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Exercícios – Direito Penal II

(Tentativa, concurso de pessoas e concurso de crimes)

Questão 1

Tião Medonho, funcionário público, com auxílio do seu irmão Zé pequeno,


profissional Liberal, subtraiu para si um computador pertencente à sua
repartição pública, o qual era utilizado para a realização das suas tarefas
profissionais. As autoridades públicas tomaram conhecimento do crime e, após
o apropriado inquérito policial, indiciaram os irmãos pela prática delitiva. Tião
medonho foi denunciado pela prática do crime de peculato (art. 312, do CP). Zé
pequeno, por sua vez, foi apontado como incurso no crime de apropriação
indébita (art. 168, do CP).

Está correta essa classificação? Justifique sua resposta.

Resposta: Não, nosso código adotou a teoria monística do concurso de


pessoas. Isto é, o fenômeno da codelinquência deve ser valorado como um
único crime. Assim, não é possível que Tião Medonho e Zé pequeno, que
concorreram na mesma prática delitiva, sejam indiciados por crimes diversos.

O delito do art. 312, do CP, no entanto, é um delito próprio, e apenas


funcionários públicos podem realizá-lo. Isso significa que Zé pequeno, como
profissional liberal, não poderia em tese praticar esse crime. No entanto, o art.
30, do CP, estabelece que as circunstâncias pessoas se comunicam quando
elementares do tipo. Zé pequeno seria, então, cúmplice necessário,
respondendo também pelo crime de peculato.

Questão 2

No dia 20 de abril, por volta das 23h, Dedé e Cleitinho, em unidade de


desígnios e fortemente armados, invadiram a residência do casal Lili e
Eduardo, mantendo-os amarrados, durante duas horas, enquanto buscavam
pela casa bens de valores para a posterior subtração. Em seguida, levaram o
casal para a parte externa da casa, onde deferiram-lhe dois tiros, tendo as
vítimas morrido instantaneamente. Ouvindo o barulho dos tiros, os vizinhos
chamaram a polícia, que, agindo rapidamente, conseguiu deter os criminosos a
poucos metros da residência. Assim, Dedé e Cleitinho foram denunciados e,
posteriormente, condenados pelo delito de latrocínio consumado (roubo
seguido de morte) em concurso formal de crimes. Inconformados, interpuseram
recurso, a fim de descaracterizar da incidência do art. 70, do CP, sob o
argumento de apenas ocorrera um único crime de latrocínio. Arguiram,
também, pelo reconhecimento da tentativa, uma vez que não conseguiram
subtrair os bens, tendo sido detidos logo após a prática do delito.

A pretensão dos agentes é procedente? Justifique sua resposta.

Resposta: não. O latrocínio é um crime complexo, que envolve a violação de


dois bens jurídicos, a vida e o patrimônio. A súmula 610 do STF estabelece que
“Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize
o agente a subtração de bens da vítima”. Assim, especificamente em relação à
esse crime temos quatro possibilidades:

1- Homicídio e subtração consumados (responde por latrocínio


consumado);
2- Homicídio tentado e subtração consumada (responde por tentativa de
latrocínio);
3- Homicídio consumado e subtração tentada (reponde por latrocínio
consumado);
4- Homicídio tentado e subtração tentada (responde por tentativa de
latrocínio).

No caso em questão, as vítimas, Lili e Eduardo, morreram. Assim, apesar de


Dedé e Cleitinho não terem conseguido completar a subtração, eles respondem
pela prática do crime de latrocínio consumado.

Outro ponto importante da questão é saber se o crime cometido contra o casal


trata-se de crime único ou de concurso formal impróprio. A atual jurisprudência
do STJ é no sentido de que, nesse caso, quando há duas mortes e uma única
subtração, não há um único crime, mas dois crimes mediante uma única ação (
concurso formal impróprio).
QUESTÃO 3

Caio, após anos de inimizade, decide matar seu vizinho Tício. Para tal, durante
uma festa, coloca em seu copo uma determinada dose de veneno. Tião,
igualmente interessado na morte de Tício e desconhecendo a ação de Caio, na
mesma ocasião, também coloca uma dose de veneno no copo de Tício. Este
vem a falecer pelo efeito combinado das duas doses de veneno, uma vez que,
isoladamente, seriam insuficientes para produzir a morte, segundo conclusão
da perícia. Responda: Caio e Tião são penalmente responsáveis pela morte de
Tício? Se sim, por qual crime eles respondem?

Resposta: Caio e Tião são penalmente responsáveis pela morte de Tício. No


entanto, ambos respondem por tentativa de homicídio e não pelo homicídio
consumado.
O caso em questão trata da autoria colateral. Isto é, quando dois agentes
praticam condutas convergentes para a realização de um crime sem
conhecimento das ações uns dos outros. Nesse caso, não trata de um
concurso de pessoas propriamente dito, uma vez que não há o elemento
essencial do vínculo subjetivo. Nesses casos, é essencial saber exatamente o
resultado produzido por cada um. Se for impossível determinar quem produziu
o resultado (autoria incerta), ambos respondem por tentativa

QUESTÃO 4

Tião Medonho e Zé pequeno combinaram previamente a prática de um roubo


contra um taxista. Assim, no dia combinado, fingiram interesse em uma corrida
e, dentro do veículo, anunciaram o assalto, ameaçando a vítima com uma faca.
O taxista, então, entregou seus pertences a Zé pequeno, que, em seguida,
fugiu da cena. Tião medonho, por sua vez, continuou no táxi, por alguns
instantes, e acabou ferindo gravemente a vítima, que veio a falecer. Diante do
exposto, é possível afirmar que são ambos penalmente responsáveis pelo
crime de latrocínio? Justifique sua resposta.

Resposta: Não. No caso em questão, Zé pequeno é penalmente responsável


apenas pelo crime de roubo, enquanto Tião medonho responderá por
latrocínio. Isso porque trata-se de um caso de cooperação dolosamente
distinta. Isto é, se no decorrer da prática delitiva ocorrer o desvio subjetivo da
conduta, aquele que quis participar de um crime menos grave será incurso nas
penas deste. A pena, ainda, será aumentada até metade se o resultado era
previsível (art. 29, 2º, do CP).

QUESTÃO 5

Zé pequeno ingressou em um ônibus no centro de Belo Horizonte com a


intenção de subtrair os pertences dos passageiros. Assim que adentrou no
veículo, sentou ao lado de um passageiro que cochilava e subtraiu-lhe a
carteira sem que ele percebesse. Em seguida, com emprego de grave ameaça,
subtraiu os celulares de outros dois passageiros. Nesse caso, há concurso de
crimes? Qual? A pena será cumulada ou exasperada? Justifique sua resposta.

Resposta: No caso em questão há duas formas diferentes de concurso. Em


relação ao crime de furto, há um único crime, uma vez que, com uma única
ação, realizou apenas um delito.

Em relação ao crime de roubo, com uma única ação, Zé pequeno executou


dois crimes contra vítimas (patrimônios diferentes), sem desígnios autônomos.
Assim, há o concurso formal próprio.

Em relação ao crime de roubo e ao crime de furto, por sua vez, há o concurso


material de crimes.

QUESTÃO 6

Em 2013, Tião, aproveitando-se do caos causado pelas manifestações,


subtraiu uma televisão de um grande estabelecimento comercial. Sua ação foi
filmada e transmitida nos noticiários locais. Com vergonha da sua atitude,
decidiu devolver o objeto furtado, sendo, posteriormente, processado pela
prática delitiva.

Há, no caso em questão, responsabilidade penal por parte de Tião? Justifique


sua resposta.
Resposta: Sim, há responsabilidade penal por parte de Tião. Há, no
ordenamento brasileiro, três institutos relacionados à temática:

Desistência Voluntária: O agente desiste, por vontade própria, de continuar a


realização dos atos executórios.

Arrependimento eficaz: a agente termina os atos executórios, mas se


arrepende e, por vontade própria, impede a consumação do crime.

Nesses dois casos, os agentes não são punidos, apenas respondendo pelos
crimes já praticados.

O terceiro instituto é o arrependimento posterior. No caso, em crimes


realizados sem violência e grave ameaça, se, após a consumação do crime, o
agente reparar o dano ou restituir a coisa, há uma diminuição da pena (art. 16,
do CP).

No caso em questão, trata-se exatamente deste último instituto, uma vez que
Tião se arrependeu depois de consumado o delito. Então, ele responde pelo
crime, mas a ele é aplicada a causa de diminuição do art. 16 do CP.

QUESTÃO 7

João, sabendo que sua vizinha Maria estaria viajando em um determinado final
de semana, decidiu subtrair para si alguns de seus pertences enquanto ela
estivesse fora. O jardineiro de Maria, Tício, ouviu João comentando de seus
planos com sua esposa. Assim, como estava com raiva de Maria, decidiu
deixar a porta da casa aberta para facilitar a prática delitiva de João.

Nesse caso, Tício responde penalmente pelo crime? Se sim, seria co-autor ou
partícipe?

Resposta: Tício responde penalmente pelo crime como partícipe. Para que se
configure o concurso de pessoas é necessário o vínculo subjetivo entre os
agentes, não sendo preciso o acordo prévio. Tício seria partícipe uma vez que
sua participação foi apenas acessória.
QUESTÃO 8

Ricardo, menor inimputável, com 14 anos de idade, disse para Lúcio, maior
deidade, que pretendia subtrair aparelhos de som (CD player) do interior de um
veículo.Para tanto, Lúcio emprestou-lhe uma chave falsa, plenamente apta a
abrir a porta dequalquer automóvel. Utilizando a chave, Ricardo conseguiu seu
intento. Na situaçãoacima narrada, Lúcio responderia por esse crime? Seria ele
partícipe ou co-autor? Fundamente sua resposta de acordo com teoriaadotada
pelo Código Penal quanto à natureza jurídica da participação (135° Exame
deOrdem/SP – adaptada).

Resposta: O Código Penal brasileiro adota a teoria da acessoriedade limitada.


Isto é, exige que a ação principal seja típica e antijurídica, não sendo
necessário que o autor seja culpável. Assim, Lúcio responde como partícipe,
mesmo Ricardo sendo menor inimputável.

QUESTÃO 9

Cida trabalhava na casa de dona Maria, uma senhora de setenta anos, há mais
de 10 anos. Durante esse tempo, toda semana, Cida subtraia para si uma
quantia de dinheiro que a idosa deixava na casa para eventuais despesas. No
início deste ano, o neto de dona Maria foi morar com a avó e percebeu o
sumiço dessas quantias, descobrindo por consequência a conduta delitiva de
Cida. No caso em questão, Cida é penalmente responsável? Há concurso de
crimes ou um único crime?

Resposta: No caso, há incidência do crime continuado. Assim, Cida responde


penalmente pelo crime de furto c/c o art. 71, caput, do CP.

O crime continuado é uma ficção jurídica, na qual o agente pratica dois ou mais
crimes que, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras
circunstâncias semelhantes, são considerados continuação do primeiro. Isto é,
são diversas ações criminosas, que por motivos de política criminal, a lei
considera como um único crime.

QUESTÃO 10
Luiz é um conhecido traficante da região do Barreiro. No dia 17.04.2018,
combinou de entregar uma determinada quantidade de MDMA para uma cliente
de confiança. A polícia, no entanto, foi avisada sobre a transação e, quando
Luiz entregou a substância tóxica, interviu e realizou a sua prisão em flagrante.
Nesse caso, o flagrante é válido? Há responsabilidade penal por parte de Luiz?
Diferencie as três formas de flagrante: o preparado, o forjado e o provocado.

Resposta: Trata-se de flagrante preparado, que é válido no ordenamento


jurídico brasileiro. Assim, Luiz responde por crime de tráfico de drogas (não
admite tentativa).

Flagrante preparado: o agente infrator, por sua iniciativa, decide cometer o


crime, realiza os atos preparatórios e começa a executá-los e o policial
intervém para impedir a consumação do delito.

Flagrante provocado: chamado de crime de ensaio. Há a figura do agente


provocador, que pode ser o policial ou alguém a seu serviço, que induzem o
indivíduo a praticar o crime. Isso é vedado pela Súmula 145 do STF (atenção.
Na súmula, usam o termo “preparado” para se referir a este tipo de flagrante).

Flagrante forjado: os policiais criam prova de um crime inexistente.

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