Sociologias, Porto Alegre, ano 1, n. 2, ulidez 1999, p. 294-303
A Era da Informagao: Economia,
Sociedade e Cultura. Vol. 1 -
A Sociedade em Rede.
Manuel Castells. Sao Paulo: Paz e Terra, 1999.
as Ia
‘Advogado, doutorando em sociologi
UFRGS
anuel Castells é professor de planejamento regional e
urbano em Berkeley, Califérnia. Seus interesses de pes-
quisa incluem o urbanismo, a tecnologia da informagao e
amudanga social, numa perspectiva comparada, particu-
larmente em relacao aos Estados Unidos, Europa Ociden-
tal, Rassia, Pacifico Asiatico e América Latina.
A Sociedade em Rede, primeiro volume da trilogia A Era da Informa-
¢ao: Economia, Sociedade e Cultura foi editado em lingua inglesa em 1997
e, em portugués, pela Editora Paz e Terra, em 1999. Castells realiza uma
andlise sistematica do capitalismo global informacional, que emergiu no
Ultimo quarto do século XX. A pretensao deste primeiro volume é a de dar
conta, em uma andlise unitaria, do desenvolvimento das tecnologias da
informacéo, das mudangas nas condicées de trabalho e na organizacao das
empresas, bem como da nova divisdo internacional do trabalho. A partir da
andlise das mudangas na esfera da producao, Castells busca ainda caracte-
rizar 0 que chama de “cultura da virtualidade real”, assim como identificar
as mudangas produzidas pelo desenvolvimento informacional nas dimen-sdes espacial e temporal das sociedades contemporaneas.
A metodologia adotada por Castells, cujas conseqiiéncias especificas
so discutidas em cada capitulo, esta a servico do objetivo abrangente de
seu empenho intelectual: propor alguns elementos de uma teoria transcultural
exploratéria da economia e da sociedade na era da informagao, no que se
tefere especificamente ao surgimento de uma nova estrutura social. En-
quanto o primeiro volume trata da légica da economia em rede e o segun-
do analisa a formagao do Ser e a interagdo entre a rede e 0 Ser na crise de
duas instituig6es centrais da sociedade, a familia patriarcal e o Estado naci-
onal, 0 terceiro volume tenta interpretar as transformacées histéricas atuais
resultantes das dinamicas dos pracessos estudados nos dois primeiros volu-
mes, em especial a crise do estatismo, a economia do crime global, a
situagao do Estado frente a globalizacao e a exclusao social. Conforme
Castells, € apenas no fim do terceiro volume que serd proposta uma
integracao geral entre a teoria e a observacao ligando as andlises dos varios
dominios, embora cada volume apresente uma conclusao que visa sistema-
tizar as principais descobertas e idéias ali discutidas.
Segundo o préprio autor, seu objetivo foi o de fundamentar a andlise
na observacgao sem reduzir a teorizagao ao comentario e diversificar 0 ma-
ximo possivel as fontes culturais de observacao. Bastante vinculado a uma
perspectiva metodolégica weberiana, a abordagem de Castells parte da
convicgao de que entramos em um mundo realmente multicultural e
interdependente, que s6 podera ser entendido e transformado a partir de
uma perspectiva miltipla que retina identidade cultural, sistemas de redes
globais e politicas multidimensionais (Castells, 1999, p. 43).
No prélogo da obra, encontram-se os pressupostos conceituais utili-
zados por Castells para orientar a andlise da imensa gama de dados empiricos
apresentados no decorrer dos capitulos. Castells parte da distingao entremodo de desenvolvimento e modo de produgao. Segundo ele, o que ca-
racteriza um modo de produgao € o principio estrutural de apropriagao e
Controle do excedente. No século XX, dois modos de producao predomina-
ram: 0 capitalismo (maximizacao do lucro) e o estatismo (maximizagao do
poder). Por outro lado, modos de desenvolvimento sao os procedimentos
através dos quais os trabalhadores atuam sobre a matéria Para gerar 0 pro-
duto, determinando o nivel e a qualidade do excedente. Cada modo de
desenvolvimento € definido pelo elemento central para a promogao da
Produtividade no processo produtivo. Assim, o modo de desenvolvimento
agrario produz um incremento no excedente produzido através de aumen-
tos quantitativos da mao-de-obra e dos recursos naturais, e o modo de
desenvolvimento industrial tem como fonte de produtividade a introdugao
de novas fontes de energia.
A partir dessa distingao, Castells vai sustentar que o desenvol-
vimento das tecnologias informacionais resultou, a partir dos anos 70, em
um novo modo de desenvolvimento, informacional, cuja fonte de produti-
vidade € a prépria tecnologia de geracgdo de conhecimentos, de
processamento de informacao e de comunicagao de simbolos. Assim, em-
bora conhecimento e informacao sejam elementos cruciais em todos os
modos de desenvolvimento, o que é especifico ao modo informacional de
desenvolvimento é a agdo de conhecimentos sobre os préprios conheci-
mentos como principal fonte de produtividade (Castells, 1999, p- 35).
A tese central proposta por Castells, ¢ que vai ser o fio con-
dutor da trilogia, € que os modos de desenvolvimento modelam toda a
esfera de comportamento social, inclusive a comunicagao simbédlica. Pas-
sando das categorias tedricas para o processo de tra insformacao hist6rica das
formas de interacao, controle e transformacao social, 0 que se torna mais