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A INTERIORIZAÇÃO DA METRÓPOLE.

DIAS, Maria Odila Leite da Silva. “A Interiorização da Metrópole e Outros Estudos”. Dimensões,
organizado por Carlos Guilherme Mota (São Paulo, Perspectiva, 1972).

Maria Odila Dias, analisa o processo de independência brasileira buscando reconstruir o ideal de
nação assim como objeto central da pesquisa a questão da vinda da corte portuguesa ao Brasil e os
interesses desta na formação de uma Nova Corte agora instalada na colônia lusa, o Brasil.
No início deste ensaio, Dias faz uma critica a historiografia brasileira no que se remete aos estudos do
processo de independência e especialmente o processo de passagem de um regime colonial a um imperial,
e isto atrelado, consequentemente, pela formação de uma unidade nacional. Segundo Dias, faltam estudos
historiográficos que expliquem o processo de emancipação política brasileira, vislumbrando um caráter que
discuta as revoluções contidas no Brasil como menos nacionalistas e mais interesses políticos das
capitanias, assim se desvencilhando dos estudos tradicionalistas que explanam o curso da independência
brasileira como uma luta entre a colônia em busca da autonomia e a metrópole almejando a exploração.
Dias busca autores como Prado Júnior para análise deste recorte historiográfico, no qual ela explica
minuciosamente as colocações de Prado Júnior. Segundo ela Prado Júnior afirma que os conflitos sociais
internos foram de caráter puramente individual, em outras palavras, as revoluções contidas na América
portuguesa foram conflitos que visavam o interesse individual de cada capitania, não se tratava de
revoluções que buscassem a autonomia brasileira enquanto caráter de nação.
Esta é uma das primeiras análises sobre a questão nacional de muitas discutidas por ela, que serão
debatidas ao longo deste. Então, com esses conflitos e consequentemente o reflexo da política liberal do
Porto, que acarretou no Brasil as aspirações do liberalismo constitucional, D. João, assim como os
comerciantes portugueses, tendo os seus interesses prejudicados fez com que este tomasse medidas
mercantilistas e de proteção aos seus interesses, pois tanto a Coroa como a burguesia brasileira tinha
alguns privilégios que a outros brasileiros não era concedido. Com um quadro bastante desfavorável para
ambas as classes privilegiadas, D João encontra um meio de manter seu poder monacal e atender os
interesses de comerciantes burgueses, em sua maioria portugueses da Mãe Pátria, transferindo a metrópole
para a colônia, assim tornando o Brasil colônia em um império denominado Reino Unido a Portugal e
Algarves, desta forma mantendo o poder do Rei no território brasileiro e atendendo as aspirações comercias
dos burgueses.
Contudo, Maria Dias afirma que apesar da Revolução do Porto que foi de importância não
questionável para a separação política do Brasil em relação a Portugal, 1820 não o fator fundamental para
tal ação, pois em sua análise, com a vinda da corte portuguesa para o Brasil já se concluía tal separação.
Segundo ela, esta separação, formalizada em 1822, se dava pelos antagonismos que havia se suscitado
em Portugal em tal período, de tal forma que a vinda da corte para a o Brasil já desencadearia a ruptura
política com a metrópole lusitana, de tal modo que isto provocaria conflitos entre os portugueses do velho
reino e portugueses da Nova Corte. Assim, para Dias, o curso da separação política brasileira se liga
forçosamente aos conflitos internos do reino, diretamente despertado pelos ideais da Revolução Francesa,
de modo que esta revolução seria a responsável pelos conflitos internos entre as novas tendências liberais
e os que de alguma forma tentariam a conservação de uma estrutura medieval contra as inovações que a
nova Corte intentava impor no Brasil.
No entanto, a colônia portuguesa não estava estruturada para receber a Corte e vir a ser metrópole,
pois a situação econômica brasileira era bastante desfavorável, de tal forma que a instalação da Corte no
Brasil traria benefícios, no que se remetem as obras públicas, pois a Nova Corte tentaria a estruturação da
colônia para vir a ser uma metrópole tal qual Portugal. Esta tentativa de organização não obteve sucesso de
tal forma que estas reformas de modernizar o novo reino culminam na revolução liberal do Porto.
Para não sair do foco, ou melhor, da questão Dias analisa o processo de independência brasileira como um
processo que, ao contrário da historiografia tradicional, não se da fundamentalmente me 1822 e sim se
desencadeia desde 1808, quando a corte portuguesa se instala no Brasil, pois a vinda desta para o Brasil e
a opção de criação de um novo reino por si mesmo significava um rompimento interno nas zonas políticas
do, então, Antigo Reino. Então, para a autora 1822 se consolida formalmente a separação política que, para
ela, havia se dado a partir do momento que a corte portuguesa se transfere para a sua colônia em 1808,
pois segundo ela a separação política brasileira “já era fato consumado desde 1808” (p. 11) através da
abertura dos portos e as dissidências dentro Portugal, que desencadeou a Revolução Liberal de Portugal,
não seria o único fator fundamental para a emancipação política do Brasil, haja vista que já esta separação
política já havia se dado a partir de 1808.

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