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DIREITO DO CONSUMIDOR 18.03.

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Prof.: Leonardo Vieira

Conteúdo: 1 - Responsabilidade Civil: objetiva e solidária (regra no CDC) 2 -


vício do produto e vício do serviço; fato do produto e fato do serviço; 3 - Prazo
decadencial e prescricional.

1 – Responsabilidade Civil nas Relações de Consumo

- A responsabilidade no CDC tem como base o art. 6º, VI:


Art. 6º, VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,
individuais, coletivos e difusos;

- Indenização efetiva significa que deve recompor os danos o máximo


possível.

- A regra da responsabilidade civil no CDC é objetiva e solidária.

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência


de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos
relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou
inadequadas sobre sua fruição e riscos

Art. 7º, Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão
solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo.

Art. 25. É vedada a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere


ou atenue a obrigação de indenizar prevista nesta e nas seções anteriores.
§ 1° Havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos responderão
solidariamente pela reparação prevista nesta e nas seções anteriores.

OBS: a tendência atual caminha no sentido de prevenir os danos (tutela


preventiva), e não apenas esperar que eles ocorram para indenizá-los.

1.1 – Vício do Produto ou Serviço e Fato do Produto ou Serviço

- Diferença entre vício e fato: no vício existe um descompasso entre o


produto ou serviço oferecido e as ilegítimas expectativas do consumidor
(intrínseco, in re ipsa). Já no fato, há um dano ao consumidor, atingindo-o sua
integridade física ou moral (extrínseco).

- Vício atinge o produto e fato atinge o consumidor.


- “defeito” deve ser usado como sinônimo de fato do produto ou serviço,
ou acidente de consumo.

1.2 – Vício do Produto

Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não


duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou
quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a
que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles
decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do recipiente, da
embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as
variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a
substituição das partes viciadas.
Art. 23. A ignorância do fornecedor sobre os vícios de qualidade por
inadequação dos produtos e serviços não o exime de responsabilidade.

(STJ - AgRg no REsp 1124566 / AL) PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO


REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. DIREITO DO CONSUMIDOR.
INDENIZAÇÃO POR VÍCIO DE QUALIDADE. AUTOMÓVEL. FERRUGEM.
APLICAÇÃO DO ARTIGO 18, § 1º, DO CPC. RESPONSABILIDADE
SOLIDÁRIA. IMPROVIMENTO.

(STJ - REsp 821624)PROCESSUAL CIVIL. DIREITO DO CONSUMIDOR.


AQUISIÇÃO DE VEÍCULO QUE APRESENTOU DEFEITO NO AR
CONDICIONADO. CONCESSIONÁRIA. ILEGITIMIDADE AFASTADA.
ART. 18 DO CDC. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DO FABRICANTE
E DO FORNECEDOR.I. "Comprado veículo novo com defeito, aplica-se o
art. 18 do Código de Defesa do Consumidor e não os artigos 12 e 13 do
mesmo Código, na linha de precedentes da Corte. Em tal cenário, não há
falar em ilegitimidade passiva do fornecedor"(REsp nº 554.876/RJ, 3ª
Turma, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes, DJU de 17/02/2004). II.
Recurso especial parcialmente provido para afastar a ilegitimidade passiva
da empresa ré.

- De acordo com o CDC o consumidor tem as seguintes hipóteses


diante de um vício do produto:
§ 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o
consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:
I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas
condições de uso;
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem
prejuízo de eventuais perdas e danos;
III - o abatimento proporcional do preço.
§ 3° O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1°
deste artigo sempre que, em razão da extensão do vício, a substituição
das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou características do
produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial.
OBS: pode haver a coexistência da responsabilidade por vício e fato.
- A constatação de vício do produto pode gerar também o direito a
indenização por dano moral:

(STJ - REsp 324629) Direito do Consumidor. Recurso Especial. Ação de


conhecimento sob o rito ordinário. Aquisição de automóvel zero-quilômetro.
Vícios do produto solucionados pelo fabricante no prazo legal. Danos
morais. Configuração. Quantum fixado. Redução. Honorários advocatícios.
Sucumbência recíproca. O vício do produto ou serviço, ainda que
solucionado pelo fornecedor no prazo legal, poderá ensejar a reparação
por danos morais, desde que presentes os elementos caracterizadores do
constrangimento à esfera moral do consumidor. Se o veículo zero-
quilômetro apresenta, em seus primeiros meses de uso, defeitos em
quantidade excessiva e capazes de reduzir substancialmente a utilidade e
a segurança do bem, terá o consumidor direito à reparação por danos
morais, ainda que o fornecedor tenha solucionado os vícios do produto no
prazo legal. Na linha de precedentes deste Tribunal, os danos morais,
nessa hipótese, deverão ser fixados em quantia moderada (salvo se as
circunstâncias fáticas apontarem em sentido diverso), assim entendida
aquela que não ultrapasse a metade do valor do veículo novo, sob pena de
enriquecimento sem causa por parte do consumidor. Se o autor deduziu
três pedidos e apenas um foi acolhido, os ônus da sucumbência deverão
ser suportados reciprocamente, na proporção de 2/3 (dois terços) para o
autor e de 1/3 (um terço) para o réu. Recurso especial a que se dá parcial
provimento.

1.2 – Vício do Serviço

Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que


os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como
por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da
oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir,
alternativamente e à sua escolha: I - a reexecução dos serviços, sem custo
adicional e quando cabível; II - a restituição imediata da quantia paga,
monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; III -
o abatimento proporcional do preço.

- Nesses casos a regra será também a responsabilidade objetiva.

1.3 – Fato do Produto (acidente de consumo)

Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o


importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes
de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação,
apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por
informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.
§ 1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele
legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias
relevantes, entre as quais: I - sua apresentação; II - o uso e os riscos que
razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi colocado em
circulação.
§ 2º O produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor
qualidade ter sido colocado no mercado.

(STJ - AgRg no REsp 1220998) AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


ESPECIAL. CIVIL E PROCESSO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL.
ACIDENTE DE CONSUMO POR DEFEITO DE PRODUTO. FRATURA DE
DENTES APÓS MORDER PEÇA METÁLICA CONTIDA EM ALIMENTO
FABRICADO PELA RÉ. RECONHECIMENTO PELO TRIBUNAL DE
ORIGEM DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA FORNECEDORA,
QUE NÃO DEMONSTROU AS EXCLUDENTES DO § 3.º DO ART. 12 DO
CDC. O ACOLHIMENTO DA PRETENSÃO RECURSAL ESBARRA NO
ÓBICE DA SÚMULA 07/STJ. AGRAVO DESPROVIDO.

1.4 – Fato do Serviço

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da


existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como
por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o
consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as
circunstâncias relevantes, entre as quais: I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a
época em que foi fornecido.
§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas
técnicas.

(STJ - REsp 287849 / SP)CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.


Responsabilidade do fornecedor. Culpa concorrente da vítima. Hotel.
Piscina. Agência de viagens. Responsabilidade do hotel, que não sinaliza
convenientemente a profundidade da piscina, de acesso livre aos
hóspedes. Art. 14 do CDC. A culpa concorrente da vítima permite a
redução da condenação imposta ao fornecedor . Art. 12, § 2º, III, do CDC. -
A agência de viagens responde pelo dano pessoal que decorreu do mau
serviço do hotel contratado por ela para a hospedagem durante o pacote
de turismo.

(STJ - REsp 876448 / RJ) RECURSOS ESPECIAIS -


RESPONSABILIDADE CIVIL - ALUNA BALEADA EM CAMPUS DE
UNIVERSIDADE - DANOS MORAIS, MATERIAIS E ESTÉTICOS -
ALEGAÇÃO DE DEFEITO NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO,
CONSISTENTE EM GARANTIA DE SEGURANÇA NO CAMPUS
RECONHECIDO COM FATOS FIRMADOS PELO TRIBUNAL DE ORIGEM
- FIXAÇÃO - DANOS MORAIS EM R$ 400.000,00 E ESTÉTICOS EM R$
200.000,00 - RAZOABILIDADE, NO CASO - PENSIONAMENTO MENSAL
- ATIVIDADE REMUNERADA NÃO COMPROVADA - SALÁRIO MÍNIMO –
SOBREVIVÊNCIA DA VÍTIMA - PAGAMENTO EM PARCELA ÚNICA -
INVIABILIDADE – DESPESAS MÉDICAS - DANOS MATERIAIS -
NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO – JUROS MORATÓRIOS -
RESPONSABILIDADE CONTRATUAL - TERMO INICIAL - CITAÇÃO -
DANOS MORAIS INDIRETOS OU REFLEXOS - PAIS E IRMÃOS DA
VÍTIMA - LEGITIMIDADE - CONSTITUIÇÃO DE CAPITAL -
TRATAMENTO PSICOLÓGICO - APLICAÇÃO DA SÚMULA 7/STJ. 1.-
Constitui defeito da prestação de serviço, gerando o dever de indenizar, a
falta de providências garantidoras de segurança a estudante no campus,
situado em região vizinha a população permeabilizada por delinquência, e
tendo havido informações do conflagração próxima, com circulação de
panfleto por marginais, fazendo antever violência na localidade, de modo
que, considerando-se as circunstâncias específicas relevantes, do caso,
tem-se, na hipótese, responsabilidade do fornecedor nos termos do artigo
14, § 1º do Código de defesa do Consumidor. 2.- A Corte só interfere em
fixação de valores a título de danos morais que destoem da razoabilidade,
o que não ocorre no presente caso, em que estudante, baleada no interior
das dependência de universidade, resultou tetraplégica, com graves
consequências também para seus familiares. 3.- A jurisprudência desta
Corte firmou-se no sentido de que a pensão mensal deve ser fixada
tomando-se por base a renda auferida pela vítima no momento da
ocorrência do ato ilícito. No caso, não restou comprovado o exercício de
atividade laborativa remunerada, razão pela qual a pensão deve ser fixada
em valor em reais equivalente a um salário mínimo e paga mensalmente.
4.- No caso de sobrevivência da vítima, não é razoável o pagamento de
pensionamento em parcela única, diante da possibilidade de
enriquecimento ilícito, caso o beneficiário faleça antes de completar
sessenta e cinco anos de idade. 5.- O ressarcimento de danos materiais
decorrentes do custeio de tratamento médico depende de comprovação do
prejuízo suportado. 6.- Os juros de mora, em casos de responsabilidade
contratual, são contados a partir da citação, incidindo a correção monetária
a partir da data do arbitramento do quantum indenizatório, conforme
pacífica jurisprudência deste Tribunal. 7.- É devida, no caso, aos genitores
e irmãos da vítima, indenização por dano moral por ricochete ou préjudice
d'affection, eis que, ligados à vítima por laços afetivos, próximos e
comprovadamente atingidos pela repercussão dos efeitos do evento
danoso na esfera pessoal.

1.5 – Perigo Intrínseco

- Alguns produtos apresentam a chamada periculosidade inerente. Ou


seja, seu uso corresponde inevitavelmente ao risco daquele que dele se utiliza.

- Por esse motivo, eventuais acidentes não geram dever de indenização


aos fornecedores. Ex1: corte de cozinheiro por manipular faca de cozinha; Ex2:
não cabe Indenização requerida por consumidor ao fornecedor de cigarros ou
bebidas alcóolicas por doença advinda do seu uso constante.

2 – Prazo decadencial do Vício (art. 26). Prazo prescricional do fato (art. 27);

- próxima aula.

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