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DIREITO DO CONSUMIDOR 01.04.

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Prof.: Leonardo Vieira

Conteúdo: 1 - Prazo decadencial do Vício (art. 26). Prazo prescricional


do fato (art. 27); 2 – Responsabilidade objetiva do fornecedor; 3 –
Responsabilidade do comerciante.

1 – Prazo decadencial do Vício (art. 26). Prazo prescricional do fato (art.


27);

1.1 – Prazo decadencial do vício

Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de


fácil constatação caduca em:
I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de
produtos não duráveis;
II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de
produtos duráveis.

- Estes prazos apenas se aplicam para os vícios aparentes ou de


fácil constatação.

- Para os vícios ocultos, a contagem do prazo só se inicial quando


ficar evidenciado o defeito (§3º).

- A reclamação feita ao fornecedor impede a decadência (§2º, I).

- Em caso de inobservância deste prazo legal, vale aplicar o art.


18, 1º:

§ 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta


dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua
escolha:
I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em
perfeitas condições de uso;
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente
atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;
III - o abatimento proporcional do preço.

- O consumidor que adquirir uma smart TV que não acessa a


internet e que não haja garantias contratuais. Ele reclama ao fornecedor
que terá 30 dias para consertar o defeito. Caso isso não ocorra aplica-se
o §1º do art. 18.

- Observe que o consumidor poderá, excepcionalmente se valer


diretamente das opções trazidas pelo art. 18:

§ 3° O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas


do § 1° deste artigo sempre que, em razão da extensão do
vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer a
qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor
ou se tratar de produto essencial.

- O CDC não especifica o que é “produto essencial” trazido na parte final


do dispositivo acima citado, assim essa essencialidade deve ser analisada
diante do caso concreto.

- Resp. 1.469.087, 17/11/16 – STJ considerou que transporte aéreo é


serviço essencial e contínuo.

OBS: dica prática – o consumidor pode afirmar que o bem é essencial para ele
e solicitar o ônus da prova.

§ 4° Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso I do § 1°


deste artigo, e não sendo possível a substituição do bem, poderá
haver substituição por outro de espécie, marca ou modelo diversos,
mediante complementação ou restituição de eventual diferença de
preço, sem prejuízo do disposto nos incisos II e III do § 1° deste
artigo.

- O prazo de 30 dias que p fornecedor tem para regularizar a situação


viciada pode ser alterada, mas nunca inferior a 7 dias e superior a 180 dias.

OBS: o prazo de 30 dias NÃO se renova a cada nova ordem de serviço para as
assistências técnicas.

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


DIREITO DO CONSUMIDOR. VEÍCULO ZERO. VÍCIO DE
QUALIDADE. DECADÊNCIA. CAUSAS DE INTERRUPÇÃO.
AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO DE FUNDAMENTOS DO
ACÓRDÃO. SÚMULAS 283 E 284/STF. INTELIGÊNCIA DO
ART. 18 DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.
OPÇÕES ASSEGURADAS AO CONSUMIDOR.
SUBSTITUIÇÃO DO PRODUTO POR OUTRO DA MESMA
ESPÉCIE EM PERFEITAS CONDIÇÕES DE USO. DANO
MORAL CARACTERIZADO. SÚMULA 83/STJ.
RESPONSABILIDADE PELA DEMORA NA SOLUÇÃO DO
PROBLEMA. SÚMULA 7/STJ. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 356/STF. REVISÃO DO
VALOR DA INDENIZAÇÃO. FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE.
SÚMULA 284/STF. AGRAVO NÃO PROVIDO. 2. Nos termos
do § 1º do art. 18 do Código de Defesa do Consumidor, caso o
vício de qualidade do produto não seja sanado no prazo de 30
dias, o consumidor poderá, sem apresentar nenhuma
justificativa, optar entre as alternativas ali contidas, ou seja: (I)
a substituição do produto por outro da mesma espécie, em
perfeitas condições de uso; (II) a restituição imediata da
quantia paga; ou (III) o abatimento proporcional do preço. 3. A
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de
ser cabível indenização por dano moral quando o consumidor
de veículo zero quilômetro necessita retornar à concessionária
por diversas vezes para reparo de defeitos apresentados no
veículo adquirido. 4. O Tribunal de origem concluiu que a
autora comunicou imediatamente à ora recorrente a descoberta
do vício do veículo zero-quilômetro adquirido e que esta não
deu solução ao problema até aquele momento. Nesse
contexto, afigura-se inviável rever tal conclusão a respeito da
responsabilidade pela demora na solução do problema, tendo
em vista o óbice da Súmula 7/STJ. (STJ - AgInt no AREsp:
403237 ES 2013/0331085-5, Relator: Ministro RAUL ARAÚJO,
Data de Julgamento: 07/03/2017, T4 - QUARTA TURMA, Data
de Publicação: DJe 20/03/2017)

1.2 - Prazo prescricional do fato

Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos


danos causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção
II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do
conhecimento do dano e de sua autoria.

- O STJ decidiu que mesmo em caso de lesões que se renova com o


tempo o início da contagem do prazo prescricional é de 5 anos a partir do
conhecimento do dano e da autoria, não havendo renovação deste prazo.

CONSUMIDOR - REPARAÇÃO CIVIL POR FATO DO


PRODUTO - DANO MORAL EESTÉTICO - TABAGISMO -
PRESCRIÇÃO - CINCO ANOS - PRINCÍPIO
DAESPECIALIDADE - INÍCIO DA CONTAGEM -
CONHECIMENTO DO DANO E DAAUTORIA - REEXAME DE
PROVAS - SÚMULA 7 - AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO
DODISPOSITIVO DE LEI SUPOSTAMENTE VIOLADO -
DEFICIÊNCIA NAFUNDAMENTAÇÃO - SÚMULA 284/STF -
DIVERGÊNCIA NÃO-CONFIGURADA. - A ação de reparação
por fato do produto prescreve em cinco anos (CDC; Art. 27). -
O prazo prescricional da ação não está sujeito ao arbítrio das
partes. A cada ação corresponde uma prescrição, fixada em lei.
- A prescrição definida no Art. 27 do CDC é especial em
relação àquela geral das ações pessoais do Art. 177 do CC/16.
Não houve revogação, simplesmente, a norma especial afasta
a incidência da regra geral (LICC, Art. 2º, § 2º). - A prescrição
da ação de reparação por fato do produto é contada do
conhecimento do dano e da autoria, nada importa a renovação
da lesão no tempo, pois, ainda que a lesão seja contínua, a
fluência da prescrição já se iniciou com o conhecimento do
dano e da autoria. - "A pretensão de simples reexame de prova
não enseja recurso especial." - É inadmissível o recurso
especial, quando a deficiência na sua fundamentação não
permitir exata compreensão da controvérsia. Inteligência da
Súmula 284/STF. - Divergência jurisprudencial não
demonstrada, nos moldes exigidos pelo par. único, do Art. 541,
do CPC. (STJ - REsp: 304724 RJ 2001/0020513-5, Relator:
Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Data de
Julgamento: 24/05/2005, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de
Publicação: DJ 22/08/2005 p. 259)

DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR


DANOS MATERIAIS E MORAIS DECORRENTES DE VÍCIOS
NO SERVIÇO. PRESCRIÇÃO. CINCO ANOS. INCIDÊNCIA
DO ART. 27 DO CDC. 1. Escoado o prazo decadencial de 90
(noventa) dias previsto no art. 26, II, do CDC, não poderá o
consumidor exigir do fornecedor do serviço as providências
previstas no art. 20 do mesmo Diploma - reexecução do
serviço, restituição da quantia paga ou o abatimento
proporcional do preço -, porém, a pretensão de indenização
dos danos por ele experimentados pode ser ajuizada durante o
prazo prescricional de 5 (cinco) anos, porquanto rege a
hipótese o art. 27 do CDC. 2. Recurso especial conhecido e
provido. (STJ - REsp: 683809 RS 2004/0121229-7, Relator:
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data de Julgamento:
20/04/2010, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe
03/05/2010)

OBS: não é preciso que haja reclamação prévia por parte do consumidor.
Ocorrido o dano, pode ser exigido judicialmente a sua reparação pelo
consumidor.

- O prazo prescricional de 5 anos só ocorre em relação de consumo.


Caso haja um descumprimento contratual com base no direito civil o prazo
prescricional é o previsto no art. 206 do CC.

CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE


RESTABELECIMENTO DECONTRATO DE SEGURO.
PRESCRIÇÃO. INOCORRÊNCIA. 2. Para a pretensão de cobrança
do seguro, é inaplicável o prazo prescricional de 5 (cinco) anos
previsto no CDC, pois não se trata de vício ou defeito do serviço e
sim de inadimplemento contratual. 3. A prescrição da pretensão do
segurado contra o segurador para discutir o reajuste dos prêmios
mensais é ânua, também não sendo ocaso de aplicação do CDC. 4.
O art. 176, § 6º, II, do Código Civil (atual art. 206, § 1º, II, do CC/02)
não faz qualquer distinção quanto às ações sujeitas à prescrição,
importando apenas, na melhor exegese da norma, que a demanda
tenha por fundamento o contrato de seguro. Contudo, o STJ já
reconheceu que ações meramente declaratórias são imprescritíveis.
5. Na hipótese, a tutela pleiteada pelo autor recorrido e concedida
pela sentença, que foi confirmada pelo Tribunal de origem, tem
natureza meramente declaratória e, consequentemente, não está
sujeita à prescrição ânua do art. 206, § 1º, II, do CC/02.6. Recurso
especial não provido. (STJ - REsp: 1084474 MG 2008/0188318-6,
Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento:
04/10/2011, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe
11/10/2011)
02 – Responsabilidade objetiva do fornecedor

- Segundo o art. 14 do CDC a responsabilidade dos fornecedores é


objetiva e apenas tem como exceção os profissionais liberais previstos no seu
§4º.
- Entretanto a prova do nexo causal é fundamental.
- Responsabilidade objetiva dos hospitais depende da prova de culpa
dos médicos?
Os pacientes podem sofrer dois tipo de danos em hospitais: a) dano
sofrido em decorrência de erro médico; b) dano decorrente da própria estrutura
hospitalar.
No primeiro caso, para que o hospital responda objetivamente, é preciso
provar a culpa do médico. Já no segundo caso, o hospital responde
objetivamente.
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO
ESPECIAL. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. HOSPITAL.
DECISÃO MANTIDA POR SEUS FUNDAMENTOS. 1. A
responsabilidade do hospital é objetiva pelos danos causados
em decorrência de atos típicos de sua atividade, estando entre
eles a de ministrar medicação. 2. Não sendo constatado, nas
razões do recurso, nenhum motivo que permita reconsiderar a
decisão agravada, mormente por ter o recorrente repetido
fundamentos já apreciados, mesmo que utilizando de palavras
diferentes, impõe-se manter a decisão por seus próprios
fundamentos. 3. Agravo regimental desprovido. (STJ - AgRg no
AREsp: 377201 RJ 2013/0244316-8, Relator: Ministro JOÃO
OTÁVIO DE NORONHA, Data de Julgamento: 08/04/2014, T3 -
TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 14/04/2014)

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO INTERNO NO


AGRAVO DE INSTRUMENTO. ACOLHIMENTO PARA PRESTAR
ESCLARECIMENTOS. HOSPITAL. RESPONSABILIDADE CIVIL
OBJETIVA. AUSÊNCIA DE NEXO DE CAUSALIDADE. NÃO
PROVIMENTO DO RECURSO. MANUTENÇÃO. 1. A
responsabilidade civil do hospital é objetiva pelos danos
causados, na condição de fornecedor, aos consumidores, nos
termos do art. 14 , caput, do Código de Defesa do Consumidor .
A exceção prevista no § 4º do referido dispositivo legal,
cuidando da responsabilidade subjetiva, é restrita aos
profissionais liberais, incluindo-se aí os médicos. 2. Com a
exclusão do nexo de causalidade pelas instâncias ordinárias,
fica afastada a responsabilidade civil objetiva da entidade
hospitalar. 3. Embargos declaratórios acolhidos para prestar
esclarecimentos, mas sem alteração do resultado do julgamento.
3 – Responsabilidade do comerciante

- De acordo com a previsão dos art. 3º, 12 e 13 do CDC, surge a dúvida


sobre o tipo de responsabilidade do comerciante.

Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou


estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da
existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação,
construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou
acondicionamento de seus produtos, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.

Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos do


artigo anterior, quando: I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o
importador não puderem ser identificados; II - o produto for fornecido
sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou
importador; III - não conservar adequadamente os produtos
perecíveis.
Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado
poderá exercer o direito de regresso contra os demais responsáveis,
segundo sua participação na causação do evento danoso.

- Quanto à responsabilidade do fabricante é fundamental


distinguir: a) vício do produto; b) fato do produto. No primeiro caso, a
responsabilidade do comerciante é solidária, ou seja, ele responde junto com o
fabricante. Já no segundo caso (acidente de consumo), a responsabilidade do
comerciante é subsidiária.
- Contudo, a eventual configuração da culpa do comerciante que
coloca à venda produto com prazo de validade vencido não tem o condão de
afastar o direito do consumidor de propor a ação de reparação pelos danos
resultantes da ingestão da mercadoria estragada em face do fabricante. (STJ,
Resp. 980.860).

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