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ANTONIO CARLOS ROBERT MORABS


WANDERLEY MESSIAS DA COSTA

Geogra{ia Crítica
A \ALORTZAqAO
DO ESPAqO

HUCITEC
náo bas-
modo de produqáo' Só esias, contudo'
ólubot'r uma teoria sobre suas
;;;.-t;I;f..
;;';;';;Zpri"t de ualorizar o espaQo' rslo é
o que procuraremos desen'volver no próximo
capítulo.

I
A VALORTZAqAO DO ESPAQO

Nesse ponto de nossa investigagáo, após suces-


sivas aproximag6es beóricas, já podemos deli-
near o processo especifico de que trabaria uma
teoria marxista da Geografia. Esse processo,
enquantó objeto, foi gradativamente se im-
pondo no transcurso da própria discussáo dos
fundamentos do marxismo em sua relacáo
com o temário da Geografia. As sociedades hu-
flranas, para reproduzirem as condicóes de sua
"existéncia, estabelecem, como visto, reiaEóes
vibais com o seu espago. Nas palavras eloqüen-
d tes de MilLon Santos: "Produzir é produzir es-
i pago". Esbe é o nosso fundamento geral: o de-
it
'] senvolvimento histórico ilustra a objetividade
,1
t1
e a materialidade dessas relag6es em suas múl-
tiplas manifestaqóes. Nesse sentido, ficou claro
I o papel do trabalho como mediador universal
dessa relagáo. Sendo o brabalho a fonte do
valor, essa relaqáo, do ponto de visLa do mar-
xismo, é fundamentalmenLe um processo d.e
ualorizacdo.
Ao longo dessa exposigáo, foi levantada uma
série de pressupostos que o objeto deverá con-
ter. Em pr:imeiro lugar, a idéia de que ele de-
ve, necessariamente, ser um processo. Além
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lZA
disso, a sua delimitaqáo deve advir de um corte sas_ categorias, o seu nódulo explicabivo cen_
ontológico, ou seja, da stta idenüidade no prÓ- tral. Assim, a relacáo sociedade-eipaqo é, desde
prio real. Nesse sentido, a valorizagáo do espa- logo, uma relaqáo valor-espago, poiÁ substan_
go, náo se confunde imediatamente com ou- tivada pelo trabalho humaño.-poi isso, a apro_
tras manifesfaqóes da virla social, pois possui priacáo dos recursos próprios do espaEo, a
¡novimento próprio, elen'enfos específicos que construgáo de formas humanizadas iobre o
a caracterizam e result¡.clos histó¡ico-concre- espaqo, a perenizacáo (conservaqáo) desses
tos parüiculares. Como .ii foi observado, afir- construtos, as modificagóes, quer do substrato
mar que a contradigáo capital-trabalho "ex- natural, quer das obras humanas, tudo isso
plica" a organizaqáo dn espaqo no modo de representa criacdo de ualor,
produgáo capitalista, pol exemplo, náo contri-
bui muibo para o geógrrfo crÍtico, pois tal
- Inicialmente,
fazer
para fins de análise, temos de
a distinqáo entre valor ?zo espago e valor
afirmagáo, dada a sLla generalidade, enlurva do-espago. Tal distingáo é fundaáeñtat para
a. Geografia, como forma de evitar-se a repe-
iustamente a compreenrrí.o da especificidade
desse processo. Foi aponi';.do, aincla, que o ob- tigáo.de g¡aves equÍvocos. De maneira geial,
jebo geográfico, a.pesar r.!a sua "relativa auto- os autores que pesquisaram esse tema contem_
nomia" deve. como todas as demais i.nstincias piaram apenas um dos pólos cla distincáo. A
da reaiidade sociai, ex[,ressar as determina- própria idéia de espago feográfico ae cónóep
qóes fundamentais das fcrmas de procluEáo e gáo. empirista e naluialistf revela uma pers-
reproduqáo da vida ma r,erial em que ele se pectiva centrada exclusivamenLe naquilo^ que
inscreve. Ninguém levar.bará dúvidas á afir- aqui chamamos de valor do espaqo. Éor ou^tro
maqáo de que as formas espaciais eriaclas por , lado, a idéia de espago económiáo, tal como
posta pela
uma sociedade exprimei,l o condicionamento
da estrutura económica que ali domina. En-
i' abordagemeconomia marginalista, ievela uma
exclusiya daquilo qué clenomina-
bretanto, se esse procps.jo possui uma reali- mos. v¿l.or no espaEo. Na nossa ábordagem, ao
dade especifica em cacr,r modo de nrodugáo, contrarlo, a preocupagáo está centrada numa
por outro lado ele exprg55¿ urna universali- concepqáo unificaclora das duas perspectivas,
dade. Em qualquer épc,,,a e em quaiquer lu- eomo o modo dialéüico de captai o processo
gar, a. sociedade, em s'.'a própria. existéncia, de valorizaqáo. A realizagáo dessa unidade
valoriza o espago. O m..lio de produqáo enüra paslar contudo, necessariamente pela conside_
aí, portanbo, náo como rlanacéia teóricA, mas raqáo'das diferengas entre os doü momentos.
como mediagáo particvtzrizadora. Cada modo Sendo g. e_spaso (e tucto o que ele conbém)
de produgáo terá, assirn. o seu modo particular uma condigáo universal e preexistente do tra_
de vaiorizaqáo. balho, ele é, desde logo, uin_aalor d.e uso, um
Foi apontado, ainda, 1ue qrralqtrer processo bem de utiliclade gerat. A produqáo, clesta for-
social deve ser explicadr no ámbilo da cliscus- ma, sempre se realizará sobre formas preexis-
sáo sobre valor e trabalho, pois sáo essas as tentes, sejam natu¡ais ou sociais (herdadas de
categorias fundamentais da materialidade so- trabalhos pretéritos). po. isso que o espago
cial. Ora, o procdsso d.. valo¡izagáo tem. nes- é uma condigáo geral-Ecia proouáao. Daí ele
122 123
possuir um valor intrínseco, náo necessaria- ::iü:r porgóes
asslm,
da superfície terrestre consiste,
nyma parcela do valor do espago, sejá
mente produüo do trabalho humano, uma "ri-
queza natural". Daí, também, ele ser o recep- como primeira, seja como segunda natureza.
táculo fundamental e geral do chamado "tra- _..A.segunda parcela do valor do espaco cons_
ba-lho morto". Sob esse ponto de vista, o de- titui-se naquela que é precipuamu"^1. tU*-Oo
senvolvimento histórico é também uma pro- lrabalho. Com o desenvolvimento das forcas
gressiva e desigual acumulagáo de trabalho na produtivas da sociedade, há uma tenaánáiJ
superfície da terra. Essa acumulagáo, que des- geral á construgáo de formas mais duráveis
naturaliza o espaqo vai também complexizá-lo. soDre o espago, pr.oCugóes materiais que
As desigualdades naLura.is da superf ície da agregam ao solo. Míllon Santos, de forma se
terra, sobrepóem-se as desigualdades de aloca- Ill!",_expóe a esséncia aess! processobri_
qáo de trabaiho. proauqao do espaso. para ele, oi modos de
de
Para as atividades prcdutivas t,ém impor- produqao criam formas espaciais que duram
táncia, náo apenas o bratralho morto acumu- mais. que os processos que ai engendiaram.
De_
iado em meios de produr:áo, como t,ambém a nomrna a essas form-as rugosid.ad.es, e
disponibilidade e as cararberÍsticas das forgas
.de
aponta a sua inércia dindmica ,áb.o os pro_
naturais em geral e de seu papel na produ- cessos.sociais posteriores. por inércia dinámi_
Lividade do trabaiho. A.ssim, o valor do espaqo ca, entende uma sobredeterminagáo Oo espago
também se expressa na qr-talidade, quantidade na vida económica. As constrúgóes anfigás
e variedade dos recursos naturais disponíveis torn¿m-se qualidades do lugar. Á partir daí
numa dada porqáo do espago terrestre. Isso :rt"bu.lgq.. a .possibiJidade ctá uma'Geografia
significa qlle a singulari.Jade natllral clos lu- como "história üerritorial,,. M. Santos náo es_
gares uma preocupa,;áo clássica da Geo- d ire tame.n te- preocupado com o pro-
grafia -* deve ser integralmenle considerada "11:I^ol!-,
cesso em sl. da produEáo do espago, o que im_
nessa argumentagáo. As ehamadas forqas na- plicaria entrar na teória do uáLoi, *r. .ro .._
turais náo atuam, entreta.nto, apenas ao nivel sulfado maüerial (social) de tal processo (o
da produtividade do tralralho. e na variaEáo espaso construído) e sua agáo sobre o movi_
quantitativa dos prodrr |os, mas, também, mento da totalidade social.
junbo aos processos respqnsáveis pela estrutu- Na ótica da vaJorizaqáo, a produgáo do es-
ra elementar da divisáo terriüorial do traba- paso e seu resultado sáo apenas um momento
lho. As condicóes naturais aparecem, para a (fundamenlal) no procesio d.e fo¡maqáo do
produgáo em geral, con.rc um limite histori- território, o que dá origem a essa parcela es-
camente relaüivizado, clrio peso na especiali- pecífica do valor do éspaqo, uqrel* criada
zagáo das atividades pror:lr,rtivas é significativo. pelo trabalho. Náo há dútida de que as ,,rugo-
Nlarx dizia: "Ninguém plantará abacaxi no sidades" desempenham determinaclos pap"e;s
Alasca". I{oje, poderíamrs dizer que, dado o no processo social em geral. Enbretanto, iabe
investimento necessário em tecnologia, é qua- aqui tematizar, mais que as rugosidades (re_
se certo náo ser viável plantar abacaxi no sultados), o movimento interno"da producáo
Alasca. Esse vaior de bnse natural das clife- do aalor do espago. Já sabemos que ;J" p;:

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il cesso se move fundamentalmente pelas deter- quanto a urna posigáo ímpar aos recursos na_
minaqóes da estrutura económica na qual está [ura]s, como a conjugaqáo de terras férteis,
H inserido. Por isso as conr:trugóes espaciais ex- água em abundáncia e clima favorávet, poi
w pressam os conteúdos das rela§óes sociais que exemplo. No caso urbano, tem-se as localüa_
fr
{*1
as engendraram. No ca-pitalismo, por ex.,, a qóes diferenciadas gerando lugares mais ou
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cristalizaqáo do trabalhc morto em meios de menos valorizados em funcáo de sua disposi-
produEáo aparece também como capi[al fixo cáo no tecido urbano. Isto se manifesta, por
;{ ou fixaqáo de capilal ao espago. Enquanto exemplo, na insüituigáo da ,'luva,, cobrada por
il qualidad.e do lugar, esse trabalho morto apa- um ponto comercial. Em ambos os casos, eitá
fr rece na composigáo orgánica do capital como em jogo o valor do espaco. A renda de mono_
id uma parcela do capital constante. Nesse sen- pólio, por sua vez, inciAe mais diretamen[e ao
d [ido, o próprio espaqo físico necessário á pro- nivel da singularidade dos lugares. Sáo as con_
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.q
duqáo é contabilizado como valor do espaqo, digóes únicas (raras), sejam "nat,urais ou cons_
.r.á valor previamente acunrulado. [ruídas, o seu fundamento. No caso da natu-
E o valor do espago rtue se manifesta em reza, aparece diretament,e como um recurso
,{ todas as formas de re.rrda f undiária. David natural escasso, como os minerais raros, de_
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Harvey chega a demonslrar até as suas mani- terminada potencialidade hidrica, ou um soio
'a:i festagóes ao nível da valcr\zagáo intra-urbana exc.epcionalmente fértil. No caso urbano, a lo_
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do espaco. A renda absrliuta, como expressáo c_alizagáo única (por exemplo a Av. Vieira
il da propriedade privada rlo espaqo, aparece sob
-:4 Souto, no Rio de Janeiro, e o cruzamento da
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a forma de uma cobranaa ao direito Ce utili- Av. Paulista com a Rna Augusta, em Sáo
zaqáo de uma parcela do espago fisico. No Pa,ulo). No limite, o domínio p-rivado clo total
caso urbano, ela manifesta-se na insbitnlcáo das terras oLt irnóveis disponíveis, permite
fl do aluguel. Na agricultrrra, sob a forma clás- igualmente auferir-se uma iencla de monopó_
4 sica do arrendamento. Em ambos os ca.sos, lio, O valor do espaqo sittgular (de cada espa_
:1
,;:l cobra-se, a¡tes de tudr.'. pelo simples direito go) expressa-se aqui plenamente.
de ocupaqáo de uma dacla parcela de espaco.
'ii - O valor do espaqo, em todas as suas forntas
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seja para a produqáo, .ru para a existéncia. de matifestacáo, aparece frente ao processo
de
:1 É o valor do espago enr sua expressáo mera- produgao, como Llm valor conLido. O lugar
e
{ mente areolar, o qlle esrá em jogo nesse caso. seus -recursos naturais ou construídos. nñfim,
'.4
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A renda diferencial reüousa nas qualidades o espaco concreto, tal corno ele se apresenta
'..1
'.2 específicas de um dado lugar, sejam as nabu- pala a producáo. A Terra é, aqui, uma reali-
4
i.I rais, sejam as agregadas ao .solo pelo trabalho. dade natural e material qrie sb áefine como
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No caso da agricultura. tem-se a fertilidade receptáculo do trabalho humano historica-
,á absoluta do solo ou a qr!e advém da aplicacáo mente actrmulado.
,l de capitais. Ocorrem tanrbém as vantagens lo- Por ser o espago concreto também um valor
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cacionais advindas de rrma localizagáo privi- de troea, défine-se a possibilidade de um ualor
!x legiada quanto aos frutls da incorporagáo de no espaQo. O espaqo, aqui. a despeito de con-
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trabalho ac' espaqo n¡.lna escala maior, ou ter valor prévio, náo ultrapassa a fungáo de
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mero palco de processos que nele ocorrem, ou¡ da circu-laEáo. Inicialmente,' náo t¡ataremos
em outras palavras, como substrato da vida da circulagáo de mercadorias, estrito senso.
material. Nesse caso, desenvolve-se sobre ele Nesse nível mais geral, referimo-nos ao mo-
uma teia complexa de relagóes sociais de pro- vimento B!9na¡ sob¡e o espaqo, e espacial_
duqáo, náo diretamente espaciais, mas eviden- mente . realizado, de pessoas, objetos, - idéias
femente doto.d.as de espacialidade. Como dis- eüc. Náo se trata, portanbo, do espago como
semos, náo há processos espaciais, mas os pro- recurso. Ele é, mais do que isso, um autén_
cessos sociais manifesl;ando-se sol:re a super- tico f'ator de circulagd.o. A distáncia absoluta
fície terrestre. O espago terrestre apresenta e relativa é a expressáo de sua materializa-
uma série enorme e complexa de fenómenos e{o. a troca é, assim, urna revolugáo nas rela-
naturais e sociais que se estendem sobre o es- góes entre a sociedade com o eipaEo, nesse
paqo concreto. A espacialidade, entáo, náo per- sentido especifico. Antes mesmo do óapitalis_
tence á esfera deste c,-r daquele lugar concre- mo e, mais especificamenLe neste, o cüsto de
to, mas é uma caracterÍstica imanente de qual- fra,nspo.rte.-agregar-se-á ao prego final do pro-
quer processo, seja ele social ou nabural. Nesse duto, viabilizando ou náo sua-própria pr6du-
sentido, náo cabe nrla ontologia do espago. gáo para a üroca. Determinadoi piodutos co_
pois este é um atribr-rbo dos seres e náo urn mercializados pelos venezianos, n'ó século )ilII
ser. A espacialidade, enquanto atributo, esLá só poderiam ser consumidos pelo doge de Ve_
contida em todo processo de criagáo de valor. neza. Daí o fundamento do valor arbitrário de
Ela é uma mediagáo necessária para a com- um produto, resultante da distá¡rcia de sua
preensáo de uma malrifestacáo histórica con- origem, logo, da dlficuldacle de sua obtenqáo.
creta. Na busca da totalidade, a espacialidade Como se observa, náo se trata cle um valor que
é um elemento de cor..cregáo. Como se ,,'é, náo .se confunde maberialmente com o produto,
se trata, aqui, nern do espaco natural, nem do como ocorre no valor do espago. Aqui, náo é
espaQo como depositário do trabalho morto. a "ferJ.a" ou o espago ,,concre1o,, afiegando_
mas do espago no próprio processo de traba- -se ao valor final orr inberferindo na produgáo,
lho, no nÍvel imediat,r da produqáo. r a pró- mas uma airtudidade da circulagfo e uma
-do espago real (a distáncia) par-
pria espacialidade do vaior. I i.manéncia
Enquanto a definiqáo do valor do espaqo é tic_i_pando de um processo social específíco.
mais facilmente constrüida, a de valor no No capitalismo.
. mercadorias estáem particular, á produgáo
espaqo, como visto r,.o parágrafo precedente, de intimamente as§ociadá a
envolve questóes mais complexas. Se o que uma inLensificagáo da circulagáo, pois é nesta
nos orientasse fosse uma teoria do espaqo, que aquela se realiza. Amplia-se a importáncia
provavelmente náo cliscutiría¡nos o valor no da espacialidade na definigáo do válor. Esse
espaqo. Como, entr:tanto, nos embasamos modo de produgáo ultrapassa a inércia da dis-
numa teoria do valo,. essa quesfáo se impóe táncia absoluta, jogando com a velocidade dos
forgosamente. fluxos e a escala da produgáo. O ,,enculta-
Parece-nos que essa questáo se esclarece mento" das distáncias está ligado; por seu tur-
bastante quando se ¡.ñe em destaque a esfera no, á ampliagáo das escalas espaciais de pro-

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dugáo e distribuigáo das mercadorias. Rela[i- espaqo.
viza-se a distáncia, na multiplicagáo infiniba Num outro nivel, com a propriedade privada
das trocas em termos espaciais. No interior e a mercanbilizagáo das relagóes sociais, o pr6.
dessa imensa estrutura de trocas o espaqo prio espago torna-se objeto de troca. Nésse
mundia.lizado de relagóes é a -intensidade caso, mais do que o valor do espago, define-se
do fluxo, e náo a localizagáo- absoluta, que uma circulagáo abstrata (transaqáo imobiliá-
deve interessar. A escala de produqáo relati- ria) que o retém como veículo. No mercado
viza, de forma absoluta. a distáncia. Ocorre de trocas, a terra ou o imóvel náo seráo tran-
que outra virtualidade do espago real (a mag- sacionados pelo valor do espago em si, mas
nibude) também interfere no movimento geraJ pelo valor que lhe é atribuído segundo a lógica
da produgáo. Quando se fala, por exemplo, em da circulagáo. Do mesmo modo que a merca-
produgáo "em larga escala", deve-se atentar doria pode circular sem se destocár no espaqo,
náo apenas para o aurnento quantitativo da o espago, em si, pode circular ao nível de sua
produgáo estrito senso mas, igualmente de repr-esentasáo jurídica. É o caso da renda ca_
seus pressupostos espaciais. Assim, em espe- pitalizada, por exemplo, ou de todas as tran-
cial na industrializagáo a.vanqada, o aumento sagoes em que os imóveis em geral abuam co-
de escala é também uma ampliacáo do espaqo mo riqueza acumulada. Marx diferenciou bem,
diretamente afeto á prorlugáo e á circulagáo. nesse sentido, a "matéria terra,, do ,,capital
A essa ampliagáo territorial da produqáo ca- terra". No primeiro caso, trata-se da simples
pibalista, corresponde ur..r gigantesco processo existéncia dos lugares (o va-lor do espago) i no
de concenfraqáo espacia.l dos fatores cle pro- segundo, de sua exisüéncia articulada no pro-
dugáo. cesso capitalista de produgáo. Assim, o váIor
Como se observa, o valcr no espaco diz res- no espago_ diz respeito ao próprio espago no
peito a condigóes espaciais universais de re- processo de circulaqáo.
produqáo dos modos de orodugáo, que náo se Procuramos, assim, difereneiar o valor do
atém ás singularidades dcs espagos. Por exem- espaso e valor no espaso, corno recurso analí_
plo: qual o papel de r.rrn casbelo na ordem tico necessário á sua trnidade no processo de
feudal ou de Nova York no capitalismo abual? valorizagáo do espago. Este é a expiessáo com-
Muito já se falou da ciclade como capital so- binada dos dois momentos aqui precisados.
cial, condigáo geral de r:eproduEáo da produ- Avangar na argumentagáo implica, á partir de
gáo capitalista. A cidade, como manifestagáo agora, discuti-los de forma conjunta, isto é,
eloqüente da concentragio em geral, particu- explicitar sua clialética.
la¡mente de forga de tra!:alho, aparece, assim, Entendida a relagáo sociedade-espaqo como
como uma clara ilustra.qáo da espacialidade um processo de valorizagáo,-o seu movimento
específica do capitalismo avangado. O valor interno deve expressar, em essOncia, um per-
no espaqo é a própria espacialidade contida manente proeesso de criaqáo de valores. po-
nos modos de produqáo, Ele nos revala mais rém, distintamenüe da yalorizagáo do capital,
a especificidade das fornras de va-lo¡izaqáo em por exemplo, que ocorre na atividade produ-
geral do que propriamerrte a da produgáo do tiva de um ou outro ramo da produgáo, a va-
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das mercadorias, náo aparece peranLe a pro-
lorizagáo do espago ma¡rifesta-se com caráfer dugáo, como um objeto homogáneo. E-le é in-
oá ninñum momento ela deixa
;;piñ. processo de
valo- trinsecamente desigual. A sua própria natura-
ser um universal (a criagáo de
lidade preexistente ao trabalho impóe, desde
i..l á, ,i"tte sentido, ela sempre externará
de
as
produ- o início, quadros naturais diversificados. Tam-
á.t.tái""Eóes gerais de rlm modo valori- bém o trabalho nele se acumula desigualmen-
cáo. Contudo, o espaqo, ccmo objeto de te. Nesse sentido, o espago concreto para a
liiar. náo se confúnáe com outros objetos vul-
producáo concreta, sendo uma condiEáo uni-
;;;;;'J; produgáo maberial imediata' Em pri- versal, é sempre singularidade. Assim, as con-
áleiro lugar, porque ele náo é apena-s- um pro- diqóes únicas de cada localizagáo aparecem
duto 1oܡeto- e iesultado do trabalho), mas
para o processo produtivo como condigóes de-
iamu¿i¡ imperativamente uma condigáo geral siguais de produEáo. Também o consumo do
áa proOuqaó e da existéncia humana' Além do espago se dá através de qualidades próprias.
mais, o eipago, como realidade maberial, possui Aqui ele aparece como objeto único. O seu
qualidadei intrínsecas qtte o colocam numa uso náo impiica a sua destruiqáo, apenas mo-
sociais'
$osigáo especial frente aos processos- dificagáo. Do mesmo modo, as construgóes
irrrt,it de iudo, brata-se de um ab'soluto, no
da Físicr'.. de que dois corpos sobre o espaQo (o trabalho diretamente agre-
próprio sentido gado) apre.,r:rriam a caracteristica da durabi-
ñáo o"upam o mesmo lttqar no espaqo' Esta lidade que se acentua no decorrer da histó-
sua quaiidade esbá, por sua vez,-.relacionada ria. Seu consumo também náo as destrói, pelo
a duás de suas virtuálidrdes: a distáncia e a menos na mesma velocidade das outras mer-
magnitude. Ocorre que as loealiz.zcóes dife' cadorias. O que pode ocorrer é o consumo des-
1 renciadas deterninam seraraqÓes IISlcas Inalo- trutivo de certos alributos desse espago (como
res ou menores e fiuxoi mais ou menos in- 'blguns recursos) mas náo deie próprio. Final-
I tensos. A magnitude, p.r seu burno, se ex- mente, o espago é a^inda o depositário u¡iver-
pressa na dimensáo e itrbensidade das cons' sal da história. Nele se acumulam trabalhos
1
irugóes. A articulagáo enlre as duas virtuali- dos tempos mais remotos, num permanente
i dad'es (distáncia e magrtilude), sob a lógica ciclo de criacáo, reposigáo e transformagáo de
i de um modo de produqño, manifesta-se, por objetos sobre sua superfície. O espago apre-
sua vez, nos processos dé concentraqáo ou' dis- senta, assim, a sobreposigáo dos resultados dos
oersáo. A intinsidade do"q fluxos entre disbán- processob naturais e sociais que coexistem na
di*ti.rtas está associada á coneentraqáo
"lr.
prévia, por exemplo. O espa.qo-é tambétn uma
con temporaneidade.
Todas essas qualidades impóem característi-
inatérii finiba, o que the abribui a qualidade cas específicas ao processo de valorizaEáo
de raridade relativa. Ele e um bem relativa- desse objeto particular. Náo se deve, contudo,
mente escasso. Isto itnpóe um limite absoluto inferir daí que a qualificagáo desse processc)
á sua reprodugáo
- extensiva. Assim, sua pro- advenha das ineréncias do espaqo. Ao contrá-
priedacle propicia um r:rivilégio ímpar, em
rio. é sempre a sociedade que o qualifica. Nas
[u*quer ferióao da histlrria Além da
disso, como
maioria palavras de Marx: "O que faz com que uma
roi ,isbo, o espaqo, ao 'ontrário
133
t32
regido da Terra seja '-rm tenitorio de caga é como condigáo de produgáo. Por determinar a
o fato das tribos caQarem nela; o que trans- produtividade do brabalho, o valor do espago
forma o solo num protongamento do corpo do articula-se com o valor no espaqo. Isto por-
indivíduo é a agricu1Lura". Isto significa que que, no processo produtivo, o resultado do dis-
as características inerentes ao espaco náo tém péndio de irabalho é proporcional ás condi-
sentido em si, pois'o qlle as vivifica é a própria g6es de produgáo. A espacialidade inerente á
sociedade. Para a nos-sa perspectiva, portanto, produgáo de qualquer bem vai manifestar-se
as qualidades do espago intelessam énquanto também em seu va^lor final. Esta parceia do
particularizadoras da r-alorizaqáo desse objeto valor náo é aquela represenfada pelas maté-
específico. rias-primas ou uma forga hidráulica etc,, ou
Retomando o que nos é fundamental, o pro- quaisquer outros componentes brutos do pro-
cesso de trabalho, a pr.'oduQáo e a criagáo de cesso de produEáo (prédios, máquinas e a pró-
valores a esséncia r{e qualquer valorizaqáo pria forqa de trabalho). Ela manifesta-se, isto
-
partiremos para o exame do movimento sim, enquanto fraqáo náo direbamente conta-
-,
principal da valori;ar;áo do espaEo, que é a bilizada do vaJor real do espaco em que se
circularidade da criagá.o dos valores do espago realiza. Ela é, fundamentalmente, uma par-
e no espaqo. No proces-"o de trabalho. o homem cela do valor final que náo decorre de um
se depara com uma rea.lidade social e também produto, mas de vma condiqdo.
com uma realidade espacial (igualmente so- Esse yalor, náo diretamente contabilizado
cial). Diante das condigóes gerais de procluqáo enquanto tal, aparecerá para qualquer pro-
e existéncia, ele define um ciclo perntanente cesso de trabalho como custo geral da produ-
de apropriar para tra.l;alhar e vice-versa. Nes- gáo, expresso em quantidade de trabaliro ou
se movimento, ininterrupto, ele submebe ao seu capital. Aparece sob a forma de custo de pro-
processo de ü¡abalho bodas as forgas disponí- ducáo, por exemplo, quando um empreendi-
veis. Escraviza ou compra forqa de trabatho, mento se ressente de uma péssima localiza-
domina forcas natttrais, desenvolve suas for- qáo. Também sob a forrna de custo de trans-
gas produtivas, organiza o processo de produ- porte ou, no limite, de fabor inviabilizador
gáo, produz a tiqueza e reproduz todo o ciclo. (em termos relativos) da produqáo. Dessa for-
Como entra o espaqo nesse movimento circu- ma, se deduzirmos do valor aquela parcela re-
lar? Em primeiro luga.r, tem-se que o trabalho presen[ada pelo espago enoua¡to condigáo de
se realiza num deternlinado lugar. Este, ma- produgáo e examinarmos as suas partes com-
nifesba-se enquanto un conjunto de condigóes ponentes, chegaremos ao valor'do espago e ao
gerais de produgáo. As condic6es naturais do valor no espaEo. Os espacos singulares, bem
lugar, expressas sob a forma de recursos, agre- ou mal localizados (lato- senso) , transferem
gam-se ao processo de trabalho, definindo-lhe aos produtos durante o processo de trabalho,
a produtividade. As forgas produtivas da so- ürn qr-tdntum de produtividade. Assim, o valor
ciedade (tecnoloqia e fecur:sos naturais) lam- no espago ma¡lifesta a virtuaiidade do valor
bém se materializam em aloeag6es espaciais. de eada espaqo. Por sua vez, a produqáo im-
Tem-se o valor do esnaqo, todo ele englobado pliea agregagóes permanen[es de valor ao solo,

134 13s
num volume proporciona-l á sua escala. Dessa rizaqáo, correspondentes aos ayangos das for-
forma, a quantidade de valor produzido no gas produtivas de que dispóe a sociedade. As
espaso retroage no valor agregado ao espago. reapropriaqóes sucessivas encontram, contudo,
Como dizia Marx, "as velhas localizagóes corl- um espaQo já previamente impregnado de tra-
dicionam as noyas". Esr,abelece-se, assim, um balho agregado nas apropriagóes anteriores.
nexo orgánico entre o valor coritido e a cria- A fixagáo implica, assim, uma efetiva pro-
gáo de valor. dugáo do espaqo, pois permite a realizaqáo de
Os fundamenüos da ,izlorizagáo do espago uma acumulaqáo in situ. O excedente de tra-
repousam, assim, numa unidade contraditória balho de sucessivas geragóes, sociedádes, e
entre yalor do espago e valor no espago. Essa mesmo modos de produqáo, váo se incorporan-
é a lógica de seu movirnento inte¡no. Outra do cumulativamente ao solo. Comega a cons-
quesbáo diz respeito á sr-ra dialética na totali- tituir aquilo que M. Santos chama de "heranga
dade, isto é, á sua manifesta4áo no movimento espacial". A generalizaqáo da apropriagáo, fi-
geral da sociedade. xaqáo e acumulagáo de brabalho ao espaqo
A forma mais elemenl;ar de relagáo socieda- está na raiz do processo de consbituigáo dos
de-espaco, como já foi ,'isto, é a apropriagáo territórios e dos Estados. Esbe já represenla
direta clos p.rodutos da nabureza, tal qual se um momento superior do processo de valo-
apresentam para o honr:m. O trabalho, aqui, rizaqáo, aquele que se assenLa no efetivo do-
resume-se á simples coler,a. Náo se pode falar, mínio do espago, agora já plenamente con-
nesse caso, de uma verdadeira valorizagáo do cebido como espagc de reprodugáo da socie-
espaqo, pois a acáo do t: aballro sobre o espaco dade. O território é, assim, a maberializagáo
é bénue e transitória. D,:ssa forrna, o trabalho dos limites da fixagáo, revelando formas de
agrega algum valor ao produto, mas, dificil- organizagáo bem mais complexas. O Estado,
menüe, ao espago. Este aparece apenas como por sua vez, é a institucionalizacáo política
uma condicáo de existélr':ia. Como já foi visto, náo apenas da sociedade, mas também do pró-
a fixaqáo, sendo um mart.o no desenvolvimento prio espaqo dessa sociedade. A isso correspon-
da humani.dade, implica a perenizagáo do tra- de uma tendéncia á agregagáo de volumes
balho, a sua materializ¡gáo no espaco. Parte crescentes de trabalho ao espago e á constru-
do excedente do trabalhc agrega-se sucessiva- gáo de fo¡mas mais du¡áveis e em maior vo-
mente ao solo, mesmo q'le para cumprir ape- lume.
nas uma funcáo de rep,,'e¿ugáo da existéncia. O momento seguinte do processo de valori-
A fixagáo corresponde rtm certo grau de de- zaqá.o do espaeo diz respeito aos mor.imentos
senvolvimenlo das form"s de apropriaqáo e de de expansáo. Ele tem, por pressuposto, a exis-
transfor:magáo do espa ro. Nesse sen[ido, a téncia de espagos já territotializados e todas
apropriaqáo pode ser corriderada como um nlo- as implicagóes daí decorrentes. O Estado, co-
mento prévio e necessário i valorizagáo. Com mo gestor da política Derritorial, é, geralmen-
a, evolugáo histórica p.'r-lem ocorrer sucessi- te, o promotor da expansáo. As diferencas ine-
vos proeessos de aproplracáo de um mesmo rentes ás soeiedades e aos terri[orias em ques-
espaQo implicando diferrntes formas de valo- táo, imp6em variadas formas histórico-concre-

136 137
Os ¡no tagóes particulares, mesmo sem penebrar, con-
tas de manüestagáo ciesse momento' também as tudo, no exame de movimentos singulares.
vimentos de expansáo expressam
Nesse sentido' Uma das formas mais ricas de manifesbagáo
ffió.i; tei¡toriais drstiñtas' da valorizagáo é aquela representada pelos
-^.rá, articula-se,. ao nível da orga-
"*pansáo do berritório e da sociedade processos de colonizagáo. Esta é sempre uma
,irrál""iritu*t de concentragaq I expalsáo sobre uma nova terra, a constitui-
L- L"pr.rtáo, processos Estado.ou da cidade gáo de novos territórios (contÍnuos ou náo ao
r.i.tá.i.i, do déspota, r1o
concentra- de origem) e a ampliagáo do horizonbe geo-
n.* iiuttt, tal ritaqáo. Uma cer-ta
Lrabalho--e recurso§ gráfico de uma sociedade, ou mesmo de um
iá" piáriu de popuÍagáo,
A modo de produgáo. Apesar das formas parti-
é, assim, uma condiEáo gerat da expansáo' foi visto culares que assumiu em diferentes modos de
cbncentragáo, por túu. 'é', como iá produgáo, o processo de colonizasáo forma
possibilita o desenvolvi-
;;;;ii;;io-átietiát,liauattro e das formas de particular de valorizagáo do espaqo - possui
Á."tJot airiuao dt uma certa universalidade. Em primeiro - lugar,
sociabilidade em gerat Ela está na
raiz do
da acumulacáo pré- porque ele implica a agregagáo de uma dada
comércio e ¿os meicaclos, fluxos quanbidade de espago e tudo o que ele contém,
;;;^á;;rpital, da inbensificaqáo dos e
de. producáo' o que na prática significa uma adigáo de fato-
;; d"t"Có piivaoo dcs meiós res de produgáo: forga de trabalho, recursos
r*pá"iao e concentra':áo sáo, assim' fltnda-A naturais e terra em geral. A colonizagáo pos-
mentos do desenvolvirnento do capitalismo' sui, assim, grande poder de influéncia na di-
iu"áO".iu do desenvoltimento das trocas e da
incorporar ao cir- námica da sociedade que a engendra, já que,
circulacáo .* g.r,t é a de mais dila- através dela, novos recursos sáo drenados ao
árito .óo"6micó, .*p'qot cada véz !

de formacáo circuito económico mais geral. A ampliagáo


ñ;t. iá roi aisculiác D processo
t mundializaqáo. da do espaEo afetado pelo circuito da produgáo
áu:r,i.tbti" universal, náo implica apenas a anexagáo de terras e a
"oá fluxos'.A
;;";;i, ; a globalizasáo o momento mars
dos i{lf:
drenagem dos recursos, mas, igualmenbe, na
áliá"arirrgáo- constit'ui valorizaEáo do es' dilatagáo do espago produzido. Este, por sua
uuá"irJo do p.octtto de vez, se reproduz nas "noyas terras" sob pa-
PaQo. o dróes espaciais dotados de ca¡acterísticas pró-
Esses sucesslvos momentos expr€ssam prias.- Os objetivos da colonizagáo (povoamen-
das socie'
sentido geral da evoi'reáo histórica sáo to ou exploracáo, por exemplo) materializam-
i;;;;;""ái[ to"u ¿lu'lát"'uqáo do espaso'
qeral' Esses mo- -se sob a forma de desenhos espaciais diferen-
ir"aá*u"ios de um p!:ocesso. os mo- ciados. A própria alocaqáo d-e meios de produ-
n1a"t"a- -ris univeriris, assim como.en.treianbo' gáo no novo espaco orienta-se por tais objeti-
;;;^á; iiáauqa.o, "áá "ot"tgttem' particulares' vos. Toda soeiedade que esteja engendrando
;;; ;"it ¿ai tórmas históiicas exame esta ou aquela forma de colonizagáo estará,
É;;;;;;..izacio Passa Pelo 9:^tT::' *l::: ao mesmo tempo, valorizando os espagos ori-
; ü; nit¿'l c.os ós p ei i t l' "" ! :. -", i.l :'':anáIise
::1'1; his' ginais de seu desenvolvimento (os que contém
[i;- J¿**";;"t;t"" i;;; ;rgumas ;austiva
dessas manifes' trabalho acumulado) e os novos espaqos, em
[áiiü'lr¡."i"¿i.*
I DO
139
tJo
que se vé na contingéncia de Lransformar uma o .e.lpqCoem geral. Na dinámica dos pregos
primeira naüureza ou de recuperar e modifi- 1_r]ificiais, o capital fin¿nceiro se apropria do
car as herangas espaciais porventura existen- gspaqo, fazendo-o circular de uma forma abs_
w tes. A colonizagáo manifesta, assim, aquilo l.:11 sempre é o vator real áo .rp"qo
que poderiamos chamar de um movimento de o -Nemem jogo. Nesse caso, que
que.esDa o
,%
'ñ vzlorizagáo exfensiva do espaEo. uma "yalorizagáo,, baseada ná posseocoire'é
de ins_
Uma ouüra forma da valorizaEáo do espaqo rrumentos jurídicos de propriedáde. Também
ffi seria aquela relacionada ao uso inlensivo de é próprio da época contámporá;;;;
.,,14 vatoriza-
uma dada porQáo do Globo. A cidade é a ilus-
tfr tragáo por exceléncia cle tal processo. A pro- :ii.^l-q
oamen[e lr1dato estrutura
proc essos d e mod e rniza g áo, no
produtiva. fita se dá
i a_
¡/¡a
duqáo do espaqo urbano represenba uma gi- fundamentalmente pela^ chama¿a a-iiusao
iH
inovaqóes. tec.nológiias. Cls fit_xos lnternucio_ aas
,.x ganbesca soma de bem¡,.os de trabalho aplica-
,,'fr
dos a um mesmo lugn'. A metrópole seria, nars na atualidade repousam basicamente
nes_
assim, a exacerbaqáo desse movimento de se processo, n9-.qye tange ao desenvolvimenbo
A acumulacáo de bempo lro espaqo. Nesse caso, qas areas periféricas.
a natureza, Lal qual se apresenta originaria- Outra forma de vaiorizagáo que
:d mente, desaparece por completo. É a plena modo se relaciona, com atgumas ^das de certo
anterio-
,& socializagáo do espaqo. Dessa forma, além do .g...é. a. qu-e poderiamos id"entificai
na poten_
,:r{
'iA significado mais geral ,la urbanizagáo, o aglo- ilild_q¿" de. vator, contida t".riiOrios es-
-fl merado metropolitano náo deixa de expressar úra¿egrcos. A isso poderíamos "".denominar, com
:.:l uma massa de valores c.ristalizados no conjun- certa impropriedaáe, du ,,rrlo. ésiiáiágico,,
:t ou
.:{
',fl
to edificado, um capital social geral. Muito já
se falou dos processos internos de produgáo
9:_u-1,ol,_rrsáo,,poriri.*,, Já- *;;;; (esrriro
caso, trata_se náo áa txpioragaó
'nJ
t-c do espago urbano e de seu papel na articulacáo
::::r^)*,T_.rs€
economlca do esnago propriamente dito, ri;;
ü [erritorial. Os u¡banistas, notaCamente, avan- de seu domínio. Á rristérifá; h;;"iáade
41
aponta muitos exemplos ¿e corrrrólioi nos
,.2
:t §aram bastante nesse Donto. ¡¿ii.o,
"e.u
Além dessas formas r:nais gerais da valori- entre nagóes, cujo mbvel .* ai.lri,
,:ll o oo-
;á zagáo do espaqo, poderíamos apontar várias Tj"¡o de um dado espaqo, muitas vezes des-
tituído
outras de menor universalidade. O escravis' de vaJor .crno-iü áli.i"ir."re. lVra-
'::Á
!.4 mo, por exemplo, engendra relagóes específi- nife_sta-se aqui. claramente, afgumas
áas qua-
:q
lilá cas com o espago. O feudalismo, por sua vez, I9:1:" ao.espáqo ? gue nos referimos, como
conheceu movimenbos próprios. O capitalismo
*r".r:..#,llo^ 1 {rinqa da locarizacáó privite-
,.fr
t,$
avancado vai introduzir processos singulares E,raua. -E; rs¿o oue ex.plica, por exemplo, a
como o da valorizagáo "futura". Neste caso, a puta por um iocrredt ;úq;r;';;"rJro dis-
cota numa rota oceánica. a" iáraq?J"i*p".r_ ,g.í-
:lt atividade de rastreamento de um dado terri-
):,1
tório já significa um momento necessário para tiva entre os Estados e o valor .,ósirategica,,
r,:!x
a apropriagáo de seus valores potenciais. Tam- do.s territórios, para que fim for, conhe.
ceu uma variedade -seja
bém é próprio do capita.lismo avanqado a exa- ? enorme de maniflstag6es
ñ cerbagáo dos meeanisntos de especulagáo com t ao longo da história. A Geografia- iofitica,
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em grande parte, tém fematizado essas ques- por ela envolvido, pode ocorrer o aparecimento
tóes. de um dinamismo capaz de extravasar as sim-
Em todas essas formas de ma¡ifestagáo do ples necessidades imediatas da produgáo, Be-
plocesso de valorizaqáo do espaqo, podemos rando um mais ou menos complexo espago de
destacar um aspecto de seu movimento inter- fluxos. Apesar da "negatividade" implícita
no de considerável importáncia. Referimo-nos, nesse tipo de exploragáo ligada á extraqáo,
aqui, a duas qualidades específicas da valori- esse di¡amismo a que nos referimos pode apa-
zagáo, quais sejam, a perenizagao e a transi- recer como um fator de desat¡elamento da
toriedade do aalor. Ccm base na nossa con- valorizagáo em relagáo ao seu móvei original.
cepqáo de trabalho, tentaremos explicitar a Nesse caso, o processo de valorizagáo perma-
dialética entre uma e outra. nece, mesmo após a extincáo do recurso que lhe
A relaqáo sociedade-espaqo e sua expressáo deu origem. Observa-se, assim, que, na relagáo
ao nível do processo de trabalho envolvem, enbre t¡ansitoriedade e perenizaqáo, expressa-
sempre, uma certa ca¡.acidade de geracáo de -se um jogo entre o valor criado e o valor
excedente que pode, c'r. náo, ser incorporado extraído.
ao espaqo. Como iá foi dito, sabe-se que uma Ocorre que, como fundamento geral, a va-
certa pareela de trabalho sob forma de valor riaqáo da quantidade de trabalho excedente
agrega-se necessariamente ao solo, durante o e da sua parcela que é incorporada ao espaQo
processo de produgáo. Entretanto, neste caso, é determinada, em última insLáncia, náo pela
pretendemos discutir a expectabiva da durabi- dinámica da produgáo in loco, mas pelos obje-
lidade dessas incorporaeóes. Quando uma de- tivos gerais que impulsionam esses movimen-
terminada socierlade se órganiza para a explo- tos. Isto explica a possibilidade de que uma
racáo, particularmente na génese da formacáo dada exploragáo de grande escala possa, du-
de um território, ela nem sempre está direla- ra¡te séculos, realizar uma acumulaqáo gigan-
mente interessada no espaco enr si. Ocorre tesca, sem contudo espelhar-se no espaqo res-
que, muitas vezes, o nróvel dessa exploracáo trito em que ocoire a produqáo. Muitos sáo os
é a extragáo de recurses naturais específicos. exemplos historicos dessa sibuaqáo, e alguns
O aparato produtivo, alocado nos locais de ex- deles seráo examinados no segundo volume do
ploraqáo, refiete bem bal f inalidade. Geral- presente estudo. De todo modó, trata-se de um
mente, eles se resumerrr ao equipamento pro- nídido processo de drenagem de recursos e de
dutivo, estrito senso, neeessário á atividade. O mercadorias, bens. que serviráo á acumulagáo
espaco construído se eonfunde, assim, com o alhures e que, dessa forma, incorporar-se-áo a
próprio espaqo de proclr-rgáo. Dada a pequena outros espaqos.
quanbidade de valor incorporado, a exaustáo A existéncia de situa§óes como a exposta
do recurso explorado pode implicar a extinqáo acima, nos permite reconhecer que os proces-
dos processos de ocupaqáo e valorizacáo. Quan- sos de valorizacáo do espaqo náo contém ape-
do a exploracáo, seja pela sua intensidade, nas elementos de positividade como, apressada-
seia pela sua duragáo, eonsegue, todavia, agre- ménte, alguém poderia supor, Como se vé, da-
gar uma massa considerável de valor ao local das certas condigóes, tornam-se possiveis for-

f42 143
mas predatórias de valorizaqáo. A diiapida- paqo. Neste ponto do trabalho, cabe estabele_
'gáo do património nabural sem a correspon- cer uma ressalva importante que, de certa for_
dente incorpóragáo de trabalho (valor) ao es- ma, está implícita em toda a nossa exposigáo.
pago, ilustra bem esse processo. Assim, a qua- P¡ocu¡amos, ao longo toda a argumentaqao,
.de
discuti¡ o aalor oO¡ettto.
lidade perene ou transitória define a positi- Nesse ientido, náo
vidade ou náo de uma yalorizagáo. Assim co- foram objeto de nossapreocupagáo as quest6es
mo a metrópole contemporánea seria a ex- relativas á, aalorizacao subjetiw d.o espaqo.
pressáo má,xima da per:enizaqáo, a reconstitu! Esta é uma problemáüica baitante imporiante
qáo modificada de uma eobertura natural so- par-a a compreensáo integral da relacáo
socie_
b{e um espaqo anteriqrmente "ocupado" ex- dade:espago e igualmentjpassivel dL'uma
pressaria o caso Umite da transitoriedade. rizagáo á luz do marxismo. Uma teoriateo_ da
A relaqáo pereniza-gáo-[ransitoriedade nos ideologia, por exemplo, e sua inserqáá na prá_
rerhebe novamente á cl ialética valor do espaqo- tica polÍtica, náo esiará compteta ;¿; o exiune
-valor no espaqo, recornpondo a circularidade das ideologias espaciais. Uste e um assunto
do processo. A perenizagáo refere-se a urna que, sem dúvida, merece uma consideracáo
produgáo em escala ampliada do valor do es- minuciosa, mas sua complexidad. ;;;;#;
pago. A bransiLoriedarle, por seu lado. refere- para além dos objetivos do presente estudo,
-se ao consllmo destrr-tbivo desse mesmo valor. Entretanto, cabe lembrar que também as ideo-
O fundarnento da per:nizaqáo está na lntensi- logias expressam condicionamentos- áa eslru-
ficagáo da criagáo de valor no espago. A tran- bura económica existente. por isso
sitoriédade, subvertenrlo a correspondéncia en- --"smo, as
ideologias espaciais seráo necessariamenLe
ar_
tre as duas forrnas cle valor, manLem os pro- ucuradas com as formas materiais de valo_
cessos de valorisaqáo .to espaqo em que ocorre, rizaqáo do espaqo.
sob patamares baixr-.s de reprodugáo. O es- os-problemas
pago legado pelas formas predatórias de va- -iambep subjetiva, tais mais
vatorruagao
especíIicos da
como os Oa percep_
lorizaqáo, por exemplr), surge para as geragóes gáo e da consciéncia do espaqo e suas
corres-
futuras eomo um coniunbo de condigóes infe- pondentes formas de rápiesentagao,
riores de produgáo. E.le conterá um valor me- foram objeto de nossas preocupacóes. náo
nor do espago, em sB mantendo inallerad¡s' temas de contato enbre á Ceüiatia Sácr
eR
"r,'o r.
as forgas produtivas. O valor no espaqo, por :jl::i:gl i.- T"lrgr geógraf os, aru ais,
sua vez, tenderá á reprodugáo simples, exce- rn[eressam-se cada vez mais pelas teorias
de
tuando-se aqueles cascs em que ocorre a exaus- Piaget sobre a percepgáo Oo espago lio
desen-
táo tofal. dos recu¡sc's que movem a explora- volvimento dos processos cógnitivos, por
gáo. Na dialética, perenizacáo-tra¡tsitoriedade exemplo. Também é crescenie'- á--'irrt...r*,
completa-se a dialébica da valorizaqáo do es- pelas teorias de Foucault sobre - a relagáo
paco. espago-poder, ou, a[é mesmo, pela discussáo
Em todo este capÍtr.úo, procuramos avanEar em torno dos chamados ,,mapas
importáncia desses temas p;r; -a.rLuir,,. A
na compreensáo da r:elaqáo espago-sociedade, ;;; üeoria
entendida como proclsso de valorizagáo do es- marxista da Geografia residá na conside¡acáo
144 !.4s
cteque os modas de produgáo náo se realizam produgá"o especifico. No proxirno capituto,
externamente ás consciéncias dos homens exa[rinaremos os aspectos gerais da valorúa-
reais. A valorizaqáo do espago passa necessa- cáo capitalista do espaqo.
riamenie pelas formas de pensamento que os
homens constroem na sua relagáo com o seu
espago. Entretanto, face aos objetivos pre-
cisos que assumimos, pcstergaremos a dis-
cussáo desses temas par a. estudos f uturos.
Para o que eniendemci aqui como vaiori-
zagáo objebiva, náo cabe. ainda, restringir o
seu significado á mera uql.orizacdo nterca¡ttil
do espago. Seria como ccl.Iundir uma deter-
minagáo universal com urla de suas manifes-
Lagóes aparentes. A valorizagáo mercanLil,
especificamente, diz resptibo á variagáo dos
preqos de mercado de tulr"a da.da parcela do
espago e a sua mercantilizaqáo. Ela é rnais
uma conseqüéncia que oropriamente uma
causa da valorizagáo err\ geral do espaEo.
Pode-se dizer que ela é r",tna de suas expres-
sóes fenom0nlcas, uma ¡paréncia. A Econo-
mia e a chamada Geogr"fia Económice tém-
se dedicado ao esbudo drrs temas a ela rela-
cionados. J^ he, até, t'sntativas de estudos
marxistas sobre tal temário. Como se pode
inferir, dado o nivel de a.bstragáo de nossas
reflexóes, é evidente que o exame dos meca-
nismos do mercado imohiliário, por exemplo,
náo se qualifica para a LDssa teorizacáo. Náo
há dúvida, entretanto, q,..!e no próximo volu-
me. e-ssas questóes terác que ser discutidas.
Neste ponto, podemos considerar concluido
o esbogc geral do que seria para nós o objefo
de uma teoria marxista em Geografia. Neste
capitulo, discnbimos a dia.lética, os momen[os,
as formas e as qualidr.des do processo ds
valorizagáo. Cabe agora, como forma de su[:s-
tantivar a própria argumentagáo desenvolvi-
da, discutir a valorizacáo sob um modo de
146
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