Você está na página 1de 16

Dra. Claudia L. F.

Garcia
Médica do Trabalho - Perícias
CRM 85224
EXMO. SR. DR.
JUIZ PRESIDENTE DA 19ª VARA DO TRABALHO
DE SÃO PAULO - SP

TRT 2a. Reg - SP 19/05/09 21:52 1182672 INTERNET


PROCESSO N° : 01352 2008 019 02 00 1
RECLAMANTE : ROSA MARIA GONÇALVES LINS
RECLAMADA : CHRIS CINTOS DE SEGURANÇA LTDA.

Claudia Luciane Francisco Garcia, Médica do Trabalho, CRM 85224,


especialista em Segurança e Medicina do Trabalho pela Faculdade de Ciências Médicas
da Santa Casa de São Paulo, infra assinada, Assistente Técnica honrosamente nomeada
pela Reclamada nos autos desta Ação Trabalhista, tendo efetuado as diligências
necessárias, vem respeitosamente, apresentar o seu

LAUDO MÉDICO PERICIAL

Av. Nova Cantareira, 291 – sl. 32 – Santana – S.P. Tel/fax: 2976-8786/ 2977-4242/ 2977-0707 1

SISDOC - Provimento GP/CR nº 14/2006 Assinatura Eletrônica


Documento eletrônico enviado pelo CPF 16302461820 - CLAUDIA L.F.GARCIA -
Dra. Claudia L. F. Garcia
Médica do Trabalho - Perícias
CRM 85224
I – Identificação:

Nome: Rosa Maria Gonçalves Lins


Data de Nascimento: 05.08.71 (37 anos).

TRT 2a. Reg - SP 19/05/09 21:52 1182672 INTERNET


Estado Civil: Casada.
Nacionalidade: Brasileira.
RG 22.967.096-9 – SSP/SP.
CPF 180.140.838-65.
CTPS 083725 série 00197 – SP.
Escolaridade: II Grau Completo.
Endereço: Rua Batista Albert, 18 – Jd. Ingleses – São Paulo – S.P.

Data de Admissão: 08.09.98


Data de Demissão: 19.02.07.

Funções executadas na Reclamada:


- Auxiliar de Produção no Setor de Montagem de fecho (08.09.98 a 31.08.2003);
- Operadora de Máquinas II (01.09.03 a 30.04.2005) no Setor de Injetoras de Plástico;
- Operadora de Injetora de Plástico (01.05.2005 a 07.09.05), por enquadramento de
função;
- Rebarbação de Peças no Setor de Injetoras (08.09.05 a 27.09.06 – durante a gravidez e
período de licença maternidade)
- Operadora de Injetora (após o retorno ao trabalho da licença maternidade).

Jornada de Trabalho Principal: 06:03 ás 14:18, de segunda á sábado, com 55


minutos de intervalo para refeição e descanso; 10 minutos para ginástica
laboral diariamente e 10 minutos para Diálogos Semanais deSegurança
no Trabalho. Além de pausas para café e banheiro.

Av. Nova Cantareira, 291 – sl. 32 – Santana – S.P. Tel/fax: 2976-8786/ 2977-4242/ 2977-0707 2

SISDOC - Provimento GP/CR nº 14/2006 Assinatura Eletrônica


Documento eletrônico enviado pelo CPF 16302461820 - CLAUDIA L.F.GARCIA -
Dra. Claudia L. F. Garcia
Médica do Trabalho - Perícias
CRM 85224

TRT 2a. Reg - SP 19/05/09 21:52 1182672 INTERNET


Data e Local da Perícia:
- Perícia Médica: realizada em 04.05.09 as 8:00 horas, pelo Perito Judicial – Dr.
Renato Vagner P. Pereira, em seu consultório localizado na Rua Bento Barbosa, 246
Chácara Santo António – São Paulo – S.P., acompanhado pela assistente técnica da
reclamada – Dra. Claudia L. F. Garcia – CRM 85.224.
- Vistoria do Local de Trabalho: realizada em 06.05.09 as 14:00 horas, na empresa
reclamada. Nessa ocasião, fomos acompanhados pelos senhores:
Maria Celeste F. Barbosa – Paradigma e há 2 anos na empresa reclamada;
Marina Santos de Oliveira – Paradigma e há 4 anos na empresa reclamada;
José Clécio Rodrigues – Abastecedor;
Cícero Buzatto – Encarregado do Setor de Injetoras;
Osmar José Rosset – Gerente de Produção;
Célia Regina Seki – Engenheira de Segurança do Trabalho

II – Resumo Inicial/Contestação:

Inicial: Alega alterações da coluna vertebral em decorrência do trabalho realizado na


empresa reclamada.

Contestação: Ausência de nexo-causal.

Av. Nova Cantareira, 291 – sl. 32 – Santana – S.P. Tel/fax: 2976-8786/ 2977-4242/ 2977-0707 3

SISDOC - Provimento GP/CR nº 14/2006 Assinatura Eletrônica


Documento eletrônico enviado pelo CPF 16302461820 - CLAUDIA L.F.GARCIA -
Dra. Claudia L. F. Garcia
Médica do Trabalho - Perícias
CRM 85224
III – Antecedentes Ocupacionais:

Conforme registro da Carteira de Trabalho da reclamante, a mesma laborou nas


seguintes empresas:

TRT 2a. Reg - SP 19/05/09 21:52 1182672 INTERNET


1. Semp Toshiba S/A.: Montadora (06.03.95 a 27.03.97);
2. Chris Cintos de Segurança Ltda.: Auxiliar de Produção (08.09.98 a 19.02.07).

IV – Caracterísitcas da Empresa Reclamada:

Trata-se de empresa produtora de Cintos de Segurança para indústria de veículos


em geral.

V -Descrição das Funções exercidas pela Reclamante:

Auxiliar de Produção:
Trabalhou no Setor de Montagem de Fecho do Cinto de Segurança, onde além
da montagem em si, realizava soldagem e inspeção das peças montadas até 2001.
Trabalhou também no Setor de Injetoras, onde realizava a montagem de
linguetas e soldagem até 2003, quando fez Curso e Treinamento para Operação de
Máquinas Injetoras. Foi submetida a prova e sendo aprovada foi promovida para
Operadora de Máquinas II em 01.09.03.

Rebarbação de Peças:
Trabalhava rebarbando peças plásticas, retirando sobras com uma lâmina.

A reclamante atribui sua moléstia atual ao trabalho desempenhado na função de


operadora de máquina injetora de plástico vertical.

Av. Nova Cantareira, 291 – sl. 32 – Santana – S.P. Tel/fax: 2976-8786/ 2977-4242/ 2977-0707 4

SISDOC - Provimento GP/CR nº 14/2006 Assinatura Eletrônica


Documento eletrônico enviado pelo CPF 16302461820 - CLAUDIA L.F.GARCIA -
Dra. Claudia L. F. Garcia
Médica do Trabalho - Perícias
CRM 85224

Estudo da Função:

Ao entrar no Setor de Máquinas Injetoras:

TRT 2a. Reg - SP 19/05/09 21:52 1182672 INTERNET


- Preenchia o diário de bordo (Carta Set-UP), onde anotava o nome da peça a ser
produzida, número da especificação, especificações da peça a ser produzida), levando
para tanto 10 minutos no início da jornada de trabalho para iniciar as operações da
máquina. Posteriormente a cada 1 hora verifica as cavidades da peça, manchas,
queimaduras, riscos das partes metálicas, verificando e analisando a produção das
peças, além de verificar as peças com instrumentos de medição como micrômetro,
paquímetro, diâmetro da cavidade e controle de verificação de rebarbas na abertura da
passagem do cinto de segurança, essa verificação leva em torno de 5 minutos. Após
2006 a empresa contratou uma pessoa para realizar essas anotações por um período de 2
meses apenas, mas esta operação voltou a ser realizada após esse tempo pelo operador
da máquina.
- Ligava a máquina na chave;
- Ajustava a máquina, calibrando-a;
- Passa a retirar 4 peças (almas metálicas) da estufa (onde as peças são aquecidas dentro
da estufa a temperatura de 50 a 80º Celsius para evitar choque térmico). Essas peças são
colocadas dentro da estufa pelo abastecedor. O peso das 4 almas metálicas é de 285
gramas.
- Encaixa as 4 peças na bandeja do molde da injetora e aciona o botão de iniciar o
processo. A máquina automaticamente puxa essa bandeja, o molde se fecha e injeta o
plástico, enquanto a máquina faz esse processo, libera a bandeja com molde ao lado e o
paradigma encaixa mais 4 almas metálicas no molde, aguarda a abertura do outro molde
e quando esse se abre, aciona novamente o botão de iniciar o processo. A máquina mais
uma vez, puxa a bandeja com as almas metálicas para serem injetadas e libera a outra
bandeja que agora está com as peças já injetadas com o plástico que são extraídos do
molde pelo extrator que se levanta e desgruda as peças injetadas do molde. A pardigma
já está nas mãos com as 4 almas metálicas e retira as 4 peças injetadas, terminando um
ciclo que ocorre a cada 40 a 50 segundos, reiniciando o processo. O peso das 4 peças
injetadas é de 405 gramas.

Av. Nova Cantareira, 291 – sl. 32 – Santana – S.P. Tel/fax: 2976-8786/ 2977-4242/ 2977-0707 5

SISDOC - Provimento GP/CR nº 14/2006 Assinatura Eletrônica


Documento eletrônico enviado pelo CPF 16302461820 - CLAUDIA L.F.GARCIA -
Dra. Claudia L. F. Garcia
Médica do Trabalho - Perícias
CRM 85224
- Verifica visulmente as peças injetadas e as coloca em uma caixa amarela denominada
de Sublote. No caso de verificação de manchas, queimaduras e arranhões, aciona o
botão de emergência da máquina para que o Preparador faça os ajustes necessários.
- Ao encher a caixa do sublote, despeja a mesma em uma caixa preta, quando faz flexão

TRT 2a. Reg - SP 19/05/09 21:52 1182672 INTERNET


com a coluna vertebral. Esse processo ocorre a cada 20 minutos e o peso da caixa é de
12,322kg.
- As caixas pretas são empilhadas junto ao posto de trabalho, ou seja, junto a máquina
injetora e posteriormente o Abastecedor recolhe com carrinho hidráulico ou palleteira as
caixas com as peças e as direciona para outro setor.
- No próprio posto de trabalho a reclamante não fica em posição estática e anda de 90
cm a 1,80 m para a realização de suas tarefas.

V – Histórico Ocupacional:

Pericianda referiu que em abril/maio de 2005 passou a ter dores nas costas na
região lombar, quando passou a procurar o ambulatório da empresa, que diagnosticava
dores musculares e tomava dorflex e mioflex com alívio da dor. Poucos meses depois
ficou grávida e em agosto de 2005 foi para rebarbação de peças com melhora das dores,
pois trabalhava sentada e não carregava peso. Chegou a procurar o ortopedista nesta
época, mas como estava grávida não pode fazer o tratamento com medicações . Referiu
que no primeiro mês de gravidez teve dores em baixo ventre, hemorragia uterina, com
ameaça de aborto, tendo que fazer uso de medicação por este motivo e também foi
proibido pelo seu médico de carregar peso.
Referiu que seu filho nasceu em 30.05.06, ficou 4 meses de licença maternidade.
Durante essa licença, referiu que certa vez caiu na sua residência com seu filho no colo
porque sua perna falsiou e a coluna vertebral travou. Também nessa época não fez
tratamento médico ortopédico.
Em 27.09.06 retornou ao trabalho, ficando por 3 dias na Rebarbação de Peças e
posteriormente foi transferida para a operação de máquinas injetoras, quando pioraram
suas dores e a coluna vertebral passou a travar e ter dores, a perna esquerda também
passou a travar. Procurou o ortopedista do convênio médico fornecido pela empresa –

Av. Nova Cantareira, 291 – sl. 32 – Santana – S.P. Tel/fax: 2976-8786/ 2977-4242/ 2977-0707 6

SISDOC - Provimento GP/CR nº 14/2006 Assinatura Eletrônica


Documento eletrônico enviado pelo CPF 16302461820 - CLAUDIA L.F.GARCIA -
Dra. Claudia L. F. Garcia
Médica do Trabalho - Perícias
CRM 85224
Medial Saúde que diagnosticou Lombalgia e foi encaminhada para fisioterapia e
orientada a fazer uso de medicações, porém não obteve melhora e frequentemente
ficava em casa com atestado de 3 a 5 dias. Referiu que nessa época trocava de médicos
frequentemente, pois procurava ajuda médica a cada 2 meses. Em 2007, próximo a sua

TRT 2a. Reg - SP 19/05/09 21:52 1182672 INTERNET


demissão foi solicitado tomografia e ressonância nuclear da coluna vertebral lombar.
Fez todas as sessões de fisioterapia e os exames solicitados, pois embora já tivesse sido
desligada da empresa permaneceu com o convênio médico até o final do mês.
Referiu que após o desligamento continuou com o tratamento médico ortopédico
pois sua coluna travava muito e a perna esquerda também, associada a formigamento e
sensação de dormência na perna e pé esquerdo, não conseguindo sair da cama, até que
em 01.10.2008 foi operada de hérnia de disco. Após a cirurgia referiu que apresentou
pouca melhora da dor e ainda sente dormência no dedão do pé esquerdo. Faz uso de
mioflex, lisador e dexalgen.

VI – Antecedentes Pessoais e Familiares:

Referiu que é portadora de hipertensão arterial sistêmica em uso de atenolol e


clortalidona e de diabetes em uso de metiformina. Foi submetida a um parto cesárea, a
cirurgia da coluna vertebral e a laparoscopia por endometriose, ficando 10 dias afastada
em 2004/2005.
Negou acidentes graves, quedas e atropelamentos.
Negou fraturas, internações, diabetes, tabagismo, reumatismo, alterações da
tireóide, etilismo, uso de drogas, meningite, pneumonia, hepatite, sífilis, gonorréia,
diabetes, trauma crânio encefálico e alterações renais e pulmonares.
Referiu que o médico indicou pilates, porém ainda não começou e que durante
certo tempo fez ginástica e alongamento na empresa, além da ginástica laboral.
Referiu que seus pais são vivos e separados maritalmente, que seu pai tem
alterações cardíacas e sua mãe tem diabetes. Tem 4 irmãos sadios.

Av. Nova Cantareira, 291 – sl. 32 – Santana – S.P. Tel/fax: 2976-8786/ 2977-4242/ 2977-0707 7

SISDOC - Provimento GP/CR nº 14/2006 Assinatura Eletrônica


Documento eletrônico enviado pelo CPF 16302461820 - CLAUDIA L.F.GARCIA -
Dra. Claudia L. F. Garcia
Médica do Trabalho - Perícias
CRM 85224
VII – Condições de Vida:

Referiu que reside com esposo e filho de 3 anos de idade, e que sua mãe a
ajuda nas atividades domésticas.

TRT 2a. Reg - SP 19/05/09 21:52 1182672 INTERNET


Referiu que não tem dificuldades para cuidar do seu filho, brinca com ele, assiste
TV e DVD de filmes infantis e desenhos.
É católica e vai eventualmente a igreja, referindo que seu marido não gosta de
sair de casa.

VIII - Antecedentes Previdenciários:

Referiu que recebeu auxílio acidente de trabalho entre 22.10.2007 e 25.03.2008,


com CAT – Comunicado de Acidente de Trabalho n. 2007.485.038 -5/1 emitida pelo
sindicato.
Em 19.03.2008 foi submetido a perícia do INSS, porém foi negado o benefício.
Após 25.03.2008 passou pela Junta de Recursos do INSS, mas novamente teve
seu pedido de reconsideração negado.

IX – Exame Físico:

Geral:
A Periciada apresentou-se em bom estado geral, contactuando, orientada no
tempo e espaço, com memória preservada, afebril, acianótica, anictérica e sem
alterações no exame dos diversos aparelhos.
Pressão Arterial: 130 x 90 mmHg (com medicação antihipertensiva).
Peso: 91,5 kg – Altura: 1,56 m (Obesidade grau II).
Abdomen globoso.

Av. Nova Cantareira, 291 – sl. 32 – Santana – S.P. Tel/fax: 2976-8786/ 2977-4242/ 2977-0707 8

SISDOC - Provimento GP/CR nº 14/2006 Assinatura Eletrônica


Documento eletrônico enviado pelo CPF 16302461820 - CLAUDIA L.F.GARCIA -
Dra. Claudia L. F. Garcia
Médica do Trabalho - Perícias
CRM 85224
Coluna Vertebral:

- Escoliose torácica e aumento da cifose, levando a desnível dos ombros e


rotação anterior do ombro esquerdo.

TRT 2a. Reg - SP 19/05/09 21:52 1182672 INTERNET


- Apresenta cicatriz cirúrgica de 4 cm de comprimento sobre a coluna vertebral
na altura de L5-S1 de bom aspecto.
- Movimentos de flexão, extensão, rotação e inclinação da Coluna Vertebral
Cervical e Lombar sem limitações e preservados;
- Sensibilidade preservada;
- Marcha preservada e normal;
- Ausência de hipotrofias musculares.
- Sinal de Lasegue negativo bilateral.

X - Exames Complementares Utilizados no Estudo Atual:

- Ressonância Nuclear Magnética da Coluna Lombo-Sacra (fev.2007): leve protrusão


discal sem compressão de raízes nervosas.
- Ressonência Nuclear Magnética da Coluna Lombo-Sacra (out-2007): hérnia discal
póstero-centro-lateral esquerda com compressão nercosa local L5-S1.
- Eletroneuromiografia de Membro Inferior Esquerdo (nov-2007): Radiculopatia sacral,
com padrão lesional predominante neuropráxico, detectando-se no momento, déficit
funcional motor, de natureza leve.

XI – Equipamentos de Proteção
Individuais:

A reclamante referiu que utilizava protetor auricular, uniforme, luva (algodão),


sapato de segurança, o que também foi constatado durante a vistoria do local de
trabalho.

Av. Nova Cantareira, 291 – sl. 32 – Santana – S.P. Tel/fax: 2976-8786/ 2977-4242/ 2977-0707 9

SISDOC - Provimento GP/CR nº 14/2006 Assinatura Eletrônica


Documento eletrônico enviado pelo CPF 16302461820 - CLAUDIA L.F.GARCIA -
Dra. Claudia L. F. Garcia
Médica do Trabalho - Perícias
CRM 85224
Coletivos:

Equipamentos de combate a incêndios (hidrantes e extintores), enclausuramento


de processos e cortina de sensor que para o funcionamento da máquina quando o

TRT 2a. Reg - SP 19/05/09 21:52 1182672 INTERNET


operador está colocando as almas metálicas no molde ou retirando as peças injetadas do
mesmo.

XII – Discussão:

Após avaliação dos autos no que se refere às queixas alegadas, exames e


documentos anexados, resultados obtidos na realização do exame clínico e funcional,
resultados dos exames subsidiários específicos solicitados, considerando cargo e
funções da reclamante, tipo de atividade da empresa reclamada, considerou-se a
Reclamante portadora de Lombalgia decorrente de Protrusão Discal L5-S1,
decorrentes de processo de desequilibrio estrutural da coluna vertebral próprios do
reclamante, pela presença de escoliose dorsal, aumento da cifose, agravada pela
obesidade da reclamante e vida sedentária, não havendo nexo-causal com o trabalho
desenvolvido pelo reclamante na empresa reclamada.

A lesão discal, normalmente, quando não resultada de um trauma grave, não


ocorre durante um esforço agudo do tronco. Ela ocorre durante a vida inteira, por
pequenas lesões sobre o disco intervertebral. A lesão comumente se inicia na
Cartilagem articular, que na verdade é por onde passa a grande parte da nutrição do
Disco Intervertebral. Após estas pequenas lesões na cartilagem articular a nutrição
discal fica reduzida. Essa redução causa diminuição de diversas células importantes ao
disco, inclusive as células responsáveis pela absorção de água. Diminuindo a
hidratação, o Disco fica menos maleável, e seu tamanho diminui progressivamente.
Como temos lesões da cartilagem, e ainda, o disco desidratado, fica mais fácil o
processo de extrusão do Núcleo Pulposo. A unidade funcional vertebral ”Corpo - Disco
- Corpo” fica desequilibrada e assim aumentam os estresses sobre determinadas áreas.
As alterações de movimento, ou seja, alterações mecânicas acabam forçando o núcleo

10

Av. Nova Cantareira, 291 – sl. 32 – Santana – S.P. Tel/fax: 2976-8786/ 2977-4242/ 2977-0707 10

SISDOC - Provimento GP/CR nº 14/2006 Assinatura Eletrônica


Documento eletrônico enviado pelo CPF 16302461820 - CLAUDIA L.F.GARCIA -
Dra. Claudia L. F. Garcia
Médica do Trabalho - Perícias
CRM 85224
para o “trilho” formado pelas lesões cartilaginosas e o anel fibroso desidratado. Assim
temos previamente lesões crônicas, que quando sofremos um trauma ou realizamos um
esforço grande, ocorre a migração do núcleo. Os fatores de risco para a lesão do disco
intervertebral são: Trabalhadores que ficam sentados o dia inteiro; Operadores de

TRT 2a. Reg - SP 19/05/09 21:52 1182672 INTERNET


máquinas que fazem esforços excessivos e repetitivos com o tronco; Dentistas que
realizam esforços de flexão e rotação da coluna diversas vezes ao dia; Atletas de
determinados esportes que provocam exagerados impactos na coluna vertebral; Pessoas
sedentárias que normalmente não tem boa Postura e acabam provocando excesso de
tensões em regiões específicas do corpo; Pessoas obesas que aumentam a carga direta
sobre a coluna vertebral; Pessoas que tiveram quedas ou traumas diversos criando
“disfunções osteopáticas”. Estas disfunções se cronificam e anos depois ajudam a
provocar um desgaste articular em determinadas regiões da coluna; Quem tem Herança
Genética desfavorável; Pessoas que não dormem (descansam) o necessário, pois ao
dormir o disco tende a se reidratar. Se não há reidratação adequada o disco de desidrata,
facilitando o aparecimento de problemas discais; Pessoas estressadas; Fumantes
crônicos. O Cigarro afeta a microcirculação corporal e dificulta a nutrição do disco
intervertebral. Um disco sem nutrição adequada tem maior propensão a problemas;
Pessoas que realizam exercícios em academias e/ou atividades físicas de forma
incorreta, comprometendo a integridade da coluna vertebral; deformidades e outras
alterações da coluna vertebral que geram estresse mecânico sobre os discos
intervertebrais.

Na Protusão Discal, não ocorre herniação, ou seja, o núcleo empurra o anel


fibroso e este desgastado se dilata e comprime o Ligamento Vertebral Comum
Posterior. Na Hérnia de Disco, ocorre herniação do núcleo pulposo podendo atravessar
o anel fibroso e o Ligamento Comum Posterior chegando até a medula Espinhal
causando sintomas graves.

Particularmente quanto as alterações da Coluna Vertebral do reclamante, o


mesmo apresenta curvaturas anormais da coluna que levaram ao stress mecânico sobre o
anel fibroso, levando a protrusão discal. Essas curvaturas anormais são a escoliose, o
aumento da cifose e o aumento da lordose.

11

Av. Nova Cantareira, 291 – sl. 32 – Santana – S.P. Tel/fax: 2976-8786/ 2977-4242/ 2977-0707 11

SISDOC - Provimento GP/CR nº 14/2006 Assinatura Eletrônica


Documento eletrônico enviado pelo CPF 16302461820 - CLAUDIA L.F.GARCIA -
Dra. Claudia L. F. Garcia
Médica do Trabalho - Perícias
CRM 85224
Escoliose é um desvio da coluna vertebral para a esquerda ou direita, resultando
em um formato de "S". É um desvio da coluna no plano frontal acompanhado de uma
rotação e de uma gibosidade (corresponde a uma latero-flexão vertebral). Existem
diversos tipos de escoliose. O tipo habitual é a "escoliose idiopática", assim chamada

TRT 2a. Reg - SP 19/05/09 21:52 1182672 INTERNET


porque se desconhece sua causa. Afeta cerca de 4% da população, mas é mais comum
entre as mulheres. A escoliose idiopática normalmente se inicia entre os 10 e 12 anos de
idade. Conforme a criança vai crescendo, há uma chance de que a curvatura possa
progredir (piorar). A maioria das curvaturas não irá piorar durante a adolescência e
pioras após o crescimento estar completo são incomuns. Outros tipos de escoliose
incluem a congênita (causada por uma malformação óssea que está presente ao
nascimento); neuromuscular (devido a uma doença neuromuscular como uma paralisia
cerebral, distrofia muscular, etc.); adquirida (após uma fratura, radioterapia para o
câncer, etc.); e juvenil. A escoliose juvenil é similar à escoliose do adolescente, mas tem
uma chance maior de progredir. É importante observar periodicamente a progressão da
curvatura das escoliose, pois determinarão o tratamento. As escolioses aumentam a
probabilidade de desenvolver dores nas costas, artrite, hérnia de disco ou qualquer
problema musculo-esquelético, assim como os aumentos da cifose e lordose.

Cifose: são exageros da curvatura toráxica fora dos eixos dos limites fisiológicos.
Várias etiologias podem ser causas de cifose na coluna vertebral. Assim, temos os
defeitos congênitos, infecções, fraturas, doenças ósseas como a osteoporose e a doença
de Scheuermann ou dorso curvo do adolescente.

Cabe também salientar que a moléstia da reclamante se agravou após a sua


demissão quando compara-se os exames de Ressonância Nuclar Magnética da Coluna
Lombo- Sacra realizados entre fevereiro de 2007 e outubro do mesmo ano.

Analisando as funções do reclamante e o seus postos de trabalho, observamos


que o mesmo não praticava esforços físicos, não praticava movimentos repetitivos com
a coluna vertebral, existiam pausas para o preenchimento do diário de bordo, as tarefas
eram diversas, não monótonas, com exigência de fator cognitivo. Não assumia posições

12

Av. Nova Cantareira, 291 – sl. 32 – Santana – S.P. Tel/fax: 2976-8786/ 2977-4242/ 2977-0707 12

SISDOC - Provimento GP/CR nº 14/2006 Assinatura Eletrônica


Documento eletrônico enviado pelo CPF 16302461820 - CLAUDIA L.F.GARCIA -
Dra. Claudia L. F. Garcia
Médica do Trabalho - Perícias
CRM 85224
inadequadas com a coluna vertebral capazes de desencadear ou agravar suas moléstias.
Nem tão pouco, o fato de despejar as peças da caixa amarela para a caixa plástica preta
constitui fator de desencadeamento ou de agravamento da moléstia da reclamante, tendo
em vista que o baixo peso da caixa (12 kg) e da baixa frequencia do evento (a cada 20

TRT 2a. Reg - SP 19/05/09 21:52 1182672 INTERNET


minutos). Deve-se observar também que o tempo de descanso para refeição, ginástica
laboral e diálogos de segurança, além do tempo dispendido para o preenchimento do
Diário de Bordo e Controle de Qualidade.

Salienta-se que não existem casos semelhantes no Setor e Função do


Reclamante.
O Art. 198 da CLT estabelece como sendo de 60 kg o peso máximo que um
empregado pode remover individualmente. Não está compreendida na proibição deste
artigo a remoção de material feita por impulsão ou tração de vagonetes sobre trilhos,
carros de mão ou quaisquer outros aparelhos mecânicos, podendo o Ministério do
Trabalho, em tais casos, fixar limites diversos, que evitem sejam exigidos do
empregado, serviços superiores as suas forças.

Segundo LER – Lesões por esforços repetitivos. Normas técnicas para avaliação
da incapacidade – 1993, MPS – INSS, os fatores de risco para o trabalhador adquirir
DORT como Fatores Biomecânicos (repetitividade, movimentos com emprego de força,
posturas inadequadas, pressão mecânica localizada por contato e uso de ferramentas
manuais), Fatores de Organização do Trabalho (grande pressão pela chefia, pouco
controle sobre o seu próprio trabalho e pouca variedade no conteúdo da atividade),
Fatores Ambientais como agentes insalubres (frio, calor, vibração e etc) e desconforto
ambiental não estavam presentes na função da reclamante.

Análise e Discussão Ergonômica


De modo geral, conforme evidenciamos, o local de trabalho do reclamante não
apresenta risco ergonômico com possibilidade de danos aos funcionários daqueles
setores.

Nas Lesões por Esforços Repetitivos é importante analisar os fatores de risco


envolvidos direta ou indiretamente.
13

Av. Nova Cantareira, 291 – sl. 32 – Santana – S.P. Tel/fax: 2976-8786/ 2977-4242/ 2977-0707 13

SISDOC - Provimento GP/CR nº 14/2006 Assinatura Eletrônica


Documento eletrônico enviado pelo CPF 16302461820 - CLAUDIA L.F.GARCIA -
Dra. Claudia L. F. Garcia
Médica do Trabalho - Perícias
CRM 85224

A expressão “fator de risco” designa, de maneira geral, os fatores do trabalho


relacionados com as Lesões por Esforços Repetitivos.

Os fatores de risco não são independentes. Na prática, há a interação destes


fatores nos locais de trabalho. Na identificação dos fatores de risco, devem-se integrar

TRT 2a. Reg - SP 19/05/09 21:52 1182672 INTERNET


as diversas informações.

Sobre o plano conceitual, “os mecanismos de lesão dos casos de LER são
considerados um acúmulo de influências que ultrapassam a capacidade de adaptação de
um tecido, mesmo se o funcionamento fisiológico deste é mantido parcialmente”.

Ergonomia:

CONDIÇÃO ERGONÔMICA DO POSTO DE TRABALHO (Couto)


Responda SIM, caso a pergunta não se aplique.
SITUAÇÃO SIM NÃ
O
1. O corpo (tronco e cabeça) fica na vertical? 1
2. Os braços trabalham na vertical ou próximos à vertical? 1
3. Existe alguma forma de esforço estático? 1
4. Existem posições viciosas dos membros superiores? 1
5. As mãos têm que fazer força? 1
6. Há repetitividade de algum tipo específico de movimento? 1
7. Os pés estão apoiados? 1
8. Há esforço muscular forte com a coluna ou outra parte do corpo? 1
9. Há a possibilidade de flexibilidade postural no trabalho? 1
10. O trabalho tem a possibilidade de uma pequena pausa entre um ciclo e outro ou há 1
um período definido de descanso após um certo número de horas trabalhadas?
TOTAL DE PONTOS 7
Critério de interpretação (Couto)
PONTOS CONCLUSÃO
10 Condição ergonômica em geral excelente
7a9 Boa condição ergonômica 7 pontos:
5 ou 6 Condição ergonômica razoável boa condição
3 ou 4 Condição ergonômica ruim ergonômica
0a2 Péssima condição ergonômica

CONDIÇÃO BIOMECÂNICA DO POSTO DE TRABALHO (Couto)


Responda SIM, caso a pergunta não se aplique.
SITUAÇÃO SIM NÃ
O
1. A bancada de trabalho/máquina está localizada em altura correta? 1
a) trabalho pesado: altura do púbis;
b) trabalho moderado: altura do cotovelo;
c) trabalho leve/precisão: altura acima do cotovelo: 30 cm olhos
2. A bancada ou máquina tem regulagem de altura de forma a possibilitar (ao 1
trabalhador) adequar a altura do posto de trabalho à sua?
3. Tem-se que sustentar pesos com os membros superiores para evitar o seu 1
deslocamento, seja na vertical ou na horizontal?
4. Tem-se que sustentar pedais, estando em pé, mais que 3 vezes por minuto? 1
14

Av. Nova Cantareira, 291 – sl. 32 – Santana – S.P. Tel/fax: 2976-8786/ 2977-4242/ 2977-0707 14

SISDOC - Provimento GP/CR nº 14/2006 Assinatura Eletrônica


Documento eletrônico enviado pelo CPF 16302461820 - CLAUDIA L.F.GARCIA -
Dra. Claudia L. F. Garcia
Médica do Trabalho - Perícias
CRM 85224
5. O trabalho exige a elevação dos braços acima do nível dos ombros? 1
6. O trabalho exige ficar na posição em pé durante grande parte do tempo (mais que 1
60%)?
7. No caso de sentado, há espaço suficiente para as pernas? 1
8. A cadeira tem inclinação correta, compatível com o trabalho executado? 1
9. O corpo trabalha no eixo vertical natural, ou em ângulo de 100o, entre as coxas e o 1
tronco (para frente)?

TRT 2a. Reg - SP 19/05/09 21:52 1182672 INTERNET


10. Os membros superiores têm que sustentar peso? 1
11. Fica-se parado, de pé, durante a maior parte da jornada? 1
12. Estando sentado, fica-se na posição estática? 1
13. Existem pequenas contrações estáticas, porém por muito tempo (por exemplo, 1
pescoço excessivamente estendido, braços suspensos, sustentação dos antebraços pelos
braços, falta de apoio para os antebraços) ?
14. Os objetos e materiais de uso freqüente estão dentro da área de alcance? 1
TOTAL DE PONTOS 8
Critério de interpretação (Couto)
PONTOS CONCLUSÃO
13 ou 14 Condição biomecânica excelente
10 a 12 Boa condição biomecânica 8 pontos:
7a9 Condição biomecânica razoável condição
4a6 Condição biomecânica ruim biomecânica
Menos que 4 Péssima condição biomecânica razoável

Conclusão: Baixo Risco Ergonômico.

XIII – Conclusão:

Do acima exposto conclui-se que o reclamante, apresenta Lombalgia decorrente


de Protrusão Discal L5-S1, decorrentes de processo de desequilibrio das estruturas da
coluna vertebral, pela presença de escoliose dorsal e aumento da cifose, agravada pelo
obesidade reclamante e vida sedentária, não havendo nexo-causal com o trabalho
desenvolvido pela reclamante na empresa reclamada.
Não existe nexo-causal.
Não há diminuição da capacidade laborativa, evidenciada pela forma como as
atividades são desenvolvidas na função de Operadora de Injetora e tambem pelo exame
físico, onde a reclamante não apresenta restrições ou limitações da mobilidade da
coluna vertebral.

15

Av. Nova Cantareira, 291 – sl. 32 – Santana – S.P. Tel/fax: 2976-8786/ 2977-4242/ 2977-0707 15

SISDOC - Provimento GP/CR nº 14/2006 Assinatura Eletrônica


Documento eletrônico enviado pelo CPF 16302461820 - CLAUDIA L.F.GARCIA -
Dra. Claudia L. F. Garcia
Médica do Trabalho - Perícias
CRM 85224
XIV – Respostas aos Quesitos

Do Reclamante:
Não houve acesso ao processo em epígrafe.

TRT 2a. Reg - SP 19/05/09 21:52 1182672 INTERNET


Da Reclamada:

Não houve acesso ao processo em epígrafe.

São Paulo, 19 de Maio de 2009

Dra. Claudia L. F. Garcia


Médica do Trabalho
CRM 85224

16

Av. Nova Cantareira, 291 – sl. 32 – Santana – S.P. Tel/fax: 2976-8786/ 2977-4242/ 2977-0707 16

SISDOC - Provimento GP/CR nº 14/2006 Assinatura Eletrônica


Documento eletrônico enviado pelo CPF 16302461820 - CLAUDIA L.F.GARCIA -

Você também pode gostar