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CAPÍTULO I
Preliminares
1. O que é Análise?
Análise é o ramo da Matemática que lida com os conceitos introduzidos pelo Cálculo
Diferencial e Integral, tendo surgido justamente da necessidade de prover formulações rigorosas às
ideias intuitivas do Cálculo. Hoje é uma disciplina muito mais ampla, e tais tópicos são tratados em
uma subdivisão chamada análise real.
Se a Análise surgiu do estudo dos números e funções reais, sua abrangência cresceu de forma a
estudar os números complexos, bem como espaços mais gerais, tais como os espaços métricos, espaços
normados e os espaços lineares topológicos (ELT).
Embora seja difícil definir exatamente o que seja Análise Matemática e delinear
precisamente seu objeto de estudo, pode-se dizer grosseiramente que a Análise se dedica ao
estudo das propriedades topológicas em estruturas algébricas.
A análise é pode ser dividida em:

Análise real, a que lida com o corpo dos números reais;


Análise complexa, a dedicada ao estudo do corpo dos números complexos;
Análise funcional, a aplicada ao estudo do comportamento das funções;
Análise harmônica, a que se ocupa da composição de funções a partir das componentes
harmônicas;
Análise numérica, o estudo de algoritmos e técnicas de cálculo numérico aplicados aos
problemas de matemática contínua.

2. A contribuição da Análise Matemática na formação de professores

As disciplinas introdutórias de Análise, que costumam integrar os currículos de Bacharelado e


Licenciatura em Matemática, em geral são totalmente dedicadas a uma apresentação rigorosa do
Cálculo. Assim, tal disciplina apresenta excelente oportunidade para desenvolver no estudante de
Licenciatura e futuro professores do Ensino Básico aquela habilidade tão necessária no trato com
definições, teorema, demonstrações, que são o embasamento lógico de toda a Matemática. (Geraldo
Ávila, 2006).
Diante disso, a Análise Matemática objetiva o desenvolvimento do raciocínio algébrico abstrato e
a habilidade de compreender simbologias, nomenclaturas, definições e teoremas; ou seja, fornece ao
professor as ferramentas necessárias para que este possa pesquisar, compreender e questionar o que é
dito nos livros. (Carine B. Loureiro)
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O estudo da Análise Matemática está direcionado aos formalismos utilizados em Matemática e às


demonstrações dos resultados estudados nas disciplinas de Cálculo Diferencial e Integral. Elon Lima
(LIMA, 2002), um importante matemático brasileiro, autor de alguns dos principais livros desta área
adotados em cursos de Matemática, diz que um livro de Matemática não deve ser lido como se lê uma
novela; no primeiro caso deve-se se ter lápis e papel na mão para reescrever com suas próprias palavras
cada definição ou enunciado de teoremas.
Uma vez que o professor de matemática tem conhecimento sobre os teoremas e demonstrações,
ele se sente mais seguro ao ensinar os conteúdos, pois assim ele tem certeza da veracidade do que será
transmitido ao aluno. Faltando tal conhecimento ao professor, o mesmo poderá se sentir inseguro sobre
o conteúdo e assim poderá omitir certas informações que poderiam facilitar a explicação para a melhor
compreensão por parte do aluno, prejudicando o desenvolvimento intelectual do mesmo.

3. Um pouco de história

A Matemática sempre representou uma atividade humana e, em todas as épocas, mesmo nas mais
remotas, a ideia de contar sempre esteve presente. Um clássico exemplo da noção intuitiva de
contagem era a correspondência entre ovelhas de um rebanho e pedrinhas contidas em pequenos sacos,
ou marcas em pedaço de osso ou de madeira, ou ainda por meio de nós em cordões, utilizados pelos
incas.
Muitos anos ainda se passaram até que se iniciasse o desenvolvimento teórico do conceito de
número que, embora hoje nos pareça natural, foi lento e complexo, envolvendo diversas civilizações.
Os registros históricos nos mostram a utilização de vários sistemas de numeração, por exemplo,
os povos babilônios de 2000 a.C., que desenvolveram o sistema de numeração sexagesimal e
empregaram o princípio posicional; os egípcios, que já usavam sistema decimal (não posicional); os
romanos, que fizeram história através do uso simultâneo do princípio da adição e do raro emprego do
princípio da subtração; e os gregos antigos, povos que utilizavam diversos sistemas de numeração.
Quase quatro mil anos separam as primeiras manifestações de numeração escrita da construção
do sistema de numeração posicional decimal que utilizamos, munido do símbolo denominado zero.
Esse símbolo foi criado pelos hindus nos primeiros séculos da era cristã. A concepção do zero foi
ignorada, durante milênios, por civilizações matematicamente importantes como a dos gregos e dos
egípcios.
A invenção do zero foi um passo decisivo para a consolidação do sistema de numeração indo-
arábico, devido à sua eficiência e funcionalidade em relação aos demais sistemas de numeração. Sem o
zero, tornaria se impossível efetuar 385 x 908 usando os algarismos romanos.
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Um marco importante na história dos números e da matemática se deu no século VI a.C., na


Escola Pitagórica. Em seus estudos, os pitagóricos envolviam-se de um certo misticismo, pois
acreditavam que existia uma harmonia interna no mundo governada pelos números naturais.
Desde Pitágoras pensava-se que, dados dois segmentos de reta quaisquer, AB e CD, seria sempre
possível encontrar um terceiro segmento EF, contido um número inteiro de vezes em AB e um número
inteiro de vezes em CD. Expressamos essa situação dizendo que EF é um submúltiplo comum de AB
e CD ou que AB e CD são comensuráveis.
Essa ideia nos permite comparar dois segmentos de reta da seguinte maneira: dados dois
segmentos, AB e CD, dizer que a razão AB/CD é o número racional m/n, significa que existe um
terceiro segmento EF, submúltiplo comum desses dois, satisfazendo: AB é m vezes EF e CD é n vezes
EF.
Era natural imaginar que, para dois segmentos AB e CD dados, era sempre possível tomar EF
suficientemente pequeno para caber um número inteiro de vezes simultaneamente em AB e em CD.
Para os pitagóricos, dois segmentos de reta eram sempre comensuráveis, sendo, portanto, os números
naturais suficientes para expressar a razão entre eles e, de modo mais geral, a relação entre grandezas
da mesma natureza.
O reinado dos números naturais, na concepção pitagórica, foi profundamente abalado por uma
descoberta originada no seio da própria comunidade pitagórica e que se deu, em particular, numa figura
geométrica comum e de propriedades aparentemente simples, o quadrado. Trata-se da
incomensurabilidade entre a diagonal e o lado de um quadrado.
De fato, ao considerarmos a diagonal e o lado de um quadrado comensuráveis, teremos, a
diagonal como medida nt e o lado com medida mt. Pelo teorema de Pitágoras, temos que:

n2 t 2 = m 2 t 2 + m 2 t 2 n2t2 = 2m2t2 n2 = 2m2

o que é absurdo, pois em n2 há uma quantidade par de fatores de primos e, em 2m2, uma quantidade
par de fatores primos, em contradição com a unicidade da decomposição de um número natural em
fatores primos, como mostra o Teorema Fundamental da Aritmética. (Todo número inteiro positivo
n > 1 é igual a um produto de fatores primos).
Essa situação só foi contornada através do matemático e astrônomo ligado à Escola de Platão,
Eudoxo de Cnidos (408 a.C – 355 a.C.), que criou a Teoria das Proporções para tratar as grandezas
incomensuráveis através da Geometria, que apesar do progresso, contribuiu para a desaceleração do
desenvolvimento da aritmética e da álgebra por muitos séculos.
O coroamento da fundamentação matemática do conceito de número ocorreu somente no final do
século XIX, principalmente através dos trabalhos propostos por Richard Dedekind (1831–1916), Georg
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Cantor (1845–1918) e Giuseppe Peano (1858–1932). Esses estudos foram motivados pelas demandas
teóricas que surgiram a partir do volume de conhecimento matemático adquirido a partir do cálculo
diferencial e integral de Isaac Newton (1643–1727) e Gottfried Leibniz (1646–1716), no século XVII.
É interessante estudar como o processo histórico da conceituação de número assemelha-se à
nossa própria formação desse conceito. Antes de iniciarmos nossa vida escolar, admitimos os números
naturais como fruto do processo de contagem, da mesma forma que a humanidade os admitiu até o
século XIX. Entre os gregos da época de Euclides, números eram os que hoje escrevemos como 2, 3, 4,
5 etc., ou seja, os números naturais maiores do que 1. O próprio 1 era concebido como a unidade básica
a partir da qual os números, as quantidades, eram formadas. O zero, como vimos, foi uma concepção já
dos primeiros séculos da era cristã, criada pelos hindus, para a numeração escrita. Para uma criança
aprendendo a contar, este ato só faz sentido a partir da quantidade 2, senão contar o quê? Ela só admite
o zero depois de ter passado alguns anos experimentando os números “de verdade”, isto é, contando e
adquirindo experiência, o que se dá no início de sua aprendizagem da numeração escrita.
As frações eram admitidas pelos gregos não como números, mas como razão entre números (2, 3,
4, etc.). Da mesma forma, os números negativos, inicialmente utilizados para expressar dívidas,
débitos e grandezas que são passiveis de serem medidas em sentidos opostos, só receberam o status de
números séculos após serem utilizados na matemática e em suas aplicações. Aqui nota-se a semelhança
com a nossa experiência pessoal em matemática.
A existência de grandezas incomensuráveis e a ausência de um tratamento eficiente para
expressá-las, isto é, o desconhecimento de uma fundamentação teórica para o conceito de número real,
não impediu o progresso de ramos da matemática do século XVI ao século XIX. No entanto, a
complexidade dessa matemática conduziu a problemas para cuja compreensão e solução o
entendimento intuitivo não era suficiente. É mais ou menos deste modo que formamos o nosso
conceito de número real: apesar de ouvirmos falar de números reais desde o Ensino Fundamental,
concretamente só trabalhamos com números racionais. Isso ocorre até mesmo no Ensino Superior.
Os números complexos apareceram no estudo de equações, no século XVI, com o matemático
italiano Girolamo Cardano (1501–1576), mas também só adquiriram o status de número a partir de
suas representações geométricas, dadas no século XVIII pelos matemáticos Carl Friedrich Gauss
(1777–1855) e Jean Robert Argand (1768–1822) e da sua álgebra, apresentada por W. R. Hamilton em
1833, na qual eles eram definidos como pares ordenados de números reais. Estes, por sua vez, foram
construídos rigorosamente a partir dos racionais, décadas depois, por R. Dedekind e G. Cantor. Aqui
também há um paralelo com a nossa educação escolar: supondo conhecidos os reais, não é tão
complicado concebermos os complexos. No entanto, o conceito rigoroso de número real só se aborda
no curso de Análise Matemática. Isso, porém, é feito de forma axiomática, isto é, o conjunto dos
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números reais é admitido por axioma como um corpo ordenado completo, e não construído a partir dos
racionais, como deve ser feito.
Por fim, os números racionais podem ser construídos rigorosamente a partir dos números inteiros
e esses a partir dos naturais. Mas, e os números naturais, os primeiros que são admitidos pela nossa
intuição? Assim se perguntaram alguns matemáticos do século XIX, na busca de completar o conceito
matematicamente rigoroso de número. Eles podem ser construídos a partir da Teoria dos Conjuntos ou
podem ser apresentados através de axiomas, como fez George Peano, em 1889.
Por fim, este curso pretende apresentar os conjuntos numéricos numa ordem logicamente
coerente – naturais, inteiros, racionais e reais – passando a limpo a conflituosa ordem histórica
apresentada.

4. Primeiras noções

4.1. Proposição

É qualquer afirmação, verdadeira ou falsa, mas que faça sentido. Por exemplo, são proposições as
três afirmações seguintes:

A: Todo número primo maior que 2 é ímpar.


B: A soma dos ângulos internos de qualquer triângulo é 180º.
C: Todo número ímpar é primo.

Observe que dessas três proposições, as duas primeiras são verdadeira, mas a terceira é falsa, pois
9, 15, 21, etc., são números ímpares que não são primos.

4.2. Teorema

É uma proposição verdadeira do tipo “P implica Q”, onde P e Q são também proposições. Escreve-
se, simbolicamente, “P Q”, que tanto se lê “P implica Q”, como “P acarreta Q” ou “Q é
consequência de P”. P é a hipótese e Q é a tese do teorema. Por exemplo, a proposição A acima é um
teorema, que pode ser escrito na forma D E, onde D e E são as proposições seguintes:

D: n é um número primo maior do que 2. E: n é um número ímpar.

Observe que quando se enuncia um teorema A B, não está se afirmando que a hipótese A é
verdadeira; apenas que, se for verdadeira, então B também será.
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4.3. Lema e Corolário

Lema é um teorema preparatório para a demonstração de outro teorema. Corolário é um teorema


que segue como consequência natural de outro.
Muitos autores utilizam a palavra “proposição” para designar os teoremas de uma certa teoria,
reservando a palavra “teorema” para aqueles resultados que devem ser ressaltados como os mais
importantes.
Ao longo deste curso, os verbos “demonstrar”, “provar” e “mostrar” serão usados com o mesmo
significado. Antigamente, falava-se somente “demonstrar”, mas com a influência do inglês, os verbos
“provar” e “mostrar” foram tomando o lugar de “demonstrar”.

4.4. Axioma

É uma proposição aceita como sendo verdade inicial, não sendo demonstrável pela sua evidência.

5. Relação de Equivalência

Uma relação R em A diz-se relação de equivalência se possuir as seguintes propriedades:

i) reflexiva: a ~ a, para todo a ∈ A;


ii) simétrica: se a, b ∈ A e a ~ b, então b ~ a;
iii) transitiva: para a, b, c ∈ A, se a ~ b e b ~ c, então a ~ c.

6. Relação de Ordem

Definição 10: Uma relação R sobre um conjunto E não vazio é chamada relação de ordem parcial
sobre E se, e somente se, R é reflexiva, antissimétrica e transitiva. Ou seja, R deve cumprir
respectivamente as seguintes propriedades:

i) Se x ∈ E, então xRx
ii) Se x, y ∈ E, xRy e yRx, então x = y
iii) Se x, y, z ∈ E, xRy e yRz, então xRz
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CAPÍTULO II
Construção dos Números Reais

Parte I – Números Naturais

1. Conjuntos Numéricos e suas representações nos diagramas

Os números podem ser organizados em conjuntos.


Há uma simbologia convencionada para representar os principais conjuntos formados pelos
números. Vejamos:

Conjuntos dos números naturais


É representado por N. Então: N = {0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, ...}

Conjuntos dos números inteiros


É representado por Z. Então: Z = {..., –4, –3, –2, –1, 0, 1, 2, 3, 4, 5, ...}

Conjuntos dos números racionais


p
É representado por Q. Então: Q = x / x = , sendo p e q inteiros, com q ≠ 0 .
q
A letra Q é a inicial da palavra quociente. Todo racional é o quociente da divisão de dois inteiros.

Conjuntos dos números reais


É representado por R. Então: R = {x / x é racional ou irracional}

Todo número natural é número inteiro. Mas há números inteiros que não naturais (por exemplo:
–1, –2, –3).
Todo número inteiro é número racional. Mas há números racionais que não são inteiros
1 7 3
por exemplo: , , − .
2 3 10
Todo número racional é um número real. Mas há números reais que não racionais (são os
irracionais).
Num diagrama, podemos representar os conjuntos numéricos, respeitando as observações acima,
do seguinte modo:
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N I

2. Definição

Os números naturais chamam-se “naturais” justamente por surgirem “naturalmente” em nossa


experiência com o mundo físico, já nos primeiros anos da infância.
Intuitivamente, podemos dizer que números são medidas de grandezas. Considerando que as
grandezas podem ser discretas (que podem ser contadas) ou contínuas (que não podem ser contadas),
definimos os números naturais como sendo medidas de grandezas discretas; nas palavras de Leonard
Euler:

Número é o resultado da comparação de duas grandezas da mesma espécie, sendo uma


tomada como unidade. (L. Euler, Elements of Algebra, 1765)

Essa definição intuitiva de número natural é boa porque traduz em palavras nossa experiência
cotidiana de contagem, resumindo o que podemos dizer com base no senso comum; entretanto, a
definição não satisfaz os critérios de precisão e rigor, característicos da matemática contemporânea;
também não serve para desenvolvermos uma teoria dos números naturais no padrão axiomático-
dedutivo. Para a Matemática, interessa uma rigorosa teoria axiomática-dedutiva dos números naturais
porque isso significa tanto o aprofundamento de nossa compreensão quanto a organização lógica dos
conceitos e propriedades desses números, o que nos possibilita a investigação de propriedades sutis
(que não são evidentes ou são contraintuitivas) e também permite aplicações em contextos inusitados.
(Lúcio Fassarella, 2002)
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3. Representação gráfica

4. Propriedades Operatórias (N, +), (N, *) e (N, +, *)

Os números naturais são munidos de duas operações internas: a adição (+) e multiplicação (*).

A1 – Para todos a e b em N tem-se: a + b pertence a N.


(Propriedade do fechamento)

A2 – Para todos a, b e c em N tem-se: (a + b) + c = a + (b + c)


(Propriedade associativa da adição)

A3 – Existe um elemento 0 ∈ N tal que para todo a ∈ N tem-se: 0 + a = a + 0 = a


(Propriedade do elemento neutro da adição)

A4 – Para todos a, b ∈ N tem-se: a + b = b + a.


(Propriedade comutativa da adição)

M1 – Para todos a e b em N tem-se: a b pertence a N.


(Propriedade do fechamento)

M2 – Para todos a, b e c em N tem-se: a (b c) = (a b) c


(Propriedade associativa da multiplicação)

M3 - Existe um elemento 1 ∈ N tal que para todo a ∈ N tem-se a 1=1 a=a


(Propriedade do elemento neutro da multiplicação)

M4 - Para todos a, b ∈ N tem-se: a b=b a


(Propriedade comutativa da multiplicação)

D1 – Para todos a, b e c em N tem-se: a (b + c) = a b+a c


(Propriedade distributiva à esquerda da multiplicação em relação à adição)

D2 - Para todos a, b e c em N tem-se: (a + b) c=a c+b c


(Propriedade distributiva à direita da multiplicação em relação à adição)
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5. Princípio da Indução Finita (PIF) ou Princípio da Boa Ordem

5.1. Introdução

O Princípio da Indução Finita é um eficiente instrumento para a demonstração de fatos referentes


aos números naturais. Por isso deve-se adquirir prática em sua utilização. Por outro lado, é importante
também conhecer seu significado e sua posição dentro do arcabouço da Matemática. Entender o
Princípio da Indução Finita é praticamente o mesmo que entender os números naturais.
Apresentamos abaixo uma breve exposição sobre os números naturais, onde o Princípio da
Indução se insere adequadamente e mostra sua força teórica antes de ser utilizado na lista de exercícios
propostos ao final.

5.2. A Sequência dos Números Naturais

Os números naturais constituem um modelo matemático, uma escala padrão, que nos permite a
operação de contagem. A sequência desses números é uma livre e antiga criação do espírito humano.
Comparar conjuntos de objetos com essa escala abstrata ideal é o processo que torna mais precisa a
noção de quantidade; esse processo (a contagem) pressupõe, portanto o conhecimento da seqüência
numérica. Sabemos que os números naturais são 1, 2, 3, 4, 5,… A totalidade desses números constitui
um conjunto, que indicaremos com o símbolo N e que chamaremos de conjunto dos naturais. Portanto
N = {1, 2, 3, 4, 5,…}.
Evidentemente, o que acabamos de dizer só faz sentido quando já se sabe o que é um número
natural. Façamos de conta que esse conceito nos é desconhecido e procuremos investigar o que há de
essencial na sequência 1, 2, 3, 4, 5… .
Deve-se a Giussepe Peano (1858 – 1932) a constatação de que se pode elaborar toda a teoria dos
números naturais a partir de quatro fatos básicos, conhecidos atualmente como os axiomas de Peano.
Noutras palavras, o conjunto N dos números naturais possui quatro propriedades fundamentais, das
quais resultam como consequências lógicas, todas as afirmações verdadeiras que se podem fazer sobre
esses números. Os axiomas de Peano são:

P1: Se a é um número natural, então a tem um único sucessor que também é um número natural.

P2: Zero não é sucessor de nenhum número natural.

P3: Dois números naturais que têm sucessores iguais são, eles próprios, iguais.

P4: Se um conjunto S de números contém o zero e também o sucessor de todo número de S, então todo
número está em S.
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5.3. Elemento Mínimo

Definição: Seja A um conjunto de naturais. Chama-se elemento mínimo de A um elemento a ∈ tal


que a ≤ x para todo x ∈ A. Notação: a = min A.

min A = a se, e somente se, (a ∈ A e ∀ x ∈ A, então a ≤ x).

Teorema: Se a é elemento mínimo de A, então este elemento é único.

5.4. Indução Matemática

Teorema: Seja P(n) uma proposição associada a cada inteiro positivo n e que satisfaz às duas
seguintes condições:

1) P(1) é verdadeira.

2) Para todo inteiro k, se P(k) é verdadeira, então P(k + 1) também é verdadeira. Nestas condições, a
proposição P(n) é verdadeira para todo inteiro positivo n.

5.5. Princípio da Indução Finita (PIF).

Teorema: Seja S um subconjunto do conjunto N dos inteiros positivos (S ⊂ N) que satisfaz as duas
seguintes propriedades:

1) 1 pertence a S (1 ∈ S).

2) Para todo inteiro positivo k, se k ∈ S, então (k + 1) ∈ S;

3) Nestas condições, S é o conjunto N dos inteiros positivos: S = N.

Vejamos três exemplos:

n(n + 1)
Exemplo 1: Prove 1 + 2 + 3 + ... + n = para todo n ≥ 1.
2
Resolução:

i) Provar que é verdadeira para n = 1.


L.E. = 1
1 (1 + 1) 2
L.D. = = =1
2 2

Portanto, é verdadeiro para n = 1.


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ii) Supor que é verdadeiro para n = k. (Hipótese de Indução).

k(k + 1)
1 + 2 + 3 + ... + k = (H.I.)
2

iii) Provar que é verdadeiro para n = k + 1.

(k + 1)(k + 1 + 1)
1 + 2 + 3 + ... + k + (k + 1) =
2
(k + 1)(k + 2)
1 + 2 + 3 + ... + k + (k + 1) =
2

k(k + 1)
Pela hipótese de indução temos que 1 + 2 + 3 + ... + k = . Substituindo, temos:
2

k(k + 1) k(k + 1)
+ (k + 1) = + (k + 1) =
2 2
k(k + 1) + 2(k + 1) (k + 1) (k + 2)
= =
2 2

que é igual ao L.D.

n(n + 1)
Portanto: 1 + 2 + 3 + ... + n = , ∀ n ≥ 1.
2

n(n + 1)(2n + 1)
Exemplo 2: Prove que 1 + 4 + 9 + ... + n2 = para todo n ≥ 1.
6

i) Provar que é verdadeira para n = 1.


L.E. = 1
1 (1 + 1) (2 1 + 1) 1 2 3 6
L.D. = = = =1
6 6 6

Portanto, é verdadeiro para n = 1.

ii) Supor que é verdadeiro para n = k. (Hipótese de Indução).

k(k + 1)(2k + 1)
1 + 4 + 9 + ... + k2 = (H.I.)
6

iii) Provar que é verdadeiro para n = k + 1.

(k + 1)(k + 1 + 1)[2(k + 1) + 1]
1 + 4 + 9 + ... + k2 + (k + 1)2 =
6
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(k + 1)(k + 2)(2k + 3)
1 + 4 + 9 + ... + k2 + (k + 1)2 =
6

k(k + 1)(2k + 1)
Pela hipótese de indução temos que 1 + 4 + 9 + ... + k2 = . Substituindo, temos:
6

k(k + 1)(2k + 1)
+ (k + 1)2 =
6
k(k + 1)(2k + 1) + 6(k + 1) 2 (k + 1)[k(2k + 1) + 6(k + 1)]
= = =
6 6
(k + 1)(2k 2 + k + 6k + 6) (k + 1)(2k 2 + 7k + 6) (k + 1)(k + 2)(2k + 3)
= = =
6 6 6

que é igual ao L.D.

n(n + 1)(2n + 1)
Portanto: 1 + 4 + 9 + ... + n2 = , ∀ n ≥ 1.
6

n 2 (n + 1)2
Exemplo 3: Prove que 1 + 8 + 27 + ... + n = 3
para todo n ≥ 1.
4

i) Provar que é verdadeira para n = 1.


L.E. = 1
12 (1 + 1)2 1 4
L.D. = = = 12
4 4

Portanto, é verdadeiro para n = 1.

ii) Supor que é verdadeiro para n = k. (Hipótese de Indução).

k 2 (k + 1)2
1 + 8 + 27 + ... + k3 = (H.I.)
4

iii) Provar que é verdadeiro para n = k + 1.

(k + 1) 2 (k + 2) 2
1 + 8 + 27 + ... + k3 + (k + 1)3 =
4

k 2 (k + 1)2
Pela hipótese de indução temos que 1 + 8 + 27 + ... + k3 = . Substituindo, temos:
4
k 2 (k + 1)2
+ (k + 1)3 =
4
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k 2 (k + 1)2 + 4(k + 1)3 (k + 1) 2[k 2 + 4(k + 1)]


= = =
4 4
(k + 1) 2 (k 2 + 4k + 4) (k + 1) 2 (k + 2) 2
= =
4 4

que é igual ao L.D.

n 2 (n + 1)2
Portanto: 1 + 8 + 27 + ... + n3 = , ∀ n ≥ 1.
4

Exercícios

1) Prove por indução finita, para todo n 1.

a) 2 + 6 + 10 + ... + (4n – 2) = 2n2

b) 4 + 10 + 16 + ... + (6n – 2) = n(3n + 1)

c) 2 + 4 + 6 + ... + (2n) = n(n + 1)

d) 1 + 5 + 9 + ... + (4n – 3) = n(2n – 1)

n(n + 1) n(n + 1)(n + 2)


e) 1 + 3 + 6 + ... + =
2 6

f) 1 + 3 + 5 + ... + (2n – 1) = n2

n 2 (n + 1)2
g) 13 + 23 + 33 + … + n3 =
4

n(n + 1)(n + 2)
h) 1 2+2 3+3 4 + … + n(n + 1) =
3

2n(n + 1)(2n + 1)
i) 22 + 42 + 62 + … + (2n)2 =
3

n(n + 1)(4n − 1)
j) 1 2+3 4+5 6 + … + (2n – 1) 2n =
3
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Parte II – Números Inteiros


1. Origens

Os algarismos que usamos hoje em dia surgiram da Índia, no século VII, e sua difusão pelo
mundo se deve, em grande parte, aos árabes. Daí a designação “indo-arábicos” atribuída a eles. A
maneira de grafar esses símbolos foi se modificando ao longo do tempo, e a forma moderna mal se
assemelha à original. Importa, porém, que foi a partir da Índia, quando o Ocidente estava mergulhando
na estagnação e no obscurantismo da primeira fase do período medieval, que o sistema de numeração
posicional decimal começou a se tornar padrão. Inclusive o zero, que mesmo entre os gregos do
período alexandrino era usado apenas para indicar “ausência” (o que já era um avanço em relação a
outras épocas e outros povos), com os hindus ganhou “status” pleno de número.
Coube também aos hindus a introdução na matemática dos números negativos. O objetivo era
indicar débitos. O primeiro registro do uso de números negativos de que se notícia foi feito pelo
matemático e astrônomo hindu Brahmagupta (598–?), que já conhecia inclusive as regras para as
quatro operações com números negativos. Bhaskara (séc. XII), outro matemático e astrônomo hindu,
assinalou que todo número positivo tem duas raízes quadradas, uma negativa e outra positiva, e
salientou também a impossibilidade de se extrair a raiz quadrada de um número negativo.
Ao introduzirem os números negativos, os hindus não tinham nenhuma preocupação de ordem
teórica. Na verdade, os progressos matemáticos verificados na Índia, por essa época, ocorreram quase
que por acaso e em boa parte devido ao descompromisso com o rigor e a formalidade.
Mas a aceitação e o entendimento pleno dos números negativos foi um processo longo. Basta ver
algumas designações que receberam: Stigel (1486–1567) os chamava de números absurdos; Cardano
(1501 – 1576), de números fictícios. Descartes (1596–1650) chamavam de falsas as raízes negativas de
uma equação. Outros, como François Viète (1540–1603), importante matemático francês,
simplesmente rejeitavam os números negativos.

2. Representação gráfica
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 16

3. Propriedades Operatórias (Z, +, *)

Os números inteiros são munidos de duas operações internas: a adição (+) e multiplicação (*).

A1 – Para todos a e b em Z tem-se: a + b pertence a Z.


(Propriedade do fechamento)

A2 – Para todos a, b e c em Z tem-se: (a + b) + c = a + (b + c)


(Propriedade associativa da adição)

A3 – Existe um elemento 0 ∈ Z tal que para todo a ∈ Z tem-se: 0 + a = a + 0 = a


(Propriedade do elemento neutro da adição)

A4 – Para todo elemento a ∈ Z, existe um elemento, denotado por –a, tal que: a + (–a) = –a + a = 0.
(Propriedade do elemento oposto da adição)

A5 – Para todos a, b ∈ N tem-se: a + b = b + a.


(Propriedade comutativa da adição)

M1 – Para todos a e b em N tem-se: a b pertence a N.


(Propriedade do fechamento)

M2 – Para todos a, b e c em N tem-se: a (b c) = (a b) c


(Propriedade associativa da multiplicação)

M3 - Existe um elemento 1 ∈ Z tal que para todo a∈ Z tem-se: a 1=1 a=a


(Propriedade do elemento neutro da multiplicação)

M4 - Para todos a, b ∈ Z tem-se: a b=b a


(Propriedade comutativa da multiplicação)

D1 – Para todos a, b e c em N tem-se: a (b + c) = a b+a c


(Propriedade distributiva à esquerda da multiplicação em relação à adição)

D2 - Para todos a, b e c em N tem-se: (a + b) c=a c+b c


(Propriedade distributiva à direita da multiplicação em relação à adição)

4. Construção dos números inteiros

Pretende-se aqui dar um sentido matemático a todas as expressões do tipo a – b, para quaisquer a,
b ∈ N, de maneira a poder tratar como entes do mesmo conjunto tanto aquelas como 7 – 3, 5 – 1 e
4 – 0 quanto aquelas como 3 – 7, 1 – 3 e 0 – 2, por exemplo. Nesse sentido convém observar primeiro
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 17

que subjacente a cada “diferença” a – b está o par ordenado (a, b) ∈ N x N. Além disso é fácil ver que,
por exemplo, a igualdade em N

5–3=9–7

equivale a 5 + 7 = 9 + 3. De uma maneira geral, se a, b, c, d ∈ N, a bec d, vale a equivalência:

a–b=c–d ⇔ a+d=b+c

Essas considerações, aliadas ao fato de que o conjunto dos inteiros a ser construído, deve ser uma
“ampliação” de N.
No conjunto N x N consideremos a relação ~ definida da seguinte maneira: para quaisquer (a, b)
e (c, d) em N x N,

(a, b) ~ (c, d) ⇔ a + d = b + c

Para a relação ~ valem as propriedades:

• Reflexiva, pois, como para todo (a, b) ∈ N x N, se verifica a + b = b + a, então (a, b) ~ (b, a);
• Simétrica, ou seja, se (a, b) ~ (c, d), temos a + d = b + c. Temos que a + d = b + c b + c =a + d,
e pela propriedade comutativa temos c + b = d + a e, portanto: então (c, d) ~ (a, b)
• Transitiva, pois, se (a, b) ~ (c, d) e (c, d) ~ (e, f), então a + d = b + c e c + f = d + e. Daí temos que
a + d + f = b + c + f e c + f + b = e + d + b, o que implica a + d + f = e + d + b e, portanto a + f = e
+ b, ou seja: (a, b) ~ (e, f)

Vejamos um exemplo envolvendo os números inteiros:

Exemplo: Mostre que 3


7+5 2 + 3
7 − 5 2 é um número inteiro.
Resolução:
3
7+5 2 + 3
7−5 2 = x

Elevando ambos os membros ao cubo, vem:

( )
3
3
7 + 5 2 + 3 7−5 2 = x3

Desenvolvendo temos:

( ) ( )( ) ( )( ) +( )
3 2 2 3
3
7+5 2 +3 3
7+5 2 3
7−5 2 + 3 3
7+5 2 3
7−5 2 3
7−5 2 = x3
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 18

7+5 2 +3 3
7+5 2 3
7 −5 2 3
7 + 5 2 + 3 7 −5 2 + 7 − 5 2 = x3
x

14 + 3 3
( 7 + 5 2 )( 7 − 5 2 ) x = x3

14 + 3x 3
49 − 25 2 = x3

14 + 3x 3
−1 = x3
14 – 3x = x3
x3 + 3x – 14 = 0

As possíveis raízes da equação polinomial são: { ± 1, ± 2, ± 7, ± 14}.


Testando as raízes temos:

x=1 13 + 3 1 – 14 = 1 + 3 – 14 = –10 0. Portanto, 1 não é raiz.


x = –1 (–1)3 + 3 (–1) – 14 = –1 – 3 – 14 = –18 0. Portanto, –1 não é raiz.
x=2 (2)3 + 3 2 – 14 = 8 + 6 – 14 = 0. Portanto, 2 é raiz.

Portanto, 3
7+5 2 + 3
7 − 5 2 é um número inteiro.

Exercícios

10 10
2) Mostre que é inteiro o número 3 2+ 3 + 3 2− 3.
9 9

3) Classifique as proposições abaixo em verdadeira (V) ou falsa (F):


a) 0 ∈ N
b) 0 ∉ Z
c) –10 ∉ Z
d) Z+ ⊃ N
e) (2 – 3) ∈ Z
f) N ⊂ Z
g) O conjunto dos números naturais é finito.

4) Classifique as sentenças abaixo em verdadeira (V) ou falsa (F), sendo m, n e p números naturais
distintos e não nulos:
a) [(m + n) p] ∈ N c) (m + n) (p + n) > 0
b) [m (n – p)] ∈ Z d) (mp – m) ∈ N
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 19

Parte III – Números Racionais


1. Origens

Sempre que a divisão de um inteiro por outro não era exata, os egípcios antigos, já por volta do
ano 2000 a.C., usavam frações para exprimir o resultado. E usavam também frações para operar com
seu sistema de pesos e medidas.
2 3
Contudo, por razões difíceis de explicar, com exceção das frações e , às vezes, os egípcios
3 4
usavam apenas frações unitárias, ou seja, frações cujo numerador é 1. Por exemplo, no problema 24
do papiro Rhind (cerca de 1700 a.C.) no qual o escriba pede que se efetue a divisão de 19 por 8, a
resposta é dada, usando a nossa notação, por:

1 1
2+ +
4 8

Embora os egípcios não adotassem sempre o mesmo procedimento, pode-se mostrar que toda
fração entre 0 e 1 é a soma de frações unitárias, o que representa uma garantia teórica para essa opção.
Aliás, o uso das frações unitárias, além de não ficar confinado ao Egito antigo, se estendeu por
vários séculos. Basta dizer que Fibonacci, no seu já citado Líber abaci, escrito no século XIII d.C., não
só as usava como fornecia tabelas de conversão das frações comuns para unitárias. É que, embora uma
das finalidades dessa obra fosse divulgar os numerais indo-arábicos e a notação decimal posicional,
Fibonacci não chegou a perceber a grande vantagem deste sistema: sua aplicabilidade para exprimir
frações. Por exemplo:

1
= 0,25
4

Mas convém registrar que os babilônios, 2 000 anos antes de Cristo, apesar de algumas
ambiguidades, decorrentes de não contarem com um símbolo para o zero e outro para separatriz,
conseguiram estender o princípio posicional às frações no seu sistema de base 60. Por exemplo, o

numeral que representa o inteiro 1 + 1 60 = 61, também poderia ser uma representação de

1
1+
60

1
Na verdade, o uso da forma decimal para representar frações, tal como em = 0,25, somente
4
começaria a vingar após a publicação, em 1585m de um pequeno texto de Simon Stevin (1548–1620)
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 20

intitulado De thiende (O décimo). Embora a essa altura a forma decimal já não constituísse uma
novidade para os especialistas, esse trabalho de Stevin alcançou grande popularidade e conseguiu seu
intento, que era ensinar a “como efetuar, com facilidade nunca vista, todos os cálculos necessários
entre os homens, por meio de inteiros sem frações”. A notação inicialmente usada por Stevin acabou
sendo melhorada com o emprego da vírgula ou do ponto como separatriz decimal, conforme sugestão
de John Napier (1550–1617), feita em 1617.

2. Representação gráfica

Podemos notar que entre dois inteiros consecutivos existem infinitos números racionais e
1
também que entre dois racionais quaisquer há infinitos racionais. Por exemplo, entre os racionais =
2
2 5 3 61
0,5 e = 0, 6 , podemos encontrar os racionais = 0,5 , = 0,6 e = 0,61, entre outros.
3 9 5 100

Um procedimento comum para achar um número compreendido entre outros dois é calcular a
média aritmética entre eles; no caso, temos:

1 2 3+4 7
+
2 3 = 6 = 6 = 7 ou 0,5 + 0,6 = 1,16 = 0,583 = 7
2 2 2 12 2 2 12
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 21

3. Propriedades Operatórias (Q, +, *)

Os números racionais são munidos de duas operações internas: a adição (+) e multiplicação (*).

A1 – Para todos a e b em Q tem-se: a + b pertence a Q.


(Propriedade do fechamento)

A2 – Para todos a, b e c em Q tem-se: (a + b) + c = a + (b + c)


(Propriedade associativa da adição)

A3 – Existe um elemento 0 ∈ Q tal que para todo a ∈ Z tem-se: 0 + a = a + 0 = a


(Propriedade do elemento neutro da adição)

A4 – Para todo elemento a ∈ Q, existe um elemento, denotado por –a, tal que: a + (–a) = –a + a = 0.
(Propriedade do elemento oposto da adição)

A5 – Para todos a, b ∈ Q tem-se: a + b = b + a.


(Propriedade comutativa da adição)

M1 – Para todos a e b em Q tem-se: a b pertence a N.


(Propriedade do fechamento)

M2 – Para todos a, b e c em Q tem-se: a (b c) = (a b) c


(Propriedade associativa da multiplicação)

M3 - Existe um elemento 1 ∈ Q tal que para todo a ∈ Z tem-se a 1=1 a=a


(Propriedade do elemento neutro da multiplicação)

M4 - Para todos a, b ∈ Q tem-se: a b=b a


(Propriedade comutativa da multiplicação)

M5 – Para todo elemento não nulo a de Q, existe um elemento, denotado por a–1, tal que a a–1 =
a–1 a=1
(Propriedade do elemento inverso da multiplicação)

D1 – Para todos a, b e c em Q tem-se: a (b + c) = a b+a c


(Propriedade distributiva à esquerda da multiplicação em relação à adição)

D2 - Para todos a, b e c em Q tem-se: (a + b) c=a c+b c


(Propriedade distributiva à direita da multiplicação em relação à adição)
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 22

4. A divisão em Q

Sejam a, b ∈ Z, b 0. Se a é múltiplo de b, então existe um único c ∈ Z de maneira que a = bc.


Este elemento c é chamado quociente de a por b e costuma ser indicado por:

a
c= ou c = a : b
b

A operação que a cada par (a, b), nas condições expostas, associa c = a : b é a divisão em Z.
Portanto, a divisão em Z só está definida em

{(a, b) ∈ Z x Z : b 0 e b / a}

5. Construção dos números racionais

Consideremos o conjunto Z x Z* = {(a, b) / a ∈ Z e b ∈ Z*}. Definamos nele a relação: (a, b) ~


(c, d) quando ad = bc.
Para a relação ~ valem as propriedades:

• Reflexiva, pois, como para todo (a, b) ∈ N x N, se verifica ab = ba, então (a, b) ~ (a, b);
• Simétrica, ou seja, se (a, b) ~ (c, d), temos ad = bc. Temos que ad = bc bc = ad. Pela
propriedade comutativa, temos cb = da. Temos então (c, d) ~ (a, b).
• Transitiva, pois, se (a, b) ~ (c, d) e (c, d) ~ (e, f), então a d=b cec f=d e. Daí temos que
a d f=b c fec f b=e d b, o que implica a d f=e d b e, portanto
a f=e b, ou seja: (a, b) ~ (e, f)

Temos, então:

a) (1, 2) ~ (2, 4) ~ (–31, –62) b) (5, 1) ~ (–10, –2)

Vejamos alguns exemplos envolvendo números racionais:

Exemplo 1: Prove que a soma de dois números racionais é um número racional.


Resolução:
a c
Sejam m = , com a ∈ Z*, b ∈ N* e m ∈ Q; e n = , com c ∈ Z*, d ∈ N* e n ∈ Q. Quer se
b d
provar que m + n ∈ Q.
a c ad bc ad + bc
Então, m + n = + = + = .
b d bd bd bd
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 23

Como a ∈ Z*, b ∈ N*, c ∈ Z* e d ∈ N*, temos então que ad + bc e bd são números inteiros, pois
o produto de dois números inteiros é um número inteiro, e a soma de dois números inteiros é um
número inteiro. Portanto:
a c
m+n= + ∈ Q. (c.q.d.)
b d

Exemplo 2: Prove que a divisão de dois números racionais é um número racional.


Resolução:
a c
Sejam m = , com a ∈ Z*, b ∈ N* e m ∈ Q; e n = , com c ∈ Z*, d ∈ N* e n ∈ Q. Quer se
b d
provar que m : n ∈ Q.
Entendemos por divisão em Q, a operação Q x Q* em Q definida por (a, b) ab–1, onde b–1 é o
elemento inverso de b.
−1
a c a d ad
Então, m : n = = = .
b d b c bc
Como a ∈ Z*, b ∈ N*, c ∈ Z* e d ∈ N*, temos então que ad e bc são números inteiros, pois o
produto de dois números inteiros é um número inteiro. Portanto:
m : n ∈ Q. (c.q.d.)

1 515 15
Exemplo 3: Mostre que = .
3 333 33
Resolução:
1 515 1500 + 15 15 100 + 15 15 (100 + 1) 15
Temos que = = = =
3 333 3300 + 33 33 100 + 33 33 (100 + 1) 33

10r
Exemplo 4: Determine r ∈ Z de maneira que a fração ordinária represente números inteiros.
2r − 1
Resolução:
Efetuando a divisão temos:

10r 2r − 1
−10r + 5 5
5

10r 5
Temos, então, que: =5+ .
2r − 1 2r − 1
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 24

Para que a fração represente um número inteiro, 2r – 1 deve ser múltiplo de 5, ou seja:

2r – 1 = 1 2r = 2 r=1
2r – 1 = –1 2r = 0 r=0
2r – 1 = 5 2r = 6 r=3
2r – 1 = –5 2r = –4 r = –2

Portanto, para a fração representar um número inteiro, r deve assumir os seguintes valores: –2, 0,
1, 3.

6. Determinação da fração geratriz de dízimas periódicas

Denomina-se dízima periódica os números decimais que são formados por números que se
repetem infinitamente. Os algarismos que se repetem são chamados de algarismos periódicos.
Caso a dízima periódica possuir após a vírgula algarismos que não se repetem, estes são
chamados de não periódicos.

Exemplos:
a) 0,555..... a parte periódica é o 5.
b) 0,132132132.... a parte periódica é 132.
c) 0,002500250025... a parte periódica é 0025.
d) 0,32777... a parte não periódica é 32 e a periódica é 7.
e) 0,023858585... a parte não periódica é 023 e a periódica 85.

Quando temos uma parte inteira diferente de zero, devemos ver este número como a soma da
parte inteira com a parte fracionária.

Exemplos:
a) 4,315315315... = 4 + 0,315315315....
b) 1,710979797... = 1 + 0,710979797...

Regras para determinação de uma fração geratriz

a) Simples:
Em uma dízima periódica simples, o período se apresenta imediatamente após a vírgula, como,
por exemplo, 0,4444... ou 2,5555... ou, ainda, 2,343434...
Para obter a fração geratriz de uma dízima periódica simples, podemos tratá-la como uma
incógnita, como x, por exemplo.
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 25

x = 0,4444...

Em seguida, multiplicamos os dois termos da igualdade por uma potência de 10 cujo expoente
é igual à quantidade de numerais do período da dízima.

x = 0,4444...
10x = (0,444...) 10
10x = 4,444...

Subtraindo uma expressão da outra, isto é, fazendo:

(10x – x) = 4,444... – 0,444...

obtemos:
4
9x = 4  x=
9
4
Assim, a geratriz da dízima 0,444... é a fração .
9

b) Composta
Em uma dízima periódica composta, entre o período e a vírgula há um ou mais numerais que não
fazem parte do período, como, por exemplo, 0,23333... ou 1,03242424...
De modo semelhante ao que foi feito anteriormente, nomearemos a dízima de x.

x = 0,2333...

Visto que o período é formado apenas por um algarismo, multiplicaremos toda a expressão por
10, para separar a parte periódica da não periódica.

x = 0,2333
10x = 2,333...

Em seguida, multiplicamos os dois termos da igualdade por uma potência de 10 cujo expoente
é igual à quantidade de numerais do período da dízima.

100x = 23,333...

Subtraindo as duas últimas expressões, temos:

(100x – 10x) = 23,333... – 2,333...

obtemos:
21
90x = 21  x=
90
21
Assim, a geratriz da dízima 0,2333... é a fração .
90
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 26

Dos dois exemplos visto anteriormente, generalizando, foram criada as seguintes regras:

Regra 1: A fração geratriz de uma dízima periódica simples tem como numerador o número formado
pela parte periódica. O denominador, tantos noves quantos forem os algarismos que formam a parte
periódica.

Exemplos:
7 67 1
a) 0,7777... = b) 0,676767... = c) 0,001001001...=
9 99 999

Regra 2: A fração geratriz de uma dízima periódica composta tem como numerador o número
formado pela junção das partes não periódica e periódica menos o número formado pela parte não
periódica. O denominador tantos noves quantos forem os algarismos da parte periódica acrescidos de
tantos zeros quantos forem os não periódicos.

Exemplos:
135 − 13 122 4113 − 4 4109
a) 0,13555.. = = b) 0,4113113113...= =
900 900 9990 9990

7. Dízimas periódicas e cíclicas

O que será que acontece se o denominador de uma fração irredutível contiver algum fator primo
diferente de 2, 3 e 5? Consideremos o exemplo da conversão de 5/7 em decimal, ilustrada abaixo. Na
primeira divisão (de 50 por 7), obtemos o resto 1; depois, nas divisões seguintes, vamos obtendo,
sucessivamente, os restos 3, 2, 6, 4 e 5. No momento em que obtemos o resto 5, que já ocorreu antes,
sabemos que os algarismos do quociente voltarão a se repetir, resultando no período 714285. Essa
repetição acontecerá certamente, pois os possíveis restos de qualquer divisão por 7 são 0, 1, 2, 4, 5 e 6.
Vemos também que o período terá no máximo seis algarismos.

5, 00000000 7
10 0,71428571...
30
20
60
40
50
10
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 27

No caso da divisão de 41 por 23, podemos garantir que a repetição de um resto parcial ocorrerá
41
no máximo até a 23ª casa decimal. De fato, para a fração , a dízima é a seguinte:
23

1,78260869565217391304347826086956521739130434...

ou seja, ela apresenta um período enorme, formado por um “pacote” de 22 casas decimais.
m
Portanto, ao efetuarmos a divisão da fração irredutível , os únicos restos possíveis serão
n
{1, 2, 3, 4, 5, ..., n – 1}. Assim, o processo de divisão que gera uma dízima periódica recomeça no
m
enésimo passo ou antes dele. O desenvolvimento decimal de será periódico e seu período terá, no
n
máximo, n – 1 algarismos.
41
No caso do exemplo acima, a fração tem por período seu “comprimento” máximo: n – 1 =
23
23 – 1 = 22 algarismos.

Exercícios
5) Explique porque não consideramos como números:
0 1
a) b)
0 0

3
6) n pode ser um número racional? Explique.

1+ 5
7) é um número racional? Explique.
2

8) Mostre que o número x = 19 + 8 3 + 19 − 8 3 é racional.

9) Prove que 0,9999... é igual a 1.

10) Mostre que x = 12 + 6 3 + 12 − 6 3 é racional.

11) Classifique as proposições abaixo em V (verdadeira) ou F (falsa).


4 2 1
a) ∈Q b) − 1 ∉ Q c) − ∈ Q–Z
5 3 3
15
d) 0,333... ∈ Q e) 1,9 ∈ Z f) − ∉Q
11

12) Escreva dois números racionais que estão entre:


3 9 3 1
a) 0 e b) 1 e c) − e
5 4 4 5
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 28

13) Calcule:
a) 2,33333... 1,75 b) 1,25555... 4,44444... c) 0,757575... : 0,66666...
d) 0,666... – 0,6 e) 0,23 : 0,2333... f) –0,1777... + 0,1

14) Um professor encontrou entre os cálculos de seus alunos quatro diferentes formas de efetuar a
adição de duas frações:

1 2 1 2 5 4 9
Aluno A: + = 0,5 + 0,4 = 0,9 Aluno B: + = + =
2 5 2 5 10 10 10
1 2 3 1 2 5+4 9
Aluno C: + = Aluno D: + = =
2 5 7 2 5 10 10

Analise e justifique as respostas dos alunos.

15) Determine as frações geratrizes das dízimas periódicas usando a regra prática.
a) 0,1515... e) 8,1212... i) 2,007777...
b) 0,416416... f) 0,1555... j) 100,0777...
c) 2,111... g) 1,155... l) 4,0757575...
d) 20,2020... h) – 2,01717...

16) Se a = 0, 4 e b = 0,3 , então b a é igual a:


1 2 5 7
a) b) c) d)
9 9 9 9

17) (XXI OBM 1999 – Primeira fase – Nível 2) Qual o 1999º algarismo após a vírgula na
4
representação decimal de ?
37
a) 0 b) 1 c) 2 d) 7 e) 8

18) Mário estava fazendo esta divisão:

9 7
Cansado, não quis mais continuar.
20 1,285714
Marisa olhou e disse:
60
40 – Na verdade, você não precisa continuar!
50 Assim já dá para perceber qual é o resultado.
10 Marisa tem razão. Explique por que e depois
30
apresente o quociente da divisão.
2
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 29

Parte IV – Números Reais e Irracionais

1. Definição

Os números reais são os alicerces da Análise Matemática. Número real é todo número que é
racional ou irracional. Observa-se que os números naturais e os números inteiros são casos
particulares de números racionais, de forma que quando dizemos um número é racional, fica aberta a
possibilidade de ele ser um número inteiro (positivo ou negativo) ou simplesmente um número natural.
A totalidade dos números racionais, juntamente com os irracionais é o chamado conjunto dos
números reais.

2. Representação gráfica

Retomemos a reta numerada, com alguns números racionais (inteiros ou não) já assinalados:
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 30

3. Propriedades Operatórias (R, +, *)

Os números reais são munidos de duas operações internas: a adição (+) e multiplicação (*).

A1 – Para todos a e b em R tem-se: a + b pertence a Q.


(Propriedade do fechamento)

A2 – Para todos a, b e c em R tem-se: (a + b) + c = a + (b + c)


(Propriedade associativa da adição)

A3 – Existe um elemento 0 ∈ R tal que para todo a ∈ Z tem-se: 0 + a = a + 0 = a


(Propriedade do elemento neutro da adição)

A4 – Para todo elemento a ∈ R, existe um elemento, denotado por –a, tal que: a + (–a) = –a + a = 0.
(Propriedade do elemento oposto da adição)

A5 – Para todos a, b ∈ R tem-se: a + b = b + a.


(Propriedade comutativa da adição)

M1 – Para todos a e b em R tem-se: a b pertence a N.


(Propriedade do fechamento)

M2 – Para todos a, b e c em R tem-se: a (b c) = (a b) c


(Propriedade associativa da multiplicação)

M3 - Existe um elemento 1 ∈ R tal que para todo a ∈ Z tem-se a 1=1 a=a


(Propriedade do elemento neutro da multiplicação)

M4 - Para todos a, b ∈ R tem-se: a b=b a


(Propriedade comutativa da multiplicação)

M5 – Para todo elemento não nulo a de R, existe um elemento, denotado por a–1, tal que a a–1 =
a–1 a=1
(Propriedade do elemento inverso da multiplicação)

D1 – Para todos a, b e c em R tem-se: a (b + c) = a b+a c


(Propriedade distributiva à esquerda da multiplicação em relação à adição)

D2 - Para todos a, b e c em R tem-se: (a + b) c=a c+b c


(Propriedade distributiva à direita da multiplicação em relação à adição
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 31

4. Grandezas incomensuráveis

Historicamente, a primeira evidência da necessidade dos números irracionais ocorre com a ideia
de “incomensurabilidade”. Na Grécia Antiga, os únicos números reconhecidos como tais eram os
números naturais 2, 3, 4, etc. O próprio 1 não era considerado número, mas a “unidade”, a partir da
qual se formavam os números. As frações só apareciam indiretamente, na forma de razão de duas
grandezas, como, por exemplo, quando dizemos que o volume de uma esfera está para o volume do
cilindro reto que a circunscreve assim como 2 está para 3.
A descoberta de grandezas incomensuráveis foi feita pelos próprios pitagóricos; e representou um
momento de crise da Matemática.
Devemos lembrar que Pitágoras notara certas relações numéricas envolvendo o comprimento de
uma corda musical e o som por ela emitido. Ao que parece, ele fez observações semelhantes com
relação a outros fenômenos, intuindo daí que o número fosse de fato a essência de todos os fenômenos,
permeando a Natureza inteira. Sendo assim, era de se esperar que a razão de dois segmentos de reta
pudesse sempre ser expressa como a razão de dois números (naturais).
Dizer que a razão de dois segmentos A e B é a fração m/n significa dizer que existe um segmento
c tal que A = mc e B = nc. Ora, com a descoberta dos incomensuráveis, ficou claro que isso nem seria
possível.

5. Números irracionais

Podemos conceber números cuja representação decimal não é nem finita nem periódica. Esses
são os chamados números irracionais.
É fácil produzir números irracionais, basta inventarmos uma regra de formação que não permita
aparecer período. Podemos conseguir isso, por exemplo, utilizando dois algarismos quaisquer, como 5
e 0, colocando o 5 seguido de um zero, depois o 5 seguido de dois zeros, etc. Assim, temos:

0,50 500 5000 50000...

Outros três números irracionais importantes e conhecidos são: o (lê-se: pi), o ϕ (lê-se: fi) e o e
(número neperiano). Temos, respectivamente, os três números com suas 300 primeiras casas decimais:

Número
3,141592653589793238462643383279502884197169399375105820974944592307816406286208998
6280348253421170679821480865132823066470938446095505822317253594081284811174502841
0270193852110555964462294895493038196442881097566593344612847564823378678316527120
1909145648566923460348610454326648213393607260249141273...
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 32

Número ϕ
1,618033988749894848204586834365638117720309179805762862135448622705260462818902449
7072072041893911374847540880753868917521266338622235369317931800607667263544333890
8659593958290563832266131992829026788067520876689250171169620703222104321626954862
6296313614438149758701220340805887954454749246185695364...

Número e
2,718281828459045235360287471352662497757247093699959574966967627724076630353547594
5713821785251664274274663919320030599218174135966290435729003342952605956307381323
2862794349076323382988075319525101901157383418793070215408914993488416750924476146
0668082264800168477411853742345442437107539077744992069...

Os três pontos utilizados nos números irracionais não têm o mesmo significado das dízimas
periódicas, por exemplo. Aqui significa que os algarismos se sucedem indefinidamente, sem nenhuma
lei de formação explicitada.
As raízes quadradas dos números naturais que são quadrados perfeitos (0, 1, 4, 9, 16, 25, 36, ...),
as raízes cúbicas de cubos perfeitos (0, 1, 9, 27, 64, ...) e assim por diante, são números naturais.

3
0 =1 0 =0
3
4 =2 8 =2

9 =3 4
16 = 2

16 = 4 5
32 = 2

As raízes quadradas dos números naturais que não são quadrados perfeitos, cubos perfeitos e
assim por diante; são números irracionais.

3 = 1,732050808... 61 = 7,810249676...
3
10 = 3,16227766... 6 = 1,817120593...

6. Representação geométrica dos números irracionais

Apesar de os irracionais não poderem ser escritos na forma de fração não é correto dizer que eles
não têm valor exato. Esse assunto foi objeto de preocupação entre os matemáticos da Escola pitagórica,
por volta séc. V a. C. Conta-se que Hippaso de Metaponto, filósofo grego, em uma embarcação
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 33

marítima, comprovou, geometricamente, que os números irracionais tinham um valor exato,


contradizendo as ideias dos pitagóricos fanáticos da época. Por esse motivo foi lançado ao mar.
Impossível de se verificar algebricamente, é verdade, mas de fácil visualização geométrica. Com
os números reais em mãos, situaremos cada um deles sobre uma reta, de modo que cada ponto da reta
representará um número real. Esse ponto será chamado imagem do número. Reciprocamente o número
será chamado de abscissa do ponto.
Para construí-la procedemos da seguinte forma:

1º passo: Marcamos, no eixo real, dois pontos para serem imagem de 0 e 1 respectivamente. Note que
AB = 1.

A B

0 1

2º passo: Construímos um segmento BC, congruente a BA, com origem em B e que forma um ângulo
reto com o eixo. Observe:

C
1
A B
1
0 1

3º passo: Ligamos os pontos A e C para formar o segmento AC. Pelo teorema de Pitágoras,
descobrimos que AC tem medida igual a 2 .

C
2 1
A B

0 1 1

4º passo: Giramos no sentido horário o segmento AC, em torno do ponto A, com o auxílio de um
compasso, até se sobrepor ao eixo. Pronto! O local onde o ponto C tocou o eixo (C’) é a imagem de
2 . Observe:
C
2 1
A B C’
1
0 1 2 2
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 34

O tamanho da hipotenusa (segmento AC) fornece o valor exato de 2 . (Nesse caso não
consideramos imprecisões nos aparelhos de medida que dispomos). Devemos considerar réguas ideais,
embora não existam de fato.
Esse processo é válido para qualquer número irracional. Com esse raciocínio fica provado que, ao
contrário do que parece, os irracionais têm valor exato. Embora números desse tipo possuam infinitas
casas decimais com algarismos que nunca repetem (indício de não possuir valor exato), podemos

visualizar geometricamente (através de uma figura) que há um “tamanho” bem determinado para 2,
é igual a medida do segmento AC’. Esse um valor exato. Como todos os irracionais têm segmentos
cujo tamanho é igual ao seu valor, fica provado que qualquer número irracional tem valor exato,
embora a primeira vista pareça o contrário.

Veja, por exemplo, como representamos os números irracionais 2, 3 e − 2 na reta:

A construção que se segue é bastante sugestiva para a representação precisa dos números 2,
3 , 4 , 5 , ..., n , ... sobre a reta:
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 35

7. Provando que 2 é um número irracional

Antes de provar a irracionalidade da 2 , devemos provar antes o seguinte:

Enunciado 1: Se um número é par, então o quadrado também é par.


e
Enunciado 2: Se o quadrado de um número é par, então esse número é par.

Em linguagem simbólica, temos:

Se a é par, então a2 é par ⇔ Se a2 par, então a é par.

Vamos provar o enunciado 1:


Pela hipótese, temos que o número é par. Façamos então, m = 2x, com x ∈ Z. Elevando ao
quadrado, temos:

m2 = (2x)2 = 4x2 = 2 . 2x2

Como x é inteiro, 2x2 também é. Qualquer número multiplicado por 2 é par. Portanto, o quadrado
de qualquer número par é par. (c.q.d.)

Vamos provar agora o enunciado 2, a recíproca do enunciado 1:


Por hipótese, temos que o número é par. Vamos supor então que esse número seja ímpar.
Façamos então, m = 2x + 1, com x ∈ Z. Elevando ao quadrado, temos:

m2 = (2x + 1)2 = 4x2 + 4x + 1 = 2(2x2 + 2x) + 1

Como x é inteiro, 2x2 + 2x também é. Mas qualquer número multiplicado por 2 e somado com 1
é sempre ímpar, o que contradiz a hipótese de que o número é par. Logo, temos um absurdo. Portanto,
se o quadrado do número é par, então esse número é par. (c.q.d.)

Agora, podemos provar a irracionalidade do número 2.

a
I. Vamos supor, por absurdo, que 2 seja racional, isto é, que 2 possa ser escrito na forma , com
b
a a
a ∈ Z e b ∈ Z*, de modo que seja irredutível (a e b são primos entre si). Temos, então, 2 = .
b b
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 36

a2
II. Elevando os dois membros ao quadrado, obtemos 2 = 2 , ou a2 = 2b2. Isso significa que a2 é par,
b
logo, a é par.

a
III. Por outro lado, como a fração é irredutível e a é par, então b tem que ser ímpar.
b

IV. Se a é par, existe um número inteiro m tal que a = 2m. Substituindo em a2 = 2b2, temos:
(2m)2 = 2b2 4m2 = 2b2 b2 = 2m2

Ou seja, se b2 é par, então b também é par.

V. Essa última dedução é um absurdo, pois em III concluímos que b deveria ser ímpar e um número
não pode ser par e ímpar ao mesmo tempo. E também, porque a e b devem ser primos entre si.

Por isso, concluímos que a hipótese de 2 ser racional é falsa e que, portanto, 2 é irracional.

Vejamos alguns exemplos envolvendo números reais.

Exemplo 1: Prove que 2 + 3 não pode ser racional.


Resolução:
Seja x = 2 + 3 . Elevando ambos os membros ao quadrado temos:

x2 = 2 + 2 6 + 3

Reagrupando, temos:

x2 – 5 = 2 6

Elevando ao quadrado novamente, temos:

x4 – 10x2 + 25 = 24

Reagrupando, temos:

x4 – 10x2 + 1 = 0

As únicas raízes racionais possíveis desta equação são –1 e 1. Substituindo x por –1 e por 1,

nenhum desses dois valores satisfazem a equação. De modo que 2 + 3 , que satisfaz a equação, não
pode ser racional.
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 37

22 23
Exemplo 2: Indique um número irracional entre e .
3 3
Resolução:
22 23
Seja a o número procurado: <a< .
3 3
22 23
Como e são números positivos maiores que 1, então:
3 3

2 2
22 23
< a2 <
3 3

484 529
Logo, < a2 < .
9 9
484 529 495
Podemos atribuir a a2 qualquer fração que esteja entre e . Por exemplo, a2 = .
9 9 9
484 495 529 484 529
Logo, < < ; então, < 55 < .
9 9 9 9 9

Extraindo a raiz de todos os membros dessa desigualdade, temos:

484 529
< 55 <
9 9
22 23
< 55 <
3 3

Assim, 55 está entre as duas frações dadas.

8. Para além dos complexos

Uma pergunta natural, neste ponto, seria: os conjuntos numéricos param por aí? Ou seja, C
pode ser imerso propriamente em algum outro conjunto de números? A resposta é sim!
Hamilton estudou as equações do tipo x2 + y2 + 1 = 0 e criou o conjunto dos hiper-complexos,
também chamados de quarténions, no final do século XIX. Os hiper-complexos é uma duplicação dos
complexos e é representado por:

H = {z + w . l / z, w ∈ C, l2 = –1}

O conjunto dos números complexos pode ser imerso no anel dos quatérnions de Hamilton que,
no entanto, não tem mais a estrutura algébrica de corpo porque a multiplicação deixa de ser
comutativa. Os quatérnios são hoje utilizados em robótica, computação gráfica e em outras áreas da
ciência.
Por sua vez, os quatérnions podem ser imersos nos octônions, no qual a multiplicação não é mais
associativa. Os octônions têm importantes aplicações em ramos da Física como relatividade especial e
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 38

teoria das cordas, além de ser relacionarem com outras estruturas matemáticas como os chamados
grupos de Lie excepcionais. É representado como:

O = {m + n . t / m, n ∈ H, t2 = –1}

Esse processo de imersão em conjuntos maiores pode prosseguir ad infinitum através da


chamada Construção de Cayley-Dickson. Um resultado algébrico fundamental, devido a Frobenius
(1848–1917), garante, no entanto, que as únicas álgebras com divisão finita sobre o corpo dos reais
são os reais, os complexos, os quatérnions e os octônions. Depois vem os sedenions.
Na Matemática e em suas aplicações, as estruturas de corpo ordenado completo dos reais e de
corpo algebricamente fechado dos complexos são importantes por várias razões, em especial, por
serem os corpos de escalares dos espaços vetoriais presentes em muitas áreas da Matemática.

Exercícios

19) Quaisquer que sejam o racional x e o irracional y, pode se dizer que:


a) x • y é irracional; d) x – y + 2 é irracional;
b) y • y é irracional; e) x + 2y é irracional.
c) x + y é racional;

20) Classifique as sentenças em verdadeiras ou falsas e apresente um exemplo que confirme sua
afirmação.
a) O produto de dois números irracionais pode ser um racional.
b) A soma de um racional com um irracional é sempre um irracional
c) A soma de dois irracionais é sempre um número irracional.
d) Se x e y são racionas, então x + y é sempre racional.

e) 5 • x, se x é racional, esse número pode ser racional.


f) y3, se y é irracional, esse número pode ser racional.

21) Prove que a soma de dois números pares é sempre um número par.

22) Prove que a soma de dois números ímpares é sempre um número par.

23) Prove que o quadrado de um número ímpar é sempre ímpar.

24) Prove que 3 é irracional.

25) Prove que p é irracional, onde p > 1 é um número primo qualquer.


Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 39

26) Decida se cada uma das frases dadas é verdadeira (V) ou falsa (F). Não é preciso provar, basta
justificar a escolha feita.
a) Um número real com infinitas casas decimais não nulas é irracional.
b) Uma dízima periódica composta é um número irracional.
c) 0,9999... = 1
d) Entre os números 1,23456 e 1,23457 não existe nenhum número irracional.
e) Entre os números 1,23456 e 1,23457 não existe nenhum número racional.
f) A soma de dois números racionais pode ser um número irracional.
g) A soma de dois números irracionais pode ser um número racional.
h) A soma de dois números irracionais é um número irracional.
i) O produto de dois números irracionais é um número irracional.
j) Um número irracional elevado a um número racional pode dar um número racional.

3
27) Prove que 2 é um número irracional

28) Prove que os números abaixo são irracionais:


a) 4 5 − 2 b) 3 − 2 c) 2+ 3+ 5

19
29) Coloque em ordem crescente os números reais: , 2, 3 , 1, 5 e 1, 2 .
20

2 3 21 5
30) Disponha em ordem decrescente os números: , , 1, , e 0,8 .
2 3 20 5

31) Observe os seguintes números:

I. 2,212121... V. −4
III.
II. 3,212223... 5
IV. 3,1416

Assinale a alternativa que identifica os números irracionais:


a) I e II b) I e IV c) II e III d) II e V e) III e V

32) Classifique as afirmações abaixo em V (verdadeira) ou F (falsa).

a) –3 ∈ N b) 0 ∈ Z+ c) 3 ∈Q
3
d) ∈ R e) −3 ∈ R f) 0,123123... ∈ Z
0
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 40

33) Classifique as afirmações abaixo em verdadeiras ou falsas:


a) Se x ∈ N, então x ∈ Z c) Se x ∈ Q, então x ∈ R
b) Se x ∈ Z, então x ∈ N d) Se x ∈ N, então x ∈ Q

x x(y − 1)
34) Sendo y = 1 : 0,1 e x = 2 : 0,1, mostre que A = eB= são irracionais, mas que A . B
y y
é racional.

35) Identifique a afirmação verdadeira entre as seguintes:


a) No conjunto dos números inteiros relativos, existe um elemento que é menor do que todos os
outros.
p
b) O número real 2 pode ser representado sob a forma , sendo p e q inteiros, q 0.
q
c) O número real representado por 0,37222... é um número racional.
d) Toda raiz de uma equação algébrica do 2º grau é um número real.
e) O quadrado de qualquer número real é um número racional.

36) Sejam a, b e c números reais quaisquer. Identifique a afirmação verdadeira:


a) a > b ⇔ a2 > b2 c c c
d) = +
b) a > b ⇔ ac > bc a+b a b

2 2
e) a2 = b2 ⇔ a = b
c) a +b a

37) Escreva um número:


a) natural c) racional que não inteiro
b) inteiro negativo d) real e não racional

38) Localize os números 5, 6, 7, 8 e 9 na reta real geometricamente.

39) Mostre que o número x = 2 + 2 + 2 + 2 + ... é racional. (Sugestão: eleve ao quadrado os

dois membros.)
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 41

Parte V – Fundamentos Axiomático dos números reais


1. Enumerabilidade

Diz-se que um conjunto é enumerável quando seus elementos podem ser postos em
correspondência biunívoca com os números naturais.
Por exemplo, os números pares 2, 4, 6, ..., constituem um conjunto enumerável, como se vê a
seguir:

Números pares 2 4 6 8

Números naturais 1 2 3 4

Um dos primeiros fatos surpreendentes que surge na consideração de conjuntos infinitos diz
respeito à possibilidade de haver equivalência entre um conjunto e um seu subconjunto próprio. Por
exemplo, a correspondência n → 2n, que ao 0 faz corresponder 0, ao 1 faz corresponder 2, ao 2 faz
corresponder 4, etc., estabelece equivalência entre o conjunto dos números naturais e o conjunto dos
números pares positivos. Veja: o conjunto dos números pares positivos é um subconjunto próprio do
conjunto N; no entanto, tem a mesma cardinalidade que N, ou seja, o mesmo número de elementos.
Este fenômeno é uma peculiaridade dos conjuntos infinitos e em nada contradiz o que já sabemos
sobre conjuntos finitos.

1.1. A enumerabilidade em Q

O conjunto dos números racionais é enumerável. Se eu tiver “etiquetas” com os números 0, 1, 2,


3, 4, 5, 6, ... eu consigo dar uma “etiqueta” para cada número racional.
A enumerabilidade não precisa preservar a ordem de valores dos números.

0 1/2 1
1 3 2
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 42

1.2. Como enumerar os racionais?

1 1 1 1
0 1 ...
1 3 2 3 4 5
6
2 2 2 2 2
2 ...
2 3 5 7 9 11
5
3 3 3 3 3
3 ...
4 2 4 5 7 8

4
7

Nessa matriz infinita, estão gerados todos os números racionais.

Vejamos alguns exemplos:

Exemplo 1: Construa uma bijeção entre o conjunto N e o conjunto dos números ímpares positivos.
Resolução: n 2n + 1

Exemplo 2: Demonstre que o conjunto dos números racionais, entre 0 e 1 inclusive, é enumerável.
Resolução:
Basta escrever todas as frações de denominador 2, 3, ... considerando só uma vez as frações
1 2 3
equivalentes como , , , ... Então, pode-se estabelecer a correspondência biunívoca com os
2 4 6
números naturais como segue:

1 1 2 1 3 1 2
Números racionais 0 1 ...
2 3 3 4 4 5 5

Números naturais 0 1 2 3 4 5 6 7 8

De modo que o conjunto dos números racionais, entre 0 e 1 inclusive, é enumerável.

Exemplo 3: Prove que o conjunto de todos os reais em [0, 1] não é enumerável.


Resolução:
Todo real em [0, 1] admite uma representação decimal 0, a1, a2, a3 ..., onde a1, a2, ..., são
quaisquer algarismos 0, 1, 2, ..., 9.
Admitimos que os números cuja representação decimal seja finita, tais como 0,7324, se escrevam
0,73240000..., e que essa representação é equivalente a 0,73239999...
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 43

Se os reais em [0, 1] formam um conjunto enumerável, podemos colocá-los em correspondência


biunívoca com os números naturais, como se segue abaixo:

1 0, a11 a12 a13 a14 ...


2 0, a21 a22 a23 a24 ...
3 0, a31 a32 a33 a34 ...

Formemos, agora, o número b = 0, b1, b2, b3, b4 ..., onde b1 a11, b2 a22, b3 a33, b4 a44, ... e
onde, acima de uma certa ordem, os b não são todos iguais a 9. Um tal número, que pertence a [0, 1], é
diferente de todos os números do quadro acima, não figurando, assim, no mesmo, o que contraria a
hipótese de que todos os números de [0, 1] tenham sido incluídos.
Essa contradição mostra que os reais em [0, 1] não podem ser colocados em correspondência
biunívoca com os números naturais, portanto, o conjunto dos reais em [0, 1] não é enumerável.

2. Conjuntos densos

Sejam os conjuntos A = {x ∈ Z / –2 x 2} e B = {x ∈ R / –2 x < 2}.


Enquanto podemos enumerar os elementos do conjunto A, A = {–2, –1, 0, 1, 2}, o mesmo não
ocorre para B, pois seus elementos são infinitos números reais que se situam entre o –2 e o 2.
Por isso, o conjunto B é chamado conjunto denso.
No entanto, é possível representar B desenhando seus elementos na reta real:

• Marcamos as extremidades do conjunto dado.

–2 2

• Como –2 é elemento de B, indicamos esse ponto com uma bola cheia; como 2 não é elemento de
B, indicamos com uma bola vazia

–2 2

• Como x é um número maior ou igual a –2 e menor que 2, sombreamos a reta neste intervalo.

–2 2
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 44

3. Distâncias e Vizinhanças

Ao número real não negativo d(x, y) = x − y chama-se distância entre os números reais x e y .

São imediatas as seguintes propriedades:

P1: d(x, y) = 0 ⇔ x = y;

P2: d(x, y) = d(y, x) (simetria);

P3: d(x, y) d(x, z) + d(z, y) (desigualdade triangular).

Dado o real a ∈ R e sendo > 0 ao conjunto (intervalo), chama-se uma vizinhança de a com raio
, ao conjunto:

{x / d(x, a) < } = {x / x − a < } = ]a – , a + [ ,

4. Extremos

Se, para todos os números x de um conjunto C de números reais, existe um M tal que x M, o
conjunto diz-se limitado à direita ou limitado superiormente, e M é uma cota superior ou majorante.
Analogamente, se x m, ou seja, m x, o conjunto é limitado à esquerda ou limitado
inferiormente, e m é uma cota inferior ou minorante. Se tivermos, para todo x, m x M, o conjunto
diz-se limitado.
Vejamos alguns exemplos:

Exemplo 1: O conjunto dos números naturais é limitado inferiormente, mas não superiormente. Logo,
não é limitado.

Exemplo 2: O conjunto dos números racionais menores do que 8 é limitado superiormente, mas não
inferiormente. Logo, não é limitado.

Exemplo 3: O conjunto dos números reais x tais que x2 10 é limitado, tanto à direita como à

esquerda; tal conjunto é o mesmo que o intervalo fechado − 10, 10 , isto é,

{
− 10, 10 = {x ∈ R / x 2 ≤ 10} = x ∈ R / − 10 ≤ x ≤ 10 }
Um conjunto como este último, que é limitado à direita e à esquerda ao mesmo, é dito,
simplesmente, conjunto limitado. É também limitado qualquer intervalo de extremos finitos a e b.
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 45

Quando um conjunto é limitado superiormente, ele pode ter um elemento que seja o maior de
todos, o qual é chamado o máximo do conjunto. Por exemplo, o conjunto dos números racionais x tais
que x 10 tem 10 como seu máximo.

1 2 3 n
Exemplo 4: O conjunto A = , , , ..., , ... não tem máximo, embora seja limitado
2 3 4 n+1
superiormente. Os elementos desse conjunto, como vemos, são frações dispostas de maneira crescente:

1 2 3 n
< < < ... < < ...
2 3 4 n+1

Nenhuma dessas frações é maior do que todas as outras. Pelo contrário, qualquer delas é superada
n n+1
pela que vem logo a seguir, isto é, < .
n+1 n+2

4.1. Máximo e Mínimo

Máximo é o majorante (ou cota superior) que pertence ao conjunto.


Mínimo é o minorante (ou cota inferior) que pertence ao conjunto.

Por exemplo, o conjunto A = [1, 5[ = {x ∈ R / 1 x < 5} é limitado superiormente (pelo 5 ou


qualquer real maior que 5) e limitado inferiormente (pelo 1 ou qualquer real menor que 1), mas não
tem máximo, pois 5 é o MENOR dos majorantes e não pertence ao intervalo.
Entretanto, o conjunto A tem mínimo, pois 1 ∈ A e o 1 é o MAIOR dos minorantes.

4.2. Supremo e Ínfimo


A
( )

maior dos menor dos


minorantes majorantes

Definição:

A menor cota superior de um conjunto A, quando existe, denomina-se supremo de A e indica-se


por sup A.
A maior cota inferior de um conjunto A, quando existe, denomina-se ínfimo de A e indica-se
por inf A.

Vejamos alguns exemplos:


Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 46

Exemplo 5: No conjunto A = [1, 5[, 5 é o supremo de A e 1 é o ínfimo de A. Temos, então:


5 = sup A e 1 = inf A

Exemplo 6: No conjunto A = {1, 2, 3}, temos:


a) 1 é o mínimo de A, 1 = min A; 3 é máximo de A, 3 = max A.
10
b) 3, , 100 são cotas superiores de A.
3
1
c) 1, 0, − são cotas inferiores.
2

1
Exemplo 7: Seja o conjunto A = 2 + , n ∈ N* . Verifique se:
n
a) A é limitado superiormente? Tem sup A? Tem máximo?
b) A é limitado inferiormente? Tem inf A? Tem mínimo?
c) É limitado?

Resolução:
a) Temos que A = {2; 2,1; 2,2; ...; 3}, portanto A = ]2, 3].
É limitado superiormente pelo 3, pelo 5,2 etc. Temos que 3 = sup A = max A.

b) É limitado inferiormente pelo 2, pelo 0 etc.


Temos que 2 = inf A e não existe min A.

c) É limitado.

Exemplo 8: Seja o conjunto A = {x ∈ R / x 2 − 5x + 6 > 0} . Verifique se:


a) A é limitado superiormente? Tem sup A? Tem máximo?
b) A é limitado inferiormente? Tem inf A? Tem mínimo?
c) É limitado?

Resolução:
x2 – 5x + 6 > 0
x2 – 5x + 6 = 0
2 3
(x – 2)(x – 3) = 0
x=2ex=3 A = ]– , 2[ ]3, + [
x < 2 ou x > 3
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 47

a) Não é limitado superiormente. Não existe sup A e nem máx. A.

b) Não é limitado inferiormente. Não existe inf A e nem min. A.

c) Não é limitado.

Exercícios

2
40) Seja o conjunto A = 3 − , n ∈ N* . Verifique se:
n
a) A é limitado superiormente? Tem sup A? Tem máximo?
b) A é limitado inferiormente? Tem inf A? Tem mínimo?
c) É limitado?

5
41) Seja o conjunto A = 2 − , n ∈ N* . Verifique se:
n
a) A é limitado superiormente? Tem sup A? Tem máximo?
b) A é limitado inferiormente? Tem inf A? Tem mínimo?
c) É limitado?

42) Seja o conjunto A = {x ∈ R / 2x 2 − 5x > 0 e 1 − x ≥ 0} . Verifique se:


a) A é limitado superiormente? Tem sup A? Tem máximo?
b) A é limitado inferiormente? Tem inf A? Tem mínimo?
c) É limitado?

43) Construa uma bijeção entre o conjunto N e o conjunto dos números quadrados perfeitos.

44) Construa uma bijeção entre o conjunto N e o conjunto dos números cubos perfeitos.

45) Em nossa vida, lidamos com conjuntos que têm a qualidade de serem densos. Um exemplo disso é
o tempo: qual é o instante que é sucessor das 10 horas? É impossível se definir, assim como
percebemos que entre dois instantes de tempo há uma infinidade de instantes. Pense em outras duas
situações que envolvam conjuntos densos.

46) Classifique em verdadeira ou falsa as expressões matemáticas a seguir.


a) N ⊂ Z b) R – I = Q d) Z Q=Q d) Q I=Q

47) A intersecção dos três conjuntos R C, (N Z) QeN (Z Q) é:


a) N b) ∅ c) Q d) R e) Z
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 48

5. Números algébricos e transcendentes

Chama-se número algébrico um número x que é solução da equação polinomial

a0xn + a1xn – 1 + a2xn – 2 + ... + an – 1 x + an = 0

onde a0 0, os ai são inteiros e n é um inteiro positivo (grau da equação).

Número transcendente é aquele que não pode ser raiz de nenhuma equação polinomial de
coeficientes inteiros.
2
Por exemplo, e 2 , que são soluções de 3x – 2 = 0 e de x2 – 2 = 0, respectivamente, são
3
números algébricos.
Os números e e são números transcendentes. Ainda não é possível determinar se um número
tal como e é algébrico ou não.
O conjunto dos números algébricos é infinito enumerável, mas o conjunto dos números
transcendentes é infinito não-enumerável.
Vejamos alguns exemplos:

Exemplo 1: Prove que 2 + 3 é um número algébrico.


Resolução:
Para provar que um número algébrico, basta provar que o número é raiz de uma equação
polinomial com coeficientes inteiros.

Seja x = 2 + 3 . Mediante duas quadraturas consecutivas, é possível livrar-se dos radicais.


Então, temos:

x2 = 2 + 3

x2 – 2 = 3
x4 – 4x2 + 4 = 3
x4 – 4x2 + 1 = 0

Como se trata de uma equação polinomial com coeficientes inteiros, segue-se 2 + 3 , que é
solução, é um número algébrico.
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 49

Exemplo 2: Prove que 3


2 + 3 é um número algébrico.
Resolução:
3 3
Seja x = 2 + 3 . Então, x – 3 = 2 . Elevando ao cubo e simplificando, temos:

x3 – 3x2 3 + 3x . 3 + 33 = 2

x3 – 3x2 3 + 9x + 3 3 = 2

Reorganizando, temos:
x3 + 9x – 2 = 3x2 3 – 3 3

x3 + 9x – 2 = 3 3 (x2 + 1)

Elevando ambos os membros ao quadrado e simplificando, temos:

x6 + 81x2 + 4 + 18x4 – 4x3 – 18x = 9 . 3 (x4 + 2x2 + 1)


x6 + 18x4 – 4x3 + 81x2 – 18x + 4 = 27 (x4 + 2x2 + 1)
x6 + 18x4 – 4x3 + 81x2 – 18x + 4 = 27x4 + 54x2 + 27
x6 + 18x4 – 4x3 + 81x2 – 18x + 4 – 27x4 – 54x2 – 27 = 0
x6 – 9x4 – 4x3 + 27x2 – 18x – 23 = 0

3
Como se trata de uma equação polinomial com coeficientes inteiros, segue-se 2 + 3 , que é
solução, é um número algébrico.

Exercícios

48) Prove que os números abaixo são algébricos:


3− 2 b) 2+ 3+ 6
a)
3+ 2

49) Prove que −1 + i 3 é um número algébrico.

50) Mostre que o número 5 − 3 1 + 2 é algébrico.

51) Demonstre que 2 é um número algébrico de grau 2.

3
52) Demonstre que 3 é um número algébrico de grau 3.

53) Mostre que 4 +2 3 = 1+ 3.

54) Mostrar que existem a e b inteiros positivos tais que 18 − 8 2 = a + b 2 .


Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 50

55) Se todo número racional pode ser escrito como uma dízima periódica, então será sempre possível
4
representar um racional como uma soma de infinitas frações. Por exemplo, no caso dos racionais e
5
7
, essas somas seriam:
6

4 7 9 9 9
= 0,8 = 0,7999... = + 2 + 3 + 4 + ...
5 10 10 10 10
7 1 6 6 6
= 1,1666... = 1 + + 2 + 3 + 4 + ...
6 10 10 10 10

Usando essa mesma ideia, escreva as frações a seguir como soma de infinitas frações:

3 7 7 10
a) b) c) d)
8 3 5 9

56) Prove que 2 + 3 2 é irracional.

57) Determine, caso existam, o máximo, mínimo, supremo e ínfimo.


a) A = {x ∈ R / –3 x 4}
b) A = {x ∈ R / –3 < x < 4}
c) A = {x ∈ R / x < 5}
d) A = {x ∈ R / x 2}
e) A = {x ∈ R / 3x − 1 > 1}

f) A = {–3, –1, 0, 2, 1}
n
g) A = /n ∈ N
n+1

58) Em relação ao exercício 58, quais conjuntos são limitados superiormente e quais são limitados
inferiormente?

x2
59) A = / x ∈ R é limitado superiormente? Por quê?
1 + x2
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 51

CAPÍTULO III
Sequência ou sucessão numérica
1. Definição

Uma sequência pode ser pensada como uma lista de números escritos em uma ordem definida:

a1, a2, a3, a4, ..., an, ...

O número a1 é chamado primeiro termo, a2 é o segundo termo e, em geral, an é o n-ésimo


termo. Podemos lidar exclusivamente com sequências infinitas e, assim, cada an terá um sucessor an + 1.
Note que, para cada inteiro positivo n, existe um número correspondente an e, dessa forma, uma
sequência pode ser definida como uma função cujo domínio é o conjunto dos inteiros positivos. Mas
geralmente escrevemos an em vez da notação de função f(n) para o valor da função no número n.
NOTAÇÃO: A sequência {a1, a2, a3, ...} é também denotada por:

{a n }n = 1

{an} ou

Vejamos alguns exemplos:

Exemplo 1: Algumas sequências podem ser definidas dando uma fórmula para o n-ésimo termo. Nos
exemplos a seguir, damos três descrições da sequência: uma usando a notação anterior, outra
empregando a fórmula da definição e uma terceira escrevendo os termos da sequência. Note que
n não precisa começar em 1.


n n 1 2 3 4 n
a) an = , , , , ..., , ...
n+1 n=1 n+1 2 3 4 5 n+1


( − 1) n (n + 1) ( − 1)n (n + 1) 2 3 4 5 ( − 1)n (n + 1)
b) an = − , , − , , ..., , ...
3n n=1
3n 3 9 27 81 3n

{ } {0, 1, }

c) n −3 a n = n − 3, n ≥ 3 2, 3, ..., n − 3, ...
n=3


n n 3 1 n
d) cos a n = cos ,n > 0 , , 0, ..., cos , ...
6 n=0 6 2 2 6
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 52

3 4 5 6 7
Exemplo 2: Ache uma fórmula para o termo geral an da sequência ,− , , − , , ...
5 25 125 625 3 125
assumindo que o padrão dos primeiros termos continue.
Resolução:
3 4 5 6 7
Nos é dado que: a1 = a2 = − a3 = a4 = − a5 =
5 25 125 625 3 125

Observe que os numeradores dessas frações começam com 3 e são incrementados por 1 à medida
que avançamos para o próximo termo. O segundo termo tem numerador 4; o terceiro, numerador 5;
generalizando, o n-ésimo termo terá numerador n + 2. Os denominadores são potências de 5, logo an
tem denominador 5n. Os sinais dos termos alternam entre positivo e negativo, assim precisamos
multiplicar por uma potência de –1.
No exemplo 1(b) o fator (–1)n significa que começamos com um termo negativo. Neste exemplo,
queremos começar com um termo positivo e assim usamos (–1)n – 1 ou (–1)n + 1. Portanto,

n+2
a n = ( − 1) n −1
5n

Exemplo 3: Vejamos algumas sequências que não tem uma equação de definição simples.

a) A sequência {pn}, onde pn é a população do mundo no dia 1º de janeiro do ano n.

b) Se fizermos an ser o dígito da n-ésima cada decimal do e, então {an} é uma sequência bem
definida cujos primeiros termos são {7, 1, 8, 2, 8, 1, 8, 2, 8, 4, 5, ...}

c) A sequência de Fibonacci {fn} é definida recursivamente pelas condições: f1 = 1, f2 = 1,


fn = fn – 1 + fn – 2, com n 3. Cada termo é a soma dos dois termos precedentes. Os primeiros termos
são: {1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, ...}

Essa sequência surgiu quando o matemático italiano conhecido como Fibonacci resolveu, no
século XIII, um problema envolvendo a reprodução de coelhos.

Quando a sequência não possuir lei de formação, denota-se por sequência “randômica”
(aleatório).
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 53

2. Limite de uma sequência

O limite de uma sequência é um dos conceitos mais antigos de análise matemática. A mesma dá
uma definição rigorosa à ideia de uma sequência que converge até um ponto chamado limite. De forma
intuitiva, supondo que se tem uma sequência de pontos (por exemplo, um conjunto infinito de pontos
numerados utilizando os números naturais) em algum tipo de objeto matemático (por exemplo,
os números reais ou um espaço vetorial) que admite o conceito de vizinhança (no sentido de “todos os
pontos dentro de uma certa distância de um dado ponto fixo”). Um ponto L é o limite da sequência se
para toda a vizinhança que se defina, todos os pontos da sequência (com a possível exceção de um
número finito de pontos) estão próximos a L. Isto pode ser interpretado como se houvesse um conjunto
de esferas de tamanhos decrescentes até zero, todas centradas em L, e para qualquer destas esferas, só
existiria um número finito de números fora dela.
n
A sequência a n = pode ser desenhada plotando-se seus termos em uma reta, como na
n+1
figura 1, ou plotando-se seu gráfico, como na figura 2. Note que, como uma sequência é uma função
cujo domínio é o conjunto dos inteiros positivos, seu gráfico consiste em pontos isolados com
coordenadas:

(1, a1) (2, a2) (3, a3) ... (n, an) ...

Figura 1 – Plotagem dos termos de uma sequência em uma reta

Figura 1 – Plotagem dos termos de uma sequência no plano cartesiano


Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 54

n
Observando as figuras 1 e 2, é possível notar que os termos da sequência a n = estão ser
n+1
aproximando de 1 quando n se torna grande. De fato, a diferença:

n n+1 1 1
= − = 1−
n+1 n+1 n+1 n+1

pode ser tão pequena quanto se desejar tomando-se n suficientemente grande. Indicamos isso
escrevendo:

n
lim =1
n →∞ n + 1

Em geral, a notação lim a n = L , significa que os termos da sequência {an} aproxima-se de L


n →∞

quando n torna-se grande. Note que a seguinte definição precisa do limite de uma sequência é muito
parecida com a definição de um limite de uma função no infinito.

Definição 1: Uma sequência {an} tem o limite L e escrevemos

lim a n = L ou a n → L quando n → ∞
n →∞

se podemos fazer os termos an tão perto de L quanto se queira ao se fazer n suficientemente grande. Se
lim a n existir, dizemos que a sequência converge (ou é convergente). Caso contrário, dizemos que a
n →∞

sequência diverge (ou é divergente).

A figura 3 ilustra a definição 1 mostrando os gráficos de duas sequências que têm limite L.

Figura 3. Gráfico de duas sequências com lim an = L


n →∞
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 55

Uma versão mais precisa da definição 1 é a seguinte:

Definição 2: Uma sequência {an} tem o limite L e escrevemos

lim a n = L ou a n → L quando n → ∞
n →∞

se para cada > 0 existir um correspondente inteiro N tal que

an − L < sempre que n > N.

A definição 2 é ilustrada pela figura 4, na qual os termos a1, a2, a3, ... são plotados em uma reta.
Não importa quão pequeno um intervalo (L – ,L+ ) seja escolhido, existe um N tal que todos os
termos da sequência de aN + 1 em diante devem estar naquele intervalo.

Figura 4. Definição 2

Outra ilustração da definição 2 é dada na figura 5. Os pontos no gráfico de {an} devem estar entre
as retas horizontais y = L + ey=L– se n > N. Esse desenho deve ser válido não importa quão
pequeno seja escolhido, mas geralmente menor requer N maior.

Figura 5. Definição 2

Se an se tornar grande n se tornar grande, usaremos a notação lim a n = ∞ . Temos:


n →∞

Definição: lim a n = ∞ significa que para cada número positivo M existe um inteiro N tal que an > N
n →∞

sempre que n > M.

Se lim a n = ∞ , então a sequência {an} é divergente. Dizemos que {an} diverge para ∞ .
n →∞
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 56

3. Propriedades sobre limites de sequência

Se {an} e {bn} forem sequências convergentes e c for uma constante, então:

lim ( a n ± b n ) = lim a n ± lim b n lim ca n = c lim a n


n →∞ n →∞
n →∞ n →∞ n →∞

lim c = c
n →∞
lim ( a n b n ) = lim a n lim b n
n →∞ n →∞ n →∞

lim a n
( )
p
a lim a pn = lim a n se p > 0 e an > 0
lim n = n →∞ n →∞ n →∞
n →∞ b lim b n
n
n →∞

O Teorema do Confronto também pode ser adaptado para sequências.

Se an bn cn para n n0 e lim a n = lim b n = L , então lim b n = L .


n →∞ n →∞ n →∞

Figura 6. Teorema do Confronto

As sequências {bn} está entre as sequências {an} e {cn}.

Outro fato útil sobre limites de sequências é dado pelo seguinte teorema.

lim a n = 0, então lim a n = 0


n →∞ n →∞

Vejamos alguns exemplos:


Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 57

n
Exemplo 1: Verifique se a sequência a n = é convergente ou divergente. Se ela convergir,
n+1
encontre o limite.

Resolução: Dividimos o numerador e o denominador pela maior potência de n e usando as


propriedades dos limites temos:

n 1 lim1 1
n →∞
lim an = lim = lim = = =1
n →∞ n + 1 n →∞ 1 1 1+ 0
1+ lim1 + lim
n n →∞ n →∞ n

n
Portanto, a sequência a n = é convergente e converge para 1.
n+1

3n 2 − n − 2
Exemplo 2: Verifique se a sequência a n = é convergente ou divergente. Se ela
8n 2 + 4n + 1
convergir, encontre o limite.

Resolução: Dividimos o numerador e o denominador pela maior potência de n e usando as


propriedades dos limites temos:
1 2 1 2
n2 3 − − lim 3 − lim − lim 2
3n − n − 2 2
n n2 n →∞ n
n →∞n →∞ n =
lim an = lim 2 = lim =
n →∞ 8n + 4n + 1 n →∞ 4 1 4 1
n2 8+ + 2 lim 8 + lim + lim 2
n n n →∞ n →∞ n n →∞ n

3−0 −0 3
= =
8+0+0 8
3n 2 − n − 2 3
Portanto, a sequência a n = 2
é convergente e converge para .
8n + 4n + 1 8

4n 3 + 2n − 2
Exemplo 3: Verifique se a sequência a n = é convergente ou divergente. Se ela
2n 2 + 5n + 1
convergir, encontre o limite.

Resolução: Dividimos o numerador e o denominador pela maior potência de n e usando as


propriedades dos limites temos:
2 2 2 2
n3 4 + − lim 4 + lim − lim 3
4n + 2n − 2
3
n 2 n3 n →∞ n →∞ n 2 n →∞ n
lim an = lim = lim = =
n →∞ 2n 2 + 5n + 1 n →∞ 2 5 1 2 5 1
n3 + 2 + 3 lim + lim 2 + lim 3
n n n n →∞ n n →∞ n n →∞ n
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 58

4 + 0−0 4
= = =∞
0+0+0 0
4n 3 + 2n − 2
Portanto, a sequência a n = é divergente.
2n 2 + 5n + 1

ln n
Exemplo 4: Verifique se a sequência a n = é convergente ou divergente.
n

Resolução: Note que numerador e denominador se aproximam do infinito quando n → ∞ . Não


podemos empregar a Regra de L’Hôpital diretamente, porque ela não se aplica a sequências, mas sim a
funções de uma variável real. Contudo, podemos usar a Regra de L’Hôpital para a função relacionada
ln x
f(x) = . Assim, temos:
x
1
ln x 0
lim = lim x = = 0
x →∞ x x →∞ 1 1

ln n
Portanto, lim = 0.
n →∞ n

Exemplo 5: Determine quando a sequência an = (–1)n é convergente ou divergente.


Resolução: Se escrevemos os termos da sequência, obteremos:

{–1, 1, –1, 1, –1, 1, –1, ...}

O gráfico dessa sequência é exibido na figura 7. Como os termos oscilam entre 1 e –1


infinitamente, an não se aproxima de número algum. Então, lim ( −1) não existe; isto é, a sequência
n

n →∞
n
{(–1) } é divergente.

Figura 7. Exemplo de sequência divergente


Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 59

( −1)
n

Exemplo 6: Avalie lim se ele existir.


n →∞ n

( −1)
n
1
Resolução: Temos que lim = lim = 0.
n →∞ n n →∞ n

( −1)
n

Assim, temos que lim = 0.


n →∞ n

Figura 8. Exemplo de sequência convergente

Exemplo 7: Para que valores de r a sequência {rn} é convergente?


Resolução: Dada a função exponencial f(x) = ax, sabemos que os gráficos das funções exponenciais
são crescentes quando a > 1 e decrescentes quando 0 < a < 1. Portanto, temos que:

lim a x = ∞ para a > 1 e lim a x = 0 para 0 < a < 1.


x →∞ x →∞

Fazendo a = r, temos:

∞ se r > 1
lim r n =
n →∞ 0 se 0 < r < 1

É óbvio que lim1n = 1 e lim 0n = 0 .


n →∞ n →∞

Se –1 < r < 0, então 0 < r < 1, assim:

n
lim r n = lim r = 0
n →∞ n →∞

e portanto lim r n = 0. Se r –1, então {rn} diverge como no Exemplo 5. A figura 9 mostra os gráficos
n →∞

para vários valores de r. (O caso r = –1 é mostrado na figura 7.)


Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 60

Figura 9. A sequência an = rn

Os resultados do Exemplo 7 estão resumidos a seguir:

A sequência {rn} é convergente se –1 < r 1 e divergente para todos os outros valores de r.

0 se − 1 < r < 1
lim r n =
n →∞ 1 se r = 1

Exercícios

60) O que é uma sequência?

61) O que significa dizer que lim a n = 8 ?


n →∞

62) O que significa dizer que lim a n = ∞ ?


n →∞

63) O que é uma sequência convergente? Dê dois exemplos.

64) O que é uma sequência divergente? Dê dois exemplos.

65) Liste os cinco primeiros itens das sequências abaixo:

a) a n = 1 − ( 0,2 ) e) a1 = 3, an + 1 = 2an – 1
n

an
n+1 f) a1 = 4, an + 1 =
b) a n = a n −1
3n − 1

3 ( −1)
n

c) a n = g) an = 3n – 1
n!
n
d) a n =sen
2
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66) Encontre uma fórmula para o termo geral an das sequências abaixo, assumindo que o padrão dos
primeiros termos continua.
a) {2, 9, 16, 23, ...} 25 125 625 3125
o) − , , − , , ...
8 16 32 64
b) {8, 27, 64, 125, ...}
c) {–3, 9, –27, 81, ...} 1 1 1 1
p) , , , , ...
25 125 625 3125
7 49 343
d) , − , , ... 1 1 1 1
3 5 7 q) , , , , ...
5 7 9 11
e) {1, 7, 25, 54, ...}
3 9 27 81 1 1 1 1
f) , , , , ... r) , , , , ...
2 4 8 16 5 7 11 19

g) {2, 5, 10, 17, ...} 1 1 3 5


s) − , , , , ...
7 10 13 16
h) {2, 8, 18, 162, ...}
i) {1, 8, 27, 64, ...} 1 4 9 16
t) − , , − , , ...
2 3 4 5
j) {2, 9, 28, 65, ...}
2 4 5 6
3 9 27 81 u) − , , − , , ...
k) − , , − , , ... 7 8 9 10
2 4 6 8
1 2 3 4
1 2 3 4 v) , , , , ...
l) , , , , ... 2 5 10 17
3 4 5 6
x) {1 000, 10 000, 100 000, 1 000 000, ...}
2 3 4 5
m) , , , , ...
4 9 14 19 w) {2, 16, 512, 65 536, ...}
y) {16, 32, 64, 128, ...}
2 4 8 16
n) , , , , ...
9 27 81 243 z) {4, 9, 16, 25, ...}

67) Determine se as sequências abaixo convergem ou divergem. Se ela convergir, encontre o limite.
a) a n = n(n − 1) 2n
e) a n = n + 1 i) a n =
( 2n − 1)!
n+1
3 ( 2n + 1) !
b) a n =
3n − 1 n
f) a n = 2n − 3
1+ n j) a n =
3 + 5n 2
3n + 7
c) a n =
n + n2 n 2n 5 − 4n 2
g) a n = cos
2 k) a n =
n 3n 7 + n 3 − 10
d) a n =
1+ n 2
h) a n = cos
n
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 62

68) Se R$ 1 000,00 forem investidos a uma taxa de juros de 6%, compostos anualmente, depois de n
anos, o investimento valerá an = 1 000(1,06)n reais.
a) Encontre os cinco primeiros termos da sequência {an}.
b) A sequência é convergente ou divergente? Explique.

69) Calcule o limite da sequência 2, 2 2 , 2 2 2 , ...

4. Sequências monótonas crescente e decrescente

Uma sequência {an} é denominada crescente se an < an + 1 para todo n 1, isto é, a1 < a2 < a3 < ...

Uma sequência {an} é denominada decrescente se an > an + 1 para todo n 1.

É dita monotônica se for crescente ou decrescente.

Vejamos alguns exemplos:

3
Exemplo 1: Verifique se a sequência a n = é decrescente.
n+5
Resolução: Para a sequência ser decrescente, devemos ter an > an + 1. Então:

3 3
>
n + 5 (n + 1) + 5
3 3
>
n+5 n+6

Multiplicando cruzado vem:

3(n + 6) > 3(n + 5)


3n + 18 > 3n + 15
18 > 15

18 > 15 é verdadeiro para todo n 1. Portanto, an > an + 1, e assim {an} é decrescente.


Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 63

Exemplo 2: Mostre que a sequência a n = 2n é crescente.

Resolução: Para a sequência ser crescente, devemos ter an < an + 1. Então:

2n < 2n + 1
2n < 2n . 2

Para todo n 1, temos que 2n é positivo, logo podemos dividir ambos os lados por 2n que a
desigualdade permanecerá. Então:

1<2

1 < 2 é verdadeiro para todo n 1. Portanto, an < an + 1, e assim {an} é crescente.

n
Exemplo 3: Verifique se a sequência a n = 2 é decrescente.
n +1
Resolução: Devemos mostrar que an > an + 1, isto é:

n n+1
2
>
n + 1 (n + 1)2 + 1
n n+1
2
> 2
n + 1 n + 2n + 2

Essa desigualdade é equivalente àquela que obtivemos pela multiplicação cruzada.

n(n2 + 2n + 2) > (n2 + 1)(n + 1)


n3 + 2n2 + 2n > n3 + n2 + n + 1
2n2 + 2n > n2 + n + 1
n2 + n > 1

É óbvio que para todo n 1, é verdadeiro para n2 + n > 1. Portanto, an > an + 1, e assim {an} é
decrescente.
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 64

Exemplo 4: Verifique se a sequência a n = en + e–n é crescente ou decrescente.

Resolução: Vamos verificar se sequência é crescente, ou seja, an < an + 1. Caso contrário será
decrescente. Temos então:

en + e–n < en + 1 + e–(n + 1)


en + e–n < en + 1 + e–n – 1
en – en + 1 < e–n – 1 – e–n
en – en . e < e–n . e–1 – e–n
en (1 – e) < e–n (e–1 – 1)
1 1− e
n −1
e e
< e2n < e
e− n 1− e 1− e
1− e 1 1
e2n < . e2n < e2n < e–1
e 1− e e

Como e > 0, temos então:

2n < –1, o que é falso, pois para todo n 1, 2n é sempre positivo.

Portanto, assim {an} é decrescente.

Definição:
Se an é monótona crescente, então a sequência é limitada inferiormente pelo seu primeiro
termo. Ou seja, se existir um número m de forma que m an para todo n 1.
Analogamente, se a sequência for monótona decrescente, ela será limitada superiormente.
Ou seja, se existir um número M de forma que an M para todo n 1.
Se ela for limitada superiormente e inferiormente, então an é uma sequência limitada.

Teorema da Sequência Monotônica: Toda sequência limitada, monotônica, é convergente.

Uma sequência que é crescente e limitada superiormente é convergente. Do mesmo modo, uma
sequência decrescente que é limitada inferiormente é convergente. Esse fato é usado muitas vezes para
lidar com séries infinitas, assunto que veremos no 2º semestre.
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 65

Exercícios

70) Determine se as sequências abaixo são crescente, decrescente ou não monotônica.


1
a) a n = n en − e− n
e) a n = n
5 e + e−n
1 n 2 + 2n − 3
b) a n = f) a n =
2n + 3 2n − 1
2n − 3
c) a n = 3n 2 − 2
3n + 4 g) a n =
5n 2 + 1
1 − en
d) a n =
1 + en

71) Verifique se as sequências do exercício 70 são limitadas.

72) Suponha que você saiba que an é uma sequência decrescente e que todos os termos estão entre os
números 5 e 8. Explique por que a sequência tem um limite. O que você pode dizer sobre o valor do
limite?

5. Funções contínuas

O limite de uma função quando x tende a a pode muitas vezes ser encontrado simplesmente
calculando-se o valor da função em a. As funções com essa propriedade são chamadas contínuas em a.
A definição matemática de continuidade correspondente estreitamente ao significado da palavra
continuidade na linguagem do dia-a-dia. (O processo contínuo é aquele que ocorre gradualmente, sem
interrupções ou mudanças abruptas.)

Definição 1: Uma função f é contínua em número a se lim f(x) = f(a).


x →a

Observe que a Definição 1 implicitamente requer três coisas para a continuidade de f. (Ver
figura 10).

1) f(a) está definida (isto é, a está no domínio de f)


2) lim f (x) existe
x →a

3) lim f (x) = f(a)


x →a
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 66

Figura 10. Continuidade no ponto a

A definição diz que f é contínua em a se f(x) tender a f(a) quando x aproxima-se de a. Assim,
uma função contínua f tem a propriedade que uma pequena variação em x produza apenas uma
pequena modificação em f(x). De fato, a alteração em f(x) pode ser mantida tão pequena quanto
desejarmos mantendo a variação em x suficientemente pequena.
Se f está definida próximo de a (em outras palavras, f está definida em um intervalo aberto
contendo a, exceto possivelmente em a), dizemos que f é descontínua em a, ou que f tem uma
descontinuidade em a, se f não é contínua em a.
Os fenômenos físicos são geralmente contínuos. Por exemplo, o deslocamento ou a velocidade de
um veículo varia continuamente com o tempo, como a altura das pessoas. Mas a descontinuidade
ocorre em situação tal como a corrente elétrica.
Geometricamente, podemos pensar em uma função contínua em todo número de um intervalo
como sendo uma função cujo gráfico não se quebra. O gráfico pode ser desenhado sem remover sua
caneta do papel.
Vejamos alguns exemplos:

Exemplo 1: A figura seguinte mostra o gráfico de uma função f. Em quais números f é descontínua?
Por quê?
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 67

Resolução: Parece haver uma descontinuidade quando a = 1, pois aí o gráfico tem um buraco. A razão
reconhecida para f ser descontínua em 1 é que f(1) não está definida.
O gráfico também tem uma quebra em a = 3, mas a razão para a descontinuidade é diferente.
Aqui f(3) está definida, mas lim f (x) não existe (pois o limite esquerdo e o direito são diferentes).
x →3

Logo f é descontínua em 3.
E sobre a = 5? Aqui f(5) está definida, e lim f (x) existe (pois o limite esquerdo e o direito são
x →5

iguais). Mas lim f (x) f(5). Logo f é descontínua em 5.


x →5

Exemplo 2: Onde cada uma das seguintes funções é descontínua?

x2 − x − 2
a) f(x) =
x−2
Resolução: Note que f(2) não está definida; logo, f é descontínua em 2.

1
se x ≠ 0
b) f(x) = x2
1 se x = 0

1
Resolução: Aqui f(0) = 1 está definida, mas lim f (x) lim não existe. Logo f é descontínua em 0.
x →0 x →0 x2
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 68

x2 − x − 2
se x ≠ 2
c) f(x) = x−2
1 se x = 2

Resolução: Aqui f(2) está definida e

x2 − x − 2 (x − 2)(x + 1)
lim f (x) lim = lim = lim(x + 1) = 3
x →2 x →2 x−2 x →2 x−2 x →2

existe. Porém, lim f (x) f(2). Logo, f não é contínua em 2.


x →2

A figura 11 mostra os gráficos das funções no Exemplo 2. Em cada caso o gráfico não pode ser
feito sem levantar a caneta do papel, pois um buraco, uma quebra ou pulo ocorrem no gráfico. As
descontinuidades ilustradas nas partes (a) e (c) são chamadas removíveis, pois podemos removê-las
redefinindo f somente no número 2.

Figura 11. Gráficos das funções do Exemplo 2

Definição 2: Uma função f é contínua à direita em um número a se lim+ f (x) = f(a) e f é contínua à
x →a

esquerda em a se lim− f (x) = f(a).


x →a

Definição 3: Uma função f é contínua em um intervalo se for contínua em todos os números do


intervalo. (Se f for definida somente de um lado do extremo do intervalo, entendemos continuidade no
extremo como continuidade à direita ou à esquerda.)
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 69

Vejamos mais um exemplo:

Exemplo 3: Mostre que a função f(x) = 1 − 1 − x 2 é contínua no intervalo [–1, 1].


Resolução: Se –1 < a < 1, então, usando as propriedades dos limites, temos:

x →a x →a
(
lim f (x) = lim 1 − 1 − x 2 ) = lim1 − lim (
x →a x →a
1− x2 )
lim f (x) = 1 – lim (1 − x 2 ) = 1 – 1 − a 2
x →a x →a

lim f (x) = f(a)


x →a

Assim, pela Definição 1, f é contínua em a se –1 < a < 1. Cálculos análogos mostram que

lim f (x) = 1 = f(–1) e lim f (x) = 1 = f(1)


x →−1+ x →−1−

logo, f é contínua à direita em –1 e contínua à esquerda em 1. Consequentemente, de acordo com a


Definição 3, f é contínua em [–1, 1].
O gráfico de f está esboçado na figura 12. É a metade inferior do círculo.

2
Figura 12. Gráfico da função f(x) = 1 − 1 − x

Em lugar de sempre usar as Definições 1, 2 e 3 para verificar a continuidade de uma função como
feito no Exemplo 3, muitas vezes é conveniente usar o próximo teorema, que mostra como construir as
funções contínuas complicadas a partir das simples.
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 70

6. Teoremas sobre continuidade

Teorema 1
Se f e g forem contínuas em a e se c for uma constante, então as seguintes funções são contínuas,
também, em a:

1) f + g 3) cf f
5) se g(a) 0
2) f – g 4) fg g

Teorema 2
a) Qualquer polinômio é contínuo em toda a parte; ou seja, é contínuo em R = ( −∞, ∞ ) .

b) Qualquer função racional é contínua sempre que estiver definida; ou seja, é contínua em seu
domínio.

O conhecimento de quais funções são contínuas nos capacita a calcular muito rapidamente alguns
limites, como os dos exemplos a seguir.

x 3 + 2x 2 − 1
Exemplo 4: Encontre lim .
x →−2 5 − 3x
x 3 + 2x 2 − 1
Resolução: A função f(x) = é racional; assim, pelo Teorema 1, é contínua em seu
5 − 3x
5
domínio, que é x / x ≠ . Portanto:
3

x 3 + 2x 2 − 1
lim = lim f (x) = f(–2)
x →−2 5 − 3x x →−2

x 3 + 2x 2 − 1 ( −2 ) + 2 ( −2 ) − 1
3 2
1
lim = =−
x →−2 5 − 3x 5 − 3 ( −2 ) 11

Teorema 3
As funções abaixo são contínuas em todos os números de seus domínios:

polinômio funções racionais funções raízes


funções trigonométricas funções trigonométricas inversas
funções exponenciais funções logarítmicas
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 71

ln x + arc tg x
Exemplo 5: Onde a função f(x) = é contínua?
x2 −1
Resolução: Sabemos do Teorema 3 que a função y = ln x é contínua para x > 0 e que y = arc tg x é
contínua em R. Assim, pela parte 1 do Teorema 1, y = ln x + arc tg x é contínua em ( 0, ∞ ) . O

denominador y = x2 – 1 é um polinômio, portanto é contínuo sempre. Assim, pela parte 5 do Teorema


1, f é contínua em todos os números positivos x, exceto onde x2 – 1 = 0. Logo, f é contínua nos
intervalos abertos ( 0, 1) e (1, ∞ ) .

Exercícios

73) Prove que f(x) = x2 é contínua em x = 2.

2x 4 − 6x 3 + x 2 + 3
74) A função f(x) = é contínua em x = 1?
x −1

75) Prove que f(x) = 2x3 + x é contínua em todo ponto x = x0.

76) Para que valores de x no domínio de definição as funções abaixo são contínuas?
x 1 + cos x 1
a) f(x) = b) f(x) = c) f(x) =
x −1
2
3 + sen x 4
10 + x
−1 −1
x− x
f) f(x) =
2
d) f(x) = 10 (x −3) e) f(x) = 10
(x − 3)2
, se x ≠ 3
x
0 , se x = 3
x− x x
, se x < 0 h) f(x) = x cossec x =
g) f(x) = x sen x
2 , se x = 0

77) Escreva uma equação que expresse o fato de que uma função f é contínua no número 4.

78) Se f é contínua em ( −∞, ∞ ) , o que você pode dizer sobre seu gráfico?

79) Esboce o gráfico de uma função que é contínua em toda a parte, exceto em x = 3 e é contínua à
esquerda em 3.

80) Um estacionamento cobra R$ 3,00 pela primeira hora, ou parte dela, e R$ 2,00 por hora sucessiva,
ou parte, até o máximo de R$ 10,00.
a) Esboce o gráfico do custo do estacionamento como uma função do tempo decorrido.
b) Discuta as descontinuidades da função e sua significância para alguém que use o estacionamento.

81) Se f e g forem funções contínuas, com f(3) = 5 e lim [ 2f (x) − g(x)] = 4, determine g(3).
x →3
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 72

82) Seja o gráfico abaixo:

a) Estabeleça os números nos quais f é descontínua e explique por quê.


b) Para cada um dos números estabelecidos no item a, determine se f é contínua à direita ou à
esquerda, ou nenhum deles.

83) Explique por que a função é descontínua no número dado. Faça o esboço do gráfico da função.
a) f(x) = ln x − 2 a=2

e x , se x < 0
b) f(x) = a=0
x 2 , se x ≥ 0

x 2 − x − 12
, se x ≠ −3
c) f(x) = x+3 a = –3
−5 , se x = −3

cx 2 + 2x, se x < 2
84) Para quais valores da constante c a função f(x) = é contínua em ( −∞, ∞ ) ?
x 3 − cx, se x ≥ 2

85) Quais as seguintes funções f têm uma descontinuidade removível em a? Se a descontinuidade for
removível, encontre uma função g que é igual a f para x a e é contínua em R.
x 2 − 2x − 8
a) f(x) = , a = –2
x+2
x −7
b) f(x) = , a=7
x −7
x 3 + 64
c) f(x) = , a = –4
x+4
3− x
d) f(x) = , a=9
9−x
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 73

7. Teorema de Bolzano

Seja uma função f(x) contínua em um intervalo [a, b], tal que, f(a) . f(b) < 0. Então a função f(x)
possui pelo menos uma raiz no intervalo [a, b].
Podemos enunciar também: Se f for contínua no intervalo fechado [a, b] e se f(a) e f(b) tiverem
sinais contrários, então existirá pelo menos um c em [a, b] tal que f(c) = 0.
Podemos verificar este teorema graficamente:

Figura 13. Teorema do Anulamento

Pesquisar as raízes reais de uma equação polinomial P(x) = 0 é localizar (onde? quantos?) os
pontos em que o gráfico cartesiano da função y = P(x) intercepta o eixo das abscissas (y = 0).
Assim, o teorema de Bolzano comporta uma interpretação geométrica baseada, em resumo, no
seguinte:

a) sinal de P(a) sinal de P(b) número ímpar de raízes

Figura 14. Teorema do Anulamento


Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 74

b) sinal de P(a) = sinal de P(b) número par de raízes

Figura 15. Teorema do Anulamento

Exemplo 1: Seja a função f(x) = x ln(x) – 3,2. Podemos calcular o valor de f(x) para valores
arbitrários de x, como mostrado na tabela abaixo:

x 1 2 3 4
f(x) –3,20 –1,81 0,10 2,36

Resolução:
Pelo teorema de Bolzano, concluímos que existe pelo menos uma raiz real no intervalo [2, 3].

Exemplo 2: Verifique que o polinômio P(x) = x4 – 3x – 1 admite uma raiz real no intervalo [1, 2].
Resolução: Temos que f(1) = 14 – 3 1 – 1 = 1 – 3 – 1 = –3 e f(2) = 24 – 3 2 – 1 = 16 – 6 – 1 = 10.
Pelo teorema de Bolzano, concluímos que existe pelo menos uma raiz no intervalo [1, 2], pois
f(1) f(2) < 0.

Exercícios

86) Dada a função polinomial f(x) = x3 + 2x + 1, será possível f(x) = 0 em [–1, 4]?

87) Determine o valor de a de modo que a equação x3 + x2 + 5x + a = 0, tenha ao menos uma raiz no
intervalo [–2, 0].

88) Mostre que no intervalo 0, existe, pelo menos, uma raiz da equação cos x − 5 sen x = 0.
2
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 75

1
89) A função dada por y = , em R*, possui f(–1) = –1 < 0 e f(1) = 1 > 0, mas não possui raiz entre –1
x
e 1. Por que “falhou” o teorema de Bolzano?

90) Determine o valor de a de modo que a equação x3 + x2 + 5x + a = 0, tenha ao menos uma raiz no
intervalo [–3, –1].

(x + 1)
91) Justifique que a função f(x) = cos + 0,148x – 0,9062 possui uma raiz no intervalo [−1, 0]
8
e outra no intervalo [0, 1].

92) Justifique que a equação 4x − ex = 0 possui uma raiz no intervalo [0, 1] e outra no intervalo [2, 3].

93) Dada a função polinomial f(x) = x3 + 2x + 1, será possível f(x) = 0 em [–1, 4]?

94) Quais as seguintes funções f têm uma descontinuidade removível em a? Se a descontinuidade for
removível, encontre uma função g que é igual a f para x a e é contínua em R.
x−2
a) f(x) = , a=2
x−2
x+4
b) f(x) = , a = –4
x+4
2x 2 − 3x 3
c) f(x) = , a=
2x − 3 2

8. Teorema do Valor Intermediário

Se f for contínua em [a, b] e se for um real compreendido entre f(a) e f(b), então existirá pelos
menos um c em [a, b] tal que f(c) tal que f(c) = .

Figura 16. Teorema do Valor Intermediário

Observe que o teorema do anulamento é um caso particular do teorema do valor intermediário.


Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 76

9. Teorema de Weierstrass

Se f for contínua em [a, b], então existirão x1 e x2 em [a, b] tais que f(x1) f(x) f(x2) para todo x
em [a, b].

Figura 17. Teorema de Weierstrass

O teorema de Weierstrass nos conta que, se f for contínua em [a, b], então existirão x1 e x2 em
[a, b] tais que f(x1) é o valor mínimo de f em [a, b] e f(x2) o valor máximo de f em [a, b].
Ou de outra forma: se f for contínua em [a, b], então f assumirá em [a, b] valor máximo e valor
mínimo. Chamamos sua atenção para o fato de a hipótese de f ser contínua no intervalo fechado [a, b]
1
ser indispensável; por exemplo, f(x) = , x ∈ ]0, 1], é contínua em ]0, 1] mas não assume, neste, valor
x
máximo.
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 77

Respostas
Capítulo II
Construção dos Números Reais

Parte I – Números Naturais

1a)

i) Provar que é verdadeira para n = 1.


L.E. = 2 L.D. = 2 . 12 = 2 Portanto, é verdadeiro para n = 1.

ii) Supor que é verdadeiro para n = k. (Hipótese de Indução).

2 + 4 + 6 + ... + (4k – 2) = 2k2 (H.I.)

iii) Provar que é verdadeiro para n = k + 1.

2 + 4 + 6 + ... + (4k – 2) + [4(k + 1) – 2] = 2(k + 1)2


2 + 4 + 6 + ... + (4k – 2) + (4k + 2) = 2(k + 1)2

Pela hipótese de indução temos que 2 + 4 + 6 + ... + (4k – 2) = 2k2. Substituindo, temos:

2k2 + 4k + 2 = 2(k2 + 2k + 1) = 2(k + 1)2

que é igual ao L.D.

Portanto: 2 + 6 + 10 + ... + (4n – 2) = 2n2, ∀ n ≥ 1.

b)

i) Provar que é verdadeira para n = 1.


L.E. = 4 L.D. = 1 . (3 + 1) = 4 Portanto, é verdadeiro para n = 1.

ii) Supor que é verdadeiro para n = k. (Hipótese de Indução).

4 + 10 + 16 + ... + (6k – 2) = k(3k + 1) (H.I.)

iii) Provar que é verdadeiro para n = k + 1.

4 + 10 + 16 + ... + (6k – 2) + [6(k + 1) – 2] = (k + 1) [3(k + 1) + 1]


4 + 10 + 16 + ... + (6k – 2) + 6k + 4 = (k + 1) (3k + 4)
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 78

Pela hipótese de indução temos que 4 + 10 + 16 + ... + (6k – 2) = k(3k + 1). Substituindo, temos:

k(3k + 1) + 6k + 4 = 3k2 + k + 6k + 4
= 3k2 + 7k + 4 = (k + 1) (3k + 4)

que é igual ao L.D.

Portanto: 4 + 10 + 16 + ... + (6n – 2) = n(3n + 1), ∀ n ≥ 1.

c)

i) Provar que é verdadeira para n = 1.


L.E. = 2 L.D. = 1 . (1 + 1) = 2 Portanto, é verdadeiro para n = 1.

ii) Supor que é verdadeiro para n = k. (Hipótese de Indução).

2 + 4 + 6 + ... + (2k) = k(k + 1) (H.I.)

iii) Provar que é verdadeiro para n = k + 1.

2 + 4 + 6 + ... + (2k) + 2(k + 1) = (k + 1) (k + 2)

Pela hipótese de indução temos que 2 + 4 + 6 + ... + (2k) = k(k + 1). Substituindo, temos:

k(k + 1) + 2(k + 1) = (k + 1) (k + 2)

que é igual ao L.D.

Portanto: 2 + 4 + 6 + ... + (2n) = n(n + 1), ∀ n ≥ 1.

d)

i) Provar que é verdadeira para n = 1.


L.E. = 1 L.D. = 1 . (2 – 1) = 1 Portanto, é verdadeiro para n = 1.

ii) Supor que é verdadeiro para n = k. (Hipótese de Indução).

1 + 5 + 9 + ... + (4k – 3) = k(2k – 1) (H.I.)

iii) Provar que é verdadeiro para n = k + 1.

1 + 5 + 9 + ... + (4k – 3) + [4(k + 1) – 3] = (k + 1) [2(k + 1) – 1]


1 + 5 + 9 + ... + (4k – 3) + (4k + 1) = (k + 1) (2k + 1)
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 79

Pela hipótese de indução temos que 1 + 5 + 9 + ... + (4k – 3) = k(2k – 1). Substituindo, temos:

k(2k – 1) + (4k + 1) = 2k2 – k + 4k + 1


= 2k2 + 3k + 1 = (k + 1) (2k + 1)

que é igual ao L.D.

Portanto: 1 + 5 + 9 + ... + (4n – 3) = n(2n – 1), ∀ n ≥ 1.

e)

i) Provar que é verdadeira para n = 1.


1 2 3 6
L.E. = 1 L.D. = = =1 Portanto, é verdadeiro para n = 1.
6 6

ii) Supor que é verdadeiro para n = k. (Hipótese de Indução).

k(k + 1) k(k + 1)(k + 2)


1 + 3 + 6 + ... + = (H.I.)
2 6

iii) Provar que é verdadeiro para n = k + 1.

k(k + 1) (k + 1)(k + 2) (k + 1)(k + 2)(k + 3)


1 + 3 + 6 + ... + + =
2 2 6

k(k + 1) k(k + 1)(k + 2)


Pela hipótese de indução temos que 1 + 3 + 6 + ... + = . Substituindo,
2 6
temos:

k(k + 1)(k + 2) (k + 1)(k + 2)


+ =
6 2
k(k + 1)(k + 2) + 3(k + 1)(k + 2) (k + 1)(k + 2)(k + 3)
= = =
6 6

que é igual ao L.D.

n(n + 1) n(n + 1)(n + 2)


Portanto: 1 + 3 + 6 + ... + = , ∀ n ≥ 1.
2 6
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 80

f)
i) Provar que é verdadeira para n = 1.
L.E. = 1 L.D. = 12 = 1 Portanto, é verdadeiro para n = 1.

ii) Supor que é verdadeiro para n = k. (Hipótese de Indução).

1 + 3 + 5 + ... + (2k – 1) = k2 (H.I.)

iii) Provar que é verdadeiro para n = k + 1.

1 + 3 + 5 + ... + (2k – 1) + [2(k + 1) – 1] = (k + 1)2


1 + 3 + 5 + ... + (2k – 1) + (2k + 1) = (k + 1)2

Pela hipótese de indução temos que 1 + 3 + 5 + ... + (2k – 1) = k2. Substituindo, temos:

k2 + 2k + 1 = (k + 1)2, que é igual ao L.D.

Portanto: 1 + 3 + 5 + ... + (2n – 1) = n2, ∀ n ≥ 1.

g)
i) Provar que é verdadeira para n = 1.
12 (1 + 1) 2 1 4
L.E. = 13 = 1 L.D. = = =1 Portanto, é verdadeiro para n = 1.
4 4

ii) Supor que é verdadeiro para n = k. (Hipótese de Indução).

k 2 (k + 1)2
13 + 23 + 33 + ... + k3 = (H.I.)
4

iii) Provar que é verdadeiro para n = k + 1.

3 3 3 3 (k + 1) 2 (k + 2) 2
3
1 + 2 + 3 + ... + k + (k + 1) =
4

k 2 (k + 1)2
Pela hipótese de indução temos que 13 + 23 + 33 + ... + k3 = . Substituindo, temos:
4

k 2 (k + 1)2 k 2 (k + 1)2 + 4(k + 1)3 (k + 1)2 [k 2 + 4(k + 1)]


+ (k + 1)3 = = =
4 4 4
(k + 1)2 (k 2 + 4k + 4) (k + 1)2 (k + 2) 2
= =
4 4

que é igual ao L.D.


n 2 (n + 1)2
3 3 3
Portanto: 1 + 2 + 3 + … + n = 3
, ∀ n ≥ 1.
4
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 81

h)

i) Provar que é verdadeira para n = 1.


L.E. = 1 . 2 = 2 L.D. = 1 . 2 = 2 Portanto, é verdadeiro para n = 1.

ii) Supor que é verdadeiro para n = k. (Hipótese de Indução).

k(k + 1)(k + 2)
1 2+2 3+3 4 + … + k(k + 1) = (H.I.)
3

iii) Provar que é verdadeiro para n = k + 1.

(k + 1)(k + 2)(k + 3)
1 2+2 3+3 4 + … + k(k + 1) + (k + 1)(k + 2) =
3

k(k + 1)(k + 2)
Pela hipótese de indução temos que 1 2+2 3+3 4 + … + k(k + 1) = .
3
Substituindo, temos:

k(k + 1)(k + 2)
+ (k + 1)(k + 2)
3
k(k + 1)(k + 2) + 3(k + 1)(k + 2) (k + 1)(k + 2)(k + 3)
= = , que é igual ao L.D.
3 3

n(n + 1)(n + 2)
Portanto: 1 2+2 3+3 4 + … + n(n + 1) = , ∀ n ≥ 1.
3

i)

i) Provar que é verdadeira para n = 1.


2.2.3
L.E. = 22 = 4 L.D. = Portanto, é verdadeiro para n = 1.
3

ii) Supor que é verdadeiro para n = k. (Hipótese de Indução).

2k(k + 1)(2k + 1)
22 + 42 + 62 + … + (2k)2 = (H.I.)
3

iii) Provar que é verdadeiro para n = k + 1.

2(k + 1)(k + 2)[2(k + 1) + 1]


22 + 42 + 62 + … + (2k)2 + [2(k + 1)]2 =
3
2(k + 1)(k + 2)(2k + 3)
22 + 42 + 62 + … + (2k)2 + 4(k + 1)2 =
3
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 82

2k(k + 1)(2k + 1)
Pela hipótese de indução temos que 22 + 42 + 62 + … + (2k)2 = . Substituindo,
3
temos:

2k(k + 1)(2k + 1)
+ 4(k + 1)2
3
2k(k + 1)(2k + 1) + 12(k + 1) 2 2(k + 1) [k(2k + 1) + 6(k + 1)]
= = =
3 3
2(k + 1)(2k 2 + k + 6k + 6) 2(k + 1)(2k 2 + 7k + 6) 2(k + 1)(k + 2)(2k + 3)
= = =
3 3 3
que é igual ao L.D.

2n(n + 1)(2n + 1)
Portanto: 22 + 42 + 62 + … + (2n)2 = , ∀ n ≥ 1.
3
j)

i) Provar que é verdadeira para n = 1.


1.2.3
L.E. = 1 . 2 = 2 L.D. = =2 Portanto, é verdadeiro para n = 1.
3

ii) Supor que é verdadeiro para n = k. (Hipótese de Indução).

k(k + 1)(4k − 1)
1 2+3 4+5 6 + … + (2k – 1) 2k = (H.I.)
3

iii) Provar que é verdadeiro para n = k + 1.

(k + 1)(k + 2)[4(k + 1) − 1]
1 2+3 4+5 6 + … + (2k – 1) 2k + [2(k + 1) – 1] . 2(k + 1) =
3
(k + 1)(k + 2)(4k + 3)
1 2+3 4+5 6 + … + (2k – 1) 2k + (2k + 1) . 2(k + 1) =
3

k(k + 1)(4k − 1)
Pela hipótese de indução temos que 1 2+3 4+5 6 + … + (2k – 1) 2k = .
3
Substituindo, temos:

k(k + 1)(4k − 1)
+ 2(2k + 1)(k + 1)
3
k(k + 1)(4k − 1) + 6(2k + 1)(k + 1) (k + 1)[k(4k − 1) + 6(2k + 1)]
= =
3 3
(k + 1)(4k 2 − k + 12k + 6) (k + 1)(4k 2 + 11k + 6) (k + 1)(k + 2)(4k + 3)
= = =
3 3 3
que é igual ao L.D.
n(n + 1)(4n − 1)
Portanto: 1 2+3 4+5 6 + … + (2n – 1) 2n = , ∀ n ≥ 1.
3
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 83

Parte II – Números Inteiros


2)
10 10
3 2+ 3 + 3 2− 3 =x
9 9

Elevando ambos os membros ao cubo, vem:

3
10 10
3 2+ 3 + 3 2− 3 = x3
9 9

Desenvolvendo temos:

3 2 2 3
10 10 10 10 10 10
3 2+ 3 +3 3 2+ 3 3 2− 3 +3 3 2+ 3 3 2− 3 + 3 2− 3
9 9 9 9 9 9
= x3

10 10 10 10 10 10
2+ 3 +3 3 2+ 3 3 2− 3 3 2+ 3 + 3 2− 3 + 2− 3 = x3
9 9 9 9 9 9
x

10 10
4 + 14 + 3 3 2+ 3 2− 3 x = x3
9 9
2
10
4 + 3x 3 2 −
2
3 = x3
9

100 3
x3 = 4 + 3x 3 4−
81

100
x3 = 4 + 3x 3 4−
27

8
x3 = 4 + 3x 3
27
2
x3 = 4 + 3x
3
x3 = 4 + 2x
x3 – 2x – 4 = 0

As possíveis raízes da equação polinomial são: { ± 1, ± 2, ± 4}.


Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 84

Testando as raízes temos:

x=1 13 – 2 1 – 4 = 1 – 2 – 4 = –5 0. Logo, 1 não é raiz.


x = –1 (–1)3 – 2 (–1) – 4 = –1 + 2 – 4 = –3 0. Logo, –1 não é raiz.
x=2 (2)3 – 2 2 – 4 = 8 – 4 – 4 = 0. Logo, 2 é raiz.

10 10
Portanto, 3 2+ 3 + 3 2− 3 é um número inteiro.
9 9

3a) V b) F c) F d) V e) V f) V g) F

4a) V b) V c) V d) F, será verdadeira somente se p > 1

Parte III – Números Racionais

5a) Se definirmos a/b como o número (se existir) tal que bx = a, então 0/0 é o número x tal que 0x = 0.
Mas, como isso é verdade para todos os números, vemos que não existe um número único representado
por 0/0, expressão que consideramos, por isso, indeterminada.
b) Como em (a), se definirmos 1/0 como o número x (se existir) tal que 0x = 1, concluiremos que tal
número não existe. Assim, a divisão por zero não tem sentido.

1
6) Sim. Basta n assumir valores que sejam cubos perfeitos. Exemplos: 8, –27, − .
8

a
7) Não é racional. Para um número do tipo ser racional, devemos ter a e b números inteiros
b
(com b 0). Neste caso, temos que 2 é inteiro, mas 1 + 5 não é inteiro.

8)
1º modo:

19 + 8 3 + 19 − 8 3 = x

Elevando ambos os membros ao quadrado, vem:

( )
2
19 + 8 3 + 19 − 8 3 = x2

Desenvolvendo temos:

( ) ( )( ) ( )
2 2
19 + 8 3 +2 19 + 8 3 19 − 8 3 + 19 − 8 3 = x2
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 85

19 + 8 3 + 2 19 + 8 3 19 − 8 3 + 19 − 8 3 = x2

38 + 2 (19 + 8 3 )(19 − 8 3 ) = x 2

38 + 2 361 − 64 3 = x2

38 + 2 169 = x2
x2 = 38 + 26
x2 = 64
x=8

Portanto, 19 + 8 3 + 19 − 8 3 é um número racional.

2º modo:
Podemos resolver pensando no conceito de soma e produto das raízes da equação do 2º grau.
Temos, então:

x = 19 + 8 3 + 19 − 8 3

x = 19 + 2 4 3 + 19 − 2 4 3

Introduzindo os fatores 4 no radical temos:

x = 19 + 2 42 3 + 19 − 2 42 3

x = 19 + 2 48 + 19 − 2 48

Devemos ter dois números cuja soma seja 19 e produto 48. Os números procurados são 3 e 16.
Então:

x= ( ) (
16 + 3 + 16 − 3 )
x = 16 + 3 + 16 − 3

x = 2 16
x=8

9)
1º modo:
Podemos tratar o número como uma progressão geométrica.

9 9 9
0,9999... = + 2 + 3 + ...
10 10 10
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 86

9 1
Temos uma P.G. com a1 = eq= . Então:
10 10

9 9
9 9 9
0,9999... = + + 3 + ... = 10 = 10 = 1
10 10 2 10 1 9
1−
10 10

Portanto, 0,9999... é igual a 1.

2º modo:
Podemos tratar o número como uma dízima periódica.

Em seguida, multiplicamos os dois termos da igualdade por uma potência de 10 cujo expoente
é igual à quantidade de numerais do período da dízima.

x = 0,9999...
10x = (0,999...) . 10
10x = 9,9999...

Subtraindo uma expressão da outra, isto é, fazendo:

(10x – x) = 9,9999... – 0,9999...

obtemos:
9
9x = 9   x= x=1
9

Assim, a geratriz da dízima 0,9999... é o número inteiro 1.

3º modo:
0,9999... > 1? Não. Vamos supor que 0,9999... < 1. Então deve existir outro número entre
0,9999... e 1. Representando graficamente temos:

0,99999... Contradição

0,999 0,9999... 1

Absurdo.
Portanto, 0,9999... = 1.
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 87

10)
1º modo:

x = 12 + 6 3 + 12 − 6 3

Elevando ambos os membros ao quadrado, vem:

( )
2
12 + 6 3 + 12 − 6 3 = x2

Desenvolvendo temos:

( ) ( )( ) ( )
2 2
x2 = 12 + 6 3 +2 12 + 6 3 12 − 6 3 + 12 − 6 3

x2 = 12 + 6 3 + 2 (12 + 6 3 )(12 − 6 3 ) + 12 − 6 3

x2 = 24 + 2 144 − 36 3

x2 = 24 + 2 36
x2 = 24 + 12
x2 = 36
x=6

Portanto, 12 + 6 3 + 12 − 6 3 é um número racional.

2º modo:
Podemos resolver pensando no conceito de soma e produto das raízes da equação do 2º grau.
Temos, então:

x = 12 + 6 3 + 12 − 6 3

x = 12 + 2 3 3 + 12 − 2 3 3

Introduzindo os fatores 2 no radical temos:

x = 12 + 2 32 3 + 13 − 2 32 3

x = 12 + 2 27 + 12 − 2 27

Devemos ter dois números cuja soma seja 12 e produto 27. Os números procurados são 3 e 9.
Então:
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 88

x= ( ) (
9+ 3 + 9− 3 )
x= 9 + 3 + 9− 3

x= 2 9
x=6

11a) V b) F c) V d) V e) F f) F

12) Resposta pessoal

7 7
23 − 2 175 21 175 21 175 49
13a) = = =
9 100 9 100 9 100 12
3 4

4
125 − 12 44 − 4 113 40 113 40 452
b) = = =
90 9 90 9 90 9 81
9

25 1
75 6 75 9 75 9 25
c) : = = =
99 9 99 6 99 6 22
11 2

6 6 60 54 6 1
d) − = − = =
9 10 90 90 90 15

23 23 − 2 23 90 23 90 69
e) : = = =
100 90 100 21 100 21 70

17 − 1 1 16 1 16 9 7
f) − + =− + =− + =−
90 10 90 10 90 90 90

14) Aluno A: Correto. O aluno escreveu as frações em notação decimal e, depois, efetuou a adição.

1 2
Aluno B: Correto. Esse aluno trocou as frações e por frações equivalentes de mesmo
2 5
denominador (10) e, depois, efetuou a adição.

Aluno C: Errado. Aqui o aluno adicionou os numeradores das parcelas e os denominadores das
parcelas, encontrando, assim, erroneamente o numerador e o denominador do total.

Aluno D: Correto. O aluno substituiu as duas frações por outras equivalentes com o mesmo
denominador 10 e adicionou os numeradores.
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 89

15 5 812 − 8 804 268


15a) = e) = =
99 33 99 99 33
416 15 − 1 14 7
b) f) = =
999 90 90 45
21 − 2 19 115 − 11 104 52
c) = g) = =
9 9 90 90 45
2020 − 20 2000 2017 − 20 1997
d) = h) − =−
99 99 990 990
2007 − 200 1807 4075 − 40 4035 269
i) = l) = =
900 900 990 990 66
10 007 − 1 000 9007
j) =
90 90

4 3 1 1 4 1 2 2
16) Temos que a = 0, 4 = e b = 0,3 = = . Então: b a = = = .
9 9 3 3 9 3 3 9

Resposta: Alternativa B

4
17) Temos que = 0,108108... é uma dízima periódica com um período de 3 números. A divisão de
37
1999 por 3 deixa resto 2, e o segundo número da parte decimal é 0.
Portanto, o 1999º algarismo da parte decimal é o número 0.

Resposta: Alternativa A

18) O resto acabou de repetir: deu 2 pela segunda vez. Agora, o quociente vai se repetir também,
originando uma dízima periódica. O quociente é 1,285714 .

Parte IV – Números Reais e Irracionais

19a) V b) F c) F d) F e) V

20a) V b) V c) F d) V e) F f) V

21) Sejam m = 2x1 e n = 2x2, com x1 ∈ Z e x2 ∈ Z. Então:

m + n = 2x1 + 2x2 = 2(x1 + x2).

Como x1 e x2 são inteiros, então x1 + x2 também é inteiro. Portanto, m + n é par.


Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 90

22) Sejam m = 2x1 + 1 e n = 2x2 + 1, com x1 ∈ Z e x2 ∈ Z. Então:

m + n = 2x1 + 1 + 2x2 + 1= 2x1 + 2x2 + 2 = 2(x1 + x2 + 1)

Como x1 e x2 são inteiros, então x1 + x2 + 1 também é inteiro. Portanto, m + n é par.

23) Sejam m = 2x + 1 com x ∈ Z. Então:

m2 = (2x + 1)2 = 4x2 + 4x + 1 = 2 ( 2x 2 + 2x ) + 1


Portanto, m2 é ímpar.

a
24) Vamos supor, por absurdo, que 3 seja racional, isto é, que 3 possa ser escrito na forma ,
b
a
com a ∈ Z e b ∈ Z*, de modo que seja irredutível (a e b são primos entre si). Temos, então, 3 =
b
a
.
b
a2
Elevando os dois membros ao quadrado, obtemos 3 = 2
, ou a2 = 3b2. Isso significa que a2 é
b
múltiplo de 3, significa que a também é múltiplo de 3. Seja a = 3m. Substituindo vem:

(3m)2 = 3b2
9m2 = 3b2
b2 = 3m2

Se b2 é múltiplo de 3, significa que b também é múltiplo de 3, o que é um absurdo, pois a e b


devem ser primos entre si.

Por isso, concluímos que a hipótese de 3 ser racional é falsa e que, portanto, 3 é irracional.

25) A resolução deste exercício utiliza o mesmo raciocínio do texto de 2 . Se p fosse racional,

m m2
teríamos p = , com m e n primos entre si. Então, p = 2 , donde m2 = pn2. Isso mostra que m2 é
n n
divisível por p; logo, m também é divisível por p, ou seja, m = rp, com r inteiro. Daqui e de m2 = pn2
segue-se r2p2 = pn2, donde n2 = pr2, significando que n também é divisível por p. Mas isto é absurdo,
m
senão m e n seriam ambos divisíveis por p e não seria uma fração irredutível. O absurdo a que
n
chegamos é consequência da hipótese inicial de que p fosse racional. Somos assim forçados a afastar

esta hipótese e concluir que p é irracional.


Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 91

26a) falso d) falso g) verdadeiro j) falso


b) falso e) falso h) falso
c) verdadeiro f) falso i) falso

a
27) Vamos supor, por absurdo, que 3
2 seja racional, isto é, que 3
2 possa ser escrito na forma ,
b
a
com a ∈ Z e b ∈ Z*, de modo que seja irredutível (a e b são primos entre si). Temos, então, 3
2 =
b
a
.
b
a3
Elevando os dois membros ao cubo, obtemos 2 = 3
, ou a3 = 2b3. Se a3 é par, então a também é
b
par. Seja a = 3m. Substituindo vem:

(2m)3 = 2b3
8m3 = 2b3
b3 = 4m3
b3 = 2 (2m3)

Se b3 é par, então b também é par. Isto é absurdo, pois devemos ter a e b primos entre si.
3 3
Por isso, concluímos que a hipótese de 2 ser racional é falsa e que, portanto, 2 é irracional.

28a) Seja x = 4
5 − 2 . Reagrupando temos:

4
x+ 2 = 5

Elevando ambos os lados à quarta potência, temos:

(x + 2) = ( 5)
4 4
4

(x + 2) = 5
2

Desenvolvendo, vem:

(x )
2
2
+ 2x 2 + 2 =5

(x ) ( 2x 2 )
2
2 2
+ + 4 + 2x 2 2x 2 + 2x 2 2 + 2 2x 2 2 =5

x 4 + 8x 2 + 4 + 4x 3 2 + 4x 2 + 8x 2 − 5 = 0

x 4 + 12x 2 − 1 = − 4x 3 2 − 8x 2
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 92

x 4 + 12x 2 − 1 = − 4x 2 ( x 2 + 2 )

Elevando ao quadrado novamente, temos:

(x (
+ 12x 2 − 1) = −4x 2 ) (x + 2)
2 2 2
4 2

x 8 + 144x 4 + 1 + 24x 6 − 2x 4 − 24x 2 = 32x 2 ( x 4 + 4x 2 + 4 )

x 8 + 24x 6 + 142x 4 − 24x 2 + 1 − 32x 6 − 128x 4 − 128x 2 = 0


x 8 − 8x 6 + 14x 4 − 152x 2 + 1 = 0

As únicas raízes racionais possíveis desta equação são –1 e 1. Substituindo x por –1 e por 1,

nenhum desses dois valores satisfazem a equação. De modo que 4


5 − 2 , que satisfaz a equação, não
pode ser racional.

b) Seja x = 3 − 2 . Elevando ambos os membros ao quadrado temos:

x2 = 3 – 2 6 +2

Reagrupando, temos:

x2 – 5 = –2 6

Elevando ao quadrado novamente, temos:

x4 – 10x2 + 25 = 24

Reagrupando, temos:

x4 – 10x2 + 1 = 0

As únicas raízes racionais possíveis desta equação são –1 e 1. Substituindo x por –1 e por 1,

nenhum desses dois valores satisfazem a equação. De modo que 3 − 2 , que satisfaz a equação, não
pode ser racional.

c) Seja x = 2 + 5 . Elevando ambos os membros ao quadrado temos:

x2 = 2 + 2 10 + 5

Reagrupando, temos:

x2 – 7 = 2 10
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 93

Elevando ao quadrado novamente, temos:

x4 – 14x2 + 49 = 40

Reagrupando, temos:

x4 – 14x2 + 9 = 0

As raízes racionais possíveis desta equação são {–1, 1, –3, 3, –9, 9}. Substituindo x por esses

valores, nenhum deles satisfazem a equação. De modo que 2 + 5 , que satisfaz a equação, não pode
ser racional.

19 21 2 3 5
29) , 1, 1, 2 , 2, 3, 5 30) ; 1; 0,8 ; ; ;
20 20 2 3 5

31) Alternativa C 32a) F b) V c) F d) F e) F f) F

33a) V b) F c) V d) V e) V

1 10 1 10
34) y = 1 : 0,1 = 1 : =1 = 10 x = 2 : 0,1 = 2 : =2 = 20
10 1 10 1

Temos, então:

x 20
A= = = 2 . Portanto, A é irracional.
y 10

x(y − 1) 20 9
B= = = 18 = 3 2 . Portanto, B é irracional.
y 10

A B= 2 . 3 2 =3 2 = 6. Portanto, A B é racional.

35) Somente a alternativa c é correta.

36) Somente a alternativa c é correta.

37) Resposta pessoal

38) Construção geométrica


Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 94

39) Seja x = 2 + 2 + 2 + 2 + ... . Elevando ambos os lados ao quadrado, temos:

x2 = 2 + 2 + 2 + 2 + ...
x

x2 = 2 + x
x2 – x – 2 = 0
Soma: 1
Produto: –2 {2 ( − 1)}

Portanto, 2 + 2 + 2 + 2 + ... = 2.

Parte V – Fundamentos Axiomáticos dos números reais

40a) A = [1, 3[. É limitado superiormente pelo 3, pelo 7,5 etc.


3 = sup A e não existe max. A.

b) É limitado inferiormente pelo 1, pelo 0 etc.


1 = inf. A = min. A.

c) É limitado

41a) A = [–3, 2[. É limitado superiormente pelo 2, pelo , pelo 7,5 etc.
2 = sup A e não existe max. A.

b) É limitado inferiormente pelo –3, pelo – , etc.


–3 = inf. A = min. A.

c) É limitado

42a) A = ] – , 0[. É limitado superiormente pelo 0, pelo , etc.


0 = sup A e não existe max. A.

b) Não é limitado inferiormente.

c) Não é limitado.

43) n n2 44) n n3 45) Resposta pessoal

46a) Verdadeira b) Verdadeira c) Falsa d) Falsa


Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 95

47) R C=R (N Z) Q=N Q=Q N (Z Q) = N Z=Z

Portanto, R Q Z=Z

Resposta: Alternativa E

48a) Para provar que um número é algébrico, basta provar que o número é raiz de uma equação
polinomial com coeficientes inteiros.

3− 2 3− 2 3− 2 6 + 2
Seja x = = = 5−2 6 .
3+ 2 3− 2 3− 2

Elevando ao quadrado, temos:

x = 5−2 6

x – 5 = −2 6
x2 – 10x + 25 = 24
x2 – 10x + 1 = 0
x4 – 4x2 + 1 = 0

3− 2
Como se trata de uma equação polinomial com coeficientes inteiros, segue-se , que é
3+ 2
solução, é um número algébrico.

b) 2+ 3+ 6
Seja x = 2 + 3 + 6 . Então, x – 6 = 2 + 3 . Elevando ao quadrado e simplificando,
temos:

x2 – 2x 6 + 6 = 2 + 2 6 + 3

x2 + 1 = 2x 6 – 2 6

x2 + 1 = 2 6 (x + 1)

Elevando ao quadrado novamente e simplificando, temos:

x4 + 2x2 + 1 = 24(x2 + 2x + 1)
x4 + 2x2 + 1 = 24x2 + 48x + 24
x4 + 2x2 + 1 – 24x2 – 48x – 24 = 0
x4 – 22x2 – 48x – 23 = 0

Como se trata de uma equação polinomial com coeficientes inteiros, segue-se 2 + 3+ 6,


que é solução, é um número algébrico.
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 96

49) Seja x = −1 + i 3 . Então:

x+1= i 3

Elevando ao quadrado novamente e simplificando, temos:

x2 + 2x + 1 = i2 3
x2 + 2x + 1 = –3
x2 + 2x + 1 + 3 = 0
x2 + 2x + 4 = 0

Como se trata de uma equação polinomial com coeficientes inteiros, segue-se −1 + i 3 , que é
solução, é um número algébrico.

50) Seja x = 5 − 3 1 + 2 . Mediante três quadraturas e simplificando, temos:

x2 = 5 − 3 1 + 2

x 2 – 5 = −3 1 + 2

(
x2 – 10x2 + 25 = 9 1 + 2 )
x2 – 10x2 + 25 = 9 + 9 2

x2 – 10x2 + 16 = 9 2
x8 + 100x4 + 256 – 20x6 + 32x4 – 320x2 = 162
x8 – 20x6 + 132x4 – 320x2 + 94 = 0

Como se trata de uma equação polinomial com coeficientes inteiros, segue-se 5−3 1 + 2 ,
que é solução, é um número algébrico.

51) Seja x = 2 . Elevando ao quadrado e simplificando, temos:

x2 = 2
x2 – 2 = 0

Como se trata de uma equação polinomial com coeficientes inteiros de grau 2, segue-se 2 , que
é solução, é um número algébrico de grau 2.
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 97

52) Seja x = 3
3 . Elevando ao cubo e simplificando, temos:

x3 = 3
x3 – 3 = 0

3
Como se trata de uma equação polinomial com coeficientes inteiros de grau 3, segue-se 3 , que
é solução, é um número algébrico de grau 3.

53) Seja 4 + 2 3 = a + b 3 , com a e b inteiros positivos. Elevando ao quadrado e simplificando,


temos:

( ) ( )
2 2
4+2 3 = a+b 3

4 + 2 3 = a 2 + 2ab 3 + 3b 2

4 + 2 3 = ( a 2 + 3b 2 ) + 2ab 3

Comparando, temos:
a2 + 3b2 = 4 (Equação 1) e 2ab = 2 (Equação 2)

Da equação 2, temos:
1
ab = 1 a=
b

Substituindo a última expressão na equação 1, vem:


a2 + 3b2 = 4
2
1
+ 3b2 = 4
b
1
2
+ 3b2 = 4
b
1 + 3b4 = 4b2
3b4 – 4b2 + 1 = 0

Fazendo b2 = m, vem:
m=1
2
3m – 4m + 1 = 0 1
m = (não serve, pois b deve ser inteiro positivo)
3
Então: b2 = 1 b = 1 (pois a deve ser inteiro positivo)

Logo: a = 1
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 98

54) Seja 18 − 8 2 = a − b 2 , com a e b inteiros positivos. Elevando ao quadrado e simplificando,


temos:

( ) ( )
2 2
18 − 8 2 = a−b 2

18 − 8 2 = a 2 − 2ab 2 + 2b 2

18 − 8 2 = ( a 2 + 2b 2 ) − 2ab 2

Comparando, temos:
a2 + 2b2 = 18 (Equação 1) e 2ab = 8 (Equação 2)

Da equação 2, temos:
4
ab = 4 a=
b

Substituindo a última expressão na equação 1, vem:

a2 + 2b2 = 18
2
4
+ 2b2 = 18
b
16
+ 2b2 = 18
b2
16 + 2b4 = 18b2
2b4 – 18b2 + 16 = 0
b4 – 9b2 + 8 = 0

Fazendo b2 = m, vem:
m=1
m2 – 9m + 8 = 0
m = 8 (não serve, pois b deve ser inteiro positivo)

Então: b2 = 1 b = 1 (pois a deve ser inteiro positivo)

Logo: a = 4

3 3 7 4 4
55a) = 0,375 = 0,37444... = + 2 + 3 + 4 + ...
8 10 10 10 10
7 3 3 3
b) = 2,333... = 2 + + 2 + 3 + ...
3 10 10 10
7 3 9 9 9
c) = 1,4 = 1,3999... = 1 + + 2 + 3 + 4 + ...
5 10 10 10 10
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 99

10 1 1 1 1
d) = 1,111... = 1 + + 2 + 3 + 4 + ...
9 10 10 10 10

56) Seja x = 2 + 3 2 . Reagrupando temos:

3
x– 2 = 2

Elevando ambos os lados à terceira potência e desenvolvendo, temos:

(x − 2) = ( 2)
3 3
3

( 2) −( 2)
2 3
x 3 − 3x 2 2 + 3x =2

x 3 − 3x 2 2 + 6x − 2 2 − 2 = 0

x 3 + 6x − 2 = 3x 2 2 + 2 2
x 3 + 6x − 2 = 2 ( 3x 2 + 2 )

(x + 6x − 2 ) = ( 2 ) (3x + 2)
2 2 2
3 2

Elevando ao quadrado, temos:

x6 + 36x2 + 4 + 12x4 – 4x3 – 24x = 2(9x4 + 12x2 + 4)


x6 + 12x4 – 4x3 + 12x2 – 24x + 4 – 18x4 – 24x2 – 8 = 0
x6 – 6x4 – 4x3 – 12x2 – 24x – 4 = 0

As possíveis raízes racionais desta equação são: –1, 1, –2, 2, –4, 4. Substituindo esses valores,

nenhum satisfazem a equação. De modo que 2 + 3 2 , que satisfaz a equação, não pode ser racional.

Portanto, 2 + 3 2 é irracional.

57a) –3 = min A = sup A e 4 = max A = sup A b) 4 = sup A e –3 = inf A


c) 5 = sup A d) 2 = min A = inf A
e) Não existe nenhum item
f) –3 = min A = inf A e 1 = max A = sup A g) 0 = min A = inf A

58a) É limitado superiormente e inferiormente b) É limitado superiormente e inferiormente


c) É limitado superiormente d) É limitado inferiormente
e) Não é limitado superiormente e nem inferiormente
f) É limitado inferiormente g) É limitado inferiormente

59) Não, é limitado inferiormente. Neste conjunto 0 é o menor de todos os elementos.


Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 100

Capítulo III
Sequência ou sucessão numérica
60) Uma sequência é uma lista ordenada de números. Pode também ser definida como uma função cujo
domínio é o conjunto dos inteiros positivos. O contradomínio de uma sequência será considerado o
conjunto dos números reais, ou seja, f : N* R.
A cada número inteiro positivo “n” corresponde um número real f(n).
n f(n) / a1 = f(1) ; a2 = f(2) ; a3 = f(3) ; ... ; an = f(n)
Ou seja, um conjunto de números que obedecem a uma lei de formação, de modo que a passagem
ao seu sucessor imediato se faça segundo a mesma lei.

61) Significa que os elementos da sequência se aproximam de modo regular para o valor 8, de modo
fixo, sem contudo atingí-lo.

62) Significa que os elementos da sequência vão crescendo ilimitadamente, não se aproximando de um
valor fixo.

63) Se, quando n cresce, an se torna cada vez mais próximo de um número real L, diz-se que a
sequência {an} tem limite L (ou converge para L) e se escreve: lim a n = L.
x →∞

1 n
Exemplos: an = log 1 + e an = .
n 2n

64) Sequência divergente é quando os elementos crescem indefinidamente, sem se aproximar de um


valor, não existindo um limite. Exemplos: an = (–1)n e an = (–1)n 2n.

65a) a1 = 0,8, a2 = 0,96, a3 = 0,992, a4 = 0,9994, a5 = 0,99968


3 1 5 6
b) a1 = 1, a2 = , a3 = , a4 = , a5 =
5 2 11 17
3 1 1 1
c) a1 = –3, a2 = , a3 = − , a4 = , a5 = −
2 2 8 60
d) a1 = 1, a2 = 0, a3 = –1, a4 = 0, a5 = 1
e) a1 = 3, a2 = 5, a3 = 9, a4 = 17, a5 = 33
4 3
f) a1 = 4, a2 = , a3 = 4, a4 = , a5 = 3
3 2
g) a1 = 2, a2 = 5, a3 = 8, a4 = 11, a5 = 14
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 101

66 a) a n = 7n – 5 b) a n = (n + 1)3

c) a n = (–1)3 3n 1
p) a n = n+1
5
7n
d) a n = ( −1)
n +1
1
2n + 1 q) a n =
2n + 3
e) a n = 3n − 2
1
n
r) a n = n
3 2 +3
f) a n =
2 2n − 3
s) a n =
g) a n = n2 + 1 3n + 4
n2
h) a n = 2n2 t) a n = ( −1)
n

n+1
i) a n = n3
n+1
u) a n = ( −1)
n
3
j) a n = n + 1 n+6
n
3n v) a n =
k) a n = ( −1)
n
2
n +1
2n
n w) a n = 10n + 2 ou a n = 100 10n
l) a n =
n+2 x) a n = 2 n
2

n+1
m) a n = y) a n = 2n + 3 ou a n = 8 2n
5n − 1
2n z) a n = (n + 1)2
n) a n = n + 1
3
5n + 1
o) a n = ( −1)
n

2n + 2

67a) Diverge g) Diverge, entre –1 e 1


1 h) Converge para 1
b) Converge para
3 i) Converge para 0
c) Converge para 5 2
j) Converge para
d) Converge para 1 3
e) Converge para 0 k) Converge para 0
f) Diverge

68a) 1060; 1123,60; 1191,02; 1262,48; 1338,23


b) Diverge, pois temos uma função exponencial de razão r = 1,06 > 1.
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 102

69) Temos que:


1
2 = 22
3
2 2 = 22 2 = 4 23 = 2 4
7
2 2 2 = 2 2
2 2 = 2 4 3
2 = 4
(2 )
3 2
2 = 28 6 8
2 = 2 =2 7 8

1 3 7 2n −1
2n
Temos então a sequência { 2 , 2 , 2 }, cujo termo geral é a n = 2
2 4 8
.

Calculando o limite vem:

2n −1 2n 1 1 1
0
− 1− 1−
2n 2n
= 21 = 2
n n n
lim 2 2
= lim 2 = lim 2 2
= lim 2 2
n →∞ n →∞ n →∞ n →∞

Portanto, o limite da sequência 2, 2 2, 2 2 2 é 2.

70a) Verifiquemos se as sequências são crescentes, caso contrário serão decrescentes.


Para uma sequência ser crescente, deve-se ter an < an + 1. Então:

1 1
n
< n+1
5 5
5n + 1 < 5n
5n 5 < 5n
5<1

1
Para todo n 1, a desigualdade é falsa. Portanto, a sequência a n = n é decrescente.
5

1 1
b) <
2n + 3 2(n + 1) + 3
1 1
<
2n + 3 2n + 5
2n + 5 < 2n + 3
5<3

1
Para todo n 1, a desigualdade é falsa. Portanto, a sequência a n = é decrescente.
2n + 3
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 103

2n − 3 2(n + 1) − 3
c) <
3n + 4 3(n + 1) + 4
2n − 3 2n − 1
<
3n + 4 3n + 7
(2n – 3)(3n + 7) < (3n + 4)(2n – 1)
6n2 + 14n – 9n – 21 < 6n2 – 3n + 8n – 4

6n 2 + 5n − 21 < 6n 2 + 5n − 4
–21 < –4
2n − 3
Para todo n 1, a desigualdade é verdadeira. Portanto, a sequência a n = é crescente.
3n + 4

1 − en 1 − en + 1
d) <
1 + en 1 + en + 1
(1 – en) (1 + en + 1) < (1 + en) (1 – en + 1)
1 + en + 1 – en – e2n + 1 < 1 – en + 1 + en – e2n + 1

1 + en + 1 − en − e 2n + 1 < 1 − e n + 1 + e n − e2n + 1
en + 1 + en + 1 < en + en
2en + 1 < 2en
en + 1 < en
en e < en (en 0 para todo n natural)
e<1
1 − en
Para todo n 1, a desigualdade é falsa. Portanto, a sequência a n = é decrescente.
1 + en

e n − e− n e n + 1 − e − (n + 1)
e) <
en + e− n e n + 1 + e− (n + 1)
(en – e–n) (en + 1 + e –n – 1) < (en + e–n) (en + 1 – e –n – 1)
e2n + 1 + e–1 – e – e–2n – 1 < e2n + 1 – e–1 + e – e–2n – 1

e 2n + 1 + e −1 − e − e −2n −1 < e 2n + 1 − e −1 + e − e−2n −1


1 1
+ <e+e
e e
2
< 2e
e
2 < 2e2 1 < e2
e n − e− n
Para todo n 1, a desigualdade é verdadeira. Portanto, a sequência a n = n é crescente.
e + e− n
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 104

n 2 + 2n − 3 (n + 1) 2 + 2(n + 1) − 3
f) <
2n − 1 2(n + 1) − 1

n 2 + 2n − 3 n 2 + 2n + 1 + 2n + 2 − 3
<
2n − 1 2n + 2 − 1
n 2 + 2n − 3 n 2 + 4n
<
2n − 1 2n + 1
(n2 + 2n – 3)(2n + 1) < (2n – 1) (n2 + 4n)
2n3 + n2 + 4n2 + 2n – 6n – 3 < 2n3 + 8n2 – n2 – 4n

2n 3 + 5n 2 − 4n − 3 < 2n 3 + 7n 2 − 4n

5n 2 − 4n − 3 < 7n 2 − 4 n
5n2 – 7n2 < 3
– 2n2 < 3
n 2 + 2n − 3
Para todo n 1, a desigualdade é verdadeira. Portanto, a sequência a n = é
2n − 1
crescente.

3n 2 − 2 3(n + 1) 2 − 2
g) <
5n 2 + 1 5(n + 1) 2 + 1

3n 2 − 2 3(n 2 + 2n + 1) − 2
<
5n 2 + 1 5(n 2 + 2n + 1) + 1

3n 2 − 2 3n 2 + 6n + 1
<
5n 2 + 1 5n 2 + 10n + 6
(3n2 – 2)(5n2 + 10n + 6) < (5n2 + 1)(3n2 + 6n + 1)
15n2 + 30n3 + 18n2 – 10n2 – 20n – 12 < 15n4 + 30n3 + 5n2 + 3n2 + 6n + 1

15n 4 + 30n 3 + 18n 2 − 10n 2 − 20n − 12 < 15n 4 + 30n 3 + 5n 2 + 3n 2 + 6n + 1


8n2 – 20n – 12 < 8n2 + 6n + 1

8n 2 − 20n − 12 < 8n 2 + 6n + 1
–26n < 13
3n 2 − 2
Para todo n 1, a desigualdade é verdadeira. Portanto, a sequência a n = é crescente.
5n 2 + 1

1
71a) lim = 0. Portanto, a sequência é limitada.
n →∞ 5n

1 1 0
b) lim = lim = = 0. Portanto, a sequência é limitada.
n →∞ 2n + 3 n →∞ 3 2
n 2+
n
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 105

3
n 2−
2n − 3 n 2
c) lim = lim = . Portanto, a sequência é limitada.
n →∞ 3n + 4 n →∞ 4 3
n 2+
n

1
en −1
1− e n
en
d) lim = lim = –1. Portanto, a sequência é limitada.
n →∞ 1 + e n n →∞ 1
en +1
en

1
−n en 1 −
e −e
n
e 2n
e) lim = lim = 1. Portanto, a sequência é limitada.
n →∞ e n + e − n n →∞ 1
e n 1 + 2n
e

2 3
n2 1 + −
n + 2n − 3
2
n n2 1
f) lim = lim = ???. Portanto, a sequência não é limitada.
n →∞ 2n − 1 n →∞ 2 1 0
n2 −
n n2

2
n2 3 −
3n − 2
2
n2 3
g) lim = lim = . Portanto, a sequência é limitada.
n →∞ 5n 2 + 1 n →∞ 1 5
n2 5+ 2
n

72) Como {an} é uma sequência decrescente, temos que an > an + 1 para todo n 1. Como todos
os termos variam entre 5 e 8, {an}, é uma sequência limitada. Pelo teorema da Sequência
Monotônica Limitada, {an} é convergente; isto é, {an} tem um limite L. L deve ser menor do
que 8, então {an} é decrescente. Então, 5 L < 8.

73) Temos que lim f (x) = f(2) = 4, logo f(x) é contínua em x = 2.


x →2

74) f(1) não existe, de modo que f(x) não é contínua. Definindo f(x) de modo que f(1) = lim f (x) = –8,
x →1

se torna contínua em x = 1, isto é, x = 1 é uma descontinuidade removível.

75) Como f(x) = x é contínua para qualquer ponto x = x0, também o serão f(x) = x x = x 2,
f(x) = x2 x = x3, f(x) = 2x3 e, finalmente, f(x) = 2x3 + x é contínua para qualquer ponto x = x0, pois a
soma e produto de funções contínuas também são funções contínuas.

76a) Para todo x exceto x = ± 1 (em que o denominador é zero)


Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 106

b) Para todo x

c) Para todo x > –10

d) Para todo x 3

e) Para todo x, pois lim f (x) = f(3)


x →3

f) Para todo x, exceto x = 0

g) Para todo x 0

h) Para todo x, exceto x = ± , ±2 , ±3 , ...

77) lim f (x) = f(4)


x →4

78) O gráfico não tem buraco, pulo ou assíntota vertical.

79) O gráfico de y = f(x) deve ter uma descontinuidade em 3 e deve ter lim− f (x) = f(3).
x →3
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 107

80a)

b) É descontínua em t = 1, 2, 3 e 4. A pessoa que deixar seu carro no estacionamento deverá saber


que o valor cobrado mudará no começo de cada hora.

81) lim [2 f (x) − g(x)] = 4


x →3

Usando as propriedades operatórias dos limites vem:

lim 2 f (x) – lim g(x) = 4


x →3 x →3

2 lim f (x) – lim g(x) = 4


x →3 x →3

2 5 – lim g(x) = 4
x →3

10 – 4 = lim g(x)
x →3

lim g(x) = 6
x →3

Portanto, g(3) = 6.

82a) f(–4) não está definido e lim f (x) (para a = –2, 2 e 4) não existe.
x →a

b) –4, nenhum dos dois; –2, à esquerda; 2, à direita e 4, à direita.


Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 108

83a) f(2) não está definido

b) lim f (x) não existe


x →0

c) lim f (x) f(–3), pois lim f (x) = –7 e f(–3) = –5.


x →−3 x →−3
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 109

84) Para a função ser contínua no ponto x = 2, devemos ter lim f (x) = f(2).
x →2

lim f (x) = c 22 + 2 2 = 4c + 4
x → 2−

lim f (x) = f(2) = 23 – c 2 = 8 – 2c


x → 2+

Logo:

4c + 4 = 8 – 2c
4c + 2c = 8 – 4
6c = 4
2
c=
3

x 2 − 2x − 8
, se x ≠ −2
85a) g(x) = x+2
−6 , se x = − 2

b) A descontinuidade não é removível, pois lim+ f (x) = 1 e lim− f (x) = –1.


x →7 x →7

x 6 + 64
, se x ≠ −4
c) g(x) = x+4
16 , se x = − 4

3− x
, se x ≠ 9
d) g(x) = 9 − x
1
, se x = 9
6

86) f(–1) = –2 e f(4) = 73. Pelo teorema de Bolzano, temos que f(–1) f(4) < 0. Logo existe, pelo
menos, uma raiz entre [–1, 4].

87) Devemos ter f(–2) f(0) < 0.

f(–2) = –8 + 4 – 10 + a = –14 + a f(0) = a

Então:

(–14 + a) a<0 + +
(–14 + a) a=0 0 – 14

a = 14 e a = 0

Portanto, o valor deve estar no intervalo 0 < a < 14.


Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 110

88) f(0) = 1 e f = –5. Como f(0) f < 0, há pelo menos 1 raiz em 0, .


2 2 2

89) Por que a função não é contínua em [–1, 1].

90) Devemos ter f(–3) f(–1) < 0.

f(–3) = –27 + 9 – 15 + a = –33 + a f(–1) = –1 + 1 – 5 + a = –5 + a

Então:

(–33 + a) (–5 + a) < 0 + +


(–33 + a) (–5 + a) = 0 5 – 33

a = 33 e a = 5

Portanto, o valor deve estar no intervalo 5 < a < 33.

91) O teorema de Bolzano é satisfeito, pois f(–1) f(0) < 0 e f(0) f(1) < 0.

92) Pelo teorema de Bolzano, temos que f(0) f(–1) < 0 e f(2) f(3) < 0. Portanto, a equação possui
raízes nos intervalos dados.

93) Sim, pois temos f(–1) f(4) < 0, satisfazendo o teorema do anulamento.

94a) A descontinuidade não é removível, pois lim+ f (x) = 1 e lim− f (x) = –1.
x →2 x →2

b) A descontinuidade não é removível, pois lim+ f (x) = 1 e lim− f (x) = –1.


x →−4 x →4

3 3
c) A descontinuidade não é removível, pois lim + f (x) = e lim − f (x) = − .
x →3/ 2 2 x →3/ 2 2
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 111

Referências bibliográficas

AVILA, G. Análise Matemática para licenciatura. 3 ed. São Paulo: Blucher, 2006.

DANTE, L. R. Matemática: Conceitos & Aplicações. 3 ed. São Paulo: Ática, 2004.

GUIDORIZZI, H. L. Curso de Cálculo. vol. 2. Rio de Janeiro: 2001

FERREIRA, J. A construção dos números. 1 ed. Rio de Janeiro: SBM, 2010.

FIGUEREIDO, D. G. Números Irracionais e Transcendentes. 3 ed. Rio de Janeiro: SBM, 2010.

HOFFMANN, L. D.; BRADLEY, G. L. Cálculo: um curso moderno e suas aplicações. Rio de


Janeiro, LTC, 2002

LIMA, E. L. Curso de Análise. vol. I. São Paulo: IMPA, 2001

LOUREIRO, C.; PERES, E. e GARCIA, M. A Contribuição da Análise Matemática na Formação


de Professores.

NAME, M. A. Tempo de Matemática. s.e. São Paulo: Editora do Brasil, 1996.

SPIEGEL, M. R. Cálculo Avançado. 3 ed. São Paulo: McGraw Hill, 1974.

STEWART, J. Cálculo. vol. I. 5 ed. São Paulo: Cengage Learning, 2011.

STEWART, J. Cálculo. vol. II. 5 ed. São Paulo: Cengage Learning, 2011.

THOMAS, G. B. Cálculo. vol. I São Paulo, Pearson, 2005.


Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 112

Anexo I
O valor de

A primeira referência ao valor de (pi) aparece na Bíblia, no Primeiro Livro dos Reis, 7,
versículo 23: “Fez mais o mar de fundição, de dez côvados, de uma borda até à outra borda, redondo
ao redor, e de cinco côvados ao alto; e um cordão de trinta côvados o cingia, em redor.” Aqui, o
valor de é 3, bastante inexacto, portanto.
Desde sempre, este número mágico despertou a atenção dos estudiosos. Os historiadores
calculam que, desde 2000 a.C., os homens têm consciência de que a razão entre a circunferência e o
seu diâmetro é igual para todos os círculos. Deram conta que, se duplicarem a distância através de um
círculo, então também a distância em volta dele é igual ao dobro. Em notação algébrica, diremos que

circunferência
=
diâmetro

em que o valor de é constante. Note-se que o nome “pi”, usando a letra grega, só foi introduzido em
1706 por William Jones (1675-1749).
O valor exato de desde cedo despertou o interesse dos matemáticos. Arquimedes de Siracusa
22
(287-212 a.C.) chegou ao valor de ou seja 3,142857…
7
Só no século XVIII é que se provou que é um número irracional, isto é que não pode ser
expresso como uma fração, própria ou imprópria. Em termos práticos, isso significa que o número de
casas decimais que pode ter é infinito.
No século XIX, demonstrou-se que é um número transcendental, isto é, não pode ser expresso
por uma equação algébrica com coeficientes racionais.
Como corolário, deve dizer-se que é impossível fazer a “quadratura do círculo”, isto é, desenhar
um quadrado com o mesmo perímetro de determinado círculo.
Podem apreciar-se na tabela a seguir os progressos feitos no cálculo do valor de . Só no século
XX, nos anos 50, é que se começaram a utilizar computadores para o cálculo das casas decimais de .

Os valores de através dos séculos

Pessoas/Povo Ano Valor


1
Babilônia ~2000 B.C. 3
8
2
16
Egípcios ~2000 B.C. = 3,1605
9
Chineses ~1200 B.C. 3
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 113

Antigo Testamento ~550 B.C. 3


10 1
encontra 3 < <3
71 7
Arquimedes ~300 B.C.
211 875
usa = 3,14163
67 441
377
Ptolomeu ~200 A.D. = 3,14166...
120
Chung Huing ~300 A.D. 10 = 3,16...
157
Wang Fau 263 A.D. = 3,14
50
Tsu Chung-Chi ~500 A.D. 3,1415926 < < 3,1415929
Aryabhatta ~500 3,1416
Brahmagupta ~600 10
Al-Khwarizmi 820 3,1416
Fibonacci 1220 3,141818
Calcula até 35 casas
Ludolph van Ceulen 1596
decimais
Machin 1706 100 casas decimais
Lambert 1766 Prova que é irracional
Richter 1855 500 casas decimais
Lindeman 1882 Prova que é transcendental
Ferguson 1947 808 casas decimais
Computador
1957 7 840 casas decimais
Pegasus
IBM 7090 1961 100 000 casas decimais
CDC 6600 1967 500 000 casas decimais

Eis algumas das fórmulas utilizadas para calcular o valor de em computador:


François Viète (1540-1603) determinou que:

2
=
1 1 1 1 1 1 1 1
+ + + ...
2 2 2 2 2 2 2 2

2 2 4 4 6 6...
John Wallis (1616-1703) mostrou que = 2 .
1 3 3 5 5 7...

2 ∞
1
Euler (1707-1783) construiu a fórmula = .
6 1 n2
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 114

Observações:
1 - Abu Ja’far Muhammad ibn Musa Al-Khwarizmi, matemático árabe nascido em Bagdad, por volta
de 780, faleceu em 850. Do seu nome derivam as palavras “algarismo” em português e “guarismo” em
castelhano (guardamos sempre o artigo árabe nas palavras derivadas daquela língua). Para além disso,
escreveu um livro chamado “al-Kitab al-mukhtasar fi hisab al-jabr wa’l-muqabala” (traduzido para
inglês com o título “The Compendious Book on Calculation by Completion and Balancing”. De Al
jabr, vem o nome Álgebra. Mais: sabe-se que Al-Khwarizmi escreveu um livro que desapareceu, mas
de que chegou até nós uma tradução latina com o título “Algoritmi de numero Indorum”, ou seja, “Al-
Khwarizmi sobre o modo Hindu de contar” e do nome latino que ali lhe deram derivou o termo
“algoritmo”.

2 – Um número irracional é aquele que não pode ser expresso como uma fração (própria ou imprópria).
Fração própria é a que tem o numerador inferior ao denominador. Fração imprópria é aquela em que o
numerador é maior ou igual ao denominador. O numerador e o denominador são, evidentemente,
inteiros. Um número primo é um número maior do que 1, que não é divisível por nenhum número
inteiro positivo, que não seja 1 ou o próprio número. Um número composto é um número inteiro
positivo diferente de 1 e que não é número primo.

3 – Os números transcendentais não podem ser expressos como sendo a raiz de uma qualquer equação
algébrica, com coeficientes racionais. Isto significa que não pode satisfazer com exatidão equações
4
do tipo 10,9 – 240 ² + 1492 = 0. Este tipo de equações envolve sempre números inteiros para o valor
de . O número pode ser expresso através de uma fracção que não tem fim ou como o limite de uma
355
série infinita. A fração exprime o valor de com exatidão até seis casas decimais.
113

Em 1882, o matemático alemão F. Lindemann provou que é transcendental, acabando com


2500 anos de especulação. Com efeito, provou que transcende o poder de a álgebra o representar na
sua totalidade. Não pode ser representado através de qualquer série finita de operações aritméticas ou
algébricas. Não pode ser escrito num pedaço de papel tão grande como o universo.

Site consultado
http://www.arlindo-correia.com/040901.html acessado em julho de 2008
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 115

Anexo II
O número e, por quê?

A noção de logaritmo quase sempre nos é apresentada, pela primeira vez, do seguinte modo: “o
logaritmo de um número y na base a é o expoente x tal que ax = y”.
Segue-se a observação: “os números mais frequentemente usados como base de um sistema de
logaritmos são 10, e o número e = 2,71828182...”; o que nos deixa intrigados.
De saída, uma pergunta ingênua: esta regularidade na sequência dos algarismos decimais desse
número e persiste? Não. Apenas uma coincidência no começo. Um valor mais preciso seria e =
2,718281828459...
Não se trata de uma fração decimal periódica. O número e é irracional, isto é, não pode ser obtido
como quociente e = p/q de dois inteiros. Mais ainda: é um irracional transcendente. Isto significa que
não existe um polinômio P(x) com coeficiente inteiros, que se anule para x = e, ou seja, que tenha e
como raiz.
Por que então a escolha de um número tão estranho como base de logaritmos? O que faz esse
número tão importante? Talvez a resposta mais concisa seja que o número e é importante porque é
inevitável. Surge espontaneamente em várias questões básicas.
Uma das razões pelas quais a Matemática é útil às Ciências em geral está no Cálculo (Diferencial
e Integral), que estuda a variação das grandezas. Um tipo de variação dos mais simples e comumente
encontrados é aquele em que o crescimento (ou decrescimento) da grandeza em cada instante é
proporcional ao valor da grandeza naquele instante. Este tipo de variação ocorre, por exemplo, em
questões de juros, crescimento populacional (de pessoas ou bactérias), desintegração radioativa, etc.
Em todos os fenômenos dessa natureza, o número e aparece de modo natural e insubstituível. Vejamos
um exemplo simples.
Suponhamos que eu empreste a alguém a quantia de 1real a juros de 100% ao ano. No final do
ano, essa pessoa viria pagar-me e traria 2 reais: 1 que tomara emprestado e 1 dos juros. Isto seria justo?
Não. O justo seria que eu recebesse e reais. Vejamos por que. Há um entendimento tácito nessas
transações, de que os juros são proporcionais ao capital emprestado e ao tempo decorrido entre o
empréstimo e o pagamento.
1
Assim, se meu cliente viesse me pagar seis meses depois do empréstimo, eu receberia apenas 1
2
reais. Mas isto quer dizer que, naquela ocasião, ele estava com 1 ½ real meu e ficou com esse dinheiro
mais seis meses, à taxa de 100% ao ano; logo deveria pagar-me
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 116

2
1 1 1 1 1 1
1 + 1 =1 1 = 1+ reais no fim do ano. Isto me daria 2,25 reais, mas, mesmo assim,
2 2 2 2 2 2
eu não acharia justo.
Eu poderia dividir o ano num número arbitrário n, de partes iguais. Transcorrido o primeiro
1 ano 1
período de , meu capital emprestado estaria valendo 1 + reais. No fim do segundo período de
n n
2 n
1 ano 1 1
, eu estaria 1 + reais, e assim por diante. No fim do ano eu deveria receber 1 + reais.
n n n
Mas, como posso fazer esse raciocínio para todo n, segue-se que o justo e exato valor que eu deveria
n
1
receber pelo meu real emprestado seria lim 1 + , que aprendemos nos cursos de Cálculo ser igual
n →∞ n
ao número e. Um outro exemplo no qual o número e aparece.

Fonte: Adaptado do artigo de Elon Lages Lima


Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 117

Anexo III
Provando que o logaritmo (base 10) é irracional

O logaritmo de 2 na base 10 é um número irracional.


a
De fato, se log 2 fosse racional, teríamos log 2 = , em que a ∈ Z e b ∈ N − {0}. Desta forma,
b
a
teríamos 2 = 10 . Elevando ambos os lados da igualdade a b teremos:
b

2b = 10a = 2a 5a.

Como b é um número natural, diferente de zero, 2b é um número natural maior que 1. Por outro
lado, a igualdade 2b = 2a 5a nos diz que 5 divide 2b. Um absurdo, pois os divisores de 2b são
potências de 2. Logo, log 2 não pode ser racional (lembre-se que log 2 é um número real) e portanto é
irracional.

Prove que os números abaixo são irracionais:

1) log 3
a
De fato, se log 3 fosse racional, teríamos log 3 = , em que a ∈ Z e b ∈ N − {0}. Desta forma,
b
a
teríamos 3 = 10 b . Elevando ambos os lados da igualdade a b teremos:

3b = 10a = 2a 5a.

Como b é um número natural, diferente de zero, 3b é um número natural maior que 1. Por outro
lado, a igualdade 3b = 2a 5a nos diz que 5 divide 3b. Um absurdo, pois os divisores de 3b são
potências de 3. Logo, log 3 não pode ser racional e, portanto é irracional.

b) log 21
a
De fato, se log 21 fosse racional, teríamos log 21 = , em que a ∈ Z e b ∈ N − {0}. Desta
b
a
forma, teríamos 21 = 10 b . Elevando ambos os lados da igualdade a b teremos:

21b = 10a = 2a 5a.

Como b é um número natural, diferente de zero, 21b é um número natural maior que 1. Por outro
lado, a igualdade 21b = 2a 5a nos diz que 5 divide 21b. Um absurdo, pois os divisores de 21b são
potências de 21. Logo, log 21 não pode ser racional e, portanto é irracional.
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 118

Anexo IV
As dízimas periódicas e a calculadora

Em um concurso destinado principalmente a professores de Matemática, figurava a seguinte


questão: “Os números racionais a e b sao, representados, no sistema decimal, pelas dízimas periódicas:

a = 3,0181818... = 3,0 18 e b = 1,148148... = 1, 148

Encontre, justificando, uma representação decimal de a – b”.


Como a e b são racionais, temos que a diferença a – b, também é racional e, portanto, sua
representação decimal também é periódica. Apesar de na prova ter sido permitido o uso da calculadora,
o período jamais seria descoberto com a certeza exigida pelo “justifique”. Além disso, o período
poderia ser maior do que o número de dígitos que a calculadora pudesse exibir no visor.
Um primeiro expediente que poderia ocorrer seria fazer a subtração por meio do esquema usado
habitualmente para decimais finitos. Isso funcionaria bem em casos mais simples.
Por exemplo:

0,444...
4 3 1
0,333... , o que estaria correto, pois − =
9 9 9
0,111...

Mas, no caso em questão, o desencontro entre os períodos das duas dízimas apresentadas
dificultava o emprego dessa estratégia (a qual, aliás, precisaria ser discutida em termos conceituais).
Vejamos:

30,18181818...
1,148148148...
??

Como a subtração usual é feita da direita para a esquerda, não se sabe bem por onde se deveria
começar, antes de descobrir o período. Por conseguinte, o caminho natural seria calcular as geratrizes
de a e b, subtrair as frações correspondentes, e então encontrar uma representação decimal para essa
fração. Utilizando esse procedimento, teríamos:

10a = 30,18... 18
logo, 1000a − 10a = 990a = 2988, ou a = 3+ .
1000a = 3000,18... 990

148
1000b = 1148, 148 ...; 1000b – b = 999b = 1147, ou b = 1+ ,
999
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 119

portanto
18 148 1292 2777
a – b = 3+ – 1+ =1+ = .
990 999 1485 1485

Nesse ponto, o método mais usado por todo o mundo é dividir 2777 por 1485 (ou 1292 por 1485,
ganhando uma etapa), pelo algoritmo tradicional, e aguardar o primeiro resto que se repete. Desse
modo, obtém-se:

12920 1485
104 0 0 0,8700336
5 000
54 50
9 9 5 0
1 0 4 0

Como se repetiu o resto 1040, a partir daí, os algarismos 7, 0, 0, 3, 3, 6 se repetiriam. Logo, a – b

= 1, 8700336 .
Vamos agora fazer alguns comentários:

1. Algumas pessoas envolvidas no processo de aprendizagem da Matemática (alunos, professores, pais,


etc.) expressam às vezes a crença de que, com o advento da calculadora, nunca mais haverá ocasião de
usar o algoritmo tradicional da divisão. Alguns até usam isso como um argumento para proibir o uso
da calculadora em certas fases iniciais da aprendizagem: “é necessário primeiro que o aluno aprenda o
algoritmo tradicional, e só depois lhe será permitido usar a calculadora; senão, ele não terá motivação
para aprender tal algoritmo”.
Na realidade, o exemplo aqui tratado mostra que nós, professores, temos que exercer nossa
criatividade para criar problemas desafiadores, que coloquem em xeque até mesmo a calculadora,
deixando claras as suas limitações, em vez de proibir o seu uso, o que é uma atitude antipática,
repressora, e totalmente contrária ao que um aluno espera de um professor de Matemática. De fato,
para um leigo, ou um iniciante em Matemática, nada mais “matemático” do que uma calculadora, e ele
espera que um professor vá iniciá-lo ou ajudá-lo com essa ferramenta, e não proibi-lo de usá-la.

208 1292
2. Existiria um outro método para encontrar uma representação decimal de (ou de , mas já
297 1485
vimos que basta o primeiro), que não fosse o algoritmo tradicional da divisão? A resposta é sim.
Basta tomar as sucessivas potências de 10, a saber: 10, 100, etc., até que encontremos uma que
deixe resto 1, quando dividida por 297. Não é difícil fazer isso, experimentando com a calculadora:
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 120

103 = 3 297 + 109 104 = 33 297 + 199


105 = 336 297 + 208 104 = 3367 297 + 1

1 1
A partir daí, obtém-se: = 3367 , e portanto:
297 10 − 1
6

208 1
= 208 3367
297 10 − 1
6

1
= 700336 106 = 700336 1 + 1 + 1 + ...
1 106 106 1012
1− 6
10
= 0,700336700336700366... = 0, 700336

em que a última passagem vem da propriedade das progressões geométricas infinitas: 1 + q + q2 + ... =
1
, –1 < q < 1.
1- q
Observe que o período da dízima tem comprimento 6, que é o expoente da menor potência de 10
que deixa resto 1, quando dividida por 297.

Considerações finais

Observemos que toda fração decimal finita como 0,125, por exemplo, é gerada por uma fração
cujo denominador é uma potência de 10:

125 125 125


0,125 = = 3 = 3 .
1000 10 2 53

Por outro lado, uma fração cujo denominador não tem outros fatores primos além do 2 e do 5
(poderia ser um deles apenas) sempre pode ser expressa por uma fração cujo denominador é uma
potência de 10 e, portanto, tem uma representação decimal finita. Por exemplo,

3 3 3 5 15
= 2 = 2 2
= 2 = 0,15.
20 2 5 2 5 10

a
Esse raciocínio permite concluir que uma fração , na forma irredutível, tem representação
b
decimal infinita se, e somente se, b = b0 2m 5n, com b0 > 1, m, n > 0 e mdc (b0, 10) = 1.
Isso posto, podem-se provar os seguintes resultados:
Professor Cícero José – Anhanguera Uniban 2012 121

a
a) a representação decimal de é periódica e pode apresentar ou não pré-período de tamanho
b
r = max {m, n} algarismos (por exemplo, 0,356212121... tem pré-período de três algarismos, 3, 5 e 6);

b) se m > 0 ou n > 0, então há um pré-período formado de r = max {m, n}.

c) o período é formado de h algarismos, sendo h o menor inteiro positivo tal que 10h – 1 é múltiplo de
b0 (uma generalização da propriedade conhecida como teorema de Euler [1760] garante a existência de
h.)

Por exemplo:
5
• não tem pré-período, pois 21 = 3 7 (notar a ausência de 2 e 5) e o período é formado de 6
21
algarismos, uma vez que 102 – 1 = 99, 103 – 1 = 999, 104 – 1 = 9999 e 105 – 1 = 99999 não são
5
múltiplos de 21, mas 106 – 1 = 999999 = 21 47619. De fato, = 0,238095238095... =
21
0, 238095 .
9
• tem pré-período formado por 2 algarismos (observar que 140 = 22 5 7 e que max {2, 1} =
140
2) e período formado de 6 algarismos, pois 6 é o menor expoente tal que 106 – 1 é múltiplo de 7.
9
De fato, = 0,06428571428571... = 0,06 428571 .
140
Fonte: José Paulo Q. Carneiro, Coleção Explorando o Ensino
da Matemática – Volume 3, pp. 31 a 35, 2004 (adaptado)

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