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Introdução

Neste trabalho, trataremos de ‘Casamento no Direito Internacional Privado’


também conhecido como ‘Casamento Interjuridicionais’, que são em suma casamentos
envolvendo cidadãos de diferentes nacionalidades que, assim como o significado da
palavra casamento, entende-se por uma união permanente entre ambas as pessoas
envolvidas sendo este um ato jurídico e dependente da manifestação livre e espontânea
dos nubentes. Sabe-se que para que aconteça o matrimônio, é necessário que os
envolvidos sejam considerados aptos perante a lei para se estabelecer a comunhão
plena.
Abaixo serão apresentados um compilado de informações explicando
detalhadamente sobre casamento no estrangeiro e casamento de estrangeiros no Brasil,
as causas de impedimento e invalidade, o código civil, a LINDB (Lei de Introdução às
Normas do Direito Brasileiro), mostraremos como ocorre o regime de bens além de um
estudo de casos reais.

Casamento no Direito Internacional Privado

O casamento é objeto de Direito Internacional Privado, considerando que é


comum que vínculos matrimoniais e relações decorrentes tenham conexão
internacional. Pode ocorrer, por exemplo, quando os nubentes são domiciliados em
Estados diversos, quando possuem bens em Estados diferentes, quando não tem a
mesma nacionalidade e etc.

A regra básica do casamento no Direito Internacional Privado é de que devem


ser aplicadas ao casamento as normas do Estado onde ele ocorre1. Dessa forma, deve
se observar o que irá determinar as regras sobre capacidade dos direitos familiares, o
nome, e também como as regras sobre o inicio e o fim da personalidade será a lei do
país onde a pessoa que está casando domicilia 2.

A doutrina concede dois sistemas para regular os conflitos de leis no espaço


referentes ao casamento: o sistema sintético e o sistema analítico:

1
LINDB Comentada Redatora: Fernanda Piva Revisora: Mariângela Guerreiro Milhoranza
2
Art. 7o A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da
personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família.
Pelo sistema sintético (ou unitário) apenas um critério governa as relações de
família como domicilio ou nacionalidade. Já pelo analítico ou plural, majoritário e
adotado no Brasil, princípios diferentes dão solução a diferentes questões do
casamento.

Um dos casos mais recorrentes e problemáticos encontra-se no âmbito do


Direito de família, envolvendo brasileiros com estrangeiros. A sua fundamentação
legal está presente no artigo 7º na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.

Casamento de Estrangeiros no Brasil


O casamento em regra é regulado pelas leis locais do Estado onde foi
celebrado (lex fori). A Lei de Introdução às normas de Direito Brasileiro (LINDB)
dispõe em seu artigo 7º, § 1º que o casamento celebrado no Brasil é regulado pela lei
brasileira:
“§ 1º Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto
aos impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração” 3

Porém, a capacidade para casar é regida pela norma do Estado de domicilio do


nubente consoante o caput do artigo supracitado:
“Art. 7º A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o
começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família" 4

No § 2º ds LINDB faculta aos estrangeiros de mesma nacionalidade o direito


de contraírem o casamento perante as autoridades consulares ou diplomáticas de seu
Estado originário, chamamos este de “casamento consular”, com a ressalva que este
dispositivo não permite o casamento de estrangeiros de nacionalidades diferentes ou
de um estrangeiro que esteja se casando com brasileiro(a).5

3
Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (Redação dada pela Lei nº 12.376, de 2010)

4
Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (Redação dada pela Lei nº 12.376, de 2010)
5
LINDB Comentada Redatora: Fernanda Piva Revisora: Mariângela Guerreiro Milhoranza
"§ 2º O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante autoridades
diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes."6

Nos casos em que os nubentes são de nacionalidades diferentes o § 3º


determina que regera os casos de invalidade do matrimonio a lei do primeiro
domicilio conjugal.
"§ 3º Tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de invalidade do
matrimônio a lei do primeiro domicílio conjugal."

Casamento de Brasileiros no exterior


No caso de casamento entre brasileiros que estejam domiciliados em outros
países, só possuirá validade quando não contrariar a lei do Brasil. No caso, brasileiros
que estejam domiciliados em outros países, poderão se casar, se o casamento ocorrer
no consolado brasileiro do local. O artigo 1.544 do Código Civil dispõe que o
casamento realizado no exterior deverá ser registrado no Brasil no período de 180
dias, a contar da data em que um ou ambos os cônjuges regressarem ao Brasil. 7

“Art. 1.544. O casamento de brasileiro, celebrado no


estrangeiro, perante as respectivas autoridades ou os cônsules
brasileiros, deverá ser registrado em cento e oitenta dias, a contar da
volta de um ou de ambos os cônjuges ao Brasil, no cartório do
respectivo domicílio, ou, em sua falta, no 1oOfício da Capital do
Estado em que passarem a residir.”8

Além disso, segundo esclarecimentos do Itamaraty, o Casamento consular


somente acontecerá se o Estado em questão o autorizar. É obvio, mas valido salientar,
que só poderá ser validado casamento em consulado brasileiro se o mesmo já não tiver
sido realizado em território nacional ou em qualquer outro consulado brasileiro. Estar
casado e tentar se aproveitar do fato de não estar em solo nacional pode se caracterizar
o crime de Bigamia, previsto no artigo 235 do Código Penal.9

6
Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (Redação dada pela Lei nº 12.376, de 2010)
7
. Institui o Código Civil. LEI No 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002.
8
Art. 1.544. O casamento de brasileiro, celebrado no estrangeiro, perante as respectivas autoridades ou
os cônsules brasileiros, deverá ser registrado em cento e oitenta dias, a contar da volta de um ou de
ambos os cônjuges ao Brasil, no cartório do respectivo domicílio, ou, em sua falta, no 1oOfício da
Capital do Estado em que passarem a residir
9
Código Penal DECRETO-LEI No 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940.
“Art. 235 - Contrair alguém, sendo casado, novo casamento: Pena - reclusão,
de dois a seis anos”. 10
“§1º - Aquele que, não sendo casado, contrai casamento com pessoa casada,
conhecendo essa circunstância, é punido com reclusão ou detenção, de um a três
anos.”
“§2º - Anulado por qualquer motivo o primeiro casamento, ou o outro por
motivo que não a bigamia, considera-se inexistente o crime.”

Efeitos do casamento no exterior


O casamento no exterior resultara efeitos no Brasil, mesmo que não seja feito
nenhum tipo de registro dentro do país. Fica claro que alguém não pode se casar em
outro país e depois vir para o Brasil e querer se casar novamente, já que seu
casamento no exterior tem efeitos aqui. Se alguém fizer isso estará cometendo o
mesmo crime citado no tópico anterior.

Mas é valido explicitar a possibilidade de necessidade de registro do


casamento realizado no exterior dentro do Brasil, caso singular que só existe se um
dos cônjuges for brasileiro natural e ambos vierem morar aqui. Se for esse o caso, o
registro do casamento devera ser realizado em cento e oitenta dias. 11

Mas, se o casamento for realizado no exterior e os cônjuges não forem de


nacionalidade brasileira, apenas a apresentação de uma certidão que comprove o fato
já é o suficiente.

Regime de Bens
Ao que tange ao regime de bens no Direito internacional privado, segundo os
parágrafos do artigo 7º da Lei de introdução as Normas do Direito Brasileiro, decreto –
Lei Número 4657/4212 que trata a respeito do Direito de Família o regime de bens irá
ocorrer obedecendo a lei do país em que forem domiciliados. Quando ocorrer de ser em
diversos lugares, tenha a primeira residência do domicílio conjugal.
10
Código Penal DECRETO-LEI No 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940.
11
LINDB Comentada Redatora: Fernanda Piva Revisora: Mariângela Guerreiro Milhoranza
12
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del4657compilado.htm
No caso de um estrangeiro casado se naturalizar brasileiro, e se seu cônjuge
dispor anuência expressa, poderá solicitar ao juiz, que no ato de entrega do decreto de
naturalização, adicione também a adoção do regime de comunhão parcial de bens, de
acordo com os direitos de terceiros e tenha competente registro.

Assim, o regime de bens é um dos mecanismos fundamentais do Direito


internacional Privado com a função de regular as relações da esfera monetária dos
cônjuges, regime de separação obrigatória, comunhão parcial de bens e o regime de
participação final dos aquestos13.

A comunhão parcial de bens abarca, em primeira instancia três patrimônios


diferentes: um só do marido, outro só da mulher e um terceiro de ambos. Então, em
suma, o patrimônio particular de cada um dos cônjuges se compõe dos bens havidos
antes do casamento, bem como daqueles havidos na constância do casamento, que não
sejam fruto do esforço comum do casal. Exemplo seriam as heranças e doações. Do
patrimônio comum fazem parte todos os bens havidos pelo esforço comum do casal,
bem como as heranças e doações destinadas aos dois.

No divórcio, é preciso ter não só o início do casamento, como também o término


no direito internacional. O Juiz estrangeiro não poderá realizar o divórcio de um
casamento brasileiro, feito em território brasileiro. O Juiz brasileiro não poderá realizar
divórcio de um casamento que foi concretizado em país estrangeiro.

Em caso de divórcio em que todo tramite se dá em país estrangeiro, terá que ter
reconhecimento pela Justiça Brasileira, para que seja valido o estado civil de divorciado.
. Seria o processo de homologação de sentença estrangeira, que será realizado pelo
Superior Tribunal de Justiça em Brasília – STJ.

Segundo o artigo 7º, § 6º da Lei de Introdução ao Código Civil, o divórcio


realizado no estrangeiro, em que um ou ambos os cônjuges sejam brasileiros natos, só

13
https://matheusdaminello.jusbrasil.com.br/artigos/324056494/casamento-no-direito-internacional-
privado
haverá reconhecimento no Brasil após 1 (um) ano da data da sentença, salvo se houver
sido antecedida de separação judicial por igual prazo. Caso a homologação produza
efeito imediato, obedecidas as condições estabelecidas para a eficácia das sentenças
estrangeiras no país, o Superior Tribunal de Justiça, na forma de seu regimento interno,
poderá reexaminar, a requerimento do interessado, decisões já proferidas em pedidos de
homologação de sentenças estrangeiras de divórcio de brasileiros, a fim de que passem a
produzir todos os efeitos legais.

Sucessão de Bens
Como previsto na Constituição Federal, em seu art. 5º XXXI, a sucessão dos
bens de estrangeiros que se situarem no Brasil será regulada pela lei brasileira em
benefício do nubente que é brasileiro ou mesmo dos filhos brasileiros, sempre que não
lhes seja mais favorável a lei pessoal do “de cujus”. Neste instante, o inventário será
realizado no exterior e a sentença deverá ser homologada no Brasil para que produza
efeitos.

A sucessão internacional abrange casos com conexão internacional em razão dos


herdeiros serem estrangeiros ou do último domicílio do falecido ter sido em outro país
ou dos herdeiros terem domicílio no exterior ou estando os bens dividir em diversos
países.

Existe a possibilidade de incidência de duas leis ao caso, a lei nacional e a lei


estrangeira, mas devendo apenas uma delas ser aplicada.

O Direito Internacional Privado, para solucionar os conflitos de leis que possam


surgir no caso de sucessão de bens, apontará apenas uma lei a ser aplicada no momento
da sucessão por morte, determinando assim os herdeiros, a quantia legítima, a ordem de
vocação hereditária, a forma de concorrência, entre outras coisas que são regulados na
transmissão causa morte.

A legislação brasileira que regula o direito internacional privado, a Lei de


Introdução ao Código Civil, mostra como a lei do país em que era domiciliado o
falecido para regular a sucessão por morte, tendo o legislador adotado o critério da lei
pessoal do falecido.
Para exemplificar o caso de um possível conflito de sucessão de bens em
casamentos interjurisdiconais podemos citar o Recurso Especial nº 134.246 - SP,
conforme segue:
Ementa: "Ação declaratória. Casamento no exterior. Ausência de pacto
antenupcial. Regime de bens. Primeiro domicílio no Brasil. 1. Apesar do casamento ter
sido realizado no exterior, no caso concreto, o primeiro domicílio do casal foi
estabelecido no Brasil, devendo aplicar-se a legislação brasileira quanto ao regime legal
de bens, nos termos do art. 7º, § 4º, da Lei de Introdução ao Código Civil14, já que os
cônjuges, antes do matrimônio, tinham domicílios diversos. 2. Recurso especial
conhecido e provido, por maioria."

Acórdão: "Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima


indicadas, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça,
após o voto-vista do Sr. Ministro Castro Filho, por maioria, conhecer do recurso
especial e dar-lhe provimento. Lavrará o acórdão o Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes
Direito. Votaram vencidos os Srs. Ministros Ari Pargendler e Antônio de Pádua Ribeiro.
Votaram com o Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito os Srs. Ministros Nancy
Andrighi e Castro Filho."

14
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del4657.htm

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