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Capitulo XIV Teoria do Estado 1. Conceito © coneeito de Estado néo é univoco, visto que pode ser examinado sob 0s angulos filoséfico, politico e estritamente juridico.1 0 conceito filoséfico, delineado por Georg Hegel (1770 ~ 1831), evi- dencia que o Estado deduziria a realidade da idéia ética, consistente na sintese do espirito absoluto, a partir da dialética entre a familia (tese ou espirito subjetivo) e a sociedade (antitese ou espirito objetivo), de arte que “o Estado seria uma realidade da vida ética, da vontade substancial, em que a consciéncia mesma do individuo se eleva A comunidade e, por- tanto, ao racional em si e para si’ © conceito sociolégico, desenhado por Max Weber (1864 — 1920), expressa que o Estado detectaria o monopélio da forca fisica leaitima, consubstanciado na institucionalizagao da violéncia pelo aparato estatal, de maneira que “o Estado seria um agrupamento de dominagéo que apre- senta cardter institucional e que procurou, com éxito, monopolizer, nos limites de um territério, a forga fisica legitima como instrumento de domi- nio e que, tendo esse objetivo, reuniu nas maos dos dirigentes os meios materiais de gestao” 3 © conceito estritamente juridico, desenvolvido por Georg Jelinek (1851 - 1911), exprime que o Estado deteria o poder politico, constituide sobre determinado territério e dirigido a certa populagao, de sorte que “o Estado seria um fenémeno histérico no qual certa populacao, assentada em determinado territério, é dotada de um poder origindrio de mando”. A guisa de complementagao, o conceito estritamente juridico é dividido em trés etapas: i) a retrospectiva, pertinente origem e ao desenvolvi- mento do Estado no pasado, ii) a perspectiva, referente aos elementos TA palavra “Estado” romonta a Niceold Machiavelli (1469 ~ 1627), segundo © qual “todos os Estados, todos os dominios que tiveram e tém império sobre os homens, so repiblicas ox prin- cipados". ADOMETT, Klaus. Rechts und Staatsphiasophie. 18 ec, vol. I. Heidelberg: Decker's ‘Verlag, 1995, p21 2. HEGEL, Georg. Grunduinion der Philosophie dos Rechts. 3d. Stuttgart: rommans, 1967, p. 328. 3° WEBER, Max. Wirtschaft und Gesollschaft, 51 od, Tubingen: J. Winekolmann, 1922, p. 830. 4 JBLLINEK, Georg. Allgemeine Seaatsiohre. 38 od, Borin: Windelband, 1914, p. 180. Guilherme Peta de Moraos constitutivos do Estado no presonte e iii) a prospectiva, relativa as modi- ficagdes e as tendéncias para o Estado no futuro.S 2. Retrospectiva do Estado No tocante a retrospectiva, o Estado, cuja origem é resultancia da ampliago ou desenvolvimento da sociedade humana, garantia da pro- priedade, dominagéo de grupos, fixacéo no territério, diferenciagao de condigées, organizacéo de normas ou acordo de vontades, tacito ou expresso, foi objeto de evolugao no decurso da histéria. 2.1, Origem do Estado A origem do Estado e o fundamento do poder politico séo motivos de divergéncia entre sete correntes doutrinarias. ‘A teoria da origem patriarcal, elaborada por Robert Filmer, defende a sociedade politica como resultado da ampliagao ou desenvolvimento da ssociedade humana. E dizer: “Nao somente Addo, mas também os patriar- cas sucessivos tinham por seu direito de paternidade uma autoridade real sobre os filhos. Este dominio sobre o mundo inteiro, que Adao exercia por obediéncia e do qual os patriarcas desfrutavam como se 0 tivessem rece- bido dele por transmissdo legitima, se igualava, por suas dimens6es e por sua amplitude, 4 soberania absoluta de todos os monarcas que existiram desde a criagao."6 ‘A teoria da origem patrimonial, elucidada por Friedrich Engols, defi- ne a socies aranti roti Sobre o concoito de Rstado, na doutsina alem: HELLER, Hermann. Staatslohre. Leyden: A. W. Sitholt's Uitgeversmaatschappi, 194, na doutrina argentina: LASTRA, Arturo, Teoria dal Estado. 18 fed. Buenos Aites: Abeled-Perct, 1996; na doutrina espanhola: CASANOVA, Gonzalez. Teoria del Estado. {s.0d, Barcelona: Bosch, 1980; na doutrina francesa: BURDEAU, Georges. Théorie de tat. ‘ed Pars Seul, 1970, na doutrina liana: PALLIERI, Balladore, Dttria dello Stato, 180d, Padovs: Cedam, 1964; na doutrina mexicana: CAMACHO, Miguel Teoria del Estado, ed. Mexico: Belitores Mexicanos Unidos, 1969; na doutrina norte-americana: BLOCK, Fred. State Theory. 18 ed Philadelphia: Templo Press, 1988 na doutrina portuguesa: SA, Luis, Peoria do Estado, 1d, Lisboa: Camino, 1986. V, também, na dovtrina brasil: AFONSO, Carlos. Teoria do Estado. 18 ed, S40 Paulo; Vores, 1988; BONAVIDES, Paulo. Tberia do Estado. 4 ed, Sto Paulo: Malheizes, 2003; CAVAL- CANT, Themistocies. Teoria do Zrtado, 2 ed, Séo Paulo: Borsoi, 1969; DANTAS, Ivo. Teoria do [Bstado. 18 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 1989; LEAL, Rogério. Tooria do Estado. 8 ed. Porto Alegre: tiveatia do Advogado 1997, LIMA, Eussblo, Tria do Estado. 81 ed. Rio de Janel: Racord, 1957 MARION, Alexandre, Teoria do Estado, 18 ed, Porto Alogte: Sinteso, 1999; PAUPERIO, Machado. ‘Thoria do Estado. 104. Rio de Jansio: Freitas Bastos, 1985. 6 FILMER, Robert Patriarcha, or the Natural Power of Kings. London: Cambridge University Press, 1988, p12, Direito Constitucional + Teoria do Estado sociedade humana. Em outras palavras: “A riqueza passa a ser valoriza- da e respeitada como bem supremo. Faltava apenas uma coisa, qual seja, ‘uma instituigdo que nao unicamente consagrasse a propriedade privada, antes téo pouco estimada, e proclamasse esta consagrag4o o objetivo supremo de toda comunidade humana, mas que também imprimisse sobre as formas novas sucessivamente desenvolvidas de aquisigao da propriedade o selo da legalizagao para a sociedade em geral; uma insti- tuigéo que n4o apenas perpetuasse a nascente divisdo da sociedade em classes, mas também o direito de a classe possuidora explorar aquela que nao possui nada, e o predominio daquela sobre esta."7 A teoria da oagen violenta, engendrada por Franz Oppenheimer, sociedade humana Em sintose: “O Estado 6, inteiramente quanto & sua origem, e quase inteiramente quanto a sua natureza durante os primeiros estagios de sua existéncia, uma organizacdo social imposta por um grupo vencedor a um grupo vencido, organizagao da qual 0 tinico objetivo 6 regulamentar a dominagao do primeiro sobre o segundo, defendendo sua autoridade contra as revoltas interiores, e os ataques exteriores. E esta dominagao nao tem outro objetivo que a exploragao econémica do venci- do pelo vencedor."8 A teoria da formagdo natural, enunciada por Maurice Hauriou, de- marca a sociedade politica como resultado da fixac4o no territério da sociedade humana, com a constituigéo de relacdes organicas entre os ele- mentos do Estado. Vale dizer: “Houve sucessivamente duas variedades humanas ~ a humanidade némade e a humanidade sedentaria. E com a humanidade sedentéria que comecam a civilizagéo e a Histérla, bem assim a maior parte das instituigses que nos sao conhecidas, por exem- plo, do ponto de vista politico, o regime do Estado, do ponto de vista social, a propriedade privada e o comércio juridico individualista."9 A teoria da formacdo histérica, esbogada por Johann Bluntschli, descreve a sociedade politica como resultado de condicées diferentes na sociedade humana, com a distingao entre os modos de formagao do Estado. Em outros termos: “Irés so os modos pelos quais historicamen- te se formam os Estados, ou soja, modos originarios, em que a formagao 6 inteiramente nova, nasce diretamente da populagao e do pais, sem deri- 7 ENGELS, Miedrich. LOxigine dela Famille, dela Propriété Privé ot do 'Etat. 2d. Pars: ations Sociales, 1971, p. 101 8 OPPENHEIMER, Franz. The Stato, ls History and Development Viewed Sociologicaly. ed. Nevr ‘York: Bobbs-Merril, 1914, p. 6. 9 HAURIOU, Maucioe, Précis de Droit Constitutionel. 28 od, Pars: Recueil Srey, 1928, p. 41

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