RECURSOS
PROVIMENTOS JURISDICIONAIS
b) Decisões interlocutórias: são os atos judiciais que resolvem questões, isto é, os pontos
controvertidos, sem por fim ao processo ou à fase de conhecimento do processo. Exemplos:
indeferimento de testemunhas. Em regra, são irrecorríveis, salvo as decisões previstas no art. 1.015
do CPC. Nessas hipóteses, é possível o recurso de agravo de instrumento. A doutrina ainda admite a
interposição embargos de declaração contra decisão interlocutória. Fora das situações do citado
art. 1.015, não é possível a interposição do agravo de instrumento, mas, após a sentença, a parte
pode impugnar a decisão, em preliminar das razões ou contrarrazões de uma eventual apelação,
conforme §1º do art. 1.009 do CPC, pois quando não comportar o recurso de agravo de
instrumento a decisão não se sujeita à preclusão imediata. As decisões interlocutórias
propriamente ditas são as que resolvem questões incidentais, ao passo que as decisões
interlocutórias de mérito apreciam o pedido estampado na petição inicial, sem extinguir o processo
ou a sua fase de conhecimento, como é o caso da decisão que julga improcedente liminarmente um
dos pedidos do autor, com base no art. 332 do CPC. As decisões interlocutórias de mérito, no
entanto, tem conteúdo de sentença e por isso fazem coisa julgada material e admitem ação
rescisória, mas o recurso cabível para impugná-las é o agravo de instrumento, conforme o art.
1.015, II, do CPC.
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c) Acórdãos: são as decisões prolatadas por órgão colegiado dos tribunais (câmaras, turmas e
tribunal pleno). Admitem os seguintes recursos: embargos de declaração, embargos de divergência,
recurso ordinário constitucional, recurso especial e recurso extraordinário. Acórdãos finais são os
que extinguem o processo ou o recurso ou a ação de competência originária do tribunal ou o
incidente processual. Exemplo: acórdão de apelação que confirma a sentença. Acórdãos
interlocutórios são os que não extinguem os procedimentos mencionados anteriormente. Exemplo:
acórdão da apelação que anula a sentença e manda o processo prosseguir.
JURISDIÇÃO REVISIVA
A jurisdição revisiva é a que tem por objeto a impugnação de decisões judiciais. Visa modificar
a opção tomada pelo juiz em uma determinada decisão. Referida jurisdição se manifesta de duas
formas:
a) recursos;
b) sucedâneos recursais.
CONCEITO DE RECURSO
Recurso é o meio voluntário de impugnação de decisão judicial, ainda não preclusa, previsto
em lei, disponível às partes, aos terceiros prejudicados e ao Ministério Público, que se desenvolve
dentro do mesmo processo em que se prolatou a decisão recorrida, cujo objetivo é reformá-la,
anulá-la ou aclará-la.
O recurso é um dos instrumentos que provocam a jurisdição revisiva, que é regida pelo
princípio da taxatividade, pois só é possível os recursos previstos em lei, ao passo que a jurisdição
originária, que diz respeito à propositura de ações, é de uma amplitude quase infinita, à medida
que o pedido juridicamente possível é todo aquele que a lei não proíbe, o que enseja uma enorme
possibilidade de ajuizamento de ações.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
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anteriormente. Esta norma só não será aplicada na hipótese de os honorários já terem sido fixados
no patamar máximo.
CARACTERÍSTICAS DO RECURSO
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PRINCÍPIOS RECURSAIS
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De acordo com Barbosa Moreira, as duas situações acima são hipóteses de recursos sem o
duplo grau de jurisdição. Cumpre, porém, registrar a opinião de Nelson Nery Júnior, que trata as
hipóteses como sendo aplicação do princípio do duplo grau, sustentando a caracterização deste
princípio ainda que o reexame da causa seja feito pelo mesmo órgão jurisdicional.
Nas ações de competência originária do Supremo Tribunal Federal, previstas no art. 101 da
CF, não cabe recurso contra o acórdão, salvo os embargos de declaração. Trata-se de uma exceção
ao princípio do duplo grau de jurisdição.
Saliente-se, ainda, que o princípio do duplo grau não está previsto expressamente na
Constituição Federal, e, por isso, segundo alguns autores, a lei poderia estabelecer a
irrecorribilidade de certas sentenças ou decisões. Mas, para outra parcela da doutrina, trata-se de
um princípio constitucional implícito, que decorre da estrutura do Poder Judiciário. Com efeito, os
tribunais são previstos na Constituição Federal, de modo que implicitamente assegura-se a
necessidade dos recursos, que efetivam o princípio do duplo grau. Ademais, o art. 93, IX, da CF
exige que as decisões judiciais sejam fundamentadas. A razão da motivação é estabelecer a ampla
recorribilidade para se concretizar o princípio do duplo grau. Não há necessidade, porém, do triplo
grau, basta o duplo, ou seja, a possibilidade de se impugnar a decisão judicial pelo menos uma vez.
Sobre as vantagens do princípio do duplo grau, destacam-se o controle das decisões e a
correção de eventuais erros. Estes dois benefícios compensam o retardamento do pronunciamento
jurisdicional.
Outro aspecto do princípio do duplo grau é a proibição do tribunal, em grau de recurso,
conhecer de matérias não abordadas pelo juízo recorrido. Assim, em regra, é proibida a supressão
de instância para se preservar os princípios do duplo grau e do juiz natural. Há, entretanto, as
seguintes exceções:
a) no recurso de apelação serão objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as
questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que não tenham sido solucionadas, desde que
o
relativas ao capítulo impugnado (§1 do art. 1.013 do CPC).
b) no recurso de apelação, quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o
o
juiz acolher apenas um deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais (§ 2 do
art. 1.013 do CPC).
c) quando se tratar de matérias de ordem pública, o tribunal pode conhecê-las de ofício.
o
d) no recurso de apelaçao, conforme § 3 do art. 1.013 do CPC, se o processo estiver em
condições de imediato julgamento, o tribunal deve decidir desde logo o mérito.
Finalmente, nas hipóteses de reexame necessário, previstas no art. 496 do CPC, concretiza-se
o duplo grau sem que haja recurso.
PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE
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Em regra, os recursos são julgados por órgãos colegiados, compostos por 3 (três) ou mais
desembargadores ou ministros, viabilizando-se, destarte, o diálogo no processo entre os
magistrados.
Abre-se, no entanto, exceção às hipóteses previstas no art. 932, III, IV e V do CPC, que prevê
as hipóteses de julgamento monocrático.
PRINCÍPIO DA TAXATIVIDADE
Significa que só a lei federal pode criar recurso. De fato, compete exclusivamente à União
legislar sobre processo, e, por consequência, sobre recursos (art. 22, I, da CF).
De acordo com esse princípio, para cada decisão judicial é cabível apenas um tipo de recurso.
Não se admite recursos simultâneos contra a mesma decisão.
Exemplo: se na audiência, o juiz indeferiu a tutela antecipada e ato contínuo prolatou
sentença, caberá agravo de instrumento contra a decisão que indeferiu a tutela antecipada e
apelação em relação à sentença. Se a tutela antecipada tivesse sido apreciada na própria sentença,
só caberia apelação.
Assim, as decisões proferidas na sentença, como concessão de tutela antecipada, são
passíveis apenas de apelação, que é o recurso adequado para impugnar as sentenças.
Finalmente, cumpre apontar três exceções ao princípio da unirrecorribilidade. A primeira
ocorre no acórdão que tem fundamento legal e constitucional, sendo cabível a interposição
simultânea do recurso especial, para impugnar o tópico que afronta a lei, e do recurso
extraordinário, contra o tópico que afronta a Constituição Federal. A segunda refere-se à decisão
denegatória parcial de mandado de segurança de competência originária do tribunal, nesse caso, é
possível interpor simultaneamente o recurso ordinário constitucional contra a parte denegatória e
o recurso especial ou extraordinário em relação à parte que concedeu a ordem. A terceira é a
possibilidade de interposição de embargos de declaração e outro recurso, quando a decisão, a
sentença ou acórdão forem omissos, obscuros ou contraditórios.
PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE
Segundo esse princípio, o recorrente, em seu recurso, não pode ter a sua situação agravada.
Assim, sendo a sucumbência recíproca ou parcial, caso só uma das partes houver recorrido, a
sua situação não pode ser piorada.
Referido princípio é aplicável inclusive ao reexame necessário, inadequadamente chamado
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recurso de ofício, evitando-se, destarte, que seja agravada a situação da Fazenda Pública.
Abrem-se quatro exceções ao princípio em apreço, a saber:
a) matérias de ordem pública: devem ser conhecidas de ofício pelo tribunal, ainda que
agravem a situação do recorrente. Exemplo: a ação é julgada parcialmente procedente, o autor
apela, o tribunal reconhece de ofício a perempção e extingue o processo sem resolução do mérito.
b) teoria da causa madura: quando o juiz extingue o processo sem resolução do mérito e o
autor apela, o tribunal pode julgar a ação improcedente, nos termos do §3º do art. 1.013 do CPC, se
o processo estiver em condições de imediato julgamento.
c) sentença que julga liminarmente improcedente a ação, com base no art. 332 do CPC: se
houver apelação e o tribunal mantiver a improcedência da ação, o autor será condenado aos
honorários advocatícios, que não constavam na sentença anterior.
d) litigância de má-fé do recorrente: o tribunal pode aplicar de ofício, ao recorrente, a pena
de litigância de má-fé.
PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE
1º) dúvida séria e objetiva sobre o tipo de recurso cabível. A dúvida, que justifica a aceitação
de um recurso por outro, pode decorrer de três situações: a) a lei rotula o ato judicial de forma
contrária à sua real natureza. Ocorre quando a lei denomina como sendo sentença uma mera
decisão interlocutória, ou vice-versa, causando dúvida se o recurso cabível seria o agravo de
instrumento ou a apelação; b) o juiz rotula o ato judicial de forma contrária à sua real natureza; c)
quando houver divergência na doutrina e jurisprudência sobre o tipo de recurso cabível.
2º) inexistência de erro grosseiro sobre o recurso cabível. Exemplo: agravar de sentença é
erro grosseiro. Igualmente, apelar de decisões. Em algumas hipóteses, porém, a lei prevê
expressamente o agravo de instrumento contra sentença, como na hipótese de sentença que
decreta falência (art. 100 da lei de falência). Nesse caso, a interposição de apelação seria um erro
grosseiro.
No código anterior, além dos dois requisitos acima, a jurisprudência exigia um terceiro, que
era a interposição do recurso errôneo dentro do prazo previsto para o recurso correto. No CPC
2.015, houve a unificação de todos os prazos recursais que, à exceção dos embargos de declaração,
passaram a ser de 15 (quinze) dias, tornando inócuo esse terceiro requisito.
Ao aplicar o princípio da fungibilidade, o tribunal deve intimar o recorrente para que faça as
adequações ao procedimento do recurso que seria o correto. Exemplo: o tribunal admitiu a
apelação, embora o correto fosse o agravo de instrumento, nesse caso, o recorrente terá que
providenciar a juntada das peças obrigatórias para a formação do respectivo instrumento.
PRINCÍPIO DA COMPLEMENTARIEDADE
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PRINCÍPIO DA CONSUMAÇÃO
De acordo com esse princípio, não se admite a substituição do recurso já interposto, ainda
que dentro do prazo recursal. Assim, se houver a interposição de dois recursos distintos contra a
mesma decisão, prevalecerá o recurso protocolado em primeiro lugar. Trata-se, mais uma vez, da
aplicação da preclusão consumativa.
PERGUNTAS:
1) O que é despacho?
2) Qual a diferença entre despacho e decisão?
3) O servidor do poder judiciário pode despachar sem ordem do juiz?
4) O juiz pode delegar ao servidor a prática de despacho?
5) O despacho é regido pelo princípio inquisitivo ou dispositivo?
6) O despacho é recorrível?
7) O que é decisão interlocutória?
8) A decisão interlocutória é recorrível?
9) A decisão interlocutória que não se enquadra no art. 1.015 do CPC se sujeita à preclusão?
10) Qual a diferença entre decisão interlocutória propriamente dita e decisão interlocutória
de mérito?
11) É cabível apelação das decisões interlocutórias de mérito? E ação rescisória?
12) Qual o recurso cabível contra sentença?
13) Qual a diferença entre sentença e decisão interlocutória?
14) Qual o recurso cabível contra decisão monocrática do relator?
15) O que é acórdão e quais os possíveis recursos para impugná-lo?
16) Qual a diferença entre acórdão final e acórdão interlocutório?
17) Quais as duas formas de jurisdição revisiva?
18) O que é recurso e quais as suas características?
19) Em que hipótese o tribunal majorará os honorários advocatícios fixados anteriormente?
20) Quanto à extensão, como se classificam os recursos?
21) E quanto ao prazo?
22) E quanto à fundamentação?
23) E quanto à finalidade?
24) Quais são os recursos ordinários e quais são os recursos excepcionais ou extraordinários?
25) O que é o princípio do duplo grau de jurisdição?
26) Quais suas exceções?
27) O tribunal pode suprimir um grau de jurisdição?
28) O que é o princípio da colegialidade?
29) O que é o princípio da taxatividade?
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INTRODUÇÃO
O recurso é interposto, em regra, perante o juízo ou tribunal a quo , que é aquele que
proferiu a decisão recorrida. Assim, por exemplo, a apelação deve ser interposta perante o juízo
prolator da sentença, devendo este encaminhá-la ao tribunal, órgão ad quem . Não se pode
interpor a apelação diretamente ao tribunal. Excepcionalmente, porém, interpõe-se recurso
diretamente no tribunal, como ocorre com o agravo de instrumento.
Todavia, para que o recurso seja conhecido, isto é, apreciado, é preciso que preencha os
requisitos de admissibilidade. Assim, conhecer o recurso não é a mesma coisa que provê-lo. O
conhecimento nada mais é do que a análise do cabimento recursal; ao passo que o provimento é o
acolhimento do mérito do recurso.
PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE
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CABIMENTO DO RECURSO
O cabimento tem dois aspectos. O primeiro é que a decisão judicial deve ser passível de
recurso. O segundo é a interposição do recurso correto.
É, pois, mister que haja na lei algum recurso para atacar o ato judicial hostilizado. Tratando-
se, por exemplo, de despacho de mero expediente, não há recurso para impugná-lo.
São irrecorríveis:
a) despachos (art. 1.001 do CPC). São os atos judiciais de mera movimentação do processo
sem qualquer conteúdo decisório. O STJ considera despacho o ato judicial que manda o autor
emendar a petição inicial, bem como a remessa dos autos a outro juízo, em razão de prevenção.
Paira discussão se é despacho ou decisão, o ato judicial que posterga a análise da tutela antecipada
para momento posterior. Uns consideram despacho, pois nada foi decidido; outros tratam como
decisão impugnável pelo agravo de instrumento.
b) decisões interlocutórias. Em regra, também são irrecorríveis, salvo nas hipóteses previstas
no art. 1.015 do CPC.
c) decisão do relator que concede ou indefere liminar em mandado de segurança (súmula 622
do STF).
d) os atos do presidente do tribunal que disponham sobre processamento e pagamento de
precatório (súmula 311 do STJ). Referidos atos não tem natureza jurisdicional e por isso são
irrecorríveis.
Ainda sobre o cabimento, cumpre frisar que se deve interpor o recurso correto. Exemplo: em
regra, a sentença é impugnável através do recurso de apelação e não do agravo de instrumento.
LEGITIMIDADE
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O juiz tem também legitimidade para recorrer nos incidentes processuais em que for parte,
que são os incidentes de suspeição e impedimento. Nesses casos, não precisará de advogado, pois
dispõe de conhecimento técnico.
Entende-se por terceiro a pessoa que não participou do processo, mas cuja relação jurídica
pode ser afetada pela decisão judicial. Trata-se da pessoa que poderia ter ingressado no processo,
seja como assistente ou litisconsorte, mas não ingressou.
O terceiro pode interpor qualquer recurso previsto em lei.
Portanto, pessoas que não foram partes também podem recorrer, quando prejudicadas
juridicamente pelo ato recorrido. Exemplo: licitante de uma arrematação anulada.
O recurso do terceiro deve ter uma preliminar demonstrando o interesse jurídico e o prejuízo
que a decisão judicial lhe ocasionou.
O terceiro prejudicado não é intimado da decisão, de modo que seu prazo recursal é contado
da intimação das partes. Noutras palavras, o terceiro tem o mesmo prazo que as partes têm para
recorrer, sujeitando-se também ao preparo e demais pressupostos recursais.
Quanto ao advogado, pode recorrer em nome próprio, na qualidade de terceiro prejudicado,
para discutir a questão dos honorários de sucumbência, mas a parte também pode interpor recurso
para aumentar o valor dos honorários de sucumbência, defendendo em nome próprio o interesse
do advogado. É uma hipótese de legitimação extraordinária.
Os serventuários eventuais da justiça (perito, tradutor, intérprete, depositário judicial, etc), a
rigor, não podem recorrer, pois não são partes e nem terceiros, isto é, não são titulares de relações
jurídicas conexas com a relação jurídica discutida entre as partes. Admite-se, no entanto, que
recorram em nome próprio da decisão que arbitrou seus honorários, pois são titulares desse direito
material aos honorários. Alguns processualistas sustentam que não é cabível o recurso do perito
para discussão de honorários, pois ele não é parte nem terceiro, de modo que a impugnação
deveria ser feita por ação autônoma.
Finalmente, o Ministério Público também pode recorrer nos processos em que intervém
como parte ou fiscal da ordem jurídica, bem como nos processos em que deveria intervir e não
participou. Nesse último caso, deverá pleitear a nulidade do ato recorrido. Quando atua como fiscal
da ordem jurídica, o Ministério Público poderá recorrer para impugnar decisões ilegais ainda que
elas lhe sejam favoráveis.
INTERESSE RECURSAL
O interesse recursal surge quando houver a necessidade de recorrer para se obter alguma
vantagem.
A necessidade do recurso advém da sucumbência. É, pois, a sucumbência que gera o
interesse de recorrer.
Sucumbência é o prejuízo potencial ou efetivo causado pelo ato judicial do qual se pretende
recorrer.
Este prejuízo pode ser:
a) processual (sucumbência formal): ocorre quando a decisão recorrida violar normas
processuais. Por exemplo, o juiz, erroneamente, prolata sentença terminativa e extingue o
processo sem resolução do mérito, nesse caso, o réu também tem interesse em recorrer para que o
processo prossiga e seja prolatada uma sentença de mérito.
b) material (sucumbência material): é a que decorre do não atendimento de uma expectativa,
justa ou injusta. Assim, como esclarece Vicente Greco Filho, é sucumbente aquele que teve ganho
parcial na causa; aquele que venceu mas teve os honorários fixados em 10%, quando o juiz poderia
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fixar em até 20%; a parte que requereu perícia e a teve indeferida, etc.
A sentença que favorece o autor, mas com julgamento extra petita , também o habilita a
recorrer. Com efeito, diante do prejuízo processual causado pelo risco de anulação desse ato
judicial, surge o interesse de recorrer. Denota-se, portanto, que o prejuízo pode ser tanto
processual quanto material. No exemplo ministrado, não houve prejuízo material, mas prejuízo
processual potencial. Também é possível a sucumbência material sem a sucumbência formal
(exemplo: ação é improcedente, mas sem qualquer erro processual do magistrado).
A sucumbência dever ser analisada em face da parte decisória propriamente dita, e não da
fundamentação. Desde que o pedido tenha sido integralmente acolhido, ainda que a
fundamentação do magistrado divirja dos argumentos da parte vencedora, não há falar-se em
sucumbência, portanto, não se admite recurso com o propósito exclusivo de se alterar a
fundamentação de uma decisão favorável ao recorrente, pois em tal situação o objeto da decisão
não será modificado. Abrem-se duas exceções: ação civil pública e ação popular julgadas
improcedentes por insuficiência de provas. Nessas duas hipóteses, admite-se que a ação seja
ajuizada novamente, por isso, há interesse em recorrer para se alterar o fundamento da sentença,
pois a improcedência por outros fundamentos, que não seja a insuficiência de provas, impede que a
ação seja proposta de novo. O interesse recursal, nesses casos, é a segurança jurídica.
Se o autor formula pedido alternativo, não poderá recorrer da sentença que acolher um
deles, pois não havia preferência por um ou outro pedido. Se, no entanto, formular pedido
subsidiário, poderá recorrer caso a sentença acolha o segundo pedido.
A sucumbência pode ser parcial ou total. A sucumbência parcial é também recíproca ou
bilateral, pois acaba atingindo ambas as partes, habilitando-as à interposição dos recursos.
São dois os fatos que extinguem o direito de recorrer, ou seja, que geram a perda do direito
de interpor recurso. São eles: a renúncia e a aquiescência.
O sistema processual brasileiro é pautado por preclusões. Cada ato processual dever ser
praticado no momento adequado, sob pena de a parte não poder mais praticá-lo.
Preclusão é a perda de um direito ou faculdade processual pelo seu não exercício no tempo,
ou, então, por já ter sido exercido, ou, ainda, pela prática de algum ato incompatível com a postura
anterior.
Assim, a preclusão processual desdobra-se em três:
a) preclusão temporal: é a perda do direito ou faculdade processual pelo seu não exercício no
tempo. Esta preclusão gera a intempestividade do recurso.
b) preclusão consumativa: consiste no exercício efetivo do direito ou faculdade processual. Se,
por exemplo, o réu contestar no segundo dia do prazo, não poderá ofertar nova contestação no dia
seguinte. Igualmente, o recorrente não pode recorrer duas vezes da mesma decisão, por força do
princípio da unirrecorribilidade. Ao apelar da sentença no primeiro dia do prazo, não poderá apelar
novamente, ou aditar a apelação, no dia seguinte.
c) preclusão lógica: consiste na prática de um ato processual incompatível com o direito ou
faculdade processual a ser exercido. Exemplos: renúncia e aquiescência do direito de recorrer.
A renúncia é o ato pelo qual a parte manifesta sua vontade de não recorrer. Ela ocorre antes
da interposição do recurso, podendo ser total ou parcial.
A renúncia é um ato unilateral, pois independente da aceitação da outra parte (art.999 do
CPC). Todavia, em caso de litisconsórcio unitário, a renúncia só surtirá efeitos mediante a
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TEMPESTIVIDADE
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Cumpre não confundir suspensão e impedimento. Este último obsta o início do prazo, ao
passo que a suspensão é uma paralisação do prazo que já estava em curso.
c) legais: estipulados exclusivamente pela lei. O juiz e as partes não podem fixar prazos
recursais. À exceção dos embargos de declaração, cujo prazo é de 5 (cinco) dias, os demais recursos
devem ser interpostos dentro do prazo de 15 (quinze) dias (§5º do art. 1003 do CPC). Só se
computam os dias úteis para todos os prazos processuais (art.219 do CPC).
d) comuns: iguais para ambas as partes. Entretanto, o Ministério Público, Defensoria Pública e
a Fazenda Pública desfrutam de prazo em dobro para todas as suas manifestações processuais,
inclusive, em relação aos recursos (arts.180, 183 e 186 do CPC). O Ministério Público, a Defensoria
Pública e a Fazenda Pública são intimados pessoalmente, portanto, o início do prazo é a data do
recebimento dos autos e não a data da ciência do ato judicial. Acrescente-se, ainda, que, no caso de
litisconsórcio ativo ou passivo, com diferentes procuradores, de escritórios de advocacia distintos, o
prazo para recorrer também será em dobro, conforme preceitua o art. 229 do CPC, mas se só um
dos litisconsortes sucumbiu, ele terá prazo normal para recorrer (súmula 641 do STF), igualmente
se mais de um sucumbiu, mas o advogado for o mesmo ou os advogados, embora distintos,
pertencerem ao mesmo escritório de advocacia. Os litisconsortes também não terão prazo em
dobro nos processos em autos eletrônicos (§2º do art. 229 do CPC).
Sobre a contagem do prazo, inicia-se no primeiro dia útil seguinte à intimação, que não é
pessoal e, sim, através da imprensa na pessoa do advogado. Quando a sentença ou decisão for
prolatada na audiência, reputa-se realizada a intimação na própria audiência, ainda que a parte não
tenha comparecido à audiência (§1º do art. 1003 do CPC).
Quando a intimação for através de meio eletrônico, a publicação será considerada feita no
primeiro dia útil seguinte à disponibilização da informação no Diário Oficial Eletrônico (art. 4º, §§3º
e 4º, d lei 11.419/2006).
Nos processos não eletrônicos, a petição recursal será protocolada em cartório ou conforme
as normas de organizaçao judiciária, até antes do encerramento do expediente de protocolo. Não
se admite o protocolo de recurso, após o fim do expediente, no plantão judiciário. Quanto ao
recurso remetido pelo correio, será considerada como data de interposição a data de postagem
(§4º do art. 1003 do CPC). Portanto, encontra-se cancelada a súmula 216 do STJ, segundo a qual o
recurso interposto pelo correito que não chegasse no protocolo dentro do prazo seria
intempestivo. Em princípio, o recurso deve ser protocolado até o último dia do prazo e dentro do
horário do expediente de protocolo, mas no caso de interposição pela internet ou correio, será
tempestivo se chegar até o último minuto do último dia do prazo.
A lei 11.419/2006, que regula o processo eletrônico, permite a interposição de recurso pela
internet, mas depende de o tribunal estar informatizado.
Finalmente, recurso prematuro é o interposto antes da intimação da decisão recorrida. De
acordo com o §4º do art. 218 do CPC, será considerado tempestivo o ato praticado antes do termo
inicial do prazo. No CPC anterior este recurso era tido como intempestivo. Ora, com a interposição
do recurso, a parte se dá por intimada e por isso o recurso não deveria ser considerado
intempestivo. O CPC 2015 solucionou o problema para considerá-lo tempestivo.
PREPARO
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O preparo deve ser comprovado de imediato no ato da interposição do recurso, sob pena de
deserção. Com efeito, dispõe o art. 1.007, caput, do CPC: No ato de interposição do recurso, o
recorrente comprovará, quando exigido pela legislação pertinente, o respectivo preparo, inclusive
porte de remessa e de retorno, sob pena de deserção .
No juizado especial, porém, a parte tem 48 (quarenta e oito) horas, a contar da interposição,
para comprovar o preparo (art. 42, §1º, da lei 9.099/95). Na justiça federal, a Lei de Custas também
admite a comprovação do preparo após a interposição do recurso, no prazo de 05 (cinco) dias após
a intimação para esse fim, quando se tratar de recurso que se desenvolve nos próprios autos, como
é o caso da apelação (art. 14, II, da lei 9.289/96).
Deserção é o não recebimento do recurso em razão da falta do preparo.
A ausência do preparo, entretanto, não implicará em deserção automática, mas sim no seu
o
recolhimento em dobro, sob pena de deserção. É o que dispõe o § 4 do art. 1.007 do CPC: O
recorrente que não comprovar, no ato de interposição do recurso, o recolhimento do preparo,
inclusive porte de remessa e de retorno, será intimado, na pessoa de seu advogado, para realizar o
recolhimento em dobro, sob pena de deserção". Nesse caso, se o recolhimento for incorreto não
o
haverá oportunidade para complementação do depósito. De fato, preceitua o § 5 do art. 1.007 do
CPC: É vedada a complementação se houver insuficiência parcial do preparo, inclusive porte de
o
remessa e de retorno, no recolhimento realizado na forma do § 4 .
Por outro lado, quando houver insuficiência do depósito, o recorrente deve ser intimado na
o
pessoa de seu advogado para completá-lo em 5 dias (§ 2 do art. 1.007 do CPC). Qualquer que seja
o valor recolhido, se for inferior, o recorrente deverá ser intimado para complementá-lo. Ele tem o
direito subjetivo de complementar o preparo.
o o
No Juizado Especial, também se aplica os §§ 2 e 4 do art. 1.007 do CPC (Enunciado 98 do
Fórum Permanente de Processualistas Civis).
o
Cumpre esclarecer que, de acordo com o § 6 do art. 1.007 do CPC, provando o recorrente
justo impedimento, o relator relevará a pena de deserção, por decisão irrecorrível, fixando-lhe
prazo de 5 (cinco) dias para efetuar o preparo. Exemplo: greve bancária).
Quanto ao equívoco no preenchimento da guia de custas, não implicará a aplicação da pena
de deserção, cabendo ao relator, na hipótese de dúvida quanto ao recolhimento, intimar o
o
recorrente para sanar o vício no prazo de 5 (cinco) dias (§ 7 do art. 1.007 do CPC).
Por outro lado, são dispensados de preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, os
recursos interpostos pelo Ministério Público, pela União, pelo Distrito Federal, pelos Estados, pelos
Municípios, e respectivas autarquias, e pelos que gozam de isenção legal, que são os beneficiários
o
da justiça gratuita (§ 1 do art. 1.007 do CPC). Quanto aos Conselhos de Fiscalização Profissional,
embora sejam autarquias, têm que pagar as custas (art. 4º da lei 9.289/96).
A regularidade procedimental consiste nas formalidades mínimas exigidas para todo recurso.
São as seguintes:
a) todo recurso, inclusive no Juizado Especial, deve ser subscrito por advogado. A única
exceção é quando o próprio juiz recorre do acórdão que julgou o incidente de suspeição ou
impedimento. É claro que o Ministério Público também pode recorrer, pois ele tem capacidade
postulatória.
b) todo recurso deve ser interposto por petição escrita. É vedado o recurso oral ou por cota
nos autos. No Juizado Especial, contudo, os embargos declaratórios podem ser orais quando a
sentença for prolatada na audiência.
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a até dez por cento sobre o valor atualizado da causa, e a interposição de qualquer recurso ficará
condicionada ao depósito prévio do valor da multa, à exceção da Fazenda Pública e do beneficiário
o
de gratuidade da justiça, que a recolherão ao final (§ 3 do art. 1.026 do CPC).
PERGUNTAS:
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a) o error in procedendo ;
b) o error in judicando .
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decisão ou sentença, o tribunal deverá de ofício analisar essas matérias, pois elas não se sujeitam à
preclusão.
d) efeito regressivo: é o que propicia o reexame da matéria pelo próprio órgão a quo ,
ensejando o juízo de retratação ou revisão. Apenas alguns recursos são dotados de efeito
regressivo. Exemplo: apelação das sentenças do Juízo da Infância e Juventude. Outro exemplo:
apelação das sentenças terminativas. Mais um exemplo: apelação contra sentença que julgou
liminarmente improcedente a ação.
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um outro recurso. É o caso do recurso adesivo, pois só será julgado se o recurso principal for
conhecido.
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h) efeito expansivo: ocorre quando o julgamento do recurso extrapola os limites do que foi
impugnado, atingindo outros capítulos da sentença ou outros atos processuais ou ainda partes do
processo que não figuram como partes no recurso. O efeito expansivo não é julgamento extra-
petita, mas uma consequência lógica do que foi decidido no recurso.
O efeito expansivo pode ser:
a) objetivo interno: o julgamento do recurso atinge capítulos da sentença que não foram
atacados no recurso, mas que não podem sobreviver, pois se revelam incompatíveis com a nova
decisão. Assim, o provimento do recurso gera o cancelamento de decisões que dependiam da
decisão reformada. Exemplo: provido o recurso para julgar improcedente a ação de investigação de
paternidade, cessam automaticamente os alimentos, ainda que não requerido expressamente o seu
cancelamento.
b) objetivo externo: o julgamento do recurso atinge outros atos processuais. Exemplo:
provido o recurso para se reformar a sentença, cancela-se automaticamente a liminar e a execução
provisória.
c) subjetivo: o julgamento do recurso atinge sujeitos que não recorreram. Exemplo: provido o
recurso de um dos litisconsortes, os demais se beneficiam, quando se tratar de litisconsórcio
unitário, outrossim, no litisconsórcio simples, quando a tese versar sobre matéria comum, o
provimento do recurso de um deles beneficia todos os demais. Quando houver solidariedade
passiva, o recurso interposto por um devedor aproveitará aos outros, quando as defesas opostas ao
credor lhes forem comuns (parágrafo único do art. 1.005 do CPC).
i) efeito substitutivo: ocorre quando o recurso é conhecido e julgado no mérito, de modo que
o acórdão substituirá a decisão recorrida. Nesse caso, o título executivo judicial será o acórdão e
não a decisão recorrida. A eventual ação rescisória será para impugnar o acórdão, pois ele substitui
a sentença. Este efeito é previsto no art. 1.008 do CPC que dispõe: o julgamento proferido pelo
tribunal substituirá a decisão impugnada no que tiver sido objeto de recurso .
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j) efeito anulatório: ocorre quando o recurso é conhecido e decidido no mérito, mas apenas
para se anular a decisão recorrida, sem substituí-la, determinando-se o prosseguimento do feito.
SUCEDÂNEOS RECURSAIS
Sucedâneos recursais são os outros meios de impugnação de decisões judiciais. Podem ser:
a) sucedâneos recursais internos: desenvolvem-se dentro do mesmo processo em que se
prolatou a decisão hostilizada. São eles: reexame necessário, correição parcial, pedido de
reconsideração, pedido de suspensão de decisão judicial endereçada ao Presidente do Tribunal e
outros.
b) sucedâneos recursais externos: desenvolvem-se em processo distinto daquele em que se
prolatou a decisão impugnada. São as chamadas ações autônomas de impugnação. São elas: ação
rescisória, ação anulatória de ato judicial, ação de querella nullitatis , reclamação constitucional,
mandado de segurança contra ato judicial, embargos de terceiros, embargos à execução e outros.
Reexame necessário é o dever do juiz remeter de ofício certas sentenças para o tribunal
reexaminá-las. É o duplo grau obrigatório. É incorretamente chamado de recurso de ofício ou
recurso obrigatório. Não se trata de recurso, a expressão é infeliz. De fato, a interposição não é
voluntária, não há prazo, não é dialético (não tem fundamentação) e não é qualificado pela lei
como recurso. Ademais, o recurso é disponível às partes, ao terceiro prejudicado e ao Ministério
Público, o juiz não tem legitimidade para recorrer.
Trata-se de requisito de eficácia algumas sentenças. De fato, não transita em julgado as
referidas sentenças por haverem omitido o recurso ex officio, que se considera interposto ex lege
(súmula 423 do STF).
De acordo com o art. 496 do CPC, está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo
efeito senão depois de confirmada pelo tribunal, a sentença:
I - proferida contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas
autarquias e fundações de direito público;
II - que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução fiscal.
Também se sujeita ao reexame necessário a sentença que julga improcedente ou extinta sem
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resolução do mérito a ação popular (art. 17 da lei 4.717/65), outrossim, a sentença que concede
mandado de segurança (art. 14, §1º, da lei 12.016/2009).
Nos casos acima, não interposta a apelação no prazo legal, o juiz ordenará a remessa dos
autos ao tribunal, e, se não o fizer, o presidente do respectivo tribunal avocá-los-á.
o
De acordo com § 3 do art. 496 do CPC, não se aplica a remessa necessária quando a
condenação ou o proveito econômico obtido na causa for de valor certo e líquido inferior a:
I - 1.000 (mil) salários-mínimos para a União e as respectivas autarquias e fundações de
direito público;
II - 500 (quinhentos) salários-mínimos para os Estados, o Distrito Federal, as respectivas
autarquias e fundações de direito público e os Municípios que constituam capitais dos Estados;
III - 100 (cem) salários-mínimos para todos os demais Municípios e respectivas autarquias e
fundações de direito público.
o
O § 4 do art. 496 do CPC também acrescenta que não se aplica a remessa necessária quando
a sentença estiver fundada em:
I - súmula de tribunal superior;
II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em
julgamento de recursos repetitivos;
III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de
assunção de competência;
IV - entendimento coincidente com orientação vinculante firmada no âmbito administrativo
do próprio ente público, consolidada em manifestação, parecer ou súmula administrativa.
Nada obsta, porém, que nestas hipóteses a Fazenda Pública apresente recurso voluntário.
Por outro lado, a sentença que condena empresa pública ou sociedade de economia mista
também não se sujeita ao reexame necessário, pois referidos entes são pessoas jurídicas de direito
privado.
Conforme já dito, a remessa necessária não é recurso. É, no entanto, similar e por isso deve
observar várias regras recursais. Com efeito, no reexame necessário, é defeso, ao tribunal, agravar
a condenação imposta à Fazenda Pública, conforme súmula 49 do STJ, que proíbe a reformatio in
pejus . A remessa oficial devolve ao tribunal o reexame de todas as parcelas da condenação
suportada pela Fazenda Pública, inclusive dos honorários de advogado, segundo súmula 325 do STJ,
de modo que, ainda que a sentença esteja correta no mérito, o tribunal pode reduzir os honorários
advocatícios. O efeito devolutivo é total, ainda que haja recurso voluntário parcial da Fazenda
Pública. A Súmula 390 do STJ, porém, dispõe que não cabem embargos infringentes contra acórdão
não unânime proferido em reexame necessário. Os embargos infringentes foram extintos pelo novo
CPC e substituídos pela técnica de julgamento do art. 942 do CPC que, no entanto, não se aplica à
remessa necessária (§4º do art.942 do CPC).
Finalmente, a sentença arbitral contra a Fazenda Pública não está sujeita à remessa
necessária.
CORREIÇÃO PARCIAL
A correição parcial é uma medida administrativa de natureza disciplinar que visa punir o juiz
que tumultua o andamento do processo.
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É prevista no art. 6º, I, da lei 5.010/1996, que regula a organização judiciária da justiça
federal. Trata-se de uma lei federal em sentido estrito, pois aplica-se apenas à União. Não é uma lei
nacional ou federal em sentido amplo.
É ainda prevista no Código Judiciário do Estado de São Paulo com o objetivo de punir o juiz.
Não se trata de recurso, pois não é disciplinada em lei nacional.
No processo civil, às vezes é usada de forma distorcida, como recurso, contra despacho de
mero expediente que tumultua a marcha processual. Na prática, a correição parcial é também
usual quando o juiz se omite e não prolata decisão alguma.
Na área trabalhista e no processo penal, as decisões interlocutórias, em regra, são
irrecorríveis e por isso a correição parcial é utilizada para se tentar o reexame da decisão, como se
fosse um recurso, desvirtuando-se da sua verdadeira função, que é a de punir administrativamente
o juiz. Diante da irrecorribilidade das decisões interlocutórias no CPC 2.015, provavelmente os
advogados também tentarão fazer desta medida um recurso.
Resumidamente, pode se afirmar que não é recurso, pois não é prevista em lei nacional.
Ademais, o seu objetivo não é o reexame da decisão judicial e, sim, a punição disciplinar do
magistrado.
PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO
O pedido de reconsideração é o que visa provocar a retratação do juiz em sua decisão. Não é
previsto em lei. Portanto, não se trata de recurso. É usualmente empregado pelos advogados e
aceito pela jurisprudência. Sua interposição não interrompe, nem suspende o prazo recursal. Por
consequência, para se precaver da preclusão, a parte que interpõe o pedido de reconsideração
deve também, por cautela, protocolar o recurso eventualmente cabível, pois se o juiz não se
retratar, a decisão se torna preclusa após o prazo recursal.
Os embargos infringentes do art. 34 da lei 6.830/80, classificado nessa lei como recurso
co t a se te ças de at 50 OTN’s, di igido ao p óp io juízo de p i ei o g au, ada ais ue u
pedido de reconsideração, que a lei rotulou como sendo recurso.
Nessa hipótese acima, como se vê, o pedido de reconsideração é previsto em lei.
RECLAMAÇÃO
CONCEITO
LEGISLAÇÃO APLICÁVEL
NATUREZA JURÍDICA
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Quanto à sua natureza jurídica, trata-se de ação e não de recurso, tanto é que é cabível até
mesmo contra atos administrativos. De acordo com a posição dominante, a reclamação é uma ação
que se caracteriza como sendo sucedâneo recursal, sendo que uma posição minoritária a classifica
como incidente processual.
LEGITIMIDADE ATIVA
A reclamação pode ser interposta pela parte interessada e pelo Ministério Público, ainda que
figure como fiscal do ordenamento jurídico.
Entende-se por parte interessada tanto aquela que participa do processo quanto o terceiro
cujo interesse foi afetado pela decisão.
COMPETÊNCIA
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o
É também cabível a reclamação, conforme § 5 do art. 988 do CPC, para garantir a
observância de acórdão de recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida ou acórdão
proferido em julgamento de recursos extraordinário ou especial repetitivos, desde que esgotadas
as instâncias ordinárias recursais.
CABIMENTO DE RECURSO
Caso a parte tenha recorrido da decisão que usurpou competência do tribunal ou violou suas
decisões, o julgamento desfavorável ao recurso não impede a propositura da reclamação. Não há
falar-se em preclusão, por força do §6º do art. 988.
Assim, a inadmissibilidade do recurso ou o julgamento desfavorável do recurso pelo órgão
reclamado não impede que, depois, a parte ingresse com a reclamação.
Noutras palavras, o fato de caber recurso não impede o cabimento da reclamação. A mesma
decisão pode ser impugnada simultaneamente ou sucessivamente através de recurso e de
reclamação, que são duas vias de impugnação, autônomas e independentes.
PROCEDIMENTO
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PERGUNTAS:
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34) Quando não houver reexame necessário, a Fazenda Pública pode recorrer
voluntariamente?
35) Quais as normas sobre recurso que se aplicam ao reexame necessário?
36) No reexame necessário é cabível a técnica de julgamento?
37) Explique a correição parcial.
38) Explique o pedido de reconsideração.
39) O que é reclamação?
40) Qual a sua natureza jurídica?
41) Quem tem legitimidade para interpô-la?
42) Quem é competente para o julgamento?
43) A quem é direcionada a reclamação?
44) Quais as hipóteses de cabimento?
45) É cabível quando se violar súmulas do STF ou STJ?
46) Qual o prazo para propô-la?
47) É possível a reclamação para impugnar decisão judicial que já foi objeto de recurso, cujo
provimento foi negado?
48) Explique o procedimento da reclamação.
49) Quem pode impugnar o pedido do reclamante?
50) Ao julgar procedente a reclamação, o que acontece?
51) Quem manda cumprir a decisão que julgou procedente a reclamação?
52) O acórdão que julga procedente a reclamação deve ser lavrado imediatamente?
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