s lu m in o so s s to q u e s. S eg u e o
d ita d o : te m p o o e spaço sã o d e sfa v o rá v e is. À p e rg u n ta :
‘‘P o r q u e ? ” não se d á re s p o s ta c la ra . A In te lig ê n c ia
“ N e ll" in fo rm a q u e o d ita d o se d irig o a o sr. R h o d e n.
E rg u e -se a m e sa d e -re p e n te , do la d o e s tr e ito (d e G at-
te r e r e H o h e n w a rte r, c o n fo rm e , esboço a n e x o ) .
— 70 —
E ’ v e la d a a l& m pada (5 0 v e las) com a v e n ta l a zu l.
M as a fo rç a ilu m in a tiv a p e rm ite le r a in d a b em o es­
c rito a la p is. P a r a se s a tis f a z e r ao d e sejo de “ N e ll”,
e stab e le ce -se c o m p le ta e sc u rid ã o . O sr. M in iste ria l-
v a t r e c ita a lg u n s tre c h o s d e F a u s to . Seg u em f re q u e n ­
te s p a n c a d in h a s, s o b re tu d o com tó p ic o s m ístic o s, e e n ­
tã o de to d o s os la d o s.
D. S ilb e r t é c o n tro la d a em m ã o s o pés pelo P ro f.
M ic h elltsc h e peio r e la to r .L e v a n ta -se e la v á ria s vezes,
e m tr a n s e . S u s s u rr a p rim e iro , rá p id a e im p e rce p tlv e l-
m e n te , a p r im e ira p e rg u n ta d a c a r ta em p o r tu g u ê s :
“ Q ual é o p rim e iro v e rso do s L u s ía d a s ? ” R esp o n d e
d epois, bem p e rc e p tiv e lm e n te , v o lta n d o -se p a ra o sr.
M achado: "A s a rm a s e o s b a rõ e s a s s in a la d o s ”, re p e ­
tin d o v á ria s vezes a p r im e ira p a rte da ú ltim a p a la v ra
e, não c h e g a n d o a te rm in á - la bem , s u s s u r r a : “ N ão co­
nheço is s o ” . O sr. R h o d e n não e n te n d e a c ita ç ã o com ­
p le ta m e n te . O r e la to r o u v e bem p e rc e p tiv e lm e n te o ti­
q u e -ta q u e do reló g io <le a lg ib e ira do la d o d ire ito de
d. S ilb e rt, p elo m enos d u r a n te 2 m in u to s. E la deixa,
d e -re p e n te , a m ão do p ro f. M lc h elitsc h e p e g a n a do
sr. R h o d e n . E ’ re sta b e le c id a lu z c la ra , com o a n te s.
Ura la p is, q u e o r e la to r se g u rav p o r baix o d a m e ­
sa , a -fim -d e qu e “ N e ll” o p eg u e, fo i v á ria s v ezes to ­
cado. O sr. R h o d e n ti r a o se u reló g io d e b aixo d a m e­
s a e o e x a m in a a te n ta m e n te . D. S ilb e r t e s tá a in d a se n ­
ta d a , em tr a n s e , com a s m ão s n a m e sa. O s r . R h o d e n
rec o lo ca seu reló g io deb aix o d a « n esa, e to m a a p o si­
ção a n te r io r . D. S ilb e r t le v a n ta -se le n ta m e n te , no
tr a n s e , e rg u e a s m ãos, com os d ed o s a b e rto s, a té a a l­
tu r a d a lâ m p a d a , p o r c im a d a m e sa, com o q u e p r o ­
c u ra n d o alg o no a r. D e -rep e n te, a p a n h a com os d ed o s
um reló g io . E s te fen ó m e n o é o b se rv a d o d is tin ta m e n ­
te pelos srs. R h o d e n , M achado e D r. H o h e n w a rte r em
c a d a um do s se u s m o v im en to s. D. S ilb e rt e rg u e -se e n ­
tã o , com o qu e p r o c u ra n d o o reló g io , d e um la d o p a ra
— 71 —
o u tro , se g u ra -o com a m ão e sq u e rd a e faz, com a d i­
re ita , p o r c im a d ele, um sin a l. P a re c e g r a v a r no a r
um tr iâ n g u lo . S e n ta -s e, e n tã o , e p r o c u ra , m a n if e s ta ­
m e n te, o p r o p rie tá rio do reló g io , a c e rta n d o com o sr.
R h o d e n ; q u e ro n d o d e ita r - lh o n a m ão a b e r ta , deix a-o ,
p orem , c a ir. T o d o s os p o rm e n o re s do a c o n te c im e n to
f o ra m o b se rv a d o s p o r to d o s. D. S ilb e rt d e c la ra te r
re c eb id o g r a n d e in flu ê n c ia do s r . F h o d e n . O s r. M iche-
litsc h faz a p ro p o sta de tr o c a r o lü g a r, fica n d o o P ro f.
se n ta d o à d ir e ita e o sr. R h o d e n à e s q u e r d a d a s ra .
S ilb ert.
L uz fra c a , sem tr a n s e . A s ra . S ilb e r t faz u m a
e xcla m aç ã o c o n fu sa , e ste n d e a m ão le n ta m e n te p a ra
os o m b ro s do sr. R h o d e n . E s te p e rc eb e , s o b re o seu
om bro d ire ito , um reló g io . E la o a p a n h a e lh o e n tr e ­
ga . E ’ o reló g io do P ro f. M ic h elitsc h . O e sto jo d e c i­
g a rr o s a p a re c e e n tã o ao la d o do m é d iu m , s a lta n d o ,
com o p o r si p ró p rio , so b re a m e sa. Um b a rb a n te de
p a p el d e sa p a re c e ; o se g u n d o , com a m a rc a d e selo,
e s tá a in d a no lu g a r. G ra v aç ão , n e n h u m a . O sr. R h o ­
den p e rc eb e , no c a n to d a m e sa, ra io fo rte ; o sr. M a­
ch ad o n o ta a lg u n s to q u e s fo rte s, re p e tid o s. O ú ltim o
p e rg u n ta , em p o r tu g u ê s e a le m ã o , se p o d e f a la r em
p o rtu g u ê s . Seguem d u a s m ã o s. P e rg u n ta -s e , s e p ode
h a v e r d ita d o em la tim , a le m ã o , g reg o . V em , c ad a vez,
a re s p o s ta ; não. S e g ue o d ita d o la tin o : “ D o lo rcs m ia
i n a te r r a ” . P e r tu r b a ç ã o no d ita d o . F a z -se e sc u rid ã o co m ­
p le ta . D. S ilb e r t p a re c ç o b se rv a r f o rte s r a lo s e n tre
s u a s m ã o s e a s do sr. R h o d e n . Seg u em d o is ra io s ex-
tr a - f o rte s , c la ra m e n te p e rc eb id o s p o r to d o s, p a re c e m
p r o m a n a r d a s p o n ta s do s d ed o s. D. S ilb e r t m o v e a s
m ã o s em c im a d a ch ap a , e sfre g a n d o . O b serv a q u e se
fo rm a n e v o eiro lu m in o so . O s r . R h o d e n s e n te p o n ta d a
f o r t e n u m lado.
L ig a -se a lu z e lé tr ic a . E x a m in a -se o reló g io e o
e sto jo d e c ig a rro s. A -p e sa r-d e re p e tid a s p e rg u n ta s a
— 72 —
“ N e ll” , e r e p e tid a s a firm a ç õ e s d e la, n ã o se d esco b re
g ra v a ç ã o a lg u m a . “ N e ll” p r o te s ta c o n tra o a b r ir do
relógio do r e la to r , d e n tro do e n v elo p o . E le é a b e rto ,
não o b s ta n te . S e g ue -se u m a lig e ir a d isc u ssã o a re sp e i­
to d a in flu ê n c ia dos e sp trito s so b re a m a té ria .
As 12 .1 5 , e n c e rra m e n to d a se ssão .

SESSÃ O D E 4 D E A B R IL D E 1 0 26 .
C om D . M a ria S ilb e r t, em s u a c a sa , e m G ra z.

P A R T IC IP A N T E S : Os m e sm o s d a se ssão p rec e ­
de n te.
O B JE T O S A PO N TA D O S: R eló g io I, I I, III , e sto jo
do c ig a rro s c o n te n d o : c ig a rro s, ped aço d e p a p el e lá ­
pis, a ssim com o c a r ta com p e rg u n ta s , c a m p a in h a .
O RD EM D E A SSE N T O S: com o no esboço d a se s­
sã o p re c e d e n te .
* As 8,35 h o r a s , com eço d a se ssão . E x am e do s sa ­
p a to s. C onversa-so so b re os f e n ô m e n o s d e D. S ilb ert
em L o n d res, e e x a m in a m -se os r e tr a to s de “ e s p ír ito s ”,
rec e b id o s de lá.
As 9,00, “ D eus te s a lv e ” . P r o f . M ieh elitsch fisc a ­
liz a rig o ro s a m e n te os p és, e v e rific a v á rio s to q u e s do
lado c o n trá r io . D iv e rs a s ' p a n c a d in h a s, bem fra c a s,
in sig n ific a n te s . P a re c e f a lt a r e n e r g ia , p o rq u e D. Sll-
b e rt se a c h a um pouco in d is p o sta e a ta c a d a . A sso b iam -
se c c a n ta m -se d iv e rs a s m e lo d ia s; a s m e sm a s sã o e x a­
ta m e n te to c ad a s no ta m b o ril e c o n tin u a d a s. T am b cm
tim n c an ç ã o b r a s ile ir a . C a n ta -se e m co ro : “ Z u M an-
tu a in B a n d e n ” , “ S te ir c r- ld e d e r ” , “ S a n ta L u c in ” . F o r ­
m ação de c o rre n te . D. S ilb e rt cai em tr a n s e . Ilu m in a ç ã o
re d u z id a p o r a v e n ta l a z u l, em r e d o r d a l& m pada. Sr.
M in ls te r ia lr a t d e c la m a “ D io K ra n ic h c d e s Ib ic u s ” , e
faz a lg u n s risc o s m a g n é tic o s p o r cim a d e D. S ilb ert,
pelos q u a is e la se s e n te b em re f rig e r a d a . A lg u n s lo-
— 73 -
q u e s. R e ca i em tr a n s e , le v a n ta -se , a v a n ç a , a n d a com o
p a ra o p ia no, e faz, n a d ire ç ã o d a p o r ta fro n te ir a ,
g e stic u laç õ es p ro ib itiv a s, com o se tiv e sse em su a f r e n ­
te um f a n ta s m a pav o ro so . O s r . M in is tc r ia lr a t d e slig a a
lu z p o r u m m o m e n to , m a s n e n h u m d e n ó s p e rc e b e a
a p a riç ã o . D. S ilb e r t tr a n q u iliz a - s e e p ro p õ e-se te rm i­
n a r d e -p re ss a a se ssão , d ev id o a g r a n d e can sa ço . R e s­
soam e n tã o , com o p ro te s to , f o rte s p a n c a d in h a s, e o
m é d iu m rec ai em tr a n s e à s 1 0 ,3 0 . L e v a n ta -se , e ste n d e
a s m ã o s, como p ro c u ra n d o a lg o , e s fr e g a - a s u m a c o n tra
a o u tr a . Logo de p o is a p a re c e cm su a s m ã o s o reló g io
do re la to r . A brim o-lo, se m e n c o n tr a r g rav a çã o . A
c a m p a in h a , co lo ca d a n a s tr a v e s s a s c ru z a d a s d a m e sa,
r e tin e v á ria s vezes. V eem -se e rg u e r v á rio s re ló g io s e
r e c a ir, com o se a fo rç a n ã o d e sse p a ra su stê -lo s. O
r e ló g io do P ro f. M ichelltch , co lo cad o p e rto dos pés
d ele, fo i e n c o n tra d o do o u tr o la d o e n tr e o m é d iu m e
o sr. R h o d e n , m elo m e tro d is ta n te d a m e sa e com o
v id ro p a ra baixo. E ste n d e m -se a s m ão s d eb aix o d a m e ­
sa. S en te m -se, p o r d u a s vezes, to q u e s de u m te rc e iro
m e m b ro .
E n c e r ra m e n to à s 1 1 ,1 6 .

SE SSÃ O D E O D E A B R IL D E 1 0 2«
Com D. M a ria S ilb e rt, c m s u a casa , e m G raz.

P A R T IC IP A N T E S : P r o f . D r. J . U de, P r o f . D r. A.
M ic helitsc h, D r. A u er, sr. M ach ad o , s r. R h o d e n , r e ­
la to r.
O B JE T O S A PO N T A D O S: reló g io do s r. R h o d e n ,
lig a d o n u m fio de lin h o c u ja p o n ta g u a rd a s e m p re n a
m ã o ; reló g io do P ro f. M ic h elitsc h ; d u a s c h a p a s u ltr a -
r á p id a s de H a u ff, g u a rd a d a s e m p a p el p ró p rio , do r e ­
l a to r ; u m a c a m p a in h a , d o is v id r in h o s a ta d o s u m a
o u tr o , v á ria s c a r ta s do P io f. U de. E x am e d o s calç ad o s
a b o to a d o s do m é d liim , p elo sr. M achado.
— 74 —
O RD EM D E A SS E N T O S : c o n fo rm e o esboco an ex o.
As 8 ,3 7 : L e v a n ta m e n to su r p re e n d e n te d a m esa,
do lado do sr. R h o d e n . A lu z f o rte fica d im in u id a p o r
a v e n ta l a zu l.
Às 9 ,00 : C h e g ad a do P ro f. U de. P a n c a d in h a s.
D uas m e lo d ia s são bem im ita d a s p o r “ N e ll”. E s te d i­
t a : S e m p re se p r e f e r e a h o r a « o d ia . " D ev eis faz e r
isso ? " P e r g u n ta s a N ell p ela o rd e m d e a sse n to s. De­
te rm in a q u e o P ro f. M lc h elltscli tro q u e com o r e la to r ,
o que so e x e c u ta . O P ro f. M ic h elitsc h p e d e q u e o la p ls
do Dr. G a tte r e r s e ja tir a d o de d eb aix o d a m e sa. V eri-
fica m -se v á rio s to q u e s do la p is. A p ed id o do P ro f.
M ic helitsc h, a s p a n c a d in h a s to rn a m -s e cad a v ez m a is
f o rte s. D ão-se a s m ã o s d eb aix o d a m e sa, ju n ta n d o - s e
à do m é d iu m . O P ro f. U de e o sr. M achado v erife am
to q u e s de um te rc e iro . S eg u e d ita d o : “ A te n ta n o sin a l
q tie te re v e la r á m u ita s c o u sas q u o t e sã o e s c u r a s a in ­
d a ” . P e r g u n ta - s e a qu e m isso se d irig e . A r e sp e ito
d e R h o d e n o M ach a d o a re s p o s ta 6 d u v id o sa ; p a ra
c om o D r. A u er, n e g a tiv a .

G o ã le X í t Silbext
— 75 —
9,55. A c am p a in h a é d e rr u b a d a d eb aix o d a m e sa
e la n ç a d a ao chão. se n te m -se v ã rio s to q u e s.
10,00. D. S ilb e r t cai em tr a n s e , a c c rd a e rec ai. O
P ro f. U de to m a a d ireç ão d a se ssão .
1 0 ,35 . T r a n s e p ro fu n d o . O m é d iu m m u r m u r a , le ­
v a n ta -se v á ria s vezes e faz d iv e rs o s m o v im en to s. C a n ­
ta m os p a rtic ip a n te s “ S a n ta L n c la ” , “ A m B r u n n e n v o r
<lcm T o re ” . “ A n do n M o n d ". D. S ilb e r t a c o r d a ; e la sd
p e rc eb e u m a p e q u en a m a te ria liz a ç ã o no o m b ro do sr.
R h o d e n . Com o a lâ m p a d a d a m e sa v a i s e r a p a g a d a , o
r e la to r se rv e -se d e s u a lâ m p a d a e lé tr ic a ( d e b o lso ).
O p ró p rio sr. R h o d e n n ão p e rc e b e n a d a , m a s se n te
(a p ó s a viso do m é d iu m ) u m to q u e b em d is tin to no
b raç o. O s r . R h o d e n s e n te d is tin ta m e n te a p ressã o do
fa n ta s m a , que d e sap a re ce .
P o r c erca d e 11,0 0 , tr o c a o sr. R h o d e n o lu g a r
com o s r. M achado, qu e v em , po is, a s s e n ta r -s e a o la d o
e sq u e rd o do m é d iu m . O sr. R h o d e n v ira o se u reló g io ,
a ta d o no fio, v e rific a n d o o P ro f. U d e a co lo ca çã o ; o
r e sto do fio e s tá e n v o lto no b raç o do sr. R h o d e n . A vi­
s a o m é d iu m a fo rm aç ão d e u m a m a te ria liz a ç ã o no
braç o do s r . R h o d e n . D. S ilb e r t a c o r d a e r e c a i em
tr a n s e , re p e tin d o 3 ve ze s: “ L u z ” . O s r . R h o d e n d e i­
xou a lâ m p a d a e lé tric a , a ce sa, v ir a d a so b re a m esa.
D. S ilb e r t pede a to d o s os a s s is te n te s q u e o lh e m p a ra
o b raç o do sr. M achado. No b raç o su p e rio r d ire ito a p a ­
rec eu um o b je to b ran c o , red o n d o , c u ja luz foi c re sce n ­
do. O D r. A u e r o perc eb e , e n q u a n to e s tá a in d a d e b a i­
xo do b raç o . O P ro f. U de n o ta q u e so b re os o m b ro s
do sr. M achado p a ssa um o b je to lu m in o so , d e scen d o do
b ra ç o ; d e -re p e n te , D. S ilb e rt e ste n d e a m ão e o p e g a:
6 o reló g io do sr . R h o d e n . M ãos e pés do m é d iu m e s­
ta v a m , d e -c o n tfn u o , c o n tro la d o s d u r a n te e sse p ro ce s­
so. O fio , com q u e o sr. R h o d e n e s ta v a se g u ra n d o o
reló g io , ro m p e ra p e rto do reló g io . R ece b e-se o reló g io
— 76-
do m é d iu m . C o n fo rm e a v iso d e N ell, d e v ia lia v e r g r a ­
v ação p o r d e n lro d a ta m p a , m a s n ã o se e n c o n tr a n a d a .
1 1 ,15. D eixa o sr. A u e r a se ssão . A m e sa se le ­
v a n ta , v e e m e n te , d e u m la d o e re c a i com e stro n d o . O
r o la to r a s s e n ta -s e a lg u m te m p o n o c h ão , p a r a m e lh o r
o b s e rv a r o qu o se p a s s a d e b aix o d a m e sa. O s fen ô m e ­
n o s to r n a m -s e v isiv ilm e n tc m a is f ra c o s. O b serv a , p o­
r em , ju n ta m e n te com o P ro f. M ic h elitsc h , u m f o rte
fen ô m e n o lu m in o so , u m a c la rid a d e , d e b aix o d a m e sa,
p e la s p e rn a s do m é d iu m .
N ovo tr a n s e é su g e rid o ao m é d iu m p eio p ro f. U de.
D iz a d. S ilb e r t: " P r o c u r o q m a te r ia liz a ç ã o " . O m é ­
diu m le v a n ta -se , a -fin a l, e v a i p ro c u ra n d o e a p a lp a n ­
do no c írc u lo “ R e co lh e fo rç a com os srs. M ach ad o e
R h o d e n ” . A -fin a l, c h eg a à, p o r ta q u e le v a ao q u a rto d e
d o rm ir, cal a li, e sp a n ta d o , com o q u e m v iu um e sp ec tro
a m e a ç a d o r, e ste n d e os b raç o s com o p a ra se d e fe n d e r:
d e -re p e n te , dá-se um fo rte e sto u ro de r a io lu m in o so
v e rde . A su g e stiv a in flu ê n c ia do m é d iu m lo g ra efe ito
m a is d u a s vezes, d a n d o com o r e s u lta d o o m esm o fe n ô ­
m eno de a n te s .
A os poucos a c o rd a o m é d iu m . L u z fo rte . D. S il­
b e rt, os sr s . R h o d e n e M ach ad o d e ita m a s m ão s ju n -
tin h a s s o b re a m e sa. D. S ilb e rt n o tific a q u e receb e
e n e rg ia . O s r . R h o d e n te m se n saç ão de p a ra lis ia no
b raço s u p e rio r. D e-rep e n te, põe-se a m e sa em m o­
v im e n to e se g u e todo m o v im en to d a s m ã o s. Os.' pés do
m é d iu m c o n tin u a m v ig ia d o s pelo re la to r .
E n c e r ra m e n to d a sessão ã s 12,0 0 h o ra s.

B. — FENÔMENOS ESPONTÂNEOS

A S ociedade Inglesa para Investigação


Psíquica, ou S. P. R., possue rica coleção
de relatos sobre fenôm en os ocultos espon­
tâneos, cientificam ente garantidos e realm en­
— 77 —

te acontecidos. A essa Sociedade pertence


grande núm ero de professores universitários
ingleses. Depois de sua fundação, em 1882,
foi designada uma com issão para exam inar,
criticam ente, a realidade dos fenôm enos ocul­
tos espontâneos, por ela narrados e acredi­
tados.
Cerca de 10 anos após a sua fundação,
pode escrever o sr. P odm ore, um dos seus
fundadores, o seguinte: “Possuím os já uns
duzentos relatórios sobre aparições de cha­
m ados espíritos, que foram vistos em diver­
sos tempos, por diversas pessoas, no m esm o
lugar, ou por diversas pessoas ao m esm o tem ­
po, ou por uma só p essoa, mas em circuns­
tância tal que exclue a hipótese de haluci-
n ação.”
Essa prim eira coleção de fenôm enos es­
pontâneos, de que fala Podm ore, só se refe­
re a aparições de fantasm as, e não conside­
ra os dem ais fenôm enos, sendo isso devido
aos preconceitos iniciais da S. P. R. a qual li­
nha sido fundada para m anter indagações so­
bre fenôm enos ocultos psíquicos, m as não fí­
sicos; este program a se resum e no próprio
nome da Sociedade.
B ozzano, porem , em seu “F enôm enos de
A ssom bram en to", estabeleceu uma estatísti­
ca am pla e com pleta de fenôm enos espon­
tâneos, referindo som ente aqueles em que via
condições cientificas suficientes. Entre fenô­
m enos supranorm ais espontâneos, psíquicos
e físicos, que encontrou, contam -se 532,
sen d o :
— 78 —
374 psíq u ico s, de n a tu re z a im a te ria l, in c lu siv e os
d a 9. P . R .;
168 flslcos, de n a tu re z a m a te r ia l.

E ntre os físicos, Bozzano distingue:

46 c h u v as de c a sc alh o s ou de p e d ra s;
39 c asos d e to q u e s e sp o n tâ n e o s de sin o s;
7 d e in c ên d io s e sp o n tâ n e o s;
7 d e voz d ir e ta .

_ Os dem ais fenôm enos referem -se a m o­


vim entos de objetos não tocados. Citaremos
abaixo apenas alguns fatos, materiais e im a­
teriais, — criteriosam ente escolhidos, que
possam proporcionar um conhecim ento exa­
to do que se. entende por fenôm enos ocul­
tos espontâneos.
E nfeixarem os o nosso elenco em duas sé­
ries bem distintas: na prim eira irão fatos que
não podem ter por agentes alm as do outro
m undo, m as sim espíritos sabidam ente maus e
m alfeitores; na segunda entrarão fatos cujos
autores preternaturais não estão bem defi­
nidos.
Chamamos desde já a atenção do leitor
para o ponto seguinte: Às vezes, os f e n ô m e ­
nos estão ligados a lugares, e aí são presen­
ciados ou verificados por qualquer classe dc
p essoas, m as só nesses lugares; são fen ôm e­
nos locais. Outras vezes, os fenôm enos são li­
gados a certas pessoas e acom panham essas
pessoas se elas m udam de lugar: são fenô­
m enos m ediais ou m ediúnicos.
— 79 —
PRIM EIRA SÉRIE:

Fatos cujos autores preternaturais parecem


bem definidos

Cenas barulhentas
O sr. Illig , e d ito r do d lú rio D er H o h c n s ta u fe n , d e
G o e ttin g c n , A le m a n h a , c o n ta o q u e lh e a c o n te c e u a
ele p e sso a lm e n te . N o te m o s, a n te s de tu d o , q u e o sr.
Illig , so g u n d o s u a p ró p ria c o n fissão , f o ra rac lo n alis.ta
d u r a n te m u ito s a n o s. O se u p ra z e r, d iz e le, e ra d e s­
p r e s tig ia r , iro n ic a m e n te , tu d o o q u e c h e ira s se a d o g m a .
Com e ssa d isposição e s p ir itu a l, fixou re s id ê n c ia
n u m a c ld a d e z in h a d a F lo re s ta N eg ra, n a m e ia -ã g u a
d e u m a c asa, c u jo se n h o rio o a v iso u logo de q u e, no
q u a rto que s e ria p o r elo o c u p ad o , s e d a v am c en a s e s ­
tr a n h a s ; to d o s sa b ia m , a fir m o u ele, q u e o ch am a d o
“ L o ts c h e r ” ro n d a v a p o r ai.
I llig a c o lh e u e sta n o tic ia com h ila r id a d e , a f ir ­
m a n d o q u e em b rev e h a v ia -d e se e n te n d e r bem com
esse e sp irito d a casa .
A p rin cíp io a coisa p a re c ia in o fe n s iv a ; m a s, a o s
poucos, a s Im p o rtu n a ç õ e s do L o tc h c r to r n a r a m -s e in ­
su p o rtá v e is. E ’ o p ró p rio I llig q u e m d e sc re v e os h o r ­
ro re s de u m a n o ite ;
“ N a n o ite de 23 p a ra 24 d e fe v e re iro de 1 892,
m eu v iz in h o de q u a rto e s ta v a d e v ia g em , e n ão h a v ia
o u tr o m eio se n ão “ e n te n d e r-m e so zin h o com o L o ts­
c h e r ” . Isso n ã o m e e ra a g ra d a v e l. D e p rev e n çã o , só
p ro c u re i o m e u q u a rto m ela h o r a d ep o is d e m e ia n o i­
te . F e c h ei e a fe rr o lh e i bem to d a s a s p o r ta s e ja n e la s .
N ão a p a g u e i, p o rem , a lu z e d e ix ei a v e la so b re a c a ­
d e ira , ao la d o d a c am a. No e n ta n to , a e x cita çã o d a
e s p e c ta tiv a nã o m e p e rm itiu d o rm ir.
“ D e-fato , com eçou L o tsc lic r d e -p ress a o se u tr a b a ­
lho. O ra fo i com o s e q u e b ra se c esm agas© b o tõ e s, b e n ­
g a la s, g u a rd a -c h u v a s ; o r a a tir a v a u m a b o la c o n tra os
p a u s, a q u a l cho ca v a c o n tra a p a re d e e re s s a lta v a . M ui­
ta s vezes, o “ d e sco n h e cid o ” p a re c ia d e rr u b a r le n h a
e m p ilh a d a . D ep ois d e u m a h o r a d e b a ra fu n d a in f e r ­
n a l, q u e m e c an so u a té ao d e se sp e ro , d ir-se -ia q u e ia
d e ix ar-m e em paz. P r o c u re i d o rm ir. A p en a s p e g u ei no
p rim e iro sono, a liá s m u ito le v e, logo fu i d e sp e rta d o
p o r e s tr a n h o s son id o s, ja m a is o u v id o s p o r m im . E r a
coino um r e s p ira r, s u s p ir a r e g e m e r, p ro v in d o d e
g u e la p ro fu n d a . N âo se i d e screv ê-lo . O uvi-o c la ro e
te rr ív e l d e m a i s .. . O uvi p a sso s, c a d a q u a l a c o m p a ­
n h a d o d e go m ld o s e ran g id o s , v in d o s do p ro fu n d e z a s.
P e rc e b i d is tin ta m e n le q u e o fa n ta sm a se a p ro x im a v a
de m éu le ito . Q ue fa z e r? H av ia e u d e a b a la n ç a r-m e
a in d a g a r a c au sa ? R e f le ti nisso u m m o m e n to , m a s
n ã o tiv e c o ra g em d e e x ec u tá-lo . E u m e a c h a v a d e i­
ta d o do la d o e sq u e rd o , v ir a d a a cab e ça p a ra a p a re ­
de. O f a n ta s m a se a p ro x im a v a p o r d e trá s de m in h a s
c o stas. C he g ad o q u e foi ao m eu le ito e b u fa n d o p o r
c im a d e m im , s e n ti n a n u c a u m v e n to g e lad o . T al
se n sa ç ã o n ão e ra , a b s o lu ta m e n te , c o n seq u ê n cia d e ex­
c ita ç ã o e de su sto , p o rem e fe ito d a re a lid a d e . No m es­
m o m o m e n to e m que o f a n ta s m a tin h a c h eg a d o , ge­
m e ndo e b u fa n d o , sa c u d iu v á ria s vezes o m eu le ito ,
com o a sig n ific a r q u e a v is ita e ra e sp e c ia lm e n te p a ra
m im . A s p a n c a d a s e ra m sin g u la re s , s o n o ra s, se ca s e
o c a s. . . D a m e sm a f o rm a q u e se tin h a a p ro x im ad o
d o m eu le ito , a ssim ta m b e m se foi, a fa sta n d o -se , p a s­
so a pa sso, d a n d o g e m id o s h o rrív e is. D irig iu -se p a ra
a p o r ta e s a iu do q u a r to ” .

Aqui parece não ter havido fraude nem


engano. N ão foi só o sr. Illig que observou
estes fatos, nem foi deles a única testem u­
nha: outras pessoas garantem a realidade das
- 81 —
aparições contadas pelo sr. Illig. Este con­
seguiu m esm o demonstrar, m ediante docu­
m entos seguros, que o fantasm a do Lotscher
já se vinha m anifestando na m esm a casa ha­
via m ais de cem anos. (E w iges Schweigen, de
Illig, Stuttgart, 1924. pg. 155).

— 2 —

Telecinésia — Transportes, etc. ♦

Ainda para o caso seguinte, lhnilar-n os-


em os a resum ir o relatório do sr. Illig.
A casa com os c u rr a is cm q u e se p a ssa ra m os
a c o n te c im e n to s , e s tá s itu a d a a o pé d a a ld e ia de G o s-,
se rla c li, — W u e r ttc n b c r g , A le m a n h a . E ssa casa p e r­
te n c ia a R o sin e K le in k n e c h t. Seu m a rid o e r a c a r te iro
e m o rre u n a G ra n d e G u e rra , em 1-915.’■No te m p o em
q u e se d e ra m os p r e se n te s fenO m enos, m o ra v a n a ca§g
d a v iuva , em c o m p a n h ia d e tr ê s f ilh a s m e n o re s, — a
m a is v e lh a tin h a 11 a n o s, — e u m s o b rin h o d e 14
a n o s, quo a a ju d a v a n o s tr a b a lh o s p e sad o s.
O s fenO m enos c o m eç aram em 31 de a b ril d e
1 9 16. N a m a n h á d esse d ia , os a n im a is do s c u rr a is
m a n if e s ta r a m e sp a n to s a in q u ie ta ç ã o . S u a v a m com o se
tiv e sse m d e rra m a d o á g u a so b re eles. F o r a m d e sa ta d o s
v á ria s vezes p o r m ãos in v is ív eis, p o d e n d o -se o b se rv a r
p e rf e ita m e n te o pro ce sso : a s c o rr e n te s tin h a m sid o
a tir a d a s ao c hão. Os m e sm o s fenO m enos se r e p e tir a m
no s d ia s 1 e 2 de m aio. No ú ltim o d ia co m eço u ta m b em
o b a ru lh o d e n tro d e casa.

A s c ria n ç a s d e c la ra r a m v e r f a n ta s m a s d e a n im a is.
No d ia 13 de m aio h o u v e o p o n to c u lm in a n te : “ U m a
a c h a de le n h a s e pOs a d a n ç a r em c im a do fo g ão " .
— 82 —
U m la v ra d o r d a a ld e ia v iz in h a a tir o u a a c h a p e la ja ­
n e la ; e la v o lto u , p o rem , ra p id a m e n te , sem q u e n in ­
g u é m pu d e sso ve r com o. Isso se r e p e tiu v á ria s vezes.
A a c h a p a ssa v a do c o rr e d o r p a ra o p rim e iro a n d a r e
vo lta v a . Logo depois, novo fen ô m e n o : Um toco voou
p e la c o zin h a . À ta rd e , cin co boiõcs de le ite c a lra m da
p r a te le ira , q u e b ra ra m -se e d e rr a m a r a m o co n teú d o .
De 15 de m a io em d ia n te , os fe n ô m e n o s d e d e n tro da
c a sa a n d a r a m d e -p a r com os d o s c u rr a is . Os a n im a is
fo ra m ta m b e m e sp an c ad o s. Os p o te s d e g o rd u ra , le ite
e ^ ç id ra , a s f rig id e ir a s , os p r a to s e b a ld es, s a lta ra m
de se u s lu g a re s, vo a n d o p elo q u a rto e a té p e la p o rta
d a e n tra d a ; m u ito s d e sses o b je to s fo ra m m e sm o la n ­
çad o s c o n tra v á ria s pesso as. C e rto la v ra d o r , q u e p r e ­
te n d e u d o m in a r o fe n ô m e n o a c h ico te , sa lu -se m u lio
m a l. A b a ix ela q u e se a c h a v a com co m id a, so b ro a
m e sa ou n a copa, le v a n to u -se n o a r e c aiu no chão.
’ Um p e sado toco, d e r a c h a r le n h a , fo i d e rru b a d o . Os
p o te s c h eio s le v a n ta r a m - s e no a r sç m d e rr a m a r u m a
g o ta se q u e r. U m d o s p re se n te s to m o u um p o te d e ci­
d r a e o fo i re p o r n o se u lu g a r, so b re a m e sa, m a s r e ­
c ebeu, a to c o n tín u o , u m a f o rte p a n c a d a n a c ab e ça , p ro ­
v e n ie n te do p o te d e le ite . T u d o o q u e h a v ia n a s ca­
m a s ío l a tir a d o fo ra e d a n ifica d o . Os p ró p rio s le ito s
se le v a n ta r a m , a a lg u m a a ltu r a , a c im a do c h ão . P a r a
c o m p le ta r o caso, s a ir a m a -ftn a l a s p o r ta s do s g onzos
e c a lra m p o r c im a dos d e stro ço s. A lem disso tu d o , a l­
g u m a s p e sso as fo ra m fe rid a s pelo s o b je to s v o la n tes.
A c asa f a tíd ic a foi, e n tã o , a b a n d o n a d a e fe c h ad a
em 15 de m aio.

T E L E C IN É S IA — T R A N S P O R T E , c tc.
C h u v a s d e c a sc alh o s o u d c p e d ra s

Eis um a das m aravilhas cm m atéria de


fenôm enos supranorm ais espontâneos: As
— 83 —
chuvas de pedras. Há chuvas de pedras ao ar
livre, e há outras que penetram até em luga­
res fechados, através das paredes. Estas se
confundem , pois, com os “ transportes” de que
falam os autores. Das 50 chuvas de pedras, —
coleção Puis, — uns 25% são transportes.
Alem das chuvas de pedras propriam ente di­
tas, são conhecidas tam bem: 3 chuvas de ex­
crem entos, uma de água quente, uma de car­
vão e uma de m oedas. Das chuvas de pedras
só relatarem os algum as.

E M P A R IS

N a "Gaascttc d es T r ib u u a u x ” , — o rg ã o o ficial d a
p o líc ia fra n c e sa cm o n.o de 2 de fe v e re iro d e 1 8 4 6 ,
lê-se:
“ F a to e x tra o r d in á r io q u e n a s tr ê s ú ltim a s se m a ­
n a s se r e p e tiu to d a ta rd e e to d a n o ite ,- s e m q u e a s
m a is a tiv a s in v e stig a çõ e s, a m a is e s te n s a e c o n sta n te
v ig ilâ n c ia , fossem c apazes d e lh e d e sc o b rir a c au sa .
Tc-m sido m u ito a g ita d o o p o p u lo so b a irr o d e L a M on-
(a g n c -S a ln te G cnevièvc, d a S o rb o n a e d a P la c e S a in t
M icliel. O q ue, pois, a co n te ce u ê o s e g u in te : N a re g iã o
d a s d em olições, e m p re e n d id a s p a ra a b r ir n o v a ru a ,
q u e deve lig a r a S o rb o n a com o P a n té o n , e n c o n tra -se
um p á te o com m a d e ira m e n to e c arv ão , p e rte n c e n te
a u m a c asa de um só a n d a r . E ssa casa, q u e fica a p o u ­
ca d isâ n c ia d a r u a , e é s e p a r a d a d a s d e m a is c asa s p o r
la rg a s excavagões, to d a s a s ta rd e s e d u r a n te as n o i­
te s, te m sido a ta c a d a com c h u v a d e p r o je te is, os q u a is,
em c o n seq u ê n cia do n ú m e ro e d a v e em ê n cia com que
sã o a tir a d o s , p e rf u ra m a s p a re d e s em v á rio s lu g a re s,
e d e stro g am p o rta s e ja n e la s com su a s g u a rn iç õ e s , co­
m o se a li tiv e sse h a v id o um cerco re a liz a d o com b a ­
te ria s de p e d ra s e tiro s d e g ra n a d a s.
— 84 —
E sse s p r o je te is c o n siste m em p a ra le le p íp e d o s o
f ra g m e n to s d a s p a re d e s d e rr u b a d a s , e em p e d ra s In ­
te ir a s de c o n stru ç ã o , que, a ju lg a r pelo p eso e p ela
d is tâ n c ia d on d e são a tir a d a s , só o p o d e m s e r à m ão.
Do o n d e p r o c e d e ria m e les? A re sp o sta fica a in d a à
e s p e r a de so lu ç ão . D eb a ld e h o u v e v ig ilâ n c ia d ia e n o i­
te , so b a d ireç ão p e sso al do c o m issá rio d e p o líc ia . E m
v ão ficou no lo c a l o c lièfe d e se rv iço d e se g u ra n ç a .
E ra vão fo ra m so lto s c ães p o lic ia is n a s v iz in h an ç as .
N ad a p ode e x p lic a r os fen ó m e n o s, a trib u íd o s pelo po­
vo a a u to r e s m is terio so s. Os p r o je te is ch o v iam c o n ti­
n u a m e n te , com g ra n d e r u id o , s o b r e a c a s a . e o ram
a tira d o s^ d e a ltu r a c o n sid e rá v e l, so b re a cab e ça d a ­
q u e le s q u e se tin h a m p o sta d o n o s te to s d a s c asa s v i­
z in h a s m a is ba ixas. A s p e d ra s p a re cia m v ir de g r a n d e
d istâ n c ia . N ão o b s ta n te , a tin g ia m o alv o com p rec isã o
m a te m á tic a , se m se d e sv iare m de s u a c u rv a p a ra b ó ­
lica. N ão q u e re m o s e n tr a r em to d o s os p o rm e n o re s
d e ste s fa to s , q ue, se m d ú v id a , re c e b e rã o e sc la re c im e n ­
to rá p id o , g ra ç a s à a te n ç ã o g e ra l q u e p ro v o ca ra m . No
e n ta n to , é de n o ta r q u e , cm c irc u n s tâ n c ia s a n á lo g a s,
q u e d e s p e r ta ra m em P a r is g ra n d e a te n ç ã o , se v iu u m a
c h n v n d e d in h e ir o qu e a tr a ía os v a d io s de P a r is , to d a s
a s ta rd e s , p a ra a R n a M o n te sq n ie n ; ao m esm o te m p o,
a s c a m p a in h a s d e u m a c asa d a r u a d e M a lte fo ra m
p u x a d a s p o r m ão in v isív el. E sa b e -se q u e fo i im p o s­
sív e l d e sc o b rir a lg u e m o u a lg u m a c a u sa ta n g iv e l p a ra
e x p lic a r os fen ó m e n o s. Q u erem o s e s p e r a r q u e , d o sta
vez, c h eg u e m o s a um r e s u lta d o m e lh o r ”.
D ois d ia s d e p o is escrev e u o m esm o jo r n a l:
“ O fato s in g u la r n ão p o de a té h o jo s e r e lu cid a d o ,
te u d o -s e re p e tid o a c h u v a d e p e d ra s, a -p e s a r d a co n ­
tín u a v ig ilâ n c ia sob qu e se a c h a to d a a re g iã o . P o r ­
ta s e ja n e la s da c a sa fo ra m s u b s titu íd a s p o r tá b o a s,
p re g a d a s de d e n tro , p a ra p r o te g e r os m o ra d o re s co n ­
tr a a s p e d ra s q u e d e s tr o ç a ra m to d o s os m o v e is”.
— 85 —
O s r. M lrv ille p ublic o u em se u liv ro “ D es e sp rits
e t le u rs m a n if e s ta tio n s ” m a is o u tr a s p a rtic u la rid a d e s ,
que lh e fo ra m c o m u n ica d as p elo p r o p rie tá rio d a casa.
C on fo rm e re la ta , c o n tin u a ra m os fe n ô m e n o s d u r a n te
u m a s t r ê s se m a n a s, a pó s a s q u a is tu d o c esso u e o p ú ­
blico se fo i tr a n q u iliz a n d o . N a v is ita q u e fez, v iu
M lrv ille os d e stro ço s dos m a is d if e r e n te s o b je to s de
uso. O p r o p rie tá rio d a c asa m o stro u -lh e u m q u a rto
cheio de p e d ra s e de f ra g m e n to s d e tijo lo s c h a to s e
co m p rid o s. P e r g u n ta n d o M irv llle q u a l a raz âo d a f o r ­
m a s in g u la r d e sse s tijo lo s, d e c la ro u o in te r ro g a d o :
“ P a r a p ro te g e r-n o s c o n tra a s p e d ra d a s, fec h am o s a j a ­
n e la, de ix an d o a p e n a s u m a fen d a , c o m p rid a e e s tr e i­
ta . F e c h a d o que o r a o b a te n te d a ja n e la , to d a s a s p e ­
d r a s v ie ra m com e s ta fo rm a e a ssim p u d e ra m p a ssa r
pe la f e n d a , do m esm o ta m a n h o q u e e la s ” .

As últim as esserções do proprietário tor­


nam o caso particularm ente estranho, e o se­
param das chuvas de cascalhos m ais com uns.
N otem os ainda que aqui fa lta qualquer liga­
ção do acontecim ento com a pessoa de algum
m édium .
E M B E R L IM

M enos im p o r ta n te é o caso re la ta d o p o r P u is, de


a co rd o com os n ú m e ro s 33-35 do Bci-linei- L okulanz.ci-
g c r, de 1887.
E m ja n e ir o e fe v e re iro de 1 887, n a casa n.° 55
d a R o a E lls a b e th , B e rlim , d u r a n te q u a tro se m an a s, to ­
d a s a s ta rd e s , a s v id ra ç a s d a s ja n e la s, q u e o lh a v am p a ­
r a o p á te o , e ra m q u e b ra d a s p o r p e d ra s a rre m e s s a d a s .
A -p e sa r-d e to d o s os e sfo rço s d a po líc ia , foi im p o s3 iv el
d e sc o b rir os c u lp ad o s. E s te caso, com o ta n to s o u tro s ,
p a re c e u m a p ilh é r ia de v a g a b u n d o s; m as, d e sd e q u e fo ­
ra m in ú te is to d o s o s e sfo rço s d a po lic ia n o se n tid o de
se d e sc o b rir o c rim in o so , n ão d e v em o s r e c u s a r a p o s­
sib ilid a d e d e um fa to p r e te r n a lu r a l . O caso, a liá s , é
m u ito se m e lh a n te ao d e P a r is , n o q u a l se ch eg o u à
con clu sã o d e se t r a t a r de um fen ô m e n o s u p ra n o rm a l,
d evido n ão a u m a , m a s a m u ita s c irc u n stâ n c ia s.

N A BÉ L G IC A
( J a n e ir o e fe v e re iro d e 1 9 1 3 )

O sr. V on Z a n te n , m o ra d o r de u m a c asa d a r u a
C e sa r d e F a iy e , d e c la ro u , em 3 d e fe v e re iro de 1913,
a o r e d a to r de um jo r n a l de A n tu é rp ia , a n o tíc ia que
h a v ia colh id o n ^ p o líc ia lo c al:
"O qu e no s cau so u m a io r a d m ira ç ã o fo i q u e nem
u m a d as tr e z e n ta s p e d ra s a tir a d a s fe riu u m a só pes­
soa. No p rim e iro d ia, m eu filh o e sta v a n a h o r ta , e m i­
n h a filh ln h a d o rm ia em seu b e rç o ; n e n h u m foi m o ­
le sta d o . A p en a s a c ria d a rec eb e u u m p ed aço d e tijo lo
n a cabeça, m a s se m f ic a r f e rid a . T en d o m e u so g ro
sido a tin g id o p o r u m a p e d ra n a c ab eça, e x cla m o u : " E
essa! N ão s e n ti n a d a ! ”
O e x tra o r d in á r io d e ste fa to é q u e a s p e d ra s, não
te n d o m a g o ad o a s pesso as, fiz e ra m e m p e d aç o s to d o s
os o b je to s q u e b rá v eis . A liás, é e s te u m c a ra c te rístic o
dos fe n ô m e n o s o c u lto s: e v ita m c u id a d o sa m e n te to d o
e q u a lq u e r fe rim e n to h u m a n o . C o n firm a n d o isso , d is­
se o X a tlo n a lr a t J o l l e r :
“ M u itas vezes fo ra m a tir a d a s p e d ra s do a lto d a
c h am in é sem n a d a d e s tr u ir ou f e r ir . A té a s p e d ra s q u e
cairo m so b re u m a ou o u tr a d a s p e sso as p re se n te s, ri-
co c h e ta ra m qu a se lm p e rc e p tiv e lm e n te ”.

E M .TAVA

Se os c ita d o s fe n ô m e n o s sã o m a ra v ilh o so s , m ais


ex q u islto s a in d a 6 o u tr a c a te g o ria d e c h u v as d e p e­
— 87 —
d ra s, em qu e p a re c e te r h a v id o p e n e tra ç ã o d a m a té ­
ria . U m dos m a is im p o r ta n te s caso s d e s ta e sp écie d e u -
se no a n o de 1S31, n a I lh a d e Ja v a , n a casa do sr.
V an K ess in g e r, a ss is te n te n a s R e g ê n c ia s d e P r a n g e r .
U m a v e rd a d e ir a c h u v a d e p e d ra s c aiu a lí, d u r a n te 16
d ia s, d a s cinco d a m a n h ã à s o n z e d a n o ite , d e n tro e
f o ra d a re sid ê n c ia , a -p e sa r-d e to d a s a s p rec au ç õ es to ­
m a d a s pelos 6oldados. D este a c o n te c im e n to m u ito s
d o c u m en to s e x iste m a in d a . O r e la tó r io d e V an K e ss in ­
ge r, d irig id o ao e n tã o g o v e rn a d o r g e ra l e c o n serv ad o
no a rq u iv o do d e p a r ta m e n to c o lo n ial h o la n d ê s, foi t r a ­
d u z id o , em 18S7, p o r A. I. R lk o d è H a a g , e p u b lic ad o
em a lem ã o no s “ P sy ch isc h e S tn d ie n ” .

N. B. — Antes de passarm os à segunda


série de exem plos elucidativos, referirem os
aqui um caso típico, em o qual os aconteci­
m entos m isteriosos parecem estar ligados a
uma pessoa determinada. É o que poderíam os
denom inar fenôm eno oculto m edial.

F e n ô m e n o s lig a d o s a p esso as

Jo a n a P ., n a tu r a l d e G raz, n a Á u stria , tin h a 19


a n o s q u a n d o , em fin s de 1 9 21 , se e m p re g o u n u m h o ­
te l de S isre g g , — K a e rn te n . A i se d e ra m com é la os
p r im e iro s fe n ô m e n o s: m o v im en to s e sp o n tâ n e o s d e o b ­
je to s , lu z e iro s e m a te ria liz a ç õ e s. A lg u n s a b u so s, d e s­
o rd e n s e p re ju íz o s q u e com isso lh e a d v ie ra m , o b r i­
g a ra m -n a a e m p re g a r-se em o u tr a casa. E m m a rç o
d e 1922 e m p re g o u -se n a c asa do c a p itã o de n av io d e
lin h a , J . K o g eln ik , em B r a u n a u . E ste , ju n ta m e n te com
s u a esp o sa, o b se rv o u m u i a te n ta m e n te os fe n ô m e n o s e
pu b lic o u o r e s u lta d o n a “ P s y ch ic S c ie n ce ". (D ezem ­
b ro de 1 9 2 2 ) ( 3 7 ) .
A p rin cip io , a e n tid a d e e s tr a n h a m a n ifesto u -se
m o d e ra d a m e n te ; m as, d e sd e q u e e n tro u n a m e sm a
c asa u m a c e r ta c o z in h e ira , o s fen ô m e n o s to r n a r a m -s e
v io le n to s, tp m a n d o a té u m c a r a te r a m e a ç a d o r. M uitos
o b je to s de uso fOTam q u e b ra d o s o u d a n ific a d o s; o u ­
tr o s d e sa p a re c e ra m , de m o d o in e x p lic áv e l, e r e a p a r e ­
c eram do m esm o m odo . A s m a n ife sta ç õ e s a tin g ir a m
o p o n to c u lm in a n te em S de m aio de 1 922. “ F o m o s
a c o rd a d o s, — diz K o g e ln ik , — p o r b a ru lh o s e s tr o n d o ­
s o s q u e v ie ra m da d ireç ão d a c o zin h a , e v im o s q u e co­
lh e re s , g a rfo s, b a ix ela , ta m p a s , c h ic a ra s, pás, — n u m a
p a la v ra , — to d o s os o b je to s m o v eis, v o a v am p e la co­
z in h a c o n tin u a m e n te . J á m e e n e rv a v a esse e sta d o de
c oisas, m a is n e n h u m e sfo rço d e u re s u lta d o no se n tid o
de p o r fim aos fen ô m e n o s. M uito pelo c o n trá rio . D u as
f a c a s fo ra m a rr e m e s s a d a s n a m in h a d ireç ão , p o r te r
e u , im p ru d e n te m e n te , p ro fe rid o p a la v r a s de h o r r o r ”.
A c o z in h e ira , n e sse d ia , fico u tã o f o ra d e si que
a m a ld iç o o u o in v isív el a u to r d e ssa s tro p e lia s. M as,
a p e n a s ta is m a ld iç õ es tin h a m sa id o d e se u s láb io s,
c om eçou a d a r g rito s la n c in a n te s, s e n tin d o fo rte a b a ­
lo n a c ab e ça . A p arec eu -lh e a í u m in c h aç o e u m a f e r id a
de c o rte fre sco , a v e r te r sa n g u e .
H . M ac-K enzie, v in d o a c o n h e c e r a J o a n a P ., m é ­
d iu m d e sta s m a n ife sta ç õ e s e sp o n tâ n e a s , lev o u -a p a ra
L o n d re s c o nsigo, e m fin s d e 1 9 2 2 . C o n fo rm e r e la to u
a esp o sa de M ac-K enzie, n a P s iq u ic S c ien ce, ja n e iro
de 1923, ta m b e ra em L o n d re s se d e ra m fen ô m e n o s p a ­
rec id o s, p osto q u e m a is fra co s.

(37) A. LUDW IG.L n n g jn eh rig e B e u n ru h ig u n g einen


Hnnxen ilureh Spnkphnenom ene, F e stn c h rift von P a ru p-
■ycl». (1929). Pag. 23-89.
— 89 —
SE G U N DA 6'JÉRIE:

Fatos cujos autores preternaturais parecem


mal definidos

Ruidos — Luzes — Fantasm as


0 caso de Oels, na Silésia
F o i no a n o d e 1916 q u e se p a s s a r a m co isas o stra -
n h a s em O els, n a Silésia, ( 3 8 ) . O sa rg e n to F e n sk e ,
a d m in is tra d o r d e u m a o la ria , m o ra v a com s u a m u ­
lh e r e d o h filh o s n u m a casa a lu g a d a , n a r u a K a ise r 1-b.
A in q u ie ta ç ã o d e q u e a f a m ília fo i o b je to n e ssa
casa a tin g iu ta l g r a u , q u e o ch efe r e q u e re u ju d ic ia l­
m e n te a resc isã o do c o n tra to d e a lu g u e l, e a r e s t itu i­
ção do p a g a m e n to fe ito a d ia n ta d a m e n te . A se n h o ra
F e n s k e c o n ta os a c o n te c im e n to d a m a n e ira se g u in te :
“ E m 20 d e ja n e ir o p rin c ip io u o b a ru lh o e n ig m á ­
tico, o q u a l foi o u vido, ao m esm o te m p o , em to d o s os
q u a rto s . N os p rim e iro s te m p o s d a v a -se só d e n o ite , n a
e sc u rid ã o , à h o r a de n o s d e ita rm o s.
E m fin s de fe v e re iro h a v ia-o ta m b sm d e d ia ou
de n o ite , d. luz d a lâ m p a d a . C ad a s e m a n a se g u ia o u tro
p ro g ra m a . O ra o u v ia m o s p a n c a d in h a s ou e sta lid o s,
o r a u m a espéc ie d e c h ilr e a r o u s ib ila r. O u v im o s m a s­
tig a r , com o de ru m in a n te g ig a n tes co . O u tra v ez to c a ­
ra m ta m b o r, e b a te r a m n a p a re d e com m aT telo, como
um p e d re iro q ue d e sm a n c h a o m u ro ; m a is o u tr a vez,
e ra o c a n to do cuco o u o to q u e de v io lin o q u e tiv e m o s
de o u v ir. P e rce b em o s, p o rem , u m e s g ra v a ta r h o rrív e l,
com o se fos6e de u m a b e sta d e g a r r a s e n o rm e s. O u­
vim o s ta m b e m u m a esp éc ie de m ia r ; u m a vez o e sto u -

(38) Dr. GRABINSKI.Spnk GeUterachelnuiigeii oder


wna aonat? — B orgm elr, H lldoshelm , 1922, pg. 178. Ou:
Paych. Studlen, 191«. Cadarno 6.
— 90 —
ro, com o se a b ris se m u m a g a r r a f a de c h am p a g n e, o um
tiq u e -ta q u e , com o se pro v iesse d e u m reló g io n a p a ­
red e . O uvim os b a te re m fo rte m e n te os n o sso s reló g io s
d e bolso. O b a te r d a s h o r a s do n o sso reló g io d e p a re ­
de foi a c o m p a n h a d o d e o u tr a s ta n ta s p a n c a d a s. O
m esm o se d eu u m a v ez com o reló g io d a to r r e . B a te ­
r a m ta m b e m n a p o r ta , com o p e d in d o e n tra d a . N as
p a n c a d in h a s se n tía m o s, d is tin ta m e n te , c o rr e n te s frias.
E u e o caixa O patz, do la z a re to d e cav a lo s de
Oels, p e rc eb e m o s n a è sc u rid ã o u m a c en te lh a p a ira n ­
do no q u a rto , a q u a l d e sa p a re c e u ; d e -re p e n te , no m e s­
m o m o m e n to , b a te r a m n a p o rta . A fla m a z ln h a e ra a au l-
veT m elha. M eu m a rid o e n o sso s filh o s a v ir a m ig u a l­
m e n te . Às vezes, h a v ia v á ria s c e n te lh a s q u e se g u iam
a s m oças. M eu m a rid o d e c la ra t e r v isto c larõ es como
de d e sc a rg a s e lé tric a s. Os b a ru lh o s no s p e rse g u ia m ,
o b rig a n d o -n o s a fu g ir d e u m q u a rto p a ra o u tro . N ão
p o d e nd o f ic a r de c am a , d e ita m o -n o s no c h ão , e, n ão
a g u e n ta n d o m a is, p e d im o s resc isã o do c o n tra to d e in ­
q u ilin o s d e ssa c a s a ”.
P e r a n te o T r ib u n a l, 5 te s te m u n h a s a fir m a ra m ,
sob ju r a m e n to , te re m o u v id o e sse s b a ru lh o s e v isto
a s faisca s. O p ró p rio s e c r e tá r io do tr ib u n a l, O e rte r,
te s te m u n h o u te r v isto v á ria s vezes a faisca p e rse g u i­
d o ra d a s filh a s.

O Q U E A C O N T EC E U A UM V IG Á RIO

M uito sig n ific a tiv o s são os fe n ô n e n o s obseT vados


n u m a c asa p a ro q u ia l w u o rtte m b e rg e n se , q u e se dão
desdo o in v e rn o d e 1902 a té os ú ltim o s a n o s. C o n fo r­
m e a in fo rm a ç ã o do p ro fe so r A. L u d w ig ( F r e i s ln g ) ,
o c u ra c a tó lico w u e r te m b e r g e n s e q u e n o s v a i r e f e r ir
o s a co n te c im e n to s é u m a f ig u ra im p o n e n te , de 50 a n o s.
A m o stra v iv a de sa u d e e fo rç a. Ao vê-lo, d isse d e si
p a ra si o p ró p rio L u d w ig : " E s te h o m e m n ão s o f re de
h a lu c ln a ç õ e s p a to ló g ic a s ! ”
— 91 —
“ A s im p o rtu n a ç õ e s p rin c ip ia ra m no in v e rn o de
1902, em cim a do m eu q u a rto d e d o rm ir. Cena a s s u s ­
ta d o ra . De cim a p a ra b aixo, d a e s c a d a ria do a n d a r
s u p e rio r ao té rr e o , d e sen c ad e iam u m a b a ru lh a d a in ­
fe r n a l, com o se u m caixão ch eio d e pod aço s de v id ro s
fosse a tir a d o p a ra baixo, com fo rç a in c rív e l, v iran d o
3 vezes. C o rren d o p a ra f o ra e e x am in a n d o , n a d a v im o s.
M ais f o rte se to r n a v a o b a ru lh o q u a n d o re z áv a m o s em
co m u m p e la lib e rta ç ã o d e ssa p r a g a ; b a tla -se n a p o r ta
to d a vez qu e re z áv a m o s a la d a in h a de N. S ra ., com o
se h o u v e sse d ia n te d a casa u m h o m e m fu rio so . M ui­
ta s v ezes fo i a c am p a in h a p u x a d a p o r m ã o s in v isiv els,
m a s e ra “ com o se o som v ie sse do o u tr o m u n d o ”. A
m ãe do v ig á rio e a c ria d a v ia m , em seu q u a rto de
d o rm ir, u m a b o lh a v e rm e lh a , a rd e n te , q u e se m o v ia
d a p o r ta p a ra a ja n e la , o n d e d e sa p a re c ia . H av ia coi­
sa s p io res . “ T e n h o ”, d isse o v ig á rio , " m u lto bom so n o.
M u itas vezes, po rem , fu i a c o rd a d o , com o p o r m ão in ­
visív el, e eu d iz ia: a g o ra e s tá e le no m e u q u a ito . D u ­
r a n te a lg u m te m p o , o u v ia -s e u m b a ru lh o s u r p re e n ­
d e n te , so m p re no m esm o m o m e n to . E r a com o e s ta m ­
pid o d e e s p in g a rd a . P o r 15 d ia s fu i a c o rd a d o a lg u n s
se g u n d o s a n te s do A n g elu s, se m p re p o r u m e sto u ro
da do n o m esm o lu g a r. U ltim a m e n te , d ep o is d e a c o r­
d a d o , fu i s u rp re e n d id o p o r u m la tid o a b o m in a v e l. E r a
com o se c a c h o rro e n o rm e m e la d ra s s e ao ro sto . Ao
m esm o te m po s e n tia , p e rtin h o do m o n stro , u m a c o r­
r e n te d e a r g e lad o , d a n d o -m e no ro sto . A co isa n ão
e ra j á n e n h u m b rin q u e d o . F e liz m e n te , rec eb i de
D eus n e rv o s com o c o rd a s; n ão o b sta n te , se n tia q u e
to d o s os m e u s n e rv o s e sta v a m te n síssim o s, como p a ra
r e b e n ta r ”.

E ’ p a ra n o ta r q u e os fen ô m e n o s a p a re c ia m e s­
p e c ia lm e n te q u a n d o o c u ra , p e la b e n ção do r itu a l, t i ­
n h a liv ra d o d e se m e lh a n te s In q u ietaç õ es a lg u m a c a sa
dos se u s p a ro q u ia n o s.
— 92 —
P o r u m a a titu d e in tim o r a ta e e n é rg ic a , e d a n d o
o rd e n s em n o m e de D eu s, co n seg u iu re s ta b e le c e r a
paz, p e lo -m e n o s pov a lg u m te m p o . O caso é tã o e v i­
d e n te q u e .u m a e x plicação p o r ír a u d e o u ilu s ã o p a re ce
im possível.

O OASO D E UMA R E L IG IO S A

A os a c o n te c im e n to s m a is in te r e s s a n te s do cam p o
dos fe n ó m e n o s e s p o n tâ n e o s p e rte n c e m os e x em p lo s d e
sin a is d e ix ad o s im p re sso s n u m o b je to .
A lg u n s de sses c aso s e stã o so lid a m e n te c o m p ro v a ­
dos o n ão d eixam p a lr a r d ú v id a raz o av e l so b re su a
r e a lid a d e . T r a ta -s e do f a n ta s m a d e u m m o rto que,
p a r a p r o v a r a re a lid a d e d a s u a v o lta , im p rim e a m ão
e n c a n d e c id a em pa n o , m a d e ira , p a p el & a té em m e ta l.
Com o exem plo s ir v a a a p a riç ã o d a f r e ir a M a rg a ­
r id a G esta. O a co n te c im e n to v e rific o u -s e, se g u n d o se
a fir m a , em 16 d e no v e m b ro de 1 8 6 9 , no co n v en to das
I rm ã s te rc e ira s f ra n c isc a n a s em F o lig n o . (3 9 )
D epois d e v id a s a n ta , fale ce u a m e n c io n a d a irm ã
a 4 de n o v e m b ro d e 1 8 5 9 . T ré s d ia s d ep o is d e su a
m o rte , o u v iram -se , n a p ro x im id a d e do se u q u a rto , so ­
luços c o n tín u o s a que n in g u é m d e u a te n ç ã o . A 16 do
m ês, indo a ir m ã A n a F e llc e M e n g h in i, d e -m a n h ã ce­
do, à ro u p a r la , ouv iu váriaB v e ze s a m esm a voz, e n ­
q u a n to a b ria o s a rm á r io s . M ui d is tin ta m e n te p e rc eb e u ,
e n tã o , a s p a la v r a s d a fa le c id a a b a d e ssa : “ O’ m eu
D eus, qua g ra n d e d o r ! ” M esm o c h eia d e te m o re s, re ­
solv e u p e rg u n ta r o m o tiv o . E n q u a n to a fa le c id a d av a
in fo rm aç õ es, p a re c ia m o v e r-se , em fo rm a de so m b ra ,
n a d ireç ão d a p o rta . C h e g ad a a li, d isse , em a lta voz:
" Q u e eu te a p a re ç a é u m a g ra n d e g ra ç a . N u n ca m a is

(39) GRABINSKI, Spnk G<


sonstT Fg. 389-385.
— 93 —
v o lta r e i, e, com o sin a l, d eix o -te isa o ” — U m g o lp e f o r ­
te n a p o r ta , e a so m b ra d e sa p a re c e u . V iu -se e n tã o ,
p r o fu n d a m e n te im p re ssa d e n tro d a p o r ta , a m ão d a
fale cid a, e m u ito m a is d is tin ta m e n te do q u e se fo sse
a im p re ssão g ra v a d a a fe rro q u e n te .
E s te f a to , dizem , é co m p ro v a d o p o r d o c u m en to s.
F a to s se m e lh a n te s são c ita d o s com o a co n te cid o s
em o u tr o s lu g a re s. E n tr e m u ito s, b a s ta le m b ra rm o s os
d e P flo g sb a c h , F u c h sm u e h l, P r e s s b u r g , H a ll u n d T.
M erl, V in n e n b e rg , T h a u r b. H a ll, etc.

C — O ESPIRITISMO NO BRA SIL

O espiritism o é o m esm o em toda parte.


Ao lado de investigadores sérios m ovim en­
tam -se macum beiros; m esm o as sessões diri­
gidas por pessoas distintas se caracterizam p e­
la incerteza, capricho e m istura de fenôm enos
estupendos com fenôm enos naturalm ente ex­
plicáveis. Nem sem pre é facil distinguir entre
fraude e realidade.
O Brasil não faz exceção à regra. Há aqui
muita pantom im a, m uita com édia e, sobretu­
do, m uita discursòira insulsa. T odavia, sessões
há, principalm ente em S. Paulo, que não d ife­
rem m uito das sessões européias, relatadas
por nós no corpo desta obra.
Vam os dar uma amostra. Pura isso, ser­
vim o-nos de apontam entos concienciosam enle
organizados por um cavalheiro distinto que,
sem adm itir o espiritism o com o religião, o tem
estudado sob o ponto de vista científico. Tra­
ta-se do dr. S halders.
O dr. Shalders é brasileiro, m as filho de
pai inglês; estudou na Europa e form ou-se
— 94 —

em engenharia pela Politécnica do Rio. Con­


ta atualm ente 77 anos de idade e é engenhei­
ro da Light desde 1899. E ’ tambem diretor
da Sociedade M ctapsiquica B rasileira.
A costum ado a redigir relatórios, — pois
trabalha na Secção de Superintendência, —
o dr. Shalders tem observado escrupulosa­
mente o que se passa nas sessões a que assis­
tiu, e essus passam de um milhar. Opina que
há fenôm enos reais, de natureza preternatu-
ral, m as abstem -se de se pronunciar sobre as
causas dos m esm os, pois até hoje não chegou
a form ar um juizo definitivo sobre o espiri­
tismo. Adem ais, em sua opinião, é dificil in ­
dagar as causas dos fenôm enos, porque, nas
sessões, os assistentes perdem toda liberdade
de julgam ento, alheiam -se do am biente e tor­
nam -se fanáticos.
Poucos hom ens, diz ele, conseguem guar­
dar firm e e lúcido o juizo habitual. Todavia,
espirita a seu m odo, o dr. Shalders aceita pa­
ra os fenôm enos uma interpretação que em
nada difere da teoria espirita geral. Como,
porem , esta discussão é tratada em outra
parte do livro, lim itam o-nos a copiar, data
vertia, alguns apontam entos dos cadernos do
dr. Shalders.

SE SSÃ O D1D 11 D E MA IO D E 19S9

C asa (lo Cap. V alen ç a — A ssistê n c ia : U m a s doze


pe sso as — M é diuns: O rcem y e d. N en e n ; d ep o is, E u -
nic e, filh a de d. N enen.
P r e n d i o a n e l de d. N en e n com uin co rd ã o do
m a is de 5 m e tro s de c o m p rim en to . Com o c o rd ã o , do­
— 95 —
b ra d o a o m oio, p r e n d i a a lia n ç a ao p u lso do m é d iu m ,
d a n d o n ó cego. L ev e i o c o rd ã o ao e s p a ld a r d a c a d e ira
o a m a rro i-o a li, ta m b em com n ó cego. F iq u e i com a
o u tr a e x tre m id a d e p r e s a em m in h a m ão d ir e ita .
F o ito escu ro no a m b ie n te , o a n e l c a iu no c h ão
em m e n o s de u m m in u to , — o tem p o e x ato q u e b a s­
to u p a ra eu c o n ta r a té seis. N ão v e rifiq u e i se o c o r­
dão te r i a sido a rr e b e n ta d o p a ra p e rm itir a sa ld a do
a n e l. M as, a in d a q u e o fo sse, n ã o o te r i a sid o p o r d.
N en e n , p o is e s ta n ã o t e r i a fo rç a p a ra ta n to . D eixei
c a ir o c o rd ã o no p a v im en to . '
Os e sp írito s q u e c o stu m a m m a n ife sta r-se , d e n u n ­
c ia ra m a s u a p re se n ç a com o s sin a is h a b itu a is . São
os e s p ír ito s F r a n c is c o B a r re to , F r a n c is c o S o u sa e D eo-
lin d o .
F ra n c is c o a sso b io u , com o d e co stu m e .
F in d a a se ssão , que d u ro u m u ito p ouco, e stav a m
c s m é d iu n s a m a r r a d o s um ao o u tro , a b ra ç a d o s.
D eixou-se a um dos e sp irito s a ta re f a d e d e sa m a r­
r a r o s m é d iu n s, o quo e le fez em p o u co s se g u n d o s.
V erific o u -se e n tã o q u e o co rd ã o , te cid o d e a lg o ­
dão f o rte , n ão a ta v a m a is o m é d iu m , n em a c a d e ira ,
m a s e s ta v a no c hão, picad o em p e d ac in h o s de u n s 10
c e n tím e tr o s c ad a .
D u ra n te a se ssão , u m e s p ir ito s o f re d o r in c o rp o ­
ro u -se no m é d iu m M a ria, m a s foi d o u tr in a d o e a c a l­
m a d o p elo e s p ir ito F ra n c is c o S o u sa, in c o rp o ra d o uo
m é d iu m O rcem y ( s e n h o r ita ) . R e tira n d o -se de O rce-
ray, F ra n c is c o a sso b io u c a r a c te r is tic a m e n te .
O u tro e sp irito , p e sso a d a fa m ília do C ap. V alen -
ça, in c o rp o ro u -se n u m dos m é d iu n s e com eçou a con­
v e rs a r com o c a p itã o , te n d o tid o , p rim e iro , o cu id ad o
do p r o v a r su a Id e n tid a d e .
F o i le v ita d a u m a c o rr e n te lu m in o sa q u e e sta v a
ao lo n g e e d lrlg iu -ae p a ra m im , tra z e n d o n a p o n ta u m
— 96 —
c ada rgo, tam isem lu m in o so , q u e m e a c a ric io u a s m ãos
d e m o ra d a m e n te .
E m se g u id a , o e sp irito m e e n tre g o u a c o rre n te ,
e eu, de pé, s e g u re i- a bem a lto . M as n e g o u -se a le v a r
a c o rr e n te a té o te to , c o n fo rm e p e d id o m e u . D eixei
e n tã o c a ir a c o rr e n te n a m e sa, e e n c e rro u -s e a se ssão .
Os m é d iu n s O rcem y e N en e n e sta v a m d e ita d o s
n o c hão, a b ra ç a d o s. P e d lu -se ao e sp irito q u e a c o r d a s ­
se a s d u a s s e n h o ra s e a s fize sse v o lta r a s u a s c a d e i­
ra s , — o q u e fo i f e ito . D o n a E u n ic e , m e lo a c o rd a d a ,
m o stra v a -se m u ito n e rv o sa e In c lin a d a a c h o ra r. O s r .
G astão d e sp e rto u -a e a c a lm o u -a.

SESSÃO D E 2 4 D E M A IO D E 1 0S9

E m c asa do s r . G astão — A ssistê n c ia : 35 pes­


so a s — ÍM édluns: D. N en en , d. Z ild a e s e n h o rita O r­
cem y.
Os m é d iu n s O rcem y e Z ild a fo ra m a m a r r a d o s ,
com o de co stu m e , á s s u a s c a d e ira s, O rcem y pelo d r.
Jo ã o D ias e d. N en e n p o r m im . P r e n d i a a lia n ç a d e sta
de ta l f o rm a q u e e la n ã o p u d e sse tir á - la d e n e n h u m
m odo.
F e z -se e scu ro e, em m eio m in u to , c aiu o a n e l d e
d. N en e n . M a n ife sta ra m -se oa e sp írito s F ra n c is c o
B a rre to , F ra g o so , J o a q u im e D eo lin d o , c a d a q u a l pelo
sen s in a l p ró p rio . F ra n c is c o a sso b io u d u r a n te a se s­
sã o in te ir a ; a m e u p e d id o , e p a ra s a tis f a z e r o d r. Jo ã o
D ias, a sso b io u L a D o n a é m o b ile e o H in o N ac io n a l.
A s c o rn e ta s lu m in o sa s fo ra m le v ita d a s sim u lta ­
n e a m e n te e d e sc re v e ra m no e sp aço m o v im en to s in te ­
re s s a n te s , um a em to rn o d a o u tr a .
N o fim da se ssão e sta v a d. N en e n fo rte m e n te
a m a r r a d a a s u a c a d e ira , com c o rd a n ova q uo fo ra le ­
va d a p o r m im .
— 97 —
O rcem y a ch a v a-se a s s e n ta d a em c im a do g ra m o ­
fo n e, no c hão, to d a e n v o lta , in c lu siv e a cab eça, n a
to a lh a d a m e sa. A m a rra d a p o r d e n tro da to a lh a . P o r
fo ra desta', à a ltu r a do p escoço, e n ro la ra -s e u m a c o r­
da. O a ssob io, e ra e v id e n te , n ã o p o d ia p a r ti r d e la.
D u ra n te a se ssão, o e s p ir ito a cio n o u o g ra m o fo ­
n e ; a b riu 2 caix a , esco lh e u o disco, fez fu n c io n a r d e
u m la d o e d epois, e x p e rim e n ta n d o o o u tr o la d o e n ão
g o sta n d o , e sco lh e u o u tr o disco . F in a lm e n te , d e s a r ­
ra n jo u o m e ca n ism o d a p a ra d a a u to m á tic a .
D eixando-se a o s e s p írito s a ta r e f a d e a c o r d a r os
m é d iu n s, e les tro u x e ra m O rcem y p a ra cim a d a m esa,
a s s e n ta r a m - n a em c im a do g ram o fo n e , so b re u m a c a ­
d e ira . A c o rd a ra m -n a , e n fim , d e p o is d e h a v e re m -lh e
tir a d o a to a lh a d e so b re a cab eça.
D. N en e n , d epois d e d e s a m a r ra d a , fo i le v a n ta d a
do c hão e co lo ca d a em s u a c a d e ira . Z ild a fo i e n co n ­
tr a d a , ao f u n d o do sa lão , a m a r r a d a a u m b an co , ju n ­
to & p o r ta d e sa ld a . F o i d e p o is a c o r d a d a com o a s o u ­
tr a s .

G ra n d e p a r te d a a ssistê n c ia fico u em d ú v id a so ­
b r e se a s m ú sic a s do g ra m o fo n e p a rtia m d ê le m esm o
o u d e a lg u m a c aix a f e c h a d a . . .
A n o ta c a r a c te r ís tic a d a n o ite fo i a v a ria d a a p re ­
se n ta ç ã o de q u a d ro s v iv o s com os d o is m é d iu n s. P a r ­
te d esse tr a b a lh o foi feito ã m e la-lu z q u e o p ró p rio
e sp irito se e n c a rr e g o u de fo rn e c e r. A lu z a p ag o u -se
p o r fim , c o n tin u a n d o a e n tr a r no r e c in to a fra c a lu z
d a n o ite e s tr e la d a .
J á q u a se a o fim d o s tr a b a lh o s , um e sp irito se
d iv e rtiu em fa z e r cóceg as a u m a m oça q u e se a c h a v a
n a v iz in h a n ç a do s r . G astão . E ssa m o ça, d u r a n te m i­
n u to s, deu g o sto sa s g a rg a lh a d a s .
— 98 —

SESSÃ O D E 3 D E JU N H O D E 1 0 8 0

C asa do sr. G astão — A ssistê n c ia : M ais de 120


p e ssoas — M éd iu n s: D. N en en , d. M aria, se n h o rita
O rcem y.
F in d a a se ssão, o sr. F a lc ã o d e u p e la f a lt a d e seu
reló g io . C o n su ltad o o e sp irito F ra n c is c o , e ste d e cla ­
ro u q ue o h a v ia lev ad o p a ra a c asa d e O rcem y.
O sr. F a lc ão o fere c e u -se p a ra a c o m p a n h a r O rce­
m y a té casa , e logo um g ra n d e g ru p o se r e u n iu
a a m b o s: fom òs, p o r ta n to , a té a c asa de O rcem y, eu,
o cap. V alen ç a, d. N en e n , u m a s u a filh a , sr. A rm a n ­
do Sales, s e n h o ra e irm ã o , e o s a rg e n to M esq u ita ,
a lém do sr. F a lc ão .
A p ag a m o s a luz, e im e d ia ta m e n te o e sp irito F r a n ­
cisco com eçou a a s s o b ia r a n te s m esm o q u e O rcem y
e n tra s s e em tr a n s e .
S e n te i-m e em u m a c am a, ao la d o d e d. N en en .
E s ta e n tro u logo em tr a n s e , in c lin a n d o -se p a ra tr á s
com a cab e ça a p o ia d a n a p a re d e.
D a l a pouco o e sp irito a b riu o m e u g ü a rd a -c h u v a ,
qu e e s ta v a so b re a c am a , e o d eu a d. N en en , p a ra se ­
g u r a r ; fica m o s a m b o s c o b e rto s p elo g u a rd a -c h u v a .
O e s p ír ito F ra n c is c o , to c an d o -m e , c olocou em
m e u s b ra ç o s u m c a c h o rrin h o d a c asa e o lev o u d ep o is
As o u tr a s pessoas.
P e r g u n ta n d o - lh e eu p o r q u e n ã o p u d e ra r e ti r a r
o nuel do c o fre, re sp o n d e u q u e e ra p o r s e r o c o fre
d e m e tal.
D ai a pouco F ra n c is c o se e n c o rp o ro u em O rcem y
e confe sso u s e r êle qu e m tr o u x e r a o re ló g io p a ra d e­
baixo do tr a v e sse iro . P e r g u n te i-lh e p o rq u e a b r ir a o
m e u g u a rd a -c h u v a e resp o n d e u -m e :
— P a r a você n ã o se m o lh a r.
O b serv a n d o eu q u e e stá v a m o s d e n tro d e casa , ele
— 99 —
d isse q ue, se q u ise sse , p o d e ria d e ita r á g u a em cim a
de m im .
E m se g u id a , d e sp ed iu -se com um b o a -n o lte e sa iu ,
asso b ia n d o .
O rcem y v o lto u a si.

SESSÃ O D E 7 D E JU N H O D E 1 0 3 9

C a sa do s r . G astão — A ssistê n c ia : U m as s e te n ta
p e sso as — M é d iu n s: D. Nfenen, M a ria, O rcem y.
S essão m u lto p a re c id a com a s o u tr a s . O e sp irito
D eolindo m a n ife sto u -se , b a te n d o » p a lm a s f o rtíssim a s.
F ra n c is c o e u tro u com o se u a c o stu m a d o a sso b io .
L ogo dep o is c a n to u com igo o h iu o a le m ã o : ' ‘H eilig e
N a c h t" .

SESSÃ O D E 2 8 D E JU N H O D E 1 9 3 9

E m casa do s r . G astão — A ssistê n c ia de 70 p es­


so a s — M é diu m : se n h o rita O rcem y F r a g a .
O e sp irito , a p edid o d e a lg u e m , e s c r e v e ^ se u n o ­
m e n u m c a r tã o d a d o pelo s r . F r a g a , te n d o tir a d o ~àô
b olso d e ste o la p is. E m se g u id a , e n tre g o u o c a r tã o
ao a s s is te n te , q u e lb o h a v ia p ed id o .
V erific o u -se , depo is, h a v e r o e sp írito e sc rito :
‘‘D eus o a ju d e , Jo sé P a s s a r e lll”. E s te é o n o m e c o rr e ­
to do a s s is te n te . N o te -se q u e e s te e ra d esco n h e cid o d e
to d o s os o u tr o s a s siste n te s.
N u m a se g u n d a se ssão , a m e n in a L íg ia , n e ta do
sr. G astão , fo i tr a n s p o rta d a p a ra cim a d a m e sa. T i­
n h a aB m ãos a m a r r a d a s a tr á s d a s c o stas. C o n fesso u
q u e h a v ia sido le v ita d a a té p e rto do fo rro . O bservo
q u e a m e n in a n ã o f o ra a d o rm e c id a n em a n te s n em d e­
pois do fen ê m en o .
— 100 —
SESSÃ O D E 15 D E S E T E M B R O D E 1 9 3 »

E m casa do sr. Jo ã o C a ia ffa.


D. E lv ir a C a ia ff a e d. H ild a Bouclxer m a n if e s ta ­
vam ã tá b o a p sic ó g ra fa , c o n serv an d o os o lh o s fec h a ­
dos d u r a n te to d o o te m p o . O a p a re lh o la à s le tr a s
e om p rec isã o e se m e rr o d e o r to g r a f ia .

(D iálo g o so b re a s s u n to s b a n a is, do in te r e s s e p a r ­
tic u la r de a lg u n s dos a s s is te n te s ).
S u s p e n sa a se ssão , foi Teaberta d epo is d e um p e ­
que n o in te rv a lo .
A s m e sm a s pe sso as, de o lh o s fec h ad o s, m a n e ja ­
ra m a tá b o a .
D isse o e sp írito :
— ‘‘Boa n o ite ” .
P e r g u n ta d o pelo no m e, re sp o n d e u :
— “ P e d ro ”.
— " P e d ro , q u e m ? ” p e rg u n ta m o s. R e sp o n d e u :
— “ P e d ro , c h av e iro do Céu. V ou d a r u m a c h av e
p a ra o velh o a b rir o p u r g a tó r io ” .
V endo q u e no s h a v ía m o s com um e s p ir ito zom ­
b e te iro , d e sp ed im o-lo.

SESSÃ O D E 2 4 D E S E T E M B R O D E 1 9 3 9
E m c a sa do sr. V a ld e m a r d a Silva.
E m u m a se ssão de in c o rp o ra ç ã o , se n d o m é d iu m
o sr. M ichel, d e u -se u m “ tr a n s p o r te ”. A p arec eu um
p e q u en o ta llsm a n , u m a e sp écie d e m e d a lh a d o u ra d a ,
de f o rm a c irc u la r, te n d o d e n tro do circ u lo o n ú m e ro
13; p re n d ia -se a u m a p e q u e n a a rg o la , pelo la d o de
fo ra do c írc u lo . F o i p re se n te a d o a d. A lz ira , u m a d as
p e sso as p re se n te s.
D. M ary A lvim e o sr. P a tro c ín io d isse ra m q u e
tin h a m v isto o o b je to c a ir. E u e a s d e m a is p e sso as
p r e se n te , se is a o to d o , n ã o v im o s, m a s o u v im o s cia-
— 101 —
r a m e n te o so n id o d a m e d a lh a q u a n d o c aiu so b re a
m esa.
I n te r r o g a d o o e sp irito a c e rc a d e se u n o m e, r e s ­
pondeu:
— “ E d u a r lo C a rlo s P e r e ir a ”.
P e r g u n te i com o e ra po ssív e l e s ta rm o s a li como
e s p ír ita s , e le, m in istro p r e s b ite r ia n o o u tr o r a , o s r.
V ald em a r, ta m b e m p r e s b ite r ia n o e e u , m e to d ista . R e s­
pondeu:
“ Os c a m in h o s são d if e r e n te s , m a s o d e stin o é o
m esm o. H o je , irm a n a d o s n a m e sm a fé o v e rd a d e , s e ­
g u im o s de c ab e ça e rg u id a e p e ito a b e r to . N ão te m o s
luz, m a s viv e m o s d e refle x o . N ão c o n d u zim o s; som os
con d u zid o s em b u sc a do m esm o id e a l”.
P e r g u n ta n d o - lh e o sr. V a ld e m a r se o N ovo T es­
ta m e n to não e n c e rr a a sín te s e d a v e rd a d e relig io sa ,
resp o n d eu :
— “ M eus a m ig o s, a v e rd a d e é u m a -s ó — D eus.
Os e sc re v in h a d o re s (sic ) do N ovo T e s ta m e n to fo ra m
m é d iu n s e x tra o r d in á r io s , q u e ta m b e m :tr a b a lh a ra m
p a ra a tin g ir o m á x im o d e p e rfe iç ã o ; m a s h á co isas
q u e n ã o podem s e r r e v e la d a s. T u d o c h e g a rá a seu te m ­
po p a ra a h u m a n id a d e , p a ra a s u a e v o lu ção n a tu r a l" .

SESSÃ O D E 17 D E JA N E IR O D E 1 9 4 0

E m c a sa do sr. G astão — A ssistê n c ia : 50 p e sso as


— M é d iu m : C a ro lín a.
A c a d e ira do m é d iu m fo i le v ita d a p a ra c im a d a
m e sa, e C a ro lin a , se m s a b e r com o, a ch o u -se se n ta d u
n a c a d e ira , com a s m ã o s a m a r a d d a s .
V iu -se a c a d e ira su b ir no a r e, em se g u id a , d e s­
c er v a g a ro s a m e n te a té o c h ão , com u m p e q u en o ru id o
a o to c a r no p a v im en to . O m é d iu m e ste v e se m p re a s ­
se n ta d o so b re a c a d e ira d u r a n te to d o s esseg m o v i­
m e n to s. M ãos se m p re p resa s.
— 102 —
T rê s vezes su b iu a c a d e ira no a r, d istin g u in d o -se
c la r a m e n te q u e e n tre e la e a m e sa h a v e r ia o espaço
de m e tro e m eio. O m é d iu m a co m p a n h o u a in d a a ca­
d e ira no espaço, fica n d o s e n ta d o d a p r im e ira vez, do
pé n a se g u n d a e de jo e lh o s n a te rc e ira , — q u a n d o , e n ­
fim , re p o u so u a c a d e ira d e fin itiv a m e n te .
N u m se g u n d o te m p o , a c a d e ira foi d e novo lev i­
ta d a a té o fo rro d a s a la , o n d e fico u b a te n d o p o r a l­
g u n s in s ta n te s , o u v in d o -se o b a ru lh o .
D escendo dep o is, v a g a ro sa m e n te , g iro u em to r ­
no do si m e sm a , p rim e iro bem d is ta n te de m im e
go, em se g u id a , ju n to a m im , n a m in h a f re n te . Seu
m o v im en to , v a g a ro so a p rin cip io , fo i-se to r n a n d o c ad a
vez m a is ráp id o , de s o r te q u e a tin t a lu m in o sa dos
pés fa z ia círc u lo lu m in o so pelo ch ão .
J D u r a n te todo e sse tem p o , o m é d iu m co n serv o u -
se d e ita d o s o b re a m e sa, de m ã o s se m p re a m a r r a d a s .

C O N C L U S Ã O
De todo o im enso material que nos con­
fiou o dr. Shalders. procuram os transcrever
apenas, resum indo-o, o relato de algum as
sessões em que houve fenôm enos objetivos.
Nessas sessões, com o em todas, aliás,
não houve o controle rigorosam ente cientifi­
co que observam os nas sessões européias a
que estiveram presentes o dr. Gatterer e o ba­
rão Schrenk-Notzing.
E ’ natural. Foram reuniões de adeptos
fervorosos, que dispensam provas. Por isso,
torna-se d ificil verificar, nas sessões paulis­
tas relatadas, a dosagem de realidade ou a
estensão de fraude que, por ventura, haveria
nelas. Acham os, porem , que o dr. Shalders,
criterioso com o é, seria o prim eiro a denun­
— 103 —
ciar as fraudes das sessões a que assistiu, se
houvesse notado algum a.
De-fato, em seu relatório, o dr. Shalders
a-m iude chama a atenção para a fraqueza
de certos fenôm enos. N ão raro, acha, para
alguns, explicação natural.
D e-propósito, transcrevem os dois peque­
nos diálogos, — fenôm enos subjetivos, — em
que a feição anti-católica e anti-religiosa do
espiritism o c evidente: as palavras do espíri­
to Eduardo Carlos Pereira e as do espírito P e­
dro, pseudo-chaveiro do Céu.
Vim os tambem, num a sessão, a inconve­
niência de um espírito, fazendo cócegas nu­
ma moça. Fatos que tais não são raros em
sessões espiritas.

Quanto às sessões do B aixo E spiritism o


ou Espiritism o de Macumba, em que predo­
m inam ritos africanos, refertos de termos
bárbaros, temos tambem copiosa docum enta­
ção relativa ao Brasil. N ão relatam os, porem ,
neste livro, as sessões de m acum ba, pelo sim ­
p les motivo de elas fugirem a todo controle
cieniifico: com efeito, a fiscalização ou o exa­
m e conciencioso não tem lugar nessas ses­
sões, não só por causa da finalid ade delas, —
despachos e conlra-despachos, — com o tam­
bem p ela qualidade das pessoas que tomam
parte nas mesmas.
A liás, seria d ificil verificar se, no baixo
espiritism o, há fenôm enos extra-norm ais
reais, — üuico escopo a que visam os nesta
secção de nossa obra.
CAPÍTULO II

REALIDADE DOS FENÔMENOS


SUPRANORM AIS

E stado da questão

Na relação dos fenôm enos verificam os o


grande interesse qu!e, anos atrás, se tinha p e­
lo ocultism o. Encontram os num erosos nomes
de im portantes investigadores, com o H.
Driesch,’ K. Grubcr, K. Zimmer, M. Dessoir,
J. Maxwell, R. Baerw ald, E. Becher, H. Thir-
ring, O. Kraus, A. Messer, O. Lodge, etc.
Nos últim os 20 anos, tambem entre os ca­
tólicos, so com eçou a dar atenção sem pre
crescente a essas questões. Salta à vista a
sua im portância, tanto para a teologia co­
mo para a vida religiosa do povo. Convem
mencionar, pelo m enos, os seguintes nom es de
escritores católicos: O. Gutberiet, A. Ludwig,
N. Bruehl C. Ss. R.. Staudenm aier, A. Mager
O. S. B., J. Udde, M. Ettlinger. W . Schneider,
Fr. W alter, A. Seitz, W . Kaesen S. J., J. Bes-
smer S. .T., G. Beyer S. J., H. Thurston S. J.,
W . Ellerhost, H. Mainage O. P., H. Malfatti.
A té hoje não se chegou a com pleto
acordo na questão fundam ental: a da reali­
dade de tantos fenôm en os apresentados com o
— 105 —
su pranorm ais. Disto trataremos nesta secção.
Cumpre-nos verificar, peran te a razão, a rea­
lidade desses fenôm enos, ou, por outra, se os
cham ados fenôm enos telecinéticos e teleplás-
ticos, são fatos realm ente acontecidos; se, rea­
lizados em sem elhantes condições, podem os
aceitá-los com plena confiança, ou, por outra,
se são ou não produtos de fraude ou de ilusão.
Quanto aos fenôm enos ocultos da telepa­
tia e televisão, com o de vez em quando são
produzidos em exibições públicas, quase não
se duvida já da sua realidade. Não é preciso
exam iná-la particularm ente aqní. O desacor­
do continua, até hoje, só quanto à supranor-
m alidade dos fenôm enos de ordem física, co­
mo os citados atrás. (Rudi Schneider e Mme.
Silbert.)
Isso é aplicavcl não só aos circulos pro­
fanos, onde grupos m onistas-m aterialistas,
com o B aerw aldi, K linchowstroem , H. Rosen-
busch, W . G ulat-W ellenburg, M. D essoir, A.
Moll, etc., tom aram posição negativa, m as tam­
bém aos m eios católicos. Tambem entre os
católicos alguns há que não querem admitir
a realidade dos fenôm en os supran orm ais. Ou­
tros há, todavia, que a reconhecem franca­
mente. O motivo geral da atitude negativista
é o juizo teórico que se faz, com a alegação
de que os casos não foram ve rificados p ra ti­
cam ente. Na n egativa encontramos nom es co­
m o: J. Bessm er S. J., G. Beyer S. J., Bruchl
C. Ss. R., H ercdia, S. J., Patrick Gearon, Paul
H eusé, Pe. Mainagc, Liljenkrantz S. J., D. Otá­
vio Chagas de Miranda e outros. E na afirm a ­
tiva, outros autores salientes: A. W . Kaesen
— 106 —
S. J., H. Thurston S. J., os teólogos Fcrrères,
Tanquerey, Perrone, Sabatti, Aertnys, Ojetti,
Noldin, B allerini-Palm ieri, Garrigou-Lagran-
ge, Thurston, S. J. Franco S. J., o m édico Dr.
José Lapponi e, entre nós, o dr. F elicio dos
Santos, o dr. Lucio José dos Santos, D. Fer­
nando Taddei, e outros.
No Brasil existem os dois pontos dc vis­
ta europeus. Há quem afirm e tudo. E há quem
tudo negue. Os negativistas parecem ter m e­
do de afirm ar a verdade toda, com todas as
suas consequências. Quanto a nós, entende­
m os que há exageros de parte a parte, c, por
isso, procuram os apurar o que há de real.
D e-fato, considerando a im ensidade de
m aterial positivo, assim com o a qualidade
científica de tantos investigadores, acham os
que nem tudo pode ser fraude, e que, pelo
m enos certa porcentagem , deve ser realidade.
Antes, porem, de passarm os adiante, de­
vem os estabelecer algum as diretrizes e nor­
m as para nossa investigação.

A — CRITÉRIOS GERAIS
D ois pontos a elucidar:
1.® Que confiança m erecem os relatores e
observadores no terreno oculto?
2.® Que confiança merecem os m édiuns
nas suas produções?

1.“ — CONFIANÇA QUE MERECEM OS


OBSERVADORES DE FENÔME­
NOS OCULTOS.
Em toda investigação desta natureza, de-
— 107 —
ve-se ter em vista a qualidade ciêntifica, con-
cienciosidade e experiência do observador
c do relator. Por isso não tem nenhum valor
os rclátorios de círculos vulgares espiritas.
Tratando-se ainda de investigações sérias, é
preciso, com o é costum e entre os cientistas,
su por e a d m itir a honestidade e a boa fé no
investigador, o qual deve referir, fiel e con-
cienciosainente, o que observou, ou que, pelo
m enos, acreditava observar. Sem elhante su­
posição seria inadm issível a respeito de qual­
quer observador que, anteriorm ente, já hou­
vesse dado m otivo a desconfianças, ou con­
tra o qual existissem m otivos atuais de sus­
peita.
Os que negam a realidade dos fenôm enos
costum am apontar a excessiva credulidade
dos espiritas e ocultistas. D izem : “As afirm a­
ções de espiritas convictos não tem valor.”
Nesta afirm ação há sem duvida m uita verda­
de. A convicção arraigada faz que não p er­
cebam pontos im portantes e leva os espiri­
tas a interpretar violentam ente os fenôm enos,
no sentido dos próprios sentim entos. Con­
form e a afirm ação de m édiuns fraudulentos,
pode-se fazer crer, aos iniciados, tudo quanto
se quiser, sem encontrar contradição. Mas,
a-pesar disso, é falsa a afirm ação supra, na
form a em que é dada. Tais convicções podem
fundar-se em sólidos m otivos. Desde que exis­
tem bases suficientes, a convicção nada perde
de seu valor.
Deste critério é que nos servim os na
apreciação de fatos reputados m iraculosos.
E ntretanto, a confiança no investigador
não depende apenas da sua capacidade cien­
tífica ou da sua seriedade, m as tambem das
condições sob que hão-dc se observar e fazer
experiências. R calizam -sc, nas sessões espiri­
tas, as condições, de m odo que se possa falar
de observação realm en te científica? N esse
particular, parece o problem a m uito m ais di­
fícil. A escuridão relativa, a luz fraca verm e­
lha, que parecem ser condição para haver fe ­
nôm enos, podem tornar-se ocasião de faltas
graves. Quem trabalhou em gabinete escuro
de fotografia, sabe dizer quão dificil é operar
em am biente pouco ilum inado. Tam bem as
chapas fosforescentes e os preparados enga­
nam m ui facilm ente. Até de relatores conci-
enciosos se podem esperar frequentes erros
e enganos na própria observação. Faz-se m is­
ter m uita cautela e paciência da parte do ex ­
perim entador, para se chegar a resultados se­
guros.
Outro exagero seria negar a p ossibilida­
de de se conseguir resultado cientifico. T am ­
bem à luz verm elha se pode distinguir, com se­
gurança, o lado de um vidro e o das chapas
fotográficas, verificar a exposição, a densida­
de e a som bra do negativo revelado. Basta a
prática antecedente e prolongada.
H avendo de ocupar-nos ainda com as
condições da observação, passam os à outra
questão.

2.° — CONFIANÇA QUE MERECEM OS


MÉDIUNS

Tambem a este respeito há m uitas diver-


— 109 —
gcncias. Ocultislas entusiastas e, m ais ainda,
espiritistas ferrenhos garantem que os m édi­
uns merecem absoluta confiança. Irritam-se,
quando se ventila a questão da possibilidade
de engano. Os representantes da opinião con­
trária com prazem -sç em enumerar então a
série intérm ina de desm ascarações, e con­
cluem : “ Isto e aquilo foi reconhecido com o
engano on fraude; o que ainda não foi desco­
berto, sê-lo-á certam ente m ais tarde. Logo,
tudo é fraude e en gan o!”
Quem tem razão? A nosso ver, ambas as
partes desconhecem o estado real das coisas.
No que se segue, procurarem os discutir o pró
e o contra da questão, e verem os o que se há-
de concluir.
A prim eira questão é, pois, a seguinte:
Pode-se, na verificação cientifica dos fenôm e­
nos, confiar na honestidade de qualquer m é­
dium ? A isto se responde com um "Não” ca­
tegórico. Eis a linguagem inequívoca dos fa ­
tos! Foram ve rificados m uitas vezes, nas cha­
m adas desm ascarações, frau de intencional
com pleta, frau de não intencional, e até gros­
seiros em bustes.
Não se trata aqui de sim ples falh as pe-
í^ante com issões de inquérito, m as de positi­
vas fraudes. E num erem os alguns casos m ais
notáveis.
E is a lg u n s c asos de e n g a n o g ro sse iro . O m é d iu m
H . B n stia n tiro u c ópias d e m ão s c éle b re s h a b s b u rg u e n -
se s. A d e sm as ca ra çã o pelo K ro n p r in z R o d o lfo é co­
nh e cid a . F lo rc n c e C ook, c é le b re m é d iu m d e e x p e riê n ­
c ia de W . C ro o k e s, ío i m a is ta r d e d e sm a s c a ra d a , q u a n ­
do U3ava o pse u d ô n im o de C ôm er. (4 0 ) T am b em o fa ­
m oso H . S lad e e m p re g a r a a rtifíc io s bem e n g e n h o ­
sos. ( 4 1 ) . A p an h a d o em f ra u d e s, fo i c o n d en a d o a t r a ­
b a lh o fo rg a d o . B u g n e t, o fo tó g ra fo d e e sp írito s, foi
ob rig a d o a c o n fe ssa r que su a s c h ap a s tin h a m sid o
s u b m e tid a s a d u a s exposições, p a ra sim u la re m p re ­
se n ça de e sp írito s. ( 4 2 ) . O a m e ric a n o I. G o d fre y R a u -
p e rt, a n te r io r m e n te m e m b ro d a S. P .R ., tin h a o b tid o ,
com um fo tó g ra fo d e L o n d res, so b c o n diçõ es a p a r e n ­
te m e n te se v e ra s, r e tr a to s de e sp írito s. R a u p e r t faz ia
tir a r , em c h a p a s p ró p ria s, à lu z do d ia , r e tr a to s seu s,
e a p a r e c e r a m e n tã o , p e rto dele, c la ro s f a n ta sm a s. P a ­
r a e x c lu ir to d o e n g a n o , d a v a, à s vezes, m in u to s a n te s,
o rd e n s in e sp e ra d a s a o s se re s m a te r ia liz a d o s p o r ele.
( 4 3 ) . A -p e sa r-d e to d o c u id ad o , d o is e sp írito s fo ra m
rec o n h ec id o s com o p e sso as v iv as, pelo q u e fico u c la r a ­
m e n te d e m o n s tr a d a a fra u d e .
A c éle b re E u s â p ia P a lla d in o e n g a n a v a s e m p re q u e
podia.
A su a f ra u d e foi d e sc o b e rta , in d u b ita v e lm e n te , em
C a m b rid g e, p o r R . H o d g so n . E u s á p ia te v e a m á so r­
te de p e rd e r em P a r is um p e d ac in h o d e f e rro c é rlu m ,
com qu e m a n if e s ta m e n te p ro d u z ia fe n ó m e n o s lu z en ­
te s . ( 4 4 ) . P o r f o to g r a f ia in s ta n tâ n e a foi v e rif ic a d a a
f ra u d e de V on G u zik ( 4 5 ) . Is lo p r o d u z ia “ E c to p las-
m a ’ de a lg o d ã o e g o r d u ra e tc. (4 G ). Com o c o n clu são
g e ra l de I n ú m e ra s e x p eriên c ia s, p o d e -se a f ir m a r q u e
to d o s os f e ito s de m é d iu n s p r o fissio n a is fo ra m r e s u l­
ta d o s de e m b u ste . Ch. R ic h e t (4 7 ) e screv e o se g u in te ;
“ M iller B a ile y , Jlm c . W illia m s S n m b o r, A n a R o th e fo-

(10) R. FISCHNBR, Genchlel»«e d e r occu ltist. F o r-


■chung. Pg. 16 e 167.
— 111 -
ra m d e sm as ca ra d o s. E ld r c d e sco n d ia , no e s p a ld a r g ro s­
so d e u m a p o ltro n a , tu d o q u a n to p re c isa v u p a ra su a s
a p re se n ta ç õ e s. O fo tó g ra fo d e e s p ir ito s B o u rsn e ll foi
c o n d en a d o pelo T rib u n a l. M m c. 'W illiam s f o i d e sm a s­
c a r a d a em P a r is , e tin h a e m se u p o d e r d lv e rsfssim o s
o b je to s que e m p re g a v a , (co m o E ld r e d ,) p a ra a p r o ­
d ução de fa n ta sm a s. O caso d e S a m b o r é n o tá v e l. U m
a m ig o , a p a r e n to m e n te m u ito h o n e sto , o a u x ilia v a .
A firm a G ra ssc t, q u e E b s tc ln r e p r e s e n to u u m f a n ta s ­
m a com um g ru p o de m e m b ro s su p e rp in ta d o s . B a lle y ,
q u e p r e te n d ia p ro d u z ir tr a n s p o rte s , fo i su rp re e n d id o ,
em G ren oble, no a to d e c o m p ra r os p a s s a r in h o s q u e ,
c o n fo rm e a fir m a v a a n te s , lh e v in h a m d ir e ta m e n te d a
ín d ia , p o r T ia tr a n s c e n d e n ta l. M ed d o k fo i c o n d en a d o
p o r fra u d e . “ E u , ( fa la R ic k e t), p u d e p r o v a r a fra u d e
de A n a R o th e : é fa to q u e e sc o n d e ra a s flo re s d e b a i­
xo do se u v e stid o . A n te s d a e x p e riê n c ia p e so u 58 K g.
e, d epois, 57; a s flo re s a p a re c id a s p e sav a m e x a ta m e n ­
te 1 K g .” M axw ell c ita o caso d a s d a m a s s u sp e ita s,
W oo d e F a ir la in b .
P a u l H cu sé r e la ta a in d a os se g u in te s c aso s de
f ra u d e s d e sc o b e rta s:
C ru d d o c k , S n r ia k , L ú c ia S o rd i, M U ler, C n rn n c in i,
L in d a G nzzcrn, E lis a b c t T o m so n . C ra d d o ck tin h a co­
m o cú m p lic e s u a p r ó p ria e sp o sa, q u e , d u r a n te a s se s­
sões, lh e p a ssav a os o b je to s n e c e ssá rio s p a ra a “ c a r a ­
c te r iz a ç ã o ”. D e sm asc arad o pelo c o ro n e l M n rk M nyhew ,
foi c o n d en a d o . L ú c ia S o rd i fo i d e s m a s c a ra d a pelo b a ­
rã o S c h rcn c k -X o t/.ln g . C n rn cin i faz ia, com o E u sá p ia ,
a “ s u b s titu iç ã o ’’ d a s m ão s. L in d a G azzern , id e m . E li­
s a b c t T o m so n s e e n v o lv ia em gaze d e se d a , p a ra si­
m u la r e sp e c tro s; um m oço d e sm as ca ro u -a, d a n d o v a ­
le n te d e n ta d a no p re te n so e cto p la sm a . ( 4 8 ) . T am b em
H ax b y e n g a n a v a d e sv e rg o n h a d a m e n te .

(48) PAUL HEUSÉ, Ou cn eat Ia U etap srclilq n e. Pg.


142-143.
— 112 —

Alem dessas fraudes engenhosam ente


preparadas, deve-se contar ainda com a frau­
de m ais ou m enos inconcientc, que resulta do
estado hipn ótico do m édium . No transe, que
acarreta estado anorm al da personalidade,
desaparecem m uitos em pecilhos, próprios de
pessoa acordada e conciente. O m édiu m é pre­
so pela idéia fixa, de que deve produzir de
qualquer m odo. Se não bastam as forças su-
pranorm ais, para produzirem os fenôm enos
desejados, é então levado, instintivam ente, a
supri-las fraudulentam ente, o que faz, m ui­
tas vezes, até de m odo m uito grosseiro, desa­
jeitado. Sem elhantes fraudes podem esperar-
se tam bem de p essoas que, no estado normal
de vigília, m erecem toda confiança. R. Fisch-
ner, representante desapaixonado e sóbrio
do ocultism o, diz isto m esm o, nas seguintes
p alavras:
Um m édiu m h onesto não existe e, falan ­
do paradoxalm ente, podem os afirm ar: não
é su speito o m édiu m que engana, m as o que
não engana."
Queria dizer: se um m édium nunca for
apanhado em fraude, será, ou porque a sua
força m edial é anorm alm ente desenvolvida,
ou porque se tem na frente um em busteiro de
alta marca, que sabe esconder os seus truques.
E com isso parece termos chegado, em
a nossa análise, ao ponto morto, anulando
toda tentativa de p rovar cientificam ente a
não-realidade dos fenôm enos ocultos. De fa ­
to, m uitos autores tiram esta conclusão, co­
— 113 —
mo 7. B appert (49), A. Moll., M. Dessoir, A.
S cilz, V. Bruehl, etc. T al conclusão, porem ,
não nos parece logicam ente justificada. Sem
dúvida, esse estado do coisas não c agradavel
para o investigador e deve aconselhá-lo a to­
m ar grande cautela. Isso não tira a esperan­
ça de êxito positivo. P rocure-se que h aja to­
das as condições d e observação e de experiên ­
cia, excluindo-se, com certeza científica, toda
frau de, intencion al ou não, m orm ente da par­
te do m édiu m .
Certam ente há, neste terreno, num erosos
exem plos, em que, provadam ente, ou pelo
m enos, com grande probabilidade, interveio
fraude m aldosa ou jocosa. Mas devem por
isso todo os fenôm enos espontâneos ser con­
siderados com o sim ples em buste ou ilusão?-
Não o afirm am os. Se há observações bem fe i­
tas e concienciosas, devem ser aceitas sem res­
trição. Se, por exem plo, ante num erosos e sé­
rios expcctadores, com o em G rosserlach
(W ucrtem bcrg), uma acha de lenha por si
própria desaparece pela janela, e isso se re­
pete várias vezes; se pratos e boiões por si
próprios saltam do seu lugar, caem no chão
ou voam pela porta; se, finalm ente, diante de
tantas testem unhas, as portas saem dos gon­
zos e se atiram ao chão, sem causa visivel,
tais fenôm enos devem ser aceitos com o fatos.
Ora, o juizo que vale sobre fenôm enos
espontâneos, vale também, com o norma ra-
zoavel, para a experiência. Se m uitos enga-

(49) I. BA PPERT, K ritik de» O kkultlsm m i. — P a t-


mosverlaff. F r a n k fu r t a. U„ 1921.
— 114 —
nani, nem por isso diremos que todos enga­
nam. E ’ m uito razoavel pensar que. com o
m esm o m édium , andem, de-par, fenôm enos
genuínos c fenôm enos fraudulentos. Mor­
m ente vale isso para a fraude, m ais ou m e­
nos concientc, no transe. Dirão talvez:
“ Onde está o critério certo, para distin­
guir verdadeiros fenôm enos de fenôm enos
fraud u lentos?”
Responde-se: Tudo se reduz à habilida­
de e sagacidade, não do m édiu m , m as do ex­
perim entador; dev em os fenôm en os ser produ -
du zidos e observados, sob condições que sim ­
p lesm en te excluam a frau de.
Eis aqui, com o resultado prático do que
foi exposto, algum as d iretrize s orientadoras,
no terren o oculto, de alto valor, tanto para
os ocultistas, quanto para os an li-ocultistas.
a) Se, a-pesar-de cuidadosa observação,
não se verificar fenôm en o frau dulento algum ,
p or isso só não fica cientificam en te pro va d a a
realidade. R esta ainda a p o ssibilidade ou m es­
m o a pro b a b ilid a d e de um truqu e desco­
nhecido.
b) Se, cm caso particular, ficou provado,
com certeza, engano ou fraude, ter-se-á, n is­
so, o aviso de se tom ar todo cuidado na inves­
tigação. Mas, nem p or isso direm os que todos
os d em a is fenôm en os do m édiu m sejam frau ­
des; nem isso anula o valor d e verificações an­
teriores bem eviden tes.
c) P ara se p ro vocar a realidade d e fen ô­
m enos ocultos, com sériedade científica, o úni­
co cam inho é dem on strar ^que, debaixo de se­
— 115 —
m elh antes condições d e experiência, se torna
im possível a frau de.
Essas declarações e diretrizes estão de
p leno acordo com as excelentes explanações
de R. L am bert (50) e Ch. R ichet (51)

B — VERDADEIROS FENÔMENOS DOS


ÚLTIMOS TEMPOS

A investigação oculta dos últim os anos p a ­


rece, de-fato, ter provado a realidade de fen ô­
m enos supranorm ais. Quanto a fenôm enos es­
pontâneos, conhecem -sc fatos do nosso tem­
po, com provados com rigor e aceitos, mesm o
por tribunais. (C/r. os relatados na parte pre­
cedente).
Mas, os resultados de m uitas sessões ex­
perim entais m odernas, não são m enos garan­
tidos. Esta opinião supõe a circunstância de
que a m aioria dos m édiu ns que trabalham
com êxito produziram , anteriorm ente, fe n ô ­
m enos espontâneos, que trairam a sua capaci­
dade m edial. Pode-se apelar aqui para as ob­
servações m ais antigas e exalas. E xistem de
E usápia P aladino tantos fenôm enos tclcciné-
ticos c telcplásticos, otim am ente acreditados,
que só um crítico que se esquivar da leitura
— 116 —
dos relatórios poderá chegar a um resultado
totalm ente negativo, ou ao côm odo “non li-
quet", não é claro. Tomo-se, p. ex., conheci­
m ento dos relatórios de M orselli, Vassalo,
Venzano, B o ta zzi; exam in em -se os protoco­
los da com issão inglesa de prestidigitadores,
(C arrington, Feilding, B azza lly), cuja conclu­
são é absolutam ente positiva. Nas m ãos de
M orselli e B ottazzi, desfizeram -se, várias ve­
zes, mem bros m aterializados. As condições de
verificação desses fenôm enos excluem toda
fraude, intencional ou não, às quais Eusápia
era indubitavelm ente m uito inclinada, em
consequência de sua índ ole hisiérica. No que
lhe diz respeito, encontram-se, portanto, ao
lado de fenôm enos fraudulentos, outros cer­
tam ente reais.
Muito em particular, porem , devem os
apontar as m ais recentes e exatas indagações
dos irm ãos R u di e W illi S chneider, de Brau-
nau. Como já declaram os atrás, W illi Schnei­
der, d esd e princípio de dezembro de 1922 ate
fin s de fevereiro de 1923, operou em 104 ses­
sões, 16 delas no Instituto Psycológico da Uni­
versidade de Munique. Após as experiências
de m ovim entos à distancia, foram convoca­
dos 27 intelectuais, na maioria professores de
Munique, c 29 outros observadores cientifica­
m ente interessados. Com excepção de alguns
céticos, atestam todas as testem unhas, clara e
insofism avelm en te, a realidade da teleciné-
sia, acom panhada m uitas vezes de m ateriali­
zações. R epetidas vezes afirm am que a fisca-
lisação nada d eixava a desejar. Assim se ex­
terna o Prof. D r. G ru b er:
— 117 —
" F o i fe ita , d u r a n te a se ssão , a v e rific a ç ã o d ecisi­
va , c o n tra a h ip ó te se de fra u d e , pelo flsc a llz a d o r
p rin c ip a l. C o n sistiu em q u e u m a s s is te n te so a s s e n ­
to u em f re n te ao m é d iu m , a p e r ta n d o - lh e a s p e rn a s
com a s p ró p ria s, e se g u ra n d o -lh e , a le m d isso, a s m ão s.
O u tro a s s is te n te , — o s u p e rc o n tr o la d o r , a sse n ta d o ao
la d o do m é d iu m , fisc aliz o u , p o r c o n tín u a o b se rv a çã o ,
a p ró p ria fisc aliz aç ã o . F m n e n h u m a d a s n u m e ro s a s
se ssõ es foi o b se rv a d o o caso d e q u e o m é d iu m tiv e sse ,
u m a só vez, p r o c u ra d o ou p o d id o lib e r ta r q u a lq u e r m ão
ou pé.
“ A in d a que e s ta s d isp o siçõ e s de v ig ilâ n c ia to r ­
n a ssem Im possível to d a f ra u d e , sem e m b arg o , fo i r e ­
fo rç a d a a v ig ilâ n c ia , em se ssõ es s u b se q u e n te s. Coloca­
ra m o m é d iu m n u m a g a io la d e g aze, em c u ja fre n te
h a v ia , n a a ltu r a de um m e tro , u m a e s tr e ita a b e r tu r a
p o r o n d e o m é d iu m p a ssa v a a s m ão s, s e g u ra s pelo
fisc al. T am bo in n e ste caso s e d e ra m fen ô m e n o s te le -
cin ético s, a ssim com o no caso in v e rso de se c o lo ca re m
os o b je to s d e n tro d a g a io la, e o m é d iu m , fo ra .
E , f in a lm e n te , h o u v e a in d a fe n ô m e n o s te lec in é -
tic o s, q u a n d o m é d iu m é a s s is te n te s fica v am s e p a r a ­
d o s do cam po d e a çã o m e d ial, p o r u m b io m b o d e g a ­
ze de l.m .SO d e a ltu r a . E s s a a lte r a ç ã o d a s c o n d içõ e s
m a is se v e ra s de fisc aliz aç ã o n u n c a p u d e ra m Im p e d ir a
p ro d u çã o de fe n ô m e n o s te le c in é tic o s. E is, po is, a p ro ­
va c la r a em fa v o r d a r e a lid a d e do s fen ô m e n o s. E l-la
c ie n tific a m e n te p r o v a d a ”.

Costuma-se aludir à grande desm ascara-


ção de “W)7/í”, pelo sr. Seeger (52). K. Gru-
ber, que não nega a fraude, salienta, porem ,
que nessa ocasião não havia sessão científica;
p ois essas só com eçaram um ano e m eio m ais
(52) W. VON GULAT — WELLENDURO. C. von
KLINICOWSTRÔM. — H. ROSENBUSCH. — IJer pliyxlU.
HedlnnlxmaH. U lsteln, B erlln, 1925, pg. 414,, etc.
— 118 —

tarde, razão por que esse episódio não entra


em questão.
Alem disso, contestam a garantia cientí­
fica de S ch ren k-N otzing, diretor das expe­
riências. Dizem que, nas indagações com Eva
Carrière, foi ele vítim a de uma em busteira e
que, com a edição de "Fenôm enos d e m a te­
ria liza ç ã o ”, perdeu a sua fam a científica.
Quem acom panhou a literatura dos ú lti­
m os vinte anos. sabe suficientem ente que as
experiências com E va C arrière foram su jei­
tas a ataques violentos.
M. von K em itz, W. von G ulat-W ellenburg
e G. K afka abriram o debate contra a realida­
de. Mais extensam ente expõe G ulat os seus
argumentos no “D reim aennerburch" (Livro
dos T rês), no qual dedica ao caso E va C arriè­
re oitenta e sete páginas.
Adm itam os que todos esses fenôm enos
sejam engano ou fraude. Daí, em absoluto,
não se segue que o m esm o devam os conceder
quanto aos fenôm en os de W illi Schneider.
Sc os que negam a existência da telecinésia e
da m aterialização não dão im portância ao
juizo de S chrenk-N otzing, todavia, não p o­
dem, no caso dos irmãos Schneider, ignorar
os num erosos pareceres p ositivos de notáveis
experim entadores e cientistas, os quais ates­
tam que, nas experiências, processaram com
científica exatidão e severidade, pelo que fi­
cou afastada toda p ossibilidade de fraude.
Em m ais de um a centena de sessões pro­
duziu W illi, sob a m elhor veiúficação e em
diversíssim as condições exteriores, fenôm e­
nos telecinéticos e teleplásticos, em B raunau,
— 119 —
M unique, Viena e L ondres. Seria p ossível que
todos os cientistas, m édicos c prestidigitadores

do a descobrir os seus truques e falcatruas?


E ’ fato. confessam os, que certos observa-
s foram enganados m ui­
tos im postores; m as quase
t repetição prolongada das
im postores acaba-
i por ser definitivam ente desm ascarados.
E ’ o que se não dá no caso vertente.
A convicção da realidade afirm a-se pelas
continuas investigações.
O qu e disse m o s s o b re AVilli S c lm c ld c r, v a le q u a n ­
to à m e d iu n id a d e d e M a ria S ilb c rt, s o b re tu d o no q u e
to c a a fen ô m e n o s te le c in é tic o s, a te s ta d o s com to d a
e x a tid ã o p o r n u m e ro s a s e c o m p e te n te s te s te m u n h a s ,
e n tre a s q u a is se e n c o n tr a o c o n h ecid o p r e s tid ig ita d o r
R . A V interri. ( 5 3 ) . E m c o m p araç ão com o g r a n d e n ú ­
m e ro d e sses p a re c e re s, fa v o ra v e is, em p alid ec e a a le ­
g a çã o d a q u e la s p o u c as te s te m u n h a s , a d u z id a s pelo
p ro fe sso r B c n n d o rf, c o n tra a re a lid a d e do s fen ô m e n o s
de Mine. S ilb e rt. ( 5 4 ).

Quanto às investigações e experiências do


Padre Dr. G atterer, coloca a m inuciosa repro­
dução dos protocolos que fizem os o leitor em
condições de form ar jüizo sobre a realidade
ou irrealidade dos referidos fen ôm en os.'A n ­
tes de m ais nada, avulta, com segurança, a in­
— 120 —

consistência da teoria halucinatória. Se, em


plena luz, um violin o se despedaça, se mesas
são derrubadas e cam painhas atiradas ou ar­
rancadas da m ão, e se esses efeitos são con­
firm ados por todos os assistentes, é que aqui
não há ilusão nenhuma.
Mas teria sido o Dr. G atterer, a-pesar-dc
tudo, iludido ou enganado? Em vista dos refe­
ridos relatórios, replica ele o seguinte:
“ N as se ssões com R u d i S c h n e id e r e M n rla S llb c rt
n u n c a Be e n c o n tro u n a d a d e s u sp e ito , n ão o b s ta n te a
m a is rig o r o s a in v e stig a çã o . V á ria s vezes, e com s u f i­
c ie n te ilu m in aç ão , re a liz a ra m -s e m o v im en to s te lec in é -
tic o s d ia n te dos m e u s o lh o s e à p e q u e n a d is tâ n c ia de
m im , com o, p o r e xem plo , o d e sp e d a ç a r do v io lin o ju n ­
to do S c lirc n k -N o tz ln g . Do m esm o m odo p u d e v e rific a r
e m B r a u n n u , com to d a calm a , o a p a re c im e n to d e p e­
q u e n a m ã o m a te r ia liz a d a , a q u a l a rr a n c o u a c a m p a i­
n h a de m in h a m ão. í.lo stro u -se , a in d a , v á ria s v ezes,
n a s m a is d iv e rs a s fu n çõ e s e com s u f ic ie n te c la rid a d e .
Isso a co n te ce u em c la r id a d e p e rf e ita m e n te s u fi­
c ien te , e posso g a r a n tir q u e n ã o e r a a m ã o d e R u d i o u
d c a lg u m m e m b ro d a se ssão . A s c o n d içõ e s de o b se r­
v ação e de fisc aliz aç ã o e ra m ta is q u e devo q u a lific á -
la s de Irre p re e n sív e is.
N as se ssõ es com M a ria S ilb e rt, o m a is c la ro fen ô ­
m eno fo i a m e n sag e m d ita d a p o r p a n c a d in h a s, e isso
fo i o b se rv a d o in ú m e r a s vezes, com a m a is c la r a luz
d e lâ m p a d a , e m e sm o d e d ln , e eu p ró p rio p u d e ve­
r if ic a r esse fen ô m e n o , em c a d a se ssão . A3 c irc u n s tâ n ­
c ia s q u e ro d e a ra m o fen ô m e n o , e x clu em , a m e u v er,
to d a fra u d e .
N o s r e la tó r io s fo ra m , r e p e tid a s v ezes, m e n cio n a ­
d o s ta m b e m tr a n s p o rte s q u e p u d e ra m se r v e rific ad o s
p o r v á rio s o b se rv a d o re s, em to d a s a s su a s fase a. A lem
— 121 —
d isso, re a liz a ra m -se e m co nd içõ e s d e v e rific a ç ã o ta is ,
q ue e xcluem p ro d u ç ã o m e d ia n te p re stid ig ita ç ã o o u
fra u d e . T am b em p u d e v e rif ic a r fe n ô m e n o s lu z e n te s
qu e se r e a liz a r a m n a s p ro x im id a d e s do m é d iu m , sem
u tiliz a ç ã o do s se u s m e m b ro s .N ão c h eg u e i, p o rem , a
p e rsu a d lr-m e d a r e a lid a d e d a m a te ria liz a ç ã o , n e ste
ú ltim o caso.
N . B r u c h l e A. S e ltz n o ta ra m f a lh a s n a red a çã o
do3 r e la tó r io s . M as e ssas f a lh a s , se e x iste m , são m a is
d e c u n h o lite r á r io , e n ão d e stro e m o v a lo r d a s expe-
r ié u c ia s pesso ais m in h a s e d e o u tro s o b s e rv a d o re s sa ­
gazes.
Q u an to ao v a lo r do c o n tro le , no p ró x im o c a p itu lo
v e n tila re m o s a q u e stão .
N ão h e sito em e x p rim ir, n e s te lu g a r, a m in lia
c o nv lcçoã p e sso al no s fe n ô m e n o s p a ra -flsico s. No e n ­
ta n to , isso n ã o d isp e n sa to d o ex am e p o s te r io r e to d a
c o n firm a çã o dos fato s. P e lo c o n trá rio , u m ju iz o c ien ­
tific o deve e s tr lb a r - s e , em p rim e iro lu g a r, n u m rico
m a te r ia l de fato s , o q u e m o f a lta a in d a q u a n to à ex­
p e riê n c ia p ró p ria .
C relo-m e, p o rem , a u to riz a d o a p r e e n c h e r ta l la ­
c u n a, com a s j á m e n c io n a d a s in d a g aç õ es de o u tro s
in v e stig a d o re s, ao m e n o s p e la m a io r p a r te .
Q uem , liv r e d e p rec o n ce ito s, d e r a o m eu h o n e sto
te ste m u n h o a lg u m a im p o rtâ n c ia , n a v e g a rá n a m e sm a
e s te i r a dos n u m e ro s o s in v e stig a d o re s q u e já , p o r m u i­
to s a n o s, se oc u p am , c ie n tific a m e n te , com esses fe ­
n ô m e n o s; e c o n c lu irá q u e, ta m b e m no n o sso te m p o ,
h á v e rd a d e iro s fe n ô m e n o s o c u lto s, — a ssim e s p o n tâ ­
n eos com o e x p e r im e n ta is ”.

C — A GRANDE OBJEÇÃO CONTRA


A REALIDADE
E ’ pedida ao desastre de m uitos m édiuns,
m orm ente perante com issões científicas, e à
— 122 —

luz clara. Aos adversários da realidade, esse


desastre parece fornecer a prova evidente, de
que todos os fenôm enos ocultos são produtos
da fraude.
O desastre de m uitos m édiuns é um fato.
Dc vez em quando se dá o mesm o a respeito
de fenôm enos esponiáneos. Prim eiram ente,
havia um barulho, um grande barulho; de­
pois, sobrevindo a invostigação funcionária ou
p olicial, a paz se restabeleceu. Às vezes, nem
c preciso tanto.
Num circulo sim pático, realizam -se coi­
sas m aravilhosas. Chegando, porem , uma co­
m issão científica ou um verdadeiro cético,
quase sem pre a glória se desvanece e, quanto
m ais rigorosas e científicas forem as condi­
ções de verificação, tanto m ais fracos ou nu­
los se tornam, em regra, os fenôm enos.
Willi Sclmeider m anifestou, junto ao la­
boratório psicológico da Universidade de Mu­
nique, um gradual decréscim o de sua capaci­
dade m ediúnica. Os fenôm enos de ambos os
irm ãos Sclmeider dão o m elhor resultado no
círculo familiar de Braunau. Von GuziU, que
trabalhou m uito bem sob G. Geley, falhou
com pletam ente na investigação da Sorbona.
tendo sido apanhado em fraude pela Com is­
são Investigadora.
N ão será uma prova m anifesta dc que,
em todas as suas produções, os médiuns em ­
pregam fraudes, se precisam ente em frente de
observadores científicos, tantos, desastrosa­
mente, falham ?
Do fato de nada conseguir o médium
quando trabalha à luz clara, o observador su­
— 123 —
perficial é levado a declarar que fenôm enos
p arafísicos não existem ; q u e todos são frau­
dulentos.
Sem dúvida, a m aioria dos m édiuns só
produzem fenôm enos m aiores, m ais certos e
rápidos, ou em com pleta escuridão, ou em am ­
biente ilum inado por luz verm elha, que é a
regra. À luz branca, e até .de dia, poucos há
que produzem , c m enos ainda que produzem
fenôm enos notáveis.
A o que parece, o único m otivo disto é que
a luz branca, intensa, im pede aos médiuns,
mais ou m enos astutos, em pregarem truques
para produzirem certos fenôm enos.
A favor da explicação pela fraude in vo­
cam ainda outro fato experimental: os maio­
res médiuns foram surpreendidos cm fraude,
para não falar dos m édiuns vulgares, cuja ar­
te parece ser quase exclusivam ente baseada
em engano propositado.
T ais os argumentos de que se servem os
adversários da realidade. Pretendem negar
até a m ínim a porcentagem de fenôm enos m e-
diúnicos reais. A fraude, auxiliada pela cre­
dulidade dos assistentes, c quanto lhes basta
para explicarem tudo, e tirarem ao ocultism o
todo fundam ento real. C. von Klinckoivstro-
em , por exem plo, em sua citada obra, enum e­
ra prosaicam ente todos os grandes e pequenos
truques, como se pode ver no livro “ Confes-
sions of a médium." (55) E com o von Klin-
ckowstroem pensam H. Rosenbusch e Gulat-
Wcllenburg.

(55) D er pbyaicalU che M adlunlamnx, pg. 76-95.


— 124 —
Para anular a grande objeção, basta evi­
denciar que as provas em que ela se apoia são
dois so fism a s: Prim eiro, — concluir-se da pos­
sibilidade da fraude para sua realidade; se­
gundo, — indevida generalização, concluindo-
se de muitos casos de fraude para todos sem
excepção ou com excepção raríssima.
O que se deveria inferir da possibilida­
de de fraude, é a suspeita de que ela possa
ocorrer nos casos vertentes, e a prevenção
contra ela, tendo-se os olhos abertos para'
desm ascará-la, tão pronto seja descoberta.
Do fato da impotência de m uitos médiuns,
evidenciada perante com issões c à luz clara,
só concluirem os que eles fraudaram sem pre,
se provarm os que as precauções tom adas con­
tra a fraude a im pediram . Mas isso só se pro­
varia, dem onstrando-se que a única exp lica­
ção dos desastres é a im possibilidade de en­
ganar em que se encontram os médiuns.
Ha várias explicações da falên cia even­
tual do poder m ediúnico. Entre outras, cita­
m os duas, — um a da parte da causa instru­
mental, outra da causa intelectual.
Para m elhor elucidar a questão, obser­
vem os que a produção de uma série de efei­
tos só se poderá exigir com rigor, quando se
trata de causas e efeitos m ecânicos, e is­
so m esm o nem sem pre com absoluta certeza,
m as só na suposição de que a máquina esteja
em perfeito estado de funcionam ento. Na sua
crítica, os adversários da realidade se esque­
cem de que a energia que produz os fenôm e­
nos ocultos não é nem força m ecânica, nem
força natural, que sem pre produz os m esm os
— 125 -
efeitos com necessidade física. Nos fenômenos
ocultos atuam energias vivas, espontâneas,
sensitivo-espirituais, p rim eiro no próprio mé­
dium, — o que já torna incerta a produção ou
repetição do m esm o fenôm eno, — e segundo,
fora do m édium .
Com efeito, outro fator im portantíssim o
dos fenôm enos transcendentais, do qual tra­
taremos adiante, c que, nesses casos, estão em
cena não só o organism o e a psicologia do mé­
dium, m as, probabilissimamente tambem, t
muitas vezes, outro agente, i. é, algum a po­
tência espiritual, que transcende a vontade do
médium, e intervem arbitrariam ente no cur­
so dos acontecim entos.
Desta form a, torna-se com preensível que
os fenôm enos ocultos experim entais apresen­
tem, com o os fenôm enos espontâneos, o ca­
racterístico de capricho, travessura e m alda­
de, porque os prim eiros com o os segundos
são, frequentem ente, o produto de sem elhan­
tes poderes.
Nestas condições parece sum am ente d ifí­
cil, senão im possível, prom over experiências
regulares. Não é p ossível aum entar arbitra­
riam ente as condições de fiscalização e exigir,
em todos os casos, resultado infalível. O po­
der superior recusa-se simplesmente e aban­
dona o médium à sua miséria.
Pelo m esm o m otivo, fica explicado por­
que é que tantos grandes prêm ios oferecidos
para a produção de determ inados fenôm enos
ocultos, sob determ inadas condições, não en­
contraram pretendentes. Como notam os, o
médium não pode confiar incoDdicionalm en-
— 126 —
mente em sua capacidade supranorm al, nem
pode dispor dela à vontade e por capricho
próprio ou alheio.
O segundo m otivo apontado por nós, é a
indevida generalização, que consiste em con­
cluir da fraude de m uitos casos, para a fraude
em todos os fenôm enos ocultos, ou concluir
para a nulidade dos fenôm enos por causa da
falha de m uitos médiuns, perante com issões
cientificas, e à luz do dia.
Com efeito, se alguns fraudam , não é ló­
gico afirm ar que todos fraudem . Se m uitos
m édiuns não podem produzir senão à luz ver­
m elha, não se segue que não haja outros que
produzam , perfeitam ente, á luz clara do dia.
Existe bom número de casos em que não há
o mínimo sinal de impostura,
p a r a p ro v a r a ú ltim a a firm a ç ã o , b a s ta a p o n ta r ­
m os a s e x p e riê n c ia s de AVilli S c h n e id er. O m é d iu m te ­
v e m ã o s e pés a m a r r a d o s p o r p e sso as de c o n fia n ça ,
de m odo q u e ficou se g u ro com o n u m to rn o . N ão o b s­
ta n te , a p a re c e m os fe n ô m e n o s: v á ria s v ezes le v a n to u -
se a c e stln h a de p a p éis e, a m a n d a d o , so o u a c aix a de
m ú sica . Como o a u x ílio f ra u d u le n to d a p a rte dos a s­
s is te n te s e s tá a fa s ta d o , p o r v á rio s m o tiv o s, ( s e p a ra ­
ção do c am po d e a çã o p o r u m b iom bo de g a z e ), s e ria
prec iso q u e AVllU e fe tu a s se e sses m o v im en to s com b a s­
tã o co m p rid o , d o b rav e l, sa in d o d a boca p o r si p ró p rio ,
se se q u ise sse s a lv a r a te o ria d a fra u d e . Im p o ssív e l, is­
so. Um p r e s tid ig ita d o r a q u em se p re n d e sse m m ão s e
pés te r i a e n c e rr a d a a su a c a r re ir a , a in d a q u e fosse
um g ênio.

Com razão diz K. Gruber :


“ Q u eira m in d lc a r-m e u m p r e s tid ig ita d o r , q u e, em
— 127 —
tr a n s e , com a s m ã o s e p és s e g u ro s e a té u a e scu rid ã o ,
visível po r a lfin e te s fo sfo re sc e n te s , o c o rp o In te iro em
c o n tín u o s calftfrio s, p ro d u z a c a lm a m e n te fen ô m e n o s
com o p u d e m o s o b se rv a r com W1UI m ilh a r e s de vezos.
Q uem tiv e r c o m p re en d id o com ju s te z a to d o o c o m p le­
xo do u m a se ssão p o sitiv a, vê, sem m a is, a ln s u s te n ta -
b llid a d e da h ip ó te se d e p r e s tid ig ita ç ã o " . ( 5 6 ).

Para quem , nesle assunto, m ais valem os


pareceres de prestidigitadores, lem bram os
aqui (57) um tópico do discurso (13-7-1922)
de E. J. D in gw alls, Secretário da S. P. R.
(L ondres), especialista neste terreno.
“ P o r fim " , — d e c la ra e ste in v e stig a d o r p e ra n te a
S. P . R ., — “ q u e ria le m b ra r-v o s q u e e ste caso ( W llll) é
únic o n a h is tó ria do m e d iu n ism o . Com E u sA p la P a l-
lnriino a fiscaliz aç ã o e ra m u lto d lfic ll, e os fen ô m e n o s
m a n lfe sta ra m -se , o r d in a r ia m e n te , a m u ito p e q u en a
d is tâ n c ia d e la. Com E v a C a r rlè r e a fisc aliz aç ã o a in d a
m a is dlfic ll. Com C n th le ln C o lig h er, em B e lfa st, o D r.
C ra iv fo rd e n sa io u fiscuU zor, ao m esm o te m p o , se te
m é d iu n s, e a ca b o u po r n ão t e r fisc aliz ad o n e n h u m .
Com L in d a Guzzci-n a fisc aliz aç ã o e ra m a is c o m p lic ad a
do q u e com E v a C n rriè rc , e com K u sk l, tã o d lfic ll co­
m o com L in d a G az ze ra . D e-fato , n ão p osso le m b ra r-
m e de m é d iu n i a lg u m q u e se s u b m e ta a se m e lh a n te
fisc aliz aç ã o com o W llll S c h n c ld er. N ão é p re c iso le r
c o n h ec im en to do p re s tid ig ita ç ã o , e n q u a n to p ro d u z os
se u s fe n ô m e n o s c o stu m e iro s .
S e g u ro p o r d u a s p esso as e m a rc ad o com a lfin e te s
fo sfo re sc e n te s , é-lh e im p o ssív el e sq u iv a r-se , e fo ra -
lh e in u til, se fo sse p o ssív e l”.

(56) Die p h jeleallxch en Phaenoniene d e r g r o u e i Me­


dien, pg. 219-220. .
(57) SCHRENK-NOTZING E x p erim e n te der Trul!-
wcBung,, pg. 272.
— 128 —
T ais fe n ô m e n o s g e n u ín o s m a n if e s ta r a m - s e fre ­
q u e n te m e n te , não só com AVilli S c h n e id er, m a s ta m b ém
com o u tro s m é d iu n s con h ec id o s m a is a n tig o s.

Alegam ainda que o sim ples uso dos sen­


tidos da vista e do lacto não é suficiente para
uma verificação cientifica.
A objeção vem de R. IV. Schulte que pro­
vou. experim entalm ente, que enganos podem
dar-se sob a influ ên cia de fadiga, espanto re­
pentino, etc. (58).
Responder-se-á que ninguém contestará
a possibilidade de uma ilusão. Nós m esm os já
apontam os isso expressam ente. Contra o que,
porem , temos de protestar é o exagero, que
consiste em querer negar todo valor científi­
co das experiências feitas até hoje, com ob­
servância de todos as boas e cuidadosas con­
dições óticas e tácteis de verificação e exigir
que se execute tudo à luz do Sol.
Uma últim a observação:
Quando é que uma fiscalização é p erfei­
ta? Não se trata de uma perfeição absoluta,
mas relativa; quer dizer: de acordo com a es­
pécie de fenôm enos que se devem verificar no
médium. Se, por exem plo, numa sessão em
que são seguras as m ãos e os pés do médium
por pessoas de confiança, um violino se m o­
vim enta no ar com veem ência, marcando o
com passo, de acordo com a m úsica tocada, a
distância de um metro e vinte centím etros
do médium, e finalm ente se quebra na mesa
em m il pedaços, não se p odia exigir, para ve-

(58) A. SEITZ — Zum so g e n an n te n w lssenachafllchen


O k kultism us — St. B eilage z. B ayr. K u rier (1927), n.° 19.
— 129 —
rificar isso, um exam e ginecológico, ao qual
dona Silbert se recusou term inantem ente.
Apresentando-se bem ludo isso, chega-se
facilm en te à conclusão de que essa senhora
produziu, nas citadas sessões, não poucos fe ­
nôm enos sob fiscalização perfeitam ente su fi­
ciente.
Efetivamente, comeiendo-se a falta de
ignorar todos os casos onde boa luz e boas
condições de experiência permitem excluir,
com segurança, toda fraude, é facil para uma
critica severa rejeitar a realidade de fenôm e­
nos ocultos, com apelar para a onipotência da
prestidigitação. É o que, infelizm ente, foi fe i­
to no já citado "L ivro dos Três”, razão por
que não pode ser considerado com o obra sé­
ria, a-pesar-do precioso m aterial que ajuntou,
inas sim com o fautora de erro. Cfr. Psychol.
Studien de Schrenk — Notzing e R. Lam-
bert (1925, p. 625-649), Beuler "D ie physisch.
Fhacnomene der grossen Medien”.

D. — RESUMO DAS DEDUÇÕES OB­


TIDAS.

Da exposição supra resulta o seguinte: o


problem a dos fatos do m ediunism o fisico não
é, de-certo, sim ples, mas, ao contrário, m uito
dificil e com plicado. O aspecto jocoso dos fe ­
nôm enos ocultos tam bein dificulta, c m uito,
uma verificação severam ente cientifica. Gran­
de parte dos referidos fenôm enos deixa de
ter, conform e notam os, o carater da genuini­
dade, c apoia-se na inexata observação, ou na
concicnlc fraude da parle dos m édiuns. —
— 130 —
Outra parte subtrai-se, pelo m enos hoje, a um
jugam ente científico definitivo e cai na cate­
goria do “Non liquet", não é claro. — O resto,
a nosso ver, engloba os fenôm enos que satis­
fazem às justas exigências da crítica científi­
ca e devem , portanto, ser considerados reais.
C atólicos há, que rejeitam , sistematica­
mente, a realidade de quaisquer fenôm enos
ocultos.
Vem aqui a propósito a palavra de pro­
fundo conhecedor do ocultism o físico, H er-
bert Thurston, S. J., m embro da S. P. R. de
Londres. Esse guia de confiança dos católicos
ingleses, neste terreno, escrevendo ao Pe. Dr.
Gatterer, disse o seguinte sobre a atitude dos
católicos acerca do ocultism o:
“A meu ver, a opinião segundo a qual Io­
dos os fenômenos ocultos físicos devam atri­
buir-se à impostura, não só é inveridica co­
mo tambem perigosa para a sã apologética."
E’ este o resultado a que nos levou tambem a
nossa investigação cientifica.”
CAPITULO III

CAUSALIDADE DOS FENÔMENOS


SUPRANORMAIS

Estado da questão

N as duas prim eiras secções do nosso tra­


balho vim os que existem realm ente fenôm e­
nos supranorm ais; que liá fatos inegáveis que
ficam por explicar. Nesta terceira secção, in­
cumbe-nos indagar da causalidade desses fe­
nômenos; se são produzidos naturalm ente pe­
los hom ens, em torno dos quais se m an ifes­
tam; se são produzidos pelo médium só ou
com auxilio de outra pessoa; ou se os fenô­
m enos excedem toda força hum ana c recla­
mam a intervenção direta de uma causa pre-
tcrnatural: Deus ou dc qualquer espírito, bom
ou mau.
Os fenôm enos do espiritism o apresentam-
se ao espírito hum ano investigador do m esm o
modo com o os fenôm enos do hipnotism o.
Quanto a estes, a ciência já reconhece que
são, m aterial ou instrum entalm ente, produzi­
dos pelo hipnotizado, m as provocados e diri­
gidos, m oralm ente, pelo hipnotizador. Assim
— 132 —

tam bém os fenôm enos do espiritism o expe­


rim ental parecem ser produzidos pelo m e­
dium.
Incumbe-nos, pois, indagar se os fenôm e­
nos ocultos excedem as forças naturais, e só
podem ser produzidos com o auxilio de espí­
ritos, e, caso se verifique esta últim a hipóte­
se, se são esses espiritos as alm as dos mortos,
ou são os puros espíritos, anjos ou demônios.
Para poderm os m elhor discutir estes pon­
tos, convem separá-los uns dos outros e apre­
sentar cada um por si só. Daí a divisão desta
secção toda nas seguintes afirm ações:

A - Os fenôm enos supranorm ais exce­


dem as forças hum anas.
B - Os fenôm enos supranorm ais não são
produzidos pelos desencarnados.
C - A verdadeira causa dos fenôm enos
supranorm ais. Este ponto é tratado
em três capítulos:
I - Os fenôm enos supranorm ais são
produzidos por espíritos, e estes só
podem ser os m aus espíritos da con­
cepção católica.
II - Em que sentido entendem os a in­
tervenção diabólica no espiritism o.
III - Sinais diabólicos que os fenôm enos
espiritas trazem consigo, e a ação
diabólica através dos tempos.
— 133 —

A — PRIMEIRO PONTO
OS FENÓMENOS SUPRANORMAIS
EXCEDEM AS FORÇAS
HUMANAS.

Art. I.

FENÔMENOS PARAPSÍQUICOS DE
TELEVISÃO E DE TELEPATIA.
C riptestesia

Sendo o espiritism o, antes de tudo, cená­


rio de m anifestações supranorm ais, e queren­
do nós indicar as causas profundas de tais
m anifestações, claro está que os fatos físicos
são m ais im portantes, a este respeito, do que
os psíquicos, porque são sensíveis e exteriores.
É m ais facil verificar a preternaturalidade
c o extraordinário de um fato físico, do que
de fato psiquico. Por isso, o espiritism o, para
sua propaganda entre o povo rude. m ais se
vale dos fenôm enos físicos, apresentados nas
sessões.
Não obstante isto, os fenôm enos psíqui­
cos são parte integrante e, até, essencial do
espiritism o. E m édiu ns há, — os que denom i­
nam os físico-psiquicos no p rincípio desta
obra, — que se notabilizaram nas duas clas­
ses de fenôm enos. Pela razão acim a exposta,
isto é, por serem exteriores os fenôm enos fí­
sicos, estes foram sem pre tratados, com m ui­
ta m inúcia e desenvolvim ento, em todos os
relatórios, ao passo que, para os fenôm enos
— 134 —

psíquicos, só se m encionam os m ais im por­


tantes e estupendos, os que são indiscu tivel­
m ente de natureza transcendental.
Os fenôm enos do dom ínio puram ente psi-
quico são tratados debaixo do nome geral de
C riptestesia, palavra grega form ada pelo
prof. R ichet e que significa sen sibilidade
oculta. (59)
A Criptestesia é uma sensação anormal,
que leva ao conhecim ento de coisas secretas,
ou que atua à distancia, nos espíritos alheios,
provocando neles processos psíquicos análo­
gos aos do agente.
A criptestesia é uma sensação anormal,
prim eiro porque é adquirida sem o auxilio
dos m eios perceptores ordinários, — olhos,
ouvidos e dem ais sentidos, — e, segundo, por­
que é produzida à distancia. Com para-se com
a telegrafia sem fio, onde há um aparelho
transm issor, — o agente, — e um aparelho
receptor, — o sujeito. A única diferença está
em que, na telegrafia, o m eio transm issor é
conhecido, a m ensagem é feita por sinais
convencionais, e os aparelhos obedecem à di­
reção hum ana. Na criptestesia, porem , faltam
tais elem entos.
A criptestesia desdobra-se em Telepatia
e T elevisão, e a estas duas espécies se subor­
dinam todas as m odalidades de sensibilidade
oculta, com o: lucidez m etapsíquica, clari-vi-

(ff9) D« grege cryptoü, — oculto, — e neetixéM*. —


sonslbllldade. No mesmo sentido se em prega o term o ME-
TAGNOMIA, form ado de m eta. — alem. — e asiomela. —
eonheelnpeBte.
— 135 —
dência, m onição, premonição.- cum berlandis-
ino, psicom etria, rabdom ância, etc.

TELEPATIA

Telepatia c, propriam ente falando, a


atuação à distancia, de uma m ente em ou­
tra. (60) Para que se dê, o agente deve con­
centrar suas faculdades nos elem entos con-
cientes que quer transm itir; transm issor e re­
ceptor devem harm onizar-se, apresentando
afinidade espiritual.
A influência telepática é favorecida pela
h ipnose do receptor.
Fenôm eno extraordinário, de d ificil ex­
plicação, a telepatia está hoje cientificam ente
provada. E’ fato que não m ais se discute. Mes­
m o aqueles que não adm item outros fen ô­
m enos ocultos, aceitam a realidade da tele­
patia.
E xperim entalm ente e em sessões públi­
cas, às vezes a telepatia se apresenta sob duas
m odalidades: a) As duas pessoas não estão
cm com unicação direta; b) As duas pessoas
se tocam. No prim eiro caso, temos tran sm is­
são de pen sam en tos; no segundo, leitura m us­
cular ou cu m berlandism o. (61)
R ich et fez nove experiências telepáticas
com uma sonâm bula, distante dele 500 me-

(60) MYERS preferia dizer Tclestesla (tele acath esis),


de sua c riação. ..
(61) Cum berlandism o d eriva-se do nome do sábio n o r­
te-am ericano S iu u rt C um berlnnd. Tam bein se diz W il-
llHR-Knme (jogo da vo ntad e), em vez de cum berlandism o.
O suje ito passivo, no cum berlandism o, cham a-se b nrnam ,
derivado tam bém de um nome próprio. Cf. G rasset, Idées
m édicales, pg. 190.
— 136 —
tros, tentando hipnotizá-la telepaticamente,
através dessa distância. Duas vezes obteve
êxito com pleto; quatro vezes, êxito m édio,
— sim ples sonolência; três vezes, resultado
nulo. (62)
Outros experim entadores conseguiram
hipnotizar sujeitos a dez k ilom etros de dis­
tância.
Mais dificilm ente se transm item ordens
relativas à ação. Esta experiência, — que pou­
cas vezes teve resultado pleno, — consiste em
encerrar o paciente num quarto; estando aí,
incom unicável, o paciente deverá executar
um desenho determ inado, uma casa, um ani­
mal, segundo a ordem que o agente lhe trans­
m itirá de longe, m entalm ente.
Até aqui estam os vendo fatos da telepa­
tia dirigida. O que, porem, torna a telepatia
fato notado por todos, não é a sua produção
experim ental, m as sim a sua espon taneidade.
E ’ fenôm eno espontâneo por excelência. Os
m emhros da Sociedade para Pesquisas P sí­
quicas (S. R. P. R.) relatam núm ero prodi­
gioso de fenóm enos telepáticos, hoje cons­
tantes das atas dessa sociedade, c que podem
ser consultados por todos os interessados.
Aqui se agrupam todo3 os casos trágicos,
os avisos dados por moribundos, ou pelas v i­
tim as de naufrágios e de desastres, a parentes
ou am igos distantes.
Sendo os fenôm enos telepáticos fatos
m ais espontâneos do que experim entais, deles

(G2) I.OEV EN FELD — Sonam bulism o c E spiritism o.


W iesbaden, 1900, ps- 41.
— 137 -

trataremos especialm ente na secção se­


guinte.
Mas, conquanto sejam m ais num erosos os
fatos de natureza espontânea, existe todavia
farto m aterial de experiências cientificam en ­
te verificadas. Recordem os apenas as expe­
riências feitas por R. Fischner e V. Wosie-
leski com a senhorita B. (63 e 64), por A. Cho-
win (65) com a sta. M. Merecem m enciona­
das tambem as experiências de K. Krall (66)
com o leitor de pensam ento N. Ninoff (67) e
G. Geley com Ossowiecki. (68) Muitos ou­
tros autores apresentaram trabalhos sobre es­
te assunto. D eixam os de citá-los por amor à
brevidade.

TELEVISÃO

É a percepção ou conhecim ento supra-


normal de coisas objetivas. Reporta-se, pois,
a objetos reais, colocados fora do sujeito. A te­
levisão é local, se o sujeito vê ao longe, sim ples­
m ente, através de objetos opacos, às escuras,
sem auxílio dos olhos; é a esta televisão que
se costum a dar o nome de clari-vidência. A
televisão se diz temporal quando descobre
acontecim entos futuros, sobretudo trágicos,

(C3) a (04) — U. FISCH N ER — T elep ath ie a n d H elle-


Hchen — Bergm ann, Munique, 1921 — V. von W OSIE-
LEAVSKI — T elep a th ie nnil HelledehCn. E. MARKOLD,
H alle a <1. Saale, 1922.
(05) A. N. CHOWIN — E x p erim en telle U n tersu ­
chungen a u f dem G ebiete dev rncum llehen Hellcoehenu —
R ein h a rd t, M unlque, 1919.
(06) K. KRALL — D en k n e b ertrag u n g bol Blenoeh u.
T ier, Z eitsch rift f. Farnpoyehologle, 152G.
(67) G. GELEY — H elleoehen u nd Tclopnthle. alemfto
de R. L am bert, Union d. V erlags. S t u ttg a r t s 1926.
— 138 —
e chama-se especialm ente vista dupla ou se­
gunda vista.
Tam bem a televisão é frequentem ente es­
pontânea. Os fatos abundam e são inegáveis,
E existem mesmo, no globo, regiões geográ­
ficas, nas quais é frequente esse dom entre
pessoas do povo: tais são, na Europa, a
W estfália, a E scócia e o Tirol. (68) Muitas
previsões feitas por essas pessoas realizaram -
se nas suas linhas gerais. Anunciadas que fo­
ram com m uita antecedência não se podiam
deduzir de causas conhecidas. Os professores
Ch . Richet, francês, e Sidgwick, inglês, fize­
ram experiências em torno da televisão, e
concluíram que ela existe realm ente, posto
que seja m uito irregular. E xperiência notável
foi a de Richet com um sujeito que descreveu
um instrum ento com plicado. — o podômetro,
— escondido no bolso de Richet, e que o su­
jeito nunca tinha visto.
Conhecida é tam bem a segu inte exp e­
riência de Crookes:
U m a s e n h o ra e sta v a e sc rev e n d o com a p ra n c h e ­
ta . C ro o k e s, qu e tin h a a tr á s de si u m n ú m e ro do T i­
m es, p e rg u n to u à d ita s e n h o ra se e la e r a cap az d e le r
o jo r n a l, se m vê-lo. A u m a re sp o sta a fir m a tiv a , C ro o ­
k e s p e d iu q u e lesse a p a la v r a q u e e le c o b ria com o
dedo. D e-v ag a r, e com g r a n d e d ific u ld a d e , sa iu a p a ­
la v ra hovvever ( e n tr e ta n to ) , q u e e ra ju s ta m e n te a p a ­
la v ra c o b e r ta pelo dedo do p ro fe sso r.

À televisão se reduzem os sonhos profé­


ticos. A previsão, quer seja cm sonho quer na

(6S) Cf. ZURBKNSE>T:A S eguuda.V lata. Baden, ColO-


— 13# —

vigília, cham a-se m onição quando é sim u l­


tânea com os acontecim eutos, e prem onição,
quando precede os acontecim entos.
O nosso a m ig o M ngld B n ru c h , d e S. G onçalo do
Sa p u c aí, r e f e r e v á rio s fato s d e m o n iç ão e d e p re m o ­
n iç ã o su c ed id o s em s u a v id a . U m a vez, n o M onte L i-
bano, e sc o n d e ra -s e n u m a g r u ta , d u r a n te h o r ro r o s a
te m p e s ta d e : d e -re p e n te , sem s a b e r p o rq u e, d esco n fio u
do local e reso lv eu c o n tin u a r a v ia g em , a -p e s a r d a c h u ­
v a e d a v e n ta n ia . M as, o m esm o fo i p o r o p é fo ra da
g r u ta e a fa s ta r- s e u m pouco, q u o v ê-la d e sa b a r im e ­
d ia ta m e n te , com o se h o u v e sse u m m o v im en to sism ico
n a m o n ta n h a .

O se g u in te f a to lh e su c e d e u em S. G onçalo, e
v á ria s te s te m u n h a s sã o a in d a v iv as. F o i em 1923. O
sr. M ngid tin h a negócio d e fa z e n d a s e m u m a c asa, à
R u a R u i B a rb o sa, e m o ra v a co m a fa m ília em o u tr a
casa , n a R u a R a im u n d o C o rrê a . U m a n o ite , so n h o u
q uo v ia dois in d iv id u o s ro u b a n d o -lh e o n egócio. V iu
os la d rõ e s d is tin ta m e n te , te n d o n o ta d o a e s ta t u r a , os
sin a is de c ad a u m e a s ro u p a s. Um e ra b ra n c o , e o u ­
tro , n e g ro . À co rd an d o , so b re ss a lta d o , d isse è. e sp o sa:
“ F o m o s ro u b a d o s: vi os la d rõ e s em s o n h o ”.
L ogo d e -n ia n h â cedo, a o ir a te n d e r a u m irm ã o
q ue lh e b a tia á p o rta , o sr. M a g id d isse : “ J á se i o que
vem fa z e r: V ocê vem d a r-m e n o tíc ia d e q u e fo m o s
r o u b ad o s.
‘‘E ’ isto m e sm o ”, — c o n firm o u o irm ã o .
C ie n tific a d a a políc ia , e s ta co m u n ico u o fa to a o s
d e leg a d o s dos m u n ic íp io s v iz in h o s e, d e p o is d e v á ria s
b a tid a s , fo ra m d e sc o b e rto s t p re so s o s d o is la d rõ e s,
se n d o a p re e n d id a s a s m e rc a d o ria s. A p risã o d e u -se no
d is trito de C areassA . O ito ou d ez p esso as, c o n v id ad a s
p e la po lic ia , fo ra m e n c a rr e g a d a s d e e sc o lta r os p r e ­
— 140 —
sos p a ra S. G onçalo. E ’ d e n o ta r q u e , u esse te m p o , co­
mo não lia v ia po líc ia n o s d is trito s , os d e le g a d o s I n ti­
m a v am p o p u la re s p a ra s e rv ire m de so ld a d o s em caso
de n e ce ssid a d e. S ab e n d o d a p risã o do s g a tu n o s , a p o ­
lic ia de S. G ongalo fo i ao e n c o n tro d e les, n a e s tr a d a
de C a ren ssú . F o r c u rio s id a d e , o sr. M a g id q u is a co m ­
p a n h a r os so ld a d o s. U m a h o r a d e p o is, com o a e sco lta
que c o n d u z ia os p re so s j á e ra v is ta a o lo n g e , o sr.
M agid disse p a ra o c o m a n d a n te do d e s ta c a m e n to :
“ Sou capaz de in d ic a r os d o is la d rõ e s e n tre os
h o m e n s d a e s c o lta ”.
D e-fato , q u a n d o a p o líc ia se a p ro x im o u , os la ­
drõ e s e se u s g u a rd a s , (e s te s à p a is a n a ) , e sta v a m a s ­
se n ta d o s a m eio d a e s tr a d a .
“ O sr. M agid v a i in d ic a r-n o s os la d rõ e s " , — d is­
se o c o m a n d a n te .
N ote-so qu e ta n to os la d rõ e s com o os g u a rd a s
e ra m d e sco n h e cid o s de M agid.
E m v is ta d a o rd e m do c o m a n d a n te , o sr. M agid
a p ro x im o u -se e, o lh a n d o p a ra o g ru p o , d is tin g u e lo ­
go um dos p re se n te o d iz:

— “ E s te é o b ra n c o q u e e u v i no so n h o ”.
D epois, a p o n ta n d o u m p r e to :
— “ O n e g ro q u e eu vi é a q u e le ”.
D e-fato, o s do is in d ic ad o s e ra m os la d rõ e s.

O u tro c u rio so caso de m o n ig ão c o n to u -n o s o sr.


M a g id :
U m a vez, c h e g a n d o ao se u n eg ó cio , n o to u f a lta
de u m a caix a de g r a v a ta s c a ra s. O ra, n a p ra ç a f ro n ­
te ir a , e s ta v a a rm a d o u m c irco d e c av a lin h o s, e velo
lo go a M a g id a id é ia de q u e a lg u m e m p re g ad o do c ir­
co lh e h o u v e sse ro u b ad o a m e rc a d o ria .
E ra m seis h o r a s d a ta rd e . Sem to m a r o ch ap é u ,
sem p e d ir lic en g a a o s p r e se n te s, M ag id sa iu a p re ssa d o ,
— 141 —
se m i-in co n c ie n te, com o um so n â m b u lo , d irig iu -se p a ­
r a o c irco, e n tro u p o r ele a d e n tro , foi a té à b a rra q u i-
n h a dos a rtis ta s , to m o u de u m a e sca d a, su sp e n d e u -a ,
s u b iu p o r e la e, e ste n d e n d o o b raç o , e n c o n tro u , a tr á s
de u n s e m b ru lh o s, a c aix a d e g r a v a ta s . D escen d o com
e la n a m âo, e só e n tã o n o ta n d o a p re se n ç a de e s tr a ­
nhos, d isse :
— “A lg u e m tr o u x e e s ta c aix a, p o r e n g a n o do m eu
n egócio. E ’ m in h a ”.
*

À criptestesia reportarem os os estranhos


fenôm enos que se ligam à rabdomância ou
radiestesia. Cham am -se eleclromotores ou
radiestesistas os indivíduos dotados de sensi­
bilidade extraordinária, que, sem au xílio dos
sentidos, percebem a existência dc veios de
água, fontes, jazidas de metais, espaços va­
zios, galerias subterrâneas, etc.
Para suas pesquisas, os rabdom antes ser­
vem -se ora de um pêndulo, ora de um a vari­
nha flexivel, que pode ser m etálica ou de m a­
deira. É a vara divinatória, baguette em fran­
cês, e virga divinatória em latim .
P o i g ra ç a s ao se u d om c rip te sté slc o q u e os r a b ­
d o m a n te s P o . M a rm c t e P e . B a u llt p r e s ta r a m ao g o ­
v e rn o fra n c ê s in e stim á v e l se rv iço , lo c aliza n d o os o b u ­
se s q u e os a lem ã es h a v iam d e ix ad o o c u lto s, n o t e r r e ­
no fra n c ê s, após o a rm istíc io q u e pós fim â G ra n d e
G u e rra . N otem os o u tr o s se rv iço s p r e s ta d o s p o r elec to -
m o to re s c é le b re s:
O p ro f. Bcrit R e e s e d e sco b riu os m a n a n c ia is de
p e tró le o de R ookfcU cr. M. B o u le n g c r, p r o fe sso r b elg a,
d e sco b riu os m a n a n c ia is de á g u a q u e se rv e m o H os­
p ita l B ru g in a n ii, de .T olte-St. P íe r r e . E m ilio Jan.só d e s­
c obriu ja z id a s de p e tró le o n a s p ro p rie d a d e s d a p rin c e ­
— 142 —
s a R a d z iw l » ja z id a s d e c arv ão n a s te r r a s do conde
P o to c k i, n a P o lô n ia.
M o ln e au d e sco b riu m a n a n c ia is d e á g u a a b u n d a n te
com que a c id a d e de T o u lo n , n a F ra n g a , p o d e a u m e n ­
ta r o a b a ste c im e n to p ú b lico . O c o n d e B e au s o lell, a p ri­
sio n a d o n a B a s tilh a e m 164 1 , p o de, g rag a s a s u a v a ­
r in h a m e tá lic a , d e sc o b rir n a F r a n g a 172 ja z id a s de v á ­
rio s m e ta is, a lg u m a s d a s q u a is são e x p lo ra d a s a in d a
ho je . O u tro ra b d o m a n le do sec. X V II, Ja c q u e s A y m u rd ,
fo i tid o p o r feitic e iro p o r c au sa d a s g r a n d e s c o rre n te s
d e á g u a q u e d e sco b riu . (6 9 )

À criptestesia referirem os ainda a psi-


com etria. É a faculdade que tem certas pes­
soas de, vendo um objeto, determ inar-lhe a
história bem com o a de seus possuidores ou
dons.
E xem p lo clássico de p sic o m e tria é o d a S e n h o ra
P lp c r , c u ja s d e m o n stra ç õ e s c o n sta m d e m u ito s v o lu ­
m e s d a S .P .R ., quo podem s e r c o n su lta d o s em se u s
a rq u iv o s .
O P e . G era ld o B i n n c n n d ljk , T e d e n lo rista re s id e n ­
te no B ra sil, m a n d o u p a ra s u a fam ília , em A m ste rd ão ,
um d e n te d e on ç a q u e h a v ia g a n h o em M in as G erais,
e tr o u x e r a consigo d u r a n te m u ito te m p o . U m a psicô-
m e tr a h o la n d e sa , b oa c a tó lic a e a m ig a d a fa m ília do
Pe. G erald o , po d e d e sc re v e r o fisico do s a c e rd o te , d a r
a lg u m a s d a s su a s q u a lid a d e s m o ra is, e re c o n s titu ir
m u ita s de su a s v ia g e n s m is sio n á ria s, peio só r e c u r ­
so d e s e g u ra r n a m ão o d e n te d e o n ç a e, de o lh o s fe­
c h ad o s, c o n c e n tra r o p e n sa m e n to n a pe sso a q u e po s­
s u ír a ta l o b je to .
N. B. — A te le p a tia ta m b em se m a n if e s ta so b fo r­
m a d a tra n s m is s ã o de p e n sa m e n to s e d e te lev isão .

(69) Dr. POÓDT. — Loh fcnOracno* m isterioso s dei


psiquism o. T raduzido do holandês de Joaquim F u ster. B a r­
celona. Sucessores de Ju a n Gili, 1930.
— 143 —
Um exem plo d e s ta lê-se n a o b r a d e T h o m so n J a g H u -
d lso n , “ A le i d o s fenC m eu o s p síq u ic o s” . O a u to r o u ­
v iu , um d ia , de u ra m é d iu m , a d e scriç ão q u e fiz e ra d a
oc u p aç ão de u m a x a m ln a d o r, no d e p a r ta m e n to d e p a ­
te n te s d os E sta d o s-U n id o s. M é d iu m e e x a m in a d o r n u n ­
ca se tin h a m v isto . F o i em se ssão .
Os m e m b ro s d a r e u n iã o , e n tre os q u a is o p ró ­
p rio H u d iso n , in tro d u z ira m -se com n o in e s su p o sto s , e
f a la r a m com o m é d iu m so b re h ip n o tism o a té q u e se e s­
ta b e le c e ra m " c o n d iç õ es h a rm ô n ic a s ”. O m é d iu m , e n ­
tã o , c om eçou:
"V e jo um g r a n d e e d ifício , com m u ito s q u a rto s .
N um d e le s fica um s e n h o r, a sse n ta d o ju n to a u m a
g ra n d e c a r te ira , em q u e h á g r a n d e p a p e la d a . V ejo d e ­
se n h o s, a o q u e p a re ce , de m á q u in a s , e ste n d id o s em
c im a d a c a r te ira , o su sp e ito q u e se tr a t e d e p a te n ­
te s" .
A u m a o b se rv a çã o dos a s s is te n te s so b re a e x a ti­
dão de su a s in fo rm a ç õ e s, o m é d iu m a c re sc e n to u :
, " M as nã o é a ú n ic a o c u p aç ão do s e n h o r q u e eu
vejo. E i-lo a g o ra no se u e s c r itó r io , em c asa, ro d ea d o
de m a n u sc rito s e liv ro s. P a re c e e screv e r. Sim , e screv e
u m liv r o ”.
D ep ois disso, descrev e u os m oveis, a s e s ta n te s de
liv ro s e o s m oveis do e sc ritó rio .

E ntende-se por transmissão de pensamen­


to a faculdade de descrever o que se passa na
m ente de outra pessoa, sem auxilio dos or-
gãos corpóreos conhecidos. Assaz notório
é o caso de Ludovico de Angers, exposto por
Mons. Albert Farge, em sua obra Phénomèncs
Mystiques.
L udovico, filh o do D r. X ., tin h a a fa c u ld a d e d e
le r os p e n sa m e n to s do s u a m ã e, e e sta p o d ia s u g e rir-
lh e r e sp o sta s á3 m a is v a ria d a s p e rg u n ta s . L u d o v ico ,
— 144 —
tin h a a p e n a s se te a n o s. E r e sp o n d ia e x a ta m e n te a to ­
d a s a s q u e stõ e s , de sd e q u e e sta s fo ssem c o n h ec id as de
su a m ã e. A m ã e s u g e ria a L u d o v ico , com o p e n sa ­
m e n to e se m co n cu rso d a voz o u dos o u tr o s se n tid o s,
a re s p o s ta q u e ele c icria d a r à s p e rg u n ta s fe ita s. E r a
o filh o q u e p a re c ia le r o p e n sa m e n to de s u a m ã e e não
e sta a do filh e . O u tr a s v ezes a m ã e a b ria um liv ro ,
ta p a v a coin o d edo u m a p a la v r a o u ura a lg a rism o , e a
re s p o s ta e ra in v a ria v e lm e n te c e rta . A la rm a d o com o
fen ô m e n o o te m en d o qu e seu fiih o , d evid o a e ssa p a s­
siv id a d e n a tiv a , se 1 am asse im b e cil, o p ai se a p re sso u
em s e p a r a r o filh o d e s u a m ã e. D esd e e n tã o o fen ô ­
m eno cessou d e p ro d u z ir-se . (7 0 )

D iferente da transm issão de pensam ento


é a leitu ra m uscular, feita pelos m úsculos, e
exibida às vezes em sessões públicas. Uma
p essoa diz os pensam entos de outra, seguran­
do-lhe o pulso ou tocando-lhe em algum
membro.

Para chegarm os a m elhor discernir quais


os fenôm enos da criptcstesia que excedem as
forças hum anas, reduzim os a questão a 4 per­
guntas e respectivas respostas.
1.® P E R G U N T A : — B asta, para a aquisi­
ção d e sem elh antes conhecim en tos, um au­
m en to an orm al d as funções das faculdades
cognoscitivas atuais, ou são necessárias ou­
tras facu ldades especificam en te n ovas?
E ’ fato que a cham ada clarividên cia en­
contra sua próxim a explicação numa ativida­
de sensória extraordinária, excitada, aguça­
da e anorm alm ente desenvolvida.
(70) Apud Dl'. POODT, ibidimi, pg. 205-20G.
— 145 —
E ’ conhecido o aum ento da percepção
sensitiva, quer por dom natural, quer por
exercício continuo, ou pela concorrência de vá­
rias circunstâncias exteriores. O sentido da
vista e o do olfato são naturalm ente desenvol­
vidos em m uitos anim ais. Adm iram os o tacto
m aravilhoso de m uitos cegos, o qual pode
quase suprir a falta da vista. Por encurta­
m ento hipnótico do cam po da conciência, é
p ossivel m ultiplicar esses resultados estupen­
dos, desconhecidos no estado norm al. Quan­
do, pois, um médium vidente pretende ver
fantasm as que, nos prim eiros m om entos, nin­
guém pode ver ainda, m as que, logo depois,
são distintam ente vistos por todos os assisten­
tes, temos então, em sem elhante clarividência,
apenas um caso de hiperestesia. Trata-se da
promoção da linha percepliva, ou da divisa
seusóría.

2." P E R G U N T A : — Podem talvez todos,


ou quase todos os casos de criptestesia, ser
reduzidos a semelhante acuidade das facul­
dades sensitivas comuns?

Alguns investigadores parecem sim pati­


zar com este m odo de explicar os fenôm enos.
Assim, por exem plo: A. N. Couvin (71) e Ch.
Richet (72). O últim o pretende explicar to­
da espécie de clarividência por uma extraor­
dinária hiperestesia do tacto. No entanto,
concede, francam ente, que sua opinião apre-

(71) E r n e r lm c n ld le U nter*uchun,ruiiK en, pc;. 31.


(73) RICH ET — Grundrliui d e r ParnpMycliolOKic der
Parnpsyohophyfiik, pgr. 147. — G. G1CLEY — H cllexehcn-
TeleplnsM k, pg. 72.
— 146 —
senta falhas. E ’ uma hipótese provisória. 0
médium seria determ inado para a clarividên­
cia por finas vibrações. Esta hipótese encer­
ra vários elem entos:
a) Admite a existência de certas vibra­
ções que partem das coisas anim adas ou ina­
nim adas, e determ inam o conhecim ento ou a
visão supranorm al. Seria o caso dos raios vi­
tais (O d), ou das vibrações cerebrais ou ner­
vosas.
b) O orgão receptor dessas vibrações é
o orgão do tacto com um , em bora m uito aper­
feiçoado ou excitado.
A essa explicação da criptestesia opõem-
se insuperáveis dificuldades. Alem das pou­
cas m atérias rádio-ativas, a ciência natural
conhece ainda irradiações electrom agnéticas
e as de luz e calor, em itidas por coisas inani­
madas. N ão está dem onstrada a existência de
outras irradiações, espontâneas e sutis, n e­
cessárias na hipótese dc Richet. Permanece,
porem , uma certa possibilidade de virem a
ser descobertas no futuro. Não demonstram
os constantes resultados, já mencionados,
com a bagueta mágica c o pêndulo, a proba-
bilissima existência de emanações ou irradia­
ções desconhecidas, seja no observador, seja
nos objetos visados?
Mas, ainda supondo a existência de vibra­
ções sutis, m esm o assim terem os adquirido
o conhecim ento apenas de uma pequena par­
te dos próprios fenôm enos de clarividência.
Quem poderá, com éfêito, aceitar essa expli­
cação, no caso em que um clarividente consiga
descobrir, com sua faculdade, o conteúdo de
— 147 —
um grosso tubo de chumbo, fechado à solda,
com o o conseguiu, deTato, O ssoviecki? (73).
Mais im provável ainda é a hipótese de
irradiações, quando provas, escritas à mão,
são várias vezes dobradas ou enroladas e o
resultado se obtem da m esm a m aneira. (74)
E quanto à visão real do passado ou do futu­
ro, de nenhum modo d p ossivel, por m eio de
raios em itidos pelas coisas vistas, a não ser
que se arquitetem teorias inadm issíveis sobre
a realidade do tempo.
Menos absurda parece a hipótese de “On­
das cerebrais”.
Todas as operações psíquicas são acom ­
panhadas de especiais processos no cérebro
e no sistem a nervoso. E* bem p ossivel que es­
tes processos sejam físico-quím icos e que,
sob certas condições, possam ser irradiados
num m édium predisposto. Sem elhante opi­
nião parece ter encontrado recentem ente a
confirm ação experim ental direta. No 1.° e
2.° cadernos (1926) da “Zeitschrift fuer Pa­
rapsychologie”, F. Cassamalli, professor da
Universidade de Milão, refere-se à ação de
ondas cerebrais em fenôm enos lelepsíquicos.
Suas experiências, porem , não encontraram
aplauso, conform e se vê de uma exposição
critica de R. Fischner (75) na m esm a revista
(4 e 10). Contra a teoria de ondas telepáticas
— 148 —

levantaram-se dificuldades muito sérias. H.


Driesch (76), por exem plo, observa: se a co­
m unicação telepática se fizesse pelo m odo de
em issor e receptor de ondas, o estado m en­
tal do receptor deveria ser idêntico ao
do em issor, o que em absoluto não acon­
tece. Um hom em em perigo de m orte, pensa
"ier. Esta, no m esm o m om ento,
nte a im agem do m arido, mas
lecim ento algum das idéias que
> o agitam.
Seja como for, o que ficou exposto acon-
' i dar simples analogias como ex-
ü íficas de valor. Mas nem por is-
icusar à teoria de ondas todo va­
lor explicativo.
Que se liá-de entender do “ tacto” de que
faja Richet?
A nosso ver nem o tacto com um , por de­
senvolvido e excitado que seja, dá explicação
nceitavel. O próprio Richet tira-lhe o sentido
geral. D iz ele:
“ No m a is, dev em o s e n te n d e r-n o s so b re a p a la v ra
i é tã o fu n d a m e n ta lm e n te
u e p a re c e m esm o s e r um
. 7 3 ) . T ra ta -s e , pois, a q u i
sta d o n o rm a l, n ã o e x iste,
tão f a n tá s tic a é in ú ti l” .

m suma, se há quase só probabilidades


í existem ondas em itidas por certos ob-
— M9 —
jetos, e que possam im pressionar alguns indi­
víduos, é m ais razoavel recorrer à hipereste-
sia para explicar os casos de telepatia. Assim,
teriam os m écliuns o sensório bastante sen sí­
vel para os casos mais sim ples de criptestesia,
m as não para casos transcen den tais.
3.» P E R G U N T A : — Qual a relação da te­
lepatia com a televisão? P oderá um a redu zir-
se à outra?
D e-fato, isso acontece m uitas vezes. 0 di­
retor das experiências ou outras pessoas ne­
las participantes conhecem quase sem pre o
conteúdo de envoltórios fechados, ou de car­
tas; conhecem tam bém m ais ou m enos a pre-
história dos objetos apresentados fora ou den­
tro de en voltórios. Clarividência e psicom e-
tria explicam -se, em sem elhante caso, por
uma transm issão telepática de pensam entos.
Ainda m a is : para que esta se realize, nem p a­
rece absolutam ente necessário que o experi­
mentador, ou os participantes, estejam real­
m ente cientes desses conhecim entos. O viden ­
te pode tambem “ler” no subconciente. N es­
tes casos tem os apenas clarividência aparen­
te ou psicom etria aparente. O m édiu m entra
com os seus consulèntes ou correligionários cm
contacto aním ico, e participa, assim , de al­
gum m odo, de suas esperanças, apreensões e
suspeitas acerca do futuro. Por isso a pergun­
ta acim a se reduz à seguinte:
4.* P E R G U N T A : — Serve a telepatia co­
m o explicação universal p a ta todas as espé­
cies de criptestesia?
— 150 —

A grande m aioria dos investigadores res­


ponde negativam ente e com plena razão. Em
todo caso. nunca direm os que há aqui verda­
deira profecia. Adem ais, os fatos psicom étri-
cos de Mrs. P ip er e O sson viecki são tão estu­
pendos, que só hipóteses fantásticas podem
querer explicá-los pela telepatia. Sem elhante
tentativa encontra-se, por exem plo, com
B aern w ald (78). Segundo esse autor, um te­
lepata pode tirar, do subconciente alheio, con­
teúdos que nunca foram concientes. Absurdo
manifesto.
Esta hipótese tenta desvirtuar as tentati­
vas, sobre clarividência, de W asileneski, Ri-
chel e Geley. (79)
Sem elhante subconciência é, a nosso ver,
mera fantasia — Indem onstrada e indem ons-
travel. Ao lado de uma hiperestesia larga, ex ­
tensa, serve, apenas, a quem pretende negar o
“m aravilh oso” ou o preternatural dos fenô­
menos. Sua base é fraquissim a. Outros adm i­
tem que o m édium fiq ue em relação telepáti­
ca com todos os contem porâneos vivos, a-pe-
sar da distância. F. K. O esterreich parece sim ­
patizar estranham ente com sem elhantes idéias
extravagantes. Vai m ais adiante. F ala de
uma “ tradição telepática”, continua, desde a
origem da hum anidade. As perspectivas se­
riam então m agníficas. “Um m édium perfeito
poderia referir-nos os acontecim entos de
Rham sés ou de Alexandre. Poderia ser teste-

(78) H. BAISRNWAJLD — Dlc In tellck tn ellen PJineno-


mene. D er Okknltlnm un In U rkm iden II. U istein, Berlin,
1925.
(79) Id., Ibidem . PB- 194.
— 151 —
m unha espiritual da construção das pirâm i­
des e da querela dc Júpiter Amon, e a histó­
ria teria contacto im ediato com o passado, des­
pertando, os grandes médiuns, nas alm as dos
hom ens, os traços dos tem pos idos. Que pers­
pectiva! Supor que um a pessoa abism ada, em
transe, possa descrever-nos a batalha de Ma­
ratona, ou o julgam ento de Sócrates!. . . E se
um médium se m ostrasse capaz de fazer m ais
ainda, descrever os acontecim entos ante­
riores à história hum ana? Se nos revelasse
todo o passado? 0 pensam ento é fantástico,
m as não sabem os onde fica o lim ite da^psi-
com etria”. (80) Até aqui Oesterreich.
Dc-fato, sem elhantes pensam entos são ad­
miráveis, m as não p assam de rom ance, as­
sim como romance e fantasia será sempre a
telepatia universal.
Outra h ipótese para explicar a psicome-
tria: é a de “ sopro v ita l”. Os objetos h istóri­
cos ficam penetrados de influência e, por
elas, a m ente do médium se orienta, com o o
cão pelo faro. Há ainda a das “qualidades
psíq u icas” (A ura), invisíveis aos mortais
comuns, mas que envolvem todos os objetos.
Por últim o, a teoria das “Remanescências da
memória", à qual se deve reduzir, conform e
alguns, a continuação da existência de perso­
nalidades psíquicas.

(80) T. K. O ESTERREICH — D er O kkulílsmuB Im


M odernen W eltbild, Slbyllen-V erlng. D resda, 1028, p*. 81.
- 152 —

Art. II.

FENÔMENOS PARAFÍSICOS
DE TELECINÉSIA E DE TELEPLASTICA.

Quais as hipóteses que se nos apresentam


para explicar fenôm enos tão estupendos que
se realizam a-pesar-de inúm eras d ificul­
dades?
Com ecemos pelos “ transportes”, m uitas
vezes verificados cientificam ente, não por
m eio de prestidigitação, pois os m édiuns es­
tavam im obilizados. Como se explica que de­
sapareça, de-repente, por exem plo, o relógio
do bolso e dai a poucos segundos desça do
teto, pelo ar? Várias hipóteses explicativas
foram excogiladas, que nos colocam no m eio
das questões m ais d ificeis da ciência natural.
M encionemos algum as.
1.° — A hipótese da 4.a dim ensão local,
segundo Zoeln er;
2.° — Desm aterialização e im ediata m a­
terialização do objeto transportado;
3.° — Tudo isso com ou sem form ação
de orgãos m ediú nicos para efetuar o serviço.
Quanto à hipótese de Zoelner, pai-ece
absurdo que, ao lado das três dim ensões lo­
cais, acessíveis aos m ortais com uns, possa
existir uma quarta, na qual sejam introdu­
zidos, por m om entos, certos objetos, tirados
até de recintos inteiram ente fechados. Com is­
so seria explicada a com penetração que, não
raro, anda de-par com fenôm enos de trans-
porles. Mas nem toda possibilidade se pod#
taxar de hipótese científica; esta exige tam­
bém algum a confirm ação na experiência. Im a­
ginada, porem , com o essa foi, especialm ente
para explicar transportes, não tem base al­
gum a na realidade, e não encontra, hoje-em -
dia, senão poucos partidários.
A 2." explicação, peio processo d e m a te­
rialização, conta presentem ente com m ais
adeptos; m as oferece m aiores dificuldades
ainda. O objeto deve ser desm aterializado, is­
to é, reduzido aos seus elem entos primários
(átom os etéreos), ser levado neste estado, in ­
visivelm ente, para certo lugar, c aí ser ins­
tantaneam ente rem aterializado, isto é, re­
constituído no prim itivo estado quím ico-fisi-
co. Quase nada destas ousadas afirm ações é
com preensível ou aceitavel para um químico
ou físico. Essas “ p rofundas” análises e sínte­
ses deveriam produzir, de acordo com as ho­
diernas opiniões teóricas sobre átom os, pro­
cessos m onstruosos de energia, em com para­
ção com os quais até os estupendos processos
rádio-ativos seriam brinquedos de crianças.
N ada disso, entretanto, existe.
A única coisa que se sente no local on­
de se efetuam esses fenôm enos é a im ponde­
rável “ Corrente fr ia ”, conhecida pelos fre­
quentadores de sessões experim entais, e, cm
consequência desse frio, o abaixam ento da
temperatura ambiente.
Mencionemos ainda um terceiro ponto.
Quando o m édiu m realiza um transporte, fá-
lo, quer pela energia espiritual da sua vonta­
de,. sem instrum ento algum , quer mediante
orgão m aterial. A prim eira suposição é ex-
— 154 —

tremam entc inverossím il e, presentemente,


não a defende conhecedor algum desta m até­
ria. A últim a exige m aterialização de orgãos
do médium, seguida de im ediata desm ateria­
lização dos m esm os, processo esse que, por
inverossím il que pareça à prim eira vista, é
menos absurdo do que o prim eiro, com o ve­
remos adiante, nas reflexões psicológicas que
seguem . Entretanto, nem a últim a suposição
traz, para o nosso caso, explicação satisfató­
ria. Que adianta a form ação de orgãos me-
diúnicos, quando são trazidos os objetos de
uma distância de cem m etros e m ais, ou até
de m ilhares de quilôm etros? Vê-se que um
problem a escuro acarreta outro ainda mais
escuro. A questão das ações à distância ou te-
lecin ésia sugere quase as m esm as hipóteses
ora ventiladas. De alguns destes fenôm enos,
em particular, falarem os adiante. CONCLUÍ­
MOS : Fenômenos parafísicos distinguem-se
dos fisicos normais não porque a alma do
médium opera diretamente em duas; maté­
rias ( dentro e fora do organismo vivo ), mas
porque exerce diretamente, na mesma ma­
téria, diversas influências. N o médium efetua-
se, sob a direção de qualquer principio inteli­
gente, uma transformação carateristica de
sua substância orgânica.
Eis ai realidades estupendas do ocultis­
mo e do espiritism o que se apresentam ao nos­
so exam e, para que lhes indaguem os e estabele­
çam os a causa ou as causas. Trata-se, repeti­
m os, de saber, se os fenf nenos parafísicos
são produzidos só pelo médium, auxiliado ou
não, por outras pessoas, ou se excedem todas
— 155 —
as forças hum anas, de m odo que sua causa
eficiente deva ser uma entidade inteligente
colocada fora do mundo visivel.
E aqui chegam os aos dois sistem as ge­
rais em matéria de interpretação dos fenôm e­
nos: METAPSÍQU1CA e ESPIRITISMO.
A M etapsíquica quer explicar todos os fe­
nôm enos pelo ANIMISMO, isto é, pelo concur­
so das forças naturais.
O Espiritism o, ao contrário, quer expli­
cá-los todos pelas COMUNICAÇÕES, isto é,
pela intervenção de espíritos do OUTRO
MUNDO, os quais, devidam ente evocados, se
com unicam com os homens.
Os espiritos seriam a causa única ou
principal, e operariam ou sós, ou em conjun­
to com o m édiu m , sendo eles, neste caso, os
agentes principais, e o m édiu m a causa ins­
trumental.
Assim sendo, poderia o Anim ism o ^er
cham ado “teoria im anente", e o espiritism o,
“ teoria transcendental”.
A diferença entre um e outro sistem a é
sim plesm ente a que há entre a explicação na­
tural e a pretexmatural.
Para chegarm os a uma solução, faz-se
m ister sujeitem os as teorias, representadas ca­
da uma por cientistas notáveis, a um exam e
m etódico. Neste capitulo falarem os da pri­
meira, isto é, do anim ism o.
Segundo essa teoria, o m édium efetua, so­
zinho, em transe e subconcientem ente, a m is­
teriosa transform ação da sua matéria corpo­
ral, exterioriza-a, form a mem bros m om en­
tâneos e até fantasm as, e os reabsorve fin al­
mente no corpo.
O anim ism o pretende estribar-se nestes
fatos:
1.° - O pequeno raio de ação da energia
m ediúnica.
2.° - O enorm e esforço fisico do médium,
durante as produções, m ovim ento sincrônico
dos m úsculos do médium durante os fenôm e­
nos telecinéticos, desaparecim ento aparente
ou real da matéria corporal, paralisação m us­
cular.
3.° - Em conexão com isto, forte m odifi­
cação do peso próprio, nos fenôm enos teleci­
néticos e fantasm agóricos.
Eis aí os m otivos pelos quais os autores
do anim ism o pretendem provar ser o m édium
a causa eficiente dos fenôm en os experim en­
tais.
Espantosa pobreza de argumentos! Que
c que dem onstram os m otivos enum erados?
A penas que, em m uitos casos, os fenôm enos
ocultos dependem do médium, no que esta­
mos de acordo. Mas demonstram eles, com a
mesm a certeza, que a força natural do mé­
dium é a causa única dos fenôm enos? Certa­
m ente que não.
Com sem elhantes argumentos, ambas as
teorias, anim ism o e espiritism o, ficam longe
de resolver o problem a da causalidade. Sem
dúvida, devemos encarar sempre, com sim­
patia, uma explicação natural, moderada, que
rejeita a intromissão de causas super-huma-
nas, quando bastam as já conhecidas e apon­
tadas.
— 157 —
Para, enfim , chegarm os a um resulta­
do bem fundado, devem os, antes de tudo,
atender a duas coisas. Em prim eiro lugar, não
se liá-de separar uma parte pequena do m ate­
rial de fatos, para form ar com eles uma teo­
ria. E ’ preciso, na investigação, atender ao
com plexo inteiro dos fatos. Quem fizesse o
co n tr á rio , assem elhar-se-ia a um investiga­
dor que se esforça por estabelecer a diferen­
ça entre o anim ado e o inanim ado, restringin­
do, porem, a sua indagação às bactérias pri­
m itivas, que só podem ser exam inadas por
meio dos m ais perfeitos m icroscópios.
Em segundo lugar, deve-se com eçar com
uma categoria de fenôm enos, cuja explicação
não encontra dificuldade e está garantida de-
antem ão. Partindo desta base certa, pode-se
subir, como por degraus, para os fenôm enos
claros.

Art. III.

FENÔMENOS ESPONTÂNEOS

Como já vim os, na parte dos respectivos


relatórios, existem duas categorias destes fe ­
nôm enos: Uma, a dos ligados a lugares; e
outra, a dos que se ligam a pessoas. Esta è
tratada com os dem ais casos m ediúnicos, por­
que nela entra um m édiu m , embora inteira­
m ente passivo, ou mais passivo do que ativo.
Serve de transição entre os fenôm enos
espontâneos c os experim entais.
Da categoria dos fenôm enos pro p ria m e n ­
te espon tâneos é preciso dizer, desde já, que
— 158 —
nela falh a com pletam ente a teoria do Ani­
m ism o, visto com o aqui não existe m édiu m
algum.
Mas de sua existência dão testem unho
centenas de fatos bem averiguados e incon­
testáveis, com o provam os respectivos rela­
tórios da S. P. R., as coleções de E. B ozzam o
(81), Dr. G vabinski (82) J. llleij, (83). R.
L am bert (84), M. K em m erich e outras, (85).
t Em determ inados casos pode-se, incon­
testavelm ente, provar que os fenôm enos de
objetos inanim ados, form ação de fantasm as,
vozes m isteriosas, foram verificados durante
m uitos decênios, no m esm o lugar, do mesm o
m odo característico, a-pesar das diversas
pessoas que sc sucederam nesses lugares. Pa­
rece, portanto, de-antem ão, excluida toda coo­
p eração m edial, a não ser que se arquitetem
hipóteses fantásticas, como seria supor exis­
tirem m édiu ns que, durante 70 anos e mais.
p roduzissem os m esm os fenôm enos, no m es­
m o lugar, de uma distância de m uitos quilô­
m etros. H ipótese até inutil, porque lugares
houve onde os fenôm enos continuavam du­
rante vários séculos.
P ara explicação destes casos, apresen­
tam -se algum as hipóteses m uito interessan­
tes, não porque nos levem à solução, m as uni-

(Sl) E. BOZZANO — Le« phénom ènes de H nntlse —


Alcan., Pai ls, 1920.
(82) BR. BRABINSKI — Spuk-GclHterscbelnunK. H il­
desheim , 1922.
(83) J. ILLE Y — E w ig es Schw elgen? — Union D eu ts­
che V erlagsges. S tu ttg a rt, 1924.
(84) R. LAMBERT — Spnk, Gepennter, A pportpliiieuo.
mene. Pyrnm idenverl, Berllm , 1923.
(Su) M. KEMMERICH — Gepenuter. Spuk. L udw lgs-
tanfen, 1921.
— 159 —
cam ente por sua originalidade. Dedicar-lhe-
em os poucas palavras a m odo de refutação.
Vem prim eiro a hipótese de Podmore,
um dos chefes da S. P. R.
0 expectro de um m orto seria projetado,
telepaticam ente, por um contem porâneo seu,
ainda vivo, para o lugar onde aparece ou pa­
ra o lugar em que viveu.
Sem elhante fantasia é contra a regra fu n ­
dam ental de telepatia, segundo a qual toda
pessoa só pode projetar, telepaticam ente, a
sua própria im agem , e não a de outrem.
A segunda hipótese é a fonográfica.
Os seculares acontecim entos ficariam im ­
pressos, como num a chapa fotográfica ou fo ­
nográfica, nas paredes e m obílias das ca­
sas onde se deram, reproduzindo, em
dadas ocasiões, os barulhos e espantalhos,
com o se aí estivesse fuiicionando um fon ó­
grafo ou uma lanterna-m ágica. que projetas­
se fantasm as, visiveis ou invisíveis. Vivos ou
inanim ados, esses fan.tasmas causariam toda
sorte de espantos, m aldadcs e desordens.
Mais absurdas são a hipótese psicom étri-
ca e a biom agnética. São fantásticas em de­
m asia. Não m erecem discussão.
Do que acim a expusem os, resulta eviden-
m ente: o princípio dirigente dos fenômenos
espontâneos locais não é a mente de um mé­
dium vivo.

l3 to m a is e v id e n te se to r n a , q u a n d o a s a p a riç õ e s
m a n ife sta m te n d ê n c ia p e rse g u id o ra ou d e s tr u id o ra .
P e lo s r e la tó r io s c itad o s , co n h ec em o s o caso d e O els
(S ilé sia ) do an o de 1 916. O a lv o d a p e rse g u iç ã o e ra m
— 160 —
d u a s f ilh a s do o le iro F e n s c k e ; e tã o p e rs is te n te se to r ­
n o u , q u e a s p o b res m e n in a s , d e e sp a n to , se r e f u g ia ­
v a m o r a n u m q u a rto , o r a em o u tr o . O a co n te cim en to
se T ep e rcu te n o tr ib u n a l, o n d e F c n s c k e e x ig iu a d ev o ­
lu ç ão do a lu g u e l pago a d ia n ta d a m e n te , re tira n d o -s e
im e d ia ta m e n te da c asa . Q uem ir ia su p o r q u e a m b as
e ssa s c ria n ç a s tiv e sse m p e rse g u id o , c ru e lm e n te , a si
p ró p ria s, d u r a n te um m ês, p e la in fe liz " d e s c a r g a '’ de
se u su b c o n c ie n te ? !
M ais f a n tá s tic a a in d a se to r n a a e x p lica çã o an i-
m is ta , q u a n d o in im iza d es d e g e n e ra m em d istú rb io s
com o v en te s, com o, p. ex:, em G ro s sc rla g C W uertem -
b c rg ) , n a casa da s ra . K lc in k n c c h t, m a io d e 191G. Sem
q u e se p u d e sse v e rif ic a r q u a lq u e r lig a çã o com p esso a
a li p re se n te , o d u e n d e tra n s fo r m o u e d e v a sto u tu d o ,
deix an d o só r u in a s e d eso laç ão . P o d e r ia o su b c o n cie n ­
te de a lg u m m é d iu m desco n h e cid o c a u s a r ta n to s e s tr a ­
gos, c h e g a n d o a té a a r r a n c a r a s p o r ta s do s go n zo s e
a tir á - la s em c im a do s d e stro ç o s? !

E para continuar nos absurdos, seria pos­


sível ao subconciente incendiar objetos, dei­
xar a im pressão de mão incandescente, em
pano, madeira e até m etal? A teoria de sub­
conciente tem, de-certo, direito na explicação
dos fenôm enos aním icos. A-m iude, porem , é
um “R efu gium ign oran tiae”, que só serve pa­
ra encobrir ignorância, cepticism o e m á von­
tade de conhecer a verdade. N ada m ais ridí­
culo do que explicar pelo subconciente sem e­
lhantes fenôm enos. O próprio Schren k-N ot-
zing, anim ista entusiasta, se vê forçado a con­
fessar :

“ E m v is ta d a a n á lis e c o m p arattV ft do m a te r ia l
a té lio je a d q u irid o , deve-se c o n ce d er q u e o m é to d o ex-
— 161 —
p lic atlv o a n im ls la só é su f ic ie n te p a ra d e te rm in a d o s
c asos, niio se n d o de n e n h u m m odo a p lic a r e i a n u m e ­
ro so s o u tr o s " .

Já podem os concluir, sem m ais delongas,


que a explicação razoavel. pelo m enos desta
categoria de fenôm enos, não se pode deduzir
da alma hum ana ou do seu subconciente. Por
isso, somos forçados a concluir que semelhan­
tes fenômenos excedem as forças humanas
Eis aí o eixo da nossa tese. Da com para­
ção dos fenôm enos supranorm ais, pelo m e­
nos físicos, com os espontâneos, é que have-
m os-de concluir para a natureza íntim a de
todos eles! Se os fenômenos supranormais es­
pontâneos são preternaturais, e transcenden­
tais, tambem o hão-de ser os fenômenos su­
pranormais fisicos. Porque a analogia entre
uns e outros é flagrante.
Num caso com o no outro, há o apareci­
m ento de diversos fenôm enos de sonidos, o
espontâneo m ovim ento de objetos inanim a­
dos, a característica correnteza de ar frio no
inicio dos fenôm enos, a sensação de toque
por membros invisíveis e certos fenôm enos
luzentes.
S em elhantem ente, observa-se que a m eia-
escuridão ou a pouca luz favorece os fenôm e­
nos de ambas as categorias. Tam bem os fe­
n ôm enos experim entais fantasm agóricos (por
exem plo, os de Maria Silberl) oferecem com
os fenôm enos espontâneos perfeita analogia.
Schrçnk-Notzing chega ao m esm o resul­
tado quando escreve:
— 162 —
“ Do to d a p a rte vem o s os m e sm o s fen ô m e n o s d©
m o v im en to , com o p u d e ra m s e r o b se rv a d o s em D ie tc rs
h e im , a in d a que em fo rm a p r o p o rc io n a lm e n te fra ca .
E ste s são fen ô m e n o s d a m e sm a n a tu re z a q u e o s v e ri­
fic a d o s com os m e n cio n a d o s m é d iu n s: n u m caso, m a ­
n ife s ta m -se q u a se se m p re em p re se n ç a de p esso as m e­
d ia is; n o o u tro , são p ro v o ca d o s, a rtific ia lm e n te , n a s
e x p e riê n c ia s com e ssa s p e s s o a s ”. ( 8 6 ) .

E m vista de tão perfeita sem elhança de


efeitos, não é çazoavel se conclua que as cau­
sas são as m esm as? Pois bem :
E feitos iguais só podem provir de uma
causa eficiente comum. Ora, vim os que só
duas fontes de causas são apresentadas para
a explicação dos fenôm enos:
O A nim ism o, que os atribue a forças na­
turais, conhecidas umas, desconhecidas ou­
tras:
O Espiritism o, que os atribue à inter­
venção de espiritos. Ora, Os fenôm enos es­
pon tân eos não podem ser explicados pelo Ani­
m ism o. Mas os fenôm enos experim entais ou
provocados tem a m esm a natureza que aque­
les. Logo os fenôm enos experim entais, quer
parafísicos quer parapsiquicos, não podem
ser explicados pelo anim ism o, isto é, pelas
forças naturais.
Resta, pois, que o sejam p ela intervenção
de espiritos.
E starem os, pois, de acordo com a teoria
do espiritism o? Em parte, som ente. Convi­
m os em que ha fenôm enos produzidos por

(86) Cf. Paych. Studlen, 1921, pg. 257.


— 163 —
espíritos, m as não adm itim os que esses espí­
ritos sejam as alm as dos desencarnados. É o
que provarem os em seguida.

B — SEGUNDO PONTO

OS FENÓMENOS SUPRANORMAIS
NÃO SÃO PRODUZIDOS PELOS
DESENCARNADOS

Estado da questão.

Como argum entam os com os espiritas,


som os obrigados a servir-nos de termos de
sua doutrina. Assim, deve o leitor saber que
eles cham am desencarnados àqueles que já
morreram. A alma, uma vez desencarnada,
— ou se reencarna, indo habitar em outro
corpo, na Terra ou em outros planetas, — ou
fica em estado de erraticidade. E ste estado
de erraticidade é o a que outros escritores
cham am de sobrevivência ou sobre-vida. A
alm a desencarnada tem o nom e de espirito.
N a teoria espirita, os desencarnados é
que são a causa dos fenôm enos ocultos. Daí
o enunciado de nossa tese.
Para provarm os que OS FENÔMENOS
NÃO SÃO PRODUZIDOS PELOS DESEN­
CARNADOS, servim o-nos de duas espécies de
provas: uma, m inistrada pela D outrina Ca­
tólica; outra, pela Doutrina dos próprios es­
piritas.
— 164 —

I. — PELA DOUTRINA CATÓLICA.

a) PELA FILOSOFIA.
A alm a e o corpo form am um só indiví­
duo; assim com o o corpo precisa da alm a, —
anima, — para ser m atéria viva ou animada,
assim a alm a precisa do corpo para adquirir
conhecim entos das coisas. A ciência hum ana,
pois, só tem duas origens naturais: sentidos
orgânicos e raciocínio. Todo o conhecim ento
que a alma possa ter das coisas ou foi adqui­
rido por m eio dos sentidos naturais, ou foi
deduzido de outros conhecim entos. Mas estes,
cm últim a análise, tambem lhe vieram pelos
sentidos do corpo. N ão há outra fon te natu­
ral de conhecim entos. É vendo uma áruore,
é tocando uma pedra, m esm o sem vê-la, isto
é, é pondo em função um dos cinco sentidos,
que eu tenho idéia de áruore ou de pedra. A
alm a que habitasse um corpo privado dos cin­
co sentidos, desde o nascim ento, não saberia
o que é coisa algum a, — cor, extensão, chei­
ro, calor, dores, sons, g o s to s ... Só poderia ter
conciência de sua própria existência, porque,
conform e, Santo Tom az, o conhecim ento de
si m esm a, para a alm a, é intuitivo: seipsam
cognoscit directe, suam essentiam intuendo.
(81) O cego de nascença pode saber o nome
das cores; nunca terá idéia de cor, nunca sa­
berá o que é cor.
A razão disto é que “o conhecim ento exi-

(87) SANTO TOMAZ — Som a TIicol. Q. DIspos. De


Aulnia» Qa. unlca» a* 17» c.
- 165 —
ge a união do objeto conhecido com a facu l­
dade que conhece. Mas o objeto não pode
unir-sc à faculdade, por m eio dc sua própria
substância. Logo, precisa unir-se a ela por
m eio de uma imagem que o represente, e es­
sa im agem só pode ser apreendida ou reco­
lhida pelo orgão corpóreo.” (88) Essa im a­
gem é que se chama idéia, noção, espécie in-
Icligivel ou. conform e o caso, fantasma.
Ora, a alm a separada do corpo não m u­
da de natureza. Portanto, só pode conhecer
por m eio de espécies inteligíveis. E essas espé­
cies, — ou são as que a alm a adquiriu en­
quanto estava unida ao corpo, — ou são ou­
tras que Deus lhe infunde, necessárias então
para o exercício do novo estado que passa a
viver. Sendo assim, a alma separada só pos-
sue duas espécies dc idéias: umas, antigas, ad­
quiridas por si m esm a enquanto era unida
ao corpo; outras, novas, infundidas por Deus.
Não possue, portanto, idéias novas adquiri­
das por si m esm a. Num a palavra:
A alma separada conhece os espíritos, as
causas im ateriais do m undo corpóreo e os
objetos m ateriais singulares, — parentes,
am igos, pátria, — ou por meio das idéias an­
tigas, adquiridas, ou por m eio das idéias no­
vas, infusas.
Mas não conhece os acontecim entos hu­
m anos, — porque estes se deram depois de
sua separação do corpo, e não estão incluidos
nas idéias infusas ultim am ente. É o que diz

(88) SINIBALDI — K leiuentoa dc Filoaoflu. A ntropo­


logia, n.» 222.
— 166 —
o Doutor A ngélico: Ea quae apu d nos agun-
tu r ignorant (anim ae separatae). (89).
Podem os agora fechar o nosso argu­
m ento:
A alm a separada do corpo só tem ciên­
cia das coisas, ou p or m eio de idéias antigas,
adquiridas em vida, ou por m eio de idéias
novas, infusas por Deus; m as os aconteci­
mentos hum anos não se deduzem das idéias
antigas, porque são posteriores a elas, nem se
deduzem das idéias infusas, porque estas en­
volvem coisas e não fatos. Logo, a alm a hu­
m ana separada não tem ciência do que se
passa nas sessões espiritas, — preces, evoca­
ções, perguntas e outros fatos. Mas os fenô­
m enos ou são fatos ou se relacionam com os
fatos; logo a alm a não tem com eles nenhum a
ligação.
E s tá c laro q u e a q u i n o s r e fe rim o s ao co n h ec i­
m e n to n a tu r a l d a a lm a se p a ra d a , — à q u e le q u e com ­
p e te à a lm a se g u n d o a e x ig ên c ia d a n a tu re z a , e n ão
ao c o n h ec im en to so b r e n a tu r a l, — à q u e le q u e o s bem -
a v e n tu r a d o s te m d e tu d o , In tu itiv a m e n te , p e la V isào
B e a tífic a d a E ssê n c ia D iv in a. (9 0 )

Quanto aos fenôm enos de levitação e de


outros, com contacto do espírito, devem os
acrescentar o seguinte:
A alm a hum ana, sendo substância in­
com pleta e destinada naturalm ente a anim ar
um corpo, que a com pleta, só pode m over os
corpos enquanto ela vivifica ou anima o seu

(8!)) ST. TOMAZ — Sunimn T hcol. — Q u artu s Scnt.,


.lispo.s. ([. 1.*. a. 1. q. 3. c.
CIO) SINIBAT.DI — Antroiiol.. n.° 222 o seguintes.
— 167 —

próprio corpo; por outras palavras: a alm a


só m ove os corpos por m eio de seu próprio
corpo. E’ o que ensina Santo T om az:
“A a lm a s e p a r a d a n ã o p o d e ria m o v e r u m c orpo
po r s u a p r ó p ria v ir tu d e n a tu r a l. E ’ m a n ife sto q u e,
q u a n d o a a lm a e s tá u n id a a o co rp o , n ã o p o d e m o v e r
o u tr o corpo, se n ão a q u e le q u e e la v iv ific a ; e s e u m
m e m b ro do corpo m o rre , e le n ão ob ed ece m a is & a lm a
se g u n d o o m o v im en to lo c al. O ra, é c e rto q u e a a lm a
s e p a r a d a nã o v iv ific a n e n h u m c o rp o ; p o r c o n seg u in te,
n e n h u m c o rp o lh e ob e d ec e s e g u n d o o m o v im e n to lo ­
c a l” . ( 9 1 ) .

Os espiritas estão de acordo com esta


doutrina. Adm item que a alma separada n a­
da pode, por si, no m undo físico. Foi p o r is­
so que, para explicarem a intervenção da al­
ma, inventaram a teoria do perispirito, que
exam inarem os adiante; e puseram em cena
a indefectível pessoa do m édiu m . (92).

b) PELA TEOLOGIA.
As Sagradas Escrituras nos dão inform a­
ção exata do que se segue após a m orte: pri­
m eiro, o ju izo particu lar:
” E ’ facU p a r a D eu s r e tr ib u ir a c a d a u m n o d ia
d a m o r te ” . (L iv ro do E c le siá stic o , 1 1 :2 8 ) .
“ E s tá d e c re ta d o qu e o s h o m e n s m o r r a m ü m a só
vez; d e p o is d a m o rte , p o rem , v e m o ju lz o ” . (A o s H e ­
bre u s, 9 :2 7 ) .

^ (91) SANTO TOMAZ — Sum nia T heologlcn — IA qu.

ZMzt «ár asm« •*


F eilo ou processado o julgam ento, a al­
m a segue para um dos três destinos: IN F E R ­
O U PAR A ÍS O . Mas re­
NO, P U R G A T Ó R IO
pugna que a alm a saia de um desses três lu­
gares e venha, a cham ado de um hom em , —
o m édium , — intervir no m undo visivel.
1.° - Não sai do inferno. O inferno, com
efeito, é com parado a um lago em que a al­
ma está sepultada:
"Q ue m n ã o foi e sc rito no liv ro d a v id a , foi m a n ­
d a do p a ra o la g o d o f o g o ". (A p o c alip se , 2 0 :1 5 ) .

Alem disso, e este é o ponto principal pa­


ra o nosso escopo, as alm as dos réprobos
estão em imobilidade absoluta:
“ L ig a d a s a s m ã o s o os pós, m a u d al-o s p a ra as
tr e v a s e x te r io r e s ” . (S. M ateu s, 2 2 :1 3 ) .

O inferno é um a prisão:
“S e rã o fec h ad o s no c á r c e re ” . (Isa la s, 2 4 :2 2 ) .

O rico avarento m orreu e fo i sepultado


no infern o. Não podendo vir a este mundo,
pede a Abraão que m ande Lázaro a casa do
pai dele, rico, a-fim -de avisá-lo do que se
passa com ele no inferno: Rogo te, pater ut
mittas eum in domum patris mei.” (S. Luc.,
16:28).
2.° - A alma não sai do purgatório. Este
tambem é um cárcere:
“ R e c o n c ilia -te d e -p re ss a com te u a d v e r s á r io en ­
q u a n to e s tá s de v ta g em com e le ; n ão su c e d a acaso
q ue te u a d v e rs á rio te e n tre g u e ao Ju iz e e ste ao m i­
n is tro , e s e ja s m a n d a d o p a ra o c á r c e re ; n a v e rd a d e te
— 169 —
d igo q u e não s a ir á s d a i e n q u a n to não p a g a r e s o ú lti­
m o c e itil" . (S . M at., 5 :2 5 ) .

Ora, todo encarcerado, enquanto cumpre


a pena, não pode sair da prisão, à sua vonta­
de. Que o citado texto se refere ao purgató­
rio é ce rto : prim eiro, porque, no caso, não se
trata de culpa grave, m as só venial, — uma
sim ples inim izade, que, portanto, não pode­
ria ser castigada com as penas do inferno;
segundo, porque a pena a que alude o texto
não é eterna, m as tem porária.
3.° - Enfim , as alm as dos bem -aven tura­
dos. Estas poderiam com unicar-se com os vi­
vos; é o que pensa Santo Tom az:
“ S a n c ti, c u m v o lu c rin t, n p p n rc re p o s s u n t v iv en -
tlb u s , n o n n u te m d n m n a ti” . ( 9 3 )
Mas, m esm o no caso de alm as bem -aven­
turadas. falta um a razão suficiente para que
se deem com unicações constantes e p rovoca­
das. Prim eiro, da parte das m esm as alm as:
a felicid ad e delas é com pleta e não precisam
do com ércio hum ano:
‘‘E ia , se rv o bom , e n tr a n o gozo d e te u S e n h o r ”.
(M ateu s, 2 5 :2 1 . C o n fira-se a in d a : S. P a u lo ao s Co-
r in tio s, P r im e ir a , 2 :2 9 ) .

Segundo, da parte dos que vivem neste


mundo. Deus proporcionou aos hom ens m eios
ordinários e perm anentes de salvação e, as­
sim, tornou desnecessário o com ércio com as
alm as boas. É o que nos ensina ainda a pará­
bola do rico avarento:
(93) SANTO TOMAZ — Seat., q u artu a, dist. 46,a.l.
q. 3, c.
— 170 —
" A b ra ã o resp o n d e u (ao rico s e p u lta d o 110 In fe r­
no e qu e p e d ia m a n d a ss e L á z aro em m issão e sp ec ial a
e ste m u n d o ) : Os viv o s te m a le l d e M oisés e do s p ro ­
fe ta s. O lgam a e stes . Se n ã o o u v ire m a M oisés e aos
p ro fe ta s, n e m a c r e d it a r ã o 'em a lg u m m o rto q u e re s s u s ­
c ite .” (S. M ateus, 5 -2 9 ).

O católico, pois, com 0 livro dos Evan­


gelhos em punho, não pode adm itir a inter­
venção dos m ortos neste m undo. D iz o Pe.
H er ed ia :
"D e u s pode, em c aso s esp ec iais, p e rm itir q u e u m a
a lm a a p a r e ç a p o r s u a d iv in a d isp o siçã o . P o re m , n e­
n h u m c ris tã o , q ue te n h a r e sp e ito a D eu s e a s u a D i­
v in a P r o v id ê n c ia , a c r e d it a r á q u e ele p e rm ita à s a l­
m a s dos b e m -a v e n tu ra d o s ou à s a lm a s do P u r g a tó r io
p a lra r e m so b re a T e r r a , p r o n ta s à s in tim a ç õ e s do s d i­
v e rso s m é d iu n s d e c a r a te r d u v id o so , a sso clarem -se à s
tr a v e s s u r a s de u m a se ssão e s p ir ita , m o v e re m m esas,
to c a re m tr o m b e ta s ou g u ita r ra s , a g ita r e m p a n d e iro s,
co n v e rsa re m so b re a s s u n to s to lo s, c o m u n ica rem m e ra s
n in h a ria s e, à s v ezes, a té p ro fe rire m b la sfê m ia s. E ,
te n d o em v is ta a id é ia c a tó lic a do infeT no, p a re ce im ­
possível q u e D eus p e rm ita à s a lm a s dos c o n d en a d o s
a s s is tire m , a p e dido, à s o rg ia s d e u m a se ssão o r d in á ­
ria ”. (9 4 ).

II. — PELA DOUTRINA DOS ESPIRITAS

a) TEORIA DO PERISPÍRITO
Definição.
Os espiritas, indo na esteira dos ocultis-
tas, adm item um a com posição ternária do ho-
(91) Po. HERED IA — O CHplrltlHmo e o. bom sen«»,
T rad. b rasileira, ps, 175.
— 171 —

m em : corpo, alma e perispirito. O perispí-


rito é o laço que prende o espírito ao corpo.
Os próprios autores espiritas não estão de
pleno acordo quanto à definição do perisp i­
rito. Copiamos D. Otávio, que nos fornece
uma boa explicação:
“ O perispirito é um envoltório sem i-ma-
terial da alma. uma substância vaporosa, for­
m ada de fluido universal, participando, ao
m esm o tempo, da eletricidade, do flúido
magnético e, até certo ponto, da m atéria iner­
te. Poder-se-ia dizer que é a quintessência da
m atéria. D esenvolve-se e progride com a al­
ma, tornando-se tanto m ais sutil e m enos
m aterial, quanto m ais elevado é o espirito.
“ O perispirito pode irradiar-se fora do
corpo encarnado, form ando a chamada au­
ra. P ode m esm o separar-se m om entaneam en­
te do corpo, ao qual fica unido por um laco
fluídico, cham ado por alguns cordão umbili­
cal. N este caso de desencarnação relativa, a
pessoa pode tom ar conhecim ento de aconteci­
m entos distantes e m ostrar faculdades anor­
m ais. Se, neste êxodo, o perispirito levar con­
sigo m oléculas m ateriais em grande número,
poderá im pressionar a vista e outros senti­
dos das pessoas que encontrar. Em tais con­
dições, form ará ele o duplo de seu corpo.
“ As pessoas capazes deste desdobram en­
to constituem os médiuns, que servem de in ­
termediários aos desencarnados, para que
estes possam com unicar-se com os vivos.
“ Nos casos de m aterialização, o espirito
serve-se do perispirito do médium, para ti­
rar do corpo carnal deste os elem entos neces­
sários à m aterialização.” (95).
O dr. E. Gyel, escritor espirita, pg. 19-22,
não difere m uito da exposição de Dom Otávio.

SINÔNIM OS

V im os, a cim a , q u e o p e rls p írito ta m b em s e c h a ­


m a a u r a , q u a n d o ir r a d ia d o fo ra do co rp o , e d u p lo ,
qu a n d o c o n d en sa d o n a s m a te ria liz a ç õ e s. A lem d e ste s
n om es, m u ito s o u tr o s lh e dão os v á rio s a u to re s que
c o n su lta m o s. A ssim 6 q u e, com o sin ô n im o s de p e rls-
p ir lto , a c h a m o s a s s e g u in te s e x p re ssõ e s : C o rp o a s tr a l,
f lu id o p e ris p iritu a l, f lu id o h u m a n o , c o rp o ó dico, od,
fo rç a e c tê n ic a ( 9 6 ) , c o rp o p sfq n ic o ( 9 7 ) , c c to p la sm a .
S eg u n d o G ra sse t, o s o c u ltis ta s fo ra m os p rim e iro s
q u e u sa ra m a e x p re ssão c o rp o a s tr a l. M e d iad o r p lá s ­
tic o ô d e C u d tv o rth . E c to p la s m a fo i d ad o p elo p ro f.
R ic h e t a o p e rls p frlto m a te ria liz a d o . T o d as e sta s d e n o ­
m in a çõ e s do p e ris p írlto se d ife re n c ia m e n tre si c o n fo r­
m e a m e n te ou c o n cepção d o s v á rio s a u to re s . E m s u b s ­
tâ n c ia , p o rem , vem a s ig n ific a r a m e sm a coisa. ( 9 8 ) .

IMPORTÂNCIA.

“ O perispirito, — diz o dr. Poodt, — é a


chave do espiritism o m od erno”. (99).
M ainage tam bem escreve: “ O perispirito
— 173 —
derantc no sistem a. Graças a ele, os fatos
m ais prodigiosos perdem o seu segredo”.
( 100 ).
O corpo astral é uma espécie de “segun­
do e u ”, que poderia ser despedido pelo ho­
m em , voluntária ou involuntariam ente. Em
veem entes abalos nervosos, em graves peri­
gos de vida, na hipnose e, sobretudo, à noite,
ficaria afrouxado o liam e do corpo astral
com o corpo físico, e aquele poderia separar-
se deste, indo aparecer em outros lugares, —
com o provam frequentes anúncios de m ori­
bundos ou sinistrados.
Marcinoivski pensou levantar, sobre a
base do duplo, uma teoria de todos os fen ô­
m enos ocultos. Tudo fantasia, posto que en­
genhado com talento e poesia. (101).

HISTÓRICO.

A doutrina do perispirilo não constitue


novidade. É apenas uma renovação da teoria
do corpo astral dos Ocultistas. Mas nem es­
tes inventaram essa teoria. Já Cudworth, teó­
logo inglês (1617-1688), lembrara a hipótese
do mediador plástico, hipótese que o francês
Leclerc perfilhou m ais tarde. (102) Mesmo
alguns Padres da Igreja, com o S. Basilio e
S. Cirilo de Alexandria, haviam já pensado
na existência de uma substância corpórea

(100) MAINAGE — La rcU rfon «pirite, pgr. 96.


(101) R. MARCIXOWSKI — D er O kkultlrau*. P . von
rarap.sych., 1926 .caderno 11-12..
(102) Cf. D ictionnaire LnroasRe, médio s. v. Cudw orth,
e Slnlbaldl, A ntropofogln, n.° 46, n o ta 1, D.
— 174 —

inerente aos anjoá e à s a Imas. (103) E vários


filósofos, antigos e m odernos, com o A hrens,
Occam, Bacon, Gassendi, Guenther, B altzer e
outros, adm itiram no hom em du as alm as, das
quais uma é o princípio da vid a intelectu al e
outra o é da vida ve getativo-sen sitiva.
(104) Assim , a alm a superior ou im aterial
cham ar-se-ia espirito, e a alm a inferior ou
m aterial, perisp irito .
Mas a origem da teoria é m ais antiga:
“ C e rto s p la tô n ic o s a fir m a ra m q u e a a lm a in te ­
le c tu a l possue um c o rp o in c o rr u tiv e l q u e lh e e stá u n id o
p o r n a tu re z a , — c o rp o tle q u e c ia uiio se s e p a r a n u n ­
ca, — e pelo q u a l e s tá u n id a ao co rp o h u m a n o c o rru -
tiv e l”. ( 1 0 6 ).
Enfim , direm os, com o Pe. M ainage, que
o corpo astral é um produto da p sicologia ru­
dim entar de todos os tempos. E ’ o K a egípcio,
o M anas do Veda, o Linga C harira pre-búdi-
co, (10(j), o Koma dos leósofos (107).
ü s ocultistas, depois dos já citados filó­
sofos, entenderam provar a existência do cor­
po astral pela existência das operações orgâ­
nicas, que são distintas das operações inte-
lcctivas e concientes. “O corpo astral, — diz
Papus, — sendo a alm a no ente hum ano, pre­
side à elaboração de todas as forças orgâni­
cas.” (108) Isto equivale a dizer que o hom em
(lUZ) I. BERTRAND — Le» «norts rev len n cn t-il» ? —
Citado por d. Otávio, Oh (cnCmcno* pxfqnlcoH, pg. G8.
(104) S1NIBALDI — A ntropologia, n.» 49, n o ta 1.
(105) SANTO TOMAZ — Sumnm Tlieologlcn, Qu. 7G,
a rt. 7.
(106) MAINAGE — Ba rellg lo n «pirite, pg. 112.
(107) Dr. POODT — Lo» fenómeno« mixtcrioHOH. no
dicionário Inicial, a rtig o “cuerpo a s tr a l”.
(108) PAPUS — One é o ocultlxm o — E d ito ra “O
P en sa m en to ”, S. Paulo, pg. 13-14.
- 175 -

tem duas almas, — uma im aterial e outra m a­


terial.

DEMONSTRAÇÃO.

Postas estas noções prelim inares e neces­


sárias, argum entam os:
NO DIZER D E TODOS OS AUTORES E S­
PIRITISTAS, É POR MEIO DO PERISPÍRI-
TO QUE OS DESENCARNADOS SE COMU­
NICAM COM O MUNDO VISÍVEL. MAS O PE-
RÍSP1R1TO NÃO E XISTE. LOGO OS DE SEN­
CARNADOS NÃO SE COMUNICAM COM OS
VIVOS, e portanto, não são os autores dos fe ­
nôm enos supranormais.
Provem os as prem issas.
Quem afirm a que o p erisp irito é o m eio de
com unicação en tre os m ortos e os viv o s são
os próprios autores espiritas:
D iz A U an K a r d e c : “ P o r c a u sa de s u a n a tu re z a
e té r e a , o e sp irito n ã o p ode a t u a r so b re a m a té r ia p r i­
m itiv a se m um in te r m e d iá r io , isto é, se m o laço q u e
o lig a & m a té r ia . E sse laço, fo rm a d o pelo q u e se c h a ­
m a p e ris p irito , d á a ch av e d e to d o s o s fe n ô m e n o s espi-
r ític o s m a te r ia is " . ( 1 0 9 ).
T h . F lo n m o y : “ P a r a q u e a a lm a p o ssa a g ir e im ­
p re s s io n a r os n o sso s se n tid o s fislco s, é n e ce ssário um
in te r m e d iá r io s e m l-m a te rla l. E sse in te r m e d iá r io é o
p e ris p irito , no m e dado a o e n v o ltó rio flu id ic o d a a lm a ,
o q u a l é in v isív el e im p o n d e ráv e l. N a s u a ação se h a -
de b u sc a r o se g re d o do s fen ô m e n o s e sp ir ita s " . ( 1 1 0 ).

(109) ALLAN K A RD EX — L ivro ilon m éd iu m , 2.*


p arte, c. IV.
CllO) FLOURNOY —De» Inde» à ln P ln n étc Mor», c i­
ta do por Poodt. Los fenóm enos m isteriosos, pgr. 272.
— 176 -
L éo n D en is: " 0 m é d iu m é o a g e n te In d isp e n sá ­
v el e com a a ju d a do q u a l se re a liz a m a s m a n if e s ta ­
ções do m u n d o I n v is ív e l. . . P e lo se u e n v o ltó rio fln íd l-
co p a rtic ip a d a v id a do esp aço , o p o r seu co rp o físi­
co, dff v id a te r r e s tr e : a ssim , e le é o in te r m e d iá r io ,
in d is p e n sá v e l e n tre o s do is m u n d o s. “ O e sp írito , se p a ­
ra d o d a m a té r ia g ro s s e ira p e la m o rte , n ã o p o d e a tu n r
sob ro a m a té r ia n e m m n n ifc sta r-se n o m e lo h u m a n o ,
se m o con cu rso de u m a fo rç a ou e n e r g ia q u e o o rg a ­
n ism o do m é d iu m lh e p r o p o rc io n a ” . ( 1 1 1 ).

Assim, é por m eio de seu próprio perispí-


rito, com binado ou sincronizado com o perispí-
to do m édiu m , que o espírito se m anifesta:
“ O corpo a s tr a l do e sp irito se in s ta la n o corpo
a s tr a l do m é d iu m o se rv e -se d e ste com o um o r g a n is ta
e x ec u ta u m a m e lo d ia no te c la d o d e se u in s tru m e n to .
No caso d a m a te ria liz a ç ã o , o m o rto se se rv e do corpo
a s tr a l vivo, p a ra to m a r , no co rp o c a rn a l d e ste, os ele­
m e n to s n e c e ssá rio s à m a te r ia liz a ç ã o " . ( 1 1 2 ).

MAS O PER1SP1R1T0 NÃO EXISTE, dis­


sem os nós. Com efeito, a Filosofia, a experiên­
cia e a Sagrada Escritura provam que o peris-
pírito não existe.

l.o) A FILOSOFIA.
a) Se o hom em tivesse espirito e perispí-
rito, — isto é, dois princípios de operações v i­
tais. essas operações seriam com pletam ente in­
dependentes entre si; m as a biologia atesta
que elas não são independentes. L ogo proce-

(111) LÉON DENIS — DniiN 1’lnrim ble. S p lrltl.m * et


M édiniunlté. Pfif. 02.
(112) MA1NAGE — La rellg lo n «pirite. Pg. 97.
— 177 —
d cm de um só princípio, — que é o espiritual.
— a alm a única.
Com efeito, as funções vegetalivo-sensiti-
vas dependem do psiquism o; o psiquism o de­
pende daquelas funções, E ’ sabido com o as
secreções, a digestão, a fagocitose, a função do
coração, dos intestinos, dos m úsculos, dos or-
gãos sexuais e outras funções dependentes do
grande sim pático e do sistem a espinal, podem
ser favorecidas, dificultadas e até im pedidas
pelo psiquism o. E, vice-versa, o psiquism o está
intim am ente ligado à fisiologia orgânica. Há
síncopes cardíacas m otivadas por em oções v io ­
lentas.
b) A conciência atesta que, em nós, o su­
jeito que pensa é o mesm o que sente e vegeta',
idem hom o p e rc ip it se sen tire et in telligit se in-
telligere. (113) Ora, se 110 hom em existissem
dois principios de vida, — espírito e peris-
pírito, — o sujeito que pensa, sendo distinto do
sujeito que sente e vegeta, — não poderia sen­
tir nem vegetar, pois as operações vitais, por
isso que são im anentes, tem o term o no mesm o
sujeito em que tem o com eço. Mas o sujeito
que pensa é o m esm o que sente e vegeta. Logo
o hom em tem um só princípio de vida. E este
princípio, ou c o perispírito ou o espírito; se é
0 perispírito,o espírito é uma ficção; se é o
espírito, o perispírito é que é uma ficção. O
hom em não teria conciência da dor física na
hipótese absurda de haver dois principios dis­
tintos de vida.
c) Alem disso o perispírito c dado como
(113) SANTO TOMAZ — Sanimn, l . \ 76, Cf. GARRI-
GOU-LA.GRANQE, T h e o lo tla F undam ental!*, v. II, p?. 9.
— 178 -
interm ediário entre a alm a e o corpo. “Mas a
alm a, — anim a, — é, sem interm ediário, a for­
ma substancial do corpo, pois, ao contrário, o
corpo não se poderia dizer an im ado; logo, o
principio radical da vida intelectiva e o da vi­
da sensitiva e vegetativa é o m esm o.” (114).
Por conseguinte, os espiritas afirm am gra­
tuitam ente a existência do perispirito. O que
gratuitam ente se afirm a, gratuitam ente se ne­
ga. O perispirito seria um am ontoado de con­
tradições, seria um absurdo crasso.
" A d m itir o p e ris p irito , d isse L u c lc n R o u r e , é im a ­
g in a r u m a su b s tâ n c ia q u e s e ja , a o m esm o te m p o , ea-
te n s a e ln e s te n s a , m a te r ia l e im a te ria l, com f ig u r a e
se m f ig u r a . A h ip ó te se im p lica d e sc o n h e cim en to d a
n oção d e e s p ir itu a lid a d e ”. ( 1 1 5 ) .
E sc re v e T ia g o S in ib n ld i: “ S e e x istiss e u m a su b s­
ta n c ia e n tr e a a lm a e o co rp o , d e v e ria p o ssu ir, ao
m esm o te m p o , to d o s os a trib u to s do co rp o e to d o s os
a tr i b u to s d a a lm a , e, p o r isso , d e v e ria s e r sim p le s e
co m p o sta , c o rp ó re a e in c o rp ó re a , r a c io n a l e irra c io ­
n a l, e isto re p u g n a " . ( 1 1 6 ).

2.°) A EXPERIÊNCIA.
A experiência é contra a existência do p e­
rispirito. De-fato, a existência do corpo pro­
va-se pelos sentidos; a da alm a demonstra-se
pelas suas operações e pela conciência. Mas
a do perispirito não tem nenhum a prova. Ob­
serva o dr. P o o d t:

(ll-l) GARRIGOU-LAGRANG1S — T heologln Fnm ln-


m cntnlls, c. II, pg. 9.
(115) Apud Dr. POODT — Los fenóm enos m isteriosos,
pag. 276.
(116) SINIBALDI — A ntropologia, -16, nota 1, D, b.
— 179 —
"A te o ria do flu id o v ita l n ão d e sc a n sa em n e n h u ­
m a b a se c ie n tific a , não se a p o ia em n e n h u m a expe­
r iê n c ia d e m o n s tra tiv a , em n e n h u m feito rig o ro sa m e n ­
te c o m prova d o.
“ Sondo flu id o o u s u b s tâ n c ia s e m i-m a te rla l, o pe-
rls p ír ito p o d e ria s e r re g is ta d o p o r a p a r e lh o s se n sib ilís-
sim os. P o is bem . T e n to u -se Isto . M as to d a s a s te n ta ­
tiv a s f r a c a s s a ra m ”. ( 1 1 7 ).

Lem brem os os principais aparelhos tenta­


dos. O Pe. F ortin inventou o seu m agnetôm e-
tro; B araduc, o seu biôm etro; P au l Joire, o seu
esten ôm etro; Puifontaine, o seu g a lva n ô m etro ;
F ayol, o seu cilindro. G rasset acrescenta ainda
os biôm etros de Louis Lucas e de A ndollen t.
(118).
Nenhum aparelho, porem , por m ais sensí­
vel que fosse, conseguiu “iso la r” o perispíri-
lo. De duas um a: ou o perispirito é im aterial,
e então não é distin to da alm a; ou é, de algum
m odo, m aterial, e então deveria ser sentido de
qualquer m aneira. E isto nunca foi provado.
Logo não existe.
Notem os que as experiências do barão d e
R eichenbach sobre os eflúvios ódicos, e as do
coronel De R ochas sobre a “exteriorização da
sen sibilidad e”, alem de infrutíferas, nada tem
que ver com o perispirito. (119).
Enfim , posta de parte a natureza do ho­
m em , consultem os a:

(117) Dr. POODT — I,on fenúmcnn» m ister


psiqnlMmo, pg. 274.
~ (U S ) GRASSET — Idée« inédlcnlex. pg. 15:
(119) MAINAGE — La relig io n «pirite, pg. :
— 180 —
3.“) S AG RADA ESCRITURA.
Onde, na Bíblia, uma alusão ao perispí­
rito ou a qualquer coisa que se lhe pareça?
0 que se lê nos Santos Livros c que o homem
é com posto de corpo e alm a. O corpo foi for­
mado da terra: F orm avit D eus hom in em de
lim o terrae; e a alm a lhe fo i infundida à sem e­
lhança de um sopro: et in spiravit in faciem
eju s spiracu lu m vitae. Observem os que a B í­
blia fala spiraculum , — alm a, no singular, e
não spiracula, — alm as, no plural. (Gênese,
2:7 ).
NOTAS sobre a dou trin a do perispírito.
a ) A in d a m esm o q u e o p e ris p írito e x istisse, n ão
fic a r ia p ro v ad o que os e sp írito s p rec isa m d e le p a ra se
m a n if e s ta r e m . Ma3, com o o s e s p írito s a firm a m Isto, e
a c h a m que, se m o p e ris p írito , n ão h á m a n ife sta ç õ e s,
n ó s no s se rv im o s da p ró p ria d o u tr in a e s p ir ita p a ra
d e rr u b á - la . Diz G rn s sc t:
“ P u is , c e ttc d e m o n stra tio n sc ra U -e llc fa lte , r le n
n e p r o u v e r a it q u e c e tte n o u v c llc fo rc e p â jc h iq u e
c o n stitu o v r a iin e n t u n o g c n t d e c o m n u in ic n tio n d ir e c ­
to e n tr e d e u x psy c h lsm c s sé p n ré s" . ( 1 2 0 ).

O m esm o sente Lucien R oure. (124).


b ) O P e . M a inng c o b se rv a , m u i ju d ic io sa m e n te ,
que, se e x istiss e p e ris p írito , to do s os fen ó m e n o s p ode­
r ia m se r a trib u íd o s ao p e ris p írito d o m é d iu m , e a ssim
p o d e ria m e x c lu ir a h ip ó te s e da in te rv e n ç ã o do e sp i­
rito . T a l in te rv e n ç ã o se ria d e sn e c e ssá ria , p o rq u e o
p e ris p írito do m é d iu m s e ria b a s ta n te p a ra e x p lic a r os

(120) GRA3SET, Op. C ltatum , pg. 159.


(121) TAJCIEN ROURE — Le M ervelllcux «pirite,
.pa*- 92.
— 181 —
fen ô m e n o s, e te ría m o s e n tã o u m a ex p lica çã o n a tu ­
r a l. ( 1 2 2 ).

CONCLUSÃO.
“ Segundo os espiritas, a revelação nova
está estreitam ente ligada à sorte do perispíri-
lo. Mas este não existe.” Provem, portanto,
antes de tudo. a existência deste estranho per­
sonagem . (123).

b) NÃO IDENTIFICAÇÃO DOS E SPÍRITOS


1.) - FATOS.
A com unicação dos desencarnados esbar­
ra num a d ificu ld ad erirr em o v iv el: a identifi­
cação dos espíritos. Suponham os que uin es­
pirito se com unique, Suponham os que afirm e
ser o espirito de Sócrates. Como saberem os
que, d e-falo, é Sócrates que se com unica? Os
espiritas, em todos os tempos, tentaram resol­
ver essa dificuldade. Tentaram , até, recorrer a
experiências e verificações. O m étodo é sim ­
ples:
Basta que alguem, antes de morrer, nos
prom eta aparecer depois de morto e, uma vez
morto, venha conversar conosco sobre assunto
p reviam en te com binado.
H o d g so n te ria feito à P sy cliica l So cio ty u m a p r o ­
m e ssa d e s ta n a tu re z a . E , te n d o m o rrid o logo dep o is,
te ria vindo c u m p rir n p ro m e s sa : islo 6, v ie ra d a r as
su a s im p re ssõ es so b re o A lem . E ste fa to ,q u e P o o d t

(122) MAINAGE — I.n r e lltlo n »plvitc. P n Bs. 99 c so-


ntes.
(123) MAINAGE — Ibltlem, pff. 118.
su p õ e v e rd a d eiro ( 1 2 4 ) , não o é. '
b a lela . O p ro f. H y slo p des
do. E . F u n k d e c la ro u q u e " a n o tíc ia <5 a b so l
f a ls a ” . K o d g so n n u n c a a p a re c e u . (1 2 5 ).
O u tro caso.

P a r a P e sq u isa s P s íq u ic a s,
de de seu e sp irito , dep o is
veu u m a com unicação,
tó rio espesso e se lad o , e qi
p o r in te rm é d io d e O liv c r
m e m b ro d a m e sm a Soci<
1891. D eve ria s e r a b e r ta d epo is <
e de p o is q u e a lg u m m é d iu m decl
m u n ic aç ão com o e sp írito

cação.
m o rre u (1 2 G ).
> e s p ir ita a d re -
m é d iu m sen h o -
i to d a s a s
p rec au ç õ es
dos m e m b ro s d a S .P .R ., v e rific o u -s e “ q u e n ã o h a v
se m e lh a n ç a a lg u m a e n tr e o c o n te ú d o d a c a r ta e o <
e s c r ita a u to m á tic a de V c rra ll, q u e p r e te n d ia e s ta r e
com u n ica çã o com o d e se n c a rn a d o M y e rs em pe
s o a ”. ( 1 2 7 ).
ido, O liv e r E o d g e te v e d e a le g a r qu
s h o u v e sse e sq u ec id o , no A lem , o q u e e
— 183 —

c re v e ra n a c a r ta , q u a n d o vivo. E d o d d c ita u m a c a r ­
t a de E v e le e n M ye rs, v iu v a do filó so fo , d e c la ra n d o que
o e sp írito de se u m a rid o n ã o se c o m u n ic a ra n u n c a,
n e m com e la n e m com se u filh o . ( 1 2 8 ). M esm o a n te s
da v e rific a ç ã o d e fin itiv a , j á S ir O liv e r D odge tin h a
te n ta d o , In u tilm e n te , u m a co m u n ica çã o e n tr e o e s­
p ír ito do M ye rs e o m é d iu m s e n h o rita P lp e r . ( 1 2 9 ).
Nós católicos acreditam os que a prova não
seria definitiva, ainda que a com unicação fo s ­
se verdadeira, porque o dem ônio poderia reve­
lar ao m édiu m o mie se continha na carta, Mas
D eus não perm itiu que o espirito das trevas
tivesse aqui a m ínim a intervenção, e assim o
espiritism o ficou desm ascarado por iniciativa
de seu s.próprios fautores.

2.) - CONFISSÃO DE SÁBIOS ESPIRI­


TAS E DE MÉDIUNS.
Muitos m édiu ns notáveis, assim com o
m uitos cientistas que foram adeptos do esp i­
ritism o. confessam que a prova da identi­
dade dos espíritos nunca foi dada. Mais. Em
vista das com unicações frivolas e cretinas,
atribuídas a espiritos de hom ens que foram
verdadeiros sábios nesta vida, dizem que es­
sas com unicações provam justam ente o con­
trário da identidade. Oiçamos algum as des­
sas con fissões:
C a m ilo F la m m a r lo n : “ De q u e esp éc ie são esses
se re s? N e n h u m a id é ia p o d e m o s t e r a ta l re sp e ito . A l-

(128) CI.ODD — T he Onentlon, pp. 220, citado por


H eredla.
(129) PA TRICK .T. GEARON. — T.e Splriflsm ci Sn
fn in itc . Pari». P. T.ollilellcnx. T .lbrnhc-Pdltcur. Pp. 88-84.
(180) IA.'CIEN ROURE — J,e mcrvcU lcnx »pirite, PP-
83:1-82-1.
— 184 —
m a s d os m o rto s? E sta m o s m u lto lo n g e de d a r a p ro v a
disso. M in h a s o b se rv a çõ e s de m a is d e q u a re n ta a n o s
pro v am o c o n trá r io . N e n h u m a id e n tific a ç ã o j á so foz
s a tis f a to ria m e n te ” . ( 1 3 1 ).
li. P . J a c k s , p ro fe sso r d e O xfo rd , p r e s id e n te d a
S. P. R .: “ N a m in h a o p in lá o , o p ro b le m a d a id e n tid a ­
de p e sso al c o m p leta de v e s e r e x am in a d o e p e sad o d e­
tid a m e n te , a n te s q u e co m ecem o s a p ro d u z ir p ro v as
em fa v o r d e ssa id e n tid a d e " . ( 1 3 2 ).
A r t u r C o nan D oyle, co n h ec id o r o m a n c is ta : “ V ós
e s ta is n u m a e x tre m id a d e do te le fo n e , se se p ode re ­
c o rr e r a e s ta c o m p a ra ç ã o ; m a s n ão sa b e is com c e r te ­
za qu e m e stá na o u tr a e x tre m id a d e " . ( 1 3 3 ).
A ksA kof, c ie n tis ta ru sso , diz q u e a s p ro v as d a
id e n tid a d e não se podem d e d u z ir com se g u ro d a s m a ­
n ife s ta ç õ e s e sp irita s , po is o q u e um m o rto diz, o u tro
e sp irito p o d ia sa b e r e im ita r o p rim e iro . E c o n clu e :
“ A p ro v a a b s o lu ta d a id e n tific a ç ã o p a ra as p e rso ­
n a lid a d e s q u e se m a n ife sta m é im p o s sív e l” . ( 1 3 4 ).
D an iel D u n g la s H o m e , o c éle b re m é d iu m do p ro f.
C ro o k c s e qu e , p a ra C o n a n D oyle, fo i o m a io r ho m em
depo is do s A p ósto los, ( 1 3 5 ), d e c la ro u ao d r. F e lip e
D avid, pouco a n te s de m o r r e r :
“ D epo is de tu d o , a v e rd a d e é q u e e ssa m u ltid ã o
d e e sp írito s, a n te os q u a is se a jo e lh a m a s a lm a s c ré ­
d u la s e su p e rstic io sa s, n u n c a e x istira m . E u , pelo m e­
nos, n ã o os e n c o n tre i n u n c a em m e u c am in h o . Se rv i-
m e d e le s p a ra d a r a ra in h a s e x p e riên c ia s e s s ^ a p a ­
r ê n c ia d e m is té rio , q u e se m p re a g ra d o u à s m a ssa s e,
so b re tu d o , à s m u lh e r e s : n u n c a a c r e d ite i n a in te rv e n -

(131) CAMILO FLAMMARION — As F o rcas X nturnla


D esconhecidas, 1906. pg. 563.
(132) Apud D. TADDEI — O Moilcrno E sp iritism o ,
pag. 21.
0.33) CONAN DOYLE — T he New R evelation. pg. 21.
(134) AKSAKOF — A nlm linic e t Spiritism e, Pg. 623.
(135) Segundo refere Ilere d ia — “ O E sp iritism o e o
Bom Senso” pg. 90, nota.
— 185 —
çâo d e le s n o s f e n ô m e n o s . . . N ão ! Um m é d iu m não
p ode c r e r no s e sp irito s. E ’ o ú n ico q u e n ã o pode c re r
n e le s ” . ( 1 3 6 ).
G astuo M cry: “ S e rá p o ssiv el q u e u m e sp irito e v o­
cad o dê p ro v as da su a id o n tid a d e ? N ão o ju lg o p o s­
sív e l”. ( 1 3 7 ).
C nm ilo F ln m m a rlo n : " E m vão p ro c u re i a té a q u i
p ro v a c e r ta d e id e n tid a d e n a s co m u n ica çõ e s m e d lú n i­
c a s ”. ( 1 3 8 ).

3.) - A COMUNICAÇÃO NA TEORIA


ANGLO-SAXÔNICA.
Oulro aspecto interessante da não-inter-
venção dos desencarnados é o que se inclue,
im plicitam ente, no espiritism o europeu em
geral. A doutrina corrente entre os europeus,
pelo m enos ingleses e alem ães, é que os desen­
carnados não intervem diretam ente neste
m undo. Conforme esses espiritas, os desen­
carnados, para se com unicarem conosco, se
servem de um espírito in term ediário, cha­
m ado guia ou controle. E’ este que recolhe
as m ensagens de lá, e as transm ite ao m é­
dium de cá. O m édium hum ano é aparelho
em geral. Cada m édium tem um guia ordi­
nário. D e-fato, com o vim os, o guia ou contro­
le de Stainton Moses, era o espirito “ Impera-
tor” ; e de E usápia P alladino, “John K ing” ;
o de P iper, “Dr. P h in u it”; o de R udi Schnei-
der, “ Olga”, etc.

(136) PH1LIPPJC DAVID — Ln Mn <li. m onde dea ca-


p rlta, pg. 171. cllado por Malnage, opun cit., pg. 156.
(137) CONF. — ‘E rho du m erv elllcu x ”. 1906, pg. 63.
(138) CAMILO FLAMMARION — Ah ForçHH N ntarola
D aaconhecldaa, pg. 588.
— 186 -

Assim, o guia é um m édiu m no outro


m undo; os vivos se servem de um m édium -
vivo, e os desencarnados de um m édium -es-
pirito. Portanto, as com unicações são feitas
de m édiu m a m éd iu m ; os assistentes de uma
sessão e os desencarnados evocados ficam
estranhos uns aos outros.
N esta teoria, o espírito guia pode m uito
bem não ser um “ desencarnado.” E m esm o
que o fosse, os outros desencarnados nunca
se com unicariam conosco, já que a com uni­
cação c p r iva tiva do guia. O içam os um p a­
ladino do espiritism o europeu, O liver Lodge:
“ No e sta d o de tr a n s e , su rg e u m a c a ra c te riz a ç ã o
d ra m á tic a , com o a p a re c im e n to d a e n tid a d e c h a m a d a
"C O N T R O L E ”, que, n a a p a r e n te a u sê n c ia d e se u do­
no, o c u p a o corpo do m é d iu m ”. ( 1 3 9 ).
“ O tip o de m e d iu n id a d e a q u e n e s te liv ro re c o rr i,
é o em q u e o m é d iu m fa la ou e screv e , so b a d ireç ão
de u m a in te lig ê n c ia te c n ic a m e n te c h a m a d a “ c o n tro le ”
ou “ g n la ” .
“ O g u ia ou a te rc e ira p e rs o n a lid a d e q u e fa la d u ­
r a n te o tr a n s e , p n rec e e s ta r m a is e m c o n ta c to com o
q n e 6 v u lg a rm e n te c h a m a d o o “ o u tr o m n n d o ” e, p o r ­
ta n to , to m a - s e c a p a z d e tr a n s m itir m e n s a g e n s d e
P E S SO A S M O RT A S” . ( 1 4 0 ).

(139) OLIVER LODGE — “ Iln jin o n ü ". Trad. de Mon­


teiro Lobato, pg. 5G e pcgulnles.
(140) Id. Il>„ pg. 56.
— 187 —

TERCEIRO PONTO
OS FENÔMENOS SUPRANORM AIS SÃO
PRODUZID OS POR ESPÍRITOS, E E S ­
TES SÓ PODEM SER OS MAUS-ESPI-
R ITOS OU DEM ÔNIOS DA CON­
CEPÇÃO CATÓ LICA.

E stado da questão

N o capítulo precedente dem os as teorias


do anim ism o e espiritism o como opostas e
exclusivas. Assim, o prim eiro significa que a
personalidade do m édiu m é a única causa efi­
ciente dos fenôm enos supranormais. O espi­
ritism o, porem , afirm a que energias inteligen­
tes e invisiveis, diferentes do hom em , quer so­
zinhas nucr juntam ente com as forcas inter­
m ediárias mediais, produzem esses fe n ô ­
m enos.
Essas duas denom inações, porem , não se
em pregam sem pre em sentido tão absoluto e
oposto. Entendem -se tam bem em sentido lar­
go e até com pletivo: o anim ism o, com o sis­
tema que atribue às forças psíquicas e fisio ­
lógicas da alm a a m aioria dos fenôm enos
supranorm ais; o espiritism o, coni© sistem a
que atribue aos espíritos do outro m undo a
p rodução dos dem ais fenôm enos supranor­
mais. Neste sentido, ambos os sistem as se
com pletam m utuam ente, e isso não é de cau­
sar estranheza, já que os conhecim entos atuais,
neste terreno escuro, não perm item dem ar­
car uma linha divisória definitiva.
Tanto entre os partidários de um sistem a
com o entre os sequazes de outro, há m an ifes­
to exagero. Adm itindo que há fenôm enos
reais, os partidários do anim ism o pretendem
que quase todos eles são produzidos pela for­
ça psíquica do m édiu m e dos seus auxiliares;
os sequazes do espiritism o, ao contrário, acre­
ditam que todos ou quase todos os fenôm e­
nos ocultos são produzidos pelos espíritos do
Além. Verem os ao depois, o que se apura de
um a e outra opinião.
Posto isto, entrem os a provar a afirm a­
ção:

A) SAO PRODUZIDOS POR ESPÍRITOS.


A verdade desta prim eira afirm ação re­
sulta do que se expôs, atrás, na secção B. Com
efeito, excedendo os fenôm enos supranorm ais
as forças hum anas, forçoso é que sejam pro­
duzidos por seres extra-m undanos. Alem di-
so, sendo os fenôm enos experim entais da m es­
ma natureza que os fenôm enos espontâneos
e sendo estes, evidentem ente, produzidos por
espíritos, tam bem aqueles o devem ser. São
consequências rigorosam ente lógicas.
Estas provas indiretas poderiam bastar.
Mas, dada a singular im portância da presen­
te tese, para tantos céticos que se recusam a
adm itir a intervenção dos espíritos nos ne­
gócios deste m undo, convem trazer, em apoio
dela, algum as provas diretas c sólidas.

I — FENÔMENOS ESPONTÂNEOS
A prova, realm ente convincente, de que
são espíritos do outro mundo que produzem
— 189 —

os fenôm enos espontâneos, c o fato de que es­


ses fenôm enos, principalm ente quando são lo­
cais, se encontram longe de qualquer influ ên ­
cia hum ana.
Todos os casos que referim os na Prim eira
Série denunciam um autor com duas caracte­
rísticas, que o colocam acim a das contingên­
cias hum anas:
a) F orça invulgar, capaz de atirar gran­
des pedras de grandes distâncias, sem o em ­
prego dos conhecidos m eios de propulsão;
b) Inteligência prim orosa, — que zom bou
de todas as pesquisas p oliciais, e só se m anis-
festou cm condições estranhas c desconcertan­
tes. Essa inteligência revelou tambem muita
astúcia c m uita intenção preconcebida; é que
o autor, ou autores dos fenôm enos, — que­
rendo, naturalm ente, ocultar-se ou despistar,
— só apareceram em lugares onde, anterior­
m ente, tinha havido m orte trágica ou violen ­
ta. Assim, julgando apenas pelos anteceden­
tes, seriam os hom ens levados a atribuir tais
fenôm enos aos espíritos das pessoas falecidas
em tais lugares.
Os casos de Oels e G rosserling fornecem
acertadas instruções. Em 'Oels foi verificado
que, naquela casa mal-assom brada. vivera um
hom em perverso, que costum ava arm ar insí­
dias a crianças. Tem endo perseguição da po­
lícia. suicidara-se e, desde então, com eçaram
os fenôm enos espontâneos ali.
D o que até aqui expusem os, duas conclu­
sões se tiram.
Prim eira: O prin cípio teleológico d iri­
gente d a gran de m aioria dos fenôm en os es­
— 190 —
pontân eos não é, pelo m enos exclusivam en te,
a m en talidade du m m édiu m viv o ;
Segunda: O prin cípio teleológico dirigente
da gran de m aioria dos verdadeiros fen ôm e­
n os espontâneos, é exclusivam en te um espí­
rito do outro m undo.
Mas será que esse principio espiritual,
que se m anifesta tão visivel nos fenôm enos
espontâneos, se m anifesta tam bem nos fenô­
m enos experim entais, quer sejam físicos, quer
psíquicos? R espondam os.

II. - FENÔMENOS EXPERIMENTAIS

a) Fenôm enos psíquicos ou parapsíquicos.

Serão tam bem inteligências extra-m un-


danas, de natureza superior à do m édiu m , a
principal causa de certos fenôm enos p síqui­
cos? Ou por outra: A interpretação preterna­
tural, tambem neste terreno, será possivel e
até necessária?
Muito im porta à nossa questão a lingua­
gem , a expressão e o com portam ento do m é­
dium “in sp irad o” ; nem havem os-de por de
parte o conteúdo das m ensagens, que, sendo
geralm ente sem im portância, não raro reve­
lam um carater íntim o e pessoal.
Mas, uma das provas m ais valiosas para
a explicação preternatural de certos atos de
clarividência, c, sem dúvida, a visão do fu tu ­
ro, no caso de serem profetizadas ações livres,
em circunstâncias im previsíveis pelo espírito
hum ano.
A visão certa de decisões livres da vonta-
— 191 —
dc só é possivel a Deus, razão por que, no ca­
so de se realizar a profecia, a inspiração há-
de ter vindo dele. (141) As atas referentes à
realização de verdadeiras profecias, feitas por
m édiu n s e p essoas profanas, não são dignas
d ^ f é . Muitas das conhecidas p rofecias não
p assam de conjeturas. Outras são atribuídas
falsam ente a dadas personagens. Assim, por
balela deve ser tida a conhecida profecia de
L enine; outra célebre m istificação é a “pro­
fe cia ” de S. M alaquias sobre os papas até o
fim do m undo (142); não merece, tam pouco,
ser citada a coleção de profecias do fam igera­
do N ostradam us, cuja única força persuasiva
é devida à interpretação elástica e capricho­
sa dos discípulos daquele feiticeiro.
Mais atenção merecem , talvez, alguns ca­
sos de segunda vista: a predição do dr. Gal-
lat, a do m édiu m polaco Sra. Przybylska. E s­
ta vidente fez con jetu ras bastante exatas so ­
bre a guerra entre a Polônia e a Rússia; as
suas previsões, exaradas em escritos e coloca­
das antes da realização, nos arquivos da So­
ciedade para Investigação Psíquica, de V arsó­
via, despertaram verdadeira consternação.
(141) Cf. A. ZEITZ — OkknltlHmuN, WiHNCiiHchnft,
Rellglon, pg. 117 e A. LUDWIG: Okkulti.im u», Splritl*-
iuuh, per. 18.
(142) E. VACANDARD — ÉtiulcH de Critique llêllg lcii-
KC, 1923, pg. 43-63. Cf., eobre Lenine. A. ZEITZ: “DIe Lc-
nlniHche KloHterwclMiinguiig”, 1919, 20, pg. 146-162, 182-
193, 227-233. Sobre S. M alaquias, o mesmo a u to r: “ IÍIe
PnpgtwelnKagung nnch MnlnchinM” , 1920, 20, pg. 336-367.
e 1921, pg. 137. O Pe. M ENESTKIER. S. J. (1689), o Pe.
PA PEBROECK, e, ultim am en te, DE BUTE (1SS5), ADOLF
IIARNACK c o Pe. THURSTON, S. J., d em o n straram quo
a fam osa profecia dc S. M alaquias foi fo rjad a e n tre 1686
e 1590. E ' seu a u to r provável o beneditino A rnold W lon,
e a finalidade da profecia e ra fav o recer a a lg u n s c a r­
deais papavels, por ocasião do Conclave que se seguiu ã
m orte de U rbano V II. 1690.
— 192 —

b) Fenôm enos físicos ou parafísicos

Os fenôm enos físicos bem desenvolvidos,


não raro são tais que excluem uma explica­
ção natural para sua realização. Como é pos­
sível existir uma causa, p lausivelm ente natu­
ral, que, em tempo brevíssim o, pudesse efe­
tuar, no m édiu m , a enorm e perda de peso de
até vinte e cinco kilos? Por que leis fisioló­
gicas ou biológicas poderá ser dim inuída, em
poucos m inutos, quase a m etade da substân­
cia viva do organism o e, em seguida, ser re­
constituída, sem que o todo sofra prejuizo
perceptível? Esta dim inuição atinge bilhões
de células. Que são, junto dela, as inocentes
ruborizações da epiderm e e as borbulhas que,
às vezes, podem ser produzidas em pessoas
histéricas, após vivas sugestões? Estas ú lti­
mas m odificações físicas nunca nascem es­
pontaneam ente, e nunca tkisapareccm im e­
diatamente.
Como encontrar uma causa natural,
quando se trata de m aterializações e de re­
constituição anatôm ica de certas form as vi­
vas, — membros ou fantasm as inteiros?
Qualquer investigador im parcial, sobretu­
do quando puder ler em vista experiências
pessoais, reconhecerá a total im potência da
teoria do subconciente. Nem vale apelar para
processos análogos, naturais e biológicos, co­
mo o fato da geração. Analogias pouco pro­
vam e, adem ais, em nosso caso, a analogia é
puram ente exterior. Na verdade, am bos os
processos tem de com um que, por eles, é for­
mada uma espécie de figura viva. Mas o ser
— 193 —

vivo natural e o fantasm a espirita são total­


mente diferentes em todas as suas fases.

B) E ESTES SO’ PODEM SER OS MAUS-


ESPÍRITO S OU DEMÔNIOS DA CONCE­
PÇÃO CATÓLICA.

Quanto aos fenôm en os psíquicos.


Aceitando, com o certos, os casos de co­
m unicações sem m eios naturais e, sobretudo,
os casos de p revisões do fu turo, ninguém es­
tá obrigado a atribui-los à inspiração divina.
Conquanto a razão hum ana não possa prever
os acontecim entos futuros, podê-lo-á. com
grande probabilidade, uma inteligência supe­
rior, — criada, — que poderá tambem revelar
o futuro próxim o a qualquer pessoa de seu
agrado.
A circunstância de se tratar, às vezes, de
atos livres, não é de sum a im portância.
Conforme nos ensina a experiência, m es­
m o esses atos estão, a-m iude, tão intim am en­
te ligados à índole do individuo, e tão cone­
xos com as condições externas, que podem ser
previstos com certeza m oral e fundam entar
uma certa estabilidade estatística. E’ pelo estu­
do desta estabilidade e daquela certeza m oral,
que a História é considerada uma Ciência e
não uma sim ples narração de fatos.
Ora, quem, acima de nós e abaixo de
Deus, percebe incom paravelm ente a conexão
das coisas, — causas e efeitos, — são os espí­
ritos. bons ou m aus, angélicos ou diabólicos.
Uns com o outros estão em condições de pre­
ver esse futuro prev isív el, e de revelá-lo aos
— 194 —
homens, havendo perm issão divina. Portanto,
conform e forem as circunstâncias, poder-se-á
concluir, acerca de certas profecias profanas,
que houve inspiração diabólica ou angélica.
Da m esm a form a, a respeito de certos casos
de segundo vista: se as revelações superam a
inteligência hum ana, hão-de ser interpreta­
das segundo este critério.
A liás, alguns visionários parecem possuir
p re-vidência puram ente natural. Sonhos pro­
féticos e casos extraordinários de psicom etria
devem ser julgados de acordo com as normas
supra.
N em se dirá que, para explicar tais f e ­
nôm enos, bastam as causas naturais. Porque
as forças naturais tem um lim ite. E aqui, co­
m o é evidente, esse lim ite já fo i ultrapassado
p elos fatos, em que pese aos sim patizantes da
teoria pan-telepática. (143)
E acerca de m uitos fatos da vida dos san­
tos, um estudo exato mostra que só poderão
ter explicação razoavel se se admitir inspira­
ção divina, m ediata ou im ediata.
Q uanto aos fenôm en os físicos.
Os fatos verificados em sessões experi-
— 195 —
capitulo antecedente, são tão estupendos que,
por força, conduzem a esta conclusão: o prin­
cipio inteligente, que for a causa eficiente
deles, há-de superar, de m uito, qualquer es­
pirito hum ano, m ediú nico ou não, e só pode
ser um espírito.
Postas estas considerações prelim inares,
podem os argum entar da m aneira seguinte:
Os fenôm enos supranorm ais só podem re­
conhecer dois gêneros de causas: uma, —
natural, — outra, — cxtra-natural.
Mas vim os, 110 capítulo segundo, que tais
fenôm enos excedem as forças naturais. Logo,
só podem ser produzidos por forças extra-na-
turais.
Ora, a causa cxtra-natural só pode ser
uma das três seguintes: Deus, as alm as e ou­
tros espíritos.
Ninguém , nem m esm o os espiritas, ousa
atribuir os fenôm enos à intervenção divina.
Não os católicos: a m ajestada de D eus é obs­
táculo a que ele intervenha, direta ou indi­
retam ente, em reuniões inteiram ente p rofa­
nas, de caratcr particular e, às vezes, m an ifes­
tam ente suspeito. Nem os espiritas: o Deus
deles ê um deus longinguo e indiferente; se­
gundo eles, os espíritos agem com inteira in ­
dependência do cham ado “ Criador.”
Resta, portanto, que os fenôm enos são
causados pelas alm as ou por outros espíritos.
Mas não o são pelas almas, com o o vim os 110
capitulo anterior.
Logo, lião-de ser causados por outros es­
píritos.
Mas os espíritos, — causa dos fenôm enos
— 196 —

supranorm ais, — só podem ser os m aus-es-


pírilos da concepção católica ou biblia. Com
efeito, os espiritas tambcm adm item a inter­
venção de m aus espíritos; m as o mau espírito
da concepção cardecista não existe.
D e-fato, nessa concepção, o espírito só
pode ser mau "provisoriam ente." E ’ que os
espíritos, dizem os cardecistas, estão em evo­
lução, e aqueles a que se dá o nome de maus
são apenas inteligências grosseiras e im per­
feitas; ora, ninguém vê nexo necessário en­
tre esses dois con ceitos: inteligência im perfei­
ta e m aldade intrínseca ou conciente. Os es-
píritos-m aus, — ou são m aus visceral e per­
m anentem ente, conform e a concepção b íbli­
ca, — ou não são maus de form a algum a. No
mundo espiritual, não há grau interm ediário
de m aldade. Ou o espírito é bom, defin itiva­
mente. isto é, sem possibilidade de perder a
bondade ou é mau definitivam ente, isto é,
sem esperança de tornar-se bom.
Logo, se espiritos m aus intervem na cau­
salidade dos fenôm enos transcendentais, só
podem ser os espíritos maus da concepção bí­
blica. Eis com o, por exclusão, chegam os a des­
cobrir o dem ônio na base do sistem a espirita.
Mas lemos tambem p rovas d ir e ta s : é que
a ação do dem ônio é conhecida. Devem os,
pois, indicar os sinais que caracterizam a
ação diabólica, quer sob influência física,
quer sob influ ên cia moral. Dovem os ainda
exam inar se a ação do dem ônio se lim ita a
uma época histórica ou se exerce através dos
tempos.
Antes, porem , de tocarmos esse derradei­
— 197 —

ro assunto, temos obrigação de definir o nos­


so diabolism o. Daí os dois capítulos se­
guintes:
A. - Em que sentido entendem os a inter­
venção diabólica no Espiritism o;
B. - Sinais diabólicos que os fenôm enos
espiritas trazem consigo, c a ação diabólica
através dos tempos.
CAPÍTULO IV
EM QUE SEN TIDO ENTENDEM OS A IN­
TERVENÇÃO DIABÓLICA NO
ÈSPIRITISMO
I
No tratarem do espiritism o, dividem -se
os autores não-espiritas em duas grandes cor­
rentes :
a) Uma que atribue os fenôm enos supra-
norm ais a forças naturais, conhecidas ou des­
conhecidas;
b) Outra, que os atribue a inteligências
do outro mundo, que só podem ser os maus
espíritos, — os demônios.
Quanto à realidade dos fenôm en os: To­
dos os autores estão dc acordo nestes pontos:
a) A m aioria dos fenôm enos é produto
da fraude, do em buste e do truque. Quer di­
zer que não são fenôm enos reais, mas pseu do-
fenôm en os.
b) A realidade de um pequeno núm ero
de fenôm enos supranorm ais é incontestável.
Quer dizer que há fenôm enos supranorm ais
reais.
— 199 —
Praz-nos citar, em com provação, os auto­
res m ais céticos que trataram do assunto:
F a d r e H e rc d la , S. J .:
“N ão p r e te n d o q u e to d o s os fen ô m e n o s s e ja m f r a u ­
d u le n to s ” (1 4 4 ).
“ H a v e rá fe n ô m e n o s r e a lm e n te su p r a n o r m a is ? E m
p re se n ç a de to d o o m a te r ia l a c u m u la d o d u r a n te s é ­
culos, p a re ce q u e se deve re s p o n d e r q u e s im ” . ( 1 4 5 ).

P adre Mainagc:
“ C onfesso, sim p le sm e n te , e se m e s p e r a r o v e re -
d ito d e fin itiv o d á ciôncia, c o n fe sso a c r e d it a r n a o b ­
je tiv id a d e dos fe n ô m e n o s e s p ir ita s . H á m e sa s q u e
g ira m e q u e fa la m . A e s c r itu r a m e d iú n ic a n ã o é in v e n ­
ção de im a g in a çõ e s em d e lírio . N em to d a s a s a p a r i­
ções são o r e s u lta d o de h a lu c in a ç õ e s fa ls a s, n e m to d a s
a s m a te ria liz a ç õ e s o b tid a s pelo D r. G eley sã o p u ra s
q u im e r a s " . ( 1 4 6 ).
“ Sob a condição d e não e n c a ra rm o s o e x am e do s
fe n ô m e n o s com a id é ia p rec o n ce b id a de n e g a r tu d o ,
e sem se rm o s, d e n e n h u m m od o , o b rig a d o s a p a r ti lh a r
o p o n to d e v ista e s p ir ita , p o d em o s c o n ce d er u m lu ­
g a r, no e stu d o filosófico d a so b re v iv ê n c ia d a a lm a ,
a e s te c o n ju n to de f a to s sin g u la r e s , a g ru p a d o s h o jo
sob o te rm o de m e ta p s lq u ic a ” . ( 1 4 7 ).
IiU clcn H o u re : “ J á se d isse r e p e tid a m e n te que. os
f a to s e s tr a n h o s , d e sc o n c e rta n te s, do e sp iritism o e do
p siq u ism o , sob to d a s a s su a s f o rm a s, são tã o n u m e ­
ro so s e a te s ta d o s p o r te s te m u n h a s tã o g rav e s q u e, não
a d m ití-lo s, é r e n u n c ia r a to d a c e rte z a h is tó ric a . A tr i­
b u ir to d o s e sses f a to s a u m a co lo ssa l m is tific a ç ã o , d e-

(144) Pe. H ERED IA — O .Euplridumo e o Bom Sen-


bo. T rad. da L iv raria Católica, Rio dc Ja n eiro , 1926, pg. 98.
(145) Id., ibidein. pg. 136.
(146) TH. MAINAGE — La R ellglon S p lrlte — Edi-
tlon de la Revue des jeunes. Pg. 87.
(147) TH. MAINAGE — L ’Inunort«U té — Passlm .
— 200 —

se m b a ra ç a r-se de les, em bloco, com a s p a la v r a s d e


e m b u ste ou h a lu c in a ç ã o , n&o é p ro cesso q u e a razão
de v a a p ro v a r. T al é o n osso s e n tim e n to ”. ( 1 4 8 ).

Agora, se é fa lo que há tanla fraude no


espiritism o, é fato tam bem que nem tudo é
fraude. Resta, pois, saber a percentagem que
sc apura de fenôm enos reais. Antes de tudo,
afirm am os que os fenôm en os reais são m uito
poucos.
Lucio José dos Santos, repetindo quase
as palavras de Lucien R oure, acima citadas,
é da m esm a opinião que nós:
" E x iste m fen ô m e n o s e s p ir ita s ? A lg u m a s p esso as
a c e ita m tu d o ; o u tr a s T ejeitam tu d o . N em u n s n em o u ­
tr o s te m raz ão . A tr ib u ir to d o s esses fe n ô m e n o s a u m a
c olossa l m is tific a ç ã o , sob o fu n d a m e n to de q u e a
m a io r ia d e le s e s tá n e sse caso, n ã o é p o ssiv e l" . ( 1 4 9 ).

Conforme notou Lucien R oure, o grande


prestidigitador R em y adm itia um pequeno nú­
mero de fenôm enos reais:
“ P a re c e im p o ssív el d iz e r q u e tu d o , n o e sp iritism o ,
se ja f ra u d u le n to ou im a g in a d o ” . ( 1 5 0 ).

Apenas P au l H eusé se recusa a admitir


fenôm enos reais de m etapsiqu ica objetiva. E
assim , coerentem ente, aceita só os fenôm enos
supranorm ais psíquicos (m etapsiquica subje­
tiva) e rejeita os supranorm ais físicos. (151).
(148) LUCIEN ROUKE — Le M erveilleux SplrHe —
P aris. G abriel Beauchesno, édlt., 1919, pp. 182.
(149) LUCIO JO SE' DOS SANTOS — Uma sOrle do
a rtig o s do DIArio, de Belo H orizonte, sobre O E spiritism o.
O trecho c itado é do núm ero de 18-10-1939, q u a rta -fe ira.
(150) LUCIEN ROURE — Le M erveilleux Splrlte.
pg. 218.
(151) PAUL HEUS1Î — Où en cat Iq M étapsyclilqne.
G au th ier-V lllara. Parle, pg. 84.
— 201 -

O já citado prestidigitador R em y, “ após


29 anos de estudos, de controvérsias, de ob­
servações e de experim entos pessoais, afirm a
que não é possivel cepticism o absoluto ante os
resultados.” Julga que se pode atribuir à frau­
de, concientc ou inconciente, cincoenta por
cento (50% ) dos fenôm enos espiritas. Quan­
to ao resto, refere quarenta por cento (40% )
a causas fisicas naturais, e reserva apenas
dez por cento (10% ) ou m esm o uns cinco por
cento a agentes preter-natu rais. (152).
O Padre H eredia, com lodo o seu cepticis­
m o, ainda supõe um ou outro fato que requer
explicação p re le r n a tu r a l:
“ Por conseguinte, ficarão apenas poucos
casos que não adm itirão facilm ente a possibi­
lidade de uma explicação natural.” (153).
Os próprios espiritas reduzem m uito o
âm bito dos fenôm enos reais. Geley diz que os
bons m édiu ns são raros. O m esm o sentem
R ichet ç outros. (154).
Portanto, chegam os à conclusão de que
uns poucos fenôm enos reais, uns dez por cen­
to quando m uito, não tem explicação natural.
N ão tiveram, até aqui, explicação natu­
ral satisfatória. Mas poderão tê-la um dia? A l­
guns autores respondem afirm ativam ente.
Com efeito, os autores an im istas e anti-dia-
bolistas afirm am , com visos de verdade, que
ainda não conhecem os todas as forças da na­
tureza e apelam para as m aravilhas da eletri-
(152) HOUIÍE — Le M ervelllenx S ulrlte. Pag. 218-21D.
(153) Pe. C. M. DE H E RE D IA — O EHpIrltlsino c o
n « n Senso, pg. 101.
(154) Cf. CARLOS IMBASSAHY — “ O E sp iritism o à
lo* do« fato«”, L iv ra ria E d lt. d a FedcraçUo, 1935, pe.
- 202 -
cidade, — desconhecidas até há pouco tempo.
E assim, — concluem. — o que se não explica
hoje, explicar-se-á daqui a anos.
Quanto a nós, acham os que os poucos fe ­
nôm enos reais, irredutíveis hoje, nunca po­
derão ser explicados por forças naturais. E’
que as forças naturais tem um lim ite. E esse
lim ite nos é conhecido. A força de atração,
por exem plo, com preendida na lei de gravi­
dade, só pode ser contrariada por um a força
fisica maior. N inguém poderá nunca fazer
parar um pedra no ar só com um ato da von­
tade, ou só com a força do olhar.
Alegam as m aravilhas do rádio. Mas, an­
tes de ser conhecido, ninguém enviava m ensa­
gens pelo ar, em pregando uma força então
desconhecida, e atribuindo o efeito a fatores
preternaturais. Se a força era desconhecida,
tambem não havia fatos produzidos por essa
força. O contrário se dá nos fenôm enos ocul­
tos. Há fatos sem força.
O argum ento: “N ão conhecem os todas
as forças naturais, e estas forças, uma vez co­
nhecidas, explicarão muitos segredos,” é usa­
do pelos racionalistas para rejeitarem os m i­
lagres de Cristo. “Jesús andou sobre as on­
das; entrou, a portas fechadas. 110 cenáculo;
curou enferm os incuráveis” . . . M ilagres.
Mas não conhecem os todos os segredos da na­
tureza, d izem eles. A ciência explicará tudo
m ais tarde.
Quem não vê aqui, em jogo, o sofism a
dos racionalistas?
Sim . Fatos há, irredutíveis, hoje e sem ­
pre, às forças naturais, conhecidas ou desco-
— 2©3 —
nhecidas. É a opinião dos m estres. Ouça­
m o-los :
“ N ão é p ossív e l e s p e ra r q u e v e n h a m to d o s e sses
f a to s a e n c o n tr a r e x p licação n a tu r a l, u m a vez que
m u ito s a tiv e ra m já ; p o rq u a n to , m esm o se m c o n h e ­
c e r to d a s a s fo rç a s n a tu ra is , é p o ssiv el c o n h ec er o li­
m ite , a lem do q u a l n ã o p o d em ir. H á f ra u d e s. H á fe­
n ô m e n o s n a tu ra lm e n te e x p licáv eis. H á f a to s ir r e d u tí­
ve is à s le is n a tu ra is " . ( 1 5 5 ).
“ O e sp iritism o a g e n a o b s c u rid a d e m a is ou m e ­
n o s c o m p leta, no m eio d e u m a a ssistê n c ia in ic ia d a e
fa v o ra v e l. ^ H á , p o rem , f a to s re a is. Com o in te r p re tá -
lo ? H á p ro p rie d a d e s In te re s s a n tís s im a s do c o rp o h u ­
m a no, que só f o ra m c o n h ec id as u ltim a m e n te , e c ad a
d ia se d e sco b rem n ovas. O ra, p o d e re m o s e s p e ra r do
f u tu r o a e xplica çã o? D u v id a m o s. C e rto s fen ô m e n o s
ap a re c e m de ta l m odo c o n trá r io s à s le is n a tu ra is , q u e
a s u a orig em p r e te r n a tu r a l é, pelo m en o s, v cro ssi-
m U ” . ( 1 6 6 ).

Portanto, uns poucos por cento de fen ô­


m enos não podem ser causados por forças na­
turais. Logo, a causa deles só pode ser um
agente e x tra -te rre stre:

“ A d m ito , pois, qu e, em a lg u n s fen ô m e n o s, m u i


poucos, se m a n ife ste u m a in te lig ê n c ia , o u tr a q u e n ão
a do m é d iu m ou a dos a s s is te n te s ”. ( 1 5 7 ).

/ Befo )Ho?lzoiUe"I<n ? ° “ u® ff.lM 9NTOS- Cm “° D ÍárÍ° " ’


Josê^doV S?ntos^E èíárfo"!^B eÍo^H or1izonte,P18-10-Í939^UC*0
• d<15lS ío r'39L,UCI° J ° SE ' D° S SANTOS, 9m ° “D lir l° ”1
— 204 —

II
QUEM É ESSE AGENTE EXTRA-TERRES­
TRE OU ESSA INTELIGÊNCIA?
N ão pode ser Deus, nem os anjos bons,
nem as almas. Logo ó o dem ônio. A esta con­
clusão, para os poucos fenôm enos, chegaram
os próprios autores anti-diabolistas. Alguns
d e le s:
“ N e sta q u e stã o do p r e te r n a tu r a l , n ã o se h á-d e
a d m itir u m a c a u sa p r e te r n a tu r a l se n ão n o s c aso s em
que to d a e x plicação n a tu r a l f o r im p o s sív e l”. ( 1 5 S ) .
“ O u tro s a u to re s a firm a m q u e a p e n a s u m c erto
s u b s tr a tu m , s e rá d evid o à in te rv e n ç ã o d ia b ó lic a ” .
( 1 5 9 ).
“ D o q u e fica d ito não se s e g u e q u e a e x p licação
d ia b ó lic a de v a s e r s is te m a tic a m e n te r e je ita d a ” . ( 1 6 0 ).
“ N in g u é m d u v id a q u e o e sp iritism o s e ja u m t e r ­
ren o pro p ício à in te rv e n ç ã o d o s e sp írito s. Os p ró p rio s
e s p ir ita s se g a b am d e e s ta r em r e la ç ã o com o m u n d o
dos e s p ír ito s d e se n c a rn a d o s, q u e, j á o v im o s, só p o ­
d e rá s e r o m u n d o dos e s p írito s m a u s . . . C e rto s fa to s
dos - m a is p e rtu r b a d o re s d a h is tó ria do e sp iritism o
te n d em a d e m o n s tr a r q u e e s ta ação do s e sp írito s
( m a u s ) foi, a lg u m a s v ezes, r e a l ”. ( 1 6 1 ).
“ U m a p a rte d os fe n ó m e n o s deve s e r a trib u íd a &
in te rv e n ç ã o de a g e n te s so b re-liu m an o s, q u e, se g u n d o o
que foi d ito , só podem se r e s p írito s m a u s. C oncebe-se
m esm o, d a p a rte de les, u m a in te rv e n ç ã o m a is la rg a ...
q u a n d o se tr a t a de e s tim u la r c e r ta s p r á tic a s q u e
(158) Rev. PA TRICK J. GEARON, O. C. C. -A
Splrltlxraci Sn F n llllte ”. Paris, ed. L cthlellcux, pa
(159) Id„ Ibldcm .
(160) D. OTÁVIO CHAGAS D E MIRANDA — «O»? 9
ndnw noi Pxlqulcon e o Explrltlxm o p ern n te n I*cri
1926, pç. 40-41.
(161) LUCIEN ROURE — “ I.e M ervelllenx Splx
PST. 336-337.
— 205 —
de s e r p a ra os h u m a n o s a f o n te de ta n ta s decepções,
de d e so rd e n s e de d is tú rb io s ” . ( 1 6 2 ).

CONCLUSÃO. Os espíritos que aparecem


nas sessões são os m aus espíritos da con­
cepção católica. São os dem ônios.
Aliás, os próprios espiritas adm item que,
se algo há de real nos fenôm enos, deve ter por
autor o dem ônio. Com efeito, confessam que
m aus espíritos se im iscuem com os bons na
escuridão das sessões. Esta é a doutrina de
K ardec. E o sr. Im bassahy, espirita brasileiro,
vai m ais longe ainda. Diz ele:
“ O s d e m ô n io s, o s e s p ír ito s im p u ro s d a B íb lia ,
os á u g u re s do p a g an ism o , os d e u ses (q u e fa la v a m p e ­
l a boca d a s e s tá t u a s ) , o s g ô n io s são sim p les no m es
d a d o s à s e n tid a d e s m a n if e s ta n te s ”. ( 1 6 3 ).
“N ão im p o rta o no m e com q u e c ad a um b a tiza
o fato s u p r a n a tu r a l” . ( 1 6 4 ).

A divergência, pois, entre os espiritas e


nós está no sentido ligado às palavras alm a e
espirito.
Para nós, espírito é gênero e alm a é espé­
cie. Assim, a alm a é espírito num sen tido, e o
dem ônio o é em outro. Ou m elhor: a alma e
o dem ônio (ou os anjos) são espíritos, mas
não no m esm o conceito ou em toda a extensão.
E xplicam os tambem a diferença, dizen­
do que os anjos e os dem ônios são puros es­
píritos, e a alm a, não. A alm a é form a subs­
tancial da m atéria organizada, é p a r te do ho-
(152) LUCÍEN K O riíE — “ I.c Spirltixm c «Vnujour-
(l'hul e t «1’hler", ed Uccichesnc, pp. 92 e pg. 121.
(103) CARLOS IMBASSAHY — ” 0 E xplritlxino à luz
üox futos», pg. 229.
(101) Id., Ibidcm, pg. 229-230.
— 206 —
mem, ao passo que os espíritos puros não são
form as substanciais nem são partes de ne­
nhum todo.
P ara os espiritas, ao contrário, alm a e
dem ôn io são espíritos no m esm o sentido.
A lem disso, na doutrina católica, o de­
m ônio é um espírito decaido e irrem ediavel­
m en te perdido. Na doutrina espirita, todos os
espíritos estão em evolução, e serão salvos ou
aperfeiçoados um dia. Mas os espiritas estão
em erro. Para provar que a alm a e o dem ô­
nio são espiritos de n atu reza diversa, temos a
fiiosofia. E para provar que o dem ônio é es­
pirito decaido c irrem ediavelm ente perdido,
temos a Bíblia.
Assim , é doutrina filosófica assente que,
se o espírito puro pode naturalm ente m an ifes­
tar-se, a alm a não o pode. (165).
Baste-nos, p.orcm, a confissão dos espiri­
tas: “ As entidades m anifestantes são os de­
m ônios, os espiritos im puros da B íb lia.”
Mas será que o dem ônio intervem siste­
m aticam ente nas sessões, pela força de um
rito?
Não. Adm itir isso seria admitii', em lar­
ga escala, um grande sistem a de possessões
diabólicas. A-propósito, diz m uito bem o teó­
logo P atrick Gearon:
“Julgam os que é impossivel adm itir a teoria dia-
bólica cm geral, sem adm itir, ao mesmo tempo, quo

1 ?vrs. i*«s
— 207 —
Espírito enganador, de poder apenas re­
la tivo dentro da criação, o dem ônio é capri­
choso. Tendo .ambiente preparado, intervem
quando lhe apraz e se Deus lh’o perm ite. É o
que pensam os Padres do Segundo Concílio
de Baltim ore e os senhores B ispos do N or­
te do Brasil. D izem os prim eiros:
“Vix clubltandum tam en videtur qunedam saltem
cx ©ls a Satanlco ln terventu repetenda esse, cuin vix
alio modo satis explicarl possint; isto é: Dificilmente
se poderá duvidar que ao menos alguns desses fenô­
menos devam ser atribuídos à intervenção de Sata-
áaz, já que dificilmente se poderão explicar de outro
modo”. (166).

E os segundos confessam :
“Não nos custa pensar que, de-fato, algum a vez,
nas sessões espiritas, se faça sentir a intervenção
diabólica”. (167).

Mas repugna-nos adm itir que o dem ônio


esteja ligado a um rito, de modo que apareça,
sem pre que seja invocado, com o nom e de
“evocação de tal espírito desencarnado.”
Custa-nos adm itir isto. Prim eiro, porque,
em tal hipótese, o dem ônio estaria sujeito aos
homens, e, segundo, porque o dem ônio não
precisa intervir fisicam ente para ter os h o­
m ens em sua sujeição. Adm itim os, pois, um
m eio termo entre as teorias extrem as.
Em resu m o: O dem ôn io in tervem m as os
assistentes não sabem , previam en te, quando
(1GC) Apud. H E R E D IA — O E sp iritism o e o Dom
Senão, pç. 195.
(167) Senhores Bispos do N orte do B rasil, « P a sto ra l”,
— 208 —

é que ele vai intervir. A intervenção só se tor­


na conhecida post factu m , depois do evento.
T odavia, m èsm o que a presença física
de Satanaz não possa sem pre ser provada, o
ESPIRITISMO É SEMPRE DIABÓLICO, por­
que o dem ônio cxcogitou m eios de estar pre­
sente, — fisicam ente, algum as vezes, — mo-
ralm enle, as outras vezes.

O ESPIRITISMO É D IA B Ó L IC O :

a) Pelo am biente das sessões, — am bien­


te de nervosism o, de hipnose coletiva, de te­
mores;
b) Pelas circunslâncias de lugar e de tem ­
po que envolvem as sessões;
c) P ela instituição do médium.
Tratarem os dos dois prim eiros itens num
só artigo, e do terceiro ein artigo separado.

Art. I.

a) Quanto ao am bien te. Haja m édium ou


não, o fato de algum as pessoas se reunirem
cm torno de um a mesa, e esperarem com uni­
cações com o invisível, cria um estado nervo­
so nos assistentes em geral, estado que pre­
d ispõe para a loucura, para o suicídio, para
todas as aberrações, e, sobretudo, para o trans­
torno da Lógica N atu ral c negação das doutri­
nas religiosas puras e tradicionais. O espirita
tem um a lógica diferen te d a dos outros ho­
m ens, e seu cérebro se torna im perm eável
aos raciocínios faceis e sadios. É um homem
— 209 —
evadido do senso com um . Daí, a dificuldade
de um espirita vir a abandonar as suas prá­
ticas supersticiosas.
b) Quanto às circunstâncias. É certo que
a luz ou as trevas m ateriais não podem ter
nenhum a influ ên cia no p oder do espírito do
outro m undo. Da luz m ais intensa às trevas
m ais opacas não há m ais do que uma ques­
tão de graus. Mesmo entre os anim ais, o que
é escuro para uns, é claro para os olhos de
outro. Para o espírito, portanto, não há d ife­
rença entre a luz e a treva deste mundo. Por
conseguinte, o dem ôn io iião precisa da treva
para agir. Pod e aparecer tanto de noite com o
de dia, tanto em m eia claridade com o à luz
viva.
Entretanto, fez crer a seus adeptos que
a escuridão ou a pouca claridade são condi­
ções necessárias para a produção dos fen ô­
m enos. Conseguiu convencê-los de que o m é­
dium só pode em prestar o seu flu id o ao es­
pírito, se agir à noite e com pouca luz. E os
im becis acreditaram . Compararam m esm o os
fenôm enos espiritas com certos fenôm enos
quím icos que só se realizam à noite, ou na au­
sência da luz direta; por exem plo: o despren­
dim ento do gás carbônico, das plantas.
Por que essa tática de Satanaz? Sim ples­
m ente porque a luz preju d ic a os seus inte­
resses, e as trevas os favorecem .
As sessões noturnas, portanto, realizadas
quase ao escuro, com prom iscuidade de m a­
chos degenerados e dc fêm eas histéricas, são
dc criação nitidam ente diabólica. 0 diabo aí
— 210 —
está sem pre presente, em bora nem sem pre
apareça.

Art. II.

QUANTO AO MÉDIUM
O dem ônio, teoricam ente falando, não
precisa de interm ediários. Provam -no as suas
aparições espontâneas, a Cristo no deserto, e
aos hom ens, várias vezes, com o consta da his­
tória.
Para a organização, porem , de uma Re­
ligião ou Sistem a de com unicações, a Insti­
tuição do M édium foi necessária. O m édiu m :
Prim eiro, serve para ocultar Satanaz; c,
segundo, é o seu procu rador bastante no ca­
so da ausência do Chefe.
Assim, podem os definir o m édium :
PESSOA EM PRESENÇA DA QUAL OU
POR MEIO DA QUAL O DEMÔNIO OPERA
FENÔMENOS TRANSCENDENTAIS.
O m édiu m é:
A — Pessoa em presença da qual o de­
m ônio opera fenôm enos transcendentais.
M axw ell tam bem entendia que o agente
dos fenôm enos era outro que o m édiu m , sen­
do este apenas um a condição para os fen ô­
m enos :
“M édium , — diz ele, — é a pessoa em pre­
sença da qual p odem ser observados os fenô­
m enos psíq u icos.” (168)
(168) Citado por CARLOS IMBASSAHY — «O E sp iri­
tism o & lu s do« Fa to « ”. PÇ. 165.
— 211 —
Neste caso, o m édiu m não opera. Fica im ó­
vel, com o extático, no seu gabinete, ou no m eio
dos assistentes.
Quem realiza os fenôm enos é o demônio
em pessoa, e os fenôm enos, então, excedem as
forças naturais. É assim que a força da gravi­
dade, a lei da inércia e o poder de percepção
dos orgãos sensoriais do hom em são im pedi­
dos por forças contrárias, acionadas por
agente in visível: é o caso de E usápia Palla-
dino, R udi Schneider, M aria S ilbert, etc.
O estado de inconciência e inibição m en­
tal em que cai o m édiu m , é efeito da união
:oom o espírito do Alem. É o que se chama,
geralm ente, transe; o m édiu m é um quase
possesso, senão um possesso total. Os pró­
prios espiritas confessam que a possessão dia­
bólica, cujos sinais são descritos no Ritual Ro­
m ano, está m uito próxim a do estado de tran­
se. (Cf. Ritual Rom ., Tit. XI, c. I, n.° 3.
Carlos Im bassahy escreve: "P or esse fenômeno o
espírito so incorpora ao médium, por cujos sentidos se
m anifesta”. (1G 9). E, à pagina 3S0, descreve a me-
diunidade do médium MirnbclU como verdadeira pos­
sessão diabólica, tanto assim que a aproximação do
exquisito personagem causa a todos verdadeira re ­
pulsa.

T odavia, som os levados a declarar que


vem os algum a diferença entre o transe me-
diúnico e a possessão diabólica do Ritual. 0
transe não traz, geralm ente, o sofrim ento fí­
sico que, às vezes, acom panha a possessão. O

(169) CARLOS IMBASSAHY, opus c ltatu m , pg. 427.


— 2 )2 —

transe é fenôm eno passageiro da parte do es­


pirito, e voluntário da parte do m édiu m , o
que se não dá na possessão. Por isso, o tran ­
se deveria cham ar-se antes uma usurpação
e o sujeito usurpado, pois o espirito não está
com o quem julga ter direito de posse (pos-
séssio). (170).
Do que ficou dito acim a se conclue que,
na presença do m édiu m , entregue a este esta­
do de transe m ediúnico, o dem ônio realiza
fenôm enos que, evidentem ente, excedem as
forças naturais. Mas alem desses fenôm enos,
ainda existe outro m ais estupendo: o da m a­
terialização. Sobre este devem os notar o se­
guinte:
As aparições das alm as e dos espíritos
podem explicar-se de dois m odos:
a) O espirito age na im aginação do vi­
sionário, e este julga ver externam ente o que,
na realidade, só existe na sua fantasia. É o
que se cham a Visão Im agin ativa;
b) O espírito se m anifesta externam ente
por m eio de um a form a material que im ­
pressiona os orgãos visuais do vidente. É o
que se diz Visão Corpórca-R eal.
Este segundo m odo está m ais de acordo
com as faculdades psíquicas do hom em , so­
bretudo quando a visão é prolongada, e quan­
do são m uitas as pessoas que veem o fanlas-

(170) Diz PATJIICK GEAIION: "Os esforços do m6-


dium podem ftcarreUir esg o tam en to nervoso: mas, g e ra l­
m ente. nilo lid. nenhum sinal de sofrim en to agudo, nenhum
traço de torm ento. Não se lhe veem e ssas ferozes con-
torsões da face que, de o rd in ário , acom panham a posses­
são. “ I.e Splritl.sme: Su F n lllite ”, pg\ 1:)2.
— 213 —

ma. D eve ser o caso da m aterialização espi­


rita. (170, a).
Neste caso, com o o espírito, n atu ralm en ­
te. não pode ser visto, deve servir-se de m até­
ria criada, preexistente, para form ar com ela
o invólucro m aterializado, para form ar um
corpo m om en tân eo ou som ente membros,
m ãos, cabeça, etc. É o que Lucien R oure diz
com estas palavras:
“A visão dos mortos não-ressuscitados e a dos
pures espíritos é um aparecimento que consiste em
certo arranjo de raios lum inosos”. (171) e 171-a).

E Santo Tom az já havia dito o mésmo,


nestes term os:
“Neste caso, os anjos tomam verdadeiram ente as
aparências hum anas: o que pode dar-se por ceita con­
densação da atm osfera, sob a ação divina". (172).

Portanto, nas m aterializações espiritas


temos duas h ipóteses a considerar:
a) O dem ônio tom a m atéria orgânica do
m édiu m , desagrega-lhe, por uns instantes, al­
guns m ilhões de células e com estas form a os
m em bros da m aterialização. Toma células e
não flu ido, — a existência deste não está pro­
vada, — e isto explicaria a m odificação so-

(170-a) N a B íblia tem os m uitos exem plos de a p a r i­


ções corpflrens-reais, como: Aparlçilo do an jo a Tobias,
dos anjos à s 660 pessoas logo apôs a A scen sio de Cristo,
S. G abriel a M aria SS., etc.
(171) LUCIEN ROURE, In Cnthollc E ncyclopedlo, New
Y ork, sub voce Vlalon.
(171-a) B a lta za r viu t r í s dedos de um a mâo invisível,
escrevendo na parede as p alav ras Mané. Tocel, F arés. Cf.
Daniel, 5:20.
^ (17£) SANTO TOMAZ DE AQUINO — »ummn Theol.
— 214 —
m ática do m édium , inclusive a dim inuição do
peso.
b) 0 dem ônio toma m atéria orgânica fo ­
ra do m édiu m , o que Santo Tom az exprim iu
com a expressão “ condensação atm osférica.”
É a hipótese que está m ais dç acordo com a
natureza decaida do dem ônio e o respeito de­
vido à pessoa hum ana do m édiu m . N este ca­
so, o m édiu m é com pletam ente alheio à m a­
terialização. O dem ônio não precisa do or­
ganism o do m édiu m .
Não obstante isto, a presença do m édiu m
continua necessária.
O dem ônio fez crer, a seu adeptos, que o
espírito só pode agir, ajudado por um m édiu m .
Convenceu-os de que o m édiu m em presta
flu id o ao espírito e é por isso que cai em
transe.
É para fazer acreditar tudo isso, que o
dem ônio teria, então, dim inuido o peso físi­
co do m édiu m , durante as operações. O dem ô­
nio, com efeito, para materializar-se, no caso
da segunda hipótese por nós estabelecida,
não precisa de m atéria orgânica do m édiu m .
Nem este poderia perder quase m etade de
seu peso, sem sofer desequilíbrio molecular.
Uma pessoa que, num instante, perdesse vin­
te ou m ais kilos de peso, m orreria de inib i­
ção. Logo, — conclusão forçada, — a perda
de peso seria só aparente e não real, seria
só na balança e não no corpo. É facil ao de­
m ônio temperar as conchas ou os braços de
um a balança, e fazer aparecer o peso, para
m ais ou para m enos, que bem lhe aprouver.
Neste caso, o transe ou êxtase m ediú nico
- 215 —
seria consequência da presença ou da visão
do dem ônio, e não condição prévia para ela.
O m édiu m , ante a presença do Malvado, so­
fre forte abalo no seu psiquism o e, em segui­
da, cai em transe.
A presença do m édiu m , portanto, disse­
m os atrás, continua necessária ainda nos ca­
sos em que o dem ônio age por si. Porque es­
tes casos, que são rarissim os, acreditam os
outros casos, — cotidianos e costum eiros, —
em que o m édiu m age sozinho, e em que o de­
m ônio não está presente fisicam ente, como
verem os daqui a pouco.

Observações.

1.°) O dem ônio fez crer ainda, a seus


adeptos, que, nas m aterializações, se alguem
tocar nestas, pode prejudicar a saude do m é­
dium , pode, até, causar-lhe a morte. (173).
“ . . .o neófito, para apanhar o em buste, co­
m eteria erros graves, que poderiam , até.
acarretar a mortç do sen sitivo.” (174).
O dem ônio não quer que alguem tente des­
m ascarar as frau des, porque estas tam bem
fazem parte do plano diabólico. Daí a proi­
bição de se tocar nas m aterializações. Puro
engano. Seja o fantasm a m aterializado real,
ou não, não tem nenhum a ligação fisica com
o corpo do m édiu m . Não se cita nenhum caso
de m édiu m que m orresse em sessão, em vir­
tude da infração deste preceito, em bora, al-

(173) IMBASSAHY, “ O E rp lrillsm o à luz doa F n to a”,


pg. 180.
(174) Id„ lbldem, pg. 109.
gum as vezes, houvesse desabusados que ten­
taram segurar as m aterializações. Quando
muito, algum a dor de cabeça, efeito do
desapon to.
2.°) Dizem tam bem que a boa saude do
m édiu m ajuda os fenôm enos, e a saude má
os prejudica: L e m ediu m do it être en bonne
santé, — é regra de Geleij. (175).
Tudo isso, em buste de Satanaz. Tais im ­
p osições rituais tem por fim , justam ente, fa ­
zer crer que os fenôm enos dependem do m é­
diu m . A instituição do m édiu m era util e ne­
cessária à N ova Religião c, por isso, Sata­
naz tudo fez para tornar indispensável, ao
m enos no conceito de seus sequazes, a presen­
ça do cham ado sensitivo.

B — O m édium é, as m ais das vezes, pes­


soa por m eio da qual o dem ônio opera fen ô­
m enos transcendentais.

Q ueremos dizer que aqui o dem ônio não


intervem pessoalm ente. F ica de longe, ou es­
tá ausente, m as o m édiu m o representa, e o
m édiu m que aqui opera é o m esm o que apa­
receu, com o condição sine qua non, nos casos
verdadeiram ente supranorm ais. Por conse­
guinte, os fenôm enos praticados aqui pelo
m édiu m , sem o deçmônio, são atribuídos à
m esm a causa que os fenôm en os praticados
ali, pelo dem ônio, na presença do m édiu m .

(175) Apud CARLOS IMBASSAHY — “ O E sp iritism o


à Inz dos Futoa”, pgs. 1S2 e 186.
— 217 —
Por conseguinte, o m édiu m é pessoa que,
devido à sua constituição fisiológica especial,
produz fenôm enos sem recurso a um poder
fora da natureza. Esses fenôm enos não são
propriam ente transcendentais. São, todavia,
an orm ais. porque são atos da psicologia
anorm al. Esse ponto deve ser explicado:
Em casos p sicológicos anorm ais, dá-se,
no homem , a dissolução dos psiquism os.
(176) O psiquism o superior, dissociado, anu­
la-se, e o psiquism o inferior passa a dirigir
sozinho os atos m entais. Então, o hom em faz,
inconcien tem en te, coisas que nunca poderia
fazer no estado de conciência, ou que só faria
im perfeitam ente. R esolve problem as m ate­
máticos, com põe m úsicas inspiradas, faz p oe­
sias adm iraveis.
D evido à dissociação dos psiquism os, em
estado de sonam bulism o natural, F artini
com pôs a sua sonata “Diabo", La F ontaine a
sua poesia “Les den x P igeon s” e V oltaire m o­
dificou todo um canto da sua H enriade. (177)
Em sonam bulism o m ediúnico, A n d rew Jack-
son D avis ditou o seu livro “ The P rincipies
of N a tu re” (1847), que é todo feito de rem i­
niscências de Swendenborg. (178)
Em consequência da dissociação dos psi­
quism os, o hom em age por instinto, e é sabi­
do com o o instinto é, m uitas vezes, m ais sábio
do que a inteligência. É neste caso de psiquis-

(176) Cf. GRASSET — Iiléea Médlcnlea, de p as. 1 a 27.


(177) GRASSET, Ibidem, PS. 5.
(178) Cnthollo U ncyclopedla — New Y ork — s. voe.
BpIrltUm.
— 218 —
m o inferior dirigindo o hom em , que as idéias
e os sentim entos, até então em repouso no
subconciente, vem para o plano da frente e
passam a governar o homem . O subconcien-
te, p lano inferior da conciência. “ andar-ter-
reo” da m entalidade, foi reconhecido pelos
antigos neo-platônicos e, .ultimamente, reto­
m ado por F reu d e seus discípulos. (179)
A dissociação dos psiquism os se dá em
vários casos, sendo, umas vezes, parcial, e, ou­
tras vezes, total. É parcial em estados m en­
tais de anorm alidade não aguda, com o em
certos delírios febris, e em m om entos em que
o sujeito não se esforça por unir os dois psi­
quism os, — por exem plo, na distração, na abs­
tração, na atenção intensam ente dirigida para
um dado assunto. Foi assim que N apoleão, no
fragor da batalha de W agran, desceu do ca­
valo e, esquecido do m om ento, se pôs a co­
lher flores distraidam ente. (180) É total, so­
bretudo, no SONAMBULISMO, quer natural,
quer artificial. O Sonam bulism o artificial é
o que se chama, em linguagem técnica,
hipnose.
(17D) Foi P a tric k Genron, crem os nós, quem prim ei­
ro notou que a doutrin a do subconciente Já tin h a sido
e xposta por Santo A gostinho e ou tro s. D isse Santo Agos-
“E n tro nos vastos dom ínios e nos vasto s palácios de
m inha m em ória onde estão os teso u ro s de In fin itas Im­
pressões traz id a s por objetos sensíveis de to d a espécie.
AI dormem todas as reflexões feitas p or nós: todo desen­
v olvim ento, toda redução, toda m odificação das coisas
que os sentidos a tin g iram e que o esquecim ento a in d a não
nhsorven nem sepultou”. Confissões, llv. 10, c. 8. S. B er­
nardo, em T rata d o da Concléncla, c. I. diz a m esm a coi­
sa. P o rta n to , só o nome de subconciente ê que é novi­
dade. E mesmo quanto ao nome não h á com pleto acordo
e n tre os modernos. Myers p referia dizer enb-U m lnal. Cf.
PA TRICK J. GEARON — Le S p trltlsm e. 9a r*IU K e, —
pg. 97-98.
(180) Apud GRASSET, op. clt., pg. 7.
— 219 —

Ora, ninguém ignora que o transe é uma


hipnose. É, m uitas vezes, hipnose espontânea,
devida à constituição mórbida do sujeito, c,
outras vezes, provocada. Quando o m édiu m
custa a cair espontaneam ente em hipnose, es­
ta lhe é im posta ou provocada; depois diso-
so, cairá espontaneam ente nela, desde que
concorram as m esm as circunstâncias que cer­
caram o primeiro transe: expectativa dos pre­
sentes, silêncio, luz apoucada ou luz verm e­
lha, m úsica, religiosa ou profana, etc. Então,
ou quase sem pre, o transe é uma AUTO-HIP-
NOSE.
Um dos diretórios de sessões espiritas,
que temos em m ão, consagra capítulo inteiro
ao S onam bu lism o. É daí que colhem os estas
preciosas confissões:
“ E' de máxima Importância, pois, que as faculda­
des mediúnicas de qualquer pessoa se.jam elevadas
sempre, constantem ente, p ara a mais a lta esfera da
força psíquica por meio do sonambulismo.
“Daqui resulta que é de grande vantagem para
os círculos espiritas procurarem tran sp o rtar p ara o
estado sonâmbulico, não só o médium, como tan tas
pessoas, quantas seja possível’’. (181).
“ O hipnotismo tambem oferece vantagem p ara o
desenvolvimento da mediunidade, pois que, como no
magnetismo, tambem pode o sonambulismo elevar-se,
por meio dele, ao seu mais alto g ra u ”.
“Dal se çonclue que é de máxima im portância a

(181) HANS HA RN OLD — SessSes E sp irito » — T rad


da E m presa Ed. "O Pen sa m en to ”. S. Paulo, 1938. Pg. 30
e seguintes.
— 220 —
existência de um m agnetizador ou de um hipnotizador,
nos cfrculos espiritas em form ação”. (182).

O m ais erudito dos espiritas brasileiros,


Carlos Im bassahy, tambem identifica transe
com hipnose; diz ele:
"O transe vai do simples desprendimento ao so­
no profundo. E ’ nos graus adiantados da hipnose, e
com sujeitos especiais que se verificam, em via de re­
gra, os bons fatos espiritas.” (183)

Portanto, conhecidas as m aravilhas da


PSICOLOGIA ANORM AL, e sabendo-se que
esta é que governa e domina as sessões espiri­
tas, nada de adm irar que se deem , nessas
sessões, casos assom brosos de telepatia, de
psicom etria, de televisão, de m em ória regres­
siva, etc. As idéias sub-concientes dom inam
todo o âm bito da vida m ental. E disto temos
exem plos fartos e com probantes.
Heleno Smith, o médium do prof. Flom noy, com­
põe, em transe, toda um a curiosa linguagem, que atri-
bue aos habitantes do planeta Marte. Essa linguagem,
entretanto, nada mais é do que um francês tran sfo r­
mado.
Helena lera, em tempos idos, uma antiga histó­
ria da índia, escrita por Marlès, em 1822. (184). Isto
lhe inspirou, em transe, um complicado romance so­
bre a princesa Simandlnl, que fora esposa de Sivronka
Nayaka, príncipe de K anara, em 1400 de nossa era.
Como fizera a respeito dos marcianos, H elena atribue

(182) Idom, ibidem, p*. 38.


(183) CARLOS IMBASSAHY — “ O E ap lrltlam o A lua
do» F a to a ” — P a. 234.
(184) MARLÉS — H U tolre de l'In d e A nelcnne — P a ­
ris, 1828.
— 221 —
aos Indús uma linguagem difícil e incompreensível, o
que bem prova a intrujice de um m édium espirita,
pois é sabido que todas as línguas da índia, ainda a3
mais remotas, são bastante conhecidas dos filólogos
modernos.
Tendo na m ente, em estado de vigília, à
crença da reencarnação, vários m édiu ns hip ­
notizados criaram rom ances relativos a suas
“pretendidas” existências passadas.
Foi assim que Mndnnie J., hipnotizada pelo coro­
nel A lbert do Rochas, descreveu dez vidas anteriores
“ que ela teria vivido''. H elena Smitli, tambem, hipno­
tizada por Flournoy, diz ter sido prim eiro a princesa
Simnndini, no século XV, e, depois, Maria Antonicla,
no século XVIII, e, fantasiosa, refore coisas interes­
santíssim as que se teriam dado nesses tempos idos.

Estes, com o todos os casos de regressão


d a m em ória, observados pelos hipnotizadores
M arata, B ou vier e tíertra n d , nada m ais são
do que criações que o sub-conciente arqui­
teta com elem entos confusos, arm azenados
no estado de vigília.
Queiram ou não os espiritas, o sub-con-
eiente, posto em atividade durante o tempo
dc dissociação dos psiquism os, dá a chave de
quase todos os fenôm enos su bjetivos. Explica
muitos casos tidos por assombrosos pelos lei­
gos em psicologia anorm al. Esses casos, se fo s­
sem realizados por um Santo, não poderiam ,
hoje-em -dia, ser tidos com o m ilagícs; se fos­
sem , tam bem, realizados por um a pessoa
qualquer fora de uma sessão espirita, seriam
anormais, mas não supranormais. Praticados,
porem , num a sessão espirita, tem ligação m o­
— 222 —
ral com os fenôm en os transcen den tais que aí,
por ventura, se praticaram em outras oca­
siões.
0 m édiu m , portanto, não passa de uma
pessoa de psicologia anorm al, pessoa que, pe­
lo hábito ou por estado mórbido congênito, fa ­
cilm ente dissocia os seus dois psiquism os.
Quando em transe, isto é, quando caido em
auto-hipn ose, o m édiu m é um cérebro per­
m eável aos pensam entos dos presentes. Lê
nos pensam entos. O dem ônio não está pre­
sente fisicam ente, nem isto lhe é necessário,
porque ele tem o seu representante-capaz,
— o m édiu m .
Os próprios autores espiritas notaram
que a cham ada m ediunidade pode ser, m ui­
tas vezes, estado m ental natural. É de Léon
D e n is:
“Em certos casos, vê-se aparecer em nós um ser
muito diferente do ser normal, possuindo não apenas
conhecimentos e aptidões mais estensas que as da per­
sonalidade comum, mas, alem disso, dotado de mo­
dos de percepção mais poderosos e variad o s. . . ”
“ Cumpre fazer bem a distinção entre esses casos
e os fenômenos de “Incorporação de defuntos”. (1S6).

A literatura espirita está cheia de episó­


dios interessantes, — m aravilhosos para um
espirita, porem naturais para um psicólogo
m oderno. Este caso, por exem plo:
Hodgson, australiano, tendo sido noivo de uma
moça com quem não pudera casar-se, vai para a Ingla-

(185) LÊON D ENIS — Le Problém e de 1’Ê tre e t de la


D eatlnée, citado por Im bassah y , o E aplrltlam o. pg. 388-389.
— 223 —
terra. Um dia, em sessão espirita, a senhora Piper,
em transe, lê na m ente de Hodgson toda a história
de sou antigo noivado. O interessante é que, contan­
do essa história, P ip er se julg a em comunicação com
a própria noiva de Hodgson, e dos relatos não consta
certo que essa noiva já houvesse falecido. Mesmo, po­
rem, que esta últim a hipótese se houvesse realizado,
a presença de Hodgson na sessão é suficiente para ex­
plicar a leitura de seus sentimentos pelo médium
hipnotizado. (186).

O bservação.

É com um ouvir-se falar em m édiu m fo r ­


te, em bom m édiu m , ele. D e-fato, os m édiu ns
não são todos iguais. Quanto m ais facilm en ­
te puder um m édiu m dissociar os seus psi­
quism os, e quanto m ais profu n dam en te cair
na hipnose, tanto m elhor m édiu m e m ais fo r­
te será, porque realizará fenôm enos m ais es­
tupendos e com m ais prontidão.
Tam bem na hipótese da intervenção do
dem ônio nos fenôm enos, ainda é exata a ex­
pressão m édiu m fo rte ou fraco. O demôuio
tem os seus m édiu ns prediletos, — os m ais
sensitivos, — os que se lhe entregam sem re­
serva nenhum a, mesm o sem terem conciên-
cia disso. E sses são os bons m édiuns.

Já que identificam os o transe com a h i­


pnose, e dissem os que ele não p assa de um a
auto-hipn ose, cumpre digam os algo sobre o
HIPNOTISMO.

(ISO CARRINGTON — The llU to ry of Paychlc Scien­


ce, citado por Im bassay.
— 224 —

Por h ipn otism o ou h ipn ose entendem os


u m “sono nervoso in du zido p o r m eios artifi-
ficiais e extern os.” (187)
A tribuem -se-lhe dois gêneros de efeitos:
A ltos e com uns; os prim eiros constituem o
HIPNOTISM O TAUM ATURGO e parecem re­
querer um autor preternatural; entre eles es­
taria a xisão à distância, a autoscopia e a lie-
teroscopia (ver os orgãos internos próprios
ou alheios), a visão através de corpos opacos,
a epigaslria ou transposição dos sentidos, co­
mo ver com o ventre, ouvir com as m ãos. Os
efeitos com uns constituem o HIPNOTISM O
FISIOLÓGICO e p arecem não exceder as for­
ças naturais: obediência total, halucinação, so­
no hipnótico, etc.
O hipnotism o foi estudado por dois gru­
pos de sábios: a E scola de P aris ou de La Sal-
pêtrière, chefiada por Charcot, e a E scola de
Nancy, chefiada por B ernheim .
N ão confundam os M agnetismo com Hi­
pnotism o.
O prim eiro adm ite que o sono é provoca­
do p or um flu ido hum ano, que sai do corpo
do agente e penetra no cérebro do paciente.
E ’ tam bem cham ado m agnetism o anim al, zoo-
m agnetism o ou m esm erism o. (188)
O segundo ensina que o sono induzido
por sugestão ou auto-sugestão. Leva tambem

(187) SURBLED, In Cntholic E ncyclopedia, a rt. H yp.


(188) Z oom agnetlsnio, do gr. zoon, — .m im ai. Mcxmc-
rlsrao 0 derivado do nome próprio Mcsmer. F ra n z Mcs-
mor, a u to r dn teoria do m agnetism o, nasceu em 1733, cm
Viena, A ustria. M orreu em 1815.
o nom e de n eu ro-hipn otism o ou braidis-
m o. (189)
Já os antigos conheceram os fenôm enos
principais do hipnotism o. A cris talo m aneia
nada m ais era do que o hipnotism o praticado
m ediante a visão atenta de um copo de cris­
tal. 0 livro do Gênese se refere a um a taça de
cristal que servia para augúrios (190)
O m agnestism o ou m esm erism o parece
destituído de base cientifica e está hoje aban­
donado. A existência do flu ido an im al não
foi ainda demonstrada.
O hipnotism o adm ite três fases:
L etargia, — sono profundo, im obilidade;
C atálepsia, — inflexibilidad e do corpo, rigi­
dez m uscular; e S onam bu lism o, — vigilia
aparente.
O sonam bulism o, a que reduzim os o tran ­
se, de acordo, aliás, com a própria confissão
dos espiritas, é uma vigília aparente. O su­
jeito anda, fala, opera, — tudo sob o im p é­
rio do hignotizador. E ’ um autôm ato. Um vi­
sionário. Vê com os olhos fechados. Vê, entre
m uitas pessoas, apenas aquela ou aquelas que
o hipnotizador quiser.
O hipnotism o é um caldo de cultura apto
para todos os fenôm enos da PSICOLOGIA
— 226 —

ANORMAL. É. sobretudo, o clim a natural da


TELEPATIA. Já vim os, com efeito, que a te­
lepatia experim ental, ate aqui, só deu resul­
tado quando praticada com hipnotizados, is­
to é, com m édiu n s em transe. Os casos de
icom zação (francês: E n voû tem en t), (191) de
psicom etria, de exteriorização da sen sibilida­
de, — dem onstrados pelo cel. D e R ochas e por
outros, só o foram em pacieutes hipn otiza­
dos, e isto evidencia o poder estranho que há
no hipnotism o.
Iuutil quererm os com preender a natureza-
za intim a do hipnotism o. P a trick tíearon con­
fessa que, m esm o sem ter nada de diabólico,
o hipnotism o constitue ainda h oje um m isté­
rio. (192)
“O sono nervoso, com os ostranlios e múltiplos
fenômenos que o acompanham, não é compreendido à
luz de nossos atu ais conhecim entos”.
Surblcd acrescenta: “E ’ prática perigosa, senão
m oralmente detestável. Todavia, a Igreja, sempre pru­
dente nos seus julgam entos, só condena os abusos do
hipnotismo, deixando caminho aberto para as pesqui­
sas cientificas. (193).

O HIPNOTISMO FISIOLÓGICO, portan­


to, conquanto seja fenôm eno natural e nada
tenha de diabólico, c o m aior e o m ais eficaz
au xiliar d o espiritism o. Graças ao liipnotis-

(191) E nvoûtem ent, cm francês, 6 a tran s fe rê n cia da


sensibilidade de uma pessoa p a ra a su a Imngem , em cera,
geralm ente p a ra In tuitos maléficos. Criamos, p a ra e sta
noção, o term o grego Iconlznçüo, de leon, — Imagem. E n ­
voûter, — Iconlzar.
(192) PA TRICK GEARON, opus cltatu m , pg. 10S.
(193) SURBLED, ln Cotholic E ncyclopedla. — New
York, s. v. U vpnotlam .
— 227 —
mo, — provocado coletivam ente nas sessões,
— estas se enchem de fantasm as, de espíritos,
de ectoplasm as, e se am bientam de nervosis-
mos e “p resenças” fantásticas.
Graças a ele, a telepatia aí reina. Graças a
ele o DESDOBRAMENTO DA PERSONALI­
DAD E do m édiu m e dos assistentes faz pro­
dígios.
Em todas as p ersonificações que se di­
zem aparecer nas sessões, já M axw ell acredi­
tava encontrar a m entalidade do m édiu m e
da assem bléia, ou as suas conciências, am al­
gam adas e intercom pcnetradas, — graças à
hipnose coletiva c frequente ” (194)

Até aqui temos estudado duas hipóteses


relativas à instituição do m é d iu m : a) Uma
em que o m édium é pessoa c/n presença da
qu al o dem ônio opera fenôm enos su pran or-
m ais; b) outra em que o m édium é pessoa
p or m eio da qual o dem ônio opera os m esm os
fenôm enos.
Tanto num a hipótese com o na outra, o
m édium -pessoa pode ser substituído por uma
Mesa. Então, a m esa é que é o m édiu m .
F araday (1853) e G arpenler foram os pri­
m eiros que se lembraram de explicar o fen ô­
m eno das m esas girantes pelos m ovim entos
m usculares inconcientes (m uscular action ),
m ovim entos provindos do m édiu m e das pes­
soas que tom am parte na operação. (195) Es­
ta teoria conquistou terreno em m eios cien-

(194) LUCIEN ROURE — Le M erveilleux S p lrlte —


pg. 193.
(195) Cnthollc Encyclopedlo» New -York, a rt. Splrltlam .
— 228 —

tíficos. Mas hoje é tida com o insu ficiente pa­


ra explicar os com plicados fenôm enos da m e­
sa. Observa Lucien R onre:
“Enquanto os movim entos só eram obtidos me­
diante contacto, tínham os o direito de explicá-los pe­
la teoria dos movimentos inconcientes. Hoje, tal teo­
ria já não pode ser considerada como suficiente, e é
claro que, no caso das mesas girantes, intervem fre­
quentem ente uma força ainda mal definida”. (196).

Para nós, que não temos medo de expres­


sar alto o nosso pensam ento, essa força está
bem definida. Com efeito, é sabido que, m ui­
tas vezes, a m esa dá oráculos, até em língua
estrangeira, sem a presença do m édiu m -pes-
soa, mas apenas suscitada pela “ corrente”
das m ãos dos crentes. Portanto, ou diremos
que todos os presentes são m édiu ns ou que o
m édiu m é a m esa. E ’ verdade que quase to­
dos os m édiu ns operam com mesa. m as há
casos cm que dispensam a mesa, e, vice-ver­
sa, a m esa pode operar sem a presença de um
m édiu m .
A llan Iíardec tentou resolver uma dúvi­
da que ocorre a m uitos autores católicos:
“ Por que m esa e não outro m ovei qualquer,
por exem plo, um banco, um a canastra? E
por que m esa de m adeira e não de outra ma­
téria, por exem plo, pedra, m etal?”
“E’ porque, — diz ele, — a m esa, e m e­
sa de m adeira, é o m ovei mais com um , que
nunca falta, nem m esm o num a casa de gente
pobre. Assim, sem pre haveria facilidade, pa-

(196) LUCIEN ROUHE — Le M erveilleux S p lrlte —


pg. 105.
— 229 —
ra todos, dc se porem em com unicação com o
A stral.”
Isto, porem , observou aquele corifeu, não
obsta a que se possam obter fenôm enos com
uma m esa de m etal, ou com um banco de p e­
dra, com o aconteceu com ele m esm o no w s o
da cesta.
O seguinte episódio da vida de Eusápia
P alladin o é referido por escritores espiritas.
Não lhe garantim os a autenticidade, mas, se
tiver sido real, prova duas coisas: que não é
só com m esas de m adeira que se obtem fen ô­
m enos, e que o autor destes é um espirito
mau.
“Sucedeu, então, um fato extraordinário. Em
pleno dia, viram todos, na sala, duas longas linhas
de m atéria branca sairem das mãos de E usápia, e es­
tenderem -se até alcançarem a mesa. Quando as linhas
esbranquiçadas tocaram a mesa, esta começou a balan­
çar. E ra uma m esa grande, pesadíssima, formada a
parte superior de um a só peça de m árm ore de Car-
rara.
“A princípio, mexeu-se fracam ente, depois rapi­
dam ente; e, com espanto geral, parecia im pelida, por
força irresistível, na direção do m ajor Davis.
“Palladino não se movera da posição que tom a­
ra, no centro da sala: estava ali como uma estátua,
suas mãos estendidas na direção da mesa, porem com
uma expressão vaga nos olhos, como se não a inte­
ressasse o que se estava passando.
“A mesa aproximou-se rapidam ente do m ajor
I)nvis. E ste ainda estava soprando as fumaças de seu
enorme charuto, com uma expressão de incredulidade
estam pada no rosto. A extrem idade da mesa alcan-
çou-o e começou a imprensá-lo de encontro a uma
- 230 -
outra m esá de carvalho, que estava atrá s dele. O ma­
jor Davls não se deixava vencer facilm ente. Lutou
enquanto pode para livrar-se da pressão, a té que
pediu socorro. Sir Fletch er Moulton, — o em inente
advogado e eu, — diz Cheiro; — fomos em seu auxi­
lio. Esforçamo-nos por afastar a mesa, foi tudo lnuttl.
Chamamos, então, quatro criados, homens fortes, des­
tem idos; eles lançaram -se & tarefa, porem a pressão
contra o m ajor se tornava cada vez mais forte.
"Não sabemos o que teria acontecido, — conclue
o professor Cheiro, — se eu não tivesse agarrado En-
sápla, e, arrastando a fragil figura, não a colocasse
entre a mesa e o m ajor. Ela parecia estar em transe,
porem, desde que pfls as mãos no movei, começou a
operar-se uma ação reversa: a m esa entrou a mover-
se vagarosam ente p ara trás, até que alcançou o pon-
ío em que estava antes, e a l p arou”. (197).

Quanto a nós, acham os que o dem ônio


escolhe, d e preferên cia, m esa de m adeira, p e­
la mesm a razão por que escolheu o m édiu m -
pessoa, a saber:
P ode ser que a mesa de m adeira produ­
za efeitos que não excedam as forças natu­
rais. P od e ser que os raps seiam , portanto,
p rovocados pelo flu id o dos “correnteiros”,
através das m oléculas da m esa, flu id o esse
que seria o hipotético flu id o hum ano, ainda
não identificado. N esse caso, ela reproduzirá
o que está no sub-conciente dos ou de alguns
dos presentes
Fenôm eno natural, portanto.
Mas, para acreditar este fenôm eno na­
d o ? 1 Prof. CHEIRO — M ynterlea nnd Romnnpca nf
th e W orld’» Grcr.(e„t O ccultists, L lg h í, 21-2-36. Citado DOr
Im bassahy, pg. 338-339.
— 231 —

tural e dar-lhe as aparências de preter-na-


tn ralidade, para fazê-lo seu, o dem ônio inter­
vem algum as vezes, e assim fic a parecendo
que a mesa é sempre um norta-voz do Alem.
— tanto nos casos raríssim os de fenôm enos
transcendentais, — com o nos casos, corriquei­
ros, que parece não excederem as forças na­
turais.
Portanto, o pedir oráculos às m esas, con­
quanto seja prática antiquíssim a, já do tem ­
po de Tertuliano, é um culto diabólico, m ero
capítulo da necrom ância.

&
CONCLUSÃO.

Há, no E spiritism o, fenôm enos anorm ais


reais. Desses fenôm enos, alguns, — pouquís­
sim os. — são su pran orm ais. Quer dizer que
excedem as forças naturais conhecidas e as
“ possibilidades m esm as” dessas forças. A n a­
tureza fisica não os explica, nem os explicará
iam ais. Portanto, com o repugna apelar para
Deus e os Anjos, e com o as alm as não podem
intervir, força é adm itir a intervenção diabó­
lica. Esta intervenção não é apenas um a h i­
pótese, com o querem alguns (198), m as, em
nossa opinião, um fato p ositivo, dem onstrá­
vel e demonstrado.
Os outros fenôm enos anormais, — num e­
rosíssim os e quase cotidianos, — não são su­
pranormais. Pertencem ao terreno da Psico-

(108) Pc. H E R E D IA « todos os do sua escola,


— 232 -

logia A norm al e explicam -se naturalm ente.


Mas, — realizados no E spiritism o, — tem co­
nexão com os supranorm ais ou diabólicos e,
por isso, são aproveitados pelo dem ônio e ser­
vem a seus desígnios.
PORTANTO, O ESPIRITISMO É SEM­
PRE DIABÓLICO, já que o DEMÔNIO IN­
TERVEM NELE. — raras vezes, fisicam en te,
e nas restantes vezes, m oralm ente.
CAPÍTULO V

SINAIS DIABÓLICOS QUE OS FENÔMENOS


ESPIRITAS APRESENTAM, E A AÇÃO
DIABÓLICA ATRAVÉS DOS TEMPOS

A. - Sinais diabólicos dos fenôm en os es­


p iritas.

Entre as m anifestações divinas c as dia­


bólicas vai tanta diferença com o entre a luz
e as trevas. Deus é o Criador, infinitam ente
sábio, verdadeiro, justo, santo e poderoso. O
contrário de tudo isso c o dem ônio, o anjo
prevaricador, criatura rebelde e em pederni­
da, astuto, m entiroso e hispócrita, alem de
toda im aginação, inim igo im placavel de Deus
e dos hom ens. É evidente que tudo o que faz,
deve espelhar a origem, a perversidade c in ­
capacidade diabólica.
Pelos frutos se conhece a árvore. Vale
dizer que o fruto traz a m arca de seu prin­
cípio causal. Quem estudar os prpeessos e os
resultados do espiritism o, não terá nenhum a
dúvida quanto ao princípio causal dos fe n ô ­
m enos reais, que por ventura se apurem em
toda a feitiçaria moderna. Os processos:
m entira, em buste, perfídia, astúcia, ação nas
— 234 —

trevas. Resultados: loucura, nervosism o, ob-


cecação, ódio contra a Igreja Católica. Tudo
isso denuncia um autor m oral crue há-de ser
o m esm o au tor físico dos fenôm enos espi­
ritas.
Alem disso, as obras do dem ônio trazem
outras marcas que servem para identificar,
sem receio de errar, o autor fisico dos fen ô­
m enos. Citemos alguns sinais da ação dia­
bólica.
1.° Prodígios e não m ilagres. Como é sabi­
do, só D eus pode operar verdadeiros m ila­
gres: m as esse poder, exclusivo da D ivinda­
de, D eus costum a delegá-lo a seus hum ildes
servidores; nunca, porem , a seus inim igos. O
d em ônio bem o sabe, e consola-se de sua im ­
p otência. im itando os m ilagres com tal prodi­
giosa habilidade que chega a enganar os pro­
fanos. Mas os “prod ígios” diabólicos não p as­
sam de sim ples contrafacções dos m ilagres
divinos, c, se nos causam adm iração, é por
ignorarm os as forças escondidas da natureza
e a dos próprios anjos decaidos, — força do
Mundo Invisivel.
Como distinguir o m ilagre divino do
prodígio diabólico?
P ela causa instrum ental, nelo processo e
pela cstensão da força expendida.
A causa in stru m en tal do m ilagre é, em
geral, pessoa de costum es puros. É um Santo,
conform e o termo consagrado pelo . uso. A
causa instrum ental dos prodígios, — e tais são
os m édiuns, no caso vertente, — pode ser um
velhaco qualquer, ou qualquer indivíduo de
m aus costum es. Os próprios autores espiritas.
- 235 -

— Kard.ec, R ichet, F lam m arion, Im bassahij e


outros. — confessam que os m édiuns, na im ­
possibilidade de produzirem verdadeiros fe ­
nôm enos. lançam m ão da fraud e: são trapa-
cpiros. pois. E, conform e disse Im bassahij,
não raro são rivais uns dos outros. Injuriam-
se. São cium entos. (199).
O processo do milamre é sim nles: haven ­
do necessidade. — m anifestação do poder di­
vino. glorificação do nom e de D eus, prova
da origem de um a m issão celeste, — o Santo
invoca o nom e de D eus, e faz o m ilagre em
nom e de D eus. Nunca em seu próprio nom e.
Tam pouco procura as trevas. Nem am biente
sim pático. N em circulo de ooucas pessoas. 0
Santo não alardeia poder. Muitas vezes, nem
dá pelo milagre. S. João Bosco, conform e nos
contou o Pe. João Scotti, de Itam on te, distri­
buiu uma cesta de avelãs, — (um as vinte ave­
lãs), a trezentos alunos, dando um a avelã a
cada um. O Santo fez um a m ultiplicação de
frutas e nem percebeu o m ilagre. F oi o Pe.
João Scotti, então aluno,quem cham ou a aten­
ção ao fato.
Nada disso se verifica nos prodígios. Pri­
meiro, o m édiu m não atribue o “ fato” a Deus;
não opera “ em n om e” de D eus; evita a luz.
Seja ou não praticado no espiritism o, o pro-
digio diabólico é sem pre espetaculoso. O “in s­
trum ento” prepara o terreno. Chama a aten-
— 236 —

rim entais de “prod ígios”, — com o fez Simão


Mago e com o fazem os m édiu ns atuais.
E stensão da força. O poder do dem ônio
é lim itado. Deus, — criador das forças, — po­
de suprim ir a força natural, pode suspendê-
la. Pode criar forças novas e contrárias. Deus
só não po d e fazer o que é “contraditório” :
um circulo quadrado, por exem plo. Quanto
ao dem ônio, este só pode servir-se das forças
naturais existentes. E assim, o “p rodígio” nun­
ca atingirá a estensão de um m ilagre: o de­
m ônio não poderá nunca ressuscitar um m or­
to, nem fazer que o fogo não queim e.
O dem ônio pode “ transform ar”, m as não
pode “ transsubslanciar”. Pode, por ex., trans­
fo rm a r uma estátua de Júpiter em estátua
de Venus, m as não pode “m udar" uma está­
tua de m adeira em estátua de pedra. Não po­
de “m udar” água em vinho, com o fez Cristo
em Caná. L eiam os o texto sagrado:
“ A arão , pe g an d o n a v a ra , e s te n d e u a m ão e fe­
r iu o pó d a te rr a , e os m o sq u ito s c a ira n i s o b re os h o­
m ens e so b re os a n im a is ; to d o o p ó d a t e r r a se co n ­
v e rte u c m m o sq u ito s p o r to d a a te n -a d o E g ito . E
os m agos fize ram s e m e lb a n te m e n te com se u s e n c a n ­
ta m e n to s p a ra p ro d u z ir m o sq u ito s, e n ão p u d e ra m . . .
E n tã o os m agos d isse ra m a F a r a ó : O d ed o d e D eus
e s tá a q u i”, (ftxodo, 8 :1 G -1 9 ). ( 2 0 0 ).

Vê-se, pois, que os magos, agentes do de­


mônio, puderam im itar as duas prim eiras
pragas, m as não puderam im itar as outras,
(200) A tradução do João de Alm eida tra z “piolho”,
em vez de “m osquito”.
— 237 —

embora o tentassem. Isto prova que o poder


do dem ônio é lim itado.
2.° - A ação divina é m arcada pelo ca-
rater de seriedade e de sobriedade. “Não ten­
tarás ao Senhor teu D eu s.” Por isso, o m ila­
gre é raríssim o. Deus só o faz quando há uti­
lidade “ real”, c para ensino dos homens. E
isto, quando não é m ais possivel o recurso
às forças naturais.
Dai, este outro característico da ação dia­
bólica :
Quanto m ais insensato e, ao m esm o tem ­
po, ridículo é o fenôm en o, tanto m ais é cer­
tam en te diabólico.
Nesta categoria devem entrar os inúm e­
ros fenôm enos espiritas, que não tem motivo
razoavcl dc se produzir, e que só servem para
entreter curiosidades m alsãs, com o acontece
com as m esas girantes, os raps, as m ateriali­
zações.
3.° - llogism o e im oralidades. As ações di­
vinas tem, entre si, uma ligação consequente.
A sã razão e o respeito da ética presidem à
sua realização. Deus é a sum a verdade, digni­
dade e santidade. O dem ônio é m entiroso, iló ­
gico, indigno e im oral. Tudo o que vem de
Deus ou do dem ônio deve trazer os caracte­
rísticos de um e de outro.
Ora, o espiritism o é um am ontoado de
contradições e im oralidades. Se, pois, de se­
m elhante prática, nascem fenôm enos trans­
cendentais, estes só podem ser produzidos p e­
lo demônio.
4.® - A instan tan eidade é um carater da
ação divina. Exceto os casos em que Deus
- 238 ^

deixou a ação secundária ao encargo das cau­


sas segundas, — geração, fecundação, frutifi­
cação, evolução, etc., — sem pre que Deus in­
tervem na natureza visivel, é instantanea­
m ente.
As m aterializações angélicas são realiza­
das sem perda de tempo. O anjo aparece a
Maria e, em seguida, desaparece, suavem en­
te, como se isso lhe fosse natural.
A ação do dem ônio, ao contrário, é, qua­
se sem pre, sujeita a condições em baraçosas,
com o vem os a cada passo. As m aterializações,
obtidas pelo espiritism o produzem -se, fre­
quentes vezes, gradativa, e tão lentam ente,
que Delaune cita um caso em que um homem
não pode reconhecer a figura do espírito, da­
do com o de sua esposa, senão após a sessão
quadragésim a terceira.
B racket, de seu lado, refere ter visto, nu­
ma sessão, um m oço alto que se dizia irmão
de uma dama presente. T endo-lhe esta ob­
servado: “ Como poderia eu reconhecê-lo, se
só o conheci com o criança?”, a figura dim i­
nuiu logo paulatinam ente de talhe, até tor­
nar-se o rapazito conhecido antigam ente por
essa dama.
Dir-se-ia que o dem ônio, para reconhe­
cer a sua inferioridade, só tem o poder de se
m anifestar gradativam ente e com o por saltos.
Só assim se explicam as im precisas m anifes­
tações do Perverso.
5.° - A arma predileta do dem ônio é a
m entira, o engano, o disfarce. Apresenta-se
com o anjo da luz e, o que apresenta, reveste-o
com a aparência de verdade, de beneficência,
— 239 —

de caridade, de consolo e até de ternura. Atrai,


sobretudo, por m eio daquilo que lison jeia os
sentidos. Só assim consegue prender os h o­
m ens, firm á-los no seu serviço e arrastá-los,
enfim , para o abism o. E screve S. P a u lo :
“ Os se u s fals o s a p ó sto lo s são o p e rá rio s e n g a n a ­
d o re s, que se tr a n s fig u r a m em a p ó sto lo s de C risto . O
q u e n ã o é de a m ir a r : p o is o p ró p rio S a ta n a z s e tr a n s ­
f ig u r a em a n jo de lu z . P o r ta n to , n ão é g r a n d e m a ra ­
v ilh a se os se u s m in istro s se tra n s fig u r e m com o m i­
n is tro s d a c a rid a d e ( ju s tiç a ) . O fim d e les s e rá co n ­
f o rm e a s su a s o b r a s " . ( 2 0 1 ).

Usando de sua arm a predileta, o dem ô­


nio “su bstitue” a Deus a cada passo, e faz-se
passar por ageute diviuo. Im ita, grosseiram en­
te, as obras divinas, o que fez a Santo A gosti­
nho cham ar-lhe o m acaco d e D eus: sim ius
D ei. Para enganar, tenta im itar a D eus, tauto
na ordem fisica, com o na ordem espiritual;
na ordem física, fazendo prodígios; na ordem
espiritual, “in ventand o” os seus “san tos.” E
assim, trabalha por contrafazer as obras divi­
nas, não só as externas, com o os próprios
dons internos e extraordinários. Quer ser um
deus às avessas, a antítese de Cristo. D o m es­
mo m odo que D eus tem os seus estigm atiza­
dos e extáticos, Satanaz procura ter os seus,
aos quais com unica dons perm anentes, e tão
estupendos, que viriam a ser tidos com o de

(201) “ Nam ejus pBeutlo-npoHtoll sunt opcrnrll Nubilo-


II, tranHflKurantcs He In npoHtolOH ChrlKtl. Et non minimi
Ipue cnim Sntnnnn triinHfigurnt He In nngelum InclH. Non
out ergo magnum nl mlnlntrl ejaii trnnHflgnrentur velut
mlnlHtrl JUHtltlnc: quorum flnl» erlt »eeundum opern Ipno-
rum. (II aos C orlnttos, 11-14).
— 240 —
Deus se, por fim , não acabassem sem pre por
denunciar a sua origem. É o que se verificou
no exem p lo seguinte:
E m m e lad o s do sé cu lo X V I fala v a-se , n a E sp a ­
n h a , q u a se só d a v id a , d a s a u s te r ld a d e s , rev e laç õ es,
ê x tase s o m ila g re s de u m a r e lig io s a c la rissa , c h a m a ­
d a M a d ale n a d a C ruz. P rín c ip e s, re is , b isp o s a co n su l­
ta v a m sob ro o s negó cio s do se u s e sta d o s e d e su a s
dioceBes.
R e v e la v a -lh e s se g re d o s, a p a r e n te m e n te im p e n e ­
tr á v e is , d e sc o b ria -lh e s a c o n te c im e n to s d is ta n te s , e
p re d is se que F ra n c is c o I e n tre g a r ia su a e sp a d a a P a -
v la , e R o m a s e ria p ilh a d a p e lo s Im p e ria is. S u a s p re ­
diç ões e ra m a c o m p a n h a d a s de p ro d íg io s q u e p ro v o ca ­
vam a d m ira ç ã o , sem , to d a v ia , e sc la re c e re m a s a lm as,
nem fo rta le c e re m o s c o ra çõ e s. A m u ltid ã o , se d u zid a ,
não se c a n sa v a d e m a n lf e s ta r -lb e , d e to d o s o s m eios, a
su a v e n e ra ç ã o .
N os d ia s de gT andes f e sta s, c a ia a f re ir a em ê x ta ­
se e e lev a v a-se f re q u e n te m e n te d o is o u tr e s pés acim a
do clião. Q uan do la ii c ap e la p a ra c o m u n g a r, a n te s de
a p ro x im a r-s e da s a n ta m e sa, m o stra v a , tr iu n f a n te , no s
lá b io s, a h ó stia , q u e a m ão de u m a n jo , — d iz ia ela,
— h a v ia tir a d o do s a c e rd o te p a ra tra z e r-lh a .
T a is e ra m a s m a ra v ilh a s q u e eco av am e n tã o n a
E s p a n h a e a lem . P a ssa ra m -se m u ito s a n o s se m q u e
M a d a le n a s e d e sm e n tisse . U m sa n to relig io so , p e rc e ­
ben d o n e la, um d ia , u m fu n d o d e a m o r p ró p rio , p o u ­
co c o m p a tív e l com a s a n tid a d e a p a r e n te , a p e r to u - a com
p e rg u n ta s . T o ca d a p e la s e x o rta çõ e s, la n ço u -se e la aos
p é s d e sse re lig io so o, d e sfiv ela n d o a m á sc a ra d a h i­
po c risia, confe sso u , p a ra c o n ste rn a ç ã o g e ra l, q u e, por
s u a s a s tú c ia s sa c ríle g a s & c o n iv ô n cias com o d em ô n io ,
tin h a in d ig n a m e n te ilu d id o a c o n fia n ç a de to d o s os
q ue se a p ro x im a v a m d ela.
— 241 —
P r e s ta ra -s e , v o lu n ta r ia m e n te , à s se d u çõ e s do e s­
p irito d a m e n tir a . C ria n ça a in d a , tin h a a c e ita d o , com
d isc e rn im e n to b a s ta n te , a s fa ls a s v isõ es, a s a le g r ia s
se n sív e is que lh e p ro p o rc io n a ra . M ocinha, tin h a a s s i­
n a d o um p a cto odioso, e e n tre g a r a co rp o e a lm a a
Satana(z, a -fim -d e o b te r d ele rev e laç õ es , o d om de p r o ­
dígios, e a fo rç a d e e x e c u ta r m a c e ra çõ e s p a v o ro sa s.
E m c o n seq u ê n cia d e s u a s co n fissõ es, q u e fize ram
e s tr e m e c e r to d a E sp a n h a , d iz um h is to ria d o r , M ada­
le n a foi c o n d u zid a p a ra f o ra d a c id ad e e, lo n g e do
con v en to que tin h a d e sh o n ra d o , aca b o u os d ia s n a p e­
n itê n c ia . ( 2 0 2 ).

B - AÇÃO DIABÓLICA ATRAVÉS DOS


TEMPOS. — RELAÇÃO DO ESPIRITIS­
MO COM A NECROMÂNCIA E A MAGIA.

Como dem onstram os, as almas dos m or­


tos nada tem que ver com a fenom enologia es-
pirítica, nem com as m ensagens, nem eom as
sessões. Se, pois, algo existir de real nos fen ô­
m enos ou nas com unicações, isso se há-de
atribuir ao espirito mau e não às alm as. Ora,
o com ércio com as alm as do outro mundo,
antes do espiritism o m oderno, cham ava-se ne-
crom ân cia; e o com ércio com os espíritos,
magia. Por isso, com o o agente preterualural
que aparece na necrom ância é o m esm o que
aparece na m agia, vem o-nos na necessidade
de identificar n ecrom ân cia e m agia, — os
dois sistem as de com ércio com o outro mundo,
que precederam o espiritism o.
A necrom ância pode reivindicar origens
(202) HistOrla dc Santa T eresa de Jesfis — Bolnndla-
tns, 1285, PB. 145.
— 242 —

antiquíssim as. 0 povo da B abilônia cria em


espíritos que davam golpes. Os historiadores
e filósofos, — H eródoto (484 antes de Cristo),
Sócrates, Platão, A ristóteles e outros, — fa ­
lam de com unicações com as almas dos de­
funtos. (203)
No cabo Tênaro, C alondas evocou a alma
de A rquilau, que ele assassinara (204). Entre
os rom anos, H orácio alude à evocação das al­
mas. (205)
C icero afirm a que seu amigo Á pio prati­
cava a necrom ància (206) e que V atínio cha­
m ava as alm as do m undo inferior. O m esm o
se diz de Druso (207), de N ero (208) e
de C aracala; S exto P om peu consultou o m á­
gico E ricto, da Tessália, pará saber, dos m or­
tos, o resultado da lula entre seu pai e Cesar.
(209).
A Bíblia várias vezes m enciona a necro-
m ância, proibin do o seu uso, e censurando
aqueles que a ela recorrem.
Os espíritos dos mortos, — pithon es, na
Vulgala, — eram consultados em ordem a
predizerem o futuro, (210) e davam respos­
tas por m eio de certas pessoas den tro das
quais residiam (211), justam ente com o acon­
tece no espiritism o moderno.
Nos prim eiros séculos da era cristã, a pai-
(203) POODT — L on FenAmcno» Mlatcrloiioa dei P hI-
“ (201) PLUTARCO — “ De ser» Nnmini» v ln d le ín ”, 17.
(205) Q. FL. IIORÀCIO — SAtlrnis — I, 8. 25.
(206) CÍCERO — T uhcuI. — quaest. I, 10.
(207) TÁCITO — Annl* — II, 28.
(208) SUETONIO, 24, e PLÍNIO SÊNIOR — IIlstA rln
Nnt„ 30, 5.
(209) DION CASSIO, 77, 15. LUCANO, FiimAUn, 6.
(210) D enteronOm lo, 18:10 e I UelH, 28:8.
(211) LEV1TICO, 20:27 e I Rela, 28:7.
— 243 —

xão do m aravilhoso existia em todos os m eios


sociais. Apareceram seitas de ilum inados que
pretendiam com unicar-se com os mortos. Da
m esm a form a que nos antigos m istérios de
E leusis, tambem aqui a luxúria e a impudi-
cícia se entrem earam com as práticas evoca-
doras dos espíritos. Os ginosofistas da índia,
quase nus, entregavam -se à contem plação das
belezas da natureza, realizando a evocação
das alm as por m eio de m esas falan tes.
Tertuliano, século II, descreve cenas da
m agia de seu tempo, em termos tais, que bem
lem bram o espiritism o atual. Fala de fan tas­
m as (ou m aterializações), fala da evocação
dos defuntos; fala do h ipn otism o ou transe,
isto é, sono provocado; fala da interven ção do
dem ôn io na adivinhação pelas m esas falan ­
tes: ph anlasm ata e d a n t ... defun ctoru m in-
fam an t a n im a s ...; som nia im m ittu n t. . . ;
m ensae (per daem on es) devinare consuerunt.
(212).
A bruxaria subjuga o m undo durante a
Idade-M édia, até o século XVIII. N essas epi­
dem ias de feitiçaria de salões, os maus espí­
ritos desem penham o papel principal. No sé­
culo XVIII, os m aus espíritos encarnavam -se
nos tremedores ou convulsivos de C evennes,
e inspiravam as penitentes do cem itério de
|5. M edardo. (213) .
Se a necrom ância mascara todos os espí­
ritos do outro mundo com o nom e de almas
dos mortos, o m esm o não sucede a respeito
da m agia. O com ércio desta é com os espíri-
(212) TERTULIANO — A pologctlcum . c. X III.
(213) Dr. POODT — Lo» Fenôm enos, pg. 250.
— 244 —

tos invisíveis, — bons ou m aus, quaisquer que


sejam ; nunca diz que evoca alm as dos m or­
tos, m as sim espíritos independentes. É, a bem
dizer, a religião de Satanaz, por antítese da
Religião D ivina. Os seus sacerdotes são os
m agos ou feiticeiros.
Já M axw ell definiu a m agia com o sendo
a sujeição da vontade a seres sobren aturais
(214)
Os filósofos de A lexandria admitiram
duas espécies de m agia: G oelia e Teurgia.
(215).
Goetia é a m agia m alfeitora, cujos efei­
tos são atribuídos aos dem ônios. Teurgia, a
m agia benfeitora, cujos efeitos se atribuem a
gênios bons, am igos dos hom ens. A goetia era
praticada, sobretudo, de noite, e por isso é ho­
je conhecida com o nome de Magia Negra. A
teurgia, em oposição a esla, é cham ada Magia
Branca.
A distinção entre espíritos bons e maus,
na m agia, é apenas teórica. Porque, m esm o os
espiritos m aus podem fa ze r um benefício
atual, com vista a um m al rem oto, mediato
e real. Usando desta tática, os espiritos até
revelam inteligência, com o o fazem os ho­
m ens perversos neste mundo. O benefício é,
apenas, um engodo, — isca para apanhar in­
cautos. *
É dificil julgar da autenticidade de todos
os docum entos existentes sobre magia e ne-

(211) MAXWELL — Mngle, PB. 3.


(215) G oetia. gr. e oete la, vem (lo gr. g o í» (-éton) que
signific a feiticeiro, — T eu rg ia quer dizer nçfio divina,
theoM, deus, e ergon, trab alho .
— 245 —

cromância. Mais dificil ainda pronunciar-nos


acerca da realidade de tantas aparições de
alm as do outro m undo, e de intervenções vi­
síveis de demônio.
Na m cgia e na necrom ância há uma co­
mo fam iliaridade entre este m undo c o ou­
tro. Os magos tem o espiritual sob o seu
poder.
Ninguém , de bom senso, acreditará nessa
vizinhança dos dois mundos, e, m uito menos,
na facilid ade com que os espíritos acodem ao
cham ado dos homens.
Todavia, algum as aparições de alm as pa­
recem inegáveis. Aparições há espontâneas e
reais. A própria Escritura refere o caso da
evocação da alm a de Sam uel, pela pitonisa
de Endor.
Na vida dos santos da Igreja referem -se
aparições de alm as e de dem ônios. Muito co­
n hecido é o caso que sucedeu a Santo Tom az.
E le e seu amigo R eginaldo haviam com binado
que o primeiro que morresse viria dar ao ou­
tro inform ações sobre o m undo espiritual.
Morto R eginaldo, este apareceu a Santo T o­
m az e entreteve com ele, em cum prim ento do
com prom isso passado, uma rápida palestra so­
bre o Céu.
Ainda m ais. De tempos a tempos, há co­
m unicações telepáticas, de natureza pouco de­
fin id a, com uns entre um m oribundo e seus
am igos e parentes próxim os. É ainda de nos­
sos dias o que aconteceu com M onsenhor La-
nyi, que tinha sido professor do Arquiduque
da Áustria, assassinado em Serajevo, em 1913.
Na manhã da tragédia, Mons. L an yi viu, em
— 246 —

sonho, todo o desenrolar dos acontecim entos


e, ainda em sonho, recebeu um a carta em que
D. F ernando, o príncipe assassinado, lhe co­
m unicava os fatos lam entáveis. A carta era
deste teor:
“ E m in ê n c ia , eu v o s a n u n cio q u e aca b o d e se r,
com m in h a m u lh e r, em C e raje v o , v ítim a de u m c rlm o
p olítico.
“ N ós n os re c o m en d a m o s à s v o ssa s p rec es. S e ra je -
vo, 23 de ju lh o d e 1914 , à s 4 h o r a s d a m a n h ã ” . ( 2 1 6 ).

EM CONCLUSÃO. — Adm itim os que as


alm as se m anisfestam algum as vezes: espon-
tâneam ente, porém , e só por m otivos que uni­
cam ente Deus conhece.
E adm itim os tambem a introm issão do
dem ônio, neste m undo, através dos tempos.
Não. porem , uma introm issão constante e vi-
sivel.
O pretendido com ércio ou fam iliaridade
que alguns hom ens do passado teriam tido
com o dem ônio, nasceu, em parte, da crendi­
ce popular, e em parte, da esperteza e ambi­
ção de alguns velhacos, que sem pre os houve.
É im oossivel que o D outor F austo histórico
do M édio-Evo. e Paracelso, e N ostradam us, c
Cagliostro, e esse fantástico H cinrich C o m e­
tia A gripa, de N ettesh eim , e outros, tenham
tido tantos colóquios com o dem ônio quan­
tos lhes aprouve entreter.
Mas o que adm itim os, à Juz da fé e da h is­
tória, é uma introm issão in v isív el perm anen-
(11*) niC U E T — “ T.’A v«i!r ei ln Prém o n itlo n ". c ita ­
do por Tmbassahy, pg. 491. O* jo rn ais da época m uito fa­
laram do caso.
~ 247 -

te, de todos os instantes, e um a introm issão


visivel, esporádica, uma vez que outra.
Quanto à introm issão in visível, isso é fa ­
to incontroverso. As Sagradas Escrituras dão
testem unho da guerra sem trégua que o de­
m ônio faz aos homens. B asta ler S. Pedro p a­
ra se ter disto uma prova irrefragavel:
" Ir m ã o s . Sedo só b rio s © e s ta i v ig ila n te s , p o rq u e
o (lcm ô nio, vosso In im ig o , v o s a sse d ia , à m a n e ir a de
le ão fu rio so . A e le d ev eis r e s is tir , fo rta le c id o s p e­
la f é ”. ( I P e tr . 5 :8 ) .

A introm issão visivel, dissem os nós,


é esporádica. É rara, m as existe. À luz da fé,
ninguém duvidará do seguinte:
Que o dem ônio, servindo-se da serpente,
apareceu visivelm ente a Adão e Eva no P a­
raíso. e mudou o curso da História da H um a­
nidade. Assim, a serpente fo i o prim eiro m é ­
dium que existiu no m u n do; (217)
Que o dem ônio, introm etendo-se na scoi-
sas hum anas, foi o causador de toda a tra­
gédia do Santo Jó: m atou-lhe os filhos, pér-
deu-Ihe a fortuna, corrom peu-lhe a saude;
(Jó, 1:6 e 12).
Que os m agos do Egito, por arte diabóli-
lica. puderam im itar alguns m ilagres de
Aarão, não todos: assim , p o r encantam ento,
fizeram as águas do N ilo tornarem -se de san­
gue e, logo depois, fizeram aparecer um gran­
de num ero de rãs que cobriram a terra. (218)
(217) A expressíio 6 do Pe. DUHAULT — Trnltó deH
Démonn — na Introduqilo. Olisnrveinns que íi Btblla nflo
fala, expressam ente. que a serp en te 6 o demônio ou que
este se se rv ira da serpente. Mas todos os expositores,
nnllrros r modernos, nsslm o entenderam .
(21S) Êxodo: 7:22 e 8:7.
— 248 —

Que o diabo tentou apoderar-se do cor­


po de Moisés (S. Judas, 1:9-10);
Que um espírito, vindo do Senhor, per­
turbou a m ente de S aul; (1. Rcg. 19:9);
Que a ação do dem ônio A sm odeu, do livro
de T obias (3:8), m atando os sete primeiros
m aridos de Sara, foi uma ação visiuel e ne­
fasta. A sm odeu é, ao que parece, o m esm o de­
m ônio A baddon, ou Destruidor, do Apoca­
lipse, 9:11.
Que, no tempo de Cristo, sobretudo na
Galiléa, eram frequentes os casos de posses­
são. A ação do dem ônio era visivcl nos efei­
tos físicos. As vítim as, m uitas vezes, eram pri­
vadas da vista e da fala (S. Mateus, 12:14) ou
só da vista (Mat., 9:32 e Luc., 11:14); outras'
vezes, horrivelm ente atorm entadas: (Marcos,
9:17-21).
E ssas pessessões, na m aioria, não podem
ser confundidas com “ doenças n ervosas”, pois,
não raro, o possesso ostenta força sobre-hu­
m ana, com o no caso referido por S. Marcos,
5:2-4.
Algum as vezes, o possesso é séde de m ui­
tos dem ônios (Mat., 12:43 e Marcos, 16:9) ou
de m ilh ares, (Marcos, 5:9 e Lucas, 8:30),
Ainda no caso das tentações de Cristo, a
ação do dem ônio só pode ter sido “visive l e
atu a l’’, com o disse E. Gigot. (219) Comparem-
sc entre si os textos dos Sinóticos: Mateus,
4:1-11 e Lucas, 4:1-13.
Nos Atos dos Apóstolos, lauto na Pales­
tina com o, sobretudo, no mundo pagão, en-
(219) E. GTGOT — Cnthollc E nojclopcdln, New -York,
s. voc. T em ptatlon of Chrlvt.
— 249 —
contramos os representantes do dem ônio fa ­
zendo prodígios estupendos. Na ilha de Chi­
pre, S. Paulo encontrou o m ago E lim as ou
B arjesu, que procurou em baraçar-lhe a pre­
gação. S. P aulo cham a-lhe pseuclo-profela c,
para castigá-lo, pede a Deus que o torne cego
usque ad tem pu s. (Atos, 13:4-12).
E m F ilipos, na Macedônia, S. Paulo hou­
ve de expulsar o dem ônio do corpo de uma
m oça que o seguia, im portunando-o c procla­
m ando, alto, a m issão divina de S. Paulo c
seus com panheiros. Diz o texto sagrado que
essa moça, em a qual habitava o espírito pi-
tão, era para seus senhores uma verdadeira
fon te de renda, por causa de suas adivinha­
ções. (Atos, 16:16-18).
Saindo do cam po das Letras Divinas, en ­
contram os por toda a parte, na história dos
povos, traços da ação visivel do demônio.
S i m ão Mago, cuja história é iniciada nos
Atos dos Apóstolos (8:9-29) .e com pletada p e­
la tradição (220), teria deslum brado Rom a
com seus prodigios estupendos, o últim o dos
q uais foi o fenôm eno de levitação. Junto ao
Forum , na Via Sacra, foi erigida aos apósto­
los uma igreja, no m esm o local em que se
esborrachou o corpo de Simão, quando p re­
tendia voar ao Céu. Claro é que, se algum fe ­
nôm eno foi real na vida de Sim ão Mago, o
autor só pode ter sido o dem ônio.
Ainda no prim eiro século de nossa era,
o pitagórico A polônio de Tiana, segundo nar-

(220) S. JUSTINO — Prim . Apologl-tic-n, 26. Tam bem


nas Pseudo-C lem entinas e nos A tos de S. Pedro, ap ó cri­
fos.
— 250 —

ram, aterrorizara o m undo pagão com sua vi­


da de prodígios os m ais assom brosos. E xpli­
cam o-los pela ação diabólica. (221).
N esse tempo, ao dizer de T ertuliano, o
dem ônio dava oráculos, e falava pela boca
das estátuas dos deuses:
" Q u a n d o o p ossesso é le v ad o a o s trib u n a is , o m a u
e sp irito , in tim a d o p e lo s s e g u id o re s d e C risto , co n fe s­
s a q u e é um d e m ô n io ; e é e sse m esm o e s p ir ito que,
h o ra s a n te s , h a v ia d e c la ra d o q u e e le é u m d e u s. A se ­
g u n d a c o n fissão é q u e r e p r e s e n ta a v e rd a d e , Isto é,
q u e e le é d e m ô n io ” . ( 2 2 2 ).

Santo Agostinho, na C idade de Deus, ex­


planando o texto da Escritura. — que todos
os deuses das nações são dem ôn ios, — acha
que m uitas vezes os dem ônios falaram pela
boca dos ídolos, ou pelos oráculos das pito­
nisas.
Alem dos casos históricos de possessão,
a introm issão do dem ônio no m undo visivel,
através dos séculos, é atestada pela vida dos
Santos do Cristianismo.
Tornaram -se célebres as aparições do de­
m ônio a Santo A ntão, no deserto. (223)
- O dem ô n io a p a r e c e u u m d ia a S. M a rtln h o d e
T o u rs, n a f ig u r a de jo v e m fo rm o so , v e stid o de p ú r ­
p u r a e c o b erto d e p e d ra ria s fin a s , e lh e d isse : “ E u so u
o te u a m ig o e se n h o r. R eco n h e ce q u e sou Je sú s-C rlsto
em p e s s o a ”. O sa n to re f le tiu u m p o u co e ,em se g u id a,
o b je to u : " J e s ú s p ro m e te u q u e v o lta r ia a e ste m u n d o
so b ra ç a d o com s u a c ru z . R e co n h e ce rei q u e é s Je sú s-

(221) FTT.OSTRATO _ Opera Oninln. Lolpzlg, 170B.


(222) t e r t u l i a n o — Apoio*., tr.-d. Inglesa. pg. 23.
(223) SANTO ANASTACIO — V ltn Snuctl A ntonll.
— 251 —
C risto se m e a p a r e c e r e s com a c ru z à s c o stas, e o s te n ­
ta n d o n a s m ã o s e pé s os e s tig m a s d a p a ix ã o ” . A e sta s
p a la v r a s o d e m ô n io d e sa p a re c e u , d e ix an d o a c ela do
sa n to lm pO gnada de o d o r in to le rá v e l. ( 2 2 4 ).

N os nossos dias, S. João B atista V ianney,


cura d’Ars, teve de desm ascarar o espírito
das trevas, que ora se lhe m anifestava sob
form as horrendas, ora.sob anarências encan­
tadoras. (225) O m esm o se lê na vida de S.
G eraldo e de outros santos.
Mas não foi só aos bons que o Malvado se
mostrou visivelm ente. Tam bem a seus repre­
sentantes e instrum entos.
No século XVI, L u tero feria lançado um
tinteiro contra o dem ônio, um dia que este lhe
apareceu visivelm ente, com o reclam ando o que
era seu.
M aspero, Len orm ant, W ard, R oberts e
D oolittle descrevem os casos de possessão dia­
bólica, com m anifestações visiveis do dem ônio,
não só entre os povos antigos, com o entre os
pagãos atuais, — Chineses, Indús, Persas,
etc. (226).
Comuns, sobretudo, são as m anifestações
dem oniacas nas regiões onde, ainda hoje, ha­
bitam povos grosseiros que não receberam os
benefícios da R evelação D ivina.

(224) V ila Snncti M nrtlnl, n a coWção r a t r e s L ntlnl,


XX, 174.
(225) A LFRED MONNIN — Vida do Cura d ’Ar» —
passim.
(226) MASPERO — H isto ire A ncienne dc» Peuple» dc
1’O rlent, pg. 41 — LENNORMANT — L» Single cher le»
ChnMôen». — WARD — H isto ry of th e Hindoo», v. I, 2. —
ROBERTS — O rlentnl Illn atrn tlo n » of th e Scriptures. —
DOOLITTLE — Social L ife o f th e Chinese.
— 252 —

N o referente à Africa, pode-se consultar


W ilson (227) e W affelaert (228).
Tam bém entre algum as tribus selvagens
da Am érica, certas práticas denunciam , senão
a presença visivel, pelo m enos a influência de
Satanaz. E ’ o que está su ficientem ente docu­
m entado, quanto aos B ororos do Brasil, pelos
m issionários Pe. D r. C arlette e Pe. A ntônio
C olbacchini, salesianos. (229).
E ntre os Bororos o bari é o hom em tem i­
do. Acreditam os selvagens que ele tem con­
tacto com o vciire (espirito m au, em geral) e
com o búpe, que é um dem ônio particular. As
relações entre o bari (feiticeiro) e o espírito
m au tem algo que lembra o transe dos m é­
diuns espiritas:
P a r a o p e ra r a s su a s c u ra s, o b a ç i c h a m a o seu
v a ire em voz a lta e com g ra n d e s g rito s p ro lo n g ad o s.
Q uando diz que o e s p ir ito já. o o u v iu e q u e j á vem
vin d o , e n tr a em m o v im en to s c o n v u lsiv o s do corp o,
a c o m p a n h a d o s d e tr e m o re s im p re ssio n a n te s: a rq u e ia
o c orpo p a ra tr á s , e rg u e os b raç o s, b e rr a , u r ra , e scu ­
m a p e la b o c a . . . E ’ u m a c en a h o rriv e l, a sq u e ro sa !
P a re c e um v e rd a d e ir o p o sse sso ”. ( 2 3 0 ).

PORTANTO, a AÇÃO do DEMÔNIO, —


invisível quase sem pre, — VISIVEL às vezes,
é m anifesta em toda p arte e em todos os
tem pos.

(227) WILSON — W enleni Afrlcn, pg. 217.


(22S) W A FFELA ERT. in U ictlonnlre A pologíU .m e «lo
In F oi Cnthollqnc, sub voc. PosseNslon Dlnbol.
(229) Pe. Dr. E. CARLETTE — IIcrtH« AntCntlcos —
Ed. Vozes de Potrópolls, 1939. — Pe. ANTONIO COLBAC-
CHINI — A Inz do C rnzelro do Snl, E scolas Saleslanas,
S. Paulo, 1939.
(230) Pe. A. COLBACCHINI — A Inz do Cruzeiro do
Sul, pg. 27-31.
— 253 —

CONCLUSÃO.
Da exposição rápida que fizem os ressal­
ta a relação do ESPIRITISMO MODERNO
com a MAGIA e a N ecrom ância de todos os
tem pos.
A identidade entre a magia e o espiritis­
m o m oderno evidencia-se pelos processos e
ritos usados por um e outro.
E videncia-se tambcm pelos resultados,
que são sem pre nefastos, tanto na magia co­
m o no espiritism o. Aliás, os próprios autores
espiritas confessam que m agia e espiritism o
é uma só coisa. Diz C arlos Im bassahy, o che-
fe m en tal dos espiritas brasileiros contem po­
râneos:
‘‘Os c h in ese s c onhec em a d iv isão de e sp írito s, em
su p e rio re s e in te r io re s , e n ã o lh e s é e s tr a n h a a n o ­
ção do p e ris p írito . OS SE U S F E IT IC E IR O S E Q U IV A ­
L IA M E E Q U IV A LE M , — COMO EM TO DA A P A R ­
T E , — AOS NOSSOS M É D IU N S”. (2 3 1 ).

Portanto, o que se apura de real na m a­


gia tem por autor o m esm o autor do que se
apura de real no espiritism o.

APARIÇÕES DE ALMAS

Segundo observam D u bray e outros, a


Igreja não nega a realidade de algum as apa­
rições espontâneas das almas. Estas, por m is­
são de Deus, podem, às vezes, vir a este m un­
do, e até m anifestar aos vivos coisas desco-
(231) CARLOS IMBASSAHY — O Eifplrltlamo k lua doa
Fato», pg. 223.
— 254 —

nliecidas. Mas a necromância, entendida co­


m o arte de evocar as almas dos mortos, é ti­
da, por todos os teólogos, com o prática dia­
bólica.
Santo T om az e os dem ais teólogos são
explícitos. D eclaram eles que os fatos reais
de aparições de alm as, quando se em pregam
ritos especiais evocativos, são devidos à in­
tervenção diabólica. Quem aparece não são al­
m as, m as dem ôn ios. (232)
T ertuliano, século U, é categórico:
“ Os c ris tã o s d evem a c a u te la r -s e c o n tra a s p r á ti­
c as n e c ro m â n tic a s, n a s q u a is os d e m ô n io s sc a p re s e n ­
ta m c om o se n d o a s a lm a s d o s m o r to s ” . ( 2 3 3 ).

N ão negamos, pois, que haja casos reais


de aparições espontâneas. Casos há, supostos
reais, referidos nas A tas de S ta. P erpétua, nos
escritos de S. C ipriano, nos D iálogos de S.
fíregório e outros. (234) S. P edro de A lcân ­
tara, depois de morto, apareceu a Santa T e­
resa, conform e ela m esm a relata. (235)
T ais aparições, porem, são sem pre es­
pon tân eas. Não se trata de evocações. E San­
to A gostinho, que, com o nós, não adm ite co­
m unicações visiveis, diz que m esm o as apari­
ções espontâneas são excepcionais e raríssi-
mas. (236)

(232) SANTO TOMAZ — Sumnin T heologien, II-II,


Qu. 95, a. II.
(233) TERTULIANO — De Anlmn, 57, na coleção P a ­
troa L atinl, II, pp. 793.
(231) Cf. LUCIEN ROURE — I.c Splrltlem e d ’no jo r-
tl'hitl e t d’h ier, pg. 119.
(235) SANTA TERESA — A utoblogrnfln, c. 27.
(236) SANTO AGOSTINHO — Dc enrn pro m o rtale ge-
rendR, c. 26, ln col. P atro a L atlni, t. 60, pg. 600.
— 255 —

Quanto ao fam oso caso de Sam u el, cuja


alm a foi evocada pela sibila de Endor (237),
notem os:
T en d o S aul c o n su lta d o o S e n h o r, n ão o b te v e r e s ­
p o s ta n e m p o r so n h o s n e m p o r p ro fe ta s. E n tã o , d e ses­
p e ra d o , foi a E n d o r , a u m a m u lh e r q u e “ tin h a o e sp í­
r ito a d iv in h a d o r ”, e p e d iu -lh e q u e c h a m a sse a a lm a
de S a m uol. E s te nã o a p a re c e u a S a u l. Só a m u lh e r é .
q u e viu o p ro fe ta , m a s S a u l, p e la d e scriç ão q u e a f e i­
tic e ira fez d a s ò m b r a q u e v ia , rec o n h ec eu tr a t a r - s e d a
p e sso a de S a m u e l. E S a u l, m esm o se m v e r, d irig iu a
p a la v r a a o “ in v is ív e l”, e o u v iu d ele a p ro fe c ia r e la ­
tiv a a s u a p ró p ria d e rr o ta e m o r te p ró x im a .

T al narrativa tem tido m uitas e diferen­


tes explicações. S. Jerôn im o e Teodoreto ju l­
gam a aparição falsa. Saul fo i enganado e a
p rofecia teria sido feita por algum anjo, p a­
ra confusão do próprio Saul. S. B asílio, S.
Gregário d e N issa (240) e T ertuliano atri­
buem a aparição ao dem ônio, o qual tomou
a aparência de Sam uel e, com pelido por Deus,
para castigo de Saul, fez a predição certa.
Porem a m aioria dos escritores supõem
real o fato. Assim Josefo, S. Justino, 'Oríge-
nes, S anio A m brósio e outros. Nesse caso, en­
tão, D eus teria perm itido a aparição da alm a
de Sam uel, com o faz crer o livro do E clesiás­
tico, 46:23. (cf. 1 Reg. 2 8 ,7 ...) .

(237) I RcIh, 28:7.


(238) S. H IE R . — In Inalam, col P. L atln l, 24, 108.
(239 In Ianlnm, P ad res G regos, 30, 497.
(240) S. GREG. NISSENO — P a d res Gregos, 4G, 107.
— 256 —

EM CONCLUSÃO:
Aparições de alm as dos mortos, — p ro­
vocadas, — não existem .
Aparições espontâneas, raras, podem dar-
se. Mas, m esm o estas continuam no rol da­
queles casos de causalidade m al defin ida, a
que aludim os no princípio do livro, pois, se­
gundo S anto T om az, ninguém terá certeza de
que se trata de alm as dos m ortos: podem,
conform e o caso, ser anjos bons, — e tais se­
riam as vozes de Santa Joana d’Are., — ou
dem ônios, com o nos casos de infestações ou
m alfeitorias. (241)

R azão teve, pois, Nosso Senhor Jesús-


Cristo de, na única fórm ula de oração que
com pôs, concitar-nos a que, cotidianam ente,
p eçam os a Deus-Pai nos livre do Dem ônio,
p ois a lula contra este há-de ser sem tréguas:
s ed libera nos a Maio.
N O TA — O P iulre-X o sso n ã o e s tá b em tr a d u z id o
na6 lín g u a s m o d e rn a s. A tr a d u ç ã o le g itim a do la tim
s e d lib e r a n o s a M aio deve s e r: M as liv ra i-n o s d o M au
e nã o “ liv ra i-n o s do M n l” . Com e fe ito , em lib e r a n o s
a M aio, e s ta ú ltim a p a la v r a é n b la tiv o d e M n lu s, o
m a u , o p e rv e rso , e não d e M a lu in , o m a l, o c o n tra ­
te m p o .
H o rb c r t T h u r s to n e screv e : “ D eve-se n o ta r q u e
a o p in iã o g e ra lm e n te a c e ita s u s te n ta q u e a tra d u ç ã o
da ú ltim a c lá u s u la deve s e r “ liv ra i-n o s do m a u (d e-
Ilv cr u s f ro m tlic e v il o n o ) “ , tra d u ç ã o q u e ju s tific a o

(241) SANTO TOMAZ — Suma T heolcg., I P ars, qu.


91, n. 3.
- 257 -
uso de " s e d ”, (m a s ) e c o n v e rte a s d u a s ú ltim a s c lá u ­
s u la s n u m a só $ m e sm a p e tiç ã o . ( 2 4 2 ).
O o rig in a l g reg o é m a is c la ro do q u e a V u lg a ta
la tin a . N ele te m o s o a d je tiv o p o n ó ro s, q u e, no caso, só
podo s e r a d ju n to de possoa. P a r a sig n ific a r o m a l t e ­
ría m o s p o n e ría c não p o n é ro s.
Os c ris tã o s do O rien te sã o fié is ao te x to p r im iti­
vo do P a d re-N o sso . A v e rsã o á ra b e te m c h a r r i r , — o
fa z e d o r do m al, — p a la v ra a n tig a q u e, n a lin g u a
a tu a l, só se a p lic a a o d e m ó n io . C lia r r ir é o a d je tiv o
com q u e o A lcorão se m p re d e sig n a o diab o .
N a lin g u a a ra m á lc a , a in d a h o je e m p re g a d a no
r ito m a ro n ita o q u e e ra a lín g u a f a la d a p o r N. S. Je -
sú s-C risto , te m o s a p a la v r a b ic h o o n d e o la tim te m
m a io . O ra, bic h o é a d je tiv o e s ig n ific a , p ro p ria m e n te ,
m a u ; c o rr e n te m e n te , p o rem , é o te rm o com q u e se
d e sig n a o d e m ô n io . T a n to o á r a b e c h a r r i r com o o a ra -
m áioo biciio c o rresp o n d e m a o lie b rá ic o ral>, do ig u a l
sig n ific aç ão .

N ão sabem os a razão por que as tradu­


ções m odernas do Padre-Nosso suprim iram o
nom e do PERVERSO e, em lugar dele, p use­
ram uma palavra que indica o efeito da ten­
tação e não o a u tor dela. (242, a).
Os prim eiros cristãos, ao reduzirem a
siinbolo a últim a petição do Padre-N osso,

(242) Re. H E H E E R T THURSTON, S. J. — C atkollc


Kncyclopcdia, New -York, sub voce L ord’n p ray e r.
(212-a) Com entando e sta c láusula, escreve C ornéllu a
Lápide. (Mat. V i). - Sed libcrn nos n m aio: p rlnielranicuto
da tentação, do que se falo u ; cm segundo lu g a r do dlnbo,
artífic e da tentaç ão ; em terceiro lu g a r, do m al gcrul, que
nos a tra i ao pecado., ou Impede a v irtu d e o a perfeição.
Sobre o mesmo a ssunto escreve FIL.LION — Scd lib e r a ...
lis ta s 'p a la v ra s são g eralm en te, e com razão, consideradas
como um a petição d istin ta . ORIGINES. S. JOÃO CRISÓS­
TOMO etc. a s consideram como um a p a rte In teg ra n te do
que procede; por Isso, traduzem o su b sta n tiv o m aio, como
se e stiv e ra no m asculino o designasse o dcmOnlo, mas
m uito m elhor ê traduzf-lo pelo n e u tro — o m al em g e ra l:
em pregaram tam bem o substantivo concreto
e não o abstrato: P er signum crucis, de inim i-
cis nostris, libera-nos, Deus nosler. P elo si­
nal da santa cruz, livra-nos, D eus, dos nossos
INIMIGOS
SEGUNDA PARTE

COMUNICAÇÕES OU MENSAGENS
COMUNICAÇÕES OU MENSAGENS

Como vim os, os fenôm enos m etapsiqui-


cos se dividem em dois grandes grupos: os
objetivos, ou físicos, e os su bjetivos, ou p sí­
quicos. Entre estes últim os, ocupam o prim ei­
ro lugar as MENSAGENS do Alem . O E spi­
ritism o apresenta-se com o sendo uma m ensa­
gem enviada, pelos desencarnados aos h o­
m ens deste planeta. As m ensagens, ora são
sim ples revelações de ordem individual, —
conselhos, consolações, receitas terapêuticas,
etc., — ora revestem o carater de um a gran­
de c nova R evelação R eligiosa, e contem en ­
sinam entos éticos e dogm áticos que consti­
tuem a R eligião E spirita.
Vam os, pois, exam inar a natureza e o va­
lor dessas m ensagens, tanto as de carater pro­
fano com o as de carater religioso. Como, p o­
rem, tais m ensagens teriam sido feitas a pes­
soas históricas conhecidas, devem os dizer al­
go dos iniciadores do m ovim ento.
D ai a tríplice divisão desta parte:
1) História do Espiritism o Moderno;
2) Mensagens de carater profano;
3) Mensagens de carater religioso.
CAPITULO I

H istórico do E spiritism o M oderno.

O Espiritism o data de 1847 e teve com e­


ço no sitio de H ydesville, perto da cidade de
A rcádia, Condado de W ayne, Estado de No-
va-Y orque, nos Estados-Unidos. Ai morava a
fam ília do dr. João Fox, constituida dos m em ­
bros seguintes: Margarida Fox, esposa do dr.
João, e as filhas Margarida ou Margaretta.
cujo apelido fam iliar era Maggie, e Catarina,
apelidada K atie; Maggie devia ter 16 anos,
quando, inconcientem cnte, iniciou a conversa­
ção com os espíritos. Nascera em 1840.
O casal Fox tinha dois filhos que m ora­
vam fora da casa paterna: David e Ana Leah
(ou L ia), esta m ais velha do que Maggie 23
anos. Notem os ainda que os F ox eram protes­
tantes (243) e deviam ser de origem alemã,
visto com o o nom e prim itivo da fam ília cra
Voss (pronuncie fó s).
Maggie e Katie F ox foram as iniciadoras
da negregada superstição. Morava a fam ília
F ox numa casa tida com o assombrada. De
tempos im em oriais notava-se ai algo de anor-
(243) P ro te sta n te» , m etodlatas. segundo T an q u ery —
T h to l. D ogm atlca.
— 263 —

mal que obrigava os moradores a m udar de


residência. 0 últim o inquilino anterior à fa ­
m ília F ox fbra um tal W eekm an , o qual, em
1847, tendo várias vezes ouvido baterem à
porta e não lendo descoberto quem fosse, re­
solvera deixar a casa. (244).
Uma noite, estando as irmãs F ox pales­
trando, descuidadas, num cios aposentos da
casa, ouvem ruidos estranhos na parede ou
na porta, os m esm os ruidos que haviam ater­
rorizado o sr. W eekm an. Maggie, então, dan­
do pancadas com uma das m ãos, lem bra-se
de convidar o ru ido a lhe dar reposta. O rui-
do, de-fato, responde. L ogo em seguida sobre­
vem a m ãe das duas m eninas, e, sabedora do
que se passa, inicia uma conversação m edian­
te golpes com binados:
“ Se és espírito, dá duas p ancadas.”
Resposta afirm ativa, m ediante dois gol­
pes na parede.
“Morreste de m orte violen ta?”
D uas pancadas, isto é, sim .
De pergunta em pergunta, as Fox vieram
a saber que o espírito era a alma de C arlos
R ayn, assassinado naquela casa em tempos
idos e enterrado na dispensa. Brevem ente
chegaram, de acordo com o espirito, a com bi­
nar um sistem a de abreviaturas que perm itia
conversar m ais de-pressa.
Avisada a polícia, esta prom oveu rigoro­
sa investigação em todos os côm odos da casa
e não conseguiu descobrir os ossos do supos-

(244) ERNEST BERSOT, citado por Luclen R oure —


Le Mervelllenx Splrlte, pg. 7.
- 264 _

to Carlos Rayn, nem vestígio algum de crime


com etido, donde se conclue que a história do
assassinato era um a fábula. 0 espirito m en­
tira.
Não obstante, as relações entre esse su ­
posto espirito e as irm ãs F ox continuaram .
E tal fo i a intim idade estabelecida entre elas
e ele que, quando a fam ília F ox transferiu
residência para R ochester, o espírito houve
por bem acom panhá-las. A elas veio juntar-
se então a irm ã m ais velha, Lia, casada com
um sr. Fish, e esta, espírito prático e interes­
seiro, viu logo no espiritism o um a fonte de
lucros. Foi Lia a prim eira que se lem brou de
atribuir as pancadas das m esas aos diversos
espíritos do outro m undo. (Gearon, 23-24)
(245) 0 espiritism o, assim, assum ia a sua fe i­
ção definitiva.
Após quatro m eses de residência em R o­
chester, os F ox vão para Nova-Yorque e o
espiritism o em breve se dissem ina.
Margarida casou-se com o Dr. Kane, ca­
tólico, explorador dos m ares árticos, e Cata­
rina com o sr. Jencken, protestante. Vem o-las
assinar, respectivam ente, Margaretta F ox Ka-
nc (Maggie) e Catherine F ox Jencken (Ka­
tie).
Em junho de 1853, o navio W ashington
leva a epidem ia de Nova-Yorque para Bre-
men, de onde ela invade a Alem anha e a Fran­
ça. (246).

(245) PA TRICK J. GEARON — De S p lrltism ct Sn


PntlU tc. pg. 23-24.
(246) CD REU BEN DAVENPORT — T he D eath Blow
to Spiritualism , pg. 89. — LUCTEN ROURE — I.c Mervcll-
— 265 —

Entretanto, desde a sua origem , o espiri­


tism o suscitou duvidas quanto à intervenção
dos espíritos. Já no com eço, os cientistas A gos­
tinh o Flint, Lee e Coventry, de B úfalo, que
haviam exam inado a questão, declararam
que as pancadas p o diam provir facilm en ­
te dos m ovim entos das articulaçções de Katic
c Maggie. (247).
Mas fo i só em setem bro de 1888, — qua­
renta anos depois do episódio de H ydesville,
— fo i só então que Margarida, num a entre­
vista ao jornal N ew -Y ork H erald, se lembrou
de declarar que, desde o princípio, ela e Ka-
tie haviam sido vitim as da esperteza da ir­
m ã m ais velha e da idiotice da mãe. Im ita­
vam pancadas com estalidos dos dedos. D e
sua parte, Catarina confirm ou, logo depois,
esta confissão de sua irmã. (248).
Por fim , a 21 de outubro desse m esm o
ano, 1888, Margarida apresentou-se na Aca­
dem ia de Música de Nova-Yorque e, “peran­
te um grande auditório, m anifestou o m éto­
do que tinha usado para produzir os estra­
nhos estalid os.” (249).
T odavia, as m esm as irmãs Fox, um ano
depois, retrataram publicam ente a confissão
— 266 —

que haviam feito. Declararam que. atribuin­


do os fenôm enos espiritas a uma fraude in ­
tencional, haviam agido a pedido de pessoas
hostis ao m ovim ento, e tinham sido bem pa­
gas para isso. (250).
Margarida fo i m ais longe ainda: disse
que altas personalidades católicas queriam
encerrá-la num convento.
De tais contradições das irm ãs Fox, o
Pe. Thurston, jesuita, conclue o seguinte:
1.°) Margarida Fox Kane, com o todos os
m édiuns, em pregou algum as vezes a fraude
para produção das pancadas;
2.°) E ambas, Maggie e Katie, quando
atribuiram tudo a uma fraude interessada e
conciente, ainda m entiram , porquanto nem
sem pre haviam em pregado fraude. Quer di­
zer: Nas sessões das irm ãs Fox, os espíritos
um as vezes intervieram , outras não.
Catarina Fox Jencken morreu em março
de 1893, vítim a de excessos do álcool. E is co­
m o o jornal W ashington D a y ly S tar descreve
os últim os m om entos de K atie:
“ A c a sa n.o 456 O este d a R u a 57, N o v a-Y o rq u e,
se e n c o n tr a a tu a lm e n te q u a se d e s e r ta . A p en a s um de
se u s q u a rto s e s tá o c u p a d o ; h a b ita -o u m a m u lh e r q u e
o rç a p elos se u s 60 a n o s : v e rd a d e ir a r u in a m e n ta l e
físic a, e ssa m u lh e r vive d a c a rid a d e p ú b lic a e só tem
a p e tite p a ra os lic o res In to x ic a n te s. O ro sto , em q u e
se perc eb e m os tr a ç o s d a id a d e e d e u m a v id a de p ra -
zeres, m o s tra que essa m u lh e r fo i b e la u m d ia.
“ E ’ a r u in a v iv a d e u m a m u lh e r q u e f re q u e n to u
os p a lác io s e a s c o rte s. As fa c u ld a d e s d esse e sp irito .

(250) PA TRICK J. GEARON — opus c llatu m , pg. 26.


- 267 —
c aído a g o ra n a im b e cilid a d e, fo ra m a d m ir a d a s e e s­
tu d a d a s pelos sá b io s d a A m é ric a e d a E u ro p a . O n o ­
m e dessa m u lh e r to rn o u -se a lte r n a tiv a m e n te c é le b re :
c a n ta d o , r id ic u la riz a d o n u m a d ú z ia d e lín g u a s. E sse s
lá b io s que, h o je , só a rtic u la m b a n a lid a d e s , p ro m u l­
g a ra m o u tr o r a a d o u tr in a d e u m a “re lig iã o n o v a " q u e
c o n ta a in d a se u s a d e r e n te s e se u s a d m ir a d o r e s p o r d e ­
z e n a s de m il h a r e s ”. (7 d e m a rc o d e 1 8 9 3 ).

Margarida, que se casara com o sr. B e-


lisha, tornou-se católica, recebeu o batism o e
abjurou o espiritism o durante a vida de seu
m arido. Mas, dez anos depois de enviuvar,
voltou à prática da nova religião, c veio a fa ­
lecer em junho de 1892. em condições tão de­
ploráveis quanto as de sua irmã. Sobre sua
morte, nada m ais eloquente do que o necroló­
gio de seu correligionário James Burns, p u ­
blicado no jornal espirita M édium an d D a y-
break:
“ T em os a q u i d ebaix o d e n o ssa s v is ta s u m e s p e tá ­
culo d u p la m e n te su r p re e n d e n te : u m a m u lh e r q u e
tr a n s m ite a o s o u tr o s m a n ife sta ç õ e s e s p ir itu a is e que,
em si m e sm a , e s tá , sob o a sp ec to e s p ir itu a l, p e rd id a
e e x tra v ia d a . J á n ão te m n e m sen so m o ral, n e m d o ­
m ín io so b re se u s p e n sa m e n to s, n e m d e sejo s. E m t$tls
c irc u n stâ n c ia s, — sem fa la rm o s d a e m b ria g u e z , d a
se n su a lid a d e , d a d e g e n e re sc ê n c ia m o ra l so b to d a s a s
su a s fo rm a s, — s e rá de a d m ir a r q u e e ssa e sp écie d e
co isa te n h a m u ltip lic a d o os e sc â n d a lo s e te n h a d e i­
xado, no d e cu rso de se u s 45 a n o s, u m m o n tã o d e
I m u n d íc ie s? " (2 8 de a b ril d e 1 8 9 3 ) ( 2 5 1 ).

Maggie, com o r,ua irmã e com o seu pai,


(251) LUCIEN ROURE — De Spfrltlam e d’onjord’hnl
et d’hier, pg. 88-89 e PA TRICK J. GEARON — De Splrt-
tlam ei 6a FalUlte, pg. 166-167.
— 268 —

morreu vítim a dos excessos do álcool. O al­


coolism o, pois, foi o triste legado de um pai
degenerado. Segundo Lucien Roure, o con­
vento cm que quiseram encerrar Margarida
nada m ais era do que um asilo para m u lhe­
res alcoólicas, asilo que ela tom ava por um
convento. (252).

Mas o verdadeiro “Am érico V espucci”


do Espiritism o, — aquele que codificou os
ensinam entos religiosos transm itidos pelos
espiritos cm diversos lugares, — é o francês
A llan Kcirdec. Pode-se m esm o dizer que ele
c o fundador do Espiritism o com o religião.
Chamava-se L éon -H ippolyte-D en izart Ri-
vail e nasceu em L yon, cm 1804. F oi educado
na Suiça, na Escola de P estalozzi, em Yver­
dum. Da m esm a form a que todos os iniciad o­
res do espiritism o, tainbem ele se deixou in ­
fluenciar pelas idéias liberais, hauridas no pro­
testantismo.
De 1835 a 1843 m anteve em Paris um
curso gratuito de ciências naturais e astrono­
mia. Publicou, ao m esm o tempo, obras didá­
ticas sobre aritm ética e gram ática francesa.
Em 1855, R ivail ouve falar das m esas gi-
rantes. E, em 1855 assiste, pela prim eira vez,
a uma sessão espirita. Desde então, achando-
se m édium , dedica-se ao espiritism o, sob a
direção de um espírito-guia cham ado Zéfiro,
sucedido por um outro cham ado V erdade.
Em abril de 1856, um a cesta (corbeille)
(2í>3) LUCIEN ROURE — Le SpIrKI.ime d ’nnjorrt’hnl
«Uhler. pp. 8"J.
— 269 —
revelou a Leão H ipólilo R ivail a grande m is­
são que teria de cumprir. Acreditando no es­
pírito que falava por m eio da cesta, R ivail
deixou-se consagrar Pon tífice da nova reli­
gião. D aí por diante, ajudado por m ais de
dez m édiuns, recolhe os ensinam entos dos E s­
píritos Superiores e, em 1857, publica a pri­
m eira edição do L ivro dos E spíritos. E ntre­
m entes, R ivail passou a cham ar-se A llan
K ardec; é que, instruído pelos espíritos, R i­
vail soube que havia vivido oulrora na p es­
soa de um velho p oeta celta cham ado Allan
Kardec, poeta esse que, provavelm ente, nun­
ca existiu. (253)
Ao Livro dos E spíritos seguiram -se ou­
tros, do mesm o gênero e estilo.
Kardec faleceu ein 14 de m arço dc 1869,
vítim a da ruptura de um aneurisma. Confor­
me revelações posteriores, o espírito de Kar­
dec se reencarnou. no Havre, em 1897. Mas,
não obstante estar reencarnado, apareceu
cm 1898 numa sessão regida pelo m édium
Mine. Maia, e continuou a intervir em outras
sessões, sem pre com o desencarnado.
Para terminar, observem os que R ivail era
m au pagador. Em 1840, m orando na casa n.°
35 da rua de Sèvres, de propriedade dos je ­
suítas, fôra obrigado a despejar o im ovel, por
estar em atraso com os aluguéis; rnas, talvez
por vingança, talvez por incúria, deixou o
prédio em péssim o estado de conservação.

(253) Tam bem PITAGOKAS, o in tro d u to r da m etem p­


sicose na E uropa, dizia que tin h a sido, em tem pos
idos, um dos liorúls de H om ero — Euforbion. — M oderna­
mente, porem, ficou provado que esse herói nunca oxis-
— 270 —

T endo por auxiliares, na confecção dos


E nsinam entos dos Eppiritos, a F lam m arion
e outros, R iv a il deu com o com unicação dos
Espíritos as idéias científicas m ais em m oda
nesse tem po: o evolucionism o de Darwin, a
origem sim iesca do hom em , etc. Os espíritos,
neste particular, cederam a palavra aos sábios
ainda vivos. Outro colaborador valioso de Ri­
vail foi V ictorien S ardou.
" E r a no m o m e n to d aa p r im e ira s e x p eriên c ia s de
e sp iritism o em P a r is ; S a rd o u d e v o ra v a os liv ro s de
filo so fia e de m e ta físic a , o c u p av a -se de a stro n o m ia ,
e s tu d a v a e p e rf ilh a v a a s te o ria s de J o ã o R e y n a u d . F o i
no sa lã o d a sra . J a f e t q u e e le e n c o n tro u A llan K a r-
dec. O p ró p rio S a rd o u c o n fe sso u : “ Q u an d o , de com um
aco rd o com A lla n K a rd c c , p ed im o s ao e s p ir ito p re se n ­
te d e te rm in a s s e a ba se do d o g m a e s p ir ita , fu i eu que,
g u ia d o p o r m in h a s le itu r a s , re s ta b e le c i o s e n tid o d as
re s p o s ta s m a l I n te r p r e ta d a s ou o b sc u ra s do e s p ir ito ;
o a ssim , em trõ s se ssões, p u d e d ita r o c en á rio d a d o u ­
tr in a que A lla n C ardec, ao d ep o is, d e v ia d e sen v o lv eT ”.
( 2 5 4 ).
O sucesso dos livros de Kardec há-de ser
atribuído, crem os nós, à clareza de seu estilo
c à convicção com que escreve. O seu siste­
ma é de afirm ar, sim plesm ente.
Allan Kardec fundara a R evu e S pirite,
em cuja direção lhe sucedeu L eym arie. Apar-
ceirando-se com o fam igerado Buguet, fo­
tógrafo de espíritos, Leym arie acabou sendo
processado, com o trapaceiro, pelos tribunais
francesses. (255). Num a das sessões rcaliza-
(254) LUCIEN ROURE — Le M erveilleux Spirite, pg.
346, no ta 2.
das para fotografar espíritos, L aym arie fo to ­
grafou o espírito de Allan Kardec, e presen­
teou a viuva do Patriarca com essa im pressio­
nante fotografia. Viu-se, depois, pelo proces­
so judicial, que tudo era truque. (256).

Depois de Allan Kardec, m uito contribui-


ram para a sistem atização do espiritism o:
Léon Denis, G abriel D elanne e C am ilo F lam ­
m arion, na França, O liver L odge e o rom an­
cista Conan D oyle, na Inglaterra.
Todavia, a difusão do espiritism o, alto ou
baixo, doutrinário ou experim ental, não con­
tou só cem o valor intelectual de seus funda­
dores. Os seus principais fatores de êxito tem
sido:
As pretensas curas dos m ales físicos, —
terapêutica barata e facil, em confronto com
a carestia dos rem édios alopáticos e das re­
ceitas m édicas, em geral; a exploração da
sensibilidade hum ana, fazendo crer aos re­
centem ente viuvos ou orfãos que eles estão
conversando com os parentes falecidos; a in­
sinceridade dos espiritas, os quais ocultam os
intuitos do espiritism o c dizem, a princípio,
que não é religião, mas apenas sistem a filo ­
sófico próprio para conciliar todos os crentes
espiritualistas.

(25G) LUCIEN ROURE, Ibidem, pg. 51.


CAPÍTULO II

MENSAGENS DE CARATER PROFANO.

As com unicações dadas com o transm iti­


das pelos defuntos podem considerar-se quan­
to ao tempo, ao assunto, ao destinaiário, à
causa eficiente.
Referem -se, em geral, ao tempo presen­
te e ao passado. Quando, porem , se repor­
tam a acontecim entos futuros, tem o incsm o
valor das “p rofecias” das cartom antes e dos
astrólogos: são vagas, im precisas e com uns
a toda classe de pessoas.
Qualquer que seja o agente transm issor
dessas m ensagens, temos que elas nunca pas­
sam de sim ples conjeturas, visto com o só
Deus pode prever os futuros contingentes, co­
mo são os que dependem do ato livre da von­
tade hum ana. O próprio A llan K ardec, no L i­
vro dos M édiuns, confessa que os espíritos
não podem revelar o futuro, “porque, se o
hom em conhecesse o futuro, negligenciaria o
presente.” (257). Em 1899, a senhorita P ieper
fez aparecer o “esp irito” de M oisés que pre­
disse a Grande Guerra e profetizou que o dr.

(257) L.UCIEN ROUBE, Ibid«iu, Pg. 222.


— 273 —

H odgson viveria bastanle para ver as hostili­


dades. A profecia de M oisés era um tanto in­
teressante: predizia com efeito que, nesse con­
flito, a Rússia e a França se aliariam contra
a Inglaterra e a Am érica, ao passo que a A le­
m anha ficaria praticam en te neutra. (258). E
são assim as outras profecias. Nada m ais fá ­
cil do que prever uma gu erra. . . Há tantas
guerras todos os a n o s ! ...
Quanto ao destinatário das m ensagens
c ao assunto, m uito teríam os que dizer. Geral­
m ente, as m ensagens são de ordem in d ivi­
d ual: assuntos relativos a alguem da sessão,
uma receita m édica, um as palavras de conso­
l o . . . Às vezes, algum a intriga ou calúnia e,
não raro, algum a im o r a lid a d e ...
De Irês fontes podem provir as m ensa­
gens: do em buste ou trapaça, do psiquism o
dos presentes c de uma inteligência preterna­
tural. Para evidenciarm os o alegado, bastan­
te é que exam inem os as próprias m ensagens
e, querendo julgá-las, não precisarem os lou­
var-nos cm autores católicos: espiritas e sim ­
p atizantes do espiritism o dir-nos-ão do valor
da m aioria das com unicações.

I
Antes de tudo, convem firm ar que a m aio­
ria das m ensagens são forjadas pela esperteza
dos m édiu ns e diretores dos círculos. Esses es­
píritos vagabundos que aparecem, — um, o de

(25S) PATRICK J. GEAUON. l.e S p irltism c: Sn F n ll-


liti-, pê:. S-l.
— 274 —

um filho que vem consolar o pai ou a mãe,


outro, o do m arido, que vem consolar a espo­
sa sobrevivente, — e outros, tudo isso não
passa de uma com édia insossa e canalha. O
m édiu m ou o seu dirigente agiu por vias tra-
versas, tom ou inform ações clandestinas, “pes­
co u ” e, assim , chegou a conhecer os hábitos
do falecido, e, habilm ente, consegue im itar-
lhe a voz, o sotaque, o estilo.
O sr. Franscisco R eed, m édiu m norteame-
ricano, revelou os truques usados na A m éri­
ca para a “p esca” de inform ações. D iz ele:
"Em cada cidade, pelo mundo Inteiro, há alguns
médiuns praticando estas diferentes fases de medluni-
dade, e, a-fim -de m anterem o favor de que gozam, é
muito essencial que tenham , à mão, um bom deposito
dessas informações; assim, cada m édium faz um “ca-
nhenho” e conserva-o para servir-se dele a qualquer
hora que p re c is a r.. . Um médium está sempre alerta,
e faz memornnduus da conversação dos assistentes.
Tambem corre os diários, procurando noticias de fa­
lecimentos . . . e apanha boa parte de informações fa­
zendo inquirições indiretas. Alguns desses médiuns,
sob pretexto de Indagar acerca de amigo que p artiu
ou dasapareceu, visitarão o ofício de registos onde se
conserva a nota de todos os que falecem ”. (259).

No Brasil os processos podem variar,


m as a “ p esca” sem pre se faz. Os tais m édiuns
curadores são sim plesm ente pessoas que en ­
tendem um pouco de h om eopatia, — m edi­
cina inócua, — e que se põem a receitar em
(250) J. FRANCES RE E D — T ru th anil Foot* p e rta i­
n in g to Siilrltiinlliim, pg. 27-28. Cf. Pc. H E RE D IA — O E a-
plrltlwmo e o Bom Scnuo, pg. 120. a sagulnl.ee.
- 275 —

nom e de grandes m édicos falecidos. O exqui-


sito é que os m édicos do espaço são quase
sem pre hom eopatas, m esm o que, quando vi­
vos, fossem inim igos da hom eopatia. Estra-
n havel é tam bem que, a-m iude, os farm acêu­
ticos se veem obrigados a corrigir a receita de
um M iguel C outo ou de um T orres H om em ...
D epois de desencarnados, os grandes médicos
esqueceram a arte de réceitar. . .

II

A segunda fon te das m ensagens há-de


ser buscada na sub-conciência do m édiu m ;
este, quando em transe, ou diz o que os assis­
tentes, sem o saberem, lh e transm item por
telepatia, ou reproduz o que ouviu ou leu an­
teriorm ente, em estado de vigília.
Os próprios espiritas confessam isto. Diz Oliver
Lodge:
Só assim se explica a infantilidade das
m ensagens, os lugares com uns c, não raro, as
tolices m ais grosseiras; é que as m ensagens
corresponcfem adm iravelm ente ao n ivel in-
tcctual do m édiu m e dos seus ouvintes. Ora é
o espirito de um notável p oéta que vem di­
zer versos medíocres, ora é o espírito de um
sábio legitim o que vem repetir coisas sabidas
até pelos alunos prim ários de um a escola ru­
ral. (261) Em todo caso, o que os espíritos
“ com un icam ”, quase nunca excede a in teli­
gência com um de qualquer “ encarnado”. Os
próprios espiritas se veem em baraçados para
explicar a degeneração m ental que devasta a
mente dos grandes homiens que se desencar­
nam :
"Alem disso, o osplrito, em consequência do obs­
curecimento relativo da conciência e da diminuição
da vontade livre, sofrerá facilmente as sugestões, mais
ou menos voluntárias, dos assistentes, cujos pensa­
mentos muitas vezes reproduzirá". (262).
“Outras vezes há uma curiosa m istura de ele­
mentos originais e de elementos evidentem ente saidos
do médium ou dos assistentes”.
“Em certos casos. . . as comunicações são um re­
flexo do pensamento e dos conhecimentos dos evoca-
dores”. (263).
— 277

Espanta-nos a ginástica m ental que faz


C arlos Im bassahy, para explicar a pobreza de
ideias de que sofrem os desencarnados:
“Quando o médium tem opiniões firm adas sobro
determinado assunto, repele, conciente ou inconciente-
mente, as opiniões espirituais contrárias. Repelido, o
mensageiro afasta-so, e o m édium fica falando ou es­
crevendo por conta própria. Há mais os casos em que
muitos são os seres que se querem comunicar; uns
procuram tom ar o lugar dos outros; as comunicações
saem então truncadas, Ininteligíveis; há pontos ad­
miráveis, que causam surpresa e estupefação, ao lado
de trivialidades e até d isparates”. (264).

Adiante, o espirita brasileiro vem a res­


ponsabilizar os próprios espíritos:
"Em suma, a lucidez do espirito manifestante
nem sempre é completa. . . A perfeição das respostas
d e p e n d e ... da perfeição do e s p ír ito ... (265).

Adm iram os a boa vontade de Im bassahy


que, m esm o sem ter procuração bastante, ten­
ta defender a im becilidade dos desencar­
nados.
A verdade é que, a-m iude, “os fatos, tes­
tem unhados até pelos próprios espiritas, p ro­
vam que as m ensagens do espiritism o não
passam do reflexo do m édiu m ou dos assis­
tentes.” (266)
Em 7 de maio de 1S99, num artigo que foi am ­
plam ente transcrito por toda a im prensa, Camilo F la m -

(264) CARLOS IMBASSAT — O E sp iritism o & Ims «lo»


F a to s, PR. 179-180.
(2G5) Idem. Ibldem, pp. 259.
(266) P . OTÁVIO CHAGAS DE MIRANDA — Os F c -
nOmcnos F stçnleos e o Espiritism o perante a Icreja, pgr. .7.
— 278 —
m arlon exprim ia a opinião de que o espirito que, em
Jersey, se entretinha com Vlctor Hugo, sob o nome de
Sombra do Sepulcro, era o próprio Vlctor Hugo, dan­
do respostas a si mesmo”. (267).

Para estudar as m ensagens, F lournoy rea­


lizou um inquérito; obteve 42 respostas e 81
observações, de várias partes do m undo. “Es­
tudou-as c publicou os resultados. Tudo ba­
nal! Se tais m ensagens vem do outro mundo,
concluiu ele, esse outro m undo pouco vale.”
(2G8).
R ichet, tido com o espirita, escreve:
“As manifestações dos desencarnados contem tan­
tos erros, infantilidades e deslembranças, que ó im­
possível aceitar que se tra ta de alm as que voltani a
este mundo. Nada nos obriga a supor que os mortos
tenham os mesmos sentimentos e juizos que tinham
em vida. Os personagens do outro mundo gostam de
pilhérias ridículas e de trocadilhos infantis. Os desen­
carnados esquecem coisas essenciais, e se ocupam com
ninharias de que, nesta vida, não se ocupariam sequer
um minuto. Alguem disse: “Se a o utra vida hà-de con­
sistir em ter a m entalidade de um desses desencarna­
dos, prefiro então continuar a viver aqui mesmo. "Com
algumas excepções, o que os desencarnados apresen­
tam são fragm entos de uma inteligência paupérrim a.
Voltar à T erra por causa de um a abotoadura é su­
mamente improvável”. (269).

(2G7) “A nnales politique* e t pnrlnm entnlreH ”. Cf. a in ­


da «L ’A n-D elà e t le« force« Inconnue*” , por Ju le s Bols,
pg. 256, c ltados por Lucien Boure — Le M erveilleux Spl-
rltc, pg-. 231.
(268) Dr. LÜCIO JO SE ’ DOS SANTOS — “O D iário ”,
de Belo H orizonte, núm ero de o u tu b ro de 1339, a trá s
citado.
(269) CHARLES RICH ET — G ru n d rlss d e r P a rap sy ­
chologie, pg. 472.
— 279 —

0 mesm o sentem F elipe D avis e M aurí­


cio M aeterlin ck :
"P osbo dizer de m inha parte que, em vinte anos
do estudos. . . nunca obtive, nem vi obter por outros,
uma única comunicação que possa realm ente merecer
a atenção de um filósofo ou de um sãbio”. (270).
“A menor revelação astronôm ica ou biológica, o
menor segredo de outros tempos, por exemplo, uma
particularidade arqueológica, um poema, uma estátua,
um remédio que se encontrasse, seria um argum ento
mais decisivo do que centenas de reminiscências mais
ou menos lite rá ria s”. (271).

Conhecidas são as tolices que um m é­


dium im pingiu a S ir O liver Lodge, dando-as
com o com unicações de seu falecido filho
R aim undo.
Enfim , para concluir, um autor católico:
“So as comunicações vem dos espíritos, como ad­
m itir que alm as bem educadas, incapazes de uma men­
tira durante a vida, desçam a dizer m entiras e tra p a ­
ças? Como é possível que um suposto comércio de
oitenta anos com os espíritos do mundo Invisível, não
tenha esclarecido nenhum fato novo da ciência, ou
descoberto nenhum a verdade nova, para o bem e o
consolo da hum anidade?
“Não há sesssão espirita a que não compareçam
Shakespeare ou Aristóteles, os quais parece até pos­
suírem várias personalidades, pois são encontrados ao
mesmo tempo em diversas reuniões.
“Como é possivel que sábios, homens de gênio

(270) LUCIEN ROURB — Le M ervclllenx S plrlte, pg.


230. — FE L IP E DAVIS — Ln (In dii m onde de» Euprlt»,
pg. 166.
(271) MAURÍCIO MAETERLINCK — La m o rt, pg. 13S,
eitacR^pelo Dr. T. Poodt — Lo» FenOmeno» Mtaterloao»
— 280 —
que, nesta Terra, tanto contribuíram para difundir a
l u z . . . como é possivel que esses sábios, esses gênios,
voltando a visitar-nos, se mostrem tão cretinos e lou­
cos?”. (272).

E um autor nem espirita nem católico:


“Porque é que não percebem que essas elucubra­
ções, mesmo quando apresentem combinações inteli­
gentes, são, om essência, horrivelm ente e s tú p id a s ...
Corneille, quando fala pela boca dos médiuns, só faz
versos de calloiro, e Bossuet subscreve sermões de que
se envergonharia qualquer vigário da roça. W undt, de­
pois de ter assistido a uma sessão de espiritism o, quei­
xa-se am argam ente da degenerescência que atingiu,
depois da morte, o espirito das maiores personagens...
Deia-so o depoimento de J o b a r d ... do príncipe Ou-
ran, o ver-se-á que esses valentes espíritos não estão
melhor informados do que nós, sobre qualquer assun­
to. Realmente, deveríamos renunciar à vida fu tu ra se
fosse preciso que a vivêssemos ao lado de individuos
dessa espécie". (273).
O fato mais notável de reminiscência literária é
o que aconteceu ao médium T. P. Jam es. Dizem que
term inou o romance Edwin Drood, de Charles Dickens,
cm dezembro de 1872, romance que o autor deixara
Inacabado. Sob ditado do espirito de Dickens, teria o
médium escrito todo um volume de 4 00 páginas.
Posteriorm ente, porem, descobriu-se que esse sr.
Jam es passou dois anos estudando o estilo do escritor
inglês, e só então conseguiu concluir “a seu modo” o
romance começado. B crnhardt, amigo que fora de
Charles Dickens, tendo sido consultado pelo dr. Surbled,

(272) 1'ATRICK J. GEARON — Lc SpIHGi.ni«-: Sn


F n tlllte. pp. 124-5.
(273) PXERRE JANET, citado peio dr. G rassct, Idíea
.Méillcnlex, pp. 45-40.
— 281 —
declarou que não foi apenas o sr.Jam cs que tentou
completar o romance; outros pasUclies apareceram,
todos indignos do autor de Edivin Drood. E outro
escritor, o sr. Fnirbnnkg, provou que, nos papéis de
Dickcns, foi encontrada toda uma cena destinada a
figurar no romance, cena essa que em vão se procura
no romance do médium; isso prova que o espirito de
Dickcns nenhum a intervenção teve no acabamento
póstumo de seu romance. (274).

III

Enfim , dentre m ilhões de pretendidas


m ensagens enviados do Alem, fraudulentas
umas, naturalm ente explicáveis outras, apa­
rece, de quando em quando, uma ou outra co­
m unicação que pode ter sido transm itida por
um agente intelectual extra-terreno; uma que
outra com unicação enexplicavel pelas forças
naturais.
Entre elas, — se o fa to fo r ad m itid o co­
m o real, — devem os colocar em prim eiro lu ­
gar a chamada correspondência cru zada, —
"Cross correspon den ce” dos ingleses, a que
F lournoij cham ou “M ensagens com plem enta­
res.” (275).
“Trata-se de respostas dadas por diversos médiuns
m ediante escrita autom ática. São m ensagens Incom­
preensíveis quando tom adas isoladamente, mas, apro­
ximadas umas das outras, se esclarecem e se comple­
tam como fragm entos de um mosáico”. (276).

(274) LCCIEN ROURE — Le M crvclllcux Snlrlte, pgr.


186-138.
(275) FLOURNOY — E sp rlts e t Medlniu«, pg. 459.
— 282 —

Os m édiu ns podem estar em diversos


paises, falar linguas diferentes e até desco­
nhecidas de alguns deles e, alem disso, não
ter nenhum entendim ento entre si. Está
visto que o caso não pode ser explicado pela
telepatia, porque, se uma pessoa viva trans­
m ite a outra, telepaticam ente, um pensam en­
to, é razoavel que lho transm ita com pleto e
inteligível.
Portanto, se tais m anifestações existem ,
só podem vir do outro mundo.
Mensagens há ainda que, pelo com plexo
de sua contextura, não terão nunca uma ex­
plicação natural; confessem os, porem, que se
trata de casos raríssim os. São as Mensagens
que sa em parelham com este m odelo:
“Um médium, em transe, escreve autom aticam en­
te esta comunicação: Vejo um homem de uns sessen­
ta anos, um tanto robusto, barbado e usando óculos
de arco metálico. Acaba de m orrer em um desastro
do automovel, em Melbourne, A ustrália. O seu nome,
— diz ele, — é Thomas J. Queen, e estava antes em
I,os Angeles. Quer que o snr. se comunique com seu
filho João que está agora era S. Francisco”. O especta­
dor investiga o caso. Acha que existe um tal João
Queen em S. Francisco; que o pai dele, Thomas Queen,
estava em Melbourne, A ustrália, e que foi morto no
mesmo dia em que o médium lhe fez a comunica­
ção". J277).

O próprio P adre H eredia, que propõe a


telepatia para solucionar todos os casos de

(27G) LUCIEN ROURE — I.e M ervcllleux S plrlte, pg.


254-266.
(277) Pe. H E R E D IA — O Eoplrltlom o e o Bom Senão,
pg. 139.
— 283 —

com unicações, confessa que “ neste caso hi­


potético a telepatia não tem pronta explica­
ção de com o o m édium conheceu a fision o­
m ia do hom em ”, etc. (278) Em seguida, com
uma tanta incoerência, dá explicações que
não satisfazem nem m esm o a ele, m as conso­
la-se com dizer que o futuro há-de esclare­
cer m uita coisa.
Nestes casos com plexos, assim com o nou­
tros, todos eles decorrentes do estado de tran ­
se, o m ais razoavel é admitir, logo de inicio,
a intervenção de um agente intelectual. Esta
é, aliás, a opinião do próprio P adre H ere-
dia, e não sabem os a razão por que os auto­
res que se estribam no jesuita m exicano,
para verem em tudo fenôm enos naturais e te­
lepáticos, não prestaram atenção nesta p as­
sagem lum inosa de seu livro:
“Nesses casos (de tran se), o médium m uitas ve­
zes tala ou escreve autom aticam ente, ou faz ambas as
coisas, m anifestando um conhecimento de que, em seu
estado normal, nilo tem experiência. Conforme certas
relações, ESTE CONHECIMENTO E ’ DE TÃO EXTRA­
ORDINÁRIO CARATER QUE NÃO ADMITE EX PLI­
CAÇÃO SATISFATÓRIA, A NÃO SER A DE UMA TER­
CEIRA INTELIGÊNCIA". (273).

Enfim , há ainda certas com unicações que


exigem , ua outra extrem idade da linha, um
transm issor intelectual: são aquelas que se
— 284 —

transm item em lingua que o m édium não co­


nhece. Chama-se g lotolalia ou xenoglossia
(280) a esta ordem de com unicações em lín­
gua estrangeira.
Ouçamos a experiência pessoal do dr. Fe-
licio dos Santos. D iz ele:
"E n tre muitos fatos estupendos de mediunismos
diversos, por mim observados, referl-lbe (a Carlos de
Laet) as comunicações em latim , do falecido dr. L.,
que fora nosso amigo e professor, meu e dele.
“Contei-lhe que, exigindo eu como prova de iden­
tidade uma comunicação em latim bom, e não ma-
carrOnico, como me dera outro espírito; que, sendo
assunto da atualidade a pastoral de Leão X III aos bis­
pos franceses, fora eu surpreendido por esta comuni­
cação, em Ictrn própria do dr. L., que me era bem
conhecida:
C om m ovlt P etrum g a llu s, p lo ra v it e t illc;
N unc P ctr u s g a llu n i oorrigit, illc negat.
Isto é: um galo comoveu a Pedro e ele chorou;
agora, Pedro corrige o galo e este nega. Note-se o tro­
cadilho de gallus, — o galo, e gallus, — o francês.
Como se sabe. Leão X III aconselhara aos católicos
franceses aceitarem a república como governo de-fato,
e cuidarem em cristianizá-la. Não foi ouvido pelo
maior número.
“E contel-lhe mais que, estando presente m inha
esposa, depois de o pretenso espirito do dr. L. se ma­
nifestar por sinais inequívocos e particularidades que,
entre os assistentes, só eu e ela lhe havíam os conhe­
cido, ofereceu tambem a ela um autógrafo, Indican­
do onde devia colocá-lo. E foi este:

(280) T erm os form ados do grego: G lotolalia, de glosaC


ou glnttt, — lingua. — e Inlein, — fala r. Xenogloailn, do
xenos, — e strangeiro, o glossê, — lingua.'
— 285 —
“Heus! vintor: hlc vir e t uxor non Iitigant.
(Olá, viandante! Aqui marido e mulher não disputam ).
E agradecendo eu o m adrigal, apareceu outra co­
municação, — essa era português, a qual nos fez pas­
sar do prazer ao despeito:
Isto é um dístico que copiei da pedra de um se­
pulcro. '
“Realmente, dentro dele podiam estar marido o
m ulher sem brigas.
“En tre o utras comunicações curiosas, citarei es­
ta: Pedindo eu um pensamento em inglês, sobre W a­
shington, ao mesmo dr. L., que tambem ensinara essa
lingua, apareceu este autógrafo:
Hc was a sworcl whoso blado h as ncver bccn
wet but in Iibevty’s foc. (Ele foi uma espada cuja
lâmina jam ais se molhou em outro sangue senão no
dos inimigos da liberdade).
“Não se pode contestar a tal ciência do verdadei­
ro Espírito do espiritism o; se é um serafim decaído é
chefe de legiões angélicas. . . Perdendo a inocência,
não perderam eles a inteligência; aplicam -na para su­
gerir o mal, — a sujidade e a m entira principalmen­
te ”. (281). (Casos Reais a Registar, em presa E ditora
A. B. C. lim itada, 1937, pág. 185-7).

**
O dr. F elicio dos Santos não fora hom em
tido com o dem asiado crédulo; p olítico notá­
vel na m onarquia e na república, hom em de
ciência, m édico notável, abandonara a reli­
gião católica, que era a de sua fam ilia, e tor­
nara-se, prim eiro, m aterialista e, depois, es­
pirita praticam ente. Voltando ao grêm io da

(2S1) CnxoH ItcalH n ReglN tiir — E in p rssa ed. A.B.C.,


1927, PB. 185-187.
— 286 —
Igreja, recuperando a fé, escreveu o seu Ca­
sos R eais a R egistar, e ninguém lhe contestou
as declarações que fez sobre o que vira no es­
piritism o.
CAPITULO III

M ENSAGENS D E CAR A TE R RELIGIOSO. -


A RELIGIÃO ESPIRITA.

A RELIGIÃO ESPIRITA

Os espiritas, quanto ao modo de encara­


rem a religião cristã, dividem -se em dois
g ru p os:
a) Os grandes teóricos, — Grupo A;
b) Os praticantes, — Grupo B.
Os prim eiros são negativistas. Negam tu­
do. A julgá-los p e k s suas palavras, diremos
que em nada diferem dos m aterialistas. Os
segundos dizem -se cristãos. Citam os Evange­
lhos. Adm item , pois, os Livros Santos com o
fonte uutorizada de ensinam entos religiosos.
Adm item , portanto- de acordo com os Evan­
gelhos, a existência hum ana de Jesús-Cristo.
Pretendem que a doutrina espirita é em im en-
temente cristã. (282).
Julgarem os os dois grupos num só capí­
tulo. Já que o grupo B cita a Bíblia e se diz

(282) ALLAN KAKDEK — Lo Livre des EprI«*, pg.


— 288 —

cristão, quer dizer que adm ite a Bíblia como


palavra de Deus. Aceita os ensinos de Cristo.
Vam os provar, contra esse grupo, que to­
da a doutrina “ dos esp íritos” c contra a dou­
trina da Biblia.
Como o grupo A nega as m esm as verda­
des negadas pelo grupo B, refutado este, esta­
rá refutado aquele. Mostraremos qufe^o E spi­
ritism o nega todos os dogmas da Religião Ca­
tólica, dogmas estes contidos, explicita ou im ­
plicitam ente, na Bíblia. Procederem os por
partes.
DEUS.
a) Para a R eligião Católica, há um só
Deus. (Deut., 6 :4 ). Mas esse D eus é pessoal,
visto com o se distingue das coisas que criou.
(Gen., 14:19). E ’ eterno, é ato puro, é ens a
se, necessário, espirito puríssim o. O que fez,
podia não fazer. Quer dizer que agiu livre­
mente, criou livrem en te:
“Fez tudo o que quis fazer, no Céu, na
Terra, no m ar e cm todas as p rofundezas.”
(283).
“ E D eus criou no tempo c não na eterni­
dade, visto com o ele “criou no principio
(Gen., 1 : 1 ) ” e a eternidade não tem princi­
pio.
b) Os espiritas, grupo A, afirm am que a
m atéria é eterna e que Deus não se distingue
da m atéria; a m atéria é deus. Pan teism o, por
conseguinte. N ão existe um Deus pessoal.
Mas um Deus, que não seja pessoal, não é
(233) “ Omni» qtiiicouniquc v o lu lt feclt ln coelo, ln
te rrn , lu m arl ct ln ouinlbux iiIij-hhI*'’. Salmo 134:0.
— 289 —

Deus. Logo, por ilação, negam a existência


de Deus. São ateus:
“ Para nós, a idéia de Deus não exprime a idéia
de um ser qualquer, mas a idéia do ser, que contem
todos os outros se re s. . . O mundo renova-se incessan­
temente em suas partes: o todo é eterno". (284).
“A ciência já destruiu as concepções ancestrais do
universo, como: Divindade exterior ao universo,
C é u .. . ” (28B).
“O Ser Supremo não existe fora do mundo, mas
é parte integrante e essencial dele.” (286).

Outros espiritas, — grupo B, — adm item


Deus, m as negam -lhe atributos essenciais: a
justiça, a providência, a necessidade, a onipo­
tência. Assim, o Deus desses espiritas ou é
a m atéria, o grande T odo, ou é um Deus m u­
tilado, sem atributos essenciais. (287) Para
eles, Deus não é criador no sentido de enle
necessário, que tudo tirou do nada:
“A palavra criar, dizem, deve desaparecer dos di­
cionários, porque é uma palavra sem sentido. Deus
não criou; produziu. Não criou, porque tudo é m até­
ria; mas condensou as m atérias imponderáveis, que ti­
nha eni seu poder, e animou-as pela sua força e von­
tade. Estas moléculas em suspensão. . . são precisa­
mente os m ateriais de que se serviu, e é esta conden­
sação m aravilhosa que constitue a sua o b ra.” (288).

Alem disso, afirm am que Deus criou ne­


cessariam ente, c assim negam a liberdade de

(284) LÉON D ENIS — A prio In Mort,pg. 144-145.


(2S5) Dr. E. GYEL — EHpIrKIxnio, passim .
(28G) LÉON DENIS — Ln g ran d e Ê nlgm c, pg. 1G.
(287) Dr. E. GYEL, opus clt., pg. 115.
(2SS) CH, D'ORlNO — Ln ge n
— 290 —
D eus. Por conseguinte, se Deus criou neces­
sariam ente, criou desde que é Deus; por isso,
todo o criado é eterno, inclusive a m atéria:
"A produção (de Deus) é eterna, porque Dous,
por existir sempre, também sempre produziu. Deus
n3o pode estar nunca sem a g ir”. (289).
“Forçoso é supor o universo co-eterno com a di­
vindade”. (290).
Em conclusão: a doutrina espirita leva
para o p an leism o, para o a teísm o e para o
m ais radical dos m aterialism os.

SAN TÍSSIM A TRINDADE.


a) Para a R eligião Católica existe um
só Deus. Mas em Deus há três pessoas, Pai,
F ilho e Espírito-Santo. Isto é, D eus é uno em
essência e trin o em pessoas. E’ o grande
dogma da Santíssim a Trindade. (Mateus,
28:19).
“Três são que dão testem unho no Céu:
o Pai, o Verbo e o Espírito-Santo; e estes três
são um só .” (I Jo., 5:7).
b) Os espiritas, de ambos os grupos, ne­
gam que em D eus haja três pessoas. Não ad­
mitem, portanto, a Santíssim a Trindade. E s­
tão contra os E vangelhos de Nosso Senhor
Jesús-Cristo.
“Quantas pessoas há em Deus? pergunta Xata-
linl. E responde: Uma só. Deus criador, Deus salva­
dor”. (291).

(289) CH. D'ORINO. op. clt„ p s. 15.


(290) MARTINS VELHO — Aa potCnclaa ocultr.H iln n l-
mn, pk. 345. citado por V alérlo Cordeiro, O E sp iritism o ,
Pg' (291) UMBERTO NATAL1NI — Glt S plrltl e II loro
Mondo, PB. 82.
— 291 —

JESÜS-CRISTO.

a) Para a Igreja Católica, Jcsús é o F i­


lho de Deus feiio lioniem :
‘‘O Verbo fez-se carne” (S. João, 1:14).
E ’ a segunda pessoa da Santíssim a Trin­
dade:
“B atizando-os em nom e do Pai, e do Fi­
lho e do E spirito-Santo” (M ateus, 28:19).
“Nasceu de Maria V irgem ” : (Evangelhos
Siuóticos).
“N ão teve pai, segundo a carne, m as foi
concebido por obra do E spirito-Santo.” (Lu­
cas, 1 :35).
E ’ D eus, com o o Pai e o E spirito-Santo.
Só Deus tem o poder de perdoar c pe­
cado, porque o pecado é ofensa de Deus e
só o ofendido pode perdoar a ofensa; ain­
da m ais: só Deus pode fazer m ilagres em
seu p róprio n om e, porque o m ilagre é uma
suspensão particular da lei natural, e só o le­
gislador pode suspender a sua lei. Orn, Je-
sús perdoa pecados e, para provar que p o­
de fazê-lo, opera m ilagres em seu próprio n o­
me. (M ateus, 9 :6). Logo Jesús é Deus.
Alem disso, o E vangelho de S. João decla­
ra explicitam ente que Jesús, o Verbo de Deus,
é Deus e que, com o Deus, já existia quando as
coisas com eçaram a exislir; portanto, vindo
para o mundo visivel, veio para o que era seu,
porque por ele tudo se fez que foi feito.
“No princípio existia o V erbo. . . O Verbo era
junto de Deus, o Verbo era Deus. Tudo por ele foi
feito. Velo para o que era seu, e os seus não o quise­
ram reconhecer”. (João, 1:1-15).
— 292 —

Assim, Jcsús é Deus; m as d hom em tam­


bém, descendente de Adão, por Maria. (Ma­
teus c Lucas, G enealogias).
Como D eus, os seus atos tem valor infi­
nito; com o hom em , Jesús representa o ofen-
sor na obra da Reparação do pecado. (292).
Veio a este mundo para salvar os homens,
para dar-lhes a graça da salvação: João,
1 0 : 10 .
F oi assassinado, m as sua m orte teve
por fim salvar os hom ens: Isaias, 57:7 e II
Cor., 5:15.
Ninguém pode salvar-se a não ser em
nom e de Jesús-Cristo — : “N on est in alio ali-
quo salus, nec aliu d nom en est sub caelo da­
tum Iw m inibus, in quo opporteat nos salvos
fie r i.” (Atos, 4:12).
b) O espiritism o nega toda esta doutrina
relativa a Nosso Senhor Jesús-Cristo. Para os
espiritas, Jcsús não é Deus; é, quando m ui­
to. um deu s da Terra, expressão que nada
significa. (293) É um m édiu m , — um espí­
rito superior que se encarnou para in stru ir os
hom ens; é um filósofo, um grande homem ,
m as sim ples homem .
" . . .espírito superior, colocado por suas virtudes,
muito acima da hum anidade terrestre, Jesús era o
módium de Deus”. (194).

Sc Jesús-Cristo não c D eus, os seus m ere­


cim entos não são infinitos, não tem valor de
resgate divino. Aliás, todos são unânim es em
dizer que Jesús se encarnou, não para salvar
(202) r c . D r. VALÉRIO CORDEIRO — O E sp iritis­
mo, pp. 61.
(203) CIT. D’ORINO — Lo pènese de 1’flme, pp. 3G5.
(201) ALDAN KARDEC — Genesis, c. 15.
— 293 —

os hom ens, mas para ajudá-los a progredir in-


leciual e moralm ente. (295) Logo, os hom ens
podiam prescindir da vinda de Jesús. Assim,
o espiritism o nega os dogmas da Incarnação
e da R edenção, segundo o conceito biblico.
Depois, nada havia a resgatar, porque,
conform e verem os, o espiritism o nega tam ­
bém o fato do pecado origin al.” O espiritis­
m o, destruindo a divindade de Cristo, negan­
do o pecado original, a Redenção e a Graça,
leva os seus adeptos ao racionalism o.” (296)
Até aqui tínham os visto já duas conse­
quências perniciosas do espiritism o: p an teís­
m o e ateísm o. Junte-se m ais esta: raciona­
lism o.
O HOMEM.
a) A Religião Católica ensina que o cor­
po do hom em não foi criado im ediatam ente,
mas form ado de m atéria preexistente, signi­
ficada pela palavra barro ou lim o:
“F orm auit igitu r D eus hom in em de lim o
le r r a e — ” (Gen., 2:7).
Isto não quer dizer que o corpo hum ano
seja o resultado da evolução lenta de corpos
anim ais inferiores. A R eligião C atólica, se
não condena o evolucion ism o aplicado aos
anim ais, condena-o, quando aplicado ao h o­
mem, porque este foi objeto de uma ação di­
vina direta e especial; a respeito da produção
dos anim ais a B íblia diz que a terra se encar­
regou de realizá-la:
“Produza a terra a alm a vivente, — gado
e repteis, e bestas-feras.“ (Gen., 1:2-1).
(295) LÉON D ENIS — CaterhlM ue Spirlte, pg. 89.
(296) Po. CORDEIRO, op. cit., pg. 64.
— 294 —
Mas a respeito do homem , De. s aparece
agindo por si: “Façam os o hom em à nossa
im agem e sem elhan ça.” (Gen., 1:26).
Isto a respeito do corpo. Quanto à alma,
é certo que esta não foi form ada de matéria
preexistente, m as criada em prim eira mão,
im ediatam ente:
“Inspirou Deus na face dele um sopro de
vid a .” (Gen., 2:7).
Para a prim eira m ulher temos isso m es­
mo, com diferença de que o seu corpo foi for­
m ado já de m atéria viva, e não de elem entos
inanim ados.
É pelo lado da alma e não pelo lado do
corpo que o hom em foi criado à im agem e
sem elhança de Deus (Gen., 1:26), pois Deus
não tem corpo. Por ai conhecem os algo da na­
tureza da alma. E la é sim ples, isto é: não
tem parles integrantes; é im aterial, isto é. in ­
corpórea; é espirito, isto é, intrinsecam en te
independente da m atéria; é im ortal, porque,
sendo sim ples e incorpórea, é incorrutivel, e,
sendo espirito, não depende da matéria, para
existir.
Do prim eiro par, — Adão e Eva, — pro­
cedem todos os hom ens. O corpo aparece por
via de geração e as alm as são criadas, direta­
m ente, por Deus, à m edida que os corpos vão
sendo con cebid os:
“ D e u m só ho m e m f iz e ra D eu s d e sc e n d e r to d o o
gô n e ro h u m a n o q u e h a b ita so b re a T e r r a in te ir a ” .
( 2 9 7 ).

(297) “ F e c it e s uno oiunc jçenus kom lnnm in h n b ltn re


m p e r u nlversam f e d e m te rra e ”. (Atos dos A póstolos,
17:26).
- 295 —

0 prim eiro casal fo i criado inocente e,


não sendo isso exigido pelas condições da na­
tureza pura, foi elevado à ordem sobrenatu­
ral. por extrem os da bondade de Deus; dai,
duas ordens de dotes que devia transm itir a
seus descendentes: os d otes naturais, — a
vida e seus benefícios, e os dotes preter-natu -
rais, que constituíam um privilégio da esp é­
cie hum ana: isenção de dores, saude perpé­
tua, im ortalidade. Tendo, porem , pecado,
Adão e Eva perderam os dotes preter-natu-
rais. O seu pecado foi pessoal e represen tati­
vo. Enquanto pessoal, foi-lh es perdoado; mas
enquanto represen tativo da espécie, privou-os
tem porariam ente do Céu e, alem disso, pas­
sou para todos os seus descendentes. É o que
se chama pecado orig in a l:
“A ssim com o, pelo p e cad o d e u m eó h o m em , fi­
c a ra m to d o s s u je ito s à c o n d en a çã o , a ssim , p e la ju s tiç a
de u m só, Je sú s-C risto , veio p a ra to d o s a ju stific a ç ã o
q ue d á v id a “ (R o m ., 5 :1 8 ) .
" P e lo que, com o p o r u m h o m e m e n tro u o p ecad o
no m u n d o , e pelo peca d o a m o rte , a ssim ta m b e m a
m o r te pa sso u a to d o s os h o m e n s, p o r isso q u e to d o s
p e c a ra m n e le ”. (R o m ., 5 :1 2 ) .

b) Tudo isso é negado pelo ESPIRI­


TISMO.
Quanto ao corpo, o espiritism o nega a.
sua form ação im ediata por D eus; adm ite o
transform ism o rigoroso, não só quanto ao
corpo, m as ainda quanto à alm a:
"A noção d a e v olu ção a n ím ic a u n id a à n oção d a
E v o lu ç ão o r g â n ic a . . . ex p lica tu d o ”. ( 2 9 8 ).
(298) Dr. E. GTEL, — E»pirltUmo, Dff. 10S.
— 296 —

As form as teriam aparecido espontanea­


m ente; evolucionaram , em seguida, até o apa­
recim ento do homem . Isto é diam etralm ente
oposto ao ensino de Cristo. A Bíblia diz, cla­
ram ente, que o hom em foi feito por Deus já
cm estado adulto, e dotado de sexo. 0 sexo foi
dado para a transm issão de um ser especi­
ficam ente igual ao pai, e em estado orgânico
perfeito, sem necessidade de posterior evolu­
ção. E isto desde o primeiro homem . Portan­
to, nada de evolucionism o. Mas o espiritis­
mo dogmatiza o contrário. D iz ele:
“ E ’ v e rd a d e q u e to d o s n ó s p a ssam o s p elo s o rg a ­
nism o s in te r io re s . . . e o s a n im a is ta m b em e stã o d es­
tin a d o s a c h e g a r à h u m a n id a d e ”. ( 2 9 9 ).
“ A a lm a v a i p rim e iro e n c a rn a r no m in e ra l, d e­
pois no v e g e ta l, e n fim n o a n im a l p r e c u rs o r d a h u m a ­
n id a d e, p a ra , u ltim a m e n te , a f e ta r o c orpo do h o ­
m e m ”. ( 3 0 0 ).

Logo, os hom ens descendem dos anim ais.


(301) Dos espiritas, uns afirm am que Adão
não foi o prim eiro hom em , outros lhe negam
existência, e relegam -no para o terreno dos
m itos. (302) Sendo assim, os hom ens não pro­
cedem de um casal único.
Vim os que o corpo precede à alm a; não
só para o prim eiro hom em com o para os seus
descendentes, a alm a foi criada diretam ente
por D eus, depois de o corpo estar form ado:
“ F o rm o u o h o m e m . . . e ln sp iro u -lh e u m e sp iri­
to , — s p irn e u lu m v itn c ” . (G en ., 2 :7 ) .
(299) Idem, Ibidcm. pg. 132.
(300) CH. D ’ORINO, op. cit., pg. 23.
(301) Dr. E. GYEL,. op. clt.. pg. 88-87.
(302) ALLiAN KARDEC — Lc» Livre» de» E«prl(», n.o»
43 a 50.
— 297 —

Para o espiritism o, porem , a alma sem ­


pre existe an tes do c o r p o :
“ A a lm a su b s is te à d e stru iç ã o do o rg a n is m o , co­
m o p re e x iste à s u a f o rm a ç ã o " . ( 3 0 3 ).
“ Com a p re e x istê n c ia d a a lm a tu d o se ex p lica ló ­
gic a e n a tu r a lm e n te ”. ( 3 0 4 ).

Na Bíblia, a alma é criada. N o espiritis­


mo, é produto de evolução da m atéria:
“ H á e v olução p a ra o p rin cip io p síq u ico . No co­
m eço d a e v oluçã o, a a lm a é sim p les e le m e n to de v id a ,
um a in te lig ê n c ia p o te n c ia l”. ( 3 0 5 ). “ A a lm a h u m a n a
nã o foi c ria d a c o m p leta, com to d a s a s fa c u ld a d e s q u e
a p ro u v e d a r- lh e o C ria d o r. F o r m a - s e e d e sen v o lv e -se
p o r s i ”. ( 3 0 6 ).

Sobre a natureza da alm a, o espiritism o


confessa a sua ignorância. (307) Tudo, pois,
que afirm a sobre a alm a é apenas hipótese.
Numa coisa, porem , estão de acordo quase
todos os teóricos espiritas: no negarem a im a­
terialidade da alm a. Para eles, a alm a não
é im aterial nem sim ples:
“ N ão sa b em o s se o p rin c íp io in te lig e n te te m a
m e sm a o rig e m q u e a m a té r ia . . . o u se é u m a e m a n a ­
ção d a D iv in d a d e " . ( 3 0 8 ). E m to d o caso, “ é m e n o s e i a -
to d iz e r q u e os e sp írito s sã o i m a te r i a is . . . p o rq u e o
e sp irito , se n d o u m a c ria çã o , d e v e s e r a lg u m a co isa: é
a q u in ta -e ssê n c ia d a m a té r ia ”. ( 3 0 9 ).

(303) Dr. GYEL, op. clt., pg. 8.


(301) ALLAN K AR DEC — Le Livre deH Eeprltn, n.»
130.
(305) Dl'. GYEL, op. clt., pg. 13.
(30G) Dr. GYEL, op clt., pg. 116.
(307) Dr. GYEL, op. clt., pg. 28 e LÉON DENIS, Cn-
teehlNine Splrlte. passlm.
(30S) ALLAN KARDEC — Le Livre deg Egprltg, pg.
12.
(309) Idem, Ibldem, n.og 78 • 82.
— 298 —
"A nosso v e r, a s d u a s e x p re ssõ es e s p ír ito e m a té ­
r ia d e v e ria m se r b a n id a s. E m v ez d e las, e m p re g a r ía ­
m os a p e n a s a p a la v r a su b s tâ n c ia p a ra d e sig n a r a es­
sê n cia da s c o i s a s . . . D esta s o r te a c a b a ria to d a d iv e r­
g ê n c ia e n tre m a te r ia lis ta s e e sp ir itu a lis ta s , p o rq u e a
m a té r ia e o e sp írito p a ssa ria m a s e r sim p les m o d a li­
d a d es ou e sta d o s de s u b s tâ n c ia ” . ( 3 1 0 ).

Portanto, alem de levar ao atéism o, ao


pan teísm o e racion alism o, o espiritism o leva
tambem ao m aterialism o.
Errando sobre a origem da alm a hum a­
na, os espiritas erram ainda sobre o seu des­
tino, pois, com o verem os adiante, origem e
destino são coisas conexas.
F RA TE R N ID A D E HUMANA — PECADO
ORIGINAL.
. Vim os que o espiritism o não adm ite a
origem m onogenética dos homens. Para ele,
os hom ens foram aparecendo na Terra, em
consequência de uma evolução lenta e pro­
venientes de germ es esparsos.
Por conseguinte, se os hom ens não proce­
dem todos de Adão e Eva, o pecado original
é uma fábula. É isto, de-fato, o que vocife­
ram os autores espiritas:
" D e sa p a re c e u o do g m a do pecad o o r ig in a l com
su a s c o n seq u ê n cia s I n ju s ta s e b á rb a ra s " . ( 3 1 1 ).

Negaram , pois, o pecado original, mas,


não podendo negar as suas consequências, —
a existência do m al, os sofrim entos, as pena­
lidades, — tentaram explicar estas de um
(310) Idcm, ibldem, pg. 35.
(811) Dr. G TEL — E aplrltlam o, pg. 114.
— 299 —

modo grotesco: ressuscitando o velho absur­


do da reencarnação.
Outra consequência do erro espirita: o
desaparecim ento da fraternidade hum ana.
Com efeito: se os hom ens se dizem irm ãos,
não é por terem sido todos criados pelo m es­
mo Deus, não; aliás, todas as criaturas se­
riam irm ãs umas das outras, porque todas
foram feitas por um m esm o Deus. 0 burro
seria irm ão do homem . A ped ra seria nossa
irmã. Isto é erro.
Na doutrina da Bíblia, som os todos ir­
m ãos, porque som os todos filh os de um m es­
mo pai rem oto, segundo a carne: Adão. Se cha­
m am os a D eus "Pm nosso que lestais no Céu”,
é porque D eus é pai desse nosso pai. Adão
procede diretam ente de Deus e não de m a­
cacos ou de causas m ateriais fortuitas— :
“Jesús, conform e julgavam , era filh o de Jo­
sé, ie este veio de H eli, e este de Matat, e este
de L e v i .. . e este de Set, e este de A dão, e es­
te de Deus." (S. Lucas, 3:23-48).
Portanto, o conceito de fraternidade, hu­
m ana não existe no espiritism o. Se ós espiri­
tas se dizem irm ãos é com im propriedade
de linguagem ; força do hábito som ente, por
estarem acostum ados com os termos cristãos.

ANJOS.
a) D e negação*em negação, toda a dou­
trina dê Jesús se esboroa no ensino espiriti-
tico.
A Bíblia adm ite três categorias de cria­
turas:
— 300 —

1.°) As criaturas materiais, com suas


'energias c propriedades;
2.°) As criaturas im ateriais, ou espíritos;
3.°) As criaturas m ixtas, — que são os
homens.
Quanto às coisas materiais e às mixtas,
isto é, quanto à criaçãço do m un do visivel, bas­
te consultar os dois prim eiros capítulos do
G ên ese:
“ No principio D eus criou o Céu c a
Herra.”
Mas Deus não fez só o m undo visivel;
fez tam bem o invisível:
" N e le fo ra m c ria d a s to d a s a s c o isas, n o s C éu s e
n a T erra, — a s c o isas in v isív eis e a s v isiv eis, — q u e r
os tro n o s, q u e r a s d o m in a çõ e s, q u e r os p rin cip ad o s
q u e r a s p o te s ta d e s ” . (C o lo sse n se s, 1 :1 6 ) .

Nas Escrituras Sagradas, temos ainda


dois ensinos im portantes relativos ao anjos:
1.°) Os anjos não são as alm as dos ho­
m ens;
2.°) Os anjos são bons, uns, e m aus, ou­
tros; mas, no princípio, todos foram
bons.
A alma distingue-se do anjo, primeiro,
porque a alm a foi criada no corpo e em or­
dem ao corpo, ao passo que o anjo não; este
foi criado separado e independe dle corpo; se­
gundo, porque o anjo exerce m isteres especi-:
ais dcLerminados por D eus, — com o ser en­
viado em baixador junto aos hom ens, ser
guarda de indivíduos, cidades, reinos. E is ­
— 301 —

so não se lê das alm as. Cf.: Lucas; Atos,


12:11; Mat., 1:11.
Grande é o p o d er do anjo no mundo vi-
sivel: (4.° li v. dos Reis, 9:35; 2.° dos Mac.,
15:22); o da alma separada do corpo é nulo.
Morrendo Lázaro, “ a sua alma fo i levada p e ­
los anjos ao seio de Abraão” ; isso prova que
a natureza da alma é diferente da do anjo,
e que a alma e anjo são seres diferentes e dc
poderes diferentes; são espíritos, m as em sen­
tido diverso. (Lucas, 16:22).
O anjo m au, a quem cham am os dem ônio,
que quer dizer gênio, ou diabo, que significa
caluniador, não se distinguie do anjo bom
quanto à n atureza, mas sim quanto ao esta­
do. Os anjos m aus foram criados bons c, de­
pois, tornaram -se maus e foram condenados,
sein rem issão possivel:
“ Com o c a iste do Céu, ó L ú c ife r? ” (Is a ia s , 1 4 :1 2 ) .
“ D eus não p e rd o o u aos a n jo s q u e p e c a ra m ” . (2.*
de P e d ro , 2 :4 ) .
“ E u v ia a S a ta n a z c a ir do C éu com o re lâ m p a g o ”.
(L u c., 1 0 :1 8 ) .
“ J e s ú s s u b ju g o u n a s c a d e ia s e te r n a s , so b a s tr e ­
vas, o s a n jo s q u e n ã o c o n se rv a ra m o se u p rin cip ad o ,
m a s a b a n d o n a ra m a s u a lia b lta g ã o " . (S. J u d a s , 1 :5 - 7 ) .

A Sagrada Escritura ensina a existência


dc um agente real, pessoal e não m etafórico,
inim igo dc D eus, espírito im undo, cujo ofício
é guerrear a Deus e perverter os corações dos
hom ens. No Levitico Deus proibe oferecer sa ­
crifícios aos dem ônios:
“ E n u n c a m a is im o la rã o su a s v ítim a s a o s d em ó ­
n io s." (L ev. 1 7 :7 )
— 302 -

Alhures, Deus se queixa de que seu povo


oferece sacrifícios aos dem ónios: (D eutcronô-
m io, 32:17).
“ Im o la ra m ao s d e m ô n io s os se u s filh o s e a s su a s
f ilh a s .” (S a lm o 105, 3 7 ) .

b) O espiritism o batalha todas estas no­


ções. Para ele, não há anjos bons nem dem ô­
nios. Os anjos bons são alm as boas desencar­
nadas. Os diemônios são tam bem alm as de­
sencarnadas, que ainda não atingiram a per­
feição. E, com o as alm as desencarnadas se
cham am espíritos, segue-se que anjo, d em ô ­
nio e alm a são a míesina coisa, porque tudo
é espírito.
“ Seg u n d o o d o u tr in a e s p ir ita , os a n jo s n ã o são
se re s à p a rte e de n a tu r e z a e sp e c ia l; são os e sp írito s
de p r im e ira o rd e m , isto é, a q u e le s q u e a tin g ir a m o
e sta d o de p u r o s e s p ír ito s , dopois d e te re m p a ssad o p o r
to d a s a s p r o v a ç õ e s”. ( 3 1 2 ).

Contrariando a doutrina divina, exara­


da nas Sagradas Letras, ensina Allan Kar-
dec:
“ S a ta n a z é e v id e n te m e n te a p e rso n ific aç ão do m al,
sob u m a f o rm a a le g ó r ic a ; p o rq u e n ã o se p ode a d m i­
t i r um s e r m a u q u e lu ta , p o tê n c ia c o n tra p o tê n cia ,
com a D iv in d a d e, e c u ja ú n ic a o c u p aç ão é c o n tra r ia r
os se u s d e síg n io s. ( 3 1 3 ).
“ Os e s p ir ita s n o s e n sin a m q u e D eus n ã o pode
c ria r s e re s v o ta d o s a o m a l o in fe liz e s e te r n a m e n te . Se­
g u n d o * e le s,n ã o h á dem ô n io s n a ace p çã o a b s o lu ta e
r e s t r it a d e ste te rm o ; o q u e h á sã o e s p ír ito s im p e rfe l-

(312) ALLAN KARDEC — In etrn c tlo ii P ra tiq u e «nr


les M aulfeutntlonn «pirites, s. v. nnge, pg. 8. P a ris 1923.
(318) Idem — Lc L ivre des E sp rlta , pg. 39.
— 303 —
to s q u e podem , to d o s, to r n a r - s e m e lh o res p elo s se u s
e sfo rço s e p o r s u a v o n ta d e " . ( 3 1 4 ).

A confusão cardecista é m anifesta. Há


m á fé da parte de Kardec. A Igreja nunca
ensinou que Deus criou seres votados ao mal.
D eus não criou ninguém destinado ao infer­
no; não criou o dem ônio para o inferno, mas
sim o inferno para o dem ônio, segundo o
te x to :
"A fa sta i-v o s de m im , m a ld ito s , e Ide p a ra o fogo
e te r n o que fo i p re p a ra d o p a r a o d ia b o e p a r a se u s se­
q u a z e s ”. (M at., 2 5 :4 1 ) .

NOVÍSSIM OS.
a) A alm a hum ana, separada do corpo,
segue para um dos três destinos: purgató­
rio, que é temporal, Céu e inferno, que são
eternos.
Nada há m ais certo, segundo o texto b í­
blico. Quanto ao Céu e inferno, se conside­
rarmos, no segundo, o tormento íniim o do
condenado, — o rem orso, a pena de dano,
— e, no prim eiro, a felicidade perfeita dos
bem -aventurados, — podem os dizer que são
dois estados, e, com o tais, são independentes
de lugares. Mas não há dúvida que, tanto o
Céu com o o inferno, são tam bem dois luga­
res determ in ados, onde as alm as gozam ou
sofrem o seu estado definitivo.
Quanto ao Céu, consulle-se, por exem ­
plo, S. Marcos, 16:19; aí se lê que Jesús su­
biu para o Céu, onde está sentado à m ão di-
(311) ALLiAN KARDEC — In stru ctlo n p ratiq u e, s. v.
demon, pg. 10.
— 304 —

reita de Deus Pai. Veja-se ainda Gen.;


28:17. etc., etc.
Quanto ao inferno, a Escritura o descrie-
ve com o lugar d e torm entos (315) e dele fa ­
lam os E vangelhos 17 vezes. Aqui se diz que
o rico, m orrendo, foi sepu ltado no inferno;
ali sentencia Jesús: “Ide, m alditos, para o
fo g o »
Em resum o: Os m aus irão para o suplí­
cio ieterno, os bons para a vida sem fim . (S.
Mateus, 25:46).
Quanto ao Purgatório, dele há menção
bastante clara nos Livros Santos. Alem do
2.° livro dos M acabeus, 12:44, leia-se: Ma­
teus, 5:26 e 12:32, F ilip. 2:3, la. P etri, 3:19 je:
“ . . . o fogo provará qual seja a obra de
cada um; se a obra de alguem se queimar,
sofrerá detrim ento; p orem o tal será salvo,
todavia com o pelo fogo.” 1.“ aos Cor., 2:14-15.
b) Os espiritas põem por terra toda es­
ta doutrina de Jesús; negam a Justiça D i­
vina. T odas as religiões querem uma sanção
condigna após a vida terrena. O espiritism o
prescinde dessa sanção. Com efeito, exam i­
nando o sistem a íespirita, encontram os nele
esta série de afirm ações:
1 .') Céu e In fe ru o , n o s E v a n g e lh o s, sã o n lcg o -
r in s;
2.°) Céu c I n te r n o são e s ta d o s d a a lm a , e n ão lu ­
g a re s de p rêm io e c a stig o ;
3.°) F o g o e te rn o é u m a m e tá f o r a e n ão u m a r e a ­
lid a d e ;
4.o) A e te r n id a d e d a s p e n as n ã o e x iste ;

(315) I.ociim tormentoriim, Lucan, 1G:23.


— 305 —
5.u) O P u r g a tó r io é n e ste m u n d o, p a ra o q u al a
a lm a v o lta , re e n c a rn a n d o -s e .
“N ão h á in fe rn o lo c aliza d o no se n tid o v u lg a r li­
ga d o a e s te te rm o ; c a d a q u a l o tr a z em si m esm o p e­
los s o frim e n to s q u e to le r a ”. (3 1 G ).
“ Os e s p írito s r e je ita m o d o g m a d a e te r n id a d e d a s
p e n a s ”. (3 1 7 ).
“A localização absoluta da região das penas e
das recompensas só existe na imaginação do ho­
m em ”. (318).
“ O p u r g a tó r io e x iste n o s m u n d o s de ex p iaç ão co­
mo a T e r r a , ond e os h o m e n s ex p iam o p a ssa d o e o
p r e se n te , em p ro v eito do f u tu r o ”. ( 3 1 9 ).
"A d o u tr in a e s p ir ita nos m o s tra a h a b ita ç ã o do3
bons, nã o n u m lu g a r c irc u n sc rito , m a s o n d e q u e r q u e
h a ja b o n s e sp írito s, — r.o e sp aç o p a ra a q u e le s q u e
são e rr a n te s , no s m u n d o s m e n o s p e rfe ito s p a ra os q u e
e stã o e n c a rn a d o s " . ( 3 2 0 ) . Cf. a in d a D ’O rin o , L a g c n c-
so d e r â m e , p. 318, e D énis, C a té c h ism e S p iritc , p.
31. e tc.

OUTRAS VERDADES.
Indo dc negação em negação, os espiri­
tas destroem toda a doutrina de Nosso Se­
nhor Jesús-Cristo:
N egam a econom ia da Graça, — porque
a graça dc Deus c in u til;
N egam a ressu rreição da carne, — por­
que o corpo é apenas uma roupa que a al­
ma veste e despe, à vontade; a alm a não tem
m ais relação com o corpo de uma encarna-
(31G) ALLAN KARDEC — IiiH truction P ra tiq u e aur
ManlfcHtatloiiu Splrltcn, |)g. 13.
(317) Idem, Ibldem, pg. 41, 31 e 36.
(31S) e (310) ALLAN KARDEC — O C íi i e o In fern a,
c. 3 c seguintes. E O Livro dos KsptrlloM, p a rte 4.*, c. 2.
(320) Jdem. In stru c tlo n p ratiq u e sn r Ich aian lfc stn -
tloiiN Spi-Ut-x. ps. 33 o 34.
— 306 —

ção anlericv desde que se reencarnou num


oulro;
N egam os S acram en tos. No espiritism o
não há batism o, porque não existe pecado
original; ,e este n ão existe, porque os ho­
m ens não procedem de Adão e Eva. Não há
confirm ação, nem m atrim ôn io, nem ordem ,
nem penitên cia, nem extrem a-un ção, porque
a fin alid ade dos sacramientos c a infusão da
graça, que o espiritism o não admite. Negam
a SS. E ucaristia, porque o fundam ento desta
c a p alavra in falível de Jesús-Cristo, — Deus
ie H om em , — m as Jesús não é Deus no sis­
tema espirita;
N egam a D ivin a M atern idade de Maria
e os dogmas relativos a Maria porque, se Je­
sús não é D eus, Maria não é Mã;e de Deus.
N egam a ressu rreição de Cristo.
Como já dissem os, negam a ressu rrei­
ção dos corpos. Ou im plicitam ente, ensinan­
do que a alm a não retorna nunca para seu
próprio corpo, m as para outro. Ou exp lici­
tam ente:
“ Os corp o s fica m to ia lm e n te d e stru íd o s, nem h á
p o ssib ilid a d e a lg u m a d e a lg u m d ia re s s u s c ita r e m " .
( 3 2 1 ).
Os E vangelhos, porem , afirm am , a cada
passo, o falo “ da ressurreição” dos corpos:
“ E eu o r e s s u s c ita r e i no ú ltim o d ia ”. ( J o ã o , 6 :5 3 ) .
“ B em se i qu e h a -d e re s s u s c ita r n a re s s u rre iç ã o do
ú ltim o d ia ” . (J o ã o , 1 1 :2 1 ) . Cf. a in d a : Jo ã o , 5 :2 3 -2 9 .
A tos, 1 7 :2 3 :2 4 ) , C or., 2 5 :5 1 e 42, etc.

(321) ALLAN KARDEC — O Livro do* EapfrMoa,


n.o 1010.
— 307 —

E no S ím bolo dos A póslolos: “ Creio na


ressurreição da carne, na vida eterna.
A m em .”
Negam a necessidade de oração e o valor
do arrependim ento:
"A p rec e se rv e so m e n te p a ra n o s fo rtaleceT em
n o sso s s o f rim e n to s ” e a s fa ltas. pão r e p a ra d a s , n ã o p e­
lo a rr e p e n d im e n to , mas " p e la p r á tic a do bom”. (322).

MORAL.

Segundo o espiritism o, a lei divina con­


siste apenas “na m áxim a do am or do pró­
x im o .” (323) Fazer o bem c o único diever
do hom em . O hom em deve abster-se som en­
te do prazer que prejudica o próxim o. (324)
Assim , portanto, “não deverá rejeitar os pra-
zeres da existência, nem considerá-los com o
p ecad os.”
Dentro desta moral ampla e im precisa,
cabem todas as patifarias, — o adultério, a
prostituição, a avareza, os vícios solitários,
o hom o-sexualism o, .etc. É o hedonism o de
Epicuro em ampla escala. Adem ais, o espi­
ritism o não aceita o decálogo com o moral
inspirada.
A moral espirita condena o celibato e as
m ortificações do corpo. (325)
“Não enfraqueçais o corpo com privações inúteis
e macerações desnecessárias”. (32G).

(322) LÜON D ENIS — C ntechísm c S plrlte, pg. S e 9.


(323) Idem — Cntcnul»«>c Splr., pg. 11.
(324) Dr. E. GYEL — E sp iritism o . pg. 128.
(325) Dr. E. GYEL, Ibidom, pg. 128.
(32G) ALLAN KARDEC — O E v u ngelho scgnndQ o E s­
piritism o, c. 6.
- 308 -
Na indissolubilidade do m atrim ônio es­
tá fundada a existência e santidade da fam í­
lia cristã. Jesús-Crislo afirm a que a indis­
solubilidade do vinculo c lei d iv in a : “ O que
D eus uniu, o hom em não sep are.” (S. Ma­
teus, 19:6). O divórcio c condenado.
O espiritism o, porem, ensinando que a
indissolubilidade é contrária à lei natural,
justifica o divórcio onde existe, e autoriza
um cônjuge a abandonar o outro, onde não
há divórcio. (327).
Conforme observou F elicio dos Santos,
— que foi espirita, — o espiritism o reprova
o suicídio. Mas tal reprovação é apenas teó­
rica; na prática, o suicídio é aprovado pe­
lo espiritism o, não só porque o estado m en­
tal, criado pelas sessões, leva ao suicídio,
com o porque a doutrina da reencarnação
autoriza a desejar e procurar uma encarnação
nova, m ais perfeita do que a atual, e isto se
pode conseguir pelo suicídio.
Alem disso, qual o castigo que aguarda
a alma do suicida? Nenhum .
“ N áo h á p e n as d e te r m in a d a s p a ra o su ic id a . H á,
p o rem , u m a c o n seq u ê n cia a q u e o su ic id a n ão pode
e sc a p a r: é o d e sa p o n to " . (3 2 S ).

Para resum ir, direm os que a moral dos


espiritas c uma doutrina fragm entária, im ­
perfeita e infantil. Como m uito bem notou o
Pe. Cordeiro, o espiritism o conservou, da

15
(327) ALLAN KARDEC — I.e Livre <Ich EsprlÍM, .»
G!>7, ) . 297. — FIG U IEK — H lntolre dn M ervelllcuv, pE.
11
‘ (32S) I.c L ivre iIch E sprllx, n.-> 937, p E. 397.
— 309 —

moral evangélica, apenas o que é suave c in­


dulgente. (329)
Podem os, enfim , dizer que toda a dou­
trina espirita, — dogma c moral, — se sin ­
tetiza nisto: plágio am plo e vergonhoso. T u­
do o que o espiritism o afirm a ou nega, já
foi afirm ado ou negado por algum sistem a
religioso antigo. É o que, inconcientem ente,
confessa um escritor espirita, — o dr. E.
Cyel; diz ele:
“ P re te n d e m os e s p ir ita s q u e os p rin c ip a is e le ­
m e n to s de s u a d o u tr in a e s tã o in c lu íd o s em to d a s a s
g r a n d e s re lig iõ e s d a a n tig u id a d e , d issim u la d o s sob
sím b o lo s e em m a n ife sta ç õ e s e x te r io r e s do c u lto . C ons­
tit u ír a m um e n sin o se cre to , re se rv a d o a o s in ic ia d o s
s u p e rio re s. E n c o n tra m -se e sses e le m e n to s n a s re lig iõ es
do s D ru id as, n a s d a ín d ia e, s o b re tu d o , n a s do E g i­
t o ”. (3 3 0 ).

Uma coisa, é certo, avulta no sistem a es­


pirita, m as sem originalidade: o seu ódio im ­
placável à Igreja Católica, fundada por N os­
so Senhor Jesús-Cristo, e aos ministros dessa
Igreja. Oiçamos a hipocrisia com que fala
Kardec:
“ E s ta nova relig iã o ó c h a m a d a a e x erce r u m a
g r a n d e jn flu ô n c ia n a so c ie d a d e . . . E ’ e la q u em h i- d e
r e s t a u r a r a re lig iã o d e C risto , a g o ra tã o re b a ix a d a
p elos p a d re s a u m a e sp e c u laç ão c o m e r c i a l.. . E ’ e la a
r e lig iã o n a tu r a l, q u e b r o ta do c o ra çã o e v a i d ir e ta ­
m e n te a D eus, sem te r p o r in te r m e d iá r io s a s b a tin a s
ou os d e g ra u s do a l t a r ”. ( 3 3 1 ).

(329) Pe. Dr. VALÊRIO CORDEIRO — O E sp irltls-


ino, pg. 73.
(330) Dr. E. GYEL — E sp iritism o , pg. 109.
(331) Stmlles, cltndo p o r V nlérlo C ordeiro — O E sp i­
ritism o, pg. 66.
— 310 —

Em bora finjam não ser inim igos do Cris­


tianism o, todos os espiritas se m ostram hos­
tis ao Catolicismo.
“ O espiritism o, — vocifera o sr. D e N oy-
es, — vai ser a m orte de todas as superstições,
que serão destruídas como fum o; o credo de
Santo Atanásio será abolid o.” (332)
A prescnta-se, pois, o espiritism o como
uma N ova R eligião. Mas em que se baseia?
Quais as credenciais dos seus fundadores?
Afirm am que sua doutrina representa uma
terceira revelação feita por Deus aos ho­
m ens:
“ A le i do A ntigo T e s ta m e n to e s tá p e rso n ific a d a
e m M oisés, a do N ovo T e s ta m e n to no C risto . O e s p ir i­
tism o é a te rc e ira rev e laç ão da le i de D eu s; m a s não
a p e rso n ific a in d iv íd u o a lg u m , p o r s e r o p r o d u to do
e n sin o da d o em to d o s os p o n to s d a T o rra , n ão p o r
um liom em , m a s p e lo s e sp írito s, q u e são a s v ozes do
Céu, e p o r u m a m u ltid ã o in u m e rá v e l d e in te r m e d iá ­
rio s. ( 3 3 3 ).

Mas esta pretensa revelação é nula: fa l­


ta-lhe base, visto com o os espíritos evocados
não podem provar se vem de Deus ou de
Sutanaz. A revelação judeo-crislã foi feita
em plena luz, e a m issão dos interm ediários
ou apresentadores foi provada por m ilagres
autênticos, praticados em presença de teste­
m unhas inúm eras e em pleno dia. Em con­
traste com esta clareza m eridiana, a cham a­
da “revelação dos espíritos” é dada com o
feita nas trevas, a uma m eia dúzia de his-
(332) Apud Cordeiro, pg. 56.
(333) ALLiAN KARDEC — O Evangelho negando o
EnpIrltUmo, c. 1.
— 311 —
téricos e por espíritos desconhecidos, isto é,
não identificados.
Depois, e este ponto m erece frisado, a
pseudo-revelação ensina doutrina contrária
à doutrina de Cristo: é, pois, com o vim os,
anti-cristã.
Não há espiritism o cristão. Quem o qui­
sesse defender, defenderia uma tolice.
D irem os, enfim , que o Doutor das Gentes,
— São Paulo, — prevendo que, no decurso
dos tempos, herejes se apresentariam com o
novos interm ediários entre D eu s e os h o­
m ens, antecipadam ente condenou toda nova
revelação que estivesse em contradição com
a revelação prim eira, em bora se inculcasse
com o provinda de Deus.
“Ainda que nós ou um anjo do Céu vos
anuncie outro evangelho, diferente do que
vos tenho anunciado, seja anátem a. (Aos Gá-
latas, 1:8)

B. - O espiritism o científico-indigena.
Há um grupo de espiritas nacionais que
se intitulam , m odestam ente, científicos, ra­
cionais e cristãos. Constituem, entre nós, a ala
esqu erda do espiritism o. R eferim o-nos aos
sócios do “C entro E spirita Redentor."
D e cristãos nada tem. São tão científicos
e cristãos com o os m ussulm anos e os bu­
distas.
A fii’mam que Jesús-Cristo é sim ples hu­
m ano:
“ E ’ sab id o q u e e le fo i C rish m a n a fn d la , H erm e s
no E g ito , C onfúcio n a C h in a, P la tã o n a G récia, e o
q uo e le preg o u n e ssa s e n c a rn a ç õ e s d e v ia s e r c o n ti­
n u a d o n a ú ltim a " . (3 3 4 ).

O que caracteriza a gente do “ Centro Re­


d entor” é o ódio rubro que vota à Igreja Ca­
tólica. Na pena de seus escribas, os papas
são hom ens corrutos e venais (335), os car-
diais uns- ignorantes. O Vaticano person ifi­
ca a vaidade e a .prepotência. (336).
Os im pagaveis dirigentes do “ Centro R e­
dentor”, notando que a dou trin a cristã, con­
tida nos E vangelhos, está em franca contradi­
ção com o espiritism o cristão, pregado pelo
Centro, resolveram a dificuldade de m aneira
sim ples e sum ária: Condenam os Evan­
gelhos.
D izem que os E vangelhos estão ch eios de
falsidad es; que foram organizados pelo con­
cilio de Nicéia. Que esse Concílio rejeitou ou­
tros 54 evangelhos autênticos, só porque os
tais não falavam na divindade de Jesús. Que
foi, portanto, esse Concílio quem “prom ul­
g ou ” n divindade de Jesús. (337).
É isso. Porque os E vangelhos estão em
desacordo com as patifarias espiritas, os
E vangelhos são falsos. Mas. senhores do “ Cen­
tro R edentor”, a vida de Cristo só nos é co­
nhecida pelos textos dos E vangelhos. Sc, pois,
os E vangelhos são falsos, Cristo não existiu.
E ’ uma lenda. Se Cristo não existiu, o epí-

(334) Confci-Onelaa nobre Ciencin o Rellglllo, ed. do


C entro E sp irita R edento r, 1027, pg. 26 a 218,
(335) Idom, Ibldem. pe. 124.
(336) Idem. pe. 127.
(337) Idem, pe. 216.
teto “ cristão”, usurpado, aliás, por m uitos
“ Centros R edentor”, nada significa.
Uma consolação. Os mem bros do “ Cen­
tro R edentor” não constituem perigo para ne­
nhum a religião a que se oponham : Porque a
ignorância nunca fez m edo a ninguém. E na
literatura dos escritores do espiritism o cien­
tífico cristão se depreende, sobre qualquer
assunto, uma ignorância tão com pacta, tão
crassa, que causa piedade.
Esses “ cicntistas-cristãos” seriam de todo
ponto inofensivos se não fossem tão odien ­
tos e truculentos.
CAPITULO IV

A INDA A S M ENSAGENS

A REENCARNAÇÃO

O espiritism o tem dois ensinam entos


centrais: a com unicação com os mortos e a
reencarnação. E ’ por isso que, tratando da
doutrina espirita, deixam os para um artigo
especial a refutação deste erro.

a) TEORIA ESPIRITA DA REENCAR­


NAÇÃO.
A reencarnação é a volta do espírito à
vida corpórea. Separando-se do corpo, a al­
m a passa a chamar-se espírito. Fica algum
Tempo em estado de erraticidade, no espaço,
e então, por sua livre vontade, procura um fe ­
to hum ano em form ação, no qual se reencar-
na para com eçar outra vida na Terra. Diz
Iía rd ec:
"A r e e n c a rn a ç ã o p o d e d a r-se im e d ia ta m e n te d e ­
pois d a m o rte , ou d e p o is de te m p o m ais ou m onos
lon g o , d u r a n te o q u a l o e sp irito é e rr a n te . Po d e r e a ­
liz a r-se n e s ta T e r r a ou em o u tr o s p la n e ta s, m a s se m ­
p r e n um c orpo U um ano e n u n c a no d e u m a n im a l. E ’
— 315 —
p ro g re ssiv a ou e s ta c io n á ria . N u n ca é r e tr ó g r a d a ”.
( 3 3 8 ).

F in alidade d a reen carn ação: progresso


ou evolução do espírito, e expiação de faltas
com etidas em existência anterior:
“ O fim o b je tiv a d o com a re e n c a rn a ç ã o é a ex­
p iação ou m e lh o ra m e n to p ro g re ssiv o d a h u m a n id a ­
d e ”. ( 3 3 9 ).
" A tin g id a a p e rfeiçã o , o e s p ir ito n ão se re e n c a rn a
m a is: to rn a -s e p u ro e s p ir ito " . ( 3 4 0 ).
" O s su ic id a s ex p iam a f a lta n u m a n o v a e x istê n ­
cia q u e s e rá p io r do qu e a p r im e ir a ”. ( 3 4 1 ).

b) NOMES DA REENCARNAÇÃO:

A ricencarnação foi adm itida em outros


sistem as filosóficos, sob diversos nom es:
PALINGENÉSIA ou nova existência, p a­
ra os Pitagóricos,
METEMPSICOSE, ou transm igração das
almas,
M ETASOM ATOSE, ou m udança de corpo.
O nome que, nos sistem as antigos, se dá
a cada uma das encarnações é AVATAR ou
AVATARA. (342).

(338) ALLAN KARDEC — In n trn ctlo n p rn tlq n e «nr


le s BlnnlfeMntlon* Splrltes. pg. 42.
(339) Idem, I,e L ivre deu E sp rit» , n.° 167.
(340) Idem, n.» 170.
(341) Idem — Le Livre den E p rlt» , n.» 957.
(342) Dr. POODT — Lon Fenôm eno» M isterioso» dei
Psiquism o, pg. 349.
— 316 -

c) DIFERENÇAS.

N os sistem as antigos, a alma hum ana


desencarnada podia ir habitar no corpo de
um anim al irracional. No espiritism o, não.
Só se reencarna em corpo hum ano. (343).

d) HISTÓRICO.

Entendida neste sentido, a rccncarnação


contitue o fundo de todas as crenças religio­
sas não-reveladas por D eus. É o sistem a gros­
seiro encontrado pelos povos prim itivos co­
mo o m elhor mieio dc explicar alguns fatos
tidos com o certos, m as de d ificil explicação:
1.°) E ntidade da alma com o ser distinto do
corpo, 2.°) A sobre-vivência ou im ortalidade
da alm a, 3.°) A necessidade de um a retribui­
ção futura, de recom pensas e castigos, de
acordo com o bom ou m au procedim ento
nesta vida e 4.°) Desejo de explicar, por qual­
quer form a, os fenôm enos da hereditarieda­
de, hoje esclarecidos pela em briologia, pelo
atavism o, pelo m endelism o, etc.
A ssim , por estes m otivos ou por outros,
a m etem psicose foi adm itida pelos selvagens
do Brasil, pelos aztecas do Mexico, pelos
bárbaros da Germânia, pelas tribu s célticas,
pelos aborígines da Austrália, da Nova-Ze-
lândia e das ilhas Sandwich, c por vários po-

(343) ALLAN KARDEC — In slrn ctlo n p ratiq ue, otc.


pg. 30-31, s. v. R éencnrnntlon.
— 317 —

vos da África. (344) Os druidas, das Gálias.


conform e observou Cesar, ensinavam “que as
alm as não perecem , mas passam dc uns para
outros, depois da m orte.” (345).
N a índia, adm itiram a m etem psicose:
prim eiro, o B ram anism o e, depois, o B udis­
mo. Para o budism o, porem , quem se rccn-
carna não é a alm a, m as o karm a ou a ação,
isto 6, a som a das ações do hom em , o resul­
tado ético de sua vida anterior.
Para os egípcios, a m etem psicose tinha
uma feição própria: só os m alfeitores é que
eram condenados a uma nova existência ler-
nena, — feição que parece ler vindo do bra­
manism o.
Na Grccia, foi Pitágoras quem propa­
gou o sistem a, no sentido m ais largo; e. as­
sim, com o os anim ais eram sede de alm as re-
encarnadas, os Pilagóricos, à sem elhança dos
Indús, abslinham -se de com er carne.
Antes, porem , de Pitágoras, já Museu e
Orfeu haviam ensinado a m etem psicose. E ’
o que nos diz Píndaro, na II V. Ode. Empé-
docles, Platão e os platônicos continuaram a
m esm a doutrina.
Entre os judeus, a seita dos Fariseus ad­
mitia a m etem psicose e é por isso que di­
ziam ser Jesús algum dos antigos profetas,
redivivo.
A m etem psicose judáica, porem , adm itia
que só os bons podiam renascer. A recncar

IlUf (1(1 IlllUM".


— 318 —
nação, portanto, não era para expiação do
reencarnado, e sirn para edificação e exem ­
plo dos não-reencarnados. Os bons, — os pro­
fetas, sobretudo. — voltariam a este m undo
para pregar e -d a r bons exem plos. Nisto, a
reencarnação judáica era diferente de todas
as outras. (346).
Já nos tem pos cristãos, a m etem psicose
ainda encontrou defensores: Origines, os Ma-
niqueus. os A lbigenses, os Cálaros. Origines
achava que a existência corporal é condição
penal, extra-natural, — punição de pecados.
Modernamente, professaram a m etem psi­
cose Lessing, na Alem anha, F ournier, na
França, S oam e Jcnnyns, na Inglaterra. (347).
E nfim , o erro m ulti-secular foi readm i­
tido, nas suas linhas gerais, pela m aior par­
te dos espiritas. N otem os, todavia, que os es­
piritas ingleses restringem o num ero das
existências, e alguns chegam m esm o a rejei­
tar, por obsoleta .e absurda, toda a doutrina
da reencarnação. (348).

e) REFUTAÇÃO.
I - PELA SAG RA DA ESCRITURA.
Segundo a D ou trin a R evelada, há, no fim

(:t4C) Idem, lbidcm, a rt. MetcmpsychoHl».


(347) Cf. a B lblografla c itad a pela R e v ista “ B roté-
rln ”. vol. 7.®, 1928, p rin cip alm en te: R o b c rt Falko, — Die
Seelenw nndcrnng, T heodor D ev aran n e — Seelonvrnnde-
rnng, Den Stcln, — U n tcr den N uturvocIU eru Z cntrnl-
BrnNlllenM, Berlln, 1894, H erm ann, — X ordlschc M ytholo-
glc, Joseph Huby, — CliriHtti», 192G, Frledorlcli Ueber-
weg, — G ruiidrl»» de r Gcwoliichte der P h ll. de» A ltertum »,
1920.
(348) Pe. MAINAGI3 — Ln R cllglon Splrlte, pg. 1G7-
168.
— 319 —
da carreira m ortal do homem , duas coisas
certas, ind iscutíveis:
1.°) A m orte é um fato definitivo, — que
se dá um a só ve z;
2.°) Após a m orte, a alm a segue um des­
tino im ediato, que é tam bem d efinitivo, —
e será ou alm a ben dita (Purgatório, Céu) ou
alm a m aldita (Inferno).
Sendo assim , não há ocasião para uma
nova existên cia corporal. E ’ por isso que os
textos sagrados salientam a im portância da
presente vida, e nos advertem da necessida­
de d,e m orrermos bem, de estarm os prepara­
dos para a m orte e termos por certo que, da
m orte, depende o futuro eterno do hom em .
Tudo isso seria inutil se o hom em devesse ou
pudesse morrer m ais de uma vez. Lem bre­
m os alguns textos:
1.") “ E m to d a s a s tu a s o b ra s le m b ra -te d e te u s
nov íssim o s e n u n c a p e c a rá s ”. (E c le siá stic o , 7 :4 0 ) .
2.°) “ E s tá d e c re ta d o q u e os h o m e n s m o r r a m u m a
só v e z ; e d e p o is d isso se g u e-se o ju iz o ” . ( H e b re u s,
9 :2 7 ) .
3.o) “ V igiai, p o rq u e não sa b eis o d ia nem a h o ­
r a ” . (M at., 2 4 :4 2 e 2 5 :1 3 ; M arcos, 1 3 :3 5 ) .
4.“) " E n q u a n to te m o s te m p o , o p e re m o s o b e m ”.
( G a ia ta s , 6 :1 0 ) .
5.») “ F e liz e s o s m o rto s q u e m o rre m no Se n h o r.
Sim , d iz o E s p ir ito ; p a ra q u e d esca n sem do s se u s t r a ­
b a lh o s e a s su a s o b ra s os s ig a m ”. (A p o c alip se , 1 4 :1 3 ) .
6.°) “ O m e n d ig o m o rre u e fo i le v ad o pelos a n jo s
p a ra o selo d e A b ra ã o . E m o rre u ta m b e m o rico , e fo i
s e p u lta d o no I n fe rn o . D isse A b ra ã o ; L e m b ra -te d e q u e
- 320 —
re c eb e ste 03 te u s be n s em tu a v id a e L áz a ro so m e u le
m a les ". (L u ca s, 1 G:2 2 - 2 õ ).

O m au rico, portanto, não voltou a re-


encarnar-se para reparar a m á vida anterior.
7.°) "N o ú ltim o d ia h e i-d e re s s u s c ita r e, d e novo,
s e re i re v e stid o com m in h a pele, e v e re i a D eu s n e s ta
c a rn e , e o v e rã o os m e u s o lh o s, c n ã o o u tr o s ” . (Jó ,
1 9 :2 5 ) .

Portanto, a ressurreição, no m esm o cor­


po, exclue a existência em outros corpos.
3 .o) ‘- v ir á a n o ite em q u e n ln g u e m p o d e rá o p e ­
r a r ”. (S. Jo ã o , 9 :4 ) .
9.°) " H o je e s ta r á s co m ig o no P a r a ís o ”, d isse J e ­
su s ao bom la d rã o a rr e p e n d id o . (L u c. 2 3 :4 3 ) . P o r ­
ta n to , a q u i te m o s u m la d rã o e a ssa ss in o q u e n ã o se
re e n c a rn o u p a ra e x p ia r se u s c rim es.

N O TA : Os e s p ir ita s c o stu m a m c ita r , a fa v o r da


ree n e a rn a ç â o , a lg u m a s p a ssa g e n s d a B íb lia . N o tem o s,
po rem , qu e eles fa ls e ia m e to rc e m o se n tid o d o s te x to s.
Um a d e ssa s p a ssa g e n s é a q u e la em q u e J e s ú s f a ­
la a N icod em os: “ Se a lg u é m n ã o n a s c e r d e n o vo , n ã o
podo v e r o r e in o d e D e u s” . ( Jo ã o , 3 :1 -G ). E ’ c laro ,
po rem , é e v id e n te q u e N osso S e n h o r n ã o fa la d e um
re n a s c im e n to físico, no se n tid o d a re e n e a rn a ç â o , m a s
sim de um re n a s c im e n to e s p ir itu a l, c o n fe rid o p elo sn-
c rn m c n to d o b a tism o . Q u eira m le r a p a ssag e m to d a , e
nã o tr u n c a d a :
“ Se a lg u o m não r e n a s c e r p e la A gua e p e lo E sp í-
rito -S n n to , nã o pode e n tr a r no r e in o d e D e u s ”.
O u tra passag e m 6 a q u e la em q u e o E v a n g e lh o
d iz q u e S. Jo ã o B a tis ta " ir á d ia n te d e lo ( J e s ú s ) no
e s p ír ito e n a v ir tu d e de E lia s ” e q u e S. Jo ã o “ E ’ E lia3,
q u e há-d e v i r ” . (L u ca s. 1 :1 7 e M a teu s, 1 1 :1 4 ) .
— 321 —
Os te x to s não dizem re sp e ito com a re e n c a rn a ç ã o .
S. J o ã o ir á no e s p ír ito cio E lin s, p o rq u o a m issão de
Jo ã o te m alg o da m issão d e E lia s. A p a la v r a e sp írito
e s tá e m p re g a d a n u m dos se u s se n tid o s m e tafó rico s .
A liá s, E lia s nã o p o d ia e s ta r rc c n c a rn » d o em Jo ã o ,
p ois a re e n c a rn a ç ã o su põ e m o r te a n te r io r , e a E s c ri­
tu r a a fir m a q u e E lia s a in d a n ã o m o r r e u : 5.° liv ro dos
R e is, 2 :1 1 . J e s ú s m esm o s e e n c a rr e g a d e d iz e r q u e
J o ã o n ã o é E lin s, p o is Jo ã o e ra se u c o n te m p o râ n e o e
E lia s b á -d e v ir ; p o r ta n to , a in d a n ão veio.
Os ju d e u s e sp e ra v a m , com o nó s e sp e ra m o s, a v o l­
t a de E lia s, não com o rc c n c n rn a d o , m a s com o v ivo q u e
a in d a nã o m o rre u . Jo ã o B a tis ta p a s s a r a a in fâ n c ia f o ra
do c onvívio do s fa r is e u s . P o r isso , q u a n d o a p a re c e u n o
m eio d e jes, ju lg a r a m qu e ta lv e z fo sse o p r o fe ta E lia s,
qu e v ie ra c o m p le ta r o ciclo d a v id a te rr e n a . T en d o
e les, p o rem , p e rg u n ta d o a J o ã o s e e le e ra E lia s, Jo ã o
r e sp o n d e u : “N ão s o u ” . (J o ã o , 1 :2 2 ) .

II - PELA FILOSOFIA.

a) N atu reza d a alm a.


1.°) A alm a se singulariza por ter rela­
ção para um corpo determinado, do qual é
form a substancial. Sè a alm a não tivesse re­
lação para um corpo determ inado, n ão seria
singular ou individual, e assim , em vez de ha­
ver m uitas alm as, com o há, haveria um a só
alm a universal para todos os corpos, — o que
seria absurdo. Ora, na teoria da reencarna-
ção, a alm a deixa de ter relação para um de­
term inado corpo, e torna-se indiferente p a­
ra anim ar este ou aquele corpo. Logo, nessa
teoria, não haveria alm a singular, isto é, não
haveria alma. A reencarnação, portanto, des-
— 322 —

trói a natureza da alm a, pois a alm a, ou é


una ou não é alm a. L ogo a reenearnaçâo é ab­
surda. Pondera Santo Tom az:
"A p ro p o rç ão q u e e x iste e n tre a a lm a do h o m e m
e o corp o do h o m e m , e ssa m e sm a p ro p o rç ã o e x iste en ­
t r e a a lm a d e s te h o m e m e o co rp o d e s te h o m e m . P o r ­
ta n to , n ã o é possíve l q u e a a lm a d e s te h o m e m e n tre
p a ra o u tr o corpo q u e n ã o s e ja o c o rp o d e s te h o ­
m e m " . ( 3 4 9 ).

2.°) N a teoria da reenearnaçâo, a alma


d everia ser anterior ao corpo. Mas se a alma
fosse anterior ao corpo, seria substância com ­
pleta, com o o seria tam bem o corpo. Mas se a
alm a e o corpo fossem substâncias com pletas,
a união dos dois seria um agregado de sub­
stâncias e não um com posto substancial e,
assim , a alma e o corpo não form ariam um
só indivíduo ou u m a só pessoa, m as dois in­
divíduos acidentalm ente unidos. O que é fa l­
so. (350).

b) Psicologia experim ental.

D esde Aristóteles sabem os que há no ho­


mem duas m em órias: uma, sensitiva, com um
aos anim ais, e que reside no conjunto ani­
m al; outra, intelectual, que é função da in ­
teligência, e que reside na alm a, exclusiva­
m ente. Ora, se a alma tivesse tido outras
existências antes da atual, poderia ler per­
dido a lem brança das coisas m ateriais, por

(349) SANTO TOMAZ — C ontra G en l, 1. II, c. 73. n. 3.


(350) D. TIAGO SINIBALDI — FU oh., A ntropologia,
n.» 190. no ta 1. a.
— 323 —

ter perdido a m em ória sensitiva, m as nunca


teria perdido a lem brança das coisas abstra­
tas, porque estas estão gravadas na inteligên­
cia, que tem sede na alm a e não 110 corpo.
Mas a alm a não tem nenhum gênero de lem ­
brança, nem de coisas m ateriais, nem de coi­
sas abstratas relativam ente a um a existência
anterior à atual. Logo a alm a não teve ou­
tras existências. Escreve o dr. H uddleston
S la ter:
“ Se fosse re a lid a d e a ree n c a rn a ç ã o , o m e n in o em
q u e se r e e n c a rn a s s e a a lm a d e u m m a te m á tic o , p o r
exem plo a do E u c lld e s, ao v e r um triâ n g u lo , a in d a
que fosse p e la p r im e ira vez, p o d e ria logo c o m p re e n d e r
q u e a so m a dos â n g u lo s se ria lf O g r a u s , e d isto se
le m b r a r ia im e d ia ta m e n te , se m en sin o , se m d e m o n stra ­
ção. E a ssim d a s o u tr a s c iên c ias. T o d o d ia e s ta r ía m o s
vendo m e n in o s q ue, ao s se is a n o s d e id a d e , e sp o n ta ­
n e a m e n te se re v e la ria m g r a n d e s m édicos, g r a n d e s m a ­
te m á tic o s , g r a n d e s ju r is c o n s u lto s , e tc .” ( 3 5 1 ).

N o argumento supra, concedem os, m as


só para argumentar, que a alma poderia ter
perdido a lem brança das coisas m ateriais. A
verdade, porem , é que todos os conhecim en­
tos, m esm o os das coisas m ateriais, se arm a­
zenam na alm a, depois de sc tornarem abs­
tratos ou im ateriais; e a prova disto é que
nos lem bram os de coisas passadas conosco
há vinte ou trinta anos atrás, quando é cer­
to, pelos dados científicos, que as células do
cérebro se renovam continuam ente, de tal

(351) Dv. JACOB HUDLESTON SLATER — A C lin d a


enndena u EMplridnmo, pg. G2, c Mons. MIGUEL MAR­
TINS — ProtextanllMnio c Exoirltiam o, passim .
— 324 —

modo que, oito ou dez anos depois, não só o


cérebro, m as o corpo todo, está com pleta­
m ente outro. Um sexagenário, pois, nada tem,
histologicam ente falan do, do que tinha aos
vinte anos dc idade. Portanto, o hom em de­
via ter lem brança de sua vida anterior, se
sua alm a tivesse vivido anteriorm ente.

III - PELA TEOLOGIA.

A trib u to s de D eus.
1.°) A reencarnação c contra a justiça di­
vina. Ora, negar a justiça de Deus é negar o
próprio Deus, porque em Deus os atributos
não se distinguem realm ente da essência di­
vina. Logo a reencarnação é uma doutrina
ím pia.
Provem os que a reencarnação é contra
a justiça divina. Duas hipóteses se apre­
sentam :
A) A alm a reencarna-se para expiar cri­
m es de uma existência passada;
B) A alm a reencarna-se para seguir o
processo da evolução e aperfciçoar-se.
a) Na prim eira hipótese, temos que Deus
nos im pôs a condição dc nos rccncarnarmos
para expiar faltas com etidas numa existência
anterior. Mas, pode Deus im por-nos castigos
por faltas dc que não temos lem brança nem
conciência? N ão é isto indigno dc sua ju s­
tiça? Logo, é falso que estejam os expiando
faltas passadas.
T odos os Códigos Penais adm item que
- 325 -

a base da responsabilidade é o conhecim ento


do fato com o coisã proibida em lei. E ’ por
isso que as circuntâncias que im pedem esse
conhecim ento constituem d irim e n te 'em D i­
reito Penal. (Cf. Consol, das L eis Penais
Bras., art. 27) Mas a responsabilidade não sc
lim ita ao tempo da transgressão: deve estar
presente à mem ória até o tempo do prêm io
ou do castigo, c, por isso, se alguem , côn-
cio da responsabilidade no alo da transgres­
são, viesse a perder a m em ória dessa trans­
gressão, perderia tambem a responsabilidade
do ato perpetrado. Assim dispõem todas as
jurisprudências a respeito dos desm em o­
riados.
Deus, juiz justo, não podia, pois, disso­
ciar a nossa mem ória de atos com etidos em
outra vida, porque isso acarretaria a perda
da responsabilidade. E se. não obstante, im ­
pusesse penas por aqueles atos, seria juiz in ­
justo. Mas isto é indigno de Deus. Logo, a
existência atual não tem razão de castigo e
não se relaciona a uma existência anterior.
b) Seria indigno die Deus caotigar-nos
por faltas de que não nos lem bram os. Com
efeito:
A pena tem duas fin alid ades: é expiató­
ria ou vin dicativa, c m edicin al ou corretiva.
No caso de pena vindicativa, o crim inoso de­
ve saber o m otivo por que é castigado, por­
que, ao contrário, acusará o Juiz de injusto,
arbitrário e perverso; no caso de pena correti­
va, o crim inoso deve ainda saber o motivo
de sua condenação, a-fim -de evitar recair nas
— 326 —

mesm as faltas que m otivaram o castigo, pois,


ao contrário, a pena torna-se in ú til e má.
Portanto, se Deus nos castiga, sem saber­
m os porque, D eus é juiz injusto, arbitrário,
irracional e mau.
c) Outros espiritas, porem , dizem que
“ Deus criou todos os espíritos grosseiros e
im p erfeitos”, e que as reencarnações são n e­
cessárias para o aperfeiçoam ento de cada es­
pírito.
Nesta teoria, temos que Deus ainda é in ­
justo, porquanto o hom em não tem culpa de
ter sido criado im perfeito e grosseiro.
Suponham os, todavia, que, atualm ente,
o homem está sendo castigado por faltas co­
m etidas num a existência anterior. Como, p o­
rem, o hom em não é eterno, segue-se que ele
com eçou a existir; portanto, um a de suas
existências foi prim eira, tanto na hipótejse
A) com o na hipótese B ). Se houve, pois, uma
prim eira existência, esta não fo i iniciada p a­
ra castigo de faltas com etidas anteriormente.
Logo, uma existência houve que não tem ra-
zão-de-ser segundo a teoria da reencarnação.
E se adm itirm os que a existência é sem pre
um castigo de erros pessoais, tem os que D eus
foi injusto essa prim eira vez, infligindo p e­
nas a quem ainda não tinha existido c que,
por isso, ainda não tinha praticado faltas.
E que o h om em com eçou a existir, ao
m enos neste planeta, isto se prova com as
estatísticas. N ascem m ais hom ens do que m or­
rem. Logo, ao m enos no principio das eras,
apareceram na Terra espíritos que aqui nun­
ca tinham estado, — espíritos que se encar-
— 327 —

nararn pela prim eira vez. Logo, um dia se m a­


nifestou uma prim e ira existên cia que não te­
ve razão-de-ser, a m enos que o ’espírito p r i­
m eiro escarnante viesse pagar na Terra fa l­
tas que com eteu em outros planetas — su po­
sição gratuita,
2.°) A personalidade hum ana é o com pos­
to todo, e não só a alm a ou só o corpo, por­
quanto pessoa “é substância com pleta, sub­
sistente em si e racional.” (352).
“ 0 eu é um todo substancial, que nem
é corpo nem é espírito, m as ambas as coisas
ao m esm o tem po.” (353).
Alem disso, as operações atribuem -se à
pessoa, e não só à alma ou só ao corpo, pois,
conform e um axiom a corrente, "operar é p r ó ­
prio do suposto ou p essoa.”
Portanto, se a alm a tiver de receber cas­
tigos ou p iêm ios unida a um corpo, este cor­
po só poderá ser aquele com que ela m ereceu
ou desmereceu. Mas a reencarnação adm ite
que a alma com eta faltas, unida a um corpo,
num a existência, e pague essas faltas, unida
a outro corpo, em outra existência. Logo, a
reencarnação injuria a sabedoria divina, por­
que esta faria um a person alidade pagar por
outra.
0 m esm o diz d. Otávio, nestes term os:
“ Outro asp'ecto injusto da doutrina da
reencarnação está em que as provas expiató­
rias das existências posteriores não atingi­
riam m ais a mesm a personalidade: pagaria

(352) SINIBALDI — PrlIOH., O ntologia, 108. b.


(353) Rnlon <le Sol. “Folhas populares de propaganda
c atólica1’, S. Paulo, 1931, Prim eira Sórle, pg. 79.
assim o holandês pelo mal que não f e z . . . ”
(354).
Monsabrc tam bem assim se exprim e:
“ Se o ho m e m de v e p a s s a r d a p ro v a d e s ta v id a
à p ro v a do o u tr a v id a , é p reciso q u e e s ta ú ltim a se r e a ­
liz e n o m e sm o in d iv íd u o , com to d a a s u a n a tu re z a e to ­
dos os se u s h á b ito s a d q u irid o s, p o rq u e , ao c o n trá rio ,
u m a se g u n d a e x istê n c ia n ã o s e r á e q u ita tiv a . Q uem
pecou ío l o ho m e m to d o ; p o r ta n to , é o h o m e m todo
q ue se d eve a rr e p e n d e r p to r n a r a D eu s“ . ( 3 5 5 ).
"A o p a s s a r a a lm a p a ra o u tr o c o rp o d is tin to do
q u e I n fo rm a v a a n te s , r e s u l ta r ia q u e fo rm a r ia o u tr a
pe sso a d is tin ta d a a n te r io r . P o r ta n to , se ria falso que,
p e la re e n c a rn a ç ã o , e ra o m e sm o h o m e m q u e se iria
a p e rfe iç o a n d o . S e ria, pois, in ju s to q u e e sse n o v o ho­
m em , q u e se c h a m a ria , p o r e x em p lo , N ero , r e s u lta n ­
te de u m a n o v a ree n c a rn a ç ã o , sa tis fiz e s s e p o r fa lta s
c o m e tid a s p o r o u tr o h o m e m , q u e se te r i a c h am a d o ,
p o r ex em p lo , S ó c r a te s ”. ( 3 5 6 ).
" A a lm a é q u e é resp o n sá v el p e lo s se u s e rr o s .
P o rq u e não p o d e rá , po is, sem u n ir - s e a o u tr o co rp o ,
r e p a rá -lo s s o z in h a ? ”. ( 3 5 7 ).

Na hipótese da reencarnação evolucionis-


ta, o problem a é o m esm o: um corpo iria so­
frer para o progresso de um espírito que lhe
seria inteiram ente estranho.
3.°) A reencarnação é contrária ao po­
der infinito de Deus. Deus é o Supremo Se­
nhor, e a ele se subm etem todas as criaturas.

(354) D. OTÁVIO CHAGAS D E MIRANDA — O» F í -


nOmeno.H PnlnulvoM, p s. 72.
(.755) MONSABRE’ — Conferenclna. conf. 94, A Vldn
— 329 —

Ora, dizendo os espiritas que a alm a se reen-


carna livrem en te, sem term o fix o quanto ao
núm ero das rcencarnações, im plicitam ente
afirm am que a alma é in depen den te de Deus.
O que repugna. (358).

IV. - PELA MORAL.

1.°) A doutrina reencarnacionista adm ite


que os bons c os m aus, depois de uma série de­
sigual de reencarnações, (os bons m ais cedo,
c os m aus m ais tarde), terão a-fin al os m es­
m os direitos. Ora, repugna à Moral que os
bons e os m aus tenham iguais direitos a uma
felicid ad e futura.
" C o e re n te com s u a d o u tr in a , o e s p ir ita p o d e d iz er
a si m esm o q u e , p o r m a io re s c rim es q u e co m eta , c h e ­
g a r á cedo ou ta r d e à p le n a felicid a d e, d a m e sm a fo r­
m a que seu v iz in h o h o n e sto e v irtu o so , d a m e sm a
fo rm a q u e a in o c en te v itim a d e se u s v íc io s”. ( 3 5 9 ).

2.°) A esperança de reencarnações fu tu ­


ras para expiar os atos maus da presente vi­
da, estim ula o hom em a perseverar no p eca­
do. Mas toda doutrina que auxilia, direta ou
indiretam ente, a prática do m al, c uma dou­
trina im oral. Tal é a teoria da reencarnação.
3.°) A reencarnação destrói os laços de
fam ília, pois, segundo os espiritas, a pessoa
pode mudar de sexo ao passar de uma encar­
nação à outra. Assim, aquela que ontem,

(358) RnloM «lo Sol, 1.* sírie , 1931, pg. 63.


(359) LUC1RN ROURE — I,e M crvelU eox SpirHc, pg.
r4.
— 330 —

quando viva, era tua avó, pode ser hoje, de­


p ois de reencarnada, o p a i de teu vizinho.
Como irás, pois, cultuar a m em ória de tua
m ãe, que h oje é um m enino do sexo m asculi­
no, ou a de teu pai, que hoje é, talvez, uma
m enina recem -nascida?
4.°) A reencarnação é contrária ao livre
arbítrio, e destrói a responsabilidade de nos­
sos atos.
Com efeito, se os m ales desta vida são in ­
fligidos para expiação dos pecados antigos, o
m alfeitor não é m ais do que um executor das
ordens divinas, e, portanto, não é responsá­
vel pelos seus atos maus. Quem mata, aplica
o m erecido castigo a uin indivíduo que foi as­
sassino em existência anterior. Se, quem m or­
re m atado, expia um crime antigo, quem m a­
ta é apenas um instrum ento de expiação. L o­
go não é responsável. Por conseguinte, quem
matar e não pagar nesta vida, nem em outra
deverá pagar, porque, na verdade, não deve
nada. Matou em virtude de ordens superiores.
Assim, a doutrina da reencarnação leva
para o FATALISMO. D e-fato, m esm o sem
quererem tirar as últim as consequências de
seus erros, os autores espiritas cam inham
diretam ente para a negação do livre arbítrio.
Im bassahy é claro:
“ O q u e n o s p a re ce , e n tre ta n to , é q u e os In cid e n ­
te s da v id a j á e stão p re v ia m e n te e s c rito s ; e le s o b e d e ­
cem a d e síg n io s qu e n e m s e m p re p o d em o s p e rs c ru ­
t a r ” . ( 3 6 0 ).

(360) CARLOS IMBASSAHY — O E ap lritlaiu e à In*


doa Fatoa, Pff. 477.
— 331 —
Puro FATALISM O! Eis o resultado hor­
roroso da doutrina reencarnacionista.
5.°) A doutrina da reencarnação conde­
na a prática da caridade.
Com efeito, “ os m ales do corpo .são efei­
tos dos m ales do espírito.” (361). 0 que o h o­
m em sofre é m erecido, é um a dívida sagra­
da, contraída em outras existências. Portan­
to, não devem os procurar aliviar os sofrim en­
tos do próxim o, porque, com isso, irem os im ­
pedir que ele pague o que deve. N ós é que es­
taremos sendo injustos perante a Justiça D i­
vina. O nosso papel estará sendo igual ao da­
quela pessoa que dá liberdade a um presi­
diário que cum pre penas justas e merecidas.
Portanto, na doutrina espirita, quem cura,
quem dá esm olas, quem distribue caridade,
está im pedindo o progresso do próxim o,
porque im pedindo o sofrim ento, necessário
e merecido. O hom em sofre, porque deve.
D eixem os que sofra.
6.°) A reencarnação ó inutil, porque, ou
o núm ero das reencarnações é lim itado ou
ilim itado. Se é lim itado, a alma poderá che­
gar à últim a reencarnação tendo ainda cri­
mes e im perfeições que, então, só poderá ex­
piar em algum lugar de castigos, determ ina­
do por Deus. Se é lim itado, a alm a nunca
poderia chegar ao termo da prova, porquan­
to o núm ero das reencarnações dependeria
de seu esforço; mas, ignorando ela quais as
faltas que com eteu anteriorm ente, recairá
sem pre nas m esm as faltas. E assim , a Jus-
(361) Idem, Ibidem, ps- 437.
— 332 —

liça D ivina seria im potente para im por uma


sanção a suas leis. A alma viveria sem pre,
— sem pre expiando e sem pre pecando, sem
nunca ser com pelida a deixar de pecar.

V. - A REENCARNAÇÃO E A IGREJA.

A lem de ser condenada indiretam ente,


visto que se opõe ao valor do arrepen dim en 1
to, e ao dogma do pecado original, a doutri­
na da reencarnação foi condenada, direta­
m ente, pela Igreja, no Concílio Particular de
Braga (362).
O canon do C oreilio de Constantinopla
assim reza:
" S e a lg u é m if ir m a o u c rê q u e a s a lm a s do s h o ­
m ens p r e e x is tlr im . . . e q u e . . . fo ra m p a ra c astig o s
in tro d u z id a s r.os c o rpos, se ja e x c o m u n g a d o ” .

S. Leão Magno tambem condenou a teo­


ria da preexistência das alm as, teoria a que
ele cham a de “fab u la.” (Epist. 15. c. 10).
E L actan d o, escritor do século IV, opina
que tal teoria nasceu de cérebros delirantes
e é tão ridícula que só merece cscárneo. (363)

N otas fin ais:

D e nada vale dizer que a teoria da reen­


carnação explica a existência dos monstros
dos im becis, dos tarados, ou que é uma res­
posta aos sofrim entos da vida.

(362) DENZIGER. 236.


(363) LACTANCIO — IimtKuHone» Dlvlnnc, Uv. VII,
c. 12.
— 333 —
M o n stru o sid a d e s, a le ijõ e s, Im b e c ilid a d e . . . são
p r o d u to s d e c au sa s se g u n d a s, — n a tu ra is , — com o sí­
filis, alco o lism o , h e re d ita rie d a d e , c o n sa n g u in id a d e , etc.
E é sa b id o q u e D eus n ão c o n tra r ia a a çã o d a s c a u sa s
se g u u d a s se n ão era caso s e x cep cio n ais. O q u e se n o ta
n o s h o m e n s ta m b em se vê no s a n im a is, o n d e liá tip o s
a n o rm a is ou d e g e n e ra d o s. H á m o n stro s a té n o s r e i­
n o s v e g e ta l e m in e r a l:
“ As ro sa s m a is b o n ita s d e no sso s ja rd in s são , se­
g u n d o no ssos b o tâ n ico s , m o n stro s v e g e ta is" .
“ E p a ra c o m p le ta r . . . re c o rd e m o s q u e os g eó lo ­
gos, p rin c ip a lm e n te B e a u d a n t e H au y, d e sc o b rira m
c e rto s m o n s tro s m in e ra ló g ic o s, com o os géo d o s, cu jo
m odo de fo rm aç ão c o n tra r ia to d a s a s le is d a c ris ta li­
z aç ão ". ( 3 6 4 ).

As causas segundas são o que cham a­


m os Natureza. E Deus não contraria, ordi­
nariam ente, as leis naturais.
Na doutrina católica, o hom em sofre p a­
ra receber no futuro. Na metem psicose, so­
fre para pagar um passado hipotético. Quão
sábia e conform e à razão c a doutrina da Bí­
blia, revelada por Deus!

A reencarnação não é aceita por todos os


espiritas. “ Certas escolas espiritistas com ba­
tem, ostensivam ente e não sem êxito, a dou­
trina oficial do espiritism o.” (3C5).
No Congresso Espirita Internacional,
que se reuniu em Liège, em 1923, D roiw ille
propôs a seguinte dúvida:

(3G4) Dr. POODT — Los Fenôm enos Mlsjerloso.n dei


Psiquism o, pg. 3G7.
(3G5) Dr. POODT, Ibldem, pg. 3G1.
“ E m g e ra l, diz -se q u e a R e e n c a rn a ç ã o ó u m a le i
g ra ç a s à q u a l o e s p ir ito e v o lu c io n a e se e lev a , ex­
p ia n d o a s f a lta s c o m e tid a s em e x istê n c ia s p re c e d e n ­
te s. O q u e e u q u e ria sa b e r 6 a ra z ã o p o r q u e o es­
p ir ito te m n e c e ssid a d e d e m a té r ia p a ra e v o lu c io n a r e
e lev a r-se , e, s o b re tu d o , com o p o d e s e r a d m itid o p o r
algunB q u e , e sta n d o a p a g a d a a id é ia do p a ssad o , se ­
j a p o ssív e l a e x p ia ç ã o ” .

A . D ragon respondeu:
" P o sso d iz e r: A R e e n c a rn a ç ã o , ta l com o te m sid o
e x p o sta a té h o je , n ã o p a ssa d e u m a te o ria b o a p a ra
m e n in o s d e esco la p r im á r ia ” . (3 6 G ).

R ichet tam bém escreveu:


“ S o b re a R e e n c a rn a ç ã o só te m o s d a d o s tã o f rá ­
g e is e tã o In co m p leto s q u e, sob o p o n to de v is ta c ien ­
tífic o , p odem os d iz e r qu e e stã o n o v á c u o ” . ( 3 6 7 ).
T E R C E I R A P A R T E

CONSEQUÊNCIAS LÓGICAS
CAPÍTULO I

SUPERSTIÇÃO E CEPTICISMO

Há propriedades que dim anam da pró­


pria essência das coisas. Assim, o Sol pro­
jeta luz, m as um corpo opaco, interposto, in­
tercepta-lhe essa luz: porque é da essência
do Sol ser lum inoso e dos corpos opacos se­
rem im penetráveis. As árvores tambem pro­
duzem frutos conform e sua própria nature­
za: as boas, bons frutos; as más, m aus.
O espiritism o não é boa árvore. Como
ciência, falta-lh e base cientifica: experim en­
tação m etódica e p rincípios certos, axiom áti­
cos, para alicerce de dem onstrações poste­
riores. Como religião, falta-lh e origem d ivi­
na. Seus fundadores visíveis fo ra m um as
m oças alcoólatras, e os fundadores invisíveis
são os dem ônios da B iblia ou uns espíritos
vagabundos, segundo o conceito espirita.
Assim, de acordo com sua essência, o es­
piritism o só produz efeitos desastrosos, para
a alm a e para o corpo, para o indivíduo c
para a sociedade.
— 338 —

0 espiritism o arruina a m ente do ho­


mem. Todo aquele que se entrega às práti­
cas da seita danada, torna-se um vizinho in­
côm odo: só fala em espíritos, fantasm as,
ec top lasm as. . . O espirita não raciocina.
Não investiga. Não procura “soluções natu­
rais” para as coisas.
Os p rincípios naturais, para ele, não
existem . A Física, a Química, a Medicina são
“ tapeações” . . . Se a pedra cai não é pela lei
de N ewton; se o fogo queim a, não é por uma
virtude inata: insila vis, com o falou Vergí-
lio; se a strienin a convulsiona, se o cianeto
de potássio inibe, se o bicloreto de m ercúrio
corrói, nada disso se realiza pela natureza
das coisas; se alguem adoece, nem é por cau­
sa da fabricação de toxinas por um germe
infeccioso, nem por causa de um desequilí­
brio m o le c u la r ...
N ada disso. Tudo são espíritos obsesso­
res. Por conta desses velhacos correm as
doenças dos hom ens e dos anim ais, a loucu­
ra, o sofrim ento físico ou moral.
T udo é castigo por faltas com etidas em
outra existência. A im becilidade é um espí­
rito; a pobreza, outro espírito; a aleijão, ain­
da outro espirito. Se nascem m onstros, não
vá a ciência dizer que foi porque uma causa
intercorrenle im pediu o desenvolvim ento
norm al do o viim ; os m onstros explicam -se
pela doutrina da reencarnação.
Os espíritos, bons ou m aus, im pregnam
as coisas, e dão-lhes forças inatas, — Repugna
aos espiritas a “ciência o ficia l”, (a que cha­
m am de m íope e retrógada), quando afirma
— 339 —

que há causas proporcionais ç efeitos neces­


sários.
Os espiritism o, m atando a razão, m ata
a ciência. E aqui surgem duas consequências,
— aparentem ente contraditórias, — a que o
espiritism o leva o h om em : SUPERSTIÇÃO
E CEPTICISMO.
Superstição, em sentido largo, — o cul­
to religioso sem m otivos intelectuais ponde­
rosos, o respeito que se consagra a coisas e fa ­
tos, que não tem nenhum a ligação com a R e­
ligião Revelada, ou que a razão reprova. Cep­
ticism o, — a dúvida a respeito de tudo, — no
terreno da ciência e no cam po da religião.
Coisas digna de notai O católico, quando
instruido na sua religião, é um verdadeiro
filósofo, que, se presta assentim ento a uma
verdade religiosa, é porque sua razão achou
nisto m otivos de credibilidade. R ejeita o que
a razão não aprova. A própria fé deve estri-
bar-se, direta ou indiretam ente, em argumen­
tos racionais: O católico instruido, portanto,
é o que se pode chamar um “ hom em supe­
rior”, — realização desse herói intrépido de
que fala H orácio num a de suas odes:
" J u s tu m a c tei>:.eem p ro p o siti v lrn m
n o u c iv iu m a r d o r p r a v a ju b c n tlu m ,
iio n v u ltu s lu s tn n tls ty r n n n i
in e n te q u n tit s o lid a . . .
n e q u e fu lm in a n tis Jo v ig mauus:

S I FR A C T U S IliL A B A T U R O R B IS ,
IM PA V I DUM F E R IE X T U U IN A E . ( 3 6 8 )

(3GS) “O varão ju sto e ten az em su as resoluções,


nilo o sacu d irá o Ímpeto dos cidadãos que ordenam lie-
- 340 —

O espirita, — o m esm o direm os do ateu


c do m aterialista, — ainda que seja homem
instruído, não passsa, por vezes, de um su­
persticioso tipo hotentote: acredita nas m aio­
res tolices, crê em feiticeiros, em adivinhos,
cm cartomantes.
A isto se reduz o incrédulo: não crô em
Deus, m as crê em latidos de cães e em can­
tos de aves agoireiras.
Vam os aos fatos. Faz pena ver, por
exem plo, um hom em do estofo de Carlos Im-
bassahy defender a crença na bruxaria. Is­
to está escrito no seu livro:
“ O h om em tra z e scrito o se u lu tu r o ! E esse fu ­
tu r o lê -se-lh e n a s lln lin s <lns m ü o s, n o s c n ra c tc r c s d a
c s c rlta , n a s m e sas d n s c a r to m a n te s , n o s so n h o s, no êx­
ta se d a s v id e n te s e a té n o s la b o ra tó r io s c ie n tífic o s" .
(O s g r if o s sã o n o s s o s ).
“ Se os fa to s d e m o n stra m a e x istê n c ia d esse fu ­
tu r o , c erto , se g u ro , in ilu d ív e l, g ra v e s p r o b le m a s se
le v a n ta m ao e sp irito h u m a n o . N ão s e rã e sse f u tu r o a s
c o n se q u ê n cia s de um p a ssad o ? N ão v irá a c iên c ia d e­
m o n s tra r q u e o nosso t r is te fa d á rio de a g o ra é o re­
ve rso d a f o rtu n a dos d ia s q u e j á s e f o r a m ? ” ( 3 6 9 ).

Alem disso, a R eligião de Katie c Maggie


Fox desnorteia o hom em quanto às condi­
ções da vida.
Dá ao hom em um destino falso. Levanta
um castelo de m ensagens sem base, ridículas,

galldades, nilo o a b ala rá , com su a fera cata d u ra , o rosto


do tira n o presente, nem a in d a o com overão as m io s de
Ju p lte r (|uando despede os seus ralo s: Se o mundo, dos-
podnçando-se, vier abaixo, p oderá esm agá-lo, m as há-de
encontrá-lo de pá, Im pávido”. Horáclo, Odes, III, 3.
(3GD) CARLOS IMBASSAHY — O E sp iritism o à luz
dos F ulos, pg. 522-523.
— 341 —

fantasiosas, e coloca o hom em no vazio desse


castelo. Cria um m undo subjetivo, sem reali­
dade, destituído das regras do bom senso, e
situa o indivíduo 110 centro desse mundo.
A fé cristã, a crença cm Jesús-Cristo, os
ensinos do Mestre D ivino dessipam -se, tor­
nam-se ilusões quando entregues à interpre­
tação dos novos fariseus, cham em -se estes es­
piritualistas ou espiritas, Allan Kardec ou
Oliver Lodge.
0 Deus verdadeiro, tão próxim o do h o­
mem, am igo cotidiano e fam iliar, distancia-se
deste m undo, na doutrina espirita. É um deus
distante e indiferente. Os espíritos c que, bem
ou m al, governam o m undo desses doutrina-
dores ingênuos.
Deus evapora-se. Como que não existe.
Que será feito do hom em , — sem Deus,
sem luz, sem força? T orna-se um desgraçado,
presa facil do desespero e do incontenta-
m ento.
A bandonado o culto esplêndido e os ri­
tos eficazes que a R eligião Cristã oferece ao
hom em , o espirita entrega-se às experim en­
tações, às práticas ilusórias e im orais.
Daí a cair no cepticism o vai um só passo.
Desde que as práticas religiosas a que se afez
não lhe trazem uma gota sequer de felic id a ­
de, o espirita, no fim da carreira, c um cada-
ver m oral, que não crê em Deus nem nas coi­
sas da Outra Vida.
O excesso de contacto com o invisível,
criou-lhe na alma o desgosto do invisível.
CAPÍTULO II

IM ORALIDADE

O espiritism o, desligando o hom em dos


laços da Religião Cristã, libertou-o das peias
da moral perfeita.
As leis da m oral, dadas por Deus a Moi­
sés prim eiro, aos cristãos depois, ficam sujei­
tas a uma nova h om ologação de uns espíritos
desconhecidos. Estes, umas vezes, aprovam,
outras censuram os preceitos divinos.
Dessa libertação é facil deduzir as conse­
quências fatais: a porta aberta a toda im ora­
lidade.
Im oralidade tom am os cm sentido objeti­
vo: desrespeito aos ditam es da Ética natural,
confirm ados e tornados explícitos pelos orá­
culos divinos. Pois a im oralidade è o alvo a
que visam os espíritos do espiritism o.
Queremos supor bem de m uitos espiri­
tas bem intencionados, hom ens filantrópicos
e cidadãos prestim osos. Mas não julgam os a
religião pelos hom ens. Julgam o-la em si, nos
seus ritos e na su a doutrina.
Os ritos ou as práticas do espiritism o fa­
vorecem a im oralidade. A doutrina espirita
justifica a im oralidade.
— 343 —
PRÁTICAS. Círculos estreitos de pessoas
que se reunem em plena escuridão. Misturas
dc hom ens com mulheres. Não só m istura: ni-
m ia aproxim ação e até contactos. O m édiu m ,
m uitas vezes, é uma m ulher, e, nem sem pre,
m ulher normal, m entalm ente sadia. Não ra­
ro, é uma histérica, atacada de ninfom ania.
E ssas pessoas que se reunem em tais cir­
cunstâncias, podem estar bem intencionadas
a principio, m as a ocasião faz o ladrão.
D OU TRIN A. Os autores espiritas confes­
sam que, de perm eio com espíritos bons, com ­
parecem , nas sessões, espM tos depravados.
Qual pode ser a fin alid ade dessa6 aparições
m acabras? F acilm ente se adivinha.
“ Persuadidos os hom ens de que não tem
de tem er castigo algum na outra vida, pelos
crim es e m ás obras praticadas nesta vida, não
haverá jam ais freio capaz de os conter e de
os desviar de com eter toda classe de m alda-
d es.” (370).
Melhor, porem, do que argumentar, de­
duzindo, é argumentar com os fatos concre­
tos, e com as confissões dos doutrinadores es­
piritas. É o que farem os.
Kardec ensina que “ os espíritos levianos
pululam em volta de nós, e se aproveitam de
todas as ocasiões para se m eterem nas com u­
n icações. Estas não d ifere m absolu tam en te
das que poderiam ser dadas por hom ens vi­
ciosos e grosseiros.
São com unicações que repugnam a to­
da pessoa de sentim entos delicados, porque
<370) “Ralos 4* S«l" — prim eira Bêrle, pgf. 86.
— 344 —

procedem de espíritos triviais, dcshoncstos,


obscenos, insolentes, arrogantes, m aléficos e,
até, ím pios. (371).
E liphas L evy confessa:
"N a s a sse m b lé ia s v u lg a re s, c e rto s e sp írito s d e se ­
n h a m fre q u e n te m e n te , n a s lo u sa s e no p ap el, o b sce­
n id a d e s im u n d a s e vis, com q u e os m o le q u es vicio sos
s u ja m a s p a re d e s da s c a s a s ”. ( 3 7 2 ).

O m esm o E liphas Levy, falando de ses­


sões a que assistira com o espirita fervoroso:
"M ão s v lsiv eis e ta n g ív e is sa em ou p a re ce m s a ir
d a s m e s a s . . . M o stra m -se p rin c ip a lm e n te n a e s c u r i­
dão . . . O s c irc u n s ta n te s se n te m -se to c a r e a p e r ta r p o r
m ã o s in v isív eis. E s te s c o n ta c to s p a re ce m d a r p r e f e r ê n ­
c ia à s d a m a s, c arec em d e s e rie d a d e e m esm o d e de­
c ê n c ia ” . ( 3 7 3 ).

O professor F alcom er fala de um caso


cm que, depois de piedosas m anifestações, se
fez ouvir “uma linguagem im pia, ditada pe­
los golpes do m édium , dirigida a três senho­
ras e a uma jovem . Essa linguagem , era a de
um ser im pudico e feio, que não se pode trans­
crever.” (374).
Im bassahy confessa:
“ A m ã a m b lê n c ia a tr a i se re s in fe rio re s , só p o d e n ­
do os r e s u lta d o s r e d u n d a r em d e sm o ra liz a ç ã o e m a le ­
fício p a ra o e s p ir itis m o ”. ( 3 7 5 ).

(371) ALLAN KARDEC — O L ivro dos Médiuns, 2.*


pa rte , c. 10.
(372) ELIPH A S LEVY — La c lef des g rn n d s m y stè-
re», Pa ris, 1861, pg. 248.
(373) Idem. ibldom, pg. 145.
(374) FALCOMER — Phénom énologlc. apud Dr.
POODT, Los Fenôm eno» M isteriosos, pg. 353. Na R cvne
Splrlte. 1902.
(375) CARLOS IMBASSAHY — O E sp iritism o * loa
dos Fntos, pg. 181.
— 345 ~

Falando, porem , de im oralidade, con­


vem distingam os duas espccies:
a) Crimes contra a integridade fisica,
b) Crimes contra a honra.
O am biente das sessões espiritas, os dis­
cursos inflam ados de m édiu ns inescrupulo-
sos, as com unicações vindas de espíritos m aus
ou de subconcientes deshonestos, tem, não ra ­
ro, levado certos “ irm ãos” à prática do cri­
me. Ainda não houve, entre nós, trabalho es­
tatístico, acerca de todos os fatos delituosos,
oriundos das sessões espiritas. Entretanto, os
jornais, a cada passo, dão notícia dos crimes
espiritísticos levados a juizo e devidam ente
apurados.
D. Otávio Chagas de Miranda, tratando
do assunto, colheu vários casos ocorridos no
curto espaço de três m eses, só no Estado de
S. Paulo. Citemos:
O a ssa ss in a to de d. M a ria A d élia B a tis ta p o r seu
p ró p rio m a rid o , em 192 6 . D. M a ria A d élia e ra e sp i­
r i t a e, n u m a se ssão , um e sp irito lh e co m u n ico u q u e
se u m a rid o A ntó n io h a v ia c o m etid o v á rio s c rim es an -
to s de c asa r-se . A n tô n io L u iz p ro v o u s u a in o c ên c ia,
m as, m esm o a ssim , M a ria A d élia d e sq u ito u -se d e le e,
n a s re p e tid a s v is ita s q u e (a z ia a o s filh o s, p ro c u ra v a
se m p re d e s p e r ta r n e le s s e n tim e n to s d e ó dio c o n tra o
pai. E m c o n clu sã o : A n to n io L u iz, ira d o c o n tra a m u ­
lh e r p e rv e rsa , m a to u -a com se is tir o s d e rev o lv e r. T u -

res. ( 3 7 6 ).
— 346 —
E m deze m b ro d e 192 5 , n a c id ad e de J a ú , S e b a s­
tiã o G onça lv e s m a to u a c a c e ta d a s o seu p ró p rio tio ,
Jo sé C am ilo. S e b a stiã o fre q u e n ta v a o e sp iritism o e,
a ssistin d o à s sessões, v ie ra a c o n v en c er-se d e q u e seu
tio lh e p u n h a a g o u ro s m a u s, ( 3 7 7 ).

Célebre é o caso do indivíduo J. A. de L.,


relatado por H eitor Carrilho, do M anicômio
Judiciário, do Rio:
E sse su je ito , ao re g r e s s a r de u m a se ssão e sp iri­
ta , em S a n ta C ruz, m a to u a s u a a m a sla A. C., a fac a ­
da s, deven d o -se n o ta r a u e a m b o s v iv ia m em g r a n d e
ha rm o n ia , e q u e n ã o h o u v e e n tre eles, a n te s do c rim e,
n e n h u m a d e sin te lig ê n c ia . C o n su m ad o o a to d e litu o so ,
o crim in o so põs-se a p r o fe rir p a la v r a s de a rr e p e n d i­
m e n to e a c h o ra r; e m se g u id a , to m a n d o d e u m a v ela,
colocou-a, a ce sa, à m ão d a m o r ib u n d a , se g u n d o o uso
relig io so . ( 3 7 8 ).

O dr. Xavier de Oliveira, no seu livro Es­


p iritism o e Loucura, refere ainda dois casos
im pressionantes: um, acontecido em C am pi­
na Grande, Estado da Paraíba, outro no Rio.
O d e C a m p in a G ra n d e é r e la tiv o ao b á rb a ro a s ­
sa ssin a to de u m a se n h o ra , d. L id la , p elo s co m p o n en ­
te s de um c n nd oblé, os q u a is, n a rc o tiz a d o s pelo e sp i­
r ita T en ó rio , lh e o b e d ec eram c e g a m e n te , tru c id a n d o
a “ I r m ã ” d. L id la a socos, p o n ta -p é s, m u rro s, d e n ta ­
d a s e p a u la d a s. ( 3 7 9 ).
O s e g u n d o caso diz re sp e ito ao crim e de L u iz de
O liv e ira, no R io de J a n e ir o . N u m a se ssão e s p ir ita ,

(378) LEON1DIO RIBEIRO e MURILO CAMPOS —


O E aplrltIn:..o no B rasil, Cia. E d it. N acional, S io Paulo,
1931, ps. 138-142.
(379) o (380) Dr. XA VIER DE OLIVEIRA — “ Eopl-
ritlnnio e L oucura” , A. Coalho F ra n ce , editor, 1931. ps.
264-266 s 267-273.
- 347 -
L u ls c o n seg u iu h ip n o tiz a r C a ro lin a R ib e iro e D esdô-
m o n a G ra n ad o , e sp a n c a n d o -a s em se g u id a , b a rb a ra ­
m e n te . D en u n c ia d o , o ré u fo i c o n d en a d o , em p rim e ira
in s tâ n c ia , pelo ju iz F ru c tu o s o M oniz B a r re to , e, em
se g u n d a in s tâ n c ia , pelo tr ib u n a l d e a p e la ç ã o d a C ap i­
ta l d a R e p ú b lic a, em tn a rç o de 192 7 . ( 3 8 0 ).

N ão precisam os ir longe. Os próprios fu n ­


dadores do espiritism o confessam que “espí­
ritos inferiores, às vezes, dom inam e subju­
gam as pessoas fr a c a s ... Em certos casos, o
dom ínio desses espíritos assum e tais propor­
ções que p odem levar as suas vítim as até
o crim e e a loucura.’’ (381).
O espiritism o baixo, nom e m oderno com
que se m ascara a feitiçaria antiga, só se tor­
nou conhecido pelos seus processos de fazer
mal ao próxim o. “D espacho” é o termo em ­
pregado para indicar o m alefício. Diz o dr.
Xavier de Oliveira:
“ P e d a ço s d e v e las, d e c h a ru to s, f o lh a s d e a le c rim
o d e o u tr a s e rv a s, c o n ta s de ro sá rio , f a r ó fia d e f u b á
com a z e ite m a l c h e ir o s o . . . tu d o p o d e s e r co locado
n u m a e n c r u z ilh a d a q u a lq u e r, a lta s h o ra s d a n o ite . O u­
tr a s vezes, la n ç a d o ã casa d a v itim a , só o m é d iu m
c u ra d o r pode in u tiliz a r o s se u s e fe ito s d a n o so s” , pg.
241. ( 3 8 2 ).

A
O dr. B. Ilatch, m arido de Cora Hatch,
célebre m édiu m am ericano, declara que o es­
piritism o nenhum a couta faz do que se cha-

(381 LÉON D ENIS — Apre» la Mort, pg. 330.


(382) XA VIER DE OLIVEIRA — E sp iritism o e Lou­
e ur«, pg. 241.
— 348 —

ma " fidelidade con jugal.” Em poucas obser­


vações, conseguiu identificar uns setenta m é­
diuns que haviam abandonado com pletam en­
te os seus deveres co n ju g a is.. . Outros tinham
mudado de “ C om panheiras” . . . (383).
A vida dos m édiu ns e dos praticadores
do espiritism o confirm a, a cada passo, a ob­
servação do dr. Hatch, m arido de um a sacer­
dotisa espirita.
O m édiu m Slade, quando esteve no Rio
de Janeiro, com etera inconveniências tais e
tantas que, para não ser preso e processado,
houve de deixar precipitadam ente o nosso
pais. (384).
“N ão h á m u ito , — escrev e d. O táv io , — a po lic ia
c a rio c a v a re jo u o “ C e n tro E s p ir ita S. J o r g e ”, e p r e n ­
d e u o p r e s id e n te do c e n tr o com to d o s os a ssiste n te s.
E n tr e e s te s e n c o n tra v a m -se q u a tro m o ças m e n o re s,
q u e so diz iam d e sh o n e sta d a s p elo p r e s id e n te do C en ­
tro . A po líc ia a p u ro u q u e o m esm o in d iv id u o a b u s a v a
r e a lm e n te de m e n o re s q u e fre q u e n ta v a m o c e n tro " .
(3 S 5 ).
L eo n id io R ib elro -M u rilo d e C am p o s a b rig a r a m
no se u liv ro “ O E s p iritism o n o B r a s il” o caso de d e ­
flo ra m e n to , p u b lic ad o p o r A frã n io P e ix o to , em 1909.
I d a lin a , de 16 a n o s de id a d e , fo i le v a d a p e la p ró p ria
m ã e ao e s p ir ita B om fim e e ste, d e sc o b rin d o n a m e n o r
q u a lid a d e s d e m é d in m , co m eçou a in s tru i- la e p rese n -
te á -la a té q u e c o n seg u is se p e r p e tr a r o c rim e . . . D es-
v irg in o u -a .
A frã n io a c r e s c e n ta :
“ A lem d isso, p u d e v e rific a r q u e, n o e s ta d o d e

C.-ÍS3) Cf. “ Ralos de .Sol”, 1.* série, pg. 29.


(3S4) JUSTINO MENDES — Médiuns e F n k lrea, Llvr.
Católtcn. A. Campos, S. Paulo, 192S, pg. 48. Slade velo ao
B rasil n convite do proí. A lexandre, do Colégio Pedro II,
- 349 —
p a ssiv id a d e a u to m á tic a ao q u a l red u z s u a s m é d iu n s
f e m in in a s, n a s se ssõ es p ú b lic a s e p riv a d a s, é fac il a b u ­
s a r d e la s se m d ific u ld ad e , q u a n d o n ã o h á te s te m u ­
n h a ” . ( 3 8 6 ).

Falando do espiritism o, alto e baixo, es­


creve Xavier de O liveira:
"O c om plexo se x u a l e m p o lg a a q u a se to ta lid a d e
dos m é d iu n s qu e te n h o o b se rv a d o . C o nh eci, a té , um
d e p u ta d o fe d e ra l, e s p e c ia lis ta n e s ta m a té r ia . D izia-
se e s p i r i t a . . . . e cerca v a-se d e s e n h o ra s c ré d u la s , em
g e ra l p ra tic a n d o nos h o té is o n d e m o ra v a . D epois de
c e rto te m p o , a lg u m a s h ó sp e d as, m a is d a d a s à s e ita de
K a rd e c , j á n ã o po d ia m s u s te n ta r o o lh a r d e le, d e ­
p u ta d o .
“ O p rocesso f a lh a v a m u ito ; m as, à s v ezes, d av a
certo .
“ U m a po b re in sa n a d eu e n tr a d a no P a v ilh ã o , com
in ú m e r a s eq u im o se s, to m a n d o -lh e m e ta d e do corp o .
“ F o i a p e rv e rsid a d e d e u m m é d iu m q u e ju r o u
v in g a r-se d ela, e v in g o u -se , d e -fato , p o r n ão te r ela
q u e rid o a c e ita r a s p r o p o sta s d e a m o r q u e lh e fize ra.
“ E l a . , não te v e m a is s o s s e g o . . . a té q u e, em
f ra n c a e fo rte c ris e n e rv o sa , lh e foi c a ir a o s p é s ” e
e le a c o n tu n d iu to d a p a ra tir a r - lh e o e sp írito m a u q u e
se a p o s s a r a d e la ” . ( 3 8 7 ).
E m a is:
“ As d a n ça s se n su a is, q u a se se m p re , fec h am e ssas
a s se m b lé ia s de e x p lo ra d o re s e e x p lo ra d o s, a q u e n em
fa lta a n ó d o a d a la sc iv ia im u n d a , q u e é u m a d a s su a s
c a r a c te r ís tic a s p rin c ip a is.
“N os tr e je ito s d e se u s p asso s se n su a is, v ê -se bem

(3S5) D. OTÁVIO CHAGAS DE MIRANDA, opus clt.,


PB. 89. . •
(386) LEONIDIO RIBEIRO-M URILO CAMPOS — O
E splrltlxni» uo Brnsll, pg. 136-138.
(3S7) Dr. XA VIER DE OLIVEIRA — E sp iritism o e
— 350 —
o in s tin to b r u ta l d a b e s ta q u e te m d e n tro d e s l c ad a
conviva d e ssa s o r g ia s m a c a b ra s.
“ U m eteiTO carnaval satânico, com todo o seu
cortejo de m isérias e com todas as su as consequ ên cias
lastim áveis.
“ E é a isto q u e c h am a m u m a c iên c ia, u n s, e u m a
re lig iã o , o u t r o s . . .
“ E sp iritism o , LO UC U RA E P ID Ê M IC A , q u e o r a
d e v a sta a h u m a n id a d e , d ig o eu.
“ N em o fu n d o Ín tim o d a s u a c a u sa p re c ip u a d i­
v e rg e , h o je , d a que se m p re foi in e re n te à c lá ss ic a h is­
te ria de S y d e n h a m : o CO M PL EX O S E X U A L ”. ( 3 8 8 ).

É de notar que as perversões do instinto


sexual andam , m uitas vezes, de-par com as
sevícias praticadas contra a pessoa “que se
d eseja”. A necrofilia e o sauism o, em que se
celebrizaram os Febrônios e, m esm o, certas
pessoalidades de alto conturno, a-m iude se
revelam na prática do b aixo espiritism o. É
no paroxism o de uma crise nervosa que “o
p ervertido” se sente com tendências necró-
filas ou sádicas.
Aliás, o nivel de im oralidade a que che­
gou, entre nós, o espiritism o, já foi denuncia­
do pelos próprios espiritas.
L uiz de M atos, p r e s id e n te do " C e n tro R e d e n to r ”,
e n tid a d e e s p ir ita q u e se in s u r g e c o n tra a “m o d e ra ­
ç ã o ” d a d o u tr in a de A lla n K ard e c , e d ito u , em v o lu ­
m e, a s CA RTA S O PO R T U N A S q u e o jo r n a l “ A P á t r i a ”
p u b lic a ra em 1924.
N essas c a r ta s , o sr. L u iz de M ato s a ta s s a lh a a fa ­
m a d e se u s “ ir m ã o s ” d iv e rg e n te s. N u m a lin g u a g e m
c ru a e v io le n ta , la rd e a d a de te rm o s so ezes, v e rg a s ta

(38S) X A V IE lt DE OLIVEIRA, o p iu cU., Pg. 241-242.


— 351 —

a q u e le s q u e e le d e n o m in a “ p r a tic a d o re s d a fe itiç a ria


c a r d e c is ta ”. D e n u n c ia o q u e d e a b je to v a i p e la s te n ­
da s e c e n tro s. P õ e a d e sco b e rto o la m a ç a l d e poi-néln,
q u e c o n s titu e o s u b s tr a tu m e a p ró p ria raz ã o -d e -se r
do E sp iritism o .
Do o u tr o la d o , — a g o ra u m c a rd e c ista , — C a r­
los Im b a s sa h y a ta c a ta m b em o s c e n tro s " m a l a fa m a ­
d o s ” d<“ *iaixo e sp iritism o .
E ’ v e rd a d e q u e e sses a u to re s faz em r e ssa lv a a
re sp e ito de se u s re sp e ctiv o s g ré m io s: L u iz d e M ato s,
de fe n d en d o o e sp iritism o a n ti- c a rc e d is ta ; Im b a s sa h y ,
o e sp iritism o c a rd e c ista . N a o p in iã o d e u m e d e o u tro ,
e x iste um e sp iritism o p u ro e u m e sp iritism o d e g en e ­
ra d o .

O que vem os, na polêm ica, é que os pró­


prios liom ens de bem, — que ainda os há no
espiritism o, — se assustam com o resultado
da doutrina espirita, tenha ela origem em
Kardec ou alhures.
Reproduzam os, porem , com o pratinho
delicioso oferecido ao leitor, alguns trechos
da verrina de L uiz de Matos:
“ D a fre q u ê n c ia a ta is s e s s õ e s . . . r e s u lta o a la s ­
tr a m e n to de sse v e n en o a s tr a l q u e p ro d u z su ic íd io s, a s ­
sa ssin a to s, d e s h o n ra de d o n z ela s, p re v a ric a ç ã o d e m u ­
lh e re s c asa d as, a o s m ilh a r e s , q u e os jo r n a is m e n cio ­
n a m no se u n o tic iá rio ”. ( 3 8 9 ).

Mais:
“ Se ta is m u lh e re s q u e q u e re m p a s s a r p o r s e n h o ­
r a s v ir tu o s a s e r a in h a s do la r, com o m u ita s ex iste m
p o r to d a p a rte , tiv e sse m v e rg o n h a , n ão d e sc e ria m a
p o n to de se n iv e la re m com b o ç allssim o s p a is d e m esa

(389) LUIS D E MATOS — Cnrtns O portunns. Edlç&o


do Centro E sp irita R edentor, 1924, pg. 34.
- 352 -
e m é d iu n s tovp íssim o s do s a n tro s q u e fre q u e n ta m , de
q u e são “ f re g u e s a s ” e q u e p a g a m ” . ( 3 9 0 ).

A dispula entre espiritas cardccistas e an-


ti-cardccistas, ou entre os sequazes do alto
espiritism o e os do espiritism o baixo, não tem
razão-dc-ser. Parece mais uma briga de ofi­
ciais do mesm o ofício. Rivalidade, e nada
mais.
D e-feito, as práticas religiosas decorrem,
sem pre e necessariam ente, da doutrina teó­
rica. Ora, a doutrina do cham ado espiritism o
racional-cristão, quanto aos pontos essenciais,
cm nada difere da doutrina de Allan Kardec.
Logo, as práticas de cardecistas c anticarde-
cistas são iguais. São IMORAIS TODAS
ELAS. Esta é que é a verdade. E os fatos aí
estão, registados c docum entados, nos autos
policiais, nas colunas dos jornais e nos livros
dos cientistas.
Para serm os justos, som os forçados a de­
clarar o espiritism o “ racional-cristão,” do
C entro R eden tor, mais perigoso do que o espi­
ritism o de qualquer outra feição. Já Leonidio
Ribeiro c Murilo de Campo observaram que o
espiritism o do fam igerado C entro R eden tor
é “fundam entalm ente anti-religioso.” Os fu ­
riosos mem bros desse Centro chegam até a
insurgir-se contra a nom enclatura religiosa,
e aconselham a substituição do nom e de Deus
pelo de Grande Foco e zom bam da expressão
“N osso S enhor Jesú s-C risto”, tão cara aos ou­
vidos dos católicos. (391).

(390) LUIS DE MATOS, Ibidem, pg. 40.


(391) LEONIDIO RIBEIRO-MURILO CAMPOS, opu»
clt>, pg. 100.
— 353 —

0 ódio desses hom ens contra a Igreja Ca­


tólica parece antes dc energúm enos.
Passando, porem , da teoria à prática, os
mem bros do Centro R eden tor aconselham o
castigo físico contra os seus inim igos (392) e,
no terreno da terapêutica, lançam m ão dos
m étodos m ais violentos:
“O C entro E spirita R edentor" faz o alie­
nado voltar à situação de p o ssu id o . . . pelo
espírito mau, e, nessas condições, prescreve a
“lim p e za psíquica, as am arrações” c os casti­
gos corporais.” (393).
O livro E spiritism o C ientífico e C ristão,
m anual ritualistico desse Centro, não se en­
vergonha de exibir fotografias de instrum en­
tos de suplicio, usados na terapêutica espirita
“i’acional-cristã.”
Assim, num a fúria de inconoclastas, os
“espiritas racionais-cristãos e científicos”, ne­
gam as m ais claras verdades do Evangelho,
e tentam destruir os próprios Evangelhos.
Rancorosos e dem olidores.
Podem os, portanto, igualar todas as m o­
dalidades de espiritism o. As pequenas d ife­
renças, entre elas, são apenas acidentais. Não
passam de necessárias evoluções do sistem a,
porque a prática de uma doutrina está sujeita
a acom odações várias, dc acordo com o nivel
m ental dos crentes, desde que a doutrina se
preste a isso.
" M ú ltip la s sã o a s v a rie d a d e s de e sp iritism o , pois
vem d e sd e o q u e dizem s e r a s u a feição c ie n tific a , a té

(392) LUIZ D E MATOS — CnrtnH OpordmnH, pB. 140.


cit., per. 100
(393) LEON1DIO RIBEIRO-MURILO CAMPOS, opus
.
— 354 —
a b a ix a f e itiç a ria que a s s e n ta a s su a s b a ses n e le ta m ­
bém , D E A CORDO COM O N IV E L M E N T A L E A CUL­
T U R A IN T E L E C T U A L do s se u s s e c tá r io s ”. ( 3 9 4 ).

Toda doutrina espirita, qualquer que se­


ja, leva a práticas imorais.
A im oralidade parece ser a fin alid ade do
espiritism o neste m undo. Im oralidade e des­
respeito ao corpo, porque o espiritism o reduz
a zero o valor ou a im portância do corpo no
com posto hum ano.
N a doutrina da Igreja, o corpo é cerca-
cado de lodo respeito, e isto pelo papel im por­
tante que o corpo representa no com posto. A
alm a sem o corpo, vimos, é incapaz de adquirir
conhecim entos, que são colhidos m ediante os
sentidos corpóreos. Alem disso, a união da al­
ma com o corpo é uma união substancial. P e­
la m orte, estabelece-se, entre a alma e o cor­
po, uma separação de-fato, m as não uma se­
paração de-jn re. A alm a continua a ter direi­
to à posse de seu corpo e este à posse de sua
alm a, de m odo que esta não se unirá nunca
com outro corpo que o seu. Assim doutrina
Santo Tomaz.
E a união de-fato se restabelecerá um
dia. A ressurreição dos corpos é dogma de fé.
O corpo é a m orada da alm a, e se esta esti­
ver em graça, o corpo c m orada da graça. Por
isso disse São Paulo que o corpo do cristão é
templo do D ivino Espírito Santo.
O corpo, portanto, — belo ou feio, fisi­
cam ente, — tem uma im portância enorm e na

(394) XA VIER D E OLIVEIRA — E sp irltU m o e Lou­


cu ra , p s . 196-196.
— 355 —
doutrina da Igreja. Os sacram entos san tifi­
cam a alma, m as se exercem no corpo e pelo
corpo. Por isso é que são “sinais sen síveis.”
Mas o espiritism o reduz o corpo humano,
vivo ou morto, a uin punhado de sais. O cor­
po não passa de uma casca da alm a. É apenas
um a vestim enta temporária que, depois de
gasta, será trocada por outra ou por outras.
Ruinoso para a alm a, o espiritism o o é
tam bem para o corpo. Até as belas artes per­
dem com a adoção dessa religião funesta.
O ESPIRITISMO É O INIMIGO DO HO­
MEM, do hom em todo.
CAPÍTULO III

LOUCURA E SUICÍDIO

Ninguém desconhece o parentesco de grau


próxim o, que há entre a prática do espiritis­
m o e a loucura. Os casos de espiritas que en­
louqueceram são tão com uns, que chegaram
a preocupar os próprias representantes da
ciência oficial, e os responsáveis pela saude
do povo. Já não som os nós, — os sacerdotes
católicos, — que estudam os o problem a sob
este aspecto. Sobre nos faltar com petência,
julgam os desnecessária toda investigação nos­
sa, uma vez que o assunto já fo i tratado, p ro­
ficientem ente, pelos m aiores psiquiatras bra­
sileiros. Lim itar-nos-em os, pois, a seguir as
pegadas desses especialistas.
Antes de m ais nada, m anda a sincerida­
de confessem os que o espiritism o não é uma
causa fa ta l de loucura. É, apenas, uma causa
coadju van te, uma concausa. Neste particular,
equipara-se à sifilis e ao álcool. Mesmo por­
que, assim dizem os especialistas, não ex is­
te fator especifico de loucura: esta é uma
nevrose, aguda ou não, e a etilogia da neuro­
se é ainda ponto obscuro em m edicina.
Isto, porem , pouco im porta ao caso. 0
— 357 —

certo e indiscutível c que o espiritism o leva


para a loucura.
X a vier de O liveira reduz a loucura dos
espiritas a um sin drôm io histeróide, e diz que
ela se m anifesta, via de regra, nos indivíduos
de constituição m itopática. A m itopatia, no
caso, nada m ais é do que a “facil sugestibili-
d ade” dc Bernheim. (395).
O espirita, diz o dr. Xavier, é um ind iví­
duo ainda não declaradam ente enferm o, m as
que tem a sua m eiopragia n ervosa, sua tara,
c é, assim, um receptivo m ental, terreno pre­
parado, que, dedicando-se ao espiritism o, aca­
ba por adoecer, m entalm ente, dc uma psicose
que se liga aos fenôm enos espiritas. (396).
D esta form a, o espiritism o d “ um gênero
de ocupação que concorre, não som ente para
a m odelagem dos sintomas, com o tambcin pa­
ra a provocação da loucura.” (397).
Entre as perturbações m entais, produzi­
das pelo espiritism o, um as, — os delírios epi­
sódicos, — são curáveis, e outras são incurá­
veis. Mas “em todas, ocorrem perturbações
graves, inclusive o suicídio, porem sem gran­
de repercussão no estado som ático. (398).
Melhor, porem , do que todas as afirm a­
ções, falam as estatísticas.
O dr. X a vier de O liveira é professor de
psiquiatria na U niversidade do Rio de Janei­
ro e, nessa qualidade, observou m ais dc de­
zo ito m il loucos no Parvilhão de Assistência a

(395) Idem. Ibidem, pg. 191.


(39C) Idem, Ibidem, pg. 195.
(397) I.EONiDIO RIBEIRO-MURILO Campos — O
plrltlnm o no Brnail, pg. G4.
(398) Idem, Ibidem, pg. G7-C8.
— 358 —

Psicopatas, da Faculdade de Medicina. Con-


clue ele:
" N u m a e sta tís tic a d e doze a n o s, p o r n ó s a lí le­
v a n ta d a , de 1917 a 192 8 , n u m to ta l de 1 8 .2 8 1 e n tr a ­
da s, e n c o n tra m o s 1 .723 In san o s, p o r ta d o r e s de p si­
coses c a u sa d a s, só c e x c lu siv a m e n te , pelo e sp iritism o , e
q ue, a lí, se re g is ta m so b a d e n o m in aç ão g e ra l d e —
D e lírio e p isó d ic o ” .
“ E ’ d iz e r q u e 9 ,4 % d a s e n tr a d a s a lí sã o d e v id as
à s p r á tic a s e s p ír ita s , d e o n d e c o n c lu ir q u e, a p ó s a
s ífilis e o alco o l, é o e sp iritism o o te rc e iro f a to r d e
a lie n a ç ã o m e n ta l no R io de J a n e ir o ”. ( 3 9 9 ).

Portanto, as três principais causas de


loucura, na capital da República, foram , de
1917 a 1928:
1.*: A SÍFILIS.
2.a: O ALCOOL.
3.■: O ESPIRITISMO.
Segundo H enrique R oxo, estes três fato­
res concorrem com 90% dos casos de alien a­
ção m ental, ficando apenas 10% para outras
causas de loucura. (400).
E’ a eloquência dos fatos! E note-se que
ai estão quase que só os loucos m iseráveis.
Os outros, em grande parte, hão-de ter ido
para casas de saude particulares, ou foram
tratados dom iciliarm ente.
E no interior do país? Pelas nossas obser­
vações pessoais, podem os afirm ar que os es­
tragos m entais do espiritism o não são nada
(399) X A VIER DE OLIVEIRA, lbldem, pg. 197-198.
(400) IIEN RIQ U E ROXO — Modern.is «enrtOncin» de
pnlqnlntrln, cit. peloa dra. Leonldlo e M urilo, opus cit.,
pag. 61.
— 359 —

inferiores aos do Rio de Janeiro. Serão, até,


maiores.
“ O liv ro dos m é d iu n s, d e A lla n I ía r d e c , é a co caí­
n a d03 d e b ilita d o s n e rv o so s q u e se dão à p r á tic a do
esp iritism o .
“ E com u m a a g ra v a n te a m a is: é b a ra to , e s tá ao
a lc a n c e de to d o s e, p o r Isso m esm o , le v a m a is g e n te ,
m u ito m ais, a o s b o spicios, do q u e a " p o e ir a do d ia b o ”.

Os seus efeitos funestos para a mentalir


dade do hom em , o E spiritism o os com eçou a
produzir, desde que apareceu. Já em 1852, o
jornal The B oston P ilot, cm seu núm ero de
1.° de julho, notava o grande contingente de
doidos fornecido pelo E spiritism o:
“ A m a io r p a rte dos m é d iu n s a c a b a m , com o (em ­
po, p o r to r n a r - s e in tr a tá v e is , lo u co s, id io ta s, e o m e s­
m o su c ed e la m b e m a o s se u s o u v in te s. N ão p a ssa se ­
m a n a em que nã o te n h a m o s o c asiã o d e v e r a lg u m
de sses d e sg ra ç a d o s su lc ld a r-se , o u e n tr a r p a ra a lg u m a
c a sa de sa u d e . Os m é d iu n s d ão s in a is in e q u ív o co s d e
um e sta d o a n o rm a l d e su a s fa c u ld a d e s m e n ta is, e n ã o
poucos d e le s a p re s e n ta m s in to m a s bem p ro n u n c ia d o s
de v e rd a d e ir a posse ssã o d ia b ó lic a " . ( 4 0 1 ) .

Segundo Mirville, grande núm ero de lou ­


cos foram internados em Bicêtre (França),
em 1881, todos eles vitim as das práticas espi­
ritas. (402).
Em 1877, o dr. L. S. W inslow escreveu:
“ D ez m il p e sso a s e stã o a tu a lm e n te e n c e rr a d a s em

(101) FIG U IE R — H isto ire d a M erveilleux, 1881, v.


IV, pg. 343.
(402) MIRVILLE — a n cx tlo n de« E sp rits, 1885, pg.
65, clt. pelos “R alos de Sol”, pg. 28.
— 360 —
iuanlcO m ios do s E sta d o s U n id o s, p o r s e te re m im iscu í­
do com o s o b r e n a tu r a l”. (4C3,.

Os próprios autores espiritas reconhecem


a grande contribuição de dem entes que sua
religião fornece aos hospícios. É verdade que
procuram explicar o fenôm eno a seu m odo;
mas, em todo caso, confessam o fato e isto nos
basta. ,
Diz o sr. Carlos Im bassahy:
“ A d e b ilid a d e dos n e rv o s é, a lg u m a s vezes, tã o
so m e n te e fe ito , c o n seq u ê n cia d o e sg o ta m e n to físico
do p a cie n te, e s g o ta m e n to p ro d u zid o pelo e sfo rço e m ­
p re g a d o , p e la p e rd a c o n s ta n te d e flu id o s, pelo ab u so
d a s sessõ es e x p e r im e n ta is ”. ( 4 0 4 ).

Gibier, tambem espirita, observa:


“ E ’ n e c e ssá rio d e sa c o n se lh a r a s p r á tic a s do e sp i­
ritism o e x p e r im e n ta l a c e r to s I n d i v í d u o s . . . E ’ do
nosso d e v er a s s in a la r o p e rig o in e re n te à s e x p e riê n ­
c ias de p siq u lsm o s, com a s q u a is, e n tr e ta n to , se b r in ­
ca, sem p e n s a r no g r a n d e risc o q u e o ferec em . ( 4 0 5 ).

De Léon Denis, já citam os o trecho em


que ele confessa que o dom ínio dos espíritos
pode levar as suas vitim as até aò crime e à
loucura. (406).
Allan Kardec, em linguagem prolixa, ex­
plica os pejggos do fenôm eno a que chama
obsessão, fascinação e su bjugação e que, na

(403) FORBES W INSLOW — L ouenrn EKpIrltunlIatn»


cit. pelos “Raios dc Sol”, pg. 29.
(104) CARLOS IMBASSAHY — O E sp lrltlsu io h Ia*
ilos Falou, pg. 182.
(405) Dr. G IB IE R — Le Splrltlnm c, pg. 3S5. citado
por D. Otávio, «Os FenOmenos P síq u ico s”, pg. 78.
(406) LÉON DENIS — A p rís In in o rt, pg. 230.
— 361 —

sua opinião, os espíritos exercem contra os ex ­


perim entadores c m édiu ns :
“ E n tr e os e sco lh o s q u e a p re s e n ta a p r á tic a do
e sp iritism o , c u m p re p o r em p r im e ira lin lia a o b sessão ,
isto é, a posse, q ue c e rto s e s p írito s sa b e m to m a r de
c e r ta s pessoas.
O e sp irito d irig e , com o a u m cego, a pe sso a de
q u e co n seg u iu a p o d e ra r-s e , e p o de f a z e r-lh e a c e ita r
d o u tr in a s e x tra v a g a n te s e a s m a is a b su rd a s. P o d e ta m ­
bém in d u z ir a a çõ e s rid íc u la s, q u e lh e c o m p ro m eta m
a h o n r a e a c a rr e te m p e rig o s.
"A o b sessão a p re s e n ta tr ê s g r a u s : o b se ssão sim ­
p le s, fn scin n çã o e s u b ju g a ç ã o ” . ( 4 0 7 ).

Com estes termos, Kardec entende expri­


m ir os vários graus de loucura individual ou
coletiva.
O dr. Seabra, espirita brasileiro, escre­
veu:
“ O a sp ec to relig io so q u e o e s p iritis m o a ssu m e n a s
sessõ es c o rr e n te s p o d e rá te r se rv id o de c o n so lo a m u l­
ta g e n t e . . . m a s expõe m u ito s d e se u s p r a tic a n te s a
d e so rd e n s m e n ta is o n e rv o sa s, e, com s e m e lh a n te s d e ­
sa g re g a ç õ e s, d e sa p a re c e a paz, a tra n q u ilid a d e , o c o n ­
solo q u e h a v ia m e n c o n tra d o em o u tr o s te m p o s ”; ( 4 0 8 ).

No afan baldado de defender um siste­


ma religioso prejudicial à sanidade m ental do
indivíduo, os espiritas alegam que p ro d u z ir
loucura não é só próprio do espiritism o, m as
tam bém de todas as grandes preocupações hu­
manas; e retrucam que, dentro m esm o do ca-

(407) ALLAN K A ltD EC — L ivro dos Médian*, c. 23.


(408) Dr. SEABRA — “ A nlmn c o n u b -co n d e n te ”,
pg. 94, citado por D. Otávio, Os FcnOmcno* P alqulcoi,
— 362 —

tolicism o, existem as vítim as da m isticom a-


nia ou m ania religiosa. (409).
A evasiva é futil. Nunca a Medicina des­
cobriu que o excesso de práticas religiosas do
católico o levasse à loucura; excessos, quando
os haja, já são efeito dc perturbação m ental,
causada por um m otivo profano qualquer. No
espiritism o, a loucura é consequência das prá­
ticas religiosas, isto é, da assistência a sessões
e leituras. Fora do espiritism o, o fervor religio­
so vem depois da m anifestação de loucura. Não
raro, uma pessoa que adquire m ania religio­
sa era um ateu ou incrédulo antes de enfra­
quecer mentalm ente. Por outras palavras: no
espiritism o, a sua prática faz loucos; fora do
espiritism o, a loucura costum a fazer m isticos.

D enunciada a confissão, explícita ou im ­


plícita dos próprios autores espiritas, citem os
agora a opinião valiosa dos hom ens de ciên­
cia. O problem a da espiritopatia ou loucura
espirita tem preocupado a todos. N a França,
são notáveis os trabalhos de A. Vigouroux, de
A. Marie et V iollct, de Duhen e de outros.
(410).
Entre os prim eiros que se preocuparam ,
em França, com os desastrosos efeitos do es­
piritism o, salienta-se o dr. Mareei V iollet, m é­
dico dos asilos de alienados de Paris. Sua

(409) ALLAN KARDEC — “O livro doa capfrltoa», e


o u tro s autoros.
(410) V eja bib lio g ra fia «m Leonfdlo R ibslro-M urllo
Campos, opas cltntnm , pg. ST.
— 363 —

opinião sobre o perigo 'espirita sintetiza-se


nas palavras seguintes:
“ Os e le m e n to s q u e e n tra m n a c o n stitu iç ã o e s p i­
r itis t a são a n á lo g o s a o s e le m e n to s q u e e n tra m n a
co n stitu iç ã o do d e lírio : a o-rigem em f a to s m ir a c u ­
losos, a e s tr u tu r a p u r a m e n te h ip o té tic a . A d o u tr in a
e s p ir itis ta a b re la rg o cam p o a to d a s a s h ip ó te se s; e s ­
s a d o u tr in a n ã o c o nhece lim ite s ; é o In fin ito q u e se
p ro p õ e com o p r o b le m a ao f in ito ; so b e ste p o n to de
v ista , O E S P IR IT IS M O CO N ST IT U E UM ÓTIMO CA L­
DO D E CU L T U RA P A R A TODOS OS E R R O S , PA R A
TO DA E S P É C IE D E D E S E Q U IL ÍB R IO E PA R A T O ­
DA E S P É C IE D E LO UC U RA . A ssim , pois, n ã o p o d e ­
m os d e ix a r de a d m itir v e rd a d e iro s caso s d e lo u c u ra
e s p ir ita ” . ( 4 1 1 ).

No Brasil, onde a doença espirita se vai


tornando epidêm ica, não há um só psiquiatra
que se não tenha m anifestado contra as prá­
ticas necrom ânticas do espiritism o, pródom os
da vesania. E aqui há unanim idade. Todos os
m édicos alienistas condenam o culto espirita,
e são acordes em o apontarem à sociedade
com o o perigo negro.
De notar é que os cientistas, espontanea­
m ente uns, consultados outros, tem em itido a
sua opinião de-público. Vários inquéritos já
foram organizados, e neles depuseram os m ais
n otáveis sociólogos. D esses inquéritos o m ais
antigo foi o prom ovido pelo dr. JOÃO TEI­
XEIRA ALVARES, distinto m édico mineiro,
residente em Uberaba. Isto em 1914.
O dr. João T eixeira form ulou os dois que­
sitos seguintes:
(411) Dr. MARCEL VIOLLET — Le SplrltU m e dono
•eu ra p p o rts nvec la F olie ”, pg. 38.
— 364 —

a) Que idéia fa z V. S. do espiritism o co­


m o fa to r d a loucura e outras pertu rbações
nervosas?
b) O m édiu m , prin cipalm en te o vidente,
p o d e ser con siderado um tipo norm al?

Responderam os seguintes m édicos, todos


eles práticos no tratamento de loucos.
FRANCO DA ROCHA, diretor do H os­
pício de Juquerí, S. Paulo;
JULIANO MOREIRA, diretor do H ospí­
cio N acional, RIO;
JOAQUIM DUTRA, diretor do H ospício
de Barbacena. Minas;
HOMEM de MELO, diretor de uma casa
de saude, S. Paulo;
ANTONIO AUSTREGÉSILO, conhecido
psiquiatra, e professor da Faculdade de Me­
dicina, do Rio de Janeiro.
Eis as respostas:
D r. F r n n c o d a R o c h a :
a) Q u an to ao p rim e iro q u e sito , lê-se em liv ro s
do a u to r : “ A -p ro p ó slto d a s re u n iõ e s e sp irita s , n u m
tr a b a lh o re c e n te e sc re v e ra m S o lier e B o lssie r: “ E m
b en efício d a p ro fila x ia , s e ria d e c o n v en iê n cia d iv u l­
g a r os a c id e n te s c au sa d o s p e la fre q u ê n c ia à s sessõ es
e sp irita s . C h a rco t, F o re l, V ig o u ro u x , H e n n e b e rg e o u ­
tr o s p u b lic a ra m e xem p lo s d e p e sso as, so b re tu d o m o­
ç as, A N T E R IO R M E N T E SANS, Q U E SE TO RN A RA M
H fS T E R O -E P IL É P T IC A S , em c o n seq u ê n cia d a p r á tic a
do e sp iritism o . A qui a s se ssõ es fazem e x p lo d ir o u a g r a ­
vam a n e v ro se , a c o lá d e sp e rta m e s iste m a tiz a m a te n -
- 365 —
d ê n c la & V esa n la , que u m a v id a r e g u la r e bem d ir i­
g id a te ria e v ita d o ”. ( 4 1 2 ).
b ) “ O m é d iu m v id e n te , em m in h a o p in iã o , n ã o é
um tip o n o r m a l; é q u a se s e m p re u m d e se q u ilib ra d o .
D evo-lhe d iz e r q u e eu, pelo m en o s, n u n c a v i u m m é ­
d iu m qu o fo sse in d iv íd u o n o rm a l. P o d e s e r q u e e x ista ;
e u , po rem , n ã o o vl a in d a . *

D r. J u lin n o M o re ira :
a ) T en h o visto m u ito s c aso s d e p e rtu r b a ç õ e s n e r ­
vosa s e m e n ta is e v id e n te m e n te d e s p e r ta d a s p o r se s­
sõ e s e s p ir ita s . No H O S P IT A L N A CIO N A L, n ão r a ro ,
vem te r ta is c aso s".
b ) “A té h o je a in d a n ão tiv e a f o rtu n a de v e r um
m é d iu m , p r in c ip a lm e n te d o s c h a m a d o s v id e n te s , q u e
n ã o fosso n c v ro p a ta ” .

D r. J o a q u im D u tr a :
“ A s p r á lic a s e s p ir ita s e stã o in c lu íd a s, e eom c e r­
ta p ro e m in ê n c ia , e n tr e e ssa s c a u s a s e e fe ito s, in f lu in ­
d o d ir e ta m e n te , p e la s p e rtu r b a ç õ e s e m o tiv a s, com o um
C O E F IC IE N T E AVOLUMADO p a ra a p o p u la çã o dos
m an icô m io s.
“ E x a g e ra d a s, a tó se to r n a r e m p reo c u p aç ão d o m in a n ­
te , e la s p r e p a ra m a lo u c u ra , q u a n d o n ã o sã o m esm o
u m a d e n ú n c ia d a s u a e x istê n c ia .
“ P o r im p re ssio n á v eis, ta is p r á tic a s c o n co rre m p a ­
r a a h a lu c in a ç ã o . . . e tc .”.

D r. H o m e m d e M elo:
a) “ C on sid ero o e sp iritism o , com o o p ra tic a m ,
um g r a n d e f a to r d e p e rtu r b a ç õ e s m e n ta is e n e rv o sa s;
a tu a lm e n te o e sp iritism o c o n c o rre com a h e ra n ç a ,
com a sífilis e com o álco ol, no fo rn e c im e n to dos h o s-

(412) FRANCO DA ROCHA — Esboço de PsIqulntrJo


Forense, pg. 32, c itado pelo dr. Jotto T eixeira.
— 366 —
pícios o casa s de s a u d e ; a ch o tã o f o r t e o s e n c o n tin ­
g e n te , q u e a le i d e v ia to lh e r -lh e a m a rc h a ” .
b) “ O m é d in in 6 u m tip o d e g e n e ra d o ” .

O Dr. A ustregésilo, em resposta ao dr.


João T eixeira, exprim iu a sua opinião assim :
"O e sp iritism o é, no R io d e J a n e ir o , u m a das
c au sa s p re d ls p o n e n te s m a is c o m u n s d a lo u c u r a ”. ( 4 1 3 ).

D epois do inquérito do Dr. João T eixei­


ra, outro houve prom ovido pelo “O Jorn al”,
do Rio, em 1926, cm form a de entrevistas.
Das opiniões então em itidas, duas merecem
destacadas, porque em anam de dois cientis­
tas de nom e: H enrique R oxo e Juliano Mo­
reira.
D isse o dr. HENRIQUE ROXO:
“ O e sp iritism o é, p o d e-se d iz e r se m e x ag e ro , u m a
v e rd a d e ir a f á b r ic a d e lo u c o s. E n tr e os d e m e n te s que,
d ia ria m e n te , dão e n tra d a n o H o sp icio , g r a n d e p a rte , —
a m a io ria m esm o, — vem de c e n tro s e sp irita s .
“ C om pre en d e -se, p o rem , q u e eu não d ig o q u e o
e sp iritism o possa, so z in h o , p e r tu r b a r o c éreb ro d e um
in d iv íd u o n o rm a l e são. A firm o , to d a v ia , g r a ç a s à ex­
p e riê n c ia q u e possuo, q u e ele é u m a g e n te p ro v o ca ­
d o r dè d e lírio s p e rig o síssim o s, q u a n d o p ra tic a d o , co­
m o o é v u lg a rm e n te , p o r p e sso as d e p o u c a c u ltu r a . E ’
fac il im a g in a r, de re s to , o e fe ito q u e deve te r n u m es­
p ir ito já n a tu ra lm e n te f r a c o . . . E ’ c la ro q u e e sse e fe i­
to só ó tã o f o rte e d ecisiv o n o s in d iv íd u o s j á p re d is­
p o sto s; em to d o caso, n ã o m e p a re c e m e n o s c la ro , ta m ­
bém , qu e , se esse e s tim u la n te in d e se já v e l n ã o se íl-

(413) D r. JoAO T E IX E IR A ALVARES — O Espiri­


tismo, artig o s publicados n a " L av o u ra e Com ércio'’, da
U beraba, enfeixados em livro, tlp. Ja rd im , U beraba,
1914.
— 367 —
zesse E eutir, ta lv ez a d e m ên c ia, em ta is in d iv íd u o s, ja ­
m a is se m a n ife sta sse , ou e n tã o d e m o ra r ia a se m a n i­
fe s ta r . O e sp iritism o , p o r ta n to , é u m a fá b ric a de io u -
cos, se n d o , d e sse m odo, n e f a s to ”. ( 4 1 4 ).

O d r. JU L IA N O M O R E IR A a ssim s e e x p re sso u :

“ Tom r a z ã o o d r. H e n riq u e Roxo q u a n d o d iz q u e


o e sp iritism o p o r a i p ra tic a d o é u m a v e rd a d e ir a fá ­
b ric a d e loucos. R e a lm e n te , é g r a n d e o n ú m e ro de
d o e n te s, p r o c e d e n te s de c e n tr o s e s p ir ita s , q u e vão b a ­
te r à s p o rta s do H o sp ício N ac io n a l d e A lie n ad o s.
“ E ’ c laro , e n tre ta n to , q u e o e sp iritism o n ã o é, p o r
si só, c a p a z d e p ro d u z ir a d e so rd e m n u m e sp irito são
e e q u ilib r a d o . . . a p r á tic a do e sp iritism o , p o r co n­
se g u in te , e s tá m u ito lo n g e d e s e r In o fe n siv a , c o n fo rm e
se a p re g o a g e ra lm e n te ”. ( 4 1 5 ).

. Por fim , o m ais recente e, ao m esm o tem ­


po, o mais autorizado inquérito que houve
entre nós acerca do espiritism o, fo i o que
a Sociedade de Medicina e Cirurgia, do Rio
de Janeiro, por iniciativa do dr. L eonídio Ri­
beiro, prom oveu entre especialistas brasilei­
ros, depois de 1927.
Esse inquérito reduziu-se a quatro que­
sitos, dois sobre a parte teórica do espiritis­
mo, e dois sobre as suas consequências para
o indivíduo e para a sociedade. Pelo visto, só
os dois últim os quesitos interessam a esta par­
te de nosso trabalho. D iziam :

(414) Cf. “O J o r n a l”, do Rio, 12 da m arço da 1*26.


(415) Cf. "O J o r n a l”, 25 da da m arço de 1926.
— 368 —
3.° - A prática do espiritism o pode trazer
danos à saude m en tal do indivídu o?
4.° - O exercício abusivo da arte d e curar
pelo espiritism o acarreta perigos para a sau­
de pú blica?
R e sp o n d e ra m os se g u in te s e sp e c ia lista s:

ANTONIO A U ST R E G É SIL O , c a te d rá tic o d e c lin i­


ca n e u ro ló g ic a , d a F a c u ld a d e d e M ed icin a, d a U n iv e r­
s id a d e do R io d e J a n e ir o ;
H E N R IQ U E ROX O , c a te d rá tic o da c lín ic a p siq u iá ­
tr ic a da m e sm a F a c u ld a d e ;
E S P O Z E L , s u b s titu to de c lin ic a p s iq u iá tr ic a e n e u ­
ro ló g ic a d a m e sm a F a c u ld a d e ;
T A N N E R D E A B R E U , c a te d rá tic o de m e d icin a
le g a l d a F a c u ld a d e d e M ed icin a do R io d e J a n e ir o ;
JU L IO PO R TO C A R R E R O , c a te d rá tic o d e M edi­
cina p ú b lic a da F a c u ld a d e d e D ireito d a U n iv e rsid ad e
do R io de J a n e ir o ;
JOÃO F R O IS , c a te d rá tic o d e m e d icin a p ú b lic a d a
F a c u ld a d e de D ireito d a B a ia ;
C A RLO S SE ID L , c a te d rá tic o d e m e d icin a p ú b li­
ca d a F a c u ld a d e de D ireito d a U n iv e rsid a d e do R io de
J a n e ir o ;
R A U L L E IT Ã O DA CUN H A, c a te d rá tic o de a n a ­
to m ia p a to ló g ic a d a F a c u ld a d e d e M ed icin a d a U ni­
v e rsid a d e do Rio de Ja n e ir o ;
FR A N C O DA RO CH A , e x -d ire to r do H o sp ício do
J u q u e ri, S. P a u lo ;
PA C H E C O E SIL V A , d ir e to r do H o sp ício de Ju q u e ­
r i, S. P a u lo ;
P E R N A M B U CO F IL H O , d o c e n te d e p s iq u ia tr ia
d a F a c u ld a d e d e M edicin a, do R io d e J a n e ir o ;
E V E R A R D O B A C K E U SE R , p ro í. d a E sc o la P o li­
té cn ic a e sociólogo;
- 369 —
M IG U E L OSÓRIO D E A L M E ID A , p ro fe sso r d a F a ­
c u ld ad e de M edicina, e ste n a se ssão d a S o c ie d ad e de
M edicin a, a 19-4-27.

P ro c u ra n d o , p o r a m o r à b r e v id a d e , c in g ir-n o s só
ao q u e d ir e ta m e n te se re f e r e a o q u e sito , o m itim o s a s
d iv a g aç õ es que p rec ed e m ou se g u em c e rta s re sp o sta s.
R e p ro d u z im o s o q u e sito .

3.« — A PR A T IC A DO E S P IR IT IS M O PO D E T R A ­
Z E R DANOS A SA U D E M E N T A L DO IN D IV ÍD U O ?

A u s tr e g é s ilo : “ Sim . E s to u c o n v en c id o q u e a s p r á ­
tic a s e s p ir ita s te m p ro d u z id o , em p re d is p o sto s, v e rd a ­
d e ira s p sicoses e a g ra v a d o m u ito s e s ta d o s m e n ta is
j á In ic ia d o s p o r p e q u e n o s d is tú rb io s p síq u ic o s”.
H e n r iq u e R o x o : “ O n ú m e ro d e a lie n a d o s, e m q u e
a s p e rtu r b a ç õ e s m e n ta is s u r g ir a m em c o n seq u ê n cia de
fre q u ê n c ia s de p r á tic a s e s p ir ita s n ã o te m d im in u íd o ,
e sim , pelo c o n trá r io , a u m e n ta d o ”.
E sp o z c l: “ A in flu ê n c ia d a p r á tic a do e sp iritism o
n a p ro d u çã o de d is tú rb io s m e n ta is é in c o n te s tá v e l;
b a s ta u m a p e q u e n a v id a c lín ic a n a e sp e c ia lid a d e p a ra
se te r oc asiã o de o b s e rv a r n u m e ro s o s c aso s, em q u e a s
p e rtu r b a ç õ e s p síq u ic a s g ir a m em to rn o d e f a to s o c o r­
rid o s n a s se ssõ es e s p ir ita s . A ssim se n d o , re p ito , co n si­
d e ro a p r á tic a e s p ir ita p o ssív el d e p ro d u z ir d e s a r ra n ­
jo s m e n ta is, m a x im é n a s p esso as p re d is p o sta s , a s q u a is
devem e v itá -la p o r p e rig o s a " .
T a n n e r do A b re u : “ Sim . B a s ta c o m p u lsa r os re ­
g isto s d e nosso H o sp ita l N ac io n a l d e P s ic o p a ta s, p a ra
te r a s e g u ra n ç a de q u e n ã o r a r o f ig u r a com o e lem e n to
e tio ló g lc o d a s d o e n ça s m e n ta is a p r á tic a do e s p ir itis ­
m o p e la c o m p a rê n c ia à s re sp e c tiv a s se s s õ e s ”.
“ E sse c once ito é, a d em a is, firm a d o p o r m o stre s
d a p s iq u ia tr ia . B a s ta rá c ita r o m a io r d e les, o sa u d o so
— 370 —
p ro fe sso r d a U n iv e rsid a d e d e M u n iq u e, E M IL IO
K R A E P E L IN , q u e , d epo is d e a lu d ir ao s c aso s do lo u ­
c u ra c o m u n ic a d a ou de c o n tá g io p síq u ico , a c e n tu a q u e
d e les p ode m s e r a p ro x im a d o s o s d is tú rb io s m e n ta is...
em c o n se q u ê n c ia e sob a in flu ê n c ia d e se ssõ es h ip n ó ­
tic a s ou d e E S P IR IT IS M O ” .
P o r to C a r rc ro : “ A ssim , e sp iritism o e n e u ro se te m
o m esm o c am in h o e e n c o n tra m -se , é b em d e v e r, o r a
no com eço, o r a no fim do tr a j e to .
“ Os h o s p ita is d e p slc o p a ta s e stã o r e p le to s d esses
caso s; e, em se m ió tica p s iq u iá tr ic a , é de re g r a , h o je , a
p e sq u isa de a n te c e d e n te s c s p ir itic o s ”.
J o ã o F r o is : “ C e rta m e n te a p r á tic a do e s p ir itis ­
mo pode t r a z e r e te m p ro d u zid o d a n o s à, sa u d e m e n ­
ta l d o s a d e p to s e fre q u e n ta d o r e s de sessõ es c h a m a d a s
e s p ir itis t a s ”.
F r a n c o d a R o c h a : “ No in d iv íd u o n o rm a l, e q u ili­
b ra d o , ta is p r á tic a s não p ro d u ze m d a n o . A os d e seq u i­
lib ra d o s, n a s c lasses de m e n ta lid a d e in fe rio r, p o d e f a ­
z er d a no , p ois q u e n ã o sa b em I n te r p r e ta r a s co isas co­
m o a s pesso as e q u ilib r a d a s e a s d e m e n ta lid a d e s u ­
p e rio r.
“S o b esse p o n to de v ista , a p r á tic a do e sp iritism o ,
e n tre g e n te de b a ix a m e n ta lid a d e , é r e a lm e n te um
g r a n d e m a l”.
L e itã o d a C u n h a : "S im , e tã o g ra n d e s, a m e u v e r,
qu e ju lg o In d isp e n sáv e l e u r g e n te q u e s e e stab e le ça m
le is q u e r e g u le m e sse c a s ó ”.
P a c h e c o e S ilv a : “ Sim . A c red ito q u e o e s p ir itis ­
m o e x erça In flu ên c ia so b re a s a u d e m e n ta l do in d i­
v íduo. E s ta é ta m b e m a o p in iã o do m eu e m in e n te m e s­
tr e e a n te c e ss o r. F r a n c o d a R o c h a, — q u e, a re sp e ito ,
e screv e u v á rio s tr a b a lh o s ” .
P e rn a m b u c o F ilh o : “ E ’ e v id e n te . T o d os a q u e le s
q u e se d e d ica m a o e stu d o de d o e n ça s m e n ta is , te m
- 371 —
o b se rv a d o im im ero s c aso s d e d e so rd e n s p síq u ica s p ro ­
d u z id a s p e la p r á tic a do e s p ir itis m o ”.
E v e r a rd o B n c k o u sc r d e ix a d e r e sp o n d e r, p o r n ão
s e r m édico.
Q u an to ao 4.o q u e sito :
O E X E R C ÍC IO A BU SIV O DA A R T E D E CU RA R
P E L O E S P IR IT IS M O A C A R R E T A P E R IG O S PA R A A
SA U D E PU B L IC A ?
A u strc g ó silo : “ Sim . Os p re ju íz o s sã o re s u lta n te s
dos e rr o s ou c o m issão, n ã o só a tin e n te s ao in d iv íd u o
com o à c o le tiv id a d e " .
"A p lau d o , c a lo ro sa m e n te , a a titu d e d a d ig n a So­
cied a d e d e M edicina, n e s ta c a m p a n h a de s a n e a m e n to
p síquico, e envio a lg u m a s liu h a s q u e e sc re v i s o b r e o
a s s u n to : O e sp iritism o é u r n a p sic o -n cu ro se, se m e lh a n ­
te ã h is te r ia , e tc .”.
H e n riq u o R o x o : “ F in a lm e n te , ao ú ltim o q u e sito
resp o n d o : o e x ercício d a a r t e de c u ra r p elo e s p ir itis ­
m o a c a r r e t a p re ju iz ó s p a ra a S a u d e P ú b lic a ”.
E sp o z c l: “ In c o n te s ta v e lm e n te ”.
T a n n e r d e A b re u : "S im . A esse r e sp e ito convem
le m b r a r a o m issão do tr a ta m e n to c o n v en ie n te, e n ão
c u m p rim e n to d a d isp osição re g u la m e n ta r , q u e im p õ e
o d e v er de n o tific a ç ã o c o m p u lsó ria de d e te r m in a d a s
d o e n ça s tr a n s m is s ív e is ”.
P o r to C n rre ro : “ Os p re ju iz ó s q u e o e sp iritism o
tr a z à S a u d e P ú b lic a são e v id e n te s. P r im e ir o , m e tem -
se os e s p ir ita s a c u ra n d e iro s, c ria n d o a m b u la tó rio s e
h o sp ita is, o n d e tr a t a m o s p sic o p n ta s a p a n c a d a s ».ve­
ja m -se a s p u b lic aç õ es do p ró p rio “ C e n tro R e d e n to r" ) ,
e o n d e m e d ica m p e la h o m e o p a tia , — te ra p ê u tic a n e m
se m p re inó c u a.
“ Com isso , p re ju d ic a m a o d o e n te, a g in d o se m
c o n h ec im en to de c au sa , com m ed ica çã o in s u f ic ie n te ou
c o n tra -in d ic a d a , e c u ltiv a n d o a te n d ê n c ia pqsftlciosa
p a r a o m a ra v ilh o s o ”.
— 372 —
Jo ã o F r o is : “ N ão h á p o ssiv el d ú v id a em a fir m a r
q u e o e xercíc lp a b u siv o d a a r te de c u ra r pelo e s p ir i­
tis m o a c a r r e t a p re ju íz o s & S a u d e P ú b lic a " .
L e itã o d a C u n h a : “ In q u e stio n a v e lm e n te , p o is o
c a r a te r m is te rio so , q u e te m e s s e e x ercíc io , d if ic u lta a
a p lica çã o d a s m e d id a s p ro filá tic a s, fa c ilita n d o o e n ­
tr e te n im e n to d a s e n d e m ia s e a d ifu sã o d as e p id e m ia s ”.
F r a n c o d a R o c h a : “ A cho q u e sim , com o em g e ra l
a p r á tic a do c u ra n d e lre sm o , q u e r s e ja e s p ir ita q u e r
não.
“VI m u ito s d o e n te s m e n ta is, c u ja afe cç ão ex p lo ­
d iu logo d epois d a s p r á tic a s d o e sp iritism o . M as n ã o
se deve a tr i b u ir e x clu siv am e n te a o e sp iritism o o m a l
q u e se te m o b s e rv a d o ”.
P e r n a m b u c o F i lh o : “ Sim . O s p re ju íz o s v em não
só d a d e fic iê n c ia ou e rr o de tr a ta m e n to , com o ta m b e m
p e la f a lt a de n o tific a ç ã o d e d o e n ça s c o n ta g io s a s, o q u e,
so b o p o n to d e v ista p ro filá tic o , é u m g r a n d e m a l” .
P a c h e c o e S ilv a: “ No m eu e n te n d e r, é u m a p r á ti­
ca p e rn ic io sís sim a , q u e d e v e rá s e r c o m b a tid a a to d o
tr a n s e , p o r isso que, so b re p r e ju d ic a r a S a u d e P ú b lic a ,
c o n trlb u e p a r a a r u ln a de m u ito s la re s e d á m a rg e m
a e x p lo ra çõ e s a s m a is ig n ó b e is" .
O D r. C a rlo s S e id I d eu u m a bó re sp o sta a o s d o is
q u e sito s: “ F r is o e n tre ta n to , q u e o p in o se re m c o n d e ­
n á v e is a s p r á tic a s q u e se re a liz a m n a s sessõ es e s p ir i­
ta s , com p r e te n s o s fin s te ra p ê u tic o s , e a s c h a m a d a s
evocações. A m in h a q u a lid a d e d e c a tó lico n ã o a d m ite
e s ta s ; e os m e u s e s tu d o s m é d ico s d e sa c o n selh am
a q u e la s ”.
O D r. M ig u e l O só rio d e A lm e id a a ssim se re fe re ,
r e la tiv a m e n te ao m a g n o p ro b le m a :
“ A in te rv e n ç ã o do e sp iritism o no tr a ta m e n to de
q u a lq u e r n e v ro se é s e m p re p r e ju d ic ia l. . . O e s p ir itis ­
m o é. n n d e-so d iz e r se m e x ag e ro , u m a v e rd a d e ir a fá -
bvica V tic o s. E n tr e os d e m e n te s q u e d ia ria m e n te
— 373 —

dão e n tra d a no H ospício , a m a io ria v e ri do s c e n tro s


e s p ir ita s ” . ( 4 1 6 ) .

Um a das m anifestações ordinárias da lou­


cura c a m ania de su icídio ou desgosto da v i­
da. É por isso que os casos de suicídio são
tão com uns no espiritism o: são uma com o
consequência lógica da doutrina da reencar-
nação e do nervosism o gerado nas sessões.
Aliás, espiritas houve que chegaram mesm o
a fazer a m ais descarada apologia do suicídio.
H aja vista o barão Du P otet, espirita de m ar­
ca, de quem são estas palavras:
" F e liz e s a q u e le s q u e m o rre m d e u m a m o rte r á ­
p id a , de u m a m o r te q u e a I g r e ja C a tó lica rep ro v a !
T o d o s os q u e sã o g e n ero so s 6e m a ta m ou se n te m d e ­
s e jo de m a ta r - s e ! ” ( 4 1 7 ).

**

Para corroborar tudo o que até aqui le­


m os exposto com respeito ao espiritism o —
causa de loucura, devem os agora referir al­
guns casos concretos. A dificuldade está em
escolher, entre m ilhares, aqueles que mais im ­
pressionem . Para serm os breves, vam os ci­
tar alguns fatos, porem despidos das circuns­
tâncias e incidentes. Mas, por isso m esm o, in ­
dicam os as fontes em que os colhem os; se o
leitor se interessar pelas circunstâncias, po-

(416) LEONÍDIO RIBEIRO c MURILO CAMPOS — O


E sp iritism o no B rnsll, co n trib u irã o no seu estudo Cllni-
co-L egal, Cia. Ed. Nacional, 1931.
(417) BARAO DU POTET — Ensino do M ngnctlsm o.
PS. 107.
— 374 —
derá servir-se de nossos dados e ir às fontes,
próxim a ou remota, ambas aqui registadas.

EXEM PLOS DE LOUCURA ESPIRITA

Loucura coletiva num a sessão de espiri­


tism o em Taubalé, em 1885.
É um dos m ais antigos e, ao m esm o tem­
po, dos m ais deploráveis casos de dem ência
causada pela seita de Kardec no Brasil. Um
advogado e toda a sua fam ília, enlouquecen­
do, procederam a uma cerem ônia a que cha­
maram “Construção da A rca de N oé.”
“ E s ta v a a sse n ta d o q u e, n a q u e le d ia , h a v ia d e s e r
im o lad o um dos c re n te s : seu sa n g u e d e v e ria s e r b e ­
bido p o r to d a a c o m u n id a d e ” .
C ria n ç a s e ra m s u b m e tid a s a to r tu r a s .
F o i prec iso q u e a p o lic ia I n te rv ie sse p a ra e v ita r
a c o n tin u a ç ã o d a s d e s a g ra d a b llls s lm a s c en as.

Este caso é descrito m inuciosam ente pelo


Dr. Franco da Rocha, em seu livro “ O E spiri­
tismo e a loucim a”, pg. 22. Tam bem o refere
o dr. João Teixeira, louvando-se num a carta
de testem unha ocular, carta reproduzida no
seu livro.

U m a s e n h o ra a m e r ic a n a , d a m a is a l t a so c ied a d e
do R o sto n , c n lo n q u cc en d o , p r a tic a a to s rid íc u lo s, p o r
ord e m d o s e sp írito s.
“ U m d ia o s in v isiv eis c o n v id a ra m -n a a ir ao p o ­
rã o da casa , se m lh e e x p lica rem p o r quê.
E la a ce d eu , c o n tra a v o n ta d e . L á c h eg a n d o , m a n ­
d a ra m - n a q u e v ira s se u m a tin a d e f u n d o p a ra b aixo e
— 375 —
se m e tes se d e n tro d e la. S e m p re r e lu ta n d o , e la a ca b o u
p o r o b e d ec er".
I n te r n a d a n u m hosp íc io , s a ro u , a b a n d o n a n d o , em
s e g u id a , a s p r á tic a s e s p ir ita s . ( B r a c k e t, n a R e v ista e s­
p ir ita Iilg h t, 1 8 8 6 ). ( 4 1 8 ).

U m a c p ld e in la d e lo u c u ra , n a v ila d e A lg e zu r
( P o r tu g a l) , p o r c n u sa do e sp iritism o .
E n lo u q u e ce m h o m e n s, m u lh e re s e c ria n ç a s. Isto
o b rig a a p o lic ia a f e c h a r os c e n tro s. ( J o r n a l d o B r a ­
sil, 28-4 -1 9 2 9 ) ( 4 1 9 ).

O jo r n a l “ A N o ite ", de 1 5 -7 -1 9 2 9 , d á n o tic ia do


e n lo u q u e c im e n to de to d a a la m llia F a r q u lm d e A l­
m e id a, de G u a ra p u a v a , P a r a n á . ( 4 2 0 ).

O u tra fa m illa , c o m p o sta d e onze p e sso as, em Co­


lô n ia , P a r a íb a , e n lo u q u ec eu to d a , p o r c au sa do e sp i­
r itis m o . U m d ia , e ssa s onze p e sso as, em e sta d o la s ti­
m á v e l, e n tra r a m em G u a ra b ira , a m a r r a d a s e e n to a n ­
do c â n tic o s re lig io so s. V id e “A U n iã o ", o rg ão o ficial
do G overno d a P a r a íb a , 1 8 -1 -1 9 3 0 . ( 4 2 1 ).

O “ Correio da M anhã”, de 9-12-1924, na


secção Declarações, traz uma noticia curiosa:
U m s e n h o r F . R. T., a v isa a se u s irm ã o s e sp iri­
ta s q u e , te n d o sido e sco lh id o p a ra r e p r e s e n ta n te do
S e r S u p re m o n e s te p la n e ta , e te n d o 6xercld o ta l e n ­
c arg o p o r 25 a n o s, não q u e r m a is c o n tin u a r a m issão .

(419) CARLOS IMBASSAHY, opiiH clt„ pg. 183.


(419), (420), (421) o (422) NATHANIEL SCHWARTZ,
MnrnvIlhnN «lo EuplrltU m o, A C ruzada E d ito ra, Rio de
Jan eiro , 1931, de pgs. 12 a 15.
— 376 —
“ P r e firo a m o rte , d iz ia, a s e r re p r e s e n ta n te do S e r
Su p re m o um só m in u to " .

Os seguintes casos pertencem à coleção


do dr. João Teixeira, páginas 1G5-117, do seu
livro “ O E spiritism o” :
A f a m ília do s r . J o ã o d a S ilv a L u ca s, c o m p o sta
de 12 p e sso a s e n lo u q u e c e u to d a , em c o n seq u ê n cia d a s
p r á tic a s e s p ir ita s . E s s a fa m ília r e s id ia n o R io, à R u a
A le g ria , n.° 171.
P o d e -se le r, n a “ G az eta d e N o tíc ia s ”, d e 8 de
N o v em b ro de 1 913, a n a rr a ç ã o d a s c en a s m a is com o­
v e n te s a q u e fic a r a m s u je ita s e ssas doze m is eráv e is
pe ssoas.
Jo s e fln a R o d e s, m ã e d e t:>4s f ilb o s m e n o re s, d a d a
à p r á tic a do e sp iritism o , e n lo u q u ec e, e , em c o n seq u ê n ­
cia, su c ld a -se , a te a n d o fo g o à s v e ste s . (C id a d e de
C a m p in a s" , se m In d ica çã o d e d a ta ) .

U m e s tu d a n te de M ed icin a, d a F a c . do R io, rap a z


d istin tíss im o , e n lo u q u ec e, p o r t e r a ssistid o a u m a
ú n ic a se ssão e s p ir itis ta . (N o tícia, d e p r im e ira m ã o , do
d r. F e lic lo d os S a n to s ) .

U m a c a rin h o sa e sp o sa, d e sv a ira d a pelo e s p ir itis ­


m o, a s s a s s in a se u m a rid o a g o lp e s d e m a ch a d o . ( " J o r ­
n a l do C om ércio ” ).

U m velh o p ro fe sso r p ú b lic o , n a Id ad e d e 60 a n o s,


e n fo rc a -s e , lev ad o p e lo e stu d o do e sp iritism o . ( “ A
P a la v r a ”, d e B elem do P a r á ) .

C ristia n o A lves F e o , de J u n d la í, so b e ao fo rro


d e u m a c asa e e n fo rca -s e, d ep o is de s e te r e n tre g a d o
— 377 —

a praticas espiritas. ("O Lábaro”, de 23-4-1914, e


“A Cidade de Campinas", de 19-4-1914).

Distinto rapaz, no verdor dos anos, deixa a casa


paterna e vai viver dentro de um lamaçal, por se ju l­
g a r um porco, idéia m acabra que, lhe havia sido su­
gerida por um espirito, em sessáo. (Cidade de Cam­
pinas”, 3 de Agosto de 1908).

O chefe da estação ferro-viárla de Ribelrãozinho,


Estado de S. Paulo, começando a frequentar as ses­
sões espiritas, enlouquce. (Jornais do Matão, 1914).

Em S. José de Alem Paraíba, Minas, um a m ulher,


dada à p rática do espiritismo, enlouquece, e, em conse­
quência, vai à ig re ja m atriz em dia de domingo, e ten­
ta, a toda força, celebrar missa em vez do vigário. Es­
tava convencida da que era homem e sacerdote. ( “O
Movimento”, de 22-3-1914).

Mais dois casos lamentáveis, uin de suicídio e ou­


tro de uxorlcídio, são relatados pelo “O Movimento”,
22-3-1914 e 19-3-1914).

Distinto professor, inteligente o cheio de espe­


ranças, arrebenta os miolos com um tiro de carabi­
na, levado pelas práticas do espiritismo. ( “Jornal do
Comércio, 10 de Março de 1914).

O dr. Carvalho Ramos, juiz de direito da capital


do Goiaz e notável jurisconsulto, enlouquece, e, logo
depois, m orre no Hospiclo Nacional, em consequência
das pTáticas do espiritismo. (423).

Outro caso de loucura espirita e eonsequente

(123) Dr. JOAO TEIXEIR/V, opus elt., In fine.


— 378 —
suicídio vem narrado pelo "Estado de S. Paulo", de 28
de abril de 1914.

Como viu o leitor, os exem plos colecio­


nados pelo dr. João T eixeira referem -se a
acontecim entos que se agrupam nas im edia­
ções de 1914. data em que ele escreveu o seu
livro. Não quisem os tom ar o trabalho que
esse ilustre m edico se deu, — o de anotar fa ­
tos próxim os de nós, — porque acham os isso
desnecessário. O escopo de nosso livre é ou­
tro. E a questão da loucura entra aqui apenas
para sermos com pletos. Aliás, cada qual co­
nhece exem plos sobejos e não seria d ificil,
com o fez o dr. Carlos de Laet e, m ais recen­
te, o dr. Xavier de Oliveira, apontar cada um
os casos de que tem ciência própria.
CAPÍTULO IV

CONDENAÇÃO

I. - PELA AUTORIDADE RELIGIOSA

Tratando-se do espiritism o em face da


autoridade religiosa, isto é, com respeito à B í­
blia e à Igreja, som os obrigados a distinguir
as duas feições do espiritism o através dõs
tem pos: A N ecrom áncia A ntiga e a N ecro-
m ância M oderna ou E spiritism o.

1.° - E spiritism o an tigo ou NECROMÃN-


C1A.
Em vários tópicos do Antigo Testam en­
to, encontram os a condenação form al da
evocação das alm as; vale dizer: condenação
da Necrom áncia. Citemos alguns textos:
“Nem se ache entre vós quem pretenda purificar
seu filho ou sua filha, fazendo-os passar pelo fogo,
nem quem consulte adivinhos ou observe sonhos ou
agouros, nem quem seja feiticeiro ou encantador, nem
quem consulte pitonisas ou adivinhos, nem quem in­
dague dos m ortos a verdade: porque todas estas coisas
abomina o Senhor”. (Deuteronômio, 18:10-11).
“A alm a que se desvia p procurar mágicos e adi-
— 380 —
vinlios. . . Porei a m inha face contra ela e a destrui­
rei do meu povo”. (Levlt., 2 0 :6 ).
“ F e itic e iro * n ã o p e rm itir á s q u e v iv a m ” . (Ê xodo,
2 2 : 1 8 ).

D epois da vinda de N osso Senhor Jc-


sús-Cristo, a necrom ância ficou sendo su­
perstição circunscrita a algum as zonas mais
atrasadas. Nunca foi prática generalizada.
Por isso, a condenação dessa form a de es­
piritism o veio apenas prolatada em concílios
particulares. Segundo o Pe. H eredia, o espiri­
tismo antigo vem condenado pelos seguintes
concílios:
Quarto de Cartago, Segundo de Tours;
Sexto de Paris; Prim eiro de A ncira; Quarto,
Quinto, D uodécim o, D écim o-Sexto e Décim o-
Sétim o. de Toledo.

2.° - E spiritism o m oderno.


Sem entrar na discussão da teoria, e sem
se pronunciar sobre a realidade ou natureza
dos fenôm enos, a Igreja tem condenado por
diversas vezes as práticas espiritas.
Já em 23 de junho de 1840 e 28 de julho
de 1847, o Santo Oficio, regulando o uso do
hipnotism o, proscreveu o em prego de princí­
pios e m eios puram ente físicos ultilizados pa­
ra explicar “coisas e efeitos verdadeiram en ­
te sobren atu rais.”
Em 30 de julho de 1856, a E ncíclica
Sancti officii explicando as anteriores deter­
m inações acim a citadas, reporta-se m ais di­
retam ente ao espiritism o e estabelece:
“In lilsco omnlbus, quncumqtie d e n n u n n ta n tu r
nrfco vcl lllnsionc, ctim ordlnatur m ed ia plijslca ad ef-
— 381 -
fccius iicn nnturnleg, re p crltu r dcccptio omnino illl-
citn et contra honcstatem m oruin” .
A sabor:

empregam moios físicos para se obterem efeitos na­


turais, há um engodo inteiram ente iliclto e dirigido
contra a honestidade dos costum es”. (424).

Em 1898, a m esm a Sagrada Congregação


do Santo Ofício declarou novam ente que “ não
c licito consultar as alm as dos m ortos ainda
quando se exclua o pacto com o espírito m a­
lig n o .” (42ó).
Por últim o, em 1917, dando resposta a
uma consulta que se lhe fez, o S anto Ofício
foi m uito m ais explicito e declarou:
“Não é lícito, nem com a intervenção do médium
nem sem essa intervenção, assistir a quaisquer falas ou
manifestações espiritistas, nem mesmo às que tenham
aparências de honestidade e piedade, quer pretenden­
do interrogar alm as ou espíritos, quer ouvindo res­
postas, quer sim plesm ente assistindo, ainda que haja
protesto tácito ou expresso contra a comunicação co:n
os espíritos m alignos”. (426).

Alem destas condenações em anadas di­


retam ente da Santa Sé, há as proibições par­
ticulares, dadas com o normas diretivas pa­
ra os católicos. V ejam -se as atas do Segundo
Concilio de B altim ore (E stados-U nidos), II,
n.° 36, e as do Concílio Plenário L atino-Am e­
ricano, sob o n.° 164. Entre nós: a Pastoral

íils; S sãs
— 382 —

Coletiva dos B ispos do Sul do Brasil, sob os


n.°s 6Í e 63. o Aviso n.° 89 da Cúria Metropo­
litana do B io de Janeiro e diversas cartas
pastorais, com o a do sr. B ispo de Uberaba,
d. fr. Luiz de Sant’Ana, a de d. Fernando
Taddci, bispo de Jacarezinho, etc.

***
O que ai fica refere-se principalm ente às
práticas espiritas. Mas existe tambem a con­
denação canônica relativa à parte dou trin á­
ria do espiritism o. D e-fato, com o vim os em
outro lugar, a doutrina religiosa dos espiri­
tas é a reafirm ação de m uitas heresias já con­
denadas pela Igreja, antes de aparecer o es­
piritism o moderno.
Os espiritas, por conseguinte, são equipa­
rados aos herejes e, assim, estão incursos na
pen a de excom unhão, com inada pelo canon
n.° 2314, § 1.°, n.° 1, do Código de Direito
Canônico. Não podem receber os sacram en­
tos da Igreja, a não ser que, prim eiro, se re­
conciliem com a Igreja, pela abjuração do
erro, de acordo com o estatuído no art. 731,
§ 2.° do Código Canônico. Alem disso, há a
pena de excom unhão reservada, speciali m o­
do, à Santa Sé, contra todos os que lerem ou
guardarem consigo livros espiritas, pena es­
sa em que incorrem tambem os ediiores ou
defensores de tais livros.
A-propósito, já o Concilio Plenário La­
tino-Am ericano havia resolvido:
“Visto como os sequazes do e s p iritis m o ... fre­
quentem ente admitem e promovem operações diabó-
— 383 —
lieas o espalham m ultas h e r e s ia s ... não podem ser
reconciliados, nem no foro interno nem no externo,
apenas como pecadores ordinários, mas devem ser ju l­
gados como herejes ou fautores de heresias; nem po­
dem ser adm itidos aos sacramentos, a não ser que re­
parem o escândalo, façam abjuração do espiritismo
e omitam a profissão de fé, segundo as norm as pres-
Gritas pela teologia”. (N.* 104).

2.“ - PELA AUTORIDADE CIVIL

O H ipnotism o, que é o principal auxiliar


do espiritism o, tem sido proibido, ou restrin­
gido quanto ao uso, em diversos paises. A s­
sim , a Áustria, a Itália e a B élgica proibi­
ram sessões públicas. Na D inam arca e na
Alem anha só pode praticar hipnotism o quem
for m édico diplom ado.
O m esm o se deu com o espiritism o, cu­
ja prática foi proibida ou lim itada por di­
versos Códigos Penais. No Brasil, conquanto
as nossas Constituições tenham garantido a
liberdade de culto, todavia o em prego largo
do espiritism o em atividades alheias ao cul­
to religioso foi tambem proibido. Assim estatue
o art. 157 da Consolidação das Leis Penais
b rasileiras:
Al t. 167. — P ra tic a r o espiritismo, a magia © os
seus sortilégios, usar talism ans e cartom âncias, para
despertar sentim entos de ódio ou amor, incnlcar coras
de moléstias curáveis ou incuraveisi enfim, para fasci­
nar e subjugar a credulidade pública;
Penas: Prisão celular por um a seis meses e mul­
ta de 1009000 a 6009000.
— 384 —
§ l.o — Se, por Influência ou consequência de
qualquer destes meios resu ltar ao paciente privação ou
alteração tem porária ou perm anente das faculdades
fisicas:
Penas: Prisão celular de um a seis anos e m ulta
de 200$000 a SOOÍOOO.
§ 2.o — Em igual pena, e mais na privação do
exercido da profissão por tempo igual ao da conde­
nação, incorrerá o MÉDICO que diretam ente p raticar
qualquer dos atos acima referidos, ou assum ir a res­
ponsabilidade deles.
O sentido exato da lei foi esclarecido pelo co­
m entário de Macedo Soares, e existe um acordão do
Supremo Tribunal, 6ob o n.° 4.055, negando habens
corpus, em grau de recurso, ao farmacêutico Francis­
co Nery dos Santos, que te n tara infringir o dispositi­
vo do Código Penal, em Santa M aria Madalena, E sta­
do do Rio. (427).

É lam entavel que o praxism o da ju ris­


prudência e a tolerância policial tenham con­
corrido para que esta lei, com o outras muitas,
se tornasse letra m orta entre nós. A propó­
sito observa d. O távio:
“E ntretanto, a tolerância dos poderes públicos é
geralm ente m uito grande nesta m atéria, sendo raros
ou quase mal sucedidos os processos instaurados con­
tra os violadores deste artigo do Código.
“Em consequência, os charlatães e exploradores
proliferam por toda a parte, enganando o pobre povo,
a distribuírem garrafadas de água fluidificada, — le­
gitima água de pote, — por esta form a atraindo os

(427) MACEDO SOARES — Coillgo Penal, cd. de 1910.


PET. 31 C.
(42S) D. OTÁVIO CIIAGAS DE MIRANDA, opnM cl(.,
— 385 -
simples e ignorantes para as suas baiucas de perdi-
ç&o”.

RESUMINDO.
O ESPIRITISMO É CONDENADO, e suas
práticas são proibidas, NÃO SÓ PELAS LEIS
DIVINAS, MAS AINDA PELAS LEIS HU­
MANAS.
CONCLUSÕES

Objetivo é de nossa obra abrir os olhos


aos católicos e a m uitos que, sugestionados
pelo m aravilhoso, em boa fé se deixam ar­
rastar por esta antiga superstição chamada,
hoje, espiritism o.
Seguindo a ordem lógica, depois de ter­
m os apresentado as noções indispensáveis
sobre Cristianism o, Materialismo e E spiritis­
mo, dem os um relatório dos fenôm enos pro­
vados ou espontâneos, considerados supra-
normais.
Antes de entrarmos na questão filo só fi­
ca sobre a causa eficiente de tais fenôm enos,
resolvem os, à luz de critérios gerais, a ques­
tão histórica sobre a sua realidade.
Quanto à questão principal: “ Qual a
causa eficiente de tais fenôm en os?”, cumpre-
nos declarar que não ignoram os a tendência
m oderna de tudo explicar naturalm ente, mas
sabem os tambem que reputados católicos, fi­
lósofos e escritores estão pela explicação pre-
— 387 —

ternaltural. Alem dos autores citados atrás,


outros ainda poderíam os alinhar aqui, co­
m o Zacchi. Oldrá, etc. (429).
Chegando à ultim a conclusão, afirm am
os citados autores que tais fenôm enos tem
por causa o eterno inim igo do hom em . L e­
m os em H orácio M azella:
“Fenômenos há no magnetismo, no espiritism o e
no hipnotismo só explicáveis por uma causa p reterna­
tural, que o utra não é que o dem ônio”. (430).

T anquerey, m ais explicito escreve:


"Os fenômenos do magnetismo, do hipnotismo e
do espiritism o que envolvem manifestações de coisas
ocultas, rem otas e futuras (futuros livres), são dia­
bólicos. Os demais não parecem transcender as leis
natu rais”. (431).

A C iviltà C attôlica, depois de ter lido e


exam inado tudo que fora escrito, em sentido
naturalístico, pelos autores m odernos, v o l­
ta a repetir e sustentar o que, com m uito bom
senso c ponderação, haviam escrito os seus
predecessores. (432).
Os próprios autores que defendem o
naturalism o adm item a intervenção diabóli­
ca em alguns fatos espiríticos. (433).
Conclue O ldrá o seu livro, reproduzindo
a gravíssim a observação que o calm o e dou­

(429) ZACCHI — Lo Splritlum o, pref. V III - X, Roma,


F e rra ri. 1922; C lvlltà CaUollcn, 1917, vol. II, pg. BC8.
• (430) HORACIO MAZELLA — Thcol. D o p n ., vol. I,
da 4.* edlç&o. pg. 42C.
(431) TANQUEREY — T hcol. Dogra., 13.* ed. 1911,
PS. 49C.
to L epicier faz ao dr. L iljencrants sobre a
vertente questão:
“Observe-se que o só fato de apresentar como
possivel uma explicação diversa da que, quase unani­
memente, dão os teólogos católicos, isto é, uma ex­
plicação que vai de encontro aos princípios comumen-
te recebidos pela Igreja, equivale a abandonar a tr a ­
dição e é um a aberta adesão às novidades de palavras
e & oposição da ciência de falso nome, que S. Paulo
fortem ente condena. (I Tím., G:20). (434).

Seguim os, pois, a opinião tradicional.


E m capítulo especial, explicam os o senti­
do em que entendem os a intervenção diabóli­
ca no espiritism o. N ão deve o critico católi­
co separar os fenôm enos espiritas do conjun­
to de circunstâncias que os acom panham : o
am biente das sessões, o lugar e o tempo em
que se realizam , a intervenção de um m é­
d ium e, sobretudo, a doutrina que ensinam
os agentes invisiveis.
Perfeitam ente confirm ada ficou a nossa
proposição principal pelo estudo da ação dia­
b ólica através dos tem pos e pelo cotejo que
fizem os com a necrom ância e m agia antiga.
D epois de um breve estudo sobre o espiritis­
m o m oderno, analisam os as m ensagens de ca-
rater profano e religioso, sobre as quais se
apoia a religião espirita. Mereceu-nos espe­
cial estudo a fam osa reencarnação que, so­
bre ser um erro filosófico, é form alm ente
oposta à doutrina católica.
(422) CivllOi Cnttollrn, fn«cl. 17, Dez., 1921, pg. 549-
561; fase. 21 de Jan. 1921, pg. 143-151).
(433) Cf. OLDRA, S. J. — Op. Clt.» pg. 396.
(434) D E riC IK R — II mondo InvlHlblle Splrltc. VI-
conza. 1920, App., pg. 237.
— 389 —
II

Ao claríssim o autor Th. M ainage, tão ze­


loso pelo bom nom e da Igreja, aqui damos
a resposta sobre o ponto que atinge os defen­
sores da sentença m édia. E screve:
“Ah’ Quel soutire e t quel dédain su r les lèvreg
des hommes atten tifs A surprendre les faux coups de
bnrro du nantonier qui dirige ici-bas la barque divi­
ne, si un jo u r venait où les faits spirites seraient clas­
sés sans appel dans la catégorie des effets naturels!
Ils m épriseraient l’Église”. (435).

Estas palavras equivalem a uma congra­


tulação com a Igreja pelo fato de não se ter
ela pronunciado ainda sobre a causa eficien ­
te dos fenôm enos espiríticos.
R espondem os: Sc um dia ficar provado
que todos os fenôm enos considerados supra-
norm ais são naturalm ente explicáveis, nem
assim haverá lugar para o desdem dos ho-
ftiens m alévolos.
Próprio é de quem verdadeiram ente ama
a verdade im itar o grande Santo Agostinho
que, para ed ificação dos hom ens superiores,
escreveu o seu livro D as R etratações. Vem
aqui a-propósito uma observação de Van d e r
E ls t:
"Il semble qu’on puisse avec H uysmans s’étonner,
A bon droit, q u ’ après avoir vu le diable partout, on
ne le reconnaisse aujo u rd ’hui nulle p a rt” . (436).

(433) TH. MAINAGE — Ln R eligion S p lrltc, cd. 3.»


1921, p s. 182. M odificou M alnago sua oplnlso?
(436) VAN D ER ELST, In D lct. Apol. do a u to r d'A lès,
a rt. occultism e, fase. XVI, pg. 1128.
— 390 —
E ’ esta, aliás, a artim anha do inim igo in­
fernal. Ele opera nas sessões espiritas, mas,
com o sem pre, habilm ente se oculta. Vê-se que
seu ideal é a destruição do Cristianismo.
C onfiados em Deus, que é a Verdade, e
na Virgem Im aculada, que esm agara a cabe­
ça do pai da m entira, esperam os que estas pá­
ginas abram os olhos a m uitos iludidos e,
m ais uma vez, lhes mostrem , através dos fatos
e da doutrina espirita, a influência do eterno
inim igo de Cristo.
Quanto ao valor histórico dos fatos espi-
ríticos, narrados por m ilhares de pessoas, sub­
screvem os o que, a-respeito, escreve Oldrú,
S. J.:
"Opor-se a todas ns testificações gravíssimas e
num erosas é, pelo menos, inqualificável ousadia, ain­
da que se apresente com o a r e o tom da mais severa
crítica". (437).

III

Já não é m ais possivel negar os progres­


sos do espiritism o 110 Brasil. O erro procede
dos grandes centros urbanos, cujos habitan­
tes não se envergonham de om brear com os
tabaréus em m atéria de superstição. A capi­
tal da Republica dá o exem plo. Os morros,
os bairros longínquos e até algum as ruas cen­
trais p ovoam -se de templos, de candoblés e
de tendas. Ha livrarias iespecializadas em
obras espiritas. Há m esm o casas com erciais
que sc encarregam de vender objetos de cul­

(437 OLiDRA’, S. J. — Op. C lt, Pff. 103.


— 391 —
to espirita, am uletos, artigos de em prego for­
çado nos despachos e m alefícios.
Niterói rivaliza com o Rio.
No interior do país, seja no norte seja
no sul, prospera esta praga social. S. Paulo
tem m ais de trezentos centros ^espiritas. O
D iário O ficial, desse Estado, é um a amostra
disto. Basta ler a lista das sociedades espiri­
tas que ali publicam seus estatutos para ob­
tenção de personalidade jurídica. Contam-se
por m ilhares.
Ultim am ente, na linda cidade bandei­
rante, instalou-se também uma estação radio-
em issora, — a Radio Piratininga. Ótimo pro­
grama artístico. Mas francam ente espirita. O
ataque à R eligião Cristã faz-se abertamente.
A teoria cardecista é inculcada aos radio-es-
culas, sob aparências sedutoras.
Os próprios publicistas estrangeiros já
observaram que as publicações espiritas, no
Brasil, são em m uito m aior núm ero do que
em qualquer outro país da Am érica ou da Eu­
ropa.
E is aí os fatos.

IV

Como explicar a dissem inação rápida e


ampla de uma religião tão nefasta?
Muitos são os fatores que respondem p e­
lo progresso do espiritism o entre nós. Citemos
os principais.
E ’ na própria índole do brasileiro que va­
m os encontrar o prim eiro m otivo de sua ade­
são a um crcdo diam etralm ente oposto à Re­
— 392 —

ligião Cristã: o brasileiro é. por índole, sen­


tim ental, e, por form ação, supersticioso. As­
sim, diante da prom essa de poder falar com
os queridos defuntos, e, na presença de prá­
ticas im pressionantes, o hom em do p ovo não
resiste à tentação: dá-se ao espiritism o.
Alem da receptividade própria do brasi­
leiro, respeito à aceitação do espiritism o, de­
vem os lem brar ainda, com o fator de êxito,
os m étodos dos propagadores da doutrina. E,
em prim eiro lugar, citem os a hipocrisia dos
falsos profetas, a m á-fé e o cálculo dos m é­
diuns e experim entadores. Com eçam por
apresentar a seita como um “ passa-tem po”
uma “ cu riosidade”, uma “inocente conversa
com os m ortos”, uma “ciên cia” e não uma
religião. Negam , sistem aticam ente, o carater
religioso do espiritism o. D e inicio, chegam
até a pedir m issas em sufrágio dos espíritos
sofredores. Só com o tempo é que irão desfi-
velando as m áscaras, acabando, por fim , num
ataque desleal c acre à Igreja Católica.
O espirita reçum a ódio aos sacerdotes ca­
tólicos e a tudo quanto c caro ao coração dos
católicos.
Outra fase do m étodo de conquista con­
siste no exercício ilegal da m edicina. A vai­
dade hum ana afasta a idéia da morte. O h o­
m em não sc convence de que deve morrer
um dia; se, pois, nas suas enferm idades, não
consegue m elhoras, dentro da ciência verda­
deira, recorre aos raizeiros, aos macum beiros,
aos exploradores.
O espiritism o vem , então, ao encontro dos
que sofrem . D á-lhes um consolo falso e m o­
— 393 ~

m entâneo, m as m uito de acordo com a estul­


tícia hum ana.
Aqui avultam duas vantagens da cham a­
da “m edicin a” do espaço: a) Consultas e re­
m édios gratis; b) Prom essa de curas inau­
ditas.
Entre nós, com efeito, os m édicos são ca­
ríssim os; os rem édios, custosos. E doenças
que a m edicina considera incuráveis, a incon-
ciência dos m édiuns garante debelar graças
ao receituário dos m édicos do Alem.
Ultim am ente, até, conform e observa d.
Otávio c conform e nosso conhecim ento p es­
soal, os m édicos do espaço deram para pra­
ticar cirurgia. Em S. Pau lo conhecem os ilustre
senhora que se diz curada de um a calculose
biliar depois de ter sido operada por um “ in­
visível ”.
Outra, e esta é n otável: Já houve quem
consultasse “ advogados do esp aço” a respei­
to de litígios ju diciais. Alem de clínicos e ci­
rurgiões, o Alem possue ainda os seus rábu­
las e causídicos.

Como rem ediar a tantos inales, a tanta


perfídia?
N ão é facil com bater o espiritism o neste
terreno, porque, aqui, nem sem pre podem os
opor m étodo a método, já que não podem os
praticar o charlatanism o e exercer a m edici­
na com infração das leis. T odavia, tentemos
apontar algum a terapêutica.
A prim eira refere-se à educação. No lar,
— 394 —

antes de tudo, e, depois, na escola, é que se


h á-de torcer a índ ole sentim entalista do bra­
sileiro. E ’ preciso form ar espíritos práticos
e lógicos, gente acostum ada a viver no real e
não no fantástico.
< A literatura infantil tem m u ito que fazer
neste terreno.

VI

As pretensas curas espiríticas explicam -


se pelas forças curativas do espírito. Trata-se
da influência do moral sobre o físico. São as
cham adas forças psíquicas, a que ilu d ia
Grassett num a de suas conferências.
A té autores espiritas são unânim es em
afirm ar que m u iios “m ilagres” se devem ao
poder da “su gestão”.
Em todo caso, convem não esquecer que
liá m uito charlatanism o de perm eio com
algum conhecim ento de hom eopatia entre os
m édiuns curadores.
As doenças que os m édicos deste mundo
não curam , tam bem não conseguem curá-las
os m édicos do “ esp aço.” Quando foi que o es­
piritism o sarou um tuberculoso, um m orfé-
tico, um canceroso? Isto prova que os desen­
carnados nada progrediram ; não merecem ,
pois, nenhum a preferência. O que é m ais cer­
to é que os diagnósticos e receitas de origem
espirita são apenas produto da im aginação e
da esperteza dos m édiuns.
Ainda há pouco ficou evidenciado, pela
justiça especial, que os m édicos desencarna­
— 395 —

dos não sc im iscuem nas coisas deste mundo.


O caso m erece lem brado.

CONDENADO TJM “MÉDIUM CURADOR”

"O Juiz do Tribunal de Segurança, alm irante Le­


mos Bastos, julgou ontem o farm acêutico W istrem un-
do Alves Simões, desta capital, denunciado sob a acu­
sação de explorar o público com anúncios em que a fir­
mava que o Centro Amor e F é em Deus fornecia gra­
tu itam ente diagnósticos de qualquer m oléstia m edian­
te a remessa do nome, profissão e residência.
“O fato foi denunciado pelo dr. José Segadas
Viana, que, enviando oito cartas ao médium invisível,
todas com nomes de pessoas supostas, como supostos
eram os demais informes, recebera respostas acompa­
nhadas de dirgnóstlcos e receitas.
“A defesa foi feita pelo advogado Frederico Muel-
ler e a acusação pelo procurador adjunto Clovls
K ruel de Morais.
“O juiz, findos os debates, lavrou a sentença,
em que, depois de vários consideranda, condenou o
acusado a seis meses de prisão e à m ulta de dois con­
tos de ré is”. ( “Correio da M anhã”, 30 de Dezembro
de 1939).

No processo, pois, ficou provado que os


“m édicos do esp aço” receitam para doentes
que não e x is te m ...
Quanto às intervenções cirúrgicas, pude­
m os verificar que elas existem só na im agi­
nação dos fa n tá s tic o s ... Os pacientes, con­
vencidos, m om entaneam ente, de que fo ­
ram “ operados in visivelm ente”, experim en­
taram m elhoras passageiras. D epois, com o
recrudescer da m oléstia, acabaram na sepul-
— 396 —

tura, se, a tempo, não procuraram os cirur­


giões em carne e osso.

*
**

T odavia, tanto no terreno da clínica co­


m o no da cirurgia, não nos repugna admitir
a p ossibilidade de algum as curas extraordi­
nárias, devidas à intervenção de fatores pre-
ternaturais. Aos espiritas, porem, incum be
provar, cientificam ente, a realidade de tais
curas. Deviam , em tais casos, adotar a pra­
xe da Igreja no referente aos m ilagres adm i­
tidos para a canonização dos Santos, isto é,
a produção de duas séries de próvas: 1.°)
Atestados, firm ados por m édicos n ão-espiritas,
com provando o carater incurável das doen­
ças; de m édicos que teriam exam inado os
doentes antes da cura; 2.°) Atestados, da m es­
m a natureza, provando a cura.
O fato histórico de uma doença incurá­
vel e o de sua cura extraordinária não per­
tencem ao dom ínio da religião: pertencem à
H istória. Como tais, devem ser provados por
pessoas não interessadas na crença religiosa.
D e nada valem puras alegações. Tam ­
bém não valem afirm ações de m édicos espi­
ritas, por m ais honestos que pareçam. Fora
do espiritism o é que se hão-de analisar os
fatos passados lá dentro.
Aqui, com o alhures, opom os a clássica
condicional: “ S e.” Se os fatos alegados fo ­
rem reais, valem , para explicá-los, os p rin d -
pios expostos neste livro.
— 397 —

Sobre as consultas jurídicas, podem os in ­


form ar o seguinte:
O sr. Carlos Monteiro de Barros, herdeiro pre­
suntivo do Barão de Paraopeba, resolveu reivindicar
a fazenda do Xicão, município de S. Gonçalo do Sapa-
cai, fazenda que pertencera a seu avô, mas que, fa­
zia mais de cincoenta anos, já tinha sido vendida a
diversos. Antes de propor a agão, o sr. Carlos consul­
tou o jurisconsulto francês Cujas ou Cujácio, faleci­
do em 1590. O espirito de Cujas, evocado, proferiu
um parecer por escrito, opinando pela liquidez dos
direitos de Carlos Monteiro. Aconselhou-o, mesmo, a
demandar, garantindo-lhe que a vitória era certa.
Carlos Monteiro, louvando-se na ciência do es­
pirito, demandou com a Companhia Xicão e com o
coronel Manuel Alves de Lemos.
Resultado: O sr. Carlos perdeu a dem anda em
todas as instâncias.

O que prova que os desencarnados são


tão maus juristas com o m aus m é d ic o s ...

VII

Um m eio prático para contrabalançar a


propaganda espirita será opor m étodo a m é­
todo, dentro da perm issão de nossas leis.
As Ordens Terceiras, as Irm andades, as
Conferências de S. V icente de Paulo ç outras
instituições de caridade, poderiam , neste in­
tuito, organizar ambulatórios e serviços de
assistência m édica e farm acêutica dom ici­
liária.
— 398 ~
Assistência sanitária gratuita, correndo
as despesas com m édicos e farm acêuticos por
conta das Instituições C a tó lic a s...
Seria, até, preferível que as Ordens Ter­
ceiras e Irm andades cortassem nas suas des­
pesas com o esplendor do culto em beneficio
da salvaguarda da fé e da propaganda da re­
ligião de Cristo.
No interior, os vigários seguiriam o m es­
m o programa. Poderiam , de acordo com os
próprios m édicos, estudar um pouco de m edi­
cina prática c ser os m elhores auxiliares da
saudc pública, sem prejuizo da dignidade sa ­
cerdotal e sem prejuizo dos interesses dos
m édicos.
Meras sugestões, já se v ê . . .

VIII

A polícia deve saber que, em m uitas so­


ciedades espiritas, se está fazendo propagan­
da com unista velada. No “ Centro da Juven­
tude E spirita”, de São Paulo, largo do Ria-
chuelo, um de nossos colaboradores assistiu
à defesa de uma tese francam ente com unis­
ta. Ilouve debates. Alguns espiritas rebate­
ram a opinião do orador, m as outros acei­
taram -na sem restrição algum a.

IX

Acautelem -se os católicos contra os esta­


b elecim entos de caridade m antidos pelos es­
piritas. A caridade, é, apenas, um chamariz
— 399 —

de necessitados, que serão, em breve, conta­


m inados pelo v im s doutrinário.
O dem ônio, para enganar, inspira a fa ­
zer boas obras. Esse é o seu velho estrata­
gema.
E ’ um erro auxiliar, pecuniariam ente, as
instituições espiritas.
E ’ pecado grave dar o dinheiro para o
levantam ento e o custeio de hospitais e asilos
que servem de m eios para a destruição da
fé, a corrupção dos costum es e a perdição das
almas.

Para cúm ulo da hipocrisia, e em obedi­


ência aos estratagem as de Satanaz, é vezo
dos espiritas usurparem os nom es dos nos­
sos santos para o batism o dos seus Institutos:
“Abrigo T eresa de Jesú s”, “H ospital Vicente
de P a u lo ”, etc.
Por que é que não dizem “Asilo Camilo
F lam m arion ”, “Orfanato Conan D oyle”, etc.
P ensando bem, aí temos os espiritas con­
fessando que a sua doutrina não produz San­
tos. Os espiritas roubam os heróis da R eli­
gião Católica. Apresentem -nos os seus Santos.
A doutrina é a m oral dos santos católi­
cos estiveram em oposição absoluta com as
práticas espiríticas. Portanto, hom enageando
os nossos santos nas fachadas dos seus hospi­
tais e asilos, os espíritas confessam que a dou­
trina dos espíritos é falsa e que sua moral é
im oral. Para alguém ser santo tem de prati­
car a religião católica, receber os sacram en­
— 400 —
tos, confessar-se, com ungar, ouvir missas,
m orrer no seio da Igreja. Isto é que aceitam,
sem o pensarem , os espiritas.
É o dem ônio, forçado pela evidência,
clam ando a Jesús: “Vós sois o filho de D avi.”

XI

Nos grandes centros, sobretudo em São


Paulo e no Rio, há católicos dem asiado in ­
dulgentes no que diz respeito à religião es­
pirita.
Zeladoras do Apostolado da Oração as­
sistem a sessões espiritas e se dizem, inocen­
temente, espiritas católicas. Pode haver m aior
absurdo? É que não conhecem nem a doutri­
na católica nem a espirita. Cúmulo da igno­
rância !

XII

E’ nos escritores espiritas que encontramos


as m aiores acusáções contra a honra dos m é­
diuns. São “feiticeiros”, “ velh acos”, “rivais”,
“invejosos”, “ trapaceiros”, (438).
T om em nota os católicos á-fim -de não
se m eterem entre essa gente.

XIII

Cumpre evitar certos m odos de dizer to­


m ados da doutrina espirita. Católicos há que

(438) Cf. C. IMBASSAHT — Obra citad a, pgs. 181,


228. 348. 187, «tc.
— 401 —
d iz em : “Em outra encarnação eu farei isso,
evitarei aquilo.”
É fazer concessão tácita a respeito da m e­
tem psicose. Está errado. Para o católico não
h á reencarnação; só haverá a ressurreição
fin al, única e definitiva.

XIV

O espirita, em geral, não se converte.


T em o cérebro endurecido, a lógica transtor­
nada. Por isso, o com bate ao espiritism o há-
de ser m ais preventivo do que curativo. A
cam panha anti-espirita deve ser com o a cam ­
panha em preendida contra as doenças con­
tagiosas consideradas incuráveis, — a tuber­
culose, a m orféia, etc. D eve ser antes profi­
lática do que terapêutica.
F alc-sc, desde o púlpito, contra o perigo
do contágio. Fale-se aos católicos, não aos es­
piritas, aos sãos e não aos doentes.
Para que a cam panha surta efeito have­
m os m ister conhecim ento de causa. Não va ­
m os atribuir tudo a causas naturais, nem tu­
do ao demônio. No prim eiro caso, não se com ­
preenderia bem a razão do com bate nem a
razão por que a Igreja condenou repetida­
m ente a prática do espiritism o. A razão do
estudo c de pesquisa científica justificaria a
assistência a sessões espiritas. No segundo
caso, teriam os contra nós a psicologia, que ex­
plica quase todos os fenôm enos subjetivos.
- ^02 —

XV

Seria de todo conveniente que se instituis-


se nos Sem inários um pequeno Curso de Es­
piritism o, onde se estudassem as teorias, os
erros dogm áticos, os m eios de combate.
Nós chegam os a esta situação aparente­
m ente contraditória: temos de com bater o pa­
ganism o nas regiões não-pagãs, temos de pre­
gar Cristo aos cristãos. Podem os e devem os
auxiliar a cristianização da África e da Ásia,
m as não podem os afrouxar a re-cristianiza-
ção do Brasil.
Não basta rezar. N ão adianta lastim ar.
É preciso lutar.
Quem fin ge desconhecer a devastação
operada p elo espiritism o é porque não saiu
nunca de seus alcáçares, de suas casas, de
seus lazeres. N ão percorreu, com o nós, os
bairros pobres de S. Paulo e do Rio, nem
perlustrou o interior do país. N ão feriu o as­
sunto no seio de certas fam ílias elegantes
que, a-pesar-de tudo, ainda vão a m issas de
sétim o dia e ainda toleram a existência dos
sacerdotes católicos. (439).
EXORTAÇÃO FINAL

V ia o Apóstolo os prim itivos cristãos em ­


penhados num a luta perene contra os pode­
res que se m anifestam nos ares e não se can­
sava de anim á-los a que perseverassem na
lu ta :
“Mortos éreis em vossos crim es e peca­
dos, quando cam inháveis segundo o espírito
deste m undo, segundo o príncipe dos ares,
que ainda não cessa de operar entre os filhos
da d esob ediência.”
N ão ha negar. Poder som brio, horrível e
devastador vagueia em torno de nós. Príncipe
poderoso infesta os ares que respiram os e em
que nos m ovem os. Não c de carne e osso, esse
príncipe. N ão tem a form a que os poetas lhe
em prestam e com que o vestem os pintores.
Invisível, age assim m esm o por toda parle.
T em m ilhares de fauces e m ilhares de olhos.
Servem -no m inistros sem conta, ásseclas de
todos os m atizes; por m eio deles, espreita-
nos, arm a-nos insídias, procura perder-nos
em todos os instantes.
Riem -se os hom ens deste nosso linguajar.
Com ares de “ilum in ados” asseveram que no
“século das lu zes” já não há lugar para o es­
pirito das trevas.
Mas enganam -se. Descrendo do poder in-
— 404 —
visivel, tornam -se as prim eiras vítim as do
Dragão Infernal. A m ais retum bante vitória
de Satanaz, nos tem pos que correm, é esta:
fazer crer aos hom ens que ele, — Satanaz, —
não existe.
Como disse GOETHE, esse profundo co­
nhecedor dos homens,

“Não percebe a gentinha ao diabo,


Inda que a tenha toda no g a s n e te ...”

Os surtos do pensam ento hum ano confir­


m am as verdades em que, de pequeninos, fo ­
m os instruídos nas aulas de História Sagrada.
O cepticism o sistem ático não m odifica o
curso das coisas. Conforme disse Fenelon, no
T elêm aco, as coisas são com o são e não como
querem os que sejam .
Queira ou não queira o MATERIALISMO
m oderno, as Sagradas Letras não deixam , por
isso, de atestar a sinistra atividade da “ ser­
p en te”, do “ hom icida desde o in ic io ”, do “ ad­
versário nosso que, leão fam into, nos anda
farejando, buscando quem d evore.”
E Crisio, o nosso amigo, nos está sem pre
alertando, não venham os a cair nas m alhas
do “inim icus h om o” que, pelas caladas da
noite, sorrateiro e m anhoso, sói espalhar a
erva daninha no cam po das almas.
A História da Igreja atesta a ação oní-
m oda de Satanaz, esse Proteu real e perver­
so. Uma das m anifestações de sua atividade
foi e será sem pre concretizada na form a c!c
heresias. A heresia é o joio abafador da se­
m ente divina, plantada por Cristo no terreno
das alm as boas e generosas.
— 405 —
O INIMIGO não dorme. Quando uma he­
resia se desvanece, ele suscita outras.
Aí está a últim a em ordem cronológica:
o ESPIRITISMO. Os seus fautores foram uns
viciados. Os seus crentes são, via de regra,
hom ens nevrosados, — alm as doentias que re­
negam os ensinam entos de Cristo e despre­
zam as norm as da SÃ RAZÃO.
Leitores! Estai alerta. Não vos deixeis co­
lher nas redes do Grande Sofista, cujos argu­
m entos capciosos tanto se traduzem na elo­
quência de um m édium com o no h álito de
uma serpente.
N unca podereis prescindir daquele que c
“ o Caminho, a Verdade e a V ida.” Não podeis
passar sem Cristo, assim nas horas amargas
com o nos m om entos de alegria.
Quereis baralhar os ensinam entos dos
Evangelhos com as m ensagens do Inferno?
E ’ o que m uitos estão fazendo. Contemplai,
porem , vós-outros, o olhar tão m eigo de Jesús
e ouví-lhe a q ueixa dorida e an sio sa :
“E vós? Quereis tam bem deixar-m e?”
N ão! Como Pedro, com o todas as alm as
bem nascidas, com o todos os predestinados,
respondei do im o do p eito:
“ SENHOR! PARA ONDE IREMOS NÓS?
Vós tendes palavras de VIDA ETERNA.”

O. A. M. D. G.

Você também pode gostar