FICHAMENTO DO LIVRO:
MANUAL DE DIREITO
PENAL BRASILEIRO
PARTE GERAL
1º BIMESTRE
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Primeira Parte:
A TEORIA DO SABER
DO DIREITO PENAL SIGNIFICA: QUE O SABER DO DIREITO
PENAL TEM DE ESTAR COMPROMETIDO COM OS DIREITOS
HUMANOS E IDEOLOGICAMENTE VINCULADO COM O AUMENTO
DO ESPAÇO SOCIAL DE TODOS NA SOCIEDADE.
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1ª AULA – 18/03/03
TÍTULO I
DELIMITAÇÃO DO OBJETO DO SABER DO DIREITO PENAL
CAPÍTULO I
CONTROLE SOCIAL, SISTEMA PENAL E DIREITO PENAL
a) Alguém mantém relação sexual com uma prostituta e não lhe paga não há solução
institucional para isto;
b) Patrão não paga o salário do empregado ação trabalhista;
c) Consumidor não paga a conta de luz o fornecedor unilateralmente corta a luz.
CONCLUSÃO: Em qualquer situação de conflito social a solução penal é só
uma das possíveis. Peguemos o exemplo seguinte: 5 estudantes moram juntos. Em dado
momento um deles golpeia e quebra o televisor. Haverá reações e estilos diferentes para
resolver o conflito:
a) Estudante 1 – furioso Não quero mais viver com este cara - PUNITIVA;
b) Estudante 2 – reclamará que pague o dano e tudo bem – REPARATÓRIA;
c) Estudante 3 – ele está louco, não sabe o que faz – TERAPÊUTICO;
d) Estudante 4 – para que aconteça uma violência desta aqui em casa, é sinal de que algo
está errado com o grupo, o que exige um exame de consciência nosso –
CONCILIATÓRIO.
Vejam que a solução punitiva admite duas variáveis:
a) exclusão do estudante do grupo – ELIMINATÓRIA;
b) atingi-lo diretamente – VINGANÇA – RETRIBUIÇÃO.
A eliminatória as vezes se confunde com a terapêutica. É uma punição com
discurso terapêutico.
Por outro lado, A SOLUÇÃO PARA OS CONFLITOS SOCIAIS MUDAM
COM O TEMPO:
a) O concubinato hoje é protegido. Já foi crime;
b) A homossexualidade continua sendo um conflito, como demonstram os
movimentos gays. A punição era a morte. Hoje não é formal: se faz com a
arbitrariedade policial;
c) As bruxas já foram mortas em fogueiras. Hoje estão na moda.
CONCLUSÃO GERAL:
a) Ações conflitivas de gravidade e significado sociais diversos se resolvem pela via
institucionalizada do Direito Penal. Mas não são todas as pessoas que sofrem essa
solução, mas uma minoria, depois de um processo de seleção que seleciona
principalmente pobres;
b) Muitos conflitos se resolvem por outra via institucionalizada que não o direito penal;
c) A solução punitiva (eliminatória ou retributiva) é somente uma das alternativas,
mas que exclui as outras (reparatória, conciliadora e terapêutica);
d) As ações que abrem a possibilidade de solução penal de maior gravidade são
praticadas pelo próprio Estado, que institucionaliza tais soluções.
Tem-se a impressão que o “delito” é uma construção destinada a cumprir
certa função sobre algumas pessoas a respeito de outras, e não uma realidade social
individualizável.
Nosso estudo visa esclarecer se esta impressão é verdadeira ou não. Mas esta
introdução serve para desmentir aqueles que dizem que o direito penal emburrece, só serve
para prender bandidos etc.
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CONCLUSÃO GERAL:
Para avaliar o controle social não podemos olhar só o direito penal como
fator inibidor da criminalidade. Temos que ver como funcionam os outros sistemas:
a) escola métodos pedagógicos, controle ideológico de textos etc.;
b) medicina como é feita a orientação anestesiante, puramente organicista ou mais
antropológica.
As relações sociais, portanto, são complicadíssimas. Não dá para fazer um modelo
de sociedade sem olhar para tudo isto e querer controlá-lo. É simplismo ilusório.
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1
O Direito Penal Subterrâneo é o exercício arbitrário da lei pelos próprios agentes da Administração Pública, através
do cometimento de diversos delitos, tais como execuções sem processo, torturas, seqüestros, roubos. Noutro falar,
as agências executivas exercem descontroladamente o direito de punir à margem de qualquer legalidade,
consubstanciando em um Estado paralelo.
Segundo Eugenio Raúl Zaffaroni (Direito Penal Brasileiro. Rio de Janeiro: Revan, 2003, p. 52-53; 69-70), o sistema penal
subterrâneo é exercido pelas agências executivas de controle – portanto, pertencentes ao Estado – à margem da lei e de
maneira violenta e arbitrária, contando com a participação ativa ou passiva, em maior ou menor grau, dos demais operadores
que compõem o sistema penal. O sistema penal paralelo, por sua vez, é exercido por agências que não fazem parte do
discurso manifesto do sistema penal, mas que, como aquelas, exercem poder punitivo. O sistema penal subterrâneo,
institucionaliza a pena de morte, desaparecimentos, torturas, seqüestros, exploração do jogo, da prostituição, entre outros
delitos. Os sistemas penais paralelos punem com a mesma impetuosidade: banimento de atletas pelas federações esportivas
em caso de doping, sanções administrativas que inviabilizam empreendimentos comerciais, multas de trânsito de elevado
valor, entre outras.
Tal fenômeno se dá em razão da ínfima capacidade operacional das agências do sistema penal (Polícia, Ministério
Público, Judiciário, Agências de execução da pena) no âmbito da legalidade. Em suma, o déficit operacional é
compensado pelo amplo desrespeito ao que estatuído legalmente. Não mais se investiga, tortura-se; não mais se
fiscaliza; silencia-se; a tão necessária verdade real objetivada pela persecução penal transforma-se em verdade política,
alimentada por interesses particulares. Há uma conivência disfarçada entre as autoridades constituídas que absurdamente
administra o desrespeito às leis. Ademais, há uma troca na ordem das agências do sistema penal, haja vista que em relação à
importância decisional, é dizer, à hierarquia do órgão que define o alcance do poder punitivo e que deveria seguir a ordem
lógica de Poder Legislativo, Ministério Público e Magistratura, e por fim Polícia, não é isso que se observa na realidade; houve
uma inversão total de papéis. (GUIMARÃES, Cláudio Alberto Gabriel. Revisão crítica da pena privativa de liberdade: uma
aproximação democrática.
Sobre o funcionamento do sistema penal subterrâneo, existe amplo estudo sobre o modo de atuar na solução de conflitos pela
Polícia Militar do Estado de São Paulo, realizado por Caco Barcelos (BARCELOS, Caco. Rota 66. 37ª edição. São Paulo:
Globo, 2002, p. 274).
O Direito Penal Subterrâneo não deve ser confundido com o Direito Penal do Inimigo.
O Direito Penal do Inimigo é uma teoria enunciada por Günther Jakobs, com base nas políticas públicas de combate à
criminalidade nacional e/ou internacional.
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2ª AULA – 25/03/03
CAPÍTULO II
O HORIZONTE DE PROJEÇÃO DO SABER DO DIREITO PENAL
I - O DIREITO PENAL
16 - DENOMINAÇÃO
Chamam de Direito Penal ou Direito Criminal. Hoje predomina DP. Ex.: Còde
Penal, Codice Penale, Código Penal em Portugal, Argentina e Espanha. É o direito da pena.
19 - O CARÁTER PÚBLICO DO DP
Como o DP tutela bens jurídicos contra ataques que lesam a segurança
jurídica, é um ramo do direito público, ou seja, um ramo em que o Estado intervém
diretamente – não pode ser privatizado.
Isto não significa que o Estado tenha um direito subjetivo de punir porque o bem
lesado é seu – segurança jurídica, ou paz social. Isto levaria a afirmar que se pune o homicida
não porque tirou a vida de alguém, mas porque afetou a segurança jurídica.
A idéia do direito de punir do Estado existe só para limitá-lo: até onde pode
punir.
Esses limites vem de toda ordem jurídica. Existe um espaço livre para cada um de
nós no qual o Estado não pode intervir, porque o direito reconhece que toda pessoa é capaz de
autodeterminar-se de acordo com sua consciência – Art. 1º da DECLARAÇÃO UNIVERSAL
DOS DIREITOS DO HOMEM.
Isto importa em que a legislação reconhece a dignidade da pessoa humana e disto
advém as seguintes conseqüências:
a) O Estado não pode pretender impor uma ordem moral. Ex.: limitar o número de
filhos, penalizando quem tiver mais de 2. Não pode proibir manifestações artísticas
etc.
A moral de uma pessoa, de um povo, surge daquilo que ele livremente escolhe
como moral e não do que o Estado – grupo de poder – acha que é moral. Conclusão: o Estado
totalitário é imoral, porque impede a escolha pessoal – mérito moral.
b) Ao invés de impor uma moral, o Estado pode reconhecer um âmbito de direito moral.
Assim, ele possibilita a “conduta moral” de seus habitantes. O mérito está em poder
escolher o moral e o imoral.
c) A possibilidade de escolha redunda no fato de que a pena não recaia sobre
condutas que recaiam sobre escolhas morais. Sobre estas temos autonomia – CF e
leis garantem. Recaem sobre condutas que afetam o exercício desta autonomia ética.
Exemplos:
- Não se penaliza a mulher porque se prostitui. É uma escolha moral sua. Mas pune-se o
estuprador, porque ele obriga ou impede a mulher de exercer sua escolha moral-sexual.
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- Não se pune quem dilapida seu patrimônio no jogo. Esta é a sua escolha. Mas pune-se o
ladrão, que obriga ou impede a pessoa de dispor de seu patrimônio livremente.
d) Se optamos por um Estado moral – respeito à dignidade da pessoa humana de seus
cidadãos = escolha – são delitos só as condutas que afetem bens jurídicos alheios, ou
seja, aqueles necessários a que não possamos exercer a nossa livre escolha (vida,
patrimônio, honra, saúde, administração pública, o Estado em si). O Estado protege
direitos.
e) Um direito penal assim concebido usa da pena para proteger bens jurídicos. Não
tem uma função de castigo, de expiação,
Zaffaroni não leva em consideração a função retributiva da pena como
castigo moral. A pena garante à vítima que goze livremente de seus bens na sociedade.
NÃO SE PUNE QUEM SUBTRAIU UM BEM, GARANTE-SE O USO DE BENS PELA
SOCIEDADE QUANDO SE APLICA A PENA.
21 - AS RESPOSTAS USUAIS
Responde-se sobre o objeto do direito (legislação penal) de modo contrário e
excludente:
a) A meta é a segurança jurídica. A pena deve ter efeito de prevenção geral. A pena se
dirige àqueles que não delinqüíram = RETRIBUIÇÃO.
b) É a proteção da sociedade e a defesa social. A pena deve surtir efeito sobre o
delinqüente, para que não volte a delinqüir = PREVENÇÃO ESPECIAL. A pena se
dirige àqueles que delinqüíram = REEDUCAÇÃO OU RESSOCIALIZAÇÃO.
c) É prevenção geral e especial. São as opiniões mais generalizadas hoje, com base na
doutrina alemã. O fim da pena é a retribuição. Da execução da pena é a
ressocialização.
b) Não se pune quem se despe em casa, mesmo que alguém o observe de um lugar
privilegiado, porque sua privacidade foi quebrada;
c) Não se pune quem usa barba ou cabelo comprido, porque o direito penal não visa
formar cidadãos barbudos ou cabeludos, mas apenas cidadãos que não afetem bens
jurídicos alheios.
E isto não tem nada a ver com a moral:
a) Carrara já falava: o casamento é muito moral, mas não é lícito o casal colocar a cama
na calçada;
b) Por outro lado, pode ser imoral, mas lícito, convidar os vizinhos para partilhar o
quarto conjugal, porque irão se quiserem.
O direito penal desvalora (diz que é mau) um resultado que se traduz numa
afetação de bem jurídico (por lesão ou por perigo) porque é resultado de uma conduta e não
porque é uma mera mutação física. O direito regula condutas e não mutações físicas.
Também desvalora uma conduta que produz resultado (impossível sem resultado)
porque, embora o resultado seja distinto da conduta, para o DP só tem relevância o resultado
acompanhado da conduta (relação de causalidade).
É arbitrário, portanto, separar o desvalor da conduta do desvalor do
resultado, da objetividade da conduta do da sua subjetividade. Ex.: quando o DP
desvalora só conduta sem resultado, normalmente confunde ética e moral e dissimula isto com
o argumento de perigo abstrato. Manipula essa norma que vai servir de serva dos grupos de
poder:
a) vadiagem;
b) mendicância;
c) embriaguez;
d) a lei seca americana foi resultado da luta entre grupos estabelecidos – puritanos –
frente a imigrantes predominantemente católicos. Não tinha por fim proteger bens
jurídicos. Os resultados foram desastrosos. Foi um pretexto ideológico – bebida – para
um grupo se sobrepor ao outro. E o DP não pode ser o símbolo de uma guerra de um
grupo contra o outro, porque ele protege a realização como pessoa de todos.
25 - O CARÁTER DIFERENCIADOR DO DP
O DP como todo direito provê a segurança jurídica, é cultural, normativo etc. O
que o diferencia é a sanção. Ele procura cumprir a função de prover à segurança jurídica com
o uso da pena.
E a pena se diferencia das outras coerções (reparação de danos, por exemplo)
porque tem um fim preventivo ou particularmente reparador (multa e restritiva de direito).
VI - AS “TEORIAS DA PENA”
b) Pluralistas:
- Procuram combinar as partes, conciliá-las;
- Não são racionais, pois aplicam penas junto com medidas de segurança, tentam
compatibilizar idéias incompatíveis;
- Foi adotada pelo CP/40.
- Na medida de segurança aplica o sistema vicariante, chamado também de UNITÁRIO.
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36 - MEDIDAS DE SEGURANÇA
Integram as sanções penais com base na periculosidade e tem categoria distinta da
pena.
Aplicam-se:
a) Antes do delito:
- para prevenir delitos;
- estado perigoso sem sentido;
- estados ou condutas que revelam periculosidade, mesmo sem cometer delitos;
- vadiagem, mendicância, embriaguez, prostituição, jogo. No Brasil é pena.
- Violam o princípio da legalidade também no Brasil.
b) Depois do delito, para ressocializar:
- junto ou em lugar da pena;
- algumas se dirigem a reincidentes (CP/40);
- chamadas de “medidas”, na verdade são penas;
- com o pretexto de ressocializar, confinam, penalizam, e isto é pena;
- as vezes se cumprem nas próprias prisões, pois não há local adequado. Chamamos de
embuste de etiquetas.
c) Se destinam a incapazes:
- sem capacidade psíquica suficiente;
- Não tem caráter materialmente penal, só formalmente porque é lei penal;
- Não são sanções, ainda que o sistema as distorça e as aplique algumas vezes como sanção;
- A periculosidade que a justifica não é da personalidade, mas de autolesão, que não é
delito;
- As medidas de segurança são experimentadas como penas, severíssimas, porque não tem
prazo e implica em internação em manicômio comum.
3ª AULA – 31/03/03
INTRODUÇÃO
Falamos na 1ª aula que:
a) A sociedade, ou seja, nós, somos controlados por sistemas de controle social e que o
direito penal é só um destes sistemas – menos racional e mais violento;
b) Vimos que quem exerce o controle social é uma estrutura de poder que, se não for
limitada, extrapolará – política. Estes limites estão nos direitos fundamentais do
cidadão, que vêm sendo construídos e estudados desde a Declaração Universal dos
Direitos do Homem de 1948, passou pelo Pacto de S. José da Costa Rica, está na C.F.
do Brasil;
c) Vimos que a A.L. é um continente marginalizado, longe das estruturas universais do
poder e, portanto, mais susceptível à manipulação e violência. Por isto os direitos
humanos levam a um direito penal mínimo, para não acrescentar mais violência à
violência social da marginalização. Precisamos criar uma ideologia própria do direito
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CAPÍTULO III
FONTES, LIMITES E RELAÇÕES DO DIREITO PENAL
m) Celso Delmanto;
n) César Roberto Bitencourt etc.
Hoje temos:
a) Revista do IBCCrim;
b) Cadernos de Advocacia Criminal (Porto Alegre);
c) Discursos Sediciosos (revolta, motim, perturbador – RJ);
d) Ciência Penal (nova em SP).
41 - POLÍTICA CRIMINAL
É a arte ou ciência do governo com respeito ao fenômeno criminal.
Sua função é de GUIA e de CRÍTICA às decisões tomadas pelo poder político
quando seleciona bens (ou direitos) que devem ser tutelados e escolhe os caminhos para
efetivar tal tutela (penas). O problema é não ser influenciada pelo discurso de justificação da
política.
a) Isto não implica que a norma jurídica fique submetida absolutamente à decisão
política. Ex.: controle de constitucionalidade.
b) Quando a decisão política gera (produz) a norma jurídica, esta é adotada pelo princípio
da legalidade. Ex.: não se cria crime por analogia, dizendo que foi a vontade do
legislador.
c) A decisão política elege o bem jurídico tutelado e este componente político indica o
fim da norma na interpretação, muito embora a norma tenha vida própria. É um
elemento orientador da proibição e da permissão. Ex.: o Estado não pode fomentar em
leis aquelas atividades que proíbe em outras leis: ou não há proibição ou há permissão,
como sucede com as atividades desportivas perigosas.
A atividade política tem de fazer parte de um todo, do ordenamento. Não pode ser
diferente num caso e noutro sob pena de não existir como sistema.
sobre o DP;
d) São reguladas pelo Decreto-Lei 3.688/41;
e) A tentativa não é punível (art. 4º, LCP);
f) Para a existência da contravenção basta a culpa como regra geral
(art. 3º, LCP).
a) Em muitos países é legislado com o DP. Não tem autonomia;
b) As medidas que se aplicam a menores não são penas, tendem a
tutelar o menor, protegê-lo, porque é um ser em inferioridade de
condições em relação a um adulto.
c) Aspira à formação do homem e não à prevenção especial;
d) É chamado a intervir diante do fracasso da família. Mas isto não
DIREITO DO pode degenerar para paternalismo;
MENOR
e) Na A.L. a situação do menor é pior do que a do adulto: sob o
pretexto de formar, retiram-se garantias constitucionais de liberdade,
segrega-os influenciando muito mais em sua personalidade do que a
um adulto;
f) Sob o manto de um paternalismo exagerado (ECA) o que se tem na
prática é uma discricionariedade quase que absoluta para tratar do
menor.
a) Existe uma tendência – autoritária – do direito Administrativo se
ampliar às custas do DP;
b) Quer-se levar ao direito Administrativo o direito militar e o direito
contravencional;
c) Outra tendência é penalizar questões administrativas = ações sem
resultados;
d) O direito Administrativo prevê sanções disciplinares para integrantes
DIREITO de um corpo (advertência, suspensão, demissão, cassação de
ADMINISTRA- aposentadoria e disponibilidade);
TIVO e) As sanções tem caráter reparador e não de prevenção especial –
repara a imagem da administração;
f) Tanto o DP Administrativo, fiscal, econômico, são ramos do direito
penal e não do direito administrativo, e por isto devem obedecer aos
princípios do direito penal;
g) O direito Administrativo invade o direito Penal. Ex.: detenção para
identificação (contraria o art. 7º, § 3º, do Pacto de S. José). É um
sistema de controle e de conduta de massa, embora ilegal.
a) O DIPúblico regula as relações entre Estados e o DIPrivado a
legislação e a jurisdição nacional que deve ocupar-se de cada caso;
b) O DIPenal (relação do DIPúblico com o DP) estuda a tipificação
DIREITO internacional de delitos por via de tratados e o estabelecimento da
INTERNA- jurisdição penal internacional (cortes internacionais de justiça penal);
CIONAL c) O DPInternacional (relação do DIPrivado com o DP) determina o
âmbito de validade da lei penal de cada Estado e a competência de
seus tribunais penais.
d) Ambas as modalidades de DP Internacional são ramos do Direito
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55 - A CRIMINOLOGIA
São chamadas “ciências da conduta” as que estudam a conduta humana do ponto
de vista do SER desta conduta.
O DP só determina que condutas devem ser desvaloradas e como se traduz este
desvalor em conseqüências jurídicas. Não se pergunta acerca do SER desta conduta:
a) o que ela representa na biografia do sujeito;
b) que problemas sociais surgem com condutas criminosas.
Estas são questões de outras ciências: a psicologia e a sociologia, ou seja, das
ciências que estudam a conduta humana.
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Não se trata de ciências com OBJETOS distintos, mas disciplinas com um mesmo
objeto (a conduta humana) e 3 níveis diferentes de complexidade.
A relação entre estas três ciências tem sido tormentosa, existindo mais choques do
que aproximação, e a gente fica sem saber muito bem o que é o DP, a psicologia, a sociologia
penal.
Está na moda hoje reduzir o DP à sociologia e de outro lado dizer que ele não tem
nada a ver com ela: é uma técnica.
Nesse contexto surgiu mais uma ciência que tem por objeto a conduta humana,
que é a CRIMINOLOGIA: É a disciplina que estuda a questão criminal do ponto de
vista biopsicosocial, ou seja, integra-se com as ciências da conduta aplicadas à condutas
criminais.
Oferece dados de utilidade ao DP e para a política criminal, possibilitando uma
atuação mais racional no aspecto do controle social.
56 - A CRIMINOLOGIA POSITIVISTA
Até pouco tempo atrás afirmou-se que a criminologia era uma ciência causal-
explicativa explicava as causas e as origens das condutas delituosas.
Primeira dificuldade:
a) estabelecer o objeto da sociologia, que vinha dado pela lei penal, ou seja, por um ato
do poder público;
b) esta era a sua primeira contradição: como poderia ser uma ciência asséptica e objetiva
ideologicamente se o seu objeto era dado pela política?
c) Procuraram construir um conceito de delito natural/universal, mas caíram numa
criminologia de valores, ideológica.
58 - AS CIÊNCIAS PENAIS
A criminologia abarca a biologia criminal, a psicologia criminal e a sociologia
criminal. Estas são aportes feitos à análise e crítica da criminalização a partir de disciplinas
distintas, mas se reúnem numa disciplina chamada criminologia: TENTAM
COMPREENDER A CRIMINALIZAÇÃO A PARTIR DE SEUS ESTUDOS.
Todas estas matérias estão vinculadas à filosofia, à história, e à política, como
pano de fundo de interpretação.
4ª AULA – 01/04/03
CAPÍTULO IV
O MÉTODO E OS PRINCÍPIOS INTERPRETATIVOS DO SABER DO DP
59 - A DOGMÁTICA
A metodologia do DP como ciência é a metodologia jurídica em geral.
Método significa caminho e está condicionado pela meta que se pretende atingir.
Exemplo:
a) Quando para Feuerbach a meta era a tutela dos direitos subjetivos, o método era partir
de tais direitos e reconhecer como fonte do saber penal a filosofia, que era a que
permitia acesso aos mesmos.
b) Se invertermos a proposição, o que vai ser tutelado é o direito objetivo em lugar do
subjetivo. O método tende a reduzir-se a uma sujeição à vontade do legislador.
Depois de Feuerbach surgiu:
O método exegético redução da ciência a uma mera técnica da análise da letra
da lei. Exemplos:
a) O enciclopedismo francês do séc. XVIII pretendeu compilar em certas obras o saber
humano sobre determinados campos do conhecimento. No campo jurídico essa
tendência levou à codificação: reunir numa lei tudo o que se refere a determinada
matéria, ordenando-os de forma sistemática.
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b) Ao juiz cabia aplicar a lei. Bastava que entendesse seu sentido literal. Ações
extremadas chegaram a proibir obras que comentassem códigos.
c) A ciência jurídica ficou reduzida à interpretação gramatical do texto legal. O método
era a interpretação gramatical.
Esse realismo ingênuo reduziu o direito a algumas leis. Também quis explicar o
direito como um conjunto de proposições sociológicas. Exemplos:
a) A Escola Histórica defendia que o direito é produto espontâneo do “gênio” de um
povo. Tendência claramente romântica, porque as normas são influenciadas pelo
mundo.
b) Método dogmático É o mais difundido a tal ponto que se chega a confundir a
ciência penal com a dogmática penal.
Quem expôs o método dogmático foi um alemão chamado Rudolf von Ihering
(1818-1892), surgindo no âmbito do direito privado.
O método dogmático consiste:
a) Numa análise da letra do texto;
b) Sua decomposição analítica em elementos (unidades ou dogmas);
c) E a reconstrução destes elementos de forma coerente, produzindo uma construção, ou
teoria.
Exemplo: excesso na legítima defesa. Lemos o texto do art. 21. Decompomos: o
que é legítima defesa, estado de necessidade, estrito cumprimento do dever legal. No que
consiste o seu excesso. Qual sua natureza jurídica. Quais as formas de excesso que podem
existir. Como é punido. Reconstruímos tudo isto e temos uma teoria sobre excesso na legítima
defesa.
A conclusão do método dogmático é que se o intérprete parte de dogmas (leis)
como são reveladas pelo legislador, a ciência jurídica não pode alterar o conteúdo dessa
lei. Você não pode “ajeitar” uma lei inconstitucional para virar constitucional. O
máximo que podemos fazer é considerá-la inconstitucional.
b) A afirmação “furtar é mau” não é uma proposição e sim um juízo subjetivo de valor.
Não posso dizer que “furtar é mau” possui um valor de “V” ou “F”, só concordar ou
não com essa afirmação. E este enunciado de “valor” não tem valor científico.
Agora, a proposição: “O Código Penal diz que furtar é mau” é tão verificável
como a proposição “as pedras caem” e, portanto, capaz de fazer parte de um sistema de
proposições científicas.
CONCLUSÃO: “A ciência do direito não se ocupa de estabelecer juízos
subjetivos de valor, e sim de determinar o alcance dos juízos de valores jurídicos, razão
pela qual é possível falar-se em ‘ciência’ neste sentido.”
Busca-se alcançar o alcance do PROIBIDO e desvalorado em forma lógica (não
contraditória), fornecendo ao juiz um sistema de proposições que, aplicadas por este, faz
previsíveis suas decisões e, por conseguinte, reduz a margem de arbitrariedade. A ciência
jurídica projeta a jurisprudência.
Por mais completa que seja uma legislação, ela nunca vai esgotar o assunto, ou os
casos concretos. De outro lado, a legislação não pode ser muito “casuísta”, sob pena de
perder a cientificidade.
A solução é inferir as respostas aos casos particulares a partir de uma série de
princípios gerais – conceitos – construídos com base no próprio texto legal.
Não há como desconsiderar o método dogmático, sob pena de cairmos no
campo das soluções arbitrárias. Ex.: o art. 121 pune o homicida. O art. 25 estabelece que
não há crime quando o agente pratica o fato em legítima defesa.
Não há certeza absoluta das proposições porque não conhecemos todos os dados
concretos. É desprezível a possibilidade de largarmos uma pedra e ela não cair, mas não é
impossível.
Se acontece o fato físico de largar a pedra e ela subir, ao invés de cair,
provavelmente o físico não dirá que o erro está na natureza, mas na sua teoria.
Com o jurista às vezes acontece o contrário: ao invés de descartar a sua teoria, fala
que a lei está errada. OBSERVEM!
Exemplo:
a) Estabelecemos a proposição: furtar é crime. Embora seja proibido furtar, há uma
permissão para fazê-lo no caso de estado de necessidade.
b) Formulamos hipóteses e vemos que são resolvidas pela proposição, sem nenhuma
contradição com o restante do sistema de leis penais.
c) Atribuímos a essa proposição o valor de “V”.
A construção dogmática deve ser conforme a lei (não contraditória). Não pode
dizer (p . –p) = furtar é crime e furtar não é crime, porque nisto não há estrutura lógica
interna. Esta é a primeira lei da lógica.
Segunda: A construção não deve ser contrária ao texto da lei, porque não
resiste à verificação.
Terceira: Diz respeito à lei da estética jurídica (Ihering) A construção deve ser
simétrica, natural, não artificial e não afetada.
64 - DOGMÁTICA E IDEOLOGIA
A lei responde a uma ideologia, é fruto de um conjunto de idéias.
A dogmática não fica vinculada ao conteúdo ideológico de cada lei, porque
pode ser aplicada à interpretação de leis com conteúdos ideológicos diferentes.
No entanto, a dogmática não se concilia com as ideologias que conduzem à
insegurança jurídica na aplicação do direito. Essas ideologias entram para o direito
como conceitos difusos, do tipo de componentes autoritários que fecham o discurso, com
a intenção de emudecer o oponente:
a) Sentimento do povo;
b) Supremo interesse do Estado;
c) Interesses do proletariado;
d) A moral;
e) A ética;
f) Defesa da sociedade;
g) Segurança nacional etc.
São expressões nas quais cabe o que quiser colocar.
65 - O MÉTODO COMPARATIVO NO DP
É utilizado para o direito penal comparado. Há institutos que se dedicam a isto:
a) Instituo Max Planck Alemanha;
b) Centre Français de Droit Comparé;
c) Instituto Penal Comparado da Universidade de Nova York.
Não é um método em sentido estrito. É uma atividade auxiliar do DP. Ajuda:
a) Na elaboração das leis mostra-nos os graus de tecnização dos textos e a forma de
encarar legislativamente os problemas;
b) Na atividade científica (dogmática) Enriquece o trabalho construtivo pela
comparação das legislações.
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69 - O PRINCÍPIO DA HUMANIDADE
Exige uma vinculação entitativa entre o delito e a pena e é corolário do princípio
republicano. Na CF está na proibição de penas cruéis – art. 5º, XLVII – O antônimo de pena
cruel é pena racional não pode existir pena que desconsidere o homem – capaz de
decisões – autônomo e ético. Devo lembrar que pena racional é aquela que não
desconsidera o homem, portanto, pena racional é o oposto de pena cruel.
Este princípio impede:
a) Impedimento físico permanente castração nos casos de estupro;
b) Morte;
c) Intervenção neurológica. Jack o estripador.
Não existe numa República cidadão de 2ª categoria, considerados assim por
toda vida por causa de uma pena que deve cessar em algum momento. Numa república
há apenas um direito penal, ou seja, não cabe a idéia de Günter Jakobs de que existe um
direito penal para o cidadão e o outro para o inimigo.
A criminalidade é subproduto da sociedade de consumo. Para manter o
cachorro da Vera Loiola é preciso mais dinheiro do que para manter um filho na escola. Os
impérios trabalham com a idéia da libertação do homem e igualdade social, eliminando os
mais fracos.
Zaffaroni diz que em casos extremos de doença do réu, desamparo da
família, o juiz, para não afirmar o antijurídico, violar o princípio da humanidade, pode
deixar de aplicar a pena, sem autorização na lei ordinária.
39
5ª AULA – 07/04/03
CAPÍTULO V
EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO PENAL
I – CHINA
Nos primórdios históricos conhecia-se a lei das cinco penas:
a) morte homicídio;
b) amputação de um ou ambos os pés furto e lesões;
c) castração estupro;
d) amputação do nariz fraude;
e) marca na testa delitos menores.
Posteriormente vieram penas mais cruéis:
a) abraçar coluna de ferro incandescente;
b) esquartejamento;
c) espancamento;
d) furar o olho com ferro em brasa;
40
II - ÍNDIA
Código de Manu Século XIII ou V a.C. (controvertido):
a) A pena tinha função moral, porque purificava aquele que a suportava;
b) Distinguia o dolo, a culpa e o caso fortuito;
c) O deus Brahma delegava a faculdade de punir, numa sociedade altamente
estratificada;
d) Dependendo da hierarquia do grupo social algumas pessoas não eram punidas;
e) O homem de casta superior – conhecia de cor as leis – podia cometer impunemente
qualquer fato – mistura com religião.
III - EGITO
Também tinha uma organização teocrática. Penas:
a) morte simples ou qualificada conduta contra a religião ou Faraó e perjúrio
(juramento falso). A pena se estendia a ascendentes, descendentes e irmãos;
b) amputação de mãos falsificação;
c) castração estupro;
d) amputação da língua revelação de segredos;
e) mutilação, desterro, confisco, escravidão, trabalho forçado em minas eram outras
penas aplicadas.
Mais tarde a pena de morte foi substituída pela amputação do nariz, e, depois, esta
pelo desterro.
IV - CALDÉIA
DP com matiz ético-religioso:
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a) Maldição (pena mais grave) invocação aos deuses para que descarregassem
desgraças sobre a pessoa;
b) Um dos maiores delitos era a negação do vínculo de sangue;
c) Conheciam a pena de multa.
V - BABILÔNIA
É o DP mais antigo conhecido, através do célebre Código de Hamurabi, do século
XXIII a.C.:
a) admitia a composição para delitos patrimoniais, com a devolução do triplo do que
havia sido tomado;
b) morte ladrão surpreendido em flagrante;
c) morte nas chamas ladrão que roubava durante incêndio;
d) morte por afogamento mulher adúltera;
e) introduziu o talião lesão por lesão, morte por morte.
VI - HEBREU
O talião era a característica principal da pena: alguns dizem que só queria dizer
que a pena era proporcional, outros dizem que é literal: olho por olho, dente por dente.
Conheciam mais de 20 tipos de penas de morte, dentre elas:
a) cruz (Jesus);
b) serra;
c) apedrejamento (prostitutas);
d) animais ferozes (primeiros cristãos);
e) pisoteamento por animais;
f) flecha (S. Sebastião);
g) excomunhão etc.
Admitiam também a composição: além do pagamento do prejuízo, mais um
sacrifício religioso.
Os crimes foram baseados nos mandamentos:
a) Primeiros mandamentos idolatria, blasfêmia, feitiçaria, falsa profecia, conjunção
carnal com mulher durante o período menstrual etc.;
b) Guardar o sábado e honrar pai e mãe morte;
c) 5ª mandamento (não matarás) talião;
d) 6º (não pecar contra a castidade) e 9º mandamentos (não desejar a mulher do
próximo) delitos contra os costumes (adultério, incesto e furto = morte, ou
devolução no triplo para o furto se não houvesse flagrante);
e) A partir do 8º (não levantar falso testemunho) e 10º (não cobiçar as coisas alheias)
mandamentos falso testemunho e perjúrio = talião.
INCAS
a) Relações sexuais com mulher de outra tribo arrasava a tribo;
b) Nobres tinham penas mais leves;
c) O direito era oral, porque não usavam a escrita.
6ª AULA – 15/04/03
CAPÍTULO VI
A LEI PENAL EM RELAÇÃO AO TEMPO E A PESSOAS QUE DESEMPENHAM
DETERMINADAS FUNÇÕES
7ª AULA – 22/04/03
TÍTULO II
FUNDAMENTAÇÃO FILOSÓFICO-POLÍTICA DO HORIZONTE DE PROJEÇÃO
DO SABER DO DIREITO PENAL (AS IDEOLOGIAS PENAIS)
CAPÍTULO VII
O SURGIMENTO DO PENSAMENTO PENAL MODERNO: O INDUSTRIALISMO
107 - SÓCRATES
Embora Sócrates não fale sobre direito penal, ele constrói uma teoria
afirmando que o homem livre não é aquele que faz o que quer, mas aquele que faz
triunfar a razão sobre suas paixões. Quem não faz isto não é livre, é escravo de seus
instintos, é ignorante, não conhece o que é bom e mau. Se soubesse não agiria mal. ISTO SE
CHAMA INTELECTUALISMO, que vai ser aproveitado por teorias idealistas para
afirmar que o homem pode ser ensinado, corrigido, fazendo-o ver a verdade, como por
exemplo o correcionalismo de Röder no séc. XIX.
108 - PLATÃO
Platão criou o idealismo: o real são as idéias e as idéias do bem e do mal são
absolutas, imutáveis. Só alguns iluminados tem acesso às idéias, que depois impõem aos
outros menos iluminados. Esses iluminados são os filósofos. A República de Platão é
estratificada, organizada como um corpo, no qual os que vêem têm a condução do corpo, e os
que não vêem devem obedecer (mãos, pés etc.).
A pena deve ser corretiva e quando não consegue corrigir (fazer com os que
não vêem vejam) deve-se eliminar essas pessoas: corrige-se o corrigível, elimina-se o
incorrigível.
Frisar, como Zaffaroni, que o direito penal autoritário circula sobre o
OBJETIVISMO VALORATIVO: os valores estão fora de nós e são independentes de
nossa valoração as conduta boas ou más. Isto se faz pela força ou pelo conhecimento
maior de alguns acharem que são seres superiores.
109 - ARISTÓTELES
Para Aristóteles a origem da sociedade não está no contrato, mas é explicada pela
natureza gregária do homem. Este mesmo fundamento será utilizado mais tarde por
Montesquieu, Carmignani e Carrara.
Corolário disto, Aristóteles quis estabelecer o que é comum a todos os seres, ou
seja, a ontologia, e fixou a metafísica. O ser é um ser de entes e não tem sentido sozinho.
parte do contrato social. Daí surgiram as correntes do chamado direito natural baseado na
natureza do homem, hoje não mais utilizadas.
respeitar as leis, e responde que não, porque se a sociedade os abandona retornam ao estado
de natureza e recobram pela força o direito que alienaram no contrato social para obter
vantagens maiores. Toda autoridade que se contraponha a esses homens é tirana e todo juiz
que lhes decrete a morte é um assassino. Denunciava a falácia da pena retributiva dos
iluministas numa sociedade sem justiça retributiva.
Assim o contratualista dava argumentos para três posições políticas bem
diferentes: o despotismo ilustrado defendido por Kant – conservação do controle da situação
por setores hegemônicos; revolução capitalista – acesso dos capitalistas à hegemonia social; e
a revolução total – destituição dos dois setores em briga pela hegemonia e estabelecimento da
igualdade.
IV - OS PENALISTAS DO CONTRATUALISMO
O direito penal contratualista se desenvolveu no século XVIII e XIX e dentre
vários autores influenciados por ele temos:
Ele faz parte de um grupo de pessoas que já expôs um sistema completo de direito
penal. Para isto separa política criminal de jurisprudência criminal, ou seja, a ciência do
direito criminal já constituído.
Fundamenta a necessidade da pena em considerações estritamente práticas, no que
parece se aproximar de Bentham (utilitarista).
Afasta-se do contratualismo e afirma que a estrutura jurídica é artificial e tem uma
finalidade prática. Mas requer que se aceite o homem como pessoa para fundamentar o direito
penal.
Carrara é seu discípulo e o substituiu na cátedra de Pisa. Escreveu Programa
do Curso de Direito Criminal e Opúsculos de Direito Criminal. Costumam chamá-lo de o
sumo mestre de direito penal.
Ferri, quando se produziu o enfrentamento do positivismo com as demais
correntes de pensamento, chamou estes autores de Escola Clássica, fundada por Beccaria e
cujo maior expoente foi Carrara, que, na verdade, nunca existiu.
Carrara não foi um filósofo, mas um grande jurista que fez sua obra sempre
com grande respeito à pessoa humana. É difícil qualificá-lo filosoficamente a que escola
pertence. Diz-se que foi um católico liberal.
8ª AULA – 28/04/03
CAPÍTULO VIII
AS IDEOLOGIAS PENAIS DA CONSOLIDAÇÃO DO PODER DO CAPITAL NOS
PAÍSES CENTRAIS E SUA CRISE
inadaptados, que merecem medidas de segurança. Estes não importam se cometeram condutas
graves ou não, a medida é a mesma: neutralização.
No Brasil criou-se em 1940 o sistema vicariante: aplicação de penas e medida
de segurança em conjunto. “Art. 77. Aplica-se medida de segurança a perigosos. Art. 78.
Presumem-se perigosos: os que cometeram crimes embriagados, os reincidentes, os que tem
culpabilidade, antecedentes e personalidade que, no entender do juiz, devam assim ser
considerados, além dos presumivelmente por lei perigosos” (Lei de Segurança Nacional).
A nobreza do século XIX, refugiada nos latifundiários, não podia deixar passar
em branco a ascensão dos capitalistas, apelando à tradição. Criou-se uma teoria segundo
a qual o direito surgia e devia surgir do povo, de maneira espontânea. O Estado só
reconhecia esse direito, favorecia o seu desenvolvimento e o normatizava.
Ninguém pode pensar que a complexa estrutura jurídica de um Estado pode ser
um produto espontâneo e anônimo. É um romantismo sem o menor fundamento. Ihering
contestou-o, mandando que o juristas que diziam que a sociedade pode passar sem advogados,
vão ser sapateiros ou alfaiates. As botas e os vestidos vão lhes ensinar que até para exercer
uma profissão simples há necessidade de uma técnica, que nada mais é do que o depósito
acumulado do conhecimento humano e que não pode ser exercida senão por aqueles que se
dão ao trabalho de estudá-la.
Este direito popular é utilizado ainda hoje quando se quer um direito repressivo. O
Estado é paternalista. É preferível um bom ditador que uma democracia desordenada. É
preferível deixar como está, pois é a tradição que levará a que tudo se ajeite, do que mudar
com essas idéias desordenadas que aparecem de vez em quando.
sociais do crime e dar a cada qual a margem social necessária para exteriorizar a sua vida de
um modo social.
O problema é a utopia de sonhar com uma sociedade sem classes e em tensões, na
qual o delito desaparecerá. E que no final a humanidade será uma unidade.
A pena para Marx, também, tem um sentido correcionalista – Röder.
O problema são as correntes marxistas, que nos levam a confundir o pensamento
de Marx, o que serve para o pensamento simplista de desqualificá-la. Devemos atentar:
a) A consideração econômica de qualquer fenômeno social – o delito e a criminalização
o são – não pode ser ocultada, ao lado da dimensão psicológica, física, biológica etc.;
b) A dimensão econômica de um conflito social, como é o delito, pode ser analisada de
uma visão marxista ou não. Mas não se pode ignorá-la, porque se perde um ângulo da
análise.
IV - O ORGANICISMO POSITIVISTA
inferiores geneticamente. Os delitos cometidos pelas classes superiores era um acidente, daí
porque merecem “prisão especial”.
A medida da pena é o perigo que o delinqüente representa para o organismo (setor
hegemônico). Daí surgem as medidas de segurança. Apenasse todos os que cometem delitos,
inclusive os da classe hegemônica. Aos etiquetados perigosos vai também a medida de
segurança.
Na Europa a classe humilde era muito perigosa para o poder hegemônico. Criou-
se uma nova forma de controle social impulsionando a emigração para a América Latina.
Aqui estas pessoas também foram marginalizadas no início, lotando nossas prisões. Não é à
toa que se fecharam em colônias.
V - AS VARIANTES DO POSITIVISMO
2
OBS: Ferri era positivista, não obstante etiquetava seus antecessores de escola clássica.
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142 - BINDING
É fácil ser positivista quando o legislador é consciente. O problema é quando
descamba a repressão e temos de permanecer positivistas – respeitar leis. Binding viveu numa
época feliz, antes das guerras.
Binding foi um grande jurista alemão, que combateu a versão de delito
natural, criticando-a por ser seletiva, em base social, e tender para um direito da
culpabilidade, repressivo, que oculta as mazelas sociais da sociedade e despreza a
dignidade da pessoa humana para determinadas pessoas.
Criou a famosa teoria das normas. Para Binding quem comete um delito não
viola a lei, mas sim a norma que está contida na lei. Não está escrito: não matará. Viola
a norma que é veiculada através da lei. Norma, portanto, são proibições ou mandatos de
ação.
As normas estão fora da lei, mas as conhecemos através das leis e por isto tem
caráter jurídico. Não há normas penais, mas normas jurídicas, algumas sancionadas com
uma pena. Com isto você pode trabalhar a idéia de norma dentro do ordenamento.
3
O organicismo representa uma tendência do pensamento que constrói sua visão do
mundo sobre um modelo orgânico e tem origem na filosofia idealista.
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9ª AULA – 29/04/03
CAPÍTULO IX
A IDEOLOGIA PENAL NO “ESTADO DO BEM-ESTAR” NOS PAÍSES CENTRAIS
a) Sociedade norte-americana
Necessidade: Precisava resolver os conflitos gerais pela acumulação rápida de
capital, por causa da imigração massiva e não integração de toda essa massa.
Resposta: desenvolveu-se a análise sociológica do fenômeno do crime
(criminologia norte-americana)
b) Sociedades européias
Necessidade: Precisava disciplinar a sociedade para o consumo como condição
para formar um Estado do Bem-Estar. Cai no simplismo: neutralizando as causas do crime
através do Estado do bem-estar, o que resta de criminalidade é uma manifestação de patologia
individual.
Resposta: Análise psicopatológica do fenômeno do crime (criminologia européia
– clínica criminológica – que se traduz numa criminologia do tratamento e numa escola da
nova defesa social).
A resposta não satisfaz a necessidade, porque é financeiramente impraticável.
Além disso coloca-se em perigo os direitos humanos e as próprias condições de consumo.
Autores de direito penal na Europa procuram criar um direito penal
compatibilizando a função retributiva e preventiva geral e especial do direito penal, mas um
direito penal técnico, sem embasamento filosófico, compatibilizando tratamento e prevenção.
Por outro lado ficou evidente a contradição entre organicismo e positivismo. O
organicismo ficou claramente identificado com o idealismo ou o chamado materialismo
ingênuo. O positivismo deu lugar ao neopositivismo.
e) relega ao direito penal o papel de selecionar condutas sob o ponto de vista idealista e
retribuir a infração com uma pena que é retributiva e preventiva, reformadora.
151 - O NEO-ESCOLASTICISMO
O neotomismo foi uma reação ao neokantismo. Foi Vicktor Cathrein no início do
século quem iniciou o movimento.
Parte da afirmação de uma natureza humana que outorga a todos os homens igual
dignidade e por isto não é possível uma ideologia do tratamento. Depois Jacques Maritain
quem desenvolveu estas idéias. A culpabilidade está na base do direito penal, tanto a do autor
como a do fato.
CAPÍTULO X
A IDEOLOGIA PENAL EM PAÍSES CENTRAIS COM DIFICULDADE DE
ACUMULAÇÃO DE CAPITAL PRODUTIVO
b) agrava a pena dos delinqüentes habituais ou com tendência para delinqüir, com
medidas de segurança;
c) estabelece a pena de morte para delitos contra o Estado.
O direito penal fascista é o que assegura um Estado que pretendia atingir um
desenvolvimento acelerado para superar o subdesenvolvimento (milagre econômico
brasileiro) e para garantir a própria unidade do Estado na Itália, desfalcado por
emigrações e pelo subdesenvolvimento de determinadas regiões. Isto degenerou para a
guerra.
O positivismo e o idealismo neo-hegeliano foram utilizados como ideologia
desse Estado.
2) Política nacional-socialista
O nazismo, partindo do Estado como “comunidade do povo”, fundada sobre
a comunidade de “sangue e solo”, e sustentada pelo mito da raça ariana, embora não
construísse um Código Penal, gerou leis de alta repressão.
A pena não tinha conteúdo vingativo, nem de prevenção. Sua finalidade era
segregar quem atacava a integridade do povo alemão.
Algumas leis:
a) 1933 sancionado o mero planejamento de delitos (nem era ato preparatório);
b) 1935 planejar homicídio de dirigentes do partido recebia a pena de morte;
c) 1936 sancionada a relação sexual entre arianos e judeus;
d) 1936 criaram-se graus de pena de morte: fuzilamento para militares; decapitação
com machado para delinqüentes comuns, forca para crimes políticos;
e) 1936 delitos políticos eram julgados por tribunal de exceção;
f) 1933 introduzida a esterilização como medida de segurança e a castração para
certos delitos sexuais;
g) 1935 foi eliminado na Alemanha o princípio da legalidade, de modo que passou
a ser crime qualquer ato contra a idéia fundamental de uma lei penal e ao
sentimento do povo, que eram punidos por analogia com uma lei parecida.
CAPÍTULO XI
PANORAMA ATUAL DO PENSAMENTO PENAL E A PROBLEMÁTICA
PERIFÉRICA
159 - EXISTENCIALISMO
Também hoje temos o confronto de teorias idealistas e realistas, com tendência ao
idealismo, tendo em vista a crise do Estado do bem-estar social.
Os Estados estão impedidos de investir no social e precisam preservar suas pautas
de produção e controlar o desemprego.
O sistema de produção mundial se estruturou em cima do petróleo, combustível
natural não-renovável, e a guerra do Iraque é um exemplo do que se pode fazer para garantir
energia por mais alguns anos. De outro lado, a oscilação de seu preço faz com que mude todo
o rumo de uma economia, com sofrimento evidente de países pobres.
O aumento do consumo por parte de 1/3 da população não pode se sustentar
indefinidamente para aumentar a produção num mundo de recursos limitados. De outro, outro
terço sequer tem acesso a consumir o necessário para viver.
Diante desse quadro parece inevitável que o controle social através do direito
penal se oriente pelo idealismo. Há muito mais teoria do que propostas empíricas para
melhorar o sistema penal de controle social.
Uma corrente realista que se desenvolveu na Europa e que hoje está em crise,
justamente por causa da crise econômica, foi o realismo, cujo pensador original foi
Kierkegaard, para quem, de um modo simplista, o homem em relação com sua existência é o
centro do seu problema filosófico.
Martins Heidegger (1889-1976) foi um filósofo alemão que elaborou uma
corrente de pensamento dentro do existencialismo. Alguns conceitos dele são importantes
para o direito penal:
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a) A pergunta das perguntas: Ele pergunta pela ontologia, ou o que é o “ser”. Diz que o
homem é o único que a si elege o que quer ser e o chama de “ser-aí”;
b) A existência é para o homem sempre uma possibilidade: o homem escolhe e na
escolha elege ser ou não-ser. Mediante a escolha, o homem se projeta no mundo,
porque é um ser-no-mundo das significações, que é a soma dos “para que” de cada
uma das coisas;
c) O mundo: Heidegger diz que o mundo é formado por entes que têm a forma de coisas
que são “para” algo e de outros entes que não têm essa forma, porque nunca se pode
considerá-los como “ser para”. Os primeiros são as coisas e os segundos são os
homens. As coisas são para o homem. Os “para” das coisas são o que elas
“significam”. As coisas já existem materialmente antes que os homens lhes atribua
uma significação. Mas as significações não estão nas coisas, é o homem que dita este
significado. Daí a diferença do idealismo: o conhecimento não cria o objeto, mas
apenas dá significação ao objeto.
d) A coexistência: O homem usa as coisas. Mas frente a outros homens pode ter uma
atitude negativa (ignorar o tu) ou uma atitude positiva (procurar o outro). Ao procurar
o outro pode fazê-lo facilitando-lhe a escolha, ou privando-lhe da escolha. No primeiro
caso há uma existência autêntica, no segundo, uma existência inautêntica. Um pai
proporciona ao filho instrumentos para que ele siga a carreira que escolheu, mesmo
sabendo que será difícil. Outro pai escolhe uma carreira para o filho e proporciona os
meios para que a siga.
e) A autenticidade e a inautenticidade: O homem é lançado no mundo, de tal forma que
não existe sem o mundo. No entanto, pode mudar as significações do que encontra no
mundo no qual está lançado. Tem a possibilidade de transcender, de projetar-se no
mundo. Mas a existência pode ser de dois modos: forma de existir inautêntico: o
homem se deixa arrastar pelo mundo, não se projeta, renuncia à eleição. Isto não tem
conteúdo pejorativo, mas é o pressuposto necessário para o existir autêntico.
f) A angústia e a morte: Angústia é a força que leva do existir inautêntico ao autêntico.
O homem se deixa arrastar pelo mundo e através da angústia chega a eleger o ser
autêntico. A angústia é gerada diante de um acontecimento certo, que é a morte, a
própria morte. Não é medo da morte, mas angústia ante o limite terreno. Ninguém
pode experimentar a morte de outro, mas só a própria morte e esta experiência é
irrepetível, é assumir plenamente a própria existência na forma autêntica.
Daí que o homem é “um ser para a morte” e isto o leva a assumir o limite radical
da própria existência, e não ser uma pessoa mórbida. O homem “vai sendo” enquanto existe.
Nunca é um ser completo, vai se completando até a morte, quando deixa de ser. Tem de ser
capaz de antecipar a própria morte para compreender sua existência, porque na morte o
homem não pode ser substituído por ninguém.
Heidegger eleva o homem além da concepção biológica, mas não se eleva até a
teologia: cria uma antropologia existencial.
g) Os valores: Heidegger critica o objetivismo valorativo e as posições idealistas. O
homem se constrói. E isto é sua maior contribuição para o direito penal. Não existe
uma imagem perfeita e acabada do que o homem é. Ele se constrói no mundo em que é
jogado, numa existência que pode ser autêntica ou inautêntica.
CAPÍTULO XII
OS CAMINHOS ABERTOS PARA UMA FUNDAMENTAÇÃO ANTROPOLÓGICA
DO DIREITO PENAL
171 - A DISTINÇÃO
Por efetivo se entende um direito penal que é capaz de desempenhar a função
que lhe incumbe no atual estágio de nossa cultura. A função é de auto-realização
humana, ou seja, garantia de que eu possa dispor de meus bens jurídicos para me
realizar na coexistência. É efetivo o DP que garante a minha existência.
Um direito penal que não garanta isto não é efetivo e gerará tensões sociais e
conflitos que acabarão destruindo a sua vigência ou eficácia. Mesmo assim será direito penal
e estará vigente enquanto for sustentado.
Se a carência de efetividade for tão grande que afete o horizonte de projeção da
ciência jurídico-penal, este será só um exercício de poder e não será um direito penal. E só
será efetivo se respeitar a condição humana, sirva ao homem a partir que reconheça a
condição humana – antropologicamente fundado.
Isto quer dizer que o DP deve proporcionar ao homem ser o que ele escolher ser,
dar segurança à sua escolha, claro que limitadas pelo mundo de significações, que tem leis. O
DP deve escolher certos entes cuja disponibilidade ele garante (vida, saúde etc.) e aqui está a
segurança jurídica. O acerto ou erro nas escolhas, depende de circunstâncias histórico-
culturais.
g) Deve distinguir-se da moral:
Quando a consciência chama com a angústia e o chamado não é ouvido,
permanece-se no inautêntico, no impessoal, arrastado pelo mundo, no “se”: se diz, se fala etc.
A permanência no inautêntico, embora o chamado da angústia, é imoral, é fuga da
liberdade, é vício. Mas isto pode não afetar bem jurídico protegido pelo DP. Daí que não
coincide o campo do ilícito com o campo da moral.
h) Deve evidenciar um atitude positiva e liberadora da convivência:
No procurar o outro, o DP deve proporcionar um atitude positiva (não negativa, de
substituir o outro na escolha). Deve facilitar-lhe a escolha. A atitude liberadora deve ser
guiada pela razão.
i) Deve distinguir-se claramente da ética social:
Ética é o padrão de conduta socialmente estabelecido no seio do grupo social. É
quase um costume. Pertence ao impessoal, ao “se” do inautêntico.
Em muitos casos o DP apela ao costume, à ética, mas tomando o cuidado de não
aplicar a ética em bloco, apenas garantindo um mínimo ético, de modo que os outros grupos
sociais também possam se manifestar na sociedade. Ex.: não pode permitir sair nu pela rua,
mas não impede topless na Bahia.
A pior ditadura é a ditadura da ética, numa sociedade com grande variedade
de grupos. O fortalecimento da ética em geral é um mito, pois se traduz na “consciência
pública” que não existe, porque a consciência é individual.
j) Deve ter uma especial aspiração ética, não bastando a mera ameaça de pena
como meio:
O DP não pode se comportar como um dono frente a seu cão, com uma coleira
que é a pena, mas a pena deve perseguir uma certa formação do cidadão, um certo propósito
educador ou reeducador, já que a educação por si só não é um atentado contra a autonomia
ética do homem, porque há uma educação para a liberdade e educação para a escravidão. É
uma formação cidadã.
k) Deve ser dinâmico:
Não existe uma ética que foi fixada de uma vez para sempre. O homem e seu
passado se constróem no futuro. Todo questionamento do homem caracteriza-se por sua
historicidade.
O DP autoritário é “apaziguador”, porque todo aquele que impõe algo tem a
característica de ser apaziguador. O DP antropologicamente fundado não foge da
discussão, é dinâmico, não tem medo de dúvidas, só se angustia com elas e se torna
autêntico.
Um DP que, em certa medida, não possibilite a mudança de significações, ou seja,
a mudança do mundo é um DP que pretende converter a existência/coexistência a uma
organização estática, condenado ao fracasso, porque perde a eficácia.
O ponto de equilíbrio dinâmico do DP antropológico é difícil. Sua condição de
eficácia será maior na medida em que possibilite sua própria mudança de conteúdo, o que
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nem sempre acontece, pois corre o risco de um grupo de poder tentar sempre frear o seu
dinamismo.
l) Deve rejeitar como falsa a antinomia indivíduo-sociedade:
O interesse do grupo é o interesse dos homens que compõem o grupo, e neste
sentido não há antinomia entre indivíduo e sociedade. Sem sociedade não há existência
humana e coexistência: quando decido de mim, também decido da dignidade dos outros
homens.
m) Não existe um limite até onde possa estender o mínimo ético exigível pelo
legislador penal:
E isto porque está além da razão, dependendo do “encontrar-se”, como qualquer
procura pelo outro que seja liberador.
Mas existe um guia racional, a regra de ouro: “Não faça aos outros aquilo que não
quer que os outros lhe façam” e o imperativo categórico de Kant: “Conduz-se pela máxima
que, ao mesmo tempo, possa querer que seja a lei geral”.
Um DP dinâmico que se baseie por estas regras será um DP voltado para a
autenticidade do homem, muito embora jamais afirme critérios inquestionáveis. Esta será sua
virtude, porque aqueles que pretendem ter critérios inquestionáveis só se afastam do homem e
do direito.