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FORMAÇÃO DO BRASIL
CONTEMPORÂNEO
COLONiíl

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EDITÔllA llílASILIENSE
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SENTIDO DA COLONIZAÇÃO
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TQDO rov a sua evoluçio, vista · ' , , yn:1 certo ''.s..�P.:


Jiclo". 1tste S!Lp13rce e nao nos pormenores de sua história, mas
no ç_o11ju.n.to dos. fl�tos e_ aç9ntecimeptos essenciais.� a cQJ1.sJitucro ..
num largo J;ill..rí_oçl_o __de __tID.npQ, Quem observa aquêle conjunto, 1
desbastando-o do cipoal de incident�..L�ecundários que o acom­
panham sempre e o fazem muitas vêzes .. confuso e incom_pre� .
ensível, não deixará de perceber que �k-��fürma-de-.uma.Jinha
QJ.qem
mestr�.- e Jointerrupta de acon_teçirpentos que . se sucedem em \
rigorosa, ·e dírigidá: sêmpre 11µma dctermin;:ida . ·orientação.
É isto que se deve, antes de mais nada, procurar quando�.2.e...
aborda a an:'tlise ela históiia de um . povp, seja aliás qual fôr o
momento oi:í ·o aspecto dela que interessa, porque todos os mo-\
mentos e aspectos não são �enão parte�, por si só incompletas, dê \ '
·um fódo <iue eleve ser sempre o objetivo último elo historiador,· !
por mais particularista que seja. J'al .iIJ9ª�ç.ão é tanto mais impor­
tante e essencial que é por ela que se d�f.iIJ.e, tanto no tempo como
no espaço, -ª indivichialidade ela pareei� de humanidade que interes-
s_� ·ªº pesquisador: povo, país, nação, soci�clacle, seja qual fôr a
designação apropriada no caso. � somente aí que êle encontrará
aquela unidade que lhe pennite destacar uma tal parcela humana
para estudá-la à parte,
O sentido da evoluçã� --�� _u_m _povo Eode variar; acontecimen­
tos estranhos a êle, transformações internas profundas do seu equi­
líbrio ou estiuturn, ou mesmo ambas estas circunstâncias conjunta­
mente, poderão intervir, desviando-o para outras vias até então
ignoradas. _J.Jortugal nos tr�z disto um exeJ!lnlo frisante que para
nós é quase doméstico. Até fins elo séc. XIV, e desde a consti­
tuição ela monarquia, a história portuguêsa se define pela formação
ele uma nova 1rnção européia e o:1.rticula-se na evolução geral ela
civilização do Ocidente de que faz parte, no plano ela luta que -
teve de sustentar, para se constituir, contra a invasão árabe que
ameaçou num certo momento todo o continente e sua civilização.
!':i9 ..alyorec�r _ �o . �éc ..JCV, !,!_ história portuguêsa muda de rumo.
Integrado nas fronteiras geográficas naturais que seriam definitiva�
m�nte as suas, constituído territorialmente o Reino, Portugal se
v� transformar num país marítimo; desliga-se, por ·assim dizer, do
14 CAIO PRADO JúNIOR

contirum.te_�._ypJ�para o Ocean_o que se abria para o outro


lado; não tardará, CQ!!L/i:t,l;t.s ..ef!!p.rêsas e conquistas no ultt:a,1T1ªr,
em se tornar uJ!lJt...&r�;id� _pot�n_ci!! _colorija1
Visto dêste angulo geral e amplo, a evolução ele um povo se
torna explicável. 0.s. pormenores e incidentes mais ou menos com­
Itlê�_Cls que constituem a tramn de sua história e que ameaçam por
vêzes nublar o que verdadeiramente forma a linha mestra que a
iJ_éün�:· i;á�s_âm para o segundo plano; e só então nos é dado al­
cançar. o sentido daquela evolução, compreendê-la, explicá-la. É
isto que precisamos começar por fazer com relação ao I3rnsil. Não
nos interessa aqui, é certo, o conjunto ela história brasileira, pois
partimos ele um momento preciso, jú muito adiantado dela, e que é
o final do período ele colônia. Mas êste momento, embora o possa­
mos circunscrever com relativa precisão, não é senão um elo ela
mesma cadeia que nos traz desde o nosso mais remoto passado.
Não sofremos nenhuma descontinuidade no correr ela história ele
colônia. E se escolhi um momento dela, apenas a sua última
página, foi tão-sumente porque, já me expliquei na Introdução,
aquêle momento se apresenta como um te11110 final e a resultante
de tôda nossa evolução anterior. A sua síntese. Não se compre­
ende por isso, se desprezarmos inteiramente aquela evolução, o que
nela houve de fundamental e permanente. Numa palavra, o seu
sentido.
Isto nos leva, infelizmente, para um l2ª-ssaclo relativamente
longínquo e que não interessa diretamente o nosso assunto. N�o
podemos contudo disrensá-lo e p_r.�cisl?:�nos _reconstituir o conjunto
ela_ I!..º�-�;i__furmação __colocando-a no amplo quadro, com seus ante­
c��z..__dê��s__t_rês _si�µl��- ..!'.l_<:l atividad <;_. c::9loJ.1iz.adorn q.u�. c;�rac­
t �rJ�l!l!l...a _lústória qo$ .. p�Jses europeus a partir do séc XV; ativi­
dade que integrou um nôvo continente na sua órbita; paralelamente
aliás ao que se realizava, embora em moldes diversos, em outros
continentes: a África e a Ásia. Processo que acabaria por inte­
grar o Universo todo em uma nova orclem, que é a do mundo
moderno, em que a Europa, ou antes, a sua civilização, se esten­
deria dominadora por tôda pnrte. Todos êstes acontecimentos são
correlatos, e a ocupação e povoamento do território que consti­
tuiria o Brasil não é senão um episódio, um pequeno detalhe
daquele quadro imenso.
.. Realmente a colonização portuguêsa n�. Au1érica não_ é.. um.·
fata..iso.ladu. a aventura sem precedente e sem seguimento de uma
dete1minacla nação empreendedora; ou mesmo uma ordem de
· acontecimentos, paralela a outras semelhantes, mas independente
delas. :f: _apeuaLa ...parte...de ..um ..!odoy incompleto --SGm-a-.J/-isão
dês.tfLtQ®, Incompleto que se disfarça muitas vêzes sob noções
FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORANEO 15

que damos como claras e que dispensam explicações; mas que não
resultam na verdade senão de hábitos viciados de pensamento.
Estamos tão acostumados em nos ocupar com o fato d!!... coloill:zaç!Q_
brasileira, que a iniciativa dela, os motivos que a inspiraram e de­
terminaram, os rumos que tomou em virtude daqueles impulsos
iniciais, se perdem de vista. Ela parece com9 um_ acoQ_t�_cime.pto \
fatal e necessário, derivado natural e espontâneamente do simples
fato do descobrimento. E os rumos que tomou também se afiguram
como resultados exclusivos daquele fato. Esquecemos_ aí os ante­
cedentes qu� se acumulam _atrás_ de tais_ ocorr�nci-ª-ª., �...gr�
..E.��ero_ de circunstâncias __ particulares que ditaram as no� a
seguir. A consideração de tudo isto, no caso vertente, e tanto
mais necessária que os efeitos de tôdas aquelas circunstâncias ini­
ciais e remotas, do carácter que Portugal, impelido por elas, dará
à sua obra colonizadora, se gravarão profunda e indelevelmente na
formação e evolução do país.
_A._ e�l!._[lsã_o __maríJim:1-9-os_p�íscs çla Europa, dep9ili dq séc. XV,
expansão de que o descobrimento e colonização da América cons­
tituem o capítulo que particularmente nos interessa aqui, l!e. J.H:igi.ua
de_ simp�s em11Iêsa.L.Ç_QJJ1�i;:çiai[_!_cm1d11:u1_ ef.êHo_pelo:Luav:egadm:es
daqueles países. D.f!:i.Y.il:. çl9 _desenvolvtm..entQ ..do comé.n;io conti-..
fil:!!!ª1....�r.Qpcq, que até o séc. XIV é quase unicamente terrestre,
e limitado, por via marítima, a uma mesquinha navegação costeira
e de cabotagem. Çomo �e-�_a.�, a grande �!�com�E_cial do mundo
�..2neu _que sll,i. do _esf11.��la_1�1.cnto do Imp_�1}0_.,?�_ Õciúeiúe'"ê"· a
que liga por terra o Mediterrâneo ao mar do Norte, desde as repú­
blicas italianas, através dos Alpes, os cantões suíços, os grandes
empórios do Reno, até o estuário do rio onde estão as cidades fla­
mengas. No_ séc. XIV, mercê de uma verdadeira revolução na
arte de navegar e nos meios de transporte por mar, outra __ r_g!_a
.ligará ª'quêl�L_qo_i1._ .p--º.lQs.. do _çomérci_9_ eqropJ�u.: será a marítima-·
que contorna o continente pelo estreito de Gilbraltar. ]lot_ a que,
subsidiária a princípio, suq[titajJ! afinal a__p_r..imitjy� _po grande.
Jµg�F, que ela_ ocup�':�· _(? prir:neiro refle_xCJ desta_ !(;u:�s.fQ®ªçªo, a
principio imperceptivel, mas que se revelará profunda e revolucio­
nará to�o � equilíbri? europeu,_ foi_ gesl9car a primazia coITlercial
,
cl0s terntonos ,centrais do contmcntc, por onde passava a antiga
rota, para aquêles que f �m1ai11 a sua fachada o�ânica: ª �olanda,
,
a Inglaterra, a Normandia, a Bretanha e a Penmsula Ibenca.
.1;:ste nôvo equilíbrio firma-se desde o princípio do séc. XV.
Dêle d�rivará não s6 todo um nôvo sistema· de relações internas
do contmente, como nas suas conseqüências mais afastadas, a ex­
pansão eu�opé!a ultr�marina. '? primeiro passo estava dado e a
.Elli.QpíLQêhrn rn_g e viver __ i.
recollud; _ sôbre si __ mes�ara. enfrentar
16 CAIO PRADO JúNIOR

__Q_ 9 c�::,i_�Q.- O_p.apel de pioneiro nesta - �ova etapa caberá aos por­
t.Ygµ_.ê§_e1,, os melh._qres situa_dos, geogràf1camente, n9 _ex�remo d<:�!ª
península que avança pelo mar. En �uanto h?landeses, ing1êses,
normandos e bretões se ocupam na via comercial recém-aberta, e
que bordeja e envolve pelo mar o ocidente europeu, os portuguêses
vão mais longe, procurando emprêsas cm que não encontrassem
concorrentes mais antigos e íá instalados, e .Para que contavam com
vantagens geográficas apreciáveis: buscarão a costa ocideI).(áD da
Africa, traficando aí com os mouros que dominavam as populações
indígenas. N��-ta. avançada pelo Oceano descobrirãp as Ill1ª-ª- (C�}o
Verde, Madeira, Açôres), _e continuarão perlongando o �.ontinente
��0_2_ara o sul. Tudo isto �e passa ainda na primeira metade do •
7. _ g�c.....XY� L�--Pº!:.._:!E ��c!� dele, começa2_..se desenhar um__p}!J.J!9
mais amplo: llt.ingü:_ º- Or.i en_te contornando a Afric_a:_ Seria abrir
para seu proveito _l}.!.D;i JQ.9 .nuc os poria _c_1T1_ COI!![!ct9_ �ir_et9 com
ª-�--9R1=!lq11t.a� 1ndias das preciosas especiari�s, cujo comércio fazia
a riqueza das repúblicas italianas e <los mouros por cujas mãos
transitavam até o 1foditcrn1nco. Não é p reciso repetir aqui o que
foi o périplo africano, realizado afinal depois <le tenazes e siste­
máticos esforços de meio século.
Atrás dos portuguêscs lançam-se _o_s.._ espanhóis. Escolherão
o utra_ rota, pelo ocidente ao invés do oriente. D��<?<;>brirão a A.mé­
rica, seguidos aliás de perto pelos portuguêses que também toparão
com o uôvo continente. Virão, cle�ois do� países peninsulares, os
franceses, inglêses, holandeses, ate dinamarqueses e suecos. A
gmmle nay�gação oce�nica º�tava . ap_e1ta,. � todos procuravam tirar
Vll.t:tJçlQ _dela:;) Só ficarão atrás aquêles que dÕminávâm·· no antigo
sistema comercial terresh·e ou mediterrâneo e cujas rotas iam pas­
sando para o segundo plano: mal situados, geogràficamente, com
relação às novas rotas, e presos a um passado que ainda pesava
sôbre êlcs, serão os retardatários da nova ordem. A Alemanha e
a Itália passarão para um plano secundário. a par dos novos astros
que se levantavam no horizonte: os países ibéricos, a Inglaterra, a
_;França, a Holanda.
Em suma e no essencial, toc,los _os grandes acontecimentos desta
era, que se convencionou c;om razão chamar dos "descobrimentos",
üfücula1�-sc num_ co�unto . q_u e _ não é _senão um_ capítulo _da história
elo comercio . europeu. I!:!�l� que se passa são incidentes da imensa
cmprêsa comercié!I a que se dedicam os países da Europa a partir
do s�<::.:..... �, e que lhes alargará o horizonte pelo Oceano afora.
Não têm outro carácter a exploração da costa africana e o desco­
brimento e colonização das Ilhas pelos portuguêses, o roteiro das
índias, o descobrimento da América, a exploração e ocupação de
seus vários setores. :E: êste último o capítulo que mais nos interessa
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· aqui; mas não será em sua essência, diferente dos outros. E sempre
como traficantes que os vários povos da Europa abordarão cada
uma daquelas emprêsas que lhes proporcionarão sua iniciativa, seus
esforços, o acaso e as circunstâncias do mom ento em que se acha­
vam. Os P.?.:.t_�g�êses traficarão na costa africana com marfim,
our91 _ ���!.ª�<?�;._ 1?ª __1_!1<lil_l__ i_I!o__ . b_usca�eciarias.x; Para concorrer
com êles, os espanhóis, seguidos de perto pelos inglêses, frnlli!?S e.�
___e demai�_procurarão _ outrQ_ caminl}o__p<:tJ.a _ o_ Qrie.nte; _a Am�ríca,
com que toparam nesta pesquisa, não __foi_ para êle� a princípio,
senão um obstáculo oposto �-realí�a_çã_2 de -�eus planc:>s e que devia
ser··confoiiiadõ. Todos os- esforços se orientam então no sentido
de encontrar uma passagem, cuja existência se admitiu a priori .
.Os espanhóis, situados nas Antilhas desde o descobrimento de Co­
lomfo, ·explõram _ a_parte _central _do _C�I_l-���-n t�: deS <::()bdrã2__2._M_�­
XÍCO• Balboa avistará o Pacífico; mas a passagem não será encontrada.
Pro�ura-se entãÕrnàis 'pãra-o sul: a__s_ _viage11.� . de S_gli,s, de que resul­
tará o descobrimento do H�_ da Prata, _não_ !iveram outro 9bj�t�"-º·
!vlagâlhães"sêri"séu continuador e encontrará o estreito que con- .
servou o seu nome e que constituiu afinal a famosa passagem tão
procurada; mas ela se revelará pouco praticável c se desprezará.
Enquanto isto se passava no sul, as pesquisas se ativam para 0
norte; a iniciativa cabe aí aos inglêses, embora tomassem para isto
o serviço de estrangeiros, pois não contavam ainda com pilotos
nacionais bastante práticos para emprêsas de tamanho vulto. As
�primeiras pesquisas serão empregadas pelos italianos João Cabôto
e seu filho Sebastião. Os portuguêses também figurarão nesta
exploração do Extremo-Norte americano com os irmãos Côrte Real,
que descobrirão o Labrador. Os franceses encarregarão o floren-
tino Verazzano · de iguais objetivos. Outros_ mais___ se sucedem, e
embora tudo istQ__sen'.tss� Pª-r_a__explq�ar. � .. tornar conhccidq o___n�y9._
ª
mundo, füma11_g9__ �1Ja p_Qfil,_e . pelos_ yá_riq� . países da E uropfl, não
se encontrava_ a almejada. passagem J:10je sabcmos__I.:illQ existir (1).
Ainda em princípios do séc. XVII, � · tghtiu Cumpany of Concliiii.>
incluía entre seus piincipais objetivos o descobrimento da brecha
para o Pacífico que se esperava encontrar no continente.
Tudo isto lança muita luz sôbre o espírito com que os povos
da Europa abordam a América. A_I_déia de poyoar nI.\Q__ QÇQrre
..inicialmmi.t.e._a_ne.nhi..un...__Jt o . comércio __ qµ� _ _c>s . jnJ!'!.res_Sf\, e daí o
.i:elativo desp_rêzo por êstc território primitivo � . .vazio ..qu_e é a Ainé­
....nca..
e.Jnversamente, o pI_Ç_Stigio. do Oriente, qnde n1io faltava obj�tQ

( 1 } Também se tentou, a partir de meados do séc. XVI, a passagem


para o Oriente pelas regiões árticas da Europa e Ásia. A iniciativa cabe ao
mesmo Sebastião Cabôto, que já encontramos na América ' e mais uma vez a
serviço dos inglêses ( 1553) .
18 CAIO PRADO JúNIOR
/

Eara ativida des m ercantis,' .·IA idéia de ocupar, não como se fizera
atéentã'õ·ê-mterras-estranhás, apenas como agentes comerciais, fun­
cionários e militares para a defesa, organizados em simples feitorias
destinadas a mercadejar com os nativos e servir de articulação entre
as rotas marítimas e os territórios ocupados; mas ocupar com povoa­
mento efetivo, isto só surgiu CQI!:9 contingência, necessidade imposta
por circunstüncias ·novas . é . imprevistas. Alias, nenhum povo da
Europa estava em condições naquele momento de suportar sangrias
na sua população, que no séc. XVI ainda não se refizera de todo
elas tremendas devastações da peste que assolou o continente nos
dois séculos precedentes. Na falta de censos precisos, as melhores
probabilidades indicam que em 1500 a população da Europa oci­
dental não ultrapassava a do milênio anterior.
Nestas condições, "coloni;z;ação" ainda era. en�e!]diçl�- como
aquilo que dantes se praticava; fala-se cm colonização, mas o que
o têrmo envolve não é mais que o e�tabeledmento _sl�__fai!.Qr.ias /
QQ!Ilei:�:i.�!!i, como os italianos vinham de longa data praticando no
Meeliterrâneo, a Liga Hanseática no Báltico, mais recentemente os
inglêses, holandeses e outros no Extremo-Norte da Europa e no
Leva nte; como portuguêses fizeram na África e na fodia. Na. Amé- _
r:i.ca a situação se . apr���I),!�. d� forma inteiramente diversa: um
-· tt:rri t9.�i<_> .J?�!-�_i!iyo l 1'.1l�i_ta_d.9 . i?:0:�-��ãJj�__p�}�9.f0.=É��íg�Jia:-i�1�.ªpaz
êl� forn�_cer qualquer cqi��-çl� i:�-�lm�nte___�E[�áveT.- Para os fins
me rcantis que se tinham em vista, a ocupação não se podia fazer
como nas simples feitorias, com um reduzido pessoal incumbido ..
apen�s do negócio, sua administração e defesa armada; era pre�iso
ampliar estas bases, cria! um ll�_:12�n-�o., _?.ªP!1-Z _,,de_ abastecer e
�anter as fei!Q.r�f_!� que_ ��,,fonc1.1E�zy. ·_e_�<?E�U.��.,ª!.,.,3:,, R.1.:�.q��ªQ., _dos 1
_g.§';1_e..rC>s que }nteressa�sem o seu co_mercio. � �aeia d� p<_Jvçiar .�l!rge �_J
dai, e só d a1.
' A qui ainda, Portugal foi um pioneiro. Seus primeiros passos,
neste terreno, são nas ilhas do Atlântico, '> postos avançados, pela
identidade ele condições para os fins visados, do continente ame­
ricano; e isto ainda no séc. X� . _Era preciso povoar_ e_ orga�i�ar a
prillluç.ãQ;__P..Qrtugl!.L @J!lizq_u estes 09jetivos brilhantemente. Em
todos os p roblemas r1ue se propõem desde que uma nova ordem
econômica se comr:'ça a desenhar aos povos da Europa, a partir
d o séc. XV, os por tuguêses sempre aparecem como pioneiros. Ela­
boram tôdas as soluções até seus menores detalhes. Espanhóis,
depois inglêses, franceses e os demais, não fizeram outra coisa,
durante muito tempo, que navegar em suas águas; mas navegaram
tão bem, que acabaram suplantando os iniciadores e arrebatando­
-lhes a maior parte, se não pràticamente tôdas as realizações e em­
prêsas ultramarinas.
FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORANEO 19

O s problemas de nôvo sistema d e coloni�ªç!o, envolven do a


ocupação de territórios quase desertos e primitivos, tJ:rão fei.çãQ
variada, <lepenclendo em ca<la caso das circunstâncias p mticulares
com que se apresentam. A primeira deiª� __ s_e.r.á_.11.__natureza_das
gê!.}�f_c>S apr9v�itáveis que cada um . daqu�Ies t�rriJó.rio.s ..proporcio­
�A princípio _naturalmente, ninguém cogitará ele outra coisa
que �:i:Qª_l,!t9_s espontâneos, ex�ti_� :E: ainda quase o antigo

_E�-ª�
-� ����em.a _1ª� foit9ria_�_ P!l:Z:�-�c_nte ccnnerçi_i;i is. Serão as madeiras, de
construção ou tinturiais (como o pau-brasil entre nós) na maior
.t parte dêles; também as --��i�ais e a pes_?a no Extremo­
:�!!� como na Nova I0g1aterra; a pesca será particUl.armente�ya
n� bancos d.ª__T.eIJ:a...No:V.1!, onde desde os primeiros anos do sec.
XVI, possivelmente até antes, se reúnem inglêses, normandos, vas­
conhos. Os espaobói:, serão os ma is felizes: toparão desde logo,
nas áreas que lhes couberam, com _os metais _precioso��prata �
q_oµro do México e Peru. Mas Q.LIDj:!tais, incentivo e base sufi­
ciente para o sucesso de qualquer emprêsa colonizadora,� !1�º--2.':..�
pªm na formaçij9_ da América senão um lugar relativame_nte _P.<:.:•
.qu�nq. Impulsionarão o estabelecimento e ocupação das colônias
espanholas citadas; mais tarde, já no séc. XVIII, intensificarão
a colonização portuguêsa na America elo Sul e a levarão para 0
_centro elo continente. Mas é só. Os metais, que a imaginação
escaldante <los primeiros exploradores pensava enconh·ar em qual­
quer território nôvo, esperança reforçada pelas prematuras des­
cobertas castelhanas, não se revelaram tão disseminados como se
esperava. Na maio�·- e_xtensão ela A_II1é,ri��-Ji�()_u.��� ;1_ princ_ípfg___�;<-
clusivam_���e .i:ias_ �a_deirns,_ nas .11eles, ...na p.esc.-i; e a ocupação de
,.. territórios, seus progressos e flutuações, subordinam-se por muito
_" tempo ao maior ou menor sucesso daquelas atividades. Viria de-
12 isJ · em substituição, uma...b.a.s.� .JlÇO.P.ômi ç�...Ilillfa�áx.cl. maiLrun-
l___ p1a: ser!a.. -�- �_g�_i_ c:u_!!_ll r::t:_
Não é meu intuito entrar aqui nos pormenores e vicissitudes
da colonização européia na América. J\fas podemos, e isto muito
interessa nosso assunto, distinguir duas áreas diversas, além daquela
em que se verificou a ocorrência de metais preciosos, em que a
colonização toma rumos inteiramente diversos. São elas as que
correspondem respectivamente às 7,onas temperada, de um lado;
tropical e subtropical, do o utro. A primeira, que -�-on:ip_ree11de gros­
seiramente Q.. 1c.njtprio . ameiicano . ao norte da . baía de Delaw.ftrn
(a outra extremidade temperada do continente, hoje países platinos
e Chile, esperará muito tempo para tomar forma e significar al guma
coisa), .!lâQ. _o.fore.C.tl:L.l__ re;iJmente nada de . muito_ interessante, e per­
manecerá ainda por muito tempo adstrita à exploração de produtos
espontâneos: madeiras, peles, pes';ª· Na Nova Inglaterra, nos pri-
20 CAIQ PRADO JÚNIOR

meiros anos da colonização, yiam-se até com maus olhos quaisquer


J.e.ntativas d� agricultura que desviavam das feitorias de peles e
pesca .n.s. ª�i.Yi..d1id�u1Q.s p.9uc.o_s._�olo�os presentes (2). Se s� povoou
esta á rea temperada, o que alias so ocon:eu depois do sec. XVII,
foi por circunstâncias muito especiais. E a situação interna da
Europa, em particular <la lnglater:ra, as suas lutas político-religio­
Sil�, <1uc desviam para a América as atenções de populações que
não se sentem à vontade e vão procurar ali abrigo e paz para suas
convicções. Isto durará muito tempo; pode-se mesmo assimilar o
fato, idêntico no fundo, a um processo que se prolongará, embora
com intensidade variável, até os tempos modernos, o século pas­
sado. Virão para a América puritanos e quakers da Inglaterra,
hugucnotcs da França, mais tarde morávios, schwenkfeldcrs, ins­
piracionalistas e menonitas da Alemanha meridional e Suíça. Du­
rante mais de dois séculos despejar-se-á na América todo resíôuo
..Q.U\l.!-ª§. .P,olítiçg-J��ljgiosas cJa Eurqpa. É certo que se �alha_rá
Q.<?r tô<las as colônias; até_ no 13rasil, tão afastado e por isso tanto
mais ignorado, procurarão refugiar-se huguenotes franceses (Fran­
ça Antártica, no Rio de Janeiro). Mas. se coneent@r� quase inteira­
mente !1ªl> da zona t�mperada, de condições naturais mais afins às
da Europa, e por isso preferida para quem não buscava "fazer a
América", mas unicamente abrigar-se dos vendavais políticos que
varriam a Europa, e reconstruir um lar desfeito ou ameaçado.
Há um fator econômico que também concorre na Europa para
êste tipo de emigração. É a transformação econômica sofrida
peta Inglaterra no correr <lo séc. XVI, e que modifica profunda­
r�c:: . �_.eq}1fü1>�.Q _inJe1_no do país e � <li� tribl,!fç�o _ _cle _s_1:1_a popula­
_Çll.<?1_ Esta e deslocada em massa dos campos, que de cultivados se
transformam em pastagens para carneiros cuja lã iria abastecer a
nascente indústria têxtil inglêsa. Constitui-se aí uma fonte de
correntes m igrátórias que abandonam o campo e vão encontrar
na América, que começa a ser conhecida, um largo centro de afluên­
cia . . '.fambém êstes elementos escolherão de preferência, e por
motivos similares, as colônias temperadas. Os que se diri&irão
mais para o sul, para colônias incluídas na zona subtropical da
América do Norte, porque nem sempre lhes foi dado escolher
seu destino com conhecimento de causa, o farão apenas, no mais
das vêzes, provisoriamente: o maior número dêles refluirá mais
tarde, e na medida do possível, para as colônias temperadas.
São assim circunstâncias especiais, que não têm relação direta
com a.m bições de traficantes ou aventureiros, que p_roipoverão a
ocupação intensiva e o povoamento em larga escala da zona tem-

(2) �larcus Lee Hansen, The Atlantíc Uigration 1607-1080, 13.


FORMA ÇÃO DO BRASIL CONTEMPORÃNEO 21

�d a da_América. > Circunstâncias aliás que surgem posterior­


mente ao descobrimento do Nôvo Continente, e que não se filiam à
ordem geral e primitiva de acontecimentos que impelem os povos
ela Europa para o ultramar. Daí derivará um nôvo tipo de colo­
nização - será o único cm que os portuguêses não serão os pio­
neiros - que tomará um carácter inteiramente apartado elos obje­
tivos comerciais até então dominantes neste gênero de emprêsas .
.Q_.que os colonos desta categoria têm em vista .é_co.ustmir um nôvo
mundo, l!.m.� sociedade que lhes _ of<'lr<'lça_ _ gar�n.tias que . no SQll­
tinente de orig�m.J4.. não llw..L�ã.o mais dadas.. Seja por motivos
religiosos ou meramente econômicos (êstes impulsos aliás se entre­
laçam e sobrepõem), a sua subsistência se tomara lá impossível ou
muito difícil. frocuraJil então urp� terra ao abrigo das agitaç_ões e
tran�form�çõ_es d_a Europa, d e que são vítimas, para refazerem
nela sua existência ameaçada. O que resultará dêste povoamento,
realizado com tal espírito e num meio físico muito aproximado do
da Europa, .!/erá naturalmente uma sociedade, que embora com
caracteres próprios, terá sem�lhan9.� pronunciada à do continente
de. onde se origina, Será pouco mais que simples prolongamen­
to clêle.
Muito diversa é a história da área tropical e subtropical da
América. Aqui a ocupação e o poyoamento tomarão outro ruin o .
Em primeiro lugar, [!_s condições na�1�!_s. tão diferentes do habitat
de origem dos povos colonizadores, repelem o colono que vem com o
simples povoaclor, da categoria daquele que procura a zona tem­
perada. Muito se tem exagerado a inadaptabilidade do branco aos
trópicos, meia verdade apenas que os fatos têm demonstrado e
redemonstrado falha em um sem-número de casos. O que há nela
de acertado é uma falta de predisposição, em raças formadas em
climas mais frios e por isso afeiçoadas a êles, em suportarem os
trópicos e se comportarem similarmente nêles. Mas falta de pre­
disposição apenas, e que não é absoluta, corrigindo-se, pelo menos
cm gerações subseqüentes, por um nôvo processo. de adaptação.
Contudo, se aquela afirmação posta em têrmos absolutos, é falsa,
não deixa de ser verdadeira no caso vertente, isto é, nas circuns­
tâncias em que os primeiros povoadores vieram encontrnr a Amé­
rica. São ti:.ópicos brutos e inclevassados que se apresentam, uma
natureza J1_o��l e amesquinhadora _elo HoIDem, semeada de obs­
t�cu!.?� impreyisíveis sem conta para que o colono europeu não
êfavi;i_p_reparado e contra que não contava com nenhuma defesa.
Aliás a dificuldade do estabelecimento de europeus civilizados nes­
tas terras am�ricanas, entregues ainda ao livre jôgo da natureza, é
comum ta �bem à zona t�mperada. Respondendo a teorias apres­
.
sa_das e mmto em voga (sao as contidas no livro famoso de Turner,
22 CAIO PRAD O J ú N I O il

Thc frontier in Amcrican History), um recente escritor norte-ame­


ricano analisa êste fato com grande atenção, e mostra que ::1 _ colo-
__pj;zaçfto inglê�a n_a A1p�!".!.Ç_[l_, realizando-se embora numa zona tem­
perada, _i;ó__ pr�grediu � cu�ta _de _u m...p..r:q.�1.s_o_ d_e _ s�hiçã.Q . .9!L.qU!:l
resultou um tipo de p10n_e1_�q,_ Q __ç_ar�tenst_1co :y�nkc� dotado
de aptidão e técnica particulares fQL marchando na vanguarda e
abrindo camin ho )fil"� as levas mais recentes de C9lml.Q.S. qu,:i afluíam
êla_ EµrQp.a 3 . Se assim foi numa zona que afora o fato de estar
índ evassada, se aproxima tanto por suas condições naturais do meio
europeu, que não seria dos trópicos?
Para estabelecer-se aí, o colono europeu tinha de encontrar
estímulos diferente s e mais fortes que o s que o impelem para as
zonas temperadas. De fato assim aconteceu, embora em circuns­
t.'\ncias especiais que por isso também particularizarão o tipo de
colono branco dos trópicos. A. djvers!dade de condiçõe_s naturais,
em comparação com a Europa, que acabamos de ver como um
empecilho ao povoamento, se ..xe.v.elrrri.a p9_r pµtrg_ _la_clQ um forte
estímuJ_I?._, É qnc tais condições proporcionado aos países da Eu­
ropa a possibilidade da obtenção º�- _g��e.!:º-.S . qu.c l*. fazem _ f�lta.
E gêneros de particular atrativo. Coloquemo-nos naquela Europa
anterior ao séc. XVI, isolada dos trópicos, só indireta e longlnqua­
mente acessíveis, e imaginemo-la, como de fato estava, privada
quase inteiramente ele produtos que se hoje, pela sua banalidade,
parecem secund{irios, eram então prezados como requintes de luxo.
Tome-se o caso do açúcar, que embora se cultivasse em pequena
escala na Sicília, era artigo de grande raridade e muita procura;
até nos enxovais de rainhas êle chegou a figurar como dote pre­
cioso e altamente prezado. A pimenta, importada do Oriente, cons­
tituiu duran!e � éculos o principal ramo do comércio � as r:públicas
mercadoras 1tahanas, e a grande e árdua rota das lndias nao serviu
muito tempo para outra coisa mais que abastecer dela a Europa.
O tabaco, originário da América e por isso ignorado antes do desco­
brimento, não teria, depois de conhecido, menor importância. E
não será êste também, mais tarde, o caso do anil, do arroz, do
algodão e de tantos outros gêneros tropicais?
Isto nos dá a medida do que representariam os trópicos como
atratírn para a fria Europa, situada tão longe dêlcs. A América
lhe poria ,\ disposição, cm tratos imensos, territórios que só espera­
\';Ull a iniciativa c o esfôrço <lo Homem. É i s to que estimulará a
ocupação dos trópicos americanos. -�•:f o,c;_ trazendo �s_!.� a ud9.._inte­
â
r.��.!>.e, o colono europeu não traria com êle a disposição . e .pôr-lhe
_a ..ÃCtvi ço, neste .meio tão difícil e. estranhQ,. a energia do. seu . .tra-
( 3 ) ?vlarcus Lee Hansen, The 1mmigrant in Amerícan 11istory - veja-se
o capítulo lmmigratio1� and Exparuion.
FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORÂNEO 23

balho _ _!!sico. Yi:1".ta c:orp.o dÍ!Jgente da produção de gêneros ele


�.�nâe _ valor comercial, como empi-iisádo éle ün1 1iegõcw�1ítTiloso;
màs s6 a contragosto ---··corno -trabalhador. Outros trabalhanam
------ ---------·- - --- pa-
ra êle.
�esta base se realizaria uma primeira seleç'.ão entre os colonos
que se dirigem respectivamente para um e outro setor do nôvo
mundo: o temperado e os trópicos. Para êstes, o europeu só se
dirige, de livre e espontânea vontade, quando pode ser um diri­
gente, quando dispõe de cabedais e aptidões para isto; quando
conta com outra gente que trabalhe para êle. Mais uma circuns­
tincia vem reforçar esta tendência e discriminação. É o carácter
que tomará a exploração agrária nos trópicos. Esta se realizará
em largá escala, isto é, em grandes unidades . produtoras - fazen­
das, engenhos, plantações (as pla.ntations das colônias inglêsas) -,
que reúnem cada qual um número relativamente avultado de tra­
balhadores. Em outras palavras, para cada . proprietári<2_ (fazen­
deiro, senhor ou plantador), haveriª muitos traballiadores st1Lo�·_c1i­
nados . e sem . propriedade. Voltarei em outro capítulo, com mais
vagar, sôbre as (;ausas que determinaram êste tipo de organização
da produção tropical. A granS;!�U'!.���oria dos cQJo._goi, estava a s sill)
nos trópico.�.,._ÇQ!lclenada a uma posição dependente e . de baixo nív�l;
_3�_í?;abalho em proveito de outros e unic�mente para a subsis-
�nc,ia próp_r.iª _de cada dia. Não era para isto, evidentemente, que
se emigrava da Europa para a América. Assim mesmo, até que se
a_4Qt:?:s_�Q_ _ t1.I!b.'(:)Isalmente . nos trópicos americanos a mãq:d§:Op_n1_
.e.s.c.�ava df:l outrns . raç��., indígenas elo continente ou negros africa ­
nos importados, muitos. colonos ..europeus _ tiveram de .se _sujeitar,
embora a contragosto, ª'-q�ela condiç!l9., ;\yj_c:lqs de pa_rtir para a
. América, ignQ.nlJl.clQ muitas vêzes seu dGstino certo, ou. de.cididos._a
uro socrifício.... temporár_i�1 . muitos p�rtiram para .. se engajar 11as
..Jllilllta.cões . tropi.cais_como.. simples trabalha.c.lures. Isto ocorreu par­
tic�� · grande escala, nas colônias inglêsas: Virgínia ,
Maxyland, Carolina. Em troca___do .. Jransporte, que não podiam
pagar, venq.�m ...��l!L��-ryjçg.§_ pQ_r um .çerto lapso de tempo. Outro s
partiram <c_Q.Il! Q g._eportados; ..t�mbém · meriores abandonados ou ven �
�_ç_li_f_l9� p�·,lo s p.a is ou tutor<'s eram levados naquelas condições para
_..e_�r11{i,:íç�� . a fim de servirem até a maioriclaçle. É ..uma escravidão
tem_po.::ári� que s��á substituída i r teiramente, em meados do séc •
.
X\!gL _p-i:la_ . ��InJhva .de negros nppoqados . Mas a maior parte
'.

ctaqu�I:s colonos só esperava o momento oportuno para sair da


cond1çao que lhe fôra imposta; quando não conseguiam estabele­
cer-se c�mo plantador e proprietário por conta própria - o que é
a ex�eçao naturalmente -, emigrnyam logo que possível ara as
c�lli..ª.�. �emperadas, onde ao menos tinham um gênero de p
vida
24 GA I O PRAD O JúNIOR

mais afeiçoado a seus hábitos e maiores oportunidades de pro­


gresso. Situação de j_nstab_iHdade do trabalho nas plantações do
â_aj___g11e . c!uI_ará até a adoção defi� itJ_va ,e �eral_ _d ?_ ;.;C!S.C!!�vo af�icano.
O_colouQ...eJ.U:QPIDJ ficMá entJig a1 na umca pos1çao que lhe com­
petia: de dirig?nt!:LiLgra.n..d.!;L.p.rnp.d.�t{lrio nua1.
N_;:i;;_ _çlcn:iais colônias tr9piçais_, ioclusjvp o Brasil, não se chegou
nem a ensaiar ()_ trillJalhador branc.Q. _!fil'Q_ p9rque nem na Espanha,
nem._:ém:_".P__ortugal, a que penencia a maioria dc!:.!§_,_ havia, como na
Inglatexr.a,_ hraço.s çlisponíveis, e dispostos a emigrar a qualquer
..I?:r�_ç_o. Em Portugal, a população e�·a tão insuficiente que ,a maior
parte do seu território se achava amda, cm meados do sec. XVI,
inculto e abandonado; faltavam braços por tôda parte, e empre­
gava-se cm escala crescente mão-de-obra escrava, primeiro dos
mouros, tanto dos que tinham sobrado da antiga dominação árabe,
como dos ªJlrisionados nas guerras que Portugal levou desde prin­
cípios do sec. , XV para seus domínios do norte da África; como
depois, de negros africanos, que começam a afluir para o reino
desde meados daquele século. Lá..___pur_y_olt'l_ _de_ 15,50..,_cêrca de
10% da população_ �e Lisboa era constituíqa de esc.rayo_s. _11�g_�os (-1 ).
Nâéfa havia portanto que provocasse no reino um êxodo da _p<Jpu­
lação; e é sabido como as expedições do Oriente depauperaram
o país, datando de então, e atribuível em grande parte a esta causa,
a precoce decadência lusitana.
Além disto, portuguêses e espanhóis, particulannente êstes úl­
timos, _ eg_q.9ntr;ir_am __ :nas s1:1as colônias, indígenas que se puderam
ªJ?E.<?Y�.!_!�omQ...!raba�lrndores. Finalmente, O§__l.J.Q!.�!-:1.�§_ C§ tinham
si.dQ..QS__pm.çJ.1rsores, nisto também, d§.�J:a feição partk.11lar do mundo
mo?erno : a...�aYidã�--d.�_:iiegro�_jltr.!Q!l.119�.; e .dominavam os terri­
tónos que os forneciam. Adotaram-na por isso em sua colônia
quase que de início - possivelmente de início mesmo -, prece­
dendo os inglêses, sempre imitadores retardatários, de quase um
século (5).
Como se vê, aL_çolql).i_as_ tropicais tomaram um mmo inteira­
mente _diverso. do __de _ suas __irmãs _ da . zona temperada. Enquanto
nestas se constituirão . ç9J(:,11i_�s . p1:opria,rn_ente d_e povoamento (o
nome ficou consagrado depois do trabalho clássico de LerõiBeau­
lieu, De la colonisation chez les peuplcs modernes), escoadouro

(4) Ilist6ria da Colonização PortuguOsa do Brasil, Introdução, vai. III,


pág. XI.
( 5 ) Não se sabe ao certo quando chegaram os primeiros negros ao
Brasil; há grandes probabilidades de terem vindo já na expedição de Martim
Afonso de Sousa em 1531. Na América do Norte, a primeira leva de escravos
africanos foi introduzida por traficantes holandeses em JamestO'Wn ( Virgínia )
em 1619.
FORMAÇÃ.0 DO BRASíL CONTEMPOfu\NEO 25

para excessos demográficos da Europa que reconstituem no nôvo


mundo uma organização e uma s ociedade à semelhança do seu
modêlo e origem europeu s ; p_Q s . tr.ópü;.Q.§., pelo contrário, ��rgirá
r/ um tipo <le s ociedade inteiramente original. Não será a simples
- feitoria comercial, que já vimo s irrealizável na América. 1 la s C.Q!_!:
-servará no entanto um acentuado carácter merc_;i11til; s erá ,i em-
:p�ê�ã-do colono bra�·ico, qi:i-;; ;e{in-e "i"·�;tu-re�ã; pródiga cm recurs os
aproveitáveis para a produção de gêneros <le grande valor comercial,
..Q_traba_lbg_ �.c_rutado ef!tre . raças inferiores que_ d.omtna: incfü�gn11s
ou negros africanos importados. Há um ajustamento entre os
-- traàícionaís õtijeHvos mercantis que assinalam o início da expansão
ultramarina da Europa, e que s ão conservados, e as novas condi­
ções em que se realizará a emprêsa., Aquêles objetivo s, que ve­
mos passar para o s egundo plano na s colônia s temperadas, s e man­
terão aqui, e marcarão profundamente a feição das colônia s do nosso
tipo, ditando-lhes o destino. No s eu conjunto, e vis ta no plano mun­
dial e internacional, a colonização dos trópicos toma o aspecto--de
JHna vas ta emprêsa comerc:ial, mais completa que a antiga feitoria,
mas s.empre com o mes mo carácter que ela, destinada a explorar
os recurs os naturais de um território virgem em proveito do co�
___ mércio europeu. !t êste o verdadeiro s entido da colonização tro­
F.i.cal, <lc que o Brasil é urna <las resultantes; e êle explicará os ele­
mentos fundamentais , tanto no econômico como no social, da for­
mação e evolução histórica s dos trópicos americanos.
É certo_ q1�e a_ colonização_ da maior part�, pelo menos, <lêstes
t�rrí�q.rfos tropicais, inçlµsjve . 9. .. Brasil, lançada e pross eguida em
tal base, açµJ;i_g_µ _ _i;(:!aljz_;in,clo ..J1lgum:.i cQis a mais que um simples
"contacto fortuito» dos . europeus com o meio, na feliz express ão de
Gilberto Freyre, a que a des tinava o objetivo inicial dela; e que
em outros lugares s emelhantes a colonização européia não conse­
guiu ultrapassar: a ss im na generalidade da s colônias tropicais da
África, da Ás ia e da Oceânia; nas Guianas e algumas Antilhas ,
aqui na América. Entre nós foi-se além no sentid_o de constituir
nos trópico s uma "s ociedade com caracterís tico s nacionais e quali­
dades <le permanência" (6), e não s e ficou ap �na s nes ta simples
, .
empres a de colonos brancos chstantes e sobrancell'OS.
Ma s um tal _c:arácte_r .�ais <3stável, permanente, orgânico, cle
ui:m . s ocieda..de. --própria e il.efinida, s6 s e revelará aos poucos , do­
,
mma<lo e abafado que e pelo que o precede, e que continuará rnan­
ten<lo a primazia e ditando ?s traços ess enciais da no ss a evolução
colomal.. Se__"-ª!!!<:>§-;�--�� sêi;ic:rn da nos sa formação, veremos que na
.
_r��h�_a<le nos__c_on s titmmo� para fornecer açúcar, tabaco, alguns

(6) Gilberto Freyre, Casa Grande e Se1izala, 16.


CAIO PRADO JÚNIOR
26

; . r.9:�..2lli9 e diamantes: depois, algodão,. . e


ouJ.ro� _gêneros· 1na.iLl!1.
em_::-�iJiflfL.:�an .imr a. p_�.9..m..éJcio. europeu. Nada mais que isto.
f: com tal objetivo, ob1et1vo exterior, voltado para fora do pafs e
sem atenção a considerações que não f6ssem o interêsse daquele
comércio, que se organizarão a sociedade e a economia brasileiras.
Tudo se cli�porá naquele sentido: a estrutura bem como as ativi­
d a cles do país . J�á .D ,branc.o europeq parç1 esp�g_ular• .r.e�H�1.1r um
ue.gúcia.; il1Y�r.tª.n\ �êU.S c;al>.e.cla i� . .!:!. . recrutará. - � mão-de-obra que
neg
_J1!ecisa: indíge1!as ou . �·os importados . . Com tài� cle�cntos,
· · articula.do$ numa orgamzaçao pm:amc.nte _produtor!}, _n}clt�stnal, se
constitl.úm... a colônia brasileira . Este início, cujo carácter se man­
terá dominante através dos três séculos que vão até o momento
em que ora abordamos a história brasileira, se gravará profunda e
totalmente nas feições e na vida do país. Haverá resultantes se­
cund{irias que teudem para algo de mais elevado; mas elas ainda
mal se fazem notar. O "sentido" da evolução brasileira que é o
que estamos aqui indagando, ainda se afirma por aquêle carácter
inicial da colonização. Tê-lo em vista é compreender o cssenciul
Jesle quadro que se a� resenta em princípios elo século passado, e
que passo agora n analisar.

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