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Escola Estadual de Ensino Médio Ruy Barbosa

Lucas Ketzer dos Reis

A VIDA E OBRA DE GEORGE ORWELL

Ijuí
2017
Lucas Ketzer dos Reis

1984: A GRANDE COMPOSIÇÃO DE GEORGE ORWELL

Trabalho solicitado pela disciplina de


literatura, sob orientação da professora:
Vanusa Reis.

Ijuí
2017
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 4
2. O AUTOR: GEORGE ORWELL ......................................................................................... 5
2.1. Vida ............................................................................................................................... 5
2.2. Obra ............................................................................................................................... 8
3. 1984 ..................................................................................................................................... 11
3.1. Um breve resumo da obra ........................................................................................... 12
3.2. Análise da obra ............................................................................................................ 13
4. CONCLUSÃO .................................................................................................................... 17
BIBLIOGRAFIA......................................................................................................................... 18
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1. INTRODUÇÃO

George Orwell foi um autor conhecido por muito mais do que sua incomparável e
exímia habilidade de escrever – o mesmo tornou-se conhecido principalmente pela sua
capacidade de denunciar as malezas sociais encontradas na sociedade do séc. XX de
maneira compreensível ao homem comum, fato que se deve a incrível visão que o
mesmo possuia sobre o funcionamento da sociedade da época. Um grande
influenciador, suas obras como “A Revolução dos Bichos” e “1984” ainda possuem
grande peso para a política e para a cultura atual – o que é provado pelo fato de termos
como “orwelliano” serem presentes no léxico popular. Caracterizado pela sua total
aversão ao totalitarismo e pela sua sagacidade ao escrever, Orwell era dotado de uma
tremenda imparcialidade, o que é comprovado pela sua denúncia feita ao socialismo
soviético – que foi produzida ainda que o mesmo defendesse o socialismo democrático.
Uma de suas obras que merece o maior destaque é o livro “1984” – romance
distópico situado num mundo dominado por governos totalitaristas, aclamado pela
crítica como um dos maiores romances da história, e usado como referência para criticar
regimes ditatoriais até hoje. O objetivo deste trabalho não é apenas dar o devido
prestígio ao assombroso talento de tal autor e ovacionar um de seus maiores livros –
através deste trabalho, busca-se fazer uma profunda análise da relação entre o livro e a
política do mundo real, e também buscar na vida do autor o que poderia tê-lo levado a
escrever sobre tal tema – além de, claro, conhecer a história e o legado desse fantástico
homem.
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2. O AUTOR: GEORGE ORWELL

George Orwell é, na verdade, o pseudônimo de Eric Arthur Blair – nascido em


1903 e falecido em 1950 – conhecido principalmente pela autoria das obras “1984” e “A
Revoulção dos Bichos”. Com uma vasta gama de experiências, as quais serviram de
fonte de inspiração para obras como “Na Pior em Paris e Londres” e “Lutando na
Espanha”, o autor viveu de modo errôneo e instável, mas sempre tendo em mente o seu
principal objetivo – tornar-se um grande escritor. Através do estudo de sua vida, que o
levou desde a Índia e Birmânia até a Espanha, Paris e Inglaterra, torna-se possível fazer
uma meticulosa análise do porquê de suas obras possuírem um forte tom revolucionário
e anti-totalitarista, e do que o mesmo buscava através da publicação destas.

2.1. Vida

Eric Arthur Blair nasceu em 25 de junho de 1903 em Motihari, parte da colônia de


Bengala – na época, domínio da Índia Britânica – onde atualmente se encontra o distrito
de Champaran Oriental, estado de Bihar da República da Índia. Apesar de ter origens
aristocráticas – seu bisavô era um escocês rico radicado na Inglaterra, casado com Lady
Mary Fane, filha do 8º Conde de Westmorland – seu avô havia sido um clérigo da Igreja
Anglicana, não herdando a fortuna da família, considerando que o próprio Eric definia
sua família como sendo de classe média-alta inferior. Seu pai, Richard Walmesley Blair,
trabalhava no Departamento de Ópio do Serviço Civil Indiano – agência do governo
britânico que regulava o serviço público na colônia – e sua mãe, Ida Mabel Limouzin-
Blair, era francesa. Ele teve duas irmãs: Marjorie e Avril. Ao primeiro ano de idade,
Eric mudou-se com a mãe para a Inglaterra.
Aos cinco anos, Eric começou a frequentar o internato em Henley-on-Tahmes, um
convento católico comandado por irmãs Ursulinas francesas. Sua mãe queria que ele
estudasse em uma escola privada, e por a família não possuir dinheiro, foi necessário
que o mesmo conseguisse uma bolsa de estudos – com esse propósito, a mãe de Eric
pediu ao seu irmão, Charles Limouzin, um habilidoso jogador de golpe, que entrasse em
contato com o diretor da melhor escola possível para prepará-lo para o futuro. Sendo
assim, Charles entrou em contato com o diretor da Escola de São Cipriano através do
Eastbourne Royal Golf Club, fazendo com que o diretor desse permissão aos pais de
Eric para que pagassem somente metade das taxas. Ele odiou a escola – como
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demonstra o ensaio postumamente publicado “Such, Such Were the Joys” que teria sido
baseado em suas experiências nela. Apesar das más experiências, na escola ele
conheceu Cyril Conolly, que publicou muito dos ensaios de Orwell na revista Horizon.
Eric escreveu dois poemas enquanto esteve na instituição, que foram publicados no
Henley and South Oxfordshire Standard – um jornal local – e ficou em segundo lugar
no Prêmio de História Harrow, tendo seu trabalho elogiado pelo examinador externo da
escola e ganhando bolsas de estudo para o Wellington College e o Eton College, dois
internatos ingleses de grande destaque.
Após um certo tempo estudando em Wellington, em 1917 Eric tornou-se um
“bolsista do rei” em Eton, onde permaneceu até 1921. Seu tutor era A.S.F Gow,
companheiro do Trinity College em Cambridge, que permaneceu sendo um conselheiro
durante sua carreira, e ele também teve como professor de francês o célebre escritor
Aldous Huxley – conhecido por ter publicado o romance distópico “Admirável Mundo
Novo”, muitas vezes comparado a “1984” – que o parabenizou através de uma carta pela
publicação do livro “1984”. Após um certo tempo, foi decidido que Eric deveria fazer
parte da Polícia Imperial Indiana, e para tal fim, o matricularam num curso preparatório
chamado Craighurst, onde ele estudou arte e culturas clássicas, Inglês e História. Eric
passou no exame, ficando com a sétima colocação entre 27 classificados.
Considerando o fato que sua avó e alguns outros parentes moravam em
Moulmein, Eric decidiu trabalhar na Birmânia, navegando a bordo do SS Herefordshire
em outubro de 1922 com o propósito de assumir seu posto na Polícia Imperial Indiana
em Birmância. Após um mês, encontrou-se em Rangum, e partiu rumo a Mandalay,
onde se encontrava a escola de formação policial, e após uma curta passagem por
Maymyo – principal posto policial das montanhas de Birmânia – foi enviado no início
de 1924 para o posto fronteiriço de Myaungmya. Enquanto policial imperial, o jovem
Orwell teve uma quantia consideravelmente grande de responsabilidades – enquanto
oficial subdivisional em Twante, ele se tornou responsável pela segurança de cerca de
200.000 pessoas. No final de 1924, Orwell foi promovido a Assistente de
Superintendente Distrital e enviado para Sirião, em 1925 foi mandado para Insein e em
1926 retornou a Moulmein, mudando-se para a cidade. No final de 1926, foi para
Katha, onde em 1927 contraiu dengue, retornando a Inglaterra mais cedo. Enquanto
esteve de licença na Inglaterra, reavaliou sua vida – chegando a conclusão que seu
tempo servindo como policial imperial o levou a desprezar o imperialismo, demitindo-
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se da Polícia Imperial Indiana. Suas experiências como policial imperial inspiraram os


romances “Dias na Birmânia” e os ensaios “A Hanging” e “Shooting an Elephant”.
Já na Inglaterra, Eric acomodou-se na casa da família em Southwold, e após
reencontrar-se com seu antigo tutor Gow na Universidade de Cambrigde para pedir
conselhos sobre como se tornar um escritor, decidiu se mudar para Londres. No final de
1927, graças a Ruth Pitter – um amigo da família – ele havia se mudado para um quarto
em Portobello Road. Pouco tempo após se mudar para Londres, Eric começou a fazer
expedições exploratórias na favelas de Londres – seguindo o exemplo de Jack London,
um autor pelo qual possuia grande admiração – chegando a passar noites em casas de
alojamento popular e vivendo como um mendigo. Ele usou tais experiências na pobreza
como fonte de inspiração literária, registrando-as em “The Spike” – seu primeiro ensaio
publicado – e em “Na Pior em Paris e Londres”.
Em 1928, foi-se a Paris, onde o custo de vida razoavelmente baixo e o estilo de
vida boêmio o atraíram. Sua tia Nellie Limouzin morava em Paris, e lhe fornecia auxílio
social e econômico quando necessário. Apesar de ter escrito alguns romances na época,
apenas “Dias na Birmânia” sobreviveu a esta época. Tendo mais sucesso como
jornalista, publicou muitos artigos no Monde, G.K’s Weekly e Le Progres Civique.
Adoeceu gravemente em março de 1929, e pouco tempo depois teve todo o seu dinheiro
roubado da casa de hospedagem, forçando-o a – por necessidade ou por fins literários –
realizar trabalhos domésticos, como lavador de pratos num hotel de luxo na Rue de
Rivoli, fatos que foram registrados em “Na Pior em Paris e Londres”.
Com o início da Guerra Civil Espanhola em 1936, Orwell decidiu se juntar à luta
no POUM (Partido Operário de Unificação Marxista), uma milícia de marxistas
centristas contra Francisco Franco e seus aliados Mussolini e Hitler. Após ser atingido
no pescoço e tendo suas cordas vocais danificadas, retirou-se para a Inglaterra,
publicando em 1938 o livro “Lutando na Espanha”. Em 1939, com o início da II Guerra
Mundial, Orwell passa a escrever para alguns jornais como o The Observer e a BBC
(The British Broadcasting Company) onde o mesmo também atuou na radiodifusão.
Descontente com os rumos que o comunismo soviético havia tomado, publicou resenhas
políticas como “Inside the Wale”, “Critical Essays” e “Shooting an Elephant”, mas
nestas críticas é o livro “A Revolução dos Bichos” que se torna destaque principal.
Em 1950, um ano após a publicação de “1984”, George Orwell morreu vítima de
tuberculose, em Londres, aos 46 anos de idade. Solicitou um funeral de acordo com os
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ritos anglicanos, sendo enterrado na All Saint’s Churchyard, Sutton Courtenay,


Oxfordshire.

2.2. Obra

As obras de George Orwell são caracterizadas por uma forte consciência social,
uma esperteza perspicaz e bem-humorada e principalmente pela total oposição ao
totalitarismo e um forte gosto pela clareza de escrita. O gênero literário dessas são, em
geral, distopia, roman à clef e sátira. Foi considerado o melhor cronista da cultura
inglesa do século XX, e seus romances “1984” e “A Revolução dos Bichos” venderam
juntos mais cópias do que os dois livros mais vendidos de qualquer outro escritor do séc
XX. O jornal The Times classificou-o em segundo lugar em uma lista de “Os 50 maiores
escritores britânicos desde 1945”. Escrevia, além de romances, ensaios, críticas
literárias, poesias, ficção e jornalismo polêmico. Sua escrita possui uma forte influência
na cultura atual, visto que termos como “orwelliano” – palavra usada para descrever
práticas autoritárias ou totalitárias por parte dos governos – e muitos outros cunhados
por ele próprio foram introduzidos no glossário popular.
Os escritores que ele mais admirava, de acordo com sua obra autobiográfica,
foram Shakespeare, Jonathan Swift, Henry Fielding, Charles Dickens, Charles Reade,
Gustave Flaubert, James Joyce, T.S. Eliot e D.H. Lawrence, mas o autor que mais teria
influenciado o seu estilo é W. Somerset Maugham. Outro autor muito admirado por
George era Jack London, cujo estilo inspirou algumas de suas obras baseadas em
experiências pessoais, como “Na Pior em Paris e Londres” e “A Caminho de Wigan”.
Orwell publicou, no total, 647 obras: 3 livros, 6 romances, 556 artigos, 5 contos,
37 coleções, 7 panfletos, 18 poemas, 1 peça de teatro, 4 roteiros, 5 diários, 5 cartas e
participou da edição de 2 livros, 1 periódico e 2 jornais. Seus magna opera são os
romances “1984” (1949) e “A Revolução dos Bichos” (1945). Algumas outras de suas
obras que merecem destaque:
Romances:
 Dias na Birmânia (1934);
 A Filha do Reverendo (1935);
 A Flor da Inglaterra/Matenha o Sistema/Moinhos de Vento (1936);
 Um Pouco de Ar, Por Favor! (1939).
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Obras baseadas em experiências pessoais:


 Na Pior em Paris e Londres (1933);
 A Caminho de Wigan (1937);
 Lutando na Espanha (1938).
Ensaios, artigos e outros escritos:
 The Spike (1931);
 A Hanging (1931);
 Shooting an Elephant (1936);
 Bookshop Memories (1936);
 Charles Dickens (1939);
 Boys’ Weeklies (1940);
 Inside the Whale (1940);
 The Lion and The Unicorn: Socialism and the English Genius (1941);
 Wells, Hitler and the World State (1941);
 The Art of Donald McGill (1941);
 Rudyard Kipling (1942);
 Looking Back on the Spanish War (1943);
 W.B. Yeats (1943);
 Benefit of Clergy: Some notes on Salvador Dali (1944);
 Arthur Koestler (1944);
 Raffles and Miss Blandish (1944);
 Notes on Nationalism (1945);
 How the Poor Die (1946);
 A Nice Cup of Tea (1946);
 The Moon Under Water (1946);
 Politics vs. Literature: An Examination of Gulliver’s Travels (1946);
 Politics and the English Language (1946);
 Second Thoughts on James Bumham (1946);
 Decline of the English Murder (1946);
 Some Thoughts on the Common Toad (1946);
 A Good Word for the Vicar of Bray (1946);
 In Defence of P.G. Wodehouse (1946);
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 Why I Write (1946);


 The Prevention of Literature (1946);
 Such, Such Were the Joys (1946);
 Lear, Tolstoy and the Fool (1947);
 Reflections on Gandhi (1949).
Poemas:
 Romance;
 A Little Poem;
 Awake! Young Men of England;
 Kitchener;
 Our Minds are Married, but we are Too Young;
 The Pagan;
 The Lesser Evil;
 Poem from Burma.
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3. 1984

O magnum opus de George Orwell, que ao lado de “A Revolução dos Bichos” o


tornou mundialmente famoso, é um romance distópico que se passa no ano de 1984,
onde todos os governos tornaram-se totalitários. A trama em si se passa na Pista de
Pouso 1 – no passado conhecida como Grã-Bretanha – província do superestado da
Oceania, onde um governo totalitário tem total controle sobre a sua população.
Escolhido em 2005 pela revista Time como um dos 100 melhores romances da língua
inglesa de 1923 a 2005, foi também premiado com um lugar em ambas as listas da
Modern Library de 100 melhores romances e em 2003 o livro foi listado em oitavo
lugar na pesquisa da The Big Read da BBC. Os neologismos criados por Orwell na
trama – como Grande Irmão, duplipensar, crime de pensamento, novafala/novilíngua,
sala 101, teletela e 2+2=5 – entraram no vocabulário popular facilmente para adjetivar
comportamentos ditatoriais por parte de governos ou instituições sociais. O livro, de
acordo com ele, foi concebido como uma mostra das deturpações parcialmente
realizadas pelo comunismo e pelo fascismo.
Devido a grande fama que a obra obteve, foram feitas duas adaptações
cinematográficas: uma realizada por Michael Anderson em 1956 e outra por Michael
Radford no ano de 1984. Dois anos antes da primeira adaptação cinematográfica (1954)
a BCC realizou uma adaptação televisiva do romance – questionado no Parlamento e
recebedor de reclamações de telespectadores devido a seu conteúdo supostamente
subversivo e de natureza perversa. Além das adaptações cinematográficas, o livro
também foi adaptado para o formato de ópera, tendo estreado na Royal Opera House em
3 de maio de 2005, e para o teatro, realizada por Robert Icke e Duncam Macmillan,
tendo estreado no dia 13 de setembro de 2013 no Teatro de Notthingam.
Na cultura popular, muitas referências foram feitas a obra: no albúm Diamond
Dogs, de David Bowie, a música We Are the Dead presta uma homenagem ao livro. O
reality show Big Brother¸ desenvolvido pelo holandês Jonh de Mol é uma referência ao
personagem do Grande Irmão de 1984. A HQ V de Vingança¸ criada por Alan Moore e
desenhada por David Lloyd tem inspiração na obra, considerando que a mesma também
trata de uma sociedade distópica na Inglaterra do futuro – tendo inclusive alguns
aspectos do governo fictício semelhantes ao criado por Orwell, e o personagem V,
assim como Winston, tem ideais anárquicos e românticos. O filme Equilibrium se passa
numa sociedade distópica do futuro e apresenta algumas semelhanças na composta por
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Orwell em 1984. O jogo de computador Half-Life 2 apresenta grandes similaridades


com o livro, já que este apresenta uma resistência lutando contra o domínio totalitário
de uma raça alienígena sobre os humanos, controlados a partir da manipulação da
informação, controle da fertilidade e outros aspectos presentes no livro.

3.1. Um breve resumo da obra

No ano de 1984, na Pista de Pouso Número 1 – antiga Grã-Bretanha - , província


do superestado da Oceania – que é controlado pelo regime totalitário do Grande Irmão,
pertencente a ideologia Socing (socialismo inglês) e um seleto grupo de membros da
instituição chamada O Partido – Winston Smith, um membro do Partido Externo –
camada inferior do governo totalitarista – que trabalha no Ministério da Verdade, órgão
responsável pela manipulação de informações, passa a questionar o regime ditatorial
estabelecido devido a uma série de incoerências históricas e pessoais que ele encontra.
Atormentado por um constante medo devido a presença universal de teletelas –
dispositivos utilizados pelo governo para transmitir propaganda e ao mesmo tempo
monitorar a vida de seus cidadãos – Winston começa a ficar paranóico, tentando buscar
por alguém que pense igual a ele de maneira silenciosa.
Após um certo tempo, Winston passa a desconfiar que O’Brien, um membro do
Partido Interno – camada privilegiada do governo totalitarista, que representa cerca de
2% de seus membros – compactua secretamente com seus ideais, e também passa a se
envolver amorosamente com Júlia, uma colega de trabalho – num mundo onde o sexo
sem fins reprodutivos é proibido – e passa a se encontrar com ela fora do horário de
trabalho. Após algum tempo frequentando uma loja de antiguidades proleta – camada
mais baixa da sociedade – eles determinam aquele como seu ponto de encontro secreto,
e algum tempo depois disso, vão atrás de O’Brien para que possam confirmar se o
mesmo era ou não fiel ao Partido. Ambos encontram-se com O’Brien, que lhes revela a
verdade sobre a Confraria – uma instituição revolucionária supostamente liderada por
Emmanuel Goldstein, antigo membro do partido considerado como o primeiro traidor
de todos – e diz fazer parte dela, oferecendo a eles um convite para juntar-se a ela.
Ambos juntam-se a Confraria, e ganham “o livro” que teria sido escrito por Goldstein,
revelando toda a verdade sobre o regime.
Após descobrirem uma série de informações sobre o regime, Winston e Júlia
descobrem que na verdade o dono da loja de antiguidades fazia parte da Polícia das
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Idéias – força do Ministério do Amor, que é responsável pela espionagem e controle da


população, que observa os cidadãos em busca de sinais de inortodoxia – e ambos são
presos, descobrindo que estavam sendo observados o tempo todo, e que O’Brien na
verdade queria convertê-los novamente ao regime. Ambos são levados até a sede do
Ministério do Amor, onde são torturados intensamente e sofrem uma lavagem cerebral
executada por O’Brien. O’Brien leva Winston para a sala 101 – onde os torturadores do
Ministério do Amor torturam os dissidentes com os seus piores medos – e força Wiston
ao ponto de fazê-lo renegar o seu amor por Júlia e mandar com que O’Brien a torturasse
com o seu pior medo – ratos – para que ele não sofresse com tal ato. Ao final, Júlia e
Winston passam a se odiar, ambos tornam psicológica e fisicamente irreconhecíveis,
tem seus antigos nomes apagados dos registros e vivem uma nova e deturpada vida.
Winston passa a ser fiel ao partido, e a amar o Grande Irmão – assim como Júlia.

3.2. Análise da obra

Para melhor compreender a relação entre 1984 e a sociedade atual – e da época


em que o livro foi lançado – é fundamental que alguns conceitos da obra,
principalmente aqueles referentes ao sistema político apresentado nesta, sejam
esclarecidos: tanto para melhor compreensão do resumo do livro quanto para que torne-
se possível estabelecer conexões com regimes governamentais totalitários que existem
ou existiriam. São estes:
 Grande Irmão: originalmente chamado de Big Brother, trata-se da
principal figura do regime totalitário presente no livro. A ele é atribuído
um forte culto de personalidade com o intuito de associar a sua figura ao
sucesso da revolução, e consequentemente, a “necessidade” que se tem na
existência do Partido criado por ele.
 Partido: é a instituição governamental criada pelo Grande Irmão com o
intuito de controlar a população. Dividida em duas camadas: o Partido
Externo – que é composto por 13% da população de Oceania – e o Partido
Interno – que corresponde a 2% da população de Oceania. O restante da
população são os proles, que não são membros do Partido, e portanto
vivem na miséria e são tratados por membros do partido como seres
inferiores. Além dessas divisões, o Partido possui 4 instituições associadas
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a ele com funções específicas dentro do regime político, chamadas


Ministérios.
 A Revolução: Movimento político iniciado em meados do séc. XX pelo
Grande Irmão e outros ex-membros do Partido – como Emmanuel
Goldstein – que derrubou o sistema capitalista vigente na época para que o
Socing – socialismo inglês em Novafala – fosse implantado.
 Emmanuel Goldstein: ex-membro do Partido, considerado o primeiro
contrarrevolucionário ou primeiro traidor pelo Partido. Suposto líder da
facção revolucionária “A Confraria”
 A Confraria: instituição revolucionária que busca derrubar o governo do
Grande Irmão.
 Oceania, Eurásia e Lestásia: são as três grandes nações, que possuem
condições socio-econômicas e políticas semelhantes, e têm mais ou menos
o mesmo poderio bélico. A Oceania, maior dos impérios, governa toda a
Oceania, América, Islândia, Reino Unido, Irlanda e grande parte do sul da
África; a Eurásia, segundo maior império, governa toda a Europa – com
exceção dos países controlados por Oceania – quase toda a Rússia e
pequena parte do resto da Ásia; a Lestásia é o menor império, e governa
países orientais como China, Japão, Coreia, parte da Índia e algumas
nações vizinhas. O restante do território mundial vive sob constante
disputa, mudando frequentemente de nação. As 3 nações estão em estão
em estado permanente de guerra, e em muitas vezes duas delas formam
uma aliança para combater a outra restante.
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O mapa-mundi em 1984. Em rosa, as áreas dominadas pela Oceania, em laranja, a


Eurásia e em verde, a Lestásia. As áreas em bege tratam-se das áreas sob disputa.

 Ministérios: são instituições governamentais que tem funções específicas


dentro do sistema político. São eles: Ministério da Verdade – responsável
pela manipulação histórica, pela educação e pelo entretenimento -,
Ministério da Paz – responsável pela guerra -, Ministério do Amor –
responsável por manter a lei e a ordem e pela perseguição de dissidentes
políticos – e Ministério da Pujança – responsável por questões
econômicas. Seus nomes em Novafala, respectivamente: Miniver,
Minipaz, Minamor e Minipuja.
 Novafala/novilíngua: linguagem adotada pelo governo de Oceania com o
intuito de substituir os idiomas usados antes da Revolução realizada pelo
Grande Irmão, dificultando assim a disseminação de idéias que possam ser
consideradas subversivas pelo governo.
 Socing: socialimso inglês em Novafala, ideologia oficial adotada pelo
governo da Oceania. Possui alguns princípios conservadores e ditatorias,
como a proibição ao sexo que não tenha propósito puramente reprodutivo
e o repúdio a sentimentos e instituições como o amor e a família.
Caracterizada pelo culto de personalidade ao grande irmão e a obediência
inquestionável a seus princípios, definindo como pensamentocrime
qualquer ideal que vise questionar ou derrubar o governo do Grande
Irmão.
 Pensamentocrime: palavra em Novafala que define qualquer pensamento
subversivo que contrarie o regime estabelecido pelo Grande Irmão.
 Duplipensar: palavra em Novafala que define o ato de aceitar, ao mesmo
tempo, duas crenças que se contradizem ou se excluem como verdadeiras.
Principal meio usado pelo governo para manipular informações.
 Teletela: televisor bidirecional (que transmite e capta imagens e sons ao
mesmo tempo) usado pelo Ministério do Amor para vigiar constantemente
seus cidadãos. As teletelas estão presentes na casa de todos os membros do
Partido e em seus ambientes de trabalho, sendo ausentes apenas no
território dos proles. Também é notável que seu uso é o principal agente
usado para captar medos pessoais dos cidadãos de Oceania a serem usados
nas torturas na Sala 101.
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 Polícia das Ideias: subdivisão do Ministério do Amor responsável por


prender, torturar e converter dissidentes.
Os métodos utilizados pelo governo fictício para controlar a sua população podem
ser identificados em muitos regimes ditatoriais da realidade – como o stalinismo -,
mostrando que Orwell buscava mais que escrever um mero romance – ele buscou
escrever um alerta acerca dos perigos de se permitir que um governo comece a se tornar
totalitário. Stalin, Hitler e Churchill foram algumas das figuras que inspiraram a criação
do personagem Grande Irmão. O livro aborda principalmente questões envolvendo a
liberdade de expressão e sobre como a inércia popular pode levar a um estado de
dominação permamente – como a falta de livros na sociedade e da capacidade de
lembrar do passado das personagens demonstra.
Outro ponto primordial do livro é o da manipulação de informações e das massas
populares em si, demonstrada em diversos momentos no livro – como a Loteria, um
jogo de apostas organizado periodicamente pelo Ministério da Pujança para que os
proles mantenham-se controlados; a Novafala, que busca reduzir o escopo de
pensamento cortando palavras que possam caracterizar pensamentocrime; o Ministério
da Verdade, que “corrige” ou simplesmente anula completamente quaisquer registros
históricos que contradigam previsões ou atos realizados pelo Partido e pelo Grande
Irmão; os Dois Minutos de Ódio, onde toda raiva da população é dirigida a Emmanuel
Goldstein para que não se revoltem contra o Grande Irmão, entre uma série de outros
exemplos.
Através da análise de tais temas abordados no livro, pode-se chegar a conclusão
de que Orwell busca demonstrar a importância da liberdade de expressão não só para
que o mundo seja mais justo, mas para que também a saúde mental e a felicidade do ser
humano prevaleça. Segundo Orwell (1949, p. 101, grifo do autor) “Liberdade é a
liberdade de dizer que dois mais dois são quatro . Se isso for admitido, tudo o mais é
decorrência.”, mostrando que além de valorizar a liberdade acima de tudo, ele também
salientava o valor da capacidade de poder falar a verdade sem medo de ser reprimido.
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4. CONCLUSÃO

George Orwell, um dos maiores – se não definitivamente o maior - cronista inglês


e autor distópico do séc. XX, conseguiu através de suas obras inspirar o espírito
revolucionário e anti-totalitário nos corações de muitos. Renegando a vida aristocrática,
passou por meio de suas obras o sofrimento da classe baixa européia e as mazelas do
imperialismo, demonstrando a importância da busca por uma sociedade equânime e
democrática. Com grande destaque para a sua obra-prima 1984¸ o romance distópico
mais aclamado da história, alertou a sociedade para os perigos de um governo
autoritário e do culto a líderes políticos que alegam ser a salvação do povo.
Não só politica mas também culturalmente as obras de Orwell possuem grande
influência e importância na sociedade moderna – como as constantes referências feitas a
ela em diversas culturas prova. Orwell é, definitivamente, um marco histórico na
literatura mundial, servindo de fonte de inspiração para as futuras gerações de escritores
– não apenas por sua extensa bibliografia, mas também por seu vasto leque de
experiências vividas como ser humano, lutando pela liberdade – tanto de expressão
quanto pela própria soberania do homem em viver.
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BIBLIOGRAFIA

FARIA, Caroline. “George Orwell”; InfoEscola. Disponível em


<http://www.infoescola.com/escritores/george-orwell/>. Acesso em: 21/08/2017
FRAZÃO, Dilva. “George Orwell: Escritor e jornalista inglês”; Ebiografia. Disponível
em < https://www.ebiografia.com/george_orwell/>. Acesso em: 21/08/2017
ORWELL, George (1949). 1984. Tradução de Alexandre Hubner;Heloisa Jahn. São
Paulo: Editora Schwarcz S.A, 2009. 414 p. Consultado em: 23/08/17
WIKIPÉDIA. “1984 (play)”. Disponível em
<https://en.wikipedia.org/wiki/1984_(play)>. Acesso em: 22/08/2017
WIKIPÉDIA. “George Orwell”. Disponível em
<https://pt.wikipedia.org/wiki/George_Orwell>. Acesso em: 21/08/2017
WIKIPÉDIA. “George Orwell”. Disponível em
<https://en.wikipedia.org/wiki/George_Orwell>. Acesso em: 22/08/2017
WIKIPÉDIA. “George Orwell bibliography”. Disponível em
<https://en.wikipedia.org/wiki/George_Orwell_bibliography>. Acesso em: 22/08/2017
WIKIPÉDIA. “Nineteen Eighty-Four”. Disponível em
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Nineteen_Eighty-Four>. Acesso em: 21/08/2017

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