Você está na página 1de 39

CAPÍTULO 3

VENTILAÇÃO NATURAL

Índice

3.1 Ventilação Natural e Qualidade do Ar .................................................................................... 1

3.1.1 Introdução .............................................................................................................................. 1

3.1.2 Aspectos gerais...................................................................................................................... 1

3.1.3 Determinação do Caudal de Ventilação ................................................................................ 4

3.1.4 Fontes poluentes.................................................................................................................... 9

3.1.5 Ar exterior............................................................................................................................. 11

3.1.6 Eficácia da ventilação .......................................................................................................... 11

3.1.7 Determinação da taxa de ventilação.................................................................................... 12

3.1.8 Exemplo 1 ............................................................................................................................ 15

3.2 Acções que promovem a Ventilação Natural ...................................................................... 19

3.2.1 Introdução ............................................................................................................................ 19

3.2.2 A Acção do Vento ................................................................................................................ 19

3.2.3 A Acção Térmica.................................................................................................................. 31

3.2.4 Acção conjunta do Vento e Temperatura ............................................................................ 37


Física das Construções
Física das Construções

3.1 Ventilação Natural e Qualidade do Ar


3.1.1 Introdução
O ambiente interior dos edifícios é contaminado por substâncias que resultam da utilização corrente
desses espaços ou que são emanadas pelos materiais que integram os edifícios. Essas substâncias,
dependendo das suas características e da sua concentração, podem ter efeitos sobre o bem-estar
dos ocupantes, que vão desde a sensação ligeira de mau estar até, no limite, serem causadores de
doenças graves. De uma forma geral e desde que a qualidade do ar exterior seja aceitável, a
qualidade do ambiente interior pode ser melhorada desde que seja realizada a ventilação desses
espaços de forma adequada. A implementação da ventilação deverá ter necessariamente em conta
as fontes de poluição de forma a proceder à evacuação para o exterior das substâncias poluentes
junto da sua fonte, evitando assim a contaminação do ar interior. Tal é o caso, por exemplo, dos
aparelhos de combustão de utilização doméstica cujos produtos da combustão deverão ser
evacuados directamente para o exterior (aparelhos dos tipos B e C, como os esquentadores e as
caldeiras) sem qualquer contacto com o ambiente interior ou, no caso dos aparelhos do tipo A (como
os fogões de cozinha), deverão preferencialmente ser evacuados nas suas proximidades.

A estratégia de ventilação, se for deficientemente concebida ou implementada, pode ser causadora


de desconforto, devido, por exemplo, às correntes de ar. Por outro lado, a sua correcta concepção e
implementação pode contribuir para a remoção da carga térmica no interior dos edifícios (desde que
a temperatura exterior seja inferior à temperatura interior), participando e contribuindo para a melhoria
das condições de conforto térmico.

Diversas actividades domésticas constituem fontes de poluentes e, em alguns casos, constituem


simultaneamente fontes de calor apreciáveis. De entre as actividades que constituem fontes de
poluentes são de salientar:

• A actividade fisiológica humana;


• O uso de tabaco;
• A combustão dos aparelhos a gás;
• A preparação de alimentos;
• A lavagem e secagem de loiça e roupa;
• A utilização das instalações sanitárias.

Relativamente às fontes de calor é de referir em especial a utilização de aparelhos eléctricos


(iluminação, televisões, computadores, fotocopiadoras, máquinas domésticas, etc.) e os ganhos
solares que ocorrem através dos envidraçados.

Para que seja possível manter um ambiente adequado à permanência dos ocupantes é, pois,
necessário proceder à evacuação das substâncias poluentes, intensificando também, quando
necessário, o arrefecimento desses espaços.

3.1.2 Aspectos gerais


Os requisitos quanto à qualidade do ar estão relacionados com o facto de que deve ser baixo o risco
para a saúde dos ocupantes respirarem o ar do compartimento e de que o ar deve ser sentido fresco
e agradável.

3.1
Física das Construções

O risco para a saúde encontra-se relacionado com os efeitos nocivos da inalação ou contacto com
substâncias tóxicas, bactérias e vírus, etc.

A percepção de ar fresco e agradável encontra-se relacionada com dois sentidos: o olfacto e a


irritação das membranas mucosas do nariz e dos olhos.

Assim, na especificação da qualidade do ar interior, existem normalmente dois requisitos:

• O risco para a saúde, decorrente da respiração o ar, deve ser desprezável;


• O ar deve ser sentido fresco e agradável.

Os efeitos adversos para a saúde da inalação de poluentes existentes no ar, podem ser imediatos ou
serem sentidos alguns anos mais tarde ou ao fim de um longo período de exposição. Pelo facto de a
resposta humana para alguns poluentes ser uma função cumulativa, a limitação das concentrações
dos poluentes deve ser indicada em função do período de exposição. Na indústria, em que os
operários se encontram expostos a poucos poluentes simultaneamente, para evitar riscos para a
saúde, são utilizados valores limites para prevenir problemas de saúde - TLV (Treshold Limit Values).
Contudo, nos edifícios, os ocupantes encontram-se expostos simultaneamente a centenas de
poluentes, com concentrações relativamente pequenas, pelo que uma abordagem desse tipo não é
viável, sendo-o apenas no caso da presença de poluentes predominantes.

A poluição e a degradação da qualidade do ar podem ter origem nas fontes interiores ou na qualidade
do ar exterior. Na Tabela 3.1 encontram-se indicados os principais poluentes existentes no ambiente
interior e as fontes mais comuns.

A poluição exterior encontra-se regulamentada por vária legislação nacional e comunitária, sendo
indicadores da qualidade do ar exterior as concentrações de CO, NOx, SO2, O3, Pb e partículas.

Por outro lado as fontes de poluição interiores são os materiais de construção, o metabolismo
humano e as suas actividades.

Dos poluentes referidos, o SO2, O3 e o pólen existem essencialmente no exterior e são encontrados
no interior devido às infiltrações pela envolvente, ou pelo ar exterior admitido no sistema de
ventilação.

Nos contaminantes gerados principalmente no interior dos edifícios incluem-se formaldeído, radão,
amónia, VOC’s e microrganismos.

CO2, NOx, partículas e VOC’s são comuns tanto no ambiente exterior como no interior.

Pelo metabolismo humano são libertados gases como CO2, H2O, aldeídos, esteres, álcoois. A
produção de CO2 é proporcional ao metabolismo, podendo ser estimado pela equação 3.1.

G = 4×10-5 M.A (3.1)

Onde:

G - emissão de CO2 (l/s);

M - metabolismo (W/m2);

A - superfície do corpo (m2).

Para um adulto em actividade sedentária (M = 70 W/m2, A=1,8 m2) a emissão de CO2 pela respiração
é de aproximadamente 0,005 l/s, cerca de 4,4% do volume do ar expirado, face aos típicos 0,04% do
ar exterior.

3.2
Física das Construções

O CO2 raramente atinge níveis excessivos no ambiente interior, contudo pode ser usado como uma
medida da percepção da qualidade do ar, quando a principal fonte de poluição são os bioefluentes
humanos.

O fumo do tabaco é responsável pela emissão de mais de 5000 substâncias químicas, com dimensão
típica compreendida entre 0,01 e 1 µm, que podem provocar irritação das membranas mucosas e
olhos, alergias ou cancro do pulmão. Para um fumador, deve ser provido um caudal adicional de ar
fresco de cerca de 7 l/s, admitindo um consumo de 1,3 cigarros por hora. Dada a grande importância
que o fumo do tabaco tem como fonte poluente, é importante estimar a percentagem de fumadores
na fase de definição do projecto.

O CO é um gás sem odor, cor e paladar, mas altamente tóxico. O CO é produzido pela combustão
incompleta em fogões, tabaco, automóveis. A sua concentração deve ser mantida abaixo de 10 ppm
para exposição em contínuo (8 h) não devendo ter valores instantâneos superiores a 200 ppm.

Tabela 3.1 - Lista das principais substâncias poluentes que podem ser encontradas no interior dos edifícios,
fontes e efeitos típicos

Poluente Fonte de poluição Principais efeitos na saúde


Radão Terreno ou rochas por baixo do edifício, Neoplasia
materiais de construção
Formaldeído Isolantes térmicos, colas, derivados da Alergias, irritação da pele, olhos e vias
(HCHO) madeira, papel de parede, têxteis, carpetes, respiratórias, neoplasia, alterações
tapetes, produtos da combustão, fumo do neurológicas (dores de cabeça, fadiga,
tabaco existe no ar ambiente depressão)
Componentes Mobiliário, material de escritório (toner), Irritação da garganta, dores de cabeça,
orgânicos plastificantes, solventes, tintas, resinas, distúrbios visuais, Leucemia
voláteis (VOC) detergentes, colas, produtos de higiene
pessoal e cosmética
Dióxido de Processo de combustão, fumo de tabaco, Distúrbios nas vias respiratórias, dores de
carbono (CO2) homem, existe no ar ambiente cabeça
Monóxido de Combustão incompleta, fumo do tabaco Dores de cabeça, sonolência, redução das
carbono (CO) capacidades físicas, venenoso
Óxidos de azoto Combustão incompleta, fumo do tabaco Irritação e distúrbios no sistema
(NOx) respiratório, irritação dos olhos
Dióxido de Produtos da combustão Irritação das vias respiratórias, problemas
enxofre (SO2) no coração
Vapor de água Metabolismo, cozinha, secar roupa
Ozono (O3) Reacções fotoquímicas, fotocopiadoras, Irritação das vias respiratórias, olhos, pele,
impressoras laser, filtros electrónicos dores de cabeça, problemas no coração,
fibrose pulmonar
Partículas e Processos de combustão, fumo do tabaco, Irritação das vias respiratórias, olhos,
fibras tintas, fibras dos têxteis cancro, bronquite, asma, transmissão de
doenças
Amianto Isolantes térmicos Cancro do pulmão, tumores gástricos
Amónia (NH3) Plastificantes, solventes, tintas, detergentes, Irritação da pele, e das mucosas
colas, produtos de higiene pessoal
Pólens Árvores, flores, erva Alergias
Microrganismos Bactérias, vírus, fungos Doenças várias

3.3
Física das Construções

O formaldeído (HCHO) é outra fonte de poluição particularmente importante dada a sua aplicação em
diversos materiais existentes no interior dos edifícios (colas e derivados de madeira, carpetes, etc.),
apesar de também existir no ar exterior. A emissão de formaldeído decresce ao longo do tempo,
sendo particularmente importante nos primeiros três meses. A emissão é favorecida em ambientes
quentes e húmidos. O formaldeído é um gás com odor forte, pelo que é facilmente detectado pelo
homem. A concentração limite de detecção olfactiva é de 0,06 mg/m3 (0,05 ppm), devendo a sua
concentração no interior ser inferior a 0,1mg/m3 (0,08 ppm), valor médio de 30 minutos, pois para
concentrações superiores pode provocar reacções alérgicas nos ocupantes.

Os VOC, podem ser inócuos ou altamente tóxicos, dependendo do tipo e da concentração. As


partículas podem ter diâmetros1 compreendidos entre 0,1 e 100 µm, e podem transportar vírus
(0,003 a 0,06 µm), fungos (10 a 30 µm), e bactérias (0,4 a 5 µm).

Os pólens têm diâmetros compreendidos entre 5 a 100 µm, tendo os mais comuns, diâmetros
compreendidos entre 20 a 50 µm. As partículas com diâmetro superior a 10 µm sedimentam
facilmente, existindo em suspensão no ar apenas próximo da fonte ou em condições de vento forte,
enquanto as partículas com diâmetro inferior a 10 µm podem manter-se suspensas no ar durante
algum tempo.

Na inalação, as partículas podem depositar-se, função do seu diâmetro, em três regiões diferentes:

• Zona superior
• Traqueia;
• Zona pulmonar.

As partículas que podem ficar retidas nos pulmões e causar lesões graves têm diâmetros
compreendidos entre 0,2 e 5 µm. Estas partículas podem ter proveniência do fumo do tabaco (0,01 a
1,0 µm), da combustão ou do ar exterior através das infiltrações pelas aberturas/fendas existentes na
envolvente. Num sistema de ventilação mecânica, as partículas do ar exterior podem ser retidas
através de filtragem adequada. Refere-se que no ar 99% do número de partículas tem diâmetro
inferior a 1 µm.

Para obter uma qualidade do ar aceitável, as condições de ventilação para reduzir o risco para a
saúde da respiração do ar com um determinado contaminante devem ser tratadas separadamente
das condições de ventilação para obter uma percepção da qualidade do ar satisfatória, e a
observância de um dos critérios poderá não corresponder necessariamente à observância do outro.
Efectivamente, as concentrações dos diversos poluentes podem ser substancialmente inferiores aos
valores limites para constituírem perigo para a saúde, e mesmo assim os ocupantes manifestarem
insatisfação com a qualidade do ar interior.

3.1.3 Determinação do Caudal de Ventilação


Para reduzir o risco para a saúde da respiração de ar contaminado, é necessário estabelecer uma
lista das concentrações máximas admissíveis, bem como os correspondentes períodos de exposição
para os diversos químicos no ar.

1
Por diâmetro de uma partícula entende-se o diâmetro de uma esfera de massa unitária que tem o mesmo
comportamento no ar da partícula real (particularmente a velocidade de sedimentação).

3.4
Física das Construções

A percepção da qualidade do ar interior depende do odor e das propriedades irritantes do ar. Na


sequência do trabalho de Fanger, e por analogia com os índices de conforto térmico, para expressar
a percepção da qualidade do ar, é utilizada a percentagem previsível de pessoas que se manifestam
insatisfeitas (PPD) com a percepção que têm da qualidade do ar após entrarem na sala. Pois,
conforme já foi referido, as concentrações dos diversos poluentes interiores podem ser
substancialmente inferiores aos valores máximos admissíveis, e por vezes são inferiores aos limites
de detecção dos aparelhos de medição, e mesmo assim haver manifestação de percepção da
qualidade do ar insatisfatória. Além disso, a percepção da qualidade do ar sentida pelos ocupantes
corresponde à sensação inicial da pessoa quando entra no espaço, pois apesar de existir alguma
adaptação dos ocupantes aos bioefluentes durante a ocupação do espaço, essa adaptação ao fumo
do tabaco e a diversos poluentes libertados pelos materiais do edifício é reduzida ou mesmo nula.

Para uma atmosfera poluída pela ocupação humana, a percentagem de ocupantes insatisfeitos com a
qualidade do ar pode ser prevista pela equação 3.2 (Figura 3.1), função da taxa de ventilação para
uma pessoa padrão.

A pessoa padrão corresponde, em média, a um trabalhador de escritório adulto, sedentário e em


situação de conforto térmico.

De forma a ser possível determinar os requisitos de ventilação é necessário estabelecer o nível de


insatisfação aceitável para um dado espaço. O Comité Europeu de Normalização (CEN) estabelece
três níveis de qualidade do ar que reflectem sucessivamente 15%, 20% e 30% de insatisfação,
correspondendo a graus de exigência de qualidade do ar progressivamente menores. Na Tabela 3.2,
na Figura 3.1 (l/s) e na Figura 3.2 (m3/h) são caracterizados esses níveis.
-1,83.q 0,25
PPD = 395 × e para q ≥ 0,32 l/s/olf (3.2)
PPD = 100% para q ≤ 0,32 l/s/olf

Onde:

PPD - percentagem previsível de ocupantes insatisfeitos com a qualidade do ar;

q – caudal de ventilação por unidade de carga poluente sensorial;

1 olf – é definido como a poluição gerada por uma pessoa padrão.

Tabela 3.2 - Níveis de Qualidade do Ar

Percepção da qualidade do Caudal de ventilação Caudal de ventilação


Categoria
ar (insatisfação) [m3/h*pessoa padrão] [l/s*pessoa padrão]
A 15% 36 10
B 20% 25,2 7
C 30% 14,4 4

3.5
Física das Construções

Percentagem previsível de ocupantes insatisfeitos


com percepção da qualidade do ar

PPD = 395 × e -1,83× q0,25

Figura 3.1 – Percepção da qualidade do ar

B
A

Figura 3.2 – Insatisfação causada pela poluição gerada por uma pessoa padrão (1 olf)

A percepção da qualidade do ar também pode ser expressa em decipol (dp), em que 1 dp é a


qualidade do ar perceptível num espaço com uma carga sensorial de 1 olf, ventilada por 10 l/s de ar
limpo, 1 dp=0,1 olf/(l/s).

Tendo em conta a resposta sensorial dos ocupantes à qualidade do ar, a intensidade das fontes de
poluição (sob o ponto de vista sensorial da qualidade do ar) pode ser expressa como o número de
pessoas equivalente, ou seja o número de pessoas standard (olf), requerido para criar uma atmosfera
cuja percentagem de insatisfeitos seja igual à da fonte de poluição a caracterizar.

Em espaços para ocupantes com actividade sedentária e nos quais a fonte poluente é
exclusivamente o metabolismo humano, a percepção da qualidade do ar interior pode ser expressa
em função da concentração de CO2 (acima da concentração do ar exterior). Efectivamente, a emissão
de CO2 é proporcional à actividade metabólica, pelo que pode ser utilizada como medida da

3.6
Física das Construções

concentração dos bioefluentes humanos. A concentração limite de CO2 acima da concentração


exterior, para as três classes de conforto relacionadas com a percepção da qualidade do ar,
encontra-se indicada na Figura 3.3.
Percentagem previsível de ocupantes insatisfeitos

-15,15CCO 2 −0, 25
PPD = 395 e

Concentração de CO2 acima da exterior (ppm)

Figura 3.3 – Percentagem previsível de ocupantes insatisfeitos função da concentração de CO2

Na equação 3.3 CCO2 é a concentração de CO2 acima da concentração do ar exterior em ppm. A


concentração de CO2 típica no exterior é de 700 mg/m3 (350 ppm).
-15,15.C CO2 − 0,25
PPD = 395 e (3.3)

Na Figura 3.4 representa-se a relação entre a percepção da qualidade do ar interior em decipol (Ci) e
a percentagem de pessoas descontentes (PPD).

PPD

Ci = 112 * (Ln(PPD) − 5,98)−4

Percepção da Qualidade do ar (Ci)

Figura 3.4 – Relação entre a percepção da qualidade do ar interior em decipol (Ci) e a percentagem de pessoas
descontentes (PPD)

Na equação 3.4 e na equação 3.5 apresenta-se a relação entre a percepção da qualidade do ar


interior em decipol (Ci) e a percentagem de pessoas descontentes (PPD).

3.7
Física das Construções

0,25
PPD = e 5,98-(112/Ci ) (3.4)

C = 112(Ln(PPD) - 5,98) -4 (3.5)

Na Tabela 3.3 apresenta-se a emissão olfativa de pessoas e de alguns materiais.

Tabela 3.3 - Emissão olfativa de alguns elementos

Pessoa / objecto Emissão olfativa (olf)


Pessoa sentada (1 met) 1 olf
Pessoa activa (4 met) 5 olf
Pessoa activa (6 met) 11 olf
Fumador (sem estar a fumar) 6 olf
Fumador 25 olf
Atleta 30 olf
Mármore 0,01 olf/m²
Linóleo 0,2 olf/m²
Fibra sintética 0,4 olf/m²
Borracha 0,6 olf/m²

Na Tabela 3.3 é visível que uma pessoa padrão (sedentária e na condição de neutralidade térmica)
produz 1 olf, enquanto um fumador nas mesmas condições e sem estar a fumar produz 6 olf.

As pessoas são sensíveis à poluição olfactiva, o número de pessoas descontentes aumenta


rapidamente para valores de decipol mais elevados.

Em auditórios, museus e outros espaços com uma grande taxa de ocupação e nos quais esta pode
variar num curto espaço de tempo, a medição da concentração de CO2 é um bom indicador da
poluição causada pelos ocupantes. Contudo, pode ser um fraco indicador da percepção da qualidade
do ar, pois não tem em conta as diversas fontes de poluição que não produzem CO2 e os poluentes
que não são perceptíveis pelos ocupantes, como o CO e o radão. Pelo que em espaços com
ocupações variáveis, para se conseguir modelar a taxa de ventilação de acordo com o nível de
ocupação, é necessária a aplicação de sensores de CO2 (com precisão de leitura na gama de 300 a
1200 ppm) que monitorizem o ar de retorno. Os sensores de IAQ (CO2, CO, VOC Vapor de água) têm
uma resposta limitada para a generalidade dos poluentes com excepção do fumo do tabaco, o que
limita a sua aplicação em edifícios de escritórios.

A qualidade do ar no interior pode e deve ser melhorada pela combinação do controlo das fontes
poluentes (eliminando ou reduzindo a sua intensidade) e pela ventilação. A ventilação do espaço
pode ser geral, sendo o controlo dos poluentes efectuado por diluição, ou então pode utilizar-se um
sistema de ventilação local para a extracção local dos poluentes. De acordo com o método de
ventilação adoptado, no cálculo da taxa de ventilação para obter uma qualidade do ar interior
satisfatória é necessário considerar:

• Fontes de poluição interiores;


• Qualidade do ar exterior;
• Eficácia do sistema de ventilação.

3.8
Física das Construções

3.1.4 Fontes poluentes


As fontes de poluição do ar interior dos edifícios são os ocupantes e as actividades desenvolvidas por
estes, incluindo fumo do tabaco, se for permitido fumar. Além destas fontes, os materiais do edifício,
incluindo mobiliário, tapetes, produtos de limpeza e o sistema de ar condicionado, também podem
contribuir para a poluição do ar interior conforme se refere na Tabela 3.4.

De acordo com o estudo de Fanger realizado em 15 edifícios de escritórios em Copenhaga:

• 20% da carga sensorial do ar é produzida pelos materiais;


• 42% pode ser produzida pelos sistemas de ventilação;
• 25% pelo fumo do tabaco;
• 13% apenas pelos ocupantes.

Conforme se referiu, as fontes de poluição devem ser expressas como uma carga de poluição
química e como uma carga de poluição sensorial. A carga de poluição química pode ser expressa
pela taxa de emissão dos elementos poluentes libertados (µg/s ou µg/m2s), enquanto a carga
sensorial deve ser caracterizada pela unidade olf, que integra o efeito combinado das centenas de
Poluentes libertados como são sentidos pelo homem.

A carga de cada elemento químico no ar pode então ser estimada com base na adição da intensidade
das fontes de poluição, enquanto que a carga de poluição sensorial num espaço pode ser obtida
(embora ainda não totalmente aceite por toda a comunidade científica) pela adição das cargas
sensoriais das diversas fontes existentes2, que compreendem usualmente os ocupantes e os
materiais do edifício. Os componentes de tratamento do ar dos sistemas de ventilação podem ser
caracterizados como uma carga poluente negativa. Nas tabelas seguintes apresenta-se a carga
poluente sensorial e química emitida pelos ocupantes e pelos materiais de um edifício.
Tabela 3.4 - Carga sensorial de poluentes emitidos pelos ocupantes

Carga de poluição Vapor de


CO2 CO a)
Actividade sensorial águab)
l/h.ocupante l/h.ocupante
olf/ocupante g/h.ocupante
Sedentária (1 a 1,2 met)
0% fumadores 1 19 50
c) -3
20% fumadores 2 19 11×10 50
c) -3
40% fumadores 3 19 21×10 50
Exercício físico
Fraco (3 met) 4 50 200
Médio (6 met) 10 100 430
Alto (10 met) 20 170 750
Crianças (infantário e escola)
3 a 6 anos (2,7 met) 1,2 18 90
14 a 16 anos (1 a 1,2 met) 1,3 19 50
a)
Produzido pelo tabaco;
b)
Aplica-se a pessoas próximo das condições de neutralidade térmica,
c)
Considera-se 1,2 cigarros/h por fumador, emissão de 44 ml CO/cigarro

2
Este princípio de adição ainda carece de investigação pois não é totalmente aceite.

3.9
Física das Construções

Tabela 3.5 - Carga sensorial de poluentes emitidos pelos materiais do edifício

Carga sensorial de poluição


olf/m2 pavimento
Valor médio Gama de valores
3.1.4.1. Edifícios existentes
Escritórios 0,6 0a3
Escolas (sala de aula) 0,3 0,12 a 0,54
Infantários 0,4 0,20 a 0,74
Auditórios 0,3 0,13 a 1,32
Edifícios novos (sem fumadores)
Edifício com materiais pouco poluentes (low-polluting) 0,1
Edifícios não low-polluting 0,2

Da comparação dos valores indicados na Tabela 3.4 com os valores indicados na Tabela 3.5,
verifica-se que a carga poluente dos materiais do edifício pode ser bastante superior à carga poluente
libertada pelo homem, conforme foi também verificado no estudo de Fanger.

Uma pessoa padrão (sedentária e na condição de neutralidade térmica) produz 1 olf, enquanto que
um fumador produz 6 olf.

Na Tabela 3.6 é indicada a taxa de emissão de vapor de água e de dióxido de carbono em edifícios
residenciais.

Tabela 3.6 – Valores de referência da emissão de vapor de água e dióxido de carbono em actividades nos
edifícios residenciais

Actividade Vapor de água Dióxido de carbono


Metabolismo humano 50 g/h
Banho 200 g/dia.pessoa
Cozinhar, com queima de gás 3000 g/dia
Lavar loiça 400 g/dia
Lavar roupa 500 g/dia
Combustão de gás natural * 150 g/h.kW 0,027 l/s.kW (46g/h.kW)
GPL * 130 g/h.kW 0,033 l/s.kW (56g/h.kW)
Combustíveis sólidos 81 g/h

* dado que a exaustão dos produtos da combustão é efectuada directamente para o exterior, a contaminação do
ar interior é pequena.

No sector residencial, um dos aspectos mais importantes a ter em consideração é o ar necessário


para a combustão nos aparelhos termodomésticos (para a combustão e para o adequado
funcionamento da exaustão natural) que pode variar entre cerca de 0,4 l/s.kW a 30 l/s.kW. Nas
caldeiras de condensação a quantidade de ar fresco necessária para a combustão é de cerca de
0,4 l/s.kW, enquanto nos outros equipamentos de queima essa quantidade varia entre 0,8 a
3,5 l/s.kW. Caudais de ar superiores são necessários normalmente para equipamentos de queima de
combustível sólido. Como norma, deve sempre seguir-se as indicações dos fabricantes dos
aparelhos. Na Tabela 3.7 apresentam-se os caudais de ventilação recomendados. Os caudais
normais correspondem aos períodos de utilização do compartimento, enquanto os caudais reduzidos
correspondem aos períodos de não ocupação dos compartimentos.

3.10
Física das Construções

Tabela 3.7 – Caudais de ventilação em edifícios residenciais


Normais Reduzidos
Compartimentos principais: 1 ren/h 0,5 ren/h
Compartimentos de serviços: 4 ren/h 2 ren/h
IS com banheira ou duche Q ≥ 45 m3/h
Q ≥ 30 m /h
3
IS sem banheira e duche
Q ≥ 4,3×Qn (m /h) Q ≥ 4,3×Qn (m3/h)
3
Compartimentos onde estão
instalados aparelhos a gás:
Locais com caldeiras Q ≥ 5,0×Qn (m3/h) Q ≥ 5,0×Qn (m3/h)
Locais com lareiras 4 ren/h 4 ren/h

Qn – potência útil nominal do aparelho em kW.

3.1.5 Ar exterior
A taxa de ventilação também depende da qualidade do ar exterior, pois quanto mais limpo for maior
será a capacidade de diluição dos poluentes interiores. Contudo, devido aos níveis de poluição
exteriores, o ar pode não ter a qualidade necessária pelo que, tem de ser tratado ou então tem de se
reduzir a classe de conforto do ar interior.

Para assegurar a qualidade do ar interior é fundamental um posicionamento adequado das aberturas


de admissão de ar exterior, sendo a qualidade do ar junto da boca de admissão a que é realmente
relevante para a qualidade do ar interior e não propriamente a qualidade do ar exterior.

Na Tabela 3.8 encontram-se indicados os níveis de qualidade do ar e de poluentes que é comum


encontrar em ambientes exteriores. Contudo, a poluição do ar exterior pode apresentar valores
superiores.

Tabela 3.8 - Níveis de qualidade do ar exterior

Percepção da Poluentes do ar
qualidade do ar
CO2 CO NO SO2 Partículas
Dp mg/m3 mg/m3 µg/m3 µg/m3 µg/m3
Excelente 0 680 0 a 0,2 2 1 < 30
Qualidade do ar
< 0,1 700 1a2 5 a 20 5 a 20 40 a 70
boa, em cidades
Qualidade do ar
> 0,5 700 a 800 4a6 50 a 80 50 a 100 > 100
fraca, em cidades

3.1.6 Eficácia da ventilação


A qualidade do ar pode não ser a mesma em todo o espaço ventilado, devido ao escoamento do ar
no compartimento, à localização e tipo das fontes poluentes.

O que conta para os ocupantes é a qualidade do ar na zona de respiração. Pelo que, a


heterogeneidade da qualidade do ar num espaço pode ser tida em conta pela eficácia do sistema de
ventilação, traduzida pela equação 3.6.
Ce − Cs
εv = (3.6)
Ci − Cs

3.11
Física das Construções

Onde:

εv – eficácia do sistema de ventilação


Ce – concentração da poluição no ar extraído

Cs – concentração da poluição no ar insuflado

Ci – concentração da poluição na zona de respiração

• Se existir mistura completa do ar, εv =1.


• Se a qualidade do ar na zona de respiração é superior à do ar de retorno εv >1, pelo que pode
ser reduzida a taxa de ventilação.
• Sucede o oposto quando a qualidade do ar extraído é superior ao da zona de respiração (εv
<1) e neste caso terá de ser aumentada a taxa de ventilação.

εv depende do escoamento do ar no compartimento, da localização e tipo da fonte poluente no


compartimento, pelo que pode ter valores diferentes para poluentes diferentes. O valor de εv pode ser
determinado experimentalmente ou previsto por simulação numérica, devendo ser considerados
a localização e características das grelhas de insuflação e extracção de ar, das fontes de poluição,
bem como da temperatura e caudal de ar insuflado. Na Figura 3.5 encontra-se indicado o valor da
eficácia de ventilação na zona de respiração para alguns tipos de sistemas de ventilação.

Figura 3.5 – Eficácia de ventilação na zona de respiração de alguns tipos de ventilação

3.1.7 Determinação da taxa de ventilação


A ventilação é necessária para:

• Promover oxigénio para a respiração do homem (0,1 a 0,9 l/s);


• Diluir os poluentes e odores a valores considerados satisfatórios;
• Controlo da humidade interior (pois o ar exterior tem normalmente humidade inferior), para
evitar a ocorrência de condensações e condições propícias para o aparecimento de fungos e
bolores;
• Controlo de partículas no ar interior.

A taxa de ventilação necessária para conforto e saúde em locais com ocupação contínua pode ser
calculada separadamente, respectivamente, pelas equações 3.7 e 3.8, tendo em conta a qualidade

3.12
Física das Construções

do ar exterior, a taxa de emissão de poluentes no interior e a eficácia da ventilação. Como valor de


projecto deve ser considerado o maior dos dois valores determinados.

a) Taxa de ventilação para conforto


Gc 1
Qc = 10 (3.7)
Cc, i - Cc, o ε v

Onde:

Qc - taxa de ventilação em l/s;

Gc - carga sensorial dos poluentes, em olf;

Cc,i - é a percepção da qualidade do ar interior pretendida, em dp;

Cc,o - é a percepção da qualidade do ar exterior nas aberturas de admissão de ar do sistema de


ventilação, em dp;

εv - é a eficácia da ventilação.

b) Taxa de ventilação para limitar risco para a saúde


Gh 1
Qh = (3.8)
Ch, i - Ch, o ε v

Onde:

Qh - taxa de ventilação em l/s

Gh - carga do poluente químico, em g/s (l/s)

Ch,i - é o valor de referência para a concentração interior do químico, em g/l (vol/vol)

Ch,o - é a concentração exterior do químico na boca de admissão de ar do sistema de


ventilação, em g/l (vol/vol)

εv - é a eficácia da ventilação.

Os princípios atrás expostos são válidos para condições de regime estacionário de ventilação e de
emissão de poluentes. Contudo, nos edifícios, a ventilação e a emissão de poluentes poderá ter
variações significativas, pelo que no cálculo das concentrações de contaminante é importante o
modelo a adoptar:

• Escoamento estacionário e emissão de poluentes estacionária (modelo apresentado);


• Escoamento estacionário e emissão variável de poluentes no tempo;
• Escoamento variável e emissão variável do contaminante no tempo.

Na ventilação de alguns espaços com ocupação periódica, como salas de aula e auditórios,
poderá não ser necessária a ventilação contínua desses espaços. Duas situações se colocam:

• A principal fonte de poluição é o homem e nos períodos de não ocupação a diluição dos
poluentes é feita naturalmente; o arranque da ventilação pode ser atrasado até que seja
atingido o valor limite;

3.13
Física das Construções

• Quando os contaminantes não são só associados ao homem, mas antes se encontram


relacionados com os materiais ou equipamentos, será necessário realizar a diluição dos
contaminantes até valores adequados antes de se iniciar a ocupação do espaço.

Assumindo uma diluição perfeita dos contaminantes e uma taxa de emissão constante, a
concentração do poluente no instante t é dada pela equação 3.9.

c = G/V.t (3.9)

Onde:

c - concentração do poluente (g/m3)

G - taxa de emissão do poluente (g/s)

V - volume do espaço (m3)

t - tempo (s)

O tempo de atraso do arranque do sistema de ventilação pode ser determinado tendo em


consideração que a concentração dos poluentes não deve ser superior ao limite admissível, que pode
ser tomado como a concentração de regime estacionário (c∞=G/Q). Pelo que, o tempo máximo de
atraso do arranque do sistema de ventilação pode ser estimado pela equação 3.10.

t = V/Q (3.10)

Onde:

t - tempo de atraso no arranque do sistema de ventilação (h)

V - volume do espaço (m3)

Q - caudal de ventilação (m3/ h)

No caso de espaços com outras fontes de poluentes, além do homem, em que o sistema de
ventilação é desligado em período de não ocupação, deve ser estimado o tempo necessário para que
sejam criadas condições de qualidade do ar admissíveis antes do inicio da ocupação do espaço.
Atendendo a que concentração do poluente do ar pode ser dada pela equação 3.11, no interior de um
espaço com concentração inicial co, taxa constante de emissão de poluentes e de ventilação, com
mistura perfeita, ar exterior com concentração nula do poluente, pode ser estimado o tempo
necessário de ventilação do espaço antes do inicio da ocupação.

⎡ Q +G ⎤ Q+G
⎛ Q.c e + G ⎞ ⎢ t t
c = ⎜⎜ ⎟⎟ 1 − e V ⎥ + c 0 .e V (3.11)
⎝ Q + G ⎠⎢ ⎥
⎣ ⎦

Na Figura 3.6 encontra-se indicado o tempo necessário de ventilação do espaço antes do início da
ocupação, admitindo que a concentração inicial é cerca de 10 vezes a concentração de regime
estacionário de ocupação (c∞ =G/Q) e que a concentração no inicio da ocupação é cerca de 25%
superior à concentração de regime estacionário (c∞).
Nos sistemas de climatização do tipo tudo ar, em que o ar é o fluido responsável pela remoção/adição
de carga térmica, também deve ser efectuado o balanço da entalpia do ar na definição da taxa de
ventilação.

3.14
Física das Construções

Figura 3.6 – Tempo necessário de ventilação do espaço antes do início da ocupação

Na norma da ASHRAE, para a definição da taxa de ventilação são apresentados dois métodos, um
em que é indicada a taxa de renovação de ar baseada nos vários anos de experiência de aplicação,
valores que também foram considerados nas taxas de ventilação nominais indicadas no RSECE, e
outro baseado na análise da concentração dos poluentes interiores.

3.1.8 Exemplos
Exemplo 1

Considere-se um edifício de escritórios, com as seguintes características:

• Um ocupante em actividade sedentária por cada 10 m2;


• São aplicados materiais que asseguram um edifício low-polluting, com uma carga sensorial
de 0,1 olf/m2;
• Não é permitido fumar no edifício;
• O sistema de ventilação é do tipo mistura com uma eficácia de ventilação de 1, e que se trata
de um sistema de climatização tudo ar, em que este é insuflado a 14 ºC;
• Situa-se numa área com ar de excelente qualidade (Cc,e = 0 dp).
• Considere-se que não existe risco para a saúde associado a qualquer substância existente no
ar.

Determinação da taxa de ventilação

Cálculo para assegurar percepção da qualidade do ar satisfatória

1. Cálculo da carga sensorial

Ocupantes Æ 0,1 (ocupante/m2)×1 (olf/ocupante): Tabela 3.4 Æ 0,1 (olf/m2)

Edifício Æ (low-polluting): Tabela 3.5 Æ 0,1 (olf/m2)

Total: 0,2 (olf/m2)

3.15
Física das Construções

2. Cálculo da taxa de ventilação para assegurar o conforto (equação 3.7)


Gc 1
Q c = 10 × × (3.7)
C c,i - C c,o ε v

Com: Gc=0,2olf/m2, Cc,0=0dp e εv=1

Cc,I (dp) Taxa de ventilação Taxa de ventilação


Classe
(Figura 3.1) (l/s.m2) (l/s.ocupante)
A (PPD < 15%) 1,0 2,00 20,0
B (PPD < 20%) 1,4 1,43 14,3
C (PPD < 30%) 2,5 0,80 80

Cálculo da taxa de ventilação para limitar o risco para a saúde

Admitindo que os ocupantes são a única fonte de poluição, portanto pode utilizar-se a concentração
de CO2, como indicador da qualidade do ar, pelo que pode ser estimada a taxa de ventilação tendo
em conta a concentração interior de CO2.

1. Cálculo da carga poluente:

Ocupantes Æ Tabela 3.4 Æ Gh=19 l/h.ocupante

2. Cálculo da taxa de ventilação para limitar o risco para a saúde (equação 3.8)
Gh 1
Qh = × (3.8)
C h,i - C h,o ε v
CC02 (ppm)
(Figura 3.3Error! Taxa de ventilação Taxa de ventilação
Classe
Reference source not (l/s.m2) (l/s.ocupante)
found.)
A (PPD < 15%) 460 1,15 11,5
B (PPD < 20%) 660 0,80 8,0
C (PPD < 30%) 1190 0,44 4,4

Os caudais de ventilação a adoptar para assegurar a qualidade do ar interior satisfatória são


respectivamente de 11,5, 8,0 e 4,4l/s.ocupante para as classes A, B e C. Na norma ASHRAE (na qual
os valores da taxa de ventilação são estabelecidos para que PPD seja inferior a 20%) e no RSECE é
preconizado para espaços de escritório uma taxa de ventilação de 35 m3/h.ocupante
(10 l/s.ocupante), portanto substancialmente inferior à taxa de ventilação prevista utilizando a
metodologia do documento CR 1752 do Comité Europeu de Normalização.

Exemplo 2

Considera-se um edifício de escritórios, com as seguintes características:

• Um ocupante em actividade sedentária por cada 10 m2;


• Carga de arrefecimento de 50 W/m2, associada aos ganhos de calor causados pelos
ocupantes, equipamento, iluminação, radiação solar, etc;
• Edifício de escritórios existente, carga sensorial de 0,6 olf/m2;
• É estimado que 20% dos ocupantes são fumadores;

3.16
Física das Construções

• O sistema de ventilação é do tipo mistura com uma eficácia de ventilação de 0,9;


• Situa-se numa cidade com qualidade de ar boa (Cc,e=0,1 dp).

Considere-se que não existe risco para a saúde associado a qualquer substância existente no ar.

Determinação da taxa de ventilação

Cálculo para assegurar percepção da qualidade do ar satisfatória


1. Cálculo da carga sensorial

Ocupantes Æ 0,1 (ocupante/m2)×2 (olf/ocupante): Tabela 3.4 Æ 0,1 (olf/m2)

Edifício Æ (escritórios): Tabela 3.5 Æ 0,6 (olf/m2)

Total: 0,8 (olf/m2)


2. Cálculo da taxa de ventilação para assegurar o conforto (equação 3.7)
Gc 1
Q c = 10 × × (3.7)
C c,i - C c,o ε v

Com: Gc=0,8olf/m2, Cc,0=0,1dp e εv=0,9


Cc,i (dp) Taxa de ventilação Taxa de ventilação
Classe
(Figura 3.1) (l/s.m2) (l/s.ocupante)
A (PD < 15%) 1,0 9,9 99
B (PD < 20%) 1,4 6,3 68
C (PD < 30%) 2,5 3,7 37

Cálculo da taxa de ventilação para limitar o risco para a saúde (equação 3.8)

Admitindo que os ocupantes são a única fonte de poluição, portanto pode utilizar-se a concentração
de CO2, como indicador da qualidade do ar.

1. Cálculo da carga poluente:

Ocupantes Æ Tabela 3.4 Æ Gh=19 l/h.ocupante


Ch,i (ppm)
(Figura 3.3Error! Taxa de ventilação Taxa de ventilação
Classe
Reference source not (l/s.m2) (l/s.ocupante)
found.)
A (PD < 15%) 460 1,3 12,8
B (PD < 20%) 660 0,9 8,9
C (PD < 30%) 1190 0,5 4,9

Tendo em conta a presença de fumadores, pode existir o risco de irritação dos olhos causada pelo
fumo do tabaco. Deve ser avaliado o caudal de ar necessário para que a concentração de CO não
exceda 2 ppm.

1. Cálculo da carga poluente

Ocupantes Æ Tabela 3.4 Æ Gc=11 l/h.ocupante

3.17
Física das Construções

2. Cálculo da taxa de ventilação para limitar o risco para a saúde

Classe Ch,i (ppm) Ch,e (ppm) Taxa de ventilação Taxa de ventilação


(Figura 1) (Quadro 7) (l/s.m2) (l/s.ocupante)
A, B e C 2 0,2 0,19 1,9

Os caudais de ventilação a adoptar para assegurar a qualidade do ar interior satisfatória são


respectivamente de 99, 68 e 37 l/s.ocupante para as classes A, B e C.

Na norma ASHRAE (na qual os valores da taxa de ventilação são estabelecidos para que PPD seja
inferior a 20%) e no RSECE é preconizado para espaços de escritório uma taxa de ventilação de 35
m3/h.ocupante (10 l/s.ocupante), portanto substancialmente inferior à taxa de ventilação prevista
utilizando a metodologia do CR 1752.

Dos valores determinados anteriormente ressalta a importância da carga sensorial dos materiais do
edifício e que a utilização de sensores de CO2 conduz a caudais de ventilação substancialmente
inferiores aos previstos com base na carga sensorial. Deste modo, verifica-se ser particularmente
importante a caracterização da carga sensorial associada à emissão de poluentes pelos materiais do
edifício, pois para assegurar níveis de qualidade do ar interior satisfatórios, as taxas de ventilação
estimadas com este método são bastante superiores às taxas de ventilação correntemente utilizadas
(8 l/s.ocupante sem fumadores e cerca de 16 l/s.ocupante com fumadores).

3.18
Física das Construções

3.2 Acções que promovem a Ventilação Natural


3.2.1 Introdução
Qualquer acção de ventilação natural (VN) é gerada por uma única acção motora: um diferencial de
pressões. Efectivamente é sempre uma diferença de pressões entre duas zonas que força o
movimento do ar conduzindo ao processo de ventilação.

Nos processos de ventilação natural temos dois meios possíveis de gerar o necessário
diferencial de pressões:

• Diferentes pressões (estáticas) no interior das zona em análise criadas por acção do vento;
• Variação da pressão hidrostática devida a um diferencial na massa volúmica do ar, provocado
por acções de aquecimento/arrefecimento.

3.2.2 A Acção do Vento


A acção do vento nos processos de ventilação natural tem de ser considerada em dois pontos
sucessivos:

• A intensidade do vento que depende do local e da envolvente exterior ao edifício;


• Uma distribuição de pressão na envolvente do edifício que depende da sua forma e da sua
posição face ao escoamento.

3.2.2.1. O Vento

O vento é um fluxo de ar atmosférico gerado por um diferencial de pressões, com comportamentos


dependentes das várias escalas climáticas. Podem considerar-se quatro escalas:

• Escala Global
• Escala Regional
• Escala Local
• Escala Microclimática

De uma forma sucinta resumem-se em seguida estas diferentes escalas e a sua importância no
vento.

A escala global, com dimensões de milhares de quilómetros, está relacionada com as


condicionantes astronómicas do planeta: a sua forma esférica; a inclinação do eixo de rotação; a
órbita em torno do Sol, etc., que determinam os padrões de grande dimensão no clima, de acordo
com a posição orbital e a latitude. Os balanços termodinâmicos entre a superfície e a atmosfera
geram as condicionantes que determinam o padrão global do escoamento atmosférico, isto é, os
sistemas anticiclónicos e depressionários em torno dos quais se processa aquele escoamento e que
geram os movimentos das grandes massas de ar com características próprias de cada zona, como
por exemplo, na zona temperada a que corresponde a Europa Ocidental.

Com dimensão de uma ordem de grandeza inferior, a escala regional depende essencialmente da
orografia – os grandes volumes montanhosos – e da característica mais continental ou marítima da
zona. Cabem nesta escala as brisas térmicas (de mar e de terra), as cumeadas indutoras de
pluviosidade e os ciclos térmicos com período de noite-dia.

3.19
Física das Construções

A escala local estende-se pela dezena de quilómetros e resulta da interacção entre a escala regional
e a presença de condicionantes como urbanização, floresta, grandes extensões de água, etc.

Por fim podemos ainda considerar uma escala microclimática, que também pode ser entendida
como uma subdivisão da escala local, com dimensão da ordem da centena de metros, e que é
aquela em que é possível a intervenção humana de forma durável, de modo a modificar o padrão
normal local do vento. Esta intervenção pode ser feita através de dispositivos de corta-vento, pela
adaptação do planeamento urbano (e que raras vezes será aplicada) às condições do vento
dominante e de outras condicionantes climáticas. Podemos ainda acrescentar nesta escala, o
movimento de massas de ar induzido pelo aquecimento diferencial devido à actividade do Homem,
mormente nos grandes centros urbanos, de que são exemplo as ilhas de calor.

3.2.2.2. A Camada Limite Atmosférica (CLA)

O escoamento atmosférico segue, na zona compreendida entre a superfície da Terra e o vento


gerado pelas escalas climáticas globais, as leis que regem os escoamentos de camada limite sobre
placas planas em gradiente de pressões nulo (aproximadamente) e que se caracteriza, no essencial,
pela imposição de velocidade nula no contacto com a fronteira sólida (adjacente ao solo) e uma
variação progressiva em altura até atingir a intensidade de escoamento não perturbado pelos
obstáculos existentes no solo. Do ponto de vista das aplicações da Engenharia do Vento, de que a
ventilação natural faz parte, importa a garantia de que o vento tenha uma componente horizontal
dominante, ou seja, que a componente mecânica do movimento das massas de ar se sobreponha à
térmica, situação a que corresponde uma atmosfera de estabilidade neutra. Tomando a altura de
referência meteorológica de 10 m acima do solo, aquela condição impõe velocidades superiores a 3 a
4 m/s. Pelo contrário se a velocidade do vento for inferior a 1 - 2 m/s é a componente térmica que
domina e é lícito considerar situações de calma.

A CLA é então descrita (confirmada por medições) como essencialmente bidimensional


desenvolvendo-se sobre uma placa plana em gradiente de pressões nulo com uma espessura, δ, que
varia entre os 250 m e os 600 m, dependendo da natureza da superfície onde se desenvolve o
escoamento, Figura 3.7.

A linha 4 corresponde a grandes áreas de água sem agitação superficial e a linha 1 aos grandes
centros urbanos. Em situações de escassa ocupação do terreno por edificações (naturalmente de
pequena dimensão em altura) a CLA poderá atingir os 300 m pelo que, quer nesta situação quer na
dos grandes centros urbanos, é na parte inferior da CLA que os edifícios estão imersos e onde ocorre
cerca de 70% da variação total da velocidade.

3.20
Física das Construções

Figura 3.7 – Perfis de Camada Limite Atmosférica


(UG - velocidade do vento na zona de escoamento não perturbado; U - velocidade do vento)

A experimentação sobre escoamentos de camada limite, quer na atmosfera quer no ambiente


controlado dos túneis de vento, permitiu uma descrição matemática simplificada do perfil de
velocidades sob a forma de uma lei de potência (equação 3.12):
1
⎛ z ⎞n
U(z ) = Uref ⎜⎜ ⎟
⎟ (3.12)
⎝ z ref ⎠

onde U(z) é a velocidade do vento a uma cota Z, Uref é a velocidade de referência medida a uma cota
Zref e n é um expoente que depende do tipo de terreno. Os valores característicos de δ (espessura da
camada limite) e n resumem-se na Tabela 3.9, onde se inclui uma classificação de classes de
rugosidade.
Tabela 3.9 - Características das CLA

n Classe δ [m] Tipo de Terreno

10 I 250 Mar ou lagos calmos; Neve; Grandes areais

7 II – IV 250 - 300 Relvado; Campo cultivado e aberto

6 V 300 Grupos de plantas altas dispersas em campo sem obstáculos

5 VI 350 Quintas e habitações dispersas

4 VII 400 Área suburbana

3 VIII 500 Centro urbano; Floresta

2,5 IX 600 Grande metrópole; Floresta tropical

3.21
Física das Construções

No entanto, há que ter em conta que no interior de centros urbanos esta descrição da CLA perde
consistência e que, para efeitos de cálculo, pode-se, como primeira aproximação, face à dificuldade
de caracterização, considerar a velocidade do vento como constante abaixo de uma cota d0,
correspondente a 70% da altura média das construções existentes.

Ainda com respeito à determinação da velocidade do vento para o cálculo da VN o valor de referência
provém, normalmente, dos registos meteorológicos obtidos fora da zona em estudo. Há, portanto, que
transferir os valores registados para o local de interesse através da lei de potência (equação 3.13) e
que pode ser adaptada à relação entre locais com diferentes tipos de terreno (e, portanto, diferentes
espessuras de CLA e diferentes expoentes n),
1
⎛ z ⎞ n2
⎜⎜ ⎟⎟
U(z ) = Uref ⎝ δ2 ⎠ (3.13)
1
⎛ z ⎞ n1
⎜⎜ ⎟⎟
⎝ δ1 ⎠

onde os índices 1 e 2 se referem ao local em estudo e ao de referência, respectivamente.

Exemplo 1

Dados meteorológicos: Uref = 5 m/s; Zref = 10 m; δ1=300 m; n1=7

Caso A: casa em terreno agrícola com alguma arborização dispersa.


1
⎛ 3 ⎞5
⎜ ⎟
Z = 3 m; δ2 = 350 m; n2 = 5 U (3 ) = 5 ⎝ 350 ⎠
= 3,1 m/s
1
⎛ 10 ⎞ 7
⎜ ⎟
⎝ 300 ⎠

Caso B: prédio em meio urbano com média de 8 pisos.


1
⎛ 17 ⎞ 2,5
⎜ ⎟
U(17 ) = 5 ⎝
600 ⎠
d0 = (8*3)*0,7 = 17 m ; δ2= 600 m; n2= 2,5 = 1,95 m/s
1
⎛ 10 ⎞ 7
d0 = 70% hmax ⎜ ⎟
⎝ 300 ⎠

A escolha da velocidade de referência deverá ser feita de acordo com a variação sazonal própria da
zona e, se possível, tendo em conta a probabilidade de ocorrência obtida a partir de uma análise
estatística dos valores registados.

3.2.2.3. Interferência vento/edifício.

Do ponto de vista da Ventilação interessa conhecer qual o efeito desta interferência ao nível da
distribuição de pressões nas fachadas e cobertura dos edifícios. Para esta distribuição de pressões
contribui de forma decisiva a geometria do edifício e a envolvente exterior (urbanização, arborização,
etc.), Figura 3.8 a Figura 3.10.

3.22
Física das Construções

Um escoamento quando tem de contornar um obstáculo altera o campo de velocidades criando uma
distribuição de pressões não uniforme. Nas figuras seguintes representam-se, a título de exemplo, os
padrões de escoamentos em torno de obstáculos.

Figura 3.8 – Campo de velocidades de um escoamento em torno de um obstáculo

Figura 3.9 – Interferência entre o escoamento e dois edifícios lado a lado e distribuição de pressão em torno de
um deles

Figura 3.10 – Interferência entre o escoamento e dois edifícios alinhados com a direcção do vento

Esta distribuição de pressões é, por norma, apresentada sob a forma de um coeficiente de pressão
(adimensional), Cp (equação 3.14):
p - p∞
Cp = (3.14)
1 2
ρU∞
2

onde p é o valor local da pressão num ponto da envolvente do edifício, p∞ a pressão atmosférica, ρ é
a massa volúmica do ar [kg/m3] e U∞ a velocidade do vento [m/s], à altura do beiral.

3.23
Física das Construções

Estes coeficientes são, portanto, positivos ou negativos consoante a pressão local seja,
respectivamente, superior ou inferior à pressão atmosférica. Valores positivos de Cp correspondem a
localizações favoráveis à admissão de ar para a Ventilação e, naturalmente, zonas de Cp negativo
estão vocacionadas para a colocação de extractores (pelo menos em princípio porque se a zona não
dispõe de fortes valores de sucção o balanço entre pressões e áreas de passagem pode conduzir a
que haja admissão em zonas de Cp negativo).

Vento

Figura 3.11 – Distribuição de pressões nas fachadas de um edifício de planta em L

A determinação destes coeficientes é, na quase totalidade dos casos, obtida através de ensaios em
túnel de vento e existem resultados para um número razoável de formas simples (cubos,
paralelepípedos, cilindros, etc.) e configurações da envolvente exterior, nomeadamente, e como
primeira aproximação, podem referir-se os valores constantes do RSAEEP (Regulamento de
Segurança e Acções para Estruturas de Edifícios e Pontes). Formas mais complexas quer dos
edifícios quer das envolventes externas implicam necessariamente o recurso a ensaios.

3.24
Física das Construções

Figura 3.12 – Coeficientes de Pressão em Paredes (RSA)

A distribuição de pressão na envolvente dos edifícios depende da sua forma geométrica, da direcção
do vento (e também dos obstáculos em seu redor) e do perfil de velocidades, isto é, do tipo de CLA.
Alterações aparentemente de pormenor na configuração global de um edifício podem, no entanto,
alterar os valores das pressões numa mesma zona da envolvente. Veja-se, por exemplo, o caso de
edifícios com coberturas inclinadas onde os valores de Cp são negativos (na face de barlavento) até
inclinações de 30º, passando a positivos para inclinações superiores.

Nas páginas seguintes apresentam-se as distribuições de valores de Cp nas fachadas de um cubo


sujeito a um vento incidente de α = 0º e 30º (Figura 3.13 e Figura 3.14 respectivamente), o mesmo
edifício mas com uma cobertura de uma água a 15º (α = 30º) (Figura 3.15), e a fachada frontal do
cubo sob três perfis de CLA diferentes (Figura 3.16).

3.25
Física das Construções

Figura 3.13 – Distribuição dos valores de Cp nas fachadas de um cubo sujeito a um vento incidente de 0º

3.26
Física das Construções

Figura 3.14 – Distribuição dos valores de Cp nas fachadas de um cubo sujeito a um vento incidente de 30º

3.27
Física das Construções

Figura 3.15 – Distribuição dos valores de Cp nas fachadas de um cubo com uma água inclinada de 15º, sujeito a
um vento incidente de 30º

3.28
Física das Construções

Figura 3.16 – Distribuição dos valores de Cp na fachada frontal de um cubo com para 3 diferentes Perfis da
Camada Limite Atmosférica

Na Figura 3.17e na Figura 3.18 ilustram-se alguns casos de zonas de sobreposição e sucção em
edifícios.

Figura 3.17 – Linhas de corrente do escoamento, pontos de separação e identificação de áreas de sucção e
sobrepressão em obstáculos de forma simples

Figura 3.18 – Sentido das forças devidas à pressão sobre um edifício quando o escoamento é afectado pela
presença de um outro a jusante

3.29
Física das Construções

O escoamento em determinadas zonas da cobertura, bem como as áreas a jusante, dos edifícios
apresenta características de recirculação, isto é, o ar não é convectado pelo escoamento exterior
(Figura 3.19). Exaustões ali efectuadas são readmitidas no edifício ou “canalizadas” para o edifício
adjacente. Na Tabela 3.10 apresentam-se as alturas mínimas de colocação da saída de chaminés em
edifícios.

Figura 3.19 – Zona de recirculação

Tabela 3.10 - Alturas mínimas de colocação da saída de Chaminés em edifícios

3.30
Física das Construções

3.2.2.4. Determinção do caudal de ventilação devido ao vento

Ventilação Unilateral (Single-side ventilation)


V

Q = 0,025 × A × V
A
Com: A a área da abertura e V a velocidade do vento

Ventilação Cruzada (Cross ventilation)


V

Q v = C d × A v × V × ∆C p A1 A3

cp1 cp2
1 1 1
Com: = + A2 A4
Av2 ( A 1 + A 2 )2 ( A 3 + A 4 )2

Cd é o coeficiente de descarga, valor determinado experimentalmente, compreendido entre 0 e 1.


Para aberturas correntes toma os valores entre 0,65 e 0,78.

3.2.3 A Acção Térmica


O outro modo de promover um processo de ventilação natural baseia-se na diferença de pressão
hidrostática ∆Ph, entre o espaço interior e o exterior com comunicação através de aberturas a
diferentes cotas (equação 3.15). Este diferencial de pressão é consequência de um diferencial de
temperatura entre o interior e o exterior, logo diferentes massas volúmicas do ar.

∆ph = ρextg(hsup – hinf) - ρintg(hsup – hinf) = g H (ρext - ρint) (3.15)

onde H é a diferença de cotas entre as aberturas inferior e superior. A equação 14 pode ainda ser
rescrita recorrendo à Lei dos Gases Perfeitos (P=ρRT), e tomando como características de referência
T0 = 273 K e ρ0 = 1,29 kg/m3, como (equação 3.16):
⎛ 1 1 ⎞
∆p h = 3451,27 H⎜⎜ − ⎟
⎟ (3.16)
⎝ Text Tint ⎠

sendo as temperaturas do ar expressas em valores absolutos.

3.31
Física das Construções

3.2.3.1. Determinção do caudal de ventilação devido ao efeito da temperatura

Ventilação Unilateral (Single-side ventilation)

Com uma abertura:


Te
A ∆T × g × H 2
Q = Cd × ×
3 T
H2 Ti

Com duas aberturas:


Te
⎛ ⎞
Q = Cd × A × ⎜
ε 2 ⎟ × ∆T × g × H1
⎜ (1 + ε)(1 + ε 2 )1/ 2 ⎟ T
A1
⎝ ⎠
H1 Ti
A
Com: ε = 1 , A = A 1 + A 2 A2
A2

Ventilação Cruzada (Cross ventilation)


Te
2 × ∆Tg × H1
Qb = Cd × A b × A1 A3
T

1 1 1 Te + Ti H1 Ti
Com: = + e T= A2 A4
2 2 2
Ab ( A1 + A 3 ) (A 2 + A 4 ) 2

3.2.3.2. Exemplos de Aplicação de Ventilação Natural

Na Figura 3.20 e na Figura 3.21 apresentam-se algumas formas de aproveitamento da ventilação


natural em edifícios, através na envolvente (janelas) num lado ou em dois lados, ventilação cruzada,
ou através de ductos, ventilação passiva por efeito de chaminé. Na Figura 3.22 são utilizadas
bandeiras de ventilação para optimizar a entrada de ar no edifício.

Ventilação Passiva Ventilação Cruzada Ventilação só de um lado


Efeito de Chaminé
Figura 3.20 - Formas de ventilação

3.32
Física das Construções

Ducto simples Ducto com derivação Ductos Individuais


Figura 3.21 - Formas de instalação de ductos de ventilação por efeito de chaminé

Figura 3.22 - Bandeiras de Ventilação, Instituto de Biologia Molecular e Celular Porto,

A chaminé solar, da Figura 3.23 permite extrair o ar quente dos espaços ocupados e deve terminar a
uma altura superior à cobertura, além da extracção do ar do espaço permite ainda ventilar a cobertura
que se encontra num nível inferior.

Figura 3.23 - Chaminé monodireccional para a captação de vento para ventilação e Chaminé Solar

3.33
Física das Construções

As figuras que a seguir se apresentam referem-se a casos de edifícios cuja ventilação é assegurada
por processos de Ventilação Natural.

• As torres eólicas – Baghdir – que, aproveitando a sucção criada pelos ventos mais intensos
acima do nível do edifício, ventilam e arrefecem o espaço habitado devido a pequenos
espelhos de água existentes nas divisões interiores;
• As leves brisas que só se sentem a níveis mais elevados são canalizadas para o espaço
habitado.

Figura 3.24 – Dois casos históricos de Ventilação Natural: Irão e Paquistão, respectivamente

Sol
41.5ºC

Sombra
34.4ºC 36.5ºC

29.9ºC

Figura 3.25 -Chaminé para a captação de vento para ventilação - Yazd, Irão

3.34
Física das Construções

Escadas para Vento Vento


a cisterna

Chaminé

Cisterna

Figura 3.26 - Cisternas de Água da cidade de Yazd, Irão, para ventilação e arrefecimento ambiente

Alguns exemplos de realização de edifícios urbanos com esquemas de Ventilação Natural:

Inland Revenue Headquarters, Nottingham, UK (1994)

Princípio de funcionamento: chaminé solar (efeito térmico) e Ventilação Natural cruzada

Figura 3.27 - Inland Revenue Headquarters, Nottingham, UK

Figura 3.28 - Corte através da chaminé solar (esquerda) e da fachada envidraçada (direita) da Inland Revenue
Headquarters, Nottingham, UK

3.35
Física das Construções

Environmental Building, Building Research Establishment, Garston, UK

Figura 3.29 - Corte através da chaminé de ventilação (esquerda) e da fachada envidraçada (direita) do
Environmental Building, Building Research Establishment, Garston, UK

Ionica Headquarters, Cambridge, UK (1995)

Princípio de funcionamento: chaminé eólica (eólica passiva) e Ventilação Natural cruzada

Figura 3.30 – Corte através da chaminé, Ionica Headquarters, Cambridge, UK

Figura 3.31 – Ionica Headquarters, Cambridge, UK

3.36
Física das Construções

3.2.4 Acção conjunta do Vento e Temperatura


3.2.4.1. Determinção do caudal de ventilação devido à acçãodo vento e efeito da temperatura

Ventilação Cruzada (Cross ventilation)


V, Te

V Ab H A1 A3
Q = Q b se < 0,26 × × 1
∆T A v ∆Cp
cp1 H1 Ti cp2
A2 A4
V Ab H
Q = Q v se > 0,26 × × 1
∆T A v ∆C p

Com: ∆T = Ti − Te

3.37

Você também pode gostar