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1 – CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO

- SENTIDO SOCIOLÓGICO: Ferdinand Lassale defendeu que uma


Constituição só seria legítima se representasse o efetivo poder
social, refletindo as forças sociais que constituem o poder. Do
contrário, seria ilegítima, caracterizando-se como uma simples
“folha de papel”.

- SENTIDO POLÍTICO: Carl Schmitt distingue Constituição de Lei


Constitucional. Constituição só se refere à decisão política
fundamental (estrutura e órgão do Estado, direitos individuais, vida
democrática etc). As leis constitucionais seriam os demais
dispositivos inseridos no texto do documento constitucional.

- SENTIDO MATERIAL E FORMAL:

Material: O que importa para definirmos uma norma constitucional


é o seu conteúdo (regras estruturais da sociedade, seus alicerces
fundamentais, forma de Estado, governo, seus órgãos etc), pouco
importando a forma pela qual essa norma foi introduzida no
ordenamento jurídico.

Formal: Não interessa o conteúdo da norma, mas sim a forma


como ela foi introduzida no ordenamento jurídico, ou seja, pelo
poder soberano por meio de um processo legislativo mais
dificultoso, diferenciado e mais solene que o processo legislativo de
formação das demais normas do ordenamento.

OBSERVAÇÕES: Pelo critério material, torna-se possível


encontrarmos normas constitucionais fora do texto constitucional.
No sentido formal, é possível atribuir caráter constitucional (com
controle de constitucionalidade) a normas cujo conteúdo não seja
constitucional, como por exemplo o art.242, par.2º. da CF/88.

- SENTIDO JURÍDICO: Para Hans Kelsen a Constituição pertence


ao mundo do dever-ser (fruto da vontade racional) e não do ser (leis
naturais).
Dois sentidos para Constituição: lógico-jurídico (significa norma
fundamental hipotética, plano do suposto) e jurídico-positivo (norma
positiva suprema, conjunto de normas que regula a criação de
outras normas, lei nacional no seu mais alto grau, plano do posto).

- SENTIDO CULTURAL: A constituição é produto de um fato


cultural, tratando-se de uma formação objetiva de cultura que
encerra, ao mesmo tempo, elementos históricos, sociais e racionais,
aí intervindo, portanto, não apenas fatores reais (natureza humana,
necessidades individuais e sociais concretas, raça, geografia, uso,
costumes, tradições, técnicas) mas também espirituais
(sentimentos, ideais morais, políticas e religiosas).

- CONSTITUIÇÃO ABERTA: Ideia que permite que a constituição


permaneça dentro do seu tempo e, assim, evita-se o risco de
desmoronamento de sua força normativa. Relativiza-se a função
material de tarefa a constituição e justifica-se a
desconstitucionalização de elementos substantivadores da ordem
constitucional.

2 -CLASSIFICAÇÃO (TIPOLOGIA)

- QUANTO À ORIGEM E A DISTINÇÃO ENTRE CONSTITUIÇÃO


E CARTA

Outorgadas: constituição imposta, de maneira unilateral, pelo


agente revolucionário, que não recebeu do povo legitimidade para
em nome dele atuar. No Brasil: 1824, 1937, 1967 e EC 1/69.

Promulgada: democrática, votada ou popular, é aquela constituição


fruto do trabalho de uma Assembleia Nacional Constituinte, eleita
diretamente pelo povo, para em nome dele atuar. Brasil: 1891,
1934, 1946 e 1988.
Pactuada: Fruto de um pacto. O poder constituinte originário se
concentra nas mãos de mais de um titular. Ex. Magna Carta de
1215, em que os barões ingleses obrigam João Sem Terra a jurar.

Diferença entre constituição e carta: constituição é nome iuris da Lei


Fundamental promulgada, democrática e popular. Carta é nome da
constituição outorgada.

- QUANTO À FORMA

Escritas (instrumental): formada por conjunto de regras


sistematizadas e organizadas em UM ÚNICO DOCUMENTO. Vide
o artigo 5º. Par. 3º da CR/88!! Paulo Bonavides fala em Constituição
Legal (escrita e que se apresenta esparsa ou fragmentada em
textos)

Costumeiras (não escritas ou consuetudinárias): Não traz as regras


em um único texto solene e codificado. É formada por textos
esparsos, reconhecidos pela sociedade como fundamentais, e
baseia-se nos usos, costumes, jurisprudência, convenções.
Exemplo clássico: Constituição da Inglaterra (todavia, mesmo na
Inglaterra assenta-se e princípios constitucionais em textos escritos,
apesar da relevância dos costumes na formação de valores
constitucionais).

Na época contemporânea inexistem constituição totalmente


costumeiras (Paulo Bonavides). A Const. Americana de 1787 é
escrita, porém complementada pelos costumes.

- QUANTO À EXTENSÃO

Sintéticas (concisas, breves,sumárias, sucintas, básicas)


Analíticas (amplas,extensas, largas, prolixas, longas,
desenvolvidas,volumosas,inchadas).

- QUANTO AO CONTEÚDO

Materialmente constitucionais

Formalmente constitucionais (Vide artigo 5º. Par. 3º., EC 45/2004)!

A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência


aprovado por meio de quórum qualificado (dois turnos em cada
casa, 3/5)

- QUANTO AO MODO DE ELABORAÇÃO

Dogmáticas: sempre escritas, consubstanciam dogmas estruturais e


fundamentais do Estado. São elaboradas de um só jato,
reflexivamente, racionalmente, por uma Assembleia Constituinte.
Exemplo: CF/88.

Históricas: constituem-se através de lento e contínuo processo de


formação ao longo do tempo, reunindo a história e as tradições de
um povo. Aproximam-se da costumeira e tem como exemplo a
Const. Inglesa.

- QUANTO À ALTERABILIDADE (ESTABILIDADE – JOSÉ


AFONSO E AELXANDRE DE MORAES)

Rígidas

Flexíveis (plásticas)
Semirrígidas (ou semiflexíveis).

Fixas (alteradas só por meio de outro poder igual ao que a instituiu)

Constituições transitoriamente flexíveis

Imutáveis

Alexandre de Moraes diz que a CF/88 é super-rígida. Mas o STF


admite alteração das matérias do art. 60 par. 4º. Desde que a
reforma não tenda a abolir os preceitos ali resguardados e dentro
de uma ideia de razoabilidade e ponderação (reforma da
previdência e taxação dos inativos)

- QUANTO À SISTEMÁTICA (CRITÉRIO SISTEMÁTICO)

Reduzidas (materializam-se em um só código básico). Paulo


Bonavides chama de Codificadas.

Variadas (distribuem-se em vários textos e documentos) –Exemplo:


Francesa de 1875, Belga de 1830. Paulo Bonavides chama de
Constituição Legal.

- QUANTO À DOGMÁTICA

Ortodoxa: formado por uma só ideologia (exemplo: Soviética de


1977, e as diversas constituições da China marxista).

Eclética: formada por ideologia conciliatória, como a CF/88


(compromissária) e da Índia de 1949.

- QUATO À CORRESPONDÊNCIA COM A REALIDADE


(CRITÉRIO ONTOLOGICA – ESSÊNCIA)
Karl Loewenstein – correspondência entre a realidade política do
Estado e o texto constitucional)

- Normativas: os agentes do poder subordinam-se às


determinações do seu conteúdo e do seu controle procedimental.

- Nominalistas (nominativas ou nominais): a constituição contem


disposições de limitação e controle de dominação política, como a
normativas, mas sem ressonância na sistemática de processo real
de poder.

- Semânticas: são simples reflexos da realidade política, servindo


como mero instrumento dos donos do poder e das elites polítias,
sem limitação do seu conteúdo.

Para Guilherme Pena (penha) de Moraes a CF/88 “pretende ser


normativa”.

- QUANTO AO SISTEMA:

Principiológica: predominam os princípios

Preceitual: prevalecem as regras.

- QUANTO À FUNÇAO

Provisórias: pré-constituição

Definitivas: duração indefinida.

- QUANTO À ORIGEM DE SUA DECRETAÇÃO


Heterônoma (heteroconstituições): constituições decretadas de fora
do Estado por outro Estado ou por organizações internacionais.

Autônomas (autoconstituições ou homoconstituições): Elaboradas e


decretadas dentro do próprio Estado.

- CONSTITUIÇÕES GARANTIA, BALANÇO E DIRIGENTE


(Manoel Gonçalves Ferreira Filho)

Garantia: busca garantir a liberdade, limitando o poder

Balanço: reflete um grau de evolução socialista

Dirigente: estabele um projeto de Estado.

- CONSTITUIÇÕES LIBERAIS (NEGATIVAS) E SOCIAIS


(DIRIGENTES) – conteúdo ideológico das constituições (André
Ramos Tavares)

Liberais: surgem com o triunfo da ideologia burguesa, com os ideais


do liberalismo (direitos primeira dimensão)

Sociais: refletem momento posterior, de necessidade de atuação


estatal, consagrando igualdade substancial, bem como os direitos
sociais, também chamados de segunda dimensão. Atuação positiva
do Estado.

Estamos, segundo Canotilho, diante do Estado do Bem Comum.


- CONSTITUÇÃO EXPANSIVA. Raul Machado Horta inscreve a
CF/88 no grupo das constituições expansivas, uma vez que a
expansividade da CR 88 ocorre em função dos temas novos e da
ampliação conferida a temas permanentes, como no caso dos
Direitos e Garantias Fundamentais...

A CONSTITUÇÃO FEDERAL DE 1988:

Promulgada

Escrita

Analítica

Formal

Dogmátia

Rígida

Reduzida

Eclética

Pretende ser normativa

Principiológica

Definitiva (ou de duração indefinida para o futuro)

Autônoma (autoconstituição ou homoconstitução)

Garantia

Social e

Expansiva

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