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VENTILAÇÃO NATURAL
Índice
3.1.5 Ar exterior............................................................................................................................. 11
Para que seja possível manter um ambiente adequado à permanência dos ocupantes é, pois,
necessário proceder à evacuação das substâncias poluentes, intensificando também, quando
necessário, o arrefecimento desses espaços.
3.1
Física das Construções
O risco para a saúde encontra-se relacionado com os efeitos nocivos da inalação ou contacto com
substâncias tóxicas, bactérias e vírus, etc.
Os efeitos adversos para a saúde da inalação de poluentes existentes no ar, podem ser imediatos ou
serem sentidos alguns anos mais tarde ou ao fim de um longo período de exposição. Pelo facto de a
resposta humana para alguns poluentes ser uma função cumulativa, a limitação das concentrações
dos poluentes deve ser indicada em função do período de exposição. Na indústria, em que os
operários se encontram expostos a poucos poluentes simultaneamente, para evitar riscos para a
saúde, são utilizados valores limites para prevenir problemas de saúde - TLV (Treshold Limit Values).
Contudo, nos edifícios, os ocupantes encontram-se expostos simultaneamente a centenas de
poluentes, com concentrações relativamente pequenas, pelo que uma abordagem desse tipo não é
viável, sendo-o apenas no caso da presença de poluentes predominantes.
A poluição e a degradação da qualidade do ar podem ter origem nas fontes interiores ou na qualidade
do ar exterior. Na Tabela 3.1 encontram-se indicados os principais poluentes existentes no ambiente
interior e as fontes mais comuns.
A poluição exterior encontra-se regulamentada por vária legislação nacional e comunitária, sendo
indicadores da qualidade do ar exterior as concentrações de CO, NOx, SO2, O3, Pb e partículas.
Por outro lado as fontes de poluição interiores são os materiais de construção, o metabolismo
humano e as suas actividades.
Dos poluentes referidos, o SO2, O3 e o pólen existem essencialmente no exterior e são encontrados
no interior devido às infiltrações pela envolvente, ou pelo ar exterior admitido no sistema de
ventilação.
Nos contaminantes gerados principalmente no interior dos edifícios incluem-se formaldeído, radão,
amónia, VOC’s e microrganismos.
CO2, NOx, partículas e VOC’s são comuns tanto no ambiente exterior como no interior.
Pelo metabolismo humano são libertados gases como CO2, H2O, aldeídos, esteres, álcoois. A
produção de CO2 é proporcional ao metabolismo, podendo ser estimado pela equação 3.1.
Onde:
M - metabolismo (W/m2);
Para um adulto em actividade sedentária (M = 70 W/m2, A=1,8 m2) a emissão de CO2 pela respiração
é de aproximadamente 0,005 l/s, cerca de 4,4% do volume do ar expirado, face aos típicos 0,04% do
ar exterior.
3.2
Física das Construções
O CO2 raramente atinge níveis excessivos no ambiente interior, contudo pode ser usado como uma
medida da percepção da qualidade do ar, quando a principal fonte de poluição são os bioefluentes
humanos.
O fumo do tabaco é responsável pela emissão de mais de 5000 substâncias químicas, com dimensão
típica compreendida entre 0,01 e 1 µm, que podem provocar irritação das membranas mucosas e
olhos, alergias ou cancro do pulmão. Para um fumador, deve ser provido um caudal adicional de ar
fresco de cerca de 7 l/s, admitindo um consumo de 1,3 cigarros por hora. Dada a grande importância
que o fumo do tabaco tem como fonte poluente, é importante estimar a percentagem de fumadores
na fase de definição do projecto.
O CO é um gás sem odor, cor e paladar, mas altamente tóxico. O CO é produzido pela combustão
incompleta em fogões, tabaco, automóveis. A sua concentração deve ser mantida abaixo de 10 ppm
para exposição em contínuo (8 h) não devendo ter valores instantâneos superiores a 200 ppm.
Tabela 3.1 - Lista das principais substâncias poluentes que podem ser encontradas no interior dos edifícios,
fontes e efeitos típicos
3.3
Física das Construções
O formaldeído (HCHO) é outra fonte de poluição particularmente importante dada a sua aplicação em
diversos materiais existentes no interior dos edifícios (colas e derivados de madeira, carpetes, etc.),
apesar de também existir no ar exterior. A emissão de formaldeído decresce ao longo do tempo,
sendo particularmente importante nos primeiros três meses. A emissão é favorecida em ambientes
quentes e húmidos. O formaldeído é um gás com odor forte, pelo que é facilmente detectado pelo
homem. A concentração limite de detecção olfactiva é de 0,06 mg/m3 (0,05 ppm), devendo a sua
concentração no interior ser inferior a 0,1mg/m3 (0,08 ppm), valor médio de 30 minutos, pois para
concentrações superiores pode provocar reacções alérgicas nos ocupantes.
Os pólens têm diâmetros compreendidos entre 5 a 100 µm, tendo os mais comuns, diâmetros
compreendidos entre 20 a 50 µm. As partículas com diâmetro superior a 10 µm sedimentam
facilmente, existindo em suspensão no ar apenas próximo da fonte ou em condições de vento forte,
enquanto as partículas com diâmetro inferior a 10 µm podem manter-se suspensas no ar durante
algum tempo.
Na inalação, as partículas podem depositar-se, função do seu diâmetro, em três regiões diferentes:
• Zona superior
• Traqueia;
• Zona pulmonar.
As partículas que podem ficar retidas nos pulmões e causar lesões graves têm diâmetros
compreendidos entre 0,2 e 5 µm. Estas partículas podem ter proveniência do fumo do tabaco (0,01 a
1,0 µm), da combustão ou do ar exterior através das infiltrações pelas aberturas/fendas existentes na
envolvente. Num sistema de ventilação mecânica, as partículas do ar exterior podem ser retidas
através de filtragem adequada. Refere-se que no ar 99% do número de partículas tem diâmetro
inferior a 1 µm.
Para obter uma qualidade do ar aceitável, as condições de ventilação para reduzir o risco para a
saúde da respiração do ar com um determinado contaminante devem ser tratadas separadamente
das condições de ventilação para obter uma percepção da qualidade do ar satisfatória, e a
observância de um dos critérios poderá não corresponder necessariamente à observância do outro.
Efectivamente, as concentrações dos diversos poluentes podem ser substancialmente inferiores aos
valores limites para constituírem perigo para a saúde, e mesmo assim os ocupantes manifestarem
insatisfação com a qualidade do ar interior.
1
Por diâmetro de uma partícula entende-se o diâmetro de uma esfera de massa unitária que tem o mesmo
comportamento no ar da partícula real (particularmente a velocidade de sedimentação).
3.4
Física das Construções
Para uma atmosfera poluída pela ocupação humana, a percentagem de ocupantes insatisfeitos com a
qualidade do ar pode ser prevista pela equação 3.2 (Figura 3.1), função da taxa de ventilação para
uma pessoa padrão.
Onde:
3.5
Física das Construções
B
A
Figura 3.2 – Insatisfação causada pela poluição gerada por uma pessoa padrão (1 olf)
Tendo em conta a resposta sensorial dos ocupantes à qualidade do ar, a intensidade das fontes de
poluição (sob o ponto de vista sensorial da qualidade do ar) pode ser expressa como o número de
pessoas equivalente, ou seja o número de pessoas standard (olf), requerido para criar uma atmosfera
cuja percentagem de insatisfeitos seja igual à da fonte de poluição a caracterizar.
Em espaços para ocupantes com actividade sedentária e nos quais a fonte poluente é
exclusivamente o metabolismo humano, a percepção da qualidade do ar interior pode ser expressa
em função da concentração de CO2 (acima da concentração do ar exterior). Efectivamente, a emissão
de CO2 é proporcional à actividade metabólica, pelo que pode ser utilizada como medida da
3.6
Física das Construções
-15,15CCO 2 −0, 25
PPD = 395 e
Na Figura 3.4 representa-se a relação entre a percepção da qualidade do ar interior em decipol (Ci) e
a percentagem de pessoas descontentes (PPD).
PPD
Figura 3.4 – Relação entre a percepção da qualidade do ar interior em decipol (Ci) e a percentagem de pessoas
descontentes (PPD)
3.7
Física das Construções
0,25
PPD = e 5,98-(112/Ci ) (3.4)
Na Tabela 3.3 é visível que uma pessoa padrão (sedentária e na condição de neutralidade térmica)
produz 1 olf, enquanto um fumador nas mesmas condições e sem estar a fumar produz 6 olf.
Em auditórios, museus e outros espaços com uma grande taxa de ocupação e nos quais esta pode
variar num curto espaço de tempo, a medição da concentração de CO2 é um bom indicador da
poluição causada pelos ocupantes. Contudo, pode ser um fraco indicador da percepção da qualidade
do ar, pois não tem em conta as diversas fontes de poluição que não produzem CO2 e os poluentes
que não são perceptíveis pelos ocupantes, como o CO e o radão. Pelo que em espaços com
ocupações variáveis, para se conseguir modelar a taxa de ventilação de acordo com o nível de
ocupação, é necessária a aplicação de sensores de CO2 (com precisão de leitura na gama de 300 a
1200 ppm) que monitorizem o ar de retorno. Os sensores de IAQ (CO2, CO, VOC Vapor de água) têm
uma resposta limitada para a generalidade dos poluentes com excepção do fumo do tabaco, o que
limita a sua aplicação em edifícios de escritórios.
A qualidade do ar no interior pode e deve ser melhorada pela combinação do controlo das fontes
poluentes (eliminando ou reduzindo a sua intensidade) e pela ventilação. A ventilação do espaço
pode ser geral, sendo o controlo dos poluentes efectuado por diluição, ou então pode utilizar-se um
sistema de ventilação local para a extracção local dos poluentes. De acordo com o método de
ventilação adoptado, no cálculo da taxa de ventilação para obter uma qualidade do ar interior
satisfatória é necessário considerar:
3.8
Física das Construções
Conforme se referiu, as fontes de poluição devem ser expressas como uma carga de poluição
química e como uma carga de poluição sensorial. A carga de poluição química pode ser expressa
pela taxa de emissão dos elementos poluentes libertados (µg/s ou µg/m2s), enquanto a carga
sensorial deve ser caracterizada pela unidade olf, que integra o efeito combinado das centenas de
Poluentes libertados como são sentidos pelo homem.
A carga de cada elemento químico no ar pode então ser estimada com base na adição da intensidade
das fontes de poluição, enquanto que a carga de poluição sensorial num espaço pode ser obtida
(embora ainda não totalmente aceite por toda a comunidade científica) pela adição das cargas
sensoriais das diversas fontes existentes2, que compreendem usualmente os ocupantes e os
materiais do edifício. Os componentes de tratamento do ar dos sistemas de ventilação podem ser
caracterizados como uma carga poluente negativa. Nas tabelas seguintes apresenta-se a carga
poluente sensorial e química emitida pelos ocupantes e pelos materiais de um edifício.
Tabela 3.4 - Carga sensorial de poluentes emitidos pelos ocupantes
2
Este princípio de adição ainda carece de investigação pois não é totalmente aceite.
3.9
Física das Construções
Da comparação dos valores indicados na Tabela 3.4 com os valores indicados na Tabela 3.5,
verifica-se que a carga poluente dos materiais do edifício pode ser bastante superior à carga poluente
libertada pelo homem, conforme foi também verificado no estudo de Fanger.
Uma pessoa padrão (sedentária e na condição de neutralidade térmica) produz 1 olf, enquanto que
um fumador produz 6 olf.
Na Tabela 3.6 é indicada a taxa de emissão de vapor de água e de dióxido de carbono em edifícios
residenciais.
Tabela 3.6 – Valores de referência da emissão de vapor de água e dióxido de carbono em actividades nos
edifícios residenciais
* dado que a exaustão dos produtos da combustão é efectuada directamente para o exterior, a contaminação do
ar interior é pequena.
3.10
Física das Construções
3.1.5 Ar exterior
A taxa de ventilação também depende da qualidade do ar exterior, pois quanto mais limpo for maior
será a capacidade de diluição dos poluentes interiores. Contudo, devido aos níveis de poluição
exteriores, o ar pode não ter a qualidade necessária pelo que, tem de ser tratado ou então tem de se
reduzir a classe de conforto do ar interior.
Percepção da Poluentes do ar
qualidade do ar
CO2 CO NO SO2 Partículas
Dp mg/m3 mg/m3 µg/m3 µg/m3 µg/m3
Excelente 0 680 0 a 0,2 2 1 < 30
Qualidade do ar
< 0,1 700 1a2 5 a 20 5 a 20 40 a 70
boa, em cidades
Qualidade do ar
> 0,5 700 a 800 4a6 50 a 80 50 a 100 > 100
fraca, em cidades
3.11
Física das Construções
Onde:
A taxa de ventilação necessária para conforto e saúde em locais com ocupação contínua pode ser
calculada separadamente, respectivamente, pelas equações 3.7 e 3.8, tendo em conta a qualidade
3.12
Física das Construções
Onde:
εv - é a eficácia da ventilação.
Onde:
εv - é a eficácia da ventilação.
Os princípios atrás expostos são válidos para condições de regime estacionário de ventilação e de
emissão de poluentes. Contudo, nos edifícios, a ventilação e a emissão de poluentes poderá ter
variações significativas, pelo que no cálculo das concentrações de contaminante é importante o
modelo a adoptar:
Na ventilação de alguns espaços com ocupação periódica, como salas de aula e auditórios,
poderá não ser necessária a ventilação contínua desses espaços. Duas situações se colocam:
• A principal fonte de poluição é o homem e nos períodos de não ocupação a diluição dos
poluentes é feita naturalmente; o arranque da ventilação pode ser atrasado até que seja
atingido o valor limite;
3.13
Física das Construções
Assumindo uma diluição perfeita dos contaminantes e uma taxa de emissão constante, a
concentração do poluente no instante t é dada pela equação 3.9.
c = G/V.t (3.9)
Onde:
t - tempo (s)
t = V/Q (3.10)
Onde:
No caso de espaços com outras fontes de poluentes, além do homem, em que o sistema de
ventilação é desligado em período de não ocupação, deve ser estimado o tempo necessário para que
sejam criadas condições de qualidade do ar admissíveis antes do inicio da ocupação do espaço.
Atendendo a que concentração do poluente do ar pode ser dada pela equação 3.11, no interior de um
espaço com concentração inicial co, taxa constante de emissão de poluentes e de ventilação, com
mistura perfeita, ar exterior com concentração nula do poluente, pode ser estimado o tempo
necessário de ventilação do espaço antes do inicio da ocupação.
⎡ Q +G ⎤ Q+G
⎛ Q.c e + G ⎞ ⎢ t t
c = ⎜⎜ ⎟⎟ 1 − e V ⎥ + c 0 .e V (3.11)
⎝ Q + G ⎠⎢ ⎥
⎣ ⎦
Na Figura 3.6 encontra-se indicado o tempo necessário de ventilação do espaço antes do início da
ocupação, admitindo que a concentração inicial é cerca de 10 vezes a concentração de regime
estacionário de ocupação (c∞ =G/Q) e que a concentração no inicio da ocupação é cerca de 25%
superior à concentração de regime estacionário (c∞).
Nos sistemas de climatização do tipo tudo ar, em que o ar é o fluido responsável pela remoção/adição
de carga térmica, também deve ser efectuado o balanço da entalpia do ar na definição da taxa de
ventilação.
3.14
Física das Construções
Na norma da ASHRAE, para a definição da taxa de ventilação são apresentados dois métodos, um
em que é indicada a taxa de renovação de ar baseada nos vários anos de experiência de aplicação,
valores que também foram considerados nas taxas de ventilação nominais indicadas no RSECE, e
outro baseado na análise da concentração dos poluentes interiores.
3.1.8 Exemplos
Exemplo 1
3.15
Física das Construções
Admitindo que os ocupantes são a única fonte de poluição, portanto pode utilizar-se a concentração
de CO2, como indicador da qualidade do ar, pelo que pode ser estimada a taxa de ventilação tendo
em conta a concentração interior de CO2.
2. Cálculo da taxa de ventilação para limitar o risco para a saúde (equação 3.8)
Gh 1
Qh = × (3.8)
C h,i - C h,o ε v
CC02 (ppm)
(Figura 3.3Error! Taxa de ventilação Taxa de ventilação
Classe
Reference source not (l/s.m2) (l/s.ocupante)
found.)
A (PPD < 15%) 460 1,15 11,5
B (PPD < 20%) 660 0,80 8,0
C (PPD < 30%) 1190 0,44 4,4
Exemplo 2
3.16
Física das Construções
Considere-se que não existe risco para a saúde associado a qualquer substância existente no ar.
Cálculo da taxa de ventilação para limitar o risco para a saúde (equação 3.8)
Admitindo que os ocupantes são a única fonte de poluição, portanto pode utilizar-se a concentração
de CO2, como indicador da qualidade do ar.
Tendo em conta a presença de fumadores, pode existir o risco de irritação dos olhos causada pelo
fumo do tabaco. Deve ser avaliado o caudal de ar necessário para que a concentração de CO não
exceda 2 ppm.
3.17
Física das Construções
Na norma ASHRAE (na qual os valores da taxa de ventilação são estabelecidos para que PPD seja
inferior a 20%) e no RSECE é preconizado para espaços de escritório uma taxa de ventilação de 35
m3/h.ocupante (10 l/s.ocupante), portanto substancialmente inferior à taxa de ventilação prevista
utilizando a metodologia do CR 1752.
Dos valores determinados anteriormente ressalta a importância da carga sensorial dos materiais do
edifício e que a utilização de sensores de CO2 conduz a caudais de ventilação substancialmente
inferiores aos previstos com base na carga sensorial. Deste modo, verifica-se ser particularmente
importante a caracterização da carga sensorial associada à emissão de poluentes pelos materiais do
edifício, pois para assegurar níveis de qualidade do ar interior satisfatórios, as taxas de ventilação
estimadas com este método são bastante superiores às taxas de ventilação correntemente utilizadas
(8 l/s.ocupante sem fumadores e cerca de 16 l/s.ocupante com fumadores).
3.18
Física das Construções
Nos processos de ventilação natural temos dois meios possíveis de gerar o necessário
diferencial de pressões:
• Diferentes pressões (estáticas) no interior das zona em análise criadas por acção do vento;
• Variação da pressão hidrostática devida a um diferencial na massa volúmica do ar, provocado
por acções de aquecimento/arrefecimento.
3.2.2.1. O Vento
• Escala Global
• Escala Regional
• Escala Local
• Escala Microclimática
De uma forma sucinta resumem-se em seguida estas diferentes escalas e a sua importância no
vento.
Com dimensão de uma ordem de grandeza inferior, a escala regional depende essencialmente da
orografia – os grandes volumes montanhosos – e da característica mais continental ou marítima da
zona. Cabem nesta escala as brisas térmicas (de mar e de terra), as cumeadas indutoras de
pluviosidade e os ciclos térmicos com período de noite-dia.
3.19
Física das Construções
A escala local estende-se pela dezena de quilómetros e resulta da interacção entre a escala regional
e a presença de condicionantes como urbanização, floresta, grandes extensões de água, etc.
Por fim podemos ainda considerar uma escala microclimática, que também pode ser entendida
como uma subdivisão da escala local, com dimensão da ordem da centena de metros, e que é
aquela em que é possível a intervenção humana de forma durável, de modo a modificar o padrão
normal local do vento. Esta intervenção pode ser feita através de dispositivos de corta-vento, pela
adaptação do planeamento urbano (e que raras vezes será aplicada) às condições do vento
dominante e de outras condicionantes climáticas. Podemos ainda acrescentar nesta escala, o
movimento de massas de ar induzido pelo aquecimento diferencial devido à actividade do Homem,
mormente nos grandes centros urbanos, de que são exemplo as ilhas de calor.
A linha 4 corresponde a grandes áreas de água sem agitação superficial e a linha 1 aos grandes
centros urbanos. Em situações de escassa ocupação do terreno por edificações (naturalmente de
pequena dimensão em altura) a CLA poderá atingir os 300 m pelo que, quer nesta situação quer na
dos grandes centros urbanos, é na parte inferior da CLA que os edifícios estão imersos e onde ocorre
cerca de 70% da variação total da velocidade.
3.20
Física das Construções
onde U(z) é a velocidade do vento a uma cota Z, Uref é a velocidade de referência medida a uma cota
Zref e n é um expoente que depende do tipo de terreno. Os valores característicos de δ (espessura da
camada limite) e n resumem-se na Tabela 3.9, onde se inclui uma classificação de classes de
rugosidade.
Tabela 3.9 - Características das CLA
3.21
Física das Construções
No entanto, há que ter em conta que no interior de centros urbanos esta descrição da CLA perde
consistência e que, para efeitos de cálculo, pode-se, como primeira aproximação, face à dificuldade
de caracterização, considerar a velocidade do vento como constante abaixo de uma cota d0,
correspondente a 70% da altura média das construções existentes.
Ainda com respeito à determinação da velocidade do vento para o cálculo da VN o valor de referência
provém, normalmente, dos registos meteorológicos obtidos fora da zona em estudo. Há, portanto, que
transferir os valores registados para o local de interesse através da lei de potência (equação 3.13) e
que pode ser adaptada à relação entre locais com diferentes tipos de terreno (e, portanto, diferentes
espessuras de CLA e diferentes expoentes n),
1
⎛ z ⎞ n2
⎜⎜ ⎟⎟
U(z ) = Uref ⎝ δ2 ⎠ (3.13)
1
⎛ z ⎞ n1
⎜⎜ ⎟⎟
⎝ δ1 ⎠
Exemplo 1
A escolha da velocidade de referência deverá ser feita de acordo com a variação sazonal própria da
zona e, se possível, tendo em conta a probabilidade de ocorrência obtida a partir de uma análise
estatística dos valores registados.
Do ponto de vista da Ventilação interessa conhecer qual o efeito desta interferência ao nível da
distribuição de pressões nas fachadas e cobertura dos edifícios. Para esta distribuição de pressões
contribui de forma decisiva a geometria do edifício e a envolvente exterior (urbanização, arborização,
etc.), Figura 3.8 a Figura 3.10.
3.22
Física das Construções
Um escoamento quando tem de contornar um obstáculo altera o campo de velocidades criando uma
distribuição de pressões não uniforme. Nas figuras seguintes representam-se, a título de exemplo, os
padrões de escoamentos em torno de obstáculos.
Figura 3.9 – Interferência entre o escoamento e dois edifícios lado a lado e distribuição de pressão em torno de
um deles
Figura 3.10 – Interferência entre o escoamento e dois edifícios alinhados com a direcção do vento
Esta distribuição de pressões é, por norma, apresentada sob a forma de um coeficiente de pressão
(adimensional), Cp (equação 3.14):
p - p∞
Cp = (3.14)
1 2
ρU∞
2
onde p é o valor local da pressão num ponto da envolvente do edifício, p∞ a pressão atmosférica, ρ é
a massa volúmica do ar [kg/m3] e U∞ a velocidade do vento [m/s], à altura do beiral.
3.23
Física das Construções
Estes coeficientes são, portanto, positivos ou negativos consoante a pressão local seja,
respectivamente, superior ou inferior à pressão atmosférica. Valores positivos de Cp correspondem a
localizações favoráveis à admissão de ar para a Ventilação e, naturalmente, zonas de Cp negativo
estão vocacionadas para a colocação de extractores (pelo menos em princípio porque se a zona não
dispõe de fortes valores de sucção o balanço entre pressões e áreas de passagem pode conduzir a
que haja admissão em zonas de Cp negativo).
Vento
A determinação destes coeficientes é, na quase totalidade dos casos, obtida através de ensaios em
túnel de vento e existem resultados para um número razoável de formas simples (cubos,
paralelepípedos, cilindros, etc.) e configurações da envolvente exterior, nomeadamente, e como
primeira aproximação, podem referir-se os valores constantes do RSAEEP (Regulamento de
Segurança e Acções para Estruturas de Edifícios e Pontes). Formas mais complexas quer dos
edifícios quer das envolventes externas implicam necessariamente o recurso a ensaios.
3.24
Física das Construções
A distribuição de pressão na envolvente dos edifícios depende da sua forma geométrica, da direcção
do vento (e também dos obstáculos em seu redor) e do perfil de velocidades, isto é, do tipo de CLA.
Alterações aparentemente de pormenor na configuração global de um edifício podem, no entanto,
alterar os valores das pressões numa mesma zona da envolvente. Veja-se, por exemplo, o caso de
edifícios com coberturas inclinadas onde os valores de Cp são negativos (na face de barlavento) até
inclinações de 30º, passando a positivos para inclinações superiores.
3.25
Física das Construções
Figura 3.13 – Distribuição dos valores de Cp nas fachadas de um cubo sujeito a um vento incidente de 0º
3.26
Física das Construções
Figura 3.14 – Distribuição dos valores de Cp nas fachadas de um cubo sujeito a um vento incidente de 30º
3.27
Física das Construções
Figura 3.15 – Distribuição dos valores de Cp nas fachadas de um cubo com uma água inclinada de 15º, sujeito a
um vento incidente de 30º
3.28
Física das Construções
Figura 3.16 – Distribuição dos valores de Cp na fachada frontal de um cubo com para 3 diferentes Perfis da
Camada Limite Atmosférica
Na Figura 3.17e na Figura 3.18 ilustram-se alguns casos de zonas de sobreposição e sucção em
edifícios.
Figura 3.17 – Linhas de corrente do escoamento, pontos de separação e identificação de áreas de sucção e
sobrepressão em obstáculos de forma simples
Figura 3.18 – Sentido das forças devidas à pressão sobre um edifício quando o escoamento é afectado pela
presença de um outro a jusante
3.29
Física das Construções
O escoamento em determinadas zonas da cobertura, bem como as áreas a jusante, dos edifícios
apresenta características de recirculação, isto é, o ar não é convectado pelo escoamento exterior
(Figura 3.19). Exaustões ali efectuadas são readmitidas no edifício ou “canalizadas” para o edifício
adjacente. Na Tabela 3.10 apresentam-se as alturas mínimas de colocação da saída de chaminés em
edifícios.
3.30
Física das Construções
Q = 0,025 × A × V
A
Com: A a área da abertura e V a velocidade do vento
Q v = C d × A v × V × ∆C p A1 A3
cp1 cp2
1 1 1
Com: = + A2 A4
Av2 ( A 1 + A 2 )2 ( A 3 + A 4 )2
onde H é a diferença de cotas entre as aberturas inferior e superior. A equação 14 pode ainda ser
rescrita recorrendo à Lei dos Gases Perfeitos (P=ρRT), e tomando como características de referência
T0 = 273 K e ρ0 = 1,29 kg/m3, como (equação 3.16):
⎛ 1 1 ⎞
∆p h = 3451,27 H⎜⎜ − ⎟
⎟ (3.16)
⎝ Text Tint ⎠
3.31
Física das Construções
1 1 1 Te + Ti H1 Ti
Com: = + e T= A2 A4
2 2 2
Ab ( A1 + A 3 ) (A 2 + A 4 ) 2
3.32
Física das Construções
A chaminé solar, da Figura 3.23 permite extrair o ar quente dos espaços ocupados e deve terminar a
uma altura superior à cobertura, além da extracção do ar do espaço permite ainda ventilar a cobertura
que se encontra num nível inferior.
Figura 3.23 - Chaminé monodireccional para a captação de vento para ventilação e Chaminé Solar
3.33
Física das Construções
As figuras que a seguir se apresentam referem-se a casos de edifícios cuja ventilação é assegurada
por processos de Ventilação Natural.
• As torres eólicas – Baghdir – que, aproveitando a sucção criada pelos ventos mais intensos
acima do nível do edifício, ventilam e arrefecem o espaço habitado devido a pequenos
espelhos de água existentes nas divisões interiores;
• As leves brisas que só se sentem a níveis mais elevados são canalizadas para o espaço
habitado.
Figura 3.24 – Dois casos históricos de Ventilação Natural: Irão e Paquistão, respectivamente
Sol
41.5ºC
Sombra
34.4ºC 36.5ºC
29.9ºC
Figura 3.25 -Chaminé para a captação de vento para ventilação - Yazd, Irão
3.34
Física das Construções
Chaminé
Cisterna
Figura 3.26 - Cisternas de Água da cidade de Yazd, Irão, para ventilação e arrefecimento ambiente
Figura 3.28 - Corte através da chaminé solar (esquerda) e da fachada envidraçada (direita) da Inland Revenue
Headquarters, Nottingham, UK
3.35
Física das Construções
Figura 3.29 - Corte através da chaminé de ventilação (esquerda) e da fachada envidraçada (direita) do
Environmental Building, Building Research Establishment, Garston, UK
3.36
Física das Construções
V Ab H A1 A3
Q = Q b se < 0,26 × × 1
∆T A v ∆Cp
cp1 H1 Ti cp2
A2 A4
V Ab H
Q = Q v se > 0,26 × × 1
∆T A v ∆C p
Com: ∆T = Ti − Te
3.37