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INFORMATIVO esquematizado

Informativo 520 – STJ


Márcio André Lopes Cavalcante
Obs: não foram incluídos neste informativo esquematizado os julgados de menor relevância para concursos
públicos ou aqueles decididos com base em peculiaridades do caso concreto. Caso seja de seu interesse
conferi-los, os acórdãos excluídos foram os seguintes: REsp 1.150.429-CE; REsp 1.220.934-RS; RMS 38.359-SE;
REsp 1.357.139-DF; AgRg no REsp 1.090.784-DF; REsp 1.331.548-RJ; REsp 1.124.133-RJ; REsp 1.133.338-SP.

DIREITO ADMINISTRATIVO

Concurso público (teste físico e candidata grávida)

O STF e o STJ possuíam posição consolidada no sentido de que era permitida a remarcação de teste
de aptidão física em concurso público com o objetivo de proporcionar a participação de candidata
comprovadamente grávida, ainda que o edital não contivesse previsão nesse sentido.

Ocorre que, no dia 15/5/2013, o Plenário do STF, ao julgar o RE 630733/DF (rel. Min. Gilmar
Mendes), em regime de repercussão geral, decidiu, de forma genérica, que os candidatos em
concurso público NÃO têm direito à prova de segunda chamada nos testes de aptidão física em
razão de circunstâncias pessoais, ainda que de caráter fisiológico ou de força maior, salvo se
houver previsão no edital permitindo essa possibilidade.

No RE 630733/DF não foi discutido especificamente o caso de uma candidata gestante, mas sim
o de um candidato que apresentava problema de saúde. Após este acórdão, nem o STF nem o
STJ tiveram a oportunidade de decidir novamente um processo envolvendo concurso público e
remarcação da prova por conta de gravidez. Assim, será necessário aguardar para saber se a
gestante continua ou não tendo direito de remarcação da prova física.
Comentários Se, na data marcada para o teste físico do concurso público, a candidata estiver gestante e,
com isso, impossibilitada de participar, ela terá direito de fazer prova em outro dia, mesmo
que não haja previsão no edital autorizando?

Posição tradicional do STF e STJ:


SIM. No caso de gravidez, tanto o STF como o STJ entendiam, de forma tranquila, que era
possível a remarcação de teste de aptidão física em concurso público com o objetivo de
proporcionar a participação de candidata comprovadamente grávida, ainda que o edital não
contivesse previsão nesse sentido.
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Precedentes: STJ. 6ª Turma. RMS 31.505-CE, julgado em 16/8/2012; STF. 1ª Turma. AI 825545
Página

AgR, julgado em 13/04/2011.

www.dizerodireito.com.br
Possível mudança de entendimento:
No dia 15/5/2013, o Plenário do STF, ao julgar o RE 630733/DF (rel. Min. Gilmar Mendes),
em regime de repercussão geral, decidiu que os candidatos em concurso público NÃO têm
direito à prova de segunda chamada nos testes de aptidão física em razão de circunstâncias
pessoais, ainda que de caráter fisiológico ou de força maior, salvo se houver previsão no
edital permitindo essa possibilidade.

Houve, portanto, uma alteração na jurisprudência do STF?


Sim. Foi uma guinada na jurisprudência do STF, o que, por certo, irá também influenciar no
entendimento do STJ:
Antes Atualmente
STF entendia ser possível a remarcação do Os candidatos em concurso público NÃO
teste físico do candidato no concurso, têm direito à prova de segunda chamada
desde que devidamente comprovado nos testes de aptidão física em razão de
motivo de força maior que afetasse a sua circunstâncias pessoais, ainda que de
higidez física. Isso seria permitido mesmo caráter fisiológico ou de força maior, salvo
que o edital do certame proibisse se houver previsão no edital permitindo
expressamente. essa possibilidade.

Mesmo no caso da candidata grávida?


Acredito que sim. Como já explicado acima, há precedentes recentes do STF e do STJ permitindo
a remarcação das provas físicas para os casos de candidata grávida, mas penso que, com esta
nova decisão do Pleno (em sede de repercussão geral), está superado o entendimento já que
não foi feita qualquer ressalva no julgamento para situações de gravidez.
Assim, em minha opinião, o STF e o STJ não irão mais admitir remarcação de teste físico para
candidatos em concurso público, incluindo gestantes.

No caso concreto noticiado neste informativo, o STJ afirmou que “é possível a remarcação de
teste de aptidão física em concurso público com o objetivo de proporcionar a participação de
candidata comprovadamente grávida, ainda que o edital não contenha previsão nesse sentido”.
Ocorre que esta decisão do STJ foi proferida em 21/3/2013, antes, portanto, do novo
entendimento do Plenário do STF construído no RE 630733/DF, de 15/5/2013.
Após a decisão do STF, nem o STF nem o STJ tiveram a oportunidade de decidir novamente
um processo envolvendo concurso público e remarcação da prova por conta de gravidez.
Dessa forma, será necessário aguardar para se ter certeza se a gestante continua ou não
tendo direito de remarcação da prova física, mas penso que não.
Ação judicial Como vimos acima, o entendimento majoritário atualmente é o de que os candidatos em
pleiteando a concurso público NÃO têm direito à prova de segunda chamada nos testes de aptidão física
remarcação em razão de circunstâncias pessoais, ainda que de caráter fisiológico ou de força maior,
do teste salvo se houver previsão no edital permitindo essa possibilidade.
físico não é
pedido Se, mesmo com esta posição jurisprudencial contrária, a pessoa decidir ajuizar uma ação
jurídica- pleiteando a remarcação de seu teste físico em concurso público, o juiz poderá deixar de
mente apreciar este pedido, extinguindo o processo sem resolução do mérito, sob o argumento de
impossível que se trata de pedido juridicamente impossível?
NÃO. Não é possível a extinção do processo sem resolução do mérito por impossibilidade
jurídica do pedido (art. 267, VI, do CPC), tendo em vista que, a partir da análise da pretensão
deduzida e independentemente de qualquer juízo de valor acerca do enquadramento da
situação narrada como apta a caracterizar a alegada força maior, deve-se concluir que se
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trata, efetivamente, de pedido passível de apreciação pelo Poder Judiciário (STJ. 2ª Turma.
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REsp 1.293.721-PR, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 4/4/2013).


Processo STJ. 2ª Turma. RMS 37.328-AP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 21/3/2013.

INFORMATIVO esquematizado
Responsabilidade civil do Estado no caso de suicídio de preso é objetiva
A Administração Pública está obrigada ao pagamento de pensão e indenização por danos
morais no caso de morte por suicídio de detento ocorrido dentro de estabelecimento prisional
ATENÇÃO mantido pelo Estado.
Nessas hipóteses, não é necessário perquirir eventual culpa da Administração Pública.
Na verdade, a responsabilidade civil estatal pela integridade dos presidiários é OBJETIVA.
Comentários Caso uma pessoa que esteja presa cometa suicídio, o Estado terá o dever de indenizar seus
familiares? Em caso positivo, qual seria o tipo de responsabilidade?
SIM. O Estado tem o dever de indenizar os familiares do preso que cometeu suicídio dentro
de uma unidade prisional.

Para a jurisprudência do STF e do STJ, trata-se de responsabilidade civil OBJETIVA.

Assim, os familiares do preso, para serem indenizados, não precisarão provar eventual
culpa/omissão da Administração Pública em caso de suicídio de detento, já que a
responsabilidade civil estatal pela integridade dos presidiários é objetiva em face dos riscos
inerentes ao meio em que eles estão inseridos por uma conduta do próprio Estado.

Há precedente recente do STF no mesmo sentido: ARE 700927 AgR, Rel. Min. Gilmar
Mendes, Segunda Turma, julgado em 28/08/2012.

O Min. Gilmar Mendes, em seu voto, foi bastante claro:


“o Estado tem o dever objetivo de zelar pela integridade física e moral do preso sob sua
custódia, atraindo, então, a responsabilidade civil objetiva, em razão de sua conduta
omissiva, motivo pelo qual é devida a indenização decorrente da morte do detento, ainda
que em caso de suicídio.”
Este tema é bastante explorado nos concursos públicos, tendo sido cobrado este ano na
prova do CESPE de Juiz Federal do TRF da 3ª Região. Confira:
Conforme jurisprudência do STF, no caso de suicídio de detento que esteja sob a custódia do
sistema prisional, configurar-se-á a responsabilidade do Estado na modalidade objetiva,
devido a conduta omissiva estatal. (alternativa CORRETA)
Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.305.259-SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 2/4/2013.

DIREITO ADMINISTRATIVO/EDUCACIONAL
Revalidação de diploma estrangeiro
É legal a exigência feita por universidade, com base em resolução por ela editada, de prévia
aprovação em processo seletivo como condição para apreciar pedido de revalidação de
diploma obtido em instituição de ensino estrangeira.
Comentários O registro de diploma estrangeiro no Brasil está submetido a prévio processo de
revalidação, segundo o regime previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira
(art. 48, § 2º, da Lei 9.394/1996).
Não existe qualquer dispositivo legal que proíba a universidade de exigir um processo
seletivo para aceitar o pedido de revalidação de diploma, além do que isso está inserido na
autonomia didático-científica e administrativa da Instituição (art. 53, V, da Lei 9.394/1996 e
art. 207 da CF/88).
Portanto, desde que observados os requisitos legais e os princípios constitucionais, deve-se
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garantir às universidades a liberdade para editar regras específicas acerca do procedimento


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destinado à revalidação de diplomas expedidos por universidades estrangeiras.


Processo STJ. 1ª Seção. REsp 1.349.445-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 8/5/2013.

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DIREITO CIVIL

Responsabilidade civil dos bancos por compensação de cheque adulterado

O banco responde objetivamente pelos danos causados ao correntista por conta da compensação
de cheque falsificado (sem culpa do cliente), ainda que a falsificação seja sofisticada.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética (baseada no caso concreto):
João comprou uma mercadoria na loja e pagou com um cheque de 50 reais.
No mês seguinte, o consumidor foi surpreendido com a compensação do cheque em sua
conta no valor de 5.000 reais.
Ficou comprovado que a loja, para obter capital de giro, cedeu o cheque a um terceiro.
Este, sem que a loja soubesse, foi o responsável pela adulteração do valor do cheque e por
sua apresentação.
Vale ressaltar que ficou demonstrado que a falsificação do cheque foi sofisticada e somente
poderia ter sido percebida por aparelhos especializados de grafotécnica (é o chamado “falso
hábil”).

João ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais contra o banco.

O banco possui responsabilidade civil sobre o prejuízo causado a João?


SIM.

O parágrafo único do art. 39 da Lei n. 7.357/85 (Lei do Cheque) estabelece que: “o banco
sacado responde pelo pagamento do cheque falso, falsificado ou alterado, salvo dolo ou
culpa do correntista, do endossante ou do beneficiário, dos quais poderá o sacado, no todo
ou em parte, reaver a que pagou”.

Assim, doutrina e o STJ afirmam que os bancos possuem responsabilidade OBJETIVA pelo
pagamento de cheque falso, falsificado ou alterado, a qual somente é elidida pela culpa
exclusiva do próprio correntista, do endossante ou do beneficiário.

Com base neste dispositivo e no CDC, podemos assim sintetizar a responsabilidade dos
bancos no caso de cheque falso ou falsificado:

RESPONSABILIDADE DOS BANCOS NO CASO DE CHEQUE FALSO OU FALSIFICADO


Aplica-se a súmula 479-STJ:
As instituições financeiras respondem
objetivamente pelos danos gerados por
O banco faz o pagamento do
fortuito interno relativo a fraudes e
cheque habilmente falsificado
delitos praticados por terceiros no
1 sem que o correntista tenha
âmbito de operações bancárias.
Inexistindo qualquer parcela de culpa no
culpa do evento danoso.
A falsificação promovida por terceiro é
correntista
considerada fortuito interno (fato
(cliente) Ex: cheque falsificado por
ligado aos riscos da atividade
terceiros sem a participação do
desenvolvida pelo fornecedor). Isso
correntista (situação de João).
porque o banco tem o dever contratual
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de gerir com segurança as


movimentações bancárias dos clientes.

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A conduta do cliente foi a causa A responsabilidade do banco é
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eficiente da ocorrência do dano. excluída (art. 39, da Lei 7.357/1985
Culpa
Ex: o cheque foi falsificado pelo c/c o art. 14, § 3º, II, do CDC).
exclusiva do
próprio correntista ou por Cabe ao banco o ônus de provar a
cliente
terceiro a seu mando. culpa exclusiva do correntista.
O banco continua tendo
Ocorre quando a conduta do
responsabilidade pelo dano, no
cliente foi uma concausa do
3 entanto, a culpa do cliente servirá
evento danoso.
Culpa para compensar (atenuar) o valor a
O cliente contribuiu, de alguma
concorrente ser pago pela instituição financeira.
forma, para que a falsidade
Cabe ao banco alegar e provar a
existisse.
concorrência de culpa.

As conclusões expostas no quadro acima a atual “leitura” que deve ser feita da Súmula 28
do STF: O estabelecimento bancário é responsável pelo pagamento de cheque falso,
ressalvadas as hipóteses de culpa exclusiva ou concorrente do correntista.

Na época em que a Súmula 28 foi editada (década de 60), o entendimento era o de que a
culpa concorrente do cliente possibilitava o afastamento da responsabilidade bancária. Tal
posição, atualmente, não é mais aceita, servindo a culpa concorrente, no máximo, como
fator de atenuação do montante indenizatório.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.093.440-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/4/2013.

Cooperativa (responsabilidade dos cooperados)

A distribuição aos cooperados dos eventuais prejuízos da cooperativa deve ocorrer de forma
proporcional à fruição, por cada um deles, dos serviços prestados pela entidade, ainda que
haja alteração do estatuto por deliberação da Assembleia Geral Ordinária determinando que a
distribuição dos prejuízos seja realizada de forma igualitária.
Comentários Imagine a seguinte situação:
Determinada cooperativa de médicos teve prejuízo em dois anos seguidos (2003 e 2005).
A Assembleia Geral Ordinária (AGO) da cooperativa decidiu alterar o estatuto social e
efetuar o rateio desse prejuízo de forma igualitária entre todos os cooperados, e não de
modo proporcional aos serviços por eles usufruídos.

A AGO poderia ter alterado o estatuto social da cooperativa?


NÃO. A alteração do estatuto social de uma sociedade cooperativa é de competência
exclusiva da Assembleia Geral Extraordinária (AGE) e não da Assembleia Geral Ordinária
(AGO), nos termos do art. 46, I, da Lei 5.764/71 (Lei das Cooperativas):
Art. 46. É da competência exclusiva da Assembleia Geral Extraordinária deliberar sobre os
seguintes assuntos:
I - reforma do estatuto;

Ainda que a alteração do estatuto tivesse sido feita pela AGE, seria legítima esta mudança
para que os prejuízos fossem divididos igualitariamente?
NÃO. Esta mudança no estatuto contraria o disposto no art. 89 da Lei n. 5.764/71:
Art. 89. Os prejuízos verificados no decorrer do exercício serão cobertos com recursos
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provenientes do Fundo de Reserva e, se insuficiente este, mediante rateio, entre os


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associados, na razão direta dos serviços usufruídos, ressalvada a opção prevista no


parágrafo único do artigo 80.

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A ressalva contida no art. 80, parágrafo único, da Lei trata apenas da possibilidade do
estatuto prever o rateio igualitário das despesas gerais da sociedade, as quais não se
confundem necessariamente com os prejuízos.
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.303.150-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 5/3/2013.

DIREITO DO CONSUMIDOR

Interpretação de cláusula mais favorável à parte aderente

No caso de relação de consumo instrumentalizada por contrato de adesão, as cláusulas


contratuais que foram redigidas pela própria seguradora devem ser interpretadas da forma
mais favorável à parte que apenas aderiu ao contrato (consumidora aderente), de acordo com
o que dispõe o art. 47 do CDC.

Assim, em um determinado contrato de seguro de saúde, havia uma cláusula prevendo que os
tratamentos de saúde necessários ao filho da segurada também seriam cobertos, desde que
este tivesse nascido durante a vigência do pacto. O filho de uma segurada dependente precisou
de tratamento e a seguradora negou, afirmando que a cobertura restringe-se ao filho da
“segurada titular” e que, no caso concreto, o indivíduo era filho da “segurada dependente”,
razão pela qual não teria direito ao tratamento.

O STJ deu razão à consumidora e afirmou que, caso a seguradora pretendesse restringir o
campo de abrangência da cláusula contratual, deveria ter especificado serem elas aplicáveis
apenas à titular do seguro.
Comentários No caso de relação de consumo instrumentalizada por contrato de adesão, as cláusulas
contratuais que foram redigidas pela própria seguradora devem ser interpretadas da forma
mais favorável à parte que apenas aderiu ao contrato (consumidora aderente), de acordo
com o que dispõe o art. 47 do CDC:
Art. 47. As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao
consumidor.

Sérgio Cavalieri Filho, citado pelo Ministro Relator, afirma que:


“(...) essa é a sábia regra do art. 47 do CDC: quem escreve não tem a seu favor o que
escreveu. E não somente as cláusulas ambíguas dos contratos de adesão se interpretam em
favor do aderente, contra o estipulador, mas o contrato de consumo como um todo. A regra
geral, assevera Cláudia Lima Marques, é que se interprete o contrato de adesão,
especialmente as suas cláusulas dúbias, contra aquele que redigiu o instrumento. É a
famosa interpretação contra proferente (ob. cit., p. 75).” (CAVALIERI FILHO, Sérgio.
Programa de Direito do Consumidor. 2ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 2010, p. 143).
Processo STJ. 3ª Turma. REsp 1.133.338-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 2/4/2013.
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DIREITO EMPRESARIAL
Contrato de abertura de crédito rotativo não é título executivo
O contrato de abertura de crédito rotativo, ainda que acompanhado dos extratos relativos à
movimentação bancária do cliente, não constitui título executivo.
Aplica-se a Súmula 233 do STJ: O contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado de
extrato da conta-corrente, não é título executivo.
Comentários É comum que os bancos, ao oferecerem seus serviços, façam um contrato de abertura de
crédito rotativo com seus clientes.
Por meio deste contrato de abertura de crédito rotativo, o banco se compromete a
disponibilizar determinada quantia (chamada comumente de “limite”) ao seu cliente, que
poderá, ou não, utilizar-se desse valor a título de empréstimo. É vulgarmente conhecimento
como “cheque especial”.
Ex: João abre uma conta corrente no Banco “B”. No meio de todos os papeis que ele é
“convidado” a assinar estará um contrato de abertura de crédito rotativo por meio do qual,
mesmo que João não tenha dinheiro em sua conta, ele terá disponível 1 mil reais para sacar
sempre que quiser. Este valor, se sacado, constitui-se em um empréstimo, devendo ser
devolvido com juros e correção monetária ao banco.

O contrato de abertura de crédito rotativo é título executivo?


NÃO. O contrato de abertura de crédito rotativo não possui liquidez e certeza, considerando
que o ajuste menciona apenas que o correntista poderá sacar, como empréstimo,
determinado valor até um certo limite (ex: 1 mil reais). Isso não significa, necessariamente,
que a pessoa tenha decidido usar este valor e que efetivamente tenha sacado todo o limite,
podendo ter se utilizado de apenas parte da quantia.
Quando ocorre a assinatura do contrato de abertura de crédito pelo consumidor, ocasião
em que a obrigação nasce para a instituição financeira de disponibilizar determinada
quantia ao seu cliente, não há dívida líquida e certa, sendo que os valores eventualmente
utilizados são documentados unilateralmente pela própria instituição, sem qualquer
participação, muito menos consentimento, do cliente.

O contrato de abertura de crédito fixo é título de crédito?


SIM. O contrato de abertura de crédito rotativo é diferente do contrato de abertura de
crédito fixo. No caso de crédito fixo, o cliente celebra um contrato com o banco, por meio
do qual a instituição financeira empresta um valor certo ao cliente, sendo esta quantia
creditada na conta do correntista após a assinatura do termo. Trata-se de um mútuo
feneratício (empréstimo de valor).

Como explica o Min. Luis Felipe Salomão:


“O contrato de crédito fixo, como a própria nomenclatura evidencia, consiste na concessão,
por parte da instituição financeira ao seu cliente, de valor certo, com termo e encargos pré-
definidos, sendo que, no momento da assinatura do contrato, o contratante sabe de
antemão o valor da dívida, com ela assentindo mediante firma.”

Resumindo:
O contrato de abertura de crédito fixo é título executivo.
O contrato de abertura de crédito rotativo NÃO é título executivo (aplica-se a súmula 233-STJ).

A súmula 233 do STJ refere-se ao contrato de abertura de crédito rotativo:


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Súmula 233 do STJ: O contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado de extrato
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da conta-corrente, não é título executivo.


Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.022.034-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 12/3/2013.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Competência para ação de indenização em que os fatos que geraram o dano


ocorreram durante a relação de trabalho e em decorrência dela

Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar ação de execução por quantia certa, proposta
por empregador em face de seu ex-empregado, na qual sejam cobrados valores relativos a
contrato de mútuo celebrado entre as partes para o então trabalhador adquirir veículo
automotor particular destinado ao exercício das atividades laborais.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
João (empregado da empresa B) queria comprar um carro, mas não possuía recursos
suficientes para isso.
A empresa também tinha interesse que João comprasse o automóvel porque isso ajudaria
em seu trabalho, considerando que ele era vendedor externo.
Diante disso, ficou acertado que a empresa faria o empréstimo do dinheiro (contrato de
mútuo) para João, a fim de que ele adquirisse o veículo. As parcelas do empréstimo seriam
descontadas do pagamento mensal do funcionário.
O empregado saiu da empresa e deixou de pagar as prestações.

A empresa deseja ajuizar uma execução por quantia certa contra o ex-empregado. Qual é o
juízo competente para esta ação?
JUSTIÇA DO TRABALHO.

Segundo decidiu o STJ, a formalização do contrato de empréstimo somente ocorreu porque


o ex-empregado prestava serviços à empresa. Dessa forma, as peculiaridades do
financiamento, como, por exemplo, as condições mais favoráveis do empréstimo, aliado a
seu propósito específico, qual seja a aquisição de automóvel inicialmente destinado ao
exercício da função assumida na empresa, apontam, necessariamente, para um pacto
acessório ao contrato de trabalho.

A contratação, assim, relaciona-se com o fornecimento de utilidade ínsita ao trabalho


desenvolvido, destinada a viabilizar a própria prestação dos serviços.

Desse modo, verifica-se que a ação de execução possui como causa de pedir pacto
acessório à relação de trabalho e somente assumido em função dela, sendo manifesta a
competência da Justiça Laboral, nos termos do art. 114, I e IX, da CF/88.
Processo STJ. 2ª Seção. CC 124.894-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 10/4/2013.

Competência da Justiça comum para ação de indenização proposta por pastor contra sua antiga
igreja baseada em outros fundamentos que não na relação de trabalho

Determinado pastor ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais contra a igreja que
pertencia, alegando que foi desligado sem um justo motivo e em desacordo com as regras da igreja.
Na petição inicial afirma expressamente que não era empregado da igreja.
Quem irá julgar esta demanda é á Justiça comum estadual, considerando que a controvérsia
posta na demanda deriva de relação jurídica de cunho eminentemente religioso e civil.
A causa de pedir e o pedido deduzidos na exordial não se referem à existência de relação de
trabalho entre as partes. Logo, é incompetente a Justiça do Trabalho.
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Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:


Samuel era pastor de determinada igreja evangélica, tendo sido desligado da congregação

INFORMATIVO esquematizado
por decisão de um pastor hierarquicamente superior.
Diante disso, Samuel ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais contra a
igreja, afirmando que somente poderia ter sido expulso por deliberação da Assembleia,
conforme estatuto da congregação. Alegou, ainda, que seu afastamento foi "ilegal",
motivado, provavelmente, pelo término da relação conjugal com sua esposa e que tal fato
seria inaceitável, pois se trataria de episódio relacionado exclusivamente à sua vida íntima.

Quem será competente para julgar esta demanda? Justiça comum ou Justiça do Trabalho?
JUSTIÇA COMUM ESTADUAL.

Segundo o STJ, a competência para o julgamento de uma ação é fixada em razão da


natureza da causa.

E como se define a natureza de uma causa?


A natureza da causa é definida pelo pedido e pela causa de pedir que foram apresentados
pelo autor na petição inicial.
Desse modo, a competência é definida pelo que o autor alega e pede na ação.

No caso concreto, o pedido e a causa de pedir deduzidos pelo autor relacionam-se com
aspectos ligados à política interna da igreja na relação com seus ministros, envolvendo
direitos e garantias constitucionais de liberdade e exercício de culto e de crença religiosos
(CF, art. 5º, VI e VIII). Logo, a competência para processar e julgar a lide é da Justiça
Comum.

Como se observa na petição inicial do autor, a ação proposta não tem causa de pedir e
pedidos fundados em eventual relação de trabalho entre as partes. Em momento algum da
exordial o autor afirma ter relação de trabalho com a ré, assim como não postula o
pagamento de nenhuma verba de natureza trabalhista.

Na verdade, o autor afirma justamente o contrário. Na réplica apresentada à contestação


atesta peremptoriamente que: “não pleiteia direitos trabalhistas, como reza as
jurisprudências apostas na Contestação; se os pleiteasse com certeza seria na Justiça do
Trabalho; mas como busca indenização pelos danos sofridos moralmente e materialmente o
faz através da Justiça comum.”

Ora, se a parte autora alega que o pedido deduzido na exordial não decorre de nenhum
vínculo de natureza trabalhista com a entidade religiosa ré, a competência para julgamento
do pedido de indenização por danos morais e materiais não pode ser da Justiça do
Trabalho, que somente julga danos morais e materiais decorrentes de relação de trabalho.

Não compete à Justiça do Trabalho processar e julgar demanda em que a causa de pedir e o
pedido deduzidos na inicial não guardam relação com as matérias de competência da
Justiça Laboral elencadas no art. 114 da CF/88.
Processo STJ. 2ª Seção. CC 125.472-BA, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 10/4/2013.
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INFORMATIVO esquematizado
Apelação e causa madura

O tribunal, ao apreciar apelação interposta em face de sentença que tenha reconhecido a


prescrição da pretensão veiculada em ação monitória fundada em cheques prescritos que não
circularam, não pode desde logo julgar a lide, mediante a aplicação do procedimento previsto
no § 3º do art. 515 do CPC (teoria da causa madura), na hipótese em que, existindo dúvida
plausível acerca da entrega da mercadoria que dera origem à emissão dos cheques, não tenha
havido, em 1ª instância, a produção e análise das provas.
Havia dúvida sobre a entrega ou não das mercadorias que deram origem à emissão dos
cheques. Dessa forma, a resolução do mérito da causa dependia da produção de provas, sendo
que as partes não tiveram esta oportunidade em virtude da extinção precipitada do processo.
Por essa razão, o STJ determinou o retorno dos autos à 1ª instância para que abra a
oportunidade de produção de provas.
Comentários O § 3º do art. 515 do CPC estabelece o seguinte:
§ 3º Nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito (art. 267), o tribunal
pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver
em condições de imediato julgamento.

Este dispositivo permite que o TJ ou o TRF, ao julgar a apelação interposta contra sentença
terminativa, julgue ele próprio (o Tribunal) o mérito da ação caso entenda que o juiz não
deveria ter extinguido o processo sem resolução do mérito.

Ex: “A” ajuíza uma ação contra “B” e o magistrado profere sentença extinguindo o processo
sem resolução do mérito por entender que o autor seria parte ilegítima (art. 267, VI, do
CPC). “A” interpõe apelação ao TJ. O Tribunal analisa o recurso e entende que “A” é sim
parte legítima, ou seja, não havia razão jurídica para o magistrado ter extinguido o processo
sem examinar o mérito. Ao invés de mandar o processo de volta à 1ª instância para analisar
o mérito, o próprio TJ poderá julgar o mérito da demanda. Para isso, no entanto, a causa
tem que versar exclusivamente sobre matéria de direito e deve estar em condições de
imediato julgamento.

O § 3º do art. 515 é denominado por alguns doutrinadores e julgados de “teoria da causa


madura”.

Requisitos para aplicação do § 3º do art. 515:

Em regra, para que seja aplicado o § 3º do art. 515, a


sentença examinada pelo Tribunal deve ter sido
terminativa, ou seja, fundada em um dos incisos do
a) O juiz deve ter extinguido o art. 267 do CPC.
processo sem julgamento do Vale ressaltar, no entanto, que, se a apelação for
mérito, nos termos do art. interposta contra sentença que reconheceu a
267 do CPC (exceção no caso prescrição ou a decadência, caso o Tribunal discorde
de prescrição e decadência). do juiz, também será possível aplicar a teoria da
causa madura. mesmo se tratando de matérias
elencadas no inciso IV do art. 269 do CPC (neste
sentido: REsp 274.736/DF).
O § 3º está ligado ao art. 515, que trata sobre a
10

apelação. Por conta disso, o entendimento majoritário


b) A parte deve ter interposto
no STJ e STF é o de que a teoria da causa madura
Página

recurso de apelação.
somente se aplica quando o Tribunal estiver julgando
uma apelação.
INFORMATIVO esquematizado
Assim, por exemplo, para a maioria dos julgados do STJ
e STF, o § 3º do art. 515 NÃO pode ser adotado pelo
Tribunal no julgamento de recurso ordinário contra
sentença em mandado de segurança (posição a ser
adotada nos concursos).

Vale mencionar que o tema é polêmico e que a doutrina


critica esta posição, afirmando que a regra deste § 3º
pode ser aplicada, por analogia, a outros recursos, como
é o caso do recurso ordinário (há decisões da 1ª Turma
do STJ neste sentido).
Cuidado: a redação literal do § 3º exige que a causa
verse sobre questão exclusivamente de direito. No
entanto, o STJ amplia esta possibilidade e afirma que o
mencionado dispositivo deve ser interpretado em
conjunto com o art. 330, o qual permite ao magistrado
julgar antecipadamente a lide se esta versar unicamente
c) A causa em análise deve
sobre questões de direito ou, "sendo de direito e de fato,
tratar sobre questão
não houver necessidade de produzir prova em
exclusivamente de direito
audiência":
(poderá também ser aplicada
se a questão for de direito e
“A regra do art. 515, § 3º, do CPC deve ser interpretada
de fato, mas não houver
em consonância com a preconizada pelo art. 330, I, do
necessidade de se
CPC, razão pela qual, ainda que a questão seja de direito
produzirem provas).
e de fato, não havendo necessidade de produzir prova
(causa madura), poderá o Tribunal julgar desde logo a
lide, no exame da apelação interposta contra a sentença
que julgara extinto o processo sem resolução de
mérito.” (EREsp 874.507/SC, Rel. Min. Arnaldo Esteves
Lima, Corte Especial, julgado em 19/06/2013)
A causa deve estar madura, ou seja, pronta para
d) A causa deve estar em julgamento imediato, sem que o Tribunal precise tomar
condições de imediato qualquer outra providência. Se ainda for necessária
julgamento. qualquer outra providência por parte do Tribunal, não se
aplica o § 3º do art. 515 do CPC.

Para que se aplique o § 3º do art. 515 é necessário que a parte recorrente tenha requerido
expressamente esta providência quando interpôs o recurso ou o Tribunal poderá aplicar a
teoria da causa madura de ofício?
A regra prevista no § 3º do art. 515 do CPC pode ser aplicada de ofício pelo Tribunal, ou
seja, mesmo que o recorrente não tenha requerido esta providência em seu recurso.
Assim, conforme a jurisprudência do STJ, ainda que não exista pedido expresso da parte
recorrente, afastada a extinção do processo sem exame do mérito, pode o Tribunal, de
imediato, julgar o feito, aplicando-se a teoria da causa madura, nos termos do art. 515, § 3º,
do CPC (AgRg no AREsp 93.707/SP, Min. Sidnei Beneti, 3ª Turma, julgado em 05/02/2013).

Caso concreto:
No caso concreto, a empresa “E” manejou uma ação monitória contra “W” fundada em
11

cheques prescritos.
O juiz extinguiu o processo sem resolução do mérito, afirmando que já havia passado o
Página

prazo para o ajuizamento da ação monitória (estava prescrita).

INFORMATIVO esquematizado
A empresa “E” interpôs apelação e demonstrou que o magistrado contou errado o prazo
prescricional.
Assim, o Tribunal de Justiça afirmou que realmente a ação monitória não estava prescrita.

Indaga-se: o TJ poderia aplicar o § 3º do art. 515 do CPC e julgar o mérito da ação monitória?
Em tese sim, considerando que os dois primeiros requisitos estariam presentes (juiz
extinguiu o processo por conta de prescrição e a parte interpôs apelação).
Ocorre que, no caso concreto, o TJ não poderia desde logo julgar a lide, mediante a
aplicação do § 3º do art. 515 do CPC porque a causa não estava madura e havia uma
discussão ainda pendente sobre a existência ou não do negócio jurídico subjacente que deu
ensejo à emissão dos cheques.
Havia dúvida sobre a entrega ou não das mercadorias que deram origem à emissão dos
cheques e, em primeira instância, não houve o exercício de contraditório e ampla defesa
sobre este tema, já que o magistrado extinguiu o processo pela prescrição.
Dessa forma, a resolução do mérito da causa dependia da produção de provas, sendo que
as partes não tiveram esta oportunidade em virtude da extinção precipitada do processo.
Por essa razão, o STJ determinou o retorno dos autos à 1ª instância para que abra a
oportunidade de produção de provas.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.082.964-SE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 5/3/2013.

Embargos de divergência

Não é possível a utilização de decisão monocrática como paradigma em embargos de


divergência para comprovação do dissídio jurisprudencial, ainda que naquela decisão se tenha
analisado o mérito da questão controvertida.
Comentários Os embargos de divergência são um recurso previsto nos arts. 496, VIII e 546 do CPC, bem
como nos regimentos internos do STF e do STJ.

Este recurso possui dois objetivos:


1) Obter a reforma ou anulação do acórdão embargado;
2) Uniformizar a jurisprudência interna do STF e do STJ, evitando que prevaleçam decisões
conflitantes.

Só cabem os embargos de divergência contra decisão de:


 turma do STJ em julgamento de Recurso especial;
 turma do STF em julgamento de Recurso extraordinário.

A decisão da turma do STJ deve ter sido divergente em relação ao julgamento de outra
turma, da seção ou do órgão especial do STJ.

A decisão da turma do STF deve ter sido divergente em relação ao julgamento de outra
turma ou do plenário do STF.

Ao propor este recurso, o recorrente deverá realizar uma comparação entre o acórdão
recorrido e um acórdão paradigma do mesmo Tribunal, provando que o acórdão recorrido
foi divergente do acórdão paradigma.
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Não é possível a utilização de decisão monocrática (quando o Relator decide sozinho) como
paradigma em embargos de divergência para comprovação do dissídio jurisprudencial,
Página

ainda que naquela decisão se tenha analisado o mérito da questão controvertida. Isso

INFORMATIVO esquematizado
porque o acórdão paradigma deve ter sido proferido por turma, seção ou órgão especial.

No caso concreto julgado, a parte queria opor embargos de divergência utilizando como
paradigma uma decisão proferida monocraticamente pelo Ministro Relator (sem
participação da Turma, Seção ou Corte Especial), razão pela qual não foi admitido pelo STJ.
Processo STJ. 3ª Seção. AgRg nos EAREsp 154.021-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/3/2013.

Continência no caso de ações coletivas propostas por entidades distintas

No caso em que duas ações coletivas tenham sido propostas perante juízos de competência
territorial distinta contra o mesmo réu e com a mesma causa de pedir e, além disso, o objeto de
uma, por ser mais amplo, abranja o da outra, competirá ao juízo da ação de objeto mais amplo
o processamento e julgamento das duas demandas, ainda que ambas tenham sido propostas
por entidades associativas distintas.
Comentários Em 2009, houve um derramamento de óleo causado pela Petrobrás no litoral da Bahia.
Diante disso, foram propostas duas ações de indenização:
 a primeira delas, pela Colônia de Pescadores de São Francisco do Conde/BA, na vara da
comarca de São Francisco do Conde/BA, pedindo indenização para os pescadores deste
município;
 a segunda, ajuizada pela Federação dos Pescadores e Aquicultores da Bahia na Vara
Cível de Salvador/BA, pleiteando indenização para os pescadores de diversos
municípios, dentre eles os de São Francisco do Conde/BA.

Existe continência ou conexão neste caso?

A conexão está prevista no art. 103 do CPC:


Art. 103. Reputam-se conexas duas ou mais ações, quando Ihes for comum o objeto ou a
causa de pedir.

A continência, por seu turno, está descrita no art. 104:


Art. 104. Dá-se a continência entre duas ou mais ações sempre que há identidade quanto às
partes e à causa de pedir, mas o objeto de uma, por ser mais amplo, abrange o das outras.

Toda continência é também uma conexão. Isso porque em toda continência a causa de
pedir é igual e isso já é conexão. Mas, tecnicamente, houve mera conexão ou efetivamente
ocorreu continência?

No caso concreto, ficou reconhecida a existência de CONTINÊNCIA (art. 104 do CPC).

Requisitos da continência:
Os requisitos da continência são os seguintes:
 Duas ou mais ações;
 Partes iguais nas ações;
 Causas de pedir iguais nas ações;
 O pedido de uma ação abrange o da outra.
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O polo ativo da segunda ação (proposta em Salvador) é mais amplo e abrange não apenas
os pescadores de São Francisco do Conde/BA, mas também de outros municípios.
Página

O aspecto subjetivo da litispendência nas ações coletivas deve ser visto sob a ótica dos
beneficiários atingidos pelos efeitos da decisão, e não pelo simples exame das partes que

INFORMATIVO esquematizado
figuram no polo ativo da demanda. Assim, considera-se que há partes iguais porque os
moradores de São Francisco do Conde/BA serão atingidos pelo resultado das duas
demandas. Não se considera como partes, para fins de continência, a Colônia e a Federação
de pescadores.

O objeto (pedido) da segunda ação (proposta em Salvador) é mais amplo que o da primeira,
pois abrange indenização não apenas para os pescadores de São Francisco do Conde/BA
como também de outros municípios.

Quem irá julgar a causa?


Competirá ao juízo da ação de objeto mais amplo o processamento e julgamento das duas
demandas. Logo, a competência será da Vara de Salvador.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.318.917-BA, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 12/3/2013.

Execução provisória em ação coletiva

No âmbito de execução provisória em processo coletivo, para a aplicação da regra constante do


art. 475-O, § 2º, I, do CPC (que admite a dispensa de caução para o levantamento de depósito
em dinheiro e a prática de atos que importem alienação de propriedade ou dos quais possa
resultar grave dano ao executado), deve o magistrado considerar a situação individual de cada
um dos beneficiários.
Comentários Em 2009, houve um derramamento de óleo causado pela Petrobrás no litoral da Bahia.
Diante disso, a Federação dos Pescadores da Bahia ajuizou ação coletiva pleiteando, dentre
outros pedidos, liminarmente, o pagamento a pescadores de uma quantia de 500 reais a
título de "salário", diante dos prejuízos decorrentes da impossibilidade de exercício da
atividade pesqueira.
A antecipação de tutela foi deferida, com a determinação do pagamento da pensão mensal
de 500 reais para cada substituído.

É cabível execução provisória em processo coletivo?


SIM. É possível execução provisória em processo coletivo, que deverá obedecer as regras
previstas no CPC (art. 475-O).

Os pescadores poderão sacar este dinheiro depositado pela Petrobrás por força da decisão
que concedeu a tutela antecipada?
SIM, no entanto, como se trata de uma forma de execução provisória (irão se beneficiar da
decisão antes do trânsito em julgado) deverão observar as regras da execução provisória
trazidas pelo art. 475-O.

No caso de execução provisória de quantia, em regra, a pessoa beneficiada somente poderá


levantar o dinheiro depositado pelo executado se prestar uma caução suficiente e idônea,
arbitrada de plano pelo juiz. Isso porque, se ao final, a decisão for revertida, o executado
terá como ser ressarcido do valor que depositou e foi sacado. Esta previsão está no 475-O,
III, do CPC:
Art. 475-O. A execução provisória da sentença far-se-á, no que couber, do mesmo modo
que a definitiva, observadas as seguintes normas:
III – o levantamento de depósito em dinheiro e a prática de atos que importem alienação de
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propriedade ou dos quais possa resultar grave dano ao executado dependem de caução
suficiente e idônea, arbitrada de plano pelo juiz e prestada nos próprios autos.
Página

INFORMATIVO esquematizado
Existe alguma hipótese em que esta caução pode ser dispensada?
SIM. A caução poderá ser dispensada nas hipóteses previstas nos incisos do § 2º do art. 475-O:
I – na execução provisória de crédito de natureza alimentar ou decorrente de ato ilícito, se o
valor não exceder 60 salários-mínimos e desde que o exequente demonstre situação de
necessidade; ou
II – quando estiver pendente apenas agravo de instrumento contra a decisão que não
admitiu recurso especial ou extraordinário, salvo se da dispensa puder resultar risco de
grave dano, de difícil ou incerta reparação.

Voltando ao caso concreto. Os pescadores poderão sacar o dinheiro depositado pela


Petrobrás sem ter que prestar caução? Em outras palavras, poderão executar
provisoriamente a decisão sem oferecer caução?
SIM. A situação se enquadra no inciso I do § 2º do art. 475-O do CPC, tendo em vista que o
valor que cada um irá receber é inferior a 60 salários-mínimos, enquadra-se como verba
alimentar e os exequentes são pessoas que passam por situação de necessidade.

No âmbito de execução provisória em processo coletivo, para a aplicação da regra


constante do art. 475-O, § 2º, I, do CPC, o magistrado deve considerar a situação individual
de cada um dos beneficiários.
Processo STJ. 4ª Turma. REsp 1.318.917-BA, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 12/3/2013.

DIREITO PENAL

Princípio da insignificância e existência de outras ações penais em curso

O STJ decidiu que, mesmo sendo o acusado reincidente ou portador de maus antecedentes,
deveria ser aplicado o princípio da insignificância no caso da subtração de 11 latas de leite em
pó avaliadas em R$ 76,89 pertencentes a um supermercado.
Comentários Princípio da insignificância e outras ações penais
É possível a aplicação do princípio da insignificância para réus reincidentes ou que
respondam a outros inquéritos ou ações penais?
Trata-se de tema ainda polêmico na jurisprudência do STF e do STJ, havendo decisões
recentes nos dois sentidos.
Não deveria, portanto, ser cobrado em provas objetivas. No entanto, em se tratando de
concursos, tudo é possível.
Posição que penso ser a mais segura para as provas (até o presente momento):
Em regra, a existência de circunstâncias de caráter pessoal desfavoráveis, tais como o
registro de processos criminais em andamento, a existência de antecedentes criminais ou
mesmo eventual reincidência NÃO SÃO óbices, por si só, ao reconhecimento do princípio da
insignificância.

Assim, em tese, é possível aplicar o princípio da insignificância para réus reincidentes ou


que respondam a inquéritos ou ações penais. No entanto, existem muitos julgados do STF e
do STJ que, no caso concreto, afastam esse princípio pelo fato do réu ser reincidente ou
possuir diversos antecedentes de práticas delituosas, o que, segundo alguns Ministros, dá
claras demonstrações de ser ele um infrator contumaz e com personalidade voltada à
prática delitiva.
15

Nesses casos, aplicar o princípio da insignificância seria um verdadeiro incentivo ao


Página

descumprimento da norma legal, especialmente tendo em conta aqueles que fazem da


criminalidade um meio de vida.

INFORMATIVO esquematizado
Desse modo, de acordo com as peculiaridades do caso concreto, a existência de
antecedentes pode demonstrar a reprovabilidade e ofensividade da conduta, o que
afastaria o princípio da bagatela.

Caso concreto
No caso julgado pelo STJ e noticiado neste Informativo, o paciente havia sido condenado
pelo furto de 11 latas de leite em pó avaliadas em R$ 76,89 pertencentes a um
supermercado. Mesmo sendo o réu reincidente, o STJ entendeu que deveria ser aplicado o
princípio da insignificância.
Processo STJ. 6ª Turma. HC 250.122-MG, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 2/4/2013.

Homicídio culposo cometido por médico e causa de aumento do art. 121, § 4º do CP

É possível a aplicação da causa de aumento de pena prevista no art. 121, § 4º, do CP no caso de
homicídio culposo cometido por médico e decorrente do descumprimento de regra técnica no
exercício da profissão. Nessa situação, não há que se falar em bis in idem.
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética (adaptada em relação ao caso concreto):
Dr. M, médico, estava realizando uma cirurgia, no entanto, agiu com desídia (negligência)
ao deixar de observar um procedimento médico indispensável ao caso.
Em virtude disso, o paciente veio a óbito.

Acusação
Dr. M foi denunciado pela prática de homicídio culposo (§ 3º do art. 121 do CP), tendo o
Ministério Público imputado também a causa de aumento prevista no § 4º do art. 121:

Homicídio culposo
§ 3º Se o homicídio é culposo:
Pena - detenção, de um a três anos.

Aumento de pena
§ 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de
inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar
imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para
evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um
terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60
(sessenta) anos.

Defesa
A defesa argumentou que não se pode utilizar a alegação de que o médico foi negligente
para enquadrar sua conduta como homicídio culposo (art. 121, § 3º) e valer-se da mesma
alegação (negligência) para dizer que ele não observou regra técnica de profissão, aplicando
a causa de aumento do § 4º.
Para a defesa, houve bis in idem, tendo em vista que um mesmo fato (“deixar de observar
determinado procedimento médico”) foi utilizado para enquadrar a conduta como
homicídio culposo e também para fazer incidir a causa de aumento.

Em um caso análogo a este, o que decidiu o STJ?


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A 5ª Turma do STJ, por maioria, decidiu que é possível a aplicação da causa de aumento de
Página

pena prevista no art. 121, § 4º, do CP no caso de homicídio culposo cometido por médico e
decorrente do descumprimento de regra técnica no exercício da profissão.

INFORMATIVO esquematizado
Nessa situação, não há que se falar em bis in idem.
Isso porque o legislador, ao estabelecer a circunstância especial de aumento de pena
prevista no referido dispositivo legal, pretendeu reconhecer maior reprovabilidade à
conduta do profissional que, embora tenha o necessário conhecimento para o exercício de
sua ocupação, não o utilize adequadamente, produzindo o evento criminoso de forma
culposa, sem a devida observância das regras técnicas de sua profissão.
De fato, caso se entendesse caracterizado o bis in idem na situação, ter-se-ia que concluir que
essa majorante somente poderia ser aplicada se o agente, ao cometer a infração, incidisse em
pelo menos duas ações ou omissões imprudentes ou negligentes, uma para configurar a culpa e
a outra para a majorante, o que não seria condizente com a pretensão legal.
Processo STJ. 5ª Turma. HC 181.847-MS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Rel. para acórdão Min. Campos Marques
(Desembargador convocado do TJ/PR), julgado em 4/4/2013.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Competência no caso de pessoa que “baixa” conteúdo pedófilo da internet

Pessoa que “baixa” da internet e armazena, em computador da escola, vídeos pornográficos


envolvendo crianças e adolescentes pratica o delito do art. 241-A, § 1º, I, do ECA, sendo esta
conduta, neste caso concreto, crime de competência da Justiça Estadual.
Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:
Adriano, funcionário de uma escola municipal, “baixou” da internet, no computador do
trabalho, diversas imagens e vídeos pornográficos envolvendo crianças e adolescentes.

Qual crime praticou Adriano?


O STJ reconheceu que ele praticou, em tese, o delito previsto no art. 241-A, § 1º, I, do ECA:
Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por
qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia,
vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo
criança ou adolescente: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem:
I – assegura os meios ou serviços para o armazenamento das fotografias, cenas ou imagens
de que trata o caput deste artigo;

O juiz de direito declinou a competência para a Justiça Federal, alegando que o Brasil é
signatário da Convenção sobre Direitos da Criança, adotada pela Assembleia Geral das
Nações Unidas, aprovada pelo Decreto legislativo 28/90 e pelo Decreto 99.710/90. Logo, a
competência seria federal, nos termos do art. 109, V, da CF/88:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
(...)
V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução
no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;

A decisão declinatória do juiz de direito foi acertada?


NÃO. Para que o delito seja de competência da Justiça Federal com base neste inciso V do
art. 109 são necessários três requisitos:
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a) Previsão do fato como crime no Brasil;


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b) Compromisso de combater este crime assumido pelo Brasil em tratado ou convenção


internacional; e

INFORMATIVO esquematizado
c) Relação de internacionalidade.

A relação de internacionalidade ocorre quando:


• iniciada a execução do crime no Brasil, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no
estrangeiro;
• iniciada a execução do crime no estrangeiro, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido
no Brasil.

Desse modo, não é suficiente que o crime esteja previsto em tratado ou convenção
internacional para ser julgado pela Justiça Federal.

No caso concreto, o delito do art. 241-A do ECA é um crime que o Brasil, por meio de
tratado internacional, comprometeu-se a reprimir, considerando que somos signatários da
Convenção sobre Direitos da Criança, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas,
aprovada pelo Decreto legislativo 28/90 e pelo Decreto 99.710/90. Logo, estão preenchidos
os dois primeiros requisitos (letras “a” e “b”).

Por outro lado, não se verifica a existência de relação de internacionalidade. Isso porque o
agente fez o download das imagens para o computador e não as repassou para nenhum
destinatário fora do país nem as disponibilizou em uma página da internet onde pudessem
ser acessadas por quaisquer pessoas do mundo.

Assim, o material de conteúdo pornográfico, após ter sido obtido pelo agente, não
ultrapassou os limites da escola (ficou restrito àquele computador).
Apesar da origem das imagens e vídeos ser da Internet, não há indícios de que o investigado
tenha divulgado ou publicado o material pornográfico além das fronteiras nacionais,
restringindo-se sua conduta a manter os arquivos no computador da escola.

Em suma, trata-se de delito da competência da JUSTIÇA ESTADUAL.


Processo STJ. 3ª Seção. CC 103.011-PR, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 13/3/2013.

Execução penal e prisão domiciliar

Se não existir Casa do Albergado na localidade ou se não houver mais vagas, o que acontece com
o condenado?
Se não existe Casa do Albergado ou não há mais vagas disponíveis, o condenado deverá
cumprir a pena em prisão domiciliar. Trata-se de uma hipótese de prisão domiciliar não
prevista no art. 117 da LEP, mas concedida em homenagem aos princípios da dignidade da
pessoa humana, da humanidade da pena e da individualização da pena.

Se existir Casa do Albergado na localidade, mas as suas condições forem precárias, além de haver
superlotação de presos, o condenado poderá ir para prisão domiciliar?
1ª corrente: SIM. 6ª Turma do STJ.
2ª corrente: NÃO. 5ª Turma do STJ.
Comentários Prisão domiciliar do CPP x Prisão domiciliar da LEP
Vale ressaltar que o tema “prisão domiciliar” é tratado tanto no CPP como na LEP, sendo,
contudo, institutos diferentes, conforme se passa a demonstrar:
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Página

INFORMATIVO esquematizado
PRISÃO DOMICILIAR DO CPP PRISÃO DOMICILIAR DA LEP
Arts. 317 e 318 do CPP. Art. 117 da LEP.
O CPP, ao tratar da prisão domiciliar, está A LEP, ao tratar da prisão domiciliar, está
se referindo à possibilidade do réu, ao se referindo à possibilidade da pessoa já
invés de ficar em prisão preventiva, condenada cumprir a sua pena privativa de
permanecer recolhido em sua residência. liberdade na própria residência.
Trata-se de uma medida cautelar que Trata-se, portanto, da execução penal
substitui a prisão preventiva pelo (cumprimento da pena) na própria
recolhimento da pessoa em sua residência. residência.
Hipóteses (importante): Hipóteses (importante):
O juiz poderá substituir a prisão preventiva O preso que estiver cumprindo pena no
pela domiciliar quando o agente for: regime aberto poderá ficar em prisão
domiciliar quando se tratar de condenado(a):

I - maior de 80 anos; I - maior de 70 anos;

II - extremamente debilitado por motivo de II - acometido de doença grave;


doença grave;

III - imprescindível aos cuidados especiais III - com filho menor ou deficiente físico ou
de pessoa menor de 6 anos de idade ou mental;
com deficiência;

IV - gestante a partir do 7º (sétimo) mês de IV - gestante.


gravidez ou sendo esta de alto risco.

Obs: os magistrados, membros do MP, da


Defensoria e da advocacia têm direito à
prisão cautelar em sala de Estado-Maior.
Caso não exista, devem ficar em prisão
domiciliar.
O juiz pode determinar que a pessoa fique O juiz pode determinar que a pessoa fique
usando uma monitoração eletrônica. usando uma monitoração eletrônica.

O julgado aqui noticiado refere-se à prisão domiciliar da LEP.

Como vimos, as hipóteses da prisão domiciliar da LEP estão previstas no art. 117, sendo
destinadas a condenados que estejam cumprindo pena no regime aberto.

Algumas perguntas sobre o tema:

1ª) Onde o condenado cumpre pena no regime aberto?


Na Casa do Albergado (art. 93 da LEP).

2º) Se não existir Casa do Albergado na localidade ou se não houver mais vagas, o que
acontece com o condenado?
A jurisprudência afirma que, se não existe Casa do Albergado ou não há mais vagas
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disponíveis, o condenado deverá cumprir a pena em prisão domiciliar (STF HC 96169).


Trata-se de uma hipótese de prisão domiciliar não prevista no art. 117 da LEP, mas
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concedida em homenagem aos princípios da dignidade da pessoa humana, da humanidade


da pena e da individualização da pena.

INFORMATIVO esquematizado
O reeducando que esteja no regime aberto deverá cumprir pena em casa de albergado ou
estabelecimento adequado.
Caso não exista casa de albergado na cidade ou se existir, mas não houver vagas, este
condenado deverá cumprir a pena em prisão domiciliar até que surja vaga.
STJ. 6ª Turma. HC 216.828-RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 2/2/2012.

3º) Se existir Casa do Albergado na localidade, mas as suas condições forem precárias, além
de haver superlotação de presos, o condenado poderá ir para prisão domiciliar?
1ª corrente: 2ª corrente:
SIM. 6ª Turma do STJ. NÃO. 5ª Turma do STJ.
(...) A superlotação e a precariedade do Os argumentos de superlotação e de
estabelecimento penal, é dizer, a ausência precárias condições da casa de albergado
de condições necessárias ao cumprimento não permitem, por si sós, a concessão do
da pena em regime aberto, permite ao benefício pleiteado.
condenado a possibilidade de ser colocado (HC 240.715/RS, Rel. Min. Laurita Vaz, 5ª
em prisão domiciliar, até que solvida a Turma, julgado em 23/04/2013)
pendência (...)
(HC 248.358/RS, Min. Maria Thereza de
Assis Moura, 6ª Turma, j. 11/04/2013)

4º) É possível a concessão de prisão domiciliar a pessoa que esteja cumprindo pena em
regime fechado ou semiaberto?
Pela literalidade da LEP, somente teria direito à prisão domiciliar a pessoa condenada ao
regime aberto que se enquadrasse em uma das hipóteses do art. 117 da LEP. No entanto,
em hipóteses excepcionais, a jurisprudência tem autorizado que condenados que estejam
no regime fechado ou semiaberto possam ter direito à prisão domiciliar desde que:
 sejam portadores de doença grave; e
 fique demonstrada a impossibilidade de receberem o tratamento adequado no
estabelecimento prisional onde cumprem pena.

(...) A jurisprudência tem admitido a concessão da prisão domiciliar aos condenados que se
encontram em regime semiaberto e fechado, em situações excepcionalíssimas, como no
caso de portadores de doença grave, desde que comprovada a impossibilidade da
assistência médica no estabelecimento prisional em que cumprem sua pena. (...)
(HC 244.540/GO, Min. Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, julgado em 21/05/2013)

Processo STJ. 5ª Turma. HC 240.715-RS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 23/4/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO

IPTU e unidades autônomas

O Fisco, verificando a divisão do imóvel preexistente em unidades autônomas, pode cobrar o


IPTU sobre as novas unidades autônomas, mesmo que estas ainda não tenham sido
previamente registradas no cartório de imóveis.
20

ATENÇÃO
Concursos
Cartório
Comentários Imagine a seguinte situação adaptada:
Página

O imóvel “X”, localizado na zona urbana do Município, medindo 1200m2, possuía matrícula
e estava devidamente inscrito no Registro de Imóveis.

INFORMATIVO esquematizado
Vale ressaltar que incidia IPTU sobre o referido imóvel.
O proprietário deste bem decidiu desmembrá-lo em três outros imóveis de 400m2. Para
isso, ele dividiu fisicamente o imóvel em três, construindo muros separando os terrenos.
Segundo a Lei de Registros Públicos (Lei n. 6.015/73), o desmembramento tem que ser
averbado na matrícula do imóvel originário, resultando na abertura de tantas matrículas
quantos forem os imóveis dele resultantes. Em outras palavras, o proprietário deverá
requerer o encerramento da matrícula mãe e a instituição de três matrículas novas.

Antes que o proprietário fizesse tais alterações no registro do imóvel, o Fisco municipal,
percebendo a modificação, efetuou o lançamento e cobrança de três IPTU’s, um sobre cada
imóvel desmembrado.

O proprietário do imóvel se insurgiu contra isso, alegando que somente após o registro
imobiliário do desmembramento do imóvel é que o IPTU poderia incidir sobre cada área
individualizada, deixando de recair sobre a área matriz. Em outros termos, argumentou que,
enquanto houvesse apenas uma matrícula em relação ao imóvel, somente um IPTU deveria
ser cobrado.

A questão chegou até o STJ. O que foi decidido?


O STJ decidiu que o Fisco, verificando a divisão do imóvel preexistente em unidades
autônomas, pode cobrar o IPTU sobre as novas unidades autônomas, mesmo que estas
ainda não tenham sido previamente registradas no cartório de imóveis.

O art. 32 do CTN estabelece que o fato gerador do IPTU é a propriedade, o domínio útil ou a
posse do imóvel:
Art. 32. O imposto, de competência dos Municípios, sobre a propriedade predial e territorial
urbana tem como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de bem imóvel por
natureza ou por acessão física, como definido na lei civil, localizado na zona urbana do
Município.

O art. 34, por sua vez, estabelece que o contribuinte do IPTU é o proprietário, o titular do
seu domínio útil ou o seu possuidor a qualquer título.

A partir da análise desses dois dispositivos, o STJ chegou à conclusão de que é dispensável a
exigência de prévio registro imobiliário das novas unidades para que se proceda ao
lançamento do IPTU individualizado, uma vez que basta a configuração da posse de bem
imóvel para dar ensejo à exação.

Para que haja cobrança do IPTU basta que se verifique que foram acrescidas unidades
autônomas ao imóvel, uma vez que os impostos reais (como é o caso do IPTU e do ITBI
referem-se aos bens autonomamente considerados (REsp 722.752/RJ, Rel. Min. Herman
Benjamin, Segunda Turma, DJe 11/11/2009).
Processo STJ. 1ª Turma. REsp 1.347.693-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 11/4/2013.
21
Página

INFORMATIVO esquematizado
DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Aposentadoria por invalidez

A concessão da aposentadoria por invalidez deve considerar não apenas os elementos


previstos no art. 42 da Lei nº 8.213/91, mas também aspectos socioeconômicos, profissionais e
culturais do segurado, ainda que o laudo pericial tenha concluído pela incapacidade somente
parcial para o trabalho.
Comentários O que é a aposentadoria por invalidez?
A aposentadoria por invalidez é concedida à pessoa que for considerada incapaz para o
trabalho e insusceptível de reabilitação para o exercício de outra atividade que lhe garanta
a subsistência, sendo-lhe paga enquanto permanecer nesta condição (art. 42 da Lei n.
8.213/91).

Como é comprovada esta incapacidade?


A pessoa deverá ser submetida a exame médico-pericial, a cargo da Previdência Social
(exame feito por médico habilitado e registrado no INSS), podendo o segurado, às suas
expensas, fazer-se acompanhar de médico de sua confiança (§ 1º do art. 42).
No caso da concessão do benefício estar sendo discutida judicialmente, o juiz poderá
nomear um médico para realizar a perícia.

Para que seja concedida esta espécie de aposentadoria, é necessário que a invalidez seja
total? Em outras palavras, para ter direito à aposentadoria, o segurado deve estar inválido
para toda e qualquer atividade laboral ou basta que esteja inválido para o trabalho que
desempenhava anteriormente?
Para a concessão da aposentadoria por invalidez, é necessário que a invalidez seja total e
permanente e que não haja possibilidade do segurado ser reabilitado para exercer outra
atividade laborativa, compatível com sua condição de saúde.

Aposentadoria por invalidez = invalidez total e permanente + impossibilidade de reabilitação

Diante disso, podemos concluir:


 Se a invalidez for parcial e for possível a reabilitação do segurado em outra atividade,
não será concedida a aposentadoria por invalidez;
 Ao contrário, se a invalidez for parcial, mas a reabilitação do segurado se mostrar
inviável, deverá ser concedida a aposentadoria por invalidez.

A avaliação da invalidez e da (im)possibilidade de reabilitação deverá ser feita com base nas
peculiaridades do caso concreto, levando-se em consideração os aspectos socioeconômicos,
profissionais e culturais do segurado. Vejamos:

Situação 1: Vitor, 20 anos de idade, ensino médio completo, era motorista de uma empresa
privada em uma grande capital. Sofreu um acidente e ficou paraplégico. Trata-se de
incapacidade parcial. Vitor poderá ser reabilitado para exercer outra atividade remunerada
(exs: balconista, telefonista, atividades intelectuais etc.). Logo, não terá direito à
aposentadoria por invalidez porque se mostra viável a sua reabilitação para que
desempenhe outra profissão.
22

Invalidez parcial e impossibilidade de reabilitação:


Página

Situação 2: João, 50 anos de idade, apenas alfabetizado, foi motorista de caminhão durante
toda a sua vida profissional em uma pequena cidade do interior, nunca tendo tido outra

INFORMATIVO esquematizado
ocupação. Sofreu um acidente e ficou paraplégico. Trata-se de incapacidade parcial. Ocorre
que, analisando os aspectos socioeconômicos, profissionais e culturais do segurado (idade,
nível de escolaridade e experiência), percebe-se que é inviável a sua reabilitação para
exercer outra atividade remunerada. Logo, terá direito à aposentadoria por invalidez.

Neste mesmo sentido, podemos citar a Súmula 47 da TNU:


Súmula 47-TNU: Uma vez reconhecida a incapacidade parcial para o trabalho, o juiz deve
analisar as condições pessoais e sociais do segurado para a concessão de aposentadoria por
invalidez.

Assim, a jurisprudência do STJ é firme no sentido de que o magistrado não está adstrito ao
laudo, devendo considerar também aspectos socioeconômicos, profissionais e culturais do
segurado a fim de examinar se será possível, ou não, seu retorno ao trabalho, ou a sua
inserção no mercado de trabalho, mesmo porque a invalidez laborativa não é meramente o
resultado de uma disfunção orgânica, mas uma somatória das condições de saúde e
pessoais de cada indivíduo (AgRg no AREsp 81.329/PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
Quinta Turma, julgado em 14/2/2012).
Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 283.029-SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 9/4/2013.

Desaposentação
É possível a renúncia à aposentadoria por tempo de serviço (desaposentação) objetivando a
concessão de novo benefício mais vantajoso da mesma natureza (reaposentação), com o
ATENÇÃO
cômputo dos salários de contribuição posteriores à aposentadoria anterior, não sendo exigível,
Concursos nesse caso, a devolução dos valores recebidos em razão da aposentadoria anterior.
federais Para o STJ, a aposentadoria, assim como os demais benefícios previdenciários, é um direito
patrimonial disponível e, portanto, suscetível de desistência pelos seus titulares, prescindindo-
se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado deseja preterir para
a concessão de novo e posterior jubilamento.
Comentários DESAPOSENTAÇÃO

Conceito
A desaposentação consiste no ato do segurado de renunciar a aposentadoria que recebe a
fim de que possa requerer uma nova aposentadoria (reaposentação), desta vez mais
vantajosa, no mesmo regime previdenciário ou em outro.

Hipóteses mais comuns


O pedido de desaposentação ocorre normalmente nos casos em que a pessoa se aposenta,
mas continua trabalhando e, portanto, contribuindo. Assim, este tempo de contribuição
após a primeira aposentadoria, se computado, gerará um provento maior, o que justifica a
renúncia ao benefício que a pessoa está recebendo para que possa formular novo pedido
de aposentação.
É possível também que um aposentado pelo regime geral (INSS) faça um concurso e depois
de anos trabalhando no cargo público concursado requeira a renúncia do benefício no
regime geral para requerer uma nova aposentadoria no regime próprio dos servidores
públicos utilizando o tempo de contribuição anterior.

Mas a pessoa aposentada que estiver trabalhando deve pagar contribuição previdenciária?
23

SIM. O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social (RGPS) que estiver exercendo
ou que voltar a exercer atividade remunerada é segurado obrigatório em relação a essa
Página

atividade, ficando sujeito ao pagamento de contribuição previdenciária, para fins de custeio


da Seguridade Social (§ 3º do art. 11 da Lei n. 8.213/91).
INFORMATIVO esquematizado
O INSS aceita o pedido de desaposentação?
NÃO. Para o INSS, a desaposentação não possui previsão legal expressa. Ao contrário,
segundo a autarquia previdenciária, isto seria vedado pelo § 2º do art. 18 da Lei n.
8.213/91 e pelo art. 181-B do Regulamento da Previdência Social:

Lei n. 8.213/91:


Art. 18 (...) § 2º O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social–RGPS que
permanecer em atividade sujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação
alguma da Previdência Social em decorrência do exercício dessa atividade, exceto ao
salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.

Decreto n. 3.048/99:


Art. 181-B. As aposentadorias por idade, tempo de contribuição e especial concedidas pela
previdência social, na forma deste Regulamento, são irreversíveis e irrenunciáveis.

Assim, se o segurado formular requerimento administrativo de desaposentação, ele será


negado.

“Ação de desaposentação”
Como o INSS não admite administrativamente, os segurados passaram a ajuizar uma ação
judicial postulando a desaposentação.

Posições existentes a respeito do tema:


Há muita polêmica se a desaposentação deve ou não ser aceita, existindo três correntes
principais sobre o tema:
1ª) Não se admite a 2ª) Admite-se a 3ª) Admite-se a
desaposentação. desaposentação, mas para desaposentação e o
que o segurado tenha direito segurado não precisa
a nova aposentadoria será devolver os proventos que
necessário que devolva os já recebeu enquanto esteve
proventos recebidos aposentado.
enquanto esteve aposentado.
Posição do INSS. Julgado da TNU (Proc. Posição do STJ.
2007.83.00.505010-3).

Recurso repetitivo no STJ


A fim de que houvesse uma definição quanto ao tema, o STJ, por meio da 1ª Seção (1ª e 2ª
Turmas), analisou o tema, sob o regime de recurso repetitivo. O que decidiu a Corte?
É POSSÍVEL a renúncia à aposentadoria por tempo de serviço (desaposentação)
objetivando a concessão de novo benefício mais vantajoso da mesma natureza
(reaposentação), com o cômputo dos salários de contribuição posteriores à aposentadoria
anterior, não sendo exigível, nesse caso, a devolução dos valores recebidos em razão da
aposentadoria anterior.
Para o STJ, a aposentadoria, assim como os demais benefícios previdenciários, é um direito
patrimonial disponível e, portanto, suscetível de desistência pelos seus titulares,
prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado
24

deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento.


(REsp 1334488/SC, Rel. Min. Herman Benjamin, Primeira Seção, julgado em 08/05/2013)
Página

INFORMATIVO esquematizado
Em suma, o STJ confirmou que adota a 3ª corrente acima exposta. Como a decisão do STJ
foi tomada em sede de recurso repetitivo, este entendimento terá que ser adotado pela
TNU (Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais) e pelos Tribunais
Regionais Federais.

Existe um prazo para que o segurado possa requerer a desaposentação?


SIM. Segundo a 2ª Turma do STJ, deverá ser aplicado o prazo decadencial de 10 anos,
previsto no art. 103 da Lei n. 8.213/91 (AgRg no REsp 1.305.914, julgado em 16/08/2012).

O STF já possui decisões sobre a desaposentação?


NÃO. O STF começou a analisar o tema, tendo o Min. Marco Aurélio proferido voto
favorável à desaposentação. O julgamento foi suspenso em virtude de pedido de vista do
Min. Dias Toffoli (RE 381.367/RS – Informativo 600).
Processo STJ. 1ª Seção. REsp 1.334.488-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 8/5/2013 (recurso repetitivo)

Necessidade de prévio requerimento administrativo para ajuizamento de ação previdenciária

Para que o segurado ajuíze ação pleiteando a concessão de benefício previdenciário é


indispensável que tenha formulado previamente requerimento administrativo?
ATENÇÃO
Concursos  NÃO. É dispensado o prévio requerimento administrativo. É a posição majoritária do
Federais STF e STJ.

 Obs: para a 2ª Turma do STJ, o prévio requerimento administrativo é indispensável,


salvo quando se tratar de matéria em que haja resistência notória por parte do INSS ao
pedido formulado. Trata-se também da tese institucional dos Procuradores do INSS.

Tema A grande maioria das ações propostas contra o INSS objetivando benefícios previdenciários
proposto é de competência dos Juizados Especiais Federais (JEF).
No JEF, o autor não precisa de advogado e não paga custas em 1ª instância.
Diante disso, é muito comum que o segurado, sem que requeira administrativamente o
benefício previdenciário em um dos postos do INSS, opte por já ajuizar direto uma ação
judicial no JEF pedindo a concessão da aposentadoria, por exemplo.

Esta prática é admitida? O segurado ou dependente pode ingressar com a ação judicial
pleiteando a prestação previdenciária mesmo sem ter feito previamente requerimento
administrativo no INSS? Haveria neste caso falta de interesse de agir em razão de não ter
sido negado o pedido na via administrativa?
Posição O prévio requerimento administrativo é DISPENSÁVEL.
majoritária
no STF e STJ (...) Conforme a jurisprudência reiterada do STJ, é desnecessário o prévio requerimento
administrativo para o ajuizamento de ação que vise a implementação ou revisão de
benefício previdenciário. (...)
(AgRg no AREsp 119.366/RS, Min. Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 18/04/2013)

(...) é firme a compreensão da Terceira Seção no sentido da desnecessidade de prévio


25

requerimento administrativo como condição para a propositura de ação que vise à


concessão de benefício previdenciário. (...)
Página

(EDcl no AgRg no REsp 1.137.447/RS, Rel. Min. Og Fernandes, Sexta Turma, DJe de
07/02/2013).
INFORMATIVO esquematizado
(...) 1. A jurisprudência desta nossa Corte firmou-se no sentido de ser desnecessário para o
ajuizamento de ação previdenciária o prévio requerimento administrativo do benefício à
autarquia federal. Precedentes. (...)
(RE 549055 AgR, Rel. Min. Ayres Britto, Segunda Turma, julgado em 05/10/2010)
Posição da Regra:
2ª Turma do Para a 2ª Turma do STJ, em regra, o segurado/dependente somente pode ajuizar a ação
STJ e do judicial pleiteando a concessão do benefício previdenciário, se anteriormente formulou
INSS requerimento administrativo junto ao INSS.

Assim, em regra, o ajuizamento da ação de concessão de benefício da seguridade social


reclama (exige) que tenha havido prévio requerimento administrativo.

Caso seja proposta a ação sem que tenha havido prévio requerimento administrativo
deverá o juiz extinguir o processo sem resolução do mérito por ausência de interesse de
agir, considerando que havia a possibilidade de seu pedido ter sido atendido pelo INSS na
via administrativa.

Se o INSS, contudo, contesta o mérito da ação, afirmando que o autor não tem direito, não
deverá o juiz extinguir o processo porque restou claro que a autarquia previdenciária não
aceitaria o pedido também na via administrativa.

Exceção:
A ação pode ser proposta diretamente pelo autor, ou seja, sem a necessidade de prévio
requerimento administrativo, nas hipóteses em que é notório que o INSS não admite aquele
tipo de pedido na via administrativa.
É o caso, por exemplo, da desaposentação. O segurado poderá ajuizar diretamente a ação
de desaposentação (mesmo que não tenha formulado pedido na via administrativa) porque
é sabido por todos que o INSS não admite esta tese. Logo, é patente que o autor tem
interesse na demanda.

Em suma, o prévio requerimento administrativo é indispensável para o ajuizamento da ação


judicial em que se objetive a concessão de benefício previdenciário quando se tratar de
matéria em que não haja resistência notória por parte do INSS à pretensão do beneficiário.

(...) A Segunda Turma desta Corte firmou o entendimento de que o interesse processual do
segurado e a utilidade da prestação jurisdicional concretizam-se nas seguintes hipóteses:
recusa de recebimento do requerimento; negativa de concessão do benefício
previdenciário, seja pelo concreto indeferimento do pedido, seja pela notória resistência da
autarquia à tese jurídica esposada. (...)
(AgRg no AREsp 283.743/AL, Rel. Min. Castro Meira, Segunda Turma, julgado em 16/04/2013)
Processo STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.341.269-PR, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 9/4/2013.
26
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INFORMATIVO esquematizado
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Julgue os itens a seguir:
1) (Juiz Federal TRF1 2011 CESPE) O estabelecimento bancário não é responsável pelo pagamento de
cheque falso, ressalvadas as hipóteses de culpa exclusiva ou concorrente do correntista. ( )
2) (Juiz TJAC 2012 CESPE) O CDC determina explicitamente que a interpretação das cláusulas contratuais
seja mais favorável ao consumidor, estando, por isso, em dissonância com o princípio constitucional da
isonomia. ( )
3) (Juiz TJAC 2012 CESPE) Considere a seguinte situação hipotética. Márcio, servidor público estadual,
inconformado com ato tido por ilegal de secretário de Estado, que, sem justificativa, indeferiu o seu
pedido de férias, resolveu impetrar, no tribunal de justiça competente, mandado de segurança contra
essa decisão administrativa. Nesse colegiado, houve acórdão acolhendo a preliminar, de forma que a
ação mandamental se extinguiu sem resolução de mérito. Inconformado, o impetrante propôs recurso
ordinário, oportunidade em que o STJ superou a preliminar e adentrou ao mérito do pedido. Nessa
situação hipotética, agiu acertadamente o STJ, com base em previsão do CPC, segundo a qual, nos casos
de extinção do processo sem julgamento de mérito, o tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa
versar sobre questão exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento. ( )
4) (Juiz TJMG 2012 VUNESP) A Lei n.º 12.403/11 inovou ao prever outra modalidade de medida cautelar,
que consiste na prisão domiciliar. Com relação às hipóteses de aplicação da prisão domiciliar, como
substitutiva da prisão preventiva, conforme a lei citada, assinale a alternativa correta.
A) Para a gestante a partir do 6.º (sexto) mês de gestação, independentemente de risco para a gravidez.
B) Quando o acusado ou indiciado for paraplégico.
C) Quando o agente for imprescindível para os cuidados especiais de pessoa menor de 7 (sete) anos de idade.
D) Quando o indiciado ou acusado for maior de 80 (oitenta) anos de idade.

5) (MP/AL 2012 FCC) o juiz poderá substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for
imprescindível aos cuidados especiais de pessoa de até sete anos de idade. ( )
6) (MP/AL 2012 FCC) A prisão domiciliar consiste no recolhimento do indiciado ou acusado em sua
residência, só podendo dela ausentar-se com autorização judicial. ( )
7) (Juiz Federal TRF2 2009 CESPE) Incumbe ao Estado aparelhar-se visando à observância das decisões
judiciais. Se não houver meios de assegurar o cumprimento da pena em regime semiaberto, ocorre a
transformação em aberto e, se inexistente casa do albergado, em prisão domiciliar. ( )
8) (DPE/RR 2013 CESPE) A concessão de aposentadoria por invalidez depende da verificação da condição de
incapacidade do segurado mediante exame médico-pericial a cargo da assistência social, podendo o
segurado, às suas expensas, fazer-se acompanhar, durante a avaliação, de médico de sua confiança. ( )
9) (Juiz Federal TRF2 2011 CESPE) A respeito da aposentadoria por invalidez no âmbito do RGPS, a
jurisprudência do STJ reconhece que a concessão desse benefício deve considerar tão somente os
elementos jurídicos previstos na Lei n.º 8.213/1991 e abster-se da análise dos aspectos
socieconômicos, profissionais e culturais do segurado. ( )
10) (Juiz Federal TRF5 2009 CESPE) O STJ firmou entendimento no sentido de que o prévio requerimento na
esfera administrativa é condição para propositura da ação de natureza previdenciária, uma vez que a
prestação jurisdicional só se justifica mediante a comprovação do conflito de interesses. ( )
11) (Juiz Federal TRF3 2011 CESPE) O prévio requerimento administrativo de prorrogação de auxílio-doença
é requisito para o ajuizamento de ação em que se pleiteie o restabelecimento do benefício
previdenciário, importando sua ausência na extinção do processo sem resolução de mérito. ( )
12) (Procurador BACEN 2009 CESPE) Eurico obteve aposentadoria proporcional no âmbito do RGPS, mas
continuou trabalhando e contribuindo para o INSS e, posteriormente, requereu à autarquia a utilização
desse tempo para conseguir a aposentadoria integral. Nessa situação, a jurisprudência do STJ admite
27

tal possibilidade, desde que Eurico devolva os benefícios já recebidos. ( )


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Gabarito
1. E 2. E 3. E 4. Letra D 5. E 6. C 7. C 8. E 9. E 10. E 11. E 12. E

INFORMATIVO esquematizado
JULGADOS QUE NÃO FORAM COMENTADOS POR SEREM DE POUCA
(OU DE NENHUMA) RELEVÂNCIA PARA CONCURSOS PÚBLICOS
DIREITO CIVIL. LEGITIMIDADE DO CESSIONÁRIO PARA DISCUTIR EM JUÍZO QUESTÕES ENVOLVENDO
MÚTUO HABITACIONAL COM COBERTURA DO FCVS CELEBRADO ATÉ 25/10/1996. RECURSO REPETITIVO
(ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ).
Tratando-se de contrato de mútuo habitacional garantido pelo Fundo de Compensação de Variações
Salariais, celebrado até 25/10/1996 e transferido sem a intervenção da instituição financeira, o cessionário
possui legitimidade para discutir e demandar em juízo questões pertinentes às obrigações assumidas e aos
direitos adquiridos. Isso porque, nos termos da legislação pertinente, é possível a regularização do referido
contrato de cessão de direitos — conhecido como “contrato de gaveta” —, o que implica afirmar que, nesses
casos, o cessionário é equiparado ao mutuário, possuindo, portanto, legitimidade para discutir e demandar
em juízo questões pertinentes às obrigações assumidas e aos direitos adquiridos. Com efeito, o art. 20, caput,
da Lei 10.150/2000 estabelece que as “transferências no âmbito do SFH, à exceção daquelas que envolvam
contratos enquadrados nos planos de reajustamento definidos pela Lei 8.692, de 28 de julho de 1993, que
tenham sido celebradas entre o mutuário e o adquirente até 25 de outubro de 1996, sem a interveniência da
instituição financiadora, poderão ser regularizadas” nos termos daquela lei. Nesse contexto, os arts. 22 da Lei
10.150/2000 e 2º da Lei 8.004/1990 (com redação dada pela Lei 10.150/2000) determinam que, diante da
existência de cláusula de cobertura de eventual saldo devedor residual pelo FCVS, a transferência se dá
mediante a substituição do devedor, mantidas para o novo mutuário as mesmas condições e obrigações do
contrato original. Cumpre destacar, ademais, que essa possibilidade de equiparação do cessionário à condição
de mutuário se deve ao fato de que, no caso de contratos com cobertura do FCVS, o risco imposto à
instituição financeira é apenas relacionado ao pagamento das prestações pelo cessionário, porquanto o saldo
devedor residual será garantido pelo Fundo. Precedentes citados: REsp 986.873-RS, Segunda Turma, DJ
21/11/2007, e REsp 627.424-PR, Primeira Turma, DJ 28/5/2007.
REsp 1.150.429-CE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 25/4/2013.

DIREITO CIVIL. ILEGITIMIDADE DO CESSIONÁRIO PARA DISCUTIR EM JUÍZO QUESTÕES ENVOLVENDO


MÚTUO HABITACIONAL SEM COBERTURA DO FCVS CELEBRADO ATÉ 25/10/1996. RECURSO REPETITIVO.
Tratando-se de contrato de mútuo habitacional sem cobertura do Fundo de Compensação de Variações
Salariais, celebrado até 25/10/1996, transferido sem a anuência do agente financiador e fora das condições
estabelecidas pela Lei 10.150/2000, o cessionário não tem legitimidade ativa para ajuizar ação postulando a
revisão do respectivo contrato. Isso porque, nos termos da legislação pertinente, não é possível a
regularização do referido contrato de cessão de direitos — conhecido como “contrato de gaveta” —, o que
implica afirmar que, nesses casos, o cessionário não pode ser equiparado ao mutuário e, portanto, não possui
legitimidade para postular em juízo a revisão do respectivo contrato. Com efeito, o art. 20, caput, da Lei
10.150/2000 estabelece que as “transferências no âmbito do SFH, à exceção daquelas que envolvam
contratos enquadrados nos planos de reajustamento definidos pela Lei 8.692, de 28 de julho de 1993, que
tenham sido celebradas entre o mutuário e o adquirente até 25 de outubro de 1996, sem a interveniência da
instituição financiadora, poderão ser regularizadas” nos termos daquela lei. Contudo, os arts. 23 da Lei
10.150/2000 e 3º da Lei 8.004/1990 (com redação dada pela Lei 10.150/2000) determinam que, diante da
inexistência de cláusula de cobertura de eventual saldo devedor residual pelo FCVS, a transferência de
direitos e obrigações referentes ao imóvel financiado pelo SFH não é automática e somente ocorrerá a
critério da instituição financeira, que estabelecerá novas condições para o ajuste, de modo que o terceiro
adquirente só terá legitimidade ativa para ajuizar ação relacionada ao mencionado contrato de cessão se o
agente financeiro tiver concordado com a transação. Cumpre destacar, ademais, que essas transferências
dependem da anuência da instituição financiadora, segundo seu critério e mediante novas condições
financeiras, na medida em que a lei não impôs a ela o risco de arcar com o saldo devedor residual da
28

transação — diferentemente do que ocorreria caso houvesse cobertura do FCVS, situação em que o saldo
Página

devedor seria garantido pelo Fundo. Precedente citado: REsp 1.171.845-RJ, Quarta Turma, DJe 18/5/2012.
REsp 1.150.429-CE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 25/4/2013.

INFORMATIVO esquematizado
DIREITO CIVIL. ILEGITIMIDADE DO CESSIONÁRIO PARA DISCUTIR EM JUÍZO QUESTÕES ENVOLVENDO
MÚTUO HABITACIONAL, COM OU SEM COBERTURA DO FCVS, CELEBRADO APÓS 25/10/1996. RECURSO
REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ).
Tratando-se de cessão de direitos sobre imóvel financiado no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação
realizada após 25/10/1996, a anuência da instituição financeira mutuante é indispensável para que o
cessionário adquira legitimidade ativa para requerer revisão das condições ajustadas, tanto para os
contratos garantidos pelo Fundo de Compensação de Variações Salariais como para aqueles sem a
garantia mencionada. Isso porque, nos termos da legislação pertinente, não é possível a regularização do
referido contrato de cessão de direitos — conhecido como “contrato de gaveta” —, o que implica afirmar
que, nesses casos, o cessionário não pode ser equiparado ao mutuário e, portanto, não possui legitimidade
para postular em juízo a revisão do respectivo contrato. Com efeito, o art. 20, caput, da Lei 10.150/2000
estabelece que as “transferências no âmbito do SFH, à exceção daquelas que envolvam contratos
enquadrados nos planos de reajustamento definidos pela Lei 8.692, de 28 de julho de 1993, que tenham
sido celebradas entre o mutuário e o adquirente até 25 de outubro de 1996, sem a interveniência da
instituição financiadora, poderão ser regularizadas” nos termos daquela lei. Precedentes citados: AgRg no
Ag 1.006.713-DF, Quarta Turma, DJe 22/2/2010; REsp 721.232-PR, Primeira Turma, DJe 13/10/2008, e AgRg
no REsp 980.215-RJ, Segunda Turma, DJe 2/6/2008.
REsp 1.150.429-CE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 25/4/2013.

DIREITO ADMINISTRATIVO. DESCLASSIFICAÇÃO DE LICITANTE DECORRENTE DA FALTA DE APRESENTAÇÃO


DE DECLARAÇÃO DE CONCORDÂNCIA DO RESPONSÁVEL TÉCNICO NA FASE DE HABILITAÇÃO.
A sociedade empresária que, em concorrência realizada para ampliação de prédio público, deixe de
apresentar, no envelope de habilitação, declaração de concordância do responsável técnico, descumprindo
exigência prevista no edital, não tem direito líquido e certo a realizar o referido ato em momento posterior
e por meio diverso do estabelecido no instrumento convocatório, tampouco a ser considerada habilitada
no procedimento licitatório, ainda que tenha apresentado documentos assinados por seu represente legal
que comprovem ser este um engenheiro civil. Deve-se registrar, de início, que a exigência de apresentação
de atestado de concordância do responsável técnico encontra respaldo no art. 30, II e § 1º, I, da Lei
8.666/1993. Isso posto, deve-se ressaltar que atos assinados pelo sócio administrador da sociedade
empresária, ainda que seja profissional da engenharia civil, não suprem a exigência de concordância deste
com o encargo de responsável técnico da obra, munus cujas responsabilidades civil, administrativa e penal
diferem das próprias de sócio. Desse modo, a Administração Pública, por conta própria, não pode atribuir a
responsabilidade técnica por presunção, uma vez que é necessária expressa concordância do profissional.
Assim, não se pode falar que a referida declaração seria pura formalidade que poderia ser relevada pela
administração. Ademais, prevendo o edital que a declaração de concordância de responsável técnico deve
constar do envelope referente aos documentos de habilitação, configuraria violação dos princípios da
legalidade e da impessoalidade dar oportunidade a algum dos licitantes de comprovar o cumprimento da
referida exigência por meio diverso do previsto no instrumento convocatório ou em momento posterior do
estabelecido no edital, conferindo-lhe prazo superior ao dos demais licitantes.
RMS 38.359-SE, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 11/4/2013.

DIREITO ADMINISTRATIVO. IMPOSSIBILIDADE DE CONFERIR AOS PSICÓLOGOS, POR RESOLUÇÃO,


AUTORIZAÇÃO PARA O EXERCÍCIO DA TÉCNICA DA ACUPUNTURA.
É inadmissível que resolução do Conselho Federal de Psicologia estenda aos profissionais da área a
possibilidade de utilização da acupuntura como método complementar de tratamento, ainda que no
Brasil não exista legislação que discipline o exercício dessa técnica. Não se pode deduzir, a partir desse
vácuo normativo, que se possa permitir, por intermédio de ato administrativo editado pelo conselho
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profissional, a prática da acupuntura. Ademais, não é possível aos profissionais de psicologia estender seu
campo de trabalho por meio de resolução, pois suas competências já estão fixadas na Lei 4.119/1962, que
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regulamenta o exercício da profissão.


REsp 1.357.139-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 18/4/2013.

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TRIBUTÁRIO. CESSÃO DE CRÉDITO DECORRENTE DE EMPRÉSTIMO COMPULSÓRIO SOBRE ENERGIA ELÉTRICA.
É possível a cessão dos créditos decorrentes de empréstimo compulsório sobre energia elétrica. De fato,
o empréstimo compulsório instituído em favor da Eletrobrás pela Lei 4.156/1962 e alterações posteriores
tem a forma de resgate disciplinada pelo Dec.-Lei 1.512/1976. Ao estabelecer o modo de devolução do
referido tributo, a legislação de regência não criou óbice à cessão do respectivo crédito a terceiros, razão
pela qual não há impedimento para tanto. Precedente citado: REsp 1.094.429-RJ, Segunda Turma, DJe
4/11/2009. AgRg no REsp 1.090.784-DF, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 11/4/2013.

DIREITO ADMINISTRATIVO. INEXISTÊNCIA DE DIREITO DE BIOMÉDICO À PARTICIPAÇÃO EM CONCURSO


PÚBLICO DESTINADO AO PROVIMENTO DE CARGO DE BIÓLOGO.
Os biomédicos não possuem o direito de participar de concurso público cujo edital prescreva como
atribuições do cargo atividades específicas de biólogo. Da análise da Lei 6.684/1979 e dos Decretos
88.438/1983 e 88.439/1983, extrai-se a conclusão de que as profissões de biólogo e de biomédico, apesar
de se assemelharem em alguns pontos, são distintas, com atribuições e áreas de atuação próprias. Foram,
inclusive, reguladas por atos normativos diversos e seus profissionais são registrados em conselhos
profissionais distintos. Dessa forma, a Administração, entendendo necessitar de biólogos, não é obrigada a
aceitar, em concurso destinado a suprir essa necessidade, profissionais de outras áreas.
REsp 1.331.548-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 4/4/2013.

DIREITO TRIBUTÁRIO. INCIDÊNCIA DE IR SOBRE O LUCRO AUFERIDO EM OPERAÇÃO DE VENDA DE TDA.


Incide imposto de renda sobre o ganho de capital oriundo da diferença positiva entre o preço de aquisição
e o preço de venda de TDA a terceiros. O recebimento de indenização em virtude de desapropriação para
fins de reforma agrária não entra no cômputo do rendimento bruto da pessoa física ou do lucro real da
pessoa jurídica, mesmo se for apurado nessa transferência ganho de capital, consoante o art. 22, parágrafo
único, da Lei 7.713/1988 e o art. 184, § 5º, da CF/1988. Outrossim, não é tributada a operação financeira
consistente na obtenção do rendimento do título da dívida agrária — TDA. Essas “isenções” têm recebido
amparo no STJ e foram estendidas pela jurisprudência aos terceiros portadores do título no que diz respeito
ao resgate do seu valor principal ou dos valores correspondentes a juros compensatórios e moratórios ali
previstos. Ocorre que, na hipótese tratada, o que se pretende excluir da tributação é a própria operação de
compra e venda desses títulos no mercado, ou seja, uma operação financeira como outra qualquer, suscetível
de gerar rendimento tributável (art. 43, I, do CTN). Trata-se de situação diferente da aquisição do título como
indenização pro soluto da desapropriação realizada, ou do recebimento dos juros que remuneram o título
enquanto não vencido o principal, ou do recebimento do valor do título quando de seu vencimento. A venda
de TDA pode gerar lucro ou prejuízo se comparados os preços de aquisição e de venda. O lucro gerado é
ganho de capital que deve submeter-se à tributação do imposto de renda como qualquer outro título
mobiliário. Não há aí qualquer impacto na justa e prévia indenização, visto que a tributação somente ocorre
quando o título for alienado com lucro (ganho de capital) pelo expropriado ou pelo portador.
REsp 1.124.133-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 7/3/2013.

DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. INCLUSÃO DE DEPENDENTE EM CONTRATO DE SEGURO DE SAÚDE.


Na hipótese de seguro de saúde contratado em momento anterior ao início da vigência da Lei
9.656/1998, caso não tenha sido garantido à titular segurada o direito de optar pela adaptação do
contrato ao sistema da nova lei (art. 35, caput, da Lei 9.656/1998), é possível a inclusão, na qualidade de
dependente, de neto, filho de uma de suas filhas originariamente indicada como dependente no referido
seguro. Isso porque, nesse contexto, não se admite impor ao contratante a restrição estabelecida no § 5º
do art. 35 da Lei 9.656⁄1998, segundo o qual a “manutenção dos contratos originais pelos consumidores
não-optantes tem caráter personalíssimo, devendo ser garantida somente ao titular e a seus dependentes
já inscritos, permitida inclusão apenas de novo cônjuge e filhos, e vedada a transferência da sua
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titularidade, sob qualquer pretexto, a terceiros”. De fato, se não houve opção, por imperativo lógico, não se
pode considerar a titular segurada como não-optante, sendo, nesse caso, inaplicável a restrição.
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REsp 1.133.338-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 2/4/2013.

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