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INTRODUÇÃO

Caracterizando os processos químicos heterogêneos com indicativos de


presença de mais de uma fase, identifica-se neste contexto o processo catalítico
heterogêneo como aquele que inclui entre suas fases a participação do catalisador
sólido. Assim, uma ou mais fases fluidas, gás e/ou líquido, presentes no meio
reacional em contato com partículas, grãos ou pelotas do catalisador constituem
um sistema no qual a transformação química é efetivada entre componentes das
fases fluidas sobre a superfície da fase sólida.

O processo catalítico heterogêneo intrínseco, ocorrendo nos sítios ativos


superficiais da fase sólida, requer condições de acessibilidade a esses sítios por
parte dos componentes reagentes, presentes nas fases fluidas, e capacidades de
remoção dos produtos formados sobre esses sítios, na direção das citadas fases
fluidas. Decorrentes dos efeitos inerentes a estas ocorrências são identificados
fenômenos de transferência de massa entre as fases e no interior destas e
interações fluido-sólido em torno do ato catalítico localizado na superfície do
sólido. Ações sobre os referidos fenômenos devem ir no sentido da diminuição dos
seus efeitos, buscando-se ao máximo reduzir as resistências por eles oferecidas,
garantindo do ponto de vista cinético menores tempos de acesso até os sítios
ativos do catalisador, para os reagentes, e rápidas etapas de remoção dos
produtos pelas fases fluidas.

Caracterizados pelas presenças de mais de uma fase material, os


processos catalíticos heterogêneos suscitam, para fins de melhores contatos entre
estas fases, a utilização de um universo de formas geométricas e disposições
variadas da fase sólida e de equipamentos nos quais estas são processados,
capazes de proporcionar o estabelecimento de contatos mais efetivos, em termos
da reação química intrínseca, que requer interações atômico-moleculares. Os
equipamentos contactores, identificados como reatores catalíticos heterogêneos,
referem-se a sistemas sujeitos ao uso em operações contínuas, cujas geometrias
permitem interações entre uma ou mais fases fluidas e a fase sólida catalítica. Os
reatores catalíticos devem proporcionar cinéticas das etapas físicas e químicas,
adequadas às dinâmicas do processamento.

Produções industriais têm como corrente utilizações de processos


catalíticos bifásicos e trifásicos, as quais recorrem a operações em sistemas
classificados de forma geral como reatores de leito fixo e reatores de leito móvel.
Segundo as operações realizadas nestes sistemas, podem ser ressaltadas
características gerais dos processos catalíticos heterogêneos para fins de
quantificação cinética dos fenômenos físicos e químicos envolvidos. De forma
esquematizada estão representados nos Esquemas – 1 e – 2 os processos
bifásicos e trifásicos nas classes de reatores de leito fixo, destacando-se na
seqüência os contatos e interações entre as fases e no interior delas, para fins de
identificação das etapas físicas e químicas, cujas cinéticas individuais compõem a
cinética global do processo catalítico heterogêneo.
Toma-se como referência um processo trifásico, no qual A(g), o componente
reativo presente na fase gasosa, interage com B(L), o componente presente na
fase líquida, sob a ação do catalisador sólido poroso, com produtos obtidos
formados segundo as reações generalizadas assim equacionadas :

A(g) + B(g) + Catalisador(s) Produtos(P(g),R(g)) (processo bifásico gás-sólido)

A(L) + B(L) + Catalisador(s) Produtos(P(L),R(L)) (processo bifásico gás-sólido)

A(g) + B(L) + Catalisador(s) Produtos(P(g),R(L)) (processo trifásico gás-líquido-


sólido)

Detalha-se o conjunto de etapas físicas e químicas representadas em um dos


perfis destacados nos Esquemas – 1 e - 2 .
IFS

REAGENTE

• • •
• •
A(F) •

• • •

P(F)
• • • •
• • • •
PRODUTO

LEITO FIXO CATALISADOR SEIO CAMADA INTERFACE CATALISADOR


CATALÍTICO NO FLUIDO DO FLUIDO EXTERNA FLUIDO-SÓLIDO POROSO
DE FLUIDO

Esquema 1. Processo catalítico bifásico. Perfis de concentração.


Reação : A(F) + B(F) + Catalisador(S) P(F) + R(F)
IFS = interface fluido-sólido
IGL ILS
L G L G L G

• • •

A(g) • • •

• • • •

• • •

P(g)
• • •


• •
• •
• •

• •
L G L G L G

LEITO FIXO CATALISADOR SEIO CAMADA CAMADA SEIO DO CAMADA CATALISADOR


CATALÍTICO NOS FLUIDOS DO GÁS GASOSA LÍQUIDA LÍQUIDO LÍQUIDA SÓLIDO POROSO

Esquema 2. Processo catalítico trifásico. Perfis de concentração.


Reação : A(g) + B(L) + Catalisador(S) P(g) + R(L)
IGL= interface gás-líquido ILS = interface líquido-sólido

Com base no esquema proposto estão identificadas as etapas do processo


catalítico heterogêneo trifásico, delas constando oito etapas envolvendo o
reagente A(g) da fase gasosa e seis etapas referentes ao um produto P(g) gasoso,
formado na superfície do catalisador.

No sentido de elevadas concentrações na fase gasosa para menores


concentrações na superfície do catalisador as etapas para o reagente da fase
gasosa são assim detalhadas :
- (1)transferência de massa do componente A na camada de gás próxima à
interface gás-líquido ;
- (2)dissolução do componente A do gás na camada da fase líquida próxima
à interface gás-líquido ;
- (3)transferência de massa do componente A dissolvido, na camada de
líquido próxima à interface gás-líquido ;
- (4)transferência de massa do componente A dissolvido, na camada de
líquido próxima à interface líquido-sólido ;
- (5)transferência de massa do componente A dissolvido, no líquido contido
no interior dos poros do catalisador ;
- (6)adsorção do componente A sobre os sítios ativos superficiais do
catalisador ;
- (7)ativação e reação química com consumo de A nos sítios ativos
superficiais do catalisador ;
- (8)dessorção do componente A, não reagido, nos sítios superficiais do
catalisador.

Produtos formados na superfície do catalisador podem garantir maiores


concentrações nas proximidades dos sítios ativos, proporcionando fluxos de
massa no sentido de suas menores concentrações situadas nas fases fluidas.
Nesta direção estão detalhadas as seguintes etapas para um produto P(g) gasoso :

- (9)dessorção do produto P nos sítios ativos superficiais do catalisador ;


- (10)transferência de massa do componente P dissolvido, no líquido
contido no interior dos poros do catalisador ;
- (11)transferência de massa do componente P dissolvido, na camada de
líquido próxima à interface líquido-sólido ;
- (12)transferência de massa do componente P dissolvido, na camada de
líquido próxima à interface líquido-sólido ;
- (13)transferência de massa do componente P dissolvido, na camada de
líquido próxima à interface gás-líquido ;
- (14)liberação do componente P dissolvido, da fase líquida para a fase
gasosa, na interface gás-líquido ;
- (15)transferência de massa do componente P na camada de gás próxima
à interface gás-líquido.

Processos catalíticos trifásicos operados em leitos fixos apresentam


possibilidades de molhamentos parciais das pelotas catalíticas pela fase líquida,
os quais podem dar ensejo a transferências de massa diretas da fase gasosa para
o interior da estrutura porosa do catalisador através das partes das superfícies não
molhadas. Em processos bifásicos, gás-sólido ou líquido-sólido, aparecem
conjuntos menores de etapas físicas e químicas, compondo o mecanismo global,
as quais podem ser identificadas com um subconjunto incluído no detalhamento
elaborado para o processo trifásico. Assim, as etapas (1) e (2) para o reagente
gasoso A(g) não estariam incluídas, contando-se somente a partir da etapa (4),
valendo para um componente da fase fluida (gás ou líquido). De modo
semelhante, as etapas (13), (14) e (15) não constam no conjunto de etapas que
envolvem um produto P(g) ou P(L) de um processo fluido-sólido, contando-se
somente até a etapa (12) para este componente da fase fluida.

Os fenômenos de transferência de massa, segundo suas localizações em


relação ao catalisador, se situam em duas categorias. Assim, são tidos como de
transferência de massa externa os efeitos de resistência à transferência de massa
dos reagentes e produtos da fase gasosa e da fase líquida na interface gás-líquido
e dos reagentes e produtos da fase líquida na interface líquido-sólido.
Resistências oferecidas à entrada dos reagentes ou à saída dos produtos no
interior da estrutura porosa do catalisador são identificadas como relativas à
transferência de massa externa.

Os contatos entre as fases presentes no meio externo ao catalisador,


consideradas as diferentes velocidades de deslocamento das fases fluidas e do
sólido no meio reacional, proporcionam diferentes perfis de velocidade de
escoamento destas fases fluidas nas proximidades das interfaces gás-líquido e
líquido-sólido, dando origem a regiões denominadas camadas de interface. Estas
apresentam características específicas, distintas daquelas dos meios homogêneos
situados nos seios das fases gasosa ou líquida, que lhes conferem possibilidades
de oferecerem limitações aos fluxos de massa dos reagentes e produtos. No
interior da estrutura porosa do catalisador o meio fluido não está sujeito aos
efeitos externos do escoamento, oferecendo resistências às transferências de
massa dos reagentes e produtos segundo ações difusivas moleculares e devido
aos choques destes componentes com as paredes dos poros do sólido.
Cesar A. M. Abreu

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