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Experimento 1 – reatividade do dióxido de carbono (CO2) em água

Em um tubo de ensaio – chamado de tubo 1 –, colocou-se 2 mL de solução de


ácido clorídrico de concentração igual a 1 mol/L e 2 g de hidrogenocarbonato de
sódio (NaHCO3). Este tubo 1 foi acoplado a um outro tubo – chamado de tubo 2,
onde continha água e papel de tornassol – a partir de um tubo em “U”. O papel
de tornassol é um indicador ácido-base.

No tubo 1, observou-se inicialmente uma turvação seguido pela formação de


bolhas incolores. No tubo 2, houve a formação de bolhas tempo depois que
iniciou-se a formação de bolhas no tubo 1. Conclui-se, portanto, que as bolhas
formadas no tubo 2 são provenientes do tubo 1, que passou através do tubo em
“U”.

Após um tempo de formação de bolhas no tubo 2, houve a mudança de cor do


papel de tornassol de azul para rosa.

A turvação do tubo 1 pode ser explicada pelo fato da velocidade de fragmentação


do hidrogenocarbonato de sódio na solução de ácido clorídrico ser mais lenta
quando comparada à velocidade de consumo do mesmo, fazendo com que o
sistema fique turvo.

No tubo 1, só houve evidência de reação – formação de gás – quando foi


adicionado o NaHCO3 na solução de ácido clorídrico. Nesse meio são esperados
as espécies Na+ e HCO3-, provenientes da dissociação do hidrogenocarbonato
de sódio, além de H3O+, Cl- e água. Como o objetivo da prática é avaliar a
reatividade do dióxido de carbono em água, avalia-se então como essa espécie
pode ter sido formada nesse meio.

De acordo com Housecroft & Shape (2009), o íon HCO3- reage em meio ácido
formando CO2 e água, que é a reação no sentido inverso na Equação 1.

CO2(g) + 2 H2O(l) ⇌ HCO3-(aq) + H3O+(aq) Ka = 4,4 x 10-7 (Equação 1)

Frente a água, o íon hidrogenocarbonato pode reagir atuando como aceptor de


próton, mostrado pela Equação 2 (HOUSECROFT & SHARPE, 2009, p. 368). E
esse mesmo íon pode também reagir com a água atuando como um doador de
próton, representado pela Equação 3 (PETRUCCI, 2015, p. 758).
HCO3-(aq) + H2O(l) ⇌ H2CO3(aq) + OH-(aq) (Equação 2)

HCO3-(aq) + H2O(l) ⇌ CO32-(aq) + H3O+(aq) Ka = 4,7x10-11 (Equação 3)

Na Equação 1, a reação no sentido inverso é a que gera dióxido de carbono.


Assim, calcula-se a constante de basicidade (Kb) do íon hidrogenocarbonato,
que é a base conjugada do CO2, usando a constante de acidez (Ka) a partir da
expressão Ka.Kb = Kw, onde Kw é a constate da autionização de água cujo valor
é 10-14 a 25 °C e 1 atm. Portanto, tem-se que:

(4,4x10-7).Kb = 10-14

Kb = 2,27 x 10-8

A constante calculada acima é a constante de basicidade da reação


representada pela Equação 2, onde o hidrogenocarbonato atua como base de
Lewis e, nessa reação, o H2CO3 formado se decompõe em CO2 e H2O.

Nota-se que, frente à agua, o íon hidrogenocarbonato atua preferencialmente


aceitando próton, pois a constante de basicidade (Kb) é maior do que a constante
de acidez (Ka). Portanto, a formação do CO2 pode ser explicada a partir das
reações expressas pelas equações 1 e 2.

Na Equação 1, a constante de equilíbrio para o sentido inverso da reação é dado


por 1/Ka, ou seja, tem valor igual 2,27 x10 6, que é maior do que a constante de
basicidade do íon hidrogenocarbonato. Então, a partir da expressão ΔG = -
RTlnK, pode-se dizer que é mais favorável termodinamicamente a reação do íon
hidrogenocarbonato com H3O+ do que com a água.

No tubo 1, a tendência é formar CO2 e água, como já analisado. O dióxido de


carbono é um gás incolor, segundo Lee (1999). A água também é incolor;
portanto, é esperado que o meio permaneça incolor. Ainda no tubo 1, o dióxido
de carbono que pode ter sido formado pode reagir com a água de acordo a
reação no sentido direto na Equação 1. Porém, o Ka é muito menor do que a
constante no sentido inverso. Outro fator que dificulta a reação do CO 2 com a
água é que se trata de um meio ácido. Assim, é esperado o aparecimento de
bolhas, e isso está de acordo com o observado.
No tubo 2, após um tempo de formação de bolhas – que são causadas pelo gás
proveniente do tubo 1 –, observou-se a mudança do papel de tornassol de azul
para rosa. Para um pH abaixo de 4,7, o tornassol é vermelho e para o pH acima
de 8,3 o tornassol é azul (UFJF, 2018). Portanto, a mudança de cor do papel é
um indicativo de que a água no tubo 2 se tornou ácida devido a reação com o
gás, sendo mais uma evidência de que o dióxido de carbono reage com a água
de acordo com a Equação 1, onde as espécies formadas também são incolores,
sendo coerente com o observado.

Experimento 2 - Reatividade do HCO3- em água e em meio aquoso ácido

Ao adicionar hidrogenocarbonato de sódio (NaHCO3) em água, o sólido


desapareceu no meio. Logo depois mediu-se o pH dessa solução, onde o valor
verificado foi maior do que o pH da água pura. Nesse sistema, é esperado que
no meio contenha as espécies Na+, HCO3- e moléculas de água. A partir disso,
as reações propostas são aquelas representadas pelas Equações 2 e 3.

Na reação expressa pela Equação 2 o íon hidrogenocarbonato atua como


aceptor de próton, e na reação expressa pela Equação 3 este mesmo íon atua
como doador de próton.

A constante de basicidade da reação representada pela Equação 2 é igual a


2,27x10-8 e a constante de acidez da reação expressa pela Equação 3 é igual a
4,7x10-11. Portanto, é esperado que haja o aumento da concentração de OH - no
meio pois a extensão da reação expressa pela Equação 2 é maior, e isso pode
explicar o fato do pH desta solução ter sido maior do o pH da água pura.
Entretanto, nota-se que um dos produtos formados é o ácido carbônico (H2CO3)
que, segundo Housecroft & Sharpe (2009), pode ser apenas isolado usando um
método criogênico. Ainda segundo Housecroft & Sharpe (2009), o H 2CO3 está
presente em água, em grande parte, como CO2 dissolvido, onde esse processo
é relativamente lento. Portanto, é esperado que haja o aparecimento de bolhas
nesse sistema, que seria proveniente de decomposição do H2CO3 em dióxido de
carbono e água. Mas isso não foi observado. Por quê?
Analisando a reação mostrada pela Equação 2 no sentido inverso, nota-se que
a constante de acidez, no qual representa a extensão da reação do CO 2 com
OH-, tem valor igual 1/(2,23x10-8), ou seja, 4,48x107. Assim, é esperado que haja
a reação do dióxido de carbono com a hidroxila. Como, então, pode-se explicar
o fato do pH desse meio ser maior do que o pH da água pura? Uma das
explicações é que, segundo Housecroft & Sharpe (2009), a reação no sentido
inverso da Equação 2 ocorre, preferencialmente, para um pH maior que 10, além
de ser um processo lento. Outro fato a mencionar é que considera-se que a
reação mostrada pela Equação 2 está na condição de equilíbrio, ou seja, estão
presentes no meio reagentes e produtos. Assim, ainda há CO2 presente no meio
e que não reagiu com a hidroxila. Portanto, é esperado também que haja íons
OH- no meio, o que pode também explicar o fato do pH medido ter sido maior do
que o pH da água pura.

Quando foi adicionado NaHCO3 na solução de ácido clorídrico, observou-se a


formação de bolhas. Assim, é esperado que o meio contenha as espécies Na +,
HCO3-, H3O+, Cl- e moléculas de água. Como o objetivo é avaliar a reação do íon
hidrogenocarbonato em meio ácido, a reação proposta é aquela expressa pela
Equação 1, onde analisa-se o sentido inverso.

A constante da reação do HCO3- com meio ácido é igual 2,27 x106. Assim, é
esperado que haja a formação CO2 a partir dessa reação, já que a extensão é
maior do que a reação no sentido direto. E isso está de acordo com o analisado,
pois houve a formação de bolhas no sistema.

Comparando a reação do HCO3- em meio neutro e em meio ácido, pode-se


concluir que a formação de CO2 em meio ácido foi mais evidente do que em meio
neutro. Portanto, o H3O+ pode estar contribuindo para que a geração de CO2
nesse meio seja mais evidente. Em meio neutro, apenas pode-se concluir que
houve formação de CO2 a partir da formação de OH-, evidenciado pelo aumento
do pH em relação ao da água pura.
REFERÊNCIAS

HOUSECROFT, C. E., Sharpe, A. G. Inorganic chemistry. 2nd edition. Harlow:


Prentice Hall. 2005. 905 p.
LEE, J. D. Química inorgânica não tão concisa. Tradução da 5ª ed. inglesa.
Editora Edgard Blücher Ltda. 1999.

PETRUCCI, R. H. General chemistry: principles and modern applications.


Eleventh edition. Upper Saddle River, N.J., Pearson/Prentice Hall. 2015. 1494 p.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA. Laboratório de química:


indicadores ácido-base e pH. 2018. Disponível em:
<http://www.ufjf.br/quimica/files/2015/06/AULA-6.pdf> Acessado em 23 de março
de 2019.

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