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SUPERCONTINENTES E SUPEROCEANOS, As Cigncias da ‘Terra tém hoje dois temas fundamentais interligados que nfo podem deixar de ser apresentados, por embasarem 0 entendimento que se tem da dinamica ¢ da evolugio dos continentes ¢ dos oceanos através do tempo. Eles sio 0 Ciclo de Wilson ¢ 0 Ciclo de Supercontinentes, que decorrem da Teoria das Placas. Os continentes ¢ oceanos softem mudangas conti nuas, alterando suas configuragdes ¢ modelando 2 super~ ficie da ‘Terra. Oceanos se abrem formando dorsais, sub- dugées ocorrem consumindo placas ocednicas, continentes sujeitam-se a magmatismo, acresgdes, fragmentagdes € aglutinagSes gerando cadeias montanhosas, que sofrem crosio ¢ originam as coberturas sedimentares. Os pro cessos envolvidos sio variados ¢ pode-se reconhecer uma sucessio geral que € sistematizada no que foi chamado Ciclo de Wilson. Massas de continentes e oceanos comegaram a se formar em tempos arqueanos e se ampliaram no Protero~ zoico e Fanerozoico, numa histéria que se desenrolou por sucessio de ciclos de Wilson. Cada ciclo de Wilson comegou com uma massa continental agregando todas as massas continentais exis tentes na superficie da Terra em algum momento da his~ téria, 0 supercontinente. Com a dinamica global, nele incidem processos sucessivos que o fragmentam, separam ¢ dispersam as porgdes continentais, seguindo-se reaglu- tinagdo, formagio de cinturdes orogénicos nao colisionais € 0 resultado é um novo supercontinente. A repetigo dos ciclos de Wilson configura os ciclos de Supercontinentes e alguns sio reconhecidos ao longo da evolugao da Terra Os avangos de conhecimento nesses temas nas til= timas décadas tém sido enormes, gragas aos incrementos trazidos por investigagées geofisicas, geoquimicas, tectd- nica e de outros campos das Geociéncias, ¢ também pela modelagem numérica € fisica, ¢ experimentos laborato- rials, Eles sio apresentados aqui de modo sintético, sem aprofundar em detalhes ou discussées existentes. 98 [Geckos rst EVOLUCAO DOS CONTINENTES Yociteru Hasui O CICLO DE WILSON Foi J. Tuzo Wilson (Wilson 1966) quem sintetizou os processos de fragmentagio de um continente e abertura de oceano, de aglutinagio de continentes e fechamento de ‘oceanos. Reconheceu seis estigios sucessivos que definem fo que foi chamado de Ciclo de Wilson por Dewey ¢ Burke (1974). Os estagios sto: + Estigio embrionirio ~ Dé-se primeiramente 0 adel- gasamento da litosfera, com ou sem soerguimento (uplift) © atuasio de pluma do manto. O regime dis- tensivo que se instala possibilita a formagio de gré- bens simétricos ou assimétricos: € a fase de rifte (rf) Também ocorrem intruses e erupgées de magmas alcalinos. O rifteamento di-se a partir do trecho mais, soerguido, segundo trés diregées, que configuram a jjunsio triplice. Os riftes podem nao se abrir por igual, um deles podendo até interromper seu desenvolvi- ‘mento: esse rfte que cessa sua evolugio € o chamado aulacogeno. O Leste Afticano ilustra o soerguimento e rifteamento, que tende a isolar uma nova placa jé cha- ‘mada Placa da Somalia; juntamente com o Mar Ver~ metho e o Golfo de Aden, forma uma jungio triplice com diferentes graus de evolugéo, que comegaram a se desenvolver a partir de cerca de 30 Ma (Bothworth et al, 2008). O Golfo da California exemplifca o inicio de abertura de oceano, ali iniciado ha 5 Ma, + Estigio juvenil ~ omega a deriva (drift) das massas continentais, a formagio da dorsal ocednica © a ex pansio do oceano por acrespio de materiais magmé- ticos trazidos das profundezas. A nio homogenei- dade de expansio do fundo oceinico origina as zonas, transformantes. O exemplo sio o Mar Vermelho ¢ 0 Golfo de Aden. O Mar da Noruega é outro exemplo, ccuja abertura se dew nos tiltimos 55-60 Ma, + Estigio de maturidade ~ Os continentes se afastam ¢ sedimentos se acumulam nos findos ocefnieos, principalmente nas margens continentais passivas A expansio do oceano pode ser simétrica ou assimé- trica, de modo que a dorsal nio é necessariamente Graben Estiramento Iitostérico Graber Pluma do manto Figura 1. Esquema de mecanismos de rfteamento. (A): seo litosfica sujet adistensio (Stas) (B)-rfteamento atvo, com atvagio de pluma do manto (vermelho},soeeguimento,adelgagamento itostrico, estirarento,rffeamento ¢ magmatism insrusio ¢vuleanisro.(C): rifteamento passivo com estiamento, adelgagamento litsteric, formasio de anomalia termal (vermelbo) por descompressio no mato, inferior € magmatism intruswo evuleanismo, mediana. O melhor exemplo € 0 Oceano Atlantico, caja abertura comegou ha 130 Ma no Atlantico Sul e ha 180 Ma no Adlantico Norte + Estigio senil (representado pelo Pacifico) - Desen- volvem-se as fossas © comesa a subdusio do tipo Bi em Locais propicios, geralmente nos limites ou préximo dos limites continente/oceano, em um ou ambos os lados do oveano que se abriu, Formam-se © arco insular ou magmitico e as bacias associadas (retroarca, antearco). + Estigio terminal (cujo exemplo é a regio dos Alpes do Mediterrinco) - Dé-se o fechamento do oceano, mediante iproximasio de continentes € a colisio deles leva a formagéo de cadeias montanhosas e da s + Estigio da geossutura (representado pelo Himalaa) ~ Di-ze 0 fechamento completo do oceano e a for- tagio da zona de subdugio do tipo A. Constituem= -se altas cadeias montanhosas e platés, que, como alkos, tendem a ser erodidos, gerando sedimentos que se acumulam nas partes baixas E importante destacar que: + os estigios sie dieronos e no uniformes a0 longo de uma regido, Como em qualquer processo geol6- gico regional, estigios distintos podem néo incidit simultaneamente em diferentes partes e um mesino estigio pode ter caracterfsticas distintas em dife- rentes partes; + os procestos podem ser interrompidos em qualquer stigio. Por exemplo, 20 se formar uma jungio tiplice, sum dos brasos pode formar um aulacégeno e cessar seu desenvolvimento com 0 assoreamento da bacia, 1A suwura relacionada com a subdugdo de placa acednica sob placa ‘ocednica au sob continente é charsada de tipo B (B de Benioff), en: quanto aqucla entre dois continentes que coidiram éa de tipo A (A. de Ampferer). Esta ultima € marcada principalmente por ofilitos, ges tectOnicas,xistos anise rochas de alto grau mctamérfic rr Esses processos jé foram anteriormente apresen- tados © podem ser ordenados resumidamente em termos de duas sequéncias maiores de processos: + de divergéncia, em que se dia sgmentasdo de um supercontinente ¢ dispersio de continentes e, em paralelo, abertura de oceanos. Termos como rupture, separagio, deriva, dispersio e fissio 40 corrente- ‘mente utilizados para se referir a esses processos; de convergéncia, em que ocore a aglutinagio de continentes ¢ fechamento de oceanos, formando um. novo supercontinente. Termos como aglutinagio, amalgamasio, justaposigio ¢ ancoragem fusio sio utilizados para designar esses processos. PROCESSOS DE DIVERGENCIA A fragmentagio de um supercontinente gera ¢ se para massas continentais, abrindo oceanos entre elas. As duas situagdes esquematizadas na Figura 1 podem pro mover a fragmentagio (Corti et al. 2003): + Apprimeira envolve forgas distensivas regionais indu zidas por movimentos das bordas das placas, que es- osfera, adelgagando-a e promovendo o rif orifteamento passivo. A descompressio que ocorre gera anomalia termal no manto inferior € pode ocorrer magmatismo intrusivo e vulednico. A segunda resulta da concentragio anémala de calor, na base da litosfera, induzida por pluma do manto, gerando soerguimento, estiramento, adelgagamento da litosfera erifteamento ~ é 0 chamado rifteamento ativo. Também ocorre magmatism, intrusivo eextru~ sivo, O adelgasamento é resultante do aquecimento da base da litosfera ineorporando-a 3 astenosfera O magmatismo forma granitos e ridlitos, complexos anortosito-mangerito-charnockito-granito (AMCG) enxames de diques maficos (gabros,diabasios). Os magmas geradores de todas essas rochas derivam de processos diversos, como 0 fracionamento de basaltos, fusto de crosta silica ¢ misturas de fontes mantélicas ¢ crustais, destacadamente_representados no (p. ex, Auwera 2003) ¢ ocorre na intraplaca, associado a soerguimentos, riftes Mesoproterozoico se magmatismo € anorogénico continentais ou bacias ocednicas. Nos dois modelos a litosfera se adelgaga,softe fra turamento radial ¢ coneéntrico, seguido de rifteamento (Fig. 2). No rifteamento ativo ocorre soerguimento, ele vando a litosfera por até alguns milhares de metros. rifteamento se di em trés diregdes com angulos ideal mente de 120° ¢ articulados em arranjo chamado jungao triplice (MeKenzie ¢ Morgan 1969). Os riftes podem ter desenvolvimento simultineo ou nao, uniforme ou nao, € os angulos entre eles € a geometria interna podem variar muito (Frostick 2005). Havendo plumas afastadas entre si 99 Figura 2. Baquema de soergimnent erifcamento. (Al socrginento(curvas de nivel elipses enn pret), faturamento radial econcéneico(taceado aul) intrusdes magmdtias(pontos vermelhs).(B): ts ites poder se formar em uma jung « evoluirem para abertura de oceano. (C): um dos brapos da jungio trplice pode interronnper sta evolugio gerando um aulacdgeno de cerca de 450 a 2.200 km, os riftes podem se conectar ¢, com 0 avango, 0 proceso levar & ruptura de massas conti- nentais. Um dos ramos pode cessar seu desenvolvimento no estigio de soerguimento ou de rifteamento, formando 0 aulacdgeno. No caso de mecanismo passivo, também se formam jungées triplices. Separando duas ou tés porgbes continentais, co- mega o afastamento delas, a formasio da dorsal ocednica € a ctiagio de crosta ocednica. A nio uniformidade de ex- pansio do fundo oceanico origina zonas transformantes € ‘zonas de fratura ‘Também, os ramos podem evoluir para zona de subdusio ou falha transformante, dependendo dos mo- vimentos das placas separadas. Assim, pode-se ter arti- culagées triplices que combinam segmentos de dorsal ocednica (R de rifie), zona transformante (F de fault) © zona de subdusio (T de trench) (Fig. 3). Dezesseis combinagées sio possiveis, sendo mais comuns as RRR, ‘TTT, TTF, FFR, FFT RTF, Sio exemplos de RRR a jungio triplice de Galapagos, entre as placas do Pacifico, de Nazca e de Cocos; de FFT marcada pela falha de San Andreas, zona de Fratura de Mendocino e 2 dorsal de Juan de Fuca, entre as placas do Pacifico, Gorda e Norte~ ~Americana. A jungio triplice do Afar, do tipo RRR, € mostrada na Figura 4. A jungio triplice do oeste do Chile é de tipo RTT (Fig, 5). Com o afistamento dos continentes, 0 soalho oceinico se expande ¢ sedimentos acumulam-se nas margens passivas dos continentes. A expansio dos findos oceanicos a partic das dorsais esponde pela maior parte de 2 a iz + soamerb ce dra ‘Senmonto de 20a ce svoduccto magma gerado na Terra tL Figura 3, Principais combinasdes de tipor de bordas de pacar ces, Estio representados quatro tipos, Os cavor 2, 3.4 sto variantes do mesmo tipo, em que mudam os rumos dor mergulhos das zona de subdugao, 100 | Gecloga do Broad PROCESSO DE CONVERGENCIA ‘Os processos que ocorrem na convergéncia de placas. acham-se esquematizados no capitulo anterior (Tectonica de Placas, Figura 21), acarretando a formagao,na placa perior, de arco insular em dominio ocedinieo,¢ de arco con- tinental e orégeno nio colisional em borda de continente. Ocorrendo o fechamento do oceano, continentes situados nas duas placas que convergem sio levados a colidir, ge- rando 0 orégeno colisional; a zona de subdugio fica redu- ida a uma cicatri, que é a sutura ou zona de sutura, Num, esquema geral de evolusio, pode-se considerar os passos seguintes: 1. Primeiramente, for se 0 arco insular, exemplifi- ceado pelos areos da porgio oeste do oceano Pacifico. 2. A placa subdutante, que traz um continente com sua margem passiva, eva-o a colidir com o arco insular. Ex: Iiha de Taiwan. A zona de subdugio acaba blo- queada, Se acontecer de lascas de crosta oceénica serem empurradas sobre um continente assim envol- vido, tem-se 0 processo chamado obdugio® Uma nova zona de subdugio formada em algum local potencialmente instével, aqui representada pela borda de um continente, leva 3 formasio de margem continental ativa, em que se desenvolve um arco con- tinental, a exemplo da eadeia Andina 4. A placa subdutante que earrega 0 conjunto conti- nente-arco insular ou um continente leva-o & colisio com essa margem ativa, resultando em orégeno coli- sional. Um exemplo é 0 Himalaia, As aglutinagées de continentes culminam com a formasio de um novo continente. Esses processos tém algumas caracteristicas gerais que cabe destacar. +O regime tectonico € compressive. A convergéncia de placas pode ser frontal ou obliqua, conforme se dé transversalmente & borda ou formando Angulo com ela, Em ambos os casos a deformagio comesa com dobramentos que evoluem para conjuntos de falhas de empurrio; estas separam lascas empurradas uumas sobre as outras (sistemas de cavalgamento) ¢, para ajudar na acomodagio do encurtamento, desen- volvem-se falhas transcortentes (sistemas transcor- rentes). ‘Como apresentado no capitulo anterior, nos casos de convergéncia frontal, falhas transcorrentes promovem fo escape lateral, como € 0 caso daquelas no alto do Hi- malaia que deslocam fatias rochosas rumo 20 Sudeste Asiatico, Nos casos de convergéncia obliqua, as falhas transcorrentes formam sistemas importantes € os oré- 2 Corpor obdutador io ofidlitos, Além da importiacia econdmiea ‘como possiveis hospedeiros de depésitos minerais, so a8 dnieos testemunhos de crosta ocednica mais antiga

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