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PROJETO

Parceiros estratégicos
Daniel Raviolo - Júlio Lira - Karina Mota

ENSINANDO E APRENDENDO
COM O JORNAL ESCOLAR

REDE JORNAL ESCOLA

2006
Redação: Daniel Raviolo, Júlio Lira e Karina Mota
Capa e Editoração eletrônica: Carlos Machado
Direitos autorais:
COMUNICAÇÃO E CULTURA
Rua Castro e Silva, 121
60030-010 Fortaleza
PABX (85) 3231.6092
comcultura@comcultura.org.br
1ª edição 2000
2ª edição revisada 2001
3ª edição revisada 2006

CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte.

RAVIOLO, Daniel. LIRA, Júlio. MOTA, Karina

Ensinando e aprendendo com o jornal escolar /


Por Daniel Raviolo, Karina Mota e Júlio Lira - 3ª
edição revisada - Fortaleza-CE: Comunicação e
Cultura, 2006.

1.Alfabetização 2. Letramento
3.Jornalismo escolar 4.Projetos educativos
de comunicação
I. Título
O projeto Primeiras Letras foi criado pela ONG
Comunicação e Cultura (Fortaleza) em 1998.
Desde o ano 2003 ele está sendo disseminado nacio-
nalmente através da Rede Jornal Escola. O objetivo do
projeto é contribuir para a melhoria dos processos de
ensino e aprendizagem e a formação cidadã das crian-
ças e adolescentes, através da publicação de jornais edi-
tados nas escolas de Ensino Fundamental. A produção
do jornal envolve alunos e professores, sendo estes os
responsáveis pela edição final.

O projeto resgata a função social da escrita e propõe a


inserção ativa das escolas na sociedade da informação.

O jornalismo escolar é uma tradição que nasceu com


o educador francês Célestin Freinet na década de 1920.
Na origem do projeto no Ceará está a experiência rea-
lizada pela professora Marluce Maia na escola Paro-
quial do Trilho, situada num bairro popular de Fortale-
za. Em 1995, a educadora aproveitou a oportunidade
criada por um outro projeto do Comunicação e Cultu-
ra para dar início à publicação do “Jornal Popular”,
com textos e desenhos de seus alunos. Os resultados
foram excelentes de todos os pontos de vista, e motiva-
ram a criação do projeto Primeiras Letras.

Nesta publicação apresentamos algumas recomenda-


ções inicias. Tratando-se de uma atividade eminente-
mente criativa, não duvidamos de que em pouco tem-
po as professoras e professores que abracem a idéia
terão descoberto novas formas de utilizar o jornal es-
colar para melhor ensinar e... aprender!
Eu!... Trabalhar com
jornal escolar?
A professora Alice hesitou bastante quando a convidaram a produzir um jornal
escolar. “Mais uma dessas novidades...”, pensou com ceticismo; “além disso, como
vou publicar um jornal, se não sou jornalista?”.

Contudo, em pouco tempo, Alice descobriu que publicar um jornal não era ne-
nhum “bicho papão”, e - melhor ainda - que ele facilitava bastante o seu trabalho.
Os alunos e alunas entendiam melhor a função social da escrita e participavam
mais, motivados pela publicação de seus textos. Por outro lado, a própria Alice
sentiu-se valorizada e orgulhosa pelo seu trabalho.

Nesta publicação acompanharemos um pouco da experiência da profes-


sora Alice e conheceremos alguns exemplos de conexão entre o projeto
pedagógico e a produção de textos para o jornal. Além disso, rece-
beremos algumas recomendações práticas muito úteis. Tudo ti-
rado da experiência!

Lendo a apostila o professor(a) constatará que o jor-


nal é uma ferramenta adequada aos propósitos
educativos da escola. Mais do que isso, desco-
brirá que fazer um jornal junto com seus
alunos pode ser uma ótima oportu-
nidade para seu próprio desen-
volvimento pessoal. E isso
realmente importa!
O projeto pedagógico escolhido pela escola tra-
tava do tema a importância da educação. Alice de-
Carta
cidiu aproveitar a oportunidade para trabalhar o Texto escrito na primeira pessoa
gênero correspondência. Ela mostrou aos alunos
(do singular ou plural) com o
dois tipos de carta, uma publicada no jornal da
cidade e outra, de tipo familiar, que tinha rece- objetivo de estabelecer uma
bido de uma tia do interior. Partindo destes comunicação direta com o
exemplos, debateu acerca da possibilidade de, destinatário ou os destinatários.
por meio das cartas, manifestar pensamentos, A carta pode ser dirigida tanto
sentimentos e participar da vida pública.
para pessoas conhecidas, como
Para animar a conversa, a professora Ali- para autoridades. Sua função
ce perguntou se alguém na sala já havia es-
social também se caracteriza pela
crito alguma correspondência. Propôs em
seguida que todos escolhessem uma pessoa diversidade: é meio de expressão
para quem gostariam de escrever a respei- de afetividade, opiniões,
to da importância da educação. Foi um al- protestos etc.
voroço... Cartas para mães, amigos e Pa-
pai Noel!
Querido amigo Júlio,
Ao final da atividade os alunos leram Por que você abandonou a
suas cartas. Após debate, de comum escola? Você não gostava das
acordo foram selecionadas para o jor- professoras ou dos alunos? Se
nal cartas que algumas crianças tinham você quiser voltar venha que nós
todos estamos esperando. Não
escrito para colegas fora da escola. Ali- esqueça que nós somos seus
ce, junto com a turma, providenciou o amigos e seus irmãos na alegria,
envio das demais, utilizando envelopes na tristeza, na doença e nas coi-
e explicando para as crianças como sas que você precisa. Já que
você tem uma mãe que não liga
preenchê-los. para você, não se esqueça de
nós. Me desculpe, eu estou fa-
lando tudo isso porque eu gosto
Resultados de você, não quero ver você so-
frendo que nem outros meninos
e meninas. Receba esta carta
As crianças perceberam os ele- com muito amor de sua grande
mentos básicos do processo de amiga.
comunicação (sujeito, receptor Edinalda, 2ª série B
e mensagem); expressaram
sua afetividade, bem como
seus pontos de vista. ho, ei
Joãozin ois fiqu
Colega e escrevendo p o c ê d e i -
v
No debate para escolher Estou lh p e n a p o r q u e q u e v a i
u i t a r o
a
as cartas que seriam pu- c o m m s t u d a r, e a g o g a , s e m e s -
e e
blicadas, agiram como xou de u futuro? Col alguém ou
e r
verdadeiros cidadãos, ser do s ais poderá se é mesmo de
m t
t u d o j a u m e m p r e g o a fícil por isso
para uma finalidade de r i
a r r a n j a vai ser muito d o m u i t o e r -
bem comum. O exercí- pedreir o c ê e s t á a g i n d a e d e i x e d e
o
cio serviu também para v l
pense, lte para a esco s daqui es-
estimular a inteligência o d o
rado, v no de rua, to e. Abraços.
n i l t
emocional. ser me que você vo B
peram o s 2ª série
Juliana

8 Ensinando e aprendendo com o jornal escolar


NO
DE OLHO
BAIRRO D urante as reuniões de planeja-
c e m m u i- mento, os professores comentavam sem-
a ir r o a c o n te
Em n o s s o b s , é c la - pre a necessidade de se aproximarem da
a s b o a s e r u in
ta s c o is a s
; c o is mentos
d o s aconteci vida da comunidade. A professora Alice
u m água
ro. Mas n te s f o i a v in d a d a és decidiu trabalhar essa questão por meio
r ta a s a s a tr a v
m a is im p o o s s a s c
o de n de textos opinativos dos alunos.
p a r a d e n tr .
C E
da CAGE pro- De início ela conversou com seus alu-
C A G E C E vai nos
A água da iç õ e s d e nos, solicitando que apresentassem os pro-
e lh o res cond
p o r c io n a
r m a r a a l-
e e r a p r iv il é g io p u s u - blemas do bairro. A seguir Alice propôs a
u
v id a , o q p o d e m o s ta
mbém redação de textos sobre o assunto. Ela ex-
, a g o r a
guns plicou que primeiro se deve apresentar a si-
e bem.
f r u ir d e s s men-
s o o u tr o s m e lh o r a ir - tuação, deixando para dar a opinião depois.
A lé m d is a
h e g a r a m ao nosso b , Para reforçar, leu um pequeno artigo de opi-
mc as
to s ta m b é f o r m a n as Escol nião publicado no jornal local.
ro como
: re e n a il u -
s n o c a lç a m e n to
m e lh o r ia Alice dividiu os alunos em grupos e solici-
das ruas.
m in a ç ã o o i só um c
o- tou que apontassem, por escrito, alguma coi-
o q u e f
d it o
I s s o , a c r e e c is a m o s d e m u it sa do bairro que eles acham injusta ou erra-
is , p r sa ú d e ,
meço, po n ç a , p o s to s d e da. Também pediu para fazerem desenhos.
u r a
m a is : s e g
creche s .. . Após o momento da redação, os alunos apre-
o, de
o s d e m a is tr a b a lh s s o sentaram e debateram seus textos com os cole-
P r e c is a m azer o no
e m p e n ho para f gas. Entre todos, escolheram aquele que seria
m a is
s c e r. publicado no jornal. Alice ainda os orientou a
b a ir r o c r e a d e A lm
e id a .
P e r e ir . fazer um mural com o título “De olho no bairro”,
A d r ia n a – Manhã
o r r o – SA II
Tia S o c no qual todos os trabalhos foram expostos.

Resultados

Opiniao
~ Com essa atividade as crianças sentiram-
se responsáveis por sua comunidade.
“Isto nunca tinha acontecido antes”, dis-
Texto através do qual o autor se um dos pais; “achei muito positivo
expõe seus pensamentos acerca meu filho se interessar pelo bairro”.
de um tema. Em geral, a
opinião é composta de uma A professora Alice avalia que os alunos
associaram a escrita à ação social pela
introdução na qual se apresenta melhoria de qualidade de vida. Além dis-
uma situação, seguida de so, notou que o exercício ajudou as cri-
anças a manifestar seus pensamentos com
argumentação demonstrando
lógica e coerência.
um ponto de vista.
Normalmente o artigo de
opinião é finalizado com uma
proposta ou uma reflexão.

Ensinando e aprendendo com o jornal escolar 9


Como forma de engajar seus alu-
nos na campanha contra a Dengue,
que ameaça a saúde dos moradores
do bairro, a professora Alice deci-
Anúncio
Educativo
diu trabalhar anúncios educativos.
Após falar sobre a epidemia,
lançou aos alunos a idéia que
completassem a seguinte frase:
“se eu pudesse eu diria às pesso-
Gênero que tem como objetivo
as da minha comunidade que...”
conscientizar ou informar os
Alice sintetizou as discussões
leitores sobre determinado
mostrando a relevância das men-
sagens imaginadas e a importância assunto. Sua principal
da circulação de idéias. Disse para característica é o poder de
a turma que muitas pessoas usam os síntese: com poucas palavras e
anúncios para apresentar suas idéi- imagens deve seduzir os leitores.
as. Para ilustrar, mostrou alguns mo-
delos de publicidade educativa.
Ao perceber que os alunos tinham
entendido bem o assunto, Alice soli-
citou que cada um produzisse um
anúncio contra a Dengue, com texto
e desenho. Quando os anúncios fica-
ram prontos, os alunos organizaram
uma exposição e escolheram o melhor
para ser publicado no jornal. “Fiquei
surpresa!”, disse Alice. “Eles ficaram
muito concentrados”.

Resultados

Os alunos se sentiram participantes de


uma luta pela saúde comunitária. Eles en-
tenderam o princípio da comunicação de
massa, bem como características da co-
municação aplicada à publicidade.

“As produções das crianças foram exce-


lentes”, avalia a professora. “Eles conse-
guiram expressar suas idéias através de
formas muito simples”.

10 Ensinando e aprendendo com o jornal escolar


Pensando no projeto mensal dos ciclos, que
tratava do mundo da comunicação, a professora
Alice provocou um debate sobre os tipos de noti-
ciários que os alunos já haviam visto. Em segui-
da mostrou o grande trunfo do dia: uma caixa de
Plano papelão imitando uma TV. Com os meninos en-
de Em cantados, ela apresentou a proposta de fazer um
Estamo ergênc
de seca s e n f ia jornal televisivo de faz-de-conta. Cada um deles
, e tam rentado mais
trabalh
o
bém um um ano deveria investigar um fato novo da escola ou da
para su . Nossos pais a n o d e m u i t sua vizinhança, descobrindo o que aconteceu,
sten trab os
Exemp tar a família. alham muito
fazem lo: C onde e quando aconteceu.
cerca, c ortam capim
acimbõ , broca
Ganh e m, No dia seguinte, Alice solicitou que cada
temos f a m 9 0 r e a i s s e outros.
amílias
que tem
por mê
s. um deles escrevesse sua notícia. Ela ficou bem
10 pess O n d e atenta tirando dúvidas e apresentado suges-
oas.
tões e questionamentos relativos à reescrita
e à revisão.
Depois aconteceu a apresentação do
telejornal, com grande sucesso. Para termi-
nar a atividade, a professora Alice orga-
nizou uma pequena votação, para os alu-
nos escolherem as notícias que seriam
publicadas no jornal da escola.

Resultados

Notícia
O fato de elaborarem uma no-
tícia sobre a escola ou a comu-
nidade levou os alunos a co-
nhecer melhor o mundo em que
vivem .
Este gênero se caracteriza como um
registro objetivo dos fatos; o autor Ao buscar informações para
escrever uma notícia, os alu-
procurando passar mais informações nos puderam realizar uma pe-
do que opiniões. Na notícia o quena pesquisa, base da cons-
trução de qualquer tipo de co-
jornalista procura responder algumas nhecimento.
perguntas clássicas: o que
aconteceu? por que, como, quando e A escolha pelos alunos das
onde aconteceu? quem está matérias que seriam publi-
cadas no jornal levou-os a re-
envolvido? fletir sobre a importância dos
meios de comunicação.

Ensinando e aprendendo com o jornal escolar 11


O primeiro ciclo estava engajado num
projeto referente à situação da criança. A
professora Alice decidiu trabalhar sobre o Es-
Ilustraçao
~
tatuto da Criança e do Adolescente com seus
alunos, utilizando desenhos. Imagem utilizada pelo jornal na
forma de fotografia, desenho,
Ela procurou na biblioteca da escola um
exemplar do Estatuto e partiu para o desafio caricatura ou charge.
de tornar essa lei algo de fácil compreensão.
Alice iniciou a conversa com a turma a par-
tir da questão: “De que uma criança precisa
para ser feliz?” Ao comentar as respostas, fez
associações aos direitos da criança e, em se- Direitos da criança
guida, listou-os no quadro. Deu continuidade
ao debate com a pergunta: “O que uma crian-
ça pode fazer para tornar os outros felizes em
casa, na escola...?” Ela associou as respostas
aos deveres da criança e novamente os listou
no quadro.
Em seguida sugeriu que os alunos, em du-
Lazer Educação Saúde
plas, ilustrassem alguns dos direitos e deve-
res da criança. Alice estimulou as crianças a
exibirem as ilustrações em um mural e a se-
lecionarem aquelas que iriam para o jornal.
Junto com a turma, refletiu sobre os
acordos (direitos e deveres) que são feitos
ao longo dos tempos para que as pessoas
convivam melhor, e falou ainda como, mui- Família Moradia
tas vezes, as crianças têm seus direitos des-
respeitados. Encerrou a aula apresentan-
do o estatuto para seus alunos.
Deveres da criança

Resultados

A atividade possibilitou a refle-


xão sobre os fundamentos do Não jogar Chegar cedo Não riscar as
conceito de cidadania, com um lixo no chão à escola paredes da
escola
debate sobre responsabilida-
des e direitos das crianças.

A turma teve elementos


para entender e se posi-
cionar criticamente quan-
to à situação das crianças
no Brasil e no mundo. Respeitar a Prestar
professora e os atenção à
colegas aula
Alunos 2º Ciclo

12 Ensinando e aprendendo com o jornal escolar


O projeto escolar daquele mês tinha por
tema a importância da literatura. A professora
Alice pensou que um gênero interessante para
ser trabalhado em sala de aula seria o conto,
que é mais curto e que prenderia a atenção
da turma. Selecionou para tanto um dos
contos de que ela gostava, para ser lido
para a turma.
A leitura foi prazerosa, pois Alice tem
o dom de fazer com que as crianças ima-
ginem mil cenas à proporção em que lê.
Em seguida debateu com as crianças um
pouco da história do autor e o conto.
Para estimular a imaginação de seus
alunos, Alice pediu que cada um rees-
Cavalo crevesse a estória com um final dife-
de pau
Era um
a rente, ilustrando-a à sua maneira.
não tin v e z uma
h m
quem b a brinquedos. enina que Ao final da aula, solicitou aos alu-
rincar,
um dia ela vivi E nem com nos que apresentassem o texto e a ilus-
e a
profess a foi para a triste, mas
l
valo de
ora ens
inou a f escola e a tração para o restante do grupo. Alice
um, ela p a u , e l a a azer um ca- comentou o valor das diferentes solu-
outras m o rava nu p r e n d e u e f e z ções criadas pelos pequenos escrito-
c ma f
n h a m b r i n a ç a s t a m b avela e as res. Um trabalho foi selecionado para
é
para ela r i n q u e d o s . E m n ã o t i -
s apren
deram
la ensi
nou ser publicado no jornal da escola.
Então e
v e l a a g , todas as cria fizeram.
o n
elas fic r a t i n h a u m ças da fa-
aram m brinque
E viver uito do,
am feli felizes.
zes par Resultados
a sempr
e.
Maria,
5ª série
B

A atividade permitiu que as cri-


anças se aproximassem à litera-
tura narrativa, despertando ne-
las a vontade de ler e escrever

Conto:
contos.

Possibilitou ainda que elas tra-


balhassem a coerência e a lógi-
ca, ordenando causas e conse-
Texto que tem por objetivo qüências dos acontecimentos,
narrar uma história que, em bem como estimulou a criati-
vidade e a percepção do valor
geral, é fictícia. Neste gênero da imaginação.
não se tem uma preocupação
informativa, diferenciando-se
desta forma da notícia.

Ensinando e aprendendo com o jornal escolar 13


A seleção dos textos

N uma oportunidade, Alice selecionou para


publicação o texto de uma criança que tinha sofri-
do sérias queimaduras num acidente doméstico.
Ela explicou à turma que achava que a menina
merecia o reconhecimento, porque apesar da ad-
versidade continuava na escola. Os colegas apoi-
aram esse ponto de vista com uma salva de pal-
mas. “Eu sabia que o texto não era o melhor da
sala, mas a menina precisava levantar o moral,
porque estava bastante abalada”, comenta a pro-
fessora. “Após ter sua matéria publicada ela me-
lhorou muito sua integração e participação”.
Resultados como esse surgem do reconhecimen-
to que a própria criança e as pessoas que a cer-
cam fazem de seu trabalho, quando publicado no
jornal. Por isso, nem sempre é conveniente pu-
blicar o melhor texto da aula. Publicar trabalhos
de alunos que precisem de apoio especial por
qualquer circunstância é uma boa estratégia.

“Minha matéria não saiu”


Entretanto, a quantidade de textos que po- Dicas
dem ser publicados no jornal é limitada, por
falta de espaço. Está aí um grande risco. l Sempre que possível é recomendável trabalhar
Se não forem tomadas algumas precau- textos coletivos que, além de proporcionarem
ções, um projeto que deveria aumentar a a socialização do grupo, representam toda uma
turma no jornal.
auto-confiança pode vir a ter efeito con-
t r á r i o, c o m o s a l u n o s s e n t i n d o - s e l A professora pode promover dinâmicas para
frustados e preteridos. que os alunos escolham eles mesmos os tex-
tos a serem publicados, seja através de debate
Um caso ilustra bem este risco: no
ou até de eleição.
dia da distribuição do jornal, as cri-
anças avançaram procurando seus l O educador pode escolher ele mesmo um tex-
exemplares. Tiago, um garoto de 9 to, mas sempre explicando seus motivos. Um
anos, folheou e imediatamente ras- bom exemplo é quando escolhe um trabalho
gou o jornal em mil pedaços. Es- de um aluno que tem melhorado muito e, por
tava furioso porque o seu dese- isso, merece ser reconhecido.
nho não tinha sido publicado.
l Obviamente é necessário evitar que sejam sem-
O que fazer para aproveitar o pre os mesmos alunos que tenham seus traba-
jornal no reforço da auto-esti- lhos publicados no jornal. O professor deve
ficar atento para dar oportunidades a todos.
ma dos alunos, evitando frus-
trações? Veja algumas dicas
l Os trabalhos não veiculados no jornal podem
ao lado. ser valorizados em outros espaços, como mu-
rais, caixas de recados, correios etc.

14 Ensinando e aprendendo com o jornal escolar


Erros em debate

Publicar ou não textos com erros? Eis uma questão


que agita muitas escolas. A professora Alice sustenta que
o fato de os textos terem visibilidade pública no jornal
é um ótimo estímulo para os alunos valorizarem a re-
visão, sobretudo através de trabalhos coletivos em sala
de aula.
Porém ela sabe que a revisão é uma situação di-
O men
ino e se dática. Quando são trabalhados textos de alunos que
navio u apenas começaram a escrever, o importante é focar
Era um
a vez u a revisão nas questões de coerência e coesão. A re-
navio. m meni visão dos erros ortográficos irá ganhando impor-
Ela sai no seu
serto d a para
ia o na pesca e tância à medida em que o professor sentir que o
minino vio afu na
quaze q ndou e aluno consegue expressar seus pensamentos de for-
ue ia se o
alogou. ma lógica.
Pedro,
1º ciclo
Mas como seguir essa recomendação quando sa-
bemos que os erros dos alunos são lidos pelos fami-
liares e pela comunidade escolar? Será que os pró-
prios alunos não gostariam de apresentar textos im-
pecáveis e, para tanto, de receber a ajuda dos pro-
fessores? Por outro lado, qual é o limite da revisão
para os alunos se identificarem com suas matérias e
serem reconhecidos como autores?

e n i n o e seu O importante é que os professores tenham consciên-


Om cia tanto do potencial do jornal escolar para o aprimo-
navio o e seu ramento da redação, através da revisão, como do risco
enin
v ez um m r e
Era u m a
í a p a r a pesca de se cometer excessos que desvirtuem os textos dos alu-
Ela sa afundo
u. O nos, “inventando” uma capacidade de expressão escrita
navio. n a v i o
ia o ou. inexistente.
certo d s e se afog
q u a 1º ciclo
menino Pedro,
Em todo caso é prudente informar aos leitores sobre a
natureza da publicação, inserindo uma mensagem como a
seguinte: “Este jornal publica textos de alunos em fase de alfa-
betização. Seja tolerante com eventuais erros”.

Dicas

l A professora escreve na lousa o(s) texto(s) escolhido(s) para representar a


sala no jornal. Conversa sobre a importância do jornal, sobre a opinião que
os leitores terão do trabalho da escola e da sala de aula. Propõe que todos
juntos façam a revisão do texto. A seguir solicita que alguém leia em voz alta.
Os alunos interrompem a leitura a medida em que descobrem erros ou têm
sugestões a fazer.

Ensinando e aprendendo com o jornal escolar 15


Formando leitores

U ma agitação percorre as cartei- Dicas


ras. Os alunos se impacientam, não
querem aguardar sua vez. Um ou ou-
tro grita “Aqui, aqui!”. Outros esticam HABILIDADES NA
o braço. A professora Alice procura LEITURA DE TEXTO
acalmar os mais afoitos. É o jornal es-
colar sendo distribuído. JORNALíSTICO (*)
“O momento em que o jornal é
l Reconhecer a configuração de um jornal: de
distribuído em sala de aula é mági- que é feito um jornal? como as letras e pá-
co”, disse Alice. “Dá gosto ver os ginas se arranjam? em que é diferente de
alunos tão interessados pela leitu- um livro?
ra”. De fato, os estudantes pas-
sam o jornal todo em revista, pro- l Identificar as diferentes partes do jornal: o
que são matérias? o que é expediente? o que
curando novas matérias, autores
é prestação de contas?
conhecidos, assuntos polêmi-
cos, recadinhos, avisos... l Identificar diferentes tipos de texto: quem é
capaz de encontrar a notícia? e recadinhos?
Esta movimentação toda
e publicidade?
fez Alice procurar aproveitar
melhor o interesse dos alunos, l Identificar diferentes funções dos textos:
para melhor explorar o po- para que serve uma notícia, uma publicida-
tencial do jornal. Ela se ins- de, o expediente? Para que serve a man-
pirou nas “dicas” ao lado. chete? por que ela tem as letras maiores?

l Relacionar textos a seus leitores: para quem


determinado texto foi escrito? a pessoa que
escreveu queria se comunicar com quem?

l Localizar e retirar informações: o que este


texto nos informa? Fazer perguntas especí-
ficas, relacionadas a um ou outro aspecto
do texto.

l Compreensão global de um texto: de que


trata esta matéria?

l Sintetizar informações: como você contaria


essa história em poucas frases?

l Identificar causas e conseqüências de fatos:


como isto começou? isso vai parar por aí
ou vai ter conseqüências?

(*) Texto de referência: “Leitor de jornal,


perspectiva metodológica”, Leiva de
Figueiredo Viana Leal, Revista Presença
Pedagógica, Maio/Junho 1996.

16 Ensinando e aprendendo com o jornal escolar


Com a palavra, as crianças

O jornal escolar é uma ferramenta que se


presta bem para o aperfeiçoamento da ora-
lidade. Quem não gosta de comentar a notícia
que leu? Quem nunca leu em voz alta uma notí-
cia que achou interessante? Quem nunca parti-
cipou de uma polêmica envolvendo informações
veiculadas pelos meios de comunicação?
“Trabalhar a oralidade com as crianças é per-
mitir que elas vivam situações de expressão que
os cidadãos adultos já vivem”, observa a profes-
sora Alice. “As matérias presentes no jornal da es-
cola são bons motivos para as crianças falarem so-
bre si, relatarem suas experiências, externarem suas
opiniões e, principalmente, debaterem sobre o que
pensam e sentem...”
Mesmo antes de escrever a criança já pode conversar
sobre assuntos que fazem parte do dia-a-dia do seu bair-
ro, da sua cidade, do seu país. O aluno pode participar da
vida pública na qualidade de sujeito sem perder a condi-
ção infantil. Cidadania deixa de ser a palavra já desgastada
de tanto mau uso e passa a reluzir de tanta vitalidade.

Dicas

VOCÊ DECIDE
l O professor pode fazer do momento da escolha do texto
que irá para o jornal excelente oportunidade de debate.
Qual é a carta que vamos enviar para o jornal? Porque
esse assunto e não tal outro? Com jeito, ele pode levar os
alunos, mesmo os mais pequeninos e pequeninas, a terem
consciência do papel formador da opinião pública presen-
te na comunicação.

l “O nosso bairro ou nossa escola está precisando de que


tipo de matérias?” pode ser uma pergunta chave.

l A preparação do texto, quando realizado através de traba-


lho em grupo, é uma situação que fomenta nos alunos o
hábito da troca de conhecimentos.

l Participar da seleção da matéria que irá para o jornal já é


um exercício de cidadania, de valorização do diálogo e da
lógica presente nas argumentações.

Ensinando e aprendendo com o jornal escolar 17


CONCLUSÃO QUE É UM INÍCIO

Nas páginas desta cartilha a professora Alice


guiou nossos passos, para mostrar-nos como, sem
muito esforço, é possível resgatar a função social da
escrita, a paixão pela leitura e, fundamentalmente,
tornar os momentos de aprendizagem mais prazerosos.
Quem é a professora Alice? A professora Alice,
que também poderia ter sido o professor Pedro, so-
mos todos nós, profissionais da educação que acre-
ditamos no potencial de nossos alunos e alunas, e
sobretudo em nosso próprio potencial para inventar
outras maneiras de ser e de viver.
A publicação do jornal escolar Primeiras Letras
tem esse significado: um ato de criação que dá aos
professores e professoras o direito de voltar a ser cri-
ança, para descobrir novas opções, novas possibili-
dades e, no final das contas, terminar a jornada com
a satisfação do enriquecimento pessoal.
Esta cartilha é o fruto do envolvimento de muitas
pessoas com essa idéia. A elas, nossos agradecimen-
tos e o compromisso de trabalharmos para que mais
e mais professoras e professores possam utilizar e
desfrutar esta ferramenta que o projeto Primeiras Le-
tras coloca a seu alcance.

18 Ensinando e aprendendo com o jornal escolar


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capacitação à distância,
coleções de JORNAIS ESCOLARES,
relatos sobre a PRODUÇÃO DO JORNAL na escola,

boletim COMUNICANDO,
DICAS para aproveitar o jornal na escola.

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