Você está na página 1de 58

Gerson G.

Silva

Língua Portuguesa
2ª edição

Brazcubas

Mogi das Cruzes - SP

2018
Av. Francisco Rodrigues Filho, 1233 - Mogilar

CEP 08773-380 - Mogi das Cruzes - SP

Reitor: Prof. Maurício Chermann

EQUIPE PRODUÇÃO CORPORATIVA

Gerência: Adriane Aparecida Carvalho

Coordenação de Produção: Diego de Castro Alvim

Coordenação Pedagógica: Karen de Campos Shinoda

Equipe Pedagógica: Alessandra Matos, Graziela Franco,

Rúbia Nogueira, Vania Ferreira

Coordenação Material Didático: Michelle Carrete

Revisão de Textos: Adrielly Rodrigues, Aline Gonçalves,

Claudio Nascimento, Telma Santos

Diagramação: Amanda Holanda, Douglas Lira, Fábio Francisco,

Nilton Alves, Priscila Noberto

Ilustração: Everton Arcanjo, Noel Gonçalves

Impressão: Grupo VLS / Gráfica Cintra

Imagens: Fotolia / Acervo próprio

Os autores dos textos presentes neste material didático assumem total

responsabilidade sobre os conteúdos e originalidade.

Proibida a reprodução total e/ou parcial.

© Copyright Brazcubas 2014


Sumário

Sumário

Apresentação 5
O Professor 7
Introdução 9

1Unidade I
Texto, Contexto em suas Inter-relações 11
1.1 Introdução 11
1.2 Linguagem  12
1.3 Conceitos da Linguagem 14
1.4 Teoria da Comunicação  15
1.5 Língua Versus Fala 16
1.6 Comunicação 17
1.7 Código Verbal e Código Não Verbal 19
1.8 Considerações da Unidade I 20

2Unidade II
Gramática Normativa, Português Coloquial e Correção Gramatical 23
2.1 Estilo e Linguagem do Texto Técnico 24
2.2 Norma 26
2.3 O erro 27
2.4 Elementos Básicos para se produzir um texto com propriedade 28
2.5 Pronomes: Correção Gramatical 30
2.6 Pronomes: Conceituação 31
2.7 Utilizações equivocadas do Pronome 32
2.8 Utilização de “Para eu” e “Para mim” 32
2.9 Considerações da Unidade II 33

3Unidade III
Estrutura do Texto Dissertativo 35
3.1 Dissertação 36
3.2 Argumentação 36
3.3 O Parágrafo-Padrão 37
3.4 Processo para Produção de Texto Dissertativo 38
3.5 Dissertação Argumentativa 38
3.6 A Estrutura de um Texto Dissertativo 39
3.7 O Assunto e a Delimitação do Assunto 40
3.8 Objetivo 40
3.9 Desenvolvimento 41
3.10 Conclusão 41
3.11 Elementos Textuais para a Dissertação 41
3.12 Considerações da Unidade III 42

4Unidade IV
Correção Gramatical e Nova Ortografia 45
4.1 Gramática: Produção Textual 45
4.2 Vocabulário 47
Sumário

4.3 Generalização 47
4.4 Para falar um pouco de Gramática 48
4.5 Concordância 49
4.6 Crase 49
4.7 Casos em que não se utiliza o acento Grave (Crase) 50
4.8 Uso Facultativo da Crase 51
4.9 Pontuação 51
4.10 Emprego da Vírgula no Período Simples 52
4.11 Observações Importantes  54
4.12 Considerações sobre a Nova Reforma Ortográfica 55
4.13 Considerações da Unidade IV 56
Referências 57
Apresentação

Apresentação

O material em questão tem mera pretensão didática, ou seja, a partir da leitura


do livro didático de Língua Portuguesa, você terá uma compreensão mais elaborada
das aulas apresentadas. Divide-se em:

UNIDADE I: TEXTO, CONTEXTO E MENSAGEM EM SUAS INTER-RELAÇÕES.

UNIDADE II: GRAMÁTICA NORMATIVA, PORTUGUÊS COLOQUIAL E CORRE-


ÇÃO GRAMATICAL.

UNIDADE III: ESTRUTURA DO TEXTO DISSERTATIVO.

UNIDADE IV: CORREÇÃO GRAMATICAL E NOVA ORTOGRAFIA.

Todas as unidade estão interligadas, assim, é importante que você leia o ma-
terial seguindo a sequência proposta, ou seja, unidade I, unidade II, unidade III e
unidade IV, respectivamente.

Os conceitos apresentados conduzirão, gradativamente, ao conhecimento


mais profundo das inter-relações: língua, gramática e produção textual, a partir da
Gramática Normativa.

Na plataforma, para complementação da aprendizagem, há atividades que de-


verão ser realizadas. Disponibilizamos links sobre algumas questões abordadas nas
aulas. Para se obter um bom aproveitamento na disciplina de Língua Portuguesa, in-
dicamos que você se empenhe nas realizações das diversas atividades apresentadas.

Por fim, temos as videoaulas as quais estão disponíveis na plataforma. Elas são
importantes, pois mostram os caminhos das teorias apresentadas no livro didático
de LÍNGUA PORTUGUESA.

Esperamos que o material em questão, juntamente com todas as outras mídias,


contribua para o entendimento de conceitos importantes da LÍNGUA PORTUGUESA.

Abraços.

Prof. Gerson G. Silva

5
O Professor

O Professor

Prof. Gerson G. Silva

Possui habilitação específica do Ensino Médio para


o Magistério; Bacharel e Licenciado em Letras Clás-
sicas pela Universidade de São Paulo (1989), Mestre
em Letras (Letras Clássicas: Língua e Literaturas Lati-
nas) pela Universidade de São Paulo (1997) e Doutor
em Letras (Literatura Portuguesa) pela Universidade
de São Paulo (2001). Professor da FAG, UBC, FAM e
Unicastelo. Tem experiência na área de Letras, com
ênfase em literatura portuguesa, língua e literatura
greco-romanas, atuando principalmente nos seguin-
tes temas: literatura portuguesa, literatura medieval,
literatura brasileira e língua portuguesa. Estudioso do
Grego, Latim, Francês, Italiano, Espanhol e Tupi.

7
Introdução

Introdução

Começamos um percurso dos estudos de língua portuguesa que pretende aju-


dá-lo (a) a reconhecer com proficiência os conceitos básicos para a produção de um
texto literário e empresarial, a partir de confrontos entre as normas apresentadas
pela Gramática Normativa e pela LINGUÍSTICA em suas diversas inter-relações com
as línguas escrita e oral.

Os estudos da língua portuguesa contribuirão para que você, enquanto profis-


sional, possa ter uma visão mais ampla da Língua na relação dicotômica: gramática
normativa versus Linguística. Do confronto, espera-se que você, como futuro profis-
sional, possa produzir textos com mais propriedade.

É importante ressaltarmos que o conhecimento mais apurado, na maioria das


vezes, representa uma projeção favorável ao seu usuário. Quem escreve e fala bem,
sem o pedantismo da gramática tradicional, costuma ter também as melhores opor-
tunidades no mercado de trabalho.

A língua portuguesa, como diversas outras disciplinas, é importante, pois, na


contemporaneidade, conhecer a língua, em suas realizações mais profundas, de-
monstra domínio profundo e visão aprimorada da sociedade em que vivemos.

Do ponto de vista da língua, enquanto objeto social, não é possível um en-


tendimento e análise coerentes de um texto, se não compreendermos o processo
de construção do mesmo, pois a língua “é uma instituição social, ela é parte social
e não premeditada da linguagem; o indivíduo, por si só, não pode nem criá-la nem
modificá-la, trata-se essencialmente de um contrato coletivo ao qual temos que nos
submeter em bloco se quisermos comunicar” (BARTHES, 2004,p.54).

Os objetivos gerais de nossa disciplina são:

• (Re)conhecer os diversos modos com que a intertextualidade aparece em


textos, a partir da percepção sobre o que alguns textos utilizam e, conse-
quentemente, poder confrontá-los, referendá-los ou recriá-los;

• Compreender e valorizar as diferentes linguagens manifestas nas socieda-


des contemporâneas e suas funções na produção do conhecimento;

• Dominar os processos e meios de comunicação e suas relações com os


problemas educacionais;

9
Introdução

• Instrumentalizar o aluno para leitura e produção de textos diversos, e com


tal experiência aguçar a observação, o estudo e a compreensão do fenôme-
no da intertextualidade.

Esperamos que você possa, a partir dos estudos conceituais e práticos da lín-
gua portuguesa, chegar a uma compreensão maior e mais profunda da linguagem e
da língua em seus diversos aspectos.

10
Texto, Contexto em suas Inter-relações unidade I

1 Unidade I

Texto, Contexto em suas Inter-relações

Objetivos da unidade:

• Perceber os conceitos de linguagem, língua, fala e códigos. De posse


desses elementos, você deverá estabelecer relações com o processo
de comunicação: emissor, receptor e mensagem.

Competências e Habilidades:

• Capacidade de observação e reflexão sobre os fenômenos da língua,


pelo estudo do percurso histórico de desenvolvimento dos estudos
da linguagem, a partir das inter-relações sociais da língua;

• Avaliação crítica das possibilidades que a língua fornece no processo


de comunicação, recepção e decodificação da mensagem.

1.1  Introdução

Para caracterizar um texto, não basta que tenhamos uma somatória de frases.
É preciso que haja um encadeamento semântico entre elas. Esse encadeamento, ou
seja, o vínculo de sentidos que as frases encontram umas nas outras, é o efeito do
que chamamos de coesão textual. Um texto só pode ser um texto legível se puder ser
compreendido, se fizer sentido para o leitor.

11
Unidade I Texto, Contexto em suas Inter-relações

Segundo os PCNs1 de Língua Portuguesa, a leitura é um processo no qual o lei-


tor realiza um trabalho ativo de construção do significado do texto, a partir dos seus
objetivos, do seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe
sobre a língua. Nessa perspectiva, o processo de dar significado a um texto origina-
se do contexto que o leitor identifica como suporte ou condição de produção desse
texto. O leitor, mediante as variáveis contextuais, realiza as interpretações possíveis
pela lógica formal do texto ou pelas inferências que pode promover a partir de seu
acervo de informações.

Veja o exemplo publicado no AVA – Chegança, do compositor Antonio Nóbre-


ga. Na sequência do exemplo, retorne para darmos continuidade aos estudos.

A citação trata-se de um texto narrativo, cujo gênero a que se filia é a letra de


música. O contexto pode aqui ser definido como a chegada do português, nosso
colonizador, ao Brasil, provocando um choque cultural imediato. O autor Antonio
Nóbrega dá voz ao índio, que representa no relato todas as principais tribos que
habitavam o País no século XV.

Para que possamos entender adequadamente o texto e o contexto, é impor-


tante que saibamos, primeiro, como a linguagem, a língua e a fala estão a serviço do
falante. Assim, definiremos aspectos importantes dos elementos citados para que
possamos chegar a um entendimento mais completo da produção textual.

1.2  Linguagem

Segundo Dubois,

A linguagem é a capacidade específica à espécie humana de co-


municar por meio de um sistema de signos vocais (ou língua),
que coloca em jogo uma técnica corporal complexa e supõe a
existência de uma função simbólica e de centros nervosos gene-
ticamente especializados. Esse sistema de signos vocais utilizado
por um grupo social (ou comunidade linguística) determinado
constitui uma língua particular (1988, p.387).

1 Parâmetros curriculares nacionais.

12
Texto, Contexto em suas Inter-relações unidade I

Podemos dizer que, genericamente, define-se


linguagem como todos os meios de comunica-
ção, dentre elas: a dança das abelhas, a pintu-
ra, os gestos, os sinais de trânsito. No entanto,
devemos diferenciar a linguagem humana da
linguagem animal. Em se tratando do ser huma-
no, o termo é empregado à capacidade humana
que consiste em associar sons produzidos pelo
aparelho fonador a um conteúdo significativo e
utilizar o resultado dessa associação para a in-
teração verbal. Daí falar em linguagem verbal e
não verbal.

Neste sentido, à voz e aos gestos dos animais irracionais, pode-se atribuir, mui-
tas vezes, um propósito mais ou menos preciso. No entanto, a impossibilidade de
se elevarem a um trabalho mental de “construção representativa” diante do mundo
exterior e interior diferencia os animais irracionais dos racionais.

Se pensarmos nos signos, a linguagem será um código que se caracteriza por


um conjunto de signos sujeitos a regras de combinação, utilizado para se produzir e
compreender uma mensagem. A linguagem, enquanto código, é composto de signos e
os signos, segundo Saussure (1994, p. 25), são compostos de significante e significado.

Podemos dizer que o código é um conjunto de signos sujeitos a regras de com-


binação e é utilizado na produção e na compreensão de uma mensagem. A comuni-
cação da mensagem ocorre a partir de:

13
Unidade I Texto, Contexto em suas Inter-relações

1.3  Conceitos da Linguagem

Segundo Travaglia (2006, p. 87), podemos pensar a linguagem a partir de três


concepções:

código <=> comunicação

14
LINGUAGEM <=> MENSAGEM, tendo seu conteúdo transmitido através de um código (conjunto de símbolos)
que é decodificado (entendido) pelo receptor, estabelecendo-se assim a comunicação (entendimento da mensagem).

Texto, Contexto em suas Inter-relações unidade I


Comunicar: enviar uma mensagem codificada a um receptor que compreenda esse código
e consequentemente a mensagem.

Em síntese, podemos dizer que a linguagem é a matéria de nosso pensamento


e veículo de comunicação social. Sem a linguagem, não há comunicação; sem co-
municação, não há sociedade, pois tudo o que se produz como linguagem é para
comunicar algo.

Linguagem: mensagem atrelada a um código para fins de comunicação.


Comunicação: compreensão de uma mensagem enviada por um emissor.

1.4  Teoria da Comunicação

Assédio só é crime quando o homem é feito (Folha de São Paulo, 29/04/1997).

O que podemos dizer da manchete veiculada em A Folha de São Paulo? A notí-


cia chegou até você por um caminho, no caso, o emissor (quem escreve o livro). As-
sim, podemos dizer que o ser humano faz uso de mensagens devidamente organiza-
das social e convencionalmente para interagir com o outro. Logo, temos uma pessoa
que emite uma mensagem qualquer (por meio de gestos, mímicas, desenhos), ou
seja, o emissor; ainda necessitamos de alguém que receba a mensagem, ou seja, o
receptor. Não podemos nos esquecer de que as posições de emissor e receptor são
mutáveis, dependerá de quem estiver falando. No momento em que você leu a in-
formação, você estava na condição de receptor; se eu lhe perguntar o que você acha
da manchete, no momento em que estiver respondendo, não será mais o receptor,
mas o emissor.

comuni-
um có di go , há di versos códigos de
itida por
A mensagem é em Um
ais de trânsito...).
s ou es cr ita s, ge stos, desenhos, sin
ta
cação (palavras di códigos
o, de sd e qu e es crito segundo os
l de comunicaçã
cartaz é um cana o por alguém.
so cie da de e qu e possa ser entendid
estabelecidos pela

Código de comunicação

Para que se efetive a comunicação, o emissor e o receptor devem conhecer o


código, caso contrário, se eles não conseguirem decodificar o código, significa que
houve algum problema no código utilizado. Às vezes, é uma questão de coesão e
coerência.

15
Unidade I Texto, Contexto em suas Inter-relações

Fonte: http://grhprofissional.blogspot.com.br/2014/09/quem-nao-se-comunica-se-trumbica.html.

Acesso em 15/12/2015.

1.5  Língua Versus Fala Fala: uso individual que o indivíduo faz da linguagem.

A partir da palavra, construímos a fala (linguagem). A língua é um produto so-


cial, assim, a fala é definida como um componente individual da linguagem, ou seja,
um ato de vontade e da inteligência humana. Fato que nos diferencia dos animais
irracionais.

Segundo Saussure (1994, p. 35), “A fala é um fenômeno físico e concreto que


pode ser analisado seja diretamente, com ajuda do ouvido humano, ou com méto-
dos e instrumentos análogos”. Há estudiosos que conceituam a fala como uma facul-
dade natural de falar. No entanto, devemos diferenciar a fala da linguagem.

A fala, como já dissemos, é um ato individual de vontade. Está atrelada à ques-


tão fonética.

Podemos dizer que o ato da fala se divide materialmente em três fases: a pri-
meira se refere à articulação sonora; a segunda, à transmissão da mensagem, por
meio de uma onda sonora; e a terceira, à recepção do som.

Antes de a nossa mensagem ser transmitida, exercemos o ato da fala que vem
antes da língua. De certa maneira, a fala está em nosso cérebro. A intenção de co-
municar “expulsa” a fala de nosso cérebro. Toda comunicação tem o seu início no
cérebro, onde os conceitos estão depositados e associados aos signos linguísticos ou

16
Texto, Contexto em suas Inter-relações unidade I

às imagens acústicas que servem para exprimi-los. Assim, um conceito faz com que
o nosso cérebro crie uma imagem acústica relacionada ao psíquico.

Segundo Saussure (1994, p. 54), “não há dissociação entre língua e fala, ou seja,
as duas estão relacionadas. A língua é a parte social da linguagem que, em forma de
sistema, engloba todas as possibilidades de sons existentes em uma comunidade”.

Logo, a língua se caracteriza como ato exterior ao indivíduo que, não pode criá-
-la nem modificá-la. Segundo os linguistas, a língua se modifica e se transforma de
geração em geração; enquanto a fala, é individual e pertence ao falante que tem total
liberdade para usá-la. É importante observarmos que a língua não é tão livre como
se teoriza, pois dada comunidade de homens se serve de um sistema de linguagem,
ou LÍNGUA, cuja propriedade essencial é ser representativa. Assim, a língua, enquan-
to instrumento útil à determinada comunidade, serve a esta comunidade, conse-
quentemente, a liberdade do indivíduo está atrelada a: ao que sociedade sancionou
enquanto uso e normas.

Para Saussure (1994, p.56), “língua é semelhante a um “baú” em que estariam


armazenados os signos, enquanto que a fala seria a organização desses signos em fra-
se”. Assim, podemos concluir que a língua está atrelada à fala, enquanto instrumento
e uma depende, necessariamente, da outra para que se efetive a comunicação.

No AVA vamos aprofundar nossos estudos sobre língua e linguagem. Aces-


se a plataforma, estude o conteúdo disponibilizado e realize as atividades
virtuais previstas. língua = sistema de linguagem
Língua: sistema de linguagem de uma determinada comunidade. A língua é um subconjunto da linguagem.
Linguagem normatizada; convencionada.
Língua: baú dos signos linguísticos de um povo
Fala: organização desses signos em frase
Uma depende da outra.

1.6  Comunicação

Segundo Dubois, em Dicionário de linguística (1988, p.130),

a comunicação é a troca verbal entre um falante, que produz um


enunciado destinado a outro falante, o interlocutor, de quem ele
solicita e escuta e/ou uma resposta explícita ou implícita. A comu-
nicação é intersubjetiva. No plano psicolinguístico, é o processo
em cujo decurso a significação que um locutor associa aos sons
é a mesma a que o ouvinte associa a esses sons. Os participantes
da comunicação, ou atores da comunicação, são as “pessoas”: o

17
Unidade I Texto, Contexto em suas Inter-relações

ego (= eu), ou falante, que produz o enunciado, o interlocutor ou


alocutório, enfim aquilo de que se fala, os seres ou objetos do
mundo. A situação de comunicação é definida: (1) pelos partici-
pantes da comunicação, cujo papel é determinado pelo ego (ou
eu), centro da enunciação; (2) pelas dimensões espaço-temporais
do enunciado ou contexto situacional: relações temporais entre
o momento da enunciação e o momento do enunciado ( os aspec-
tos e os tempos); relações espaciais entre o sujeito e os objetos
do enunciado, presentes ou ausentes, próximos ou remotos; re-
lações sociais entre os participantes da comunicação, assim como
entre eles próprios e o objeto do enunciado (os tipos de discursos,
os fatores históricos, sociológicos). Esses referentes da comunica-
ção são simbolizados pela fórmula “eu, aqui agora”.

O estatuto da comunicação é definido pela distância social, inter-


subjetiva, instituída pelo eu com os seus interlocutores (assim,
a diferen-
ça entre você e o sr. traduz uma intimidade ou relação social
diferente),
e pela maneira por que o eu encara o seu enunciado.

Assim, quando a comunicação acontece, estabelece-se um sistema de comuni-


cação entre o emissor e o receptor. A comunicação é a transmissão de uma mensa-
gem, para tanto é necessário um código para a transcrição da mensagem. Podemos
dizer, segundo Dubois (1988, p. 312), que o sistema é formado de:

Receptor-decodi-
Códigos Emissor Recodificação:
ficador

são os sinais e é a fonte da é o aparelho a mensagem


conjuntos de mensagem, ele que recebe a decodificada
regras. seleciona no mensagem e o recebe uma
interior do código destinatário da nova forma, ou
um número mensagem. seja, eu escuto
de sinais para a mensagem
transmitir a e depois eu a
mensagem. escrevo em uma
folha de papel.

18
Texto, Contexto em suas Inter-relações unidade I

A comunicação nada mais é do que uma informação que deve ser transmitida
de uma pessoa para outra pessoa. A transmissão é feita por meio de uma mensagem
que está atrelada à linguagem. A mensagem é decodificada, ou seja, traduzida em
mensagem sensível e concreta, a partir de um sistema de signos ou códigos conven-
cionados pela comunidade.

1.7  Código Verbal e Código Não Verbal

Observe:

Na história em quadrinhos, vimos que houve um acontecimento sendo narra-


do, embora não tenhamos nada escrito. O importante é que se narrou alguma coisa
e o código utilizado foi o não verbal. Em outra situação, poderíamos ter palavras, a
comunicação estaria acontecendo pelo código Verbal, ou, em outra situação, pode-
ríamos ter os dois códigos:

19
Unidade I Texto, Contexto em suas Inter-relações

Devemos ressaltar que além do gênero histórias em quadrinhos, em outros


tipos de produção textual podemos utilizar o código não verbal, por exemplo, em
propagandas de Revistas.

1.8  Considerações da Unidade I

Chegamos ao final da nossa primeira unidade. Lembra-se dos conteúdos


abordados?

Abordamos diversos conceitos de linguagem como instrumento de comuni-


cação e interação social. Apresentamos a teoria da comunicação na relação língua
versus fala. Concluímos a primeira unidade ressaltando a importância dos códigos
verbais e não verbais para se efetivar a comunicação.

Segundo Orlandi:

O discurso – efeito de sentidos entre locutores – oferece-se à


análise na medida em que é o ponto de encontro de duas ma-
terialidades: a materialidade específica da ideologia é o discurso
e a materialidade específica do discurso é a língua. Desse modo
temos a relação língua e ideologia mediada pelo discurso. Quan-
do o analisamos podemos explicitar o mecanismo da relação lín-
gua/ideologia (2006, p.29).

20
Texto, Contexto em suas Inter-relações unidade I

Desta maneira, devemos ressaltar que uma das competências básicas de qual-
quer candidato, hoje, é saber usar a linguagem em contexto apropriado. A lingua-
gem não é um sistema fechado e válido para qualquer contexto, ela varia em função
do espaço geográfico (variação diatópica), do tempo (diacrônica) e do espaço social
(diastrática). São essas competências que se exigem dos futuros profissionais no mo-
mento de realizarem concursos nas mais diversas instâncias.

Lembre-se de que para esta unidade, temos uma videoaula que traz uma abor-
dagem e exemplos diferentes para complementar seu aprendizado. Por isso, é im-
portante que você assista-a com atenção e anote as observações e dúvidas. Não
se esqueça de enviar as dúvidas pela plataforma para que possamos auxiliá-lo. No
fórum, você poderá apresentar dúvidas e conversar com os colegas sobre diversos
assuntos. Por fim, esteja atento aos prazos para entregar as atividades disponibiliza-
das na plataforma de estudos.

21
Gramática Normativa, Português Coloquial e Correção Gramatical unidade II

Unidade II
2

Gramática Normativa, Português Coloquial e


Correção Gramatical

Objetivos da unidade:

• Conduzir o aluno ao conhecimento de posições dicotômicas entre a


Linguística e a Gramática Normativa;

• Apresentar elementos básicos para se produzir um texto empresa-


rial com correção gramatical mínima.

Competências e Habilidades:

• Conhecimento dos fundamentos teóricos e científicos sobre os esti-


los empresariais nas produções variadas de textos;

• Percepção das diferentes possibilidades de enfoque para a análise e


produção de textos empresariais;

• Capacidade de observação e reflexão no uso da Gramática


Normativa.

23
unidade II Gramática Normativa, Português Coloquial e Correção Gramatical

2.1  Estilo e Linguagem do Texto Técnico

Existem textos que objetivam comunicar algo no ambiente de uma empresa,


escola, repartições públicas. Denominaremos a redação destinada a este fim reda-
ção empresarial a qual tem algumas especificidades. A necessidade de se trabalhar
na direção da qualidade total impôs a necessidade de discriminar os procedimentos
e os padrões utilizados diariamente.

Eles devem ser mostrados em linguagem clara e sem duplicidade de sentido, de


forma a economizar tempo e acelerar o intervalo entre fatos e ações. Não se esqueça
de que o que se escreve permanece no papel ou no computador. Se você escrever
um texto ambíguo e mal redigido, ele será a prova da sua preparação profissional.

Como diz Mirian Gold (2010, p. 20), em Redação Empresarial, um texto mal
escrito pode gerar para a empresa:

24
Gramática Normativa, Português Coloquial e Correção Gramatical unidade II

O texto bem redigido e objetivo conduz à compreensão das informações, as


quais proporcionam a credibilidade e a funcionalidade das decisões. A comunicação
empresarial é diferente dos textos literários. O princípio básico é ser objetivo, ou
seja, ir direto ao assunto.

A relação que o texto escrito estabelece é com a função estratégica da empre-


sa. Não podemos nos esquecer de que a agilidade e o pragmatismo são característi-
cas da modernidade, consequentemente da Empresa Moderna.

Assim, o texto deve ter:

25
unidade II Gramática Normativa, Português Coloquial e Correção Gramatical

Ainda sobre o cotidiano de uma empresa, além de uma produção textual ade-
quada, é preciso que adotemos uma postura correta, para garantir não só que a
nossa comunicação seja eficaz, mas também que o nosso local de trabalho seja har-
mônico. Sugerimos que você procure:

O texto que denominamos Redação Empresarial não deve ser entendido como
aquele, exclusivamente, utilizado em empresas. Se observarmos atentamente a esco-
la, a repartição pública, os mais diversificados ambientes de trabalho são empresas,
assim, devemos ficar atentos também à linguagem empresarial para que possamos
fazer a nossa comunicação ser entendida nos diversos ambientes e pelas variadas
pessoas às quais a nossa mensagem se destina.

2.2  Norma

É lícito afirmarmos que a norma é um conjunto de realizações concretas e de


caráter coletivo da língua.

26
Gramática Normativa, Português Coloquial e Correção Gramatical unidade II

Com o material disponível no AVA você vai entender melhor sobre o que é
norma e como aplicá-la. Lembre-se que o material disponibilizado é parte
do conteúdo da disciplina e, como tal, deverá ser estudado para a realiza-
ção das atividades e avaliações.

2.3  O erro

É fato que o conceito de certo e errado está presente não só na produção


textual, mas também na oralidade. Tal concepção emana da Gramática padrão que,
por meio da escola, difunde uma única utilização da língua, em detrimento de um
conhecimento mais amplo da diversidade e variedade dos usos linguísticos. Assim,
os padrões linguísticos ficam sujeitos à avaliação social positiva e negativa e, nessa
medida, podem determinar o tipo de inserção do falante na escala social.

Falar e escrever bem é uma prática sistemática que é adquirida por meio de
regras gramaticais. Logo, comunica-se bem aquele que assimila as normas do portu-
guês. A oposição a esse pensamento estabelecido pelos gramáticos é feita pela lin-
guística que entende a língua, muito além das normas, ou seja, em sua manifestação
nas diversas comunidades.

Segundo Orlandi (1990, p.13), “a mudança das línguas não depende da vontade
dos homens, mas segue uma necessidade da própria língua, e tem uma regularidade,
isto é, não se faz de qualquer jeito”. Para a linguística, a norma padrão não pode preva-
lecer em detrimento da língua enquanto manifestação de certa comunidade linguística.

O gramático se desdobra em dizer o que é a língua, descrevê-la e ao privilegiar


alguns usos, dizer como deve ser a língua. Assim, impõe normas para o uso da língua
escrita e falada, referendando tais usos em autores clássicos. O pior é que as normas
só admitem um uso da língua enquanto correta, não dá oportunidade para se pensar
em outras utilizações que não sejam erradas. Seria necessário que a Gramática pen-
sasse a língua de acordo com os diversos contextos em que ela pode estar inserida,
desde o regional até o estilístico. Harmonizar a língua culta à língua coloquial deveria
ser o lema da Gramática tradicional.

Segundo Petter (in FIORIN, 2005, p.21), a abordagem descritiva assumida pela
Linguística entende que as variedades não padrão do português, por exemplo, ca-
racterizam-se por um conjunto de regras gramaticais que simplesmente diferem da-
quelas do português padrão.

27
unidade II Gramática Normativa, Português Coloquial e Correção Gramatical

É importante ressaltarmos que a Linguística entende que a variedade não pa-


drão difere-se da padrão, simplesmente, porque tem suas regras diferenciadas da
Normativa.

Segundo Mollica (2003, p. 42),

a variedade não-standard ou variedade coloquial é própria da


modalidade oral, utilizada em contexto informal, de discurso es-
pontâneo, não planejado. A variedade coloquial se diferencia da
variedade culta ou norma culta, que se compõe de empregos
típicos de discurso planejado, utilizada predominantemente na
escrita e comprometida com a tradição literária.

De certa maneira, a NORMA CULTA é utilizada pela elite como instrumento de


dominação. A língua é poder. Os que não a dominam são submetidos pela força do
uso correto ou não da língua. Vestindo a roupa da classe dominante, o português
PADRÃO exclui a maioria e atrela a ascensão social à utilização de regras gramaticais
(nem sempre utilizadas corretamente pela elite).

Segundo Marcos Bagno (2007, p.69), se isso fosse verdade, os professores de


português — que supostamente dominam a norma culta — estariam privilegiados
nas esferas social, econômica e política.

2.4  Elementos Básicos para se produzir um texto com


propriedade

Deixando todos os confrontos entre linguística e gramática normativa, é impor-


tante ressaltarmos que os elementos mínimos para se escrever com propriedade de-
vem ser apreendidos. Assim, ao escrevermos um texto, devemos ficar atentos para:

28
Gramática Normativa, Português Coloquial e Correção Gramatical unidade II

EXEMPLOS:

1
A mulher tinha lavado a louça quando chegamos, mas ainda
estava lavando a louça.

2
A galinha estava grávida.

3
O torcedor do time adversário ficou rouco porque gritou
demais.

Para que um texto tenha sentido, é necessário que haja coerência, que é um
dos fatores da textualidade que se aliam à coesão para compor as relações que se
dão entre as partes do texto para construir sentido:

Coerência está mais no nível macrotextual – isto é,


Coesão está no nível
aquele responsável pela conexão conceitual e estru-
microtextual – ou seja,
turação do sentido. Cabe à coerência, assim, a conti-
aquele relativo à super-
nuidade dos sentidos sem que haja quebra entre as
fície do texto.
mais diversas partes do texto.

99 conhecimento de mundo,
99 conhecimento partilhado,
99 situacionalidade,

Fatores de 99 intertextualidade,

coerência 99 fatores de contextualização (data, autor,


título, diagramação do texto),
99 focalização,
99 consistência,
99 relevância.

29
unidade II Gramática Normativa, Português Coloquial e Correção Gramatical

Segundo Koch (2006, p.14), a coerência está diretamente ligada à possibilidade


de estabelecer um sentido para o texto, ou seja, ela é o que faz com que o texto faça
sentido para o usuário, devendo, portanto, ser entendida como um princípio de in-
terpretabilidade, ligado à inteligibilidade do texto em uma situação de comunicação
e à capacidade que o receptor tem para calcular o sentido do texto.

Em se tratando do exemplo (1), a incoerência é gerada pelo fato de o produtor


da sequência apresentar o mesmo processo verbal em duas fases distintas de sua
realização: como acabado e não acabado ao mesmo tempo.

Em (2), a passagem seria responsável por incoerência por contrariar o conhe-


cimento geral (pensando no mundo real). Não se aceita pensar, no mundo real, em
uma galinha grávida.

Segundo Koch (2006, p.15), a coesão é revelada por meio de marcas linguística
e superficial do texto, o que lhe dá um caráter linear, uma vez que se manifesta na
organização sequencial do texto. Assinalando a conexão entre as diferentes partes
do texto, tendo em vista a ordem em que aparecem, a coesão é sintática e grama-
tical, mas também é semântica, pois em muitos casos, os mecanismos coesivos se
baseiam numa relação entre os significados de elementos de superfície do texto.

2.5  Pronomes: Correção Gramatical

É importante não confundirmos a linguagem formal com as conversas infor-


mais, que são descontraídas e mais coloquiais. Em nossos textos, precisamos ser for-
mais, sem sermos pedantes. Assim faremos algumas indicações para que se evitem
“erros” que poderão prejudicar a correção gramatical de seu texto.

Como diz Carlos Franchi (2006, p.40):

Existem diferentes modalidades de uso da linguagem ou de uma


língua natural qualquer. Uma, a modalidade culta e bela; outra,
as modalidades coloquiais, feias e vulgares porque em uso pelas
pessoas mais simples do povo.

Com base no uso consagrado pelos bons escritores e o referen-


do dos especialistas e professores, sabe-se o que pode e o que
não se pode falar ou escrever: autoriza-se o uso de algumas ex-
pressões (as expressões corretas, de bom português) e se de-
sautorizam outras (classificadas como solecismos, desvios de
linguagem, erros, ou mau português).

30
Gramática Normativa, Português Coloquial e Correção Gramatical unidade II

Observe que o autor, embora um pouco preconceituoso no texto, mostra-nos


que devemos utilizar a Língua Portuguesa Padrão. Em se tratando dos textos técni-
cos e acadêmicos, devemos pensar da mesma maneira, ou seja, pautarmo-nos pela
Norma Padrão. Assim, procure evitar os desvios da Norma Padrão, principalmente
no que toca aos pronomes.

2.6  Pronomes: Conceituação

Veja o exemplo:

“Minha mão está suja. Eu preciso cortá-la. Não adianta lavá-la. A


água está podre.” (Carlos Drummond de Andrade)

Observe que o “la” refere-se à mão, ou seja, substitui um termo que foi anun-
ciado na frase anterior. Assim, podemos dizer que o pronome substitui um nome.

PESSOAS DO PRONOMES PRONOMES PRONOMES


DISCURSO PESSOAIS DO CASO PESSOAIS POSSESSIVOS
RETO OBLÍQUOS
FUNÇÃO FUNÇÃO OBJETIVA
SUBJETIVA
1ª Pessoa Singular Eu Me, Mim, Comigo Meu, Minha, Meus,
Minhas
2ª Pessoa Singular Tu Te, Ti, Contigo Teu, Tua, Teus,
Tuas, Teus
3ª Pessoa Singular Ele, Ela Se, Si, Consigo, Lhe, Seu, Sua, Seus, Suas
O, A
1ª Pessoa Plural Nós Nos, Conosco Nosso, Nossa,
Nossos, Nossas
2ª Pessoa Plural Vós Vos, Convosco Vosso, Vossa,
Vossos, Vossas
3ª Pessoa Plural Eles, Elas Se, Si, Consigo, Seu, Sua, Seus, Suas
Lhes, Os, As

31
unidade II Gramática Normativa, Português Coloquial e Correção Gramatical

A tabela em questão mostra-nos a correlação dos pronomes, ou seja, a 1ª pes-


soa estabelece correlações com “me, mim, comigo, meu, minha, meus, minhas”; a
2ª pessoa estabelece correlações com “te, ti, contigo, teu, tua, teus, tuas, teus”. Isso
significa que em uma frase, se utilizarmos o pronome “tu”, devemos utilizar também
os mesmos pronomes que estão em correlação com ele. Assim, para se utilizar cor-
retamente os pronomes pessoais, devemos ficar atentos às correlações. Exemplos:

Eu gostaria de sair contigo no teu carro para te conhecer.

Eu gostaria de encontrar você em sua casa para lhe conhecer.

No primeiro exemplo, temos o “tu” e suas correlações: “Eu gostaria de sair


CONTIGO no TEU carro para TE conhecer”. No segundo exemplo, temos: “Eu gostaria
de encontrar VOCÊ em SUA casa para LHE conhecer”. Ou seja, os pronomes estão
em correlação. Atente a esse fato, pois é comum frases: “ Eu te vi. Você estava no
ônibus”. O “você” e “te” não estabelecem correlações, logo está errado.

2.7  Utilizações equivocadas do Pronome

Conforme já dissemos, os pronomes ele, ela, eles, elas têm como correlações:
“Ele, eles – o, lhe, lhes, seu, seus”; “ela, elas – a, lhe, lhes, sua, suas”. Assim, evitem
dizer ou escrever:

“Eu vi ela.”

Ela não é o sujeito da frase. Logo, devemos trocar a forma ela por “a”. Segundo
a Norma Padrão: “Eu a vi”. Ou, em se tratando do masculino: “Eu o vi.” Ou outras coi-
sas semelhantes: “Você conhece ele?”; “Pega ela.”; “Divide ela.”; “Compra ela.”.

2.8  Utilização de “Para eu” e “Para mim”

Mim quer tocar (Ultraje A Rigor)

Mim quer tocar

Mim gosta ganhar dinheiro

Mim é brasileiro

32
Gramática Normativa, Português Coloquial e Correção Gramatical unidade II

Mim gosta banana

Mas mim também quer votar

Mim também quer ser bacana

Não podemos confundir música com a linguagem formal, frequentemente,


ouvimos em algumas músicas formas deturpadas da utilização de conceitos grama-
ticais. A música tem o que denominamos “licença poética”, ou seja, o compositor
pode se dar ao luxo de usar equivocadamente algumas formas gramaticais, por uma
questão de estética. Isso é o que justifica o “mim quer tocar” da música em questão.
Atenção à utilização da forma correta:

99 Você entregou os livros para mim.

99 Você entregou os livros para eu ler.

Sempre que não tivermos um verbo ao final da frase, devemos usar “para
mim”; caso contrário, se houver um verbo na forma infinita, devemos usar “eu”, que
será o sujeito do verbo em questão.

2.9  Considerações da Unidade II

O estudo que acabamos de realizar mostrou-nos elementos importantes para


se pensar a produção textual. Ressaltamos alguns elementos que são de suma im-
portância:

A língua é, de maneira geral, coletiva; mas cada um de nós tem certas peculiari-
dades linguísticas, ou pelo menos preferências, e há assim, de certo modo, múltiplas
línguas individuais.

Ao não reconhecer a diferença entre língua escrita e língua falada, passou a


considerar a expressão escrita como modelo de correção para qualquer e toda ex-
pressão linguística.

A gramática tradicional assumiu desde sua origem um ponto de vista prescri-


tivo, normativo em relação à língua, assim, não admitiu variações na língua escrita
e fechou os olhos para a variedade coloquial. Adotou uma visão prescritiva que po-
demos definir como efeito de prescrever, ordem expressa e formal, aquilo que se
recomenda praticar, norma, preceito, regra, indicação exata, determinação, ordem.

33
unidade II Gramática Normativa, Português Coloquial e Correção Gramatical

A Gramática prescritiva/normativa fornece argumentos para se acreditar que


existe uma única maneira correta de se usar a língua.

A norma da correção é prescrita por uma fonte de autoridade, as demais varie-


dades são consideradas inferiores ou incorretas.

A conjunção do descritivo e do normativo efetuada pela gramática tradicional


reduz o objeto de análise que, de heterogêneo, passa a ter uma só forma: a do uso
correto.

Ao comparar as línguas em qualquer que seja o aspecto, fonologia, sintaxe ou


léxico, o linguísta constata que elas não são nem melhores nem piores, são, apenas,
diferentes.

Os padrões linguísticos estão sujeitos à avaliação social positiva e negativa e,


nessa medida, podem determinar o tipo de inserção do falante na escala social.

A variedade não-standard ou variedade coloquial é própria da modalidade oral,


utilizada em contexto informal, de discurso espontâneo, não planejado. A variedade
coloquial se diferencia da variedade culta ou norma culta, que se compõe de empre-
gos típicos de discurso planejado, utilizada predominantemente na escrita e compro-
metida com a tradição literária (Mollica, 2007, p.42).

Lembre-se de que para esta unidade, temos a segunda teleaula que traz uma
abordagem e exemplos diferentes para complementar seu aprendizado. Por isso, é
importante que você assista-a com atenção e anote as observações e dúvidas. Não
se esqueça de enviar as dúvidas pela plataforma para que possamos auxiliá-lo. No
fórum, você poderá apresentar dúvidas e conversar com os colegas sobre diversos
assuntos. Por fim, esteja atento aos prazos para entregar as atividades disponibiliza-
das na plataforma de estudos.

34
Estrutura do Texto Dissertativo unidade III

Unidade III
3

Estrutura do Texto Dissertativo

Objetivos da unidade:

• Conduzir o aluno ao conhecimento das estruturas do texto


dissertativo;

• Elaborar textos dissertativos com argumentação consistente.

Competências e Habilidades:

• Capacidade de produção e reflexão sobre as estruturas basilares


para a construção de textos dissertativos;

• Avaliação crítica das possibilidades que a língua fornece no processo


de produção de textos argumentativos.

35
unidade III Estrutura do Texto Dissertativo

3.1  Dissertação

A dissertação não é o tipo de produção de texto mais difícil. A narração e a


descrição também são difíceis para quem não domina as noções básicas da escrita.
O que podemos dizer é que a dissertação é mais complexa. No entanto, se entender-
mos as estruturas básicas, teremos mais tranquilidade na elaboração de um texto
dissertativo.

Trata-se de um procedimento textual pautado pela reflexão abstrata sobre


acontecimentos reais. Dissertar é expor ideias a respeito de um determinado assun-
to, é uma análise fundamentada em argumentos que sustentam o ponto de vista
apresentado.

A dissertação sempre objetiva convencer o leitor a respeito de um posiciona-


mento. O autor pode optar por uma dissertação:

amento de ideias
polêmica: encade
r meio de argu-
desenvolvidas po expositiva: por m
autor questiona eio de informa-
mentos, em que o ções atualizadas,
por uma seleção o autor desen-
o tema proposto volve uma posição
ras, procurando crítica sobre o
de prós e/ou cont assunto.
solução apoiada
apresentar uma
ncias;
em razões e evidê

Um texto dissertativo precisa se preocupar com a clareza das ideias apresenta-


das, com a criticidade (análise e síntese), a unidade (coesão) e a coerência (associação
e correlação das ideias). Outra habilidade que se espera do autor de um texto disser-
tativo é a persuasão, além de conhecimento sobre o assunto que vai ser abordado.

3.2  Argumentação

Ao nos referirmos à argumentação, devemos ter em mente que argumentar é


uma operação mental que tem seus efeitos sobre um determinado público. O objetivo
maior é convencer por meio de demonstração racional ou persuasão, a partir da ade-
são do interlocutor aos argumentos apresentados. Para convencer o interlocutor, po-
demos utilizar de diversos recursos retóricos e, principalmente, ao apelo às emoções.

36
Estrutura do Texto Dissertativo unidade III

Vamos ao AVA para entender todos os aspectos da Argumentação.

3.3  O Parágrafo-Padrão

Todo parágrafo é constituído de um ou mais períodos, em que se desenvolve


uma ideia central, à qual se ligam outras secundárias, relacionadas à ideia central.
Observe:

O léxico brasileiro é resultado de um fabuloso cruzamento idio-


mático. A influência mais forte vem das famílias latina e grega,
embutidas na língua dos colonizadores portugueses e, mais tar-
de, dos imigrantes (sobretudo espanhóis, italianos e alemães),
nossa ligação direta com a tradição europeia. Mas existem ou-
tras influências, a do tupi-guarani e das línguas africanas (Revis-
ta Língua Portuguesa: a origem das Palavras, p.20).

Veja que o autor apresentou de maneira resumida o que falará no texto: “O


léxico brasileiro é resultado de um fabuloso cruzamento idiomático”. A seguir, co-
meçou sucintamente a apresentar algumas ideias, todas ligadas ao léxico brasileiro.
A ideia-núcleo é o que chamamos de tópico frasal. No texto: “O léxico brasileiro é
resultado de um fabuloso cruzamento idiomático”.

No geral, as notícias de jornal são precedidas de tópico frasal, pois nele o autor
faz uma síntese do que tratará e o leitor, depois de lê-lo, opta por terminar ou não a
leitura. Assim, o seu texto dissertativo não pode deixar de ter o TÓPICO FRASAL, pois
ele garante ao seu texto:

37
unidade III Estrutura do Texto Dissertativo

Assim, podemos dizer que os pré-requisitos para se produzir um bom texto


dissertativo são:

99 Utilizar argumentos consistentes, pois “os sujeitos inteligentes discutem, advogam


por causas que valham a pena”.

99 Não deixar de iniciar o seu texto pelo TÓPICO FRASAL.

99 Ter objetividade.

99 Evitar digressões.

99 Escrever com coerência e coesão.

3.4  Processo para Produção de Texto Dissertativo

3.5  Dissertação Argumentativa

Não se prende a simples informação, objetiva persuadir o leitor, convencê-lo


de que a verdade e o melhor caminho é o de quem está argumentando.

Exemplo de dissertação expositiva

38
Estrutura do Texto Dissertativo unidade III

Exemplo de dissertação argumentativa

A Dissertação expositiva objetiva apenas apresentar informações; a Disser-


tação argumentativa objetiva convencer por meio de argumentos. Observe que no
primeiro exemplo, não se mostra nenhuma posição frente ao assunto dissertado;
já no segundo exemplo, o emissor emite uma opinião: “o instrumento de correção
traumatiza o condutor”, ou seja, posiciona-se frente ao assunto.

3.6  A Estrutura de um Texto Dissertativo

O texto dissertativo se caracteriza por ter a seguinte estrutura:

Antes de falarmos dos elementos anunciados anteriormente, precisamos re-


lembrar que parágrafo é uma unidade de composição que traz em si um raciocínio
completo. Não se esqueça: terminado o raciocínio, comece outro parágrafo.

39
unidade III Estrutura do Texto Dissertativo

3.7  O Assunto e a Delimitação do Assunto

Todo texto traz em si um assunto, no entanto, devemos ter em mente que não
podemos falar de tudo em um único texto. Assim, não devemos, por exemplo, falar
sobre o amor no mundo; precisamos delimitar o tema. A delimitação (tópico frasal) é
justamente o que dará coerência ao nosso texto.

Com um tema amplo e genérico, falaremos de tudo e, consequentemente, de


nada. Delimitando o assunto, poderemos fazer uma seleção mais sensata dos argu-
mentos e dos elementos que utilizaremos em nosso texto. Veja:

1. O amor no mundo. (tema muito amplo)

2. Primeiro amor: a mãe. (tema delimitado)

3.8  Objetivo

Todo texto dissertativo, ou melhor, todo texto, independente de ser disser-


tativo ou não, necessita de um objetivo. Assim, antes de começar a escrevê-lo, per-
gunte-se; “qual o objetivo do meu texto?”. Observe o nosso tema: “primeiro amor”.
Qual o objetivo? Mostrar e argumentar como devemos ver o primeiro amor: o amor
materno. Veja que não falaremos de outros tipos de amor. Os nossos argumentos
serão selecionados segundo o tema “amor materno”.

Atenção:

O tópico frasal iniciará o nosso texto, nele teremos a ideia central que será
desenvolvida. O tópico frasal será complementado no decorrer do texto.
Teremos um espaço para inserir elementos que contribuam em nossa ar-
gumentação.

Não se esqueça de que o tópico frasal, conforme já mostramos, facilita a leitura


do texto, pois, na introdução, ele já mostra o que falaremos no decorrer do texto.
Lembre-se da argumentação. Agora é o momento de utilizá-la.

Apresentação de fatos, exemplos e outros mais, serão necessários em nosso


texto. No momento em que começamos a argumentar, estamos iniciando a segunda
parte de nosso texto argumentativo, ou seja, estamos no Desenvolvimento.

40
Estrutura do Texto Dissertativo unidade III

3.9  Desenvolvimento

Desenvolvimento é o processo de argumentação cujo objetivo é convencer o


leitor do nosso ponto de vista. O desenvolvimento pode ser feito em alguns parágra-
fos; dependerá da extensão do texto a ser escrito.

Não se esqueça que, por mais extenso que seja o nosso texto, os parágrafos
devem ter coesão e coerência. Ou seja, um elemento deve estar ligado ao outro.

3.10  Conclusão

É a fase final do texto, momento em que se retoma a ideia núcleo, ou seja, o


tópico frasal. É importante ressaltar que na conclusão não devemos inserir nenhum
novo elemento; ela deve ser feita com base, APENAS, no que foi desenvolvido no texto.

3.11  Elementos Textuais para a Dissertação

A estrutura do texto argumentativo deve conter:

41
unidade III Estrutura do Texto Dissertativo

Não se esqueça que apresentamos apenas algumas possibilidades para se es-


truturar um texto dissertativo.

Dica de Leitura:

Othon Garcia, Comunicação em prosa moderna. Editora FGV, 2010.

SESSÃO “TENHA FÉ”

A menina foi no mercado e comprou duzentas gramas de mortandela.

SESSÃO ”ENCONTREI A LUZ”

A menina foi ao mercado e comprou duzentos gramas de mortadela. 

Observe que o verbo ir pede sempre a preposição “a”, assim, devemos falar
“foi”. O “foi em” indica movimento do alto para baixo, por exemplo, “ele estava senta-
do no banco”, movimento de cima para baixo. Em se tratando de duzentos, gramas
refere-se a quilogramas, palavra masculina, logo o quilograma, assim, duzentos (qui-
lo) gramas. E a nossa famosa mortadela já se transformou, no português coloquial,
em “mortandela”, quando o correto é mortadela.

3.12  Considerações da Unidade III

Nesta unidade, apresentamos a estrutura do texto dissertativo. Você deve ter


observado que o texto dissertativo é composto de uma estrutura básica, a qual deve
ser respeitada:

99 Introdução;

99 Desenvolvimento;

99 Conclusão.

É importante ressaltarmos que tal estrutura tem sua complementação no


tópico frasal, que traz “a síntese” do que se pretende desenvolver no texto. Ainda
devemos frisar o fato de que um bom texto dissertativo faz-se com argumentos
consistentes.

42
Estrutura do Texto Dissertativo unidade III

Não se esqueça de enviar as dúvidas pela plataforma para que possamos auxi-
liá-lo. No fórum, você poderá apresentar dúvidas e conversar com os colegas sobre
diversos assuntos. Por fim, esteja atento aos prazos para entregar as atividades dis-
ponibilizadas na plataforma de estudos.

43
Correção Gramatical e Nova Ortografia unidade IV

4 Unidade IV

Correção Gramatical e Nova Ortografia

Objetivos da unidade:

• Compreender os elementos gramaticais básicos e essenciais da Lín-


gua Portuguesa para a produção de diversos gêneros de textos.

Competências e Habilidades:

• Capacidade de articulação e reflexão sobre os fenômenos gramati-


cais da Língua Portuguesa;

• Produção crítica de textos diversos, a partir das possibilidades que


a Gramática Normativa fornece.

4.1  Gramática: Produção Textual

Para se produzir um texto com correção gramatical, é necessário estar atento


a alguns detalhes que fazem a diferença no momento em que o receptor decodifica
a mensagem.

45
unidade IV Correção Gramatical e Nova Ortografia

Dessa maneira, é importante que estejamos atentos ao nosso estilo e postura


para que o nosso texto cumpra o seu papel comunicacional e cause uma boa impres-
são ao receptor. Para tanto, é aconselhável não usar estereótipos preconceituosos,
nem tratar de forma desrespeitosa a qualquer pessoa, evitar utilizar expressões sar-
cásticas, vícios de linguagem, que são hábitos da linguagem coloquial. Por exemplo,
“para mim fazer”, é expressão condenada pela Gramática Normativa, logo, devemos
falar e escrever: “para eu fazer”. E ainda, evitar os circunlóquios que prejudicam o
entendimento e a decodificação da mensagem. O texto não pode se assemelhar a
uma bula de medicamento, deve se utilizar de uma linguagem adequada para o que
pretendemos dizer ou informar.

Assim, a fim de que o texto seja mais compreensível, podemos elaborá-lo com
frases curtas e vocabulário simples, eliminando as palavras desnecessárias. Em uma
frase curta é mais fácil assimilar a ideia, pois, dependendo do receptor, o período
subordinado pode trazer dificuldade na decodificação de mensagem. É aconselhá-
vel, sempre que possível, transformar uma frase longa em várias unidades menores,
mas sem simplificar demasiadamente, pois uma sequência de frases curtas pode
provocar desinteresse no leitor. Consequentemente, a simples enumeração de fatos
não é suficiente à clareza do texto. Por exemplo:

Observe que falta encadeamento às ideias, uma conexão espontânea. Assim,


é aconselhável construir um texto “amarrado”, que forme um todo. Utilizando-se de
alguns elementos de ligação, por exemplo, ASSIM, POR ISSO, CONTUDO, TODAVIA,
ANTERIORMENTE, POR FIM, FINALMENTE, elementos que ligarão os períodos e darão
fluência ao nosso texto:

46
Correção Gramatical e Nova Ortografia unidade IV

4.2  Vocabulário

Vocabulário sofisticado pode conduzir o leitor a um não entendimento. Utilize


sempre que possível termos simples, pois, no texto, se não for literário, é suficiente
expressar a mensagem ao destinatário.

Assim, o uso de palavras técnicas e abstratas nem sempre estão condizentes


com a realidade do receptor e, consequentemente, a comunicação não se efetiva.
Veja o exemplo:

Nas edificações de estruturas metálicas, os pisos permanen-


tes devem ser instalados à medida que os pavimentos sejam
construídos, não devendo ter mais do que oito pavimentos em
construção acima do último piso permanente concluído. Nas
edificações de estrutura metálica, abaixo dos serviços de rebi-
tação, aparafusagem ou soldagem, deve ser mantida pranchada
abrangendo toda a área de trabalho e a situada no piso imedia-
tamente inferior. A pranchada deve ser montada sem fretas, a
fim de evitar queda de materiais ou de equipamentos (MEDEI-
ROS, 2007, p.44).

No tocante às palavras abstratas ou às que envolvem preconceitos, também


devemos ficar atentos. Conforme já dissemos, há palavras que, em virtude de sua
ampla carga semântica, podem ser interpretadas de maneiras diferentes dependen-
do do receptor.

Há ainda palavras que encerram juízo de valor: errado, bom, mau, certo, agra-
dável; há as de referenciais imprecisos: reacionário, comunista, esquerda. Assim, no
momento de escrever, devemos parar para avaliarmos como o receptor poderá de-
codificar a carga significativa que o vocábulo pode transmitir à frase. Dependendo da
situação de recepção, a comunicação pode não se efetivar.

4.3  Generalização

Devemos ainda ficar atentos aos usos de jargões, pois eles não dizem absoluta-
mente nada. Por exemplo, “profissional”, por ser de grande amplitude pode significar

47
unidade IV Correção Gramatical e Nova Ortografia

diversos tipos de profissionais. Assim é melhor denominá-los: professor, padeiro,


feirante, secretária.

No momento em que os detalhamos, a compreensão do texto melhora, pois


o receptor consegue perceber que não há imprecisão no que queremos comunicar.
Em virtude disto, a importância de chamar objetos e ações por seus nomes. Observe:

99 Leite faz mal às crianças.

99 Leite contaminado por bactérias faz mal às crianças.

Observe que a 1ª frase generaliza demais o conteúdo apresentado; já a segun-


da é mais expressiva, pois explica e delimita o conteúdo “o leite” em um contexto.

Assim, não devemos estilizar o texto com vocábulos rebuscados. Segundo Pa-
dre Antônio Vieira: “Assim há de ser o estilo da pregação, muito distinto e muito claro.
(...) E nem por isso temais que pareça estilo baixo” (O Sermão da Sexagésima, p. 45).

Os textos devem se apresentar em linguagem clara e sem duplicidade de senti-


do, de forma a economizar tempo e acelerar o intervalo entre fatos e ações.

4.4  Para falar um pouco de Gramática

Retomando o texto já citado de Carlos Franchi (2006, p.15):

Existem diferentes modalidades de uso da linguagem ou de uma


língua natural qualquer. Uma, a modalidade culta e bela; outra,
as modalidades coloquiais, feias e vulgares porque em uso pelas
pessoas mais simples do povo. Com base no uso consagrado pe-
los bons escritores e o referendo dos especialistas e professores,
sabe-se o que pode e o que não se pode falar ou escrever: au-
toriza-se o uso de algumas expressões (as expressões corretas,
de bom português) e se desautorizam outras (classificadas como
solecismos, desvios de linguagem, erros, ou mau português).

Observe que o autor, embora um pouco preconceituoso no texto, mostra-nos


que devemos utilizar a Língua Portuguesa Padrão em nossas produções textuais.
Assim, além dos problemas que já vimos, procure evitar outros desvios da Norma
Padrão, principalmente no que toca aos casos de utilização inadequada da concor-
dância verbal e nominal; regência verbal e nominal; do uso da crase e da vírgula.

48
Correção Gramatical e Nova Ortografia unidade IV

4.5  Concordância

Concordância é o nome que se dá ao processo que obriga uma palavra a com-


binar, concordar com a outra. Há dois tipos de concordância: verbal e nominal.

Vamos ao AVA para continuar o assunto concordância. Lembre-se que an-


tes de realizar as atividades, você deverá estudar todo o material disponí-
vel da unidade.

4.6  Crase

Crase é a fusão de duas vogais iguais, utilizamos para registrar esse fenômeno
o acento grave (`). Observe:

A (preposição) + A (artigo, feminino, singular) = À

ou

A (preposição) + AS (artigo, feminino, plural) = ÀS

Para que esse acento seja utilizado é necessário que uma palavra exija prepo-
sição e a outra, artigo.

Temos o verbo ir que exige a preposição a e o


Na frase: substantivo colégio que vem precedido do artigo
“Vou ao colégio” “o”. Neste caso, não utilizamos o acento grave,
pois não temos duas vogais iguais.

Agora, se substituirmos o vocábulo colégio, por escola, teremos essa fusão. Veja:

Vou a + a escola = Vou à escola.

Essa junção também pode ocorrer com


as iniciais dos pronomes demonstrati- Não demos importância
vos aquela(s), aquele(s), aquilo ou com àquilo tudo.
o pronome relativo a qual (as quais)

49
unidade IV Correção Gramatical e Nova Ortografia

Observe outras situações:

(A) Muitas pessoas visitam o lugar. (B) Muitas pessoas visitam a cidade.

Nos dois exemplos não teremos o acento grave diante de a


cidade, pois, na frase A, temos “o lugar”, só teríamos o acento
grave diante de “a cidade”, se tivéssemos “ ao lugar”.

(C) Alguns viajantes chegaram ao campo. (D) Alguns viajantes chegaram à cidade.

Nesse exemplo, temos, na frase C, “ao campo”, ou seja, prepo-


sição mais artigo, logo, na frase D, teremos “à” cidade.

4.7  Casos em que não se utiliza o acento Grave (Crase)

Não utilizamos o acento grave, ou seja, não existe crase antes de:

Diante de palavras Gosto de andar a pé.


masculinas Pagamento a prazo.

Estamos dispostos a estudar.


Diante de verbos
Ele começou a fazer o trabalho.

Nas expressões
A mulher ficou frente a frente com o leão.
formadas de palavras
repetidas Os inimigos encontram-se cara a cara.

Quando a preposição
Eu falava a pessoas interessadas.
A estiver sozinha diante
de palavra no plural Pegaram-me a dentadas.

50
Correção Gramatical e Nova Ortografia unidade IV

Diante de palavras in-


A polícia ficou a distância.
dicadoras de distância

Atenção:

Haverá crase quando se definir a distância:

A polícia ficou à distância de 500 metros.

4.8  Uso Facultativo da Crase

Antes de nome próprio Refiro-me À (a) Laís.


feminino

Atenção:

Não se esqueça: somente diante de nomes próprios femininos, pois diante


de nomes próprios masculinos, não se usa a crase.

Antes de pronome
Vá imediatamente à (a) sua fazenda.
possessivo feminino

Depois da preposição Dirija-se até à (a) porta de saída.


até

4.9  Pontuação

Em Língua Portuguesa, temos alguns recursos para expressarmos as pausas e


entonações. Na língua escrita, são representadas pelos sinais de pontuação, dentre
eles, a vírgula.

51
unidade IV Correção Gramatical e Nova Ortografia

4.10  Emprego da Vírgula no Período Simples

Primeiramente, observe:

Eu denunciei o caso ao Ministério da Justiça.

Qualquer tentativa de pontuar a frase nos conduziria ao erro, pois não se sepa-
ra o sujeito do verbo, nem o verbo do sujeito e nem o verbo de seus complementos.
Assim, precisamos de atenção ao virgular os elementos de uma frase:

Armando, pai de José, também criticou a ideia.

Iracema, a virgem dos lábios de mel, morreu de tristeza.

Nos dois exemplos, utilizamos as vírgulas para inserirmos elementos explica-


tivos. A primeira vírgula fez um corte na frase separando o sujeito do verbo, no en-
tanto, a segunda vírgula reestabeleceu a unidade entre o sujeito e o verbo. Assim,
podemos dizer que se utiliza a vírgula:

Para separar termos de mesma função (termos coordenados):


Os prédios, as fazendas, as ruas, estavam inundados.

Nesse exemplo, temos um sujeito composto por vários elementos que estão
separados por vírgulas.

Atenção:

Dois termos de mesma função ligados por “e”, ou “e nem” não admitem
separação por vírgula:

Ele mora em São Paulo e no interior.

Se as conjunções vierem repetidas, pode-se usar a vírgula, mas não é obrigatório:


Ele teria de fazer uma escolha: ou a mulher, ou o trabalho, ou os amigos.

52
Correção Gramatical e Nova Ortografia unidade IV

Para isolar o aposto:


Os homens, inteligentes, amam mulheres inteligentes.
João, o meu amigo, desapareceu de sua cidade natal.

“Inteligente” e “o meu amigo” explicam, respectivamente, “os homens” e “João”,


tais elementos explicativos são denominados de aposto e, geralmente, são sepa-
rados por vírgulas.

Para isolar o vocativo:

Pai, olhai por nós, os pecadores.

Na frase, “Pai” é o vocativo, pois estamos chamando, invocando a pessoa do Pai.

Sempre que chamarmos uma pessoa ou invocarmos algo, devemos separar


por vírgula os elementos da invocação. Exemplo:

Mário, o ladrão de bancos fugiu da cidade.

A frase indica que alguém invoca, chama Mário e diz que o ladrão de bancos
fugiu da cidade. O termo “Mário” é o vocativo. Por outro lado, poderíamos mudar a
vírgula, neste caso, teríamos: “Mário, o ladrão de bancos, fugiu da cidade.” O sentido
da frase mudaria e “Mário” passaria a ser o ladrão de bancos, ou seja, funcionaria
como aposto (uma explicação).

Para isolar adjuntos adverbiais deslocados:

A posição normal do adjunto adverbial é depois do verbo, no entan-


to, às vezes, ele é deslocado, nesse caso, coloca-se vírgulas:

Nas eleições do ano passado, eu não votei.

ou

Eu não votei nas eleições do ano passado.

53
unidade IV Correção Gramatical e Nova Ortografia

Atenção:

Os adjuntos adverbiais representados por uma só palavra não precisam,


quando antecipados, ser isolados por vírgula:

Amanhã eu entregarei os documentos.

ou

Amanhã, eu entregarei os documentos.

Para indicar elipse do verbo:

Em uma frase, quando podemos identificar um verbo que não está


explícito, a partir de outro que está explícito, dizemos que o verbo
estava elíptico. Nesse caso, podemos indicar a elipse por meio de
uma vírgula. Exemplo:

Maria comprou um rádio; eu, um carro.

Os homens viajam a pé; as mulheres, de carro.

Nas duas frases, deduzimos, a partir do primeiro verbo apresentado, que os


verbos são: “comprar” e “viajar”, assim, teríamos: “eu comprei um carro”; “as mulhe-
res viajam de carro”. Para não repetir o verbo, utilizamos a vírgula.

Para separar, nas datas, o lugar:

São Paulo, 10 de abril de 2020.

Para isolar as expressões explicativas: isto é, ou melhor, quer


dizer...:

O ladrão fugiu da cidade, isto é, foi embora.

4.11  Observações Importantes

Há pausas (vírgulas) que não se apóiam nas justificativas sintáticas, mas na


intenção de comunicar clareza ao texto. Vejamos:

54
Correção Gramatical e Nova Ortografia unidade IV

a) Na escola colar não é falta grave.

b) Na escola colar não, é falta grave.

A primeira frase diz que podemos colar na escola, pois não é falta grave; na
segunda frase, a utilização da vírgula mostra o contrário: colar é uma falta grave.

c) Espantei os amigos com cigarro.

d) Espantei os amigos, com cigarro.

A primeira frase diz que eu espantei os amigos que estavam com o cigarro; na
segunda frase, a utilização da vírgula mostra que eu espantei com cigarro (instru-
mentos) os amigos.

e) Se o homem soubesse o valor que tem, a mulher andaria de quatro à sua
procura.

f) Se o homem soubesse o valor que tem a mulher, andaria de quatro à sua
procura.

A primeira frase diz que, se o homem soubesse o valor dele, a mulher andaria
de quatro à sua procura; já a segunda frase mostra o contrário: se o homem soubes-
se o valor da mulher, ele andaria de quatro à sua procura. A simples vírgula muda
completamente o sentido da frase.

4.12  Considerações sobre a Nova Reforma Ortográfica

A Reforma Ortográfica será estudada no AVA, logo após vá para o fórum


para a discussão de questões específicas e para tirar todas as dúvidas.

Até lá!!!

55
unidade IV Correção Gramatical e Nova Ortografia

4.13  Considerações da Unidade IV

Chegamos ao final da nossa última unidade. Lembra-se dos conteúdos


abordados?

Em nosso livro didático, abordamos diversos, nesta unidade, mais


especificamente:

Gramática: produção textual: apresentamos os elementos mais importantes


para se produzir um texto com correção gramatical e a necessidade de se estar atento
a alguns detalhes que farão a diferença no momento em que o receptor decodificar
a mensagem. Discutindo a questão da Gramática, ressaltamos aspectos gramaticais
diversos, a partir da concepção de Carlos Franchi que diz existir duas modalidades
de língua: uma, a língua coloquial; a outra, a modalidade culta e bela. Com base no
uso consagrado pelos bons escritores e o referendo dos especialistas e professores,
mostramos o que se pode e o que não se pode falar ou escrever. Completamos nos-
sas discussões com aspectos pontuais da gramática: Concordância Nominal e Verbal;
Crase; Pontuação e Nova Reforma Ortográfica.

É importante ressaltarmos que todos os elementos apresentados nessa unida-


de estabelecem uma ligação que permitem a você produzir um texto com correção
gramatical e elegância.

Lembre-se de que para esta unidade, temos a primeira videoaula que traz uma
abordagem e exemplos diferentes para complementar seu aprendizado. Por isso, é
importante que você assista-a com atenção e anote as observações e dúvidas. Não
se esqueça de enviar as dúvidas pela plataforma para que possamos auxiliá-lo. No
fórum, você poderá apresentar dúvidas e conversar com os colegas sobre diversos
assuntos. Por fim, esteja atento aos prazos para entregar as atividades disponibiliza-
das na plataforma de estudos.

56
Referências

Referências

ABREV, Antônio Suárez. Curso de Redação. São Paulo: Ática, 2004.

BAGNO, Marcos. Preconceito lingüístico: o que é, como se faz. 49 ed. São Paulo:
Loyola, 2007.

FRANCHI, Carlos. Mas o que é mesmo gramática? São Paulo: Parábola, 2006.

CAMARA, Mattoso Jr. Princípios de Lingüística Geral. Rio de janeiro: Padrão, 1977.

CARVALHO, de Castelar. Para Compreender Saussure. Rio de Janeiro: Vozes, 2000.

DEQUI, Francisco. Redação por recomposição. Canoas: IPUC, 2002.

DUBOIS, Jean et alii. Dicionário de Lingüística. São Paulo: Cultrix, 1988.

DIONÍSIO, Â. et al. Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002.

GARCIA, Othon. Comunicação em Prosa Moderna. Rio de Janeiro: Fronteira, 2010.

GOLD, Mirian. Redação Empresarial. São Paulo: Ed. Prentice Hall Brasil, 2010.

KOCH, Ingedore Villaça. A coerência textual. São Paulo: Contexto: 2006.

____________________. A coesão textual. São Paulo: Contexto: 2010.

MAINGUENEAU, Dominique. Introdução à Lingüística. Lisboa, Editora 70, 1997.

MARTINS, Dileta Silveira & ZILBERKNOP, Lúbia Scliar. Português Instrumental. São
Paulo: Atlas, 2004.

MOLLICA, Maria Cecília. Introdução à sociolingüística. São Paulo: Contexto, 2003.

ORLANDI, Eni P. e RODRIGUES, Suzy Lagazzi. Discurso e textualidade. São Paulo:


Pontes Editores, 2006.

PRESTES, Maria Luci de Mesquita. Leitura e redescoberta de textos. São Paulo:


Rêspel, 2001.

PERINI, Mário A. A língua do Brasil amanhã e outros mistérios. São Paulo: 2004.

SAPIR, Edward. Linguistique. France: Gallimard, 1991.

SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Lingüística Geral. São Paulo: Cultrix, 1994.

TRAVAGLIA, Luiz C. Gramática e Interação: uma proposta para o ensino de gramática.


São Paulo: Cortez, 2006.

57

Você também pode gostar