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CURSO FORMAÇÃO DE

mediadores de leitura

A BIBLIOTECA E A
Formação
de Leitores
Pricila Celedônio
e Alilian Gradela

Gra
tui
to!

9
FASCÍCULO
INTRODUÇÃO
Leitura e biblioteca são termos que há elas são centros difusores da cultura, da
muito tempo convivem lado a lado no leitura, da informação e do conhecimento
imaginário social. Essa relação encontra-se e, por isso mesmo, fundamentais na cons-
presente nas diversas acepções e práticas trução de uma sociedade leitora, crítica, re-
com as quais esses termos têm sido relacio- flexiva e consciente.
nados ao longo do tempo. Falar da história Pensando nisso, o principal objetivo
da leitura e da escrita, é, de certo modo, fa- deste fascículo é apresentar a forte relação
lar da história da biblioteca e vice-versa. existente entre a biblioteca e a formação
A biblioteca é definida muitas vezes de leitores, bem como evidenciar as di-
como lugar de guarda do conhecimento e versas possibilidades que acompanham a
da memória da humanidade. Essa concep- mediação de leitura nesses espaços.
ção acaba por restringir outras funções im- Serão apresentados, ao longo do fascí-
portantes dessas bibliotecas que, além da culo, os conceitos e características acerca
guarda e preservação da cultura e do conhe- de três tipos de bibliotecas: a biblioteca
cimento, atuam como espaços de acesso e pública, biblioteca comunitária e a bi-
disponibilização da informação, do livro blioteca escolar, tendo em vista a relevân-
e da leitura. cia das mesmas no processo de promoção
Desse modo, a mediação da leitura é da leitura e na formação de leitores.
um ponto importante e que precisa possuir Ademais, vamos relacionar media-
destaque nas práticas e serviços realizados ção da leitura e biblioteca e os principais
nas bibliotecas. Pois, ao realizar o fomento pontos presentes no planejamento e ela-
à leitura, a biblioteca está presente tanto boração de projetos e ações que visam ao
na construção de uma relação entre o texto fomento à leitura. Ressaltando, porém,
(seja ele escrito, de imagem ou oral) e o seu que os processos ora apresentados não
leitor, como também contribui no processo são restritos apenas às três tipologias
de democratização do acesso à informação mencionadas, podendo ser aplicados e
e ao conhecimento. adaptados a outros tipos de instituições
Contudo, existem hoje – especialmente e unidades de informação que objetivem
no cenário brasileiro – muitos obstáculos promover engajamento em torno do livro
a serem transpostos para que haja de fato e da leitura. As possibilidades são inú-
uma efetiva interlocução entre a mediação meras. E você que está inscrito em nosso
da leitura, a biblioteca e o acesso à infor- curso, está ciente de várias delas. Cabe
mação. Entre esses desafios podemos citar agora usar o que aprendeu e experimen-
a desvalorização e a falta de apoio a essas tar. Você já escolheu a sua biblioteca de
instituições, sejam elas públicas, comunitá- atuação? Ainda não? Seja um(a) voluntá-
rias ou privadas. Até mesmo a falta de infor- rio(a). Ocupe seu espaço de mediador(a)
mação sobre o que é e quais as potenciali- de leitura! E não se esqueça de acessar a
dades dessas bibliotecas contribui para que sua sala de aula virtual:
algumas pessoas ainda as vejam como me-
ros depósitos de livro, quando na realidade ava.fdr.org.br

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1.
BIBLIOTECA
PÚBLICA
A biblioteca pública pode ser caracteriza-
da a partir de suas funções social, cultural,
educacional, informacional e de memória.
Juntas, essas funções estão intrinsecamen-
te relacionadas ao fomento e exercício da
cidadania e ao desenvolvimento social e
local, tornando-a, assim, espaço de demo-
cratização do acesso à informação, à leitura
e ao livro, para os mais diversos públicos.
No contexto brasileiro, as bibliotecas pú-
blicas são concebidas como espaços cultu-
rais públicos que estão diretamente ligados
a órgãos governamentais (estaduais e mu-
nicipais) e visam atender “as demandas da
população que reside ou frequenta a região
em que está localizada. São criadas para
atender as necessidades informacionais de
uma ou mais comunidades.” (MACHADO,
2009, p. 85).

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No Manifesto sobre a biblioteca públi-
ca de 1994, a Federação Internacional de
Associações e Instituições Bibliotecárias
(IFLA), em conjunto com a Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência
e a Cultura (Unesco), apresentam a biblio-
teca pública como “porta de acesso local
ao conhecimento – fornece as condições

PARA ALÉM
básicas para a aprendizagem ao longo da
vida, para uma tomada de decisão inde-

DO TEXTO
pendente e para o desenvolvimento cul-
tural do indivíduo e dos grupos sociais.”
(IFLA/Unesco, 1994)
Diante dessa afirmação da Unesco, a lei-
tura deve ocupar lugar de destaque nestas
instituições, tendo em vista que a promoção Você sabia que a Biblioteca de
das práticas leitoras e o desenvolvimento Alexandria foi uma importante
das competências informacionais através biblioteca fundada na Antiguidade,
da biblioteca pode – além de promover o e localizada no Egito? Seu grande
interesse pela leitura em crianças, jovens e prestígio adveio da raridade e
adultos – fomentar a autonomia dos indi- quantidade de obras que possuía,
víduos e grupos sociais mediante acesso à reunindo acervo de várias partes do
informação, leitura e cultura, gerando assim mundo. Essa ancestral biblioteca
inclusão social e informacional. resistiu até a Idade Média, quando
No que se refere a sua tipologia, a biblio- teve parte de seu acervo perdido
teca pública é geralmente classificada de em um incêndio. Em 2002, foi
acordo com seu escopo territorial, sendo reinaugurada uma versão moderna
este em âmbito nacional, estadual, munici- da biblioteca de Alexandria,
pal ou comunitário. Como exemplos temos: às margens do Mediterrâneo,
Biblioteca Nacional do Brasil (situada na supostamente no lugar onde estava
cidade do Rio de Janeiro), Biblioteca Públi- localizada referida biblioteca no
ca Estadual Governador Menezes Pimentel período antigo. Para saber mais,
(situada em Fortaleza – Ceará), Biblioteca visite o site: www.bibalex.org
Municipal Mário de Andrade (localizada na
cidade de São Paulo) etc..

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O público das bibliotecas públicas é ca-
racterizado por grande diversidade: crian- PARA ALÉM
ças, jovens, adultos, pessoas com variados
níveis de formação e especialização, com di-
ferentes necessidades e interesses. Portan-
DO TEXTO
to, oferecer serviços de modo democrático,
dinâmico, inovador, criativo e de qualidade Você sabia que a Biblioteca
a essa gama de usuários compreende com- Nacional do Brasil é considerada
plexo desafio, que requer conhecer primei- pela Unesco uma das dez maiores
ramente qual o perfil da comunidade e dos bibliotecas nacionais do mundo
usuários reais e potenciais da biblioteca. e a maior biblioteca da América
Latina? Seu acervo possui cerca
de dez milhões de itens originados
da antiga livraria de D. José para
substituir a Livraria Real. Teve início
em 1808 com a chegada da Família
Real de Portugal ao Rio de Janeiro.
Para viajar na fantástica história de
nossa Biblioteca Nacional visite o
site: www.bn.gov.br

PUXANDO
PROSA
Você conhece a biblioteca pública
estadual e/ou municipal do seu
estado/município? Que tal fazer
uma visita a ela, identificar quais
são as atividades de leitura que
ela desenvolve, conhecer seus
setores, seu pessoal e seu acervo?
Aproxime-se. CONTRIBUA.

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2.
BIBLIOTECA
COMUNITÁRIA
No Brasil, o acesso às bibliotecas públicas vínculo direto com instituições governa-
muitas vezes é dificultado por fatores como mentais, que podem possuir ou não articu-
a distância geográfica, pois essas geralmen- lações com instâncias públicas e privadas
te estão situadas longe das zonas periféricas locais, sendo criadas e geridas por grupos
e rurais das cidades. Às vezes – precisamos organizados de pessoas que possuem “o
compreender isso –, os usuários de regiões objetivo comum de ampliar o acesso da
periféricas e em situação de vulnerabilidade comunidade à informação, à leitura e ao
se sentem desconfortáveis em se dirigir aos livro, com vistas a sua emancipação social.”
prédios públicos, pois não se sentem bem- (MACHADO, 2008, p. 64).
vindos, mesmo quando existe o interesse da As bibliotecas comunitárias costumam
gestão em recebê-los. Nesse cenário, as bi- estar localizadas em associações comunitá-
bliotecas comunitárias surgem como alterna- rias, residências, comércio local, igrejas, es-
tiva singular para o acesso à leitura e à infor- colas e nos mais inusitados espaços como
mação para as populações que vivem nesses barcos, borracharias, carros ou ônibus.
locais. Nelas, eles se reconhecem e se identi- Felizmente, nos últimos anos, muitas fo-
ficam, sentem-se mais à vontade e em paz. É ram as iniciativas de criação de bibliotecas
certo que em alguns casos essas bibliotecas comunitárias por todo o Brasil, presentes de
são o principal equipamento cultural – uma norte a sul do país. Esse movimento se for-
espécie de oásis – de uma comunidade. taleceu e criou a Rede Nacional de Biblio-
De forma geral, essas bibliotecas se ca- tecas Comunitárias (RNBC), um coletivo
racterizam como espaços de incentivo à que atua em várias cidades brasileiras com
leitura que envolvem saberes múltiplos de a promoção da leitura, formação de media-
educação e de cultura. São configuradas dores e incidência em políticas públicas em
como projetos sociais autônomos, sem âmbito municipal, estadual e nacional.

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PARA ALÉM
DO TEXTO
Conheça o que faz a Rede Nacional
de Bibliotecas Comunitárias
visitando o site: www.rnbc.org.br

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Ações como contação de histórias, sa-
raus literários e rodas de leitura estão entre PARA ALÉM
as principais atividades realizadas nas bi-
bliotecas comunitárias. Todavia, outras ati-
vidades e serviços também estão presen-
DO TEXTO
tes, como: cursos de capacitação e aperfei-
çoamento, palestras, seminários, oficinas, Conheça a Rede de Leitura
além dos serviços tradicionais de emprésti- Jangada Literária, um coletivo
mo de livros e pesquisa local. O certo é que de bibliotecas comunitárias que
elas têm feito a diferença nas localidades atua na luta por políticas públicas
onde estão inseridas especialmente para o de leitura, na promoção do acesso
acesso ao livro, à leitura e à literatura. ao livro e à leitura como direito
O atendimento das bibliotecas é di- humano. Possui atualmente 10
recionado aos diversos grupos da comu- bibliotecas situadas no estado do
nidade, como crianças, jovens e adultos, Ceará. Para saber mais, visite o site:
contribuindo de várias formas para a am- www.jangadaliteraria.com
pliação das oportunidades de formar e
acolher leitores. Além de fomentar vínculos
duradouros entre os seus usuários, media-
dores de leitura e comunidade.
A longo prazo, esses elos contribuem
para incentivar mudanças no comporta-
mento leitor da comunidade onde a biblio-
teca está inserida. Dessa forma, transfor- PUXANDO
má-la em lugar no qual o acesso à leitura
oferece a possibilidade de desenvolver au-
tonomia na busca por informação, poden-
PROSA
do conduzir seus usuários a adentrarem o
mundo da literatura e da imaginação. As- Você conhece o “Mapa da Leitura”?
sim, espera-se gerar a descoberta do prazer É um aplicativo gratuito que busca
em ler que contribua para a superação de dar visibilidade às bibliotecas
problemas reconhecidamente presentes comunitárias e aproximar leitores,
em situação de vulnerabilidade social, mar- voluntários e apoiadores desses
cadamente pelos índices de violência do- espaços. Encontre e baixe o
méstica, alcoolismo, uso de drogas entre o aplicativo na Play Store do Google..
público jovem etc.

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3.
BIBLIOTECA PUXANDO
ESCOLAR PROSA
A escola é, para muitas pessoas, o
lugar onde se é apresentado, pela pri- Na escola que você estudou,
meira vez, ao mundo da leitura e do livro. estuda ou trabalha tem
Lugar no qual pode ocorrer o primeiro biblioteca? Que tipo de espaço
contato de uma criança ou de um jovem é: colorido, ensolarado, bem
com a biblioteca. Entretanto, para que localizado? Como é o acervo?
esse primeiro encontro traga bons fru- Você costuma frequentá-la? Quais
tos, é preciso que a escola ofereça um atividades são desenvolvidas?
ambiente convidativo não só para ler, Os alunos costumam pedir livros
mas também para encantar pelo pra- emprestados, usam bem os
zer da leitura e da descoberta. serviços? Os alunos têm acesso a
De acordo com a IFLA, a bi- todos os livros ou existem aqueles
blioteca escolar é “um espaço bem guardados, em vitrines, que
de aprendizagem físico e digital, só professores podem folhear?
onde a leitura, o questionamen- Os alunos vão espontaneamente
to, a pesquisa, o pensamento, a à biblioteca ou ainda existem
imaginação e a criatividade são professores que os mandam para
centrais para conduzir o estudan- lá como castigo? Conheça bem
te na sua trajetória da informação a biblioteca de sua escola, seu
para o conhecimento, em direção acervo, as práticas possíveis para
ao seu crescimento pessoal, social uso pedagógico e se aproprie dela.
e cultural” (IFLA, 2015, p. 16).

CURSO FORMAÇÃO DE mediadores de leitura 137


Articulada à função pedagógica da es- crítico, da personalidade, da capacidade de
cola, a biblioteca escolar possui papel im- partilhar experiências, de domínio de ques-
portante no desenvolvimento educacional tões éticas, morais, sociais e políticas, den-
do aluno. Porém, para que haja de fato efe- tre outros.” (CAMPELLO, 2015, p.21)
tivação deste papel, torna-se necessário o Aqui ressaltamos a importância da pro-
alinhamento e a colaboração entre coor- moção de práticas leitoras realizadas por
denação, docentes, pais, bibliotecários e meio da biblioteca escolar, de forma que
demais colaboradores presentes na comu- essas práticas estejam alicerçadas em uma
nidade escolar. educação reflexiva, que promova encanta-
A biblioteca escolar possui como princi- mento pela leitura, subsidiando o desen-
pal público a comunidade de alunos da ins- volvimento de competências informacio-
tituição em que se insere. O que significa a nais para além do ambiente escolar e com
existência de diferentes grupos de usuários visão crítica.
que, por sua vez, se encontram em diversos
estágios de aprendizagem, indo da educa-
ção infantil ao ensino fundamental e médio

PARA ALÉM
– e por que não pensar também em ativida-
des em bibliotecas universitárias?

DO TEXTO
Pensar a mediação e promoção da leitu-
ra para esse público requer primeiramente
conhecer as principais demandas, necessi-
dades e características desses grupos, bem
como o planejamento e desenvolvimento
Conseguimos, no ano de 2018, uma
de projetos, serviços e atividades adequa-
grande vitória para o direito à Leitura:
dos ao processo de ensino e aprendizagem.
a aprovação da Lei nº 13.696/2018,
O desenvolvimento de atividades e pro-
que institui a Política Nacional de
jetos de leitura na biblioteca escolar pode
Leitura e Escrita, que tem como
contribuir para a melhoria do ensino como
diretrizes a universalização do
um todo. Campello (2015) ressalta que a
direito ao acesso ao livro, à leitura, à
noção de leitura empregada em tais ações
escrita, à literatura e às bibliotecas.
precisa ser compreendida em suas inú-
De acordo com a lei, estados e
meras dimensões, “como instrumento de
municípios deverão criar, junto com a
aprendizagem contínua e autoeducação,
sociedade civil, seus próprios planos
de aperfeiçoamento da linguagem, de ex-
de leitura. Para saber mais visite o
periência estética, de antecipação e orde-
site: http://www.cultura.gov.br
namento de vivências emocionais, além
de fator de desenvolvimento do espírito

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4.
A MEDIAÇÃO
DA LEITURA E A
BIBLIOTECA
Pelo que foi possível aprender sobre cada
um dos três tipos de bibliotecas apresenta-
das, pode-se perceber que a leitura se en-
contra no “coração” dos objetivos e missão
dessas instituições. A leitura é o caminho
pelo qual as bibliotecas atingem sua fina-
lidade primeira, que é proporcionar acesso
à informação, ao conhecimento, à literatu-
ra e à cultura.
De posse dos conhecimentos já adquiri-
dos sobre bibliotecas, agora chegou a hora
de pensarmos nas possibilidades de me-
diação da leitura a serem desenvolvidas
nesses espaços.. Para tanto, é preciso que
a leitura seja compreendida para além da
decodificação de palavras, bem como per-
ceber que a mediação da leitura é um ato
que provoca no leitor a possibilidade de se
encantar e se deslocar através do imaginá-
rio literário, descobrindo o mundo da leitu-
ra através do texto e para além do texto.

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quem são os usuários? Quais suas necessi-
dades e dificuldades? Qual a faixa-etária?
Quais as preferências literárias (o que eles
Nesse sentido, Honorato et al (2018) nos • Organizar o espaço de forma que o buscam)?
dão algumas dicas que envolvem a media- livro e a literatura ganhem destaque, A elaboração de projetos de leitura é
ção da leitura na biblioteca e a atuação do a exemplo da criação de estantes ex- permeada por diversas etapas, e cada uma
mediador. Com relação ao mediador de positoras com as novas aquisições é importante para o sucesso na execução e
leitura, os autores indicam que o principal da biblioteca; nos resultados.
ponto é que ele possua em si o gosto pelo • Preparar uma ambiência confortável A seguir destacamos alguns passos nesse
ato de ler e, além disso, que: e agradável para os leitores, sendo processo, ressaltando que os mesmos po-
• Encante-se pela leitura e encante no- interessante o uso de almofadas, ta- dem ser adequados e adaptados às ações de
vos leitores; petes, puffs e outros mobiliários que bibliotecas públicas, comunitárias e escola-
• Conheça o acervo da biblioteca; proporcionem sensação de conforto res, bem como de outros tipos de biblioteca:
• Participe de atividades de formação para o momento da leitura;
e mantenha-se atualizado sobre as • Ademais, o espaço deve oferecer 1º Passo: Criação do título do projeto
novidades na área da leitura; acessibilidade para que os diferentes Ao criar um título para o projeto é impor-
• Conheça bem o repertório de histórias públicos se sintam incluídos, bem tante que o mesmo seja claro e transmita em
presentes nas mediações de leitura; como possibilitar a autonomia do poucas palavras a sua temática, transmitin-
• Tenha o livro de literatura como prin- leitor no acesso ao acervo. do uma ideia geral acerca de seu propósito.
cipal objeto da mediação literária; Com relação ao acervo, é importante Importante lembrar que o título funciona
• Mobilize os leitores a participar das ter em mente que a qualidade do mesmo como a primeira ação de marketing do proje-
mediações, estimulando-os a serem irá colaborar diretamente para uma melhor to, e por isso, deve “vender” bem a proposta.
também mediadores de leitura, seja mediação da leitura, sendo importante ofe-
na biblioteca, em casa, na escola e/ recer diversidade de livros, formatos e gê- 2º Passo: Identificação da equipe res-
ou com seus amigos; neros textuais e literários, possibilitando o ponsável pelo projeto
• Crie uma agenda de atividades de acesso às diversas obras de autores locais, Logo de início, é importante identifi-
leitura e divulgue-a; nacionais e internacionais. car quem serão os responsáveis pelo pro-
• Seja determinado. Outro ponto a destacar diz respeito ao jeto, a equipe e destinar-lhes as respecti-
processo de planejamento de ações e vas atribuições.
Alguns pontos também são importantes projetos de mediação da leitura na bi-
para destacar em relação à mediação e à blioteca. O primeiro passo para planejar 3º Passo: Apresentação do projeto
ambiência de leitura: tais projetos é buscar conhecer o públi- A introdução é a etapa em que o pro-
• Dinamizar o acervo por meio da cons- co da biblioteca. De acordo com Carvalho jeto deverá ser apresentado. Por isso, nela
trução de uma programação de ativida- (2014), existem alguns questionamentos deve-se informar de modo objetivo do que
des atrativas para os diversos públicos; iniciais que podem auxiliar nesse processo: se trata a ação pretendida. Nesse momento,

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algumas informações são imprescindíveis: por quem; repertório e programação das • Para o público adulto: contação
objetivo geral e específicos; justificativa – atividades; materiais e recursos necessá- de histórias, partilha das memórias
na qual se demonstra os motivos e a re- rios; cronograma que indique as etapas leitoras, rodas de leitura, saraus, ofi-
levância do projeto; o público estratégico; do projeto, prazo de realização e formas cinas de artesanato, canto, dança,
as principais atividades a serem realiza- de avaliação do projeto. entre outras.
das; parcerias e patrocinadores e os resul-
tados esperados. 5º Passo: Planejamento da programação A realização das atividades de media-
das atividades de leitura ção de leitura pode envolver diferentes
4º Passo: Construção da metodologia A realização das atividades, a execução sujeitos para a sua realização: bibliote-
A metodologia é composta pelo con- em si, é o ponto culminante do projeto de cários, professores, agentes de leitura,
junto de métodos, técnicas e procedimen- leitura. É a etapa que envolve os realiza- voluntários e artistas locais (cordelistas,
tos para a realização do projeto de leitura. dores do projeto e seu público esperado. poetas, escritores, entre outros). Nes-
Nesse ponto do planejamento, é muito A seguir, indicamos, de modo geral, alguns sas ações, é importante buscar integrar
importante que a metodologia empre- exemplos de atividades e seus públicos: também a participação de pais e fa-
gada esteja de acordo com os objetivos • Para o público infantil: contação miliares em atividades realizadas com o
definidos. Assim, ela fornecerá respostas de histórias, leitura compartilhada, público infantil, convidando-os a mediar
para os questionamentos ou problemas brincadeiras, desenho, teatro de fan- a leitura de textos literários e contar suas
que nortearam a construção dos objeti- toches, dança etc.; histórias e memórias.
vos. Deve mencionar também: técnicas e • Para o público jovem: contação de Durante o planejamento das ativida-
métodos empregados; público estratégi- histórias, clubes de leitura, teatro, des é preciso refletir acerca da compo-
co; quantidade de participantes; local ou dança, músicas, oficina de criação sição do repertório de histórias: quais
locais de realização; tempo previsto para a de blogs e canais no youtube sobre serão os temas, livros ou outros recursos
realização; quem fará parte da equipe téc- conteúdos literários, oficina de fanzi- utilizados, como computadores, mídias
nica; quais atividades serão realizadas e ne e histórias em quadrinhos; sociais e softwares educativos. Uma dica

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é tentar articular as temáticas das atividades ao calendário de comemorações do
ano, como festas juninas e outras datas comemorativas, por exemplo. Além disso,
trazer discussões sociais importantes, como os direitos da criança e do adoles-
cente, direitos do idoso, prevenção de doenças, diversidade, entre outros temas.
Assim, além de promover a leitura, fomenta-se também a reflexão sobre questões
sociais, buscando ouvi-los, dando-lhes voz. Veja só, de repente alguém os es-
cuta, dialogam com eles, aceitam as suas opiniões sem rejeitá-las
ou os diminuírem.
É preciso planejar também acerca do espaço onde se-
rão realizadas essas ações. Será a própria biblioteca?
A escola? Ou outros locais da cidade, como ruas, pra-
ças, campos de futebol, parques, residências, salão
da igreja etc. Lembrando que é sempre importante
observar se o ambiente é adequando para a realiza-
ção da ação, identificando aspectos como o tama-
nho do local, instalações para o uso de recursos elé-
tricos, barulho, limpeza, acessibilidade e conforto.
E não se esqueça de registar as suas ações. Tire
fotos dos encontros, faça entrevistas, pesquisas sim-
ples de satisfação. Esse material lhe será muito útil não
apenas como registro e portfólio (em especial quando
se tem que prestar contas ou apresentar os resultados a
apoiadores), mas para o processo de avaliação, ao final.

6º Passo: Comunicação e a divulgação do projeto


A comunicação configura-se como etapa fundamen-
projeto, pois é nesse momento que ele deverá se
tal do projeto
tornar conhecido por aquele seu público desejado. Para
isso, a biblioteca pode lançar mão de diversos tipos de
recursos e mídias, desde as rádios às redes sociais,
bem como outros recursos tradicionais, cartazes, fol-
ders e convites. Conforme seja o público principal,
você opta pelos meios mais adequados.
Seja qual for o tipo de mídia utilizada, algumas
informações precisam estar presentes na divulgação:
título do projeto ou atividade desenvolvida; progra-
mação constando data e local; existência ou não de
vagas limitadas; site e páginas de inscrição, quando for
o caso; natureza da atividade, se a entrada será paga ou
gratuita; menção ao nome da biblioteca e dos parceiros en-
volvidos e os contatos de telefone e e-mail.

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REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 13.696, de 12 de julho de 2018.
Diário Oficial [da] República Federativa do
Brasil. Brasília, DF, 13 jul. 2018.
7º Passo: Avaliação dos resultados
O momento de avaliação de um pro- ____. Lei 12.244 de 24 de maio de 2010. Diário
jeto consiste em descobrir se seus ob- Oficial [da] República Federativa do Brasil.
jetivos foram alcançados e o que fazer Brasília, DF, 25 mai. 2010.
para aprimorá-lo. Sua relevância en- CAMPELLO, B. S. Bibliotecas escolares e
contra-se, sobretudo, no aprendizado e biblioteconomia escolar no Brasil. Bibl. Esc.,
valorização das ações realizadas. Os prin- Ribeirão Preto, v. 4, n. 1, p. 1-25, 2015.
cipais pontos avaliados dizem respeito CARVALHO, A. M. Elaboração de projetos de lei-

DESAFIO
ao número de participantes, satisfação tura para bibliotecas comunitárias. In: CAVAL-
e interação entre os responsáveis pelas CANTE, L E.; ARARIPE, F. M. A. (Orgs). Biblioteca e
atividades e o público, interesse desper- Comunidade: entre vozes e saberes. Fortaleza:
tado pelo tema, opinião quantos aos mé- Expressão Gráfica e Editora, 2014.
todos utilizados etc. Para isso, a equipe HONORARO, C. Expedição leituras: tesouros
pode utilizar-se de instrumentos como Acesse o site ou a rede social
da biblioteca da sua cidade ou das bibliotecas comunitárias no Brasil. São
formulários de avaliação, questionários Paulo: Instituto C&A: Itaú Social, 2018.
ou mesmo a disponibilização de um mo- bairro e descubra mais acerca dos
projetos e programações culturais INTERNATIONAL FEDERATION OF LIBRARY ASSO-
mento no final da atividade para que os
realizadas pelas mesmas. Que CIATIONS. IFLA School Library Guidelines, 2015.
participantes e responsáveis possam ex-
tal você propor um projeto de Disponível em: <http://www.ifla.org/publica-
por suas opiniões (CARVALHO, 2014).
mediação de leitura e executá-lo tions/node/9512>. Acesso em: 09 nov. 2018.
Ademais, vale ressaltar que as parce-
rias são uma parte muito importante na em parceria com a biblioteca e sua MACHADO, E. C. Uma discussão acerca do
realização de um projeto, sobretudo para equipe? Você que é aposentado conceito de biblioteca comunitária. Revista
as bibliotecas comunitárias, cujos recur- ou não e deseja contribuir para Digital de Biblioteconomia e Ciência da
sos financeiros são bastante limitados ou mudar a realidade do seu país, por Informação, Campinas, v.7, n. 1, p. 80-94, jul./
mesmo nenhum. Essas parcerias podem que não adota uma biblioteca dez. 2009.
ocorrer junto de associações de morado- comunitária e faz dela o seu ______. Bibliotecas comunitárias como
res, igrejas, escolas, órgão do governo lo- campo de atuação? Experimente. prática social no Brasil. 2008. 184f. Tese
cal e demais instituições de cunho social Quem sabe você pode ser a (Doutorado em Cultura e Informação) - Escola
e cultural. diferença na vida dessas crianças de Comunicações e Artes, Universidade de São
Em suma, ao construir um projeto e/ou jovens? Não é maravilhoso? Paulo, São Paulo, 2008. Disponível em: <http://
de leitura na biblioteca é preciso deixar www.teses.usp.br/teses-/disponiveis/27/27151/
sempre espaço para a criatividade, ino- tde-07012009-172507/pt-br.php>. Acesso em: 11
vação e para a partilha de ideias. O im- nov. 2018.
portante é que o fomento à leitura ocorra MANIFESTO IFLA/UNESCO sobre biblioteca
de modo que as pessoas possam se en- pública. IFLA, 1994. Disponível em: <https://
cantar pela leitura, entendendo a mesma www.ifla.org /files/assets/public-libraries/
como parte importante da aprendizagem publications/PL-manifesto/pl-manifesto-pt.
ao longo da vida e de como a biblioteca pdf> Acesso em: 11 nov. 2018.
pode se inserir nesse processo.

CURSO FORMAÇÃO DE mediadores de leitura 143


Au

Ana Pricila Celedonio da Silva (Autora)


Graduada em Biblioteconomia e mestre em Ciência da Informação pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Participou do projeto “Ler para Crer”,
de implantação de bibliotecas comunitárias em municípios cearenses. Atua na equipe de Supervisão de Trabalhos de Conclusão de Curso no
Núcleo de Tecnologia e Educação a Distância da Faculdade de Medicina da UFC.

Alilian Gradela (Autora)


Gestora do Projeto Comunitário “Sorriso da Criança”, coordenadora da Biblioteca Comunitária, articuladora da Rede de Leitura Jangada Literária e
cogestora da Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias (RNBC). Tem experiência na área de Direitos da Criança e do Adolescente, política pública
para infância e juventude, política nacional do Livro e Leitura. É conselheira do Conselho Municipal de Direito da Criança e do Adolescente.

Rafael Limaverde (ilustrador)


É ilustrador, chargista e cartunista (premiado internacionalmente) e xilogravurista. Formado em Artes Visuais pelo Instituto Federal de Educação,
Ciências e Tecnologia do Ceará (IFCE). Escreve e possui livros ilustrados nas principais editoras do Ceará e em editoras paulistas.

Este fascículo é parte integrante do Programa Fortaleza Criativa, em decorrência do Termo de Fomento celebrado entre a Fundação Demócrito Rocha e a Secretaria Municipal da Cultura
de Fortaleza, sob o nº 05/2018.
Todos os direitos desta edição reservados à: EXPEDIENTE: FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR) João Dummar Neto Presidente André Avelino de
Azevedo Diretor Administrativo-Financeiro Raymundo Netto Gestor de Projetos Emanuela Fernandes
Analista de Projetos Tainá Aquino Estagiária UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE Viviane Pereira Gerente
Fundação Demócrito Rocha Pedagógica Luciola Vitorino Analista Pedagógica CURSO FORMAÇÃO DE MEDIADORES DE LEITURA
Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora Raymundo Netto Coordenador Geral e Editorial Lidia Eugenia Cavalcante Coordenadora de Conteúdo
Cep 60.055-402 - Fortaleza-Ceará Emanuela Fernandes Assistente Editorial Amaurício Cortez Editor de Design e Projeto Gráfico Marisa
Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148 - Fax (85) 3255.6271 Marques de Melo Diagramadora Rafael Limaverde Ilustrador
fdr.org.br ISBN: 978-85-7529-893-0 (Coleção)
fundacao@fdr.org.br ISBN: 978-85-7529-902-9 (Fascículo 9)

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