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Anais do XVIII Congresso Nacional do CONPEDI

Tema: “XX anos da Constituição da República do Brasil: reconstrução, perspectiva e desafios”


20, 21 e 22 de novembro de 2008 - Brasília – DF
Membros da Diretoria:

Presidente
Prof. Marcelo Campos Galuppo

Vice-Presidente
Prof. Aires José Rover

Secretário Executivo
Prof. Vladmir Oliveira da Silveira

Secretária-Adjunta
Profª. Eneá de Stutz e Almeida

Conselho Fiscal
Prof. Edvaldo Britto
Prof. Marcelo Varella
Prof. Jaime Wandederley Gasparotto
Prof. José Luiz Bolzan (Suplente)
Profª. Juliana Neuenschwander Magalhães (Suplente)

Representante Discente
Prof. André Guilherme Lemos Jorge

Colaboradores:

Daniela Menengoti Gonçalves Ribeiro


Mestre em Direito - UFSC
Doutoranda em Direito - PUC/SP

Heloisa Simon
Graduanda em Ciência da Computação - UFSC

Elisangela Pruencio
Graduanda em Administração - ASSESC

Claudia Wagner Fritzke


Graduanda em Administração – Estácio de Sá
Graduanda em Serviço Social – UFSC

Leonardo Farage Freitas


Desenvolvedor do programa dos Anais em CD-Room - e-mail: leofarage@msn.com
Graduando em Ciência da Computação – UFSC
C749a Congresso Nacional do CONPEDI (17. : 2008 : Brasília, DF)
Anais do [Recurso eletrônico] / XVII Congresso Nacional
do CONPEDI. – Florianópolis : Fundação Boiteux, 2008.
1 CD-ROM

Inclui bibliografia
ISBN: 978-85-7840-019-4

1. Direito – Estudo e ensino (Pós-graduação) – Brasil –


Congressos. 2. Direito – Filosofia. I. Título.
CDU: 34

Catalogação na publicação por: Onélia Silva Guimarães CRB-14/071

FUNDAÇÃO BOITEUX
2008
ÍNDICE

Apresentação ..................................................................................................................35

ACESSO À JUSTIÇA E TUTELA DOS DIREITOS

Adriana Fasolo Pilati Scheleder - SIGNIFICADO CONSTITUCIONAL DO ACESSO


À JUSTIÇA:O MAIS BÁSICO DOS DIREITOS HUMANOS.....................................38

Aline Maria da Rocha Lemos; Maísa Pacheco - TUTELA ANTECIPADA DE


OFÍCIO............................................................................................................................55

Danielle Annoni - O MOVIMENTO EM PROL DO ACESSO A JUSTIÇA NO


BRASIL E A CONSTRUÇÃO DE UMA DEMOCRACIA PLURALISTA..................72

Erika Maeoka - O ACESSO À JUSTIÇA E A PROTEÇÃO DOS DIREITOS


HUMANOS: OS DESAFIOS À EXIGIBILIDADE DAS SENTENÇAS DA CORTE
INTERAMERICANA.....................................................................................................87

Fernando Horta Tavares; Francis Vanine de Andrade Reis - NATUREZA E


CONVENÇÃO: UMA CRÍTICA À VISÃO ESSENCIALISTA DO INTERESSE
PROCESSUAL A PARTIR DA MECÂNICA SOCIAL DE K. POPPER...................110

Ivan Aparecido Ruiz; Judith Aparecida de Souza Bedê - REVISITANDO NOVOS


CAMINHOS PARA O ACESSO À JUSTIÇA: A MEDIAÇÃO..................................132

José Américo Silva Montagnoli - JUSTIÇA FEDERAL INTERIORIZADA E O


ADVENTO DOS JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS (JEFS): A CONSTRUÇÃO
BRASILEIRA DE UM MODELO JUDICACIONAL DE SIMPLIFICADA
ACESSIBILIDADE CIDADÃ......................................................................................149

Juliana Cavalcante Dos Santos; Lilia de Pieri; Patrícia Persona Chamilete Rizzi - A
RELEVÂNCIA DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO NA SOLUÇÃO DOS
CONFLITOS E NA GARANTIA DA EFETIVIDADE DOS DIREITOS...................163

Juliana de Camargo Maltinti - TUTELA INIBITÓRIA E INTERNET: O PROCESSO


CIVIL APLICADO NA PROTEÇÃO DA PRIVACIDADE........................................178

Leonardo Augusto Dos Santos Lusvarghi; Luis Otávio Vincenzi de Agostinho -


TUTELA COLETIVA DE DIREITOS INDIVIDUAIS E O ART. 1º, PARÁGRAFO
ÚNICO DA LEI Nº 7347/85.........................................................................................201

Luciane Moessa de Souza - INSTRUMENTOS PROCESSUAIS DE CONTROLE DA


OMISSÃO DO PODER PÚBLICO NA IMPLEMENTAÇÃO DE DIREITOS
FUNDAMENTAIS: AÇÕES CONSTITUCIONAIS, MEDIDAS JUDICIAIS E
RESPONSABILIZAÇÃO DO ESTADO OMISSO......................................................218

Luciano Picoli Gagno - DIREITO INDIVIDUAL HOMOGÊNEO: EM BUSCA DE


UMA INTERPRETAÇÃO MAIS COERENTE COM O DIREITO FUNDAMENTAL
DE ACESSO À JUSTIÇA.............................................................................................251

2
Leticia Jean do Amaral Arantes Daré - O DIREITO À ALIMENTAÇÃO COMO
CONSEQUÊNCIA DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.....803

Luana Paixão Dantas do Rosário - POLITIZAÇÃO E LEGITIMIDADE DISCURSIVA


DO JUDICIÁRIO NA DEMOCRACIA CONSTITUCIONAL...................................824

Luiz Henrique Urquhart Cadernartori; Paulo Márcio da Cruz - SOBRE O PRINCÍPIO


REPUBLICANO: APORTES PARA UM ENTENDIMENTO DE BEM COMUM E
INTERESSES DA MAIORIA.......................................................................................845

Maritana Copatti; Neida Terezinha Leal Floriano - GESTÃO PÚBLICA


COMPARTIDA E A POSSIBILIDADE DE CONCRETIZAÇÃO DOS DEVERES E
DIREITOS DE CIDADANIA.......................................................................................856

Rosalice Fidalgo Pinheiro - CONTRATO E DEMOCRACIA: CONTORNOS DE UMA


TENSÃO VALORATIVA ENTRE PESSOA E MERCADO......................................876

Zoraide Sabaini dos Santos Amaro – O RECONHECIMENTO DA PERSONA-


LIDADE JURÍDICA DO NASCITURO DESDE A CONCEPÇÃO NO SISTEMA
JURÍDICO NACIONAL – COMO FORMA DE SOLIDIFICAR A EXIGENTE
ATUAÇÃO INTEGRAL DO FENÔMENO HUMANO NAS RELAÇÕES
JURÍDICAS...................................................................................................................901

DESENVOLVIMENTO E CIDADANIA

Alice Giacomini Vainer; Wilson Madeira Filho - PROCURANDO DISCOS


VOADORES NO CÉU:A ELABORAÇÃO DO PROJETO DE LEI DO PLANO
DIRETOR PARTICIPATIVO DE ITAPIRAPUÃ PAULISTA...................................923

Aline Maria da Rocha Lemos; Maisa Medeiros Pacheco de Andrade - O DIREITO


SOCIAL FUNDAMENTAL DE ACESSO à ENERGIA E SUA RELAÇÃO COM O
DESENVOLVIMENTO................................................................................................944

Camila Bruna Zanetti; Fabiano Gomes - A RENDA MÍNIMA E O DIREITO


ECONÔMICO...............................................................................................................957

Camila Santos da Cunha; Cristiane Epple; Maikiely Herath - O DIREITO


FUNDAMENTAL DE PARTICIPAÇÃO SOCIAL NO ESTADO DEMOCRÁTICO
DE DIREITO.................................................................................................................976

Claudia Franco Correa - DIREITO DE LAJE: O DIREITO NA VIDA E A VIDA NO


DIREITO.......................................................................................................................995

Cristiane Ribeiro da Silva; Gabriela Saes Pedroso; Juliana Izar Soares da Fonseca
Segalla - O IDOSO E A DEFICIÊNCIA – UM NOVO OLHAR À QUESTÃO DA
INCLUSÃO SOCIAL DO IDOSO..............................................................................1017

5
O DIREITO SOCIAL FUNDAMENTAL DE ACESSO À ENERGIA E SUA
RELAÇÃO COM O DESENVOLVIMENTO 

THE FUNDAMENTAL SOCIAL RIGTH OF ENERGY ACCES AND ITS


RELANTIONSHIP WITH DEVELOPMENT

Maisa Medeiros Pacheco de Andrade


Aline Maria da Rocha Lemos

RESUMO

A energia é a força que move o mundo. Tudo que é matéria possui energia, seja ela
biológica ou não. A energia pode se manifestar de variadas formas. As mais comuns são
a cinética, a nuclear, a térmica, a hidráulica, a solar, a eólica e a elétrica. Podendo ser
subdividas em energias secundárias e primárias. As energias primárias são aquelas
formas de energia que encontramos diretamente na natureza e que não sofreram
nenhuma transformação, como por exemplo, a energia eólica. Enquanto que as
secundárias são aquelas que já sofreram interferência do homem e se apresentam já na
forma como serão utilizadas por este. Porém, no presente trabalho a energia elétrica terá
um enfoque maior, devido a sua grande importância na vida cotidiana da civilização
hodierna. O direito social fundamental é imprescindivel para se alcançar a liberdade e
uma vida diga, além de ser fundamental para o desenvolvimento social, visto
possibilitar a melhoria das condições de vida das populações mais carentes. Através do
acesso à energia elétrica, tais populações poderão usufruir de melhores condições de
saúde, educação, trabalho, lazer, informação, segurança, enfim, poderão melhorar
consideravelmente sua condição de vida. Visando promover o acesso universal à
energia, o Governo Federal implantou algumas políticas públicas, dentre elas o
Programa Nacional do Biodiesel, imprescindível para a promoção do desenvolvimento
social do país.

PALAVRAS-CHAVES: ENERGIA- DIREITOS FUNDAMENTAIS –


DESENVOLVIMENTO

ABSTRACT

The energy is everything around you. Everything that is matter haves energy, organic or
not. The energy can manifest itself in many forms. The most common forms are the
kinetic, nuclear, thermal, hydro, solar, wind and electric energies. They can be
subdivided in secondary and primary energies. The primary energies are those forms of
energy that are directly in nature and not suffered any processing, such as wind energy.
While the secondary are those that have suffered interference of man and is already
present in the way will be used for him. However, in this work the electric energy will


Trabalho publicado nos Anais do XVII Congresso Nacional do CONPEDI, realizado em Brasília – DF
nos dias 20, 21 e 22 de novembro de 2008.

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have a greater focus, due to its importance in daily life of civilization current. The
fundamental social right of energy acces is very important to freedom and a dignty life,
as essential to social development, enabling the improvement of the living conditions of
poor people. Through access to electric energy, such people could benefit from better
conditions of health, education, work, leisure, information, security, finally, may
considerably improve their condition of life. To promote universal access to energy, the
federal government implemented some public policies, including the National
Programme of Biodiesel, vital to the promotion of social development of the country.

KEYWORDS: ENERGY – FUNDAMENTAL RIGHTS - DEVELOPMENT

1. INTRODUÇÃO

O mundo é movido por uma força denominada de energia. Esta energia é


encontrada em tudo que for considerado matéria, podendo ser classificada como
primária ou secundária. As energias primárias são aquelas formas de energia que
encontramos diretamente na natureza e que não sofreram nenhuma transformação, como
por exemplo, a energia eólica. Enquanto que as secundárias são aquelas que já sofreram
interferência do homem e se apresentam já na forma como serão utilizadas por este.
(ÁLVARES: 1978).

O presente estudo tem como principal objetivo analisar a importância da energia


elétrica, forma de energia secundária, atuando como verdadeira mola propulsora para o
desenvolvimento social, através do leque de possibilidades que é aberto no momento em
que se tem acesso a este tipo de energia.

Além de demonstrarmos que o acesso à energia elétrica é considerado um direito social


fundamental imprescindível para se alcançar a liberdade e a vida digna, características
intrínsecas de qualquer ser humano.

Por fim, abordaremos, outrossim, as ações do governo voltadas ao incentivo do uso de


fontes alternativas de energia e à promoção do acesso à energia elétrica nas
comunidades mais isoladas do país.

2. ENERGIA: CONCEITUAÇÃO, TIPOS E USOS.

2.1 Conceito

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No campo semântico, o vocábulo “energia” pode ganhar diversos significados. Dentre
eles a noção de vitalidade, de força, de capacidade para realizar determinada atividade.
(FERREIRA : 1986)

Numa outra perspectiva, se pararmos para observar o Universo perceberemos que este
se encontra sempre em movimento, sendo o mesmo, resultado da atuação de uma
determinada força, não perceptível aos nossos olhos, mas capaz de mover tudo e todos e
de modificar o estado em que as coisas se encontram.

Esta força, responsável em movimentar a realidade e tudo que nela se encontra, é


denominada de “energia”. Assim, a energia encontra-se presente em tudo que compõe a
realidade que nos cerca e conseqüentemente em tudo que consideramos ser matéria.

Ao afirmarmos que energia está presente em toda espécie de matéria devemos fazer
uma breve distinção entre a matéria com vida e a matéria sem vida. Assim, podemos
distinguir a energia biológica, presente na matéria viva, da energia não biológica, ou
simplesmente material, presente no restante das coisas desprovidas de vida, como por
exemplo, o ar e a água.

Desta forma, a energia biológica é aquela destinada à manutenção da vida dos seres
vivos, enquanto que a energia material é aquela destinada a realizar determinada
atividade, ou seja, é a capacidade de produzir trabalho.

A energia não existe na forma tangível como ocorre com a matéria e não ocupa lugar no
espaço, porém está sempre unida a uma partícula material ou está contida nesta.
(ÁLVARES:1978).

Assim, podemos dizer que a matéria pode servir como local de concentração de energia
ou um mero instrumento de condução da mesma, não sendo a energia criada e sim
adquirida, armazenada ou conduzida. (ÁLVARES:1978).

2.2 Tipos De Energia

Após esta breve conceituação do que é energia, podemos expor aqui alguns tipos de
energia, ou em melhores palavras, como a energia pode se manifestar.

A energia pode se manifestar de variadas formas. As mais comuns são a cinética, a


nuclear, a térmica, a hidráulica, a solar, a eólica e a elétrica. Podendo subdividi-las em
energias secundárias e primárias. (ÁLVARES:1978).

As energias primárias são aquelas formas de energia que encontramos diretamente na


natureza e que não sofreram nenhuma transformação, como por exemplo, a energia
eólica. Enquanto que as secundárias são aquelas que já sofreram interferência do
homem e se apresentam já na forma como serão utilizadas por este.

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Dentre as fontes secundárias de energia encontramos a energia elétrica que é o objeto do
presente estudo. Porém, antes de falarmos especificamente da energia elétrica, vamos
deixar claro um ponto de suma importância para este trabalho que é a diferença entre ela
e a energia, propriamente dita, em seu estado bruto (energia primária).

Primeiramente, devemos ressaltar que a energia bruta, ao sofrer interferência humana,


produz diversos efeitos, dentre eles a própria eletricidade. Sendo a eletricidade resultado
da conversão dessa energia primária em energia secundária.

Esta energia bruta, advinda diretamente da natureza, permite o seu armazenamento,


permitindo uma futura conversão em energia secundária, no entanto, esta não pode ser
armazenada, devendo ser utilizada ou conduzida de imediato. Sendo este, o caso da
energia elétrica.

2.3 Energia Elétrica

Para iniciarmos nosso estudo acerca da importância da energia elétrica na vida


humana, é fundamental que façamos uma breve conceituação do que ela é e demonstrar
quais são seus usos mais comuns na vida dos seres humanos.

A energia elétrica “consiste em cargas infinitesimais, chamadas eletrônicas, e


estas partículas são forçadas a se locomover em uma mesma direção e sentido, daí
resultando a corrente elétrica”. (ÁLVARES:1978).

Assim, a eletricidade está intimamente ligada à movimentação de cargas


elétricas por meio de um campo detentor de potencial elétrico (eletricidade dinâmica),
não se descartando a idéia da existência de uma eletricidade estática em que as cargas se
encontram inertes. (GALVÃO: 2004)

A eletricidade, considerado hoje o principal efeito da conversão da energia


primária, é capaz de realizar diversas atividades, podendo ser utilizada de variadas
maneiras. Dentre as várias formas de utilização da energia elétrica, podemos citar aqui
algumas das mais comuns hoje em dia na sociedade, seja no setor industrial, no
residencial ou até mesmo no campo. São elas: a iluminação, pública ou não, a utilização
de eletrodomésticos, a alimentação da estrutura do setor industrial (força motriz), a
geração de calor (aquecimento) e a refrigeração. (GALVÃO: 2004)

3. ENERGIA E SUA RELAÇÃO DIRETA COM A DIGNIDADE HUMANA

Todos os seres humanos têm o direito a serem livres e a possuir uma vida digna. Estes
direito são imprescindíveis para que o individuo possa gozar de certo grau de liberdade
individual e de sua cidadania.

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Mas o que seria o conceito mais adequado para dignidade humana? Diante de uma
analise filosófica, a dignidade é algo intrínseco ao ser humano diante da sua condição de
ser especial. Assim, todos os seres humanos, por serem seres especiais, devem ganhar
um tratamento digno e respeitável, condizente com tal condição. Outrossim, podemos
dizer que é dignidade humana é o conjunto de coisas ou atos que uma pessoa ou grupo
social consideram básicos para se ter um mínimo grau de liberdade na realização de
suas escolhas e no convívio em sociedade. Ressalte-se, todavia, que a noção do que é
digno pode variar de sociedade para sociedade ou até mesmo de pessoa para pessoa.
(SEN:2000).

No que pertine a questão da liberdade, esta também é algo intrínseco a natureza


humana, não sendo constituída apenas do direito de ir e vir, mas do direito de possui um
leque de oportunidades que lhe garanta condições de fazer suas próprias escolhas de
maneira consciente.

Com relação à energia elétrica, podemos dizer que ela é imprescindível para se ter uma
vida digna, provendo uma situação de bem-estar social aos seus cidadãos, e que também
é de suma importância para o desenvolvimento socioeconômico de uma sociedade, visto
que é essencial para a realização de atividades básicas da vida humana como cozinhar,
estudar e trabalhar. (SANCHES: 2006)

É notória, na zona rural, a insuficiência da iluminação no ambiente doméstico e a


necessidade da utilização do período noturno para o desenvolvimento de atividades
educacionais, culturais e laborais. Além disso, a disponibilidade de energia elétrica
contribui para reduzir a carga de trabalho dos habitantes da zona rural, já que permite a
utilização de aparelhos eletrodomésticos e de outras máquinas que auxiliam o seu
trabalho. Outrossim, o uso da eletricidade permite o acesso das populações mais
carentes à comunicação e à informação. Além de proporcionar melhores condições de
saúde, de educação e da qualidade de vida de um modo geral.

A implementação do acesso à energia elétrica na zona rural também se torna de grande


importância para a zona urbana, usuária mais assídua deste tipo de energia. Isto se dá
pelo fato de que ao promover a eletrificação da zona rural muitos de seus moradores
deixarão de migrar para a zona urbana, diminuindo consideravelmente os bolsões de
pobreza que se instalam nos centros urbanos. Assim, tendo a zona rural a chance de se
desenvolver através da introdução da energia elétrica no campo, não terá mais o
camponês tanto interesse em migrar para o setor urbano, proporcionando assim, o
desenvolvimento tanto da zona rural, como a continuação do desenvolvimento, de
maneira mais equilibrada, da zona urbana.

A utilização da energia elétrica é uma questão diretamente ligada à efetividade dos


direitos sociais através da realização de políticas públicas pelo governo, assunto este
que iremos discorrer mais adiante. No entanto, é importante destacarmos que apesar de
ser questão relativa aos direito sociais, a implementação do uso da energia elétrica
também está relacionada à efetivação dos direitos individuais, visto que o seu uso
permite o alcance da liberdade individual dos cidadãos. (BARRETO: 2004).

Assim, com a universalização do uso da energia elétrica através de políticas públicas


pelo governo, estar-se-á dando espaço para se promover o acesso à educação, à cultura,
a um sistema de saúde de boa qualidade e ao desenvolvimento econômico, através da

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possibilidade para realização de atividades econômicas, até mesmo no período noturno,
mas também estar-se-á objetivando a concretização do direito individual de liberdade,
através da possibilidade auferida ao cidadão, a partir da efetivação prévia destes direitos
de segunda geração, de realizar suas próprias escolhas de forma consciente.

4. O DIREITO SOCIAL FUNDAMENTAL DE ACESSO À ENERGIA


ELÉTRICA

No direito existem os chamados direito fundamentais do homem. Dentre tais


direitos encontramos a classe dos direitos sociais (TORRES:2001).

É de suma importância, inicialmente, apresentarmos as características gerais


desses direitos fundamentais, assim como, as características que classificam alguns
destes direitos como direitos sociais. Tais características serão imprescindíveis para se
perquirir acerca da classificação do direito de acesso á energia como direito social
fundamental.

São considerados direitos fundamentais determinadas normas jurídicas


positivadas constitucionalmente, de forma expressa, ou não (SARLET:2008), revestidas
de valores fundamentais para todos os seres humanos e dotados de força normativa,
podendo assim, ser exigidos perante o Estado e perante terceiros.

A fundamentalidade de tais direito se dá ao fato de estarem diretamente ligados a


valores imprescindíveis para se auferir a liberdade plena (liberdade real) e uma vida
digna(GALINDO: 2001), visto que todo ser dotado da condição de humano é,
indiscutivelmente, dotado de dignidade. Esta dignidade está diretamente relacionada
com a idéia de respeitabilidade à sua condição de ser especial. Além disso, a liberdade
(liberdade real e não apenas a liberdade de ir e vir) também é uma característica
intrínseca a condição de ser humano, sem ela, não podemos dizer que um humano vive
plenamente[1].

Os valores da dignidade e da liberdade são valores pré-estatais encontrando-se


positivados na Constituição Brasileira através de princípios. Tais princípios atuam como
alicerce de todo o sistema normativo, já que os valores ali positivados se irradiam por
todo o sistema, devendo a concretização da liberdade e da dignidade ser vista sempre
como um objetivo a ser alcançado na aplicação de todas as normas do sistema. A
importância deles é perfeitamente comprovada ao se analisar o texto constitucional,
visto estarem elencados nos primeiros artigos da Carta Magna Federal, como
fundamentos e objetivos da República brasileira.

Dentro do grupo dos direito fundamentais percebe-se a existência de uma classe de


direitos denominada de direitos sociais. Estes direitos têm natureza integradora, ou seja,
têm a função de inserir o indivíduo dentro da vida em sociedade através do aumento do
leque de possibilidades a serem por ele escolhidas (liberdade real), auferindo com isso,
condições mais dignas de vida. Desta forma, os direitos sociais fundamentais apesar de

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serem considerados direitos voltados para toda uma coletividade, também contribuem
para alcançar a liberdade individual dos cidadãos.

Diante destas breves considerações acercas dos direitos sociais fundamentais, podemos
a partir de então perquirir acerca da caracterização do acesso à energia como direito
social fundamental.

Como já mencionado em momento anterior, ao se ter acesso á energia elétrica os


indivíduos obtém melhores condições de vida, já que terão acesso à saúde, educação,
lazer de melhor qualidade, como também, terão melhores condições de trabalho, não
necessitando migrar para a capital, atrás de um leque maior de oportunidades, evitando
assim, o aumento dos bolsões de pobreza ali existentes.

Assim, ao se ter acesso à energia estar-se-á possibilitando aos indivíduos residentes nas
áreas mais afastadas dos centros urbanos a aferição de um número maior de
oportunidades.

Ao proporcionar um leque maior de oportunidades, os indivíduos terão a possibilidade


de tomar suas decisões e fazer suas escolhas de forma mais consciente, podendo
escolher livremente o que considerar mais adequado e digno à sua existência. Desta
forma, ao se ter acesso à energia elétrica estarão os indivíduos gozando de liberdade e
dignidade, intrínsecas a condição de humanos, permitindo-lhes exercerem sua função de
cidadãos.

Portanto, ao concluir-se que o acesso à energia é imprescindível para se alcançar a


liberdade plena e o gozo de uma vida digna, além de ser exigível perante o Estado
através da implementação de políticas públicas, podemos afirmar que o acesso à energia
elétrica é um direito social fundamental.

5 - A MATRIZ ENERGÉTICA BRASILEIRA E OS PROGRAMAS DO


GOVERNO FEDERAL QUE BUSCAM PROMOVER O ACESSO À ENERGIA.
BREVES COMENTÁRIOS.

Como visto no tópico acima, o acesso à energia é um direito social fundamental,


dotado de exigibilidade, podendo ser exigido através da implementação de políticas
públicas que permitam a universalização deste acesso.

Desta forma, é imprescindível que seja feita uma análise, mesmo que de forma breve, de
algumas políticas públicas do governo que objetivam universalizar o acesso à energia
nas mais diversas regiões do país.

Assim, para adentrarmos na questão das políticas públicas, faz-se mister apresentarmos
a forma que se distribui a oferta de energia no Brasil

Como pode se verificar no gráfico abaixo, ainda é, na sua grande maioria, originada do
petróleo e de seus derivados, sendo seguida da biomassa e da hidroeletricidade.

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Esta grande dependência brasileira com relação à energia proveniente do
petróleo e de seus derivados não pode ser vista com bons olhos, devido à ameaça de
escassez deste produto, a sua vulnerabilidade com relação aos preços impostos pelo
mercado internacional, além do seu elevado grau de efeitos poluentes.

Figura 1 – Oferta interna de energia no Brasil – ano 2007.[2]

Em outra perspectiva, com relação à oferta de energia elétrica, em particular, podemos


observar no gráfico disponibilizado pelo Ministério das Minas e Energia que tal oferta é
predominantemente originada dos potenciais hidrelétricos.

951
Figura 2 – Matriz Oferta de Energia Elétrica – 2007.[3]

Esta preferência brasileira pelo uso dos potenciais hidrelétricos para a geração de
eletricidade, também não é uma alternativa que podemos considerar como sendo a
ideal.

Apesar do Brasil possuir grandes potenciais nesta área, a utilização deste tipo de
energia requer a construção de obras grandiosas e de alto custo. Para a realização destes
empreendimentos é necessário o alagamento de grandes porções de terra, ocasionando
assim, a perda da biodiversidade local e o conseqüente desequilíbrio do ecossistema.

Além de provocar o desequilíbrio dos ecossistemas que circundam a área a ser


alagada para a construção das usinas hidrelétrica, as populações que vivem ao redor
também são afetadas, tendo em vista a necessidade de seu deslocamento para outras
áreas longe da usina a ser construída. (BERMANN: 2007).

Outros fatores desfavoráveis à utilização desta fonte de energia elétrica são a


sanzionalidade dos recursos hídricos e a dificuldade de distribuição da energia gerada,
para áreas mais distantes dos geradores hidroelétricos.

A disponibilidade dos recursos hídricos está diretamente ligada às condições climáticas


e pluviométricas da região onde as usinas se encontram. Assim, ocorrendo grandes
períodos de seca, a geração e transmissão de energia se vêem comprometidas.
(BERMANN: 2007).

952
Com relação à dificuldade de distribuição da energia gerada nas usinas, isto se dá
devido a 90% da geração e transmissão de energia elétrica no Brasil serem realizadas
através do Sistema Interligado Nacional (SIN). Desta forma, nas áreas em que este
sistema ainda não atua, o acesso à energia elétrica ainda é precário ou mesmo
inexistente.

O SIN demonstrou ser um sistema frágil durante a crise energética de 2001, quando a
escassez de água, decorrente da seca, diminuiu a quantidade de energia disponibilizada
na rede de distribuição nacional, escancarando a falta de planejamento energético do
país e os baixos investimentos dedicados à manutenção e ampliação de uma rede
confiável de transmissão de energia para todas as regiões do Brasil. (CALDAS: 2007).

Diante deste quadro de insatisfação e insegurança com relação ao sistema energético


nacional, o governo e a sociedade passaram a buscar alternativas para o
desenvolvimento de novas fontes de energia, evitando assim, a total dependência ao
sistema hidroelétrico e conseqüentemente, abrindo portas para proporcionar um maior
acesso à energia e o desenvolvimento social.

Uma das alternativas encontradas neste momento foi a implementação de


políticas públicas incentivadoras, tanto de novas fontes de energia que visavam a
independência quanto aos sistemas hidroelétricos, tanto de novas fontes que
possibilitassem um maior desligamento do petróleo e seus derivados. Dentre essas
políticas, devemos destacar o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel e o
Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica – PROINFA, sobre os
quais faremos breves considerações a seguir.

5.1. O Programa Nacional de Produção e Uso Do Biodiesel e Sua Relação Com o


Desenvolvimento Social

O Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel ganhou uma nova


roupagem e foi relançado no Brasil no ano de 2004, pelo Presidente Luis Inácio Lula da
Silva.

Tal programa tem como objetivo desenvolver um óleo diesel (biodiesel)


derivado de sementes oleaginosas, promovendo assim, a diminuição da dependência ao
petróleo e dos danos que a sua utilização causa ao meio ambiente.

Todavia, devemos destacar a importância desse programa para o


desenvolvimento social do Brasil, através da inclusão social do pequeno produtor rural e
o desenvolvimento das regiões mais carentes do país. Esta política pública possibilitará
uma maior oportunidade às comunidades rurais de auferirem renda, tendo em vista o
incentivo à agricultura familiar voltada à produção de matéria-prima para a obtenção do
biodiesel. Com uma auferição maior de renda estas populações terão condições de
obterem condições de vida mais dignas.

Além disso, através do desenvolvimento de fontes alternativas de biodiesel,


possibilitar-se-á o acesso à energia elétrica nas comunidades rurais mais afastadas e

953
mais carentes. Este acesso se dará através da utilização de geradores de energia,
alimentados pelo próprio biodiesel.

Ao terem acesso à energia elétrica, estas populações poderão alcançar um índice


de desenvolvimento social mais elevado, visto a partir daí, como dito no tópico 3 acima,
passarem a ter uma vida mais digna, já que proporciona a realização de atividades
básicas da vida humana como cozinhar, estudar e trabalhar, reduzir a carga de trabalho
dos habitantes da zona rural, já que permite a utilização de aparelhos eletrodomésticos e
de outras máquinas que auxiliam o seu trabalho. Além de permitir o acesso à
comunicação e à informação e de melhorar as condições de saúde e educação, enfim, da
qualidade de vida de um modo geral.

5.2 O Proinfa Como Caminho Alternativo Para Promoção Do Acesso À Energia


Elétrica

Como já mencionado em momento anterior, a matriz de oferta de energia


elétrica no Brasil é pouco diversificada, sendo predominante a utilização de potenciais
hidráulicos. Esta preferência pela utilização da hidroeletricidade, nos últimos anos, tem
provocado um certo nível de insegurança por parte dos usuários no que pertine a
segurança no fornecimento de energia em todo o território nacional.

Esta insegurança se acentuou na crise energética nacional ocorrida em 2001, diante da


clara falta de eficiência na distribuição de energia através do Sistema Interligado
Nacional (SIN).

Diante deste quadro, o Governo Federal implementou, mediante a Lei nº 10.438,


de 26 de abril de 2002, o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia
Elétrica – PROINFA. O mesmo foi instaurado com o objetivo de diversificar a matriz
energética nacional, mediante a utilização de fontes renováveis, garantindo assim, uma
maior grau de confiabilidade na transmissão de energia em todo o país, durante todos os
períodos do ano, além de promover a descentralização da geração energética, incluindo
agentes de pequeno e médio porte neste setor.

A geração de energia realizada de forma distribuída, ou seja, através da


implantação de pequenos sistemas isolados, ligados à rede elétrica, é também de suma
importância para a promoção do desenvolvimento social. Isto se dá devido a
possibilidade das comunidades que se encontram em regiões mais afastadas e que não
desfrutam da energia transmitida pela rede principal, poderem ter acesso à energia
elétrica.

Assim, ao gozarem do acesso à energia, através da utilização de sistemas


alimentados por fontes alternativas, as populações situadas em regiões mais isoladas,
passarão a desfrutar de condições de vida mais dignas, melhorando sua qualidade de
vida de um modo geral, já que a partir daí terão como realizar atividades básicas da vida
humana, indispensáveis para o seu desenvolvimento como integrante de uma sociedade.

954
6. CONCLUSÃO

Diante do exposto acima, podemos concluir que o acesso à energia elétrica é um


direito social fundamental de todos, visto ser indispensável para se alcançar a liberdade
real e uma vida dotada de dignidade.

O acesso a este tipo de energia é imprescindível para todos os seres humanos, devido à
importância da eletricidade na vida cotidiana, visto que possibilitara o desfrute de
melhores condições de saúde, educação, lazer, trabalho, segurança, enfim, poderão se
considerar inseridos na realidade da vida em sociedade e se sentir seres humanos
dotados de dignidade e liberdade de escolha.

Ao se enquadrar no rol de direito fundamentais, o acesso à energia elétrica ganha


força normativa, e, conseqüentemente, exigibilidade. Tal exigibilidade é demonstrada
através das políticas públicas implementadas pelo governo visando a universalização
desse acesso.

Dentre as políticas públicas implementadas pelo governo com o objetivo acima


referido, podemos citar o Programa Nacional do Biodiesel e o PROINFA, que são
vistos, atualmente, como imprescindível, tanto no que pertine a utilização de novas
fontes de energia renováveis, buscando assim, a independência com relação ao petróleo,
como na promoção do desenvolvimento social.

Assim, estimular a universalização do acesso à energia elétrica é fundamental


para proporcionar a todos os cidadãos condições de usufruir uma vida dotada de
dignidade e liberdade, tendo em vista o leque de oportunidades que lhes serão abertos a
partir de então.

7. BIBLIOGRAFIA

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1978.

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2001. 2ª ed. ver. atual.

[1] A liberdade e a dignidade do ser humano são axiomas jurídicos, ou seja, são
verdades universais indiscutíveis.

[2]
http://www.mme.gov.br/site/menu/select_main_menu_item.do?channelId=1432&pageI
d=15304

[3]
http://www.mme.gov.br/site/menu/select_main_menu_item.do?channelId=1432&pageI
d=15304

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