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Apontamentos de

Transferência de Massa

João Luís Toste de Azevedo


Prof. Auxiliar do DEM/IST

Fevereiro 2000
Indice
Transferência de Massa .............................1
M1 Equações fundamentais para transferência de massa..................................1
Lei de Fick...................................................................................................................1
Coeficiente de difusão ................................................................................................2
Movimento do fluido ....................................................................................................4
Fluxo em relação a referencial absoluto.....................................................................5
Balanço de massa a espécies individuais .................................................................5
M2 Analogia entre problemas de transferência de massa e de calor ................6
Analogia entre equações de transferência de massa e de calor............................... 7
Problemas de difusão.................................................................................................8

Difusão de massa sem fontes em regime estacionário.................................................8


Difusão de massa em regime transiente.....................................................................9
Transferência de massa na presença de reacções químicas ..................................9

Reacções químicas homogéneas.............................................................................10


Reacção química na superfície................................................................................11
Transferência de massa por convecção..................................................................11
M3 Transferência de massa em escoamentos não confinados........................13
Escoamento inicialmente forçado ............................................................................14
Dispersão de massa em escoamento uniforme...................................................... 17
M4 Solução de problemas com transferência de calor e massa. .....................19
Problema de evaporação..........................................................................................19
Convecção natural ....................................................................................................24
Referências................................................................................................................25

Transferência de Massa I João Luís Toste de Azevedo


Transferência de Massa
O estudo da transferência de massa é efectuado com o objectivo de quantificar o fluxo de
matéria de uma determinada espécie química numa mistura. A transferência de massa ocorre
por mecanismos de difusão e advecção devido ao movimento do meio quando existe. Estes
processos apresentam analogias com a transferência de calor, excepto para o caso de
radiação onde a transferência de energia ocorre sem recorrer a um meio contínuo de suporte.
Na primeira secção estabelece-se a equação de balanço de massa para uma espécie química,
definindo-se o fluxo difusivo e advectivo. Na secção seguinte M2 apresentam-se soluções de
problemas de transferência de massa que correspondem a soluções estudadas previamente em
transmissão de calor. Pela particular importância da transferência de massa em escoamentos
exteriores não confinados, apresentam-se algumas soluções com interesse na secção M3.
Finalmente na secção M4 apresentam-se soluções para o processo de transferência de calor e
de massa para problemas onde os dois mecanismos podem ter igual importância.
M1 Equações fundamentais para transferência de massa
A quantificação do fluxo de matéria pode ser efectuado numa base molar ou mássica. A
utilização de uma ou outra base depende da situação física a analisar. Por exemplo a base
molar é preferida em problemas envolvendo gases considerados como perfeitos a temperatura
e pressão constante, onde o número de moles por unidade de volume é constante. O uso da
base mássica pode ser favorecido, por exemplo para problemas com reacções químicas em
fase homogénea. A forma das equações para as duas bases apresenta semelhanças, sendo
apreentados exemplos para ambas as bases.
Lei de Fick
A difusão de massa resulta de variações na concentração de uma espécie. A lei que traduz
este resultado é a lei de Fick. Esta lei exprime o fluxo de matéria de uma espécie química num
meio em repouso. A quantidade de massa pode ser expressa em termos do fluxo mássico (ji).
dm i
ji = −ρDij [kg/m2s] (M 1)
dx
em função do gradiente de fracções mássicas (mi), da massa específica (ρ) e do coeficiente de
difusão da espécie i na espécie j. O coeficiente de difusão expressa-se em unidades [m2/s] e é
definido com dois índices, indicando a espécie considerada e o meio onde ocorre a difusão.
Para a difusão de massa utiliza-se também o coeficiente de difusão mássico definido por
Γij=ρDij [kg/m2s].
O fluxo de matéria pode também ser expresso em base molar por:
dXi
J i = −CDij [kmol/m2s] (M 2)
dx

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em função do gradiente de fracções molares Xi e da concentração molar (C) ou número de
moles específico definido com unidades [kmol/m3]. A lei de difusão de massa apresenta claras
semelhanças com a equação de Fourier para a transmissão de calor.
dT dT
q = −k = −ρ ⋅ α ⋅ c p [kJ/m2s] (M 3)
dx dx
Ambas as leis exprimem um fluxo em função do gradiente de uma propriedade. Estas
expressões quantificam a velocidade a que ocorrem os processos descritos pela segunda lei
da termodinâmica. A lei de Fick quantifica a transferência de massa, enquanto a lei de Fourier
quantifica a transferência de energia.
Coeficiente de difusão
O coeficiente de difusão de massa em sólidos tem de ser determinada experimentalmente pois
não existe um modelo teórico para a prever. Para líquidos existem métodos de estimar o
coeficiente de difusão quando a concentração do soluto é baixa [1,2]. No caso de gases
quando a concentração e pressão permite considerar o gás como perfeito a teoria cinética de
gases permite derivar uma expressão para o cálculo do coeficiente de difusão [1,2]:
1 .8583 * 10 −3 T 3 2
1 1
D ij = + em (cm2/s) (M 4)
Pσ 2i , jΩ D,( i, j) Mi M j

onde os valores das propriedades são especificados nas unidades indicadas na tabela M1.

Grandeza P - Pressão T–Temperatura absoluta σij Diâmetro de colisão


Unidades Atmosfera Kelvin Angstron
Tabela M1 – Unidades para os parâmetros para o coeficiente de difusão molecular.
O coeficiente de difusão de massa é tanto maior quanto menores forem as moléculas; diâmetro
de colisão (σij) e massas moleculares Mi, Mj menores. O diâmetro de colisão para um par de
moléculas é calculado como a média aritmética dos valores para cada um dos componentes
σij=(σi+σj)/2. Valores da massa molecular e de σi para algumas espécies no estado gassoso
encontram-se indicados na tabela M2.
O coeficiente de difusão de massa é inversamente proporcional ao integral de colisão Ω D,(i,j)
que é um parâmetro adimensional cujo valor depende do seguinte parâmetro envolvendo a
temperatura:
kT T
=
(εi k)(ε j ) (M 5)
εij k

Os valores de ε i/k para algumas espécies também se encontram indicado na tabela M2,
enquanto o integral de colisão em função do parâmetro introduzido na equação M5 é indicado
na tabela M3. O integral de colisão introduz implicitamente uma dependência da temperatura
que é preciso ter em conta.

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Tabela M2 – Parâmetros de espécies. Tabela M3 – Valores do integral de colisão.
O valor do coeficiente de difusão de massa aumenta com a velocidade média das moléculas,
proporcional à raiz quadrada da temperatura, e com o volume específico proporcional a T/P.
Deste modo conclui-se que o coeficiente de difusão de massa apresenta uma dependência
explicita de T1.5/P. No entanto, devido à dependência do integral de colisão na temperatura
conclui-se que valores do coeficiente de difusão de massa variam com TN com N entre 1.6 e
2.
Os valores do coeficiente de difusão de massa medido experimentalmente, referem-se a pares
determinados de substâncias para temperatura e pressão especificadas. A tabela M4
apresenta alguns valores, devendo recorrer-se a manuais (e.g. [2]) para a obtenção de outros
valores. A influência da temperatura e da pressão deve ser considerada para interpolar ou
extrapolar valores experimentais do coeficiente de difusão de massa.
Mistura de Ar com: T (ºC) D (cm2/s) Mistura de CO2 com: T (ºC) D (cm2/s)
Vapor de água 25 0.260 Vapor de água 25 0.164
Benzeno 25 0.0962 Benzeno 45 0.0715
Álcool Etílico 25 0.132 Álcool Etílico 0 0.0693
Dióxido de Carbono 0 0.136 Azoto 25 0.158
Mercúrio 341 0.473 Hidrogénio 0 0.550
Oxigénio 0 0.175 Mistura de O2 com: T (ºC) D (cm2/s)
Dióxido de Enxofre 0 0.122 Benzeno 20 0.253
Amónia 0 0.198 Amónia 23 0.039
Tabela M4 – Coeficiente de difusão de massa para pares de gases à pressão atmosférica [1].

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Quando se pretende considerar o coeficiente de difusão de uma espécie i em mistura de
componentes este pode ser estimada pela formula de Wilke [2]:
 
D km = (1 − X k ) /  ∑ N 
Xl
(M 6)
 ll≠=1k D lk 
 
válida para difusão equimolecular.
A aplicação da lei de Fick não é válida para fluidos sob grande pressão situação na qual
poderá existir fluxo relativo de massa devido a gradientes de temperatura e pressão.
Movimento do fluido
A lei de Fick permite analisar a transferência de uma dada espécie no seio de outra
considerando que não existe velocidade da mistura. A definição de velocidade da mistura
depende de se considerar uma base molar ou mássica como se pode ilustrar no exemplo de
mistura de dois gases perfeitos i, j a pressão e temperatura constante.
No processo de mistura de dois gases perfeitos i, j com a mesma pressão e temperatura
iniciais, a concentração molar de acordo com a lei dos gases perfeitos (C=P/R0T) é constante
ao longo do processo de mistura. Deste modo numa base molar facilmente se reconhece que
não existe movimento da mistura. O fluxo molar de uma espéce pode assim ser calculado a
partir da lei de Fick em base molar e pode concluir-se que o fluxo molar da outra espécie é
igual em módulo e em sentido contrário. O fluxo de massa de cada espécie pode ser calculado
multiplicando o fluxo molar pela massa molecular. No caso da massa molecular das duas
espécies serem diferentes, pode-se assim concluir que globalmente existe movimento numa
base mássica.
Do exemplo anterior reconhece-se a necessidade de definir a velocidade da mistura em
diferentes bases consoante a aplicação. Para o fluxo mássico de uma dada espécie em relação
a coordenadas fixas vamos utilizar o símbolo ni. A quantificação do movimento do fluido pode
também ser feita numa base molar, utilizando-se então o símbolo Ni para designar o fluxo. O
fluxo de uma espécie individual pode ser expresso como o produto da sua concentração pela
sua velocidade para qualquer das bases consideradas: molar Ni= CiVi ou mássica ni = ρivi..
O fluxo global é definido a partir da soma do fluxo de todas as espécies. Para o fluxo mássico
global utiliza-se o símbolo n ou G [kg/m2s], sendo usado o símbolo N para o fluxo molar. O
fluxo absoluto permite definir a velocidade média da mistura em base molar ou mássica.
Conclui-se que a velocidade média é a média ponderada das velocidades de espécies
individuais, utilizando as fracções molares ou mássicas:
N N i + N j C i Vi + C j V j
V = = = = X i Vi + X jV j (M 7a)
C C C
n n i + n j ρi vi + ρj v j
v= = = = mi v i + m jv j (M 7b)
ρ ρ ρ

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Fluxo em relação a referencial absoluto
A velocidade das espécies individuais não é fácil de definir, pelo que é usual exprimir o fluxo
absoluto (molar ou mássico) de uma espécie como a soma do fluxo relativo com a
componente de transporte devida ao movimento da mistura. O fluxo relativo pode ser
calculado a partir da lei de Fick permitindo obter em forma vectorial:
r r r r
Ni = Ji + Ci V = −CD im ∇X i + X i N (M 8a)
r r r r
n i = ji + ρ i v = −ρ Dim ∇mi + mi n (M 8b)
Estas equações podem ser apresentadas nos diversos sistemas de coordenadas [3,4]. Para
uma dada direcção em coordenadas cartesianas pode-se então escrever o fluxo para uma
espécie i como a soma do fluxo difusivo com o de convecção:
dmi dXi
n i = −ρDim + m i G ; Ni = −CDim + X iρV (M 9 a,b)
dx dx
Para estabelecermos a relação entre o coeficiente de difusão de massa entre pares de
substâncias pode-se somar o fluxo de duas espécies constituindo a totalidade da mistura:
 dX i dX j 
N i + N j = −C  D ij + D ji  + (X i + X j )ρ V = N (M 10)
 dx dx 

Como a soma das fracções molares das espécies que constituem a mistura é unitária e N=ρV
o primeiro membro deverá ser nulo. Como o gradiente da concentração de uma espécie é
simétrico do outro, os coeficiente de difusão de massa devem ser iguais Dij = Dji. No caso de
se considerar misturas de mais componentes obtem-se uma relação entre os coeficiente de
difusão de massa entre todos os pares de espécies[4], compatível com a formula de Wilke
(Equação M4).
Balanço de massa a espécies individuais
O balanço de massa para cada espécie pode ser definido considerando um elemento
infinitesimal de volume e a variação do fluxo mássico em cada direcção. Para um problema
unidimensional em coordenadas cartesianas:
∂ρi ∂ ∂m i
+ (ρvm i − ρD im ) = M ''' i (M 11)
∂t ∂x ∂x

onde M ' ' ' i representa a fonte de massa da espécie i resultante por exemplo de reacções
químicas. A presença de fontes de massa para espécies não implica necessariamente a
existência de fontes de massa globais. No caso de estas existirem têm de ser consideradas na
equação da continuidade que resulta da soma de todas os balanços às espécies que constituem
a mistura.
∂ρ ∂
+ ( ρv ) = M ' ' ' (M 12)
∂t ∂x

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A fonte de massa global M ''' pode ser considerada no caso de se tratar o problema de um
meio gasoso no interior do qual existam partículas ou gotas que libertem gás. A equação de
balanço de massa para a espécie individual pode ser simplificada tendo em consideração a
equação da continuidade. A soma do termo não estacionário e convectivo pode ser
simplificada do seguinte modo:
∂ρi ∂ ∂m ∂ρ ∂( ρv) ∂m
+ (ρvmi ) = ρ i + m i + m i + ρv( i ) =
∂t ∂x ∂t ∂t ∂x ∂x (M 13)
∂m ∂m
= ρ( i + v i ) + mi M' ' '
∂t ∂x

No caso de não existirem fontes de massa globais i.e. ∑ M ' ' ' i = M ' ' ' = 0 a equação M11
pode então escrever-se na forma:
∂m i ∂m i ∂ ∂m i
ρ( +v )= ( ρD im ) + M '''i (M 14)
∂t ∂x ∂x ∂x
A forma completa do balanço de massa pode ser encontrada em [3,4]. Os balanços de massa
unidimensionais em coordenadas cilíndricas e esféricas são expressos por:
∂m i ∂m i 1 ∂ ∂ mi
ρ( +v )= (ρD im r ) + M ' ' 'i (M 15)
∂t ∂r r ∂r ∂r
∂mi ∂m 1 ∂ ∂m i
ρ( + v i ) = 2 (ρDim r 2 ) + M'''i (M 16)
∂t ∂r r ∂ r ∂ r
No caso de ρ e Dim serem considerados constantes podem-se retirar da derivada
simplificando a equação. A semelhança entre as equações apresentadas e as equações de
transferência de calor são evidentes.
Em termos de concentrações molares as equações M11 e M14 podem ser escritas como:
∂ ∂ ∂ ∂X i
(CXi ) + (CUX i ) = (CDim ) + N''' i (M 17)
∂t ∂x ∂x ∂x
∂X i ∂X i ∂ ∂X i
C +U = (CD im ) + N ''' i (M 18)
∂t ∂x ∂x ∂x
M2 Analogia entre problemas de transferência de massa e de calor
Nesta secção analisam-se as semelhanças e analogias entre as equações de balanço de massa
para uma determinada espécie química e a equação de balanço de energia considerada para o
estudo de transmissão de calor. Seguidamente analisam-se alguns problemas de transferência
de massa cuja formulação conduz a equações análogas às consideradas para problemas de
transmissão de calor. A analogia por vezes não é completa devido ao movimento associado à
transferência de massa que pode ser desprezável. O uso destas aproximações é analisado.

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Analogia entre equações de transferência de massa e de calor.
A equação de transporte de massa tem uma forma semelhante à equação de transferência de
calor que, representa o balanço de energia. As equações apresentados antes para a
transferência de massa, representam o balanço de massa para uma determinada substância
química. Este balanço pode ser expresso em função da fracção mássica ou molar ou ainda em
função da quantidade de matéria (em massa ou número de moles) por unidade de volume. Em
analogia com as fracções molares ou mássicas define-se a quantidade de energia por unidade
de massa como o produto do calor específico pela temperatura. Convém relembrar que a
equação de transmissão de calor representa um balanço de energia sendo o transporte de
energia quantificado pela entalpia explicitada em função da temperatura. O uso da temperatura
na equação de transmissão de calor, prende-se com a utilização da lei de Fourier e na
conveniência para definir condições fronteira. A partir da comparação efectuada, podemos
assim estabelecer analogias entre a equação de calor e de balanço de uma espécie química:
Dim −α O coeficiente de difusão de massa Dim é equivalente ao coeficiente de
difusão térmica α.
mi ou X i - cpT A fracção mássica ou molar é equivalente à entalpia relativa.
Ci ou ρi - ρcpT A concentração molar ou a massa específica da espécie i é equivalente
ao produto ρcpT representando energia por unidade de volume.
M”i’ ou N”i’ - q"' A taxa de geração de massa ou moles da componente i é equivalente à
taxa de geração interna de calor.
C-ρ A concentração molar C é equivalente à massa específica.
Para além dos parâmetros que são directamente utilizados nas equações de transporte,
podem-se estabelecer equivalências entre outros parâmetros definidos no estudo da
transmissão de calor.
A equivalência entre números adimensionais é referida nos próximos pontos, sendo aqui
apenas necessário estabelecer a equivalência com o coeficiente de convecção [W/m2K]. Este
representa a energia transferida por unidade de tempo e área e por unidade de diferença de
temperatura. A utilização da diferença de et mperatura entre o fluido e a superfície para o
cálculo do fluxo é considerada por a lei de Fick ser definida em relação à temperatura. Com
efeito o equilíbrio térmico resulta da igualdade de temperatura.
Para a transferência de massa podem-se utilizar fracções mássicas ou molares pelo que é
conveniente definir um coeficiente sem expressar a quantidade de matéria. O coeficiente de
transferência de massa é definido como a velocidade de transferência hm (m/s). O fluxo de
matéria é obtido do produto deste coeficiente pela diferença de concentração molar da
espécie Ci para o fluxo molar ou pela diferença da massa específica da espécie ρi=ρ*mi para
o fluxo mássico.
Tendo em conta a analogia já estabelecida entre a quantidade de matéria por unidade de
volume Ci ou ρi e a energia por unidade de volume ρcpT, pode-se então estabelecer:

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hm – h/(ρcp) O coeficiente de transferência de massa por convecção é equivalente ao valor
do coeficiente de convecção de calor dividido por ρcp.
Problemas de difusão
A difusão de gás ou líquidos em sólidos é normalmente tratada como um problema de difusão
pura, já que a fracção ocupada pelo fluido é pequena quando comparada com a do sólido. Na
realidade o movimento do fluido no sólido implica a existência de uma velocidade média da
mistura (fluido+sólido) que normalmente pode ser desprezável. No caso de difusão de uma
espécie gasosa noutra pode-se em alguns casos considerar que a mistura não tem movimento.
Esta situação acontece por exemplo considerando gases perfeitos a temperatura e pressão
uniforme pelo que a concentração molar C=P/RoT também é constante e em termos molares
não existe movimento. Nesta situação verifica-se difusão equimolar já que os fluxos molares
são simétricos.
Difusão de massa sem fontes em regime estacionário
Para problemas de difusão em regime estacionário definem-se resistências à transferência de
massa de modo análogo às resistências térmicas de condução. A partir da equação de balanço
de massa para a espécie i sem fontes:
d dCi
(Dim )=0 (M 19)
dx dx
pode-se concluir que a variação da concentração molar é linear e o caudal molar Qm através
de placa com área A e espessura L é dado por:
Dim A C − CiL
Qm = ( Ci0 − C iL ) = i0 (M 20)
L RM
permitindo definir a resistência à transferência de mass a por difusão RM. Por um processo
análogo podem-se definir resistências à transferência de massa para coordenadas cilíndricas e
esféricas:
ln( re / ri ) 1 1 1
RM = e RM = ( − ) (M 21 a,b)
2πLDim 4πDim ri re
onde ri e re representam os raios interior e exterior da superfície cilindrica ou esférica e L
representa a altura do cilindro considerado.
As resistências para a transferência de massa podem também ser aplicadas para calcular
caudais utilizando a diferença de fracções mmolares ou ainda para o caso de gases perfeitos a
diferença entre pressões parciais como se exemplifica a seguir.
C − CiL X − XiL 1 Pi0 − PiL
Qm = i0 = C i0 = (M 22)
Rm Rm R 0T R m

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Difusão de massa em regime transiente
As soluções estudadas para difusão transiente em placas, cilindros e esferas podem ser
utilizadas para transferência de massa, aplicando-se por exemplo à caracterização de
processos de secagem ou de tratamento de materiais (carburação de metais por ex.). Os
parâmetros para a descrição do problema são os números adimensionais de Fourrier e de
Biot. Estes números adimensionais são definidos para a transferência de massa por:
Dim t Lh m
Fo m = e Bi m = (M 23 a,b)
2 D im
L
onde L representa uma dimensão característica do problema. No caso de no exterior não se
verificar uma condição de convecção mas sim imposta na superfície pode-se considerar o
caso limite de 1/Bi=0. A solução do problema pode ser expressa em termos de concentração
molar ou fracção molar ou mássica. Os valores são apresentados de forma adimensional na
seguinte forma:
θ X − X∞ X − X ∞ X 0 − X∞ θ θ0
= = = (M 24)
θi Xi − X∞ X0 − X∞ Xi − X ∞ θ0 θi
considerando a solução separada em duas parcelas representando respectivamente a influência
da posição e do tempo. Para objectos que correspondem à intersecção de duas geometrias
(e.g. cilindro finito como intersecção de cilindro infinito e placa de altura igual à do cilindro) a
solução é obtida como o produto das soluções das geometrias que permitem a formação do
objecto.
Para a situação do número de Biot ser muito pequeno não existem gradientes importantes de
concentrações no interior e pode-se descrever o processo de transferência de massa por um
balanço global envolvendo o coeficiente de transferência de massa. Para situações em que não
se possa usar as soluções analíticas indicadas para geometrias simples, pode-se utilizar um
método numérico para o cálculo da difusão transiente.
Convém relembrar que a decomposição indicada na equação M24 é uma aproximação. A
solução analítica do problema de difusão transiente em corpos finitos corresponde a um
desenvolvimento em série e a decomposição apresentada representa apenas o primeiro termo.
Para números de Fourier baixos pode ser necessária a consideração de mais termos da série
pelo que os valores apresentados em gráficos não podem ser usados.
Para além das soluções referidas anteriormente para a difusão transiente em sólidos com uma
dimensão finita, existem soluções referentes a problemas de difusão não estacionária em
corpos semi–infinitos [1,3]. Estas soluções podem ser aplicadas para descrever o processo
inicial de transferência de massa por difusão em corpos de pequena dimensão ou para
representar a dispersão de massa unidimensional na atmosfera ou água a partir da superfície.
Transferência de massa na presença de reacções químicas
As reacções químicas podem dar-se em fase homogénea quando se realizam na presença de
uma única fase ou podem ser heterogéneas quando envolvem mais que uma fase. Nesta última

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categoria incluem-se reacções gás-fluído nas quais o sólido pode participar como reagente ou
produto, ou apenas como catalisador (promotor) ou inibidor da reacção. No caso do sólido
não reagir, não liberta nem recebe massa do fluído enquanto se reagir altera a massa do fluído
mas pode não alterar o número total de moles.
A velocidade a que se dão as reacções químicas em fase gasosa ou sobre superfícies sólidas
são caracterizadas por taxas de reacção que dependem em geral da temperatura e da
concentração de reagentes na fase gasosa para além de outros factores. A dependência da
taxa na concentração de reagentes pode ser caracterizada pela ordem da reacção que
limitamos neste estudo aos casos de ordem 0 e 1. No caso de ordem 0 a taxa de reacção é
independente da concentração do reagente, enquanto no caso de taxa de primeira ordem a
taxa de reacção é proporcional à concentração da espécie que reage (i). Vamos aqui analisar
dois casos correspondentes ao caso de reacção homogénea ocorrendo no seio do meio e o
caso da reacção ser promovida junto a uma superfície sólida.
Reacções químicas homogéneas
No caso de reacções em fase homogénea existem fontes de massa para as espécies que
reagem que têm de ser contabilizadas. No caso de se considerar uma aproximação do tipo
unidimensional e o coeficiente de difusão constante pode-se escrever a equação de balanço de
massa para a espécie i com fonte de massa como:
d 2C i
D im + N 'i' ' = 0 (M 25)
2
dx
A dependência da fonte de i na concentração Ci pode ser de ordem 0 ou 1 para as quais se
tem respectivamente N 'i' ' = − k 0 e N 'i' ' = − k 1C i sendo o sinal negativo de se considerar que a
espécie i é consumido na reacção. No caso da ordem ser 0 a solução da equação é muito
simples e tem a analogia com as soluções de condução de calor com fontes internas de calor
uniformes. No caso da ordem da reacção ser 1 a equação de balanço de massa pode ser
escrita na forma:
d 2 Ci
Dim − k1Ci = 0 (M 26)
dx 2
que é uma equação análoga à obtida na análise unidimensional de condução de calor em
alhetas. A solução geral para esta equação é:
C A ( x ) = C1e mx + C 2e −mx onde m = k1 Dim (M 27)
e as constantes C1 e C2 são determinadas pelas equações fronteiras específicas do caso. A
solução apresentada na equação M 25 é análoga à equação de dist ribuição de temperatura em
alhetas. Esta equação também pode ser aplicada para a situação de difusão no interior de
poros com reacção química de primeira ordem na sua superfície. Esta situação é equivalente
ao problema de transferência de calor numa alheta, com difusão unidimensional com trocas na
direcção transversal.

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Reacção química na superfície
Quando existem reacções químicas em superfícies a sua taxa pode ser expressa por unidade
de área (externa) dessa superfície. No caso de difusão em poros essa contribuição é
considerada como uma fonte de massa na equação de balanço de massa unidimensional. De
uma forma mais geral, reacção química na superfície representa uma equação fronteira para
os problemas de transferência de massa.
No caso do fluido não se encontrar em movimento na direcção paralela à superfície onde se
dá a reacção o problema é unidimensional na direcção perpendicular à superfície. Uma
situação semelhante a esta é tratada na última secção M4. Na maior parte das aplicações
quando ocorre uma reacção química em superfícies o fluido escoa-se paralelamente á
superfície. O movimento das espécies que reagem é bidimensional, podendo considerar-se no
entanto que o movimento da mistura se verifica apenas na direcção paralela à superfície. Na
realidade esta situação verifica-se numa base mássica se a superfície não reagir (caso dos
catalisadores) ou numa base molar se o número de moles na reacção não variar. Nestas
circunstâncias pode-se quantificar a transferência de massa do escoamento para a superfície
por um coeficiente de convecção de massa hm.
No caso da taxa de reacção química na parede ser de primeira ordem o fluxo de massa da
espécie i consumido na parede é proporcional à sua concentração junto à parede.
Normalmente a concentração é conhecida num ponto afastado da parede. A transferência de
massa do fluido até à parede pode ser contabilizado por um coeficiente de convecção de
massa hm, devendo verificar-se a igualdade de fluxos.

N'i' = −k1C0i = h m C∞ (
i − Ci
0
) (M 28)

A partir das expressões apresentadas para os fluxos podem-se definir resistências à


transferência de massa para os dois processos: transferência de massa por convecção e
reacção química, permitindo definir uma expressão para a taxa de consumo de i com base nas
resistências em série:
− C∞
N 'i' = i
= −k g C ∞ (M 29)
(1 k1 + 1 h m ) i

No caso da taxa de reacção ser independente da concentração junto à superfície ou no caso


da taxa de reacção ter uma ordem diferente da unitária estabelece-se uma equação análoga a
M 28, não sendo possível no entanto estabelecer uma taxa global.
Transferência de massa por convecção
A transferência de massa por convecção já foi referida anteriormente quando se mencionou as
reacções químicas em superfícies. Para estabelecer uma analogia com a transferência de calor
deve-se considerar o movimento do fluido apenas na direcção paralela à superfície. Para
considerar o movimento do fluido na direcção perpendicular à superfície pode-se recorrer a
correlações que consideram a transpiração das superfícies. No entanto na presença de
reacções químicas ou em problemas de evaporação o fluxo de massa na direcção

Transferência de Massa 11 João Luís Toste de Azevedo


perpendicular à superfície é desprezável. Esta aproximação pode ser verificada para casos
concretos comparando o fluxo na direcção perpendicular obtido a partir do coeficiente de
convecção de massa hm com o fluxo na direcção paralela.
A analogia entre o coeficiente de transferência de massa e de convecção de calor já foi
apresentado na secção M2.1. O coeficiente de transferência de massa caracteriza uma
velocidade que é equivalente ao valor de h/(ρcp). Este parâmetro é utilizado na definição do
número de Stanton que compara a velocidade de transferência de calor com a velocidade
típica do escoamento considerado (St= h/(vρcp).).
Para a transferência de massa pode-se definir um número de Stanton de igual forma
comparando a velocidade de transferência de massa com a velocidade do escoamento:
hm
St m = (M 30)
U∞

As correlações para coeficientes de convecção de calor estudadas em transferência de calor


para escoamentos laminares, resultaram em grande parte de soluções analíticas enquanto para
escoamentos turbulentos se usaram correlações semi-empiricas expressas em termos de
números adimensionais. O coeficiente de convecção de calor é normalmente apresentado em
termos adimensionais pelo número de Nusselt em função de uma dimensão característica X e
da conductividade Nu=hX/k.
O número de Nusselt é expresso em função do número de Reynolds e do número de Prandtl.
O número de Reynolds não envolve nenhuma grandeza de transferência de calor pelo que não
é alterado. O número de Prandtl que compara a difusão de momento com a térmica é
substituído pelo número de Schmidt Sc = ν/Dim que compara a difusão de momento com a de
massa. O número adimensional equivalente ao Nusselt pode ser facilmente definido, tendo em
atenção que Nu=St*Re*Pr, permitindo definir o número de Sherwood:
h m U∞L ν h L
Sh = Stm * Re* Sc = * * = m (M 31)
U∞ ν Dim Dim
Este número representa assim o coeficiente de convecção de massa de uma forma
adimensional utilizando uma escala de comprimento e o coeficiente de difusão de massa.
Comparando directamente com o número de Nusselt pode-se ver a analogia, isolando a
velocidade de transferência de calor termo h/(ρcp) na sua definição Nu= (h/(ρcp))L/α. A
partir da analogia estabelecida pode-se então considerar as correlações Nu=fç(Re,Pr) para
representar a transferência de massa por:

Sh = m = fç (Re, Sc)
h X
(M 32)
Dim
Nos problemas com transferência de massa por convecção pretende-se contabilizar o fluxo de
uma espécie na direcção perpendicular ao escoamento principal quer seja interior ou exterior
numa camada limite. Para a transferência de calor utilizou-se a lei de Fourier para contabilizar
o fluxo de calor na parede considerando que a componente de velocidade na direcção

Transferência de Massa 12 João Luís Toste de Azevedo


perpendicular à parede é nula. Nos problemas de transferência de massa como já referido a
condição do fluxo nulo junto à parede pode não ser válida, por exemplo no caso de se
evaporar vapor de uma superfície líquida. Deste modo torna -se importante avaliar esta
aproximação.
A forma das correlações empíricas para transferência de massa pode não ser totalmente igual
à obtida para a transferência de calor. Por exemplo no escoamento de vapor no interior de
tubos com uma película de líquido na parede a dependência do número de Reynolds
apresenta um expoente de 0.83 em vez de 0.8, devido à rugosidade formada pela película de
líquido.
M3 Transferência de massa em escoamentos não confinados
O estudo de transferência de massa toma uma importância particular para o caso de
escoamentos exteriores, mesmo que longe de superfícies. Existem diversas situações reais
relacionadas com a dispersão de poluentes na atmosfera ou em meio aquático que se podem
analisar a partir de soluções da equação de balanço de massa. Em muitos destes casos existe
movimento do fluido quer por efeitos de convecção forçada como por convecção natural.
Para estes casos torna-se portanto necessário considerar a solução de equações de balanço
de quantidade de movimento que no caso de convecção natural se encontra fortemente
dependente do balanço de energia caso existam gradientes térmicos.
A dispersão de poluentes na atmosfera é complicada pelo facto de se tratar de um
escoamento de camada limite e também pelo facto da atmosfera poder apresentar condições
de estabilidade ou não. O perfil de temperatura, pressão e massa específica ao longo da altura
dependem das condições climatéricas. Estes perfis são importantes pois condicionam o
movimento do ar na direcção vertical dependendo da sua massa específica. Podemos avaliar
as condições de estabilidade da atmosfera se analisarmos o que pode acontecer a uma parcela
de ar que se desloque no sentido ascendente.
A variação da temperatura de uma parcela de ar em movimento pode ser estimada por uma
evolução adiabática reversível, desprezando as trocas de calor com a vizinhança. Se a
temperatura da atmosfera variar de uma forma mais rápida que a correspondente à expansão
adiabática, significa que quando uma parcela de ar inicia o movimento irá continuar o seu
movimento. Como exemplo uma parcela de ar em movimento ascendente diminui a sua
temperatura menos que a vizinhança e assim fica com um maior volume específico continuando
o seu movimento. Nesta situação a atmosfera encontra-se em condições instáveis, sendo
estável quando a variação de temperatura ao longo da altura varia menos que a
correspondente à evolução adiabática.
As condições de estabilidade ou instabilidade da atmosfera são influenciadas pela humidade
requerendo um método de análise mais completo. Quando a estabilidade da atmosfera
depende da humidade designa-se por condicional enquanto que quando é independente da
humidade designa-se por absoluta.

Transferência de Massa 13 João Luís Toste de Azevedo


Escoamento inicialmente forçado
Nesta secção referem-se exemplos de escoamentos não confinados a partir de fontes de
quantidade de movimento tal como no caso de jactos que podem ser planos ou cilíndricos. A
designação de jacto aplica-se a um escoamento promovido por uma corrente forçada a partir
de uma zona limitada num meio não confinado. A figura M1 ilustra o desenvolvimento inicial de
camadas de corte e a formação de um jacto plano. Na zona inicial do escoamento os
gradientes de velocidade verificam-se numa zona localizada junto à fronteira por onde o fluido
é alimentado. O escoamento promovido nessa zona designa-se por camada de corte sendo
caracterizado pela diferença entre a velocidade de injecção e a exterior que poderá ser nula.
Os jactos são definidos a partir da distância na qual as camadas de corte se intersectam
crescendo a sua espessura assim como o caudal uma vez que existe arrastamento de fluido.

Figura M1 – Desenvolvimento de camadas de corte e de jacto plano


Como se pode observar da figura a origem do jacto não coincide com a secção de saída do
escoamento, sendo definida pela intersecção das linhas que representam a espessura do jacto.
A análise do desenvolvimento das camadas de corte isoladas e de jactos baseiam-se na
análise das equações de quantidade de movimento com a aproximação de escoamento tipo
camada limite. Esta aproximação considera que a escala de comprimento transversal no
escoamento é muito menor que a escala axial, permitindo escrever a equação de quantidade
de movimento na direcção axial como:
∂u ∂u 1 dP ∂  ∂u 
u +v =− +  (ν + ν T )  (M 33)
∂x ∂y ρ dx ∂y  ∂y 

Transferência de Massa 14 João Luís Toste de Azevedo


O gradiente de pressão é considerado conhecido e igual ao valor correspondente para uma
distância y afastada da perturbação no escoamento. Nesta equação a viscosidade cinemática é
somada com o valor ν T que representa o coeficiente de difusão equivalente de quantidade de
movimento devido à turbulência. A maior parte dos escoamentos com interesse prático em
problemas de engenharia envolve escoamento turbulento e o coeficiente de difusão de
quantidade de movimento turbulento é preponderante.
A análise de ordens de grandeza da equação de quantidade de movimento permite estabelecer
uma relação entre a ordem de grandeza dos parâmetros envolvidos em M33:
u2c u
∝ νT c2 (M 34)
x D
onde D e x são escalas de comprimento respectivamente na direcção transversal e axial. uc é a
escala de velocidade máxima em cada distância axial. Para a camada de corte este valor é
constante enquanto para o caso de jactos este valor diminui à medida que o jacto se
desenvolve [5]. Considerando a observação experimental do crescimento da dimensão
transversal proporcionalmente à distância axial desde a origem virtual do jacto (D α x), pode-
se obter a ordem de grandeza da viscosidade turbulenta.
A definição e uso de um coeficiente de difusão turbulenta, permite ‘fechar’ a equação de
quantidade de movimento representando o efeito de flutuações de velocidade que são
interpretadas como tensões de corte (Tensões de Reynolds). O coeficiente de difusão
turbulento deve-se ao movimento dos turbilhões que se geram nas zonas de maiores gradientes
de velocidade. O seu cálculo envolve em geral um modelo de turbulência sendo o mais simples
o modelo do comprimento de mistura aplicado ao caso considerado com gradientes
importantes de velocidade axial na direcção transversal [5]:
∂u
ν T = l2 (M 35)
∂y

A escala de comprimento característica da turbulência é da ordem de grandeza da espessura


do jacto permitindo tal como pela análise das ordens de grandeza estabelecer uma escala para
a viscosidade turbulenta. Pode-se concluir que a viscosidade turbulenta depende da posição
axial mas é independente da coordenada transversal. A solução para a distribuição de
velocidade é determinada considerando a coordenada transversal em termos adimensionais
η=σ (y/x) com base na observação da proporcionalidade entre y e x. A solução é assim
determinada com base em condições de semelhança entre os perfis. As soluções para a
distribuição de velocidade e temperatura para camadas de corte e jactos planos podem ser
analisadas em [5].
Pelo maior interesse prático, apresenta-se a solução para o caso do jacto cilíndrico com
gradiente axial de pressão nulo. As equações de balanço de massa e de quantidade de
movimento para a direcção axial com a aproximação de quantidade de movimento são:
∂ u 1 ∂ ( rv)
+ =0 (M 36)
∂x r ∂r

Transferência de Massa 15 João Luís Toste de Azevedo


∂u ∂ u ν T ∂  ∂u 
u +v = r  (M 37)
∂x ∂r r ∂r  ∂r 

A partir da equação M34 e da proporcionalidade entre a dimensão transversal D e axial x


pode-se concluir que νT α ucx. A variação da velocidade na linha central ao longo da
distância axial é calculada com base no principio de conservação de quantidade de
movimento. Com efeito se globalmente não actuam forças sobre o fluido em movimento pode-
se considerar que a quantidade de movimento se mantém constante:

K = 2 π ∫ u 2rdr (M 38)
0

que permite, por uma análise de ordens de grandeza, verificar que a velocidade na linha central
varia inversamente com a distância com a dimensão transversal ou com a distância axial, já que
estas duas são proporcionais. Desta análise pode então concluir-se que para o caso do jacto
cilíndrico a viscosidade turbulenta é constante.
K1 / 2
ν T ∝ xu c ∝ x ∝K( Cons tan te ) (M 39)
D
O facto da viscosidade turbulenta para o jacto cilíndrico ser constante e independente da
coordenada axial e radial, permite obter uma solução para o perfil de velocidade em
condições de semelhança na forma [5]:
−2
γ  3 1 2 K1 2  η2 
u = 0  1+  (M 40)
2 π x  4

onde γ0 é uma constante empírica com o valor 15.2 e η= γ0 (r/x) é a coordenada radial
adimensional definida para os perfis de semelhança. Em alternativa à solução teórica
apresentada é usual correlacionar o perfil de velocidade em função da coordenada transversal
por uma função exponencial na forma:
 r 2
u = u c exp −    (M 41)
  b 
 
onde b é uma dimensão característica radial que aumenta com a distância axial como já se
referiu. Com base em resultados experimentais verifica-se:
b = (0.107+ 0.003) x (M41a)
Tendo em consideração este valor e a equação M38, pode-se rescrever o perfil de velocidade
na forma:

K1 2   r  
2

u = 7 .46 
exp −  9 .35  (M 42)
x   x  

em função da distância axial desde a origem virtual do jacto.

Transferência de Massa 16 João Luís Toste de Azevedo


Esta expressão para a distribuição de velocidade é utilizada em modelos aproximados para o
cálculo do campo de velocidade resultante de um ou da sobreposição de diversos jactos. A
partir da analogia entre o balanço de quantidade de movimento e o balanço de energia ou
ainda o balanço a uma espécie química, pode-se concluir que a solução para a distribuição de
temperatura ou de concentração de uma espécie química emitida como jacto apresenta uma
forma análoga com a equação M40. Concretizando:
 r  
2
(T − T∞ ) = (Tc − T∞ )exp  −   (M 43)
b  
  T 
  r 2 
(C − C ∞ ) = (C c − C∞ )exp  −    (M 44)
  M 
b

O valor dos parâmetros b para estas últimas equações são superiores ao valor para a
quantidade de movimento, como resultado do maior valor dos coeficientes de difusão térmica
e de massa. Para o caso da distribuição de temperatura obtém-se bT /b=1.19, podendo
considerar-se o mesmo valor para a distribuição de concentração molar.

Dispersão de massa em escoamento uniforme


Nesta secção apresenta-se a solução para a distribuição de concentração de uma espécie num
escoamento uniforme proveniente de uma fonte pontual ou em linha. Para a análise deste
problema consideram-se as equações de balanço de massa com aproximação de camada
limite num referencial cilíndrico e cartesiano respectivamente. A solução é obtida para a zona
de semelhança, afastada da origem da fonte, considerando que o perfil de concentrações
mantém a mesma forma em termos adimensionais.
Para o caso de uma fonte em linha da espécie i (kg/ms ou kmol/ms) pode-se formular a
equação de balanço de massa para a espécie i num escoamento uniforme. Nesta hipótese
despreza-se o caudal injectado em relação ao caudal uniforme. Considerando apenas o termo
de convecção na direcção do escoamento e a difusão na direcção prependicular podemos
escrever a equação de balanço de massa como:
∂X i ∂ 2Xi
u = D ef (M 45)
∂x ∂y 2

obtida considerando a concentração molar (C) uniforme. Nesta equação introduziu-se um


coeficiente de difusão de massa Def effectivo que pode representar para além do coeficiente de
difusão molecular o resultado da turbulência ou outros efeitos (escoamento em meio poroso).
As soluções que se vão obter são obtidas utilizando um valor constante para esse parâmetro.
No caso da dispersão de massa se verificar num meio poroso a escala de comprimento de
flutuações de velocidade é constante e condicionada pela escala de comprimento dos poros.
Para o caso de escoamentos uniformes de um fluido a escala de comprimento de turbulência é

Transferência de Massa 17 João Luís Toste de Azevedo


também constante, não sendo no entanto fácil de determinar. Utilizando uma análise de escalas
para as diversas grandezas na equação pode-se estimar a dimensão transversal da esteira (Dt
dimensão em y) como:
D t ∝ D ef x u (M 46)
O caudal (molar Qm) da espécie i deve-se manter constante a juzante da linha de injecção ao
longo da esteira e pode ser calculado em cada secção por:

( )
i dy [kmol/ms ]
Q m = Cu ∫−∞∞ Xi − X∞ (M 47)

sendo igual ao caudal injectado por unidade de comprimento. A escala da diferença entre a
fracção molar na esteira e a infinito Xi-Xiºº pode ser estimada a partir de:
Qm Qm
X i − X∞
i ∝ ∝ (M 48)
CuD t C D ef ux

Com base na ordem de grandeza da fracção molar e na dimensão transversal da esteira Dt


pode-se propor uma solução de semelhança na forma:
Qm u
X i − X∞
i = θ(η ) com η = y (M 49)
C D ef ux D ef x

A função θ é determinada da substituição desta solução na equação de balanço de massa:

θ + ηθ ' + 2θ " = 0 (M 50)


com as condições fronteira θ → 0 com η → ∞ e θ’=0 para η=0.
A resolução da equação M50 em conjunto com a condição de conservação do caudal

∫− ∞ θd η = 1 permite determinar o resultado:

θ=
(
exp − η2 4 ) (M 51)
2 π
e substituindo na equação M49 permite definir a distribuição de fracção molar:

X i − Xi∞ =
(
Qm exp − y 2 u 4 Def x ) (M 52)
2C Def ux π

O problema de dispersão de massa a partir de uma fonte pontual pode ser caracterizado de
uma forma equivalente utilizando a equação para coordenadas cilíndricas:
∂X i Def ∂ ∂X i
u = (r ) (M 53)
∂x r ∂r ∂r
A escala radial tem a mesma ordem de grandeza que para o caso plano. A equação de
conservação do caudal para o caso cilíndrico escreve-se como:

Transferência de Massa 18 João Luís Toste de Azevedo


( )
i rdr [kmol/s ]
Q m = 2πCu∫0∞ Xi − X ∞ (M 54)

permitindo determinar a solução como:


Qm u
X i − X∞
i = θ(η) com η = r (M 55)
CD ef x D ef x

sendo agora a equação para θ:

θ + (η / 2 + 1 / η) θ ' + θ" = 0 (M 56)

com as mesmas equações fronteira. A condição de conservação é agora 2 π ∫ −∞∞ θη dη = 1 .

O resultado para a distribuição da fracção molar resultante é:

X i − X i∞ =
(
Q m exp − r 2 u 4 D ef x ) (M 57)
4 π CD ef x

A solução expressa nesta equação permite caracterizar a distribuição de massa a partir de


fontes pontuais de massa. Quando existam diversas fontes de massa a fracção de massa pode
ser obtida adicionando as contribuições das diversas fontes. Esta expressão pode ser usada
para calcular as fracções molares de uma espécie química em torno da linha central do
escoamento que pode ser deflectido.
M4 Solução de problemas com transferência de calor e massa.
Em situações em que ocorra simultaneamente transferência de calor e massa é importante
comparar os dois processos. A comparação entre os coeficientes de difusão térmica e de
massa é efectuada pelo número adimensional de Lewis Le = α/Dim = Sc/Pr que compara
difusão de calor com massa. Este número adimensional é para os gases da ordem de grandeza
da unidade, permitindo considerar uma analogia entre os problemas de transmissão de calor e
de massa. Nesta secção refere-se o problema de evaporação de um líquido e apresenta-se
uma introdução a problemas de convecção natural envolvendo gradientes de temperatura e de
composição química.
Problema de evaporação
Consideremos o problema da evaporação de um líquido contido num recipiente e a sua
difusão ao longo de uma altura L para uma zona onde a fracção molar do vapor se mantém
constante (CvL). A solução para este problema pode ser considerada unidimensional de
acordo com o referencial indicado na figura com origem na superfície livre do líquido. Vamos
considerar a solução do problema de transferência de calor e de massa independentemente e
no final analisar qual a ligação entre as duas soluções.
O liquido evapora-se na superfície do líquido gerando assim vapor (V) que se difunde para o
topo do reservatório através do gás (G) que ocupa a coluna. Considera-se que a superfície
livre do líquido não varia de posição e que a fracção de vapor junto a essa superfície (x=0) e
no topo da coluna (x=L) são constantes. Para além da difusão existe também convecção ao

Transferência de Massa 19 João Luís Toste de Azevedo


longo da coluna resultante do caudal evaporado. Como não existem fontes de vapor ao longo
da alura da coluna o fluxo de vapor é constante e igual ao fluxo total de vapor evaporado.
dXV
N V = NXV − CDVG =N (M 58)
dx
que também pode ser rescrito como:
− (dX V dx ) N C v=C vL
= = C1 (M 59)
1− XV CD VG

O perfil da fracção molar de vapor tem então a forma:


ln (1 − X V ) = C1x + C 2 (M 60) x
Cv=C vo
sendo C1 e C2 calculados utilizando as equações fronteira:
XV=XV0 para x=0 e XV=XVL para x=L conduzindo a:
 1 − X VL  Figura M2 – Esquema de problema de
C 2 = ln (1 − X V0 ) e C1 = ln   L (M 61)
 1 − X V0  evaporação em coluna

permitindo obter a distribuição da fracção mássica como:


x
 1 − X V   1 − X VL  L
  =   (M 62)
 1 − X V0   1 − X V0 

em função das fracções molares junto à superfície do líquido e no topo da coluna. Tendo em
atenção o valor da constante C1=N/ΧDVG podemos também escrever a fracção molar em
função do caudal evaporado como:
X V = 1 − (1 − X V0 ) exp ( Nx / CD VG ) (M 63)
O fluxo mássico evaporado pode ser calculado a partir desta equação para x=L em função
das fracções molares em x=0 e x=L ou directamente do balanço de massa:
 dX V 1  CD VG  1 − X VL 
N = − CD VG   = CD VG C1 =
 ln  
 (M 64)
 dx 1 − X V  L  1 − X V0 
O argumento do logarítmo pode ser rescrito como 1+B com B=(XV0-XVL)/(1-XV0) que
representa uma grandeza (‘driving force’) responsável pela massa evaporada. A solução do
problema em termos molares é exacta se considerarmos a pressão e temperatura uniformes ao
longo da altura da coluna e a mistura de gas e vapor como gas perfeito. Nessas condições a
massa específica varia ao longo da altura, sendo no entanto razoável considerá-la como
constante quando a fracção molar do vapor é pequena.
DVG  1 − m VL 
G =ρ ln   (M 65)
L  1 − m V0 

Transferência de Massa 20 João Luís Toste de Azevedo


Quando se consideram também variações na temperatura ambas as bases molar e mássica
permitem obter soluções aproximadas considerando as propriedades constantes.
A fracção molar de vapor junto à superfície do líquido pode ser determinada pelas condições
de saturação. A evaporação do líquido requer que se forneça energia ao líquido o que se
pode verificar através da base e al dos do reservatório ou pela superfície do líquido. Neste
caso criam-se gradientes de temperatura ao longo da coluna que se analisam de seguida para
o caso de todo o calor necessário à evaporação ser fornecido através da superfície livre do
líquido.
O balanço de energia para tratar este problema considera uma situação unidimensional em
regime estacionário. Neste caso a equação diferencial apresenta apenas os termos de
convecção e difusão para a direcção vertical acima do líquido. Considera-se as propriedades
constantes como aproximação e uma base mássica por ser mais usual o seu uso em
transmissão de calor. Na convecção a energia transportada é associada apenas ao vapor uma
vez que não existe movimento do gas que constitui o meio (normalmente ar). Deste modo vai
considerar-se para o transporte convectivo nv cp V +nG cpG= G cpV. A condutividade k resulta
da média das duas espécies cuja concentração varia ao longo de x. Não vamos detalhar este
cálculo, considerando apenas uma conductividade k uniforme em todo o domínio. Com estas
hipóteses a equação de balanço de energia resulta em:
dT d  dT 
Gc pV = k  (M 66)
dx dx  dx 

Esta equação pode também ser integrada considerando como condições fronteira a
temperatura para x=0 e x=L permitindo obter:
T − T0 (
exp Gc pV x k − 1 )
=
(
TL − T0 exp Gc pV L k − 1 ) (M 67)

Como no caso de transferência de massa pretende-se exprimir o fluxo mássico evaporado em


função das temperaturas em x=0 e L e de outros parâmetros. No caso do calor necessário à
evaporação ser totalmente fornecido através da camada de gás e vapor acima do líquido, o
fluxo de calor para o líquido –Q0 é igual ao necessário para vaporizar o líquido -Q0=Ghfg.
dT
Q 0 = −k = −Gh fg (M 68)
dx x = 0

Integrando a equação de balanço de energia uma vez podemos obter:


dT
Gc pV T − k = cons tan te = Gc pV T0 + Q 0 (M 69)
dx
de onde se pode obter:
dT dx
= (M 70)
Gc pV( T − T0 ) − Q 0 k

Transferência de Massa 21 João Luís Toste de Azevedo


que integrando na forma

[ ]0
L
1 L x
ln Gc pV (T − T0 ) − Q0 = (M 71)
Gc pV k 0

conduz a:
Gc pV L  Gc pV ( TL − T0 ) − Q 0 
= ln   (M 72)
k  −Q0 
Substituindo nesta equação o fluxo de calor para a superfície permite obter:

k  c pV (TL − T0 ) 
G= ln 1 +  (M 73)
c pV L  h fg 
sendo o argumento do logaritmo na forma (1+B). Nesta expressão pode-se substituir o
conjunto k/cpV por ρα sendo estas as propriedades da mistura se considerarmos o transporte
convectivo com o calor específico da mistura. A expressão obtida é muito semelhante ao
resultado obtido da análise de transferência de massa com a forma:
ρ D VG  m V 0 − m VL 
G= ln 1 + 
 (M 74)
L  1 − m V0 
Em ambas as equações o fluxo mássico é determinado por ‘driving forces’ referentes ao
processo de transferência de masa e de calor. Eliminando o fluxo mássico entre as duas
expressões obtêm-se uma equação relacionando os dois parâmetros B através de:
k
 m − m VL   c pV (TL − T0 )  c pV ρD VG
1 + V 0  = 1 +  (M 75)
 1 − m V0   h fg 

sendo o expoente um número adimensional equivalente ao número de Lewis que compara a
transferência de calor com a transferência de massa. Para gases o número de Lewis é de
ordem de grandeza da unidade donde as ‘driving forces’ têm valores equivalentes. A equação
acima permite relacionar a fracção mássica de vapor na superfície do líquido com a
temperatura do líquido. No caso de se usar o fluxo em termos molares podemos também
escrever uma equação semelhante à anterior com o mesmo expoente. Para além das equações
apresentadas a fracção mássica ou molar relaciona-se com a temperatura do líquido através
da curva de saturação do líquido. A solução das duas equações pode ser representada
esquematicamente num gráfico representando a fracção molar ou mássica em função da
temperatura.

Transferência de Massa 22 João Luís Toste de Azevedo


mV0 ou XV0
TL Curva de
1 mudança
de fase

Temperatura
TL=T0 de Ebulição
XVL
T0

Figura M3 – Solução gráfica da equação M75 e intersecção com a curva de mudança de fase.

A partir desta figura é possível analisar casos limites em que o processo é controlado
principalmente por transferência de massa ou de calor. Para o caso da temperatura TL ser
maior que a temperatura de ebulição, a temperatura do líquido tende para a temperatura de
ebulição e a fracção molar ou mássica fica próxima da unidade. Neste caso a expressão para
a transferência de massa fica indefinida e é mais conveniente utilizar a expressão da
transferência de calor. No caso da temperatura TL ser próxima de T0 as variações das
fracções molar ou mássica também são baixas. Para este caso podemos calcular o valor do
caudal evaporado da transferência de massa usando mV0 ou XV0 igual aos valores de
saturação para a temperatura TL.
O problema apresentado para a evaporação em coluna pode também ser formulado e
apresentado para o caso de evaporação de gotas. Neste caso o calor para promover a
vaporização provem do gás sendo também a taxa de evaporação expressa em função de
parâmetros de transferência de calor e de massa. Para este caso a taxa de evaporação é
calculada respectivamente por:
ρ D VG  m V0 − m V∞ 
G= ln 1 + 
 (M 76)
r0  1 − m V0 

k  cpV( T∞ − T0 ) 
G= ln 1 +  (M 77)
cpVr0  h fg 

em função do raio da gota e das propriedades numa posição afastada das gotas. Para o caso
das gotas o cálculo do tempo de evaporação pode ser realizado integrando este fluxo em
função do raio da gota permitindo calcular o tempo de vaporização respectivamente por:

Transferência de Massa 23 João Luís Toste de Azevedo


ρ Liq D 02
t Vap = (M 78)
8 k  c pV (T∞ − T0 ) 
ln 1 +
c pV  h fg 

ρ Liq D 20
t Vap = (M 79)
 m − m V∞ 
8ρ D VG ln 1 + V 0 
 1 − m V∞ 
em função da massa específica do líquido e do diâmetro inicial das gotas.

Convecção natural
Para problemas de convecção natural a análise pode ser complexa no caso do movimento do
fluido ser provocado simultaneamente por variações de temperatura e de composição. A
análise da camada limite laminar com convecção natural é efectuada a partir da equação de
balanço de quantidade de movimento na direcção vertical escrito na forma:
∂v ∂v ∂ 2v g
u +v =ν + (ρ ∞ − ρ ) (M 80)
∂x ∂y ∂x 2 ρ
Quando se efectuou o estudo de transmissão de
calor considerou–se a variação de massa específica
proporcional à diferença de temperatura utilizando o
coeficiente de expansão térmica β definido como a
variação da massa específica com a temperatura.
Para quantificar a variação de massa específica
associada a gradientes de concentração pode-se de
igual modo definir o coeficiente de expansão devido à
variação da concentração.
1  ∂ρ 
β C i = −   (M 81)
ρ  ∂ C i  P

Podemos assim definir a variação da massa


específica em função das variações de concentração
de uma espécie e da temperatura por:
(ρ − ρ∞ ) = β(T − T ) + β (C − C ) (M 82)
∞ Ci i i∞
ρ
A solução de problemas com efeitos de convecção
natural devidos a ambos os efeitos requer a solução
da equação de quantidade de movimento em Figura M4 – Esquema de camada
simultâneo com as equações de balanço de massa limite térmica e de concentração química.

Transferência de Massa 24 João Luís Toste de Azevedo


para a espécie i considerada e o balanço de energia. A solução depende da grandeza relativa
dos termos apresentados na equação M82 ou seja da diferença de temperatura e de
concentração envolvidos no problema. Adicionalmente a taxa de crescimento das camadas
limites térmica e de concentração molar dependem dos números adimensionais de Sc e Pr,
conduzindo a diversas soluções que são discutidas em [5].
Quando o movimento do fluido é unicamente determinado por variações de massa específica
devido à variação da concentração molar de uma espécie define -se um número de Rayleigh
referente à transferência de massa.

gβ Ci (Ci0 − Ci∞ ) y 3
Ra my = (M 83)
νDim
Normalmente o movimento do fluido é provocado principalmente pelas variações de massa
específica devidas a variações de temperatura. Uma situação de interesse prático que
interessa considerar para convecção natural corresponde às plumas formadas numa zona
afastada de chaminés onde a contribuição da quantidade de movimento inicial é pequena
comparada com a impulsão térmica.
Referências
[1] Heat Transfer-A Basic Approach, M.N. Ozizik, McGraw Hill, 1985.
[2] Chemical Engineers Handbook, R.H. Perry and C.H. Chilton, 6th Ed., McGraw Hill,
1984.
[3] Fundamentals of Heat and Mass Transfer, F.P. Incropera and D.P. De Witt, John Wiley &
Sons, 1990.
[4] Transport Phenomena, R.B. Bird, W.E. Stewart and E.N. Lightfoot, John Wiley & Sons,
1960.
[5] Convection Heat Transfer, A. Bejan, John Wiley & Sons, 1984.

Transferência de Massa 25 João Luís Toste de Azevedo

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