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100 ngedore vila Koch + Vande Mana Eas ‘Como vemos, a hist6ria em quadrinhos, produzida por Mauricio de Sousa ¢ intitulada “Contra-de-fadas’, se constitui com base em quatro famosos contos infantis: “Cinderela”; “Joao € o Pé de Feijao”; “Branca de Neve" € “Os Trés Porquinhos’. © conhecimento desses textos, em associagio com o conhecimento sobre as personagens criadas por Mauricio de Sousa, especificamente a personagem “do Contra’, que justfica 0 titulo e orienta a producao de sentido, é de fundamental importincia na atividade de leitura e construcao de sentido do novo texto. Além disso, outros conhecimentos devem ser ativados no processo de compreensio, conforme vimos no capitulo 2: * conhecimento da lingua, especialmente no que se refere ao uso da ppalayra “contra”, considerando sua classe gramatical e suas acepdes; * conhecimento das coisas do mundo, especialmente no que se refere & caracterizagao de um modo de ser, viver e pensar em um mundo diferente ao dos contos de fada; * conhecimento do modo de organizacao, es © propésito ‘ional das hist6rias cm quadrinhos, especialmente cm se tratando das producdes do Grupo Mauricio de Sousa, mai especificamente quando giram em torno da personagem do Contra, 5 Géneros textuais Na constituigio dos capitulos anteriores, estivemos expostos ~ nos capitulos seguintes, também estaremos — a textos diversos: historia em quadrinhos, tirinha, charge, crOnica, miniconto, fibula, poesia, anGncio, _ artigo de opiniio, artign de divulgacio cientifica, piada, bula, horéscopo, dentre outros. No processo de leitura e construgao de sentido dos textos, levamos em conta que a escrita/fala baseiam-se em formas padrao € relativamente estiveis de estruturacdo € € por essa razio que, cotidianamente, em nossas atividades comunicativas, sto incontivei as vezes em que no somente lemos textos diversos, como também produzimos ou ouvimos enunciados, tais como: “escrevi uma carta % “recebi oe-mail”, “achei oantincto interessante’, “o.artigo apresenta argumentos consistentes”, “fiz oresumo do livro”, ‘a poesia é de um autor desconhecido”, “li 0 conto”, “a piada foi boa’, “ que tirinba engracada"l, “alista é numerosa” a lista € numerosa mesmo!!! Tanto que estudiosos que objetivaram © Ievantamento € a classificagao de géneros textuais desistiram de fazé-lo, em parte porque os géneros existem em grande quantidade, em parte porque os géneros, como priti dindmicos ¢ sofrem variagdes na sua constituicao, que, em muitas ocasides, resultam em outros géneros, novos géneros. Basta pensarmos, sociocomunicativas, Sto 102 ingedore vila Koch» Vande Mari has Por exemplo, no e-mail ou no blog, prit decorrentes das iS sociais © comunicativas ariagdes (“transmutacdes") da carta e do didrio, Fespectivamente, propiciadas pelas recentes invencdes tecnol6gicas. Sobre a nossa atividade comunicativa e, portanto, a constituigio dos ‘géneros, Batt (1992:301-302) afirma que: Para falar, utilizamo-nos sempre dos géneros do discurso, em outras plavras, todos os nossos enunciados dispdem de uma forma padrao e relativamente estavel de estruturago de um todo. Possuimios um rico repert6rio dos géneros do discurso orais (eescritos). Na pritica, usamo- los com seguranga e destreza, mas podemos ignorar totalmente a sua existéncia te6rica [..). (grifos do autor) Fundamentada na afimacio do autor, Koci (2004) defende a idéia segundo a qual os individuos desenvolvem uma competéncia metagenérica que Ihes possi ‘medida em que se envolvem nas di interagir de forma conveniente, na ‘etsas priticas sociais, sssibilita a produgao e a compreensio de € até mesmo que os denominemos, contorme explicamos no parigrafo inicial e reiteramos, agora, com o texto 1, cujo enunciado destaca a denominagao do género “curriculo”, e, com 0 texto 2, em que na “fala” do garoto rev géneros textuai se a denominacio ao genero textual “recado” produzido em suporte nio esperado — a parede ~, para desaprovacio do pai. V Texto 1 ERR Ta we § MO S6 ésceev NO EU AL cuineicuio ave Sov *ALTAMEN- DD TECRIATIVOS, Como inveNTE) © CURRICULO INTEIRO Fonte: 0 Estado de 5 Paula, 104 2005, Lerecempender 103 Fonte: Fea de Saul, 24st. 2005 Como vemos, se, por um lado, a competéncia metagenérica orienta a producto de nossas priticas comunicativas, por outro lado, € essa mesma competéncia que orienta a nossa compreensio sobre os generos textuais efetivamente produzidos. Para exemplificar que essa competéncia € de fundamental importancia para a produgao de sentido do texto, selecionamos 0s textos a seguir. Texto 3 \érica nos Em relagio ao texto 3, a seguir, nossa competéncia metag diz que, por sua composicio, contetido, estilo, propdsito comunicacional e modo de veiculagio, estamos diante do género propaganda, constituido sob a forma de outro género: (iilavias[eruzadas. | cRUZADAS 104 ngedore vias Koch + Vandy Mari las Texto 3 none 2 ama tarde gor Bs re a vires ere eee sot BE rata a Hh a ic Pode imaginar. Aqui tem, Fonte: Revista Va S80 Pao: Abi, ed 1929, 0 442 nw 2005, finda ) Lrecompresnder 105 no texto 4, é de competéncia 4 part a produgio de sentido, uma vez que estamos diante de uma charge que revela em sua constitui¢ao o género “piada” em dois momentos: primeiro, pelo efeito de riso produzido por um parte do rependrio de piadas”; segundo, >, de um enunciado que, na seqiiéncia, andamental inportinci enunciado que “passou a f pela apresentacao, apés o anuncia outra pi porém, situada em ym quadro (re}conhecido, esperado: trata-se de uma piada de portugues. A nogao de competéncia metagenérica ~¢ de sua importincia para a produgao/compreensio de textos ~ estéi implicitada no ponto de vista de Baksmy (1992:301-302), segundo o qual: Na conversa mais desenvolta, moldamos nossa Fala &s formas precisas de _géneros, as vezes padronizados e estereotipados, 3s vezes mais maleaveis, ‘ais plisticos e mais criativos. (...] Aprendemoss a moldar nossa fala 2s formas do género ¢, a0 ouvir a fala do outro, abemos de imediato, bem

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