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A LDB/96 E A QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO:

COM A PALAVRA OS DOCENTES DA REDE


PÚBLICA DE BELO HORIZONTE

Antonio Luiz Marques1


Renata Simões Guimarães e Borges2
Ronara Dias Adorno3

Resumo

Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa acerca da percepção de profes-


sores de escolas públicas, quanto à Qualidade de Vida no Trabalho, após a Reforma
do Ensino de 1996. Trata-se de uma pesquisa descritiva, que adotou a estratégia de
estudo comparativo de casos, em um enfoque qualitativo-quantitativo. O instrumento
de coleta de dados explora três categorias de variáveis: dimensões da tarefa, integração
indivíduo-organização, e fatores organizacionais. Foram realizadas vinte entrevistas
semi-estruturadas e aplicados 142 questionários. Concluiu-se que os professores estão
moderadamente satisfeitos com a QVT geral. Em relação às dimensões da tarefa e a
interação indivíduo-organização os professores demonstraram satisfação moderada. A
categoria fatores organizacionais demonstrou insatisfação dos professores com as inade-
quadas condições de trabalho e sua crescente desvalorização. Diferenças significativas
entre as escolas foram observadas na interação indivíduo-organização. A remuneração,
a atuação do Governo e do sindicato revelaram-se as maiores fontes de insatisfação.

Palavras-chave: Administração pública. Administração de recursos humanos.


Qualidade de vida no trabalho.

1. INTRODUÇÃO

As mudanças no processo produtivo, impulsionadas pelas novas tecnologias,


passaram a exigir maior formação do trabalhador. Considerado peça-chave no
1
Doutor em Administração pela Aston Business School. Professor Associado do departamento de Ciências Administrativas da
Universidade Federal de Minas Gerais - CEPAD/UFMG. Universidade Federal de Minas Gerais. Endereço: Rua Curitiba, 832, 11º
andar, Centro, Belo Horizonte, MG, CEP 30170-120. E-mail: marques@face.ufmg.br.
2
Mestre em Administração de Empresas pelo CEPAD/UFMG. Universidade Federal de Minas Gerais. Endereço: Rua Tomé de Souza,
1355, Apto. 201, Savassi, Belo Horizonte, MG, CEP 30140-131. E-mail: rsg@cepead.face.ufmg.br.
3
Mestre em Administração de Empresas pelo CEPAD/UFMG. Universidade Federal de Minas Gerais. Endereço: Rua Curitiba, 832
- sala 1107, Centro, Belo Horizonte, MG, CEP 30170-120. E-mail: rda@cepead.face.ufmg.br. Artigo recebido em: 27/03/2006.
Aceito em: 28/02/2007. Membro do Corpo Editorial Científico responsável pelo processo editorial: Prof. João Nilo Linhares

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desenvolvimento organizacional, passou a ser mais valorizado em processos de


seleção e recrutamento para o mercado de trabalho, fazendo retornar à escola
um significativo contingente populacional dela afastado, incluindo adolescentes
que aspiram a trabalhar.
A partir das últimas modificações legais no sistema de ensino brasileiro,
iniciadas em 1996 com a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
- LDB, houve um relevante incremento quantitativo nos sistemas de ensino. A
oferta de vagas foi ampliada e, com o esforço do Governo em prol da melhoria da
qualidade do Ensino Fundamental, os índices de repetência e evasão nesse nível
de escolaridade foram reduzidos, resultando em acesso ao Ensino Médio por um
maior contingente de alunos.
Tendo em vista a necessidade de atendimento à demanda e de cumprimento
do disposto no contexto legal, uma série de mudanças internas passou a ser im-
plementada nas escolas públicas, afetando as relações entre seus diversos seg-
mentos e atribuindo novos papéis principalmente ao professor, cuja participação
nas decisões pedagógicas foi assegurada por lei, nos termos do art. 13, inciso I
da LDB (BRASIL, 1996), trazendo-lhe sobrecarga de trabalho, na forma de mais
reuniões para planejamento e tomada de decisões. Além disso, a forte pressão de
que se tornou alvo, objetivando maior eficiência em sua prática pedagógica e no
cumprimento das exigências legais, sem a contrapartida correspondente, seja em
termos de condições físicas e materiais oferecidos pela escola, seja em termos de
adequada remuneração e valorização de seu trabalho, acarretaram em conseqüên-
cias negativas para o professor, tais como a redução de seu espaço de vida fora do
trabalho e seu maior desgaste físico e mental.
Considerando as grandes mudanças que a reforma do ensino, consubstanciada
na LDB, representou para a comunidade escolar, justifica-se o intuito de adentrar
a realidade de estabelecimentos de Ensino Médio e dar voz a seus atores, para que
manifestem sua percepção a respeito da própria qualidade de vida no trabalho, abor-
dando variáveis relacionadas com o conteúdo das tarefas que desenvolvem, com sua
integração com a organização escolar e com os diversos fatores organizacionais e
ambientais com que interagem.
O ensino público no Brasil em sido claramente discriminado pela população,
situação evidenciada ao averiguarmos índices obtidos pelo INEP como número de
alunos por turma (em média 37, contra 32 na escola privada), salários (média nacio-
nal de R$ 866,00 no Ensino Médio), jornada de trabalho (24% cumprem jornada de
mais de 40 horas semanais) e existência de bibliotecas (80% das funções docentes
da rede privada atuam em escolas com biblioteca, na rede pública esse índice é de
55%), laboratórios de informática (relação de 64% versus 26%) e de ciências (46%
na privada contra 20% na pública).

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Esta pesquisa foi realizada em duas escolas públicas, uma da rede estadual e
outra da rede municipal, de um Estado da região Sudeste. Segundo dados do INEP,
em relação ao total do Brasil, o Estado responde por 10,32% das matrículas na rede
estadual e 16,76% na rede municipal; 10,61% das funções docentes na estadual e
15,23% na municipal; e possui 10,99% dos estabelecimentos estaduais de ensino e
10,49% dos municipais.

2. QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO – QVT

Estudos específicos sobre QVT iniciaram-se, na década de 50, sendo um dos


pioneiros Eric Trist e seus colaboradores no Instituto Tavistock de Londres. Na
década seguinte tais estudos são impulsionados por cientistas e dirigentes inte-
ressados em melhores formas de realizar o trabalho, admitindo a conscientização
dos trabalhadores e o aumento da responsabilidade social da empresa. O conceito,
além de englobar aspectos legais de proteção ao trabalhador, atendimento a suas
necessidades, humanização do trabalho e responsabilidade da empresa de conceder
condições favoráveis ao trabalhador para o cumprimento das tarefas, inclui aspectos
tecnológicos, psicológicos e sociológicos.
As empresas, conscientes de que esta pode se tornar uma ferramenta confiável
para avaliar a eficácia das políticas e práticas de gestão de pessoas, buscam a melhoria
da produtividade sem prejuízo da qualidade de vida no trabalho. Além do conhecimen-
to técnico individual, percebem que outros importantes diferenciais são a motivação,
a satisfação e o comprometimento dos empregados. Todavia, o que parece faltar é a
adequação dos modelos de QVT à realidade específica de cada organização e uma
maior consciência do seu real valor, já que, aplicada fora dos seus moldes teóricos
e por razões alheias às que lhe deram origem, acaba sendo questionada por grupos
que a identificam como uma forma sutil de controle dos empregados, no intuito de
aumentar a produtividade da empresa.
Este referencial teórico apresenta a síntese dos principais modelos clássicos de
QVT, bem como algumas pesquisas realizadas no país.

2.1 Walton (1973)

O foco da concepção de Walton (1973) é o equilíbrio entre trabalho e espaço


total de vida do trabalhador. Segundo essa abordagem, a experiência de trabalho de
um indivíduo pode ter efeito negativo ou positivo sobre outras esferas de sua vida
tais como suas relações com sua família. Esse autor apresenta oito variáveis inter-
relacionados que afetam a QVT:

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a) compensação justa e adequada: diz respeito à adequação do salário recebido pelo


trabalhador e à avaliação da eqüidade dessa remuneração;
b) segurança e saúde no trabalho: relaciona-se à jornada de trabalho, aos horários,
ao tipo de trabalho desenvolvido, à sua organização e aos aspectos físicos que podem
interferir e ser prejudiciais à saúde do trabalhador;
c) oportunidade imediata de uso e desenvolvimento das capacidades humanas:
contempla aspectos pertinentes à autonomia, autocontrole, múltiplas habilidades
e conhecimentos, informações sobre o processo de trabalho, tarefas completas e
planejamento;
d) oportunidade futura de crescimento profissional e garantia de trabalho: refere-
se a aspectos ligados à carreira, tais como desenvolvimento pessoal, aplicação dos
conhecimentos e habilidades em atribuições futuras, oportunidades de progresso na
organização e estabilidade do emprego;
e) integração social na organização: diz respeito à descaracterização de grandes
desníveis hierárquicos, ausência de preconceitos, mobilidade permitida para acesso
a níveis mais altos na hierarquia, reforço ao espírito de colaboração, senso de co-
munidade e abertura no relacionamento interpessoal;
f) constitucionalismo: refere-se ao conjunto de normas, regras e princípios organiza-
cionais que estabelecem os direitos e deveres do trabalhador em caráter de igualdade.
Tem como principais variáveis a liberdade de expressão, a eqüidade, a privacidade
e o tratamento com justiça em todos os aspectos do trabalho;
g) equilíbrio trabalho e espaço total da vida: relaciona-se à conciliação entre os
compromissos de trabalho, espaço familiar e de lazer do trabalhador;
h) relevância social do trabalho: enfoca a imagem da empresa e sua responsabilidade
social perante a sociedade, variáveis que podem afetar a auto-estima do trabalhador.

Embora este seja um dos mais abrangentes modelos de QVT, razão pela qual
embasou grande parte desta pesquisa, Walton (1973) não considera aspectos como
participação e a influência do ambiente econômico, político ou social.

2.2 Hackman e Oldham (1975)

O modelo de Hackman e Oldham (1975) relaciona o conteúdo do cargo à mo-


tivação do indivíduo. Este modelo parte do princípio de que a QVT está ancorada
nas características básicas da tarefa, e considera três estados psicológicos críticos
experimentados pelo indivíduo em sua relação com o trabalho, os quais são deter-
minantes da satisfação e da motivação nessa relação, podendo resultar na realização
pessoal e profissional: significado do trabalho, percepção da responsabilidade pelos
resultados e conhecimento dos resultados do trabalho.

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Para que os estados psicológicos sejam atingidos, Hackman e Oldham (1975)


elegeram sete critérios desejáveis na composição de uma tarefa denominados Dimen-
sões da Tarefa. Na visão dos autores é a chave para que a tarefa possa ser medida
objetivamente e alterada de forma a apresentar potencial para motivar as pessoas a
executá-la. Tais dimensões são:

a) variedade de habilidades e talentos exigidos na realização da tarefa;


b) identidade da tarefa, significando o grau em que é exigida a execução de um
trabalho completo;
c) significado da tarefa, o impacto que ela exerce na vida ou no trabalho de outras
pessoas;
d) inter-relacionamento;
e) autonomia, independência e liberdade para programar o próprio trabalho;
f) feedback intrínseco, informações claras e diretas sobre a efetividade de seu de-
sempenho;
g) feedback extrínseco, informações sobre seu desempenho advindas dos colegas
e superiores.

O modelo também compreende resultados pessoais e de trabalho, referentes


a satisfação e motivação com o trabalho, realização de trabalho com qualidade su-
perior, baixos índices de absenteísmo e rotatividade e ainda satisfações específicas
com relação à possibilidade de crescimento; supervisão; segurança no trabalho,
remuneração e ambiente social. A partir de suas descobertas, Hackman e Oldham
(1975) construíram o Job Diagnostic Survey – JDS, instrumento de coleta de dados
intensamente utilizado em pesquisas de QVT, que foi parcialmente utilizado nesse
estudo para compreender a relação do professor com o conteúdo do seu trabalho.

2.3 Westley (1979)

De acordo com a abordagem de Westley (1979), a maioria dos esforços em prol da


humanização do trabalho pode direcionar-se para a solução de um ou mais problemas
de natureza econômica, política, psicológica e sociológica, os quais acarretam como
conseqüências, respectivamente, a injustiça, a insegurança, a alienação e a anomia.
Os problemas de natureza econômica são detectados por meio de questões
como eqüidade salarial, remuneração, benefícios, local de trabalho, carga horária
e ambiente externo, acarretando em uma sensação de injustiça por parte dos traba-
lhadores. Os problemas de natureza política têm a ver com: questões relacionadas
a segurança no emprego, atuação sindical, retroinformação, liberdade de expres-
são, valorização do cargo e relacionamento com a chefia. Os problemas de ordem

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psicológica, por sua vez, se originam de questões relacionadas à realização pro-


fissional, desafio, desenvolvimento pessoal e profissional, criatividade, variedade
e identidade de tarefas. Por fim, os problemas na esfera sociológica resultam de
questões relativas à participação nas decisões, grau de responsabilidade, autonomia,
relacionamento interpessoal e valor pessoal. Estas são, portanto, variáveis chaves
a serem analisadas no caso dos professores.

2.4 Werther e Davis (1983)

A abordagem de Werther e Davis (1983) enfatiza a natureza do cargo, conside-


rando os fatores ambientais, organizacionais e comportamentais que, em conjunto,
influenciam o projeto de cargo e concorrem para a realização de um trabalho mais
produtivo e com maior satisfação.
O fator ambiental está voltado para o meio externo à organização, ou seja, para
aspectos sociais, culturais, históricos, competitivos, econômicos, governamentais
e tecnológicos. A respeito do fator organizacional, os autores destacam a eficiência
e a produtividade, formalizadas pela racionalização, envolvendo os propósitos e
objetivos da instituição, a organização de suas atividades, seus departamentos e
cargos. O fator comportamental, por sua vez, diz respeito às necessidades dos
trabalhadores, à sua motivação e satisfação, conglomerando quatro elementos
análogos aos do modelo de Hackman e Oldham (1975): autonomia, variedade,
identidade da tarefa e retroinformação.
Observa-se que a QVT é um tema bastante amplo e muitos especialistas e estudio-
sos se emprenharam em pesquisar conceitos e teorias pertinentes ao assunto. Baseando-
se em uma análise elaborada por França (1996), é possível observar que a pesquisadora
considerou os pontos relevantes para uma abordagem histórica, agrupando os conceitos
que envolvem a QVT de forma cronológica descritos no Quadro 1, a seguir.

Autor Definição Ênfase


Walton, 1973 Atendimento de necessidade humanas, Humanização e responsabilidade social
calcado na idéia de humanização e com foco no poder da empresa.
responsabilidade social.
Lippitt, 1978 Oportunidade para o indivíduo satisfazer Trabalho, crescimento pessoal, tarefas
a grande variedade de necessidades completas, sistemas abertos.
pessoais.
Ginzberg el Humanização do trabalho sob dois Posto individual de trabalho e poder
alii, 1979 aspectos: reestruturação do cargo e decisório.
grupos semi-autônomos.

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Autor Definição Ênfase


Druker, 1981 Avaliação qualitativa das condições Responsabilidade social da empresa
de vida incluindo atenção aos agentes nos movimentos sociais, culturais e
poluidores, barulho, estética, etc. políticos.
Werther e Esforços para melhorar a QVT Valorização dos cargos mediante
Davis, 1983 procurando tornar os cargos mais análises organizacionais e
produtivos e satisfatórios. comportamentais.
Nadler e Maneira de pensar a respeito das Visão humanista no ambiente de
Lawler, 1983 pessoas, participação na resolução de trabalho.
problemas, enriquecimento do trabalho,
melhoria do ambiente.

Berlanger, Proporcionar aos indivíduos melhores Condições de vida e cargos mais


1992 condições de vida e cargos mais satisfatórios.
satisfatórios para própria pessoa, com
reflexo na produtividade.

Camacho, Classificação de programas: orientação Foco motivacional: sobrevivência com


1995 familiar, saúde, ambiente, contato e dignidade, segurança e participação,
convívio, evolução – desenvolvimento, auto-realização e perspectiva de futuro.
cultura e desligamento.

Dantas, 1996 Gerência pela qualidade total: GQT, Foco: promoção da saúde: controle
utilização de 5s, diagrama de causa e do colesterol, da capacidade física e
feito e procedimentos da Qualidade aeróbica, de doenças coronárias.
Total nos programas de saúde.

Quadro 1 – Desenvolvimento do conceito de qualidade de vida no trabalho


Fonte: Adaptado de França (1996)

Em suma, os autores argumentam que existem situações de trabalho nas quais se deve
ir além do enriquecimento do cargo, mas enfatizam que a obtenção de altos níveis de QVT
pressupõe cargos bem projetados e a transposição das barreiras intervenientes, as quais
podem ser percebidas tanto no comportamento dos empregados e na ação dos sindicatos,
como nas resoluções da empresa, nos aspectos culturais e em mudanças tecnológicas.
Para superar essas barreiras, os autores sugerem comunicação eficiente da necessidade
de mudança e dos resultados esperados, assim como a participação no processo decisório
de gerentes-chave, dirigentes sindicais e empregados envolvidos. Constata-se que todos
os autores clássicos apresentados têm importantes contribuições para compreender o
contexto, o trabalho e as políticas de RH aplicadas aos professores.
No Brasil, o tema QVT continua despertando o interesse de diversos pesquisado-
res. O estudo de Marques e Moraes (2004), envolvendo estudantes de pós-graduação
da UFMG, indicou que os alunos com melhor percepção acerca de sua qualidade de

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vida no trabalho são também os que tiveram maior percepção da eficácia do treina-
mento para o desenvolvimento de novas estratégias de trabalho. Slongo e Bossardi
(2004) destacaram em sua pesquisa com empresas industriais, nas quais predomina
o foco no cliente, que a QVT tem impacto predominante nas variáveis de “Comuni-
cação”, “Compensação”, “Moral”, “Participação” e “Relação”.
Desenvolvendo uma pesquisa junto a uma Pastoral da Criança, Carvalho e
Souza (2003) constataram que esses trabalhadores, de um modo geral, têm uma
QVT satisfatória, com potencial de melhoria em aspectos de trabalho relacionados
às dimensões autonomia e feedback. Silva e Matos (2003), por sua vez, em estudo
longitudinal de dois anos realizado em empresa de industrialização de castanha,
identificaram melhorias significativas no desempenho dos empregados da organi-
zação, tais como a diminuição do retrabalho e menores perdas, devido a programas
de QVT aplicados no setor de produtividade.
Denota-se que tal tema, apesar de bastante explorado, está longe de estar esgotado
e ainda representa desafios para a administração de pessoal, principalmente no que tange
ao desconhecimento sobre seu real conceito e sobre os benefícios para a organização e
o indivíduo, uma das principais barreiras com que os programas de QVT deparam.

3 METODOLOGIA

O objetivo geral desta pesquisa foi identificar a percepção dos professores de


escolas públicas de Ensino Médio de uma grande capital da região Sudeste quanto à
QVT. Para atingir o objetivo geral, realizou-se uma pesquisa de campo de natureza
descritiva, em um enfoque tanto qualitativo quanto quantitativo. Esta combinação
de métodos para o estudo de um mesmo fenômeno, denominada por alguns autores
como triangulação (JICK, 1979; CRESWELL, 1994), visa a tornar as descobertas
mais compreensíveis, contribuindo para a validade dos dados e para o enriquecimento
da análise, por meio das novas ou mais profundas dimensões que emergirem.
A estratégia escolhida foi o estudo de caso, o que, segundo Yin (2001), tem
caráter de profundidade e detalhamento, cujo objetivo é uma generalização analítica
expandindo teorias e não uma generalização estatística. Para conhecer a realidade
de duas organizações, desenvolveu-se um estudo de casos múltiplos.
O universo dessa pesquisa é constituído pelos professores do Ensino Médio
de escolas públicas, que totalizam 5.276 professores. Para nortear a escolha, foram
adotados os critérios que Vergara (2000) denomina de acessibilidade e tipicidade,
seguindo as etapas:

a) apuração do número total de escolas públicas da rede municipal e da rede estadual


da capital pesquisada;
b) seleção das escolas que oferecem Ensino Médio geral;

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c) seleção das escolas que tinham data de fundação anterior a 1994;


d) seleção das escolas localizadas na região centro-sul da cidade;
e) seleção das escolas com maior número de professores no Ensino Médio;
f) autorização da diretoria das escolas para a execução da pesquisa.

Assim, foram selecionadas a Escola Estadual GMC, com 200 professores em


atividade, e a Escola Municipal MC, com 70 professores no Ensino Médio.
A coleta dos dados qualitativos foi realizada por meio de entrevistas semi-
estruturadas com dezoito professores. As entrevistas com os professores visam obter
informações acerca da percepção dos professores sobre as mudanças ocorridas na
escola após a Reforma do Ensino de 1996 e sobre variáveis de QVT incidentes so-
bre o trabalho docente. Outra técnica utilizada para a coleta dos dados qualitativos
foi a observação, no intuito de complementar ou mesmo confrontar as informações
fornecidas nas entrevistas. Os dados quantitativos foram coletados mediante a uti-
lização de questionário composto de 110 perguntas fechadas, em escala intervalar
do tipo Likert, de cinco pontos, possibilitando aos respondentes indicar seu grau de
concordância ou de satisfação com cada uma das afirmações relacionadas à QVT.
Para a validade do conteúdo, foi realizado pré-teste do questionário com oito
elementos da amostra, averiguando: clareza e adequação da linguagem, existência
de ambigüidades e inconsistências, seqüência e relevância das perguntas, além de
nova checagem do referencial teórico, evitando omitir qualquer dimensão que possa
incidir sobre a QVT docente.
Os questionários foram distribuídos à totalidade da amostra, ou seja, 200 pro-
fessores na escola estadual e 70 professores na municipal, obtendo retorno de 53%.
Conforme recomendação de Malhotra (2001) foi verificado se o número de casos por
variável ultrapassava o mínimo recomendável (quatro a cinco). Como quantitativo
de respondentes do questionário totalizou 142, e o número de variáveis é igual a 22,
obteve-se uma relação de 6.45 (142/22), portanto, acima do mínimo recomendável.
Com o intuito de determinar um número mínimo de fatores que respondesses pela
máxima variância dos dados, utilizou-se a análise fatorial observando os resultados
positivos do Teste de Esfericidade de Barlett e da Medida de Adequação da Amostra
de Kaiser-Meyer-Olkin. Os resultados apresentaram KMO maior que 0.5, além de
altos valores do Teste de Esfericidade de Barlett, acompanhados de significância
igual a zero para todas as categorias de variáveis analisadas.
A confiabilidade da consistência interna do questionário foi avaliada por meio
do teste Alfa de Cronbach, o qual demonstra se as variáveis estão agrupadas ade-
quadamente nas respectivas categorias. Todos os valores obtidos foram acima do
mínimo recomendável por Malhotra (2001), que é 0.6.
A Parte I do questionário é composta por questões relativas ao perfil da amostra:
dados pessoais, ocupacionais e econômicos. A Parte II compõe-se de questões relativas

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à categoria dimensões básicas da tarefa do modelo de Hackman e Oldham (1975), sendo


analisadas as variáveis: variedade de habilidades, identidade da tarefa, significado da
tarefa, inter-relacionamento, autonomia, feedback extrínseco e feedback intrínseco. A
Parte III compreende questões sobre a categoria interação indivíduo-organização,
baseadas no modelo de Walton (1973), sendo analisadas as variáveis: compensação
justa e adequada; segurança e saúde no trabalho; oportunidade de uso das capacidades
humanas; oportunidade de crescimento profissional; integração social; constituciona-
lismo; equilíbrio trabalho e vida; e relevância social do trabalho. A Parte IV aborda a
categoria fatores organizacionais e ambientais de acordo com as abordagens de QVT
de Westley (1979) e de Werther e Davis (1983). Do modelo de Westley (1979) foram
analisadas as variáveis: segurança no emprego, realização profissional, atuação sindical
e participação. Do modelo de Werther e Davis (1983) foram analisadas as variáveis:
organização escolar, atuação do Governo e interação com outras instituições.
Os dados qualitativos foram tratados pelo método de análise do conteúdo (BAR-
DIN, 1977), sendo observadas as três fases recomendas por esta autora: pré-análise,
análise/exploração dos dados e tratamento dos resultados.
Para o estudo da diferença entre os dois grupos pesquisados (amostras indepen-
dentes) em relação a cada variável, utilizou-se o teste U de Mann-Whitney, um dos
mais poderosos testes não-paramétricos, usado para um grau de mensuração pelo
menos ordinal (SIEGEL, 1977; MALHOTRA, 2001). Os resultados foram conside-
rados significativos para uma probabilidade de significância inferior a 5% (p < 0,05),
garantindo, portanto, pelo menos 95% de confiança nas conclusões apresentadas.
Os escores para avaliação dos níveis de QVT da amostra são: médias entre 1
e 2,9 indicam QVT insatisfatória ou baixa; médias entre 3 e 3,9, QVT normal ou
moderada e entre 4 e 5, QVT satisfatória ou alta.

4 OS RESULTADOS

O perfil da amostra, após a análise dos dados coletados, revelou as seguintes


características: predominam representantes da escola estadual, com equilíbrio quanti-
tativo entre os sexos e os turnos de atuação. A faixa etária que prevaleceu foi acima de
41 anos e a maior parte dos respondentes declarou não ter dependentes. Predominam
os indivíduos com especialização, com experiência profissional superior a 24 anos
e até quatro anos de exercício na escola pesquisada. A maioria ocupa cargo efetivo
e cumpre jornada de trabalho de 20 a 40 horas semanais; dedicando de 4 a 6 horas
semanais a assuntos pedagógicos e administrativos. O salário pelo cargo ocupado
na escola, na maior parcela da amostra, varia de R$1.000,00 a R$1.500,00. Como
a maior parte da amostra possui outra fonte de renda, o rendimento total se eleva,
predominantemente, para a faixa de R$1.500,00 a R$2.000,00.

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Os professores que constituíram a amostra demonstraram satisfação moderada


quanto à sua QVT, visto se apurou média geral 3,0. As categorias dimensões bá-
sicas da tarefa e interação indivíduo-organização apresentaram níveis moderados
de satisfação (3,2 e 3,0 respectivamente), e a categoria fatores organizacionais e
ambientais revelou insatisfação da amostra (média 2,7).
Não se observou diferença estatisticamente significativa (p>0,05) entre as duas
escolas, visto ter sido o valor de p para a QVT geral igual a 0,317. As duas escolas
apresentaram moderada satisfação quanto às categorias dimensões básicas da tarefa
e interação indivíduo-organização. Com relação à categoria fatores organizacionais
e ambientais, as duas escolas apresentaram insatisfação.
Com base no modelo de Hackman e Oldham (1975), evidenciou-se moderada
satisfação dos professores no que se refere às Dimensões básicas da tarefa (média
geral 3,2), sem diferença estatisticamente significativa entre as escolas quanto ao geral
dessa categoria. O GRAF. 1 mostra que, ao abordarmos separadamente as sete vari-
áveis deste modelo, os professores estão moderadamente satisfeitos (média entre 3,0
e 3,9), sem diferenças entre os grupos, no que se refere a: variedade de habilidades,
significado da tarefa, autonomia e inter-relacionamento. A satisfação dos docentes
também é moderada quanto à identidade da tarefa e ao feedback extrínseco, porém,
com diferenças estatisticamente significativas entre as escolas. Quanto a essas duas va-
riáveis, a escola municipal mostrou-se menos satisfeita que a estadual. Nessa categoria,
evidenciou-se insatisfação (média entre 1,0 e 2,9) dos professores das duas escolas,
sem diferenças significativas, apenas quanto à variável feedback intrínseco.

Gráfico 1 – Síntese da categoria dimensões básicas da tarefa, por escola e total


Fonte: Dados da pesquisa

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Quanto à variedade de habilidades, os docentes admitiram consensualmente


que a natureza do trabalho que realizam exige um alto grau de habilidades e de
talentos. Ser professor exige estar atento e receptivo às mudanças da sociedade,
às necessidades educacionais e às do meio produtivo. Apontaram também como
habilidades essenciais a criatividade no planejamento das aulas, todavia, os pro-
fessores têm tido dificuldades para executá-las na prática devido à precariedade
das condições de trabalho.
Com relação à identidade da tarefa, foi reiteradamente manifestado o entendi-
mento de que a falta do trabalho do professor não ter início meio e fim claramente
definidos, dificulta o sentimento de identificação com a tarefa realizada. De acordo
com os entrevistados, o trabalho do professor está relacionado ao processo educacio-
nal como um todo, inclusive no que tange à vida familiar do indivíduo, cuja educação
se inicia no lar. Portanto, a tarefa do professor “dá continuidade a conhecimentos
que o aluno adquiriu anteriormente” (E16).
No que tange ao significado da tarefa, parte expressiva dos professores externou
o ponto de vista de que, por serem profissionais formadores de opinião, suas tarefas
exercem um impacto significativo na vida dos alunos:

A gente tem que prestar muita atenção no que a gente diz e no que a
gente faz dentro da sala de aula. Eu acho que a gente tem esse poder
de persuadir a maior parte dos alunos e de influenciar mesmo. Eu
acho que os alunos se modificam muito mais do que a gente pode
imaginar. Inclusive acho que ele pode estar agindo no próprio meio
familiar em que ele vive. (M17).

Percebeu-se que um dos fatores que afetam a percepção dos professores sobre
a significação da tarefa que realizam é o comprometimento do aluno com sua apren-
dizagem. Ou seja, quando o aluno se interessa mais pela obtenção do diploma do
que por seu aprendizado efetivo, esse descompromisso reduz o nível de influência
da tarefa do professor em sua vida.
Quanto ao grau de inter-relacionamento da tarefa docente, percebeu-se no
discurso dos professores que esse aspecto poderia ser mais satisfatório, caso os
professores não enfrentassem tantas dificuldades de colaboração e cooperação
por parte dos alunos. Os professores alegaram que a convivência com indivíduos
na fase da adolescência, a cultura dos alunos, seus problemas familiares, a falta
de compromisso e a ausência de limites representam obstáculos à cooperação
e colaboração por parte deles. Os entrevistados da escola municipal revelaram
maior insatisfação nesse aspecto. Um dos entrevistados comentou que “os alunos
estão sem limites. Não existe uma norma de comportamento, e isso tem dificulta-

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Antonio Luiz Marques • Renata Simões Guimarães e Borges • Ronara Dias Adorno

do a relação” (M12). Observações da pesquisadora durante o período de coleta


de dados evidenciaram situações de conflitos graves e de tensão entre alunos e
professores da escola municipal.
Com relação à autonomia, evidenciou-se sua existência mais no trabalho
dentro de sala de aula do que na escola em geral. Parte dos entrevistados decla-
ram se sentir limitados em sua ação pelos Parâmetros Curriculares Nacionais
- PCN. Percebe-se, entretanto, que, com criatividade e talento, o professor tem
tido condições seja de flexibilizar certos conteúdos, aprofundando-os um pouco
mais em uma ou outra área, seja de criar novas práticas e, dessa forma, aumentar
sua autonomia no aspecto pedagógico. Também quando se parte para o coletivo,
ou seja, para a escola como um todo, o nível de autonomia esbarra em restrições
relativas às normas governamentais e a padrões burocráticos pré-estabelecidos.
Houve ainda durante as entrevistas menção ao cerceamento da autonomia do
professor, em virtude do modelo de gestão e liderança da escola, isto é pela
liberdade de ação que o diretor estabelece.
Os professores revelaram ainda que o feedback extrínseco que obtêm em relação
ao seu trabalho advém dos colegas e dos alunos. Os entrevistados deixaram transpa-
recer que, mesmo com todas as dificuldades, frustrações e problemas financeiros, é o
retorno do aluno que lhes dá motivação para continuarem no processo educacional.
A ausência de comentários dos entrevistados a respeito os diretores indica que os
professores se ressentem da ausência de feedback de seus superiores, ou não o julgam
relevante para sua QVT.
Já o feedback intrínseco pode ser obtido, segundo os entrevistados, mediante
o desempenho dos alunos, ou seja, quando conseguem produzir algo relevante, e
o auto-aprendizado que o próprio trabalho lhes oferece. Sob esse ponto de vista,
o trabalho do professor possibilita-lhe fazer uma reflexão sobre os resultados não
atingidos e aprimorá-lo a partir daí.
De acordo com o modelo de Walton, os professores apresentaram mode-
rada satisfação com a categoria Interação indivíduo-organização (média 3,0),
sem diferenças significativas entre as escolas. A análise de cada variável dessa
categoria, sintetizada no Gráfico 2, revelou moderada satisfação (média entre
3,0 e 3,9) dos docentes quanto a duas das oito variáveis que a compõem, sem
diferenças significativas entre as escolas: segurança e saúde e oportunidade de
uso das capacidades humanas.

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A LDB/96 e a qualidade de vida no trabalho: com a palavra os docentes da rede pública de Belo Horizonte

Gráfico 2 – Síntese da categoria Interação indivíduo-organização, por escola e total


Fonte: Dados da pesquisa

Os professores apresentaram igualmente satisfação moderada quanto às variá-


veis: integração social; constitucionalismo; relevância social do trabalho; equilíbrio
trabalho e vida, porém, com diferenças significativas entre as escolas. Os docentes
da municipal revelaram-se mais satisfeitos que os da estadual quanto às variáveis:
integração social; constitucionalismo e equilíbrio trabalho e vida. Os professores
estaduais declararam-se mais satisfeitos que os da municipal quanto ao aspecto
relevância social do trabalho.
Nessa segunda categoria de variáveis, a insatisfação (média entre 1,0 e 2,9) dos
professores manifestou-se forma acentuada com relação aos aspectos compensação
justa e adequada; e oportunidade de crescimento profissional, observando-se, em
ambos os casos, diferenças significativas de percepção entre os professores munici-
pais, menos insatisfeitos que os estaduais.
Há mais de dez anos sem aumento, os professores estaduais, principalmente,
se vêem obrigados a cumprir jornada dupla ou tripla de trabalho, reduzindo seu
tempo para a família e o lazer, além de dificultar a realização de projetos pessoais
futuros. A baixa remuneração dos professores da rede pública repercute na sua
imagem: sem condições financeiras, descuida-se da aparência pessoal. Essa atitude
é observada pelos alunos, que deveriam ver no professor uma imagem na qual pu-
dessem se espelhar: “Aluno não agüenta ver professor bagunçado, professor que
está vindo maltrapilho para a escola” (M12). Um dos entrevistados exemplifica
sua indignação, citando exemplos de colegas:

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Antonio Luiz Marques • Renata Simões Guimarães e Borges • Ronara Dias Adorno

Eu vejo que tem muito professor passando fome. Mas é fome mes-
mo! Professor que deixa de comer pão para o filho comer. O professor
precisa ganhar para poder trabalhar com dignidade, ter entusiasmo de,
pelo menos, falar que é professor. Os professores daqui sentem ver-
gonha de falar que são professores. Os alunos não querem nunca ser
professores, isso é o mais lamentável. [...] Tem professor aqui que está
passando necessidade. Tem professor que não tem condições de arrumar
os dentes, de cuidar da sua própria saúde. O professor tem que ser o cartão
de visita na sala de aula, o aluno observa isso. [...] Eu vejo professoras
com as pernas cheias de varizes, cheias de veias arrebentadas e precisan-
do de uma cirurgia. Algumas sem condições de ficar em pé, por causa
da aula. Então é caótica a situação (nesse ponto a entrevistada chega a
se emocionar). Eu sou um ser humano, eu tenho que trabalhar com
dignidade! Eu sou digna de respeito! (E14, grifo da autora)

No que tange à segurança e saúde no trabalho, os professores da escola municipal


pesquisada revelaram maior insatisfação quanto à infra-estrutura da escola e elevado
quantitativo de alunos dentro de sala. Já os da escola estadual indicaram a jornada de
trabalho como sua maior fonte de insatisfação. A questão da integridade física na sala
de aula está, para muitos professores, associada à agressividade que os adolescentes
vêm apresentando nos últimos tempos. Os professores sentem que se trata de um
problema extra-muros, como exemplificado pelo depoimento que se segue:

Não é um problema que está dentro da escola. Ele está fora da escola, ele
veio para a escola. Muitas vezes, você tem até que sair da sala de aula para
poder se livrar de uma pior. A gente tem que ter um jogo de cintura muito
grande, se quiser ter integridade física. E, muitas vezes, fazer vista grossa
para determinados comportamentos dos alunos, porque, se você bater de
frente com eles não tem jeito, você vai acabar saindo perdendo. (M17)

Quanto à oportunidade de uso das capacidades humanas, as entrevistas eviden-


ciaram que limitações alheias ao controle do professor interferem em sua motivação.
Os professores da escola estadual justificaram seu ponto de vista alegando que perdem
muito tempo em coisas que não vão dar em nada, como discussão de projetos e planos
e enumeraram a inadequação do Plano de Carreira e as más condições de trabalho como
dificultadores do uso de suas habilidades, sintomas do desinteresse dos órgãos públicos.
Os professores municipais citaram as condições insatisfatórias de trabalho, a remunera-
ção insuficiente, a ausência de retorno, o desinteresse do aluno e o desgaste do dia-a-dia
como fatores que minimizam o uso e o desenvolvimento de suas capacidades.
Já quanto à oportunidade de crescimento e garantia profissional foram consta-
tadas limitações, tais como o mau funcionamento dos instrumentos existentes para a
progressão na carreira. As entrevistas indicaram que a insatisfação dos professores da
escola estadual está intrinsecamente relacionada ao Plano de Carreira da categoria, vis-

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A LDB/96 e a qualidade de vida no trabalho: com a palavra os docentes da rede pública de Belo Horizonte

to com desconfiança pelos professores dessa escola, que o consideram um instrumento


estático, a não ser que o professor se candidate a diretor. Os professores demonstram
interesse por seu desenvolvimento pessoal, porém, não vislumbram possibilidade de
conquistas nesse sentido, sem que haja incentivo financeiro: “É o professor que tem
que estudar por conta própria. E a gente ainda ouve falar que tudo no ensino é culpa
do professor. É uma categoria desprestigiada e explorada” (M7).
Os professores da escola municipal declararam maior satisfação com a integra-
ção social que os da estadual, onde se constatou haver desunião e falta de apoio mútuo
entre os professores. Na percepção dos professores da escola estadual pesquisada,
não há trabalho coletivo, não há união, a diretoria é distante, e os relacionamentos
são reduzidos. Por outro lado, destaca-se na escola municipal a boa vontade entre
os colegas, como exemplificado pelo seguinte depoimento:

No que diz respeito à escola, eu acho toda a equipe magnífica. O pessoal


é muito solidário, muito amigo. Eu adoro os meus colegas de trabalho.
Acho que a equipe toda é muito harmoniosa, muito solidária. Se depen-
desse só deles, isso aqui seria o paraíso (M11).

No que se refere ao constitucionalismo, os professores da escola estadual revela-


ram perceber limites quanto à sua liberdade de expressão. Além disso, mostraram-se
descrentes com relação ao atendimento de suas reivindicações, considerando que suas
manifestações não vão resultar em melhorias para a categoria profissional. Os professo-
res municipais não vivenciam discriminação nem retaliações na escola onde lecionam.
Avaliaram como justo e igualitário o tratamento que lhes é dispensado no que se refere
à liberdade de expressão e ao respeito aos direitos individuais. De modo geral os profes-
sores participantes da pesquisa demonstraram desistência de lutar por seus direitos.
Quanto a variável equilíbrio entre trabalho e vida, os professores revelaram a
percepção de que esse aspecto fica comprometido, devido à necessidade de cumpri-
rem carga horária elevada para complementação da renda, tirando-lhes o tempo que
deveria ser destinado à família e a atividades de lazer. Assim, o professor parece estar
renunciando a algo que é seu por direito. Sem tempo para atividades físicas, o professor
acaba por se tornar uma pessoa amarga, insatisfeita, o que acaba sendo transferido
para seu dia-a-dia com os alunos, principais receptores do humor do professor:

O professor precisa de lazer, precisa ter aparência, precisa ter pique. Se ele
não tem lazer, se não tem qualidade de vida, ele não vai trazer satisfação
para a sala de aula. Ele vai ficar aquele professor amargo. (E14)

As entrevistas revelaram ainda a percepção dos professores de que a escola pú-


blica perdeu muito de sua relevância social em relação ao passado. Para os entrevis-
tados, embora o professor seja um indivíduo formador de opinião, é um profissional

Revista de Ciências da Administração • v. 10, n. 20, p. 72-94, jan./abr. 2008 85


Antonio Luiz Marques • Renata Simões Guimarães e Borges • Ronara Dias Adorno

que passou a ocupar posição secundária na sociedade, perdendo importância e status


em relação a outras profissões. Dessa maneira, apesar de sua relevância social para
a sociedade, a escola tem sua imagem social ruim avaliada pelos entrevistados, em
um paradoxo difícil de ser revertido em curto prazo.
A análise da categoria Fatores organizacionais e ambientais, baseou-se nas
abordagens de Werther e Davis (1983) e Westley (1973). Foi possível concluir que
há insatisfação generalizada dos professores da amostra (média geral 2,7), sem di-
ferença significativa entre as escolas, quanto a esse aspecto.
Ao examinar cada variável separadamente, observou-se que os professores se sen-
tem moderadamente satisfeitos (média entre 3,0 e 3,0) no que se refere à organização
escolar e à realização profissional, sem diferenças significativas entre as escolas.
Quanto às variáveis atuação governamental; interação com outras instituições
e segurança no emprego foi apurada a insatisfação (média entre 1,0 e 2,9) dos pro-
fessores, sem diferenças significativas entre os dois grupos. Os professores também
se mostraram insatisfeitos em relação às variáveis atuação sindical e participação,
com diferenças significativas entre as duas escolas, visto que em ambas a insatisfação
dos professores estaduais superou a dos municipais.

Gráfico 3 – Síntese da categoria Fatores Organizacionais e Ambientais, por


escola e total
Fonte: Dados da pesquisa

Tomando por base os depoimentos, observou-se que a percepção dos entrevistados


é de que a burocracia da organização escolar, embora prejudicial, existe e é necessária

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A LDB/96 e a qualidade de vida no trabalho: com a palavra os docentes da rede pública de Belo Horizonte

na rede de ensino como um todo e não no âmbito da escola. Os entrevistados relataram


descompassos entre a parte administrativa e a pedagógica, falhas na comunicação
entre escola e Secretaria de Ensino e lentidão na solução de problemas.
A pesquisa destacou que os maiores entraves à eficácia das políticas públicas
para a educação são a descontinuidade administrativa e a dificuldade de colocar
em prática as leis educacionais, em virtude da situação financeira das escolas pú-
blicas. Ao considerarem esses aspectos, revelaram o entendimento de que a LDB
não trouxe benefícios para o trabalho docente e, sim, mais tarefas e responsabili-
dades. Os entrevistados não perceberam mudanças na gestão da escola ou em suas
estruturas física e social, ou na valorização do professor, após a homologação da
LDB. De acordo com as entrevistas, a LDB é inviável de ser aplicada na prática,
percepção mais acentuada nas entrevistas dos professores da escola municipal,
como ilustra o relato seguinte:

Hoje eu tenho uma consciência mais clara, mais profunda de que todas
as propostas na área do Estado são meramente cosméticas. Você tem um
discurso de propostas, de renovação curricular, de renovação pedagógi-
ca, de novos métodos de avaliação, daquela coisa toda, mas, ao mesmo
tempo, o concreto, o material, o motivacional do profissional continua
na mesma situação precária e só vem se deteriorando. (M17)

Demonstrando desinteresse em relação a LDB, a percepção dos entrevista-


dos é de que se trata de uma Lei “bonita no papel, mas, na prática, a realidade é
outra” (E1), “utópica” (E4), “não atende à necessidade da educação” (E3), “a
gente ouve falar, mas não mudou nada” (E15). Na visão dos diretores das escolas
pesquisadas, a LDB teve impacto na autonomia da escola, mas não no trabalho do
professor. Os diretores também avaliaram esta Lei como ineficiente, pois, apesar
aprovada há mais de dez anos, os professores permanecem com os mesmos níveis
salariais anteriores a ela.
Constatou-se também o anseio dos professores por contatos com colegas de
outras escolas ou de outras organizações. Ávidos por maior interação com outras
instituições, os professores se revelaram isolados e sem oportunidades de troca de
experiências.
Quanto à segurança no emprego, esta variável é, segundo as entrevistas, afetada
não pela percepção de injustiça a realização dos concursos públicos, mas pela gestão
de pessoas, especialmente no que se refere aos aspectos de seleção, treinamento e
avaliação. A percepção dos entrevistados é de que a estabilidade proporcionada por
concursos públicos acarreta injustiças, como a entrada de indivíduos não preparados
para a docência e a permanência em sala de aula de professores incapacitados para
o exercício da profissão.

Revista de Ciências da Administração • v. 10, n. 20, p. 72-94, jan./abr. 2008 87


Antonio Luiz Marques • Renata Simões Guimarães e Borges • Ronara Dias Adorno

Quanto à variável realização profissional, pôde-se concluir que os professores


escolheram a docência predominantemente por vocação. Além desse fator, a escolha
da profissão pode-se dar em função do gosto pela disciplina, associado a influências
dos professores na época da adolescência; contudo, sua satisfação moderada com a
profissão pode estar relacionada aos baixos rendimentos, ao desrespeito e à falta de
apoio que o professor tem percebido por parte do Governo e da sociedade.
A atuação do sindicato é fonte de insatisfação, justificada por sua percepção de
que o SindUTE - Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação - não tem defen-
dido os interesses da categoria, estando perdido em meio a interesses particulares
dos seus dirigentes, interessados em carreiras políticas:

O sindicato morreu, quer dizer, hoje ele está totalmente desmotivado,


quebrado, dividido em partições meramente político-partidárias, total-
mente sem rumo, sem saber o que fazer, perdido. Nós estamos no meio
da tempestade, no meio da neblina, sem saber que caminho tomar
e aonde chegar. (M8, grifo da autora)

Constatou-se que o foco de reivindicações sindicais dos professores das duas


escolas, embora direcionado para a conquista de benefícios, tem uma peculiaridade
na escola estadual, em função do Plano de Carreira da categoria, em vias de ser im-
plantado por ocasião da pesquisa. Percebe-se que ambas as escolas carecem de uma
atuação sindical mais efetiva, transparente e perseverante na defesa de seus direitos.
Apesar de todas as críticas feitas ao SindUTE, não foi manifestada qualquer iniciativa
dos entrevistados no sentido de se engajarem nas atividades ou de se candidatarem
a algum cargo, no intuito de promoverem as melhorias pleiteadas. Os professores
parecem ter se acomodado, preferindo ver de longe a deterioração gradual do seu
sindicato e a imobilização total da categoria.
No que se refere à participação dos professores nas decisões administrativas,
financeiras e pedagógicas da escola, viabilizada pelo colegiado, criado a partir da
LDB. Contudo, os entrevistados revelaram insatisfação quanto ao funcionamento
do colegiado, questionando o tipo de assunto e a forma como determinadas matérias
lhe têm sido apresentadas pela diretoria:

Existem processos para que você possa maquiar uma decisão e, vamos
dizer assim, ela é democrática, ela saiu do grupo, mas na realidade você
observa o seguinte: eu quero isso, chego, direciono as discussões e as
decisões para uma coisa já pronta, trabalhada. (E1)

Pode-se concluir que a participação dos professores nos órgãos colegiados,


apesar de estabelecida em lei, ainda é uma questão que precisa ser mais trabalhada
nas escolas.

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A LDB/96 e a qualidade de vida no trabalho: com a palavra os docentes da rede pública de Belo Horizonte

5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Entende-se que esta pesquisa, por proporcionar uma leitura da organização


escolar pública na visão daqueles que implementam as mudanças propostas – os
professores – é oportuna e relevante. De modo geral, os dados permitem concluir
que os professores estão moderadamente satisfeitos com sua QVT. Conclui-se que a
escola municipal, por apresentar, na maioria das variáveis pesquisadas, média superior
à escola estadual, parece ser um local melhor de trabalho para os professores.
O instrumento de coleta de dados de QVT utilizado revelou-se adequado à
amostra; contudo, propõe-se a inclusão de outras variáveis relacionadas ao contexto
atual de trabalho do País, tais como: pressão exercida por parte dos superiores; de-
senvolvimento cultural; capacidade produtiva; atendimento aos objetivos individuais;
forma de tratamento de conflitos internos; comunicação; complexidade do trabalho;
volume de trabalho e políticas de gestão de pessoal. O questionário desenvolvido
poderá, após adaptações, ser utilizado em outras categorias profissionais.
Os dados dessa pesquisa trazem elementos de grande relevância, entre os
quais a constatação de certa resistência, até mesmo rejeição, de vários professores
ao ser mencionada a LDB. Assim, não julgavam necessário nem produtivo e muito
menos válido qualquer comentário a respeito, por se sentirem descrentes quanto à
Lei maior da Educação.
É certo que alguns benefícios são identificados como provenientes desta Lei,
tais como: conteúdo voltado para uma visão mais abrangente e para as questões do
dia-a-dia; preocupação maior com o aspecto social; concessão de maior liberdade
aos professores, para que trabalhem os conteúdos à sua maneira; e a criação dos
colegiados. Contudo, a principal conclusão do estudo é de que a LDB é uma lei
inviável de ser aplicada na prática, devido às más condições de trabalho e à falta de
respeito para com o profissional da educação. A efetividade das políticas públicas para
a educação deve ser mais investigada, ou seja, não adianta implantar leis sem que o
potencial humano esteja contemplado e visto como diferencial para acompanhar e
implantar as mudanças propostas.
O diagnóstico realizado reforça a idéia de que Governo ainda tem um longo
caminho a percorrer para a melhoria da realidade de trabalho dos professores de
escolas públicas. Promover efetivamente a valorização deste profissional em cumpri-
mento ao disposto na LDB pode ter como passo inicial a avaliação da gestão escolar
utilizando o instrumento desenvolvido para esta pesquisa.
Outra recomendação oriunda do estudo é a promoção de intercâmbio de experi-
ências entre escolas e entre profissionais. A divulgação dos trabalhos e experiências
dos professores na forma de seminários, para os quais seriam convidados professores
de outras escolas, pode ser uma das soluções para a fraca interação com outras insti-

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Antonio Luiz Marques • Renata Simões Guimarães e Borges • Ronara Dias Adorno

tuições. Propiciar a participação dos professores em decisões relevantes no contexto


escolar, e não só decisões elementares, também pode aumentar o sentimento de va-
lorização destes profissionais. Aliado a esse aspecto, sugere-se que sejam realizados
treinamentos gerencias ou em gestão de pessoas para os diretores das escolas.
Reconhecer que o processo educativo é alicerce da cidadania e tem como produto
a formação ampla da pessoa e não apenas sua instrução formal faz com que a profissão
de professor tenha um contorno bem mais abrangente que a maioria das profissões.
O professor é peça-chave na construção de valores, pois é no ambiente escolar que
se fortalecem os laços cívicos, o respeito às diferenças e a busca do conhecimento.
Infelizmente, como foi visto, essa importância não tem se traduzido em condições
de trabalho adequadas e nem em remuneração satisfatória desses profissionais.
O reconhecimento do trabalho docente deve vir o quanto antes, na forma de um
salário digno, de um Plano de Carreira que lhe atenda e de um sistema de avaliação de
desempenho que lhe permita progredir. A falta de infra-estrutura adequada, a falta de
apoio à saúde física e mental devem também ser analisadas no intuito de contribuir par
a melhoria das condições de trabalho. Tais solicitações, de integral responsabilidade
do Governo, e não das escolas, viriam a contribuir definitivamente para a melhoria
da qualidade de vida no trabalho dos professores de escolas públicas.
Infelizmente, estes profissionais sentem que toda essa situação é “normal”, aceitan-
do sua condição de sobrepujados e oprimidos. Observou-se com esta pesquisa a impor-
tância do trabalho dos professores, de seu potencial e, infelizmente, de sua passividade
perante as más condições de trabalho que lhe são oferecidas. Corremos o risco de poucos
jovens universitários queiram seguir essa profissão, o que parece já estar ocorrendo.
A escola pública é um local de trabalho que, por sua finalidade e por sua natureza
peculiar, requer critérios especiais de organização e administração, estabelecidos a partir
das características do trabalho que ali se desenvolve, requerendo também uma constante
análise de conceitos e significados que se alteram em função dos momentos históricos
que vivencia, tais como as reformas do ensino já ocorridas no Brasil. Espera-se que
esta pesquisa tenha contribuído para o melhor entendimento da Qualidade de Vida no
Trabalho dos professores de escolas públicas e lançado o olhar da administração para
estas organizações, fornecido subsídios para melhoria da gestão escolar.

THE LDB/96 AND THE WORK LIFE QUALITY: WITH THE WORD THE
PROFESSORS OF BELO HORIZONTE PUBLIC SCHOOLS

Abstract

This article presents a research results about Work Life Quality perceptions of
public schools professors, after the public scholar reformulation in 1996. This is a

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A LDB/96 e a qualidade de vida no trabalho: com a palavra os docentes da rede pública de Belo Horizonte

descriptive research that adopted the strategy of comparative study of cases, in a


qualitative-quantitative approach. The instrument of data collection explores three
variables categories: dimensions of the task, individual-organization integration,
and organizational factors. Twenty half-structuralized interviews had been carried
through and applied 142 questionnaires. The first conclusion is that the professors
are moderately satisfied with the general WLQ. In relation to the dimensions of the
task and the individual-organization interaction the professors had demonstrated
moderate satisfaction. The category organizational factors demonstrated the dissatis-
factions of the professors with the inadequate conditions of work and its increasing
depreciation. Significant differences between the schools had been observed in the
individual-organization interaction. The remuneration, the performance of the Go-
vernment and the union had shown the biggest dissatisfactions sources.

Keywords: Public administration. Human resources administration. Work life quality.

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