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HÁ RESPONSABILIDADE CIVIL SEM DANO?

...toda manifestação da atividade humana


traz em si o problema da responsabilidade...
José de Aguiar Dias

Resumo:

Este trabalho consiste na análise e cotejo de dois textos relativos à


Responsabilidade Civil sem dano. Os autores cotejados são Roberto Paulino
de Albuquerque Júnior (2016) e Rui Stoco (2017). Para Albuquerque Júnior, a
função principal da responsabilidade civil é a garantia da indenização. Rui
Stoco argumenta que a ideia de responsabilidade sem dano se resume a algo
falacioso e contraditório, uma vez que o cerne da responsabilização está na
indenização de uma vítima que precisa ser indenizada. Observando os doutos
autores, cotejando suas ideias e argumentos, cogita-se a existência de
algumas lacunas no que tange a possibilidade do dano causado pela perda de
uma chance. Tal tipo de dano é presumido e tem sua valoração atrelada ao
quantum econômico supostamente auferido. Sendo assim, o dano só será
efetivamente satisfeito, segundo a legislação vigente, quando houver a
apresentação valores econômicos, uma vez que a indenização por perda de
uma vida não pode ser valorada.

Palavras-chave: Responsabilidade. Indenização. Direito. Ordenamento.

INTRODUÇÃO

Este trabalho pretende analisar duas possibilidades distintas em torno do


mesmo tema: há responsabilidade civil sem dano? Para isso, coteja-se o texto
“Notas sobre a teoria da responsabilidade civil sem dano”, escrito e publicado
por Roberto Paulino de Albuquerque Júnior (2016) e “Responsabilidade Civil
sem dano: falácia e contradição”, de Rui Scoto (2017).

Para iniciar tal empreitada, o trabalho expõe os aspectos centrais de cada


texto, seguido das sucintas definições de dano, segundo o ordenamento
jurídico brasileiro, para aclarar pontos cruciais que serão apresentados a
seguir. Consequentemente, as ponderações a respeito dos pontos
apresentados e a conclusão obtida até então.

Vale destacar que este trabalho não pretende estancar as possibilidades de


debate a respeito de um tema tão rico e amplo, mas apenas cogitar algumas
possibilidades de interpretação para maior aprofundamento futuro.

1 RESPONSABILIDADE CIVIL

A título introdutório, apresenta-se o perfil elementar da configuração da


Responsabilidade Civil pelos elementos essenciais: a) conduta humana; b)
dano indenizável; c) nexo de causalidade.

Os doutrinadores conceituam responsabilidade civil como: derivada “[...] da


transgressão de uma norma jurídica civil preexistente, impondo
ao infrator a consequente obrigação de indenizar o dano” (Pablo
Stolze); “[...] a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa
a reparar dano [...] causado a terceiro em razão de ato por ela
mesmo praticado, por pessoa por quem responde, por algo que a
pertença ou de simples imposição legal.” (Maria Helena Diniz).

Este trabalho ensaia respostas para a seguinte pergunta: há


responsabilidade civil sem dano? Vejamos os autores em foco.

1.1 “Notas sobre a responsabilidade civil sem dano”

Partindo da definição básica de responsabilidade civil, conforme regula o


vigente Código Civil em seu Título IX, Capítulo I, artigo 927, deve-se indenizar
se houver ato lícito ou ilícito e quando “causar dano a outrem”. Analisando tal
preceito, segue o raciocínio de Roberto Paulino de Albuquerque Júnior (2016),
autor do texto “Notas sobre a responsabilidade civil sem dano”, exatamente no
centenário do Código Civil. Albuquerque Júnior disserta sobre a impossibilidade
de indenização, conforme preceitua nosso atual ordenamento jurídico no que
se refere a essa matéria específica.

Albuquerque apresenta um breve perfil evolutivo sobre a temática, elencando o


Código Civil de 1916 e o Marco Constitucional de 1988 (a Carta Magna)
apresentando a preocupação em se proteger a vítima do dano sendo material
ou moral. Uma vez que o artigo 944 afirma que “A indenização mede-se pela
extensão do dano.”, tanto na esfera patrimonial ou na esfera de dano à pessoa,
precisa-se do fator lesão como fato consumador.

Albuquerque Júnior cogita a existência de “uma segunda” responsabilidade


civil:

Percebe-se, portanto, a expansão da tese e o crescimento de


sua importância na doutrina nacional. A ideia central que a
anima é a de que a responsabilidade civil não teria função
exclusivamente reparatório-indenizatória. A tutela preventiva e
inibitória da causação do dano geraria uma eficácia jurídica que
seria propriamente de responsabilização. Dois tipos de
responsabilidade coexistiriam: a responsabilidade com dano
e sem dano. (ALBUQUERQUE JÚNIOR, 2016, p.3, grifo
nosso)

Aqui, apesar de não concordar com tal existência, Albuquerque Júnior levanta a
hipótese da responsabilidade sem dano, embora que de maneira bastante
evasiva de coexistência.

Albuquerque (2016) elenca oito itens para referendar a ideia de impossibilidade


de responsabilização sem dano, desde a ampliação das estatísticas de vítimas
(supostamente) indenizáveis, consequentemente aumentando as
possibilidades indenizatórias nos casos de responsabilização sem dano.

1.2 “Responsabilidade Civil sem dano: falácia e contradição”

Nas palavras de Rui Scoto, em artigo publicado em 2017 intitulado


“Responsabilidade Civil sem dano: falácia e contradição”, o autor defende a
tese de que é impossível haver responsabilidade civil sem dano efetivo,
vinculando-a apenas à conduta empregada com o intuito de lesar outrem.
Nesse sentido, Scoto revela que o ato ilícito passaria à seara Penal, que
apresenta previsão legal na tentativa de ato ilícito, porém não ensejaria a
necessidade de reparação no sentido de indenizar.

No âmbito civil, portanto, sem o dano poderá existir ato ilícito,


mas não nascerá o dever de indenizar, de modo que a só
conduta que contrarie a norma preexistente – a conduta
antijurídica – não é suficiente para empenhar obrigação.
(STOCO, 2017, p. 3)

Scoto (2017) sinaliza que, nesse sentido, a função pedagógica da


responsabilização previne sua consumação, acautelando, assim, a
possibilidade de punir apenas quando o ilícito se enquadrasse em algum
preceito estabelecido pelo Código Penal.

2 PONDERAÇÕES

Para circunspeções acerca dos textos apresentados, o cotejo tende a levantar


outras questões que não foram relativizadas anteriormente: quanto à perda de
uma chance, quando e como indenizar?

Uma vez que os dois autores citados alegam que, para que haja
responsabilidade, é necessário que haja um dano. Se esse dano for hipotético
ou presumido, qual efetividade há na obrigatoriedade da existência do dano?

A função da indenização é tornar indene, reestabelecer o estado anterior, suprir


ou sanar uma lesão, principalmente nos casos de negligência, imprudência e
imperícia.

3 CONCLUSÃO

Isso posto, apesar das considerações dos doutos mestres aqui referenciados,
este trabalho cogita a possibilidade de haver responsabilidade civil sem dano,
uma vez que um dano presumido, ainda que cercado de provas relevantes, não
é efetivamente um dano, é uma possibilidade de dano.
REFERÊNCIAS:

ALBUQUERQUE JÚNIOR, Roberto Paulino de, Notas sobre a teoria da


responsabilidade civil sem dano. Revista de Direito Civil Contemporâneo, v.
6, p.89-104, 2016. Disponível em:< http://ojs.direitocivilcontemporaneo.com/index.
php/rdcc/article/view/36> Acesso em 10 de set. 2018.

STOCO, Rui. Responsabilidade Civil sem dano: falácia e contradição.


Revista dos tribunais, vol. 975/2017, p. 173 – 184, Jan. 2017. Disponível em:
< http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/ doc_
biblioteca/bibli_servicos_produtos/bibli_boletim/bibli_bol_2006/RTrib_n.975.09.
PDF> Acesso em 10 de set. 2018.

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