Você está na página 1de 9

Conteúdo pg Conteúdo pg

Sobre a pensão “Casa Vauquer” uma 13,15 Depois de terem lido os secretos infortúnios do pai
Goriot, jantarão com apetite imputando a própria
das atribuições dada por Balzac é de insensibilidade ao autor, tachando-o de exagero,
uma pensão burguesa. Na própria acusando-o de poesia. Ah! Saibam: este drama não é
narrativa se ler numa placa “pensão uma ficção, nem um romance. All is true, ele é tão
verdadeiro que todos podem reconhecer esses
burguesa para os dois sexos e outros.” elementos em si mesmo, em seu coração talvez! (14)
Na própria narração é citado duas 19
figuras reais Georges e Pichegu, para
ver essa confirmação ler nota 8.
Nesta parte Balzac narra brevemente as 20,21 “Nesse momento, um dos dois quartos pertencia a um
rapaz vindo dos arredores de Angoulême para Paris, a
relações e os objetivos do jovem fim de estudar direito, e cuja família numerosa se
estudante de direito Eugène de submetia às mais duras privações para lhe enviar mil e
Rastignac, que vive em situação duzentos francos por ano. Eugene de Rastignac, assim
se chamava, era um desses jovens moldados no
lastimável em Paris. No entanto, sua trabalho pelo infortúnio, que compreendem desde a
família via no destino desse jovem o tenra idade as esperanças que os pais depositam neles e
que se preparam para um belo destino já calculando o
destino de todos, pois, acreditava numa alcance de seus estudos e adaptando-os de antemão ao
mobilidade através do estudo. movimento futuro da sociedade, para serem os
primeiros a esmagá-la. Sem suas observações curiosas
e a habilidade com que ele soube se comportar nos
salões de Paris, este relato não teria se colorido de tons
verdadeiros que, com certeza, deverá a seu espírito
sagas e seu desejo de penetrar nos mistérios de uma
situação pavorosa, tão cuidadosamente escondida pelos
que a haviam criado quanto por quem sofria.”
Pai Goriot, Srta Michonneau e 20,21
Rastignac, pagavam mensalmente 45
franco na pensão, os dois moradores do
segundo andar o velho Poiret e Vautrin
pagavam 72 francos.
Balzac alerta para dificuldade de uma 24 A bela Paris ignora essas figuras pálidas de sofrimentos
morais ou físicos. Mas Paris é um verdadeiro oceano.
descrição de Paris, que sempre terá Joguem a sonda, jamais conhecerão sua profundidade.
peculiaridades a ser registrado como é o Percorram-no, descrevam-no! Por mais cuidado que
caso da pensão Vauquer. ponham em percorrê-lo, em descrevê-lo; por mais
numerosos e interessados que sejam os exploradores
desse mar, sempre se encontrará um lugar virgem, um
antro desconhecido, flores, pérolas, monstros, alguma
coisa de inaudito, esquecido pelos mergulhadores
literários. A casa Vauquer é uma dessas
monstruosidades curiosas.
Entre os sete moradores permanentes da 19 a Nesse momento, um dos dois quartos pertencia a um
rapaz vindo dos arredores de Angoulême para Paris, a
pensão (Srta. Michonneau, sra. 25 fim de estudar direito, e cuja família numerosa se
Couture, Srta. Victorine taillefer, Sr. Pai submetia às mais duras privações para lhe enviar mil
Goriot, Sr. Poiret, Sr. Vautrin e duzentos francos por anos. Eugène de Rastignac, assim
se chamava, era um desses jovens moldados no
Rastignac) Balzac faz uma descrição trabalho pelo infortúnio, que compreendem desde a
física, moral e biográfica de cada um. tenra idade as esperanças que os pais depositam neles e
que se preparam para um belo destino já calculando o
alcance de seus estudos... (21) Assim, o espetáculo
desolador apresentado dentro daquela casa se repetia
no vestuário de seus frequentadores, igualmente
deteriorados. Os homens usavam sobrecasacas cuja cor
se tornara problemática, sapatos como os que são
jogados nas esquinas dos bairros elegantes, camisas
puídas, roupas que não tinham mais que a alma. As
mulheres usavam vestidos antiquados, retingidos,
desbotados, velhas rendas remendadas, luvas lustrosas
pelo uso, golas bordadas sempre encardidas e lenços
esgarçados. Se essas eram as roupas, quase todos
mostravam corpos solidamente robustos, compleições
que haviam resistido às tempestades da vida, faces
frias, duras, apagadas como as dos escudos fora de
circulação. As bocas enrugadas eram armadas de
dentes ávidos. Esses pensionistas faziam pressentir
dramas concluídos ou em ação; não esses dramas
representados às luzes da ribalta, entre telas pintadas,
mas dramas vivos e mudos, dramas gélidos que
remexiam ardorosamente o coração, dramas contínuos.
A velha Srta. Michonneau mantinha sobre seus olhos
cansados uma viseira de tafetá verde rodeado por um
fio de arame que teria assustado um anjo da
Misericórdia. Seu xale de franjas mirradas e chorosas
parecia cobrir um esqueleto, de tão angulosas eram as
formas que escondia. Que ácido despojara essa criatura
de suas fortunas femininas? Devia ter sido bonita e
bem-feita: seria o vício, a tristeza, a cupidez? Teria
amado demais, teria sido vendedora de roupas usadas,
ou somente cortesã? (22) Dizia ter cuidado de um
velho atacado por um catarro na bexiga e abandonado
pelos filhos, que o imaginaram sem recursos. Esse
velho lhe legara mil francos de renda vitalícia,
periodicamente disputados pelos herdeiros, de cujas
calúnias era alvo. Embora o jogo das paixões tivesse
devastado seu rosto, ainda se viam certos vestígios d
uma brancura e de uma delicadeza no tecido que
permitiam supor que o corpo conservasse alguns
restos de beleza. O Sr. Poiret era uma espécie de
máquina. (...) o que havia ele sido? Mas talvez tivesse
sido funcionário do ministério da justiça, na seção para
onde os carrascos enviam seus relatórios de despesas, a
conta do fornecimento de véus negros para as
parricidas, de farelo para as cestas, de cordas para as
lâminas. Talvez tivesse sido recebedor na porta de um
matadouro, ou subinspetor de salubridade. Enfim,
aquele homem parecia ter sido um dos asnos de nosso
grande moinho social, um desses Ratons parisienses
que nem sequer conhecem seus Bertrands, algum pivô
em torno de quem tinham girado os infortúnios ou as
sujeiras públicas, enfim um desses homens de quem
dizemos, ao vê-los: No entanto, é preciso gente assim.
(23) Eugène de Rastignac tinha um rosto todo
meridional, a tez branca, cabelos pretos, olhos azuis.
Sua presença, suas maneiras, sua pose habitual
denotavam o filho de uma família nobre, em que a
primeira educação comportara apenas tradições de bom
gosto. Se era econômico em seus trajes, se no dias
correntes acabava de gastar as roupas do ano anterior,
às vezes podia, porém, sair vestido como se veste um
rapaz elegante. (25) Entre esses dois personagens e os
outros, Vautrin, o homem de quarenta anos, de suíças
pintadas, servia de transição. (...) Conhecia tudo, aliás,
os navios, o mar, a França, o estrangeiro, os negócios,
os homens, os acontecimentos, as leis, os hotéis e as
prisões. (...) Pelo modo como lançava um jato de
saliva, anunciava em sangue-frio imperturbável que
não devia fazê-lo recuar diante de um crime para sair
de uma posição ambígua. Como um juiz severo, seu
olhar parecia ir ao fundo de todas as questões, de todas
as consciências, de todos os sentimentos. (26) Embora
tivesse erguido sua aparente bonomia, sua constante
condescendência e sua alegria como uma barreira entre
os outros e ele, vez por outra deixava ser desvendada a
terrível profundidade de seu caráter. Volta e meia uma
tirada digna de Juvenal, e com a qual parecia se
satisfazer em ridicularizar as leis, fustigar as alta
sociedade, convencê-la de ser inconsequente consigo
mesma, deixava supor que ele tinha rancor do estado
social e que havia, no fundo de sua vida, um mistério
cuidadosamente escondido. (27)
O pai Goriot é alvo de piadas e 28,29 Uma reunião dessas devia oferecer e oferecia em
pequena escala os elementos de uma sociedade
brincadeiras de mau gosto na pensão, ,63 completa. Entre os dezoitos convivas encontra-se,
mas é indiferente com seus como nos colégios, como na sociedade, uma pobre
zombeteiros. Sua chegada a pensão criatura rejeitada, um saco de pancadas sobre quem
choviam as brincadeiras. No começo do segundo ano,
Vauquer data de 1813. essa figura tornou-se para Eugène de Rastignac a mais
notável de todas em meio das quais ele estava
condenado a viver ainda por dois anos. Esse cristo era
o antigo macarroneiro, o pai Goriot, sobre cuja cabeça
um pintor teria, assim como um historiador, feito cair
toda a luz do quadro. Por qual acaso esse desprezo
semiodioso, essa perseguição mesclada de piedade,
esse desrespeito pela desgraça tinham atacado o mais
antigo pensionista? Ele dera margem a isso por alguns
desses ridículos ou esquisitices que perdoamos menos
do que perdoamos os vícios? Essas questões estão
muito próximas das grandes injustiças sociais. Talvez
esteja na natureza humana fazer com que tudo suporte
quem sofre por humildade verdadeira, fraqueza ou
indiferença. (28)
A história narrada se passa em 1819
(pg13), nesse período a sra. Vauquer
tinha 50 anos (pg19), mas quando
Goriot chega a pensão em 1813 (pg29)
a sra. Vauquer tinha 40 anos (pg30), ou
seja, pai Goriot já morava há dez anos
na pensão Vauquer.
Pai Goriot é taxado de miserável pela 35,36
sra Vauquer, que logo apelida como Pai
Goriot. Esse desafeto em relação ao pai
Goriot é efeito da desilusão amorosa.
Balzac faz uma descrição do aspecto 38,39
físico de Goriot, e relaciona com a
deterioração emocional, ao mesmo
tempo diz sobre a representação que
essa mudança física provoca nas
pessoas do cotidiano de Goriot.
Um dos protagonistas da história, o 41,64 “Com a fúria fria de um homem certo de triunfar um
dia, recebeu o olhar de desprezo das pessoas que o
jovem Eugène de Rastignac, ,65,79 tinham visto atravessar o pátio a pé, sem ter ouvido o
completava um ano de estudos em ,92 barulho de um carro na porta. Aquele olhar lhe foi mais
Paris. Como jovem da província, Paris sensível ainda porque já havia entendido sua
inferioridade ao entrar no pátio, onde bufava um belo
logo despertou interesses e desejos até cavalo ricamente atrelado a um desses cabriolés
então nunca experimentado e foi em elegantes que exibem o luxo de uma existência
dissipadora e subentendem o hábito de todas as
Paris que percebeu as divisões sociais e felicidades parisienses. Ficou, por conta própria, de
sua própria condição social. mau humor”.(65) “‘aí está’, pensou, ‘o homem do
cupê! Mas então é preciso ter cavalos fogosos, librés e
ouro a rodo para obter o olhar de uma mulher de
Paris?’ O demônio do luxo o mordeu no coração, a
febre do ganho o assaltou, a sede de ouro secou-lhe a
garganta. Ele tinha cento e trinta francos para seu
trimestre. Seu pai, sua mãe, seus irmãos, suas irmãs,
sua tia não gastavam, todos juntos, duzentos francos
por mês. Essa rápida comparação entre situação
presente e objetivo a que era preciso chegar contribuiu
para deixá-lo estupefato”.(79) “O espetáculo daquelas
misérias e o aspecto da sala lhe foram horríveis. A
transição era demasiado brusca, o contraste, demasiado
completo, para não desenvolver exageradamente nele a
sensação de ambição. (91,92)
Com essas mudanças de objetivos 42,45
ocorridas em Eugène a situação de sua
família tornou-se dramática,
“duplicando” – no dizer de Balzac – a
ânsia para triunfar na ascensão social e
“sede de distinção”. Entre sua estratégia
logo se pôs a criar relações em Paris,
principalmente com mulheres influentes
para serem suas protetoras.
Ao falar da admiração de Eugène pela 44 Eugène se contentara de distinguir, entre a multidão de
deidades parisienses que se comprimiam naquela
condessa Anastasie, Balzac escreve festança, uma dessas mulheres que um homem deve
algumas expressões conferida às adorar em primeiro lugar. A condessa Anastasie de
mulheres – cavalo puro-sangue – essa Restaud, alta e graciosa, tinha fama de ser uma das
mudança talvez seja sinal de uma mais belas figuras de Paris. Imaginem grandes olhos
negros, mãos magníficas, um pé bem delineado, fogo
mudança estrutural na representação da nos movimentos, uma mulher que o marques de
mulher. Ronquerolles chamava um cavalo puro-sangue. (...)
Cavalo puro-sangue, mulher de raça, essas locuções
começavam a substituir os anjos do céu, as figuras
ossiânicas, toda a antiga mitologia amorosa rejeitada
pelo dandismo. Mas, para Rastignac, sra. Anastisie de
Restaud foi a mulher desejada. (44)
Na narrativa é possível ver um 59,60
contraste de paternidade entre pai
Goriot e o pai da Srta. Victorine. Talvez
seja possível fazer uma tipologia
dicotômica.
A cada momento que Rastignac tem 68 Rastignac sentiu um ódio violento daquele rapaz.
Primeiro, os belos cabelos louros e bem frisados de
contato com a classe alta parisiense, Maxime lhe ensinaram como os seus eram horríveis.
mais sente o contraste com sua origem Depois, Maxime tinha botas finas e limpas, aos passo
e condição social. No caso desse que as suas, apesar do cuidado que tomara ao andar,
estavam marcadas por um leve rastro de lama. Por fim,
excerto é o da aparência, embora tenha Maxime vestia uma sobrecasaca que lhe apertava
uma beleza natural. Esse contraste na elegantemente a cintura e o fazia parecer uma mulher
bonita, enquanto Eugène vestia, às duas e meia, uma
aparência é na casa da condessa casaca preta. O espirituoso filho de Charente sentiu a
Anastasie, quando o e apresentado ao superioridade que a roupa dava àquela dândi, esbelto e
Maxime (amante da condessa pg71) alto, de olhos claros, tez pálida, um desses homens
capazes de arruinar órfãos. (68)
Balzac narra a generaliza o 79,80, Essas palavras foram o raio e o trovão para aquela
mulher, que retornou, às voltas com apreensões
comportamento da viscondessa 82, mortais. Na alta sociedade, as mais terríveis catástrofes
Blauséant no momento de raiva e 258, são apenas isso. (79,80) A sra. de Beauséant não
contrariedade, seu comportamento se 259 apertou os lábios, não corou, seu olhar permaneceu o
mesmo, sua fronte pareceu se iluminar enquanto a
resume em “apreensões mortais” duquesa proferia essas palavras fatais. (82) Desde o
momento em que toda a corte se precipitou à casa da
Grande Mademoiselle, cujo amante Luís XIV lhe
arrancara, nenhum desastre amoroso foi mais rumoso
que o da sra. Beauséant. Nessa circunstância, a última
filha da quase real casa de Bourgogne mostrou-se
superior a seu mal, e dominou até o último momento a
sociedade cujas vaidades ela só aceitara para pô-las a
serviço do triunfo de sua paixão. As mais belas
mulheres de Paris animavam os salões com suas
toaletes e seus sorrisos. Os homens mais distintos da
corte, os embaixadores, os ministros, as pessoas
ilustres de todo tipo, enfeitadas de cruzes, placas,
cordões multicoloridos, espremiam-se em torno da
viscondessa. A orquestra fazia ecoarem os motivos de
sua música sob os lambris dourados daquele palácio,
deserto para sua rainha. A sra. de Beauséant mantinha-
se de pé diante de seu primeiro salão para receber seus
pretensos amigos. Vestida de branco, sem nenhum
enfeite em seus cabelos simplesmente trançados,
parecia calma e não exibia dor, nem orgulho, nem falsa
alegria. Ninguém podia ler em sua alma. Poderia se
dizer uma Níobe de mármore. Seu sorriso para os
amigos íntimos foi por vezes escarnecedor; mas a
todos pareceu como sempre foi, e mostrou-se tão bem
como era quando a felicidade a ornamentava com seus
raios, quando os mais insensíveis a admiraram, assim
como as jovens romanas aplaudiam o gladiador que
sabia sorrir ao expirar. (258, 259)
Diferente da viscondessa, o jovem 82,85 - A sra. duquesa de Langeais – disse Jacques, cortando
a palavra do estudante, que fez o gesto de um homem
Rastignac não conseguia reprimir a violentamente contrariado. – Se quiser ter êxito – disse
contrariedade em seus gestos. Uma das a viscondessa em voz baixa –, primeiro não seja
lições da viscondessa se baseava para demonstrativo. (82) Ah! É o pai dela – retrucou o
estudante, fazendo um gesto de horror. (85)
ele não “ser tão demonstrativo”.
Rastignac ao querer saber mais sobre a 85,89, - a filha de um macorroneiro – prosseguiu a duquesa –,
uma muherzinha que foi apresentada à corte no mesmo
condessa de Anastasie, foi se informar 90 dia que a filha de um confeiteiro. Você não se lembra,
com a viscondessa, sua prima. Nessa Clara? O rei começou a rir, e disse em latim uma
visita, soube que Goriot era o pai da pilhéria sobre a farinha. (85) Restaud tem berço, a
mulher dele foi adotada, foi apresentada; ...(89,90)
condessa. Mas o interessante é quando
a viscondessa relembra quando as filhas
de Goriot foram apresentadas na corte.
Goriot, não era um nobre, apesar de ter
recurso financeiro e frequentar a corte,
sua inserção ainda era diferenciada, isso
é evidente na brincadeira do rei com as
filhas de Goriot e do confeiteiro.
Balzac generaliza as relações 86,87 - ai, meu Deus! – disse a sra. de Langeais –, sim, isso
parece bem terrível, e no entanto é o que vemos todos
conflituosas entre genro e sogro ao os dias. Não haveria uma causa para isso? Diga, minha
quando explica o caso do Pai Goriot querida, algum dia já pensou no que é um genro? Um
com seus genros e filhas. Os próprios genro é um homem para quem nós criaremos, você ou
eu, uma querida criaturinha à qual estaremos ligadas
genros tem certa repulsa com o pai por mil laços, que será durante dezessete anos a alegria
Goriot por sua atuação na revolução de da família, que é a sua alma branca, diria Lamartine, e
que se tornará a sua peste. Quando esse homem estiver
1789, quando atuou como presidente de agarrado de nós, começara por empunhar seu amor
seção. É possível supor que seus genros como um machado, a fim de cortar no coração e no
sejam monarquistas. mais intimo desse anjo todos os sentimentos pelos
quais ela se ligava à família. Ontem, nossa filha era
tudo para nós, éramos tudo para ela; no dia seguinte,
torna-se nossa inimiga. Não vemos essa tragédia se
consumando todos os dias? Aqui, a nora demonstra a
pior impertinência com o sogro, que tudo sacrificou
por seu filho. Mais adiante, um genro bota a sogra para
fora de casa. Ouço perguntarem o que há de dramático
na sociedade; mas o drama do genro é assustador, sem
contar nossos casamentos, que se tornaram coisas
muitíssimo idiotas. (86,87)
Pai Goriot com sua profissão liberal de 87,97, - sim, esse Moriot foi presidente de sua seção durante a
revolução; inteirou-se do segredo da famosa epidemia
macarroneiro fez fortuna no período 98 de fome e começou sua fortuna vendendo, naquele
revolucionário de 1789, quando soube tempo, farinha por dez vezes o que lhe custava.
usar seu cargo político de presidente da Ganhou tanto quanto quis. O intendente da minha avó
lhe vendeu quantidades imensas. Esse Goriot
seção revolucionária em beneficio de provavelmente dividia tudo, como todas aquelas
seus negócios. Sem excitar, pai Goriot, pessoas, com o Comitê de Salvação Pública. Lembro-
me de que o intendente dizia à minha avó que ela podia
especulou o saco de trigo com a crise ficar em absoluta segurança em Grandvilliers, porque
da fome com a chancela do comitê de seus grãos eram uma excelente carta cívica. Pois bem,
salvação, que também participou dos esse Loriot, que vendia trigo aos cortadores de cabeças,
teve uma única paixão. Adora, pelo que dizem, as
lucros ilícito dessa especulação. filhas. Pendurou a mais velha na casa de Restaud,
enxertou a outra no barão de Nucingen, um rico
banqueiro que finge ser adepto do rei. Vocês
compreendem que, na época do Império, os dois
genros não se escandalizaram muito por ter esse velho
Noventa-e-três na casa deles; com Bonaparte ainda era
tolerável. Mas, quando os Bourbon retornaram, o
homem incomodou o sr. De Restaud, e mais ainda o
banqueiro. As filhas, que talvez continuassem a gostar
do pai, quiseram jogar com um pau de dois bicos, o pai
e o marido; ... (87) [informante de Rastignac ->] Jean-
Joachim Goriot era, antes da Revolução, um simples
operario macarroneiro, hábil, econômico e bastante
empreendedor para ter comprado o negócio de seu
patrão, que o acaso tornou vítima do primeiro levante
de 1789. Estabelecera-se na rue de la Jussienne, perto
da Halle-aux-blés, e tivera o grande bom senso de
aceitar a presidência de sua seção, a fim de fazer seu
comércio ser protegido pelas pessoas mais influentes
dessa época perigosa. Essa sabedoria fora a origem de
sua fortuna, que começou durante a epidemia de fome,
falsa ou verdadeira, em seguida à qual os grãos
alcançaram um altíssimo preço em Paris. O povo se
matava à porta dos padeiros, ao passo que certas
pessoas iam buscar sem tumulto massas da Itália nos
armazéns. Durante aquele ano, o cidadão Goriot
amealhou os capitais que mais tarde lhe serviram para
fazer seu comércio com toda a superioridade dada por
um grande volume de dinheiro a quem o possui.
Aconteceu-lhe o que aconteceu com todos os homens
que têm uma capacidade apenas relativa. Sua
mediocridade o salvou. Aliás, sua fortuna só sendo
conhecida quando já não havia perigo em ser rico, ele
não excitou a inveja de ninguém. O comércio dos grãos
parecia ter absorvido toda sua inteligência. Que se
tratasse de trigo, farinhas, limpadura, de reconhecer
suas qualidades, proveniências, de cuidar de sua
conservação, prever as cotações, profetizar a
abundância ou a penúria das colheitas, conseguir os
cereais baratos, se abastecer na Sicília, na Ucrânia, não
havia outro igual a Goriot. Ao vê-lo conduzir seus
negócios, explicar as leis sobre a exportação, sobre a
importação de grãos, estudar seu espírito, perceber seus
defeitos, um homem o teria julgado capaz de ser
ministro de Estado. Paciente, ativo, enérgico,
constante, rápido em suas expedições, tinha um olho de
águia, antecipava tudo, previa tudo, sabia tudo,
escondia tudo; diplomata para conceber, soldado para
marchar. Saindo de sua especialidade, de sua simples e
obscura loja em cuja soleira ficava durante suas horas
de ociosidade, o ombro encostado no batente da porta,
voltava a ser o operário estúpido e grosseiro, o homem
incapaz de compreender um raciocínio, insensível a
todos os prazeres do espírito, o homem que adormecia
no espetáculo, um desses Dolibans parisienses,
competentes apenas em bobagens. (97,98)
Ao pedir ajuda para sua prima, 89,90 - pois bem, sr. de Rastignac, trate este mundo como ele
merece sê-lo. Quer triunfar, vou ajudá-lo. Sondará
Rastignac, não só obteve conselhos, como é profunda a corrupção feminina, avaliará a
mas sua prima tramou um plano de sua amplidão da miserável vaidade dos homens. Embora
ascensão social e aceitação nos ciclos eu tenha lindo muito bem esse livro do mundo, havia
páginas que me eram, porém, desconhecidas. Agora sei
aristocráticos. Esse plano consistia na tudo. Quanto mais friamente calcular, mais longe irá.
sedução da outra filha de Goriot, a Bata sem piedade, e será temido. Só aceite os homens e
as mulheres como cavalos de aluguel que deixará
baronesa Delfhine Nucingen, que morrer em cada estalagem, assim chegará ao topo de
almejava frequentar os famosos bailes seus desejos. Sabe, aqui não será nada de não tiver uma
da viscondessa, prima de Rastignac. mulher que se interesse pelo senhor. Ela precisa ser
jovem, rica, elegante. Mas, se tiver um sentimento
verdadeiro, esconda-o como um tesouro; jamais deixe
que desconfiem dele, pois estaria perdido. Não seria
mais o carrasco, iria se tornar a vítima. (89) Seja o
homem que ela singulariza, as mulheres ficarão loucas
pelo senhor. As rivais, as amigas, as melhores amigas
quererão arrancá-lo dela. Há mulheres que amam o
homem já escolhido por outra, assim como há pobres
burguesas que, pegando nosso chapéu, esperam ter
nossas maneiras. O senhor acumulará sucessos. Em
paris, o sucesso é tudo, é a chave do poder. Se as
mulheres o acham com espírito, talento, os homens
acreditarão, se não decepcioná-los. Então, poderá
querer tudo, poderá pisar em toda parte. Então, saberá
o que é a sociedade, uma reunião de vigaristas. Não se
ponha entre uns nem entre outros. (90)
Após Rastignac ter ido no mesmo dia 91 De repente a riqueza exibida na casa da condessa de
Restaud brilhou diante de seus olhos. Ali vira o luxo
na casa da condessa Restaud e de sua pelo qual uma srta. Goriot devia ser apaixonada,
prima a viscondessa, ele pôde perceber dourados, objetos de valor em evidência, o luxo nada
a diferença no luxo arrivista burguês e inteligente do arrivista, o desperdício da mulher
sustentada. Essa imagem fascinante foi repentinamente
no luxo aristocrático, achando o esmagada pelo grandioso palacete de Beauséant. (...)
primeiro extravagante. Viu o mundo tal como ele é: as leis e a moral
impotentes para os ricos, e viu na fortuna a ultima ratio
mundi. “Vautrin tem razão, a fortuna é a virtude!”,
pensou consigo mesmo. (91)
E Rastignac mesmo constatando as 91,92 O espetáculo daquelas misérias e o aspecto da sala lhe
foram horríveis. A transição era demasiado brusca, o
franjas da alta sociedade, – quando contraste, demasiado completo, para não desenvolver
compara o luxo burguês e aristocrático exageradamente nele a sensação da ambição. De um
– as diferenças eram mais nítidas com lado, as frescas e encantadoras imagens da natureza
social mais elegante, figuras jovens, vivas,
os membros baixo da sociedade, emolduradas pelas maravilhas da arte e do luxo,
vivendo em estado deplorável. cabeças apaixonadas cheias de poesia; do outro,
sinistros quadros rodeados de lama, e faces nas quais
as paixões deixaram apenas suas cordas e seus
mecanismos. 92
Rastignac tinha dois planos para 96 Rastignac resolveu abrir duas trincheiras paralelas para
chegar à fortuna, apoiar-se na ciência e no amor, ser
alcançar sua ascensão social, sendo pela um sábio doutor e um homem na moda. Ainda era
ciência ou pelo amor (pg92); porém muito criança! Essas duas linhas são tão assimptotas
com o passar do tempo esses dois que jamais conseguem se juntar. 92 A viscondessa
estava certa. O estudante não estudou mais. Ia às aulas
planos se tornaram paralelos. Desta para responder à chamada, e, quando comprovava sua
maneira, o jovem Rastignac se lançou presença, dava no pé. Fizera o raciocínio que faz a
maioria dos estudantes. 96
no caminho da sedução e do amor. Os
estudos eram simplesmente cumpridos
minimamente.
Ao descrever a vida de Goriot antes de 98
sua decadência, é possível ver a
vocação para os negócios, mas uma
brutalidade para vida espiritual.
O momento de transição social na vida 100 Quando as filhas chegaram à idade de se casar,
puderam escolher o marido segundo seus gostos: cada
parisiense pode ser constatado na uma devia ter como dote a metade da fortuna do pai.
vocação social das duas filhas de Cortejada por sua beleza pelo conde de Restaud,
Goriot; uma de suas filhas queria Anastasie tinha pendores aristocráticos que a levavam
a sair da casa paterna para se lançar nas altas esferas
penetrar na aristocracia para concretizar sociais. Delfhine gostava de dinheiro: casou-se com
esse desejo casou com um nobre, já a Nucingen, banqueiro de origem alemã que se tornou
barão du Saint-Empire. 100
outra com afã de dinheiro casou com
um banqueiro.
Após Rastignac receber o dinheiro de 106, Assim, Rastignac, grato, fez a fortuna desse homem
por uma dessas tiradas com que, mais tarde, ele
sua família, logo foi atrás do alfaiate. 119 brilharia: – conheço – dizia – duas calças dele que
Sua intenção é mudar sua aparência fizeram casamentos de vinte mil libras de renda. 106
para se adequar aos vestuários da classe Não se espante com o que lhe proponho nem o que lhe
peço! De sessenta casamentos que acontecem em Paris,
alta; entre as conversas com o alfaiate há quarenta e sete que dão lugar a combinações
ele diz conhecer duas calças que semelhantes. 119
fizeram casamentos de 20 mil libras de
renda. Até mesmo quando Vautrin
propõe o casamento com Victorine ele
diz ser algo habitual na França.
Quando Vautrin começa a falar da 117 A honestidade não serve para nada. (...) A corrupção é
copiosa, o talento é raro. Assim, a corrupção é a arma
sociedade parisiense, para no final da mediocridade que abunda, e você sentirá por toda
revelar seu plano, ele argumenta sobre a parte sua pontada. Verá mulheres cujos maridos têm
corrupção como algo presente em todas seis mil francos de ordenado como única renda, e que
gastam mais de dez mil francos com suas toaletes. Verá
as relações sociais, justamente com as empregados com mil e duzentos francos comprarem
trapaças. terras. Verá mulheres se prostituirem para andar na
carruagem do filho de um par da França, que pode
correr em Longchamp pela pista do meio. Você viu o
pobre idiota do pai Goriot obrigado a pagar a letra de
câmbio endossada pela filha, cujo marido tem
cinquenta mil libras de renda. Desafio-o a dar dois
passos em Paris sem encontrar trapaças infernais. 117
O plano pessoal de Vautrin é ir para os 119 Nessa conjuntura vou lhe fazer uma proposta que
ninguém recusaria. Ouça bem. Eu, sabe, tenho uma
E.U.A e se tornar fazendeiro no sul; ideia. Minha ideia é ir viver a vida patriarcal no meio
esse novo país radicalizou a igualdade de uma grande propriedade, cinquenta mil hectares, por
social francesa, expressada na palavra exemplo, nos Estados Unidos, no Sul. Quero virar
fazendeiro, ter escravos, ganhar uns bons milhõezinhos
cidadão, desconsiderando pelo menos vendendo meus bois, meu fumo, minha madeiras,
nas representações dos europeus a vivendo como um soberano, fazendo minhas vontades,
levando uma vida inconcebível aqui, onde a gente se
importância da origem genealógica. esconde numa toca de gesso. 118 ...porque quero
Mas, a identidade de cidadão é duzentos negros, a fim de satisfazer meu gosto pela
considerada com a propriedade, por vida patriarcal. Negros, sabe?, são filhos prontos com
os quais fazemos o que queremos, sem que um curioso
isso Vautrin diz que será o cidadão de procurador do rei chegue lhe pedindo satisfação. Com
quatro-milhões. esse capital negro, em dez anos terei três ou quatro
milhões. Seu eu vencer, ninguém me perguntará:
“Quem é você?”. Serei o sr. Quatro-Milhões, cidadão
dos Estados Unidos. 119
Vautrin fala sobre os círculos sociais 120 Façamos justiça a este solo hospitaleiro, você está
lidando com a cidade mais condescendente que existe
parisienses onde todos os grupos no mundo. Se as orgulhosas aristocracias de todas as
considerados altos, seja pela origem ou capitais da Europa se recusam a admitir em suas
pela posse da propriedade, convivem no fileiras um milionário infame, Paris lhe abre os braços,
corre às suas festas, come seus jantares e brinda à sua
mesmo espaço de distinção, a corte. infâmia. 120
Algo diferente de outras capitais
europeias no qual a separação entre
burguês e nobre é nítido.
Rastignac ao visitar sua prima já 128 Para um observador, e Rastignac prontamente se
tornara um deles, essa frase, o gesto, o olhar, a inflexão
conseguia observar e interpretar os de voz eram a história do caráter e dos hábitos da casta.
modos aristocráticos e polidos da alta Percebeu a mão de ferro sob a luva de veludo; a
sociedade. personalidade, o egoísmo, sob os bons modos; a
madeira, sob o verniz. 128
Quando Rastignac muda seu vestuário, 127,
compatibilizando com a moda 128,
aristocrática sua beleza natural é 101,
percebida pelas mulheres, causando 159
admiração.
Desde o momento que Rastignac pediu 92,
dinheiro para sua mãe o conflito interno 96,
sobre o certo e errado assaltou sua 106,
consciência. E sem saber ao certo como 124,
orientar sua conduta vive uma constante 129,
guerra interna. 170,
202,
203,
256
Balzac ao narrar sobre a restauração ele 129 Os dois foram para uma sala de jantar onde o visconde
esperava a mulher e onde resplandecia esse luxo de
parece apontar que os modos mesa que, durante a Restauração, foi levado, como
aristocráticos se tornaram mais forte do todos sabem, ao mais alto grau. 129
que antes da revolução de 1789.
Quando Rastignac vai ao teatro ele 119,
percebe na relação de sua prima com o 133
marques d`Ajuda Pinto, a importância
de ter uma amante da alta sociedade.
Esse tipo de relação, não era somente
uma descarga d pulsão, significava
também status. Mas não é só isso. A
instituição casamento era uma
possibilidade de mobilidade social.
Balzac expressa seu juízo de valor da 138 Os homens chegam, por uma série de transações do
gênero, a essa moral relaxada professada pela época
época do qual vive. A conduta para o atual, em que é mais raro que nunca encontrarmos
bem ou correto é uma raridade em esses homens rentagulares, essas belas vontades que
Paris, os valores dominantes é de uma jamais se dobram ao mal, para quem o menor desvio da
linha reta parece um crime: ... 138
moral relaxada.
Delfhine apesar de casada com um 153,
banqueiro, tem dificuldades financeiras 226,
para manter seu vestuário elegante, 227,
numa época de luxo e esplendor. 256
o período da própria narrativa é 146
marcado pela distinção das mulheres
através das roupas da moda.
Rastignac consegue manter as 161,
aparências de forma dramática através 162
do jogo, mas com muita dificuldade.
Quando Pioret e Srta. se encontra com 171, Um dos traços característico que melhor trai a
enfermiça estreiteza dessa raça subalterna é uma
o agente policial para tratar o caso de 172 espécie de respeito involuntário, mecânico, instintivo,
Vautrin, que tudo indica ser um por esse grande lama de todo ministério, conhecido do
criminoso e tesoureiro de presos, o funcionário por uma assinatura ilegível e pelo nome de
SUA EXCELÊNCIA, O SENHOR MINISTRO ... 171
velho Pioret torna evidente seu As repartições têm sua obediência passiva, assim como
comportamento burocrático. E Balzac o exército tem a sua: sistema que abafa a consciência,
aniquila um homem e acaba, com o tempo, adaptando-
descreve em linhas gerais o o, como um parafuso ou uma porca, à máquina
comportamento da burocracia estatal e governamental. Assim, o sr. Gondureau, que parecia
sua representação na mente dos homens ser especialista em homens, distinguiu prontamente em
Poiret um desses palermas burocráticos, ... 172
simples.
Após Vautrin presenciar a sedução de 179,
Rastignac para com a Srta. Victorine, 194
sem esperar resposta põe em ação o
plano de matar o irmão de Victorine no
duelo. Apesar de Rastignac querer
avisar o Sr. Taillefer, não consegue,
pois, Vautrin coloca narcótico em sua
bebida.
Após Rastignac ir para sua nova casa 222
junto com Delfhine e Pai Goriot, pôs a
observar os mimos do pai com a filha
que eram constantes, e de alguma forma
o incomodava. Talvez esse
comportamento do Pai Goriot
provocasse insatisfação de qualquer
genro.
O próprio Rastignac começa a criticar a 263 De meu lado, estou no inferno, e aí devo
permanecer. Seja qual for o mal que lhe contarem
sociedade como lugar onde as virtudes da sociedade, acredite! Não há Juvenal que
humanas são impossíveis. consiga pintar o seu horror coberto de ouro e
pedrarias.

Você também pode gostar