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Lívia Pacheco

DIREITO CIVIL VII


DIREITO DAS SUCESSÕES

PROFESSORA: Paula Ferraço Fittipaldi - email:

BIBLIOGRAFIA: Carlos Roberto Gonçalves; Pablo Stolze; Flávio Tartuce; Código Civil
Comentado - Eduardo de Oliveira Leite

AVALIAÇÕES: 1º Bim: Prova 08/04 - 2º Bim: 24/06

18/02/16

>>> R E V I S Ã O <<<

—> Comunhão de bens

a. Comunhão Parcial: há uma junção de zonas de bens particulares, chamada de


aquestos, onde cada parte tem direito a metade.

A B

PATRIMÔNIO
PARTICULAR

OBS: Meação ≠ Herança! São figuras de natureza jurídica distintas! Meação é um direito
que adiem do regime de bens em função do divórcio. Ela significa o direito a metade dos
bens compreendidos no patrimônio comum (aquestos). Já a herança é um direito que age
em razão do falecimento de alguém, ou seja, é o direito de participação no patrimônio
deixado por alguém.

A regra geral do regime de comunhão parcial é que os bens recebidos a título de herança
ou doação, em regra, não integram os aquestos. Para pertencer ao casal, é preciso
contemplar ambos expressamente!

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b. Comunhão Universal: há uma massa única de bens! Tanto os bens presentes,


passados e futuros de A e de B irão compor uma massa única. Para uma doação ou
herança não integrar essa massa única, é preciso ocorrer uma ressalva.

c. Separação de bens - legal e convencional: as partes não têm o direito de escolher o


regime de bens, pois a lei determina que esse será o regime nos termos do art. 1640, CC.
A convencional é uma opção entres as partes.

d. Participação final nos aquestos: quase não tem regras nem aplicação prática.

19/02/16

UNIDADE I
SUCESSÃO EM GERAL

—> FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E CONSTITUCIONAIS DA VOCAÇÃO


HEREDITÁRIA

- DIREITO ROMANO: ideia de continuidade da religião e da família: o culto aos


antepassados como fator de agregação familiar (a família como pequeno núcleo
religioso);
- A necessidade de um filho do sexo masculino para dar continuidade ao culto dos
antepassados. Família Patriarcal. O chefe dessa família é o “pater”, o pai, dai o
patriarcalismo. A existência da mulher não demonstrava valor moral e religioso para a
organização da família. Apenas o homem podia dar continuidade ao culto aos
antepassados. Nossa sociedade ainda tem resquícios desse patriarcalismo.
- Código Civil de 1916 - considerava a distinção entre filhos quanto a capacidade para
suceder.
- CF de 88 reconheceu a igualdade entre os filhos e proibiu qualquer forma de
discriminação entre eles - art. 227, §6º da CF (princípio da igualdade jurídica de todos
os filhos). Todos os filhos, independente do laço sangüíneo ou afetivo, têm direito à
herança. Paternidade é diferente de conjugalidade.
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- A CF assegura em seu art. 5º, XXX, o direito de herança, dentre os direitos
fundamentais. O CC disciplina o direito das sucessos da seguinte forma: da sucessão
geral, da sucessão legítima, da sucessão testamentária e do inventário e da partilha. A
herança é um direito fundamental, e pela regra todos têm direito a herança.

OBS: Uma pessoa não pode afastar o direito dunfamental da


herança de um herdeiro, salvo nos limites legais, quando por
exemplo o filho ameaçar o pai de morte. Logo, por vontade própria
ninguém pode ser deserdado, mas apenas por requisitos legais.
Mesmo que um herdeiro legítimo seja excluido do testamento,
quando esse documento for aberto, ele tem direito ao contraditório.

OBS2: existem 3 institutos que são exceções ao direito à herança:


Deserdação indignidade e renúncia

—> DA SUCESSÃO EM GERAL

- Em sentido amplo, sucessão (succedere) significa o "ato pelo qual uma pessoa
assume o ligar de outra, substituindo-a na titularidade de determinados
bens” (Gonçalves).

- SUCESSÃO "INTER VIVOS” - Direito das Obrigações, Direito de Família e Direitos


Reais (sub-rogação pessoal, sub-rogação real).

- SUCESSÃO "CAUSA MORTIS” - Direito Sucessório. Estudar a herança e como ela se


distribui nada mais é compreender a situação de que alguém se coloca no lugar de
outra pessoa para administrar tais bens. Para o estado não é bom que exista um
patrimônio sem um gestor, um administrador, pois isso interfere na sua própria
organização.

- O Direito Sucessório cuida da sucessão ocorrida em razão do falecimento de um


sujeito. Em razão disso, é que as regras do direito sucessório regulam a situação após
o falecimento de um sujeito, outras pessoas, que para o direito brasileiro são os ,
ocupam o lugar do de cujos na relação jurídica que ele detinha para com o patrimônio
que lhe pertencia.
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- Objeto de estudo do Direito Sucessório: a transmissão do patrimônio (ativo e passivo)


que ocorre em virtude do falecimento de uma pessoa. Tanto a transmissão do ativo ou
do passivo (dívidas) são passadas aos herdeiros.

- Ninguém é obrigado a receber uma herança, pois pode ser feita a renúncia. Mas,
antigamente no Brasil, uma vez assumida, se houvesse dívidas deixadas pelo falecido,
o herdeiro passa a responder por essa dívida com o seu próprio patrimônio, o que
tornava a condição de herdeiro um risco. Essa situação porém foi alterada, pois
atualmente a herança é recebida À BENEFÍCIO DO INVENTÁRIO, o que significa que
os herdeiros não respondem pelas dívidas do falecido com o seu patrimônio pessoal,
mas sim apenas vão responder por débitos dentro a proporção que foi recebida por
herança.

- ESPÓLIO: conjunto de direitos e deveres do falecido (todo seu patrimônio ativo e


passivo - art. 91, CC), cuja administração caberá ao inventariante (art. 1991, CC)
mediante o condomínio dos demais herdeiros (art. 1791, CC). É tudo que o indivíduo
deixou ao falecer.

Quando a pessoa falece, ocorre um fenômeno jurídico, no qual se deve dar algum destino
com o conjunto de direitos e deveres que ela deixou. Uma pessoa específica vai ficar
responsável pela administração, que é a inventariante! Ele apenas vai administrar, não
sendo o proprietário, pois entre os demais herdeiros será constituído um condomínio.

OBS: o inventariante sempre será nomeado para realizar atos processuais


em juízo, pois não haveria praticidade em sempre necessitar o
comparecimento de todos os herdeiros. Essa pessoa pode ser um dos
herdeiros, ou então, quando os herdeiros estiverem brigando, será um
terceiro. O inventariante não possui autonomia para tomar nenhuma
decisão, mas apenas quando houver consenso entre os herdeiros.

—> ABERTURA DA SUCESSÃO


Abertura da sucessão e inventário são coisas distintas. O inventário é um procedimento,
mas não será responsável pro abrir a sucessão. A sucessão é aberta com o momento da
morte. E será nesse momento da morte que há a transmissão do patrimônio.
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- Momento da morte
- “Art. 1.784, CC - aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros
legítimos e testamentários”
- Droit de saisine ou Principio de Saisine - regra de origem francesa que compreende
a transmissão indireta e automática de todo o patrimônio (propriedade e posse
indireta) aos seus herdeiros (herança como uma massa unitária de bens). Trata-se
de uma ficção jurídica. É o princípio que permite criar a ficção de que a pessoa recebe
a herança no exato momento da morte. Essa figura é um pouco nebulosa, pois ao
falecer o estado não sabe exatamente o patrimônio da pessoa, nem quem são seus
herdeiros, porém trata-se de evento que tem importantes repercussões jurídicas. Um
exemplo é que após o falecimento, qualquer herdeiro possuiria legitimidade para já
moverem ações, tonarem atitudes em defeso do patrimônio deixado. É uma
legitimidade de gerência dos bens/protetiva, em defesa do patrimônio, não podendo
mexer no patrimônio. Por ser uma ficção, o princípio da saisine não vincula a situação
desses herdeiros de forma definitiva. Vimos que há como aceitar ou renunciar a
herança, e apenas o ato de aceitação posterior é que torna definitiva a transmissão.
Importante ressalvar que caso se reconheça, posteriormente, que se trata de um
herdeiro indigno ou deserdado, esse reconhecimento retroage ao momento da abertura
da sucessão.

OBS1: nesse momento, o que se tem é uma massa unitária de


bens.

OBS2: nesse momento de abertura da sucessão ainda não há a


figura do inventariante. É um momento dinâmico.

OBS3: o ato de aceitar da herança “a benefício do inventário”

- Recebimento da herança a benefício do inventário: a herança enquanto direito


fundamental não pode ser afastada dos herdeiros necessários e facultativos. Porém,
ninguém é obrigado a aceitar a herança, logo o próprio herdeiro pode afastar essa
herança. Aqui, cabe a evolução do direito sucessório de que os herdeiros só respondem
no limite da sua herança, que é uma garantia para ser herdeiro (antes o cenário do
herdeiro não é assim).

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OBS: o ato de renúncia da herança é irretratável.

- Pressupostos para a sucessão:


1º O falecimento do “de cujus” - não existe herança de pessoa viva;
2º O herdeiro deve sobreviver ao “de cujus” - para ser herdeiro necessariamente precisa-
se estar vivo quando a pessoa falece, por isso é que não se pode firmar contrato sobre
herança.
3º Que ao tempo da abertura da sucessão, o herdeiro não seja incapaz de herdar: a
capacidade civil plena é ≠ da capacidade para herdar/suceder. Pode-se ser plenamente
capaz e ser um herdeiro indigno. O contrário também pode ocorrer, de não possuir
capacidade civil plena, mas ser herdeiro.

OBS: Comoriência - é o instituo usado quando não há como precisar quem


faleceu primeiro. Nele não há transmissão do patrimônio.

25/02/16

- Sucessão do ausente: morte presumida por ausência - exceção. O direito brasileiro


tem a seguinte diferenciação: a morte real e a morte presumida, que é aquela que não
tem materialidade, o corpo da pessoa. Essa morte presumida pode se dar por
ausência, ex: estava dentro de um avião que caiu no oceano. A morte presumida por
ausência é mais delicada, pois não é uma pessoa que está numa situação discrepante,
de forma que o estado cria mecanismos para a administração dos bens dessa pessoa,
que será por pessoas consideradas legítimas. A sucessão do ausente é um tema de
exceção no ordenamento brasileiro.

É um procedimento longo, iniciado com fase de curadoria dos bens do ausente


(quando a família entra com um pedido de declaração de ausência), que pode durar 3
anos ou 1 ano, tempo que será determinado pelo existência ou não de um representante
legal (se tiver deixado representante legal será de 3 anos; se não houver, o juiz vai
determinar um curador, e a fase durará 1 ano). A nomeação de curador exige
observação da situação fática, dando-se preferência aos parentes do ausente, mas
também pode ser um terceiro. Os frutos desses bens são todos resguardados. Nessa
fase, há apenas uma conservação dos bens, ou seja, os herdeiros não recebem os bens.
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26/02/16

Após esse tempo, os herdeiros fazem um pedido de sucessão provisória. Nessa fase,
serão conhecidos os herdeiros e os bens deixados pela pessoa, onde será feita uma
partilha, nos mesmos moldes da partilha normal. A diferença é que esses herdeiros não
terão a propriedade definitiva desses bens, tendo o uso e o gozo, mas não podendo
dispor nem modificar o bem, e qualquer coisa necessária neste sentido, apenas pode ser
feita mediante decisão judicial. A sucessão provisória dura 10 anos.

OBS: se for cônjuge ou descendente, no caso de frutos, eles


podem ser utilizados, em totalidade pelo primeiro, e em 50% pelo
segundo. Se porém que receber os bens for um terceiro, esses
frutos serão resguardados.

Passado esse período, os herdeiros podem pedir a conversão para a sucessão


definitiva, que também irá durar 10 anos. Nessa fase, se o ausente voltar, os herdeiros
devem devolver o patrimônio e caso já tenha alienado, devem responder com o
equivalente. A diferença para a sucessão provisória é que aqui os herdeiros têm maior
autonomia. Esse prazo de 10 anos pode ser diminuído para 05 anos, caso o ausente
tenha mais de 80 anos e já se passaram 05 anos das últimas notícias dele recebidas (art.
38, CC). Após essa fase, com seu término, os herdeiros assumem a propriedade definitiva
desse bem, e caso o ausente retorne (o que é muito raro), ele não terá direito a mais
nada.

OBS: esse procedimento é só para morte presumida por ausência!


Nos outros casos de morte presumida, a sucessão será normal!

OBS: a declaração de ausência não é suficiente para romper um


vínculo conjugal. Ele só vai ser quebrado, por motivo de morte,
quando iniciada a sucessão provisória.

- Fixação da norma legal que disciplinará a sucessão - a sucessão será


disciplinada pela norma jurídica que estiver em vigor na data de sua abertura
(art. 1.787, CC). Todas as regras que existirem sobre sucessão, a aplicada ao caso

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concreto são as que existiam no momento da abertura da sucessão. Neste sentido, há


a Súmula nº 112 do STF:

O imposto de transmissão “causa mortis” é devido pela alíquota vigente


ao tempo da abertura da sucessão.

Nos termos do art. 1829, CC, há 4 classes de herdeiros legítimos, sendo necessários e
facultativos. Quando uma pessoa falece, do seu patrimônio, 50% correspondem à legítima
e os outros 50% são disponíveis (a pessoa tem liberdade/autonomia, podendo entregar
para um amigo, ou um único filho por exemplo). Se essa pessoa possuir herdeiros
necessários, ele obrigatoriamente precisa respeitar a legítima, que será destinada aos
herdeiros necessários. Esse cálculo da legítima é feita no momento da abertura da
sucessão!

- O cálculo da legítima ocorre no momento da abertura da sucessão, assim como a


verificação da capacidade para suceder.

—> ESPÉCIES DE SUCESSÃO

- SUCESSÃO LEGÍTIMA: ocorre em virtude da lei. Essa sucessão será direcionada


pelos arts. 1829 e ss. Aqui, o de cujos não tem qualquer autonomia, pois tudo será
determinado pela lei.
- SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA: decorre da vontade do testador expressa em um
testamento ou codicilo (pequeno instrumento para pessoa deixar bens de pequeno
valor, menos complexo que o testamento). Aqui a vontade da pessoa é considerada, há
autonomia.
- SUCESSÃO LEGATÁRIA: o testador determina um bem individualizado que será
entregue ao legatário. É uma sucessão que ocorre dentro do testamento. Dentro do
testamento a pessoa pode instituir herdeiros de duas classes: à titulo universal e
singular. Quando a pessoa estabelece um legado, há a determinação de um bem a
uma pessoa, constituindo a sucessão legatária (contempla um bem determinado a um
ou mais herdeiros —> é um legado). A sucessão legatária é considerada uma
SUCESSÃO À TÍTULO SINGULAR, que é aquela onde há herdeiro ou herdeiros
determinado (s) para recebimento de um bem também determinado. Já a SUCESSÃO

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UNIVERSAL é aquela em que os herdeiros têm direito a toda uma massa unitária
deixada pelo falecido, mesmo que esse patrimônio ainda não seja conhecido.
OBS: a sucessão legatária é dentro da testamentária.

—> SUCESSÃO À TÍTULO UNIVERSAL E SUCESSÃO À TÍTULO SINGULAR: a


UNIVERSAL é quando não há especificação do bem, ocorrendo na sucessão legítima e
na testamentária (ex: no testamento, deixar 10% do patrimônio para Joana - não houve
especificação). Já na SINGULAR há a determinação dos bens deixados para uma
pessoa.

—> ESPÉCIE DE SUCESSORES:

- HERDEIROS TESTAMENTÁRIOS OU INSTITUÍDOS: são os nomeados pelo


testamento.
- HERDEIROS LEGATÁRIOS: é o indivíduo que vai receber um bem específico. É
quando há a constituição de um legado dentro de um testamento.
Ex: Pode haver um filho herdeiro legítimo e também legatário.
- HERDEIROS LEGÍTIMOS (art. 1829):
—> Descendentes (necessário)
—> Ascendentes (necessário)
—> Cônjuge Sobrevivente (necessário)
—> Colaterais até o 4º grau (facultativo)

OBS: O CC de 2002 trouxe uma inovação ao trazer o cônjuge


sobrevivente para concorrer junto aos demais.

As três primeiras classes são chamadas de herdeiros LEGÍTIMOS NECESSÁRIOS, pois


a herança “para" ao encontrar uma classe. Ex: Se o de cujus tem descendentes, a
herança vai parar ai (nessa 1ª classe), e nada será entregue aos pais. Porém, o cônjuge
sobrevivente vai concorrer com os descentes pela herança, mas isso dependerá de uma
serie de fatores (regime de bens, tipo do patrimônio deixados). Esses herdeiros
necessários estão totalmente protegidos pela garantia fundamental à herança, não
podendo ser afastados por hipóteses que não as legais. Os colaterais até 4º grau são os
herdeiros LEGÍTIMOS FACULTATIVOS, que não recebem a herança de forma

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obrigatória, ou seja, podem ser afastados desse recebimento, bastando a vontade de


quem defere a herança (quem falece).

Ex: Paula é rica, não tem pais, filhos e é solteira. Porém, ela tem 3
sobrinhos e 2 irmãos . Basta a sua vontade para afastar o recebimento de
alguns deles. Se ela quiser deixar a herança para apenas 2 sobrinhos ela
pode! Não há qualquer irregularidade no testamento (tem que existir o
testamento!!) que fizer isso, pois ela apenas afastou a herança dos
colaterais. E se ela quiser deixar a herança para um amigo ou uma
instituição de caridade? Ela pode! Mas para tanto tem que haver a
realização de um testamento, pois se não houver testamento, esses
colaterais serão chamados pois estão na ordem da sucessão legítima.

—> COMORIENTES - ART. 8º CC - é uma ficção jurídica usada nas situações em que
não se pode determinar o momento da morte. Ex: pai e filho que falecem num acidente de
carro. Serão abertas duas sucessões diferentes, mas o filho não vai ocupar posição de
herdeiro do pai, nem o pai será considerado herdeiro do filho. Há importância de
verificação do momento da morte entre duas pessoas, pois a sucessão ocorre somente
quando for uma beneficiária ou herdeira da outra. Não há sucessão de patrimônio entre
os comorientes.

03/02/16

—> ACEITAÇÃO E RENÚNCIA DA HERANÇA: ninguém é obrigado a assumir uma


herança. Logo, a confirmação da transmissão feita pela saisine apenas se dá com a
aceitação da herança.

- ACEITAÇÃO: é o ato pelo qual o sucessor manifesta sua vontade de receber a herança
ou legado. É irretratável. (art. 1.812)
>> Espécies:

a) EXPRESSA: feita por qualquer documento escrito;


b) TÁCITA: o sucessor assume comportamentos típicos de herdeiro (1.805). Ex: pessoa
iniciou o processo de inventário.

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OBS: atos meramente administrativos e de velório não podem ser


interpretados como uma aceitação tácita. Ex: cuidar do velório, comprar o
caixão, etc. Tem que ser atos próprios dos herdeiros.

OBS2: é possível se ter uma aceitação tácita pelo fato de que o


recebimento da herança não prejudicar a esfera de direitos do herdeiro.

c) PRESUMIDA: terceiro interessado força o herdeiro a se manifestar se vai aceitar ou


não (art. 1807). Esse terceiro interessado são pessoas que, de alguma forma, detém
interesse direto de que o herdeiro receba essa herança, a exemplo do credor. Esse
terceiro pode aceitar a herança no lugar do herdeiro para saldar seu crédito. É uma
exceção, pois a regra é que o silêncio não pode ser entendido com uma manifestação de
vontade de aceitação. Há a possibilidade do terceiro interessado aceitar a herança no
lugar … (pegar no slide)

Art. 1.807. O interessado em que o herdeiro declare se aceita, ou não, a


herança, poderá, vinte dias após aberta a sucessão, requerer ao juiz prazo
razoável, não maior de trinta dias, para, nele, se pronunciar o herdeiro, sob
pena de se haver a herança por aceita.

Se o herdeiro possui um credor, esse credor tem um mecanismo de requerer ao juiz que o
herdeiro seja chamado a se manifestar acerca de aceitar ou não. Se o herdeiro não se
manifestar, surge a possibilidade de se presumir a aceitação. A lei ainda faz previsão, no
art. 1813, que quando o herdeiro renunciar a herança para prejudicar seus credores, os
credores, com autorização do juiz, podem aceita-la (não é aceitação presumida).

OBS: ACEITAÇÃO PELOS SUCESSORES (Art. 1809) - caso o herdeiro faleça antes de
aceitar a herança, seu herdeiro poderá fazê-lo:

Art. 1.809. Falecendo o herdeiro antes de declarar se aceita a herança, o


poder de aceitar passa-lhe aos herdeiros, a menos que se trate de
vocação adstrita a uma condição suspensiva, ainda não verificada.

Parágrafo único. Os chamados à sucessão do herdeiro falecido antes da


aceitação, desde que concordem em receber a segunda herança, poderão
aceitar ou renunciar a primeira.

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O caput faz menção à condição suspensiva. Sabe-se que a condição suspensiva não
cabe na sucessão legítima, mas isso pode haver no testamento. Ex: Paula deixa, em seu
testamento, um apartamento para João quando ele se formasse em medicina. Quando
Paula falece, Joao ainda não se formou em medicina. Se antes de Paula falecer, João
falecer e não se formar em medicina, não podem os herdeiros pedir a herança em seu
nome.

O parágrafo único tem que ser interpretado da seguinte forma:

Ex: João (pai) faleceu primeiro. Mateus, filho de João, faleceu antes de manifestar ou não
sua aceitação da herança de João. Mateus tinha 3 filhos. Esses filhos, nessa hipótese,
podem manifestar a aceitação (ou não) da herança de João, no lugar de Mateus. Para
tanto, será necessário, primeiro, aceitar a herança de Mateus.

A razão de ser dessa é regra é porque a renúncia é um ato de repúdio. Se o Mateus


estivesse vivo e aceitasse a herança de João, isso incorporaria seu patrimônio. Assim, o
legislador entendeu que se não houve aceitação da herança de Mateus, também não se
deseja a de João, usando o exemplo.

OBS: essa regra não tem nada a ver com o instituto da representação. Ex:
Se Mateus fosse pré-morto (quem morreu antes de quem está deferindo a
herança, que é o João), tivesse mais 2 irmãos, os seus 3 filhos seriam
chamado para receber a herança em seu nome, havendo, aqui, a
representação.

- OBSERVAÇÕES:
- §1º do art. 1808, CC - § 1o O herdeiro, a quem se testarem legados, pode aceitá-los,
renunciando a herança; ou, aceitando-a, repudiá-los.

Se o herdeiro é legatário e também testamentário, pode aceitar ou recusar uma ou outra,


ou ambas!

- §2º do 1808, CC - § 2o O herdeiro, chamado, na mesma sucessão, a mais de um


quinhão hereditário, sob títulos sucessórios diversos, pode livremente deliberar quanto
aos quinhões que aceita e aos que renuncia.
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O herdeiro pode renunciar a parte que lhe cabe no testamento e aceitar a legítima

A aceitação possui conteúdo DECLARATÓRIO e não constitutivo , pois não constitui


ninguém como herdeiro, só determinado a transmissão imediata do patrimônio.

- RENÚNCIA: é um ato solene (nunca pode ser presumida, nem tácita), pelo qual o
herdeiro abdica à herança. Exige forma escrita, por instrumento público perante o
Tabelião ou o Juiz (art. 1806).
- Só pode ocorrer APÓS A MORTE do hereditando;
- Para renunciar, o herdeiro precisa possuir capacidade jurídica plena.

OBS: Necessidade de outorga uxória? Alguns doutrinadores entendem


que quando se renuncia a herança, tem-se de uma situação de afastar algo
do patrimônio, ao passo que a outorga tem que ser mantida. Outros
defendem que não há a necessidade pelo fato de a herança ser direito
personalíssimo, além do fato de que, fora no regime de comunhão
universal, a herança não entra nos aquestos.

>> Formas de renúncia

a) ABDICATIVA: o declarante simplesmente diz que não aceita a herança ou o legado,


que será devolvido ao montante hereditária, visando a partilha entres os herdeiros
legítimos. A parte que caberia a ele volta a integrar o acervo hereditário, sendo
distribuída aos herdeiros que restarem. Aqui não haverá incidência do imposto “inter
vivos”, pois se trata de ato unilateral.

b) TRANSLATIVA: o herdeiro transfere para outra pessoa, podendo ser, por exemplo,
um outro irmão. A crítica doutrinária consiste no fato que para o herdeiro transferir
para alguém, ele tem que aceitar (e depois transferir). Para esses civilistas, o que
ocorre é semelhante a uma cessão. Nesse tipo, há incidência do imposto de
transmissão "inter vivos".

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Lívia Pacheco

>> Efeitos da renúncia

1. efeito RETROATIVO: a renúncia retroage ao dia da morte do hereditando.


2. os filhos do renunciante não herdam em seu lugar. Ex: se A renuncia a herança de B,
1 e 2 não podem representar A.
3. o renunciante pode representar o hereditando na sucessão de terceiros. Ex:
Carlos (filho) falece em 03/03 e seu filho, Marcos renuncia sua herança, ficando
apenas para os outros dois filhos. João (avô) falece em 03/10. Para a herança de
João, considerando ter um filho pre-morto (Carlos), os seus 3 netos (incluindo Marcos
que renunciou a herança de Carlos, seu pai), podem representar o pai (Carlos) na
sucessão de João!

OBS: Art. 1813:


Art. 1.813. Quando o herdeiro prejudicar os seus credores, renunciando à
herança, poderão eles, com autorização do juiz, aceitá-la em nome do
renunciante.

§ 1o A habilitação dos credores se fará no prazo de trinta dias seguintes ao


conhecimento do fato.

§ 2o Pagas as dívidas do renunciante, prevalece a renúncia quanto ao


remanescente, que será devolvido aos demais herdeiros.

É o que já vimosa hipótese de o credor aceitar a herança em nome do devedor


(herdeiros). Nesse caso, o credor irá deduzir o seu crédito, sendo o restante devolvido a
massa patrimonial dos demais herdeiros.

OBS: art. 1810 :

Art. 1.810. Na sucessão legítima, a parte do renunciante acresce à dos outros


herdeiros da mesma classe e, sendo ele o único desta, devolve-se aos da
subseqüente.

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Lívia Pacheco

Ex: Se João, que morreu, apenas tem como filho Mateus, que tem 2 filhos. Se Mateus
renunciar, seus 2 filhos a receberão, pela ordem de herdeiros preferencias. Aqui é
herança por cabeça!

OBS: a herança pode ser herdada por direito próprio, quando se ocupa a classe
de herdeiro preferencial, também chamado de herdar “por cabeça”, ou por
representação, que significa que não se está ocupando a classe, mas há o
direito de representar esse herdeiro. Herdar por representação é herdar por
estirpe, o fato de estar representado o herdeiro me leva o direito de herdar o que
em tese caberia a ele.

OBS2: art. 1811 - quando uma classe deixa de existir, a outra será chamada para
herdar:

Art. 1.811. Ninguém pode suceder, representando herdeiro renunciante.


Se, porém, ele for o único legítimo da sua classe, ou se todos os outros da
mesma classe renunciarem a herança, poderão os filhos vir à sucessão,
por direito próprio, e por cabeça.

A renúncia afasta a representação!

04/03/16

UNIDADE II
SUCESSÃO LEGÍTIMA (art. 1829, CC)

Só há preocupação em se diferenciar o que é legítima e o que é parte disponível quando


há sucessão testamentária. Logo, na sucessão legitima não há tal preocupação!

A legítima significa 50% do patrimônio de uma pessoa. Ela obrigatoriamente pertence aos
herdeiros legítimos necessários, e poderá pertencer aos herdeiros legítimos facultativos
("poderá" pois não há obrigatoriedade do recebimento pelos facultativos, que podem ser
afastados, sem qualquer ilegalidade).

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O art. 1829 estabelece uma ordem preferencial:


—> I - descendentes (em concorrência com cônjuge)
—> II - ascendentes (em concorrência com cônjuge)
—> III - cônjuge sobrevivente
—> IV - colaterais até quarto grau

OBS: A concorrência com cônjuge é uma inovação no CC de 2002.

Esse são os herdeiros determinados pela lei. A ordem é preferencial e excludente! Isto
significa que uma classe exclui a outra subsequente. Dentro de cada classe existem
graus.

Quando se fala da concorrência do cônjuge com ascendente, ela sempre vai ocorrer. Já
em relação aos descendentes, ela nem sempre vai acontecer, mas apenas em
determinadas situações previstas na lei. Herdar concorrentemente é herdar junto, ou seja,
nem tudo será entregue ao descendente, pois uma parte será do cônjuge. Existem regras
que determinam qual a parte que será entregue a um e a outro.

>> Análise dos incisos

—> Inciso I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo


se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação
obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial,
o autor da herança não houver deixado bens particulares;

Se A e B são casados no regime de comunhão universal, haverá uma massa única de


bens. Já vimos que herança é diferente de meação. Se o B falecer, o A tem direito de
retirar metade do patrimônio por direito de MEAÇÃO. Se A já retirou essa metade pela
meação e há descendentes, se o A voltasse concorrentemente para herdar, considerar-
se-ia que há bis in idem. Logo, não seria justo que houvesse concorrência. Por isso que
o inciso estabelece que se o regime de bens for o de comunhão universal, o
cônjuge não herda concorrentemente com os descendentes!

Se o regime de bens for de separação OBRIGATÓRIA - nos termos do art. 1641, CC -


também não há concorrência!
16
Lívia Pacheco

Se, porém, for a separação de bens CONVENCIONAL, não há ressalvas, ou seja, o


cônjuge herdará concorrentemente com os descendentes. Na separação de bens,
não há formação de aquestos (massa patrimonial de bens em comuns), mas isso não
significa que não possam comprar bens juntos, pois eles podem constituindo condomínio.

Por fim, o inciso traz a seguinte ressalva: no caso do regime de comunhão parcial, se o
autor da herança tiver deixado bens particulares, há concorrência! Se não tiver
deixado, não há concorrência.

EX: Quando B falece, A, por direito de meação, retira 50% dos aquestos. Aqui,
deve-se analisar o seguinte: o B poderia ter apenas deixado bens comuns com o
outro cônjuge como patrimônio - sem bens particulares - o que levaria a um bis in
idem de A caso ele voltasse para concorrer com os descendentes pela herança
(que seria a outra parte dos aquestos). Porém, se o B deixou bens particulares, a
herança deixada por B não seria apenas formada pelos antigos aquestos (bens
comuns), pois há bens particulares, pelos quais o cônjuge herdará em
concorrência com os descendentes.

—> Inciso II: aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;

Na concorrência de cônjuge com ascendente NÃO há qualquer tipo de ressalva!!


Qualquer que seja o regime de bens, quando uma pessoa falece, não possuindo
descendentes, haverá a distribuição da herança entres ascendentes e cônjuges
concorrentemente!

—> Inciso III - ao cônjuge sobrevivente;

Quando não houver descendente nem ascendente, TUDO irá para o cônjuge(mesmo que
tenha irmão etc.)!

—> Inciso IV - aos colaterais.

17
Lívia Pacheco

Os colaterais também têm graus (igual nas outras classes). O colateral só existe a partir
do 2º grau (irmão) e vai até o quarto grau. Pode ocorrer um coincidência de graus entre
tio e sobrinho, sendo que nesse caso a lei prefere o sobrinho ao tio!

O art. 1832 traz a seguinte disposição: (ler em sistematicidade com inciso I -


descendentes e cônjuges)

Art. 1.832. Em concorrência com os descendentes (art. 1.829, inciso I) caberá ao


cônjuge quinhão igual ao dos que sucederem por cabeça, não podendo a sua
quota ser inferior à quarta parte da herança, se for ascendente dos herdeiros com
que concorrer.

Ex: A e B são casados e, juntos, têm 2 filhos. Porém, A já tinha 2 filhos frutos de outro
casamento. O A morre. O regime de bens permite a concorrência. O art. não fala
especificamente sobre filiação híbrida, sendo que a solução será dada pela doutrina.
Vejamos as situações:

—> Se apenas houvesse filhos comuns: a herança seria por cabeça —> o cônjuge
ficaria com 1/3 e cada um dos filhos com 1/3 (cada um). Se fossem três filhos comuns, o
cônjuge ficariam com 1/4 da herança, e cada um dos filhos também com 1/4. A teoria
chama isso de RESERVA DA QUARTA PARTE, que apenas vai aparecer no momento da
filiação comum, mostrando-se necessária quando o casal tiver mais de 3 filhos! Isso
porque, se a divisão fosse feita por cabeça, cada um ficaria com 1/5 da herança, mas isso
não pode pela lei! Nesse caso, 25% da herança deve ficar com o cônjuge e os outros 75%
seriam divididos entre os 4 filhos!

OBS: até 3 filhos a sucessão é por cabeça, pois cada um recebe na


medida que lhe pertence, o que não ocorre quando houver a
reserva de quarta parte.

—> Se houver filiação híbrida há três correntes que explicam a situação:

1ª corrente - deve haver a reserva da quarta parte da herança para o cônjuge


sobrevivente, pois isso é uma medida de proteção ao cônjuge sobrevivente.

18
Lívia Pacheco

2ª corrente - não deve haver a reserva da quarta parte. A herança deve ser divida
por cabeça quando houver filhos híbridos, pelo fato de que o reconhecimento da
quarta parte é uma forma de prejudicar os filhos exclusivos. Essa é a corrente
majoritária! Não há reserva da quarta parte e a herança será por cabeça.

3ª corrente - Teorias da Sub-Herança. É uma teoria pouco utilizada, pois é calculo


é muito complexo. Acaba diferenciando os filhos, pois ela separa a herança dos
filhos comuns dos exclusivos, por isso é alvo de muitas críticas.

Ex: A e B são casados. Em comum têm 3 filhos e B tem 2 filhos exclusivos. Se o B morre,
segundos as correntes, ocorre o seguintes: i) pela primeira corrente, ao A caberia 1/4 da
herança e o restante seria dividido aos 5 filhos; ii) majoritária - todos receberiam a
herança por cabeça, ficando cada um com 1/6 da herança.

OBS: quando não há filhos em comum, sendo apenas filiação híbrida não cabe falar em
reserva da quarta parte!

O art. 1838, CC traz a hipótese de quando não há descendente nem ascendente, de moo
que tudo será herdado pelo cônjuge, em razão da ordem de preferência do art. 1829! Não
se trata de uma vontade de quem morreu, mas de uma determinação legal: Art. 1.838. Em
falta de descendentes e ascendentes, será deferida a sucessão por inteiro ao cônjuge
sobrevivente.

OBS: não confundir que aquelas regras de regime de comunhão (quando vai herdar
concorrentemente ou não) é apenas no caso de descendentes concorrendo com
ascendentes! Não sendo aplicadas em outras situações. A ressalvas apenas são devidas
na concorrência entre cônjuges e descendentes.

O art. 1839 traz a hipótese do chamamento dos colaterais na ordem de preferência para
herança: Art. 1.839. Se não houver cônjuge sobrevivente, nas condições estabelecidas no art.
1.830, serão chamados a suceder os colaterais até o quarto grau.

O art. 1840 traz uma ressalva importante: Art. 1.841. Concorrendo à herança do falecido
irmãos bilaterais com irmãos unilaterais, cada um destes herdará metade do que cada um
daqueles herdar.
19
Lívia Pacheco

Sabe-se que o filho pode representar o pai, por exemplo, no recebimento da herança, de
forma que o recebimento será por estirpe.

Exemplo representação:

Só existe representação na linha de descendência, nunca em ascendência!

Do mesmo modo, a regra é que não cabe representação em linha colateral, mas a lei vai
fazer a ressalva! Porém, no que tange aos colaterais, a lei fez uma exceção, ao fazer
surgir entre os colaterais o direito de representação.

Ex: João tinha 2 irmãos, Pedro e Carlos. Carlos tem 2 filhos. Carlos morre (pré morto).
Logo depois, João morre: não tem ascendentes, não tem descendentes, nem cônjuge:
tem apenas um irmão (Pedro) e 2 sobrinhos (filhos de Carlos). Pela regra, o colateral mais
próximo é Pedro e ele herdaria, porém, ai entra a ressalva do 1840, na qual surge o
direito de representação para uso sobrinhos, no sentido que poderão representar o pai
(pré-morto) na herança do tio. Nesse caso, da herança de João, 1/2 iria para Pedro e 1/2
para os sobrinhos (cada um ficando com 25%).

Essa representação apenas será aplicável se quem morreu tiver irmãos. Se os irmãos
não existirem (pre mortos), tudo será passado aos sobrinhos.

Se no mesmo exemplo, o Carlos tivesse renunciado a herança de João, seus filhos não
teriam o direito de representa-lo. Mas se os filhos de Carlos tivessem renunciado sua
herança, eles poderiam representá-lo na herança de João. ATENÇÃO: Mesmo com a
renúncia de Carlos, seus filhos ainda poderiam herdar (na sorte) caso todos os irmãos
não pudessem herdar (por algum motivo), ai eles herdariam por cabeça (pois a classe de
cima deixou de existir). A classe toda tem que sumir por renuncia ou todos pré mortos! Só
vão herdar por direito prórpio caso a classe de cima toda deixar de existir por renuncia ou
pre morte) ou então por motivos diversos, mas não haja mais ninguém para suceder).

20
Lívia Pacheco

O art. 1841 traz outra regra, quando há irmãos (colaterais), bilaterais e unilaterais:
“Concorrendo à herança do falecido irmãos bilaterais com irmãos unilaterais, cada um
destes herdará metade do que cada um daqueles herdar"

Ex: A e B (pais) são pré mortos. Em comum A e B têm 3 filhos (1, 2 e 3). B
tem 2 exclusivos (4 e 5). 1 falece. Por essa regra do 1841, se a herança de
1 fosse de 900 mil, o 2 e o 3 receberiam 300 mil cada! O 4 e o 5 recebiam
metade do que 2 e 3 receberam, ou seja, 150 mil cada.

De forma complementar, o art. 1842 faz previsão de quando apenas há irmãos


unilaterais: “Não concorrendo à herança irmão bilateral, herdarão, em partes iguais, os
unilaterais”.

Ex: No exemplo acima, se o 1 não possuísse o 2 e o 3 como irmãos, 4 e 5


herdariam normalmente, ou seja, 450 mil cada um.

Também há a regra do art. 1843, que traz a hipótese da não existência de irmãos, na qual
a preferencia será pelos sobrinhos ao invés dos tios: “Na falta de irmãos, herdarão os
filhos destes e, não os havendo, os tios”

O parágrafo 1º traz a hipótese de quando apenas há filhos de irmãos falecidos, os quais


todos herdarão por cabeça:“§1º Se concorrerem à herança somente filhos de irmãos falecidos,
herdarão por cabeça"

Pelo §2º a regra se mantém, herdando por cabeça: "§ 2o Se concorrem filhos de irmãos
bilaterais com filhos de irmãos unilaterais, cada um destes herdará a metade do que herdar cada
um daqueles.”

§ 3o Se todos forem filhos de irmãos bilaterais, ou todos de irmãos unilaterais, herdarão


por igual.

(falta falar da sucessão por linha!) Exercícios

21
Lívia Pacheco

16/03/16

1.1 EXCLUÍDOS DA SUCESSÃO:

Quando se fala que uma pessoa é incapaz para herdar, tem-se uma pessoa que se
apresenta/é incluído como um herdeiro indigno ou deserdado. O herdeiro renunciante
não se enquadra aqui, de modo que é um ato voluntário do herdeiro (por vontade propor
se afasta a herança), tendo efeitos ex tunc e atingindo os herdeiros.

A saisine opera a transmissão ficttia, mas não confirma a condição de herdeiros, que
apenas será confirmada posteriormente: com sua aceitação e verificação da inexistência
de causa de indignidade ou deserdação.

- INDIGNIDADE é a “destituição do direito de suceder ao herdeiro que se conduziu mal


em relação ao de cujus”. Não é proveniente da vontade do falecido. Ela é reconhecida
por meio da ação dos herdeiros interessados.

- Somente aqueles que se mostram interessados diretamente na sucessão de


alguém, poderão acionar o Estado a dim de declarar a indignidade de algum
herdeiro. São essas pessoas que têm legitimidade de alegar a indignidade. Não é
pacífico na doutrina a legitimidade do MP. Alguns entendem que ele só poderia ser
parte legítima se houvesse omissão dos herdeiros. Contudo, há o Enunciado n. 116 do
CJF, que coloca que sempre que houver interesse público, o MP poderá agir.

OBS: tem que se interpretar o termo “interesse público” - ex:


interesse de menor, pessoas incapazes.

Se for uma herança com um único herdeiro e esse incorreu em causa de indignidade,
também haveria legitimidade do MP.

Em regra tanto os deserdados quanto os indignados são afastados da sucessão, mas


existem algumas diferenças.

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Lívia Pacheco

INDIGINIDADE (ART. 1814 E SS) DESERDAÇÃO (ART. 1962 E SS)

—> Independe da vontade do falecido —> Ato de vontade do testador;

—> Peculiar à sucessão legítima, podendo —> Só ocorre na sucessão testamentária. Só


alcançar legatários quem tem poder de deserdar alguém é o
testematário! Nunca vai ocorrer na legítima.

—> Vontade presumida do falecido —> Vontade efetiva do falecido

—> Os motivos nem sempre serão anterior à —> Os motivo serão sempre anteriores à
morte morte

—> Deve ser confirmada por sentença (art. —> Deve ser confirmada por sentença (art.
1815) 1965)

—>Causas: art. 1814 —> Causas exclusivas de deserdação - art.


1962

O art. 1814 disciplina as causas da indignidade! Algumas vão se confundir com as causas
da deserdação, mas há algumas que são exclusivas.

Ex: Inciso II - é possível que após o falecimento de uma pessoa, o


herdeiro, por meio de uma calunia, afete a honra do de cujus. Se o herdeiro
assim proceda, os herdeiros poderão propor uma ação de indignidade.

No casa da ação de indignidade, os herdeiros devem provar a causa que levou a


determinado ser indigno, e, portanto, afastado da herança.

Mesma que a deserdação seja a vontade expressa do testador, ainda assim tem que se
verificar a ocorrência da hipótese de caso que ensejou a deserdação após a morte,
justamente por seu algo muito grave (afasta de uma garantia fundamental).

Não há possibilidade de qualquer ação para se reconhecer a indignidade ou deserdação


de um herdeiros antes da morte! Isso porque é possível que haja o perdão dessa
indignidade ou deserdação. A retratação pode ser feita por testamento ou escritura pública
(tem que estar expresso).

23
Lívia Pacheco

Ex: Paula deserdou seu filho em testamento, pelo fato de ter tentado mata-
la. Esse testamento foi registrado. Os anos passaram e Paula mudou de
ideia. Ela fará um novo testamento, mudando as clausulas, o perdoando,
colocando que deseja que o filho participe da sucessão. Caso fosse uma
situação de indignidade, ou seja, o herdeiro tenha intentado contra a sua
vida, mas ela não a deserdou. Ela sabe que os outros filhos vão entrar com
a ação de indignidade. Paula, porém, perdoou o filho, fazendo um
testamento ou uma escritora pública na qual afirma que perdoou o filho
nesse ato de indignidade.

OBS1: tanto a deserdação quanto à indignidade excluem o herdeiro da sucessão


completamente, até da legítima!

OBS2: nesse caso, a esfera cível tem poder para investigar os fatos, por exemplo
numa questão de homicídio. Assim, em tese, não há obrigatoriedade de se esperar
o trânsito em julgado da sentença criminal. Mas isso é bastante controverso.

OBS3: só podem ser propostas após a morte! Alguns, porém, discutem as


possibilidade de medidas cautelares para a produção de prova antecipadas dos
fatos ocorridos. Isso serve para não s perder a possibilidade de comprovar o que a
pessoa fez. Quem não apoia essa corrente parte da máxima de que não discute
herança antes da morte.

OBS4: Indignidade ≠ incapacidade: A indignidade é uma sanção! É alguém que


não merece participar da sucessão. Obviamente, não é isso.

OBS5: Os efeitos da indignação e da deserdação são pessoais aos herdeiros:


quando se renuncia uma herança, o herdeiros serão atingidos. Porém, se for
considerado indigno ou deserdado, não afetará seus herdeiros!

Ex: Herdeiros 1, 2 e 3 estão na sucessão de A. 2 tem x e y como


filhos. Se 2 for considerado indigno ou então for deserdado, x e y
poderão representá-lo na sucessão de A.

Atenção ao parágrafo único do art. 1816, CC:


24
Lívia Pacheco

Art. 1.816. São pessoais os efeitos da exclusão; os descendentes do herdeiro


excluído sucedem, como se ele morto fosse antes da abertura da sucessão.

Parágrafo único. O excluído da sucessão não terá direito ao usufruto ou à


administração dos bens que a seus sucessores couberem na herança, nem à
sucessão eventual desses bens.

Ex: No mesmo exemplo acima, imagine-se que x e y sejam menores de idade (ou
incapazes), mas receberam bens - 2 casas para cada- provenientes da sucessão
de A, na qual 2 foi excluido por indignidade (receberam por representação). Por
serem menores, não podem administrar os patrimônios que receberam. O 2, como
é indigno, também não poderá administra. Nesse caso, o juiz analisará a situação:
se o 2 tiver um companheiro (ascendente de x e y), ele será o responsável; caso
não haja esse ascendente, o juiz nomeará um curador para esse bem!

Ex2: Ainda no mesmo caso, imagine-se que x e y tem 10 e 8 anos,


respectivamente. Quando y completa 15 anos ele falece. Nesse caso, a casa que
ele recebeu pela herança de A, não poderá ser herdada por 2! Isso é a vedação à
sucessão eventual.

O art. 1818 também traz previsão importante:

Art. 1.818. Aquele que incorreu em atos que determinem a exclusão da herança será
admitido a suceder, se o ofendido o tiver expressamente reabilitado em testamento, ou em
outro ato autêntico.

Parágrafo único. Não havendo reabilitação expressa, o indigno, contemplado em


testamento do ofendido, quando o testador, ao testar, já conhecia a causa da indignidade,
pode suceder no limite da disposição testamentária.

Já vimos que as cláusulas do testamento posterior (mais recente) é que devem ser
cumpridas.

25
Lívia Pacheco

Ex: O filho de Paula tentou envenena-la. Ela sabe que isso aconteceu e
passado um tempo ela faz um testamento que não o deserda, mas o
constitui como herdeiro de um legado (ex: um terreno). Pelo parágrafo
único, se Paula age dessa forma, o legislador entende que os demais
herdeiros terão o direito de afasta-lo da sucessão legítima, contudo ele
continuara recebendo o legado. Agora, se o testamento foi anterior ao fato
ocorrido (tentativa de envenenar), esse herdeiro pode ser afastado de toda
herança pelos demais herdeiros.

Em regra geral, não há a possibilidade do perdão tácito, tendo que ser expresso. Alguns
autores, porém, chama essa previsão do parágrafo único do art. 1818 de perdão tácito. A
crítica é que se assim fosse entendido, deveria ocorrer um perdão a toda herança e não
apenas ao legado. Não é esse o entendimento que prevalece.

(exercícios - importantes!)

31/03/16

1.2 ROMPIMENTO DE TESTAMENTO

—> ARTS. 1973 a 1975

Art. 1.973. Sobrevindo descendente sucessível ao testador, que não o tinha ou não
o conhecia quando testou, rompe-se o testamento em todas as suas disposições,
se esse descendente sobreviver ao testador.

Já vimos que aos herdeiros legítimos necessários, a legitima deve ser obrigatoriamente
respeitada! Se apenas houver herdeiros facultativos, a legitima não precisa ser
observada, podendo ultrapassar o valor ou então dispor de todo o patrimônio.

Ocorre que há hipóteses em que o testamento feito será rompido, conforme dispõe o CC.
Uma dessas situações é o art. 1973. Trata-se da hipótese de após a realização do
26
Lívia Pacheco

testamento, sobreviver descendente sucessível ao testador, que não tinha ou não


conhecia quando testou. Isso porque o legislador coloca que se à época do testamento, o
autor do testamento não teria assim feito se soubesse da existência do herdeiro. Assim, o
testamento será rompidos em todas as suas clausulas! Tudo será rompido! A única
ressalva a isso é caso haja alguma cláusula no testamento que importe em
reconhecimento de paternidade, pois essa continuara valendo.

É necessário que no momento que se redigiu o testamento não se tinha ou não se


conhecia o herdeiro.

Ex: Paula faz um testamento no ano 2000. Em 2002, seu filho nasce. Em 2003 ela morre.
O testamento foi rompido.

OBS: a lei vigente ao tempo de realização do testamento é que será


aplicada. Em relações à legitima e herdeiro, deve-se considerar a lei
vigente à época da abertura do testamento. Ex: pessoa que fez um
testamento era relativamente incapaz, não podendo fazer um testamento,
mas mesmo assim ele fez. Mesmo que depois de um tempo passe a ter a
capacidade plena e depois morra, na abertura da eu testamento ele será
inválido.

O art. 1974 faz menção ao não conhecimento de outros herdeiros necessários, sendo
ascendente ou cônjuge.

Já o art. 1975 coloca que o se o testador dispuser da metade, não contemplando os


herdeiros necessários que conhecia, o testamento será válida.

(confirmar a situação: pai fez o testamento tendo um filho. nasce outro filho. pai morre. o
testamento é válido ou não? pela regra será válido)

(prof disse que não vai cobrar rompimento na primeira prova, pois vai reforçar o assunto
na sucessão testamentária)

07/04/16
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Lívia Pacheco

1.3 SUCESSÃO DO CÔNJUGE E COMPANHEIRO

—> ART. 1790 X ART. 1829

Quando se trata de matéria sucessória, há uma divergência entre o art. 1790 e o art.
1829, CC:
Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro,
quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas
condições seguintes:
I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por
lei for atribuída ao filho;
II - se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade
do que couber a cada um daqueles;
III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um terço da
herança;
IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da herança.

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: […]

Em nenhum momento até aqui vimos a questão do companheiro. Ocorre que o art. 1790
trata do companheiro. O enunciado do art. já traz um ponto diferenciado entre
companheiro e cônjuge. O cônjuge pode participar da sucessão de outro não apenas em
razão da meação, dos bens formados durante a união, mas como herdeiro necessário,
concorrendo inclusive com os decendentes, dependendo de outros fatores, como o
regime de bens, a existência ou não de descendentes etc. Já o companheiro tem direito
aos bens adquiridos onerosamente durante a convivência em união estável.

O inciso I retira a possibilidade de aplicação da reserva da quarta parte para o caso de


companheiro. No cônjuge, com já vimos, existe a reserva da quarta parte (que é uma
garantia que o legislador atribuiu ao cônjuge). Se ele estiver concorrendo com filhos
comuns, todos herdarão por cabeça em partes iguais.

Pelo inciso II, tem-se que quando o cônjuge concorre com filhos exclusivos do autor da
herança, entende-se que não reserva da quarta parte e a herança é distribuída por
cabeça. O companheiro não terá esse mesmo beneficio, pois ele receberá a metade do
que couber ao descendente (filhos exclusivos do autos da herança).

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Lívia Pacheco

O inciso IV significa que o companheiro não concorre com os colaterais e que não tem
nenhum direito de preferência sobre nenhum colateral. Se quem faleceu tiver colateral até
4º grau vivo, será essa pessoa a contemplada. (dúvida: ele concorre ou não concorre e o
art. só fala da preferencia?)

Assim, a forma que a lei considerou o companheiro é totalmente diferente da forma que
ela contemplou o cônjuge, que é um herdeiro necessário! O tratamento do cônjuge é
muito mais "benéfico" do que ao companheiro, e isso é passível de muitas discussões,
pois a CF iguala a situação de companheiro e cônjuge. (tema do trabalho). Questionou-se
então se o art. 1790, ao colocar essa distinção sucessória, estaria ferindo a CF.

Há uma grande doutrina que o reconhece como inconstitucional, colocando que a CF ao


reconhecer a união estável como entidade familiar estaria criando um patamar de
igualdade entre o casamento e a unidas estável!

Há porém defensores da constitucionalidade do art. Para eles, a CF ao reconhecer a


união estável como família, não excluiu a possibilidade de existirem diferenças entre
casamento e união estável e essa seria uma delas.

O STF ainda não se manifestou na ADI em trâmite que fala isso.

08/04/16

1.4 CESSÃO DE DIREITOS HEREDITÁRIOS

Quando se assume a condição de herdeira, tem-se um direito personalíssimo, de forma


que não pode ser transferido para outra pessoa. A condição de herdeiro não pode ser
transferida, mas a cessão de direitos hereditários permite a transmissão dos direitos que
se tem com uma herança.

- Arts. 1793 a 1795;

- A cessão dos direitos hereditários pode ser gratuita ou onerosa, compreendendo


o todo ou parte do quinhão da herança. O herdeiro transfere seus direitos
29
Lívia Pacheco

patrimoniais e não sua condição de herdeiro. Quando é gratuita, ela equivale a uma
doação, e quando onerosa tem equivalência a um contrato de compra e venda. A
importância disso é para situações como a essa: em que, se por ventura, algum irmão
decidir renunciar a herança e por direito de acrescer essa parte volta a integrar o
monte, se a cessão for antes dessa renúncia, a parte dele que irá acrescer apenas
pertencia ao herdeiro e não àquela que comprou direitos hereditários.

- A cessão não poderá contemplar bem determinado (§2º do art. 1793). Somente
após a partilha é que se pode alienar coisa individualizada.

Inicialmente, a herança de uma pessoa é considerada uma massa única de bens,


indivisível, unitária e considerara bem imóvel. Se ainda não ocorreu a partida de bens,
todos os herdeiros são condôminos, não podendo ceder um bem especificamente, pois
não se tem exclusivamente um bem.

Essa cessão de direitos (antes da efetiva partilha) é sempre um risco: Se a cessão for
feita de um bem específico e a pessoa (terceiro) aceita e celebra o negócio—> se ao final
o bem ficar com o herdeiro cedente, o negocio está válido. Se o bem não ficar com o
herdeiro cedente, o negocio não será eficaz. Não sendo eficaz. o terceiro irá perder o
bem, não surgindo para ele qualquer tipo de indenização/ perdas e danos (é diferente da
situação de compra e venda). Esse raciocínio é apenas válido para a cessão onerosa.

- O herdeiro que deseja ceder seus direitos hereditários, deverá primeiro oferece-lo
aos demais co-herdeiros (arts. 1794, 1795, 1791, p. único).

Existe um direito de preferência entre os demais herdeiros. Sempre que um herdeiros


quiser ceder seus direitos, ele deverá primeiro oferece-los aos demais herdeiros. Se for
uma cessão onerosa e o herdeiro que quer ceder não respeitar essa preferência, os
demais podem se falar de mecanismos contra isso.

- Para o legatário não há o direito de preferência, pois este sucede a título singular,
recebendo um bem individualizada da herança, não gerando condomínio.
-

30
Lívia Pacheco

Quanto ao legatário, não se tem o direito de preferência. Se se é legatário não se tem


direito sobre uma herança, mas sobre um bem específico. O legatário (pessoa) não tem
direito de preferência se um dos herdeiros legítimos cederem parte da herança.

- OBS: pessoas beneficiadas com um único legado - art. 1795 - Ocorre que no legado,
o falecido pode constituir legado de um único bem para mais de uma pessoa,
estabelecendo-se um condomínio entre esses legatários. Se um desses legatários
quiser ceder os seus direitos sobre esse bem, ele terá que respeitar o direito de
preferência do outro co-legatário.

- Se for gratuita, a cessão equipara-se à doação; se realizada de forma onerosa,


equipara-se à compra e venda.

Atenção: as regras de alienação (só onerosa) de bens imóveis ser válidas para a cessão
de direitos hereditários.

>> Análise dos arts.

Art. 1.793. O direito à sucessão aberta, bem como o quinhão de que disponha o
co-herdeiro, pode ser objeto de cessão por escritura pública.

Sucessão aberta é quando a pessoa falece e a sucessão é aberta, quando, inicialmente,


não há ainda a individualização dos bens que compõem o patrimônio. É uma sucessão
que ainda não é conhecida nos seus mínimos detalhes —> é um direito à sucessão
aberta. É o momento quando se tem uma massa de bens indivisível, unitária e imóvel. É
quando não se conhece os bens. Quando se conhece os herdeiros e os bens que estão
nesse patrimônio, a sucessão terá características que não tinha antes.

§ 1o Os direitos, conferidos ao herdeiro em conseqüência de substituição ou de


direito de acrescer, presumem-se não abrangidos pela cessão feita anteriormente.

É a situação de um dos co-herdeiros falecer ou renunciar após a cessão, que quem


receberá não é quem adquiriu a os direitos, mas ao próprio herdeiro.

31
Lívia Pacheco
§ 2o É ineficaz a cessão, pelo co-herdeiro, de seu direito hereditário sobre
qualquer bem da herança considerado singularmente.

Situação em que o herdeiro cede um bem específico e ao final da partilha não fica com
ele — negócio ineficaz.

§ 3o Ineficaz é a disposição, sem prévia autorização do juiz da sucessão, por


qualquer herdeiro, de bem componente do acervo hereditário, pendente a
indivisibilidade.

Esse parágrafo elucida a impossibilidade de cessão antes da partilha, pois todos são
condôminos.

Ex: Há 4 irmãos, dentre eles há Paula. Paula tem um problema de saúde e precisa fazer
um tratamento fora do Brasil. Ela não pode fazer a cessão dos direitos hereditários, nem
de bem do acervo pois ela não tem o bem especifico (não tem a propriedade). Ela pode,
porém, pedir uma autorização judicial. Normalmente, o juiz chamará outros os herdeiros
para se manifestarem, mas ele pode fazer isso de ofício sem ouvir ninguém. Outra
hipótese é quando todos os herdeiros concordarem, essa cessão será autorizada e
eficaz.

OBS: a cessão não precisa ser de todos os direitos, podendo ser de parte
dela, o que deve ficar especificado no contrato de cessão. Pode-se ceder
apenas um bem específico herdado, e se essa casa não ficar com a
pessoa que cedeu, essa pessoa a perderá - é um risco.

Art. 1.794. O co-herdeiro não poderá ceder a sua quota hereditária a pessoa
estranha à sucessão, se outro co-herdeiro a quiser, tanto por tanto.

Refere-se ao direito de preferência.

Art. 1.795. O co-herdeiro, a quem não se der conhecimento da cessão, poderá,


depositado o preço, haver para si a quota cedida a estranho, se o requerer até
cento e oitenta dias após a transmissão.

32
Lívia Pacheco
Parágrafo único. Sendo vários os co-herdeiros a exercer a preferência, entre eles
se distribuirá o quinhão cedido, na proporção das respectivas quotas hereditárias.

Na cessão gratuita, defende-se que não há esse direito de preferencia (é o


posicionamento majoritário). Mas se essa cessão se constituir uma fraude, o negocio será
nulo.

(pegar explicação desse 1795)

1.5 HERANÇA JACENTE E VACANTE

- Art. 1819:

Art. 1.819. Falecendo alguém sem deixar testamento nem herdeiro legítimo
notoriamente conhecido, os bens da herança, depois de arrecadados, ficarão sob
a guarda e administração de um curador, até a sua entrega ao sucessor
devidamente habilitado ou à declaração de sua vacância.

Se não houver nenhum interessado em receber a herança, ela será entregue ao Estado!
Como que esses bens serão entregue ao estado? Não é tão simples assim (não tem
ninguém para herdar, vai para o estado).

Se existir testamento, ele é suficiente para considerar uma pessoa como herdeiro apto a
receber o patrimônio.

OBS: a pessoa pode fazer um testamento deixando alguns bens ou uma


parte do patrimônio para uma pessoa, mas o resto ficar sem ninguém, a
esse resto também dá-se a destinação ao estado (conforme veremos).

Primeiro, diante da inexistência de herdeiros, o juiz deve fazer um arrecadamento dessa


herança, dos bens. Esse primeiro momento é chamado de herança JACENTE.

- Herança jacente é aquela em que inexistem herdeiros com direito sobre ela, ou
quando todos os herdeiros tenham renunciado a herança.

33
Lívia Pacheco

A herança jacente, então, também pode ocorrer quando todos os herdeiros renunciaram e
não há mais ninguém para herdar!

OBS: se não há herdeiros, mas há um parente de 5º grau, não será


ele que irá herdar. A herança vai para o Estado.

Somente ao final desse procedimento é que a herança será considerada vacante e ser
entregue ao Estado.
- Vacante é a herança que não possui sucessores e os bens são entregues ao ente
público determinado pela lei.

—> JACÊNCIA:

- Fase de arrecadação de bens - art. 1818:

Art. 1.818. Aquele que incorreu em atos que determinem a exclusão da


herança será admitido a suceder, se o ofendido o tiver expressamente
reabilitado em testamento, ou em outro ato autêntico.

Parágrafo único. Não havendo reabilitação expressa, o indigno,


contemplado em testamento do ofendido, quando o testador, ao testar, já
conhecia a causa da indignidade, pode suceder no limite da disposição
testamentária.

O juiz, nessa fase, faz um levantamento dos bens existentes de determinada pessoa.
Encontrando os bens, será nomeado um curador, que será remunerado. Essa pessoa fica
na administração desses bens, com todos os direitos e deveres de curador (ex: os frutos
deverão ser depositados, prestação de contas).

- Fase de Publicação de Editais - art. 1820:

Art. 1.820. Praticadas as diligências de arrecadação e ultimado o inventário, serão


expedidos editais na forma da lei processual, e, decorrido um ano de sua primeira
publicação, sem que haja herdeiro habilitado, ou penda habilitação, será a
herança declarada vacante.

34
Lívia Pacheco

Após a arrecadação dos bens, são expedidos editais justamente para se tentar encontrar
possíveis herdeiros. Eles exigem que alguns prazos sejam respeitados para o
aparecimento de herdeiros. Não é um prazo ad eternum. Pelo CPC antigo era 30 dias - 60
dias - 90 dias.

- Possibilidade do herdeiro se habilitar durante a fase de arrecadação dos bens:


conversão da arrecadação em inventário - O herdeiro pode se habilitar durante a
fase de arrecadação e se eles forem legítimos, o que processualmente estaria sendo
considerado uma arrecadação passa a ser um inventário. Até quando os herdeiros
podem/precisam se habilitar:
—> Para os herdeiros colaterais, a corrente majoritária coloca que eles
devem se habilitar antes da declaração de vacância, se for depois não
teriam direto à herança.
—> Para os herdeiros necessários há uma discussão, pois a regra não é
clara. A doutrina que tende a ser majoritária entende que eles poderiam se
habilitar até um prazo de 5 anos após a declaração de vacância, ficando o
estado, nesse período, com a propriedade provisória.

14/04/16

Existem alguns autores que discutem a possibilidade de usucapião da herança jacente


e vacante. Quando da herança jacente, coloca-se que é possível a usucapião, pois elas
ainda não pertencem ao estado. Essa é a posição majoritária. Depois da declaração de
vacância, porém, não se pode mais usucapir, pois o bem já passou para a propriedade
Estado.

29/04/16

UNIDADE III
SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA

Quando uma pessoa falece, em tese considera-se que 50% de seu patrimônio compõe a
legítima e 50% compõe a parte disponível.

35
Lívia Pacheco

A legítima está intimamente ligada ao direito fundamental à herança. A legítima existe


justamente para garantir o cumprimento desse direito fundamental.

Por isso que se estuda os institutos da renúncia (ato unilateral, manifestação de vontade),
da indignidade e da deserdação (hipóteses de exclusão - que o legislador compreende
como não compatíveis para pessoas da mesma família, sendo causas de exclusão), pois
essas são as únicas formas de se afastar os herdeiros legítimos necessários que teriam o
direito fundamental à herança. A lei permite que essas pessoas sejam privadas a exercer
esse direito fundamental de herança, podendo ser excluídos.

Com relação à sucessão testamentária, as mesmas causas de renúncia e exclusão


são válidas (indignidade e deserdação). Quanto ao herdeiro testamentário, é difícil
pensar numa hipótese de deserdação, pois são situações que não ocorrem na prática,
isso porque no Brasil já não há uma cultura testamentário, além do fato de que somente
seria possível pensa-la no caso de eu fazer um primeiro testamento e posteriormente
fazer um segundo deserdando quem havia sido constituído no primeiro.

OBS: Não é muito correto falar em direito fundamental à herança advindo


da herança para o herdeiro que não é legítimo, sendo somente
testamentário. A partir do momento que ele é constituído como herdeiro
testamentário ele passa a ter direito à herança, mas não se pode falar em
direito fundamental ao herdeiro que é só testamentário.

A questão do testamento surge ainda nas famílias romanas, na existência do pater


família, que dava todas as ordens e geria a família. Quando ele morria gerava uma
situação de insegurança muito grande. Quando ele deixava um texto dando orientações
quando ele morria isso era visto como uma verdadeira "graça divina".

A transmissão, na sucessão testamentária, ocorre por exclusiva vontade do próprio


falecido. Mas dentro das regras de testamentos, como veremos, existem disposições
restritivas e interpretativas, de modo que, em algumas situações, essa vontade não vai
conseguir ser integralmente cumprida.

36
Lívia Pacheco

1. HERDEIROS TESTAMENTÁRIOS UNIVERSAIS E HERDEIROS LEGATÁRIOS


(SINGULAR)

Dentro do testamento, pode-se ter herdeiros universais e herdeiros legatários, que são
os herdeiros a título universal. Se pudéssemos classifica-los em um grande grupo, ambos
são herdeiros testamentários, pois são constituídos por meio de um testamento, mas
como a natureza jurídica da destinação/ da forma como irão receber os bens irão variar
em alguns elementos, é necessário fazer uma subdivisão.

O herdeiros testamentários à titulo universal é aquele que recebe uma porção do


patrimônio deixado pelo testador. Já o herdeiro legatário é aquele que também é
constituído por meio de testamento a receber um bem determinado, individualizado.

Não é que o herdeiro legatário não seja testamentário, pois ele é, sendo constituído em
testamento! Porém, irá receber um bem específico e não a universalidade do patrimônio!

Já o herdeiro testamentário universal é tão testamentário quanto o legatário, porém o


testamentário universal recebe a universalidade do patrimônio.

São formas distintas de recebimento da herança, o que faz toda diferenças, redução das
cláusulas testamentárias, pois há uma proteção maior ao legado, pela vontade do
testador ser entendida como clara e determinada!

Deve-se salientar que quando é necessário reduzir as cláusulas testamentárias, por ter o
testador extrapolado a parte disponível, primeiro se reduz as cláusulas referentes aos
herdeiros testamentários universais, para só depois reduzir as cláusulas legatárias.Só se
adentrará o legado se for necessário.

2. CARACTERÍSTICAS

a) ATO PERSONALÍSSIMO: ato que expressa a vontade do testador. Não é possível que
ele feito mediante procuração, mesmo que seja procuração específica para isso! A única
possibilidade é de que se for um testamento público pode-se ter alguém transcrevendo as
clausulas enquanto o testador as dita ou leva um “rascunho”. Nesse caso sempre é
37
Lívia Pacheco

necessário ter testemunhas para confirmar o que foi dito. Isso não afasta ser um ato
personalíssimo.

b) NEGÓCIO JURÍDICO UNILATERAL: quando se faz o testamento não tem que ter a
concordância nem anuência de quem está sendo contemplado no testamento, e
nem dos herdeiros legítimos! A única coisa é que não se desrespeite a legítima! Óbvio
que ao ser aberto/conhecido, o contemplado terá o herdeiro o direito de se manifestar,
aceitando ou não, o que não desconfigura o ato como unilateral, pois a única
conseuqenua é que a clausula não será cumprida.

—> PROIBIÇÃO DO PACTO SUCESSÓRIO (art. 426 do CC): é a possibilidade de uma


pessoa (testador) contemplar outra em seu testamento, desde que essa outra também a
contemple em seu testamento - ou algum filho, parente dela (é combinar que só vai deixar
algo no testamento se a outra deixar). Qualquer tipo de pactuação acerca de
testamentos não é válido.

O fundamento para essa ilegalidade, com base no art. 426, é a vedação de contrato
sobre herança de pessoa viva, pois o primeiro pressuposto para ser o herdeiro de
alguém é estar vivo após a morte do hereditando. Assim, o pacto sucessório gera um
tipo de contrato/ajuste que ainda não morreu, não sendo considerado válido pela
legislação brasileira.

OBS: é possível o estabelecimento de substituto testamenteiro. Ex: Deixo


minha casa para João, mas se ele não estiver vivo quando da abertura
desse testamento, deixo a casa para José.

—> PROIBIÇÃO DE TESTAMENTO CONJUNTIVO (art. 1863 CC): simultâneo,


recíproco ou correspectivo: As hipóteses apresentadas como testamento conjuntivo
configurariam pacto sucessório! Por isso há vedação. Testamento conjuntivo é quando se
faz um testamento com outra pessoa. Ele acaba que configura um pacto sucessório, pois
ele é feito vinculado a outra pessoa. Pode ser:
- simultâneo: pactua-se beneficiar uma mesma pessoa. Ex: Livia e Paula compactuam
que deixarão um apartamento (que cada uma tem a metade) para Carolina e no
testamento colocar “Eu (Lívia) e Paula, em condomínio, deixamos nossas partes do
apartamento para Carolina".
38
Lívia Pacheco

OBS: os exemplos que estamos vendo aqui são de situações


expressas, em que a redação do testamento deixa clara essa
pactuação. Porém se houver como provar que houve uma
compactuação no plano fático, mesmo não expresso no testamento,
também será configurado o pacto sucessório, com a anulação da
parte do testamento que foi pactuada, ou então todo ele.

- recíproco: é quando se deixa algo num testamento desde que a outra faça alguma
coisa ou deixe alguma coisa para o testador. Ex: deixo meu apartamento da Praia da
Costa para Carol desde que ela deixe o apartamento de GP para mim (com o Romeu).

- correspectivo: é quando se deixa algo no testamento para alguém em razão de um


ajusto em decorrência de determinado fato, tendo algo em troca. Ex: Se Carol se casar
com Maimeiri, eu deixo uma casa para eles. Ai Carol coloca no testamento dela que,
desde que eu deixe um apartamento para ela em razão do casamento, ela deixará seu
apartamento para mim.

OBS: Para ser pacto sucessório, tem que existir um ajuste. Se for
mero ato de vontade, não configura. EX: o casal pode ir junto ao
cartório fazer seus testamentos e não necessariamente será
configurado pacto sucessório. É no caso concreto que se analisa.
Deve parecer que houve algum tipo de ajuste.

12/05/16 (dilma caiu!)

c) ATO SOLENE OU FORMAL (exceções – art. 1896): a análise de um NJ como solene


não é sinônimo de que precisa ser por escritura pública. Solenidade, em tese, se refere a
algo (requisito) que o Estado exige como necessário para se chancelar a veracidade de
um documento, por isso é que se coloca, na maioria dos casos, a escritura pública. Já o
ato formal remonta a existência de uma formalidade prevista em lei, de forma que
também não ocorre apenas com a escritura pública. O testamento é um ato solene e
formal, não havendo liberdade quanto à forma/ as exigência de feitura daquele
testamento. O máximo que pode ser feito é a escolha do tipo de testamento: particular,
público, especiais, cerrado etc.
39
Lívia Pacheco

d) ATO GRATUITO: em contraposição ao ato gratuito, tem-se o ato oneroso, em que


ambas as partes sofrem redução patrimonial. No testamento, apenas uma parte sofre a
restrição patrimonial, que apenas é acrescida no patrimônio de outra. O que pode ser feito
no testamento, porém, é um encargo para a pessoa colocada como herdeiro
testamentário.
—> Imposição de encargos?! Pode ser feita e não desconfiara a gratuidade do ato!! É
uma obrigação que deve ser cumprida pelo herdeiro testamentário para que ele possa
titularizar o bem recebido. Se o herdeiro não quiser aceitar o encargo, o bem (ou a parte
do patrimônio dele) retorna para a legítima.

OBS1: encargo ≠ contraprestação, que, em tese, desconfiara a


gratuidade do ato. A depender da análise que o juiz faz, a parte
poderia aceitar ou não o encargo, sendo que ele pode algo
extremamente oneroso. A lei não faz previsão nenhuma acerca das
consequências.

OBS2: quem fiscaliza o cumprimento dos encargos? Existem


alguns tipos de encargos, uns que são de cumprimento instantâneo,
outros que são de cumprimento diferido ou até mesmo continuado.
Quem mais vai se interesse nesse cumprimento são os herdeiros
necessários. Se não tiver herdeiro legítimo, o MP teria legitimidade,
dentro de seus interesses, do cumprimento do encargo. São
situações que não estão estabelecidas de modo claro pela lei.
(vamos ver depois)

OBS3: na hipótese de o herdeiro ter justificativas concretas e


plausíveis para não executar o encargo, o juiz deve tentar atingir ao
máximo a vontade de testador. Ex: pai deixou um dinheiro muito
bom para um dos seus filhos para que ele crie uma fundação
(testamento). Esse filho, porém, mora na Itália e não tem como
cumprir esse encargo, pois não quer retornar ao Brasil. Nesse caso,
sua legítima estará resguardada. O juiz pode determinar, assim, a
criação da fundação e colocar um outro herdeiro para administrar,

40
Lívia Pacheco

podendo ainda ser esse filho que mora na Itália o supervisor dessa
gerência por outro herdeiro.

OBS4: Se no testamento a pessoa constar um encargo que não


seja aceitável, ele será considerado inexistente, e a herança é dada
como se não houvesse encargo. EX: deixo meu apto para Paula se
ela matar a pessoa X. O juiz entende o encargo como inexistente e
atribui o pagamento a Paula.

OBS5: O encargo, apesar de ser uma obrigação, tem um sacrifício


infinitamente menor ao benefício que a pessoa receberá pela
herança. EX: deixar uma fazenda para alguém, com encargo de
que ela cuide da capela no local; deixar uma quantia grande em
dinheiro, determinando que, com uma parte, se crie uma fundação
de amparo de crianças abandonadas.

Se o herdeiro não quiser cumprir o encargo, a herança volta para a legítima.

e) ATO REVOGÁVEL* (arts. 1969 e 1858): é um ato revogável em vida, pois pode-se
fazer quantos testamentos quiser! Como regra geral, tem-se que o mais novo deve
prevalecer, revogando o anterior. A pessoa pode fazer uma cláusula deixando isso claro:
“revogo o testamento anterior”. Se, porém, ele não faz isso, deve-se fazer uma análise
das cláusulas. Assim, considera-se válido o último testamento, sendo necessário algumas
observações

Ex: em 2010, Paula fez um testamento deixando um apartamento para Luisa, mas
em 2015 faz outro testamento deixando o mesmo apto para Gabriel —> aqui,
entende-se que houve uma revogação tácita, e que a vontade que deve prevalecer
é a mais recente, devendo o apto ser de Gabriel.

Se os testamentos não tiverem cláusulas que confrontam entre si, ambos serão
cumpridos (se não tiver escrito que o anterior foi revogado).

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Lívia Pacheco

Ex: se eu deixo um testamento com um um bem e esse bem foi modificado, —>
caducou! Paula deixa uma gargantilha de esmeralda para Fran em testamento em
2012. Se em 2013, Paula usa essa gargantilha para fazer um par de brinco —>
houve a caducidade do legado! (vamos ver isso mais pra frente).

Assim, a revogação do testamento pode ser explícita, mas também pode ser tácita.

Atenção: se a pessoa falece antes de titularizar o legado (antes da pessoa que deixou o
legado), os herdeiros não poderão receber. Isso porque NÃO TEM REPRESENTAÇÃO
na sucessão testamentária nem na legatária. Se a pessoa já estiver aceitado o legado
(antes da partilha - pois o legatário recebe antes), ai sim os seus herdeiros poderão
receber esse legado, pois integrará o patrimônio (legítima) na sua sucessão!

OBS: As disposições testamentárias não gravam o bem, não são


como uma garantia. EX: posso deixar um bem no testamento, mas
depois vendê-lo. A cláusula não terá como ser cumprida, porque o
objeto não existe mais. Isso não traz insegurança jurídica, porque a
herança é mera expectativa de direito. O possível herdeiro pode até
falecer antes do testador, por exemplo. Não haverá representação
na sucessão legatária nem na testamentária.

—> cláusula de irrevogabilidade (revocatória ou derrogatória): se for colocado no


testamento uma cláusula no sentido de tornas o testamento irrevogável, ela será nula!
Isso porque é da natureza jurídica do testamento ser revogável.

—> cláusula de reconhecimento de paternidade: Mesmo que um testamento seja


revogado, seja expressa ou tacitamente, se existir uma cláusula de reconhecimento de
paternidade (ou maternidade) a ela não é revogada!

OBS: e se o testamento que reconhecer a paternidade não cumprir as


formalidades? Não há previsão legal expressa, mas prof pensa que ele
será inválido como um todo, pois há um vício de formalidade.

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Lívia Pacheco

f) ATO “CAUSA MORTIS”: É um ato que apenas produz efeitos após a morte, podendo
ser revogado a qualquer tempo. (ler junto com ato revogável)

13/05/16

3. DISPOSIÇÕES TESTAMENTÁRIAS

As disposições testamentárias são compreendidas como regras que possuem caráter


interpretativo, de modo a se conhecer e fazer cumprir a vontade do testador.

Já vimos que o testamento é um documento escrito que traz a vontade do testador. Dai a
importância de se ter um testamento claro, com cláusulas objetivas, pois quem irá aplica-
lo e interpreta-lo é o magistrado. Se uma cláusula estiver muito confusa, poderá, inclusive
(em último caso), ser considerada inexistente.

Quando o legislador redigiu as disposições testamentárias, ele tentou cercar essa


sucessão por instrumentos que tentassem resolver alguns problemas do testamento, de
modo que se aproximasse ao máximo da real vontade do testador. Dai a existência
dessas regras.

—> Regras: interpretativas, restritivas (proibitivas) e permissivas.

3.1 REGRAS INTERPRETATIVAS: são usadas quando a cláusula for dúbia, não for clara.

Ex: deixo apartamento a Antônio para entregar para João. O apartamento


é para Antônio ou João?

Assim, são utilizadas em casos de obscuridade das cláusulas.

Existem algumas dicas construídas pela teoria para ajudar o juiz nessa interpretação. Não
há hierarquia entre elas, nem obrigatoriedade de utiliza-las, pois elas são para facilitar:

1ª —> A vontade do testador deve ser interpretada de modo mais amplo: se


determinado testador determina: “deixo 50% do meu patrimônio para meus sobrinhos
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Lívia Pacheco

mais inteligentes”. Isso deve ser pensado na forma mais ampla. Como não se consegue
apurar quem são os mais inteligentes (alguns podem alegar que a nota não é a melhor
forma de avaliação), deve-se dar os bens a todos os sobrinhos (isso seria a vontade mais
ampla).
2ª —> Utilizar significado comum das palavras: se o testamento tiver uma palavra
muito “culta”, com mais de um significado, deve-se optar pela sentido comum dessa
palavra.

3ª —> sentido mais próximo a razão testamentária: Havendo dubiedade, deve-se optar
pelo sentido que se mostre mais próximo da razão testamentária (art. 1899): é o caso de
constar no testamento a cláusula “Deixo o apartamento para que João entregue a Maria”.
O que mais se aproxima da vontade do indivíduo é que o apartamento seja de Maria, pois
é mais claro que o testador queria a beneficiar, e João figura mais como um
intermediador.

—> Análise dos arts. do CC

Art. 1902 —> Ex: “Deixo minhas finanças para os pobres” —> mas quais pobres? A
compreensão deve ser dos pobres relativos ao local de domicílio do testador ao tempo da
sua morte, salvo se manifestamente constar que tinha em mente beneficiar os de outra
localidade.

Parágrafo único —> tal previsão deriva do fato de que, em tese, as instituições
particulares que cuidam de pessoas pobres dispõem de menos recursos.

Art. 1904 —> Ex: “deixo meu patrimônio meus três irmãos: João, Maria e José” - não
houve determinação da fração de cada um para essa parte disponível. Não havendo tal
disposição, a parte disponível será partilhada em partes iguais, pois, em tese, isso se
aproxima mais da vontade do testador.

Art. 1905 —> Ex: “João, com relação a sua parte disponível, deixa 30% do patrimônio
para A, B e para os filhos de C (A, B e C são seus amigos). C tem três filhos: X, Y e Z.
Como será a divisão? Em 3 partes, pois se ele falou “filhos de C” ele se referiu a apenas
um grupo, um único destinatário da herança.

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Lívia Pacheco

Art. 1906 —> se sobrar algo da sucessão testamentária, essa sobra será direcionada
para a sucessão legítima.

Art. 1907 —> Ex: se X falece e não possui herdeiros legítimos necessários, apenas
facultativos, com patrimônio de R$ 170.000,00. No testamento, ele coloca que constitui
como herdeiros A, B, C e D, sendo que A deve receber 50 mil e B 20 mil. Assim, os outros
100 mil serão divididos igualmente entre C e D. Se, porém, houvesse herdeiros
necessários (dois filhos) e sua herança fosse de R$ 250 mil: 125 mil seriam da legítima,
indo para os filhos. Os outros 125 mil seriam parte disponível. Se, em testamento, ele
determinar que A fica com 10 mil e B com 20 mil, e apenas determinar que C e D serão
herdeiros, o restante (95 mil) deve ser dividido entre C e D, que ficarão com R$ 47.500
cada.

Art. 1908 —> Ex: a pessoa deixa para o sobrinho João o apartamento do RJ com todos
os acessórios que ali existem, com exceção do quadro do Portinari, que vale 600 mil
reais. Se essa ressalva não fosse falta, subentenderia que tudo que estava ali dentro
seria para João. Esse quadro voltará a integrar a legítima, sendo entregue aos herdeiros
necessários, mesmo estando antes considerado no valor correspondente ao patrimônio
disponível.

3.2 REGRAS PROIBITIVAS (RESTRITIVAS): ao lado das regras permissivas (que


veremos depois), que determinam a forma pela qual a pessoa pode fazer a cláusula e ela
será valida, existem as regras proibitivas, que limitam a vontade do testador, ou seja,
que ele não pode realizar, e se mesmo assim as fizer, as cláusulas serão
consideradas ineficazes.

Logo, as regras proibitivas consideram válidas ou ineficazes algumas cláusulas


testamentárias. São elas:

Art. 1898 - visa impedir que a pessoa designe um bem com o tempo exato para alguém
começar a exercer sua condição de herdeiro. O tempo não é considerado uma condição.
A condição é permitida no testamento (ex: deixo meu apartamento para Paula quando ela
terminar a faculdade de medicina), mas colocar um tempo não é considerada uma
condição. Ex: deixou um apartamento para Paula a partir de 20 de fev de 2018 —> é
ineficaz. Sendo ineficaz, esse bem retornará para a sucessão legítima.
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Lívia Pacheco

Art. 1897 —> "A nomeação de herdeiro, ou legatário, pode fazer-se pura e simplesmente, sob
condição, para certo fim ou modo, ou por certo motivo".

Art. 1900 —> Traz hipóteses de nulidade da cláusula testamentária. O inciso I faz
menção à vedação do testamento conjuntivo. Os incisos II e III fazem menção ao
favorecimento de pessoa incerta, quando não houver possibilidade de averiguação de
identidade, será nula. Já o inciso IV pode ser visto com o seguinte exemplo: “deixo um
legado para Fran, mas quem escolherá o bem será seu filho Pedro” —> é uma cláusula
nula pois não expressa a vontade do testador. O inciso V traz a situação de curador, tutor
etc.

OBS: fideicomisso: quer se beneficiar uma pessoa que ainda irá nascer. A
determinação é que alguém detenha a propriedade resolúvel do bem, até
que possa se cumprir a entrega efetiva do direito patrimonial para a criança
que vai nascer. Fora essa hipótese, a cláusula que determinar tempo é
desconsiderada pelo juiz

Art. 1903 —> "O erro na designação da pessoa do herdeiro, do legatário, ou da coisa legada
anula a disposição, salvo se, pelo contexto do testamento, por outros documentos, ou por fatos
inequívocos, se puder identificar a pessoa ou coisa a que o testador queria referir-se”.

Art. 1911 —> "A cláusula de inalienabilidade, imposta aos bens por ato de liberalidade, implica
impenhorabilidade e incomunicabilidade".

19/05/16

Como já vimos, as regras proibitivas (restritivas) limitam a vontade do testador,


invalidando ou tornando ineficaz algumas cláusulas do testamento. Se uma cláusula
testamentária desrespeitar as regras, ela será considerada ineficaz ou inválida.

Essas regras estão nos arts. 1898, 1897, 1900, 1903. O primeiro deles coloca que não se
pode fazer um testamento determinando um prazo de início e final para o recebimento da
herança. Se ela existir, será ineficaz, e o bem volta para a legitima. Entende-se que o
direito à herança (mesmo testamentária) traz uma condição de herdeiro que é regulada
46
Lívia Pacheco

pelas próprias regras do Estado, de forma que limitar esse momento em que o direito da
herança iria começar ou cessar, seria uma restrição muito grande na vida da pessoa,
como se fosse um ônus.

OBS1: no fideicomisso se quer beneficiar a pessoa que ainda vai nascer.


De forma que alguém deterá a propriedade resolúvel desse bem, até que
ocorra a entrega definitiva a essa criança que vai nascer. Ele não deixa de
ser uma estipulação de prazo, mas é permitido pela lei, conforme art. 1898.

OBS2: e se a criança não nascer? Das duas uma, se não houver nenhuma
cláusula o bem será partilhado entre os herdeiros legítimos. Agora, pode
haver uma estipulação para esse bem ficar com o fideicomissário (acho
que o nome é esse, é quem administra o bem até que a pessoa nasça).

O art. 1900 traz que hipóteses em que as clausulas do testamento serão consideradas
nulas. Uma vez a cláusula sendo nula, o bem retorna para sucessão legítima.

Incisos:

I - tem relação com a vedação de pacto sucessório, pois não se admite convencionar
acerca da herança

II - aqui é uma pessoa incerta que não pode ser identificada ;

III - o testamento é um ato personalíssimo, então não se pode ter um terceiro responsável
por indicar quem é a pessoa.

IV - também decorre da premissa de que o testamento é um ato personalíssimo. Ao


atribuir a outra pessoa retira-se a pessoalidade, além de trazer uma incerteza muito
grande.

V - as pessoa elencadas são as que podem colocar em risco a certeza da vontade livre e
despedida do testador. Ex: o tabelião não pode ser beneficiado pelo testamento, tutor,
curador.

47
Lívia Pacheco

O art. 1903 remonta a um erro substancial e essencial, como por exemplo indicar uma
pessoa que não existe. Se não for um erro desses moldes, a incerteza pode ser sanada, e
a parte pode vir a ser conhecida e identificada.

Importante! Pode-se vincular a entrega de um bem em virtude das características da


pessoa? Sim, desde que se saiba das consequências:

Ex1: deixo meu apartamento para Lucca, filho de minha grande amiga, pois ele é um
excelente arquiteto. —> é uma cláusula imprecisa. Se Lucca fizer o curso de direto, ele
não recebe o bem.

Ex2: deixo meu apartamento para Lucca, que é um excelente pianista —> não há a
motivação da entrega do apto pelo fato de Lucca ser um excelente pianista. A pessoa
apenas o adjetivou, não fazendo a vinculação.

O art. 1911 traz a questão da inalienabilidade (venda) dação em pagamento, doação ou


permuta.

Ex: se meu tio deixa, em testamento, um bem para mim gravado com essa
cláusula de inalienabilidade, ela é apenas válida para mim. Quando eu
morrer e o bem for entregue aos meus herdeiros, a cláusula deixa de
existir.

O objetivo da inalienabilidade é justamente que a pessoa não possa se desfazer do bem.


A disposição do bem não é apenas por contrato de compra e venda, mas também em
dação em pagamento, doação e permuta —> em todos os casos se está dispondo do
bem, e a cláusula de inalienabilidade veda isso.

A previsão da cláusula da inalienabilidade também pressupõe a cláusula de


incomunicabilidade e impenhorabilidade.

Ex: se gravo um bem como a cláusula de inalienabilidade, esse bem também não
pode ser penhorado nem comunicado com o cônjuge na formação dos aquestos.

48
Lívia Pacheco

Contudo, a impenhorabilidade não pressupõe a inalienabilidade nem a


incomunicabilidade.

Ex: deixo um apartamento com a cláusula de impenhorabilidade —> não


se pode penhorar, mas se pode vender (não inalienável).

A mesma coisa com a cláusula de incomunicabilidade, que não pressupõe a outra duas.

Parágrafo único do 1911: "No caso de desapropriação de bens clausulados, ou de sua


alienação, por conveniência econômica do donatário ou do herdeiro, mediante autorização
judicial, o produto da venda converter-se-á em outros bens, sobre os quais incidirão as restrições
apostas aos primeiros”.

O que o parágrafo único coloca é que se o bem gravado pela cláusula de inalienabilidade,
impenhorabilidade for objeto de desapropriação, a indenizado receber tem que ser
destinada a aquisição de um outro bem, sobre o qual deverá recair as restrições impostas
ao primeiro (que foi desapropriado).

Além dessa hipótese, o herdeiro com o bem gravado (inalienabilidade …) pode requerer
judicialmente a alienação deste, o que penas é possível por autorização judicial em
virtude de uma “justa causa” (ex: motivo de saúde), na qual também deverá ocorrer a
conversão em outros bens, sobre os quais também incidirão as restrições.( dúvida - a
conversão é o no valor que sobrar?)

O art. 1848 também traz outras regras proibitivas ao testamento:

Art. 1.848. Salvo se houver justa causa, declarada no testamento, não pode o
testador estabelecer cláusula de inalienabilidade, impenhorabilidade, e de
incomunicabilidade, sobre os bens da legítima.

Em tese, a impenhorabilidade só poderia ocorrer na sucessão testamentária ou legatária


e não na legítima. Isso porque, em regra, a vinculação da sucessão legítima seria uma
forma de "amarrar" os bens. Logo, por meio do testamento, ela não se pode fazer menção
à sucessão legítima.

49
Lívia Pacheco

Porém, algumas situações pode ocorrer na sucessão legítima, em que situações de justa
causa levam à imposição dessas cláusulas, a exemplo de um filho pródigo.

Mas nessas situações é possível se obter do juiz a invalidade dessa cláusula, ocorrendo a
conversão desses bens em outros bens. Num primeiro momento, então, deveria ocorrer a
subrogação.

§ 1o Não é permitido ao testador estabelecer a conversão dos bens da legítima em


outros de espécie diversa.

O testador faz isso no testamento, mas ele estará se referindo a legítima.

Ex: num testamento é colocado que a empresa que ficara de herança aos meus filhos
devera ser vendida e eles deverão fundar uma casa de amparo a dependentes químicos
—> isso não pode ser determinado, até porque é um direito fundamental —> o que é
recebido de legitima não pode haver qualquer determinação em testamento.

§ 2o Mediante autorização judicial e havendo justa causa, podem ser alienados os


bens gravados, convertendo-se o produto em outros bens, que ficarão sub-
rogados nos ônus dos primeiros.

o §2º traz disposição próxima ao que já vimos, pois se houver autorização judicial, pode-
se vender os bens, mesmo que eles sejam gravados pelas cláusulas restritivas.

OBS: os frutos são atingidos pela inalienabilidade ou pela


impenhorabilidade? Existe uma corrente doutrinária majoritária
que entende que os frutos estão liberados. Corrente minoritária
coloca que os frutos seguem o principal e por isso estariam também
inalienáveis.

20/05/16

50
Lívia Pacheco

3.3 REGRAS PERMISSIVAS

A primeira regra permissiva encontra-se no art. 1897 e trata da condição: "A nomeação de
herdeiro, ou legatário, pode fazer-se pura e simplesmente, sob condição, para certo fim ou
modo, ou por certo motivo”

Assim, é permitida uma cláusula que prevê uma condição! O que nã pode é um termo
futuro e certo, pois isso imprimiria uma ideia de prazo, mas a condição a um evento futuro
e incerto é permitida.

A condição está disciplinada no art. 121, CC, e pode ser:


>> Condição suspensiva: impede a produção de efeitos até que a condição seja
implementada.

>>Condição resolutiva: efeitos imediatos, sendo operados desde o início. A cláusula


resolutiva pode sim existir, desde que ele não traga um termo final, uma data final para a
pessoa ficar com o bem.

Ex: Deixo meu apartamento para Vitor desde que ele não compre outro
apartamento em 2 anos. —> é uma condição resolutiva, que não imputa um termo
para a pessoa ter o bem deixado na herança, por isso é permitida (se fosse uma
cláusula falando que ele apenas ficaria com o bem por 2 anos, ai não seria válida).

OBS1: a condição meramente potestativa é nula —-> art. 122: são aquelas
que se sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes. Ex: Deixo meu
apartamento para Carol desde que ela se case com Gabriel.

OBS2: proibição de herdeiro por termo - art. 1898 - é a proibição de ficar


um termo final para o exercício da condição de herdeiro/ recebimento da
herança.

4. ENCARGO (modo)

O encargo pode ser imposto pelo testador beneficiando terceiro ou a ele próprio.

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Lívia Pacheco

Ele não suspende a aquisição nem o exercício do direito. Se for deixada uma herança
com um encargo, não se tem uma suspensão da condição de herdeiro até o cumprimento
desse encargo, pois ele não suspende a aquisição nem o exercício do direito à herança.

—> Caução do herdeiro: existem casos que, em decorrência da natureza do bem


herdado e do risco que o herdeiro oferece para a administração do bem que ele recebeu
como herança, pode ser determinado que ele preste uma caução (que pode ser requerida
pelos herdeiros ou fixada pelo juiz).

Ex: recebeu uma empresa de herança, e para a administração de uma


empresa, que ele pode quebrar pode ser exigida uma caução.

—> Encargo ilícito ou impossível (art. 1937): toda vez que houver um encargo ilícito e
impossível ele poderá invalidar todo o negocio jurídico e a cláusula não será cumprida. Se
esse encargo for de motivo determinante: anula-se a clausula, que não será cumprida.
Quando não for motivo determinante, entrega-se o bem pura e simplesmente, afastando-
se o encargo.

—> Não cumprimento do encargo. Quanto ao não cumprimento do encargo, questiona-


se acerca de suas consequências. 2 correntes: A corrente majoritária coloca que se uma
pessoa não cumprir o encargo, a disposição testamentária vai se tornar ineficaz e o bem
retorna para a sucessão legítima. A corrente minoritária coloca que a ineficácia da
cláusula só existiria se o testador tivesse assim disposto.

—> Prazo para reclamar descumprimento do encargo? Existe divergência doutrinária


quanto esse prazo. Uns seguem a doutrina que usa o art. 205,CC que seria de 10 anos.
Outros colocam que as razões da herança deixada em testamento se aproximam as
razões do contrato de doação, o que, por analogia, levaria a aplicação do art. 559, que
prevê o prazo de 1 ano.

Para Caio Mario, a ineficácia da cláusula não é automática, pois alguém tem que
reivindicar isso. Se ninguém descobrir, a herança continuara valida.

52
Lívia Pacheco

Esse prazo para reclamar dilui-se na ideia de se ter um prazo razoável para a pessoa
cumprir o encargo, de forma que o próprio testador pode fixar um prazo para o
cumprimento do encargo, contado do recebimento do bem. Outras cláusulas não trazem a
previsão de prazo, em que o magistrado deve determinar um prazo razoável para o seu
cumprimento, que vai depender do caso concreto. Se o juiz não fixar o prazo, os
herdeiros, como parte interessada, podem pedir que seja fixado um prazo para verificar o
cumprimento do encargo.

Ultrapassado esse prazo para o cumprimento, inicia-se a contagem do prazo prescricional


para os herdeiros reclamem o descumprimento do encargo (direito dos herdeiros). Ai
entra a divergência se esse prazo seria de 10 (art. 205) ou de 1 ano (art. 559)!

Os interessados para reclamar esse descumprimento são os herdeiros necessários, que


podem vir a receber essa herança caso não haja cumprimento. Alguns falam que o MP
também teria esse direito, desde que haja interesse de menor etc (construção
doutrinária).

—> Justificativa da cláusula testamentária por “certo motivo” —> motivo falso (art.
140):
“Art. 140. O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão
determinante.”

Ex: pessoa deixa um bem para alguém, vinculando a entregue deste pelo
fato da pessoa ter salvado sua vida. Após as investigações, descobriu-se
que a pessoa não tinha o salvado —> nesse caso, se o motivo for falso, ele
vai afetar toda a cláusula, e ela será uma cláusula que contém um erro que
a torna nula.

02/06/16

5.1 Legado

5.1 INTRODUÇÃO: Como já vimos, os herdeiros podem ser a título universal e a título
singular, sendo que este é o legatário. Pode-se ter um herdeiro testamentário universal, a
exemplo de quando se deixa para determinada pessoa um bem específico. Legatário é
53
Lívia Pacheco

aquele que recebe um bem determinado e específico, não havendo dúvidas sobre o bem
nem sobre a pessoa que o testador queria beneficiar. Trata-se de forma de disposição de
um bem determinado, individualizado.

Assim, no momento das cláusulas testamentárias, o legado é atingido por último, pois
tenta-se cumprir ao máximo a vontade do testador. (não é uma proteção absoluta)

—> O legatário não vai responder por dívidas da herança. Primeiro saldam-se as
dívidas com o patrimônio, inclusive com a legitima, resguardando-se o legado (para saldar
dívidas, primeiro busca-se nos herdeiros universais). Só em ultimo caso é que o legado é
atingido.

—> Quantias em dinheiro também são consideradas legado.

Ex: deixar R$ 500,00 para Gabriel é legado? Sim! Logo, o legado além de ser um bem
individualizado também é uma quantia específica.

OBS: “deixo 1/3 do meu patrimônio para Paula” não é legado. É


herança a título universal.

—> Prelegado ou legal precípuo: é quando se tem um herdeiro que já é herdeiro


legítimo, mas depois irá contemplado com um legado. É um bem individualizado deixado
por uma herança para uma pessoa que já é considerada uma herdeira.

OBS: se for herdeiro testamentário e também receber um legado


(legatário) também há um prelegado.

5.2 Testador // Legatário // Onerado

Testador é quem faz o testamento. Legatário é quem é contemplado com herança de


bem determinado e específico.

Agora, com o herdeiro legítimo necessário, pelo princípio da saisine, com a morte/
abertura da sucessão, já há a transmissão do patrimônio de forma automática, já podendo
o herdeiro se valer da imissão na pose e de ações possessórias!
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Lívia Pacheco

No legado, a sucessão também é aberta no momento da morte/ da abertura da sucessão,


mas o herdeiro não tem o poder de se imitir na posse, nem o poder de valer de ações
possessórias. Isso porque o legado precisa ser cumprindo por alguém. O próprio
testador pode indicar quem cumprirá o encargo (ex: deixo meu apartamento para Gabriel,
que deverá ser entregue por Rafael, meu filho). Esse herdeiro determinado a cumprir o
legado, que é quem entrega a propriedade o bem ao herdeiro legatário, é chamado
de ONERADO.

Se não houver determinação no testamento, todos os herdeiros legítimos são onerados,


podendo cumprir a entrega do legado.

OBS: ainda há a figura do testamenteiro, que é alguém que pode ser


determinado pelo testador ou pelo juiz que vai verificar o cumprimento do
legado.

Assim, a transmissão ocorre no momento da abertura, mas para ele ser imitido na posse
precisa ocorrer o cumprimento do legado.

5.3 Efeitos do legado


a) transmissão da posse e da propriedade - arts. 1923 a 1925

O art. 1923 determina que a saisine, com a abertura da sucessão, já opera a transmissão
do patrimônio. Só que o legatário tem que ser imitido na posse, conforme coloca o §1º.

O §2º remonta ao exemplo de que a pessoa testadora deixa uma sala comercial para
alguém (legatário) com o contrato de locação para uma empresa, em que o frutos são
cabíveis ao legatário desde o momento em que a sucessão foi aberta. Mas se o legado
estiver sob uma condição suspensiva, ai os frutos apenas são devidos após o implemento
dessa condição suspensiva.

OBS1: se um testamento tem uma cláusula de reconhecimento de


paternidade e um legado, mas se está discutindo a paternidade, o legatário
pode pedir o recebimento do legado.
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Lívia Pacheco

OBS2: credores podem obstar a entrega de um legado - se o credor


conseguir provar que o indivíduo testador estava insolvente (não tendo
patrimônio para saldar as dívidas, não tinha legítima para arcar com tudo),
ai pode-se impedir a entrega do delegado, e ai acabou o legado.

OBS3: morte de um legatário: não há direito de representação no


legado! Portanto, se o suposto herdeiro legatário falece antes do testador,
quando o testador vier a falecer e seu testamento for aberto, não cabe falar
em representação. A cláusula desse legado será ineficaz, pois o herdeiro
não cumpriu os requisitos para ser herdeiro: estar vivo quando da morte do
testador. Ai o bem volta a integrar o monte da legítima.

Se no momento da abertura da sucessão, o legatário estava vivo, ai os


seus herdeiros podem receber, desde que já tenha sido manifestada a
aceitação, pois já houve a transmissão da posse, restando apenas a
imissão na posse!

03/06/16

b) pagamento do legado: são de vários tipos, previstos nos arts. 1926 a 1937.

Algumas situações de pagamento do legado vão remeter a situações de pagamento de


coisa incerta.

Quando o testador coloca o legado de forma alternativa, se ele não determinar quem fará
a escolha, a lei coloca que essa escolha cabe a quem fará a entrega do legado.

Por fim, tem-se a situação de se entregar para um filho um bem por meio de doação. No
inventário, há a fase da colação, em que os herdeiros que receberam algum bem em vida,
por meio de doação, são obrigados a apresentar tais bens. Se não for apresentado, os
demais herdeiros podem questionar isso, de forma que, a depender do valor e do caso
concreto, pode ser considerado adiantamento de herança. Isso está no art. 1935.
56
Lívia Pacheco

Em caso de adiantamento de herança informal, o herdeiro-recebedor deverá apresentar


os bens recebidos na fase de colação, e neste caso, se houver a determinação de legado
sobre esses bens ou sobre um deles, o herdeiro recebedor o perde para o legatário, e
aquele poderá subrogar-se no direitos dos demais herdeiros legítimos.

O mesmo acontece com partilha amigável, com posterior descobrimento de testamento.

O art. 1937 remonta a regra geral do acessório seguir o principal. A grande questão é a
diferenciação entre pertença e acessório.

A pertença não é considerada um acessório, não devendo, pela regra, seguir o principal,
pois ela agrega valor ao principal.

Ex: pessoa deixa um aparento todo mobiliado. Dentro dele há uma quadro
Portinari que vale R$ 300 mil. Se a pessoa não identificar a retirada do
quadro, entende-se que tudo que está dentro do apartamento vai junto.

OBS: a regra que acessório segue o principal pode ser questionada


dependendo da herança. (?)

Ex: testador é insolvente e deixa um legado com um quadro de Portinari.


Se os credores quiserem eles podem apresentar esse patrimônio com
possível para responder pela dívida.

c) Caducidade do legado —> art. 1939

Inciso I: “se, depois do testamento, o testador modificar a coisa legada, ao ponto de já


não ter a forma nem lhe caber a denominação que possuía:

Ex: Paula deixou uma pedra preciosa para alguém (legado). Mas antes da sua da morte,
após realizar o testamento, ela decidiu transformar essa pedra em uma gargantilha e um
par de brincos —> se essa modificação desconfigurar sua forma (colocada no
testamento), de forma de não mais lhe caber a denominação dada no testamento, ocorre

57
Lívia Pacheco

a caducidade—> art. 1939, I. Ocorrendo a caducidade, esses novos bens serão


partilhados pelos herdeiros legítimos.

Inciso II: "se o testador, por qualquer título, alienar no todo ou em parte a coisa legada;
nesse caso, caducará até onde ela deixou de pertencer ao testador";

Ex2: Paula tem um prédio com quatro apartamentos e faz um testamento deixando o
prédio todo para Vitor. Depois do testamento, ela vende dois apartamentos. O legado
caducará na proporção que deixou de ser do testador, pois o restante será entregue em
legado. Logo, Vitor apenas receberá os dois apartamentos. Se Paula tivesse vendido
tudo, caducaria todo o legado de Vitor e ele não receberia nada.

Inciso III: "se a coisa perecer ou for evicta, vivo ou morto o testador, sem culpa do
herdeiro ou legatário incumbido do seu cumprimento;”

Toda situação em que houver dolo ou culpa do herdeiro ou do legatário incumbido do seu
cumprimento, deverá ocorrer a indenização (regra do enriquecimento ilícito).

Mas sem dolo e sem culpa, esses legado pode caducar por perecer ou por ser evicto.

Ex1: o legado era um cavalo que morreu —> é perecimento.

Ex2: O pai de Paula morreu e da sua herança, ela ficou com um apto em Vitória. No
testamento, Paula deixa esse apto para Delciane. Quando Paula morre, já esta tramitando
uma ação de evicção (podia estar tramitando ou não), em que o tio de Paula falava que
aquele apartamento era dele e não do pai de Paula, conseguindo provar isso no
processo. Nesse caso, o legado também caduca. —> evicção.

OBS: também poderia acontecer de o bem que Paula deixou não ser de
sua titularidade, o que também seria evicção.

Inciso IV - "se o legatário for excluído da sucessão, nos termos do art. 1.815";

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Lívia Pacheco

O legatário também pode ser excluído da sucessão, pois sobre ele também se aplicam as
regras de indignidade e deserdação. Ou então é feito um novo testamento com cláusula
contraditória, em que deve prevalecer a posterior.

OBS: Art. 1940: Se o legado for de duas ou mais coisas alternativamente,


e algumas delas perecerem, subsistirá quanto às restantes; perecendo
parte de uma, valerá, quanto ao seu remanescente, o legado.

09/06/16

5.4 Direito de acrescer entre herdeiros e legatários (arts. 1941 e 1942)

Ocorre o direito de acrescer quando herdeiro ou legatário beneficiado em testamento


renunciar, morrer ou for excluido da sucessão, sendo sua parte divida entre os demais
herdeiros!

OBS: ocorre com herança testamentária ou legatária, e não apenas com a


legatária.

Quando estamos na sucessão legítima e ocorre de algum herdeiro renunciar ou ser


excluido da sucessão, deve-se ter a analise de seus herdeiros ou então de representação.
E se não houver, o bem retorna para o monte —> na sucessão legítima a regra é clara!

Se porventura alguém nomeia um herdeiro e esse indivíduo não recebe o legado (por
algum motivo) —> o bem volta a integrar a legitima —> aqui também não há dúvidas.

E na constituição conjunta? Na atribuição de um legado conjunto?

Ex: Deixo a casa de GP para João e Maria. Se Joao morrer antes / for excluído da
sucessão, sua parte fica com Maria? Nem sempre! É preciso analisar questões
especifica!

>> determinação do quinhão de cada herdeiro: Quando a pessoa determina a parte


que cabe a cada herdeiro (ex: devendo caber 50% para João e 50% para Maria) e um
deles não puder receber sua parte, essa parte NÃO acresce a parte do outro legatário!
O bem irá retomar para o monte da legítima. Se houver determinação de quotas, o direito
nunca irá para o outro legatário!

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Lívia Pacheco

>> se o quinhão não estiver determinado, ai a parte do herdeiro que não recebe
acresce na parte do outro colegatário. O direito de acrescer ocorre entre eles próprios,
dentro da própria cláusula.

OBS: Esses herdeiros são chamados de colegatários ou co-


herdeiros.

Risco de valorização se a coisa for “partida” ? A lei sempre tenta evitar a constituição
forçada de condomínio quando ele oferece algum tipo de risco, quando for possível, sem
desrespeitar a vontade da pessoa. Se existir algum tipo de bem que foi legado a mais de
duas pessoas e elas iriam exercer conjuntamente, como uma pequena empresa ou uma
máquina de produção de fraldas —> Paula deixou essa máquina em legado para seus 2
sobrinhos, que já ate estavam fazendo cursos de manuseio da maquina —> quando ela
morre, na abertura do testamento, um deles renuncia —> situação do art. 1942: mesmo
que tiver sido determinado o quinhão, a parte irá acrescer ao outro legatário, pois “o
objeto do legado não pode ser dividido sem risco de valorização”.

Ex: fazenda —> posso dividir e o direito de acrescer vai para os herdeiros legítimos.

Ex2: pedra preciosa —> não pode ser divida —> o herdeiro de acrescer se dá aos
herdeiros legítimos, mas não tem como dividir a pedra, criando uma situação de
condomínio forçado.

Existem casos que o juiz pode sugerir a indenização.

Quando há o direito de acrescer, não pode ter a quota determinada! Tenho que deixar um
bem para mais de uma pessoa, em que um renuncia ou é excluido, e assim essa parte irá
acrescer ao outro colegatário que está na mesma cláusula.

Cuidado! Também pode acontecer o direito de acrescer para os herdeiros legítimos, mas
essa expressão não é muito usada. Pois quando nua puder acrescer ao outro colegatário,
essa parte “volta para legítima”.

Se for possível dividir o bem, para se evitar o condomínio, o juiz vai fazer isso! Ex: uma
fazenda. E se não puder dividir o bem, como um apartamento, ai o juiz tem que criar um
condomínio. É isso o que a segunda parte do art. 1942 fala.

OBS: os herdeiros legítimos só vão entrar nessa historia, se houver quinhão determinado!
Se não houver determinação, fica entre eles, ai o direito de acrescer se dá entre eles. Ler
essa parte no Código Comentado do Eduardo Leite.

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Lívia Pacheco

OBS: art. 1944 —> sempre que não houver a possibilidade de ir para o co-
herdeiros, o bem retorna para a legítima.

—> Previsão de substituto testamentário

O indivíduo, ao fazer a cláusula, já prevê a figura de alguém para receber o bem, caso o
herdeiro não queira.

Pode ser uma substituição proveniente do fideicomisso, em que se estabelece o


fiduciário, que terá a propriedade resolúvel, e o herdeiro fideicomissário, que é a pessoa
que, ao nascer, receberá o bem —> haverá uma substituição, o bem será entregue
definitivamente! Sua previsão está no art. 1958, que trata da caducidade do fideicomisso.

Pode-se contemplar o herdeiro que vai nascer também com uma condição. Ex: deixo meu
apartamento para meu neto primogênito (que ainda não nasceu) quando ele se formar em
medicina. Se porventura o neto morrer antes que a condição se implementasse, a
propriedade do fiduciário se consolida no fiduciário.

Atenção ao art. 1955 que trata da renúncia do fideicomissário, em que a propriedade fica
com o fiduciário.

OBS: algumas doutrinas colocam que se a criança não nascer, esse bem
dica de forma definitiva com o fiduciário. Outras falam que o bem retorna à
legítima.

Ou então será uma sucessão proveniente da vontade da pessoa. Ex: Deixo um apto para
Carol, mas se ela não quiser, deverá ser para Delciane. Aqui, a vontade tem que ser
expressa!!

OBS: nunca pensar que isso é uma forma de representação! É


substituição!.

OBS: a previsão do substituto cabe para os herdeiros testamentários a


titulo universal e singular.

—> Arts. 1941 a 1946

—> Requisitos: Assim, o direito de acrescer tem 2 requisitos básicos:

a) Constituir conjuntamente herdeiros ou legatários, sem determinar o quinhão


de cada um;

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Lívia Pacheco

b) não pode existir substituto determinado pelo testador, pois se houver um


substituto não haverá o direito de acrescer, pois a parte fica com o
substituto.

5.5 Redução das Cláusulas Testamentárias

Se a legitima for desrespeitada, será preciso retirar algo do testamento para equilibrar a
legítima.

Assim, a redução das cláusulas testamentárias é um mecanismo, que pode ser de ofício
ou a requerimento das partes, por meio do qual irá se reduzir na herança testamentária o
que for necessário para equilibrar a legítima!

Algumas regras devem ser respeitadas:

1) Testamento que só contempla herdeiros ou só contempla legatários: ou um ou


outro, não podendo ser um testamento com herdeiro a titulo universal e singular. Essa
herança deixada irá responder para equilibrar a legitima, sendo reduzida
proporcionalmente. Se apenas tiver um legado, ele vai ser reduzido.

Ex: testamento que contempla um legado —> o legado vai responder


sendo reduzido, se ultrapassar a legitima.

2) Testamento que estabelece herança + legado: é o que constitui herdeiros a titulo


universal e singular. Nesse caso, há uma preferência da lei para que primeiro seja
atingida a herança a título universal, para só depois ser atingido o legado. Pode-se reduzir
tudo e ficar apenas o título singular! Primeiro tem que “zerar” a parte universal. Isso reflete
uma proteção para o legado.

OBS: Art. 1698 —> aplicável apenas para bens imóveis

Art. 1.968. Quando consistir em prédio divisível o legado sujeito a redução, far-se-á esta
dividindo-o proporcionalmente.

§ 1o Se não for possível a divisão, e o excesso do legado montar a mais de um quarto do


valor do prédio, o legatário deixará inteiro na herança o imóvel legado, ficando com o
direito de pedir aos herdeiros o valor que couber na parte disponível; se o excesso não for
de mais de um quarto, aos herdeiros fará tornar em dinheiro o legatário, que ficará com o
prédio.

Se o valor do excesso do legado (o que ultrapassou da legítima) for maior que 1/4 do
valor do bem deixado, o legatário fica sem o bem (que vai para os herdeiros legítimos),
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Lívia Pacheco

mas pode pedir a esses herdeiros o direito de indenização no valor cabível na parte
disponível:

Ex: O legado era de R$ 200 mil e precisa reduzir R$ 80 mil para equilibrar a legitima. 80
mil é mais que 1/4 de 200 mil. O imóvel de R$ 200 mil fica com os herdeiros, mas o
legatário tem o direito de pedir aos herdeiros legítimos uma indenização no valor de R$
120 mil! (que era o valor que lhe cabia).

Se o valor da redução for menor que 1/4 do que ultrapassou a legítima, o bem deixado
fica com o legatário e ele tem que pagar aos legítimos o valor que ultrapassou:

Ex: se o que ultrapassou a legitima foi de R$ 30 mil, e o bem foi de R$ 200 mil. É menos
que 1/4, então o herdeiro legatário paga os 30 mil para os legítimos e fica com o bem.

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