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RELAÇÕES DE GÊNERO E QUESTÃO SOCIAL

ROTEIRO PARA DEBATE DA UNIDADE I:

INTRODUÇÃO:
1- Observações Gerais para análise do texto:

1.1- O que não é novidade no texto?


1.2- Onde estas questões já foram debatidas?
1.3- O que o texto traz de novo?
1.4- A que você relaciona tal novidade e importância delas e de
seu debate?

2- Detalhamento:

2.1- Identificar o tema central abordado no texto:


2.2- Identificar o objetivo do autor com o texto
2.3- Identificar os principais conceitos e categorias utilizados
pelo autor:
2.4- Identificar os principais argumentos e questões
levantados pelo autor:

1- TEXTOS/HIRATA
 VERBETE DIFERENÇA DOS SEXOS:
 Em que sentido a expressão “diferença dos sexos” é tratada pela autora
Collin? Que outras perspectivas existem para essa explicação, segundo a
autora?
Resposta: A autora define a filosofia como o horizonte para analisar a diferença
dos sexos, mas indica que tb poderia trata-la a partir da sociologia (com o
conceito de “relações dos sexos”) , ou mesmo uma interpretação mais
naturalista (e, por isso, mais redutora). Ela vai situar a diferença entre França e
EUA, nesse caso, com o uso da categoria gênero, neste último (pouco comum na
França).

 Considerando que a referência da autora para tratar a diferença dos


sexos é a filosofia ocidental, que pontos ela destaca como principais neste
campo teórico?
Resposta: 1) que esta temática da diferença dos sexos esteve presente desde as
origens da filosofia ocidental, colocando as mulheres como o “outro” do sujeito
(falante, desejante);
2) Dupla natureza da mulher e homem (Aristóteles); ou unidade
(Platão), mas unidos pela hierarquia entre os sexos (mais e menos, sendo o
menos ligado à mulher).
3) Consequências: questão insolúvel do ponto de vista teórico e ético
para justificar a dominação do marido, pai sobre a mulher no casamento e sua
exclusão da esfera pública. Alguma contradição, mas prevalecendo sempre
uma ideia de especificidade do seu papel, ou a sua assimilação ao homem.

 De que forma a Psicanálise também tratou a questão da diferença dos


sexos? Houve alguma reação a essa explicação?
Resposta: volta-se à questão do mais e menos, incorporando a tese da
experiência da castração (separação da mãe) e à “inveja do pênis” nas mulheres.
Mas várias teóricas deste campo procuraram corrigir tais análises.

 Contribuição de O Segundo Sexo (Beauvoir):


Resposta: 1) articular todos os problemas das relações entre os sexos e mostrar
que suas modalidades sociológicas, econômicas, psicológicas são fruto de uma
estrutura única;
2) Tal estrutura não é “natural”; é culturalmente construída e,
portanto, pode ser superada.
3) Para Beauvoir, o homem assume o caráter “universal”; por isso,
propõe a “igualdade na diferença”. Mas não questiona a parcialidade deste
universal, ne, a necessidade de redefini-lo (algumas de suas herdeiras o
farão).

 20 anos depois d’O Segundo Sexo, como as teorias feministas se


posicionam quanto à diferença e relação entre os sexos?
Resposta: 1) afirmam que estas relações podem ser objeto de uma ação
transformadora (feminismo: revolução e não evolução na relação entre os
sexos);
2) 3 correntes vêm se posicionando quanto a relação entre os sexos:
universalistas; diferencialistas/essencialistas; pós modernas.
2.1) Universalistas (uno) – todos os seres humanos são iguais,
independente do sexo, raça, idioma; então, a diferença homem/mulher é
insignificante. As “classes de sexo” devem desaparecer, permitindo uma
indiferenciação sexuada na categoria geral do ser humano (“Um é o outro”). A
especificidade ressuscita a ideia da complementaridade e pode levar à ideia da
hierarquização – mulher, menos que o homem. Vincula-se à tradição filosófica,
cultural e política do iluminismo e a uma concepção das relações entre os sexos
extraída do marxismo (relações de classe); teóricas da sociologia e etnologia.
2.2) Diferencialistas (dois) – para esta posição, “há dois sexos”, então, o
acesso à igualdade não significa o mesmo quanto à identidade. Pelo contrário, o
fim da dominação tem que dar espaço a um mundo comum plural. A libertação
das mulheres é tb a manifestação de uma dimensão da relação com o mundo
omitida até hoje (resistência ao uno, ao falo; alternativa à organização das
relações humanas definida até o presente pelos homens; haveria um “gênio
feminino”).
2.3) Pós modernas (queer: nem “um”, nem “dois”) – pouco impacto na
França, embora seja reconhecida nos EUA como “feminismo francês”, em função
de ter sido elaborada por filósofos daquele país: Deleuze, Lyotard e Derrida;
mais força a partir dos anos 1980. Atribuem ao sexo feminino um estatuto
“desconstrutivo”: marca uma ruptura com as formas da modernidade ocidental,
definida pela categoria do “domínio” (lógica binária); modernidade identificada
com o reinado da virilidade. O pensamento pós moderno é, nesse sentido, um
“tornar-se mulher”. Sexo é um movimento de diferir, traduzido no vocábulo
“diferença”. “feminino” como categoria: recusa a alternativa de exclusão (“ou,
ou”) e propõe a da inclusão (“e, e”). Conduzirá, posteriormente, ao
desenvolvimento da teoria “queer”, vinculada à subversão das identidades
sexuais (porosidade das fronteiras entre homo e heterossexualidade; o sexo
identificado social ou morfologicamente não é determinante).

 Como responder às questões que a autora nos deixa?


 O objetivo é fazer que as mulheres sejam reconhecidas da mesma forma
que os homens no mundo existente ou introduzir nesse mundo uma
dimensão que, sem elas, ele ignorava?
 Trata-se de fazer que as mulheres tenham acesso a estruturas
inalteradas, mas desde então compartilhadas, ou de reformular essas
estruturas de acordo com os dois sexos – ou vários sexos?

 VERBETE: FEMINILIDADE, MASCULINIDADE, VIRILIDADE


 Definam o que vem a ser estes três conceitos:
Resposta: na sociologia e antropologia dos sexos, masculinidade e feminilidade
designam as características social e culturalmente atribuídas aos homens e às
mulheres; se definem em sua relação (relações sociais de sexo) e são marcadas
pela dominação masculina (definindo o que é “normal”/ “natural” para mulheres
e homens). A virilidade tem 2 sentidos: a) a forma erétil do sexo masculino; b)
os atributos sociais ligados ao homem (força, coragem, direito à violência). As
duas dimensões são aprendidas/impostas aos meninos na sua socialização.

 O que significa a afirmação de Welzer-Lang no texto sobre “a virilidade se


impõe pela educação masculina”, e quais as consequências para as
relações homens-mulheres?
Resposta: o autor vai dizer que naqueles espaços de socialização dos meninos
(pátio da escola, clubes, bares, exército) prevalece uma educação para a
violência, onde se hierarquiza a relação entre homens e mulheres, estruturando
tb a relação entre os próprios homens: os “verdadeiros” terão privilégios da
honra; já os que não assumem comportamento viril (os homossexuais, os mais
fracos), estes podem inclusive sofrer agressões dos demais. (Homofobia e
dominação das mulheres são os componentes da virilidade)

 Como a psicodinâmica do trabalho 1 explica a relação


masculinidade/feminilidade; e virilidade/mulheridade?

1 Abordagem científica desenvolvida pelo psicanalista francês Christophe


Dejours, na década de 1980, para investigar os mecanismos de defesa dos
trabalhadores frente às situações de sofrimento decorrentes da organização do
trabalho.
Resposta: Essa corrente não deixa de reconhecer a virilidade como alavanca da
dominação masculina, mas procura entender como e em que condições os homens
e mulheres aderem às relações sociais de sexo em vigor. A chave estaria no
trabalho (relação subjetiva com o mesmo)
Assim, masculinidade/feminilidade seria a capacidade de “habitar” e amar seu
próprio corpo , enquanto virilidade/mulheridade significam um conformismo em
relação às condutas sexuadas exigidas pela divisão social e sexual do trabalho.
(Homens: defesa contra o sofrimento/medo no trabalho; Mulheres: contradição -
devem aderir ao sistema de defesa viril; ou são designadas pelos seus “dons”
(paciência, empatia)/ Mulheridade: “consciência dominada” (depreciação de si
mesma)

 VERBETE DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO E RELAÇÕES SOCIAIS DE


SEXO

 Qual a importância do conceito de “divisão sexual do trabalho” para os


estudos feministas, e como ele se define?
Resposta: apesar de ser utilizado anteriormente em vários estudos etnográficos
como uma repartição “complementar” das tarefas entre homens e mulheres nas
sociedades analisadas, as antropólogas feministas vão dar a este conceito um
significado novo: que é o de relação de poder dos homens sobre as mulheres
(assumindo, assim, um valor analítico e não apenas descritivo).
O significado: é a forma de divisão do trabalho social, decorrente das relações
sociais de sexo; que é historicamente determinada; e se caracteriza por destinar
os homens prioritariamente à esfera produtiva e as mulheres à esfera
reprodutiva; associado tb à ocupação de outros espaços sociais públicos de
valor pelos homens. Tem 2 princípios organizadores: o da separação
(trabalho de homem e trabalho de mulher) e hierarquização (o trabalho do
homem “vale” mais do que o da mulher). Que são legitimados por uma
naturalização, que relega o gênero ao sexo, e reduz as práticas sociais a “papeis
sociais”, praticamente ligados a uma natureza de cada sexo.
A divisão sexual do trabalho não é um dado imutável; varia no tempo e espaço.

 Quais as bases teóricas deste conceito? Quando ganhou expressão e


onde?
Resposta: Não apenas, mas especialmente na França, no começo dos anos 70,
sob o impulso do movimento feminista. A base da força do mov feminista
começou a partir da tomada de consciência de que uma massa enorme de
trabalho era realizada gratuitamente pelas mulheres (um trabalho invisível,
feito para os outros, em nome do amor e do dever maternal). E partiu-se para a
denúncia ( nome do jornal feminista – O pano de prato queimou). Esse
movimento abriu dois corpos teóricos: “modo de produção doméstico” e
“trabalho doméstico” ( de conceituação marxista). E tais estudos contribuíram
para trazer para a análise do trabalho uma série de novos conceitos como tempo
social, qualificação, produtividade, competência.
No início, pensava-se na articulação da esfera familiar (reprodutiva) com a
produtiva; o que se mostrou insuficiente, já que a ideia da separação e
hierarquia se mantém.
Atualmente, com a crise do trabalho, perdeu-se muito do caráter subversivo do
conceito de divisão sexual do trabalho: não se utiliza, por exemplo, o conceito de
trabalho doméstico para reinterrogar a sociedade salarial, mas apenas para
descrever e constatar a “dupla jornada”; a “conciliação de tarefas”.

 Por que a autora afirma que a divisão sexual do trabalho tem o status de
disputa, de jogo? E o que caracteriza as relações sociais de sexo?
Resposta: porque ela trata das relações sociais entre dois grupos, que são os de
homens e mulheres; e essas relações estão em tensão permanente em torno do
trabalho e suas divisões. Por isso, dizemos que as relações são antagônicas;
cujas diferenças nas atividades desenvolvidas por cada grupo são construídas
socialmente; Essa construção tem uma base material (não é puramente
ideológica) ; se baseiam em relações de poder, de dominação.

 Que desafios epistemológico-políticos a autora coloca para o campo que


trabalho com o conceito de relações sociais de sexo?
Resposta: a da transversalidade/consubstancialidade destas relações. E isso
acontece em função das profundas mudanças que incidem sobre a divisão sexual
do trabalho.

2- TEXTO SUELI ALMEIDA: ALGUMAS TENDÊNCIAS TEÓRICAS DE ESTUDO


DE GÊNERO

 OBJETIVO: balanço das principais tendências internacionais do debate


sobre a temática (polêmicas e potencial explicativo dos processos
societários)

 Situe a utilização de gênero como uma categoria de análise (quando


ganha importância, onde e quais seus principais elementos):
Resposta: - feministas acadêmicas norte-americanas/déc. 1970
- Para designar que as diferenças entre os sexos são socialmente
construídas e estão em relação
- Não constitui um campo específico de estudo, mas possibilita análise
da organização da vida social (público x privado; produção x reprodução; político
x pessoal) Família x Estado
- categoria histórica: porque só se estuda a relação entre os sujeitos
sociais sexuados a partir de suas práticas sociais (quase sempre em conexão
com os processos macro-políticos)
- tem conteúdo polissêmico: escassas e heterogêneas produções;
estudos sobre a mulher em várias áreas; incorporação ao senso comum.

 Qual a relação entre as categorias gênero e relações sociais de sexo e a


que Kergoat atribui a opção pela segunda?
Resposta: Kergoat não as vê como opostas, mas sim como polissêmicas e de
formulações preferenciais. A escolha dela está relacionada à forte marca
marxista no feminismo francês e a utilização de expressões como MP doméstica,
relações sociais de sexo, classe de sexo, etc. (ver pág 237: atualizações e adoção
da categoria tempo).
 Por que algumas autoras francesas se recusam a incorporar a categoria
gênero nos seus estudos?
Resposta: Em linhas gerais, porque ao entender o gênero como construção social
do sexo mantém-se na armadilha de conceber o biológico como imutável, fixo; a
categoria sexo é concebida como natural e invariante e gênero como diferença
sexual, ainda que socialmente construída.
- Delphy (p. 238): continua-se a pensar o gênero em termos de sexo;
compara-se o social com o natural, mas não seria ainda o social tb a
biologia?
- Hurtig et al: risco de consentir que o biológico é
invariante/predeterminado, esquecendo que ele tb é objeto de
reelaboração psicológica e social.

 Mesmo no debate anglo-saxão há variadas concepções acerca da categoria


gênero. Apresente alguns aspectos levantados por Scott, Lauretis, Tilly e
Varikas:
Resposta: - Scott: a grande formuladora, cujo pensamento teve muita influência
no Brasil nos anos 1990. Para ela, gênero é referência às origens sociais das
identidades subjetivas de homens e mulheres. Ao afirmar que “gênero é uma
categoria social imposta sobre um corpo sexuado”, legitima as preocupações das
francesas. Para a autora, não se pode prescindir da dimensão simbólica para se
entender a representação de gênero em nível societário. Opção pelo pós
estruturalismo e o pós modernismo (interesse no discurso – capacidade de
instituir o real atribuída à estrutura discursiva, negando a força das
determinações estruturais).
- Lauretis: critica a ênfase apenas na “diferença sexual” (influenciada pelo
estruturalismo althusseriano, concede lugar privilegiado à estrutura e, ao
mesmo tempo, se afasta desta teoria ao vislumbrar a possibilidade de
agenciamento e autodeterminação a nível subjetivo); propõe que gênero é
preexistente ao sujeito e, portanto, o constitui; sob influência de Foucault,
discute gênero enquanto relações de força e poder, argumentando que
estas constroem um campo de significados, saberes e práticas, mas tb
dando espaço ao que ela vai chamar de “outro lugar” (espaços de
resistência), mesmo não aprofundando muito. P. 245
- Tilly (p. 244): debate com Scott acerca do desconstrutivismo – reafirma a
importância da história social, das abordagens descritivas, e do conceito
de gênero.
- Varikas: concorda com algumas das críticas de Tilly, mas considera um
falso dilema a oposição história social x desconstrução, especialmente
pela importância do paradigma linguístico (signos, símbolos) na história
das mulheres. Mas não concorda com a recusa de Scott com à importância
das determinações estruturais.

 Para Almeida, a vida social é fundada a partir de um conjunto de relações


estruturadas. Quais seriam essas relações e como as relações de gênero se
associam às mesmas?
Resposta: As relações estruturadoras da vida social são as de classe, gênero e
étnico-raciais; estas relações são de natureza antagônica e/ou contraditória
(supõem lutas/embates permanentes). Nesse sentido, formam-se,
historicamente, campos de força possíveis. Os sujeitos não apenas se situam em
um campo de forças, mas são constituídos por este, ao mesmo tempo que o
ressignificam (caráter histórico – mutável). O campo de força não é uma prisão
do sujeito.

 Por que, na atualidade, há uma crítica ao paradigma do patriarcado?


Resposta: - pelo seu grau de generalidade, que ignora diferenças sociais e
políticas entre as mulheres;
- por dificultar reflexão sobre mudança (cristalização da dominação
masculina);
- se inscrever na esfera política e se exercer na esfera doméstica;
- não mostrar a interseção com outras desigualdades;
- Nenhum conceito é tão totalizador, ou suficiente para explicar o
movimento do real. No entanto, não se comprovou que o patriarcado
tenha sido superado, então, não tem porque descarta-lo como paradigma
de análise (p. 250)

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