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Criança 44 ou A Criança Nº 44 é o romance de estreia do escritor britânico Tom Rob

Smith, que narra a história do agente da KGB Liev Demidov, ao investigar uma série de
horríveis assassinatos de crianças na União Soviética de Stálin.

O romance é baseado na história real do assassino em série russo Andrei Chikatilo,


também conhecido como o Estripador de Rostov, que foi o responsável por 52
assassinatos na União Soviética. Além de destacar o problema da criminalidade da era
soviética, em um estado onde "não há crime", o romance também explora a paranóia
da época, o sistema de educação, o aparato da polícia secreta, orfanatos, a
homossexualidade na URSS e o descaso com os hospitais psiquiátricos. O livro é a
primeira parte de uma trilogia. A segunda parte é chamada de O Discurso Secreto e
também apresenta o personagem de Liev Demidov e sua esposa, Raíssa Demidova.

União Soviética. 1953. A mão de ferro de Stalin nunca esteve tão impiedosa, reforçada
pela Segurança do Estado polícia secreta cuja brutalidade não é segredo para ninguém.
Em seu governo, o líder soviético faz o povo acreditar que o país está livre de crimes.
Mas quando o corpo de um menino é encontrado nos trilhos de uma ferrovia, Liev
Demidov herói de guerra e agente do Estado se surpreende ao saber que a família da
vítima está convencida de que a criança fora assassinada. Os superiores do oficial
ordenam que ignore a suspeita, e ele é obrigado a obedecer. Mas o agente desconfia
de que há algo muito estranho por trás do caso.
De uma hora para outra, Liev coloca em dúvida sua confiança nas ações e políticas do
Partido. E agora, arriscando tudo, o agente se vê na obrigação de ir atrás do terrível
assassino mesmo sabendo que está prestes a se tornar um inimigo do Estado.

"Criança 44" é um livro brutal, que narra magníficamente a sociedade soviética


oprimida por Stalin. A violência,o terror,o desespero a que eram submetidos os
cidadãos é vergonhosamente assustador e isso torna impossível que haja alguma
tentativa de considerar irrelevante atos tão abomináveis. Um grande exemplo disso é
narrado logo no primeiro capítulo da obra, onde Tom Rob Smith narra a fome
pavorosa que o governo submeteu aos moradores das fazendas coletivas.

Liev é aquele que pode ser considerado o perfeito soldado soviético, é um idealista
que acredita no Estado, no regime e na revolução;e que sempre esteve disposto a
cumprir sem questionar todas as ordens que lhe fossem dadas, não se importava em
perseguir,prender,torturar e matar,era preciso ser duro com esses párias afinal todas
as suas vítimas eram inimigos do sistema e da revolução que ele tanto acreditava,e
indubitavelmente eram ameaças à integridade e credibilidade do Estado soviético.

Tom Rob Smith nos absorve para sua trama com uma habilidade impressionante, e é
simplesmente impossível não sentir-se um soviético oprimido e sedento por respostas
e justiça, justiça essa que até hoje buscamos,mesmo não estando na União
Soviética,mesmo não estando em 1953.E um livro que desperta grandes reflexões, que
abre nossos olhos para algo que foi e é real, não deve ser deixado de lado e colocado
como opção final de compra em um carrinho de uma livraria online,não deve ser lido
por poucos,e nem desacreditado. Ele deve estar sem dúvida alguma na sua estante de
favoritos,em suas conversas sobre literatura, política, história, e acima de tudo, em suas
conversas sobre a vida.
A História se passa na União Soviética de 1953, quando a mão de ferro de Stalin esteve
mais impiedosa, apoiada pela polícia secreta do Estado que mantinha o regime com
crueldade e brutalidade que as palavras de Smith nos fizeram sentir na pele. Nesse
contexto, o corpo de um menino é encontrado sobre os trilhos de uma ferrrovia. O
agente Liev Demidov, encarregado de forçar a família a acreditar que foi um acidente,
se comove e começa a suspeitar que há algo de errado. Então se desenrolam duas
histórias: a particular de Liev e sua esposa que, particularmente eu achei fantástica
pelo drama envolvido, e a busca incessante do agente pela verdade por trás do terrível
crime.

Smith narra de forma fantástica a sociedade soviética da época, oprimida, devastada,


passando fome e sendo agredida física e psicologicamente por um sistema sem
compaixão e piedade. É assustador. Assim como é assustador você se pegar
apaixonada pelo personagem magnífico e extremamente bem trabalho que é Liev,
considerando que ele é um soldado soviético, idealista e que acredita fielmente no
Estado a ponto de não questionar ordens e perseguir, torturar e até matar se fosse
preciso.

Sofri com Liev, amei com Liev e também fui com ele atrás de sua redenção. A medida
que Liev abria os olhos, descrevia os abusos da polícia russa (MGB) e se
decepcionava com o que ele achava ser a perfeição de governo, eu ficava mais
impressionada com sua coragem de deixar todo o conforto, segurança e poder que
desfrutada, para ir atrás de sua libertação e de reconquistar, ou melhor, conquistar o
amor de sua esposa. Liev não usa de bondade de ideias ou opiniões apreciáveis para
mostrar às pessoas a sua mudança e quais são seus objetivos. Se é necessário matar,
ele mata. Se é necessário mentir, ele mente. Se é necessário dizer a verdade, mesmo
sendo cruel, ele diz.

Antes de capturar o acusado, Liev é designado para um trabalho que considera mais
baixo e acredita que é um castigo por deixar o acusado fugir. Um menino é encontrado
morto na beira da linha de um trem. Os pais acham que ele foi assassinado, Liev é
escalado para mostrar aos pais que isso não é verdade, pois a sociedade daquele
tempo não poderia ter assassinatos, isso mancharia a imagem do sistema; como
aquele Estado que se dizia perfeito possuia pessoas que eram capazer de cometer
frios assassinatos? Não, para qualquer efeito, aquele era um Estado perfeito e
produzia pessoas perfeitas. O contrário serviria de argumentos para a sociedade
Ocidental criticar a União Soviética e seu sistema.

Liev cumpri suas duas missões: captura o fugitivo e cala a família do menino morto.
Mas isso é o marco do começo do declínio de sua vida como agente da MGB. Liev
começa a se questionar da veracidade do Estado, das consequências de seus atos
como agente da MGB. Além disso, descobre que outras crianças foram mortas da
mesma forma que o menino de quem precisou calar a família: todos nus, com o
estômago aberto, com lascas de árvore e um barbante amarrado no tornolezo. Mas o
que levaria uma pessoa a matar por matar? Isso não tinha sentido. Ele matava, mas
matava por uma razão, por um motivo, não matava pessoas aleatoriamente. Os
assassinatos que ele cometia eram justificados e aceitos pelo Estado. Não se
conhecia nenhum caso assim, principalmente de muitas mortes realizadas do mesmo
jeito. Mas Liev precisava investigar, achava que aquilo poderia ser obra de uma única
pessoa e não poderia deixar o Estado inventar culpados convenientes (um doente
mental, um subversivo, um espião - todos suspeitos que eram usados para que o
Estado se livrasse do crime) e arquivar o caso. Dessa vez, ele queria a verdade.
Além de fazer uma investigação em segredo, Liev tem que encarar a falta de método
da época: como investigar algo que simplesmente não existia oficialmente? Não havia
crimes na União Soviética pois isso seria uma prova de ineficácia do comunismo. O
Estado preferia mascarar a verdade a tomar alguma providência para acabar com os
crimes.

Eu simpatizei com o personagem desde o primeiro momento e chego a ficar


assustada em como isso é possível. Afinal, de um jeito ou de outro, Liev prejudicou
muitas pessoas exercendo sua profissão. Até que ponto isso é justificável? Até que
ponto Liev é apenas uma vítima do tempo em que vivia? Definitivamente, eu não tenho
essa resposta. Pelo contrário, essas perguntas só me trazem mais dúvidas.

Crimes soviéticos

As páginas iniciais deste livro são impactantes e nos sentimos transportados para os
anos 1930, na Ucrânia, então uma das repúblicas da União Soviética. Anos terríveis,
em que se não bastasse o frio implacável, as pessoas também passavam fome e ter
como jantar um magro gato podia ser algo maravilhoso.

É assim, caçando um gato que o pequeno Pavel desaparece, para desespero do


irmãozinho Andrei e loucura de sua mãe, Oksana. Depois a ação salta para 1953: nos
encontramos em Moscou e a União Soviética está sob o domínio do sanguinário
ditador Stalin. E essa história (que marca a estreia do escritor Tom Rob Smith)
continua nos deixando sem fôlego dado o seu ritmo vertiginoso. Praticamente cada
capítulo se encerra com uma surpresa, uma reviravolta, a morte de algum inocente ou
nossos heróis em perigo, o casal Liev e Raissa Demidov.

Para quem aprecia a história russa, Criança 44 tem um atrativo a mais além do crime
que o agente Liev Demidov investiga: o autor pesquisou vários livros e nos traz um
relato cru dos métodos de tortura da ditadura soviética. Que não perdoava ninguém,
nem mesmo quando seus agentes se enganavam, pois se alguém estava sendo
investigado era porque tinha algum tipo de culpa e então merecia morrer, geralmente
com um tiro na nuca. Simples assim.

O mais terrível de tudo isto é saber que o livro foi baseado numa história real que
aconteceu na Rússia nos anos 70 e 80, na região da cidade de Rostov. Depois
,pesquisando na internet, descobri que o governo agiu exatamente como descrito na
ficção. O assassino esteve nas mãos da polícia por várias vezes, mas eles optaram
por fazer vista grossa e o liberaram sob a alegação de falta de provas, única e
exclusivamente para evitar um escândalo. Nestas condições ele passou anos
cometendo crimes monstruosos, principalmente contra crianças e adolescentes.
Supõe-se que foram mais de 60 assassinatos.

Como ficção e suspense, tem sim lá os seu elementos cinematográficos, o Liev


nadando sob a crosta de gelo, fugindo do trem...etc, mas nada que tire o seu brilho,
aliás foi muito bem escrito no sentido de prender a atenção do leitor pois faz muito
tempo que eu não lia um livro que me fizesse ficar pensando nele durante o dia , na
hora do trabalho, não vendo a hora de chegar em casa para continuar a leitura.
Eletrizante!

Os livros abordam visões antagônicas. No primeiro, TRS explora os excessos


cometidos pelo MGB, a polícia secreta do Estado – futura KGB. Mostra as injustiças
cometidas em nome da revolução soviética, tendo a tortura e a prisão de inocentes
como foco maior. No Discurso Secreto, é a vez de explorar as ações contra-
revolucionárias, tendo os Vory – tão cruéis quanto a MGB – como principal gangue
terrorista em ação.

Ambos os livros são protagonizados pelo agente – posteriormente ex-agente – da


MGB, Liev Stepanovitch Demidov, um homem cegado pela doutrina do Estado, que
só percebe tarde demais que defendia as premissas erradas. Liev é uma metamorfose
ambulante, uma ingênua engrenagem do Estado, odiado pelos crimes que cometeu
até mesmo pela própria mulher. A Rússia explorada no romance é um lugar onde reina
a fome, a injustiça, a submissão e, principalmente, o medo – força impulsora do poder
do governo socialista. É diante desse quadro catastrófico que Liev vai buscar, a
qualquer custo, a sua redenção.

Uma pequena observação: a crueldade explorada nos livros é daquelas de deixar


tonto, enjoado pela perspectiva de que algum ser humano possa ser capaz de cometer
atrocidades do tipo contra um semelhante. Seja movidos pela sobrevivência ou pela
vontade de poder, a violência é feroz. Meus joelhos chegaram a doer somente com a
descrição de uma das torturas impostas à Liev.

O romance é magistral: a busca de Liev, este 'candidato a herói', pela verdade sobre
o crime, começa a tornar-se um renascimento do próprio personagem. Para quem
conhece o Novo Testamento, saberá do que estou falando ao chamar Liev, o agente
policial soviético, de uma espécie de "Saulo estalinista": profundamente convicto da
"verdade" do Estado, vai, aos poucos, tendo seus olhos (políticos) abertos, assim
como o Saulo do NT tem abertos os olhos espirituais. Saulo vira Paulo; e Liev se
redescobre, numa reavaliação cruel de sua vida - tanto como cidadão como enquanto
homem.

Adaptado no pós 2° guerra mundial, precisamente na antiga União Soviética de Stalin,


Criança 44, além de um suspense pra lá de instigante, aborda infinitas questões
políticas e sociais.

Este é aquele tipo de livro que você lê em poucas horas. Tanto a narrativa quanto a forma
que é escrita prendem o leitor de uma maneira muito intensa. Para mim, este livro uniu
duas características que adoro: história (se passa na URSS na época de Stalin) e
ação/suspense. "Criança 44" faz com que o leitor sinta tudo o que as personagens estão
sentido. Eu chorei, ri, tive medo e até outras sensações físicas como cansaço nas partes
de correria e - juro! - frio (afinal, estamos falando da Rússia no inverno). Soube que os
direitos do livro foram comprados por alguma produtora e que o filme será feito por Ridley
Scott. Ou seja, imperdível.

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