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VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR: A JUSTIÇA RESTAURATIVA COMO

FERRAMENTA NA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA DE GÊNERO E EMANCIPAÇÃO


FEMININA

Tássia Louise de Moraes Oliveira1


Caio Vinícius de Jesus Ferreira dos Santos2

Resumo: A violência doméstica é um fenômeno social global. Neste viés, este trabalho pretende
investigar a viabilidade da justiça restaurativa como via adequada de tutela penal. Assim, os autores
propõem-se a examinar a viabilidade jurídica da aplicação das técnicas restaurativas, utilizando-se,
para tanto, do método hipotético-dedutivo, em relação aos valores do novo modelo de solução do
conflito penal, além do método normativo-dogmático, visando analisar quais obstáculos do
ordenamento positivo brasileiro impedem a aplicação do modelo restaurativo em tais casos.
Ademais, buscou-se um levantamento bibliográfico e revisão da literatura especializada no tema.
Destarte, pretende-se explorar as características e os princípios da justiça restaurativa, avaliando a
possibilidade jurídica e aplicabilidade prática do modelo restaurativo. Outrossim, observa-se juízos
teóricos que consideram a justiça restaurativa um modelo adequado à emancipação feminina,
porquanto se evidencia que as técnicas do novo arquétipo auxiliam positivamente no processo de
superação da vitimização. Inobstante, percebe-se que a utilização do novo modelo suscita alguns
riscos e controvérsias, os quais serão examinados. Por fim, verifica-se que justiça restaurativa é um
meio viável de emancipação feminina e construção da cidadania de gênero, porquanto a solução
restaurativa atua como meio complementar de tutela penal, uma vez que esta prioriza o diálogo
como elemento de humanização na busca da solução do conflito.
Palavras-chave: Justiça restaurativa. Violência doméstica e familiar. Violência de gênero
.
Introdução

A Justiça restaurativa é um mecanismo alternativo de resolução dos conflitos penais que


almeja aproximar vítima e ofensor, com a finalidade de reparar os danos causados em decorrência
do delito, objetivando edificar ações de cooperação, respeito e diálogo. Defende-se, na perspectiva
restaurativa, que o dano causado à vítima deve ser reparado. Neste passo, a violência doméstica é
apresentada como um fenômeno complexo que destila efeitos negativos no seio social.
Por conseguinte, este trabalho pretende analisar a viabilidade da justiça restaurativa como
instrumento adequado de tutela penal aos casos de violência doméstica e familiar. Com isso,
propõem-se a examinar a viabilidade jurídica da aplicação das técnicas restaurativas, utilizando-se,
para tanto, do estudo da violência doméstica e a emergência de novos mecanismos que possibilitem

1
Mestranda em Direito Público pela Universidade Federal da Bahia. Membro do Grupo de Pesquisa Justiça
Restaurativa (UFBA), vinculado ao CNPq. Graduada em Direito pela Faculdade Ruy Barbosa (2015). Advogada.
Contato: louise_tassia@hotmail.com
2
Mestrando em Direito Público pela Universidade Federal da Bahia. Membro do Grupo de Pesquisa Justiça
Restaurativa (UFBA), vinculado ao CNPq. Graduado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Federal da
Bahia. Advogado. Contato: caiojfsantos@hotmail.com

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uma resposta penal assertiva aos direitos e interesses da mulher vítima do delito. Saliente-se que
este trabalho considera estritamente a violência doméstica direcionada às mulheres. Posteriormente,
verifica-se a justiça restaurativa como uma efetiva ferramenta para a emancipação feminina, bem
como uma oportunidade de inserir o diálogo acerca da violência doméstica e do empoderamento
feminino na construção da solução do conflito.
Para tanto, a investigação se valeu do método hipotético-dedutivo, em relação aos valores do
novo modelo de solução do conflito penal, além do método normativo-dogmático, visando analisar
quais obstáculos do ordenamento positivo brasileiro impedem a aplicação do modelo restaurativo
em tais casos.
Ademais, a pesquisa foi realizada tendo por suporte levantamentos bibliográficos e revisão
de literaturas especializadas sobre o tema. Destarte, pretende-se explorar os princípios da não
dominação e do empoderamento, avaliando a possibilidade jurídica e aplicabilidade prática do
modelo restaurativo nas causas de violência doméstica contra a mulher.
Outrossim, verifica-se juízos teóricos que consideram a justiça restaurativa um modelo
adequado à emancipação feminina, porquanto se evidencia que as técnicas do novo modelo
auxiliam positivamente no processo de superação da vitimização. Contudo, percebe-se que a
utilização do novo modelo suscita alguns riscos e controvérsias, os quais serão examinados. Por
fim, verifica-se que justiça restaurativa é um meio viável de emancipação feminina e construção da
cidadania de gênero, em razão da solução restaurativa atuar como meio complementar de tutela
penal, quando devido, haja vista que esta privilegia o diálogo, o encontro, a transformação das
relações em deslinde como elemento de humanização na busca da solução do conflito.

Justiça Restaurativa: Novos Contornos para A Justiça Penal

A justiça restaurativa é caracterizada por uma empiria conceitual, o que representa uma
dificuldade para a construção de uma definição delimitada. Com isso, percebe-se a justiça
restaurativa como um conjunto de práticas que almejam uma formulação teórica (SICA, 2007, p.
10).
O modelo restaurativo de resolução do conflito penal pode ser visto, desse modo, como uma
pluralidade de práticas associadas a uma multiplicidade de teorias que se alicerçam numa dimensão
intersubjetiva do delito, asseverando pela pacificação social, por meio da reparação dos danos
causados à vítima, por intermédio da autorresponsabilização do agente infrator, desígnios esses
alcançadas por meio do encontro dialógico entre os envolvidos (SANTOS, 2015, p. 297).

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No mesmo sentido, Howard Zehr (2012) vislumbra o arquétipo restaurativo como um
processo voltado à restauração, dentro dos limites possíveis, a todos que tenham interesse em uma
ofensa particular, para identificar e atender coletivamente às necessidades, danos e obrigações
derivados de determinado conflito penal, com o propósito de reparar os danos da melhor maneira
possível.
Dissertando sobre a dificuldade de conceituação, Palamolla pondera acerca da fluidez e
abertura da definição das práticas restaurativas, aduzindo, em síntese, que “a justiça restaurativa
possui um conceito não só aberto como, também, fluído, pois se modifica, assim como suas
práticas” (2009, p. 54), em virtude das relações sociais, históricas e culturais que constroem as
bases axiológicas de uma comunidade. Cláudia Santos assevera que a dificuldade de conceituar a
Justiça Restaurativa decorre de sua pluralidade de procedimentos e objetivos.
Diante o exposto, evidencia-se que a ideia de justiça restaurativa surge, com forte influência
abolicionista e das diretrizes da vitimologia, com a pretensão de uma reação diferente da resposta
fornecida pelo sistema de justiça criminal habitual, lastreada na democratização do processo, assim
como na recusa do autoritarismo que permeia o direito penal, na busca de respostas mais
emancipadora das vítimas e mais humana aos ofensores.
O modelo restaurativo também se fundamenta na reparação do mal sofrido pela vítima e na
atenuação das consequências do delito, além de buscar a reintegração social do agente infrator,
através da autorresponsabilização e inclusão da comunidade próxima aos envolvidos no conflito
como sujeito processual na construção da solução do conflito.
Na Resolução 2000/2012, de 24 de julho de 2000, do Conselho Econômico e Social das
Nações Unidas, a Organização das Nações Unidas explicitou os “princípios básicos para a
utilização de programa de justiça restaurativa em matéria criminal”. Segundo estabeleceu a referida
Resolução, tem-se que:
1. Programa de Justiça Restaurativa significa qualquer programa que use processos
restaurativos e objetive atingir resultados restaurativos 2. Processo restaurativo significa
qualquer processo no qual a vítima e o ofensor, e, quando apropriado, quaisquer outros
indivíduos ou membros da comunidade afetados por um crime, participam ativamente na
resolução das questões oriundas do crime, geralmente com a ajuda de um facilitador. Os
processos restaurativos podem incluir a mediação, a conciliação, a reunião familiar ou
comunitária (conferencing) e círculos decisórios (sentencing circles). 3. Resultado
restaurativo significa um acordo construído no processo restaurativo. Resultados
restaurativos incluem respostas e programas tais como reparação, restituição e serviço
comunitário, objetivando atender as necessidades individuais e coletivas e
responsabilidades das partes, bem assim promover a reintegração da vítima e do ofensor. 4.
Partes significa a vítima, o ofensor e quaisquer outros indivíduos ou membros da
comunidade afetados por um crime que podem estar envolvidos em um processo

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restaurativo. 5. Facilitador significa uma pessoa cujo papel é facilitar, de maneira justa e
imparcial, a participação das pessoas afetadas e envolvidas num processo restaurativo 3.

Frise-se que a justiça restaurativa não pretende ser uma resposta universal para todos os
casos ou uma solução dos problemas do sistema penal, pretendendo observar a singularidade de
cada situação para indicar a técnica mais adequada. O movimento restaurativo, assim, se afasta da
ideia de que o encarceramento seja elevado ao patamar de principal e privilegiada forma de sanção
estatal, aliado a um discurso eminentemente vingativo da pena, desprezando-se as peculiaridades,
vicissitudes e a dimensão pessoal de cada conflito.
Por conseguinte, verifica-se que a justiça restaurativa possui uma definição flexível e aberta,
originada da percepção dos riscos que a padronização das práticas restaurativas nos moldes do
pensamento jurídico tradicional pode resultar.
Contudo, saliente-se que essa abertura conceitual consiste no fato gerador das várias
críticas, mormente porque essa abrangência das mais variadas práticas que podem ser rotuladas
como restaurativas dão margem à ausência de limites balizadores do que é, ou não, considerado
como medida restaurativa, criando-se distorções, no plano prático, de viabilização dessas práticas,
além da evidente dificuldade de normatização, no sentido de inclusão de medidas restaurativas no
ordenamento jurídico positivo.
Neste aspecto, reside um dos maiores pontos de atrito entre a justiça restaurativa e o sistema
de garantias penais, uma vez que o direito penal alicerça-se na legalidade, sendo esta uma das mais
robustas garantias do cidadão, ao passo que aquela funda-se na ideia de construção da solução mais
apropriada ao caso concreto, o que pode gerar consequências indeterminadas, levando-se em conta
as peculiaridades do infrator, as necessidades da vítima e da comunidade, solução esta que pode não
encontrar respaldo no ordenamento penal positivado.
Apropriando-se dos argumentos dos abolicionistas4, do labelling approach, partindo da
percepção da repressão, seletividade e estigmatização que permeiam o modelo tradicional de justiça
criminal, a justiça restaurativa propõe um olhar mais humano sobre os conflitos penais, alertando
para o fato de que as instâncias formais de controle social preocupam-se mais com a punição
meramente retributiva, menosprezando as consequências do crime para a vítima e comunidade, bem
como negligenciando as funções preventivas da pena. Em síntese, nos dizeres de Renato Sócrates
Gomes Pinto,

3
Disponível em: < https://pt.scribd.com/document/110005565/resolucao-2002-12-da-Onu>. Acesso em 14 abr. 2017.
4
Neste sentido, vale a observação de Guilherme Câmara, que afirma que “parece razoável a ideia de que é possível
fazer-se bom uso das teorias abolicionistas sem ser abolicionista” (2008, p. 86).

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[...] a ideia, então, é se voltar para o futuro e para restauração dos relacionamentos, ao invés
de simplesmente concentrar-se no passado e na culpa. A justiça convencional diz você fez
isso e tem que ser castigado! A justiça restaurativa pergunta: o que você pode fazer agora
para restaurar isso? (2005, p. 19).

Diante deste cenário, pode-se dizer que a justiça restaurativa propõe um diferente
paradigma, não necessariamente melhor, mas diferente, da justiça penal.

Violência Doméstica e Familiar: A Emergência de uma Reposta Penal Subjetiva e Relacional

De acordo com Meireli Sousa Ramos e Gustavo Silveira Machado (2009, p.54), a violência
doméstica é caracterizada por uma tríade de elementos, qualificados em ações agressivas realizadas
no domínio da relação familiar, afetiva ou conjugal, na afirmação de uma hierárquica decorrente
dos gêneros dos sujeitos; e na forte tendência à habitualidade da agressão. Agressões essas quase
sempre do homem contra a mulher. Nesse sentido, Thaize de Carvalho (2012, p. 129) adverte que a
violência doméstica praticada contra a mulher, numa perspectiva histórico-social, não é um ato
isolado, em virtude de não se poder olvidar a questão do gênero em países tão machistas como o
Brasil.
Ana Alice Costa (2004) afirma que as relações de gênero estão estritamente atreladas às
relações de poder que circundam a realidade. As relações existentes entre homens e mulheres, no
seio conjugal, também podem estar marcadas por relações desiguais, assimétricas, reafirmando a
subordinação da mulher por meio da violência.
Define-se a violência contra a mulher a partir do artigo 1º da Declaração das Nações Unidas
sobre a Eliminação da Violência Sobre as Mulheres (1993), apreendendo a violência contra as
mulheres como:
Todo o ato de violência baseado na pertença ao sexo feminino que tenha ou possa ter
como resultado o dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico da mulher; inclui-
se aqui também a ameaça de tais atos, a coação ou a privação arbitrária de liberdade,
na vida pública ou na vida privada5

Soma-se a esta definição a percepção de que a violência doméstica contra a mulher ocorre
quando o agressor se perfaz em pessoa que frequente sua casa, ou cuja casa ela frequente,
independentemente da denominação marido, noivo, amante, namorado, em virtude de existir uma
relação de afetividade entre vítima e ofensor (DE JESUS, 2015, p. 10), definição que será
considerado para as ilações posteriores. Acrescenta Cláudia Cruz Santos (2014, p. 727) que a

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Disponível em: http://direitoshumanos.gddc.pt/3_4/IIIPAG3_4_7.htm# Acesso: 23 jun 2017.

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conjuntura da violência doméstica radica precisamente na existência, seja atual, passada ou
presente, de uma nota relacional. A autora indica que, com suporte na legislação portuguesa, a
violência doméstica se caracteriza pela agressão contra o cônjuge, ex-cônjuge ou contra pessoa com
quem o agente mantenha ou tenha mantido relação análoga a dos cônjuges, ainda que sem
coabitação (2014, p.729).
Damásio de Jesus adverte que apesar de existir vasta bibliografia sobre a temática em
desenlace, com definições elucidativas e delimitadas acerca das situações que caracterizam e
constituem a violência doméstica contra a mulher, requer uma categorização muito mais intuitiva e
casuística do que formal e hermética (2015, p. 10).
“A violência contra as mulheres é o tipo mais generalizado de abuso dos direitos humanos
no mundo e o menos reconhecido”, com base em Vivian Peres Day (2003, p. 15), o que requer
mecanismos eficientes para a sua inibição e evidência social. Nesse contexto, a violência doméstica
contra a mulher destila seu sabor cruento no silêncio dos lares, restando desamparada, por longo
tempo, pelas lentes do Poder Judiciário e do Sistema de Segurança Pública Nacional, favorecendo a
sua manutenção e a impunidade de seus agressores. Além disso, as instâncias de controle podem
provocar uma revitimização, bem como encorajar os mecanismos aptos para formação e
manutenção das cifras ocultas (SANTOS, 2015, 272).
Note-se que a promulgação da Constituição Federal de 1988 estabeleceu oficialmente a
obrigação de perseguir a igualdade entre homens e mulheres. No entanto, o patriarcado personaliza
seus efeitos nas relações mais prosaicas do cotidiano, inviabilizando a formação da igualdade entre
os gêneros na empiria social. Do esforço de revivificar os valores de igualdade instituídos na Carta
Maior, a Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) é aprovada com a convicção de que o direito penal
pode vir a ser um meio de modificação da realidade social.
Não obstante a Lei Maria da Penha representar um marco na tentativa de tolher a violência
contra a mulher, o rigor instituído por seu corpo normativo não foi acompanhado pela deterioração
dos índices de violência de gênero (CARVALHO, 2012, p. 143). Além disso, com base na mesma
autora, a Lei 11.340/2006 é passível de ponderações e críticas, em razão de redimir a autonomia da
mulher à tutela maximalista e afastada de seus reais interesses6. Para a autora, a Lei mencionada não
viabiliza mecanismos de emancipação da mulher, persistindo a estigmatização de sexo frágil. Isso
porque o Estado avocou para si um espaço de autonomia que pertence à vítima, na tentativa
frustrada de protegê-la. Acrescenta Maria Lúcia Karam que:
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Merece ser registrada a impossibilidade de desistência da ocorrência ou da representação, especialmente no delito de
lesão corporal leve, de acordo com o decidido pelo Supremo Tribunal Federal, na ADI 4424.

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Na Lei nº 11.340/2006 a indevida supressão de direitos fundamentais logo aparece na negação da
isonomia, manifestada na exclusão da incidência da Lei nº 9.099/95 em hipóteses de crimes
praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher (artigo 41) ou na vedação da
aplicação de penas de prestação pecuniária e de substituição da pena privativa de liberdade que
implique o pagamento isolado de multa (artigo 17) (KARAM, 2006)

De acordo com Ramos e Machado, a Lei Maria da Penha reconhece a mulher como vítima
contumaz da violência de gênero, viabilizando a proteção e inserção de mecanismos niveladores da
igualdade (2009, p. 55). Contudo, evidencia-se que essa afirmação não é completamente verdadeira.
Isso por que, a Lei 11.340/06 estabeleceu um abismo entre vítima e ofensor – mesmo quando há
vontade da manutenção de uma relação intersubjetiva que foi atingida por um delito – ao impedir
mecanismos despenalizadores e práticas que fomentem a resolução do conflito por meio do
encontro dos envolvidos. Nesses termos, Cecília Macdowell e Wânia Izumino apreendem que “o
discurso vitimista não limita a análise da dinâmica desse tipo de violência como também não
oferece alternativas à mulher” (2005, p. 8). Nestes termos acena Maria Lúcia Karam:
A proibição de uma conduta que atenta contra a pessoa não pode servir para tolher, ainda que
indiretamente, a liberdade dessa mesma pessoa que a norma pretende proteger (KARAM, 2006).

Andréa Ribeiro (2015, p. 22) aduz que a Lei 11.340 não é obstáculo aos mecanismos não
retribucionistas, em razão da lei asseverar a impossibilidade de substituição da pena que implique o
pagamento isolado de multa ou de cesta básica. Ademais, a autora persegue que, mesmo ao afastar a
incidência da Lei 9.099/95, a lei não exclui o fomento de outra resposta que não a penal. O que se
ousa descordar.
Vê-se que o Congresso Nacional privilegiou, por meio da Lei 11.340, o direito penal como
instrumento quase que exclusivo de realizar uma política criminal de prevenção e inibição da
violência doméstica. Saliente-se que, a sociedade requer mais do que o aprisionamento do agressor,
em razão da necessidade de se fomentar uma educação direcionada para a igualdade de gênero
também no âmbito da construção de uma reposta ao delito. De acordo com Thaize de Carvalho, “é
preciso eleger uma política criminal de tratamento holístico para a construção de respostas penais
relacionadas à violência doméstica contra a mulher (2012, p. 169).
No mesmo sentido, Santos (2015, p. 733) indica que a proteção da vítima não está atrelada a
um paternalismo penal vertidas a limitar a liberdade de atuação das pessoas com intuito de protegê-
las de si mesma. Para a autora as vítimas de violência são aprisionadas no estereótipo de fragilidade
e de incapacidade. Diante disso, a necessidade de viabilizar a emancipação das vítimas em
procedimentos anteriores ao encontro restaurativo e seu exercício conjugado, quando necessário, ao

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procedimento penal ordinário. Para a autora, a participação em práticas restaurativas,
hodiernamente, deve ser considerada um direito da vítima e não uma concessão do Estado.
Para tanto, verifica-se a necessidade de novas alternativas para lidar com a situação e, com
isso, promover um efetivo auxílio ao procedimento de autodescoberta, fortalecendo sua autoestima
e autonomia, consolidando o seu poder decisório (2009, p. 22).
Diante disso, a atribuição de pena, em primazia do modelo retributivo, não é suficiente para
compor a complexidade inata das questões que circundam a violência doméstica contra a mulher,
em razão de suas causas sociais, culturais, psicológicas e emocionais. Evidentemente que em
algumas situações a justiça restaurativa não será a alternativa indicado para a promoção da
pacificação social, requerendo uma análise da situação concreta. Nestes termos, Julieta Evangelina
Cano:
Sabemos que para cambiar esta realidad de desigualdad, lo único que puede
realmente combatirla, es la educación, la formación, la des-estructuración de este
sistema patriarcal. La promulgación de leyes que pretenden la prevención,
erradicación y sanción de este tipo de violencia es un paso muy importante, sobre
todo a nivel simbólico, y necesario, pero no se basta así mismo. Mientras no se
cambie el patrón cultural que pone a las mujeres a disposición de los varones cuales
objetos, no notaremos grandes cambios.(p. 7)

A intervenção vertical entre Estado e sociedade, em virtude de a resposta penal oficial é


qualificada como distante, unívoca e não satisfaz os interesses da vítima, não promove a reeducação
do autor e promove a fragmentação dos laços sociais (CARVALHO, p 147). Para a autora, a
recomendação internacional da Convenção para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
contra as Mulheres é melhor atendida pelas técnicas restaurativas (p. 155). Veja que o direito penal
tradicional não rompe com a violência cíclica.
Neste prisma, Santos apresenta como filtros de segurança a voluntariedade da vítima, uma
vez que emancipada não se sente acuada para enfrentar a face do agressor, e o desempenho do
facilitador, que deve a todo tempo promover o equilíbrio no encontro restaurativo, assegurando a
existência de condições para tal desiderato (SANTOS, 2014, p. 734). Acrescente-se ao noticiado
pela autora que se faz preciso agenciar a melhor técnica restaurativa para cada situação específica
levando-se em conta as peculiaridades da vítima e do ofensor7.
Outro aspecto que se qualifica imperioso alude ao afastamento da vítima aos procedimentos
do direito penal habitual. Verifica-se que o processo penal também é um instrumento de
estigmatização da própria vítima, por não oportunizar, majoritariamente, a sua participação para a

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O facilitador precisa estar atento, até mesmo, as possíveis situações onde a vítima possa, em verdade, ser o agressor.

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construção da resposta penal tradicional. Pior, pois nem sempre a mulher agredida pretende a prisão
do agressor, haja vista pretender prosseguir na relação com seu algoz - requerendo apenas uma
mudança de atitude do agente (CARVALHO, 2012 p. 123).
Com isso, é imperiosa a construção de mecanismos que fomentem uma solução para a
dimensão intersubjetiva do conflito penal com a participação da vítima e querida pelo agente com
objetivo de minimizar ou neutralizar os danos decorrentes do delito. Nesse cerne, uma coisa é certa,
nessa situação, “o interesse da vítima nem sempre é a defesa da comunidade”. Com isso, é possível
encarar o conflito relacional familiar como uma violação penal que oportuniza o diálogo e
reafirmação comunitária, integradora e participativa, quando assim desejado pelas partes
(CARVALHO, 2012, p. 141).

A Justiça Restaurativa como Ferramenta de Emancipação Feminina

Um dos valores norteadores da Justiça Restaurativa é a não dominação, que vislumbra o


dever de o procedimento restaurativo estar organizado de forma a minimizar as diferenças e as
desigualdades sociais, culturais e históricas, no momento do encontro entre atingidos pelo conflito
penal (PALLAMOLLA, 2009, p. 62). Nesse passo, o facilitador deve estar atento para atuar com
diligência e garantir essa minoração dos sentimentos de vitimização da paciente e a fomentar a
responsabilização da conduta do agressor.
Ao lado da não dominação, faz-se presente, no rol dos valores, o empowerment
(empoderamento). Este valor, de acordo com Pallamolla, é consequência da não dominação
(PALLAMOLLA, 2009, p. 62). Isso porque, implica no surgimento da autonomia e estima dos
envolvidos – em especial para a superação da vítima, que a partir de sua emancipação relata suas
histórias e perspectivas, afastando-se do sentimento de vulnerabilidade e estigmatização.
Segundo Pallamolla (2009), o empoderamento propõe, no curso do procedimento, a oferecer
voz aos envolvidos (vítima, ofensor, comunidade de próximos), implicando em compreensão e
alteridade dos diferentes pontos de vista. É de bom grado observar que o empoderamento aspira que
os participantes (vítima, ofensor e coletividade) participem ativamente do processo de edificação da
justiça, vivenciando a construção e dando sentido a essa virtude. Desse modo, as práticas
restaurativas pretendem a superação da insegurança, da insatisfação e da humilhação decorrente do
delito no âmbito doméstico.

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O empoderamento, para Santos (2014, p. 731), exige a capacidade8 e a capacitação para
viabilizar o diálogo entre vítima e ofensor, conquanto à vítima cabe, se quiser, expor suas dores e
frustrações decorrentes do delito, cunhando seus interesses e desejos. Os processos e procedimentos
restaurativos devem, assim, enfatizar: o dano causado à vítima e as necessidades dele decorrentes, a
responsabilização do ofensor para que repare o dano, percebendo a aflição e o rompimentos dos
laços sociais fragmentados, o empoderamento das pessoas envolvidas, com lastro no respeita, na
reparação e na transformação das relações travadas no seio familiar. Igualmente, o caráter cíclico da
violência precisa ser rompido e desencorajado.
O conceito de empoderamento, de acordo com Ana Alice Costa, surgiu na luta pelos direitos
civis nos Estados Unidos, por meio da bandeira do poder negro, difundindo-se como uma edificação
pela qual as pessoas assumem as rédeas de suas próprias vidas, de seus interesses e de seu destino
social, cultural e político (2004, p.7). Para a autora são parâmetros de empoderamento: a construção
de uma autoimagem e de autoconfiança, o desenvolvimento da criticidade, percepção de
pertencimento aos grupos sociais e suas demandas e tomadas de decisões (2004, p. 7).
Andréa Ribeiro (2015 p. 21) indica a mediação como o mecanismo mais adequado para o
refazimento do elo rompido com a prática do delito para que as partes possam, por meio do diálogo,
superar a origem do delito. Antagonicamente, Marta Pérez entende necessário proibir a mediação
para as situações de violência doméstica, haja vista que impossibilitar a mediação nesse contexto é
o mais acertado para inibir essa forma de violência, pois o agente agressor que percebe a vítima
como subalterna, “que não se arrepende, que não sabe pedir perdão, que anula a vontade da vítima”
pode valer-se da solução restaurativa para perpetuar o ciclo de abusos e agressões (apud SANTOS,
2015, p.731).
Os argumentos erguidos pelas autoras não estão imunes de discordâncias. De fato, faz-se
extremamente necessário que a mulher vitimada não venha a sofrer um processo de revitimização
com o arquétipo de solução do conflito penal selecionado. No entanto, o controle penal tradicional
não impede a revitimização secundária, muitas vezes sendo estratégia de defesa a trivialização,
banalização e responsabilização da vítima pela conduta delitiva.
Note-se, ainda, que a utilização de técnicas restaurativas não pode ser considerada como um
mecanismo de minimização da conduta enquanto crime, mas um instrumento que privilegia a
revitalização dos vínculos fragmentados atento às singularidades de cada situação específica. Para
Thaize Carvalho (2012, p. 145), a técnica restaurativa viabiliza que “a mulher encare o problema de
8
Os agentes precisam ser maiores de 16 anos e com capacidade de manifestar o discernimento necessário para avaliar,
discutir e opinar sobre a situação (SANTOS, p. 736).

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frente e assuma a direção de sua vida como agente transformador(...) e conscientiza o homem dos
seus atos”.
Com base em Paula Fonseca e Taiane Lucas, as mulheres que decidem romper um
relacionamento agressivo estão destruindo com várias aspirações e expectativas frustradas pelo
delito (2009). Com isso, as pesquisadoras indicam que há ganhos e perdas com o fim do
relacionamento que não podem ser ignorados pelos profissionais que se deparam com a violência
domésticas, sendo necessário fortalecer a mulher para o alvorecer, se necessário, de um novo trajeto
vida.

Considerações Finais

Diante o exposto, a atribuição de pena, em determinados casos, em detrimento de modelos


alternativos, não é satisfatória para a análise e resolução do conflito penal, decorrente da violência
doméstica, diante à complexidade congênita das situações relacionais e interpessoais que rodeiam o
ser feminino nesses casos, em virtude das causas sociais, culturais, históricas, psicológicas e
emocionais. Desse modo, perfaz-se necessária a edificação de instrumentos fomentadores de
soluções atentas à dimensão intersubjetiva do conflito penal com a participação da vítima e do
agente, com escopo de minimizar ou neutralizar os danos decorrentes do delito. Imperioso frisar que
“o interesse da vítima nem sempre é a defesa dos interesses da comunidade”.
Nesse cenário desponta a justiça restaurativa como um mecanismo que prioriza as
necessidades da vítima, por meio de seus princípios, valores e técnicas, assumindo como finalidade
teleológica a pacificação social, através da reparação dos danos causados à(s) vítimas, se
relacionando com o compromisso do(s) agente(s) em atingir, por meio do diálogo, os interesses
primordiais daquela. Além disso, é por meio do empoderamento que a vítima consegue alcançar sua
emancipação e a superação do delito se afastando da estigmatização, consequência do crime.
Destarte, em uma sociedade na qual a violência doméstica e familiar encontra destaque
negativo, a Justiça Restaurativa se preocupa com as necessidades das vítimas, dando a estas a
possibilidade de envolver-se com o processo e ampliando sua participação no mesmo, assim como
as necessidades do agressor de entender as consequências nefastas do ato praticado, uma vez que a
punição, por si, em que pese o seu caráter simbólico, não constitui a verdadeira responsabilização
pelo ilícito, sendo que a exclusão social do agressor apenas alimenta a alienação social do mesmo e
nutre o ciclo de violência social.

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Neste sentido, afirma-se que a aplicação complementar, e não substitutiva, das propostas
restaurativas ao processo penal tradicional, especialmente nos casos de violência doméstica e
familiar, pode consistir em uma alternativa de resgaste do Processo Penal Democrático que atenda
às necessidades das vítimas, réus e da sociedade, bem como consiste em importante ferramenta de
emancipação feminina.

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Domestic and Family Violence: The Restorative Justice as a Tool in the Construction of
Gender Citizenship and Female Emancipation

Abstract: Domestic violence is a global social phenomenon. In this way, this work aims to
investigate the viability of restorative justice as an adequate way of criminal protection. Thus, the
authors propose to examine the legal viability of the application of restorative techniques, using,
therefore, the hypothetic-deductive method, in relation to the values of the new model of solution of
the criminal conflict, besides the normative-dogmatic method, In order to analyze which obstacles
of the Brazilian positive order prevent the application of the restorative model in such cases. In
addition, a bibliographical survey and review of literature specialized in the subject was searched.
Thus, it’s intended to explore the characteristics and principles of restorative justice, evaluating the
legal possibility and practical applicability of the restorative model. In addition, theoretical
judgments are taken that consider restorative justice a suitable model for female emancipation, since
it is evident that the techniques of the new archetype help positively in the process of overcoming
victimization. In spite of this, it’s perceived that the use of the new model raises some risks and
controversies, which will be examined. Finally, restorative justice is a viable means of female
emancipation and the construction of gender citizenship, because the restorative solution acts as a
complementary means of criminal protection, since it prioritizes dialogue as an element of
humanization in the search for a solution of the conflict.

Keywords: Restorative justice. Domestic and family violence. Gender violence.

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