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Análise da drenagem linfática manual no

tratamento do fibro edema gelóide e


na redução de medidas

1
Natália Batista Silva
1
Sidilaini Reis Silva
2
Ligia de Souza

Resumo: O fibro edema gelóide (FEG), é uma alteração na pele caracterizada por con-
tornos irregulares, definida como uma disfunção metabólica localizada. O objetivo desse
estudo foi verificar a efetividade da drenagem linfática manual no tratamento do FEG
e na redução de medidas. Participaram do estudo 8 voluntárias, divididas em 2 grupos:
grupo controle (GC) e grupo experimental (GE) submetido a drenagem linfática ma-
nual (DLM). Foram realizada 8 sessões de DLM. Foram avaliados o grau de FEG e pe-
rimetria de região glútea e de coxa. Após o tratamento com DLM, foi possível observar
melhora do aspecto da pele das participantes do GE. No GC, não foram observadas
mudanças no aspecto da pele. Observou-se redução de medidas de coxa significativas no
GE em relação ao GC. Conclui-se que a DLM contribui para a melhora do aspecto do
FEG e redução de medidas.

Palavras-chave: Fibro Edema Gelóide. Drenagem Linfatica Manual. Fisioterapia Der-


mato-funcional.

1
Centro Universitário UNIFAFIBE. Graduação em fisioterapia pelo Centro Universitário UNIFAFIBE.
Email: <nataliabatista_fisio@hotmail.com>.
1
Centro Universitário UNIFAFIBE. Graduação em fisioterapia pelo Centro Universitário UNIFAFIBE.
Email: <sidilainireis@hotmail.com>.
2
Centro Universitário UNIFAFIBE. Doutora em Ciências da Saúde pela escola de Enfermagem de Ri-
beirão Preto da Universidade de São Paulo – USP. Email: <ligia.sousa@hotmail.com>.

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1. INTRODUÇÃO

O fibroedema gelóide (FEG), popularmente conhecido como “ce-


lulite”, é uma afecção que provoca deficiência na circulação sanguínea
e linfática e hipotonia muscular freqüente, podendo levar à quase total
imobilidade dos membros inferiores, além de dores intensas e problemas
emocionais (GUIRRO; GUIRRO, 2002).
Essa doença acomete milhões de pessoas no mundo, principalmente
mulheres. É uma alteração na pele caracterizada por contornos irregulares,
de início na puberdade, definida como uma disfunção metabólica locali-
zada, do tecido subcutâneo e da derme, que provoca alteração na forma
corporal feminina, devido ao excesso de tecido adiposo retido no septo
fibroso e por projeções deste na derme (MACHADO et al., 2009).
É estimado que mulheres, após o período da puberdade apresentem
algum grau de FEG (BARBOSA; MELO, 2010). A maior incidência do
FEG está localizado na região glútea e posterior de coxa, sendo associa-
da com elevada concentração de tecido adiposo na região afetada (MA-
CHADO et al., 2009).
O FEG decorre de um processo de reação da substancia fundamen-
tal, devido uma alteração do meio interno, secundário a fatores locais e
gerais em que as proteínas glicosaminoglicanas sofrem um processo de
hiperpolimerização. (ROSSI, VERGNANINI, 2000; GUIRRO; GUIR-
RO, 2004). Além disso, o surgimento do FEG associa-se a um mau fun-
cionamento dos adipócitos, que retêm um maior teor de lipídios, os quais
estimulam a retenção de líquidos, levando assim ao aumento de volume
da célula, gerando compressão dos vasos e comprometendo a circulação
sanguínea. O rompimento das fibras de colágeno e elastina, responsáveis
pela sustentação da pele, secundário ao aumento das células de gordura,
levaria ao inestético aspecto da pele característico deste quadro (FREDE-
RICO et al., 2006; KHAN et al., 2010).
Segundo Milani et al., (2005), os fatores predisponentes para o surgi-
mento do FEG podem ser hereditariedade, sexo feminino e desequilíbrio
hormonal. Dentre os fatores determinantes podemos citar estresse, fumo,

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sedentarismo, maus hábitos alimentares e disfunções hepáticas, e como os
fatores condicionantes podemos citar as perturbações circulatórias.
Clinicamente é um acometimento cutâneo não inflamatório, apre-
sentando-se doloroso em alguns casos, podendo se manifestar em forma
de nódulos ou placas de variadas extensão e localização (MELO et al.,
2006).
Grau I – é percebido apenas pela inspeção da compressão do tecido
entre os dedos ou contração da musculatura, assintomática.
Grau II – a temperatura e a elasticidade da pele encontram-se dimi-
nuídas depois da compressão ou contração muscular.
Grau III – em repouso é evidente o aparecimentos do aspecto “casca
de laranja” e/ ou um acolchoado da pele. Há sensação de dor na palpação,
a elasticidade e a temperatura encontram-se diminuídas.
Grau IV – são as mesmas características do grau III com nódulos
mais visíveis, palpáveis e dolorosos. Aderências nos níveis profundos e um
aparecimento ondulado obvio da superfície de pele.
Alguns recursos são descritos na literatura tratando especificamente
o FEG. Entretanto, para uma terapêutica eficaz é necessário a compre-
ensão da fisiopatologia desta afecção e dos efeitos benéficos das técnicas
utilizadas (KHAN et al., 2010).
No campo da fisioterapia dermato-funcional, a drenagem linfática
manual (DLM) é um método fisioterapêutico de massagem altamente
especializado, feito com pressões suaves, lentas, intermitentes e relaxan-
tes, que seguem o trajeto do sistema linfático. É bastante utilizado no
.
tratamento de FEG, linfedema, pós-operatórios, entre outros problemas
(GUIRRO; GUIRRO, 2004). Essa técnica tem por objetivo, drenar o
excesso de liquido de uma área estagnada, assim, melhorando a circu-
lação linfática, eliminação de resíduos, redução de edemas entre outros
(BRANDAO et al, 2010; BORGES, 2006).
A DLM na FEG auxilia a evacuação de líquidos ricos em proteínas
e toxinas que tornam o tecido cutâneo edemaciado e com aderências te-
ciduais, assim, normalizando o Ph intersticial e favorecendo a nutrição e
oxigenação tissular (LEDUC; LEDUC, 2007; BORGES, 2006).

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É um recurso bastante utilizado na prática clínica para tratamento do
FEG. Embora estudos não controlados e não randomizados são encontra-
dos apresentando resultados positivos com o uso da drenagem linfática
manual para redução do fibro edema gelóide, até o momento, não foram
encontrados estudos de grandes dimensões, controlados e randomizados
ou revisões sistemáticas da literatura, que comprovem os efeitos obtidos
deste recurso terapêutico. Desta maneira, estudos com bom delineamen-
to devem ser elaborados para analisar se a drenagem linfática manual pro-
move redução no grau do FEG.
Neste contexto, o objetivo desta pesquisa foi verificar a efetividade
da drenagem linfática manual no tratamento do fibro edema gelóide e na
redução de medidas em mulheres.

2. METERIAIS E MÉTODOS

Este estudo caracteriza-se por um ensaio clínico experimental, ran-


domizado e controlado. De acordo com a resolução 196/96 do Código
Nacional de Saúde, este projeto foi encaminhado e aprovado pela Insti-
tuição onde foi realizada a pesquisa e pelo Comitê de Ética em Pesquisa
(protocolo n.25/2011). Foram convidadas a participar do estudo alunas
dos cursos da área da saúde (fisioterapia e nutrição) do Centro Universitá-
rio UNIFAFIBE. Estas foram informadas sobre o estudo, objetivos e me-
todologia. Todas as participantes incluídas no estudo assinaram o Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido.
O estudo foi realizado no Centro Universitário UNIFAFIBE, loca-
lizado na cidade de Bebedouro/SP. Foram incluídas mulheres com idade
entre 18 e 25 anos; fazendo uso de anticoncepcional; não tabagista; etnia
branca; sedentárias e nulíparas. Foram excluídas as participantes que apre-
sentassem insuficiência venosa crônica; desconforto com as manobras da
DLM; três faltas consecutivas; Índice de Massa Corpórea acima de 35.
A amostra do estudo foi aleatoriamente dividida em dois grupos,
com quatro participantes em cada. As participantes do Grupo Experi-

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mental (GE) foram submetidas ao tratamento com DLM e acompanha-
das quanto à evolução do FEG e a análise das medidas de glúteos e coxas.
No Grupo Controle (GC), as participantes foram acompanhadas
quanto à evolução do FEG, sem receber qualquer tipo de intervenção te-
rapêutica.
As participantes responderam à ficha de avaliação inicial (dados só-
cio-demográficos e físicos). Todos os procedimentos a partir da avaliação
inicial foram realizados com a participante vestindo trajes de banho.
Para a avaliação do FEG, foram coletadas imagens fotográficas
em vista posterior enfatizando-se a região glútea e posterior de coxa. A
máquina foi posicionada a 80 centímetros de distância da participante;
e a borda superior da máquina colocada em uma linha perpendicular à
prega glútea, ajustando-se à altura de cada participante. As participantes
permaneceram em posição ortostática, descalças, com descarga de peso
distribuída igualmente entre os membros. Foram realizadas fotos com a
musculatura da região glútea relaxada e, em seguida, exercendo contração
isométrica destes músculos.
Para análise das medidas da região glútea e de coxas, foi realizada a
perimetria com uso da fita métrica, onde as voluntárias permaneceram
descalças em posição ortostática, com marcações nas seguintes áreas espe-
cíficas: marcação na região suprapatelar e, em seguida, marcações 10, 20
e 30 cm acima, nos membros inferiores. A perimetria da região glútea foi
feita com marcação sobre o trocanter maior do fêmur, onde a participante
permaneceu em posição ortostática com membros inferiores unidos.
As imagens fotográficas e a perimetria foram realizadas na avaliação
inicial, após duas semanas do início do estudo (4 sessões) e ao final da
quatro semanas (8 sessões).
Para o tratamento de DLM no GE foi seguido o protocolo proposto
por Leduc e Leduc (2007). Inicialmente foram realizadas 20 manobras
de pressão sobre os linfonodos inguinais direito e esquerdo. Em seguida,
foram realizadas manobras de círculo com os dedos e bracelete nas regiões
de glúteo e membros inferiores direito e esquerdo (LEDUC, LEDUC,
2007). A sequência das manobras está representada na figura 1, sendo re-

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alizado, inicialmente, os limites apresentados por “A”, seguidos por “B”,
“C”, “D”, “E”, “F”, “G”, “H”, “I” e “J” para a região posterior e os limites A”,
“B”, “C”, “D”, “E”, “F”, “G”, “H” e “I” para a região anterior. Em cada limite
foram executadas 6 repetições de cada manobra.
A drenagem foi iniciada com a mulher em decúbito dorsal, sendo
realizadas as manobras na porção anterior de membros inferiores e, após,
pedia para que ela ficasse em decúbito ventral para a realização da técnica
na região posterior dos membros inferiores.

Figura 1- Limites da DLM, vista posterior e anterior.

Para o grupo experimental, foram realizadas oito sessões de trata-


mento, duas vezes por semana, totalizando quatro semanas. O grupo con-
trole foi apenas acompanhado durante este período.

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Análise estatística
A análise dos dados foi precedida pela elaboração de um banco de da-
dos no aplicativo Excel, utilizado para codificação das variáveis em um di-
cionário de dados e para validação mediante dupla entrada (digitação) dos
dados. Realizou-se análise descritiva e comparativa dos dados. Para a análi-
se de redução de medidas foi apresentado a medida realizada em trocanter
maior, correspondendo a perimetria do quadril e, para as medidas da coxa,
será realizada a média das medidas das marcações suprapatelar, 10, 20 e 30
cm acima, e utilizada na análise estatística uma única medida obtida na coxa
direita e esquerda. Foi utilizado o teste t para análise de redução de medidas
intragrupos. Para a análise intergrupos foi calculada a diferença média entre
a primeira e a segunda avaliação e entre a primeira e a terceira avaliação, sen-
do, em seguida, utilizado o teste não-paramétrico de Mann-Whitney.
Para a análise dos dados, utilizou- se o programa Instat. O nível de
significância considerado foi de p<0,05.

3. RESULTADOS

Foram convidadas a participar do estudo 8 mulheres, sendo 4 per-


tencentes ao grupo experimental e 4 ao grupo controle. Todas as parti-
cipantes convidadas e que aceitaram participar da pesquisa realizaram as
quatro semanas de tratamento, não havendo nenhuma desistência.
A idade média das participantes do GE foi de 22,25 anos e no GC
a idade média foi de 21. Nenhuma participante era tabagista, gestante ou
usava qualquer tipo de medicamento, exceto anticoncepcional, conforme
critérios de inclusão da presente pesquisa. Em relação às patologia associa-
das, uma paciente do GC era diabética, uma do GE e uma do GC tinham
colesterol alto. A tabela 1 apresenta os principais resultados relacionados
às características e aos hábitos de vida das participantes do estudo.

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Tabela 1- Frequência (n) e porcentagem (%) das características e
hábitos de vida das participantes do estudo.

GE=Grupo experimental; GC= Grupo controle.

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Em relação ao exame físico inicial do GE, três participantes apre-
sentaram FEG grau II e uma apresentou grau III. No GC, quatro par-
ticipantes apresentaram FEG grau II. Foi realizado registro fotográfico
das participantes dos grupos estudados para análise qualitativa da redução
dos graus de FEG após o tratamento. A figura 5 apresenta a região glútea
e superior de coxa pré-tratamento de uma paciente do GE submetida à
DLM. Nas figuras 6 e 7, a mesma paciente após 4 e 8 sessões de tratamen-
to com DLM, respectivamente.
Após o tratamento com drenagem linfática no GE, foi possível ob-
servar redução do aspecto de “casca de laranja” e melhora do aspecto da
pele das participantes, por meio de avaliação visual com a musculatura
relaxada e contraída. Para o GC, não se observou mudanças no aspecto
da pele entre as participantes deste estudo.

Musculatura relaxada Musculatura contraída


Figura 2 - Pré-tratamento – grupo experimental.

Musculatura relaxada Musculatura contraída


Figura 3 - Após 8 sessões de tratamento – grupo experimental

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Em relação a perimetria, os dados pré e pós tratamento nos grupos GE
e GC, são apresentados nas tabelas 2, 3 e 4, correspondendo às medidas rea-
lizadas em trocanter maior, coxa direita e coxa esquerda, respectivamente.

Tabela 2 - Análise estatística da redução de medidas na região


de trocanter das pacientes.

GE= grupo experimental; GC,=grupo controle; Dif.12,=diferença entre a primeira e


a segunda avaliação; Dif.13= diferença entre a primeira e a terceira avaliação. Nível de
significância <0,05.
Nas colunas encontram-se as análises intragrupo e nas linhas as análises intergrupo.
*Análise Intragrupo: teste T.
Valor p (1-2): análise intragrupo entre a primeira e segunda avaliação.
Valor p (1-3): análise intragrupo entre a primeira e terceira avaliação.
**Análise Intergrupo: teste Mann-Whitney.

Ao analisar as medidas de trocanter maior verificou-se que não hou-


ve redução de medidas entre os GE e GC. O mesmo pode ser observado
nas medidas intragrupos, onde, nem GC, nem GE apresentaram redução
significativa de dor pré e pós-tratamento.

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Tabela 3 - Análise estatística da redução de medidas em coxa direita.

GE= grupo experimental; GC,=grupo controle; Dif.12= diferença entre a primeira e


a segunda avaliação; Dif.13= diferença entre a primeira e a terceira avaliação. Nível de
significância <0,05.
Nas colunas encontram-se as análises intragrupo e nas linhas as análises intergrupo.
*Análise Intragrupo: teste T.
Valor p (1-2): análise intragrupo entre a primeira e segunda avaliação.
Valor p (1-3): análise intragrupo entre a primeira e terceira avaliação.
**Análise Intergrupo: teste Mann-Whitney.
+
Estatisticamente significativo.

Na coxa direita observou-se que houve redução significativa das me-


didas entre os GE e GC, sendo que a redução do GE foi significativamen-
te maior que o GC. Quando realizada a análise intragrupo, apenas o GE
mostrou redução significativa das medidas de coxa direita entre a primeira
e terceira avaliação, mostrando que a drenagem linfática foi eficaz na re-
dução de medidas desta região.

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Tabela 4 - Análise estatística da redução de medidas em coxa esquerda.

GE= grupo experimental; GC,=grupo controle; Dif.12= diferença entre a primeira e


a segunda avaliação; Dif.13= diferença entre a primeira e a terceira avaliação. Nível de
significância <0,05.
Nas colunas encontram-se as análises intragrupo e nas linhas as análises intergrupo.
*Análise Intragrupo: teste T.
Valor p (1-2): análise intragrupo entre a primeira e segunda avaliação.
Valor p (1-3): análise intragrupo entre a primeira e terceira avaliação.
**Análise Intergrupo: teste Mann-Whitney.
+
Estatisticamente significativo.

Referente a coxa esquerda não foi verificada redução significativa das


medidas entre GE e GC. Entretanto, no GE, houve maior redução de
medidas em relação ao GC. Para a análise intragrupo, o GE apresentou
diferença significativa entre a primeira e segunda avaliação, resultado não
observado no GC, mostrando que o GE apresentou redução significativa-
mente maior quando comparada ao GC.

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4. DISCUSSÃO

A FEG é apresentada por uma modificação na estrutura histológica


da pele e por uma alteração no tecido conjuntivo, conseqüentemente in-
duz a uma polimerização exagerada das glicosaminoglicanas, o que resulta
no aumento da retenção de água, sódio e potássio, contribuindo na ele-
vação da pressão intersticial e provocando compressão de veias, vasos lin-
fáticos e nervos. Está presente em 80/ 90% da população feminina após a
puberdade, em regiões da cintura pélvica, membros inferiores e abdômen
(SANTOS et al, 2011).
Existem vários fatores predisponentes no aparecimento do FEG. Po-
rém neste estudo foram analisados fatores como o uso das pílulas anticon-
cepcionais, no qual 100% das pacientes, tanto GE e GC, faz uso. Segundo
Dalsasso (2007), a pílula anticoncepcional, por ter em sua constituição
hormônio feminino desencadeia as alterações nos adipócitos, promoven-
do um acúmulo de liquido no interstício, assim, promovendo a FEG.
Outra provável etiologia para FEG é o tabagismo. Segundo Wei-
mann (2004, as substâncias do cigarro causam espessamento das paredes
dos vasos sanguíneos e prejudicam a circulação já deficiente no FEG. No
presente estudo 100% das participantes relataram não fazer uso.
Em relação à prática de atividade física verificou-se que 100% das
participantes não realizam exercícios. De acordo com Campos (2000), o
sedentarismo permite menor solicitação dos músculos, ocasionando um
menor consumo de energia das células e conseqüentemente aumento da
gordura. A falta de exercício físico diminui a capacidade circulatória, di-
minuindo a drenagem e a oxidação de toxinas, levando ao FEG.
Como fatores determinantes do FEG destacam-se os hábitos alimen-
tares e a ingestão hídrica. Segundo Ribeiro et al. (2001) descreve que uma
dieta rica em gordura ou carboidrato e hábitos alimentares como comer
muito à noite e pouco durante o dia, aumenta a composição e o armazena-
mento de gorduras, favorecendo o aparecimento do FEG.
Quanto a ingestão hídrica, Weimann (2004), recomenda a ingestão
hídrica de 2 litros por dia. O gás carbônico, quando dissolvido na água,

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transforma-se em ácido carbônico. O excesso desta substância na derme e
hipoderme provoca a acidificação dos tecidos, onde o pH é normalmente
levemente alcalino e essa alteração do pH provoca o endurecimento das
fibras protéicas (colágeno e elastina), que perdem sua capacidade de reter
líquido, com diminuição da elasticidade da pele e do tecido adiposo, além
de induzir alterações de permeabilidade e resistência dos capilares sanguí-
neos, desencadeando a FEG.
Para a verificação de redução de medidas, utilizou-se a perimetria na
região glútea e coxa, onde verificou que após 4 sessões de DLM, duas ve-
zes na semana, as participantes do GE apresentaram redução para todas as
medidas, apesar da região glútea não apresentar redução significativa. Pic-
cinin et al, (2009) relata em seu estudo que a drenagem linfática manual
no membros inferiores feita da prega umbilical até a perna, por 10 sessões,
duas vezes por semana, foi benéfica na reabsorção do líquido intersticial
e conseqüente reabsorção do edema residual. Foi verificado diminuição
do edema de membros inferiores por meio da mensuração da perimetria.
Houve diminuição estatisticamente significativa da média das medidas
perimétricas entre a primeira e a segunda e terceira avaliação. Constatou-
se que após 7 dias do início do tratamento com aplicação de duas sessões
de DLM diminuição no edema de membros inferiores.
Com a continuidade do tratamento a diferença não aumentou; to-
davia, manteve-se de forma que não houve nova formação de edema. Ou
seja, a DLM proporcionou efeitos rápidos e duradouros diante da manu-
tenção do tratamento.
Meyer (2008) que avaliou em seu estudo, por meio de ressonância
magnética, os efeitos da DLM em três mulheres que apresentavam FEG
de grau moderado ou avançado. As pacientes foram submetidas a 20 ses-
sões da técnica em região anterior e posterior da coxa e perna, em dias
alternados, três vezes na semana, com duração de 60 minutos cada ses-
são. Os resultados encontrados demonstraram que a drenagem linfática
promoveu a redução de liquido excessivo presente no espaço intersticial,
melhorando o processo de fibrose e aparência da pele (MEYER, 2008).
No estudo de Brandão (2010), utilizou-se a DLM em 10 pacientes,

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em 10 sessões de duração de 60 minutos cada, a terapia adotada foi a de
Leduc, aplicada em todo corpo da paciente. Não houve diferença sig-
nificante entre no grau de FEG, porem mostrou ser coadjuvante no tra-
tamento de FEG, proporcionando melhora visual no aspecto da pele e
aumentando a auto-estima das pacientes de forma significativa.
Em relação à verificação da FEG e sua evolução, segundo Santos et
al. (2011) é importante realizar o acompanhamento padronizado, por
meio de fotografia para verificar a eficácia antes, durante e depois do tra-
tamento, comparando-as e permitindo a avaliação da evolução. Esta deve
ser obtida em condições padronizadas de iluminação, fundo e posição da
câmera e das participantes, tanto na foto anterior quanto na posterior ao
tratamento, a fim de garantir maior confiabilidade dos resultados, corro-
borando a metodologia utilizada no presente estudo, no qual as imagens
fotográficas foram tiradas pré, durante e após o tratamento para futura
visualização e comparação dos resultados.
Galvão (2005) utilizou este método para avaliação da eficácia da
drenagem linfática sobre o FEG de mulheres. Foram obtidas fotos pré e
após tratamento, sob condições padronizadas de iluminação, fotógrafo,
máquina fotográfica utilizada e posição do paciente. Após a análise das fo-
tos obtidas, foi constatado que não houve melhora significativa no quadro
após o tratamento. Todavia, Brandão et al. (2010) observaram redução
visual significativa no aspecto da pele e no grau de FEG após 10 sessões
de drenagem linfática. Sugere-se que a melhora visual, para estes autores
deva-se à remoção do excesso de líquido presente no interstício propor-
cionado pela DLM (VAIRO et al., 2009). Corroborando Brandão et al.
(2010), resultados visuais positivos foram obtidos neste estudo.
A dificuldade em avaliar o FEG é uma das principais dificulda-
des em pesquisas científicas voltadas ao tratamento deste acometimento
cutâneo. Além disso, é caracterizada como uma doença multifatorial que
pode ser influenciada por fatores hormonais e circulatórios que alteram o
equilíbrio das glicosaminoglicanas e das proteoglinas da substância fun-
damental amorfa (ROSSI, VERGNANINI, 2000). Entretanto, de modo
geral, o GE que foi submetido à DLM apresentou redução do FEG na

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região glútea e posterior de coxa corroborando outros estudos (GUIRRO
& GUIRRO, 2004) que afirmam que a massagem de DLM é eficaz no
tratamento do FEG.
Acredita-se que se associado a este tratamento houvesse a prática de
atividade física, reeducação e/ou controle alimentar por meio de uma die-
ta apropriada, bem como a utilização de outros recursos como a endermo-
logia, o resultado seria mais imediato no tratamento dessa doença. Sendo
assim, sugere-se a realização de novos estudos na área.

5. CONCLUSÃO

Conclui-se que a drenagem linfática manual é eficaz no tratamento


do fibro edema gelóide e na redução de medidas em mulheres.

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Title: Analysis of manual lymph drainage in the treatment of cellulitis and in the reduc-
tion measures.
Authors: Natália Batista Silva; Sidilaini Reis Silva; Ligia de Souza.

ABSTRACT: The cellulitis is a change in the skin characterized by irregular contours,


defined as a localized metabolic dysfunction. The aim of this study was to verify the
effectiveness of manual lymph drainage (MLD) in the treatment of cellulitis and re-
duction measures. The study included eight volunteers, divided into two groups: con-
trol group (CG) and experimental group (EG) underwent manual lymphatic drainage
(MLD). Were performed eight sessions of MLD. The degree of cellulite was assessed,
taken photos and made the perimeter of the gluteus and thigh. After treatment with
MLD, we observed improvement in skin appearance of the participants in the GE. In
GC, there was no change in skin appearance. There was a greater reduction in GE’s thigh
in the CG. We conclude that the MLD contributes to the improvement of the appearan-
ce of EGF and reduction measures.
Keywords: Cellulitis. Manual lymph drainage. Dermato-functional physical therapy.

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