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A linguagem do Estado é analógica e compacta, sua desfragmentação só pode se dar por meio

de outra linguagem, e a linguagem digital parece ter este poder.


A publicidade de um mundo analógico é voltada para o lucro com a venda de espaços de
tempo para anúncios (modelo ainda praticado, em certa medida, pelas emissoras de rádio e
TV). Assim, o espaço entre anúncios (conforme já apontado por Adorno e Horkheimer), é
oferecido, loteado para os anunciantes.
A publicidade de um mundo digital é voltada para o lucro com a venda de informações acerca
do perfil consumidor de cada usuário da internet, que o absorve com a ajuda de métodos de
dominação, ao invés de métodos de loteamento. A transformação, primeiramente, das
empresas e, em seguida, dos indivíduos, se deu pela digitalização: a ilusão da liberdade, no
sentido econômico e existencial, por meio do oferecimento de domínios digitais, e estes, por
sua vez, dominados pela internet ou domínio universal: sites, contas em serviços de e-mail,
redes sociais, serviços de streaming geradores de entretenimento, promovendo meios de
socialização distintos dos analógicos, ou seja, promovendo modos digitais de socialização:
Instagram, Facebook, Twitter, ou ainda serviços gratuitos, como e-mail e ferramentas de busca
de informação e entretenimento (ainda disputado por uma espécie de jornalismo conservador
analógico - sem alusão direta à politica).
O jornalismo analógico vendia notícia, a publicidade digital vende informação. Isso representa
um marco na mudança dos meios pelos quais produzimos as narrativas sobre o mundo.
No entanto, os novos meios de socialização, ao prenderem seus indivíduos à tela, acabam os
isolando. Assim, ele se volta para si, sem praticamente estabelecer meios análogicos de
interação, pois a conexão entre as pessoas se dá por meio de trocas de dados digitais que
passam a substituir, inclusive, formas de expressão dos afetos, que antes eram
analógico-corporais).
A notícia era produzida por meio de interações analógicas entre as pessoas, por sua vez, a
informação é produzida por meio de interações digitais. A primeira era dominada pela classe
jornalística, a segunda é dominada pela classe publicitária. Desse modo, podemos afirmar que
a publicidade se encontra em posição privilegiada, pois apresenta a forma comunicativa
dominate, inclusive na tarefa de produzir narrativas mais eficientes sobre o mundo. A qual
narrativa o poder dominante poderia recorrer para gerar estratégias policas e econômicas?
Isso ocorre porque a publicidade apropriou-se de uma nova tecnologia de informação, antes
que a classe jornalística percebesse. Ora, se na disputa por uma tecnologia tão
transformadora, a classe jornalística foi incapaz de captá-la e decodificá-la em notícia, e se a
classe publicitária foi capaz de fazê-lo, transmutando-a em informação, é possível que a classe
publicitária, provavelmente, possui, entre as duas, a mais eficiente estrutura narrativa sobre o
mundo: a informação.
É nessa medida que podemos afirmar: sim! A informação pode transformar-se em
conhecimento, a partir do momento em que consegue impor um tipo de estrutura narrativa das
coisas. A velha academia ainda tenta se atualizar em tal estrutura, mas é de senso histórico
que suas origens, ou melhor, seu diretório raiz é analógico. É neste limite que a disputa pelo
conhecimento está ocorrendo.
Nesta disputa há perfis políticos diversos, que em suas disputas pelo poder, procuram escolher
qual é a estrutura narrativa mais eficiente? Tal preocupação é comum, tanto a liberais,
conservadores, anarquistas, comunistas ou grupos extremistas).
Falando mais propriamente do cenário geopolítico, parece que no território denominado
Ocidente, a estrutura narrativa digital tem vencido o braço de ferro, uma vez que até o modo de
fazer guerra está apoiado em tecnologias digitais. Por outro lado, o terrorismo não parece
compartilhar de tais estruturas, caso contrário a organização de suas ações seriam facilmente
detectadas e exterminadas.
Este é o ponto! O que permite que uma civilização analógica faça tanta frente a uma civilização
digital? No entanto, há um segundo caminho que nos leva a uma também segunda indagação:
teria o terrorismo se apropriado de uma estrutura narrativa digital? Dependendo da resposta
oferecida a esta pequena rede de questões, acabaremos optando por uma das duas sínteses,
que se autoexcluem:
1) estruturas analógicas ainda podem sustentar sua dimensão ontológica frente às estruturas
digitais. Em outras palavras, ainda é possível opor notícias à informações) ou;
2) estruturas analógicas não têm mais força ontológica frente às estruturas digitais. Desse
modo as disputas ontológicas só poderão existir no campo da informação e apontam para um
novo estatuto ontológico da realidade.

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